Se eu disser que não lembro de nada daquele dia, estaria mentindo. Guardo na minha lembrança cada minuto e cada palavra dita, cada toque e cada jura de amor trocada. A vida não foi tão justa comigo, mas me proporcionou, ao menos, um momento de felicidade, de amor e de cumplicidade. Faz muito tempo, mas eu lembro de cada detalhe.

Era por volta do século XVII, em Veneza, a cidade mais conhecida do mundo por conta de seus Carnavais, dos bailes de máscaras, da extravagância, das festas e mais festas. Eu, naquela época, era apenas uma criada, uma criada tola e sonhadora, que sonhava com o príncipe encantado, com o dia em que alguém, por mais simples ou rico que fosse, me visse e se apaixonasse por mim, pelo que eu era e não pelo que tinha, que se você contar, não era nada, somente alguns trocados e um teto, que nem era meu. Tinha planos de ser livre, de vestir os vestidos mais belos e coloridos, feitos pelos maiores nomes da costura italiana. Como eu lhe disse, não passavam de sonhos, eu era uma menina boba e as outras cridas riam de mim e dos meus sonhos bobos.

Meu dever naquele lugar era arrumar toda a casa do meu senhorio. Ele era um dos maiores nomes da corte da Itália, sua família, a mais rica, abrigava milhares de convidados em suas festas, festas essas, regadas a vinho, comida e música. As línguas mais fofoqueiras da cozinha falavam que o mestre trazia escravas para satisfazer as vontades de seus convidados, que muitas delas conseguiam ser livres, mas se tornavam as amantes desses senhores. Para mim, continuava a ser uma maneira de permanecer presa, porém com outros benefícios, mas não me agradava em nada essa opção.

Por volta do meu vigésimo aniversário, eu o conheci. , um asiático pálido demais, misterioso demais, sedutor demais, uma perdição total para uma menina inocente como eu era naquela época. Nunca o vi com nenhuma mulher, mas sempre o pegava me observando às escondidas, era sempre o mesmo ritual. Se eu estivesse no jardim durante o dia, ele ficava olhando de seu quarto, por entre as cortinas fechadas. Se eu estivesse dentro da mansão, fazendo qualquer atividade, ele estava espreitando nas sombras. Nunca sequer havia trocado uma palavra comigo, não até o baile no ano seguinte.

era reservado demais, mas eu podia notar que algo estava errado, ele não chegava durante o dia, era sempre durante as noites, e para partir era da mesma forma. Sempre rodeado de homens tão pálidos quanto ele. Nunca o vi com mulher nenhuma, já seus amigos e escolta, sempre estavam com alguém diferente e elas sempre sumiam depois. Podia jurar que eles lhe compravam a liberdade, mas como eu estava errada. Muito errada.

A primeira noite que enfim o senhor veio ao meu encontro, foi em uma das noites do Carnaval. Seu rosto, mesmo coberto pela máscara, não me enganava, sabia que era ele, o perfume era único e maravilhoso. Sabia também que a ideia de eu estar ali, no meio do salão, arrumada como uma das convidadas, enfiada num vestido que marcava demais minha cintura e realçava o tamanho dos meus seios, era demasiada louca.

— Estás perfeita esta noite, senhorita ! — Seu sussurro fez meu corpo todo se revirar, não de um jeito ruim, mas de um jeito que eu nunca havia sentido antes.
— Tenho certeza que isso é obra sua, senhor ! — Disse-lhe, me curvando e fazendo uma breve reverência.
— Não precisa dessa formalidade toda. — Ele então estendeu a mão em minha direção e me conduziu para uma das danças. — Vamos aproveitar esse momento e fingir que somos apenas e , nada de senhor ou senhorita!

Naquele momento, esqueci totalmente de todo o resto do mundo, me perdi na música e no seu aperto em minha cintura. Aqueles três ou quatro minutos pareceram horas. Não trocamos muitas palavras, somente o básico, seu olhar me transmitia algo bom e um conforto que eu nunca sentira.

Quando a música acabou, me olhava com ternura, mas tinha alguma coisa a mais naquele olhar, algo que eu não soube decifrar naquele momento. Quando despertei do transe e notei vários olhares sobre nós, eu corri, fugi.

Durante toda a estadia de no castelo, eu me escondi, mesmo ele só aparecendo durante os jantares. Nossa troca de olhares era sempre rápida, não queria me enganar em tão pouco tempo, principalmente com alguém que eu nunca mais veria.

No dia de sua partida, ouvi batidas leves em minha porta naquela noite. Quando levantei e fui em direção à porta, não encontrei ninguém, somente um envelope. Um perfume cheiroso e forte emanava do papel. Com um pouco de receio abri o pequeno pedaço de papel e li a letra bem desenhada que estava ali.

“Querida !
Sim, lhe chamarei de querida, já que tenho um enorme sentimento por você, desde a primeira vez que lhe vi. Fiquei desapontado com você fugindo de mim, mas não lhe culpo. És muito nova e não deves conhecer o amor e muito menos as intenções de um homem como eu.
Estou partindo para resolver os problemas nas minhas terras, mas logo estarei de volta e lhe tomarei para mim, e lhe transformarei em minha mulher.
Me declararei devidamente quando eu retornar.
Espere por mim, querida.
De seu nobre !”

Aquele papel mexeu comigo, não podia ser verdade que alguém com tamanho status na sociedade quisesse algo com alguém como eu, uma simples serviçal.

[...]
Quase um ano se passou. Eu estava me apegando à ideia de que um nobre gostasse mesmo de mim, mas ele nunca mais voltara para me ver. Soube pelos guardas da casa grande que as coisas na terra de estavam ruins, ataques de animais ferozes, que sugaram o sangue de quase todos os serviçais e moradores da aldeia que lhe pertencia. Quase desisti de esperar, eu disse quase.

Era mais uma noite agitada, todos estavam no baile, enquanto eu estava largada em minha cama, lembrando do rosto de e suspirando pesadamente de cansaço por trabalhar durante todo o dia na cozinha. Fazer banquetes e mais banquetes para os convidados dos bailes era deveras muito puxado.

Um barulho na porta me despertou de meus devaneios.

— Desculpa entrar assim, minha vida. — Era ele. — Eu corri o mais rápido que pude para te ver.
— Eer... — Eu não tinha palavras, não sabia como agir.
— Devo voltar outra hora? — falou ainda do outro lado da porta.

Corri e abri a estrutura de madeira e me encantei mais ainda com sua beleza, um rosto lindo emoldurado por um cabelo preto e comprido, amarrado desajeitadamente. Sem nem dar espaço para palavras, me ergueu do chão e, como um passe de mágica, me levou para o andar de cima e entrou em seu quarto.

— Como? — Foi tudo que consegui formular.
— Tem muitas coisas que você precisa saber sobre mim, . Uma delas é que eu tenho esperado por você faz muito tempo. — Ele me colocou devagar no chão e me encarou, esperando algum sinal meu. Parecia até que ele esperava que eu fugisse dele.
— Você demorou... — Eu estava com saudades de alguém que nem ao menos conhecia direito, eu era realmente uma boba apaixonada.
— Você não sabe o quanto eu esperei para isso... — E sem demora pude sentir seus lábios macios tocarem os meus.

Parecia que ele estava se segurando por muito tempo, suas mãos em minhas costas, me amparavam de uma maneira doce e amável. Mas aquilo não durou muito tempo.

— Minha querida, quando digo que passei muito tempo esperando para te ter, eu não estou falando figurativamente. Tenho sonhado com você por muito tempo, quero você, mas você tem de me querer também!

Sem pensar muito, o beijei novamente, demonstrando todo meu sentimento e desejo. Era insuportável ter de somente pensar e sonhar com ele. separou nossos lábios e encostou sua testa na minha, sorrindo. Um sorriso maravilhoso e ao mesmo tempo enigmático.

Tive meu corpo erguido novamente, seguiu para a cama e me depositou levemente sobre o móvel acolchoado. Seu semblante mudou, de apaixonado e doce, para faminto. Seus lábios se dirigiram aos meus e voltamos ao início de tudo.

Mas ele não se demorou ali. Sua boca foi para meu pescoço, suas mãos tratando de retirar cada peça de roupa que nos cobria, minha vergonha fez com que eu cobrisse meus seios imediatamente. retirou minhas mãos do caminho e me beijou ali, os olhos sem sair dos meus.

— Você é linda! — disse depositando um beijo em minha testa. — Não se cubra, eu gosto muito do que estou vendo.

Os movimentos que se seguiram foram difíceis de descrever. Foi rápido demais, mas eu não sabia naquela época o que significava. me ergueu, me sentando em seu colo, seu membro roçando em minha intimidade, ele encostou o falo rígido em minha entrada e esperou até que eu desse permissão para o próximo passo, e assim eu o fiz. Eu o queria tanto quanto ele me queria. Meu corpo estava aquecido e já suado por causa da noite quente.

Senti meu íntimo doer com a invasão e esperou até que eu lhe pedisse para continuar. Os movimentos começaram suaves e lentos, logo depois eles estavam fortes e bastante rápidos. Meu corpo se contorcendo em seus braços, o sobe e desce ritmado, os gemidos sincronizados.

Era um sentimento surreal. Ouvir das jovens da cozinha como era fazer amor era totalmente diferente de fazer. sabia exatamente o que fazer para me dar prazer, cada toque de suas mãos e boca eram coordenados com os movimentos de seus quadris.

Meu corpo foi depositado suavemente na cama, nunca deixando de se movimentar, sua mão foi até o ponto mais sensível entre minhas pernas, me estimulando e me fazendo atingir o ápice, sendo seguida por ele. O mais velho deitou ao meu lado e acariciou minha barriga, fazendo movimentos circulares.

— Eu te amo, ... — Ele confidenciou baixinho. — Mas preciso ser sincero com você.
— O que houve? — Lhe perguntei um pouco apreensiva. Será que ele havia dito aquelas coisas somente para me ter?
— Eu não sou o que você pensa, eu sou perigoso, mas eu quero você ao meu lado para toda a eternidade. — disse me encarando, os olhos tomando uma cor avermelhada.
— O que é isso? — Comecei a me afastar dele, não adiantou muito, já que ele era muito rápido.
— Eu sou um vampiro! — Ele disse com um sorriso de lado.
— Essas coisas não existem! — Gritei e me afastei, quase caindo da cama.

Acabei correndo para o outro lado do quarto, sendo seguida no mesmo segundo. então me mostrou as presas e suavemente fincou elas em meu pescoço. Aos poucos, eu senti uma dor insuportável que logo deu lugar a um prazer gostoso e um desejo enorme de fazer tudo novamente, mas dessa vez com se alimentando de mim.

E foi exatamente assim que aconteceu, logo depois, eu apaguei.

[...]
— ? , amor? — Ouvi a voz de me acordar.
— Estou bem, estou acordada! — Lhe disse enquanto o olhava trazer meu “café da manhã”.
— Você parecia distante. — Ele disse enquanto depositava um beijo em minha testa.
— Estava lembrando daquele tempo...
— Eu lembro dele durante os últimos quatrocentos anos. — Ele me abraçou. — Não me arrependo de nada do que fizemos naquela época e muito menos hoje.
— Você realmente não brincava quando dizia que era para sempre né?
— Nunquinha!!
— E eu não me arrependo de não ter corrido de você. — Disse baixinho.
— Pelo que lembro, você fugiu sim! — disse rindo enquanto inalava o cheiro de meu cabelo.
— É, talvez eu tenha tentado fugir, mas acho que o meu futuro como serviçal naquele lugar era pior do que ser mordida e transformada.
— Tenho certeza que sim, meu amor! Agora que tal a gente relembrar a sua primeira noite como vampira e me deixar te possuir sem nenhuma restrição? — Ele sugeriu.
— Eu acho uma ideia sensacional, senhor !

E lá estávamos nós novamente, quatrocentos anos e a chama do nosso amor e cumplicidade continuava acesa. Conhecer e ser transformada por ela foi a melhor coisa que me aconteceu em toda a minha vida.

Nota da autora: Agradeço quem leu até aqui e por todo apoio de vocês!



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Nota da beta: Queria levar uma mordida desse vampiro só pra testar uma coisinha...
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