Última atualização: 15/07/2020

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Capítulo 13 – Como Me Apaixonei por Você

Por Alisson Becker
- Grávida? – Minha mãe falou alto e eu suspirei, assentindo com a cabeça. – Como? Quer dizer... Como?
- Você sabe muito bem como, amor. – Meu pai falou e eu suspirei, escorregando o corpo no sofá e encostando a nuca no encosto.
- Eu sei, mas... – Minha mãe parecia atordoada. – Vocês queriam isso? Estavam planejando?
- Você acha que eu estaria desesperado se isso tivesse sido planejado, mãe? – Virei para ela, erguendo as mãos e ela soltou um longo suspiro.
- Mas vocês usaram camisinha? Quando aconteceu? – Suspirei.
- Foi no ano novo, foi a última vez que a gente... – Movimentei a mão dando continuidade. – Bom, depois de... Antes de ontem.
- Não preciso de detalhes, filho. – Meu pai falou.
- Mas eu tenho uma vaga lembrança que a camisinha foi esquecida na noite de ano novo, vai saber... – Neguei com a cabeça.
- E agora? Vocês estão felizes? Tristes? – Minha mãe perguntou. – Não sei se te abraço ou se te dou colo. – Suspirei.
- Estamos felizes com a situação de ter um filho e tudo mais, só que ela está desesperada, é o primeiro filho dela, ela acha que é muito nova, que não estava esperando por isso e ainda tem a distância. – Bufei, soltando o ar para cima.
- Como vocês vão fazer? – Meu pai perguntou.
- Não sabemos. – Neguei com a cabeça. – Ficamos cinco dias sem nos falar no amistoso porque eu acabei falando umas besteiras que não devia e aí ela também falou, enfim... Voltamos a nos falar, mas ninguém deu uma sugestão e as duas outras sugestões não são boas o suficiente.
- Que são? – Minha mãe falou.
- Ela largar o emprego e vir morar comigo ou eu largar o time e morar com ela...
- Ela quer que você largue o time? – Ele deu uma risada escrachada e minha mãe bateu em sua perna.
- Não assim, pai, ela só achou justo sugerir isso, já que eu sugeri que ela largasse o emprego dela, né?! – Suspirei. – Ela fala que é o melhor emprego da vida dela, que ela conseguiu conquistar muitas coisas na vida, mas...
- Tenta entender o lado dela, filho. – Minha mãe falou.
- Aí que está, eu entendo! – Falei um tanto alto demais, ficando de pé em um pulo. – Eu entendo, porque eu também não quero sair do time por causa disso, mas não é justo eu perder mais uma gravidez de um filho meu e ela passar por isso sozinha. – Coloquei as mãos na cabeça, puxando os cabelos. – Ela está desesperada, mãe. Eu vi o desespero nos olhos dela. – Suspirei. – Ela está bem e tudo mais, mas parece que quando ela pensa nesse bebê no colo, fora dela, ela tropeça.
- Ah, querido. – Minha mãe se levantou e me abraçou fortemente.
- Eu estou muito bravo com ela, mas também estou bravo comigo, porque eu só queria largar tudo e ficar ao lado dela, mas não é justo. – Senti que estava chorando e ela acariciou meu rosto.
- Você está bravo com ela, por quê? Por causa do bebê? – Neguei com a cabeça.
- Não, mãe, não tem nada a ver com o bebê, é a vida, a situação, esse namoro de quase um ano que tem rolado à base de encontros ocasionais, restrito a um período de tempo e sorte que damos de nossos trabalhos. – Suspirei. – Eu a quero aqui, sabe? Nos meus braços para cuidar quando precisar, fazer parte desse momento, realizar os desejos estranhos que ela possa ter e... – Bufei, sentando no chão. – Não vem nenhuma ideia que seja plausível para nós dois. – Suspirei. – Que seja justa para ambos os lados, sabe? – Passei a mão nos olhos inchados.
- Eu não sei o que dizer para você, filho. – Meu pai falou. – Mas desde que você voltou da Rússia com uma namorada, vocês sabiam que teriam que fazer esforços, foi uma escolha de vocês dois.
- Eu sei, pai. É só que parece que somos perfeitos juntos, mas aí nossos trabalhos, apesar de ser na mesma área, nos puxa para lados contrários.
- Não, querido. – Minha mãe falou. – Foi o trabalho de ambos que os uniu, pare de falar besteira.
- Eu só estou frustrado, achei que pudéssemos fazer tudo dar certo, aí surge um bebê, algo que deveria encher minha vida de alegria, e só consigo pensar em como faremos isso dar certo. – Puxei a respiração fortemente, com as narinas entupidas.
- Vocês vão se ver na Copa América, não? Ela vai trabalhar ainda...
- Pelo que o Tite falou, vai sim, normal, claro que deve ter algumas restrições, mas até lá já foram dois meses, eu já vou ter perdido muita coisa. – Suspirei, apoiando a cabeça no joelho.
- Olha, se vale de consolo, estamos felizes por você, filho. – Minha mãe acariciou minha cabeça, ajoelhada em minha frente. – Independente de como vocês vão resolver isso, um filho é sempre uma bênção, vejam folgas, viagens, invista nisso, monetariamente, nem que seja para passar 12 horas juntos, mas faça um esforço, ok?! – Assenti com a cabeça.
- Voltando eu vou checar o cronograma com o time e vejo se consigo uma janela de uns três dias para ir visitá-la. – Ela assentiu com a cabeça.
- E não a culpe, ok?! Somente dois fazem um filho. – Dei um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- Eu sei, mas é tão difícil, tentei parecer bem com ela, mas eu queria achar uma solução, enfrentar isso a todo momento e não fiz para poupá-la. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu entendo, você deve estar chateado com ela por ela não aceitar a solução que muitas pessoas acham óbvias, certo? “Estou grávida, vou me mudar para perto de ti”. Não é?! – Assenti com a cabeça. – é uma mulher moderna, querido, trabalhadora, conquistadora, não depende de ninguém... E você se apaixonou por ela assim, não?! – Ela deu um pequeno sorriso. – No ambiente de trabalho dela? Com muita diversão, imagino, mas vocês só se conheceram por causa do trabalho dela, não?
- Foi. – Falei fracamente.
- Então volte para quando vocês se conheceram. – Suspirei, franzindo os lábios. – Lembre-se, como você se apaixonou por ela e decidiu que queria algo mais com aquela pessoa específica? – Olhei para os olhos de minha mãe.
- Como eu me apaixonei por ela? – Suspirei. – Era maio de 2018, 21 de maio, se eu não me engano...

Maio de 2018
Eu lembro que estava pulando de alegria por estar lá, não era um amistoso qualquer, era para a Copa do Mundo, todos chegaríamos no mesmo dia, menos o pessoal que jogou a final da Champions, né?! Meu voo acabou atrasando um pouco, então eu fui um dos últimos a chegar. A galera estava em peso lá.
Cheguei, cumprimentei os jogadores, a equipe técnica, a equipe de comunicação, todo mundo estava lá, era todo mundo antigo, todo mundo já se conhecia de outros compromissos internacionais, às vezes tinha um chefe de delegação novo, mas só tinha homem lá na granja. E, cara, eu não vou ser hipócrita e falar que lembrava do cara que cuidava das redes sociais, não era alguém que eu lembrasse, porque ele só era mais um cara no meio de 40 e tantos, e não era alguém que interagia muito. Ele dava sim as informações, os xingos pós-jogos e tal, mas confesso que não lembro mais o nome dele.
Aí eu cumprimentei os outros jogadores e estava a confusão de sempre para divisão de quartos, e eu sentei no braço do sofá e fiquei conversando com o pessoal, até que a porta se abre e ela apareceu. Eu lembro que um silêncio se formou do nada. Todo mundo estava rindo e papeando e do nada todo mundo ficou quieto, só deu os saltos dela batendo contra o piso. A surpresa de todo mundo não foi pela beleza dela, pelo corpo, vocês sabem que a tem uma beleza normal, mas para mim ela é a pessoa mais linda do mundo. O silêncio foi porque tinha uma mulher entre nós.
Somente uma mulher no meio de mais de 40 homens.
Dava para notar que ela estava superdesconfortável, ela percebeu o silêncio com certeza, afinal todo mundo estava olhando para ela, aí depois alguém já foi falar com ela, mas ela ainda era o novo brinquedinho brilhante e todo mundo estava curioso em saber quem era ela, se ela ia ficar com a gente, o que ia acontecer. Segundos depois que ela entrou, um grupo no WhatsApp já foi montado e todo mundo só falava dela, só dela.
Horas depois, veio a reunião de boas-vindas e ela também estava lá, junto de Lucas e Vinícius que são os fotógrafos e o cinegrafistas e a gente já imaginou que ela seria da comunicação. Tite a apresentou pelo nome e já tínhamos um nome, uma ocupação e um rosto. O mais engraçado foi que ela não se intimidou com a situação, ela fez até uma piada com a gente.
Tite a chamou no palco, ouvimos os saltos novamente, ela estava com os malditos sapatos amarelos, que imagino que são boa parte culpados pela minha paixão por ela e ela subiu no palco e eu estava na primeira fileira, de frente para ela.
- Essa é a Alessandra! – Tite apresentou. – Ela entrou para substituir o Marcos, vocês se lembram dele, certo? – Ninguém se lembrava dele. – Ela é a nova social mídia da CBF, ou seja, o trabalho dela é ficar bem perto de vocês, pegando todos os acontecimentos, todas as referências e divulgando o andamento de vocês para a Copa, além de ajudar vocês em eventuais crises. – Claro que virou piada no momento em que ele disse, o “ficar perto” foi visto por várias conotações. – Ah, e a melhor parte, ela gosta de futebol, então, valorizem-na, ok?! E respeito sempre. – Isso me interessou, não era uma mulher qualquer, era uma mulher que gostava de futebol, imagino que entendia também.
Aí ela se pronunciou e eu ouvi a voz dela pela primeira vez:
- Vamos só esclarecer que esse “ficar bem perto de vocês” que o Tite falou, é de um jeito respeitoso, tá? Dos dois lados! – As risadas explodiram na sala. – Falando sério, meu trabalho é um tanto criativo demais, então, se vocês tiverem ideias, sugestões, quiserem mostrar algo de diferente, estarei por aqui acompanhando vocês.

- Ela voltou para sua cadeira e foi isso de início.
- Nenhuma paixão à primeira vista? – Minha mãe perguntou.
- Olha, ela era normal para gente naquele dia, ela ficava ótima naquelas calças justas e blusa da CBF, além dos saltos, mas homens são homens, então todo mundo fez piadinhas de quem iria conquistar o coração dela e tal, era o primeiro contato, não tinha muito o que acontecer... – Dei de ombros.
- E o que seguiu daí?

Ok, nesse dia ainda tivemos os primeiros exames e, por ser número um, eu sempre era o primeiro e ela estava lá. E para gente é normal ficar sem roupa na frente dos outros, mas com homens, e agora tinha uma mulher na parada e precisava ser normal também. Então eu estava na esteira, sem blusa, correndo igual louco e ela chegou, e o teste rolando, Rodrigo, Fabio e o resto do pessoal cuidando da gente e sabe quando a pessoa faz aquela cara de surpresa, mas tenta aliviar a feição? É a definição do meme “plena” se entenderem a referência... Não?! Ok!
Enfim, eu percebi isso, ela ficou envergonhada na hora, e eu assumo que tenho bons atributos, é um corpo estranho de goleiro, mãe, eu sei, mas tá em forma, tá?! Aí eu estava totalmente focado no teste, mas ela e o Lucas começaram a cochichar algo, e eles me olhavam e cochichavam, olhavam e cochichavam, aí eu perguntei se tinha alguma coisa errada. E a gente tinha acabado de matar uma feijoada no almoço, então ela teve uma tirada perfeita.
- Está tudo certo? – Eu perguntei, e notei que eles se assustaram com a pergunta repentina.
- Tá tudo ótimo! – Ela falou pressionando os lábios, claramente segurando a risada e deu uma saída ótima. – Só me pergunto se é uma boa ideia fazer essa avaliação depois de bater uma pratada de feijoada! – Lucas explodiu em risadas e eu até perdi o tempo da esteira, reduzindo a velocidade, eu abri um sorriso e ela também.
- Te conto depois que isso acabar! – Ela ergueu os polegares escondendo o rosto, deu uma distanciada e beleza. Tive outros testes depois, mas eles não acompanharam tudo, tinha outros jogadores para fazer isso.
Naquele dia tivemos um jantar de boas-vindas, todo mundo estava elegante e bem vestido e ela também. Ela usava um vestido azul bonito, bem discreto, como se fosse se enturmar só, mas ela ainda era a única mulher, então ela naturalmente chamava muita atenção. Eu não consegui me sentar na mesa dela aquele dia, mas as gargalhadas vinham todas da sua mesa, todas mesmo. Os meninos estavam se divertindo.

- Tá, o que mais?

Deixa eu pensar... Ah, teve ela jogando bola na Granja, isso com certeza foi um motivo para eu me apaixonar por ela, mas acho que teve algo antes disso...
Ah, quando ela descobriu do Vinícius.
O Vinícius é o cinegrafista da CBF, mas ele também é o cara dentro do Canarinho, é engraçado quando ele precisa se filmar nos eventos, é um desespero para quem vai poder filmar, mas ele estava sempre por lá, e aquele dia mais cedo, ou será que foi um dia depois? Ah, sei lá, ela estava no treino, o Canarinho estava lá e todo mundo que já havia sido convocado ao menos uma vez, imagino que todos ali, sabiam que o Vinícius é o Canarinho, isso é fato, mas ela não sabia.
Então quando vamos almoçar, a gente sempre tenta enturmar todo mundo para não ficar aquela divisão escrachada e o pessoal da comunicação é mais novo, então a gente agrega. O Vinícius, ainda com a roupa de Canarinho, só que sem a cabeça, sentou para comer com a gente, na minha frente, e ela apareceu vindo almoçar também.
A risada que ela deu, mãe. Depois disso, acho que todo mundo percebeu que ela realmente veio para agregar, claro que não sabia que me apaixonaria por ela eventualmente, mas foi demais! Só faltou ela desmaiar de rir ali, todo mundo foi na dela.
- Ei, você! – Ela se aproximou da nossa mesa e Vini, com aquele corpo todo falso, se levantou, e quando ela percebeu que era ele... - Você?! Meu Deus! Isso não podia ser melhor! – Ela começou a chorar de rir. – Ah, espera um minuto! – O corpo dela fraquejou, ela não se aguentava em pé, e vocês já viram ela rindo, contagiou o restaurante inteiro.
- Oi, ! – Vini falou em um tom bem depressivo, só ele não via graça, coitado.
- Isso é melhor que a encomenda! Meu Deus!
- Ok, ok! Chega! – Ele falou, abanando as mãos e ela tentou se conter, mas não dava.
- Espera um minuto! Ah, eu não consigo! – Ela puxava o ar fortemente, mas ela caía na gargalhada de novo. Sério, foi o ponto alto do dia.
Aí o negócio não tinha nada a ver com a gente e ela pediu para eu ir para o lado para conversar com ele.
- Alisson, pode pular uma cadeira para o lado, por favor, para eu falar com... – Quando ela não conseguiu designar o Vinícius ou o Canarinho, eu explodi de rir novamente, eu já sou vermelho normalmente, eu acho que ia explodir de tanto segurar também. - ...Isso!
Aquilo virou zoação por um bom tempo depois, principalmente internamente com o Vinícius, coitado, ele vai para o céu, ele não mandou ninguém à merda por causa disso, ele tem um bom coração.

- E ela jogando bola? Foi o ápice? – Meu pai perguntou.
- Faziam só uns dois ou três dias que a gente se conhecia, mas acho que começou aí. Pelo menos as provocações.

A gente ia ter treino de goleiro umas quatro horas. Eu, Cássio, Ederson e Taffarel, mais tarde voltariam os treinos convencionais, acho que era dia de treino na academia ou fisioterapia, enfim, eu não tinha visto-a o dia inteiro. A gente desceu a ladeira e fomos para o vestiário, acho que ela pensou que não tivesse ninguém ali, porque estávamos lá dentro e tudo mais.
Quando eu saí, eu vi o lado dela no futebol, ela tinha talento e se ela aprofundasse aquilo, tenho certeza que ela teria uma carreira muito maior do que só seus dias de universitária.
No momento em que eu a vi, ela segurava a bola com os dois pés, na lateral dos mesmos, ela deu um salto, jogou os pés para trás, conseguiu pegar ela de cabeça, cabecear para frente, e ainda chutar no gol. Eu fiquei abismado. Eu me acho bom com os pés, mas tem que ter um puta controle de espaço e tempo para fazer aquilo e ela me pareceu feliz com o feito, além de outras duas bolas dentro do gol que eu não sabia como chegaram lá.
- Muito bom! Demais! – Eu gritei para ela e comecei a aplaudir, ela levou um puta susto, se virando rápido com a plateia, mas eu queria ver mais, então tentei puxar algo dela. - Mas o que você faz com uma defesa?
- Você viu isso? – Ela ficou muito encabulada com tudo isso, todos os quatro goleiros vendo, mas eu não entendi o motivo de tanto, ela era boa, pai!
- E aí, quer tentar?
- Vamos dizer que ser atacante não é a minha posição. – Fiquei surpreso, porque mira ela tinha.
- E qual é?
- A mesma que a sua. – Eu me surpreendi, ela era goleira? Cara, eu tenho certo tesão... Desculpa, uma ligação forte com goleiras, né?! As posições se aproximam.
Aí ela me contou que jogava na universidade, falou do time dela, contou que gostava de jogar e tudo mais, e aí eu percebi que ela tinha se tornado uma deusa para mim, ela era bonita, ela era jornalista, ela era jogadora de futebol, tinha um sorriso maravilhoso, então eu virei um clichê ambulante e cantei ela.
- Por que você não relembra os velhos tempos e eu faço uns chutes em você? – Estiquei minhas luvas para ela usar e notei que ela teve uma pequena nostalgia com isso, muitas memórias talvez.
- Sabe há quanto tempo que eu não uso uma dessas?
- Provavelmente o mesmo tempo em que eu não vejo uma mulher bonita como goleira. – É, eu falei isso. Eu cruzei a linha, minha ética morreu aí, mas nesses milissegundos que eu pensei, foi um elogio simples, não?! Tipo, honesto, sem segundas intenções? Mas aí, para minha surpresa, ela respondeu de volta.
- A Seleção Brasileira também tem um cara muito gato como goleiro e eu não vejo ninguém reclamando. – BUM!
Eu fiquei surpreso com isso, tipo, ela retribuiu? Foi com segundas intenções ou foi só honesto e real? Agradeço o elogio, mas aquilo deu um clique em mim. Eu fiquei curioso em saber o que mais viria daquilo. Foi um: eu te provoco, você me provoca? Ou ela também estava me olhando como eu a olhava? Eu fiquei...

- Atiçado. – Minha mãe falou sem feição surpresa.
- Tipo isso. Foi uma...
- Provocação. – Ela falou novamente.
- É!
- E você ficou curioso...
- Posso continuar a contar? – Eles riram.
- Conta! – Meu pai falou, segurando a mão de minha mãe.

Depois nos encontramos na piscina, esse dia eu tive uma grande oportunidade de ver as coxas dela, porque ela só escondia pelas calças, e eu sei que está um tanto pornográfico, mãe, mas são bonitas, ok?! Nesse dia eu conversei um pouco com ela, na boa, conheci um pouco a história dela, descobri de onde ela era, falei um pouco de mim também, na boa, sem provocações, bem de boa.
No dia seguinte, a gente teve o fatídico treino aberto na Granja, e eu digo fatídico, pois todo mundo saiu correndo e desesperado para dentro por causa de uma falha de segurança e esse dia eu fiquei triste, porque tinha acabado de me interessar nela, saber mais nela e, opa, não vou para Rússia. Foi um balde de água fria, eu estava gostando da brincadeira e tal, estava realmente querendo descobrir o que estava rolando.
Agora, no treino aberto, foi engraçado porque o vestiário lá de baixo é só para troca mesmo, não é gigantesco, então quando a gente percebeu a falha de segurança, todo mundo saiu correndo para lá, um jogador chamava o outro e entrava, ela ficou na porta esperando todo mundo entrar e quando todos entraram, ela se colocou para dentro, naquele aperto, que também estava uma bagunça e ela escorregou com tudo quando entrou, o pé até bateu no meu e em quem estava perto e ela se deslizou pelo chão, bateu a porta e bateu a cabeça para trás.
Ela estava frustrada, não sei o motivo, acho que nunca falamos disso, mas parecia que ela ia chorar. E eu estava encarando-a de muito perto, era quase como se ela estivesse entre as minhas pernas e eu olhando de cima. Minha mão estava apoiada na parede e se eu soltasse, eu ia cair em cima dela, real.
Perguntei se ela estava ok, ela achava que tinha torcido o tornozelo, então tirou os sapatos e eu e o... Sei lá quem, ajudamos ela a se levantar, e ela foi tipo Saci até a mesa central, aquilo preocupou um pouco, estava uma mistura de lama, mas parecia que estava um pouco mais gordinho mesmo.
- Acho que agora você tá pronta para proteger a gente assim na Rússia. – Miranda brincou e ela deu um meio sorriso, tipo, então...
- Ela não vai para Rússia. – Willian soltou essa bomba e eu preciso admitir, eu fiquei chateado.
Não, eu não estava apaixonado por ela ainda, eu pelo menos não tinha essa consciência ainda, mas foi um baque difícil de lidar. Pior foi depois, que ela sumiu, não saiu nem para jantar e ainda, no dia seguinte, quando ela apareceu, ela se sentou para conversar com a chefe dela que tinha ido lá para resolver algumas coisas e saiu correndo do restaurante e não apareceu mais. Ela sumiu e eu fiquei curioso, eu não peguei telefone, e-mail, Instagram, nada, eu só sabia que o nome dela era e é isso aí. Aí eu fui perguntar para o Lucas.
- Ei, cara. – Me aproximei dele no intervalo de um treino.
- Fala, cara! – Ele me cumprimentou rapidamente.
- Deixa eu perguntar, cadê a ? Ela sumiu. – E até hoje eu quero bater nele pela resposta que ele me deu.
- Ih, Alisson, ela voltou para o Rio já, teve umas emergências lá na CBF e ela foi embora.
- Sem se despedir? – Perguntei e ele fez uma cara que até hoje eu quero esfregar no asfalto.
Ele já sabia que ela tinha ido resolver coisas para ir para Rússia com a gente, ele viu que estava todo mundo chateado pela falta dela e ainda assim não falou nada, cara! Não ri, mãe, não foi legal.

- Ah, qual é! Você estava caidinho por ela em uma semana e não assume.
- Não é isso, mãe, todo mundo estava preocupado, ela foi uma adição sensacional, entende? Todo mundo ficou animado porque ela agregou mesmo, bem, vocês a conhecem, ela é ótima.
- Ela é, filho. Ela é.
- Agora conta a continuação, porque estou louco para rir da sua cara. – Meu pai falou gargalhando e neguei com a cabeça.

Aí deu os dias da Granja e a gente ia para Inglaterra jogar o primeiro amistoso antes da Copa, e eu fiquei chateado, mas ela estava lá a trabalho, teve uma emergência no trabalho, depois, caso eu ainda estivesse pensando nela, eu pediria o contato dela para os meninos e tal, mas eu estava animado com a possibilidade de ir para Copa do Mundo, era tudo muito surreal para mim, mas eu esqueci dela por um momento.
Não era amor, não era paixão, era só curiosidade, então parem de me olhar com essa cara.
A gente entrou no avião, enquanto preparava para a decolagem, a gente ficava andando pelo avião, rindo, tirando fotos, Vinícius estava gravando, e eu notava que o Lucas se afastava toda hora para falar no telefone, mas a esposa dele tinha acabado de dar à luz e ele estava indo com a gente, então pensei que podia estar com ela, do nada, plot twist sensacional, ela abre a cortina de divisão e gritar.
- Quer parar de me ligar? – Aquilo fez outro silêncio total, todo mundo ficou surpreso, tipo, o que você está fazendo aqui?
O Lucas a abraçou e todo mundo se aproximou também animados e tal, eu estava no primeiro banco, então dei um abraço meio rápido nela e eu notei que ela estava interessada também. Em mim, sabe?
- Vim no lugar do Theo! – Ela falou.
- Eu pensei que... – Eu estava chocado, então parecia um tonto.
- Longa história. – Ela sorriu e eu também. Ela estava lá, então sabia que tinha a Copa inteira para saber o que seu sorriso e sua provocação queriam dizer.
Quando o avião levantou voo, aí eu perguntei qual tinha sido a odisseia dela e ela me contou e eu gostava de ouvir ela falar, sabe? Ela é animada, gesticula bem, então eu só fiquei olhando para ela. Eu realmente queria saber, não era besteira, eu estava interessado, mas eu vou meio quieto... Sou sim, mãe, para!
- Acho que alguém lá em cima pensou que precisasse um pouco mais de emoção! – Falei e ela riu.
- Isso é algo que meu colega de quarto falaria. – Ela comentou. – A diferença é que ele faria isso de forma mais teatral, com plumas e paetês, mas é... – Ela mexia as mãos rindo e virou para mim. – Você não é muito de falar, certo?
- Eu gosto de escutar a história das pessoas. – Ela ficou envergonhada com isso, talvez achasse que falasse demais, mas ela é muito emoção, acho que eu sou mais razão, não sei.

- Sei não, viu?! – Meu pai falou. – Vocês são meio a meio, tu não para de chorar por causa dessa distância entre vocês dois, ela falou para analisar aos poucos, é tudo farinha do mesmo saco.
- Ah, pai! – Ri fracamente.
- Mas você viu? Se o Lucas pode ir para Copa com um filho recém-nascido, você pode encarar isso também.
- Eu não estou falando do Lucas, mãe.
- Mas você citou que ele tinha acabado de se tornar pai, imagina não poder aproveitar esses momentos?
- Vamos voltar ao foco? – Perguntei.

Bem, quando chegamos na Inglaterra, o trabalho só mudou de localização e agora ela era assessora, não só mais social mídia, ela tinha outros compromissos, mas estava sempre ali com a gente, trabalhando, papeando, estávamos sendo observados pela FIFA, então o buraco era mais embaixo, só que eu sempre achava um motivo para falar com ela, observá-la, tudo.
Teve um dia na parte de exame toxicológico da FIFA que ela nos levou, ficou acompanhando e eu fiquei muito tempo só observando-a, principalmente quando ela não estava olhando e, assim, a vista é boa, gente, não adianta me olharem assim, eu sou apaixonado por ela e vocês sabem disso.
Acho que não teve nada muito interessante na Inglaterra em si, ah, teve a viagem para Liverpool. Nessa viagem eu descobri que ela falava italiano, além de outras línguas e lembro fiquei caidaço por ela. Não precisa me dar esse olhar, mãe, eu sou um romântico incurável, ok?! Eu amo aquela mulher e só estamos tendo essa conversa por isso, se fosse qualquer uma, vocês poderiam me dar esse olhar, agora eu sou apaixonado por ela, eu amo aquela mulher, agora posso continuar? Obrigado.
A gente estava em um vagão único e cada um foi se ocupando da melhor forma, eu fiquei pegando umas dicas com o Taffarel, compartilhamos nossas experiências no Sul e tudo mais, e ela estava ali e ele começou a perguntar dela.
- O que ela disse para você lá na Granja? – Ele perguntou quando eu dava mais um gole na minha cuia e ergui o olhar para onde ele falava e vi conversando com Willian e companhia. – Ela é boa com os pés.
- É! Ela falou que não aceitava fazer uns lances em mim, porque ela era goleira também.
- Mesmo? – Ele me olhou surpreso. – Ela chegou a ir para o profissional?
- Não, ela fava que jogava na escola e depois na faculdade, tinha um grupo de amigas e tudo mais. Não entramos em muitos detalhes, notei que ela ficou muito encabulada por vermos ela em ação...
- Você nota o prazer dela em trabalhar com a gente, ela entende onde está metida e eu gosto disso.
- É, e eu... Cara, ela tá mexendo comigo. – Falei com a boca quase colada na bomba.
- Mesmo? – Taffarel me olhou surpreso. – Mas apaixonado e tal?
- Não sei ainda, só sei que ela está mexendo comigo. – Ele riu fracamente e a vi se aproximar pelo corredor. – Senhorita... – Ele a chamou e eu arregalei os olhos, surpreso.
- Oi, precisa de alguma coisa? – Ela perguntou um tanto tímida, apoiando o braço na poltrona.
- Estava conversando com Alisson sobre você lá na Granja, ele comentou que tu eras goleira. – Ela arregalou os olhos, provavelmente pelo interesse de Taffa e respondeu supertímida:
- Fui sim.
- Senta, vamos conversar! – Ela se sentou do outro lado do corredor, com as pernas para fora.
- Nem imagino porque um dos maiores goleiros do mundo queira falar de futebol comigo. – Eu ri fracamente, pois já tinha estado no lugar dela.
- Futebol é futebol! Não importa se é uma pelada com os amigos no fim de semana ou um grande campeonato. O que diferencia é a importância que você dá a ele.
Aí o Taffa perguntou um pouco sobre ela, ela falou da faculdade, onde jogava, como funcionava e porque ela criou esse gosto e foi falando das experiências dela e eu só observava, estava tentando puxar o máximo de informações dela possíveis.
- E por que ser goleira e não outra posição? – Taffarel perguntou e eu até dei uma ajeitada no corpo para ouvir.
- Minha família inteira é de goleiros. Meu pai, meu tio, minha prima... A gente não consegue formar time para jogar no Natal, por exemplo, porque todo mundo quer ficar no gol. – Eu ri, porque é assim em casa também, vocês viram no Natal, se ela não estivesse com o braço engessado, certeza que ela iria no gol.
Papeamos mais um pouco e tal, e então, o telefone dela tocou e eu fiquei abismado quando ela atendeu em italiano.
- Ciao, Enzo! – Notei que ela estava impaciente com aquela ligação, mas eu estava prestando muita atenção no que ela falava, eu penei para aprender esse idioma quando morei em Roma e na boca dela parecia tão natural, sabe?
Ela conversou um pouco com o cara sobre Coutinho e Liverpool, algo assim e ela era bem enfática sobre o que fazer, que informações dar e tudo mais, e quando ela desligou, eu falei a coisa mais idiota de todas.
- Você sabe falar italiano? – Claro que ela sabia! Ela ficou cinco minutos falando italiano na minha frente e estava falando em mandarim? Era óbvio, mas foi só o lado tonto e afim dela que atiçou. Só que ela respondeu com uma outra das nossas pequenas provocações.
- Ci sono molti cosi che non sai di me. – Quer dizer “tem muitas coisas que você não sabe sobre mim” em italiano e eu com certeza travei, além de sentir meu rosto esquentar para caramba. Aí ela se levantou, acho que falou que ia procurar o Lucas ou outra pessoa e foi, e eu fiquei com aquela cara de taxo.
- Você está caidinho nela, cara! – Taffa falou gargalhando depois que ela sumiu para o próximo vagão.
- Isso é perigoso, Taffa, não fala isso.
- Cara, ela falou uma frase em italiano que te deixou totalmente desconcertado. – Ele gargalhou alto e eu joguei a cabeça para trás, batendo na janela.
- Isso não pode estar acontecendo, cara. – Ele deu de ombros.
- Olha, não sei, mas aproveita, porque ela não parece ser o tipo de pessoa que tu encontras em qualquer esquina.

- E isso me fez pensar, ela era diferente, eu estava tentando descobrir exatamente no que, mas eu estava atiçado, eu queria saber mais, queria provocar mais para ela devolver a provocação e eu descobrir o que era aquilo.
- Amor, filho. – Minha mãe falou. – A-M-O-R! Conhece? – Suspirei.
- Mas eu a conhecia há pouco mais de uma semana, mãe, não pode ser...
- As pessoas se apaixonam à primeira vista, você ainda teve 50 dias para conhecê-la antes de decidir que queria ficar com ela...
- Eu sei, mas...
- Deixa ele terminar a história? Agora estou interessado. – Meu pai falou e nós gargalhamos.
- Por favor, continue! – Minha mãe falou.

Depois do primeiro amistoso contra a Croácia, nós tivemos um dia ainda em Liverpool e era aniversário do Cássio, aí ela queria fazer algo legal para ele e aí ela chamou a gente. Eu acordei naquele dia de manhã, me arrumei, esperei o Ederson, a gente dividia quarto na época, e saímos para o café, ela estava lá.
- Bom dia! – Ela falou animada e nós dois tomamos sustos.
- Mas logo cedo? – Ederson perguntou e ela riu fracamente.
- Eu preciso de uma ajuda de vocês dois. – Ela falou, andando à frente e nos entreolhamos e a seguimos. – Se vocês agilizarem o passo, seria melhor. - A gente praticamente saiu correndo atrás dela e só paramos quando entramos na cozinha do hotel.
- O que está acontecendo? – Perguntei.
- Hoje é aniversário do Cássio e pensei de a gente fazer uma bagunça com ele.
- Ovada? – Ederson falou animado.
- Algo mais fácil de limpar, na verdade. Eu comprei uma torta, agora uma humilhação pública é sempre bom.
- Farinha? – Alisson perguntou.
- Muito pouca sujeira.
- Por que não usam chantilly? – O chef da CBF nos perguntou e nos entreolhamos surpresos. – O tradicional “torta na cara” de programas era feito com chantilly.
- Você tem aí? – Ederson falou animado.
- Não é muito exagerado, não?! – Ela perguntou.
- Ah, qual é, é creme de leite batido, não vai ser tão mal. – Eu falei. – Além de que é gostoso.
- Aqui! – O chef falou, trazendo os ingredientes para gente.
- Cara, a gente não devia estar fazendo isso. – Ela cochichou e eu e Ederson começamos a colocar chantilly no pratinho.
- Ah, não tem mal nenhum. – Falei, percebendo seus olhos bem perto dos meus.
E aí a gente começou a rir, ela falava que ia ser demitida, que não deveria dar moral para gente, e, cara, era só piada, então a gente provocava ela, era engraçado, aí tinha a provocação e o Ederson já estava percebendo alguma coisa, a gente dividia quartos, então as vezes eu falava uma coisa ou outra, mas ele nunca tinha ouvido as provocações, ao vivo.
- Ok, vão um de cada lado e eu vou atrás. Vai! – Ela disse.
- Isso não ficou legal. – Eu joguei para ela, dando um largo sorriso e ela fechou a cara na hora.
- O que não vai ficar legal é minha mão na sua boca. – Ela falou isso mesmo, e o Ederson pegou a deixa na hora.
- Eita que o negócio está esquentado! – Ele brincou e apesar da nossa resposta:
- Cala a boca, Ederson!
Ele estava certo. Estava esquentando mesmo.

- Ah, eu amo a , sério, ela é ótima. – Minha mãe falou gargalhando em seguida.
- Filho, a única explicação que eu digo sobre você e a , é que você achou alguém à sua altura. Alguém que realmente não tem medo de... Não de você, mas assim, ela não se sente intimidada, nem pelo emprego, por você, pelos outros jogadores ou superiores, ela encara mesmo. – Meu pai falou. – E tu sempre gostou de pessoas assim, sempre. Você virava amigo dos caras que brigavam contigo na escola, agora tu estas namorando a mulher que te provocava.
- Eu sou um clichê ambulante, né?! – Ambos assentiram com a cabeça.
- Claramente você está apaixonado, filho, por isso estamos tendo essa conversa. – Minha mãe falou. – Você está relembrando os detalhes que te fizeram se apaixonar por ela, entendemos que você está chateado, preocupado com ela, mas olha tudo o que você falou, você já era apaixonado por ela desde o momento em que a viu e tentou fugir ao máximo.
- E nem chegamos na Copa ainda. – Franzi os lábios.
- Eu estou adorando. – Minha mãe falou sorrindo.

Um dos dias mais legais foi o dia das fotos oficiais, fizemos isso em um dos grandes campos com todos os jogadores, equipe técnica, equipe de comunicação, todo mundo junto, mas a primeira foto foi só os jogadores e os 10 membros da equipe técnica. Quando subiu a última fileira, que era a fileira que eu estava, parecia boliche, o banco estava fincado na grama, a grama estava meio úmida ainda, o pessoal só caía, então todo mundo ria demais, foi muito bom.
Depois das fotos oficiais, todo mundo entrou na foto, ela saiu correndo para os pés do banco da frente e todo mundo se debruçou para frente, para agrupar o pessoal e foi muito legal. Depois tivemos um tempo para tirar fotos entre a gente e a gente foi atrás dela. Ela realmente tinha agregado, todo mundo gostava dela e aquele dia ela me abraçou pela primeira vez, foi algo meio “vamos juntar para uma foto”, mas eu gostei.
- Vai tirar uma com a gente, não vai? – Eu e o Ederson nos aproximamos e ela abriu um largo sorriso e abraçou eu e o Ederson pela cintura, eu estiquei o braço para o ombro dela, trazendo-a para mais perto e tirei várias fotos.
Eu ainda tenho essa foto e confesso que cortei o Ederson e ficava encarando o largo sorriso dela depois que a gente foi deitar. É bonito, né?! Sei lá, eu fui me apaixonando devagar, ou rápido demais, não sei dizer, mas sabe quando a gente brinca “caiu em uma armadilha?” eu fui me aproximando, gostando das coisas e parecia que o quebra-cabeça ia se montando tão perfeitamente, sabe?
Depois tivemos uma coletiva o qual eu participei, depois as perguntas, ela começou a falar comigo algo do trabalho, do cansaço, de muitos compromissos e a pressão, acho que ela só encontrou alguém disposto a ouvir, e eu estava totalmente disposto a ouvir e eu acho que eu comecei a demonstrar o que estava sentindo, tipo...
- Eu só gosto de te ouvir falar. - Junto de uma piscadela, sabe? Não era intencional provocar, mas ela viu dessa forma e brincou que achava que era porque eu gostava dos olhos castanhos dela.
E eu gosto demais, né?!
Hum, depois, acho que no mesmo dia, um dia depois, tivemos uma sessão de fotos com os ternos da CBF, aquela foto que você gosta tanto, mãe. E, cara, eu não sabia que todo mundo estava percebendo essa brincadeira entre a gente? Ou se o Ederson e o Taffarel abriram a boca, sei lá, mas todo mundo já sabia.
- Olha que gatão! – Neymar brincou quando eu saí do vestiário
- Nem olha, amigo, já tem dona! – Ederson soltou, gargalhando em seguida.
- É, Alisson, Deus tá vendo você e a social mídia. – Thiago falou e eu revirei os olhos.
- Que vendo, o quê? Não tem nada. – Falei.
- Ah, mano, você não é estúpido o suficiente para achar que não tem nada, né?! – Coutinho falou. – Até eu sei que tem coisa aí.
- Sei lá, esse negócio de trabalho, vida pessoal, eu estou confuso demais.
- Bom, se vale o conselho, ela é incrível. – Thiago falou, seguindo para a primeira leva no elevador.
- Eu sei, mas não sei se ela está brincando, se ela está falando sério...
- Acho que a única solução é continuar na brincadeira e ver até onde vai. – Suspirei.
- Talvez, Ney, talvez.
- Eu acho que ela está a fim de você, se vale de alguma coisa. – Ederson falou, batendo nas minhas costas e eu esperei no elevador.
Quando eu cheguei lá em cima, ela já estava lá com Lucas, o fotógrafo, e eu notei que ela ficou bem surpresa quando eu apareci. Eu estava bonito aquele dia. Valeu, mãe. Ela até deu uma apoiada em Thiago e eu ri, sei lá, eu percebi que eu tinha algum efeito sobre ela, e já que estávamos brincando, por que não fazê-la falar o que estava pensando?
- O que acha? – Perguntei para ela, esticando o paletó e ela me olhou, franziu os lábios...
- Eu não posso falar o que eu acho, o horário não permite. – Era óbvio que vinha algo pornográfico, mas eu adorei, confesso.
- Fiquei curioso agora. – Falei e ela sorriu.
- Quem sabe depois das 10? Opa! Acho que minha porta já está fechada há essa hora. – Ela tinha uma sala para atender a gente, que ficava aberta durante certo horário caso a gente precisasse de algo, aí foi minha vez de deixá-la sem palavras, falei que abria.
- Tudo bem, eu abro! – Depois eu saí andando, eu queria realmente deixar ela sem palavras e consegui, porque depois, quando as fotos começaram, ela se sentou em um banco atrás de uma bancada que tinha ali, tipo, o único lugar fora da mira das câmeras do Lucas e ela dava uma tossida ou uma engasgada depois de toda foto.
Então ela estava vendo as fotos no notebook e ela real quase engasgou com água depois que viu minhas fotos e só reagiu com um polegar para cima. Eu estava gostando daquilo.

Eu percebi que estava apaixonado por ela quando ela cantou comigo. Não literal, eu estava tocando Amor da sua Cama do Felipe Araújo e ela apareceu na sala e ficou lá, cantando baixinho, mas só deu eu e ela, os olhares dos meninos foi claro, o que deixou ela bem encabulada, sei lá, eu olhava para ela e parecia que eu só a via, e tinha a sensação que com ela era assim também, ela ignorava todo mundo e só me via.
Quando a música terminou e aquele silêncio se instalou, todo mundo ficou olhando para gente, os meninos que já sabiam da história, começaram a olhar e ela ficou muito envergonhada, tentou sair daquela situação de uma forma ou outra, mas ela queria fugir muito dali.
- Ok, Alisson. Vamos conversar. – Ela falou fracamente. – Você é bonito, alto, jovem, goleiro da Seleção Brasileira, toca violão e ainda canta... – O pessoal em volta deu risada. – O que mais você quer da vida? Acho que você poderia dividir alguns talentos com o pessoal que tem menos atributos. – Ela falou e deu meia volta, indo para o buffet, eu levantei correndo, entregando o violão para quem estava do meu lado.
- Vai, Alisson, vai! – Eles brincaram e eu ri, indo até a mesa em que ela comia sozinha.
- Você gosta de sertanejo, não é? – Eu perguntei, só queria puxar assunto, sei lá, eu acho que já sabia dessa resposta.
- Eu nasci no meio da roça, mesmo se a gente não gostar, a vida faz questão de nos fazer gostar. Além da faculdade, é claro!
- Legal! – Sorri e ela deu um meio sorriso com os lábios pressionados.
- Me deixa perguntar... Tem algo que você faz mal? – Ela perguntou.
- Vamos descobrir! – Respondi e deixei-a sozinha novamente.

- Que safado! – Minha mãe me deu um tapa e eu gargalhei.
- Ah, mãe, eu não pensei em conotação sexual, pelo menos não de cara, seria mais tipo um beijo ou algo assim, sei lá. Pode ser na parte sexual também, mas estava pensando que se ela ia gostar dos meus beijos, igual na música, sabe?
- Eu acho que a gente criou esses meninos mal, Magali. – Meu pai falou e eu gargalhei. – Não pode ser aparecido assim, não, filho.
- Ah, pai, eu preciso me garantir nessa parte, vai.
- Eu não vou falar nada, continua. – Minha mãe gargalhava, escondendo o rosto com as mãos.
- Enfim, depois que eu voltei para o quarto, eles começaram a brincar de fazer uma aposta se a gente ia ficar juntos antes ou depois da Copa do Mundo, se a gente ia aguentar e tal, porque já era claro para todo mundo que aquilo ia acontecer uma hora ou outra, eu não achei que era real, mas isso é outra coisa.

Bom, depois a Copa começou oficialmente e aí as coisas ficaram mais sérias dentro da competição em si e dentro da CBF, a gente brincava sempre e tal, mas tinha que lidar na seriedade sempre, então a aposta de ficar juntos ou não, ficava tudo embaixo dos panos, mas eu sempre pensava muito se isso ia queimar minha carreira, minhas chances.
Hoje eu sei que ela pensava da mesma forma, ela queria, só que ela também estava começando agora, e tipo, ela era nova ainda, ela começou a trabalhar na CBF no dia da convocação, então ir para Rússia foi uma puta sorte para ela, azar do Theo que ficou doente, então o dela estava muito mais na reta do que o meu, então tudo ficou por baixo dos panos.
Mas aí, teve o primeiro jogo, ficamos no empate, e logo já começou os preparativos para o segundo jogo que era contra a Costa Rica e ela veio falar comigo, pediu uma declaração sobre a comparação minha e o Navas, foi o dia que vocês estavam lá, a Natália com a Helena, enfim, estava aberto para as famílias, ela veio falar comigo e eu percebi que ela estava seca, sabe? Tipo, “estamos a trabalho, nos falamos depois”? E na hora eu não entendi porquê, achei que tivesse feito alguma merda, que ela tinha ligado o botão “Copa do Mundo” e que não queria saber nada mais da gente.
É, vocês estavam lá, vocês viram que eu até comentei depois de que ela não era assim. Eu estava animado, eu queria uma aprovação de vocês, até da Nat, tipo, a gente não tem mais nada, mas ela é a mãe da minha filha, eu me importo em saber o que ela acha das minhas namoradas, pois eventualmente uma vai ser tornar madrasta da Helena, da mesma forma que ela me apresentou o Caio e tudo mais, aí ela agiu daquela forma, tipo, ela nem me deixou falar. Ela pegou as informações que precisava e foi embora.
- Ela é bonita, Alisson. – Natália falou e eu franzi a testa quando ela parou com Ederson e sua filha.
- Ela está estranha. – Falei. – Ela não é assim.
- Como assim?
- Não sei, ela estava seca, ela é mais animada do que isso. – Peguei Helena no colo, apoiando-a na grade.
- Algum problema talvez?
- Ela disse que estava com dor de cabeça. – Comentei.
- Vai ver está, esse sol está muito forte e ela está andando nele tanto quanto vocês. – Nat falou. – É difícil querer socializar assim.
- É, deve ser. – Suspirei, vendo-a sair do campo quase que correndo e eu segui para falar com Ederson. – Você viu isso? – Me agachei ao seu lado, colocando Helena ao lado de sua Yasmin.
- O quê? – Ele perguntou.
- Ela foi tão seca comigo.
- Do nada? – Ele perguntou.
- É, eu fui apresentar ela para minha família e...
- Ah, tá explicado, então, ela está com ciúmes. – Ele falou rindo.
- Ciúmes? – Franzi a testa.
- É claro! Você trouxe sua ex para cá e não quer ela com ciúmes? – Franzi a testa. – Qual é, Alisson, você é mais esperto do que isso.
- Mas eu não estou com a Nat, ela só está aqui por causa da Helena.
- Ela não sabe disso. – Ele deu um tapinha em minhas costas. – Ela já deve ter criado uma história inteira na cabeça dela e o negócio vai ser difícil.
E foi o que ela fez, ela começou a fugir de mim, evitava de me encontrar no restaurante, quando encontrava fugia, eu fiquei bem confuso nessa época, e era antes do jogo contra a Costa Rica, foi um dos jogos mais difíceis em pontuar e já tínhamos um empate. Então eu me desliguei, eu passei a tratar estritamente no profissional, eu tentei me esquecer dela, ignorar o quente no peito, tudo...
Parece aquela música Fake News, sabe? Não? Aquela, “te esquecer, eu tentei, ‘tá escrito nesse olho inchado que eu não superei. Se eu pudesse eu lavava você da minha vida, mas amor não sai com água”? Eu real tentei, confesso que chorei de frustração, mas eu já tinha me apaixonado e já estava ferrado.
Sim, os meninos falavam que era ciúmes, eu tentava falar com ela, tentei me aproximar, mas ela fugia de mim e, com o jogo, eu não podia me distrair, precisávamos ganhar. Costa Rica não tem um grande ataque, mas eles têm o Navas.
Um dia eu esbarrei com ela no corredor dos quartos e tentei confrontar com ela e ela me manda um:
- Talvez não seja a hora, para falar a verdade.
O QUE ISSO QUER DIZER?
Enfim, depois do jogo, ela veio falar comigo, eu estava chateado, então foi minha vez de dar gelo nela, mas ela tinha ganhado as luvas do Navas e eu fiquei curioso, então a gente começou a conversar de novo, até que ela assumiu que estava com ciúmes, que achava que eu menti para ela, que o Tite tinha explicado a história inteira para ela, enfim.

- Nesse ponto eu soube que não tinha mais volta. Ela sentia ciúmes de mim, ela ficava envergonhada por algumas coisas, bem coisa de começo de relacionamento, sabe? Eu senti falta dela quando ela se afastou, eu queria ela perto de mim, eu me preocupava com ela, eu queria saber se ela dormiu bem, eu achava lindo a forma que ela arregalava os olhos de surpresa e depois aliviava como se não fosse nada. – Ri fracamente. - Eu sei que iniciamos um relacionamento naquele dia. Só não tinha a parte física por causa de todas as outras questões que nos envolviam: competição e empregos.
- Eu lembro que conversamos sobre isso depois, que você falou que estava aliviado por ter sido só informações desencontradas, e que estava tudo bem no paraíso de novo. - Ri fracamente.
- É, foi como se o mar acalmasse, só dependia da gente agora. – Mordi o lábio inferior, suspirando.
- Por aí foi o vídeo dela defendendo seus pênaltis, não? – Meu pai perguntou.
- Sim, foi, começou como uma brincadeira depois do último treino antes do jogo da Sérvia, e ela era competitiva e eu também e ela é boa. Ela ajuda o Taffa com os treinos de vez em quando, ela se diverte quando estamos brincando, mas eu acho que ela podia ser jogadora profissional, se quisesse. – Dei de ombros.
- Se ela fosse, provavelmente o destino de vocês não teriam se cruzado. – Sorri.
- Eu sei, mãe, é só que eu penso se ela tinha esse sonho e não realizou, sabe? Mas ela é boa no que faz, é por isso que ela cresceu tanto na CBF em menos de um ano. Ela leva muito a sério.
- Então...
- Então, é por isso mesmo que eu não posso pedir que ela largue o emprego, entende? – Balancei a cabeça. - Eu admiro muito tudo o que ela faz, ela é perfeita, ela é incrível, é por essa garra dela e fazer tão bem o trabalho dela que estamos aqui hoje. Se ela não tivesse crescido tanto na CBF, feito um trabalho incrível, ela não iria para Rússia, nem se o Theo estivesse ficado doente, ela não tinha ido, nós não teríamos nos aproximado e nada disso teria acontecido.
- É, filho, a CBF é o motivo de tudo isso. – Meu pai falou, cruzando os braços.
- Não, pai, ela é o motivo de tudo isso. – Franzi os lábios. – Eu entendo o que a mãe diz agora, eu me apaixonei por ela sabendo tudo isso. Sabendo da distância, sabendo dos sonhos dela, das ambições, sabendo que nós teríamos que nos conformar com os encontros possíveis, com as dificuldades de fuso-horário, com as saudades, com tudo.
- Mas tem uma criança vindo agora. – Ele falou.
- E ela vai vir igual a Helena veio, ela lá, eu aqui, cada um se esforçando para fazer isso dar certo, aposto que ela vai ter licença maternidade, ela pode vir ficar comigo, depois a gente dá um jeito nos amistosos... – Dei de ombros. – Não tem o que fazer. – Abri um sorriso de lado. – Mas nem por isso quer dizer que vá ser ruim, vai ser diferente.
- Vai dar certo, filho, confia. – Minha mãe sorriu.
- Vai sim, com Helena já foi assim, com ela vai ser também, a diferença é que estamos juntos, então fica mais fácil. – Me levantei, sorrindo.
- Aonde você vai? – Meu pai perguntou.
- Ligar para ela e falar tudo o que eu falei para vocês.
- Eu ainda tenho minhas dúvidas sobre essa decisão, mas agora termina a história caramba. – Rimos juntos, negando com a cabeça.
- Ele está te provocando, está todo feliz por ser avô de novo e por ser da , ele está só provocando.
- Eu ainda não acho certo...
- Fica quieto, José. – Minha mãe falou.

Bom, terminando a história, depois daquele jogo, tivemos o da Sérvia, o jogo foi tão difícil que ela me deu um puta beijo na testa após ao jogo, mesmo eu suado e fedido, só que ela tinha se matado de beber energético, café, chocolate, porque ela não tinha dormido à noite, ela saiu correndo para o banheiro e botou tudo para fora, foi engraçado. Ela ficou mal à noite toda, sumiu de vergonha de todo mundo, mas depois ela apareceu.
Naquele dia teve o churrasco que a gente fez no hotel, lembra? É, então, vocês a conheceram melhor, viram que estávamos próximos, tudo mais, naquele dia, a aposta finalmente acabou e não deu para segurar mais. Eu a beijei, ela ainda disse que demoramos demais para isso e eu não preciso entrar em detalhes do que aconteceu depois, né?! Pois é!
Eu já sabia que gostava dela, que estava apaixonado e tudo mais, mas saber que nossos corpos combinavam tão bem juntos, foi a certeza de tudo. Bom, combinam tão bem que tem um bebê nosso vindo por aí... Eu estou feliz sim, preocupado e assustado, mas estou feliz, vai ser perfeito, ela é mãe de um filho meu, eu não podia estar mais feliz.
E isso inclui a relação dela com Helena também. Desde o primeiro momento em que ela interagiu com Helena lá na Rússia, tudo encaixou, sabe? Eu sabia que ela aceitaria tudo meu, inclusive a pessoa mais importante para mim, e Helena já a vê como uma segunda mãe, ela tem jeito com crianças, ela vai ser uma mãe incrível, eu sei disso, porque ela é uma pessoa incrível, uma profissional incrível, uma namorada incrível, ela vai ser uma mãe incrível também, tenho certeza.
Tudo estava lindo e perfeito. Eu estava feliz, até que veio a eliminação. Ela chorou igual uma criança quando o jogo acabou e eu a abracei, e eu sei que ela ficou mais triste por o que seria de nós ali para frente, do que pela eliminação, tipo, o que faríamos agora? Namoro à distância? Éramos um casal? Não éramos? Estávamos só curtindo, não esperávamos ter que encarar aquilo logo, tinha mais dois jogos, aí do nada veio a eliminação...
Não acho que o que nos eliminou foi a minha falta de atenção, acho que ela até me deixou mais motivado em forçar a dar sempre meu melhor para que pudéssemos ficar mais duas semanas juntos, porque com uma vitória viria comemorações, viagem para o Brasil, entrevistas, tudo mais, só que isso nos forçou a adiantar o papo, tipo, o que somos?
E falamos que daríamos certo, que daríamos um jeito, mas eu não estava satisfeito com isso, eu sabia que eu estava apaixonado, mas não sabia se realmente já a amava naquela época, porque nós dois entendemos que estava tudo amplificado, estávamos há muito tempo juntos diariamente, então podia acontecer muita coisa, mas eu sabia que não poderia ir embora sem saber que ela era minha garota, minha namorada. Então eu pedi para ela ser minha namorada.
- Quer saber? Por que a gente não namora? – Perguntei e notei a surpresa em seus olhos.
- O quê? – Ela não acreditava naquilo.
- Eu não posso sair daqui sem ter certeza que você será minha.
- Você está louco, Alisson Becker. – Ela falou rindo.
- É, talvez. – Eu concordava com ela. – Mas o que me diz? Gostaria de ser minha namorada? – Perguntei e ela só colou os lábios nos meus.
- Sim! Com certeza!

- Isso me deu forças a ir embora de cabeça erguida, empolgado com o futuro. Empolgado em falar com ela novamente, chamá-la de minha namorada, saber o que aconteceria depois daqueles dias na Rússia. – Ri fracamente. – E eu gostei, eu senti saudades, eu quis tê-la perto de mim, eu percebi que aquilo era realmente amor, eu percebi que tinha encontrado o amor da minha vida. E eu não queria nunca mais ficar longe dela. – Mordi o lábio inferior. – Com ela é diferente do que foi com todas as minhas outras namoradas, diferente de como foi com a Nat, eu quero sempre mais com ela, eu almejo sempre mais, penso no futuro, mesmo com um relacionamento de menos de um ano. – Sorri. - E aí essa distância me empolgou a sempre fazer bem meu trabalho para que continuassem me convocando, para que eu tivesse a oportunidade de ir nos amistosos, de vê-la sempre. – Sorri. – E aí ela foi promovida a essa posição de assessora de viagens oficialmente e nos encontramos em algumas situações, nas folgas dela, nas minhas, e estamos dando um jeito desde então.
- Se vocês deram um jeito lá atrás, aposto que conseguem dar um jeito agora. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, mãe, e obrigado por me fazer enxergar isso. – Sorri largamente. – Vai ser difícil, eu sei, vão ter dias que eu vou querer largar tudo só para ir atrás dela, que vamos brigar, que teremos divergências de opiniões, mas eu a amo e vamos enfrentar isso juntos e vai ser incrível do nosso jeito.
- Bom, eu que agradeço por contar sua história de amor. – Ela me abraçou fortemente. – É incrível ver o seu amor por ela pelos seus olhos. Eu já conhecia alguns detalhes pelo o que ela falou, ou a mãe dela, mas é muito bom te ver verdadeiramente apaixonado, filho. – Ri fracamente, ficando envergonhado.
- Eu sou, mãe. E eu vejo um futuro bem longo com ela. – Ela me deu um beijo na bochecha.
- Vai atrás dela, filho. – Meu pai falou. – Eu não tenho mais idade ou direitos de me meter na vida de você ou de vocês dois, mas eu fico muito feliz por você valorizar sua carreira e a dela, por vocês apreciarem e compartilharam seus sonhos individuais e agora planejar os sonhos do seu futuro juntos. – Senti meus olhos se encherem de lágrimas.
- Valeu, pai! – Suspirei.
- Vai ser uma aventura, mas é para isso que se chama de aventura, né?! – Ele falou e eu ri fracamente.
- Olha, com ela eu vivo uma bela de uma aventura e não quero que passe nunca. – Eles sorriram.
- Fala com ela, tá? – Peguei o celular no bolso, abrindo a conversa dela.
- Ela não deve ter chegado ainda, ela não olha o celular faz umas boas horas e também não me mandou mensagem ainda. – Eles riram juntos.
- Bom, enquanto espera, por que você não conta a novidade para seu irmão e para sua filha? – Minha mãe bateu a mão em meu ombro e eu ri fracamente.
- Ah, o Muriel vai me zoar tanto. – Eles gargalharam.
- Vai, mas estamos felizes por você, querido, essa criança vai ser muito bem-vinda. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- E a família dela é ótima, então o terreno está limpo.
- Um bando de loucos, né?! Mas ainda assim. – Meu pai ponderou com a cabeça e gargalhamos. – Dos dois lados, tá?! – Meu pai fez careta e minha mãe gargalhou, seguindo em direção à cozinha.


Capítulo 14 – Quase uma Lua de Mel

- Grávida? – Andressa gritou.
- Xí! – Falei apressada. – Não quero que eles ouçam.
- Eles não chegaram ainda. – Ela falou colocando a mão na cabeça. – Não acredito, mana. Um bebê?
- Espero que sim, se for um burro vai ser complicado. – Revirei os olhos.
- E como você está se sentindo? – Suspirei. – Feliz? Triste? Desesperada? Apática?
- Todas as opções acima? – Ri fracamente. – Eu sei desde o começo de março, agora já estou mais acostumada com a ideia. – Franzi a testa.
- E você só me contou agora? – Ela gritou novamente e eu me contive em não pedir para ela ficar quieta novamente.
- Eu queria contar para o Alisson antes, eu estava nervosa, confusa, muito perdida, mas queria que ele soubesse antes.
- Aposto que o Bernardo soube antes... – Ela cantou e eu ri.
- Ele que suspeitou, na verdade, comprou o exame de farmácia e tudo.
- Mas como você está? Como foi com Alisson?
- Ah, o Alisson tem uma visão diferente da nossa, né?! Ele tem uma filha de quase dois anos já, também um acidente, mas ele já é pai, eu sou tia e olhe lá. – Suspirei. – Ele ficou feliz, o que foi bom, isso me aliviou um pouco, mas agora pensar sobre como vamos cuidar dessa criança me desespera um pouco. – Apoiei o queixo na mão.
- Putz, verdade! Alguma ideia? – Ela perguntou e eu suspirei.
- Até brigamos por isso no último amistoso, mas preferimos parar, porque nenhum tinha uma solução plausível para isso e não é justo nenhum largar os empregos. – Mordi o lábio.
- Alguém vai ter que ceder, irmãzinha.
- Eu sei, e tem 99 por cento de chances de ser eu, mas não queria largar esse emprego. – Suspirei.
- Talvez você não precise largar, trabalhar remotamente? Home office? – Ri fracamente.
- Claro e aí durante o campeonato brasileiro eu faço assessoria por Skype... – Ela fez uma careta.
- Ou quem sabe conseguir um emprego no Liverpool? Você tem experiência de quase um ano com a Seleção Brasileira, talvez seja uma boa. – Ponderei com a cabeça.
- Eu pensei nisso, sabia? Talvez seja uma sugestão, mas penso em trabalhar sempre com o Alisson, trabalhamos 10 dias durante dois meses juntos, é diferente! E se ele muda de time, país? É um pouco mais complexo. Na CBF eu trabalho para o Brasil, a seleção, os jogadores brasileiros, é um pouco mais amplo. – Suspirei.
- Vocês vão ter que fazer uma escolha, meu amor. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei, minha folga é menor dessa vez, eu volto a trabalhar na segunda já. Eu estava escondendo da CBF e da equipe técnica que estava grávida, mas acabou vazando e agora vou ter que conversar com eles, vou ver o que eles falam, mas eu acompanho a Copa América ainda, então eu tenho pelo menos uns três meses para pensar.
- E vocês vão ficar bem tanto tempo longe? – Suspirei. – Você vai ficar bem? É a sua primeira gravidez, mana, não deveria lidar com isso sozinha.
- Eu sei, também penso nele não acompanhar essa evolução, mas eu realmente não posso fazer nada agora.
- Vai ficar tudo bem. – Assenti com a cabeça.
- E você? Como está com essa notícia? – Perguntei.
- Olha, eu entendo que você esteja confusa e desesperada, eu também estive quando foi minha vez, você sabe, mas eu estou feliz, irmã. – Ela abriu um largo sorriso. – Tipo, você encontrou o amor da sua vida, está lutando contra tudo e todos para fazer isso dar certo e agora vai montar uma família... – Ela abriu um largo sorriso. – Ah, eu vou chorar. – Ela passou as mãos embaixo dos olhos e eu gargalhei.
- Ah, Dessa! – Ri fracamente. – Eu estou sensível, você sabe.
- Desculpe. – Ela respirou fundo.
- Eu só estou tão feliz por você.
- Por que está feliz por ela? O que houve? – Ouvi a voz de meu pai e ela olhou para o lado, saindo da tela.
- Estou falando com a , ela está no Skype.
- Oi, amorzinho. – Minha mãe apareceu e eu acenei, sorrindo.
- Oi, mãe. Oi, pai! Como vocês estão? – Minha mãe se sentou na cadeira aonde antes Andressa estava e os dois apareceram na tela de novo.
- Tudo bem, querida, como foi a viagem, tudo certo? – Meu pai perguntou.
- Tudo certo. – Sorri.
- Então, o que estavam falando? – Minha mãe perguntou e eu suspirei, sabendo que não poderia fugir.
- Mãe, pai, eu preciso contar uma coisa para vocês. – Mordi o lábio inferior.
- O que foi, querida? – Minha mãe perguntou.
- Eu gostaria que vocês maneirassem na reação, pode ser?
- O que foi, amor? Aconteceu algo? – Meu pai perguntou e Andressa assentiu com a cabeça, tentando me dar apoio há vários quilômetros de distância.
- Aconteceu e eu ainda estou sensível com isso, não tenho um plano traçado, mas estou contente, então gostaria de pedir para vocês maneirarem na reação, pode ser? – Ambos se entreolharam e voltaram a encarar a tela.
- Você tem nosso apoio sempre, amor, o que foi? – Minha mãe perguntou.
- Eu estou grávida. – Falei, engolindo em seco.
- Grávida? – Ambos gritaram.
- Maneirem na reação, pelo amor de Deus. – Andressa interveio, tirando minha mãe da cadeira e se sentando de volta. – Tá tudo bem, mana, vai ficar bem.
- Como? Como? – Meu pai falava.
- Você não acredita mesmo que sua caçula era virgem até hoje, né? – Andressa falou. – Com um puta homem daquele como namorado? Dormindo na mesma casa?
- Eu tinha esperança, eu...
- Ah, parem vocês! – Minha mãe gritou, se apoiando na mesa, ficando perto da câmera. – Como você está, meu amor?
- Eu estou bem, mãe, não é algo recente, estou quase completando três meses já, agora que eu estou mais aliviada, só queria contar para o Alisson antes de falar para vocês. – Suspirei.
- Já foi ao médico? Já fez um ultrassom? Já viu como o bebê está?
- Está tudo bem, mãe, indo conforme o planejado.
- Não muito planejado, né?! – Ouvi a voz de meu pai.
- Quieto, Alberto. Você já perdeu o poder de palpitar sobre sua filha quando ela se mudou para o Rio para cuidar da sua mãe que era sua responsabilidade. – Minha mãe falou.
- Ei, eu tenho um irmão também, sabia?
- É, um irmão que não tem a mesma carreira e o mesmo salário que você, você não ia impedir ele de ir quando passou no concurso, ou ia? – Minha mãe falou firme.
- Parem! – Gritei, respirando fundo. – Eu tenho uma criança crescendo dentro de mim e ela já tem orelhas, ok?! Ela escuta tudo. – Respirei fundo.
- Desculpe, amor. – Meu pai falou.
- Eu estou bem! – Falei firme. – Com medo, assustada, nervosa, não sei como vou fazer isso, mas o que importa é que o Alisson está feliz, então ele me deu um conforto enorme para conseguir encarar isso e temos condições monetárias em cuidar dessa criança. – Respirei fundo. – Agora não sabemos como vamos fazer com esse relacionamento à distância, se eu vou para lá, se ele vem para cá, mas adoraria que vocês deixassem que a gente decidisse isso sozinhos.
- Desculpa pela forma que agi, filha. – Meu pai falou. – Só estou preocupado contigo, sozinha, sem o Alisson.
- Eu também estou, pai, mas eu tenho Bernardo, Lucas, Vinícius, Bianca, meus outros amigos do trabalho, na pior das hipóteses, tem até as sobrinhas da vó, eu estou bem, prometo. – Dei um pequeno sorriso. – Eu quero ver os lados bons disso, porque eu já estou vendo muitos lados ruins e eu quero isso, sabe? – Dei um pequeno sorriso, colocando a mão na barriga. – Eu estava com medo inicialmente, até que eu falei para o Alisson e o mundo dele se abriu, e o mundo dele é o meu mundo. – Suspirei. – Eu estou bem, eu juro, eu só preciso do apoio de vocês.
- Você sabe que sempre vai ter. – Minha mãe falou. – Independente do dia, hora, lugar, estaremos contigo. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada! – Meu pai assentiu com a cabeça.
- Ok, agora que eu vou ser avô pela segunda vez, e já passamos a fase de briga, eu quero ver uma foto do meu próximo neto ou neta. – Meu pai falou e eu ri fracamente e peguei o celular.
Abri a galeria, procurando as fotos e vídeos do ultrassom e enviei para o grupo da família que nós quatro tínhamos, o grupo menor. Ouvi o toque do outro lado do notebook e os três pegaram seus aparelhos para checar.
- Ah, meu amor! – Minha mãe levou a mão à boca imediatamente, claramente emocionada e eu me senti da mesma forma aqui.
- Ah, minha filha. – Meu pai falou e eu ri fracamente.
- Vai ser lindo, mana, já sabe o sexo?
- Ainda não. – Suspirei. - Está cedo, a médica disse que mais algumas semanas.
- Nos dê todas as informações que você tiver, ok?! Quero saber tudo sobre você e essa criança.
- Pode deixar, eu tenho médica só no fim do mês agora, eu conto para vocês tudinho. – Eles sorriram.
- Vai ser incrível, mana. – Sorri.
- E agora sobre mim e Alisson, bom... – Respirei fundo. – Só um dia de cada vez vai dizer, mas vamos tentar conseguir algumas folgas, nem que tenhamos que trabalhar mais e compensar, para ficarmos juntos.
- Eu te apoio em qualquer decisão sua, tá bem? – Andressa falou e eu assenti com a cabeça.
- Nós também. – Meu pai falou rapidamente, nos fazendo rir.
- Eu sei e isso já basta. – Sorri.
- Podemos começar a fazer de nome? Alberto eu acho incrível. – Ele falou e gargalhamos.
- Ah, nem a pau! – Neguei com a cabeça.
- Melhor do que Alisson... – Ele foi irônico. – Muriel... Quem dá o nome para os filhos de nomes femininos?
- Ah, pai! – Neguei com a cabeça, vendo-os rir.
- Quem se importa com dois espécimes daquele? – Andressa suspirou.
- Natan não está aí, não? – Falei sugestivamente e ela riu.
- Não! – Ela abriu um largo sorriso e neguei com a cabeça.
- Ainda não falamos sobre isso, pai, mas se for menino, não será um nome feminino, tá bem? Não se preocupe.
- Bom mesmo. – Sorri. – Mas pode puxar os genes de jogador de futebol dele, tá? Vovô aceita.
- Ah, Alberto, a menina está de três meses ainda, relaxa.
- Eu preciso ir ao banheiro de novo, acalmem seus corações aí. – Falei, ouvindo-os rir antes de ir para o banheiro.

Desliguei a ligação com a minha família, me sentindo mil vezes mais leve, claro que eles estavam preocupados com toda a situação, eu só tinha 26, estava sozinha, era minha primeira gravidez e tudo mais, mas eu sabia que pelo menos eles estavam me apoiando em todas as minhas decisões, e estavam pronto para fazer piada com toda a situação quando eles tivessem oportunidade. Isso trazia um quentinho dentro do peito, parecia que o desespero, o medo real, ia sumindo aos poucos com a aprovação do meu namorado, amigos e família e agora era o medo real de realmente encarar uma gravidez, me tornar mãe, passar por um parto e todos os problemas reais de uma gravidez e de todo processo.
Desliguei a ligação quase duas horas depois, Natan apareceu, depois Analice, aí o papo já estava mais complicado de ouvir e só ficamos gargalhando. Suspirei ao finalizar, me sentindo realmente cansada e minimizei a aba do Skype, e abri uma nova aba no navegador, acessando o site do WhatsApp Web. Esperei o mesmo carregar e vi algumas conversas com mensagens, a primeira da fila era de Alisson.
“Ei, já chegou? Me liga quando puder”
“Desculpa a demora, liguei para minha família para contar do bebê e ficamos quase duas horas conversando. Skype?”
– Enviei a mensagem e deslizei com a cadeira de rodinhas para o centro do quarto, abrindo meu armário secreto e peguei um pacote de Fandangos ali e ouvi o Skype tocar, me fazendo deslizar de volta para o computador.
Abri o salgadinho e apertei para atender a ligação, enfiando um bocado na boca.
- Ei! – Ele falou sorrindo.
- Oi! – Dei um meio sorriso com a boca cheia. – Desculpe. – Ele riu.
- O que está comendo aí?
- Fandangos! – Estiquei o pacote para cima com a voz ainda zoada e engoli o pouco, suspirando. – Deu vontade.
- Coma o que quiser. – Ele riu, suspirando. – Chegou há muito tempo?
- Não muito, enviei mensagem para minha irmã, ela estava arrumando Analice para escola e aí conversamos, aí meus pais chegaram, ficou a família inteira conversando. – Ele riu fracamente.
- Como eles reagiram? – Ele perguntou.
- Olha, na medida do possível acho que deu tudo certo. Claro, eles estão preocupados comigo, com a gravidez, com a minha idade, com a distância e todas as preocupações nossas, mas eles apoiam a minha decisão. – Ele sorriu.
- Que bom! Apoio é tudo o que a gente precisa agora. – Assenti com a cabeça. – Meus pais estão aqui, contei para eles, a reação foi a mesma.
- Mesmo? – Franzi a testa.
- Não é como se fosse o meu primeiro filho sem planejamento na família, né?! – Fiz uma careta.
- Eu esqueço que você já passou por tudo isso. – Suspirei, sentindo uma pontada no coração.
- Não dessa forma. – Ele falou. – As situações são totalmente diferentes, eu estou apaixonado, eu estou com uma carreira mais consolidada, eu... – Ele abanou a mão. – Quis dizer sobre entregar surpresas para meus pais.
- Eu sei, eu sei, é só que... – Suspirei. – Um pouco da sua experiência poderia vir a calhar.
- Eu não tenho muita, você sabe disso. – Ele suspirou. – É um desastre toda vez que a Helena vem para cá, são uns dois dias até ela se acostumar comigo. – Ele coçou a cabeça. – Foi muito estranho com a Natália quando aconteceu, terminamos porque não tinha mais amor entre a gente, aí do nada ter que enfrentar uma gravidez juntos? Foi estranho demais. Eu não quero que sejamos assim, tá?! Eu te amo, é por isso que eu queria falar contigo.
- O que foi? – Coloquei mais alguns salgadinhos dentro da boca.
- Eu quero pedir desculpas que agi quando você me contou...
- Você não preci...
- Preciso sim! – Ele falou firme. – Eu fiquei muito mais que duas horas contando nossa história para meus pais, porque eu me esqueci dos motivos que fizeram eu me apaixonar por você. – Ele deu um pequeno sorriso. – Todos os motivos que fizeram eu me apaixonar por você, são todos os motivos que eu vi como problema para essa gravidez. – Ele negou com a cabeça e senti meus olhos lacrimejarem. – A forma que você trabalha, sua garra, sua perseverança, sua vontade de sempre ajudar, sempre participar, sempre se preocupar com todo mundo, seu comprometimento, tudo. – Ele suspirou. – Bom, nos conhecemos no seu ambiente de trabalho.
- Nosso...
- Não, seu! – Ele falou firme. – Eu ganho com isso, mas se por acaso eu me lesionar ou me aposentar, eu serei facilmente substituído, você pode trabalhar com eles para sempre e eu sei o quanto você batalhou para conseguir isso. Você ir para Copa foi uma série de sorte, mas você entrou na CBF com todos os seus conhecimentos, você passou por um extenso processo seletivo e entrou no seleto membro de mulheres que trabalham na CBF. – Ele suspirou. – Você é uma mulher que acompanha a Seleção Brasileira Masculina Principal e tem só 26 anos. – Sorri. – Você é o motivo de existir um “nós”, e eu me apaixonei por você sabendo tudo isso, sabendo da distância, dos seus sonhos, dos nossos encontros esporádicos, fuso-horário, tudo. – Mordi meu lábio inferior. – Eu gostaria de ter dito isso cara-a-cara, mas se for preciso que fiquemos separados por mais um tempo para que você continue realizando seu sonho e fazendo-o tão bem, nós vamos ficar.
- Ah, Alisson. – Suspirei, passando a mão na bochecha úmida.
- Os amistosos existem para isso, cada um leva uma bagagem extra depois, dois meses com cada um, o que acha? – Gargalhei, negando com a cabeça. – Vai dar certo.
- Você sabe que eu também não quero que saia do time, né?! Foi da boca para fora.
- Eu sei. – Ele assentiu com a cabeça. – E está tudo bem, eu só quero que você me prometa que vai me dar notícias sempre, sempre, sobre qualquer coisa, você, o bebê, tudo. Eu vou ficar acordado até tarde para conversamos, eu quero seguir o acompanhamento dessa criança sempre.
- Pode deixar. – Assenti com a cabeça. – A gente vai fazer isso dar certo, ok?! Eu te amo.
- Eu também te amo, você é o melhor presente da minha vida. – Sorri, assentindo com a cabeça, colocando mais um punhado de salgadinhos na boca. - Você volta a trabalhar quando?
- Segunda já, não teremos grandes folgas dessa vez, está chegando a Copa América, tem muita coisa para acontecer, principalmente das outras seleções, tem a Copa do Mundo Feminina também, né?!
- Verdade! Vai ter muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. – Ele suspirou. – Pelo menos estaremos juntos.
- Sim, pena que é mais curta que a Copa do Mundo. – Ele sorriu.
- E eu espero chegar na final da Champions.
- Se Deus quiser, meu amor, o mundo precisa conhecer meu namorado que é o melhor goleiro do mundo. – Ele riu.
- Ainda não.
- Mas vai ser. – Sorri, vendo-o retribuir.
- Bom, independente, será um mês juntos, mais ou menos.
- Sim, talvez consiga adiantar uma licença maternidade, depois você tem férias, vai dar certo.
- Vamos fazer acontecer.
- Já faz quase um ano que estamos fazendo acontecer, o que são mais alguns meses? – Sorri e ele piscou, dando um beijo na mão e estendendo para mim.
- Você é a melhor coisa que me aconteceu, nada vai me separar de você.
- Eu queria te abraçar e dormir juntinho de você.
- Vou te enviar uma almofada com a minha cara. – Ri fracamente.
- Igualzinho, claro. – Falei ironicamente e ele riu.
- Dá para tapear, vai. – Ele gargalhou.
- Opa, claro, estou acostumada com um corpo maior e mais forte comigo, mas tudo bem, dá para tapear. – Ele gargalhou sorrindo.

- Bom dia, gente! – Falei, entrando na nossa sala.
- E aí?! – Leandro, Débora, Diana e Anna sorriram e eu segui em direção à minha mesa, ligando o computador.
- Então, ouvimos que temos uma gravidinha no grupo? – Anna perguntou e eu fiz uma careta.
- Então vazou, é?! – Cocei a cabeça.
- Edu veio aqui hoje cedo. – Leandro falou, se aproximando de mim. – Está feliz?
- Agora estou. – Assenti com a cabeça, sentindo-o me abraçar fortemente.
- Parabéns, então! – Sorri e os outros três vieram me abraçar.
- Parabéns, mamãe! – Ri fracamente.
- Ainda é tudo muito recente para mim, mas todos os interessados já estão informados e estou me sentindo muito bem agora. – Eles sorriram.
- Se cuida, hein?! Tem muito trabalho por aí. – Assenti com a cabeça e segui para minha cadeira.
- Nem senta, ! – Virei para o lado, vendo Lucas entrar. – Bom dia, gente!
- Bom dia! – Falamos em coro.
- O que foi?
- Michelle quer falar contigo. – Ele falou e eu suspirei.
- E começamos cedo... – Suspirei.
- Não é sobre isso. – Ele falou. – Pelo menos comigo não foi.
Segui para fora da sala e fui até a sala de Michelle e dei dois toques na porta, antes de abrir uma fresta. Ela estava ao telefone, mas esticou a mão para que eu entrasse. Fiz o que ela pediu, fechei a porta e me sentei em sua frente.
- Ok, depois nos falamos, tchau. – Ela desligou e olhou para mim.
- Oi! – Falei.
- O que vamos fazer contigo, hein?! – Franzi o rosto, esperando o esporro.
- Desculpa não dizer nada antes, ninguém sabia, nem o Alisson, todo mundo está brigando comigo, mas queria informar ele antes...
- Ei, relaxa! – Ela ergueu as mãos. – Não precisa ficar na defensiva. Eu te chamei para falar de outra coisa, mas como recebemos a notícia quarta-feira que uma das assessoras que vão acompanhar o Brasil na Copa América está grávida de um dos jogadores, achei que já devêssemos ampliar a conversa.
- Ok... – Deixei-a continuar.
- Primeiro de tudo: como você está com essa gravidez? Feliz? Triste? Era planejado? Foi um acidente?
- Eu só tenho 26 anos, Michelle, posso te garantir que não foi planejado. – Ela assentiu com a cabeça. – Eu entrei em desespero inicialmente, mas tirar nunca foi uma opção minha, tenho um emprego bom, casa, dinheiro, uma família que me apoia, um relacionamento estável, apesar da distância, então estou bem com isso. – Ela confirmou. – Agora, depois que eu contei para o Alisson, minha família, família dele e amigos, posso te garantir que estou feliz e me preparando para o desafio de ser mãe.
- Muito bom ouvir isso. – Ela assentiu com a cabeça. – Então, meus parabéns. – Ela segurou minha mão. – Te desejo muita sorte e sucesso nessa nova etapa da sua vida.
- Obrigada. – Assenti com a cabeça, sentindo-a apertar as minhas mãos.
- Agora sobre a Copa América, de quanto tempo você está? – Ela me perguntou.
- Hoje estou completando três meses. – Falei e ela ergueu os olhos.
- Foi o ano novo em Roma, né, safada? – Ela me zoou e eu gargalhei, vendo-a bater na mesa. – Ano novo foi bom, hein?!
- Mais do que bom, trouxe até presente. – Ela gargalhou, negando com a cabeça.
- Então, quando começarmos os planejamentos da Copa América, até o fim da competição, você estará de cinco e seis, certo?
- Certo! – Confirmei.
- Você acha que dá conta de acompanhar a seleção? Viagens? Jogos? Trabalho corrido? Nervosismo?
- Eu estou fazendo todos os exames, mas sei que mesmo se eu não acompanhar pessoalmente, eu vou acompanhar de casa e vou ficar mais nervosa ainda, e também é uma oportunidade para o Alisson acompanhar um pouco mais de perto. – Ela assentiu com a cabeça.
- Vamos chegar lá. – Ela falou. – Pelas leis brasileiras, você tem um direito a seis meses de licença-maternidade, a começar a contar pelo nascimento, então, a não ser que tenha algum problema no meio do caminho, e esperamos que não tenha, trabalhando normal tanto na Copa América quanto nos outros compromissos que virão?
- Sim! – Falei firme.
- Ok, quero um atestado da sua médica para isso, principalmente viagens. – Assenti com a cabeça. - Agora vamos falar sobre sua gravidez em si, em mais um menos um mês, você completa um ano aqui na CBF e tem direito a 30 dias de férias...
- Talvez eu tire após a Copa América, assim fico sete meses com o Alisson.
- Eu acho uma boa ideia, mas eu vou te dar outra sugestão, que, na verdade, era o motivo inicial que eu conversaria contigo.
- Qual? – Perguntei.
- Você tirar antes da Copa América, nós te damos esses dias, depois no segundo ano você trabalha 13 meses para compensar. – Assenti com a cabeça. – Eu ia sugerir você tirar esse mês agora, principalmente porque você não tirou folgas além das que te damos nesse tempo, para se preparar para a Copa América. – Ela pausou. – Mas, com essa mudança de situação, sugiro você tirar esse mês agora, você tendo que retornar até o dia 17 de maio para o começo dos compromissos para a Copa América, passa esse tempo com o Alisson, encontra uma ginecologista de confiança e preparar seu pré-Natal...
- Mas encontrar uma ginecologista em Liverpool? – Perguntei e ela esticou a mão para que eu esperasse.
- Eu já comecei a entrar em contato com algumas pessoas, vou dar um jeito de você ter essa criança em Liverpool com o Alisson, ok?! E passar esses seis meses lá, sem que tenha que viajar com o bebê e sem que o bebê nasça no meio do avião.
- Não é melhor então eu não tirar férias agora e tirar mais perto do parto? – Perguntei.
- São dois direitos diferentes, férias e relacionamento à distância com jogador de futebol. – Ri fracamente. - Eu vou tentar fazer o possível para que vocês tenham o mínimo de efeito sobre esse relacionamento à distância e esse bebê.
- Obrigada! – Suspirei.
- Não se anime, tudo veio com muita surpresa para gente, tanto quanto você, então não comemore ainda. – Derrubei os ombros. – Já entrei em contato com o Liverpool, com meus superiores para falarmos do seu caso e, ao menos algumas folgas mais extensas para Alisson, a gente vai conseguir.
- Já é o suficiente. – Ela assentiu com a cabeça.
- Então, férias do dia 16 de abril ao dia 16 de maio está bom para você? – Ela perguntou e eu suspirei.
- Pode ser do dia 16 de abril ao dia 13 de maio? – Perguntei.
- Tirou três dias, por quê? – Ela perguntou.
- Estou confiante que o Liverpool vá para a final da Champions, claro que tem muita coisa para rolar até lá, mas se eles forem, eu gostaria de poder acompanhar e três dias é mais que o suficiente para ir e voltar.
- Posso fazer isso acontecer. – Ela assentiu com a cabeça.
- Se não passar, aí eu tiro esses dias depois, ou deixo para licença, sei lá.
- Tudo bem, vou preparar os documentos. – Assenti com a cabeça.
- É só isso? – Perguntei.
- Tem mais uma coisa. Eu aconselho você e o Alisson a anunciar essa gravidez como um casal, por quê? Porque a imprensa vai vir em cima de vocês, do Liverpool e da CBF, então é melhor que eles venham agora do que no meio da Copa América. – Assenti com a cabeça. – Postem como namorados, como futuros pais, anunciem a felicidade e deixe o processo acontecer. Eles vão perguntar como vocês vão fazer, como ficará o trabalho de ambos, como ficará ambos na Copa América, o que isso vai afetar na vida de vocês, então sejam honestos, façam uma live juntos, tirem dúvidas, deixe que o Alisson fale abertamente em coletivas, vai ser uma fase complicada, mas depois passa e teremos vocês dois muito mais comprometidos e interligados na competição e com esse bebê. – Assenti com a cabeça.
- Obrigada. – Sorri.
- Eu vou pedir para o RH preparar os papéis e depois te envio para assinar, o Lucas vai tirar um mês também.
- Beleza e eu vou comprar minha passagem para Londres. – Rimos juntas.
- Vai lá. – Suspirei. – Ah! – Ela falou antes que eu me levantasse. – Temos algo para você. – Ela se virou para trás, pegando um embrulho de presente e me esticou. – Para seu pequeno ou pequena. – Franzi a testa e trouxe o pequeno embrulho para meu colo.
Abri o embrulho do mesmo, encontrando um tecido preto lá dentro e tirei, esticando-o sobre a mesa de Michelle e fiz um beicinho quando estiquei o mesmo e encontrei um macacão de bebê que imitava a blusa de goleiro da Seleção, suspirei, vendo-a com um largo sorriso no rosto. Virei o mesmo de costas e gargalhei ao encontrar escrito “Mini Becker” e o número 1.
- Ah, Mi! – Ela sorriu, se levantando.
- Pedimos para fazer especialmente para você, uma pequena lembrancinha.
- Vocês já fazem tanto por mim, não precisava. – Ela sorriu.
- Precisava sim. – Me levantei e ela me abraçou fortemente. – Somos uma família. – Suspirei.
- Obrigada mesmo, significa muito para mim. – Ela assentiu com a cabeça, dando um beijo em minha bochecha.
- Agora aproveita, ok?! E Michelle é um lindo nome para menina. – Ri fracamente.
- Ainda não sei o sexo, mas prometo que coloco na lista. – Pisquei e ela sorriu.

- Advinha quem está decolando para Londres no dia 15 de abril? – Falei animada assim que a ligação de Alisson carregou.
- Mesmo? Vai ter algum compromisso por aqui? – Ele perguntou sorridente.
- Sim, um mês de férias sendo mimada pelo meu namorado e pai do meu filho. – Abri um sorriso.
- Mentira? – Ele arregalou os olhos.
- Sim, fiquei sabendo hoje! – Suspirei. – É Deus conspirando ao nosso favor.
- Ah, com certeza, meu amor. – Ele parecia até mais relaxado. – Eu vou cuidar muito de você. – Sorri.
- Ah, vai ser ótimo. – Suspirei. – Serão 27 dias, na verdade, mas vai dar para aproveitar bastante. – Ele sorriu. – A Michelle tem algumas sugestões para gente, achar uma ginecologista aí, anunciar a gravidez e outras coisas, mas eu só quero aproveitar essa notícia contigo.
- A gente vê mais para frente, mas vamos sim, o pessoal do Liverpool falou isso comigo hoje, que a gerente de comunicação da CBF ligou e...
- Foi a Michelle, ela falou que conversou com eles.
- Vai dar tudo certo. Vamos poder passar um tempo juntos, aproveitar sua gravidez, vão ser poucas semanas até a Champions, se chegarmos para a final.
- Vão sim. – Sorri. – Estou confiante, deixei três dias de fora para essa possibilidade, para te acompanhar no jogo. – Ele ri fracamente.
- Deus te ouça, mas confesso que as vezes não passar seja uma boa para eu te encontrar mais cedo no Rio. – Neguei com a cabeça.
- Não fale besteira, vocês vão chegar lá e o pai do meu filho vai ser o melhor goleiro do mundo. – Ele riu fracamente.
- Fico feliz que você torça junto.
- Como não torceria? Seu sucesso é o meu sucesso, é o nosso sucesso agora...
- Ah, que coisinha mais linda! – Ouvi um grito vindo da sala e me levantei, saindo do quarto, vendo que Bernardo havia chegado e encontrei ele olhando para o macacãozinho que eu havia ganhado. – Eles te deram?
- Sim. – Sorri.
- Ele é lindo! – Ele falou e eu sorri.
- Deixa eu mostrar para o Alisson. – Falei, puxando da sua mão e virando.
- Eita, para aí! – Ele falou e eu travei quase entrando na porta. – Ergue essa blusinha aí. – Ele falou e eu subi minha blusa. – Olha quem tá crescendo barriguinha já. – Arregalei os olhos, descendo o rosto para a barriga e corri para dentro do quarto, ficando na frente do espelho.
- O que está acontecendo? – Alisson perguntou.
- Fala aí, parça! – Bernardo falou entrando comigo.
- E aí, Bernardo, tudo bem?
- Tudo certo! – Ele falou e virou o notebook para minha direção. – Aquilo é um começo de barriguinha, não é não?! – Ele falou para Alisson e virei o corpo para Alisson, me aproximando mais da câmera.
- O que você acha? – Perguntei para Alisson, segurando a blusa até os seios.
- Acho que nosso bebê está crescendo. – Ele falou e eu ri fracamente, mordendo meu lábio inferior. – Você está incrível.
- Obrigada. – Suspirei, levando a mão livre até minha barriga e acariciando-a levemente. – Vai ser uma bela aventura. – Alisson sorri.
- Vai sim! – Suspiramos juntos.
- E olha o que a CBF deu para ela! – Bernardo esticou o macacãozinho na frente da tela.
- Há! Que graça! – Ele falou sorridente.
- E o verso! – Ele falou, virando o macacãozinho.
- Mini Becker, é?! – Rimos juntos.
- As apostas começaram, mais gente acha que vai ser menino do que menina. – Falei.
- E você, o que acha? – Alisson perguntou.
- Eu?
- É, falam que a mãe tem um sexto sentido e quase sempre acertam. – Suspirei.
- Eu não sei, pode vir o que for, só venha com saúde. – Ele sorriu.
- Vai vir sim, vai ser perfeito. – Mordi meu lábio inferior, me olhando novamente no espelho.
- Mas acho que eu ia gostar de uma menina, temos a Analice, a Helena, mas ia gostar de uma menina. – Ele sorriu.
- Uma futura jogadora de futebol? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Se daqui uns 14 anos a profissão feminina for mais valorizada, com certeza.
- Desacelera aí, , pelo amor. – Bernardo falou.
- Concordo, vamos focar na sua vinda para cá. – Alisson falou e eu sorri.
- Em duas semanas eu embarco e aproveitamos muito juntos.
- Com certeza, vou começar a fazer planos. – Alisson falou.
- Já checa com alguém, o Firmino talvez, quem foi a ginecologista da Larissa, para gente fazer uma ultrassonografia juntos.
- Beleza, eu vejo e já marco.
- Combinado! – Sorri. – Ah, estou tão feliz.
- Eu também!
- Eu não. – Bernardo falou com falsa empolgação e rimos fracamente. – Vou deixar os pombinhos conversarem.
- Até mais, cara! – Alisson falou e eu me sentei novamente na cadeira.

- Desculpa não conseguir falar contigo ontem. – Falei assim que a ligação de Alisson carregou. – Tivemos o jantar lá de apresentação do novo presidente e aí foi comida atrás de comida, a banda era boa, acabei me estendendo demais. – Fiz um bico e ele negou com a cabeça.
- Relaxa, amor, ontem nem ia conseguir aproveitar muito, cheguei em casa quase 11 horas também.
- Parabéns pelo jogo, falando nisso, adorei. – Ele sorriu.
- O Porto não é exatamente um time muito difícil de enfrentar, mas eles tiveram algumas chances. – Assenti com a cabeça.
- Eu vi os melhores momentos depois, e só deu o Liverpool mesmo.
- Foi bom! – Ele riu fracamente. – Agora tem o jogo de volta em Portugal, vai ser no Estádio do Dragão.
- Já ouvi falar. – Pisquei para ele, vendo-o rir fracamente.
- Bons tempos. – Ele franziu os lábios. – E o novo presidente da CBF? Conseguiu analisar um pouco? – Suspirei.
- Pouco. Ele fez sua apresentação em cada mesa, nos apresentamos rapidamente, ele fez um discurso e depois ficou mais afastado, ele parece alguém muito animado para trabalhar engravatado, sabe? – Ponderei com a cabeça. – Se ele fosse da equipe técnica ou até tivesse sido jogador, acho que ele se encaixaria melhor.
- Sendo melhor do que o anterior, está tudo certo. – Ri fracamente.
- O julgamento dele é segunda-feira, quero só ver o que vai rolar, mas graças a Deus, eu vou sair do serviço as seis e ir direto para o aeroporto. – Ele abriu um largo sorriso.
- Que horas é seu voo? – Ele perguntou.
- Oito horas eu vou para São Paulo e aí vou pegar o voo da meia-noite para Londres.
- Chega aqui que horas? – Franzi a testa.
- Chego em Londres três e pouco da tarde, aí pego um voo das cinco e pouco para Manchester, umas sete horas eu chego aí.
- Você vem até em casa? Eu já vou ter ido para Portugal e meus pais concordaram, com muitas reclamações, em deixar-nos sozinhos. – Neguei com a cabeça.
- Não acredito que você expulsou seus pais daí! – Falei surpresa, gargalhando em seguida.
- Eles não queriam, pois queriam te ver e tudo mais, mas eu paguei uma viagem para eles até Dubai e eles voltam a tempo do aniversário da Helena, eles vão aproveitar um pouco. – Ele abanou a mão.
- Não acredito nisso. – Ele de ombros. – Vai dar para você aproveitar o aniversário da Helena? – Perguntei.
- Sim, conversei com a Nat e ela e o marido toparam em fazer uma festa aqui, o que vai ser bom, pois você estará aqui também. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Vai ser divertido.
- Então, como estão vocês dois? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Com fome, preciso pedir alguma coisa, Bernardo está no trabalho e eu estou com preguiça.
- O que vai ser? Pizza? – Abri um largo sorriso.
- Talvez! – Ri fracamente. – Pior que eu tenho médica amanhã e ela vai me matar, porque eu engordei uns quatro quilos. – Ele gargalhou.
- Mais coisa para eu pegar. – Neguei com a cabeça, mostrando a língua. – O que vai fazer na médica?
- Pegar meus exames, fazer um ultrassom e pegar um atestado para eu poder voar, vai que...
- Eu marquei uma consulta para o dia 24 com a médica lá que o Firmino falou. – Assenti com a cabeça.
- Estou empolgada, confesso! – Ele riu.
- Eu também, amor, eu também. – Sorri, mordendo meu lábio inferior em seguida.

- Não acredito que escolheram uma capivara como mascote da Copa América. – Falei rindo quando atravessamos o complexo da CBF e entramos no museu da Seleção.
- A ideia foi boa, vai! – Vinícius falou rindo.
- Foi sensacional! – Falei animada, acenando para os trabalhadores do Museu que o deixaram aberto para mim.
- O que acharam do nome? – Lucas perguntou.
- Eu votei em Zizito. – Falei.
- Eu também. – Vinícius falou.
- Eu preferi Capibi. – Lucas disse.
- Eu adorei, vai ser divertidíssimo isso.
- E vocês já sabem quem vai usar a roupa do Zizito? – Perguntei.
- A Bianca disse que era uma menina, ela desceu antes para conhecer e tudo mais.
- Aí, Vini. – O chamei. – Quem sabe não é hoje que você encontra o amor da sua vida? – Lucas gargalhou e Vinícius fechou a cara.
- Fala sério! – Vinícius revirou os olhos. – Amor de mascote, por acaso? – Olhei as cinco taças de campeões do mundo ali e me senti bem, igual das outras vezes.
- Você nunca sabe quando o amor vai tocar à sua porta. – Falei, dando de ombros.
- Na sua bateu um Alisson, na minha bate alguém vestido de mascote? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Se ela ganhar o que você ganha, amigo, acho que a vida tá feita. – Lucas falou e eu assenti com a cabeça.
- Gente! – Ouvi um forte sotaque espanhol e nós três nos viramos, dando de cara com Bianca e uma menina mais baixa com os cabelos azuis e uns óculos de grau no rosto. – Essa é Larissa. – Ela continuou falando em espanhol. – Zizito! – Sorri.
- Hola! – Sorri, me aproximando e cumprimentando-a rapidamente, os meninos fizeram o mesmo. – Prazer!
- O prazer é meu. – Virei para Vinícius, dando uma piscadela, ela era uma graça e parecia um pouco mais nova.
- Estava falando com ela que a acompanharemos durante os jogos e os compromissos. – Bianca falou.
- Sim, vai ser legal! Você pode ficar com a gente.
- Gracias. – Ela sorriu.
- Bom, vamos colocar essas fantasias e tirar umas fotos? – Lucas perguntou e Bianca apontou para um corredor para os dois e eles foram.
- Ela é meio tímida, mas deve fazer um bom Zizito. – Bianca comentou.
- A gente estava falando para o Vinícius que ele pode ter encontrado o amor da vida dele. – Ela gargalhou.
- Quem sabe? – Ela deu de ombros.
- Ela é de onde? – Perguntei.
- Paraguai, veio a mando da Conmebol. – Ela arqueou as sobrancelhas e eu assenti com a cabeça.
- Bom, ao menos vamos nos divertir um pouco. – Lucas disse e observei as diversas blusas, fotos e outros apetrechos da Seleção no museu, até o Alisson estava ali.
- Isso vai ser demais. – Bianca falou olhando um ponto fixo e virei para onde ela olhava, encontrando o Canarinho e Zizito vindo em nossa direção e levei a mão à boca, tentando segurar a risada.
- Vai ser demais! – Falei e Bianca esticou a mão, para eu bater na dela e seguimos os dois mascotes, mais Lucas, para tirar algumas fotos de divulgação.

Agradeci ao motorista do Uber e peguei minhas malas seguindo pelo caminho e parei na mesma, seguindo até a caixinha de correio e passei a mão atrás da mesma, encontrando a chave e o controle do alarme. Desativei o botão até fazer os três toques que Alisson havia dito e depois abri a casa, sentindo um bafo quente passar por mim, já estávamos em abril, então o tempo já estava começando a esquentar, mas não o suficiente para me livrar dos meus casacos.
Trouxe as malas para dentro e me surpreendi ao ver um caminho de pétalas de rosa no mesmo. Puxei e tranquei a porta de casa antes de seguir a mesma até a cozinha, encontrando um bilhete com um buquê de rosas ao lado.
“Seja bem-vinda, meu amor, preparei algumas coisas para te deixar bem confortável. Tem comida na geladeira, os melhores sais de banho para você relaxar e uma roupa de cama bem macia para você. Fica bem, chego de madrugada, amo você”.
Suspirei com a mensagem de Alisson e segui até a geladeira, vendo uma grande torta fria montada lá dentro e senti até saudades da minha família. Tirei a mesma e peguei um pedaço generoso para mim, ok, dois. Comi com gosto e depois bebi um grande copo de suco de laranja. Ao me sentir satisfeita por dois, lavei rapidamente a louça, guardei o que não havia terminado e segui para as escadas. Fiz uma careta com a quantidade de degraus e segui até o elevador de serviço. Coloquei as malas ali dentro, me espremi com elas e subi até o último andar.
Segui até o quarto de Alisson e vi mais rosas espalhadas pelo local, fazendo um cheiro delicioso subir no ar. Deixei minha mala de lado e segui para o banheiro, seguindo o caminho das rosas até a banheira. Suspirei feliz e acho que podia aproveitar um pouco. Enchi a banheira de água quente, despejei um pouco de sais, vendo a espuma se formar e me despi, entrando na água quente.
Aproveitei alguns minutos para relaxar e responder algumas mensagens de amigos e parentes, principalmente como clássico: “cheguei bem e estou bem”. O jogo do Liverpool já havia acabado há umas duas horas, então nem perdi o tempo de ligar a televisão, mas vi pelo aplicativo que eles meteram quatro a um em Portugal e que a festa seria a caminho de casa, já que os expulsaram da Champions com estilo em casa, eles estavam na semifinal.
Sabia que eles passariam, Porto estava aí ainda por sorte e o Liverpool estava muito bem, além do meu namorado estar cada dia melhor. Saí da banheira quando a água começava a esfriar e fui para o chuveiro, tomar um banho completo, mas fugi de molhar o cabelo, não estava com pique para secá-lo. Voltei para o quarto, coloquei um pijama quente, pendurei a toalha novamente, escovei os dentes e desci rapidamente para o primeiro andar, peguei um copo de água, desliguei todas as luzes e subi novamente.
Me ajeitei na cama de barriga para cima, tirei algumas pétalas do caminho e coloquei minhas mãos sobre a barriga, fechei os olhos, esperando o sono vir devido à péssima posição, mas ele não demorou para chegar.

Abri os olhos quando senti a claridade bater em meus olhos e levei as mãos até o mesmo. Virei o corpo na cama, com a mão na frente do mesmo e esperei que meus olhos se acostumassem com a claridade antes de abri-los novamente. O dia já estava claro e nada de Alisson ao meu lado. Ergui o corpo apressada e relaxei ao ver a mochila, casaco e gorro do Liverpool próximo à minha mala, me fazendo relaxar.
- Hum, ela acordou! – Virei para porta, vendo Alisson entrar na mesma com uma bandeja.
- Ei! – Sorri, vendo-o apoiar a bandeja na cama com cuidado e se sentar ao meu lado.
- Seja bem-vinda! – Ele falou e eu sorri, sentindo-o colar nossos lábios levemente.
- Ah, que saudades! – Suspirei, vendo-o rir.
- Só faz duas semanas.
- Xí! Estou sentindo saudades por dois. – Falei e ele riu fracamente.
- Eu fiquei te observando dormir ontem e adorei ver essa barriguinha escapando da calça. – Ri fracamente, levando a mão até o local.
- Isso ainda é surreal para mim. – Suspirei, sentindo-o dar um beijo em minha testa.
- Você está linda. – Sorri. – Te trouxe café. – Ele mostrou a bandeja com diversas coisas e eu suspirei, vendo a mesma.
- Que horas você chegou ontem? Nem me acordou... – Falei.
- Cheguei umas quatro horas, mas eu tentei te acordar, você só parecia uma pedra. – Fiz uma careta.
- Bem que Bernardo disse que eu estou com sono mais pesado, tenho perdido muito a hora para o trabalho. – Peguei um pedaço de queijo e coloquei na boca.
- Está cansando por dois, é?! – Ele brincou e eu sorri.
- Eu não sinto nada ao longo do dia, mas chego à noite e desmaio na cama. – Suspirei. – Estou vendo isso como uma vantagem. – Ele riu fracamente.
- Sempre tem! – Rimos juntos e ele beijou minha testa. – Coma, ok?! Eu vou tomar banho que eu só tomei após o jogo e logo volto para te fazer companhia.
- Não precisa pedir duas vezes. – Peguei os talheres, vendo-o rir. – Ah! – Ele se virou para mim. – Obrigada por ontem, adorei a recepção, foi lindo.
- Tudo de melhor para você. – Ele falou e eu suspirei, vendo-o seguir até o banheiro.

- Cheguei! – Ouvi a voz de Alisson e saí da cozinha, colocando a cabeça na porta, vendo Alisson chegando com as roupas de treino. – Que visão, senhoras e senhores! – Olhei para baixo, me vendo de moletom e uma espátula na mão.
- Ridículo! – Voltei para a cozinha e ele veio atrás de mim.
- Não estou dizendo sobre seu look, estou dizendo por realmente falar contigo quando chegar em casa, te abraçar. – Ele me puxou pela cintura, me fazendo rir.
- Quem sabe futuramente? – Brinquei e ele sorriu, dando um beijo em minha cintura.
- Não vamos falar no futuro, ok?! Estou feliz só por você estar aqui. – Ele se virou, seguindo até a geladeira e eu voltei para o fogão, mexendo no meu refogado. – O que está fazendo?
- Quiche! – Dei uma mexida. – Foi difícil achar alho-poró aqui, então estou improvisando. – Fiz uma careta e ele riu.
- Não sabia que cozinhava... – Ponderei com a cabeça.
- Algo a gente sempre precisa saber fazer, né?! Sabe, morar sozinha e tudo mais! – Ele gargalhou, bebendo um gole de água.
- Eu tenho algo para você! – Franzi os lábios.
- Hum, presente? – Ele foi para o hall de entrada e voltou com a sua mochila, apoiando-a na bancada.
- Não te dei nada no seu aniversário, então preciso compensar, né?! – Ele falou e eu ri fracamente.
Ele abriu sua mochila, puxando de lá uma caixa vermelha já levemente amassada com um laço dourado em cima e esticou para mim. Franzi a testa e desliguei o fogo antes de pegar a mesma e apoiar do outro lado da bancada. Percebi o brasão do Liverpool no laço e sabia que era algo do time. Abri a mesma e encontrei um papel de seda cobrindo o que é que aquilo fosse. Abri a boca em um “O” quando encontrei uma blusa preta do Liverpool com os escritos em dourado. Ergui a mesma e percebi que era um novo uniforme do time.
- Meu Deus, é o novo kit? – Perguntei enquanto ele roubava um pedaço de muçarela.
- Sim, vão divulgar daqui uns 20 minutos, vim correndo para te mostrar antes. – Suspirei.
- Alisson, é lindo! – Tombei a cabeça para o lado.
- Vira! – Ele disse e eu fiz o que ele pediu e encontrei A. Becker e o número 1.
- Espera! Eles te deram o número um? – Gritei, vendo-o fazer uma careta com o pulo que eu dei.
- Finalmente! – Ele falou exagerado e eu gargalhei, pulando em seu colo, sentindo-o me segurar pela cintura.
- Aleluia! – Falei animada e dei um rápido beijo em seus lábios. – E esse uniforme é tão lindo... – Suspirei.
- Sabia que ia gostar. – Ele falou com os lábios colados nos meus e eu depositei um curto beijo nele.
- Parabéns, amor, você mais que ninguém merece isso. – Ele sorriu e eu coloquei os pés no chão novamente.
- Você já pode estrear no jogo contra o Cardiff no domingo.
- Mas é em Cardiff. – Falei, voltando até a caixa.
- E você tem algo melhor para fazer, dona estou de férias? – Fiz uma careta, vendo-o rir.
- Ok, talvez eu não tenha, mas Cardiff é um pouco fora de mão. – Rimos juntos e percebi outra coisa no fundo da caixa. – Você pegou o uniforme completo para mim?
- Ah, não, é um presente do time. – Ele falou, seguindo em minha direção e eu peguei o que estava lá embaixo.
- Ah, é um macacãozinho. – Fiz um bico e ele riu, me abraçando pela cintura. – Ah, Mini Becker número 1. – Suspirei.
- Não sabiam que nome colocar, então seguiram a ideia da CBF. – Suspirei.
- Ah, já estou feliz! – Sorri. – Qual foi a reação deles quando você contou?
- Eles já sabiam, né?! Sua gerente boicotou o rolê, né?!
- Ah, verdade. – Suspirei.
- Eles estão felizes, Firmino, Fabinho, Virgil, Klopp, estão bem animados, agora a parte de assessoria e equipe técnica está com a mesma preocupação que a CBF, a distância, a criação, etc...
- Quem sabe eles não arranjem uma ideia sensacional para conseguirmos criar esse bebê juntos? – Suspirei, sentindo-o apoiar o queixo em meu ombro.
- Somos queridos em nossos trabalhos, eles vão dar um jeito. – Assenti com a cabeça.

- Como está seu inglês? – Perguntei, apertando a mão de Alisson.
- Bom o suficiente para entender tudo o que a médica vai nos falar. – Ele disse e eu sorri para ele, recebendo um curto selinho. – Eu trabalho na torre de Babel, precisamos nos virar, estou tendo aulas online duas vezes por semana.
- Que bom! – Suspirei, mordendo meu lábio inferior.
- Senhor e senhora Becker? – Ouvi uma voz chamar com um forte sotaque britânico e nos levantamos.
- Virei senhora Becker agora? – Cochichei em português para Alisson que riu.
- Dona do meu coração você já é! – Neguei com a cabeça.
- Bobo! – Seguimos a assistente e ela apontou para uma porta aberta e eu entrei na frente de Alisson, encontrando uma moça jovem com traços orientais.
- Boa noite! – Ela falou e eu sorri.
- Olá, tudo bem? – Apertei a mão dela rapidamente, ligando a tecla SAP no meu cérebro.
- Sejam bem-vindos! – Ela falou, cumprimentando Alisson e apontou para as cadeiras à nossa frente. - Então, Larissa disse que viriam.
- Sim, eu sou amigo do marido dela. – Alisson falou em um inglês fofo e engraçado e segurei a risada.
- Então, primeira gravidez? – Ela perguntou, se sentando em seu lugar.
- Sim, mas o problema é outro na verdade. – Falei e ela franziu a testa. – Eu moro no Brasil, ele mora aqui em Manchester, estamos, de certa forma, fazendo o pré-Natal aqui e lá, para que ele possa acompanhar e tudo mais.
- Ah sim! Compreendo. – Ela falou. – Então seria mais um acompanhamento?
- Um pouco mais, na verdade. Se possível, gostaríamos de ter o bebê aqui em Liverpool, então provavelmente ficaria nas mãos da senhora. – Ela me olhou surpresa.
- Bom, Larissa falou um pouco sobre vocês, bem rapidamente, mas vamos fazer de tudo para que isso seja possível, sim? – Assenti com a cabeça. – Você tem algum exame?
- Sim, eu trouxe tudo traduzido já. – Abri minha bolsa e tirei um grande calhamaço de envelopes de exames.
- Alguém está preparada. – Ela falou e eu ri fracamente. – Me deem uns minutos. – Ela falou e começou a checar exame por exame, anotando algumas coisas em um papel e depois dobrando-o e guardando novamente. – Quase quatro meses, hein?!
- Sim! – Sorri.
- Bom, precisamos correr, então. – Ela falou, me fazendo rir fracamente e apertei as mãos de Alisson. – Parece que está tudo bem por aqui, todos os exames com taxas e alterações normais para os padrões de uma grávida, bebê está no tamanho e peso correto, parece que está tudo certo, senhora Becker. – Dei um pequeno sorriso, não sentindo a necessidade de corrigi-la. – Mas o ultrassom está um pouco antigo, você não chegou a fazer um em abril? – Ela perguntou.
- Ainda não. Eu estive em viagem até o dia 31 de março, quando eu voltei, acabamos decidindo deixar para fazer aqui.
- Bom, então vamos lá? Depois podemos avaliar com dados mais atuais.
- Por favor! – Alisson falou animado e ela nos guiou para outra sala.
- Já sabe o que fazer, não?! – Ela me deu a mão para subir na maca e eu deitei na mesma.
Abri o botão da calça, subindo a blusa até os seios e ela arrumou todos os apetrechos e procedimentos de higiene. Virei para o lado, vendo Alisson próximo e estendi a mão para ele, abrindo um largo sorriso e dando um curto beijo em sua mão.
- Finalmente! – Cochichei para ele que apoiou o braço livre acima da minha cabeça, acariciando-a levemente.
- Finalmente! – Ele disse, dando um beijo em minha testa.
- Bom, vamos lá? – Ela disse, colocando o gel gelado em minha barriga e suspirei ao sentir o aparelho em minha barriga, sentindo-a mexer o mesmo. – E aqui está! – Ela falou e virou a tela para vermos nosso bebê.
- Obrigado, meu Deus! – Alisson cochichou ao meu lado e eu virei o rosto para ele, vendo-o com os olhos brilhando.
- Obrigada você por esse presente. – Falei para Alisson e ele sorriu, colando os lábios nos meus.
- Ele está bem, doutora? – Alisson perguntou.
- Aparentemente tudo está perfeito. – Ela falou. – Ele está em pé, mas tem bastante tempo para ele virar e se posicionar para o parto. – Sorri.
- Já dá para saber o sexo, doutora? Eu li que...
- Sim, nessa época já está definido o sexo, mas vamos ver se ele deixa a gente ver... – Ela falou, virando a tela para ela e clicando diversas vezes aproximando e afastando a tela. – Ele está tímido, gente! – Ela falou, virando a tela para gente novamente, me fazendo rir. – Quem sabe no próximo mês?
- Quem sabe? – Virei para Alisson, suspirando por saber que ele não estaria no próximo.
- Bom, só quero dizer para vocês aproveitarem esse mês, é considerado a lua de mel da gravidez, então você já deve ter parado os enjoos... – Assenti com a cabeça. – Em breve vai começar a sentir o bebê se mexer, é realmente onde começa tudo. – Abri um sorriso. – É agora que você já vai começar a ganhar mais peso, pode sentir coceira na barriga ou nos seios pelo crescimento, vai começar a aparecer estrias, ter mais fome, respiração mais acelerada, entre outras coisas, tudo isso é normal, ok?! Mas aproveitem enquanto podem.
- Ok. – Falamos juntos rindo.
- Eu vou pedir mais um exame de sangue para você, para começarmos a manter um registro aqui e quero te ver antes de ir embora, está bem? Assim a gente deixa tudo ajeitado para sua próxima vinda.
- Não sei ainda quando vai ser, mas posso enviar o que eu for fazendo no Brasil... – Ela assentiu com a cabeça.
- Será muito útil. – Ela disse.
- Vocês têm mais alguma dúvida por enquanto? – Ela perguntou.
- Creio que não. – Suspirei, virando para Alisson, vendo-o com um largo sorriso no rosto.

- Ah, olha quem está aqui! – Dona Magali falou quando abri a porta da casa de Alisson e me abraçou.
- Ah, que bom ver vocês, gente! – Sorri, deixando-a entrar na casa e abracei seu José.
- Que prazer te ver! – Ele falou e eu sorri. – Quero ver meu netinho. – Ri fracamente.
- Parabéns, querida, ficamos tão felizes. – Magali disse e eu suspirei.
- Feliz, feliz ou feliz? – Perguntei fazendo uma careta e eles riram.
- Muito nervosos e preocupados. – Ela disse. – Mas felizes mesmo. – Ela sorriu.
- Obrigada! – Sorri.
- Você já está com uma barriguinha, olha! – Ela levou as mãos até minha barriga e eu sorri. – Já dá para sentir alguma coisa?
- Ainda não, a médica disse que em breve deve começar, então estamos empolgados. – Ela sorriu.
- Eu confesso que estou muito curiosa em saber como vocês vão resolver isso, mas eu sei que vocês darão um jeito, o amor de vocês é muito bonito e merece um final feliz. – Abri um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- Estamos todos preocupados com isso, seu José, mas vai dar certo. – Suspirei.
- Alisson está aqui? – Dona Magali perguntou.
- Não, ele foi até o salão encontrar Natália e Helena, fiquei para receber vocês. – Sorri. – Ele logo deve estar aqui, ele não conseguiu descansar ainda do jogo de ontem, chegou superpilhado e mal dormiu.
- Cinco a zero, né?! – Seu José perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Eu acordei umas três vezes com vontade de ir ao banheiro e ele conversou comigo em todas as oportunidades. – Eles riram.
- Então, como foi o ultrassom? Alisson disse que vocês foram quarta-feira.
- Sim, está tudo certo. O bebê está bem, ela pediu mais exames, nada de novo até aí, o que é bom. – Eles riram.
- Já contaram para Helena que ela vai ter mais um irmãozinho? – Fiz uma careta.
- Ainda não, mal a vi, na verdade, mas estamos pensando se contamos agora ou depois, mal dá para ver ainda. – Magali deu um pequeno sorriso.
- Conte para ela, ela está tão animada com o Matteo, vai ficar mais animada ainda com outro irmãozinho ou irmãzinha. – Suspirei.
- Vamos ver, é bom estar com vocês, pois vocês estão me animando muito com isso. – Eles riram. – Vem, gente, querem comer ou beber alguma coisa?
- A gente se vira, não se preocupe. – Seu José falou e eu ri fracamente.
- Mais um querendo que eu não faça nada. – Falei e eles riram.
- Oi, gente! – Alisson abriu a porta antes que passássemos para outra porta.
- Filho! – Dona Magali falou animada, se aproximando dele e abraçando-o.
- Como vocês estão? Fizeram boa viagem?
- Foi tudo certo. – Seu José falou.
- E lá? Como está tudo? – Perguntei.
- Tudo quase pronto, falta só as coisas para o dia mesmo, convidei eles para jantarem aqui, espero que não tenha problema.
- Claro que não. – Falei rapidamente.
- Vai ser bom para Helena essa proximidade de vocês quatro. – Dona Magali falou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, a família dela é uma loucura, nada melhor do que ela saber que pode contar sempre com os pais e padrastos. – Assentimos com a cabeça.
- Sim, vai ser legal. – Sorri.

- Eu mal tenho barriga, isso é horrível. – Falei saindo da frente do fundo e vestindo um casaco rapidamente, cobrindo meu corpo de lingerie.
- Você está linda, para com isso. – Alisson falou e eu suspirei.
- As fotos ficaram lindas, . – A fotógrafa brasileira falou e eu segui até ela, vendo-a passar as fotos pelo computador minha e de Alisson.
- Parece que eu estou com barriga de chope. – Fiz um bico e Alisson riu.
- Para de graça, vai. – Ele passou um braço em meu ombro, me apertando contra si. – Arrasamos.
- Sempre arrasamos. – Suspirei, vendo as fotos no computador.
Alisson me abraçando pelas costas com suas mãos na minha barriga, ele beijando minha barriga, ele com as luvas de goleiro, entre outras uma mais linda do que a outra, me fazendo suspirar. Mesmo que eu não estivesse com aquela linda barriga de grávida ainda, eu estava muito feliz nas fotos, o que fez um suspiro escapar de meus lábios.
- Estão lindas mesmo. – Sorri.
- Então, agora é só escolher uma e fazemos nossa divulgação oficial online e esperamos o circo pegar foto. – Alisson falou animado e eu franzi a testa, virando para ele. – O quê? Vai ser engraçado, vai.
- Só porque nenhum de nós tomará conta disso. – Falei e ele ponderou com a cabeça.
- Verdade! – Ele sorriu, estalando um beijo em minha testa.
- Vamos querer ficar com todas, Vanessa, mas me manda a dele com as luvas na minha barriga? Vou providenciar uma postagem.
- Claro! – Ela sorriu e peguei meu celular na bancada, vendo-o tocar e a foto de Bianca na mesma.
- Bianca? – Franzi a testa e Alisson se aproximou.
- Alô? – Atendi ao telefone.
- ? Você está no viva-voz com Vinícius, Angelica, Michelle, Tite, Edu, Cléber e Sylvinho e Lucas em outra ligação. – Ouvi sua voz.
- Oi, gente, o que aconteceu? – Liberei o viva-voz no meu celular para Alisson ouvir e coloquei a mão na boca, para ele ficar quieto.
- Pode falar? – Bianca perguntou.
- Claro! – Falei.
- Não ficou sabendo das novidades ainda? – Edu perguntou.
- Acho que não. – Franzi a testa.
- Neymar socou um torcedor na final do campeonato francês hoje. – Lucas falou e eu franzi a testa, colocando a mão na testa.
- Ah, tem que ser! – Suspirei. – Depois o pai dele acha que é perseguição.
- Gostaríamos de uma opinião sua sobre isso para a Copa América. – Cléber falou.
- Provavelmente a minha opinião vai ser a mesma da Bianca, certo?
- É, imagino que ache que ele não deva ser convocado também, né?! – Ouvi a voz dela.
- Olha, o Neymar é um ótimo jogador, ele é uma ótima pessoa fora dos holofotes, mas para área comercial da coisa, ele é péssimo. – Suspirei. – Tudo o que ele faz vira notícias e ultimamente ele só tem feito merda. – Fui honesta.
- Ele é um ótimo jogador, ele está na minha lista de convocação e não entendo o motivo desse caos. – Tite falou.
- A decisão final é sua, Tite, mas a Seleção é vista cada vez mais com maus olhos por causa dele. – Falei honestamente. – Isso você não pode negar.
- Talvez não, mas...
- Ela está certa. – Ouvi a voz de Angelica.
- Se formos olhar só para o lado do futebol, ótimo, agora se formos olhar para o lado da comunicação, gerenciamento de crises e tudo mais, ele está bem mal na fita. – Suspirei e tudo ficou quieto.
- Não vou mudar minha opinião. – Tite falou.
- Nem nós! – Falei em seguida, suspirando.
- Como está suas férias? – Michelle perguntou.
- Estão ótimas, pena que já foi metade. – Eles riram. – Eu providenciei o que você pediu e hoje anuncio a gravidez nas redes sociais.
- Ah, que ótimo, quem sabe isso não abaixe um pouco o assunto Neymar? – Lucas falou animado.
- Acho difícil, mas pode ser. – Suspirei.
- Desculpe atrapalhar suas férias. – Angelica falou e eu ri fracamente.
- Sem problemas. Fiquem bem! – Falei.
- Você também, garota! – Ouvi diversas vozes e desliguei a ligação.
- Neymar sendo Neymar. – Falei e Alisson deu de ombros.
- Você sabe que o Tite não vai deixar de convocá-lo, né?! – Alisson cochichou e eu assenti com a cabeça.
- Eu sei. – Suspirei, abrindo o WhatsApp e a conversa com Neymar.
“Tem algo a dizer sobre os eventos de hoje?” – Enviei, suspirando em seguida.
- Ele vai me ignorar, aposto. – Falei e Alisson riu fracamente.
- Enviei, . – Vanessa falou e eu sorri, vendo uma notificação aparecer na tela e cliquei na mesma, baixando a foto para meu celular.
- Ok, papai, o que vamos escrever? – Perguntei para Alisson.
- Uma das suas frases brincalhonas e despretensiosas, por favor. – Ele falou, me fazendo rir.
- Não quer agradecer a Deus por isso? – Perguntei e ele deu um pequeno sorriso.
- Eu com certeza farei isso na minha postagem. – Ele disse e eu sorri.
- Posso ter liberdade criativa, então? – Perguntei, abrindo um largo sorriso e ele riu.
- Fica à vontade, vou fazer a minha aqui. – Rimos juntos e ficamos de costas um para o outro.
Olhei nossa foto e subi no Instagram, passando as etapas, até que chegou na parta de legenda e não podia colocar uma mais previsível: “parece que engoli uma bola de futebol 🤭😍”, marquei Alisson, marquei minha localização e publiquei. Assim que minha foto carregou, a de Alisson carregou logo em seguida, fui olhar a legenda: “Com amor Deus nos uniu e com amor Deus nos multiplicou, empolgado com mais uma etapa da nossa vida juntos”.
- Você é muito previsível. – Eu e Alisson falamos juntos, rindo em seguida.
- Eu gostei do que você colocou. – Ele falou e eu ri.
- Eu também. – Sorri, dando um rápido selinho nele.
- E começam as curtidas. – Ele comentou e eu bloqueei o celular com o polegar.
- Seja o que Deus quiser. – Falei, suspirando.

- Sim, mamãe tem um bebê e tem outro. – Alisson falava para Helena apontando para nossas barrigas.
- Dois? – Ela falou surpresa.
- É! Dois irmãozinhos para você! – Natália falou.
- Dois? – Ela falou surpresa e nós quatro rimos.
- Você vai ser uma grande irmã. – Caio, marido de Natália, falou e sorrimos.
- Vou sim! – Ela falou sorridente e eu sorri junto.
- Vai ser divertido! – Alisson falou me abraçando pela barriga e vi ele e Natália sorrirem para a filha.
- Obrigada. – Natália falou e percebi que ela estava falando comigo.
- Pelo o quê?
- Por ser outra mãe incrível para Nena. – Ela falou e eu ri fracamente.
- Não sei muito sobre isso, mas posso te garantir que gosto muito dela e a considero minha filha também.
- E ela é, de certa forma. – Ela sorriu. – Agora mais ainda.
- Eu que tenho que te agradecer por isso. – Vi Alisson e Caio seguindo para os escorregas com a Helena. – Por me deixar fazer parte da sua família. – Ela negou com a cabeça.
- Todos estamos tendo um novo final feliz, por que não? – Ela sorriu. – Se eu e Alisson fôssemos perfeitos, a vida daria um jeito, mas ela não deu e estamos conseguindo dar um jeito com novas pessoas, novos amores... – Ela sorriu. – Isso é perfeito para mim, pois nós dois encontramos duas novas pessoas que se encaixam no que construímos juntos com a Helena. – Ela deu de ombros. – Uma mãe não poderia ficar mais feliz. – Ela sorriu e retribuí.
- Bom, e para quando vem o Matteo?
- Junho. – Ela sorriu. – Está quase aí. – Ela sorriu.
- Preparada? – Perguntei.
- Já é meu segundo, né?! – Ela fez uma careta e eu ri fracamente.
- Eu estou com medo, confesso.
- Quando vem?
- Outubro. – Ela sorriu.
- O medo é completamente normal, mas você vai ver, vai ser uma grande felicidade na sua vida. – Assenti com a cabeça.
- Estou tentando ver dessa forma. – Suspirei.
- Alisson me contou um pouco sobre quando você descobriu e tudo mais, ser mãe cedo sempre foi uma opção para mim, então quando aconteceu, apesar das circunstâncias, vimos como uma bênção, mas é compreensivo o seu medo. – Suspirei.
- Ele passa algum dia? – Ela deu um pequeno sorriso.
- Você vai se tornar mãe, o medo vai fazer parte da sua vida. – Rimos juntas e eu suspirei.
- A gente nunca teve essa conversa sobre filhos, o futuro incerto sempre foi nosso aliado, mas não esperávamos um bebê. – Ela assentiu com a cabeça.
- Mas ele está aqui, não é?! – Ela levou a mão à minha pequena barriga e eu suspirei. – Você será ótima.
- Obrigada. – Suspirei.
- Vem, tenho uma coisa para você. – Ela falou, segurando minha mão. – Alisson! – Ela o chamou.
- Oi! – Ele falou.
- Vem cá! – Ela disse e nós dois a seguimos até a mesa das sobremesas do aniversário da Helena e vi Larissa e Rebecca, esposas de Firmino e Fabinho se aproximando também.
- O que está acontecendo? – Alisson apertou minha cintura e eu franzi a testa.
- Nós preparamos uma surpresa para vocês. – Firmino falou e eu olhei para Alisson.
- Eu não sei de nada. – Ele falou rapidamente.
- Vocês tentaram ver o sexo do bebê com a médica, certo? – Larissa perguntou.
- Certo! – Falamos juntos.
- E ela não soube dizer, certo? – Franzi a testa.
- Certo... – Falei fracamente.
- Ela mentiu para vocês porque eu pedi. – Larissa falou.
- Ela sabe o sexo? – Alisson perguntou rapidamente.
- Sim! E eu também. – Larissa falou sorrindo.
- Então, nós fizemos algo para você. – Natália falou e um garçom se aproximou com um pequeno bolo branco com decoração vermelha e verde.
- Vocês estão brincando! – Falei, rindo fracamente em seguida.
- Não! – Ela sorriu. – Sei que vocês já estão com vários problemas para decidir, então, porque não se divertir juntos com isso? – Natália sorriu.
- Espero que não tenha ultrapassado os limites, mas sei como é legal saber o sexo do bebê. – Larissa falou e eu sorri.
- Não ultrapassou. – Suspirei. – Você quer isso? – Perguntei para Alisson.
- Sim! – Ele falou animado.
- O que você quer que seja, Nena? – Alisson perguntou, pegando-a do colo de Caio e Natália me entregou a espátula.
- Irmãzinha! – Ela falou animada e eu sorri, estalando um beijo em sua bochecha.
- Eu também. – Falei, vendo-a franzir a testa sorrindo. – Juntos? – Virei para Alisson, apoiando a espátula no bolo.
- Juntos! – Ele sorriu.
- Espera! – Parei. – Por que vermelho e verde?
- Vermelho é o Inter e verde é o Palmeiras. – Natália explicou. – Se der vermelho, é menino, se der verde, é menina.
- É óbvio. – Alisson sussurrou e rimos por não ser nada óbvio.
- Ok, vamos lá. – Respirei fundo, ajeitando a faca em cima do bolo.
Alisson pressionou minha mão para baixo e eu fiz o corte no bolo, percebendo o silêncio palpável no local. Colocamos a faca em outro lugar e cortamos novamente, puxei o pedaço e dei um grito quando uma calda verde escura saiu do mesmo, ouvindo o pessoal gritar.
- É uma menina! – Alisson falou animado, sacudindo Helena que ria em seus braços e ele aproximou seu corpo do meu, colando nossos lábios.
- Vamos ter uma menina. – Falei rindo, abraçando ele e Helena juntos.
- Está feliz? – Alisson perguntou com os lábios colados e eu assenti com a cabeça.
- Sim, vamos ter uma menininha! – Sorri, sentindo os bracinhos de Helena em meu ombro. – Você vai ter uma irmãzinha!
- Eba! – Ela falou animada, dando um pequeno beijo em minha bochecha e eu sorri.
- Parabéns! – O pessoal veio nos abraçar, fazendo com que o sorriso em meu rosto não sumisse mais.
- Eu quero as fotos e os vídeos. – Falei abraçando Natália.
- Parabéns! – Natália cochichou. – Vai ser lindo!
- Obrigada! – Sorri, abraçando Caio em seguida. – Vai ser demais!
- Vamos cantar parabéns para aniversariante agora? – Alisson sacudiu Helena que estava rindo.
- Vamos lá! – Seu José falou pegando Helena no colo e Alisson veio em minha direção.
- Uma menina, então?! – Ele falou e eu mordi meu lábio inferior fortemente.
- Uma menina... – Falei ainda estupefata.
- Ela vai ser incrível como você. – Ele falou, me fazendo sorrir.
- E tão bom coração como você. – Ele me abraçou pela cintura e eu encaixei meu rosto na curva de seu pescoço.
- Eu te amo. Obrigado por tudo. – Ele disse e eu suspirei.
- Eu também, não podia esperar um melhor homem para mim. – Suspirei.
- Vamos, pombinhos! Foto em família. – Viramos para a mesa do bolo aonde Natália, Caio e Helena já estavam posicionados.
- Foto em família? – Alisson perguntou dando uma piscadela.
- A primeira com todos juntos. – Falei e seguimos animados para atrás da mesa do bolo.
Alisson e Natália se colocaram no centro da mesa com Helena em seu colo e eu me coloquei ao lado de Alisson e Caio ao lado de Natália e todos sorrimos para as fotos do fotógrafo, mostrando o número dois nos dedos, dos dois anos de Helena. Rimos juntos quando os flashes estouraram e Helena abraçou Alisson apertado, me fazendo sorrir para ambos e para Caio que esticava a mão para abraçar os dois e eu repeti.
Eu nunca pensei muito sobre minha família ou sobre meu futuro, sabia que queria ter uma família e sabia que queria realizar isso após os 30 ou 35 anos, quando toda minha vida profissional estivesse certa e eu tivesse condições o suficiente de fazer isso, agora, olhando para hoje, aonde eu estava ganhando muito mais do que só um filho, aonde meu namorado, sua ex-namorada e seu atual marido me acolhiam com tanto amor para cuidar de uma enteada, era difícil não pensar que eu já tinha cumprido tudo o que eu queria para poder constituir minha família.
Emprego, ok. Dinheiro, ok. Relacionamento estável com uma pessoa maravilhosa, ok. Amigos e familiares que nos amam e nos apoiam, ok. O que mais eu precisaria para fazer isso dar certo? Logística? Talvez, mas eu sabia que, independente de aonde a vida nos levasse, eu tinha uma família pronta para me receber de braços abertos, uma família moderna, incomum e incrível.
Alisson virou para o lado, passando a mão livre em meu ombro, me apertando contra si e dando um beijo em minha cabeça. Estendi as mãos para Helena e ela sorriu, vindo em minha direção e virei-a para os fotógrafos, apontando para ela quando a vela foi acesa, vendo-a fazer uma linda e fofa cara surpresa.
- Parabéns para você... – Começamos a cantar em coro e ela me abraçou envergonhada, me fazendo rir e Alisson e Natália deram lindos sorrisos para mim e percebei que estava chorando emocionada.
Sim, nós vamos conseguir e posso te garantir que vai ser perfeito da nossa maneira. Afinal, se nosso grande problema for logística, conseguimos dar um jeito ainda.
- E para Nena nada!
- Tudo! – Gritamos animados e eu sacudi a menina em meu colo, vendo-a abrir um largo sorriso e finalmente olhar para o bolo.

- É sério? – Perguntei para Bianca.
- É uma lesão no menisco e ele vai passar por cirurgia, não sei, espero que dê tudo certo. – Ela falou.
- Cara, não dá para o Thiago ficar fora da Copa América. – Suspirei.
- A gente soube agora pouco, sabia que a lesão foi no dia 14? – Franzi a testa.
- Espera, hoje é dia primeiro.
- Exatamente. – Ela suspirou alto. – Eu fiquei até tarde hoje, as coisas estão meio surtadas lá.
- Parece que a bruxa está solta, né?! – Falei, suspirando.
- Um pouco, mal vejo a hora de você voltar. – Dei um pequeno sorriso.
- Só mais uns dias, mas confesso que estou começando a surtar por voltar. – Suspirei.
- Ah, eu fiquei tão feliz com as fotos suas, sobre ser uma menina... – Ela deu um gritinho animada. – Mal vejo a hora de amassar vocês duas. – Sorri.
- Eu confesso que fiquei mais empolgada depois da notícia, já estou curtindo um pouco mais. – Ela riu.
- Bom, não dá para devolver, o melhor que pode fazer é aproveitar mesmo. – Suspirei. - Afinal, que hora são aí? Aqui são quase 11. – Ela falou.
- Quase duas da manhã aqui. – Suspirei.
- E por que não está dormindo? Eu te acordei?
- Não, não, estou esperando o Alisson chegar, eles perderam de três a zero contra o Barcelona.
- Putz, sério? Eu não vi.
- Pois é. – Suspirei, vendo uma luz ser acesa lá embaixo. – Acho que ele chegou, me dê novidades, ok?!
- Pode deixar, aproveita! – Ela disse e eu desliguei o celular, jogando-o na cama.
- Ei, está acordada? – Alisson entrou no quarto com sua mala e a parou próximo à poltrona e eu me levantei.
- É claro! – Suspirei, seguindo em sua direção e abraçando-o fortemente.
- Eu estou bem... – Ele disse, me apertando de volta.
- Eu sei, você sempre diz isso. – Suspirei.
- É só que... – Ele balançou a cabeça. – Parece que está acontecendo tudo de novo, igual foi ano passado na Roma.
- O quê? – Franzi a testa, não me lembrando.
- Eles detonaram a gente no jogo de ida...
- É, mas não foi esse que vocês arrasaram no jogo de volta e eliminaram eles?
- Foi sim, mas isso não acontece duas vezes. – Dei de ombros, puxando-o para cama e me sentei.
- Por que não? Vocês são incríveis, Alisson, vocês estão a poucos passos da final, vocês conseguem fazer isso.
- Você é muito espirituosa. – Ri fracamente, vendo-o se jogar de costas na cama.
- Eu só confio em você. – Apoiei o cotovelo na cama, ficando ao lado dele. – E conheço muito bem o cara que eu namoro. – Ele deu um pequeno sorriso, virando igual a mim, colando sua barriga na minha e eu levei minha mão para a lateral de seu corpo. – Vai dar tudo certo.
- Deus te ouça. – Ele suspirou. – Você vai me ver, não?!
- Mas é claro! – Sorri. – Espero dar boa sorte, já que da outra vez não deu muito certo. – Ele riu fracamente.
- Não perdemos por causa de você, não acredito nisso. – Ele falou franzindo a testa e eu ri fracamente.
- Bom, eu não tenho um histórico bom, vai. – Falei e ele negou com a cabeça, rindo fracamente.
- Como não?! Quantos jogos da seleção a gente perdeu com você presente? – Ele perguntou.
- Perder, só um, mas tivemos dois empates, eu acho...
- É! Dois empates e uma derrota, em quantos jogos? – Ele perguntou.
- Uns 10 ou 11, eu acho... – Dei de ombros, ficando de barriga para cima.
- É uma porcentagem muito boa, amor. – Sorri, negando com a cabeça. – Você vai ser meu amuleto da sorte.
- Espero que esteja certo, porque não tem como trocar mais. – Ele riu fracamente, e eu sorri, sentindo-o colar nossos lábios levemente. – Me promete que vai ficar bem?
- Prometo. – Ele deu um pequeno sorriso e eu acariciei sua barba, suspirando. – Com quem estava conversando? Ouvi vozes.
- Bianca me ligou, Thiago se lesionou em jogo do PSG e vai passar por cirurgia.
- Putz, que barra! – Assenti com a cabeça.
- É, né?! E isso aconteceu tem uns 15 dias já, eles só liberaram agora. – Neguei com a cabeça. – Espero que dê tudo certo.
- Vai dar sim, Thiago é forte. – Confirmei com a cabeça.
- Vou mandar uma mensagem para ele oferecendo apoio, vai dar certo. – Suspirei.
- Bom, vamos dormir? Já passou da hora dessa gravidinha estar na cama. – Ri fracamente.
- Olha, preciso confessar que estou bem cansada mesmo. – Rimos juntos.
- O que fizeram o dia inteiro? – Ele perguntou, se levantando e me puxando para levantar com ele.
- Vimos filme, comemos, aí vimos o jogo, comemos... – Mordi meu lábio inferior. – Ando com muita fome ultimamente. – Falei e ele riu fracamente.
- Nada de novo até aí. – Ele disse e eu sorri, abraçando-o e dando mais um curto beijo em seus lábios e senti duas mãos passearem pelo meu corpo, até me pegar no colo. – Vamos dormir. – Ele me deitou delicadamente na cama e eu ri fracamente, puxando-o para mim quando ele me depositou na mesma. – Eu preciso trocar de roupa.
- Precisa não. – Falei, sem soltar os braços da sua nuca. – Fica aqui! – Ele sorriu depositando o corpo delicadamente em cima de mim e deu mais um selinho em meus lábios.

- Vamos, Liverpool! – Gritei animada, batendo os batedores infláveis um contra o outro, quando os times entraram em campo em Anfield. – Acabem com eles!
- Calma, querida, vamos nos acalmar! – Dona Magali falou, segurando minha mão e eu me sentei novamente.
- São os hormônios, amor. – Seu José falou e eu ri fracamente.
- Talvez... – Fiz uma careta. – Eu só estou muito empolgada.
- Pensa na sua menina. – Magali falou e eu respirei fundo, soltando o ar fortemente pela boca.
- Eu tenho uma Copa América para enfrentar, gente, ela precisa se acostumar com o agito! – Falei, vendo-os rir e passei as mãos na barriga. A blusa preta que eu havia ganhado ainda estava ajeitada e não marcava a barriga ainda.
- Vocês já começaram a pensar no nome? – José perguntou e eu suspirei.
- Ainda não, para ser honesta, eu achei que teria o nome na ponta da língua, mas nada. – Suspirei, ouvindo o hino da Champions começar a ser tocado.
- Vai surgir quando vocês menos esperarem e vai ser perfeito. – Magali falou e eu sorri.
- Só estou feliz que agora eu consigo visualizar melhor o rostinho dela. – Sentei novamente, acariciando minha barriga e eles sorriram.
- Agora ela vai começar a aproveitar mais. – Larissa falou nas cadeiras de baixo e eu estiquei a mão para apertar a dela.
- Com certeza! – Sorri, vendo os times se separarem e fiz um sinal da cruz, respirando fundo. – Sem sustos essa noite, senhor, por favor. – Cochichei sozinha. – E sem falta do Barcelona novamente. – Suspirei, me ajeitando na cadeira.
- Vai dar certo! – José falou. – Eu confio no meu filho. – Estendi a mão para segurar a dele assentimos juntos.
O juiz apitou e Anfield veio abaixo com o começo do jogo de volta de Liverpool e Barcelona, semifinal da Champions League. Barcelona saiu com a bola, mas Liverpool com certeza estava mais focado que no jogo do Camp Nou, Alisson bem que fala que o clima em Anfield era outro. A primeira chance de gol foi nossa, mas o ataque se confundiu e deixou a bola passar.
Aos seis minutos Mané deu uma estirada com a bola, passou para Henderson e o capitão dos Reds tentou fazer o chute, mas ter Stegen estava posicionado e defendeu com a mão, indo direto para os pés de Origi que mandou para o fundo do gol.
- GOL! – Gritei animada, pulando e esticando a faixa de You’ll Never Walk Alone para cima, ouvindo a comemoração de Anfield.
Coutinho teve uma chance de aproximação, fazendo chute, mas Alisson espalmou no alto, mandando a bola para trás. Messi tentou mais uma vez, passando por Suárez e depois por Coutinho, mas Alisson se jogou no chão, espalmando a bola para saída lateral. Em uma terceira tentativa, Virgil tirou antes mesmo de chegar perto de Alisson. Na quarta, Coutinho fez o escanteio, mas Robertson a recebeu na cabeça e tirou. No rebote, Messi fez um chute direto, passando rente ao gol pelo lado de fora.
A bola voltou para o campo do Barcelona, me fazendo aliviar um pouco e Mané tentou fazer o passe, Robertson até tentou o chute, mas sem sucesso, ter Stegen estava muito bem posicionado. A bola voltou para o Barcelona e Messi até tentou mandar uma mais alta, mas sem sucesso. Shaquiri tentou fazer um passe para Mané, mas ter Stegen pegou. Messi voltou para o ataque, tentando fazer um chute direto em Alisson, mas saiu o lado de fora novamente. Em outra oportunidade quase seguida, Alisson tirou a bola dos pés dele, ela subiu alto, mas Henderson estava pronto para impedir que ela escapasse de suas mãos.
- Que vontade que eu tenho de matar esse argentino. – Falei com os lábios franzidos quando acabou o primeiro tempo e seu José riu ao meu lado.
- Não é a única. – Sorrimos cúmplices. Seu José tinha algumas opiniões e ações que as vezes eu não concordava, mas quando o assunto era futebol, nos entendíamos.
Durante o intervalo eu respirei fundo, fui pegar algo para comer e beber, essa vida de camarote era muito boa, não tinha filas, tinha bar específico para gente, era ótimo. Voltei para meu assento como uma criança com seu refrigerante e pipoca no cinema e suspirei, vendo o retorno dos jogadores.
- Vai, amor! – Gritei, batendo as mãos fortemente em um som abafado.
Logo nos primeiros minutos, Liverpool teve uma chance, mas ter Stegen era bom demais. Messi tentou passar para Suárez, mas meu namorado estava no meio do caminho, espalmando a bola para longe. A bola voltou para o campo do Liverpool, Alexander-Arnold fez o passo do lado direito do campo para a grande área e Wijnaldum estava bem colocado, dando um chute só no centro do gol. Prendi a respiração quando ter Stegen se debruçou para pegar a bola, mas só vi a mesma passar por debaixo de seu corpo e balançar a rede.
- GOL! – Gritei forte, derrubando até algumas pipocas do meu balde, me contendo em pular dessa vez, apertando a mão na barriga. – Vamos, galera, só mais um para igualar isso. – Suspirei.
- Mais dois para ficar confortável. – Seu José sussurrou ao meu lado.
Parece que Deus havia me ouvido, pois não deu dois minutos para a bola sair do meio de campo e voltar para o campo do Barcelona, Milner fez a saída de lateral, passou para Shaquiri que fez o cruzamento para a grande área, o grande Wijnaldum estava no meio do caminho e deu uma cabeceada na mesma e a bola foi para o fundo do gol, ter Stegen nem teve o que fazer.
- PORRA! – Levantei animada, agora sem capacidade de segurar a pipoca dentro do balde e pulei animada junto com o pessoal das arquibancadas. – Aqui é Liverpool, caramba! – Gritei, ouvindo dona Magali rir.
- Ela torce para a Juventus, não é?! – Magali perguntou e eu ri fracamente.
- Infelizmente caímos fora antes, agora meu coração é vermelho sempre. – Fiz um coração com as mãos livres, segurando o balde com a dobra do braço e eles riram.
- Vamos, gente, mais um para acabar aqui mesmo. – Seu José cochichou.
Passaram-se quase 20 minutos de jogo e era claro que os dois times deram uma desacelerada e eu só conseguia ver o relógio passando e eu não estava preparada para enfrentar o primeiro pênalti de Alisson, ainda mais ao vivo. Suspirei, sacudindo as mãos e afundei-as no pote de pipoca, encontrando ainda alguma coisa no fundo dele.
Durante uma cobrança de escanteio, veio nossa salvação, Alexander-Arnold cobrou com aqueles lindos escanteios longos e o mandou direto para a área, Origi, praticamente sozinho no centro da área, chutou direto para o gol. Ter Stegen e Piquè foram pegos desprevenidos e foi para dentro do gol, passando a vantagem do Barcelona do jogo de ida.
- GOL! GOL! GOL! – Gritei a plenos pulmões, junto com a torcida, abraçando seu José pelos ombros e pulando animada com ele.
- GOL! – Seu José gritou comigo, me fazendo sorrir e relaxamos na cadeira, esperando ansiosamente o fim do jogo.
Sem surpresas boas ou ruins, o jogo finalizou em 90 mais cinco e Anfield realmente foi abaixo com a classificação do Liverpool para a final da Champions. Estiquei o corpo na cadeira, suspirando aliviada e abri um largo sorriso ao ver Alisson comemorando com seus colegas de time do outro lado e a maioria dos atacantes largados no gramado de alegria, cansaço ou um pouco de tudo.
Os torcedores esticaram suas faixas e começaram a cantar You’ll Never Walk Alone em alto e bom som e eu fiz o mesmo, tentando acompanhar com eles. Os jogadores e equipe técnica foram para frente do paredão que cantava e agradeceram pelo apoio dos torcedores em um lindo gesto, me deixando até levemente emocionada... Ou deixando a Mini Becker levemente emocionada.
- Eu vou lá embaixo. – Falei, colocando a faixa no pescoço.
- Vamos contigo! – Larissa falou se levantando e nós e Rebecca seguimos para os elevadores que levavam até os vestiários do estádio.
Anfield era quase como um labirinto, já estive ali junto da Seleção Brasileira para um amistoso antes da Copa, mas não tinha assistido ao jogo como torcedora, fiquei lá embaixo esse tempo inteiro, não sabia muito como chegar lá.
O grito da torcida no subsolo era ensurdecedor, eles estavam muito animados. Depois de dar várias voltas, dei de cara com o escudo do Liverpool e de um lado era a saída dos jogadores, estávamos no lugar certo.
- Vem! – Larissa falou seguindo para o lado do time da casa.
- Já vou! – Falei, vendo a placa para visitantes.
Segui lentamente pelo corredor do adversário, sabendo quem procurar e adentrei um pouco, vendo que tudo estava um pouco calmo. Eles não deveriam estar felizes. Alguns jogadores passavam de um lado para outro, provavelmente para banheiro e afins, até que vi um topete moreno.
- Coutinho! – Gritei, vendo-o se virar e acenei com a mão.
- ! – Ele abriu um sorriso e veio em minha direção. – Meu Deus! Como você está bonita! – Ele falou, me abraçando e eu passei os braços pelos seus ombros.
- Bom te ver! – Sorri.
- Você está incrível. – Ri fracamente, negando com a cabeça. – É sério, olha isso. – Ele passou as mãos na minha barriga e eu sorri. – Parabéns.
- Então é uma menina? – Viramos o rosto, vendo Arthur vindo correndo em nossa direção.
- Uma menininha. – Falei sorrindo e ele me abraçou fortemente.
- Ah, meus parabéns! – Ele me abraçou fortemente, sorrindo. – Fiquei muito feliz quando vi o vídeo, vai ser incrível como você.
- Ah, vocês dois me bajulando. – Dei um tapa no ombro de cada, vendo-os rirem.
- Não sabia que tiraria férias. – Arthur falou.
- Foi tudo meio rápido, eles me deram um mês para descansar antes da Copa América e aí vi a oportunidade de aproveitar a gravidez com o Alisson.
- Ah, ele deve estar muito feliz. – Coutinho falou sorrindo.
- Sim e vocês, como estão? – Apoiei a mão no braço dos dois.
- Ah, sabe como é, né?! – Arthur deu de ombros.
- Um dia você ganha, outro você perde, mas estaremos torcendo para os meninos agora. – Assenti com Coutinho.
- Bom, eu vejo vocês em breve. – Abracei os dois rapidamente. – Vou para o outro lado agora.
- Fiquem bem, ok?! Vocês três! – Arthur falou e eu pisquei.
- Pode deixar! – Sorri, acenando e voltei pelo caminho de antes.
Segui em direção ao campo inimigo e agora até o túnel estava mais vazio e o barulho um pouco menos ensurdecedor. Abri um sorriso quando Klopp apareceu no corredor e ele veio me abraçar fortemente.
- ! – Ele falou animado, me aninhando em seu peito e eu ri fracamente, esse cara é sensacional.
- Klopp! Bom te ver! – Retribuí seu sorriso.
- Como você está? E o bebê? Você está incrível. – Ele falou rapidamente e eu sorri.
- Estamos muito bem, obrigada! – Falei sorrindo.
- Posso? – Ele perguntou mostrando as mãos.
- Claro! – Falei e ele levou as mãos à minha barriga. – Nada ainda, ela está quietinha. Não sei como aguentou hoje. – Rimos juntos.
- Ela? É uma menina?
- Sim, uma menininha! – Sorri e ele abriu um largo sorriso, me abraçando novamente.
- Felicidades para vocês dois.
- Obrigada! Parabéns pelo jogo.
- Ah, o jogo! – Ele falou animado, me segurando pelos ombros. – Vamos comemorar! – Ele me puxou e andamos até o vestiário do Liverpool.
O vestiário do Liverpool se dividia em uma grande antessala e depois entrava para as partes íntimas, nesse canto eu nunca tinha vindo. Alguns jogadores que não jogaram ou que ainda faziam trabalho com a imprensa, alguns familiares estavam lá e os conhecidos vieram até mim.
- ! – Salah falou e eu sorri, abraçando o jogador que não havia jogado.
- Mo! – Falei sorrindo, abraçando-o fortemente.
- Você está linda! – Ele disse e eu sorri.
- Ah, vocês são muito fofos, mas obrigada. – Ele riu e foi a vez de Virgil me abraçar.
- Uma menina, é?! – Ele falou rindo e eu sorri.
- Uma menina para nos aloprar. – Ele riu fracamente.
- Vai ser ótimo! – Ele disse e eu sorri.
- Ali! – Salah gritou e outros jogadores vieram me cumprimentar rapidamente, Henderson, Milner, Mané. – Suas meninas!
- Minhas meninas agora? – Alisson apareceu sem blusa, somente com o calção cinza e imundo do jogo e eu sorri.
- Parabéns! – Falei animado e ele me abraçou fortemente, me tirando do chão. – Eu falei que vocês iam conseguir. – Falei animada. – Messi tem medo do paredão Becker. – Ele riu, me colocando no chão novamente e colando nossos lábios rapidamente.
- Foi demais refazer isso, me senti na Roma de novo. – Abriu um largo sorriso.
- Você merece muito! – Apoiei as mãos em seus ombros. – Eu não parava de gritar.
- Como nossa menina ficou aí dentro? – Ele levou as mãos na minha barriga.
- Sem sinal dela ainda. – Suspirei. – Quero só ver se ela vai ficar quietinha assim na Copa América.
- Relaxa, em uma competição por pênaltis ela aparece. – Dei um tapa em seu ombro.
- Nem brinca com isso. – Rimos juntos. – Eu vou deixar você aproveitar com seu time, te encontro mais tarde?
- Prepara a carne que a comemoração é longa hoje. – Neguei com a cabeça.
- Até parece, você dorme cedo hoje, amor. – Pisquei e rimos juntos.
- Alisson é pior que criança. – Firmino passou, bagunçando os cabelos de Alisson e parou para me dar um beijo. – Como você está?
- Melhor com essa vitória. – Rimos juntos. - Eu te encontro em casa e a gente se vê no próximo jogo. – Falei, apontando para Firmino e acenando para Fabinho mais longe.
- Você vai? – Firmino perguntou.
- Final da Premier League, preciso ir, né?! Aproveitar enquanto posso. – Ele riu. - A gente se vê em casa. – Virei para Alisson.
- “Em casa”? – Ele perguntou e eu sorri, dando de ombros.
- É como se fosse, não?! – Falei e ele sorriu, colando nossos lábios rapidamente.
- Não é como se fosse, é nossa casa. – Ele sorriu e passei os braços ao redor de seu corpo suado novamente.

- Ah, qual é! – Gritei no telefone com Bianca.
- Pois é! Agora foi a vez do Arthur. – Revirei os olhos.
- Meu Deus, eu o vi tem três dias! Ele estava bem! – Suspirei e Alisson franziu a testa comigo e eu coloquei a mão no bocal do celular. – Arthur se lesionou.
- Mentira!
- Não sei, , mas ainda bem que você não está aqui, o pessoal está realmente aloprado. Você sabe que a lista já está fechada, né?! – Bianca falou.
- Sei, por isso mesmo. Imagino você aguentando bronca atrás de bronca sozinha. – Bianca suspirou.
- Está tudo bem, pelo menos estou ganhando por hora extra e não estou podendo negar. – Rimos juntas.
- Quem nega, né?! – Suspirei, levando a mão até minha barriga. – E agora?
- Não sei muitos detalhes ainda, estou te ligando do meu almoço, a maioria do pessoal da equipe técnica está viajando para acompanhar jogos. Você não viu ninguém no jogo?
- Nem lembrei de checar, Bianca, com esses hormônios, está tudo muito aloprado dentro de mim. – Alisson me esticou um pedaço de chocolate e eu peguei com as mãos, colocando na boca.
- Bom, eles devem se encontrar novamente para conversar sobre isso, ver a extensão da lesão e tudo mais, foi algo no púbis, mas não sei detalhes, e você diz que ele estava bem no jogo.
- Sim! Se você souber mais coisas, você... – Senti uma pontada na barriga e levei as mãos até o local, franzindo a testa.
- ? – Ela perguntou e senti novamente, passando a mão na barriga e sentindo outra leve pontada, quase como um sopro.
- Amor, você está bem? – Alisson perguntou.
- ? – Ouvi a voz de Bianca novamente.
- Acho que eu senti o bebê. – Falei para os dois e ergui os olhos para Alisson.
- O QUÊ? – Bianca gritou empolgada e Alisson arregalou os olhos para mim novamente, largando o espeto em sua mão e voltando correndo e levando as duas mãos na minha barriga.
- Não sei, parece uma onda, bolhas queimando, sei lá. – Suspirei e Alisson me olhou surpreso.
- Eu acho que senti! – Ele falou e coloquei o celular no viva-voz. – Está diferente mesmo.
- É nossa menina? – Bianca gritou e eu ri pela definição. Alisson ergueu os olhos, surpreso.
- É ela! – Ele falou animado, se levantando apressado e me abraçando fortemente. – É nosso bebê! – Ele falou animado e eu senti meus olhos se encherem de lágrimas e chorei nos ombros de Alisson, com um largo sorriso no rosto.
- É real! – Sussurrei para Alisson com a voz falha e ele colou os lábios nos meus.
- É sim! Agora você acredita? – Alisson falou e eu ri fracamente, colando nossas testas.
- Sim, agora sim. – Ele riu fracamente e nos abraçamos novamente. – Precisamos de um nome.
- Vamos pensar nisso. – Sorri.
- Bianca é um lindo nome! – Ouvi a voz de Bianca e nós dois olhamos para o celular na bancada e gargalhamos juntos. – Esqueceram de mim, né?! – Ela falou e Alisson me abraçou, dando um beijo em minha cabeça.

Aplaudi quando o apito foi soado e dei um pequeno sorriso. A Premier League havia terminado e por diferença de um ponto, o Liverpool havia ficado em segundo, seguindo por Manchester City. Somente um ponto. Pelo menos Ederson e Jesus estavam felizes.
Os organizadores logo preparam as premiações que os jogadores do Liverpool ganharam, apesar do prêmio do campeonato não ter sido deles, então já me levantei para aplaudir meu namorado por ganhar a luva de ouro e Mané e Salah que dividiram o prêmio de chuteira de ouro. Os torcedores estavam animados com as conquistas e era palpável a preocupação deles com tudo, não só com as vitórias, eles se preocupavam com o time e faziam questão de provar isso cantando a plenos pulmões.
- Vocês podem entrar. – Um organizador falou para os diversos familiares presentes ali. Esposas, namoradas, filhos, pais, diversos parentes estavam ali e eu segurava Helena em meu colo, me sentindo um pouco excluída do grupo que já falava e conversavam entre si.
Deixei que o pessoal já conhecido fosse na frente e fui um pouco tímida atrás, sendo puxada por Helena que já havia encontrado o pai em seu uniforme rosa e eu a coloquei no chão, deixando que ela corresse até ele e dona Magali apertou meu ombro, me fazendo ir com eles.
Alisson pegou Helena no colo, dando um beijo em sua cabeça e estendeu a mão para mim quando me viu. Passei um braço pelos seus ombros, dando um curto beijo em seus lábios e ele sorriu para mim.
- Parabéns pelo prêmio, é só o primeiro de muitos. – Falei e ele sorriu, me abraçando fortemente.
- Totalmente dedicado a vocês! – Ele falou sorrindo e peguei Helena em seu colo, vendo seus pais o cumprimentarem.
Sorri pela empolgação da final de campeonato como se eles tivessem ganhado. Os jogadores ainda estavam com o uniforme de campo, suados e sujos, mas eles não se importavam, suas famílias estavam com eles e era a única coisa que importava. O sorriso nos lábios de cada criança, cada pai orgulhoso, valia muito mais do que prêmio em si. Claro que a bolada de dinheiro era importante também, mas eles estavam felizes, isso que importava.
- O que foi? – Ouvi a voz de Alisson e me virei para ele, suspirando.
- Eu não quero ir embora. – Suspirei, vendo-o seguir em minha direção e me abraçar fortemente. – Eu não quero te deixar. – Puxei forte a respiração, sentindo que estava chorando.
- Está tudo bem, daremos um jeito, você sabe, a gente sempre dá. – Ele me apertou contra seu corpo. – Em três semanas estaremos junto de novo. A gente aguenta três semanas longe, não é?! – Ele colou a testa na minha, me fazendo respirar fundo.
- Sim, eu só... – Suspirei, puxando o ar fortemente. – É incrível isso tudo, os torcedores são incríveis, seu time é incrível, eles me acolheram tão bem que é difícil dar as costas para tudo.
- Não! Não pensa assim! – Ele disse rápido. – Vai dar tudo certo. – Ele suspirou. – Nós vamos dar um jeito, não pensa nisso. – Puxei a respiração fortemente.
- É impossível! – Ergui uma mão até seu rosto, acariciando levemente. – Esse foi o melhor mês que eu podia querer e agora acabou. – Ele negou com a cabeça, dando um pequeno sorriso.
- Não, meu amor, é o começo de muitos. – Ele me apertou novamente. – Você vai ver, daremos um jeito. – Suspirei, fechando os olhos, forçando a manter seu corpo contra o meu o máximo possível, guardando os sons, os cheiros, as cores e as pessoas, tudo que faria eu sentir falta quando voltasse para casa amanhã.
- Eu te amo! – Disse suspirando.
- Eu também te amo, demais! – Suspirei, me afastando levemente e ele levou a mão até meu rosto, secando uma lágrima e deu um curto beijo em meus lábios. – Você é a melhor coisa que aconteceu comigo, nada vai nos separar. – Assenti com a cabeça, soltando um suspiro leve.


Capítulo 15 – Que Comecem os Preparativos

Entrei no prédio da CBF exatamente oito horas e corri para o elevador, me apertando entre as diversas pessoas que já estavam ali também para trabalhar. Demorou uns sete minutos para que o elevador parasse em quase todos os andares e começava a pensar se eu não deveria começar a usar meus privilégios de grávida, principalmente por causa dessa mala que não deu tempo de deixar em casa por causa do atraso do avião.
Eu cheguei em São Paulo cinco horas da manhã, aí o voo para o Rio era para sair as seis, foi sair quase seis e meia, era um milagre eu estar entrando oito horas, tudo bem que eu tive mais emoções no Uber do aeroporto para cá do que no jogo do Liverpool contra o Barcelona, mas eu e a Mini Becker estávamos bem.
Entrei na sala de comunicação, chamando atenção de algumas pessoas próximas à porta e acenei rapidamente, seguindo rapidamente para a sala de viagens, empurrando a porta e também chamando atenção de algumas pessoas.
- Ah! – Bianca gritou, correndo em minha direção. – É uma menina! – Ela me abraçou fortemente, me sacudindo de um lado para outro e eu gargalhei, apertando-a com a mão livre. – Ah, parabéns, parabéns! Vai ser lindo! – Ela me sacudiu e vi Vinícius e Lucas atrás dela, fazendo caretas fofas. - Estou chateada por você não ter feito o chá revelação com a gente, mas eu te perdoo se você der o nome dela de Bianca. – Revirei os olhos.
- Você é ridícula. Na verdade, foi a ex do Alisson e a esposa do Firmino que prepararam isso para gente, fomos na médica, ela disse que não dava para ver e ficou por isso mesmo. – Dei de ombros, abraçando Lucas. – Aí era a mesma médica da Larissa e ela já tinha planejado tudo.
- Sério? – Bianca perguntou surpresa. – A ex do Alisson?
- Ela está me ajudando tanto, Bi, você não tem noção. – Suspirei. – Além de que ver todo mundo nos apoiando, nos celebrando, fazendo que a gente seja parte de algo, da família de Helena, parece que acalmou toda a bateria dentro de mim. – Ela sorriu.
- Que bom, amiga! – Ela segurou minha mão.
- ! – Angelica falou animada quando me viu.
- Conversamos no almoço? – Falei para Bianca, Lucas e Vinícius.
- Combinado! – Eles falaram e Angelica me abraçou sorrindo.
- Aproveitou as férias?
- Sim, foi ótimo. – Sorri.
- E essa menininha? – Ela colocou a mão na minha barriga e eu sorri.
- Aguentando firme. – Rimos juntas.
- Depois daquele jogo, é até bom perguntar mesmo. – Rimos juntas e segui até minha mesa. – Acho que você está preparada para a Copa América.
- Eu vi os stories, com certeza ela está preparada! – Anna falou e rimos juntas.
- Então, quando você voltou? – Angelica perguntou.
- Agora! – Suspirei. – Eu cheguei no aeroporto as sete e meia.
- Dormiu no voo pelo menos? – Bianca perguntou do outro lado da mesa.
- Dormi, a parte boa é que eu durmo em qualquer lugar e qualquer hora agora. – Ri fracamente. – Ela parece que entende ainda o horário de dormir e fica quietinha.
- Ela começou a se mexer? – Me assustei com umas cinco vozes perguntando ao mesmo tempo.
- Começou! – Abri um largo sorriso. – É sutil, mas... – As cadeiras se mexeram e várias pessoas estavam em cima de mim. – Ei, ei, ei! – Virei a cadeira junto do corpo. – Respeitem o perímetro da barriga! – Eles riram.
- Deixa eu tocar? – Bianca perguntou.
- Não, eu primeiro! – Lucas falou.
- Ei, calma, gente! – Angelica gritou, me fazendo rir. – Se afastem da grávida, por favor. – Ela falou e rimos juntos quando cada um afastou uns três passos para trás.
- É muito sutil, gente, é quase gases, é...
- Agora eu antes! – Angelica passou na frente de Bianca e se debruçou sobre mim, colocando as mãos na minha barriga.
- Gente, que desespero! – Ergui as mãos. – Ela não vai a lugar nenhum. – Suspirei. – De preferência pelas próximas 20 semanas.
- Está no meio do caminho, hein?! – Lucas falou e eu sorri.
- Vamos que vamos. – Sorri. – Ah, Angelica, eu vou precisar daqueles três dias que ficou sobrando, viu?!
- Com certeza, garota! – Ela falou animada. – Seu garoto foi para final! – Gargalhamos juntas.
- Vai, Liverpool! – Rimos juntas.

- Pronto, agora você pode nos contar tudo da sua viagem sensacional. – Vinícius falou quando eu apoiei meu prato de risoto e carne na mesa da praça de alimentação do Barra Shopping.
- Foi incrível, gente, eu fiz tanta coisa, mas a única coisa que eu consigo pensar é que eu não queria ir embora. – Suspirei.
- Ah, é normal, você nunca quer ir embora dos amistosos. – Lucas falou e eu neguei com a cabeça.
- Não é isso, é diferente. – Suspirei. – O Alisson chegar em casa e eu estar lá, ou eu chegar e ele estar lá, o time totalmente apoiador e preocupado com a gente, os torcedores animados, apoiando o time, nos apoiando, a cidade calma, os jantares nossos, namoros até de madrugada... – Abanei a cabeça, colocando um pouco de risoto na boca.
- Você está pensando em se mudar para lá? – Bianca perguntou e eu suspirei.
- Eu não sei... – Neguei com a cabeça. – Mas confesso que prestigiar minha nova família está sendo a parte mais pesada da gangorra agora. – Bianca segurou minha mão.
- A Michele está vendo o que pode fazer por vocês...
- Eu sou jornalista, gente, aposto que consigo emprego em qualquer outro lugar, se for preciso. – Suspirei. – Só sei que quero ficar perto do Alisson. – Descansei os talheres. – Aproveitar todos esses momentos com ele.
- Espera a Copa América acabar, aí você decide com mais calma...
- Não vou dar a louca agora, não se preocupem, eu só fiquei 11 horas pensando o quanto eu gostei desse mês e que foi só férias, mas sei que poderia ser para sempre. – Suspirei.
- Em algumas semanas ele está aqui, vai ser melhor. – Vini falou. – Os jogadores vão estar aqui, todo mundo vai te paparicar muito.
- Só consigo pensar em duas pessoas agora. – Falei, suspirando.
- E as duas estão bem, isso que importa. – Lucas falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Graças a Deus. – Suspirei, reparando no prato de Bianca. – Você está comendo salada?
- Eu sempre como salada, por quê? – Bianca perguntou.
- Porque eu estou parecendo uma draga e sei que depois que eu acabar isso, eu ainda vou querer mais. – Os três riram. – Talvez uma sobremesa.
- Só vai, mamãe! – Lucas brincou e eu neguei com a cabeça, começando a cortar minha carne.
- Minha fome e meu sono são intermináveis, confesso que estou até gostando dessa parte. – Eles riram.
- Não enrolem, a gente tem a convocação da feminina! – Vini falou e demos sorrisos cúmplices, focando em nossas refeições.

- Eu não acredito que ele teve a cara de pau de falar que as meninas falam demais! – Bianca falou alto quando entramos na nossa sala após a convocação da Seleção Feminina para a Copa do Mundo.
- Eu não acredito que você deu um tapa nele. – Lucas falou entredentes e eu fiz uma careta.
- Como ele pode falar que com os homens isso não acontece? Como ele tem coragem de falar que é difícil acalmar as mulheres? Como ele tem coragem de comparar as duas seleções? – Ela continuava falando irritada. – Ele é um machista filho da puta!
- Acho que eu nunca a vi tão brava. – Vinícius cochichou para mim e eu assenti com a cabeça, inapta de abrir a boca.
- Bianca! – Angelica apareceu na porta. – O que aconteceu lá embaixo? – Segui em direção à minha mesa, ficando quieta.
- Desculpa, chefe, mas eu não aguentei, como ele tem coragem de falar isso na convocação para Copa, mano? – Ela respirou fundo. – O futebol feminino já é totalmente desvalorizado aqui no Brasil e ele ainda me vem com uma dessa? – Ela bufou alto. – Deveria ter dado mais um.
- Eu entendo sua opinião e entendo mais ainda sua frustração, mas isso não podia ter acontecido. – Angelica a segurou pelos ombros. – Respira fundo.
- Pelo menos não foi na frente da imprensa. – Leandro assoviou e eu olhei para ele, colocando o dedo na boca.
- Com licença... – Ouvimos duas batidas na porta e Michele apareceu na mesma. – Bianca, posso conversar contigo? Está tudo bem. – Bianca suspirou e saiu com Michele, fechando a porta atrás de si.
- Como ela me deu um tapa na cara do Vadão, gente? – Angelica extravasou quando ela saiu.
- Confesso que eu tive vontade também, Angelica, ele não podia ter falado isso. Ele podia ter falado a mesma coisa, mas de uma forma menos escrota. – Anna falou.
- Foi um incrível desserviço. – Lucas falou suspirando.
- Ela vai se dar mal? – Perguntei rapidamente.
- Não, ela provavelmente vai ter que pedir desculpas a ele, algo assim, mas não vai acontecer nada. – Angelica falou.
- Fiquei com medo dela perder a Copa América. – Comentei.
- Escolher outra pessoa aos 45 do segundo tempo não, por favor. – Ela se referiu ao ano passado e eu ri fracamente.
- Pelo menos esse ano teremos quase todo mundo. – Sorri.
- Sim, 64 pessoas, gente! Vai ser uma loucura! – Ela falou animada e eu ri fracamente.
- Você devia ir com a gente. – Vinícius falou.
- Sim, seria ótimo! – Sorri.
- Não, gente, que isso. – Ela abanou a mão. – Não sirvo mais para isso não, além do mais, eu também tenho férias para tirar. – Rimos juntos.
- Filha da mãe, vai tirar férias no meio da competição. – Lucas falou, nos fazendo rir.
- Um dia da caça, outro do caçador. – Ela piscou e eu voltei para meu serviço.

Entrei correndo no prédio da CBF, sentindo grossas gotas de chuva caírem em minhas costas e sacudi meu corpo na porta, recebendo uma toalha de um dos seguranças da CBF e agradeci. Sequei meus pés no tapete e segui em direção à sala da imprensa, entrando de fininho e encontrando Vinícius e Bianca de costas, acompanhando a coletiva já em andamento.
- Oi! – Falei.
- Por que demorou? – Bianca perguntou.
- Está caindo o mundo lá fora. – Peguei o lacinho preso em meu pulso e fiz um rabo de cavalo alto, tentando tapear meus cabelos molhados e arrepiados.
- Eu estava chegando quando ela caiu. – Bianca falou e eu suspirei.
- Pior que está gelada, caramba. – Senti meu corpo arrepiar.
- Toma! – Vinícius tirou seu casaco da cintura e me estendeu.
- Obrigada! – Sorri para ele e coloquei seu moletom por cima do meu corpo molhado, não conseguindo fechar na barriga e deixei quieto.
- Eu sou magricelo, não estraga meu casaco. – Vinícius falou e eu sorri, abraçando-o de lado.
- Desculpa. – Fiz uma careta e ele riu fracamente.
- ...Uma mensagem que todos nós sabemos da grande responsabilidade que nós temos. Todos vocês comentam das pressões que enfrentamos, as dificuldades de jogar com o Brasil, mas eu penso o inverso, na alegria, na satisfação, e no orgulho de vestir a camiseta da Seleção Brasileira em nosso país. – Edu fazia seu discurso de abertura. – Então gostaria de deixar essa mensagem para vocês, que em todas nossas reuniões, a constante alegria de estar em nosso país ao lado de vocês da imprensa, dos nossos familiares, dos nossos amigos, dos nossos dirigentes, então vamos desfrutar dessa competição da melhor maneira possível.
Edu continuou falando de quantos atletas foram convocados para a preparação, quantos foram convocados para depois disso e outros motivos necessários explicar para a lista que estava na mão de Bianca. Depois falou que a lista oficial iria para a Conmebol no fim do mês para checagem e afins, além de que seria a mesma lista para os dois últimos amistosos da FIFA e para a competição. Por fim, ele falou das diferentes apresentações dos atletas por causa das competições de cada jogador.
- E por fim, agora vem algo um pouco mais pessoal, depois a equipe técnica pode acrescentar, temos aqui um profissional da comissão técnica, o Sylvinho, que não vai fazer parte da Copa América... – Eu e Bianca nos entreolhamos. – Aceitou um convite de um grande clube europeu e seu desligamento a partir de hoje e deixo aqui, Sylvio, a mensagem que você tem um atributo que te diferencia de todos, que é seu lado pessoal, que você seja feliz, estamos orgulhosos com você e nosso obrigado por você servir a Seleção Brasileira todo esse tempo.
- Acho que ele vai para o Lyon. – Bianca sussurrou. – Acho que ouvi algo quando fui falar com Michelle sobre o Vadão.
- Ah! – Assenti com a cabeça, voltando a prestar atenção na coletiva.
- Passo a partir de agora a palavra ao Tite para que ele possa fazer suas considerações e o anúncio da lista. – Edu falou.
- Alegria e responsabilidade. – Tite falou. – É o que você vai levar, Sylvinho. É o que nós enquanto comissão técnica temos, e você vai continuar integrado com a gente, tenha luz, cara. E a felicidade de todos aqui está associada a sempre fazer o melhor. Esse melhor é sempre com dignidade e você tem de sobra. – Tite falou e eu suspirei. – Dito isso, fica essa mensagem para quem nos assiste e dizer que essa lista foi a mais difícil que eu tive até hoje para fechar. – Suspirei. – Não dormi e nem minha esposa conseguiu me ajudar, mas aqui está a sequência que tem alguns objetivos, ditos de oportunidades que colocamos de atletas jovens emergentes, com alguns atletas que já participaram. Tudo isso nos levou a essa lista. – Matutei na marquise que estava apoiada. – Goleiros: Alisson, Liverpool; Cássio, Corinthians; Ederson, Manchester City. Defensores: Alex Sandro, Juventus; Dani Alves, PSG; Éder Militão, Porto; Fagner, Corinthians. Filipe Luís, Atlético de Madrid; Marquinhos, PSG; Miranda, Inter de Milão; Thiago Silva, PSG. Meio-campistas: Alan, Napoli; Arthur, Barcelona; Casemiro, Real Madrid; Fernandinho, Manchester City; Lucas Paquetá, Milan; Phillipe Coutinho, Barcelona. Atacantes: David Neres, Ajax; Everton, Grêmio; Firmino, Liverpool; Gabriel Jesus, Manchester City; Neymar, PSG; Richarlison, Everton.
- Agora é a hora, galera. – Vinícius cochichou e segurei sua mão, sorrindo.
- Dessa vez vai, seremos ênea! – Bianca falou e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- Seja o que Deus quiser. – Dei um pequeno sorriso. - Senti a lista parecida com da Copa. – Cochichei.
- Demais! – Vinícius falou e demos de ombro.
- Pelo menos teremos muitos conhecidos. – Rimos juntas.
Nos mantivemos apoiadas enquanto a coletiva rolava. As perguntas eram as mesmas de sempre: qual foi o critério escolhido para escolha de jogadores, porque alguns jogadores foram deixados de foram, qual eram os planos, quando cada jogador chegaria, o problema do soco do Neymar no torcedor – falei que isso daria problema -, dos jogadores do Liverpool que estariam na final, quantas pessoas estariam na delegação, sobre a Copa do Mundo Feminina, se a masculina ia apoiar elas, quais eram os planos e todo aquele blá, blá, blá de sempre. Achei que tudo estava meio calmo, até meu nome ser divulgado.
- Olá, Tite, tudo bem? Andrea do Esporte Interativo. – Ela falou. – Gostaria de te desejar muita sorte e sucesso nessa competição e queria perguntar sobre sua assessora, ... – Arregalei os olhos e ela se virou para mim. – Que anunciou recentemente sua gravidez com Alisson Becker, e se ela vai estar na delegação da competição, como vocês estão com essa situação toda? E também, como vai ser essa relação à distância, agora com um bebê a caminho? – Olhei para Tite quase como se pedisse socorro e senti Vinícius segurar minha mão que estava caída ao lado do corpo.
- Obrigado, Andreia, agradecemos as congratulações e posso dizer pelo lado técnico que estamos muito felizes pela e o Alisson, eles são um casal incrível, mesmo trabalhando juntos sabem separar muito bem as coisas e é isso que os torna tão especiais para nós dois. E sim, a vai se juntar a nós na Copa América, temos uma nova mascotinha acompanhando ela que vai ser muito bem acolhida por todos nós, é também muito esperada, e ela está pronta e bem para aguentar todos os trancos que uma competição vem a lidar...
- Não me venham com pênalti que não é para ninguém nascer antes. – Falei um tanto alto e alguns jornalistas riram, além da equipe técnica sorrir.
- Agora sobre o relacionamento a distância dos dois, creio que é mais fácil responder. – Ele falou e eu suspirei.
- Vamos deixar isso para o final da competição. – Falei rapidamente para a jornalista. – No momento eu e Alisson estamos completamente focados na competição, ele tem a final da Champions ainda, depois vamos decidir o que vai acontecer. – Assenti para ela. – Agora, o que importa é que nossa filha está bem e saudável e que temos duas grandes competições para vencer. – Falei sorrindo.
- Obrigada e parabéns a vocês dois. – Ela falou, se sentando.
- Obrigada. – Sorri.
- Vixi, tá aprendendo a falar como pessoa pública, é?! – Bianca falou e eu ri fracamente.
- Aprendendo com os melhores. – Pisquei para ela, voltando a prestar atenção na coletiva.

- Fiquei sabendo que agora a virou pessoa pública, é?! – Angelica falou assim que voltamos para sala, me fazendo rir.
- Ah, só para quem pode, né?! – Lucas falou e eu joguei os cabelos para trás como se a famosa.
- Ainda bem que você é da área, curta, rápido, fácil. – Ela sorriu, puxando a lousa para perto.
- Mídia training tá na ponta da língua, chefe! – Me sentei na minha cadeira novamente.
- Ok, galera, agora a porra toda vai começar...
- Eita! – Vinícius falou com o palavrão, nos fazendo rir.
- Bom, tenho algumas coisas para passar para vocês quatro, rapidinho. – Ela abanou a mão. – Teremos 64 pessoas na delegação dessa vez, isso contando todo mundo, igual na Copa do Mundo, incluindo os dirigentes e tudo mais. Teremos várias pessoas de plantão aqui na CBF para auxiliar vocês, mas vocês quatro estarão na linha de frente, igual da outra vez. – Assenti com a cabeça. – Diana vai com vocês para cuidar das redes sociais, Anna vai auxiliar Lucas com a fotografia e Leandro vai... – Ela começou a gargalhar antes de finalizar a frase.
- Angelica? – Vinícius perguntou e eu franzi a testa.
- Eu vou ser o novo Canarinho. – Leandro falou desanimado.
- O QUÊ? – Gritamos em desespero.
- Como assim? – Vinícius perguntou.
- De certa forma, nós estamos te promovendo, Vini. – Angelica falou. – Você foi o Canarinho durante quase dois anos, intercalando suas atividades, e sabemos que você fazia ambas atividades pelo valor que elas davam para você, agora, nós vamos te promover para chefe e multimídia, isso te dá algumas vantagens, um maior salário e uma maior liberdade como cinegrafista.
- Mesmo? – Ele falou sorrindo.
- Mesmo! E achamos que você gostaria de largar o posto de Canarinho, pelo menos durante a competição, quando você realmente precisa fazer duas coisas ao mesmo tempo. – Vinícius pareceu pensativo.
- Agora que a gente tinha juntado ele com a capivara! – Lucas falou e rimos.
- Podemos conversar melhor depois, Angelica? – Vinícius perguntou. – Não sei se estou pronto para largar esse posto totalmente. – Abri um pequeno sorriso. – Eu gosto muito de ser o Canarinho, e eu tenho jeito para ele. – Angelica sorriu.
- Claro! – Ela suspirou. – Então, Leandro vai te apoiar no que você precisar. – Ele assentiu com a cabeça. – Ok, continuando, dia 21 de maio, na hora do almoço, todos os citados vão para a Granja Comary, aonde já iniciaremos a concentração para a Copa América. A Seleção Feminina vai sair de lá para ir para a França, então já aproveitaremos e faremos imagens e tudo mais, depois disso, a comissão técnica vai começar as reuniões e vocês começarão seus trabalhos. No dia 22, os jogadores começam a chegar e aí é trabalho até, se Deus quiser, ao final dessa Copa América. – Lucas gritou e começamos a bater palmas. – Teremos a companhia de um pessoal da Sub-21 para alguns treinos, pois começarão muito espalhados, mas vamos trabalhando conforme der.
- Certo! – Bianca falou.
- Agora, , esse é para você, antes de mais nada, nós queremos o contato da sua médica para qualquer emergência, espero que não tenha, mas por precaução, Rodrigo já está informado sobre você e tudo mais e você vai fazer exames diários de pressão, glicemia, entre outros, para gente acompanhar você e esse bebê para ela ficar aí dentro até o final da Copa América, ok?! – Ri fracamente.
- Combinado. – Sorri.
- E no dia 31 de maio, à noite, você está livre para ir para Madrid para a final da Champions, te quero de volta no dia quatro, ok?!
- Combinadinho. – Assenti com a cabeça.
- Bom, mais informações a gente vai se falando, temos três dias para isso começar, então vamos trabalhar. – Ela falou e girei a cadeira, respirando fundo.
- Vamos lá! – Cochichei para mim mesma, respirando fundo.

- Então, aonde você está agora? – Perguntei, andando pelo quarto, pegando a mala e abrindo sobre a cama.
- Acabamos de chegar em Marbella, vamos descansar hoje e amanhã o treino começa. – Alisson falou pelo Skype.
- Eu procurei algumas fotos, meu Deus, aí é lindo. – Ele riu fracamente.
- Você ia gostar daqui. – Sorri, pegando minhas roupas na cama e colocando na mala.
- Nossa, imagina? Relaxar um pouco? – Ele riu fracamente.
- Ia ser bom. – Rimos juntos. – E você? O que está fazendo aí?
- Arrumando mala. – Suspirei, virando e sentando na poltrona em frente ao computador. – Vamos amanhã na hora do almoço para Granja...
- Os trabalhos começam, então? – Suspirei.
- Ah, nem fala, já estou pensando nesses dias sem você aqui.
- Em breve eu estarei aí.
- Espero que com a orelhuda contigo. – Ele abriu um largo sorriso.
- Deus te ouça, meu amor, seria ótimo. – Suspirei, apoiando o queixo na mão.
- Vai dar certo, você vai ver. – Pisquei para ele.
- Você está sozinha hoje?
- Estou, mas Bernardo foi trabalhar mais cedo hoje, logo ele aparece aqui, pedi para ele trazer algo para jantar, não estou a fim de fazer comida. – Ele riu.
- A preguiça está atacando?
- Ela sempre ataca. – Abri um largo sorriso e ele riu.
- Eu estou com fome também, logo vou descer para jantar.
- Vai sim, eu tenho isso daqui para terminar, eu vou no horário normal na Granja, depois vamos meio dia para Teresópolis, aí chegando lá faremos umas imagens da Seleção Feminina e depois os trabalhos começam.
- Alguém chega amanhã? – Alisson perguntou.
- Não, só quarta, amanhã imagino que seja mais calmo, espero que dê para descansar.
- Descanse o máximo que conseguir, quero vocês duas bem, ok?! – Sorri.
- Pode deixar, papai, ficaremos bem.
- Adoro quando você me chama assim. – Rimos juntos e eu mandei um beijo para ele. - Espera aí! Tem alguém batendo. – Ele falou e se levantou.
- Ei, cara, estamos indo jantar, vamos? – Ouvi a voz de Firmino.
- Claro, logo vou, vou me despedir.
- Oi, . – Firmino gritou.
- Oi, Bobby! – Falei, fazendo-o rir.
- Até já. – Ele falou e Alisson apareceu alguns segundos depois na tela.
- Eu vou aproveitar a galera e vou jantar, nos falamos depois? – Ele perguntou.
- Claro! Aproveita bastante, ok?! Esqueça de mim, esqueça da Mini Becker, pensa que você tem um só objetivo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Dois objetivos, ganhar e chegar em vocês o mais rápido possível.
- Ok, dois objetivos. – Rimos e ele acenou com a cabeça.
- Eu te amo, ok?!
- Eu também te amo. – Falei, suspirando e ouvi a porta da frente. – Acho que Bernardo chegou, vou aproveitar e jantar também.
- Até mais. – Alisson falou e logo a ligação foi desligada.
- ! ! – Ele chegou cantarolando, aparecendo na porta do meu quarto.
- E aí, criança? – Falei e ele sorriu, apoiando o corpo no batente da porta.
- Arrumando mala ainda? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Estou com preguiça, confesso. – Girei na cadeira e ele riu fracamente.
- Você não vai levar isso para a Copa América, né?! – Ele entrou com sua mochila na mão e apontou para meus sapatos amarelos.
- Por que não? Eles são clássicos. – Falei e o mesmo revirou os olhos.
- Esse sapato pode ter sido um dos motivos de você e o Alisson ficarem juntos, o que eu duvido, mas ele já causou muito problema, você está grávida, amiga, imagina se escorrega e torce o tornozelo de novo? Não estamos podendo abusar. – Revirei os olhos.
- Ok, Bê, entendi. – Suspirei. – Eu não levo eles.
- O bom é que eu pensei em uma alternativa pró-gravidez. – Ele falou e eu franzi a testa. Ele abriu sua mochila e me estendeu um saquinho que se usa para guardar sapatos mesmo. – Não deu tempo de embrulhar. – Ele falou e eu peguei o saquinho de tecido e levei até a escrivaninha.
Abri o cadarço do mesmo e espiei lá dentro, rindo fracamente ao perceber o que tinha lá dentro. Olhei para Bernardo e ele deu um largo sorriso presunçoso. Puxei o slipper amarelo bandeira do mesmo e suspirei, olhando para ele.
- Ah, Bê! – Suspirei, abraçando os calçados.
- Achei que seriam uma melhor alternativa para uma grávida de cinco e seis meses, enfrentar essa competição.
- Ah, eles são lindos, Bernardo. – Suspirei.
- E incrivelmente confortáveis. – Ri fracamente, indo em sua direção e abraçando-o fortemente.
- Obrigada, muito obrigada! – Ele deu um beijo em minha bochecha.
- Você merece, amiga. – Suspirei. - O primeiro foi para arrasar, agora o segundo é pensando no cuidado e em vocês duas.
- Estaremos bem, pode ter certeza. – Suspirei, me sentando na cadeira novamente e colocando os dois, me levantando em seguida. – O que acha?
- Uma mamãe estilosa e segura. – Gargalhei.
- Já entendi, segurança em primeiro lugar.
- Claro! Eu preciso cuidar da minha sobrinha. – Sorri, me olhando no espelho e sabia que eu arrasaria com a blusa da CBF.
- Está tudo perfeito, agora.
- Você vai arrasar. – Ele falou e eu sorri, sentindo que já havia ouvido aquilo dele antes.

- Então, esse é o look grávida? – Lucas perguntou enquanto acenávamos para o ônibus da Seleção Feminina que ia embora para encarar a Copa do Mundo.
- Gostou? Bernardo achou adequado. – Ele riu fracamente.
- Gostei também, quem sabe eles não fazem menos estrago? – Lucas falou e sorrimos.
- Bom, saiu da Feminina, chega a comissão técnica. – Bianca falou suspirando.
- Temos uma hora mais ou menos, não?! – Perguntei.
- Sim, o que acham de almoçar? – Vinícius perguntou e nós quatro, junto de Leandro, Diana e Anna seguimos para o restaurante.
- Eu adoro esse lugar! – Anna falou e nós rimos.
- Adoro mais ainda quando ele está assim, vazio. – Falei e eles riram. – Bi, mexeu! – Coloquei a mão na barriga.
- Ah, eu quero, eu quero! – Ela correu se ajoelhar em minha frente e levou as duas mãos na minha barriga. – Ah, que gracinha. – Rimos juntas. – Titia tá aqui, amorzinha. – Sorri, negando com a cabeça.
- Quanto tempo, ? – Anna perguntou.
- 20 semanas hoje, cinco meses dia primeiro. – Falei, dando um pequeno sorriso e Bianca se levantou.
- Já pensaram em algum nome? – Leandro perguntou e eu suspirei.
- Ainda não. – Neguei com a cabeça. – Falamos um pouco lá em Liverpool, mas sem ideia, pensamos em nomes brasileiros, por causa da Copa América, ingleses porque ela provavelmente vai nascer em Liverpool, italianos porque ela foi concebida em Roma... – Ponderei com a cabeça. – De jogadoras de futebol também, mas nada. – Entramos na fila da comida, pegando bandejas e pratos.
- Anna é simples, fácil, bonito... – Ela falou e eu ri fracamente.
- Olha, gente, não vai ser Bianca, Anna, Angelica, Michelle, Débora, Diana ou equivalentes.
- Ah! – Anna, Diana e Bianca fizeram bicos.
- Estamos pensando ainda, vai dar certo. – Dei um pequeno sorriso.
- Acho que vamos continuar chamando de Mini Becker, então. – Lucas falou, sendo o primeiro a seguir para a mesa.
- Pensei no nome Minnie, mas não quero minha filha ligada a Disney pelo resto da vida. – Eles riram e eu comecei a me servir, pegando feijoada, arroz, couve, vinagrete, farofa, torresmo e até um pedaço de laranja que eu nunca liguei e segui até a mesa.
- Minnie Becker. – Vinícius falou quando eu me aproximei da mesa. – A sonoridade é boa.
- É, eu sei, mas Minnie, Disney, ratinhos... Não sei se gosto. – Dei de ombros, começando a comer.
- Você nunca tinha um nome que sonhava em colocar na sua filha quando mais nova? – Anna perguntou também se sentando.
- Eu era moleca, gente, brinquei pouco de boneca e normalmente colocava o nome que vinham nela...
- Ah, que criativa. – Vinícius falou sarcasticamente e eu ri fracamente.
- Nem todo mundo era fofinha e lindinha igual a Bianca. – A mesma abriu um largo sorriso, nos fazendo rir.
- A gente vai continuar te dando sugestões, mas curto o Minnie Becker. – Leandro falou e eu dei um pequeno sorriso.
- Minny com Y para mudar da Disney, que tal? – Diana falou e gargalhamos.
- Quem sabe? – Falei e eles riram.
- Bom, vamos passar rapidinho o calendário? – Bianca falou, desbloqueando o iPad.
- Vamos lá! – Falei, descansando os talheres.
- Hoje chega a equipe técnica e eles começarão a organizar os treinos e reuniões para os primeiros amistosos. – Assenti com a cabeça. – Tirando fazer imagens e entrevistas para a CBF TV na chegada deles, podemos relaxar.
- Agradeço por isso! – Falei e eles riram.
- A partir de amanhã, começam a chegar os jogadores bem esporádicos, teremos testes físicos, alguns jogadores da Sub-21 para ajudar nos treinos, mas é basicamente isso, certo? – Bianca falou.
- Certo! – Falamos juntos.
- Bom, temos 10 dias de serviço pela frente, usem todo tempo de folga para descansar, para quem nunca esteve em uma competição grande... – Ela olhou para Diana e Leandro. – Valorizem o descanso. Um dia pode tudo estar bem, no outro uma bomba pode ter explodido ou pode ter um incêndio para apagar.
- Vide minha primeira semana nesse mesmo lugar. – Cochichei e Vinícius fez uma careta.
- O que aconteceu? – Diana perguntou.
- Teve um treino aberto, caiu grades, estava chovendo, torcedores invadiram o campo, enfim, foi uma loucura. – Suspirei, dando de ombros em seguida.
- Vai dar certo! – Bianca falou. – Estamos preparados dessa vez.
- Vamos trabalhar, galera! – Lucas falou e batemos palmas animados.
- Deixa a só terminar o pratinho de pedreiro dela. – Bianca falou e eu mostrei a língua para ela.
- Deixa eu e a Mini Becker comermos em paz. – Eles riram.

- Olha essa barriguinha! – Taffarel falou assim que me viu e eu revirei os olhos, vendo-o vir diretamente em minha direção e me abraçar fortemente, me fazendo rir.
- Agora ela começou a aparecer mais.
- Como estão vocês? – Ele perguntou.
- Muito bem e você? – Sorri e segui para abraçar Matheus e Tite que vinham logo atrás com largos sorrisos no rosto.
- Já descobriu o que é? – Matheus perguntou.
- Você me segue no Instagram. – Falei e ele riu fracamente.
- Espera essa criança nascer que você vai ver o que é ter um Instagram, é diferente de você usar. – Ri fracamente.
- Eu só posto. – Lucas falou e rimos.
- É uma menina! – Falei e Matheus sorriu.
- Ah, não podia ser diferente. – Rimos juntos.
- Fiquei sabendo que eu preciso tomar conta de 23 jogadores, uma assessora e um bebê? – Rodrigo perguntou e eu ri.
- Esperamos que seja só as movimentações do bebê e não de precisar fazê-lo sair daqui. – Bianca comentou e rimos juntos.
- Quanto tempo? – Ele perguntou.
- 20 semanas.
- Ah, estamos no meio do caminho, então. – Sorri e abracei Edu que vinha logo atrás.
- Agora vocês precisarão fazer esses garotos não darem sustos na gente para que não tenha nenhum momento muito conflitante para nós duas. – Dei um sorriso sarcástico.
- E nem para ninguém, por favor. – Vinícius falou rapidamente, nos fazendo rir.
- Bom, nosso goleiro está feliz, então imagino que ele esteja animado. – Cléber falou me cumprimentando.
- Espero que volte mais feliz ainda, depois de ganhar a Champions. – Falei e ele sorriu.
- Você vai, né?! – Tite perguntou.
- Sim, reduzi três dias das minhas férias por isso. – Sorri.
- Vai nos representar. – Tite falou e eu ri fracamente.
- Não, galera, eu vou apoiar meu namorado e é só. Vou em um pé e volto no outro. – Falei, erguendo as mãos, vendo-os ir. – Vão nem perceber que eu estive lá.
- Aproveita para curtir, que a gente precisa muito de você. – Edu falou e eu dei um pequeno sorriso. – De vocês! – Ele olhou para o resto da fila.
- Bom, gente, o almoço está servido, os quartos já estão separados, fiquem à vontade, caso precisem de nós, só nos chamar. – Bianca falou.
- Obrigada, Bianca, podem descansar, por hoje não teremos nada. – Ele assentiu com a cabeça e dei um pequeno sorriso.

No dia seguinte, Richarlison foi o primeiro a chegar por volta das 11 da manhã. Com o campeonato inglês finalizado, que eu estive presente, ele decidiu ser o primeiro a aparecer. Aquele jeito caladão dele já fez com a que a gente risse dele logo na primeira tropeçada na porta. Diana e Vinícius fizeram uma entrevista com ele e logo o liberaram para se acomodar no quarto. Ele subiu, já colocou o uniforme de treinamento e se juntou a nós durante o almoço.
Lá pelas quatro da tarde, tivemos a apresentação de mais três pessoas: Jesus, Fernandinho e Casemiro que também não tinham mais compromissos com seus times, então decidiram aparecer logo no primeiro dia.
- Você está grávida? – Foi a primeira coisa que Fernandinho falou quando me viu e eu abri um largo sorriso.
- Meu Deus, quanto tempo! – O abracei fortemente, sentindo-o me tirar do chão levemente. Afinal, fazia quase um ano que eu não o via.
- É do Alisson, né?! – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça. – Meu Deus, que surpresa. – Sorri.
- Que bom te ter aqui! – Ele sorriu.
- Não acharia que estivesse. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- E aí, menina? – Casemiro me abraçou fortemente, me tirando do chão também.
- Tenta não levar dois amarelos antes de um jogo importante, pode ser? – Perguntei e ele fez uma careta.
- Vou tentar. – Rimos juntos.
- Fala aí! – Jesus me abraçou e eu sorri. - Como vocês estão? – Ele perguntou.
- Tudo bem. – Sorri. – E você?
- Bem! Nem me falou que estava na Inglaterra! – Ri fracamente.
- Eu mandei mensagem.
- É, no último dia! – Ele falou e eu ri fracamente.
- Gente, algum de vocês vem dar uma palavra com o Vini e depois podem subir, se arrumar, caso queiram lanchar, fiquem à vontade, vocês já vão ter trabalho, ok?! – Bianca falou e assentimos com a cabeça.
- O que precisa saber, Vini? – Casemiro se aproximou de Vinícius.
- Vamos lá, cara! – Vini falou.
Alguns minutos depois, David Neres chegou e completamos cinco de 23 logo no primeiro dia. Fabio, Rodrigo e o pessoal responsável pela parte física aproveitaram para começar os testes. Testes de força, em esteira, de potência e principalmente de velocidade.
Na manhã seguinte, os testes continuaram, já que não fizeram tudo no dia anterior, inclusive alguns treinos de corrida no campo, algumas preparações mais específicas. Eu e o pessoal da comunicação só ficávamos acompanhando, produzindo fotos, vídeos e coisas para as redes sociais, além de programar as chegadas dos outros jogadores.
Lá pelas 10 da manhã, dois dos meus carmas chegaram e eu sabia que o surto iria começar. Filipe Luís e Ederson chegaram já aloprando.
- Não acredito que eu tive que saber dessa gravidez pelo Instagram. – Filipe Luís falou, me puxando para um abraço.
- Ah lá, agora acha que é importante. – Ederson falou, me fazendo rir.
- Mancada, poxa, apesar das brincadeiras, vocês dois são muito importantes para mim, caramba. – Filipe falou. – Estou feliz por vocês, sério.
- Obrigada, já basta. – Sorri, abraçando Ederson em seguida.
- Como vocês duas estão? – Ederson perguntou.
- Muito bem, obrigada.
- Já decidiram o nome? – Ederson perguntou.
- Ainda não, sem ideias.
- Pensa nos amigos, viu?! – Ederson falou e eu franzi a testa.
- Para quê? Edersina? – Filipe perguntou, nos fazendo gargalhar.
- Ah, gente! Vão se acomodar que logo o trabalho começa. – Falei e olhei para Bianca.
- Edersina! – Ela gritou, não aguentando rir. - Edersina Becker, seria ótimo! – Empurrei-a para o lado, voltando a andar em direção ao corredor que dava para fora.
Na parte da tarde, a bola começou a rolar com os sete jogadores e alguns da Sub-23 que aceitaram essa oportunidade de treinar com a principal. Era realmente uma oportunidade, então, quem perderia? Além de que seriam só por alguns dias, até a galera inteira se reunir. Na minha parte, foi legal reencontrar os goleiros Hugo e Megiolaro que também fizeram questão de falar da minha barriga.
Confesso que toda essa atenção à minha barriga estava me deixando muito animada. Com Alisson ocupado o dia inteiro com os treinos em Marbella, e meu horário para lá de inconstante, acabávamos nos falando somente por mensagem que respondíamos quando dava, então ter o resto da galera me paparicando, fazia que meu ego ficasse bem feliz por isso.
Para finalizar o dia, tivemos uma primeira coletiva de uns 40 minutos com Cléber. Tudo havia voltado ao normal.

Allan chegou no dia seguinte de manhã, já fez seus testes físicos e foi para o campo na parte da tarde com os outros dois. O problema estava em volta do Neymar que havia dado um sumiço na equipe técnica do PSG e não havia nos avisado quando ia chegar. Esperávamos que ele chegaria junto do restante dos colegas de time dele.
- Nada ainda? – Edu perguntou para mim e Bianca.
- Nada. – Negamos com a cabeça a falta de informações e ele soltou uma forte lufada de ar.
- Eu vou matá-lo. – Ele sussurrou e saiu de perto de nós.
- Não se eu matá-lo primeiro. – Bianca falou e eu suspirei.
- Relaxa, não adianta nada, a gente sugeriu não convocar, Tite quis problema para si, então... – Falei, dando de ombros em seguida.
- Vocês sabem que a Amazon Prime está fazendo um documentário sobre tudo, né?! Isso vai vazar. – Lucas falou e eu suspirei.
- Que vaze depois que essa competição acabar, mas a imagem dele já não é das melhores mesmo. – Dei de ombros.
- O lançamento disso vai ser só em 2020, tem tempo ainda. – Anna cochichou e respiramos fundo.
- Bom, temos outros jogadores para nos preocupar, a gente vê isso quando ele aparecer aqui. – Falei, me levantando. – Bebê precisa caminhar.
- Vamos, bebê, vamos! – Vinícius falou e eu ri, vendo o pessoal me acompanhar.
Não tivemos muitas surpresas no restante do dia, os poucos jogadores que estavam ali, além do pessoal da Sub-23 ficou no treino o dia inteiro, então ficamos auxiliando a imprensa e aguardando as coisas planejadas acontecerem.
Tentei falar com Alisson mais tarde, mas pelo jeito Marbella estava sendo muito puxado e Alisson não conseguia aguentar até meia-noite acordado. Ele estava uma hora para frente, então era pior ainda e eu nem estava sendo dispensada seis horas como estava acostumada.
Comecei o dia seguinte pegando fogo, era aniversário de Tite, então logo providenciamos um bolo com o chef para fazer uma festinha mais para o fim do dia. Chegamos no restaurante, dei um forte abraço nele, desejando muita paz, saúde e, principalmente, sucesso para ele e as bombas começaram a cair antes de eu pegar um leite para mim.
- Neymar chegou. – Bianca sussurrou e eu olhei para ela. – Um helicóptero pediu permissão para pouso há uns dois minutos.
- Eu vou! – Falei, me levantando em seguida.
- Coma, os meninos vão até ele. – Ela falou e eu neguei com a cabeça.
- Relaxa. – Peguei um pedaço de melancia com os dedos e coloquei na boca. – Eu já volto.
Entrei na van junto de Lucas e Vinícius e seguimos até o ponto mais afastado da Granja, próximo ao lago, aonde tinha um heliponto. O lugar ficava para fora da Granja, em um lugar fechado, mas alguns torcedores estavam amontoados na grade, esperando por ele. A van parou no momento em que o helicóptero estava pousando, fazendo com que meus cabelos voassem para todos os lados e os óculos de sol quase saísse do rosto.
Quando as hélices pararam, Neymar saiu do mesmo e eu só cruzei os braços, vendo seu largo sorriso se formar. Ele veio todo sorridente em minha direção e me abraçou fortemente.
- Não acredito que você está grávida de verdade. – Ele falou.
- Não venha me paparicando, precisamos conversar. – Falei, seguindo de volta para a van e esperei alguns minutos para ele cumprimentar alguns fãs e logo o mesmo se sentou ao meu lado, a porta foi fechada e a van voltou a andar.
- Eu sei que eu preciso me explicar, mas...
- Ney, você não pode fazer o que você quer, na hora que você quer, o PSG estava te esperando.
- Ah, o PSG...
- Não me importa se você quer sair do time, você tem um contrato, cumpra-o. – Falei firmemente. – A CBF não tem mais cara para te livrar de problemas. O combinado era você chegar no dia 28, se você tinha intenção de chegar antes, deveria informar o time...
- Você não entende. – Ele falou e suspirei.
- Eu sei sobre seus problemas com o PSG, sei sobre sua vontade enorme de voltar para o Barcelona, sei sobre todas as condições e freios que eles colocaram, mas foi uma escolha sua. – Falei firmemente. – Fez a cama, agora deita. Por favor, ao menos dê uma satisfação, eu não posso me irritar.
- Eu vejo o que posso fazer. – Ele falou e eu suspirei. – Posso perguntar sobre você e esse bebê?
- O que quer saber? – Suspirei.
- Como vocês estão? – Dei um pequeno sorriso.
- Bem. – Suspirei.
- É isso que importa. – Neguei com a cabeça.
O dia se seguiu como se nada tivesse acontecido, ele ganhava tratamento especial de Tite e eu sabia disso, mas não entrei em detalhes, minha parte eu tinha feito. Mais tarde eles voltaram para campo e os treinos continuaram.
Ao longo do dia, tivemos uma notícia muito ruim, Marta havia se lesionado no treino em Portugal como preparação para a Copa do Mundo Feminina, não podíamos fazer muita coisa, mas a imprensa em peso estava lá, eles queriam informações, então tivemos que dar uma de ponte para passar informações, Débora e o pessoal com elas nos ajudaram um pouco.
Na hora da janta, cantamos parabéns para Tite, comemos um pedaço de bolo e alguns jogadores, inclusive meu namorado, mandaram alguns vídeos para gente passar para Tite. Foi tudo feito em cima da hora, confesso, Anna ficou atrás disso o dia inteiro, então os vídeos ficaram engraçados, pois todo mundo estava com roupa de treino e tudo mais.
Ver Alisson pela tela me deu um quentinho no peito, fazia bastante tempo que não conversávamos cara a cara... Bom, tela a tela, e aquilo me dava um leve aperto no peito. Me surpreendi quando percebi que o bebê se movimentou um pouco mais durante o vídeo do Alisson, será que ele tinha reconhecido a voz?
- O que foi? – Bianca cochichou ao meu lado.
- Olha isso. – Peguei sua mão e coloquei na minha barriga, vendo-a arregalar os olhos.
- Ela tá agitada. – Ela disse.
- Será que é pelo vídeo do Alisson? – Perguntei e Bianca deu um largo sorriso.
- Será que ela já reconhece a voz de vocês? – Ela falou surpresa, e me abraçando de lado.
- Parece que sim. – Suspirei.

Tivemos folga no sábado na parte da tarde, achei que seria uma oportunidade para eu finalmente falar com Alisson, mas ele teria que voltar para Inglaterra para lidar com alguma questão de documentos, visto e todas aquelas burocracias de ser estrangeiro trabalhando em uma empresa estrangeira. Depois ele também teria o chá de bebê da Nat, ela e seu marido estavam determinados a mudar para Londres, já que o marido dela era empresário ou algo assim e tinha essa disponibilidade, e era uma forma de eles manterem uma criação mais fácil para Helena. Até eles tinham resolvido um problema de mais de dois anos e eu e ele matutando a cabeça.
Confesso que mal via a hora de fazer um chá de bebê para mim, as fotos da Natália estavam lindas e eu mal via a hora de poder fazer isso para o meu bebê, mas estávamos no meio de uma competição, tinha muita coisa para rolar.
Acabai aproveitando meu descanso para dormir mesmo, andar de lá para cá era cansativo demais. Bom, não era, mas eu estava com peso extra, né?! Acordei só para ir jantar.
Thiago e Alex Sandro anteciparam sua chegada, mas já haviam informado a organização antes, então estávamos preparados. Ambos chegaram todos sorridentes para mim, me abraçaram, me tiraram do chão, perguntaram sobre o bebê, acariciaram minha barriga, então foi um momento muito bom.
Os levamos para os quartos para eles descansarem e logo se arrumarem para os treinos. Thiago foi primeiro de tudo para a avaliação física. Ele teve uma lesão há algum tempo, então ainda precisava de bastante fortalecimento, confesso que não fui capaz de acompanhar, era visível a dor dele, mas ele estava dando tudo de si para estar apto e continuar aqui conosco. Alex estava em melhor forma, então a avaliação foi muito mais fácil para ele.
O dia se seguiu sem grandes novidades na parte dos jogadores, agora na parte interna, meu amigo. Para começar que o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que foi presidente de 1989 até 2012, foi banido do futebol pela FIFA, isso mesmo que você ouviu, banido. Ou seja, ele não poderia, nunca mais, na vida dele, jogar uma pelada em casa se quisesse. Ok, é piada, mas ele não poderia mais exercer nenhuma atividade relacionada ao esporte seja a nível nacional ou internacional. Além de uma pequena multa de uns quatro milhões de reais, fácil assim.
Isso já fez a gente ter um gás incrível, porque foi tanta informação e tanta entrevista que a gente teve que dar que eu acabei ficando sem voz lá pelas cinco da tarde. Como se não bastasse, Tite decidiu que seria uma boa ideia, durante uma entrevista, anunciar Dani Alves como capitão da Seleção. Aquilo foi um caos, o mais engraçado foi que Dani nem havia chegado na Granja ainda, então era noticiar sem o foco da notícia, pelo menos ele já chegaria com trabalho para fazer.
Claro que eu ainda preferia Thiago como capitão, não existia espírito de liderança melhor do que ele, além dos goleiros que sempre tinham um envolvimento melhor, mas Dani era mais antigo nesse mercado, já havia passado por poucas e boas e aparentava ser um pouco mais centrado que Neymar, apesar de temos nos encontrado em poucas situações.
Depois do dia corrido, foi fácil dormir, estava começando a sentir falta de Alisson e minha filha estava mais agitada do que o normal, não sabia dizer se também sentia falta dele ou se estava entrando no meu ritmo acelerado. Quando eu deitei, finalmente sentindo meu corpo relaxar, eu peguei o celular e tinha uma mensagem solitária de Alisson ali.
“Sentindo muito sua falta, você me dá mais forças do que deve imaginar. Como está tudo aí? Me dê notícias”. – E fazia mais de três horas que essa mensagem havia sido enviada.
“Oi, meu amor, hoje tivemos algumas bombas estouradas aqui, mas em breve estarei junto de você. Rola uma folguinha antes da grande final? Precisamos te ver! Amo você”.

Acordei no dia seguinte com o despertador tocando em cima da minha barriga, me fazendo pular de susto por achar que era a Mini Becker sacudindo assim, mas não. Peguei o celular, vendo que Alisson havia mandado mensagem há duas horas.
“Bom dia, amor, acho que dia 30 teremos uma folga antes da viagem para Madrid, será que rola? Me avise dos seus passos”. – Suspirei, acariciando minha barriga para fora por causa do pijama baixo e senti uma pequena vibração embaixo da minha mão.
- Está tudo bem, meu amor, estamos bem. – Falei e coloquei meus dedos para digitar.
“Espero que sim, vamos nos falando, hoje chega bastante gente, dia vai ser corrido. Fica bem, ok?! Amo você”. – Suspirei, antes de me levantar para mais um dia.
Depois de me arrumar e tomar um café bem reforçado, já fui com Vinícius e Lucas fazer a recepção dos jogadores que chegariam hoje, para minha felicidade, Arthur foi o primeiro a passar pela porta com um largo sorriso no rosto.
- Ah, que linda! – Ele falou animado, largando sua mala e correndo em minha direção. Abri os braços para ele, mas suas mãos foram em direção à minha barriga.
- Quando eu só estava acima do peso, ninguém se importava com essa parte do meu corpo, né?! – Brinquei e ele riu fracamente, se levantando e me abraçando fortemente.
- Que saudade de você! – Sorri, abraçando o mais baixo. – Você não tem noção como está bonita, né?! – Dei um pequeno sorriso. – Parece que até está genuinamente feliz em me ver. – Neguei com a cabeça, rindo fracamente.
- Ridículo! – Dei um tapa em seu ombro. – É bom ter alguém mais próximo de mim aqui enquanto o Alisson não chega.
- Você vai vê-lo, não?!
- Sim, vou, mas só para o jogo mesmo, vou dia 31 à noite, aí volto no voo da madrugada do dia três. – Dei um pequeno sorriso. – Bom, estamos com uma vitória, né?! Se não, capaz de voltarmos antes.
- Vai dar certo! – Ele sorriu. – E como estão vocês duas? É uma menina, né?!
- Sim. – Abri um largo sorriso.
- Ela vai puxar para mãe e ser extraordinária igual. – Suspirei, abraçando-o novamente.
- Ah, vocês puxando meu saco. – Abanei com a mão, ouvindo-o rir. – Meu ego está inflando, hein?!
- E você merece! – Ele piscou.
- Agora dá uma atenção para gente. – Vini falou e Arthur foi se preparar para uma rápida entrevista.
Arthur sumiu para seu quarto e eu fiquei jogada em um dos sofás por mais uns 20 minutos com os meninos, quando a porta se abriu e Marquinhos, Éder Militão e Dani Alves chegaram na mesma van. Seguimos para mais trabalho.
- Bem-vindos, gente! – Marquinhos foi o primeiro a me abraçar.
- Ah, garota! Como você está? – Sorri. – Vocês, né?! – Ele falou e eu ri fracamente.
- Estamos muito bem e você? – Perguntei sorrindo e ele estalou um beijo em minha bochecha.
- Bom saber, tudo bem aqui também! – Ele sorriu. – E aí, gente? – Ele cumprimentou Lucas e Vinícius.
- Oi, Éder! – Falei para Militão, em um cumprimento um pouco mais contido e ele sorriu, seguindo para os meninos também.
- Cheguei, galera! – Dani foi mais animado e seguiu em minha direção.
- Finalmente vamos trabalhar juntos, hein?! – Perguntei e ele sorriu.
- Finalmente! – Ele falou rindo e eu o abracei, sorrindo. – E que surpresa, não?!
- Gostou? Novo mascote do time! – Passei a mão na barriga e ele riu fracamente.
- Eu falei com Alisson recentemente e parabéns para vocês, que venha com muita saúde. – Assenti com a cabeça.
- É só o que importa. – Dei um rápido beijo em sua bochecha e ele sorriu. - Já ficou sabendo da notícia de capitão? – Perguntei.
- Vagamente! – Ele falou e eu ri fracamente. – Tite me ligou, já estou esperando o bombardeio de perguntas. – Assenti com a cabeça.
- Vamos devagar, vá se acomodar, se apresentar ao Tite que depois vemos como vai ser, beleza? – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Sim, senhora! – Ele me abraçou rapidamente de novo e seguiu para falar com os meninos.
Me joguei no sofá novamente enquanto Vinícius acompanhou Dani Alves para uma breve entrevista e eu sabia que se Coutinho demorasse para chegar um pouco mais, eu dormiria nesses sofás de couro muito em breve.
Coutinho não demorou muito mais para chegar, não deu tempo de eu dormir no sofá. Ele entrou todo sorridente e veio em minha direção, ignorando totalmente os outros serviços da CBF e até Lucas que estava na porta quando o mesmo chegou.
- Cara, você é incrível, sério! – Ele falou, me abraçando fortemente e eu franzi a testa. – Vai encarar essa competição grávida mesmo?
- Ah, vou! – Ri fracamente. – E se me derem susto, eu estou com os hormônios a flor da pele. – Pisquei e ele sorriu.
- Parabéns mesmo! – Ele assentiu com a cabeça. – Adoro ter menina, sério! Se for igual metade você e metade o Alisson, ela vai ser a melhor pessoa do mundo.
- Obrigada, Phil, vocês são demais, sério! – Sorri.
- Você é demais e merece o mundo. – Ele acariciou meu rosto e eu sorri, vendo-o se afastar.
Depois da chegada dos jogadores, todas as equipes fizeram reuniões internas com as primeiras informações do primeiro amistoso que seria contra o Catar no dia cinco em Brasília. Como eu ficaria alguns dias fora, eu chegaria praticamente para esse jogo e precisávamos alinhar tudo.
Na parte da tarde, os meninos foram para campo e agora o negócio estava ficando bom, faltavam poucas pessoas para chegar e estávamos empolgados com isso. Bom, tão empolgados que Neymar saiu mancando do treino e Fabio e Rodrigo acharam melhor ele ir para o hospital em Teresópolis para fazer alguns exames para confirmar se não era nada demais. Leandro aceitou ser nossa cobaia e acompanhá-los, eu e Bianca só queríamos saber de dormir. Na manhã seguinte descobri que não era nada, um pouco de repouso e estava tudo certo.
Paquetá chegou cedo no dia seguinte, antes até de eu tomar meu café da manhã e comer aquelas frutinhas nada deliciosas como indicação da nutricionista, mas também comi bastante iogurte, ovo mexido e bastante achocolatado, já que estava evitando o café. Bom, Paquetá estava realmente precisando de um café, ele estava com a voz toda embolada e claramente dormiu a viagem inteira até a Granja, só não sabia dizer se ele já estava aqui antes ou se chegou de viagem e veio virado também.
Pela manhã, todos os jogadores foram para o Centro de Excelência da Granja, os recém-chegados fizeram finalmente seus testes físicos, já que não foi possível fazer no dia anterior, e os que já estavam com a gente fizeram um pouco de relaxamento e treino de academia mesmo. Lucas e Vinícius os acompanharam durante todo o treinamento, eu e Bianca ficamos dando algumas informações para Diana sobre as redes sociais e alinhamos algumas coisas para continuar usando o Canarinho Pistola como forma de divulgação e um diálogo mais frequente com os torcedores online.
Miranda chegou na parte da tarde e já foi treinar também. Agora tínhamos 18 jogadores, mais quatro jogadores da Sub-23, eles já conseguiram treinar com campo completo. Bom, 17 e mais cinco, né?! Neymar ainda estava em recuperação por causa daquele problema no pé, então ele não fazia parte do treino completo, mas foi bom ver todo mundo suando a camisa e com raça para encarar a competição que estava cada vez mais perto.
Minha cabeça estava um pouco longe, confesso, não sabia como estava a cabeça de Alisson por causa da final da Champions, sabia que ele estava muito alegre por estar na final em seu primeiro ano do Liverpool, sabia que ele estava preocupado comigo e com nossa filha, mas não havia conseguido tirar um momento para conversar com ele, eu precisava disso, eles iriam em breve para Madrid e agora era vigília e manter a cabeça sã para o dia primeiro.
Quando achávamos que tudo estava indo bem, outra bomba estourou perto da gente, uma bomba que eu já tinha planos que ia acontecer, mas que já havia passado tanto tempo que eu honestamente achei que isso não fosse acontecer. Douglas Costa meteu a boca no trombone. Lembra quando eu falei que Neymar não deveria ter sido convocado por causa do soco em um torcedor na final do torneio francês? Então, Douglas Costa cuspiu na cara de outro jogador durante um jogo da Juventus e temos uma leve ideia de que foi por esse motivo que ele não foi convocado mais para a Seleção. Dois pesos e duas medidas, algo que eu disse desde lá de trás e agora estou estourando na cara deles novamente.
- O que vamos fazer sobre isso? – Cléber perguntou e eu olhei para ele, franzindo a testa.
- Oi? “Vamos”? – Ri fracamente. - Nós não vamos fazer nada, vocês fizeram merda lá atrás e eu avisei que isso ia estourar, agora é problema de vocês.
- Eu estou com ela. – Bianca falou. – Vocês mancaram bonito. Fica aí achando que Neymar é Deus e aí? – Ela revirou os olhos. – Esse cara vai deixar vocês na mão um dia e quero ver se vocês vão ter culhão para enfrentar isso.
- Não precisa falar assim, Bianca. – Tite falou.
- Precisa sim, Tite! – Foi minha vez de falar. – Ah, qual é, ninguém aqui tem mais sete, oito anos para ter a mão passada na cabeça sempre. – Bufei alto. – Vocês vão se virar com isso, eu, Bianca, e ninguém da nossa equipe vai se encontrar com imprensa hoje, a gente acompanha vocês sim, mas não vai ser nossa fuça na imprensa hoje. – Suspirei. – Eu vou encher minha boca e falar de novo: eu avisei.
- Agora se não nos ouviu... – Bianca deixou a frase no meio do caminho, dando de ombros.
- Vamos continuar com crise atrás de crise. – Suspirei, me levantando. – Nos avisem da decisão de vocês, nós vamos jantar. – Falei, seguindo para a porta da sala com Bianca atrás de mim e, quando a porta foi fechada, Bianca puxou seus cabelos para cima.
- Eu quero matar alguém! – Ela falou com a voz abafada.
- Eu não quero nem saber. – Segui andando pelo corredor. – Tite me traz à tona algo de setembro? Ah, vá a merda, eles estão achando que tudo são flores, quero só ver se isso tomar maiores proporções. – Neguei com a cabeça.
- Você vai ver, eles vão calar o Douglas rapidinho, Neymar vai continuar sendo o deusinho supremo e a gente só vai ter esquentado a cabeça por nada. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Pior de tudo é que você tem razão. – Suspirei.

Acordamos em uma vibe melhor no dia seguinte, parece que a bomba Douglas Costa havia sido silenciada, aposto que Michelle ou Angelica tinham dado um jeito nisso do Rio de Janeiro, e o dia em si estava um pouco mais calmo, eu fiquei muito feliz, pois tinha que começar a me preparar para viajar novamente.
Na parte da manhã, os jogadores seguiram para fazer um check-up geral com diversos outros médicos. Cardiologista, infectologista, pneumologista, ortopedista e até dentista, não me pergunte o motivo desse último, então, apesar de ser algo mais chato, pois eram 18 jogadores se consultando com todos esses profissionais, nós estávamos para o lado de dentro, com o corpo fora daquele sol infernal, o que já fazia com que a gente cansasse bem menos.
Depois da finalização dos exames, os jogadores tiveram um tempo de descanso e nós também, retornando somente as quatro da tarde. Aproveitei essa folga e saí correndo para meu quarto, mandando mensagem para Alisson para saber como estava o andamento lá em Marbella.
“Ei, como está? Tenho umas três horas de folga agora!” – Enviei, entrando correndo no quarto.
“Com uma preguiça incrível, mas sempre disponível para você, vou te ligar”. – Ele respondeu e logo meu celular começou a vibrar com uma ligação por vídeo do WhatsApp.
- Ei! – Falei sorrindo, ainda me ajeitando na cama.
- Ah, não acredito que eu estou finalmente te vendo. – Sorri, vendo seus olhos pequenos de cansaço.
- Aqui está uma loucura, cada dia aparece uma coisa.
- Aqui também, acho que nunca treinamos tanto, viu?! São quase 12 horas diárias, tivemos folga hoje e amanhã vamos viajar. – Assenti com a cabeça.
- Estou tão empolgada, como você está? – Perguntei.
- Estou nervoso, confesso, mas preciso pensar que é só mais um jogo. – Assenti com a cabeça.
- Vai dar tudo certo, você vai ver. Vocês são espetaculares e muito superiores ao Tottenham, vai ser incrível. – Ele deu um meio sorriso, passando a mão na cabeça e suspirando.
- E como vocês estão? Tá tudo certo? – Estiquei o braço para ele ver minha barriga.
- Estamos tudo bem por aqui, ela mexe mais quando ouve sua voz. – Falei, levando a mão livre à barriga. – Percebi no vídeo de aniversário do Tite.
- Sério? – Abri um sorriso.
- Fala com ela.
- Oi, bebê, é o papai aqui. Estou com saudade de você e da mamãe, mal vejo a hora de estar juntinho de vocês...
- Aí! – Falei, sentindo um leve movimento dentro de mim. – Ela já te reconhece. – Voltei o celular para mim.
- Estou com muitas saudades de vocês. – Ele suspirou.
- Só mais dois dias e já poderemos te abraçar. – Dei um pequeno sorriso.
- E como você vai fazer?
- Eu vou trabalhar normal no dia 31, espero que não tenha nada muito grandioso, lá pelas quatro horas eu vou fazer um check-up com Rodrigo, aí vou de helicóptero para o Rio e vou pegar o voo de madrugada para Madrid, está previsto para chegar 11 da manhã no horário daí. – Falei.
- Você descansa, ok?! Nós devemos ir amanhã cedo para Madrid, vai ter reconhecimento de campo e tudo mais, mas acho que não vão me deixar escapar para te ver. – Ele deu um pequeno sorriso.
- Que horas é o jogo mesmo? – Perguntei.
- Oito horas, mas tem show de encerramento, chega antes para aproveitar. – Assenti com a cabeça.
- Quero te ver antes também, talvez umas cinco, seis horas eu já vá para o campo.
- Vai sozinha? – Ele perguntou.
- Por enquanto sim, preciso mandar mensagem para Larissa para ver se ela vai, pelo menos ter uma companhia durante o jogo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Acho que o Firmino mencionou algo assim, mas eu realmente não lembro. – Rimos juntos.
- Vai dar certo. – Pisquei. – Você é o melhor goleiro do mundo e não sou só eu que falo, vai ser incrível.
- Deus te ouça, meu amor. Deus te ouça. – Sorri. – Só me avisa dos seus passos, ok?! – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar, se preocupe por mais dois dias com o seu time, em finalizar esse torneio da mesma forma que começou: com raça e vontade de vencer. Depois disso, eu deixo você dividir sua preocupação comigo um pouco para depois focar na Copa América. – Ele riu fracamente.
- Só você mesmo. – Pisquei.
- Respiramos o futebol, amor, nossa menina vai ter que entender isso. – Sorri. – Ao menos eu espero. – Franzi a testa e ele gargalhou.
- Imagina só uma filha que não goste de futebol? – Fiz uma careta.
- Não decepciona a mamãe, amor. – Falei para a barriga, acariciando-a.
- Como o pessoal está contigo?
- Ah, eles estão todos animados, né?! Arthur chegou antes de ontem e estava todo animado com a gravidez. Agora a barriga já marca um pouco a blusa, né?! Não tem mais como fugir. – Sorri.
- Você tem notado alguma outra coisa de diferente? – Ele perguntou.
- Uma fome insaciável... – Ele gargalhou. – Maior cansaço, principalmente quando fico muito tempo em pé, estou tendo um pouco de coceira principalmente nos seios, acho que estão aumentando um pouco...
- Hum, interessante. – Ri fracamente.
- Safado! – Falei e ele sorriu. – E estou com umas estrias nos seios, por enquanto, mas nada demais ainda, sem inchaço, dor nas costas já é algo normal para mim por causa da altura... – Dei de ombros. – Pelo menos já aprendi a dominar a arte de dormir com a barriga para cima. – Ele gargalhou.
- Fico feliz, amor. Me avisa de qualquer mudança.
- Não vou precisar avisar nada, pois você estará comigo. – Sorri e ele retribuiu.
- Eu te amo tanto...
- Eu também. – Falei suspirando. – Mal vejo a hora de te encontrar. – Ele checou o relógio rapidamente.
- Pouco mais de 48 horas. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Para quem já esperou 15 dias, isso vai ser fácil. – Pisquei e ele sorriu.
Após duas horas de conversa e uma de sono, voltamos aos trabalhos. Neymar e os goleiros foram para campo fazer treinamentos individuais e, mais tarde, quando levei Taffarel para a coletiva de imprensa, o pessoal voltou em peso para dentro de campo para fazer mais treinamentos táticos e jogos corridos.
- Você está mais quieta nesses dias. – Taffarel falou, me abraçando de lado e eu suspirei.
- Só estou mais cansada. – Sorri, abraçando-o pela cintura. – Não é fácil carregar essa carga extra e ainda dar a mesma dedicação.
- E como vocês duas estão? – Ele perguntou e abri a porta da antessala para ele entrar e Lucas e Vinícius vieram atrás.
- Estamos bem, graças a Deus. – Suspirei. – Não estou conseguindo dar muita atenção para ela, mas estamos focadas na Copa América e com a Champions.
- Você vai na final, né?! – Sorri.
- Sim, vou trazer seu menino de volta. – Ele riu fracamente. – Ah, fala se você não está sentindo saudades do Alisson?
- Ah, o Alisson é mais parça, né?! Temos muitas similaridades de carreira, de onde a gente veio, então é inevitável... – Rimos juntos.
- Eu não conto para ninguém. – Pisquei para ele e ele me abraçou, dando um beijo em minha testa.
- Você é um demônio. – Ele falou e rimos juntos. – Mas não está errada.
- Viu?! – Sorri e ele riu. – Vamos lá? Uns 40 minutinhos e você volta para o seu segundo goleiro favorito.
- Segundo? Terceiro, né?! Você é a número um. – Revirei os olhos.
- Ah, esse povo paparicando a gente. – Abanei a mão e ele sorriu.
- Aproveita que é só por causa da gravidez. – Lucas falou e eu sorri.
- Vamos lá, depois você continua, ok?! – Ele gargalhou e abri a porta para a outra sala, dando espaço para ele entrar e se posicionar em seu lugar.
Depois da coletiva, o treino acabou se alongando mais alguns minutos e tudo foi encerrado as sete da noite. Os jogadores seguiram para seus quartos antes da janta e, antes de eu seguir para o mesmo caminho, fui recepcionar Everton que também abandonou sua folga e se apresentou antes para a preparação. Ele seguiu para seu quarto e logo nos encontramos novamente no restaurante.
Ele e Arthur haviam jogado na base do Grêmio desde cedo, então eles ficaram parecendo melhores amigos que não se encontram há anos e só dava a voz dos dois sobressaindo no restaurante. Apesar do papo gostoso, eu precisava arrumar mala ainda, amanhã o dia seria longo.

- E aí, Rodrigo? Consigo ir para Madrid? – Perguntei, sentindo-o passar o ultrassom na minha barriga.
- Consegue sim! – Ele sorriu, virando a tela para mim. – Ela está bem, um pouco agitada, o que é comum, baseado nos últimos dias, mas está tudo bem com a sua menina. – Ele falou.
- Oh! – Arthur, Filipe Luís, Ederson, Thiago, Casemiro, Coutinho e Jesus falaram amontoados em cima de Rodrigo, olhando para tela da TV e eu revirei os olhos.
- Olha que linda! – Arthur falou com a voz fofinha, apontando para tela.
- Olha o nariz arrebitado, parece o da . – Thiago comentou.
- Eu não tenho nariz arrebitado. – Falei e ele riu fracamente.
- Ela tem! – Ederson falou, rindo em seguida.
- Ela é linda, . – Coutinho falou passando a mão em minha cabeça e eu sorri.
- Obrigada por vocês fazerem isso comigo. – Filipe sorriu, assentindo com a cabeça.
- A gente brinca, mas quando é sério, é sério! – Ele falou, segurando minha mão e eu sorri, suspirando.
- E todo mundo estava louco para vê-la. – Jesus falou e eu sorri.
- Obrigada mesmo. – Sorri.
- Pode ir com calma, , aproveita, tenta conter o nervosismo, na volta fazemos novos exames. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Sorri.
- ! – Ouvi uma voz me chamando e eu, junto dos jogadores e Rodrigo erguemos nossa cabeça para a porta da sala médica. – Ele fez de novo! – Bianca apareceu na porta. – Nossa, que gangue! – Ela entrou. – Você está fazendo o ultrassom? Já são quatro horas! – Ela correu em nossa direção. – Meu Deus, eu esqueci. – Ela entrou na frente dos meninos. – Ah, lindinha da tia! – Ela sorriu.
- Entra na fila! – Casemiro gritou.
- Eu fui a segunda a saber dessa gravidez, eu tenho prioridades aqui. – Bianca falou. – Será que é verdade que se você comer chocolate o bebê reage diferente?
- Eu pego o chocolate! – Jesus gritou.
- Calma, gente, ela só está de cinco meses, isso dá certo com o bebê mais evoluído. – Rodrigo falou.
- Tentaremos depois. – Jesus falou novamente, nos fazendo rir.
- Ela está bem, Rodrigo? ? Mini Becker? – Bianca perguntou rapidamente.
- Todas bem. – Ele falou, congelando a imagem e tirando o aparelho na minha barriga, me entregando uma toalha.
- O que você queria comigo? – Perguntei para Bianca.
- Lindinha! – Bianca falou para a TV com aquela voz de criança e eu sorri, passando a toalha em cima do gel.
- Bianca, foca! – Falei e ela virou para mim.
- Ah sim, algum dos “parça” do Neymar filmou o treino e está na internet com nossa escalação completa. – Revirei os olhos.
- Espera! Parece que eu estou tendo um déjà vu. – Falei, franzindo a testa.
- Eu fiz isso na Copa do Mundo. – Jesus assumiu e eu assenti com a cabeça, me sentando na maca e cobrando minha virilha com a toalha.
- Tá explicado. – Suspirei e virei para Bianca. – Eu estou indo embora, amor, a bomba é sua.
- Deixa eu ir contigo? – Ela perguntou e eu ri fracamente.
- Adoraria uma companhia, você sabe. – Ela assentiu com a cabeça.
- Fica bem e avisa a gente, ok?! – Ela disse.
- Pode deixar. – Sorri. – Tem algo que eu possa te ajudar antes de ir?
- Não! Já divulgamos a numeração oficial, o treino vai continuar daqui a pouco, mas está tudo sob controle. – Ela sorriu.
- Beleza, continua assim até dia quatro, ok?!
- Deseja boa sorte para os meninos, viu?! – Arthur falou.
- Pode deixar. – Sorri. – Eles sabem que não estão sozinhos.
- E quem sabe eles não trazem a orelhuda para casa? – Casemiro perguntou, dando uma piscadela.
- Apesar do meu nervosismo, eu sei que eles vão trazer. – Falei e ele sorriu, piscando para mim.
- Bom, vamos finalizar? – Rodrigo perguntou com um medidor de pressão.
- Vamos lá. – Sorri, olhando o rostinho embaçado da minha filha no ultrassom e suspirei, soltando a respiração pesadamente.


Capítulo 16 – É o melhor do mundo sim!

- Você se cuida, tá bem? – Lucas falou quando a van parou no embarque e desembarque do aeroporto do Galeão do Rio de Janeiro.
- Pode deixar, eu vou em um pé e volto no outro. – Ele me abraçou fortemente. – Obrigada por vir comigo.
- Sempre! – Ele sorriu. – Me avisa de todos os seus passos e cuida da Mini Becker. – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar! – Assenti com a cabeça. – Me mantenha informada se tiver alguma novidade, qualquer uma.
- Relaxa, são só três dias, o que pode acontecer? – Ele deu de ombros e eu ri fracamente.
- Precisamos ir. – O motorista falou.
- Obrigada, Marcos! – Mandei um beijo. – Vejo vocês em três dias. – Pisquei, ajeitando minha mochila nas costas.
- Boa viagem! – Ele gritou.
- Vai lá! – Lucas falou e eu virei de costas, seguindo para dentro do aeroporto.
Segui em direção ao guichê da Latam, feliz por ter alguma vantagem com o emprego, o salário e muitas outras coisas e consegui fazer check-in, consegui meu assento prioritário devido a gravidez e, ainda por cima, despachar a mochila sem pagar nada. Olha, Mini Becker, estou adorando todas essas vantagens com somente 26 anos, obrigada.
Como não tinha muito tempo até o embarque, segui já para a sala de embarque, passei pela imigração e peguei meu celular enquanto dava umas voltas pelo free shop. Chequei o relógio, já deveria ser por volta de 10 da noite em Madrid, mas eu precisava falar com meu namorado antes de embarcar.
- Amor? – Ouvi sua voz.
- Ei, te acordei? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Até parece que eu vou conseguir dormir cedo hoje. – Ele disse e eu suspirei. – Aonde você está?
- No aeroporto, daqui a pouco começa o embarque, está precisando de um Dolce & Gabanna ou um tablete de Toblerone? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Ah, acho que não. – Sorri.
- Só queria checar como você está antes de entrar em uma longa viagem.
- Eu estou bem, nervosismo sempre vai ter, mas está em um nível controlado. – Ele suspirou pelo telefone. – Jantamos cedo e cada um já foi para seu quarto, falta só um episódio de Game of Thrones para eu ficar em dia. – Ri fracamente.
- Você não estava umas duas temporadas para trás? – Perguntei.
- Para você ver. – Ele suspirou. – Mas está tudo bem, hoje o dia foi cheio, viemos cedo para Madrid, o voo foi calmo, todo mundo estava sorridente, mas dava para ver que todo mundo estava nervoso, o clima pesa, sabe?!
- Sei bem! – Suspirei, checando o relógio.
- Quando se chega até aqui, vira uma obrigação levar isso de volta para Liverpool... – Ele bufou. – Me desculpa, não deveria...
- Claro que deveria, eu sou sua namorada, eu quero saber tudo, te apoiar o máximo que eu puder.
- Obrigado, já disse que te amo?
- Acho que hoje não. – Falei e ele riu fracamente.
- Eu te amo! – Sorri, seguindo meu caminho até o salão de embarque e deixando o free shop para trás.
- Eu também! Estarei sempre contigo.
- Obrigado! – Ele suspirou. – Enfim, depois fomos para o estádio, teve coletiva, fizemos um treino de reconhecimento de campo... Está quente para caramba aqui. – Ri fracamente.
- Eu já estou sentindo mais calor do que normalmente, então... – Dei de ombros como se ele pudesse me ver.
- Tinha muita imprensa nesse treino, não era um treino normal, sabe? Tudo está muito estranho, até o Pirlo estava aqui.
- Pirlo em Andrea Pirlo da Itália? – Falei um pouco animada demais.
- Ele mesmo!
- Meu Deus! – Ri fracamente. – Será que ele vai estar amanhã? Ah, esse cara era demais! – Ele riu fracamente.
- Quem sabe, minha italiana inveterada? – Ri fracamente, encontrando meu portão e vendo que a fila ainda não havia começado a ser formada.
- E depois? O que fizeram? – Perguntei.
- Voltamos para o hotel, fisioterapia, relaxamento e agora descanso. – Assenti com a cabeça.
- Bom, fique bem, tente usar formas para relaxar e se distrair, ok?! Durma, se for preciso. Eu espero dormir também, amanhã o dia vai ser cheio e eu não terei descanso depois que voltar, então vai ser na raça.
- Para nós dois, amor!
- Vai dar tudo certo, ok?! Confie em si mesmo! – Ele suspirou.
- Pode deixar! Faça uma boa viagem, ok?! Eu te amo demais.
- Eu também. – Suspirei.
- Ah, adorei a foto.
- Que foto? – Franzi a testa.
- Que o Arthur e os meninos postaram.
- Que foto? – Repeti.
- Olha seu Instagram. – Ele falou.
- Espera aí! – Falei, tirando o celular da orelha e abri meu Instagram vendo a aba de notificações com informação nova e cliquei na mesma “Arthur Melo te marcou em uma foto”.
Abri a mesma e vi que era uma foto de mais cedo, durante o ultrassom, Arthur, Coutinho e Casemiro eram os únicos que estavam realmente olhando a foto. O restante estava vendo a tela com a imagem da minha bebê. Eu aparecia pouco na imagem, estava segurando a mão de Ederson e tinha um largo sorriso no rosto. Na legenda estava escrito “nossas mascotinhas estão bem, mal podemos esperar pela sua chegada”.
- Ah, que amor! – Coloquei o celular na orelha de novo. – Eu nem o vi tirar essa foto.
- Acho que foi intencional. – Rimos juntos.
- Eles quiserem acompanhar o ultrassom, fiquei tão feliz por ter uma companhia hoje. Só conseguia pensar em você.
- Em breve teremos um mês juntos, meu amor, à nível Copa, ligados nos 220. – Suspirei.
- Espero que você esteja certo, mas vamos passar esses próximos três dias, pode ser? – Vi a televisão acima do meu portão se acender, liberando embarque prioritário.
- Pode ser! – Ele falou rindo.
- Amor, eu vou embarcar. Fica bem, ok?! Te aviso quando chegar.
- Pode deixar, amor, eu te amo muito, faça uma boa viagem.
- Descanse, ok?! Pense que você já fez isso um milhão de vezes. – Ele suspirou.
- Pode deixar!
- É só mais uma final do Gauchão. – Ele gargalhou.
- Com certeza! – Sorri, respirando fundo.
- Até breve!
- Até breve, meu amor! – Ele falou e eu suspirei, desligando o telefone.
Peguei minha bolsa novamente e segui em direção à fila de embarque, ficando atrás de duas senhoras e um menino cadeirante e esperei minha vez. A mulher checou minha passagem, deu uma bela olhada na minha barriga e liberou minha entrada. Segui pelo finger, olhando para o Rio de Janeiro pelas paredes de vidro e fiz um sinal da cruz, respirando fundo.
- Se for do Seu desejo, Senhor, dê essa felicidade para ele. – Suspirei, mordendo meu lábio inferior. – E uma boa viagem para nós. – Segui em direção ao avião, sorrindo para a aeromoça.
- Boa noite! – Ela sorriu.
- Boa noite. – Sorri e entreguei minha passagem para ela.
- Vamos lá? – Ela seguiu pelo corredor e parou logo na primeira cadeira da primeira classe e me apontou para cadeira. – Você tem alguma restrição alimentícia? Algum problema com a gravidez? Algo que precisemos saber?
- Nada, graças a Deus! – Sorri e ela retribuiu.
- De quanto tempo está? – Ela perguntou.
- Cinco meses. – Ela assentiu com a cabeça.
- Perfeito! Faça uma boa viagem, o que precisar, só falar conosco.
- Gracias! – Falei e ela assentiu com a cabeça, retornando ao seu lugar.
Coloquei minha bolsa no compartimento ao lado da minha poltrona e coloquei o kit com coberta e coisas de viagem no chão a minha frente e o cinto de segurança. Respirei fundo e apoiei minha cabeça para trás e as mãos em cima da minha barriga.
- Vamos lá, meu amor, vamos ver o papai ganhar mais uns troféus. – Suspirei, feliz por ela estar quietinha e esperava que eu conseguisse dormir, pois assim que eu pisasse em Madri, sabia que tudo seria amplificado e nenhuma de nós duas ficaríamos quietas.

Foi impossível dormir durante as quase 10 horas de voo. Eu estava agitada, empolgada, nervosa, de tudo um pouco e acho que estava passando isso para Mini Becker, então ela, apesar do seu pequeno tamanho ainda, estava dançando mais do que escola de samba na minha barriga. Além de que eu precisava me movimentar por causa da circulação, então, se contarmos todos os minutos picados que eu dormi, talvez conseguíssemos a soma de duas horas.
O avião pousou pouco depois das 10 e meia da manhã no aeroporto internacional de Madrid-Barajas, tive prioridade para sair, não que fosse realmente necessário, já que não tinha pressa nenhuma, o jogo era só oito da noite, tinha quase nove horas e nada para fazer até lá.
Sem malas para pegar na rescisão de bagagens, segui as placas para fazer a imigração. A Europa era meio gigante, então a fila estava bem longa para o horário, diferente do Brasil em que o horário de pico era sempre no começo da manhã, quando a maioria dos voos internacionais chegavam.
Não tive problema nenhum na imigração, principalmente pela quantidade de pessoas chegando com blusa do Liverpool e do Tottenham na fila da imigração. A maioria das pessoas estavam ali por isso, o resto foi só pego no fogo cruzado em ter que desembarcar em Madrid bem no dia de uma final da Champions.
Segui as placas de saída tentando capturar tudo o que era possível ali. Quando vim para Espanha no meu “mochilão”, eu fui somente para Barcelona. Não deu para vir para Madrid, nem para Ibiza, mas está valendo. Ibiza ficaria para depois, mas estava em Madrid. Era demais!
Peguei um táxi no embarque e desembarque e falei para ir ao hotel Hyatt Regency Hesperia de Madri, havia achado esse hotel por acaso, ele era somente 15 minutos do aeroporto e no meio do caminho ficava o quê? O Wanda Metropolitano, estádio da final. Então era perfeito, ah, além de estar perto do Santiago Bernabéu, não que eu vá conseguir fazer turismo hoje, mas era bom estar em volta de vários pontos importantes do futebol.
Devido ao básico pavor feminino de andar sozinha em lugares desconhecidos e com homens desconhecidos, prestei atenção durante todo o caminho para onde ele ia e acompanhava no Google Maps. Demoramos muito mais do que só 15 minutos para chegar no hotel, apesar do motorista estar indo pelo caminho cedo, as cidades estavam tomadas de torcedores do Liverpool e do Tottenham, a cidade estava pintada de vermelho e azul, torcedores andando perto do estádio e até perto do meu hotel com bandeiras, faixas, camisas, era sensacional e meu coração palpitava cada vez mais rápido.
Cheguei no hotel e, como já havia conversado na reserva, consegui fazer meu check-in mais cedo. Era quase uma da tarde quando entrei em meu quarto e me vi relaxada na cama. Peguei o celular e avisei ao pessoal do Brasil, minha família e Alisson, obviamente.
“Ei, cheguei, como estão as coisas aí? Se precisar, pode me ligar”. – Enviei e não deu tempo de eu tirar os tênis dos pés que uma chamada de vídeo começou e eu deslizei o dedo na mesma.
- Ei! – Sorri ao ver Alisson na tela.
- Oi, amor, como foi de viagem? – Ele perguntou e eu me ajeitei na cama, colocando os pés para cima e encostei as costas na montanha de travesseiros.
- Foi tudo bem, nossa Mini estava bem agitada, dormi pouco. – Suspirei.
- Já está no hotel? – Ele perguntou.
- Já sim, bem acomodada. – Suspirei e ele riu fracamente.
- Tenta descansar um pouco antes do jogo, não quero você nervosa. – Sorri.
- Vai ser impossível, Alissinho. – Ele riu fracamente. – Tentem resolver isso em 90 minutos, ok?! Não sei o que é enfrentar pênaltis contigo e nem quero saber.
- Pode deixar, madame. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Como estão os ânimos aí?
- Animados! – Ele falou e eu revirei os olhos, vendo-o rir. – Muitas análises de jogos, teorias de conspiração e mais um monte de coisas, mas o ânimo está realmente se tornando algo animado, melhor do que ontem que parecia um enterro.
- A adrenalina começa a fazer efeito e já viu, né?! – Ele soltou um forte suspiro.
- Sei sim, como você diz: “vai dar certo”. – Assenti com a cabeça, abrindo um largo sorriso.
- Eu queria sair para conhecer a cidade, mas... – Dei um pulo quando ouvi uma buzina alta e me levantei, seguindo até a janela e vendo um mar de torcedores do Liverpool tomando a rua, seguindo pela avenida. – Mas está tudo tomado. – Abri a janela e virei a câmera para ele ver a bagunça lá embaixo.
- Uau! – Ele riu fracamente. – A que distância você está do estádio? – Ele perguntou.
- Pelo mapa, 15 minutos.
- Nossa, você está colado, estamos do outro lado da cidade. – Rimos juntos.
- Estamos tão perto, mas tão longe... – Suspirei, fechando a janela e voltando para a cama.
- Acho que estamos melhorando cada dia mais, o que acha? – Suspirei, virando a câmera novamente para mim.
- Vi vantagem. – Falei, contendo à vontade em recomeçar o papo da distância e suspirei.
- Eu tenho fisioterapia em uns minutos, descansa, ok?! Te vejo no jogo.
- Pode deixar, vou pedir algo para comer, tentar relaxar, me arrumar e tudo mais. – Ele assentiu com a cabeça.
- Devemos sair umas cinco horas, me avisa dos seus passos, ok?! – Assenti com a cabeça.
- Você também, o máximo possível. – Ele riu fracamente.
- Os assessores do Liverpool não se importam que usemos os celulares antes do jogo. – Mostrei a língua para ele.
- Deveriam se importar. – Pisquei e rimos juntos. – Fica bem, ok?! Eu te amo e estou sempre contigo.
- Eu também, te amo. – Ele disse e eu desliguei a ligação.
Larguei o celular na cama e estiquei a mão para o cardápio na mesa de cabeceira e dei uma olhada rápida no mesmo, pedindo qualquer coisa e respirei fundo, esperando pela minha entrega, tentando me distrair com algum joguinho no celular.

- Tá! Chega de tentar dormir! – Suspirei quando vi o relógio cravar quatro da tarde e joguei a coberta para o lado e me levantei.
Segui em direção à minha mochila, puxei de lá uma calça jeans, a blusa preta de goleiro com o novo número que Alisson havia me dado, minha faixa de You’ll Never Walk Alone que eu tinha adquirido em um dos jogos da Premier League, um conjunto de calcinha e sutiã e minha necessàire.
Tirei a roupa na sala e entrei no banho, tentando perder vários minutos massageando minha barriga e lavando meus cabelos, mas isso não durou mais do que 20 minutos. Saí do banheiro enrolada na toalha e vesti minha lingerie basicona de grávida, a calça jeans e voltei para o banheiro para secar meus cabelos, tentando fazer uma escova desajeitada com esses secadores fraquinhos de hotel. Consegui secá-lo a ponto de fazer um alto rabo de cavalo.
Diferente do que estava acostumada, fiz uma maquiagem um pouco mais planejada hoje, com direito a base e sombra marcante. Usei bastante os tons amarelos e vermelhos do time, apesar de usar o uniforme preto, e nem fiquei parecendo como quem levou um soco em cada olho. Passei bastante lápis e rímel pretos, e finalizei com um batom vermelho. Sorri feliz na frente do espelho e tirei algumas fotos minhas sem blusa, satisfeita com a imagem do reflexo, e mandei uma foto para Alisson.
“Estamos quase prontas”.
Não esperei pela resposta, voltei para o quarto para colocar a minha blusa, tomando cuidado para não manchar todo o colarinho da blusa e tirei o rabo de dentro da blusa quando a ajeitei em meu corpo. Peguei um par limpo de meias e sentei na beirada da cama para vesti-las e depois calçar os mesmos tênis que eu estava antes. Peguei a faixa e coloquei em meu pescoço, ajeitando-a quase como um cachecol e peguei minha jaqueta jeans e a amarrei na cintura.
Voltei para o banheiro, ficando na frente do espelho novamente e sorri, sentindo uma confiança no peito. Assenti para mim mesma no espelho, soltando a respiração pela boca.
- Vai dar certo, , confie nas suas palavras. – Suspirei. – Por favor, pelo menos uma vez na vida, que dê certo.
Voltei para a cama, pegando na mochila uma bolsinha pequena que eu trouxe e coloquei meu passaporte, alguns euros, minha credencial sensacional da CBF em parceria com o Liverpool e peguei meu celular novamente, vendo as notificações, Alisson havia respondido.
“Você está incrível! Venha logo até mim, ok?!” – Sorri, bloqueando o celular e guardando dentro da bolsinha.
Chequei o relógio em meu pulso e vi que passaram alguns minutos das cinco horas. Dei uma olhada em volta e bufei, respirando fundo.
- Bom, partiu! – Sussurrei para mim mesma e me levantei. Estava cedo, mas como meu pai gostava de dizer: missa se espera na igreja.

Demorei quase 40 minutos para chegar ao estádio Wanda Metropolitano. Apesar de ser perto, as ruas estavam tomadas de torcedores de todos os lados, acho que nem durante a Copa do Mundo eu havia visto algo assim. Sim, as ruas tomadas de torcedores, os cantos e gritarias, mas era diferente, não sei dizer, era algo mais concentrado, focado, era realmente emocionante.
O motorista do Uber me deixou quase na porta da entrada VIP do estádio, mas eu ainda precisei passar por uma pequena fila, uma vistoria em minha bolsa e meu corpo para poder entrar. Apresentei meu crachá para a recepcionista e ela me levou até o elevador, imagino que seja pela gravidez e, ao me colocar lá dentro, apertou o último botão.
Saí no andar dos camarotes e outra atendente estava ali para nos recepcionar. Nos cumprimentamos rapidamente e ela me levou para um camarote que estava vazio, por enquanto, pelo menos. Era similar aos camarotes que eu estive ultimamente. Várias fotos do time na parede, nesse caso sendo do Atlético de Madrid, várias televisões, como se eu precisasse assistir lá de dentro e um bar com um bartender e também com algumas comidas rápidas como cachorro quente, pipoca e salgadinhos. Ele me ofereceu uma bebida assim que eu entrei e eu neguei inicialmente, já estava difícil conter meu xixi sem beber algo, imagine bebendo.
Segui para o lado de fora, vendo cerca de 20 cadeiras na área do meu camarote, então esperei bastante companhia futuramente. À nossa frente, para fora do camarote, alguns torcedores já esperavam ansiosamente o começo do jogo, assim como eu. Me sentei em uma das poltronas e peguei meu celular.
“Cheguei, no aguardo do show”. – Mandei para Alisson e acho que podia aproveitar e tirar algumas fotos antes do jogo começar.
- Com licença... – Ouvi em inglês e virei o rosto, encontrando duas mulheres mais ou menos na minha idade para fora do camarote, me encarando.
- Oi. – Falei.
- Você é , certo? Namorada do Alisson? – A ruiva perguntou e eu ri fracamente.
- Eu mesma. – Dei um sorriso de lado.
- Podemos tirar uma foto contigo? Quer dizer... Se não for incômodo. – Ri fracamente.
- Claro... – Falei um tanto incerta e me aproximei delas, pegando o celular da mão da loira e fiquei próxima à divisão e estiquei o braço para dentro do camarote e sorri, vendo-as fazerem o mesmo e apertei o botão algumas vezes.
- Obrigada! – Elas falaram quando devolvi o telefone.
- De nada! – Elas sorriram e se retiraram.
- Isso foi estranho. – Cochichei para mim mesma e voltei para meu assento, pegando meu celular novamente.
“Wanda Metropolitano é Anfield agora, chegamos”. – Alisson mandou e eu abri um largo sorriso.
“Seria muito inconveniente eu descer para te ver?” – Enviei.
“Nem um pouco, eu estou precisando te ver”. – Ele mandou e eu suspirei, me levantando.
“Logo estarei aí”. – Enviei e segui para fora do camarote.
A maioria dos estádios do mundo tinha uma mesma sequência, então segui sempre para baixo e mostrei o crachá para todas as pessoas que eu sentia que iriam me impedir de continuar, e me vi no túnel de entrada para o jogo.
- Nunca dá errado. – Sussurrei para mim mesma e olhei para a entrada do campo e contive a vontade de entrar no campo e virei 180 graus, olhando para os corredores para os dois lados. – Fênix ou galo? – Suspirei e vi três caras com uniforme do Liverpool seguir para o lado direito e abri um sorriso, seguindo para o mesmo lado.
Andei meio devagar pelo corredor, Alisson falou que eu podia entrar, mas não sabia se era uma ordem do superior dele. Franzi a testa quando reconheci um homem de pele morena e cachos na cabeça.
- André? – Perguntei para o assessor da CBF alocado em Londres e o mesmo se virou para mim.
- ! Você por aqui! – Ele seguiu em minha direção e me abraçou rapidamente. – Bom, é óbvio que não perderia isso, não é?! - Rimos juntos.
- Eu nem imaginei que pudesse estar aqui. – Ri junto.
- Eu vou aonde os jogadores brasileiros que jogam na Inglaterra estão, certo? E bom, final inglesa na Champions, estamos aqui. – Rimos juntos.
- Você tem acesso livre? Alisson disse que queria me ver, mas...
- Sim, vem cá! Estava só acompanhando o terreno, os Spurs chegaram também, preciso checar o outro lado. – Ele falou andando um pouco à minha frente. – Então, um bebê? Bom, espero que seja e eu não esteja falando besteira.
- Eu estou grávida, não se preocupe. – Rimos juntos.
- Sei que não é da minha conta, mas como vocês vão fazer? – Suspirei alto e ele parou de andar, olhando para trás. - Você não precisa me responder, já vi que o assunto é difícil. – Assenti com a cabeça.
- Está tudo bem, estou contando com a vida dar um daqueles jeitos malucos de nos juntar e bum! – Ele riu fracamente, parando na porta do vestiário.
- Vai dar certo, você vai ver. – Assenti com a cabeça, vendo-o esticar a mão para mim. – Espera um pouco.
Ele entrou para dentro do vestiário e fiquei reparando em como fizeram com que o corredor do Liverpool parecesse Anfield com o “You’ll Never Walk Alone” e o vermelho e branco. Quase podia se passar pela cada dos Reds em Liverpool.
- ? – Virei o corpo, vendo Alisson aparecer com a roupa de treino na porta do vestiário e andei os dois passos de distância e o abracei fortemente, sentindo-o passar os braços pela minha cintura. – Ah, meu Deus! Você está aqui! – Suspirei em seus braços.
- Eu estou aqui, estou aqui. – Ele me colocou no chão novamente e levei minhas mãos até seu rosto, sentindo nossos lábios colarem apressadamente em um curto beijo.
- Como você está? – Ele colocou as mãos em meu rosto. – Como vocês estão? – Ele desceu as mãos para minha barriga.
- Estamos bem, não se preocupe! – Falei, segurando seus braços. – Respire fundo, ok?! – Falei e ele fez o que eu pedi, soltando o ar pela boca. – Foca no que é prioridade antes, ok?! – Falei, olhando em seus olhos claros. – Fale comigo, o que é prioridade agora?
- Vencer a Champions League. – Assenti com a cabeça, abrindo um pequeno sorriso.
- Muito bem! – Dei um curto beijo em seus lábios. – Mais uma hora, depois 90 minutos e podemos voltar a focar em outras coisas.
- Em vocês! – Ele falou firme e eu ponderei com a cabeça.
- Estava pensando na Copa América, mas gosto do seu jeito de pensar. – Ele gargalhou e me abraçou novamente, me apertando fortemente e afundou seu rosto em meu pescoço.
- Você é incrível, olha tudo o que conquistou em somente um ano. – Falei, afundando minhas mãos em seus cabelos. – Você é o melhor, você é incrível, você está preparado para isso. – Falei, vendo-o erguer o rosto e percebi seu rosto avermelhado. – E você definitivamente precisa de um corte de cabelo urgente. – Falei e ele riu fracamente, relaxando os ombros e fechando os olhos.
- Você é a melhor, você é incrível. – Ele repetiu o que eu falei para mim, colando nossas testas e eu sorri.
- Confia no seu taco. – Dei um pequeno sorriso e percebi alguns flashes estourando perto de nós, mas não desviei o olhar para descobrir.
- Obrigado! – Ele disse, abrindo os olhos novamente e percebi um brilho diferente neles.
- Melhor? – Perguntei, levando as mãos para seu rosto novamente e o mesmo assentiu com a cabeça.
- Estou pronto! – Abri um pequeno sorriso e pisquei para ele.
- Arrasa, ok?! – Dei um pequeno passo para trás, conseguindo vê-lo melhor e segurei suas mãos.
- Te encontro no campo depois do jogo?
- Com certeza! – Pisquei e ele riu.
- Não vai falar “se tudo der certo”? – Ele riu fracamente.
- Não, odeio essa palavra, “se”... – Sorriu.
- O que você fez? – Ouvi uma voz falar ao nosso lado em inglês com um forte sotaque em alemão e virei o rosto, percebendo Klopp nos olhando e alguns fotógrafos à nossa volta. – Eu sou o próximo. – Ri fracamente, soltando as mãos de Alisson e seguindo para Klopp, abraçando-o fortemente.
- Você não precisa disso. – Falei em inglês, olhando em seus olhos. – Ano passado vocês vieram treinar, reconhecer terreno, esse ano vocês estão prontos. – Sorri. – E você tem um melhor goleiro. – Pisquei, olhando para Alisson.
- Agora entendo o porquê você gosta dela. – Klopp falou para Alisson. – Ela é...
- Confiante? – Alisson falou e eu sorri para ambos.
- Poderíamos usar alguém assim no Liverpool. – Klopp falou.
- Tem uma vaga? – Perguntei, rindo em seguida.
- Quem sabe? – Ele piscou para mim e mordi meu lábio inferior, totalmente sem saber o que aquilo queria dizer. – Bom, vamos treinar, né?!
- Eu vou para o meu lugar. – Abracei Alisson rapidamente mais uma vez. – Manda um beijo para o pessoal, vai dar tudo certo.
- Deus te ouça. – Ele falou, suspirando mais uma vez.
- Bom jogo! – Falei, segurando a mão de Klopp rapidamente e vi Firmino e Virgil saindo do vestiário e acenei rapidamente. – Arrasem! – Falei e segui pelo corredor mais uma vez.

Cheguei no camarote novamente e vi a família de Alisson, além de Larissa, Rebecca e outras esposas ou namoradas que eu já conhecia de outros momentos. Os jogadores já estavam em campo treinando.
- , querida! – Magali foi a primeira a vir me abraçar e eu sorri, apertando-a.
- E aí, cunhada? – Muriel me abraçou e eu abracei seu José e Elisângela em seguida e acenei para os filhos de Muriel.
- Como vocês estão? – Perguntei sorrindo.
- Muito bem e você? Vocês? – Elisângela falou, me fazendo rir.
- Estamos bem, obrigada! – Passei a mão em minha barriguinha pouco saliente ainda.
- Ah, garota, achei que não viesse! – Larissa falou e eu sorri, indo abraçar ela e Rebecca.
- Eu estava lá embaixo, falando com o Alisson, parecia que ele precisava de algumas palavras para relaxar. – Elas assentiram com a cabeça.
- Nem fala, o Roberto estava muito nervoso, principalmente por ser a segunda vez, ele está com medo de ser igual ano passado. – Larissa falou e eu me sentei ao lado das duas, entre a família de Alisson.
- Eu sou a primeira a achar que tudo vai dar errado, mas eu acompanhei Alisson, Firmino, Fabinho menos, e vi uma evolução tão grande nesse ano que acho que sei que dar certo sim. – Suspirei.
- Deus te ouça! – Todos falaram e eu suspirei. Outras esposas, namoradas e até pais me deram rápidos acenos, provavelmente me reconhecendo do último jogo que estive presente e me sentei novamente, olhando para o campo.
Enquanto os jogadores se preparavam para um dos maiores desafios da temporada, ou talvez o maior, tentei puxar pela memória tudo que os levou ali. Bom, nos levou ali, apesar da distância, eu torci e acompanhei tudo de mais perto possível, mesmo que fosse somente em pensamentos.
Começamos a competição em um grupo parcialmente preocupante, tinha PSG e Napoli como outros times fortes e o Estrela Vermelha que parecia estar lá somente a passeio. Começamos a competição bem, ganhando do PSG em casa, levamos dois, mas finalizamos com a vitória. Depois capengamos contra o Napoli fora, um a zero, fácil de recuperar depois. Atropelamos o Estrela Vermelha e estava garantida a primeira metade. A volta nos assustou mais, perdemos do Estrela Vermelha, do PSG e conseguimos a vitória contra o Napoli. Por uma combinação de resultados, conseguimos fechar a fase de grupos.
Ficamos no zero a zero contra o Bayern nas oitavas sem fazer gols em casa, mas também sem levar, um retorno fraco, na minha modesta opinião, mas conseguimos três a um na casa deles, mandando-os embora da competição. Com o Porto nas quartas, não tivemos muita dificuldade. Ganhamos de dois a zero em casa e depois fizemos quatro a um em sua casa, passamos bem.
Com o Barcelona a história foi mais complicada, mas o milagre Alisson aconteceu e, depois de perder por uma diferença de três gols no jogo de ida, atropelamos eles na volta com quatro a zero, diferente do que aconteceu na Roma ano passado, aonde Alisson chegou a levar um gol, mas gol fora de casa conta como desempate.
Com o caminho livre para a semifinal, nos encontramos aqui, no Wanda Metropolitano. Não um dos estádios mais grandiosos que já visitei na minha carreira como assessora esportiva e namorada de um jogador de futebol, mas era o que Alisson havia falado, estávamos em Anfield hoje, hablando español, pero como se fuera solo de Liverpool hoy e, e não seria outro time inglês que tiraria essa vitória do meu menino hoje. De ninguém.
Há um ano eu não acompanhei a final, primeiro por falta de interesse nos times que jogaram, segundo pelo trabalho, mas é engraçado como as coisas mudam. Há um ano eu não me interessava pela liga inglesa, alguém assiste ela? Hoje conheço, acompanho e entendo a paixão dos ingleses por ela.
E hoje, apesar de estar aqui por Alisson, sei que esse time vai ter sempre um lugar especial em meu coração, não importa para onde ele vá. Criei um vínculo com esse time e com essa casa que vai ser difícil eu perder algum dia.
E Alisson, ah, Alissinho. Pensar que há um ano atrás eu mal sabia quem você era, estávamos apenas nos provocando, nos conhecendo, nos apaixonando sem perceber em uma viagem de trem para Liverpool. Naquele dia eu não tinha a mínima ideia do que poderia acontecer conosco, não sabia que esse time seria nosso lar, tudo era realmente uma brincadeira, uma brincadeira bem perigosa, mas muito boa. Agora, um ano depois, estou pronta para passar o resto da minha vida contigo, lutando para estar sempre ao seu lado e te apoiar sempre que eu puder.
Nossa Mini Becker havia chegado silenciosa, com calma, sem intenção e havia nos unido de uma forma que nem eu sabia que era possível. Eu sei que o caminho ainda era incerto para nós dois. Minha meta contigo estava traçada até o dia sete de julho, isso se nada desse errado no meio do caminho, mas eu estava realmente empolgada em descobrir o que a vida estava planejando para gente.
Havia um quentinho em meu coração que dizia que muitas surpresas viriam dali para frente, mas surpresas podem ser boas ou ruins, certo? Mas sei que daríamos um jeito, só precisamos fazer como estamos acostumados: viver um dia de cada vez. E agora seu primeiro desafio estava traçado, um desafio que tinha as cores vermelho e amarelo. Havíamos passado por diversos desafios e conquistas pessoais e profissionais para estarmos aqui e conseguimos, o que são alguns mais?
We are Liverpool and we never walk alone.
Abri um pequeno sorriso quando a plateia gritou pelo início do show do Imagine Dragons e respirei fundo, levando as mãos até minha barriga, sentindo a Mini Becker ali.
- É, Alisson, você é incrível, eu estou orgulhosa de você. Vamos fazer isso juntos. – Suspirei, sentindo uma lágrima escorrer pela minha bochecha e ouvi a batida de Believer começar a tocar.

Ainda era dia quando os violinistas começaram a tocar o hino da Champions e os jogadores entrarem pelo túnel. Eu estava incrivelmente emocionada e todo pelo de meu corpo estava arrepiado. E a gravidez com certeza estava ajudando na minha vontade de chorar. Acho que mais do que apoiar Alisson nesse momento, mais do que ter a Mini Becker comigo ali, isso era um grande feito para a . Eu estou aqui, em uma final de Champions League, com certeza era um sonho.
Henderson puxava a fila dos Reds em busca do título seguido por Alisson – que deu uma bela olhada na taça quando passou -, Wijnaldum, Robertson, Alexander-Arnold, Matip, Van Dijk, Fabinho, Firmino, Mané e Salah. Lloris, capitão e goleiro do time adversário puxava os Spurs, os quais eu só conhecia Alli, Kane e Son, os outros sete eram desconhecidos para mim.
O hino finalizou, eu fiz um sinal da cruz e não fui capaz de sentar como as outras pessoas do camarote, eu apoiei as mãos na marquise em minha frente e respirei fundo enquanto os jogadores se dividiam. Estar nessa situação me fazia pensar que eu não estava preparada para encarar uma final de Copa do Mundo no ano passado, e temos outra competição a caminho.
Os jogadores se separaram, se colocando em suas posições e senti uma pontada em minha barriga, sentindo minha menina agitada dentro de mim. Relaxa, amor, temos mais quatro meses a caminho.
O juiz apitou, os torcedores gritaram e meu coração começou a bater mais rápido, que comece a final!
Liverpool saiu jogando e atacando. A bola chegou em menos de 20 segundos no campo do Tottenham e era palpável o ânimo da torcida. Mané foi marcado por dois jogadores dos Spurs e tentou fazer o passe para Firmino. O jogador Sissoko dos Spurs estava na frente e, intencional ou não, a bola bateu em sua mão e o juiz apitou o pênalti me deixando de boca aberta. Mas já?
Surpreendentemente, os Spurs nem reclamaram do pênalti, era muito claro! O que demorou foi a preparação para pênalti. Todos os jogadores se posicionaram em caso de um rebote e Salah colocou seu lugar no centro. Apertei uma mão com a outra, soltando a respiração fortemente e o juiz apitou.
Salah correu em direção à bola e fez o chute, fazendo com que eu prendesse a respiração. Lloris foi para o mesmo lado e eu levei as mãos à boca, relaxando quando a bola foi para o fundo do gol, fazendo os torcedores gritarem empolgados e eu derrubei os ombros com a tensão. Passei uma mão em minha cabeça, suspirando.
Um gol era muito bom, mas recente, muita coisa podia acontecer.
O jogo seguiu com uma chance de Dele Alli e Son no campo dos Reds, mas não foi necessário, pois os Reds tiraram, dando escanteio para os adversários. Com o escanteio cobrado, Virgil tirou com um só cabeceio, mandando para o centro do campo.
Sissoko, autor do pênalti em si, tentou um chute só do centro do campo, mas a bola seguiu muito alta, não dando nenhum nervosismo maior. Maior, pois eu já estava suando demais, minha maquiagem deveria estar uma bagunça e meu coração não parava de bater fortemente.
Tivemos outra chance de gol de Alexander-Arnold dessa vez, Fabinho fez o passe e o atacante usou a mesma tática de Sissoko e deu um chute só do lado direito, e a bola passou lambendo o gol, mas foi para fora, fazendo tudo borbulhar dentro de mim.
Um momento de descontração quando uma mulher de maiô - ou será que era pintura? - invadiu o campo, chegando até o centro do campo, mas os seguranças conseguiram tirá-la rapidamente. Só levei a mão até a cabeça, sentindo verdadeira vergonha alheia.
Os Spurs tentarem se aproximar. Dele tentou driblar os jogadores do Liverpool, mas a defesa fez o desarme, e logo em seguida, ele conseguiu um chute, mas Alisson pegou sem muitas dificuldades. A bola voltou para o campo dos Spurs e Firmino fez o passe para Salah que tentou o chute, mas a bola foi desviada por um dos jogadores do Tottenham.
No final do primeiro tempo, Salah deu aquele estirão dele, correndo mais rápido que o vento e encontrou Robertson sozinho e fez o passe. O mais novo fez uma bomba e chutou com força, obrigando o goleiro Lloris de pular a espalmar para cima. Fiquei sem fôlego durante esse lance, seria um gol maravilhoso, mas havia ido para fora.
Com dois minutos de acréscimos, o primeiro tempo acabou. Respirei fundo quando o apito foi soado e os jogadores começaram a voltar para dentro e senti minha respiração sair, quase como se eu estivesse prendendo-a pelos últimos 47 minutos.
- Ei, vamos sentar? – Virei para o lado vendo Larissa e suspirei, sentindo as pernas até doerem pela pressão nelas e a mesma me estendeu um copo com água. – Você está muito tensa, isso não é bom. – Suspirei, tomando um curto gole.
- Não consigo ficar de outro jeito. – Falei, ouvindo-a rir fracamente.
- Vamos tentar então, que tal? – Rimos juntas e devolvi o copo para ela.
- Estamos criando anticorpos. – Levei minha mão à barriga e ela riu. – Temos outra competição a caminho.
- Vai dar certo. – Dona Magali me abraçou de lado e percebi minha perna batendo no chão nervosa.

Os jogadores voltaram para o segundo tempo nas mesmas posições e o apito foi soado.
Fabinho tentou um chute logo no começo do tempo, de fora da área e tentou um chute só, mas Lloris defendeu, espalmando a mesma. Robertson tentou logo em seguida, mas o goleiro francês se jogou no chão para defender, não dando tempo de Mané ou Salah chegarem na bola.
Dele Alli aproveitou o contra-ataque e tentou fazer um chute só, mas bateu nas pernas dos Reds. No rebote, Harry Kane não conseguiu chegar na bola e Henderson a tirou pela lateral. Em um escanteio segundos depois, os Spurs tentaram de cabeça, mas a bola passou por cima de Alisson, para fora do gol, me fazendo bufar nervosa.
Aos 58 minutos Klopp tirou Firmino e colocou Origi, responsável por dois gols na virada contra o Barcelona. Aos 62, Wijnaldum saiu e entrou Milner. O técnico dos Spurs aproveitou as trocas de Klopp e tira Harry Winks para colocar o brasileiro Lucas Moura, herói da classificação.
Mané fez a aproximação e passou para Milner que também chutou de uma vez só, contive a respiração, pois a bola passou lambendo o lado direito do gol, com certeza não era só eu que estava nervosa aqui, faltavam 30 minutos de jogo e muito podia acontecer.
Substituição: os Spurs tiraram Sissoko e colocaram Eric Dier.
A bola atravessou para nosso campo e Dele fez o passe para dentro da área, Lucas Moura não conseguiu conter, mas Son estava do lado direito do campo e o mesmo tentou fazer um chute até lento, mas Alisson saltou para pegá-la com grande segurança.
Salah tentou o contra-ataque, tentou fazer o passe para Origi, mas Mané interceptou e tentou fazer o chute, mas a defesa dos Spurs mandou a bola para longe. No retorno da bola para o campo do Liverpool, os Spurs tentaram fazer o passe e Dele Alli até tentou fazer de cabeça, mas a bola foi para cima do gol, fazendo meu namorado pular só por precaução.
Na saída de bola de novo, Dele, começando a me deixar nervosa, tentou novamente, ele passou para Lucas e o mesmo fez o chute um pouco desajeitado, mas mandou para o gol. Alisson se jogou no chão, contendo a bola no peito e agarrou a mesma. Segundos depois, Son tentou do meio do campo um chute só, mas Alisson espalmou a bola e a defesa correu para mandar a bola para longe dali. Logo em seguida Son tentou de novo, mas a bola saiu lenta, dando tempo de meu namorado pegar.
Depois de todas essas tentativas, os Spurs tiraram Dele Alli e substituíram por Fernando Llorente, ex-Juventus.
Em uma competição pela bola, Alexander-Arnold derrubou um jogador dos Spurs, mas o juiz só deu falta, mordi o canto do meu dedão, respirando fundo. O jogador Ericksen fez a cobrança praticamente dentro da grande área e Alisson pulou para o lado esquerdo para defender, fazendo meu corpo relaxar. Pelo menos por alguns segundos.
No escanteio da saída de bola, Lucas tentou fazer o chute, Son cabeceou quase dentro do gol e Alisson conseguiu defender, mandando a bola para trás do gol. Tudo aconteceu muito rápido, então não sabia dizer se foi Alisson quem defendeu ou se Son que havia mandado para fora, mas havia sido a maior tentativa dos Spurs.
A bola voltou para o campo dos Spurs, fazendo meu coração reduzir uns dois batimentos por segundo e em uma divisão de bola entre a defesa dos Spurs e o ataque dos Reds, Matip fez um toque na bola para o Origi e o mesmo fez um chute só em direção ao gol, Lloris saltou, mas a bola foi para o fundo do gol.
- GOL! – Gritei animada com a diferença de dois gols e dei dois pulos no lugar, vendo os Reds irem abaixo com o dois a zero.
Alisson comemorou sozinho do outro lado e eu abri um sorriso, apoiando minhas mãos na marquise e inclinando o corpo para frente um pouco, me fazendo respirar fundo, um pouco mais aliviada e estiquei o corpo, abrindo um sorriso.
Foi claro o baque que o Tottenham levou com o segundo gol, eles claramente desanimaram. Quando o relógio chegou aos 45 minutos, o juiz deu mais cinco minutos e eu só conseguia esfregar as mãos umas nas outras, louca para ouvir aquele apito mais uma vez. Para ganhar tempo, Klopp fez sua última substituição, tirou Mané e colocou Gomez.
A bola insistia em ir para o campo dos Reds, mas era a bola se aproximar de Alisson que ele a tirava. Foram mais três chances de bombas, uma de Rose, outra de Son e a última de Kane, ele fez três defesas incríveis e perfeitas.
Os Reds tentarem um último, antes do apito final, Lloris a interceptou e fez a saída de bola, quando ele deu o chute, o apito foi soado e os Reds que estavam em campo se jogaram no chão e os de fora invadiram. Eu só tive capacidade de sentar, deixar a adrenalina me atingir e as lágrimas deslizarem pela minha bochecha sem dó.
Ganhamos!
Ironicamente, o hexa veio, só não da forma que eu esperava.

Observei os jogadores se movimentando lá embaixo e levei meus olhos para Alisson que era abraçado por várias pessoas que se amontoavam cada vez mais em volta dele e o sorriso não conseguia mais sair de meu rosto.
Minha felicidade era ver Alisson feliz e sua reação lá embaixo, era incrível. Ele andava pelo campo cumprimentando seus companheiros de time, gritava para o público que não parava de cantar diversas músicas.
A equipe técnica do time e tantos outros estavam em campo e todos se cumprimentavam, boa parte do elenco do Tottenham havia entrado, mas eles não deveriam ter se escondido tão rápido, eles lutaram até o fim.
Procurei Klopp com os olhos e ele parecia bem embasbacado com tudo, não tão diferente do capitão Henderson que não parava de chorar e era consolado por todos os colegas que chegavam perto dele. Ver essas reações faziam com que eu chorasse, e nem poderia culpar a gravidez por isso. Não é só futebol, nunca é.
Encontrei Alisson com o olhar e vi que ele havia tirado a camiseta verde do time e agora estava com uma branca com o desenho de uma cruz igual coração, que ele usava sempre, Deus é amor. E posso garantir que Ele tinha sido um dos responsáveis por essa vitória.
A organização começava a entrar em campo e Klopp cumprimentou alguns dos rivais que ainda permaneciam em campo e depois correu em direção a seu time, encontrando meu namorado no meio do caminho. Alisson tinha um largo sorriso no rosto e Klopp pulou em cima dele, me fazendo suspirar e pressionar os lábios um no outro para tentar evitar que mais lágrimas deslizassem pelo meu rosto. Totalmente em vão.
Ambos andaram pelo campo abraçados e trocando várias palavras difíceis de entender. Quando eles finalmente se soltaram, percebi que Alisson virou em direção aonde eu estava, ele não conseguia me identificar, sabia que era impossível, mas sua mão batendo no peito e depois erguendo-a, eu sabia que ele estava tentando me identificar no meio da multidão.
O time se aglomerou de um dos lados do campo, aonde tinha uma grande concentração de torcedores dos Reds e os aplaudiram e agradeceram pelo apoio. Relaxei meu corpo na cadeira e percebei a festa que acontecia em volta do camarote, a qual eu estava totalmente alheia.
- Acordou do transe, foi? – Larissa gritou e eu ri fracamente, me levantando e abraçando-a fortemente.
- Ainda estou. – Falei em seu ouvido e ela gargalhou.
- Boa parte disso é culpa sua. – Ela falou rindo. – Essa vitória é sua também. – Colamos nossas testas.
- Nossas! – Falei, sentindo as lágrimas deslizarem e ela riu fracamente, me apertando novamente.
Quando soltei de Larissa, Rebecca me abraçou também, depois os familiares de Alisson e até acabei cumprimentando pessoas que eu só conhecia de vista como a esposa de Salah, de Henderson, de Virgil e outros que nem de vista eu conhecia, mas era Liverpool.
Quando terminamos de nos abraçar, voltei para meu lugar e prestei atenção no início das premiações, além de pegar meu celular para finalmente fazer algumas imagens e vídeos, já que meu nervosismo não havia permitido nem isso.
Após ser gravada, a famosa orelhuda tomou seu lugar no palco montado para a premiação e era visível a animação dos jogadores quanto a isso. É de vocês, meninos.
Eles fizeram um túnel para que os juízes passassem e recebessem os cumprimentos e medalhas. E mantiveram dessa forma quando os jogadores do Tottenham seguiram para receber também as medalhas de prata. Dava vontade de apertar Son e guardá-lo dentro de um potinho, ele era muito fofinho e sempre parecia que estava perdido.
Foi a vez dos Reds subirem no palco para receber suas medalhas. Alisson não parava de pular e, quando chegou sua vez, deu um grande beijo na taça apoiada no pedestal. Ele seguiu para o meio de seus colegas e Henderson foi o último a receber a medalha e lhe entregaram a taça, fazendo a torcida gritar mais ainda.
Ele se colocou no centro dos jogadores, fazendo uma firulinha com a taça e a ergueu fortemente, fazendo com que fogos, confetes e gritos fossem amplificados. Alisson correu para parte de baixo, se sentando no chão e o troféu começou a passar por um por um para eles erguerem em direção à torcida.
Os jogadores desceram do palco e o coro de You’ll Never Walk Alone começou a ser cantado novamente e aquilo arrepiava demais. Alisson saiu abraçado na taça e eu sorri, eu estava completamente extasiada.

- Vamos descer? – Larissa perguntou e eu assenti com a cabeça, me levantando rapidamente.
Peguei minha bolsa, cruzando-a no peito e segui junto dos familiares dos jogadores pelo camarote, acompanhando o pessoal que conhecia mais. Nos dividimos em alguns elevadores e as duas meninas de Larissa estavam animadas com a vitória do pai. Soltei um suspiro, seria a nossa em alguns anos.
Quando o elevador parou, várias pessoas corriam para dentro e para fora do campo, as meninas de Larissa correram também e eu andei devagar pelo caminho, encontrando a entrada do túnel e percebi que vários jogadores já subiam de volta para os vestiários. Origi passou por mim, depois Chamberlain, até que Virgil apareceu e me deu um forte abraço, me fazendo rir.
- Parabéns! – Gritei em inglês para ele e o mesmo me tirou do chão, me fazendo gargalhar.
- Obrigado! – Ele gritou também. O soltei e segui as escadas do túnel, encontrando Salah no celular.
- Mo! – Falei e ele olhou para mim, sorrindo e se levantou, me abraçando fortemente. – Parabéns, parabéns! – Ele me apertou forte e não conseguia tirar o sorriso caricato do rosto.
- Obrigado, você é demais! – Ri fracamente, negando com a cabeça. – Alisson está lá fora! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, seguindo pelo caminho.
Desviei de vários fotógrafos, repórteres, familiares, jogadores, equipe técnica e muitas pessoas que eu não conhecia até chegar no campo. O estádio estava quase vazio, a maioria das arquibancadas estavam vazias, um ou outro ainda permanecia ali, e os jogadores no campo estavam bem espalhados, alguns ali, outros não.
- ! – Ouvi um grito e vi Klopp aparecer em minha frente e ri fracamente.
Ele seguiu em minha direção e me abraçou fortemente, me tirando do chão e eu gargalhei, apertando-o firme. Ele me girou pelo campo, me fazendo sorrir e depois me colocou no campo novamente.
- Você merece! Você é incrível! – Falei para ele, apoiando o indicador em seu peito e ele gargalhou.
- Você é incrível! Isso tudo é culpa sua! – Ele gritou e eu neguei com a cabeça.
- Nunca! O mérito é de vocês! – Ele estalou um beijo em minha bochecha e eu sorri.
- Vai falar com seu garoto! – Ele me empurrou de leve e eu ri fracamente.
Virei de novo para o centro do campo e encontrei Alisson já me encarando com sua família já à sua volta. Ele tinha um largo sorriso no rosto e eu desviei de algumas pessoas que estavam no meu caminho e corri em sua direção, vendo-o se preparar para me pegar e pulei em seu colo, passando as pernas pela sua cintura e ele me segurou pelas coxas, me girando pelo campo.
- Eu disse! Eu disse! Eu disse! – Falava repetitivamente com o rosto afundado na dobra do seu pescoço e ele gargalhava em minha orelha.
Apoiei as mãos em seus ombros, erguendo meu rosto e ele sorriu, encarando meus olhos. Eu abaixei o rosto para alcançar seus lábios e pressionei fortemente, abraçando-o pelo pescoço. Ele desceu suas mãos devagar pelas minhas pernas, me colocando no chão novamente e colei nossas testas quando o beijo cessou.
- Você é o melhor do mundo sim! – Falei, ouvindo-o rir. – O melhor namorado, o melhor pai, o melhor goleiro, o melhor para mim! – Falei com nossos lábios colados. – Eu estou tão orgulhosa de você. – Suspirei, sentindo as lágrimas em meu rosto novamente e passei as mãos em suas costas apertando-o.
- Isso tudo é para você! – Ele falou e eu suspirei. – Você me dá forças para continuar. – Neguei com a cabeça. – Sim, é você! Você é culpada de tudo isso.
- Eu aceito essa culpa. – Falei entre lágrimas e ele gargalhou, colando nossos lábios novamente e me apertando contra seu corpo.
- Eu estou tão feliz que você está aqui comigo, que vocês estão. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, sentindo-o colocar as mãos em minha barriga, uma com luva e uma sem, me fazendo rir.
- E estaremos aqui para sempre. – Falei, puxando o ar e levei minha mão até a medalha que brilhava em seu peito. – Em todas as conquistas, mas também em todas as perdas. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Para sempre! – Ele disse e colou nossos lábios novamente.
- Ela está empolgada. – Senti a Mini se mexer e ele sorriu, ajeitando as mãos em minha barriga.
- Ela aguentou bem? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Muito bem! – Sorri. – É filha de jogador de futebol, está pronta para próxima! – Rimos juntos.
- O que não vai demorar muito. – Ele falou e rimos juntos.
- Ela é filha de jogador, eu não. – Ele riu fracamente.
- É o amor da vida de um, vai dar certo! – Sorri, colando nossos lábios novamente e passei um braço pelo seu pescoço, sentindo-o inclinar seu corpo sobre o meu e passar os braços ao redor da minha cintura.
- Vem, vamos tirar algumas fotos. – Ele falou e assenti com a cabeça, seguindo-o em direção ao túnel novamente.

A bagunça no vestiário já estava generalizada. Eles só estavam permitindo os jogadores e equipe entrarem no vestiário em si, mas os corredores e todos os espaços vermelhos estavam tomados de gritos, sujos de bebida e altas músicas rolavam pelo chão.
Alisson havia conseguido resgatar a taça de dentro do vestiário e trouxe para tirar fotos comigo. Aquela porra era pesada para caramba, mas ainda assim parecia que poderia quebrar com qualquer queda, principalmente pela forma desajeitada que os meninos carregavam.
- Vai celebrar com seus companheiros! – Falei, empurrando Alisson.
- Você vai para Liverpool, né?! – Ele se virou, ficando em minha frente.
- Posso ir! – Falei. – Tenho que voltar dia quatro.
- Espera que eu vou descobrir o que vai acontecer! – Ele falou e deu uma volta ao redor do corpo. – Andrea! – Ele gritou para uma loira e a mulher se virou.
- A garota do Alisson! – Ela falou em inglês sorrindo.
- ! – Falei sorrindo e ela me abraçou animada.
- ! – Ela gritou animada, provavelmente Klopp me chamava assim.
- Andrea é você aqui no Liverpool. – Ele falou com os lábios colados em minha orelha e sorri, feliz por ver uma mulher no time. - Como vamos fazer? – Alisson perguntou para ela em inglês.
- De comemoração? – Ela perguntou e ele assentiu com a cabeça. – Ficaremos aqui hoje, vamos amanhã para Liverpool e no fim do dia vai ter desfile de carro aberto na cidade. – Ela falou.
- Obrigado! – Ele disse e se virou para mim. – Quer ir com a gente no hotel?
- Melhor eu voltar para o meu hotel e deixar vocês comemorarem, eu já estou cansada. – Falei e ele riu. – Amanhã eu pego o primeiro voo para Liverpool e encontro vocês lá, ok?! Me avisa se eu vou para sua casa ou direto para o CT, quero acompanhar a festa de vocês sim, mas o dia foi cheio de emoções. – Rimos juntos e ele passou os braços pelo meu corpo.
- Eu ainda tenho compromissos, provavelmente tenho que dar entrevistas e tudo mais. – Ri fracamente.
- Sua assessora deve estar querendo te comer vivo. – Ele deu de ombros.
- Ela é mais legal do que você. – Pisquei, vendo-o rir.
- Eu lido com jogadores brasileiros sempre, meu amor, ela lida com muitos ingleses, eles dão muito menos trabalho. – Falei e ele me calou, colando nossos lábios novamente.
- Obrigado por estarem aqui, fez toda diferença. – Ele apoiou as mãos em minha cintura.
- Você fez toda a diferença. – Levei os braços até seus ombros. – Fica bem, ok?! Comemora com a sua família, aproveita, relaxa, pensa no agora, ok?! Temos ainda um segundo round, mas esquece ele um pouco. – Neguei com a cabeça e ele assentiu com a cabeça, suspirando.
- Eu te amo muito, não sei o que seria de mim sem você. – Sorri, apertando-o contra meu corpo em um abraço.
- Você é incrível, Alisson, você é um goleiro genial, talvez sua vida fosse só um pouquinho mais chata, mas aposto que você estaria aqui do mesmo jeito. – Ele me apertou.
- Talvez. – Ele suspirou. – Mas ter seu apoio fez toda diferença.
- Para sempre. – Sorri e colamos nossos lábios rapidamente mais uma vez.
- Te vejo em Liverpool? – Assenti com a cabeça.
- Com certeza, me avise seus passos para eu controlar os meus. – Ele confirmou com a cabeça.
- Tá bem e me avisa! Quero você do meu lado amanhã. – Assenti com a cabeça e colamos nossos lábios novamente.
Quando nos separamos, Andrea, assessora dos Reds nos aguardava como se quisesse falar com Alisson e sabia que ele tinha entrevistas para dar e mais um monte de coisa, ele havia sido um dos grandes heróis da vitória com uma sequência inigualável de defesas, todos queriam falar com ele.
A tal da Andrea apontou para um lado e ele seguiu em minha direção, me abraçando rapidamente pela cintura, dando um beijo em minha testa e seguiu Andrea. Suspirei, mordendo meu lábio inferior e deixei que um largo sorriso se formasse em meus lábios.
Ele era um Champione de Europa. E eu não poderia estar mais feliz por isso.

Suspirei aliviada quando entrei no meu quarto de hotel quase uma hora da manhã. Até eu realmente conseguir sair do estádio, abraçar quase todos os jogadores que passavam por mim, me despedir dos pais do Alisson, de Larissa e Rebecca, além de outros familiares que me cumprimentaram. Demorou um pouco.
Larguei minha bolsa em cima da cama e tirei minha roupa que já estava suada e molhada, havia levado um esguicho de champanhe mesmo sem intenção e agora meu corpo inteiro colava. Tirei a roupa, jogando-a no canto do banheiro e me encarei no espelho, vendo que minha maquiagem já estava toda borrada.
Lavei o rosto na pia do banheiro para me certificar que todo o vermelho, amarelo e preto haviam saído e segui para de baixo do chuveiro. Não queria lavar o cabelo novamente, pois sabia que não aguentaria esperar que ele secasse, mas não daria para dormir com esse cabelo todo colado.
Saí do banho com mil quilos a menos e me sequei no banheiro e enrolei a toalha na cabeça antes de voltar para o quarto. Procurei por uma calcinha limpa e pelo meu pijama na mochila e me vesti, voltando para o banheiro para pentear o cabelo e deixei a toalha estendida na mesma.
Fui até o frigobar, procurando alguma coisa para comer e encontrei uma lata de Coca Cola e alguns pãezinhos industrializados e seria minha janta agora, talvez eu não esperasse o serviço de quarto chegar. Comi tudo sentada na cama e peguei meu celular para avisar aos envolvidos que estava bem e feliz.
Limpei as diversas notificações de e-mail, Facebook e afins e me surpreendi ao encontrar um mailing da CBF, daqueles que eu recebo quando alguma coisa acontece com algum jogador da CBF e cliquei no mesmo, quase cuspindo meu refrigerante quando o mesmo carregou.
“Neymar é acusado de estupro, jogador nega e fala em tentativa de extorsão”.
- O QUÊ?! – Gritei, saindo do mailing rapidamente e abri a conversa com Bianca, vendo que sua última mensagem foi sobre o jogo.
“Bom jogo, aproveita e manda um beijo para os meninos”. – Dizia sua mensagem.
“Bianca, pelo amor de Deus, o que está acontecendo aí no Rio? Você precisa de mim?”
Era uma e pouco aqui em Madrid, deveria ser umas nove e pouco da noite no Rio, ela deveria estar acordada ainda. Saí da conversa dela e abri o Instagram, não foi preciso que eu fizesse nada, pois o Instagram carregou e me levou diretamente a uma postagem do Neymar no IGTV.
Além de uma declaração aberta dele, ele mostrava a conversa com a pessoa que havia feito a denúncia. Eu estava boquiaberta, como assim era só eu sair por 24 horas que uma bomba dessa acontecia? Não pude esperar por Bianca, fazer alguma coisa ou pesquisar por mais informações, meu corpo e minha filha pediam descanso e eu decidi obedecê-los.
Apesar do cansaço, dormi até oito horas somente, não havia me programado para nada e imaginava que não teriam horários frequentes de Madri para Liverpool, isso se ao menos fosse ter.
Foquei em me arrumar e ajeitar minha mala antes de pegar o celular, ajeitei meu cabelo em um rabo de cavalo, já que o mesmo estava armado por ir dormir molhado, ajeitei a mochila bagunçada, inclusive colocar as roupas úmidas de ontem enrolada em uma toalha para não sujar as outras roupas e deixei a cara limpa dessa vez, era muita maquiagem até para mim.
Peguei o celular e vi que tinha mensagens de Alisson e de Bianca, foquei na do meu namorado primeiro.
“Bom dia, minha princesa, minha rainha. Vamos pegar o voo para Liverpool as 10 horas, está programado para as quatro a saída pelas ruas para comemorar, horário de Liverpool”. – Ri fracamente com o começo da mensagem e abri o site para procurar passagem.
Encontrei um voo que saía as 10 e outro que saía meio-dia, chequei o relógio e sem condições de chegar no aeroporto em uma hora. Comprei a passagem, tentando ignorar o preço alto por ser em cima da hora e voltei para a mensagem de Alisson.
“Comprei um voo meio dia, me avisa se vocês vão para o CT ou se eu vou para sua casa, vou me arrumar para sair em breve. Amo você”. – Ele estava online e logo respondeu.
“Oi, amor, estamos no aeroporto já, embarcando”. – Ele enviou e uma foto carregou, era o mesmo abraçado a taça no dia anterior, me fazendo sorrir.
“Festejou muito?”
“Só um pouquinho. Fizemos festa no ônibus e um pouco no hotel, mas a adrenalina abaixou com a mesma rapidez que veio, deixamos para comemorar com os torcedores hoje”
. – Ele respondeu e eu sorri. – “Depois olha no meu Insta” – Ele disse e eu sorri.
“Mal vejo a hora de comemorar contigo. Principalmente porque pelo jeito deu merda lá no Brasil”.
“É? O que aconteceu?”
– Ele perguntou e sabia que o mesmo não havia feito outra coisa no Instagram, além de postar.
“Depois dá uma procurada no nome Neymar no Google”. – Respondi e a resposta demorou um pouco mais para chegar dessa vez.
“NEYMAR? ESTUPRO?” – Ele escreveu em caixa alta. – “Sei que o Neymar dá muita dor de cabeça para vocês, amor, mas não é possível”. – Suspirei.
“Eu não sei detalhes ainda e nem serei a primeira a jogar pedra, mas parece que as coisas acontecem quando não posso ajudar. Estou pensando em Bianca”.
“Ela deve estar bem, aposto que ligariam para SOS se tivesse alguma merda acontecendo”
– Sorri, relaxando o corpo. – “Vamos embarcar, tenho que desligar”.
“Ok, dá tempo de eu tomar café, comi só uns pãezinhos ontem e uma Coca, preciso de comida de verdade”
“Por favor, hein?! Não é para deixar de comer por minha causa”
. – Sorri.
“Metido! Eu estava só com muito sono, vou descer com minhas coisas e, quando terminar, vou para o aeroporto. Mando mensagem quando chegar”.
“Ok, fica bem, nos encontramos em algumas horas. Beijos”
.
“Beijos, boa viagem”. – Respondi.
“Você também, amo você”. – Ele respondeu e eu sorri.
Saí de sua conversa e entrei na de Bianca até com a respiração travada, com medo do que encontraria.
“Oi, . Relaxa, está tudo bem. Existe uma denúncia sim, mas estamos cuidado de tudo, aproveita enquanto pode. Manda um beijo para Alisson e os meninos, a vitória por supermerecida”. – Ela dizia na primeira mensagem. – “Ah, apareceu você morrendo de nervosismo no camarote, vai aguentar a Copa América?” – Ri fracamente, negando com a cabeça. Ela havia me respondido por volta das quatro da manhã no meu horário, era meia noite no Brasil.
“Tem certeza? Me avisa se acontecer alguma coisa, eu pego o próximo avião para o Brasil assim que possível”. – Enviei. – “Espero aguentar, eles abriram o placar rápido demais e eu já fiquei assim, imagina quando demora igual foi na Copa?” – Ri sozinha e bloqueei o celular.
Dei uma rápida andada pelo quarto, fazendo aquele rápido cheque de abandono, como diria meu pai, e saí do quarto, puxando a porta. Fui em direção a recepção, falando que já sairia e pedi para eles prepararem minha conta enquanto eu tomava café. Tomei um café bem reforçado e quando era 10 horas cravado, peguei um táxi em direção ao aeroporto.

O avião pousou no aeroporto John Lennon exatamente uma hora e meia no fuso-horário da Inglaterra e a primeira coisa que eu fiz foi ligar o celular e ativar o pacote de dados novamente, encontrando, como esperado, uma mensagem de Alisson.
Oi, amor, viemos direto para Melwood, você consegue vir aqui? Qualquer coisa peço para alguém ir te buscar, eu já comecei a beber, não seria muito indicado há, há” – Ri fracamente, negando com a cabeça e respondi.
“Acabei de pousar, pego um táxi e logo chego aí, só libera minha entrada, por favor”.
Até eu sair do avião, passar pela imigração, encontrar um táxi e ir até Melwood, foi uma hora, mas quando cheguei no mesmo, a entrada foi fácil, meu nome já estava registrado em Melwood e não foi necessária mais uma verificação.
- Com licença, aonde está o time? – Perguntei para o primeiro funcionário que eu encontrei.
- No estacionamento sul. Próximo ao campo de treinamento. – Ele falou e eu não sabia exatamente aonde era, mas conhecia o campo de treinamento e segui a direção que ele me apontou, então fui por ali.
Enquanto eu passava pelas salas e corredores, reconhecendo um pouco de quando eu vim aqui pelas últimas vezes, comecei a ouvir vozes ficando cada vez mais altas, risadas, brincadeiras e muito mais. Encontrei os dois ônibus que eles fariam o desfile e virei meu rosto para a direita, encontrando a turma no deck em volta do mesmo e sorri ao ver alguns familiares junto deles. Todos usavam uma blusa vermelha
- ! – Henderson foi o primeiro a me reconhecer, chamando atenção de algumas outras pessoas e abri um sorriso.
- Jordan! – Ele veio me abraçar e ri fracamente, percebendo que todos estavam felizes demais.
- Ali! Ali! – Ele gritou, me abraçando pelos ombros e vi Alisson aparecer pelas pessoas. – Ali!
- ! – Ele veio em minha direção e me abraçou, fazendo com que Jordan me soltasse.
- Oi, amor! – Falei e ele me abraçou pela cintura, colando os lábios nos meus e sorri. – Você não está cheirando cerveja.
- Ainda! – Ele foi honesto e eu ri fracamente, passando a mão na medalha em seu corpo. – Galera, ; , galera! – Ele falou e eu franzi a testa.
- Oi, ! – A galera gritou e eu acenei rapidamente.
- Ah, e bebê! – Ele apontou para minha barriga e o pessoal gargalhou.
- Oi, bebê! – Franzi a testa.
- Vem aqui! – Ele disse, me puxando para dentro.
- Você sabe que eu estive aqui há umas duas semanas, né?! E conheço boa parte dessa galera.
- Eu não estou no meu normal. – Ele falou e eu sabia que a felicidade já tinha afetado ele, então era melhor não fazer muitas perguntas.
Ele me levou para um grande lounge, quase como uma sala de espera, aonde estava a taça, alguns familiares e até Larissa, não havia perguntado como ela tinha vindo, mas com certeza tinha algumas regalias. Alisson me levou por um corredor, dando uma checada em outras salas, como se procurasse algo ou alguém e entrou em uma, me puxando com ele e percebi que era uma sala tipo fisioterapia.
- Que foi? – Perguntei, encostando a porta atrás de mim.
- Só quero um momento com você. – Ele falou, me puxando pela cintura e eu ri fracamente.
- Aqui? Agora? – Ele encostou a cintura em uma das macas e eu me coloquei no meio de suas pernas.
- Eu queria ontem, logo após o jogo, mas achei que seria impróprio. – Ele falou e eu passei os braços pelo seu pescoço.
- Só um pouco. – Rimos juntos e aproximei nossos lábios, tocando-os em um curto selinho.
- Nem posso aproveitar tanto, porque esse lugar está cheio de câmeras. – Ele falou, subindo uma mão pelas minhas costas e eu ri fracamente.
- Imagina? “Alisson Becker, excepcional para o título dos Reds tem sextape vazado?” – Brinquei e ele gargalhou.
- Será que sextape de grávidas faz sucesso? – Gargalhei.
- Idiota. – Falei e o mesmo colou os lábios apressadamente nos meus.
Pressionei uma mão em sua nuca e a outra caminhou por dentro da sua blusa em suas costas e as suas procuraram minha cintura, passando a ponta dos dedos para dentro da minha roupa. Sua língua procurava a minha com agilidade e foi fácil para eu perder o ar com ele. Suas mãos subiram para o meio das minhas costas, deixando minha blusa subir um pouco e dei uma curta mordida em seus lábios, abrindo um sorriso quando nos separamos rapidamente.
Ele abriu um largo sorriso e eu retribuí. Acariciei seu rosto barbudo com a ponta dos dedos e colei nossos lábios novamente, sentindo-o pressionar o corpo contra o meu e apertei a ponta dos dedos em seu pescoço, ouvindo um pequeno gemido escapar de seus lábios.

- Aqui, ! – Andrea me entregou uma camisa vermelha do Liverpool igual dos meninos, com o escrito “Champions of Europe” atrás e o número seis. – Peguei a maior, por causa da barriga.
- Obrigada! – Falei sorrindo.
- Você vai no ônibus, ok?!
- Oi?! – Falei, olhando para Alisson.
- Vários familiares vão, vai! Vai ser divertido! – Ele sussurrou na minha orelha e eu ponderei com a cabeça.
- Eu não sou... Da família. – Falei, tentando procurar palavras para falar.
- É sim! – Firmino se meteu na conversa. - Para de graça e vamos.
- Você ouviu o Bobby! – Alisson disse e eu ri fracamente.
- Mas cabe todo mundo? – Perguntei, já vendo vários familiares e equipe técnica subindo no ônibus, além do elenco inteiro.
- Espero que sim! – Alisson disse dando de ombros e rimos juntos, dei um rápido beijo em seus lábios e corri para o banheiro para trocar de blusa e voltei. A blusa ainda havia ficado larguinha, mas estava ótima. – Vamos, vamos! – Alisson falou.
- Finja que eu não estou aqui, ok?! Aproveita com o time. – Falei e ele assentiu com a cabeça, colando os lábios nos meus.
- Você é a melhor.
- Não, amor, mas eu sei o quanto importante é isso para você... Para nós! – Falei e ele sorriu.
Seguimos todos para cima do ônibus, alguns jogadores montaram na beirada de fora do ônibus, tinha cerveja e música no carro, eu fiquei lá atrás, junto de algumas pessoas que também não eram jogadores. Me ajeitei em um canto, encontrando um espaço em que aquilo não pegasse minha barriga e peguei meu celular, me preparando para o espetáculo.
Quando saímos do CT e entramos na cidade, era tudo muito maior do que eu esperava. As pessoas haviam tomado as ruas e seguiam um cortejo atrás do ônibus. Eles gritavam com o time, soltavam confetes, tinham faixas, camisetas e mostravam seu amor pelo time. Aquilo era surreal.
Alisson e os meninos tinham ganhado na loteria, pois eles gritaram, cantavam, passavam a taça um por um e faziam aquele ônibus tremer de alegria. As pessoas soltavam fogos por onde o ônibus passava, sinalizadores, eles realmente haviam pintado a cidade de vermelho.
- Como você está? – Alisson apareceu algum tempo depois no fundo do ônibus e virei o celular para ele, filmando e sorri.
- Bem até demais! – Abri um sorriso e ele me beijou, eu virei o celular para nós, sorrindo em seguida.
- Me ajuda, Shaq! – Ele falou para o suíço em inglês e colocou uma perna para fora, se sentando no canto do ônibus e eu coloquei a mão na cabeça, com medo do que ia acontecer, mas evitei o sermão de mãe, negando com a cabeça. – Não vou cair! – Ele falou olhando em minha direção, pegando a taça na mão.
- Eu não disse nada! – Dei de ombros e ele riu fracamente.
- Seus olhos dizem muito, amor! – Neguei com a cabeça.
- Só não quero que minha filha fique sem pai, ok?! E nem Helena.
- Engraçadinha! – Ele disse e Shaqiri olhou para gente, como quem não entendia e eu só pisquei para ele.
Quando chegamos no centro da cidade, na avenida The Strand, na frente do Royal Liver Building, um grande edifício que parece uma catedral, a festa estava muito maior. A população ocupava qualquer pedacinho de chão e das janelas e os prédios soltavam sinalizadores vermelhos e fogos, aquilo era incrível.
Eu fazia questão de gravar vários vídeos e tirar várias fotos, inclusive de Alisson que parecia muito feliz. Acho que eu nunca havia visto-o tão feliz assim profissionalmente. Tínhamos nossos momentos de felicidade, quando começamos a namorar, quando nos reencontramos em cada amistoso, quando nossos trabalhos permitem nossos encontros, Natal em Manchester, Ano Novo em Roma, quando contei a ele que estava grávida, mas acho que era a primeira vez que tinha visto-o feliz como jogador de futebol.
E eu queria que ele aproveitasse ao máximo aquela felicidade, pois eu sabia o quanto ele merecia aquilo, o quanto li críticas sobre ele, o quanto falaram que ele não merecia ser o goleiro mais caro da história, o quanto ele batalhava pela sua posição na Seleção e o quanto ele havia conquistado do amor de muitos torcedores em somente um ano. Inclusive o meu. Eu sempre me pego lembrando quem eu era antes do Alisson e porque não o conhecia antes, nem o seu trabalho, e mesmo sem resposta, sei que perdi muita coisa. Se em um ano vi essa evolução toda, imagina desde o Inter, a Roma, começo da seleção e agora?
Ele merecia estar naquele lugar e mesmo se a vida não tivesse pregado várias peças conosco e não tivesse conseguido nos unir, cada fibra do meu corpo sentiria um orgulho enorme desse homem. E hoje, sendo sua namorada, a mãe da sua filha, posso dizer que esse orgulho é mil vezes maior, pois sei que ele é incrível dentro e fora de campo.
A Mini também estava gostando da festa, ela estava fazendo sua festa particular em minha barriga e eu sabia o quão importante era isso. Talvez não entendesse tudo o que estava acontecendo aqui fora, o porquê dessa barulheira, desses estouros e do papai gritando enquanto quase jogava a taça para fora do ônibus, mas ela estava bem, e era isso que importava.

O desfile durou quase cinco horas. Estava explicado o quanto eu estava cansada, mas nem parecia, pois eram mais de nove da noite e ainda parecia dia em Liverpool. O sol começava a se pôr tímido e alguns raios ainda iluminavam o céu, mas o vento começava a aparecer e sabia que logo estaria com frio.
Fiquei surpresa com tudo o que vimos, a quantidade de apoio pela cidade era incrível, acho que eu nunca tinha visto nada parecido com isso. Futuramente eu descobri que mais de 750 mil pessoas tomaram as ruas de Liverpool, a cidade tinha pouco menos de 600 mil. De onde surgiram tantas pessoas?
Alisson me ajudou a descer do ônibus de volta para o CT e era visível o cansaço dos jogadores, eles começaram a se jogar pelos cantos do lounge, mas era bonito o sorriso no rosto de todos. Fui em direção à minha mochila e sentei no banco em que ela estava e Alisson se jogou aos meus pés, evidentemente cansado.
- Isso foi incrível! – Mané falou se sentando ao meu lado e sorriu.
- Eu nunca vi nada assim antes. – Alisson começou.
- Quantas pessoas! – Robertson falou e eles começaram a comentar sobre o desfile.
Peguei meu celular na mochila e vi que tinha várias notificações no meu Instagram, pessoas comentando as fotos, os stories e meus amigos que realmente me seguiam por mim, parabenizavam Alisson pela vitória. Ignorei tudo por um momento, queria criar um destaque sobre tudo o que aconteceu nas últimas 24 horas, mas não seria agora.
Quando limpei tudo, franzi a testa ao ver uma mensagem solitária no meu WhatsApp. Abri o mesmo, encontrando uma mensagem de Lucas, a prévia só dizia. “Ei, desculpe atrapalhar sua fes...”, franzi a testa e abri a mesma.
“Ei, desculpe atrapalhar sua festa, mas tem como você voltar antes? Bianca está surtando com essa história do Neymar e Anna não tem tanta experiência com esse tipo de merda para ajudá-la. Ela está espiralando, acho que vai surtar em breve”. – Mordi meu lábio inferior e respirei fundo, tocando o ombro de Alisson.
- Amor, dá uma olhada. – Falei baixo, esticando o celular para ele e ele pegou, lendo a mensagem e ergueu o olhar para mim.
- Meu Deus! – Ele falou e desencostou de minhas pernas, se virando a ponto que eu conseguisse ver seus olhos.
- O que acha? – Suspirei.
- Você precisa ir. – Ele disse, apoiando a mão em meus ombros. – Não queria, mas eu conheço a Bianca, ela não lida muito sob pressão. – Assenti com a cabeça.
- Você vai na terça, não é muito tempo. – Ele assentiu com a cabeça. – Deixa eu dar uma olhada em voos. – Falei, checando meu relógio, nove e meia da noite.
Dei uma olhada nos voos disponíveis e fiz umas contas rápidas de quanto tempo demoraria para chegar em Londres para evitar mil e uma escalas.
- O primeiro voo sem escalas sai amanhã cedo as 10 e 50, ele chega quase oito da noite no Rio, tem outro que sai antes, mas faz escala em Madrid e chega uma hora antes só, não vale à pena.
- Vai nesse primeiro, eu te levo para Londres amanhã cedo. – Ele disse.
- Não precisa se preocupar, já olhei aqui, tem um trem que sai as cinco e meia da manhã de Liverpool e chega as nove em Heathrow, é o suficiente, eu não tenho despacho de bagagem, faço check-in online e chego com folga para o voo. – Falei, levando a mão até seu rosto.
- Eu te levo na estação de madrugada, então. – Ele disse e eu assenti com a cabeça. – Devemos ficar por aqui mesmo no hotel de Melwood, eu te arranjo um canto para dormir e você descansa. – Confirmei com a cabeça.
- Obrigada, porque eu acho que vou precisar descansar muito para enfrentar o que é que está acontecendo no Rio. – Ele pressionou os lábios e segurou minha mão, fazendo um carinho de leve.

Desci do helicóptero, agradecendo ao piloto pela viagem e o mesmo me entregou minha mochila. Saí correndo debaixo das pás do veículo, sentindo meus cabelos voarem para todos os lados. Sorri para o motorista da van que me esperava e entrei na mesma, puxando a porta e coloquei o cinto.
Seguimos em silêncio pelo caminho e chequei meu relógio, faltavam poucos minutos para as 10 da noite, as luzes da Granja se destacavam sob o céu nublado e na minha cabeça passavam mil coisas, principalmente em como eu reagiria com isso.
Passei o voo inteiro dormindo, eu precisava de uma boa dose de sono para poder encarar o que é que estivesse acontecendo, mas dediquei algumas horas da viagem de trem para pesquisar sobre o assunto e tudo estava muito estranho, não queria ser aquelas mulheres que defendiam macho, mas tudo estava muito mal contado.
Neymar era uma tranqueira sim, mas a esse ponto? Da mesma forma que ele era tranqueira, eu sabia do grande coração que ele tinha com tudo e com todos. Agora porque a menina não liberava as provas que ela dizia ter? Era uma bagunça incrível e eu realmente não queria tomar partido entre um amigo e os direitos da mulher em denunciar e defender.
Mas pensando no ponto de assessora da CBF, na cara de uma competição grande como a Copa América, tínhamos uma crise em nossas mãos e isso precisava ser consertado o mais rápido possível.
Agradeci ao motorista quando a van parou em frente ao prédio principal da Granja e desci do mesmo, vendo que tudo estava bastante quieto, somente algumas luzes estavam ligadas. Chamei o elevador e subi no mesmo até o andar dos quartos e encontrei Lucas e Bianca na sala de estar logo na saída do elevador e ambos viraram os olhos para mim.
Bianca claramente não dormia há dias, seus olhos estavam roxos, com profundas marcas de insônia. Lucas estava como ele, mas ele com certeza não precisava estar dando apoio para ela àquela hora.
- Ei, ! – Ele foi o primeiro a falar e eu me aproximei dos dois, deixando minha mochila cair perto da poltrona mais perto de mim.
- Ok, que porra aconteceu enquanto eu estava fora? – Perguntei, vendo os ombros dos dois relaxarem.


Capítulo 17 – Nem em ficção eu imaginaria isso.

- Como isso aconteceu, gente? Eu fiquei três dias fora! – Passei as mãos na cabeça, sacudindo os cabelos e respirando fundo.
- Acredite, nem a gente viu isso chegando. – Edu falou com a mesma reação de surpresa e eu respirei fundo.
- E você deveria ter me ligado, Bi! – Virei para minha colega que estava com grossas olheiras embaixo dos olhos. – Olha você!
- Eu estou bem, só dormi pouco. – Ela falou.
- É, porque a imprensa não te dá uma folga, você precisa descansar, pelo amor de Deus. – Lucas falou do outro lado da mesa e eu neguei com a cabeça.
- Quando eu perguntei se você precisava de alguma coisa, você poderia ter dito que sim, eu estaria aqui ontem! – Falei firme.
- É, mas você ia perder toda a comemoração com o Liverpool e eu sei como esses momentos são importantes para você, esses momentos em família. – Ela falou no mesmo tom de voz. – Eu vi suas postagens, vocês dois estavam muito felizes. – Suspirei, vendo que ela havia pensado em mim.
- Obrigada, foi muito importante mesmo. – Estiquei a mão para ela. – Mas você não precisava aguentar isso sozinha. Sabemos como você fica com muita pressão em cima. – Ela assentiu com a cabeça, apertando minha mão.
- Você está aqui agora. – Ela disse.
- Acho justo você tirar o dia de folga, Bi. – Falei e Tite confirmou com a cabeça rapidamente.
- Sim! Você precisa. – Ele falou.
- Eu cuido das coisas por hoje. – Estralei as mãos.
- Se a já é casca grossa, imagina grávida, recém-vitoriosa da Champions League? – Lucas brincou e eu ri fracamente.
- Ah, amor, hoje o bicho vai pegar. – Falei rindo. – O que Neymar disse sobre?
- Ele fala que não foi ele e, cara, eu sei que ele não é santo, mas eu estou acreditando nele. – Lucas disse.
- É, ele parece realmente surtado com isso tudo. Ele ri nos treinos, se diverte e tal, mas ele fica introspectivo em outros momentos, não interage com o resto do time, fica só no celular como se tivesse resolvendo problemas, ele está verdadeiramente apático. – Cléber falou e eu suspirei.
- Teve alguma novidade além do que eu li no briefing? – Perguntei.
- Não, só isso mesmo, ele já deu depoimento, a PF veio aqui e tudo mais.
- Pela primeira vez tem um escândalo real na CBF e eu estava fora. – Falei, com dificuldades de acreditar.
- Eu aceitava trocar, viu?! – Bianca riu e eu gargalhei, suspirando em seguida.
- Vocês sabem como querem agir com isso? – Perguntei.
- Como assim? – Edu perguntou.
- Desconvocar ou manter ele convocado. – Falei e os quatro principais da comissão técnica se entreolharam.
- O que você sugere? – Tite perguntou e fiquei quieta um pouco, pensando.
- Estamos em uma sinuca de bico. – Falei. – Se manter ele convocado, vamos ser julgados eternamente, falar que apoiamos esse tipo de comportamento, que achamos que ele manda na CBF e tudo mais. – Virei para Tite. – Algo que eu sugeri desde o soco no campeonato francês. – Apontei para Tite e ele abanou a mão. – Mas se desconvocar ele agora, vão falar que estamos fazendo queima de arquivo e tirando a responsabilidade das nossas costas. – Percebi que Edu fez uma careta.
- Ou seja... – Ele falou.
- Não sei. – Fui honesta. – Estamos sem saída. – Suspirei.
- Deixa dessa forma, então?! – Tite perguntou.
- Agora você me ouviria? – Virei para ele.
- Manquei, já sei, satisfeita? – Ele falou.
- É um começo! – Sorri. – Vocês falaram com ele? – Perguntei.
- Não dessa forma, só algo mais informal, quando a polícia chegou e tudo mais.
- Ok, eu quero falar com ele! – Tite e Edu se entreolharam e assentiram com a cabeça.

- Ei, , me chamou? – Neymar abriu a porta da sala que eu estava e eu assenti com a cabeça.
- Entra aí! – Falei, abaixando a tela do meu notebook e ele olhou para o cara que estava atrás de mim.
- Segurança? – Ele perguntou, se sentando na cadeira à minha frente e eu assenti com a cabeça.
- Não por escolha minha. – Ele riu fracamente, assentindo com a cabeça.
- Eles não acreditam em mim, então. – Ele passou a mão na cabeça, tirando o boné.
- É difícil acreditar quando acontece muita coisa contigo ou perto de você.
- Eu não fiz isso, , eu juro. – Ergui a mão, pedindo para ele parar de falar.
- Antes de eu acreditar em você, eu preciso te ajudar como assessora, eu...
- Não. – Ele olhou para mim. – Eu preciso que você acredite em mim, porque você é minha amiga.
- Ok. – Empurrei o notebook para o lado e apoiei os braços na mesa. – Me conte o que aconteceu. E não precisa esconder nenhum detalhe. Eu já sou grandinha demais para precisar esconder fatos da sua vida sexual. – Ele riu fracamente, assentindo com a cabeça.
- Ok, faz uns três meses que ela começou a me seguir no Instagram, eu vi que era bonita, segui de volta e a gente começou a conversar no privado e depois fomos para o WhatsApp, inicialmente ela achou que eu era fake, enfim, você viu no vídeo.
- Vi! “Oi, Fake”. – Falei e ele riu fracamente, passando a mão na testa encabulado.
- Aí ela me mandava fotos sensuais, mandava cantadas um pouco mais quentes e as coisas foram rolando e aí eu a chamei para me ver, meus agentes organizaram a vinda dela e tudo mais. – Ele ponderou com a cabeça.
- Não esconde nada, Ney. – Falei firme.
- No fatídico dia que ela diz que foi o estupro, eu fui numa festa antes, bebi um pouco, mas eu estava bem, eu não estava alterado, e aí a gente se encontrou, transamos e eu dei uns tapas na bunda dela, mas de forma sensual mesmo... – Ele tentou explicar e eu ri fracamente. – Você e o Alisson não...
- Não! Não somos adeptos a isso. – Falei firme, franzindo os lábios. – Continua. – Ele riu fracamente.
- Enfim, aí no outro dia que eu fui lá, eu achei estranho que parecia que ela estava me provocando, sabe? Tentando me bater também, não sei se para revidar os tapas que eu dei, mas bem fora de contexto do sexo...
- Ela não estava filmando, não?! – Perguntei, olhando para ele.
- Não sei. – Ele arregalou os olhos.
- Às vezes ela já estava planejando isso de alguma forma, talvez para você realmente estourar e bater nela de verdade.
- Não sei, eu fui muito burro... – Ele negou com a cabeça.
- Um pouco, Ney, desde o começo da conversa, estava na cara de que era tranqueira, né?! – Revirei os olhos.
- É verdade o que dizem que a gente realmente paga pelas cagadas que fazemos. – Assenti com a cabeça, franzindo os lábios.
- Ok, e depois?
- Bom, depois ela veio embora, a gente trocou meia dúzia de palavras, eu logo vim para cá e o contato foi cada vez menor, aí no dia que você foi embora, veio essa surpresa. – Ele esfregou a cabeça. - Aí eu fiz aquela declaração, com consentimento do meu pai e do meu assessor pessoal e me ferrei em outro crime.
- Olha, eu e seu pai temos nossas diferenças, mas eu acho que foi necessário aquilo, ao menos para mostrar o seu lado da história. – Ele suspirou alto.
- O que eu faço, ? – Suspirei, pressionando os lábios.
- Você vai ter que encarar o processo, Ney! – Suspirei. – Disso não vai ter como fugir, vamos ver como o processo vai andar e vai juntando provas, vai conversando com seus advogados e vai arranjando formas de sair dessa.
- Já estamos atrás disso. – Ele falou suspirando.
- Agora, o que eu preciso saber é se você está com cabeça para enfrentar essa competição. – Falei. – As pessoas já falam de você, já te colocam na fogueira, você já é o motivo de boa parte das minhas dores de cabeça... – Ele riu fracamente. – Mas eu preciso saber se você está apto para isso.
- Estou! – Ele falou firme. – Eu não quero que esse problema afete meu desempenho. – Assenti com a cabeça.
- Ok. Temos alguns dias até o primeiro amistoso, vamos analisando, está bem?
- Tudo bem. – Ele se levantou. - Obrigado por me ouvir. – Assenti com a cabeça.
- É o mínimo que eu posso fazer. – Suspirei, vendo-o ir até a porta. – Ney! – Ele se virou. - Eu acredito em você, ok?! – Falei e ele deu um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça e saindo da sala.
Naquele momento eu não tinha certeza se confiava nas minhas palavras ainda.

Olhei para fora e a chuva não havia dado trégua desde que saí da reunião com Neymar e ainda tinha treino na parte da tarde com a presença da imprensa, sem chances de cancelamento. Senti alguém tocar minhas costas e virei para o lado, vendo Arthur esticar uma caneca de chocolate quente para mim.
- Obrigada! – Sorri, pegando a mesma e dando um gole . – Por que as pessoas relacionam chuva com frio? – Ele riu fracamente, se colocando ao meu lado.
- Porque o Rio é um inferno, abaixo de 25, as pessoas já colocam casaco. – Rimos juntos e dei mais um gole na bebida.
- Estou acostumada a suar mais que tampa de marmita. – Dei de ombros, vendo-o sorrir.
- O que te preocupa? – Ele perguntou e eu virei de lado, desviando minha atenção dos campos encharcados lá embaixo.
- Tudo? – Suspirei. – A história de Neymar, a vinda de Alisson, minha filha, como a criaremos... – Perdi o fôlego. – Ah, além da competição, caso tenha esquecido. – Ele sorriu.
- Respira fundo, relaxa... – Ele colocou as mãos em meus ombros, apertando-os e eu suspirei, porque ele realmente sabia aonde atingir. – Você estava tão feliz antes de ontem...
- Aí eu fui atingida pela realidade! – Rimos juntos e ele me abraçou de lado, apoiando sua cabeça em meu ombro, devido à altura. – É só que, quando eu estou trabalhando e me divertindo, ok, mas quando eu paro, principalmente sozinha, eu sempre penso em como eu e o Alisson vamos fazer com a Mini. - Ele assentiu com a cabeça.
- Eu odeio não ter uma resposta concreta para te ajudar, mas vai dar certo, você disse que a CBF e o Liverpool estão conversando para decidir algo... – Assenti com a cabeça.
- Já faz uns dois meses e a resposta nunca vem. Pior que eu não posso nem perguntar se eles conseguiram algo, porque eles não têm dever nenhum em nos ajudar. Então eu fico real às cegas. – Disse e ele assentiu com a cabeça. – Isso me faz surtar um pouco. – Suspirei.
- Logo a competição começa e você entra no modo hard de novo. – Gargalhei alto.
- Ah, isso eu garanto! – Sorri. – Ah, vocês só tentem maneirar as piadas com o Ney, ele ri, mas ele não me parece muito confortável. – Falei.
- Ah, é inevitável! – Ele disse, rindo em seguida. – “Oi, razão da minha libido?” “Saudade do que a gente não viveu?” Qual é, até eu flerto melhor do que ele. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- É, isso foi mal mesmo! – Sorri, vendo uma van parar em frente à porta. – Fagner chegou, preciso trabalhar um pouco. Até mais – Falei, ainda com um sorriso no rosto.
- Vai lá! – Ele sorriu e eu entreguei a xícara novamente para ele, seguindo até a porta.
- Fagner, que bom te ter aqui! – Falei quando o mesmo saiu do carro.
- Que surpresa te ver grávida! – Ele falou franzindo a testa e eu ri fracamente. – É gravidez, né?! Eu sou péssimo com isso.
- Relaxa, estou grávida, não gorda. – Ele riu. – Bom, ganhei alguns muitos quilos, mas tem um bebê aqui. – Levei as mãos até minha barriga. – Uma linda menininha! – Ele sorriu, me dando um rápido beijo na bochecha.
- Parabéns! – Sorrimos juntos.
- Bom, vamos lá? Você está lesionado, não?!
- Sim, estou! – Ele fez uma careta.
- Ok, primeiro você segue o Carlos que vai te levar para o seu quarto, se ajeita, depois te chamamos. – Ele assentiu com a cabeça.
- Obrigado! – Ele sorriu e indiquei Carlos para ele.

Observei das arquibancadas Jesus e Richarlison atendendo as crianças que compareceram no treino de hoje e chequei o horário, tínhamos pouco menos de uma hora para sairmos da Granja e ir em direção ao Rio de Janeiro para pegar o voo para Brasília e esses dois ainda nem tinham se dado ao trabalho de trocar de roupa.
Teria que acabar com a festa logo, mas as crianças estavam tão felizes e eram duas crianças conversando com um monte delas, né?! Suspirei, sentindo o celular vibrar novamente e puxei as notificações, vendo uma mensagem de Alisson como uma das últimas e abri a conversa.
“Ei, amor, Inglaterra decidiu chover tudo o que estava programado para o mês, nenhum avião está decolando hoje, não chegaremos para o jogo de amanhã. Você consegue fazer o protocolo para gente? Acho que André já entrou de férias depois do fim da Champions”. – Suspirei, sentindo um bico se formar em meus lábios com a esperança de vê-lo amanhã indo por água abaixo, mas balancei a cabeça.
“Ah, que droga, amor. Ainda bem que é o Catar e sempre temos planos Bs e Cs. E que protocolo, o quê? Não estamos mais com tempo, não, vai ser na base do boca a boca mesmo”. – Respondi rapidamente. “Só me avisem quando forem vir, pois já estávamos contando com vocês dois”.
“Esperamos que amanhã normalize, já tentamos até jatinho, mas as coisas realmente estão assustadoras aqui”. – Ele respondeu e um vídeo começou a carregar, aguardei o pacote de dados colaborar e, quando carregou, cliquei nele.
O aeroporto de Heathrow estava literalmente embaixo d’água. O vídeo mostrava uma dessas janelas altas, normalmente em salão de embarque, com um barulho ensurdecedor, quando o raio iluminou o vídeo, os aviões parados apareceram no pátio, e pude ver parte, da pista, grandes enxurradas passavam por entre as rodas, folhas deslizavam pelo local e eu acho que nunca havia visto nada parecido.
“Meu Deus, não saia daí! Vamos começar a saída para Brasília em breve, mesmo que eu suma, vai me avisando”. – Suspirei.
“Pode deixar, só estamos vendo o que faremos, se ficamos por aqui e esperamos os aviões voltarem a sair, ou se vamos para um hotel, mas eu estou bem, não se preocupe”. – Suspirei.
“Como se isso fosse possível”. – Respondi, rindo fracamente sozinha.
Levantei das arquibancadas, guardando o celular do bolso, e desci os degraus calmamente, para não rolar os degraus faltantes. Assoviei com a ponta dos dedos e Lucas, que tirava fotos do momento, olhou para mim e eu movimentei a cabeça para o lado em sinal de que era o suficiente. O vi comentar algo com os dois e eles começaram a se despedir.
- Partiu? – Lucas perguntou e eu suspirei alto.
- Partiu! – Falei.
- O que houve? – Ele perguntou.
- A maior chuva do século em Londres, Alisson e Firmino não conseguiram pegar o avião.
- Vixi! Isso vai bagunçar os programas do Tite.
- A parte de goleiro acho que não, Taffa já está falando de dar uma chance ao Ederson, mas queremos muito ele contra Honduras por ser no Beira-Rio. – Franzi os lábios, vendo as crianças passarem na minha frente junto de uma coordenadora do programa.
- Tem cinco dias até lá, Londres não vai ficar embaixo d’água por cinco dias... Vai? – Ele olhou assustado para mim e eu dei de ombros.
- Espero que não! – Rimos juntos.
- Pronto, chefia! – Richarlison falou e eu revirei os olhos, empurrando sua cabeça para trás.
- Para de graça, menino! – Falei e Jesus riu ao meu lado.
- Um dia ele vai apanhar e não vai saber nem de onde veio. – Gabriel falou.
- Não se irrita uma grávida, amigo. – Lucas falou e eu levei as mãos à barriga.
- Só se der o meu nome para ela.
- É uma menina! – Falei firme, franzindo a testa.
- Richarlina? Ou Richarlisina? – Ele perguntou e eu arregalei os olhos, soltei um longo suspiro e segui andando.
- Vamos, saímos em 50 minutos e vocês precisam se arrumar ainda! – Falei e os três me alcançaram.
- Viu que a Marta voltou para o treino lá na França? – Lucas perguntou.
- Sim, estou animada, torcendo muito por elas. – Ele sorriu, assentindo com a cabeça.

Chegamos em Brasília por volta das nove da noite, tinha torcedores em peso recebendo a seleção, então acabamos ficando um pouco presos para sair de lá, inclusive vários seguranças nos ajudaram a sair de lá... Bom, os jogadores, eu fui a primeira a sair dali, com Bianca e Vinícius guardando a barriga. Chegamos ao B Hotel com o espaço um pouco mais calmo. O negócio ficava no meio do Eixo Monumental, não era muito legal ficar dando sopa na avenida mais movimentada em Brasília.
Eu, e boa parte das equipes, aproveitamos o horário de chegada para jantar. Amanhã era dia de jogo e tinha muita coisa para acontecer antes das nove e meia da noite. Não havia contado para Tite ainda do atraso de Alisson e de Firmino, estava aproveitando qualquer oportunidade para dormir e o voo do Rio para cá, apesar de curto, foi uma boa oportunidade para isso.
- Posso sentar? – Perguntei e Tite apontou para a cadeira vazia em sua frente. – Precisamos pensar em um plano B. – Falei um tanto baixo.
- O que foi? – Ele perguntou.
- Alisson e Firmino estão presos em Londres. – Falei, suspirando em seguida.
- O que aconteceu? – Edu perguntou ao seu lado e Tite abaixou a mão, pedindo para ele se acalmar.
- A maior tempestade que eles já viram. – Tirei o celular do bolso e abri o vídeo para eles.
- Ederson, então. – Tite falou e eu assenti com a cabeça.
- Não cria costume, tá?! – Pisquei e eles riram.
- A Mini quer que o pai já chegue trabalhando? – Ri fracamente.
- A Mini eu não sei, mas a mãe sim.
- Parece que se acostumou ao termo “mãe” rapidamente. – Taffarel falou, sentando-se ao meu lado e eu suspirei.
- Acho que eu já me tornei. – Dei de ombros. – Lá na Inglaterra foi muito bom, descobrimos o sexo do bebê, os amigos dele foram bem acolhedores... – Suspirei. – Ainda tem a incerteza e todos os problemas, mas aprendi a curtir.
- E vocês já pensaram em nomes? – Taffa perguntou.
- Ainda não, mas estou gostando muito do apelido Mini... – Ri fracamente. – Pegou muito fácil.
- Eu posso dar sugestões... – Tite falou.
- Ah, lá vai, por que ninguém com o nome normal dá sugestões? – Perguntei. – Adenora? Ou Adenara? – Edu gargalhou.
- Ia sugerir Ivone... – Fiz uma careta, me lembrando da mãe dele.
- É uma linda sugestão. – Falei, dando um sorriso sem graça e ele riu.
- Independente da escolha de vocês e de como vocês vão se resolver, saibam que essa menina vai ser muito amada e esperada, ok?! - Sorri.
- Obrigada, gente! – Tite segurou minha mão. – Eu vou pegar algo para comer e depois descansar, meu sono está eterno. – Eles riram.
- Seus últimos dias foram corridos, dorme bastante! – Edu falou e eu sorri.
- Farei o meu melhor. – Pisquei e ele sorriu.

Dormir foi até fácil, o problema era que a Mini estava agitada por algum motivo e pressionava minha bexiga, acho que eu fui umas três vezes ao banheiro antes de finalmente dormir. Em compensação, quando eu dormi, eu hibernei bonito. Acordei depois das 10 da manhã e muita coisa já tinha acontecido.
Mas antes de me preocupar com elas, aproveitei para tomar um banho gostoso. Eu tinha exagerado na coberta no dia anterior e acordei derretendo. Depois de cabelos lavados e corpo cheirosinho, me enfiei em minha blusa extra GG da CBF, afinal eu não poderia ficar com essa blusa colada na barriga o dia inteiro, né?! Conforto era sempre bom.
Coloquei meu slipper amarelo e sentei na cama para dar uma olhada rapidamente nas minhas redes sociais, ver se tinha alguma mensagem de Alisson – tinha, mas não, eles não estavam vindo – ou se alguma bomba já havia sido estourada lá embaixo, afinal eu estava abusando das minhas horas de descanso.
“PSG anuncia saída de Buffon”.
- O QUÊ? – Gritei, apertando a notícia rapidamente. – A gente esperando uma aposentadoria e ele ainda vai para outro time. – Suspirei, negando com a cabeça e guardei o celular no bolso.
Desci para o restaurante e assim que entrei no mesmo, recebi várias vaias, me fazendo franzir a testa.
- Ei, ei, ei! – Gritei. – Que folga é essa?
- Olha a hora! – Thiago falou e eu abanei a mão.
- Eu estou carregando um bebê, tenho que dormir como um, dá licença! – Falei e eles gargalharam.
- Maior furada! – Alex Sandro gritou e eu pisquei para ele.
- Eu fico fora por pouco tempo e temos um bebê na parada? – Virei para o lado, encontrando Cássio.
- Ah, Cássio! – Fiquei na ponta dos pés, abraçando-o fortemente. – Que saudades de você. – Ele riu fracamente.
- Eu também. – Sorrimos. – Um bebê, mesmo? – Coloquei as mãos na cintura, sorrindo.
- Pois é! – Ri fracamente. – Foi uma surpresa para todos nós.
- Como Alisson está? – Ele perguntou.
- Extasiado, nervoso, empolgado, com medo... – Dei de ombros. – Nós dois.
- Como vocês vão fazer? – Fiz uma careta.
- Pergunta proibida, cara! – Arthur gritou e Cássio fez uma careta.
- Não temos ideia ainda, mas temos ao menos um mês de Copa América, né?! – Sorri.
- Se tudo der certo. – Filipe Luís passou por mim, me provocando e eu revirei os olhos.
- Vai dar tudo certo. – Falei firme.
- Sua bola de cristal está te dizendo isso? – Filipe continuou.
- Minha bola de cristal funciona perto do dia das bruxas, sabe? Meus poderes ficam mais fortes, mas vamos pensar positivo! – Gritei no final da frase e ele arregalou os olhos.
- Pode deixar, chefe! Só pensamentos positivos. – Ele falou e o pessoal próximo começou a gargalhar.
- Seja bem-vindo, Cássio, o que precisar, só me chamar! – Ele me abraçou novamente.
- Pode deixar, sei que posso contar contigo. – Sorri.
- Puxa saco! – Neymar falou e eu apoiei as mãos na sua cadeira.
- Goleiro! – Pisquei. – Eles têm prioridade, sabe?
- Ah! – Eles reclamaram e eu sorri, seguindo até a mesa da equipe técnica e me sentando ao lado de Bianca e na frente de Anna.
- Bom dia, galera! – Falei e eles gargalharam pelas piadas na outra mesa.
- Dormiu bem, mamãe? – Bianca perguntou e eu sorri.
- Até demais. – Suspirei.
- Ei, a gente vai sair com o Canarinho mais tarde, vamos? – Vinícius perguntou.
- Claro! Se eu não desmaiar no sol de Brasília. – Eles riram.
- Está ventando lá fora. – Lucas falou.
- Não sei o que é melhor. – Ri fracamente. – Quem vai ser o Canarinho? – Perguntei.
- Eu, não estou disposto a largar o posto ainda. – Vini suspirou. – Anna vai filmar. – Assenti com a cabeça.
- Combinado, amigo. – Sorri. – Bom, eu vou abrir o buffet, estou com fome.
- Também, olha a hora que acordou! – Diana falou.
- Falou a menina que apareceu meia hora antes de você! – Leandro falou gargalhando e a mesa explodiu em risadas.
Na hora do passeio do Canarinho, fomos na Praça dos Três poderes, aonde uma excursão de crianças visitava o Palácio da Alvorada e ficaram tirando várias fotos com o Canarinho, além de uma banda de sopro que tocavam as músicas do Brasil para o Canarinho dançar. Depois fomos na Catedral Metropolitana, aonde também várias crianças tiraram fotos com eles, além de pessoas que entravam e saíam da Catedral, e de uma excursão com umas 30 pessoas.
Vini realmente tinha jeito para ser o Canarinho, ele era animado, divertido, sabia entrar no personagem e já tinha muita prática com chutes a gol para fazer as gracinhas do Canarinho. Realmente, precisaríamos deixar ele focado no Canarinho, pois ele realmente gostava disso.
Voltamos ao hotel por volta das seis e meia, então cada um saiu correndo para o seu quarto, pois tínhamos uma hora para nos arrumar e sair para o jogo!

- Vamos começar uma nova etapa e que essa nova etapa tenha o resultado imaginado para gente conseguir! – Dani falou no túnel e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- Prontos, galera! – Falei no meu microfone e passei rapidamente pela fila dos jogadores e bati a mão rapidamente nas dos jogadores e saí pelo campo, já ouvindo o grito ensurdecedor lá fora.
Segui em direção ao banco de reservas e passei Cássio e Megiolaro – que estava lá enquanto não tínhamos os três goleiros disponíveis. Passei Taffarel e Bianca e sentei no último lugar vazio. Vinícius estava de canarinho pelo estádio, Leandro filmava, Diana estava presa no vestiário e Lucas e Anna tiravam fotos, todos prontos para o ataque.
Entramos no campo com Ederson, Dani Alves, Marquinhos, Miranda, Filipe Luís, Casemiro, Arthur, Richarlison, Coutinho, Neymar e Jesus. Os hinos foram cantados, os times separados e era hora do show.
O jogo começou ótimo, Neymar caiu com quatro minutos de jogo, depois com nove. Aos 11 tivemos uma chance de gol, mas o Catar era muito fechado, era difícil fazer dribles e passes certeiros com 11 jogadores na defesa. Logo depois, Coutinho tentou um chute a gol que passou lambendo.
Aos 16 minutos abrimos o placar. Uma bagunça na lateral direita fez com que a bola fosse passada para Dani Alves, que fez o passe para dentro da grande área. Richarlison deu uma cabeceada e o Mané Garrincha foi abaixo com gritos da torcida. Creio que eu e Mini estávamos bem calmas com o jogo, pois ela nem se agitava em minha barriga. O mais interessante do gol, foi que o goleiro chegou a tocar na bola, mas ela foi para dentro.
Após o gol, o jogo seguiu e Neymar teve uma entrada feia com um jogador catariano e foi para o banco, após compressa de gelo, ele foi levado por Rodrigo para dentro e Everton entrou em seu lugar.
- Eu vou! – Falei para Bianca, me levantando e seguindo rapidamente os dois e David, da fisioterapia.
Eles entraram no vestiário e David e Rodrigo começaram a ver o local da lesão e eu fiquei ao lado, acompanhando, o negócio não me parecia tão ruim, estava vermelho sim e um pouco inchado, mas nada drástico, mas tínhamos uma oportunidade aqui e eu não poderia perder. Após uns 20 minutos de análise, quase no final do primeiro tempo e após um segundo gol de Jesus, chamei Rodrigo.
- Rodrigo? – Ele se virou para mim e eu movimentei a cabeça para me seguir para fora do vestiário.
- O que foi? – Ele perguntou.
- O quão ruim está? – Perguntei baixo.
- Só dá para ter certeza após mais exames, falando alto, umas duas, três semanas de repouso, mas não sei, ele...
- Pensa no meu lado, Rodrigo. – Falei, cruzando os braços e ele franziu a testa.
- Como assim?
- É a oportunidade perfeita para cortar ele e reduzir 90 por centro dos problemas da denúncia contra ele. – Suspirei. – Ele pode resolver isso com calma e a gente não tem que competir uma Copa América e lidar com opiniões públicas e da imprensa. – Falei. – Você não estava lá, mas na última coletiva, foram 23 perguntas, 16 sobre o Neymar. – Suspirei.
- Você não está errada e eu entendo, mas você sabe que não cabe a mim. – Assenti com a cabeça.
- Façam uma análise mais minuciosa, mas o Tite vai te ouvir se você aumentar um pouco... – Ele me encarou e suspirei ao ver alguns jogadores voltarem para o intervalo. – Pensa com carinho. – Falei, entrando no vestiário novamente.

- Você perdeu um rebote que o Coutinho errou, uma falta batida por Casemiro que ele também errou...
- Mas o gol de falta tá virando lenda já, hein?! – Suspirei.
- Desde um jogo contra a Colômbia em 2014, e não foi aquele do David Luiz. – Fiz uma careta, me ajeitando novamente no banco dos reservas.
- Alguma chance do nosso lado? – Perguntei.
- Só uma, mas foi alto demais. – Ela deu de ombros. – Teve quase um pênalti a favor da gente, mas o VAR não deu.
- E era pênalti?
- Eu acho que sim! – Ela falou e eu revirei os olhos.
- Nada de novo! – Suspiramos.
- O goleiro é bom, pelo menos, ele defendeu várias. O Dani teve uma puta chance e o cara espalmou. – Sorri, assentindo com a cabeça, ouvindo o apito do segundo tempo.
Arthur teve uma chance durante o rebote, me deixando empolgada com ele, pois sabia que a família dele estava no estádio. Tivemos uma falta em cima do Everton, mas foi dado somente um cartão amarelo. Coutinho bateu a falta e... Fora! Que droga! O Catar teve uma segunda chance, mas foi para fora também.
Tite fez cinco substituições durante o segundo tempo e o Catar fez quatro.
Dani teve uma chance de gol do centro do campo, mas nada, Everton tentou driblar alguns jogadores e acabou deslizando na grama, Ederson teve que acordar um pouco, pois uma boa foi para perto dele, mas nada.
Quando o apitou final foi soado, sabíamos que havia sido um jogo fácil, mas que perdemos diversas chances de gol por motivos tontos. Se com um time fácil já foi assim, teríamos que resolver isso até a Copa América, pelo amor de Deus.

- Acho que foi bom. – Bianca falou quando voltamos para o hotel à noite e pegamos o último elevador.
- É... – Suspirei.
- É, foi um desastre. – Lucas falou e rimos juntos.
- Pelo menos vamos dormir antes de uma da manhã. – Bianca falou e eu assenti com a cabeça.
- Eu e meu bebê agradecemos. – Eles sorriram. – O jogo foi tão fraco que ela nem se mexeu.
- Dormiu mais que nós. – Lucas falou, bocejando e sorrimos.
- Ei, o que você falou para o Rodrigo do Neymar? – Bianca perguntou quando chegamos em nosso andar. – Ouvi ele conversando com o Tite.
- Bom, eu posso ou não ter dado uma dica para cortar o Neymar e evitar uma grande dor de cabeça com a história do estupro. – Lucas arregalou os olhos.
- Mentira? – Bianca falou e eu dei de ombros.
- Ah, vai dizer que você não pensaria nisso? – Comentei, seguindo pelo corredor com os dois quando o elevador parou.
- Até pensei, na verdade, mas eu não sei se eu falaria. – Ela disse e eu dei de ombros.
- Bom, eu estou pensando no nosso trabalho, ele já disse que seriam duas ou três semanas de descanso, ele vai ficar para jogar o quê? A possível final? – Perguntei, vendo Lucas parando em frente ao seu quarto e paramos de andar.
- É, isso você tem razão, precisamos de um número 10 presente. – Bianca falou.
- Enfim, vamos ver. – Dei de ombros. – Nos encontramos para a coletiva amanhã? – Perguntei.
- Sim, 10 horas.
- Olha, eu preciso dizer que eu amei isso de fazer a coletiva no dia seguinte e viajar no dia seguinte. – Ela riu fracamente.
- Dá tempo de descansar, pelo amor. – Ela disse e segui alguns passos para meu quarto.
- Boa noite, gente! Até amanhã. – Falei e cada um entrou em seu quarto, fechando as portas em seguida.
Joguei minha mochila na cama e me livrei dos meus sapatos, abri o botão da calça jeans e puxei o sutiã sem tirar a camiseta e me deitei na cama, pegando o celular na parte de fora da minha mochila e encontrei uma mensagem não lida de Alisson.
“Ei, amor, como vocês estão? Vamos sair às 22 horas daqui a pouco. Chegamos de madrugada em São Paulo e depois o voo para Porto Alegre 15 horas, nos encontraremos no meu lar. Esperamos conseguir pegar um voo mais cedo para POA, mas não garanto, como vai ser aí?” – Abri um sorriso, feliz por encontrá-lo em menos de 24 horas.
“Oi, amor! Que bom ler isso, finalmente, não?! Haha. Voltamos para o hotel em Brasília e temos alguns compromissos ainda, devemos chegar meio juntos. Você já deve estar viajando, mas boa viagem, amamos você!” – Respondi, suspirando.
Olhei para o teto, cogitando se somente tiraria a calça jeans, viraria para o lado e dormir. Ou se eu seria uma pessoa decente e levantaria para tomar banho e escovar os dentes... Joguei as pernas para o lado e me levantei. Eu viraria mãe em breve, não podia dar esse exemplo para minha menina.

Chegamos em Porto Alegre por volta das seis da tarde com um jogador a menos. Neymar realmente havia sido cortado e já havia nos abandonado lá em Brasília. Não fiz parte da decisão do corte, se realmente havia sido pela lesão ou se eles tinham me ouvido e aproveitaram a oportunidade para evitar mais problemas sobre o estupro. Rodrigo não comentou mais nada comigo e eu também não, ficamos sabendo na coletiva de cedo sobre isso e fiquei bem satisfeita, Bianca não estava aguentando a pressão e eu tinha um bebê para carregar, não queria correr para o hospital as pressas com um parto quatro meses antes.
Quando nos separamos, Ney me deu um forte abraço, falando para eu me cuidar e que depois mandaria algumas coisas para o bebê. Confesso que me senti mal. Eu realmente o adoro, mas meu trabalho exige que eu pegue no pé dos jogadores e ele é o pivô de tudo. Tanto que era estranho pensar em uma competição sem ele. O surto agora rodava em volta de “a Seleção funciona sem o Neymar?” e eu estava confiante em dizer que sim, mas tinha medo de estar errada.
Apesar de tudo, ele não tinha capacidade para enfrentar isso agora. Até ele, que sempre foi liberal, de boa, confiante, estava com fortes olheiras com tanto problema em volta dele. Ele precisava descansar, precisava ir atrás de um tratamento psicológico e enfrentar isso de verdade, não dividir sua atenção em um caso desses e uma competição.
Só pedia, em todas as minhas rezas, que ele realmente não fosse culpado disso, era difícil imaginar isso de uma pessoa tão próxima da gente. Ele não era santo, isso eu sabia, mas estuprador? Não conseguia pensar que aquilo era verdade.
Depois de sairmos sem muitos problemas do aeroporto, seguimos direto para o hotel Deville, aonde ficaríamos hospedados. O hotel era literalmente do lado do aeroporto, se você olhasse no mapa, mas até conseguirmos sair do aeroporto, um pouco de congestionamento do fim do dia e meus hormônios de grávida a flor da pele, parecia que levamos uma hora até lá.
Fui a primeira a descer do ônibus. Sabe aqueles idiotas que ficam no corredor quando o avião pousa, mas ainda vai demorar mais uma meia hora para ele ir até o local de desembarque? Parecia eu, tanto que eu fui lindamente zoada, mas um corredor se abriu para que eu passasse.
Não entramos pela entrada principal, o que ajudou bastante, mas enquanto eu procurava Alisson – e Firmino – com o olhar, a gerente tentava simpaticamente nos dar as boas-vindas e tudo mais. A única coisa que passava na minha cabeça era: cadê ele?
- Para! – Bianca sussurrou para mim enquanto eu batia o pé no chão enquanto a gerente do hotel falava.
- Cadê ele? – Sussurrei de volta.
- No restaurante, logo vamos lá, calma! – Respirei fundo.
- Bom, espero que gostem da sua estadia, o que precisarem, estou à disposição. – Ela falou e eu relaxei o corpo.
- Até mais! – Falei.
- , as chaves! – Bianca me puxou de volta.
- Quarto de dois, galera! – Gritei, pegando uma chave e guardando no meu bolso.
- Tá apressada ela! – Filipe Luís falou e eu abri um largo sorriso.
- Eu acordei com uma escola de samba dentro de mim empolgada porque vai ver o pai, então dá licença! – Falei e ele se calou, fingindo fechar a bocha com uma chave. – Obrigada.
Os jogadores vieram até que apressadamente pegar as chaves para me fazer feliz e foram seguindo em direção ao restaurante, quando Allan e Everton vieram pegar a última chave, eu puxei minha malinha correndo e segui o pessoal para o restaurante.
O lugar não era tão grande quanto estávamos acostumados, então quando eu avistei meu homem de preto do outro lado da sala, eu precisei desviar de várias pessoas e pular várias malas para chegar no meu destino.
- Licença, com licença. – Falava, desviando do pessoal, pisando em alguns pés e tropeçando em algumas malas. – Grávida passando!
- Grávida passando! – Alisson falou rindo fracamente e eu sorri, deixando a minha mala em um canto e chegando nele.
- Licença, baixinho! – Falei para Arthur e o mesmo se afastou, deixando que eu finalmente tropeçasse de propósito nos braços de Alisson.
- Ah, minha linda! – Ele me apertou fortemente e eu sorri, escondendo o rosto na curva do seu pescoço.
- Eu estava com saudades. – Sussurrei.
- Vocês se viram há quatro dias. – Ouvi Jesus falar ao meu lado e eu mostrei o dedo do meio para ele, ouvindo-os rirem.
- Como vocês estão? – Alisson ergueu meu rosto, me fazendo olhar para seus olhos verdes. – Bem?
- Tudo certo! – Falei assentindo com a cabeça, sentindo-o colar nossos lábios rapidamente. – E você?
- Melhor agora! – Ele sorriu, levando as mãos à minha barriga. – E nossa menina?
- Com saudades de você, aparentemente, está muito agitada.
- Aposto que é da mãe. – Ri fracamente, abraçando-o fortemente em seguida.
- O monopólio começou! – Ederson falou e eu me afastei de Alisson, rindo fracamente.
- Lidem com isso. – Falei, mas dando espaço para que os outros jogadores chegassem nele e fui abraçar Firmino. – Ah, Bobby! – Sorri.
- Fala aí, mamãe! – Ri fracamente. – Bem?
- Sempre! – Rimos juntos e vi os outros jogadores e equipe técnica se aproximando deles para cumprimentá-los.
- Não pegamos chaves ainda, chegamos agora pouco, não deu para adiantar o voo. – Alisson falou, me abraçando de lado.
- Parece que nem sendo campeão da Champions você consegue algumas regalias. – Lucas falou e eu ri fracamente.
- Pois é! – Alisson fingiu desapontamento. – Mas aqui estamos. – Abriu um sorriso, virando-o para o lado e dando um curto beijo em sua bochecha barbuda.
- Bom, você pode ficar comigo. – Sussurrei para ele e virei para Bianca.
- Não olhem para mim! – Bianca falou, nos fazendo gargalhar. – O Firmino ronca demais. – Neguei com a cabeça.
- Eu deixo você me cutucar se eu roncar. – Firmino falou e sorrimos.
- Nenhum dos dois vai dormir desse jeito. – Alisson falou, nos fazendo gargalhar.
- Vocês decidem aí, eu preciso de comida.
- De novo? – Ederson, Casemiro, Arthur, Filipe Luís, Fernandinho e Allan falaram quase juntos, me fazendo arregalar os olhos.
- Ela acabou de comer no avião! – Jesus falou.
- Ei, eu estou comendo por dois, dá licença? – Falei, ouvindo as gargalhadas novamente.
- Tem certeza que tem só um aí? – Casemiro perguntou e eu franzi os lábios. – Eu checava de novo. – Ele falou para Alisson, deixando a roda.
- Espero que só um, pelo menos. – Falei franzindo a testa, vendo Alisson rir.
- Não se preocupe, eu amo você, o bebê um e os quilinhos que estão quase formando o bebê dois. – Alisson sussurrou em meu ouvido e eu fiz um bico.
- A calça não fechou, eu preciso fazer compras. – Ele riu fracamente.
- E como você está com a calça fechada?
- Eu fiz uma gambiarra com um chaveiro e o botão da calça. – Abanei a mão.
- Como...? – Ele deixou a frase no ar.
- Nem queira saber. Pelo menos o moletom esconde, mas preciso de calças urgente e estamos um pouco longe do Rio! – Fiz uma careta.
- Quando temos jogos no Rio? – Alisson perguntou.
- Se tudo der certo, na final! – Ele fez uma careta.
- Fala com a minha mãe, talvez ela possa te levar em umas lojas boas de grávida. – Ri fracamente, abraçando-o de lado.
- Só uma loja de calças já me ajuda.
- Vai, fica usando essas calças coladinhas, aumenta um centímetro e a calça não fecha. – Neguei com a cabeça.
- Ah, vai dizer que não valoriza o corpo? – Ele piscou e eu sorri. – Vem, vamos comer. Queria falar que estou pronta para ter uma noite sensacional contigo, mas só se for uma noite sensacional dormindo abraçadinha a você. – Ele sorriu.
- Você sabe que para mim já basta, não?! – Ele colou nossos lábios levemente e eu sorri.
- Vem, casal, para de melação! – Filipe falou e abanei a mão, ignorando-o.

- Como você ficou esses dias? – Alisson perguntou quando eu fechei a porta atrás de mim.
- Ah, foi uma pequena loucura com a história do Neymar, achei que Bianca iria surtar para valer. – Suspirei.
- Ela não lida muito bem com pressão, né?! – Ele se sentou na ponta de uma das camas de casal e começou a tirar suas botas.
- Não e isso desde a Rússia, mas lá ela não ficou com essa pressão toda em cima dela. – Suspirei, tirando meu casaco e jogando-o na outra cama.
- E como resolveu as coisas? Percebi que ele não está aqui.
- Por bem ou por mal, ele foi cortado depois da torção no jogo de ontem. – Suspirei, me sentando ao seu lado.
- Como assim “por bem ou por mal”? Não torceu, não?! – Fiz uma careta, ponderando com a cabeça e ele virou uma perna para dentro, se virando na cama.
- Eu conversei com o Rodrigo e dei uma puxada de sardinha para o lado da comunicação e sugeri que ele fosse cortado, mas não posso garantir que sim, nem que não. – Ele arregalou os olhos, gargalhando em seguida.
- Meu Deus, você é um monstro! – Neguei com a cabeça, dando um tapa em seu braço.
- Eu não reconheci a Bianca quando eu cheguei, Alisson, imagina um mês de caso de estupro aqui e ali? É loucura! – Suspirei. – A Mini aqui ia nascer prematura, isso eu posso garantir.
- Não, não, sem dar susto na gente! – Ele falou, colocando as mãos na minha barriga. – Como ela está?
- Muito bem, na verdade. – Sorri. – Dá umas agitadas de vez em quando, mas está bem. – A senti se movimentar. – Como agora. – Ele riu fracamente. – Acho que ela sabe quando você está por perto. – Ele sorriu, se aproximando de mim e dando um curto beijo em meus lábios, me fazendo sorrir.
- E como você está com tudo isso? Nem conseguimos conversar na última vez que nos encontramos. – Dei um pequeno sorriso.
- Eu estou bem, já me acostumei com a ideia. Ela está me mostrando um lado que eu não conhecia, e vejo que esse lado me faz bem. – Ele sorriu.
- E qual lado é esse?
- O materno. – Suspirei. – Já brinquei de boneca, eu tenho uma sobrinha, já pensei em ser mãe e tal, mas não é nem perto do que eu imaginei e ela nem está aqui. – Ele deu um beijo em minha bochecha, me trazendo para si e eu inclinei meu corpo em cima do dele.
- Você é incrível, vai tirar essa questão de letra. – Dei um pequeno sorriso.
- Só confesso que fico levemente ansiosa quando começo a pensar que ela vai precisar sair daí, mas ok, ok... – Ergui as mãos e ele riu fracamente.
- Eu estarei o percurso inteiro ao seu lado. – Ele falou e eu suspirei. – Falei merda, né?!
- Talvez! – Ergui meu corpo, balançando a cabeça.
- Me desculpa... – Neguei com a cabeça.
- Deixa quieto, vamos pensar na opção de você estar sim comigo. – Segurei sua mão, vendo-o assentir com a cabeça e ele deu um curto beijo em meus lábios.
- Vamos colocar a mamãe na cama? – Ele falou e eu ri fracamente.
- Eu preciso de um banho quente antes, sua terra é muito fria! – Rimos juntos e ele se levantou, estendendo as mãos para mim.
- Eu te esquento! – Ele me ergueu e passou os braços ao redor da minha cintura, me fazendo sorrir.
- Vamos precisar de bastante calor humano e cobertas. – Ele sorriu, me trazendo para perto de sim.
- Acha que ainda consegue? – Ele riu fracamente.
- Espero que sentir nojo do próprio namorado seja mentira, não sei lidar com isso não! – Ele gargalhou, tirando meu cabelo do rosto.
- E seus enjoos? – Neguei com a cabeça.
- Sumiram, mas percebi desejo por algumas coisas estranhas... Tipo salsão com chocolate. – Ele riu fracamente, aproximando o rosto do meu.
- Acho que a gente consegue dar um jeito. – Ele disse e colou nossos lábios delicadamente, me levando para mais perto de si.

- Hum... – Alisson fez uma careta quando entramos no CT do Grêmio e eu segurei a risada, dando um tapinha nas suas costas.
- Sorria, lindão! Para de graça! – Passei por ele e o mesmo me deu a língua, me fazendo rir.
- Olha que lugar lindo, cara! – Arthur falou passando pela gente e eu neguei com a cabeça.
- Pelo menos alguém está feliz em estar aqui! – Alisson respondeu e eu neguei com a cabeça.
- Respeita a casa dos outros para respeitar na sua. – Ele riu fracamente.
- Ok, o jogo é no Beira! – Ele piscou e eu neguei com a cabeça.
Segui à frente com minha equipe para dentro do vestiário e o pessoal começou a se separar e ir para seus lugares. Tirei minha mochila das costas e tirei o casaco, o tempinho em Porto Alegre estava geladinho, mas eu já estava começando a suar. Me sentia oito ou 80.
- Ok, como vai ser? – Leandro perguntou.
- Você e Anna ficam na academia com os jogadores em recuperação, Vini e Lucas ficam lá fora com os goleiros. Eu e vamos ficar lá fora, porque a imprensa vai estar presente por uma hora aqui. – Bianca falou.
- É, galera, vai ser puxado! – Falamos rindo.
- E eu? – Diana perguntou.
- Faça a maior quantidade de imagens que você conseguir e tenta se enturmar, eles se abrem mais quando você faz isso. – Bianca falou.
- É, ela mesma demorou para aprender isso. – Falei e Bianca me deu um cutucão, me fazendo rir.
- E você não perdeu hora, né?! – Pisquei e rimos, nos separando.
- Comunicação, amiga! Você fez a faculdade errada! – Falei, ouvindo-a rir.
- Fala aí, gente! – Viramos para o lado.
- Ei, Tite! – Falamos quase juntos.
- , Bi, temos novidade sobre o corte do Neymar. – Eu e ela nos viramos para ele.
- E aí? – Perguntei.
- Vamos chamar o Willian do Chelsea. – Assenti com a cabeça. – Podem providenciar isso para gente?
- Claro! – Falei, assentindo com a cabeça.
- Pediremos para ele vir o mais rápido possível. – Bianca falou e Tite assentiu com a cabeça, dando um tapinha nas nossas costas e saiu.
- Bom, mudança de planos. – Falei e ela confirmou com a cabeça. - A gente se vê! – Falei e nós sete nos espalhamos.
Bianca foi até sua mochila e puxou seu notebook, eu peguei um iPad e um bloco de notas e seguimos para fora do vestiário, encontrando alguns jogadores entrando, alguns saindo e seguimos para fora. Um pessoal da imprensa já estava começando a se organizar ali, mas ignoramos todos e seguimos para um dos lados do gol, aonde os assistentes de Taffa começavam a montar o treino.
Subimos os poucos degraus da arquibancada e nos sentamos no mais alto e longe possível da imprensa. Bianca abriu o notebook e eu puxei o celular do bolso, clicando no ícone do telefone. Ela achou o telefone de Willian e eu digitei rapidamente no celular, sem esquecer de todos os DDI e códigos da vida e coloquei o mesmo na orelha, ouvindo-o chamar.
- Pelo que eu estou vendo no Instagram dele, ele está em Israel. – Ela me mostrou a foto dele sendo batizado no Rio Jordão.
- Espero que não esteja rezando...
- Hello? – Ele atendeu em inglês.
- Willian? Aqui é , da CBF.
- Ah, oi, , tudo bem? – Ele respondeu.
- Se lembra de mim? – Perguntei.
- Como esquecer? – Rimos juntos.
- Ei, deixa eu perguntar, aonde você está? – Perguntei.
- Estou em Israel agora, na Jordânia... – Fiz uma careta. – Por quê?
- Bom, precisamos de você! Tite está te convocando! – Falei. – O mais rápido possível.
- Claro! Eu vou dar um jeito e chego aí em breve! Para onde eu vou?
- Você consegue chegar até amanhã?
- Provavelmente. – Ele disse.
- Vem para Porto Alegre, então. Te mando um briefing com as informações por e-mail.
- Beleza, eu fico no aguardo. – Ele falou e eu dei um pequeno sorriso. – Obrigado, viu?!
- Não me agradeça! – Falei rindo fracamente e ele retribuiu. – Até amanhã?
- Com certeza! – Ele disse e eu desliguei a ligação.
- Ele disse que vai tentar chegar amanhã cedo. – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Perfeito, agora eu elaboro o briefing e você avisa a imprensa. – Ela deu um sorriso e eu ri fracamente.
- Eu estou grávida de seis meses, não pense que você vai fugir das suas responsabilidades depois do que rolou semana passada! – Falei e ela riu fracamente.
- Ah, me dá uns dias como café com leite, vai! – Neguei com a cabeça.
- Até parece! – Me levantei. – Vou deixar o escolhido do dia contar na coletiva.
- Coitado! – Ela disse e rimos juntas.
- Se essa criança chegar antes, é culpa sua! – Ela negou com a cabeça.
- Até parece! Com certeza até lá já vai ter aparecido outro problema. – Ela disse.
- Vira essa boca para lá, pelo amor. – Abanei a mão e ela sorriu.
Encontrei Alisson, Cássio e Ederson entrando no campo de treinamento quando eu passei por eles e, evitando qualquer tipo de contato romântico perto da imprensa, eu só bati na mão dos três seguidamente e fui em direção à imprensa, sorrindo.
- Boa tarde, gente! – Falei, me aproximando da grade que nos separava.
- Boa tarde. – Eles falaram.
- Vocês têm uma hora aqui, então podem ficar por aqui até as quatro horas, depois se acomodar na sala da coletiva para uma coletiva as cinco horas. Ainda não tenho informações de que jogador fará parte, mas será um dos titulares do jogo de antes de ontem. – Eles confirmaram com a cabeça.
- Beleza!
- Perfeito!
- Também quero anunciar a convocação de Willian no lugar do Neymar. – Eles começaram a se aproximar da grade e a falar todos ao mesmo tempo. – Eu não vou dar nenhuma declaração a mais do que isso! – Falei um tanto mais alto, ouvindo as vozes reduzirem. – Isso vocês perguntam para Tite na próxima coletiva. – Falei rapidamente. – Alguma dúvida? – Alguns levantaram as mãos. – Que não tenha a ver com a escolha de Willian. – Falei e dois mantiveram as mãos erguidas. – Fala. – Apontei para o primeiro.
- Como a CBF ficará com o caso do estupro do Neymar?
- Da mesma forma que estava com ele aqui, nós faremos todo repasse de informações que chegará a nós, agora da parte dele, ele vai cooperar com as investigações em tudo o que for possível e provar sua inocência.
- Você acredita que ele é inocente? – A mesma pessoa perguntou.
- Sim. – Falei simplesmente e apontei para outra jornalista.
- Somente os goleiros farão treinamento externo?
- Não, logo os reservas virão para fora, mas os jogadores que jogaram contra o Catar estão fazendo treinos de relaxamento na academia. – Respondei e ela assentiu com a cabeça. – Mais alguma coisa? – Eles ficaram em silêncio. – Ótimo! – Falei. – Bom trabalho. – Disse e segui de volta para onde Bianca estava.
O resto do dia seguiu sem grandes surpresas, Arthur foi chamado para a coletiva, o que era sempre bom, eu gostava de tê-lo por perto e ele era realmente um amigo ali, se preocupava bastante comigo e era um dos mais calminhos do time, que era até surpreendente depois do rolo todo dele com Aline.
Depois da coletiva, eu, Leandro e Vinícius, como Canarinho, seguimos até o Shopping Bourbon para fazer uma média na loja da Centauro. Em São Paulo estava acontecendo um evento com a presença do Bebeto e do Canarinho 2 – não contem para ninguém – para apresentar o novo uniforme da Seleção para a Copa América. Tiramos fotos com alguns torcedores e crianças, o Canarinho fez umas gracinhas para a câmera, e eu aproveitei para comprar minha blusa azul da Seleção Feminina. Eu só pedi para colocar A. Becker 1, acho que não teria problema, né?!
Voltamos para o hotel quase oito horas da noite e o pessoal já estava em peso no restaurante jantando, peguei meu prato digno de pedreiro, o qual foi a vez do meu namorado me zoar, e sentei para comer. Apesar do dia calmo e divertido, andar no shopping havia me cansado bastante, eu sabia que ia dormir o mais rápido possível.
- Alguém está cansada. – Alisson deu um beijo em minha cabeça quando encostei a cabeça em seu ombro e eu bocejei.
- Só um pouco. – Suspirei.
- Vamos subir? – Ele perguntou.
- Você não precisa nem pedir duas vezes. – Falei e ele riu fracamente.
- Vamos, então, cansadinha, hoje é dia que você capota cedo. – Bocejei novamente.
- Pelo menos eu recupero, amanhã o dia vai ser complicado. – Falei, suspirando.

- Meu Deus! Por quanto tempo eu fiquei fora? – Willian perguntou assim que entrou no saguão do hotel reservado para nós e deu de cara comigo.
- Quase um ano, mas isso daqui só tem cinco meses! – Falei e sua boca foi mais para o chão ainda.
- Não posso acreditar que você está grávida! – Ele deixou suas malas no chão e veio me abraçar. – É do Alisson?
- É sim, obrigado! – Alisson gritou jogado no sofá e eu revirei os olhos.
- Isso é incrível, , meus parabéns para vocês, sério! – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Posso?
- Por favor! – Ele estendeu as mãos em minha barriga, acariciando-a levemente.
- Cinco meses, é?! – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça. - O ano novo foi bom, hein?!
- Bom demais! – Rimos e ele abaixou as mãos.
- Parabéns, sério! Vocês são demais, essa criança vai ser muito abençoada. – Sorri, sentindo-o dar um beijo em minha bochecha.
- Estamos entre abençoada igual o pai ou enlouquecida igual a mãe. – Lucas falou e eu dei um tapa em seu ombro, vendo-o estourar um flash no nada.
- Até parece que o pai é tão abençoado assim! – Willian falou cumprimentando Alisson e rimos juntos.
- Mais safado impossível esse garoto! – Falei, seguindo pela sala, dando um tapão na bunda de Alisson.
- Ela tá atiçada hoje! – Alisson falou e eu ri fracamente.
- Quem vai ter que encarar um treino aberto hoje com milhares de fãs atiçando meu namorado? – Falei, movimentando as mãos exageradamente e Bianca e Lucas apontaram para mim. – Obrigada!
- Ciúmes? – Alisson falou, passando os braços pelos meus ombros.
- Espero que não tenha motivo. – Coloquei as mãos na cintura e eles riram. - Willian, Tite está no restaurante, se apresente, se arrume que vamos para o Beira-Rio às duas da tarde, é o tempo de você se ajeitar. – Ele assentiu.
- Pode deixar!
- E seja bem-vindo! – Bianca falou e sorrimos, acenando para ele.
- Alguém está com ciúmes por eu voltar para o Inter, né?! – Alisson se aproximou de mim e eu revirei os olhos.
- Eu estou feliz por ti, você sabe que eu criei um amor especial pelo Inter só por causa de você, não é?! – Ele assentiu com a cabeça, tocando os lábios em minha testa. – Mas também não precisa ficar alvoroçado por isso. – Ele riu fracamente, abaixando os lábios para minha bochecha.
- Você é minha namorada e está esperando um filho meu, eles também te amam.
- Bom mesmo! – Sorri e rimos juntos.
- Eu te amo! – Ele beijou minha testa novamente e eu sorri.

Fui a última a entrar no ônibus para irmos para o primeiro treino aberto da temporada, no estádio do Internacional, antigo lar do meu namorado. Ele cresceu no Inter e chegou até a jogar o profissional em 2013 antes de ir para a Roma em 2016, então estávamos esperando muito agito no treino de hoje. Confesso que estava nervosa e empolgada. Nervosa pela comoção, eu não tinha boas experiências com treino aberto e nenhuma experiencia quando meu namorado era o centro das atenções. Mas empolgada por estar indo pela primeira vez no Inter com ele. Aquele lugar era importante e sagrado para ele, já tinha vindo aqui uma vez, mas nunca com ele, estava esperançosa que pudéssemos ter bons momentos aqui.
Parei na lateral das primeiras poltronas, aonde Alisson estava todo folgado na primeira, com a pernona para cima e aquelas coxas deliciosas à mostra e eu suspirei, balançando com a cabeça. Eu estava muito mais alvoroçada que o normal e isso era loucura, mas estava me adorando assim.
- Olha quem está indo com a gente! – Alisson comentou, tirando sua mochila do lugar vago ao seu lado e eu abanei a mão.
- Já sento! – Pisquei. – Galera, presta atenção aqui! – Falei alto para os jogadores. – Estamos indo para o treino aberto e, apesar de não ser muito ideal, nós ainda estamos recebendo algumas perguntas sobre o Neymar e vamos clarear tudo para ninguém falar merda, ok?! – Senti o ônibus começar a andar e apoiei nas laterais das poltronas.
- Alisson tá na defensiva aqui! – Ederson comentou e eu ri fracamente.
- Já andei muito em pé em ônibus, ok?! – Apontei para o mesmo e eles riram. – Enfim, gente, sei que o assunto é delicado, principalmente para o Willian, mas quero que vocês sejam os mais discretos possíveis e que deem aquelas respostas ótimas de nada com nada, tá? Resposta de jogador de futebol mesmo.
- Quê? – Alguns perguntaram.
- Ah, vocês sabem! – Abanei a mão e eles riram. – “Torcemos muito pelo nosso amigo Neymar, esperamos que ele prove sua inocência” e blá, blá, blá. – Movimentei as mãos e eles riram. – Não deem detalhes, principalmente por vocês não saberem detalhes, nem eu para falar honestamente. Então, como a opinião de vocês é a opinião da CBF, quanto menos vocês falarem melhor. – Falei firme. – E sem se irritar, caso eles insistam, ok?! Sei que é difícil, mas tentem se conter, ok?! – Dei um meio sorriso. – Eu ou a Bianca sempre estaremos perto nesses momentos, mas sejam bem discretos, quanto menos informação, melhor. E foque no futebol, é por isso que estamos aqui.
- Poderia dar mais um exemplo de resposta? – Arthur perguntou olhando para mim.
- Sério ou você vai zoar com a minha cara?
- Eu estou adorando que a grávida é mais sem paciência do que a normal e sinto que ela não vai embora nunca. – Neguei com a cabeça, ouvindo o pessoal gargalhar alto.
- Bom, eu serei mãe em breve, talvez piore! – Dei um sorriso e firmei os pés no chão quando o ônibus deu um solavanco.
- É, só não conheço a surfista, então vamos sentar. – Alisson esticou a mão para mim e eu gargalhei.
- Ah, meus áureos momentos de faculdade, você não viu nada, amor! – Falei e ele negou com a cabeça. – Estamos entendidos?
- Sim! – Eles falaram.
- Dúvidas?
- Não!
- Ótimo! – Abri um largo sorriso.
- Agora senta antes que o bonitão do seu lado tenha um ataque cardíaco. – Coutinho falou e eu escorreguei para a cadeira vazia ao lado de Alisson e o mesmo me olhava negando com a cabeça.
- Você é impossível. – Ele falou e eu sorri, virando para ele.
- E você gosta de mim desse jeito. – Ele assentiu com a cabeça.
- Não gostaria que fosse diferente. – Ele sorriu e deu um rápido beijo em minha bochecha, sentindo-o apoiar uma mão em minha coxa e eu suspirei.

Alisson saiu na frente com os jogadores e eu esperei a leva inteira sair, inclusive os cinegrafistas da Amazon Prime e desci por último, dando um pequeno sorriso ao ver o lar o estádio do Beira-Rio crescer acima de mim. Segui os jogadores para dentro e andamos pelos longos caminhos até chegar nos vestiários, com uma longa parede de fotos e torneios vencidos.
- Não ganhou nada, Taffarel ganhou, campeão. Fernandão campeão, Sobis campeão... – Ouvia a voz de Filipe.
- Tem foto do Taffarel aqui, gente.
- Não ganhou nada!
- ‘Tô sem moral aqui! – Ouvi Alisson falando e eu neguei com a cabeça, passando pela parede que eles disseram e eu ri, sabendo que isso era mentira.
- Vamos tirar uma foto dele, imprimir e colar aqui! – Miranda falou e eu neguei com a cabeça.
- Ganhei quatro Gauchão, para de graça! – Entrei no vestiário, vendo os jogadores se espalharem e me apoiei ao lado de Bianca que ajudava Vinícius a se enfiar na roupa de passarinho.
- Olha lá, olha lá! – Ouvi a voz de Taffarel e o mesmo entrou no vestiário. – Alisson, cadê sua foto? – Os meninos começaram a gargalhar e eu neguei com a cabeça, tentando segurar a risada.
- Ah, qual é, até tu?! – Alisson respondeu tirando a camisa e eu neguei com a cabeça.
- Parece um bando de criança! – Falei alto, fazendo o pessoal rir.
- Isso é inveja porque seu homem não tá no mural! – Taffa falou.
- Ah, fica quieto que você só fala isso porque tem uma Copa do Mundo, vai! – Falei, ouvindo até Alisson gargalhar.
- Tenho moral, né?! – Ele se aproximou de mim, passando o braço ao redor do meu ombro.
- Falta uma Champions na sua carreira, mas com Parma não ia ser fácil conseguir uma não. – O pessoal não parava de rir.
- Tenho uma Europa League pelo Galatasaray, engraçadinha! – Ele fechou a cara.
- Que ninguém se importa! – Dei um sorriso sarcástico e o pessoal continuou gargalhando.
- Só não te bato por causa da Mini, hein?! – Ele apontou para mim e eu sorri.
- Te amo, Taffa! – Ele se afastou, me fazendo gargalhar.
- Gente, sem gracinhas por enquanto, vamos lá! – Tite falou gargalhando ainda e eu pisquei para ele. – Hoje é treino aberto, a casa tá cheia, vamos fazer um treino bom, mostrar serviço, mas divirtam-se. Alisson, é seu lar aqui, aproveita, curta os torcedores, curta os fãs e vamos trabalhar. O plano é de ficar aqui até as sete da noite, então vamos devagar, curtir, começar com treinos técnicos, depois táticos e para terminar um jogo bem bacana. – Tite falou, assentindo com a cabeça. – O Canarinho vai estar com a gente, então vai ser bem de boas. A Comunicação tem alguma informação para passar? – Tite perguntou.
- O Alisson tem uma entrevista marcada com a galera do Internacional também. – Falei.
- Tenho? – Ele perguntou.
- Tem! – Falei sorrindo.
- Tá, vou querer ele na coletiva hoje também.
- Pô! – Alisson falou assustado. – Para que eu?
- Acho que tem algo a ver com “ídolo do Internacional”. – Falei, fingindo que escrevia em um grande outdoor. – Ele, Taffa, não você!
- Ela tá afiada, cara! Ela tá afiada! – Ele falou próximo a Alisson e eu sorri.
- Se ela tá assim grávida, imagina depois que nascer? – Alisson retribuiu.
- Nossa! É uma menina, né?! – Taffa falou. – Nossa, vão ser duas s. – Sorri, negando com a cabeça.
- Deixa a Mini em paz! – Eles riram.
- Essa menina vai chamar Mini, né?! Não é possível! – Arthur falou e eu e Alisson nos entreolhamos, dando de ombro em seguida.
- Quem sabe? – Alisson falou e eu assenti com a cabeça, sorrindo.
- Vamos trabalhar, galera! – Edu gritou e seguimos nossos trabalhos.

- Vamos, lindão! Vai para tua galera! – Falei andando pelo túnel com Alisson e ele deu um rápido beijo em minha cabeça, sorrindo.
- Esse “lindão” veio para ficar? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Posso voltar com o Alissinho, se preferir.
- Adorei o apelido novo! – Ele falou rindo fracamente e seguiu escadas acima no túnel e os gritos começaram muito alto.
- É, acho que o pessoal estava com saudades. – Bianca falou aparecendo ao meu lado com Vini de Canarinho e eu assenti com a cabeça.
- Animada? – Vinícius perguntou de dentro do traje.
- Por quê? – Perguntei.
- Você é a namorada dele, o pessoal deve gostar de você também. – Ri fracamente.
- Para de graça, seu tonto. Isso não tem nada a ver. – Falei.
- Aposto 10 reais que, quando você entrar, o povo vai gritar por você! – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Os jogadores acabaram de entrar, eles ainda estão gritando. – Falei.
- Eu aposto com ele! – Bianca falou e eu suspirei.
- 10 para os dois? Fechou! – Bianca revirou os olhos e nós rimos.
- Vamos lá, vamos lá! – Vinícius falou e seguimos com ele, ajudando-o a subir as escadas para ele não tropeçar com os pés gigantescos do boneco.
Quando chegamos ao nível do campo e demos três passos para frente, os gritos aumentaram e virei para trás, vendo a torcida gritar animada e acenando para mim. Virei o rosto novamente, vendo Bianca sorrindo para mim.
- Eu disse!
- Isso não quer dizer nada. – Falei. – Eles podem estar gritando pelo Canarinho também.
- ! ! – Ouvi uns gritos e franzi os lábios.
- É, eu me chamo agora! – Vinícius falou e eu revirei os olhos.
- Me lembrem de pagar vocês. – Falei.
- Com todo prazer! – Bianca sorriu, seguindo com Vinícius.
Virei para trás, vendo algumas pessoas acenando em minha direção e acenei de volta, dando um sorriso delicado e segui mais para o centro do campo, me aproximando de Lucas e encontrei Alisson cumprimentando o pessoal que estava próximo ao gol.
- Nem tente fugir deles, eles estão gritando por você! – Lucas falou e eu revirei os olhos.
- Para de ser ridículo. – Falei.
- Você é tipo a primeira-dama do Internacional, achou que seria como? – Ri fracamente e eu coloquei o cabelo atrás da orelha, dando um meio sorriso.
- Não sabia que eles sabiam de mim. – Falei, dando uma espiada na torcida.
- Você é namorada dele e está esperando um filho dele, o que achou? – Ele me abraçou de lado e eu ri fracamente. – Como está se sentindo?
- Feliz, eu acho. – Suspirei.
- Aproveita, vai te fazer bem! – Ri fracamente.
- Meus cinco minutinhos de fama? Não, eu ainda sei separar minha vida pessoal com profissional, apesar das duas estarem muito próximas recentemente.
- Então só curte! – Rimos juntos. – Precisa de algo? - Ele perguntou.
- Por enquanto não! – Sorri, dando uma piscadela. – Vou sentar um pouco, a gente vai se falando.
- Beleza! – Ele falou e segui para o banco dos reservas, me escondendo atrás do mesmo e puxando o celular do bolso.
Os jogadores começaram com os treinos técnicos conhecidos, corrida, desvio e pulo de elementos, cordas, cones e outros apetrechos usados pela equipe técnica. Os goleiros estavam próximo do público fazendo os desafios do Taffarel. Tudo o que acontecia naquele campo era uma propaganda para Alisson ser visto e promovido naquele local importante para ele. E talvez até melhorar a imagem da CBF.
Depois de quase uma hora de aquecimento, o jogo de verdade começou. Os times foram divididos e o público começou a responder ao novo agito. Eu já tinha começado a andar pelo campo novamente, servindo de babá de Vinícius que estava realmente muito empolgado em se divertir com a torcida. Ele já tinha subido na marquise, já tinha ido para torcida, já tinha roubado o bumbo de um torcedor e cantava com eles. Acho que ele colocou alguma coisa no seu suco no almoço. Ele não estava no seu normal.
Enquanto eu puxava Vinícius para cá e para lá, evitando que aquela cabeça saísse, alguns torcedores ficavam gritando por mim e fazendo perguntar sobre mim, Alisson e o bebê, era coisa de outro mundo.
- , tira uma foto com a gente? – Duas meninas perguntaram enquanto eu segurava o Canarinho pela blusa.
- , você e o Alisson são demais! – Dei um sorriso, acenando.
- Vocês já sabem o nome do bebê de vocês? – Ri fracamente.
- Obrigada, gente, vocês são ótimos, mas estou trabalhando agora. – Falei sorrindo. – Preciso devolver um passarinho na gaiola! – Eles deram risadas fracas e eu puxei Vinícius pelos ombros. – Pula de volta! – Falei para Vinícius e fiquei feliz de não ver seu rosto, ele deveria estar rindo e bravo comigo ao mesmo tempo.
- Ah, qual é, você deveria ter tirado foto com a galera. – Ele falou quando nos afastamos do pessoal.
- Fica quieto, seu passarinho filho da puta. – Falei e sua risada saiu abafada pela roupa.
- Me ajuda a tirar isso aqui. – Ele falou e andamos em direção ao túnel e ele se apoiou em minha mão e no corrimão para descer os degraus e seguimos de volta ao vestiário. – Finalmente! – Ele falou, puxando a cabeça para fora.
- Ah, você parecia bem feliz, vai! – Ri fracamente.
- Foi bom, mas chega uma hora que fica quente aqui dentro. – Vi sua regata branca ensopada por baixo.
- Pois é, amigo.
- Você pode voltar para lá, acho que vou tomar um banho.
- Beleza! – Falei, dando meia volta e seguindo novamente para o campo.
Quando pisei no mesmo, comecei a gargalhar incontrolavelmente. Como sempre, alguma quebra de segurança teve, dois garotos de uns 10, 12 anos, davam um baile nos seguranças, correndo desesperados pelo campo. Os jogadores pararam e só observavam para onde os corredores seguiram. Ouvi uma risada alta e observei Taffarel se matando de gargalhar no banco reserva.
- Vai, ri! – Falei, me aproximando dele.
- Estou rindo do baile que eles estão dando nos seguranças. – Ele falou.
- Coloca os jogadores para irem atrás deles que isso acaba em dois segundos. – Ele sorriu.
- Ah lá, pegou! – Um dos nossos seguranças encontrou um dos garotos e o ajudou a retirar do campo, logo o segundo também foi tirado.
- Ah, foi rápido, vai.
- Tá seguro, chefa?
- Tá seguro! – Falei rindo fracamente. – Hoje tá! – Suspirei, me sentando ao seu lado.
O jogo retornou e se seguiu por mais uns 20 minutos. Tite deu como encerrado e os jogadores começaram a se dispersar e cumprimentar a torcida. Todos eles foram para próximo das arquibancadas, falaram com alguns torcedores mais próximos, davam camisetas para eles, tiravam selfies e tentavam passar um pouco de amor para eles.
Assim que o apito final foi soado, eu me levantei e andei mais próximo aos jogadores, e indiquei que os seguranças ficassem mais perto de Alisson. A torcida realmente estava alvoroçada com ele. Em poucos segundos ele já estava só de segunda pele, já que ele havia dado sua blusa verde para um torcedor com deficiência. Depois ele continuou passando pela parte inteira que tinha torcedores, recebendo abraços, beijos, tirando fotos e se divertindo. Seu sorriso não negava, ele estava muito feliz em estar ali.
Cruzei os braços quando Lucas o chamou para ficar próximo à torcida e erguer os braços lateralmente e sorrir. Ver seu sorriso perdido em toda aquela barba por fazer, fazia meu coração ficar aquecido dentro de meu peito, era uma combinação de fatores, mas parecia que tudo se encaixava. E por um momento eu queria que o Beira-Rio fosse nossa realidade. Com certeza ajudaria muita coisa.
- Vamos para coletiva, lindão? – Cruzei os braços, vendo-o relaxar da pose e Anna se afastar com a câmera.
- Você precisa parar com isso! – Ele falou firme, passando um braço pelos meus ombros e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- Ah, deixa eu aproveitar enquanto posso, vai. – Passei um braço pela sua cintura e a outra eu entrelacei nossos dedos que caía em meu ombro.
- Eu já estou até vendo, isso não vai embora nunca. – Nos aproximamos do túnel e algumas pessoas gritavam para Alisson.
- Alissinho foi. – Falei.
- Mas eu gosto de Alissinho, me lembra quando a gente começou. – Ele deu um beijo em minha cabeça, intencional ou não, os gritos aumentaram. – Viu?! Falei que eles iam gostar de você.
- Ridículo. – Me afastei, empurrando-o levemente de lado, vendo-o rir. – Vai arranjar uma blusa, coletiva! E depois entrevista! – Falei e ele gargalhou, descendo os degraus para o túnel.
- Que pressa! – Ele falou.
- A gente tá indo embora, criança! – Movimentei a mão em sinal de agilidade e ele riu, sumindo pelos corredores.
Enquanto Alisson se arrumava, eu segui para o local da coletiva, encontrei Bianca e Vinícius lá, além de Tite e Cléber. O treino acabou se estendendo um pouco mais e os horários estavam bem bagunçados e nós precisávamos dedicar um tempo ao Internacional, era super necessário, tinha que dar tempo. Alisson apareceu com outra blusa de treino e subiu no palco, Bianca subiu no palco também, se colocando na frente da imprensa.
- Eu vou começar com o Alisson, fazer umas três ou quatro perguntinhas, ele está com o horário um pouco apertado, então, quem está ao vivo e tem pergunta para ele? – Bianca perguntou enquanto ele se sentava e um jornalista esticou a mão.
- Alisson, parabéns pela conquista da Liga dos Campeões. Você já conseguiu ligar a chave para a Copa América? E também queria saber se você já percebeu o quanto sua carreira é parecida com a do Taffarel? Além do simbolismo dele ter conquistado a primeira Copa América em 89, agora 30 anos depois, você tem a chance de conquistar a sua. E pelo o que estamos vendo, sua carreira vai ser longa igual a do Taffarel. Tudo isso passa na sua cabeça nesse momento?
- Estou vivendo um momento muito feliz na minha carreira, momento pessoal também... – Dei um pequeno sorriso. – À espera do meu segundo filho, então agradeço primeiramente a Deus por tudo isso. Com certeza já virei a chave, no futebol as coisas são muito dinâmicas. Como na derrota, se tu perde na quarta-feira, no fim de semana você já tem a oportunidade de vencer e dar a volta por cima e provar, e a gente está aqui para isso. – Ele falava. – O Taffarel é uma pessoa especial para mim e para todos os goleiros, viemos do mesmo lugar, da mesma escola, do mesmo clube, carreira parecida e é o que eu sempre almejei, seguir os passos dos meus ídolos e busco inspiração nele, no que ele conquistou como atleta e pela pessoa que ele é, fico muito feliz, de estar seguindo esse caminho e vou continuar trabalhando para conquistar cada vez mais coisas, mais títulos, que é o objetivo nosso principal agora que é a Copa América.
- Como é voltar ao Beira-Rio? Você que foi criado aqui, sai e volta campeão da Europa, reencontra seu estádio fazendo aniversário de 50 anos, qual foi a emoção de retornar ao Beira-Rio? – Endireitei o corpo, curiosa com essa resposta.
- Muito especial, um lugar que eu vivi muitos momentos felizes, alguns tristes, mas momentos de aprendizado. Então estar de volta aqui no Beira-Rio que é minha casa, eu cresci aqui dentro desde os 10 anos de idade, até os 23, 24, então muita coisa eu passei aqui dentro e fico muito feliz em retornar. – Suspirei, revirando os olhos. Não era isso que eu esperava.
- Alisson, da ESPN aqui, parabéns pela conquista da Champions, e eu queria que você falasse um pouco da parte tática do Jürgen Klopp, você tem aí do seu lado o Tite e o Cléber que gostam do jogo muito apoiado, da posse de bola, e o Liverpool nessa temporada foi exemplo de um time ofensivo, mas com uma ideia de jogo diferente de jogo apoiado, e um jogo vertical e de transição muito rápido, queria que você comentasse um pouco dessa parte, trazendo também na comparação com o que você encontra na Seleção.
- Temos, primeiramente, uma qualidade técnica das duas equipes absurdas, muito grandes, nós treinamos muito no Liverpool, sempre que recuperamos a posse de bola, na verticalização, buscar uma melhor opção na frente e nosso time evoluiu muito esse ano, sabendo controlar o jogo nos momentos que precisa e resultados mais difíceis você tem que segurar o jogo mais um pouco, trabalhar mais a posse de bola. E, na temporada passada, o Liverpool por ser muito vertical acabava tomando uns contra-ataques, sofria mais gols, e esse ano fomos mais consistentes ofensivamente devido a maior sabedoria no jogo, é uma coisa que a gente tenta fazer aqui na Seleção. Lógico que a característica dos nossos jogadores são que quando a bola chega no pé deles, querem ir para cima, são jogadores de criatividade, mas a gente também tem esse misto de jogadores de meio-campo que sabem controlar, momentos de acelerar, o momento de trabalhar melhor, de cansar um pouco o adversário, que são coisas mais importantes para o futebol.
- Valeu, Alisson. – Bianca falou e o mesmo se levantou, endireitei meu corpo e voltei para antessala, esperando que ele entrasse comigo e deixei Bianca cuidar da coletiva.
- Foi fácil! – Ele falou e eu revirei os olhos.
- Temos uma hora para deixar o estádio, vai tomar banho, literalmente mesmo... – Ele riu fracamente. – Que você tem uma entrevista com a equipe do Inter.
- Beleza! – Ele falou animado e seguimos para fora dali.
- Pela primeira vez fazem uma pergunta interessante para você, uma que eu realmente quero saber a resposta, e você me fala “vivi muitos momentos felizes aqui”, ah! – Reclamei, revirando os olhos e ele riu fracamente.
- O que você queria saber? – Ele perguntou, sabendo os caminhos melhores do que eu.
- Como você está se sentindo voltando para cá. – Ele sorriu, me puxando pela mão e me abraçando de lado.
- É bom demais, principalmente por vocês estarem aqui comigo! – Ele falou, dando um curto beijo em minha testa e eu sorri, abraçando-o pela barriga e entrando no vestiário movimentado com ele, nossas vozes ficaram um pouco mais abafadas.
- Não me parece uma ideia ruim, sabia? O tempo é gostoso, a cidade é bonita, o time te ama e me ama também... – Ele riu fracamente.
- Claro que eu não penso em me aposentar pelos próximos 15 anos, mas quem sabe? – Sorri, me sentando no seu lugar no vestiário e vendo-o pegar sua bolsa com suas coisas.
- 15 anos? Querendo dar uma de Buffon? – Perguntei.
- Se ele pode, por que eu não?
- Por mais que eu o adoro, as vezes acho que já deu, sabe? Às vezes é melhor você sair enquanto é grande do que ficar até o barco afundar. - Ele assentiu com a cabeça.
- Bom, mesmo se forem 10, 12 anos, ainda está longe! – Ele deu um beijo em meus lábios. – Já volto.
- Você tem 10 minutos! – Falei firme, olhando o relógio. – Contando. – Ele riu fracamente, correndo em direção ao banheiro.

Entrei atrás de Alisson no estúdio do Internacional, soltando sua mão quase imediatamente para passarmos pela porta e uma mulher loira, uma morena e um homem mais velho nos aguardavam.
- Cara! O que você tá fazendo aqui? – Alisson falou para o homem e ele me entregou sua cuia para abraçar o homem.
- Não podia perder a oportunidade de te ver, né?! Como você está? Parabéns pelo título, cara!
- Ah, cara! Comigo está tudo bem. – Eles sorriram, trocando tapinhas nas costas. - Jessica, é você? – Ele falou para a loira.
- A gente evolui aqui, Alisson! – Ela falou e eles se abraçaram rapidamente e Alisson cumprimentou a terceira rapidamente.
- Bom ver vocês, gente! – Ele sorriu, voltando para o meu lado e me abraçando pela cintura.
- Então essa é a famosa ? – O homem falou e eu dei um meio sorriso.
- É sim, Dani! Essa é a mulher da minha vida e mãe da minha filha. – Ele deu um beijo em minha cabeça e eu sorri. – Amor, esse é o Daniel, ele foi meu treinador de goleiros desde a base. – Me aproximei do mesmo, dando um rápido abraço. – Jessica era estagiária quando eu saí daqui. – A cumprimentei rapidamente.
- É um prazer imenso te conhecer, . Eu acompanho vocês nas redes sociais e você é incrível. – Dei um pequeno sorriso.
- Obrigada. – Ri fracamente.
- E ainda tem um bebê a caminho! Parabéns, Alisson, é demais! – Daniel falou e eu sorri.
- Foi uma surpresa, na verdade. – Ele falou, virando para mim.
- É, isso é um pouco novo para nós dois, mas... Vamos lá, né?! – Eles riram juntos.
- Bom, estamos empolgados em ter mais um colorado. – A tal da Jessica falou.
- Ah, sei não, hein?! – Falei e Alisson me apertou de lado.
- É diferente aqui, Jessica, ela gosta de futebol, ela tem time, vai ser briga de gente grande para convencer essa criança! – Alisson falou e eu ri fracamente.
- Gente, sem querer ser a assessora chata, estamos com o horário um pouquinho apertado, podemos...
- Ah, claro! – Jessica falou. – Essa é Joana, ela é nossa produtora, vai acompanhar a entrevista. – Acenamos rapidamente para a mesma. – , Dani, vocês podem ficar ali no sofá, Alisson, pode se sentar ali do lado esquerdo! – Ela falou, apontando para a cadeira no estúdio.
- Posso ficar com isso? – Ele pegou seu mate.
- Não seria você se fosse diferente. – Ela falou, me fazendo rir fracamente.
- Deixa eu só colocar o microfone em você... – A tal da Joana falou antes de Alisson sentar, prendendo um microfone de lapela nele e eu me sentei no sofá, apoiando um braço na poltrona.
- Vamos falar sobre você, Champions League, sua vida pessoal, aquele básico de sempre, beleza? – Jessica falou.
- Claro! – Ele disse, se ajeitando.
- , você gostaria de participar? – Jessica perguntou.
- Não, estou aqui a trabalho. Gostamos de deixar as coisas bem separadas.
- É! Vamos dizer que a gente já causa o suficiente. – Alisson falou, me fazendo assentir com a cabeça.
- Beleza, eu vou introduzir você e começamos.
- Vamos lá. – Alisson falou e Joana foi para trás das câmeras, fazendo um sinal para Jessica.
- Ação! – Joana falou.
- Alisson, que prazer te receber mais uma vez aqui nessa que é tua casa, agora campeão da Champions, goleirão da Seleção Brasileira, tem muita coisa boa para falar da sua carreira, né?! Bem-vindo de volta aqui!
- Com certeza, mais uma vez conversando com vocês, contigo, Jessica, é sempre um prazer estar de volta aqui em casa. É um lugar que eu vivi muitos momentos felizes e agora estou vivendo um momento maravilhoso na minha vida, campeão da Champions, disputar a Copa América pela seleção, quem sabe vencer, esperando meu segundo filho nascer...
- Parabéns por isso. – Dei um pequeno sorriso. – Vamos começar com emoção já, então, tem algumas pessoas que te mandaram uns recados especiais, vamos lá?
- ‘Vambora! – Ele disse.
Jessica começou a mostrar alguns vídeos para ele, eu só ouvia a voz, mas não sabia quem estava falando. Alisson tinha um sorriso no rosto e sabia que ele estava emocionado. No final, ele fez uma pergunta:
- Fala para o torcedor colorado uma defesa importante para você, grande abraço, Papito, fica com Deus. – Franzi a testa. Papito?
- Papito! Esse é o cara! Muito feliz pelo momento dele no Inter, merece tudo que ele está vivendo, é uma pessoa que me ajudou muito também. Às vezes treinava com um grupo separado, fazendo finalização com o pessoal que estava afastado, é o momento que eu estava surgindo no Internacional, no profissional, então ele me incentivou muito a trabalhar, tem uma grande participação na minha carreira. – Alisson falava, mexendo com as mãos. – Defesa que me marca muito, acredito que a maioria dos colorados vão lembrar dela, no jogo contra a Chapecoense em casa, num contra-ataque que a gente levou, um lance mano a mano, não lembro quem era o jogador, aquela defesa é muito marcante na minha carreira. – Dei um pequeno sorriso, puxando o celular do bolso, anotando para procurar depois. As mensagens continuaram com recados e perguntas.
- Sei que tu sempre quis jogar na Europa, qual foi a emoção em pegar aquela taça, levantar e saber que estava cumprindo seu sonho? O que tu sentiu naquele momento?
- A emoção é incrível, acredito que é a mesma emoção que eu como torcedor senti sendo campeão da Libertadores quando assistia o Inter, para dar uma dimensão para vocês...
- Mas você segurou a taça, né, Alisson?! – Jessica falou.
- É, mas cada um tem uma função, né?! O torcedor acredito que se sente levantando a taça junto naquele momento. É o título de maior expressão na minha carreira, também já ganhei o Gauchão como capitão, levantando a taça, também foi uma emoção muito grande, que agora foi uma emoção muito forte levantar a taça da Champions. Passa um filme na minha cabeça, de tudo o que passou. Quando tu sente o gostinho de vencer, tu quer cada vez mais.
Outras perguntas vieram, perguntaram qual foi o momento mais emocionante da Champions, depois da final, Alisson disse que foi o jogo contra o Barcelona em que eles conseguiram reverter o placar e se classificar. Depois um jogador da base perguntou como foi a trajetória do Alisson na base, ele falou que entrou cedo, que o Internacional foi a base dele, que foi ali que ele foi moldado, tanto como jogador, como pessoa e lembrou de um jogo da base em uma final de campeonato contra o Grêmio que foi para pênaltis, ele defendeu um pênalti e o Muriel correu para abraçá-lo. Ele também lembrou do apoio da torcida para jogos importantes com os sinalizadores.
- Temos um presente muito especial aqui para vocês! – Jessica falou, pegando uma caixa e entregando para ele, e fiquei feliz por saber que já estava acabando. Alisson abriu a caixa, sorrindo.
- Ah, já estava querendo comprar essa camiseta. – Ele falou, abrindo a camiseta.
- Também temos presente para Helena e o novo bebê. – Ela falou, entregando uma nova caixa e eu dei um pequeno sorriso.
Para Helena era um vestidinho vermelho com o escudo do Internacional na barra e para Mini era um body vermelho com os punhos brancos, também com o escudo do time.
- Aqui tem alguns presentes, uma cuia que não pode faltar, tenizinho de bebê.
- Muito obrigado, fiquei muito feliz.
- A gente sabe que você não esquece do Inter...
- Com certeza o Inter está sempre no meu coração, mesmo longe, é bom estar aqui.
- E como foi treinar aqui? A torcida não parou de gritar seu nome nem um segundo. – Ela falou.
- É muito gratificante estar aqui dentro, aprendi muito, fui muito feliz aqui dentro, o Inter faz parte da minha história, espero um dia retornar para cá, e ainda poder chegar aqui e dar alegria para o torcedor. Tem que apoiar o time, tem que apoiar a rapaziada que está vindo.
- O que mais tu sente saudade daqui? – Ela perguntou.
- Do dia a dia, eu faço parte de um clube incrível, na Roma eu também fui muito feliz, mas eu sinto muito a falta do dia a dia, dos meus colegas, do pessoal, de todos que fizeram diferença em quem eu sou hoje, a gente passa mais tempo no clube do que em casa, é do pessoal que eu sinto mais falta.
- Muito obrigada, aqui a casa é tua, tu pode vir quando quiser, que temos o maior orgulho em te receber, torcemos muito por ti, pelo nosso orgulho colorado.
- Muito obrigado, valeu e até a próxima!
- Sucesso sempre! – Ela falou.
- Corta! – Joana falou e eu me levantei.
- Viu, amor? Já temos uma roupinha para Mini. Cadê a do seu time? – Ele provocou e eu me levantei, pegando da mão dele, observando a mesma.
- Espera a gente chegar em São Paulo. – Falei e ele riu fracamente. – Obrigada, gente, mas precisamos ir. – Falei e Joana foi desenganchar Alisson do microfone.
- Foi um prazer. – Jessica falou e cumprimentei ela novamente, Daniel e Joana.
- O prazer foi meu, é bom voltar! – Alisson falou, pegando todos seus presentes.
- Felicidades para os dois. – Daniel falou.
- Obrigada. – Sorri, acenando e seguindo para fora do estúdio novamente.
- Ah, foi legal! – Ele falou e eu sorri.
- Foi sim, agora corre se quiser pegar o ônibus. – Falei e ele riu fracamente.

- Hoje foi puxado! – Alisson falou saindo do quarto. – O que você está fazendo? – Virei para ele, deixando o copo escorregar pela minha barriga.
- Vendo se já dá para equilibrar coisas nela. – Ele riu fracamente, secando o cabelo com a toalha e a pendurou em uma cadeira.
- Ainda está cedo, amor. – Ele se sentou ao meu lado e eu coloquei a cabeça em sua coxa, vendo-o dobrar a outra perna para cima.
- É, percebi! – Ele passou a mão em meu cabelo, fazendo um carinho de leve. – Mal vejo a hora de ver o pezinho dela aqui. – Ele riu fracamente, debruçando sobre mim e dando um beijo em minha testa.
- Não queira que isso passe tão rápido. – Ele falou, acariciando minha cabeça. – Tem muita coisa para acontecer ainda. – Suspirei.
- Eu sei! – Relaxei os ombros, erguendo para cima, encontrando seus olhos.
- Todo mundo está querendo saber de nome. – Ele comentou e eu ri fracamente.
- Ah, temos ótimas opções: Edersina, Richalina, Adenora, Ivone...
- O Coutinho e o Filipe Luís sugeriram Phellipa. – Ponderei com a cabeça, me sentando com dificuldade na cama.
- Eu gosto! Acho que é a melhor opção até agora! – Ri fracamente.
- Eu gosto também, só penso se quero lembrar daqueles dois para sempre! – Gargalhei, negando com a cabeça.
- É, isso realmente é algo para se colocar na balança. – Ele riu fracamente, se levantando novamente e voltando para o banheiro.
- Eu gosto de Mini. – Falei fracamente e ele voltou com uma escova de dente na mão e encostou o corpo no batente da porta.
- Mini Becker? – Ele perguntou.
- Não sei... – Suspirei. – Mas com certeza seria Mini Becker, por favor! – Abanei a mão e ele sorriu, voltando para o banheiro.
- ! – Ouvi uma batida na porta e Alisson apareceu novamente, franzindo a testa.
- A essa hora? – Ele perguntou com a boca cheia de pasta e eu abri a porta, vendo Bianca na mesma.
- Ei, o que aconteceu? Não me diga que é treta agora.
- Não, não, nada a ver. Posso entrar?
- Claro! – Falei, dando espaço para ela. – Ei, Alisson! – Ela falou rapidamente.
- Ei! – Ele falou, pegando uma blusa e colocando.
- Lançaram a música oficial da Copa!
- Ah, agora?
- Sim! – Ela falou animada, me estendendo o celular.
- É boa?
- Hum... – Ela ponderou com a cabeça. – Mas eu não paro de cantar! – Gargalhei, dando play na música.
- Todo mundo vai vibrar com a gente, na mesma energia, vibrando o continente, estádio lotado, geral empolgado. Ô ô ô, ô ô ô. – Léo Santana começava a cantar.
- Juegan la vida, juegan los sueños y todo el mundo canta, cuando rueda el balón. Nadie se rinde y el que cae, pronto vuelve y se levanta. Por su nación, oh, oh. – A música ficava mais agitada. - Se siente la presión, oh oh y juega con pasión, oh oh. Y tiembla el corazón, oh oh y todos gritan gol, gol, gol. – Karol G cantou sua parte.
- Ô ê ô, ô ê ô
- Vibra continente, vibra com amor, oh eh oh, oh eh oh...
- Y vibra el continente, vibra con amor... – Dei pause.
- Meu Deus! – Falei, rindo fracamente. – Cadê We Are One, gente?
- Ficou na Copa de 2014! – Ela falou e eu suspirei.
- Cara, eu estou falando mal, mas eu vou ser a primeira a estar cantando isso em breve! – Alisson riu ao meu lado.
- Eu não paro de cantar “y vibra el continente, vibra con amor”. – Bianca falou e eu ri fracamente.
- Bom, se prepara para conhecer esses dois na abertura. – Falei.
- Vamos pensar no jogo de amanhã antes, que tal? – Bianca falou e eu assenti com a cabeça.
- Vamos e eu preciso descansar, hoje foi tenso.
- Achei até que já tinham ido dormir, aí ouvi suas vozes. – Ela falou.
- A mocinha aqui ficou empilhando copos na barriga. – Dei um sorriso sarcástico e Bianca riu.
- Essa é minha garota! – Abri um largo sorriso. – Vão descansar que tem jogo amanhã 10 e meia!
- Pode deixar, dona! – Bati uma continência e ela saiu do quarto.
- Que musiquinha mais... – Alisson falou e eu me sentei ao seu lado.
- Vai viciar, depois da Copa do ano passado que eu fui conhecer a música depois do final, não duvido de mais nada. – Ele riu fracamente.
- Teve música ano passado? – Puxei a coberta e me deitei ao seu lado.
- Teve! – Falei, dando um tapinha em sua barriga. – Nicky Jam, Will Smith, a russa?
- Nicky quem? – Fiz uma careta!
- Aquela que só cantava “oh oh, oh oh oh oh”... – Cantei no ritmo.
- Ah... Nossa! – Alisson falou. – Era a música oficial?
- Era! – Falei e ele levou a mão na boca.
- E aquela que tu tem de despertador?
- Ah, era outra música, mas não oficial. Eu prefiro, por sinal.
- É mais legal! – Ele falou e eu ri fracamente, virando meu corpo de lado na cama e levando minha mão para sua barriga.
- Tenta dormir, ok?! – Ele falou, dando um curto beijo em meus lábios e eu assenti com a cabeça.
- Como se fosse preciso pedir. – Suspirei.

Acordei de barriga para cima e sozinha na cama. Olhei no relógio e era quase 10 horas. Alisson já deveria ter ido para reunião pré-jogo. Nós até podemos participar dessa reunião, mas era muito chata, era motivacional para os jogadores, não para gente. Aproveitei meu tempinho de folga e fui tomar banho, passar meus cremes em minha barriga e depois desci para tomar um café da manhã.
Bianca e Lucas já estavam lá também, cumprimentei os dois e segui para o buffet pegar um pão, ovo, uma fruta para fazer uma média, além de achocolatado e um iogurte. Acho que era o suficiente para começar o dia.
- Meu Deus, , são 10 e meia! – Bianca falou e eu arregalei os olhos.
- Meu Deus! O jogo das meninas! – Falei, pegando meu prato e um dos copos e segui até o sofá em frente à televisão, apoiando o prato no colo e o copo no braço do sofá e espetei alguns pedaços de ovos, colocando na boca.
Lucas se sentou aos meus pés e Leandro logo apareceu e fez o mesmo. As meninas entraram em campo e dei um sorriso, suspirando. Tomara que elas conseguissem ir longe. Essa competição era muito importante para luta das mulheres no dia de hoje.
- Já começou o jogo? – Percebi que a reunião tinha acabado quando alguns jogadores começaram a se espalhar em volta da gente.
- Calma, ainda não! – Falei e senti um carinho na cabeça, virei para o lado e vi Alisson.
- Bom dia! – Sorri, vendo-o se debruçar para me dar um beijo.
- Bom dia! – Falei e ele segurou meu suco e se sentou no braço do sofá.
- Vai, Brasil! – Bianca gritou empolgada e Neres se assustou ao seu lado, me fazendo segurar a risada.
- A Marta vai jogar? – Richarlison perguntou.
- Não hoje, mas vamos que tem muita mulher boa nesse time! – Falei firme, batendo as mãos sozinha. – Vai, Bárbara! – Falei animada.
- Mas gosta de goleiro, hein?! – Filipe Luís falou, se jogando ao lado de Leandro e eu ri, dando um chute em suas costas, vendo-o rir com uma expressão de dor.
- Deve ter alguma coisa no gene, porque eu nunca vi! – Thiago comentou, me fazendo rir.
- Não é nada de gênero! – Ergui as mãos em defesa!
- No gene! – Thiago e Filipe gritaram juntos e eu arregalei os olhos, rindo fracamente.
- Opa! – Senti um leve tapinha em minha cabeça e eles gargalharam.
- Fiquem quietos, vai começar! – Jesus falou e Alisson me abraçou pelos ombros e ficamos em silêncio quando o hino brasileiro começou.

Pela alegria de ser domingo, o jogo seria quatro da tarde, então por volta das duas horas, saímos do hotel, com mala e cuia para seguir para São Paulo, e fomos para o estádio do Beira-Rio, aonde seria o jogo.
Como tivemos treino aberto ontem aqui, tudo já estava preparado para gente, então não teve todos aqueles protocolos para cumprir, era basicamente chegar, se trocar e ir para o campo. Os jogadores estavam naquela empolgação invejável de sempre, com batuques e pandeiros que eu nunca sabia de onde surgia.
A felicidade acabou logo quando os preparadores físicos os mandaram pararem de graça e começarem os aquecimentos no vestiário e eu e Bianca, junto de Diana, seguimos para fazer nossos trabalhos pré-jogo. Lucas e Leandro foram acompanhar o Canarinho com a torcida. Sempre usávamos o Canarinho o máximo possível nos amistosos, pois sempre boicotavam ele nos jogos oficiais.
Não era culpa nossa se as outras Seleções não tinham mascotes tão expressivos quanto o nosso.
Os jogadores seguiram para treino, voltaram, Tite e Dani deram aquelas palavras motivacionais, fizemos nossa reza e seguimos para o campo. Abracei Alisson nos cumprimentos dos jogadores e ele acariciou minha barriga, só dei uma piscadela para ele, recebendo um curto beijo em meus lábios. Ele sabia que precisava arrasar.
- Adoro você de preto! – Falei e ele riu, retribuindo a piscadela.
O adversário era pífio, Honduras, que tradição eles tinham no futebol? Mas Tite estava esperando um espetáculo, então entramos com o time titular mesmo: Alisson, Dani Alves, Marquinhos, Thiago Silva, Filipe Luís, Arthur, Casemiro, Richarlison, Coutinho, David Neres e Jesus. Era para botar para quebrar mesmo.
Me surpreendi quando saí para o campo e o estádio estava muito vazio. Aquela não era uma inspiração boa para quem estava há cinco dias de começar uma nova competição, mas quem não tem cão, caça com gato, né?! E era isso que a gente precisava fazer.
Coloquei minha barriga para jogo e me sentei no canto do banco de reservas junto de Bianca e respirei fundo, fazendo um sinal da cruz e pedindo, pelo menos, nenhuma lesão para aquele jogo, pois eu acho que estava seguro a questão da vitória.
O apito foi soado e eu levei as mãos na minha barriga, começando a monitorar a animação da Mini, ela estava calma hoje, havia se empolgado durante a vitória de três a zero das meninas mais tarde, mas eu acabei dando uma surtada, obviamente.
O Brasil teve chance de gol logo nos primeiros segundos de jogo, mas Jesus perdeu o ritmo e a bola foi tirada pela defesa. Thiago teve uns minutos depois, dando uma bela cabeceada, mas foi para fora. O primeiro gol veio aos seis minutos, Richarlison fez o passe para Dani Alves, Dani passou para Jesus e o mesmo cabeceou, mandando para dentro do gol. O VAR interviu, mas o gol foi validado. Um a zero.
Sete minutos depois veio o segundo, Coutinho cobrou o escanteio, Thiago meteu uma cabeça e gol, mais fácil que tirar doce de criança. A pouca plateia comemorava nos gols, eu tinha que me manter animada em caso de câmeras, mas não dava nem para ficar nervoso com o ataque só do nosso lado. Deveria ter dado umas revistas para Alisson se distrair.
Aos 19 minutos quase foi outro, Coutinho deu uma daquelas suas bombas rasteiras, mas faltou calcular um pouquinho para o lado direito. Alguns minutos depois, Casemiro já deixou sua marca levando um cartão amarelo e um hondurenho ganhou um vermelho por uma entrada perigosa.
Aos 32 minutos meu coração gelou. Arthur ganhou um carrinho e foi atropelado por um hondurenho. Eu e Bianca nos entreolhamos e eu só abaixei a cabeça. De novo não. O Arthur não. Rodrigo entrou para checar e ele não chegou a sair de maca, mas ele subiu no carrinho para não ter que andar até fora do campo.
- Eu vou dessa vez. – Bianca falou se levantando e eu suspirei.
- O Arthur não, gente, pelo amor. – Respirei fundo.
O jogo seguiu com Allan entrando no lugar dele e dois minutos depois Richarlison caiu dentro da área e deram um pênalti para gente, o que foi até surpreendente, lembra que nunca davam e validavam nada na Copa? A Mini deve estar dando sorte de alguma forma.
Coutinho fez a cobrança e, apesar do goleiro ter pulado para o mesmo lado, Coutinho jogou para cima e o cara se jogou no chão. Três a zero. Um quatro a zero quase chegou de novo, mas estourou na trave. De novo quis vir, mas Jesus bateu nas mãos do goleiro. Novamente Coutinho tentou, mas estourou na trave, já tinham sido vários lances em dois minutos, imagina se tudo que eles estavam jogando entrasse? Seria um banho de sangue.
O primeiro tempo acabou assim e eu fui uma das primeiras a me levantar, para checar como Arthur estava. Cheguei no vestiário e tudo parecia incrivelmente calmo. Ele estava com gelo na parte inferior da perna e muito confortável assistindo ao jogo.
- Ei, como está? – Perguntei.
- Está tudo bem. – Ele falou.
- Talvez ele perca a estreia, mas não é nada grave. – Rodrigo falou piscando para mim e eu assenti com a cabeça.
- Bom mesmo, garoto, preciso de você. – Abracei-o de lado e ele sorriu.
- Apesar de você encher o saco, a gente precisa de você. – Alisson apareceu atrás de mim e eu ri fracamente.
- Ei, você está jogando? – Perguntei e ele riu fracamente, passando o braço pelo meu pescoço e me puxando para beijar minha testa.
- Em partes, né?!
- Quer umas revistas para se distrair?
- Engraçadinha! – Sorri e o empurrei em direção a Tite para passar mais instruções.

O segundo tempo começou com substituições, Casemiro e Marquinhos saíram, entrou Fernandinho e Militão. E também com um gol, a bola mal tinha saído do centro e Jesus já recebeu um passe de Richarlison e mandou para o centro do gol, deixando eu, o goleiro e muita gente perdidos.
10 minutos depois, Neres deu uma de fominha e fez a driblagem em toda defesa de Honduras e quando eu achei que ele ia passar a bola para alguém, ele jogou para dentro do gol e entrou, cara! Foi bonito de se ver!
Firmino tentou um aos 16 minutos, mas o goleiro não estava a fim de levar mais nada, então fez a defesa e espalmou a bola para fora. Isso durou três minutos, Firmino chegou novamente, deu um chutinho de nada e a bola entrou, já eram seis a zero para gente, os gritos nem eram tão mais altos e a própria equipe estava de boas já no banco dos reservas.
Everton entrou no meio do segundo tempo com uma substituição e ainda colaborou com um gol de Richarlison. Ele fez o passe de fora da pequena área e o pombo fez o dele na noite. Depois, ainda para fechar a tarde, Fernandinho deu um puta chute em direção ao gol, mas o goleiro defendeu. Neres pegou o rebote e chutou, mas ele precisou desviar do goleiro e a bola foi para fora.
O jogo finalizou só em sete a zero, acho que estava bom para um aquecimento, pena que Honduras havia levado bomba atrás de bomba e eu estava com dó deles, não era um competidor à altura, aquilo era esperado, mas eles pareciam felizes só de competir com o Brasil, não sei o que a gente tinha, mas era até que legal.
Voltei para o vestiário junto dos jogadores e abracei Alisson quando saímos da mira das câmeras da imprensa e dei um rápido beijo em sua bochecha, sentindo-o me apertar ainda com as luvas de goleiro.
- Vamos juntar, galera. Vamos nos juntar! – Tite falou começando a formar uma roda antes dos jogadores se arrumarem e seguir para banho e afins. Abracei Alisson pela cintura e abri a roda, abraçando Bianca do meu outro lado. - Bom, gente! Agora é para valer, o ensaio finalmente acabou e agora começamos de novo mais uma competição com vocês. – Tite falou. – Estou empolgado, nervoso também, mas estou confiante que dessa vez pode ser diferente. Estou confiante que estamos todos diferentes da outra vez e que muito foi aprendido nesse meio tempo. – Assenti com a cabeça. – Quero falar para vocês se manterem confiantes que dessa vez pode ser diferente. Temos jogadores novos, jogadores velhos, pessoas que poderiam estar aqui, pessoas que não deveriam estar aqui. – Ele olhou para minha barriga e eu franzi a testa, vendo eles rirem. – Mas estamos todos unidos para trazer esse título para gente. Faz tempo que não ganhamos uma Copa América, então, para ajudar, ainda tem a pressão nas nossas costas, mas também sabemos que em casa o papo é outro. – Suspirei, querendo comentar que foi bem diferente no sete a um, mas sabia que ele estava falando de nós sempre ganharmos a Copa América em casa. – A partir de amanhã, quero que vocês acordem com a mentalidade de Copa América, de vencedores, tem muita coisa para acontecer aqui ainda, mas faremos de tudo para fazer a Mini já nascer campeã. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
- Façam isso por vocês antes, ela vai ter muita oportunidade de ver vocês ganhando. – Falei e os meninos retribuíram sorrisos.
- É assim que se fala! – Tite falou. – Dani!
- A preparação acabou, gente, agora precisamos dar continuidade nisso aí, manter o nível lá em cima, independente de quem joga, esse é o espírito, essa é a nossa fortaleza. Parabéns a todos, que continuem assim e vamos botar para quebrar! – Dani Alves falou e assenti com a cabeça, aplaudindo animado, eu e Alisson nos separamos dos outros e nos abraçamos.
- Pronta para encarar mais uma ao meu lado? – Ele perguntou, olhando em meus olhos.
- Com certeza! – Sorri, abraçando-o pela cintura. – Mas dessa vez vai ser muito diferente. – Ri fracamente.
- Por que você diz isso?
- Porque nós estamos diferentes, amor, da última vez não tinha um relacionamento sólido, não tinha uma criança no meio do caminho, não tinha planos e incertezas para o futuro, era só eu, você e muita provocação.
- Hum, acho que estou com saudades das provocações. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Quem sabe a gente não lembra um pouco delas? – Brinquei e ele mordeu meu lábio inferior, emendando um beijo.


Capítulo 18 – A Copa América finalmente começou!

- Deixa comigo! – Alisson falou, pegando a mala de minha mão e eu neguei com a cabeça, subindo as escadas que davam para o avião e senti a claridade incomodar meus olhos.
- Boa noite. – O comissário de bordo falou para mim e eu sorri.
- Boa noite. – Repeti e vi as poltronas da primeira fileira livres e já me tratei de colocar minha mochila em uma delas, fazendo bom uso do “assento preferencial”.
Alisson subiu logo atrás com as duas malas e eu coloquei a mochila no bagageiro acima de nossas cabeças e sentei na poltrona da janela. Ele colocou nossas duas malas no mesmo lugar e se sentou ao meu lado. Fechei meu casaco e afivelei o cinto, olhando para a noite lá fora.
- Está tudo bem? – Ele perguntou, colocando a mão em cima da minha no braço da poltrona e eu virei para ele, assentindo com a cabeça.
- Sim, está! – Sorri. – Mal vejo a hora disso começar. – Ele sorriu, dando um beijo na lateral da minha cabeça e eu tombei a cabeça até encostar em seu ombro.
- Eu estou pensando muito na Rússia, sabia? – Ele falou e eu sorri.
- Muita coisa mudou, não é mesmo? – Ele entrelaçou nossos dedos.
- Sim, mas para melhor. Lembra quando voltamos da República Tcheca e tínhamos brigado por causa do bebê e tal?
- Como eu poderia esquecer? – Falei.
- Eu fui contar para meus pais da gravidez e eu acabei fazendo um apanhado de tudo o que vivemos naquela época, de todos os motivos que fizeram eu me apaixonar por você. – Ergui a cabeça, olhando para ele. – E foi isso que fez eu me acalmar sobre o que faremos quanto a Mini. – Dei um pequeno sorriso. – Nos conhecemos e nos apaixonamos em meio à turbulência, por que ter um bebê seria diferente? É por essa inconstância que eu sou apaixonado por você. – Ele levou a mão livre até meu rosto.
- Você é um amor, um anjo que apareceu na minha vida. – Ele riu fracamente, tocando meu queixo com a ponta dos dedos e colou nossos lábios levemente.
- Vocês são! – Ele disse. – E agora estamos aqui, um ano depois, com as mesmas incertezas que tivemos lá atrás, mas eu sei que tudo vai ficar bem. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Por mais que eu esteja louca para saber como faremos isso, procurando incansavelmente opiniões e respostas de qualquer pessoa possível, eu acho que não seríamos nós sem isso tudo. – Ele negou com a cabeça.
- Com certeza não, mas eu sei que daremos um jeito, pois estamos dando jeitos e pulos há um ano. – Suspirei, dando uma piscadela.
- Quase um ano.
- Quase! – Ele disse, me fazendo rir. Ele passou um braço pelos meus ombros e eu me aninhei em seu ombro novamente.
- Vocês são muito fofos, sabiam?! – Ergui o rosto, vendo Fernandinho debruçado em nossas poltronas. – Nem parece que temos aqui uma esquentadinha e o cara mais sério que eu já vi na vida. – Ele falou e eu e Alisson nos entreolhamos.
- Te enxerga, Fernandinho! – Alisson falou e nós três rimos.
- Também não elogio mais. – Ele falou, se sentando novamente.
- Estou empolgada por essa competição. – Falei.
- Da mesma forma que estava com a outra? – Alisson perguntou e eu ri fracamente.
- Tivemos um pequeno desvio de percurso na outra, tá?! – Ele sorriu. – Mas tem uma pressão gigantesca em cima de vocês, da gente, e você sabe disso, certo?
- Sei sim, a gente tenta ignorar, mas é impossível. – Assenti com a cabeça. - Precisamos ganhar isso.
- Principalmente para manter a sequência de vitórias de Copas Américas no Brasil.
- Muita coisa aconteceu nesse um ano que passou, eu me sinto mais preparado agora. – Virei para ele, afastando o rosto um pouco do seu.
- Se eu te achava top há um ano, imagina agora. – Franzi os lábios e o mesmo riu. – Segura o monstro!
- Tonta! – Ele bagunçou meus cabelos e eu ri fracamente, bocejando em seguida.
- Me acorde quando chegarmos, ok?! A Mini precisa dormir.
- A Mini? Acho que é a Big, né?! – Dei a língua para ele, vendo-o rir. – Dorme, meu amor, logo a gente chega. – Passei o braço pelo seu, entrelaçando e apoiei a cabeça na sua, fechando os olhos antes mesmo do avião começar a se movimentar.

Pousamos no aeroporto de Guarulhos pouco depois das 11 da noite e pegamos o ônibus em direção ao hotel Pullman Ibirapuera. Alisson estava meio sonâmbulo ao meu lado, então tombou em meu ombro durante o longo percurso, eu peguei meu celular e fui mandar mensagem para algumas amigas que eu poderia encontrar aqui.
“Galera, estou em São Paulo. Alguma chance de alguma de vocês estarem aqui? Lembro que a maioria tinha vindo para cá.” – Enviei para meu antigo time.
“Fala aí, garota! Eu estou trabalhando aqui, será que dá para se encontrar?” – Marina foi a primeira a responder.
“Cheguei hoje à noite, fui visitar uns parentes no Rio.” – Laura respondeu em seguida.
“Se a gente conseguir se encontrar, seria sensacional”.
“A famosa do time apareceu, hein?! Como você tá, poderosa? E esse bebê?”
– Alice respondeu e eu ri fracamente.
“Tudo bem por aqui, amém, mas com saudades das minhas meninas”. – Respondi.
“Estou morando em Poços de Caldas agora, fazendo uma outra faculdade, mas já fechei tudo, se combinarem algo, eu vou para SP hoje mesmo”. – Gabriela mandou.
“Só a Gabi para entrar de férias cedo”. – Sofia apareceu. – “Estou em SP, gente, abri uma confeitaria aqui”.
“Ah, não fala dos seus doces, Sofi, eu estou grávida”.
– Enviei e elas mandaram várias risadas.
“Estou em Campinas, chego aí em uma hora e meia, se for preciso”. – Lara apareceu.
“Eu estou em Juiz de Fora e trabalhando, mas meu chefe está me devendo umas horas”. – Camila disse.
As meninas foram surgindo, algumas falando que estavam perto, outras que estavam longe, algumas falando que estavam ocupadas, ou trabalhando, outras mais livres e até desempregadas e quando contei, vi que estávamos em 13 meninas.
“Será que rola um encontro das Focas do Laço Azul?” – Alice perguntou.
“Confesso que estou com saudades do meu time!” – Falei, mandando vários corações em seguida.
“Será que rola um encontro com a Seleção Brasileira?” – Amanda mandou e eu dei um pequeno sorriso.
“Você leu meus pensamentos”. – Cecília mandou.
“Será que é possível, ?” – Lara perguntou.
“Acho que sim, mas teria que ser amanhã, na terça já começa o negócio sério. Fica meio complicado”. – Respondi.
“Me dá até quatro da tarde que eu chego aí”. – Camila falou.
“Só me falar que eu saio daqui agora”. – Alice disse.
“Eu topo!” – Marina mandou.
“Eu não perco isso por nada”. – Yasmin mandou.
“Mandem muitas fotos”. – Júlia, uma das colegas que morava em Belo Horizonte, respondeu.
“Isso é sério? Vocês topam? Temos menos de 24 horas”. – Perguntei e aguardei.
“Sim”.
“Com certeza”
“Partiu fazer malas”.
Quando percebi, tinha 12 respostas positivas e eu senti meus olhos se encherem de lágrimas. Anos haviam passado e elas ainda davam um jeito. Claro que parte era a chance de conhecer a Seleção Brasileira, mas era bom demais.
“Vou checar aqui com Tite e mando confirmação de local. Tragam seus antigos materiais”.
“Hora de tirar a poeira da chuteira, minha gente!”
– Lara mandou e eu ri fracamente.
Olhei para o lado e Alisson tinha os olhos fechados, virei para o lado, encontrando Tite e Edu no banco ao lado do nosso e debrucei no mesmo, vendo que ambos estavam atentos em seus notebooks.
- Tite! – O chamei cochichando.
- Diga, meu amor! – Ele falou.
- Será que é possível minhas antigas amigas da faculdade encontrarem a gente no treino amanhã e conhecer os meninos? – Perguntei.
- Suas antigas amigas seria seu time?
- Elas mesmo. – Sorri.
- É possível! – Um sorriso apareceu da luz do notebook. – Pode ser depois das cinco? Precisamos fazer um regenerativo.
- Claro! – Abri um largo sorriso, voltando a me ajeitar na poltrona e peguei o celular de novo.
“Combinado, gente! 17h no Pacaembu, me passem nomes e RG para eu colocar na lista”. – Enviei, bloqueando o celular de novo.
- Vai se encontrar com suas amigas? – Ouvi a voz de Alisson e virei para ele, vendo-o coçar os olhos.
- Não, meu amor, eu vou encontrar meu time. – Abri um largo sorriso.
- Mentira! – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Não, é sério! – Suspirei, relaxando os ombros.
- Faz quanto tempo que vocês não se veem?
- Desde 2016, fomos para os Jogos Universitários, mesmo já formadas, porque 80 por cento do time se formou no ano anterior. – Ele riu fracamente.
- Depois disso?
- A gente se afastou, muitas saíram do Rio. Muitas nem eram do Rio, na verdade, tanto que mandei mensagem aqui em São Paulo. – Ele assentiu com a cabeça.
- Vai ser legal! – Sorri.
- Vai sim.
Chegamos ao hotel quase uma hora depois, desvantagens da cidade grande. Tinha uma pequena recepção para eles com alguns torcedores e algumas câmeras da imprensa. Nos dividimos em quartos, fiquei feliz por ser quartos duplos e falei para Alisson subir antes, pois iria assaltar alguma coisa do restaurante.
Já tínhamos jantado em Porto Alegre, mas eu estava carregando dois e essa menina era draguinha igual à mãe, então peguei uma salada de frutas, para tentar ser a light, mas enchi de leite condensado, peguei um suco de caixinha e alguns pacotes de industrializados como amendoim e salgadinhos e subi novamente.
- Ei, era minha vez! – Falei para Alisson, colocando a cabeça para dentro do banheiro.
- Eu não ia deitar sujo na cama, né?!
- Você tomou banho depois do jogo! – Falei e ele riu.
- Entra aqui também! – Ele falou, limpando o vidro embaçado e eu ponderei com a cabeça.
Me livrei das minhas roupas no quarto, jogando-as na cama e fui para o banheiro, encostando a porta do cômodo atrás de mim. Abri a porta do box e entrei na mesma, encontrando Alison com um sorriso no rosto.
- Finalmente a sós! – Ele falou e eu ri fracamente, passando os braços pelos seus ombros.
Ele levou as mãos até a lateral da minha barriga, colando nossos corpos e senti meu colo começar a ser molhado pelo chuveiro quente. Sua boca encontrou a dobra do meu pescoço e eu fechei os olhos, suspirando.
Ergui meu rosto, deixando a boca entreaberta com a água que me cegava e colei nossos lábios, apertando meu corpo contra o seu. Soltei um suspiro, nos afastando rapidamente e sua mão subiu para meu pescoço, me fazendo suspirar. Dei uma leve mordida em seu lábio inferior e ele alargou seu sorriso, desviando seu rosto do jato de água.
- Sexo tá liberado, né? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Sim, está! – Falei sorrindo e ele deu um sorriso safado, segurando minha mão na lateral do corpo, me pressionou no box e colou meus lábios novamente.

A manhã do dia seguinte começou devagar, Arthur foi para o hospital fazer alguns exames para saber melhor a extensão da lesão e o resto da equipe ficou na preguiça até duas horas, quando seguimos para o estádio do Pacaembu. O tempo estava passando devagar para mim, eu estava empolgada em encontrar minhas amigas, fazia anos que eu não as via, tirando nas redes sociais e, apesar de não sermos sempre amigas, cada uma ser de um curso, cada uma ter seus outros amigos, quando juntávamos em um time, era como se nos completássemos, tanto que passei meus últimos dias de faculdade com elas, pela proximidade que tínhamos criado.
Assim que chegamos ao Pacaembu, o tempo estava favorável, pois pela primeira vez, estávamos só nós ali, sem imprensa, sem equipe do CT, só nós. Afinal, nem era para estarmos treinando hoje, mas Tite quis adiantar um pouco os serviços.
Alguns jogadores foram para a academia fazer um regenerativo e para fisioterapia fazer massagens e relaxamentos, outros foram para campo fazer treinos táticos e um pouco de treino com bola, começando leve com alguns bobinhos e tal, até finalmente fazer um jogo. Arthur fez alguns treinos laterais, mas nada muito extenso, ele parecia bem, mas ninguém queria boicotar.
Eu e Bianca tivemos o dia de folga, praticamente. A Copa América tinha começado para gente, mas não para imprensa, tanto que não teríamos coletiva hoje, então estávamos muito de boa, somente realmente acompanhando o treino e eu esperava as horas passarem para encontrar minhas amigas.
Pouco depois das cinco horas, recebi uma mensagem.
“Estamos aqui”. – Cecília mandou e eu me levantei rapidamente.
- Elas chegaram! – Falei animada e um tanto alto demais.
- Segura a emoção, dona! O Marcos as traz para dentro. – Bianca falou e eu andei pela extensão do banco dos reservas, onde estávamos e parei na frente do túnel.
- Elas chegaram? – Tite desviou o treino para me perguntar.
- Sim! – Falei sorrindo.
- Agora o bicho vai pegar! – Ri fracamente, dando uma piscadela.
Virei o rosto para o campo dos goleiros, percebendo que Alisson me encarava e ergui o polegar para ele, esperando que ele entendesse o que eu queria dizer, quando ouvi um grito animado. Ou melhor, vários gritos animados.
- Olha o que a maré trouxe de volta! – Reconheci a voz de Sofia e as meninas correram em minha direção, jogando mochilas no chão e me abraçando fortemente.
- Ah, meninas! – Falei depois que elas se soltaram, abraçando uma por uma.
- Não acredito que você está grávida! – Marina foi a primeira a falar, me fazendo rir fracamente.
- Nem vem que Alice já tem dois! – Falei, ouvindo-as rir, abraçando Laura, depois Alice, depois Gabriela.
- Mas você quem dizia que não queria ter filhos tão cedo e blá, blá, blá. – Lara falou quando eu abracei, me fazendo rir fracamente e segui para Camila, Yasmin, Amanda e Cecília.
- Bom, com um bom partido igual o dela, até eu! – Cecília falou e eu dei um tapinha em seu ombro.
- Pior que não foi planejado, gente, foi sorte ou azar, sei lá. – Elas riram.
- Nem vem que foi sorte, eu vejo seus stories, você está toda feliz. – Yasmin falou.
- Agora eu estou feliz, mas já surtei o suficiente. – Sofia me abraçou de lado.
- Que saudades de você, garota. – Sorri, abraçando-a de lado.
- Eu também, gente, passou tanto tempo, aconteceu tanta coisa. – Suspirei.
- E que coisa, hein?! Não acredito que você conseguiu esse emprego dos sonhos. – Amanda falou e eu ergui minha blusa com o escudo da CBF, vendo-as rirem.
- Eu posso fingir que falar que não e tal, mas eu estaria mentindo. – Falei.
- Ela é quem mais se diverte. – Ouvi uma voz atrás de mim e vi Tite parado ao nosso lado.
- Oh, meu Deus! – Algumas falaram e eu dei dois passos em direção ao Tite.
- Gente, esse é o Tite. – Falei. – Tite, essas são as Focas do Laço Azul. – Todas sorriram, acenando para ele. – Cadê a Lívia e a Marília? – Perguntei, notando a falta delas.
- A Lívia não conseguiu folgar do trabalho e a Marília tinha defesa do mestrado. – Gabriela falou e eu fiz uma careta.
- Eita!
- É um prazer conhecê-las, meninas. – Tite falou, dando a mão para cada uma delas.
- Oi, oi! – Edu apareceu com Cléber.
- Edu, chefe de delegação e Cléber, preparador físico. – Falei para elas, apresentando.
- Seu time, ? – Cléber perguntou.
- Meu time! – Sorri, sentindo Alice me abraçando de lado.
- Temos mais cinco minutos de jogo e logo eu libero vocês de irem para o campo e falar com os meninos. – Cléber falou e eu sorri.
- Vem conhecer minha equipe, enquanto isso. – Falei, chamando-as com a mão e seguimos pela lateral do campo e Bianca e Lucas se levantaram rapidamente. – Gente, esses são Bianca, Lucas, Leandro, Vinícius, Anna e Diana, minha equipe de comunicação.
- Oi! – Elas falaram, se cumprimentando rapidamente.
- Marina, Laura, Alice, Gabriela, Sofia, Lara, Camila, Yasmin, Amanda e Cecília. – Falei rapidamente.
- Vocês são famosas, sabia? – Lucas falou e elas riram.
- O que tanto ela falou da gente? – Laura perguntou.
- Que vocês eram sensacionais, menos vazadas e...
- Vixi! – Amanda falou, nos fazendo rir.
- Vocês têm o melhor emprego do mundo. – Marina falou. – É assim sempre? – Ela perguntou para mim.
- Durante competições sim, coletivas, reuniões, mas muito treino, agora em tempos normais, nós ficamos de olho em outras competições também, aí a cada dois meses tem dois amistosos em 10 dias, e é isso de novo. – Sorri. – Confesso que é meu momento favorito. – Suspirei.
- Nem imagino o porquê. – Camila falou ao meu lado e eu sorri.
- E você e o Alisson se veem só nesses momentos? – Lara perguntou.
- Sim, tive folga no fim do ano, então fui visitá-lo em Liverpool e tive um mês de férias antes da Copa América logo que descobri que estava grávida, damos nossos jeitos. – Sorri.
Ouvi o apito triplo e percebi que Tite havia encerrado o jogo e os jogadores se dispersavam para se hidratar e relaxar um pouco.
- Vem! – Falei, chamando-as com a mão.
- Que vergonha, gente! – Amanda falou.
- Vergonha nada, olha que honra! – Lara falou, nos fazendo rir.
- Ei, , tá de companhia hoje! – Filipe Luís foi o primeiro a falar e Alisson apareceu ao meu lado, me abraçando pela cintura.
- Galera, esse é meu time da faculdade! – Falei, apontando para as meninas.
- Mentira! – Thiago falou. – As Focas?
- As Focas do Laço Azul! – Nós 11 falamos juntas, surpresas por isso ainda funcionar.
- Ah ê! – Miranda falou e eu ri fracamente.
- Qual o nome das senhoritas? – Dani Alves perguntou.
- O senhorito é comprometido, não vamos esquecer! – Falei e ele riu fracamente.
- Verdade, você pegou o último solteiro do bando! – Coutinho falou, fazendo todo mundo rir.
- Ei, ainda estou solteiro! – Jesus falou.
- Ih! – Falamos em coro, deixando-o envergonhado.
- Acho que eu não preciso fazer apresentações do lado de cá, né?! – Falei sobre a seleção.
- Conhecemos todos, mas nenhum como seus amigos... Ou namorado. – Camila falou.
- O Alisson é o último que importa. – Falei sobre ele. – Os outros são...
- Ah lá, vai começar! – Ederson falou, me fazendo rir.
- Cuida da nossa garota, hein, Alisson? – Laura falou, cumprimentando-o com um aperto de mão.
- Então, vocês vieram para nos conhecer ou vieram jogar? – Marquinhos perguntou e todos, dos dois times, viramos para Tite.
- Isso é sério? – Ele perguntou.
- Meninas? – Virei para elas.
- Eu acho que não pego em uma bola faz três anos, mas é igual a andar de bicicleta, né?! – Yasmin falou.
- Eu não nego um desafio. – Laura falou e rimos.
- Eles provavelmente vão dar um pau na gente, mas eu topo. – Camila falou.
- Bem, somos em 11. Escolha seu time, Tite. – Falei.
- Espera, você vai jogar? – Alisson perguntou.
- Se ela não for jogar, complica, só tem ela de goleira aqui. – Sofia falou.
- Será que é indicado, amor? – Ele falou.
- Amor, é meu time, eu não posso perder a oportunidade. – Falei, suspirando, acariciando seu rosto.
- A gente faz uma cinta para evitar impacto. – Rodrigo falou e eu sorri.
- Eu não gosto disso, mas confesso que estou curioso. – Alisson falou, me fazendo rir.
- Evitem a barriga, ok?! – Falei, vendo-os rir. – Vai, Tite, quem é seu time? – Perguntei.
- Alisson, Dani, Marquinhos, Thiago, Filipe Luís, Fernandinho, Casemiro, Richarlison, Coutinho, Neres e Firmino. – Ele falou e eu dei um sorriso.
- Os titulares para cima da gente? – Perguntei e ele piscou.
- De igual para igual. – Ele falou e eu suspirei.
- Tudo bem, a Mini está com a gente! – Falei, vendo minhas meninas rirem.
- Vocês trouxeram roupas? Precisam de materiais? – Cléber perguntou.
- Relaxa, viemos preparadas! – Sofia falou e eu franzi a testa. – Nos deem uns 15 minutos, por favor.
- Claro! – Os jogadores falaram e segui com Sofia e as outras meninas.
- Eu encontrei nossos uniformes antigos e todas as nossas tralhas no quartinho da minha mãe, viemos prontas. – Camila falou e eu abri um largo sorriso.
- Vamos lá no vestiário. – Falei, vendo-as pegarem as mochilas no chão e seguimos para dentro.

- Essa é sua! – Lara me estendeu uma mochila e eu apoiei na mesa principal.
Abri a mochila azul do time e puxei de lá meu uniforme azul, a blusa regata estilo masculino azul claro, com listras azuis escuras e nosso escudo com uma foca agressiva e uma fita azul presa na cabeça, fazendo um muque. Depois tirei os dois shorts, o de segunda pele e o larguinho que era conjunto do uniforme.
- Isso não serve mais em mim! – Falei e elas riram.
- Serve sim. – Marina disse.
Continuei olhando dentro da mochila e puxei uma nécessaire com alguns produtos de higiene ainda, puxei minhas luvas de goleiro já sujas, mas ainda inteiras, me fazendo suspirar e, por último, puxei minhas chuteiras cor de rosa pink da Adidas.
- Gente! – Falei emocionada, levando a mão ao peito. – Não acredito que isso estava aqui.
- Minha mãe falou que a gente largou isso no porta-malas dela depois de um jogo e ela guardou, achou que fôssemos precisar.
- Manda um beijo para ela. – Falei para Camila e a mesma assentiu com a cabeça.
- Bom, vamos nos trocar, né?! – Falei, rindo fracamente.
Fiquei feliz por encontrar um top de ginástica ali dentro, vesti o mesmo e, apesar de eu achar que não, a blusa caiu como uma luva para mim, uma luva um pouco apertada e que poderia estourar a qualquer momento, mas coube! Depois de me enfaixar inteira, como Rodrigo me instruiu.
Calcei minhas chuteiras, feliz por meu pé entrar dentro delas e amarrei fortemente, como se eu fizesse isso todos os dias pelos últimos anos. Antes de colocar minhas luvas, eu refiz meu rabo de cavalo, amarrando-o fortemente e alto e colocando a nossa faixa azul na cabeça como se fosse o Rambo e, por fim, coloquei as luvas.
- Eu quero muitas fotos desse momento. – Yasmin falou animada.
- Relaxa, vamos ter fotógrafos profissionais. – Falei, vendo-as rirem.
- Fotógrafos que vão registrar todos nossos micos. – Gabriela falou.
- Qual é, gente, éramos boas. – Amanda falou.
- Boas para jogos universitários, não boas para competir com a Seleção Brasileira. – Cecília falou.
- Mas que experiência que não vai ser, hein?! – Falei e elas sorriram. – Vamos nos unir. – Falei e todas se juntaram em roda, se abraçando pelos ombros. – Primeiro de tudo eu quero agradecer pelo esforço que vocês fizeram em virem aqui hoje, nem em sonhos eu pensaria que as Focas se uniriam novamente.
- É! – Elas falaram animadas.
- Apesar de isso ser uma brincadeira e, mesmo se eles pegarem leve, a gente vai perder, eu quero que vocês deem tudo de si, que esse jogo seja como uma final para gente. Esse é meu trabalho, mas sempre falei dessa experiência na minha vida, então vamos mostrar para eles do que somos capazes.
- Sim! – Elas falaram animadas.
- Estamos fora de forma, eu estou grávida, não vai ser como era, mas vamos nos divertir, ok?!
- Vamos! – Falei e esticamos nossas mãos para dentro do círculo, colocando uma em cima da outra.
- Quem somos? – Gritei.
- Focas do Laço Azul! – Gritamos juntas, erguendo as mãos e nos separamos.
- Tem um último detalhe, . – Sofia falou e vi a braçadeira de capitã na sua mão. – Isso te pertence! – Ela veio até meu braço, colocando-a e amarrando-a. – Algumas coisas nunca mudam. – Sorri.
- Não mesmo. – Falei.
Seguimos para fora do vestiário dos meninos, deixando nossa bagunça no banheiro e seguimos pelos corredores abraçadas de duas em duas ou de três em três. Nos colocamos em formação: eu, Lara, Alice, Yasmin, Cecília, Laura, Sofia, Gabriela, Camila e Amanda. Goleira, defesa, meias e atacantes.
Seguimos para dentro do campo, vendo Lucas animado, tirando várias fotos e Vinícius filmando. Os jogadores nos olharam quando entramos no campo e nos colocamos lado a lado dentro do campo, encarando os jogadores largados no chão ou encostados nas arquibancadas.
- Cara! – Ederson falou rindo.
- Você está incrível. – Alisson falou e eu pisquei para ele.
- Mal consigo respirar, mas tá valendo. – Eles riram.
- Que arraso. – Taffarel falou e eu sorri.
- Focas versos Canarinho? – Jesus falou e eu dei de ombros.
- Agora botei moral. – Filipe Luís falou e eu pisquei para ele.
- Dois tempos de meia hora? – Tite perguntou.
- Eu morro antes do final do primeiro tempo. – Falei, vendo-os rir.
- Dois de 20. – Sofia falou. – Depois a gente vê.
- Fechado! – Dani Alves falou. – Campo ou bola, capitã? – Ele olhou para mim.
- Campo, sul. – Falei e ele sorriu.
- Arrasa! – Alisson falou e eu bati minhas mãos de luvas na dele, abraçando-o rapidamente. – A noite vai ser longa. – Ele sussurrou contra meu ouvido e eu ri fracamente.
Corri em direção ao meu campo, fazendo alguns alongamentos no meio do caminho e vi Taffarel, Ederson, Cássio, Fabio e Rodrigo se posicionarem atrás do meu gol. Eles com certeza estavam ali em caso de problemas comigo ou o bebê. Levei minhas mãos à minha barriga, sentindo que Mini estava calma e respirei fundo.
- Não me assusta, ok, meu amor? – Falei para ela, respirando fundo. – Vou tentar pegar leve.
Olhei para frente, vendo os dois times montados e virei para Tite que repassava os olhos pelo campo. Ele ergueu o apito, colocou na boca e o apitou, fazendo Coutinho sair com a bola.
Nós estávamos melhores do que a encomenda. Bom, as meninas da linha, não eu. Quando a primeira bola passou pela minha defesa, eu praticamente corri da mesma, preocupada com Mini. Isso causou várias risadas vindas atrás de mim.
- Assim não dá, ! – Taffa falou e eu ri, jogando a bola de volta para o centro do campo.
- Calma! Estou pegando o jeito. – Falei.
- Você está bem? – Yasmin perguntou.
- Sim, vamos lá! – Bati as mãos uma com a outra, ouvindo o som abafado das luvas.
O jogo se seguiu e por sorte, ou boa ação do time adversário, Amanda, Gabriela e Camila conseguiram dar uma driblada em Marquinhos e Thiago e fizeram um chute. Pena que meu namorado estava no outro gol e agarrou a bola com as mãos acima da cabeça.
O contra-ataque veio e eu pousei as duas mãos na barriga, sentindo Mini começar a dar sinais, fiz uma carícia na mesma levemente e respirei fundo. Neres e Richarlison vieram em minha direção e aquele lugar escuro do corpo fechou, gente. O bicho era pesado. Neres tentou me driblar, mas eu fingi que não tivesse Mini e dei uma de Alisson, indo em direção à bola. Ao invés de ir de barriga, eu fui de rasteira, chutando a bola para fora e caindo de bunda no chão. Neres tropeçou na minha perna e se jogou para o outro lado. A bola já estava nos pés de Sofia.
- É! Isso aí, garota! – Ederson gritou e Neres me esticou a mão.
- Bem? – Me levantei.
- Obrigada! – Passei as mãos na bunda, caso tivesse grama, e voltei para minha posição.
Várias tentativas de ataque das minhas meninas acabavam não passando do meio de campo, então a bola voltava e eu tinha me preparar para o contra-ataque. Dessa forma, levei mais dois gols. Eles perceberam que eu estava mais confortável com o corpo e começaram a parar de me tratar como café com leite.
No final do primeiro tempo, foi a vez de Alisson dar uma bobeada. Cecília era muito boa em drible, mas ela dava umas derrapadas e conseguia encontrar a bola novamente, e ela ainda conseguia. Alisson foi para cima dela, tentando parar a bola, a mesma deslizou o corpo no chão, dando um toquinho para Camila que jogou para dentro do gol.
- Gol! – Gritei animada, pulando sozinha e Yasmin veio me abraçar animada. - Ela está mexendo! – Falei, sentindo Mini se mexer e Yasmin colocou as mãos na minha barriga, sorrindo.
- Ela está empolgada! – Ela falou e eu sorri.
O jogo seguiu, mas sem acréscimo, Tite apitou o fim do primeiro tempo.
- Está tudo bem? – Rodrigo foi o primeiro a aparecer ao meu lado com um squeeze e eu assenti com a cabeça.
- Tudo bem, ela está se mexendo igual normalmente, nada de surpresas! – Falei e segui em direção ao banco de reservas, Alisson veio em minha direção.
- Como você está? – Ele perguntou e eu suspirei, sentindo-o me abraçar pela cintura e dar um beijo em minha bochecha.
- Bem! – Falei, sorrindo.
- Não acredito que eu fiz um gol em você! – Camila comentou e rimos fracamente.
- Boa tática! – Ele falou para Cecília que sorriu.
- Anos e anos tentando trollar meu irmão. – Ela falou e sorrimos.
- Estou gostando de ver. – Tite falou. – Estou surpreso, confesso.
- Até eu, para falar a verdade. – Sofia falou. – Não nos reunimos há quase três anos.
- Vocês parecem estar muito bem sintonizadas, são só vocês 11? – Firmino perguntou.
- As Focas originais, que é quando a gente montou em 2012, são em 20 meninas, tinha mais duas que viriam, mas não deu. – Falei.
- Vocês estão muito bem, sério. – Dani Alves falou.
- Estamos ótimas, fizemos gol em vocês. – Falei, apoiando o cotovelo no ombro do meu namorado e as meninas gargalharam.
- Ela não vai deixar você esquecer! – Jesus falou.
- Ela nem fala mais dos pênaltis da Copa! – Ele falou e eu sorri.
- Posso voltar, hein?! – Ele sorriu.
- Bom, já deu para descansar, certo? – Tite falou.
- Vamos lá! – Falei, apertando o squeeze para dentro da boca e engolindo a água.
- Vamos! – Minhas amigas levantaram e trocamos os campos, seguindo para o gol e respirei fundo.
Eu estava mais animada no segundo tempo, claro que eu não havia levado nenhum chute direto e fugia de defesas de frente, mas eu estava me divertindo muito com minhas meninas e vendo que elas também estavam se divertindo. Os meninos pareciam que nem tinham jogado por 20 minutos, mal suavam, mas também tinham sorrisos no rosto e pareciam se divertir.
No segundo tempo nós conseguimos chegar em quatro a dois. Foi a vez de Amanda dar uma dentro de Alisson. Gabriela recebeu uma do meio de campo de Marina e fez um chute forte, Alisson defendeu para frente, se jogando no chão. Amanda era meu Coutinho, ela recebeu no peito e deu um chute para dentro do gol, me fazendo pular animada.
- Gol! – Abracei Lara que correu em minha direção, pulando em meu colo e gargalhamos, indo as duas para o chão em câmera lenta.
A bola voltou para o centro do campo e eu sabia que, apesar da diversão, como assessora e como namorada, eu precisava fazer Alisson treinar rebote, era o maior problema dos goleiros. E se ele podia levar um rebote de Amanda, ele ia levar de outros jogadores como Messi e James.
Seguimos para o jogo e Richarlison tentou vir com sangue nos olhos. Ele fez um chute forte e alto, eu ergui o braço e a bola bateu na ponta dos meus dedos, saindo por cima do gol. Desequilibrei para trás, caindo para dentro do gol e senti a rede segurar meu corpo, mas me recompus rapidamente com uma cobrança de escanteio.
Pude perceber Coutinho me encarando e de repente a área ficou cheia de Focas e Canarinhos. Tentei lembrar rapidamente qual era minha estratégia para escanteio e tentei lembrar dos treinos com Alisson. Ao invés de ficar no centro do gol, com ele aberto, eu fui para baliza sul, mais próxima da cobrança de falta, ele tentaria fazer uma curva com a bola e fazer com que ela entrasse atrás de mim, mas eu teria mais braço para segurá-la.
E foi o que ele fez, ele fez o chute, só que ao invés dele mandar direto para dentro do gol, ele tentou mandar para Richarlison, minha sorte foi que ele pegou de mal jeito na bola e mandou na minha direção. Só tive tempo de abaixar as mãos na frente do corpo, em proteção à minha barriga e foi minha sorte. A bola entrou entre minha barriga e minhas mãos e parou, mas o impacto fez com que eu encostasse as costas na baliza e meu corpo deslizou até o chão.
- Para! Para! – Yasmin gritou, vindo correndo em minha direção e, de repente, todo mundo estava em volta de mim.
- Você está bem? – Rodrigo apareceu ao meu lado e eu puxei a respiração forte, sentindo a respiração funda.
- , você está bem? – Alisson apareceu na minha frente, abrindo espaço entre todo mundo.
- Calma! – Gritei, fazendo as vozes ficarem quietas e tirei a bola da minha barriga, jogando-a para fora do gol e tirei as luvas com pressa, sentindo minhas costas doerem.
Levei as mãos até minha barriga, sentindo-a parada e senti a respiração ficar acelerada. Pressionei os lábios, sentindo o choro subir pela minha garganta, até que senti uma pontinha na parte baixa do meu ventre. Depois ela continuou e as sacudidas não paravam mais.
- Ela está se mexendo. – Falei, respirando fundo. – Até demais, na verdade. – Suspirei.
- O susto que você levou, ela levou também. – Rodrigou falou e Alisson me deu a mão para eu me levantar. – Tem algum sangramento?
- Acho que não. – Comentei.
- Vamos dar o jogo como finalizado e fazer um ultrassom em você só por precaução, ok?!
- Acho que eu consigo lidar com um quatro a dois. – Gabriela falou e rimos juntos.
- Eu não sei se lido bem com isso, ok! – Alisson falou e eu ri fracamente.
- Já sabemos aonde melhorar, né?! – Falei para ele, rindo fracamente.
- Fala a verdade, você não estava dando seu máximo, né?! – Lara perguntou para Alisson e ele pressionou os lábios em um sorriso. – Filho da mãe! – Ela brincou e rimos fracamente.
- Espero que não mesmo ou teremos problemas. – Falei, vendo Taffa rir ao meu lado.
- Alguém só esqueceu de falar para o pombo não levar tão a sério! – Coutinho falou e rimos fracamente.
- Mas foi bom, gente, foi bom. – Suspirei.
- Foi um prazer, faremos novamente depois que a Mini nascer, tá?! – Thiago falou e eu assenti com a cabeça.
- Quem sabe não conseguimos juntar o time inteiro da próxima vez? – Marina perguntou.
- Temos as eliminatórias no ano que vem, talvez no Rio? – Falei.
- Fechado! – As meninas falaram animadas e sorri, vendo Tite com um pequeno sorriso no rosto.
- Bom, hora de voltar ao trabalho, gente! – Falei séria.
- Valeu, gente, foi bom demais! – Dani falou e eles começaram a nos cumprimentar com sorrisos e risos no rosto, trocando algumas palavras de apoio.
- Se você grávida é boa assim, imagina sem esse pesinho extra? – Marquinhos falou e eu ri fracamente.
- Quem sabe eu não arranjo um futebol para treinar? – Perguntei.
- A CBF precisa providenciar isso. – Tite falou e nós sorrimos.
- Chama a gente! – Yasmin falou e nós sorrimos.
- Você foi demais! – Bianca veio correndo em minha direção e me abraçou, me fazendo rir. – Ah, você é incrível.
- Boba! – Ri fracamente, sorrindo.
- Eu tirei umas fotos sensacionais, não posso postar no Flickr da CBF, por motivos óbvios, mas se Tite permitir, vocês podem divulgar nas suas redes sociais. – Lucas falou e todos olhamos para ele.
- Claro que podem! – Ele sorriu. – Não deixaria vocês perderem a oportunidade de mostrarem que jogaram contra a Seleção Brasileira. – Sorrimos, dando gritos de alegria. – Mas se colocarem que foi quatro a dois, eu serei obrigado a derrubar umas contas. – Gargalhamos mais ainda.
- Bom, gente, o dia foi divertido, mas precisamos ir! – Edu falou e eu assenti com a cabeça.
- A gente fez uma bagunça no vestiário de vocês, nos deem cinco minutos para tirar as coisas de lá, pode ser? – Amanda falou e rimos.
- Claro! – Fabio falou rindo e as meninas correram para dentro.

- Ah, gente! Foi muito bom! – Falei, abraçando minhas amigas uma a uma.
- Foi a melhor experiência da minha vida, muito obrigada por isso! – Gabriela falou me abraçando.
- Eu que agradeço. – Abracei Amanda.
- Cuida bem desse bebê, tenta manter a calma e traga essa Copa América para gente, ok?! – Laura falou e eu sorri.
- Farei o máximo que puder! – Respondi, abraçando Cecília.
- Vocês fizeram esse ser o melhor dia da minha vida. – Marina falou e eu assenti com a cabeça.
- Foi demais encontrar vocês, façam uma boa viagem, ok?! – Falei, suspirando.
- Você também, faça seus exames novamente, fica de olho nessa foquinha, tá?! – Abracei Camila.
- Pode deixar! – Disse, suspirando. – A gente precisa de uma mascotinha! – Brinquei e elas sorriram.
- Fica bem! – Yasmin falou e eu acenei para elas, vendo-as se afastarem em fila e subi um degrau do ônibus, suspirando, olhei mais uma vez para trás, antes de subir os outros degraus, e sentando ao lado de Alisson.
Elas acenaram para mim da janela e eu suspirei, sentindo o braço de Alisson em meus ombros, me trazendo para perto de si e o ônibus começou a andar. Demoramos cerca de 20 minutos para chegar ao hotel e estava mais calmo, sem torcida e sem imprensa ali. Entramos no hotel e as pessoas se dissiparam para o restaurante ou para os quartos.
- Quer comer algo? – Alisson perguntou e eu suspirei.
- Acho que eu vou tomar meu banho e ir direto para cama. – Falei e ele riu fracamente.
- Cansou, é?! – Ele falou e eu ri fracamente.
- Eu compenso contigo em outro momento, ok?! – O abracei pela cintura e ele passou as mãos pelos meus ombros.
- Sem pressa! Mas eu vou comer e vou levar algo para você comer também, não por você, mas pela Mini. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Ok, não demora ou você vai me encontrar dormindo. – Segui em direção ao elevador, parando ao lado de Arthur.
- Só não durma no chuveiro! – Ri fracamente.
- Não garanto! – Falei sorrindo e ele seguiu para o restaurante.
- Cara, como eu queria ter jogado com vocês hoje! – Arthur falou e eu o abracei de lado.
- Quem sabe não terão outras oportunidades? – Sorri e ele assentiu com a cabeça. – Você só precisa melhorar.
- Em breve! – Ele falou e eu entrei no elevador quando o mesmo abriu.
Dei um abraço de boa noite em Arthur e fui para meu quarto. Entrei no mesmo, deixando minha mochila em um canto e tirei o moletom da CBF para tapear, caso alguém da imprensa visse e percebesse o uniforme das focas, sentei na beirada da cama, pegando meu celular e encontrando mais de 200 mensagens de Lucas. Franzi a testa e fui na conversa dele, vendo as fotos, me fazendo suspirar.
“Que jogo, minha amiga. Quero ver mais”. – Ele falou e eu esperei alguns minutos pelo download das fotos e passei uma a uma, vendo todos os momentos do jogo, algumas fotos boas, outras nem tanto, mas todas sensacionais.
Encontrei uma minha fazendo uma defesa para cima e sorri, suspirando. Que saudades, meninas!
“Obrigada, Lucas, hoje foi incrível. Obrigada por estar lá”. – Suspirei, selecionando as fotos e mandei no grupo das Focas.
Quando as fotos foram enviadas e antes da loucura começar, eu criei coragem e segui para o banheiro, pronta para me livrar dessas roupas suadas e dormir.

Acordei com o despertador, cheia de preguiça! Virei meu corpo de barriga para cima e acabei esbarrando no corpo de Alisson na cama. Ele passou a mão em minha barriga, acariciando-a levemente e senti um beijo estalar em minha orelha.
- Bom dia, Bela Adormecida! Desmaiou ontem, hein?! – Ele falou e eu ri fracamente, coçando os olhos.
- Eu não sirvo mais para isso, muito menos grávida! – Falei, rindo fracamente e ele se sentou na cama, ficando de frente para mim.
- Serve sim, amor. Foi demais, sério! – Ele falou rindo. – Depois que a Mini nascer, você vai ver, eu vou te fazer jogar. Vamos arranjar uma escolinha para você e... – Neguei com a cabeça.
- Ah, sem falar no futuro, vai!
- Esqueci do assunto proibido. – Ele falou e eu dei um meio sorriso. – Você sabe que teremos que falar dele mais cedo ou mais tarde, né?!
- Mais tarde, amor, mais tarde! – Abanei a mão e ele estalou um beijo em minha testa, pulando da cama.
- Quero ver quando vai ser esse mais tarde. – Bocejei alto.
- Quando vocês ganharem a Copa América! – Ele riu fracamente, indo para o banheiro.
- Deus te ouça, amor. – Suspirei, me sentando na cama, jogando os cabelos bagunçados para trás e levei as mãos à barriga, sentindo Mini calma. – O que vai fazer hoje? – Ouvi a descarga e depois a torneira da pia.
- Eu tenho ultrassom com o Rodrigo agora de manhã, ele quer checar o bebê mais uma vez, só por desencargo. – Suspirei. – Temos o treino mais tarde, coletiva, é aniversário do Fagner, deve ter um bolinho de janta... – Ponderei com a cabeça. – E muita imprensa, hoje deve começar. – Ele sorriu, voltando para o quarto.
- Agora vai começar, né?! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, vendo-o voltar para o quarto com uma escova de dente na boca.
- Vai! Deus dai-me paciência e calma com a Mini, de resto, tá tudo certo. Afinal, uma grávida e o caso do Neymar, o que mais pode acontecer? – Perguntei.
- Não fala que acontece! – Ele voltou para o banheiro, me fazendo rir.
- Vira essa boca para lá! – Brinquei, jogando as pernas para o lado e me espreguiçando. – Vai tomar banho? – Perguntei.
- Acho que não, nem deu para aproveitar noite passada, né?! – Ele brincou e eu sorri, negando com a cabeça.
- Eu prometo que te compenso eventualmente, amor. – Ele voltou, secando a boca com a toalha.
- Você sabe que não precisa me compensar de nada, mas adorei você de uniforme, com a faixa na cabeça, a braçadeira de capitã, de chuteira e luvas... – Ele passou as mãos pela minha cintura, me trazendo para mais perto.
- A mãe da Camila achou na casa da mãe dela. Nem me lembrava disso. – Virei os olhos para minha mochila amontoada na escrivaninha.
- Incrível! – Ele beijou minha têmpora e eu sorri. – Foi bonito, amor, meu coração parava toda vez que a bola ia para perto de você, mas ok, eu vou matar um pombo ainda! – Ri fracamente.
- Ah, para, Alisson! Era chance de efeito colateral, vai! – Falei, e ele sorriu.
- Talvez! – Ele disse e se afastou, seguindo até suas malas.
- Não vai matar o coitado, precisamos dele.
- Talvez, talvez! – Ele falou e eu ri fracamente.
- Olha lá, hein?! – Apontei o dedo para ele que sorriu, piscando para mim.
Descemos para tomar café da manhã e o pessoal ainda falava do jogo anterior, principalmente porque Lucas havia divulgado as fotos para o pessoal, confesso que eu estava me achando e os meninos solteiros estavam totalmente dando em cima das minhas amigas.
- Você precisa marcar um novo jogo! – Jesus falava.
- Logo, de preferência! – Richarlison falou e eu ri.
- Ah, meus queridos, agora só depois que a Mini tiver uns três meses, pelo menos. – Falei, seguindo em direção ao buffet.
Tomei meu café da manhã de pedreiro, cantamos parabéns para Fagner, finalmente foi a vez de outra pessoa ganhar ovada, e eu estava feliz por poder dar o troco. Depois, enquanto alguns meninos seguiam para a fisioterapia, eu segui com Alisson e Rodrigo até um hospital ali perto para dar uma checada em Mini por aparelhos mais profissionais do que o que um médico focado em educação física do esporte pudesse oferecer.
Explicamos a situação, a médica fez todos os exames e falou que estava tudo bem, já me deixando mais aliviada. Alisson e eu pudemos dar uma babadinha em Mini e fiquei feliz em poder ver seu nariz arrebitadinho no ultrassom. Voltamos para o hotel e já estava na hora do almoço. Fizemos uma festinha para Fagner, pois o treino seria longo igual ontem. Como o tempo no Brasil era aquele inferno quase sempre, apesar do quase inverno, treinar no fim do dia desgastava menos, e eu agradecia por não ficar cega no sol.
Mais para o meio da tarde, seguimos para o Pacaembu para o primeiro treino real oficial da Copa América. Parecia que a Conmebol tinha substituído tudo do nosso treino no dia anterior e substituído por coisas da Copa América, inclusive, a barreira dos goleiros, era um Zizito.
O sol já tinha começado a baixar quando os meninos foram para o campo, eu fiquei com minha equipe acompanhando o treino e, no caso meu e de Bianca, esperar dar o horário para a primeira coletiva oficial. Jesus parecia com sangue nos olhos aquele dia, não sei o motivo, mas minhas dores musculares do dia anterior e Mini ainda agitada, não me deram nem coragem de xingá-lo.
Depois do aquecimento, segui com Filipe Luís e Bianca para a sala de coletiva e tivemos aquele papo frio e sem graça de quase meia hora com a imprensa. Era o começo, era especulação, era o que estávamos esperando, era diminuir nossos dois últimos amistosos e perguntar se agora era para valer. Na moral? Eu estava cansada de bate boca com eles, então deixei Bianca intervir naquele momento.
Acabando a coletiva, os times foram selecionados e começou o jogo. Alisson estava de um lado e Cássio de outro, Ederson entraria no segundo tempo. Enquanto o tempo foi passando, a noite foi caindo e começou a esfriar em São Paulo, eu tinha carga extra comigo, então fui a primeira a tirar o casaco da cintura e me proteger embaixo do banco dos reservas.
Arthur teve seu primeiro retorno com bola, ele ficou à parte junto de um dos preparadores fazendo seus treinos, ele parecia bem, mas não queriam abusar com ele. Mais para o fim do dia, recebemos a visita dos meninos ganhadores da Taça das Favelas de São Paulo. Eles conheceram os jogadores, bateram um papo rápido e depois ficaram assistindo ao fim do treinamento.
Ah, o fim do treinamento. Richarlison e Neres iam ganhar o prêmio de palhaços da Seleção, gente! Não era possível duas pessoas serem mais caras de pau do que eles. Sei lá se era a idade, ambos tinham 22 anos, se eles estavam começando a aparecer agora ou o que era, mas após o treino deles, Jesus, Coutinho e os meninos mais de cobrança de falta começaram a fazer chutes em Ederson e eles, atrás do gol, começaram a provocar o menino.
Primeiro eles começaram torcendo para ele, até que Ederson começou a reclamar da distração e eles começaram a torcer contra, então cada gol que entrava, eles comemoravam. Bom, isso durou uns três ou quatro gols, depois disso, Ederson teve duas reações. A primeira foi pegar a bola e meter nas costas dos dois, o que fez Richarlison correr para o túnel atrás do gol e Neres se deslizar pelo chão. A segunda, foi correr atrás dos dois pelo mesmo túnel e meter socos nas costas dos dois. Socos a ponto de o pessoal do campo sair correndo para resgatar os dois. Eu só me lembro de sair correndo na direção deles.
- Porra, , faz alguma coisa! – Richarlison falou e eu revirei os olhos.
- Ah, lindinho, né?! Provocou agora aguenta! – Falei, revirando os olhos e virei para o pessoal da Amazon Prime.
- Vocês pegaram isso, né?!
- Sim. – O moço falou.
- Coloca em destaque, beleza? – Falei e ambos riram.
- Ah, mancada! – Richarlison falou.
- E você, criança... – Chamei Ederson, apoiando a mão em seu ombro. – Controle seus nervos! – Falei, piscando para ele.
- Ah, hoje eles me irritaram, viu?! – Assenti com a cabeça.
- Tente relaxar, se tiver com algum problema, fala comigo. – Dei dois tapinhas em seus ombros e ele assentiu com a cabeça. - Acho que deu por hoje, não?! – Falei para Taffarel que não parava de dar risada.
Voltamos para o hotel tarde, era mais de nove da noite e minha barriga não parava de roncar. Eu e Alisson ficamos no restaurante já para jantar e, quando subimos para o quarto, eu tomei um banho rápido e me aninhei em seus braços na cama.
- Hoje eu estou cansado! – Ele falou em meu ouvido e eu sorri.
- Nem se preocupa, amor. Agora os dias vão ser mais corridos. – Falei, sentindo-o dar um beijo em minha têmpora.
- Assim, um homem tem suas necessidades. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Sim, agora, por exemplo, é dormir. – Passei a mão pela sua barriga, tentando virar de lado. – Ah, que droga!
- O que foi? – Ele perguntou, erguendo a cabeça.
- Não consigo mais dormir de bruços! – Falei e ele gargalhou.
- Tem algo que eu possa fazer por você? – Ele perguntou e eu soube que era uma pergunta retórica.
- Não. – Gemi, esticando meu corpo de barriga para cima novamente e olhei para cima, suspirando.
- Dorme bem, meu amor. – Ele passou a mão por cima da minha barriga, dando um beijo em minha bochecha e eu sorri.
- Você também! – Falei, suspirando, dando um pequeno sorriso.
- Eu te amo.
- Eu também. – Dei um pequeno sorriso.

Acordei com o despertador no dia seguinte e me encontrei sozinha na cama, me fazendo franzir a testa quando percebi que estava sozinha no quarto. Normalmente Alisson acordava uns 15 minutos antes de mim e já estava saindo do banho, será que tinha algum compromisso hoje e eu não estava sabendo?
Ergui o corpo na cama e encontrei um buquê de rosas vermelhas no lugar onde estaria Alisson e franzi o rosto, pegando o mesmo e buscando pelo cartão, abrindo e encontrando a caligrafia de Alisson.
“Esse é o primeiro de muitos, meu amor. Feliz dia dos namorados, Alisson”. – Dizia e eu arregalei os olhos.
- Meu Deus! É dia dos namorados! – Franzi a testa, jogando a coberta para o lado.
Talvez por ser o primeiro na vida em que eu estava passando com alguém e realmente achar mais legal a ideia do Valentine’s Day, eu nem havia me tocado da data e com certeza não tinha preparado nada para dar para ele. Peguei o celular rapidamente.
“Bianca? É dia dos namorados e eu não preparei nada para Alisson. SOS”. – Mandei, jogando as cobertas para o lado e tirando meu pijama para ir para o meu banho e o celular apitou.
“Vamos sair com o Canarinho hoje, você pode comprar algo”. – Ela respondeu e eu franzi a testa.
“Mas o quê? Ele me deu um buquê de flores”. – Suspirei.
“Aí eu não sei!” – Ela respondeu e eu ri fracamente.
Larguei o celular, tomei meu banho, escovei meus dentes e coloquei minha roupa de guerra, além de passar bastante protetor. Não sabia ainda que horas sairíamos com o Canarinho, mas se continuasse o sol que entrava pela janela, eu ia cozinhar no meio da Avenida Paulista em breve.
Terminei de me arrumar e desci para o restaurante, encontrando Vinícius no meio do caminho. Ironicamente, todo mundo estava lá embaixo e eu franzi a testa. Antes que eu pudesse falar alguma coisa, Alisson se levantou de seu lugar e veio me abraçar com um sorriso no rosto.
- Ei, amor. Feliz dia dos namorados! – Ele falou e eu sorri, passando os braços pelos seus ombros.
- Feliz dia dos namorados! – Respondi, sentindo-o dar um beijo em meus lábios, me fazendo suspirar e fechar os olhos por alguns segundos. - Você acordou cedo. – Falei. – Era para ter algo hoje?
- A reunião com a Conmebol, lembra? – Franzi a testa.
- Não lembro nem mais meu nome direito, ah! – Suspirei. – Você deveria ter me acordado.
- Eu ia, mas avisaram que o cara ia atrasar, então deixei você dormir. – Ele deu de ombros.
- Nossa, vai ser uma bosta essa reunião, né?! – Suspirei.
- Entediante, talvez. – Ele falou e nos separamos.
- Bom dia, casal! – O pessoal falou e eu sorri.
- Bom dia, gente! – Respondi. – Little Couto! – O chamei quando ele estava voltando do buffet com uma xícara. – Feliz aniversário! – Falei, indo abraçá-lo.
- Mano, é teu aniversário? – Filipe Luís falou ao seu lado.
- Tu não disseste nada! – Alisson falou e abri espaço para todo mundo ir cumprimentar Coutinho.
Peguei algumas coisas para comer junto da minha equipe, já que percebia que estava deixando-os um pouco de lado. Precisei comer meio rápido, pois os caras fizeram o favor de chegar e seguimos para a reunião do novo formato da Copa América, segundo o cara “para ser melhor para nós e para a competição”. Uhum, tá!
A reunião foi ridícula, ao meu ver. Parecia coisinha de quinta série. O cara falava com aquele portunhol zoado, os meninos tentaram parecer atentos, mas a maioria estava com sono e eu nunca me dei bem com palestras, então foi difícil aguentar aqueles 40 minutos, mas sobrevivemos. Agora sobre o novo formato? Não me pergunte!
Fomos liberados e eu saí com o pessoal inteiro da comunicação para dar uma volta com o Canarinho. Sabíamos em que terreno estávamos entrando, era o Brasil, era São Paulo, as coisas poderiam ficar um pouco caóticas. Pedimos para a van nos deixar na frente do Masp, ou o mais próximo dele, devido ao trânsito e lá começamos nossa batalha.
Lá mesmo no vão do Masp, várias pessoas já nos pararam. Grupos de crianças esperavam para entrar no museu, adultos, curiosos e até torcedores da seleção pararam o Canarinho para tirar foto. Eu tentei pensar em algum presente para dar para Alisson, mas eu não conseguia pensar, eu era péssima com presentes para homens desde sempre. Eu sofria duas vezes por ano para dar presente para meu pai e meu cunhado, sempre acabava dando uma blusa ou um sapato. Acabei ficando no zero a zero e esperei que Alisson ficasse nas flores, podia compensá-lo de outras formas, se ele quisesse.
Voltamos para o hotel e o almoço já estava acontecendo. Cantamos parabéns para Coutinho, comemos de boa, tiramos umas duas horas de descanso e seguimos de volta para o Pacaembu. Já estava quase chamando aquele lugarzinho de casa, viu?! Tinham melhores aqui em São Paulo, mas ok, vou dar um desconto por ser “campo neutro”.
- Fala aí, ! – Arthur falou, me abraçando de lado.
- Fala aí, alecrim dourado! – Falei e ele franziu a testa. - Não pergunte! – Falei, rindo fracamente. – Mini está afetando meus pensamentos.
- Está agindo como um bebê? – Empurrei-o de lado.
- Quando Aline vem nos visitar? – Perguntei, seguindo para o vestiário ao seu lado.
- Ela está vendo ainda, mas acho que no próximo jogo.
- Precisamos marcar esse encontro. – Falei piscando e ele assentiu com a cabeça.
O treino em campo se seguiu de boas, Arthur voltou a campo, mas só trabalhos também. Não tínhamos coletiva de imprensa, mas a imprensa estava em peso para fazer algumas imagens, então fiquei na boa, quase dormindo embaixo da marquise, ouvindo Bianca falar com a imprensa ao telefone. Esporadicamente eu era chamada pela imprensa, então fazia meu trabalho em pé mesmo. Voltamos mais cedo para o hotel dessa vez, cerca de sete horas da noite.
- Você já quer jantar ou tomamos banho antes? – Perguntei para Alisson.
- Pode ir, eu vou falar com Taffa, você me encontra aqui daqui a pouco?
- Claro! – Falei, dando um rápido beijo em sua bochecha e segui a turma no elevador.
Subi rapidamente, tentando largar a preguiça e fui tomar um banho rápido, com preguiça de lavar o cabelo. Coloquei a blusa da CBF e o moletom dessa vez, louca para colocar algo mais confortável, mas se Vinícius e Lucas estivessem fazendo imagens lá embaixo, eu não podia aparecer descaracterizada. Estava terminando de calçar meus tênis quando ouvi duas batidas na porta. Segui até a mesma e abri, dando de cara com Arthur e Lucas na porta, ambos usavam os nossos uniformes ainda, mas tinham uma gravata borboleta claramente improvisada com guardanapo de pano.
- Madame! – Eles falaram juntos.
- Eu hein, gente. O que está acontecendo? – Perguntei, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo baixo.
- Poderia nos seguir, por favor? – Lucas falou pomposo e eu franzi a testa.
- O que Alisson está aprontando? – Cruzei os braços.
- Fica quieta e vem! – Arthur falou e eu peguei rapidamente a chave do quarto, colocando no bolso e segui os dois para fora do quarto.
No elevador eu encontrei Thiago e Marquinhos com as mesmas gravatas borboletas improvisadas e eu preferi não me perguntar. Alisson estava aprontando alguma coisa e eu estava indo para isso de mãos vazias. Chegamos ao térreo e o lobby do hotel estava ok, bom, acho que eles não queriam pagar esse mico com tanta gente olhando. Ederson e Firmino esperavam na porta do restaurante e deram sorrisos travessos quando eu dei o olhar de estranhamento e abriram-na para mim.
Lá dentro o ambiente estava a pouca luz e Alisson estava parado no meio do salão com o uniforme de antes e um blazer claramente menor do que ele no corpo. Suas mãos estavam à frente do corpo e ele tinha também a falsa gravata em seu pescoço também. Ao fundo um dos sertanejos de Alisson tocava baixinho e claramente as longas mesas convencionais estavam mais afastadas, deixando o meio livre.
- Você é ridículo, eu já falei isso? – Falei, chegando mais perto de Alisson.
- Já deve ter falado, mas eu sempre consigo tirar um sorriso do seu rosto. – Neguei com a cabeça, abrindo um sorriso e ele fez o mesmo. – Achei que pudesse fazer algo para gente. – Ele passou as mãos em minha cintura, me trazendo para si.
- Não muito íntimo, obviamente! – Movimentei a cabeça para o lado, percebendo os diversos papagaios de pirata em volta.
- A gente trabalha com aquilo que a gente tem. – Sorri e passei os braços pelos seus ombros, vendo-o inclinar o rosto e depositar um beijo em minha bochecha. – Bobby, a música, por favor. – Alisson falou e uma música conhecida começou a tocar.
- Fake News? – Perguntei e ele começou a me movimentar no ritmo da música.
- Lembra quando a gente brigou naquele amistoso em que você me contou sobre a gravidez? – Ele começou a cochichar com a testa colada na minha.
- Sim, lembro. – Falei.
- Eu acabei comparando o começo do nosso relacionamento a essa música. Em meio à incerteza da profissão, da competição e tudo mais, eu até tentei te esquecer, mas não consegui. – Ele falou, movimentando meu corpo devagar.
- Você tentou me esquecer? – Perguntei, suspirando.
- Sim, mas é impossível. – Sorri, apoiando a cabeça em seu ombro. – Você é o amor da minha vida e eu não sei viver sem você. – Ri fracamente, deixado um sorriso se formar em meus lábios.
- E você é o da minha! – Falei suspirando.
- Te esquecer, eu tentei, 'tá escrito nesse olho inchado que eu não superei. Se eu pudesse, eu lavava você da minha vida, mas amor não sai com água. – Ele começou a sussurrar em meu ouvido, me fazendo arrepiar. – Espero que isso seja o suficiente para você.
- É muito mais do que eu esperei, é uma verdadeira história de amor. – Falei e ele sorriu, colando os lábios nos meus levemente.
- Eles sabem que ainda estamos aqui, né?! – Ouvi a voz de Richarlison e bufei, ouvindo algumas risadinhas.
- Bom, tentei! – Alisson falou, nos separando e eu gargalhei, me cegando com a rapidez que as luzes se acenderam. – Você não sabe calar a boca, não é mesmo? – Alisson falou para Richarlison e as gargalhadas se aumentaram.
- Bom ver que ele não enche só meu saco! – Ederson falou, puxando o guardanapo improvisado de gravata.
- Tirando que nossa graça durou, com sorte, cinco minutos, com eles, eu não acho que aguentaríamos mais. – Falei, dando de ombros e vi Alisson tirando o blazer. – Aonde achou isso? – Perguntei.
- Com licença! – Matheus falou e Alisson estendeu o paletó para ele.
- Obrigado. – Alisson falou, me fazendo rir fracamente.
- Vocês podem aproveitar a mesa de vocês e a música, se conseguirem ignorar esses tapados. – Tite falou e ri fracamente.
- Você aqui, Tite? – Coloquei as mãos na cintura.
- Eu sou um romântico. – Sorri. – Feliz dia dos namorados para vocês.
- Obrigada. – Sorri.
- Jantar? – Alisson perguntou e assenti com a cabeça, vendo-o puxar a cadeira para mim e me sentei, vendo-o se sentar em minha frente.
- Apesar de não ter dado cem por cento certo, eu adorei! – Falei, segurando sua mão por cima da mesa.
- Queria fazer sem eles, mas não tinha lugar. E também não podemos sair daí. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Temos que nos conformar que eles já fazem parte das nossas vidas. – Falei, ouvindo uns gritos animados. – Por bem ou por mal. – Gritei, ouvindo gargalhadas em seguida.
- A gente ainda pode aproveitar depois. – Alisson falou, dando uma piscadela para mim e eu ri fracamente, prestando atenção em meu prato improvisado de massa com carne, provavelmente pego do buffet.

- Hoje é um lindo dia, meus queridos! – Falei, entrando com Bianca de braço dado no restaurante.
- A noite foi boa, pelo jeito! – Coutinho falou cantado e eu estendi o dedo do meio para ele.
- Não começa, você não vai fugir dessa. – Falei, abrindo um sorriso sacana.
- Alisson? – Coutinho virou para ele junto de algumas pessoas e o mesmo colocou uma torrada quase inteira na boca, me fazendo gargalhar.
- Ah, parem de graça, é coisa boa! – Bianca falou.
- Eu tenho até medo. – Ouvi Jesus e eu sorri.
- É coisa boa. – A voz de Tite sobressaiu e eu sorri.
- Hoje vocês vão colocar pela primeira vez os novos uniformes da Seleção Brasileira. – Falei, abrindo um pequeno sorriso. Não foi aquela festa que eu esperava, mas eles ficaram animados. – Ou seja, teremos sessões de fotos, então iremos mais cedo para o treinamento, dessa vez no Morumbi. Lá faremos as fotos individuais, em grupo e também o media day. – Falei. – Depois vocês farão o treino e pegaremos leve, pois o jogo é amanhã. – Falei e aí que os gritos aumentaram. – Seja o que Deus quiser. – Falei baixo, vendo Bianca rir ao meu lado.
- Se a gente achou que na Copa era difícil com a média de idade, imagina agora. – Ela comentou e eu assenti com a cabeça, seguindo-a para o buffet, pegar um capuccino.
O dia foi sensacional, fazia tempos que eu não me divertia. A CBF estava com uma campanha de relembrar o primeiro título do Brasil na Copa América 100 anos atrás, como também a primeira vez que sediou, então eles estavam trabalhando com coisas antigas, vintage, aquele velho mesmo, até os elementos para a sessão de fotos eram antigos, como bolas de couro antigas.
Durante o media day, eu tentava me segurar para não dar risada, era como Marquinhos havia falado “essa geração não bate muito bem”, então eles estavam totalmente fora dos pinos, mas pelo menos a gente passava o tempo de forma gostosa.
Por último tivemos as fotos em grupo, e como na Copa, tivemos aquela risada toda de montar a equipe em cima dos bancos, todo mundo estabanado como se fosse dominó e todo mundo tentando conter a risada que já estavam largadas por aí. Depois juntamos nossas equipes para tirar aquela foto com todo mundo e depois abrimos espaço para todo mundo tirar foto entre si e dessa vez Alisson não precisou pedir para tirar foto comigo, ele queria nos aproveitar bastante.
Acabamos almoçado no Morumbi mesmo, enquanto víamos as meninas da feminina perderam por três a dois, sempre o Brasil precisa deixar tudo para última hora, assim não dá! Mas pelo menos vi raça no jogo delas e esperava que conseguíssemos seguir para a próxima fase. Após algumas horinhas de descanso, os meninos foram para campo e Tite se decidiu pela escalação óbvia, sem Arthur. Ele estava melhor, mas ninguém queria abusar dele logo no primeiro jogo, precisávamos desse baixinho mais para frente.
Além disso, tivemos um pequeno probleminha com Ederson, ele teve uma lesão na panturrilha no finzinho do treino. Finzinho mesmo, 45 do segundo tempo. Rodrigo disse que havia tempo para ele se recuperar, então ele não foi cortado, mas um baque desse há menos de 24 horas da estreia, não era exatamente legal, né?! Apesar da animação para estreia, o clima caiu totalmente.
Voltamos para o hotel e Tite pediu para que eu e Alisson dormíssemos separados essa noite, ele pediu na boa, para valer, para que Alisson pudesse relaxar antes do jogo e achei plausível, o cara do meu lado não achou tanto, mas também não criticou. Ele disse que tinha uma cama sobrando no quarto de Thiago e Marquinhos e Alisson pegou sua malinha e cuia até o quarto do lado, ficamos enrolando no restaurante até dar a hora de dormir.
- Dorme bem, ok?! – Falei, dando um rápido beijo em seus lábios e ele assentiu com a cabeça.
- Te amo, tá?! – Sorri.
- Eu também. – Pisquei, vendo-o puxar o celular do bolso. – Quem será a essa hora? – Ele olhou o telefone tocando. – É o Caio. – Ele falou com a testa franzida. – Alô? – Apesar de não estar no viva-voz, ouvi tudinho.
- Alisson, é o Caio, como você está? – Ele afastou o telefone da orelha.
- Estou bem, cara. E aí? O que manda?
- Nasceu, Alisson! O Matteo nasceu! – Arregalei os olhos.
- Mentira! – Alissou falou animado. – Meus parabéns, cara! Meu Deus! – Abri um largo sorriso, sentindo Alisson me abraçar pelos ombros. – Como ele está? E a Nat? – Ele perguntou e eu adorava o carinho de Alisson com Natália.
- Ambos bem, muito bem. – Ele falou acelerado. – Ele é gordinho, cara! – Alisson riu e notei que ele estava emocionado.
- Parabéns, Caio. Vocês merecem, sério! – Sorri, sentindo que havia me emocionado também. – Seus pais estão com vocês?
- Sim, todos aqui, eu queria que você fosse um dos primeiros a saber, afinal, somos uma família.
- Fico muito feliz pela lembrança. – Alisson sorriu. – Helena já sabe?
- Ainda não, ela está dormindo já, mas saberá em breve. – Alisson assentiu com a cabeça.
- Parabéns, cara. Vou fazer uma visita assim que voltar para Inglaterra.
- Obrigado, obrigado mesmo! – Sorri. – Boa sorte na competição e um beijo para você e para .
- Pode deixar! – Alisson falou. – Ela está aqui comigo.
- E boa sorte com a Mini de vocês. – Ri fracamente.
- Parabéns, Caio! – Falei alto para ele ouvir.
- Obrigado! – Ele falou empolgado.
- Se cuida! – Falei e a ligação foi desligada.
- Que notícia sensacional. – Falei rindo fracamente.
- Você está emotiva. – Alisson falou passando o dedo pela minha bochecha.
- Eu estou grávida. – Falei rindo e passei a mão em seu rosto. – Você está emotivo.
- Estou muito feliz por eles, sério. – Alisson falou honesto. – É bom ver o que ambos conseguimos conquistar. – Sorri.
- Mais alguns meses somos nós. – Falei e ele sorriu.
- Três e meio. – Ele falou, me abraçando fortemente.
- Não vamos apressar, quando eu penso que ela vai ter que sair daqui um dia, eu me arrepio! – Falei e ele riu fracamente.
- Não posso te ajudar com isso, mas eu estarei lá. – Ele falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Se você demorar, a gente não te deixa entrar. – Marquinhos botou a cabeça para fora e falou.
- Gente, esse povo anda de mal humor. – Abanei a mão, seguindo para a porta do meu quarto. – Dorme bem, tá?!
- Você também! – Ele falou, piscando para mim e seguindo para o quarto vizinho.

Custou dar sete e meia da noite no dia 14. Os ânimos estavam um pouco travados no hotel. E travados eu digo em vários sentidos. Os meninos pouco conversavam, ficaram trancados no quarto boa parte do dia, tinha sensação que não tinha visto isso nem na estreia da Copa do Mundo. Talvez a pressão pelo jogo ser em casa seja maior.
Depois da reunião com Tite de manhã, parece que todo mundo saiu com maior cara de enterro para piorar os ânimos. Até Alisson estava meio quieto e eu sabia que não deveria pressionar, se ele achasse necessário, como achou na Champions, ele se abriria comigo e eu estaria ali para ele.
Eu e a minha equipe já estávamos um pouco mais agitados. Era estreia, imprensa do mundo inteiro queria saber sobre o jogo, escalação, lesão de Ederson, lesão de Arthur, quem seria o substituto do mesmo e até sobre uniforme. Não que eu não estava mais do que acostumada com isso, mas Mini sacudindo mais que pandeiro, os hormônios a flor da pele e aquela cara de enterro como se alguém tivesse morrido, já estava me irritando.
Sete e meia meu dia ficou um pouco melhor. Foi quando saímos do hotel para ir ao estádio do Morumbi. Agora as carrancas eram plausíveis e até eu comecei a deixar a barriga começar a borbulhar. Só não sabia se era Mini, nervoso, diarreia ou algo assim.
Saímos do hotel e chegamos ao estádio com festa da torcida. Parecia que os jogadores se animaram com isso, mas eu entendia, pelo menos tentava, era a primeira competição depois da Copa do Mundo e sabemos como aquilo terminou, não é mesmo? Além de que têm vários jogadores novos que nunca participaram de uma competição, aposto que com eles eram diarreia mesmo!
Chegamos ao estádio e cada um se separou para fazer seu trabalho, tínhamos uma hora para aquecimento interno, meia hora de aquecimento externo, 15 minutos para se arrumar e os outros 15 de entrada no campo. Além de que tinha abertura, estava me esquecendo desse pequeno detalhe. Não era um jogo comum.
Fiquei acompanhando os protocolos de início com Bianca, enquanto Lucas, Vinícius e Leandro iam fazer imagens do lado de fora. Tinha muita coisa para acontecer. Alisson estava um pouco distante, mas preferi não me aproximar antes da hora. Quando chegou a hora do aquecimento, eles foram para fora e eu aproveitei para dar uma espiada. Casa cheia hoje. São Paulo em peso estava lá. Aproveitei e fiz um sinal da cruz, pedindo que tudo desse certo. No jogo, na competição, comigo, Alisson e Mini. Esse “tudo” precisava englobar realmente tudo.
Os jogadores voltaram e começaram a se arrumar, junto da volta deles, veio o presidente da CBF, Rogerio Caboclo. E acompanhando ele, nossa doce Angelica.
- Ah! – Ela falou animada, nos abraçando e eu sorri.
- Ah, você aqui! – Falei sorrindo, sentindo-a me apertar fortemente. – Falei que não ia ficar muito tempo longe. – Ela riu fracamente.
- As vezes precisamos botar a mão na massa. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, sorrindo. – Rogerio, se lembra de ? – Ela falou e eu cumprimentou o mesmo.
- Espero que seja uma fama boa! – Falei, franzindo os lábios e ele riu.
- Hoje é uma fama boa, senhorita . – Ele falou e eu sorri, assentindo com a cabeça. – Prazer em te ver.
- Prazer te ver também. – Sorri.
- Como está essa criança? – Ele perguntou.
- Muito bem, obrigada! – Sorri e ele seguiu para cumprimentar outros.
Os organizadores vieram nos avisar que faltavam 10 minutos para o jogo e assistimos a abertura pelas televisões espalhadas pelo vestiário, enquanto os meninos finalizavam suas preparações. A cerimônia contou a história de 12 crianças, uma de cada país, que sonham em ser jogadores de futebol. Mostraram várias cores, trajes típicos e músicas dos 12 países participantes, todos em uma grande mistura. Bastante show de luzes chamou a atenção e fez a torcida acima da gente gritar com empolgação. Até que aparece Léo Santana, Karol G e o Zizito para cantar a música da Copa América. Por fim, uma bola apareceu no centro do palco, onde as crianças que representavam os 12 países pegaram surpresas e colocaram no local da bola oficial do jogo.
Eu estava parecendo uma manteiga derretida, então chorei sim, tá?!
Enfim, os jogadores se reuniram em roda e nós achamos um espacinho ali. Fiz questão de ficar ao lado de Alisson e apertar sua mão firme, vendo-o dar um sorriso de lado para mim e eu assenti com a cabeça.
- Fala, galera! Vamos lá! – Dani falou, juntando todo mundo. – Hoje não é dia de esquentar a cabeça, de olhar para trás, hoje é dia de resolver no campo! Estamos juntos para mais um desafio e sei que isso é difícil, pois esse é em casa, mas estamos preparados, estamos treinando, batalhando e vamos conseguir essa conquista!
Ele falou, fazendo todo mundo se animar com ele. Minha cabeça foi longe enquanto ele falava e eu respirei fundo, pensando no final da Copa do Mundo, em como ela acabou para gente e o nervosismo começou a bater. E se não desse certo novamente? Era mais uma pergunta que eu ainda não tinha resposta.
Os meninos começaram um Pai Nosso e uma Ave Maria e se separaram. No momento em que todos se separaram, Alisson passou os braços meus ombros e sorri, deixando que ele me apertasse contra seu corpo. Passei os braços pela sua barriga, dando curtos beijos em sua bochecha.
- Como você está? – Perguntei, vendo-o afastar seu rosto e ele assentiu com a cabeça.
- Surtando um pouco, mas não como da última vez. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, passando as mãos em suas bochechas e colando nossos lábios levemente.
- Limpe a mente, esqueça todos, inclusive eu e Mini. – Falei, suspirando. – Tem só você no campo. – Ele assentiu com a cabeça. – Vai arrasar! – Falei e ele colou os lábios nos meus rapidamente e eu sorri.
- Pode deixar!
- Vamos lá! Vamos lá! – Cléber gritou e eu sorri para Alison, desviando do pessoal e seguindo na frente dos jogadores.
Encontrei Lucas, Bianca e Vinícius já lá fora e corremos um pouco mais à frente dos jogadores, passando pela fila de crianças que esperavam para entrar com eles, muitas delas deficientes devido a próteses na perna e afins, e subi os degraus, vendo as luzes todas acesas e a galera empolgada. Nós quatro nos separamos e segui com Bianca até o campo dos reservas, pegando os dois lugares no final do mesmo, montando nosso acampamento ali.
Entramos com Dani Alves, Alisson, Marquinhos, Thiago, Filipe, Fernandinho, Casemiro, Richarlison, Coutinho, Neres e Firmino. Era agora que o bicho ia pegar. Segunda competição com a Seleção e esperando que a primeira vitória viesse. O hino foi cantado à capella, os torcedores faziam questão de ensurdecer o estádio, as fotos foram tiradas, flâmulas trocadas e times divididos.
Estava na hora!

- Vamos, bebê, ajuda a mamãe! – Passei as mãos na barriga calma, respirando fundo e ouvi o apito do juiz, vendo Fernandinho sair com a bola.
- Ajuda a titia também! – Bianca falou e eu ri fracamente, abraçando-a pelos ombros.
Richarlison tentou o primeiro lance do jogo e foi derrubado, e já tivemos uma cobrança de falta – o mito da cobrança de falta – nos primeiros minutos. Coutinho manteve a cobrança no mito, pois rebateu nos pés da defesa. No rebote, ele tentou de novo, mas foi para fora. Em cobrança de escanteio, Coutinho chutou, a bola entrou na área, ouve uma bagunça entre Richarlison, o goleiro e a defesa da Bolívia e, não sei como, a bola foi para fora.
Dani tentou uma cobrança de falta uns segundos para frente e a bola foi para fora, passando por cima do goleiro Lampe. Brasil tentou no ataque de novo, Richarlison até caiu na área, mas se levantou rapidamente, e a Bolívia tirou a bola do caminho. Um escanteio nosso, Richarlison fez a cobrança, mandou bonito para área e Thiago cabeceou. Eu levantei na hora, só a tempo de bola ser desviada para fora.
- Eu falei para ajudar, amorzinho. Ajudar! – Respirei fundo.
- Como ela está? – Bianca perguntou, levando a mão até minha barriga.
- Calma! – Falei, respirando fundo. – Eu é que não estou.
- Então se acalma para não afetar ela. – Suspirei.
- Difícil! – Falei.
- Se você está assim agora, imagina em decisões? – Ri fracamente.
- Um dia de cada vez. – Falei.
Alisson apareceu no jogo em um recuo de bola, do contrário eu só via ele se alongando enquanto o jogo inteiro acontecia do outro lado do campo. Uns minutos para frente Casemiro levou uma bela cotovelada de um boliviano e o VAR precisou checar se era falta ou não, na minha opinião sim, mas o jogador boliviano só levou um cartão amarelo.
Alisson apareceu de novo aos 25 minutos mais ou menos, eles tentaram fazer um lance de longe, mas a bola passou longe de Alisson e mais ainda do gol. Foi dado um tiro de meta. Minutos à frente, Daniel fez um passe para dentro da área, a defesa boliviana tirou, Richarlison pegou o rebote, mas a defesa mandou para fora de novo, deixando o pombo inconformado de joelhos no gramado. Junto da torcida inteira.
Neres tentou chegar junto com o goleiro Lampe, mas o mesmo fez um chute de fora da área, mas Richarlison pegou e tentou um chute direto, mas a defesa estava bem posicionada e não deu nem para ter um ataquezinho do coração. Em escanteio Richarlison tentou de novo e nada. Já tinha perdido as contas de quantas chances de gol esse garoto tinha tentado.
Escanteio de novo, Thiago tentou de novo e mandou para fora. Fernandinho tentou uma no meio do campo e o goleiro pegou sem dificuldade. Filipe Luís apareceu no jogo e tentou fazer um passe, Coutinho até cabeceou, mas totalmente sem jeito, mandando para fora.
No final do tempo, a Bolívia tentou uma, mas Alisson nem precisou ir até a bola, pois a mesma foi desviada sozinha, deixando somente um tiro de meta. Já nos acréscimos, Casemiro tentou uma do centro do campo, mas foi para fora. Assim acabou o primeiro tempo e a cara dos jogadores e equipe técnica ao meu lado não eram das melhores.
Com as vaias dos torcedores logo após o apito, não melhorou os ânimos. Eu e Bianca nos levantamos e seguimos de volta para o vestiário. Alisson apareceu ao nosso lado e somente assenti com a cabeça, vendo-o fazer o mesmo.
Tite acabou dando um esporro de leve na galera, optei por ficar no corredor, o vestiário não era tão grande para os jogadores fazerem o relaxamento, cuidado entre tempos e ainda caber à gangue inteira em peso, mas deu para ouvir lá de fora.

Fomos para o segundo tempo e percebi alguns lugares vazios na plateia, não sei se aqueles lugares já estavam vazios ou se as pessoas tinham ido embora, se isso realmente aconteceu, seria um prato cheio para a imprensa. Sei que temos mais 45 minutos, mas começar a estreia assim, estava pior do que a Copa do Mundo, onde ficamos no empate com a Suíça. Pelo menos foi um a um. O bom é que a torcida estava chamando junto, animando o pessoal a cantar e torcer.
O ataque começou com o Brasil de novo, logo no primeiro lance rolou um toque de mão e o jogo parou novamente para consulta do VAR. Juntei as mãos em uma reza como se minha vida dependesse daquilo. Era a oportunidade de abrir o placar na calma. Com uma graça de senhor Jesus, meu salvador, o VAR deu o pênalti para gente e Coutinho cobrou lindamente, fazendo o placar abrir para o Brasil. Mas confesso que meu coração parou quando a bola foi para o cantinho demais e o goleiro também, achei que não ia dar.
- Gol! – Pulei animada, sentindo Bianca me abraçar de lado e pulamos junto dos jogadores reserva.
- Agora vai! – Bianca falou animada e rimos juntos.
O lance seguinte foi uma bagunça e um atropelamento incrível que eu nem sei explicar. A bola veio por Firmino no fundo do campo, ele fez o passe para Coutinho que veio por cima, dando uma cabeceada na bola, mandando-a para o fundo do gol e entrando com bola e goleiro na mesma, fazendo Coutinho até tropeçar no Lampe.
- GOL! – Bianca gritou ao meu lado e abracei-a fortemente, sentindo Mini sacudir dentro de mim, me fazendo rir.
- Ela acordou! – Falei para Bianca e a mesma sorriu, levando as mãos à barriga.
- Vai, princesa! Ajuda ‘nóis. – Ela falou, me fazendo ir.
Coutinho queria mais, tentou uma de suas bombas no centro do campo, mas não saiu. Firmino saiu do jogo e Jesus entrou, o mais novo tentou um chute logo que entrou, mandando uma bomba que achávamos que ia, mas a bola passou por cima do gol. Segundos depois, Coutinho levou um cartão amarelo por deixar o braço em uma disputa de bola. Isso era uma das cosias que ainda não faziam sentido para mim, mas tá valendo. Acho que o problema foi ele ter enfiado o cotovelo na cara do boliviano, mas continuando...
Jesus deu uma linda caneta em cima do boliviano, e tentou fazer o chute, mas antes de Richarlison chegar, o goleiro pegou a bola, devolvendo a bola para o campo. Neres tentou, mas estourou na defesa, Fernandinho chegou no meio, mas acabou tropeçando entre vários jogadores e a bola foi para fora.
Coutinho fez uma cobrança de escanteio, Marquinhos e Thiago subiram para cabecear a bola e a mesma ficou nas mãos de Lampe. Thiago ficou no chão, sentindo o quadril ou as costas, a equipe médica entrou em campo, mas tudo ficou bem. Minutos depois, saiu Neres e entrou Cebolinha.
Em uma disputa de bola com um boliviano, Richarlison foi literalmente tirado do campo, causando paralisação no jogo, mas sem falta, achei meio sem noção de ambos os lados, mas estava valendo. Depois Richarlison foi substituído por Willian. Finalmente o camisa 10 do jogo estava entrando.
Passando os 40 minutos de jogo, Everton chegou cruzando tudo e todos no campo da Bolívia e meteu uma bonita! BONITA PARA CARALHO, se quer saber! Não deu chance de ninguém parar para pensar. Uma hora a bola estava fora e depois estava dentro. Foi bonito! Isso já tinha dado ânimo o suficiente para começar.
Quase no finzinho do jogo, decidiram deixar a bola ir para o nosso campo. Alisson deu uma acordada, mandaram uma bola rasteira, mas Alisson só se jogou para segurar a mesma, parando-a rapidamente. Filipe Luís tentou vir pela lateral esquerda, Willian apareceu no jogo, mas Lampe pegou a mesma.
Everton tentou dar outra enterrada, mas quando ele passou a bola para o centro do campo, a defesa ou até mesmo os próprios jogadores do Brasil tiraram a bola e só viu a bola saindo pela tangente.
O jogo acabou com quatro minutos de acréscimo e o pessoal todo se empolgou com o apito final e eu abri um sorriso, abraçando Cássio que estava mais perto de mim. Um de seis, galera, que comecem as contagens.
Esperei os jogadores comemorarem e Bianca acenou para o outro lado e eu confirmei com a cabeça, ela ia para entrevistas e eu para a coletiva. Desci as escadas do túnel, abraçando Taffarel de lado e o mesmo piscou, sorrindo para mim. Assim que desci o último degrau, virei para trás e esperei por Alisson.
O mesmo abriu um sorriso quando apareceu no topo do mesmo com sua garrafinha e sua toalha e eu sorri, abraçando-o antes mesmo de ele pisar no último degrau e rimos fracamente. Ele estalou um beijo na minha bochecha e começou a andar lado a lado comigo para dentro do vestiário.
- Parece que nem suou. – Comentei com a mão em suas costas.
- Até que não! – Ele falou, dando um beijo em minha cabeça. – Como a Mini ficou?
- Ela deu uma sacudida no primeiro ou segundo gol, mas tudo certo! – Falei.
- Vamos, bebê, é só o começo! – Ele falou e eu sorri.
- Que Deus queira! – Sorri, nos separando no corredor e vi alguém conhecido abraçando os jogadores na porta do mesmo.
- Ei, Safadão! – Falei, apontando para Wesley Safadão e ele sorriu, enquanto conversava com Firmino.
- Tudo bem? – Ele me cumprimentou e eu sorri.
- “Tô namorando todo mundo...” – Cantei, vendo-o rir.
- Isso aí! – Sorri, seguindo para dentro do vestiário onde algumas pessoas ainda se abraçaram.
- Ah, garota! – Tite me abraçou, me tirando do chão e eu sorri.
- Vamos que vamos, hein?! – Falei, vendo-o rir fracamente.
- Vamos, sua Mini vai dar sorte.
- Assim espero. – Ri fracamente, seguindo pelo vestiário. – Coletiva já, já, tá?! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Você vai ver, nossa menina vai dar sorte. – Alisson falou e eu me apoiei no cantinho ao lado dele.
- Se for assim, ela vai em todos os jogos! – Ele riu fracamente, me puxando pela mão e eu sentei em seu colo.
- Eu ia adorar, confesso! – Ele disse e eu acariciei seu rosto.
- Tem muita água para rolar e não sabemos como muita coisa vai ficar, mas se possível, ela vai participar disso sim. Como Helena na Copa e como as crianças dos meninos. – Assenti com a cabeça e ele sorriu, colando os lábios nos meus delicadamente.
- Para onde agora? – Ele perguntou.
- Vamos voltar para o hotel e viajar só amanhã, está tarde, não tem mais voo doméstico até a gente sair daqui. – Comentei.
- Salvador, né?! – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Salvador! – Falei animada. – Estou animada, nunca fui para lá.
- Você vai adorar, ! – Dani falou ao meu lado, me dando a mão e me girando no corpo. – O local, o sol, a música, a dança! – Ele tentou dançar comigo, me fazendo gargalhar.
- Essa daí não dança não, Dani! – Alisson falou se levantando e eu ri.
- Ah, mas vai dançar! – Dani falou e eu sorri. – Vai estar na minha terra, vai precisar dançar muito! – Sorri, abraçando-o de lado.
- Talvez eu dance. – Falei.
- Ah tá! – Alisson foi irônico.
- Quando isso acabar, quem sabe? – Pisquei e ele sorriu, me abraçando pela cintura e dando um beijo em meu pescoço. – Agora vai, ainda temos trabalhos para fazer! – Falei, me desvencilhando dos braços de Alisson e vendo Bianca rindo na porta.
- Tá dançando, é?! – Ela me zoou e eu ri fracamente.
- Nem começa! – Falei, empurrando-a de lado. – Dani, mais uma para dançar aqui! – Falei.
- Aí sim, hein?! – Ele gritou e eu sorri.
- Vam’bora, Tite! – Falei, chamando-o para a coletiva.
- Vamos, garota! – Ele falou rindo fracamente.




Continua...



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