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Finalizada em: 30/08/2022

I wonder If you are too good to be true
And would it be alright if I pulled you closer?
(Sweet Night - V)

Primeiro Ato — O Impulso

— Isso aqui é um jeté, sabia? Jeté significa "atirar-se" ou "lançar-se". Primeiro o bailarino toma um impulso, depois ele dá o salto, seguido do voo e terminando no pouso. Bem poético, o senhor não acha? — eu disse para o dono da banca de jornais ao lado do meu food truck favorito, apontando a foto que estampava a manchete: Companhia de Balé de Seoul em apresentação especial.
— Oh… é mesmo? — o dono me respondeu, sem entender porque um cara nos seus vinte e muitos anos, todo engomado num terno e com a maior cara de “homem de negócios” se interessava tanto por balé.
— Eu já fui apaixonado por uma bailarina, faz um tempão... Aprendi os nomes de um monte de passos por causa dela. — me justifiquei, plenamente consciente de que estava me expondo de maneira desnecessária a um estranho. Mas eu não podia evitar, estava nervoso. Aquele era o tal do "meu grande dia".
Durante muitos anos, tudo o que eu fiz foi estudar e me preparar para assumir meu lugar nos negócios da família e, naquela manhã, eu finalmente ocuparia minha cadeira na empresa que meus bisavós fundaram. Tudo estava correndo bem até então: cheguei ridiculamente adiantado e fiquei parado na frente do imponente prédio da Kim Enterprises, alternando entre nervoso e pensativo. Parecia que toda a minha vida convergia para aquele momento e, apesar de estar feliz e orgulhoso, sentia que algo me faltava. Eu tinha uma carreira, estabilidade, segurança, mas eu queria… um jeté. Um salto. Algo que me tirasse o chão, que me empolgasse, que me surpreendesse, algo que…
— Ai! — alguém esbarrou em mim e me fez derramar meu café gelado numa camisa social preta que não era a minha.
— Ótimo. — uma jovem e bela mulher respondeu, abrindo os braços e batendo-os de volta nas coxas. — Você não poderia ter escolhido um dia melhor para arruinar minha roupa!
— Me desculpe. — tentei ajudá-la, mas percebi o quão inapropriado seria tocar alguém que eu nem conhecia e recolhi as mãos. — Mas, em minha defesa, era você quem vinha distraída na rua. Quem anda olhando para cima? Você podia ser atropelada ou coisa pior.
— Acredita em mim, eu preferia ser atropelada a ter que encarar a reunião mais importante da minha vida cheirando a café! Sabia que hoje eu vou conhecer meu novo chefe? Como eu vou apresentar os resultados do meu pessoal desse jeito? Faz ideia de como é difícil uma mulher ser respeitada nessa selva corporativa de Seoul?
Contive o riso com medo de que ela me acertasse um tapa, mas aquela garota estava adorável irritada e falando sem parar daquele jeito. Ela bufou, estressada, e eu não pude deixar de reparar na camisa colada no corpo. Vi o crachá da Kim Enterprises de relance quando ela mexeu na bolsa, procurando algo para se enxugar e arquejando de frustração ao não encontrar nada. O nome dela me saltou aos olhos.
"Hae ", li sem som. "CMO". Então aquela era minha diretora de marketing. Minha? Não, não. Eu quis dizer diretora de marketing da minha empresa. "Hae ...", repeti mudo, mexendo os lábios. O sobrenome e as feições do rosto eram coreanas, mas o corpo tinha mais curvas do que a maioria das asiáticas costumava ter. De qualquer forma, ela não parava de falar e não era no corpo dela que eu deveria estar prestando atenção. Era na boca. Na vermelha e carnuda boca...
Porra, Taehyung, nunca viu uma mulher bonita? Foco!
— Aqui. — estendi um lenço de tecido que carregava no bolso para ela. — Não se preocupe, tenho certeza que seu chefe vai entender.
— E eu tenho certeza que o mimadinho do Kim Taehyung não vai prestar atenção em nada do que eu disser porque parece que eu acabei de sair do concurso da garota da camiseta molhada.
— Eu não sou mimadinho! — ralhei, ironicamente, de forma mimada.
— Que bom para você. — ela me devolveu o lenço naturalmente.
Impossível. Ela não estava associando o nome à pessoa? Como ela não sabia que eu era o mimadinh... aliás, o tal novo chefe dela, Kim Taehyung?
— Está muito ruim? — ela perguntou aflita, depois de remanejar os botões da camisa, que agora mostrava um pouco mais de pele.
— Com todo o respeito, acho que você vai ser a melhor visão que o mimadinho do Kim Taehyung terá hoje. Aliás, por que tanta certeza de que ele é assim? — sondei. Talvez fosse uma boa ideia saber o que os funcionários pensavam de mim. Talvez fosse uma ideia melhor ainda me distrair daquele pescoço e daquele colo bonito.
— Eu não sei, mas ele deve ser. O cara é dono de tudo isso. — ela apontou o prédio da empresa com seus 34 andares.
— Ele é filho do dono. — corrigi. — Deve ter se preparado bastante para assumir os negócios da família. — tentei me defender inconscientemente.
— Bom, nisso eu tenho que concordar. Eu acabei de chegar, fui transferida de outra filial, mas nunca o vi. Está sempre viajando para estudar, fazendo cursos...
— Você nunca viu seu chefe? Nem por foto?
— O homem é CEO de uma das maiores multinacionais da atualidade. Por questão de segurança, é melhor que ele não mostre muito a cara por aí.
Esbocei um meio sorriso. Pelo visto, manter um perfil discreto tinha funcionado, sempre evitei aparecer na mídia e ser fotografado, além de ter privado todas as redes sociais há alguns anos. Como eu começaria hoje, ainda não tinham a minha foto para o crachá ou para o banco de dados. Provavelmente a única foto minha que tinha naquela empresa era de quando eu era bebê, na mesa do appa.
— O que mais você sabe sobre o tal Kim Taehyung?
— Por que você está tão interessado? Você quer que eu te consiga uma entrevista de emprego, é? — ela finalmente parou de ajeitar a roupa e levantou os olhos amendoados para mim, me analisando.
— Digamos que estou fazendo uma pesquisa de campo. Hoje é meu primeiro dia. — a encarei de volta.
— Se você me pagar um café qualquer dia desses, eu te conto as fofocas internas. — ela abriu um sorriso depois de me olhar de cima a baixo.
Minha boca entreabriu e eu devolvi o sorriso, envaidecido. Se ela estava me chamando para sair significava que ela tinha gostado do que viu, afinal. Bom saber que eu não havia perdido o charme... Uma coisa eu já dava por certa sobre a : ela não perdia tempo — e eu também não.
— É só você me dizer a hora. — respondi, tentando minha expressão mais galante.
— Encerro às 16h. — ela puxou o celular, digitando rapidamente na agenda.
— Eu estarei te esperando. E, por favor, tome mais cuidado ao andar. Você poderia ter esbarrado no seu chefe. — aconselhei e ela deu uma gargalhada debochada.
— No dia em que o todo-poderoso Kim Taehyung tomar café na rua como nós, meros mortais, eu subo na mesa dele e faço um striptease. — ela replicou enquanto se afastava e eu me vi plantado no meio da rua com aquela visão tentadora na cabeça.
***

Tinha perdido a conta de quantas mãos eu tinha apertado e de quantos tapinhas nas costas eu tinha recebido. Appa não parava de sorrir de longe, orgulhoso, e só de vê-lo ali eu me sentia mais seguro e mais forte. Aquela seria a minha vida a partir de agora.
— Olha ele aí! O homem do momento! Parabéns, garoto. Você vai trazer sangue novo para essa empresa. — o senhor Park, um dos acionistas, me abraçou apertado e indicou a bela moça ao seu lado. — Kim Taehyung, conheça a...
— Acho que já nos conhecemos. Hae... — comecei.
— Hae . — ela se adiantou. — Marketing.
Estendi a mão e ela aceitou sem me olhar nos olhos:
— Seu rosto está um pouco corado, senhorita Hae. Algum problema? — provoquei.
— Vários. Para começar, alguém entornou café em mim. — ela rebateu.
— Aposto que foi um mimadinho.
Ela sorriu com desdém, semicerrando os olhos, e eu sorri de puro encantamento. Ela tinha ficado meio desconcertada ao me reconhecer, mas se refez em poucos minutos. Manteve-se relaxada e confiante durante toda a reunião e concluiu a apresentação dela sem sequer gaguejar. tinha ideias agressivas, mas muito bem embasadas, e para todos os apontamentos que eu fazia, ela oferecia uma resposta brilhante.
— Excelente apresentação, senhorita Hae. — fiz questão de cumprimentá-la ao final. — Seus resultados são impressionantes.
— Obrigada, senhor Kim. Espero que tenham sido impressionantes o suficiente para esquecermos o incidente mais cedo.
— Considere esquecido. — estendi a mão novamente, como uma oferta de paz.
— Eu agradeço. Tenha um bom-dia, senhor Kim. — ela sorriu sincero dessa vez e eu fiquei assistindo enquanto ela caminhava até a sala dela.
— Senhor Kim? — uma amável e pequena senhora de óculos roxos ficou na ponta dos pés para cutucar meu ombro. — Vamos, eu vou lhe mostrar a sua sala.
Acompanhei a senhora — que tinha negado todas as minhas tentativas de chamá-la "senhora qualquer coisa" — e descobri que ela era minha secretária, Bora. Ficou íntima de mim rapidamente e me lembrava de beber água a cada quinze minutos.
— Senhor Kim, o seu compromisso das 16h. — Bora fez um tique no caderninho roxo com uma caneta de pompom da mesma cor. — O senhor pediu para lembrá-lo.
— O "senhor" está no céu, viu? Se você é só "Bora", então eu sou só Taehyung. — avisei, agradecendo com a cabeça. A verdade é que o pedido tinha sido uma mera formalidade e eu não tinha pensado em outra coisa além daquele compromisso o dia inteiro.
Entrei no elevador privativo e não demorou muito para chegar ao térreo. Andei até o food truck em frente ao prédio e aguardei, consultando o relógio como se olhar para ele fosse fazer o tempo andar mais rápido. Finalmente surgiu, vestida elegantemente numa roupa seca, branca e bege, e com os cabelos soltos, voando com as passadas largas e firmes do scarpin dela. Na certa ela aproveitou o horário de almoço para se trocar e parecia que estava ainda mais bonita que de manhã.
— Você precisa parar de andar olhando para cima. — sussurrei quando ela passou por mim, quase sem me notar.
— Tem razão. — ela se recuperou do breve susto. — Alguém pode esbarrar em mim e me banhar de café.
— Prometo não servi-lo na sua roupa dessa vez. Vamos? — ofereci o braço.
— Eu não entendi, senhor Kim...
— Eu ainda te devo um café. E você me deve as fofocas. E, pelo amor de Deus, é só Taehyung. — adicionei em sequência.
— Acho que devemos manter uma certa distância, senhor Kim. Não quero que sejamos alvo de boatos maldosos. O senhor entende...
— Que horas são? — interrompi.
— 16:32. — ela olhou no relógio de pulso, sem entender o porquê da pergunta.
— Você me disse que encerra seu expediente às 16h. O que você faz depois do trabalho não é da conta de ninguém.
Ela cruzou os braços e avaliou a situação em silêncio, depois balançou a cabeça e bateu os cílios:
— OK. — ela cedeu. — Mas só porque eu estou mesmo precisando de um café.
— Dia difícil? — sorri.
— Muito. Você não vai acreditar na gafe que cometi com meu chefe hoje.

Segundo Ato — O Salto

O café ao final do dia se tornou rotina para mim e para . Além disso, almoçávamos juntos sempre que nossas agendas permitiam (Bora já tinha adquirido o hábito de reservar mesa para dois nos restaurantes sem nem confirmar comigo antes). era espirituosa, inteligente e me fazia rir. Eu estava encantado com a maneira como ela conduzia o pessoal dela, formado quase todo por mulheres, e como ela estava se revelando uma excelente companhia. Talvez a minha favorita naquela empresa...
Estávamos nos atualizando sobre alguns contratos quando alguém entrou na minha sala sem a menor cerimônia. Só havia uma pessoa na minha vida que tinha plena liberdade (e cara de pau) para entrar em qualquer cômodo que eu estivesse sem bater ou se anunciar:
— Misuk! — abri um sorriso e ela pulou no meu abraço. olhava a cena de canto de olho. — Misuk, essa é , diretora de marketing.
— Oi, diretora de marketing. — Misuk cumprimentou, descontraída.
— É um prazer conhecer você! — sorriu amigavelmente.
— O prazer é meu! Taetae, eu só passei para devolver seu relógio. Você esqueceu lá em casa ontem.
— Já estava com saudades de mim e inventou essa desculpa, Su? Esqueceu que vamos nos ver domingo? — eu disse e levantou a cabeça.
— Cala a boca. Eu tô com pressa. — Misuk me deu um beijo estalado na bochecha. — Te vejo domingo. Tchau, ! — ela se despediu e acenou em resposta.
— Ela é linda. — comentou, meio desconfiada, quando Misuk deixou a sala. Aquilo era... ciúme?
— É, até que ela é mesmo. — joguei verde e ela fechou a pasta do relatório com certa frustração. — Encerrando por hoje? — perguntei.
— Sim. Temos festa mais tarde, esqueceu? Preciso fazer as unhas, o cabelo... Nós não somos como vocês, que precisam só tomar um banho e vestir uma roupa.
brincou com a minha gravata, me fazendo rir. Mais tarde, eu fiz exatamente o que ela tinha dito e fiquei pronto em menos de uma hora. Nossa companhia tinha feito um excelente negócio com outra empresa e fechamos a melhor cobertura da cidade para comemorar a parceria. Seria uma festa regada a boa comida e bastante álcool, mas como eu não planejava beber naquela noite, peguei a chave do carro e dispensei o motorista.
O local estava lindo e uma banda tocava jazz suave, uma batida agradável e envolvente. Quando coloquei os olhos na , com o cabelo meio preso e um vestido vermelho que acentuava as curvas do corpo, a música ficou mais lenta e ainda mais bonita. Caminhei até ela e chamei seu nome baixinho, fazendo com que ela se virasse para mim:
— Olha só você todo empacotadinho nesse terno! — ela me abraçou.
— Como se você não me visse de terno todos os dias, ! — o cheiro do cabelo dela me invadiu as narinas quando a abracei de volta. — Você está linda demais para ficar parada aí. Vamos? — ofereci a mão, indicando a pista de dança, e os olhos de alternaram entre os meus e o salão, hesitantes.
— Ah, não, obrigada, eu estou bem.
— Se você não vier, eu vou sozinho. — respondi, já fechando os olhos e me entregando ao ritmo da música.
— Você é maluco, Kim Taehyung. — ela riu de mim. — E eu acho que o seu compromisso de domingo não vai gostar nada de nós dois dançando juntos.
— Meu compromisso de domingo? — fingi não lembrar da visita de Misuk para saborear o ciúme de , evidente agora.
— A moça que esteve na sua sala hoje... — ela começou, ensaiando indiferença enquanto brincava com o colar. — Para devolver seu relógio.
— Ah, sim. — ergui o pulso vestido pelo Rolex. — Tive que tirá-lo para segurar meu sobrinho recém-nascido no colo. — franziu o cenho e inclinou a cabeça em resposta, esperando que eu a ajudasse a concluir o raciocínio. — Misuk é minha irmã do meio, . E você ficou com...
— Quem disse que eu fiquei com ciúmes? — soltou o colar e empertigou-se.
— Você. Agorinha mesmo. — sorri aberto e quadrado, apreciando a vitória. — Podemos dançar agora? Acabei de pedir a minha favorita.
— Eu não sei dançar. — ela respondeu ainda emburrada.
— Não se preocupe. — tomei e beijei a mão dela. — Eu guio.
se rendeu e apoiou as mãos em volta da minha nuca enquanto eu enlaçava a cintura marcada dela. Conduzi aquele corpo que se ajeitava perfeitamente ao meu ao som de Fly Me To The Moon, que a banda tocava cada vez mais devagar, como se tivesse entendido que era o meu paraíso particular e que eu queria passar o máximo de tempo possível ali. Tentei lembrar qual tinha sido a última vez em que eu me senti tão leve e tão feliz e não consegui. Cerrei os olhos novamente, perguntando a mim mesmo se estaria tudo bem se eu a puxasse para mais perto, quando, quase por instinto, simplesmente trouxe contra o meu peito num ímpeto. Meu corpo clamou por ela e eu só obedeci. O abraço encaixou.
— Fazia tempo que eu não tirava ninguém para dançar. — sussurrei em tom de segredo depois de um tempo, sem me desgrudar dela.
— Você está indo muito bem. — ela sussurrou de volta. — Mas se você pisar no meu pé, eu grito.
Ri e descansei o rosto na curva do pescoço dela enquanto continuávamos nos movendo em câmera lenta, aspirando o perfume um do outro. Ela amoleceu nos meus braços, se deixando ser guiada, e quando me dei conta, eu já estava cantando baixinho, com a boca colada ao ouvido dela:
In other words, please be true
In other words
In other words
I love you...


***

O jantar e a solenidade correram divinamente, todos comeram bem e se divertiram. Já pelo final do evento, minha barriga doía e meus olhos lacrimejavam das gargalhadas que me fazia dar. Ela realmente me fazia sentir vivo, e não só o cara engravatado que eu andava sendo ultimamente.
— Essa não. — espalmou a mão na testa. — Eu bebi!
— Sim, umas três taças de espumante rosé. — apontei os vidros vazios com a marca do batom dela. — Qual o problema?
— Eu vim dirigindo.
— Como foi que você esqueceu que estava de carro, ?
— Guarda o sermão para quando eu estiver no seu Genesis GV80. Você me dá uma carona, pronto. — ela resolveu, pegando a bolsa e levantando-se da mesa, e até eu me admirei com a rapidez que eu levantei junto e a segui.
Cumprimentamos nossos colegas antes de sairmos e eu abri a porta do meu carro para . Com poucos minutos de trajeto, fomos surpreendidos por uma chuva pesada que foi se intensificando durante o percurso. Quando chegamos ao loft de , tirei o paletó e tentei cobri-la como pude ao ajudá-la a descer.
— Meu Deus! O céu está caindo lá fora! — eu disse quando entramos na portaria, constatando que meu esforço tinha sido inútil e que ambos estávamos encharcados.
— Vem, vamos subir. Não posso deixar você ir embora ensopado desse jeito. — torceu o cabelo e livrou-se do excesso de água. — Oi, Fernando! Está de plantão hoje? — ela cumprimentou o porteiro numa língua que parecia... espanhol?
O porteiro respondeu e os dois riram. Entramos no elevador e eu não pude deixar de reparar no colo úmido e nas gotinhas de água que corriam para dentro do decote dela.
— Você fala espanhol? — perguntei, tentando evitar todos os pensamentos errados que aquela banhada tinha me provocado.
— Pai coreano, mãe latina. O melhor dos dois mundos: eu. — ela indicou a si mesma.
Mãe latina. As curvas (maravilhosas) estavam explicadas. Reparar excessivamente no corpo alheio não condizia com o meu recente estilo "comportado cara que só trabalha", mas era extremamente sensual e não me saía da cabeça. Não era só o colo farto, a bunda que sempre ficava marcada em qualquer roupa que ela usasse ou a boca volumosa e convidativa. Não. Era a ferocidade com que ela trabalhava, era a autoridade com que ela se colocava nas falas, era a segurança nas ações, em todas as ações... Era a presença marcante como o perfume que ela usava, era o fundo de doçura escondido em algum lugar do sorriso lindo, era como ela prendia o cabelo atrás da orelha para ler... Isso tudo fazia da uma gostosa do caralho. As curvas só melhoravam e deixavam tudo mais perigoso.
E eu estava enlouquecendo.
logo sumiu pelo corredor quando entramos no apartamento amplo e bem decorado que refletia muito dela, na verdade. Era minimalista e funcional, mas havia um certo requinte na mobília branca e um conforto no aromatizante de ambientes de baunilha. A mesa de centro tinha tulipas roxas e a cor me fez lembrar da Bora e do quanto ela ia gostar de saber que eu escoltei para casa como o perfeito cavalheiro que ela achava que eu era.
— E a história se repete. — brotou na sala, jogando uma toalha para mim. — Eu sempre acabo ficando molhada quando estou com você.
— Como é que é? — me virei, em pânico, pegando facilmente o pano voador com uma das mãos.
— Primeiro o café, agora a chuva.
— Porra, que susto, ! — falei mais alto do que eu planejava.
— O que você pensou, seu pervertido? Você é lindo, mas não se ache tanto, OK? — ela me censurou enquanto secava o pescoço e os braços.
— Então você me acha lindo? — me aproximei dela para devolver a toalha.
— Não tenho problema algum em admitir que você é um homem muito bonito, Taehyung. — ela respondeu, descendo os olhos para o meu tronco quando eu sacudi a camiseta para desgrudar o tecido da minha pele.
— É mesmo? E o que mais você quer admitir? — pisquei.
— Você tem bom gosto para perfume. — ela respirou bem perto do meu pescoço e eu arrepiei. — Minhas roupas sempre ficam impregnadas de você quando nos abraçamos.
— Já que você gosta tanto, toma aqui mais um pouco. — agarrei , esfregando meu corpo molhado ao dela e imprimindo mais do meu cheiro no vestido vermelho. Ela me empurrou protestando, mas não conseguiu evitar uma gargalhada linda que escapou. Afrouxei o abraço sem soltá-la e ficamos nos encarando por alguns segundos enquanto eu ardia de vontade de beijá-la. Inclinei timidamente o rosto, mas ela balançou a cabeça e se desvencilhou de mim.
— Eu vou passar um café. Você quer? — ela perguntou enquanto se afastava e caminhava quase fugida para a cozinha.
Eu quero aquele beijo, . Será que dá para você voltar aqui?
— Não, obrigado. — respondi no lugar, passando a mão no cabelo. — Está tarde, se eu tomar café agora, não vou conseguir dormir.
— E que tal um copinho de leite quente para não estragar o soninho do bebê? — ela desdenhou, fazendo um biquinho.
— Isso aí eu aceito. Você tem Nesquik de morango?
— Você é mesmo um mimadinho. — ela sentenciou. — Mas, sim, eu tenho.
Ela preparou a bebida e enfurnou-se no corredor outra vez. Dei um gole grande no líquido doce e quente e reapareceu vestida numa camiseta larga, um short e uma cara de quem queria pedir desculpas:
— Não tenho nada que sirva em você. — ela encolheu os cotovelos e espalmou as duas mãos para cima.
— Mentirosa! — acusei. — Eu duvido que você não tenha pelo menos uma camisa de algum ex-namorado aí no seu armário.
— Não tenho. — ela respondeu simples. — Nenhum deles chega ao meu guarda-roupa. Não sou do tipo que deixa eles ficarem.
— Uau. "Obrigada pela foda, eu te ligo depois", é isso?
— Não! — se fez de ofendida. — Eu não ligo depois!
— O que você come de manhã? — limpei o bigode de morango, sentindo a bebida me aquecer, e cruzei os braços, indignado. — Os corações dos pobres rapazes que você seduz e devora?
deu de ombros e eu sorri fraco. Me identificava perfeitamente com aquele senso prático dela. Funcionou para mim por um tempo: entre as minhas jornadas de trabalho e estudo intensas e a minha indisposição para romances, uns casos aqui e ali, nunca sem me envolver além da conta, pareciam a melhor solução. A verdade é que eu não me apaixonava desde a Ethel, a bailarina que "comeu meu coração", mas aí chegou a e... a tirou tudo do lugar.
A parecia um furacão.
A estava tirando o chão debaixo dos meus pés.
A era o meu jeté.
O problema era que, pelo visto, eu estava prestes a ser servido no café da manhã outra vez.

Terceiro Ato — O Voo

— O prédio todo apagou. — repeti o que o segurança tinha me dito, desligando o celular. — Pane geral interna. Algum problema com o gerador.
bateu na pilha de papéis que precisávamos analisar. Uma tarde não foi suficiente para concluir o trabalho e, como estávamos no embalo, resolvemos aproveitar para esticar madrugada a dentro. Ou ao menos foi essa a mentira que eu inventei para mim mesmo: eu me agarrava a qualquer oportunidade de passar mais tempo com a , mesmo que isso envolvesse processar uma quantidade massiva de dados estatísticos chatíssimos. Planos frustrados pela falta de energia.
— Ah, não. Os elevadores? — ela perguntou.
— Parados. — tirei os óculos e enganchei na camisa, massageando a testa para aliviar a dor de cabeça.
— Todo o trabalho que fizemos?
— Perdido. — sentenciei.
— E se eu me jogar daqui de cima? — ela sugeriu, caminhando até a fachada envidraçada.
— Vai ser mais rápido que usar a saída de incêndio.
— Deveríamos tentar isso?
— E encarar 34 lances de escada no breu? Morreríamos no meio do caminho. O melhor é esperar.
— Não gosto muito de esperar. — ela respondeu olhando as luzes da cidade pelos vidros da janela ampla e eu me juntei a ela. — O que faremos?
— Sei lá. — rebati vago. — O que quisermos, eu acho…
— Fazer o que quisermos... — ela repetiu, olhando vazio para o arranha-céu. Suspirou e voltou-se para mim. — Quando foi a última vez, Tae?
— A última vez que o quê? — devolvi a pergunta.
— Que você fez o que queria.
Foi quando eu te tirei para dançar...
— Já faz algum tempo… — respondi, constatando que eu andava apenas cumprindo agenda e pensando no trabalho. E, é claro, nela.
— Para mim também. Às vezes eu me sinto levada pela correnteza... Como se eu fosse um...
Um barco na noite? — completei.
— Um barco na noite. — ela concordou, me encarando, e eu senti desmoronar por dentro.
— O que você realmente quer fazer agora, ? — perguntei, fitando-a de volta e torcendo para que fosse o mesmo que eu.
Não deu tempo responder. Não deu tempo sequer respirar. Nossos corpos se chocaram numa sincronia que parecia ensaiada. Nos lançamos nos braços um do outro com a mesma voracidade e desespero com que nos beijamos, sedentos. Pressionamos os lábios extravasando todo o desejo acumulado, deixando as línguas se provocarem e se saciarem juntas, como se dançassem sozinhas e por vontade própria. tinha gosto de alguma fruta carnuda e macia que eu não sabia qual, um descanso na boca, uma dormência deliciosa, uma sensação quente e arrebatadora. Meus olhos ainda se recusavam a abrir quando ela interrompeu o beijo e se afastou:
— Desculpa. — ela descolou o corpo do meu, tocando a própria boca com dois dedos. — Eu não deveria ter feito isso.
— Se você não tivesse feito, eu teria. Eu quase fiz ontem. — venci a distância entre nós novamente. — ... Acho que já passou da hora de admitirmos que…
— Que nos sentimos atraídos um pelo outro? — ela me cortou, ofegante.
— Sim. — menti. Era mais do que isso. Pelo menos para mim.
— Temos que resolver isso, Tae. — ela decretou, cruzando os braços. Parecia uma ordem. E eu queria obedecer.
— Qual a sua proposta? — tentei me recompor, apertando o próprio lábio que formigava de vontade dela.
— O prédio está todo apagado, certo? O sistema, as câmeras... Não haverão registros dessa noite. Vai ser como se não tivesse acontecido.
Assenti com a cabeça e minhas mãos suaram com o rumo da conversa e o tom erótico que a voz de tomou de repente:
— Já que, teoricamente, essa noite nunca existiu… nós podemos fazer tudo o que quisermos um com outro.
— Ah, … — respondi com água na boca. — Uma noite é pouco para tudo que eu quero fazer com você.
— É só o que temos. — ela decretou num silvo. — Está sendo muito duro para mim resistir a você, Kim Taehyung.
Está ficando duro para mim também, acredite.
— Uma noite, Tae. — ela prensou o corpo no meu, sem descruzar os braços e quase sussurrando. — Amanhã nós fingimos que nada aconteceu. Nós esquecemos.
Ponderei em silêncio, tentando ignorar que o pé dela, calçado por uma meia de tule e um salto agulha, já roçava lentamente entre as minhas pernas, fazendo minha calça subir. sabia bem o que estava fazendo e, apesar de estar em desvantagem, completamente desestabilizado depois daquele beijo, eu também sabia negociar. Segurei a cintura dela, puxando-a para ainda mais perto, e comecei a impor minhas condições:
— Eu topo. Mas você me deve um striptease.
— O quê? Desde quando?
— Desde que nos conhecemos. Eu tomo café na rua, lembra? Eu sou um mero mortal.
abriu a boca num semicírculo, recordando o ocorrido. Soltei a cintura dela e passei os dois braços pela minha mesa, arrastando e derrubando no chão tudo que havia em cima dela. Bati na madeira forte de jacarandá indicando a firmeza do móvel e desafiando-a:
— A mesa está aqui. Suba e tire a roupa.
— OK. Eu vou deixar você bancar o chefe hoje. Felizmente para você, isso me excita. — ela confessou e eu não ouvi mais nada. A língua desenrolando e o hálito quente enquanto ela falava me deixaram completamente entorpecido.
pegou o celular e colocou Dangerous Woman, da Ariana Grande, para tocar depois de me empurrar sentado na minha cadeira, que andou um pouco para trás com o movimento. Ela se apoiou nos braços do assento para me trazer de volta e o decote ficou à altura dos meus olhos — e bem ao alcance da minha boca. Salivei. traçou uma linha que começou no meu queixo e desceu pelo meu pescoço e peito até encontrar meus óculos:
— Coloca na cara. — ela mandou, abrindo a armação. — Você vai querer ver isso direito.
Ela desabotoou a camisa revelando um corset preto que apertava os seios um contra o outro, quase pulando da peça. Já sem a blusa, virou de costas e abriu o zíper da saia lápis, me torturando ao descê-la lentamente junto com o tronco, exibindo um par de pernas grossas e uma bela bunda com uma calcinha pequena demais para ela. Cresci dentro da calça com a visão e sentou-se na mesa, apoiando um pé no meu peito e deslizando-o pelo meu abdômen até o volume abaixo dele. Eu desafivelei o scarpin dela, acariciando a panturrilha com as duas mãos e deixando um beijo no joelho. Ela percorreu as unhas na própria coxa, desenhando a meia de tule, e enganchou os polegares no elástico para me maltratar mais uma vez ao tirá-la vagarosamente. Esfreguei o rosto distribuindo mais beijos na pele nua e morna antes de repetirmos o processo na outra perna e ela ficou de pé na minha frente.
Os dedos ágeis abriam os fechos do corset de baixo para cima e só quando ela chegou ao último e os seios balançaram livres da peça foi que eu percebi que estava prendendo a respiração. A cintura e a barriga tinham marcas discretas da costura do corset e só restava a calcinha, que ela tirou me encarando e jogando na minha cara em seguida. Segurei o pequeno pedaço de renda, gravando o cheiro dela na memória e sentindo o tecido quente na minha face. não tinha mais nada no corpo além de um colar de ponto de luz e a presilha no cabelo, que eu mesmo puxei, fazendo os fios caírem sobre os ombros e apontarem o caminho do corpo maravilhoso diante de mim. Eu mal conseguia me mover. O sangue todo correu para um lugar só e eu endureci.
Se fudeu, Kim Taehyung. Boa sorte para esquecer isso.
Ali estava , entregue, exposta, apoiando a bunda nua na mesmíssima mesa em que eu trabalhava e me olhando sem trepidar. Sem tremer. Sem hesitar.
— Gostosa do caralho. — repeti em voz alta a minha constatação sobre a mulher que era ela. Que ela sabia que era. — Você me quebra, Hae .
— Então se refaça, porque eu quero você inteiro. — ela respondeu, afrouxando a minha gravata, e aquelas palavras me prenderam como um feitiço.
Colei o corpo de ao meu e nossos lábios se encontraram sem pedir desculpas dessa vez. Ela se apertava contra o meu peito e brincava com a minha língua, me sugando num beijo delicioso. O transe em que ela me colocou foi tão profundo que eu sequer teria notado que ela abriu todos os botões da minha camisa, não fossem as unhas afiadas me rasgando o torso quando intensificamos o beijo. Me livrei da blusa rapidamente, para voltar a colocar as mãos nela, e , num só ágil movimento, me arranhou também as costas. Aquelas marcas eram uma espécie de aviso de posse. Ela queria que eu fosse dela. E eu era. Mais do que ela imaginava.
Larguei a boca dela, virando-a de costas para mim, e cheirei o cabelo apressado, afundando o nariz e respirando forte pelo seu pescoço, como se eu estivesse esse tempo todo debaixo de águas revoltas e buscasse afoito por ar. Cingi os seios com mãos urgentes, apertando os bicos, depois chupei dois dedos e deslizei por ela. Caminhei ávido pelo quadril, contornando a intimidade úmida, e a adentrei sem aviso. recostou a cabeça no meu ombro, com as pernas vacilantes, e gemeu. Esquentei dos pés a cabeça. Um tesão fodido em assisti-la se torcer de prazer.
Mantive-a na ponta dos meus dedos, dançando dentro dela, ditando o ritmo do seu prazer, e parecia gostar da tortura, porque sorria entre um grunhido e outro. Ela relaxou o corpo, quase tombando para frente, mas eu impedi a queda segurando-a pela cintura e encaixando meu joelho entre as pernas dela. Estava tão molhada que marcou minha calça. Eu não aguentava mais. Nem ela:
— Vista o seu amiguinho. Eu quero brincar com ele agora. — disse, impaciente, rebolando na minha ereção.
— Então deita. — ordenei quente no ouvido dela e ela se esfregou em mim ao se debruçar sobre a mesa, imprensando os seios contra a madeira e fazendo-os sobrarem para os lados.
Perdi o cinto e tateei pelas bordas do móvel até encontrar a segunda gaveta e as embalagens prateadas que eu mantinha ali. Receber um striptease e transar com alguém na minha sala não estava nos meus planos quando eu assumi a Kim Enterprises, mas eu detestaria perder uma oportunidade com a por estar despreparado, por isso andava guardando preservativos nos lugares em que passávamos mais tempo. As coisas que eu fantasiei com ela me fizeram estocar alguns até no porta-luvas do meu carro. Abri a calça, o pacote e baixei a boxer, fazendo o comprimento latejante saltar e bater na entrada inchada de . Passei o indicador desde a nuca até o final da lombar dela depois de cobrir o membro desperto, deixando o dedo trilhar sozinho a curva das costas e estacionar no quadril. Enrolei o cabelo dela na outra mão e me inclinei por cima dela:
— Assim está bom para você? — perguntei com um beijo na bochecha e ela confirmou balançando a cabeça e mordendo o lábio.
Entrei lentamente pelo caminho úmido e tudo o que eu vi depois disso foi meu pau sendo engolido por ela e por aquela bunda maravilhosa. Procurei me acostumar com a pressão que ela fazia em torno de mim enquanto a invadia, e me recebeu deliciosamente molhada e apertada. Comecei a me esforçar para dentro dela e as unhas vermelhas agora arrastavam na madeira, testemunhando a loucura maravilhosa que estávamos fazendo. Continuei estocando alternando a intensidade, a vista embaçou, o ar ficou pesado e cada fibra do meu corpo vibrava de satisfação. Eu a tinha, finalmente.
movia as pernas de modo a se dar prazer, esfregando-se em mim, enquanto eu a invadia vagarosamente. Observei com a paciência de um estudante a sequência de movimentos dela e comecei a repeti-los: duas enterradas mais fortes e fundas, um giro pelo interior dela e mais uma série de investidas leves, para depois começar tudo de novo. Senti meu corpo ser acometido de uma câimbra gostosa, os olhos rolarem nas órbitas e a boca entreabrir sozinha, exalando ar quente. Nada mais gostoso que saber, por todos os sinais que eu li no corpo dela, que eu estava dando a ela exatamente o que ela queria.
Demorei para entender o que eu estava sentindo, porque há muito eu não me colocava inteiro daquela forma em nada, e em certo ponto, simplesmente deixai a razão dormir. Amei carnalmente, sem pensar que, quando o sexo chegasse ao fim, voltaríamos a ser amigos que trabalham juntos. Amei sem memória, todo coração e corpo, em cada gemido e em cada estocada. Amei até o último minuto, quando eu percebi que ela viria, e fechou o punho e socou a mesa de leve, gemendo uma última vez antes de atingir o orgasmo. Eu cheguei logo depois, soltando o ar que eu vinha prendendo no peito e apoiando as mãos trêmulas no quadril alheio para me retirar dela e me jogar de volta na cadeira. Até ali, dormente depois de gozar, eu amei .
Ela ergueu-se e eu a assisti reavendo o fôlego, a pele pálida brilhando de suor e os seios subindo e descendo, uma visão magnífica. Testou as pernas ao agachar-se para apanhar a camisa e começou a vesti-la, mas eu a puxei para o meu colo antes que ela fechasse os botões, beijando-a demoradamente:
— Me pede qualquer coisa, . Qualquer coisa, menos para esquecer isso. — balbuciei quase inaudível.
Ela me encarou assustada e umedeceu os lábios, pensando no que me responder. Quando finalmente os descolou, houve um estalo de energia voltando e aparelhos eletrônicos disparando e acendendo. parecia ter tornado a si junto com a energia do prédio, a sala toda iluminou-se e ela saiu de cima de mim rapidamente. Procurou pela saia em algum lugar do chão, consternada, como se só agora tivesse se dado conta do tínhamos feito.
— Tudo bem, . — tentei acalmá-la. — Não há câmeras aqui.
— Eu sei. — ela exasperou, fechando os olhos e passando a mão na testa. — Posso usar seu banheiro?
— Você acabou de me usar. — sorri de lado. — O resto todo é seu.
balançou a cabeça e ensaiou uma risada.
— Você é maluco. Eu já te disse isso?
— Ei. A ideia foi sua, esqueceu? — afivelei o cinto de volta e indiquei o caminho do banheiro privativo na minha sala, que era imensa.
bateu a porta e saiu do meu banheiro algum tempo depois, completamente vestida, de batom retocado e como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse acabado de me fazer gozar gostoso ali mesmo. Como se já tivesse esquecido.
— Eu... vejo você amanhã? — ela disse sem muita certeza.
Céus, . Tinha mesmo que ser assim?
"Não, não tinha.", respondi em silêncio à minha própria pergunta. Não enquanto o Sol não aparecesse.
— Nada disso. — neguei, resoluto. — Você acha que vai fazer o que quiser comigo e depois me mandar embora, senhora "não sou do tipo que deixa eles ficarem"?
— Combinamos que ia ser só uma noite, Tae. — baixou os olhos.
— Exatamente. Você vai ser minha por uma noite inteira.
— Mas o prédio... — fez um movimento abrangendo o cômodo. — A luz já voltou.
— E a noite ainda não acabou. Eu não tô nem aí. Vem. — tomei a mão e a bolsa dela.
— Para onde nós vamos? — tropeçava atrás de mim, ajeitando o cabelo com a mão livre.
— Para a sua casa pegar suas coisas. — peguei também a chave do carro e me virei para ela, já chamando o elevador.
— Que coisas? — ela franziu o cenho, mas o semblante parecia animado.
— Roupas limpas e uma escova de dentes. Eu quero você na minha cama. Aliás, quer saber? Pega só a escova de dentes, prefiro você sem roupa.
sorriu largo e fomos ao loft dela. Desceu pouco tempo depois com uma bolsa maior e eu buzinei quando a avistei no hall, gritando e fazendo ela e o porteiro gargalharem:
— Eu quero todos os minutos de você, Hae ! Não me faça perder mais nenhum!
— Não ligue para ele, Fernando. Ele não bate muito bem. — girou indicador na cabeça, despedindo-se do funcionário do prédio e entrando de volta no carro. — Você me tem por cerca de 8h. — ela me deu um selinho. — Faça bom proveito.
O trajeto para o meu apartamento nunca demorou tanto. Amaldiçoei todos os sinais vermelhos por que passamos, alternando a mão entre a marcha e a perna de , numa necessidade inexplicável pelo toque da pele dela. Quando enfim chegamos, largou a bolsa no sofá e livrou-se dos saltos. Varreu os olhos pelo local enquanto prendia o cabelo e tudo ficou borrado e em câmera lenta para mim. Podia jurar que tocava jazz em algum lugar.
— Sua casa é linda, Tae. Você tem muito bom gos... — beijei antes que ela terminasse, balançando timidamente nossos corpos para dançar a música que só tocava na minha cabeça.
— Eu te mostro tudo depois. Eu juro. Agora eu tô morrendo de sede você. — tomei nos braços, carregando-a para o meu quarto.
Joguei na minha cama, fazendo o colchão fofo quicar e ela rir. Deitei em cima dela, beijando-a, e arrastando a boca pelos botões da camisa, arriscando abrir alguns com os dentes e ouvindo o tecido rasgar em alguma parte. Arranquei os que sobraram e puxei a saia dela para baixo, descobrindo-a nua.
— O que é isso, hein, ? — perguntei de boca cheia pelo seio esquerdo. — Cadê sua lingerie?
— Em algum lugar da sua sala. — ela disse, perdendo a voz em algumas sílabas por minha causa, e eu parti para o outro seio, circundando o bico aceso.
Deslizei pelo abdômen e apertei as coxas de conduzindo-a até a beira da minha cama. Ela fechou as pernas marcadas das minhas digitais em volta do meu pescoço e eu mergulhei no sexo dela, provocando-a com a ponta da língua. Zero resistência. Ela relaxou nos meus lábios e eu me senti servindo a uma rainha, ajoelhado e subserviente diante do desejo dela.
Vem, ...
Ela respirava sôfrega e eu comecei a sugar a região salgada e sensível lentamente, enquanto a bebia e pedia com os olhos:
Vem, ...
A carne trêmula bateu contra as minhas bochechas e puxou meu cabelo, enterrando ainda mais meu rosto na intimidade encharcada. Um gemido se formou na minha garganta e eu grunhi abafado no gozo dela.
Vem, ...
— Puta que pariu, Taehyung! — gritou meu nome arrastado e derreteu na minha boca.
Assisti o ventre dela se mover com a respiração errante quando os dedos dela liberaram meu cabelo e começaram a puxar os lençóis da minha cama no lugar. se debateu mais um pouco até se recuperar do orgasmo e eu a contemplei se desmanchando no meu colchão, exausta. Ainda apoiado nos joelhos e meio zonzo, lambi o que sobrou do gosto dela e supliquei baixinho:
— Não dorme agora, . — beijei a barriga dela. — A gente precisa se limpar, vem.
— Hm... — reclamou. — Me carrega?
— Mimadinha. — disparei e ela me afastou com o pé em protesto.
***

— Você me apressou tanto que eu esqueci a parte de cima do pijama. — uma de cabelos úmidos e segurando os seios me avisou.
— Podia ter esquecido a de baixo também. — respondi mirando o short de seda do babydoll e pondo as minhas mãos sobre as dela. — Quer que eu segure isso aqui para você?
— Eu quero uma blusa. Estou ficando com frio, Kim Taehyung.
Mordisquei o lábio dela e tratei de mexer na gaveta para pegar minha camisa de beisebol favorita para vestir. Eu queria a fantasia completa. Se seria minha até amanhecer, que fosse toda, que me deixasse acreditar, naquelas horas que nos restavam, que dividíamos o conforto e a cumplicidade de trocar peças de roupa.
— Então você joga beisebol? — ela perguntou, passando os braços pelas mangas, e eu espiei o corpo mais uma vez. Aquilo nunca ia perder a graça.
— Joguei no time da faculdade. Hoje em dia eu jogo aos domingos no quintal da casa dos meus pais. — eu disse e lamentei internamente quando o show acabou e ela estava completamente coberta.
— Jogos em família. Que gracinha! — ela sentou-se na cama, trazendo um travesseiro ao colo.
— Parece fofo, mas meus irmãos e o appa ficam tentando roubar na pontuação. E a omma fica reclamando que estamos arruinando a grama dela. — confessei e deu uma risada adorável, que eu admirava feito um bobo.
— Você fica muito fofo quando faz isso, sabia?
— O que eu fiz?
— Às vezes você mexe a cabeça enquanto fala. Dá uma olhadinha por cima do nariz e faz um biquinho. Tenho vontade de socar a sua cara de tão lindo. — fechou e sacudiu os punhos, contendo-se.
— Deixa para me socar outro dia. Hoje eu quero ser mimadinho. — fiz a carinha que ela tinha descrito e deitei na cama, indicando o lugar dela.
— Não sei como funciona essa parte. — disse baixinho.
— Que parte?
— A parte em que eu fico. — ela me encarou com os olhos grandes.
— Não é tão difícil. — selei os lábios dela demoradamente, passeando pelo seu rosto. — É só dividir um cobertor e embolar as nossas pernas. Eu gosto de dormir abraçadinho, OK? Preciso ser a conchinha de fora ou eu não durmo. Espero que você não se importe.
Ela riu e deitou-se ao meu lado, na conchinha de dentro. Passei a perna por cima dela e enfiei o nariz no seu cabelo, descendo para o pescoço vez por outra enquanto conversávamos abobrinhas esperando o sono chegar. Deixei segredos no ouvido dela, risadas, histórias de quando eu era pequeno, e até falamos mal de algumas pessoas... adormeceu primeiro, graças ao carinho que eu fazia nela, e eu continuava resistindo ao sono porque estava feliz demais para dormir. Uma noite assim, agarrado a ela como se fôssemos um casal, me fez ver de relance o que eu queria de verdade. abriu uma porta e aquele vislumbre do que poderíamos ser me adoçou a boca e a alma. No meu travesseiro, sem me cansar, me permiti respirá-la enquanto eu podia, contemplando a minha frágil verdade.
Eu espero que essa porta ainda esteja aberta amanhã de manhã e que ela também me queira como eu a quero agora.

Ato Final — O Pouso

já não estava mais na cama quando eu acordei, ela foi embora deixando apenas o perfume e um rastro de saudade. Suspirei dolorido. Ela me avisou que partiria. Ela me avisou que era um barco na noite. Só o que me restou foi deixar a porta do quarto fechada quando saí para trabalhar para que o cheiro dela não escapasse.
A manhã passou num piscar de olhos por conta do caos generalizado da pane da véspera. Relatórios atrasados, prazos perdidos e ninguém entendia porque eu estava tão aéreo e distraído. Intercalava uma leitura e outra olhando o celular, esperando algum sinal da , e meu coração vinha na boca toda vez que Bora me passava uma ligação, mas nunca era ela. Finalmente, perto das onze, uma movimentação na sala dela. Assinei um contrato que nem lembro do que era e corri até a porta:
, você quer almoçar no... — parei de falar quando percebi que a figura na sala não era da , mas da secretária.
— Oh, bom dia, senhor Kim. A senhorita Hae não vem hoje, não se sente muito bem.
— O que ela tem?
— Ela não disse, senhor.
Agradeci e voltei para a minha sala. Passei pela Bora no caminho:
— Por favor, mande flores para a senhorita Hae. Eu vou deixar um cartão.
— Posso escolher a cor das flores? — Bora pediu.
— Pode. — assenti, sabendo da predileção dela pela cor roxa. — Desde que sejam tulipas. Ela gosta de tulipas.
— Posso ler o cartão? — Bora arriscou, juntando as mãos no peito.
— Bora! Deixa de ser tão metida! — censurei, rindo.
Sentei de volta na minha cadeira e tirei a caneta do bolso do paletó. Escondi o rosto nas mãos, soprando o ar desgostoso, depois de rabiscar três ou quatro cartões nos quais eu tentava soar distante e profissional. Não consegui. Não era uma mensagem corporativa, do CEO Kim Taehyung para a CMO Hae , que eu queria escrever. Eu queria uma mensagem do Tae para a , a mesma que me virou do avesso naquela mesa em que eu estava agora. A mesma que dormiu enroscada em mim ontem. A mesma por quem eu estava irremediavelmente apaixonado. Combinamos que seria uma noite só, mas como eu ia saber que um dia eu iria acordar querendo mais? Peguei a caneta de volta e escrevi:
"I wonder if you are too good to be true
And would it be alright if I pulled you closer
How could I know one day I'd wake up feeling more
But I had already reached the shore
Guess we were ships in the night..."

KTH.


— Agora sim! — pulei da cadeira assustado ao ouvir a voz de Bora atrás de mim, batendo palmas. — Muito melhor que essas bobagens que você jogou no lixo. As flores já estão no seu carro.
— Então tire-as de lá, o entregador vai no meu carro, por acaso? — rebati, ainda acertando a respiração por conta do susto.
— O entregador é você! — Bora bateu o bloco de notas na minha cabeça e eu me arrependi na hora de ter dado tanta liberdade a ela. — Eu desmarquei toda a sua agenda de hoje à tarde, vamos, se mexa! Saia daqui! — ela agitou a caneta de pompom e me arrancou à força da minha cadeira.
— Bora... — gelei. — E se ela não...
Minha secretária malcriada ficou na ponta dos pés para me acertar a cabeça novamente:
— Ai, Bora! Eu vou te demitir! — ameacei e fui ignorado.
— Todo barco atraca em algum lugar, menino. Vá lá e diga a ela que você quer ser o porto. — Bora sorriu.
E eu icei as velas e fui.
***

Apertei os dedos antes de bater. Ouvi o "já vou" de atravessando a porta grande e precisei de alguns segundos para me recuperar quando ela abriu e se materializou na minha frente. Linda. E vestida na minha camiseta de beisebol.
— Tae... Oi. — ela corou, surpresa, e tentou cobrir o corpo.
— Eu precisava ver você. Queria saber se você está bem. — estiquei os braços, mostrando o buquê e o cartão.
— Estou... Tive uma crise de enxaqueca, foi isso. — sorriu para as tulipas e me convidou para entrar. Depositou as flores num vaso e tomou o envelope entre os dedos.
— Tem certeza? — questionei. — Porque parece que você está me evitando.
suspirou e desistiu de ler o cartão, apertando-o contra o peito vestido por uma roupa minha.
— Tae... nós dissemos que seria só uma noite e depois esqueceríamos, certo? — ela disse, com os olhos marejando.
— Você disse isso, . Eu nunca disse. Eu não consigo esquecer. Eu não quero esquecer. — acariciei o rosto dela.
— Tae... — ela aceitou a carícia piscando devagar.
— Quando eu falei que uma noite era pouco para tudo o que eu queria fazer com você, eu não falei só de sexo. Eu falei de dormir cheirando o teu cabelo, eu falei de segurar tua mão, de te levar no jogo de beisebol aos domingos... de sermos um casal.
— Eu também não consigo esquecer você, Kim Taehyung. — ela segurou minha mão. — Eu fugi de você hoje porque eu estou assustada. Assustada com o quanto eu gostei da nossa noite ontem, assustada com o quanto eu gosto... de você. Estou com medo porque, pela primeira vez, eu quero que alguém fique.
— Eu quero ficar, . Eu já ancorei aqui há muito tempo.
Abracei apertado, sentindo o coração dela bater e o corpo tremer. Eu poderia tirá-la para outra dança ali mesmo, sem música alguma, só não o fiz porque minha boca se apressou em procurar a dela e envolvê-la num beijo longo e apaixonado. Aquele era diferente dos que trocamos ontem, não tinha desespero nem angústia, só o alívio de saber que o que sentíamos era mútuo. Parecia que um rio corria pela minha mente e eu estava me perguntando se tudo aquilo acontecia apenas na minha cabeça, porque ela era boa demais para ser verdade.
— Eu te amo, . Era verdade quando eu cantei para você e é verdade agora.
— Eu também te amo, mimadinho.
Respondi à provocação com outro beijo, mais intenso que o primeiro, segurando pela nuca e pela cintura. Ela me soltou selando meus lábios várias vezes e perguntou:
— O que tem no cartão?
— Não faz diferença agora. Nós já chegamos à costa, meu barco na noite. — rodopiei e dançamos ali mesmo, ao som de uma melodia que eu cantarolava de lábios unidos seguida de um assobio.
***

O celular vibrou em cima da cômoda:
— Fala, Wooshik! — atendi.
Desce logo. — meu melhor amigo respondeu do outro lado da linha e eu ouvi também uma confusão de vozes gritando ao fundo. — Rápido, antes que o Seojoon e o Hyungsik coloquem fogo no meu carro. Ou no Peakboy.
— Eu te falei para deixar o extintor fácil. Desço em cinco minutos.
Peguei a carteira e coloquei o relógio. Ajoelhei na beira da cama onde ainda dormia tranquilamente. Três anos depois daquele esbarrão, graças a Deus, ainda estávamos juntos:
— Ei, dorminhoca. — rocei o nariz no dela. — Eu tô indo. Vou deixar a casa para você e suas amigas.
— Obrigada. — ela respondeu, sonolenta, e acariciou meu rosto com a mão que sustentava um belo diamante. Espreguiçou-se e despertou por completo para me ameaçar. — Não esquece: se houver alguma stripper nessa despedida de solteiro que o seu Wooga Squad inventou, Kim Taehyung, eu reúno o meu Noona Squad e nós matamos todos vocês, entendeu?
— Não se preocupe, a única mulher que eu quero ver tirando a roupa é você. E nós só vamos jogar videogame.
— Ótimo. Agora vai. Daqui a pouco vai ser um caos de mulheres barulhentas se arrumando por aqui. — ela fez um carinho no meu cabelo.
— Eu vejo você mais tarde. — selei os lábios dela. — Para me casar com você. — repeti o selar.
— Às 16:32. — ela confirmou o horário da cerimônia, que era também o horário do nosso primeiro encontro.
— Eu estarei te esperando. — respondi como da primeira vez.
— Tenta não derramar nada em mim, OK? Hoje é o dia mais importante da minha vida.
— Da nossa, amor. — beijei a futura senhora Kim. — Da nossa.




FIM.



Nota da autora: Meu coração tava apertado de deixar o Tete de Arabesque sem um amorzinho. Espero que você tenha gostado!



Outras Fanfics:
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Flamme 2
Arabesque
En L’Air


Nota da beta: Noona Squad o maior que temos! Ai, gente, fui eu que pedi essa ficzinha sim. O Tete precisava de um amorzinho.
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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