Who run the world (Roar part II)
Who run the world?
Nova York, 24 de Outubro de 2015. Seis meses após o incidente do banco.
20:35 PM. Uma noite estranhamente comum para
Miller e
Cleremont.
– Desculpe! – já dizia ofegante, enquanto desviava das pessoas apressadas que corriam contra sua direção. virou a cabeça parecendo um pouco cansado, mas sorriu quando viu a garota. – Eu não acredito que você esperou esse tempo todo, sinto muito ter feito você perder o filme.
– Bem, teria perdido. – disse dando um sorriso de canto. – Mas, como sou mais precavido que o Batman, comprei os ingressos para última sessão no lugar da que tínhamos combinado!
– Como você sabia... bom... você sabia. – riu.
– Parabéns, você chegou adiantada pela primeira vez. – ele respondeu como se comemorasse um gol em uma partida de futebol. Bom, na verdade, não gostava muito de futebol, então ele comemorou como quando a sua série favorita voltava do hiatos.
– E se eu tivesse vindo na hora? – tentou reclamar cruzando os braços, mas não conseguia conter uma risada. Ela nunca chegava na hora, sempre havia alguma coisa que a desviava do caminho.
– Eu estava te esperando. – mordeu o lábio admitindo. envolveu as mãos no pescoço do rapaz e sorriu de forma doce.
– Mais de uma hora e ainda no dia que completamos seis meses! Por que esperou tudo isso?
– Eu sei que no final você sempre aparece. – ele riu, beijando rapidamente os lábios da garota. – Vamos entrar logo, antes que percamos o filme de verdade.
Some of them men think they freak this
Like we do
But no they don't
Nova York, 6 de Novembro de 2015
01:39 A.M. – A madrugada comum de Roar
Quanto mais entrava em ação, mais as pessoas ficavam curiosas sobre a salvadora misteriosa que só era conhecido como Roar. Quando começou a correr por aí usando seu capuz e máscara, não achou que as coisas tomariam proporções tão grandes. Como havia sido ingênua. Se até na ficção as pessoas amavam super–heróis, imaginem ao ver suas imagens borradas na capa do The New York Times e as manchetes que noticiavam a heroína da vida real.
Às vezes, a mulher por trás da máscara sentia que Roar havia se tornado uma identidade que ia além da sua própria. É verdade que, além de querer ajudar, ela fazia o que fazia porque era quando deixava o seu lado selvagem aflorar que se sentia verdadeiramente livre.
Roar corria como um guepardo e saltava como um canguru na direção do grito que tinha ouvido. Ultimamente esses gritos estavam acontecendo com mais frequência, por culpa de seu maior inimigo, mais uma vez. Chegou até a rua de onde os gritos vinham, duas garotas eram assediadas e encurraladas por três figuras masculinas sinistras. O sangue de Roar pareceu esquentar ainda mais quando viu o nariz vermelho desenhado no capuz branco que cobria todo o rosto, deixando só a abertura para os olhos. A nova gangue do Pierrot de novo! Da última vez que se enfretaram, naquele episódio do banco, Pierrot escapou e passou até um tempo desaparecido, até que uma nova onda de novos capangas começou a aterrorizar a cidade.
Roar pulou, aterrissando logo atrás de um dos palhaços e invocando a força de um elefante para fechar uma chave de braço no pescoço dele, chutou o lado interior da patela do homem fazendo com que sua perna se quebrasse, logo depois arremessou o primeiro capanga incapacitado contra o próximo que já apontava a arma sua direção.
– Corram. – sibilou para as duas vítimas que não pensaram duas vezes antes de obedecer, e logo se atirou contra o outro combatente que ainda continuava em pé, com a agilidade de um felino, começou uma briga de socos. O outro, que não estava com a perna quebrada, logo se juntou ao combate. Roar agarrou o punho do primeiro, puxando com força até que pode chutar sua costela e torceu o braço dele para trás, até que conseguisse controlar seu corpo e usar o capanga como escudo humano para se proteger da arma do outro, que pretendia atirar.
– Não estou com paciência hoje. – disse a mulher com raiva. Já estava exausta de Pierrot e sua onda de terror. Geralmente, não gostava de ser extremamente violenta. Nunca havia matado ninguém, embora já tivesse causado ferimentos bem sérios. Assim como o Dobby, o elfo doméstico de Harry Potter. Ah, ela riria muito da comparação se tivesse tido tempo para assistir ao filme como havia dito que faria! Infelizmente, Roar não entenderia a referência, porque era mais uma experiência que tinha perdido porque aqueles idiotas mascarados não paravam de aparecer.
Não dá pra questionar o porquê ela andava ainda mais selvagem nos últimos tempos.
– Coloque a arma no chão, as mãos na cabeça e me diga porque aquele Bozo dos infernos está me infernizando mais do que o costume. Ou vocês vão ficar igual o colega ali. – Roar ameaçou referindo–se ao capanga da perna quebrada, mas o que a encarava com a arma apontada riu.
– Ele quer você. – disse e no mesmo tempo mais três palhaços apareceram. Invocando o radar de morcego o mais rápido que pode, Roar saltou para o alto o mais rápido que pode, escapando dos tiros que zuniram em sua direção. Agarrou uma das escadas de incêndio e içou seu corpo para cima, parando em uma posição que lembrava de um gato em cima das grades de segurança da escada.
– Então mandem uma mensagem para ele. – a sua voz saiu um pouco como o chiado de uma cobra. Saltou de uma escada para outra enquanto os capangas atiravam, invocando rapidez e agilidade, fez várias acrobacias até chegar no telhado e desaparecer de vista.
Os palhaços olhavam para cima, confusos, até que o que antes parecia um chiado de cobra virou uma espécie de rugido.
– Ele não pode comigo. – a voz de Roar ecoou como um trovão, e de repente a mulher se lançou de outro ponto completamente oposto ao que tinha usado para sumir, aterrissando quase em cima do primeiro palhaço, que hesitou em atirar devido ao susto. Roar aproveitou a deixa para socar o rosto dele e tomar sua arma, sem parar de se movimentar, correu o suficiente para tomar um impulso e fazer com eu seus pés aderissem a parede, usando esse movimento para se lançar e chutar outro oponente, que caiu no chão. Mais um apareceu, empunhando uma faca, mas ela se abaixou a tempo de desviar do golpe e passar uma rasteira no homem que também foi ao chão. Ela rodopiou nos próprios calcanhares e acertou um chute no próximo.
Sirenes começaram a tocar, as garotas que Roar havia ajudado provavelmente haviam chamado a polícia, os palhaços então começaram a recuar, Roar teve de tomar uma decisão rápida. Impedir que fugissem ou tentar obter alguma resposta? Acabou optando pela segunda, perderia alguns peões, mas tinha esperanças de conseguir capturar o rei. Foi em direção ao capanga da perna quebrada, que gemia de dor atirado ao chão.
– Qual o plano do Pierrot? – gritou puxando o capuz. Encarar o capanga nos olhos a fez hesitar um momento. Era sempre estranho perceber que era só uma pessoa normal, um rosto comum, que poderia até passar por ela na padaria sem sequer chamar atenção. Nada que gritasse “Ei, eu sou um bandido”. Ele era igual a ela, e isso sempre a fazia pensar o que levava as pessoas a aceitarem isso.
Mas não tinha tempo para compaixão agora, precisava descobrir qualquer informação que pudesse leva–la até Pierrot para que pudesse impedir sua onda de crimes.
– Foi o que disseram. Ele quer você. – ele disse tentando parecer o mais firme e durão possível. – Ele sabe de tudo.
Roar ouviu os policias chegando, largou o seu interrogatório para fugir também. Nem todos aprovavam as atitudes de Roar, principalmente por ela ser uma figura encapuzada, alguns a encaravam como uma justiceira vigilante, o que também podia lhe render cadeia.
É, ela sempre ficava sem palavras quando percebia essas semelhanças suas com as pessoas que perseguia. Mas lembrar dos olhares aterrorizados das meninas que estavam encurraladas é o que a fazia acreditar que estava sim fazendo o certo.
Durante a luta e a fuga dos palhaços, eles haviam deixando algumas de suas armas no chão. Roar pegou uma delas na esperança de que pudesse rastrear algo, invocou mais uma vez a velocidade do guepardo e foi embora.
Boy don't even try to touch this
Boy this beat is crazy
This is how they made me
Nova York, 6 de Novembro de 2015
03:36 A.M. – Ainda na madrugada de Roar.
Roar ficou encarando a arma, mais confusa do que antes. Não eram armar tradicionais, com balas, como ela pensou que seria.
Eram dardos tranquilizantes.
“Ele quer você”
Tudo isso, o aumento nos ataques do Pierrot pela cidade, não eram aleatórios, eram todos armadilhas. Eles queriam capturar Roar. Foi por causa dela que os palhaços atacaram as garotas, por isso apareceram mais deles depois. Ela era o motivo pelo qual o crime tinha aumentado tanto nos últimos meses.
Roar se sentou, encarando os dardos, quase rindo de nervoso do quanto sua vida havia se transformado naquele clichê de super–herói que ela tanto odiava: Um herói precisa de um vilão, e quanto mais poderoso o herói, mais perigoso o vilão também deve ter. Um não pode existir sem o outro.
Aquela raiva selvagem cresceu novamente dentro dela, apertou as mãos em um punho tão forte que quase fez suas unhas rasgarem as luvas que usava.
Sorte dela morar sozinha e não ter nenhuma Tia May que pudesse ter a vida arruinada... Bem, ao menos foi o que ela pensou no momento.
I think I need a barber
Nova York, 7 de novembro de 2015.
20:07 PM – O apartamento de
Claremont
– Duvido que Steven Spielberg tenha passado por isso no começo da carreira.
– Talvez você seja mais genial que ele, por isso é incompreendido.
– Jesus, você é minha namorada, mas não precisa forçar. É o Spielberg de quem estamos falando. – riu. – Talvez eu devesse colocar um grupo de crianças, todo mundo adora um grupo de crianças talentosas, tipo E.T. – disse foleando uma versão impressa do seu roteiro novamente. Ele e estavam largados no sofá da sala do apartamento dele, lado a lado.
– Não, você não deve. Você já revisou essa história milhões de vezes, está ótima. Só precisa de um pouco mais de tempo até achar uma oportunidade.
– Já fazem sete meses que eu estou esperando a oportunidade, ... talvez eu não seja tão talentoso quanto pensava ser.
– Ah, não! Não! Nada de se lamentar, você é incrível e seu roteiro também. Vão reconhecer isso, olha só, você não me contou a história do cara de Star Wars uma vez? Ninguém achava que aquilo ia dar certo, e olha só, todo mundo conhece Star Wars hoje!
– É, o George Lucas... mas ele era amigo do Spielberg.
– Quando nenhum dos dois eram importantes na indústria. Você vai conseguir, eu tenho certeza. – sorriu enquanto abraçava o garoto.
– Obrigado. – ele retribuiu o abraço. – É que as vezes não consigo deixar de pensar que pedir demissão do jornal foi um erro. Eu ganhava muito mais lá do que no estúdio, fora que pelo menos podia falar sobre cinema, agora eu só levo café. Pareço a
Anne Hathaway em
O Diabo veste prada. – Ele riu.
– Você odiava o seu emprego no jornal! – exasperou.
– Na verdade eu odiava meu chefe. – eles riram se lembrando do senhor Jameson, o pior chefe que já teve.
– Você é um roteirista fantástico, e logo o estúdio vai te dar atenção se você continuar insistindo em mostrar seu trabalho, e daí você vai poder contratar alguém para levar o seu café. – disse convicta.
– Obrigado. – agradeceu beijando de leve os lábios de . – Obrigado por acreditar em mim. – completou.
– Ah, estou com você por interesse, tenho que te incentivar a ficar rico e famoso, aí vou poder pedir a minha própria demissão. – fez uma piada.
– Deixa eu adivinhar, chegou atrasada no escritório de novo? – riu.
– E Jenn não conseguiu me cobrir dessa vez. – ela contou se referindo a amiga do casal. Ela e o seu noivo, Léo, foram quem haviam apresentado os dois. Jenn e trabalhavam no mesmo escritório, Léo e haviam ido para a mesma faculdade. – Mas continuo empregada, ao menos por enquanto.
– Vamos largar tudo e sair viajando por aí. Podemos arrumar algumas aventuras, melhor, podemos arrumar umas encrencas! A polícia viria atrás de nós e seriamos tipo
Thelma e Louise! Eu faço a parte da Susan Sarandon e você a da Geena Davis.
– Será que não podemos escolher um filme com um final mais feliz? – perguntou.
– Às vezes algumas histórias grandiosas, se tornam grandiosas porque acabam de forma triste. – ele respondeu pensativo.
– Credo, , parece algo para se dizer quando quer se despedir de alguém. – retrucou. – Está pensando em terminar comigo?
arregalou os olhos. Envolveu a cintura da mulher, puxando a para mais perto, e passou os dedos de leve pelo rosto de antes de beijá–la.
– Não foi isso que eu quis dar a entender, , a última coisa que quero é terminar com você. Eu te amo.
arfou surpresa. Era a primeira vez que ele dizia aquilo em voz alta e ainda era um pouco assustador para ela, não estava acostumada com as coisas dando certo em sua vida amorosa.
– Não precisa dizer nada. – respondeu notando a surpresa no rosto dela. – Eu só, bem, eu te amo. Estou feliz de você estar aqui comigo, não precisa dizer nada que não queira. Está tudo bem.
– Eu sou uma pessoa complicada demais para alguém amar, . – respondeu pensativa.
Boy I'm just playing
Come here baby
Hope you still like me
If you pay me
Nova York, 13 de Novembro de 2015.
11:14 A.M. O trabalho de
Miller
estava na cozinha do escritório junto de sua amiga Jenn, aproveitando os poucos minutos que as duas tinham de intervalo.
– Ele notou que você está diferente desde que ele se declarou, , você tem até evitado sair com ele!
– Não estou evitando. – respondeu e Jenn a encarou séria. – É complicado, certo. Eu me importo com o , de verdade, por isso que estou tentando proteger ele.
– Proteger de que? – Jenn perguntou.
– De mim. – respondeu baixinho. – Eu sou uma bagunça.
– Pelo amor de Deus, ! Isso é besteira.
– Eu disse, é complicado.
Quando voltaram ao trabalho, a cabeça de não conseguia se concentrar nos relatórios. Não era nem a usual dor nas costas dos hematomas que geralmente escondia que a distraiam, mas sim pensar em .
Bem, estava naquele ponto crucial dos clichês doas quadrinhos que gostava. Dentro todas as sensações de poder que ela já havia apreciado, nada se comparava aquelas três palavras.
Eu te amo.
Como ela podia permitir que a amasse sem que ela sequer pudesse mostrar o seu verdadeiro eu para ele?
Who run the world?
Nova York, 21 de novembro de 2015.
00:56 PM – Roar em ação
Mais uma vez ela havia sido atraída para uma das armadilhas.
Assim que Roar aterrissou no chão com a graciosidade de um gato, os capangas liberaram as vítimas. Ela sabia que estava fazendo exatamente o que eles queriam, e se sentia um passo atrás deles por isso. Mas, enquanto não conseguia descobrir mais informações sobre os planos de Pierrot, ela ficava nesse jogo. Os capangas a atraim para algum lugar usando pessoas inocentes como iscas, ela tinha de ir para que os civis pudessem ser libertos, eles a atacavam, lutavam, e todos fugiam quando a polícia chegava. Eram como cães e gatos.
Ela já preparava um soco quando o palhaço ergueo as mãos para o ar em sinal de redenção.
– Eu só tenho uma mensagem. – ele disse, erguendo o bilhete no ar e atirando na direção de Roar, que usou sua agilidade para pegar pouco antes do papel atingir o chão.
Seu sangue gelou.
Não era um bilhete, era uma página de roteiro. Um roteiro que ela conhecia bem, pois já havia lido várias vezes. O roteiro de .
A próxima coisa que sentiu foi o nariz do palhaço quebrando contra a força de seu punho.
– ONDE ELE ESTÁ? COMO ELE DESCOBRIU? – Roar rugiu.
You'll do anything for me
Nova York, 21 de Novembro de 2015.
01:02 A.M. A pior madrugada da vida de Roar.
Ela invocou toda a velocidade animalesca que podia. Havia deixado a capanga – bem machucado, é verdade – no beco e avisara a polícia em um telefonema anônimo para buscá-lo. Assim que avistou o prédio de , invocou a resistência de uma tartaruga e quebrou o vidro da janela, se lançando para dentro do apartamento.
Uma onda de amargura a atingiu quando viu a casa dele revirada.
Finalmente as consequências de seus atos haviam atingindo Roar. Por mais que se disfarçar e correr por aí usando suas habilidades a fizessem sentir livre, não havia como separar para sempre a civil da super–heroína. Por mais que ela se sentisse praticamente outra pessoa quando estava em ação, não era uma fantasia ou um codinome que a manteriam protegida para sempre. Cedo ou tarde, a identidade secreta e a vida de vigilante iriam colidir. Ela só não esperava que seia de forma tão violenta assim.
Na parede da sala, bem grande, haviam algumas coordenadas pichadas, junto com um rostinho sorridente. Miller, a Roar, sentiu um tipo de animal diferente tomar conta de seu corpo: o desespero.
“Roar, Roar, querida...Você faria qualquer coisa por mim? Olhe o roteiro e descubra onde me encontrar”
Não eram só as mentiras e ocultações que seriam um empecilho no relacionamento, ela podia não ter uma Tia May com quem se preocupar, mas havia esquecido completamente de sua Lois Lane.
Ela havia passado tempo o suficiente com para saber que fazer exatamente o que o seu grande vilão quer não é uma boa ideia, mas não tinha outra escolha se não começar a revirar as páginas do roteiro espalhado na esperança de encontrar mais mensagens de seu nêmeses.
Lembrou de quando o conheceu, na verdade, das duas vezes que o conheceu: No banco, em uma das vezes em que enfrentou Pierrot e no jantar quando enfrentou a vontade de Jenn de arrumar um namorado para ela.
Lembrou de sua paixão por cinema, de como ele conseguia explicar desde aqueles filmes de arte esquisitos que ela não entendia direito, e se divertir com os grandes blockbusters com os famigerados heróis que lhe davam uma agonia maior ainda. Ele geralmente detestava comédias românticas, mas já viu que ele tinha assistido algumas quando entrou no seu perfil da netflix.
Ela tinha ido de completa noob da sétima arte para o nível Capitão américa
de entendi a referência por causa dele.
Lembrou das vezes que ele sempre a entendia, que não questionava seus atrasos, que a abraçava e a beijava.
Lembrou até das vezes que ele lia as matérias a respeito de Roar com uma admiração tão grande que chegava a causa ciúmes de si mesma.
Lembrou dele dizendo que a amava, e que ela, assustada, nunca conseguiu responder.
Todas essas lembranças a impulsionaram a inspecionar folha por folha – com sua velocidade e agilidade sobre humanas, claro – até que finalmente encontrou o endereço que tinha o mesmo rostinho sorridente da parede desenhado ao lado.
Pulando a janela, Roar correu direto para mais uma armadilha de Pierrot.
My persuasion
Can build a nation
Endless power
The love we can devour
Nova York, ainda 21 de Novembro.
02:16 AM. – O Confronto de Roar e Pierrot
Era um galpão abandonado. Deuses, que previsível!
Roar invocou seu radar de morcego para rastrear quantas pessoas haviam lá dentro, para sua surpresa, só quatro. Duas deveriam ser Pierrot e , outras duas provavelmente ajudantes do seu coringa personalizado.
Ela tentava arquitetar um plano de última hora, mas cada segundo que perdia poderia ser um segundo a menos na vida de . Se já se sentia culpada pelos desconhecidos que haviam sido colocados em perigo, não conseguia cogitar a possibilidade de ser responsável se alguma coisa acontecesse com seu namorado. Ou ex. Duvidava que ele manteria o relacionamento depois dessa.
É, não é tão fácil quanto parece ser a Lois Lane.
Por fim, resolveu que entraria no jogo de cabeça erguida. Enfrentaria Pierrot, precisava respirar fundo e acreditar que o derrotaria no seu próprio tabuleiro.
Lembrou da cena onde a princesa Leia entrava no covil do Jabba the Hutt para salvar o Han Solo em um dos filmes de Star Wars. se sentiria orgulhoso ao menos disso, mas esperava que ela não terminasse vestindo um biquíni de metal horroroso.
– Roar, Roar, querida... pensei que não chegaria nunca. – Pierrot disse com uma voz um tanto manhosa. – Nós estávamos te esperando.
Quando ele disse isso, as luzes de todo o galpão se acenderam. O lugar era grande, o maior espaço vazio era o centro, onde o palhaço do crime estava esperando Roar. Em volta, o lugar era cercado por uma estrutura de metal que pareciam vários andaimes formando uma espécie de segundo andar. Na estrutura a frente da entrada por onde a super–heroína havia entrado, estavam os dois capangas. O seu coração saltou ela viu , amarrado, amordaçado e com o supercilio sangrando.
– Segui suas ordens, solte o civil. – ela disse sufocando sua dor e sendo o mais imponente o possível. Ela era Roar agora, não . A roupa preta, a máscara e o capuz sempre a davam uma sensação de ser invencível, e agora era a hora de testar isso. Precisava salvar o cineasta, devia isso a ele.
– Assim, tão fácil? Mas nós nem nos divertimos ainda! – Pierrot disse levantando o braço no ar. Os capangas arremessaram para fora da estrutura de metal, e ele ficou pendurado de ponta cabeça no ar, praticamente no lugar onde Pierrot havia apontado.
– O que você quer? Me matar? Já estou aqui Pierrot, eu me rendo, agora solte ele. – Roar disse.
– Se render? Não, não, não... – Pierrot dizia com sua voz manhosa. A maquiagem branca com a pintura de uma lágrima escorrendo em seu rosto dava um ar extremamente melancólico para aquela figura sinistra. – O que eu faria se você se rendesse? A vida seria um tédio, você consegue escutar isso? Um tédio! Como eu poderia te matar? O que faria sem você?
Aquilo era a pior coisa que Roar poderia ter ouvido porque era a confirmação de toda a sua culpa.
Pierrot só estava atacando as pessoas para chamar a atenção dela, as gangues dos palhaços estava aterrorizando Nova York há meses por culpa dela e também estava correndo risco por causa da ideia idiota da garota de se tentar ser a heroína de alguém, sendo que agora, ela não conseguia salvar nem a si mesma.
– O que você quer? – Perguntou.
– Roar, Roar, Roar, Roar, Roar... – ele repetiu diversas vezes em um murmúrio. – Um Pierrot apaixonado, que vivia só cantando... – seu murmúrio cresceu e começava a tomar ritmo. – Por causa de uma colombina, acabou chorando, acabou chorando...
Roar reconheceu a marchinha de carnaval e logo se sentiu enjoada ao perceber o que ele estava querendo dizer.
– Não vai acontecer. Eu vou acabar com você, eu juro, eu vou acabar com você. – Roar ameaçou e Pierrot riu levantando sua mão, de forma bem teatral, no ar novamente. Um zunido forte cortou o ar e o grito abafado da vítima foi o pior golpe que Roar poderia ter sentido. havia despencado no ar e parado a poucos milímetros do chão, depois começou a ser içado novamente para cima. Cair daquela altura de cabeça, seria impossível para alguém resistir... e se resistisse, logo os capangas fizeram questão de mostrar suas armas apontadas para ele.
Pierrot se aproximou saltitando da mulher, sorrindo debilmente enquanto ainda cantarolava a marchinha de carnaval sobre o amor de Pierrot e Columbina.
– Estava dizendo? – ele disse quando chegou bem perto do rosto dela.
– Eu odeio você.
– Eu preciso de você. Eu não existo sem você. – Pierrot colocou as mãos sujas de maquiagem branca no rosto de Roar, segurando firme para fazer com que ela o encarasse. – Você é quase perfeita, só precisa de um empurrãozinho para virar minha Columbina, sabe? Nós somos tão parecidos!
– Não. – Roar disse com aquela voz que parecia o som de uma cobra novamente.
– Somos sim, você sabe que sim! Vivemos da violência, querida, por isso precisamos ficar juntos. – dizendo isso, Pierrot acertou um forte soco no rosto de Roar e puxou uma faca de sua manga bufante.
– Você não pertence a ele, pertence a mim, Roar! – Pierrot disse chutando a garota no estômago. – Sem você eu não existo, e você não existe sem mim. De quem você vai salvar a cidade? Em quem você vai bater até saciar o animal que tem ai dentro de você? – continuou gritando enquanto fazia um movimento rápido que resultou em um corte fino no braço de Roar – Você precisa de mim, por isso me pertence. Não a ele, aquele coitado civil, acredita que nem precisamos bater muito até ele desmaiar?
– Eu não pertenço a ninguém. – Roar rugiu, sentindo aquela fúria selvagem despertar dentro de si. Se colocou de pé em um salto e agarrou a mão que Pierrot trazia a faca, torcendo-a para trás até que elas caísse no chão e ele resmungasse de dor. Enquanto segurava o braço, aproveitou para deferir um forte soco no rosto do palhaço, que cambaleou antes de revidar na mesma moeda.
Disrespect us? No they won't
– Está vendo, está vendo! Você precisa de mim! – Pierrot dizia entre os dentes enquanto chutou as perna de Roar fazendo com que ela perdesse o equilíbrio e caísse no chão – O Pierrot apaix...
– Não se atreva a cantar essa merda de novo. – ela gritou tentando se colocar de pé, mas Pierrot foi mais esperto e logo pisou com toda força em uma de suas pernas, fazendo uma pontada de dor aguda subir por seu corpo. Para sua surpresa, o palhaço sorriu abertamente.
– Roar, Roar, só eu sou o suficiente para você. – ele dizia debilmente. – Só eu aguento você, viu? Eu aguento a violência, ele? Olha só! – Pierrot deu mais uma vez o sinal, e Roar esperou que a zumbido da queda acontecesse novamente. Para seu espanto, ela demorou meio segundo até perceber que não havia se movido, e o único som que ele ouviu foi o de seu grito abafado pela mordaça e o do tiro de um dos capangas. Logo depois, uma gota de sangue atingiu o chão.
– NÃO! – Roar gritou pulando para cima de Pierrot. A fúria tomando conta de si enquanto derrubava o palhaço no chão e desferia um soco em seu rosto.
E socou de novo.
De novo
De novo
De novo
Logo suas luvas estavam cobertas com o sangue de Pierrot, assim como todo o rosto do palhaço, que, apesar de já ter perdido alguns dentes por causa dos golpes, ria deliberadamente.
Foi ai que de repente, olhando para aquele rosto praticamente desfigurado, ela entendeu o porquê ele havia feito Roar ir até lá
Ela nunca havia matado ninguém, mas já tinha ferido. Ela usava de sua própria força para fazer a sua justiça, usava se sua força para impor o que ela acreditava. Se ela cruzasse aquela linha, se ela continuasse a bater em Pierrot até mata-lo, ela se tornaria a Columbina. Ela seria igual ele.
Se afastou, e fez aquilo que jamais pensaria fazer em uma batalha: chorou. No entanto, sabia que chorar ali não era um sinal de fraqueza, mas sim da maior força que ela poderia ter.
Não seria igual a ele.
Pierrot continuava rindo. Roar usou as luvas para improvisar amarra rápida para ele, embora estivesse tão ferido que não seria capaz de levantar e fugir de qualquer forma. Seu ataque havia sido tão forte, que além de quase matar Pierrot, havia feito com o que os seus dois capangas fugissem. É, parece que o palhaço do crime não pagava tão bem assim a ponto de ter fidelidade.
Usou o celular pré pago que mantinha para quando precisava se comunicar com as autoridades de forma anônima e informou os primeiros socorros e a polícia.
Então correu até o andaime, e baixou a corda bem devagar até que atingisse delicadamente o chão, depois correu até seu corpo, certa que já o havia perdido.
– Me desculpa. – ela disse enquanto tirava a mordaça de . O coração pulou de alegria quando ela ouviu um gemido de dor sair daqueles lábios. Ele estava vivo!
– Então... nos encontramos de novo. – seus olhos buscaram pelo rosto de Roar e ele tentou sorrir, o que não foi boa ideia, porque todos os seus músculos doíam.
– O socorro já vai chegar, certo? Preciso que você aguente firme. – Roar disse soltando as cordas que amarravam o corpo dele. Logo conseguiu encontrar o ferimento de bala na coxa esquerda do rapaz, por sorte não teria acertado nenhum órgão vital, mas ele estava perdendo muito sangue. Roar puxou a barra de sua blusa, invocando só um pouco de força, e rasgou um pedaço de pano generoso para amarrar a perna dele e fazer um torniquete.
– Ótimo truque, onde aprendeu? – murmurou.
– Em um assalto a banco, um cara legal me ensinou. – Roar voltou a olhá-lo no rosto e não pode evitar deixar um pequeno sorriso aparecer em seu rosto.
– Unhum... Escute... Eu estive pensando, será que você caiu em um tanque de químicos? Ou um raio te atingiu? – brincou lembrando de suas teorias que ele havia criado para saber como Roar havia ganhado seus poderes. – Roar estava tentando se manter distante para que seu disfarce não fosse descoberto, mas era muito difícil tentar ficar imparcial ali. As lágrimas voltaram a cair.
– Não chora. – disse. A voz dele estar soando tão baixa só fazia com que Roar quisesse chorar mais ainda.
– Ele te usou como isca para me atrair para cá, eu sinto muito por isso, sinto muito não ter conseguido impedir. O que você deve ter passado nessas últimas horas...
– Tudo bem. – interrompeu . – Sabia que você ia me salvar.
– Como podia ter tanta certeza?
– Eu sei que no final você sempre aparece, meu amor.
Don't be scared to run this, run this back
Nova York, 23 de novembro de 2015.
09:00 A.M – Uma manhã comum para o hospital de NY (mas incomum para Roar)
– Estava começando a achar que você não viria. – disse para , que estava receosa na porta do quarto, segurando um balão de melhoras que parecia estar recheado com o peso da pior ideia que ela podia ter tido na vida.
– Não sabia o que dizer. – ela admitiu.
– Melhoras é um bom jeito de começar, então espero que esse balão seja para mim. – ele sorriu. Dessa vez um sorriso decente, não aquela careta que tinha visto da última vez, em que ele estava sendo levado por uma ambulância.
– Como está se sentindo? – seu rosto parecia melhor, embora ainda houvesse alguns pontos no supercilio e o tom arroxeado em volta daquele olho, a perna estava coberta pelo lençol azulado do hospital, então ela não tinha como tentar dar um veredito sobre isso.
– Melhorando. – ele disse.
– Jenn disse que você teve de fazer transfusão de sangue. – resmungou.
– Tive que fazer várias coisas, mas estou bem agora.
– Fico feliz.
– Obrigado.
Um silêncio constrangedor caiu sobre os dois. começou a se questionar se deveria ir embora. Na verdade, começou a tentar entender porque havia aparecido lá de qualquer forma, afinal, acreditava que só estava internado por causa dela.
– Eu sei que as coisas estão esquisitas, e que você está assustada, eu também estou, sabe... mas... mas eu queria mesmo que você chegasse perto de mim, . Ficar ai parada na porta, parece que você vai sair correndo a qualquer minuto, e isso é uma das coisas que mais me assusta. – poucas vezes ouviu a voz dele soar tão séria.
Devagar, ela deu alguns passos para mais perto da cama onde ele estava deitado. Deixou aquele balão bobo flutuar até o teto, se juntando a alguns outros. O quarto de tinha vários balões e flores. Jenn havia contado que e ela e Léo haviam levado um balão – foi por isso que momentaneamente ela achou que seria uma boa ideia. Quantas pessoas que se importavam com o naõ estavam sofrendo também?
– Me desculpa. – foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
– Não é sua culpa. – ele disse.
– Claro que é, eu te coloquei em risco sem você nem saber. Quer dizer... – hesitou. – Você sabia.
– Sabia. – ele disse se referindo ao obvio.
– Há quanto tempo? – , ou Roar, perguntou incisiva.
– Acho que sempre soube, bem... não com certeza, mas sempre desconfiei. Primeiro, pela sua voz. Mesmo usando máscara e capuz, e que quando você lute sua voz meio que fique... hã... mais forte, feito um rugido, ainda era o mesmo timbre.
se sentiu um pouco tapada por ter deixado escapar um detalhe desse tamanho. Ela havia conversado na tarde do Banco com , e logo depois eles se conheceram.
– No começo achei que eu estava ficando doido, vou confessar. Achei que era coisa da minha cabeça querendo juntar o meu amor platônico pela super–heroina com a garota que eu estava conhecendo de verdade, e não por trás de manchetes e fugas de escombros. Mas aí bem, tinha os seus atrasos, e as vezes eu notava alguns machucados em você que sumiam rápido demais, então me lembrei que Roar havia me dito que ela se regenerava rápido como uma lagartixa, sabe, e por último, acho que essa nem você deve ter percebido, mas você ronrona as vezes.
– Eu o que? Quando?
– Você ronrona. – ele repetiu, mordendo o lábio para segurar uma risada maliciosa. – Você sabe, quando a gente....
– Ah não! – ela interrompeu. – Não acredito. – ela riu parecendo aliviar um pouco a tensão do lugar.
se rendeu e tocou de leve a mão de , e ele de leve tomou a inciativa de entrelaçar os seus dedos.
– Você sabe que eu não podia contar, não é? – ela disse tentando segurar o choro.
– Eu entendo. – ele disse.
– De qualquer forma, não vou mais fazer isso. Muitas pessoas já se machucaram por causa de mim.
– O que? Como assim? – indagou surpreso.
– Não posso mais ser ela. Você está aqui por causa dela. – respondeu abaixando o tom de voz.
– Não! – disse. – Eu estou aqui por culpa do Pierrot, e você está ai chorando por culpa minha. Sou eu quem deve pedir desculpas, não você! – encarou , sem entender direito, esperando que ele continuasse.
– Olha, eu sei como ele descobriu o seu segredo, certo? Foi culpa minha. Quando ele invadiu minha casa e me sequestrou, enquanto me batia, chegou a agradecer. Ele me agradeceu por entregar você! Foi com aquele vídeo idiota que eu gravei no meu celular no dia do assalto ao Banco que ele descobriu a . Tinha um frame que dava pra ver um pouco melhor o seu rosto, ele estava há meses com as gangues contratadas roubando dados do governo sobre os cidadãos de Nova York, além de estar atacando todas as mulheres na esperança de te encontrar. Foi a minha ideia idiota e irresponsável de te filmar sem sua permissão que me colocou nas mãos do Pierrot e não você! Tudo o que a Roar fez foi me salvar pela segunda vez, e salvar várias outras pessoas, ela não pode sumir!
– Mesmo assim, ... – ela recomeçou pensativa. – Em uma coisa Pierrot está certo, ele precisa da Roar. Sem ela, ele não existe. Então talvez seja melhor para Nova York que os dois desapareçam.
Mais uma vez um silencio constrangedor tomou conta do lugar, até que eles ouviram lever batidas vindo da porta.
– O horário de visitas já vai acabar. – uma enfermeira de feições delicadas avisou e logo saiu, dando mais alguns minutos para que eles se despedissem.
– Preciso ir. – disse.
– Você vai voltar? – perguntou. mordeu o lábio.
– Seria mais seguro não.
– Eu não ligo para o mais seguro, eu ligo por aquilo que nós sentimos! Eu aceito você da forma que for, , eu falei muito sério quando disse que te amo. Se for me deixar, que seja porque não gosta de mim, se for por isso eu vou entender e aceitar. Só não se afaste com a desculpa de que quer me poupar de alguma coisa, por favor, se quiser me poupar de algum sofrimento, que seja o de ficar longe de você.
deixou algumas lágrimas escaparem, bem devagar, ela beijou delicadamente os lábios dele.
– Eu também amo você. – sussurrou. sorriu.
– Então você vai voltar?
– Vou.
FIM.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.