VERSE 1.
“Você tem planos para esta noite?”
“Que tipo de pergunta é essa?” Eu ri da maneira apressada de iniciar a conversa por telefone.
“Estava pensando em te ver.”
“, estou do outro lado do mundo.”
“Só preciso pegar um voo.”
Continuei a rir. Era uma amizade de anos. Nos conhecemos na infância, por meio de nossos pais. Agora era uma pessoa famosa. Sua voz preenchia estádios e muitos gritavam por sua atenção. Eu estava em um intercâmbio… no Japão, há seis meses.
“Eu sei que parece loucura. Mas eu só quero te ver.”
“Nos veremos no Natal”
Nossas famílias costumavam se reunir para ceia no Natal, naquele ano não seria diferente.
“É sério, . Ainda é cedo por aí, não é? Algumas horas e eu chego.”
“Você pirou, só pode.”
“Me manda a localização. Vou chegar de madrugada. Vê se não dorme. Eu to saindo.”
Desligou. costumava brincar tanto sobre as coisas que eu nunca acreditaria no que estava dizendo. Mandei a localização de meu apartamento, que ficava próximo à Tokyo Skytree, com um complemento: “dúvido você chegar com comida japonesa”. Havia decidido jogar seu jogo, sem saber que várias horas depois tocaria o interfone sem parar. Eu estava dormindo, obviamente. Acordei e atendi com raiva.
“Caiu no sono, acertei?”
Sua voz me invadiu tão prontamente quanto o susto. “Não é possível”, pensei. Coloquei um roupão e liberei o portão pelo interfone. Lavei o rosto, já havia me visto em piores condições, então não havia preocupação. Dois toques na minha porta, abri para encarar comida japonesa embalada para viagem.
- Sorte sua que pediu culinária local. - Uma piscada enquanto entrava.
Eu estava em paralisia. realmente viera. Saíra de onde estivera com a turnê e viera parar aqui.
- O que diabos deu em você?
- Você. - Foi a resposta. - Não conseguia te tirar da cabeça.
Flertávamos assim às vezes, mas sempre era na brincadeira. Era amizade. Só amizade? Brincadeira com fundo de verdade, eu diria, da minha parte pelo menos. Fiz uma careta e revirei os olhos, fechando a porta.
- Estou só estresse ultimamente. Aquelas pessoas que só pensam no marketing do meu trabalho. Queria algo simples por uma noite pelo menos. Queria você.
- Eu sou simples então. - Dei uma gargalhada.
- Você entendeu.
Nos jogamos no sofá e comemos sushis enquanto conversávamos. Parecia que estava em algum estranho sonho com a pessoa que eu mais gostava no universo.
- Não acredito que você veio.
“Que tipo de pergunta é essa?” Eu ri da maneira apressada de iniciar a conversa por telefone.
“Estava pensando em te ver.”
“, estou do outro lado do mundo.”
“Só preciso pegar um voo.”
Continuei a rir. Era uma amizade de anos. Nos conhecemos na infância, por meio de nossos pais. Agora era uma pessoa famosa. Sua voz preenchia estádios e muitos gritavam por sua atenção. Eu estava em um intercâmbio… no Japão, há seis meses.
“Eu sei que parece loucura. Mas eu só quero te ver.”
“Nos veremos no Natal”
Nossas famílias costumavam se reunir para ceia no Natal, naquele ano não seria diferente.
“É sério, . Ainda é cedo por aí, não é? Algumas horas e eu chego.”
“Você pirou, só pode.”
“Me manda a localização. Vou chegar de madrugada. Vê se não dorme. Eu to saindo.”
Desligou. costumava brincar tanto sobre as coisas que eu nunca acreditaria no que estava dizendo. Mandei a localização de meu apartamento, que ficava próximo à Tokyo Skytree, com um complemento: “dúvido você chegar com comida japonesa”. Havia decidido jogar seu jogo, sem saber que várias horas depois tocaria o interfone sem parar. Eu estava dormindo, obviamente. Acordei e atendi com raiva.
“Caiu no sono, acertei?”
Sua voz me invadiu tão prontamente quanto o susto. “Não é possível”, pensei. Coloquei um roupão e liberei o portão pelo interfone. Lavei o rosto, já havia me visto em piores condições, então não havia preocupação. Dois toques na minha porta, abri para encarar comida japonesa embalada para viagem.
- Sorte sua que pediu culinária local. - Uma piscada enquanto entrava.
Eu estava em paralisia. realmente viera. Saíra de onde estivera com a turnê e viera parar aqui.
- O que diabos deu em você?
- Você. - Foi a resposta. - Não conseguia te tirar da cabeça.
Flertávamos assim às vezes, mas sempre era na brincadeira. Era amizade. Só amizade? Brincadeira com fundo de verdade, eu diria, da minha parte pelo menos. Fiz uma careta e revirei os olhos, fechando a porta.
- Estou só estresse ultimamente. Aquelas pessoas que só pensam no marketing do meu trabalho. Queria algo simples por uma noite pelo menos. Queria você.
- Eu sou simples então. - Dei uma gargalhada.
- Você entendeu.
Nos jogamos no sofá e comemos sushis enquanto conversávamos. Parecia que estava em algum estranho sonho com a pessoa que eu mais gostava no universo.
- Não acredito que você veio.
VERSE 2.
- Me leva para o melhor lugar em Tokyo que você conhece.
- São três da manhã, .
- Melhor ainda! As ruas serão só nossas.
Ri de seu entusiasmo.
- Vamos! Vai ser divertido.
Aproximei-me para deixar nossos rostos a centímetros um do outro. Podia sentir a tensão que se instalou em nossos corpos. Deixei que um sorriso provocativo tomasse conta de minha face e depois de alguns segundos apenas me afastei, levando comigo a embalagem vazia de comida que estava ao lado.
- É melhor pegar mais de um casaco. - Completei.
Nos animamos por fim. Caminhar pelas ruas de Tokyo a noite não era tão deserto como parecia. Inventávamos de apostar pequenas corridas, nos empurrar para lá e para cá, ou andar somente em pulinhos. Estávamos apenas tentando manter a temperatura de nossos corpos em meio àquele inverno, mas eu nunca sentira tamanho conforto. Fomos observar o monte Fuji de longe, ventava gelado e neve começou a cair. fez algumas bolinhas com os flocos de gelo e começamos a nos atacar. Meu abdômen doia de tanto rir. Era sempre assim quando se tratava de mim e .
- Quero conhecer o distrito da luz vermelha. - disse depois de uma hora e meia de nada a fazer.
- Aaa, agora está explicado. - Brinquei. - Você queria curtir uma balada sem paparazzi.
fez uma careta dando um novo empurrãozinho em meu ombro.
- Okay. Eu te levo para conhecer Kabukicho. - Me convenci.
Andávamos a pé durante todo o tempo, mas para ir até Kabukicho precisaríamos pegar o metrô. Poderíamos alugar um veículo, já que no Japão o processo era bastante prático, não era necessário nem mesmo falar com pessoas, apenas pagar e retirar cartão de desbloqueio em máquinas.
- Não me importaria de pegar o metrô. - disse quando comentei sobre.
Concordei com um sorriso, sabia que queria fazer coisas diferentes do que costumava em sua rotina. Fomos até Shinjuku, centro comercial de Tokyo, onde ficava Kabukicho e as coisas mais malucas da vida noturna que se pode imaginar. A estação de metrô era muito próxima. Caminhamos pelo mar de luzes e nos divertimos comentando coisas aleatórias. Eu fora ali poucas vezes e sempre me espantava. Estava sempre apinhado de gente, turistas. Uma loucura, mas inacreditável. Nunca havia realmente entrado em uma das casas noturnas, era tudo muito caro por ali.
- Vamos entrar em alguma?
- Até parece! - Eu ri. - Acredite em mim, nada nesse lugar é no valor que meu estágio pode pagar, nem que a gente dividisse!
Fazia estágio no mesmo lugar em que fazia meu curso de língua japonesa e ganhava alguns ienes por isso. Uma bolsa auxílio que ajudava a me manter para os estudos.
- Eu posso pagar. - Esquecia às vezes que tinha fama e dinheiro. Para mim era apenas a mesma pessoa que conheci aos oito anos de idade. Levantei uma sobrancelha. já ergueu os braços para o alto. - Retiro o que disse.
- Podemos ir ao Champions Bar, no Golden Gai. Fica a uns três minutos daqui. - Sugeri um lugar que conhecia, era engraçado: tinha bebida barata e karaokê.
Golden Gai era um espaço underground, eu diria, não tinha as luzes e modernidades de Kabukicho. Era um beco cheio de pequenos bares e alguns deles não aceitavam turistas, mas o Champions era ótimo. Eu era horrível no karaokê, ao contrário de , que afinal já cantava como profissão. Nunca me importei com isso, conseguia arrancar muitas gargalhadas com minha incapacidade para o canto. Bebemos sem chegar ao ponto de passar mal ou perder a consciência, mas estávamos alegres o suficiente para soltarmos a voz, não que precisasse disso para o fazer. Ao caminharmos de volta, conseguiu um mini-ursinho em uma daquelas máquinas de brinquedos que existem por toda Tokyo e me deu de presente. Adentramos o metrô, rindo mais que o normal, e quando chegamos ao apartamento mal conseguimos subir as escadas de tanta canseira. Pelo menos, já nem sentia o frio e havíamos pegado uma pizza no caminho. Os cantos dos meus olhos estavam molhados das risadas. Agora nos esticávamos no chão de meu quarto minúsculo, dividindo um cobertor. Estava quase amanhecendo.
- Essa foi a melhor pizza que eu já comi. - suspirou.
- Para mim também. - Suspirei junto e rimos mais.
Caímos no sono depois disso, ali mesmo nas almofadas no chão, com os corpos próximos. Sonhei que ia embora, minha mente insistindo em mostrar, até mesmo em sonhos, que aquele momento não iria longe. Não teria como ir.
- São três da manhã, .
- Melhor ainda! As ruas serão só nossas.
Ri de seu entusiasmo.
- Vamos! Vai ser divertido.
Aproximei-me para deixar nossos rostos a centímetros um do outro. Podia sentir a tensão que se instalou em nossos corpos. Deixei que um sorriso provocativo tomasse conta de minha face e depois de alguns segundos apenas me afastei, levando comigo a embalagem vazia de comida que estava ao lado.
- É melhor pegar mais de um casaco. - Completei.
Nos animamos por fim. Caminhar pelas ruas de Tokyo a noite não era tão deserto como parecia. Inventávamos de apostar pequenas corridas, nos empurrar para lá e para cá, ou andar somente em pulinhos. Estávamos apenas tentando manter a temperatura de nossos corpos em meio àquele inverno, mas eu nunca sentira tamanho conforto. Fomos observar o monte Fuji de longe, ventava gelado e neve começou a cair. fez algumas bolinhas com os flocos de gelo e começamos a nos atacar. Meu abdômen doia de tanto rir. Era sempre assim quando se tratava de mim e .
- Quero conhecer o distrito da luz vermelha. - disse depois de uma hora e meia de nada a fazer.
- Aaa, agora está explicado. - Brinquei. - Você queria curtir uma balada sem paparazzi.
fez uma careta dando um novo empurrãozinho em meu ombro.
- Okay. Eu te levo para conhecer Kabukicho. - Me convenci.
Andávamos a pé durante todo o tempo, mas para ir até Kabukicho precisaríamos pegar o metrô. Poderíamos alugar um veículo, já que no Japão o processo era bastante prático, não era necessário nem mesmo falar com pessoas, apenas pagar e retirar cartão de desbloqueio em máquinas.
- Não me importaria de pegar o metrô. - disse quando comentei sobre.
Concordei com um sorriso, sabia que queria fazer coisas diferentes do que costumava em sua rotina. Fomos até Shinjuku, centro comercial de Tokyo, onde ficava Kabukicho e as coisas mais malucas da vida noturna que se pode imaginar. A estação de metrô era muito próxima. Caminhamos pelo mar de luzes e nos divertimos comentando coisas aleatórias. Eu fora ali poucas vezes e sempre me espantava. Estava sempre apinhado de gente, turistas. Uma loucura, mas inacreditável. Nunca havia realmente entrado em uma das casas noturnas, era tudo muito caro por ali.
- Vamos entrar em alguma?
- Até parece! - Eu ri. - Acredite em mim, nada nesse lugar é no valor que meu estágio pode pagar, nem que a gente dividisse!
Fazia estágio no mesmo lugar em que fazia meu curso de língua japonesa e ganhava alguns ienes por isso. Uma bolsa auxílio que ajudava a me manter para os estudos.
- Eu posso pagar. - Esquecia às vezes que tinha fama e dinheiro. Para mim era apenas a mesma pessoa que conheci aos oito anos de idade. Levantei uma sobrancelha. já ergueu os braços para o alto. - Retiro o que disse.
- Podemos ir ao Champions Bar, no Golden Gai. Fica a uns três minutos daqui. - Sugeri um lugar que conhecia, era engraçado: tinha bebida barata e karaokê.
Golden Gai era um espaço underground, eu diria, não tinha as luzes e modernidades de Kabukicho. Era um beco cheio de pequenos bares e alguns deles não aceitavam turistas, mas o Champions era ótimo. Eu era horrível no karaokê, ao contrário de , que afinal já cantava como profissão. Nunca me importei com isso, conseguia arrancar muitas gargalhadas com minha incapacidade para o canto. Bebemos sem chegar ao ponto de passar mal ou perder a consciência, mas estávamos alegres o suficiente para soltarmos a voz, não que precisasse disso para o fazer. Ao caminharmos de volta, conseguiu um mini-ursinho em uma daquelas máquinas de brinquedos que existem por toda Tokyo e me deu de presente. Adentramos o metrô, rindo mais que o normal, e quando chegamos ao apartamento mal conseguimos subir as escadas de tanta canseira. Pelo menos, já nem sentia o frio e havíamos pegado uma pizza no caminho. Os cantos dos meus olhos estavam molhados das risadas. Agora nos esticávamos no chão de meu quarto minúsculo, dividindo um cobertor. Estava quase amanhecendo.
- Essa foi a melhor pizza que eu já comi. - suspirou.
- Para mim também. - Suspirei junto e rimos mais.
Caímos no sono depois disso, ali mesmo nas almofadas no chão, com os corpos próximos. Sonhei que ia embora, minha mente insistindo em mostrar, até mesmo em sonhos, que aquele momento não iria longe. Não teria como ir.
PRE-CHORUS.
Acordei e me esforcei para não fazer muito barulho. Era sábado e tinha o dia livre. Ainda era antes do meio-dia, porém o cansaço já não tomava mais conta de mim. Comecei a preparar o café da manhã e creio que o cheiro de comida despertou . Sempre despertava.
- Café da manhã? – Sua voz preencheu meus ouvidos. Ri. Ainda vestíamos as roupas do dia anterior.
- Preciso muito de um banho. – Eu disse. – Você termina aqui?
não discutiu. Fazíamos as coisas cooperativamente quase de modo automático, talvez por termos crescido assim. Tomei um banho rápido, mas relaxante. Quando retornei, vasculhava o próprio celular enquanto já beliscava a comida.
- Já somos notícia outra vez? – Perguntei. Depois da fama de não havia mais como estar em sua companhia sem que isso virasse algum tipo de notícia com uma manchete de “namoro ou amizade?”.
- Aparentemente não.
jogou as sobrancelhas para cima. Novamente meus pensamentos lembravam que o nosso comum nunca seria o "comum da maioria". As câmeras estavam sempre nos perseguindo e nossa relação questionada.
- Quando é o próximo show?
- Amanhã a noite. – Percebi encarar o chão.
- Não tem medo de desmaiar em cansaço?
- Sabe, isso pode com certeza acontecer. A culpa vai ser toda sua.
- Minha? – Desdenhei.
- É claro, já disse que só estou aqui porque não consigo te tirar da cabeça.
Novos risos. A comida quente descia pelo meu sistema digestivo com a mesma sensação de satisfação que sentia ao encarar os olhos de à minha frente.
- Podemos fazer uma trilha... No Monte Fuji. - lançou, sabendo do meu gosto pela atividade.
- A possibilidade mais curta tem 4 horas de subida e 2 horas de descida, isso sem chegar na estação mais alta, até porque no inverno isso nem é permitido. Você realmente quer passar frio todo esse tempo?
- “Do you want to build a snowman? Come on, let's go and play!” – cantou, referenciando Frozen da Disney.
Revirei os olhos, mas ri ao mesmo tempo.
- Gostaria de dizer que isso foi ridículo. - Eu ria enquanto falava.
- Ninguém vai nos procurar lá. – desafiou.
- Tenho certeza que devem haver fãs que te perseguirão até nas alturas. Um não, mais. - Continuei rindo.
Não entendia o porquê da fuga desesperada de da fama e da mídia, nunca havia fugido. Nossos olhares se sustentaram por um instante.
- Você realmente quer escapar, não é? - Quebrei o silêncio. - Okay. Lá vamos nós, trilha Fujinomiya.
- Estava prestes a dizer que me sinto uma pessoa normal ao seu lado, mas quem é que conhece todas as trilhas do Monte Fuji?
engoliu o último pedaço de omelete enquanto terminava a piada. Empurrei seu braço de brincadeira. Fujinomiya era a trilha mais curta, porém a mais íngreme. Já havia subido e descido algumas vezes, porém não contava com tamanha dificuldade...
- Eu... preciso... respirar. – Ofegava, quando chegamos ao meio do caminho. Comecei a gargalhar e como vingança levei uma nova bola de neve no rosto.
- DE NOVO NÃO! – Outra guerra de neve, depois sentei ao seu lado. Era difícil respirar já naquela pequena altitude, o frio não ajudava. - Quer descer?
- Nem pensar! – levantou, mas ainda ofegava.
- Okay. – Dei de ombros rindo.
Adorava trilhas, sabia disso. Estendi a mão para lhe dar suporte quando chegamos a outra estação. A altitude já nos permitia enxergar tudo pequenininho lá embaixo. Tampei meu nariz com o cachecol por certo tempo, estava gelado. Havíamos caminhado por três horas.
- Acho que aqui já está bom. - Eu disse. assentiu. Observávamos a paisagem.
Com aquele frio poucos se arriscavam a subir, principalmente os turistas, então a tranquilidade do passeio era aconchegante. Não percebi ninguém tirando fotos nossas, mas com as câmeras atuais nem era mais uma regra estar próximo para que o fizessem. De qualquer maneira, ao encarar , a sensação era que só havíamos nós no mundo. Nossos olhares se encontraram e desviei observando novamente o que parecia ser a miniatura de Tokyo. se aproximou e passou um dos braços por trás das minhas costas. Era um daqueles momentos eternizados, que você sente que pode vencer o mundo.
Já era noite quando estávamos de volta ao apartamento com os corpos aquecidos. Colocamos nosso filme favorito para rodar e dividimos uma manta. No entanto, prestávamos mais atenção ao chocolate que havia derretido no micro-ondas.
- Tem chocolate até no seu nariz. - Gargalhei apontando a mancha marrom bem na ponta do nariz de que tentou alcançar com a língua, mas não conseguiu.
- Nunca vou conseguir fazer isso. - Disse em desistência.
O que seguiu foi um silêncio perturbador se comparado ao ânimo do dia.
- Vai pegar um voo amanhã de manhã? - Perguntei.
- Vou.
Mais silêncio. Nem eu e nem queríamos que acabasse.
- Era isso que eu queria, sabe. Me perder no seu paraíso.
- Meu paraíso?
- É. Essa cidade. - se ajeitou no sofá, diminuindo a distância de nossos corpos. - Seu sorriso.
acariciou meu rosto e se aproximou devagar. "Perto demais", pensei e desviei o rosto prestando atenção na manta que cobria minhas pernas.
- para.
- Parar o quê?
- Com isso.
- Isso o quê?
- Você sabe. - Suspirei. - Não podemos ir por esse caminho.
...
Silêncio.
- Sabemos que isso é mais que uma amizade. - nunca havia dito isso, nunca de maneira audível, mesmo que pairasse ao nosso redor toda vez que nos encontrávamos.
- Mas não pode ser.
- Por que não? - Sua voz era quase um sussurro agora.
- Você sabe! Precisa voltar para seus shows amanhã e eu para minhas coisas. Vamos nos ver de ano em ano, no Natal, e olhe lá! Sem falar no problema que é a mídia. Isso nunca vai funcionar.
- Você tem medo de tentar, igual com a fotografia.
jogara uma verdade contra a qual eu não tinha argumentos. Adorava fotografar, mas meus pais me empurraram para a faculdade de Engenharia Robótica a vida inteira, eram donos de uma empresa do ramo. Justamente por essa razão estava em intercâmbio no Japão. Nunca mais houve tempo para as fotos ou era isso que coloquei em minha cabeça. Levantei sem dizer nada com as louças em mãos, deixando no sofá. Quando voltei me esperava no corredor. Fechei a expressão.
- Desculpe. Fui idiota. Não vamos brigar. - disse e abriu o sorriso que iluminava corações por todo o mundo.
Se aproximou para colocar os braços em volta de meu pescoço. Afundei meu rosto em seu ombro e o cheiro de seu perfume tomou meus pulmões, o aconchego de seu corpo quente em minha pele. Permanecemos algum tempo assim, depois voltamos para o sofá, finalizando o filme em silêncio. Segurei uma mão de e a mantive em meu colo, acariciando-a.
- Mas preciso dizer... amo suas fotografias. - disse quando já tinha os olhos fechados e a voz embargada de sono.
Sorri desejando que fosse mais fácil ter a coragem para fazer tudo o que eu queria fazer de verdade. Deixei que descansasse no sofá e fui ao resgate de minha Polaroid no fundo do guarda-roupa. Tirei uma foto de em seu mundo de sonhos.
- Hey. - Sussurrei chacoalhando .
- O que houve? - Seus olhos semicerrados me observaram.
- Vamos dormir na cama. Precisa estar bem para amanhã.
tentou protestar, mas insisti. Ajudei com o trajeto, aproveitando para guardar a câmera e enroscar a pequena foto instantânea no espelho da mesa de cabeceira. Um flashback de escolhas se fez diante de meus olhos. Seriam aquelas as que realmente me fariam uma pessoa feliz?
- Café da manhã? – Sua voz preencheu meus ouvidos. Ri. Ainda vestíamos as roupas do dia anterior.
- Preciso muito de um banho. – Eu disse. – Você termina aqui?
não discutiu. Fazíamos as coisas cooperativamente quase de modo automático, talvez por termos crescido assim. Tomei um banho rápido, mas relaxante. Quando retornei, vasculhava o próprio celular enquanto já beliscava a comida.
- Já somos notícia outra vez? – Perguntei. Depois da fama de não havia mais como estar em sua companhia sem que isso virasse algum tipo de notícia com uma manchete de “namoro ou amizade?”.
- Aparentemente não.
jogou as sobrancelhas para cima. Novamente meus pensamentos lembravam que o nosso comum nunca seria o "comum da maioria". As câmeras estavam sempre nos perseguindo e nossa relação questionada.
- Quando é o próximo show?
- Amanhã a noite. – Percebi encarar o chão.
- Não tem medo de desmaiar em cansaço?
- Sabe, isso pode com certeza acontecer. A culpa vai ser toda sua.
- Minha? – Desdenhei.
- É claro, já disse que só estou aqui porque não consigo te tirar da cabeça.
Novos risos. A comida quente descia pelo meu sistema digestivo com a mesma sensação de satisfação que sentia ao encarar os olhos de à minha frente.
- Podemos fazer uma trilha... No Monte Fuji. - lançou, sabendo do meu gosto pela atividade.
- A possibilidade mais curta tem 4 horas de subida e 2 horas de descida, isso sem chegar na estação mais alta, até porque no inverno isso nem é permitido. Você realmente quer passar frio todo esse tempo?
- “Do you want to build a snowman? Come on, let's go and play!” – cantou, referenciando Frozen da Disney.
Revirei os olhos, mas ri ao mesmo tempo.
- Gostaria de dizer que isso foi ridículo. - Eu ria enquanto falava.
- Ninguém vai nos procurar lá. – desafiou.
- Tenho certeza que devem haver fãs que te perseguirão até nas alturas. Um não, mais. - Continuei rindo.
Não entendia o porquê da fuga desesperada de da fama e da mídia, nunca havia fugido. Nossos olhares se sustentaram por um instante.
- Você realmente quer escapar, não é? - Quebrei o silêncio. - Okay. Lá vamos nós, trilha Fujinomiya.
- Estava prestes a dizer que me sinto uma pessoa normal ao seu lado, mas quem é que conhece todas as trilhas do Monte Fuji?
engoliu o último pedaço de omelete enquanto terminava a piada. Empurrei seu braço de brincadeira. Fujinomiya era a trilha mais curta, porém a mais íngreme. Já havia subido e descido algumas vezes, porém não contava com tamanha dificuldade...
- Eu... preciso... respirar. – Ofegava, quando chegamos ao meio do caminho. Comecei a gargalhar e como vingança levei uma nova bola de neve no rosto.
- DE NOVO NÃO! – Outra guerra de neve, depois sentei ao seu lado. Era difícil respirar já naquela pequena altitude, o frio não ajudava. - Quer descer?
- Nem pensar! – levantou, mas ainda ofegava.
- Okay. – Dei de ombros rindo.
Adorava trilhas, sabia disso. Estendi a mão para lhe dar suporte quando chegamos a outra estação. A altitude já nos permitia enxergar tudo pequenininho lá embaixo. Tampei meu nariz com o cachecol por certo tempo, estava gelado. Havíamos caminhado por três horas.
- Acho que aqui já está bom. - Eu disse. assentiu. Observávamos a paisagem.
Com aquele frio poucos se arriscavam a subir, principalmente os turistas, então a tranquilidade do passeio era aconchegante. Não percebi ninguém tirando fotos nossas, mas com as câmeras atuais nem era mais uma regra estar próximo para que o fizessem. De qualquer maneira, ao encarar , a sensação era que só havíamos nós no mundo. Nossos olhares se encontraram e desviei observando novamente o que parecia ser a miniatura de Tokyo. se aproximou e passou um dos braços por trás das minhas costas. Era um daqueles momentos eternizados, que você sente que pode vencer o mundo.
Já era noite quando estávamos de volta ao apartamento com os corpos aquecidos. Colocamos nosso filme favorito para rodar e dividimos uma manta. No entanto, prestávamos mais atenção ao chocolate que havia derretido no micro-ondas.
- Tem chocolate até no seu nariz. - Gargalhei apontando a mancha marrom bem na ponta do nariz de que tentou alcançar com a língua, mas não conseguiu.
- Nunca vou conseguir fazer isso. - Disse em desistência.
O que seguiu foi um silêncio perturbador se comparado ao ânimo do dia.
- Vai pegar um voo amanhã de manhã? - Perguntei.
- Vou.
Mais silêncio. Nem eu e nem queríamos que acabasse.
- Era isso que eu queria, sabe. Me perder no seu paraíso.
- Meu paraíso?
- É. Essa cidade. - se ajeitou no sofá, diminuindo a distância de nossos corpos. - Seu sorriso.
acariciou meu rosto e se aproximou devagar. "Perto demais", pensei e desviei o rosto prestando atenção na manta que cobria minhas pernas.
- para.
- Parar o quê?
- Com isso.
- Isso o quê?
- Você sabe. - Suspirei. - Não podemos ir por esse caminho.
...
Silêncio.
- Sabemos que isso é mais que uma amizade. - nunca havia dito isso, nunca de maneira audível, mesmo que pairasse ao nosso redor toda vez que nos encontrávamos.
- Mas não pode ser.
- Por que não? - Sua voz era quase um sussurro agora.
- Você sabe! Precisa voltar para seus shows amanhã e eu para minhas coisas. Vamos nos ver de ano em ano, no Natal, e olhe lá! Sem falar no problema que é a mídia. Isso nunca vai funcionar.
- Você tem medo de tentar, igual com a fotografia.
jogara uma verdade contra a qual eu não tinha argumentos. Adorava fotografar, mas meus pais me empurraram para a faculdade de Engenharia Robótica a vida inteira, eram donos de uma empresa do ramo. Justamente por essa razão estava em intercâmbio no Japão. Nunca mais houve tempo para as fotos ou era isso que coloquei em minha cabeça. Levantei sem dizer nada com as louças em mãos, deixando no sofá. Quando voltei me esperava no corredor. Fechei a expressão.
- Desculpe. Fui idiota. Não vamos brigar. - disse e abriu o sorriso que iluminava corações por todo o mundo.
Se aproximou para colocar os braços em volta de meu pescoço. Afundei meu rosto em seu ombro e o cheiro de seu perfume tomou meus pulmões, o aconchego de seu corpo quente em minha pele. Permanecemos algum tempo assim, depois voltamos para o sofá, finalizando o filme em silêncio. Segurei uma mão de e a mantive em meu colo, acariciando-a.
- Mas preciso dizer... amo suas fotografias. - disse quando já tinha os olhos fechados e a voz embargada de sono.
Sorri desejando que fosse mais fácil ter a coragem para fazer tudo o que eu queria fazer de verdade. Deixei que descansasse no sofá e fui ao resgate de minha Polaroid no fundo do guarda-roupa. Tirei uma foto de em seu mundo de sonhos.
- Hey. - Sussurrei chacoalhando .
- O que houve? - Seus olhos semicerrados me observaram.
- Vamos dormir na cama. Precisa estar bem para amanhã.
tentou protestar, mas insisti. Ajudei com o trajeto, aproveitando para guardar a câmera e enroscar a pequena foto instantânea no espelho da mesa de cabeceira. Um flashback de escolhas se fez diante de meus olhos. Seriam aquelas as que realmente me fariam uma pessoa feliz?
CHORUS.
Na manhã que ainda despontava rosada no horizonte, eu e fomos ao aeroporto. Poucas pessoas nos pararam por lá, pedindo alegremente para que eu tirasse fotos da pessoa ao meu lado com elas. Não me importava e o fazia de bom grado. Na fila para embarcar ficamos frente a frente para nos despedir.
- Queria poder ficar. - disse em certa melancolia.
Inspirei o ar gelado devagar e retirei um chaveiro do bolso. Guardara a algum tempo em minhas chaves, mas sempre pensei que seria a cara de . Pendurei-o em meu dedo indicador estendido depois de desprendê-lo das chaves, bem em frente ao rosto de .
- O que é isso? - Aquele sorriso de novo.
- Para você continuar sem me tirar da cabeça.
- Oh... Você tem que parar com isso! - O tom de brincadeira tomou conta de sua voz.
- O que? – Eu ri.
- Jogar esse charme em cima de mim.
Gargalhamos. Peguei sua mão e depositei a pequena palheta de plástico ligada a um ganchinho. Fechei seus dedos. Dei-lhe um beijo na bochecha.
- Te vejo por aí. - Eu disse.
- É... - suspirou, se afastando ainda de frente para mim. A mão segurando forte o chaveiro. - Te vejo por aí.
Fui embora caminhando quando sumiu de vista. Aquela cor no céu mesclada ao azul me fez pensar nas fotografias e na vida. “Você tem medo de tentar”, a voz de ecoou em minha mente.
- Talvez eu tenha... - Sussurrei para que apenas meus próprios ouvidos escutassem.
Não era nem de longe com aquela rotina que eu sonhava, meus sonhos eram bem diferentes. Passei a semana fazendo tudo de maneira automática. Mecanizada. O estágio, as aulas da faculdade. Toda noite em meu apartamento me deparava com a imagem de enroscada no canto do espelho. Após quase um mês pensando em como aquela não era a vida que eu queria, decidi ligar para .
“Hey, aqui é . Deixe sua mensagem.”
Decidi deixar a mensagem de voz. A impressão que eu tinha sobre nós é que falávamos constantemente e, ao mesmo tempo, esporadicamente. Acredito que aquele era nosso paradoxo, a distância. Porque distâncias são feitas para avaliar constâncias e éramos constantes, mesmo sem ser.
“Você tinha razão.”
Dizia para o telefone mudo.
“Eu tenho medo. Medo de muitas coisas.”
Pausa. Não sabia bem o que dizer simplesmente por não saber direito o que estava fazendo.
“Mas quero ter coragem, então acho que vou desistir de tudo. Recomeçar. Você disse que gosta de se perder e talvez eu também esteja me perdendo nesse país. Gosto disso, mas acho que quero me perder em novos lugares também. Vou levar a câmera comigo. Bom... Te vejo por aí.”
Os telefonemas e visitas que fiz depois disso desafiaram todo tipo de decisão que eu havia feito até o momento. Tranquei minha faculdade, pedi a conta no estágio e encerrei o contrato imobiliário do apartamento. Tinha salvo algum dinheiro durante todo aquele tempo e estava indo embora com o que cabia em uma mochila de camping, inclusive os equipamentos de trilha e fotografia. Tempo? Indefinido. Liguei para meus pais e só sentia tensão. Disse que sairia pelo mundo fotografando. Protestos e muitos. No entanto, era aquilo que eu iria fazer e deixei bem claro. Não foi uma briga, uma discussão talvez, mas sem concordância alguma. Comprei uma passagem em bom preço pela internet para Yakushima, uma ilha ainda no Japão, começaria com uma visita aos cedros de mais de 1000 anos e depois disso não havia um destino. Iria para onde o vento me levasse. Filipinas, Tailândia, Austrália, Nova Zelândia, Taiti. De um em um. Trabalharia em qualquer coisa que fosse possível trabalhar e faria a manutenção com o dinheiro que já tinha, que provavelmente daria para um ano de viagem se eu soubesse economizar. sempre foi inspiração em minha vida, exalava isso, talvez daí viera sua fama desenfreada. Tinha talento e inspirava as pessoas. me ligou depois de alguns dias, quando eu já estava em Yakushima.
“Vou querer ver essas fotos. Você não vai se livrar de mim.”
Foi assim que terminou nossa conversa de quarenta minutos. Não voltei para o Natal e nem para nenhuma data comemorativa durante dois anos seguidos. Mantive contato com meus pais e em algum momento eles aceitaram que aquela era meu novo ritmo. Trabalhos temporários e estadias temporárias. Já sabia escalar e acampar, mas aprendi a surfar, a mergulhar, a velejar. Aprendi a gostar de coisas que nunca imaginei que gostaria. A provar de tudo, a pular de penhascos em direção a águas cristalinas, a me comunicar sem qualquer noção sobre a outra língua. Aprendi a passar por perrengues e quantos. Em alguns cheguei a acreditar que chegara ao fim de minha vida, mas não, ainda não. Conheci tantas pessoas. Tirei tantas fotos. Tantas. Fiz mais de um álbum de Polaroids. Ainda assim, no fim de muitos dias o que me vinha a mente era .
Certa vez, observava a foto daquele dia... no Japão. Parecia tão distante e tão próxima. Paradoxo. Nos falávamos de vez em nunca agora. Recebia uma mensagem que dizia: “sinto sua falta” e eu afirmava que sentia de volta. estava sempre na correria e eu sempre em lugares que o sinal não existe. É claro que quando arranjava internet me atualizava, mas a maior parte das informações vinha de meus pais. Eles e a família de se juntaram nos fins de ano que não compareci, como de costume. Mandei cartões postais e algumas de minhas fotos, como se fossem pequenos presentes.
Decidi voltar para casa de meus pais para visitá-los em novembro daquele ano, três anos desde que me visitara no Japão. Parecia estranho retornar e... feliz também. Quando cheguei abracei forte meus pais e, ao invés de críticas, recebi curiosidade. Mostrei grande parte das infinitas fotografias e algumas das fotos digitais.
- Você mudou tanto. - Minha mãe me disse. – Cresceu tanto.
Sorri por perceber que ela não dizia de maneira pejorativa. Seus olhos estavam marejados e os meus também.
- Bom. Acredito que devo a vocês minha presença para o fim de ano. - Disse e eles riram.
Tudo foi planejado. A família de viria e claro que meus pais só falavam sobre meu retorno.
“Será que ainda vou te reconhecer?”
Mandei uma mensagem para com emojis de risos um dia antes. Não conseguia ignorar as batidas mais fortes em meu coração. A expectativa. Era a primeira mensagem em provavelmente oito meses. Minhas mãos suavam frio. O celular apitou.
“Com certeza, não.”
Gelei no mesmo nível de frieza da resposta. Depois de um minuto uma nova mensagem.
“Minha beleza se elevou um milhão de vezes.”
Ri em alívio. Podia parecer idiota ou até infantil, mas eu tinha receio de nossa amizade ter se esvair com o tempo. Mandei vários risos. Tinha certeza que mudara tanto quanto eu, nossas experiências nestes anos foram completamente distintas apesar de termos conhecido igualmente diferentes lugares. Eu vivera sempre com pouco. Pouco dinheiro, o suficiente para sobreviver e ir para o próximo lugar, poucas pessoas, aqui e ali o que somava um bom total, mas nem perto das aglomerações que viu. Seria quase uma loucura juntar tudo isso. Nossa infância fora conjunta, mas agora tínhamos uma nova vida para contar sobre. O barulho da campainha que para mim agora era nostalgia a ser desfrutada.
- Queria poder ficar. - disse em certa melancolia.
Inspirei o ar gelado devagar e retirei um chaveiro do bolso. Guardara a algum tempo em minhas chaves, mas sempre pensei que seria a cara de . Pendurei-o em meu dedo indicador estendido depois de desprendê-lo das chaves, bem em frente ao rosto de .
- O que é isso? - Aquele sorriso de novo.
- Para você continuar sem me tirar da cabeça.
- Oh... Você tem que parar com isso! - O tom de brincadeira tomou conta de sua voz.
- O que? – Eu ri.
- Jogar esse charme em cima de mim.
Gargalhamos. Peguei sua mão e depositei a pequena palheta de plástico ligada a um ganchinho. Fechei seus dedos. Dei-lhe um beijo na bochecha.
- Te vejo por aí. - Eu disse.
- É... - suspirou, se afastando ainda de frente para mim. A mão segurando forte o chaveiro. - Te vejo por aí.
Fui embora caminhando quando sumiu de vista. Aquela cor no céu mesclada ao azul me fez pensar nas fotografias e na vida. “Você tem medo de tentar”, a voz de ecoou em minha mente.
- Talvez eu tenha... - Sussurrei para que apenas meus próprios ouvidos escutassem.
Não era nem de longe com aquela rotina que eu sonhava, meus sonhos eram bem diferentes. Passei a semana fazendo tudo de maneira automática. Mecanizada. O estágio, as aulas da faculdade. Toda noite em meu apartamento me deparava com a imagem de enroscada no canto do espelho. Após quase um mês pensando em como aquela não era a vida que eu queria, decidi ligar para .
“Hey, aqui é . Deixe sua mensagem.”
Decidi deixar a mensagem de voz. A impressão que eu tinha sobre nós é que falávamos constantemente e, ao mesmo tempo, esporadicamente. Acredito que aquele era nosso paradoxo, a distância. Porque distâncias são feitas para avaliar constâncias e éramos constantes, mesmo sem ser.
“Você tinha razão.”
Dizia para o telefone mudo.
“Eu tenho medo. Medo de muitas coisas.”
Pausa. Não sabia bem o que dizer simplesmente por não saber direito o que estava fazendo.
“Mas quero ter coragem, então acho que vou desistir de tudo. Recomeçar. Você disse que gosta de se perder e talvez eu também esteja me perdendo nesse país. Gosto disso, mas acho que quero me perder em novos lugares também. Vou levar a câmera comigo. Bom... Te vejo por aí.”
Os telefonemas e visitas que fiz depois disso desafiaram todo tipo de decisão que eu havia feito até o momento. Tranquei minha faculdade, pedi a conta no estágio e encerrei o contrato imobiliário do apartamento. Tinha salvo algum dinheiro durante todo aquele tempo e estava indo embora com o que cabia em uma mochila de camping, inclusive os equipamentos de trilha e fotografia. Tempo? Indefinido. Liguei para meus pais e só sentia tensão. Disse que sairia pelo mundo fotografando. Protestos e muitos. No entanto, era aquilo que eu iria fazer e deixei bem claro. Não foi uma briga, uma discussão talvez, mas sem concordância alguma. Comprei uma passagem em bom preço pela internet para Yakushima, uma ilha ainda no Japão, começaria com uma visita aos cedros de mais de 1000 anos e depois disso não havia um destino. Iria para onde o vento me levasse. Filipinas, Tailândia, Austrália, Nova Zelândia, Taiti. De um em um. Trabalharia em qualquer coisa que fosse possível trabalhar e faria a manutenção com o dinheiro que já tinha, que provavelmente daria para um ano de viagem se eu soubesse economizar. sempre foi inspiração em minha vida, exalava isso, talvez daí viera sua fama desenfreada. Tinha talento e inspirava as pessoas. me ligou depois de alguns dias, quando eu já estava em Yakushima.
“Vou querer ver essas fotos. Você não vai se livrar de mim.”
Foi assim que terminou nossa conversa de quarenta minutos. Não voltei para o Natal e nem para nenhuma data comemorativa durante dois anos seguidos. Mantive contato com meus pais e em algum momento eles aceitaram que aquela era meu novo ritmo. Trabalhos temporários e estadias temporárias. Já sabia escalar e acampar, mas aprendi a surfar, a mergulhar, a velejar. Aprendi a gostar de coisas que nunca imaginei que gostaria. A provar de tudo, a pular de penhascos em direção a águas cristalinas, a me comunicar sem qualquer noção sobre a outra língua. Aprendi a passar por perrengues e quantos. Em alguns cheguei a acreditar que chegara ao fim de minha vida, mas não, ainda não. Conheci tantas pessoas. Tirei tantas fotos. Tantas. Fiz mais de um álbum de Polaroids. Ainda assim, no fim de muitos dias o que me vinha a mente era .
Certa vez, observava a foto daquele dia... no Japão. Parecia tão distante e tão próxima. Paradoxo. Nos falávamos de vez em nunca agora. Recebia uma mensagem que dizia: “sinto sua falta” e eu afirmava que sentia de volta. estava sempre na correria e eu sempre em lugares que o sinal não existe. É claro que quando arranjava internet me atualizava, mas a maior parte das informações vinha de meus pais. Eles e a família de se juntaram nos fins de ano que não compareci, como de costume. Mandei cartões postais e algumas de minhas fotos, como se fossem pequenos presentes.
Decidi voltar para casa de meus pais para visitá-los em novembro daquele ano, três anos desde que me visitara no Japão. Parecia estranho retornar e... feliz também. Quando cheguei abracei forte meus pais e, ao invés de críticas, recebi curiosidade. Mostrei grande parte das infinitas fotografias e algumas das fotos digitais.
- Você mudou tanto. - Minha mãe me disse. – Cresceu tanto.
Sorri por perceber que ela não dizia de maneira pejorativa. Seus olhos estavam marejados e os meus também.
- Bom. Acredito que devo a vocês minha presença para o fim de ano. - Disse e eles riram.
Tudo foi planejado. A família de viria e claro que meus pais só falavam sobre meu retorno.
“Será que ainda vou te reconhecer?”
Mandei uma mensagem para com emojis de risos um dia antes. Não conseguia ignorar as batidas mais fortes em meu coração. A expectativa. Era a primeira mensagem em provavelmente oito meses. Minhas mãos suavam frio. O celular apitou.
“Com certeza, não.”
Gelei no mesmo nível de frieza da resposta. Depois de um minuto uma nova mensagem.
“Minha beleza se elevou um milhão de vezes.”
Ri em alívio. Podia parecer idiota ou até infantil, mas eu tinha receio de nossa amizade ter se esvair com o tempo. Mandei vários risos. Tinha certeza que mudara tanto quanto eu, nossas experiências nestes anos foram completamente distintas apesar de termos conhecido igualmente diferentes lugares. Eu vivera sempre com pouco. Pouco dinheiro, o suficiente para sobreviver e ir para o próximo lugar, poucas pessoas, aqui e ali o que somava um bom total, mas nem perto das aglomerações que viu. Seria quase uma loucura juntar tudo isso. Nossa infância fora conjunta, mas agora tínhamos uma nova vida para contar sobre. O barulho da campainha que para mim agora era nostalgia a ser desfrutada.
VERSE 3.
Quem veio correndo me abraçar foi a irmãzinha de , que agora havia crescido tanto que poderia não reconhecê-la. Me contou que comemorou os 14 anos e deixei que ela soubesse de meu espanto. Ela sempre fora uma criança que tinha ânsia em crescer, mal sabia que a melhor fase era na qual estava. Travei quando me deparei com .
- Hey. - Consegui dizer.
- Hey. - respondeu.
Nos abraçamos sem realmente nos abraçar. A reunião familiar se estendeu até o começo da madrugada, então os pais de decidiram que era hora de ir. perguntou se poderia ficar mais um pouco e minha mãe se prontificou dizendo que poderia até dormir ali se quisesse. Para minha surpresa, aceitou o convite. A distração anterior não me deixou perceber, mas eu ansiava por um momento a sós e finalmente tivemos a oportunidade quando meus pais foram dormir.
- Acho que ninguém vai reparar se finalizarmos a garrafa de champanhe, certo? - Perguntei, nos servindo.
- Se repararem, negarei até o fim! - Rimos.
- Feliz Natal. - Ergui meu copo no ar e fez o mesmo.
- Feliz Natal.
Batemos nossos copos em um brinde. Uma neve fina começou a cair paciente lá fora.
- ESTÁ NEVANDO! - Me animei correndo para a varanda.
- Isso me faz lembrar do Japão. - disse.
Desviei o olhar com medo que percebesse minha melancolia. Sempre pensava sobre minha vontade de ter assentido quando mencionou, naquela noite, que o que tínhamos era mais que uma amizade. Para tentar reprimir-me de voltar a pensar sobre isso deixei que minha mente viajasse a coisas bem mais antigas, recordei-me das brincadeiras em poças durante os dias chuvosos e a lama que nem as galochas impediam que chegassem às nossas roupas. Comentei em voz alta e gargalhamos.
- Há boatos que banho de lama é ótimo para a pele. - disse.
- Aquela lama com certeza fez bem para nossas peles. - Caçoei e riu alto demais.
- Shhhh... - Segurei seu riso colocando uma mão desajeitadamente sobre seus lábios.
Senti certo desconforto sobre esse gesto automático e percebi que a pele de meu rosto queimou. Como era estranho trazer de volta aquele contato físico involuntário e intimista que antes era tão comum entre nós. O contato visual e físico mudara completamente, estávamos sempre nos esbarrando quando crianças, nos abraçando e nos olhando olho no olho. Agora o afastamento físico era o mesmo de duas pessoas desconhecidas. Os olhares eram tímidos o bastante para não se demorarem demais, cordiais. Questionava como conseguíamos ser tão livres desses limites tão poucos anos atrás. Apesar de todo meu constrangimento momentâneo, não pareceu se importar. Bebemos mais alguns goles de champanhe.
- Okay, talvez a gente não devesse se alterar demais na casa dos seus pais.
- Parece que temos quinze anos de novo e tentamos entrar tarde da noite, sem que percebam, depois de beber demais. - Respondi.
Rimos mais, agora abafando o som.
- Igual aquele luau que fomos uma vez. - lembrou.
- Seu sucesso já começou naquele dia!
- Não exagera.
- Um ano depois você estava “estourando nas paradas”. - Fiz aspas com os dedos. Rimos, mas o silêncio que se seguiu combinava bem com os anos que passaram após aquele tempo. No início, ainda conseguíamos manter contato, mas isso foi diminuindo gradativamente. - Você levou aquele seu violão velhinho naquele luau.
Um ar nostálgico pairou sobre nós.
- Era para supostamente estarmos contando as novidades. - disse e gargalhamos outra vez.
Conversar nunca era desagradável com , mesmo que nossos ombros ou pernas não se esbarrassem mais e os olhares agora vacilantes. Estar com era sempre aconchegante e tinha cheiro de casa, não importava quantos anos passassem.
- Você parece feliz... De verdade... - observou com o tom de voz manso. Aquele sorriso voltara, do qual não conseguia me desvencilhar mesmo há milhas de distância.
- Sim. Finalmente estou feliz com quem sou.
- Você conheceu muita coisa, não é?
- Você também, aposto.
- Quero ver as fotografias.
Trouxe o álbum para a varanda, onde sentávamos ao chão, abri-o tentando evitar a primeira página, a qual dediquei àquela imagem de dormindo no sofá de meu apartamento no Japão, mas percebeu e insistiu em ver.
- Sou sua primeira página? - Maldito sorriso, maldita sensação em meu estômago.
- Não fique se achando. – Apontei o dedo indicador de brincadeira.
- Guardei seus cartões postais. - admitiu sem me olhar. - Só pra me lembrar de como você é muito mais vintage que eu.
Minha vez de sorrir.
- Comprei seu novo álbum. - Admiti. Quando soube que tinha um novo lançamento, procurei desesperadamente uma loja de discos só para comprar um e escutar onde fosse possível.
- Você gostou? Quer dizer, não é , mas...
- Tá de brincadeira? É claro que gostei. - com certeza era um dos meus mais profundos deleites musicais, mas era meu mais profundo deleite pessoal, o que tornava qualquer coisa que soasse em sua voz um prazer. - Suas músicas tocaram em ilhas por aí mais de uma vez.
parecia radiante, provavelmente eu também, porque era exatamente como me sentia.
- Quem é? Está em várias fotos.
perguntou sobre um romance de minha caminhada e seus olhos indicavam curiosidade.
- Um romance de verão.
- Ah vamos... - riu encontrando mais fotos. Em uma usávamos suéteres de natal. - Não me parece tão passageiro. Conte mais.
- Nos conhecemos na Tailândia, no verão. Me ensinou a velejar e fizemos isso por algum tempo. Uns seis meses. Depois do fim de ano seguimos rotas diferentes. Foi só.
- Vocês combinavam.
Gargalhei debochadamente. Havia tido esse breve romance com alguém que sabia pouco sobre e foi legal por um tempo. Decidi parar depois de perceber que se tratava mais de ter uma companhia do que realmente sentir alguma coisa.
- E você?
- Eu o quê? - devolveu naquele jogo de fingir desinteresse.
- Conheceu alguém?
- Sim e não... - riu quando fiz uma expressão de “fala sério”. - É complicado...
- Complicado como? - Insisti. Nunca havia pensado realmente em tendo um relacionamento amoroso. Já havíamos ficado com outras pessoas, mas nunca nada que durasse como experiência válida de relacionamento. Não sabia que aquela ideia me causava certa ansiedade.
- Não era exatamente compromisso assumido. Não sei bem o que era. Fomos e voltamos várias vezes, escondendo da mídia, mas fizeram especulações, você sabe.
- Posso imaginar. – Pensei nas vezes que nós havíamos virado notícia sem realmente ser. – É da música também?
- Não. Modelo. Mas enfim, faz um tempinho que não nos falamos, então acho que acabou... - parecia em uma confusão interna angustiante. - Na verdade, nunca nem começou.
fixou os olhos em mim sem sinal de que desistiria pela primeira vez desde nosso “hey” na porta de entrada. Decidi encarar a neve ao chão, branquinha por cima onde acaba de cair, mas já castigada em baixo, onde estava por mais tempo. Senti que muito do que não era superficial em nós não precisaria ser dito para que compartilhássemos, era como se lêssemos nossas mentes em um acordo telepático e silencioso, mesmo depois de tanto tempo. Conversamos sobre as infinitas novidades de três anos, quase a noite inteira, só ao amanhecer voltamos para dentro de casa e nos jogamos no sofá para assistir o mesmo filme de sempre: . Se fechasse os olhos estaria de volta àquela noite no Japão que marcara a jornada que decidira fazer, não fosse pelos muffins feitos com carinho pela mãe de , que estavam sobre a mesinha central. O filme mal havia começado e já estava de olhos fechados. Acariciei seu cabelo.
- Sabe... – murmurou ainda de olhos fechados. – Continuo sem te tirar da cabeça.
Abri um sorriso silencioso, já parecia ter dormido. Suspirei.
- Você nunca saiu da minha também... – Sussurrei tão baixo que duvidei que alguém, além de mim, poderia ter escutado.
Em minha jornada sem rumo, quando encontrava sinal para o celular me segurava para não ligar dizendo: “acho que amo você”, tantas vezes guardei essa vontade por parecer absurda, precisei escondê-la de meus próprios pensamentos. Agora, lado a lado com , esse querer se desprendera, avassalador. Invadiu todos os muros que construí contra, por tanto tempo. Já não éramos mais adolescentes, mas ainda nos adorávamos em segredo. Porém, isso acabaria no primeiro dia do novo ano. Sempre acabava.
Deliciosos e torturantes foram os dias seguintes. Estava com o tempo inteiro e qualquer estranhamento entre nós fora quebrado, enquanto tocava e murmurava qualquer canção no violão e eu lia um livro ao seu lado. Hora na casa dos meus pais, hora na casa dos pais de .
“Você tem planos para esta noite?”
A voz de soou em meu celular pela manhã. Pisquei lentamente com o sono ainda me fazendo variar. Da última vez que perguntara aquilo, foi parte de uma mudança completa no curso de minha vida. Decidimos que, naquela noite gelada de 31 de dezembro, depois da comemoração em família, iríamos até a pequena serra de nossa cidade, para ver os fogos, como na infância. Algumas pessoas costumavam encarar o frio para isso. Da família, somente nós porque nossos pais e a irmã de afirmaram que não sairiam naquele vento por nada. Camadas de gelo faziam o chão ficar escorregadio e subimos com certa dificuldade a superfície rochosa. Estava quase deserto o lugar a não ser por um ou outro casal que se arriscava mais longe.
- Bom, é quase o Monte Fuji... - Brinquei quando observamos as luzes da cidade.
- Diria que é até melhor. – devolveu.
Estava quase na hora dos fogos, então nos preparamos para a contagem regressiva.
- 10... 9... 8... - Gritávamos para o nada. – 3... 2... 1...
Escuridão e silêncio. Contamos antes do tempo. Gargalhamos e de repente cores vivas explodiram no céu acima de nós. Gritamos em satisfação e nos abraçamos em comemoração, sem nos soltarmos completamente ao nos encararmos. fez carinho na maçã de meu rosto. Nuvens esbranquiçadas saiam com o ar quente de nossas bocas. As respirações aceleradas, já não por causa da celebração, mas pela proximidade. trouxe seus lábios mais próximos aos meus, hesitei. Talvez tivéssemos bebido um pouco demais e perdido a capacidade de analisar as consequências ou talvez fosse exatamente disso que precisássemos.
- A única coisa que tenho pensado é em nós. – começou em um sussurro. O barulho dos fogos de artifício agora parecia distante. - Posso ouvir você pensando sobre isso também.
Ficamos em silêncio novamente. Então, nossas bocas se encontraram em uma dança ritmada, logo também nossas línguas. Era como um daqueles filmes musicais, onde se voa entre estrelas quando se dá o primeiro beijo em quem se espera por tempo demais. Não medi a duração daquele momento, mas quando acabou queria mais. Ao invés disso, respirei fundo. Caminhamos de volta sem dizer nada, mas nossos dedos se entrelaçaram. Arruinamos a amizade. Como isso parecia encaixar tão certo? Fingimos que nada demais tinha acontecido para nossos pais, mas quando nos despedimos corri para o quarto e joguei-me na cama. Só conseguia pensar em como queria beijar outra vez.
- Hey. - Consegui dizer.
- Hey. - respondeu.
Nos abraçamos sem realmente nos abraçar. A reunião familiar se estendeu até o começo da madrugada, então os pais de decidiram que era hora de ir. perguntou se poderia ficar mais um pouco e minha mãe se prontificou dizendo que poderia até dormir ali se quisesse. Para minha surpresa, aceitou o convite. A distração anterior não me deixou perceber, mas eu ansiava por um momento a sós e finalmente tivemos a oportunidade quando meus pais foram dormir.
- Acho que ninguém vai reparar se finalizarmos a garrafa de champanhe, certo? - Perguntei, nos servindo.
- Se repararem, negarei até o fim! - Rimos.
- Feliz Natal. - Ergui meu copo no ar e fez o mesmo.
- Feliz Natal.
Batemos nossos copos em um brinde. Uma neve fina começou a cair paciente lá fora.
- ESTÁ NEVANDO! - Me animei correndo para a varanda.
- Isso me faz lembrar do Japão. - disse.
Desviei o olhar com medo que percebesse minha melancolia. Sempre pensava sobre minha vontade de ter assentido quando mencionou, naquela noite, que o que tínhamos era mais que uma amizade. Para tentar reprimir-me de voltar a pensar sobre isso deixei que minha mente viajasse a coisas bem mais antigas, recordei-me das brincadeiras em poças durante os dias chuvosos e a lama que nem as galochas impediam que chegassem às nossas roupas. Comentei em voz alta e gargalhamos.
- Há boatos que banho de lama é ótimo para a pele. - disse.
- Aquela lama com certeza fez bem para nossas peles. - Caçoei e riu alto demais.
- Shhhh... - Segurei seu riso colocando uma mão desajeitadamente sobre seus lábios.
Senti certo desconforto sobre esse gesto automático e percebi que a pele de meu rosto queimou. Como era estranho trazer de volta aquele contato físico involuntário e intimista que antes era tão comum entre nós. O contato visual e físico mudara completamente, estávamos sempre nos esbarrando quando crianças, nos abraçando e nos olhando olho no olho. Agora o afastamento físico era o mesmo de duas pessoas desconhecidas. Os olhares eram tímidos o bastante para não se demorarem demais, cordiais. Questionava como conseguíamos ser tão livres desses limites tão poucos anos atrás. Apesar de todo meu constrangimento momentâneo, não pareceu se importar. Bebemos mais alguns goles de champanhe.
- Okay, talvez a gente não devesse se alterar demais na casa dos seus pais.
- Parece que temos quinze anos de novo e tentamos entrar tarde da noite, sem que percebam, depois de beber demais. - Respondi.
Rimos mais, agora abafando o som.
- Igual aquele luau que fomos uma vez. - lembrou.
- Seu sucesso já começou naquele dia!
- Não exagera.
- Um ano depois você estava “estourando nas paradas”. - Fiz aspas com os dedos. Rimos, mas o silêncio que se seguiu combinava bem com os anos que passaram após aquele tempo. No início, ainda conseguíamos manter contato, mas isso foi diminuindo gradativamente. - Você levou aquele seu violão velhinho naquele luau.
Um ar nostálgico pairou sobre nós.
- Era para supostamente estarmos contando as novidades. - disse e gargalhamos outra vez.
Conversar nunca era desagradável com , mesmo que nossos ombros ou pernas não se esbarrassem mais e os olhares agora vacilantes. Estar com era sempre aconchegante e tinha cheiro de casa, não importava quantos anos passassem.
- Você parece feliz... De verdade... - observou com o tom de voz manso. Aquele sorriso voltara, do qual não conseguia me desvencilhar mesmo há milhas de distância.
- Sim. Finalmente estou feliz com quem sou.
- Você conheceu muita coisa, não é?
- Você também, aposto.
- Quero ver as fotografias.
Trouxe o álbum para a varanda, onde sentávamos ao chão, abri-o tentando evitar a primeira página, a qual dediquei àquela imagem de dormindo no sofá de meu apartamento no Japão, mas percebeu e insistiu em ver.
- Sou sua primeira página? - Maldito sorriso, maldita sensação em meu estômago.
- Não fique se achando. – Apontei o dedo indicador de brincadeira.
- Guardei seus cartões postais. - admitiu sem me olhar. - Só pra me lembrar de como você é muito mais vintage que eu.
Minha vez de sorrir.
- Comprei seu novo álbum. - Admiti. Quando soube que tinha um novo lançamento, procurei desesperadamente uma loja de discos só para comprar um e escutar onde fosse possível.
- Você gostou? Quer dizer, não é , mas...
- Tá de brincadeira? É claro que gostei. - com certeza era um dos meus mais profundos deleites musicais, mas era meu mais profundo deleite pessoal, o que tornava qualquer coisa que soasse em sua voz um prazer. - Suas músicas tocaram em ilhas por aí mais de uma vez.
parecia radiante, provavelmente eu também, porque era exatamente como me sentia.
- Quem é? Está em várias fotos.
perguntou sobre um romance de minha caminhada e seus olhos indicavam curiosidade.
- Um romance de verão.
- Ah vamos... - riu encontrando mais fotos. Em uma usávamos suéteres de natal. - Não me parece tão passageiro. Conte mais.
- Nos conhecemos na Tailândia, no verão. Me ensinou a velejar e fizemos isso por algum tempo. Uns seis meses. Depois do fim de ano seguimos rotas diferentes. Foi só.
- Vocês combinavam.
Gargalhei debochadamente. Havia tido esse breve romance com alguém que sabia pouco sobre e foi legal por um tempo. Decidi parar depois de perceber que se tratava mais de ter uma companhia do que realmente sentir alguma coisa.
- E você?
- Eu o quê? - devolveu naquele jogo de fingir desinteresse.
- Conheceu alguém?
- Sim e não... - riu quando fiz uma expressão de “fala sério”. - É complicado...
- Complicado como? - Insisti. Nunca havia pensado realmente em tendo um relacionamento amoroso. Já havíamos ficado com outras pessoas, mas nunca nada que durasse como experiência válida de relacionamento. Não sabia que aquela ideia me causava certa ansiedade.
- Não era exatamente compromisso assumido. Não sei bem o que era. Fomos e voltamos várias vezes, escondendo da mídia, mas fizeram especulações, você sabe.
- Posso imaginar. – Pensei nas vezes que nós havíamos virado notícia sem realmente ser. – É da música também?
- Não. Modelo. Mas enfim, faz um tempinho que não nos falamos, então acho que acabou... - parecia em uma confusão interna angustiante. - Na verdade, nunca nem começou.
fixou os olhos em mim sem sinal de que desistiria pela primeira vez desde nosso “hey” na porta de entrada. Decidi encarar a neve ao chão, branquinha por cima onde acaba de cair, mas já castigada em baixo, onde estava por mais tempo. Senti que muito do que não era superficial em nós não precisaria ser dito para que compartilhássemos, era como se lêssemos nossas mentes em um acordo telepático e silencioso, mesmo depois de tanto tempo. Conversamos sobre as infinitas novidades de três anos, quase a noite inteira, só ao amanhecer voltamos para dentro de casa e nos jogamos no sofá para assistir o mesmo filme de sempre: . Se fechasse os olhos estaria de volta àquela noite no Japão que marcara a jornada que decidira fazer, não fosse pelos muffins feitos com carinho pela mãe de , que estavam sobre a mesinha central. O filme mal havia começado e já estava de olhos fechados. Acariciei seu cabelo.
- Sabe... – murmurou ainda de olhos fechados. – Continuo sem te tirar da cabeça.
Abri um sorriso silencioso, já parecia ter dormido. Suspirei.
- Você nunca saiu da minha também... – Sussurrei tão baixo que duvidei que alguém, além de mim, poderia ter escutado.
Em minha jornada sem rumo, quando encontrava sinal para o celular me segurava para não ligar dizendo: “acho que amo você”, tantas vezes guardei essa vontade por parecer absurda, precisei escondê-la de meus próprios pensamentos. Agora, lado a lado com , esse querer se desprendera, avassalador. Invadiu todos os muros que construí contra, por tanto tempo. Já não éramos mais adolescentes, mas ainda nos adorávamos em segredo. Porém, isso acabaria no primeiro dia do novo ano. Sempre acabava.
Deliciosos e torturantes foram os dias seguintes. Estava com o tempo inteiro e qualquer estranhamento entre nós fora quebrado, enquanto tocava e murmurava qualquer canção no violão e eu lia um livro ao seu lado. Hora na casa dos meus pais, hora na casa dos pais de .
“Você tem planos para esta noite?”
A voz de soou em meu celular pela manhã. Pisquei lentamente com o sono ainda me fazendo variar. Da última vez que perguntara aquilo, foi parte de uma mudança completa no curso de minha vida. Decidimos que, naquela noite gelada de 31 de dezembro, depois da comemoração em família, iríamos até a pequena serra de nossa cidade, para ver os fogos, como na infância. Algumas pessoas costumavam encarar o frio para isso. Da família, somente nós porque nossos pais e a irmã de afirmaram que não sairiam naquele vento por nada. Camadas de gelo faziam o chão ficar escorregadio e subimos com certa dificuldade a superfície rochosa. Estava quase deserto o lugar a não ser por um ou outro casal que se arriscava mais longe.
- Bom, é quase o Monte Fuji... - Brinquei quando observamos as luzes da cidade.
- Diria que é até melhor. – devolveu.
Estava quase na hora dos fogos, então nos preparamos para a contagem regressiva.
- 10... 9... 8... - Gritávamos para o nada. – 3... 2... 1...
Escuridão e silêncio. Contamos antes do tempo. Gargalhamos e de repente cores vivas explodiram no céu acima de nós. Gritamos em satisfação e nos abraçamos em comemoração, sem nos soltarmos completamente ao nos encararmos. fez carinho na maçã de meu rosto. Nuvens esbranquiçadas saiam com o ar quente de nossas bocas. As respirações aceleradas, já não por causa da celebração, mas pela proximidade. trouxe seus lábios mais próximos aos meus, hesitei. Talvez tivéssemos bebido um pouco demais e perdido a capacidade de analisar as consequências ou talvez fosse exatamente disso que precisássemos.
- A única coisa que tenho pensado é em nós. – começou em um sussurro. O barulho dos fogos de artifício agora parecia distante. - Posso ouvir você pensando sobre isso também.
Ficamos em silêncio novamente. Então, nossas bocas se encontraram em uma dança ritmada, logo também nossas línguas. Era como um daqueles filmes musicais, onde se voa entre estrelas quando se dá o primeiro beijo em quem se espera por tempo demais. Não medi a duração daquele momento, mas quando acabou queria mais. Ao invés disso, respirei fundo. Caminhamos de volta sem dizer nada, mas nossos dedos se entrelaçaram. Arruinamos a amizade. Como isso parecia encaixar tão certo? Fingimos que nada demais tinha acontecido para nossos pais, mas quando nos despedimos corri para o quarto e joguei-me na cama. Só conseguia pensar em como queria beijar outra vez.
VERSE 4.
Estava com medo de pesquisar nossos nomes no Google no dia seguinte. Alívio quando percebi que praticamente não havia nada. Ninguém estava realmente interessado em shippar a gente mais, afinal já havia criado especulações suficientes com outras pessoas para que desviassem a atenção de mim. O som da campainha me deu arrepios. Último dia. Almoçamos todos juntos. Os pais e a irmã de continuariam por ali, em nossas casas comuns. Eu e éramos as únicas incógnitas.
- Quer dar uma volta? – perguntou quando seus pais e sua irmã iam em direção ao carro para ir embora.
Sorri e peguei meu casaco. Ouvi informar que os encontraria depois e prometeu que não se atrasaria. Queria que se atrasasse só para ter mais tempo, pensei, apesar de soar egoísta. Fomos caminhar pela ponte que cortava rio do lugar, para observar as árvores e a água congeladas.
- Esse dia está tão para baixo. – começou passando a andar de costas olhando diretamente para mim, as mãos nos bolsos. – Talvez devêssemos dançar!
parou, consequentemente interrompendo minha caminhada.
- Dançar? – Ri, questionando. assentiu. – Aqui no meio da ponte?
- Mas é claro.
me envolveu nos braços e levou uma das mãos grudada na minha para o lado, como em uma valsa. começou a balançar nossos corpos, mas não cedi.
- , para. – Olhei em volta com certo constrangimento, mas já começara a gargalhar. – Nem música temos.
- Eu canto para você.
Passou a cantarolar. Nossos corpos próximos demais para ser saudável a meus pensamentos.
- So close with you on my lips
Touch noses, feeling your breath
Push your heart and pull away, yeah... – Conhecia bem aquela letra, eu já escutara tantas vezes. estava me deixando em desespero.
- O que é que estamos fazendo? – Me afastei.
- Dançando. – manteve o bom humor e lancei um olhar repreensivo. – O que foi?
- Estamos transgredindo todas as regras que se aplicam a amizade.
- Não existem regras para amizade.
- Existem quando sentimos alguma coisa.
Silêncio pelo que pareceram horas, mas que provavelmente eram segundos.
- Podemos fazer funcionar...
- Já tivemos essa conversa antes.
- Você pode tirar fotos em qualquer lugar.
- Em qualquer lugar que você esteja? – Irritei-me sem alterar a voz. suspirou, olhando para os lados antes de olhar de novo para mim.
- Não foi isso que eu quis dizer.
Meu corpo sentia a inquietação.
- Eu sei... Me desculpe. – Quebrei a quietude.
- É só que... – parou. - Só me sinto eu de verdade quando estou com você. No resto, por mais que ame a música e fãs, sou um poço de ansiedade. Há momentos que sinto como se não conseguisse respirar e há outros que me sinto nas nuvens. Mas, sabe o que me vem à cabeça em qualquer um deles? Você.
- ... – Encarei o chão, pois não conseguiria manter seu olhar suplicante sobre o meu. – Confundir as coisas pode nos fazer perder tudo.
- Ou ganhar ainda mais.
- Não sei se quero arriscar para descobrir. – Dei de ombros indicando que não sabia o que mais dizer.
Depois de algum tempo em que nos encarávamos sem nada dizer. passou um braço sobre meus ombros e voltamos a caminhar.
- Mas, e agora? Para onde vai? – Relaxei quando percebi que mudara de assunto.
- Califórnia. – Rimos. – Brincadeira. Preciso ficar pelas redondezas, ganhar uma grana.
- Tenho um show na Califórnia em setembro. – falava pausadamente. - É um festival de música, talvez possamos aproveitar. Assim não ficamos mais três anos sem nos ver.
Não consegui conter um sorriso mesmo balançando a cabeça em negativa. A proposta era tentadora. Se realmente estiver na Califórnia provavelmente vou lembrar da proposta, mas eram meses pela frente, tudo poderia mudar até lá. Continuei minha jornada nos arredores de nossa cidade. Sempre acreditei que precisava ir longe para encontrar coisas novas, como realmente fiz, mas por ali também se podia encontrar muita coisa. Curti o tempo com minha família e até mesmo com a família de . A ocupação tornou a nos fazer ter pouco contato, como de costume. Mensagens esporádicas me informavam de que estava bem. Era como já esperava, mas ainda assombrava meus pensamentos. Principalmente depois de ter sentido o gosto de seus lábios que antes somente meus sonhos experimentavam.
No início de sua carreira, algumas pessoas na internet criaram um shipp tamanho sobre nós que chegava a dar medo, outras tinham tanta raiva de um relacionamento amoroso não existente que dava ainda mais arrepios. Isso amenizou muito depois de tanto tempo longe e a estranha e misteriosa história de com uma pessoa de quem procurei fotos para tentar saber mais sobre, mas nunca era suficiente. Parei depois da primeira semana que nos despedimos. Ainda havia várias outras coisas na qual pensar. Fazer trabalho voluntário em Port Elizabeth na África do Sul ou em Jaipur na Índia, conhecer o deserto do Atacama no Chile, talvez conhecer o Griffith Park na Califórnia. Califórnia. Estávamos em agosto agora e eu pensava constantemente na proposta de , que parecia esquecida em uma gaveta velha. Porém, no último dia de agosto meu celular vibrou pela manhã enquanto me preparava para uma trilha. Quando verifiquei era . Meu coração costumava palpitar toda bendita vez. A foto mostrava uma credencial de acesso à imprensa para o festival com meu nome e uma passagem de avião para Los Angeles.
“Você tem planos para setembro?”
escreveu e adicionou um emoji de riso. Não consegui responder na hora. Mas, quando dei por mim, já estava no avião no voo. Ver e ainda conhecer um dos lugares que mais gostaria? Era tentador demais. tocaria no segundo dia do festival, mas chegaríamos no dia anterior. Soube que reservara um quarto para mim no hotel que estaria e tentei ligar protestando, mas não conseguimos nos falar com tempo. contou que estaria no quarto de frente com o meu e combinamos que nos encontraríamos na plateia vip do evento, já que eu queria dar uma passeada pela cidade e estaria com a agenda cheia de compromissos mesmo que ainda não fosse o dia de sua apresentação, mas decidir bater na sua porta pela manhã para dar um oi antes de sair para explorar a localidade. Sabia que estaria de pé, pois me contara o horário do primeiro compromisso. Quem atendeu foi outra pessoa, ainda de pijama que me analisou de cima a baixo.
- Ah. Oi. Desculpe... Eu... - Fiquei sem graça.
- ! - Escutei a voz de tão clara quanto a minha própria. Palpitação.
- !
passou pela pessoa na porta e me abraçou com força. Fiquei imóvel. Não sabia se deveria abraçar de volta, já que a pessoa ainda nos encarava sem qualquer reação.
- Achei que você ainda estivesse dormindo. É bom te ver. - se afastou agora.
Eu sorria, mas continuava sem saber como agir.
- . . . . – nos apresentou.
Nos cumprimentamos secamente. "Modelo", as palavras de ressoaram em minha mente. Não sabia que tinha companhia e agora me sentia como a pessoa mais idiota do universo. “Talvez fosse melhor ter ido para outro país”, pensei e depois afastei a ideia. Aproveitaria a Califórnia de qualquer maneira. Nunca havia me sentido mal com o silêncio entre mim e antes, mas naquele momento ansiava por dizer qualquer coisa que viesse em minha mente para quebra-lo.
- Bom... vou nessa! Só passei para dizer um oi e agradecer... por tudo. - Sorri e sorriu mais.
- Amizade é pra isso! - disse.
- Prazer em conhecer. - Disse para que só assentiu com a expressão séria.
Fui em direção ao elevador. Só respirei de novo quando as portas fecharam na minha frente e o jazz soava leve no alto-falante. Uma música tão boa que teria lamentado estar destinada a um elevador, se não fosse pelo meu estado de espírito. e voltaram. não dissera uma palavra sobre isso. Talvez fosse recente, mas o que eu esperava afinal? Passar dois dias com curtindo um festival e...? Não, claro que não. Ou talvez sim. Naquele momento a única coisa que minha mente se atentava era e o porquê de não ter me alertado do que encontraria. Sabia que era uma relação de idas e vindas, não me devia explicações, mas eu gostaria muito de pelo menos ter uma ideia. Bati na porta sem saber de nada, não era para parecer que estava tentando alguma coisa, mas me encarou como se fosse um péssimo inesperado. Seria melhor ter esperado para o encontro no evento. Andei sem rumo por Los Angeles, só para me familiarizar com o ambiente. Era tudo estonteante de tão lindo. Sentei em um banquinho enquanto admirava a arquitetura do Griffith Observatory, me obrigando a parar de pensar em qualquer outra coisa.
- Quer dar uma volta? – perguntou quando seus pais e sua irmã iam em direção ao carro para ir embora.
Sorri e peguei meu casaco. Ouvi informar que os encontraria depois e prometeu que não se atrasaria. Queria que se atrasasse só para ter mais tempo, pensei, apesar de soar egoísta. Fomos caminhar pela ponte que cortava rio do lugar, para observar as árvores e a água congeladas.
- Esse dia está tão para baixo. – começou passando a andar de costas olhando diretamente para mim, as mãos nos bolsos. – Talvez devêssemos dançar!
parou, consequentemente interrompendo minha caminhada.
- Dançar? – Ri, questionando. assentiu. – Aqui no meio da ponte?
- Mas é claro.
me envolveu nos braços e levou uma das mãos grudada na minha para o lado, como em uma valsa. começou a balançar nossos corpos, mas não cedi.
- , para. – Olhei em volta com certo constrangimento, mas já começara a gargalhar. – Nem música temos.
- Eu canto para você.
Passou a cantarolar. Nossos corpos próximos demais para ser saudável a meus pensamentos.
- So close with you on my lips
Touch noses, feeling your breath
Push your heart and pull away, yeah... – Conhecia bem aquela letra, eu já escutara tantas vezes. estava me deixando em desespero.
- O que é que estamos fazendo? – Me afastei.
- Dançando. – manteve o bom humor e lancei um olhar repreensivo. – O que foi?
- Estamos transgredindo todas as regras que se aplicam a amizade.
- Não existem regras para amizade.
- Existem quando sentimos alguma coisa.
Silêncio pelo que pareceram horas, mas que provavelmente eram segundos.
- Podemos fazer funcionar...
- Já tivemos essa conversa antes.
- Você pode tirar fotos em qualquer lugar.
- Em qualquer lugar que você esteja? – Irritei-me sem alterar a voz. suspirou, olhando para os lados antes de olhar de novo para mim.
- Não foi isso que eu quis dizer.
Meu corpo sentia a inquietação.
- Eu sei... Me desculpe. – Quebrei a quietude.
- É só que... – parou. - Só me sinto eu de verdade quando estou com você. No resto, por mais que ame a música e fãs, sou um poço de ansiedade. Há momentos que sinto como se não conseguisse respirar e há outros que me sinto nas nuvens. Mas, sabe o que me vem à cabeça em qualquer um deles? Você.
- ... – Encarei o chão, pois não conseguiria manter seu olhar suplicante sobre o meu. – Confundir as coisas pode nos fazer perder tudo.
- Ou ganhar ainda mais.
- Não sei se quero arriscar para descobrir. – Dei de ombros indicando que não sabia o que mais dizer.
Depois de algum tempo em que nos encarávamos sem nada dizer. passou um braço sobre meus ombros e voltamos a caminhar.
- Mas, e agora? Para onde vai? – Relaxei quando percebi que mudara de assunto.
- Califórnia. – Rimos. – Brincadeira. Preciso ficar pelas redondezas, ganhar uma grana.
- Tenho um show na Califórnia em setembro. – falava pausadamente. - É um festival de música, talvez possamos aproveitar. Assim não ficamos mais três anos sem nos ver.
Não consegui conter um sorriso mesmo balançando a cabeça em negativa. A proposta era tentadora. Se realmente estiver na Califórnia provavelmente vou lembrar da proposta, mas eram meses pela frente, tudo poderia mudar até lá. Continuei minha jornada nos arredores de nossa cidade. Sempre acreditei que precisava ir longe para encontrar coisas novas, como realmente fiz, mas por ali também se podia encontrar muita coisa. Curti o tempo com minha família e até mesmo com a família de . A ocupação tornou a nos fazer ter pouco contato, como de costume. Mensagens esporádicas me informavam de que estava bem. Era como já esperava, mas ainda assombrava meus pensamentos. Principalmente depois de ter sentido o gosto de seus lábios que antes somente meus sonhos experimentavam.
No início de sua carreira, algumas pessoas na internet criaram um shipp tamanho sobre nós que chegava a dar medo, outras tinham tanta raiva de um relacionamento amoroso não existente que dava ainda mais arrepios. Isso amenizou muito depois de tanto tempo longe e a estranha e misteriosa história de com uma pessoa de quem procurei fotos para tentar saber mais sobre, mas nunca era suficiente. Parei depois da primeira semana que nos despedimos. Ainda havia várias outras coisas na qual pensar. Fazer trabalho voluntário em Port Elizabeth na África do Sul ou em Jaipur na Índia, conhecer o deserto do Atacama no Chile, talvez conhecer o Griffith Park na Califórnia. Califórnia. Estávamos em agosto agora e eu pensava constantemente na proposta de , que parecia esquecida em uma gaveta velha. Porém, no último dia de agosto meu celular vibrou pela manhã enquanto me preparava para uma trilha. Quando verifiquei era . Meu coração costumava palpitar toda bendita vez. A foto mostrava uma credencial de acesso à imprensa para o festival com meu nome e uma passagem de avião para Los Angeles.
“Você tem planos para setembro?”
escreveu e adicionou um emoji de riso. Não consegui responder na hora. Mas, quando dei por mim, já estava no avião no voo. Ver e ainda conhecer um dos lugares que mais gostaria? Era tentador demais. tocaria no segundo dia do festival, mas chegaríamos no dia anterior. Soube que reservara um quarto para mim no hotel que estaria e tentei ligar protestando, mas não conseguimos nos falar com tempo. contou que estaria no quarto de frente com o meu e combinamos que nos encontraríamos na plateia vip do evento, já que eu queria dar uma passeada pela cidade e estaria com a agenda cheia de compromissos mesmo que ainda não fosse o dia de sua apresentação, mas decidir bater na sua porta pela manhã para dar um oi antes de sair para explorar a localidade. Sabia que estaria de pé, pois me contara o horário do primeiro compromisso. Quem atendeu foi outra pessoa, ainda de pijama que me analisou de cima a baixo.
- Ah. Oi. Desculpe... Eu... - Fiquei sem graça.
- ! - Escutei a voz de tão clara quanto a minha própria. Palpitação.
- !
passou pela pessoa na porta e me abraçou com força. Fiquei imóvel. Não sabia se deveria abraçar de volta, já que a pessoa ainda nos encarava sem qualquer reação.
- Achei que você ainda estivesse dormindo. É bom te ver. - se afastou agora.
Eu sorria, mas continuava sem saber como agir.
- . . . . – nos apresentou.
Nos cumprimentamos secamente. "Modelo", as palavras de ressoaram em minha mente. Não sabia que tinha companhia e agora me sentia como a pessoa mais idiota do universo. “Talvez fosse melhor ter ido para outro país”, pensei e depois afastei a ideia. Aproveitaria a Califórnia de qualquer maneira. Nunca havia me sentido mal com o silêncio entre mim e antes, mas naquele momento ansiava por dizer qualquer coisa que viesse em minha mente para quebra-lo.
- Bom... vou nessa! Só passei para dizer um oi e agradecer... por tudo. - Sorri e sorriu mais.
- Amizade é pra isso! - disse.
- Prazer em conhecer. - Disse para que só assentiu com a expressão séria.
Fui em direção ao elevador. Só respirei de novo quando as portas fecharam na minha frente e o jazz soava leve no alto-falante. Uma música tão boa que teria lamentado estar destinada a um elevador, se não fosse pelo meu estado de espírito. e voltaram. não dissera uma palavra sobre isso. Talvez fosse recente, mas o que eu esperava afinal? Passar dois dias com curtindo um festival e...? Não, claro que não. Ou talvez sim. Naquele momento a única coisa que minha mente se atentava era e o porquê de não ter me alertado do que encontraria. Sabia que era uma relação de idas e vindas, não me devia explicações, mas eu gostaria muito de pelo menos ter uma ideia. Bati na porta sem saber de nada, não era para parecer que estava tentando alguma coisa, mas me encarou como se fosse um péssimo inesperado. Seria melhor ter esperado para o encontro no evento. Andei sem rumo por Los Angeles, só para me familiarizar com o ambiente. Era tudo estonteante de tão lindo. Sentei em um banquinho enquanto admirava a arquitetura do Griffith Observatory, me obrigando a parar de pensar em qualquer outra coisa.
INSTRUMENTAL.
O festival era fantástico. Com a credencial estava andando no meio das celebridades. Minha cabeça girava com tanta informação. Costumava ser melhor com a natureza do que com pessoas, me apresentou muita gente que provavelmente eu pensaria que conheci em sonho de tanto nervosismo. O hábito de com a multidão era visível. O de mais ainda. Era estranho em certo ponto, pois arriscava a dizer que flertava com algumas outras pessoas enquanto estava olhando para outro lado. Não participei do evento todo nesse primeiro dia, curti músicas de alguns artistas que realmente gostava, mas só tocaria no dia seguinte e eu queria caminhar na praia à luz do luar.
- Nós vamos sair do evento para jantar no restaurante do hotel a noite. – elevou a voz próximo a meu ouvido quando avisei que estava saindo e apontou para que nem prestava atenção em nós. – Se quiser ir também.
- Obrigada , mas... eu passo. – Falei aos gritos de volta ao ouvido de . Dei um sorriso para não parecer ruim. assentiu parecendo que queria se desculpar. – Não se preocupe, insisti.
Sai o mais rápido que pude da loucura. desde criança se destacava em dar atenção para várias pessoas, eu nunca entendi como. parecia sempre mais feliz na companhia dos outros do que na de e isso me incomodava. Porém, não cabia a mim julgar a maneira como decidiram se relacionar. Depois de um tempo caminhando pela praia e sentindo o mar em meus pés, decidi que era hora de voltar para o hotel. Entrei depressa sem olhar demais para os lados, não era bem um ambiente com o qual me sentia confortável, todo mundo era chique demais ou com olhares demasiadamente críticos.
- ! – Escutei a voz de quando entrei no elevador vazio e fechei os olhos para conter minha impaciência. Não estava no clima, mas colocou a mão para segurar o elevador e entrou comigo. – Você já voltou.
Concordei com a cabeça sem dizer mais nada.
- Olha, me desculpa. Sei que não falamos muito sobre nada e...
- , - Suspirei. - sinto que caí no meio de alguma coisa aqui.
- Não, está tudo certo. e eu somos assim, estamos sempre precisando acertar algumas coisas.
- Ok, ótimo para vocês, mas sou eu quem não está se sentindo confortável com isso. Você me chamou para vir aqui, disse que queria que aproveitássemos o festival e todo esse tempo ia trazer alguém com quem está namorando... E você não disse nada! – Não gritava, mas minha voz estava alterada, acelerada. O nervosismo tomava conta de mim.
- Só queria me divertir com você.
- Esse é o ponto, . Não sou sua diversão, não estou aqui para suprir sua infelicidade com outra pessoa.
- Não é isso. Só queria te ver, você é a única amizade verdadeira que eu tenho. Você não viria se eu contasse que eu e voltamos.
O elevador parou novamente e apertou o botão do terraço, fazendo as portas fecharem outra vez.
- Não. Eu não viria mesmo, . – Minha voz estabilizou novamente. - Estou pensando em ir para casa agora mesmo. E sabe por que? Porque você está em uma bagunça gigantesca. Gigantesca, ! E ainda quer fingir que tudo está perfeitamente bem.
- Não estou em nenhuma bagunça.
- Está vendo? Está negando de novo. – Joguei os braços para o alto em um rápido movimento. Saindo quando o elevador apitou. – Você imaginou como se sentiu quando eu apareci batendo na porta do quarto de vocês?
- Mas isso não ter nada a ver...
- Nada a ver só porque o constrangimento não foi seu. - Interrompi. - Você ao menos contou que eu viria?
- Não... - encarou o chão.
- Sabia. - Fiz uma careta. Agora estávamos no terraço vazio do prédio. - Você está mantendo um relacionamento quase de fachada, vocês preferem estar na companhia de outros o tempo inteiro e agora me meteu nessa, mas não vim aqui para isso.
- Você só está com ciúmes.
Fechei a expressão, agora lágrimas surgiram raivosas em meus olhos. Decidi não dizer mais nada, não adiantaria. já parecia ter se arrependido, mas voltei para o elevador.
- . Espera. Me desculpe, eu... – começou.
- ESQUECE! – Virei-me para alterando a voz novamente. – Boa sorte com tudo de superficialmente maravilhoso da sua vida, mas não me procure quando cansar de tudo isso.
Enquanto o elevador descia para o andar do quarto em que eu ficava deixei que as lágrimas escorressem. Dei um grito contido para extravasar antes de ir direto para cama. No outro dia, decidi não ver o show. Fiz check-out bem cedo e fiquei o restante do dia tirando fotos daquela cidade incrível, até o horário do voo de volta. me ligou várias vezes, não atendi nenhuma. Precisávamos respirar ar puro antes de conversarmos novamente.
Aproveitei para ir para casa de meus pais e eles me perguntaram como foi, dei uma resposta enrolada. Decidi revirar as coisas no que guardara no quarto destinado a mim e encontrei o ursinho que me deu aquela vez no Japão. Quis abraçar o ursinho por um momento, mas o joguei sobre a cama. Depois de mexer e remexer em mais lembranças, percebi o ursinho ainda me encarando do outro lado da cama e pensei em Tokyo, especificamente nas galerias de fotografia que visitei, desde as maiores como a Tokyo Photographic Art Museum e Photo Gallery International, até uma pequena em particular que eu sempre ia para conseguir organizar os pensamentos e apreciar trabalhos incríveis que não eram de grandes coleções, chamada Gallery 916. Aqueles corredores brancos com quadros na parede me faziam viajar mentalmente. Naquela época, eu não fotografava fazia tempo e entrar naquela galeria me fazia suspirar. Agora eu tinha milhares de novas fotos. Olhei para as polaroids encaixadas no álbum. As fotos em meu melhor estilo William Eggleston de street photography e atenção nas cores, ou Mary Ellen Mark quando em filme monocromático registrava os lugares mais esquecidos pela sociedade que já conheci. Tão pequenas, mas tão autênticas.
- Gallery 916... – Murmurei.
Talvez fosse o momento de dar atenção de verdade à essas fotografias. Decidi separar as mais significativas, que se relacionavam. Enviaria como portfólio, pelo correio. Era uma chance que precisava me dar. costumava dizer que eu não deveria esconder meu talento do mundo. Suspirei. Olhava para meu celular algumas frenéticas vezes. não ligou mais e eu também não ligaria, pelo tempo que achava suficiente pelo menos.
***
Alguns meses passaram sem feedback algum da galeria. Minha mãe me dizia para que eu tivesse paciência, mas minhas esperanças já estavam zerando. Li algumas manchetes sobre e , mas as informações reais vinham de seus pais, com quem de vez em quando me encontrava. Reencontrei algumas amizades antigas. Quando retornei de um passeio de caiaque em uma tarde, entrei em meu e-mail como normalmente, para checar o que havia de novidade. Em negrito estava o nome Gallery 916.
- NÃO PODE SER!
Disse alto demais, chamando atenção de minha mãe, que correra até meu quarto. Ela e meu pai se preparavam para ir até a empresa pela segunda vez no dia.
- O que foi? – Ela perguntou.
Apontei para o e-mail na tela. Um riso saiu de meus lábios tão falho quanto minha respiração se tornara. Ela ficou tão ansiosa quanto eu e chamou meu pai. Os dois ficaram parados ao meu lado com todo aquele nervosismo. Encarava o e-mail sem coragem alguma de me mover.
- Querem que eu vá para Tokyo. – Meus olhos começaram a marejar. - Querem que eu vá para Gallery 916 para verificar a possibilidade de uma exposição!
Dei um gritinho e me joguei nos braços de meus pais, que logo já estavam chorando junto comigo.
- Você realmente tem uma ligação com esse país, não é possível. – Minha mãe chorava enquanto falava e já não sabia se era de alegria ou por saber que iria embora novamente.
- Está tudo bem, mãe. Eu vou voltar. – Sorrimos.
- Estou muito orgulhosa! – Minha mãe disse.
Liguei para naquele dia. Não ouve resposta. Decidi mandar uma mensagem.
“Oi, . Sei que tudo está estranho, mas... queria contar que vou voltar para o Japão. Mandei minhas fotografias para Gallery 916, em Tokyo, aquela sobre a qual já te contei. Querem falar sobre uma exposição. Você sempre me disse que eu deveria mostrar minhas fotografias para o mundo. Vou mostrá-las.”
Enviar.
Eu e sempre compartilhamos nossos sonhos. Conseguira ver e pular de alegria pela conquista que alcançou, agora queria compartilhar que estava vivendo finalmente a minha. Além de meus pais, era com que queria conversar sobre. Meu celular apitou só depois de várias horas. Era madrugada e eu havia dormido com o celular tão próximo que me assustei quando apitou. Outra vez o som de mensagem, agora eu estava acordada o bastante. Quase o derrubei na pressa em ver o que era. Pisquei várias vezes me acostumando com a iluminação.
“WOW. EU SABIA! Vou querer o convite para o lançamento!”
“Ah e me desculpe, estava com a produção.”
Sorri, lendo e relendo as mensagens. Aquela noite que apareceu tocando o interfone do meu apartamento sem parar em Tokyo fora muito importante. Tantos anos. Não importava o tempo, ou onde estivéssemos, ou com quem estávamos. sempre respondia como se não houvesse nada de errado entre nós, porque não havia. Encaixávamos perfeitamente, encaixávamos até quando brigávamos, mas sempre insisti em não tentar. Vivia irritada com essa decisão.
- Argh. – Disse para mim pensando em quanto tempo perdi.
Respondi dizendo que era para se preparar para conhecer minha galeria favorita em Tokyo. respondeu novamente, dizendo que nunca perderia essa. Fechei meus olhos sorrindo outra vez. No outro dia, eu precisava fazer as malas. Estava voltando para o Japão.
- Nós vamos sair do evento para jantar no restaurante do hotel a noite. – elevou a voz próximo a meu ouvido quando avisei que estava saindo e apontou para que nem prestava atenção em nós. – Se quiser ir também.
- Obrigada , mas... eu passo. – Falei aos gritos de volta ao ouvido de . Dei um sorriso para não parecer ruim. assentiu parecendo que queria se desculpar. – Não se preocupe, insisti.
Sai o mais rápido que pude da loucura. desde criança se destacava em dar atenção para várias pessoas, eu nunca entendi como. parecia sempre mais feliz na companhia dos outros do que na de e isso me incomodava. Porém, não cabia a mim julgar a maneira como decidiram se relacionar. Depois de um tempo caminhando pela praia e sentindo o mar em meus pés, decidi que era hora de voltar para o hotel. Entrei depressa sem olhar demais para os lados, não era bem um ambiente com o qual me sentia confortável, todo mundo era chique demais ou com olhares demasiadamente críticos.
- ! – Escutei a voz de quando entrei no elevador vazio e fechei os olhos para conter minha impaciência. Não estava no clima, mas colocou a mão para segurar o elevador e entrou comigo. – Você já voltou.
Concordei com a cabeça sem dizer mais nada.
- Olha, me desculpa. Sei que não falamos muito sobre nada e...
- , - Suspirei. - sinto que caí no meio de alguma coisa aqui.
- Não, está tudo certo. e eu somos assim, estamos sempre precisando acertar algumas coisas.
- Ok, ótimo para vocês, mas sou eu quem não está se sentindo confortável com isso. Você me chamou para vir aqui, disse que queria que aproveitássemos o festival e todo esse tempo ia trazer alguém com quem está namorando... E você não disse nada! – Não gritava, mas minha voz estava alterada, acelerada. O nervosismo tomava conta de mim.
- Só queria me divertir com você.
- Esse é o ponto, . Não sou sua diversão, não estou aqui para suprir sua infelicidade com outra pessoa.
- Não é isso. Só queria te ver, você é a única amizade verdadeira que eu tenho. Você não viria se eu contasse que eu e voltamos.
O elevador parou novamente e apertou o botão do terraço, fazendo as portas fecharem outra vez.
- Não. Eu não viria mesmo, . – Minha voz estabilizou novamente. - Estou pensando em ir para casa agora mesmo. E sabe por que? Porque você está em uma bagunça gigantesca. Gigantesca, ! E ainda quer fingir que tudo está perfeitamente bem.
- Não estou em nenhuma bagunça.
- Está vendo? Está negando de novo. – Joguei os braços para o alto em um rápido movimento. Saindo quando o elevador apitou. – Você imaginou como se sentiu quando eu apareci batendo na porta do quarto de vocês?
- Mas isso não ter nada a ver...
- Nada a ver só porque o constrangimento não foi seu. - Interrompi. - Você ao menos contou que eu viria?
- Não... - encarou o chão.
- Sabia. - Fiz uma careta. Agora estávamos no terraço vazio do prédio. - Você está mantendo um relacionamento quase de fachada, vocês preferem estar na companhia de outros o tempo inteiro e agora me meteu nessa, mas não vim aqui para isso.
- Você só está com ciúmes.
Fechei a expressão, agora lágrimas surgiram raivosas em meus olhos. Decidi não dizer mais nada, não adiantaria. já parecia ter se arrependido, mas voltei para o elevador.
- . Espera. Me desculpe, eu... – começou.
- ESQUECE! – Virei-me para alterando a voz novamente. – Boa sorte com tudo de superficialmente maravilhoso da sua vida, mas não me procure quando cansar de tudo isso.
Enquanto o elevador descia para o andar do quarto em que eu ficava deixei que as lágrimas escorressem. Dei um grito contido para extravasar antes de ir direto para cama. No outro dia, decidi não ver o show. Fiz check-out bem cedo e fiquei o restante do dia tirando fotos daquela cidade incrível, até o horário do voo de volta. me ligou várias vezes, não atendi nenhuma. Precisávamos respirar ar puro antes de conversarmos novamente.
Aproveitei para ir para casa de meus pais e eles me perguntaram como foi, dei uma resposta enrolada. Decidi revirar as coisas no que guardara no quarto destinado a mim e encontrei o ursinho que me deu aquela vez no Japão. Quis abraçar o ursinho por um momento, mas o joguei sobre a cama. Depois de mexer e remexer em mais lembranças, percebi o ursinho ainda me encarando do outro lado da cama e pensei em Tokyo, especificamente nas galerias de fotografia que visitei, desde as maiores como a Tokyo Photographic Art Museum e Photo Gallery International, até uma pequena em particular que eu sempre ia para conseguir organizar os pensamentos e apreciar trabalhos incríveis que não eram de grandes coleções, chamada Gallery 916. Aqueles corredores brancos com quadros na parede me faziam viajar mentalmente. Naquela época, eu não fotografava fazia tempo e entrar naquela galeria me fazia suspirar. Agora eu tinha milhares de novas fotos. Olhei para as polaroids encaixadas no álbum. As fotos em meu melhor estilo William Eggleston de street photography e atenção nas cores, ou Mary Ellen Mark quando em filme monocromático registrava os lugares mais esquecidos pela sociedade que já conheci. Tão pequenas, mas tão autênticas.
- Gallery 916... – Murmurei.
Talvez fosse o momento de dar atenção de verdade à essas fotografias. Decidi separar as mais significativas, que se relacionavam. Enviaria como portfólio, pelo correio. Era uma chance que precisava me dar. costumava dizer que eu não deveria esconder meu talento do mundo. Suspirei. Olhava para meu celular algumas frenéticas vezes. não ligou mais e eu também não ligaria, pelo tempo que achava suficiente pelo menos.
Alguns meses passaram sem feedback algum da galeria. Minha mãe me dizia para que eu tivesse paciência, mas minhas esperanças já estavam zerando. Li algumas manchetes sobre e , mas as informações reais vinham de seus pais, com quem de vez em quando me encontrava. Reencontrei algumas amizades antigas. Quando retornei de um passeio de caiaque em uma tarde, entrei em meu e-mail como normalmente, para checar o que havia de novidade. Em negrito estava o nome Gallery 916.
- NÃO PODE SER!
Disse alto demais, chamando atenção de minha mãe, que correra até meu quarto. Ela e meu pai se preparavam para ir até a empresa pela segunda vez no dia.
- O que foi? – Ela perguntou.
Apontei para o e-mail na tela. Um riso saiu de meus lábios tão falho quanto minha respiração se tornara. Ela ficou tão ansiosa quanto eu e chamou meu pai. Os dois ficaram parados ao meu lado com todo aquele nervosismo. Encarava o e-mail sem coragem alguma de me mover.
- Querem que eu vá para Tokyo. – Meus olhos começaram a marejar. - Querem que eu vá para Gallery 916 para verificar a possibilidade de uma exposição!
Dei um gritinho e me joguei nos braços de meus pais, que logo já estavam chorando junto comigo.
- Você realmente tem uma ligação com esse país, não é possível. – Minha mãe chorava enquanto falava e já não sabia se era de alegria ou por saber que iria embora novamente.
- Está tudo bem, mãe. Eu vou voltar. – Sorrimos.
- Estou muito orgulhosa! – Minha mãe disse.
Liguei para naquele dia. Não ouve resposta. Decidi mandar uma mensagem.
“Oi, . Sei que tudo está estranho, mas... queria contar que vou voltar para o Japão. Mandei minhas fotografias para Gallery 916, em Tokyo, aquela sobre a qual já te contei. Querem falar sobre uma exposição. Você sempre me disse que eu deveria mostrar minhas fotografias para o mundo. Vou mostrá-las.”
Enviar.
Eu e sempre compartilhamos nossos sonhos. Conseguira ver e pular de alegria pela conquista que alcançou, agora queria compartilhar que estava vivendo finalmente a minha. Além de meus pais, era com que queria conversar sobre. Meu celular apitou só depois de várias horas. Era madrugada e eu havia dormido com o celular tão próximo que me assustei quando apitou. Outra vez o som de mensagem, agora eu estava acordada o bastante. Quase o derrubei na pressa em ver o que era. Pisquei várias vezes me acostumando com a iluminação.
“WOW. EU SABIA! Vou querer o convite para o lançamento!”
“Ah e me desculpe, estava com a produção.”
Sorri, lendo e relendo as mensagens. Aquela noite que apareceu tocando o interfone do meu apartamento sem parar em Tokyo fora muito importante. Tantos anos. Não importava o tempo, ou onde estivéssemos, ou com quem estávamos. sempre respondia como se não houvesse nada de errado entre nós, porque não havia. Encaixávamos perfeitamente, encaixávamos até quando brigávamos, mas sempre insisti em não tentar. Vivia irritada com essa decisão.
- Argh. – Disse para mim pensando em quanto tempo perdi.
Respondi dizendo que era para se preparar para conhecer minha galeria favorita em Tokyo. respondeu novamente, dizendo que nunca perderia essa. Fechei meus olhos sorrindo outra vez. No outro dia, eu precisava fazer as malas. Estava voltando para o Japão.
FINALE.
A exposição pareceu demorar anos-luz para acontecer. Sabia que não seria simplesmente ir para o Japão e expor, mas a ansiedade estava me engolindo. Várias reuniões. Encontrar patrocínio, pensar em convites e publicidade. É claro que precisei investir toda a grana que havia me restado, mas ali deitada no meu quarto encarando o teto pensava no quanto estava feliz com aquela decisão. Finalmente haveria oportunidade de reconhecimento. Meus pais pareciam orgulhosos. Seu tempo era curto devido ao trabalho com a empresa, mas viriam quando a exposição acontecesse. Esperava que a família de viesse também. Buscava o conforto em novas aventuras.
Após algum tempo, lá estava eu, esperando para recepcionar quem quer que viesse prestigiar minhas fotografias. Minhas mãos suavam. Meus pais foram os primeiros a entrar por aquelas portas que guardavam meus sonhos em seu interior. Não apareceram muitas pessoas. A maioria eram meus conhecidos da época de faculdade no Japão. A família de avisara que não poderiam vir, mas sumira, nada dissera. Quando finalmente as portas continham o aviso de “fechado” e eu me despedia das últimas pessoas, a figura de apareceu na porta de vidro. Bateu a mão vagarosamente sobre e encostou a testa do outro lado, sua expressão parecia pedir desculpas. Ao invés de sentir a costumeira sensação de felicidade, senti raiva. Agradeci aos organizadores e acertamos as últimas informações. Precisaria pagar o restante que não arrecadei em ingressos e patrocínio do meu próprio bolso para a galeria, mas a maior parte consegui cobrir. Não fora um lucro, mas, pelo menos, uma realização. Apesar de estar orgulhosa em tentar, meus olhos encheram de lágrimas enquanto caminhava a passos largos e rápidos, com as maletas de fotografias nas mãos, para fora do local. Parte por perder a única coisa que consegui profissionalmente em algo que amava ou por não ter feito todo o sucesso que gostaria. Abri a porta com força evitando olhar nos olhos de . Seu carro alugado parado na frente da galeria, comecei a andar na direção da rua a fim de pedir um táxi, meus pais me esperavam no hotel que passei durante aquelas duas semanas. Controlei o nervosismo.
- Me desculpa... – se aproximou. – Me desculpa, . queria que eu fosse a um evento ontem, perdi o voo, eu...
- Vai para casa, .
ergueu os braços bloqueando o meu caminho.
- Me conta como foi. – se aproximou e empurrei seu corpo para longe. - Me desculpe...
- É só isso que você tem dito ultimamente.
- Vamos conversar. Eu queria vir. Eu tentei.
- Você tentou? – Não consegui evitar que as lágrimas caíssem agora. Deixei que as maletas escorregassem entre meus dedos e fossem ao chão. Lembrei-me da primeira vez que fez um grande show, eu estava atrás do palco pulando de alegria. Já fazia tanto tempo.
Limpei rapidamente uma lágrima como se dessa maneira não fosse capaz de perceber, mas meu rosto já se retorcia para segurar as próximas. Respirei fundo olhando em volta para evitar o olhar de que também marejarara. Sua sobrancelha estava franzida em súplica, os braços ainda abertos como se fossem me abraçar.
- Deveria ter ficado na faculdade. – Respirei de novo tentando me concentrar nas palavras. – Cansei. Limpei novas lágrimas pelo caminho.
- , é sua primeira exposição... Também não fui tão bem quando...
- Nunca te contei... - Interrompi. - mas eu desisti da fotografia porque já tentei antes. Enviei minhas fotografias milhares de vezes para milhares de lugares e nunca tive uma resposta. Você acha que é minha primeira tentativa, mas tentei por anos. Quando parei, a faculdade era minha desculpa. Você me disse que eu tinha medo e era verdade. Voltei e levei outro tapa na cara, apesar de ter tido um ótimo percurso, não posso viver disso.
- Você tinha menos experiência antes, agora é profissional. - Ri fraco de suas palavras.
- Você pode ter conseguido alcançar seu sonho depois de algumas tentativas, mas eu não me sinto uma pessoa tão talentosa.
- Mas você é.
- Talvez eu não seja.
- Você conseguiu uma exposição, . Você é incrível!
- Uma exposição que nem mesmo você apareceu para ver.
Tensão foi o que restou. Acenei de última hora para um táxi que parou mais a frente. Recuperei minhas maletas e me apressei.
- ! Espera! !
Bati a porta. batia na janela agora ainda me chamando. Pedi que o táxi seguisse e chorei silenciosamente o caminho todo. Pagaria o restante que devia no cartão de crédito para a galeria. Ao voltar para minha terra natal, decidi ajudar meus pais com a empresa e até mesmo eles questionaram essa decisão no início, mas permitiram que eu fizesse o que achava melhor. Deram-me de presente o apartamento que antes alugavam, simples e com uma vista bacana, para que eu pudesse ter mais privacidade. Agradeci tantas vezes que eles já nem sabiam o que dizer. Depois de exatos dois meses me mandou uma mensagem que dizia: “você viu isso?” e uma foto que não me dei o trabalho de baixar. Não queria mais que voltássemos a conversar normalmente, para depois brigarmos de novo. Precisava viver sem essa angustia. Já não procurava mais saber sobre o que acontecia na vida de , nem pela internet, nem por meio de sua família. Logo era fim de semana. Trabalhava meio período na empresa de meus pais durante o sábado e depois fiacava livre. Quando chegava do expediente tive um segundo de parada cardíaca. estava na porta do meu apartamento.
- O que está fazendo aqui?
segurou com as duas mãos uma edição da revista Time daquela semana. Continuei sem entender nada.
- Você está na Time! – disse com seu sorriso largo. O sol fazia os detalhes de seu rosto reluzirem.
- O que?
folheou a revista, caminhando até estar ao meu lado. Abriu em uma sessão de título: O lado não explorado do mundo. Falava sobre jovens fotógrafos que registraram locais incomuns e comunidades que foram “esquecidas” pela sociedade. Minha exposição estava em uma das páginas como exemplo. Lembrava-me de ter assinado com a galeria quanto aos direitos de publicação de minhas imagens desde houvesse crédito. Minha expressão mudou e esqueci qualquer outra coisa que havia em minha mente. Peguei a revista da mão de com espanto. riu e me encorajou a ler. Sentamos ali mesmo, na calçada, em frente à entrada do apartamento. Um crítico de fotografia havia escrito a matéria para uma coluna de cultura. Sorri para quando terminei de ler. Muitos elogios.
- Não acredito. – Eu ria e também.
- Você não quis ver minha mensagem, então eu trouxe a revista pessoalmente. Seus pais me disseram que estaria aqui.
Apernas encarei seu olhar sincero de orgulho.
- Nunca vou me perdoar por ter perdido essa exposição. - Completou.
Desisti de resistir e abracei . Seu perfume invadindo meus pulmões.
- Obrigada. – Sussurrei e senti enterrar o rosto na base do meu pescoço.
- Senti saudade... Sempre vou amar você. – disse em um tom abafado.
- Também sempre vou amar você.
Não havia dúvidas naquele momento, nunca fora um segredo o fato de nos amarmos. Nos separamos depois de alguns segundos, mas eu ainda queria continuar ali.
- Quer entrar? – Perguntei.
- Preciso voltar, meu voo é em meia-hora. está fazendo aniversário hoje. – olhou para o chão, o sorriso desaparecendo de seu rosto.
- E mesmo assim você veio até aqui? – Eu ri e çevantamos.
- A festa é só a noite. – riu sem graça. – Era a única oportunidade para te entregar a prova do seu sucesso.
Ficamos nos encarando sem nada dizer. Só sorrindo.
- Vou com você até o aeroporto. – Disse por fim e deu pulinhos.
Conversamos como quando crianças. Sedentos por contar tudo que podíamos, mas o tempo era curto.
- Boa festa. Deseje feliz aniversário para por mim. – que iniciou o abraço dessa vez.
Vi partir outra vez de minha vida, pelo menos agora a sensação não era tão devastadora.
Após algum tempo, lá estava eu, esperando para recepcionar quem quer que viesse prestigiar minhas fotografias. Minhas mãos suavam. Meus pais foram os primeiros a entrar por aquelas portas que guardavam meus sonhos em seu interior. Não apareceram muitas pessoas. A maioria eram meus conhecidos da época de faculdade no Japão. A família de avisara que não poderiam vir, mas sumira, nada dissera. Quando finalmente as portas continham o aviso de “fechado” e eu me despedia das últimas pessoas, a figura de apareceu na porta de vidro. Bateu a mão vagarosamente sobre e encostou a testa do outro lado, sua expressão parecia pedir desculpas. Ao invés de sentir a costumeira sensação de felicidade, senti raiva. Agradeci aos organizadores e acertamos as últimas informações. Precisaria pagar o restante que não arrecadei em ingressos e patrocínio do meu próprio bolso para a galeria, mas a maior parte consegui cobrir. Não fora um lucro, mas, pelo menos, uma realização. Apesar de estar orgulhosa em tentar, meus olhos encheram de lágrimas enquanto caminhava a passos largos e rápidos, com as maletas de fotografias nas mãos, para fora do local. Parte por perder a única coisa que consegui profissionalmente em algo que amava ou por não ter feito todo o sucesso que gostaria. Abri a porta com força evitando olhar nos olhos de . Seu carro alugado parado na frente da galeria, comecei a andar na direção da rua a fim de pedir um táxi, meus pais me esperavam no hotel que passei durante aquelas duas semanas. Controlei o nervosismo.
- Me desculpa... – se aproximou. – Me desculpa, . queria que eu fosse a um evento ontem, perdi o voo, eu...
- Vai para casa, .
ergueu os braços bloqueando o meu caminho.
- Me conta como foi. – se aproximou e empurrei seu corpo para longe. - Me desculpe...
- É só isso que você tem dito ultimamente.
- Vamos conversar. Eu queria vir. Eu tentei.
- Você tentou? – Não consegui evitar que as lágrimas caíssem agora. Deixei que as maletas escorregassem entre meus dedos e fossem ao chão. Lembrei-me da primeira vez que fez um grande show, eu estava atrás do palco pulando de alegria. Já fazia tanto tempo.
Limpei rapidamente uma lágrima como se dessa maneira não fosse capaz de perceber, mas meu rosto já se retorcia para segurar as próximas. Respirei fundo olhando em volta para evitar o olhar de que também marejarara. Sua sobrancelha estava franzida em súplica, os braços ainda abertos como se fossem me abraçar.
- Deveria ter ficado na faculdade. – Respirei de novo tentando me concentrar nas palavras. – Cansei. Limpei novas lágrimas pelo caminho.
- , é sua primeira exposição... Também não fui tão bem quando...
- Nunca te contei... - Interrompi. - mas eu desisti da fotografia porque já tentei antes. Enviei minhas fotografias milhares de vezes para milhares de lugares e nunca tive uma resposta. Você acha que é minha primeira tentativa, mas tentei por anos. Quando parei, a faculdade era minha desculpa. Você me disse que eu tinha medo e era verdade. Voltei e levei outro tapa na cara, apesar de ter tido um ótimo percurso, não posso viver disso.
- Você tinha menos experiência antes, agora é profissional. - Ri fraco de suas palavras.
- Você pode ter conseguido alcançar seu sonho depois de algumas tentativas, mas eu não me sinto uma pessoa tão talentosa.
- Mas você é.
- Talvez eu não seja.
- Você conseguiu uma exposição, . Você é incrível!
- Uma exposição que nem mesmo você apareceu para ver.
Tensão foi o que restou. Acenei de última hora para um táxi que parou mais a frente. Recuperei minhas maletas e me apressei.
- ! Espera! !
Bati a porta. batia na janela agora ainda me chamando. Pedi que o táxi seguisse e chorei silenciosamente o caminho todo. Pagaria o restante que devia no cartão de crédito para a galeria. Ao voltar para minha terra natal, decidi ajudar meus pais com a empresa e até mesmo eles questionaram essa decisão no início, mas permitiram que eu fizesse o que achava melhor. Deram-me de presente o apartamento que antes alugavam, simples e com uma vista bacana, para que eu pudesse ter mais privacidade. Agradeci tantas vezes que eles já nem sabiam o que dizer. Depois de exatos dois meses me mandou uma mensagem que dizia: “você viu isso?” e uma foto que não me dei o trabalho de baixar. Não queria mais que voltássemos a conversar normalmente, para depois brigarmos de novo. Precisava viver sem essa angustia. Já não procurava mais saber sobre o que acontecia na vida de , nem pela internet, nem por meio de sua família. Logo era fim de semana. Trabalhava meio período na empresa de meus pais durante o sábado e depois fiacava livre. Quando chegava do expediente tive um segundo de parada cardíaca. estava na porta do meu apartamento.
- O que está fazendo aqui?
segurou com as duas mãos uma edição da revista Time daquela semana. Continuei sem entender nada.
- Você está na Time! – disse com seu sorriso largo. O sol fazia os detalhes de seu rosto reluzirem.
- O que?
folheou a revista, caminhando até estar ao meu lado. Abriu em uma sessão de título: O lado não explorado do mundo. Falava sobre jovens fotógrafos que registraram locais incomuns e comunidades que foram “esquecidas” pela sociedade. Minha exposição estava em uma das páginas como exemplo. Lembrava-me de ter assinado com a galeria quanto aos direitos de publicação de minhas imagens desde houvesse crédito. Minha expressão mudou e esqueci qualquer outra coisa que havia em minha mente. Peguei a revista da mão de com espanto. riu e me encorajou a ler. Sentamos ali mesmo, na calçada, em frente à entrada do apartamento. Um crítico de fotografia havia escrito a matéria para uma coluna de cultura. Sorri para quando terminei de ler. Muitos elogios.
- Não acredito. – Eu ria e também.
- Você não quis ver minha mensagem, então eu trouxe a revista pessoalmente. Seus pais me disseram que estaria aqui.
Apernas encarei seu olhar sincero de orgulho.
- Nunca vou me perdoar por ter perdido essa exposição. - Completou.
Desisti de resistir e abracei . Seu perfume invadindo meus pulmões.
- Obrigada. – Sussurrei e senti enterrar o rosto na base do meu pescoço.
- Senti saudade... Sempre vou amar você. – disse em um tom abafado.
- Também sempre vou amar você.
Não havia dúvidas naquele momento, nunca fora um segredo o fato de nos amarmos. Nos separamos depois de alguns segundos, mas eu ainda queria continuar ali.
- Quer entrar? – Perguntei.
- Preciso voltar, meu voo é em meia-hora. está fazendo aniversário hoje. – olhou para o chão, o sorriso desaparecendo de seu rosto.
- E mesmo assim você veio até aqui? – Eu ri e çevantamos.
- A festa é só a noite. – riu sem graça. – Era a única oportunidade para te entregar a prova do seu sucesso.
Ficamos nos encarando sem nada dizer. Só sorrindo.
- Vou com você até o aeroporto. – Disse por fim e deu pulinhos.
Conversamos como quando crianças. Sedentos por contar tudo que podíamos, mas o tempo era curto.
- Boa festa. Deseje feliz aniversário para por mim. – que iniciou o abraço dessa vez.
Vi partir outra vez de minha vida, pelo menos agora a sensação não era tão devastadora.
PROLOGUE.
“Você tem planos para essa noite?” A voz de soou inquieta no telefone.
“Faz semanas e você me liga perguntando isso?” Eu ri depois de um minuto de silêncio que pareceu amedrontador. “Estou brincando!”
Escutei rir timidamente. Nos falávamos quase sempre agora, mas as últimas semanas foram agitadas para nós.
“Talvez eu tenha planos... se você pretende aparecer sem avisar.”
Escutei a risada gostosa de se intensificar, apesar de ainda parecer que alguma coisa incomodava.
“Você me pegou.”
disse que chegaria tarde da noite, pois pegaria o último voo. Garanti que estaria esperando.
- Hey. – Esfreguei os olhos. Havia cochilado.
- Imaginei que ia cair no sono. – disse rindo. Entrou com as malas e tudo em meu apartamento.
observou a cama de casal e depois olhou para mim. - Vai em frente. - Indiquei com uma das mãos.
riu se jogando na cama.
– Agora vai me dizer o que houve?
Sabia que algo estava errado. Sua voz, seu olhar, entregavam.
- Acho que prefiro contar só amanhã.
- Vai dormir aqui? – Achei estranho. Eu e não dormíamos no mesmo ambiente desde aquele Natal na casa de meus pais.
- Eu posso?
Ri e dei de ombros.
- Fico com o sofá.
- Pensei que... Talvez... – agora sentou na cama e não olhou nos meus olhos, balançava os pés. – A gente pudesse dividir a cama.
Continuei a encarar . Minhas sobrancelhas agora franzidas.
- Tem bastante espaço. – Finalmente seu olhar acanhado encontrara o meu.
- Você tinha que ver a sua cara. – Eu disse em meio às gargalhadas. não aguentou e reagiu da mesma maneira.
Me joguei na cama ao seu lado fazendo pular. Revidou pulando outra vez na cama. Ficamos de joelhos no colchão macio e continuamos forçando os pulps em uma competição, como crianças, até cairmos minha cabeça apoiada em seu tronco. Esperava fortemente não ter acordado os colegas de prédio, mas só me preocupava em conseguir respirar em meio às gargalhadas.
- A quanto tempo não fazíamos isso. – Disse .
- Desde os oito talvez.
- Nos conhecemos aos oito.
- Pois é. – Rimos mais.
Logo, estava em sono profundo. Seu costume de dormir primeiro nunca mudara. Quando acordei de manhã, estava na sacada, olhando a paisagem. Levantei-me e debrucei-me ao seu lado.
- Hey. – deu um sorriso fraco. – A vista é ótima.
- Não é? – Eu ri. - Como você está? - Perguntei em tom baixo. Já não sabia muito bem como consolar a pessoa que eu mais amava no universo.
- noivou com outra pessoa.
Respirei fundo. Várias coisas sempre estiveram erradas naquele relacionamento, mas não era isso que precisava apontar agora. Realmente, nem eu esperava essa informação.
- Sinto muito. – Eu disse.
- Não estou realmente triste. Quer dizer, pensei que podia ter encontrado o amor, a gente se dava bem, mas ao mesmo tempo estava tudo errado. É estranho ver que não está nem aí, mas talvez, no fundo, foi um alívio. - desabafou.
- Às vezes, precisamos encarar o incômodo em permanecer em algo ou o incômodo da mudança. Nenhum é fácil. - me encarou por alguns segundos, mas não desviei meus olhos da paisagem.
- , eu... - respirou fundo. - Não percebi que tudo que eu mais queria estava bem diante de mim.
Voltei meu rosto para agora, que continou a me fitar por longos segundos antes de se aproximar e juntar nossos lábios. Não como havia acontecido um ano atrás, agora havia certa urgência, suas mãos em minha cintura e as minhas em seu pescoço. Paramos ofegantes porque precisávamos de ar.
– Talvez... Você queira dormir aqui essa noite de novo.
Não perderia mais oportunidades. Precisava aceitar meu sentimento e me permitir tentar. Começamos a rir dessa vez. Nossas testas unidas. voltou a me beijar em um aceite silencioso. Meu rosto e corpo queimavam. Estava tudo queimando. Passamos, ainda aos beijos, entre as portas de correr abertas. Tentávamos arrancar desajeitadamente nossas peças de roupa. Não conseguia entender porque esperamos tanto tempo para o fazermos. A sensação do corpo despido de no meu era algo que queria manter para sempre.
- Quero dormir todas as noites. – sussurrou com aquele sorriso. Acariciei seu rosto que ainda estava suado, como o resto do corpo, mas não disse nada.
Não foi só uma noite, foram várias. Quase todas elas. Me esquecera da fama de e de qualquer coisa que já nos impediu. Esquecemos até quem éramos além das pessoas que sabiam tudo uma sobre a outra. não teria que voltar para sua vida corrida durante aquele mês, estava de férias.
- Hey. – pulou na cama onde eu estava.
- Hey. – Passei meus dedos entre seus fios de cabelo. Queria sentir cada textura e sensação que me restava. – O que foi? – Estranhei sua expressão travessa.
- Escrevi uma música. - Agora estávamos sorrindo de um jeito engraçado, com expectativa, processando a informação como se fosse uma piada. – Uma música sobre o Japão...
- Uma música sobre o Japão? – Franzi as sobrancelhas. estava de lado sobre a cama enquanto eu estava com as pernas cruzadas.
- Não. Na verdade, é sobre você. Sobre a gente. – Rimos. – Sobre você, eu e o Japão.
- E o que está esperando? Quero ouvi-la!
- Só se você aceitar fazer as fotos da minha nova turnê.
- O que?
- Prometo que pago muito bem.
Empurrei pelo ombro. Rimos enquanto arrumava o corpo para ficar na mesma posição que eu.
- Do que está falando?
- Estou oferecendo oficialmente uma proposta de emprego. A produção precisa de alguém para fotografar a nova tour.
- É sério?
- Super sério! Vamos viajar para vários lugares legais, você vai estar ganhando uma grana fazendo parte da produção e eu... bom... vou te ter por perto. – deu uma piscadinha. – Na verdade, não fui eu. Minha diretora de fotografia que gostou do seu trabalho e quer que você faça parte do time. Você capta “os sentimentos”, ela disse. – enfatizou a palavra.
Não sabia o que dizer. A ideia parecia ótima.
- E aí o que me diz? Quer viajar comigo? Que, no nosso caso, vai ser trabalhar também. – fez uma careta.
- Hum... – Fiz suspense. – É claro. – Ri e beijei com toda paixão que evitei demonstrar por tantos anos. - Nem sei como agradecer.
- Não precisa. - sorriu.
- Me mostra a música, quer me matar de curiosidade?
Risos preenchiam quase todas nossas conversas nos últimos tempos. pegou o violão velho que já não saia mais do canto do meu quarto. Passou a tocar os acordes com a mesma dedicação de sempre.
All it'd take is one flight
We'd be in the same time zone
Looking through your timeline
Seeing all the rainbows, I
I got an idea
jogou as sobrancelhas para o alto e tinha um sorriso sugestivo ao me olhar.
And I know that it sounds crazy
I just wanna see ya
Oh, I gotta ask
Do you got plans tonight?
Fingi gargalhar. sabia como nos representar.
I'm a couple hundred miles from Japan, and I
I was thinking I could fly to your hotel tonight
'Cause I-I-I can't get you off my mind
Can't get you off my mind
...
“Faz semanas e você me liga perguntando isso?” Eu ri depois de um minuto de silêncio que pareceu amedrontador. “Estou brincando!”
Escutei rir timidamente. Nos falávamos quase sempre agora, mas as últimas semanas foram agitadas para nós.
“Talvez eu tenha planos... se você pretende aparecer sem avisar.”
Escutei a risada gostosa de se intensificar, apesar de ainda parecer que alguma coisa incomodava.
“Você me pegou.”
disse que chegaria tarde da noite, pois pegaria o último voo. Garanti que estaria esperando.
- Hey. – Esfreguei os olhos. Havia cochilado.
- Imaginei que ia cair no sono. – disse rindo. Entrou com as malas e tudo em meu apartamento.
observou a cama de casal e depois olhou para mim. - Vai em frente. - Indiquei com uma das mãos.
riu se jogando na cama.
– Agora vai me dizer o que houve?
Sabia que algo estava errado. Sua voz, seu olhar, entregavam.
- Acho que prefiro contar só amanhã.
- Vai dormir aqui? – Achei estranho. Eu e não dormíamos no mesmo ambiente desde aquele Natal na casa de meus pais.
- Eu posso?
Ri e dei de ombros.
- Fico com o sofá.
- Pensei que... Talvez... – agora sentou na cama e não olhou nos meus olhos, balançava os pés. – A gente pudesse dividir a cama.
Continuei a encarar . Minhas sobrancelhas agora franzidas.
- Tem bastante espaço. – Finalmente seu olhar acanhado encontrara o meu.
- Você tinha que ver a sua cara. – Eu disse em meio às gargalhadas. não aguentou e reagiu da mesma maneira.
Me joguei na cama ao seu lado fazendo pular. Revidou pulando outra vez na cama. Ficamos de joelhos no colchão macio e continuamos forçando os pulps em uma competição, como crianças, até cairmos minha cabeça apoiada em seu tronco. Esperava fortemente não ter acordado os colegas de prédio, mas só me preocupava em conseguir respirar em meio às gargalhadas.
- A quanto tempo não fazíamos isso. – Disse .
- Desde os oito talvez.
- Nos conhecemos aos oito.
- Pois é. – Rimos mais.
Logo, estava em sono profundo. Seu costume de dormir primeiro nunca mudara. Quando acordei de manhã, estava na sacada, olhando a paisagem. Levantei-me e debrucei-me ao seu lado.
- Hey. – deu um sorriso fraco. – A vista é ótima.
- Não é? – Eu ri. - Como você está? - Perguntei em tom baixo. Já não sabia muito bem como consolar a pessoa que eu mais amava no universo.
- noivou com outra pessoa.
Respirei fundo. Várias coisas sempre estiveram erradas naquele relacionamento, mas não era isso que precisava apontar agora. Realmente, nem eu esperava essa informação.
- Sinto muito. – Eu disse.
- Não estou realmente triste. Quer dizer, pensei que podia ter encontrado o amor, a gente se dava bem, mas ao mesmo tempo estava tudo errado. É estranho ver que não está nem aí, mas talvez, no fundo, foi um alívio. - desabafou.
- Às vezes, precisamos encarar o incômodo em permanecer em algo ou o incômodo da mudança. Nenhum é fácil. - me encarou por alguns segundos, mas não desviei meus olhos da paisagem.
- , eu... - respirou fundo. - Não percebi que tudo que eu mais queria estava bem diante de mim.
Voltei meu rosto para agora, que continou a me fitar por longos segundos antes de se aproximar e juntar nossos lábios. Não como havia acontecido um ano atrás, agora havia certa urgência, suas mãos em minha cintura e as minhas em seu pescoço. Paramos ofegantes porque precisávamos de ar.
– Talvez... Você queira dormir aqui essa noite de novo.
Não perderia mais oportunidades. Precisava aceitar meu sentimento e me permitir tentar. Começamos a rir dessa vez. Nossas testas unidas. voltou a me beijar em um aceite silencioso. Meu rosto e corpo queimavam. Estava tudo queimando. Passamos, ainda aos beijos, entre as portas de correr abertas. Tentávamos arrancar desajeitadamente nossas peças de roupa. Não conseguia entender porque esperamos tanto tempo para o fazermos. A sensação do corpo despido de no meu era algo que queria manter para sempre.
- Quero dormir todas as noites. – sussurrou com aquele sorriso. Acariciei seu rosto que ainda estava suado, como o resto do corpo, mas não disse nada.
Não foi só uma noite, foram várias. Quase todas elas. Me esquecera da fama de e de qualquer coisa que já nos impediu. Esquecemos até quem éramos além das pessoas que sabiam tudo uma sobre a outra. não teria que voltar para sua vida corrida durante aquele mês, estava de férias.
- Hey. – pulou na cama onde eu estava.
- Hey. – Passei meus dedos entre seus fios de cabelo. Queria sentir cada textura e sensação que me restava. – O que foi? – Estranhei sua expressão travessa.
- Escrevi uma música. - Agora estávamos sorrindo de um jeito engraçado, com expectativa, processando a informação como se fosse uma piada. – Uma música sobre o Japão...
- Uma música sobre o Japão? – Franzi as sobrancelhas. estava de lado sobre a cama enquanto eu estava com as pernas cruzadas.
- Não. Na verdade, é sobre você. Sobre a gente. – Rimos. – Sobre você, eu e o Japão.
- E o que está esperando? Quero ouvi-la!
- Só se você aceitar fazer as fotos da minha nova turnê.
- O que?
- Prometo que pago muito bem.
Empurrei pelo ombro. Rimos enquanto arrumava o corpo para ficar na mesma posição que eu.
- Do que está falando?
- Estou oferecendo oficialmente uma proposta de emprego. A produção precisa de alguém para fotografar a nova tour.
- É sério?
- Super sério! Vamos viajar para vários lugares legais, você vai estar ganhando uma grana fazendo parte da produção e eu... bom... vou te ter por perto. – deu uma piscadinha. – Na verdade, não fui eu. Minha diretora de fotografia que gostou do seu trabalho e quer que você faça parte do time. Você capta “os sentimentos”, ela disse. – enfatizou a palavra.
Não sabia o que dizer. A ideia parecia ótima.
- E aí o que me diz? Quer viajar comigo? Que, no nosso caso, vai ser trabalhar também. – fez uma careta.
- Hum... – Fiz suspense. – É claro. – Ri e beijei com toda paixão que evitei demonstrar por tantos anos. - Nem sei como agradecer.
- Não precisa. - sorriu.
- Me mostra a música, quer me matar de curiosidade?
Risos preenchiam quase todas nossas conversas nos últimos tempos. pegou o violão velho que já não saia mais do canto do meu quarto. Passou a tocar os acordes com a mesma dedicação de sempre.
All it'd take is one flight
We'd be in the same time zone
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Seeing all the rainbows, I
I got an idea
jogou as sobrancelhas para o alto e tinha um sorriso sugestivo ao me olhar.
And I know that it sounds crazy
I just wanna see ya
Oh, I gotta ask
Do you got plans tonight?
Fingi gargalhar. sabia como nos representar.
I'm a couple hundred miles from Japan, and I
I was thinking I could fly to your hotel tonight
'Cause I-I-I can't get you off my mind
Can't get you off my mind
...
THE END
Nota da autora: Shawny me inspirou com esta linda música e quis trazer algo que vocês pudessem desfrutar sem limitações. Sabemos que a língua portuguesa infelizmente nos faz obrigatórias imposições de gênero. Meu desejo é driblar isso para que seja uma história de amor livre. Se houver deslizes, peço perdão. Obrigada por terem acompanhado essa fic que amei tanto escrever. Espero que tenham vivido momentos de muito amor! Vocês são minha motivação diária, obrigada por tudo. Foi uma honra. Vem de comentário e quebre esses couple hundred miles entre nós <3
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