FFOBS - 03. Nervous, por Thaay Marques

Finalizada em: 03/06/2021

Capítulo Único

Stanford University, Califórnia.

ia reprovar em Metodologia do Direito. Os seus olhos não conseguiam se desviar da nota vermelha no papel, os ouvidos totalmente bloqueados para a voz do professor que ensinava um novo conteúdo da matéria mais chata e difícil do curso. Era um amor e ódio pelo curso de Direito, pois rolavam viagens mentais numa tentativa de se deduzir algo que o professor queria e essa costumava ser a sua derrocada. Se saía bem nas disciplinas inovadoras ou que tivessem a ver com algo que lhe interessava, como Direito da Informática. A Tecnologia era sua maior paixão desde que ganhou o seu primeiro vídeo game e computador, mas como herdeiro de um renomado escritório de Advocacia em Nova York e pais reconhecidos no cenário do Direito, acabou cedendo e começou a trilhar o caminho de seus progenitores.
- Parabéns pelo empenho, mas não vai conseguir queimar a folha com os seus olhos. - Uma voz feminina murmurou num tom baixo, mas era perceptível o toque de humor.
Ele franziu a testa de surpresa com o comentário e desviou a atenção para a sua esquerda. Quando reconheceu a dona da voz, não conseguiu evitar que um calorzinho de nervosismo e surpresa inundasse o seu corpo. Poderia ter respondido com outro comentário humorado, mas as palavras se perderam no trajeto entre o cérebro e a boca, tinha certeza de que a expressão em seu rosto era a mais idiota possível.
Viu-a esticar levemente o pescoço, diminuindo a distância entre eles, os belos olhos encarando o papel. Ele foi capaz de sentir o perfume adocicado dela e que não o enjoou nem um pouco.
- Caramba! - Olhou-o novamente, abriu um sorriso de canto. - Acho melhor queimar a folha mesmo, porque reprovar em Metodologia do Direito é uma grande façanha! - Piscou e depois, apontou para a caneta em cima da mesa dele. - Pode me emprestar a caneta?
Ele ficou embasbacado, mas agradeceu aos céus por ser capaz de entregar a caneta.
Foram 50 minutos de sofrimento, claro que da parte dele, pois ela parecia totalmente tranquila enquanto fazia suas anotações e que ele acreditava serem perfeitas com uma letra caprichada. Admitia nunca ter visto as anotações, mas pela postura concentrada e interessada na aula, claramente era uma aluna dedicada, famosa na universidade por frequentar as festas que rolavam pelas fraternidades e, também, por ser uma ótima monitora do curso de Direito. Conhecia a popularidade da garota, achava-a muito bonita como cem por cento dos universitários do lugar, mas nunca ousou trocar uma palavra por acreditar que ela dificilmente iria querer conversar sobre programação ou qualquer outro assunto que ele se interessasse. Sentiu-se um idiota por não ter sido capaz de trocar um único comentário, passou a aula inteira se martirizando por isso e tentando pensar em um assunto que pudesse trocar com ela.

XXX


colocou o último ponto final em suas anotações e tampou a caneta, uma forçada satisfação dominava o seu rosto. Anotou cada palavra, pois sabia que o professor Smith costumava cobrar o que era falado em sala, entretanto, foi muito complicado manter a concentração e o raciocínio em uma de suas matérias favoritas. A cada segundo estava consciente da presença masculina ao seu lado, a postura relaxada na cadeira enquanto prestava atenção no que era dito pelo professor causou uma certa inveja nela. Não entendeu como o rapaz tirou uma nota tão baixa, ela o viu assistir parecendo muito focado. Mordeu o lábio inferior, pensando se deveria dizer mais alguma coisa, arrependeu-se da forma que iniciou a conversa e o fato dele não ter se dignado a falar, apenas encarando-a diretamente, o que a deixou desconcertada. A única saída foi pedir a caneta emprestada, mesmo que tivesse um estojo lotado em várias cores dentro da bolsa. No final das contas, teve que ser forte e escrever todas as anotações apenas na cor azul.
Fechou o caderno, a turma estava numa mistura de conversas, risadas e passos, todos abandonando a sala para prosseguir com os seus cronogramas.
- Muito obrigada. - Estendeu a caneta, chamando a atenção do garoto que dobrava o teste, o rosto contraído em desgosto e preocupação. - Preocupado? - Segurou-se para não revirar os olhos com o seu comentário óbvio.
Ele pareceu estar ciente da presença dela e olhou-a, um sorriso de canto surgiu após abandonar a careta.
- Eu odeio essa matéria! - Confessou ao guardar todo o seu material e pegar a caneta da mão dela, jogando dentro da mochila sem qualquer delicadeza.
- Senhor . - A voz do professor Smith soou a frente.
Ambos encararam o mais velho.
- Estou disposto a ser generoso e ajudá-lo a se recuperar na matéria. - Sorriu simpático, mas o tom era firme. - Vou me ausentar por algumas semanas, por isso vou aplicar um novo teste daqui a um mês. Se alcançar uma nota melhor, darei o que precisa para ser aprovado.
- O senhor é o melhor, professor! - Ele reagiu com alívio, um brilho de esperança irradiou de seu rosto. - Eu não vou desapontá-lo, senhor! Eu garanto! - Falou com firmeza na voz.
As palavras e a forma como falou com o professor deixou-a surpresa, esforçou-se para manter a expressão neutra.
- Espero que sim, meu rapaz. - Concordou, satisfeito. - Ah, senhorita . - A garota encarou-o com atenção. - Se puder comparecer na sexta-feira para combinarmos as atividades do grupo da monitoria seria ótimo. Estou com algumas ideias e saber como está o desempenho na aprendizagem dos alunos vai me ajudar a melhorar minha didática. - Colocou a pasta de couro debaixo do braço, um sorriso animado no rosto.
- Imagina! O senhor tem uma das melhores didáticas, com toda certeza. - Agraciou o mais velho, usando o seu melhor tom e sorriso. - Mas estarei aqui sem falta.
Ela ouviu bufar ao seu lado, lutou para ignorar sem alterar sua postura.
O mestre envaidecido, desejou: - Uma ótima semana para vocês. - Saiu da sala, restou apenas os dois alunos.
virou para , uma das sobrancelhas erguida em desafio.
- Posso saber qual foi a piada?
Ele franziu a testa, mas o sorriso debochado se manteve colado ao rosto. Deu de ombros com ar de inocência.
- O senhor tem uma das melhores didáticas. - Tentou imitar a voz da garota, mas soou fina e irritante.
Ela tentou cobrir a boca com as mãos, mas a gargalhada escapou ao ponto de sair lágrimas dos olhos, secando os cantos com o indicador.
- Acabei de descobrir que, além de péssimo em Metodologia do Direito, você também é um imitador terrível. - Gargalhou mais um pouco, respirou fundo duas vezes e se acalmou.
Ele suspirou irritado, o rosto desolado.
estava achando o garoto a coisinha mais fofa do mundo, principalmente, ao interagir diretamente com ele e vê-lo tão de perto. Estudavam juntos desde o primeiro ano de faculdade, mas raramente o via fora das salas de aula e foram as poucas festas que esbarrou com ele. Só descobriu o nome, pois um colega de classe chamou-o para fazer dupla durante uma prova. O que não sabia, era que ela tinha um crush desde a primeira vez que colocou os olhos sobre o rostinho bonito, mas que optou por manter distância já que ele parecia ser totalmente o oposto dela. Parecia buscar passar despercebido, evitava as festas do campus, além das aulas, vivia trancado no quarto em frente ao computador - ao menos foi o que seu colega de quarto contou. Desde então, ela o observava de longe como uma paixonite impossível, afinal, a jamais namoraria um cara como .
O que suas amigas diriam sobre o crush em um nerd que ninguém conhecia na universidade? O que o campus pensaria? Ela se divertia pensando nas reações das suas amigas e de todos que conhecia, pois tinha uma imagem que não chegava perto da sua verdadeira personalidade e como trazia benefícios fingir o que não era, por que não entregar o que o público desejava?
Atrasou-se aquela manhã, saiu xingando de casa, continuou xingando no percurso de dez minutos a pé até o campus e parou para respirar fundo antes de entrar na sala de aula. Ficou realmente irritada com a situação, costumava raramente se atrasar ou perder o cronograma, mas o estresse vazou de sua cabeça feito uma bexiga solta, após encher de elogios o professor para que relevasse o atraso. Evaporou de vez, quando procurou um lugar vago e avistou uma cadeira ao lado do garoto. Teve tempo apenas de registrar a concentração dele na folha em suas mãos e aí saiu feito um foguete em disparada para a Lua, jogando-se na carteira ao lado e respirando fundo para afastar o nervosismo. Tentou segurar a língua, pois sabia que ficava solta nos momentos de nervosismo e ansiedade, mas quando se deu conta, o comentário mais idiota do mundo escapava por seus lábios.
- Essa matéria é impossível! - Ele esfregou as mãos no rosto, pegou a alça da mochila e pendurou em um dos ombros, ergueu-se da cadeira e encarou-a.
- Tem muitos conceitos, detalhes, mas não é tão complicado. - Ela deu de ombros, pegou a própria bolsa e jogou no ombro, levantou também. - Você precisa observar o que mais errou no teste…
Foi interrompida pelo garoto.
- Serve tudo? - Perguntou sem graça. Suspirou desanimado e forçou um sorriso simpático. - Bom, nos vemos por aí! - Acenou com uma das mãos, virou-se e caminhou decidido para a porta.
não iria fazer isso, não iria. Pensou com firmeza, mas o nome escapou de sua boca num tom alto.
- ! - Chamou-o.
Ele parou com a mão no batente e encarou-a, curiosidade no olhar.
- Se você quiser... - Articulou sem jeito. - Quer dizer, se eu tiver um tempo… - Tentou novamente. - Eu posso te ajudar uma hora por dia na biblioteca. - Finalizou satisfeita com a sua entonação, manteve uma expressão neutra, mesmo com as mãos suadas e o coração palpitando forte no peito.
- Não, obrigado. - Sorriu simpático. - Não quero que perca o seu tempo comigo, vai ser impossível em um mês a matéria entrar na minha cabeça, o que não consegui em meses. - Deu dois tapinhas no batente numa despedida silenciosa, mas continuou no lugar ao ouvi-la insistir.
- Mas você disse que não iria decepcionar o professor...
Ele sorriu sem jeito.
- Não estava pensando com clareza.
- Olha, não vale a pena desistir sem tentar. - Ousou argumentar, mesmo que sua mente estivesse gritando para que calasse a boca e parasse de agir feito uma boba. - Pense no estresse de ter que refazer a matéria no próximo período, onde a única novidade seriam os alunos novos. - Pegou o celular do bolso da calça, tinha vibrado com alguma mensagem. Caminhou em direção a porta.
Ele pareceu refletir por um momento.
- E o que você ganha me ajudando? - A expressão de suspeita.
- A certeza de que sou a melhor monitora que essa universidade já viu. - Sorriu convencida.
Ele achou graça, mas encarou-a sério de repente.
- Mas isso eles já sabem.
Ela parou numa reação de surpresa, cerca de dois metros de distância do garoto.
- Não precisa fingir surpresa. - Riu. - As pessoas falam muito pelos corredores e digamos que ouvi comentários várias vezes. - Deu de ombros.
- Obrigada. - O rosto livre de qualquer emoção, além da sincera gratidão.
- Bom, já que você deixou bem claro que ajudarei a reforçar sua imagem de melhor monitora do mundo...
- Desta universidade. - Corrigiu-o num tom divertido.
- Então, vou aceitar com todo o prazer.
estava maluca ou o tom dele soou com segundas intenções? Esforçou-se para entrar na brincadeira.
- Claro que o prazer é indispensável até mesmo nas piores matérias. - Usou-se da expressão que não deixaria dúvida do duplo sentido.
pareceu incrédulo, abriu a boca duas vezes e não disse nada.
- Nos vemos às três da tarde na biblioteca. - Passou pelo garoto que continuava feito uma pedra no lugar, deu um tapinha amigável no ombro dele e escapou para o corredor com o coração à mil, chocada pela sua ousadia. - Não se atrase! - Enfatizou, encarando-o enquanto ela seguia de costas pelo corredor. Observou-o por alguns segundos, virou e sorriu com muita satisfação, quando se tornou seguro.
Quem diria que aquela aula terminaria com uma monitoria com o seu crush.

XXX


Library of Stanford University - 3:15 pm.

- Não acredito que você se ofereceu para ajudar um cara sem graça como ele! - Madeleine encarou a amiga com a maior incredulidade do mundo. - Se eu me recordo bem, o Josh que é o cara mais gato do time de futebol americano, te pediu uma força e você inventou que estava sem vaga… - O olhar tornou-se acusador.
e a amiga ocupavam uma das enormes mesas da biblioteca, geralmente escolhiam a mais distante dos bibliotecários e seus auxiliares, pois costumavam fazer vista grossa para conversas que não envolvessem qualquer assunto que estivesse escrito nos livros que descansavam nas milhares de prateleiras espalhadas pelo lugar.
A jovem olhou o visor do celular novamente e ficou impaciente pelo atraso de .
- Vamos embora. - A amiga falou seca. - Você quis ser boazinha e aí está o seu pagamento. - O sorriso provocador enquanto descansava o rosto em uma das mãos, o chiclete de morango sendo mastigado com violência.
- Maddie, você não tinha aula às três e meia? - Perguntou com falsa inocência, o celular movimentando-se entre as mãos, desviou a atenção do rosto da amiga e começou a procurar em volta pelo garoto, mas decepcionou-se com o resultado.
- Queria saber quem foi a alma inteligente que inventou o Direito da Informática! - Bufou irritada e se levantou, jogou a bolsa no ombro e apoiou as mãos nas costas da cadeira que ocupava segundos antes. - Você vem ou não? - Arqueou uma das sobrancelhas.
- Não, eu vou aproveitar para estudar. - Soou conformada, esforçou-se para manter a expressão cuidadosamente neutra enquanto abria um livro qualquer.
Ouviu o som de indignação da amiga e virou para olhá-la.
- Desisto de você! - Dramatizou e jogou os braços para o ar, o tom um pouco mais alto.
Alguém fez um som pedindo silêncio, o que a deixou mais irritada.
- Nunca te vi agindo assim por causa de um cara! E ainda mais, um cara como ele. - Inclinou o corpo mais em direção à mesa. - Você vai na festa hoje à noite?
- Vou, por isso quero adiantar uns resumos e o relatório final da monitoria. - Forçou um sorriso e pareceu realmente enganar a amiga.
- Ótimo! Se ouvisse um não, ia acreditar que os aliens levaram a minha melhor amiga e deixaram outro disfarçado. - Brincou.
Recebeu uma revirada de olhos como resposta, mas sorriu achando graça.
- Então, nos vemos mais tarde. - Lançou um beijo em despedida e se afastou, sumindo por entre as altas prateleiras.
soltou o ar dos pulmões e deixou a decepção transparecer em seu rosto, decidiu não perder tempo e ao menos organizar suas coisas.

XXX


Library of Stanford University - 3:55 pm.

- Des...Culpa, des… - Pediu com esforço, o corpo dobrado em direção às costas de uma cadeira, o fôlego havia se perdido na corrida desesperada pelo campus e as pernas haviam sido esquecidas no Laboratório de Tecnologia.
O olhar que recebeu da garota muito bonita à sua frente, fez a culpa pesar ainda mais em seu peito. Fechou os olhos e respirou fundo mais vezes, quando conseguiu estabilizar a respiração, puxou a cadeira e retirou a mochila das costas, sentou-se todo enrolado.
- Está muito atrasado. - A voz soou fria, ela voltou a encarar o livro e anotar algumas coisas em seu caderno, a mesa repleta de folhas e canetinhas coloridas.
- Foi mal! Perdi a hora no laboratório de Tecnologia e...
Tentou continuar, mas foi interrompido por ela.
- Só temos cinco minutos. - Começou a rabiscar numa folha e estendeu para ele que pegou com delicadeza, leu o conteúdo.
- Preciso ler tudo isso para amanhã? - Perguntou incrédulo.
Ela começou a guardar o próprio material, deu de ombros e olhou rapidamente, sem qualquer emoção. E mesmo fria, não deixou de achá-la linda.
- É apenas o que você perdeu hoje com o que temos para amanhã. Ah, deixei meu número anotado e se puder avisar, caso mude de ideia… - Levantou da cadeira carregando a sua bolsa e começou a se afastar da mesa.
Ele ergueu-se num pulo, o desespero foi tão grande em consertar a situação que agarrou-a pelo antebraço e impediu-a de ir embora.
Pela primeira vez, o rapaz teve uma sensação tão esquisita, percorrendo a palma de suas mãos através do restante de seu corpo que a soltou com rapidez. Escondeu a mão no bolso, cada centímetro de pele arrepiada, o coração que batia mais rápido do que durante a corrida que fez até ali.
- Algum problema? - Ela perguntou num fiapo de voz, o olhar estava estranho, mas ele não tinha cabeça para tentar decifrá-lo, quando ele mesmo estava mergulhado na sensação que ainda podia sentir na palma da mão.
- O que… - Fez um barulho com a garganta para afastar a rouquidão, tentou novamente. - O que eu posso fazer para recompensá-la? Eu realmente não fiz por mal. - Forçou um sorrisinho.
Ela mordeu o lábio inferior parecendo pensar por alguns segundos, logo sua face se iluminou com uma ideia.
- Que tal uma festa?
Ele franziu a testa, confuso.
- Fazer uma festa para você?
Ela balançou a cabeça negativamente e riu baixinho.
- Te fiz um convite para uma festa hoje à noite. - Explicou.
- Numa segunda-feira? - Perguntou incrédulo.
- E qual o problema?
As noites costumam ser sagradas, afinal, quando encerravam as aulas do dia, ele se arrastava para a cafeteria, comprava café e o seu lanche favorito, depois ia até a madrugada configurando o seu computador e o aplicativo que se dedicava há meses. Era sua rotina desde que entrou na universidade, a sua forma de extravasar a tristeza por cursar algo que não gostava, apenas por amor e consideração aos pais. Sentiu o desânimo ao lembrar que naquela noite, teria que devorar a lista de leitura que a garota indicou, então não poderia curtir uma festa.
- Mas e a lista? - Questionou indicando a lista em sua mão.
- Não costumo ser boazinha, mas se for a festa tento te dar uma colher de chá com a leitura. - Sorriu inocentemente. - E então?
- Não sei... - Coçou a nuca sem jeito. - Digamos que sou mais o cara rato de quarto do que das festas...
Ela cobriu a boca com as mãos para abafar a gargalhada, quando se acalmou, sorriu com o divertimento presente em suas feições.
- Rato de quarto?
- Isso. - Sorriu tímido. - O auge das minhas noites é beber muito café e programar.
Não pareceu surpresa, o que o deixou intrigado, mas pensou que poderia ser o fato de nunca vê-lo nas festas, se é que ela alguma vez reparou nele.
- Parece legal! - Confessou. - Você ama tecnologia, né?
Sorriu tristemente.
- É a minha paixão.
- Dá para perceber pela forma que você estuda Direito. - Arqueou a sobrancelha espertamente.
Ele fez uma careta.
- Putz! Então, não estou fingindo bem, né? - Brincou.
- A sua situação em Metodologia do Direito explica tudo...
Encararam-se por alguns segundos e soltaram um riso alto. Logo pedidos de silêncio choveram à volta, causando ainda mais diversão, quase engasgaram-se tentando prender o riso e pedindo desculpas.
- Bom, depois te envio o local e horário da festa e se realmente tiver afim, você pode aparecer. - Ela informou indicando o próprio celular. - Agora, preciso correr ou vou me atrasar. A professora não tolera atrasos e meus elogios não vão salvar minha pele. - Riu.
- O senhor tem uma das melhores didáticas. - Tentou imitar a voz da garota ao relembrar o comentário na aula mais cedo.
Ela revirou os olhos.
- Você não vai esquecer isso, né? - Perguntou esperançosa.
- Não mesmo. - Sorriu divertido.
Ela fez uma careta.
- Até depois! - Acenou simpática e apressou os passos sumindo por entre as estantes, deixando-o em pé observando-a com admiração.
não queria ir em festa alguma, mas queria realmente se desculpar pelo deslize e também, bem lá no fundo, queria vê-la novamente. Nunca imaginou que seria convidado para uma festa pela bela e popular .
Nem Fred iria acreditar nisso.

XXX


Student Residences of Stanford University - 8:30 pm.

- O QUÊ? - Fred berrou incrédulo enquanto vestia a camisa colorida repleta de botões. O cabelo estava impecavelmente arrumado após muito gel. - Cara, é zoeira, né?
- Nunca falei tão sério na minha vida. - digitou algumas coisas no computador e tomou um gole de água, girou a cadeira e voltou a encarar o amigo.
- Que louco! é a garota mais gata e inteligente desta universidade! E você está estudando com ela e ainda foi convidado para uma festa. - Admirou-se no espelho e olhou o amigo. - De onde veio essa onda de sorte? Estou precisando! - Arregalou os olhos na mais pura empolgação causando risadas no outro.
- Sorte? Vou tomar bomba na Metodologia do Direito se não passar no teste. - Fez uma careta.
- Cara, o seu lugar é no prédio de Tecnologia e não aqui. Já te falei mil vezes que só temos uma vida e…
- ...Não devemos desperdiçá-la. - O amigo finalizou a frase que Fred repetia milhares de vezes desde que soube qual era a verdadeira paixão do amigo e o motivo que o fazia continuar estudando Direito.
- Chuta o balde! Segue o seu coração! - Gesticulou agitado, atitude que costumava ter quando se empolgava com seus momentos filosóficos.
riu.
- E magoar os meus pais? - Questionou chateado. - Nem pensar, obrigado. Vou me especializar em Patentes e Direito da Informática, assim lido com o que gosto. - Soou conformado com a alternativa.
O amigo deu de ombros.
- Então, você vem para a festa?
- Sim! - Levantou da cadeira resignado, espreguiçou-se, ia se mexer, mas parou quando viu a expressão de Fred.


Maybe I shouldn't try to be perfect
Talvez eu não devesse tentar ser perfeito
I confess, I'm obsessed with the surface
Confesso, estou obcecado com a superfície
In the end, if I fall or if I get it all
No final, se eu cair ou se conseguir tudo
I just hope that it's worth it
Eu só espero que isso valha a pena



- E você vai com essa roupa?
franziu a testa e olhou para a própria camisa, encarou novamente o amigo.
- Qual o problema?
- Sério? “Os dias são muito hardware para não programar.” - Leu a incredulidade presente em sua voz. - Vai espantar as garotas! Um verdadeiro alerta de “Oi, sou nerd!”.
- E?
- Se você quer conquistar a garota, essa é a última roupa que deve usar. - Riu. Abriu a própria cômoda e começou a vasculhar em uma das gavetas, retirou uma camisa e arremessou para o amigo. - Veste essa!
O garoto agarrou por reflexo e abriu a camisa preta que era de botões, sabia que Fred estava vivendo a fase desse estilo de roupa desde que voltou das férias com o tio.
- Não posso ir com o meu moletom? - Sugeriu.
- Vai assar dentro da festa.
Ele soltou um suspiro triste, arrancou a camisa que vestia com muita tristeza no coração e colocou a outra.
- Coloca esse jeans e pode usar o meu tênis, o visual não vai combinar com o seu tênis de corrida. - Arremessou cada peça para o amigo que estava vestindo sem reclamar. Fred avaliou-o atentamente. - Vai fazer o que com o cabelo?
Depois que se vestiu completamente, ele passou a mão no cabelo e encarou o amigo com dúvida.
- Está feio?
- Não, mas…
- Mas...?
- Ainda está muito a sua cara. - Uma das mãos descansava no queixo, um gesto de reflexão e que deixava o amigo ainda mais engraçado.
- Qual o problema nisso?
- Hum... Não sei... - Continuou analisando-o pacientemente.
- Desse jeito, vamos chegar no final da festa. - Tentou apressá-lo para deixarem o lance do cabelo de lado, o rapaz estava desconfortável demais por estar totalmente fora do seu estilo de sempre, não faria mal deixar o cabelo do jeito que estava com suas ondas rebeldes e que sua mãe insistia para que mantivesse cortado.
Fred riu.
- Ih, essas festas só acabam quando o sol aparece! - Riu. - Já sei! O problema são os óculos!
- Não vou enxergar sem eles! - Soltou indignado.
- Você quer conquistar a garota ou não? - Provocou-o.
- Ei! Eu não disse que queria conquistar ela e sim, me desculpar! - A voz indignada. Internamente, queria que ela prestasse mais atenção nele, mas o amigo não precisava saber a verdade.
- Dá no mesmo! - Fez um gesto de pouco caso com a mão.
- Claro que não! - Insistiu.
Fred suspirou derrotado e seguiu para a porta resignado.
- Estragou todo o trabalho que tive para te deixar descolado! - Dramatizou. - Depois não venha reclamar se ela não te der bola.
- Vamos que a Déborah está esperando lá embaixo.
- Deb vai? - Perguntou surpreso.
- Ela está estressada com a nota baixa que tirou em Governança de TI e agora, disse que quer aproveitar mais as festas já que se mata de estudar e, mesmo assim, toma bomba nas provas. - Fred riu.
- Ela não é a única. - riu achando graça da amiga.

XXX


A sala da casa, do grupo de garotos do time de rúgbi da universidade, estava lotada, abafada, a música alta e animada num ritmo que tinha intenção de não deixar ninguém parado. Toda vez que desviava a atenção da tela do celular para checar a situação de Maddie ou para cumprimentar algum conhecido/desconhecido, o lugar parecia mais cheio e sem espaço para qualquer corpinho.
Estava há duas horas sentada naquele sofá de couro preto, espremida no canto, vez ou outra por alguém que queria descansar as pernas ou trocar uns amassos. Recusou convites para dançar, deixou a preguiça vencer e não se aventurou pela multidão para buscar mais uma cerveja. Ela não era esse tipo de convidada, costumava dançar muito, além de ser o seu escape favorito para chutar o estresse das longas horas de dedicação ao estudo, entretanto, aquela noite estava mergulhada em ansiedade, receio, tudo embaralhado bem na sua barriga, o friozinho deixando-a inquieta. Só recorreu ao feed das suas redes sociais como distração para evitar encarar cada rosto que surgia no seu campo de visão e quando alguém se parecia com , o coração batia acelerado de uma forma tão assustadora.
Nunca esteve tão ansiosa para estar com alguém desde que entrou na universidade. Conheceu muitos caras, ficou atraída, envolveu-se e pronto, passou, mas dessa vez, os sentimentos estavam vindo com mais intensidade e ela só tinha uma opção: meter o pé no freio do caminhão desgovernado ou iria dar merda. Foi com essa conclusão que bloqueou a tela do celular, enfiou no bolso traseiro do jeans e levantou, o copo de cerveja na mão implorando para ser enchido e esvaziado milhares de vezes.
Assim que abriu caminho através das pessoas, cumprimentando com um sorriso de falsa simpatia, paralisou no lugar, bem no meio de um casal que conversava animadamente. Sabia que esperavam impacientes para que saísse do meio deles, mas ela não conseguia se mover, o olhar preso no rosto do homem que teve esperanças de encontrar a noite inteira e horas nessa espera interminável, ela descobriu que ele já estava ali e de papo furado com uma garota que não era ela.
- Com licença? - A voz da garota que estava no lado esquerdo dela, foi simpática ao tocar seu braço.
Ignorou totalmente focada em . Observou o cabelo no mesmo corte descuidado, os óculos de grau, mas franziu a testa em surpresa ao ver as roupas diferentes que vestia, parecia um pouco mais com os garotos que ela costumava se envolver e isso causou uma sensação esquisita. Não seria exatamente decepção, mas algo que beira… Não sei, aquele sentimento quando vemos um vestido lindo na foto, esperamos meses para chegar e finalmente, depois de toda a euforia, o desejo de vesti-lo, encontramos algo totalmente diferente da foto ou do que imaginamos. Meio que ela se sentiu assim. Uma das coisas que mais chamou a atenção no garoto foi o visual de camisetas divertidas, o estilo que realmente parecia ser a identidade dele, sabe? Mas ali, naquela festa, ele parecia outra pessoa. Muito bonito, mas não era o cara de sempre.
Quando voltou a olhá-lo no rosto, ele pareceu notar o peso da atenção dela e encarou-a diretamente como se jamais esperasse que fosse bem ali. E a única reação da garota foi tentar escapar o mais rápido que podia, praticamente pisou no pé do rapaz a sua direita e nadou através do mar de pessoas até estar segura no quintal traseiro. Respirou fundo o ar fresco e pensou que deveria ter ficado ali fora o tempo todo.
- ? - A voz familiar chamou-a.
Ela puxou o celular do bolso e enfiou na orelha, virou para trás e encarou-o, pedindo que aguardasse. Balbuciou algumas palavras, fingiu conversar com alguém do outro lado da linha, mas a verdade era que estava mudo. Ficou tão agitada de ver que ele a perseguiu até ali que ficou sem saber como agir. Queria rir da sua desgraça, pois ela não costumava ser tão desajeitada ao interagir com outros garotos, mas descobriu nas últimas horas que quando se tratava dele, ela perdia a razão e isso estava mais do que claro para si mesma, a barriga chacoalhava de emoção.
Assim que ele parou uns três passos de distância, as mãos descansando nos bolsos da calça, um sorriso tímido no rosto, a brisa balançou levemente uma das mechas em sua testa e ela precisou lembrar que precisava continuar fingindo interagir com alguém.
- Tudo bem! Pode deixar! Também te amo. - E fingiu desligar, depois o arrependimento das últimas palavras lhe atingiram o peito e quase chegou perto de querer explicar que era sua mãe (imaginária), já que nunca receberia uma ligação da sua àquela hora da noite. Afinal, quem não garante que ele poderia pensar que era algum paquera dela?
Ela cruzou os braços na frente do corpo, não sabia o que fazer com eles e encarou-o com atenção, a curiosidade evidente em sua expressão.
E ele continuou parado, o rosto tão neutro que começou a deixá-la nervosa, pois não dizia nada apenas fitava-a.
A boca dela abriu algumas vezes para cumprimentar algumas pessoas que passavam por eles, analisando-os com interesse e que respondiam com sorrisos constrangidos ao serem pegos no flagra. Após a quinta pessoa, ela jogou a falsa tranquilidade para o alto e mirou-o séria.
- Bom, se você não tem nada a dizer, eu irei voltar para a festa e tomar uma cerveja. - A voz serena, mas por dentro a realidade era outra. Deixou os braços penderem ao lado do corpo e deu alguns passos para a direita, decidida a seguir o caminho e esquecer do garoto.
- Eu vim. - Ele soltou numa única baforada, o tom nervoso e o sorriso esquisito.
Ela franziu a testa em descrença por ouvir aquelas palavras e não conseguiu evitar a zombaria em sua voz, assim como em seu rosto.
- Estou vendo! Ainda não estou bêbada o suficiente para achar que é um sonho. - Fez uma careta ao se tocar da palavra que usou ao invés de dizer que seria ilusão.
Ficou mais do que evidente que o nervosismo ou timidez não seria suficiente para deixar passar aquela frase, logo um sorriso divertido cruzou o rosto do garoto, deixando-o ainda mais bonito.
- Não sabia que era o seu sonho. - Mirou-a atentamente, a curtição presente.
Ela revirou os olhos e tentou retomar o caminho para a festa, mas foi impedida pela mão dele, que agarrou firmemente o seu pulso, assustando-a com as sensações que correram do gesto através de todo seu corpo. A atenção dela foi direto para as mãos e subiu até se conectar com o olhar dele que a encarava diretamente, causando um calorzinho no peito e a friagem na barriga.
Ambos estavam tão submersos nas próprias emoções causadas por aquela proximidade repentina e ao mesmo tempo tão aguardada, que não notaram a atenção que foi lançada sobre a cena deles. Os vários convidados que estavam em diversos graus de embriaguez e euforia, compartilharam da mesma curiosidade por ver uma interação tão inesperada: a garota popular do campus e o cara nerd que ela interagiu na aula de Metodologia em Direito. Aquela fofoca estava rolando desde o período da manhã, os universitários criando teorias sobre a relação entre eles. Os olhos de corujas quase não piscavam, não se atreviam a conversar e perder algum segundo daquela situação, todos prontos para repassar a notícia fresca e que com toda certeza, seria o principal assunto das rodinhas do dia seguinte.
libertou o pulso como se estivesse em chamas, totalmente alheia a plateia e ainda mergulhada na confusão que rondava as suas emoções. Lutou muito bravamente para colocar uma expressão simpática no rosto e torceu para que sua voz não a traísse.
- Cerveja? - Sugeriu.
- Seria ótimo. - Ele falou sem graça, as mãos escondidas novamente nos bolsos do jeans.
Temendo revelar o que estava sentindo, ela olhou apenas o tempo suficiente para ver se estava sendo seguida para dentro da casa. A cada passo torcia para que suas emoções se acalmassem e ela pudesse conversar sem qualquer problema, mas a sua mente insistia em trazer à tona as lembranças do momento que a mão fria dele tocou o seu pulso e como ela realmente gostou disso.

XXX


Foram na cozinha, não encontraram copos, então decidiram pegar uma long neck para cada e voltar para o quintal. Quando iam entrar na sala repleta de pessoas, ela seguiu em frente, pedindo licença e repentinamente, o corpo arrepiou inteiro, o coração bateu forte, os olhos arregalaram-se no rosto em surpresa ao sentir a mão quente descansar em seu ombro. tentava não perdê-la de vista, ao menos era o que ela pensava.
- Algum problema? - Ele perguntou com a boca alguns centímetros da sua nuca, a voz curiosa.
- Não! - Gritou para tentar seu ouvida sem precisar virar e encará-lo, reiniciou a aventura rumo ao quintal.
Uma nova música começou a tocar e praticamente todos ao redor, aproximaram-se pulando, cantando e dançando, o que quase fez ela perder o equilíbrio e o braço masculino amparou-a pela cintura, envolvendo-a com firmeza. O tempo pareceu parar, tudo que acontecia ao redor perdeu a importância, excluídos da barreira que se formou ao seu redor. O ar ficou preso em sua garganta, as batidas do coração estremecendo o peito e ecoando em seus ouvidos, o corpo quente encostado atrás de si.
- Tudo bem? Te peguei! - Falou com a voz próxima da sua orelha, arrepiando-a por inteiro. Não soube como foi capaz de mexer a cabeça num gesto afirmativo ou manter a cerveja segura em sua mão, estando presa nos braços do rapaz.
Quando levou um esbarrão, pareceu abandonar o transe e continuou o trajeto, lutou para não deixar transparecer a tristeza ao sentir o braço soltá-la. Precisava de ar fresco com urgência e daquela cerveja para superar a chuva de fortes emoções que estavam pipocando dentro de si. Só podia ser carência, a única justificativa que conseguiu encontrar para não enlouquecer ao tentar entender o que estava acontecendo com ela.

XXX


estava muito nervoso. Muito, muito, muito nervoso. Descobriu que desde que ele e começaram a conversar, o sentimento fazia sua aparição sempre que estava com ela. Bastava encará-la, ver o seu rosto doce e as palavras eram aprisionadas no caminho entre sua mente e a boca. Além de ter de temer o que poderia escapar de sua boca e o que ela poderia pensar disso, mas uma coisa que estava irritante e que ficou insuportável foi a atenção que eles recebiam das pessoas. Não podiam dar um passo e alguém cumprimentava a garota como se ele não existisse, mas também, olhares interessados encarava-os diretamente o tempo inteiro. E, para piorar, ele encontrava-se confuso com as reações que lhe atingiam certeiramente ao tocar na garota. Foi muito bizarro o que sentiu, quando precisou envolvê-la pela cintura para não deixá-la cair ou quando descansou a mão no ombro dela para não perdê-la de vista.
Tomou um grande gole de cerveja para tentar afogar os pensamentos ou iria cavar mais, encontrar o que não queria.
Minutos atrás tinham conseguido escapar da casa abafada e, agora, ocupavam um espaço na grama onde não poderiam ser incomodados pelas pessoas, uma pena que ainda pudessem observá-los.
- Pensei que não fosse aparecer, senhor rato de quarto. - Brincou, o sorriso desaparecendo ao dar mais um gole na cerveja.
Ele riu. Ajeitou as pernas, o braço que segurava a cerveja, descansava em um dos joelhos.
- Admito que quase desisti de vir. - Revelou e bebeu mais um pouco.
Ela fez o mesmo e depois, admirou sua camisa, mas a pouca iluminação do espaço que estavam, não permitiu que ele conseguisse decifrar o que ela estava pensando.
- Está muito bonito.
Ele sorriu sem jeito e deu de ombros, mas por dentro estava satisfeito pelo sacrifício ter valido a pena.
- Conseguiu dar uma lida no material? - Perguntou. - Vamos estudar tudo, hoje à tarde.
- Você vai estar inteira? - A testa franziu em descrença. - Eu estou morto e não consegui ler o material. - Por incrível que pareça, ele soltou um bocejo.
Poucos segundos depois, ela bocejou. Ambos riram.
- Os bocejos são contagiosos. - Ele comentou divertido e bebeu mais.
- Muito! Eu não estava cansada, quer dizer, não estava pensando nisso e agora estou muito cansada! - Achou graça.
Ficaram mais alguns momentos em silêncio, mas pareciam mais relaxados na presença um do outro, mesmo que a verdade fosse outra. O garoto buscou algo que pudesse dizer e optou pela sinceridade do que rondava sua cabeça desde cedo.
- Você é muito diferente do que dizem por aí.
- Obrigada… Eu acho… - Soltou insegura com o comentário dele.
- As pessoas desse campus adoram uma fofoca e já ouvi várias sobre você…
Ela deu de ombros.
- Nada novo sob o sol.
- E você não se incomoda com isso? Te pintam de um jeito, mas na verdade é outra coisa totalmente diferente. – O interesse presente em sua voz.
Ela pareceu pensar e depois, encarou-o.
- Eu não escolhi ser popular. - Soou conformada. - Já me acostumei e tem suas vantagens, não vou mentir sobre isso, mas eu também não gosto de me revelar para qualquer pessoa. - Bebeu o último gole, o pescoço indo o máximo para trás e permitindo sugar tudo até o final.
O olhar dele se prendeu no gesto, a boca seca ao ver a cena.
- Eu finjo ser o que eles querem ver. - Deu de ombros. - Tem os seus benefícios.
- A sua amiga Maddie não parece ser diferente do que dizem…
Ela riu.
- Mas garanto que é a melhor pessoa que existe.
Encarou-a incrédulo.
Ela riu mais.
- Eu juro!
- Vou acreditar, hein?! - Riu. - E o que você gosta de fazer nas horas vagas? Quando não está sendo a melhor monitora do campus e a festeira popular.
Ela pareceu insegura, mas falou: - Eu costumo desenhar, mas é segredo e ninguém nunca viu os meus desenhos.
- Espero que um dia possa me mostrar. - Comentou sem jeito.
Ela sorriu.
- Garanto que não está perdendo nada.
Ambos riram e, quando os risos silenciaram-se, eles se encararam diretamente. Foi muito perceptível a mudança no clima entre eles, aquela tensão que deixava mais do que escancarado o desejo que ambos sentem em se tocar, provar um do outro. Não foi preciso pronunciarem um pedido, os corpos inclinaram-se em direção um ao outro como se atraídos por um imã, as mãos tocando-se delicadamente e mais do que esperado, os lábios grudaram-se, as línguas se encontraram num beijo calmo que logo tornou-se profundo.
A cada movimento dos lábios, pareciam exigir mais um do outro, arrancando-se sensações, aprofundando-se, colando-se mais e mais, o som das respirações, as mãos percorrendo os pedaços de peles quentes que estavam expostos e, também, os tecidos. Compartilhavam do mesmo desespero de provar um ao outro, presos num transe, uma verdadeira bolha. Ele não queria parar, não queria soltá-la de seus braços, queria tocar todo o seu corpo, ouvir todos os seus gemidos, beijar cada milímetro de pele, fazê-la sorrir, repetir o nome dele diversas vezes e essa consciência fazendo-o esquentar cada vez mais.
Permaneceram submersos no desejo por uma hora inteira até que com lábios avermelhados, respirações ofegantes e com muito esforço, pararam e se afastaram poucos centímetros um do outro, a vergonha presente em ambas as feições.
- Não acredito! - A voz repentina de um Fred bêbado assustou-os. - pegador! - Bagunçou os cabelos do amigo e se jogou ao lado dele, envolvendo-o pelos ombros.
- Fred... - O rapaz tentou dizer alguma coisa, mas ainda estava atordoado pelos beijos. Olhou desesperado para a garota que levantou e limpou o jeans com palmadas.
- Não acredito que você conseguiu, cara! Você pegou essa deusa! - Ele riu.
- ! - O garoto a chama desesperado, mas ela o ignora e nem olha para trás.
- Que droga, Fred! - Ele reclamou irritado se livrando dos braços do amigo.
- O que foi? - Ele perguntou confuso.

XXX


O garoto coçou os olhos e voltou a atenção para o livro aberto na mesa, mas a mente não focava nas linhas sobre a tese da Descontinuidade Discursiva e parecia querer viajar apenas para os beijos da noite anterior. Não conseguia parar de pensar sobre tudo que rolou entre ele e , além de ainda estar irritado com Fred e ter usado a situação para conseguir mais umas peças de roupas emprestadas. Queria pelo menos chamar a atenção da garota ao manter o mesmo visual de que havia gostado, mesmo que ele preferisse colocar uma roupa mais confortável. Um incômodo deixou-o com os ombros tensos e ergueu o olhar para uma das mesas da biblioteca, fechou a expressão na hora em que flagrou um grupo de meninas numa mesa próxima encarando-o diretamente. Ele bufou e encarou a tela do celular, ficou preocupado ao perceber que a sua monitora estava atrasada e não queria imaginar que a cena de Fred tivesse estragado tudo entre eles.
- Ei, cara! - Uma voz masculina soou animada.
Procurou para ver se estavam falando com ele e avistou um trio de rapazes, reconheceu os rostos do time de futebol americano e que coincidentemente, eram os anfitriões da festa da noite anterior.
- E aí! - Cumprimentou tranquilamente, mas sentia-se inseguro pela estranha interação.
- Topa uma cerveja mais tarde? Eu, o Josh - apontou para um dos caras e depois para o outro - e Andrew, vamos no pub assistir ao jogo do New York Giants contra o Dallas Cowboys. - O tom animado.
- Não vai rolar! - Fez uma careta sem graça. - Preciso estudar para um teste final. - Apontou para o material aberto a sua frente e deu de ombros.
Os rapazes não deram qualquer indicação de que iriam insistir e, por isso, apenas se despediram com um aceno de cabeça e seguiram para fora do lugar. Não podia estar em qualquer lugar do campus e era cumprimentado por desconhecidos, ouvia sussurros e, durante o dia, parecia que estava muito pior. Teve momentos que pensou ser culpa das roupas que vestia, mas aí já não sabia mais o que poderia estar causando toda aquela atenção, sempre passou despercebido pelo campus. Poderia aceitar os holofotes ao lado de , mas em sua ausência não fazia qualquer sentido prestarem atenção nele.
E falando na garota, temia que ela tivesse desistido de ajudá-lo com a matéria e não julgaria por isso, depois da cena que o amigo fez estragando o clima entre eles.
Sorriu tristemente para ninguém e voltou para o livro, sentiu-se vitorioso por conseguir ler uma linha sem pensar nela.
- Desculpa o atraso.
O corpo dele ficou tenso, ergueu a cabeça e encarou-a, forçou o sorriso mais simpático que conseguia, mas o nervosismo começou a correr por suas veias. Enquanto ela se acomodava do outro lado da mesa, ele percebeu que os sussurros ao redor se silenciaram e, quando deixou sua atenção viajar, pegou diversos olhares focados nele, transbordando em curiosidade. Quando voltou a mirar a garota à sua frente, parecia tranquila mesmo que o rosto estivesse sério enquanto folheava o próprio material.
Decidiu que seria melhor começar pelas desculpas.
- , eu…
Mas foi interrompido: - Conseguiu ler a tese da Descontinuidade Discursiva? - Perguntou com a voz seca, o olhar tão frio que deixou-o sem graça.
Coçou a nuca em nervosismo, não pronunciou uma palavra, mesmo que quisesse dizer que estudou o máximo que conseguiu nas últimas horas, mas tudo parecia ter se perdido na sua garganta.
- E então? Quais são as faces de nomos e thesis? - Arqueou uma das sobrancelhas.
Ele abre e fecha a boca duas vezes, não sai qualquer som, a língua seca.
Ela solta um bufo impaciente.
A atenção dele se volta ao redor e o suor frio começa a surgir em suas mãos, os estudantes observando-os atentamente.
Ela fecha o material e cruza as mãos sob a mesa, o olhar decepcionado, mas sem abandonar a seriedade.
Enquanto ela discursava sobre estar doando o seu tempo livre para ajudá-lo sem qualquer retorno em troca, apenas colocando a generosidade em fazer uma boa ação, a mente dele gritava questionamentos de como ela conseguia se manter tão tranquila com aquelas corujas encarando-os como se estivessem famintas, absorvendo cada gota do drama entre eles.
- Bom, vejo que você não se deu ao trabalho de estudar para o nosso encontro. - Suspirou frustrada e começou a jogar o material na bolsa de forma descuidada. - Desejo muita sorte no teste, mas aviso que dessa forma você não vai conseguir passar. - Empurrou a cadeira que fez um som ao arranhar o chão de madeira e se ergueu, estendeu uma das mãos para pegar a bolsa.
- Por favor… - Agarrou o pulso dela com delicadeza, gesto que percebeu repetir muitas vezes desde que se conheceram. A voz tímida, mas era perceptível o nervosismo. - Eu estudei boa parte depois que cheguei da festa… - O olhar cuidadoso ao relembrar o evento. - Faltei às aulas para estudar e estou aqui há horas. - Forçou um sorriso, observava-a em expectativa.
Viu-a parecer refletir por alguns segundos, contemplando-o atentamente, o que deixou-o sem jeito.
Soltou-a com delicadeza, o que permitiu que ela erguesse totalmente o corpo em frente à mesa, a bolsa ainda no mesmo lugar.
Algumas vozes baixas, mas que foi possível entender perfeitamente o assunto. Pareceu que não foi notado apenas por ele, mas por ela também. Tornou-se ereta, o olhar gelado, entretanto, o sorriso que brotou divergia totalmente com o seu calor simpático. Ela encarou ao redor como se para alertar de que estava ciente da atenção, causando uma certa tensão no ambiente e em seguida, ele viu que muitos fingiam encarar qualquer outro ponto que não fossem eles.
- Se não quiser que eu vá embora, responda as minhas perguntas. - Comentou seca ao puxar novamente a cadeira e ocupá-la, a postura reta e as mãos cruzadas na mesa. Dessa vez, não se incomodou em reabrir o material. - Qual a função do componente Bronze na metodologia? - Fitou-o com seriedade.
Ele respirou fundo, fechou os olhos por alguns segundos e reabriu, a insegurança presente em suas feições ao tentar buscar em sua mente a resposta do que havia estudado mais cedo.
- Esclarecer o campo temático e… - Parou para pensar mais um pouco, a resposta escapando de sua mente. - Objeto intencional da metodologia, referindo-nos a certa concepção do juízo de julgamento. - Finalizou um pouco mais relaxado ao ver a expressão da garota se suavizar.
- E o que Hayek considera como faces de nomos e thesis?
As vozes retomaram e ambos ficaram com posturas tensas.
Ele focou o rosto dela e sorriu sem jeito, as mãos apertando o lápis com força.
- , eu quero te pedir desculpas por…
Fitou-o tão friamente que ele se calou no mesmo instante.
- Aqui tem um ótimo livro para te ajudar sobre Hayek. - A voz suave, sorriu com simpatia, deixando-o confuso. - Vem comigo que vou te mostrar onde fica. - Contemplou-o com tanta intensidade que foi impossível o coração não palpitar mais forte.
A dupla levantou enquanto ignoravam as olhadelas que transbordavam interesse. Seguiu-a com passadas calmas, afastando-se cada vez mais por entre as enormes estantes repletas de livros, até que alcançaram um corredor entre uma delas e que pareceu seguro o suficiente, escondendo-os.
Assim que ela parou mais para o fundo, cruzou os braços na frente do corpo e aproximou-se dele, deixando dois passos de distância.
- O que você quer de mim? - Soltou na lata, mas ficou evidente a insegurança.
Ele repetiu a postura, pois não sabia o que fazer com os próprios braços. Respirou fundo e tentou vencer o maldito nervosismo que ela causava nele sempre que estavam juntos.
- Eu gosto de você.
Recebeu a incredulidade como resposta.
deu de ombros.
- O Fred falou merda ontem e sei que te magoou, mas nada daquilo era verdade. - O coração bateu mais forte. - Eu gosto da sua companhia e foi muito… - Tinha certeza que a vergonha estava estampada em sua cara, mas criou coragem para falar. - Bom o que rolou ontem.
Avaliou o que apareceu no rosto dela e não conseguiu evitar sorrir com o que encontrou, entretanto, se imaginou murchando igual a um balão ao ouvir as palavras que saíram.
- O campus inteiro já sabe que ficamos. - Fez um biquinho que ele achou uma gracinha, descruzou e cruzou os braços, o olhar foi para o chão e depois, retornou a mirá-lo. - Estamos nos holofotes com força total, todos nos tratam como protagonistas de uma série e que querem saber o final. - Sorriu zombeteira. - Acha que pode lidar com isso?
Primeiro, a surpresa tomou conta de suas feições e depois, a preocupação. Os eventos do dia rondando sua mente, os cumprimentos simpáticos, as atenções e sussurros, tudo se encaixava como as peças de um quebra-cabeça que faltavam para concluir o jogo. Mordeu os lábios, inseguro, avaliando a situação. Se continuasse na presença da garota teria que lidar com a popularidade dela e toda a atenção indesejada, mas ao mesmo tempo que seria insuportável enfrentar o campus, ele também queria conhecê-la melhor e ver o que poderia rolar. Não conseguia mentir para si mesmo e negar que não estava a fim de .
Ela avaliou a demora em responder e continuou, resignada.
- Eu sei que é um saco, mas você escolheu a garota errada para se envolver. - Riu baixinho, as mãos foram para a cintura. - E vou aceitar de boa se não quiser andar comigo.
Ele ri, mas silencia-se repentinamente, o rosto sério ao diminuir a distância que os separava. O coração bateu forte no peito, o clima pesou e a alma pareceu se desprender do corpo, quando levantou uma de suas mãos suadas, tocou a bochecha macia da garota e sentiu o perfume doce.
Ela fechou os olhos, parecendo apreciar o gesto, segurou um dos ombros dele.
A cabeça dele começou a se mover para próximo da dela, os lábios encurtando a distância até se encontrarem, revivendo as memórias e sensações da primeira vez que estiveram daquela forma. Quando os lábios grudaram-se levemente, a língua dele pediu passagem e foi recebida com calma. A cada movimento do beijo era como se fogo alastrasse por todo o seu corpo, envolveu-a com o braço livre pela cintura e deixou-se afogar nas emoções de tê-la em seus braços; parecia irreal.
Os pulmões ardiam por fôlego e era um sofrimento nos poucos segundos que parava para respirar, pois ele não queria se afastar mesmo que corresse o risco de morrer em seus braços. Beijar era muito bom, a melhor coisa já inventada e se tornava ainda mais surreal de bom, quando os lábios eram os dela. O único som baixinho que ecoava entre as estantes era a busca por oxigênio e os lábios molhados que guerreavam para ver quem era capaz de continuar vivo.
- Idiota! - Uma voz masculina irritada e repentina pôde ser ouvida atrás deles.
afastou-se num pulo, a respiração ofegante, a mente atordoada e logo, alcançando a irritação ao perceber que pela segunda vez em poucas horas, alguém interrompia o momento deles. Deu uma breve olhada para o rosto de que carregava uma expressão de irritação e, em seguida, focaram a dupla que tinha um celular mirado em direção a eles.
- Ei! - A voz que não parecia dele escapou de sua boca, o rosto queimando de raiva.
Sentiu a mão fria de em seu braço, segurando-o com firmeza.
Os rapazes sorriram sem jeito.
- O que pensa que estão fazendo? - Ele estava tão irritado que se quer parecia estar na própria pele, fechou as mãos em punho. Queria ir até eles e fazê-los apagarem a foto, mas ao mesmo tempo não queria se afastar da garota ao seu lado.
- Somos as celebridades do campus. - Ouviu-a soar com falsa diversão, a cabeça descansou no braço dele.
Ele bufou um pouco mais calmo ao sentir o carinho leve que a jovem fazia em sua pele.
Os meninos ainda tinham sorrisos amarelos no rosto.
- Apaguei. - Um deles falou vermelho de vergonha e só faltou fugir voando. O outro, xingou baixinho e seguiu atrás.
Assim que sumiram de vista, ele respirou fundo e mirou-a seriamente, mas o sorriso mal-humorado apareceu.
- Parece que a nova brincadeira é “interrompam o e ”.
Ela riu baixinho.
- Valendo um open bar! - Brincou.
encarou-a decepcionado.
- Acabou o clima, né?
Ela fez biquinho e quase cogitou voltar a beijá-la.
- Que tal estudarmos em outro lugar? - Sugeriu esperançosa. - Depois dessa, não estou no clima para ficar sendo fuzilada pelas costas.
- Alguma ideia?
- O meu quarto não rola, porque as meninas adoram ouvir música alta. - Riu.
- Pode ser no meu. - Falou sem jeito, mas depois ficou tenso ao pensar que o lugar estava uma bagunça. - Mas não sei se é uma boa ideia, pois o Fred pode estar lá. - Tentou escapar.
Ela fez uma careta divertida e soltou o braço dele, afastou um passo e cruzou os braços.
- Acho que é nossa melhor opção.
- Tem certeza? - Perguntou preocupado.
- Eu não vou matar o Fred. - Zombou com falsa inocência.
Ele riu.
- Garanto que essa não é minha preocupação… - Soltou ao pensar como faria para esconder a bagunça antes da garota entrar lá.
- E qual seria? - Perguntou com um sorrisinho malicioso.
Percebeu que eles não estavam com a mesma linha de raciocínio.
- Ah… - Coçou a nuca sem jeito. - Digamos que não arrumei a cama hoje. - Deu de ombros.
Ela riu alto, surpresa.
- Eu nunca arrumo. - Repetiu o gesto dele, mas de forma despreocupada. - Vamos? - Apontou para fora do corredor com o polegar.
deu-se por vencido e sorriu, seguindo-a de volta para a mesa com destino ao seu dormitório.

XXX


Student Residences of Stanford University - 7:00 pm.

- Chega! Não aguento mais! - espreguiçou-se, afastou as costas da parede e deixou o corpo cair no colchão.
- Nem eu! Preciso muito dormir. - Ele confessou um pouco grogue ao fechar o caderno que descansava em seu colo.
Ela riu.
- Você parece um zumbi. - Sentou no colchão e deixou as pernas caírem no chão, enfiou os sapatos nos pés.
Chegaram ali duas horas atrás, o garoto parou-a na entrada e disparou para dentro, onde ficou por longos minutos, depois voltou esbaforido dizendo que ela podia entrar. Achou muito engraçado o fato do quarto estar sem qualquer coisa fora do lugar, as camas arrumadas. Ela andou pelo lugar e analisou cada enfeite, viu o porta retrato com a foto dos pais dele e soube um pouco mais sobre a relação deles. Era triste ver que abria mão da própria felicidade para deixá-los felizes, mas não seria ela imune o suficiente para julgá-lo. Em seguida, ocuparam a cama dele com o material e a sessão de estudo foi pausada algumas vezes apenas para beijos motivacionais. Nos momentos que parou para pensar enquanto observava o rosto concentrado dele na matéria, a incredulidade e satisfação rondavam o seu peito por causa do rumo que estavam seguindo. Ela torcia para que tivesse um desfecho feliz.
- Nos vemos amanhã? - Perguntou esperançoso ao levantar apenas calçando meias, entregou a bolsa com o material para ela.
- Sim. - Ela aceitou e seguiram até a saída do dormitório, ele abriu a porta e encarou-a.
Quando ela o analisou e percebeu que não sabia como se despedir, jogou a timidez para escanteio e o enlaçou pelo pescoço colando suas bocas num beijo. Beijaram-se por um minuto inteiro e assim que afastou-se, deu uma risadinha com a expressão de surpresa do garoto.
- Ah, vê se não fica estressado atoa. - Recomendou docemente. - Só segue a onda! - Riu.
- Vou tentar. - Uma das mãos voltou para a maçaneta.
Ela riu e atravessou o batente, pisou no corredor e, quando estava prestes a sumir de vista, virou-se com um sorriso alegre no rosto e que não fez menção em esconder, tornando-se ainda mais satisfeita ao perceber que recebia o mesmo a metros de distância.
E assim, de forma tão simples durante a sua partida, ela descobriu que gostava muito do .
Se existiu freio no caminhão, ela não encontrou ou estava com defeito, porque o coração já tinha perdido o controle.

XXX


O céu estava com uma mistura de nuvens acinzentadas e algumas aparições do sol, proporcionaram uma temperatura agradável que atraiu a maioria dos estudantes como abelhas para fora de sua colmeia. Ao avançar pelo campus, era possível esbarrar com grupos que mesclavam risadas, comida e estudos. O trio de amigos desfrutava daquela atmosfera, Fred estirado na grama, a cabeça descansando no colo de Déborah que comia uma maçã e compartilhava sobre a sua revolta na aula de Modelagem de Software. estava sentado em frente a ambos, as pernas dobradas com um livro aberto repousado nelas, tinha sua atenção entre a conversa e o conteúdo que precisava estudar.
- Eu ainda não acredito que fui escolhida para ficar no mesmo grupo que ela! - A garota resmungou e voltou a morder com força a maçã, a atenção nos amigos. Falou, a boca cheia. - Vocês sabem como o grupinho da Maddie é insuportável! A Brenda adora jogar as tarefas nas costas dos outros. - Engoliu e bufou indignada, continuou. - Se ela não me ajudar, não vou pôr o nome dela no trabalho.
Fred riu, um pedaço de grama brincando entre os dedos. Empurrou a cabeça para trás e mirou o rosto da amiga.
- Você teria coragem de mexer com ela? - Perguntou divertido.
Ela reagiu com incredulidade.
- O que você acha? - Perguntou irônica, repleta de valentia. - Não vou me matar para entregar um projeto digno de nota máxima e ainda deixar a bonita se dar bem. - Sorriu num gesto que evidenciava o óbvio. Comeu mais da maçã.
- E se rolar retaliação… - Ele deixou no ar ao se sentar na grama, abraçar os joelhos e descansar o queixo.
Foi perceptível a garota mudar a postura desafiante para desanimada.
- Lembra de Jake O’hara?
- Jake quem? - perguntou ao desviar a atenção do material e encará-lo curioso.
- Exatamente. - Falou seriamente como se estivesse prestes a dar um conselho valioso. - Se vocês não se lembram ou conhecem, devem deduzir o que vai acontecer com a Deb, caso escolha desafiar a Brenda.
As sobrancelhas da garota levantaram tão alto que quase alcançaram a raiz do cabelo, o rosto preocupado.
- Os filmes universitários nunca mentiram. - Deb comentou desanimada. - Os populares são a pior raça que existe, criados para fazer da vida dos outros um inferno. Agora, sei que estarei na mira da Brenda se não fizer a vontade dela. - Fez uma careta que evidenciou o seu desalento.
- Mas e se ela não for o que dizem? - lançou a hipótese na roda.
A dupla fitou-o com surpresa, depois olhou um para a cara do outro e caíram numa gargalhada tão divertida que chamou a atenção dos universitários ao redor. Eles riam tanto que lágrimas escapavam, as mãos foram até as barrigas por sentirem dor.
- É sério, pessoal! - insistiu, tomou cuidado para não falar alto. - Já cogitaram que a imagem deles em parte é exagero?
Os ânimos foram se acalmando até que estivessem prontos para continuar a conversa sem rir da cara irritada do amigo.
- Você acredita nisso? - Deb perguntou incrédula. - Brenda vive aterrorizando as pessoas, vi várias vezes ela coagindo o pobre do Damon para fazer alguma tarefa.
- Eu já vi e ouvi muitas histórias, . - Fred comentou sério. - Não tem como ser exagero.
respirou fundo e fechou o livro, voltou a encará-los decidido.
- Bom, eu posso confirmar que a não é o começo do que dizem. - Soltou sério, ignorou os olhares de descrença e decidiu continuar. - Ela é muito inteligente...
Fred interrompeu: - Isso já dizem.
- ...Generosa, oferece ajuda sem pensar duas vezes ou conhecer a pessoa…
Agora, foi a vez de Deb interromper: - Ela é monitora.
Ele quase soltou sobre os desenhos, mas segurou a informação. - ...É muito comprometida, não destrata ninguém, nem mesmo o pessoal que fica atrás dela. - Dessa vez, não foi incomodado e os amigos pareciam interessados. - Ela é direta, fala o que sente e pensa, além de ser muito bonita e divertida para passar o tempo junto. Quando está com você, ela sabe ouvir e isso é uma qualidade muito rara. - Finalizou satisfeito, mas ficou preocupado ao ver os rostos dos amigos.
- … - A amiga chamou-o insegura. - O que realmente está rolando entre vocês?
Ele franziu a testa, surpreso com a pergunta.
- Ela está me ajudando a estudar para o teste de recuperação. - Deu de ombros, a mente não precisou ir longe ao se recordar do dia anterior e dos vários beijos envolvidos, mas manteve a postura relaxada.
Deb revirou os olhos.
- Vocês são o assunto no campus. Todos se perguntam como você chamou a atenção dela e como ninguém reparou em você antes. - Sorriu achando graça. - Entrou para o radar das garotas e virou motivo de inveja dos caras.
- Menos eu. - Fred apressou-se em acrescentar.
- Menos você. - A garota garantiu.
- Eu sou uma das testemunhas de que a última coisa que está rolando é monitoria, a não ser que seja sobre as mil e uma Técnicas do Beijo. - Fred brincou. - Vocês foram flagrados aos beijos na festa e biblioteca.
- Contra fatos não há argumentos. - Deb sorriu convencida. - Então, não venha querer me dizer que é só uma monitoria. - Ela esticou um dos braços e tocou o braço do amigo que estava de frente, sério. - Queremos o seu bem e que não crie expectativas.
- Ela tem razão, cara. Nós somos a parte de baixo da pirâmide universitária e… - Fred parou e refletiu, mirou o amigo em dúvida, mas o familiar sorriso apareceu. - Quer dizer, apenas nós dois, porque o nosso garotão subiu na hierarquia como casinho da .
- Casinho? - repetiu incrédulo.
O amigo deu de ombros em resposta.
- É como o campus te rotulou. - Decidiu acrescentar uma explicação ao ver que o amigo parecia atordoado. - Todos que se envolvem com o topo, recebem um rótulo e como ela não tem namoros no histórico…
Ele permaneceu em silêncio. Bem lá no fundo, sentiu um pequeno incômodo ao pensar nas palavras dos amigos. Será que a garota o considerava daquela forma? Não, não queria acreditar nisso, pois as pessoas estavam falando sobre a que acreditavam realmente existir e que ela já deixou bem claro para ele muitas vezes que se tratava de um personagem. Entre aturar as suposições de terceiros e estar com ela, preferia não abrir mão de conhecê-la mais. Bonita, inteligente, generosa, divertida… Tinha ciência de que poderia encontrar essas qualidades em qualquer outra garota, mas tê-las pertencido a pareciam encantá-lo mil vezes mais. Gostava muito da garota e em pouquíssimo tempo, como era possível?
- Promete que vai se cuidar? - Deb perguntou preocupada, a mão acariciando a do amigo.
- Relaxa! Não é como se eu estivesse apaixonado por ela. - Forçou um sorriso confiante.
Fred encarou-o duvidoso e a amiga, também.
- Mas parece encantado. - Pontuou. - Você listou tantas qualidades que agora quero ser amiga dela. - Deborah brincou.
Todos riram.
- Que tal pizza? - libertou a mão e desviou a atenção para o material, jogou dentro da mochila e levantou. Queria encerrar o assunto, não queria analisar o que disse e ouviu. Pouco tempo, mas realmente estava encantado por ela e isso era muito perigoso. Pior seria o “gostar” evoluir para uma paixão louca e era a última coisa que desejava.
- Opa!
- Super dentro!
Os amigos animados mudaram para outros assuntos que passavam longe do nome da garota e de certa forma, ele ficou aliviado.

XXX


- A Tecnologia é muito importante! Facilitou muito a nossa vida e ajudou em várias descobertas. - falou enquanto balançava o lápis entre os dedos, o corpo descansava relaxado em sua cadeira.
cruzou as pernas, fechou o livro que descansava em seu colo, a jovem estava sentada na beirada da cama do garoto e eles estudavam desde o início da tarde.
- Eu concordo totalmente e acho muito bonita a dedicação que você tem nos estudos sobre o assunto, o quanto passa horas aprimorando esse aplicativo. - Sorriu. - É como se eu visse em você, o que eu sinto pelo Direito. - Suspirou sonhadoramente. - Eu quero ajudar os inocentes e aqueles que não possuem condições financeiras de pagar por um bom advogado, quero poder fazer mais por eles. Dinheiro é importante para o nosso sustento, mas quero ter apenas o suficiente para bancar as minhas contas, proporcionar uma vida tranquila para a minha família, mas sem esquecer de contribuir para um mundo melhor.
Ele não conseguiu evitar o sorriso que apareceu no seu rosto e que deixou-a desconcertada.
- Não me olha assim…- Cobriu o rosto com uma das mãos.
- Assim como? - Riu.
- Como se eu fosse uma deusa maravilhosa que você não pudesse parar de admirar. - Brincou.
Ele negou com um gesto de cabeça e riu.
- Toda vez que eu paro para pensar sobre você… Isso… - apontou com o indicador para o próprio peito e em direção a garota. - Eu me surpreendo muito.
- Eu gosto de você. - Confessou timidamente, deixou-o saber o que dizer.
- Eu… Eu também. Você é uma garota extraordinária. - Elogiou-a e deu de ombros, voltou a atenção para o caderno no seu colo para disfarçar a vergonha.
Ela riu.
- Primeira vez que me intitulam como extraordinária. - Zombou, mas logo sua expressão se suavizou. - Você também é e…
Foi interrompida por ele que riu e disse:
- Não precisa mentir.
Revirou os olhos em resposta ao comentário.
- Você realmente é, . Tenho certeza de que os seus pais pensam o mesmo que eu. - Sorriu.
O garoto ficou desconfortável com o comentário, a postura tornou-se tensa.
- Sim, mas como o garoto que seguirá os passos dos pais. - Soltou amargo.
Ela fez uma careta e olhou o livro, brincou com a ponta da página de forma inquieta e o que foi um sinal claro para o garoto de que ela queria muito dizer algo.
Ele suspirou resignado e deixou o corpo numa posição relaxada novamente.
- Pode falar.
Ela fitou-o espantada.
- Como assim?
- Sou um cara muito observador e sei que quando você está com esses dedos inquietos ou quer arrancar a página ou me perguntar sobre os meus pais. - Sorriu divertido.
franziu a testa em surpresa.
- Mas… Mas como?
Ele deu de ombros.
- Sou observador e estamos passando bastante tempo juntos há dias… Não tem como notar as coisas.
Ela sorriu resignada.
- Tem razão, admito que já reconheço alguns sinais em você, principalmente, quando está ansioso para se esconder no seu quarto.
Riu.
A jovem descansou as mãos cruzadas no colo e respirou fundo, pareceu refletir por alguns segundos antes de dizer: - Você realmente não vai contar a verdade para os seus pais? Não quer se livrar desse peso? - Abriu a palma da mão e estendeu o braço na direção do computador que estava na mesa atrás do garoto e continuou: - Se eles entrarem aqui, vão ver o quanto você ama mexer com Tecnologia. Você tem que buscar a sua própria felicidade.
Ele passou uma das mãos no cabelo, puxou os fios de leve e depois, encarou os pés.
- Podemos voltar aos estudos? Eu não quero falar sobre isso…
- Tudo bem. - Ela concordou resignada.

XXX


conferiu a data no celular, arregalou os olhos de surpresa e um sorrisinho bobo tomou o seu rosto. Naquele dia, completava um mês de estudos com e que era repleto de conteúdos sobre Metodologia do Direito, mas com acréscimo de muitos beijos, risadas e conversas fiadas. Quando a garota era o foco dos seus pensamentos antes de pegar no sono, pensava estar vivendo um romance de filme adolescente e, o mais surreal, com a garota popular que jamais iria lhe dar atenção. Entretanto, a história dele foi escrita de forma contrária aos clichês, ela não era a garota popular que se preocupava apenas com as aparências e esquecia dos estudos, pelo contrário, muito direta sobre o que pensa, se dedica à faculdade com a intenção de se formar e poder ajudar as pessoas. Não busca riquezas e sim, contribuir para um mundo melhor.
Festeira? Sim! Afinal, nem só de estudos e trabalhos se vive o jovem universitário, mas nada que vá atrapalhar o foco em se formar.
A melancolia o pegava de jeito ao pensar que poderia estar se dedicando ao que amava de verdade e não estudando avidamente para evitar uma reprovação numa matéria chata de um curso que ele não tem um pingo de amor. Queria chutar o balde, mas era impossível não lembrar das expectativas que os seus pais tinham nele.
O campus ainda estava atento no desenrolar do romance entre eles, ouviu comentários azedos sobre a garota enjoar rápido dos caras que se envolvia; outros perguntavam se estavam namorando e se ela tocou no assunto. E como ele respondia? Com muito esforço não demonstrava qualquer traço de emoção em seu rosto e seguia o seu caminho até a biblioteca ou a próxima aula, repetia milhares de vezes em sua mente que eles não se afastariam facilmente, quando ele fizesse o teste e tirasse a nota que o salvaria da reprovação, entretanto, lá no fundo da sua mente, o medo e a incerteza incomodavam. A verdade é que o coração era o sujeito que temia mais essa possibilidade.

XXX


descansou o rosto em uma das mãos, a outra segurava firmemente o lápis, os traços sendo criados na folha de papel a sua frente. O formato da cabeça, o traçado do nariz levemente pontiagudo, o familiar sorriso de canto que achava uma belezura e acrescentou uma camisa, mas parou com a ponta do lápis no centro. Mordeu os lábios e franziu a testa em concentração, não poderia faltar uma estampa divertida e, quando decidiu que não seria capaz de criar uma, decidiu escolher a sua favorita e que, coincidentemente, o viu usar na primeira vez que os seus olhos o miraram.
Encarou o desenho insatisfeita, a sensação de que faltava algo na imagem. Esquadrinhou cada detalhe com atenção, mas não conseguiu definir.
Bufou irritada, largou o lápis e fitou o papel.
Quanto mais próxima a data do teste, mais ela ficava preocupada sobre o que estava rolando entre ela e . Continuavam sendo alvos das atenções, mas ignorava com simpatia e, às vezes, descaso, entretanto, sabia que o garoto não tinha o mesmo jogo de cintura e isso, era o que realmente a preocupava.
Será que ele se afastaria no final? Porque ela não queria. Gostava muito dele e isso era mais do que óbvio, deixou claro em todas as oportunidades, mas tinha receio que a sua popularidade e o que estavam enfrentando desde que começaram a andar juntos pudesse atrapalhar tudo.
iria se sair bem no teste, poderia até mesmo gabaritar e ela não tinha dúvidas, afinal, ela realmente sabia ensinar. O que realmente estava lhe tirando o sono era a possibilidade, no final de tudo, dele sair de sua vida.
E isso, com toda certeza, ela não queria.

XXX


- Excelente, senhorita . - O professor leu alguns trechos do relatório em suas mãos, em seguida, abriu um sorriso para a garota que o encarava em expectativa.
- Muito obrigada. - Agradeceu com um sorriso.
Viu o homem guardar as folhas em sua pasta e pegou uma única folha, ela suspeitou que fosse o teste que faria e foi impossível não fazer uma careta. Se a avaliação fosse em uma folha, com certeza seria totalmente discursiva e ela torcia muito para que o rapaz não se desesperasse.
- Senhor, . Guarde o caderno para começar o teste. - Pediu tranquilamente e virou para a jovem. - Pode se retirar, por favor, senhorita .
- Ok. - Sorriu graciosamente, lançou uma olhada para o garoto, mas ele estava pegando o teste e ficou pálido encarando a página. Ela ia atravessar a porta aberta, fingiu tropeçar e bateu com força na madeira do batente, fazendo barulho e chamando a atenção deles.
- Desculpa, professor! - Apressou-se em falar. Assim que o homem voltou a se concentrar na própria mesa, olhou para que a encarava em desespero. Ela movimentou os lábios sem som: - Você consegue! - Finalizou com um gesto positivo de polegares erguidos e um enorme sorriso.
- Senhorita … - O homem soltou sem encará-la, os olhos na leitura do relatório.
- Estou indo… - Soltou um risinho e saiu, fechando a porta atrás de si. Espalmou as mãos na madeira e observou a sala através do vidro, o jovem estava com a testa franzida em preocupação ou seria concentração? Ela realmente ficou em dúvida, não estava sendo capaz de opinar. O seu coração batia forte de ansiedade, as palmas suando frio, ela sentia como se estivesse no lugar dele ao invés de apenas ali, aguardando por notícias. Decidiu que seria melhor procurar uma distração, assim a hora poderia voar e seria menos agoniante a espera.

XXX


corria pelo campus desviando dos estudantes, a mochila batia nas suas costas no ritmo dos seus passos, o ar entrando e saindo com força através de sua boca, a mão agarrando a folha de papel com força. As pessoas com quem ele cruzava, o encaravam numa mistura de surpresa e susto, o que o deixou desconfiado de que deveria estar parecendo um maluco, entretanto, estava pouco se lixando para a opinião de qualquer pessoa além da jovem que era o motivo da sua busca alucinada. Admitiu para si mesmo que ficou magoado, quando atravessou a porta da sala e não a encontrou no corredor ou nas escadas mais próximas ou na entrada do prédio de Direito e agora, mais ainda ao perceber que havia percorrido uma enorme distância sem rumo e tendo como resultado, nenhum sinal da garota.
Chegou a cruzar com Fred e depois com Déborah, mas evitou parar a busca e gritou que passou. O seu coração só queria encontrá-la, contar a notícia maravilhosa e que só aconteceu graças a ela, por isso persistiu na procura. Quando estava prestes a desistir, avistou um grupinho de cinco pessoas em pé, próximas a um banco de madeira e assim que uma das pessoas se mexeu, ele viu o rosto dela e seguiu ainda mais determinado. Faltando cerca de cinco metros, buscou fôlego e gritou o nome dela, assustando-a.
pulou do banco de madeira, o susto dando lugar a uma felicidade tão palpável, tão bonita, tão inexplicável que o coração dele pareceu bater ainda mais rápido. O sorriso mais lindo apareceu em seu rosto e ela correu de encontro a ele, lançou o seu peso em cima dele e se abraçaram, rindo.
O campus inteiro parou, surpresos e divertidos com aquela cena, mas o casal estava em outro planeta, presos numa realidade somente deles.
- Você conseguiu! - Ela riu ao permanecer num meio abraço, fitando-o diretamente, os olhos brilhando de felicidade e animação. - Deixa eu ver! - Soltou-o, o que deixou-o meio triste, mas disfarçou e entregou a folha para ela que leu com atenção.
- Puta que pariu! - Xingou alto, animada. - B! - Riu. Abraçou-o novamente com muita força, o teste ainda mais amassado em uma de suas mãos.
- Eu surtei, quando vi que era tudo discursivo, mas aí fui lendo cada questão e percebi que lembrava da maior parte e…
Inesperadamente, os lábios da garota uniram-se aos seus com vontade, interrompendo-o e assustando-o, entretanto, esse sentimento durou poucos segundos, pois logo uma das mãos de foram para a nuca da garota, descansando suavemente ali. O coração de ambos batia com força, as respirações entrecortadas, os sentimentos e as sensações misturadas como um redemoinho pairando sob suas cabeças. Ao redor, os universitários assobiavam, batiam palmas, riam e comentavam a cena, alguns tinham seus celulares estendidos enquanto registravam aquele momento com fotos e vídeos, porém o casal estava muito longe de se importar com a plateia.
- Temos que comemorar! - Ela parou o beijo ofegante, os lábios levemente avermelhados.
O garoto atordoado, riu e começou a olhar ao redor, a expressão em seu rosto demonstrou para a garota que algo estava errado e ela virou-se, vendo toda a cena.
Fitou-o novamente, decidida e agarrou uma das mãos dele.
- Vamos comemorar! - Insistiu e saiu, puxando-o pelo caminho oposto a plateia que os assistia e que soltou exclamações animadas numa tentativa de conseguir alguns segundos de atenção, mas foram ignorados enquanto via a dupla de afastar pelo campus.

XXX



O pub localizado na cidade próxima ao campus estava vazio na hora do almoço. O barman serviu uma bebida para um rapaz e começaram uma conversa animada, além da mesa que e ocupavam, duas também tinham pessoas que batiam papo animadas e devoravam petiscos. A dupla estava sentada lado a lado, as maiores canecas de cerveja gelada, descansavam na mesa juntamente com um prato cheio de batata frita. A garota tinha uma expressão tranquila no rosto, fitando-o com carinho enquanto o garoto lia algo na tela do celular, uma careta de desgosto.
Ela observou-o enquanto tomava mais de sua bebida.
Estavam no lugar há mais de uma hora, era sua segunda caneca e sentia-se disposta a beber muitas mais, o ânimo nas alturas com os últimos acontecimentos, porém a mente estava começando a seguir um rumo que não queria se preocupar naquele momento.
Ele resmungou de forma incompreensível para os ouvidos dela e guardou o aparelho no bolso, pegou a própria caneca e tomou todo o conteúdo de uma vez.
Quando colocou a caneca na mesa, ele abriu a boca e fechou, desistiu do que ia dizer, a face chateada. Decidiu tentar novamente e, então, ambos tentaram falar ao mesmo tempo, a confusão de palavras que causou uma crise de risadas. Assim que se acalmaram, tornaram-se sem jeito, totalmente tímidos e sem saber como agir, quem deveria iniciar a conversa.
- Primeiro as damas. - Insiste, gentil.
Ela revirou os olhos.
- Não vem com essa, você começa. - Revidou.
- Eu já esqueci o que ia dizer, acho que estou ficando bêbado. - Mentiu com a cara mais deslavada do mundo.
- Ah, é? - Perguntou debochada e esticou a mão para o prato de batata frita, pegou um pouco e enfiou na boca o suficiente para fazê-la mastigar por um minuto inteiro ou mais. Arqueou uma de suas sobrancelhas, um gesto de provocação. Estando ela com a boca cheia, ele seria obrigado a quebrar o silêncio.
- Isso foi sujo. - Ele riu.
Ela deu de ombros com falsa inocência e precisou cobrir a boca com as mãos para evitar que voasse o conteúdo com a gargalhada que queria escapar por sua garganta.
segurou-se para não rir, mas não conseguiu e acabou gargalhando gostosamente, quase afastando o nervosismo e o peso em seu peito. Agarrou a caneca e ia beber, mas lembrou que estava vazia e fez uma careta de desgosto.
percebeu e tomou um gole da sua própria, em seguida, estendeu para ele que aceitou com gratidão e encheu a boca de líquido gelado. Devolveu-a e respirou fundo, encarou o tampo da mesa e ao reunir coragem, encarou-a.
- Eu não curti os holofotes. - Soltou de uma vez, acreditou que arrancar o band-aid numa única puxada seria a melhor solução ou perderia a coragem de ser sincero. Viu a surpresa inundar o rosto da garota e depois, ser substituída por preocupação.
tomou mais cerveja e permaneceu em silêncio, incentivando-o a continuar.
- Toda essa atenção, às pessoas cochichando, quando eu cruzo com elas pelo campus, os olhares em cada passo que dou ou sobre o que estou fazendo, as perguntas inconvenientes sobre o que está rolando entre a gente. Eu não quero essa “popularidade”. - Fez o gesto de aspas ao citar a palavra.
Ela respira fundo, o raciocínio mais lento por causa do efeito da bebida, o cotovelo descansou na mesa, o polegar e o dedo indicador foram até o lábio inferior da própria boca, apertando-os, pensativa.
Não conseguia se ver desvinculada da fama que tinha no campus, esse era o pacote completo, estar com ela significava aceitar e fazer parte dos holofotes. A garganta pareceu mais seca do que o normal e tomou todo o conteúdo da caneca. Colocou-a vazia com um baque ao atingir a mesa, fitou-o seriamente, o coração não querendo aceitar o que ia acontecer, o que mais temia nas últimas semanas.
- Não é para todos. - Soltou seca, o rosto duro numa tentativa de esconder a bagunça que se encontrava as suas emoções. Esperou demais que as coisas fossem dar certo no final, não um felizes para sempre, mas um felizes por algum tempo. E se decepcionou totalmente.
O garoto ficou surpreso com o tom dela, mas foi o suficiente para entender e por isso, optou por se manter sincero, mesmo que fosse muito difícil.
- Como você consegue? - Questionou inconformado.
Ela riu sem humor e deu de ombros, o rosto descansou na mão, fitava-o diretamente.
- Eles admiram uma pessoa que não existe. - Revelou a conclusão que chegou durante os momentos que pensava na garota. - Criaram uma personagem que você veste a pele e que não é nada interessante em comparação a real. Por que você não abandona esse teatro? - Analisou-a pacientemente, o tom soou levemente desesperado. Tinha consciência de que queria ficar com ela, não queria que o relacionamento que haviam criado tivesse um fim, mas ele não iria aguentar as atenções e tudo que estava incluído. Compreendia, perfeitamente, que ficar com significava manter os holofotes mirados para sua própria cabeça.
O celular dela começa a tocar no bolso, mas ignora. A tensão entre eles é gritante, qualquer pessoa que ousar encará-la consegue ver que o clima não está nada amigável. Uma comemoração que tornou um rumo desastroso e que poderia encaminhar a relação para um fim.
ouviu as palavras do garoto e digeriu-as, a compreensão trouxe um gosto amargo a sua boca e tornou-se inevitável não tentar causar o mesmo tipo de sensação ao garoto, pois ele sabia o que ela pensava sobre o status que tinha e a importância que tinha. Também não poderiam esquecer que ela demonstrou e deixou bem claro os sentimentos que nutria por ele e não queria acreditar que deveria ter desenhado para deixar mais claro. Entretanto, o fato de indicar que ele queria que ela desistisse de tudo por ele ao invés dele fazer um sacrifício por mais um tempo, até aparecer um novo casal e eles caírem no esquecimento, magoou-a o suficiente para revidar e cutucar as feridas dele.
Inclinou o corpo para frente, um pouco mais próxima dele que pareceu prender a respiração com proximidade, ela sentiu o perfume dele, mas nem o aroma que gostava tanto foi capaz de espantar a raiva que cruzava suas veias. Esforçou-se para manter uma expressão fria.
Viu-o fitando-a atentamente, tenso.
- E você? - A voz provocativa. - Por que não diz a verdade para os seus pais, abandona o perfeito que existe apenas nos planos deles e faz o que realmente ama? - Abriu um sorriso debochado, arqueou uma das sobrancelhas para evidenciar suas intenções. Pensou que se sentiria melhor em provocá-lo, mas a tristeza e a mágoa pareceram apenas se tornar mais forte.
Primeiro, ele ficou surpreso e, depois, abriu a boca para rebater, mas gaguejou sem conseguir soltar uma só palavra.
- Exatamente. - Ela soltou com raiva. Tirou o celular do bolso que continuava tocando insistentemente, viu o nome de Maddie no visor e resolveu atender. A amiga estava num lugar com música alta, gritava sobre uma festa na casa delas e desligou na cara da sem esperar qualquer resposta, como se pudesse realmente ouvir qualquer palavra.
Revirou os olhos, guardou o aparelho no bolso e se levantou da cadeira, resignada.
Acabou, eles terminaram e era muito claro, ela nem precisaria desenhar. - Pensou com desgosto.
- Bom, eu preciso ir. - Anunciou com a coragem que não tinha, o coração na boca e a tristeza dilacerando o seu peito. Os olhos começaram a arder e se não fugisse logo dali, iria cometer o vexame de chorar na frente do garoto que a encarava com uma expressão que com toda certeza, deveria ser a mesma que a dela. Ele parecia que havia chupado um limão muito azedo e que o gosto ainda estava em sua boca.
- Tudo bem. - Ele soltou sem emoção, mas fitava-a atentamente.
- Nos vemos por aí. - Despediu-se com esforço, as palavras saíram com dificuldade de sua boca. Acenou com uma das mãos e apressou-se para fugir dali. A cada passo que os afastava, a sua mente chegava à conclusão que o seu estúpido coração não queria enxergar: eles nunca dariam certo, porque eram diferentes.
E quem podia lutar contra isso?

XXX


Horas depois, muitas canecas depois, entrou bêbado em seu dormitório. O corpo numa postura desoladora, sentou-se com dificuldade na cama e arrancou todo atrapalhado os sapatos. O quarto estava escuro, agradeceu o fato de Fred não estar ali e sim, perdido pelo campus ou em alguma festa que desconfiava ter sido o destino de mais cedo.
- Oh, , , … - Repetiu o nome várias vezes, degustando o som de pronunciá-lo em sua boca e a atitude sem sentido, teve o sentido de machucá-lo ainda mais. O belo rosto da jovem tomou a sua mente, a expressão machucada que tinha no rosto ao se despedir dele e sumir do pub. As últimas palavras de despedida, mas que tinham o significado que ele temeu por semanas, o fim de tudo entre eles. Pensar nela doía e o machucava muito. Nunca imaginou que seria tão doloroso encerrar as coisas entre eles. Eram diferentes, quer dizer, ele realmente acreditou nisso durante todo esse tempo, mas quando ela jogou na cara dele sobre o relacionamento que tinha com os pais e o que ele fazia para deixá-los felizes, ele percebeu que era o mesmo que ela fazia.
Ambos fingiam ser o que não eram para agradar os outros e não a si mesmos.
Como foi tão cego de não ter visto isso antes?
O mais desastroso de tudo foi não ter aberto a boca para fazê-la ficar. Poderiam ter resolvido tudo e ficado bem, mas de alguma forma, ele não conseguiu abrir a boca, dizer qualquer coisa, parecia entorpecido demais com aquela revelação.
Deixou o corpo cair na cama, a barriga para cima. Tocou uma de suas bochechas com a palma da mão e sentiu-a molhada pelas lágrimas que não percebeu escapar de seus olhos. Ficou surpreso, pois fazia muito tempo que não chorava. Muitos e muitos anos. Fechou os olhos e pensou nos últimos anos, relembrou cada momento, tudo que fez ou viveu, o que se privou de fazer por causa dos pais e a angústia começou a se avolumar em seu peito. A mistura de frustração, angústia, tristeza assomou-se, arrancando-lhe o ar e o choro fugiu por sua boca, trazendo o som de todo sofrimento de se privar em favor dos outros. Amava o pai e a mãe, era grato pelo amor e a vida que tinham, mas não poderia continuar mais um minuto daquela farsa.
Não, não poderia e não iria. Pensou ferozmente, revoltado. Sentou-se novamente, atrapalhado, tateou os bolsos e encontrou o aparelho celular, apertou o número da discagem rápida. Secou os olhos com a manga do casaco, respirou fundo e repetiu para si mesmo que seria capaz de colocar tudo para fora.
A coragem explodiu para os ares, quando ouviu a voz doce materna do outro lado da linha.
- ? Sei que você está aí, ouço a sua respiração. - Insistiu, preocupada, quando não teve uma resposta.
Ele respirou fundo outra vez, buscou coragem e pensou que a melhor maneira seria soltar de uma vez.
- Eu odeio Direito, odeio muito. - O tom choroso, totalmente diferente do que imaginou.
A mulher deu uma risadinha.
- Meu filho, eu também odeio várias vezes ao dia, principalmente, quando tenho que elaborar peças enormes. - Soou cansada.
Do outro lado da linha, o filho fechou os olhos com força, agarrou os cabelos com uma das mãos e deixou a cabeça pender para frente, esgotado.
- Eu odeio estudar Direito, não quero ser advogado ou trabalhar com isso. - Tentou mais uma vez. - Eu amo tecnologia, programar, criar aplicativos que possam ajudar, divertir as pessoas, melhorar as peças do meu computador. Isso é o que eu realmente amo fazer, mãe. - Finalizou com a voz embargada, mais lágrimas molhando o seu rosto.
O silêncio reinou por um minuto inteiro e o garoto achou melhor deixar que a mãe processasse o desabafo dele.
- Meu filho… - O tom atordoado. - , eu não sabia… Nossa! Eu sou uma péssima mãe! Como eu não percebi? Eu achei, pensei que fosse um hobby seu. Como fui tão cega?
- Mãe. - Chamou-a, mas a mulher ignorou e continuou a balbuciar sem parar. - Mãezinha. - Tentou mais uma vez da forma que costumava quando era criança, a voz suave.
Ela calou-se.
- A senhora é a melhor mãe do mundo. - Sorriu. - Eu escondi tudo isso, porque não queria decepcionar vocês. - Confessou.
- Ah, meu filho! Me perdoa por impor os meus desejos a você, isso não deveria ter acontecido. A vida é sua, você tem os seus próprios sonhos, as coisas que realmente te fazem feliz. Faça o que tem que fazer, . Siga o seu coração. - Disse amavelmente. - Eu amo você e amar é respeitar as escolhas do outro. Escolha e eu prometo que não vou ter um ataque se você decidir largar a faculdade e fazer qualquer outra coisa. - Riu.
Ele fica tão emocionado que a voz sai embargada pelo choro, mas um sorriso de alegria surge em seu rosto.
- Eu te amo, mãe.
- Eu também, meu filho. Você é brilhante! O que escolher vai dar certo! Se cuida, meu amor.
- A senhora também. Beijo. - Desligou a chamada e deixou o aparelho cair ao seu lado no colchão.
Secou as lágrimas do rosto, olhou o quarto escuro enquanto respirava fundo. Conforme entendia que tudo tinha se resolvido e que a mãe cuidaria de conversar com o pai dele, o peso que sempre existiu em seus ombros, desapareceu. Ele se sentia leve, tão leve que ficou com medo de estar flutuando pelo quarto e não ter percebido. Riu com o pensamento bobo. O que sentiu foi felicidade, borbulhando por todos os seus poros e se perguntou, porque não teve coragem de fazer aquilo antes e aí, uma dorzinha ocupou um pedaço daquela alegria ao se lembrar quem desencadeou aquela coragem de acabar com todo o fingimento que ele vivia.
Acendeu a luz, tristonho, começou a despir a roupa e vestir o pijama. O coração estava pesado ao pensar na garota que o tinha despedaçado e mais ainda, ao saber que não iria vê-la no dia seguinte ou falar com ela, até mesmo contar sobre a sua conversa com a mãe. E realmente se sentiu muito triste por constatar o quanto estava apaixonado por e que eles não ficariam juntos.

XXX


estava muito irritada… Triste, também. Mas muito mais triste do que irritada. Magoada seria a melhor definição? Ela poderia acreditar que sim. A bunda estava doendo de continuar sentada há horas no sofá, a expressão fechada e que deixava mais do que claro que não queria assunto, a música alta a irritava profundamente e estava se segurando há horas para não gritar. Bebeu mais cerveja na long neck que segurava, os pensamentos sempre voltados para , o que eles viveram naquele mês, o crush que ela nutriu durante todo aquele tempo e o fim que tiveram naquela tarde. O gosto amargo ainda dominava a sua boca, o rebuliço de sentimentos ao lembrar do rosto do garoto e a forma que ambos se atacaram, os pontos que cutucaram. Tudo machucava ao lembrar, no entanto, ela se permitia lembrar e relembrar num infinitas vezes sendo que só servia para doer mais.
Massageou as têmporas e bebeu mais um gole. Procurou Maddie pela sala que tinha várias pessoas se divertindo, trocando ideias, dançando e sentiu inveja delas. Numa noite normal, um mês antes, ela estaria fazendo o mesmo sem qualquer preocupação além da monitoria e as provas. Como queria ter uma máquina do tempo para voltar ao passado e evitar sentar ao lado do naquela manhã. Ou melhor, voltar à noite antes daquela manhã para recusar o convite para a festa e aí sim, no dia seguinte, chegar na aula no horário certo e poder ocupar o seu lugar de sempre. Infelizmente, isso não era possível. Ao menos agora ela ia começar a seguir o que a Maddie e as suas amigas faziam, costumavam marcar um lugar como seu território e ninguém ousaria sentar.
Esse era o seu problema, se realmente agisse mais como as suas amigas ou como as pessoas achavam que ela era, sua vida seria muito mais fácil. Ela não estaria mal, sofrendo de um coração partido.
- E aí, ! - Josh, jogador do time de futebol americano da escola e amigo de Maddie, chamou-a animado. Expulsou o rapaz que ocupava o lugar ao lado dela no sofá e se sentou, um sorriso animado no rosto, também tinha uma longneck na mão.
- Oi, Josh! - Cumprimentou sem emoção, tomou mais um gole e desviou a atenção, vendo algumas pessoas cochicharem e olhar na direção deles. Revirou os olhos, irritada.
- Você ainda está ficando com o nerd? - Perguntou num tom de leve desprezo, o que chamou a atenção dela e a fez se virar para encará-lo friamente.
- Oi? - Arqueou a sobrancelha de forma desafiadora.
- Qual é, ! - Soltou divertido, bebeu um gole e continuou. - Não sei o que você viu nele, vamos combinar que o cara não tem nenhuma graça. Acho que já passou da hora de você me dar uma chance.
Descrença, divertimento, em seguida, irritação e, talvez, um acúmulo de muitos sentimentos para um único coração agregado a bebida que corria solta no seu sangue. Ela deveria e poderia ter lutado mais para ignorar as palavras de Josh, mas ela não quis. As atenções que ela e receberam do campus foram os verdadeiros culpados pelo sofrimento que estava sentindo. E qual era o problema de explodir a bomba neles? Por isso, jogou tudo para fora, mesmo que fosse se arrepender no dia seguinte.
Ela levanta calmamente, coloca a garrafa vazia na mesinha ao lado do sofá e vira-se em direção ao rapaz. Encara-o friamente.
- Não é da sua conta… - Aumenta a voz, olha ao redor e depois o encarou novamente. - O meu relacionamento só interessa a mim e a ele. E quem te disse que ele é sem graça? O cara é superinteligente! Sabe tudo de tecnologia e tem um estilo super maneiro! É o cara mais gato desse campus! - Finalizou irritada, mas ficou satisfeita ao ver todos prestando a atenção com expressões de surpresa e incredulidade.
Josh pareceu ofendido.
- E não, nunca vou te dar uma chance. Você não faz o meu tipo. Boa festa para você! - Despediu-se, saiu, desviou das pessoas que estavam no seu caminho e subiu as escadas, atravessou o corredor e destrancou a porta do seu quarto. Entrou, bateu à porta com força, descontando toda sua frustração e se jogou na cama bagunçada, abraçando um travesseiro. Ficou assim por um minuto inteiro, depois caiu na risada ao lembrar do rosto de Josh e das pessoas.
Após o divertimento, a consciência pesou ao lembrar que o espetáculo iria chegar aos ouvidos de e que mais uma vez, ela e o garoto seriam assunto no campus. Parabéns, ! - Parabenizou-se irritada.
Cobriu o rosto com o travesseiro e soltou um urro de frustração, descobriu o rosto, quando ouviu a porta se abrindo, ia xingar e expulsar o invasor, mas desistiu, quando viu quem era.
- O que foi isso? - Maddie falou assustada. - O que aconteceu com você? A minha melhor amiga nunca faria isso. - Cruzou os braços, parou em frente a cama.
- Se veio me criticar ou ao , então é melhor ir embora. - Voltou a abraçar o travesseiro, o rosto virado para o lado ao invés de fitar a melhor amiga.
Ouviu um bufo indignado, a jovem sentou no colchão no espaço vago ao lado do corpo da amiga.
- Uau! O inferno vai congelar! - Riu. - , a garota mais inteligente e popular da Stanford, está apaixonada! - Dramatizou.
A outra, revirou os olhos, irritada.
- Não estou, além do mais, não é da sua conta ou de…
Maddie interrompeu-a duramente.
- É da minha conta, sim. Você é a minha melhor amiga e eu te amo. - Deitou de lado, frente a frente, os pés calçados para fora da cama, jogou um de seus braços por cima do corpo dela num meio abraço reconfortante.
O silêncio caiu no quarto, mas Maddie estava disposta a quebrá-lo.
- Qual o motivo desse surto? Se foi uma tentativa de zerar a concorrência pelo boy nerd, sinto te informar, mas só aumentou o interesse. - Brincou.
- O quê?
- Você queria o quê? Depois de dizer que ele era mais bonito que Josh e falar sobre as camisas, até eu fiquei interessada. - Zoou.
A jovem gargalhou alto ao receber uma olhada tão mortal que poderia parti-la ao meio.
- Não acredito! Você realmente se apaixonou! Como isso aconteceu tão rápido? Você costumava ter um coração mais gelado do que o meu!
Ela fez uma careta, pensou em não revelar, mas decidiu não esconder da sua melhor amiga.
- Faz maior tempo que tenho um crush nele.
Maddie encarou-a chocada.
- E por que não falou com ele antes? Nunca te vi trocar uma palavra ou demonstrar interesse nele, além de que não parecia nada com o seu estilo.
- Só se for o estilo da nossa popularidade, né? - Questionou irritada.
A amiga deu de ombros e respondeu: - Eu amo ser popular.
- Antes eu levava de boa, depois do , acabei percebendo que os pontos negativos realmente me incomodavam.
- É por isso que ele não está aqui? E o motivo do espetáculo?
Ela confirma com um aceno triste.
- Ele não curtiu como as coisas estavam indo, toda a atenção e eu não reagi bem a isso. Fui maldosa, toquei num ponto sensível para ele e nem precisei dizer nada para deixar bem claro que acabou. - Finalizou com dificuldade, a voz embargada.
- Olha, ele é um cara acostumado a passar despercebido. Não tem como gostar dessa mudança repentina, né?
Ela suspira tristemente, os olhos ardendo pela vontade de chorar.
- Sim, mas… Mas eu tinha esperanças de que as coisas dessem certo para nós.
- Ele gosta de você. - Afirmou suavemente, mas o olhar que lançou sobre a amiga, deixou evidente sua opinião. - O campus inteiro tem certeza disso e eu também.
- Eu achei que sim, mas aí com esse desfecho, fiquei na dúvida. - Deu de ombros, os dedos brincando com a ponta da fronha.
Maddie estendeu uma mão e acariciou os cabelos da amiga.
- Acredito que o melhor é vocês conversarem, acertar as contas, ser sincera e dizer o que sente.
- Não sei. - Resmungou, desconsolada. - Não sei se tenho coragem de fazer papel de boba.
- Bom, é um risco. Lembra quando me convenceu a dizer para o Andrew que estava a fim dele? - Riu. - E que no final, ele me trocou por outra garota? - Lembrou.
A outra confirmou.
- Então, eu me arrependi só depois que tudo deu errado. - Riu. - Deixe para sentir o mesmo só se realmente você fizer papel de boba. Alguém tem que ceder e se você não quiser carregar o arrependimento de não ter tomado a iniciativa, então o procure e converse. Se no final ele continuar com a mesma decisão, você se despede sem derramar uma lágrima, mantém a pose e corre para mim que eu estarei aqui para te consolar. - Depositou um beijo na testa da amiga, sussurrou uma despedida e saiu do quarto, fechando a porta silenciosamente atrás de si.
- Droga! Não sei o que eu faço! - Ela resmungou irritada, as mãos cobrindo o rosto.
A única coisa que tinha certeza é que odiava estar apaixonada!

XXX


A cabeça de doía, o gosto amargo na boca e um mal-estar que não melhorava, odiava ficar de ressaca e muitas vezes, evitava beber mais do que o normal para não chegar a esse estado, entretanto, a situação do dia anterior contribuiu para que chutasse os limites. Depois que conversou com a mãe e se livrou de toda carga que carregava, ficou na bad ao pensar em e, em seguida, bateu na cama e apagou. Acordou com o som do alarme nas alturas, incapaz de ignorar o barulho irritante. Levou cinco minutos inteiros para conseguir se erguer da cama e se arrumar para o café da manhã, pois precisava de um café forte. Quando encontrou com Déborah na cafeteria e tomou a bebida quente, a mente foi voltando a funcionar, mesmo que com certa dificuldade e ficou evidente para a amiga que algo estava errado com ele. Aproveitou que Fred ainda estava desaparecido e contou tudo para ela, abriu o coração esperançoso que recebesse um bom conselho.
- Você devia procurá-la para conversar. - Aconselhou suavemente e tomou um gole do seu suco, um pãozinho recheado completava sua dieta matinal.
Não se surpreendeu com o que a amiga disse, pois ele mesmo sabia que o melhor seria fazer isso, porém temia fazer papel de idiota.
- Eu sei, mas… - Tentou continuar, mas foi interrompido por um Fred que entrou esbaforido na cafeteria, o rosto vermelho e suado.
Ambos os amigos o encararam com surpresa.
- Alguém morreu? - Déborah perguntou preocupada.
- Não. - Foi a única palavra capaz de escapar da boca do garoto que arfava em busca de ar, puxou uma cadeira e se jogou nela. Estendeu a mão para o suco, pegou-o e virou todo o conteúdo.
- Ei! Compre o seu! - Reclamou indignada pela atitude do amigo, odiava que mexessem na sua comida sem permissão. O rosto ficou emburrado.
Ele ignorou-a e fitou diretamente, ansiedade estampada em suas feições.
- Você não vai acreditar no que aconteceu!
Apenas tomou um gole do seu café, manteve-se em silêncio, sabia que o amigo não iria aguentar e contar tudo, mesmo que ambos não quisessem ouvir a fofoca do campus.
- Cara, ontem rolou uma festa na casa da e Maddie…
- Olha, Fred, não é uma boa hora. - Déborah interrompeu-o.
concordou e tomou toda a bebida, preparando-se para voltar ao quarto e dormir.
- A Dill e o Lucky ouviram tudo! - Desandou a falar como se a amiga não tivesse o atrapalhado. - Josh chamou a para sair e também falou que você era sem graça. O que eu não concordo, tudo bem que precisa dar uma melhorada no visual, mas você não é sem graça…
- Obrigado? - encarou-o confuso e revirou os olhos.
- Fred! - A amiga chamou-o indignada.
- Sabe que eu sou sincero e…
Déborah riu zombeteira.
- Te falta é muito tato e um bom filtro na sua cabecinha.
- E o melhor de tudo! - Exclamou um pouco alto, pois a animação era evidente. Apoiou ambas as mãos na mesa e riu. - Ela te defendeu! Falou que você é o cara mais gato do campus e na cara do Josh!
- O quê? - Eles falaram ao mesmo tempo, incrédulos.
- Pois é! Até falou que adorava as suas camisas! - Riu. Agora, seu rosto ficou cauteloso, olhou para todos os lados e depois, inclinou o corpo mais para frente. Parecia prestes a confidenciar um segredo. - Cara, está rolando pelo campus um boato de que o Josh vai se vingar de você. - Sussurrou, preocupado.
- E qual a culpa do nisso? Ela falou isso na cara dele e acho que agiu muito bem! Já tinha passado da hora de alguém colocar aquele idiota no lugar dele. - Déborah comentou irritada.
- Lembra do Jake O’hara? - Perguntou baixinho.
A garota revirou os olhos.
- Essa história de novo? - Resmungou.
- Parece que antes de mexer com a Brenda, ele também pisou no calo do Josh, mas até hoje ninguém sabe o que aconteceu. - A expressão preocupada.
sentiu vontade de rir, mas não foi pelo jeito como Fred agia e a discussão que iniciou com Déborah e, sim, por saber que havia defendido a honra dele. A forma que terminou no dia anterior, deveria ser um motivo para ela massacrá-lo para o campus inteiro ao invés disso, ela o defendeu e ainda o chamou de “o cara mais gato do campus”! Ele queria sapatear pela cafeteria e ainda bem que não sabia fazer isso ou passaria uma vergonha danada. Mas quem se importava? Ele estava feliz! Havia esperanças de resolver as coisas com a garota e continuar de onde pararam.
Resolveu não perder tempo, decidiu ir procurá-la. Levantou da mesa, um sorriso colado na cara e que chamou a atenção dos amigos.
- Você a viu hoje, Fred? - Perguntou animado.
Não precisou aguardar o amigo abrir a boca, pois a expressão dele já dizia tudo. Ele sempre foi muito transparente, não era preciso adivinhar o que se passava na cabeça dele.
- Boa sorte! - Déborah desejou sorridente e fez um gesto positivo com os polegares para o alto.
Ele riu e seguiu para fora do campus.
Ia encontrar .

XXX


caminhou por todo o campus e, mais uma vez, sem surpresa, as pessoas paravam para observá-lo e depois cochichavam. O que surpreendeu-o foi o fato de que pela primeira vez, ele não se importou. Algo totalmente novo para ele! Simplesmente continuou o seu caminho, o olhar atento ao redor em busca do rosto conhecido.
Finalmente avistou-a sentada num banco com a melhor amiga Maddie, a atenção para o aparelho celular nas mãos. Desejou que ela o tivesse visto se aproximar, mas quem viu foi a amiga que a cutucou, assustando-a. Ela resmungou algo e depois pareceu surpresa. Antes tarde do que nunca, ela virou, não precisou ter uma bola de cristal para perceber que ela estava sem graça com a situação.
A distância entre eles foi diminuindo até que parou em pé, próximo a ela, totalmente alheio as atenções ao redor. Abriu o seu melhor sorriso, as mãos no bolso da calça suavam frio de nervoso, o medo de ser rejeitado na frente de todos, apossou-se de seu corpo e foi preciso muito autocontrole para disfarçar a insegurança. Tinha que apostar que a fofoca de Fred foi realmente verdade e mais verdadeira possível ou ele faria papel de bobo na frente do campus inteiro.
- Bom dia. - Desejou suavemente, a atenção pregada apenas no belo rosto da garota e estando tão próximo dela, percebeu o quanto sentiu falta nessas horas que estiveram separados.
- Bom dia. - Ela sorriu timidamente.
- Já comeu? - Perguntou num tom inseguro, mas disfarçou com um sorriso animado.
Ela negou com um gesto de cabeça.
- Topa ir na cafeteria?
- Sim. - Sorriu parecendo mais como de costume, a postura relaxada e confiante. Virou-se para a amiga e despediu-se.
se segurou para não rir, quando a garota piscou para ele de uma forma que pareceu mais um incentivo e que o assustou, pois nunca imaginou que a aprovação de Maddie poderia deixá-lo mais calmo.
Caminharam lado a lado até a cafeteria, ignorando os olhares e, também, evitaram eles mesmos se encararem. Ele não ia mentir, mas o coração palpitava rápido no peito e a cabeça parecia querer explodir só de imaginar como abriria a boca novamente para pedir desculpas, além da responsabilidade em escolher as palavras certas que pudessem acertar as coisas entre eles.
Quando entraram na cafeteria, quase desistiu ao ver que os amigos continuavam ali e que o lugar parecia mais cheio do que quando saiu. Era evidente àquela altura que a fofoca já havia corrido pelo campus e as pessoas foram até ali para ver como seria a interação deles. Será que eles esperavam que seria a vez de ele fazer um espetáculo na frente de todos? Será que ele seria capaz disso? Pensou risonho.
Ignorou o aceno animado de Fred para que sentassem juntos e seguiu mais para o fundo do lugar, encontrando uma mesa vazia. Somente após sentarem, ele se tocou que ambos não tinham ido até o balcão escolher algo para comer.
Abriu a boca para dizer que deveriam se servir, mas - como sempre direta - cortou-o seriamente.
- Nós sabemos que não viemos aqui para comer. - Falou, deixou o corpo cair relaxado na cadeira e cruzou os braços na frente do corpo. - Quer dizer, não como prioridade. - Apressou-se em acrescentar. - Não para mim.
- Mais certeira do que um raio. - Comentou divertido. - O que foi? - Perguntou confuso, franziu a testa ao vê-la encará-lo diretamente e percebeu a direção de seu olhar. - Ah! Gostou? - Agarrou o tecido da camisa preta que vestia, segurou o riso.
Ela cobriu a boca e riu baixinho.
Uma ideia louca passou pela cabeça de , ele tirou o casaco, segurou a barra da camisa, mas deteve-se por alguns segundos ao ver as pessoas ao redor observando-os. Respirou fundo, criou coragem e arrancou a camisa. O resfolegar que deu ao vê-lo fazer aquilo, depois a risada alta, foi o suficiente para vencer qualquer pensamento ou sentimento negativo que viessem acompanhados pelo gesto.
- Pega! É um presente. - Estendeu-a para ela, que ficou surpresa, mas aceitou timidamente.
Agradeceu aos céus por não ter repetido a camisa do dia anterior ou não teria sido uma boa ideia arrancá-la para presenteá-la.
- Ei, garoto! - O barista chamou a atenção do balcão. - Não pode ficar sem camisa aqui dentro. - Apontou para um cartaz na parede perto da entrada.
- Desculpa, amigo! - Vestiu o casaco e fechou o zíper até o topo do peito. Cruzou os braços em cima da mesa, o sorriso no rosto.
- Quem é você? - Ela perguntou preocupada. - Cadê aquele cara que detesta atenção? - Riu. Vestiu a camisa por cima da própria blusa e esticou a frente, relendo a estampa que tinha uma nuvem branca no centro e em baixo, duas frases. A primeira era “Profissionais de TI não vão para o céu” e a outra, “ Eles são armazenados em uma nuvem.”.
Ele deu de ombros.
- Estou me sentindo um pouco ousado hoje. - Brincou.
- Você é maluco!
- Só se for por você. - Soltou num tom brincalhão, mas esforçou-se para demonstrar pelo olhar o quanto era a mais pura verdade.
estava totalmente em choque, sem acreditar. Deixou-a processar toda a situação por alguns minutos. Ela respirou fundo e imitou a posição dele, sentados em lados opostos da pequena mesa.
- Me desculpa por ontem. - Pediu suavemente, era evidente a tristeza.
- Relaxa! - Abanou a mão num gesto despreocupado. - Nós erramos um com o outro, mas admito que doeu ouvir aquilo. Só que você me ajudou, . - Sorriu tranquilo.
- Eu fui maldosa! Como posso ter ajudado? - Questionou confusa.
Ele fechou a mão em punho, incerto, mas reabriu a mão e estendeu, envolvendo uma das mãos dela com carinho.
- Eu criei coragem e contei toda a verdade para a minha mãe. - Deu de ombros, mas sorria feliz. - Resolvemos as coisas e agora vou me formar em Direito. Não vale a pena jogar fora todo esse estresse e, depois, vou me especializar em Patentes e Direito da Informática. Nesse meio tempo, continuo programando e adquirindo conhecimento.
- Ah, ! - Ela falou com lágrimas não derramadas de felicidade que brilhavam em seus olhos. - Me deixa muito feliz saber disso! Sério! - Apertou a mão dele carinhosamente em resposta.
- Eu não fui o único corajoso. - Comentou com falso desinteresse. - Soube do que você fez ontem na festa e estou lisonjeado em saber que sou o cara mais gato do campus! - Sorriu convencido.
- Não acredito que já te fizeram fofoca! - Reclamou, mas cobriu o rosto com as mãos num gesto de vergonha. - Eu estava bêbada!
Ele riu.
- Então, eu me enganei? - Perguntou com falsa tristeza.
Ela arregalou os olhos, surpresa.
- Você… Você… - Balbuciou parecendo perdida, as mãos caíram do rosto, jogadas no colo.
- Que eu estou apaixonado pela melhor monitora do campus? - Sorriu de canto e deu uma piscadela. - E que eu descobri que ela não é a garota popular clichê que prefere os caras descolados que não usam camisetas com frases nerd.
levantou da cadeira e, por um segundo, ele temeu que ela estivesse prestes a ir embora, mas o pensamento logo mudou, quando ela dobrou metade do corpo por cima da mesa e agarrou o rosto dele pelas bochechas, depositando um selinho. Depois, caiu novamente na cadeira, um sorriso tímido no rosto.
- Eu sempre te achei mais bonito com elas. - Apontou para a camisa. - Você chamou minha atenção há muito tempo, só não tive coragem o suficiente para flertar. - Soou triste.
Fitou-a, incrédulo com a revelação, a boca levemente aberta.
Ela riu, sem graça.
- Como eu nunca reparei? - Bateu a palma da mão de leve na testa.
Ela riu.
- Você parecia estar em outro planeta... - Zoou.
Soltou um suspiro indignado.
- Tudo bem! - Conformou-se, agarrou a mão da garota novamente e acariciou de forma carinhosa. - O que importa é que agora eu acredito que uma nota baixa realmente pode mudar a vida de alguém.
gargalhou alto e apertou a mão do garoto em resposta. Ambos felizes de terem superado o que acreditavam serem as barreiras que dificultavam as coisas entre eles, além de perceberem que não tinham nada de diferente. Ambos fingiam ser o que não eram e, agora, felizmente, viveriam apenas para agradar a si mesmos e naquele momento, além da companhia um do outro, precisavam de um bom café da manhã.
- Agora, podemos comer? - Ela perguntou com uma carinha triste e que causou risada no garoto.
- Com certeza!
Ergueram-se animados, ele segurou a mão dela, entrelaçando seus dedos e seguiram até o balcão, ignorando os diversos olhares que os assistia em êxtase, totalmente agitados por presenciarem mais uma vez com exclusividade, os desdobramentos do relacionamento não-nomeado de e .




Fim.



Nota da autora: Oi, jovem! Espero que tenha gostado dessa fic! Agradeço MUITO a Flávia, a Mari, a Letty e a May Camargo que me ajudaram MUITO com essa fic! A pitaqueira Lari que me ajudou com a sinopse da fic! <3 MUITO obrigada, meninas! *-* Vou guardar essa fic no meu coraçãozinho s2 Até a próxima! Beijos <3

Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


Outras Fanfics:
  • Estúpido Cupido [Shortfic/Finalizada]
  • Café com Pattinson [Atores - Robert Pattinson/Em Andamento]
  • Bônus: Leaving Tonight [Ficstape #124: The Neighbourhood - I Love You/Finalizado]
  • Bônus: Baby Came Home [Ficstape #124: The Neighbourhood - I Love You/Finalizado]


    Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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