Finalizada em: 04/07/2020

Capítulo Único

estava sentada no chão da sacada de seu apartamento enquanto bebericava uma taça de espumante. A temperatura amena do outono lhe permitia fazer isso várias vezes na semana, o que acabou se tornando um hábito ao longo do primeiro ano de universidade. Setembro sempre foi um de seus meses favoritos, pois durante muito tempo significou que ela voltaria para seus amigos da escola e agora deveria significar o reencontro com Gail, caso ela não estivesse prestes a tomar uma das maiores e mais drásticas decisões de sua vida.

“Você tem uma vida perfeita.”
Durante muitos anos aquela frase ecoou em seus ouvidos, tanto que sua mente tomou aquilo como verdade absoluta. As pessoas que viam de fora realmente poderiam encarar aquilo como verdade já que ela vinha de uma família rica, mantinha um relacionamento de anos com seu namorado de colégio e cursava Direito em uma das melhores universidades do país, seguindo a tradição da família .

“Você tem uma vida perfeita.”
Quanto mais a frase se repetia em seu subconsciente, mais ela tinha consciência do quão irreal aquela afirmação era. Ela amava Jeremy, esse era um fato inquestionável. No entanto, quando pensava num futuro ao lado dele, achava-o pequeno demais para o que ela ansiava como seu propósito de vida. A paixão que a arrebatou nos anos iniciais do Ensino Médio não já mais existia há um bom tempo, ela apenas não queria admitir para si mesma. Até gostava de algumas matérias da graduação que cursava, mas estava longe de ser fascinada pela profissão. O amor que nutria por sua mãe era puro, verdadeiro e gigante, porém não queria que sua vida seguisse pelo rumo mais confortável, como a mais velha havia feito. Ela não queria aceitar as coisas simplesmente porque eram convenientes, como casar-se com Jeremy e trabalhar no escritório de advocacia do pai.
Ela queria mais.
Queria viver uma vida própria, não a sombra da família ou do namorado.

Por isso, aquele setembro de 2014 ficaria marcado para sempre em sua vida não pelos reencontros, mas pelo divisor de águas que foi. Duas semanas antes do semestre iniciar ela decidiu largar a faculdade, terminar com Jeremy e mudar-se para a cidade de Valencia, onde tinha sido aceita no Instituto de Artes da California.

O término com Jeremy havia saído melhor na prática do que nos incontáveis treinos que ela havia feito na frente do espelho de seu banheiro. Talvez tenha sido pelo fato dela ter despejado tudo de uma vez só, deixando-o perplexo. Enquanto ele abria a boca diversas vezes em busca das palavras que pareciam fugir dele como o diabo foge da cruz, se aproximou depositando um beijo na bochecha dele e saindo rapidamente do local.
Desde que havia tomado a decisão de mudar completamente sua vida, ela sabia que a conversa mais difícil seria com seus pais, mas mais especificamente com seu pai. Enquanto crescia, adorava ouvir histórias sobre os casos que ele havia defendido e adorava como os olhos dele brilhavam ao dizer que um dia trabalhariam juntos no escritório e que quando ele se aposentasse ela seria a responsável por dar continuidade ao legado. Ela fantasiou com o futuro profissional promissor que teria ao lado do pai, mas toda aquela fantasia havia evaporado antes mesmo dela fazer a aplicação na universidade. Pensou que ao começar a frequentar as aulas o sentimento pudesse voltar, mas estava enganada. Dedicou-se ao máximo durante os dois primeiros semestres, mas não foi o suficiente. Não era aquela a profissão de seus sonhos. Ela queria ser fotógrafa. Queria ser a responsável por eternizar em imagens momentos inesquecíveis da vida dos outros e de quebra participar, por tabela, daquelas lembranças.
Quando abriu seu coração para seus pais esperava que eles a questionassem a razão daquilo tudo e esperavam que fossem tentar fazê-la mudar de ideia, e estava totalmente preparada para aquilo. No entanto, ela não estava nada preparada para ouvir as palavras que saíram dos lábios do Sr. .
— Eu não te reconheço mais. Você me decepcionou. — Foram apenas duas frases, mas o suficiente para quebrá-la em diversos pedacinhos. Ele saiu da sala e a mãe apenas olhou-a com lágrimas nos olhos e rumou atrás do marido, deixando uma soluçando no meio da sala. Realmente sabia que eles não iriam apoiá-la de início, mas as palavras do pai e o olhar da mãe demonstravam que aquele apoio ela jamais teria. Se correr atrás de seus sonhos para ser plenamente feliz significava decepcioná-los, então era aquilo mesmo que ela faria.

~*~

— Argh, preciso de um banho. — disse a si mesma ao desempacotar a última caixa com suas coisas. Como o apartamento que moraria em Valencia era totalmente mobiliado, ela apenas se preocupou em empacotar os itens como roupas, acessórios, livros e algumas peças de decoração, o que acabou por agilizar bastante na mudança. Depois de tomar um banho demorado e vestir roupas confortáveis, decidiu que seria bom sair para explorar nem que fosse a rua de seu novo lar. Não muitos passos longes dali ela encontrou a Corner Bakery Café e não pensou duas vezes antes de entrar.
— Um cheesecake de morango e um latte, por favor. — Ela fez o pedido a simpática senhora atrás do balcão e escolheu uma mesa próxima da janela para sentar-se. Enquanto esperava ser servida, passou a observar as pessoas que estavam ali e seus olhos fixaram-se na mochila de uma garota sentada na mesa ao lado, que tinha as iniciais do Instituto de Artes da Califórnia bordado. Ergueu os olhos e encontrou a dona do acessória a encarando de forma engraçada. sentiu as bochechas corarem e se sentiu obrigada a dar uma explicação.
— Eu vou estudar lá também... — Ela declarou baixinho, mas a garota conseguiu lhe entender e sorriu antes de questioná-la.
— Qual curso?
— Fotografia. — Disse com os olhos brilhando de entusiasmo. — E você cursa o quê? — Design Gráfico. Acho que você vai gostar muito do IAC.
— Também acho! Mas de qualquer forma, sou obrigada a gostar... — Ela soltou uma risada nasal, compreendida apenas por ela mesma. Logo a senhora simpática estava depositando seu pedido na mesa e ela agradeceu.
— Você não é daqui, né? — A estranha da mesa ao lado questionou, fazendo sorrir novamente.
— Não, sou de Chicago.
— Wow, que legal!
— Você é daqui mesmo?
— Nascida e criada! Aliás, eu sou a . — Sorriu. — Prazer, . Sou a .
— Prazer, . Eu preciso ir agora, mas anota meu número e qualquer coisa que você precisar pode me chamar. Será um prazer ajudar uma moradora nova e uma colega de IAC. — Sorriu e entregou um papel com seus dados.

— Bom dia, caloura! — pronunciou assim que viu cruzar o portão principal do Instituto de Artes da Califórnia.
— Bom dia, senhorita experiente. — A deu de língua para a outra.
— O seu prédio fica para aquele lado. — Ela apontou para o lado direito do campus. — Vou te levar até lá e você pode me retribuir com um lanche. — Riu.
— Abusada! Mas eu topo... passei tanto tempo correndo com todos os documentos necessários para a matrícula de última hora que vai ser bom explorar mais um pouco da cidade.
— Eu sabia que você ia topar. Agora vamos logo que preciso te entregar e não posso me atrasar para a aula do Sr. Foreman. começou a caminhar e a novata teve de dar uma corridinha para alcançá-la.
— Boa aula, . Não durma e nem fique paquerando os coleguinhas.
! — Ela riu. — Você é mesmo maluquinha. Boa aula para você também! — não esperou pela resposta, adentrando a sala de aula no mesmo instante. Cerca de um minuto depois sentiu o celular vibrar e tirou o aparelho do bolso. “Já que você me deixou falando sozinha, só quero reforçar que vou te esperar no mesmo local em que nos encontramos antes para você pagar o que me deve. xXx.” riu em silêncio e digitou rapidamente uma resposta, já que o professor adentrava o ambiente naquele instante.

— O que achou da sua primeira aula? — questionou enquanto elas almoçavam num pequeno restaurante próximo ao campus.
— Maravilhosa! — exclamou, sentindo-se verdadeiramente feliz. — Eu nunca me senti empolgada assim enquanto cursava Direito.
— QUÊ? — A outra gritou atraindo olhares dos outros clientes. sabia que ainda era uma desconhecida, mas se sentia tão confortável perto da garota que decidiu compartilhar sua história.
— Lá em Chicago todos costumavam dizer que eu tinha uma “vida perfeita”. — Fez aspas com os dedos nas últimas palavras. — Família com dinheiro, um relacionamento sólido com o meu high school sweetheart, estudava direito em uma ótima universidade e estava com a carreira encaminhada no escritório do meu pai. As pessoas ao meu redor repetiam tanto a frase que eu acabei tomando-a como verdade, sabe? — fez um gesto positivo com a cabeça, mantendo-se em silêncio. — Até o dia em que eu me dei conta que estava indo quase pelo mesmo caminho da minha mãe e não é isso que eu quero para a minha vida. Não que eu não goste das facilidades dessa vida, mas, cedo ou tarde, eu ia acabar sendo uma pessoa infeliz. Eu ainda não sei exatamente qual é meu propósito nesse mundo, mas acredito que seja muito mais que continuar o legado dos na advocacia.
Quando finalizou, a olhava claramente em dúvida do que dizer.
— Nossa. É muita informação para digerir com esse almoço... — Tomou um gole de seu suco. — Mas eu acho que se você não estava feliz naquela situação, fez bem em mudar. Eu vi o brilho nos seus olhos quando falou do curso na IAC, não tem como dar errado. E eu sei que a gente mal se conhece, mas pode contar comigo como sua primeira amiga em Valencia. — Sorriu. teve vontade de abraçá-la, mas controlou o ímpeto, agradecendo-a com palavras.
— Suas palavras significam muito para mim. De verdade, . Minha família e meus amigos foram todos contra essa mudança que eles chamam de loucura, então os dias não têm sido exatamente fáceis, embora estar aqui seja o que eu realmente quero.
— Não posso nem imaginar... mas vida que segue. — Ambas sorriram e deixaram a conversa um pouco de lado para saborear o delicioso almoço.

— Seja bem-vinda. — disse ao abrir a porta e dar espaço para entrar no apartamento.
— Vai me dizer para não reparar na bagunça? — Perguntou em tom de zombaria.
— Poxa, você cortou o meu barato de utilizar a frase tradicional! — A fez bico. — Mas vamos ao que interessa... — Fez sinal para que a outra lhe acompanhasse até a cozinha.
Era sexta-feira à noite e era a primeira vez que visitava seu apartamento. Depois de uma semana corrida de estudos, tudo o que ela queria era relaxar ao lado de quem tanto estava lhe ajudando desde que se conheceram. Embora a temperatura extremamente baixa não permitisse que elas bebessem sentadas no chão da sacada como tanto gostava, isso não impediu que o hábito fosse adaptado. Posicionaram as taças de vinho na mesinha de centro e deixaram que os corpos fossem envolvidos pelo tapete fofo da sala.
— Nossa, eu poderia dormir aqui.
— Posso te garantir que a cama do quarto de visitas é muito mais aconchegante para se passar a noite.
— Porra! Você tem um quarto de visitas? — A surpresa na voz de era perceptível.
— Sim... — Declarou meio insegura pela forma como a amiga havia reagido.
— Eu tenho um quarto sobrando agora no meu apartamento porque a menina que dividia comigo se formou no semestre passado e ainda não consegui ninguém para substitui-la. Certamente um quarto de visitas não é um luxo que eu poderia ter... Como você paga tudo isso aqui?
— Com o dinheiro que ganhei dos meus pais durante os anos... — Mordeu o lábio inferior e levou a taça a boca para bebericar o líquido vermelho de maneira a disfarçar seu desconforto com aquele assunto. Percebendo que uma leve tensão havia se instalado no ar, resolveu mudar o foco da conversa.
— Você tem ido ao café ultimamente?
— Acho que já faz duas semanas que não vou.
— Rá! ‘Tô sabendo. Estive lá hoje e a senhora Goldfish me disse que está com saudade da “”. — Ambas riram. — Você sabia que ela vai tirar uma espécie de licença?
— Mas ela não é a dona do café?
— Sim, mas a filha dela vai ter um bebê e ela quer ficar totalmente à disposição.
— Que amor! — exclamou.
— Então, ela está buscando alguém para substituí-la no café. Caso alguma de suas colegas de aula esteja interessada...
— Pode deixar!
Ouviram o interfone tocar e soltaram gritinhos de exclamação, pois finalmente matariam a fome gigante que sentiam.

Depois que recusou seu convite para dormir lá e foi embora, começou a refletir sobre aquela pequena conversa. De fato, ela nunca havia pensado sobre aquilo antes de tocar no assunto. De que adiantava trocar de cidade e de curso se ela continuava usando o dinheiro daqueles que a rejeitavam por quem ela era? Para a mudança de vida ser totalmente efetiva, ela precisava parar de viver às custas do montante que seu pai havia lhe proporcionado ao longo dos anos. Sendo assim, decidiu no sábado de manhã iria até o café para se candidatar a vaga.
— Bom dia, senhora Goldfish! — Ela disse animada. Estava morrendo de nervosismo por dentro, mas faria de tudo para não deixar transparecer.
— Bom dia, minha favorita! Mas já te pedi trezentas vezes para me chamar apenas de Kim.
— Me desculpe, senhora.... digo, Kim. Força do hábito. — Ambas riram.
— O que vai querer hoje, minha querida?
— Um croissant de presunto e queijo, um capuccino e uma palavrinha com a senhora. — Sorriu. A senhora a olhou curiosa e pediu que ela se sentasse em uma das banquetas altas em frente ao balcão. Pouco tempo depois, serviu o seu pedido e fez sinal para que ela continuasse.
— Soube que o netinho está cada vez mais próximo de chegar...
— Sim! Estou tão ansiosa!
— Só imagino, sen... Kim. — colocou a mão sobre os lábios e a mais velha riu. — Também soube que está procurando ajuda aqui no café... Vou ser sincera, eu não tenho nenhuma experiência, mas tenho vontade de aprender. Eu gosto de trabalhar com pessoas, gosto de comer e amo café. — Fez graça e notou que os olhos da mulher a sua frente brilhavam.
, você está falando sério? — alargou o sorriso e balançou a cabeça em concordância. — Então o emprego é seu!
— O quê? — Deu uma leve engasgada com o líquido quente que bebericava. — Digo, não vai fazer nenhum teste ou algo do tipo? — Veja bem, minha filha. Este café é feito de amor e isso eu já percebi que você tem de sobra. Venha na segunda-feira para iniciar seu treinamento. Depois ajustaremos os horários de acordo com as suas aulas.
— Eu não sei nem como te agradecer pela oportunidade, sério! Quando eu tiver meu próprio estúdio eu prometo que as paredes serão decoradas com muitas fotos da senhora e da Corner Bakery Café. — tinha os olhos marejados e beijava as mãos da sra. Goldfish que ria e a mandava parar com aquilo.

Se ela fosse personagem de um musical certamente sairia do café espalhando doces melodias para os moradores. O sorriso estampado em seus lábios era reflexo da gratidão que preenchia seu peito, bem como uma pitada de orgulho próprio. Caminhou até o apartamento em que morava e tocou o interfone, torcendo muito para que ela estivesse acordada.
— Oi?
— Oi, abusada. É a .
A amiga liberou sua entrada e lhe aguardava na soleira da porta.
— A que devo a honra neste lindo sábado de sol?
— Para sua informação, o céu está nublado. — Respondeu assim que adentrou o apartamento. — Eu vim te contar uma novidade...
— Opa, adoro! Desembucha....
— Você me fez refletir muito ontem quando me questionou como eu pagava aquele apartamento gigante em que moro. Eu percebi que preciso andar totalmente com as minhas pernas... Então fui até a Sra. Goldfish e consegui o emprego no café!
— Tá brincando?!?!
— Felizmente não. Começo na segunda-feira.
— Isso é ótimo, ! ‘Tô muito feliz e orgulhosa de você! — deixou a xícara de café de lado para poder abraçá-la.
— Obrigada, amiga. Acho que se você não falasse eu ia demorar para ter o clique, sabe? Já que te contei a novidade queria saber se posso te perguntar uma coisa... — mexia em seus anéis enquanto falava, num claro sinal de nervosismo.
— Ai, ai, ai. Não me enrola que isso não faz bem para a minha ansiedade.
— Eu queria saber se... se você ainda está procurando por uma colega de apartamento.
— VOCÊ ESTÁ INSINUANDO O QUE EU ESTOU PENSANDO? — gritava animada. — VOCÊ QUER MORAR AQUI?
Siiiiiiiim! — Exclamou animada, mas em tom mais baixo que a amiga. — Isso se você me aceitar, né.
— Para de ser fazer de sonsa. É claro que eu quero! — novamente abraçou a amiga e elas passaram boa parte daquele sábado combinando como fariam a mudança, como arrumariam as coisas e dividiriam as contas.

~*~

— Eu acho que vou ter que tatuar algo relacionado a setembro, é sério. — disse a assim que elas adentraram na The Canyon, a casa de shows onde iriam assistir ao show da banda favorita de ambas: The Maine.
— Tudo isso é gratidão por ter me conhecido nessa mesma época no ano passado?
— Você é muito convencida, . — Elas riram. — O nono mês do ano parece que sempre reserva algo. Ano passado foi a mudança de vida, esse ano show dos nossos musos e o início do meu segundo ano de faculdade. Ah, ‘tô muito feliz! — Abraçou a amiga pelos ombros.
— Poderia ser setembro o ano todo, né?
— Concordo!
— Eu cheguei a te contar que uma vez usei uma parte de My Best Habit para responder meu ex?
— Dizem que onde palavras falham, músicas falam, né.
— E falam mesmo, já que “para começar, eu não sinto muito por mim ou qualquer parte de mim / eu não vou implorar seu perdão....” cantou baixinho e a amiga riu. — Eu poderia ter usado a letra inteira, mas mandei isso por mensagem e depois postei uma foto e a legenda foi o refrão.
, eu te amo. — estendeu a mão no alto e convidou a outra para um high-five.

As luzes na casa de shows diminuíram e foram a hora da versão fã da entrar em cena, deixando um pouco de espaço também para a versão profissional já que ela havia levado sua câmera fotográfica junto para eternizar aquele momento.
— Vocês estão prontos? — John O'Callaghan perguntou ao público e a resposta da plateia foi ensurdecedora.

Já era seu sexto show do The Maine, mas era seu primeiro naquela cidade e ao lado da nova melhor amiga. Independente de quantas vezes já havia visto eles, a emoção de mais um sonho realizado sempre se repetia dentro de seu coração. Ela deixava o sorriso brincar solto em seus lábios, deixava todos os gritos escaparem de sua garganta e não tentava refrear as lágrimas que às vezes caiam sem que ela percebesse em determinadas músicas ou simplesmente porque estava feliz.
— Obrigada por me acompanhar nessa noite perfeita, .
— Digo o mesmo, .
“Fotos maneiras do show do The Maine!”
O conteúdo da mensagem privada em seu Instagram fez com que sorrisse ao invés de se questionar como aquele desconhecido havia encontrado seu perfil. Abriu o perfil do tal de @ , notando que eles tinham vários seguidores em comum. Pela nada rápida análise do feed, chegou à conclusão de que ele também deveria ser morador de Valencia e estudante do IAC, por isso resolveu se arriscar e respondê-lo.
“Que bom que você gostou.”
Para sua surpresa, o desconhecido estava online e logo outra notificação de mensagem recebida apareceu em sua tela.
“Alguma chance de negociarmos a utilização de algumas das fotos em uma campanha de marketing para a The Canyon?”
ficou um bom tempo encarando a tela do aparelho, sem saber como reagir. Aquilo era uma pegadinha ou era real?
“Quão sério é isso?”
“É seríssimo, eu juro. Se quiser pode vir até a agência onde eu trabalho para ver o projeto que estou desenvolvendo para eles.”
“Eu não, vai que você é um serial killer.”
“HAHAHA Que engraçada!”
“Eu é que não vou dar sorte pro azar...”
“Tudo bem, você tem um ponto. Pode me passar um e-mail de contato para que a gente oficialize tudo?”

informou seu e-mail profissional e desligou o wifi, pois precisava limpar a casa antes que chegasse e comesse seu rim.

— Ca-ra-lho! — exclamou quando viu a notificação que a agência de marketing em que trabalhava havia marcado ela em sua última publicação. Eles haviam postado algumas fotos que ela havia feito no show e deram os créditos também na legenda, dando ainda mais visibilidade ao seu trabalho. Rapidamente encontrou o perfil do homem e lhe escreveu: “Não acredito que você usou mesmo as fotos!”
“Como assim, ? Eu cumpro minha palavra (:”
“Muito obrigada mesmo!”
“Você quem arrasou nas fotos, merece. Falando nisso.... será que poderíamos nos encontrar no sábado à tarde para discutirmos uma nova parceria?”

ficou nervosa com aquela mensagem. Era sério novamente ou ele apenas queria uma desculpa para agir com segundas intenções? De qualquer forma, ela não mentiu ao dizer que já tinha um compromisso e que esse era inadiável. No entanto, algo dentro de si gritou para que ela remendasse a resposta.
“Mas se quiser pode me acompanhar, é bem informal...”
“Você não vai me levar pra conhecer toda sua família e seus amigos, né?”
“Comeu palhacinhos no café da manhã, ?”
“Cadê o senso de humor, ? Só me envia horário e endereço, estarei lá.”


— Você costuma trazer caras para feiras de adoção de gatos? — perguntou divertido quando eles chegaram ao local indicado por .
— Primeiro: eu fiz toda uma mão para conseguir folgar hoje e vir aqui. Segundo: eu estava muito ansiosa por isso. Terceiro: você quem quis me encontrar, não ao contrário. Quarto: isso não é um encontro oficial. Quer que eu continue a lista? — Ela questionou arqueando uma das sobrancelhas.
— Calma, . Eu estava apenas brincando, mas já que estamos aqui pensei que pudéssemos unir o útil ao agradável. — Ele sorriu ladino e a mulher revirou os olhos, soltando um “vamos logo” baixinho. Por dentro ela estava feliz porque o homem a seu lado deu a entender que queria ter um encontro com ela. não era burra e muito menos cega, então era óbvio que ela havia notado a beleza de . Além disso, ele estava ajudando-a profissionalmente e parecia ser inteligente e ter um ótimo senso de humor, sendo as duas últimas qualidades básicas para que ela se interessasse por alguém.
Eles estavam no meio de um parque, então ela o direcionou para um banco para que pudessem se sentar e tratar dos assuntos sérios antes de fazer o que ela realmente se destinou a fazer ali.
— Então, acho que posso usar a oportunidade para te agradecer pessoalmente por ter incluído minhas fotos no projeto da The Canyon. — Ela sorriu para ele.
— Você é talentosa e sou super a favor de incentivar o trabalho local.
— Agradeço por isso. E eu acho que da próxima vez que o The Maine estiver na cidade você podia descolar uns ingressos com acesso ao backstage com o dono do local. — riu da expressão incrédula que ele tinha na cara.
— Então toda a simpatia para cima de mim tinha outro tipo de interesse? — Ele usou um tom de voz como se estivesse ofendido, fazendo-a rir mais ainda.
— Igual o seu de ter um encontro comigo! — Ela normalmente não seria tão direta, mas a convivência com estava sendo contagiosa.
— Contra fatos não existem argumentos. — Ambos riram. — Mas eu queria saber se você teria interesse em fazer alguns freelancers para alguns clientes da agência.
— Vou ser bem sincera, . Eu quero muito me inserir cada vez mais no mundo da fotografia, mesmo sendo apenas uma estudante ainda. No entanto, eu trabalho no café da sra. Goldfish e é isso que tem pagado minhas contas há meses, então eu não posso simplesmente deixá-la na mão. Mas se os horários fecharem, eu estou 100% dentro! — Estava apreensiva com sua resposta, mas precisava ser verdadeira e honrar seus compromissos.
— Entendo e apoio. Quando puder vá até a agência para fazer seu cadastro e formalizar a parceria.
— Pode deixar... Agora vamos? — Ela batia palmas parecendo uma criança.
— Vamos aonde?
— Achar um bichinho para adotar!
— Confesso que achei que você viria aqui apenas para olhar e tirar fotos, jamais pensei que seria uma adotante.
— Não julgue um livro pela capa. — Mostrou-lhe a língua. — Faz muito tempo que eu quero adotar um gatinho, mas a está sempre me enrolando. Já que ela foi passar o fim de semana na casa do peguete, eu uni o útil ao agradável, como você mesmo disse antes.
— Muito esperta... — riu sozinho, pois havia o deixado falando sozinho enquanto corria e gritava “ahhhh”. Seguiu a mulher e a viu segurando um filhote de gato, tão pequeno que cabia na palma de sua mão.
— É esse. Quero adotá-lo. — disse para uma das responsáveis.
— Na verdade é ela. — A mulher sorriu. — Se você tem certeza disso, então vamos fazer os papéis da adoção responsável.

— Bem vinda ao seu novo lar. — A pronunciou ao abrir a porta do apartamento com a gatinha em seu colo e atrás de si.
— Onde você quer que coloque a ração?
— Pode deixar na mesa da cozinha, por favor? Depois eu guardo no porta-ração.
— Você realmente estava preparada, hein.
— Sim! Porta-ração e tigelas de água e comida na cozinha, caixinha de areia no banheiro, caminha no canto da sala. Só não comprei a ração antes porque não sabia se iria adotar um filhote ou um adulto.
— E você já decidiu como vai chamá-la? — achou fofo o interesse dele em toda a situação, mas tentou não pensar muito sobre o assunto.
— Acredita que ainda não? — Fez biquinho.
passou os olhos pelo local novamente, parando na tigela de leite.
— Que tal Milk? Ela é tão branquinha quanto. — olhou para a gata, olhou para a tigela e por fim se pronunciou.
— Eu amei! Muito obrigada por toda a ajuda, . Tanto com a questão das fotos quanto do meu bebê. — Ela sentiu vontade de abraçá-lo e assim o fez. Surpreso, mas feliz com a atitude, ele retribuiu o gesto, envolvendo o corpo dela com seus braços. Depois de alguns segundos naquele carinho, olhou para baixo no mesmo instante em que levantou o olhar. Encararam-se e nenhum dos dois foi capaz de desviar o olhar ou tomar qualquer tipo de ação para repelir o que eles sabiam que aconteceria a seguir. Ele segurou o rosto dela com ambas as mãos e ela fechou os olhos, deixando-se envolver completamente por aquele momento. Quando estavam a milímetros de distância, ele também fechou os olhos e aproveitou cada segundo dos lábios que gentilmente se acariciavam. Escutaram um miado e separaram as bocas, rindo baixinho.
— O que foi, bebezinha? — foi até a pequena Milk, pegando-a no colo e trazendo-a para perto de , cujo coração tinha acabado de derreter por completo naquele instante.

~*~

não compreendia muito bem o que estava fazendo, mas antes que pudesse clicar no ícone para finalizar a chamada de vídeo a mesma já havia sido atendida pela Sra. .
— Oi, mãe. — Ela disse baixinho e abriu um sorriso fraco, pela incerteza da reação da mais velha.
, oi! Não acredito nisso, minha filha. Quanto tempo!
— É... O papai está por aí? — Sentiu os músculos de seus ombros doerem, tamanha era a tensão daquele momento.
— Amor, venha aqui! — Logo um Sr. confuso apareceu no vídeo também, encarando sem reação, obrigando-a a ser a primeira a se pronunciar.
— Oi, pai. — Mordeu o lábio inferior, desviando um pouco o olhar.
— Olá, . — Ela pode ver o resquício de um sorriso sendo repreendido nos lábios do pai, o que aqueceu seu coração e lhe deu mais coragem para continuar.
— Quanto tempo... como vocês estão?
— Estamos bem, querida. Com saudade. — A mãe pronunciou e o pai apenas concordou com a cabeça. — E você, minha pequena?
— Da mesma forma: bem e com saudade.
— O que você tem feito? — A pergunta dessa vez partiu do homem mais velho.
— Estou finalizando os últimos detalhes para abrir meu próprio estúdio de fotografia. — Confidenciou.
— Isso é maravilhoso, ! — Sabia que mesmo sem muita demonstração, a mãe torcia por ela. Não esperava que seu pai fosse torcer exatamente contra seu sucesso, só não esperava que ele fosse demonstrar isso para ela.
— É, tenho de concordar... muito bom mesmo, filha. — Ao escutar aquelas palavras sendo proferidas por ele, não aguentou e deixou que lágrimas rolassem livremente por seu rosto. Saudade, alívio, angústia... tudo se dissipando no líquido salgado.
— Desculpem por isso. — Riu nasalada. — A inauguração não vai ser nada no estilo das festas da família , mas se quiserem comparecer, serão mais que bem vindos.
— Nos envie o convite e veremos o que podemos fazer. — Ao ouvir isso do marido, a Sra. não aguentou e caiu em lágrimas.
— Amor? — Ao ouvir a voz, virou o rosto para o lado, virando também a câmera do celular.
— Bom, não era assim que eu queria que vocês se conhecessem, mas... mãe e pai, este é o , meu namorado. — Voltou a olhar diretamente para a câmera, sorrindo de forma a mostrar o quão feliz estava com as decisões que havia tomado até aquele momento.

~*~

Os olhos de não podiam acreditar no que viam. Com delicadeza, ela pediu licença aos convidados até conseguir chegar à porta do estúdio.
— Não acredito que vocês vieram mesmo! — Deixando de lado tudo que havia acontecido durante aqueles anos, ela envolveu os pais em um abraço triplo.
— Olha, não posso dizer que foi fácil chegarmos a um acordo... — A mãe lhe confidenciou. — Mas eu disse ao seu pai que é isso que você quis e...
— E eu compreendi que precisávamos estar aqui. Sei que falei coisas das quais me arrependo... Eu... nós... temos muito orgulho da mulher que você é.
Os dias que antecederam a inauguração de seu espaço mexeram com todas suas emoções, deixando-as à flor da pele. Naquele instante, ao ouvir as palavras do pai, ela pouco se importou com a maquiagem e deixou que seus sentimentos a invadissem, derramando algumas lágrimas de felicidade.
—Vocês não imaginam o que isso significa para mim. Ter vocês aqui, essas palavras... — Não conseguiu terminar a frase, apenas abraçou seus pais mais uma vez.
— Pronto, pronto. — Disse a si mesma, secando algumas lágrimas que ainda molhavam seu rosto. — Venham, quero mostrar vocês o lugar e também as três pessoas que ajudaram a transformar o sonho em realidade.
Para sua sorte, os três indivíduos estavam conversando em um círculo fechado quando e seus pais se aproximaram.
— Essa é a , minha melhor amiga. — Apontou para a garota a sua frente. Trocaram as típicas frases de introdução e seguiu para a próxima apresentação.
— Essa é a Sra. Goldfish. Ela tem o café mais gostoso do mundo! E me deu um emprego, mesmo quando eu não tinha experiência alguma.
— Vocês têm uma menina de ouro. Parabéns! — A simpática senhora disse aos , que sorriram e agradeceram.
— Esse vocês conhecem por vídeo... — Riu. — Mãe, pai, este é o .
. — Muito prazer, senhores. — O homem apertou a mão do Sr. e depositou um beijo no dorso da mão da Sra. , que tinha os olhos brilhando em direção a filha.
— Ah, vocês ainda precisam conhecer a neta de vocês! — exclamou animada e viu os pais quase desmaiarem. — Ai, calma! É a minha gatinha, a Milk. — Todos riram aliviados e o coração da fotografa se aqueceu por completo ao ver todas as pessoas que mais amava na vida reunidas em seu cantinho mais que especial.





Fim da primeira parte.
Continua em 06.Forevermore by Reh Cegan.



Nota da autora: Mais um ficstape no ar e espero que vocês tenham gostado! Se você quer mais desse casal, leia a parte II em “06. Forevermore” desde mesmo ficstape, escrita pela Renata. Ambas as partes tiveram a inspiração do filme “The Vow” e a gente queria muito fazer uma long, porém tempo para que te quero, né? Haha
Eu NUNCA vou cansar de agradecer a Nataly, a beta anjo desse site.
E você, querida leitora, se chegou até aqui não custa deixar um comentário, hein? 😊 Aliás, façam isso em todas as fanfics que lerem!

Outras fanfics:

02. Can’t Keep My Hands Off You03. Daylight10. Superstar11. Doin Dirt 14. Easier Said Around Here Taça do AmorTurma de 2003Turma de 2003: Após o Reencontro

Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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