Estou Mal

Finalizada em: 03/06/2019

UM


A nuca de ardeu no mesmo instante em que a mão de JP a acertou, dando um tapa que fez um estalo, o som se misturando à risada do amigo.
- Filho da... – resmungou, puxando a mão do amigo e o empurrando para longe. – Já te falei para parar com essas brincadeiras, já que você não aguenta quando é contigo...
João Paulo o respondeu apenas fazendo uma cara de deboche e continuou rindo do moreno, que esfregava a mão na nuca tentando amenizar a dor.
- É o que você merece por não prestar atenção em nada além da . Você se tornou uma presa fácil! – JP disse, afinando a voz ao pronunciar o nome da garota e atraindo assim o olhar entediado do moreno.
Que saco! Já estava cansado das indiretas do amigo com relação àquilo, parecia que estavam na quinta série e gostar de uma garota era motivo de zoeira.
- Me erra JP. – Falou simplesmente, voltando a encarar o pátio do colégio cheio de alunos aproveitando o mísero intervalo de 15 minutos que tinham entre as aulas.
Não era mentira, no entanto, o que o amigo tinha afirmado. E o moreno suspirou pensativo. Ele realmente só tinha ela na cabeça.
já nem se esforçava mais para desmentir, inventar desculpas ou disfarçar.
Passava seu tempo de intervalo na escola, de segunda a sexta, passando os olhos por todos os colegas. Procurando pelo chanel preto, a primeira parte que ele conseguia avistar e depois pelo sorriso cheio de dentes branquinhos que lhe encantava.
Sempre que a encontrava, os sentimentos em seu coração bagunçavam, alternando entre paixão e tristeza, orgulho e arrependimento.
Talvez ele gostasse de sofrer? Por isso insistia em admirá-la?
Na verdade, para ele aquilo era o seu tipo de autopunição por ter sido um verdadeiro babaca com a garota perfeita. De ter perdido a chance de estar ao lado dela o tempo todo. Seu castigo por ter criado aquela distância entre os dois.
Veja bem, eles seriam o casal mais lindo daquela cidade, com uma história de amor digna de livros. Mas, ele estragou tudo.
e se conhecem desde sempre, os pais dos dois são amigos da época do colégio e continuaram a amizade até depois de procriarem. Sendo assim, os dois já se encontraram em muitos eventos de adultos durante a vida. Nunca foram muito próximos, no entanto. sendo sempre um garoto serelepe, que gostava de se sujar na lama e correr por cada centímetro que consequisse; já era uma garotinha mais tímida, preferia brincar com brinquedos ou nas áreas internas, sem se sujar muito ou se cansar. Ainda assim já tinham brincado juntos em algumas ocasiões, quando mais novos, ou conversado um pouco sobre assuntos aleatórios, quando foram entrando na adolescência e os brinquedos deram lugar aos celulares.
Mas, tinha sido nas férias de verão há dois anos, que eles se conheceram de verdade. Os pais e mais alguns amigos e parentes de ambas as famílias alugaram uma casa no litoral para passarem as festas de fim de ano. e , ambos com 15 anos, sendo os únicos adolescentes da casa, acabaram conversando e interagindo muito mais do que fizeram em toda a vida. Perceberam o quanto tinham em comum e foram aos poucos criando uma conexão muito forte.
E que acabou passando de apenas amizade. Dos dois lados houve o despertar do olhar desejoso, algo que não tinham antes na convivência da infância, mas que agora mais velhos aquela noção da diferença nos corpos, da beleza do outro e da curiosidade se faziam presentes.
Foi assim que os dois acabaram se beijando pela primeira vez em uma das caminhadas que fizeram pela beira do mar, e foi o beijo que acendeu a chama do romance deles. Passaram o resto das férias juntos, como um casal (claro que escondido dos pais, ainda era muito recente e o pai de sendo o maior ciumento do Brasil, com certeza mataria o ), descobrindo de forma inédita as maravilhas de um romance.
Uma pena que durou apenas até uma semana antes das aulas retornarem em fevereiro. , preocupado com seu status no colégio, não quis mais continuar o relacionamento, terminando tudo ao enviar uma mensagem de texto para a informando de sua decisão. Literalmente um cuzão, não é mesmo?
Seus amigos o apoiaram e incentivaram a decisão, principalmente depois de ter passado pelas “primeiras vezes”, dizendo que era hora de aproveitar para conquistar quantas garotas ele conseguisse. E naquele momento a proposta de “ter várias” parecia mais interessante para ele e foi o que escolheu.
O arrependimento veio exatamente um ano depois do começo do romance deles, nas celebrações do fim do próximo ano. A festa de ano novo que seus pais deram em casa foi o momento que todos os amigos tiveram a chance de se encontrarem, sendo assim, também estava lá, junto com seus pais.
Ainda é difícil para explicar o que sentiu naquela noite, mas ele simplesmente não podia ignorar como a garota parecia brilhar, com uma aura pura e tranquila. sorria para todos demonstrando o quanto se divertia, dançando de forma engraçada sem se importar com o que pensariam dela, aproveitando o último dia daquele ano. E para , ela se tornou ainda mais perfeita ao trata-lo como um velho amigo, jogando conversa fora e fazendo piadas sem graça.
viu todos ao seu redor pularem animados gritando a contagem regressiva para a virada do ano, chegou a sentir seu irmão mais novo quando este se jogou em cima dele e até mesmo seu pai o abraçar nos ombros. Mas não ouvia nada, parecia que estava em câmera lenta. Seus olhos só focavam em , encolhida no meio do abraço dos pais, olhando para o céu à espera da queima de fogos. Foi quando o relógio bateu meia-noite e a euforia tomou conta de todos na festa, que fez a sua promessa de ano novo: faria de tudo para reconquistar aquela garota, pois sabia que não poderia ficar sem ela.
E foi o que ele fez. Passou a tentar falar com ela no colégio, mas percebeu que aquela simpática do ano novo, foi momentânea, e ela agora o evitava sempre. Não o tratava mal, pelo contrário, era sempre educada em seus foras, mas nunca mais lhe deu abertura nem para ser um amigo.
Ele até mesmo apelou e trouxe à tona o sentimento, em uma das vezes. O que não saiu muito bem como o planejado...

- Flashback -

planejou aquele momento minuciosamente por uma semana. Daria um jeito de não ir à aula e usaria a manhã livre para se preparar para o encontro, uma hora antes do fim das aulas ele sairia de casa, no caminho até o seu destino passaria por uma floricultura e lá compraria um girassol, a flor favorita dela, depois caminharia até a esquina antes da casa dela e a esperaria. Seria uma surpresa, mas ela concordaria em conversar e, depois de ele se desculpar e ela aceitar, eles dariam um beijo digno de premiação cinematográfica.
Mas, o destino resolveu que ele não merecia aquela chance e o presenteou com uma surpresa: virou a esquina acompanhada de sua melhor amiga Mariana. E ela o odiava.
Mesmo assim ele não desistiu e seguiu com o plano, com esperanças de que ainda daria certo.
- Oi , tudo bem? – A cumprimentou, assim que as garotas pararam na calçada, interrompidas por ele. A garota o encarou sem muita vontade, mas ainda assim deu um sorriso amarelo, tentando ser educada (como sempre). Diferente de Mariana, que o olhava com raiva e praticamente bufava.
- Oi , estou bem e você? – disse com a voz calma, apesar de não parecer tanto assim.
- Estou muito bem, também! – Respondeu, e percebeu que Mariana começava a empurrar de lado para se mover e contornar o garoto. Agindo mais rápido, ele tirou a mão que mantinha atrás das costas e estendeu o braço, deixando o enorme girassol à linha do olho de . Aquilo, como ele tinha previsto, mexeu com ela, pois ele pôde ver o brilho carinhoso que acompanhou o olhar que ela lhe deu ao receber a flor.
Mas a chata da melhor amiga quebrou o encanto ao pigarrear alto.
- Miga, precisamos ir se quisermos adiantar o trabalho do professor Pimenta... – falou com a voz que ele achava mais irritante do mundo, olhando com desdém para ele.
- , podemos conversar? – Ele pediu, a encarando diretamente no olho, tentando passar confiança. Ao ver a boca da chatona se abrir em contestação, falou rápido: - Sério, só me escuta, eu juro que vai valer a pena.
- Ai, me poupe e se poupe, . – Mariana resmungou, cruzando os braços e se aproximando dele com o pescoço balançado, indignada. – Ninguém aqui quer ouvir suas desculpinhas esfarrapadas, querido embuste. Vê se some. – A garota disse, o empurrando de leve para abrir espaço e puxando a amiga pelo braço, as duas saindo batendo o pé.
- Espera... , por favor... – pediu novamente, sua voz demonstrando a tristeza que sentia.
Mas, antes mesmo de responder, Mariana a empurrou para dentro de sua casa e o olhou furiosa uma última vez, dizendo:
- Tenho uma ideia, que tal você enviar suas desculpas por mensagem de texto, ouvi dizer que você é bom nisso. Quem sabe assim dá certo. – Disse sínica, virando a cara e batendo o portão da casa da amiga.
- Flashback -


Mesmo assim, não desistiu, mas ficou mais cauteloso. Esperando a oportunidade certa para falar tudo que queria e reconquistar a garota dos seus sonhos.
- Mano, você vem para a Festa Junina né? No sábado? – A voz de JP tirou o foco de , que ainda observava do outro lado do pátio, numa rodinha de amigas.
- Acho que sim. – Respondeu, sem muito ânimo. Pegando o celular do bolso e checando as mensagens do whatsapp.
- Você tem que vir! Sabe que é um dos maiores eventos que acontece aqui. E outra, sempre tem umas novinhas de outros colégios para investirmos. Fora as comidas né? – João Paulo continuava falando sem parar.
Ainda no celular, abriu o grupo do colégio e viu nas mídias recentes o convite da Festa Junina, abrindo para checar se realmente valeria a pena ir. No meio da foto os principais eventos eram divulgados: “Quadrilha de cada uma das séries! Bingo com muitos prêmios! Pescaria! A boca do palhaço! Novidade desse ano: barraca do beijo organizada pelo 1ºEM¹! Correio elegante! E muita comida e diversão para todos!”
Uma ideia surgiu no fundo da mente de ao ler a lista de eventos, se tornando cada vez mais sólida à medida que lia e relia.
O sinal indicando o fim do intervalo tocou e todos os alunos começaram a se movimentar, indo em direção às escadas no meio do pátio que levavam às salas de aula no andar inferior.
Ignorando o olhar confuso de JP ao ir na direção contrária à de todos, seguiu seu caminho por um dos corredores laterais, encontrando uma outra escada e logo as salas da administração da escola. Encontrou um dos monitores e pediu pela pessoa que procurava, logo sendo encaminhado para a última sala.
- O que lhe traz aqui hoje, ? – A diretora disse, ao abrir a porta e deixá-lo entrar, indicando a cadeira de frente à sua mesa.
- Você sabe que é a pessoa mais querida da minha vida, não sabe? – começou, já recebeu um olhar descrente da mulher. – Preciso de uma ajuda, tia. – usou o termo indicativo de parentesco com um tom suplicante.
- Eu espero que você não esteja perdendo aula para me pedir algo fútil, sobrinho. – A mulher usou também o parentesco, mas seu tom era firme. – Ou eu aviso seus pais agora mesmo. – Ameaçou, pegando o celular coberto numa capinha rosa e o mostrando.
- É importante! Isso vai definir meu futuro. – disse, exagerando. Se ele não colocasse um drama, sabia que não convenceria sua tia. – Preciso reconquistar a , e para isso eu tenho que falar com os alunos que estão organizando a Festa Junina.
Sabendo que sua tia não entendia de quem ele falava, devido ao relacionamento ter sido em segredo, respirou fundo e decidiu contar toda a história para ela, esperando que se rendesse e o ajudasse.

Nota¹: EM é a sigla para Ensino Médio.


DOIS


parou, checando os cabelos e a maquiagem uma última vez, utilizando seu reflexo num dos carros estacionados na rua do colégio, sua melhor amiga aproveitou e fez o mesmo. Assim que decidiram que estavam como queriam, continuaram o caminho da rua até os portões de entrada. Agora dentro da festa, a música de quadrilha que ouviram desde que viraram a esquina do colégio se tornou mais alta e se misturou com o barulho de conversa de todas as pessoas ali.
O público era, em sua maioria, jovem, já que o colégio era apenas para o Ensino Médio. Os mais velhos vinham sozinhos, estando na famosa fase de terem vergonha de andar com os pais, assim era possível ver adultos apenas como sendo do corpo docente do colégio e alguns poucos pais dos quais os filhos não tinham conseguido se livrar.
- Vamos para a fila do caixa, precisamos de ficha para comprar as coisas! – Mari disse alto para tentar ser ouvida, ao mesmo tempo que olhava para trás, focando nas amigas. apenas sorriu e concordou com a amiga em um aceno, a seguindo passando pelo meio das pessoas até uma barraca no canto que tinha uma grande faixa escrito “caixa” na parte de cima.
- Você consegue ver a tabela de preços? Tá super longe, não tô conseguindo enxergar. – disse, ficando na ponta dos pés e se esforçando para ver entre as cabeças das pessoas à sua frente na fila.
- Quando tiver mais perto nós vemos, mas, já sabe o que vai comprar? Acho que vou pegar um dogão. – Mari falou, pensando no que comeria. se virou para dizer que começaria comendo um espetinho de morando com chocolate, mas foi interrompida por uma menina com uma cesta pendurada na mão, cheia de corações de papel.
- ? – Perguntou, confirmando sua entrega. concordou e ela lhe estendeu uma flor com um coração de papel amarrado. – Correio Elegante.
Mari sorriu para a amiga e se espremeu nela para tentar ler o recado no papel. ficou ansiosa ao mesmo tempo em que achava a situação engraçada.
abriu o coração que estava dobrado e encontrou uma folha branca com uma frase digitada.
“Infelizmente eu descobri não é assim (3)”
A garota trocou olhares com a amiga, não entendendo nada. Quem mandaria um correio elegante com uma frase daquelas? Não fazia nenhum sentido. E aquele número? 3? O que aquilo queria dizer?
- Quê? O que isso quer dizer? – Mari perguntou a amiga, que só deu de ombros, guardando a flor na bolsinha de lado que usava.
- Eu que não sei. Meu primeiro correio elegante recebido e não faz sentido nenhum. É bem a minha cara mesmo.
As duas riram da brincadeira e continuaram seguindo a fila do caixa.

Já tinham comido um pouco e agora estavam numa das diversas sala do colégio, aquela em questão era onde estava a “boca do palhaço”, uma das típicas brincadeiras de Festa Junina. Mari entregou a ficha à garota que estava responsável pela brincadeira e recebeu três bolas pequenas em troca, saindo então para se posicionar na linha que indicava a distância, uma fita isolante que havia sido colada no chão da sala.
já tinha jogado duas rodadas e acertou apenas uma bolinha dentre as seis que recebeu, não conseguindo atingir a pontuação para ganhar o prêmio mínimo (uma amoeba). A garota agora esperava a amiga do lado de fora da sala, pois o cômodo estava cheio da fila de espera para o jogo e ela não queria ficar na muvuca. Seus olhos focaram então em uma garota que vinha em sua direção, ela também tinha uma cesta pendurada no braço e se tocou que era correio elegante novamente.
- ? – A nova garota repetiu a pergunta da anterior, e acenou de novo já pegando a flor com o cartão.
Fazendo o mesmo procedimento, abriu o coração e encontrou a mesma fonte do bilhete anterior, mas dessa vez a frase era: “Eu pensei que nunca mais ia lhe ver (2)”. E ainda assim, a deixou tão (ou mais) confusa quanto a primeira.
- Mais um bilhete? Tá popular ein, linda. – Mari falou ao pé do seu ouvido e deu um pulinho de susto pois sua concentração não a deixou perceber a chegada da amiga, a garota a olhou brava, mas foi ignorada. – Mas que bosta é essa? Tem alguém querendo zoar com a sua cara, não é possível. – Completou, ao ler o que estava no bilhete.
nem respondeu, só negou com a cabeça, mas guardou o bilhete na bolsa junto ao outro. Algo lhe dizia que teriam alguma importância.
- Quer fazer o que agora? – perguntou, olhando ao redor para tentar achar algo interessante.
- Podemos ir lá para o pátio? Já já começa a quadrilha da classe daquele gatinho do 2ºD e eu queria babar um pouquinho nele. Vai que me nota e eu consigo um pouco de felicidade hoje? – Mari pediu, fazendo cara de arteira.
- Vamos, você está precisando dar uns beijos mesmo. – brincou, levando um empurrão da amiga enquanto seguia o caminho dos corredores até o pátio.
Para chegar ao pátio era preciso subir uma escada um pouco grande e a tarefa ficava ainda pior quando se tinha pessoas descendo e subindo se organização nenhuma.
Ao chegarem no fim da escada, puderam ver que as pessoas já tinham aberto espaço no meio do pátio para a quadrilha, preenchendo todas as laterais do grande pátio retangular. Ao olhar ao redor, viu uma de suas colegas de classe acessando para ela, no fundo de uma das laterais menores, próximo ao portão que dava para a quadra de esportes. A colega a chamava para se falarem e ela puxou Mariana pelo braço entre as pessoas até chegar na colega.
- Oi Dani! Ta curtindo a festa? – perguntou, parando ao seu lado e cumprimentando a colega.
- Demais! – Dani respondeu, sorrindo para ela. Então puxou da bolsa uma rosa igual a das meninas do correio elegante, com o mesmo coração de papel dobrado amarrado no caule. Olha só, ela também tinha recebido um, que legal! não se surpreendeu, achando até estranho ela ter recebido apenas um, pois era muito bonita e desejada por metade do colégio. – Me pediram para te entregar isso.
A boca de se abriu em descrença. Recebeu a flor e abriu rapidamente o coração, encontrando (de novo) a mesma fonte, com a frase: “Eu pensei que fosse fácil te esquecer (1)”.
Aquela frase não lhe era estranha, sabia que já tinha ouvido em algum lugar. Lembrando que os outros bilhetes também tinham números, supôs que fosse uma sequência e enfiou a mão na bolsa no mesmo instante, remexendo até encontrar os outros bilhetes. Os abriu, focando os olhos apenas nos números e os equilibrando na mão, um embaixo do outro, seguindo os números, 1, 2 e 3. Assim que o fez, passou os olhos pelas frases, lendo-as em sequência.
“Eu pensei que fosse fácil te esquecer, eu pensei que nunca mais ia lhe ver, infelizmente eu descobri não é assim”
Então ela soube na hora que se tratava da introdução de uma das melhores músicas de seu grupo favorito, o Raça Negra. O sorriso que ela abriu foi gigante, daqueles de doerem a bochecha.
- Mari! Mari! – Ela se virou para a amiga, que a encarava confusa por toda a afobação dela em tentar entender os bilhetes. – Não era uma brincadeira, olha. – Esticou os bilhetes em formação para que a amiga visse.
- É a letra de “estou mal”?! – Mari disse, perguntando e afirmando ao mesmo tempo, concordou acenando freneticamente para ela, empolgada ao extremo. – Uau, que lindo! Mas quem mandaria isso? Quem sabe que eles são seus favoritos?
se preparou para responder que não fazia ideia, mas mesmo assim era um gesto lindo. Porém, foi interrompida pelo som alto nas caixas de som, alguém batia no microfone para testar o áudio e isso chamou a atenção de todos para o meio do pátio.
E lá estava . Com uma linda camisa xadrez azul e branco, um sorriso enorme, em uma das mãos uma flor igual a das meninas do correio elegante e a que Dani lhe entregou e na outra mão o microfone.
Todos os pelos no braço de se arrepiaram quando ela se deu conta de que só podia ser ele.
- Boa tarde a todos! Quero começar pedindo desculpas aos que estavam esperando pela quadrilha, ela vai acontecer já já, mas primeiro eu preciso falar algumas coisas para uma pessoa muito especial.
Os gritos foram de incentivo à , e aceitou sua vergonha quando o viu olhar diretamente para ela depois de começar a falar.
- Nossa, esse moleque é inacreditável. – Mariana bufou, pegando nos ombros da amiga e virando o corpo dela de frente para o seu. – Miga, vamos, você não tem que passar essa vergonha por causa dele.
- Ai Mari, para de ser chata. – finalmente se posicionou, assuntando a amiga que arregalou os olhos. – Olha o que ele fez, - mostrou os corações que tinha na mão. – acho que ele merece pelo menos que eu escute o que ele tem a dizer.
Mari a olhava incrédula, mas a soltando e dando de ombros, como se tivesse dado como causa perdida, mas ainda sussurrou um “depois não vem chorar no meu colo, que eu vou é falar bem feito”.
Mas, a ignorou e voltou a olhar para o centro do pátio. esperava o resultado da discussão das duas com um olhar esperançoso. A garota então deu um leve aceno para ele, indicando que o escutaria.
- Para aqueles que não me conhecem, muito prazer, eu sou . E estou aqui hoje diante de todos pois foi a única alternativa de fazer uma certa pessoa ouvir as minhas desculpas.
Ele falava olhando ao redor, sem focar muito em , ela percebeu que era para deixar um mistério de quem seria essa pessoa. Revirou os olhos, sabendo que ele adorava a atenção das pessoas, mas continuou atenta às palavras que ele dizia.
- Sabem, eu não me orgulho disso, mas, no passado eu fui um verdadeiro babaca com essa pessoa. Ou embuste como está na moda dizer. – ergueu os ombros e algumas pessoas riram de como ele falava, talvez não acreditando que ele mesmo se chamaria daquilo. mesmo não estava acreditando. – Eu tive a garota perfeita por uns meses, mas terminei tudo pela luxúria de ter várias. Porém, o universo fez o que tinha que fazer e me mostrou que essa troca foi a pior que já fez, me mostrando do que eu tinha aberto mão. O famoso “só dá valor quando perde” não é mesmo? Então eu decidi vir aqui me desculpar e pedir uma nova chance, na frente de todos para mostrar o quão arrependido estou.
Foi naquele momento que ele se posicionou de frente para e começou a falar:
- Você é uma das pessoas mais maravilhosas que já tive o prazer de conhecer. Nos tornamos melhores amigos em poucos dias, pois logo de cara eu pude sentir que você era uma pessoa muito boa, com uma energia e uma alma pura. E eu pude confirmar isso ao saber das suas histórias ajudando amigos, resgatando animais de rua e fazendo voluntariados.
“Você é linda! Preciso te confessar que meus dias sempre ficavam melhores depois de ver o seu sorriso e seu cabelo chanel nos intervalos aqui no colégio. Esse sorriso que poderia iluminar uma cidadezinha de tão sincero. Tudo em você é lindo, cada parte do seu corpo.”
continuava seu discurso e andava lentamente na direção de . As mãos da garota suavam de nervosismo e de vergonha quando aos poucos as pessoas que estavam perto dela percebiam que ela era a garota.
- Mas, o que me fez me apaixonar por você foi a sua mente. Nossas conversas eternas sobre coisas aleatórias, a forma como você sempre tinha alguma coisa para falar sobre qualquer assunto que eu começava, ou como começava assuntos totalmente diferentes e interessantes. Sua mente é de uma pessoa evoluída, com ensinamentos que vão além do normal de um adolescente comum como eu, e isso é bom, é ótimo na verdade, por que com você eu aprendo tantas coisas...
A expressão no rosto dele mudou de adoração para tristeza e arrependimento.
- E quando eu percebi que eu perdi tudo isso por besteira... Eu não sabia o que fazer. Eu sinto muito, muito mesmo por ter te magoado e deixado nosso relacionamento. Nunca quis te fazer sofrer, mas eu era imaturo demais e agora mesmo não sendo um adulto e sabendo que tenho muito a aprender com a vida, sei que já amadureci o suficiente para tentar te fazer feliz de novo.
O garoto agora estava muito próximo dela. tomou uma atitude e deu alguns passos para frente, ficando fora do amontoado de pessoas e em evidência no pátio. Dessa forma, os dois estavam a poucos passos de distância.
então se abaixou, ficando com um dos joelhos no chão, estendeu uma mão na direção de , oferecendo mais uma rosa igual às que ela tinha recebido e falou:
- , por favor me perdoe. E volta para mim, deixa eu te mostrar o melhor que eu posso ser.
olhou bem nos olhos de , pegando a flor de sua mão e abrindo o coração como fez das outras vezes, encontrando lá o fim da primeira estrofe da música: “E então eu descobri, amo você”.
Seu coração batia mil vezes mais rápido que o normal, ao redor ela podia ouvir as pessoas gritando “aceita” mas aquilo era quase como um ruído à distância, bem baixinho. Seu foco estava nos olhos à sua frente.
Aqueles olhos lindos, cheios de arrependimento e paixão. Seu instinto lhe dizia que podia acreditar nele, que todas as palavras de tinham sido verdadeiras, que estava arrependido e disposto a mostrar o quanto tinha mudado.
E a quem ela queria enganar? Ela ainda gostava muito dele, apesar de tudo, ele tinha sido o seu primeiro amor, seu primeiro tudo e o sentimento ainda existia.
Se esforçando para dar o seu maior sorriso, igual ao que tinha falado que gostava, ela acenou positivamente e então se jogou em cima do garoto o abraçando forte.
Ah! O quanto ela tinha sentido saudades daquele abraço, da pele quentinha dele e de seus braços cumpridos que a apertavam de forma carinhosa.
Foi então que com o foco desviado ela de repente pôde ouvir tudo normalmente e os gritos de todos a alcançou, podendo ver pelas costas de os diversos espectadores aplaudindo e gritando animados pelo fim feliz.
Os dois se separaram do abraço e se olharam cúmplices, compartilhando um sorriso apaixonado, e a certeza de que agora sim poderiam ter o amor que sempre quiseram.




FIM



Nota da autora: Oi minha gente, trago pra vocês esse neném que escrevi já tem 1 ano pro ficstape do Raça Negra mas que infelizmente flopou e acabou sendo cancelado. Na época decidi não postar a fic, porém lembrei dela agora que chegou a época de Festa Junina e pensei que seria uma ótima oportunidade para postar.
Sobre a fic: sei que esse hino maravilhoso tem uma pegada mais triste e tal, mas a vibe da fic teve que ser mais leve. Fun fact: Usei o colégio que estudei no ensino fundamental como inspiração, ou seja, é como se eles estudassem onde eu estudei. Isso é tão divertido haha E ah, o professor Pimenta citado foi meu professor real porém do ensino médio (outro colégio), ele era professor de História e tinha uns trabalhos GIGANTESCOS que fazia todo mundo desejar a morte.
Espero de coração que tenham gostado! Fiquem à vontade para usar a caixinha de comentários e deixar suas opiniões sobre tudo :)
Até a próxima!



Outras Fanfics:
  • Longfics
  • Bless Myself (Outros/Finalizada)
  • Ficstapes
  • 05. Radar (Ficstape Britney Spears)
    13. Sway (Ficstape PCD)
    17. Depois do Jantar (Ficstape Jorge e Mateus)


    comments powered by Disqus