07. Next Contestant

Finalizada.

Capítulo Único


Quando descia para o salão, eu sabia que teria uma noite difícil.
Do balcão do bar, facilmente conseguia encontrá-la dentre a multidão de clientes e ter uma visão privilegiada dos seus joguinhos.
Não sei se posso ao menos dizer que todas aquelas pessoas que tentavam se aproximar eram idiotas. Se sim, eu sou só um idiota com um pouco mais de sorte.
Mas as coisas seriam mais fáceis se ela não fosse tão… Ela.
Desde que coloquei meus olhos nela pela primeira vez, eu soube que ela era encrenca.
era o oposto do estereótipo francês que eu esperava encontrar aqui quando me mudei da Alemanha. Ela era calorosa, tinha uma presença marcante e uma personalidade provocante por natureza.
Foram meses complicados, os meus primeiros no posto de bartender. Ela descia todos os dias, ficava na mesma mesa reservada e eu sentia seus olhos me vigiando durante horas. Uma pressão dos infernos.
Eu jurava que isso terminaria junto ao período de experiência, mas o costume se postergou até que um dia o carro dela teve de ir para a oficina e ela me pediu uma carona. Foi quando eu perguntei quando eu deixaria de ser monitorado tão de perto.
Ela riu de forma divertida ao ouvir minha pergunta, disse que eu era um típico alemão e então apontou para o seu prédio e depois saiu do carro sem explicar nada.
Mas depois disso ela largou os volteios e eu caí como um patinho nos joguinhos de sedução dela.
Já estávamos juntos há tanto tempo agora que essa história parecia perdida a anos luz de distância, mas, ainda assim, depois de quatro anos, eu ainda passava por provocações frequentes e naquela noite não seria diferente.
— Ela deve estar muito puta com você. — Burkett disse quando a viu perambulando de volta ao salão.
Au petit bonheur la chance¹. — Eu respondi sabendo que, se ela havia tido o trabalho de se trocar antes de sair do escritório, era porque eu estava muito perdido.
O movimento no bar estava parado naquela hora, a grande parte dos clientes já tinham bebido o suficiente e agora se mantinham ocupados dançando. , apesar de sóbria, se misturava a eles e dançava como se estivesse sozinha no meio da pista, mas era puro fingimento.
Ela sabia que eu estaria olhando, não precisava nem mesmo conferir, ela tinha certeza.
Tinha visto-a ir até a mesa do DJ, trocar algumas palavras e voltar para a própria mesa enquanto seus pedidos não eram atendidos.
Quando veio ao bar, pedir sua única dose alcoólica da noite até então, fez questão de pedir a Burkett, e foi quando deu meia volta com a taça de martini na mão que meu amigo e colega de trabalho comentou o óbvio, que eu estava encrencado.
Reconheci os acordes da música do Nickelback entre o arranjo remixado que tomou todo o recinto e então, pela primeira vez, ela olhou pra mim desde que discutimos e eu me senti idiota de novo.
Ela dançava sozinha e eu podia identificar facilmente os urubus que prestavam mais atenção que o necessário nela.
Eu já tinha passado por aquilo tantas vezes e ainda assim vez ou outra me sentia incomodado com a coisa toda, mesmo que no fim passássemos por aquilo ciente de que aquela era e situações como aquelas sempre a seguiram, principalmente ali.
Ela se afastou de um cara que se aproximou demais e então levantou a mão que tempos antes eu havia ocupado com um anel. Eu pude sentir meu ego crescer tal qual a cauda de um pavão exibicionista. Eu era mesmo um idiota, sem correção alguma.
Assim que a música acabou, uma outra extremamente dançante começou e ela voltou ao bar e me pediu uma segunda rodada, o seu sorriso mais lascivo foi jogado na minha direção e eu já sabia o que precisava fazer.
— A senhorita está linda essa noite. — Falei enquanto deixei a taça em sua frente.
— Estou tentando provar um ponto. — Ela me respondeu e tomou um gole de sua bebida. — Será que me saí bem?
— Se seu ponto era expor para Deus e o mundo que seu noivo é um idiota, então sim.
Chacun voit midi à sa porte². — Disse sem tirar o sorriso do rosto. — Ai, meu Deus! Eu amo essa música! — Disse e então se foi de volta para a pista.
— Eu nunca vou entender como vocês se resolvem do nada. — Burkett comentou comigo.
— Algumas coisas se passam pelas entrelinhas, sabe? E ela é uma ótima argumentadora.
— Posso ver o argumento dela. — Ele disse indicando com a cabeça onde ela tinha um cara segurando-a pelo braço e ela tentava se desvencilhar.
Analisei por um instante se a situação precisaria de intervenção, mas o cara parecia bêbado demais para ser realmente um perigo para ela.
E foi questão de segundos até que a vi mandando-o soltá-la mais uma vez e, quando não foi atendida, acertou-lhe com um soco que o fez tomar alguns passos de distância.
Pulei a bancada num segundo e consegui chegar antes que ele pudesse ao menos reagir ao golpe que havia levado.
— Algum problema aqui?
— Essa vadia me agrediu! — O cara disse cheio de raiva e vi Rule se aproximar ao notar a pequena confusão.
— Vadia? — perguntou puta. — Rule, tire esse cara daqui agora!
— Eu não fiz nada!
— Eu vou pedir para o senhor sair do estabelecimento. — Rule pediu e eu afastei alguns passos.
— Essa putinha quem me bateu, por que eu tenho que sair? — Eu parei de andar, sentindo o sangue ferver em minhas veias.
— Não vale a pena, . — me pediu e eu voltei a andar até deixá-la na escadaria que levava ao escritório.
— Eu já volto. — Avisei e dei meia volta indo para a saída dos fundos da boate, onde eu sabia que Rule ainda estaria tendo problemas com o idiota.
— Senhor, se retire. — Ouvi ao passar pela porta da saída de emergência e vi a silhueta do segurança.
— Eu cuido dele, Rule.
, você não…
— Eu cuido dele. — Repeti.
Se aquele bêbado desgraçado achava que poderia insultar uma mulher daquela forma e sair ileso, ele estava muito enganado.

-

— Suas mãos estão machucadas. — constatou enquanto eu dirigia de volta pra casa naquela mesma noite. — , você não devia ter feito isso.
— Me dê um bom motivo. — Ela pensou por alguns segundos então me refutou.
— Faz mal pros negócios.
— E ter a fama de que assediadores não saem ilesos é ruim?
— Toda vez que algo do tipo acontece você se envolve na briga! Isso nem tem nada a ver com você!
— Ele mereceu.
— E aquele cara que você deixou desacordado no beco mês passado? Você nem conhecia aquela mulher!
— Ele tentou drogar ela!
— E isso não é da sua conta, ! Largue esse maldito espírito de justiceiro.
— Eu só estou tentando fazer o que acho certo.
— E se alguém chamar a polícia pra você, seu idiota? Quer ser deportado?
— Aí eu arrumo minhas brigas na Alemanha.
— Você é um idiota.
— Por várias razões.
— Eu vou limpar esses machucados todos com álcool.
— A gente tem antisséptico.
— É um castigo!
— Já vai dar tempo de ter esquecido a lição quando surgir o próximo.
— Você está em aviso prévio.
— Talvez seja melhor.
— Sim. Tem noventa dias para arrumar um emprego novo, começando por amanhã.
— Será um prazer.
— E, ? — Chamou, tirei minha atenção da rua por um segundo para indicar que eu estava ouvindo. — Não seja deportado, eu gosto de morar em Paris.
¹ É uma expressão francesa que funciona como um sinônimo para dizer “Com um pouco de sorte”.
² Pode significar “cada um vê à sua maneira”.


Fim.



Nota da autora: Olá! Eu não podia ficar de fora do ficstape de uma das minhas bandinhas mais injustiçadas, né?
Eu gostei tanto de criar essa história, foi a primeira vez que quem narrou foi um protagonista masculino e eu achei bem interessante usar um ponto de vista em primeira pessoa também, estou tentando, juro! Espero que tenham gostado.
BRB.



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