Finalizada em: 16/11/2020

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Capítulo 19 – O infarto um dia vem!

- Bom dia, ! – Arthur falou quando eu apoiei meu prato ao lado de Alisson e sentei ao seu lado.
- Bom dia, gente! – Falei animada, estalando um beijo na bochecha de Alisson, vendo-o rir enquanto bebia seu mate.
- Eita, parece que alguém está empolgada! – Coutinho falou e eu sorri.
- Mas é claro, depois do jogaço de ontem! – Dani falou e Alisson riu fracamente ao nosso lado.
- Ela até pode estar feliz por isso, Dani, mas agora não tem nada a ver. – Ele falou e eu o abracei de lado, apertando em um fofo e raivoso abraço, fazendo-o derrubar um pouco de ovo mexido em seu colo. – Aguenta o coração, Felícia!
- Desculpe! – Fiz uma careta, voltando para meu prato, começando a mexer o achocolatado que eu havia colocado no leite. – Vocês vão treinar no CT do Palmeiras! – Falei animada, dando um largo sorriso.
- Esse é o ânimo! – Jesus falou voltando para mesa e nós batemos as mãos em um alto estalo.
- Eu estou muito, muito, muito animada! Já vi jogo lá, já fiz tour, mas nunca entrei no CT, eu vou tirar muitas fotos! – Falei rindo, quase pulando na cadeira.
- A gente vai trabalhar, lindinha! – Bianca falou atrás de mim e eu dei uma careta.
- Tirarei selfies enquanto atenderei ligações? – Falei em tom de pergunta.
- Esse é o espírito! – Rimos juntas.
- Daqui a pouco Mini começa a mexer aí e você não sabe o porquê. – Alisson falou.
- Vou tentar manter a ansiedade. – Sorri. – O próximo jogo é contra a Venezuela, sei que vai ser meio difícil, mas pelo bem de vocês, vai dar tudo certo. – Sorri.
- Pelo nosso bem? – Arthur perguntou antes de colocar uma colherada de iogurte na boca.
- É óbvio! – Falei rindo sarcasticamente. – Eu sou uma assessora nervosa, meus nervos já estão a flor da pele, imagina grávida? Eu estou sacudindo a todo momento aqui! – Falei rindo fracamente.
- Ela está rindo, mas posso garantir que é sério! – Thiago falou passando para mesa e eu sorri.
- Exatamente! Então, vamos que vamos! – Falei, batendo as mãos uma na outra.
- Ela está muito empolgada! – Filipe Luís falou se sentando ao lado do Alisson.
- Fica feliz que essa empolgação pode se transformar em raiva logo, logo. – Alisson falou e eu sorri, piscando para o mesmo.
- Ah, , a Aline vem. – Arthur falou.
- Para o jogo? – Perguntei rapidamente, apoiando a mão em seu ombro.
- Ela ia vir só para o jogo, aí falei para ela vir antes, ficar por aqui... – Ele ponderou com a cabeça. – Ela brigou com a família por causa daquele problema lá atrás, sabe?
- Ah! – Deixei a reação no ar.
- Então... Ela não quer visitá-los, aí ela sabe que voltando para cá ela vai ser meio obrigada a isso, enfim... – balançou a cabeça, voltando a mexer no seu cereal.
- Bom, eu posso ver do Tite dar uma folga para vocês entre amanhã ou depois e vocês tiram um tempo com a família de vocês. – Falei. – Se eu e Alisson podemos, vocês também podem.
- Mesmo? – Arthur falou empolgado e alguns outros rostos também prestaram atenção.
- Calma! – Falei um tanto alto. – Eu vou tentar. – Falei firme. – Vocês só precisam se manter calmos.
- Nem todo mundo é uma rocha igual o Alisson, mas a gente sabe se comportar. – Richarlison falou e rimos fracamente.
- Eu não posso discordar disso, amor. – Falei e ele sorriu. – Mas olha esse sorriso! – Os meninos mais próximos riram.
- Mano, ele tem uma seriedade difícil de acompanhar, cara! – Richarlison falou.
- Mas também tu é meio zoado, né, pombo? – Marquinhos falou, fazendo a mesa cair em gargalhada.
- Mano, eu preciso concordar com ele! – Arthur falou. – Você não se abala, cara! – Ele falou para Alisson.
- Bom, ele não chorou na eliminação da Copa, eu estava chorando mais do que ele. – Alisson riu ao meu lado.
- Parece que vocês estão me chamando de insensível! – Alisson falou.
- Não, isso nunca! – Thiago interviu. – Todo mundo vê você com a , é o casal mais bonito do mundo, na boa! – Ele falou até se levantando, me fazendo rir.
- É, isso não. – Filipe falou. – Você é um cara verdadeiramente apaixonado pela sua dama... – Ergui as mãos apontando para mim, vendo o pessoal rir. – Mas você é sério, Alisson. Centrado. – Ele balançou a cabeça. – É... – Ele tentou procurar palavras.
- Estranho! – Richarlison falou, me fazendo gargalhar.
- Posso dizer uma coisa? – Ergui a mão.
- Você é namorada dele, vai tentar defendê-lo. – Jesus falou, me fazendo rir.
- Eu acho que é algo da posição, gente! – Falei. – Pode perceber, todo goleiro é mais quieto! – Me levantei, pegando minha xícara. – É por isso que eu gosto mais deles. – Pisquei, me afastando.
- Ah! – Eles reclamaram, jogando bolinhas de guardanapo em mim e eu dei um rápido beijo na cabeça de Alisson, voltando para o buffet.

- Lar doce lar! – Falei ao descer no ônibus no CT e encontrar o escudo do meu Palestra.
- Feliz? – Alisson parou ao meu lado e eu sorri, assentindo com a cabeça, sentindo-o me abraçar de lado.
- É por isso que eu consegui esse emprego! – Falei e ele riu junto, me puxando para andar para dentro do CT.
Assim que eu passei pelos portões e entrei no jardim interno, eu entrei no meu sonho verde e branco. Era muito, muito lindo, muito bem cuidado, muito limpo, muito perfeito. Ok, era meu time, mas era simplesmente perfeito. E para onde eu olhasse, eu via as cores do meu time e não poderia estar mais feliz.
Os meninos sumiram por onde a comissão técnica os mandou e eu fiquei andando igual uma espoleta pelas áreas permitidas, enchendo meu celular com fotos e selfies. Eu estava realmente nas nuvens, os poucos funcionários do CT até davam alguns sorrisos risonhos, pois eles sabiam que ali tinha uma torcedora. E era melhor eles tomarem cuidado, pois eu ia começar a pedir para tirar foto com cada um deles!
Segui pelo caminho do pessoal e vi a placa academia na porta e segui por aquele caminho, ouvindo alguns barulhos de conversas e pesos quando me aproximei da mesma. Quando a academia de abriu para mim, e eu vi a frase Scoppia che la vittoria è nostra, eu gritei!
- Ah! – Gritei animada, dando alguns pulinhos, chamando a atenção dos jogadores fazendo treinamento ali.
- Acho que ela está empolgada. – Fabio falou e eu abri um largo sorriso.
- Deixa ela! – Ouvi a voz de Alisson e o mesmo piscou em minha direção, me fazendo sorrir. Eles faziam alongamentos em pé, erguendo os braços e eu passei empolgada por Alisson, Dani, Fernandinho e Marquinhos e bati na mão de cada um deles, vendo alguns rirem, outros me olharam estranho, mas eu só saí saltitando até o melhor ângulo para fazer mais um monte de selfies e boomerangs, e eu sabia que o pessoal estava rindo de mim, mas quem se importa?
Na televisão estava passando Venezuela e Peru, mas não parecia tão animado, estava no zero a zero ainda. Saí da academia e passei pelo salão de jogos, piscinas, até que cheguei nos vestiários. Eu deveria estar perdida ali dentro, mas cada lugar que eu achava, eu parava para tirar fotos. Quando eu me encontrei no gramado, e vi a placa de Maior Campeão do Brasil, me senti feliz.
Os reservas faziam um treino no campo e Bianca e o pessoal estavam jogados do lado de lá em uma rodinha. Cheguei saltitante perto deles.
- Ei, cansou de turistar? – Bianca perguntou e eu ri fracamente.
- Só temos hoje, não podia perder a oportunidade. – Sorri. – Tirei várias fotos! – Falei animada.
- Por que não me chamou? Eu poderia ter tirado algumas fotos. – Lucas falou e eu abanei com a mão, me sentando um andar acima na arquibancada.
- Tá tudo bem, na saída você tira algumas. – Ele riu fracamente, batendo a mão em meu joelho.
- Falando em fotos, você não vai fazer uma sessão de fotos com essa barriguinha linda, não?! – Bianca perguntou.
- Eu já fiz uma lá em Liverpool, gente! – Falei.
- É, mas você mal tinha barriga naquela época! – Anna falou em um tom irritado e eu ri fracamente.
- E aposto que o fotógrafo de lá não era nem parecido com a gente! – Lucas falou e ele e Anna bateram as mãos uma com a outra.
- O quê? Vocês querem fazer isso durante a competição? – Perguntei um tanto exaltada.
- A gente tem umas folgas, qual é! Não foi você que conseguiu uma folga para os jogadores amanhã? Podemos aproveitar! – Bianca falou dando de ombros.
- É! – Anna se animou. – Nós podemos fazer bem temática da Seleção com bandeiras, uniformes, verde e amarelo! – Ela falou animada.
- Não estou acreditando que vocês estão cogitando isso! – Falei rindo.
- Ah, qual é, ! – Bianca falou. – A gente sabe que, quando isso acabar, é muito provável de você ter esse bebê em Liverpool junto do Alisson e ficar sua licença maternidade lá. Quando você voltar, essa criança já vai ter seis meses. – Ela falou e fez um bico. – Deixa a gente brincar com ela um pouco.
- Assim, o certo seria a gente fazer isso mais para frente, você está de quanto? – Anna perguntou.
- Nem seis meses. – Falei.
- O problema é que a gente não sabe como iremos nessa competição, se completaremos ela, enfim, tem muitas variáveis. – Leandro falou.
- A palavra “se” é proibida aqui, Lê! – Falei e eles riram.
- Mas vamos, , você tá com uma barriguinha muito lindinha, deixa a gente aproveitar. – Vinícius falou e eu suspirei, dando um pequeno sorriso.
- Ok, podemos fazer isso! – Falei, vendo o pessoal gritar animado e eu suspirei. – Vocês estão encarregados de preparar tudo e eu garanto fazer escova e maquiagem para ficar mais bonita!
- Isso! – Bianca falou animada.
- Como se precisasse! – Anna falou e eu a abracei de lado, sorrindo.
- Vamos ficar linda para fotos, Mini! – Bianca falou fazendo cócegas na minha barriga e eu sorri.
- Ah, sem tinta, ok?! Eu tenho irritação na pele com guache! – Falei. – Agora parece que estou ficando cada vez mais irritada, na verdade. – Eles riram.
- Batom? – Bianca perguntou e assenti com a cabeça.
- Combinado! – Bati minha mão na dela, sorrindo.

O treino seguiu até umas seis horas, aí os meninos tiveram mais uma meia hora para tomar banho e se arrumar e, enquanto isso, Lucas e Anna tiraram umas fotos profissionais para mim dentro do meu lar. Por volta das sete horas seguimos em direção até o aeroporto de Guarulhos, então levou mais quase uma hora para chegarmos lá, aí quase mais uma hora para embarcar todo mundo e, duas horas e meia depois, por volta das dez e meia da noite chegamos na capital baiana.
Não tivemos recepção no aeroporto, pois saímos pela pista, como das outras vezes, e no hotel Deville, próximo à praia de Itapuã. Não tive muito tempo para observar o hotel, mas a vista da área externa era linda. Acho que nunca tinha sonhado em vir para Salvador, Salvador sempre me lembrou Carnaval e eu não sou a mais animada para esse tipo de festa, mas a vista era bonita, mal esperava pelo dia seguinte.
Os quartos foram divididos e eram quartos de dois, eu e Alisson conseguimos burlar a organização e ficamos juntos mais uma vez, mas sabia que quando passássemos de fase, talvez seria melhor nos separarmos pelo menos para valorizar a questão de concentração. Alisson aguardou que eu tomasse banho para descermos juntos para jantar. Claro que não demorou muito para subirmos de novo. Tínhamos folga amanhã até umas quatro da tarde, quando seria o treino, baseado naquele acordo maroto que consegui com Tite, mas Lucas e Anna estavam incrivelmente empolgados por fazer meu ensaio.
Isso que nenhum dos dois tinha experiências anteriores com fotografia para gestante, mas poderíamos dar um jeito.
- Que horas será a sessão de fotos amanhã? – Alisson perguntou quando entramos novamente no quarto e eu sentei na beirada da cama.
- Depois da coletiva do Dani. Por volta das duas da tarde. – Ponderei com a cabeça. – Arthur disse que a Aline chega por volta do meio dia.
- E eu vou poder participar? – Ele se colocou entre minhas pernas e eu passei minhas mãos ao redor de sua cintura.
- Mas é claro! – Falei, sentindo-o dar um curto beijo em meus lábios. – De preferência com esse tanquinho liberado para jogo! – Subi a mão por dentro de sua blusa, vendo-o rir fracamente.
- Achei que era a barriga da mãe que precisava aparecer. – Rimos juntos e ele deu outro curto beijo em meus lábios.
- São os hormônios, amor! – Falei, vendo-o rir fracamente.
- Eu te perdoo. – Ele falou entre sorrisos. – Em breve eu devo perder a tarada, então preciso aproveitar...
- Ei, também não é assim! – Falei, brigando com ele e o mesmo sorriu, se sentando ao meu lado na cama de solteiro.
- É sim! – Ele falou, franzindo os lábios. – E eu estou adorando o momento tarada e ficarei bem quando esse momento passar. – Dei um pequeno sorriso, sentindo-o passar uma mão em meu rosto.
- Não quero perder isso. – Suspirei e ele negou com a cabeça.
- Prometemos não falar disso. – Ele sussurrou contra meus lábios e eu suspirei.
- Eu sei, mas eu não sei viver sem planejamentos. Eu tenho a necessidade de saber tudo o que vai acontecer pelos próximos meses da minha vida. – Ele me abraçou de lado e eu apoiei a cabeça em seu ombro.
- Ninguém disse nada? – Ele perguntou.
- Não. – Falei manhosa. – E como eu sei que se eles conseguirem algo é um favor, não tenho coragem de cobrar.
- Olha para mim! – Ele falou e eu ergui o rosto. – Vamos nos divertir, ok?! Vamos garantir esse mês juntos...
- Só três semanas agora...
- Vamos nos divertir e depois a gente pensa nisso, ok?! Já falaram que pelo menos ter o bebê juntos e sua licença maternidade eles vão conseguir, já ganhamos uns seis meses aí... – Suspirei, assentindo com a cabeça.
- Ok, ok, mas são muitos sentimentos, tá tudo bagunçado na minha cabeça. – Ele assentiu com a cabeça.
- Eu sei, mas vamos devagar. – Suspirei. – Vamos começar juntando essas duas camas e fazer valer o sentido de “se divertir”, que tal? – Ele falou, ficando no centro das duas camas e começando a desconectar os fios de trás da mesa de cabeceira e o abajur foi para o chão.
- Sem destruir o hotel, amor. – Falei, virando as pernas para o meio das duas camas.
- Eu tenho outras ideias sobre destruir. – Ele falou, puxando a mesa de cabeceira até ficar nos pés da cama e foi na lateral da outra cama, empurrando-a também.
- Depois ainda tem coragem de falar que eu sou tarada. – Falei, virando as pernas para o outro lado para ele encostar as duas.
- Só quero acompanhar o ritmo. – Ele piscou, subindo na cama de joelhos e veio em minha direção.
- Você sabe que essa cama vai abrir se a gente abusar das duas, não sabe? – Ele se jogou ao meu lado, deitando exatamente no meio das duas, na diagonal.
- Eu pago para ver. – Revirei os olhos.
- Tá abusado, hein?! – Deitei ao seu lado e ele riu fracamente, passando a mão pela minha cintura.
- Eu te seguro! – Ele disse. Abri um pequeno sorriso e deixei que ele colasse nossos lábios.

Devido à folga, eu desliguei meu celular e permiti dormir até acordar, o que foi quase 11 da manhã. Alisson já havia acordado, tomado banho, já usava o uniforme da CBF e me guardava em volta de seus braços enquanto lia um de seus livros evangélicos. Dei um rápido beijo em seus lábios e fui para o banho. Como já eram quase 11 horas e eu teria que almoçar antes da coletiva, então ignorei o café da manhã. Mini estava faminta, mas poderia aguentar alguns minutos.
Saí do banho e coloquei um conjunto de top de ginástica e short de malha, já que provavelmente ficaria só com eles em algum momento durante a sessão de fotos e vesti minha blusa branca da CBF e uma calça jeans. Voltei para o banheiro e, como prometido para Lucas e Bianca, fiz uma bela de uma escova em meus cabelos longos, enrolando a ponta dos fios com a escova e fiz uma maquiagem digna de evento. Sabia que precisava retocar o batom, mas cuidaria disso após o almoço.
- Hum, que gata! – Alisson falou quando eu voltei do banheiro e fiz uma pose exagerada na porta do banheiro.
- Estou plausível para uma sessão de fotos? – Perguntei e ele se levantou correndo, me abraçando pela cintura.
- Está gata demais! – Ele falou e deu um beijo leve em minha bochecha. – Para não estragar a maquiagem.
- Ah, esse meu namorado! – Falei, abanando a mão e me afastei dele, pegando meus materiais para a coletiva. – Eu já vou descer, você vai ficar?
- Não, vou junto, desci para tomar café só e aí fiquei aqui contigo. Tá dando fome de novo. – Ri fracamente.
- Eu dormi demais, né?! – Fiz uma careta quando ele abriu a porta do quarto.
- Um pouquinho! – Ele brincou, puxando a porta.
- Deve ser da gravid...
- Nem tenta culpar a gravidez que a gente sabe que você dorme muito normalmente! – Ele falou.
- Ah, filho da mãe! – Falei, entrando no elevador.
- Mamãe me ensinou a não mentir! – Ele falou engraçadinho e eu revirei os olhos.
Chegamos no térreo e fomos em direção ao restaurante, boa parte dos jogadores e equipe técnica já estavam por lá, inclusive minha equipe em peso. Assim que o pessoal me viu um pouco melhor arrumada, eles começaram a gritar.
- Nossa, vai para onde? – Firmino perguntou e eu pisquei, rindo fracamente.
- Estamos acostumados com a cara limpa de sempre! – Ederson falou e eu ri fracamente.
- Aproveitem que isso não vai acontecer sempre. – Falei abanando a mão.
- Então você realmente fez? – Lucas se aproximou e eu sorri.
- Estou bem? – Perguntei.
- Tá linda! – Ele falou e eu sorri.
- Qual a ocasião? – Arthur perguntou.
- Bom, sei que vocês estão de folga e alguns vão encontrar seus familiares, mas hoje faremos a sessão de fotos com nossa gestante aqui! – Bianca falou e eu ergui as mãos animadamente, vendo o pessoal rir.
- Obviamente vai ser temático da Seleção, então ia adorar que, quem puder, tire algumas fotos comigo. – Sorri.
- Ah, cara, bacana! – Filipe Luís falou. – Vai ser ótimo! Eu estou dentro! – Sorri.
- Vai ser depois da coletiva com o Dani, estamos vendo um lugar ainda. – Falei.
- Falei com o Fabio e ele já liberou alguns adereços então já tenho bola, bandeira, roubei uma camiseta de goleiro e luvas do Alisson. – Lucas falou e eu neguei com a cabeça.
- Vai ser uma bagunça! – Falei rindo fracamente e levei as mãos à cabeça.
- A Aline vai adorar isso, ! – Arthur falou e eu virei para ele.
- Ela vai conseguir vir? – Perguntei apressada.
- O avião dela chega agora meio dia. – Escancarei a boca surpresa.
- Oh, meu Deus! – Gritei animada. – Vai ser ótimo! – Sorri. – Deixa eu comer que eu ainda não comi nada, nos encontramos na coletiva. Lucas, você me avisa onde vai ser essas fotos.
- Eu vou cuidar da sessão de fotos e o Lucas vai para coletiva contigo. – Anna falou e eu assenti com a cabeça.
- Feito, galera! Nos encontramos depois! – Falei, seguindo para o buffet onde o almoço já estava sendo servido.

Emendamos o almoço à coletiva e ficamos 50 minutos lá dentro com Dani e os jornalistas. Ok, Dani é da Bahia e começou sua carreira aqui, então muitas perguntas foram sobre isso, além disso, ele era o capitão, então muitas perguntas já eram projetando o jogo contra a Venezuela dali dois dias, mas eu estava ficando empolgada ou ansiosa com a sessão de fotos, aposto que os garotos em peso iriam estar lá, além de que eu finalmente conheceria a famosa Aline.
- Meu painho, foi muito cansativo! – Dani falou ao meu lado quando saímos da coletiva e eu sorri, dando um tapinha em suas costas.
- Pois é, capitão! – Sorrimos e ele me abraçou pelas costas. – E estamos só começando.
- Deus te ouça! – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Vamos, ? – Lucas entrou na sala com Vinícius e seus materiais e eu franzi a testa.
- Aonde vocês vão fazer isso? – Perguntei, vendo-o guardar o celular no bolso.
- Lá na piscina, Anna conversou com o pessoal, falaram que estão com pouca utilização por causa do inverno... – Franzi a testa.
- Aqui abaixa dois graus o pessoal já tira o casaco do armário! – Dani explicou e eu assenti com a cabeça, entendendo.
- Aí eles liberaram por duas horas, Anna conseguiu montar um estúdio e estão nos esperando lá. – Suspirei.
- Ah, gente! Confesso que estou nervosa. – Dei um pequeno sorriso.
- Faremos você se sentir confortável, não se preocupe! – Vini falou e eu abracei-o de lado.
- E você, Dani? Para onde vai? – Perguntei.
- Vou com vocês, é claro! Até eu quero tirar uma foto com a mamãe. – Sorri, sentindo-o me abraçar pela cintura e dar um beijo em meu ombro.
- Vocês são uns amores, sabia?
- Sabia! – Dani foi o primeiro a falar e eu ri fracamente.
Saímos da sala de conferências e atravessamos o hotel pelo térreo, passando pelas áreas fechadas exclusivamente para a Seleção, seguindo as placas para a piscina. Eram mais de duas horas, então no momento em que eu coloquei o rosto para fora, eu fui cegada pelo sol, fazendo tudo escurecer por alguns segundos, mas logo aquele lindo parque aquático que eu vi lá de cima apareceu na minha frente.
Alguns jogadores estavam lá: Ederson, Filipe, Miranda, Thiago, Marquinhos, Casemiro, Fernandinho, Coutinho, Jesus, Willian, Arthur e, obviamente, Alisson. Creio que a outra metade tinha dado um jeito de encontrar seus familiares. Minha equipe também estava em peso lá, além de Tite, Edu, Fabio, Cléber e Taffa. E no meio de todo esse pessoal, uma morena, com os cabelos pretos lisos que me fez abrir um sorriso ao saber quem era.
- Então, aqui estou! – Suspirei. – O que vocês querem fazer comigo? – Coloquei as mãos na cintura e todos viraram em minha direção.
- Muitas coisas! – Ouvi a voz de Alisson falar e eu revirei os olhos.
- Depois eu que estou tarada, né?! – Falei, ouvindo-o rir fracamente. Ele veio em minha direção e me abraçou pela cintura, estalando um beijo em minha bochecha.
- Vamos fazer as devidas apresentações antes? – Arthur falou, dando a mão para a mulher do seu lado e eu suspirei, abrindo um pequeno sorriso.
- Acho que não preciso de apresentações. – Falei, vendo Aline sorrir e nós duas demos alguns passos à frente, nos abraçando fortemente!
Eu era bons centímetros mais alta do que ela, então a abracei pelos ombros e ela me abraçou pela cintura, colando nossas barrigas rapidamente. Senti algumas lágrimas deslizarem pelo meu rosto e eu sabia que a gravidez tinha boa desculpa naquilo. Quando nos afastamos, ela abriu um largo sorriso e eu só soube suspirar.
- Não preciso de apresentações, pois ela já é uma grande amiga! – Falei, vendo-a rir fracamente e me apertar em um abraço mais uma vez.
- É um prazer finalmente te conhecer! – Ela falou e eu ri fracamente, segurando seu rosto com as mãos.
- Você é linda! – Falei involuntariamente, ouvindo o pessoal em volta rir.
- Olha quem fala! – Sorri, negando com a cabeça, passando as mãos embaixo dos olhos.
- Desculpa pelas lágrimas, eu estou um pouco emotiva, sabe? – Falei, vendo-a rir fracamente.
- E a Mini? – Ela perguntou e olhamos para nossa barriga. – Posso?
- Claro! Você foi umas das primeiras a saber, titia! – Brinquei e ela riu fracamente.
- Cara, tá tendo muitos tios, não estou gostando disso! – Ouvi Bianca falar e sorrimos. Aline levou as duas mãos em minha barriga que estava quietinha naquele dia e percebi um anel brilhando em seu dedo anelar esquerdo.
- Uau! – Peguei sua mão. – O que é isso na sua mão? – Ergui na direção do sol, vendo-a rir.
- Ele não te contou? – Aline perguntou e todos olhamos para Arthur que havia perdido a cor de repente.
- O que você não me contou? – Avancei em cima de Arthur e o mesmo deu dois passos para trás, tropeçando em uma espreguiçadeira.
- Eu pedi para casar com ela! – Arregalei os olhos, sentindo que puxava a mão de Aline junto.
- E você não me contou? – Gritei, andando em sua direção e ele afastava cada vez mais. – Como assim? – Soltei a mão de Aline, andando atrás de Arthur e o mesmo começou a correr de mim. – Eu te contei tudo! Você soube da gravidez antes do Alisson e você não me falou que pediu para casar com ela? Que tipo de amizade é essa? – Falei.
- Amor, amor, amor! – Senti Alisson me segurar pelos ombros.
- Eu só estou chocada! – Falei, vendo Aline rir. – E você também não me contou! – Falei brava com ela.
- Eu jurava que ele ia te contar. Vocês se encontraram logo depois, não achei que ele ia esconder isso de você. – Ela falou segurando a risada.
- Quando isso aconteceu? – Perguntei.
- Em Paris e...
- EM PARIS? – Gritei, olhando para Arthur que fazia questão de se esconder atrás de Alisson. – Você disse que tinha pedido para namorar com ela, não casar. – Continuei falando alto e eu já havia virado piada, pois todos estavam rindo.
- Na verdade, eu pedi para ela ser minha mulher, isso por englobar muitas coisas...
- Isso é pedir para casar com alguém, idiota! – Falei, ouvindo Aline gargalhar.
- Em defesa dele, eu pedi para esperar até a faculdade acabar, conseguir um emprego e tudo mais...
- É, aí eu achei melhor não fazer grande caso sobre isso, sabe? Pouca gente sabia da gente, nosso relacionamento começou meio conturbado, teve o problema da tia dela...
- Que eu provavelmente não sei. – Falei.
- Temos muito o que conversar, amiga! – Aline falou e eu ri fracamente.
- Eu vou te matar por esconder isso de mim, Arthur, mas parabéns! – Falei rindo, abraçando Aline fortemente. – Não acredito que vocês vão se casar! – Falei animada.
- Eu não estou entendendo-a mais. – Arthur falou.
- São os hormônios. – Ouvi Alisson falar.
- Ela não queria me matar há dois segundos? – Ele perguntou, ficando ao lado de Alisson.
- Eu ainda quero! – Falei firme, vendo-o dar um passo para trás, tropeçar em Alisson e cair de costas no chão, fazendo todo mundo gargalhar.
- Cara, tu é medroso demais. – Alisson falou, dando a mão para ele levantar.
- É a grávida, cara. – Arthur falou. – É pior que a normal. – Revirei os olhos.
- Felicidades para vocês dois, ok?! – Falei para Aline. – Fico no aguardo do convite para o casamento!
- Combinado! – Ela falou, me fazendo sorrir.
- Bom, vamos para o que viemos fazer? – Lucas chamou a atenção e eu sorri.
- Vamos, garoto. O que você quer fazer? – Perguntei.
- Nós pensamos em três formas: uma sua com a blusa do Alisson, pegamos alguns números e queremos que fique bem demarcada a barriga, aí fazemos algumas fotos sozinhas, uma com o Alisson, depois com a galera. – Anna falou e eu assenti com a cabeça.
- Depois pensamos em fazer algumas fotos com você somente com a bandeira do Brasil, enrolada nela, brincando com ela, se divertindo mesmo. – Lucas falou e eu afirmei com a cabeça.
- Mais intimidador, mas ok. – Falei, ouvindo-o rir.
- E a última, clássica, a gente quer escrever na sua barriga e você só de top e short de ginástica. – Bianca falou animada.
- Bom, vocês têm... – Olhei no relógio. – Uma hora e meia para fazer isso. – Falei.
- Vamos lá, galera! – Lucas falou batendo as mãos e todo mundo se espalhou.
Os jogadores começaram a se jogar pelo chão, nas espreguiçadeiras, bater bola em volta da piscina, e minha equipe começou a organizar os holofotes e tripés em algumas posições diferentes. Bianca e Anna me ajudaram a me arrumar. Eu já estava com as roupas de ginástica por baixo, então só tirei a blusa e a calça e coloquei a blusa preta de goleiro. Os meninos zoaram um pouco comigo tirando a roupa na frente deles, mas olho por olho, dente por dente, certo?
- Com as luvas? – Lucas perguntou, enquanto Anna me ajeitava próximo à piscina, checando luz e fazendo testes com a câmera.
- Deixa eu me acostumar com isso antes, por favor! – Falei e Lucas estendeu as luvas para Alisson, batendo fortemente em seu peito.
- Desculpa! – Ri fracamente, vendo um flash estourar em meu rosto.
- Vamos lá! – Anna falou, espalhando os fios da câmera e senti meu rosto esquentar com a quantidade de gente vendo e dei um pequeno sorriso.
- Sorria, garota! Abrace sua barriga, seja feliz, vira de lado. – Vinícius começou a gritar e eu gargalhei, vendo o pessoal dar sorrisos para gente.
As primeiras fotos eu saí meio travada, depois os meninos começaram a me dar apoio moral e eu comecei a me divertir mais em frente à câmera. Alisson, Bianca, Arthur e Aline sorrindo para mim, também gritavam coisas para que eu me empolgasse e desse melhores poses e sorrisos mais largos. Depois de um tempo eles me entregaram as luvas e uma bola e eu comecei a brincar com a mesma, gargalhando quando eu tentava fazer uma embaixadinha ou uma cabeceada e alguém precisava pescar a bola na piscina. Quando Alisson entrou na foto comigo, eu me senti mais confortável. Ele me abraçava, me beijava, acariciava minha barriga e parecia que as pessoas em volta sumiam quando isso acontecia e estávamos só nós dois ali. Depois entrou o resto do pessoal, mas faz parte.
Seguimos para as fotos comigo enrolada na bandeira e eu não fazia o tipo sexy, e com umas 30 pessoas, pois o pessoal começou a aparecer depois de um tempo, gritando meu nome, falando que eu estava gostosona, isso não faz alguém ficar mais confortável, mas conseguimos tirar algumas fotos legais. A bandeira esticada na barriga, eu com os braços abertos, o pessoal estava fazendo a festa comigo e eu tentava aproveitar ao máximo.
Por último eu fiquei só com meus shorts e top, Bianca pegou um batom e escreveu Mini com um coração do lado. Ela era boa no desenho, então fez um lettering bem bonito. Fizemos algumas outras fotos, principalmente com os jogadores e as equipes que quiseram participar, mas logo encerramos, pois ainda tinha horário para o treino.
- Qual é a desse Mini? – Filipe perguntou. – Vocês se decidiram por esse nome mesmo?
- Acabou pegando, era mini Becker, mini Becker, virou Mini. – Falei, dando de ombros.
- Vai se chamar Mini? – Coutinho perguntou e eu suspirei.
- Não sei. – Alisson falou e eu olhei para ele.
- Talvez eu tenha uma ideia. – Falei para ele que me olhou surpreso.
- Mesmo? – Ele perguntou sorrindo e eu assenti com a cabeça.
- Qual? – Ele perguntou e vi o pessoal curioso em volta.
- Depois eu te conto! – Falei e ele riu fracamente, piscando.
- Ah, qual é! – Os meninos gritaram e eu ri fracamente.
- Vamos treinar, galera! – Cléber falou e eu sorri.
- Alguém me ajuda a tirar esse batom da minha barriga, vai! – Falei e Bianca prontamente pegou alguns lenços umedecidos para me ajudar.
- Você tá comprando maquiagem boa, por acaso? – Bianca reclamou esfregando minha barriga.
- Só faltava eu continuar comprando coisa ruim depois da evolução de salário, né?! – Brinquei, pegando o pano da mão dela e esfregando na letra M.
- ... – Arthur se aproximou.
- Fala, criança! – Disse, olhando para ele.
- Não tem como a Aline ir no treino, né?! – Olhei para a mesma que conversava com Alisson.
- Tem milagres que nem eu faço, criança! – Falei e o mesmo assentiu. – E teremos só 20 minutos de imprensa em campo, seria um pouco na cara demais. – Ele assentiu com a cabeça.
- Beleza, obrigado por hoje, pelo menos. – Neguei com a cabeça.
- Sempre que eu puder. – Falei e o mesmo sorriu.
Terminei de limpar a caca em minha barriga e sabia que teria alguns pontinhos roxo que eu teria que tirar melhor no banho mais tarde, coloquei minha roupa novamente, ajudei Lucas e Anna a darem um destino à bagunça de materiais que fizemos na área da piscina.
- A gente se vê? – Aline perguntou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Você vai ficar para o jogo, não?!
- Mas é claro! – Ela falou rindo. – Não sei se vou conseguir acompanhar vocês, mas...
- Que fique só entre nós: você pode ficar no hotel e vocês podem dar umas escapadas, como eu já fiz ano passado... – Ela riu fracamente. – Só tente aproveitar a noite, ok?! Fora do grupo. E ele vai até seu quarto, não o contrário e sem sair do hotel, se saírem, eu não consigo proteger vocês se der alguma merda, ok?! – Ela riu fracamente.
- Acho que agora entendo o porquê o Arthur fala que você é tipo mãe. – Sorri.
- Levei a sério demais essa brincadeira. – Ela riu fracamente quando passei a mão livre na barriga.
- Você está linda demais, sério. – Agradeci com uma flexão de cabeça. – Obrigada, viu?!
- Eu que agradeço! – Pisquei. – Eu tenho que ir, caso eu não te veja até o jogo, se cuida, ok?!
- Pode deixar!
- Você vai seguir com a gente? – Perguntei, depois de dar alguns passos.
- Não sei ainda, eu tenho família aqui, né?! Talvez não consiga fugir. – Assenti com a cabeça.
- Qualquer coisa me avisa. – Acenei com a mão. – Deixa eu ir ou me deixam! – Ela riu fracamente, acenando com a mão.
Seguimos para o Estádio do Barradão, abreviação de Manoel Barradas, do Vitória e o dia virou noite rápido demais aqui, talvez seja a proximidade do início do inverno. Alguns jogadores começaram o treino na academia, incluindo Alisson. Por algum motivo Marquinhos estava animado e não parava de cantar, e nem era porque ele aproveitou com a esposa a folga, pois ele estava lá com a gente, mas sua cantoria fez que eu ficasse longe daquela área.
Os jogadores lá de fora seguiram com bate bola, treinos táticos, toquinhos com materiais de desvio, cones e outras coisas. Mais para o final do treino, eles fizeram um bate-bola e Arthur participou novamente, sua lesão estava muito melhor e tinha esperança que ele jogasse o próximo jogo, principalmente com Aline presente. Talvez pedir um gol seja demais? Espero que não!
Senti que o treino foi mais leve, mas podia ser impressão, apesar da sessão de fotos ter sido divertida, ter tido participação de todo mundo, inclusive de Tite, eu acho que não estava aguentando mais ficar tanto em pé, Mini estava realmente começando a fazer peso extra. Pelo menos ainda não estava compensando nas costas, já me bastava a altura.
Não tínhamos coletiva ou nenhum compromisso, mas estávamos cheios de e-mails para responder e aqueles 20 minutos de imprensa serviu para que eu negasse umas 200 perguntas, mas quando a pergunta vira pessoal, você não nega.
- , como você não pode nos responder nada sobre a Seleção...
- Eu sou jornalista como vocês, gente, não fonte. – Falei, dando um pequeno sorriso.
- Exato, por isso gostaria de perguntar de você, como namorada de um jogador titular, esperando filho dele, como é trabalhar juntos? Isso ajuda? Atrapalha? – Ela perguntou.
- Alisson e eu somos muito profissionais. Temos consciência que estamos aqui pela Seleção, pelo time, e somos muito parceiros nisso, estamos sempre nos apoiando, e agora com a gravidez, mais ainda. Creio que torna tudo muito mais fácil, porque ele não está preocupado comigo longe, eu não estou nervosa com o que está acontecendo aqui, então é uma coisa só. E nosso relacionamento começou assim, então estamos calejados já. – Eles riram fracamente.
- E quais os planos para vocês no futuro? Tem a competição e depois? Você vai para lá, ele vem para cá? – Outra pessoa perguntou e eu suspirei.
- Eu ainda não tenho essa informação para mim, quando eu tiver, avisamos. – Falei e eles assentiram com a cabeça. – Bom trabalho. – Falei, me afastando e eles deram rápido sorrisos.

- Saiu tudo? – Perguntei saindo do banheiro com a camisola erguida.
- Vem cá! – Alisson me chamou e se arrastou até a ponta da cama e eu fui até ele. – Acho que tem uma pontinha aqui ainda. – Ele falou, dando um beijo na mesma e eu sorri.
- Seu bobo! – Falei rindo e ele me puxou para deitar ao seu lado, me abraçando e apoiando o queixo em meu braço.
- Eu adorei hoje! – Ele falou com um largo sorriso no rosto. – Você estava muito feliz! – Ele me abraçou fortemente. – Você se divertiu, você estava linda nas fotos, a visita da namorada do Arthur te deixou feliz demais! Foi perfeito! – Sorri, suspirando.
- Não acredito que o Arthur vai casar! – Falei surpresa. – Como ele não me conta isso? – Alisson riu, se virando na cama e eu fiz o mesmo, apoiando a cabeça em seu braço e entrelaçando nossos dedos.
- Talvez ele estava mais preocupado contigo, foi na mesma época que você descobriu a gravidez, não foi?! – Ele perguntou e eu suspirei.
- Foi, mas... Ah, ele podia ter me contado, posso garantir que me distrairia um pouco. – Ele deu um beijo em minha bochecha.
- Bom, eu só consigo pensar que ele me deixou para trás. – Alisson falou e eu ri fracamente. – Não estamos namorando há mais tempo do que eles?
- Não começa! – Falei rápido, levantando meu corpo na cama. – Eles moram em Barcelona. – Falei, virando meu corpo para ele. – Juntos! – Frisei. – A gente não tem ideia de como vamos fazer isso funcionar. – Mexi as mãos sugestivamente. Ele riu fracamente, apoiando os cotovelos na cama e ficando um pouco mais alto.
- Eu só fiquei pensando nisso, como homem, para o meu ego, aquele pirralho me deixou para trás. – Ri fracamente.
- Bom, ele tem seus 21, 22 anos, foi meio inesperado, confesso. – Fiz uma careta.
- Felicidades para eles, espero que mandem convite de casamento! – Neguei com a cabeça, me debruçando sobre Alisson e dando um curto beijo em seus lábios.
- Não ia negar uma viagem para Barcelona. – Animei e ele riu fracamente.
- Do jeito que eu o conheço, capaz dele casar em Goiânia mesmo. – Gargalhei, me levantando e seguindo até o frigobar.
- A Aline é da sua terra! – Falei. – Normalmente casamento é na terra da noiva, amigo! – Pisquei e ele riu.
- Bom, mais fácil para gente, tem até onde ficar! – Sorri, abrindo o frigobar e pegando uma barra de chocolate. – Já está com fome, amor?
- Eu estou sempre com fome. – Me sentei na cama novamente, cruzando as pernas. – Acho que não estou com sono, podemos ver um filme, né?! – Suspirei.
- O que você quer ver? – Ele se sentou também, pegando o controle.
- Alguma coisa feliz. – Abri a barra de chocolate e dei uma mordida na mesma. – Engraçada!
- Aposto que você dorme antes de escolhermos. – Sorri.
- Não duvido! – Falei rindo e me encostei nele.
O dia seguinte foi bem similar a hoje, só a folga que foi menor. Saímos para o treinamento pouco antes das duas da tarde e enquanto os jogadores iam de academia para campo, de campo para academia, eu, Bianca e Diana ficamos jogadas no banco dos reservas respondendo e-mails e ligações. Estava adorando essa competição sem coletivas, mas isso reduzia uma atividade antes do jogo e, apesar dos ânimos ainda estarem animados devido à vitória, eu sabia que até o jantar eles não estariam da mesma forma.

O dia do jogo começou devagar e preguiçoso, como todos os dias de jogo. Tínhamos o dia inteiro de folga, a imprensa em cima e o jogo seria só à noite. Era aquela passação de tempo de sempre. Acabei acordando junto do despertador de Alisson e não consegui mais dormir, então me fiz de útil e fui assistir à reunião pré-jogo. Era algo mais para os jogadores mesmo, era um pouco sobre o time adversário, a Venezuela no caso, mas também era motivador para os jogadores.
Não deu 10 minutos e eu já estava com sono de novo, mas achei chato sair. Depois de quase uma hora saímos e eu fui agora morgar junto com a minha equipe que estava tomando café da manhã.
- Ei, bom dia! – Bianca falou e dei um rápido beijo em todos eles.
- Bom dia, gente! – Sentei ao lado de Diana.
- Aonde você estava? – Vinícius perguntou.
- Acordei cedo e fui acompanhar a reunião, só serviu para dar sono. – Eles riram fracamente.
- Café? – Lucas perguntou.
- Não quero animar a Mini antes da hora, hoje tem jogo! – Ele assentiu com a cabeça.
- Um suquinho de maracujá, então?!
- Também não preciso de tanto! - Ele riu fracamente. – Eu me viro, relaxa.
- Acho que você precisa aceitar o suquinho, acabei de receber notícias da França. – Bianca falou e eu suspirei.
- É coisa ruim, né?! – Perguntei.
- Andressinha tá fora. – Ela falou e eu suspirei.
- E tem jogo em algumas horas, né?!
- É! – Suspirei. – Ela teve uma lesão no treino ontem, acharam que dava para aguentar, mas chegou os exames e as notícias não são boas. – Franzi a testa.
- Bom, deixa a galera da França se preocupar com isso, a gente precisa ganhar esse jogo. – Abanei com a cabeça. – O deles e o delas.
- O delas precisa ganhar para passar de fase. – Vini falou.
- E espero que eles resolvam agora para gente ir folgado para próxima fase. – Lucas sussurrou e eu assenti com a cabeça.
- Por favor. Não quero Mini agitada, não no começo. – Eles assentiram com a cabeça e o assunto mudou quando os jogadores começaram a se aproximar.
O dia seguiu meio lento, deixei Alisson mais focado com a equipe dele, o vi conversar com Tite e Taffarel, e eu também tinha coisas da imprensa para resolver, então deixei rolar. Quatro e meia da tarde, na hora do jogo das meninas, nos reunimos no restaurante para assistir e eu me sentei no meio de suas pernas, sentindo-o acariciar minha barriga.
O jogo delas foi animado, eu gostava de ver as meninas jogando, apesar de nunca realmente querer seguir carreira como jogadora, eu sabia a importância desse jogo e dessas meninas para a luta do feminismo nos dias de hoje e não importava o país, essa competição precisava ser vista e comentada.
O jogo acabou em um a zero para o Brasil com um gol de pênalti de Marta, após Debinha ser derrubada dentro da área, isso fez Marta ser a maior goleadora de Copas, feminina ou masculina e isso me fez abrir um largo sorriso. Mantivemos o jogo acirrado após o pênalti e conseguimos seguir para as oitavas no sufoco! Por ter menos grupos, quatro colocados em terceiro lugar na tabela seguiriam, como o desempate era saldo de gols, nós ficamos em terceiro, atrás de Itália e Austrália, mas passamos. Precisávamos de muito mais para isso.
Quando o jogo acabou, faltava uma hora para seguir para o estádio e, apesar de dormimos aqui ainda hoje, fomos jantar e nos arrumar para a saída do jogo.
Saímos do hotel com festa dos torcedores brasileiros e aquela tensão conhecida entre os jogadores. A maioria tinha fones nos ouvidos, Alisson bebia aquele mate incansavelmente e eu massageava minha barriga para ela ficar quietinha pelas próximas quatro horas. Ia dar tudo certo, vamos que vamos.
Chegamos na Arena Fonte Nova também com festa e fiquei surpresa com a beleza do estádio, principalmente com a sua iluminação e os diversos pontos verde e amarelo andando por ali. Fiz um sinal da cruz antes de descer do ônibus, seguindo em direção aos vestiários.
Eu e minha equipe arranjamos um canto para deixar materiais e tentei não espiar enquanto os jogadores e a equipe técnica faziam suas rezas e tradições antes do jogo. Eu e Bianca fomos conferir os protocolos de início de jogo, Diana começou a organizar suas coisas próximo à televisão e os fotógrafos e cinegrafistas seguiram para colocar em seus lugares antes do início do treinamento.
Senti um carinho nas costas quando os meninos saíram para o treino e soube que tinha sido Alisson. Aproveitamos o espaço para nós e fizemos nossas rezas e tradições antes do jogo. Era um jogo de competição, então era óbvio que eu estava nervosa, com a gravidez, então, tudo estava incrivelmente amplificado.
Quando os jogadores chegaram, sabia que faltavam poucos minutos para o começo. Nos juntamos para palavras motivacionais de Tite e Dani e, milagrosamente, estávamos prontos. Os jogadores começaram a se cumprimentar e eu dei um rápido abraço nos que passavam por mim.
- Vamos lá? – Falei para Alisson quando ele se aproximou de mim e ele assentiu com a cabeça.
Ele segurou meu rosto já com as luvas e colou os lábios nos meus por alguns segundos e eu tive uma leve vontade de intensificar aquilo, mas ficamos só no selinho mesmo, me fazendo sorrir quando nos separamos.
- Eu estava precisando disso. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Tem mais para depois. – Ele riu fracamente, me abraçando e sorrindo. – Arrasa, ok?!
- Vou tentar! – Ele disse e assenti com a cabeça, suspirando.
- E você faz bonito para sua garota! – Falei para Arthur e o mesmo riu fracamente.
Acabei ficando por último no vestiário, somente com os roupeiros, fisioterapeutas e Diana, e acenei para eles, recebendo sorrisos reconfortantes e segui para fora do vestiário, seguindo mais devagar os passos apressados da equipe técnica e dos jogadores.
- Bom jogo, galera! – Falei, passando pelos jogadores.
- Valeu, garota! – Dani falou e eu bati minha mão na dele, abraçando-o rapidamente, piscando para Alisson atrás dele que deu um sorrisinho sacana.
Segui para dentro do campo, me desviando de alguns câmeras ali e a equipe técnica já estava posicionada no banco. Segui até Bianca que ocupava a última poltrona e fiquei ao seu lado, com Alex Sandro do outro lado e trocamos um sorriso cúmplice, como se pensássemos a mesma coisa.
Não deu tempo de eu ajeitar meu corpo na poltrona, pois as bandeiras começaram a entrar e estava realmente na hora de começar. Nosso time entrou com Dani, Alisson, Marquinhos, Thiago, Filipe Luís, Arthur, Casemiro, Richarlison, Coutinho, Neres e Firmino. O ataque estava muito bom, esperava que a gente conseguisse fazer alguns gols logo no começo do jogo e acalmar meu coração e dos jogadores irritados depois do último jogo.
O hino foi cantado à capella, as flâmulas foram trocadas, fotos tiradas e times divididos. Fiz mais um sinal da cruz, pedindo por uma vitória para não ter que decidir tudo em última hora e que Mini ficasse na mesma calma que estava para não termos problemas futuros.
O ataque foi inteiro brasileiro nos primeiros minutos de jogo. Eles atacavam bastante, mas quando chegava dentro da área, os 11 venezuelanos estavam lá e cabeceavam para a bola voltar para o centro do campo e ter que começar o ataque tudo de novo.
Arthur tentou em um momento fazer uma passada para Richarlison e o mesmo foi derrubado, dando uma falta para gente. Dani cobrou, mas a defesa venezuelana tirou de novo de cabeça. Dani tentou de novo uma forte, mas acabou indo para fora.
Aos 10 minutos eu lembrei da existência do meu namorado. A Venezuela tentou um passe de longe que Alisson agarrou quando no limite da grande área. Se ele não chegasse antes, tinha outro na ponta direita para talvez fazer a finalização.
Richarlison comandou o contra-ataque, ficando de cara com o goleiro, mas a bola foi para fora, raspando na rede do gol por fora. Depois Firmino tentou fazer uma por cobertura, mas cobriu tanto que foi para fora. Richarlison conseguiu driblar a defesa deles e ficar só ele e o goleiro de fora, mas acabou tropeçando e perdeu o lance. Arthur fez um passe para Neres do lado esquerdo e vi uma bomba vindo em direção ao goleiro, mas o mesmo acabou esquecendo de calcular um pouco e foi para fora. Isso tudo em menos de 15 minutos de jogo.
Richarlison tentou mais uma com o pé direito, não sei se foi sorte ou azar, a bola saiu devagar e o goleiro conseguiu fazer uma defesa. Tinha sido o primeiro chute mais perigoso, e não tinha sido tão perigoso assim.
Meu coração gelou durante um cruzamento da Venezuela. Só tinha Alisson, Marquinhos e um venezuelano. A defesa subiu e a bola foi cabeceada, como estava muito colada em Alisson, a bola saiu lambendo a trave do lado de fora, fazendo até que minha respiração falhasse um pouco. Talvez tenha causado um quase infarto.
A Venezuela começou a ganhar espaço no jogo e querer crescer em cima do Brasil. Tentaram chegar pelo lado esquerdo, mas Dani e Thiago conseguiram tirar antes da hora, e depois, durante a primeira tentativa real de chute a gol deles, a bola chegou rasteira e Alisson a pegou facilmente.
Filipe tentou fazer um cruzamento para área venezuelana e Coutinho acabou se embananando ali. Ele estava meio sumido no jogo, talvez não fosse o dia dele. Em um contra-ataque do outro time, Alisson subiu para pegar a bola sem dificuldades. Dificuldade talvez tenha ficado Marquinhos que acabou levando uma barrigada ou cotovelada na cara, vai saber, mas todos estavam bem.
Aos 30 minutos tivemos mais uma falta na gente, agora em Coutinho, o mesmo recebeu a bola e logo foi desequilibrado pelo número dois da Venezuela. A cobrança foi batida por Dani, a bola estourou na barreira e o mesmo conseguiu chutar de rebote, mas a bola subiu mais do que deveria.
Aos 37, Dani veio do lado direito, passou para o meio da grande área e Firmino ajeitou com o pé direito e manda uma bomba para dentro do gol. A bola até rebate no goleiro, mas vai para dentro, fazendo a torcida gritar.
- GOL! – Eu, Bianca e metade dos reservas levantamos e ouvimos o apito, vendo o jogo parar.
- Tem um cara caído na área. – Alex falou e aposto que todos franziram a testa como eu e sentamos quase igual um jogo de dominó.
- Nem eu vi essa! – Falei, respirando fundo e apoiei a cabeça no encosto da cadeira.
O jogo seguiu com mais ataques do lado do Brasil. Na maioria das vezes Dani fazia o cruzamento e quando entrava na grande área a bola espanava, ou pelo próprio ataque brasileiro, ou pela defesa em peso da Venezuela. Sério, tinham nove caras ali, contando com o goleiro. Os outros dois deveriam estar saltitando pelo campo, não era possível.
Em outro contra-ataque, a Venezuela chegou quente, mas Thiago chegou antes. Quando o venezuelano fez o passe, foi quase como se Thiago precisasse chutar para o meio do gol, Alisson previu isso e foi em direção à bola, restou só que Thiago pulasse o mesmo para não causarmos um acidente com os próprios brasileiros. Um pouco mais para frente Casemiro deu uma entrada perigosa e acabou levando cartão amarelo. Era o Casemiro, quando que ele não leva cartão?
Esse lance definiu o fim do primeiro tempo e seguimos em direção ao vestiário. Os fisioterapeutas já tinham deixado tudo pronto para relaxamento no intervalo de jogo e Tite deu algumas palavras de apoio e inspiração. Não tinha muito o que falar, o ataque era todo do Brasil, eles só precisavam acertar um pouco mais. O impedimento no gol era válido, não tinha o que fazer.
Tite proibiu os jogadores de falarem no intervalo, provavelmente para aproveitar esses poucos minutos com ele e eu concordava, intervalo de jogo não era hora para dar entrevistas, era para manter o foco no jogo e voltar firme para o próximo tempo.

Voltamos para o jogo e Tite poupou Richarlison e colocou Jesus no lugar. Com minha dupla Jesus e Firmino, quem sabe as coisas não aqueceriam um pouco? Os campos foram trocados e tínhamos mais 45 minutos para resolver esse jogo.
Logo no primeiro minuto tivemos um lance, não consegui ver quem fez o cruzamento, mas a Venezuela cabeceou, Firmino foi para o chão, foi uma bagunça. Em seguida Firmino conseguiu uma brecha e preparou para bater uma bomba, mas o venezuelano entrou na frente e a bola ricocheteou para o outro lado.
Em seguida, Jesus entrou fazendo um pouco de malabares na grande área, dividindo espaço com três adversários. Quando ele conseguiu espaço, mandou para Neres, o mesmo meteu uma bomba, mas um jogador venezuelano estava na frente e acabou levando uma linda bolada nas costas e na cabeça. Aposto que aquilo ficaria vermelho mais tarde.
Filipe Luís cobrou uma falta e mandou para grande área, mas a bola passou de cabeça em cabeça e subiu demais, indo parar atrás do gol. Em uma bagunça no qual caiu um de cada time, Neres conseguiu fazer outro chute, mas a bola passou longe da lateral do gol. O goleiro tentou evitar uma saída, mas não causou nenhum problema para eles.
Esse vai não vai estava começando a me enervar e começava a sentir sinais de Mini aqui dentro, além da minha bexiga que parecia não aguentar nem uma gota d’água e eu não sairia dali para fazer xixi, nós precisávamos disso.
Aos 11 minutos Tite tirou Casemiro e colocou Fernandinho, quem sabe aquilo agitaria um pouco?
O ataque continuou do nosso lado, o goleiro mal se mexia e ainda eles não conseguiam mandar uma dentro, ou era Mini sacudindo dentro de mim ou o coração estava começando a bater rápido demais e eu não estava gostando nada disso.
Aos 14 minutos tivemos uma esperança, Coutinho tentou o ataque e, percebendo a marcação, passou para Firmino, o mesmo tentou devolver para Coutinho, mas Jesus interceptou no meio e bagunçou o goleiro e outros dois venezuelanos e mandou para o centro do gol, me fazendo aliviar.
- GOL! – O pessoal comemorou ao meu lado, mas eu já tinha uma comemoração só para mim na minha barriga.
- Gol! – Falei rindo, suspirando.
A comemoração durou pouco quando o juiz parou o jogo e ficou ouvindo algo naquele fonezinho irritante do VAR, após mais ou menos um minuto de análise, ele anunciou que veria na tela o lance do gol novamente.
- Ah, lá vai! – Falei, negando com a cabeça. – Eu odeio esse VAR. – Falei, suspirando.
Após alguns minutos, o juiz voltou e nosso gol foi anulado pelo filho da puta do VAR.
- Eu falo que o VAR nunca está do nosso lado. – Falei, suspirando e cocei a cabeça.
- Já são dois! – Bianca reclamou ao meu lado e eu suspirei.
- Achei que como o ataque foi quando a bola foi para Jesus, não contava o Firmino e Coutinho na frente. – Comentei irritada.
- Não pode ter nenhum...
- Eu sei, Alex! Eu sei! – Falei para ele e o mesmo assentiu com a cabeça, se calando. – Faltam meia hora de jogo, galera, vamos produzir. – Falei mais para mim do que para os outros.
Em uma cobrança de escanteio nossa, o goleiro saiu facilmente e agarrou a bola, fazendo uma saída rápida. Fernandinho tentou um cruzamento depois, deixando Jesus a centímetros da linha do gol, mas um esbarrão do adversário fez tudo ir para os ares. Agora me pergunta se teve pênalti ou revisão disso? É claro que não.
- Para o outro time não tem nada! – Falei irritada, bufando. – Parece a Copa tudo de novo.
Após algumas substituições venezuelanas, Tite aproveitou e tirou Neres para colocar Everton.
Aos 80 minutos, chegando no final do jogo, Arthur deve uma dividida com um venezuelano e acabou levando um pisão no pé. O adversário precisou de atendimento, mas fiquei preocupada por Arthur estar voltando de uma lesão agora e ele era bom em campo, então era bom mantermos ele aqui.
O relógio já tinha passado de 85 minutos e estava tudo na mesma. Eles já estavam cansados e os torcedores irritados, os “olé” estavam sendo gritados a cada passe nosso e Tite já tinha sido mandado tomar naquele lugar umas 200 mil vezes. Se minha cabeça já estava quente, e eu sabia que parte disso eram os hormônios da gravidez, não queria saber como estavam o pessoal. Edu não estava mais no banco, talvez tivesse entrado, agora Tite tentava manter aquela cara de Buda, mas eu sabia que o negócio estava feio.
Tentamos um ataque mais uma vez, dessa ver vindo de Everton. O mesmo chegou pela área esquerda e esperou quase sair pela linha de fundo para fazer o passe para Coutinho que estava mais próximo. Igual da última vez, não foi o jogador procurado que foi acertado, Coutinho veio correndo do fundo e cruzou os venezuelanos e mandou para o fundo do gol.
- GOL! – Bianca gritou e eu levantei no susto, vendo o pessoal comemorando, incluindo o ponto verde amor da minha vida.
- Vai dar ruim! – Falei, vendo os venezuelanos falando com o juiz.
- Nem brinca! – Alex falou e o juiz parou para ouvir no fone.
- Eu vou matar esse juiz! – Falei quando ele fez o movimento do VAR e faltou só meus olhos saírem de órbitas com a força que eu os revirei.
O juiz foi novamente na cabine checar o lance e mais uma vez era Firmino em posição de impedimento. Eu ia matar o Firmino e Larissa que me perdoasse por isso, mas duas vezes em um jogo, não era possível. O juiz voltou e anulou nosso gol.
- EU VOU MATAR ESSE JUIZ! – Gritei, sentindo me segurarem pelos braços e minhas mãos fecharam em punho.
- Olha o bebê! – Bianca falou próximo ao meu ouvido.
- Ela não está nem um pouco feliz! – Falei, franzindo os dentes.
- Se acalma! – Alex falou.
- Eu vou entrar, não consigo ficar aqui! – Falei irritada.
Atravessei o banco dos reservas novamente, driblando algumas pessoas no túnel, encontrando onde Edu estava e segui em direção ao nosso vestiário, chutando a porta do mesmo quando passei por ele, assustando as pessoas ali dentro.
- Ei, , está tudo bem? – Diana perguntou.
- Não aconselho me perguntar isso agora. – Falei irritada e me joguei em um dos cantos no vestiário, bufando.
Diana estava vendo na TV, então acabei ouvindo os últimos minutos de jogo. Acabou tendo 10 minutos de acréscimo devido aos atendimentos em campo. Quando o apito foi soado, eu só bati a cabeça na parede, esperando que a bateria em meu corpo parasse, não só Mini, parecia que meu coração ia sair pela boca de tão forte que batia.
- , você está bem? – Um dos fisioterapeutas perguntou. – Você está muito vermelha.
- Eu só estou muito irritada. – Falei, sentindo que algumas lágrimas escorreram pelo rosto.
Não deu um minuto que o jogo acabou e Bianca entrou em disparada no vestiário, me encontrando com o olhar e se jogando em minha frente, apoiando as mãos em meus joelhos.
- Ei, garota. Como você está? Fiquei preocupada. – Ela falou, erguendo as mãos até meu rosto enquanto eu respirava fortemente pela boca. – Você está chorando?
- São os hormônios. – Falei, fungando. – Eu só estou irritada. Eu quero matar aquele juiz, eu vou meter um pedala na cabeça do Firmino e meu coração está batendo muito forte. – Ela colocou a os dedos em cima do meu pescoço, procurando minha pulsação.
- Está muito agitada, . – Ela falou e eu respirei fundo, soltando o ar em seu rosto diversas vezes, vendo alguns jogadores entrarem irritados no vestiário.
- Eu só... – Abanei a cabeça, respirando fundo.
- Ei, , o que aconteceu? – Arthur parou ao nosso lado, me olhando de cima e eu só neguei com a cabeça.
- Estresse. – Falei, respirando fundo.
- Você não me parece bem.
- Conta comigo. – Bianca falou. – Um, dois, três...
- Um, dois, três...
- Quatro...
- Quatro...
- Amor? – Ouvi a voz de Alisson e Arthur abriu espaço e o mesmo deslizou pelo chão do vestiário, se colocando ao meu lado.
- Eu estou bem! – Falei para ele, sentindo-o segurar minha mão fortemente.
- Você está muito gelada! – Ele falou, apertando as mãos em cima das minhas.
- Meu coração está muito rápido, o bebê está sacudindo demais e parece que está tudo meio embaçado. – Respirei fundo, negando com a cabeça. – Ah e eu preciso fazer xixi urgente. – Ri fracamente.
- Ela acabou se exaltando um pouco no jogo. – Bianca explicou.
- Quem não?! – Ele falou e eu dei um meio sorriso.
- Junte os hormônios da gravidez e voilà. – Bianca falou, me fazendo respirar.
- Rodrigo! – Alisson chamou e o mesmo apareceu ao lado.
- Eita, garota, não vai me assustar de novo, hein?! – Ele falou e eu suspirei.
- O coração dela tá rápido demais. – Bianca falou e se levantou para dar espaço para Rodrigo.
- Deita, , por favor! – Rodrigo falou e eu deslizei meu corpo no chão e Arthur me deu uma blusa enrolada para eu colocar na cabeça. – Feche os olhos e esqueça tudo.
Fiz o que ele mandou e senti algo gelado em meu peito, provavelmente o estetoscópio. Ele não pediu para eu respirar fundo nem nada, eu já estava fazendo isso no automático. Depois ele desceu o mesmo para minha barriga, também escutando o bebê.
- Você deve estar tendo uma crise de ansiedade, . – Rodrigo falou e eu abri os olhos, vendo vários curiosos em cima de mim. – Não é indicado dar calmante para grávidas, e eu não quero te receitar nada por não ser minha área, então tentaremos cuidar disso de forma natural, ok?! – Ele falou me dando a mão para eu me sentar novamente. – Fabio! – Ele chamou o mesmo. – Tem algum Gatorade de maracujá aí?
- Sério? – Perguntei.
- O mais indicado seria um chá, mas você precisa se acalmar agora ou pode te dar alguma arritmia. E acho que ninguém anda com chá na bolsa.
- Olha, depois do jogo de hoje acho difícil. – Falei suspirando.
- Mate é erva, gente! – Alisson falou rápido.
- É, erva-mate! – Rodrigo falou. – Ele é estimulante, a gente precisa reduzir o ritmo aqui. – Ele falou e um Gatorade apareceu para mim. – Beba tudo! – Rodrigo falou. - E devagar. – Suspirei.
- Vem, vamos te deitar em uma maca. – Amir falou e Alisson me segurou pela mão, me ajudando a levantar.
- Você está bem? – Ele perguntou, acariciando meu rosto com uma mão e acariciando minha cintura com outra.
- Estou com instintos assassinos. – Falei.
- Não é a única. – Firmino falou e eu apontei o dedo para ele.
- Eu vou te comer no café da manhã. – Falei firme e o mesmo arregalou os olhos.
- Mas eu não...
- Ná! – Gritei, colocando a mão na boca para ele ficar quieto.
- Ela precisa se acalmar, vamos relaxar aí. – Rodrigo falou e eu fui levada apoiada em Alisson e Amir até a sala da fisioterapia e deitei em uma das macas e coloquei o Gatorade na boca quase como se fosse uma mamadeira.
- Respira fundo, amor. – Alisson falou.
- Pode ir lá com o time, Alisson, eu estou bem! – Falei e ele assentiu com a cabeça, dando um beijo em minha testa e seguindo até a outra sala. Passei a mão na testa e percebi o suor nela.
Não sei se o Gatorade realmente estava fazendo algum efeito, se eu estava ficando levemente dopada ou se a adrenalina só estava saindo do meu corpo aos poucos, mas eu acho que acabei capotando por alguns segundos. Ouvi alguns gritos abafados, provavelmente de Tite, ouvi passos na sala da fisioterapia e parecia que eu tinha morrido ali.
- Ela está bem? – Senti uma mão em minha testa e abri os olhos devagar, encontrando Aline.
- Ei, garota! – Falei suspirando e vi Arthur, Alisson, Tite e minha equipe junto dela.
- Ei, está melhor? – Tite perguntou se aproximando de mim e eu suspirei.
- Estou eu dando trabalho de novo para você. – Falei e ele sorriu.
- Sabíamos dos riscos quando aceitamos uma grávida na equipe. – Ele segurou minha mão e eu suspirei. – Você está bem? – Levei a mão até meu peito, sentindo-o bater de forma mais normal agora.
- Parece que sim. – Suspirei. – Quanto tempo eu apaguei?
- Só uns 30 minutos. – Alisson falou e percebi que ele e Arthur ainda estavam com calção do uniforme.
- Nossa, parece que eu dormi tanto. – Eles riram e coloquei a garrafinha de Gatorade de lado, vendo Aline segurar a mesma e apoiei as mãos na lateral da maca, me sentando devagar nela.
- Como estamos aqui? – Rodrigo apareceu e eu suspirei, jogando os cabelos bagunçados para trás.
- Ainda estou apertada para fazer xixi. – Falei e eles riram.
- Veja se consegue levantar e vá. Isso é o bebê pressionando sua bexiga, é fácil de resolver. – Rodrigo falou e rimos fracamente.
- Obrigada por cuidar de mim de novo.
- Pelo menos dessa vez não foi por comer besteira, né?! – Alisson falou e eu sorri fracamente.
- Como assim? – Arthur e Aline perguntaram e Alisson até abriu a boca para falar, mas eu o cortei.
- Só pessoas que participaram da Copa de 2018 sabem dessa história. – Falei e Arthur franziu os lábios, enquanto Aline riu.
- Eu te conto depois, é uma história boa demais para ficar escondida! – Alisson falou e eu ergui o dedo para ele, vendo-o rir.
- Que jogo que você veio ver, hein?! – Falei para Aline e ela riu fracamente.
- Eu só não fiquei igual você, mas fiquei muito irritada também.
- Você não tem cara de quem se irrita fácil. – Bianca falou e eu assenti com a cabeça.
- Ela fica, não se enganem pelo rostinho! – Arthur falou e rimos juntos.
- Não foi nem de perto o ideal e, só para variar, vocês deixaram para última hora. – Suspirei.
- A gente até tentou, né?! – Ouvi a voz de Jesus da porta e dei um pequeno sorriso.
- Eu ia invadir o campo para apertar o pescoço daquele cara. – Neguei com a cabeça e Bianca assentiu, confirmando meu fato.
- Bom, passou, agora descansa e vamos nos arrumar para voltar e você descansar no hotel. – Tite falou, saindo da sala em seguida e eu assenti com a cabeça.
- Eu realmente preciso de um banheiro. – Falei, virando o corpo de lado e Alisson se levantou, segurando minhas mãos quando eu desci da maca.
- Consegue firmar? – Rodrigo perguntou.
- Eu tenho um metro e 80 de altura, posso garantir que tenho muito mais que 50 quilos, agora mais ainda, não é para eu desmontar tão fácil. – Falei e o pessoal riu.
- Vamos, eu te ajudo! – Alisson falou e eu sorri.
- Ah, as vezes eu odeio intimidade de casal! – Falei e o mesmo riu, apoiando a mão na minha cintura. – Bi, não temos coletiva? Entrevista?
- Relaxa, já estou cuidando de tudo isso! – Ela comentou, abanando a mão e eu entrei no banheiro com Alisson me segurando.
- Poderia pedir para você não me assustar mais, mas acho difícil, né?! – Alisson perguntou quando ele me soltou dentro de uma cabine e eu somente encostei a porta da mesma.
- Acho que agora entendo o que minha mãe quis dizer que quase me jogava para cima na conquista do Tetra. – Ele riu fracamente.
- Vamos arranjar bastante suco de maracujá e chá de camomila para você agora, combinado? – Ele perguntou.
- Vou roubar alguns do hotel e levar na mala. – Falei e ele riu fracamente.
- Vamos que a gente vai ter que decidir no último. – Ele falou e eu saí da cabine.
- A ideia é me acalmar, amor, não me irritar mais! – Falei e ele sorriu.
- Culpa o VAR! – Franzi a testa.
- Acho que já culpei o suficiente pelo resto da minha vida depois de hoje! – Falei e o mesmo sorriu, dando um beijo em minha bochecha.
- Espero que tenha sido pela última vez. – Fui até a pia, lavando as mãos.
- VAR e Brasil não combinam, amor. – Falei. – Mas se a gente fizer o Firmino jogar no meio de campo, talvez a gente reduza. – Ele riu fracamente.
- É, Tite não falou com essas palavras, mas o esporro foi pesado em cima dele. – Neguei com a cabeça.
- Eu poderia falar que não era mais meu dever xingar vocês, mas a Diana ainda não tem essa liberdade toda, então sim, eu continuarei xingando vocês. – Falei e ele riu fracamente.
- Ela não tem a mesma posição que você tinha? – Ele perguntou.
- Tem, mas é diferente. Ela é mais quieta. – Falei.
- Bom, não vai ter ninguém igual você. – Ele falou, apoiando o rosto em meu ombro e eu sorri. – Nem em um milhão de anos. – Suspirei, nos olhando no espelho.
- Bom saber! – Falei, virando o rosto e o mesmo colou nossos lábios rapidamente. – Agora vai se arrumar, eu quero ir embora e dormir. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
- Fica na maca, tá?! – Ele falou saindo do banheiro comigo.
- A gente cuida dela. – Aline falou e eu sorri.


Capítulo 20 – Eu estava precisando disso.

Eu fiquei jogada na maca até os protocolos serem finalizados e nós seguirmos de volta para o hotel. Rodrigo havia me dado outra garrafinha de Gatorade de maracujá e eu sei que tirei mais uma soneca no ônibus, sentindo o carinho de Alisson em minha cabeça.
Quando voltamos para o hotel, lembro que Alisson ainda me segurava pela cintura, me amparando. Eu estava melhor, mas aquela quantidade enorme de Gatorade estava me dando sono para valer agora.
Ele me levou até o quarto acompanhado de Rodrigo, Arthur e Aline, e a última puxou a coberta para fora e Alisson me pegou no colo, me deitando na mesma. Ele tirou meu slipper amarelo dos pés e colocou a coberta por cima de mim novamente.
- Eu preciso colocar pijama, escovar os dentes... – Falei um pouco manhosa.
- Durma, meu amor. – Ele se sentou ao lado da cama. – Depois você cuida disso! – Ele beijou minha testa, me fazendo sorrir.
- Te vejo amanhã? – Perguntei para Aline e ela confirmou com a cabeça.
- Claro! – Ela segurou minha mão e eu sorri.
- Oi, gente! – Bianca apareceu no quarto. – Eu fui no restaurante e trouxe uns chás de camomila. – Ela falou com a mão cheia de sachês de chá, me fazendo rir. – E uma água para colocar na chaleira. – Ela colocou as coisas na mesa do quarto.
- Vocês são uns amores, mas espero estar melhor pela manhã! – Falei e eles riram.
- Vai saber, amiga. Foi só o segundo jogo. – Ela falou e eu ri fracamente.
- Bom, , deixa eu dar só mais uma escutada no seu coração e do bebê e te deixar descansar. – Rodrigo falou e Alisson saiu da cama, dando espaço para o mesmo.
Ele pediu para eu respirar fundo e soltar o ar devagar e colocou o estetoscópio gelado em meu peito. Repetiu algumas vezes e depois foi para minha barriga, abaixando a coberta, abrindo o casaco que eu usava e subindo a blusa um pouco.
- Parece que está tudo bem, caso não melhore, vamos no hospital antes de ir para São Paulo, combinado?
- Combinado! – Falei e o mesmo sorriu.
- Fica bem, ok?! – Ele falou. – Vamos deixar ela descansar, gente.
- Boa noite, ! – Ouvi o pessoal falar e eu acenei com a mão.
- Boa noite, gente, obrigada.
- Bem vi o que vocês fizeram com o quarto, hein?! – Arthur falou e imaginei ser sobre as camas juntadas e eu sorri.
- Você faria o mesmo. – Aline sussurrou.
- Não me assusta mais, ok, amiga? – Bianca falou e eu assenti com a cabeça, sentindo-a acariciar a cabeça. – Aguenta aí, Mini! – Ela deu um beijo em minha testa. – Boa noite, gente.
- Boa noite, Bi! – Alisson falou e a porta foi fechada.
- Eles são uns amores. – Falei e Alisson voltou a se sentar do meu lado.
- Eles te amam e se preocupam contigo. – Ele pousou uma mão em minha barriga. – Com vocês duas. – Sorri.
- Começo a pensar se é ideal eu continuar acompanhando a competição. – Suspirei.
- Você não está pensando em desistir, está? – Ele perguntou.
- Não quero, mas penso no que é melhor para Mini. – Ele suspirou.
- Não vamos decidir nada precipitado, pode ser? Você está nervosa com o que houve hoje, vamos acompanhando e ver como isso vai rolar.
- É o que Bianca falou, é só o segundo jogo. – Suspirei e Alisson assentiu com a cabeça.
- Vai dar tudo certo, eu te garanto! – Ele colou os lábios nos meus devagar. – Só descanse antes, ok?! Amanhã analisamos com a cabeça mais fresca. – Ele falou.
- Tudo bem. – Suspirei.
- Tem algo que eu possa te ajudar? – Ele perguntou se levantando.
- Me ajuda a tirar essa roupa, por favor. – Falei.
- Com o maior prazer. – Ri fracamente.
- Não estou no pique para isso agora, amor.
- Eu sei, mas é sempre bom te ver nua. – Sorri, me apoiando pelos cotovelos na cama.
Ele me amparou pelas costas, me ajudando a tirar o casaco e o jogou para o lado. Consegui tirar a blusa sem esforços e também a joguei para o lado. Ele me ajudou com o sutiã e também jogou para o lado. Por fim ele tirou minhas calças e eu me vi finalmente livre.
- Eu acho que vou dormir assim mesmo. – Falei e ele sorriu, dando um beijo em minha testa.
- Eu vou me arrumar e logo venho ficar contigo. – Ele falou e eu suspirei, virando para o lado, colocando o braço embaixo do travesseiro.
- Eu te amo. – Falei.
- Eu também, amor, eu também. – Ele falou e eu fechei os olhos, percebendo que ele desligou as luzes segundos depois.
O ouvi ainda mexer no banheiro e no armário, mas logo ouvi o som abafado dele deitando ao meu lado. Senti seu corpo colar em minhas costas e seu braço passar pela minha barriga, me trazendo para perto de si, não sei se foi o conforto ou a proteção dele, mas meu corpo se relaxou pela terceira vez só naquela noite e eu consegui dormir.

E de repente, como se nada tivesse acontecido, eu acordei como nova. Eu estava desperta, meu coração não palpitava, Mini estava calma e eu havia acordado antes do despertador. Virei meu rosto para o lado e Alison dormia para o outro lado calmamente, nem roncar ele roncava. Levei as mãos à barriga, acariciando a mesma e suspirei. Era possível sentir uma pulsação leve, mas ela também descansava.
Suspirei, erguendo meu corpo na cama e sentei na mesma, encontrando meu corpo ainda nu e joguei as pernas para o lado, me levantando devagar, checando se tudo estava bem mesmo e segui até minha mochila, puxando minha camisola e jogando-a por cima do corpo. Fui até o banheiro e me encarei no espelho. Deus pai! Eu estava muito com cara de doente mesmo. Os cabelos estavam parecendo um ninho de rato, a cara precisando de um pouco mais de cor e o rímel já tinha colado tudo na minha pálpebra.
Olhei para o quarto, vendo Alisson na mesma posição e encostei a porta, tirando a camisola novamente e entrei embaixo do chuveiro. Dei um jeito nos cabelos, tirei o resto de maquiagem do dia seguinte e aproveitei para fazer uma massagem gostosa em minha barriga. Apesar da vontade de perder boas horas ali, não abusei demais, eu não comia fazia um tempo e não queríamos a queda de uma grávida no banheiro, não é mesmo?
Terminei de me secar e amarrei a toalha nos cabelos, no momento em que eu a joguei para trás. Me encarei no espelho do banheiro, checando se não tinha resquício de maquiagem em meu rosto novamente e joguei a camisola por cima do corpo novamente, precisaria só de uma calcinha.
- Amor? – Ouvi a voz de Alisson e o mesmo abriu a porta do banheiro devagar. – Ei, bom dia, você está bem?
- Oi! – Sorri, passando os braços pelo seu pescoço e colando nossos lábios apressadamente. – Estou bem sim, eu precisava de um banho.
- Seu coração tá bem? O bebê? – Ele levou a mão até minha barriga e eu assenti com a cabeça.
- Está tudo bem. – Sorri e ele retribuiu. – Não estava bem a cara que eu estava, por que ninguém falou que parecia um panda? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Desculpe, amor, mas eu tinha preocupações maiores, sabe? Achei que minha garota ia enfartar. – Sorri, nos afastando um pouco e fui até minha mochila, pegando uma calcinha e vestindo-a.
- Não façam mais isso, ok?! – Segui até a pia novamente e peguei um cotonete. – Eu vou ter uma longa conversa com o Firmino, eu o quero pelo menos três metros longe de qualquer...
- Você não vai fazer nada. – Ele falou cruzando os braços e eu franzi a testa.
- Como não?! – Falei chocada e ele não mudou sua expressão. – Foram duas vezes, Alisson, foram...
- Você não tem noção como eu fiquei preocupado contigo ontem, mais do que em 2018! – Ele falou firme. – O Tite já deve dar um belo de um puxão de orelha dele, você vai ficar calma ou eu mesmo vou indicar que você se afaste das suas obrigações.
- Até parece que ficar nervosa longe daqui seria o melhor. – Fui sarcástica e ele não mudou sua expressão. – Ah, seu chato! – Falei firme, virando para o espelho e vi seu sorrisinho afrouxar pelo espelho. – Filho da mãe! – Falei e ele riu, dando um beijo em meu pescoço.
- Só quero o seu bem. Sei que é difícil você manter seus nervos à flor da pele, mas pelo menos enquanto você está grávida, por favor...
- Ela que decidiu vir em hora errada. – Falei em um muxoxo e ele me abraçou pela cintura.
- E a culpa é de quem? – Ele perguntou.
- Sua! – Falei firme, mantendo minha serenidade e ele me encarou pelo espelho.
- Minha? – Ele falou, rindo fracamente.
- Claro! Quem mandou não usar camisinha? – Falei irônica e ele riu de novo.
- Uhum, e a culpa é só minha. O fogo naquela noite de ano novo era só meu? – Ri fracamente, vendo-o sorrir.
- Estava bem frio naquela noite, precisava de um lugar para me aquecer! – Fiz uma careta e ele deu um beijo em minha bochecha.
- Eu não ligo de ser o culpado por tudo isso, eu estou feliz por tudo, pela nossa vida bagunçada, pela nossa incerteza... – Ele explanou e eu sorri. – Porque eu tenho certeza que você me ama, longe, perto, sabendo que vamos ficar próximos ou não. – Suspirei.
- Eu também, mas isso me corrompe por dentro. – Neguei com a cabeça.
- Vamos fazer uma promessa? – Ele perguntou e eu virei meu corpo, ficando de frente para ele. – Até o fim da competição você estará de seis meses e um pouquinho, se até o sétimo mês sua chefe não falar nada, nós falamos com eles, pode ser? Começamos pela CBF, depois vamos para o Liverpool e batemos o martelo. – Ele falou firme. – Eu aqui, você lá, mas que ambos consigam manter suas carreiras. – Dei um pequeno sorriso.
- Eu não apoio muito “você aqui”, mas gosto da forma que pensa. – Pisquei e ele sorriu, colando os lábios nos meus delicadamente. – Mas, por favor, deixa eu ao menos dar um pedala na cabeça do Firmino. Só unzinho... Prometo que não vai acelerar nada aqui. – Apoiei as mãos em seus ombros e o mesmo riu fracamente.
- Tudo bem, só um! – Ele falou e eu o abracei fortemente, sentindo a toalha despencar de minha cabeça.
- Acho melhor eu terminar de me arrumar. – Falei, vendo-o pegar a toalha do chão.
- Eu vou tomar banho. – Ele falou, dando um beijo em minha bochecha e seguiu até o quarto, à procura de seu uniforme.

Depois que nós dois ficamos prontos, descemos para o café da manhã. Teríamos treino na parte da tarde, mas eu precisaria descobrir os detalhes do final do jogo, já que eu tive uma folga forçada. Encontrei alguns dos meninos no meio do caminho e eles me perguntaram se estava tudo bem, como eu estava me sentindo e tudo mais. Chegamos no restaurante e quase todo mundo estava lá.
- Bom dia, garota! – Rodrigo falou e eu sorri. – Como estão?
- Bem, nós duas! – Falei, vendo-o assentir com a cabeça.
- Depois do café eu posso checar?
- Claro! – Falei, rindo fracamente, acenando para Tite que juntou as mãos em minha direção e eu sorri, piscando para ele.
- E aí, , bem? – Arthur perguntou e eu apoiei a mão atrás da cadeira de Paquetá.
- Bem sim, só foi um susto.
- Não queremos que essa criança venha antes, hein?! – Paquetá falou e eu arregalei os olhos.
- Nem brinca com isso. – Rimos juntos. – Temos pouco mais de três meses ainda. – Passei a mão na minha barriga. – Só tentem não me dar mais sustos como esse. – Falei.
- Ó de quem é a culpa! – Jesus falou, apontando para Firmino.
- Já pedi desculpas um milhão de vezes, isso vai ficar até quando? – Ele falou, irritado.
- Isso me lembra que...
- ! – Alisson me repreendeu.
- Você deixou um! – Olhei para ele, esticando o indicador.
- Ok, só um. – Alisson falou e eles olhavam estranho para gente.
- Eu te amo, Firmino, mas é necessário. – Me aproximei dele, dando um, até leve demais, pedala Robinho em sua cabeça.
- Mas que caramba! – Ele reclamou, colocando as mãos na cabeça. – Me desculpa, , eu...
- Bebê presente! – Apontei para minha barriga. – Não vou mais me irritar por isso e esse pedala foi meu xingo completo, agora chega! – Falei rapidamente e o pessoal riu em volta.
- Reduzindo o estresse? – Willian chegou ao meu lado e eu suspirei.
- Prioridades, né?! – Suspirei. – Mini antes. – Dei um pequeno sorriso.
- Cuida bem dessa carga, é preciosa! – Sorri, sentindo-o dar um beijo em minha bochecha.
- E ela está com fome. – Ri fracamente. – Já volto. – Falei, segurando a mão esticada de Alisson e seguimos em direção ao buffet.
Peguei uma bandeja, me servindo de pães com frios, omelete, iogurte, mamão, suco de laranja e um achocolatado e fui até a mesa que minha equipe estava. Todos sorriram quando sentei com aquele pratão de sempre.
- Oi, garota, como você está? – Leandro me perguntou e eu sorri, tomando um gole do suco.
- Tudo certo. – Sorri.
- Oi, meu amor. Está tudo bem? – Vini se sentou ao meu lado, dando um rápido beijo em meu rosto e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Estou melhor, obrigada! – Suspirei.
- Não assusta mais a gente, ok?! – Bianca falou, colocando a mão em cima da minha e eu a segurei, assentindo com a cabeça.
- Vou tentar! – Suspirei. – Só não termos outro jogo assim que eu fico bem.
- Vou pegar aquela cuia do Alisson encher de chá de camomila para você no próximo jogo. – Rimos juntas.
- A ideia não é ruim. – Lucas falou, aparecendo na mesa e eu o abracei rapidamente. – Boa, anjinho?
- Adoro vocês fofos comigo, me faz querer passar mal mais vezes. – Eles riram.
- Nem brinca com isso. – Todos falaram juntos e eu sorri.
- Vai depender da mesa de lá. – Apontei para os meninos, pegando o pão e cortando ao meio.
- Espero um jogo sensacional no sábado, se não, não teremos tempo para descobrir. – Anna falou e eu suspirei.
- Vai dar certo, se Deus quiser! – Falei.
- Já está começando a falar “se”? – Lucas falou e eu ri fracamente.
- Alguém está por dentro dos outros jogos? – Leandro perguntou.
- Do nosso grupo, Venezuela tem dois empates, Bolívia tem duas derrotas, já está fora, Peru está igual a gente. Como são três grupos, os dois melhores vão para a próxima fase. – Anna falou e eu assenti com a cabeça.
- E como nós estamos para o próximo jogo? – Perguntei, colocando presunto e queijo dentro do meu pão.
- Você não deve ter ouvido por causa do acontecido, mas Arthur levou um pisão feio, Fernandinho sofreu uma pancada no joelho, são duas dúvidas para sábado. – Bianca falou e eu larguei a comida, apoiando as mãos na mesa.
- Arthur de novo? Ele não me falou nada.
- Vão fazer exames antes de viajarmos. – Bianca falou.
- Que caramba. – Suspirei.
- Come, depois a gente já vê isso. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, suspirando.
Finalizamos o café da manhã e seguimos para uma rápida reunião com a equipe técnica para eu ficar um pouco por dentro do que eu perdi no dia anterior. As possíveis crises eram Fernandinho e Arthur mesmo. Eles fariam melhores exames de volta ao estádio do Barradão.
- Que experimentar? – Alisson se sentou ao meu lado, estendendo sua cuia.
- Ah, não! – Falei rindo.
- Experimenta. – Ele falou e eu franzi a testa, colocando a boca na bomba e puxando um pouco, passando o gosto nos lábios levemente.
- Camomila? – Ele assentiu com a cabeça. - Dá para fazer essa joça com outras ervas e você nunca me falou? – Falei surpresa e ele riu fracamente.
- Não é o ideal, mas é erva e água quente. – Ele deu de ombros e eu dei mais um gole.
- Também não é para se intoxicar de chá. – Rodrigo falou e eu ri fracamente. – Mas uma xícara por dia, tá? Principalmente antes dos jogos. – Assenti com a cabeça, sorrindo.
- Pode deixar! – Suspirei, sentindo Alisson me abraçar de lado.
- Cadê o Arthur? – Perguntei. – Preciso checar ele e o Fernandinho.
- Acho que o Arthur está com a Aline, aproveitando o pouquinho que podem, agora o Fernandinho estava com o Firmino e Willian. – Suspirei.
- Eu quero subir um pouco, descansar até a hora do almoço, aproveito e vejo se eles estão lá em cima.
- Cansada de novo? – Ele perguntou.
- Amor, eu estou grávida, eu estou sempre cansada. – Falei e ele riu fracamente, dando um beijo em minha testa.
- Que seja só isso. – Ele disse e nos levantamos, seguindo em direção ao elevador.

Era por volta da uma da tarde quando o almoço foi servido, mexi alguns pauzinhos e convenci Cléber de Aline almoçar com Arthur. Ela era do Sul e estava aqui no Nordeste só para encontrar ele, ver um jogo que só serviu para irritar e iríamos embora no fim do dia. Por mais que eu e Aline tivéssemos muito o que papear, deixaria os pombinhos aproveitarem. Sabia de todos os rolos desses dois e Aline estava lutando contra seus próprios demônios com sua família, ela precisava relaxar antes de fazermos ela encarar seus problemas.
Eram três horas quando Bianca avisou que sairíamos em uma hora e que dali íamos direto para São Paulo, então deveríamos subir para os quartos, arrumar nossas coisas e descer. E foi o que fizemos. Eu ainda tinha algumas coisas para jogar dentro da mala e, depois de ontem à noite estava uma bagunça maior ainda.
Era pouco antes das quatro e eu decidi descer, queria me despedir da Aline e sabia que o comboio Bianca enciumada mandaria a gente correndo para o ônibus. Mal sabe ela que havia se tornado minha grande amiga para vida.
- Vocês já vão? – Aline perguntou e eu assenti com a cabeça, abraçando-a pelos ombros.
- Eles têm treino no Barradão e depois vamos para São Paulo. – Falei.
- Vocês precisam arrasar nesse jogo, por favor. – Ela falou para Arthur e Alisson e eu ri fracamente.
- Precisam e muito! – Falei sendo dramática.
- E você cuida dessa menina, tá?! – Ela colocou as mãos na minha barriga.
- Não se preocupe, Alisson agora arranjou uma mamadeira para mim, vai rolar chá de camomila o dia inteiro. – Rimos juntas e a mesma me abraçou de novo.
- Obrigada! – Ela disse e eu sorri.
- Eu que agradeço por tudo. – Segurei suas mãos. – Quero a tia Aline perto quando a Mini nascer, ok?!
- Faremos o possível. – Arthur falou e eu o abracei de lado.
- Estaremos esperando no ônibus. – Falei para ele que assentiu com a cabeça. – Boa viagem, nos falamos. – Aline sorriu.
- Vamos sim e se mantenha calma, ok?! Se Deus quiser teremos uma longa competição pela frente. – Dei alguns passos para frente.
- Por favor, Mini precisa nascer campeã. – Falei rindo e acenei, virando de costas e seguindo para fora do restaurante, chegando no lobby e alguns torcedores gritaram quando viram Alisson.
O mesmo parou para dar alguns autógrafos e nossos seguranças me tiraram dali sem problemas. Segui até o ônibus, entregando minha mala para o motorista e entrei no mesmo, procurando dois assentos vagos e me sentei, colocando o cinto de segurança. Alisson chegou alguns minutos depois e se sentou ao meu lado. Estávamos prontos para nosso próximo destino. Todos os meninos entraram e seguimos em direção ao aeroporto.
- Então, quer dizer que você passou mal por comer besteira no ano passado? – Arthur falou quando apareceu e eu revirei os olhos.
- Eu vou te matar, Becker! – Sussurrei para Alisson e eles riram.
O último treino no Barradão não teve surpresas. Os titulares fizeram treino regenerativo na academia, adorava ficar zoando com a cara deles pelas posições que eles faziam naquele bendito rolinho. Do lado de fora os reservas faziam um treino um pouco mais pesado também.
O time do Vitória treinava no campo do lado, então, em um momento, eles treinaram junto da Seleção, fizeram um jogo e tiramos algumas fotos só para registro. Era por volta das cinco quando os jogadores voltaram para o vestiário para tomar banho, se arrumar e seguirmos em direção ao aeroporto.
Chegamos em São Paulo por volta das dez da noite. Diferente do hotel em que ficamos na abertura, dessa vez ficamos no Pullman da Vila Olímpia. Entramos pela rua de trás do hotel e aquilo estava fervendo de gente. Eu havia dormido o voo quase inteiro e só queria encontrar um chuveiro e minha cama de verdade. Alisson havia ficado vendo série um pouco, tentei acompanhar, mas sem condições.
O jantar foi servido assim que chegamos e, sem problemas com fãs dentro do hotel, conseguimos seguir direto para o restaurante. Eu comi dois pratos bem generosos de macarrão com molho de tomate e muito queijo parmesão por cima e deu um rápido beijo na cabeça de Alisson, falando que subiria para tomar banho.
O quarto era de três dessa vez, então Bianca acabou se tornando nosso papagaio de pirata. Não reclamei, eu sabia que era só questão de tempo de o trabalho de verdade começar, precisávamos ganhar esse jogo ou dependeríamos de outros resultados e eu não podia passar mal igual ontem, precisava ir calma igual uma brisa de verão. E a imprensa faria questão de nos irritar com esses tipos de perguntas o mais rápido possível.
- Pronto! – Falei, saindo do banheiro e Bianca sorriu.
- Vocês prometem não transar comigo aqui? – Ela perguntou para mim e eu sorri.
- Não precisa nem se preocupar com isso, amor. Prometo! – Falei rindo, seguindo até a cama de casal e me sentando na beirada da mesma.
- Eu vou tomar banho, logo saio também. – Ela pegou suas roupas e toalha em cima da cama.
- Devo dormir antes de você sair. – Falei e ela riu.
- Boa noite, então, amiga! – Ela falou e eu sorri.
- Boa noite! – Suspirei, vendo-a fechar a porta.
Fiz um sinal da cruz, fazendo uma reza rápida e deitei na cama, puxando o lençol para cima de mim, estava fresquinho lá fora, mas eu era sempre friorenta. Ouvi um barulho na porta e Alisson apareceu na mesma, me dando um sorriso.
- Ei, já vai dormir? – Ele se sentou na beirada da cama.
- Já sim. – Sorri e ele se debruçou sobre a cama, me dando um curto beijo. – Amanhã começa uma nova fase.
- Vai dar certo! – Ele disse e eu ri fracamente.
- Deus te ouça! – Pisquei e ele puxou sua blusa para fora.
- Não se esquece da Bianca, ok?! – Falei e ele franziu o rosto, colocando a blusa de volta.
- Não vai dar para aproveitar? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Está cada vez mais difícil por conta disso, né?! – Passei a mão na barriga, fazendo-a ficar mais visível devido ao lençol e ele riu fracamente.
- Eu aguento! – Ele deu um rápido beijo em minha testa.
- Boa noite, eu te amo.
- Eu também! Dorme bem! – Ele falou e eu sorri, virando o corpo na cama o máximo possível e apoiei o braço embaixo do travesseiro, fechando os olhos, sentindo-o acariciar um pouco de minha barriga.

- Ah, vocês falam demais! – Sussurrei, colocando o travesseiro em cima do rosto, acordando com as vozes animadas de Alisson e Bianca.
- Você sabe que horas são? – Bianca me provocou e eu abanei a mão.
- Antes das oito, ou meu celular já teria... – Meu celular começou a tocar na mesma hora e eu tirei o travesseiro do rosto.
- Bom dia! – Ela falou e eu suspirei.
- Que tanto vocês estavam falando que não poderiam maneirar na voz?
- Ela está animada demais com a chegada da Mini. – Olhei para baixo, percebendo minha barriga à vista devido a blusa que subiu.
- Não vamos apressar, gente! Temos três meses ainda, por favor. – Levantei meu corpo e sentei, vendo Alisson sorrir para mim.
- Bom dia! – Ele falou, me dando um beijo em minha têmpora e eu sorri.
- Bom dia. – Retribuí sorridente. – Dá uma desacelerada nessa história, o bebê entrou, agora sair talvez seja mais difícil!
- Ah, com certeza! – Bianca falou, gargalhando em seguida. – O negócio que entra é maior do que o que sai. – Alisson gargalhou e eu revirei os olhos.
- Mereço! Eu devo ter colado chiclete na cruz em alguma outra vida. – Falei mais para mim mesma.
- Bom, titia Bibi vai amar e cuidar desse bebê como se fosse dela. Vocês podem contar comigo para gente! – Dei um pequeno sorriso, esticando a mão para ela que sorriu. – Posso tomar banho?
- Claro! – Alisson falou, bocejando e a mesma pegou um montinho já arrumado de roupa e seguiu em direção ao banheiro, fechando a porta. – Ela é ótima! – Ele riu fracamente.
- Ela é! – Suspirei. – E ela ser tão incrível assim tem me feito pensar...
- O quê? – Ele perguntou e eu dei uma mordida no lábio inferior.
- Eu nunca pensei que esse pessoal pudesse se tornar tão amigo meu quando nos conhecemos. Achei que seria só mais um trabalho, a gente curtia durante o trabalho e fora seria normal, cada um saía com sua equipe e tal, mas eles se tornaram realmente minha família, Alisson. – Suspirei. – Eu lembro na viagem do último amistoso, antes de eu te contar, eles me protegeram como uma rocha... Foi algo surreal. – Suspirei.
- Eu percebo isso, Bianca por sinal ficou bem enciumada por causa de Aline e Arthur. – Ele sussurrou e eu ri fracamente.
- Sim, também tem isso. – Sorri. – Eu não sei como vai ser nossas vidas depois da Copa América ou depois que esse bebê chegar, mas eu queria saber o que você acha da Bianca e do Lucas serem os padrinhos de Mini. – Falei um pouco baixo, mordendo meu lábio inferior.
- Eu estive pensando nisso um pouco e, de todas as alternativas que temos, acho que eles são as melhores. – Ele sorriu. – Mas pensei que quisesse o Bernardo. – Suspirei.
- Isso é o que mais martela na minha cabeça, ele talvez foi parte importante para mim, ele é meu marido sem ser, mas ele também é meu irmão, sabe? Então, de certa forma, ele já vai ser padrinho dela, junto com a Dessa.
- Se você está certa dessa decisão, eu te apoio cem por cento. – Sorri, sentindo-o beijar minha cabeça.
- Quero falar com Bernardo antes, mas acho que Bianca e Lucas vão ser aquele algo a mais, sabe? – Suspirei.
- Sei! – Ele sorriu. – E eu concordo. – Ri fracamente.
- Eu ligo para Bernardo mais tarde e falamos com os dois depois também, o que acha? – Perguntei para Alisson.
- Fechado! – Rimos juntos. – Falando em bebê, você disse no dia da sessão de fotos que achava que tinha o nome ideal, qual? – Mordi meu lábio inferior, fazendo uma careta. – O quê?
- É complicado! – Falei rindo fracamente.
- Por quê?
- Eu pensei em nomes que eu pudesse ligar à Mini, pegou, não tem mais volta, nossa filha será chamada de Mini pelo resto da vida dela, mesmo se ela se chamar Vitória. – Ele riu fracamente. – Aí eu fui atrás de nomes que ela pudesse usar esse apelido. – Suspirei. – Eu encontrei dois, só dois.
- Quais?
- O primeiro é Minnie mesmo, mas eu comecei a pensar e é muito Minnie Mouse, sabe? – Ele riu fracamente. – Nossa filha seria ligada à uma ratinha pela vida inteira e provavelmente nos odiaria como pais. – Ele negou com a cabeça, soltando uma risada nasalada.
- É bem possível. – Dei um tapinha em seu ombro, vendo-o rir. – E qual é a segunda opção?
- Bom, é uma opção meio contraditória. – Suspirei. – É um nome ligado a pessoas mais velhas, já foi conectada à muitas bruxas, inclusive algumas bem famosas. – Ele ficou me encarando. – Mas eu procurei e é também uma deusa romana das artes, do comércio e da sabedoria. Ela seria a versão de Atena na mitologia romana. – Ele assentiu com a cabeça.
- Você está enrolando demais. – Ele disse.
- Porque eu não sei ainda se é o ideal, mas eu não consigo pensar em outro nome, pois, de certa forma, ficou perfeito.
- Fala! – Ele disse e eu suspirei.
- Minerva. – Falei, mordendo meu lábio inferior.
- Minerva Becker... – Ele falou e eu dei um pequeno sorriso.
- Ainda soa bem. – Falei, fazendo um biquinho e ele riu.
- Soa mesmo! – Ele abriu um pequeno sorriso.
- O que acha? – Derrubei meus ombros, suspirando.
- Você está certa, meu amor...
- É estranho, né?!
- É ideal! – Ele segurou minha mão, dando um pequeno sorriso. – É estranho sim, ligado a muitas bruxas, mas é perfeito. – Ele disse e eu sorri, me aproximando dele e colando um curto beijo em meus lábios.
- Minerva, então?!
- Mini! – Ele piscou e rimos juntos. Abracei-o pelos ombros e apoiei meu rosto em seu colo, dando um pequeno sorriso.

Depois de todos se arrumarem, descemos para o café da manhã. Eu e Bianca seguimos para a reunião com Tite pré-organização de jogo e eu tinha algumas dúvidas não muito legais para colocar em sua cabeça.
- Acho que digo pela área de comunicação inteira que o último jogo ferrou a gente. – Falei, mordiscando a ponta da caneta.
- É, não foi nada legal. – Bianca falou e nos entreolhamos.
- Acho que aquilo foi um caso único, nunca aconteceu de anular dois gols em uma partida, quiçá três. – Taffarel falou e eu confirmei com a cabeça.
- Eu sei que você não vai me ouvir, Tite, mas eu vou dar uma sugestão mesmo assim. – Falei e ele, Cléber, Fabio e Edu viraram para mim.
- Diga! – Tite falou.
- Muda a escalação. – Falei, suspirando. – Eu tenho a consciência de que Firmino não fez de propósito, mas foi tenso.
- Não sei como não bateu nele. – Edu falou e eu ri fracamente.
- Outro ser humano depende de mim agora, não posso me exaltar. – Rimos juntos.
- Essa opinião é fundamentada do último jogo? – Tite perguntou.
- Todas as minhas opiniões são fundamentadas nos últimos acontecimentos. – Falei, suspirando. – Eu sempre fui a primeira a falar que para o ataque era Jesus e Firmino, juntos, mas Firmino me pareceu bem desligado, Jesus também errou, mas foi difícil de engolir.
- Eu vou ver com o pessoal o que podemos fazer. – Tite falou e eu assenti com a cabeça, sabendo que aquilo era da boca para fora.
- Bom, tem algo mais que podemos fazer por vocês? – Bianca perguntou.
- Acho que vocês podem ir. – Eles falaram e assentimos com a cabeça. Pegamos nossos materiais e saímos da sala onde acontecia a reunião.
- Ele não vai nem te ouvir. – Bianca falou.
- Sei bem, reza para o Firmino estar em um melhor dia sábado ou o bicho aqui vai pegar. – Falei apontando para minha barriga e ela riu fracamente.
- Nem brinca com isso. – Ela suspirou alto.
- Falando nisso... – Puxei o celular do bolso. – Preciso ligar para minha família, já entro. – Apontei para porta do restaurante e ela assentiu com a cabeça.
- Até já! – Ela falou e eu segui até o lobby, me sentando no canto de um sofá livre e procurei o número de Bernardo rapidamente pela agenda e coloquei para tocar, esperando três toques até ele atender.
- Ei! Olha quem resolveu aparecer! – Ele atendeu animado e eu chequei o relógio, pouco depois das 10.
- E aí! – Falei rindo fracamente. – Não alongou o sono, não?!
- Ah, até parece. – Ele suspirou. – Tenho bastante coisa para fazer até a noite.
- Menino ocupado! – Cantei e o mesmo riu fracamente.
- E aí, como estão as coisas?
- Ah, tudo certo. – Suspirei. – A Mini me deu um susto depois do último jogo, achei que fosse enfartar ou parir antes.
- Meu Deus, nem brinca! Fiquei preocupado contigo.
- Está tudo bem, voltamos aos eixos. – Sorri.
- Vi que você está em São Paulo.
- Sim, viemos ontem. – Falei, suspirando. – Estamos resolvendo coisas antes de ir para o treino à tarde.
- E como está Alisson? Ah, vi as fotos da sessão de fotos, uma mais linda que a outra.
- Ah, com o Lucas de fotógrafo, nem tem o que reclamar, né?! – Falei e rimos juntos.
- Então, qual o motivo especial da ligação? Até parece que de repente se lembrou de mim! – Sorri.
- Eu de repente me lembrei de você sim, mas tem outro motivo essa ligação. – Suspirei.
- Diga, meu amor. – Mordi meu lábio inferior.
- Você sabe que é meu irmão, não sabe? – Perguntei, apoiando o queixo na mão.
- Claro que sim! – Ele falou com leve tom de ofensa. – Não precisa nem pensar duas vezes.
- E você sabe que estará comigo em qualquer etapa, não sabe?
- Eu passo meu Natal contigo, pois vocês são mais minha família do que a minha original. – Ele falou. – O que está acontecendo, ? – Suspirei.
- Eu estive pensando sobre o bebê e eu decidi pelos padrinhos dele e...
- E não sou eu, certo? – Suspirei.
- É. – Mordi meu lábio inferior.
- Eu imaginei que fosse algo assim, mas eu realmente não me importo, . – Ele falou, rindo em seguida.
- Mesmo? – Perguntei, suspirando.
- Claro! Sabe o por quê? – Ele falou.
- Hum...
- Você é minha irmã. – Mordi meu lábio inferior, sentindo que iria chorar. – Eu serei o melhor tio que essa criança vai ter e ninguém vai tirar isso de mim. – Puxei a respiração, sentindo uma lágrima deslizar pela bochecha. – Mas eu também sei que eu não sou o único que se importa contigo. Você criou uma família no mundo do futebol, você finalmente bateu asas, então sim, Bianca e Lucas serão ótimos padrinhos para...
- Como você sabe que são eles? – Perguntei.
- Ou são eles ou você endoidou em escolher o Arthur e a Aline. – Ele falou e eu ri fracamente. – Eles mal têm contato com você, vai. – Suspirei.
- O pai do bebê tem menos contato que Bianca e Lucas... – Ele gargalhou.
- Detalhes, detalhes! – Ele falou, me fazendo gargalhar. - Vai ficar tudo bem, . – Suspirei. – Eu ainda estarei aqui. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Eu te amo, você sabe disso, não?! – Vi Alisson aparecer em minha frente e bati ao meu lado no sofá.
- Sei sim, minha amiga, eu também te amo, para hoje e sempre. – Suspirei. – Cheguem na final, ok?! Quero ver um jogo.
- Deus te ouça! – Suspirei. – Até mais.
- Até mais, meu amor! – Ele falou e eu desliguei, suspirando e encostei o corpo no sofá, no meio dos braços de Alisson.
- E então? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Está tudo bem para ele. – Dei um pequeno sorriso. – O melhor de tudo?
- Hum... – Ele olhou para mim.
- Eu tenho um irmão para sempre. – Ele sorriu, me apertando de lado.

Saímos para o treino por volta das três da tarde. Seria no CT do São Paulo e, ironicamente, estávamos bem escondidas aqui. A imprensa participou por somente 15 minutos e depois sumiu. Percebi que o trabalho foi mais tático. Tite queria consertar as diversas chances de gol e somente poucos acertarem a área correta, além de que jogaríamos contra Paolo Guerrero e aquilo era uma arma potente. Ele era sensacional, tinha que concordar, tanto como jogador, como na beleza.
Eles cobraram cerca de um milhão de escanteios e fizeram subidas para cabecear uma, duas, três, um milhão de vezes. Eu e Bianca já começamos a trabalhar, então o telefone não parava de tocar. O bom foi que liberamos a presença das famílias no final do treino, então consegui relaxar, ser paparicada por algumas namoradas e esposas, e fazer o tempo passar um pouco mais rápido.
Estava animada para chegar no hotel, juntar todo mundo e contar as novidades. Minha menina agora tinha nome e dois padrinhos que eu sabia que seriam incríveis. Principalmente depois de ver os dois brincando e rolando na grama com os filhos de alguns jogadores. Talvez a opção mais óbvia fosse a mais ideal mesmo.
- Tudo certo? – Alisson perguntou e eu virei para ele.
- Tudo ótimo. – Falei, passando o braço ao redor de sua cintura e suspirei, sentindo-o beijar minha cabeça.
- Pensativa?
- Sempre! – Virei para ele, vendo-o sorrir.
Era cerca de sete horas quando encerramos tudo no CT, agradecemos por nos receber, nos despedimos dos familiares e voltamos para o ônibus. Esperei todo mundo entrar e fiquei por último.
- Gente, me dá licença, por favor! – Falei no corredor, apoiando as mãos nas laterais.
- Aconteceu algo? – Tite perguntou.
- Nada relacionado à CBF. – Falei, abanando a mão. – Eu queria só pedir para todos, sem exceção, chegar no hotel e ir direto para o restaurante. – Falei, vendo Alisson sorrir para mim. – Eu tenho algo para falar para vocês.
- Hum, segredos! – Os meninos começaram a zoar e eu ri fracamente, me sentando ao lado de Bianca.
- É algo que eu sei? – Ela perguntou.
- Ainda não, mas é do seu interesse também. – Falei e ela franziu a testa.
- Medo! – Ri fracamente, relaxando a cabeça no encosto da poltrona do ônibus.
Chegamos ao hotel em cerca de meia hora e daria até para eu tirar uma soneca no ônibus, mas o pessoal estava incrivelmente animado, então fiquei com Bianca tentando terminar os trabalhos para poder realmente descansar após o jantar ou, no máximo, jogar um Uno com os meninos.
O pessoal, milagrosamente, me obedeceu e todos seguiram diretamente para o restaurante. Alisson seguiu ao meu lado e nos colocamos próximo à porta do restaurante, esperamos todo mundo entrar e, quando percebi que estavam todos dentro, puxei a porta.
- Espero que não seja nada sério, , não fui informado disso. – Tite falou e eu ri fracamente.
- Não é culpa minha se minhas vidas pessoal e profissional acabam se fundindo de várias formas. – Falei, ficando na frente de todo mundo e olhei para Lucas e Bianca em um dos cantos e dei um pequeno sorriso.
- É sobre nós! – Alisson falou e eu sorri.
- Vão casar? – Leandro gritou.
- Cala a boca! – Falei, vendo o pessoal rir. – Ainda não chegamos lá, mas queríamos compartilhar essa novidade com vocês. – Suspirei. – São duas, na verdade. – Sorri.
- São gêmeos? – Vinícius gritou e eu dei a língua para ele.
- Deixa a gente falar, vai demorar mais se vocês não ficarem quietos. – Alisson falou e o pessoal começou a zoar ele.
- É por isso que eu amo ele! – Rimos juntos. – Bom, a primeira notícia é que nossa Mini tem um nome já!
- Ah, finalmente vamos poder parar de chamar de Mini! – Arthur falou e eu pisquei para ele, rindo fracamente.
- Mais ou menos! – Alisson falou, me fazendo rir.
- Escolhemos o nome de Minerva exatamente por isso. – Falei, mordendo meu lábio inferior. – É diferente, não muito usual, mas é o nome perfeito para alguém que só será chamada de Mini. – Falei, dando um pequeno sorriso.
- Ah, eu gostei! – Bianca falou, emocionada.
- É perfeito! – Arthur falou e eu sorri.
- Minerva Becker, hum?! – Tite perguntou.
- Minerva Becker. – Alisson corrigiu e os meninos sorriram.
- Bom, essa foi a primeira. – Suspirei. – A segunda eu talvez comece a chorar de emoção, pois foi uma decisão muito certa... – Senti minha voz afinar e Alisson me abraçou de lado. – Mas eu sei que fazendo essa decisão, eu teria que negar outras e todos vocês, além de amigos que temos fora desse mundo, são muito importantes para gente e sei que terão parte importantíssima na vida de Minerva. – Suspirei, passando a mão pela lágrima que escorreu de minha bochecha. – Então, antes de falar, eu quero agradecer a todos vocês por serem incríveis amigos.
- Nós que agradecemos! – Arthur foi o primeiro a falar.
- É bom fazer parte da família de vocês. – Thiago falou e eu sorri.
- Se vocês não ligaram os pontos ainda, nós escolhemos os padrinhos de Minerva. – Alisson falou e eu sorri.
- E são pessoas dessa sala? – Tite perguntou.
- Sim! – Sorri, olhando para Alisson e rindo fracamente.
- Essa foi uma decisão maior de e me pareceu muito certa, pois são pessoas que a apoiaram nessa luta interna dela com a gravidez antes mesmo de eu saber. – Alisson falou e eu engoli em seco e virei para o lado que Bianca e Lucas estavam.
- Bi, Lucas, vocês estão prontos para esse desafio? – Falei, não conseguindo mais segurar as lágrimas em meus olhos.
- Ah! – Bianca gritou, correndo em minha direção e me abraçando fortemente, pulando comigo, me fazendo gargalhar. – Mas é claro que sim!
- É óbvio! – Lucas falou, cumprimentando Alisson e eu apoiei o rosto no ombro de Bianca, deixando que as lágrimas escorressem pelo meu nariz.
- Você é minha escolha número um, saiba disso. – Falei para ela que me apertou no colo.
- Você não vai se arrepender. – Ela sussurrou em meu ouvido.
- Você é minha amiga, não vou me arrepender de nada. – Me afastei e ela beijou meu rosto, me fazendo rir.
- Parece final de Copa do Mundo! – Pombo falou e eu ri fracamente, finalmente soltando de Bianca e senti Lucas me apertar em meus ombros.
- Obrigado! – Ele falou. – Vocês são muito importantes para mim. – Ele falou e eu sorri, beijando seu rosto.
- E vocês para mim! – Sorri, suspirando. – Saibam que foi muito difícil escolher entre vocês, Vinícius, Bernardo, Arthur... – O mesmo sorriu, se aproximando. – Mas é só um título e eu sei que todos vocês, sem exceção, cuidarão de Mini sempre que for preciso.
- Você não precisa se explicar. – Vinícius falou e eu sorri, sentindo-o me beijar na bochecha.
- É só um título, mas ele é meu! – Bianca falou, nos fazendo gargalhar. – Eu sou a madrinha! Eu sou a madrinha! – Ela começou a cantarolar alto e os jogadores que assistiam começaram a gargalhar.
- Agora aguenta! – Lucas falou, me abraçando de lado e gargalhamos juntos.
- Pelo menos ela está feliz! – Alisson falou ao meu lado e eu sorri.
- Parabéns, gente! Vai ser demais! – Tite falou e eu sorri, abraçando-o. – Agora vamos comemorar? – Ele falou e rimos. – Todo mundo vai brindar com suco de laranja, pois é o que tem! – Ele falou e gargalhamos.

O dia que antecedeu o jogo começou bem na preguiça. Ficamos comemorando as novidades até quase meia noite e a preguiça pegou todo mundo. Os despertadores tocaram no quarto e só queríamos saber de dormir de novo. Até todo mundo tomar banho e se arrumar, descemos para tomar café depois das 10 horas. Cada hora que um ia para o banho, o outro ficava de preguiça na cama. Foi bem interessante, pareciam três bichos preguiças se sabotando.
Descemos para o café da manhã, ou o que havia sobrado dele, e Neymar estava lá. Fisicamente, ele estava muito melhor, desde a última vez que eu o vi. Ele abraçou Alisson bem animado e ficou passando na minha cabeça se a decisão de cortar ele realmente havia sido da equipe técnica ou se minha sugestão havia sido aceita.
- Ah, garota! – Ele sorriu, me abraçando de lado. – Como essa bebê está?
- Estamos muito bem! – Ele sorriu.
- Que bom! Falaram que você se irritou no último jogo.
- Não vai ser fácil, Ney! – Falei e ele riu fracamente.
- Vai dar tudo certo! – Ele falou e eu sorri.
- Deus te ouça! – Dei um rápido beijo em seu rosto e deixei ele e Alisson conversarem e segui em direção ao buffet.
Igual no dia anterior, por volta das três horas, nós seguimos até Itaquera para reconhecimento de campo e um treino mais específico. Tínhamos cerca de 24 horas para o jogo que definiria nosso segmento na competição e era bom que eles estivessem animados e dispostos, eu não poderia quase morrer de ataque cardíaco igual no outro jogo.
Cássio, Fagner e Tite pareciam bem confortável no estádio do Corinthians, já eu... Bom, estava meio o Alisson no CT do Grêmio, mas até eu precisava assumir, era bonito. A única coisa que me incomodava era que eu passaria frio assim que o sol começasse a se pôr e não estava nada feliz com isso.
A novidade no treino foi Arthur voltando a se movimentar muito bem, Fernandinho não teve a mesma sorte, mas esperávamos recuperação para o próximo jogo. Tite parecia que tinha me ouvido e trabalhou melhor com Jesus e Everton como titulares, Cebolinha estava se mostrando bom demais, quem sabe não seria nossa surpresa? Precisávamos de outros ídolos para a galera.
No geral, eu e Bianca ficamos atendendo as demandas da imprensa, já havia ouvido o nome Guerrero umas 200 vezes e não estava nem perto do treino acabar e ainda tinha coletiva. O dia até que estava calmo, mas era só tempo para a primeira bomba cair.
- ! – Bianca mostrou o celular tocando em sua mão e jogou em minha direção, se afastando com a outra ligação.
- Boa tarde, aqui é .
- Boa tarde, . Aqui é Alfredo Menezes, do jornal Extra do Rio de Janeiro. Tudo bem?
- Tudo bem e contigo? Em que posso te ajudar? – Parei a bola que saiu pela lateral e devolvi para Marquinhos que agradeceu com um aceno.
- O jornal Líbero do Peru estampou na sua capa de hoje que um drone foi visto no treino de ontem do Peru. Eles acusam que Tite foi o responsável por isso, vocês têm algo a comentar sobre? É verdade? – Franzi a testa, dando uma rápida corrida em direção à Bianca e a cutucando. – Também falam que tinha alguém à paisana nas arquibancadas.
- Essa informação é totalmente sem fundamento, Alfredo. – Falei, meio perdida. – Isso não veio de nós. – Falei.
- Tem certeza?
- Sim, tenho! – Falei mais firme. – Além de ser contra as regras, não queremos sofrer penalidades à essa altura do campeonato, certo? – Ri fracamente, vendo-o me acompanhar.
- Obrigada, , um bom dia.
- Obrigada! – Falei, desligando o telefone.
- O que foi?
- O Tite mandou um drone espiar o Peru? – Perguntei e a mesma arregalou os olhos.
- O quê?
- Pois é! – Falei e nós duas olhamos para o meio do campo onde Tite fazia alguns treinos mais específicos.
- Eu vou matá-lo. – Bianca falou, saindo em disparada para o meio do campo e eu segui correndo atrás dela.
- Meninas, poderiam dar a volta por fora, por favor? – Ouvi Cléber falar e parei ao lado de Tite.
- Só se vocês nos esclarecerem porque um drone foi visto sobrevoando o treino do Peru ontem. – Virei para Cléber. – Foi você, né?! – Falei, cruzando os braços.
- Vocês não seriam tão baixos a esse ponto, seriam? – Bianca falou mais vingativa.
- Com toda merda que já estão falando com a gente, não?! – Olhei para eles. – E quem vocês mandaram para lá? – Marcos? Gilson?
- Vinícius. – Fabio falou, se metendo no assunto.
- O Vini? Cara, vocês estão loucos? – Falei um tanto alto demais. – Se descobrem que o negócio era nosso, isso dá uma merda federal e podemos até ser expulsos da competição.
- O treino era aberto... – Cléber falou.
- Isso é antiético, acorda! – Bianca falou.
- Eu protegi vocês dessa vez, se acontecer de novo, posso garantir que da minha boca só vai sair um “eu vou passar o telefone do Tite, você resolve melhor com ele”. – Respirei fundo.
- Nada pode dar errado, gente! – Bianca falou. – Não agora.
- Desculpe, ok?! – Edu falou e eu abanei a mão.
- Não é algo que você pede desculpa, Edu, se o negócio dá merda, se o drone cai no meio do treino, se Vini fosse descoberto ou qualquer outra coisa, um pedido de desculpas não resolveria. – Bianca falou firme.
- Expulsão da competição seria só começo! – Falei, respirando fundo. – Não façam merda, pensem no bebê, por favor!
- É, pensem na minha sobrinha. – Bianca falou firme e eu suspirei.
- Coletiva em 20 minutos com Tite, Cléber e alguém da sua escolha, espero que o jornal Extra não esteja lá, muito menos o tal do Líbero do Peru. – Suspirei.
- Não tem como checar a lista de presença? – Edu perguntou.
- Há 20 minutos de começar? É, vamos assinar o atestado de culpa agora. – Fui irônica e abanei com a mão, voltando novamente pelo meio do campo. – Vocês nos estressam, nós estressamos vocês. – Falei um pouco alto. – Agora é acordo! – Pisquei, respirando fundo.
Por sorte a coletiva acabou sendo de boa, mas só aquele pequeno probleminha já tinha me dado dor de cabeça e eu só queria um belo jantar, um daqueles banhos confortáveis que deixavam a gente até enrugada e minha cama bem de boa. Eu e Alisson fomos jantar, enquanto Bianca optou por tomar banho. Assim fazíamos as coisas mais rápidas e todos deitávamos antes da meia noite, pelo menos.
- Vi que rolou um estresse no treino hoje. – Alisson comentou quando eu puxei meu uniforme para cima.
- O Tite mandou um drone espiar o treino do Peru ontem. – Falei e Alisson me ajudou a puxar meu top para cima.
- Mentira! – Ele falou.
- Pior que não. – Suspirei, negando com a cabeça.
- Isso não é proibido? – Ele perguntou.
- É! – Falei. – Não sei muitas cláusulas, mas não pode, nenhum membro de outra comitiva pode estar nos treinos sem permissão, e eu posso garantir que não teve permissão. – Neguei com a cabeça.
- E aí alguém da imprensa perguntou?
- Saiu num jornal peruano, um jornal do Rio ligou para checar. – Segui em direção ao banheiro, abrindo a porta do boxe. – Eu falei que não, mas é óbvio que foi! Isso é cara do Cléber. – Suspirei, tirando a calcinha e entrando no box, abrindo as torneiras.
- Eles pareciam bem nervosos na reunião mesmo. – Suspirei.
- Vou começar a tomar meu chazinho de maracujá logo cedo amanhã. – Falei e o mesmo riu fracamente.
- Quanto tempo será que a Bianca vai demorar? – Ele perguntou e eu dei um meio sorriso.
- Espero que o suficiente para você ficar um pouco aqui comigo. – Respondi e ele riu fracamente.
Ele fechou a porta do banheiro, trancando-a e tirou seu uniforme completo, jogando-o em cima da pia e entrou comigo no box, fechando em seguida. Ele levou minhas mãos para minha cintura, me trazendo para perto de si e colou nossos lábios levemente. Subi as mãos para seus ombros, apertando-o contra mim e deixei que o chuveiro fosse embaçado pela água quente.
- Não deixa ela te ouvir. – Falei contra nossos lábios, ouvindo-o rir fracamente.

Acordei com uma mensagem da minha família falando que estavam saindo da minha cidade e que chegariam em algumas horas em São Paulo. Seria muito bom ver todo mundo lá. Eles nunca tinham me visto grávida, estava na hora de fazermos as devidas apresentações. Minerva, família; família, Minerva.
A manhã foi calma no hotel, ficamos enrolando igual sempre, alguns jogadores foram se preparar para a fisioterapia, outros foram se aquecer na academia do hotel e eu fiquei jogada pelos cantos com minha equipe. Por volta das 10 horas teve a tradicional reunião de Tite com os jogadores e eu realmente não me atrevi a ficar para mais uma.
Almoçamos um pouco mais cedo, descansamos enquanto organizávamos nossas coisas para o jogo e uma da tarde a comitiva Seleção Brasileira saiu do hotel. Vários fãs estavam amontoados na porta e Alisson até ganhou um presente de um deles, haviam cartinhas, fotos e muitas outras coisas em uma caixa bonitinha, nada que me deixasse com ciúmes, é claro!
O estádio já estava cheio quando chegamos, eu sentia dentro de mim que aquele dia seria sensacional, só precisava que o jogo também fosse para tudo ficar incrivelmente perfeito e a gente ir comemorar com vitória, classificação e uma Mini bem confortável dentro de mim. Falando nisso, a cada 10 segundos eu acariciava minha barriga, checando se ela não me daria um susto e eu havia montado uma cuia de chá de camomila e o negócio até que era gostoso, apesar de ser bem estranho.
Chegamos no estádio e cada um seguiu para seu canto. Eu, Bianca, Leandro, Anna, Diana, Lucas e Vinícius nos juntamos em nosso canto, distribuímos as atividades e nos separamos quase como um time de futebol. Ba, dum, ts. Puxei o celular do meu bolso e encontrei uma mensagem de Andressa.
“Aqui é perfeito, eu te amo demais”. – Ri fracamente. Havia conseguido ingressos na primeira fileira, logo acima do banco dos reservas para eles. Achei que eles poderiam aproveitar melhor do que no camarote. Apesar do grande conforto.
Logo em seguida, uma foto de minha mãe, meu pai, minha irmã, meu cunhado e minha sobrinha carregaram em nossa conversa particular e suspirei. Todos usavam camiseta de time e Analice até estava com o rosto pintado de verde e amarelo. Hoje seria o primeiro dia em que eles realmente me veriam trabalhar e eu precisava estar excepcional.
- Minha família está aqui! – Falei para minha equipe.
- Mesmo? – Bianca falou animada e eu dei alguns pulinhos.
- Sim! – Sorri.
- Vai lá! – Ela falou animada e eu ri.
- Já vou, deixa eu terminar minha parte. – Falei rindo e segui para meu lado.
Os jogadores estavam empolgados até demais, eles batucavam em instrumentos e eu mal conseguia ouvir minha voz direito pelo som. Fabio mandou todos para o pequeno gramado que tinha em uma das salas e eles fizeram aquecimentos de diversas formas. Quando deu a hora do treino, confesso que estava nervosa em encontrar minha família.
- Eles já chegaram? – Alisson perguntou seguindo comigo pelo corredor enquanto colocava as luvas.
- Já sim. – Sorri e ele riu fracamente.
- Vamos, Alisson! – Taffa gritou.
- Aproveita! – Ele piscou.
- Reunião de família mais tarde! – Falei, ouvindo-o rir e segui ao lado de Lucas e Vinícius pelo corredor.
Fui cegada pela luz do sol e eu saberia que quatro horas seria um horário bem filho da mãe para esse jogo, esperava que a posição do estádio ajudasse um pouco, apesar que o frio também não ajudava em nada. Passei pelos arcos da Copa América e parei pouco antes de pisar dentro do campo.
- ! – Ouvi um grito e virei para trás, encontrando minha família acenando e eu abri um largo sorriso, acenando de volta.
- Meu Deus! – Minha mãe colocou a mão na boca quando reparou na barriga e eu gargalhei.
- Sua família? – Tite perguntou e eu assenti com a cabeça. – Vai lá! – Ele falou e me apontou para uma das escadas dos seguranças.
Segui para o lado que ele falou e eu subi os degraus rapidamente, pedindo licença para um dos seguranças e, de repente, estava dentro da arquibancada. Andei de volta até minha família e encontrei minha irmã no meio do caminho que me abraçou fortemente.
- Meu Deus, você está realmente grávida! – Ela falou chorando em meu ouvido e eu gargalhei, apertando-a fortemente.
- Vocês estão aqui! – Falei, abraçando minha mãe em seguida que distribuiu diversos beijos em meu rosto.
- É tão perfeito! – Minha mãe falou e eu sorri, abraçando meu pai em seguida.
- Você está linda, minha filha! – Ele falou e eu senti vontade de chorar pela milésima vez naquela semana.
- Ah, garota! – Meu cunhado me abraçou e eu ri fracamente.
- Titia! – Peguei Analice no colo, sorrindo.
- Ah, você está pesada! – Falei, rindo.
- Você está enorme, minha filha. – Minha mãe falou e eu sorri.
- Como você está? – Meu pai perguntou.
- Está tudo bem. – Falei, segurando sua mão. – Ela está bem, nós estamos bem, está tudo sob controle. – Andressa tirou Analice de meu colo.
- Você está linda, meu amor. – Minha mãe falou, levando às mãos à minha barriga e eu sorri.
- Está tudo bem. – Sorri. – Pessoal está cuidando bem da gente, Alisson está mais apaixonado do que nunca. – Assenti com a cabeça. – Ficaremos bem.
- E depois? – Minha mãe perguntou.
- Não sei! – Fui honesta. – E não quero pensar nele agora, precisamos focar nesse jogo ainda. Esse jogo é a primeira decisão real sobre nós, depois vemos. – Sorri e meus pais confirmaram com a cabeça.
- E seu trabalho, hein?! Top demais! – Natan falou e eu ri fracamente.
- Eu fico aqui embaixo durante os jogos, viu?! – Pisquei para ele que riu.
- Isso é demais. – Ele ergueu meu crachá, lendo as informações.
- Bom, eu tenho alguns protocolos para seguir ainda, vocês vão ficar aqui ou vão embora? – Perguntei.
- Vamos embora, alugamos uma van. – Meu pai falou.
- Tudo bem, eu os vejo no intervalo e no final, de preferência para comemorar, ok?! Posso levar vocês para conhecer o pessoal também. – Pisquei.
- Seria demais! – Natan falou animado e eu ri fracamente.
- Bom trabalho. – Minha mãe gritou e eu acenei, voltando pelas escadas e descendo-as até o campo novamente.
- Bom ter a família aqui, né?! – Tite comentou e eu sorri.
- Com certeza, mas façam um bom show, ok?! – Falei e ele riu fracamente.
- Pode deixar! – Ele disse e eu segui novamente para o vestiário.

Os jogadores voltaram do treino e os últimos preparativos para o jogo começaram. Estava tudo bem, certinho, bonitinho e perfeitinho. Além de tudo, o Peru tinha nos eliminado na Copa América Centenário, aquilo estava um pouco entalado na garganta, então teríamos que arrasar! Era questão de honra!
- Só mete um pau, tá?! – Falei para Alisson e o mesmo me deu um beijo na bochecha.
- Como a madame quiser! – Ri fraco, passando a mão em seu uniforme preto e ficamos lado a lado para as palavras do capitão.
- Hoje vamos fazer isso pela gente e pelas nossas famílias. Vamos fazer um bom jogo e sair daqui classificado. – Dani falou e eu não entendi o porquê de ele estar fazendo o discurso, mas realmente não me importei. – Vamos com tudo! – Ele falou e juntamos as mãos.
Fizemos um Pai Nosso e um Ave Maria e nos cumprimentamos rapidamente e todos saímos animados da roda, seguindo para o campo. Os jogadores do Peru também chegavam no túnel e, como olhar não tira pedaço, dei uma boa olhada em Guerrero. Alisson me puxou pela mão, me abraçando rapidamente e levou as mãos em minha barriga.
- Fiquem bem, ok?!
- Tudo depende de vocês! – Falei e ele sorriu, estalando mais um beijo em minha bochecha e eu sorri, saindo para o sol também, ouvindo a torcida gritar.
Acenei rapidamente para minha família que gritou por mim novamente e segui em direção ao meu lugar no banco de reservas, ficando ao lado de Bianca. Fiz um rápido sinal da cruz sozinha e soltei a respiração, tentando relaxar. Precisávamos botar para foder agora e não dava para ser qualquer expressão, tinha que ser para valer.
Entramos com Alisson, Dani Alves, Marquinhos, Thiago, Filipe, Arthur, Casemiro, Jesus, Coutinho, Everton e, que Deus nos abençoe, Firmino e eles se posicionaram para o hino. Os paulistas estavam bem animados e esperava que eles permanecessem assim até o fim do jogo. Não podíamos morrer na praia, não quando aquilo definiria quanto tempo mais eu passaria com Alisson, apesar de saber que ele tiraria algumas férias antes de voltar para o time.
As fotos foram tiradas, os times foram separados, as flâmulas foram trocadas, campos escolhidos e eu já estava ajeitada na cadeira com os pés firmes no chão, meu Gatorade de maracujá na mão e pronta para gritar “gol”, eles só precisariam cooperar comigo. O apitou foi soado e eu puxei o ar com força. Era hora de Brasil!
Peru já começou quente, e sim, vocês vão ler várias brincadeirinhas besteirentas, pois simplesmente não dá para deixar passar, não é mesmo? Em uma saída de bola um pouco violenta demais, que acabou derrubando Dani Alves, o Peru cobrou a falta e a bola passou Alisson, um peruano estava em posição, mas demorou demais para dar o rebote e, para minha felicidade, a bola foi para fora.
Alguns minutos mais para frente Casemiro fez uma falta em um peruano e levou cartão amarelo. Já era o segundo e ele estava fora das quartas. Eu queria matar ele. Casemiro sempre levava cartão pouco antes de jogos importantes! Eu o adorava, achava que ele tinha uma importância extraordinária em campo, mas ele sempre aprontava!
Aos 12 minutos eu me calei sobre Casemiro, tivemos uma cobrança de escanteio de Coutinho, o mesmo mandou bonito para área, Thiago cabeceou e desviou, a bola foi para Casemiro que mandou para dentro do gol. Batendo na trave, a bola voltou e ele mandou para dentro novamente, caindo por cima de peruanos e brasileiros. E eu precisei ver o replay no telão, pois não dava para identificar pessoas nem números na bagunça que virou ali. De repente o pessoal estava gritando, então gritamos juntos!
- Gol! – Levantei animada, estalando os dedos. – Vai, Brasil! – Gritei!
- Que continue assim! – Bianca falou, me abraçando de lado e eu sorri.
Alguns minutos depois, em uma falha bem feia do goleiro peruano, o mesmo tentou fazer um tiro de meta, mas Firmino se colocou na frente, recebendo uma bolada nas costas, a bola foi para trás, batendo na trave e Firmino correu em direção à mesma. Eu me levantei junto com o pessoal do banco, surpresa que aquilo estivesse acontecendo. O mesmo recebeu a bola no peito, ajeitou, desviou do goleiro, enquanto a defesa peruana ainda tentava chegar e chutou sem olhar, mandando para dentro do gol.
- Isso vale? – Cochichei para Bianca que pulava e me abraçava e gargalhava alto.
- Vale! – Matheus falou ao nosso lado e eu gargalhei junto, pulando com ele ao meu lado.
- Nesse ritmo eles metem mais dois no primeiro tempo. – Bianca falou e eu me sentei novamente.
- Calma! – Falei, apoiando as mãos em minha barriga e notei Mini agitada, provavelmente de agitação, pois me sentia muito bem.
Cebolinha tentou novamente aos 22 minutos, ele acabou se bagunçando com a defesa peruana e o goleiro Gallese acabou pegando a bola. Menos de 10 minutos Everton teve outra chance, ele e Filipe Luís quase brincaram com a bola, mas Everton fez a abertura, mandando uma bomba do lado de fora da grande área e a mesma lambeu a trave pelo lado de dentro, fazendo três a zero para o Brasil.
- É! – Pulei animada.
- Gol! – Bianca pulou em minhas costas e quase foi as duas para o chão.
- Doida! – Falei, vendo-a gargalhar e nos abraçamos.
- Sem machucar, pelo amor! – Ederson falou e rimos juntos.
Alguns minutos mais para frente, Filipe Luís fez um passe alto bonito, Jesus recebeu a bola e mandou na mesma rapidez, mas a mesma acabou indo para fora, sobrando tiro de meta para a seleção peruana.
Alisson finalmente apareceu no jogo, depois de ficar se alongando 200 vezes do outro lado do campo, já que ele estava um pouco esquecido. Um peruano fez o passe para dentro da grande área, passou para outro e esse fez o chute. Alisson se jogou no chão, batendo as costas na trave, mas a bola foi para fora, para minha felicidade.
O fim do tempo acabou com três lindos e sensacionais gols e aquilo levantou a moral de forma incrível. O pessoal se abraçou animado e começaram a voltar para o vestiário. Me afastei do banco de reservas, encontrando minha família e ergui o polegar, vendo Andressa me copiar, piscando em minha direção. Movimentei os indicadores em círculo, em sinal de já voltava e vi Alisson chegar com sua toalha e sua garrafinha na mão.
- Olha, você por aqui! – Brinquei e ele piscou. – Olha lá! – Apontei para minha família.
- Ei! – Ele acenou sorrindo e o pessoal acenou de volta.
- Cara, eu estou surpreso! – Ele falou e eu ri fracamente, seguindo ao seu lado pelo túnel.
- É um time totalmente diferente. – Falei e ele confirmou.
- Total! – Ele falou rindo. – É loucura! – Sorrimos e seguimos até o vestiário.
Tite fez uma rápida reunião com informações do jogo, o pessoal que assistia ao jogo do alto também deu algumas sugestões e logo estávamos prontos para o segundo round e, Deus ia querer, que vencêssemos com estilo.

O segundo tempo começou animado! Os meninos não tinham relaxado. Everton tentou entrar na grande área, mas o goleiro acabou interceptando, Coutinho tentou roubar, mas a bola acabou indo para fora. Em uma cobrança de escanteio do Peru, eles tentarem mandar para o gol, mas Alisson pegou a bola muito facilmente.
Jesus tentou acordar um pouco para o ataque, mas o goleiro peruano pegou com muita facilidade. A bola voltou para os pés dos brasileiros e Dani competiu bola com um peruano, ele aproveitou a deixa, deu um chute para cima, confundindo o goleiro Gallese e mandou para o fundo do gol.
- Gol! – Gritei animada, abrindo um largo sorriso e comecei a ficar com dó do goleiro peruano, ele estava levando uma atrás da outra e o time dele nem conseguia partir para o ataque.
- Que redenção maravilhosa! – Bianca falou se jogando ao meu lado e eu sorri.
- Mini está bem feliz! – Falei, rindo fracamente, vendo que só tinha passado 10 minutos do segundo tempo.
- Ela está bem?
- Sim! – Sorri, sentindo-a apoiar a cabeça em meu ombro.
Coutinho tentou se aproximar mais uma vez, mas a bola foi tirada dele. Depois tivemos algumas substituições. Filipe Luís deu lugar a Alex Sandro e Casemiro deu lugar a Allan. Estávamos prontos para voltar com gás.
Jesus tentou driblar os jogadores peruanos, mandando uma rasteira para o gol, mas Gallese pegou. O segundo tempo foi bem mais de boa, mas eu olhava para Alisson no gol norte e ele fazia tudo, menos se preocupar com o jogo, afinal não tinha o que ele fazer, o jogo estava inteiro no campo do Peru.
Mais para o meio do tempo, Tite tirou Coutinho e colocou Willian, nossa camisa 10 finalmente estava em jogo e eu queria ver mais gol! E sabia que Willian ia tentar a todo custo.
Ele fez um passe para Jesus, o mesmo até tentou fazer o chute, mas o bandeirinha ergueu e o jogo foi parado em sinal de impedimento. O jogo continuou seguindo, mas os minutos passavam e achei que a gente ia finalizar só com quatro a zero, pouca bobagem, mas aí veio minha felicidade aos 44.
Willian passou para Everton e ele fez a mesma coisa do seu gol, mas dessa vez ele fez o passe para Willian e o menino arrancou por fora mandando uma bomba para dentro da área. A trajetória da bola foi tão linda que quase me fez chorar. Gallese pulou com a mesma, mas ela já estava no fundo do gol.
- Ah! – Me levantei animada, abraçando Bianca e Coutinho, dando pulinhos.
- Ah, que delícia de jogo! – Bianca gritou, me fazendo gargalhar.
- Todos poderiam ser assim, né?! – Brinquei e Coutinho riu ao nosso lado.
Com quatro minutos de acréscimo, achei que o negócio estava feito, mas eles queriam mais, queriam fazer mais três gols no segundo tempo e ficar tudo igual. Jesus teve uma arrancada dentro da grande área e Gallese chegou dando uma rasteira nele, provavelmente não intencional, mas o juiz marcou pênalti e a gente queria o quê? Gritar gol!
- Vamos, Brasil! – Bianca cantou e eu apoiei as mãos nos joelhos, respirando fundo.
Jesus foi escolhido para bater e confesso que não fiquei muito feliz com isso, mas faz parte, não seria difícil, seria? Não foi, ele bateu, mas Gallese estava precisando de uma redenção e, ao menos o pênalti que ele causou, ele defendeu, fazendo a bola seguir para o jogo, mas nenhum brasileiro conseguiu fazer o rebote.
Na saída de bola do goleiro, o juiz apitou sinalizando o fim do jogo e eu pude relaxar na poltrona. Desbloqueei o iPad rapidamente e chequei a tabela, rindo fracamente ao ver que Venezuela tinha ganhado da Bolívia e o Peru havia conseguido se garantir por mal desempenho de Paraguai e Japão. Eles também estavam dentro.
- Vamos comemorar! – Tite apareceu e eu me levantei, abraçando-o fortemente, sentindo-o me tirar do chão um pouco.
- Peru passou também. – Falei rindo fracamente.
- Mesmo?
- Mesmo! – Ele gargalhou.
- Você está feliz? – Ele me perguntou.
- Estou feliz, pois vou poder passar mais tempo com Alisson e porque eu vou encher o saco para gente ganhar isso agora! – Pisquei e ele sorriu.
- Aproveita, garota! – Ele piscou e eu sorri, vendo o pessoal começar a sair do campo.
Percebi Jesus abaixado no campo e Firmino e Willian seguiram até ele. Invadi o campo, cumprimentando o pessoal que passava por mim e segui até os três, vendo-os levantarem Jesus e dei um pequeno sorriso.
- Não tem motivo para ficar triste não! – Falei para ele. – É dia de festa.
- Eu estou bem! – Jesus falou e eu o abracei, dando uns tapinhas em suas costas.
- Você foi ótimo! – Falei, vendo-o sorrir e seguimos pelo campo para a festa da torcida.
Sorri para Alisson chegando em mim e ele me abraçou de lado, o apertei em meus braços e sorri, sentindo-o me levantar um pouco, me fazendo rir.
- Como está tudo aí? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Estamos bem e felizes por garantir mais alguns dias contigo. – Falei e ele deu um beijo em minha bochecha.
- Você sabe que, mesmo se a gente for eliminado logo, eu vou aproveitar minhas férias contigo, né?! – Ele falou e eu suspirei.
- Eu sei, mas se isso acontecer, você vai ter que voltar para pré-temporada e estamos perto. – Ele negou com a cabeça.
- Nem a pau! – Ele me abraçou de lado. – Falei que vamos dar um jeito, não?! Então vamos. – O vi piscar e o empurrei, rindo fracamente.
- Vai lá para dentro, vou chamar minha família! – Falei e ele acenou com a cabeça. – Edu! – O chamei e o mesmo se virou para trás.
- Fala, princesa! – Ele falou e eu ri fracamente.
- Adoro quando vocês ganham, ficam me paparicando! – Rimos juntos. – Minha família está aqui, posso trazê-los para dentro?
- Claro! – Ele falou animado. – Vai ser um prazer conhecer os responsáveis por essa cabecinha louca! – Rimos juntos e eu mostrei a língua.
- Logo chego lá! – Falei, vendo o campo quase vazio e os policiais tirarem o resto do pessoal e virei para minha família. – Vamos? – Chamei-os com a mão.
- Agora? – Minha mãe perguntou.
- Agora ou nunca, em até duas horas estamos fora daqui! – Falei. – Senhor! – Chamei o segurança que estava na base próximo a escada. – Pode deixar os cinco descer, por favor. – Estiquei meu crachá para ele. – , assessora da CBF.
- Sim, senhorita! – Ele falou e eu sorri.
Minha família pegou suas coisas e desceu as escadas, Analice veio em minha direção e pulou em meu colo, me fazendo rir e enchê-la de beijos. O resto da família veio mais devagar, mas logo estavam ao meu lado.
- Que jogaço, hein?! – Natan falou e eu ri fracamente, colocando Analice no chão.
- Ainda bem, no último jogo a Mini me deu um susto que eu tive que tomar até calmante. – Eles riram.
- Mini? – Minha mãe perguntou.
- Ah é! – Ri fracamente. – O pessoal define o bebê como Mini Becker desde o começo, aí pegou. – Dei de ombros. – Escolhemos o nome de Minerva para ela.
- Minerva? – Minha mãe falou, surpresa.
- Muito estranho? – Ri fracamente.
- É lindo, meu amor. – Ela falou me abraçando de lado e senti um beijo em minha cabeça.
- E espero que vocês não fiquem chateados... – Falei para Andressa e Natan. – Mas escolhi Bianca e Lucas como padrinhos.
- Eu só não xingo, pois sei que eles estão sendo muito mais presentes nessa gravidez do que eu. – Ela me abraçou de lado e eu sorri. – Mas me surpreendo por não ser o Bernardo. – Suspirei.
- O Bê já é padrinho da Lice, além de que ele é quase nosso irmão. – Falei, vendo Andressa assentir com a cabeça. – Achei mais ideal ser duas pessoas que realmente participaram de todos os momentos meu e de Alisson, afinal não é uma escolha que eu deva fazer sozinha. – Dei de ombros.
- Está certa, meu amor. Você estando feliz, também estamos. – Meu pai falou e eu sorri, sentindo meu celular vibrar e o tirei do bolso.
“Cadê você? Coletiva agora”. – Franzi a testa.
- Precisamos entrar agora, eu ainda preciso trabalhar. – Falei, chamando-os com a cabeça.
- O que tem mais para você fazer? – Natan perguntou seguindo ao meu lado.
- Coletiva de fim de jogo! – Falei e segui pelos corredores mais vazios. Alguns burburinhos podiam ser ouvidos perdido pelos corredores, mas aquilo estava quase vazio. – Tenta não surtar, tá bem, Natan? – Falei.
- Pode deixar! – Ele falou, fazendo sinal de escoteiro.
- E você também, pai. Taffarel está aqui! – Falei e meu pai arregalou os olhos, surpreso. – Calma! – Falei novamente.
Passei pelos corredores, ouvindo os batuques e comemoração do pessoal ficar cada vez mais alto e encontrei Lucas e Vinícius gargalhando do lado de fora. Chamei minha família meio tímida com a mão e toquei o braço de ambos na porta.
- Gente, minha família! – Apontei para o pessoal. – Esses são Vinícius e Lucas.
- Ah, vocês são os famosos, então?! – Minha mãe falou, sorrindo e abraçando os dois como se fossem melhores amigos.
- Que prazer conhecer vocês. – Meu pai falou e eu sorri, entrando no vestiário.
- Ei! – Dei um grito, batendo a palma duas vezes, vendo Dani parar o batuque. – Espero que todos estejam vestidos, pois minha família está aqui e tem uma criança junto! – Falei.
- Hum, finalmente vamos conhecer o pessoal? – Thiago falou e eu ri fracamente.
- Só agora que deu! – Falei, vendo Natan e meu pai entrarem primeiro. – Meu pai Alberto, meu cunhado Natan, minha mãe Carina, minha irmã Andressa e minha sobrinha Analice. Galera, esse é o time. – Falei, dando tapinha nos ombros de Natan.
A cara de meu pai e Natan foi impagável, cada um tinha um ídolo na seleção e isso era óbvio só pelo olhar deles. Demorou alguns segundos para eles destravarem, mas Alisson se aproximou e cumprimentou o pessoal que ele já conhecia, com exceção de Natan que não tinha ido na festa de fim de ano.
- Prazer, cara! É uma honra, sério! – Natan falou ainda embasbacado.
- Oi, eu sou a Bianca! – Bianca veio animada se apresentar e deixei eles conversarem rapidamente.
- Vamos, Tite? Cléber? – Me aproximei deles e eles assentiram com a cabeça. – Mãe, esses são Tite e Cléber.
- Meu Deus, eu estou em um sonho e não quero acordar. – Meu pai falou e eu ri fracamente.
- Menos, pai! Pega leve! – Falei rindo fracamente.
- É um prazer conhecer a família da , ela é nossa querida! – Tite falou, me abraçando de lado e eu revirei os olhos.
- Quero ver o que vocês vão querer depois de hoje, viu?! – Ri fracamente. – Está todo mundo me cantando. – Eles riram fracamente.
- Olha lá, hein?! Estou perdendo minha moral! – Alisson falou e eu sorri.
- Você segura as pontas aqui? Vou lá na coletiva. – Falei um tanto baixo para Alisson.
- Claro! Vou enturmando todo mundo. – Ele falou, sorrindo.
- E deixa minha sobrinha longe do Richarlison, por favor! – Sussurrei e ele gargalhou.
- Pode deixar! – Ele bateu na mão de Analice, me fazendo rir.
Segui Tite e Bianca para coletiva e como é bom não ficar tenso em coletivas. Havíamos ganhado de lavada, Alisson estava com uma clean sheet perfeita e tínhamos conseguido ser os primeiros do grupo. Claro que falaram do erro do gol do Jesus, mas eu não me preocupei, não foi erro dele, foi acerto do goleiro, então faz parte.
O papo durou cerca de 20 minutos, encerramos rápido e logo voltamos para o vestiário. O pessoal ainda estava animado e nada havia mudado, todos com roupa de jogo ainda, alguns sem blusa, mas pelo menos com calça. O batuque tinha voltado e o pessoal interagia com minha família. Alisson e meu pai conversaram com Taffarel, Natan, que era fanático pelo PSG, conversava com Thiago e Marquinhos, Analice brincava com Dani Alves e minha mãe e Andressa falavam com minha equipe. Estava tudo bem.
- Voltei! – Falei, parando ao lado de minha mãe e a mesma me abraçou de lado.
- Seu trabalho é incrível, minha filha! – Ela falou e eu sorri.
- Realmente não tenho o que reclamar! – Ri fracamente.
- O pessoal é demais! – Sorri.
- Alguns mais loucos do que outros. Tenho amizade com alguns mais do que outros, mas é uma família muito boa. – Falei sorrindo.
- Acho que isso que acalma meu coração. – Ela suspirou. – Por isso não tenho direito de comentar sobre as coisas, você encontrou um caminho para você e ele é muito bom! – Sorri, suspirando.
- É bom, é certo, é garantido e tem o glamour e o conforto, né?! É o que eu menos reclamo. – Rimos juntos.
- É muito bom! – Ela me abraçou fortemente. – E esse Lucas e a Bianca são ótimas pessoas, você precisa levá-los para casa um dia.
- Pode deixar! – Sorri, assentindo com a cabeça. – Quem sabe numa próxima comemoração?
- Com certeza! – Sorrimos.
- Você é a melhor cunhada do mundo! – Natan veio animado, me abraçando pelas costas.
- Ah, mas que interesseiro! – Falei, rindo fracamente.
- Sério! Obrigado! Isso é demais! – Sorri.
- Isso é só começo, tem muito mais. – Virei para minha mãe. – Vocês precisam ir embora mesmo?
- Precisamos e logo! – A mesma olhou no relógio. – Falei que encontraria as sete. – Olhei meu relógio.
- Tem poucos minutos. – Falei, fazendo um bico. – Queria aproveitar mais com vocês.
- Eu também, amor. E curtir minha netinha! – Sorrimos e Natan me soltou para que minha mãe me abraçasse. – Eu vou te visitar assim que essa competição acabar, ok?!
- Tentem ir na final, vocês ficam em casa, eu pago passagem...
- Eu vou ver no trabalho segunda mesmo. – Natan falou e eu sorri.
- Se a gente passar... – Lucas cantarolou.
- Olha a língua, hein?! – Falei, vendo-o rir fracamente.
- Se seguirmos até a final, vocês podem ir. – Falei e eles assentiram com a cabeça.
- Damos um jeito! – Andressa falou ao lado e eu sorri.
- Só me abracem mais um pouco, por favor! – Falei, vendo as duas me apertarem, me fazendo rir fracamente.
Olhei para Alisson alguns metros à frente com meu pai e Taffarel e o mesmo sorriu, me dando uma pequena piscadela. Suspirei, sabendo que esse pouco de tempo juntos não mataria nem um por cento da minha saudade, mas era o suficiente para eu aguentar até o próximo momento que ficaria sem vê-los.


Capítulo 21 – Comemorei cedo demais. Foi no sufoco, mas foi!

Saí do banheiro, tirando a toalha dos ombros após secar os cabelos e pendurei na cadeira vazia ali. Bianca digitava animadamente em seu celular e Alisson fingia que não estava quase dormindo enquanto olhava para a televisão. Dei a volta na cama, me sentando na beirada do mesmo e fiz minha rápida reza, agradecendo pelo dia, pelo jogo e pela classificação e joguei as pernas para dentro, deslizando na cama e puxei o edredom, apesar de não estar tão frio assim.
- O que está assistindo? – Perguntei.
- Boa pergunta! – Ele falou, desligando a TV e colocou o controle na mesa de cabeceira. – Se divertiu hoje?
- Ah, um jogo calmo como esse? Quem não se divertiria? – Falei, rindo fracamente e ele se virou de lado, passando o braço livre em cima de minha barriga.
- Estava perguntando mais sobre sua família, mas foi bom sim! – Rimos juntos.
- Ah, foi muito rápido. – Suspirei. – Mas foi bom vê-los. Eles ainda não tinham me visto grávida... – Ele sorriu, acariciando a lateral da minha barriga.
- Seu pai pareceu bem surpreso. – Ri fracamente.
- Meu pai fala, fala, fala, mas ele está feliz sim! – Sorri. – Bom, foi um susto para todo mundo, né?! – Ele assentiu com a cabeça, dando um curto beijo em meus lábios.
- Sua mãe é o máximo! – Bianca falou, me fazendo virar o corpo e ficar de barriga para cima.
- Ela já está se achando toda da família! – Brinquei com Alisson e ele riu, se levantando.
- Eu sou da família, ok?! Eu sou a madrinha! Ma-dri-nha! – Ela repetiu calmamente e eu neguei com a cabeça.
- Ah, só vocês mesmo! – Abanei a mão, vendo-os rir.
- Eu vou tomar banho, se vocês dormirem, boa noite. – Ele falou e eu sorri, mandando um beijo.
- Eu talvez esteja aqui ainda, estou extasiada demais para dormir. – Ele sorriu.
- Bom, hoje foi demais! – Bianca falou, se jogando na cama e rimos juntos.
- Espero que continue assim, ok?! – Falei sugestivamente para Alisson.
- Não olhem para mim, eu sou só o goleiro, caramba. – Ele falou na porta do banheiro. – Eu mal trabalhei hoje.
- Que continue assim! – Pisquei e ele sorriu, encostando a porta.
- Que continue assim. – Bianca repetiu e eu assenti com a cabeça, suspirando.

- Ok, então estamos mais uma vez com o Casemiro suspenso nas quartas por causa de cartão. – Fabio falou e eu ri fracamente.
- Nada de novo até aí, né?! – Comentei e eles riram.
- De novo, cara! – Bianca falou.
- Bom, conseguimos viver com isso. – Edu falou. – Agora precisamos falar sobre nosso próximo alvo.
- Ainda não saiu. – Bianca falou.
- Temos nossas especulações. – Tite falou.
- Bom, senhores, essa é a hora que nos retiramos, com licença... – Falei e eles riram.
- Até mais tarde, senhoritas. – Fabio falou e segui com Bianca para fora da sala de reuniões.
- Até mais, galera! – Bianca falou, puxando a porta. – Nós duas novamente, garota!
- Eu vou voltar para cama. – Falei, vendo-a rir.
- Vai, fica até quatro da manhã papeando...
- Você também, sua louca! – Falei e ela gargalhou.
- O jogo foi muito bom, fala sério! – Rimos juntas, seguindo em direção ao elevador.
- Espero que esse seja melhor. Um jogo bom e um ruim não dá para aguentar. – Falei, entrando no mesmo.
- Bom, nossas opções são variadas, mas hoje tem mais jogo. – Ela falou, apertando o botão do nosso andar.
- Que horas? – Encostei na parede do elevador.
- Quatro e oito da noite. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Quatro tem a feminina também. – Falei. – Dá para ver lá no treino. – Ela riu fracamente.
- E depois Porto Alegre. – Ela suspirou. - Esse tal de vai para Porto Alegre, vem para São Paulo, vai de novo, cara... – Rimos juntas.
- Bom, os pais do Alisson devem estar no jogo, eu já tenho que fazer um social. – A porta se abriu e saímos juntas.
- Eles gostam muito de você, né?! – Ela comentou e acenamos para Cássio que saía de seu quarto.
- Foi uma sorte demais nossas famílias terem dado certo, sério. – Comentei, me apoiando no batente da porta enquanto ela procurava a chave nos bolsos.
- Acho que vocês não precisavam de mais um problema, né?! – Ela falou, nos fazendo rir e abriu a porta.
- Ei, que folga é essa? – Falei quando vi Alisson, Arthur e Thiago jogados no nosso quarto.
- Bom dia para vocês também, suas lindas! – Arthur falou e eu revirei os olhos, entrando no quarto e me sentei no espaço vazio na cama de casal.
- Qual o assunto? – Bianca perguntou, deixando os materiais na escrivaninha e seguiu para sua cama.
- Só papeando um pouco, temos tempo até sair, não?! – Thiago falou enquanto Alisson me dava um rápido beijo nos lábios.
- Três e meia! – Falei, encostando as costas na cabeceira.
- Vocês três me parecem cansados demais. – Arthur comentou.
- Aconteceu algo divertido aqui na noite e...
- Ah, que nojo, Thiago! – Bianca jogou um travesseiro na cabeça do mesmo, nos fazendo rir.
- Sem graça, cara! – Alisson falou e eu assenti com a cabeça.
- Afinal, grávidas não fazem meu estilo. – Bianca comentou com a voz afetada e foi minha vez de jogar o travesseiro nela, ouvindo os meninos gargalharem.
- Filha da mãe! – Falei, vendo-os rirem. – A gente ficou papeando até tarde, animados com o jogo ainda.
- Foi bom, cara! – Arthur falou.
- Todos podiam ser assim, né?! – Falei sugestivamente e os três se entreolharam.
- Não depende só da gente! – Thiago falou rapidamente.
- Não, mas temos aqui um goleiro, um defensor e um meia. – Ponderei com a cabeça. – Falta só um atacante para deixar o time completo.
- Vamos tentar, que tal?! – Alisson falou, passando o braço pelo meu pescoço e dando um beijo em minha têmpora.
- E vão conseguir! – Falei, vendo os três sorrirem.
- Querem que a gente saia para vocês tirarem uma soneca? – Arthur perguntou, mas Alisson gargalhou ao meu lado.
- Se ela tiver com sono, ela dorme até com a torcida inteira do Inter na orelha dela... – Ele falou.
- Achei que era a torcida do Flamengo. – Comentei e ele riu.
- Você que disse que não me queria no Flamengo, pronto. – Sorri, dando um rápido beijo nele.
- Ah, eu vejo vocês e sinto falta da Aline. – Arthur falou e eu sorri.
- Como ela está? Ela conseguiu se resolver com a família?
- Então... – Ele falou, rindo fracamente. – Ela foi para lá, né?! – Ele deu de ombros.
- Deu ruim? – Perguntei.
- Você sabe como é, né?! Mãe é mãe... – Ele suspirou. – Mas as coisas estão meio tensas ainda.
- Vai ficar tudo bem. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- O que eu estou perdendo? – Bianca perguntou.
- Eu estou perdido também. – Thiago falou.
- A Aline brigou com a família dela por querer ficar em Barcelona com o Arthur, aí ela foi para casa... – Falei.
- Ah, sim! – Bianca falou simplesmente.
- Adoro a Bianca com ciúmes da Aline! – Alisson falou, gargalhando em seguida e senti um travesseiro na cara.
- Ai! – Reclamei.
- Desculpa! – Bianca falou rapidamente. – Era para o Alisson. – Ela falou, se levantando e deu outro travesseiro na cabeça do meu namorado, nos fazendo gargalhar.

A saída para o hotel foi mais louca que o normal, ou eu que não prestava atenção nos últimos dias. O pessoal estava em peso na frente do hotel, quase como quando chegávamos nos lugares. Fiquei presa lá dentro resolvendo as finalizações de pendências e afins. Não voltaríamos mais para São Paulo independente do resultado.
- Vamos, criança! – Falei para Alisson, dando um tapinha em seu ombro.
- Vamos, amor! – Ele falou, dando um rápido beijo em minha têmpora e eu indiquei a porta para ele.
Ele saiu e eu acenei para a gerente do hotel e saí atrás, ouvindo o povo gritando por causa de Alisson e Bianca veio atrás de mim. Entramos no ônibus e logo ele partiu.
O treino no CT do São Paulo foi de boa. Acompanhamos a eliminação precoce da Seleção Feminina na Copa do Mundo após perder de dois a um nos acréscimos para a França. Os titulares estavam fazendo relaxamento na academia e eu fiz questão de ficar lá com eles. Os reservas faziam treino do lado de fora e Cássio saiu com dores no quadril. Era mais um problema para gente precisar se preocupar, puta que pariu. Vinícius acabou indo embora antes da gente, ele ia ficar em São Paulo por causa de uma campanha do Guaraná Antártica e depois nos encontraria em Porto Alegre.
Ficamos até umas sete horas no CT e depois fomos para o aeroporto para seguir viagem para Porto Alegre. Com a noite pouco dormida, já que o pessoal conversando no quarto não me deu calma, e Mini calminha em mais um voo, eu capotei durante o tempo inteiro da viagem. Acordei com Alisson tentando endireitar minha poltrona para o pouso.
Pela janta ter sido servida no avião, cada um seguiu para seu canto rapidamente quando as chaves foram distribuídas. Quartos de dois, adorava ter um momento com Alisson, pena que não seria hoje. Ele já tinha tomado seu banho no CT, então eu tomei o meu e logo estávamos os dois abraçadinhos na cama. Eu tentei manter meus olhos abertos para um pouco de conversa, mas eles ainda estavam no clima do voo e não me obedeceram.

Acordei no dia seguinte com Mini sacudindo mais que uma escola de samba, eu estava suada e minha parte da coberta estava empurrada inteira para o lado de Alisson. Ele ainda dormia e preferi que ficasse assim para não ter mais preocupações desnecessárias!
Fui direto para o banho, querendo me livrar de meu pijama e me coloquei embaixo da água quente por um bom tempo e massageei minha barriga com o sabonete até sentir Mini se acalmar lá dentro. Não sei o que isso podia ter sido causado, se era nervosismo, algum pesadelo que eu tive e não lembro ou se era algo em meu subconsciente me irritando. Bom, a única coisa irritando meu subconsciente era o tal do futuro incerto entre mim e o cara lá no quarto.
Terminei o banho antes que Alisson acordasse, então aproveitei mais uns minutos embaixo da água quente para dar um merecido banho de creme em meus cabelos e, quando saí, me lambuzei de creme corporal. Provavelmente era a gravidez, mas eu parecia uma ameixa seca. Quando saí do banheiro, a criança olhava o celular.
- Bom dia! – Falei e o mesmo sorriu.
- Demorou, hein?! – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Mini acordou meio agitada, fui acalmá-la um pouco. – Me aproximei da cama.
- Está tudo bem? – Ele perguntou, levando as mãos à minha barriga coberta pela toalha enrolada.
- Parece que sim, deve ser só nervosismo. – Dei um pequeno sorriso, vendo-o me acompanhar.
- Como vai ser o dia hoje? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Treino no CT do Grêmio, sei que você adora! – Apoiei as mãos em seus ombros e ele riu sarcasticamente.
- Você é um amor, já te falaram isso? – Ele perguntou e eu ri fracamente, me debruçando sobre ele e dando um beijo em seus lábios.
- Vai se arrumar, vai. Hoje começa o pesado de novo. – Fiquei e ele assentiu com a cabeça.
- Hoje vamos descobrir com quem vamos jogar, não?! – Comecei a trocar de roupa.
- Sim, algum palpite? – Perguntei.
- Vários, na verdade, mas sem cabeça para pensar nisso agora. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, vendo-o seguir para o banheiro.
Me arrumei já com meu uniforme de guerra e esperei Alisson enquanto ele tomava banho e se arrumava. Descemos para o café da manhã e as coisas se seguiram como todos os outros dias: enrolamos até por volta das três da tarde, papeando, trabalhando e em reuniões de comunicação, tática e depois seguimos para o CT do Grêmio para recomeçar os treinos e ir em busca de ganhar as quartas de final.
Foi um daqueles dias longos de treinamento, academia pesada para os jogadores de linha, titulares e reservas, treino tático para os goleiros, fiz questão de me manter longe, treino de campo para os titulares e muito treino de cobrança de falta. É, o nosso gol de falta ainda era lenda, então estávamos precisando de bastante treino para isso.
O CT do Grêmio não era muito preparado para receber pessoas dentro do campo, então as opções eram ficar no banco de reservas ou lá dentro, estávamos em Porto Alegre e eu tinha frio, então fiquei a maioria do tempo lá dentro. Lá pelas cinco da tarde teve coletiva com Coutinho e foram só uns 20 minutos e fizemos questão de fazer antes do final do jogo que definiu que Paraguai seria nosso adversário nas quartas, então pode imaginar o que seria no dia seguinte, né?! Longas e exaustivas reuniões sobre os mesmos.
O bom desse dia foi que Fernandinho finalmente voltou a treinar em campo, então esse foi o ponto positivo. O negativo foi que Cássio sofreu uma lesão na lateral do corpo, algo tipo um mal jeito e não conseguiu seguir com o treino.
Nossa noite foi diferente, enquanto jantávamos, Edu começou a falar um pouco do plano tático do Paraguai. Eu fiquei boa parte do dia em pé ou largada no chão, eu precisava urgentemente de um lugar macio.
Nos dois dias que se seguiram, as coisas foram bem parecidas, claro que com o passar do dia e com a notícia do nosso novo adversário, tínhamos muito mais trabalho com a imprensa, então enquanto eles faziam suas reuniões, nós atendíamos diversas ligações, ainda bem que estávamos com nossa equipe bem equipada.
No dia que antecedeu o jogo, Cássio voltou para treinamento, para mim, essa informação era boa só para sua saúde, pois Alisson estava bem e, se ele não estivesse, ainda tínhamos Ederson, Cássio seguia para os lugares simplesmente para passear. Nesse dia também Tite optou por Allan na titularidade, Fernandinho ainda continuaria no banco.
Não sei se os dias estavam uma correria ou se eu estava no modo automático já, mas quando percebi, eu já estava acordando no dia 27 de junho, dia de quartas de final e, por algum motivo, Mini estava muito calma. Quem não parecia estar tão calmo era a pessoa ao meu lado que parecia um peixe com os olhos abertos.
- Ei, amor, já está acordado? – Virei de lado, passando o braço pela sua barriga e o mesmo me abraçou.
- Está começando a pesar. – Ele falou e deu um rápido beijo em minha bochecha.
- O quê? – Perguntei e ele suspirou.
- Nas últimas duas Copa América, 2011 e 15, fomos eliminados pelo Paraguai. – Ele falou. – E nos pênaltis. – Me sentei na cama, virando para ele.
- Isso não vai acontecer hoje, amor. – Falei, olhando em seus olhos.
- Como você sabe disso? – Ele perguntou.
- Primeiro que se vocês forem para pênalti, eu vou bater em todos, pois a Mini vai nascer ali mesmo. – Ele abriu um pequeno sorriso. – E segundo, você não levou nenhum gol na competição, não é para começar agora. – Falei, vendo-o rir fracamente.
- Quero ter seu espírito. – Ele falou, se sentando também.
- Meu Deus, os papéis se inverteram? – Falei e ele sorriu, colando nossos lábios lentamente.
- Tenta ficar calmo, ok?! Pega o chazinho de camomila, mas eu espero encrenca hoje. – Suspirei, derrubando os ombros para baixo com força.
- Espero que não. Teremos sua família no campo, a Aline está aí, acho que vi a esposa do Marquinhos na relação de familiares, Neymar e companhia, é para ser um dia bom. – Falei, vendo meu celular acender e peguei o mesmo. – Vai ter Bianca enchendo o saco...
- Sempre! – Rimos juntos e li a mensagem da mesma, arregalando os olhos.
- Richarlison está com caxumba. – Falei alto.
- O quê? – Ele falou alto pegando o celular da minha mão e arregalando os olhos também.
- Se arruma agora! – Falei, levantando na velocidade que eu conseguia e seguimos para intercalar a utilização do banheiro.

Chegamos no restaurante em pouco mais de 20 minutos e as pessoas chegavam na mesma pressa, parece que a notícia tinha se espalhado rápido. Por ser dia de jogo, não tínhamos horário para levantar, então encontrar todo mundo lá embaixo pouco depois das 10 da manhã era realmente um milagre.
- O que está acontecendo, Rodrigo? – Fui a primeira a falar. – Não brinca assim comigo.
- Calma, gente, por favor! – Ele falou.
- Calma nada, Rodrigo, eu estou grávida! – Falei firme.
- Fala logo, cara, o que está acontecendo? – Arthur falou rapidamente e Alisson apertou meus ombros.
- Richarlison se sentiu mal ontem após o treino e pedimos alguns testes, foi confirmado que é caxumba. – Respirei fundo, levando a mão a boca. – Calma, .
- Como? – Soltei a respiração fortemente. – Meu Deus. Podia acontecer tudo, menos isso!
- Calma, amor, respira fundo. – Alisson me apertou, cochichando em meu ouvido.
- Onde ele está? – Perguntei.
- Isolado de todo mundo já, ele não vai para o jogo e nem vai seguir conosco se passarmos esse desafio. – Rodrigo falou. – Após o jogo, todo mundo, com exceção da senhorita, serão vacinados, ok?!
- Menos eu? – Falei, franzindo a testa.
- É, a vacina é contra-indicada para grávidas, mas...
- Mas você teve pouco contato com ele, a maior preocupação são os jogadores devido ao contato. – Matheus interrompeu.
- E eu achava que o dia estava bom. – Puxei a respiração diversas vezes, tentando me acalmar.
- Vamos começar com o chá de camomila agora. – Rodrigo falou.
- Vai adiantar muito. – Fui irônica, respirando fundo.
- Entendo seu surto, , mas não adianta surtar agora, coisas assim acontecem...
- Não acontecem, Rodrigo. – Falei firme. – A última pessoa que eu ouvi falar que teve caxumba foi meu avô nos anos 80! – Suspirei. – Isso faz uns 40 anos.
- Estamos tentando descobrir como ele pegou isso também, alguém sabe se ele teve alguma visita diferente do que estava na relação? – Cléber perguntou.
- Não. – Falamos quase todos juntos.
- Bom, não adianta ficar se preocupando com isso agora. – Rodrigo falou. – Vocês fiquem de olho em caso de qualquer sintoma, é comum em casos assim começar a histeria coletiva, mas se contenham e, , respira fundo.
- Estou tentando. – Falei, suspirando.
- Nós vamos checar o problema do gramado agora, está um desastre. – Edu falou. – Nós voltamos mais tarde.
- Ah, que delícia. – Alisson foi irônico e eu virei para ele.
- Não entendi. – Falei.
- Se o gramado está ruim no campo inteiro, na pequena área vai estar pior. – Assenti com a cabeça.
- Começa os alongamentos desde já. – Falei e ele riu fracamente.
- O problema nem é só isso, o jogo não anda, a bola empaca. – Ele me puxou em direção ao buffet.
- O dia já começou desastroso. – Respirei fundo. – Richarlison com caxumba, estamos sem Casemiro, Fernandinho, Cássio... – Suspirei. – O que mais pode acontecer? – Suspirei.
- ? – Vi Bianca parar ao meu lado.
- Encrenca, né?! – Falei e ela deu um sorriso sem graça.
- Viu?! Não pode elogiar. – Falei para Alisson e o mesmo riu.
- A Conmebol multou a gente por gritos homofóbicos na abertura. – Ela falou, me mostrando o celular com a notificação recém-recebida.
- Isso aconteceu? Eu não estava sabendo. – Ela suspirou.
- Acho que estávamos distraídas demais com o começo fraco e não percebemos. – Suspirei.
- Deixa eu só tomar café que eu logo redijo um release para disparar. – Peguei um pouco de suco. – Qual a facada?
- 15 mil dólares. – Franzi os lábios, assentindo com a cabeça.
- Está fácil de resolver. – Suspirei. – Mas queria que multassem os torcedores, a gente não tem culpa de porra nenhuma!
- Você parece nervosa. – Ela falou.
- O Richarlison está com caxumba, Bianca. Eu estou grávida e não posso tomar a vacina... – Respirei fundo. – Vai ser na sorte. – Falei.
- Vai dar tudo certo, vocês mal têm contato.
- Eu espero, pelo menos. – Alisson falou e eu ri fracamente.
- Engraçadinho. – Comentei e o mesmo piscou.
- Espero que não aconteça mais nada para estragar o dia. – Falei, suspirando.
- Temos uma coisa feliz para isso, pelo menos. – Ela apontou para algo atrás de mim e eu sorri ao ver Vinícius entrando no restaurante.
- Ei, olha quem chegou! – Os meninos falaram animados e eu sorri, virando para Bianca.
- Ao menos isso. – Rimos juntas.

Depois de todo rolo de manhã, ficamos enrolando um pouco, logo emendamos o almoço e depois os jogadores já seguiram para a reunião. Eu e minha equipe ficamos resolvendo os últimos detalhes antes do jogo, inclusive tentar entender como um jogador havia pegado caxumba. A primeira pergunta era: ele não era vacinado, não?!
Não valia à pena pensar naquilo agora e muito menos surtar, era só rezar mesmo para estar tudo bem comigo e com meu bebê. Além de que pensar no jogo já fazia todo mundo surtar o suficiente.
O dia se passou da mesma forma de sempre, muito trabalho e muito tédio ao mesmo tempo, se era possível, mas sete horas em ponto saímos do hotel e seguimos para a Arena do Grêmio para encarar essas quartas de final.
O clima no ônibus era de silêncio. Os jogadores faziam seus rituais e pensar que fomos eliminados em duas outras competições pelo Paraguai e ainda pensar em que todos poderiam estar com uma possível caxumba, não eram assuntos muito bons para manter o ânimo em pé.
Deixei Alisson com seus sertanejos e seu chimarrão e fiquei com Bianca separando os últimos protocolos para início de jogo. O jogo seria nove e meia da noite, a temperatura em Porto Alegre era de uns 15 graus, mas os casacos não esquentavam direito, mas sabia que boa parte responsável do meu frio interno era o famoso nervosismo que insistia em andar comigo.
Chegamos ao estádio azul do Grêmio iluminado pelo verde do Brasil e fui a primeira a descer com Bianca e ela seguiu na frente, enquanto eu esperava os jogadores seguirem para dentro, checando o relógio, ainda bem que havíamos saído antes, o trânsito estava realmente caótico em Porto Alegre.
- Casemiro. – O chamei quando saiu do ônibus.
- Já sei...
- Eu vou com ele! – Edu falou e eu assenti com a cabeça.
- O Caboclo está aqui hoje, ele provavelmente vai querer descer para falar com os jogadores, e Neymar também, mas deixa ele só no fim do jogo, ok?! – Falei e o mesmo assentiu com a cabeça.
- Muita visita hoje? – Lucas perguntou e eu suspirei.
- Você não tem nem ideia. O vestiário vai encher hoje depois de jogo. Espero que com sorrisos! – Ele riu fracamente.
- Vamos trabalhar, garota! – Ele passou o braço em meus ombros e eu o segui para dentro.
- Eu estou virando um picolé já. – Rimos juntos, seguindo as placas para o vestiário e nos separamos quando entramos no mesmo.
- Eu estou bem, estou bem! – Vi uma movimentação e franzi a testa, me aproximando. – Foi só um corte, está tudo bem. – Vi Allan sendo cuidado por um dos assistentes de Rodrigo e um pequeno corte em sua cabeça.
- O que aconteceu? – Cochichei para Vinícius.
- Ele escorregou em um molhado ali atrás, bateu a cabeça no chão. – Arregalei os olhos.
- Como estamos aqui? – Perguntei.
- Vou sobreviver! – Allan falou e eu sorri.
- Precisamos de você, hein?! – Estiquei a mão e ele apertou a mesma.
- O corte é leve, mas vamos colocar uma touca em sua cabeça para evitar impacto e afins. – Rodrigo falou e eu assenti com a cabeça.
- Não precisamos de mais baixas. – Sussurrei para ele.
- Nenhuma. – Assenti com a cabeça, seguindo até o canto onde Bianca estava e percebi que além das salas de preparação, tinha um campo até que largo de grama sintética para se preparar e muitos jogadores já seguiam para lá.
- Como isso aconteceu? – Perguntei para Bianca.
- Eu não vi, estava saindo na frente, de repente eu ouvi alguns gritos e, quando olhei, ele já estava no chão. – Suspirei.
- Espero que não seja nada mesmo. – Coloquei minha mochila no meu lugar e puxei o iPad para pegar as informações.
- Bom, vamos que a noite só está começando! – Ela falou e rimos juntas.
- ? – Virei para trás, vendo Arthur e Jesus atrás de mim.
- Fala aí, crianças! – Comentei.
- Nossas famílias estão aqui hoje, eles podem vir para cá depois do jogo? – Arthur perguntou.
- Claro! – Falei rapidamente. – Aline está aqui também, não?! – Perguntei rapidamente.
- Está enfrentando o trânsito, mas está vindo sim. – Assenti com a cabeça.
- Bom, hoje precisamos de um lindo espetáculo com vitória, se não vai ser bem depressivo toda essa galera aqui. – Franzi os lábios e eles riram.
- Vamos lá! – Batemos nossas mãos e ela se afastou.
- Tudo pronto? – Virei para o lado, vendo Alisson em seu uniforme verde de treinamento e passei as mãos em seus ombros.
- Acho que sim. – Suspirei. – Vocês precisam ir treinar logo mais. – Ele deu um rápido beijo em minha bochecha.
- Não foi isso que eu quis dizer. – Ele passou as mãos pela minha barriga e eu sorri.
- Falando nisso... – Ouvi uma voz e virei para o lado, vendo Fabio esticar um Gatorade para mim. – Começa a beber.
- Vocês não estão fazendo o melhor para me manter calma. – Falei, pegando a garrafinha de sua mão.
- Só por precaução, um cinco a zero de novo vai ser muito improvável, não?! – Fabio falou, saindo e eu suspirei.
- Muito improvável. – Alisson falou e eu sorri, dando um rápido beijo em sua bochecha.
- Posso roubar o Alisson, meu amor? – Vi Taffa ao nosso lado e assenti com a cabeça.
- Vão lá treinar e boa sorte com o gramado. – Ambos fizeram uma careta e eles saíram.
- Só na sorte mesmo. – Taffa falou e eu ri fracamente.
Os jogadores logo saíram para treino e eu aproveitei o silêncio para fazer um pequeno ritual também. Eu precisava me acalmar, sabia que se meus batimentos cardíacos subissem, Mini ia ser afetada também, então ficar quieta por um tempo, tomando o Gatorade e massageando minha barriga, era uma forma de eu tentar evitar isso.
Apesar de que ouvir falar sobre possíveis pênaltis já me deixavam com palpitações antes mesmo do apito inicial.

- Chegou nossa vez de impor nosso respeito aqui dentro. – Dani falava. – Vamos entrar lá como vencedores, a hora nossa é agora! – Ele finalizou e eu respirei fundo, ouvindo o Pai Nosso começar e ser rezado.
Eu não ia entrar em campo, mas parecia que sim. O que importava era que Mini ainda estava calma aqui dentro. Alisson me abraçou de lado e eu sorri fracamente, sentindo-o dar um beijo em minha bochecha e somente assenti com a cabeça.
- Bom jogo! – Falei e ele sorriu.
- Fique bem, ok?! – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça, vendo-o sair com os outros jogadores.
- Você está bem mesmo? – Bianca cochichou ao meu lado e eu suspirei.
- Ainda estou. – Falei e ela segurou minha mão.
- Estou contigo, ok?! – Assenti com a cabeça.
- Nós estamos. – Lucas falou do outro lado e eu sorri.
- Vamos passar por essa, gente. Paraguai passou com dois empates, Japão e Equador que deram azar. – Suspirei.
- Espero que seja para valer. – Bianca falou a meu lado e eu ponderei com a cabeça.
- Saberemos em 90 minutos. – Cochichei e segui com eles para fora do vestiário agora vazio.
Passamos pelos corredores internos da Arena do Grêmio e chegamos ao túnel, os reservas também caminhavam até o campo ainda. Passei pela fila de jogadores, vendo nossa formação e percebi que no Paraguai só tinha o Gatito Fernández, muito conhecido, Gustavo Gómez que jogava no meu time, e Fabián Balbuena, também jogava por aqui.
Bati nas mãos dos jogadores quando passei por eles, deixando que Alisson desse mais um beijo em minha bochecha e segui com Bianca para dentro do estádio, arrepiando quando o frio me atingiu. Segui até o banco dos reservas, cumprimentando principalmente Tite e Taffa e fui com Bianca até os últimos lugares, me sentando ali.
Observei a Arena do Grêmio e ainda tinham vários lugares vazios. Os preços dos ingressos haviam sido as maiores reclamações, e ainda o trânsito não ajudava, era uma quinta-feira, Porto Alegre havia virado um caos por causa desse jogo e ele estava prestes a começar.
Entramos com a formação 4-2-3-1, com Alisson, Dani Alves, Marquinhos, Thiago Silva, Filipe Luís, Arthur, Allan, Philippe Coutinho, Gabriel Jesus, Everton e Firmino. Fiz um sinal da cruz quando eles abriram a fila no campo. Enquanto o hino tocava e os jogadores cantavam à capella, eu tentei me concentrar mais uma vez e ignorar tudo à minha volta.
Tivemos um minuto de silêncio em homenagem a um jogador do Vasco, Thales, e dois policiais que faleceram recentemente, fazendo tudo ficar levemente assustador por somente alguns segundos.
Abri os olhos quando o apito foi soado e percebi que fiquei bons minutos de olhos fechados e me sentei ao lado de Bianca, vendo-a me encarar confusa e eu só neguei com a cabeça, abanando a mão.
Não era nem cinco minutos de jogo e eu já percebi que o jogo seria bem difícil. Em dois lances sensacionais, um de Cebolinha e outro de Jesus, o goleiro paraguaio pegou sem nenhuma dificuldade. Certeza que a gente penaria um pouco.
Jesus fez uma falta em uma arrancada, então o jogo foi paralisado, mas não foi dado a falta, mesmo se fosse, seria do Paraguai, próximo ao campo deles, não daria em nada. Alguns minutos para frente, Jesus foi derrubado na grande área e, apesar da reclamação, ficou por isso mesmo. VAR e Brasil não combinam, lembram?
Em um lance aéreo, Filipe Luís passou para Coutinho e o mesmo subiu com um paraguaio que deu uma cabeceada no mesmo, desmontando-o no chão. Jesus tentou salvar o lance, mas a defesa paraguaia tirou a bola por cima do gol. Pouco mais para frente, em outra tentativa de Coutinho, ele passou a bola perfeita para Firmino e o mesmo se confundiu com a defesa do Paraguai. Não estava fácil, meus amigos.
Alisson finalmente apareceu no jogo quando o ataque paraguaio conseguiu passar o nosso. Um jogador fez o passe alto, ficando quase na cara de Alisson e o mesmo ergueu o corpo junto do chute do paraguaio, tirando a bola pela lateral.
- Está difícil. – Cochichei e Bianca segurou minha mão, apertando-a.
- Você está bem gelada. – Bianca falou e eu assenti com a cabeça, suspirando.
- É só o frio, juro. – Falei e ela assentiu com a cabeça, esfregando suas mãos na minha e eu sorri, apoiando a cabeça em seu ombro.
Dani Alves tentou uma arrancada depois da saída de bola de Alisson, mas foi atropelado por um paraguaio e o mesmo levou cartão amarelo. Não que fosse novidade, eles estavam fazendo faltas a torto e a direita. No lance seguinte, Jesus foi atropelado e outra falta foi sinalizada, outro cartão amarelo foi dado e o jogo se seguiu. No próximo lance? A mesma coisa, foi a vez de Cebolinha ser atropelado, falta, cartão... Acho que vocês entenderam, não é mesmo?
Quando Matheus e Cléber falaram que o Paraguai era “agressivo”, eles falaram que era no modo de jogar, eu estava começando a achar que era na parte da raiva também. Estava difícil passar dois minutos de jogo sem que eles quisessem passar por cima de alguém e eu não estava no clima para ficar com raiva.
E quando não eram as diversas faltas nos impedindo, era Gatito Fernández muito bem posicionado e muito bem treinado para impedir qualquer chance de ataque nossa. Tiveram alguns impedimentos também, principalmente por posição irregular.
Apesar do Paraguai estar muito pior, nós também tivemos nossa cota de faltas e cartões, Filipe Luís fez uma falta, visivelmente leve, mas levou cartão amarelo poucos minutos antes do final do primeiro tempo. Olhei para Tite e o mesmo parecia tão frustrado quanto o resto do banco. Foram diversas oportunidades e nenhum gol. Agora tínhamos só metade do tempo.

Enquanto os jogadores faziam uma rápida reabilitação no campo Society, Tite deu algumas observações. Eu pensei que viria xingo por aí, mas até que foi mais para o lado motivacional do que taxativo, mas 15 minutos realmente voam, então logo sentei no banco dos reservas e respirei fundo para mais 45 minutos de nervoso e expectativa.
Em um minuto e pouco foi a vez de Firmino fazer uma falta com um pisão no pé do paraguaio, levar cartão, etc... Mas ok, não era o primeiro no jogo e não seria o último. Diana teria um grande e chato relatório para fazer após o jogo. Minutos depois tivemos uma chance de gol, mas devido a um tropeção, foi batido super levinho e a bola chegou calma nas mãos de Gatito Fernández.
Arthur tentou fazer a felicidade de Aline em um gol, mas o mesmo foi por cima do gol, passando longe, mas acho que tinha sido a primeira chance real, pois a torcida até se empolgou um pouco mais, mas foi só mais uma chance mesmo.
Firmino tentou um ataque, dando uma longa arrancada, e assim que ele entrou na grande área, ele foi derrubado. Os brasileiros e paraguaios saíram correndo em cima do juiz para ver se o pênalti seria dado ou ignorado, depois de conseguir sair do centro da galera, ele chamou análise do VAR.
Demorou quase três minutos para a contagem, mas foi dado como se a falta fosse feita fora da área, então foi cobrado só como uma falta e, infelizmente, sem gol, pois Gatito salvou mais uma vez. Mas uma grande compensação foi o cartão vermelho para Balbuena pelo lance, então já era uma vitória, agora eles tinham só 10 jogadores para derrubar a gente.
Até Thiago Silva, que supostamente ficava lá perto de Alisson, tentou fazer um gol, mas as potências dessas bolas estavam muito fracas. Em uma estourada na defesa paraguaia, Arthur recebeu, ajeitou e chutou, mas adivinha quem impediu de novo? Gatito!
Eu amava Alisson de paixão, achava ele um dos maiores goleiros da vida, mas esse Gatito estava competindo de igual para igual, a diferença é que ele estava trabalhando mais. Alex Sandro tentou alguns minutos depois, depois da substituição, mas saiu pela lateral direita, muito fraco.
Everton fez um passe que eu até me levantei quando vi que era a nossa oportunidade. Ele fez o passe, Coutinho tentou matar com a cabeça, estourou em Jesus e o mesmo tentou colocar para dentro do gol, mas Gatito continuou arrasando e continuou fazendo a defesa.
Eu via o relógio passando e a palavra pênalti estava cada vez mais vibrante em meu cérebro e isso não era nada legal. Mini ainda estava calma aqui dentro, mas o momento mais importante do jogo foram as diversas faltas e isso não era nada divertido.
Marquinho fez um cruzamento, Coutinho deu a cabeçada, mas foi para fora. Em seguida Coutinho tentou uma arrancada, acabou caindo, Jesus recuperou, mas Gatito salvou, mandando-a para fora.
Foi a vez de Arthur ser avaliado pelo VAR, em um escanteio do Paraguai, ele roubou a bola, tentando fazer uma arrancada, mas acabou dando uma cotovelada na cara do paraguaio. Após alguns minutos de análise do VAR e Arthur levou um amarelo. Ele foi a pessoa mais pacífica para receber um cartão na vida, ele perguntou algo na paz, o juiz respondeu e seguiu o jogo.
Isso é uma pessoa educada, meus queridos.
Aos 40 e poucos minutos, tivemos uma outra chance incrível, mas como diria Tadeu Schmidt: como um gato... Gatito tirou mais uma vez. Willian tentou quase nos 45, mas a maldita, filha da puta da trave estava no meio do caminho!
- Caralho! – Falei, apoiando as costas no banco novamente e olhei para barriga quando senti Mini se mexer. – Droga. – Levei as mãos para a barriga.
- Ela mexeu? – Bianca perguntou e somente assenti com a cabeça. – Aguenta aí, bebê!
- Aguenta, por favor. – Falei, soltando a respiração fortemente com a boca.
Willian tentou mais um cruzamento, mas foi muito forte e a bola foi direto para cima do gol. Devido as paradas do VAR, o juiz deu sete minutos de acréscimo e eu só rezava para que saísse um golzinho aí, aquele que seria o golzinho de ouro, sabe? Mas quase teve um golzinho de ouro do Paraguai.
A defesa brasileira foi em peso no ataque, então quando o Paraguai contra-atacou, Alisson estava sozinho lá. A sorte foi que Arthur conseguiu alcançar o número três do Paraguai e o mesmo chutou de mal jeito, passando uns dois metros para fora da trave, mas serviu para piorar meu ânimo.
Marquinhos aproveitou a saída de bola de Alisson para fazer o nosso contra-ataque, ele passou para Cebolinha e o mesmo só girou e bateu, mas a bola passou por cima, só fazendo várias pessoas respirarem frustradas ao meu lado. Alex Sandro tentou logo em seguida, igual Marquinhos fez, ele passou para Coutinho, o mesmo ajeitou e chutou e a bola passou para fora.
Segundos depois o jogo foi finalizado no seu tempo normal.

- Bom, tentamos. – Bianca falou.
- Agora é pênalti. – Ederson falou ao nosso lado e virei rapidamente para o mesmo.
- Como assim? Não tem prorrogação? – Me levantei, apressada, com os olhos arregalados.
- Calma, ! – Bianca me segurou.
- Tite falou na reunião hoje que seguiria direto para pênaltis nas quartas de final. – Senti meu corpo arrepiar.
- Meu Deus, Bianca, eu não consigo isso. – Falei rapidamente. – Eu não aguento isso... Eu não posso... Eu...
- Calma, respira fundo! – Bianca segurou meu rosto com as mãos. – Respira! Respira! – Ela falava e eu sentia as lágrimas escorrendo pela minha bochecha.
- Alisson, Mini, eu... – Falei rapidamente e a mesma deu um leve tapa em meu rosto.
- Pelo amor de Deus, não surta agora! – Ela falou, me sacudindo pelos ombros e eu levei as duas mãos até a boca. – Vamos lá para dentro! – Ela falou, me puxando pela mão.
- Não, eu preciso ver isso, eu... – Falei, não mexendo meus pés e respirei fundo.
Observei os jogadores e equipe técnica começar a se movimentar dentro de campo e vi que Tite estava sentado no banco de reservas, sabia que ele tinha um trauma devido a um pênalti perdido quando era jogador ainda que acabou resultando em um acidente de carro em que estava ele e sua esposa, então era Cléber quem lidava com pênaltis.
Inclinei meu corpo para frente, apertando as mãos nos olhos molhados e respirei fundo uma, duas, três vezes e segui continuando até que meu corpo se acalmasse sozinho, mas isso não aconteceu. Eu sentia meu corpo tremer e não era frio, eu chorava e não era tristeza, eu não aguentava passar por pênaltis nem em casa, nem que o goleiro não fosse meu namorado, imagina no estádio, no campo com o goleiro sendo meu namorado? Eu estava uma pilha de nervos.
- !
- Me deixa! – Respondi alto.
- Levanta! – A pessoa me ergueu na força e vi que era Taffarel me encarando. – Você vai acompanhar isso.
- Me deixa, Taffa, eu não quero assistir isso.
- Você não confia no seu Alisson? – Ele me apertou pelos ombros, encarando meus olhos. – Não confia no meu treinamento?
- Pênalti não tem nada a ver com treinamento, Taffa, é sorte. – Falei com minha voz fina de choro.
- Você confia no Alisson? – Ele perguntou olhando firme em meus olhos e eu engoli em seco. – Sim ou não?
- Sim. – Falei com a voz fraca.
- Então venha aqui agora. – Ele subiu o pequeno degrau da área dos reservas para o gramado e a fila com jogadores reservas e equipe técnica.
Respirei fundo, pressionando as mãos em punhos diversas vezes e subi o degrau com ele. Minhas pernas pareciam gelatina e eu sabia que iria desfalecer a qualquer momento. Segui ao seu lado, ficando entre ele e Bianca. Os primeiros na fileira das pessoas abraçadas. Bianca me abraçou de lado, tentando me manter calma, mas eu não estava preparada para ver aquilo. Ninguém me preparou para aquilo.
- Veja, . – Taffa falou em meu ouvido. – Independente do resultado, não perca isso. – Ele falou em meu ouvido e meu corpo inteiro se arrepiava e tremia, além das lágrimas que pingavam em meu queixo.
- Eu não posso eu... Ah, meu Deus, começou. – Pressionei o rosto no ombro de Taffa.
- Olha! – Ele falou firme, senti uma mão em minha cabeça e a mesma foi virada em direção a um jogador paraguaio que seguia em direção a Alisson já posicionado no gol.
Mordi meu lábio inferior com força, tentando evitar de fechar os olhos, mas era o que eu mais queria fazer. Ergui a gola do casaco até a boca, mordendo-o para me distrair e o juiz apitou, me fazendo sentir Taffa apertar firme em meu ombro. Não sabia sua intenção, mas aquilo parecia tratamento de choque.
Gómez, jogador do meu time, era o primeiro a bater. Ele fez a corridinha, bateu o pé na bola e chutou. Minha respiração falhou no meio da trajetória e fechei os olhos por instinto. Tudo ficou em silêncio por um tempo e de repente a torcida explodiu de alegria.
- Isso! – Ouvi ao meu lado e alguém me sacudindo e abri os olhos, vendo Alisson comemorando, com as mãos erguidas para o alto.
- Ele defendeu? – Perguntei rapidamente e vi que Alisson apontava para mim, fazendo um coração com as mãos e respirei fundo.
- Defendeu! E dedicou para você! – Bianca falou e eu mordi meu lábio inferior, assentindo com a cabeça em direção a Alisson que ainda sorria em minha direção enquanto dava espaço para Gatito e suspirei.
- É só o primeiro. – Sussurrei e eles assentiram com a cabeça.
- Respira fundo, um já foi. – Taffa falou e eu engoli em seco.
Willian foi o próximo a bater, ele bateu calmo e Gatito até tentou, mas a bola entrou antes que ele pudesse ao menos erguer o pé para o outro lado, fazendo o pessoal comemorar. Suspirei alto, apertando o ombro de Bianca que me abraçava pela cintura e vi Willian seguir para abraçar Alisson antes do mesmo voltar sua posição.
Almiron do Paraguai era o segundo a bater, eu esperava que a defesa de Alisson tivesse desestabilizado um pouco eles, pois eu já estava completamente desestabilizada. As vaias brasileiras tentavam fazer com que o cerco ficasse cada vez mais fechado em cima dos paraguaios. Quando o juiz apitou, eu fechei os olhos mais uma vez.
- Gol. – Bianca cochichou e eu abri os olhos, vendo que a multidão era majoritariamente brasileira.
- Um a um, uma batida na frente. – Taffa falou e eu suspirei.
- Acho melhor eu ir lá para dentro. – Falei, sentindo Mini sacudir.
- Você precisa aprender a conviver com isso, . – Taffa me apertou pelos ombros. – Não é a primeira e nem vai ser a última defesa de pênaltis do Alisson. – Respirei fundo. – Estou falando isso pelo seu bem.
- Eu só consigo pensar em Mini agora e ela está ficando muito agitada.
- Porque você está nervosa! – Ele falou firme. – Relaxa.
- Como? – Perguntei um pouco alto.
- Pensa que se a gente passar por isso, é semifinal e depois final, compensar tudo o que deu errado na Copa do Mundo. – Engoli em seco.
- Eu não sei se sou evoluída a esse ponto. – Suspirei.
- Vai sim, porque daqui você não sai. – Ele falou, apertando meus ombros e vi Marquinhos já na posição para bater.
O apito foi soado e Marquinhos fez sua corridinha com paradinha e chutou do lado direito. Gatito até foi para o mesmo lado, mas não conseguiu pegar, fazendo os torcedores comemorarem animados, me fazendo respirar fundo.
- Dois, um. – Taffa falou e eu engoli em seco.
O próximo jogador a bater era Valdez, o juiz fazia questão de falar para cada um que ia bater e para os goleiros a posição certa que não podia se mexer antes do chute e toda aquela história, mas estava demorando demais, ele podia reduzir essa enrolação logo antes que eu parisse Mini aqui no campo, caralho!
Valdez bateu e eu mantive os olhos abertos. A bola e Alisson foram para o mesmo lado, me deixando com esperança por um momento, mas a rede sacudiu lá atrás e agora era dois, dois, e já haviam sido cinco cobranças. Faltavam mais cinco.
Foi a vez de Coutinho se aproximar para bater. Ele era bom e tinha um chute forte, daria certo. Respirei fundo, suspirando e instintivamente apertei os ombros de Bianca ao meu lado, vendo-a dar um sorriso nervoso para mim. Não era só eu quem estava nervosa ali, todos estavam, mas eu era a única grávida e dava para saber que a preocupação número um era eu. Isso não acalmava muito.
Coutinho fez sua corridinha, fez sua paradinha e chutou. Gatito e a bola foram para o mesmo lado, mas a bola foi mais rápida que Gatito e era mais um para o Brasil. O pessoal ao meu lado comemorou e eu só conseguia pensar que era menos um.
- Vai, amor, defende mais um para acabar com menos um. – Sussurrei comigo mesma, respirando fundo.
Rojas era o próximo batedor. Ele correu pouco e quando chutou, jurei que a bola ia para fora, mas ela foi sim para cima, mas para dentro do gol. Alisson se jogou no chão, então a mesma entrou bonito ainda, me fazendo pressionar os olhos fortemente. Estava tudo igual, mas eles tinham só mais uma batida, nós tínhamos duas.
Firmino saiu da fila para bater e eu respirei fundo, acho que não me lembrava de ter visto ele bater algum pênalti na vida e aquilo me deixou mais nervosa de começo. Gatito se posicionou e o mesmo correu e chutou. A bola passou em câmera lenta para o lado certo e Gatito foi para o lado contrário, só não contava com a bola indo para fora.
- Porra! – Taffa falou ao meu lado.
- Eu vou matá-lo. – Falei, respirando fundo.
- Calma, ainda tem mais um! – Ele falou e eu respirei fundo.
- Um para cada, eu não aguento mais cobranças. – Respirei fundo.
- Respira! Respira! – Bianca falou e eu fechei os olhos novamente quando o último jogador paraguaio foi até a posição.
Eu comecei a rezar. Não tinha mais o que fazer, era um aqui, um lá. Alisson tinha conseguido uma vantagem para gente e Firmino tinha ferrado tudo. Ou vai ou racha agora e eu já estava começando a rachar de diversas formas. A única pergunta era como eu não estava entrando em trabalho de parto. Eu não sabia como seria, na verdade, mas apesar da chacoalhada aqui dentro, eu não estava fazendo xixi pelas pernas, então parecia que tudo estava bem.
Gonzalez, jogador paraguaio que faria a última cobrança, foi para a marca de pênalti e eu respirei fundo. Ele correu e chutou rapidamente e, para minha surpresa, ele fez exatamente igual Firmino. A bola foi para um lado, Alisson para outro, mas a bola foi para fora, fazendo a torcida gritar.
- Isso! – Taffa falou animado e eu respirei fundo.
- É nosso, ! – Bianca falou e engoli em seco.
- Quem vai bater? – Perguntei.
- Jesus... – Bianca falou.
- Ah, não! – Soltei os braços de ambos e levei as mãos até o rosto. – Sabemos o que aconteceu no Peru.
- Um jogo não tem nada a ver com outro. – Taffa falou, me puxando pelo capuz do casaco.
- Ele errou. – Falei, respirando fundo.
- Ele bateu errado.
- E quem garante que ele não vai bater errado de novo? – Sussurrei para Taffa.
- Eu garanto! – Ele falou, olhando firme em meus olhos. – Ele não vai errar agora.
Respirei fundo, vendo Alisson falar alguma coisa para Jesus e o mesmo assentiu com a cabeça, seguindo para arrumar a bola e respirei fundo. Jesus encarou Gatito e o juiz apitou, me fazendo respirar fundo. Foi difícil, mas eu evitei fechar os olhos, mas tinha um embrulho enorme no meu estômago e não era Mini, posso garantir.
Jesus correu, fez uma paradinha e chutou. De repente o tempo parou. A bola seguiu devagar e foi calma até o fundo do gol, me fazendo relaxar. O pessoal ao meu lado começou a pular, comemorar e cruzar o campo em direção a Jesus e Alisson e eu só consegui fazer meu corpo descer até o chão.
- . – Bianca se assustou comigo ao seu lado.
- Eu estou bem. – Falei, respirando, apoiando os braços no gramado, sentindo meu corpo verdadeiramente cansado.
- Você está muito gelada. – Ela falou e eu ri fracamente.
- Deve estar uns 10 graus aqui, te juro que estou bem. – Suspirei, deixando o corpo deitar no gramado.
- Como está Mini? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça, levando uma mão até ela.
- Está bem. – Suspirei, sentindo a respiração pesada e ela abriu um largo sorriso.
- Conseguimos, garota. – Ela falou e eu ri fracamente.
- Nunca mais! Te juro! – Falei, negando com a cabeça. – Nem se me pagarem.
- Faz sim, a adrenalina é boa. – Ela comentou e eu neguei com a cabeça.
- Péssima! – Fui honesta, vendo-a rir e se sentar ao meu lado.
- Vem, levanta! Vamos comemorar! – Ela falou e eu abanei.
- Vai, me deixa aqui um pouco. – Ergui meu corpo novamente, apoiando as mãos na grama novamente e suspirei.
Ela se afastou e vi Alisson correndo em minha direção e ele deslizou de joelhos na grama, se aproximando de mim e se debruçou sobre mim, me abraçando fortemente e eu ri fracamente, sentindo-o distribuir diversos beijos em meu rosto.
- Eu vou te matar! – Falei, vendo-o rir e me abraçar fortemente.
- Você está bem? – Ele perguntou e eu abri um largo sorriso.
- Agora eu estou! – Falei, rindo fracamente e vi outros jogadores se aproximarem da gente e Alisson deu as mãos para que eu levantasse.
- Como está nossa filha? – Ele perguntou, apressado.
- Ainda aqui! – Falei, vendo-o rir e o mesmo colou os lábios nos meus, me fazendo sorrir.
- Agora relaxa, amor, está tudo bem! – Ele falou e eu vi Jesus na roda e sorri para ele, esticando a mão e foi sua vez de me abraçar fortemente.
- Você teve sua redenção, meu amigo! – Falei, ouvindo-o rir contra minha orelha e sorrimos juntos.
- Como está nossa mascotinha? – Ele perguntou.
- Está bem. Está aqui. – Falei, sentindo Alisson me abraçar por trás e passar as mãos em minha barriga. – Não acredito que você defendeu um. – Falei, sentindo um beijo em minha cabeça.
- Para você, meu amor. – Ri fracamente.
- Não querendo exigir muito, mas podia ter defendido mais um ou dois. – Ele gargalhou.
- Aposto que você defenderia. – Sorri.
- É claro que sim, na força do ódio ainda. – Respondi, fazendo-o gargalhar em meu ouvido. – Eu preciso descansar. – Suspirei.
- Precisamos comemorar! – Ele falou e eu virei o corpo, apoiando as mãos em seus ombros.
- Comemore por nós três, eu real preciso descansar. – Falei, vendo-o sorrir e assentir com a cabeça.

Apesar da incrível vitória, não poderíamos enrolar muito em campo, tinha algo a ver com fair-play, mas vai saber, eu não estava preparada para seguir direto para os pênaltis, então podia ser sobre qualquer coisa!
Saímos aos poucos do campo e eu fui uma das primeiras, tinha coletiva com Tite ainda e tinha muita gente conhecida para receber no vestiário, além de que ainda o pessoal seria vacinado no retorno para o hotel.
- Acalmou? – Taffa me abraçou pelos ombros.
- Nunca mais você me faz assistir isso! – Falei firme, empurrando-o de lado e o mesmo gargalhou.
- Teu homem dedicou uma defesa para ti, mulher! – Ele falou e Alisson gargalhou alguns passos mais a frente.
- Ele não fez mais do que a obrigação! – Falei, rindo.
- Eita! – Thiago e Filipe falaram um pouco mais a frente e eu ri fracamente.
- Se alguém fizer isso de novo, eu juro que mato! – Falei, seguindo para dentro do vestiário.
- Imagino que queira me matar, então. – Firmino falou e eu o abracei de lado.
- Você vai entrar na lista do Ederson e do Filipe Luís, que eu quero matar sempre! – Falei, bagunçando seus cabelos e dando um beijo em sua bochecha.
- Se for assim, eu aceito! – Ele falou, me fazendo rir.
- Vamos, Tite, não enrola! – Bianca falou quando entramos no vestiário.
- Alisson, fisioterapia. – Amir gritava. – Arthur, fisioterapia. Coutinho...
- A gente logo se encontra. – Falei para Alisson e o mesmo assentiu com a cabeça.
Segui Bianca, Lucas, Cléber e Tite para a coletiva de fim de jogo e eu adorava como o papo mudava depois de uma vitória e para melhor ainda quando tinha sofrido. Claro que nossos próximos adversários seriam decididos amanhã, estava entre Argentina ou Venezuela, isso não me acalmava tanto, pois ambos eram fortes e a Argentina tinha o Messi, posso não gostar dele, mas o cara tinha talento.
Na volta para o vestiário, a galera inteira que a gente esperava já estava lá. Isso incluía os pais de Alisson, os pais de Arthur, Aline, a namorada e a filha de Marquinhos, a família de Jesus, Neymar, Gabriel Medina e o presidente da CBF, Rogerio Caboclo.
- Ah, garota! – Dona Magali falou quando me viu e eu sorri, seguindo para abraçá-la.
- Ah, gente, que saudade de vocês. – Falei, recebendo alguns beijos.
- Como está minha netinha? – Ela perguntou e eu sorri.
- Depois desse jogo, é um milagre eu dizer que está bem. – Falei, vendo-a rir.
- Essa daí é forte, precisa aguentar. – Seu José falou e eu fui abraçá-lo.
- Ah, sofreu um pouco no segundo tempo, viu?! Achei que ia acabar nascendo. – Eles riram juntos.
- Talvez não tenha sido a melhor ideia acompanhar de perto? – Muriel perguntou quando dei um rápido abraço nele e ri fracamente.
- Aqui eu tenho todo tratamento necessário, caso algo dê merda. – Falei, vendo-os rirem. – Cadê Elis e as crianças?
- Convencemos eles a ficarem, já teria gente demais! – Muriel falou e eu neguei com a cabeça.
- Que isso, imagina! – Fui irônica e eles riram. – Já viram Alisson?
- Não, falaram que ele está na fisioterapia. – Seu José falou.
- Ah, é aqui no fundo, vem cá. – Os chamei.
- ! – Parei quando o presidente da CBF me parou.
- Senhor presidente, como está o senhor? – Ele me abraçou rapidamente.
- Eu estou muito bem e vocês duas? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Estamos bem, graças a Deus, depois de hoje, nada mais me abala. – Ele riu fracamente.
- Fiquem sabendo que já decidiu o nome.
- Ah sim, optamos por Minerva. – Falei, assentindo com a cabeça.
- Ah, que felicidade. – Assenti com a cabeça. – Fiquem bem, hein?! – Assenti com a cabeça.
- Pode deixar! O senhor também. – Sorri, achando os Becker com a mão e sorri ao ver Aline lá no fundo. – Olha quem tá aqui! – Falei um pouco mais alto, vendo-a correr em minha direção.
- Ah, você está bem, fiquei tão preocupada contigo! – Ela me apertou pela cintura, me fazendo rir.
- Estou bem, estamos bem e vivas, é o que importa! – Falei, rindo fracamente. – E você? Não sabia que vinha hoje.
- Ah, sabe como é, o clima em casa está um pouco pesado ainda, achei melhor sair. – Assenti com a cabeça.
- Arthur me contou meio por cima, não se resolveu com a sua família ainda? – Perguntei.
- Com a minha mãe sim, meu pai não me perdoou ainda. – Ela deu de ombros. – Não quero falar disso.
- Sabe que se precisar de alguém para conversar, eu estou ocupada, mas sempre pego o celular. – Ela assentiu com a cabeça.
- Eu sei, eu sei, é que você já está com tanta coisa na cabeça, o bebê, a competição...
- Não tem problema! – Falei. – Para quem encarou uma cobrança de pênaltis grávida e o bebê ainda está aqui dentro... – Levei as mãos à barriga. – Nada me abala, bem!
- Ai, eu já teria desmaiado. – Ela comentou.
- Quase! – Arthur, Coutinho, Allan e Alisson comentaram sentados no chão com as pernas naqueles aparelhos da fisioterapia.
- Ah, fiquem quietos. – Abanei com a mão e franzi o rosto quando vi o sorriso de Aline sumir.
- Ah, nossa mascotinha aqui. – Ouvi Neymar e o mesmo me abraçou pelas costas e eu franzi os lábios, entendendo tudo agora. Dei de ombros para Aline e a mesma se afastou um pouco.
- Ah, Ney! – Apertei sua mão e virei o corpo, vendo-o sorrir.
- Como está nossa menina? – Ele me abraçou direito agora e eu ri fracamente.
- “Nossa”? – Perguntei, colocando as mãos na cintura. – Ajudou a fazer agora?
- Não lembro disso não! – Alisson gritou, nos fazendo gargalhar.
- Estamos bem. – Falei, sentindo-o dar um beijo em minha bochecha.
- Já estou com saudades de você me xingando, sabia?
- Eu não! – Falei honesta e eles riram. – Como você está com tudo?
- O pé está bom já, o caso lá com a doida está encaminhando, mas tá uma confusão com provas e tudo mais, eu vou contra-atacar com processo por fraude e extorsão. – Assenti com a cabeça.
- Bom, eu nunca duvido quando uma mulher fala que foi estuprada e não foi, mas eu tenho uma raiva dessa mulher por fazer isso, ela acabou com a moral de várias pessoas que...
- Sofrem de verdade. – Ney finalizou e eu assenti com a cabeça.
- Enfim, fique bem, ok?!
- Vocês duas também. – Sorri. – , conhece meu amigo Gabriel? – Ele apresentou Medina.
- Acabei de conhecer. – Falei e eu claramente fiquei envergonhada na hora, ele era lindo demais.
- Você é a famosa ? – Ele me cumprimentou rapidamente, dando um rápido beijo e um abraço.
- Aparentemente sim. – Brinquei e ele sorriu.
- Ney, conhece Aline? – Apontei para a moça. – Noiva do Arthur? – Frisei a palavra.
- Oi, tudo bem? – Ney foi rapidamente cumprimentá-la. – Arthur tem bom gosto mesmo, né?! – Dei uma cotovelada em Neymar. – Caralho.
- Se comporta. – Falei, me aproximando da família de Arthur e do mesmo.
- Péssima hora para trazer ela aqui, não?! – Cochichei para o mesmo que somente abaixou a cabeça.
- Eu não tinha culpa. – Ele falou e virei para trás, vendo Aline conversando com Neymar e esperava não ver fogos entre eles. – Conhece meus pais?
- Senhor Aílton e senhora Lúcia? – Eles sorriram.
- Aílton e Lúcia, sem formalidades. – Sua mãe falou.
- Você é a famosa , não?! – Seu pai me cumprimentou primeiro.
- Não estou gostando dessa fama. – Falei, vendo-os rirem.
- Fama boa, fama boa. – Sua mãe falou e eu a abracei rapidamente.
- É um prazer conhecê-los, mesmo. – Sorri.
- Nós que dizemos isso, Arthur fala tanto da menina que o ajudou a conquistar a Aline. – Ri fracamente.
- Honestamente achei que era de você que ele gostava. – O outro menino falou.
- Meu irmão Paulo, enxerido de tudo. – Sorri para o garoto, cumprimentando.
- Tem nem perigo, a gosta de caras mais altos, mais velhos, fortes, bonitos, mais sério, moreno e... – Alisson falou ao longe fazendo a gente gargalhar e Arthur jogar um chinelo em Alisson.
- Não está mentindo. – Falei para a família de Arthur, vendo-os rirem.
- Valeu, , minha moral já era. – Arthur comentou.
- Ah, qual é, você tem a Aline aqui, olha que morena gostosa, pô! – Comentei, puxando Aline pela mão que agora estava um pouco mais afastada.
- Uh! – Os meninos gritaram e eu ri.
- Você é impossível! – Aline falou envergonhada e eu sorri.
- Quem tá na chuva, é para se molhar. – Cochichei para ela que sorriu. – Como foi ali? – Perguntei mais baixo.
- Eles são incrivelmente educados. – Ela falou e eu ponderei com a cabeça.
- Nem tudo o que você vê na internet é real. – Falei. – Aprendi muito quando comecei a trabalhar aqui.
- Será que eles sabem da nossa briga? – Ela cochichou. – Não quero ser a chata.
- Não sei e nem se preocupa com isso, passou, relaxa! – Falei, abanando a mão.
- Alisson, pode sair daí! – Amir apareceu na porta e gritou.
- Isso, vai tomar um banho e ficar bonitinho para gente sair daqui! – Falei, vendo-o tirar o aparelho das pernas.
- Vou te abraçar de novo, hein?!
- Já me acostumei, amor. – Abanei a mão, vendo o pessoal rir.
- ! – Virei para porta, vendo Bianca.
- Bom, gente, o papo está bom, mas eu ainda preciso trabalhar, logo volto. – Falei, para o pessoal. – Aproveita. – Cochichei para Aline e ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Alguém precisa, né?! – Alisson falou e eu pisquei para ele, vendo-o com seus pais e segui de volta para o vestiário.


Capítulo 22 – É futebol e muito pancadaria!

- Não gosto de tomar vacina, caramba! – Cléber reclamou, tirando a blusa social e eu ri fracamente. – Não ria!
- Como não?! Olha o seu tamanho, Cléber! – Falei, vendo os atendentes rirem da cena dele.
- E tem tatuagem! – A moça falou e eu vi uma tatuagem na lateral do seu corpo, me fazendo negar com a cabeça.
- Para de graça, Cléber, vamos! – Casemiro falou, erguendo a manga da blusa e ficando ao lado de uma atendente. – Cacete de agulha! – Ele brincou e eu ri fracamente.
- Ah, vocês são ridículos! – Falei, vendo eles gargalharem e suspirei, virando o corpo na cadeira, vendo a fila para tomar vacina.
- Fica feliz que você não precisa tomar! – Jesus gritou e eu neguei com a cabeça.
- Cara, eu não tenho problemas nenhum com agulha. – Falei.
- Tem tatuagem? – Ele perguntou.
- Não! – Alisson gritou.
- Uh! – Os garotos começaram a zoar.
- Por falta de oportunidade. – Falei rapidamente. – Quem sabe se vocês ganharem essa competição eu não faça algo? – Dei de ombros e Alisson piscou para mim.
- No duro? – Firmino saiu da fila, se aproximando de mim.
- Ei, nem vem! Você está de castigo ainda, não vou fazer acordo nenhum contigo! – Falei, vendo o pessoal rir.
- Olha o que o pombo faz com a gente! – Dani reclamou e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
Alisson tomou sua vacina e se jogou ao meu lado no sofá, passei a mão no pontinho de sangue em seu braço e abaixei sua manga, apoiando a cabeça ali. Ele ergueu o braço, me apertando pelos ombros e eu sorri.
- Cansada? – Ele perguntou.
- São quase quatro da manhã, amor. – Suspirei. – Já deu minha hora faz tempo! – Falei, ouvindo-o rir.
- Hoje foi divertido, vai! – Ele falou e dei um meio sorriso.
- Depois dos pênaltis, sim, foi! – Ele riu fracamente.
- A injeção é na bunda? – Marquinhos gritou entrando na sala e eu revirei os olhos.
- Tá doida para mostrar a bunda, né?! – Alisson gritou e gargalhamos.
- Ah, vocês são impossíveis. – Falei, suspirando.
A delegação completa, incluindo todo mundo mesmo, todos os assistentes técnicos, todos os assistentes, ajudantes, fisioterapeutas, além dos jogadores, davam 64 pessoas, e foi hilário ver toda essa galera ser vacinada. Aqueles jogadores que se matavam, eram derrubados no chão, pisoteados e muito mais, mas eram medrosos, então foi só risada.
Depois que terminamos tudo, nos despedimos dos profissionais da saúde e fomos jantar, o sol já estava quase nascendo, então subimos para nossos quartos, eu ainda tomei uma ducha para baixar a adrenalina – Alisson tinha tomado após o jogo – e fomos deitar. Amanhã teríamos treino no CT do Grêmio antes de irmos para Belo Horizonte.
Pensar no próximo adversário nosso era foda, tinha tudo para ser a Argentina, tudo mesmo, a Venezuela deu sorte de ir para as quartas por uma histeria coletiva, eles haviam empatado dois jogos e ganhado um na fase de grupos. Agora era contra a Argentina que, apesar de tudo, só tinha ganhado em cima do Catar, o resto perdeu ou empatou.
Mas, apesar do nosso grande rival, o nosso jogo seria no Mineirão e a última vez que a Seleção jogou lá foi no fatídico sete a um. Tínhamos duas ou três pessoas do elenco do sete a um na delegação, acho que Thiago, Marquinhos e Dani, mas era um peso que a gente acabava carregando como Seleção. Com a Argentina, então?! Era real para chorar.
Foi fácil ignorar isso quando eu deitei ao lado de Alisson para dormir. Sua mão ocupou quase toda a extensão da minha barriga e Mini já havia acalmado os ânimos também, pelo menos ela se comportou e não quase me deu um ataque cardíaco igual no jogo contra a Venezuela. Então, quando eu deitei, foi só fechar os olhos que o meu corpo fez o resto.

A vantagem dos jogos à noite era que podíamos compensar o sono um pouco no dia seguinte. Eu estava precisando de umas boas 12 horas de sono, mas consegui me conter em seis, já que era quase seis quando subimos para os quartos. Até eu largar de preguiça, tomar banho, finalizar minha mala e descer, já passava da uma e o chef havia sido bem legal com a gente em nos deixar comer. Mas ok, quase todo mundo chegou essa hora. Será que tinha um canto para eu dormir durante o treino? Porque esperar até o voo seria difícil. Apesar que também era só duas horas e pouco de voo, não daria para fazer muita coisa.
- E aí? Como foi a propaganda? – Perguntei para Vinícius quando sentei ao lado dele para almoçar.
- Ah, o de sempre, né?! – Ele ponderou com a cabeça. – Mas eu gosto de ser o Canarinho, ...
- Você tem que fazer o que gosta, Vini, se você acha que deve ficar só como Canarinho, você tem essa escolha. – Suspirei. – Claro que não tem serviço sempre, mas estamos pensando em muitas campanhas desde a Copa do Mundo...
- Eu sei, sei lá, me sinto bem. – Sorri.
- Então faça o que você quer. – Suspirei.
- Ele te contou a melhor? – Bianca perguntou, se sentando ao lado.
- Não tivemos muito tempo para conversar ontem. – Falei. – Estava tudo uma loucura.
- Vai, conta para ela! – Anna falou e o mesmo ficou tão vermelho quanto Alisson nervoso do nada.
- Eita, o negócio é sério? – Perguntei, rindo fracamente.
- Eu posso ou não ter beijado o Zizito. – Arregalei os olhos.
- Mentira! – Falei abafado, colocando a mão na boca. – A Larissa?
- É, meu espanhol não está mal. – Ele disse e nosso canto de comunicação gargalhou.
- Cara, que sensacional! – Falei, rindo. – Cantamos a bola, hein?!
- Sim, com certeza. – Ele sorriu.
- E aí? Tem futuro? – Perguntei.
- Não faço a mínima ideia, trocamos número de telefone e por enquanto estamos conversando. – Vini falou. – Mas conexão Paraguai Brasil é meio foda.
- Faço conexão Inglaterra Brasil, amigo, e dá certo. – Falei, apontando um garfo para ele e ele ponderou com a cabeça.
- Verdade... – Rimos juntos.
- Não precisa prometer amor eterno à moça, mas vai que... – Diana falou e concordamos com a cabeça.
- Exatamente! – Eu e Bianca falamos junto, rindo em seguida.
- Isso é demais! – Lucas falou, gargalhando em seguida.

Saímos para o treino no horário de sempre e nos separamos quando entramos no CT do Grêmio. Como era só regenerativo, parte dos jogadores foram para academia e parte para fisioterapia, então eles revezavam nas posições, mas como era tudo no mesmo cômodo, ficamos todos apertados ali dentro.
Eu encontrei um canto em uma daquelas bicicletas inclinadas, que eles não usavam para treino, para ficar acompanhando o jogo de Argentina e Venezuela e esperando as ligações assim que o apito final tocasse.
- Ei, vamos nos mexer! – Senti um cutucão no pé e desviei o olhar do celular para Fabio.
- O quê? – Perguntei, franzindo a testa.
- Mexe essas pernas, pedala. – Ele falou.
- Há, há, estou bem, obrigada! – Abanei a mão.
- Você está grávida, . Há quanto tempo você não se mexe? – Ele perguntou e eu franzi a testa.
- Desde que descobri que estava grávida, eu acho... – Ponderei com a cabeça. – Ah, não, teve aquele fatídico jogo... – Ri fracamente.
- Se exercitar é bom, . – Dani Alves falou por cima, saindo da sua bicicleta ergométrica.
- Tenho feito muito exercício, tá?! Levantamento de garfo. – Falei e os quatro, cinco jogadores em volta gargalharam e eu dei um meio sorriso.
- Pedala! – Fabio falou sério e eu suspirei. – Não é uma competição, só mexe as pernas.
Soltei um longo suspiro, joguei meu celular dentro da minha mochila e ajeitei o banco para ficar melhor para as pernas longas e segurei no guidão, começando a pedalar devagar, vendo a bicicleta acender com o movimento.
- Estão fazendo você se mexer, é?! – Alisson apareceu, se apoiando na minha bicicleta e eu franzi os lábios.
- Estão me fazendo sofrer. – Ele riu fracamente.
- Precisa, amor. Precisa! – Ele falou e eu neguei com a cabeça.
- Depois se eu ficar com dores a culpa é de vocês! – Abanei a mão, vendo-o sorrir e piscar para mim.
- E acabou! – Filipe Luís falou do jogo e eu suspirei.
- Que delícia, não?! – Bianca falou e eu suspirei.
- Agora o bicho vai pegar. – Anna falou.
- O chão vai tremer e o bicho vai pegar... – Falei um tanto alto, ouvindo o pessoal gargalhar em volta. – Ninguém vai continuar? – Perguntei.
- Sanfona vai gemer, poeirão vai levantar! – Alisson falou, desanimado e eu gargalhei, piscando para ele.
- Tem que completar as frases da namorada, está certo! – Tite falou e eu sorri, negando com a cabeça.
- Bom, amanhã já sabemos o foco da reunião. – Ouvi Matheus falando e Tite confirmou com a cabeça.
- Vamos nos preparar. – Ele falou e eu suspirei.
Saímos do CT do Grêmio por volta das sete, nos despedimos de todo mundo, agradecemos pela recepção nos últimos dias e depois de quase cinco horas, chegamos no Ouro Minas Palace Hotel. Eu dormi o voo inteiro, então realmente não vi nada da saída de Porto Alegre, e só fui cutucada para acordar para não assustar no pouso. Vários torcedores esperavam os jogadores, então acabamos demorando um pouco para entrar. Até fazer check-in e liberar a chaves, já passava da uma da manhã.
- Quartos de três. – Falei, erguendo as chaves, vendo os trios se formarem igual na escola – só faltou o “pode trio de quatro” – e eles vieram pegar a chave aos poucos.
- Estamos juntos de novo? – Bianca falou.
- Posso? – Arthur perguntou e eu ri fracamente.
- Ei, nem vem. – Bianca falou e eu neguei com a cabeça.
- Você já é a madrinha, fica na sua. – Arthur falou e eu suspirei.
- Ah, mereço, gente brigando por mim. – Revirei os olhos. – Adoro! – Eles riram.
- Vamos, Bianca, dá um tempo para , daqui a pouco você vai ser deposta do cargo e o bebê nem nasceu. – Lucas falou, puxando a mesma e eu ri fracamente.
- Por que vocês não vão subindo? – Entreguei a chave para Alisson. – Eu vou passar no restaurante para ver se consigo algo para comer.
- Alguém dormiu o voo inteiro, né?! – Arthur falou e eu dei um sorriso sarcástico.
- Ah, qual é, a gente foi dormir tarde ontem, eu estou carregando peso extra, não amola! – Abanei a mão e Alisson puxou o mesmo pelo ombro.
- Melhor, cara! – Alisson falou. – Quer que pegue para você?
- Não se preocupe. – Falei. – Ah, leva minha mala? – Entreguei a mesma. – E mochila? – Tirei a mochila das costas, estendendo para Arthur que teve que compensar o peso do corpo com a mochila pesada.
- Meu Deus, o que você carrega aqui? – Ele perguntou.
- Eletrônicos. – Falei e segui em direção ao restaurante enquanto eles subiam.
Era quase uma hora da manhã, então não tinha nada sendo servido, mas aquelas máquinas de vendas eram sempre úteis, então peguei um daqueles lanches naturais, um pacote de amendoim, uma barra de chocolate e uma lata de suco de maracujá. Aproveitei o restaurante vazio para me alimentar e ficar alguns minutos sozinha. As vezes era necessário.
Chequei rapidamente minhas notícias e descobri que a Colômbia havia sido eliminada da competição algumas horas atrás depois de empate com o Chile. Após zerar o placar no tempo corrido, eles fizeram quatro acertos em cima de cinco do Chile. O que foi bem surpreendente, já que a Colômbia havia ganhado todos os jogos da fase de grupos.
Deixei só o chocolate para mais tarde, ou amanhã, e subi novamente. Para minha surpresa, Alisson já estava morto na cama quando eu cheguei. Ele compensava tanto para aguentar por mim ou me dar atenção que as vezes nem pensava que ele também se cansava para minhas coisas. Arthur estava no banho, então esperei que ele saísse para seguir para o meu também.
- Ei. – Ele falou, saindo com seu pijama de calça e camiseta larga. – Morreu, hein?!
- Ele devia estar cansado. – Falei, pegando minha roupa separada.
- Como vocês dois estão? – Ele perguntou e eu dei de ombros.
- Bem até demais. – Suspirei. – É difícil pensar que tudo isso vai acabar, em, no máximo, 10 dias tudo vai acabar e vamos ter que nos separar novamente. – Neguei com a cabeça.
- Tem as férias ainda. – Ele falou.
- Ah, um mês. – Suspirei. – Não muda muita coisa.
- Não sabem ainda como vão fazer? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Não e eu estou bem em não pensar nisso, mas sei que uma hora vou precisar. – Suspirei.
- Eu gostaria de te dar algum conselho concreto também, mas não sei, são muitas variáveis a considerar. – Assenti com a cabeça.
- Pois é, e, enquanto não decidimos, ficamos por isso mesmo. – Dei de ombros. – Vai dormir, eu logo vou também. – Me levantei da cama de solteiro com minhas roupas e uma toalha.
- Fica bem, ok?! – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Continuem ganhando que eu fico! – Falei e ele riu fracamente.

- Você podia dar um espaço mais tarde, né?! – Despertei com essa pergunta de Alisson para Arthur e mantive o tom sereno de quem ainda está dormindo.
- Ah, qual é, da última vez eu fiquei a madrugada inteira esperando vocês acabarem. – Arthur gemeu.
- Eu estou na seca, cara, é difícil. Os dias estão sendo corridos demais, ela deita e morre na cama, e tem dias que o bebê não colabora com a coisa.
- Tem que ficar feliz por ela ficar perto de você ainda. Tem grávidas que não aguentam nem o cheiro do parceiro, sabia? – Arthur falou e eu segurei a risada.
- Você não colabora também, né?! – Alisson falou e ouvi algumas coisas batendo. – Às vezes sinto pena da Aline.
- Há, há, há, engraçadinho! – Arthur foi irônico. – Tudo bem, eu dou um pouco de espaço para vocês namorarem, mas me avisa quando acabar, por favor?
- Tem que ver se ela vai estar no pique, né?! Essas coisas não acontecem assim... – Senti que a voz de Alisson mudou no final da frase e não consegui mais segurar a risada, estourando em gargalhada. – Ela está acordada.
- Ah, gente, é a melhor conversa de todas! – Joguei a coberta para o lado, me virando de barriga para cima.
- Desculpe, amor, estou com saudades, sabe? – Alisson comentou, se sentando na beirada da minha cama e eu ri fracamente.
- Eu sei que não estou muito bem nesse departamento, mas é tão difícil sentir tesão nessa parte, sabe? Além de que sinto que tem uma terceira pessoa no cômodo... – Comentei.
- Eu saio! – Arthur falou, se levantando.
- Não você! – Eu e Alisson falamos juntos.
- Ah, a bebê! – Ele se sentou novamente, me fazendo rir e Alisson levou a mão a cabeça.
- Eu entendo, mas eu também tenho minhas necessidades. – Alisson falou mais baixo, como se Arthur não fosse escutar.
Me sentei na cama, encostando as costas na cabeceira e levei uma mão até seu rosto, acariciando de leve e o mesmo deu um beijo em minha palma, me fazendo sorrir.
- Posso te fazer relaxar um pouco no chuveiro depois... – Sussurrei.
- Eu não preciso ouvir isso! – Arthur se levantou rapidamente. – Eu vou tomar banho... – Ele seguiu até sua mala. – A não ser que vocês vão usar para...
- Cai fora daqui, Arthur! – Falei, abanando a mão e o mesmo, atrapalhado, pegou sua mala e entrou com ela no banheiro, batendo a porta. – Eu vou tentar te compensar, está bem?
- Você não precisa me compensar nada, só a área genital que está meio necessitada. – Ele continuou sussurrando, devido a falta de um barulho de chuveiro ou algo assim.
- Ah é? – Desci minha mão até o meio de suas pernas dobradas em cima da cama e encontrei sua virilha.
- ... – Ele comentou baixo e eu dei um meio sorriso.
- Você que pediu. – Dei de ombros, vendo-o rir fracamente.
- O Arthur vai sair e vai ser zoeira para 20 anos. – Ele falou.
- Eu conheço um jeito de trancar a porta com uma cadeira. – Apontei para maçaneta e depois para cadeira atrás da escrivaninha.
- Maldade! – Ele falou e eu ponderei com a cabeça, vendo-o rir fracamente.
- Mais tarde, talvez? – Perguntei, dando um curto beijo em seus lábios.
- Não me tente, senhorita . – Dei de ombros.
- Só tentando agradar meu namoradinho. – Cochichei, dando um curto beijo em meus lábios e ele passou um braço pelo meu ombro.
- Após o treino? – Ele perguntou e meu rosto se curvou com meu sorriso.
- A gente maltrata muito esse garoto, vai! – Falei e ele gargalhou, alongando, finalmente, nosso beijo.

Enquanto eu e toda a equipe de comunicação começávamos os protocolos para o próximo jogo, a equipe técnica e os jogadores foram para a primeira reunião sobre a Argentina. A gente até podia participar, mas era bem sem graça, a vantagem foi que Richarlison participou por vídeo conferência. Ele ainda estava em Porto Alegre em isolamento, mas podia acompanhar as primeiras instruções.
Na parte da tarde, fomos iniciar os treinamentos no CT do Atlético Mineiro, era o primeiro dia ainda, então era mais aquele reconhecimento de terreno, trabalhos na academia e pouco trabalho de campo. Durante o trabalho de campo, a imprensa estava presente lá com a gente, além de alguns jovens do próprio Galo e alguns de curioso que ficavam assistindo de fora da cerca.
Acompanhei mais de perto Fernandinho e Filipe Luís, ambos ainda eram dúvidas para o próximo jogo devido a recuperação de lesões, então cuidamos dele para evitar qualquer contato desnecessário com a imprensa.
O dia de trabalho finalizou após uma coletiva de meia hora com o Thiago Silva. Depois já nos organizamos para ir embora. Como ainda era cedo, todo mundo subiu para tomar banho e dar uma relaxada antes do jantar. Claro que com três pessoas no quarto, o tempo de relaxar não foi muito grande, mas deixamos Arthur ir primeiro.
- Pronto, pode ir o próximo. – Ele falou, passando a toalha no cabelo.
- Você já tem que descer, né?! – Falei sugestivamente e ele me olhou com o rosto franzido.
- Tenho? – Ele perguntou, confuso.
- Tem! – Alisson falou, pegando a toalha dele com uma mão e entregou o celular dele.
- Ah, meu Deus! – Ele bufou. – Eu preciso de um quarto diferente.
- Precisa! – Falei, já dentro do banheiro e ouvi a porta bater.
- Liberdade! – Alisson brincou, aparecendo na porta do banheiro e eu sorri, puxando minha blusa para cima.
- Eu o amo demais, mas eu fiquei pensando nisso o dia inteiro. – Comentei, inclinando meu corpo para baixo para tirar a calça.
- A ideia nem é tão má, vai. – Alisson comentou, puxando sua blusa para cima.
- Ah, meu Deus, é impressão minha ou parece sexo com hora marcada? – Comentei, rindo fracamente.
- Bom, depois que essa menina nascer, talvez seja assim por um bom tempo! – Ele riu fracamente e eu o puxei para dentro, fechando a porta e trancando-a por precaução.
- Deus, dia primeiro completamos seis meses. – Suspirei, passando os braços pelos seus ombros, sentindo-o passar as suas pela minha cintura.
- Está cada vez mais perto. – Ele cochichou, levando os lábios até meu pescoço e começando a distribuir beijos ali.
- Não fala isso, causa ansiedade! – Brinquei, ouvindo-o rir próximo a meu ouvido, afastando o rosto e colando nossas testas.
- Vamos para dentro, devemos ter uns 20 minutos antes do Arthur vir com uma galera encher o saco.
Ri fracamente, vendo-o tirar sua calça e sua cueca de uma vez só e chutar a roupa para baixo do móvel ali. Tirei minha roupa íntima enquanto ele ligava o chuveiro e entrei no mesmo, passando a mão na minha barriga.
- É difícil ignorar isso aqui, viu?! – Falei olhando para barriga e ele assentiu com a cabeça.
- Vem aqui! – Ele segurou minhas mãos, me puxando para baixo da água morna e eu relaxei meu corpo quando ele me abraçou. – Vamos ter a vida inteira para nos divertir. – Ele deu um beijo em minha cabeça e eu apoiei a cabeça em seu ombro, deixando meus braços caírem sobre os seus.
- Não sei se disse isso hoje, mas eu te amo. – Dei um pequeno sorriso, suspirando.
- Eu também te amo. – Ergui o rosto, vendo seu sorriso e levei uma mão até sua barba em um leve carinho.
Ele aproximou nossos rostos, fazendo os narizes tocarem levemente e deslizei a mão até seu pescoço quando ele tocou nossos lábios. Ele inclinou seu corpo levemente e Mini se mexeu dentro de mim, me fazendo sorrir. Deslizei minhas mãos pelos braços de Alisson e cheguei em suas mãos, levando-as até minha barriga.
- Só sinta isso. – Cochichei, sentindo suas mãos cobrirem minha barriga e o beijo foi interrompido quando ele sorriu.
- Eu quase poderia falar que é melhor do que sexo. – Ele comentou, me fazendo gargalhar. – Quase.
- Ah, sim, quase. – Sorri, abraçando-o fortemente. – É capaz de aguentar mais dois meses?
- Sempre podemos nos divertir sozinhos, né?! – Ri fracamente.
- Nem tão sozinhos assim... – Deslizei minha mão pelo seu corpo. – O que acha? – Ergui o rosto, encarando seus olhos.
- Como dizem: é o que tem para hoje. – Ele falou, fechando os olhos quando cheguei em seu pênis.
- Aproveite, amor. – Sussurrei próximo a seu ouvido.

- Finalmente, hein?! – Arthur falou quando entramos no restaurante e eu ri fracamente.
- Ah, qual é, são 10 horas ainda. – Chequei o relógio. – Cadê a galera? – Vi somente ele, Ederson, Paquetá, Willian e três assistentes.
- Já comeu, já subiu e devem estar dormindo agora. – Arthur falou, visivelmente emburrado.
- Desculpe. – Fiz uma careta. – O quarto é todo seu. – Apoiei o cartão-chave em sua mesa.
- Ah, aquele quarto deve estar cheirando sexo... – Ele falou e eu segui com Alisson até o buffet.
- Não como gostaríamos, mas... – Alisson sussurrou e rimos juntos.
O bom do Brasil era que podia comer nossa comida quando eu quisesse e, estando grávida, o que eu menos queria era experimentar comidas diferentes agora, apesar de gostar muito, então me mantive no básico, arroz, feijão, carne assada com um molho delicioso e muita batata frita.
- E aí, deram para aproveitar? – Arthur perguntou e eu ignorei, colocando uma batata frita na boca. – Vou levar como um sim.
- Então, galera, como vocês estão? – Perguntei para mesa.
- Tenho uma novidade. – Ederson falou.
- Por favor, me diga. – Falei e Alisson se sentou ao meu lado.
- Laís está grávida. – Ele falou e eu arregalei os olhos.
- O terceiro filho? – Abri a boca, vendo-o rir fracamente.
- Meu Deus! – Suspirei. – Isso é demais! – Ri fracamente. – Parabéns!
- Obrigado! – Ele riu fracamente. – Não sei como vamos aguentar isso, o Henrique é tão novo. – Rimos juntos.
- Comece com uma vasectomia. – Alisson falou e gargalhamos.
- Camisinhas também existem. – Comentei.
- Você nunca ouviu falar, pelo jeito... – Arthur cochichou e joguei uma batata frita nele.
- Não sou igual a Aline que vai atrás de pílula do dia seguinte a cada transa, ok? – Cutuquei, vendo-o revirar os olhos e fazer careta igual criança. – Além do mais, era Roma, ano novo, um quarto de hotel chiquérrimo, você realmente acha que eu pensei nisso? – Perguntei e o resto do pessoal da mesa riu.
- Vemos que não! – Ele falou e eu sorri.
- Ah, eu vou te matar um dia, Arthur!
- Ah, você me ama, vai! – Ele fez olhos de gatinho abandonado e eu suspirei.
- É, faz parte. – Suspirei, vendo-o sorrir. – Eu tenho que aprender a me apegar menos.
- Ai! – Willian falou, me fazendo sorrir.
Desviei o olhar para Alisson ao meu lado e o mesmo abriu um pequeno sorriso, seguindo de uma piscadela. Retribuí a piscadela antes de voltar a prestar atenção em minha comida.

O domingo começou com coletiva logo cedo. Jesus foi o escolhido da vez. Apesar da coletiva ter durado menos de 15 minutos, eu e Bianca ficamos presas com a imprensa para responder dúvidas sobre nossas pendências para o jogo.
Eu estava começando a gostar de falar com a imprensa, eles perguntavam como eu estava, se o bebê estava bem, e eu estava entrando em um período da gravidez em que tudo ficaria mais difícil, os pés já começavam a inchar, as estrias estavam aparecendo e nem sexo eu tinha mais vontade de fazer, então ser bajulada era sempre bom, principalmente sendo namorada – e mãe do futuro filho – do goleiro titular da Seleção Brasileira.
Na parte da tarde voltamos para o CT do Galo, tivemos a presença de um pessoal da base para treinar com a gente. Hoje foi exclusivamente treino de campo, começaram com treinos táticos, depois jogos e muita cobrança de falta. Teríamos Alisson e Messi em campo depois de amanhã e eu ainda tinha pesadelos por cobrança de falta no jogo de ida da Champions League contra o Barcelona, mas, além disso, era bom ver que ele estava melhor com os pés.
Para a equipe de comunicação foi o mesmo de sempre, como não deixamos a imprensa entrar, eles tentavam tirar várias coisas da gente seja por telefone e e-mail, e o CT do Galo, igual do Grêmio, não tinha um bom lugar próximo ao campo para gente acompanhar e, para evitar levar uma bolada, ficamos um pouco longe, acompanhando junto de Vinícius.
- Richarlison chegou. – Bianca falou, olhando o celular.
- Mas já? – Perguntei, desencostando da marquise.
- É, fiquei surpresa, confesso. – Ela comentou. – Mas Rodrigo falou que estava tudo bem, então tudo bem.
- Contato que ele esteja bem, está tudo certo. – Falei e a mesma confirmou com a cabeça. – Sem surpresas mais, por favor.
- Não, por favor. – Bianca falou, aproximando as mãos de minha barriga. – Minha afilhada precisa de calma para vir plena. – Revirei os olhos, passando meu braço pelo ombro dela.
- E logo, pois já está sendo bem difícil com seis meses, imagina com nove. – Ela sorriu, me abraçando de lado também.
Estendemos o treino até quase sete horas da noite, já que não teria coletiva para interromper o treino, então, quando chegamos ao hotel, seguimos em peso para o restaurante. Amanhã seria o último dia de treinos antes do grande jogo, então dormir cedo e acordar disposto era necessário.
- Que susto você deu na gente, hein?! – Falei para Richarlison quando foi sua vez de me abraçar.
- Me desculpa, ... – Franzi a testa.
- Por que você está pedindo desculpas para mim? – Falei, rindo.
- Ah, a gravidez, né?! – Neguei com a cabeça.
- Relaxa, eu estou bem e a bebê também, o que importa é que está bem. – Ele assentiu com a cabeça. – Além de que foi ótimo ver esses marmanjos com medo de agulha. – Falei e o mesmo gargalhou.
- De nada, então. – Sorrimos.
Fui até o buffet, me servindo um pouco de macarrão dessa vez e, ironicamente, tendo vontade louca de comer salada, então enchi meu prato de alface e me sentei à mesa. Logo todo mundo estava rindo das histórias de Richarlison, como se a gente não sempre risse dele, não é mesmo?
- ? – Virei para o lado, vendo Rodrigo abaixado ao meu lado.
- Oi. – Virei o corpo para melhor enxergá-lo.
- Consegui um horário em uma clínica aqui perto para seu ultrassom amanhã as 10 horas, pode ser?
- Nossa! Obrigada.
- Amanhã você completa seis meses, não é?! Precisamos dar uma checada nessa menina. – Ele falou.
- Sim, nossa, eu estou realmente desligada. O horário está ótimo, o treino é só na parte da tarde, o Alisson consegue ir com a gente. – Falei, vendo meu namorado conversando com o pessoal da outra mesa e Rodrigo assentiu com a cabeça.
- Te espero aqui embaixo as nove e meia, então. – Ele falou e eu afirmei com a cabeça, vendo-o se levantar.
- Posso ir junto? – Bianca perguntou um pouco mais animada e Rodrigo assentiu com a cabeça.
- Se ela for, eu também quero ir. – Lucas falou.
- E virou excursão... – Falei, rindo fracamente.
- Deixa eu falar! – Ouvi uma voz alta e virei para a ponta da mesa dos jogadores, aonde Richarlison estava em cima de uma cadeira.
- Oh, silêncio. - O pessoal começou a gritar e de repente tudo ficou em silêncio.
- Primeiro eu quero agradecer a Deus por estar aqui de novo, e pelo apoio de vocês, ficar esses dias trancados não foi legal não, queria muito estar com vocês no jogo para comemorar. Eu estou muito feliz de voltar, de estar aqui com vocês, espero que possamos vencer o jogo e ir para final! – Ele falou e o pessoal aplaudiu animado.
Richarlison era meio louquinho, faltavam bons parafusos em sua cabeça e a idade bem mais jovem não colaborava muito, mas ele era um ótimo atacante e quem sabe é o que estejamos precisando para não chegar a pênaltis dessa vez? Na semi e na final tem prorrogação, mas não queria outro susto. Outro desses e Mini ia nascer para valer.
Finalizei de comer e fui até a ponta da mesa, aonde Alisson, Filipe Luís, Fernandinho, Paquetá, Allan, Firmino, Arthur e Everton estavam. Apoiei as mãos na mesa, vendo Alisson sorrir para mim e retribuí.
- A vista está boa, hein?! – Fernandinho comentou e olhei para baixo, vendo os botões da blusa pólo abertos e dando uma visão melhor de meus seios.
- Olha o respeito, cara! – Eu e Alisson falamos juntos.
- Desculpa, mas está difícil ignorar nesse ângulo. – Revirei os olhos, erguendo o corpo e cruzando os braços. – Não melhora.
- Vai à merda! – Falei, ouvindo-o rir.
- Desculpe, desculpe! – Ele falou quando Alisson deu dois tapas no mesmo e eu ri fracamente.
- É para o bebê, ok?!
- Esse é o novo apelido do Alisson? – Ele perguntou e eu revirei os olhos.
- Enfim... – Virei para Alisson. – Ultrassom do bebê amanhã as 10, pode ser? – Perguntei para Alisson e o mesmo segurou minha mão, assentindo com a cabeça.
- Vai ser bom para relaxar antes do jogo. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Você sabe que não tem nada para se preocupar, né?! – Ergui a mão livre até seu rosto, vendo-o sorrir.
- Você sabe que eu tenho. – Neguei com a cabeça.
- Não tem, vai dar tudo certo. – Ele assentiu com a cabeça. – Eu vou subindo para tomar banho, ok?! Ultrassom amanhã 10 horas. – Ele confirmou.
- Posso ir junto? – Filipe Luís perguntou.
- Ei, eu sou o tio legal, eu que tenho que ir. – Arthur falou.
- Não inventem! – Falei, abanando a mão e Alisson gargalhou.
- Ah, qual é, cara! – Arthur falou.
- Ela que manda, cara! – Alisson falou e eu pisquei, seguindo para fora do restaurante junto de Leandro e Ana.

- Ei, demoraram para subir. – Comentei assim que Alisson e Arthur entraram no quarto e eu pausei a série no iPad.
- Você que subiu cedo demais. – Arthur comentou e eu suspirei.
- 60 homens, quatro mulheres, às vezes a gente precisa de um momento sozinha. – Comentei e Alisson veio até minha cama, se sentando na beirada.
- Você está bem?
- Estou sim, só ficando nervosa por causa do jogo. – O senti beijar minha cabeça. – Mais um jogo, mais 90 minutos, mais um adversário ferrado. – Suspirei.
- Pensa bem, , mais um jogo, depois já é a final! – Arthur falou, abrindo um sorriso e eu ri fracamente.
- Que você esteja certo, garoto. – Suspirei.
- Eu vou para o banho. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, vendo-o pegar suas coisas e logo se esconder no banheiro.
- Bom, enquanto isso... – Alisson falou, largando seus chinelos no chão e se enfiando embaixo da minha coberta na cama de solteiro.
- Com saudades? – Perguntei, virando de frente para ele, sentindo-o me segurar pela cintura.
- Ah, um pouco, precisamos de um tempinho juntos. – Ele falou. – Nem que seja sem sexo.
- Você nem tentou juntar as camas. – Falei e ele riu fracamente.
- Eu tentei, mas as mesas de cabeceira estão parafusadas no chão. – Franzi os lábios.
- Isso explica muita coisa. – Falei e ele riu fracamente. - Vocês precisam descansar muito para amanhã, aposto que o treino vai ser punk.
- Estou mais empolgado para ver nossa menina, se quer saber. – Ele falou e eu ri fracamente, apoiando a mão em seu peitoral e dando um curto beijo em seus lábios.
- Amanhã cedo. – Falei e ele levou a mão até meu rosto, acariciando de leve e colou nossos lábios novamente.
Ele intensificou o beijo e eu deixei que nossas línguas se encontrassem rapidamente. Ele desceu a mão de meu rosto até minha cintura e me segurou firme pela mesma. Ergui um pouco do meu corpo, ficando levemente debruçada sobre ele – conforme a barriga permitia – e acabei gargalhando no meio do beijo.
- Eu estou muito desajeitada. – Falei, deitando de barriga para cima de novo e o mesmo riu.
- Ah, eu vou sentir muita falta dessa quando Mini nascer. – Sorrimos.
- Em compensação, a antiga vai voltar e ela está louca para relembrar alguns movimentos. – Pisquei e ele sorriu.
- Assim que a médica liberar! – Ele falou e eu sorri, vendo-o se debruçar levemente sobre mim e colar nossos lábios novamente.
- Ah, qual é, eu não preciso ver isso. – Arthur falou e observamos o mesmo com a toalha enrolada no corpo igual mulher enrola.
- Mas já? – Alisson perguntou rápido.
- Lavou bem lá embaixo? Assim, na hora de um boquete, a Aline não deve gostar de...
- Eu só esqueci minha necessáire. – Ele gritou rapidamente e eu e Alisson nos encaramos, gargalhando em seguida. – Eu nunca mais fico com vocês.
- Desculpe... – Falei baixinho, pressionando os lábios na esperança de que eu parasse de gargalhar e, segundos depois, ele bateu a porta de novo.
- Precisamos de um quarto para dois urgentemente. – Falei, vendo Alisson se sentar na cama de novo.
- Quem sabe no Rio? – Ele perguntou e eu sorri.
- Sabe o que tem no Rio? – Perguntei, ajeitando o travesseiro embaixo da cabeça.
- O quê? – Ele perguntou.
- Meu apartamento. – Falei, piscando para ele que sorriu.
- Do jeito que essa galera é, é capaz de rolar festa se eles descobrirem.
- A ideia nem é tão ruim... – Falei, ponderando com a cabeça.

- Ah não! – Falei, assim que o elevador abriu e vi uma galera em peso lá embaixo. – Só o Lucas e a Bianca. – Falei firme.
- Ah, qual é, . Para de ser chata. – Filipe Luís falou.
- Eu não quero minha filha com más influências desde cedo. – Falei firme.
- Melhor procurar outro emprego, então. – Firmino falou e eu suspirei.
- A gente vai num consultório emprestado, gente. – Falei. – Não é para varzear.
- Qual é, só nós quatro. – Arthur falou e eu olhei para ele, Firmino, Filipe Luís e Ederson, me fazendo suspirar.
- E Lucas e Bianca. – Falei, apontando para os dois.
- Eles não precisam ir. – Ederson falou.
- Nós somos os padrinhos, dá licença? – Lucas falou, bravo e eu ri fracamente.
- Bom dia, gente! – Rodrigo apareceu com Fabio. – O que está acontecendo aqui?
- Eles querem ir junto. – Alisson falou, desanimado.
- Não dá, gente. – Rodrigo falou. – Estamos abrindo uma exceção já para Lucas e Bianca, mas só...
- Obrigada. – Falei e os quatro reviraram os olhos.
- A gente traz o vídeo. – Falei, sorrindo e os quatro saíram para o restaurante resmungando.
- Vamos? – Rodrigo perguntou e nós seis saímos do hotel, entrando na van que nos esperava na porta.
Tinha poucos torcedores na porta, mas Alisson entrou rapidamente na van e logo seguimos pelo caminho. Eu não conhecia muito de BH, nada, na verdade, mas demoramos cerca de meia hora para chegar até a clínica particular. Entramos por trás e não tivemos nenhum contato com qualquer paciente que poderia estar esperando.
- Olá, bom dia, eu sou a doutora Viviane, tudo bem? – Uma mulher com um sotaque mineiro nos recepcionou.
- Oi, tudo bem? Eu sou Rodrigo, essa é e Alisson. – Ele nos apresentou e eu sorri, cumprimentando-a.
- Então, mamãe, estou sabendo que chegou aos seis meses, certo? – Ela perguntou, nos chamando para uma sala e eu entrei primeiro, vendo o resto do pessoal me seguir.
- Sim, hoje mesmo, por sinal. – Ela deu dois toquinhos na maca e eu segui até lá, me sentando e depois deitando.
- E que está passando por grandes nervosismos devido aos jogos da competição? – Ri fracamente.
- Quem pode evitar, não?! – Brinquei e ela sorriu.
- Você pode subir a blusa, por favor, e abrir a calça? – Ela pediu e eu fiz, vendo-a colocar alguns papéis próximo à minha virilha e senti aquele gel gelado em minha barriga. - Quantas semanas? – Ela perguntou.
- Vai completar 26 amanhã. – Falei e estiquei a mão para Alisson, vendo-o se aproximar ao meu lado e segurar minha mão.
- E você tem notado algo de diferente? Está tudo bem? Ela tem se mexido normal?
- Normal. – Falei. – Claro que perto dos jogos eu acabo ficando mais nervosa e passo para ela, mas está bem. Às vezes ela se mexe bastante, outras vezes ela está mais calma, está tudo bem.
- Estou vendo que já estão aparecendo as estrias... – Ela comentou e eu suspirei.
- Não estou gostando muito, elas coçam bastante, principalmente nos seios.
- Isso se dá devido ao rápido aumento, quando o bebê nascer e quando parar a amamentação, elas costumam sumir. – Assenti com a cabeça. – E como está a vida sexual do casal? – Ela perguntou e os outros quatro curiosos fingiram desinteresse imediatamente.
- Difícil. – Alisson falou rapidamente, me fazendo rir.
- Cada pessoa tem seu tempo, existem mulheres que param logo que descobrem, outras que transam até dar à luz, é muito relativo.
- Não sei se é pelo trabalho, pelo peso extra, mas eu me sinto muito mais cansada que o normal e sinto que esse excesso incomoda durante o... – A médica assentiu com a cabeça.
- Isso é completamente normal. Você também está entrando no último trimestre, a libido da mulher cai muito nessa época, principalmente pela ansiedade e expectativa pela chegada do bebê. – Assenti com a cabeça. – Bom, vamos ver essa criança?
- Vamos. – Sorri e o pessoal se aproximou mais da maca e olhei ansiosa para a televisão no suporte próximo ao teto.
No momento em que a médica colocou o aparelho na minha barriga, eu abri um sorriso ao ver minha menina já grandinha dentro do espaço que ela tinha. A médica mexeu na máquina enquanto passeava com o aparelho em minha barriga e Alisson deu um beijo em minha cabeça, me fazendo sorrir.
No aparelho em 3D, dava para ver quase todos os detalhes da nossa menina, ela parecia completa, quase como se já estivesse pronta para nascer, mas eu sabia que muita coisa ia acontecer ainda nesses três meses.
- É uma menina, não é?! – A médica perguntou.
- Sim, Mini. – Falei e a médica sorriu.
- Sua menina está muito bem. – Ela falou. – Ela está com quase 36 centímetros, e quase 800 gramas, é o ideal para 26 semanas que ela está. – Assenti com a cabeça.
- Ela cresceu bastante nesse último mês. – Comentei.
- Do quinto para o sexto mês o bebê costuma triplicar o tamanho, é normal, agora a maioria dos órgãos já estão mais formados, como o cérebro e os pulmões, ela já tem pálpebras, a pele já está mais grossa...
- Uau. – Falei, surpresa.
- Ela é perfeita, doutora? – Alisson perguntou.
- Fisicamente sim, sempre tem os exames que fazemos na hora do nascimento, mas por enquanto, ela é perfeita. – Sorri, olhando para Alisson. – E ela está quase em posição certa de nascimento. Vocês falaram com sua médica sobre o parto?
- Ainda não. Estamos com duas médicas cuidando de nosso pré-Natal, então as coisas estão meio agitadas. – Falei, rindo fracamente.
- Bom, se continuar assim, você vai conseguir passar por um parto normal sem dificuldades. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Tomara, estou com medo dessa parte. – Ri fracamente, ouvindo o barulho do obturador.
- Você está tirando fotos? – Bianca perguntou e Lucas riu fracamente.
- Eu sou o padrinho e eu sou fotógrafo, dá licença? – Ele falou e todos rimos.
- Acho que está tudo bem, . – A médica falou.
- Tem algum perigo da bebê nascer antes da hora devido ao estresse do jogo e tudo mais? – Perguntei.
- Bom, você já passou por dois momentos bem turbulentos, certo? – A médica falou, travando a imagem e tirando o aparelho da minha barriga.
- Sim, um há quatro dias, para ser mais exato.
- E como o bebê corresponde?
- Ela se mexe bastante. – Falei.
- Teve algum sangramento? Ou ela não se acalmou após abaixar a adrenalina?
- Não que eu tenha notado. – Falei.
- Você notaria... – Ela falou e eu ri fracamente. – Não se preocupe, continue fazendo o que você faz que vai tudo ficar bem. Afinal, temos só mais dois jogos, né?! – Viramos para Alisson.
- Esperamos. – Ele falou, coçando a nuca e rimos juntos.
- Não se preocupem e aproveitem. – A médica falou e eu assenti com a cabeça.
Não demoramos muito para sair da clínica com o vídeo do ultrassom em mãos e nos juntamos na van novamente. Bianca e Lucas não paravam de falar como Mini ia ser linda e que eles já a amavam muito, como se fossem deles. Achei meio contraditório, a gente daria Mini para eles batizarem, de certa forma, eram deles, não?!
Enfim, eu só estava feliz pela minha menina se manter firme e forte depois de todo nervosismo passado e aquilo já deixava meu coração bem mais em paz. A preocupação dela estar bem sempre aparecia e era um alívio a cada mexida, mas realmente saber que ela está bem e quase inteira formada, não tinha alívio maior.
Voltamos ao hotel e encontramos o pessoal no restaurante, fazendo mil perguntas para gente. Claro que os quatro que não conseguiram ir tentaram fingir que não queriam saber, mas no momento em que o vídeo foi colocado na televisão, eles já ficaram todos babões. Nada de novo até aí. Essa menina estava crescendo no meio deles, ela realmente já era a mascotinha de todo mundo, eu queira ou não.
Na parte da tarde, seguimos para o treino, era o último treino antes do, talvez, maior e mais difícil jogo dessa temporada. Sabíamos todo o peso daquele jogo. Maior rival do Brasil, Alisson contra Messi mais uma vez, além de que a Argentina não parava de falar merda. Messi nunca deu uma entrevista na vida, quando começou a dar, a gente percebeu o porquê ele não falava muito. Eu já tinha motivos de sobra para me irritar, então Bianca cuidava dessa parte, mas tínhamos um grande desafio nas mãos, além de estar jogando no palco do sete a um.
A imprensa estava em peso no treino, em peso mesmo, então eles acabaram ocupando todo lugar que ficávamos, então optamos por andar pelo campo e evitar dar qualquer tipo de declaração desnecessária. Agora não era mais hora de conversar, agora é coisa séria.
Fernandinho já estava fora do jogo de amanhã, sua lesão não tinha tido uma melhora significante e agora ele só era dúvida se seria banco ou nada. Fernandinho era bom, mas realmente não fazia diferença, pois eu sabia que Tite priorizaria outros em caso de uma substituição.
Alisson estava mais sério do que o normal. Tite queria evitar um possível gol de falta de Messi, todos queríamos, então ele fez vários treinos de falta para tentar montar a barreira perfeita para evitar que aquele gol chegasse em Alisson. Pelo o que eu descobri, o erro daquele fatídico gol de falta não foi de Alisson, pelo vídeo você percebe que faltou míseros centímetros para ele tocar na bola, o problema foi a barreira que não subiu para pegar a bola.
Tite gritava “se não for encarar, cai fora” diversas vezes e eu sabia o que aquilo queria dizer. Só fica quem realmente fosse chamar para si, então quando os cinco jogadores da barreira foram decididos, eles treinaram até chegar à exaustão. E pela cara de Arthur, eles estavam no pico. Alisson era sério sempre e era muito difícil vê-lo reclamando, mas os nervos deveriam estar à flor da pele. Chega de gracinhas. Amanhã seria uma noite daquelas.
Mais para o fim do dia, a turminha da base do Atlético Mineiro veio assistir ao treino e os jogadores deram atenção a eles, tirando fotos e dando autógrafos. Saímos do CT do Galo quando já era noite. Agradecemos muito pela recepção, pois sabíamos que, independente do resultado, não voltaríamos para lá. Como a final era no Rio, já tinha sussurros da gente ir descansar em casa, na Granja, caso passássemos de fase. O cansaço era palpável e precisávamos realmente relaxar. Todos.
Voltando para o hotel, fomos jantar, até as vozes eram mais baixas, apesar da bagunça de sempre, os meninos especulavam entre si, mas não deixavam que aquilo afetasse o som ambiente da conversa. Alisson foi o primeiro a falar que ia subir e logo depois Arthur foi atrás. Eu fiquei enrolando um pouco com a minha equipe lá embaixo, simplesmente para enrolar. Eles tinham que colocar a cabeça em ordem e ficar de brincadeira ou de namoricos não ajudaria em nada agora.
Subi com a última leva para os quartos, quase meia-noite. Me despedi de Lucas, Bianca e Vinícius e cada um seguiu para seus quartos. Coloquei a chave na porta do quarto e o mesmo estava escuro já, sendo iluminado somente pela televisão. Arthur já roncava em sua cama, mas Alisson estava bem desperto ainda.
- Ei... – Falei baixo, encostando a porta.
- Ei. – Ele falou e eu tirei meu moletom, deixando-o em cima da escrivaninha. – Não consegue dormir?
- Mais ou menos. – Ele falou e eu me sentei na beirada da sua cama, sentindo-o levar a mão imediatamente para minha barriga em um leve carinho.
- Vai adiantar se eu falar alguma coisa para você? – Perguntei e ele deu um curto sorriso.
- Você já me conhece bem demais. – Ri fracamente, me inclinando para frente e colei nossos lábios por alguns segundos.
- Espero que sim, eu vou ter um filho seu. – Falei, vendo-o rir e me levantei. – Eu vou tomar banho, tenta descansar, ok?! Para valer.
- Eu vou tentar. – Ele falou.
- Eu te amo. – Falei.
- Eu também. – Ele respondeu e eu suspirei, vendo-o desviar o rosto para a TV novamente.
Peguei minhas roupas e entrei no banheiro. Eu poderia tentar falar alguma coisa e dar um maior apoio, mas só a gente sabe quando o problema é nosso e só nós conseguimos resolver. Amanhã o dia seria longo e tinha muita coisa para acontecer.

- Ei, as margaridas já acordaram? – Perguntei, vendo Alisson e Arthur pararem de falar quando eu abri a porta do banheiro de banho tomado e já com meu uniforme de guerra.
- Estávamos papeando um pouco. – Alisson falou.
- Falando do jogo? – Fui até minha mala, encaixando a nécessaire ali dentro.
- É, algo assim. – Arthur falou e eu virei para os dois que tinham sorrisos nervosos.
- Eu sei que é dia de jogo, mas não precisa ficar com essa cara de merda.
- Está ok, amor. – Alisson se levantou, pegou a toalha e me deu um beijo na minha bochecha. – Dormiu bem?
- Sempre e você? – Falei e ele sorriu.
- Bem também, vou tomar banho. – Ele falou e logo sumiu no banheiro. Franzi a testa, olhando par Arthur.
- Está tudo bem? – Perguntei e o mesmo franziu os lábios.
- Normal, por quê? – Ele retribuiu.
- É, vocês não são assim. – Abanei a mão e me sentei na minha cama de novo para calçar meu slipper amarelo.
- Desistiu do salto de vez? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Um sapato para cada momento. – Falei e ele riu fracamente. – Adoro meu salto, mas Mini não permite. – Rimos juntos.
Depois que os dois se arrumaram, descemos para tomar café. Após isso, os meninos seguiram para a reunião pré-jogo e eu e Bianca ficamos atendendo a imprensa, cuidando dos protocolos junto de nossa equipe de comunicação e tudo mais. Já na hora do almoço, o presidente da CBF, Rodrigo Caboclo, apareceu para ver os jogadores antes do grande embate. Era também aniversário dele, então o chef fez um bolo, cantamos parabéns e ele falou algumas palavras inspiradoras para animar os jogadores para esse jogo importante.
Na parte da tarde, por volta das duas da tarde, Leandro, Lucas e Vinícius saíram para dar uma volta com o Canarinho por Belo Horizonte. Eu até queria ir junto, mas Mini já era peso extra e o jogo seria só nove e meia da noite, com certeza eu não aguentaria até tarde hoje, então eles foram e eu fiquei. Foi até bom, quando eles voltaram falaram que foram no mercadão e estava lotado, pessoal ficou amontoado por um bom tempo, pelo menos eles trouxeram vários queijos, embutidos e doce. Para quê? Não sei, mas eu logo peguei o pote de chips de provolone e comecei a devorar um por um.
- Eita, pega leve! – Thiago falou, puxando o pote da minha mão e eu fiz bico. – Deixa para gente.
- Vocês não podem comer isso. – Alisson riu ao meu lado, passando o braço pela minha cintura.
- E você precisa maneirar um pouco. – Ele falou e eu fiz um bico.
- Ei, aonde está Marquinhos? – Percebi sua falta, normalmente ele e Thiago andavam colados.
- Acordou com diarreia. – Thiago falou e eu franzi a testa.
- E Tite sabe disso?
- Sabe sim, estão vendo o que vão fazer. – Thiago falou.
- Será que é algo que ele comeu? – Arthur perguntou.
- Nem sei, viu?! Todo mundo comeu a mesma coisa. – Ele falou e eu suspirei.
- Temos algumas horas até ir para o jogo, vamos analisando. – Falei e ele assentiu com a cabeça.

Era pouco depois das sete quando começamos a fazer o check-out e nos preparar para o jogo. Cada descida do elevador, dois ou três jogadores desciam do mesmo e eu ficava com Bianca fazendo a checagem deles. Não voltaríamos mais para o hotel, se tudo desse certo, como eu tinha esperanças que sim, chegaríamos na final e iríamos para a Granja para fazer os últimos trabalhos lá.
Alisson piscou quando desceu com Arthur e Everton e eu acenei rapidamente, vendo-o seguir para fora com os torcedores dentro e fora do hotel gritando por eles. Outro elevador e de lá saiu Jesus, Firmino, Paquetá, Allan e Casagrande, da Globo.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei rapidamente.
- Deixa quieto, , é fogo de palha. – Jesus falou, seguindo para fora do hotel e olhei firme para Casagrande.
- Acho que você não deveria estar aqui. – Falei, olhando firme para ele.
- Já estou saindo. – ele falou, se retirando pelo outro lado.
- O que aconteceu? – Perguntei para Allan que ficou ao meu lado esperando o próximo elevador.
- Ele meio que zoou o Gabriel por não fazer gols, que estava igual na Copa do Mundo... – Suspirei, revirando os olhos.
- Esses caras só vêm para subtrair, mano. É hora de deixá-lo nervoso? Não! – Suspirei.
- A gente brincou com ele, mas ele ficou bem caladinho, não foi grosso, nem nada.
- Menos mal. – Bianca falou.
- Só me falta essa agora, ter que ficar de babá até dentro do elevador. – Comentei e virei para Allan. – Obrigada, pode indo, se quiser. Sem cair hoje, hein?!
- Estou firme. – Ele falou e eu sorri, dando um leve tapinha em seus ombros e o vi seguir pela saída.
- É encrenca atrás de encrenca, cara! – Bianca falou e neguei com a cabeça.
- Foram todos. – Falei, vendo o último elevador abrir com Coutinho, Cássio e Dani Alves.
- Partiu, então! – Bianca falou e seguimos atrás deles.
Acenamos para o gerente do hotel, ouvindo os gritos dos torcedores do lado de lá das grades e segui pelo caminho com Bianca ao meu lado. Entreguei a prancheta para o motorista do ônibus e ele assentiu com a cabeça. Subi no ônibus com Bianca, nos sentando nos dois lugares vagos e logo ele estava em movimento.
O Mineirão era padrão FIFA e, para ajudar, ficava em um lugar bem privilegiado, próximo a um rio ou lago que eles tinham em BH, então quando ele estava aceso, uau. Ele ficava realmente divino. O ônibus teve um pouco de dificuldade para passar pelo trânsito, mas chegamos ao estacionamento. Eu e Bianca descemos na frente e seguimos os organizadores pelas placas até o nosso pequeno vestiário.
Ele não era exatamente muito confortável para a delegação inteira, era literalmente um quadrado e teríamos que nos encaixar ali. Os jogadores começaram suas preparações, eu e toda equipe de comunicação começamos a nos preparar. Sorte é que tinha uma sala atrás do vestiário, que foi aonde nos encaixamos para separar nosso material.
Rogério Caboclo estava lá todo animado cumprimentando os jogadores e eu só seguia no embalo. Aproveitei para beber uma garrafa de Gatorade de maracujá e fazer um carinho em minha barriga, tentando manter Mini calma para o que viria a seguir. Eu realmente não sabia o que esperar.
Já tivemos jogos que começaram mal e ficaram ótimos, jogos ótimos que ficavam no zero a zero, jogos que choveram gols e jogos com pênaltis. O melhor para mim, até agora, foi o do Peru, depois do terceiro jogo eu fiquei bem relaxada, mas pensando no nosso adversário, tinha mais chances das outras três opções.
Puxei meu celular do bolso, puxando as notificações e vi diversas mensagens, minha irmã querendo saber como estava eu e o bebê, Bernardo animado com os vídeos e fotos que eu aparecia nas postagens da CBF e Aline preocupada com Arthur. Abri a mensagem, franzi a testa e abri a mensagem.
“Oi, , tudo bem? Como estão os nervos aí hoje? Percebi que Arthur estava meio calado hoje”. – Suspirei, colocando os dedos para digitarem.
“Oi, Li, tudo bem e aí? Ah, dia de jogo é foda assim mesmo. Ele ficou no meu quarto e do Alisson e ele estava normal, mas o nervosismo deve ter pego ele. Não se preocupe, vai dar tudo certo”. – Respondi.
“Você está confiante mesmo ou só está tentando me deixar melhor?” – Ela perguntou e eu ri fracamente.
“Ah, sabe como é, né?” – Mandei uma carinha piscando junto e guardei o celular no bolso, me fazendo atravessar o vestiário lotado e chegando no cantinho de Arthur.
- Ei, tá tudo certo? – Perguntei, apoiando o braço na divisória.
- Está sim, por quê? – Ele perguntou, trocando a blusa.
- Aline está um pouco preocupada. – Comentei.
- Só nervosismo. – Ele disse e eu assenti com a cabeça.
- Foi o que eu falei para ela. – Ele riu fracamente e eu me afastei novamente.
Olhei em volta o pessoal se arrumando e vi Alisson conversando com Rodrigo Caboclo e Taffarel, chequei o horário e estava perto dos goleiros irem treinar. Fui até o corredor, aonde tinha algumas comidas e peguei um pedaço de melancia. Eu estava grávida e era boca livre, eu precisava me manter bem por causa do bebê. Acabei ouvindo a conversa de Alisson.
- Eu vou ver o que posso fazer. – Rodrigo falou. – Creio que vai ser fácil.
- Eu só dependo disso para colocar meu plano em prática. – Alisson falou e eu franzi a testa.
- Vamos conversando, ok?! Temos alguns dias ainda. – Rodrigo falou e os olhos de Alisson se ergueram para os meus e eu desviei, voltando a focar na minha melancia.
- Está com fome, hein?! – Ele comentou e eu dei de ombros.
- Grávida! – Falei e ele riu enquanto o resto do grupo se dispersava. – Termina de se arrumar, precisam ir treinar. – Falei e Taffa assentiu com a cabeça, se afastando um pouco.
Finalizei minha melancia, dei uma passada no banheiro para lavar as mãos e checar se eu estava apresentável e aproveitei para colocar o casaco. Era Minas, com certeza mais fresco do que no Sul, mas eu sabia que ia esfriar aqui. Observei os goleiros saindo quando eu voltava do banheiro e os segui, alcançando Alisson.
- Ei! – Ele falou, passando o braço pelo meu ombro e eu sorri.
- Sem querer ser a namorada enxerida, mas sobre o que era o papo? – Perguntei, andando pelos túneis com ele.
- Ah, a gente vai ter um tempo de férias depois da competição, estou pensando em ficar por aqui, mas vou precisar de um canto para fazer o pré-treinamento, queria saber da possibilidade. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- E existe? – Perguntei.
- Ele vai ver. – Ele falou, assentindo com a cabeça e eu franzi os lábios, confirmando.
- Ei, olha quem está aqui! – Vi o grande Cafu antes das escadas e o mesmo abriu aquele largo sorriso de sempre.
- Senhorita . – Ele falou, estendendo a mão e eu sorri, abraçando-o rapidamente.
- Feliz que lembra de mim. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Claro! E agora com um bebê? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Culpado! – Alisson falou, cumprimentando-o. – Eu vou lá. – Alisson falou e eu assenti com a cabeça. – Prazer te ver. – Ele falou para Cafu e ele deu alguns tapinhas em suas costas.
- Então, com esse barrigão e encarando a competição? – Ele perguntou.
- Não está sendo fácil, preciso admitir. – Falei e ele riu fracamente.
- Depois do jogo do Paraguai, então? – Neguei com a cabeça.
- Nem lembra, não aguento aquilo de novo nem se me pagarem todo dinheiro do mundo. – Rimos juntos.
- Vamos torcer para não chegar a isso hoje! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, vendo o time de azul começar a aparecer.
- Bom, deixa eu ir que o campo está ficando minado! – Falei, subindo os degraus e ele sorriu.
Apesar da pouca afinidade de boa parte do Brasil com a Argentina, eu amava dois argentinos que jogavam na Juventus e um deles estava ali, Paulo Dybala. Eu já tinha conhecido-o no Superclássico das Américas, mas realmente não esperava que ele me conhecesse. Ele não parou para me cumprimentar, nem nada do tipo, mas ele acenou para mim, deu um sorriso e seguiu seu caminho.
Eu realmente não tinha noção, mas estava começando a ficar influente nesse mundo de futebol até demais. Só queria que essa influência me ajudasse um pouco no meu maior dilema durante toda essa competição.
Os treinos foram feitos, eles voltaram para dentro e logo estavam prontos para o verdadeiro confronto. Eu respirei fundo, aproveitando um pouco sozinha para fazer minha reza, mas logo Tite e Dani começaram a falar e eu não consegui mais me concentrar. Eu só sabia que a gente precisava ir bem, a qualquer custo.
- É isso, galera, já está tudo falado. Chegou só o momento de darmos o passo para o nosso objetivo principal. É muito sofrimento, muita ralação, mas com essa alegria, com esse prazer em fazer as coisas, ninguém tira isso de nós. – Dani falava. – Ninguém tira de nós! Com essa mesma alegria a gente vai até lá, então vamos! – Ele falou firme e o pessoal começou a grita animado.
Abracei os jogadores enquanto eles passavam pela roda e dei um abraço mais forte em Alisson, apertando-o pela cintura. Ele deu um pequeno sorriso, colando os lábios nos meus delicadamente e assentiu com a cabeça, daquele jeito de sempre de dizer que tudo estava bem. Fiz um carinho leve em seu rosto e suspirei.
- Vai dar certo! – Falei firme e ele sorriu, me abraçando mais uma vez e deixando mais um beijo em meus lábios.
Vi os jogadores terminarem os cumprimentos e começarem a sair um por um. Engoli em seco, vendo a sala esvaziar e fiz um sinal da cruz, olhando para o teto.
- Pai, estou eu aqui de novo. O Senhor me deu um presente há um mês, agora eu estou atrás de outro. Por favor, se for do Seu desejo, deixe que eles ganhem hoje, mas só se pudermos conquistar a final no domingo. – Suspirei. – E se não pudermos, nada de sete a um, ok?! Que seja de igualdade. – Engoli em seco.
- Conversando sozinha? – Virei o rosto, vendo Serginho, o massagista.
- Não exatamente. – Apontei para cima e ele assentiu com a cabeça.
- Vai dar certo, minha filha. – Ele falou, me abraçando fortemente e eu sorri.
- Que o senhor tenha razão. – Sorri.
- Agora vai, não vai querer perder um espetáculo, não é mesmo? – Ele falou, me fazendo rir fracamente.
Saí do vestiário, seguindo pelos corredores internos e os jogadores já estavam posicionados na fila com as crianças ao seu lado. Respirei fundo, tentando guardar aquele momento em minha cabeça, pois dali 90 minutos a história seria outra. Ou melhor, seria história ou não.
- Vamos, galera! Vamos! – Gritei para meu time, batendo palmas e eles responderam com gritos também, confesso que adorei ver a Argentina, inclusive senhor Messi com cara de tonto.
Pisquei para Alisson quando passei por ele, o mesmo tinha um sorriso engraçado no rosto e subi os degraus, seguindo para meu canto. Fui para o nosso banco de reservas, cumprimentando o pessoal um por um e encontrei Bianca no fim do banco, como era de praxe e me sentei ao seu lado.
- Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou.
- Não, só estava batendo um papinho com Deus. – Falei e ela sorriu.
- E como foi?
- Te conto em 90 minutos! – Falei e ela riu, me abraçando de lado.

Os protocolos começaram e os jogadores entraram na formação de sempre, Dani Alves, Alisson, Marquinhos – que mesmo com diarreia decidiu enfrentar -, Thiago Silva, Alex Sandro, Casemiro, Arthur, Coutinho, Jesus, Everton e Firmino. Os hinos foram cantados, os cumprimentos tensos foram feitos, as flâmulas foram trocadas e a moeda foi jogada. Realmente não tinha para onde fugir mais.
Os jogadores se separavam e eu me sentei novamente, apoiando os cotovelos nos joelhos e o queixo nas mãos. Precisávamos só de 90 minutos, só isso para seguirmos para a próxima fase. Observei Alisson já em sua posição no gol e eu suspirei, fechando os olhos por alguns segundos. Tentei me desligar de tudo, dos sons, das buzinas, dos gritos e vaias, principalmente do nervosismo dos reservas e equipe ao meu lado.
Tudo ficou silêncio por alguns segundos, talvez um minuto, de repente o apito foi soado e tudo voltou na mesma intensidade, abri os olhos com a esperança de que dessa vez daria certo. Precisava dar certo.
O Brasil tentou o ataque logo no primeiro minuto de jogo, apesar do jogo paralisado devido ao impedimento, Firmino tentou um chute no goleiro e o mesmo defendeu na segurança. O tempo foi passando e a Argentina meio sumida da competição começou a aparecer, mas sem nenhuma jogada muito relevante. Antes dos primeiros 10 minutos, Tagliafico fez uma falta em Jesus, ganhou cartão, e eu sentia que era a primeira de muitas, tanto faltas como cartões. Hoje ia chover falta.
Alguns minutos depois a Argentina teve sua primeira real tentativa. O cara, número cinco, meteu uma bomba de meio de campo que meu coração parou de repente. Alisson pulou e foi para o mesmo lado da bola, mas por sorte, Deus ou força do destino, a bola foi para fora.
Os meninos marcavam Messi como se marcassem a mãe. Casemiro e Messi eram uma competição antiga devido aos times serem adversários diretos, então o negócio estava equilibrado. Além de Arthur que jogava com Messi e hoje tinha o trabalho de marcar o suposto melhor jogador da noite. Eu tinha minhas dúvidas. Para mim, o melhor jogador argentino da noite estava no banco.
- Não briga, caralho! – Falei, me levantando.
Para deixar tudo mais feliz, por algum motivo, Coutinho e Paredes começaram a discutir, até o argentino empurrar Coutinho e Acuña, Jesus, Arthur e Firmino aparecerem pra apartar a possível briga.
- Isso, afasta! – Falei, vendo Paredes sair de perto e suspirei.
Jesus teve uma oportunidade com o caminho livre só para ele, mas a defesa argentina fechou em cima dele e a bola saiu pela lateral. Alguns segundos depois, Dani conseguiu refazer o jogo e chegou cortando a defesa argentina. Ele passou para Firmino para fez o cruzamento rasteiro, encontrando Jesus. O mesmo ergueu a bola e chutou, mandando a mesma para o fundo do gol.
- GOL! – Gritei junto do estádio, me levantando e alguns jogadores foram para beirada do campo. – Isso, garoto! – Suspirei.
- É o primeiro dele na competição, não?! – Bianca perguntou.
- É, e ele compensou bem. – Sorri, suspirando.
Alguns segundos depois a Argentina tentou fazer o repasse, e eu achei que agora eles iriam fazer o primeiro e ferrar com a clean sheet do Alisson. Em uma cobrança de falta no meio de canto, Messi chutou, e a bola encontrou a cabeça descolorida de um argentino. Ele fez o toque e só vi Alisson e a bola no movimento junto. Prendi a respiração. A bola sumiu por um momento, enquanto Alisson ainda estava no chão. Thiago, Marquinhos e sei lá mais quem foi em cima e só vi a bola sair pela tangente depois de uma cabeceada de Thiago.
- Ah, meu coração. – Falei, me afundando na cadeira novamente.
- Ele sentiu. – Taffa comentou ao meu lado e vi Alisson se levantar, meio desajeitado.
- Não, amor, agora não. – Suspirei, vendo-o fazer um sinal de tudo bem para os médicos que já estavam do lado e fechei os olhos por um tempo.
- Está tudo bem. – Taffa falou e eu mordi meu lábio inferior, incapaz de falar algo.
Poucos minutos depois, em outra tentativa argentina, Aguëro, o tal descolorido, tentou novamente, mas a bola espanou nas pernas de Marquinhos, indo para fora. Segundos depois, Messi veio em uma driblagem absurda, ele derrapou Arthur, depois Alex Sandro e só o via chegar perto do gol. Ele fez o chute, mas aliviei quando vi que a bola estava muito alta.
O Brasil tentou chegar de novo, mas a bola bateu no braço de Coutinho e o juiz até sinalizou, mas não deu mais do que uma parada e retorno de bola. Em uma divisão de bola algum tempo depois, foi a vez de Dani e Acuña se estranharem. Dani era mais comportado que Coutinho, então ele se afastou, mas fez um gesto bem zoeiro com as mãos do tipo “ah, me poupe, né?” Foi a vez dos dois levarem cartão.
Quase no finzinho do segundo tempo, meu menino Arthur tentou fazer um gol, a bola foi fraca, ele caiu no meio do caminho e ainda o goleiro pegou, mas era bom ver que estava todo mundo com o mesmo foco real.
O juiz chegou a dar dois minutos de acréscimo e a Argentina até tentou criar uma chance de ataque, mas o juiz queria acabar logo com aquilo. Suspirei, satisfeita com o resultado, mas nervosa por saber que um gol era pouco para eles se aproximarem, mas ok, agora eu estava mais preocupada com meu namorado que tinha se matado durante um lance e ainda tínhamos 45 minutos de jogo.
Os jogadores e equipe técnica começaram a sair apressados pelo túnel e eu preferi também não esperar pelos jogadores, então comecei a sair junto, virando aquele rebuliço enorme nas escadarias que iam para baixo. Os jogadores e equipe brasileira juntaram com a equipe argentina e de repente eles estavam em um bate-boca que eu não fazia a mínima ideia como aquilo tinha começado.
Era argentino xingando em espanhol e brasileiro xingando em português. O técnico argentino apontava para Tite e o mesmo tentava ir por cima, isso fazia com que as equipes técnicas se tretassem também e tinha alguns sensatos que tentavam apartar. Olhei para Bianca que também não devia estar entendendo nada.
- Você vai se meter? – Ela perguntou.
- Eu estou grávida. – Falei e ela respirou fundo.
- Mas que... – Vi Alisson ao meu lado e eu respirei fundo.
- Só entra! – Falei firme, seguindo pela lateral direita, me espremendo entre as pessoas e segui pelo corredor, vendo os jogadores passarem por mim.
- Todo mundo para o fundo! – Cléber falou e eu entrei apressada no vestiário, dando espaço para os jogadores seguirem para o fundo.
Esperei os jogadores se amontoarem lá no vestiário, os jogadores em campo nos colchonetes e, quando o campo estava limpo, eu me apoiei na divisória entre as duas salas. Matheus trouxe a lousa de tática, Cléber se colocou na lateral e observei Alisson tirar a blusa e se sentar em uma maca encostada na parede.
Estávamos juntos há mais de um ano, oficialmente juntos há quase um ano, tínhamos transado logo no primeiro dia, eu estava grávida dele por fogo dos dois, mas eu ainda mordia o lábio inferior quando o via assim. Ele tem aquele corpo estranho de jogador de futebol, mas meu namorado é gostoso para caralho.
Observei Serginho massageá-lo na lombar e sabia que ali tinha sido o ponto de impacto. Tite falava alguma coisa sobre fazer pressão em algum setor, fazer a finta, que fazer a finta, gente? Parecia que ninguém nunca prestava atenção nisso.
- Vamos lá! – Ele falou e eu chequei o relógio, ainda faltava uns três minutos.
Os jogadores começaram a sair da sala do fundo e eu me intrometi entre eles, me aproximando de Alisson, vendo-o procurar pela sua camiseta.
- Ei, como está? – Perguntei, vendo-o erguer o rosto.
- Está tudo bem. – Ele falou, como se me acalmasse.
- Não foi o que me pareceu. – Falei e ele vestiu sua segunda pele, puxei a mesma para baixo, ajeitando em seu corpo.
- Dei mal jeito no quadril, mas estou pronto para mais 45 minutos. – Ele falou.
- Espero que para muito mais. – Comentei e ele deslizou a blusa verde pelo seu corpo.
- Estou bem, amor. Está tudo certo. – Ele falou, ajeitando a blusa nos ombros e passou os braços na minha cintura.
- Ok, ok, então arrasa e não me assusta mais. – Falei, me aproximando dele, colocando uma perna entre as suas e aproximei a boca de sua orelha. – Talvez você tenha uma recompensa mais tarde. – Falei, estalando um beijo em seu pescoço, deixando uma pequena marca de batom.
- Agora você está afim? – Ele perguntou e eu afastei o rosto, erguendo os ombros. – Filha da mãe! – Ele falou, me fazendo rir.
- Às vezes eu esqueço o que está por de baixo do uniforme e eu adoro ver suas defesas. – Comentei.
- Você sabe que temos mais ou menos cinco horas para ficarmos sozinhos, certo? – Ele perguntou.
- Umas sete, na verdade. – Dei de ombros.
- Fala sério. – Ele jogou a cabeça para trás. – Aguenta esse pique, pelo amor de Deus. – Rimos juntos.
- Mantém esse jogo que eu aguento. – Pisquei, me afastando um pouco dele. – Vamos?
- Não acredito! – Ele falou realmente incrédulo e eu ri fracamente, vendo Bianca vir até mim.
- O que você falou para ele? – Ela perguntou.
- Só falei que estou excitada. – Dei de ombros.
- Agora? – Ela quase gritou para mim e eu ri fracamente, seguindo para fora do vestiário junto dela. – Ele deve querer te matar.
- Talvez. – Pisquei para ela.
- Caramba, o cara tá na seca há sei lá quanto tempo e tu me quer transar agora? – Ela perguntou e eu bati nela.
- Não precisa anunciar para todo mundo e nem faz tanto tempo assim, tá?! – Dei de ombros. – A gente tem essa impressão por causa da competição, mas está tudo bem.
- Eu deveria te matar por ele.
- Se você me matar, Alisson te mata. – Falei, e ela revirou os olhos. – Chega de papo! – Falei quando encontramos os outros jogadores e equipes e voltamos juntas ao banco de reservas, nos ajeitando novamente.

Para o segundo tempo, Tite tirou Everton, que não conseguia jogar bem devido à grande marcação em cima dele e colocou Willian. Os jogadores se colocaram em posição e eu respirei fundo. Vamos, senhor, só mais 45 minutos.
O jogo começou morno, era palpável o nervosismo da Argentina em seguir naquela competição, mas agora eram nós ou eles, os dois não tinha como. Aos quatro minutos, Agüero, o jogador que estava fazendo muito mais do que Messi, tentou um chute rasteiro de fora da grande área. Alisson pegou ligeiro, mas cada queda eu ficava mais preocupada de algo mais sério acontecer. Dois minutos depois Messi fez outro passe e um companheiro fez o chute, mas a bola foi por cima do travessão.
Mais perto dos 10 minutos, Jesus queria fazer mais um, ele veio driblando desde o meio de campo os argentinos, mas quando passou para Coutinho, o mesmo foi empurrado e o chute saiu pela direita do gol. Devido à falta, um argentino acabou levando mais um amarelo no jogo.
A Argentina aproveitou o contra-ataque para firmar. Agüero fez o passe para Messi que tentou firmar na lateral esquerda e fez o chute. Alisson pulou para defender e a filha da puta da bola foi direto para os pés de Messi de novo.
- Ah, não! – Me levantei num impulso.
Messi fez a bola subir na frente do gol. Thiago subiu e cabeceou a mesma. Messi encontrou a bola antes da mesma sair pela linha de fundo e tentou mais uma vez. A bola passou por baixo da perna de Alisson e seguiu lambendo a linha de frente do gol e Marquinhos tirou a mesma quando encontrou ela do outro lado.
- Ah, meu coração! – Me sentei novamente, sentindo Mini sacudir um pouco dentro de mim.
- Calma, passou! – Bianca falou e eu me sentei.
- Como você consegue ficar tão calma? – Perguntei.
- Eu fico nervosa também, mas estou preocupada contigo. – Ela falou firme. – Você e a Mini são prioridades. – Suspirei.
- Chegamos até aqui, vamos que vamos! – Falei, esticando a mão para ela e ela segurou firme.
Alex Sandro tentou um contra-ataque, mas o Martinéz o empurrou e acabou levando cartão amarelo. Só mais um do dia. A argentina tentou continuar e em uma tirada de Dani e Messi, o argentino acabou caindo e eu franzi a testa ao ver o juiz apitar.
- Não é pênalti, não é pênalti. – Bianca sussurrava ao meu lado e eu observei os movimentos do juiz.
- Ah, não! – Reclamei.
- O quê? – Ela perguntou.
- É falta. – Falei quase em um choramingo e a imagem do jogo de ida Liverpool e Barcelona veio em minha mente, me fazendo respirar fundo, quase hiperventilando.
- Calma, . Tá tudo certo.
- Não está tudo certo. – Falei baixo.
- Confia, , confia! – Taffa falou. Duas pessoas para o lado e eu mordi meu lábio inferior, a barreira começou a se formar e Messi colocou a bola na posição.
- Eu confio, eu confio. – Falei baixo, levando uma mão na boca e mordendo minha unha com o esmalte já todo descascado.
Eu vi o lance em câmera lenta. O juiz apitou e Messi correu. Sua perna se movimentou e o pé atingiu a bola. A bola fez aquela parábola e, apesar da defesa ter pulado, ela passou raspando por cima. A bola foi se aproximando de Alisson e a velocidade voltou ao normal quando ele pulou a pegou a bola e já saiu jogando.
- Isso! – Falei, animada, pulando em meu lugar.
Tivemos uns cinco minutos sem lances interessantes, a bola ia e vinha como se fosse peteca. Jesus teve uma oportunidade com a defesa vazia da Argentina e saiu igual louco, tentando desviar ou driblar os números dois e 17, esse último saiu rolando assim que entrou na grande área. Não foi marcado como falta, então Jesus continuou e passou a bola para Firmino. O mesmo, de cara com o goleiro, meteu a bola para dentro do gol, sem tempo da defesa se formar próximo dele novamente.
- GOL! – Gritei, animada, vendo o pessoal pular animado dentro do estádio, inclusive algumas pessoas que correram em direção aos jogadores.
- Vamos, ! – Taffa falou, me abraçando em seguida e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- Eu não aguento mais! – Falei, rindo e ele sorriu.
- Vamos, só mais 25 minutos! – Ele falou e eu suspirei, fazendo aquela conhecida cara de sofrência.
Não deu dois minutos do gol e a Argentina começou a dar falta para quem quisesse, no mesmo lance, Coutinho levou uma rasteira e Firmino levou uma cotovelada na cara. Antes do juiz se aproximar, o tal do Martinez começou a provocar Firmino e todo mundo foi logo em cima, inclusive os jogadores do banco quase invadiram o campo para isso.
O número cinco da Argentina também começou a provocar Casemiro e o mesmo o encarou, tocando no rosto como quem diz “bate mesmo”. Arthur, Miranda e Jesus tentaram, até Alisson apareceu no meio da briga, afastando Casemiro e Arthur. Choveu cartão aí, inclusive um para o técnico da Argentina. A merda estava feita e eu não sabia o que pensar.
O jogo passou e outra falta foi feita em cima da Argentina de novo. Eu sabia que alguma força estava me irritando, não dava para ter outra falta de Messi em cima de Alisson, simplesmente não dava! Ok, ele fez um gol e Alisson defendeu outra, estava empatado, não dava para pagar para ver, senhor. Além de que dois a zero era um placar lindo, não acha?
A barreira se montou como antes e dessa vez minha câmera lenta não ligou, ele preparou e chutou. Minha barreira se levantou e foi como se eu tivesse voltado para os treinos. Tite gritando diversas vezes “se tem medo, sai da barreira” e foi aí que eu vi Thiago meter a cabeça na bola e a mesma sair pelo fundo de campo. Sorri ao ver Alisson comemorar e relaxei o corpo na cadeira.
- Isso, meu amor. – Suspirei, apoiando os cotovelos nos joelhos novamente e inclinando o corpo para frente.
Alguém mais gosta do Alisson esculachando o Messi? Eu acho a visão mais perfeita do mundo. Messi com aquela cara de quem comeu e não gostou em mais um lance com meu namorado. Aquilo não podia ser mais perfeito.
No momento que Jesus foi substituído por um ralado no joelho que saiu até sangue, ele saiu aplaudido e foi bom ver o pessoal feliz por ele finalmente ter feito seu gol e agora poderia descansar em paz, deixando Allan para finalizar o serviço.
O jogo seguiu e a Argentina até tentava, mas Alisson estava trabalhando para caramba, ele pulava, se jogava no chão, se arrastava, mas segurava firme aquela bola. Em cobrança de escanteio, a defesa tirou e o contra-ataque foi nosso. O jogo foi passando e os minutos foram se seguindo, eu estava louca para ver aquilo finalizar.
Abri um sorriso quando o auxiliar levantou o tempo e deu quatro minutos de acréscimo. Era bastante, mas era quatro minutos para gente finalmente ir para uma final. Respirei fundo, me levantando junto com os reservas e eles começaram a se amontoar na beirada do campo, esperando os lentos segundos finais passarem.
O Brasil tentou mais um lance, mas a bola foi retirada de cabeça pelo número dois. Era agora, a gente ia para final, caralho. Depois de um ano com aquela eliminação entalada na garganta, a gente ia para uma final, caralho. Em casa ainda!
O juiz apitou o fim de jogo e os reservas saíram correndo para o meio de campo. Eu só respirei, aliviada, abrindo um largo sorriso e levei a mão para o céu, da mesma forma que Alisson fazia quando entrava em algum jogo.
- Promessa é dívida, hein?! – Falei, olhando para o céu e senti um pessoal pulando em cima de mim, me abraçando fortemente.
- Estamos na final! – Ouvi Ederson gritar na minha orelha e eu gargalhei, vendo-o sair correndo para o centro do gol.
Observei as diversas reações do pessoal e eu só consegui ficar parada, olhando para uma das cenas mais lindas que eu tinha presenciado durante meu ano como funcionária do mundo do futebol. Alguns gritavam, outros pulavam, a equipe da Argentina chorava e eu só conseguia ficar travada no meu lugar com um largo sorriso no rosto, contente com tudo o que tinha acabado de acontecer.
Observei um pontinho verde passar por trás do pessoal e seu sorriso se abriu quando encontrou com o meu. Ele desviou do pessoal e eu saí correndo em sua direção, pulando em seu colo quando nos aproximamos.
Ele segurou minhas coxas com as mãos firmes e me girou no ar, me fazendo gargalhar e apertar as mãos em volta do seu pescoço. Ele parou e eu afastei o rosto do dele, olhando-o um pouco mais alta que ele. Ele abriu um largo sorriso e eu inclinei meu corpo para frente, colando nossos lábios em um curto beijo.
- Vamos para uma final, amor. – Falei com os lábios ainda colados e ele deslizou meu corpo para o chão.
- Vamos para uma final! – Ele falou, rindo fracamente e eu passei os braços ao redor do seu pescoço, com um lago sorriso no rosto.
- Trabalhou hoje, hein, goleirão? – Brinquei, apoiando as mãos em seu peitoral e ele riu fracamente.
- Hoje foi tenso. – Rimos juntos.
- Sem mais trauma pela falta daquela coisinha argentina? – Falei, ouvindo-o rir.
- Não, estou na paz. – Ele falou. – Ainda está excitada? – Ele perguntou baixo e eu gargalhei, dando um tapa em seu ombro.
- Mais do que antes. – Pisquei e ele sorriu.
- Isso, galera! – Taffa apareceu e eu afastei para deixá-lo abraçar Alisson e vi Lucas correndo em minha direção e deixei que mais alguém me abraçasse e me girasse para aproveitar essa vitória.

Acabei ficando para trás até todo mundo entrar e voltei para o vestiário já ouvindo os batuques altos da galera e sorri, cumprimentando um pessoal que estava no meio do caminho. Entrei no nosso pequeno vestiário e Tite sorriu para mim, me abraçando fortemente e eu retribuí.
- Estão firmes aí? – Ele perguntou, sua voz abafada pelo batuque dos meninos.
- Firmes e fortes. – Falei, sentindo-o me soltar e fui até o vestiário, apoiando o corpo no batente, ao lado de Alisson que já tinha tirado as chuteiras, meias e luvas.
- Como foi com a imprensa? – Ele perguntou.
- Um banho de sangue, para variar. – Brinquei, piscando e ele sorriu, me puxando para sentar em seu colo e, do nada, colou nossos lábios, me fazendo gargalhar e o pessoal à nossa volta começou a nos zoar. – Alguém está empolgado, hum? – Brinquei e ele sorriu.
- Preciso te manter empolgada por mais algumas horas. – Ele falou.
- Preciso lutar contra o sono antes. – Falei.
- Temos uma viagem até o aeroporto, outra até o Rio e outra até Teresópolis para encarar, você descansa. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Confesso que aquele banheiro me parece bem tentador às vezes... – Cochichei, acariciando seu pescoço.
- Só se a gente quiser ser zoado pelo resto da vida. – Ele respondeu e eu ri.
- Melhor não. – Fiz uma careta e ele colou os lábios nos meus de novo.
- Vamos dar um tempo, casal? – Ouvi uma voz e virei o rosto, vendo Neymar entrando no vestiário e me levantei.
- Ah, Ney! – Ele me abraçou fortemente e eu sorri.
- Como estão minhas meninas? – Ele perguntou, acariciando minha barriga em seguida e eu ri fracamente.
- Bem, calmas e contentes! – Falei rindo e ele foi abraçar Alisson.
O batuque começou a rolar solto e eu sabia que aquilo ia demorar para acabar. Willian havia sentido a coxa no final do jogo e já começou a fazer tratamento com o fisioterapeuta, mas o resto da galera estava animada demais. Filipe Luís dançando ainda era a pior imagem que eu tinha na minha cabeça dele. Era difícil, viu?!
Alguém achou na TV os melhores momentos do jogo e eles começaram a gritar em cada olé da Argentina e comemorar gol como se eles não tivessem acabado de participar do jogo e eu só gargalhava. Ver Alisson feliz era muito bom, mas já passava da meia-noite e o cansaço começava a pesar. Só esperava realmente aguentar até a chegada na Granja, pois agora eu tinha excitado meu namorado e não poderia dar para trás.
- Au, au, au, ‘tamo junto na final! – Eles começaram a gritar e pular e eu adorava como Alisson parecia encabulado nessas situações.
Os minutos passavam e a adrenalina deles não passava, a maioria ainda estava de uniforme, ninguém tinha tomado banho e eu nem lembrava mais que horas era nosso voo, só sabia que iríamos para Granja ainda hoje, e o Rio não era tão perto de Teresópolis assim. Minha adrenalina já tinha sumido faz tempo, mas eu não conseguia deixar de sorrir.
- Vamos juntar, galera! – Tite gritou umas duas vezes até que eu conseguisse ouvi-lo e o pessoal começou a abrir a roda e se abraçar fortemente. – Vamos, galera!
- Eu falei que a mesma alegria que a gente ia, a gente ia voltar. – Dani falou, fazendo o povo ficar quieto. – E por isso, obrigado. – Sorri, assentindo com a cabeça.
- Ninguém sozinho chega a lugar nenhum. É toda a equipe que trabalha, todo mundo foi responsável por isso. Se algum aqui fraqueja, o outro está aqui para ajudar. Isso não é dos jogadores, isso é nosso, de todo Brasil e a gente vai conquistar essa. – Ele falou e o pessoal começou a comemorar.
- A foto! – Lucas gritou, aproveitando o pessoal quieto para fazer a foto em grupo e eles começaram a se amontoar no centro do vestiário e eu olhei mais uma vez para o pessoal com um sorriso no rosto. Não tinha mais o que fazer hoje.
- Vem, amor! – Alisson gritou e eu neguei com a cabeça.
- Olha a carinha dela! – Taffa gritou e eu ri fracamente. – Tá querendo xingar muito.
- Foram as brigas? – Casemiro gritou e eu sorri.
- As faltas? – Alisson entrou na onda deles.
- Os cartões, certeza! – Jesus falou e eu ri fracamente.
- Não, galera, hoje não tenho nada para falar não. – Falei, vendo o pessoal gargalhar. – Na verdade...
- Ah, pronto! – Jesus falou, me fazendo rir.
- Calma, calma! – Abaixei as mãos, pedindo para eles abaixarem o ânimo.
- Fala! – Alisson falou e eu abri um largo sorriso.
- Agora só falta mais um! – Gritei, vendo o pessoal comemorar e eu corri por entre o pessoal, me colocando entre Alex Sandro e Leandro, sorrindo para os flashes de Lucas.
É, galera, agora só falta mais um.


Capítulo 23 – O Descanso é Merecido.

A festa seguiu por mais quase duas horas. Até todos os jogadores tomarem banho, a gente organizar a galera e sair dali, o horário já tinha passado faz tempo. Então aproveitamos para jantar, a maioria estava só com a janta antecipada no estômago, e depois seguimos nosso caminho. Chegamos no aeroporto quase três horas da manhã.
Alisson tinha se distraído com o pessoal, mas assim que sentamos no avião, eu sabia que ele faria qualquer coisa para me manter excitada, mas para aguentar isso, eu precisava dormir um pouco. Então, enquanto ele acariciava a parte interna da minha perna, inclusive um pouco mais em cima, eu tentei dormir.
Apesar do carinho dar palpitações em minha intimidade, eu segurei firme sua mão e dormi logo que o avião levantou voo. Acordei uma hora depois quando pousamos no aeroporto do Galeão e todos entramos no ônibus. Já era quase quatro horas da manhã e ainda tinha uma hora e meia de viagem até Teresópolis. Alisson capotou ao meu lado durante a viagem, não sabia se ele tinha dormido no voo. Inclinamos nossas poltronas, subimos os braços dela e eu apoiei meu corpo no dele, deixando que o balanço do ônibus me fizesse dormir.
Acordamos com as luzes sendo ligadas e todo mundo reclamando com isso, mas quando vi o logo da CBF lá no fundo, sabia que tínhamos chegado. Todo mundo desceu coçando os olhos e um pouco desajeitados, estava bem friozinho ali, mas sorri quando olhei para o horizonte e vi que estávamos em casa novamente.
- Bom dia, galera! – Ouvi quando entrei no salão.
- Ah, mentira! – Falei rindo, vendo Angelica nos recepcionando.
- Achei que fossem precisar de ajuda depois daquele jogão! – Ela falou e eu e Bianca corremos para abraçá-la.
- Bom te ver. – Falei.
- Bom ver vocês! – Ela passou a mão em minha barriga e eu sorri, sentindo-a estralar um beijo em minha bochecha.
- Mal consigo raciocinar, que bom que veio! – Bianca falou, esfregando as mãos nos olhos.
- Bom, imagino que vocês estejam mortos de cansaço. – Ela falou e o pessoal resmungou alguns “hum” ou “é”. – Os quartos são os mesmos da última vez que estiveram aqui. Descansem o quanto conseguirem, vocês recomeçam amanhã. – Ela falou firme. – Alisson e Firmino, tem quarto para vocês também.
- Você fica com o Firmino essa noite? – Sussurrei para Bianca e ela assentiu com a cabeça.
- Claro! Esse homem precisa relaxar, a tensão é palpável. – Ela falou, seguindo junto com a fila de jogadores sonolentos.
- Vamos lá? – Passei a mão pela cintura de Alisson e ele sorriu, passando a mão pela minha.
Alguns subiam de escadas para evitar os elevadores lotados, mas eu esperei, tinha alguma vantagem para grávida, certo? Certo! Os meninos logo abriram espaço para mim. Meu quarto ainda era o último no fim do corredor e Bianca piscou para mim quando Alisson se enfiou dentro dele.
Eu saí jogando mala para um lado, mochila para outro e só queria me livrar daquela credencial que não parava de apertar o meu pescoço, além de tirar os sapatos. Faziam quase 12 horas que eu estava com aquilo enfiado no pé e, mesmo não sendo salto, a sola do meu pé já estava começando a repuxar.
- Aqui estamos! – Falei, me virando para ele que estava sentado na cama, tirando seus tênis.
- Está ok, amor. Eu sei que você está cansada. – Ele falou, dando um pequeno sorriso. – O clima ficou lá em BH. – Me aproximei dele, levando uma mão até eu rosto, acariciando-o levemente. – Está tudo bem.
- Me dê cinco minutinhos, ok?! – Falei e segui em direção ao banheiro, pegando minha mala e tranquei a porta.
Comecei me despindo, ficando somente com minha lingerie. Não era lá uma grande lingerie sexy, mas eu tinha meus atributos, inclusive meus seios que estavam maiores. Abri minha nécessaire, passando um desodorante e um perfume. Me encarei no espelho, vendo um pouco do lápis escorrido no canto dos olhos e debrucei o rosto na pia, limpando-o completamente.
Soltei os cabelos, sacudindo-os um pouco e jogando-os para o lado e peguei um batom clarinho e passei nos lábios, só para dar um brilho. Me observei no espelho e dei um sorriso. Isso era loucura, mas eu estava me sentindo bem sexy naquele momento. Soltei a respiração algumas vezes e segurei a maçaneta da porta, suspirando uma última vez antes de sair dela.
Alisson virou o rosto para mim assim que me viu e seus olhos se arregalaram de uma forma muito boa. Apoiei o corpo no batente da porta, cruzando os braços e ele riu fracamente, virando o corpo em minha direção. Mordi meu lábio inferior e ele riu fracamente.
- Você está incrível. – Ele falou e eu desencostei o corpo, me aproximando dele.
- Bom, é o mínimo que eu posso fazer depois de quase oito horas de espera. – Ergui uma perna, ajoelhando na cama e ele me segurou com as duas mãos quando eu me sentei em seu colo.
- Você sabe que não precisa fazer nada, não é mesmo? – Ele perguntou e dei um meio sorriso.
- Aproveita enquanto eu posso, amor. – Levei minha boca até sua orelha, dando uma leve mordiscada e desci a boca para seu pescoço, deixando um beijo ali.
Levei minhas mãos até a barra da sua blusa e puxei-a para cima, deixando-a cair ao lado e abaixei um pouco do meu corpo para distribuir beijos na curva do seu pescoço. Empurrei seu corpo para trás, fazendo-o deitar atravessado em uma das camas de casal do quarto e ajeitei meu corpo em cima dele, tomando cuidado com a barriga.
Suas mãos subiram pelas minhas pernas, causando um leve arrepio e ergui as mãos até o fecho do meu sutiã, soltando-o e joguei para o lado. Alisson abriu um largo sorriso, subindo a mão para minha barriga e eu me debrucei sobre ele, continuando a trilha de beijos em seu peitoral, descendo pela sua barriga e, quando a barriga não permitiu mais, eu levei as mãos até o cós da sua calça, descendo ela e a cueca juntas.
Quando não consegui mais, ele virou o corpo, me ajeitando na cama e antes de se debruçar levemente sobre mim, ele tirou por completo as roupas que faltavam e segurou em minha cintura, deixando um beijo em meus lábios. Levei uma mão até seu rosto, acariciando levemente e ele sorriu.
- Você não tem ideia como eu te amo. – Ele sussurrou e eu sorri, descendo a mão para seu pescoço.
- Sim, porque eu te amo exatamente da mesma forma. – Respondi, mordendo meu lábio inferior e ele assentiu com a cabeça, roçando nossos narizes levemente, antes de colar os lábios novamente com urgência e deixar que o quarto ficasse cada vez mais quente e gemidos contidos escapassem de nossos lábios.

Senti um bocejo escapar de meus lábios e estiquei as mãos para cima me espreguiçando. Senti o corpo um tanto incômodo e lembrei do travesseiro embaixo de minha coluna e o puxei para fora, sentindo o corpo relaxar. Não estávamos acostumados a transar com uma barriga no meio do caminho, então tentamos jeitos para não pressionar e essa era a melhor que encontramos.
Virei para o lado, encontrando Alisson ainda apagado e subi a mão até seu peitoral, acariciando-o de leve e abracei-o, encostando minha cabeça em seu braço esticado. Suspirei, dando um pequeno sorriso, feliz por tudo o que tinha acontecido e fechei os olhos, na esperança de dormir mais um pouco.
Acordei algum tempo depois com um carinho gostoso em minhas costas. Suspirei, abrindo os olhos devagar e encontrei alguns raios de sol passando pelas cortinas. Ergui o rosto um pouco, encontrando Alisson sorrindo para mim.
- Ei. – Falei fracamente e ele sorriu.
- Bom dia, dorminhoca. – Ele falou e eu ri fracamente, virando o corpo e deitando de barriga para cima.
- Que horas são? – Perguntei.
- Quase três da tarde. – Arregalei os olhos, me sentando na pressa.
- Eles deixaram a gente dormir tudo isso? – Perguntei surpresa. – Ai, minha cabeça.
- Relaxa! – Ele empurrou meu peito para baixo e eu deitei novamente.
- Deixaram, o pessoal está aparecendo aos poucos no grupo, vai ter reunião mais tarde, mas só. – Suspirei.
- Eu estava tão cansada. – Suspirei, sentindo-o passar a mão pela minha barriga, acariciando-a de leve.
- Eu também. Principalmente depois da surpresa... – Rimos juntos.
- Bom, eu estava precisando representar nesse departamento, né?! – Brinquei e ele colou nossos lábios por alguns segundos.
- Não precisava, mas eu gostei muito. – Sorri, levantando uma mão e acariciando sua barba.
- Confesso que estava com saudades. – Mordi o lábio inferior. – É que com a barriga...
- Eu entendo, amor. E saiba que eu não quero te pressionar a nada...
- Ah, isso eu sei, mas aproveita a excitação, ela pode sumir com a mesma pressa que veio. – Comentei.
- Então, vamos aproveitar. – Ele falou, aproximando nossos lábios e eu coloquei o dedo em cima deles, impedindo o beijo.
- Aposto que eu preciso trabalhar um pouco, amor. – Falei e ele fez uma careta fofa, derrubando o corpo ao meu lado.
- Não dá para ir com muita sede ao pote, não é mesmo? – Ele brincou e eu ri fracamente.
- Olha, para nós que estávamos cansados, duas vezes foi o suficiente. – Ergui meu corpo, deixando o lençol cair em minhas pernas.
- É, não dá para ser ganancioso. – Ele falou, levando as mãos atrás da cabeça e eu me levantei, vendo somente sua região do quadril coberta com o edredom.
- Você está gato demais, amor. – Falei, suspirando.
- Você também, amor. – Pisquei para ele e procurei meu celular na minha mochila, desbloqueando-o, vendo diversas mensagens.
- Bom, reunião as seis horas, janta as oito, se quiser comer alguma coisa, tem café da tarde a partir das quatro. – Li a mensagem de Angelica. – Acho que preciso colocar algo no estômago pela Mini. – Suspirei. – Eu vou tomar banho.
- Aceita uma companhia? – Ele perguntou com aquele sorriso sacana e eu chequei o horário no celular.
- Bom, são três e vinte ainda, o café é servido as quatro, acho que temos uma hora ainda para perder. – Comentei, vendo-o abrir um largo sorriso.
Rapidamente ele jogou a coberta para o lado e veio em minha direção, me abraçando fortemente, me fazendo gargalhar alto. Passei os braços em seu pescoço, sentindo-o me segurar pelas pernas e ele me ergueu na pia, colando nossos lábios com urgência. Antes de tudo começar a ficar embaçado pela respiração e pela água quente, ouvi a porta bater com força.

- Bom dia, crianças! – Falei animada, entrando com Alisson no restaurante.
- Ah, decidiram aparecer, é?! – Arthur foi o primeiro a falar e eu pisquei para ele.
- Alisson parece que dormiu com um cabide na boca, já até sei o motivo da demora. – Filipe Luís comentou, fazendo o pessoal gargalhar.
- Eu não sei de nada. – Me fiz de desentendida.
- Uhum, sei. – Bianca comentou e pressionei meus lábios, segurando uma risada.
- Fala aí, Angelica! – Me aproximei dela e ela me abraçou, sorrindo. – E suas férias?
- Já voltei. – Rimos juntas. – Queria mais alguns dias, mas acho que é o suficiente. – Assenti com a cabeça. – Mas estou só observando, o comando ainda é de vocês duas.
- Ah, droga! – Bianca brincou e eu sorri.
- Bom, reunião as seis, certo? – Virei para mesa da equipe técnica.
- Nós gostaríamos de você e Bianca na reunião hoje. – Tite falou. Virei para Bianca que assentiu com a cabeça.
- Claro. – Assenti com a cabeça. – Vou só comer e logo estou de boa. – Ele assentiu com a cabeça e fui em direção ao buffet com Alisson.
Era basicamente café da manhã, então peguei leite, pão, omelete, frios, a última vez que eu havia comido fazia quase 24 horas e depois de gastar bastante caloria, eu estava precisando repor um pouco. Me sentei junto de minha equipe e Alisson foi com os jogadores.
- Então... – Bianca perguntou e eu olhei para ela antes de morder meu pão.
- O quê? – Perguntei estranhando.
- Tirou o garoto da seca, foi?! – Ela perguntou e eu mordi o pão, dando um sorriso de lado com a boca cheia. – Filha da mãe. Foi quando chegamos ou agora quando acordaram?
- Os dois... – Falei baixo, colocando a mão na frente da boca.
- Como você aguentou? Eu estava morta de cansaço! – Rimos juntos.
- Eu dormi a viagem inteira, né?! Estava cansada, mas eu não podia excitá-lo e fugir, né?!
- Do que vocês estão falando? – Anna perguntou e Angelica e Diana também prestaram atenção.
- A deixou o Alisson excitado no intervalo do jogo e eles ainda transaram quando chegaram aqui. – Ela falou baixo.
- Àquela hora? – Angelica falou um pouco baixo e eu abri um pequeno sorriso com a boca fechada. – Que fogo, hein?! – Ela brincou e as meninas riram.
- Fazia um tempo que não acontecia, qual é. Achei que eu ia ficar até o final da gravidez no zero a zero também, aí ele estava bem sexy dando aqueles saltos, eu ainda me sinto sortuda em namorar um cara gostoso como ele... – Dei de ombros. – A periquita acendeu. – Elas gargalharam.
- E como foi? – Bianca perguntou.
- É um pouco incômodo para você achar a posição correta, mas depois que a gente achou... – Olhei para cima, ouvindo-as gargalharem.
- Meu Deus, eles viram o sol nascer... – Angelica falou.
- Não é como se a gente tivesse chegado cedo, né?! – Dei de ombros.
- Só vocês! – Bianca falou e ouvimos uma gargalhada alta vindo da mesa do lado, era Filipe Luís e Alisson estava vermelho.
- E ele também está contando. – Comentei, pegando um pouco de ovo e colocando na boca.
- Vocês são demais, sério. – Anna falou.
- Se não pudermos compartilhar com nossos amigos, vamos compartilhar com quem? – Dei de ombros e eles confirmaram com a cabeça.
- Meninas, a brincadeira acabou. – Angelica falou, esticando o celular para gente e eu peguei da sua mão, lendo o título da notícia.
- “Argentina reclama de árbitro e presença de presidente brasileiro no Mineirão”. – Li e entreguei para Bianca.
- O presidente estava lá? – Anna perguntou.
- Totalmente irrelevante. – Comentei, abanando a mão.
- A matéria é grande, gente. Vai dar merda isso. – Bianca comentou. – Ele basicamente diz que fomos favorecidos pela presença do presidente, mas ele também está reclamando da arbitragem, dos hotéis, dos gramados, dos locais de treino e até do pouco público. – Ela falou e eu peguei o celular de volta.
- Quem está reclamando? – Peguei, lendo a matéria por cima. – Presidente da Associação de Futebol Argentino. – Suspirei. – Que vem a ser vice-presidente da Conmebol. – Devolvi o telefone para Bianca.
- Além da reclamação do Messi ontem, né?! – Leandro falou. – Não sei se viram.
- Não vi nada. – Eu e Bianca falamos.
- Ele basicamente falou que estava ganho para gente.
- Ah, que ótimo. – Bianca falou.
- Eu gostava mais desse argentino quando ele ficava de boca fechada. – Falei entredentes.
- Acho que isso precisa vir de cima, né? – Virei para Angelica.
- Sim, vou ligar para Debora, pedir para ela conseguir uma fala de alguém e liberamos um comunicado. – Ela se levantou. – Só tentem não espalhar por aqui, vai virar um circo. – Ela cochichou.
- Minha boca é um túmulo, mas eles vão descobrir mais cedo ou mais tarde. – Bianca falou e eu assenti com a cabeça.
- E nem vai ser por mim. – Ergui as mãos me inocentando e ela assentiu com a cabeça, se afastando da mesa.
- Lá vem merda. – Falei, suspirando.
- Sempre dá, cara! Está no fim, já não basta o cansaço? – Bianca retrucou e eu continuei a comer.

Tite colocou uma puta pressão durante a reunião. Falou que entendia o cansaço de todo mundo, que a pressão para vencer era muito maior, mas não podia parar agora. Falou que era para ignorar imprensa, ignorar o que estavam falando e focar nesses próximos quatro dias. Era isso, tínhamos quatro dias de competição e o foco sempre era vencer, mas agora era vencer a competição.
O Cléber, Fernando e Dudu tinham ido para Porto Alegre para acompanhar o jogo do Peru contra o Chile, eles dariam um melhor diagnóstico no dia seguinte, o jogo começaria nove e meia, até eu queria ver isso, mas o Peru estava na competição ainda, aquilo era uma grande surpresa mesmo.
Depois daquele boost de energia, ele falou um pouco da programação, apesar de precisar manter o pique nos treinos, eles percebiam o cansaço da galera, então amanhã o dia começaria com testes físicos, pois muitos jogadores estavam sentindo, se desgastando mais e, consequentemente, se lesionando mais. Willian havia se lesionado no finalzinho do jogo, acho que nem eu percebi, e era dúvida para o jogo. Tite não quis falar, mas eu sabia que ele estava fora. Tínhamos quatro dias.
Só mais quatro dias.
Porra.
Era essa hora que o choro subia à garganta e a realidade começava a bater. Quatro dias para competição acabar, mais uns 20 dias com Alisson de férias comigo e daí? Levei as mãos até o rosto, abaixando a cabeça e senti um carinho em minha cabeça.
- Que foi? – Bianca sussurrou e eu ergui o rosto.
- Só pensando que tudo isso vai acabar logo e eu não tenho perspectiva nenhuma para o futuro. – Suspirei.
- Por que você não pergunta para Angelica? Acho que já passou da hora de darem ao menos uma resposta, não? – Ela sussurrou.
- Não sei. – Respondi no mesmo tom. – Eles não têm direito nenhum de me ajudar...
- Mesmo assim, vai que... – Suspirei, negando com a cabeça.
- Depois eu vejo. – Engoli em seco, abanando a mão.
- , Bianca... – Virei para Tite.
- Desculpe. – Sussurrei como se tivesse acabado de levar uma bronca.
- Ah, não... – Ele abanou a mão. – Vocês querem fazer alguma observação sobre o jogo e tal? Acho que é a Diana, né?!
- Olha, tivemos várias quase tretas no jogo, mas eu vou deixar passar. – Falei, vendo Bianca rir ao meu lado. – É a Argentina, os argentinos estão falando merda a competição inteira e até eu queria dar um tapa em alguns. – O pessoal gargalhou, zoando. – Mas... – Ergui o dedo. – Estamos na final, gente! Foda-se! – Gritei a última parte e o pessoal gritou, fazendo Tite negar com a cabeça com um largo sorriso no rosto. – Na verdade...
- Demorou. – Jesus falou.
- Não, não é sobre o jogo. – Me levantei, apoiando a mão na cadeira em minha frente. – Eu sei que eu não vou ver muitos de vocês por um bom tempo depois de domingo, então queria falar algumas palavras. – Falei, respirando fundo.
- Por que não? – Dani perguntou.
- Eu não tenho a mínima ideia aonde eu estarei, mas eu sei que se eu estiver na CBF, logo eu vou precisar parar de viajar por causa da barriga, isso é certeza. Além de que eu vou tirar licença maternidade de seis meses, então vocês vão precisar saber se virar sem mim...
- Ah! – Eles falaram em coro e eu sorri.
- Mas hoje, aqui e agora, eu quero agradecer por tudo o que vocês fizeram nesse um ano por mim, por Alisson e agora por Mini. – Alisson sorriu na ponta da meia roda. – Sempre ouvimos falar dos jogadores de futebol, jogadores da Seleção Brasileira... Enfim, vocês se tornaram minha família mesmo e eu vou sentir saudades durante esse tempo. – Comentei, levando a mão no peito.
- Ah, garota! – Dani segurou minha mão em cima da cadeira e eu sorri. – Você vai fazer uma puta falta. – Engoli em seco, segurando o choro.
- Mas vocês podem me visitar, ok?! – Falei sorrindo e o pessoal começou a gritar comemorando de novo.
- Você nos uniu de uma forma que eu nunca vi, . – Tite falou. – Eu lembro ano passado quando você chegou e tudo mudou de uma forma estranha, mas boa, você juntou as duas equipes, foi por você que temos dado chance para pessoas mais jovens de idade e de CBF para as competições e tudo mais. A surpresa e alegria de vocês vêm a somar junto da equipe. – Ele sorriu. – Eu vou sentir falta de você, mas se essa pequena vier com saúde, bem, vale à pena. – Assenti com a cabeça. – E eu tenho seu endereço. – Ele falou, me fazendo rir.
- Vai ser bom. – Falei, olhando para Alisson atrás dele e ele sorriu. – Ah, chega de sentimentalismo. – Falei, rindo fracamente.
- Chega! – Tite falou rindo. – Vamos jantar, descansar que amanhã tem mais! – Ele falou, batendo as mãos e todo mundo se levantou.

- E o Peru ganhou. – Falei surpresa quando o juiz apitou e Alisson me abraçou mais forte, desligando a TV e ficamos iluminados somente pela luz do abajur. – Estou surpresa, confesso.
- Também, mas é um time totalmente diferente do que jogou contra a gente da primeira vez. – Ele falou e eu suspirei.
- Cara, eu estou real chocada. – Suspirei, virando o corpo na cama e deitando direito ao seu lado.
- Vamos ver o que o Cléber vai falar amanhã, mas eles meterem três a zero no Chile, o Chile ganhou as duas últimas competições, o negócio vai ferver. – Alisson falou e eu suspirei.
- Quero nem pensar nisso, mas tem tanta coisa para rolar em tão pouco tempo que eu já estou perdidinha. – Suspirei.
- Você está pensando no futuro, não? Percebi você tristinha na reunião. – Suspirei.
- Alisson, eu estou sem perspectiva nenhuma, estou há mais de um mês falando que vamos decidir, que as coisas vão se resolver, que tudo vai dar certo, agora faltam quatro dias e nada se resolveu ainda. – Falei, me sentando na cama e virando ao seu lado.
- Calma, amor, vamos dar um jeito.
- Viu?! – Frisei o que falava. – Que jeito? – Engoli em seco. – Eu real não sei o que fazer. Peço demissão? Começo a procurar emprego? Eu não vou poder viajar mais a partir do dia 16 de julho por causa da gravidez, e aí? – Falei firme. – Posso com autorização médica, mas e se dá merda na pressão? E se minha filha nascer no meio de um voo?
- Amor! – Ele falou um pouco alto, se sentando também. – Respira fundo. – Ele falou, puxando o ar fortemente e eu copiei, soltando segundo depois. – Vamos fazer um acordo? – Olhei para ele. - Eu vou ficar com você até dia 29 de julho, depois devo voltar para treinos. – Assenti com a cabeça. – O bebê está marcado para nascer que dia?
- 36 a 40 semanas. – Falei, pegando meu celular e procurando minhas anotações. – Pode nascer do dia 10 de setembro a oito de outubro. – Falei, vendo-o travar o pensamento.
- É, a gente vai ter que reduzir esse tempo. – Rimos juntos. – Dificilmente vou poder ficar quatro semanas fora. E eu não vou perder seu parto. – Assenti com a cabeça.
- A Angelica falou de eu poder ter esse bebê em Liverpool, mas elas não decidem, e eu não consigo pensar em tudo em 15 dias. – Suspirei e ele segurou minha mão.
- Você aguenta mais quatro dias? – Ele perguntou. – Segunda-feira depois que a competição acabar, independente do resultado, eu vou contigo falar com sua chefe, que tal?
- Me senti uma criança de 10 anos agora... – Ele riu fracamente. – Mas acho que aguento, para quem está aguentando há 40 dias, isso é fichinha. – Suspirei e ele me abraçou fortemente e eu apoiei o queixo em seu ombro.
- Eu prometi para você que faria dar certo, então vai dar certo. – Ele falou e eu sorri, assentindo com a cabeça quando nos afastamos. – Eu te amo, mas cansei de fazer planos infalíveis quando diz respeito à nossa relação, agora é sério. E eu vou fazer isso dar certo. – Suspirei, colando nossos lábios devagar.
- Tudo bem, mas vai dormir, amanhã o dia vai ser cheio. – Suspirei.
- Cheio é bom, te distrai. – Ele falou e eu ri fracamente, voltando a me deitar na cama.
- Brasil e Peru, hein?! Quem diria... – Rimos juntos e ele se deitou também, me abraçando de lado e eu sorri, virando o corpo de frente para si, deixando nossos rostos próximos. – Eu te amo.
- Eu também, dorme com Deus. – Ele disse e eu assenti com a cabeça, fechando os olhos, sentindo um curto beijo em meu nariz e suspirei.

O dia começou cedo. Era sete horas da manhã e todos estávamos de pé, oito todos estavam entrando no restaurante para tomar café. O dia estava levemente estranho, tão estranho que uma névoa encobria todo o campo externo e, apesar da calefação interna, eu voltei rapidamente para pegar meu casaco.
Após o café, os jogadores começaram a se revezar nos testes físicos. Eram aqueles testes incansáveis que eles fizeram no começo da competição. Fabio havia recebido várias reclamações de cansaço por parte dos jogadores, além de que tudo precisava estar perfeito para domingo, tudo mesmo.
Eu, Bianca, Lucas, Vinícius, Anna, Dianna e Leandro ficamos, em termos simples, zanzando pela Granja o dia inteiro. Após todos os treinos individuais, seguimos para um almoço, aí o trabalho real começou. Os jogadores que realmente jogaram no jogo da Argentina foram para academia fazer relaxamento e fisioterapia e os reservas foram fazer treino de campo.
Devido ao frio lá fora, eu preferi ficar dentro da academia, também era bom ficar de olho em Alisson, ele ainda reclamava um pouco do quadril e talvez eu tenha sido responsável por não deixá-lo relaxar o local como deveria. Então ele ficou o dia inteiro na fisioterapia e eu juro que me comportei apesar da falta de camisa, shorts erguidos até a dobra da perna e por outros momentos realmente interessantes para mim.
Por volta das duas da tarde, eu segui com Everton e Alex Sandro para a coletiva de imprensa, mas não era a coletiva que estávamos acostumados, colocamos eles na zona mista, eles conversaram individualmente com cada repórter que estava ali e logo eles voltaram para a área dos treinos.
Após a finalização dos exercícios e testes físicos, Alisson ficou com alguns jogadores poupados dentro da Granja papeando, mas eu e a equipe de comunicação tínhamos combinado uma reunião para resolver alguns boatos que estavam rolando para depois da Copa América. Agora entendia a presença de Angelica aqui. Ela não estava lá para falar de Copa América, ela estava lá para falar do depois.
- Vai, Angelica, solta a bomba! – Lucas falou, nos fazendo rir. – O quê? Olha a cara dela, é cara de merda acontecendo!
- Ele não está errado. – Bianca falou e rimos juntos.
- Desembucha, vai. – Falei e Angelica se sentou na ponta da mesa.
- Eu estou sem moral aqui. Eu largo vocês por 40 dias e é assim que me tratam? – Ela falou e rimos junto. – Mas é, eu tenho umas notícias que podem afetar a forma que a imprensa trabalha, se isso vazar.
- O que quer dizer? – Anna perguntou.
- Por enquanto está rolando especulações, algumas já estão rolando na imprensa, algumas são verdadeiras e outras ainda não, então eu já vou adiantar isso para vocês, pois se vazar mais, virão perguntas e vocês precisam ficar preparados. – Ela falou.
- Viu? É bomba! – Lucas falou.
- E ela nem ao menos trouxe um chocolate para acalmar. – Vinícius falou.
- Ah, falando nisso... – Angelica falou, colocando a mão em sua bolsa e aparecendo com uma caixa de chocolates.
- Agora sim! – Vini falou animado.
- Eu tenho direito a mais porque estou grávida. – Falei, pegando a caixa para mim e pegando três trufas.
- Só mais três meses, aproveita! – Anna falou e rimos.
- Fala, Angelica! – Disse.
- Bom, ainda é cedo para falar do mercado da bola, então não tem nada sobre os jogadores, além de que nem é tanto nosso problema, eles têm assessores pessoais e isso viraria problema com o time, agora os assessores...
- O que tem os assessores? – Perguntei.
- Bom, vocês já devem saber que o Sylvinho vai para o Leon... – Eu e Bianca assentimos com a cabeça.
- Sim, isso vazou logo depois da coletiva, a gente só não tinha certeza do time ainda. – Bianca falou.
- Bom, é o Lyon na França e o Fernando vai também. – Assentimos com a cabeça. – Além disso, Edu vai para o Arsenal...
- Por essa eu não esperava. – Falei.
- Só que tem uma maior... – Angelica suspirou. – Os jornais especializados começam a falar que, independente do resultado no domingo, o Tite pode largar a Seleção.
- Mesmo? – Falamos quase todos juntos.
- Sim, mas eu não tenho informação nenhuma sobre isso. Eu sei que se ganhar, vão pedir para ele ficar, agora se perder, a demissão é quase certa, mas também não sei de nada, só que é assim que funciona. Se não ganhar Copa do Mundo e se não ganhar amanhã, não dá mais...
- Ok, entendo, mas vamos parar de falar sobre isso? A gente precisa ganhar amanhã e a Mini precisa nascer vencedora, qual é...
- A gente conhece a superstição da , mas qual é... – Vinícius falou. – Chegou até aqui, virou obrigação.
- Espero. – Suspirei, assoprando para cima.
- Bom, vocês já estão informadas, a CBF diz que quer manter a equipe, mas sabemos como funciona. Tite só não foi demitido após a Copa, pois ele nos fez ir até a Copa do Mundo, mas agora passou um ano...
- Bom, não sei sobre essa questão, mas pela minha sanidade mental, precisamos ganhar. – Falei e todos concordaram com a cabeça.
A reunião se seguiu por mais uns 15 minutos. Demos uma rápida repassada para Angelica sobre os pontos mais relevantes da competição e dos pequenos problemas, depois do caso de estupro de Neymar, tivemos somente a caxumba de Richarlison, mas de resto eram só meus surtos mesmo.
Saímos da reunião um pouco antes do treino acabar, depois dele ainda teria uma reunião com a equipe técnica e a de comunicação e depois uma com a equipe técnica e os jogadores. Estávamos trabalhando em turnos, assim ninguém surtava... Eu acho.
- Bom, acho que eu vou pegar alguma coisa para comer antes da reunião, vai comigo? – Perguntei para Bianca enquanto voltávamos para o lobby.
- Vou sim, só... – Ela parou de falar. – Olha quem está ali. – Ela apontou e eu virei o rosto.
- Michele? – Observei Alisson e Arthur sentados nas poltronas e Michele ao lado deles.
- O que ela está fazendo aqui? – Bianca perguntou e seguimos em direção aos três, além de outros jogadores largados na sala.
- Elas chegaram. – Arthur falou e os três viraram para gente.
- Ei, chefa! – Bianca falou e Michele se levantou para nos abraçar.
- Ah, que saudade que eu estava de vocês! – Ela nos sacudiu de um lado para o outro. – , você está tão linda, olha essa barriga! – Ela levou as mãos à minha barriga. – Estou tão feliz por você. – Ela me abraçou fortemente, me assustando e eu bati as mãos levemente em suas costas. – Bom, vocês, né?! – Ela virou para Alisson e ele sorriu.
- Então, o que as mocinhas estavam conversando? – Bianca perguntou, desviando das pernas de Arthur e se jogando no sofá.
- Ah, eu... – Alisson falou.
- Nós só... – Arthur tentou e eu franzi a testa.
- Eu estava esperando vocês saírem da reunião, vim ver como estavam, o Caboclo vem para a reunião, então preciso ficar pronto, aí estávamos jogando conversa fora. – Ela sorriu, acariciando meu rosto e percebi que seus olhos brilhavam.
- Você está bem? – Perguntei.
- Estou sim, só estou muito feliz por você mesmo. – Ela falou, me puxando para mais um abraço e vi Bianca do outro lado e a ela deu de ombros, também não entendendo nada.
- O Caboclo aí. – Falei, vendo um carro parar na porta da Granja e ela me soltou.
- Depois nos falamos. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, vendo-a sair de perto.
- Está tudo bem mesmo? – Perguntei para Arthur e Alisson.
- Ela só está muito feliz pela gente e o bebê. – Alisson falou.
- Talvez esteja naqueles dias... – Arthur comentou.
- Enfim, a equipe está subindo, temos uma reunião agora, depois vocês.

- Bom, vamos colocar as cartas na mesa. – Fabio falou, suspirando. – Willian está fora, não tem como ele jogar, a lesão dele é, no mínimo, um mês de tratamento, sem condições de apressar. – Assenti com a cabeça.
- Já esperava por isso. – Tite falou.
- E nos testes físicos? – Cléber perguntou.
- Todos tiveram desgastes desde os últimos testes, Jesus perdeu um quilo e meio de antes do jogo contra a Argentina até agora. – Tentei conter a arregalada nos olhos. – Alisson está bem sim, amanhã ele já pode ir para campo normalmente... – Dei um pequeno sorriso.
- Sem reservas, . – Taffa falou, me fazendo rir.
- Adoro o Ederson, mas meu namorado é melhor. – Eles riram.
- Bom, os piores testes foram de Arthur, Coutinho, Firmino e Alex Sandro, tanto que reforçamos o relaxamento hoje. – Tite coçou as têmporas.
- Como eles estarão para domingo? – Tite perguntou.
- Bem e preparados, mas é bom reforçar os reservas, pois talvez precise fazer substituições antes dos 70 minutos.
- Ok, eu posso trabalhar com isso, precisamos nos reforçar no primeiro tempo, então... – Tite falou.
- Por falar nisso, precisamos falar sobre o jogo de ontem. – Cléber falou, se apoiando na mesa. – O Peru é outro time, eles estão melhores tecnicamente e taticamente.
- Eles estão na final, gente. Alguma coisa boa eles fizeram. – Comentei.
- Fizeram. – Cléber se levantou, pegando o quadro de jogadas. – As coisas precisarão começar na mudança no ataque.
A reunião continuou e apesar da gente estar dentro dos treinos e acompanhar todo grito e apito, eu ficava muito confusa quando eles começavam a falar tecnicamente, principalmente quando eu estava começando a ficar cansada, Mini começava a sacudir dentro de mim e já estava na hora de encerrar.
Após nossa reunião, foi a vez da reunião da equipe técnica com os jogadores, aproveitei esse tempo para voltar para o quarto, tomar um banho e dar uma relaxada até a hora do jantar. Os jogadores emendaram o jantar na reunião, então eu e Alisson voltamos cedo para o quarto. Amanhã seria dia de treino intenso, então não ficamos aproveitando minha libido acesa, ficamos namorando um pouco de pijamas, brincando com as sacudidas de Mini em minha barriga e nos forçamos a desligar a TV para dormir mais cedo.
Precisávamos estar no pique para o dia seguinte. Ou melhor, Alisson precisava estar no pique para isso, eu precisava começar a me preparar psicologicamente.
- Amor? – Alisson sussurrou.
- O quê?
- Eu tenho uma surpresa para você amanhã. – Ele falou e eu franzi a testa.
- O que é? – Perguntei.
- Se eu te contar não é mais surpresa. – Ele falou, me fazendo ir fracamente.
- Você poderia não ter me atiçado e só feito a surpresa amanhã? – Perguntei e ele riu fracamente.
- É claro que não. – Ele falou, me fazendo rir e eu senti um beijo no topo da minha cabeça, me fazendo suspirar.
Senti sua mão acariciar minhas costas e abracei-o pela barriga, aninhando minha cabeça em seu ombro. Ouvi a respiração de Alisson e, de repente, o rosto de Michelle apareceu em minha cabeça.
- Alisson? – O chamei.
- Oi... – Ele sussurrou.
- O que realmente aconteceu com Michelle hoje?
- Por que a pergunta? – Ele falou.
- Ela estava quase chorando quando ela me abraçou. – Molhei os lábios.
- Ela chegou e me viu sentado ali com o Arthur e veio perguntar sobre vocês e sobre o bebê, ela está bem feliz com tudo. – Assenti com a cabeça, achando estranho, mas não perguntei nada.
- Ela falou algo sobre a gente? Eu só consigo pensar nisso...
- Eu pensei em perguntar, mas achei que estivesse passando da linha...
- Como assim? – Perguntei.
- Ah, ela é sua chefe, né?! Fiquei meio intimidado...
- Ah, sim! – Suspirei.
- Por quê? Está tudo bem? – Ele perguntou.
- Sim, está, só achei estranha a forma que ela me abraçou hoje, nós somos próximas, mas não tanto... – Comentei.
- Vai ver é o que o Arthur falou: ela está naqueles dias... – Fiquei feliz pelas luzes estarem apagadas, pois na minha cabeça passava muitas coisas.
E uma delas era: não foi só isso que aconteceu.
- É, vai ver é isso. – Falei baixo.

O despertador tocou e eu senti meu corpo rolar livremente na cama, me fazendo abrir os olhos rapidamente e me vi sozinha na cama. Joguei a coberta para o lado, levantando e fui até o banheiro, empurrando a porta e encontrando-o vazio.
- Ué... – Segui até a mesa de cabeceira e peguei meu celular, vendo somente algumas notificações do Facebook e do Instagram, o WhatsApp estava vazio. Olhei em volta, vendo que o celular de Alisson não estava ali.
Ignorei aquilo por um momento e fui me arrumar. Vai ver Tite havia dito alguma coisa na reunião e eles tiveram que começar mais cedo. Coloquei meu uniforme, sentindo que a temperatura tinha caído um pouco e coloquei o casaco branco com capuz. Não ia ser agora que eu ia ficar doente, né?!
Saí do quarto, puxando a porta e achei estranho o silêncio no corredor, esse horário os meninos já deveriam estar saindo para tomar café da manhã. Olhei para o andar de baixo pela marquise e só alguns funcionários da própria Granja e um pessoal que eu não tinha mais contato da equipe técnica. Desci pelo elevador e parei lá embaixo quando vi o buffet montado lá embaixo.
- Mas que merda...
- Bom dia, . – Virei para o lado, vendo Amir fisioterapeuta aparecer.
- Bom dia! – Falei, virando para ele.
- Você sabe cadê a galera? Está vazio aqui hoje.
- Eles saíram cedo com Tite, acho que foram lá no museu do futebol para dar uma forcinha para domingo. – Confirmei com a cabeça.
- É, faz sentido. – Dei de ombros. – Minha equipe?
- Acho que dormindo ainda. – Ele deu de ombros.
- Valeu pelo memorando, galera! – Suspirei.
- Bom dia! – Anna apareceu.
- Ei, Anna! Alguém veio me fazer companhia. – Falei, seguindo até o buffet.
- Sabe por quê o café está sendo aqui? – Ela perguntou.
- Pelo visto quebrou um piso, algo assim, eles vão consertar. – Amir falou e eu confirmei com a cabeça.
- Questão de segurança. – Edu apareceu ao nosso lado. – Bom dia, meninas.
- Bom dia, Edu! – Falamos juntos.
Leandro e Dianna se juntaram a nós e aos fisioterapeutas, seguranças, pessoal mais distante da equipe técnica e nada do time e Tite e companhia. Inclusive parte da minha equipe que havia me deixado no escuro, sei que eu precisava descansar, mas podiam ao menos ter me avisado, né?!
Depois do café, aproveitei para tirar um tempo para mim no quarto. Claro que eu estava atolada de ligações e e-mails, afinal, tínhamos uma competição para vencer em somente dois dias – o que me causava mais coceiras do que as estrias nos seios -, mas eu tentei relaxar um pouco no quarto. Ter 64 pessoas da mesma delegação juntas quase o tempo inteiro, era um pouco sofrido, vamos ser honestos.
Nessa distração, eu acabei perdendo noção do tempo. Só me toquei do horário que era quando, do nada, uma buzina, estilo aquelas de caminhão, soou do outro lado da porta, me fazendo dar um pulo e Mini começar a se mexer do nada. Me levantei correndo, enfiando os pés nos chinelos e abri a porta na pressa, encontrando Alisson na porta com o uniforme tradicional de inverno da CBF. Olhei para o lado e Arthur e Filipe Luís estavam ali com a tal buzina.
- Que merda, oh! – Falei alto. – Vocês estão loucos? A Mini está parecendo uma escola de samba aqui, caramba. – Virei para Alisson. – E aonde vocês se meteram, caramba? Podia ter me avisado!
- Eu estou caindo fora. – Filipe Luís falou.
- Não acho que tenha sido um bom começo, cara! – Arthur falou e ambos saíram correndo pelo corredor.
- O que está acontecendo? – Perguntei para Alisson.
- Calma! – Ele falou, se aproximando de mim, levando as mãos à minha cintura.
- Por que não me falou que iam sair cedo? – Perguntei rapidamente. – E não comece a mentir para mim, eu sei que vocês não decidiram, do nada ir ao museu do futebol, isso estaria na programação. – Falei, cruzando os braços.
- Eu entendo que você esteja irritada, mas por favor, vamos nos acalmar. – Ele falou, dando um curto beijo em meus lábios.
- O que está acontecendo? – Falei com o tom de voz normalizado.
- Lembra ondem à noite que estávamos abraçacinhos... – Ele começou a distribuir beijos em meu pescoço. – Que eu disse que tinha uma surpresa para você? – Queria me fazer de manhosa, mas eu adorava seus beijos.
- Lembro... – Suspirei. – Mas eu estou brava contigo, não quero mais saber.
- Quer sim, pois eu preparei tudo com muito amor e carinho. – Ele falou, beijando meu queixo e subindo até meus lábios novamente.
- O que é, Alisson? – Falei, passando os braços em volta de seu pescoço e o vi sorrir.
- Vem comigo. – Ele falou, se afastando e me dando a mão.
- Deixa eu só colocar um sapato. – Falei, suspeita do que estava acontecendo e voltei para o quarto, calçando meus slippers amarelos e saí do quarto, puxando a porta.
- Vem! – Ele me estendeu a mão e eu a segurei, seguindo ao seu lado pelo corredor.
- Odeio quando você me esconde as coisas. – Comentei baixo.
- Você também já me escondeu coisas ou devo lembrá-la sobre o jogo contra o PSG que você viajou por 12 horas e apareceu do nada em um jogo em Paris? – Ele falou e eu pressionei os lábios, fazendo uma careta.
- Mas foi uma surpresa boa...
- Imagina se eu fosse cardíaco? Podia ter causado um ataque aquele dia. – Ele falou, me fazendo rir fracamente. – Além de que, o que te garante que minha surpresa não é boa?
- Problemas de confiança? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Estamos juntos há um ano, amor. Acho que passamos por esse problema. – Ele falou e eu dei um pequeno sorriso.
- Falando nisso, sabia que domingo faz um ano que você me pediu oficialmente para ser sua? – Comentei, entrando no elevador.
- Sabia. – Ele disse, sorrindo para mim pelo espelho. – Acho que foi a melhor decisão da minha vida. – O abracei de lado, sorrindo. – E olhe tudo o que fizemos nesse ano. – Ele comentou e eu assenti com a cabeça.
- Tem vezes que um ano é tão pouco, mas às vezes é tanto. – Suspirei.
- Sem me deixar emotiva agora, por favor. – Comentei, saindo à sua frente no elevador.
- Mesmo? – Ele fez uma careta. – Tenho algo preparado que eu sei que vai te deixar bem emotiva. – Ele falou e seguimos em direção ao restaurante.
- Aonde está me levando? Estão consertando o restaurante. – Comentei.
- Não estão. – Ele falou e estendeu a mão para que eu seguisse em frente. – Abra.
Olhei incerta para a porta e ouvi alguns burburinhos vindo de lá de dentro. Empurrei a porta devagar, deixando minha boca abrir em completa surpresa. O restaurante estava perfeito. Na parede do fundo tinha um quadro com uma grande faixa escrito “Chá da Mini”, a decoração era inteira em verde e vermelho pastel com bolas de futebol, aviões, luvas de goleiro e redes de futebol.
As mesas estavam decoradas com pequenos vasos de flores brancos e as cadeiras com aqueles protetores nas nossas cores. Me aproximei da mesa do bolo e vi bolos, cupcakes, doces, todos com a mesma decoração e alguns tinha escrito “Chá da Mini” outros tinham plaquinhas de Liverpool e Rio de Janeiro, além de outras guloseimas bem chá de bebê mesmo.
Virei para os jogadores, equipe técnica e de comunicação mais cedo e todos tinham sorrisos fofos em minha direção. Arregalei os olhos ao perceber meus pais, minha irmã, meu cunhado, minha sobrinha, Bernardo, os pais de Alisson, Muriel, Elisângela e os filhos deles unidos no meio da galera.
- Você só pode estar de brincadeira comigo. – Comentei, levando as mãos à boca.
- É um pouco difícil a gente organizar qualquer tipo de evento juntos, mas eu gosto de aproveitar as oportunidades. – Alisson falou, se aproximando de mim. – Então, já que voltamos para o Rio e todo mundo viria para a final, por que não aproveitar?
- Não acredito que vocês fizeram tudo isso por mim. – Suspirei.
- Para vocês, é. – Bianca falou e eu respirei fundo.
- E para onde exatamente vocês foram hoje? – Perguntei, segurando a mão de Alisson e o mesmo entrelaçou nossos dedos.
- Você consegue imaginar 30 marmanjos em uma loja de bebê? – Tite apontou para uma mesa com diversos presentes embrulhados. – É uma visão interessante.
- Não acredito. – Ri fracamente. – Vocês são incríveis. – Levei a mãos ao peito. – Obrigada mesmo.
- Nós somos chatos, enxeridos, inconvenientes...
- Fale por si só. – Arthur interrompeu Filipe Luís e rimos.
- Mas gostamos muito de vocês e faremos de tudo para proteger essa relação e essa criança. – Filipe terminou de falar e eu sorri.
- Eu só tenho a agradecer vocês. Quem faz uma sessão de fotos e um chá de bebê no meio de uma competição, gente?
- Pois é! – Tite falou e rimos juntos.
- Bom, vamos aproveitar a festa, pois voltamos para o treino às três horas. – Cléber falou e eu ri fracamente.
- Eu não posso acreditar que você fez tudo isso por mim. – Falei para Alisson e ele sorriu.
- Não está mais brava comigo? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Talvez não. – Respondi, sentindo-o colar os lábios nos meus delicadamente por alguns segundos.
- Posso interromper? – Virei para o lado, vendo minha família e soltei Alisson, correndo para os braços de minha mãe.
- Ah, não acredito que vocês estão aqui! – Falei, sentindo-a me apertar fortemente.
- Nós viemos para a final, é claro, mas aí o Alisson nos ligou e não perderíamos a chance de participar disso. – Ela deu um beijo em minha bochecha.
- Vocês estão em casa? – Perguntei rapidamente.
- Sim, estamos. – Andressa falou, me abraçando fortemente. – E eu estou abusando do seu quarto.
- Mas é claro! – Ri fracamente.
- Adorei ele, por sinal.
- Só eu não conheço esse apartamento. – Alisson falou e rimos.
- Domingo você conhece. – Pisquei para ele que sorriu. – Eles estão se comportando, Bê? – Abracei meu melhor amigo.
- Ah, mais ou menos, né?! Estou tendo uma colega de cama aqui que não me deixa em paz. – Ele falou, pegando Analice no colo.
- E você, meu amor? Como está? Aproveitando? – Apertei sua barriga e ela riu, vindo para meu colo. – Ah, meu amor, você está pesada, aguentar duas crianças não dá! – Rimos juntas.
- Como está a bebê? – Ela perguntou fofa.
- Está muito bem. – Sorri. – Estamos muito bem.
- Confesso que estou adorando estar aqui, será que rola um tour depois? – Meu pai falou, me abraçando e eu ri fracamente.
- Acho que podemos arranjar isso. – Pisquei pra ele. – Seu José, dona Magali, não sabia que estavam aqui. – Os abracei em seguida.
- Ah, o Muri vai jogar no Fluminense. – Magali falou.
- Vou hoje assinar o contrato, aí já vamos ficar por aqui para a final e para procurar apartamentos. – Ele comentou.
- Bom, eu não sei onde é o CT do Fluminense, mas meu condomínio é muito bom, caso queiram alguma indicação. – Dei de ombros.
- Aonde é seu condomínio?
- Na Barra, é perto da CBF, é condomínio de luxo, de apartamentos, mas talvez valha dar uma olhada.
- Bom, o CT do Fluminense é perto da CBF, depois me passa o endereço. – Muri falou.
- Vem me visitar um dia, você aproveita e dá uma olhada no condomínio. – Falei.
- Claro! Vou sim! – Ele falou, me abraçando rapidamente.
- Oi, família! – Lucas apareceu ao nosso lado.
- Oi, Lucas. – Minha mãe falou animada.
- Vamos fazer umas fotos? Aproveitar o cenário?
- Eu poderia ter me arrumado melhor, gente. Olha essa cara! – Falei brava, vendo-os rirem. – Esse uniforme, gente!
- Adoro! – Nathan falou, rindo.
- Vem, sua boba! Para de graça! – Lucas me puxou, me fazendo rir.
- Deixa eu arrumar o cabelo e passar um batom, pelo menos. – Falei.
- Madrinha ao ataque! – Bianca me estendeu uma pequena bolsa. – Sabia que você viria nesse estado. – Mostrei a língua para ela, vendo-a rir.
Consegui aproveitar quase três horas ali com os meninos, o pessoal da equipe técnica e minha equipe. Eu sabia há muito tempo que eles eram realmente minha família, mas essa festinha? Mesmo que eu estivesse totalmente despreparada, com roupas não muito apropriadas para uma festa, eu sabia que aquilo era simplesmente perfeito para a realidade minha e de Alisson.
Tinha vários quitutes gostosos e os jogadores reclamavam por não poder comer, cortamos o bolo magnífico e depois eu dediquei algum momento para abrir os presentes. Posso te garantir que tinha muito mais presentes do que pessoas. Era claro que eles tinham entrado em uma loja de bebê em Teresópolis e compraram a loja inteira, então tinha de tudo. Roupinhas, sapatinhos, brinquedos, fraldas, acessórios para bebê, roupa de cama e banho, pomadas, mamadeiras, carrinho de bebê, andadores, velotrol, até um berço estava desmontado ali no meio. Eu havia montado meu enxoval inteiro em uma tarde. Eu posso estar enganada, mas acho que o quarto de Mini estava pronto. E as coisas refletiam os gostos de todo mundo, então estava tudo bem colorido.
Pouco antes das três o pessoal começou a reduzir a comilança e a bebeção de refrigerantes, eles ainda tinham treino, então eles precisavam estar prontos para isso. Além de todos os nossos compromissos em volta desse treino.
- Eu te encontro lá embaixo. – Alisson falou, dando um beijo em minha testa.
- Obrigada. – O abracei pela cintura. – Foi incrível, mesmo. – Suspirei.
- Eu sei como é complicado passar por isso e não aproveitar e percebo que você não está aproveitando muita coisa. – Dei um pequeno sorriso. – Joguei a ideia para os meninos, eles gostaram, aí só precisei mexer uns pauzinhos.
- Então é isso que estava falando com a Michelle ontem. – Falei, dando um tapinha em seu ombro.
- É. – Ele falou encabulado e eu ri, colando meus lábios nos dele.
- Obrigada, foi demais. – Suspirei. – E não precisamos comprar nada para o bebê! – Falei, vendo-o rir.
- Aposto que não! – Alisson falou, rindo. – Desce, ok?!
- Pode deixar! – Falei, acenando para ele que passou pelas portas do restaurante.
- Missão cumprida. – Bianca falou ao meu lado e eu sorri, virando para a equipe de comunicação e minha família e de Alisson que restaram no local.
- Foi incrível, obrigada, gente. Não esperava mesmo. – Sorri.
- Que bom, foi difícil esconder isso embaixo do teu nariz, viu?! – Anna falou, comendo mais um cupcake e eu ri fracamente.
- E eu amei a decoração, ficou perfeito. – Eles sorriram.
- Bom, depois que percebemos que voltaríamos para Granja antes da final, achamos que daria para fazer algo para você, afinal, somos sua família e só Deus sabe quando vamos juntar todo mundo de novo, né?! – Bianca falou.
- Foi ótimo e ideal, eu amei. – Sorri, vendo-os retribuírem.
- Bom, vamos voltar ao trabalho, né?! – Vinícius falou, se levantando.
- A gente pode ficar para o treino? – Nathan perguntou e eu virei para Angelica.
- Acho que não tem problema. – Ela falou.
- O treino está inteiro fechado para imprensa hoje, contanto que não filmem nada, não tem problema. – Bianca falou.
- Eu tenho que ir até o Fluminense ainda, tenho uma reunião as sete. – Muri falou, se levantando.
- Foi muito bom tê-los aqui. – Sorri, abraçando um por um da família Becker.
- José, Magali, nós vamos ficar, podemos voltar todos juntos depois, caso queiram ficar conosco. – Meu pai falou.
- É uma boa! – Seu José falou.
- Bom, vocês vão acompanhar um pouco do nosso dia. Eu só vou dar uma geral nisso.
- Relaxa, filha. – Minha mãe falou. – A gente está de van, depois levamos tudo com a gente para o seu apartamento.
- Ah, vocês fariam isso? – Falei animada.
- Claro, nós trouxemos. – Andressa falou e eu ri fracamente.

- ‘Bora colocar esse pessoal para aquecer, Taffa! – Gritei para ele quando cheguei no campo com Bianca e percebi o vento forte que passava para lá. – Até o Alisson tá com a blusa azul hoje, vamos esquentar! – Falei animada, vendo eles rirem.
- Eu poderia falar que são os hormônios, mas ela é assim! – Alisson falou, me fazendo rir.
- É, sei bem. – Taffa falou, me fazendo rir.
Segui pela lateral do campo, enquanto Tite começava o aquecimento e olhei minha família e de Alisson aonde ficaria a imprensa. Eles estavam naquela plataforma um pouco mais alta, acompanhando tudo de cima.
Pela minha felicidade, Alisson treinou normalmente hoje, não sentiu mais dores e estava pronto para a final. O resto do time parecia bem também. Willian estava com aquele problema dele e Fernandinho ainda era dúvida, mas o restante me parecia bem e dando sempre aquele esforcinho extra para fazer tudo acontecer.
Eu e Bianca nos intercalamos no telefone, aparentemente tinha vários torcedores e imprensa do lado de fora da Granja querendo entrar e aí começava aquela discussão de sempre: eles queriam acesso para nos apoiar ou queriam resultado nosso no domingo? Enfim, tinha momentos e momentos, agora estávamos literalmente nos 45 do segundo tempo e não dava para ter distrações.
Tite liberou que eu levasse Casemiro e Marquinhos para a zona mista para eles falarem um pouco com a imprensa, mas foi igual o esquema de ontem, 20 minutos, uma pergunta para cada repórter, eles tentavam se matar para pegar todas as informações e boa. Eles perguntavam muito sobre Paolo Guerrero e tentavam fazer projeção que o jogo seria igual ao da fase de grupos, mas a gente sabia que não e nos preparávamos para isso.
Não deu para seguir o treino até tarde da noite, quando o sol começava a se pôr, a gente começou a reclamar do frio rápido demais e não estava na hora de ninguém ficar doente também, então por volta das seis e meia tudo estava encerrado.
Nossos familiares aproveitaram para ir embora nessa hora, a viagem para o Rio era longa ainda. Abracei cada um, agradeci muito pela vinda e falei que os encontrava no domingo novamente, preferivelmente depois que fôssemos campeões.
O dia tinha sido pesado, então muitos foram descansar um pouco antes do jantar, Alisson foi um desses, ele tomou banho e acabou capotando um pouco ao meu lado enquanto eu finalizava algumas demandas e e-mails. No jantar tivemos a presença de Parreira, técnico da Seleção Brasileira na Copa de 94, foi interessante ver ele e Taffarel juntos, claro que eu fiz minha cota de tietagem, aquele cara era uma lenda viva e eu precisava aproveitar.
Apesar das histórias, conselhos e apoio de Parreira, voltamos ao quarto pouco depois das dez, todos estávamos cansados e amanhã realmente começaríamos cedo. O treino seria somente até meio dia, então eles precisavam estar de pé as seis para estar no campo as oito. Mais tarde ainda tinha viagem para o Rio e os protocolos tradicionais.
- Meu dia foi incrível, sabia? – Falei, saindo do banheiro e puxando a porta.
- Ah, é?! – Alisson bateu a mão ao lado da cama e eu sentei, colocando o corpo embaixo da coberta.
- Foi demais, obrigada. – Me aproximei dele, abraçando-o pela cintura.
- Você merece isso e muito mais. – Ele falou, beijando minha testa. – E os caras adoram uma festa, né?!
- Ah se gostam. Aqui não importa se é churrasco, festa, chá de bebê, eles gostam de tudo. – Rimos juntos.
- Foi bom para relaxar também, estávamos precisando. – Assenti com a cabeça, apoiando a cabeça em seu peito.
- Adorei nossa família ter vindo também, agora só imagino como está meu apartamento no Rio... – Falei rindo fracamente.
- Como assim?
- Ah, eu tinha planos para gente, sabe? Depois da final, você ficar lá em casa e aproveitarmos suas férias...
- É, com seu pai talvez não seja tão possível. – Rimos juntos.
- Enfim, vamos ver, minha mãe deve estar se sentindo mal por não aproveitar a gravidez, deixa eles. – Sorri.
- Vai ser bom. – Ele falou. – Vamos só ganhar essa competição antes, que tal?
- Já falei que gosto como pensa? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Já. – Ele falou e eu sorri, sentindo-o beijar minha cabeça.
- Bom, boa noite, amor. Acho que mais alguns segundos e eu não sou capaz de me mexer. – Comentei e ele riu fracamente.
- Então, dorme, meu amor. Vamos que está quase acabando. – Suspirei.
- Poderia falar que isso é um alívio, mas é meu maior medo. – Pressionei os lábios.
- Confia em mim, vamos fazer dar certo. – Ele falou e eu não tinha capacidade para falar mais nada, então somente fechei os olhos e deixei que o sono me ganhasse.

Bebi mais um gole de minha água, deixando a garrafa vazia descansar no banco vazio ao meu lado e suspirei. Ergui o rosto, vendo com dificuldade os jornalistas fazendo algumas imagens do local especial para eles e endireitei o corpo, encostando em uma das poltronas do banco de reservas e foquei no alongamento do treino em minha frente.
Era próximo do meio dia, o treino estava acabando e o nervosismo não poderia estar mais alto. O frio e o tempo nublado ajudava um pouco, as mãos estava congeladas, o corpo muito bem agasalhado entre duas blusas e um casaco e nem a cama extra de gordura na região do abdome fazia com que eu relaxasse um pouco.
Observei Taffa e Mauri, o outro treinador de goleiros, finalizar com alguns chutes rápidos a gol e Alisson tinha um largo sorriso no rosto ainda. Eu não estava conseguindo esboçar um sorriso verdadeiro desde o começo do dia. A incerteza em minha cabeça era muito evidente e isso me deixava mais quieta, então o pessoal começava a notar, mas era compreensível, todo mundo queria me ajudar, nos ajudar, mas ninguém sabia como e quem poderia saber como havia ido embora com a mesma velocidade antes.
Esperava que pelo menos eu conseguisse ter o bebê em Liverpool e ficar minha licença maternidade lá, como Angelica havia sugerido antes da competição. Eu precisava programar para falar isso com eles na segunda-feira. Eu precisava me organizar, além de fazer um novo check-up com Mini. Todo esse nervosismo, incerteza, bagunça e surpresas deveriam ter bagunçado legal aqui dentro, além do meu psicológico, eu iria ligar para a doutora Vanessa que havia me ajudado quando minha avó faleceu, eu sentia que ia espiralar em breve.
Mas só tinha mais um dia. Pouco mais de 30 horas para isso acabar e eu sei que conseguia aguentar isso. Alisson também ficaria comigo por mais uns 20 dias antes de seguir para o pré-treinamento, conseguiríamos aproveitar um pouco, apesar de eu voltar a trabalhar já na semana que vem, agora me parece uma boa ideia não ter tirado minhas férias antes, tudo que eu mais quero é dormir e relaxar.
O apito de Tite me distraiu e eu suspirei ao perceber que o treino tinha finalizado. O último treino da Seleção Brasileira antes da Copa América, o último treino da temporada. Senti uma lágrima deslizar pela minha bochecha e Bianca se levantou ao meu lado, virando para mim.
- Vamos? – Ela perguntou estendendo as mãos e eu sorri, segurando-as e deixando ela me levantar. – Você está bem?
- Como? – Comentei. – Está acabando, não tem como fugir mais.
- Vem cá! – Bianca me abraçou fortemente e eu deixei meu rosto afundar na dobra do ombro da mais baixa, me fazendo respirar fundo. – Eu confio no Alisson, eu confio na Angelica e na Michelle e eu confio que todo esse sofrimento vai parecer besteira daqui um tempo.
- Queria ter essa confiança também. – Falei, passando as mãos no rosto.
- Tenha certeza de uma coisa, amiga, eu estarei contigo para o que der e vier. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, pressionando os lábios, tentando evitar o choro.
- Você não tem noção como eu aprecio isso. Só você para aceitar dormir com o Firmino para gente aproveitar um pouco. – Ela riu fracamente.
- Imagina se eu dissesse não? O Alisson ia me odiar para sempre. – Ela falou e eu sorri.
- já está sentimental de novo? – Viramos para o lado, vendo Lucas se aproximar pela beirada do campo.
- Quando não? – Brinquei, vendo-o rir fracamente.
- Estamos contigo, , para sempre! – Ele estourou um flash em meu rosto e eu ri fracamente.
- Chorando não, Lucas! – Eles riram.
- Bom, vamos expulsar a imprensa daqui. – Bianca falou.
- Vamos fazer uma pelada da equipe técnica ainda, quer participar? – Lucas virou para mim.
- Há, há, há! Claro, por que não? – Dei de ombros e eles riram.
Enquanto os jogadores seguiam de volta para o vestiário para se arrumar, eu e Bianca seguimos para falar com a imprensa. Eles tiravam algumas dúvidas sobre protocolo e logo se retiraram. O treino sério havia sido antes deles chegarem, no final foi só relaxamento, então eles não iam tirar da gente a escalação. A gente era bocuda, mas nem tanto.
Voltamos para o campo e a equipe técnica brincava um pouco. Só brincava mesmo, eles estavam bem travados, acho que o frio piorava as coisas. Segui em direção ao vestiário, dando uma relaxada com a calefação lá dentro e tirei o casaco, ficando somente com a blusa branca e uma cacharréu azul escura embaixo do uniforme. Amarrei o casaco na cintura e entrei na área de troca. Alguns estavam no banho, outros já tinham saído e outros já estavam prontos.
- Galera, o almoço vai ser serviço as duas horas hoje, beleza? Vocês podem relaxar um pouco, dar uma descasada. – Falei um pouco mais alto.
- Que horas vamos para o Rio? – Coutinho perguntou.
- Seis horas. – Falei. – Depois do almoço vocês estarão livres para arrumarem suas coisas e relaxar, ficar bem relaxados. – Frisei.
- Valeu! – Coutinho falou e eu assenti com a cabeça.
Olhei para o pessoal, checando se alguém tinha mais uma pergunta e saí da sala de troca. Andei até a entrada e apoiei o corpo no batente da porta, observando o campo um pouco mais abaixo. A neblina estava um pouco mais alta, então só o verde da grama ficava em evidência. A equipe técnica jogava no campo principal e eu só conseguia rir, eles estavam velhos e travados, então ver o pessoal mais jovem dar um baile neles era realmente interessante.
Senti uma mão em minha cintura e virei para o lado, vendo Alisson de esguio. Ele deu um beijo em meu ombro e apoiou a cabeça em meu ombro, me fazendo sorrir. Endireitei o corpo e ele pode abraçar minha cintura, colocando suas mãos na minha barriga.
- Eu gosto muito daqui. – Ele comentou e eu sorri.
- Eu também. – Suspirei.
- Sabe por quê? – Ele perguntou, dando mais um beijo em meu ombro e eu ri fracamente.
- Por quê? – Entrei na dele.
- Foi aqui que eu comecei a me apaixonar pela minha namorada. – Dei um pequeno sorriso.
- Ah, é? – Virei o rosto, vendo-o sorrindo.
- Sim, foi ali! – Ele me apontou o campo. – Ela estava fazendo algumas embaixadinhas, umas gracinhas com a bola e eu fiquei observando-a. Acho que foi uma das visões mais bonitas que eu já vi. Os cabelos mexendo conforme o movimento, o corpo naquela calça colada... – Ri fracamente.
- Saudades dela. – Ele sorriu e eu virei o rosto, apoiando as costas no batente da porta e ergui os braços até seu pescoço.
- Acho que foi no dia 22 ou 23 de maio. – Ele comentou, me fazendo sorrir. – Depois achei que nunca mais a veria e ela surgiu no nosso avião, indo para Rússia. – Suspirei, apertando-o em meus braços.
- Já estou emotiva demais, amor. – Falei, suspirando.
- Eu sei, eu vi você no treino. – Ele falou. – Você confia em mim? – Ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto.
- Depende, nos pênaltis eu confesso que fico nervosa... – Ele riu fracamente. – Mas confio.
- Nós vamos fazer isso funcionar. – Senti uma lágrima deslizar de meu rosto e apoiei minha cabeça em seu ombro, deixando-o me abraçar fortemente.
- Eu te amo, Alissinho. – Ele sorriu. – Você é o homem da minha vida.
- Faz tempo que você não me chama de Alissinho. – Rimos juntos.
- Bom, antes era em um tom bem pejorativo. – Fiz uma careta.
- Eu gosto. – Ele disse e eu ergui o rosto. – Só você me chama assim.
- Também, se mais alguém te chama assim você sai logo na porrada. – Ederson falou, saindo pela porta e nós gargalhamos.
- Ele não está errado. – Alisson falou. – Eu me sinto priorizado por ter te encontrado. – Ele falou e levei meus dedos gelados até seu rosto quente e colei nossos lábios levemente.
- Esse gelo é de frio ou de nervoso? – Ele perguntou.
- Um pouco dos dois. – Falei e ele riu fracamente.

- Eles estão empinando pipa? – Perguntei, me aproximando da janela e vendo alguns jogadores lá embaixo.
- Estão voltando à infância. – Arthur falou e eu me aproximei dele, vendo Jesus, Paquetá, Thiago, Fagner, Ederson, Everton, Militão e Fernandinho lá embaixo.
- Acho que eu nunca empinei pipa. – Marquinhos falou.
- Ah, qual é! – Virei para ele. – Até eu já empinei pipa. Minha avó do Rio morava num condomínio e o pessoal só sabia fazer isso. Quando eu vinha para o Rio, era a diversão.
- Sei nem como fazer ela subir. – Ele falou, nos fazendo rir.
- Eu sei o jeito que alguém segura e o outro sai correndo. – Comentei, ouvindo Miranda gargalhando.
- Eu era desses também. – Sorrimos juntos.
- Viviam cortando minha pipa, eu era a medrosa que não usava cerol.
- Eu também! – Arthur falou e rimos juntos.
- Vai, Alisson! – Casemiro falou e vi os dois andando em volta da mesa de sinuca.
Estávamos na sala de jogos, tínhamos almoçado e agora estávamos enrolando um pouco até voltar para os quartos, terminar de arrumar mala, etc... Alisson, Casemiro, Neres e Dani estavam na sinuca. Willian e Filipe Luís no pingue-pongue, Bianca e Anna no air hockey. Lucas, Vinícius e Leandro estavam lá embaixo. O resto do pessoal estava nos quartos ou jogado pelos cantos da Granja.
- A última vez que eu perdi aqui foi em 2004. – Filipe Luís falou, comemorando sua vitória contra Willian.
- Mesmo? – Virei para ele que abriu um sorriso. - Ok... – Me aproximei da mesinha, pegando a raquete da mão de Willian. – Eu aceito um desafio honesto.
- Joga pingue-pongue? – Ele perguntou.
- Eu jogo tênis, só muda as proporções. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Ok, vamos lá! – Ele falou, me jogando a bolinha e eu a peguei.
- Só cuidado com minha barriga! – Falei, vendo-o rir.
- Essa eu quero ver! – Willian falou e eu pisquei para ele.
- Vou lutar pela sua honra, Willian! – Falei e ele riu fracamente.
- Quem completar cinco ganha, fechado? – Filipe perguntou.
- Fechado! – Falei, me posicionando atrás da mesa.
Filipe começou devagar, mas no meu primeiro ponto, ele começou a pegar pesado e jogar com mais velocidade, mas ele fazia um, eu corria e fazia outro. Ele perdia um ponto, eu recuperava e foi assim até conseguirmos empatar de quatro a quatro. A sala de jogos já tinha enchido e todo mundo prestava atenção no nosso pequeno jogo. Quem diria que um joguinho de nada deixaria o pessoal animado?
Observei as táticas de Filipe e ele mandava forte e alto, então a bola pingava no centro da mesa e subia alto demais, me desesperando para buscar ela mais para o fundo, então eu ia usar a tática que eu usava para fazer ponto em Lucas no tênis. Eu não ia esperar a bola pingar, ia interceptar ela no meio do caminho e mandar no começo da mesa dele.
- Vamos lá, quem fizer ganha! – Willian falou e era minha vez de sacar.
Filipe queria matar logo, eu fiz o saque em velocidade lenta, ele ergueu a raquete e abaixou com velocidade rápida. Estendi minha raquete para interceptar a bola e ela bateu forte na mesa e pingou na parte dele. Abri um sorriso quando foi sua vez de se desesperar, mas a bola pulou para fora antes dele chegar nela.
- É! – O pessoal comemorou.
- Uh, desde 2004? Deve doer, né?! – Brinquei, jogando a raquete na mesa, vendo-o debruçado nela.
- 15 anos de invencibilidade! – Ele reclamou e eu ri fracamente.
- Pois é! – Sorri, piscando para ele.
- Bom jogo! – Ele falou, batendo a mão contra a minha e eu sorri, abraçando-o.

- Bom, é isso. – Falei, colocando minha mala no chão. – Próxima parada, Rio de Janeiro.
- Vamos, meu amor. Vai dar tudo certo. – Alisson falou.
- Você é espirituoso demais. – Falei e ele riu fracamente, beijando minha têmpora.
Dei uma checada rápida no quarto e saímos juntos dos outros jogadores e o ônibus já nos esperava na rua. Nos despedimos dos funcionários da Granja, abraçamos Angelica mais uma vez. Parecia que Tite e Dani queriam dizer alguma coisa, mas não falaram nada, então seguimos em silêncio para o ônibus. Era sábado fim de dia, então a temperatura estava baixando e o sol já tinha se escondido atrás das montanhas.
Alisson dormiu rapidamente ao meu lado, eu fiquei alerta, bom, eu já estava alerta há muito tempo por diversos motivos, não é mesmo? Então eu acompanhei toda viagem. O clima dentro do ônibus era quieto, cada um com sua música nos fones de ouvido ou até com notebooks, mas cada um na sua.
Chegamos no Rio de Janeiro e nossa primeira parada foi no Maracanã, não teria treino, mas tivemos uma hora de análise de campo e preparação psicológica para amanhã. Lá tivemos uma coletiva com Dani Alves e Tite, a última antes da competição. E a última da temporada se ganhássemos amanhã.
Por favor, precisávamos ganhar. Minha reação quando perdemos a Copa do Mundo ainda estava cravada em minha mente, quem diria que Alisson teria que me consolar e não o contrário? Claro que uma Copa América e uma Copa do Mundo eram duas coisas muito diferentes, mas eu sabia da garra desses jogadores e da vontade de conquistar esse prêmio, para eles era uma final de Copa do Mundo, para mim também.
Chegamos no hotel Sheraton com festa da torcida brasileira. Vinícius de Canarinho se meteu no meio da torcida e não sei como ele sairia dali, mas acho que os seguranças poderiam cuidar disso. Acho que eu nunca vi uma recepção como aquela durante todo esse ano acompanhando a Seleção. O povo lá fora gritava a música que eles criaram na Copa e lá dentro do hotel tinha muito mais gente. Fiquei realmente surpresa.
Eu e Bianca entramos antes, para seguir em direção a gerência, mas os jogadores pararam para dar autógrafos, tirar fotos com os torcedores e aquilo acabou demorando um pouco. Eu e Bianca nos apresentamos para o gerente, pegamos as chaves e lista de quartos e seguimos em direção ao restaurante reservado para nós. Iríamos jantar ainda.
- Vai ser bom. – Bianca falou e eu assenti com a cabeça.
- Eles vão gostar. – Rimos juntas.
Esperamos que todo mundo estivesse lá dentro, fizemos uma rápida chamada e Marcos foi o último a entrar, confirmando que todo mundo estava lá. Esperei que o gerente desse às boas-vindas aos jogadores e ele nos deu licença.
- Bom, gente, o pessoal da CBF conseguiu algo legal para vocês. – Falei. – Como vocês chegaram à final, como amanhã é o resultado de todo nosso trabalho, os jogadores terão direito a um quarto para cada um essa noite.
- Ah ê! – Eles começaram a comemorar e eu ri fracamente.
- Esse quarto sozinho é para vocês se preparem, relaxarem e fazer seu momento de reflexão, ok?! – Bianca falou, me fazendo rir. – O jantar está servido, depois vocês podem subir.
- Vamos repassar a programação de amanhã. – Falei, trocando os papéis. – Café da manhã estará servido das oito as 10, caso alguém queira descer. Das 10 às 11, vocês terão reunião com o Tite sobre o jogo, o almoço será as 13 horas e 15 horas iremos para o Maraca para meter, mais uma vez, um pau nos peruanos.
- Estava demorando! – Jesus falou e eu ri fracamente.
- Os peruanos são muito legais, cara, o problema foram os argentinos mesmo. – Falei, vendo-os rirem. – Quem estiver precisando de massagem ou relaxamento muscular, Amir, Serginho e o pessoal estão das 11 às 13 horas disponíveis para vocês, ok?! Falem com ele se precisarem de algo, caso alguém esteja precisando de algo mais específico, eles já sabem.
- É isso, podem pegar suas chaves e aproveitem. Pessoal das outras equipes, sinto lhes dizer, mas os quartos são duplos. – Eles riram.
- Está de bom tamanho. – Lucas falou, se aproximando e pegando a primeira chave.
Os jogadores se aproximaram para pegar as chaves esporadicamente e depois distribuímos para a equipe técnica. Eles deixaram suas malas no canto do restaurante e já seguiram para comer, afinal, era quase dez horas, o pessoal precisava de um belo descanso para a final.
Era a final, cara. Eu estava abismada que tínhamos conseguido. Sim, todos nós, aquilo era uma vitória para toda a equipe.
- Quarto sozinho, é?! – Alisson se aproximou e eu entreguei a última chave para ele.
- Você precisa relaxar, amor. – Falei, acariciando seu rosto.
- Tenho uma ótima forma de relaxamento, acho que você conhece, se chama se...
- Bobo! – Ri fracamente, dando um curto beijo em sua bochecha. – Mas aproveita, ok?! Vou ficar com a Bianca essa noite. Relaxa que daqui 24 horas estaremos na minha cama gigantesca. Depois que eu expulsar Andressa dela, é claro. – Ele riu fracamente.
- Com certeza. – Sorrimos.
- Mas aproveita, ok?! É melhor mesmo, você não abusa dos movimentos, não se desgasta à toa...
- Eu sei. – Ele sorriu. – É que já me acostumei com você ao meu lado.
- Só uma noite. – Pisquei e ele assentiu com a cabeça. – Agora vamos comer, Mini está faminta.
- Você não vai mais poder usar essa desculpa, sabia? – Rimos juntos.
Seguimos até o buffet e eu tirei meu pratinho de pedreiro de sempre. Eu sabia que teria que penar na academia um pouco quando Mini nascesse, mas ela que estava me obrigando a comer demais.
- Bom, gente, antes de vocês finalizarem de jantar e seguirem para seus quartos, quero agradecer a todos. – Tite falou, se levantando. – Vamos falar um pouco mais disso amanhã, mas sempre fazemos um jantar com todos juntos nos amistosos e agora não poderia ser diferente. – Ele falou, me fazendo assentir com a cabeça. – Foi muito bom estar com todos vocês durante esse tempo, eu vi a garra e força de cada um de vocês e estou orgulhoso da decisão que eu fiz. – Ele sorriu. – Amanhã é um novo dia, uma nova oportunidade, independente do resultado, quero que saibam que sou muito grato por tudo. – Sorrimos. – Vocês foram incríveis e agradeço pela participação e coragem de todos. – O pessoal começou a aplaudir e acompanhamos.
Enrolamos lá embaixo mais um pouco, depois subimos em peso. Eu e Bianca ficamos em um andar diferente dos meninos, afinal, eles ficaram com quartos individuais, mas menores, nos de duas pessoas eram maiores e tinham duas camas de casal. Tem vantagem, meus amigos.
- Dorme bem, ok?! – Alisson falou quando chegou em nosso andar.
- Você também, todos vocês. – Falei, segurando a porta do elevador e ele se aproximou de mim, dando um rápido beijo em meus lábios. – Eu te amo.
- Eu também! – Ele falou e eu sorri.
- Libera a porta! – Casemiro gritou e eu mostrei a língua para eles, ouvindo-os gargalhar e eu saí do elevador, vendo a porta fechar em seguida, me fazendo suspirar.
- Só amanhã agora. – Falei, suspirando.
- Nós precisamos descansar também, amanhã vai ser o dia! – Assenti com a cabeça, abraçando-a pelos ombros.
- Só nós duas agora, Bi. Vamos que vamos! – Falei suspirando.
- Vamos, garota. – Ela suspirou. – Amanhã precisa ser demais.
- Apesar do meu medo, eu sei que vai. – Falei, vendo-a colocar a chave na porta e assentimos. – Precisa ser.
- Bom, vamos dormir que amanhã temos uma missão logo cedo. – Ela falou.
- Você vai?
- Não sei ainda, vai o Vinícius, o Leandro e a Anna, queria ir para ver o Rio, né?! Eu moro aqui há sei lá quantos anos e nunca vi o Rio.
- Ah, qual é! – Falei rindo.
- Pois é! – Rimos juntas.
- Se você for, eu vou, que tal? – Perguntei e ela assentiu com a cabeça, fechando a porta atrás de si.
- Combinado! – Ela falou e sorrimos juntas.

Soltei um suspiro ao olhar para o Cristo Redentor e fiz um sinal da cruz. Eram seis horas da manhã, eu estava morrendo de frio, a neblina começava a baixar, era final da Copa América e eu tinha muitas incertezas na minha cabeça.
Enquanto Vinícius fazia gracinha com os sinalizadores verde e amarelo, aproveitei um momento para fazer uma reza aos pés do Cristo. Eu e Ele já tínhamos um acordo. Chegamos à final, agora precisaríamos vencê-la, mas dessa vez eu não pedi pela nossa vitória, eu pedi por mim, por Alisson e por Mini.
Acho que esse era o principal motivo de eu ter aceitado acordar antes do sol nascer em dia de final. Minha vida tinha mudado muito há um ano. Eu pensava há um ano atrás e me vinha aquela tristeza de eliminação da Copa do Mundo, mas me vinha também uma felicidade em saber que alguém me amava do meu jeito e que queria me namorar mesmo há 9342 quilômetros de distância. Com um oceano no meio.
Esse amor cresceu, se consolidou, enfrentou todas as dificuldades e virou uma criança que estava em meu ventre hoje. Uma criança que estava tão animada quanto eu para vencer sua primeira competição.
Passamos por muitas dificuldades para desistir agora, mas às vezes eu gostaria que a vida fosse um pouco mais fácil, sabe? Claro que eu realmente não podia reclamar, eu tenho dado sorte desde o começo, emprego, vida pessoal, carreira, casa, enfim, tudo que o que a vida tem me dado é sorte, mas não queria depender da sorte quando dizia sobre mim, Alisson e Mini, não podia ser assim.
- Eu confio em Ti, Senhor. – Falei baixo, deixando as palavras sumirem com o vento. – Me mostre o caminho. – Engoli em seco.
- Está tudo bem? – Bianca apareceu ao meu lado e eu passei o braço pelos seus ombros.
- Espero que sim. – Ela deu um meio sorriso e me abraçou de lado.
- Vai ficar. – Ela disse confiante e eu assenti com a cabeça.
- Tomara. – Suspirei.
- Vai sim, agora vamos, temos que subir no bondinho do Pão de Açúcar, no Museu do Amanhã, no Maracanã...
- Meu Deus, Bianca, são seis hora da manhã! – Falei, ouvindo-a rir.
- E temos muito o que fazer! – Ela me sacudiu e eu ri fracamente, olhando para trás e vendo toda equipe de comunicação apoiados na beirada.
Andei devagar até a beirada também, sentindo o vento bater em meu rosto e olhei para o Rio de Janeiro começando a amanhecer lá embaixo. Soltei um pequeno sorriso, apoiando as mãos também e Bianca apertou a minha fortemente. A cidade que me acolheu era linda sempre, mas dali de cima, com aquele nascer do sol, ela estava perfeita.
Perfeita para uma final de Copa América.
É isso, Rio, agora é com vocês.


Capítulo 24 – É Tudo ou Nada, A Hora é Agora

Assim que a van parou de volta na frente do hotel, eu fui a primeira a saltar, evitando os gritos altos do lado de fora. Andei em direção ao restaurante, tirando meu casaco e abanando a mão. Parecia que o Rio tinha feito questão de voltar a esquentar justo hoje. Sei que os hormônios estavam afetando, mas eu estava derretendo embaixo daquele uniforme e daquela blusa de manga comprida por baixo. Eu saí antes das seis do hotel, né?! Naquele horário estava frio.
Ergui o crachá para o segurança e empurrei a porta do restaurante, ouvindo os burburinhos ali em volta, Bianca, Leandro, Vinícius e Anna vinham atrás de mim. Parei na primeira cadeira e deixei meu casaco.
- Boa tarde, gente! – Falei um pouco alto.
- Ei, chegaram! – Edu falou. – Como está o Rio?
- Lotado, animado, quente para caralho e fervendo mais do que o inferno. – Bianca falou, também tirando seu casaco.
- Achei que eu era a única que estava morrendo. – Falei, vendo Alisson seguir em minha direção.
- Ei, bom dia. – Ele falou e eu sorri.
- Não se aproxima, eu estou derretendo, preciso tirar essa blusa de baixo. – Suspirei.
- Saíram cedo. – Ele comentou.
- Antes do sol nascer. – Ele se aproximou, dando um curto beijo em meus lábios. – Como estão as coisas?
- Ah, até que bem, alguns familiares passaram aqui de manhã... – Assenti com a cabeça.
- Eu me esqueci total da visita das famílias, mas eu precisava conversar com o Senhor um pouco mais de perto. – Ele sorriu, passando as mãos ao redor de minha barriga. – Aproveitei a oportunidade.
- Fazendo acordos com Deus? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Bom, não custa nada dar uma reforçada, certo? – Ele sorriu, dando um curto beijo em minha bochecha. – Mas dessa vez fui pedir por nós...
- Nós? – Ele perguntou.
- É, aquela história toda.
- Já falei que vai dar certo, amor. – Ele insistiu e eu suspirei.
- Eu sei, mas você fala que vai dar certo e não me dá uma resposta...
- Bom, é...
- Então, só um milagre para resolver isso. – Falei. – Tirando algumas exceções, da última vez que eu chequei, só Ele faz milagre.
- Mas você ainda confia em mim, certo? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Mas é claro. – Levei a mão até seu rosto, acariciando de leve.
- Vem comer. – Ele falou.
- Vou só tirar essa blusa, já volto. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Segui em direção ao banheiro do restaurante mesmo e tirei as duas blusas, pegando alguns papéis toalha do dispenser e passando pelo meu colo, seio e todas as possíveis dobrinhas. Desenrolei uma blusa da outra e coloquei somente a do uniforme, ajeitando certinho. Dobrei minha cacharréu e voltei para o restaurante, acenando para um pessoal, piscando para outros e segui para o buffet.
Optei pelo tradicional, hoje era um dia que nada poderia dar errado, muito menos uma diarreia ou enjoo, tudo precisava estar perfeito. Peguei um suco para acompanhar, talheres, guardanapo e fui para mesa, dando de cara com Filipe Luís.
- O quê? – Perguntei.
- Você vai sentar na nossa mesa hoje. – Ele falou, puxando uma cadeira na ponta da mesa e eu ri fracamente, apoiando o prato na mesa e meus utensílios.
- Você é muito estranho, já falei? – Comentei, espetando uma batata assada e ele revirou os olhos quando me sentei.
Coloquei a batata na boca, dando uma olhada desanimada para as três folhinhas da salada no meu prato e me assustei quando algumas flores foram colocadas no meu campo de visão. Virei para o lado, vendo Alisson com um sorriso no rosto e observei o buquê de rosas vermelhas na minha frente e empurrei a cadeira, me levantando.
- Ah, meu Deus, eu esqueci, não foi?! – Fiz uma careta e ele riu fracamente.
- Feliz um ano de namoro, amor. – Ele falou e eu suspirei, passando meus braços pelo seu pescoço e colando nossos lábios, ouvindo os clássicos gritos e zoações.
- Como eu sou estúpida? Eu esqueci completamente. – Falei quando nos separamos, pegando o buquê de suas mãos. – Falamos isso esses dias e eu já me esqueci.
- Você tem muita coisa na sua cabeça – Ele falou e eu cheirei as rosas, sorrindo para ele.
- Mais do que eu deveria. – Suspirei. – Eu não te comprei nada, me desculpe.
- Eu só comprei as flores mesmo, e nem paguei ainda, talvez não pague também. – Ele comentou.
- Ei! – Lucas reclamou, nos fazendo gargalhar.
- Sabe que presente seria muito bom? – Sussurrei para ele, sabendo que o pessoal estava ouvindo pelo silêncio no ambiente. – Uma vitória na Copa América. – Falei e o pessoal começou a reclamar, jogando guardanapos em mim e Alisson riu fracamente.
- Nós comemoramos melhor amanhã, que tal? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, só nós dois, em um restaurante bem bacana, com roupas decentes e um presente legal. – Falei e ele sorriu, colando os lábios nos meus novamente.
- Combinado. – Ele sorriu. – Mas espero realmente te dar a vitória hoje. – Ele sussurrou e eu ri fracamente.
- Bom mesmo. – Falei, vendo-o sorrir.
Voltei a me sentar na cadeira, colocando o buquê no colo e ele seguiu para pegar comida. Puxei o celular do bolso, abrindo o Instagram e escolhi uma das nossas várias fotos que Lucas nos pegava nos momentos mais íntimos ou zoados. Escolhi a de ontem que eu observava o campo e Alisson apoiava o rosto em meu ombro e tinha uma mão em minha barriga e coloquei de legenda “Olhe o tanto que conquistamos esse ano que eu aceitei ser sua: Rússia, Inglaterra, Áustria, Estados Unidos, Arábia Saudita, Itália, Portugal, República Tcheca, agora Brasil. Ah, sem esquecer do bebê, é claro. Obrigada por esse ano incrível, te amo”.

Dessa vez foi fácil enrolar até as três da tarde. Eu quase acabei perdendo hora, isso sim. Ficamos papeando durante o almoço e, quando percebi, corri para fechar minha mala, checar o ambiente e ir embora. A única certeza é que eu dormiria na minha cama e, apesar dos divinos e confortáveis quartos de hotel, não tem nada como a nossa casa, certo?
Desci pelo elevador com Everton, Paquetá e Neres e parei ao lado de Bianca na frente do elevador, pegando a lista de sua mão, ticando os três jogadores. Me assustei com os gritos e tinha esquecido dos fãs no hotel.
- Isso é algo que eu não vou sentir falta, confesso. – Falei e ela riu fracamente, passando o braço pelos meus ombros.
- Você está preparada para isso? Mini está bem? – Ela perguntou.
- Olha, ironicamente, eu estou preparada para a final, acho que consegui me ajeitar de um jeito. Agora preparada para ficar longe de Alisson de novo? Nem a pau. – Suspirei. – Se não tivesse Mini, eu estaria, mas com ela, tudo fica mais difícil.
- Vai ficar tudo bem, , você vai ver. – Neguei com a cabeça.
- Todo mundo me fala isso, mas incrível como ninguém me deu a solução ainda, não é mesmo? – Virei para ela que deu um sorriso sem graça.
- Bom, hoje é o último dia, teremos folga pela próxima semana, mas você pode ir falar com Michelle amanhã. Ela vai estar lá hoje, todo mundo vai, na verdade, mas...
- Não, não, ela e Angelica vão acompanhar o Caboclo, eu já causei muitos problemas para esse cara, não quero mais.
- Ah, não foram problemas, vai. Você só estava sempre envolvida nas coisas. – Rimos juntos.
- Isso na nossa área se chama “crise”, caso você não se lembre. – Comentei e ela sorriu.
- Ele te vê com bons olhos, vai. – Rimos juntos.
- Eu o ouvi conversando com o Alisson um dia sobre pedir um favor e tal, Alisson diz que foi para ele poder treinar aqui antes de voltar, mas tenho uma pulga atrás da orelha.
- O quê? – Bianca virou para mim.
- Será que ele não foi pedir para o Caboclo uma forma de fazer isso dar certo? – Ela franziu os lábios, suspirando.
- Não sei, pode ser, mas o Alisson é a pessoa menos cara de pau dessa turma toda, vai ver realmente foi permissão para treino, o irmão dele vem para o Fluminense, né?! – Ela deu de ombros.
- É, vem sim, sei lá... Eu vejo qualquer coisa, já acho que é sobre isso... – Suspirei.
- Vamos fazer um acordo? – Ela se virou para mim. – Se até semana que vem ninguém entrar em contato contigo dando uma solução, eu mesma vou contigo falar com Michelle, que tal? – Sorri.
- Você é uma amiga incrível, Bi, mas tem coisas que eu preciso resolver sozinha. – Suspirei. – Mas sim, segunda-feira voltando para trabalhar é o máximo, não vou deixar passar. – Falei. – Nem que eu tenha que largar a CBF, aposto que elas não se importariam de me escrever umas cartas de recomendação, certo?
- A Michelle e a Angelica? Nem a pau! Vai ser uma carta com cinco páginas, frente e verso. – Rimos juntos e ela me abraçou. – Nós te amamos, , vamos dar um jeito. – Suspirei.
- Vamos ganhar, senhoritas? – Taffa falou saindo do elevador com Alisson, Ederson, Cássio e Mauri.
- Mas devia estar bem apertadinho esse elevador, hein?! – Brinquei, vendo-os se embananarem com as malas, me fazendo rir.
- Não passamos o peso! – Ederson falou e eu sorri, vendo Alisson vir em minha direção.
- Como você está? Bem? – Alisson perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Sim, estamos bem. – Ele beijou minha testa.
- Pronta? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Incrivelmente sim.
- Mesmo? Sem nervosismo exagerado? Mini sacudindo? Suor? – Ele me olhou surpreso e eu suspirei.
- Nada. – Sorri. – Vamos manter essa clean sheet, ok?!
- Mas é claro! – Ele falou, rindo.
- Vai lá, logo vou. – Ele assentiu com a cabeça.
- Deixa que eu levo. – Ele falou, pegando minha mala e eu sorri, vendo-o seguir pelo hotel e os gritos aumentaram.
- Você falou de clean sheet e agora que eu percebi, o Alisson não levou nenhum gol, né?! – Ela perguntou e eu sorri.
- Nenhum! Tirando os pênaltis, mas não conta.
- Sabe de uma coisa, minha amiga? – Ela perguntou, me abraçando de novo pelos ombros.
- O quê? – Virei para ela.
- Precisamos te arranjar um vestido divino, pois você vai no Fifa The Best desse ano acompanhando seu namorado que vai ganhar de melhor goleiro do mundo. – Ela falou, gargalhando em seguida e eu sorri.
- Ele já é! – Sorri, sentindo um beijo em minha têmpora.
Esperamos o resto dos jogadores descerem, fizemos aquele check-out de sempre, agradecemos ao gerente pela ótima estadia – que eu não consegui aproveitar – e seguimos em direção ao ônibus. Os torcedores de dentro e de fora gritavam ainda, e eu fui a última e entrar naquele ônibus pela penúltima vez naquela competição.
Me sentei no primeiro banco com Bianca, ao lado de Alisson e Arthur e me afundei na poltrona. O silêncio no ônibus era maior do que normalmente, Alisson estava com os fones no ouvido e já tinha sua cuia em mãos, aproveitei e fiz o mesmo, pegando meus fones de ouvido e conectando no celular. Abri o Spotify e cliquei na primeira playlist que apareceu e coloquei no aleatório.
Fechei os olhos ao descobrir que a música A Hora é Agora do Jorge e Mateus começou a tocar e respirei fundo, deixando que as memórias invadissem minha cabeça. Essa música me lembrava muito de casa, antes de morar no Rio para a faculdade, bom, a gente morava no interior do interior de São Paulo, então o sertanejo era bem comum por ali, principalmente por causa das universidades da região.
Mas além disso, essa música veio em um momento bem propício para a final, para minha situação e de Alisson, talvez um momento tão propício que as lágrimas já estavam escapando dos olhos antes da hora.
“A melhor hora sempre é agora e o melhor lugar é sempre onde você está. E a luz nunca se apaga, juízo sempre acaba, e a nossa música vai começar. Paz e amor é o que eu quero pra nós e que nada nesse mundo cale a nossa voz. Céu e mar e alguém para amar, e o arrepio toda vez que a gente se encontrar”.
Passei a mão no rosto quando senti o ônibus parar e puxei os fones, percebendo que a música estava no replay ainda e fui a primeira a levantar, saindo do ônibus. A entrada estava bem tumultuada do que antes, me surpreendendo. Respirei fundo e segui em frente, antes mesmo de Tite sair e fui descobrir nosso lugar.
Passei pelos corredores decorados com a temática da Copa América e acenei para o pessoal da fisioterapia, rouparia e seguranças que chegaram antes, recebendo um rápido beijo de Marcos e abri um largo sorriso quando entrei no vestiário.
- Uau! – Comentei, suspirando.
Esse vestiário era gigantesco, dava de 10 no vestiário do Mineirão. A parte que os meninos ficavam era enorme e ainda tinha algumas salas de preparações tão gigantescas quanto essa. Segui até a sala do fundo, me livrando da minha mochila e tirei o casaco também, amarrando-o na cintura. Bianca e minha equipe chegaram ao meu lado e os jogadores começaram a se espalhar pelo vestiário.
- Está tudo bem, ? – Lucas perguntou e eu assenti.
- Está tudo bem. – Assenti com a cabeça. Levei a mão até minha barriga, sentindo-a calma e assenti para Lucas que esticou a mão e eu bati na mesma.
- Aguentem firme, ok?! – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- A primeira coisa que eu vou fazer amanhã é marcar uma visita na minha obstetra para ver se está tudo bem mesmo. – Ele riu fracamente.
- Está sim, logo ela acorda. – Ele piscou e eu sorri.
- Oi, pessoal, tudo bem? – Virei o rosto para o lado, vendo Caboclo na outra sala com Angelica, Michelle e Edu e Angelica nos viu no canto e acenou sorrindo. – Eu só vim desejar toda sorte para vocês, toda sorte, todo astral e toda luz para vocês. Sei o quanto vocês batalharam para chegar aqui e todas as dificuldades que passaram para enfrentar. Boa sorte e bom jogo! – Ele falou e os jogadores o aplaudiram.
- Bi, protocolos! – Estendi o iPad para ela que assentiu com a cabeça.
- Vamos lá! – Ela falou.
Checamos rapidamente a lista de protocolos, junto dos horários que eles deveriam ser cumpridos e os jogadores já se arrumavam e seguiam para a sala com tatame verde para fazerem alongamento, relaxamento e alguns fazerem os tensionamentos necessários nos pés, tornozelos e tudo mais.
Olhei para Alisson se alongando e ele piscou para mim e eu retribuí. O pessoal começou a tocar um pagodinho e eu comecei a perceber que os nervos estavam mais relaxados, esperava que mantivesse assim até o fim do jogo. Saí pelo corredor novamente para fazer a últimas checagens no campo e esbarrei em alguém.
- Me descul... – Virei para pessoa. – André! – Falei para o assessor da CBF na Inglaterra.
- . – Ele me abraçou fortemente e eu sorri.
- O que está fazendo aqui? – Ri fracamente.
- Ah, tenho passe livre, né?! E estou de férias em casa, então vim dar um oi ao pessoal que eu trabalhei, ver os jogadores, etc... – Sorri.
- Ah, que bom! – Ele assentiu com a cabeça. – Eu tenho que ir, mas a gente se fala.
- Bom te ver! – Ele acenou e eu sorri, seguindo até Bianca novamente.
- Esse é o tal do André? – Ela perguntou.
- Sim, encontrei ele no prêmio da FIFA e na final da Champions. – Comentei.
- Deve ser legal ser assessor em um país fixo, não?! – Ela comentou. – Acompanhar jogos mais importantes, fazer reunião com os jogadores, se aproximar mais de alguns?
- Ah, não sei, deve ser meio solitário, né?! Tipo, é só você, não?!
- Não, você tem um fotógrafo e um cinegrafista junto...
- Mesmo? – A interrompi.
- Sim! É quase igual ao que a gente faz, a diferença é que a CBF decide quais são os confrontos mais importantes e tudo acompanha o calendário da CBF. Então, tipo, para Copa América, o André entrou em contato com todos os jogadores, alguns pessoalmente, passou protocolos, tem que fazer a checagem mensal devido a direitos trabalhistas, documentação estrangeira, tudo, para amistosos também, a mesma coisa. Relatório de lesão? Ele que passa. Interesses e problemas para transferências? Ele que passa. Assistir jogos importantes para convocações? Ele assiste. As primeiras informações chegam do pessoal de fora, eles meios que mastigam tudo para gente engolir.
- Que nojo. – Comentei e ela riu fracamente.
- Péssima metáfora, mas você entendeu. Do pessoal do Brasil, a gente tem o contato direto com o time, agora de fora? São os assessores, facilita a comunicação.
- Esperto. Eles têm um escritório lá? Como é? – Perguntei.
- Não sei como está agora, antigamente era uma parceria com um time, tipo, o André mora em Londres, então ele tem uma sala reservada no Chelsea, sabe? Algo assim.
- Ah, é legal! – Falei e ela assentiu sozinha. – Só penso em ficar falando uma língua diferente o dia inteiro, deve ser meio foda.
- É, nesse ponto você tem razão, deve ser difícil não soltar uns “eita” e uns “caralho” de vez em quando. – Ela me zoou e eu a empurrei.
- Sem graça! – Falei, vendo-a gargalhar.

- Cara, isso está cheio demais! – Falei com ela, voltando para o vestiário.
- Eu nunca vi tanto funcionário da CBF junto. – Ela falou, desviando das pessoas.
- Além dos familiares, a lista é gigantesca. – Estendi o iPad para ela que suspirou.
- Espero que a gente vença ou vai virar um velório antes das sete da noite. – Ela bufou.
- Vira essa boca para lá, pelo amor! – Senti Mini se mexer. – Aí, eu falei. – Coloquei as mãos na barriga.
- Ah, não, agora não, bebê! – Bianca falou e eu dei um pedala em sua cabeça, vendo-a franzir o rosto. – Desculpa! – Ela falou e rimos juntas, voltando para o vestiário.
Alguns jogadores já colocavam a roupa de treino, enquanto outros ainda faziam os alongamentos. Observei Alisson enfiado no seu quadradinho com sua cuia e me aproximei dele, passando a mão em seu cabelo e ele ergueu o rosto.
- Oi. – Falei e ele sorriu, virando o rosto e beijando meu antebraço.
- Ei. – Ele falou, deixando sua cuia de lado e me puxou pelas pernas e eu passei as mãos em seus ombros.
- Como você está? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça.
- Estou bem, preparado. – Ele falou e eu abaixei o rosto, dando um beijo em sua cabeça. – E você? – Ele ergueu o rosto.
- Bianca está me deixando nervosa e Mini está começando a agitar. – Ele levou uma mão até minha barriga.
- Eu não fiz nada! – Ouvi o grito abafado de Bianca da outra sala, nos fazendo rir.
- É, ela fez. – Lucas cochichou e sorrimos.
- Vai ficar tudo bem. – Alisson falou e eu sorri.
- Já está tudo bem. – Pisquei e ele riu fracamente.
- Goleiros, ‘vambora treinar! – Virei o rosto, vendo Taffa e Alisson se levantou comigo, pegando suas luvas.
- Até já, amor! – Ele falou e eu assenti com a cabeça, sentindo um curto beijo em meus lábios.
Segui até a outra sala, observando a finalização na preparação dos outros jogadores e logo eles saíram também. Aproveitei o tempo sozinha para ir no banheiro e joguei uma água no rosto, respirando fundo. Me olhei no espelho e fiz um rabo de cavalo alto, abaixando os cabelos arrepiados e respirei fundo. Vamos, gente! Vamos!
Depois que eles voltaram do treino, eles foram se arrumar, eu fiquei olhando em uma das televisões a cerimônia de encerramento que acontecia lá fora. Com todas as conversas e batuques pré-jogo, era difícil ouvir algo, mas era bonito ver todas as cores e danças, nosso continente era sensacional mesmo! E as animações feitas em cima da cidade do Rio de Janeiro só fazia meus hormônios de grávida e meu desespero falar mais alto e eu me emocionar por besteira.
Bom, acho que nem tanta besteira assim, as crianças imitando as comemorações dos jogadores era algo que eu emocionaria até sem estar grávida, tenho certeza. As montagens dos jogos também, de pensar que a gente tinha passado por tudo isso e estávamos ali, a poucos minutos da final. E melhor: estávamos na final.
Para finalizar a cerimônia, tivemos Zizito de terno – Vinícius talvez ficaria feliz em encontrar Larissa nos bastidores depois – Anitta e Pedro Capó cantando a música Calma, Downtown, ou melhor, um playback bem do mal feito, mas eu nem lembrava que teria show de encerramento, então não era agora que eu ia me preocupar.
As crianças que representavam o Brasil e Peru tiraram a taça do meio do campo e levaram até o posto dela, me fazendo respirar fundo. Era isso, galera.

Senti os braços de Alisson e de Ederson em volta de meus ombros e as palavras de Tite e Dani Alves já haviam se misturado com todos os meus pensamentos e o nervosismo que eu consegui evitar o dia inteiro me distraindo com outras coisas simplesmente voltou em minha cabeça com uma velocidade impressionante.
Observei o rosto sério de Alisson ao meu lado e relaxei meu corpo, tentando não chorar por qualquer besteira. Ok, eu viver separada do pai do meu filho e meu namorado não era qualquer besteira, era besteira porque parece que ninguém fez nada para evitar isso, ninguém fez nada para me ajudar a não quase entrar em desespero enquanto eles falavam palavras motivacionais que deveriam me fazer relaxar e não chorar.
Tudo bem, eu já havia sido ajudada demais nesse trabalho. Às vezes passava em minha cabeça que eu fui tão ajudada que eu havia usado todo meu cupom de desconto e agora eu não tinha mais nada para barganhar. Não sei se realmente era isso, mas eu não estava com muita vantagem assim.
Eu enrolei tanto, esperei tanto e nada. Eu havia literalmente chegado aos 45 do segundo tempo e nada! Não tinha mais nada. Em duas horas a Copa América teria acabado – eu espero, é claro – e aí? Iríamos para uma festa comemorar ou para meu apartamento chorar e se empanturrar de pizza, Alisson ficaria comigo por mais uns 15 dias, mas eu trabalharia nesse meio tempo, devido às minhas férias e era isso...
Eu tinha tanta esperança, confesso que nem sei do que, mas que a gente conseguisse fazer dar certo de uma forma correta, sem ninguém precisar abandonar seu sonho. Agora eu pensava em atualizar meu currículo, desistir da maior chance da minha vida e procurar algo em Liverpool, talvez até no time de Alisson, quem sabe? Eu tinha experiência em assessoria esportiva, podia tentar algo, mas eu sei que teria que começar do zero ou contar com a influência de Alisson. Era loucura!
E sim, eu teria que fazer esse esforço, pode ser egoísmo ou o que for, mas precisamos ser sinceros e encarar a vida como ela é e não como queríamos que ela fosse, eu teria que abrir mão disso tudo para viver em uma família. A gente sabe disso, eu sei disso desde o primeiro dia, não era justo para nenhum dos dois lados, mas para mim era mais fácil, de certa forma. Não, Alisson não podia acabar a carreira dele aos 26 anos, mesmo se eu pedisse, simplesmente não. Ainda mais estando há centímetros de se tornar o melhor goleiro do mundo, simplesmente não tinha como.
E eu? A gente sabe que sim, se não fosse em times de futebol, poderia voltar a trabalhar em jornais e revistas, eu tinha uma certa influência por ser namorada dele, podia usar essa influência para fazer algo, talvez até montar algo, não sei, mas eu sei que agora, pensando com mais clareza, nem seria tão ruim eu fazer isso pela minha família. Eu vou ser mãe em menos de três meses. Minha vida mudou de uma forma que eu nunca imaginei. Há três meses eu estava descobrindo essa gravidez e eu fui me transformando em mãe aos poucos, sem nem perceber. É foda falar isso com 26 anos? É, mas foi uma escolha nossa e hoje eu vejo como essa criança dentro de mim é a pessoa mais importante no meu mundo, sem mais nem menos.
Era isso, não tinha mais escolha.
Eu tinha que aproveitar o rosto dessa galera de perto, mais uma vez, todos os jogadores, equipe técnica, equipe de comunicação, dirigentes, além de vários agregados de todas as áreas de CBF inclusos ali hoje. Talvez fosse a última vez que eu visse todos eles juntos.
- Coragem, velho! Só ganha título quem é corajoso, quem não tem medo de falhar, quem cai e levanta, quem cai e continua. Esse é o espírito que a gente tem que levar lá para dentro. Essa é a nossa alegria... – Dani ainda falava. – Vou repetir mais uma vez, essa alegria é maravilhosa, cara. Essa alegria aqui é a mesma alegria que a gente vai levar lá para dentro e vamos voltar com ela. A gente sabe o quão maravilhoso é. – Puxei a respiração, sentindo o nariz entupido. – Então vamos lá!
- Vamos! – O pessoal gritou e eu respirei fundo, sentindo os braços relaxarem em meus ombros. Passei a mão em meus olhos, evitando as lágrimas de caírem e suspirei.
- Está tudo bem? – Vi Alisson se colocar em minha frente e eu assenti com a cabeça.
- Está sim. – Passei a mão em seu uniforme perto. – Você sabe que eu adoro você de preto, né?! – Ele riu fracamente, passando as mãos em minha cintura.
- Sei sim! – Ele piscou e colou nossos lábios levemente.
- Arrasa, ok? – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Por você! – Ele falou e eu sorri.
Os jogadores nos separaram para nos abraçar um a um e eu aproveitei para apertar mais forte cada um deles. Como eu amava aquele pessoal, como eu havia criado uma família aqui. Apesar das piadas, zoações, tiradas, eu sabia que podia contar com qualquer um dali para o que fosse! Para os bons e os maus momentos, sei que eu ficaria um pouco afastada deles no próximo compromisso em diante, mas daríamos nosso jeito.
- Você está pronta? – Saí do meu transe, vendo Bianca ao meu lado e confirmei com a cabeça.
- Sim, só aproveitando mais um pouquinho aqui enquanto eu posso. – Falei e ela me deu aquele sorriso triste.
- Não é o fim, minha amiga. – Ela me abraçou fortemente. – Não vai acabar aqui. – Ela falou e eu suspirei.
- É, talvez... – Abanei a mão, passando-as embaixo de meus olhos novamente.
- Vamos, gente! Coragem! – Tite falou e eu suspirei.
- Te vejo no fim do jogo. – Alisson falou, voltando ao meu lado e eu assenti com a cabeça.
- Como campeão, eu espero. – Falei e ele piscou para mim.
- Sim, como campeões! – Ele esticou o dedo com a luva para mim e eu sorri, vendo-o sair com o resto do time.
- Droga! – Comentei baixo, me sentando no quadrado atrás de mim e levando as mãos no rosto.
- Opa, opa! – Bianca falou. – Pelo amor de Deus, , não me assusta, agora não. – Ela falou, apressada.
- Você não vê, Bianca? É o fim! É meu último jogo com a Seleção, meu último compromisso contigo, minha última vez como funcionária em um vestiário...
- Pode parar, ! – Ela falou, tirando minhas mãos de meu rosto e eu olhei para ela. – O jogo só acaba quando termina. – Suspirei.
- Exato e eu estou nos 45 do segundo tempo, não tem mais gol de ouro. – Engoli em seco, sentindo-a passar as mãos e minhas bochechas.
- Talvez, mas ainda temos três minutos de prorrogação, seis levando em conta que alguém se lesionou lá atrás. – Dei um pequeno sorriso, vendo-a retribuir. – Aguenta, minha amiga. – Ela suspirou.
- Como você consegue ver tudo isso com tanta calmaria? – Perguntei.
- Porque eu também não quero perder minha companhia. – Ela falou e meus olhos se encheram de lágrimas novamente. – Antes de você eu era alguém fechada, os jogadores mal me conheciam, agora eu sou amiga de todo mundo, eles se preocupam comigo, fazem piadas comigo, eu me tornei alguém mais extrovertida por causa de você. – Uma lágrima deslizou em sua bochecha e eu a abracei fortemente. – Eu não quero que isso acabe, pois eu talvez não te tenha mais também.
- Não precisa acabar, Bi. – Suspirei. – Você ainda pode ser essa pessoa extrovertida sem mim, e você ainda vai ser madrinha da Mini, a gente só vai ter que ver como fazer isso acontecer. – Suspirei e ela me apertou novamente em um abraço.
- Tudo bem, mas aguenta, ok?! Só mais uns minutinhos de prorrogação. – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Agora vamos, hoje é dia de peru assado! – Ela falou e eu gargalhei, me levantando, vendo Serginho, Amir e Marcos observando a cena.
- Vamos, meninas? Ou vão perder o jogo. – Serginho falou e eu ri fracamente.
- Vamos sim! – Suspirei.
- Aqui, leva isso! – Serginho falou, me estendendo um lenço.
- Obrigada! – Sorri, passando-o embaixo dos olhos.
- Agora vá lá ajudar o pessoal a ganhar. – Ele falou e eu dei um rápido abraço no senhor e sorri, seguindo com Bianca pelos corredores.
Passamos por todo caminho e chegamos na entrada do túnel. Paramos quando vimos que os jogadores já estavam entrando e respirei fundo, observando o mais alto de blusa preta e fiz um rápido sinal da cruz, juntando as mãos. Eu e Bianca seguimos pelo canto logo que eles saíram e descemos correndo no banco de reservas, passando por trás do pessoal preparado para cantar o hino e me coloquei ao lado de Bianca em pé na frente dos bancos.
Nossa escalação já era conhecida: Alisson, Dani Alves, Thiago Silva, Marquinhos, Alex Sandro, Casemiro, Arthur, Coutinho, Jesus, Éverton e Firmino. Eu nunca concordava quando falavam que eles eram guerreiros, parecia meio desmerecedor de quem realmente era, mas depois de passar tudo isso com eles, aguentar toda pressão da imprensa, torcedor, família e tudo mais, é, hoje eles seriam meus guerreiros.
Pisquei em direção a Alisson, vendo-o tentar esconder um pequeno sorriso e suspirei ao ouvir o início do hino do Peru. Os jogadores cantaram empolgados e alguns gritos também era possível ouvir da arquibancada, mas o local era verde e amarelo hoje, então quando o hino triunfante do Brasil começou, o pessoal se empolgou. Dessa vez, pela primeira vez em toda competição, eu deixei minha voz realmente gritar junto dos torcedores que ensurdeciam o Maraca. Não era possível ouvir o acompanhamento musical pelos gritos da torcida e era muito bom começar um jogo assim. Que os torcedores deem força para um jogo bonito.
Os jogadores se cumprimentaram e eu respirei fundo, vendo as fotos serem tiradas, as flâmulas trocadas e, dessa vez, todos aqueles protocolos realmente importaram para mim. Era uma final, caralho!
Os jogadores se arrumaram em fileira em cada canto e tivemos um minuto de silêncio pelo cantor João Gilberto que havia falecido ontem. Após o tempo predefinido, os jogadores se separaram e cada um foi para seu canto, se arrumando nas posições. Algo que havia virado frequente nesse jogo, era a contagem e ela começou forte, quase como a contagem para o início dos Jogos Vorazes.
- 10, nove, oito, sete... - Meu coração batia na mesma velocidade da contagem, como se dependesse daquilo para continuar batendo. – Seis, cinco, quatro, três... – Virei o rosto para ponta esquerda próximo a mim e vi Alisson com as mãos para o céu e suspirei. – Dois, um... – O juiz apitou, fazendo o Peru dar o primeiro chute com a bola.
- É, Senhor, agora é Contigo!

Afastei meu corpo, me sentando na poltrona novamente e juntei as mãos, entre as pernas, respirando fundo. Senti uma mão em minha perna e sorri ao ver Bianca e eu deixei que ela segurasse minhas mãos geladas.
O jogo começou ferrando para o nosso lado, em uma cobrança de falta, o peruano Cueva mandou à direita do gol de Alisson, Éverton e Coutinho não serviram de barreira, mas foi fora. Foi longe, mas Alisson pulou na expectativa e eu já comecei a ficar nervosa aí. Brasil tentou fazer o contra-ataque, mas a bola acabou voltando para o nosso campo e foi para fora. Pelos movimentos da boca de Alisson, ele já estava puto com a defesa e só tinha passado cinco muitos de jogo.
Eu me sentia no jogo da fase de grupos, o Peru estava dominando o campo durante os minutos iniciais inteiros. Se fosse igual ao outro, sabia que vinha coisa boa do Brasil, mas sabia também que o Peru era um time totalmente diferente do que jogou contra nós há duas semanas, muita coisa tinha mudado.
Nossa primeira chance real foi aos 15 minutos de jogo, Jesus conseguiu fazer o contra-ataque e conseguiu fazer o passe antes que a defesa do Peru se formasse. A bola passou por Firmino, Coutinho, mas encontrou Éverton. Ele meteu uma direita rasteira para o gol e os gritos explodiram.
- GOL! – Pulei animada, abraçando Bianca ao meu lado e rimos juntas.
O jogo se seguiu sem muitas surpresas, o Peru estava realmente dificultando a chegada da bola na área deles, até para gente sair com a bola quando ela saía pelas linhas laterais, eles dificultavam e isso atrasava nosso jogo.
No meio do primeiro tempo os nervos começaram a despertar novamente. Alex Sandro chegou pelo canto esquerdo, passou para Firmino e o mesmo fez o passe para Coutinho, cheguei até a me levantar para ver, mas a bola passou rente ao goleiro peruano.
A bola finalmente atravessou de campo e voltou para nosso. Em uma briga de bola, saiu escanteio para o Peru e por estar a centímetros de Alisson, meu coração gelou. Apertei as mãos de Bianca fortemente, sabendo que logo eu amassaria, mas ela não se importou, ao menos não reclamou. O número 19 peruano mandou e eu gelei quando Guerrero fez o levantamento, mas graças ao bom Deus, ela passou bons metros para cima.
Arthur apareceu no jogo sendo marcado e eu finalmente me lembrei de Aline, ela deveria estar ali. É tanto nervosismo e tantas emoções que eu havia me esquecido totalmente que ela estaria ali hoje. Coutinho e Arthur tentaram agilizar a bola, passando por Jesus, mas um encontrão de Jesus com Yotún fez o juiz parar e dar a falta. O juiz esticou o amarelo para Jesus e eu respirei fundo, batendo a mão na testa.
- Tem que ter! – Bianca falou ao meu lado e rimos juntas.
- Só um, está tudo certo. – Falei, vendo-a rir.
O Peru tentou fazer o contra-ataque, mas eu adoro como Dani, Thiago e Marquinhos trabalham em uma sincronia sensacional, então nem deu para ter palpitações no coração. Segundos depois Casemiro fez o contra-ataque, passando para Alex Sandro que cruzou alto para Firmino, o mesmo cabeceou, mas foi alto demais.
Olhei o relógio e faltava uns cinco minutos mais acréscimos para o final do primeiro tempo, estava quase e estávamos indo lentamente, mas bem. O número 20 tentou o contra-ataque, se aproximando de Thiago e Arthur que tentavam roubar a bola, o número sete fez o chute e Thiago caiu no chão, fazendo o juiz apitar.
- Pênalti. – Ederson falou do meu outro lado e eu arregalei os olhos.
- Mas ele estava caindo, como ele vai controlar o corpo na queda? – Me levantei brava, sentindo meu coração começar a bater mais rápido.
- É meio idiota, mas é assim... – Ele falou e eu afundei meu corpo na poltrona.
- Ah, mano, puta que pariu! Pênalti não. – Suspirei.
- Você confia no Alisson? – Ele perguntou.
- Se mais alguém me perguntar isso, vou brincar de ioiô com a cabeça da pessoa e uma bola de boliche. – Falei brava e ele arregalou os olhos.
O juiz foi checar no VAR, demorou um pouco, mas voltou validando o pênalti. PUTA QUE PARIU! Como, cara? Não tem como a gente controlar a queda, a mão, o braço, a bola, não tem como! Simplesmente não dá! Todo mundo ficou puto no banco de reservas, era loucura, cara! Como um pênalti assim vale? Aff!
Abaixei o rosto e respirei fundo, afundando o rosto nas mãos. Não, eu seria corajosa agora. Ergui o rosto, me ajeitando na poltrona e vi o pessoal se organizando para fora da área e respirei fundo, percebendo a mão de Bianca sacudindo em minha frente e segurei, gargalhando com ela.
O juiz apitou e Guerrero faria a cobrança. Ele chutou para o lado direito e Alisson caiu para o lado esquerdo, me fazendo enfiar as mãos no rosto antes mesmo da comemoração dos peruanos.
- Minha clean sheet! – Choraminguei. – Sete jogos! – Suspirei.
- Calma, calma! – Ederson bateu nas minhas costas e eu respirei fundo.
- Tem a prorrogação ainda, amiga, vamos lá! – Bianca falou e eu respirei fundo, vendo a bola voltar para o meio de campo.
O jogo seguiria até os 48 minutos, então tinha mais uns minutinhos até o intervalo. E seria um intervalo para descansar e voltar basicamente como o começo do jogo, empatado.
Os brasileiros saíram com o contra-ataque e Arthur saiu pelo centro do campo, dando um curto passe para Jesus pela esquerda. A defesa peruana se montou, mas Jesus mandou rasteira. O goleiro Gallese se aproximou, mas se desequilibrou quando a bola foi para o outo e a bola foi para o fundo do gol!
- GOL! – Falei animada, vendo o pessoal pulando no lugar.
Foi difícil seguir o jogo depois desse último gol, o juiz até tentou seguir um pouco mais do que três minutos de acréscimos, mas apitou para a felicidade do povo brasileiro e seguimos para o intervalo vencendo de dois a um.
O pessoal começou a sair de volta para o vestiário e olhei para Alisson pegando seu squeeze e a toalha e segui até o túnel, observei a taça pela primeira vez de perto e dei um sorriso, me fazendo suspirar. Subi os degraus que davam para o vestiário e esperei Alisson fora da área das câmeras.
Alisson chegou e passou a mão pela minha cintura, me puxando para perto dele e eu sorri, andando com ele para dentro do vestiário. Ele deu um beijo em minha cabeça e eu passei um braço pela sua cintura também.
- Você vai falar? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Minha clean sheet! – Falei, fingindo um choro e ele gargalhou.
- Minha, né?! – Ele falou, me fazendo rir.
- Nossa, vai! – Comentei e ele riu, me colocando na frente dele e apoiando as mãos em meus ombros com a luva macia e eu ri fracamente.
- Vamos, , vamos! – Sorrimos, entrando no vestiário e seguindo para o fundo, vendo os jogadores começarem a se jogar nos colchonetes para a rápida reunião de intervalo e rápido relaxamento.
Nos separamos e eu deixei que ele seguisse até seu cantinho, me apoiei na porta e observei o pessoal arrumar rapidamente a reunião de intervalo de jogo. Cléber entrou e Tite se colocou no meio do pessoal que já se hidratava.
- A gente precisa ajustar a bola do lado esquerdo deles, a saída de bola deles... – Tite começou a falar e eu me desliguei, não precisava de mais motivos para ficar nervosa. Segui até meu canto e também peguei uma garrafa de água, tentando relaxar.

Voltei pelo túnel, vendo de longe Thiago falar umas palavras de incentivo para o time antes deles realmente voltarem para o campo e dei um pequeno sorriso. Eu adorava o Dani, mas Thiago ainda era meu capitão, não poderia ser diferente, mas Dani tinhas seus créditos. O pessoal seguiu para o campo novamente e eu voltei ao meu lugar com o resto dos reservas e Bianca.
Os jogadores se posicionaram de novo e eu respirei mais uma vez, checando a movimentação em minha barriga e estava tudo sob controle. Estávamos bem. O juiz se colocou no centro do campo e o apito estourou pelos autofalantes, fazendo a bola voltar a rolar.
Os meninos começaram muito melhor do que anteriormente, logo nos primeiros minutos Dani meteu uma do centro do campo que estourou para fora, mas fez o goleiro peruano correr com a expectativa. Aos quatro minutos, Coutinho teve uma dividida com o número 13, Tapia, e foi visivelmente derrubado, ao menos o peruano levou um cartão amarelo e teve o fair-play de ajudar Little Couto a levantar.
Coutinho era bom em se vingar, não deu um minuto da queda, ele já estava metendo bomba em cima dos peruanos, errou o gol, mas a expectativa e a posse de bola cem por cento brasileira estava realmente interessante. O Peru tentou o contra-ataque após saída do goleiro Gallese e Thiago acabou derrubando o número oito, levou cartão, a falta foi dada, mas nada demais foi feito.
No contra-ataque, Coutinho tentou fazer, mas caiu fora da grande área, então foi só uma queda como outra qualquer. Jesus roubou a bola, dividiu com os peruanos, passou para Firmino, mas ele bateu de leve, fazendo-a ir devagar para fora, sem necessidade nenhuma de interferência dos peruanos.
O Brasil continuou tentando, Éverton passou para Alex Sandro para fora da área, o mesmo fez o desvio e Firmino cabeceou, para fora, mas eles estavam cada vez mais perto do gol, só podiam começar a fazer cálculos para acertar dentro da porcaria do gol.
- Vamos, gente, vamos! – Suspirei, sentindo minhas mãos começaram a gelar devido ao pôr do sol – ou do nervosismo – e pressionei uma na outra, tentando esquentar.
O tempo foi passando e parecia que o gol peruano ficava cada vez menor. Alisson estava mais longe de mim agora, então sempre que eu virava minha atenção para ele, ele usava o tempo livre para se aquecer.
Coutinho tentou em algumas situações aguentar a jogada sozinha, mas acabou sendo desarmado, Jesus estava começando a se irritar com isso, seus movimentos de atenção eram claros, mas nada de Coutinho passar a bola. O Peru começou a se aproximar, mas Dani fez a retirada da bola antes que o perigo se aproximasse.
Tapia tentou se aproximar, mas acabou sendo derrubado e a falta foi cobrada. Thiago cabeceou com facilidade para fora, convertendo em uma cobrança de escanteio, Thiago tirou de novo de cabeça e eu pude respirar novamente.
Jesus tentou o contra-ataque, seguindo pelo canto esquerdo, mas o número 15, Zambrano, literalmente jogou ele para fora do campo. Tite e os reservas brasileiros foram em cima de Jesus caído para fora do campo, o juiz chegou rapidamente, já erguendo um amarelo para o peruano, mas o jogo seguiu.
Bom, seguiu ruim demais, no lance seguinte, Tite pediu calma para Jesus que perdeu a dividida contra Advíncula, em seguida foi a vez de Jesus quase montar em cima do Zambrano. Ambos se levantaram para uma dividida, mas dessa vez deu a pior para o peruano. O juiz se aproximou de ambos e dessa vez ergueu o amarelo para Jesus, mas como ele já tinha um amarelo no primeiro tempo, ele levantou o vermelho.
- Ah, meu Deus! – Suspirei, apertando as mãos nos olhos.
Olhei para Tite e ele rapidamente virou para Matheus para ver o que faria. Jesus fez um sinal de que estava sendo roubado e eu só afundei meu corpo na cadeira, se o juiz ver aquilo, uma expulsão não seria nada. Jesus saiu puto do jogo, deu um chute em uma garrafa ali próxima a Fabio, deu um soco na cabine de TV no centro do campo e ainda empurrou a cabine do VAR.
- Ah, meu Deus! – Bati a mão na testa. – Eu não vou lá.
- Não, deixa ele esfriar a cabeça. – Bianca falou.
Ederson e Militão voltaram para seus lugares e Tite já conversava com Richarlison que entraria. Ele fez a substituição e saiu Firmino, colocando Pombo no lugar. Me distraí com as substituições que mal vi o Peru tentando um novo ataque, mas meu Alisson estava muito bem posicionado, e mesmo sem ele lá, a bola teria pegado do lado de fora da rede.
O Peru tentou insistir, mas em um passe alto para dentro da área, Marquinhos cabeceou de volta para o centro do campo. Em uma dessas, o Peru meteu uma bomba que foi para fora, mas eu vi o Alisson voando para tentar chegar na bola, mas só foi possível ouvir o barulho dela estourando nas propagandas atrás.
- Deus pai, essa eu quase morri! – Apoiei a mão no peito e Filipe Luís riu ao meu lado.
- Aguenta a emoção aí, mamãe! – Ele falou e eu sorri.
Tite fez outra substituição, tirou Coutinho e colocou Militão. Agora era a hora de colocar todo mundo para falar que jogou realmente na Copa América. O Peru fez todas as substituições possíveis, sobrando ainda uma para o nosso time.
Éverton tentou um contra-ataque, mas logo encontrou o número 12 peruano derrubando-o. O jogo começava a seguir para os finalmente, realmente chegando aos 45 do segundo tempo e o Peru estava mais forte do que antes, não de forma literal, mas de forma a machucar os brasileiros. O tal do Advíncula finalmente ganhou um amarelo e eu já fiquei feliz pela compensação com Jesus mais cedo.
O tempo foi passando e vi passar dos 40 minutos, estava quase, gente! Só mais alguns minutos e eu podia soltar aquele grito que estava entalado desde a Copa do Mundo, mas precisávamos passar por esses cinco minutos mais prorrogação ainda.
Éverton roubou a bola do lado esquerdo e correu para o contra-ataque, ele entrou com pressa no centro da grande área disputando bola com outros três e... Saiu rolando igual um peão.
- Agora vai! – Gritei, esperando pelo pênalti.
Os jogadores ao meu lado começaram a gritar e subiram na divisão dos reservas e se aproximaram da linha do campo. Era isso, se a gente conseguisse esse pênalti e convertesse, não tinha mais jeito. O juiz apitou e o estádio foi abaixo com gritos e comemorações antecipadas.
O juiz parou o jogo e ouviu em seu fone de ouvido, seguiu às pressas para a cabine do VAR, e aquela tensão começou a corroer em todo mundo ali em volta. Ele voltou para o campo, sinalizando e sua corrida de volta para a grande área só me deixava mais nervosa. Pênalti marcado.
- Isso! – Me levantei, apressada, me aproximando mais da divisão do campo, respirando fundo.
Richarlison foi bater o pênalti e eu só conseguia lembrar que ele estava com caxumba alguns dias atrás, como era possível? E agora ele ia bater o pênalti, provavelmente da vitória? Era loucura! Isso dizia muito sobre uma pessoa.
O pessoal se colocou para fora da grande área e pombo parecia bem atento a tudo. Prendi a respiração quando o apito foi soado e nem engolir a saliva eu conseguia. Respirei fundo, levando as mãos na boca por puro instinto. Richarlison bateu leve, mas ele e Gallese foram para o mesmo lado, só que a bola chegou antes no fundo da rede. Richarlison saiu correndo tirando a blusa e os reservas saíram correndo atrás dele em comemoração.
Apoiei o corpo para trás, respirando fundo e Bianca bateu a mão em minha perna e eu estiquei para segurar sua mão e entrelacei nossos dedos. Ergui meu braço, checando no relógio e soltei um suspiro.
- Agora estamos na prorrogação. – Comentei e ela deu um meio sorriso, abaixando a cabeça em meu ombro.
- Eu sei. – Ela disse. – Mas aproveite enquanto ela dura.
Assenti com a cabeça, virando meu rosto para o outro lado do campo, aonde Alisson e Casemiro se abraçavam em campo e aproveitei o gosto de vitória, sentindo uma lágrima solitária deslizar pela minha bochecha.
O auxiliar levantou a plaquinha de mais seis e eu dei um pequeno sorriso com a ironia, me fazendo rir fracamente. A torcida já começava a ecoar o grito de “é campeão” e acender sinalizadores. Richarlison levou um amarelo pela retirada da camiseta, mas quem se importava? Seis minutos eram muito, mas não quando os jogadores não deixavam o jogo voltar.
Para dar aquela enrolada básica, Tite usou uma terceira substituição. Tirou Éverton e colocou Allan. O Peru até tentou fazer mais um, mas Thiago, só para variar, tirou de cabeça, me dando mais orgulho ainda dessa galera.
Os minutos foram passando e a galera começou a se aproximar da linha do campo para quando o apito fosse soado. Bianca se levantou ao meu lado e esticou a mão para mim. Abri um sorriso, segurando e me levantei também.
Era isso. Esse era o gostinho da vitória! E apesar de todo meu drama pessoal, éramos vencedores.

O juiz apitou o fim da partida e os jogadores invadiram o campo, correndo em direção aos jogadores. Passei o braço pelos ombros de Bianca e ela me abraçou fortemente, pulando comigo, me fazendo rir fracamente.
- Conseguimos, ! É nosso! – Ela gritou e eu só conseguia derrubar algumas lágrimas, não sei. Era felicidade, emoção, tristeza, era tudo junto.
- É! – Foi só o que eu consegui falar e ela riu fracamente, segurando meu rosto com as mãos.
- Aproveita e comemora! – Ela falou e eu suspirei.
Ela me soltou e seguiu correndo para Leandro e Lucas e eu ri fracamente. Virei o rosto, procurando o ponto de preto no outro gol, mas estava vazio. Os jogadores já estavam amontoados no centro do campo, equipe técnica, de comunicação, massagistas, seguranças, todo mundo, só não encontrei Alisson.
Desviei do povo pulando e correndo pelo campo e eu o encontrei. Ele tinha um largo sorriso no rosto e eu abri o meu quando ele me viu. Saí correndo em sua direção, desviando de algumas pessoas e pulei em seu colo, apoiando as mãos em seus ombros. Ele fechou suas mãos em minhas pernas, me mantendo para o alto e sorrimos juntos.
- Vencemos! – Gritei, sentindo-o deslizar as mãos pelo meu corpo e voltei os pés no chão, passando as mãos atrás de sua cabeça e ele colou nossos lábios apressadamente.
Ignorei todos à nossa volta, ignorei os barulhos, a torcida, os jogadores, tudo e aproveitei aquele beijo. Suas mãos subiram pelas minhas costas, agarrando em minha cintura e senti algo gelado cair em minhas costas, me afastando rapidamente. Os jogadores sacudiam os squeezes para cima, jogando água na gente e só gargalhei, sentindo meu rosto colado no de Alisson.
- É campeão! É campeão! – Eles começaram a gritar e não demorou para sermos separados.
- Ah, ! - Arthur foi o próximo a vir me abraçar, sorrimos juntos, colando nossas testas.
- Ganhamos, moleque! – Apertei meus braços pelos seus ombros e não eram preciso mais palavras para expressar aquele momento.
Filipe Luís e Ederson vieram tentando me pegar no colo e me jogar para cima, foi preciso três gritos e um Rodrigo muito sensato para que aquilo não acontecesse.
- Pelo amor! – Bati na cabeça dos dois, vendo-os gargalharem e só consegui rir junto.
Dani se ajoelhou no chão e beijou minha barriga antes de se levantar e ficar na ponta dos pés para beijar minha testa e eu gargalhei, abraçando-o fortemente. Casemiro piscou para mim de longe e o puxei pela mão, me protegendo no meio de seus braços. Miranda e Marquinhos vieram logo depois, me fazendo sorrir quando cada um deles me deu um beijo em cada bochecha.
- Ah, garota! – Coutinho se aproximou e eu abracei o mais baixo, rindo com ele e logo depois Fernandinho se aproximou.
Ele me apertou fortemente e fiquei feliz por tê-lo ali conosco mais uma vez, por ele ser forte e resiliente durante todas as tribulações na Copa do Mundo. Firmino chegou de longe com seu largo sorriso e eu o chamei com a mão, sentindo-o me abraçar pelos ombros e rimos juntos quando nos separamos. Willian veio logo atrás, ainda lesionado, ele não estava com uniforme de jogo, mas ele tinha sido uma pessoa especial para nós. Para mim, principalmente.
Observei Thiago ao longe e o mesmo abriu um largo sorriso, correndo em minha direção. Ele tirou meus pés do chão quando me abraçou e eu levei as mãos até seu rosto, vendo-o com um largo sorriso no rosto.
- Você é incrível, você é demais! – Falei, ouvindo-o rir e o mesmo estalou um beijo em minha bochecha, me fazendo sorrir.
- ! – Virei o rosto, vendo Vinícius e Leandro se aproximar e corri até eles, abraçando-os fortemente. – Ganhamos, porra!
- Ganhamos! – Gritei animada, vendo-o rir.
- Ganhamos, porra! – Senti alguém pular em minhas costas e ri ao ver Anna e Lucas, me fazendo gargalhar.
- É nosso! – Eles gritaram e a rodinha da comunicação estava montada, nos fazendo pular animados. Bianca se enfiou na roda, depois Diana.
- Ah, que delícia! – Gritei, vendo o pessoal gargalhar nos separando. O pessoal se separou da roda e foram abraçar os jogadores. – Ei, estressadinho! – Gritei ao ver Jesus e o mesmo sorriu, vindo em minha direção.
- Ganhamos! – Ele gritou, me abraçando fortemente e eu passei a mão em seus cabelos.
- E você foi parte importante disso! – Falei e ele sorriu, me abraçando de lado.
- Você é demais! – Ele falou, me fazendo sorrir.
Observei as comemorações em volta e comecei a abraçar o pessoal da equipe técnica. Eu não conseguia nem descrever quão importante Fabio e Rodrigo foram para mim em tudo nessa competição, com Mini, com meu nervosismo, agora eles já estavam craque e provavelmente sem alguns cabelos também.
- Não está se esquecendo de alguém? – Virei o rosto, vendo Taffa sorrindo para mim.
- Impossível! – Falei, aproximando dele e abraçando-o fortemente, sentindo-o colar a testa na minha. – Obrigada por tudo.
- O que eu fiz? – Ele falou e eu sorri, suspirando.
- Existiu! – Falei, vendo-o rir. – Você é importante demais para mim e para Alisson e sei que vai ser importante para Mini.
- Vocês são como meus filhos, eu tenho um amor especial por vocês que também não sei explicar. - Sorri. – E você é incrível! – Ele falou, me apertando novamente, dando alguns beijos em minha cabeça.
- Ah, Taffa! – Suspirei, emocionada e ele sorriu.
Os jogadores que eu tinha menos contato me abraçaram, brincaram comigo e com Mini, mas eu estava extasiada demais com tudo o que estava acontecendo ali. Ainda era surreal, tínhamos vencido, era isso. Era excepcional, perfeito, incrível e eu me sentia uma boba ali.
Encontrei Alisson no meio da galera novamente e abri um largo sorriso. Eu já tinha visto-o ganhar um prêmio há pouco mais de um mês, agora outro, então seu sorriso não poderia ser maior, nem o meu. Senti alguém me abraçar de trás e tentar me levantar e gargalhei ao ver Bianca. Passei o braço em seus ombros e ela me abraçou pela cintura.
- Como você está? – Perguntei acima do barulho e ela sorriu.
- Cara, eu estou muito feliz! – Ela falou, me fazendo rir e vi Matheus e Cléber vir em minha direção e abracei os dois, sentindo o altão do Matheus me tirar do chão, me fazendo rir.
- Boa, meninas! – Cléber falou e rimos juntas.
- Vocês são demais! – Matheus falou e sorri, bagunçando seus cabelos.
- Nós somos, não?! – Bianca falou para mim e suspirei.
- Somos, minha amiga. Que dupla! – Comentei, virando para ela que sorriu.
- Você não vai chorar agora, eu não deixo! – Ela falou e eu suspirei.
- Estou tentando, confesso, mas minha cabeça está bem longe, viu?! – Suspirei.
- Eu sei, mas volta, volta para cá, Brasil, Rio de Janeiro, Maracanã lotado, vitória na Copa América, minha amiga! – Ela falou e eu ri, sentindo-a bagunçar meus cabelos presos e eu fiz uma careta.
- Só não fala nada para o Alisson, ok?! – Comentei e ela assentiu com a cabeça. – Deixa ele aproveitar. – Suspirei, vendo-o abraçar Taffa fortemente.
- Eu vou com Dani e Éverton para uma entrevista, não chora! – Ela falou e eu ri fracamente, assentindo com a cabeça.
Virei meu corpo de volta para a festa, sorrindo para Amir e Serginho e ambos me apertaram fortemente, alargando meu sorriso e Mauri vinha logo atrás. Ele era bem mais quietão que Taffa, com certeza, mas ele era treinador de goleiro, então era muito bom tê-lo por perto.
Gargalhei ao ver o pessoal erguendo Tite para cima e coloquei a mão na boca, vendo a caca acontecendo diante de meus olhos. Neguei com a cabeça, gargalhando sozinha e Tite saiu até cambaleando de lá. Em seguida os jogadores se ajoelharam em sua frente, apontando para o mesmo. Isso era algo que eu nunca tinha visto, mas o pessoal já havia comentado. Tite tinha o costume de ficar de joelhos para os jogadores, imagino que seja em forma de respeito e agora eles o zoavam por isso.
Senti alguém me abraçando pela cintura e virei o rosto para o lado, percebendo que era Alisson e suspirei, apoiando a cabeça em seu ombro. Coloquei minhas mãos em cima das dele ainda de luva e franzi a testa, negando com a cabeça. Não entendo como ele achava aquilo confortável, ela prende no punho, caramba. Suspirei, feliz por poder conquistarmos juntos aquilo.

O pessoal terminava de montar o palco e agora era a hora das premiações. O presidente do Peru e do Brasil estavam presentes, alguns chefes de estado, o presidente da CBF que estava animado com a comemoração dos brasileiros, da Conmebol, além de algumas outras pessoas que eu não identifiquei. Os jogadores peruanos também se ajeitavam do lado para receber suas medalhas também.
- Vem! – Alisson falou, me puxando pela mão e seguimos para mais perto do pessoal.
- Ah, garota! – Tite me interceptou e percebi que não tinha abraçado-o ainda quando ele me apertou fortemente.
- Parabéns! – Falei sorrindo e ele riu fracamente.
- Para nós dois! Sem você isso não seria possível! – Ele falou e eu ri fracamente, dando um beijo em sua bochecha.
- Obrigada por tudo. – Falei. – Pelo apoio, conselhos, sem você eu não seria nada. – Falei e ele sorriu, beijando minha testa.
Me separei dele e me vi no meio de alguns peruanos, então dei um sorriso para eles, falei alguns congratulaciones e dei abraços em alguns, recebendo aqueles sorrisos tortos, mas tudo bem, Guerrero era gato até com aquele sorriso torto. Me aproximei novamente do pessoal, dando de cara com Edu que estava aos prantos.
- Ah, Edu! – O abracei fortemente.
Ele iria para o Arsenal na próxima temporada, então eu entendia o que ele estava sentindo. Nós dois iríamos embora daqui e era o último jogo, última competição, último tudo. A diferença é que eu estava ali somente há um ano.
- Vamos ficar bem! – Falei e ele suspirou.
- Você também vai embora? – Ele cochichou, voltando o olhar para mim e eu dei de ombros.
- É o único jeito. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça, me apertando novamente e eu suspirei. Edu não era próximo de mim, nem um pouco, ele era chefe de delegação, mas naquele momento ele era o que eu mais compreendia. Era o misto de felicidade e tristeza, então deixei ele me apertar.
O jogador Matías Fernández voltou ao campo com a taça, já que ele havia ganhado a Copa América em 2015 com o Chile e procurei Alisson com o olhar, encontrando-o ao lado de Arthur, me coloquei no meio de ambos, abraçando-os pela cintura e o mais baixo me abraçou pela cintura e Alisson passou os braços pelos meus ombros.
Matías colocou a taça no local da cerimônia e os representantes do Man of The Match da Brahma se colocaram no palco para a entrega do primeiro prêmio. Prestei atenção no autofalante...
- E o vencedor é, do Brasil, Éverton! – Começamos a gritar e aplaudi-lo, vendo-o sair do meio da galera e seguir até o palco, receber seu prêmio, tirar a foto e sair.
- Vamos dar as boas-vindas à equipe Gol. – O autofalante falou, entrando várias pessoas com todos os outros troféus, medalhas e afins. Eles se posicionaram em cima do palco e eu abri um sorriso para o prêmio de goleiro, era de Alisson, certeza.
- Vamos receber as autoridades que vão entregar os prêmios. – O presidente do Brasil, da Conmebol, do Peru, da CBF, entre outros, começaram a entrar e ocupar seus lugares no palco.
Tinha mais gente do que eu lembrava, eu tinha visto no protocolo mais cedo, mas eu não conseguia lembrar o nome de todos, eu não era nenhuma Emily de O Diabo Veste Prada, mas ok, não importava, o que importava eram os prêmios atrás deles.
- Damas e cavalheiros, o troféu fair-play da Conmebol Copa América Brasil 2019. – O autofalante voltou a falar. - E a seleção fair-play é a do Brasil. – Sorri, vendo Dani seguir em direção ao palco e aplaudimos animados.
- Viu? Ensinei vocês direitinho! – Cochichei e Alisson riu ao meu lado.
- Não saquei. – Arthur falou.
- Piada que só quem participou de Copa do Mundo entende! – Alisson falou e eu gargalhei, vendo-o revirar olhos.
- E agora, o troféu de melhor goleiro! – O autofalante disse e eu sacudi Alisson pelos ombros.
- Ah! – Falei animada, vendo-o rir e ficar visivelmente envergonhado.
- Do Brasil, Alisson!
- Uhul! – Gritei, vendo-o seguir em direção ao palco e abracei Arthur pelos ombros, quase sufocando o menino.
- Eu não sou o Alisson.
- Não mesmo. – Falei rindo, ainda apertando. – Alisson! – Gritei, comemorando e o pessoal me ajudou nos gritos, me fazendo rir.
- Vai, Alisson!
Alisson pegou o prêmio, tirou a foto e virou em minha direção, apontando para mim. Olhei em volta e os jogadores estavam olhando para mim também com aqueles olhares com várias intenções.
- É você mesmo, dona! – Taffa falou e o pessoal gritou em volta, fazendo meu rosto esquentar.
- Para! – Falei e eles gargalharam.
- E agora, o troféu de melhor artilheiro. – Continuou a voz. – E o artilheiro com três gols é Éverton do Brasil. – Ela falou e o aplaudimos novamente.
- E o troféu de melhor jogador é, do Brasil, Dani Alves. – O autofalante continuou falando e gritamos, comemorando.
- Uhul! – Gritei, vendo-o receber o troféu.
Observei Alisson, Dani e Éverton juntos para a foto e sorri, sentindo uma lágrima escorrer. Aquilo era felicidade, meus amigos. Poder realmente acompanhar Alisson recebendo todos esses prêmios. Era sensacional.
- E agora as medalhas para a arbitragem da final. – A voz falou. Aplaudi aos juízes, vendo-os receberem seus prêmios.
- E agora, as medalhas de prata, para a equipe vice-campeã. Seleção do Peru. – Os meninos fizeram um túnel para a seleção do Peru passar e eu coloquei minha voz para gritar.
- Uhul! – Aplaudi fortemente.
Eles tinham conseguido chegar aqui enquanto todo mundo achava que eles não seriam capazes, eles mereciam e muito. Era tipo a Croácia na Copa, sabe? Foi surpreendente, além de que o Gareca treinou o Palmeiras em 2014, ele tinha meu respeito.
Os peruanos foram ovacionados pelos jogadores e pelos torcedores. Apesar da tristeza deles, eles deveriam sentir orgulho. Eles mereciam demais. Além de que eles eram muito simpáticos, mereciam a comemoração.
Sorri ao ver Alisson e Tite se abraçando e Alisson parecia feliz demais no primeiro lugar da fila para receber as medalhas. Aquilo enchia meu peito de uma forma tão gostosa que até me fazia pensar que era uma boa eu largar tudo para morar com ele. Se ele sorrisse assim para mim quando eu acordasse, tudo já teria valido à pena.
Os jogadores brasileiros foram liberados para subir no palco para receber as medalhas e eu sorri, vendo um por um subir lá e receber sua medalha: Edu, Tite, Alisson, Éverton, Filipe Luís, Fagner, Allan, Firmino, Miranda, Thiago Silva, Coutinho, Marquinhos, Arthur, Paquetá, Ederson, Richarlison, Cássio, Militão, Jesus, Fernandinho, Alex Sandro, Casemiro, Alex Sandro, Willian, Neres e Dani Alves.
Os jogadores se acumulavam no outro canto e eu corri rapidamente por trás do palco e me coloquei do outro lado, mais perto do pessoal e peguei meu celular, eu não poderia perder essa oportunidade nem a pau.
Dani se colocou em frente aos jogadores e eles já começavam a movimentar as mãos com a expectativa e eu sorri sozinha, igual tonta. Alisson pulava no fundo com o pessoal e eu não podia estar mais feliz. O presidente da Conmebol se aproximou de Dani com a taça e entregou para ele. Dani a ergueu no ar, fazendo com que fogos e papéis picados explodissem para cima, me fazendo suspirar.
A equipe técnica e de comunicação foi em cima, mas eu estava impossibilitada de me mexer. Não sei se era a situação toda, se era minha premiação ou se eu era mais contida para comemorações, mas eu podia passar a vida inteira só vendo aquela cena, eu já estava feliz demais. Além de que eu não podia deixar o pessoal pular em cima de mim por causa do bebê.
- É campeão! É campeão! – O pessoal gritava e eu ri fracamente.
Dani abaixou a taça e o pessoal começou a se acomodar perto da placa de campeões e dessa vez eu rapidamente me aproximei de todo mundo, vendo o pessoal começar a se enfiar no chão, atrás, nas laterais. Alisson se aproximou de mim, se colocando ao meu lado e eu sentei na placa, vendo-o se ajoelhar em minha frente eu apoiei minha mão em seu ombro e no de Taffa para não cair.
- É campeão! – O pessoal continuava a gritar.
Quase me desequilibrei quando o pessoal começou a sair e ouvi algumas gargalhadas em minha direção. Vi Alisson abraçar Jesus e Lucas se aproximou para as fotos individuais. A taça começou a passar de mão em mão e até eu queria uma foto com ela, qual é! A taça foi passada entre os jogadores e equipe técnica, até que Alisson tirou uma foto com ela e o mesmo entregou para mim.
- Eu não aguento isso sozinha! – Falei e ele riu.
- É leve, vai na fé! – Ele falou e eu coloquei as mãos embaixo dela e ela não era pesada mesmo, minha mochila era mais pesada. Sorri para Lucas que tirava as fotos e logo virei para o lado, entregando-a para Firmino.
- Trabalho cumprido. – Falei e virei para Alisson que tirava sua medalha.
- Sim! – Ele falou, colocando-a em minha cabeça. - Isso é para você. – Ele falou e eu franzi a testa.
- Eu? Eu não fiz nada. – Suspirei.
- Acredite, você fez demais. – Ele sorriu, passando as mãos em minha cintura. – Vocês foram parte muito importante nisso. – Ele disse, colando os lábios nos meus e eu suspirei, erguendo minhas mãos para seu pescoço.
- Eu prefiro o... – Virei para o lado. – Cadê o outro prêmio?
- Serve esse aqui? – Taffarel apareceu atrás de nós e eu ri fracamente.
- Já deu sua época, lindinho! – Falei, vendo-o rir. – Mas é, eu prefiro esse, mostra sua conquista pessoal e nada é mais importante para mim.
- Você é a coisa mais importante para mim. – Ele disse e eu suspirei, sentindo seus lábios nos meus novamente.
- Em diferentes níveis. – Falei, vendo-o rir. – Mas é, ganhamos, amor. – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
- Ganhamos, cara. Isso é surreal! – Ele falou, olhando para cima, me fazendo rir fracamente.
- Não, nem é! – Abanei com a mão. – Só mostra o quão capazes vocês são. – Segurei seu rosto com as mãos. – E com uma ótima equipe de apoio, é claro!
- É claro! – Ele falou, me fazendo gargalhar.
- ! – Ouvi um grito e virei o rosto, vendo Aline se aproximar com Arthur e havia perdido noção do tempo, pois diversos familiares já se encontravam no campo.
- Ah! – Falei, vendo-a correr em minha direção e me abraçar fortemente. – Ganhamos! – Ela falou animada, pulando comigo.
- Ganhamos, Li! – Falei rindo. – Eu nem acredito nisso. – Suspirei, apertando-a.
- Eu acredito! Foi demais! – Ela falou, sorrindo. – Como você está? E o bebê? – Ela perguntou.
- Estamos muito bem! – Falei sorrindo. – Agora aqui está uma calmaria que até eu estou surpresa. – Falei, rindo.
- É merecido demais! – Ela me apertou, me fazendo rir.
- Ah, nem fala! – Suspirei. – Agora, para uma nova etapa. – Comentei, suspirando.
- Ah, é? Qual? – Ela perguntou e eu suspirei, vendo Alisson conversando com Arthur.
- Você sabe... Família. – Ela assentiu com a cabeça, me apertando fortemente e eu deixei um sorriso escapar.
A maioria dos familiares entraram em campo para aproveitar um pouco da alegria, felicidade e curtir. Eu lembrava de muita gente da época da Copa do Mundo, então passei os próximos minutos só relembrando o pessoal, brincando com as crianças, respondendo perguntas da minha gravidez e tudo mais. Era lindo demais ver Alisson com as crianças, ele realmente tinha jeito para coisa e tal, esperava para vê-lo com nossa filha.
- Ah, você tem filhos lindos demais, Filipe, como é possível? – Brinquei, vendo sua esposa rir e ele revirou os olhos.
- Não posso nem fazer essa brincadeira contigo, qual é, a Mini vai ser a menina mais linda do mundo. – Ele comentou, me fazendo rir.
- Eu sei, né?! – Me fingi de metida e ele riu fracamente.
Lembro no começo da Copa do Mundo, aonde eu falava como era possível os jogadores serem tão novos e já terem filhos, agora isso parecia tão distante que na próxima vitória eu também teria uma criança em meu colo para gritar e brincar com os jogadores e com seus filhos.
A noite ia passando e eu sentia que o cansaço finalmente estava me pegando. Apesar do dia ter sido mais relaxado no geral, eu não podia esquecer que havia dormido cerca de cinco horas na noite anterior e não descansei os olhos nenhum minuto a mais, mas eu sabia que a festa logo estava acabando. Pelo menos a festa daqui. Ainda tínhamos a comemoração no hotel Copacabana Palace e lá estaria todo mundo.
- Ah! – Gritei animada ao ver minha família e de Alisson chegando e Andressa foi a primeira a correr em minha direção, me abraçando fortemente, enquanto Muriel apertou o irmão.
- Ah, que delícia deve ser essa vitória. – Ela brincou com a medalha de Alisson em meu peito e eu ri fracamente.
- O gostinhoo é muito bom, viu?! – Falei, rindo, abraçando Nathan, depois meu pai, minha mãe, Bernardo e Analice que veio no colo dele.
- Ah, que dia maravilhoso foi esse! – Minha mãe falou, animada e rimos juntos.
- Foi demais! – Dona Magali falou e eu me aproximei dela, abraçando-a apertado e depois segui para seu José, Muri, Elisângela, Duda e Franthiesco.
- Foi um jogo incrível, moleque! – Meu pai falou para Alisson e eu ri fracamente.
- Foi bom demais! – Alisson falou, me fazendo rir.
- Ah, que saudades de você! – Apertei Bernardo, vendo-o rir fracamente.
- ! – Virei para o lado, vendo Neymar e abri um largo sorriso, seguindo em sua direção e abracei-o fortemente. – Que vitória!
- Ah, foi demais! Pena que não pôde estar com a gente. – Falei.
- Terão outras oportunidades. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Filhão, lembra da ?
- E aí, Davi, tudo bem? – Estiquei a mão para o menino que bateu na minha, sorrindo.
- Essa é a minha família, Ney. E a de Alisson que você já deve conhecer. – Apontei.
- Ah, meu Deus! – Nathan falou, empolgado. – Eu sou teu fã, cara.
- E surtou! – Sussurrei para Alisson que gargalhou ao meu lado com Muriel.
- É um prazer conhecê-los. Tudo bem? – Ele cumprimentou meus pais e eu sorri.
- E aí, . – Virei para o lado, vendo os pais e irmão de Arthur.
- Dona Lucia, seu Aílton. – Sorri, abraçando-os e vi Arthur e Aline chegando atrás.
- Que vitória bonita, hein? – Seu pai falou e eu ri fracamente.
- Ah, não podia ser diferente. – Rimos juntos. – Gente, minha família, do Alisson, família do Arthur, Neymar... – Falei meio rápido para o grande grupo que se formava. – Família do Filipe. – Comentei, apontando para ele que vinha de longe.
- Meu Deus, quanta gente! – Andressa falou, rindo fracamente.
- E agora? – Minha mãe perguntou e eu chequei o relógio.
- Nós temos uns protocolos para seguir ainda, a famosa queima de arquivo, mas temos uma festa ainda no Copacabana Palace. – Falei.
- Vocês acham que vai demorar ainda? – Magali perguntou.
- A gente ainda deve demorar uma hora para sair daqui, precisamos real ajeitar tudo, mas vocês já podem ir... – Olhei em volta. – Bianca! – Gritei para ela que estava com seus pais e ela veio saltitante em minha direção.
- Oi, gente! – Ela falou, animada, abraçando Neymar de costas, me fazendo rir.
- Oi, Bi! – Falamos em grupo.
- Esses são meus pais. – Ela falou e acenamos para os dois senhores mais idosos, Bi era raspinha do tacho.
- Oi! – Eles acenaram. – Prazer conhecê-los. – Sorri.
- E aí, o que manda? – Ela perguntou.
- Eles já podem ir para festa, não?! – Perguntei.
- Espera... – Ela olhou em volta. – Angelica! – Ela gritou para outra e ela e Michelle vieram em nossa direção.
- Ah, eu não vi vocês aí! – Falei, abraçando-as fortemente, sentindo cada uma me sacudir mais do que outra, me fazendo rir.
- Ah, ! Foi demais! Foi sensacional! – Angelica falou, rindo e eu segui para Michelle.
- Ah, vocês não têm noção como eu estou feliz por essa vitória. – Michelle falou. – Mais por causa de vocês mesmo, vocês sofrem tanto com esses meninos.
- Ei! – Alisson, Arthur, Filipe e Neymar falaram juntos, nos fazendo gargalhar.
- Que venham mais vitórias, por favor! – Falei e Bianca esticou a mão na minha batendo.
- E aí, vão para festa? – Angelica perguntou, animada.
- Claro! Já pode ir? – Perguntei.
- Claro! – Angelica falou. – Eu estou indo já, vou abrir o local.
- Eu vou ficar um pouco por causa da finalização. – Michelle falou. – Caboclo ainda quer falar com o time.
- Partiu, então. – Minha mãe falou e rimos juntos.
- Vão indo com eles, a gente tem umas coisas para resolver aqui ainda, né?! – Falei e eles assentiram com a cabeça.
- Não demorem! A gente se encontra lá! – Minha mãe falou, animada e eu assenti com a cabeça, vendo o pessoal sorrir.

- Bom, está na hora de voltar para realidade. – Falei para Alisson, suspirando, vendo que o estádio e o campo já estavam bem vazios, sobrando somente alguns familiares ainda.
- Ainda não, a noite é uma criança. – Ele falou, passando a mão em meus ombros e me levando ao seu lado de volta pelo túnel.
- Alisson, amor, eu não me aguento mais em pé. – Falei, rindo fracamente. – Eu acordei cinco da manhã, não se esqueça disso. – Ele riu fracamente.
- Nossa! Verdade! – Ele falou, rindo. – Quer pular a festa? – Ele perguntou, subindo as escadas comigo.
- Não, nem a pau. – Falei. – A gente precisa comemorar isso, pode demorar para acontecer de novo. – Ele riu fracamente. - Além do mais, lá vai ter comida e eu estou morrendo de fome! – Falei, ouvindo-o gargalhar.
- Bom, isso é! – Ele falou. – Vamos aproveitar então, ok?! – Bocejei ao seu lado, rindo em seguida.
- Espero aguentar. – Sorri, entrando no vestiário.
- Aguenta sim, relaxa. Com aquela galera gritando vai ser impossível! – Ele falou e eu ri fracamente.
Entramos no vestiário e a maioria do pessoal estava lá, inclusive algumas crianças perdidas. Me surpreendi quando vi várias blusas brancas com o número nove pendurado nos lugares das camisetas e Serginho me esticou uma, me fazendo abrir um sorriso.
- Nove vitórias. – Falei, dando um tapinha em seu ombro e ele sorriu, piscando para mim.
- Esse povo é preparado demais! – Alisson brincou, seguindo até seu cubículo e se sentou nela.
- Eu vou me trocar. – Falei e ele piscou.
Segui para o banheiro, feliz por não encontrar ninguém usando e entrei em uma cabine, trocando as blusas. Fiquei feliz pela blusa ser larguinha e ajeitei a mesma na gola. Saí do mesmo e aproveitei para soltar meu cabelo que estava mais solto do que preso depois de tanta bagunça. Voltei para a sala e vi Caboclo ali.
- Parabéns pelo trabalho primoroso! – Ele falou. – Vocês mereceram. Foi incrível! – Ele falou e eu segui em direção a Alisson, me colocando ao seu lado e ele deu um rápido beijo em minha cabeça. – Todos vocês mereceram esse título, foi demais. Aproveitem e bom trabalho! – Ele disse e o pessoal aplaudiu.
Caboclo cumprimentou Tite e o pessoal da equipe técnica e logo se retirou, mas Michelle ficou ali com Tite e a equipe técnica. Aproveitei o espaço e me sentei no lugar de Alisson, respirando fundo. Eu só conseguia pensar em uma coisa: então assim é uma final? Era esse o gostinho de uma final? Acho que eu não sabia o que era isso desde 2002 e não era como se eu lembrasse de algo aos nove anos de idade, né?! E mesmo se lembrasse, comemorar das ruas e comemorar de dentro, era algo totalmente diferente.
- Gente, vamos aproveitar a roda e já bater aquele papo? – Tite falou e assentimos com a cabeça. Me levantei, me colocando entre Alisson e Cássio. – Dani... – Ele assentiu com a cabeça.
- Antes de começar, eu quero pedir uma coisa, quero pedir para gente se ajoelhar para esse gesto ficar marcado. – Ele falou. – Eu andei estudando um pouco sobre esse gesto e quando o professor ajoelha, quando o professor faz isso aqui. – Ele se colocou em um joelho. – Quero que vocês façam isso aqui. – Ele falou. – Porque quando ele faz isso daqui, ele quer mostrar respeito pela gente. – Ele falou e todo mundo se ajoelhou.
- Difícil, Dani! – Comentei, tentando me equilibrar e o pessoal riu.
- Você eu libero! – Ele falou e eu pisquei, ficando em pé ao lado do pessoal. – A primeira vez que ele fez isso, eu falei “puta, que cara”. Ele respeita a gente para caralho. – Dani falava. – Então eu queria que a gente só deixasse marcado esse gesto do professor, porque ele tem muito respeito pela gente, e a gente tem muito respeito por ele. – Assenti com a cabeça. – E por todos que formam parte desse staff. Dá gosto fazer parte de um staff assim, dá gosto fazer parte de um grupo assim. – Ele falava e eu suspirei, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas de novo. – Nós trabalhamos essa vitória, com todas essas palavras expostas lá, a gente trouxe para cá, e eu queria pedir a Deus o seguinte: que a mesma alegria que a gente trouxe para cá hoje, que a gente trouxe para dentro do campo hoje, que fosse a mesma alegria que a gente saísse dali. E a gente conseguiu! – Ele falou, sorrindo. – A gente foi atrás desse final, e aí está o nosso final. – Ele apontou para taça no centro da roda. – A gente bateu, bateu, bateu, mas transformou em algo incrível. – Ele falou. – Tudo isso foi transformado em uma coisa. Nisso aí! – Sorri, assentindo com a cabeça. – Isso aqui não é importante, é isso aqui. – Ele apontou para roda, para as pessoas. – O que a gente construiu aqui vai ser para sempre, no coração e na alma, só a gente sabe como é difícil estar aqui. Por isso, puta que pariu, obrigado, Deus! Obrigado a todos vocês. – Ele falou, batendo no peito.
- Valeu! – O pessoal falou, aplaudindo Dani que estava visivelmente emocionado, não que eu pudesse falar algo diferente.
- Obrigado, Dani! – Tite falou. – Podem levantar! – Ele falou, fazendo o pessoal rir e se levantar. – Quando eu me coloco de joelhos, eu me coloco sem hierarquia, com transparência, com verdade. Falando de igual para igual, sem nenhuma hierarquia. Existe o lado humano, qualquer que seja nossa posição aqui. – Assenti com a cabeça. – Obrigado, eu estou muito feliz. Parabéns, repassem o abraço para as famílias de vocês, de coração, gente, elas merecem. Pode falar que eu mandei. – Assenti com a cabeça, vendo o pessoal rir. – Agora manda lá, Richarlison, conta a história. – Franzi a testa.
- Ah, o repórter perguntou para quem eu dedicava o título... – Ele começou a falar naquele tom de sempre. – Aí eu falei que era para minha bisavó. Aí ele pediu para eu falar o nome da minha bisavó e eu esqueci. – Gargalhamos alto, vendo-o abaixar o rosto e minha risada ficou estridente, me fazendo derrubar as lágrimas presas nos olhos.
- Meu Deus! – Neguei com a cabeça, vendo o pessoal dispersar.
- Não foi ele que não atendeu sua ligação? – Bianca falou mais alto, fazendo o pessoal gargalhar mais alto ainda.
- Não, foi o Neres, pô! – Ele falou, fazendo o pessoal gargalhar.
- Sai fora! – Neres falou.
- Meu Deus! – Ri fracamente.
- Bom, gente, vamos organizar, precisamos sair daqui logo e temos uma festa ainda. – Edu falou e nós batemos as mãos, fazendo a roda dispersar.
- Bom, vamos, que vamos, tenho que checar os protocolos com a Bianca. – Falei para Alisson, suspirando.
- Na verdade, tem uma coisa que eu ainda quero que você faça. – Ele falou, mexendo nas luvas.
- Meu Deus, Alisson, você ainda tá de luva? – Falei inconformada. – Como você aguenta? – Falei, rindo. – Eu odiava usar isso na época da faculdade.
- Eu não podia tirar, porque... – Ele falou, descolando o velcro de uma mão e tirando, jogando-a em seu cubículo.
- Porque... – Falei, pedindo para ele continuar.
- Porque... – Ele falou, tirando a outra e me estendendo. – Porque é para você.
- Como assim? – Franzi a testa.
- Veste! – Ele falou esticando a luva virada para cima e eu olhei para ele franzindo a cabeça.
- O que está acontecendo? – Perguntei para ele, vendo-o com um pequeno sorriso no rosto.
- Pelo amor de Deus, , veste logo! – Me assustei, vendo Bianca, Lucas, Vinícius, Leandro, Anna, Diana, Ederson, Dani, Filipe Luis, Thiago, Marquinhos, Casemiro, Arthur, Coutinho, Jesus, Firmino e Willian perto de nós.
- Meu Deus, gente! – Falei surpresa. – O que está acontecendo? – Virei para Alisson.
- Veste! – Ele falou confiante e eu suspirei.
- Não vai ter nenhuma cobra aqui dentro, vai? – Sussurrei e ele riu fracamente.
Coloquei minha mão direita lentamente dentro da luva, encaixando os dedos aos poucos e olhei para Alisson quando senti algo incomodar um de meus dedos, algo pontiagudo. Franzi a testa, olhando para Alisson e tirei a luva novamente, virando-a em minha mão esquerda e vendo uma pequena aliança cair da mesma, me fazendo perder o fôlego.
- Meu Deus! – Falei, respirando fundo, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas imediatamente.
A aliança era simples, mas perfeita. Ela era fina, de ouro amarelo, com um solitário de diamante delicado no meio e outros menores por um terço de sua volta. Senti minhas mãos gelarem automaticamente e ergui o rosto para Alisson que tinha um largo sorriso em seu rosto.
- O que... O que é isso? – Perguntei, sentindo minha voz embolar um pouco.
- Eu não podia tirar a luva esse tempo todo, para poder esconder ela de você. – Ele falou, me fazendo respirar fundo. – Com licença. – Ele falou, pegando a luva e a aliança em meu dedo e se colocou em um joelho só. – Foi difícil ficar com ela o jogo inteiro, mas se eu tirasse, eu podia perder ela...
- Meu Deus! – Respirei fundo, levando as mãos à boca.
- Eu estou mentindo para você faz um tempo. – Ele falou, rindo fracamente. – Eu sei há um tempo que você é a mulher da minha vida. – Ele começou. – Você foi a única pessoa que eu lutei, de diversas formas, para ficar perto. Para ver nem que fosse por algumas horas. Você é aquela mulher que eu vou mover céus e terras para ficar junto, porque você é muito importante para mim. Você é aquela menina de saltos amarelos por quem eu fiquei louco desde o primeiro dia, quem eu quis ficar próximo, ficar junto, usar desculpas para ficar perto e que não poderia deixar a Rússia sem que você fosse minha. – Senti as lágrimas começarem a deslizar pelo meu rosto. – Você é única, . – Suspirei. – Não tem mais ninguém nesse mundo que faça eu me sentir como você faz. – Puxei a respiração fortemente. – Esse último ano foi uma loucura, faz um ano que estamos juntos hoje, mas, cara, como foi incrível poder lutar contra tudo e todos para poder te ver, ficar contigo e realmente ser seu namorado. – Suspirei. – Quando você engravidou, rolou aquele desespero louco, e me desculpe por mentir para você e não conseguir evitar seu sofrimento, mas eu não podia simplesmente evitar passar todos os dias da minha vida contigo, não só por causa do bebê, mas por tudo. Você é a mulher da minha vida. – Assoprei o ar, sentindo minhas narinas fecharem. – Então sim, eu estou mentindo para você faz um tempo. – Ele olhou em meus olhos. – Eu sei o que vai acontecer conosco quando acabar essa competição. Eu sei como vamos lidar com essa gravidez e com essa criança após a Copa América. E eu tenho planejado isso há umas duas semanas, conversando com todas as pessoas possíveis para isso acontecer, achando possibilidades de fazer isso dar certo, mas isso aqui... – Ele estendeu o anel. - É algo que eu quero te dar desde o primeiro momento que eu te beijei, porque eu quero ficar contigo para sempre. – Abri um pequeno sorriso. – Nós somos perfeitos juntos, as pessoas mesmo falam que a gente arranjou um jeito de ficar juntos e não podia ser diferente. – Percebi que seus olhos brilhavam. – E não sei se você vai achar ótimo que eu peça para você ser minha esposa nesses estados... – Ele apontou para si mesmo suado, descalço e com as meias arriadas. – Nesse local e com muitas pessoas olhando, mas eu quero compartilhar minha vida contigo por inteiro, aqui, em casa, em todos os lugares. Compartilhando nossos gostos, nossos desejos, nossos sonhos, nosso futuro junto, compartilhando o futebol contigo. – Suspirei. – Então, , você me daria a honra de se casar comigo? – Ele esticou a aliança em minha direção.
- Meu Deus! – Respirei fundo, rindo fracamente. - Você está com uma aliança dentro da luva desde antes do jogo? – Perguntei, suspirando.
- ! – O pessoal gritou, me assustando.
- Ah, meu Deus! Sim, sim, sim! É óbvio que sim! – Falei, gargalhando e ouvi o pessoal aplaudir e soltar gritos animados.
Alisson colocou a aliança em meu dedo anelar direito e se levantou, passando as mãos pela minha cintura, colando nossos lábios fortemente e eu deixei as lágrimas caírem pela minha bochecha, me fazendo suspirar. Levei minhas mãos até seu rosto, acariciando-o levemente e separei o beijo com um largo sorriso.
- Não consigo acreditar! – Falei, passando meus braços pelo seu corpo, apertando-o contra seu peito. – Todos vocês sabiam? – Perguntei, vendo Bianca abraçada a Lucas, limpando as lágrimas de seu rosto.
- Sim! – Eles falaram, gargalhando.
- Tem um tempo já. – Arthur falou, me fazendo rir.
- E como? – Virei para Alisson. – Como vamos fazer isso dar certo? – Perguntei, passando as mãos em meus olhos e olhando para a aliança em meu dedo, me fazendo suspirar.
- Vamos só dizer que aquele dia com a Michelle ela não estava emocionada pelo bebê, muito menos naqueles dias... – Arthur falou.
- E naquele dia do chá de bebê não foi também só para comprar as coisas para festa. – Filipe Luís falou.
- E quando eu falei mais cedo que iríamos nos separar, não era também que você iria sair da CBF, era porque a gente vai se separar, mas de um jeito diferente. – Bianca falou e eu arregalei os olhos.
- Teve aquele dia que Alisson me contou do pedido também e você achou que a gente estava agindo estranho. – Arthur comentou também e eu abri a boca, surpresa.
- Vocês estão me enganando esse tempo todo? – Falei um tanto alto, ouvindo o pessoal gargalhar.
- Sim! – Eles gritaram em resposta.
- Meu Deus! – Virei para Alisson.
- Bianca, Arthur e Michelle ficaram bem emotivos quando eu falei que queria casar contigo, aí nós fomos mexendo uns pauzinhos. – Suspirei.
- Oh, meu Deus! – Respirei fundo. – Você é perfeito! – Passei os braços pelo seu pescoço novamente. – Você é perfeito demais. – Falei rindo e ele colou nossos lábios novamente, fazendo o pessoal gritar de novo, mas nos separei rapidamente. – E como vamos fazer isso?
- Isso é comigo. – Michelle falou, abraçando Lucas e Bianca de lado e eu sorri. – Sabe o André? – Ela perguntou.
- Sei. – Falei fracamente.
- Bom, ele está voltando para o Brasil e tem uma vaga em aberta para assessor alocado da CBF na Inglaterra. – Ela falou. – Se você quiser, essa vaga é sua! – Arregalei os olhos.
- Mentira! – Falei um tanto alto, colocando as mãos na boca. – É por isso que você falou tanto do trabalho dele hoje. – Virei para Bianca. – Filha da mãe. – Dei um tapa nela que gargalhou.
- O assessor alocado tem outras ocupações, mas consigo mexer uns pauzinhos para você continuar acompanhando os amistosos e competições internacionais. – Sorri, dando um gritinho. – Claro, depois que a Mini nascer.
- Meu Deus, eu aceito! – Falei, animada, abraçando-a fortemente, ouvindo-a rir. – Não acredito que está tudo dando certo. – Suspirei, me afastando dela. – Não acredito que vocês fizeram tudo isso por mim. – Senti meus olhos encherem de lágrimas novamente e o pessoal veio nos abraçar fortemente.
- Você é muito importante para gente para não fazermos nada. – Thiago falou e eu suspirei, assentindo com a cabeça.
- Eu falei que tinha a prorrogação ainda, amiga. – Bianca falou, me fazendo rir fracamente.
- E vocês mentindo para mim todo esse tempo! – Falei, batendo nela e apertando-a em um abraço logo em seguida.
- Essa mentira quase vazou diversas vezes, mas que bom que deu certo! – Alisson falou e eu segui pela roda, abraçando um por um.
- Bom, com Filipe Luís e Ederson, é meio difícil, né?! – Brinquei.
- Ei! – Eles gritaram juntos.
- Não tinha treino nenhum de férias, tinha? – Virei para Alisson.
- É claro que não! – Ele falou, me fazendo rir e Arthur me apertou fortemente quando eu passei por ele.
- Meu Deus, como eu sou trouxa! – Falei, ouvindo o pessoal rir.
- Vamos aplaudir ao noivado do casal! – Ouvi uma voz mais alta e virei para Tite e o resto do pessoal que nos observava. – A e o Alisson! – Ele falou e o pessoal começou a aplaudir e comemorar.
- Não acredito nisso. – Falei, sentindo Tite me abraçar e uma nova fila aparecer para nos abraçar.
- Parabéns, gente! Estou muito feliz por vocês. – Ele abraçou a nós dois juntos e eu sorri, suspirando.
- Obrigado. – Suspirei.
Todo o pessoal de amigos e meros conhecidos vieram nos abraçar e agora as lágrimas presas todo esse tempo finalmente saíram, mas elas eram lágrimas de felicidade, de completa felicidade. Suspirei ao abraçar Rodrigo por último e virei meu corpo para Alisson, vendo-o com um largo sorriso para mim.
- Não acredito que você preparou tudo isso. – Falei e ele passou as mãos pela minha cintura, me trazendo para perto de si.
- Eu não seria nem louco de ficar longe de você e de Mini, mas menos ainda de deixar você largar o emprego dos seus sonhos. – Suspirei. – Nós dois merecemos viver isso. – Sorri, apertando-o contra meu corpo e apoiei minha cabeça em seu ombro.
- Você é incrível, Alisson, você é verdadeiramente o amor da minha vida e não tem nem discussão. – Suspirei, erguendo o rosto em direção do seu, colando nossos lábios levemente. – Olha tudo o que você fez. – Ri fracamente.
- E você é o meu. – Ele sorriu, colando nossos lábios em um curto selinho. – Não acredito que isso deu tão certo. – Ele gargalhou.
- O pedido? – Perguntei.
- Não, a mentira. – Ele riu fracamente. – Cada vez mais pessoas descobriam e eu tinha medo de chegar em você.
- Idiota! – Falei, vendo-o sorrir. – Eu quero saber todos os detalhes depois, ok?!
- Combinado! – Ele falou, colando nossos lábios devagar.
- ... – Fui chamada e virei o rosto para Michelle. – Curta a festa e descanse, te quero na CBF dia 15 para eu te passar todas as instruções, já arrume suas coisas, fale com sua médica, assim que possível você já vai para Inglaterra.
- Combinado! – Sorri, vendo-a piscar. – Obrigada por tudo. – Falei e ela segurou minha mão.
- Me desculpe pelo nervosismo que você deve ter passado. – Ela falou. - Eu quero que você saiba que eu daria um jeito, ok?! – Assenti com a cabeça, suspirando. – Mas aí Alisson veio com a ideia do pedido e bom... - Virei para Alisson novamente, sorrindo.
- Obrigada por tudo. – Suspirei.
- Sejam felizes! – Ela disse, se afastando e eu me virei para Alisson.
- Você disse no pedido que esperava que eu não me importasse com o estado pós-jogo, o local, as pessoas...
- É. – Ele assentiu com a cabeça.
- É perfeito exatamente por isso, amor. – Sussurrei. – Nem teria como ser diferente, pois nós somos assim.
- Você gostou? – Ele perguntou e eu estiquei o dedo com a aliança no meu campo de visão, dando um sorriso.
- É perfeito. – Falei, suspirando. – E é para sempre! – Sorri, sentindo-o colar os lábios nos meus novamente.

Quando conseguimos finalmente arrumar tudo e sair do vestiário, já era mais de dez horas. Eu parecia uma tonta, eu sofri durante a competição inteira pensando em tudo o que poderia acontecer e Alisson simplesmente resolveu minha vida do nada.
Eu ainda não me conformava como eu estava desligada, mas não era para tanto, eu preocupada com meus próprios pensamentos, em fazer isso acontecer, nem me dei conta de tudo o que estava acontecendo nos bastidores. Nossa! Pensar agora em todos os momentos que eu vi algo suspeito e nem me dei ao trabalho de investigar mostravam como eu era uma péssima jornalista. E uma péssima namorada, né?! Meu lado curioso estava desligado há um bom tempo.
Mas com um toque de mágica, tudo se resolveu. Não sabia os trâmites ainda, mas pelo o que Bianca me falou do trabalho de André, eu poderia morar com Alisson, teria uma equipe pequena para acompanhar, acompanharia os jogos da liga inglesa, acompanharia jogos relevantes para a CBF, faria reunião com jogadores sobre os amistosos ou competições internacionais e, de quebra, ainda poderia continuar nas viagens internacionais quando tivesse.
Meu Deus! Isso era loucura!
Eu tinha que agradecer e pedir para Deus para proteger essas pessoas para sempre. Olha o tanto que eles fizeram por mim! Além de tudo isso, ainda tinha André, será que ele realmente estava vindo embora ou será que ele havia cedido seu posto para mim e ficaria com o meu no Brasil? Não sei, mas eu precisaria agradecê-lo na primeira oportunidade.
Observei minha aliança à meia luz do ônibus enquanto o pessoal batucava em direção ao hotel Copacabana Palace e Alisson estava abraçado à taça ao meu lado, me fazendo sorrir. Aquele homem era simplesmente demais, ele havia vindo de brinde com o que eu achei que seria a realização do meu sonho, mas ele ainda me provou o contrário, me ajudando a realizar tantos outros sonhos e só Deus sabe quantos mais viriam com nossa vida a dois.
Eu não podia estar mais feliz. Vencer a Copa América tinha sido legal? Tinha, mas tirar todos os problemas dos meus ombros havia sido muito mais. De repente, depois de dias de turbulência em minha mente, agora tinha só a calma e o silêncio. E tudo isso por causa desse homem ao meu lado.
Chegamos ao Copacabana Palace com o pessoal fazendo barulho. Mumuzinho fazia um show no palco montado no salão de festas e eu fui direto atrás da minha família, encontrando-os curtindo o show em uma das mesas do canto.
- Ah! – Bernardo falou quando me viu. – Deixa eu ver! – Ele falou alto, pegando minha mão.
- Vocês sabiam? – Falei alto e surpresa e eles gargalharam.
- É claro que sim! – Andressa falou, puxando minha mão e olhando a aliança. – Meu Deus, minha irmã vai casar! – Ela falou alto, me abraçando fortemente.
- Como? – Perguntei, incrédula. – Eu vim louca para contar. – Virei para Alisson.
- Eu não ia pedir para você casar comigo e se mudar de país sem a permissão dos seus pais. – Ele sorriu.
- E eu gostei muito disso, diga-se de passagem. – Meu pai falou.
- Você planejou tudo mesmo? – Virei para Alisson.
- Eu evitei qualquer problema que pudesse aparecer. – Ele disse. – A única dúvida deveria ser a sua resposta.
- Meu Deus! – Respirei fundo, passando a mão nos olhos. – Você não pensou que eu fosse negar, pensou?
- Se eu evitasse todos os problemas, sabia que você aceitaria. Esperava, pelo menos. – Rimos juntos.
- E você evitou. – Suspirei, sorrindo.
- E para um cara como o Alisson, a gente não podia dizer não. – Meu pai falou e eu abri um largo sorriso.
- Obrigada. – Falei para ambos.
- Agora deixa eu te dar um abraço. – Minha mãe falou, empolgada, me abraçando fortemente e eu ri, apertando-a fortemente. – Felicidades, minha filha, que você seja sempre muito feliz.
Depois segui para meu pai, Nathan, Bernardo, dona Magali, seu José, Muriel, Elisângela e os dois pequenos de Muriel. Analice já dormia pesado em duas cadeiras unidas. Tinha muita gente diferente ali, a vantagem da vitória em casa era que a família de todos poderia aproveitar junto, mesmo que muitos trabalhassem no dia seguinte.
- Não acredito que você ficou noiva! – Aline apareceu em minha frente, me abraçando fortemente. – Meu Deus, eu fiquei tão feliz quando o Arthur me contou. Ah! – Ela falou animada, me fazendo rir.
- Fiquei com inveja de você! – Brinquei, abraçando Arthur.
- De certa forma foi isso mesmo. – Arthur comentou e virei para Alisson.
- Eu não me conformava de a gente estar indo tão devagar e esses dois há dois meses juntos já estavam noivos. – Alisson falou inconformado e gargalhamos.
- A gente se conhece desde a escola, tá?! – Aline falou.
- Ah, grande diferença. – Alisson falou irônico, nos fazendo gargalhar.
- O bom é que agora você vai morar na Inglaterra, é coladinho na Espanha, a gente vai poder se ver mais. – Aline falou, animada.
- Ah, sim, por favor, preciso de amizades para sobreviver a essa nova etapa da minha vida. – Rimos juntas.
- Parabéns, sério! – Ela me apertou de novo. – Estou tão feliz.
- Obrigada. – Sorri. – Foi o melhor momento do dia.
- Também não exagera. – Arthur falou.
- Cara, eu preciso confirmar com ela nessa. – Alisson falou. – Foi, vai.
- Você já tem vários prêmios, mais um não deve fazer diferença nenhuma. – Arthur debochou, me fazendo gargalhar.
- Tonto! – Falei, vendo-os rirem.
Várias pessoas vieram falar comigo, alguns parentes que eu não havia conversado no campo, outros vieram nos parabenizar pelo noivado, foi difícil parar, mas na primeira oportunidade eu fui comer, estava realmente faminta e fazia bastante tempo desde a minha última refeição.

A festa estava animada e, apesar de não conhecer as música do Mumuzinho, ele até conseguia animar a galera, afinal, o pessoal ali era pagodeiro, mas o cansaço era perceptível na cara de todo mundo que havia realmente trabalhado hoje. As competições e viagens eram boas, mas era praticamente 24 horas de trabalho direto, mesmo contando o descanso.
Os jogadores foram sumindo aos poucos, um ou outro viam se despedir e, por volta da uma hora da manhã, eu pedi arrego. Eu não aguentava mais ficar em pé e nem tinha mais fôlego para isso. Precisava urgentemente de um banho e de uma cama, da minha cama.
- Amor, podemos ir? – Perguntei baixo para Alisson que estava em pé atrás de mim.
- Cansada? – Ele perguntou e eu suspirei, assentindo com a cabeça. – Vamos sim. – Ele falou.
- Gente, chega para mim. – Falei para minha família.
- Já vão? – Minha mãe perguntou.
- Ah, estou moída, mãe. – Suspirei.
- Se importa se a gente ficar mais um pouco? – Minha irmã perguntou.
- Não, claro que não. Aproveitem. – Falei. – Quer que eu leve Analice?
- Não precisa, vão descansar. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Obrigada, gente! Até amanhã. – Falei, cumprimentando meus familiares e os de Alisson e logo conseguimos nos afastar deles. – Deixa eu falar com o pessoal e com Tite antes. – Falei, seguindo perto da mesa de Lucas, aonde sua esposa e sua filha estavam sentados. – Gente, estamos indo.
- A gente logo vai também, a Joana já dormiu faz tempo. – Lucas falou nos abraçando.
- A gente se vê antes de eu me mudar, certo? – Apertei-o.
- Mas é claro, precisamos fazer uma festa de despedida ou algo assim. – Ele falou, me fazendo sorrir.
- Obrigada por tudo. – Sorri e ele assentiu com a cabeça.
- Sempre que precisar. – Ele falou. – Parabéns, minha amiga! – Ele sorriu e eu assenti com a cabeça, acenando para Mariana.
- Já vão? – Bianca apareceu e ela estava bem descabelada.
- Ah, chega, né?! – Alisson falou, me fazendo rir.
- Ah, eu não aguento mais também, mas minha mãe está curtindo, não quer ir de jeito nenhum. – Ela falou, me fazendo rir e eu a abracei.
- Não só ela, pelo visto. – Rimos juntas. - Obrigada por segurar as pontas para mim. – Falei e ela estalou um beijo em meu rosto.
- Você é minha amiga e minha comadre, eu só quero te ver feliz. – Sorri, assentindo com a cabeça e a apertei mais uma vez.
- A gente se vê semana que vem, ok?!
- Ok, não some! – Ela falou e eu assenti com a cabeça. – Ah, nossas malas estão no lobby, eles já tiraram do ônibus.
- Ah, obrigada! – Falei e ela fez joia com os dedos.
- Já nem lembrava das malas. – Alisson comentou.
- Nem eu, já ia ficar! – Comentei, ouvindo-o rir ao meu lado e seguimos até a mesa de Tite, Matheus, Edu e Cléber e suas respectivas esposas. - Vim me despedir, gente.
- Já estão indo? – Tite foi o primeiro a se levantar.
- Não aguento mais, Tite, estou carregando peso extra. – Comentei, vendo-o rir e ele me abraçou fortemente.
- Fica bem, ok?! – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – Sei que vai demorar para eu te ver de novo com a gravidez, o bebê e tudo mais, mas eu estou aqui para o que precisar.
- Eu também! – Falei, abraçando-o novamente.
- Obrigado pela ajuda! – Alisson falou e Tite apoiou sua testa na dele.
- O que precisar, meu garoto! – Sorrimos.
- Edu, Cléber, Matheus, foi um prazer! – Falei, colocando a mão no peito e eles sorriram.
- Agora vê se convida para o casamento, hein?! – Matheus falou, nos fazendo rir.
- Ah, você não! – Falei e ele riu também. – Obrigada, boa noite! – Falei, acenando e eles sorriram. – Prazer conhecê-las. – Acenei para as esposas que sorriram.
Seguimos juntos para o lobby do hotel, encontrando algumas pessoas pelo meio do caminho e nos despedimos com rápidos abraços o que atrasou um pouco nossa saída. Pegamos nossas malas no lobby o que mostrava que muita gente já tinha ido.
- Ei, casal! – Vi Arthur e Aline namorando em um dos sofás.
- E aí, gente? – Eles falaram, se levantando.
- Estamos indo para casa. – Falei. – E vocês?
- Vamos ficar por aqui hoje, meus pais estão hospedados aqui, amanhã vamos para Goiânia. – Arthur falou.
- Querem ficar lá no meu apartamento? – Perguntei.
- Ah, qual é, gente, vocês precisam aproveitar essa noite. – Aline falou e eu sorri, sentindo Alisson me abraçar pela cintura.
- Bom, então acho que isso é um até mais. – Falei, seguindo na direção de Arthur e abracei-o fortemente. – Obrigada por tudo, viu?
- Foi um prazer. – Ele falou. – Vocês são importantes demais para gente.
- Vocês também! – Alisson falou, abraçando Aline e depois trocamos.
- Bom, tem muita coisa para acontecer esse ano ainda, certo? Quero ficar sabendo tudo dessa criança, viu?! – Aline falou.
- Pode deixar. – Sorri, dando um rápido beijo em sua bochecha. – Me avisem dos seus passos, ok?!
- Pode deixar, nos encontramos na Europa. – Aline piscou e eu ri fracamente, acenando para ambos e entrelacei minhas mãos nas de Alisson.
- Parabéns mais uma vez. – Arthur falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
Saímos do hotel e tinha vários carros esperando para nos levar aonde precisávamos e dei meu endereço. Demorou cerca de meia hora para chegarmos, era madrugada de domingo, mas era bem longe de onde estávamos. Agradeci ao motorista que nos ajudou com as malas e seguimos para dentro do meu condomínio.
- Cara, isso é enorme! – Alisson falou.
- Você nunca veio aqui, né?! – Comentei, andando por dentro dele.
- Não! – Ele falou, rindo fracamente.
- Bom, bem-vindo à minha casa. – Falei.
Andamos pelo condomínio, entrando na minha torre e apertei o botão do elevador, esperando apoiada nele enquanto subia.
- Ah, espero que esteja tudo ajeitadinho e que minha cama esteja livre. – Resmunguei e ele sorriu.
- Eu te ajudo. – Ele falou e entrei em meu andar, procurando pela chave na minha mochila e coloquei na porta, empurrando-a.
- Bem-vindo! – Falei, entrando nela e seguindo direto para a cozinha deixar a mochila e bolsa na bancada e a mala no pé dela.
- Uau, isso é bem legal! – Ele falou. – Olha! – Ele apontou para o quadro que Matheus me deu e eu sorri.
- Matheus me deu na inauguração, deixei aí. – Falei e ele sorriu.
- É demais. – Ele deixou suas malas próximo ao sofá e vi os diversos presentes do chá de bebê amontoados em um canto. – Amor, isso parece arrumado demais.
- Né?! – Segui pelo corredor, empurrando a porta do meu quarto e me surpreendi com ele totalmente vazio, do jeito que eu deixei quando saí daqui, sem malas, sem nada. Observei um bilhete em minha escrivaninha e vi a letra de minha irmã.
- “Mana, aproveite sua vida de noiva enquanto pode, vamos para Búzios curtir um pouco, voltamos na sexta. Beijos”. – Li o escrito e rimos juntos.
- Temos o apartamento inteiro para gente até sexta? – Ele perguntou.
- Não sei se Bernardo está incluso nisso, mas ele trabalha o dia inteiro, então... – Comentei.
- Hum, vi vantagem! – Ele falou, passando as mãos pela minha cintura, me fazendo rir quando ele me pegou em seu colo.
- Alisson, não! – Falei, segurando em seus ombros e ele me colocou na cama devagar. – Eu estou suja, suada, fedida, cansada. – Comentei, vendo-o rir quando ele se colocou delicadamente em cima de mim.
- Tudo bem, temos até sexta para aproveitar e amanhã vamos sair para comemorar nosso um ano de namoro e o noivado, está bem? Ainda está de pé. – Ele falou.
- Combinado. – Sorri, levando minha mão até seu rosto. – Mas não temos somente até a sexta para aproveitar, amor. Temos a vida inteira. – Comentei, vendo seu sorriso alargar.
- Ah, como eu adoro o som disso. – Rimos juntos.
- Você nem imagina o peso que você tirou das minhas costas hoje. – Comentei, vendo-o se jogar ao meu lado e virei meu corpo.
- Imagino sim, pois saiu das minhas também. – Ele sorriu. – Eu tentava ignorar isso, mas era difícil, e eu te via distraída e isso me machucava.
- E quando você decidiu isso? – Me sentei ao seu lado.
- Quando Arthur me contou dele e de Aline. – Ele riu fracamente. – Achei que estava perdendo tempo, mas não podia simplesmente te pedir com todos esses problemas. – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – E aí consegui algo aqui e ali, mas Michelle já sabia sobre André e já queria te colocar no lugar dele, mas ela queria esperar a competição acabar...
- E de repente tudo deu certo? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça, sorrindo. – Meu Deus! Não acredito que estou noiva! – Olhei para minha aliança. – Ela é linda demais.
- Não acredito que deu certo! – Ele falou, gargalhando e eu sorri.
- E agora é para sempre? Não vou precisar nunca mais me irritar com nossa distância? – Perguntei.
- Sim, amor, para sempre. – Ele falou, colando os lábios nos meus novamente e eu sorri, levantando meu corpo. – Talvez você reclame agora da nossa proximidade, mas...
- Bobo! Nunca vou reclamar disso. – Falei e ele sorriu. - Bom, eu vou tomar banho antes que eu durma aqui. – Falei, bocejando mais uma vez.
- Eu espero aqui, porque se eu entrar contigo... – Ele comentou, me fazendo rir.
- Até parece que você está com pique para isso. – Falei.
- Olha, depois do jogo da Argentina, eu nunca mais duvido do nosso pique sexual. – Gargalhei, dando um tapa em suas pernas.
Segui até o armário, abrindo-o e peguei um pijama limpo e uma calcinha. Eu estava meio em falta de calcinhas, mas daria até eu lavar toda a roupa, eu tinha misturado limpo com sujo e agora estava uma bagunça.
- Já volto, você pode ligar a TV, o note, fica à vontade. – Falei e ele olhou em volta, procurando o controle e ligando a televisão.
- Ei, hoje teve outras duas finais, não?! – Ele comentou e eu virei para a televisão.
- Nossa, verdade! A Copa do Mundo Feminina e a Copa Ouro. – Falei, vendo algumas imagens da Copa do Mundo Feminina passando na televisão quase sem volume. – Quem ganhou?
- Estados Unidos na feminina...
- Sem surpresa. – Comentei.
- E México na Copa Ouro. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Nossa, olha a gente! Acabamos de sair de uma competição de quase 50 dias e já estamos falando de futebol de novo. – Ele riu fracamente.
- É por essas e muitas outras que eu digo que você é a mulher da minha vida. – Ele falou e eu sorri, piscando para ele.
- Agora para sempre, noivinho! – Falei e a última coisa que eu vi antes de sair do quarto foi seu sorriso e eu sabia que tudo ficaria bem.



Epílogo

Passei a mão nos cabelos claros de Helena e a mesma tinha a cabeça apoiada em minha barriga, tentando ouvir Mini, mas minha pequena já estava tão grande que seus pezinhos marcavam minha barriga e Nena brincava que sua irmãzinha estava tentando chutá-la, mas ela insistia em ficar na mesma posição novamente, com suas mãozinhas apoiada nas laterais.
- Já foi? – Minha mãe perguntou.
- Ainda não. – Suspirei e olhei para ela que vinha com uma bandeja com alguns salgadinhos fritos e copos de acrílico cheios de suco.
- Hum... – Sorri com o cheiro. – Quer comer, Nena? – Perguntei, acariciando sua cabeça.
- Quero! – Ela falou, animada, rolando para o chão para se levantar e eu ri fracamente, me sentando também, apoiando a mão nas costas e me levantei devagar.
Estendi minhas mãos para cima, fazendo um alongamento e me sentei novamente no sofá, pegando uma coxinha e coloquei-a na boca. Helena pegou algumas em suas mãos e se aninhou ao meu lado com seu copo fechado.
- Cadê Magali? – Perguntei.
- Já está subindo, foi servir o pudim. – Minha mãe falou e eu suspirei.
- Ah, gente! Eu não posso mais engordar. – Falei e ela riu.
- Só mais um tempinho, meu amor. – Suspirei, levando a mão até minha barriga descoberta devido ao top que eu usava e senti o pezinho de Mini nela.
- Ela podia ter nascido antes, era para eu estar lá! – Apontei para a televisão aonde passava a premiação do FIFA The Best.
- São coisas que acontecem, filha. – Ela falou e eu peguei uma bolinha de queijo, colocando na boca, evitando algum comentário irritadiço.
Eu ainda tinha cerca de uma ou duas semanas de Mini aqui no forninho para completar os nove meses, e quatro semanas para as máximas 42 semanas, mas pelo tamanho da minha barriga e por eu estar louca para ir na premiação com Alisson, esperava que ela nascesse antes, mas obviamente não aconteceu. Então eu estava no sofá de casa com minha mãe, sogra e enteada, enquanto ele estava em Milão na premiação, todos na expectativa que ele ganhasse o prêmio de melhor goleiro do mundo.
Afinal, era difícil ter outro ganhador, as outras opções eram Ederson e Ter Stegen, mas só Alisson teve tanta vitória esse ano, Champions e Copa América. Peguei o copo do suco e dei um gole, colocando-o de volta na bandeja e abracei Nena, passando a mão por cima de sua cabeça.
- Alguém quer pudim? – Magali apareceu nas escadas, colocando outra bandeja na mesa de centro e sorrimos.
- Eu vou querer depois, com toda certeza. – Falei, ouvindo-as rirem.
- Eu também. – Nena falou e eu sorri, apertando-a contra meu corpo e peguei outro salgadinho com a mão, colocando-o na boca.
- Agora vai! – Minha mãe falou, animada quando o telão da premiação mudou e apareceu Alisson, Ederson e Ter Stegen, e Marta subiu no palco.
- Ah, vai, Senhor! – Suspirei, fazendo um rápido sinal da cruz.
- Vai, papai! – Nena gritou ao meu lado.
- Boa noite! – Marta falou. – Buona sera! – Ri fracamente. – Let’s go! – Ela disse, abrindo o envelope. – E o vencedor é... – Ela olhou para o envelope, abrindo um largo sorriso. – Alisson Becker.
- Ah! – Comemoramos em casa com gritos e aplausos.
As pessoas aplaudiram, focando no técnico do Liverpool, Jürgen Klopp, Ederson, Ter Stegen e franzi a testa ao ver que ele não aparecia. A câmera subiu e nada dele aparecer. Klopp apareceu, gargalhando.
- Aonde ele está? – Perguntei, franzindo o rosto.
- Ah, filho! – Magali falou e eu ri fracamente.
- Ah, Alissinho! – Gemi, colocando a mão no rosto.
- Onde está Alisson Becker? – Outro apresentador apareceu. – Ah, ali! – Alisson apareceu no fundo do teatro, me fazendo gargalhar.
- Não me diga que ele estava no banheiro. – Ri sozinha, ouvindo Nena gargalhando ao meu lado.
- Ele está muito envergonhado, coitado. – Minha mãe falou e eu neguei com a cabeça.
- O brasileiro Alisson Becker é parte importante do Liverpool, time que conquistou a Europa. E da Seleção que ganhou a Copa América. – O outro apresentador falou enquanto Alisson subia no palco e ele cumprimentou Marta, com um sorriso no rosto.
- Sorry. – Foi a primeira coisa que ele falou e eu joguei a cabeça para trás rindo. – It’s not my fault! – Ele disse e eu neguei com a cabeça. – É um grande prazer receber esse prêmio, esse prêmio representa tudo que eu trabalhei durante a minha vida até chegar aqui. E eu gostaria de agradecer à minha noiva, à minha família, minhas filhas Helena e Minerva, prestes a nascer...
- Ah! – Minha mãe falou e eu sorri, rindo fracamente.
- Aos meus pais, a todos aqueles que me ajudaram a chegar até aqui... – Ele riu fracamente. – Estou sem palavras, obrigado Deus por me abençoar com tanta honra de estar aqui em um lugar como esse recebendo este prêmio de uma grande atleta, a rainha Marta do nosso país, e acredito que aqui eu represento todo brasileiro, todo jovem brasileiro que sonha em ser jogador de futebol, então só tenho a dizer: não desista dos seus sonhos, lute sempre, porque eu saí do nada, lutei, valorizei o que eu sempre tive, valorizei o pouco, honrei Deus no pouco e Ele está me honrando no muito, então, muito obrigado, thank you very much! – Ele disse e eu sorri, suspirando.
- Ah, meu amor, você conseguiu. – Relaxei os ombros, vendo uma banda começar a se apresentar.
- Conseguiu, . – Minha mãe falou e eu sorri.
- Bom, agora eu vou no banheiro e depois eu quero pudim! – Falei, me levantando, ajeitando as barras do shorts e peguei duas bolinhas de queijo.
- No banheiro, ? – Minha mãe falou.
- Até chegar lá, já acabou. – Dei de ombros, colocando uma inteira na boca e ela riu fracamente.
Segui em direção ao banheiro e senti minhas pernas apertarem como se eu tivesse feito xixi na calça e parei imediatamente, olhando para baixo e vendo o tecido claro do jeans manchado na região da virilha. Oh, não! Senti uma pontada forte na barriga e o salgadinho foi para o chão.
- Filha, o que foi? – Ouvi minha mãe e virei meu corpo devagar, apoiando minha mão na parede.
- Eu acho que minha bolsa estourou. – Falei, puxando a respiração fortemente.
- Agora? – Magali levantou e eu assenti com a cabeça.
- Uhum. – Falei, suspirando.
- Vamos para o hospital agora! – Minha mãe falou rapidamente.
- Ela não pode nascer agora, mãe. – Suspirei, sentindo minha mãe me amparar pelas costas. – O Alisson não está aqui.
- Ela não está pensando muito nisso agora, querida! – Magali falou, seguindo até o elevador de emergência e apertando o botão, fazendo-o se abrir por já estar no andar.
- Vamos, filha! A gente liga para ele no caminho. – Minha mãe me empurrou. – Vem, Nena! – Ela chamou Helena.
- Mas eu estou bem, não estou sentindo nada.
- Ainda! – Ela disse e eu suspirei, seguindo com ela.
- Eu posso me trocar, pelo menos? – Perguntei.
- Vamos, filha! – Minha mãe me empurrou devagar.
- Mas o Alisson, ele...
- Ligamos para ele no meio do caminho, . Ele vai chegar o mais rápido possível. – Magali falou e eu suspirei, entrando no elevador e vi as portas fecharem, me fazendo respirar fundo.
- Quando ele falou que estava prestes a nascer, não pensei que fosse tão sério. – Suspirei, sentindo minha barriga começar a apertar.





FIM.



Nota da autora: Meu Deus, gente! Chegamos ao final de PB! :O Eu estou com uma mistura tão estranha de sensações, pois quando eu acabei a história, eu já tinha pensado na continuação pensando na próxima Copa América (que seria em 2020), mas aí veio a lesão do Alisson, o Corona, as coisas ficaram bagunçadas, a Copa América foi cancelada, só Deus sabe se vai ter, e aí eu fiquei pensando: e agora? Qual será o futuro da Saga Passaporte?
Honestamente, eu ainda não tenho a resposta, o Corona veio e bagunçou a vida de todo mundo, inclusive a do futebol e acho que todos estamos um pouco perdidos. Tanto que eu até mudei o epílogo pouco tempo antes de enviar, pois eu não sei mais se será possível eu escrever sobre o que eu tinha planejado anteriormente que se ligaria ao epílogo de PB. E digo que estando focada em outros projetos, foi bem difícil, hahaha.
Por enquanto, estou colocando um ponto final em PB e digo que foi um sacrifício para mim, pois, em um momento, eu nem sabia se seria possível finalizar devido a uns bloqueios, mas fico feliz em poder colocar um ponto final nela e aguardo a normalidade para conseguir ao menos escrever mais uma para vocês e mostrar como ficou Alê, Alisson, Mini, jogadores, colegas de trabalho e toda essa família linda formada pelo futebol.
Quero agradecer a todos os leitores que me acompanharam até aqui, ao pessoal novo, ao pessoal que já me conhece, a todos que são parte importante para mim e que realmente me inspiraram a continuar. Agradeço ao meu trio sensacional: Naty, Lari e Sandy que já devem estar cansadas de me ouvir falando de ideias e diversas fanfics, vocês me ajudam muito.
Espero que vocês tenham gostado, não se esqueçam de comentar e, caso queira ficar por dentro das minhas próximas histórias com o Alisson ou outros jogadores de futebol, entre no meu grupo do Facebook ou do WhatsApp!
Beijos, beijos e até a próxima! <3




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Outras Fanfics:
  • Passaporte Rússia, 2018

    Nota da beta: E acabou, eu estou tão triste e feliz ao mesmo tempo hhahah. Esse pedido de casamento foi maravilhoso, e cara, eu não imaginava um pedido melhor que esse, casou tanto com esse casal. E esse epílogo? Ahhh, ‘tô passando mal com ela nessa situação, coitada, bem no dia que o papai ganha como melhor goleiro do mundo a Mini quer nascer rs, amei, amei e amei.
    Bom, Flá, eu não canso de dizer sempre e sempre que você arrasa com suas histórias, não é? E essa aqui não seria diferente, Passaporte Brasil, 2019 foi maravilhosa, a riqueza de detalhes que você traz, as pesquisas avançadas, reassistir aos jogos e fazer com que experienciemos cada parte da história é algo incrível, e você nunca decepciona com a verossimilidade. Enfim, eu amo tudo o que você desenvolve e isso não é segredo para ninguém. Meus parabéns por esse projeto incrível, e vamos que vamos para os próximos, afinal sou a beta oficial hahahha! <3


    Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
    Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.


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