Prólogo
Era manhã de sábado quando eu acordei assustada com estrondos vindos da porta do meu apartamento. Levantei meu tronco e olhei para a mesma que era quase derrubada pela pessoa impaciente do outro lado. Suspirei e me levantei lentamente do sofá, tirando o notebook do meu colo. Passei a noite em claro fazendo alguns trabalhos da faculdade e mesmo tomando xícaras e xícaras de café, não consegui suportar o cansaço e acabei dormindo no sofá desconfortável. Assim que levantei, foi como se eu tivesse acabado de voltar de uma guerra; meus ossos fizeram barulhos seguidos de estalos e eu senti as minhas costas doerem. Gemi baixo com aquela sensação horrível e caminhei até a porta.
- Já vai! – gritei impaciente para a pessoa que ainda socava freneticamente a porta de madeira branca.
Assim que alcancei a mesma, abri rapidamente em um solavanco e olhei séria para a pessoa a minha frente. Era o senhor Steve, o síndico do prédio onde eu morava. Eu já até imaginava o motivo de sua vinda ao meu apartamento: aluguel atrasado.
Suspirei e passei as mãos pelo cabelo, arrumando os fios soltos de meu coque.
- Acho que a senhorita já sabe o porquê de eu estar aqui à sua porta a essa hora da manhã. – ele começou e eu assenti cansada. – Bem, hoje eu vim para lhe dar o último aviso. Se a senhorita não pagar os três meses de aluguéis atrasados, infelizmente terei que despejá-la. Aqui no prédio, não aceitamos inquilinos que devem seus aluguéis.
- Eu sei disso, senhor Steve, e aceito totalmente. Mas o senhor também deve saber que eu não estou trabalhando. Infelizmente, fui demitida de meu emprego e não consigo achar outro. – comecei a explicar, gesticulando com as mãos. – Só peço mais um tempo para que eu possa encontrar algum emprego, e assim, poderei pagar todos os aluguéis atrasados e ainda quitar o deste mês.
- Desculpe-me, senhorita Wright, mas não posso fazer nada por você. O tempo está se esgotando e se, infelizmente, você não pagar os aluguéis, terei que despejá-la. – disse o homem de cabelos grisalhos e eu suspirei pesadamente. – Dou-lhe o prazo de uma semana para a senhorita se resolver.
- Mas, senhor, eu... – ele me interrompeu.
- Uma semana! – disse firme – Tenha um bom dia.
Dito isso, ele se afastou e andou pelo corredor até a área das escadas e elevador. Bufei nervosa e bati a porta com força, causando um estrondo no corredor vazio e silencioso. Tirei meus óculos e passei as mãos pelo cabelo de forma impaciente. Eu simplesmente não sabia o que fazer. Como eu ia achar emprego em uma semana?
Sentei-me novamente no sofá e coloquei o notebook em meu colo. Coloquei os óculos e voltei meu olhar para a tela do computador. Com meu trabalho já salvo, comecei a navegar na internet à procura de emprego nessa imensa cidade chamada Nova York. Tudo começou quando eu morava com meu pai em Charlotte na Carolina do Norte. Assim que terminei o ensino médio, fiz a prova para a Universidade de Nova York e acabei passando. No início, eu sinceramente não queria vir. Não queria deixar meu pai sozinho, porque sempre fomos somente nós dois. Minha mãe, infelizmente, faleceu de uma grave doença quando eu ainda tinha dez anos.
Então, desde aquela época, foi meu pai quem me criou. Ele sempre foi meu pai e minha mãe, mas, principalmente, o meu melhor amigo. Quando recebi a carta da Universidade de Nova York anunciando que eu tinha ganhado a bolsa, fiquei sem saber o que fazer. Eu não queria deixá-lo sozinho. Não era justo depois de tudo o que ele fez por mim. Mas então, ele acabou me convencendo a vir. Alegou que ele ficaria bem e que todo feriado ou data comemorativa, eu poderia passar com ele lá na minha cidade natal.
Todos os anos eu viajo para a Carolina do Norte para passar as festas de final de ano com ele e meus outros parentes. Admito que eu sinto muita saudade da minha família; daquele lugarzinho o qual a gente possa chamar de ‘’lar’’; do aconchego dos braços do meu pai e dos beijos de boa noite que ele sempre me dava como se eu ainda fosse uma garotinha. Mas isso é verdade: eu sempre serei a sua garotinha. Mesmo estando hoje com vinte e um anos e sendo estudante de Psicologia da Universidade de Nova York.
Quando cheguei à cidade, com dezoito anos, aluguei este apartamento. Consegui um emprego em uma cafeteria e trabalhei lá por quase quatro anos, mas há alguns meses, infelizmente, fui demitida, pois a cafeteria teve de fechar as portas por ‘’motivos de força maior’’. E agora, aqui estou eu, sem emprego e a um passo de ser despejada de meu próprio apartamento.
Apesar da situação atual, meu pai tem me ajudado bastante. Todos os meses ele me manda dinheiro suficiente para comprar alimentos e livros da faculdade, e arcar com outras despesas que venham surgir, além das contas e água e luz. Como o meu salário não era suficiente para todas as despesas, eu tinha entrado em um acordo com o meu pai de ficar encarregada dos aluguéis, e quando conseguisse um emprego melhor, eu ficaria responsável por tudo. Meu pai e eu fizemos esse acordo, pois além da questão do salário, ele queria me ajudar de qualquer forma, como uma maneira de demonstrar seu constante apoio para a minha formação em uma universidade. Entretanto, agora, ele não sabia que a minha situação não estava favorável e que eu já não tinha mais um emprego fixo.
Meu pai não sabia e eu não queria contar para ele. No exato instante em que ele soubesse, ia querer me mandar todo dinheiro possível, mas eu não queria que ele tomasse essa atitude. Estava na hora de eu me virar sozinha. Eu não queria preocupá-lo.
Foi refletindo sobre isso que uma ideia maluca se passou pela minha cabeça e eu sorri. Estiquei o braço e peguei o telefone em cima da mesa de centro, logo discando o número de . e são meus melhores e únicos amigos desde que cheguei aqui. Eles são namorados e me receberam com o maior carinho do mundo, principalmente quando a novata estranha chegou à universidade, chamando consigo a atenção e os olhares dos outros alunos. Foram eles que me apresentaram cada canto da universidade e foram bastante hospitaleiros e simpáticos comigo. Eles praticamente se davam com todo mundo de lá, então, a partir do momento em que eles se tornaram meus amigos, ninguém mais resolveu tirar sarro da minha cara ou dar uma de valentão para cima de mim como os jogadores do time de basquete faziam.
- Alô, ? – ouvi a voz de depois do quarto toque.
- Adivinha quem acabou de passar por aqui para me ameaçar de despejo? – disse encostando ao encosto do sofá, ainda com meu notebook no colo.
- Hm, deixe-me ver... – fez voz de que estava pensando e eu ri – O senhor Steve!
- Exatamente! E adivinha só? Dessa vez ele me deu um prazo! Olha que maravilha, senhoras e senhores! – disse irônica – ‘’Uma semana, senhorita Wright! Uma semana!’’ – imitei-o com uma voz grave sem sucesso e riu do outro lado.
- Parece que a coisa apertou agora, huh? O que está pensando em fazer? – perguntou e eu suspirei.
- Como ele espera que eu encontre emprego em uma semana? Foi um sufoco para eu conseguir na cafeteria, imagine agora que eu procuro e procuro e sempre dizem a mesma coisa: ‘’Desculpe, não estamos precisando de funcionários’’? – bufei inconformada.
- Difícil mesmo. – ela disse e eu tirei os óculos, passando os dedos por minhas pálpebras fechadas.
- Ainda mais com o dinheiro que eu recebia quase nem dava para pagar o aluguel e ainda fazer as compras dos alimentos! Nova York é uma cidade muito cara! Nesses últimos três meses, meu pai tem me ajudado bastante. Abençoado seja o meu pai! Porém, eu não posso deixar isso continuar por mais tempo. Eu preciso dar um jeito, mas onde eu vou achar emprego em uma semana?!
- , ! Se acalma! Respira! – ela me interrompeu, soltando uma risada. – Vamos, inspira e expira. – ouvi os sons de sua respiração e repeti, inspirando e expirando lentamente, tentando me acalmar. – Está mais calma? – perguntou.
- Estou... – falei desanimada.
- Certo. Agora nós temos que pensar com a cabeça fria. Não adianta nada se desesperar, tudo vai dar certo. – disse com sua voz serena.
Já mencionei que é minha colega de turma? Bem, ela é. Estudamos Psicologia juntas e pelo visto, ela é bem melhor nisso do que eu.
- Ai, amiga, eu estou desesperada. Não consigo me acalmar. E se você visse aqueles olhos do senhor Steve e a sua expressão séria quase me matando, você também estaria na mesma situação que eu. – ela riu. – Sério, ele é assustador.
- Ok, ok. Vamos fazer assim: eu vou até aí e a gente decide o que fazer, certo?
- Beleza. Assim eu te conto sobre a ideia louca que eu acabei de ter, mas que acho que pode dar certo. – sorri de canto.
- Ideia? Que ideia?
- Quando você chegar aqui, eu te conto. – desliguei o telefone e o joguei ao meu lado no sofá.
(...)
- Ainda acho que essa ideia não vai dar certo. Colocar um estranho ou uma estranha aqui dentro da sua casa só para te ajudar com as despesas é loucura demais. Não acredito que pensou nisso. – reclamava enquanto me ajudava com os panfletos.
Estávamos sentadas no chão de minha sala. Eu fazia uns panfletos de ‘’Procura-se pessoa para dividir apartamento’’ enquanto me ajudava a escolher o que escrever.
- Para de reclamar, . Vai dar certo, você vai ver. – afirmei esperançosa – Além do mais, se não fosse isso, o que mais seria? Se eu conseguir um emprego com um salário menor do que o da cafeteria, vou continuar na merda do mesmo jeito, pois não vou ter como comprar suprimentos para a casa. A não ser que você queira que eu morra de fome. Se for isso, pode falar, eu aceito numa boa.
Ela riu negando com a cabeça e me deu um empurrãozinho com seu ombro.
- Você sabe que eu te apoio em todas as decisões que você tomar, mas que isso é loucura, é. Não tente negar.
- Ok, pode até ser loucura. – admiti – Mas é o que dizem: ‘’O mundo é dos loucos’’. – olhei-a e ela franziu a testa.
- Não é isso que dizem, não. A real frase é ‘’O mundo é dos espertos’’.
- Ah, é? – perguntei e ela assentiu – Que seja.
Nós rimos e continuamos com a preparação dos panfletos, e quando tudo estava pronto, nós os imprimimos. Eram tantos panfletos que tivemos de pôr em uma caixa de papelão para podermos carregar. Nosso plano era distribuí-los por quase toda Nova York e, com certeza, alguma hora alguém teria que me ligar ou vir até mim aceitando a proposta. E a proposta era de dividirmos as despesas. Eu pagaria a metade do aluguel e a pessoa pagaria a outra metade. Se ela quisesse dividir as despesas com os alimentos, eu aceitaria numa boa. Sempre estou aberta a opções.
Troquei de roupa rapidamente, colocando um moletom cinza e prendendo meus cabelos em um rabo de cavalo. Arrumei meus óculos de armação quadrada preta e calcei meus tênis. Fui até a sala onde já me esperava e peguei a minha caixa de papelão. Saímos de casa e entramos no elevador. Assim que a porta do elevador se abriu no térreo, eu avistei o senhor Steve se aproximando. Ele cumprimentou e olhou confuso para a caixa de papelão em nossas mãos.
- O que é isso, senhorita Wright? – perguntou e eu arqueei a sobrancelha.
- O senhor não queria que eu desse um jeito nos aluguéis atrasados? – perguntei e ele assentiu – Pois é, estou fazendo isso. E se o senhor me permite, com licença. Temos muito o que fazer. – afastei-me e me seguiu, olhando para trás enquanto dava uma risada.
- Você tinha que ter visto a cara dele! – ela disse quando já estávamos do lado de fora do prédio.
- Velho arrogante.
Percorremos pelas ruas mais movimentadas de Nova York, colando panfletos pelas árvores e até nos bancos onde algumas pessoas estavam sentadas. Colei também na porta de alguns supermercados, cafeterias, lanchonetes e lojas de roupas e sapatos. colou nos postes e até nos vidros de alguns carros estacionados na rua. Gargalhei de sua atitude e saímos correndo quando o dono de um dos carros nos viu e gritou um ‘’Hey, o que vocês estão fazendo aí?’’. Assim que começou a anoitecer, voltamos para minha casa. Passamos pelo mural de avisos do prédio e colei dois panfletos ali para o caso de algum visitante aparecer e se interessar.
Subimos para o meu apartamento e assim que entramos, nos jogamos no sofá, já cansadas de tanto andar pelas ruas da cidade. Tirei meus tênis e liguei a televisão. Levantei para fazer uma pipoca e ficamos assistindo a um filme de comédia que passava. Como já estava ficando muito tarde, decidiu dormir aqui mesmo. Arrumei o outro quarto para ela, que eu deixei como quarto de hóspedes ou ‘’quarto da bagunça’’, como eu costumava chamar, e assim que ela tomou banho, foi se deitar.
Nós nos despedimos com um abraço de boa noite e fui para o único banheiro do meu apartamento para tomar um banho também. Assim que terminei, coloquei meu pijama folgado que eu amava e soltei os cabelos. Joguei-me na cama e tirei meus óculos, colocando na mesinha de cabeceira. Acabei dormindo minutos depois com meu corpo já reclamando do dia extremamente exaustivo.
- Já vai! – gritei impaciente para a pessoa que ainda socava freneticamente a porta de madeira branca.
Assim que alcancei a mesma, abri rapidamente em um solavanco e olhei séria para a pessoa a minha frente. Era o senhor Steve, o síndico do prédio onde eu morava. Eu já até imaginava o motivo de sua vinda ao meu apartamento: aluguel atrasado.
Suspirei e passei as mãos pelo cabelo, arrumando os fios soltos de meu coque.
- Acho que a senhorita já sabe o porquê de eu estar aqui à sua porta a essa hora da manhã. – ele começou e eu assenti cansada. – Bem, hoje eu vim para lhe dar o último aviso. Se a senhorita não pagar os três meses de aluguéis atrasados, infelizmente terei que despejá-la. Aqui no prédio, não aceitamos inquilinos que devem seus aluguéis.
- Eu sei disso, senhor Steve, e aceito totalmente. Mas o senhor também deve saber que eu não estou trabalhando. Infelizmente, fui demitida de meu emprego e não consigo achar outro. – comecei a explicar, gesticulando com as mãos. – Só peço mais um tempo para que eu possa encontrar algum emprego, e assim, poderei pagar todos os aluguéis atrasados e ainda quitar o deste mês.
- Desculpe-me, senhorita Wright, mas não posso fazer nada por você. O tempo está se esgotando e se, infelizmente, você não pagar os aluguéis, terei que despejá-la. – disse o homem de cabelos grisalhos e eu suspirei pesadamente. – Dou-lhe o prazo de uma semana para a senhorita se resolver.
- Mas, senhor, eu... – ele me interrompeu.
- Uma semana! – disse firme – Tenha um bom dia.
Dito isso, ele se afastou e andou pelo corredor até a área das escadas e elevador. Bufei nervosa e bati a porta com força, causando um estrondo no corredor vazio e silencioso. Tirei meus óculos e passei as mãos pelo cabelo de forma impaciente. Eu simplesmente não sabia o que fazer. Como eu ia achar emprego em uma semana?
Sentei-me novamente no sofá e coloquei o notebook em meu colo. Coloquei os óculos e voltei meu olhar para a tela do computador. Com meu trabalho já salvo, comecei a navegar na internet à procura de emprego nessa imensa cidade chamada Nova York. Tudo começou quando eu morava com meu pai em Charlotte na Carolina do Norte. Assim que terminei o ensino médio, fiz a prova para a Universidade de Nova York e acabei passando. No início, eu sinceramente não queria vir. Não queria deixar meu pai sozinho, porque sempre fomos somente nós dois. Minha mãe, infelizmente, faleceu de uma grave doença quando eu ainda tinha dez anos.
Então, desde aquela época, foi meu pai quem me criou. Ele sempre foi meu pai e minha mãe, mas, principalmente, o meu melhor amigo. Quando recebi a carta da Universidade de Nova York anunciando que eu tinha ganhado a bolsa, fiquei sem saber o que fazer. Eu não queria deixá-lo sozinho. Não era justo depois de tudo o que ele fez por mim. Mas então, ele acabou me convencendo a vir. Alegou que ele ficaria bem e que todo feriado ou data comemorativa, eu poderia passar com ele lá na minha cidade natal.
Todos os anos eu viajo para a Carolina do Norte para passar as festas de final de ano com ele e meus outros parentes. Admito que eu sinto muita saudade da minha família; daquele lugarzinho o qual a gente possa chamar de ‘’lar’’; do aconchego dos braços do meu pai e dos beijos de boa noite que ele sempre me dava como se eu ainda fosse uma garotinha. Mas isso é verdade: eu sempre serei a sua garotinha. Mesmo estando hoje com vinte e um anos e sendo estudante de Psicologia da Universidade de Nova York.
Quando cheguei à cidade, com dezoito anos, aluguei este apartamento. Consegui um emprego em uma cafeteria e trabalhei lá por quase quatro anos, mas há alguns meses, infelizmente, fui demitida, pois a cafeteria teve de fechar as portas por ‘’motivos de força maior’’. E agora, aqui estou eu, sem emprego e a um passo de ser despejada de meu próprio apartamento.
Apesar da situação atual, meu pai tem me ajudado bastante. Todos os meses ele me manda dinheiro suficiente para comprar alimentos e livros da faculdade, e arcar com outras despesas que venham surgir, além das contas e água e luz. Como o meu salário não era suficiente para todas as despesas, eu tinha entrado em um acordo com o meu pai de ficar encarregada dos aluguéis, e quando conseguisse um emprego melhor, eu ficaria responsável por tudo. Meu pai e eu fizemos esse acordo, pois além da questão do salário, ele queria me ajudar de qualquer forma, como uma maneira de demonstrar seu constante apoio para a minha formação em uma universidade. Entretanto, agora, ele não sabia que a minha situação não estava favorável e que eu já não tinha mais um emprego fixo.
Meu pai não sabia e eu não queria contar para ele. No exato instante em que ele soubesse, ia querer me mandar todo dinheiro possível, mas eu não queria que ele tomasse essa atitude. Estava na hora de eu me virar sozinha. Eu não queria preocupá-lo.
Foi refletindo sobre isso que uma ideia maluca se passou pela minha cabeça e eu sorri. Estiquei o braço e peguei o telefone em cima da mesa de centro, logo discando o número de . e são meus melhores e únicos amigos desde que cheguei aqui. Eles são namorados e me receberam com o maior carinho do mundo, principalmente quando a novata estranha chegou à universidade, chamando consigo a atenção e os olhares dos outros alunos. Foram eles que me apresentaram cada canto da universidade e foram bastante hospitaleiros e simpáticos comigo. Eles praticamente se davam com todo mundo de lá, então, a partir do momento em que eles se tornaram meus amigos, ninguém mais resolveu tirar sarro da minha cara ou dar uma de valentão para cima de mim como os jogadores do time de basquete faziam.
- Alô, ? – ouvi a voz de depois do quarto toque.
- Adivinha quem acabou de passar por aqui para me ameaçar de despejo? – disse encostando ao encosto do sofá, ainda com meu notebook no colo.
- Hm, deixe-me ver... – fez voz de que estava pensando e eu ri – O senhor Steve!
- Exatamente! E adivinha só? Dessa vez ele me deu um prazo! Olha que maravilha, senhoras e senhores! – disse irônica – ‘’Uma semana, senhorita Wright! Uma semana!’’ – imitei-o com uma voz grave sem sucesso e riu do outro lado.
- Parece que a coisa apertou agora, huh? O que está pensando em fazer? – perguntou e eu suspirei.
- Como ele espera que eu encontre emprego em uma semana? Foi um sufoco para eu conseguir na cafeteria, imagine agora que eu procuro e procuro e sempre dizem a mesma coisa: ‘’Desculpe, não estamos precisando de funcionários’’? – bufei inconformada.
- Difícil mesmo. – ela disse e eu tirei os óculos, passando os dedos por minhas pálpebras fechadas.
- Ainda mais com o dinheiro que eu recebia quase nem dava para pagar o aluguel e ainda fazer as compras dos alimentos! Nova York é uma cidade muito cara! Nesses últimos três meses, meu pai tem me ajudado bastante. Abençoado seja o meu pai! Porém, eu não posso deixar isso continuar por mais tempo. Eu preciso dar um jeito, mas onde eu vou achar emprego em uma semana?!
- , ! Se acalma! Respira! – ela me interrompeu, soltando uma risada. – Vamos, inspira e expira. – ouvi os sons de sua respiração e repeti, inspirando e expirando lentamente, tentando me acalmar. – Está mais calma? – perguntou.
- Estou... – falei desanimada.
- Certo. Agora nós temos que pensar com a cabeça fria. Não adianta nada se desesperar, tudo vai dar certo. – disse com sua voz serena.
Já mencionei que é minha colega de turma? Bem, ela é. Estudamos Psicologia juntas e pelo visto, ela é bem melhor nisso do que eu.
- Ai, amiga, eu estou desesperada. Não consigo me acalmar. E se você visse aqueles olhos do senhor Steve e a sua expressão séria quase me matando, você também estaria na mesma situação que eu. – ela riu. – Sério, ele é assustador.
- Ok, ok. Vamos fazer assim: eu vou até aí e a gente decide o que fazer, certo?
- Beleza. Assim eu te conto sobre a ideia louca que eu acabei de ter, mas que acho que pode dar certo. – sorri de canto.
- Ideia? Que ideia?
- Quando você chegar aqui, eu te conto. – desliguei o telefone e o joguei ao meu lado no sofá.
Estávamos sentadas no chão de minha sala. Eu fazia uns panfletos de ‘’Procura-se pessoa para dividir apartamento’’ enquanto me ajudava a escolher o que escrever.
- Para de reclamar, . Vai dar certo, você vai ver. – afirmei esperançosa – Além do mais, se não fosse isso, o que mais seria? Se eu conseguir um emprego com um salário menor do que o da cafeteria, vou continuar na merda do mesmo jeito, pois não vou ter como comprar suprimentos para a casa. A não ser que você queira que eu morra de fome. Se for isso, pode falar, eu aceito numa boa.
Ela riu negando com a cabeça e me deu um empurrãozinho com seu ombro.
- Você sabe que eu te apoio em todas as decisões que você tomar, mas que isso é loucura, é. Não tente negar.
- Ok, pode até ser loucura. – admiti – Mas é o que dizem: ‘’O mundo é dos loucos’’. – olhei-a e ela franziu a testa.
- Não é isso que dizem, não. A real frase é ‘’O mundo é dos espertos’’.
- Ah, é? – perguntei e ela assentiu – Que seja.
Nós rimos e continuamos com a preparação dos panfletos, e quando tudo estava pronto, nós os imprimimos. Eram tantos panfletos que tivemos de pôr em uma caixa de papelão para podermos carregar. Nosso plano era distribuí-los por quase toda Nova York e, com certeza, alguma hora alguém teria que me ligar ou vir até mim aceitando a proposta. E a proposta era de dividirmos as despesas. Eu pagaria a metade do aluguel e a pessoa pagaria a outra metade. Se ela quisesse dividir as despesas com os alimentos, eu aceitaria numa boa. Sempre estou aberta a opções.
Troquei de roupa rapidamente, colocando um moletom cinza e prendendo meus cabelos em um rabo de cavalo. Arrumei meus óculos de armação quadrada preta e calcei meus tênis. Fui até a sala onde já me esperava e peguei a minha caixa de papelão. Saímos de casa e entramos no elevador. Assim que a porta do elevador se abriu no térreo, eu avistei o senhor Steve se aproximando. Ele cumprimentou e olhou confuso para a caixa de papelão em nossas mãos.
- O que é isso, senhorita Wright? – perguntou e eu arqueei a sobrancelha.
- O senhor não queria que eu desse um jeito nos aluguéis atrasados? – perguntei e ele assentiu – Pois é, estou fazendo isso. E se o senhor me permite, com licença. Temos muito o que fazer. – afastei-me e me seguiu, olhando para trás enquanto dava uma risada.
- Você tinha que ter visto a cara dele! – ela disse quando já estávamos do lado de fora do prédio.
- Velho arrogante.
Percorremos pelas ruas mais movimentadas de Nova York, colando panfletos pelas árvores e até nos bancos onde algumas pessoas estavam sentadas. Colei também na porta de alguns supermercados, cafeterias, lanchonetes e lojas de roupas e sapatos. colou nos postes e até nos vidros de alguns carros estacionados na rua. Gargalhei de sua atitude e saímos correndo quando o dono de um dos carros nos viu e gritou um ‘’Hey, o que vocês estão fazendo aí?’’. Assim que começou a anoitecer, voltamos para minha casa. Passamos pelo mural de avisos do prédio e colei dois panfletos ali para o caso de algum visitante aparecer e se interessar.
Subimos para o meu apartamento e assim que entramos, nos jogamos no sofá, já cansadas de tanto andar pelas ruas da cidade. Tirei meus tênis e liguei a televisão. Levantei para fazer uma pipoca e ficamos assistindo a um filme de comédia que passava. Como já estava ficando muito tarde, decidiu dormir aqui mesmo. Arrumei o outro quarto para ela, que eu deixei como quarto de hóspedes ou ‘’quarto da bagunça’’, como eu costumava chamar, e assim que ela tomou banho, foi se deitar.
Nós nos despedimos com um abraço de boa noite e fui para o único banheiro do meu apartamento para tomar um banho também. Assim que terminei, coloquei meu pijama folgado que eu amava e soltei os cabelos. Joguei-me na cama e tirei meus óculos, colocando na mesinha de cabeceira. Acabei dormindo minutos depois com meu corpo já reclamando do dia extremamente exaustivo.
Capítulo 1 – Amor Platônico
A semana se passou e nada de ligação de alguém interessado em dividir o apartamento. Eu já estava desistindo dessa ideia maluca quando acordei naquela manhã de segunda-feira, pronta para ir à faculdade. Fiz minha higiene matinal e vesti calça jeans, uma regata branca e calcei meu All Star branco que já nem era mais branco de tão sujo que estava. Vesti um casaco por cima e coloquei um cachecol já que fazia um pouco de frio. Penteei meus cabelos loiros e os prendi em um rabo de cavalo. Arrumei minha bolsa com meus materiais e meu notebook e coloquei meus inseparáveis óculos, afinal, sem eles não enxergo nem um palmo a minha frente.
Fui para a cozinha, deixando minha cama desarrumada. Não me importei, ninguém me visitaria hoje mesmo. Deixei minha bolsa em cima do banco e abri o armário, pegando uma tigela e cereal. Misturei o cereal com leite e comi às pressas para não chegar atrasada à universidade. Assim que terminei de comer, joguei a louça dentro da pia e corri, pegando minha bolsa e minhas chaves. Saí do apartamento e andei apressada pelo corredor. Consegui chegar a tempo antes que o elevador se fechasse e entrei.
Dei um aceno com a cabeça, sorrindo de canto, quando a senhora Wilson me deu uma olhada de cima a baixo. Aquela senhora era outra antipática. Apertei o botão do térreo e me encostei à parede do elevador enquanto esperava. O silêncio tomou conta do pequeno espaço até a senhora Wilson se pronunciar:
- A senhorita não tem vergonha na cara, não?
Olhei-a surpresa por um instante, mas me recompus, franzindo a testa.
- Desculpe? Acho que não entendi. – disse.
- Eu vi o seu panfleto grudado no mural do prédio. Você não tem vergonha do que está fazendo? – perguntou se virando em minha direção e eu coloquei minha mão na cintura, encarando-a séria.
- E por que eu teria? Não estou fazendo nada de errado.
- Então colocar um estranho em sua casa não é nada de errado? – ela perguntou e eu ia respondê-la, mas no mesmo instante, a porta do elevador se abriu e ela começou a caminhar com seus passos de tartaruga e sua bengala.
- Esses jovens de hoje em dia não têm jeito mesmo! – exclamou e eu bufei, revirando os olhos.
Ajeitei a alça de minha bolsa no ombro e comecei a andar para fora dali. Passei pelo porteiro e ele me olhou sorrindo.
- Bom dia, senhorita Wright!
- Bom dia, Ezequiel! – sorri acenando.
Saí do prédio e caminhei em direção à estação de metrô. Enquanto eu estava no metrô, eu ficava encarando o meu celular em minhas mãos esperando alguma ligação. Não era possível que até agora ninguém se interessou. Se ninguém aparecesse até sábado à noite, eu poderia me declarar uma sem-teto. Até porque onde mais eu iria morar? Debaixo da Ponte do Brooklyn? Só de imaginar essa possibilidade, eu tinha vontade chorar. Talvez a Ponte de Manhattan! Oh, meu Deus, o que eu estou fazendo? Estou realmente escolhendo qual é a melhor ponte para morar? Eu estou no fundo do poço mesmo.
Balancei a cabeça e enfiei o celular dentro da bolsa novamente. Cheguei à universidade e subi as escadas, adentrando pela enorme porta de vidro. Encontrei com meus amigos no corredor e eles vieram sorrindo em minha direção.
- Oi, . – abracei-o um tanto desanimada.
- Hey, . O que aconteceu? – ele perguntou preocupado enquanto abraçava pela cintura.
- Não recebi nenhuma ligação ainda. – falei enquanto voltávamos a andar.
- Ah, me contou sobre o seu plano. – ele riu – Acho que essa ideia pode dar certo.
- Nem tanto assim. Pelo visto, ninguém está a fim de dividir um apartamento. – dei de ombros. – Acho que vocês já podem ir se despedindo de mim, porque eu tenho duas opções: ou eu vou morar debaixo da ponte ou eu volto para a Carolina do Norte. E, sinceramente, a segunda opção é bem melhor na minha humilde opinião.
- Dá para parar de ser tão dramática, Wright? – disse irritada quase gritando.
Olhei no mesmo instante ao redor, vendo se alguém nos observava enquanto ela dava suas crises. Corei na mesma hora em que vi vários alunos olhando em nossa direção, um pouco assustados e curiosos.
- , fale mais baixo, por favor. – pedi em voz baixa – Estão olhando para a gente.
- Que se danem! Eles não têm nada a ver com a nossa vida! – falou mais alto e eu escondi meu rosto com as mãos.
- Pare com isso, . Você sabe que a é muito tímida. Não constranja a jovem. – riu, colocando a mão sobre a boca dela que ainda tagarelava.
era um cara muito bonito e atraente, eu tenho que admitir. tinha sorte de ser sua namorada, já que ele também era muito carinhoso, atencioso e companheiro. Seus olhos eram de um verde bem claro e seus cabelos tinham um tom castanho escuro, quase preto. Seus dentes eram bem brancos e ele era dono de um sorriso perfeito que fazia o coração de qualquer garota derreter. Além de, é claro, ter um corpo maravilhoso. Era forte e seus músculos, que tinham a medida certa, ficavam marcados pelas camisas polo, as quais ele geralmente usava com calça jeans.
também não ficava muito atrás. Era uma morena linda, um pouco mais baixa do que . Seus olhos eram castanhos escuros da mesma cor dos seus cabelos. Seu sorriso também era lindo e ela tinha as bochechas naturalmente rosadas. Seu corpo, então, nem se fala. Era cheio de curvas e perfeito. Causava inveja em muitas garotas da NYU. Sempre vestida na moda e com roupas de marca, ela literalmente também deixava a sua ‘’marca’’ por ali.
- Já se acalmou, palhaça? – perguntei a ela, cruzando os braços.
- A única palhaça aqui é você! – falou assim que destampou sua boca – Fica com esse drama de morar embaixo de ponte. Sabe que se você fosse despejada, poderia, com certeza, ficar no meu apartamento. Eu nunca iria te deixar morar na rua. – rolou os olhos e eu ri, dando-lhe um abraço.
- Obrigada, amiga. – agradeci sincera.
- E nunca que você iria voltar para a Carolina do Norte. O seu lugar é aqui com a gente, loirinha. – disse e assentiu.
Sorri e ele passou o braço por cima de meu ombro. Ele estava no meio enquanto e eu estávamos ao seu lado. Voltamos a andar até eu avistar quem estava vindo em nossa direção. Meus olhos se arregalaram e eu dei um solavanco no mesmo instante, parando de andar. Meus amigos me olharam confusos e eu escondi meu rosto com a bolsa.
- O que está acontecendo? – perguntou , franzindo a testa.
- Ele está vindo. – falei baixinho, virando-me para os armários, ainda com a bolsa no rosto.
- Ele quem?
- . O carinha por quem é apaixonada. – respondeu minha amiga por mim e eu assenti.
Se eu coro somente ao ouvir o nome dele, imagine a cara de boba que eu faria se ficasse frente a frente com ele. Deus me livre de passar essa vergonha.
- Por favor, você está agindo como uma adolescente imatura. – ela bufou e eu suspirei.
- Foda-se. Não quero que ele me veja e nem fale comigo. – minha voz saía abafada por conta da bolsa no rosto.
- Tarde demais. Ele está vindo para cá. – disse e senti meu coração acelerar.
O desespero tomou conta de mim e eu mais pareci uma barata tonta rodando no lugar do que uma mulher de vinte e um anos.
- Ai, meu Deus! O que eu faço? – perguntei.
- O mais óbvio: tira a bolsa da cara! – respondeu e recebeu meu dedo do meio como resposta.
- Estou caindo fora. – falei em pânico e me pus a andar.
- , cuidado por onde... – ouvi gritar, mas já era tarde demais.
Senti meu corpo bater contra algo e um líquido gelado tomou minha camisa, fazendo meus pelos se arrepiarem. Tirei a bolsa do rosto imediatamente e encarei o rapaz que me olhava com os olhos arregalados enquanto segurava uma garrafinha de Coca-Cola.
- Ops, foi mal. – ele disse e eu olhei para minha camisa.
Minha regata branca estava com uma mancha enorme de refrigerante bem no meio de minha barriga e eu já sentia o líquido melado tomar conta da minha pele por debaixo do tecido fino. Levantei meus olhos, sentindo minha bochecha corar violentamente. Arrependi-me de tal ato no mesmo momento em que dei de cara com e seus amigos nos olhando. Ele tinha uma careta de pena no rosto e eu suspirei, extremamente envergonhada. Voltei a andar, mas dessa vez bem mais rápido. Passei por ele sem olhar e virei o outro corredor, querendo sair dali o mais rápido possível.
Era muito mico para uma pessoa só.
(...)
- É sério mesmo que toda vez que cruzar com ele no corredor, você vai sair correndo que nem uma idiota? – perguntou enquanto eu a ajudava com o almoço. Já tínhamos chegado da faculdade há meia hora e eu passei a manhã toda me escondendo de , com vergonha do ocorrido.
Suspirei e lhe entreguei as cenouras já cortadas.
- E você espera que eu faça o quê, huh? Ele nunca ia olhar para uma mulher como eu!
- Também, você não se arruma! Está sempre escondida por trás desses moletons, roupas folgadas e óculos! – deu-me uma rápida olhada antes de voltar a misturar os legumes na panela.
Fiz careta e olhei para meu próprio corpo. Eu usava minhas tão amadas calças de moletom de cor preta e uma blusa de manga do Bob Esponja. Abracei meu corpo e voltei meu olhar para .
- O que tem de errado com o meu jeito de me vestir? Eu gosto das minhas roupas! – exclamei.
- O problema é que isso – ela apontou para mim com a colher de pau – não vai impressionar nenhum cara. Você está precisando de umas dicas de moda, sinceramente.
Rolei os olhos e voltei ao balcão, começando a descascar a batata.
- Eu não preciso de dicas de moda. – dei de ombros – E quem disse que eu quero impressionar alguém?
- Pensei que quisesse. Afinal, é um bom partido e você ia chamar a atenção dele se mudasse um pouco o seu jeito.
- Eu vou pensar sobre isso. – falei por fim – Vamos mudar de assunto. Como tem ido com o trabalho que o professor O’Donnell passou?
- Bem. Não há dificuldade e já estou quase terminando. – respondeu e pegou os pedaços que eu já havia cortado da batata, jogando-os na panela. – E você?
- Também. Tenho passado as últimas noites fazendo esse bendito. Já não sei o que é uma boa noite de sono há muito tempo. – disse e ela riu – Estou até precisando comprar mais café. O estoque já acabou.
- Credo! Você precisa relaxar, criatura!
- Relaxar? Conta outra, ! Só vou conseguir relaxar quando já tiver resolvido tudo na minha vida. Até lá, o café vai dando conta por mim.
Rimos juntas e continuamos a preparar a salada de maionese para o almoço.
Almoçamos juntas e depois lavamos a louça. Passamos a tarde em nossos devidos computadores, fazendo o trabalho. Ela me ajudava em alguns tópicos e eu a ajudava em outros.
(...)
Na sexta-feira à tarde, eu estava vendo algumas coisas em meu computador quando ouvi um barulho estranho vindo do lado de fora do meu apartamento, mais especificamente, na frente da minha porta. Levantei da cama e calcei meus chinelos. Passei a mão rapidamente pelo cabelo e ajeitei meus óculos. No meio do caminho, acabei tropeçando nos meus tênis jogados pelo chão da sala e os xinguei mentalmente enquanto os chutava para qualquer canto que não fosse minha frente. Fora o fato de eu quase dar de boca no chão, eu estava bem. Oh, eu estava ótima!
Abri a porta de supetão e arregalei os olhos quando vi dois homens altos, mais parecidos com dois armários a minha frente. Vi um velho baixinho no meio deles e percebi que era o senhor Steve falando com eles bem em frente à minha porta. Ele estava de costas para mim e se virou no mesmo instante em que viu que eu tinha aberto a porta e o observava. Ele deu um sorrisinho de canto e eu semicerrei meus olhos em sua direção.
- Senhor Steve, o que faz aqui? – perguntei, mas nem deu tempo de ele responder.
Os dois homens passaram por mim quase me derrubando e observaram tudo em volta, logo começando a pegar meu sofá.
- Mas o que está acontecendo aqui?! – perguntei irritada, vendo os homens passarem por mim com meu sofá.
Eles colocaram o móvel em pleno corredor e eu bufei, cruzando os braços.
- Desculpe, senhorita Wright, mas o seu tempo acabou. A senhorita está sendo despejada. – o velho disse e eu arregalei os olhos, com a boca aberta.
- Não, não! Isso está errado! O meu prazo é até amanhã à noite! – esbravejei nervosa – O senhor simplesmente não pode me enxotar daqui quando bem quiser!
- Tanto posso quanto estou fazendo isso. Eu sou o síndico deste prédio, posso fazer o que eu quiser aqui. – disse com sua voz calma e expressão cínica.
Meu sangue ferveu nas veias e eu me segurei para não voar no pescoço daquele velho arrogante.
- O senhor está louco! Não pode fazer isso! Onde eu vou morar? – perguntei histérica. Era bem capaz de a minha voz ser ouvida até na esquina.
- Bom, isso não é problema meu, senhorita. – ele deu de ombros e eu grunhi irritada. – Homens, desmontem os móveis! – ordenou.
- Não! – gritei assim que ouvi o som da parafusadeira sendo ligada.
Subi no meu sofá que ainda estava no corredor e fiquei em frente à porta do apartamento, tentando tampar a passagem daqueles homens enormes.
- Ninguém vai desmontar nada aqui! Isso não é justo! – choraminguei com minhas mãos de cada lado do batente da porta.
- Senhorita, saia daí, por favor! Não dificulte as coisas! – Steve disse irritado.
- Não vou sair! Esse apartamento é meu! – falei decidida.
- Não atrapalhe o nosso trabalho, moça. Saia da frente. – um dos brutamontes falou e eu neguei com a cabeça.
Ele bufou e num puxão que me fez dar um gritinho agudo, ele me pegou pelo tronco, tirando-me da frente da porta. Choraminguei feito uma criança vendo os homens entrarem na minha casa.
- Tire as mãos da minha televisão, seu imbecil! – gritei apontando para o cara que se preparava para tirar o aparelho da parede.
Eu estava histérica com os cabelos no rosto. Devia estar parecendo uma maluca. Vi quando a senhora Wilson abriu a porta do seu apartamento que ficava a duas portas da minha e olhou para mim assustada. Olhei em sua direção, fuzilando-a com o olhar e ela se assustou ainda mais, fechando a porta em desespero. Bufei e me joguei de joelhos no sofá, cobrindo meu rosto com as mãos.
Ouvi um pigarro ao meu lado e tirei as mãos do rosto. Me virei furiosa e gritei:
- Vai se danar, seu velho babão!
Quando eu vi quem era, engoli em seco. É, não era o senhor Steve.
- Hm, com licença. – o rapaz disse sem graça por eu ter gritado.
- Me desculpe. Eu pensei que era outra pessoa. – falei com voz chorosa, voltando a esconder o rosto em minhas mãos.
- Percebi. – deu uma risadinha, mas continuei calada. – Então, o que está acontecendo aqui? – perguntou.
Apenas apontei em direção à porta aberta. Senti seus passos se aproximando da porta e logo ele disse:
- Ah, sinto muito. Parece que cheguei tarde demais.
Ao ouvir aquilo, levantei minha cabeça rapidamente, como um coelho tirando sua cabeça de dentro de um buraco, e o encarei.
- O quê? – franzi a testa enquanto me levantava.
- Parece que cheguei tarde demais. – ele entortou os lábios – Eu vi o seu panfleto na rua e estava vindo falar com a senhorita. Imagino que você seja Wright, certo?
Assenti e ele continuou:
- Eu sou novo na cidade. Me mudei recentemente do Canadá e estava procurando justamente um lugar para morar.
- Sinto muito, mas acho que o apartamento não é mais meu. Acabo de ser despejada. – bufei e revirei os olhos.
- E por quê? – perguntou curioso.
- Estou devendo três meses de aluguel. O senhor Steve... – comecei a explicar, mas ele me cortou.
- O velho babão? – riu e eu assenti rindo fraco.
- Ele me deu um prazo de uma semana para pagar o que eu devo, mas como isso é impossível já que eu estou sem emprego, ele simplesmente resolveu me enxotar assim, sem mais nem menos! Isso não é maravilhoso? – falei com ironia e o rapaz riu baixo.
- E quanto você deve? – ele perguntou com a sobrancelha arqueada.
- Bom, são três meses mais este mês, que daqui a pouco também entra para a linda lista.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos e depois enfiou a mão no bolso da calça, pegando uma carteira. Percebi sua intenção e meu corpo ficou tenso.
- Não, não. Não precisa fazer isso, sério. Eu dou um jeito. Nós nem nos conhecemos. – falei afoita e ele apenas me encarou assentindo, como se concordasse com o que eu falava.
- Ele aceita pagamento com cartão de débito? Ou seria melhor em dinheiro vivo? – perguntou e balancei a cabeça, sorrindo com a sua atitude.
Estendi minha mão em sua direção e ele apertou.
- Muito obrigada mesmo.
Ele sorriu abertamente, mostrando seus dentes brancos.
- Não há de quê, Wright.
Fui para a cozinha, deixando minha cama desarrumada. Não me importei, ninguém me visitaria hoje mesmo. Deixei minha bolsa em cima do banco e abri o armário, pegando uma tigela e cereal. Misturei o cereal com leite e comi às pressas para não chegar atrasada à universidade. Assim que terminei de comer, joguei a louça dentro da pia e corri, pegando minha bolsa e minhas chaves. Saí do apartamento e andei apressada pelo corredor. Consegui chegar a tempo antes que o elevador se fechasse e entrei.
Dei um aceno com a cabeça, sorrindo de canto, quando a senhora Wilson me deu uma olhada de cima a baixo. Aquela senhora era outra antipática. Apertei o botão do térreo e me encostei à parede do elevador enquanto esperava. O silêncio tomou conta do pequeno espaço até a senhora Wilson se pronunciar:
- A senhorita não tem vergonha na cara, não?
Olhei-a surpresa por um instante, mas me recompus, franzindo a testa.
- Desculpe? Acho que não entendi. – disse.
- Eu vi o seu panfleto grudado no mural do prédio. Você não tem vergonha do que está fazendo? – perguntou se virando em minha direção e eu coloquei minha mão na cintura, encarando-a séria.
- E por que eu teria? Não estou fazendo nada de errado.
- Então colocar um estranho em sua casa não é nada de errado? – ela perguntou e eu ia respondê-la, mas no mesmo instante, a porta do elevador se abriu e ela começou a caminhar com seus passos de tartaruga e sua bengala.
- Esses jovens de hoje em dia não têm jeito mesmo! – exclamou e eu bufei, revirando os olhos.
Ajeitei a alça de minha bolsa no ombro e comecei a andar para fora dali. Passei pelo porteiro e ele me olhou sorrindo.
- Bom dia, senhorita Wright!
- Bom dia, Ezequiel! – sorri acenando.
Saí do prédio e caminhei em direção à estação de metrô. Enquanto eu estava no metrô, eu ficava encarando o meu celular em minhas mãos esperando alguma ligação. Não era possível que até agora ninguém se interessou. Se ninguém aparecesse até sábado à noite, eu poderia me declarar uma sem-teto. Até porque onde mais eu iria morar? Debaixo da Ponte do Brooklyn? Só de imaginar essa possibilidade, eu tinha vontade chorar. Talvez a Ponte de Manhattan! Oh, meu Deus, o que eu estou fazendo? Estou realmente escolhendo qual é a melhor ponte para morar? Eu estou no fundo do poço mesmo.
Balancei a cabeça e enfiei o celular dentro da bolsa novamente. Cheguei à universidade e subi as escadas, adentrando pela enorme porta de vidro. Encontrei com meus amigos no corredor e eles vieram sorrindo em minha direção.
- Oi, . – abracei-o um tanto desanimada.
- Hey, . O que aconteceu? – ele perguntou preocupado enquanto abraçava pela cintura.
- Não recebi nenhuma ligação ainda. – falei enquanto voltávamos a andar.
- Ah, me contou sobre o seu plano. – ele riu – Acho que essa ideia pode dar certo.
- Nem tanto assim. Pelo visto, ninguém está a fim de dividir um apartamento. – dei de ombros. – Acho que vocês já podem ir se despedindo de mim, porque eu tenho duas opções: ou eu vou morar debaixo da ponte ou eu volto para a Carolina do Norte. E, sinceramente, a segunda opção é bem melhor na minha humilde opinião.
- Dá para parar de ser tão dramática, Wright? – disse irritada quase gritando.
Olhei no mesmo instante ao redor, vendo se alguém nos observava enquanto ela dava suas crises. Corei na mesma hora em que vi vários alunos olhando em nossa direção, um pouco assustados e curiosos.
- , fale mais baixo, por favor. – pedi em voz baixa – Estão olhando para a gente.
- Que se danem! Eles não têm nada a ver com a nossa vida! – falou mais alto e eu escondi meu rosto com as mãos.
- Pare com isso, . Você sabe que a é muito tímida. Não constranja a jovem. – riu, colocando a mão sobre a boca dela que ainda tagarelava.
era um cara muito bonito e atraente, eu tenho que admitir. tinha sorte de ser sua namorada, já que ele também era muito carinhoso, atencioso e companheiro. Seus olhos eram de um verde bem claro e seus cabelos tinham um tom castanho escuro, quase preto. Seus dentes eram bem brancos e ele era dono de um sorriso perfeito que fazia o coração de qualquer garota derreter. Além de, é claro, ter um corpo maravilhoso. Era forte e seus músculos, que tinham a medida certa, ficavam marcados pelas camisas polo, as quais ele geralmente usava com calça jeans.
também não ficava muito atrás. Era uma morena linda, um pouco mais baixa do que . Seus olhos eram castanhos escuros da mesma cor dos seus cabelos. Seu sorriso também era lindo e ela tinha as bochechas naturalmente rosadas. Seu corpo, então, nem se fala. Era cheio de curvas e perfeito. Causava inveja em muitas garotas da NYU. Sempre vestida na moda e com roupas de marca, ela literalmente também deixava a sua ‘’marca’’ por ali.
- Já se acalmou, palhaça? – perguntei a ela, cruzando os braços.
- A única palhaça aqui é você! – falou assim que destampou sua boca – Fica com esse drama de morar embaixo de ponte. Sabe que se você fosse despejada, poderia, com certeza, ficar no meu apartamento. Eu nunca iria te deixar morar na rua. – rolou os olhos e eu ri, dando-lhe um abraço.
- Obrigada, amiga. – agradeci sincera.
- E nunca que você iria voltar para a Carolina do Norte. O seu lugar é aqui com a gente, loirinha. – disse e assentiu.
Sorri e ele passou o braço por cima de meu ombro. Ele estava no meio enquanto e eu estávamos ao seu lado. Voltamos a andar até eu avistar quem estava vindo em nossa direção. Meus olhos se arregalaram e eu dei um solavanco no mesmo instante, parando de andar. Meus amigos me olharam confusos e eu escondi meu rosto com a bolsa.
- O que está acontecendo? – perguntou , franzindo a testa.
- Ele está vindo. – falei baixinho, virando-me para os armários, ainda com a bolsa no rosto.
- Ele quem?
- . O carinha por quem é apaixonada. – respondeu minha amiga por mim e eu assenti.
Se eu coro somente ao ouvir o nome dele, imagine a cara de boba que eu faria se ficasse frente a frente com ele. Deus me livre de passar essa vergonha.
- Por favor, você está agindo como uma adolescente imatura. – ela bufou e eu suspirei.
- Foda-se. Não quero que ele me veja e nem fale comigo. – minha voz saía abafada por conta da bolsa no rosto.
- Tarde demais. Ele está vindo para cá. – disse e senti meu coração acelerar.
O desespero tomou conta de mim e eu mais pareci uma barata tonta rodando no lugar do que uma mulher de vinte e um anos.
- Ai, meu Deus! O que eu faço? – perguntei.
- O mais óbvio: tira a bolsa da cara! – respondeu e recebeu meu dedo do meio como resposta.
- Estou caindo fora. – falei em pânico e me pus a andar.
- , cuidado por onde... – ouvi gritar, mas já era tarde demais.
Senti meu corpo bater contra algo e um líquido gelado tomou minha camisa, fazendo meus pelos se arrepiarem. Tirei a bolsa do rosto imediatamente e encarei o rapaz que me olhava com os olhos arregalados enquanto segurava uma garrafinha de Coca-Cola.
- Ops, foi mal. – ele disse e eu olhei para minha camisa.
Minha regata branca estava com uma mancha enorme de refrigerante bem no meio de minha barriga e eu já sentia o líquido melado tomar conta da minha pele por debaixo do tecido fino. Levantei meus olhos, sentindo minha bochecha corar violentamente. Arrependi-me de tal ato no mesmo momento em que dei de cara com e seus amigos nos olhando. Ele tinha uma careta de pena no rosto e eu suspirei, extremamente envergonhada. Voltei a andar, mas dessa vez bem mais rápido. Passei por ele sem olhar e virei o outro corredor, querendo sair dali o mais rápido possível.
Era muito mico para uma pessoa só.
Suspirei e lhe entreguei as cenouras já cortadas.
- E você espera que eu faça o quê, huh? Ele nunca ia olhar para uma mulher como eu!
- Também, você não se arruma! Está sempre escondida por trás desses moletons, roupas folgadas e óculos! – deu-me uma rápida olhada antes de voltar a misturar os legumes na panela.
Fiz careta e olhei para meu próprio corpo. Eu usava minhas tão amadas calças de moletom de cor preta e uma blusa de manga do Bob Esponja. Abracei meu corpo e voltei meu olhar para .
- O que tem de errado com o meu jeito de me vestir? Eu gosto das minhas roupas! – exclamei.
- O problema é que isso – ela apontou para mim com a colher de pau – não vai impressionar nenhum cara. Você está precisando de umas dicas de moda, sinceramente.
Rolei os olhos e voltei ao balcão, começando a descascar a batata.
- Eu não preciso de dicas de moda. – dei de ombros – E quem disse que eu quero impressionar alguém?
- Pensei que quisesse. Afinal, é um bom partido e você ia chamar a atenção dele se mudasse um pouco o seu jeito.
- Eu vou pensar sobre isso. – falei por fim – Vamos mudar de assunto. Como tem ido com o trabalho que o professor O’Donnell passou?
- Bem. Não há dificuldade e já estou quase terminando. – respondeu e pegou os pedaços que eu já havia cortado da batata, jogando-os na panela. – E você?
- Também. Tenho passado as últimas noites fazendo esse bendito. Já não sei o que é uma boa noite de sono há muito tempo. – disse e ela riu – Estou até precisando comprar mais café. O estoque já acabou.
- Credo! Você precisa relaxar, criatura!
- Relaxar? Conta outra, ! Só vou conseguir relaxar quando já tiver resolvido tudo na minha vida. Até lá, o café vai dando conta por mim.
Rimos juntas e continuamos a preparar a salada de maionese para o almoço.
Almoçamos juntas e depois lavamos a louça. Passamos a tarde em nossos devidos computadores, fazendo o trabalho. Ela me ajudava em alguns tópicos e eu a ajudava em outros.
Abri a porta de supetão e arregalei os olhos quando vi dois homens altos, mais parecidos com dois armários a minha frente. Vi um velho baixinho no meio deles e percebi que era o senhor Steve falando com eles bem em frente à minha porta. Ele estava de costas para mim e se virou no mesmo instante em que viu que eu tinha aberto a porta e o observava. Ele deu um sorrisinho de canto e eu semicerrei meus olhos em sua direção.
- Senhor Steve, o que faz aqui? – perguntei, mas nem deu tempo de ele responder.
Os dois homens passaram por mim quase me derrubando e observaram tudo em volta, logo começando a pegar meu sofá.
- Mas o que está acontecendo aqui?! – perguntei irritada, vendo os homens passarem por mim com meu sofá.
Eles colocaram o móvel em pleno corredor e eu bufei, cruzando os braços.
- Desculpe, senhorita Wright, mas o seu tempo acabou. A senhorita está sendo despejada. – o velho disse e eu arregalei os olhos, com a boca aberta.
- Não, não! Isso está errado! O meu prazo é até amanhã à noite! – esbravejei nervosa – O senhor simplesmente não pode me enxotar daqui quando bem quiser!
- Tanto posso quanto estou fazendo isso. Eu sou o síndico deste prédio, posso fazer o que eu quiser aqui. – disse com sua voz calma e expressão cínica.
Meu sangue ferveu nas veias e eu me segurei para não voar no pescoço daquele velho arrogante.
- O senhor está louco! Não pode fazer isso! Onde eu vou morar? – perguntei histérica. Era bem capaz de a minha voz ser ouvida até na esquina.
- Bom, isso não é problema meu, senhorita. – ele deu de ombros e eu grunhi irritada. – Homens, desmontem os móveis! – ordenou.
- Não! – gritei assim que ouvi o som da parafusadeira sendo ligada.
Subi no meu sofá que ainda estava no corredor e fiquei em frente à porta do apartamento, tentando tampar a passagem daqueles homens enormes.
- Ninguém vai desmontar nada aqui! Isso não é justo! – choraminguei com minhas mãos de cada lado do batente da porta.
- Senhorita, saia daí, por favor! Não dificulte as coisas! – Steve disse irritado.
- Não vou sair! Esse apartamento é meu! – falei decidida.
- Não atrapalhe o nosso trabalho, moça. Saia da frente. – um dos brutamontes falou e eu neguei com a cabeça.
Ele bufou e num puxão que me fez dar um gritinho agudo, ele me pegou pelo tronco, tirando-me da frente da porta. Choraminguei feito uma criança vendo os homens entrarem na minha casa.
- Tire as mãos da minha televisão, seu imbecil! – gritei apontando para o cara que se preparava para tirar o aparelho da parede.
Eu estava histérica com os cabelos no rosto. Devia estar parecendo uma maluca. Vi quando a senhora Wilson abriu a porta do seu apartamento que ficava a duas portas da minha e olhou para mim assustada. Olhei em sua direção, fuzilando-a com o olhar e ela se assustou ainda mais, fechando a porta em desespero. Bufei e me joguei de joelhos no sofá, cobrindo meu rosto com as mãos.
Ouvi um pigarro ao meu lado e tirei as mãos do rosto. Me virei furiosa e gritei:
- Vai se danar, seu velho babão!
Quando eu vi quem era, engoli em seco. É, não era o senhor Steve.
- Hm, com licença. – o rapaz disse sem graça por eu ter gritado.
- Me desculpe. Eu pensei que era outra pessoa. – falei com voz chorosa, voltando a esconder o rosto em minhas mãos.
- Percebi. – deu uma risadinha, mas continuei calada. – Então, o que está acontecendo aqui? – perguntou.
Apenas apontei em direção à porta aberta. Senti seus passos se aproximando da porta e logo ele disse:
- Ah, sinto muito. Parece que cheguei tarde demais.
Ao ouvir aquilo, levantei minha cabeça rapidamente, como um coelho tirando sua cabeça de dentro de um buraco, e o encarei.
- O quê? – franzi a testa enquanto me levantava.
- Parece que cheguei tarde demais. – ele entortou os lábios – Eu vi o seu panfleto na rua e estava vindo falar com a senhorita. Imagino que você seja Wright, certo?
Assenti e ele continuou:
- Eu sou novo na cidade. Me mudei recentemente do Canadá e estava procurando justamente um lugar para morar.
- Sinto muito, mas acho que o apartamento não é mais meu. Acabo de ser despejada. – bufei e revirei os olhos.
- E por quê? – perguntou curioso.
- Estou devendo três meses de aluguel. O senhor Steve... – comecei a explicar, mas ele me cortou.
- O velho babão? – riu e eu assenti rindo fraco.
- Ele me deu um prazo de uma semana para pagar o que eu devo, mas como isso é impossível já que eu estou sem emprego, ele simplesmente resolveu me enxotar assim, sem mais nem menos! Isso não é maravilhoso? – falei com ironia e o rapaz riu baixo.
- E quanto você deve? – ele perguntou com a sobrancelha arqueada.
- Bom, são três meses mais este mês, que daqui a pouco também entra para a linda lista.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos e depois enfiou a mão no bolso da calça, pegando uma carteira. Percebi sua intenção e meu corpo ficou tenso.
- Não, não. Não precisa fazer isso, sério. Eu dou um jeito. Nós nem nos conhecemos. – falei afoita e ele apenas me encarou assentindo, como se concordasse com o que eu falava.
- Ele aceita pagamento com cartão de débito? Ou seria melhor em dinheiro vivo? – perguntou e balancei a cabeça, sorrindo com a sua atitude.
Estendi minha mão em sua direção e ele apertou.
- Muito obrigada mesmo.
Ele sorriu abertamente, mostrando seus dentes brancos.
- Não há de quê, Wright.
Capítulo 2 – Meu Novo Colega
- Qual é o seu nome? Até me esqueci de perguntar. – disse enquanto o ajudava com a mala.
O rapaz loiro só carregava uma mala e uma enorme mochila, mas eu fiz questão de ajudá-lo já que ele seria o meu mais novo colega de apartamento. Eu estava rindo mentalmente até agora da cara que o senhor Steve fez ao ver o jovem pagar todos os meus aluguéis anteriores e mais o deste mês. Ele fez uma cara de desgosto ao ver o meu sorriso e ordenou aos grandões que colocassem o meu sofá de volta e arrumassem tudo novamente no lugar.
- . . – ele respondeu parado em minha sala.
Entrei atrás dele e coloquei sua mala no chão, fechando a porta de casa.
- Bem, , este é o meu humilde apartamento. – apontei em volta e ele acompanhou tudo com o olhar. – Naquela porta à direita é o meu quarto, à esquerda é o seu e o banheiro é no final do corredor. E como você pode ver, a cozinha é quase junto à sala. – mostrei e ele sorriu enquanto observava.
- Pequeno, mas confortável. – ele disse e sorri de canto, assentindo.
- E ainda temos uma ótima vista da cidade de Nova York! – chamei-o com o dedo e ele me seguiu até a janela. Abri as cortinas e vi seus olhos castanhos brilharem assim que ele teve aquela visão maravilhosa que eu tinha em todas as manhãs.
- Nova York é realmente uma cidade espetacular. Ainda não acredito que estou na Big Apple. – ele disse quase para si mesmo e eu o encarei.
- Você gostou mesmo da cidade. – afirmei e ele assentiu.
- Eu nasci em uma cidade pequena no Canadá e um dos meus maiores sonhos era me mudar para uma cidade grande. E aqui estou eu, em Nova York. Isso é demais! – sua animação era contagiante. Até eu estava feliz por ele, e olha que ânimo é uma das coisas que raramente eu sinto. Pareço até uma velha de setenta anos falando assim.
- Bem, espero que se sinta à vontade. Como você mesmo disse, é pequeno, mas é confortável. – disse me afastando da janela.
- Já estou me sentindo em casa. – disse se jogando em meu sofá e eu fiz uma careta assim que ele colocou os pés em cima da minha mesinha de centro.
- Não vou ter que impor algumas regras, não é? – perguntei e ele me olhou confuso. – Você sabe... Sem roupas pela casa, pés na mesa, sacos de salgadinho pelo sofá... – citei algumas coisas e ele riu, tirando os pés da mesinha.
- Não se preocupe com isso. Não sou bagunceiro. – afirmou sorrindo maroto e eu suspirei, balançando a cabeça. – E, aliás... – ele disse levantando a almofada e pegando algo debaixo dela. Minhas bochechas coraram no instante em que vi do que se tratava. – Imagino que este sutiã não seja seu, não é, senhorita não-faça-bagunça? – girou o meu sutiã em seu dedo indicador enquanto me olhava e eu bufei, puxando a minha peça íntima de sua mão.
- Foi só isso também. Não acontecerá novamente. – afirmei e ele arqueou a sobrancelha ainda com aquele sorrisinho irritante nos lábios rosados.
- Sei...
Rolei os olhos e caminhei até o corredor, ouvindo uma risadinha de , que ainda estava estirado em meu sofá. Fui ao meu quarto e joguei o sutiã em cima da cama. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e peguei o meu livro de psicologia que estava na escrivaninha. Voltei ao corredor, mas a voz de ao celular me fez parar no mesmo instante. Eu sei que era errado bisbilhotar a conversa dos outros, mas eu não pude esconder minha curiosidade. Me escondi atrás da parede e me pus a ouvir sua conversa.
- É, Olivia, já cheguei a Nova York. – deu uma pausa. – Não, não, eu cheguei hoje pela manhã. Consegui um lugar para ficar. Não é grande coisa, mas posso ficar por aqui até conseguir uma casa ou até outro apartamento. É só por um tempo enquanto vejo os negócios da empresa. – entortei o nariz quando ele falou do meu apartamento. Não é grande coisa? Vá procurar outro lugar, então! – Ok, ok. Anota o endereço aí. Quem sabe você não possa me fazer uma visita hoje? – ele riu com malícia e eu estreitei meus olhos.
Ele deu o endereço e ficou conversando com a tal Olivia por mais alguns minutos. E nesse ‘’conversando’’ eu incluo flertes e cantadas imbecis que me davam náuseas. Respirei fundo e decidi que já era hora de parar de espiar. Empinei meu nariz e abracei o livro em meu peito enquanto voltava a caminhar pelo corredor em direção à sala. continuava ao celular com um sorrisinho irritante nos lábios e mexia em alguns objetos de decoração na minha estante.
Ele me deu uma rápida olhada de canto enquanto eu me sentava no sofá. Pus o livro grande e grosso ao meu lado e peguei meu notebook, pondo-o em meu colo. Voltei a fazer minhas pesquisas no computador e abri o livro na página marcada. Li as palavras que ali estavam sublinhadas com o canetão de cor verde fluorescente e sublinhei outros parágrafos, colocando a caneta atrás de minha orelha assim que terminei. Olhei novamente para o notebook e fiz uma anotação no bloco de notas sobre uma citação de Sigmund Freud.
Ouvi quando finalizou a chamada e logo depois seus passos pela sala. Olhei de canto quando o mesmo pegou suas malas e caminhou pelo corredor indo em direção ao quarto o qual eu tinha mostrado anteriormente. Minutos se passaram e eu continuei minhas pesquisas.
- ‘’O homem enérgico e bem-sucedido é aquele que consegue transmutar as fantasias do desejo em realidades’’. – li uma das citações em voz alta e no mesmo instante, apareceu novamente na sala, mas sem camisa dessa vez.
Minha boca se entreabriu praticamente sozinha quando eu olhei aquela criatura a minha frente. Os gominhos em seu abdômen chamaram a minha atenção instintivamente e eu observei seu corpo, desde os seus braços e peito malhados até o caminho que alguns pelos de sua barriga faziam, indo até as suas partes baixas. Quando subi meus olhos e eles encararam seu rosto, me olhava com a sobrancelha arqueada. Balancei a minha cabeça e voltei meu olhar à tela do notebook.
Mesmo tentando fingir que eu não tinha visto nada, as imagens de seu corpo malhado e com tatuagens ainda rondavam minha mente. Eu tentava ao máximo não olhar novamente, e graças a Deus, eu estava fazendo um ótimo trabalho. Foquei toda a minha atenção na pesquisa e só dei atenção ao meu colega de apartamento quando senti o assento ao meu lado afundar. pigarreou e eu o olhei.
Ele me encarava enquanto mastigava um pedaço da maçã que roubou da minha fruteira.
- O que é isso? – perguntou apontando para a tela.
- Uma pesquisa que eu estou fazendo. – respondi simplesmente, voltando a digitar.
- Pesquisa? Você é uma espécie de cientista ou algo do tipo?
- Bem que eu queria, mas não. Sou uma simples estudante de psicologia da Universidade de Nova York.
- Uau. Universidade de Nova York? – assenti – Bacana...
- Sim, muito bacana.
Continuei com meus afazeres até ser interrompida com o som irritante que vinha da boca de . O simples barulho de seus dentes mordendo e mastigando a maçã estava perturbando a minha linha de raciocínio e parece que ele nem se dava conta disso. Continuava jogado ao meu lado no sofá, mastigando a maçã de forma relaxada e despreocupada como se a vida fosse um mar de rosas perfumado.
- Ah, com licença, ? – disse e ele me olhou – Você poderia, por favor, parar de fazer barulho? Eu estou tentando estudar aqui.
Ajeitei meus óculos ainda o encarando e ele fez uma careta.
- Eu não estou fazendo barulho. – deu de ombros.
- Ah, está sim. O seu mastigar está me incomodando.
Ele riu me olhando com as sobrancelhas arqueadas.
- Quer diz que não posso nem comer uma simples maçã que te incomodo? – assenti – Você está muito estressada, huh? Relaxa e curte a vida!
- Não, obrigada. Não quero curtir a vida. Só quero que você pare de mastigar essa bendita maçã.
- Ok, ok! – ele levantou as mãos, rendido.
Suspirei e jogou o resto de maçã no lixo. Me surpreendi com a distância em que estávamos da lata de lixo e, mesmo assim, ele acertou em cheio.
- Boa mira. – falei com a voz firme. Eu não queria elogiá-lo e nem faria isso tão facilmente.
- Obrigado, senhora Rabugenta. – ele disse com uma voz de deboche.
- Senhorita. – corrigi – Não sou velha e nem casada.
- Não é velha, sério? – ele me encarou com um sorriso de canto – Pois age como uma.
Dito isso, ele levantou do sofá e caminhou até o corredor. Mesmo com raiva daquele idiota, não pude deixar de notar sua bunda e o modo que ele usava suas calças. Era um tanto ridículo! Quem é que usa as calças lá embaixo mostrando praticamente toda a cueca? Se fosse assim, nem precisaria usar uma calça! Andasse logo somente de cueca na rua.
Bufei e voltei a mexer no computador. Meu celular começou a tocar em cima da mesinha de centro e estiquei meu braço para pegá-lo.
- Alô? – atendi assim que vi o número de no visor.
- , você não vai acreditar no que eu acabei de ver! – ela praticamente gritou no telefone e eu fiz uma careta, deixando o notebook de lado e levantando do sofá.
- E o que você acabou de ver exatamente, senhorita Histérica? – disse com um tom risonho.
- O e a Courtney estão se pegando no Central Park nesse exato momento!
Arregalei os olhos e meu coração acelerou assim que ouvi suas palavras. Courtney Banks era a filhinha de papai da faculdade. Cursava Artes Cênicas e era a popular na universidade. Todos praticamente gostavam dela, pois ela esbanjava simpatia e gentileza com todo mundo, exceto comigo. E eu nem sei o porquê. Até com e ela era um doce de pessoa, mas comigo era a fera em pessoa. E a pior coisa para mim naquele momento foi ouvir que o cara que eu gostava estava aos amassos com outra no Central Park.
- Vo-você tem certeza de que eram eles? – engoli em seco.
- É claro que tenho, não sou cega! E pelo andar da carruagem, parece que eles não iam parar por ali, não. Sério, amiga! Eles estavam se pegando com tanta vontade que eu não sei como ela não engravidou ali mesmo.
- Ok, ok, ! Me poupe dos detalhes! – fiz careta de nojo.
- Me desculpe, , mas eu tinha que te contar. Isso é para você abrir os olhos e ver que esse babaca não vale a pena. – ela disse e eu assenti derrotada.
- Certo, mas não sei... Ele aparentava ser diferente dos outros. – choraminguei encostando minha testa à parede.
- Todos os homens são iguais, amiga. A questão é que infelizmente não conseguimos viver sem esses cafajestes e acho que nem eles sem a gente.
Ri baixo e fechei meus olhos, ainda com a testa na parede.
- Bola para frente! Nós vamos achar outro pretendente para você!
- Outro pretendente? Sério, ? Não quero mais saber de homens! Acho que vou tentar me relacionar com mulheres a partir de hoje. – riu escandalosamente do outro lado.
- Eu posso ser a primeira da lista? – perguntou e eu gargalhei. – Porque você é muito gata e gostosa, amiga, só não sabe se arrumar. Mas eu vou te libertar, você vai ver!
- Lá vem você com esse papo de novo! – rolei os olhos – Já te disse que não vou ‘’me libertar’’. Não vou mudar meu jeito de ser por ninguém!
- Ok, ok! Depois que morrer sozinha com vinte e sete gatos não diga que eu não te avisei!
- Já chega disso, . – suspirei – Acho que vou desligar agora. Tenho algumas coisas a fazer.
- Beleza, mas amanhã nós vamos sair, ok? e eu vamos te levar para se divertir um pouco, nem que tenhamos que te fazer beber a noite inteira para esquecer aquele panaca!
Soltei uma risadinha.
- Está bem, . Beijos!
- Beijos, se cuida! – ela disse e eu desliguei.
Suspirei, sentindo meus ombros pesarem e choraminguei comigo mesma. Eu deveria estar parecendo uma criança mimada quando não consegue o brinquedo que quer, mas dane-se. Eu estava triste e precisava chorar um pouco ou até fazer birra, mas, infelizmente, meu momento criança foi interrompido quando senti a presença de ao meu lado. Seu cheiro adentrou minhas narinas e eu bufei. Seu perfume era tão bom que me deixava irritada por gostar tanto.
- Hm... Desculpe perguntar, mas o que você está fazendo parada aqui com a testa na parede? – perguntou com sua voz rouca.
Abri um dos olhos e o encarei. Ele me olhava com a testa franzida como se observasse uma pessoa com sérios distúrbios mentais.
- Eu preciso pensar. – respondi breve.
- E você pensa com a testa na parede? – senti seu tom risonho e revirei os olhos, voltando a fechá-los.
- Cada louco com suas manias. – disse e ele assentiu em silêncio.
Passados alguns minutos, seu corpo voltou a se mover e ele se pôs do meu outro lado, de frente para a parede também. Continuei com meus olhos fechados, resistindo à tentação de espiá-lo. Não aguentei por muito tempo e tive de abrir os olhos. Franzi a testa quando vi na mesma posição que eu. Sua testa estava encostada à parede e seus olhos, fechados. Sua respiração estava tão tranquila que somente o movimento que seu peito fazia me transmitia a sua calma.
- Você trabalha, ? – perguntei depois de um logo tempo de silêncio.
- Vim para Nova York justamente por causa disso. Trabalho na empresa de turismo do meu pai. Inicialmente, eu trabalhava com ele no Canadá, mas como ele queria expandir o negócio, me mandou para cá para cuidar da empresa daqui assim que ele a inaugurou. – respondeu e eu assenti em silêncio. – Imagino que você não trabalha, então nem vou perguntar.
Soltei uma risada nasalada.
- Acertou. Eu fui demitida há alguns meses e até hoje não consegui um emprego. Parece que a minha vida está ficando pior a cada dia que passa. – resmunguei e ouvi um suspiro vindo da parte de .
- Je ne permets pas à toute réflexion philosophique me chercher la joie des choses simples de la vie. – disse e eu o olhei, confusa.
- O quê? – perguntei e ele me olhou de volta.
- É francês para: ‘’Não permito que nenhuma reflexão filosófica me tire a alegria das coisas simples da vida’’. É uma frase de Sig...
- Sigmund Freud. – completei e ele assentiu com um lindo sorriso nos lábios.
- Isso aí. – afirmou e eu sorri – Eu sempre achei que devêssemos dar valor às coisas simples que a vida nos oferece. Às vezes, essas simplicidades são as que mais importam e que ficarão guardadas para sempre na memória.
Eu ouvia cada palavra que falava ao mesmo tempo em que refletia sobre aquilo. Ele tinha razão. Parece que eu estava errada quando o julguei precipitadamente, não é? Mesmo com seu jeito de ‘’eu não ligo para nada’’ que ele vem demonstrando nessas poucas horas de convivência, existe um muito sábio por baixo. E, sinceramente, eu estava gostando de conhecê-lo. É bem melhor do que a primeira impressão que eu tive.
- Portanto, dê valor ao que tem. Pode não ser a vida que você quis, mas pelo menos é uma vida.
Ele sorriu e me deu uma última olhada antes de se afastar. No meio do corredor, no caminho ao banheiro, ele parou e se virou.
- A propósito, ótima forma de pensar. Vou fazer isso mais vezes. – deu uma piscadela e voltou a caminhar, me deixando com cara de boba.
O rapaz loiro só carregava uma mala e uma enorme mochila, mas eu fiz questão de ajudá-lo já que ele seria o meu mais novo colega de apartamento. Eu estava rindo mentalmente até agora da cara que o senhor Steve fez ao ver o jovem pagar todos os meus aluguéis anteriores e mais o deste mês. Ele fez uma cara de desgosto ao ver o meu sorriso e ordenou aos grandões que colocassem o meu sofá de volta e arrumassem tudo novamente no lugar.
- . . – ele respondeu parado em minha sala.
Entrei atrás dele e coloquei sua mala no chão, fechando a porta de casa.
- Bem, , este é o meu humilde apartamento. – apontei em volta e ele acompanhou tudo com o olhar. – Naquela porta à direita é o meu quarto, à esquerda é o seu e o banheiro é no final do corredor. E como você pode ver, a cozinha é quase junto à sala. – mostrei e ele sorriu enquanto observava.
- Pequeno, mas confortável. – ele disse e sorri de canto, assentindo.
- E ainda temos uma ótima vista da cidade de Nova York! – chamei-o com o dedo e ele me seguiu até a janela. Abri as cortinas e vi seus olhos castanhos brilharem assim que ele teve aquela visão maravilhosa que eu tinha em todas as manhãs.
- Nova York é realmente uma cidade espetacular. Ainda não acredito que estou na Big Apple. – ele disse quase para si mesmo e eu o encarei.
- Você gostou mesmo da cidade. – afirmei e ele assentiu.
- Eu nasci em uma cidade pequena no Canadá e um dos meus maiores sonhos era me mudar para uma cidade grande. E aqui estou eu, em Nova York. Isso é demais! – sua animação era contagiante. Até eu estava feliz por ele, e olha que ânimo é uma das coisas que raramente eu sinto. Pareço até uma velha de setenta anos falando assim.
- Bem, espero que se sinta à vontade. Como você mesmo disse, é pequeno, mas é confortável. – disse me afastando da janela.
- Já estou me sentindo em casa. – disse se jogando em meu sofá e eu fiz uma careta assim que ele colocou os pés em cima da minha mesinha de centro.
- Não vou ter que impor algumas regras, não é? – perguntei e ele me olhou confuso. – Você sabe... Sem roupas pela casa, pés na mesa, sacos de salgadinho pelo sofá... – citei algumas coisas e ele riu, tirando os pés da mesinha.
- Não se preocupe com isso. Não sou bagunceiro. – afirmou sorrindo maroto e eu suspirei, balançando a cabeça. – E, aliás... – ele disse levantando a almofada e pegando algo debaixo dela. Minhas bochechas coraram no instante em que vi do que se tratava. – Imagino que este sutiã não seja seu, não é, senhorita não-faça-bagunça? – girou o meu sutiã em seu dedo indicador enquanto me olhava e eu bufei, puxando a minha peça íntima de sua mão.
- Foi só isso também. Não acontecerá novamente. – afirmei e ele arqueou a sobrancelha ainda com aquele sorrisinho irritante nos lábios rosados.
- Sei...
Rolei os olhos e caminhei até o corredor, ouvindo uma risadinha de , que ainda estava estirado em meu sofá. Fui ao meu quarto e joguei o sutiã em cima da cama. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e peguei o meu livro de psicologia que estava na escrivaninha. Voltei ao corredor, mas a voz de ao celular me fez parar no mesmo instante. Eu sei que era errado bisbilhotar a conversa dos outros, mas eu não pude esconder minha curiosidade. Me escondi atrás da parede e me pus a ouvir sua conversa.
- É, Olivia, já cheguei a Nova York. – deu uma pausa. – Não, não, eu cheguei hoje pela manhã. Consegui um lugar para ficar. Não é grande coisa, mas posso ficar por aqui até conseguir uma casa ou até outro apartamento. É só por um tempo enquanto vejo os negócios da empresa. – entortei o nariz quando ele falou do meu apartamento. Não é grande coisa? Vá procurar outro lugar, então! – Ok, ok. Anota o endereço aí. Quem sabe você não possa me fazer uma visita hoje? – ele riu com malícia e eu estreitei meus olhos.
Ele deu o endereço e ficou conversando com a tal Olivia por mais alguns minutos. E nesse ‘’conversando’’ eu incluo flertes e cantadas imbecis que me davam náuseas. Respirei fundo e decidi que já era hora de parar de espiar. Empinei meu nariz e abracei o livro em meu peito enquanto voltava a caminhar pelo corredor em direção à sala. continuava ao celular com um sorrisinho irritante nos lábios e mexia em alguns objetos de decoração na minha estante.
Ele me deu uma rápida olhada de canto enquanto eu me sentava no sofá. Pus o livro grande e grosso ao meu lado e peguei meu notebook, pondo-o em meu colo. Voltei a fazer minhas pesquisas no computador e abri o livro na página marcada. Li as palavras que ali estavam sublinhadas com o canetão de cor verde fluorescente e sublinhei outros parágrafos, colocando a caneta atrás de minha orelha assim que terminei. Olhei novamente para o notebook e fiz uma anotação no bloco de notas sobre uma citação de Sigmund Freud.
Ouvi quando finalizou a chamada e logo depois seus passos pela sala. Olhei de canto quando o mesmo pegou suas malas e caminhou pelo corredor indo em direção ao quarto o qual eu tinha mostrado anteriormente. Minutos se passaram e eu continuei minhas pesquisas.
- ‘’O homem enérgico e bem-sucedido é aquele que consegue transmutar as fantasias do desejo em realidades’’. – li uma das citações em voz alta e no mesmo instante, apareceu novamente na sala, mas sem camisa dessa vez.
Minha boca se entreabriu praticamente sozinha quando eu olhei aquela criatura a minha frente. Os gominhos em seu abdômen chamaram a minha atenção instintivamente e eu observei seu corpo, desde os seus braços e peito malhados até o caminho que alguns pelos de sua barriga faziam, indo até as suas partes baixas. Quando subi meus olhos e eles encararam seu rosto, me olhava com a sobrancelha arqueada. Balancei a minha cabeça e voltei meu olhar à tela do notebook.
Mesmo tentando fingir que eu não tinha visto nada, as imagens de seu corpo malhado e com tatuagens ainda rondavam minha mente. Eu tentava ao máximo não olhar novamente, e graças a Deus, eu estava fazendo um ótimo trabalho. Foquei toda a minha atenção na pesquisa e só dei atenção ao meu colega de apartamento quando senti o assento ao meu lado afundar. pigarreou e eu o olhei.
Ele me encarava enquanto mastigava um pedaço da maçã que roubou da minha fruteira.
- O que é isso? – perguntou apontando para a tela.
- Uma pesquisa que eu estou fazendo. – respondi simplesmente, voltando a digitar.
- Pesquisa? Você é uma espécie de cientista ou algo do tipo?
- Bem que eu queria, mas não. Sou uma simples estudante de psicologia da Universidade de Nova York.
- Uau. Universidade de Nova York? – assenti – Bacana...
- Sim, muito bacana.
Continuei com meus afazeres até ser interrompida com o som irritante que vinha da boca de . O simples barulho de seus dentes mordendo e mastigando a maçã estava perturbando a minha linha de raciocínio e parece que ele nem se dava conta disso. Continuava jogado ao meu lado no sofá, mastigando a maçã de forma relaxada e despreocupada como se a vida fosse um mar de rosas perfumado.
- Ah, com licença, ? – disse e ele me olhou – Você poderia, por favor, parar de fazer barulho? Eu estou tentando estudar aqui.
Ajeitei meus óculos ainda o encarando e ele fez uma careta.
- Eu não estou fazendo barulho. – deu de ombros.
- Ah, está sim. O seu mastigar está me incomodando.
Ele riu me olhando com as sobrancelhas arqueadas.
- Quer diz que não posso nem comer uma simples maçã que te incomodo? – assenti – Você está muito estressada, huh? Relaxa e curte a vida!
- Não, obrigada. Não quero curtir a vida. Só quero que você pare de mastigar essa bendita maçã.
- Ok, ok! – ele levantou as mãos, rendido.
Suspirei e jogou o resto de maçã no lixo. Me surpreendi com a distância em que estávamos da lata de lixo e, mesmo assim, ele acertou em cheio.
- Boa mira. – falei com a voz firme. Eu não queria elogiá-lo e nem faria isso tão facilmente.
- Obrigado, senhora Rabugenta. – ele disse com uma voz de deboche.
- Senhorita. – corrigi – Não sou velha e nem casada.
- Não é velha, sério? – ele me encarou com um sorriso de canto – Pois age como uma.
Dito isso, ele levantou do sofá e caminhou até o corredor. Mesmo com raiva daquele idiota, não pude deixar de notar sua bunda e o modo que ele usava suas calças. Era um tanto ridículo! Quem é que usa as calças lá embaixo mostrando praticamente toda a cueca? Se fosse assim, nem precisaria usar uma calça! Andasse logo somente de cueca na rua.
Bufei e voltei a mexer no computador. Meu celular começou a tocar em cima da mesinha de centro e estiquei meu braço para pegá-lo.
- Alô? – atendi assim que vi o número de no visor.
- , você não vai acreditar no que eu acabei de ver! – ela praticamente gritou no telefone e eu fiz uma careta, deixando o notebook de lado e levantando do sofá.
- E o que você acabou de ver exatamente, senhorita Histérica? – disse com um tom risonho.
- O e a Courtney estão se pegando no Central Park nesse exato momento!
Arregalei os olhos e meu coração acelerou assim que ouvi suas palavras. Courtney Banks era a filhinha de papai da faculdade. Cursava Artes Cênicas e era a popular na universidade. Todos praticamente gostavam dela, pois ela esbanjava simpatia e gentileza com todo mundo, exceto comigo. E eu nem sei o porquê. Até com e ela era um doce de pessoa, mas comigo era a fera em pessoa. E a pior coisa para mim naquele momento foi ouvir que o cara que eu gostava estava aos amassos com outra no Central Park.
- Vo-você tem certeza de que eram eles? – engoli em seco.
- É claro que tenho, não sou cega! E pelo andar da carruagem, parece que eles não iam parar por ali, não. Sério, amiga! Eles estavam se pegando com tanta vontade que eu não sei como ela não engravidou ali mesmo.
- Ok, ok, ! Me poupe dos detalhes! – fiz careta de nojo.
- Me desculpe, , mas eu tinha que te contar. Isso é para você abrir os olhos e ver que esse babaca não vale a pena. – ela disse e eu assenti derrotada.
- Certo, mas não sei... Ele aparentava ser diferente dos outros. – choraminguei encostando minha testa à parede.
- Todos os homens são iguais, amiga. A questão é que infelizmente não conseguimos viver sem esses cafajestes e acho que nem eles sem a gente.
Ri baixo e fechei meus olhos, ainda com a testa na parede.
- Bola para frente! Nós vamos achar outro pretendente para você!
- Outro pretendente? Sério, ? Não quero mais saber de homens! Acho que vou tentar me relacionar com mulheres a partir de hoje. – riu escandalosamente do outro lado.
- Eu posso ser a primeira da lista? – perguntou e eu gargalhei. – Porque você é muito gata e gostosa, amiga, só não sabe se arrumar. Mas eu vou te libertar, você vai ver!
- Lá vem você com esse papo de novo! – rolei os olhos – Já te disse que não vou ‘’me libertar’’. Não vou mudar meu jeito de ser por ninguém!
- Ok, ok! Depois que morrer sozinha com vinte e sete gatos não diga que eu não te avisei!
- Já chega disso, . – suspirei – Acho que vou desligar agora. Tenho algumas coisas a fazer.
- Beleza, mas amanhã nós vamos sair, ok? e eu vamos te levar para se divertir um pouco, nem que tenhamos que te fazer beber a noite inteira para esquecer aquele panaca!
Soltei uma risadinha.
- Está bem, . Beijos!
- Beijos, se cuida! – ela disse e eu desliguei.
Suspirei, sentindo meus ombros pesarem e choraminguei comigo mesma. Eu deveria estar parecendo uma criança mimada quando não consegue o brinquedo que quer, mas dane-se. Eu estava triste e precisava chorar um pouco ou até fazer birra, mas, infelizmente, meu momento criança foi interrompido quando senti a presença de ao meu lado. Seu cheiro adentrou minhas narinas e eu bufei. Seu perfume era tão bom que me deixava irritada por gostar tanto.
- Hm... Desculpe perguntar, mas o que você está fazendo parada aqui com a testa na parede? – perguntou com sua voz rouca.
Abri um dos olhos e o encarei. Ele me olhava com a testa franzida como se observasse uma pessoa com sérios distúrbios mentais.
- Eu preciso pensar. – respondi breve.
- E você pensa com a testa na parede? – senti seu tom risonho e revirei os olhos, voltando a fechá-los.
- Cada louco com suas manias. – disse e ele assentiu em silêncio.
Passados alguns minutos, seu corpo voltou a se mover e ele se pôs do meu outro lado, de frente para a parede também. Continuei com meus olhos fechados, resistindo à tentação de espiá-lo. Não aguentei por muito tempo e tive de abrir os olhos. Franzi a testa quando vi na mesma posição que eu. Sua testa estava encostada à parede e seus olhos, fechados. Sua respiração estava tão tranquila que somente o movimento que seu peito fazia me transmitia a sua calma.
- Você trabalha, ? – perguntei depois de um logo tempo de silêncio.
- Vim para Nova York justamente por causa disso. Trabalho na empresa de turismo do meu pai. Inicialmente, eu trabalhava com ele no Canadá, mas como ele queria expandir o negócio, me mandou para cá para cuidar da empresa daqui assim que ele a inaugurou. – respondeu e eu assenti em silêncio. – Imagino que você não trabalha, então nem vou perguntar.
Soltei uma risada nasalada.
- Acertou. Eu fui demitida há alguns meses e até hoje não consegui um emprego. Parece que a minha vida está ficando pior a cada dia que passa. – resmunguei e ouvi um suspiro vindo da parte de .
- Je ne permets pas à toute réflexion philosophique me chercher la joie des choses simples de la vie. – disse e eu o olhei, confusa.
- O quê? – perguntei e ele me olhou de volta.
- É francês para: ‘’Não permito que nenhuma reflexão filosófica me tire a alegria das coisas simples da vida’’. É uma frase de Sig...
- Sigmund Freud. – completei e ele assentiu com um lindo sorriso nos lábios.
- Isso aí. – afirmou e eu sorri – Eu sempre achei que devêssemos dar valor às coisas simples que a vida nos oferece. Às vezes, essas simplicidades são as que mais importam e que ficarão guardadas para sempre na memória.
Eu ouvia cada palavra que falava ao mesmo tempo em que refletia sobre aquilo. Ele tinha razão. Parece que eu estava errada quando o julguei precipitadamente, não é? Mesmo com seu jeito de ‘’eu não ligo para nada’’ que ele vem demonstrando nessas poucas horas de convivência, existe um muito sábio por baixo. E, sinceramente, eu estava gostando de conhecê-lo. É bem melhor do que a primeira impressão que eu tive.
- Portanto, dê valor ao que tem. Pode não ser a vida que você quis, mas pelo menos é uma vida.
Ele sorriu e me deu uma última olhada antes de se afastar. No meio do corredor, no caminho ao banheiro, ele parou e se virou.
- A propósito, ótima forma de pensar. Vou fazer isso mais vezes. – deu uma piscadela e voltou a caminhar, me deixando com cara de boba.
Capítulo 3 – Antipatia
Esperei terminar de tomar banho para tomar o meu. Entrei no banheiro e observei em volta para ter a certeza de que ele não havia deixado nada bagunçado. Entrei no box assim que me despi e tirei meus óculos. Me acostumei com a temperatura quente da água de forma rápida e comecei a tomar banho. Eu olhei a prateleira onde eu deixava meu shampoo e condicionador e notei que havia mais dois produtos ali. Era outro shampoo e outro condicionador totalmente diferentes do meu, e, obviamente, eram de .
Peguei o shampoo dele e o abri, sentindo o cheiro. Era muito bom, na verdade. Dei de ombros e coloquei o produto de volta na prateleira. Peguei a esponja com o sabonete e comecei a passar em meu corpo. Duas batidas seguidas foram dadas na porta e nem tive tempo de responder já que a mesma foi aberta de repente, me fazendo dar um gritinho agudo de susto.
- Ai, meu Deus! – falei desesperada tentando cobrir meu corpo ao máximo com os braços. Virei de costas e olhei por cima de meus ombros.
Assim que vi o idiota ali procurando algo por cima da pia, eu bufei de raiva.
- ! – gritei raivosa – Sai daqui! Agora!
- Foi mal, mas eu esqueci uma coisa aqui.
- E precisava procurar agora?! Não vê que eu estou tomando banho? – perguntei irritada.
- É que eu preciso fazer uma ligação de emergência e acho que deixei meu celular aqui. – ele respondeu afoito, ainda procurando pelo meio dos objetos no balcão de mármore da pia.
Bufei e rolei os olhos. Meu coração saltitava no peito por conta do susto e até minha respiração estava ofegante. Maldito !
- Anda logo! – falei exaltada.
- Achei! – falou sorrindo largo com o aparelho já em mãos.
- Ótimo! Agora cai fora!
Vi seus olhos astutos descerem pelas minhas costas até chegarem à minha bunda. Arregalei meus olhos e riu da minha cara.
- Sai daqui, ! – gritei.
- Ok, ok, estou saindo. – levantou as mãos em rendição e saiu, fechando a porta.
Respirei aliviada e continuei com meu banho, mas, de vez em quando, olhando para a porta para ter a certeza de que aquele maluco não ia entrar de supetão de novo. Vesti meu roupão e enrolei uma toalha no meu cabelo molhado. Calcei minhas sandálias e saí do banheiro pisando forte. Fui até a sala e estava na cozinha, provavelmente inventando alguma coisa para comer.
- Você é louco? – praticamente gritei enquanto me aproximava dele.
- Não, por quê? – respondeu simplesmente enquanto quebrava um ovo na frigideira.
- Como assim você entra no banheiro daquele jeito quando a pessoa está tomando banho? Que falta de educação! – disse histérica, gesticulando com as mãos.
Ele respirou fundo e finalmente se virou em minha direção. Seus olhos desceram pelo roupão que eu vestia, e eu apertei o mesmo contra meu corpo, sentindo minhas bochechas esquentarem. Quando ele olhou para a toalha em minha cabeça, soltou uma risada nasalada, dando de ombros.
- Já pedi desculpa. É que eu precisava mesmo do meu celular. Não fica irritada por causa disso.
Sua voz me deu nos nervos e eu bati meu pé no chão, como uma criança birrenta. Encarei-o com meus olhos semicerrados e ele apenas riu, negando com a cabeça. Voltou a fritar os ovos e eu revirei os olhos, indo até a geladeira e pegando a jarra de suco. Enchi um copo e dei um gole.
- Primeira vez que te vejo sem óculos. – ele comentou, quebrando o silêncio, e eu olhei-o com surpresa. – Você fica... diferente.
- Devo considerar isso como um elogio? – perguntei.
Deu de ombros, colocando os ovos em um prato. – Como quiser.
Terminei de beber o suco e coloquei o copo dentro da pia.
- Quantos anos você tem, ? – ele perguntou logo depois de se sentar.
Seus olhos castanhos me encararam enquanto ele mastigava os ovos.
- Vinte e um. – disse simplesmente.
Ele assentiu e continuou a comer.
- Eu tenho vinte e três.
- Hm. – resmunguei não dando muita importância. – Mas por que a pergunta?
- Por nada. Só pensei que você tinha uns... Sei lá, sessenta.
Olhei-o incrédula e ele riu da minha careta.
- Você não disse isso! Que falta de cavalheirismo!
- Só estou sendo sincero...
- Está é sendo um babaca!
Caminhei firme para longe dali, ouvindo a risada baixa de . Entrei em meu quarto e bati a porta com força. Quem ele pensa que é para me chamar de velha? Como se já não bastasse eu nunca ter tido um namorado e ainda ser virgem com vinte e um anos, vem um babaca me chamar de velha na minha própria casa! O mundo está perdido mesmo.
(...)
No dia seguinte, voltei para casa depois de uma volta pela cidade, sendo acompanhada por e . Eles almoçariam comigo e depois ficaríamos jogando algo como sempre fazíamos em todos os sábados à tarde, exceto no sábado em que e eu distribuímos os panfletos pela cidade. Graças a Deus, aquele sufoco já tinha passado e eu podia ficar relaxada em relação ao aluguel do meu apartamento.
- Então, quer dizer que o seu colega já está te dando trabalho? – perguntou rindo enquanto andávamos pela calçada. e ela estavam abraçados enquanto eu ficava ao seu lado, segurando minha bolsa em meu ombro.
- Trabalho em relação à bagunça, não. Bem que ele me avisou, quando chegou, que não era bagunceiro. Isso porque eu nunca entrei em seu quarto... Imagino como deve ser lá dentro. – comentei em voz alta. – Mas a questão é que ele é muito irritante. Eu realmente estou muito grata a ele por pagar todos os meus aluguéis atrasados e ainda quitar o deste mês, mas toda a minha gratidão está indo ralo abaixo por causa das atitudes dele.
- Mas o que ele faz, afinal? – perguntou confuso.
- Fica me provocando e fazendo brincadeirinhas idiotas. Não sei se vocês perceberam, mas eu sou uma pessoa séria e aquele idiota é o total oposto de mim. Ele me irrita completamente. – bufei cansada. – E ainda fica andando pela casa sem camisa e, às vezes, só de cueca! Hoje de manhã mesmo, assim que acordei até me assustei com ele andando para lá e para cá de cueca. Olhei para ele com reprovação, mas ele nem deu a mínima! Ele age como se estivesse em sua casa!
- Mas ele definitivamente está. – disse e eu a fuzilei com o olhar. – Ou se esqueceu de que ele mora com você agora? A sua casa, minha querida, agora é a casa dele.
- Não totalmente. A maior parte do apartamento continua sendo minha. Noventa por cento são meus e os dez por cento são dele. – disse e eles riram.
Chegamos finalmente até o meu prédio. Passei por Ezequiel e acenei para o mesmo. Meus amigos também o cumprimentaram e entramos no elevador. Enquanto estávamos subindo ao meu andar, e começaram uma sessão de amassos bem ao meu lado e eu rolei os olhos, ficando bem no cantinho, longe dos dois.
Quase cantei um coro de aleluia assim que chegamos ao meu andar e praticamente saí correndo daquele cubículo. Andei até a minha porta, procurando a chave dentro de minha bolsa, e assim que encontrei, destranquei a porta e a abri. Ouvi risadas se espalhando pelo apartamento e olhei em volta, vendo uma mulher sentada no banco de frente para o balcão da pequena cozinha enquanto estava debruçado sobre o mesmo, praticamente quase em cima da morena. Seus rostos estavam muito próximos e eles continuavam a rir de alguma coisa.
Entrei em casa e meus amigos me seguiram, parando de se agarrar. passou a mão pelos cabelos ao ver que não estávamos sozinhos e colocou as mãos dentro dos bolsos da calça jeans. Me aproximei do balcão da cozinha em que e a moça estavam trocando olhares desconhecidos por mim e joguei as chaves em cima do mesmo, causando um barulho quando em contato com o mármore.
- Boa tarde. – falei séria assim que os dois me olharam.
- Boa tarde, . – disse sorrindo.
Parece que alguém está de bom humor. Coincidência? Acho que não.
- Esta é a Olivia Hastings. – ele disse e eu a olhei. A morena de olhos castanhos escuros esboçava um sorriso largo e simpático, mas que mesmo assim, não me desceu a garganta. Sabe quando o seu santo não bate com o de outra pessoa e você ao menos sabe o motivo? Pois é.
- Olá, Olivia. – sorri forçado, esticando minha mão em sua direção e a cumprimentando. – Eu sou Wright.
Apertou minha mão e sorriu ainda mais. – Prazer em conhecê-la, .
- A Olivia é minha amiga e trabalha comigo na empresa do meu pai. Nos conhecemos há muitos anos. – explicou e eu apenas assentia em silêncio ao mesmo tempo em que observava minuciosamente a mulher.
- Ah, legal... – falei pensativa.
Ouvi um pigarro atrás de mim e acordei do meu transe.
- Já ia me esquecendo... Esses são e . Meus melhores amigos. – puxei-os pelo braço e sorriu para , que devolveu o sorriso.
- Parece que finalmente estamos conhecendo o colega de apartamento de . – ela comentou enquanto eles se cumprimentavam e eu fiz careta.
- Finalmente?! Mas ele chegou ontem! – falei e ela deu um pisão discreto em meu pé. Uma vontade de gritar imensa me dominou, mas consegui me segurar, forçando um sorriso trêmulo.
- Ahn... Vocês querem almoçar? Olivia e eu estávamos preparando o almoço. – disse e coçou a nuca, sem graça.
- Mas meus amigos e eu íamos preparar hoje. – falei frustrada e me olhou de canto de olho.
- Não tem problema. É ainda melhor. Não gosto muito de cozinhar. – ela falou e eu bufei.
Caminhei até meu quarto com certa raiva por e sua amiguinha terem estragado o meu momento com meus amigos. Qual é? Era um ritual! Sempre fazíamos a mesma coisa aos sábados. Almoço, jogos e passeio pela cidade ou qualquer outra coisa que pintasse na hora pela escuridão de Nova York. Sempre nessa mesma ordem. E agora vem um cara desconhecido e estraga todos os meus planos.
Joguei minha bolsa e deitei em minha cama. Fitei o teto até sentir a porta do meu quarto sendo aberta.
- Menina! Você não me falou que ele era tão gato. – disse baixinho se sentando ao meu lado.
- Nem é tanto assim. – dei de ombros, fazendo careta.
- Não é tanto assim? Acho que você está precisando de óculos novos, porque ele é lindo demais!
- Para quem tem namorado, você está muito animada, huh? – falei arqueando a sobrancelha e ela bufou, rolando os olhos.
- Só estou aproveitando a vista que meus olhos podem me proporcionar. E, cara, que vista!
Ri de sua cara e me sentei.
- Ok, eu já entendi que ele é muito lindo... – falei irônica.
- E gostoso. – completou com uma expressão maliciosa.
Rolei os olhos e me levantei, indo em direção à porta fechada.
- Aonde você está indo? – perguntou enquanto me seguia.
- Para a sala. Vou verificar se não estão fazendo bagunça na minha casa. – respondi saindo do quarto.
Quando cheguei à sala, a cena que eu vi me deu náuseas. e a tal Olivia estavam cozinhando e ela estava de frente ao fogão enquanto ele ficava atrás dela. Os dois misturavam algo na panela e a cena que mais fez meu estômago revirar foi quando pegou um pouco da comida – que eu não sei qual era – e levou até a boca dela com seu dedo indicador. Ela sorriu depois de experimentar a comida e balançou a cabeça em afirmação na direção de . É, parece que o queridinho acertou no tempero.
Bufei e me joguei no sofá ao lado de . Ele estava assistindo a um jogo de basquete na televisão e sorriu quando me viu ao seu lado. Passou o braço por meu ombro e ficamos assistindo à TV enquanto o almoço não ficava pronto. apareceu logo em seguida e se juntou a nós. Meia hora se passou até o casal nos chamar para almoçar. Nos sentamos de frente para o balcão da cozinha e nos servimos. Levei um pouco do estrogonofe de frango à boca e me surpreendi com o sabor. Estava realmente bom.
- Ficou bom? – ouvi a voz rouca de perguntar.
- Está ótimo! – disse e deu mais uma garfada.
concordou com a cabeça e me olhou, esperando minha resposta.
- Está razoável. – respondi indiferente, dando de ombros.
Ele balançou a cabeça negativamente enquanto sorria de canto. Aquele sorrisinho irritante, argh!
- Sabe, não custa nada admitir quando você gosta de alguma coisa, . – ele disse e eu o ignorei, continuando a comer.
Almocei em silêncio enquanto ouvia as conversas entre , , e Olivia. e meus amigos pareciam se dar muito bem e eu apenas observava a cena, começando a sentir certo ciúme. Bebi meu suco de laranja e me levantei do banco assim que terminei. Me pus a lavar minha louça e se eu não fosse tão desastrada, eu até poderia executar essa simples tarefa, mas aí eu não seria a . Quando liguei a bendita mangueirinha, a água gelada espirrou em minha blusa branca. Bufei e rolei os olhos, irritada. Isso só podia ser um karma.
Continuei a lavar a louça e enxuguei minhas mãos no pano de prato quando terminei. apareceu ao meu lado enquanto eu fazia um coque no meu cabelo. Ele colocou a sua louça dentro da pia e me olhou rapidamente antes do seu olhar parar em minha blusa molhada.
- O que aconteceu? – seu tom era risonho e eu rolei os olhos.
- Parece que a mangueira da torneira não gosta de mim. – dei de ombros e o encarei.
- Estou vendo. – o sorriso de canto voltou enquanto ele ainda encarava minha blusa.
Estranhei o fato de seu olhar ficar tanto tempo ali depositado e olhei para meu próprio corpo. A área molhada era justamente no meu busto, o que fez a blusa ficar meio transparente e o meu sutiã lilás aparecer um pouco. Senti minhas bochechas esquentarem violentamente e cobri a parte da frente da minha blusa com os braços.
- Para de olhar! – grunhi irritada e encarou meus olhos cobertos pelos óculos. Um sorriso maroto permanecia em seus lábios.
Virei meu corpo e me pus a caminhar em direção ao meu quarto para trocar a blusa. Vesti uma blusa preta de mangas dessa vez e saí do quarto, voltando à sala.
- Tem certeza de que não quer ajuda, ? – perguntou e eu cruzei os braços, encostada à parede.
- Tenho, mas obrigado. – ele sorriu e voltou sua atenção para a pia.
- Bom, pessoal, eu agradeço pelo almoço. Estava ótimo, mas eu tenho que ir agora. – ouvi a voz de Olivia dizer enquanto ela se levantava do banco e pegava sua bolsa que estava pendurada no encosto do mesmo.
Aleluia!
- Tenho uma reunião com aquele cliente das três horas que te falei, . Parece que ele quer fechar um contrato com a nossa empresa para uma viagem que quer fazer para Moscou com sua família. – ela dizia e eu olhava para as minhas unhas.
Credo, minhas unhas estão horrorosas! Estão praticamente todas roídas e com o esmalte preto descascando. Preciso de uma manicure urgentemente.
- Ah, claro. Me ligue assim que terminar a reunião. – se aproximou dela com um sorriso, envolvendo sua cintura com os braços.
Encarei aquilo com uma expressão de desdém e me sentei no sofá.
- Ligarei. – Olivia sorriu de volta e o abraçou. Ela nos olhou e disse: - Foi um prazer conhecê-los. Vamos marcar de sair algum dia, o que acham?
- Seria ótimo. – respondeu sorrindo simpática como sempre.
- Tchau, . – acenou para mim quando já estava parada na porta.
- Tchau. – sorri forçado, acenando de volta.
e Olivia se despediram de novo e ele fechou a porta quando ela saiu. Dei uma rápida olhada em sua direção e ele me encarava com os braços cruzados, um pequeno sorriso nos lábios e uma sobrancelha arqueada. Semicerrei os olhos e perguntei:
- O que é que está olhando?
Ele negou com a cabeça e passou a mão pelos cabelos, se aproximando e se sentando no chão ao lado dos meus pés.
- Hora dos jogos! – disse animado e eu sorri abertamente, assentindo.
Peguei o shampoo dele e o abri, sentindo o cheiro. Era muito bom, na verdade. Dei de ombros e coloquei o produto de volta na prateleira. Peguei a esponja com o sabonete e comecei a passar em meu corpo. Duas batidas seguidas foram dadas na porta e nem tive tempo de responder já que a mesma foi aberta de repente, me fazendo dar um gritinho agudo de susto.
- Ai, meu Deus! – falei desesperada tentando cobrir meu corpo ao máximo com os braços. Virei de costas e olhei por cima de meus ombros.
Assim que vi o idiota ali procurando algo por cima da pia, eu bufei de raiva.
- ! – gritei raivosa – Sai daqui! Agora!
- Foi mal, mas eu esqueci uma coisa aqui.
- E precisava procurar agora?! Não vê que eu estou tomando banho? – perguntei irritada.
- É que eu preciso fazer uma ligação de emergência e acho que deixei meu celular aqui. – ele respondeu afoito, ainda procurando pelo meio dos objetos no balcão de mármore da pia.
Bufei e rolei os olhos. Meu coração saltitava no peito por conta do susto e até minha respiração estava ofegante. Maldito !
- Anda logo! – falei exaltada.
- Achei! – falou sorrindo largo com o aparelho já em mãos.
- Ótimo! Agora cai fora!
Vi seus olhos astutos descerem pelas minhas costas até chegarem à minha bunda. Arregalei meus olhos e riu da minha cara.
- Sai daqui, ! – gritei.
- Ok, ok, estou saindo. – levantou as mãos em rendição e saiu, fechando a porta.
Respirei aliviada e continuei com meu banho, mas, de vez em quando, olhando para a porta para ter a certeza de que aquele maluco não ia entrar de supetão de novo. Vesti meu roupão e enrolei uma toalha no meu cabelo molhado. Calcei minhas sandálias e saí do banheiro pisando forte. Fui até a sala e estava na cozinha, provavelmente inventando alguma coisa para comer.
- Você é louco? – praticamente gritei enquanto me aproximava dele.
- Não, por quê? – respondeu simplesmente enquanto quebrava um ovo na frigideira.
- Como assim você entra no banheiro daquele jeito quando a pessoa está tomando banho? Que falta de educação! – disse histérica, gesticulando com as mãos.
Ele respirou fundo e finalmente se virou em minha direção. Seus olhos desceram pelo roupão que eu vestia, e eu apertei o mesmo contra meu corpo, sentindo minhas bochechas esquentarem. Quando ele olhou para a toalha em minha cabeça, soltou uma risada nasalada, dando de ombros.
- Já pedi desculpa. É que eu precisava mesmo do meu celular. Não fica irritada por causa disso.
Sua voz me deu nos nervos e eu bati meu pé no chão, como uma criança birrenta. Encarei-o com meus olhos semicerrados e ele apenas riu, negando com a cabeça. Voltou a fritar os ovos e eu revirei os olhos, indo até a geladeira e pegando a jarra de suco. Enchi um copo e dei um gole.
- Primeira vez que te vejo sem óculos. – ele comentou, quebrando o silêncio, e eu olhei-o com surpresa. – Você fica... diferente.
- Devo considerar isso como um elogio? – perguntei.
Deu de ombros, colocando os ovos em um prato. – Como quiser.
Terminei de beber o suco e coloquei o copo dentro da pia.
- Quantos anos você tem, ? – ele perguntou logo depois de se sentar.
Seus olhos castanhos me encararam enquanto ele mastigava os ovos.
- Vinte e um. – disse simplesmente.
Ele assentiu e continuou a comer.
- Eu tenho vinte e três.
- Hm. – resmunguei não dando muita importância. – Mas por que a pergunta?
- Por nada. Só pensei que você tinha uns... Sei lá, sessenta.
Olhei-o incrédula e ele riu da minha careta.
- Você não disse isso! Que falta de cavalheirismo!
- Só estou sendo sincero...
- Está é sendo um babaca!
Caminhei firme para longe dali, ouvindo a risada baixa de . Entrei em meu quarto e bati a porta com força. Quem ele pensa que é para me chamar de velha? Como se já não bastasse eu nunca ter tido um namorado e ainda ser virgem com vinte e um anos, vem um babaca me chamar de velha na minha própria casa! O mundo está perdido mesmo.
(...)
No dia seguinte, voltei para casa depois de uma volta pela cidade, sendo acompanhada por e . Eles almoçariam comigo e depois ficaríamos jogando algo como sempre fazíamos em todos os sábados à tarde, exceto no sábado em que e eu distribuímos os panfletos pela cidade. Graças a Deus, aquele sufoco já tinha passado e eu podia ficar relaxada em relação ao aluguel do meu apartamento.
- Então, quer dizer que o seu colega já está te dando trabalho? – perguntou rindo enquanto andávamos pela calçada. e ela estavam abraçados enquanto eu ficava ao seu lado, segurando minha bolsa em meu ombro.
- Trabalho em relação à bagunça, não. Bem que ele me avisou, quando chegou, que não era bagunceiro. Isso porque eu nunca entrei em seu quarto... Imagino como deve ser lá dentro. – comentei em voz alta. – Mas a questão é que ele é muito irritante. Eu realmente estou muito grata a ele por pagar todos os meus aluguéis atrasados e ainda quitar o deste mês, mas toda a minha gratidão está indo ralo abaixo por causa das atitudes dele.
- Mas o que ele faz, afinal? – perguntou confuso.
- Fica me provocando e fazendo brincadeirinhas idiotas. Não sei se vocês perceberam, mas eu sou uma pessoa séria e aquele idiota é o total oposto de mim. Ele me irrita completamente. – bufei cansada. – E ainda fica andando pela casa sem camisa e, às vezes, só de cueca! Hoje de manhã mesmo, assim que acordei até me assustei com ele andando para lá e para cá de cueca. Olhei para ele com reprovação, mas ele nem deu a mínima! Ele age como se estivesse em sua casa!
- Mas ele definitivamente está. – disse e eu a fuzilei com o olhar. – Ou se esqueceu de que ele mora com você agora? A sua casa, minha querida, agora é a casa dele.
- Não totalmente. A maior parte do apartamento continua sendo minha. Noventa por cento são meus e os dez por cento são dele. – disse e eles riram.
Chegamos finalmente até o meu prédio. Passei por Ezequiel e acenei para o mesmo. Meus amigos também o cumprimentaram e entramos no elevador. Enquanto estávamos subindo ao meu andar, e começaram uma sessão de amassos bem ao meu lado e eu rolei os olhos, ficando bem no cantinho, longe dos dois.
Quase cantei um coro de aleluia assim que chegamos ao meu andar e praticamente saí correndo daquele cubículo. Andei até a minha porta, procurando a chave dentro de minha bolsa, e assim que encontrei, destranquei a porta e a abri. Ouvi risadas se espalhando pelo apartamento e olhei em volta, vendo uma mulher sentada no banco de frente para o balcão da pequena cozinha enquanto estava debruçado sobre o mesmo, praticamente quase em cima da morena. Seus rostos estavam muito próximos e eles continuavam a rir de alguma coisa.
Entrei em casa e meus amigos me seguiram, parando de se agarrar. passou a mão pelos cabelos ao ver que não estávamos sozinhos e colocou as mãos dentro dos bolsos da calça jeans. Me aproximei do balcão da cozinha em que e a moça estavam trocando olhares desconhecidos por mim e joguei as chaves em cima do mesmo, causando um barulho quando em contato com o mármore.
- Boa tarde. – falei séria assim que os dois me olharam.
- Boa tarde, . – disse sorrindo.
Parece que alguém está de bom humor. Coincidência? Acho que não.
- Esta é a Olivia Hastings. – ele disse e eu a olhei. A morena de olhos castanhos escuros esboçava um sorriso largo e simpático, mas que mesmo assim, não me desceu a garganta. Sabe quando o seu santo não bate com o de outra pessoa e você ao menos sabe o motivo? Pois é.
- Olá, Olivia. – sorri forçado, esticando minha mão em sua direção e a cumprimentando. – Eu sou Wright.
Apertou minha mão e sorriu ainda mais. – Prazer em conhecê-la, .
- A Olivia é minha amiga e trabalha comigo na empresa do meu pai. Nos conhecemos há muitos anos. – explicou e eu apenas assentia em silêncio ao mesmo tempo em que observava minuciosamente a mulher.
- Ah, legal... – falei pensativa.
Ouvi um pigarro atrás de mim e acordei do meu transe.
- Já ia me esquecendo... Esses são e . Meus melhores amigos. – puxei-os pelo braço e sorriu para , que devolveu o sorriso.
- Parece que finalmente estamos conhecendo o colega de apartamento de . – ela comentou enquanto eles se cumprimentavam e eu fiz careta.
- Finalmente?! Mas ele chegou ontem! – falei e ela deu um pisão discreto em meu pé. Uma vontade de gritar imensa me dominou, mas consegui me segurar, forçando um sorriso trêmulo.
- Ahn... Vocês querem almoçar? Olivia e eu estávamos preparando o almoço. – disse e coçou a nuca, sem graça.
- Mas meus amigos e eu íamos preparar hoje. – falei frustrada e me olhou de canto de olho.
- Não tem problema. É ainda melhor. Não gosto muito de cozinhar. – ela falou e eu bufei.
Caminhei até meu quarto com certa raiva por e sua amiguinha terem estragado o meu momento com meus amigos. Qual é? Era um ritual! Sempre fazíamos a mesma coisa aos sábados. Almoço, jogos e passeio pela cidade ou qualquer outra coisa que pintasse na hora pela escuridão de Nova York. Sempre nessa mesma ordem. E agora vem um cara desconhecido e estraga todos os meus planos.
Joguei minha bolsa e deitei em minha cama. Fitei o teto até sentir a porta do meu quarto sendo aberta.
- Menina! Você não me falou que ele era tão gato. – disse baixinho se sentando ao meu lado.
- Nem é tanto assim. – dei de ombros, fazendo careta.
- Não é tanto assim? Acho que você está precisando de óculos novos, porque ele é lindo demais!
- Para quem tem namorado, você está muito animada, huh? – falei arqueando a sobrancelha e ela bufou, rolando os olhos.
- Só estou aproveitando a vista que meus olhos podem me proporcionar. E, cara, que vista!
Ri de sua cara e me sentei.
- Ok, eu já entendi que ele é muito lindo... – falei irônica.
- E gostoso. – completou com uma expressão maliciosa.
Rolei os olhos e me levantei, indo em direção à porta fechada.
- Aonde você está indo? – perguntou enquanto me seguia.
- Para a sala. Vou verificar se não estão fazendo bagunça na minha casa. – respondi saindo do quarto.
Quando cheguei à sala, a cena que eu vi me deu náuseas. e a tal Olivia estavam cozinhando e ela estava de frente ao fogão enquanto ele ficava atrás dela. Os dois misturavam algo na panela e a cena que mais fez meu estômago revirar foi quando pegou um pouco da comida – que eu não sei qual era – e levou até a boca dela com seu dedo indicador. Ela sorriu depois de experimentar a comida e balançou a cabeça em afirmação na direção de . É, parece que o queridinho acertou no tempero.
Bufei e me joguei no sofá ao lado de . Ele estava assistindo a um jogo de basquete na televisão e sorriu quando me viu ao seu lado. Passou o braço por meu ombro e ficamos assistindo à TV enquanto o almoço não ficava pronto. apareceu logo em seguida e se juntou a nós. Meia hora se passou até o casal nos chamar para almoçar. Nos sentamos de frente para o balcão da cozinha e nos servimos. Levei um pouco do estrogonofe de frango à boca e me surpreendi com o sabor. Estava realmente bom.
- Ficou bom? – ouvi a voz rouca de perguntar.
- Está ótimo! – disse e deu mais uma garfada.
concordou com a cabeça e me olhou, esperando minha resposta.
- Está razoável. – respondi indiferente, dando de ombros.
Ele balançou a cabeça negativamente enquanto sorria de canto. Aquele sorrisinho irritante, argh!
- Sabe, não custa nada admitir quando você gosta de alguma coisa, . – ele disse e eu o ignorei, continuando a comer.
Almocei em silêncio enquanto ouvia as conversas entre , , e Olivia. e meus amigos pareciam se dar muito bem e eu apenas observava a cena, começando a sentir certo ciúme. Bebi meu suco de laranja e me levantei do banco assim que terminei. Me pus a lavar minha louça e se eu não fosse tão desastrada, eu até poderia executar essa simples tarefa, mas aí eu não seria a . Quando liguei a bendita mangueirinha, a água gelada espirrou em minha blusa branca. Bufei e rolei os olhos, irritada. Isso só podia ser um karma.
Continuei a lavar a louça e enxuguei minhas mãos no pano de prato quando terminei. apareceu ao meu lado enquanto eu fazia um coque no meu cabelo. Ele colocou a sua louça dentro da pia e me olhou rapidamente antes do seu olhar parar em minha blusa molhada.
- O que aconteceu? – seu tom era risonho e eu rolei os olhos.
- Parece que a mangueira da torneira não gosta de mim. – dei de ombros e o encarei.
- Estou vendo. – o sorriso de canto voltou enquanto ele ainda encarava minha blusa.
Estranhei o fato de seu olhar ficar tanto tempo ali depositado e olhei para meu próprio corpo. A área molhada era justamente no meu busto, o que fez a blusa ficar meio transparente e o meu sutiã lilás aparecer um pouco. Senti minhas bochechas esquentarem violentamente e cobri a parte da frente da minha blusa com os braços.
- Para de olhar! – grunhi irritada e encarou meus olhos cobertos pelos óculos. Um sorriso maroto permanecia em seus lábios.
Virei meu corpo e me pus a caminhar em direção ao meu quarto para trocar a blusa. Vesti uma blusa preta de mangas dessa vez e saí do quarto, voltando à sala.
- Tem certeza de que não quer ajuda, ? – perguntou e eu cruzei os braços, encostada à parede.
- Tenho, mas obrigado. – ele sorriu e voltou sua atenção para a pia.
- Bom, pessoal, eu agradeço pelo almoço. Estava ótimo, mas eu tenho que ir agora. – ouvi a voz de Olivia dizer enquanto ela se levantava do banco e pegava sua bolsa que estava pendurada no encosto do mesmo.
Aleluia!
- Tenho uma reunião com aquele cliente das três horas que te falei, . Parece que ele quer fechar um contrato com a nossa empresa para uma viagem que quer fazer para Moscou com sua família. – ela dizia e eu olhava para as minhas unhas.
Credo, minhas unhas estão horrorosas! Estão praticamente todas roídas e com o esmalte preto descascando. Preciso de uma manicure urgentemente.
- Ah, claro. Me ligue assim que terminar a reunião. – se aproximou dela com um sorriso, envolvendo sua cintura com os braços.
Encarei aquilo com uma expressão de desdém e me sentei no sofá.
- Ligarei. – Olivia sorriu de volta e o abraçou. Ela nos olhou e disse: - Foi um prazer conhecê-los. Vamos marcar de sair algum dia, o que acham?
- Seria ótimo. – respondeu sorrindo simpática como sempre.
- Tchau, . – acenou para mim quando já estava parada na porta.
- Tchau. – sorri forçado, acenando de volta.
e Olivia se despediram de novo e ele fechou a porta quando ela saiu. Dei uma rápida olhada em sua direção e ele me encarava com os braços cruzados, um pequeno sorriso nos lábios e uma sobrancelha arqueada. Semicerrei os olhos e perguntei:
- O que é que está olhando?
Ele negou com a cabeça e passou a mão pelos cabelos, se aproximando e se sentando no chão ao lado dos meus pés.
- Hora dos jogos! – disse animado e eu sorri abertamente, assentindo.
Capítulo 4 – Você é Virgem?
Começamos por dominó. , , e eu estávamos sentados no chão ao redor da mesinha de centro onde colocamos as peças. e trocavam carícias de vez em quando e eu ficava cada vez mais sem graça com isso. Tentei prestar atenção nas peças do dominó em minha mão, mas era quase impossível com os sons dos beijos dos dois. Bufei e cruzei minhas pernas como índio, logo jogando a minha pecinha na minha vez. Era a vez de , mas ela estava muito ocupada agarrando o namorado.
Dei um tapa forte na mesa, fazendo algumas peças estremecerem, mas consegui chamar a atenção deles. Olharam-me confusos e eu apenas apontei em direção ao jogo e ela entendeu o recado. Ouvi a risada baixa de e lhe dei uma olhada. Ele encarava as peças em sua mão com uma expressão concentrada, mas eu sabia que ele fazia de propósito só para se achar o sabichão. Ele fez um bico e fingiu pensar um pouco antes de jogar a peça logo depois de . Encarou-me com um olhar desafiador e a sobrancelha arqueada. Senti que ele estava querendo jogar, então, eu devolvi o seu olhar, logo jogando a minha peça.
A competição estava viva em meio a nós dois. Parecia que ele queria ganhar de mim a todo custo, e eu o entendia, porque eu queria a mesma coisa. Nossos olhares desafiadores e sorrisos de canto diziam tudo. Quase ao final da rodada, e eu estávamos apenas com uma peça enquanto e estavam com três. Quando chegou a minha vez de jogar, eu sorri desafiadora na direção de e joguei a última peça. Ganhei a rodada e cruzei os braços, sentindo a vitória me dominar.
riu baixo com a minha expressão e cruzou os braços também.
- Que tal um jogo de desenhos agora? – sugeriu e assentimos. – Certo, eu começo a desenhar!
Com um papel e uma caneta na mão, ela começou o desenho e quando terminou, levantou o mesmo para que todos pudessem ver.
- Hm, um golfinho? – perguntei entortando a boca e ela negou.
- Um avião? – perguntou .
negou novamente.
- Um boto cor de rosa! – falou e ela assentiu, abraçando-o.
- Um boto cor de rosa?! Quem desenha isso, cara? – disse indignada com a testa franzida. – E esse boto nem parecia boto!
- Você está com inveja do meu magnífico desenho. Invejosa.
- Ah, claro. – rolei os olhos e ri.
Ficamos jogando durante a tarde toda. À noite, meus amigos decidiram que iríamos a um bar mais próximo para bebermos alguma coisa. Eu não gostava de beber, mas concordei só para que não enchessem muito a paciência. Fui até meu quarto e vesti uma calça jeans e continuei com a minha blusa de mangas até os cotovelos. Calcei meu inseparável All Star e penteei meu cabelo, deixando-o solto caindo sobre meus ombros. Ajeitei meus óculos e peguei meu celular, colocando-o no bolso da calça.
Quando voltei à sala, e meus amigos já estavam me esperando. vestia uma calça jeans, uma blusa branca e uma jaqueta combinando com a calça. Nos pés, ele calçava Vans brancos e seu cabelo estava perfeitamente arrumado no topete que ele sempre usava. Em suas mãos, ele tinha seu celular e digitava rapidamente alguma coisa com um sorriso nos lábios. Dei de ombros mesmo com a minha curiosidade batendo à porta e me aproximei de todos.
- Finalmente! – soou impaciente. – Vamos logo antes que o bar fique cheio daqueles bêbados inúteis!
Ela praticamente me puxou pelo braço quase me fazendo tropeçar em meus próprios pés. Saímos do apartamento e entramos no elevador. Quando passamos pela portaria, vi o senhor Steve conversando alguma coisa com Ezequiel. Passei por ele e lhe dei um sorriso vitorioso assim que ele me encarou. Parece que o seu plano de me colocar para fora não deu certo.
Cumprimentei Ezequiel de forma simpática como eu sempre fazia e saímos do prédio.
- Vamos no meu carro, certo? – perguntou e eu arqueei a sobrancelha.
- Espera, você tem um carro?
- É claro. – ele deu uma risadinha me olhando com uma careta estranha.
Encolhi-me um pouco envergonhada e ele entrou rapidamente para pegar o carro. Quando eu vi aquele automóvel espetacular sair de dentro da garagem, meus olhos se arregalaram e minha boca ficou entreaberta.
- Caralho, cara! Você tem uma Ferrari Lusso! – exclamou tão surpreso quanto eu. – Esse carro é incrível!
o segurava pelo braço enquanto acariciava o carro. A expressão de surpresa em seu rosto era tão visível quanto de todos, menos de , que sorria largo de dentro do carro. Aproximei-me do carro azul até com receio de tocá-lo e abri a porta com cuidado, sentando-me no banco do carona. Meus amigos sentaram no banco de trás e eu até me assustei quando deu uma arrancada com o carro. Pus o cinto rapidamente e arregalei os olhos.
- Brother, você tem que me deixar dirigir essa belezinha! – disse com um sorriso nos lábios enquanto observava tudo por dentro do carro.
- É só me falar quando. – respondeu e eu o olhei, incrédula.
- É sério que você vai deixar o dirigir isso aqui? – apontei em volta.
deu de ombros e me olhou rapidamente. – Por que não?
- Não sei... Os homens têm essas coisas de ‘’não toque no meu carro’’ ou ‘’não dirija o meu bebê’’. – imitei uma voz masculina e ele gargalhou.
- Não tenho problema com isso. Tenho outros além desse. – disse indiferente enquanto parava no semáforo vermelho.
- Outros? – perguntei, ajeitando-me no banco.
- Mais uns três. E ainda estou pensando em comprar mais um. Os outros carros estão no Canadá e você sabe, eu preciso de pelo menos uns dois aqui em Nova York. – ele dizia com a maior naturalidade do mundo que chegava a me assustar.
- E eu aqui ralando para ter pelo menos um Mustang velhinho. – entortei o nariz e me olhou sorrindo antes de o semáforo abrir e ele dar outra arrancada.
dirigia feito um louco, sempre indo de um lado da pista a outro, desviando dos outros carros que andavam mais lentamente. Arregalei os olhos um pouco assustada e segurei em qualquer apoio que eu tivesse ali, apertando com toda a força que eu conseguia.
- Será que você poderia ir um pouquinho mais devagar? Não acho legal desrespeitar as leis de trânsito assim... – comentei com a voz trêmula.
- Mas ele não está desrespeitando. Está apenas... – começou a dizer, mas assim que eu o fuzilei com o olhar, ele se calou. deu-lhe um olhar reprovador e eu suspirei, voltando a olhar para frente.
- Que seja. Não quero morrer aos vinte e um anos. Tenho muito que viver ainda. – disse.
- Você não vai morrer, . Apenas relaxe. – disse e eu bufei.
ia guiando o caminho para , já que ele era novo por aqui. Assim que chegamos ao bar do senhor Brown, deu uma freada que eu só faltei atravessar o para-brisa. Meu corpo deu um solavanco sendo segurado pelo cinto de segurança e fuzilei o infeliz ao meu lado com meu olhar mortal. apenas tirou seu cinto enquanto dava uma risada e eu tratei de sair daquele carro imediatamente antes que ele fizesse mais alguma coisa que custasse a minha vida.
- Terra firme! – exclamei fazendo drama – É tão bom sentir o chão logo depois de um atentado.
parou ao meu lado e rolou os olhos. riu e entrelaçou o braço no meu, puxando-me para dentro do bar. Assim que avistamos o senhor Brown atrás do enorme balcão, fomos até ele. O senhor sorriu ao nos ver e veio nos abraçar.
- Que bom vê-los aqui novamente, meus jovens! – disse ao final do nosso abraço.
- É bom estar aqui, senhor Brown. – falei – O melhor bar de Nova York!
Ele sorriu me abraçando de lado.
- São seus olhos, menina. Mas fico feliz de estarem aqui. – ele voltou para trás do balcão e se pôs a passar um pano molhado sobre o mesmo. – Quem é esse rapaz? Acho que nunca o vi por aqui. – ele comentou.
- Esse é , nosso novo amigo. Ele é novo na cidade. – disse sorridente.
- Prazer em conhecê-lo, . Se é amigo deles, é meu amigo também. – o cumprimentou e sorriu enquanto apertava sua mão.
- Obrigado, senhor. Já estou gostando desse lugar.
O senhor Brown assentiu e nos olhou. – E então, o que vão querer hoje?
- Acho que vamos começar com uma cerveja e depois vemos o que comer. – disse .
- Então, são quatro cervejas Heineken. – disse .
- Não, não, eu quero um suco de morango. – falei rapidamente interrompendo a anotação do senhor Brown.
- Suco de morango?! Fala sério, ! – exclamou me encarando com incredulidade. – Vão ser quatro cervejas mesmo, senhor Brown. Hoje eu vou embebedar essa garota.
Rolei os olhos e cruzei os braços. O senhor Brown assentiu e anotou. Caminhamos até uma mesinha no canto, ao lado das janelas enormes de vidro onde tínhamos uma bela vista da cidade. Sentei-me na cadeira ao lado da janela e sentou ao meu lado. e ficaram à nossa frente. Olhei com cara feia para por estar me obrigando a beber e ela rolou os olhos, apoiando os cotovelos na mesa.
- Não me faça essa cara, Wright. Eu te disse que hoje íamos beber até você esquecer aquele babaca. Então, é isso que vamos fazer.
nos olhou confuso e perguntou: - Que babaca?
- Um carinha da faculdade. tem uma quedinha por ele, mas eu flagrei o idiota com uma garota no Central Park. – ela respondeu e eu suspirei, permanecendo calada.
Olhei para minhas mãos entrelaçadas sobre a mesa e senti meus ombros pesarem por imaginar a cena de e Courtney juntos.
- Sinto muito, ... – ouvi dizer com uma voz serena e dei de ombros, encostando-me à cadeira e cruzando os braços.
- Não importa mais. No fundo, eu sempre soube que ele nunca iria se interessar por uma garota como eu.
- E por que não? – perguntou com a testa franzida.
No mesmo instante, o senhor Brown chegou com as cervejas. Ele sorriu, colocando-as na mesa, e depois se afastou. Peguei a minha garrafa e a abri, dando um longo gole. Olhei para e disse:
- Você já olhou para mim? Já viu minhas roupas e o meu jeito? – ele me encarou sério enquanto bebia sua cerveja e eu continuei: - Não sei se você percebeu, mas eu sou o tipo de mulher o qual nenhum homem se interessaria. Mas eu não os culpo, eu sou assim, eu gosto de ser assim. Não os culpo por eles não se sentirem atraídos por mim. É a vida. O que eu posso fazer? – balancei os ombros e bebi mais da minha cerveja.
me encarou por um tempo sem dizer uma única palavra. Encarei-o de volta e notei que seus olhos estavam indecifráveis. Ele parecia estar pensando em algo, mas não dei muita importância.
- Você já teve algum namorado, ? – ele perguntou e eu fiquei surpresa com sua pergunta de início, mas depois relaxei meus ombros.
- Não. Nunca namorei ou fiquei com ninguém. Isso é triste, não? – ri sem humor e ele mordeu o lábio inferior.
Levei a garrafa à boca e voltei a beber o líquido gelado que estava começando a relaxar meus músculos tensos.
- Então, você nunca beijou ninguém ou... Nunca fez sexo? – ele perguntou e eu fiquei tão surpresa com sua pergunta que até me engasguei com a cerveja.
Comecei a tossir freneticamente e o ar parecia não passar pela minha garganta. Levantei os braços e bateu em minhas costas, tentando me desengasgar. me olhava assustada e balançava a mão em meu rosto, sem saber o que fazer, enquanto gritava:
- Por favor, alguém ajuda aqui! Ela está engasgada!
Eu queria pedir para ela parar de fazer tanto alarde, mas eu não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Eu só conseguia tossir e tossir. Vi quando o senhor Brown se aproximou afobado, segurando um copo d’água com sua mão trêmula. Ele estendeu o copo para que estava mais perto dele e o mesmo pegou o copo, estendendo em minha direção.
Peguei o copo e levei à boca, tomando um longo gole da água natural. Fiquei aliviada quando senti minha garganta se abrindo novamente e eu podendo respirar melhor. Puxei uma boa quantidade de ar e respirei fundo. Todos à mesa e até algumas pessoas pelo bar estavam olhando em minha direção. Sorri na intenção de mostrar que eu estava melhor e eles sorriram de volta.
- Obrigada pela água, senhor Brown. – agradeci com a voz baixa, devolvendo-lhe o copo já vazio.
- De nada, querida. Eu fiquei preocupado com você.
- Eu já estou melhor. – afirmei – Me desculpe pela preocupação.
- Não se desculpe por se engasgar, garotinha. – ele riu e voltou a se afastar.
- Você quase me mata do coração, ! – quase gritou e acariciou seu ombro na intenção de acalmá-la. – Como você se engasgou, afinal?
Lancei um olhar mortal na direção de e ele se encolheu um pouco na cadeira, segurando o riso.
- Não foi nada. Todo mundo se engasga, não é? Vamos esquecer isso. – balancei a mão. – Eu já estou bem, galera.
Voltei a beber minha cerveja mais calmamente e suspirei, olhando para o lado de fora. Vi pela janela, várias pessoas passando por ali. Algumas com suas famílias aproveitando a cidade, outras sozinhas e outras com seus namorados e namoradas. Levantei meu olhar e apreciei a beleza da lua cheia daquela noite. Sorri com aquela visão magnífica e fiquei encarando o céu recheado de estrelas.
- Você ainda não respondeu à minha simples pergunta. – ouvi perguntar baixinho em minha orelha e meu sorriso desapareceu, dando lugar a uma cara feia direcionada àquele ser sentado ao meu lado.
- Não, . Eu nunca beijei ou transei com alguém. – respondi brava – Está satisfeito agora?
- Obrigado por responder, senhorita Estressadinha. – ele sorriu de canto, levando a garrafa quase vazia à boca. – Não é nada legal não ter uma pergunta respondida.
- Mas eu já respondi, ok? – falei impaciente.
- Agora, mas antes...
- Já chega desse assunto. – disse e ele soltou uma risada nasalada, assentindo.
- Mas, então, do que vocês estão falando aí? – perguntou intrometida como sempre.
- Nada demais. – disse indiferente.
Vi sorrir maroto ao meu lado e bufei, erguendo meu braço.
- Mais uma cerveja, por favor! – pedi assim que o garçom me olhou.
- Olha só! Não era você que não ia beber hoje? – perguntou rindo e eu dei de ombros.
- Acho que mudei de ideia.
Depois de pelo menos duas horas naquele bar, eu devo ter tomado umas seis ou sete garrafinhas de cerveja. Eu não posso afirmar que já estava quase trocando os olhinhos, mas eu estava bem animada. Mais animada do que eu era acostumada a estar.
- Então o idiota do , vulgo meu namorado, disse que o meu vestido estava rasgado bem na parte de trás. Eu juro que fiquei com tanta vergonha nesse dia que quase cavei um buraco para me enterrar. – contava a história de como ela e se conheceram. Eu já sabia da história, mas não. Então, eu apenas fingia prestar atenção ao mesmo tempo em que brincava com as batatas fritas sobre a mesa.
Eu estava tão fora de mim que já estava até começando a brincar com batatas! Oh, meu Deus. Aonde eu ia parar?
Eu fingia que as batatas conversavam entre si e quando eu passava ketchup em uma e ia comê-la, eu fazia uma voz aguda gritando um ‘’Não me coma, por favor!’’. Mas já era tarde demais, eu mordia e ainda dava risada por na minha mente eu estar matando as pobres batatas fritas.
intercalava seu olhar entre e eu, e ria baixo quando me via conversando com as batatas.
- Sabe, batatinhas, eu gosto de um cara chamado . Ele é lindo, perfeito e maravilhoso, mas ele é um tremendo babaca! Sério! Como ele pode ficar com aquela otária da Courtney quando tem uma garota chamada esperando por ele bem aqui? – eu olhava para as batatas como se elas estivessem realmente prestando a atenção em mim e me entendendo. Oh céus, eu sou ridícula.
- Eu acho que a não está muito bem. – ouvi comentar enquanto me olhava.
- Eu estou ótima! – gargalhei – Olha aqui, essas batatas fritas são lindas, não são? E são minhas amigas agora, porque elas entendem a minha situação.
me encarou com sobrancelha erguida e riu de mim quando eu fiz um bico.
- Amiga, você já está bêbada. Acho melhor te levarmos para casa.
- Não! Eu não estou bêbada! Sei perfeitamente do que estou falando.
- Se você acha... Mas vamos te levar para casa. – disse e eu o encarei, emburrada.
- Quem você pensa que é? O rei da Inglaterra?! Nem vem, meu filho! – falei e ele me encarou risonho. – Para de me olhar assim ou eu te dou uns tapas nessa sua cara linda!
Ele riu.
- Então você me acha lindo, ? – sorriu maroto.
- Sim! – afirmei. – Você é lindo, gostoso e cheiroso... Mas! Existe um ‘’mas’’ aí, pessoal! – disse e eles riram. – Você é chato, irritante, folgado e tem uma cara de galanteador barato e jeito de canalha. – disse bem perto de seu rosto enquanto ele me encarava.
- Galanteador? Canalha? – ele gargalhou e eu senti seu hálito bater em meu rosto. – Eu acabei de chegar e você já pensa isso de mim. Que coisa feia, .
- E essa sua mania também de ficar me chamando de ! – reclamei.
- Mas esse é o seu nome, não é?
- Sim, mas todos me chamam de ! – cruzei os braços como uma criança emburrada. – Por que você tem que ser diferente e não pode me chamar de ?
- Você quer que eu te chame de ? – perguntou e eu assenti. – Hm, acho melhor não, .
Bufei e rolei os olhos.
- Idiota! – exclamei.
- Por que você bufa e revira tanto os olhos? É mais uma mania sua, além de ficar com a testa encostada à parede? – ele perguntou num tom brincalhão.
- Não é da sua conta, babaca!
- Ok, ok! Vamos embora logo. Já estou com saudade da minha casa. – se levantou seguida de .
também se levantou e todos ficaram me esperando.
- Tchau, batatinhas. Vocês são ótimas amigas. – disse por fim e tentei me levantar, mas sem sucesso.
Meus braços fraquejaram e eu caí de bunda de novo na cadeira. Resmunguei e senti braços passarem por minha cintura, me levantando. Olhei para cima vendo que se tratava de e me apoiei nele enquanto ele passava meu braço por seu ombro e segurava firmemente minha cintura, evitando que eu caísse. Não sei nem quem pagou a conta, só sei que me arrastaram para fora do bar.
Quando estávamos indo em direção ao carro, senti meu corpo ficar mais pesado e meus olhos começaram a se fechar. O cansaço tomou conta de mim e eu nem percebi quando apaguei nos braços de .
Dei um tapa forte na mesa, fazendo algumas peças estremecerem, mas consegui chamar a atenção deles. Olharam-me confusos e eu apenas apontei em direção ao jogo e ela entendeu o recado. Ouvi a risada baixa de e lhe dei uma olhada. Ele encarava as peças em sua mão com uma expressão concentrada, mas eu sabia que ele fazia de propósito só para se achar o sabichão. Ele fez um bico e fingiu pensar um pouco antes de jogar a peça logo depois de . Encarou-me com um olhar desafiador e a sobrancelha arqueada. Senti que ele estava querendo jogar, então, eu devolvi o seu olhar, logo jogando a minha peça.
A competição estava viva em meio a nós dois. Parecia que ele queria ganhar de mim a todo custo, e eu o entendia, porque eu queria a mesma coisa. Nossos olhares desafiadores e sorrisos de canto diziam tudo. Quase ao final da rodada, e eu estávamos apenas com uma peça enquanto e estavam com três. Quando chegou a minha vez de jogar, eu sorri desafiadora na direção de e joguei a última peça. Ganhei a rodada e cruzei os braços, sentindo a vitória me dominar.
riu baixo com a minha expressão e cruzou os braços também.
- Que tal um jogo de desenhos agora? – sugeriu e assentimos. – Certo, eu começo a desenhar!
Com um papel e uma caneta na mão, ela começou o desenho e quando terminou, levantou o mesmo para que todos pudessem ver.
- Hm, um golfinho? – perguntei entortando a boca e ela negou.
- Um avião? – perguntou .
negou novamente.
- Um boto cor de rosa! – falou e ela assentiu, abraçando-o.
- Um boto cor de rosa?! Quem desenha isso, cara? – disse indignada com a testa franzida. – E esse boto nem parecia boto!
- Você está com inveja do meu magnífico desenho. Invejosa.
- Ah, claro. – rolei os olhos e ri.
Ficamos jogando durante a tarde toda. À noite, meus amigos decidiram que iríamos a um bar mais próximo para bebermos alguma coisa. Eu não gostava de beber, mas concordei só para que não enchessem muito a paciência. Fui até meu quarto e vesti uma calça jeans e continuei com a minha blusa de mangas até os cotovelos. Calcei meu inseparável All Star e penteei meu cabelo, deixando-o solto caindo sobre meus ombros. Ajeitei meus óculos e peguei meu celular, colocando-o no bolso da calça.
Quando voltei à sala, e meus amigos já estavam me esperando. vestia uma calça jeans, uma blusa branca e uma jaqueta combinando com a calça. Nos pés, ele calçava Vans brancos e seu cabelo estava perfeitamente arrumado no topete que ele sempre usava. Em suas mãos, ele tinha seu celular e digitava rapidamente alguma coisa com um sorriso nos lábios. Dei de ombros mesmo com a minha curiosidade batendo à porta e me aproximei de todos.
- Finalmente! – soou impaciente. – Vamos logo antes que o bar fique cheio daqueles bêbados inúteis!
Ela praticamente me puxou pelo braço quase me fazendo tropeçar em meus próprios pés. Saímos do apartamento e entramos no elevador. Quando passamos pela portaria, vi o senhor Steve conversando alguma coisa com Ezequiel. Passei por ele e lhe dei um sorriso vitorioso assim que ele me encarou. Parece que o seu plano de me colocar para fora não deu certo.
Cumprimentei Ezequiel de forma simpática como eu sempre fazia e saímos do prédio.
- Vamos no meu carro, certo? – perguntou e eu arqueei a sobrancelha.
- Espera, você tem um carro?
- É claro. – ele deu uma risadinha me olhando com uma careta estranha.
Encolhi-me um pouco envergonhada e ele entrou rapidamente para pegar o carro. Quando eu vi aquele automóvel espetacular sair de dentro da garagem, meus olhos se arregalaram e minha boca ficou entreaberta.
- Caralho, cara! Você tem uma Ferrari Lusso! – exclamou tão surpreso quanto eu. – Esse carro é incrível!
o segurava pelo braço enquanto acariciava o carro. A expressão de surpresa em seu rosto era tão visível quanto de todos, menos de , que sorria largo de dentro do carro. Aproximei-me do carro azul até com receio de tocá-lo e abri a porta com cuidado, sentando-me no banco do carona. Meus amigos sentaram no banco de trás e eu até me assustei quando deu uma arrancada com o carro. Pus o cinto rapidamente e arregalei os olhos.
- Brother, você tem que me deixar dirigir essa belezinha! – disse com um sorriso nos lábios enquanto observava tudo por dentro do carro.
- É só me falar quando. – respondeu e eu o olhei, incrédula.
- É sério que você vai deixar o dirigir isso aqui? – apontei em volta.
deu de ombros e me olhou rapidamente. – Por que não?
- Não sei... Os homens têm essas coisas de ‘’não toque no meu carro’’ ou ‘’não dirija o meu bebê’’. – imitei uma voz masculina e ele gargalhou.
- Não tenho problema com isso. Tenho outros além desse. – disse indiferente enquanto parava no semáforo vermelho.
- Outros? – perguntei, ajeitando-me no banco.
- Mais uns três. E ainda estou pensando em comprar mais um. Os outros carros estão no Canadá e você sabe, eu preciso de pelo menos uns dois aqui em Nova York. – ele dizia com a maior naturalidade do mundo que chegava a me assustar.
- E eu aqui ralando para ter pelo menos um Mustang velhinho. – entortei o nariz e me olhou sorrindo antes de o semáforo abrir e ele dar outra arrancada.
dirigia feito um louco, sempre indo de um lado da pista a outro, desviando dos outros carros que andavam mais lentamente. Arregalei os olhos um pouco assustada e segurei em qualquer apoio que eu tivesse ali, apertando com toda a força que eu conseguia.
- Será que você poderia ir um pouquinho mais devagar? Não acho legal desrespeitar as leis de trânsito assim... – comentei com a voz trêmula.
- Mas ele não está desrespeitando. Está apenas... – começou a dizer, mas assim que eu o fuzilei com o olhar, ele se calou. deu-lhe um olhar reprovador e eu suspirei, voltando a olhar para frente.
- Que seja. Não quero morrer aos vinte e um anos. Tenho muito que viver ainda. – disse.
- Você não vai morrer, . Apenas relaxe. – disse e eu bufei.
ia guiando o caminho para , já que ele era novo por aqui. Assim que chegamos ao bar do senhor Brown, deu uma freada que eu só faltei atravessar o para-brisa. Meu corpo deu um solavanco sendo segurado pelo cinto de segurança e fuzilei o infeliz ao meu lado com meu olhar mortal. apenas tirou seu cinto enquanto dava uma risada e eu tratei de sair daquele carro imediatamente antes que ele fizesse mais alguma coisa que custasse a minha vida.
- Terra firme! – exclamei fazendo drama – É tão bom sentir o chão logo depois de um atentado.
parou ao meu lado e rolou os olhos. riu e entrelaçou o braço no meu, puxando-me para dentro do bar. Assim que avistamos o senhor Brown atrás do enorme balcão, fomos até ele. O senhor sorriu ao nos ver e veio nos abraçar.
- Que bom vê-los aqui novamente, meus jovens! – disse ao final do nosso abraço.
- É bom estar aqui, senhor Brown. – falei – O melhor bar de Nova York!
Ele sorriu me abraçando de lado.
- São seus olhos, menina. Mas fico feliz de estarem aqui. – ele voltou para trás do balcão e se pôs a passar um pano molhado sobre o mesmo. – Quem é esse rapaz? Acho que nunca o vi por aqui. – ele comentou.
- Esse é , nosso novo amigo. Ele é novo na cidade. – disse sorridente.
- Prazer em conhecê-lo, . Se é amigo deles, é meu amigo também. – o cumprimentou e sorriu enquanto apertava sua mão.
- Obrigado, senhor. Já estou gostando desse lugar.
O senhor Brown assentiu e nos olhou. – E então, o que vão querer hoje?
- Acho que vamos começar com uma cerveja e depois vemos o que comer. – disse .
- Então, são quatro cervejas Heineken. – disse .
- Não, não, eu quero um suco de morango. – falei rapidamente interrompendo a anotação do senhor Brown.
- Suco de morango?! Fala sério, ! – exclamou me encarando com incredulidade. – Vão ser quatro cervejas mesmo, senhor Brown. Hoje eu vou embebedar essa garota.
Rolei os olhos e cruzei os braços. O senhor Brown assentiu e anotou. Caminhamos até uma mesinha no canto, ao lado das janelas enormes de vidro onde tínhamos uma bela vista da cidade. Sentei-me na cadeira ao lado da janela e sentou ao meu lado. e ficaram à nossa frente. Olhei com cara feia para por estar me obrigando a beber e ela rolou os olhos, apoiando os cotovelos na mesa.
- Não me faça essa cara, Wright. Eu te disse que hoje íamos beber até você esquecer aquele babaca. Então, é isso que vamos fazer.
nos olhou confuso e perguntou: - Que babaca?
- Um carinha da faculdade. tem uma quedinha por ele, mas eu flagrei o idiota com uma garota no Central Park. – ela respondeu e eu suspirei, permanecendo calada.
Olhei para minhas mãos entrelaçadas sobre a mesa e senti meus ombros pesarem por imaginar a cena de e Courtney juntos.
- Sinto muito, ... – ouvi dizer com uma voz serena e dei de ombros, encostando-me à cadeira e cruzando os braços.
- Não importa mais. No fundo, eu sempre soube que ele nunca iria se interessar por uma garota como eu.
- E por que não? – perguntou com a testa franzida.
No mesmo instante, o senhor Brown chegou com as cervejas. Ele sorriu, colocando-as na mesa, e depois se afastou. Peguei a minha garrafa e a abri, dando um longo gole. Olhei para e disse:
- Você já olhou para mim? Já viu minhas roupas e o meu jeito? – ele me encarou sério enquanto bebia sua cerveja e eu continuei: - Não sei se você percebeu, mas eu sou o tipo de mulher o qual nenhum homem se interessaria. Mas eu não os culpo, eu sou assim, eu gosto de ser assim. Não os culpo por eles não se sentirem atraídos por mim. É a vida. O que eu posso fazer? – balancei os ombros e bebi mais da minha cerveja.
me encarou por um tempo sem dizer uma única palavra. Encarei-o de volta e notei que seus olhos estavam indecifráveis. Ele parecia estar pensando em algo, mas não dei muita importância.
- Você já teve algum namorado, ? – ele perguntou e eu fiquei surpresa com sua pergunta de início, mas depois relaxei meus ombros.
- Não. Nunca namorei ou fiquei com ninguém. Isso é triste, não? – ri sem humor e ele mordeu o lábio inferior.
Levei a garrafa à boca e voltei a beber o líquido gelado que estava começando a relaxar meus músculos tensos.
- Então, você nunca beijou ninguém ou... Nunca fez sexo? – ele perguntou e eu fiquei tão surpresa com sua pergunta que até me engasguei com a cerveja.
Comecei a tossir freneticamente e o ar parecia não passar pela minha garganta. Levantei os braços e bateu em minhas costas, tentando me desengasgar. me olhava assustada e balançava a mão em meu rosto, sem saber o que fazer, enquanto gritava:
- Por favor, alguém ajuda aqui! Ela está engasgada!
Eu queria pedir para ela parar de fazer tanto alarde, mas eu não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Eu só conseguia tossir e tossir. Vi quando o senhor Brown se aproximou afobado, segurando um copo d’água com sua mão trêmula. Ele estendeu o copo para que estava mais perto dele e o mesmo pegou o copo, estendendo em minha direção.
Peguei o copo e levei à boca, tomando um longo gole da água natural. Fiquei aliviada quando senti minha garganta se abrindo novamente e eu podendo respirar melhor. Puxei uma boa quantidade de ar e respirei fundo. Todos à mesa e até algumas pessoas pelo bar estavam olhando em minha direção. Sorri na intenção de mostrar que eu estava melhor e eles sorriram de volta.
- Obrigada pela água, senhor Brown. – agradeci com a voz baixa, devolvendo-lhe o copo já vazio.
- De nada, querida. Eu fiquei preocupado com você.
- Eu já estou melhor. – afirmei – Me desculpe pela preocupação.
- Não se desculpe por se engasgar, garotinha. – ele riu e voltou a se afastar.
- Você quase me mata do coração, ! – quase gritou e acariciou seu ombro na intenção de acalmá-la. – Como você se engasgou, afinal?
Lancei um olhar mortal na direção de e ele se encolheu um pouco na cadeira, segurando o riso.
- Não foi nada. Todo mundo se engasga, não é? Vamos esquecer isso. – balancei a mão. – Eu já estou bem, galera.
Voltei a beber minha cerveja mais calmamente e suspirei, olhando para o lado de fora. Vi pela janela, várias pessoas passando por ali. Algumas com suas famílias aproveitando a cidade, outras sozinhas e outras com seus namorados e namoradas. Levantei meu olhar e apreciei a beleza da lua cheia daquela noite. Sorri com aquela visão magnífica e fiquei encarando o céu recheado de estrelas.
- Você ainda não respondeu à minha simples pergunta. – ouvi perguntar baixinho em minha orelha e meu sorriso desapareceu, dando lugar a uma cara feia direcionada àquele ser sentado ao meu lado.
- Não, . Eu nunca beijei ou transei com alguém. – respondi brava – Está satisfeito agora?
- Obrigado por responder, senhorita Estressadinha. – ele sorriu de canto, levando a garrafa quase vazia à boca. – Não é nada legal não ter uma pergunta respondida.
- Mas eu já respondi, ok? – falei impaciente.
- Agora, mas antes...
- Já chega desse assunto. – disse e ele soltou uma risada nasalada, assentindo.
- Mas, então, do que vocês estão falando aí? – perguntou intrometida como sempre.
- Nada demais. – disse indiferente.
Vi sorrir maroto ao meu lado e bufei, erguendo meu braço.
- Mais uma cerveja, por favor! – pedi assim que o garçom me olhou.
- Olha só! Não era você que não ia beber hoje? – perguntou rindo e eu dei de ombros.
- Acho que mudei de ideia.
Depois de pelo menos duas horas naquele bar, eu devo ter tomado umas seis ou sete garrafinhas de cerveja. Eu não posso afirmar que já estava quase trocando os olhinhos, mas eu estava bem animada. Mais animada do que eu era acostumada a estar.
- Então o idiota do , vulgo meu namorado, disse que o meu vestido estava rasgado bem na parte de trás. Eu juro que fiquei com tanta vergonha nesse dia que quase cavei um buraco para me enterrar. – contava a história de como ela e se conheceram. Eu já sabia da história, mas não. Então, eu apenas fingia prestar atenção ao mesmo tempo em que brincava com as batatas fritas sobre a mesa.
Eu estava tão fora de mim que já estava até começando a brincar com batatas! Oh, meu Deus. Aonde eu ia parar?
Eu fingia que as batatas conversavam entre si e quando eu passava ketchup em uma e ia comê-la, eu fazia uma voz aguda gritando um ‘’Não me coma, por favor!’’. Mas já era tarde demais, eu mordia e ainda dava risada por na minha mente eu estar matando as pobres batatas fritas.
intercalava seu olhar entre e eu, e ria baixo quando me via conversando com as batatas.
- Sabe, batatinhas, eu gosto de um cara chamado . Ele é lindo, perfeito e maravilhoso, mas ele é um tremendo babaca! Sério! Como ele pode ficar com aquela otária da Courtney quando tem uma garota chamada esperando por ele bem aqui? – eu olhava para as batatas como se elas estivessem realmente prestando a atenção em mim e me entendendo. Oh céus, eu sou ridícula.
- Eu acho que a não está muito bem. – ouvi comentar enquanto me olhava.
- Eu estou ótima! – gargalhei – Olha aqui, essas batatas fritas são lindas, não são? E são minhas amigas agora, porque elas entendem a minha situação.
me encarou com sobrancelha erguida e riu de mim quando eu fiz um bico.
- Amiga, você já está bêbada. Acho melhor te levarmos para casa.
- Não! Eu não estou bêbada! Sei perfeitamente do que estou falando.
- Se você acha... Mas vamos te levar para casa. – disse e eu o encarei, emburrada.
- Quem você pensa que é? O rei da Inglaterra?! Nem vem, meu filho! – falei e ele me encarou risonho. – Para de me olhar assim ou eu te dou uns tapas nessa sua cara linda!
Ele riu.
- Então você me acha lindo, ? – sorriu maroto.
- Sim! – afirmei. – Você é lindo, gostoso e cheiroso... Mas! Existe um ‘’mas’’ aí, pessoal! – disse e eles riram. – Você é chato, irritante, folgado e tem uma cara de galanteador barato e jeito de canalha. – disse bem perto de seu rosto enquanto ele me encarava.
- Galanteador? Canalha? – ele gargalhou e eu senti seu hálito bater em meu rosto. – Eu acabei de chegar e você já pensa isso de mim. Que coisa feia, .
- E essa sua mania também de ficar me chamando de ! – reclamei.
- Mas esse é o seu nome, não é?
- Sim, mas todos me chamam de ! – cruzei os braços como uma criança emburrada. – Por que você tem que ser diferente e não pode me chamar de ?
- Você quer que eu te chame de ? – perguntou e eu assenti. – Hm, acho melhor não, .
Bufei e rolei os olhos.
- Idiota! – exclamei.
- Por que você bufa e revira tanto os olhos? É mais uma mania sua, além de ficar com a testa encostada à parede? – ele perguntou num tom brincalhão.
- Não é da sua conta, babaca!
- Ok, ok! Vamos embora logo. Já estou com saudade da minha casa. – se levantou seguida de .
também se levantou e todos ficaram me esperando.
- Tchau, batatinhas. Vocês são ótimas amigas. – disse por fim e tentei me levantar, mas sem sucesso.
Meus braços fraquejaram e eu caí de bunda de novo na cadeira. Resmunguei e senti braços passarem por minha cintura, me levantando. Olhei para cima vendo que se tratava de e me apoiei nele enquanto ele passava meu braço por seu ombro e segurava firmemente minha cintura, evitando que eu caísse. Não sei nem quem pagou a conta, só sei que me arrastaram para fora do bar.
Quando estávamos indo em direção ao carro, senti meu corpo ficar mais pesado e meus olhos começaram a se fechar. O cansaço tomou conta de mim e eu nem percebi quando apaguei nos braços de .
Capítulo 5 – O Plano de
Minha cabeça latejou fortemente e eu apertei um pouco os olhos, ainda sem coragem de abri-los. Passei minha mão pelo lugar onde eu estava deitada e senti a maciez em minha palma. Logo percebi que estava em minha cama. Virei meu corpo e abracei o travesseiro ao meu lado, cobrindo mais o meu corpo já que estava frio. Minha tentativa de voltar a dormir foi interrompida ao ouvir batidas na porta e logo depois a mesma foi aberta. Ouvi passos se aproximando, mas não tive coragem de abrir os olhos.
A ressaca se apossou de meu corpo de uma forma tão horrível, e eu nunca tinha me sentido assim. Minha garganta estava seca e eu sentia enjoos com qualquer movimento que eu fazia. Eu sentia que ia vomitar a qualquer minuto. Coloquei minhas mãos em minha cabeça e gemi baixo.
- Eu trouxe um comprimido para você e um copo d’água. – ouvi uma voz meio ao longe por conta do latejo da minha cabeça e apenas assenti com a cabeça.
No instante seguinte, ouvi minhas gavetas sendo abertas e abri um dos olhos. Tive a visão de procurando por algo no meu móvel e franzi a testa.
- O que está fazendo? Não gosto que mexam nas minhas coisas. – disse.
- Estou procurando roupas limpas. Você precisa tomar um banho. – respondeu e eu me sentei lentamente na cama, abrindo completamente os olhos.
A claridade vinda da janela me incomodou um pouco e eu resmunguei baixo.
- Eu estou fedendo? – perguntei me cheirando.
- A verdade? – assenti – Sim. Está fedendo a cerveja e cigarro do bar.
Eu odiava estar fedendo a esses lugares. Estiquei meu braço e peguei meus óculos no criado-mudo. Logo depois peguei o comprimido e o tomei com um gole d’água.
se aproximou com a minha blusa que tinha um urso na frente e uma calça de moletom cinza, acompanhada de um sutiã e uma calcinha brancos. Ele me entregou e sorri de canto, agradecendo. Levantei-me da cama e me apoiei em que estava ao meu lado por conta da tontura momentânea que eu tive.
- Você está bem? – ele perguntou num tom preocupado e eu assenti, começando a caminhar em direção à porta do quarto para ir ao banheiro. – Precisa de ajuda com o banho?
Senti que não havia malícia na sua pergunta. Talvez a preocupação de me ver caída no banheiro falasse mais alto do que qualquer outra intenção.
- Não, obrigada. Eu consigo. – respondi e saí do quarto.
Fui até o banheiro e me despi lentamente. Tirei meus óculos e liguei o chuveiro, começando a tomar banho. A sensação da água quentinha contra minha pele era maravilhosa e eu consegui relaxar por um tempo. Lavei meu corpo e meu cabelo e me enrolei na toalha, saindo do Box. Enxuguei meu corpo e vesti minha calcinha e sutiã. Quando eu me preparava para vestir a calça de moletom, ouvi bater na porta e entrar antes que eu pudesse responder. Ele tinha essa mania: entrar nos lugares sem nem esperar uma resposta afirmativa ou negativa.
- , eu estou apenas com roupas íntimas. Saia, por favor! – pedi e ele me encarou com a sobrancelha arqueada.
- Você não está falando sério, está? – disse e eu rolei os olhos. – Eu já vi até o seu traseiro. Não tem porque ter vergonha.
Senti minhas bochechas esquentarem e reprimi a minha vontade de lhe dar um tapa no rosto. Cara abusado.
- Viu porque entrou no banheiro sem nem saber se podia! – exclamei e foi a vez dele de rolar os olhos.
- Esquece isso. Não teve importância. – ele disse.
Au! Essa eu senti até no meu útero. Então quer dizer que não tinha importância para ele se visse ou não meu traseiro? Ah, claro! Do jeito que ele é, já deve ter visto centenas de bundas na vida. Mais uma não seria problema.
- Saia daqui! Deixa eu me vestir em paz. Não estou com paciência para você hoje. – eu tentava vestir a minha bendita calça, mas parecia que o equilíbrio tinha se esvaído totalmente de mim. Qual é, ?! É uma tarefa simples! É só uma calça, coloque uma perna e depois a outra!
- Não está com paciência hoje? – ele riu – Você nunca está, na verdade!
Bufei impaciente ainda tentando vestir a calça. me encarou e percebeu a minha dificuldade, se aproximando de mim.
- Deixa eu te ajudar com isso, nervosinha. – falou e pegou a calça de minha mão.
Apoiei-me em seus ombros enquanto ele estava agachado a minha frente, colocando uma perna de cada vez dentro da calça. Ele foi subindo seu corpo conforme subia a calça. Sorriu de canto para mim e pegou minha blusa de urso, passando um braço meu de cada vez. Ele por fim passou a blusa por minha cabeça e pegou a minha toalha, começando a enxugar o meu cabelo.
Eu estava me sentindo uma criança que não consegue se vestir sozinha, e isso me irritou profundamente. Eu já tinha o pavio curto, não era muito difícil me deixar puta da vida. E ainda mais nessa situação constrangedora, com um cara que eu praticamente acabo de conhecer, me vestindo desse jeito depois de uma noite de bebedeira.
pegou a minha escova dentro da gaveta da bancada e se pôs a pentear meus cabelos.
- Não precisa disso. Eu posso pentear meu cabelo. – falei me sentindo incomodada.
- Acho melhor aproveitar. Só eu sei quão boa é a sensação de alguém mexendo em seu cabelo. – ele disse e eu suspirei, assentindo.
Realmente era muito bom receber um cafuné ou qualquer coisa do gênero. Eu sempre ficava com sono quando tocavam em meus cabelos, mas não naquele exato momento. Eu simplesmente estava tensa com fazendo aquilo. Eu nunca tive um homem tocando meu cabelo daquela forma. Era um simples cabelo, mas era uma parte do meu corpo, não? O pensamento me fez suspirar e eu balancei a cabeça.
Aquele momento me fez lembrar de minha mãe. Antes de descobrirmos a doença, ela praticamente todos os dias me sentava no meio de suas pernas sobre a cama e penteava meus cabelos antes de dormir. Cantava uma canção de ninar enquanto me penteava e logo depois depositava um beijo de boa noite em minha testa. E em seguida, vinha o meu pai para me dar o outro beijo e me chamar de sua garotinha.
As lembranças dominaram minha mente e eu senti minha garganta arder enquanto eu segurava o choro. Suspirei com a cabeça baixa e percebeu meu estado assim que terminou de me pentear.
- Aconteceu algo? – perguntou em meu ouvido, já que ele estava parado atrás de mim.
Neguei rapidamente com a cabeça enquanto tentava me recompor. Eu não queria demonstrar emoções agora, mas em um movimento inesperado, me virou e me abraçou. Estranhei sua atitude e fiquei alguns segundos sem reação. Quando meus músculos tensos relaxaram, eu respirei fundo e o abracei de volta, escondendo meu rosto em seu pescoço. Senti o corpo dele ficar um pouco tenso quando eu respirei naquela região e ele riu baixo.
- Meu pescoço é uma região altamente sensível. Não se assuste se eu me arrepiar. – ele avisou e eu ri.
- O meu também, eu acho. – confessei baixo.
- Ah, é? – ele riu e colocou o rosto no meu pescoço. Ele expirou sua respiração ali e meu corpo se arrepiou, fazendo-me rir alto e me afastar um pouco dele.
Sorri para e ele sorriu de volta. – Obrigada.
- Pelo quê? – franziu a testa.
- Por... Não sei... Cuidar de mim.
- Não precisa agradecer, Wright.
Rolei os olhos.
- E lá vem você de novo me chamar assim! – reclamei.
- Não posso fazer nada se o seu nome é legal. – deu de ombros. – Wright, Wright, Wright... – ele repetiu até ser interrompido por mim.
- Ok, já chega, ! – falei num tom risonho.
- Vamos tomar um café bem forte agora. – ele disse e eu assenti.
Saímos do banheiro e começamos a andar pelo corredor. estava na frente e quando ele parou do nada, eu acabei batendo em suas costas. Ele me encarou por cima dos ombros e eu franzi a testa.
- A propósito, você está precisando se depilar aí embaixo. Quase não vi sua perna por baixo de tanto pelo.
Corei violentamente e ele gargalhou da minha cara.
- Exagerado! Nem está tanto assim! – exclamei envergonhada.
- Não? Imagino se estivesse.
Dei um tapa em sua cabeça e saí quase correndo dali antes que ele resolvesse devolver o tapa. Depois de tomarmos o café e comermos algumas torradas, eu me deitei no sofá e fiquei trocando de canal à procura de algo bom para assistir. A minha dor de cabeça parecia ficar pior a cada minuto que passava. Eu só rezava mentalmente para que ela fosse embora rápido. tinha ido ao seu quarto para trocar de roupa e só foi nessa hora que eu percebi que ele usava apenas uma cueca samba-canção.
Depositei toda a minha atenção na televisão a qual passava The Ellen Degeneres Show. Senti sentar onde meus pés estavam, colocando os mesmos em seu colo. Não o fitei até sentir suas mãos começarem a acariciar meu pé, fazendo uma massagem.
- O que está fazendo? – perguntei o encarando. Ele tinha vestido uma calça de moletom e colocado um boné com a aba reta para trás, mas continuava sem camisa.
- Uma massagem? – disse como se fosse óbvio.
- Eu sei disso, mas por quê? – disse num tom desconfiado. – Primeiro penteia meu cabelo e agora faz massagem... Não sei, não.
Ele riu alto, tombando sua cabeça para trás.
- Estou tentando fazer com que você se sinta à vontade com minha presença. – disse simplesmente, começando a massagear meus pés de forma mais firme.
A sensação era tão boa que fui obrigada a fechar os olhos e aproveitar o toque de seus dedos. sabia exatamente como fazer aquilo. Isso é adorável.
- Podíamos tentar ser amigos. O que acha? – perguntou e eu o fitei indecisa.
- Não sei... Você não tem cara de ser um bom amigo.
- Ai! Assim você me ofende. – fez uma expressão dramática e eu ri baixo. – É claro que sou um bom amigo. E eu arriscaria dizer que sou um ótimo amigo. Sei ouvir e compreender os problemas femininos, sei dar conselhos, sei cozinhar! Olha só que legal! – ele fazia propaganda de si mesmo e eu apenas ria de suas expressões e de seu tom. conseguia ser engraçado quando queria... Isso eu tinha que admitir. – Acho que tudo isso se deve ao fato de eu ter uma irmã. Sabe, isso ajuda muito a entender o lado feminino.
Balancei a cabeça afirmativamente. – Concordo. Eu queria ter um irmão ou uma irmã, mas... Sou filha única.
Fiz careta e sorriu pensativo.
- Eu posso ser o seu irmão mais velho. Seria bacana. – disse.
- Você estaria disposto a preencher esse cargo tão importante? – arqueei a sobrancelha.
- Claro que sim. Contanto que você me deixe te zoar, para mim está perfeito.
- Mas você já zoa de mim!
- Digamos que eu posso piorar nesse aspecto. – sorriu travesso e eu ri.
- Não consigo te imaginar pior do que isso, sério.
Ficamos em silêncio e eu fechei os olhos, aproveitando a massagem que ele ainda fazia.
Mordi o lábio inferior e suspirei. – Hm, isso é bom.
- Sim, mas seria melhor se você relaxasse os pés. – ele disse.
- Mas estão relaxados. – afirmei.
- Não estão, não. Estou sentindo a tensão nos meus dedos. – falou e eu bufei.
Ele é tão cheio de si. Se acha o sabe-tudo.
Meu corpo entrou em alerta quando senti suas mãos subindo pela minha perna. Ele apertava a minha canela e estava quase chegando à minha coxa quando eu me sentei rapidamente no sofá, obrigando-o a tirar as mãos de mim.
- Acho que já está bom de massagem por hoje. – disse.
- Você não consegue relaxar mesmo. – comentou rindo.
Dei-lhe língua e voltei a olhar para a TV, soltando uma risada quando a Ellen falou algo engraçado.
- É sério o que você disse ontem? – perguntou e eu franzi a testa.
- Sobre o quê? – perguntei.
- Sobre eu ser lindo e gostoso. – encarei-o e vi a seriedade em seu rosto.
Uau, acho que é a primeira vez em que eu via tão sério. Engoli em seco. É claro que eu me lembrava de algumas coisas de ontem, principalmente dessa parte em que dei uma linda mancada. Mas era óbvio que eu não ia dizer que me lembrava.
- Eu disse isso? – gargalhei e ele continuou a me encarar. – Desculpe, mas eu não me lembro. E se eu disse, com certeza foi algo momentâneo. Eu estava bêbada, e bêbado fala qualquer coisa. – dei de ombros.
- Uma vez eu li que o álcool ativa a parte do cérebro ligada à sinceridade. – prendi a respiração quando ele disse isso. Eu também já li sobre tal coisa. – Ou seja, se você disse é porque você realmente pensa aquilo.
- Qual é, ? – me virei para ele – Vai ficar cismado com isso agora? Esquece o que aconteceu ontem, cara! Não tem importância.
- É claro que tem importância. – se virou para mim – Eu gosto da verdade, . E quero saber a verdade agora sobre o que você pensa de mim.
- E por quê? Por que isso te interessa? Como se a minha opinião a seu respeito fosse mudar alguma coisa!
- É claro que não vai mudar nada, só gosto de deixar algumas coisas bem claras.
- Você é muito estranho. – balancei a cabeça.
- E por quê? Só porque eu quero saber o que você pensa de mim? – riu.
- Pelo visto, você tem que aprender a ignorar o que os outros pensam de você, senão nunca vai conseguir viver em paz.
- Por favor, não tente bancar a psicóloga para cima de mim! – ele riu nervosamente e eu bufei. – Não tente me analisar como se eu fosse uma pessoa que precisa de reparos, doutora.
- Por acaso você ouve o que diz? – ri e ele me olhou com raiva. – Eu não estou te analisando, seu babaca! Só estou tentando entender o porquê de você querer tanto saber sobre a minha opinião.
- Eu apenas tenho isso, ok? Eu só preciso saber! – se exaltou, levantando do sofá.
Levantei-me também e me aproximei, dizendo próximo ao seu rosto:
- Vou apenas te dar um conselho: para com isso. Olhe para mim e veja se eu me interesso com a opinião dos outros.
- Você fala como se fosse a pessoa mais feia do mundo! – gargalhou – Mas não, você não é, ! Você é linda! Todos nós temos a nossa própria beleza!
Ri e o encarei irônica.
- Então apenas me diga o porquê de o cara que eu gosto estar tão interessado em outra! Por que ele não me dá bola? Por que ele me olha com pena? Isso quando olha, porque ele quase não sabe da minha existência! Você sabe o quão é frustrante gostar de alguém que não te corresponde?! – gritei e ele ia responder, mas o interrompi. - Não, você não sabe, porque eu sei que você gosta daquela mulher e ela gosta de você! Dá para ver no jeito que ela te olha! É o mesmo jeito que eu olho para o , mas ele não nota!
- Eu sabia que você ia tocar no assunto Olivia uma hora ou outra! – ele riu gostando do meu momento de histeria.
- Esse não é o foco do assunto, , e você sabe.
- Certo, por que você gosta tanto desse cara se ele não te dá bola? Por que ficar correndo atrás dele? – perguntou cruzando os braços.
Suspirei e passei a mão pelos cabelos ainda meio úmidos.
- Eu não sei explicar. É só... Um sentimento mais forte do que eu. Tudo nele me atrai. O cabelo, os olhos azuis, o sorriso, o corpo, tudo! – confessei e um sorriso bobo me tomou só de lembrar de .
- Entendo... Mas você já pensou em mudar? Mudar o seu jeito, suas roupas. Se você quer impressionar o cara e ele não gosta do seu jeito, infelizmente você tem de mudá-lo. – ele disse e eu suspirei. – É ridículo esse pensamento e eu não concordo com isso, mas é isso que tem de ser feito.
Ajeitei os óculos e o encarei com meus ombros caídos. Fiquei em silêncio e se aproximou, tocando meus ombros.
- Eu vou te ajudar. – ele disse roucamente. – Eu sou homem e sei do que nós gostamos... Eu posso te ensinar algumas coisas para impressionar esse tal de .
- Eu sempre gostei de mim assim... Mas se não tem outro jeito, eu aceito. – sorri fraco – Vou tentar fazer isso dar certo.
sorriu, levantando meu queixo com o dedo. Ele olhou fundo nos meus olhos e suspirou.
- Começamos a partir de amanhã. Acho que estou prestes a criar uma nova Wright.
- Você vai ser uma espécie de conselheiro amoroso. – sorri e ele entortou o nariz.
- Não, isso é muito gay. – ele disse e me abraçou de lado. – Eu vou ser o seu professor. Vou te ensinar a ser gostosa e deixar os homens de pau duro, Wright.
Olhei-o espantada e ele riu me dando um beijo na testa.
A ressaca se apossou de meu corpo de uma forma tão horrível, e eu nunca tinha me sentido assim. Minha garganta estava seca e eu sentia enjoos com qualquer movimento que eu fazia. Eu sentia que ia vomitar a qualquer minuto. Coloquei minhas mãos em minha cabeça e gemi baixo.
- Eu trouxe um comprimido para você e um copo d’água. – ouvi uma voz meio ao longe por conta do latejo da minha cabeça e apenas assenti com a cabeça.
No instante seguinte, ouvi minhas gavetas sendo abertas e abri um dos olhos. Tive a visão de procurando por algo no meu móvel e franzi a testa.
- O que está fazendo? Não gosto que mexam nas minhas coisas. – disse.
- Estou procurando roupas limpas. Você precisa tomar um banho. – respondeu e eu me sentei lentamente na cama, abrindo completamente os olhos.
A claridade vinda da janela me incomodou um pouco e eu resmunguei baixo.
- Eu estou fedendo? – perguntei me cheirando.
- A verdade? – assenti – Sim. Está fedendo a cerveja e cigarro do bar.
Eu odiava estar fedendo a esses lugares. Estiquei meu braço e peguei meus óculos no criado-mudo. Logo depois peguei o comprimido e o tomei com um gole d’água.
se aproximou com a minha blusa que tinha um urso na frente e uma calça de moletom cinza, acompanhada de um sutiã e uma calcinha brancos. Ele me entregou e sorri de canto, agradecendo. Levantei-me da cama e me apoiei em que estava ao meu lado por conta da tontura momentânea que eu tive.
- Você está bem? – ele perguntou num tom preocupado e eu assenti, começando a caminhar em direção à porta do quarto para ir ao banheiro. – Precisa de ajuda com o banho?
Senti que não havia malícia na sua pergunta. Talvez a preocupação de me ver caída no banheiro falasse mais alto do que qualquer outra intenção.
- Não, obrigada. Eu consigo. – respondi e saí do quarto.
Fui até o banheiro e me despi lentamente. Tirei meus óculos e liguei o chuveiro, começando a tomar banho. A sensação da água quentinha contra minha pele era maravilhosa e eu consegui relaxar por um tempo. Lavei meu corpo e meu cabelo e me enrolei na toalha, saindo do Box. Enxuguei meu corpo e vesti minha calcinha e sutiã. Quando eu me preparava para vestir a calça de moletom, ouvi bater na porta e entrar antes que eu pudesse responder. Ele tinha essa mania: entrar nos lugares sem nem esperar uma resposta afirmativa ou negativa.
- , eu estou apenas com roupas íntimas. Saia, por favor! – pedi e ele me encarou com a sobrancelha arqueada.
- Você não está falando sério, está? – disse e eu rolei os olhos. – Eu já vi até o seu traseiro. Não tem porque ter vergonha.
Senti minhas bochechas esquentarem e reprimi a minha vontade de lhe dar um tapa no rosto. Cara abusado.
- Viu porque entrou no banheiro sem nem saber se podia! – exclamei e foi a vez dele de rolar os olhos.
- Esquece isso. Não teve importância. – ele disse.
Au! Essa eu senti até no meu útero. Então quer dizer que não tinha importância para ele se visse ou não meu traseiro? Ah, claro! Do jeito que ele é, já deve ter visto centenas de bundas na vida. Mais uma não seria problema.
- Saia daqui! Deixa eu me vestir em paz. Não estou com paciência para você hoje. – eu tentava vestir a minha bendita calça, mas parecia que o equilíbrio tinha se esvaído totalmente de mim. Qual é, ?! É uma tarefa simples! É só uma calça, coloque uma perna e depois a outra!
- Não está com paciência hoje? – ele riu – Você nunca está, na verdade!
Bufei impaciente ainda tentando vestir a calça. me encarou e percebeu a minha dificuldade, se aproximando de mim.
- Deixa eu te ajudar com isso, nervosinha. – falou e pegou a calça de minha mão.
Apoiei-me em seus ombros enquanto ele estava agachado a minha frente, colocando uma perna de cada vez dentro da calça. Ele foi subindo seu corpo conforme subia a calça. Sorriu de canto para mim e pegou minha blusa de urso, passando um braço meu de cada vez. Ele por fim passou a blusa por minha cabeça e pegou a minha toalha, começando a enxugar o meu cabelo.
Eu estava me sentindo uma criança que não consegue se vestir sozinha, e isso me irritou profundamente. Eu já tinha o pavio curto, não era muito difícil me deixar puta da vida. E ainda mais nessa situação constrangedora, com um cara que eu praticamente acabo de conhecer, me vestindo desse jeito depois de uma noite de bebedeira.
pegou a minha escova dentro da gaveta da bancada e se pôs a pentear meus cabelos.
- Não precisa disso. Eu posso pentear meu cabelo. – falei me sentindo incomodada.
- Acho melhor aproveitar. Só eu sei quão boa é a sensação de alguém mexendo em seu cabelo. – ele disse e eu suspirei, assentindo.
Realmente era muito bom receber um cafuné ou qualquer coisa do gênero. Eu sempre ficava com sono quando tocavam em meus cabelos, mas não naquele exato momento. Eu simplesmente estava tensa com fazendo aquilo. Eu nunca tive um homem tocando meu cabelo daquela forma. Era um simples cabelo, mas era uma parte do meu corpo, não? O pensamento me fez suspirar e eu balancei a cabeça.
Aquele momento me fez lembrar de minha mãe. Antes de descobrirmos a doença, ela praticamente todos os dias me sentava no meio de suas pernas sobre a cama e penteava meus cabelos antes de dormir. Cantava uma canção de ninar enquanto me penteava e logo depois depositava um beijo de boa noite em minha testa. E em seguida, vinha o meu pai para me dar o outro beijo e me chamar de sua garotinha.
As lembranças dominaram minha mente e eu senti minha garganta arder enquanto eu segurava o choro. Suspirei com a cabeça baixa e percebeu meu estado assim que terminou de me pentear.
- Aconteceu algo? – perguntou em meu ouvido, já que ele estava parado atrás de mim.
Neguei rapidamente com a cabeça enquanto tentava me recompor. Eu não queria demonstrar emoções agora, mas em um movimento inesperado, me virou e me abraçou. Estranhei sua atitude e fiquei alguns segundos sem reação. Quando meus músculos tensos relaxaram, eu respirei fundo e o abracei de volta, escondendo meu rosto em seu pescoço. Senti o corpo dele ficar um pouco tenso quando eu respirei naquela região e ele riu baixo.
- Meu pescoço é uma região altamente sensível. Não se assuste se eu me arrepiar. – ele avisou e eu ri.
- O meu também, eu acho. – confessei baixo.
- Ah, é? – ele riu e colocou o rosto no meu pescoço. Ele expirou sua respiração ali e meu corpo se arrepiou, fazendo-me rir alto e me afastar um pouco dele.
Sorri para e ele sorriu de volta. – Obrigada.
- Pelo quê? – franziu a testa.
- Por... Não sei... Cuidar de mim.
- Não precisa agradecer, Wright.
Rolei os olhos.
- E lá vem você de novo me chamar assim! – reclamei.
- Não posso fazer nada se o seu nome é legal. – deu de ombros. – Wright, Wright, Wright... – ele repetiu até ser interrompido por mim.
- Ok, já chega, ! – falei num tom risonho.
- Vamos tomar um café bem forte agora. – ele disse e eu assenti.
Saímos do banheiro e começamos a andar pelo corredor. estava na frente e quando ele parou do nada, eu acabei batendo em suas costas. Ele me encarou por cima dos ombros e eu franzi a testa.
- A propósito, você está precisando se depilar aí embaixo. Quase não vi sua perna por baixo de tanto pelo.
Corei violentamente e ele gargalhou da minha cara.
- Exagerado! Nem está tanto assim! – exclamei envergonhada.
- Não? Imagino se estivesse.
Dei um tapa em sua cabeça e saí quase correndo dali antes que ele resolvesse devolver o tapa. Depois de tomarmos o café e comermos algumas torradas, eu me deitei no sofá e fiquei trocando de canal à procura de algo bom para assistir. A minha dor de cabeça parecia ficar pior a cada minuto que passava. Eu só rezava mentalmente para que ela fosse embora rápido. tinha ido ao seu quarto para trocar de roupa e só foi nessa hora que eu percebi que ele usava apenas uma cueca samba-canção.
Depositei toda a minha atenção na televisão a qual passava The Ellen Degeneres Show. Senti sentar onde meus pés estavam, colocando os mesmos em seu colo. Não o fitei até sentir suas mãos começarem a acariciar meu pé, fazendo uma massagem.
- O que está fazendo? – perguntei o encarando. Ele tinha vestido uma calça de moletom e colocado um boné com a aba reta para trás, mas continuava sem camisa.
- Uma massagem? – disse como se fosse óbvio.
- Eu sei disso, mas por quê? – disse num tom desconfiado. – Primeiro penteia meu cabelo e agora faz massagem... Não sei, não.
Ele riu alto, tombando sua cabeça para trás.
- Estou tentando fazer com que você se sinta à vontade com minha presença. – disse simplesmente, começando a massagear meus pés de forma mais firme.
A sensação era tão boa que fui obrigada a fechar os olhos e aproveitar o toque de seus dedos. sabia exatamente como fazer aquilo. Isso é adorável.
- Podíamos tentar ser amigos. O que acha? – perguntou e eu o fitei indecisa.
- Não sei... Você não tem cara de ser um bom amigo.
- Ai! Assim você me ofende. – fez uma expressão dramática e eu ri baixo. – É claro que sou um bom amigo. E eu arriscaria dizer que sou um ótimo amigo. Sei ouvir e compreender os problemas femininos, sei dar conselhos, sei cozinhar! Olha só que legal! – ele fazia propaganda de si mesmo e eu apenas ria de suas expressões e de seu tom. conseguia ser engraçado quando queria... Isso eu tinha que admitir. – Acho que tudo isso se deve ao fato de eu ter uma irmã. Sabe, isso ajuda muito a entender o lado feminino.
Balancei a cabeça afirmativamente. – Concordo. Eu queria ter um irmão ou uma irmã, mas... Sou filha única.
Fiz careta e sorriu pensativo.
- Eu posso ser o seu irmão mais velho. Seria bacana. – disse.
- Você estaria disposto a preencher esse cargo tão importante? – arqueei a sobrancelha.
- Claro que sim. Contanto que você me deixe te zoar, para mim está perfeito.
- Mas você já zoa de mim!
- Digamos que eu posso piorar nesse aspecto. – sorriu travesso e eu ri.
- Não consigo te imaginar pior do que isso, sério.
Ficamos em silêncio e eu fechei os olhos, aproveitando a massagem que ele ainda fazia.
Mordi o lábio inferior e suspirei. – Hm, isso é bom.
- Sim, mas seria melhor se você relaxasse os pés. – ele disse.
- Mas estão relaxados. – afirmei.
- Não estão, não. Estou sentindo a tensão nos meus dedos. – falou e eu bufei.
Ele é tão cheio de si. Se acha o sabe-tudo.
Meu corpo entrou em alerta quando senti suas mãos subindo pela minha perna. Ele apertava a minha canela e estava quase chegando à minha coxa quando eu me sentei rapidamente no sofá, obrigando-o a tirar as mãos de mim.
- Acho que já está bom de massagem por hoje. – disse.
- Você não consegue relaxar mesmo. – comentou rindo.
Dei-lhe língua e voltei a olhar para a TV, soltando uma risada quando a Ellen falou algo engraçado.
- É sério o que você disse ontem? – perguntou e eu franzi a testa.
- Sobre o quê? – perguntei.
- Sobre eu ser lindo e gostoso. – encarei-o e vi a seriedade em seu rosto.
Uau, acho que é a primeira vez em que eu via tão sério. Engoli em seco. É claro que eu me lembrava de algumas coisas de ontem, principalmente dessa parte em que dei uma linda mancada. Mas era óbvio que eu não ia dizer que me lembrava.
- Eu disse isso? – gargalhei e ele continuou a me encarar. – Desculpe, mas eu não me lembro. E se eu disse, com certeza foi algo momentâneo. Eu estava bêbada, e bêbado fala qualquer coisa. – dei de ombros.
- Uma vez eu li que o álcool ativa a parte do cérebro ligada à sinceridade. – prendi a respiração quando ele disse isso. Eu também já li sobre tal coisa. – Ou seja, se você disse é porque você realmente pensa aquilo.
- Qual é, ? – me virei para ele – Vai ficar cismado com isso agora? Esquece o que aconteceu ontem, cara! Não tem importância.
- É claro que tem importância. – se virou para mim – Eu gosto da verdade, . E quero saber a verdade agora sobre o que você pensa de mim.
- E por quê? Por que isso te interessa? Como se a minha opinião a seu respeito fosse mudar alguma coisa!
- É claro que não vai mudar nada, só gosto de deixar algumas coisas bem claras.
- Você é muito estranho. – balancei a cabeça.
- E por quê? Só porque eu quero saber o que você pensa de mim? – riu.
- Pelo visto, você tem que aprender a ignorar o que os outros pensam de você, senão nunca vai conseguir viver em paz.
- Por favor, não tente bancar a psicóloga para cima de mim! – ele riu nervosamente e eu bufei. – Não tente me analisar como se eu fosse uma pessoa que precisa de reparos, doutora.
- Por acaso você ouve o que diz? – ri e ele me olhou com raiva. – Eu não estou te analisando, seu babaca! Só estou tentando entender o porquê de você querer tanto saber sobre a minha opinião.
- Eu apenas tenho isso, ok? Eu só preciso saber! – se exaltou, levantando do sofá.
Levantei-me também e me aproximei, dizendo próximo ao seu rosto:
- Vou apenas te dar um conselho: para com isso. Olhe para mim e veja se eu me interesso com a opinião dos outros.
- Você fala como se fosse a pessoa mais feia do mundo! – gargalhou – Mas não, você não é, ! Você é linda! Todos nós temos a nossa própria beleza!
Ri e o encarei irônica.
- Então apenas me diga o porquê de o cara que eu gosto estar tão interessado em outra! Por que ele não me dá bola? Por que ele me olha com pena? Isso quando olha, porque ele quase não sabe da minha existência! Você sabe o quão é frustrante gostar de alguém que não te corresponde?! – gritei e ele ia responder, mas o interrompi. - Não, você não sabe, porque eu sei que você gosta daquela mulher e ela gosta de você! Dá para ver no jeito que ela te olha! É o mesmo jeito que eu olho para o , mas ele não nota!
- Eu sabia que você ia tocar no assunto Olivia uma hora ou outra! – ele riu gostando do meu momento de histeria.
- Esse não é o foco do assunto, , e você sabe.
- Certo, por que você gosta tanto desse cara se ele não te dá bola? Por que ficar correndo atrás dele? – perguntou cruzando os braços.
Suspirei e passei a mão pelos cabelos ainda meio úmidos.
- Eu não sei explicar. É só... Um sentimento mais forte do que eu. Tudo nele me atrai. O cabelo, os olhos azuis, o sorriso, o corpo, tudo! – confessei e um sorriso bobo me tomou só de lembrar de .
- Entendo... Mas você já pensou em mudar? Mudar o seu jeito, suas roupas. Se você quer impressionar o cara e ele não gosta do seu jeito, infelizmente você tem de mudá-lo. – ele disse e eu suspirei. – É ridículo esse pensamento e eu não concordo com isso, mas é isso que tem de ser feito.
Ajeitei os óculos e o encarei com meus ombros caídos. Fiquei em silêncio e se aproximou, tocando meus ombros.
- Eu vou te ajudar. – ele disse roucamente. – Eu sou homem e sei do que nós gostamos... Eu posso te ensinar algumas coisas para impressionar esse tal de .
- Eu sempre gostei de mim assim... Mas se não tem outro jeito, eu aceito. – sorri fraco – Vou tentar fazer isso dar certo.
sorriu, levantando meu queixo com o dedo. Ele olhou fundo nos meus olhos e suspirou.
- Começamos a partir de amanhã. Acho que estou prestes a criar uma nova Wright.
- Você vai ser uma espécie de conselheiro amoroso. – sorri e ele entortou o nariz.
- Não, isso é muito gay. – ele disse e me abraçou de lado. – Eu vou ser o seu professor. Vou te ensinar a ser gostosa e deixar os homens de pau duro, Wright.
Olhei-o espantada e ele riu me dando um beijo na testa.
Capítulo 6 – Primeira Lição
Acordei bem cedo naquela segunda-feira chuvosa e me arrumei para mais um dia de aula. Guardei minhas coisas na minha bolsa e coloquei os óculos logo depois de arrumar o cabelo em um rabo de cavalo. Calcei minhas botas e saí do quarto. Tomei meu café da manhã preparado por e ele insistiu em me levar até a universidade. Aceitei já que era bem melhor do que ir de táxi. Assim que entrei em seu carro, ele deu partida e ligou o rádio.
Estava tocando Give Me Love do Ed Sheeran e eu simplesmente amava aquela música. Apoiei meus pés no banco e comecei a batucar em minhas pernas conforme a batida da música. Cantarolei a letra baixinho.
- Give a little time to me, we’ll burn this out. We’ll play hide and seek to turn this around. All I want is the taste that your lips allow. M-my M-my give me love.
- M-my M-my give me love love. – cantou a parte do coral em um tom grave e eu ri baixo.
- Love me! Love me! Give me love! – cantei igual ao Ed. – Acho que vou cantar essa música para o para ver se ele me dá um pouco de amor. – fiz graça e balançou a cabeça enquanto dirigia.
- Talvez dê certo. Se ele sentir a intensidade da música, é claro.
Assenti e continuei a ouvir a música até o final. De repente começou a tocar a batida de uma música muito conhecida e eu arregalei os olhos. Ouvi a voz do Snoop Dogg e me olhou sorrindo travesso.
- You know what to do with that big fat butt... – ele cantarolou e eu ri.
Assobiou e eu disse: - Wiggle! Wiggle!
Dancei no ritmo da música enquanto cantava aquela música com toda a perfeição, sem errar uma única estrofe.
- Hmm, safado! – comentei ao ver que ele sabia a música de cor.
- As músicas do Jason Derulo são demais. Ele é o cara depois do Michael Jackson, é claro!
Concordei com a cabeça e voltamos a cantar. Quando ele parou o carro em frente à universidade, eu peguei minha bolsa e sorri.
- Obrigada pela carona. Eu te devo uma.
- Eu vou cobrar. – ele disse e balancei a cabeça, abrindo a porta. – Ah, e você está muito elegante nesse terno.
iria para a empresa hoje logo depois de me deixar na universidade. Usava um terno muito bonito com um relógio de ouro e o cabelo estava muito bem penteado.
- Obrigado, senhorita . E você está... – me encarou por completo – Normal.
Mostrei meu dedo do meio para ele, que gargalhou.
- Te vejo em casa. – falou e eu assenti, fechando a porta de sua Ferrari.
Adentrei a universidade e vi quando estava escorado à parede enquanto conversava com Courtney. Revirei os olhos e continuei andando. Passei por eles mantendo minha postura e me direcionei a sala de aula onde o professor O’Donnell já nos esperava. Sorri para ele e me sentei. A aula começou minutos depois e nós entregamos o trabalho que ele havia passado. Graças a Deus eu tinha conseguido terminar o trabalho que valia quase metade da nota do semestre.
- Bem, turma, como vocês já sabem... Chegou a hora do estágio. Todos vocês vão ter que estagiar no Hospital Mount Sinai que tem afiliação com a NYU para treinamentos. Nós vamos fazer uma espécie de agenda para os horários dos estágios de cada aluno, assim fica mais fácil para o entendimento de vocês e não teremos desculpas de que houve confusão com o horário ou qualquer outra coisa. Alguns estagiarão na parte da tarde e outros na parte da noite. São apenas quatro a cinco horas de trabalho, então não será tão cansativo para vocês. O salário é ótimo, eu lhes garanto. – assim que ele disse isso, meu coração saltitou de alegria. Era exatamente disso que eu precisava: um emprego e um bom salário, de preferência. – Vou deixar para criar a agenda amanhã, pois agora não temos mais tempo, certo?
Assentimos e comecei a arrumar meus materiais de volta na bolsa. Quando a aula acabou, peguei minha bolsa e saí da sala sendo acompanhada de . Ela entrelaçou seu braço no meu e andamos pelo corredor à procura de , que cursava Engenharia Civil. Enquanto caminhávamos, eu lhe contava sobre a minha breve discussão com ontem e como ele disse que ia me ajudar a partir de hoje a ser uma nova . quase pulou de alegria com aquilo já que havia um tempo em que vinha tentando me convencer a mudar meu estilo. E agora que chegou a hora, ela mal podia esperar para ver o resultado.
- Mas é o seguinte, : Quando você ficar espetacular, tem que dar um chute na bunda do só para descontar o fato de ele ser tão babaca. – ela apontou em minha direção, quase me obrigando a fazer aquilo. – Tem que quebrar o coraçãozinho dele em mil pedacinhos e jogá-los no mar para servir de comida aos tubarões.
Gargalhei e ela me olhou séria.
- Estou falando sério, ! Aquele idiota merece sofrer!
- Não consigo ser tão má assim.
Paramos em frente ao armário dela e eu suspirei, encostando-me.
- É esse o seu problema. Você é boazinha demais. Seja má de vez em quando, garota!
Esperamos aparecer e fomos almoçar num restaurante próximo. Voltamos de táxi para casa e eles me fizeram companhia até chegar. Meus amigos estavam saindo no instante em que entrou apressado no apartamento enquanto tirava sua gravata e quase correndo pelo corredor.
- Preciso usar o banheiro urgentemente! – ele disse e eu sorri, balançando a cabeça.
Fui até o meu quarto e tirei minhas botas, ficando apenas de meias. Coloquei uma roupa mais confortável como uma blusa larga e calças com um tecido fino. Saí do quarto no momento em que saia do banheiro. Ele me olhou e suspirou aliviado, sorrindo abobalhado.
- Cara, é tão bom mijar! – ele disse e eu fiz careta.
- Que palavreado feio.
- Se acostume. Nós homens somos assim. – deu de ombros.
- Lavou as mãos? – perguntei.
- É claro. Eu sou homem, não porco.
- Ótimo. Adoro o seu pensamento, continue assim. – falei e ele riu se aproximando e passando a mão em meus cabelos, bagunçando-os.
Ele entortou os lábios enquanto me analisava e levou sua mão ao meu prendedor de cabelo, tirando o mesmo. Meus cabelos caíram sobre meus ombros e ele sorriu de canto.
- Assim está melhor. – olhei-o confusa e ele continuou: - Regra número um: Use o cabelo solto. Você fica mais bonita e mais atraente assim.
Corei e assenti fraco.
- Só vou trocar a roupa e começamos com as aulas. – o seu tom ao falar ‘’aulas’’ me fez rir internamente. Ele realmente estava se sentindo como um professor.
Fui até a sala e peguei uma maçã na fruteira. Lavei a mesma e comecei a comer enquanto esperava . Ele apareceu vestindo as calças de moletom, e nisso ele até se parecia comigo. Vestia também uma blusa azul e seu cabelo não estava arrumado no topete. Na verdade, estava meio bagunçado, dando-lhe um ar um tanto... atraente?
Balancei a minha cabeça e ele se aproximou enquanto mexia no celular. Ele pôs o mesmo sobre o balcão da cozinha e observou o jeito que eu comia a maçã. O que ele estava fazendo, afinal? Parecia analisar qualquer movimento que eu fazia e isso certamente me deixou tensa.
- Regra dois: Coma de uma forma mais sexy. Você tem que seduzir o cara até quando está comendo.
Soltei uma risada e ele me olhou sério.
- Isso é ridículo!
- Estou falando sério. – disse e enfiou as mãos nos bolsos da calça, procurando por algo. – Como eu esperava que isso fosse acontecer, eu trouxe até um pirulito para você treinar.
Ele estendeu o mesmo para mim e eu o peguei.
- Para que um pirulito?
- Nunca te disseram que as mulheres deixam um cara excitado quando chupam um pirulito ou um picolé? – franziu a testa.
- Não... E por que isso acontece?
Ele riu e me abraçou pelo ombro, começando a andar comigo pela sala.
- , você é tão ingênua... – comentou e eu suspirei – Vou ter que te ensinar muitas coisas.
- Você fala como se fosse um mestre nisso!
- Eu já tive muitas namoradas, então, acredite... Eu sei do que eu estou falando.
- Quantas? – me referi ao número de namoradas.
- Acho melhor deixarmos o número de lado, não acha? Garanto que você se assustaria.
Engoli em seco.
- Você já ouviu falar em sexo oral? – perguntou.
- Acho que sim. Não sei ao certo.
Ele suspirou e fechou os olhos, colocando as mãos na cabeça.
- Parece que eu vou ter que ir devagar com você. Sinto-me falando com uma criança de quatro anos.
Bati o pé no chão e bufei. Ele me analisou dos pés a cabeça e eu me encolhi.
- Certo, vamos começar por algo bem simples hoje. O seu jeito de andar. – disse e eu franzi a testa.
- O que tem o meu jeito de andar?
- Você tem que andar de forma... digamos... sensual. Tem salto alto?
- Acho que tenho um.
- Vá buscar, então.
tirou a maçã da minha mão e ficou me encarando até eu fazer o que ele falou. Bufei e fui até meu quarto. Peguei os saltos pretos no armário e voltei para a sala. Tirei minhas meias e calcei os sapatos. Tive de me segurar na bancada da cozinha para me equilibrar, eu não estava acostumada a andar com essas coisas, e isso pareceu divertir . Ele não parava de rir de mim por um minuto sequer.
- Se você continuar rindo da minha cara, eu paro com essa ideia maluca! – rosnei.
- Faça isso se quiser, mas quem vai ficar sem o seu amorzinho é você. – deu de ombros, mordendo a minha maçã.
Suspirei e consegui me equilibrar. Respirei fundo e o olhei.
- Ótimo, agora comece a andar. – disse e eu assenti.
Dei alguns passos, mas me interrompeu. – Não, não, para! É para você andar de forma graciosa! Feche essas pernas, .
Encarei minhas pernas, que estavam abertas em busca de equilíbrio, e as fechei.
- Certo, agora coloque um pé na frente do outro. Sempre andando em linha reta. – orientou-me.
- Como você sabe dessas coisas?
- Convivência com duas mulheres em casa dá nisso, mas não interessa agora. Faça o que eu falei.
Assenti e me pus a caminhar pela sala. encarava meu andar e minhas pernas para ver se eu fazia tudo certo. Ele pegou outra maçã e se sentou no sofá enquanto ainda me observava.
- Vai acabar com as minhas maçãs desse jeito. – comentei dando a volta ao redor do sofá.
- Depois eu te compro uma macieira se quiser. – deu de ombros e sorriu.
- Ui, ele é riquinho. – ri debochada.
- Não me considero rico. Digamos que eu tenho uma ótima condição financeira. Só isso.
- É a mesma coisa. Você é rico, .
Ele riu balançando a cabeça.
- Parece que eu consegui andar com esse troço! – falei animada, virando meu corpo para encará-lo, o que não foi uma boa ideia.
Virei meu pé de tal forma que perdi totalmente o equilíbrio, caindo com tudo de bunda no chão. Soltei um gemido baixo, fazendo careta. Ouvi a gargalhada de ecoar pelo meu apartamento e bufei, vendo-o se contorcer no sofá.
- Você está bem, ? – perguntou ainda rindo.
- Eu pareço bem? – disse irônica. – Não quero mais andar com isso.
Fiz um bico e tirei os saltos, jogando-os longe.
levantou do sofá e veio até mim, estendendo sua mão. Ele me ajudou a levantar e disse:
- É só questão de prática. Depois você se acostuma.
Resmunguei quando senti meus pés meio doloridos tocarem o chão.
- Acho que torci o tornozelo.
- Deixe-me ver. – ele se agachou quase tocando meu pé, mas me afastei.
- Nem pensar! Do jeito que você é, vai acabar me machucando ainda mais.
- Está me chamando de bruto? – me olhou com a sobrancelha erguida.
- Prefiro o termo indelicado.
- Blá blá blá, é só isso que eu ouço quando você fala. – dei um tapa em seu braço e ele riu.
me analisou novamente e eu rolei os olhos, cruzando os braços.
- Por que você olha tanto para mim?
- Você precisa comprar outras roupas urgentemente. Tem que ser algo que mostre mais o seu corpo. Talvez algumas saias, blusas com decote e vestidos.
- Blusas com decote? – ri – Você está tentando me deixar ‘’sexy’’ ou parecendo com uma vadia?
- Blusas com decote não te deixam parecida com ‘’vadias’’. – fez aspas com as mãos.
- Decotes chamam a atenção para essa área. – apontei para meu busto – E não quero ninguém olhando para os meus seios.
- Seus seios? – ele riu – Eles são tão pequenos que nem parece que você os tem.
Arregalei meus olhos com incredulidade.
- Você está insinuando que eu sou uma tábua, ?
- Quase isso. Você tem que aprender a usar sutiãs que deem um certo volume, que os valorizem.
- Você está parecendo um especialista de moda. E sinceramente, está soando muito gay. – falei.
- Estou falando para o seu bem, mas se você prefere continuar me chamando de gay, vá em frente. – levantou os ombros e eu semicerrei meus olhos.
- Ok, ok! Amanhã eu vou comprar roupas novas. Vou ver se quer ir comigo...
sorriu largo e assentiu.
- Compre algumas lingeries bem bonitas também. Você pode precisar delas quando... você sabe... for para a cama com o .
Mordi o lábio inferior com esse pensamento. Eu era tão inexperiente. Oh céus, espero que eu não passe mais vergonha na frente de . Espero que todo esse plano maluco de dê certo. Se não, eu vou me trancar no meu quarto e nunca mais vou sair com tamanha vergonha que vou sentir.
- Mas não se preocupe com isso. Tudo há seu tempo. E quando chegar a hora, eu vou te ensinar tudo o que você precisa saber para agradar um homem na hora do sexo. – ele disse parecendo ler meus pensamentos.
Assenti e suspirei pesadamente, passando a mão por meu braço.
- Você sabe dançar, ?
- Sim. – afirmei prontamente.
- Música lenta?
- Bem, acho que sim... Nunca tentei antes.
Estava tocando Give Me Love do Ed Sheeran e eu simplesmente amava aquela música. Apoiei meus pés no banco e comecei a batucar em minhas pernas conforme a batida da música. Cantarolei a letra baixinho.
- Give a little time to me, we’ll burn this out. We’ll play hide and seek to turn this around. All I want is the taste that your lips allow. M-my M-my give me love.
- M-my M-my give me love love. – cantou a parte do coral em um tom grave e eu ri baixo.
- Love me! Love me! Give me love! – cantei igual ao Ed. – Acho que vou cantar essa música para o para ver se ele me dá um pouco de amor. – fiz graça e balançou a cabeça enquanto dirigia.
- Talvez dê certo. Se ele sentir a intensidade da música, é claro.
Assenti e continuei a ouvir a música até o final. De repente começou a tocar a batida de uma música muito conhecida e eu arregalei os olhos. Ouvi a voz do Snoop Dogg e me olhou sorrindo travesso.
- You know what to do with that big fat butt... – ele cantarolou e eu ri.
Assobiou e eu disse: - Wiggle! Wiggle!
Dancei no ritmo da música enquanto cantava aquela música com toda a perfeição, sem errar uma única estrofe.
- Hmm, safado! – comentei ao ver que ele sabia a música de cor.
- As músicas do Jason Derulo são demais. Ele é o cara depois do Michael Jackson, é claro!
Concordei com a cabeça e voltamos a cantar. Quando ele parou o carro em frente à universidade, eu peguei minha bolsa e sorri.
- Obrigada pela carona. Eu te devo uma.
- Eu vou cobrar. – ele disse e balancei a cabeça, abrindo a porta. – Ah, e você está muito elegante nesse terno.
iria para a empresa hoje logo depois de me deixar na universidade. Usava um terno muito bonito com um relógio de ouro e o cabelo estava muito bem penteado.
- Obrigado, senhorita . E você está... – me encarou por completo – Normal.
Mostrei meu dedo do meio para ele, que gargalhou.
- Te vejo em casa. – falou e eu assenti, fechando a porta de sua Ferrari.
Adentrei a universidade e vi quando estava escorado à parede enquanto conversava com Courtney. Revirei os olhos e continuei andando. Passei por eles mantendo minha postura e me direcionei a sala de aula onde o professor O’Donnell já nos esperava. Sorri para ele e me sentei. A aula começou minutos depois e nós entregamos o trabalho que ele havia passado. Graças a Deus eu tinha conseguido terminar o trabalho que valia quase metade da nota do semestre.
- Bem, turma, como vocês já sabem... Chegou a hora do estágio. Todos vocês vão ter que estagiar no Hospital Mount Sinai que tem afiliação com a NYU para treinamentos. Nós vamos fazer uma espécie de agenda para os horários dos estágios de cada aluno, assim fica mais fácil para o entendimento de vocês e não teremos desculpas de que houve confusão com o horário ou qualquer outra coisa. Alguns estagiarão na parte da tarde e outros na parte da noite. São apenas quatro a cinco horas de trabalho, então não será tão cansativo para vocês. O salário é ótimo, eu lhes garanto. – assim que ele disse isso, meu coração saltitou de alegria. Era exatamente disso que eu precisava: um emprego e um bom salário, de preferência. – Vou deixar para criar a agenda amanhã, pois agora não temos mais tempo, certo?
Assentimos e comecei a arrumar meus materiais de volta na bolsa. Quando a aula acabou, peguei minha bolsa e saí da sala sendo acompanhada de . Ela entrelaçou seu braço no meu e andamos pelo corredor à procura de , que cursava Engenharia Civil. Enquanto caminhávamos, eu lhe contava sobre a minha breve discussão com ontem e como ele disse que ia me ajudar a partir de hoje a ser uma nova . quase pulou de alegria com aquilo já que havia um tempo em que vinha tentando me convencer a mudar meu estilo. E agora que chegou a hora, ela mal podia esperar para ver o resultado.
- Mas é o seguinte, : Quando você ficar espetacular, tem que dar um chute na bunda do só para descontar o fato de ele ser tão babaca. – ela apontou em minha direção, quase me obrigando a fazer aquilo. – Tem que quebrar o coraçãozinho dele em mil pedacinhos e jogá-los no mar para servir de comida aos tubarões.
Gargalhei e ela me olhou séria.
- Estou falando sério, ! Aquele idiota merece sofrer!
- Não consigo ser tão má assim.
Paramos em frente ao armário dela e eu suspirei, encostando-me.
- É esse o seu problema. Você é boazinha demais. Seja má de vez em quando, garota!
Esperamos aparecer e fomos almoçar num restaurante próximo. Voltamos de táxi para casa e eles me fizeram companhia até chegar. Meus amigos estavam saindo no instante em que entrou apressado no apartamento enquanto tirava sua gravata e quase correndo pelo corredor.
- Preciso usar o banheiro urgentemente! – ele disse e eu sorri, balançando a cabeça.
Fui até o meu quarto e tirei minhas botas, ficando apenas de meias. Coloquei uma roupa mais confortável como uma blusa larga e calças com um tecido fino. Saí do quarto no momento em que saia do banheiro. Ele me olhou e suspirou aliviado, sorrindo abobalhado.
- Cara, é tão bom mijar! – ele disse e eu fiz careta.
- Que palavreado feio.
- Se acostume. Nós homens somos assim. – deu de ombros.
- Lavou as mãos? – perguntei.
- É claro. Eu sou homem, não porco.
- Ótimo. Adoro o seu pensamento, continue assim. – falei e ele riu se aproximando e passando a mão em meus cabelos, bagunçando-os.
Ele entortou os lábios enquanto me analisava e levou sua mão ao meu prendedor de cabelo, tirando o mesmo. Meus cabelos caíram sobre meus ombros e ele sorriu de canto.
- Assim está melhor. – olhei-o confusa e ele continuou: - Regra número um: Use o cabelo solto. Você fica mais bonita e mais atraente assim.
Corei e assenti fraco.
- Só vou trocar a roupa e começamos com as aulas. – o seu tom ao falar ‘’aulas’’ me fez rir internamente. Ele realmente estava se sentindo como um professor.
Fui até a sala e peguei uma maçã na fruteira. Lavei a mesma e comecei a comer enquanto esperava . Ele apareceu vestindo as calças de moletom, e nisso ele até se parecia comigo. Vestia também uma blusa azul e seu cabelo não estava arrumado no topete. Na verdade, estava meio bagunçado, dando-lhe um ar um tanto... atraente?
Balancei a minha cabeça e ele se aproximou enquanto mexia no celular. Ele pôs o mesmo sobre o balcão da cozinha e observou o jeito que eu comia a maçã. O que ele estava fazendo, afinal? Parecia analisar qualquer movimento que eu fazia e isso certamente me deixou tensa.
- Regra dois: Coma de uma forma mais sexy. Você tem que seduzir o cara até quando está comendo.
Soltei uma risada e ele me olhou sério.
- Isso é ridículo!
- Estou falando sério. – disse e enfiou as mãos nos bolsos da calça, procurando por algo. – Como eu esperava que isso fosse acontecer, eu trouxe até um pirulito para você treinar.
Ele estendeu o mesmo para mim e eu o peguei.
- Para que um pirulito?
- Nunca te disseram que as mulheres deixam um cara excitado quando chupam um pirulito ou um picolé? – franziu a testa.
- Não... E por que isso acontece?
Ele riu e me abraçou pelo ombro, começando a andar comigo pela sala.
- , você é tão ingênua... – comentou e eu suspirei – Vou ter que te ensinar muitas coisas.
- Você fala como se fosse um mestre nisso!
- Eu já tive muitas namoradas, então, acredite... Eu sei do que eu estou falando.
- Quantas? – me referi ao número de namoradas.
- Acho melhor deixarmos o número de lado, não acha? Garanto que você se assustaria.
Engoli em seco.
- Você já ouviu falar em sexo oral? – perguntou.
- Acho que sim. Não sei ao certo.
Ele suspirou e fechou os olhos, colocando as mãos na cabeça.
- Parece que eu vou ter que ir devagar com você. Sinto-me falando com uma criança de quatro anos.
Bati o pé no chão e bufei. Ele me analisou dos pés a cabeça e eu me encolhi.
- Certo, vamos começar por algo bem simples hoje. O seu jeito de andar. – disse e eu franzi a testa.
- O que tem o meu jeito de andar?
- Você tem que andar de forma... digamos... sensual. Tem salto alto?
- Acho que tenho um.
- Vá buscar, então.
tirou a maçã da minha mão e ficou me encarando até eu fazer o que ele falou. Bufei e fui até meu quarto. Peguei os saltos pretos no armário e voltei para a sala. Tirei minhas meias e calcei os sapatos. Tive de me segurar na bancada da cozinha para me equilibrar, eu não estava acostumada a andar com essas coisas, e isso pareceu divertir . Ele não parava de rir de mim por um minuto sequer.
- Se você continuar rindo da minha cara, eu paro com essa ideia maluca! – rosnei.
- Faça isso se quiser, mas quem vai ficar sem o seu amorzinho é você. – deu de ombros, mordendo a minha maçã.
Suspirei e consegui me equilibrar. Respirei fundo e o olhei.
- Ótimo, agora comece a andar. – disse e eu assenti.
Dei alguns passos, mas me interrompeu. – Não, não, para! É para você andar de forma graciosa! Feche essas pernas, .
Encarei minhas pernas, que estavam abertas em busca de equilíbrio, e as fechei.
- Certo, agora coloque um pé na frente do outro. Sempre andando em linha reta. – orientou-me.
- Como você sabe dessas coisas?
- Convivência com duas mulheres em casa dá nisso, mas não interessa agora. Faça o que eu falei.
Assenti e me pus a caminhar pela sala. encarava meu andar e minhas pernas para ver se eu fazia tudo certo. Ele pegou outra maçã e se sentou no sofá enquanto ainda me observava.
- Vai acabar com as minhas maçãs desse jeito. – comentei dando a volta ao redor do sofá.
- Depois eu te compro uma macieira se quiser. – deu de ombros e sorriu.
- Ui, ele é riquinho. – ri debochada.
- Não me considero rico. Digamos que eu tenho uma ótima condição financeira. Só isso.
- É a mesma coisa. Você é rico, .
Ele riu balançando a cabeça.
- Parece que eu consegui andar com esse troço! – falei animada, virando meu corpo para encará-lo, o que não foi uma boa ideia.
Virei meu pé de tal forma que perdi totalmente o equilíbrio, caindo com tudo de bunda no chão. Soltei um gemido baixo, fazendo careta. Ouvi a gargalhada de ecoar pelo meu apartamento e bufei, vendo-o se contorcer no sofá.
- Você está bem, ? – perguntou ainda rindo.
- Eu pareço bem? – disse irônica. – Não quero mais andar com isso.
Fiz um bico e tirei os saltos, jogando-os longe.
levantou do sofá e veio até mim, estendendo sua mão. Ele me ajudou a levantar e disse:
- É só questão de prática. Depois você se acostuma.
Resmunguei quando senti meus pés meio doloridos tocarem o chão.
- Acho que torci o tornozelo.
- Deixe-me ver. – ele se agachou quase tocando meu pé, mas me afastei.
- Nem pensar! Do jeito que você é, vai acabar me machucando ainda mais.
- Está me chamando de bruto? – me olhou com a sobrancelha erguida.
- Prefiro o termo indelicado.
- Blá blá blá, é só isso que eu ouço quando você fala. – dei um tapa em seu braço e ele riu.
me analisou novamente e eu rolei os olhos, cruzando os braços.
- Por que você olha tanto para mim?
- Você precisa comprar outras roupas urgentemente. Tem que ser algo que mostre mais o seu corpo. Talvez algumas saias, blusas com decote e vestidos.
- Blusas com decote? – ri – Você está tentando me deixar ‘’sexy’’ ou parecendo com uma vadia?
- Blusas com decote não te deixam parecida com ‘’vadias’’. – fez aspas com as mãos.
- Decotes chamam a atenção para essa área. – apontei para meu busto – E não quero ninguém olhando para os meus seios.
- Seus seios? – ele riu – Eles são tão pequenos que nem parece que você os tem.
Arregalei meus olhos com incredulidade.
- Você está insinuando que eu sou uma tábua, ?
- Quase isso. Você tem que aprender a usar sutiãs que deem um certo volume, que os valorizem.
- Você está parecendo um especialista de moda. E sinceramente, está soando muito gay. – falei.
- Estou falando para o seu bem, mas se você prefere continuar me chamando de gay, vá em frente. – levantou os ombros e eu semicerrei meus olhos.
- Ok, ok! Amanhã eu vou comprar roupas novas. Vou ver se quer ir comigo...
sorriu largo e assentiu.
- Compre algumas lingeries bem bonitas também. Você pode precisar delas quando... você sabe... for para a cama com o .
Mordi o lábio inferior com esse pensamento. Eu era tão inexperiente. Oh céus, espero que eu não passe mais vergonha na frente de . Espero que todo esse plano maluco de dê certo. Se não, eu vou me trancar no meu quarto e nunca mais vou sair com tamanha vergonha que vou sentir.
- Mas não se preocupe com isso. Tudo há seu tempo. E quando chegar a hora, eu vou te ensinar tudo o que você precisa saber para agradar um homem na hora do sexo. – ele disse parecendo ler meus pensamentos.
Assenti e suspirei pesadamente, passando a mão por meu braço.
- Você sabe dançar, ?
- Sim. – afirmei prontamente.
- Música lenta?
- Bem, acho que sim... Nunca tentei antes.
Capítulo 7 – Intimidade
Ele suspirou e foi até minha estante. Procurou algo por entre os meus CDs e pegou um deles. Colocou o mesmo no aparelho de som e logo uma música lenta começou a tocar no ambiente. tirou seus chinelos e me chamou com a mão. Fui até ele, hesitante, e parei em sua frente. Senti um de seus braços envolver minha cintura, levando meu corpo para mais perto do seu. Encarei seus olhos cor de mel e me encarava de volta com uma expressão de concentração no rosto.
Coloquei uma de minhas mãos no seu ombro e ele segurou minha outra mão com a sua. Nossos corpos estavam tão juntos que eu podia sentir o seu calor e o seu perfume serem transmitidos a mim. Suspirei e deu pequenos passos, começando a dançar. Olhei para nossos pés e ele fez um barulho com a boca, chamando minha atenção.
- Olhe sempre nos meus olhos, . – falou e eu balancei a cabeça afirmativamente. – Deixe o ritmo da música conduzir o seu corpo. Acredite, ela faz todo o trabalho por você.
Meu corpo estava um pouco trêmulo por conta da nossa proximidade. Acho que eu nunca fiquei tão próxima a alguém além do meu pai. Estou falando do sexo masculino, é claro. Até com eu era meio fria nesse aspecto. De vez em quando, ele tentava me abraçar, mas eu sempre me afastava alguns minutos depois. Nunca deixei que as pessoas fossem muito carinhosas comigo ou eu fosse com elas.
Tenho que admitir que sempre fui muito fria e seca. Contatos físicos não eram o meu forte. Eu preferia ficar sentadinha no meu canto, longe de tudo e de todos. Acho que ninguém nunca ultrapassou a barreira como estava fazendo agora.
- Por que está tremendo? – perguntou num tom risonho. Droga, ele sempre percebe tudo.
- Estou com frio. – menti.
Ele ficou em silêncio. Espero que tenha acreditado na minha mentira.
Desviei o olhar de seu rosto e engoli em seco, ainda dançando com ele em passos lentos. levou a mão que estava em minha cintura até meu rosto e levantou meu queixo, meio que me obrigando a encará-lo novamente. Seus dedos fizeram um rastro por minha bochecha e meus músculos ficaram tensos.
- Relaxe, . Você não pode ficar tensa se ele te tocar. – alertou-me.
- Mas é meio que impossível. Eu nunca fui tocada dessa maneira...
me olhou com compreensão. Seus olhos transmitiam uma tranquilidade tão grande, mas que infelizmente não foi suficiente para acalmar meu coração que a essa altura já estava batendo forte dentro de meu peito. Seus dedos começaram a acariciar lentamente meu rosto. Fechei os olhos e tirou meus óculos. Senti quando seus dedos passaram sobre minhas pálpebras fechadas, depois fazendo o contorno de meu nariz, passando por minhas bochechas coradas e chegando até meus lábios.
A ponta de seus dedos gélidos tocaram meus lábios quentes, contornando-os. Seu polegar passou por meu lábio superior e foi até o meu inferior. Suspirei e senti meus pelos da nuca eriçarem quando seus lábios macios fizeram pressão contra minha bochecha. me deu um beijo demorado e logo se separou de mim. Sua mão voltou à minha cintura e a apertou levemente. Abri meus olhos e avistei seus olhos mais uma vez indecifráveis em minha direção. Eu não sabia o que se passava pela cabeça de quando ele me olhava daquela forma, e acho que eu nunca ia saber. Não teria a coragem de perguntar.
Tudo estava lindo, maravilhoso. Mas como na minha vida, algumas coisas simples têm que dar errado. Eu fiquei tão vidrada nos olhos de que me olhavam com atenção, que acabei pisando no pé dele.
- Au! – ele murmurou e eu parei de me movimentar no mesmo instante.
- Me desculpe, ! – disse – Foi sem querer. Eu... E-eu...
- Está tudo bem, . Isso acontece. – riu – Logo agora que eu ia dizer que você estava indo muito bem, mas enfim...
- Acho que já chega de aulas por hoje. – disse baixo e me sentei no sofá.
Passei minhas mãos por meu rosto e respirei fundo, tentando me acalmar e esconder a vergonha que eu estava sentindo. Ainda não acredito que você pisou no pé dele, ! – minha mente gritava comigo. Encostei-me ao sofá e fiquei de olhos fechados com a cabeça tombada para trás.
- Você enxerga sem óculos? – ele perguntou e eu o encarei.
- Quase nada. – respondi – Por quê?
- Preciso comprar algumas lentes para você, então.
- Odeio lentes. – murmurei.
- Pois vai ter que aprender a gostar.
Ele devolveu meus óculos e eu bufei, colocando-os de volta.
- Estou sentindo que isso não vai dar certo.
se sentou ao meu lado e me olhou.
- E por que não?
- Não gosto da simples ideia de ter de me mudar totalmente para agradar alguém. Se a pessoa realmente gostar de mim, ela vai gostar pelo que eu sou, certo? – perguntei.
- Certo. – ele concordou – Mas pense nisso por outro lado. O que eu te ensinar, você pode usar quando bem entender. Pelo menos vai saber de algumas coisas, até para nos entender melhor. Admito que os homens às vezes sejam meio complicados. Mas as mulheres são piores. – ri com seu comentário.
- Dê-me um exemplo. – pedi com a sobrancelha arqueada.
- Quando vocês estão bravas com a gente... Vocês deviam abrir logo o jogo, sabe? Não ficar enrolando esperando que nós adivinhemos o que fizemos de errado. Nós não temos bolas de cristal.
Ri debochada.
- Certo, mas vocês deveriam pelo menos prestar mais atenção na gente. Se estamos bravas e não falamos o porquê, é porque esperamos que vocês lembrem do que fizeram. Esperamos que vocês mostrem um pouco mais de sensibilidade.
Ele negou com a cabeça. – Vocês só complicam tudo, isso sim. Seria bem mais fácil abrir o jogo e conversar logo para resolver os problemas do que passar dias e dias com a cara emburrada.
Neguei e ri, ficando em silêncio.
- ? – o chamei.
- Hm?
- Você poderia responder uma pergunta?
- Depende. – deu de ombros.
Respirei fundo, sentindo minha bochecha corar.
- Por que vocês ficam ‘’animadinhos’’ quando veem uma mulher chupando um pirulito ou picolé? Você ainda não me esclareceu esse assunto.
Ele me encarou surpreso e depois soltou uma risada alta.
- Ah... É porque... bem, tem a ver com o sexo oral que eu te falei. Quando os homens veem certas coisas como essa, eles imaginam como seria se no lugar do pirulito, fossem eles sendo chupados.
Fiz uma careta de nojo e vi ficar sem graça. Parece que ele também tinha vergonha de falar sobre isso.
- Bem, para eles pensarem isso é porque deve ser bom... – comentei.
- Oh, sim. É muito bom. – ele sorriu sapeca e eu desviei o olhar.
Fiquei quieta.
- Mais alguma pergunta? – perguntou.
- Sim... É... Você é do tipo que tem... – congelei. Era muita vergonha para uma pessoa só. Oh céus.
- Tenho...? – incentivou-me.
- Que tem ereção matinal. – falei rápido e cobri meu rosto com as mãos.
Eu não conseguia encará-lo. Eu devia estar parecendo um tomate de tanta vergonha. Por que eu tinha que ser tão tímida? Isso não é justo com a minha pessoa. O silêncio pairou pelo ar e eu senti que tinha ficado um tanto chocado com a minha pergunta. Mas era uma pergunta a qual eu não conseguia segurar. Já que ele estava me ajudando com a minha ‘’transformação’’, ele podia responder essa simples perguntinha, não é?
- Ei, olhe para mim, . – ele pediu e eu neguei com a cabeça. – Vamos. Não precisa ficar com vergonha. Eu já te considero minha amiga e amigos podem falar sobre tudo, certo?
Assenti e o olhei tímida.
- Eu também já te considero como meu amigo. Mesmo você sendo irritante, você é bem legal às vezes. – ele sorriu convencido. – Eu disse às vezes.
Ele riu fraco, mas de repente ficou sério.
- Sim. Eu tenho ereção matinal. – respondeu corado, coçando a nuca.
corou? Uau! Isso é novidade para mim.
- Ah, sim. – disse simplesmente sem saber o que dizer.
- E você, já ficou excitada? – perguntou e eu arregalei os olhos.
- Isso é algum tipo de vingança pela minha pergunta?
- Não. – riu e eu o olhei, desconfiada. – Ok, pode ser. Responda.
- Acho que não. – admiti com vergonha. – Na verdade, eu não sei.
- Como não sabe? Nem com uma foto de algum cara ou vídeo? Sei lá, qualquer coisa!
- Não me lembro. Mas... Como eu vou saber quando eu estiver? – perguntei, apertando a almofada do sofá contra meu peito.
- Acredite, toda mulher sabe. Isso é algo pessoal de cada uma, mas acredito que seja mais ou menos como os homens. – ele disse pensativo. – A diferença é que o homem fica duro e a mulher fica... molhada.
Silêncio.
- Sério, estou me sentindo um pedófilo tirando a inocência de uma criança!
Ele gargalhou e eu joguei minha almofada em seu rosto, levantando do sofá. Ouvi meu celular tocando em meu quarto e corri para atender. Peguei o mesmo e um enorme sorriso se formou em meu rosto quando eu vi quem me ligava.
- Alô, pai? – sorri e me sentei na cama.
- , minha filha! Que saudades de você, querida.
- Eu também estou morrendo de saudades de você, pai.
- E como estão as coisas por aí? Está estudando direitinho? Está comendo bem? – seu tom me fez rir. Senhor Wright sempre me tratando como uma criança.
- Está tudo bem, papai. Estou indo bem na faculdade e amanhã o professor vai agendar os horários do estágio. Parece que eu finalmente vou arrumar um emprego! – disse animada, abraçando meu travesseiro contra meu peito.
- Era sobre isso mesmo que eu ia te perguntar. Então, já vai conseguir pagar os aluguéis atrasados, certo? – perguntou.
Engoli em seco. Eu não podia contar a verdade para o meu pai. Não podia contar que estou dividindo o apartamento com um homem e que ele ainda pagou todos os aluguéis. Meu pai ia ter um ataque e pegaria o primeiro avião para Nova York na hora só para me dar sermão e enxotar daqui de casa. Depois ele arrancaria meu fígado e daria de comer para os cachorros da senhora Gilbert, nossa vizinha em Charlotte.
- Ah, sim, pai. Vou conseguir o dinheiro necessário, graças a Deus.
- Eu estava até pensando em te mandar mais dinheiro... – o interrompi.
- Não será preciso. Eu me resolvo aqui. Será que eu vou ter sempre que te lembrar de que eu já sou uma adulta? – falei num tom repreensivo, mas sorrindo de canto.
- Às vezes é difícil acreditar que a minha garotinha já é uma mulher. – suspirou – Ainda lembro-me de quando eu te levava ao parquinho e te empurrava no balanço.
- Ei, ei... Eu ainda sou a sua garotinha, pai. Sempre vou ser. – afirmei.
- Mas não é mais a mesma coisa...
- É sim! Mas enfim, como estão as coisas aí?
- Por aqui está tudo bem. Hoje teve um incêndio em uma casa aqui por perto, mas conseguimos salvar a família. – meu pai era bombeiro desde que eu me conheço por gente. E ele simplesmente ama a sua profissão, mesmo eu achando um tanto quanto arriscada demais. – E a sua tia Sarah fez um bolo de chocolate maravilhoso. Você ia amar se estivesse aqui.
- Bolo de chocolate? – choraminguei. – Você sabe que é o meu favorito! Sacanagem você falar isso para mim sabendo que eu estou a quilômetros de distância.
Ele riu.
- Não se preocupe com isso, querida. O feriado de 4 de julho está quase chegando e eu peço a ela para fazer uns cinco bolos de chocolate para você. – ri com sua fala.
- Não exagera, pai. Não quero ter uma dor de barriga. E afinal, ainda falta um mês para o feriado. Acho que não vou resistir até lá. – choraminguei, fazendo-o dar outra risada gostosa. – Isso é tortura, senhor Benjamin Wright.
- Paciência, . Vamos nos ver em breve.
- Ainda bem, porque não aguento mais de saudade da minha família. – suspirei.
- Mas você está bem onde está, não? Está cursando a faculdade que sempre quis. Isso já é uma grande conquista. Eu nunca me perdoaria se você deixasse de seguir os seus sonhos por minha causa, querida.
- Eu sei, pai, eu sei.
Ficamos conversando por mais ou menos meia hora e eu finalizei a ligação.
Coloquei uma de minhas mãos no seu ombro e ele segurou minha outra mão com a sua. Nossos corpos estavam tão juntos que eu podia sentir o seu calor e o seu perfume serem transmitidos a mim. Suspirei e deu pequenos passos, começando a dançar. Olhei para nossos pés e ele fez um barulho com a boca, chamando minha atenção.
- Olhe sempre nos meus olhos, . – falou e eu balancei a cabeça afirmativamente. – Deixe o ritmo da música conduzir o seu corpo. Acredite, ela faz todo o trabalho por você.
Meu corpo estava um pouco trêmulo por conta da nossa proximidade. Acho que eu nunca fiquei tão próxima a alguém além do meu pai. Estou falando do sexo masculino, é claro. Até com eu era meio fria nesse aspecto. De vez em quando, ele tentava me abraçar, mas eu sempre me afastava alguns minutos depois. Nunca deixei que as pessoas fossem muito carinhosas comigo ou eu fosse com elas.
Tenho que admitir que sempre fui muito fria e seca. Contatos físicos não eram o meu forte. Eu preferia ficar sentadinha no meu canto, longe de tudo e de todos. Acho que ninguém nunca ultrapassou a barreira como estava fazendo agora.
- Por que está tremendo? – perguntou num tom risonho. Droga, ele sempre percebe tudo.
- Estou com frio. – menti.
Ele ficou em silêncio. Espero que tenha acreditado na minha mentira.
Desviei o olhar de seu rosto e engoli em seco, ainda dançando com ele em passos lentos. levou a mão que estava em minha cintura até meu rosto e levantou meu queixo, meio que me obrigando a encará-lo novamente. Seus dedos fizeram um rastro por minha bochecha e meus músculos ficaram tensos.
- Relaxe, . Você não pode ficar tensa se ele te tocar. – alertou-me.
- Mas é meio que impossível. Eu nunca fui tocada dessa maneira...
me olhou com compreensão. Seus olhos transmitiam uma tranquilidade tão grande, mas que infelizmente não foi suficiente para acalmar meu coração que a essa altura já estava batendo forte dentro de meu peito. Seus dedos começaram a acariciar lentamente meu rosto. Fechei os olhos e tirou meus óculos. Senti quando seus dedos passaram sobre minhas pálpebras fechadas, depois fazendo o contorno de meu nariz, passando por minhas bochechas coradas e chegando até meus lábios.
A ponta de seus dedos gélidos tocaram meus lábios quentes, contornando-os. Seu polegar passou por meu lábio superior e foi até o meu inferior. Suspirei e senti meus pelos da nuca eriçarem quando seus lábios macios fizeram pressão contra minha bochecha. me deu um beijo demorado e logo se separou de mim. Sua mão voltou à minha cintura e a apertou levemente. Abri meus olhos e avistei seus olhos mais uma vez indecifráveis em minha direção. Eu não sabia o que se passava pela cabeça de quando ele me olhava daquela forma, e acho que eu nunca ia saber. Não teria a coragem de perguntar.
Tudo estava lindo, maravilhoso. Mas como na minha vida, algumas coisas simples têm que dar errado. Eu fiquei tão vidrada nos olhos de que me olhavam com atenção, que acabei pisando no pé dele.
- Au! – ele murmurou e eu parei de me movimentar no mesmo instante.
- Me desculpe, ! – disse – Foi sem querer. Eu... E-eu...
- Está tudo bem, . Isso acontece. – riu – Logo agora que eu ia dizer que você estava indo muito bem, mas enfim...
- Acho que já chega de aulas por hoje. – disse baixo e me sentei no sofá.
Passei minhas mãos por meu rosto e respirei fundo, tentando me acalmar e esconder a vergonha que eu estava sentindo. Ainda não acredito que você pisou no pé dele, ! – minha mente gritava comigo. Encostei-me ao sofá e fiquei de olhos fechados com a cabeça tombada para trás.
- Você enxerga sem óculos? – ele perguntou e eu o encarei.
- Quase nada. – respondi – Por quê?
- Preciso comprar algumas lentes para você, então.
- Odeio lentes. – murmurei.
- Pois vai ter que aprender a gostar.
Ele devolveu meus óculos e eu bufei, colocando-os de volta.
- Estou sentindo que isso não vai dar certo.
se sentou ao meu lado e me olhou.
- E por que não?
- Não gosto da simples ideia de ter de me mudar totalmente para agradar alguém. Se a pessoa realmente gostar de mim, ela vai gostar pelo que eu sou, certo? – perguntei.
- Certo. – ele concordou – Mas pense nisso por outro lado. O que eu te ensinar, você pode usar quando bem entender. Pelo menos vai saber de algumas coisas, até para nos entender melhor. Admito que os homens às vezes sejam meio complicados. Mas as mulheres são piores. – ri com seu comentário.
- Dê-me um exemplo. – pedi com a sobrancelha arqueada.
- Quando vocês estão bravas com a gente... Vocês deviam abrir logo o jogo, sabe? Não ficar enrolando esperando que nós adivinhemos o que fizemos de errado. Nós não temos bolas de cristal.
Ri debochada.
- Certo, mas vocês deveriam pelo menos prestar mais atenção na gente. Se estamos bravas e não falamos o porquê, é porque esperamos que vocês lembrem do que fizeram. Esperamos que vocês mostrem um pouco mais de sensibilidade.
Ele negou com a cabeça. – Vocês só complicam tudo, isso sim. Seria bem mais fácil abrir o jogo e conversar logo para resolver os problemas do que passar dias e dias com a cara emburrada.
Neguei e ri, ficando em silêncio.
- ? – o chamei.
- Hm?
- Você poderia responder uma pergunta?
- Depende. – deu de ombros.
Respirei fundo, sentindo minha bochecha corar.
- Por que vocês ficam ‘’animadinhos’’ quando veem uma mulher chupando um pirulito ou picolé? Você ainda não me esclareceu esse assunto.
Ele me encarou surpreso e depois soltou uma risada alta.
- Ah... É porque... bem, tem a ver com o sexo oral que eu te falei. Quando os homens veem certas coisas como essa, eles imaginam como seria se no lugar do pirulito, fossem eles sendo chupados.
Fiz uma careta de nojo e vi ficar sem graça. Parece que ele também tinha vergonha de falar sobre isso.
- Bem, para eles pensarem isso é porque deve ser bom... – comentei.
- Oh, sim. É muito bom. – ele sorriu sapeca e eu desviei o olhar.
Fiquei quieta.
- Mais alguma pergunta? – perguntou.
- Sim... É... Você é do tipo que tem... – congelei. Era muita vergonha para uma pessoa só. Oh céus.
- Tenho...? – incentivou-me.
- Que tem ereção matinal. – falei rápido e cobri meu rosto com as mãos.
Eu não conseguia encará-lo. Eu devia estar parecendo um tomate de tanta vergonha. Por que eu tinha que ser tão tímida? Isso não é justo com a minha pessoa. O silêncio pairou pelo ar e eu senti que tinha ficado um tanto chocado com a minha pergunta. Mas era uma pergunta a qual eu não conseguia segurar. Já que ele estava me ajudando com a minha ‘’transformação’’, ele podia responder essa simples perguntinha, não é?
- Ei, olhe para mim, . – ele pediu e eu neguei com a cabeça. – Vamos. Não precisa ficar com vergonha. Eu já te considero minha amiga e amigos podem falar sobre tudo, certo?
Assenti e o olhei tímida.
- Eu também já te considero como meu amigo. Mesmo você sendo irritante, você é bem legal às vezes. – ele sorriu convencido. – Eu disse às vezes.
Ele riu fraco, mas de repente ficou sério.
- Sim. Eu tenho ereção matinal. – respondeu corado, coçando a nuca.
corou? Uau! Isso é novidade para mim.
- Ah, sim. – disse simplesmente sem saber o que dizer.
- E você, já ficou excitada? – perguntou e eu arregalei os olhos.
- Isso é algum tipo de vingança pela minha pergunta?
- Não. – riu e eu o olhei, desconfiada. – Ok, pode ser. Responda.
- Acho que não. – admiti com vergonha. – Na verdade, eu não sei.
- Como não sabe? Nem com uma foto de algum cara ou vídeo? Sei lá, qualquer coisa!
- Não me lembro. Mas... Como eu vou saber quando eu estiver? – perguntei, apertando a almofada do sofá contra meu peito.
- Acredite, toda mulher sabe. Isso é algo pessoal de cada uma, mas acredito que seja mais ou menos como os homens. – ele disse pensativo. – A diferença é que o homem fica duro e a mulher fica... molhada.
Silêncio.
- Sério, estou me sentindo um pedófilo tirando a inocência de uma criança!
Ele gargalhou e eu joguei minha almofada em seu rosto, levantando do sofá. Ouvi meu celular tocando em meu quarto e corri para atender. Peguei o mesmo e um enorme sorriso se formou em meu rosto quando eu vi quem me ligava.
- Alô, pai? – sorri e me sentei na cama.
- , minha filha! Que saudades de você, querida.
- Eu também estou morrendo de saudades de você, pai.
- E como estão as coisas por aí? Está estudando direitinho? Está comendo bem? – seu tom me fez rir. Senhor Wright sempre me tratando como uma criança.
- Está tudo bem, papai. Estou indo bem na faculdade e amanhã o professor vai agendar os horários do estágio. Parece que eu finalmente vou arrumar um emprego! – disse animada, abraçando meu travesseiro contra meu peito.
- Era sobre isso mesmo que eu ia te perguntar. Então, já vai conseguir pagar os aluguéis atrasados, certo? – perguntou.
Engoli em seco. Eu não podia contar a verdade para o meu pai. Não podia contar que estou dividindo o apartamento com um homem e que ele ainda pagou todos os aluguéis. Meu pai ia ter um ataque e pegaria o primeiro avião para Nova York na hora só para me dar sermão e enxotar daqui de casa. Depois ele arrancaria meu fígado e daria de comer para os cachorros da senhora Gilbert, nossa vizinha em Charlotte.
- Ah, sim, pai. Vou conseguir o dinheiro necessário, graças a Deus.
- Eu estava até pensando em te mandar mais dinheiro... – o interrompi.
- Não será preciso. Eu me resolvo aqui. Será que eu vou ter sempre que te lembrar de que eu já sou uma adulta? – falei num tom repreensivo, mas sorrindo de canto.
- Às vezes é difícil acreditar que a minha garotinha já é uma mulher. – suspirou – Ainda lembro-me de quando eu te levava ao parquinho e te empurrava no balanço.
- Ei, ei... Eu ainda sou a sua garotinha, pai. Sempre vou ser. – afirmei.
- Mas não é mais a mesma coisa...
- É sim! Mas enfim, como estão as coisas aí?
- Por aqui está tudo bem. Hoje teve um incêndio em uma casa aqui por perto, mas conseguimos salvar a família. – meu pai era bombeiro desde que eu me conheço por gente. E ele simplesmente ama a sua profissão, mesmo eu achando um tanto quanto arriscada demais. – E a sua tia Sarah fez um bolo de chocolate maravilhoso. Você ia amar se estivesse aqui.
- Bolo de chocolate? – choraminguei. – Você sabe que é o meu favorito! Sacanagem você falar isso para mim sabendo que eu estou a quilômetros de distância.
Ele riu.
- Não se preocupe com isso, querida. O feriado de 4 de julho está quase chegando e eu peço a ela para fazer uns cinco bolos de chocolate para você. – ri com sua fala.
- Não exagera, pai. Não quero ter uma dor de barriga. E afinal, ainda falta um mês para o feriado. Acho que não vou resistir até lá. – choraminguei, fazendo-o dar outra risada gostosa. – Isso é tortura, senhor Benjamin Wright.
- Paciência, . Vamos nos ver em breve.
- Ainda bem, porque não aguento mais de saudade da minha família. – suspirei.
- Mas você está bem onde está, não? Está cursando a faculdade que sempre quis. Isso já é uma grande conquista. Eu nunca me perdoaria se você deixasse de seguir os seus sonhos por minha causa, querida.
- Eu sei, pai, eu sei.
Ficamos conversando por mais ou menos meia hora e eu finalizei a ligação.
Capítulo 8 – Encontro Triplo
Quando voltei à sala, estava no celular enquanto apoiava seu corpo à bancada da cozinha.
- Não, pai. – ele disse e pausou, revirando os olhos. – Eu fui à empresa hoje e já resolvi isso. A Olivia também conversou com o cliente e ele aceitou todos os termos do contrato. Não tem por que ficar preocupado. – pausa novamente. – Eu sei que estamos começando agora, mas vai dar tudo certo. O escritório recebeu muitas pessoas hoje e Victoria disse que elas ficaram bem interessadas em fechar contrato com a gente. Parece que tem um grupo de uma igreja que quer fazer uma viagem e nos procurou hoje pela parte da tarde. Acabei de falar com Vicky sobre isso.
Peguei meu celular e fiquei o encarando, fingindo estar fazendo outra coisa quando na verdade eu estava com os ouvidos bem atentos a sua conversa.
- Certo. Depois você me liga, então. – disse e passou a mão no cabelo. – Ok, tchau, pai.
finalizou a chamada e me encarou, sorrindo de canto.
- Já pode parar de fingir, . Eu sei que você estava ouvindo a minha conversa. – se aproximou com os braços cruzados.
- E o que te faz pensar isso? – ri sem graça – Você se acha, huh? O mundo não gira em torno de você, .
- Eu sei que não, mas você estava sim escutando a conversa pelo simples fato de você estar passando o dedo pela tela e o celular estar desligado. – arqueou uma sobrancelha e eu olhei para meu celular, constatando que o que disse era verdade.
Droga.
- É... Eu... Ele desligou agora. – inventei qualquer mentira e balançou a cabeça, rindo de mim.
- Você não é boa com mentiras. Será que até isso eu vou ter que te ensinar?
- Dá um tempo, . – rolei os olhos.
Ele se sentou no sofá e me chamou com a mão. Sentei ao seu lado e ele me encarou.
- O que você vai fazer hoje à noite? Espero que não planeje ficar aqui em casa sem fazer nada.
- Na verdade, eu não sei. Eu provavelmente iria fazer uma pipoca e assistir a um algum filme. – dei de ombros.
fez careta. – Então eu tenho um plano para você.
- E qual seria?
- Ir ao cinema comigo. – sorriu. – Bom, tecnicamente não seria só comigo. A Olivia também vai.
Revirei os olhos.
- Olivia? – fiz careta.
- Eu sabia que você ia fazer essa cara se eu falasse dela! – riu – Por que você não gosta dela? A Olivia é uma pessoa muito legal e simpática. Poderiam até ser amigas.
- Não é que eu não goste dela. É só que... – pausei, dando um suspiro.
- Que...?
- Eu sinto inveja de vocês dois. – admiti cobrindo o rosto com a almofada.
- O quê? Por quê?
me olhou com interesse e eu respirei fundo.
- Porque vocês se gostam... E se dão muito bem. Você sabe o quanto eu queria que alguém me olhasse do jeito que vocês se olham? – perguntei enquanto ele me encarava atentamente, dando lugar novamente ao seu olhar indecifrável. – Eu queria poder ter alguém que me mandasse uma mensagem de bom dia, ou me fizesse rir com piadas sem graça, ou até dissesse que me ama. Eu só queria isso por pelo menos uma vez na minha vida. Amar e ser amada.
Fiquei em silêncio e também. Ele parecia não saber o que falar, e eu entendia o seu lado. Não deve ser fácil ter uma garota estranha desabafando com você. Uma garota tímida e necessitada urgentemente de amor.
- Eu acho que você está desesperada por besteira, . – encarei-o. – Quando você menos esperar, a pessoa certa vai aparecer. Não precisa ficar procurando em volta. Ela simplesmente vai chegar. Tudo acontece na hora que tem que acontecer.
- Obrigada pelos conselhos. Hoje eu percebi que você é uma pessoa boa. – admiti.
sorriu convencido, passando a mão no cabelo. – Eu sei.
Ri fraco.
- Mas e então, aceita ir ao cinema com a gente? – perguntou.
- Não sei... Será que a Olivia não vai se incomodar?
- Que nada! Hoje mesmo ela perguntou de você lá na empresa. Parece que ela ficou muito curiosa a seu respeito. Quer saber mais sobre você e acho que até ser sua amiga.
- Sério? – disse surpresa.
Ele balançou a cabeça afirmativamente.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Sim. – ele disse.
- Por que você veio morar comigo? Quero dizer, pelo que eu vejo, você é rico e tudo mais. Por que simplesmente não comprou uma casa ou apartamento para você?
- Bem, porque quando meu pai apareceu com a bela notícia de que me mandaria para Nova York, eu admito que fiquei atordoado. Minha vida sempre foi lá no Canadá e mudar de país assim do nada foi uma grande surpresa para mim. – ele olhou para as mãos entrelaçadas sobre os joelhos. – Quando ele me deu a notícia, foi algo muito rápido. Num dia ele me comunica sobre os seus planos e no outro, ele já tem a passagem em mãos. Não tive tempo nem de procurar algum lugar para morar aqui. Vim na sorte.
Assenti e ele continuou: - Então fiz as malas e embarquei. Cheguei aqui e vi a dificuldade que era para arranjar algum lugar para morar. Admito que Nova York, mesmo sendo uns dos meus sonhos, é uma cidade difícil para tudo. Eu estava andando pelas ruas quando eu avistei o seu panfleto na porta de uma lanchonete. Eu vi que você estava procurando alguém para dividir o apartamento, mas que tinha um prazo e esse prazo acabaria no dia seguinte. Eu achei que ainda dava tempo de te procurar e então... Vim para cá. Conheci a garota do apartamento sendo despejada no mesmo momento em que eu chegava. Sabe, ela é uma maluca que estava toda descabelada, histérica e chorosa. Fiquei com pena da garota e paguei os aluguéis já que eu também precisava do apartamento. Afinal, onde mais eu iria morar? Debaixo da ponte?
Soltei uma gargalhada quando ele acabou sua explicação. – Sabe que eu também pensei a mesma coisa nos últimos dias? Eu só ficava me perguntando sobre qual ponte era mais viável para a minha moradia.
- E qual ponte foi a sua escolhida? – um sorriso no canto de seus lábios se formou.
- A ponte de Manhattan é a melhor. – disse pensativa.
- Concordo. Ela é a mais bonita.
- Acho melhor nos arrumarmos, então. – mudei de assunto, levantando do sofá.
se levantou e me olhou. – Eu também tenho uma pergunta para você.
- E qual seria? – franzi a testa.
- Por que você se irrita tão fácil com as coisas que eu falo ou faço?
- Eu não sei. Acho que é o seu jeito. Você é muito intrometido, folgado e convencido. – ele riu – Isso me irrita muito. E convenhamos que você também gosta de me provocar. Não faz nenhum esforço para ser mais legal comigo. – fiz bico.
- É, tenho que admitir que gosto de te irritar. Você fica engraçada fazendo caretas quando está brava. Digamos que no momento, você é o meu passatempo favorito.
Dei-lhe um tapa no ombro e ele riu.
Fui até meu quarto para me arrumar, mas primeiramente peguei minha toalha e fui tomar um banho rápido. Quando voltei ao meu quarto, peguei uma calça jeans com uma regata azul. Vesti-me e coloquei o casaco de moletom da NYU. Calcei minhas sapatilhas e penteei meus cabelos, deixando-os soltos assim que lembrei do que havia me falado sobre eu ficar mais bonita e atraente. Pus meus inseparáveis óculos e dei uma última olhada no espelho antes de sair do quarto enquanto colocava meu celular no bolso da calça.
Quando voltei à sala, já estava lá me esperando. Fiz um sinal com a cabeça e ele assentiu, percebendo que já podíamos ir. Saímos do apartamento e descemos pelo elevador. Entramos em seu carro que estava na garagem e ele deu a partida. Um silêncio se instalou e eu fiquei olhando pela janela, vendo as casas e os outros carros passando.
- Vejo que seguiu a minha orientação... – comentou, quebrando o silêncio.
Encarei-o e ele continuava com os olhos na estrada.
- O quê? – perguntei confusa.
- Sobre o cabelo.
- Ah... Pois é. – peguei meu celular e o fiquei encarando.
- Como foi o seu dia? – perguntou e eu notei que ele claramente tentava puxar assunto para acabar com o incômodo silêncio.
- Foi... normal. – suspirei – O professor nos avisou sobre o estágio que devemos fazer. Parece que consegui um emprego. É por um tempo, mas... – sorri de canto.
- Sério? – assenti – Que bacana! Fico feliz por você. Muito feliz. – ele me olhou rapidamente, sorrindo.
- Obrigada. – agradeci sincera.
Silêncio.
- E o seu dia? – perguntei.
- Foi normal também. Apenas trabalhei, trabalhei e... Ah! Trabalhei! – disse fazendo graça e eu ri fraco.
- Parece que seu dia foi bem entediante. Um ponto para mim.
riu do meu comentário e eu fiquei encarando seu rosto em meio à escuridão do carro. Seu rosto era iluminado apenas pelas luzes dos postes das ruas por onde passávamos. Sua risada era tão gostosa de se ouvir e suas feições eram tão belas que me faziam apreciá-las e não sentir vontade de parar de observá-lo. O canto de sua boca estava levemente erguido em um sorriso de canto e eu queria poder ler mentes só para saber o que ele tanto pensava que o fazia sorrir daquela forma encantadora.
- ? – ouvi sua voz e acordei do meu transe. Balancei a cabeça e o encarei.
- Sim?
- Já chegamos à casa da Olivia. – ele disse e eu virei meu rosto, olhando pela janela.
Avistei a casa branca e mediana com um lindo jardim e uma enorme garagem. Também vi quando Olivia apareceu e desceu as pequenas escadas, vindo em nossa direção. Tirei meu cinto de segurança e abri a porta do carro, mas a voz de me impediu no instante seguinte.
- O que está fazendo?
- Vou sentar lá atrás para ela poder sentar aqui com você. – expliquei.
- Mas por quê? Não há necessidade disso, .
- Não se preocupe, . Eu não me incomodo nem um pouco com isso.
Saí do carro e abri a porta de trás, voltando a entrar e me sentar no banco traseiro. Olivia se aproximou e entrou, sentando-se ao lado de .
- Oi, . – sua voz sorridente ecoou pelo carro que começava a se movimentar.
- Oi, Olivia. – respondeu no mesmo tom e pelo espelho retrovisor, vi que ele estampava um enorme sorriso nos lábios.
- Olá, . – se dirigiu a mim e eu sorri de canto.
- Oi.
- Eu não sabia que você viria conosco. – disse se virando e me olhando.
- Eu a convidei. Espero que não tenha problema. – disse dando-me uma rápida olhada pelo espelho.
- É claro que não! Nós vamos nos divertir muito. – ela sorriu animada e eu apenas assenti com a cabeça.
O caminho se resumiu a e Olivia conversando sobre trabalho e depois a uma conversa interna a qual eu não fazia ideia sobre o que era. Eles até pareciam melhores amigos desde a infância e que tinham códigos os quais só eles conseguiam entender e foda-se quem estava por perto. Respirei fundo e peguei meu celular. Troquei algumas mensagens com e marcamos de sair amanhã para comprar as minhas roupas novas.
Finalmente chegamos ao shopping e eu saí do carro. O vento frio me rondou e eu me encolhi mais dentro do meu moletom, colocando as mãos dentro dos bolsos do mesmo. e Olivia entrelaçaram as mãos e eu observei aquilo enquanto os seguia para dentro do shopping. Eu tinha a ligeira sensação de que eu ia sobrar nesse ‘’encontro triplo’’. E a sensação só foi piorando enquanto estávamos na fila do cinema para comprar pipoca e refrigerante. O casal trocava palavrinhas fofas e um dava beijo na bochecha do outro. Peguei minha pipoca e refrigerante juntamente com um pacotinho de bala de menta e dei o dinheiro para a moça que tinha me atendido.
Ficamos na fila para entrar na sala de cinema e eu suspirei ao ver que e Olivia se afastavam cada vez mais de mim em meio à multidão que entrava na sala. Levei um empurrão que quase minha pipoca voou para o outro lado do shopping. Bufei irritada. Eu odiava aglomerações. Simplesmente odiava. Fora o fato de que eu tinha um sério problema de claustrofobia, e isso não ajudava em nada a minha situação.
- ! Vem! – ouvi gritar enquanto entrava com Olivia.
Fiquei na ponta dos pés na tentativa falha de enxergá-lo.
- Já vou! – gritei de volta.
Mais um empurrão me foi dado e dessa vez eu tive de segurar os óculos para eles não voarem. Com muito esforço, consegui entrar na sala de cinema e procurei em volta pelo casal vinte. Encontrei-os se sentando na fileira do meio. olhou para trás e acenou assim que me viu. Fui até ele, passando por algumas pernas no caminho, e me sentei ao seu lado. Soltei um suspiro aliviado e me ajeitei mais na poltrona.
Assim que a luz se apagou e os trailers começaram, eu me pus a comer minha pipoca. Sempre fui de comer a pipoca nos trailers e quando chegava ao filme, não tinha sobrado quase nada. Mas não me importei. Eu só queria afastar um pouco a sensação de quase ter sido pisoteada minutos atrás. E como eu faria isso? Comendo, é claro. O filme começou e eu me encolhi na poltrona acolchoada. Os minutos se passaram; Uma hora se passou e eu não estava me sentindo nem um pouco confortável.
E o principal motivo do meu desconforto era o fato de e Olivia estarem se pegando ao meu lado. Eu conseguia ouvir o som dos beijos que os dois trocavam, e era um som muito irritante, diga-se de passagem. Quando não estavam trocando saliva, estavam sussurrando algumas coisas e rindo baixo, mas que mesmo assim tirava a minha atenção do filme. Eu já não entendia mais nada que se passava na tela, só conseguia ouvir os dois ao meu lado. Apertei com força a latinha de refrigerante já vazia entre meus dedos e mordi o lábio inferior.
Rosnei baixo, mas que foi o suficiente para chamar a atenção de .
- O que houve, ? Está sentindo alguma coisa? – perguntou me encarando.
- É... Sim! Na verdade, não estou muito bem. – eu pensava em algo convincente para fugir dali o mais rápido possível. – Eu estou com falta de ar. Eu... Eu tenho claustrofobia e aqui está muito abafado. Acho melhor eu ir lá para fora.
- Oh sim, eu entendo. – disse num tom compreensivo. – Eu também tenho claustrofobia e entendo bem dessas coisas.
- Que bom. – falei fingindo uma falta de ar. – Eu vou lá para fora, okay?
- Okay. Quer que eu te acompanhe? – ele ameaçou se levantar.
- Não, não! – respondi rápido, fazendo-o franzir a testa. – Eu vou ficar bem. Fique com a Olivia. Não quero estragar o encontro de vocês. Só preciso de um pouco de ar.
- Mas, ... – ele ia dizer, mas me apressei em sair dali.
Levantei-me e saí quase correndo da sala de cinema. Já do lado de fora, eu puxei uma boa quantidade de ar e passei as mãos pelos cabelos. Olhei para o lado e vi um casal sentado num banco. Eles sorriam um para o outro e se beijavam, trocando carícias. Bufei e olhei para o outro lado, vendo a mesma coisa. Ah qual é? Por acaso hoje é o dia dos namorados?! É claro que não! Esse maldito dia é só em quatorze de fevereiro, então por que eles me torturam desse jeito? – minha mente gritava em agonia. Eu nem sabia o que se passava comigo. Só de ver casais felizes, eu sentia um ódio tão grande que quase se apoderava completamente de mim.
Eu devo ser uma pessoa muito amarga, porque às vezes nem eu mesma me aguento.
Fiquei passeando pelo shopping e vendo algumas vitrines enquanto o filme não acabava. Encarei uma saia xadrez na vitrine e quando me virei, meu corpo deu de encontro a outro e cambaleei. Se não fossem os braços fortes que me seguraram, eu certamente estaria no chão a essa hora.
- Ahn, me desculpe. – falei sem graça.
Levantei meu rosto e encarei a pessoa que ainda me segurava pelos braços. Arregalei meus olhos no mesmo instante. .
- Não, pai. – ele disse e pausou, revirando os olhos. – Eu fui à empresa hoje e já resolvi isso. A Olivia também conversou com o cliente e ele aceitou todos os termos do contrato. Não tem por que ficar preocupado. – pausa novamente. – Eu sei que estamos começando agora, mas vai dar tudo certo. O escritório recebeu muitas pessoas hoje e Victoria disse que elas ficaram bem interessadas em fechar contrato com a gente. Parece que tem um grupo de uma igreja que quer fazer uma viagem e nos procurou hoje pela parte da tarde. Acabei de falar com Vicky sobre isso.
Peguei meu celular e fiquei o encarando, fingindo estar fazendo outra coisa quando na verdade eu estava com os ouvidos bem atentos a sua conversa.
- Certo. Depois você me liga, então. – disse e passou a mão no cabelo. – Ok, tchau, pai.
finalizou a chamada e me encarou, sorrindo de canto.
- Já pode parar de fingir, . Eu sei que você estava ouvindo a minha conversa. – se aproximou com os braços cruzados.
- E o que te faz pensar isso? – ri sem graça – Você se acha, huh? O mundo não gira em torno de você, .
- Eu sei que não, mas você estava sim escutando a conversa pelo simples fato de você estar passando o dedo pela tela e o celular estar desligado. – arqueou uma sobrancelha e eu olhei para meu celular, constatando que o que disse era verdade.
Droga.
- É... Eu... Ele desligou agora. – inventei qualquer mentira e balançou a cabeça, rindo de mim.
- Você não é boa com mentiras. Será que até isso eu vou ter que te ensinar?
- Dá um tempo, . – rolei os olhos.
Ele se sentou no sofá e me chamou com a mão. Sentei ao seu lado e ele me encarou.
- O que você vai fazer hoje à noite? Espero que não planeje ficar aqui em casa sem fazer nada.
- Na verdade, eu não sei. Eu provavelmente iria fazer uma pipoca e assistir a um algum filme. – dei de ombros.
fez careta. – Então eu tenho um plano para você.
- E qual seria?
- Ir ao cinema comigo. – sorriu. – Bom, tecnicamente não seria só comigo. A Olivia também vai.
Revirei os olhos.
- Olivia? – fiz careta.
- Eu sabia que você ia fazer essa cara se eu falasse dela! – riu – Por que você não gosta dela? A Olivia é uma pessoa muito legal e simpática. Poderiam até ser amigas.
- Não é que eu não goste dela. É só que... – pausei, dando um suspiro.
- Que...?
- Eu sinto inveja de vocês dois. – admiti cobrindo o rosto com a almofada.
- O quê? Por quê?
me olhou com interesse e eu respirei fundo.
- Porque vocês se gostam... E se dão muito bem. Você sabe o quanto eu queria que alguém me olhasse do jeito que vocês se olham? – perguntei enquanto ele me encarava atentamente, dando lugar novamente ao seu olhar indecifrável. – Eu queria poder ter alguém que me mandasse uma mensagem de bom dia, ou me fizesse rir com piadas sem graça, ou até dissesse que me ama. Eu só queria isso por pelo menos uma vez na minha vida. Amar e ser amada.
Fiquei em silêncio e também. Ele parecia não saber o que falar, e eu entendia o seu lado. Não deve ser fácil ter uma garota estranha desabafando com você. Uma garota tímida e necessitada urgentemente de amor.
- Eu acho que você está desesperada por besteira, . – encarei-o. – Quando você menos esperar, a pessoa certa vai aparecer. Não precisa ficar procurando em volta. Ela simplesmente vai chegar. Tudo acontece na hora que tem que acontecer.
- Obrigada pelos conselhos. Hoje eu percebi que você é uma pessoa boa. – admiti.
sorriu convencido, passando a mão no cabelo. – Eu sei.
Ri fraco.
- Mas e então, aceita ir ao cinema com a gente? – perguntou.
- Não sei... Será que a Olivia não vai se incomodar?
- Que nada! Hoje mesmo ela perguntou de você lá na empresa. Parece que ela ficou muito curiosa a seu respeito. Quer saber mais sobre você e acho que até ser sua amiga.
- Sério? – disse surpresa.
Ele balançou a cabeça afirmativamente.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Sim. – ele disse.
- Por que você veio morar comigo? Quero dizer, pelo que eu vejo, você é rico e tudo mais. Por que simplesmente não comprou uma casa ou apartamento para você?
- Bem, porque quando meu pai apareceu com a bela notícia de que me mandaria para Nova York, eu admito que fiquei atordoado. Minha vida sempre foi lá no Canadá e mudar de país assim do nada foi uma grande surpresa para mim. – ele olhou para as mãos entrelaçadas sobre os joelhos. – Quando ele me deu a notícia, foi algo muito rápido. Num dia ele me comunica sobre os seus planos e no outro, ele já tem a passagem em mãos. Não tive tempo nem de procurar algum lugar para morar aqui. Vim na sorte.
Assenti e ele continuou: - Então fiz as malas e embarquei. Cheguei aqui e vi a dificuldade que era para arranjar algum lugar para morar. Admito que Nova York, mesmo sendo uns dos meus sonhos, é uma cidade difícil para tudo. Eu estava andando pelas ruas quando eu avistei o seu panfleto na porta de uma lanchonete. Eu vi que você estava procurando alguém para dividir o apartamento, mas que tinha um prazo e esse prazo acabaria no dia seguinte. Eu achei que ainda dava tempo de te procurar e então... Vim para cá. Conheci a garota do apartamento sendo despejada no mesmo momento em que eu chegava. Sabe, ela é uma maluca que estava toda descabelada, histérica e chorosa. Fiquei com pena da garota e paguei os aluguéis já que eu também precisava do apartamento. Afinal, onde mais eu iria morar? Debaixo da ponte?
Soltei uma gargalhada quando ele acabou sua explicação. – Sabe que eu também pensei a mesma coisa nos últimos dias? Eu só ficava me perguntando sobre qual ponte era mais viável para a minha moradia.
- E qual ponte foi a sua escolhida? – um sorriso no canto de seus lábios se formou.
- A ponte de Manhattan é a melhor. – disse pensativa.
- Concordo. Ela é a mais bonita.
- Acho melhor nos arrumarmos, então. – mudei de assunto, levantando do sofá.
se levantou e me olhou. – Eu também tenho uma pergunta para você.
- E qual seria? – franzi a testa.
- Por que você se irrita tão fácil com as coisas que eu falo ou faço?
- Eu não sei. Acho que é o seu jeito. Você é muito intrometido, folgado e convencido. – ele riu – Isso me irrita muito. E convenhamos que você também gosta de me provocar. Não faz nenhum esforço para ser mais legal comigo. – fiz bico.
- É, tenho que admitir que gosto de te irritar. Você fica engraçada fazendo caretas quando está brava. Digamos que no momento, você é o meu passatempo favorito.
Dei-lhe um tapa no ombro e ele riu.
Fui até meu quarto para me arrumar, mas primeiramente peguei minha toalha e fui tomar um banho rápido. Quando voltei ao meu quarto, peguei uma calça jeans com uma regata azul. Vesti-me e coloquei o casaco de moletom da NYU. Calcei minhas sapatilhas e penteei meus cabelos, deixando-os soltos assim que lembrei do que havia me falado sobre eu ficar mais bonita e atraente. Pus meus inseparáveis óculos e dei uma última olhada no espelho antes de sair do quarto enquanto colocava meu celular no bolso da calça.
Quando voltei à sala, já estava lá me esperando. Fiz um sinal com a cabeça e ele assentiu, percebendo que já podíamos ir. Saímos do apartamento e descemos pelo elevador. Entramos em seu carro que estava na garagem e ele deu a partida. Um silêncio se instalou e eu fiquei olhando pela janela, vendo as casas e os outros carros passando.
- Vejo que seguiu a minha orientação... – comentou, quebrando o silêncio.
Encarei-o e ele continuava com os olhos na estrada.
- O quê? – perguntei confusa.
- Sobre o cabelo.
- Ah... Pois é. – peguei meu celular e o fiquei encarando.
- Como foi o seu dia? – perguntou e eu notei que ele claramente tentava puxar assunto para acabar com o incômodo silêncio.
- Foi... normal. – suspirei – O professor nos avisou sobre o estágio que devemos fazer. Parece que consegui um emprego. É por um tempo, mas... – sorri de canto.
- Sério? – assenti – Que bacana! Fico feliz por você. Muito feliz. – ele me olhou rapidamente, sorrindo.
- Obrigada. – agradeci sincera.
Silêncio.
- E o seu dia? – perguntei.
- Foi normal também. Apenas trabalhei, trabalhei e... Ah! Trabalhei! – disse fazendo graça e eu ri fraco.
- Parece que seu dia foi bem entediante. Um ponto para mim.
riu do meu comentário e eu fiquei encarando seu rosto em meio à escuridão do carro. Seu rosto era iluminado apenas pelas luzes dos postes das ruas por onde passávamos. Sua risada era tão gostosa de se ouvir e suas feições eram tão belas que me faziam apreciá-las e não sentir vontade de parar de observá-lo. O canto de sua boca estava levemente erguido em um sorriso de canto e eu queria poder ler mentes só para saber o que ele tanto pensava que o fazia sorrir daquela forma encantadora.
- ? – ouvi sua voz e acordei do meu transe. Balancei a cabeça e o encarei.
- Sim?
- Já chegamos à casa da Olivia. – ele disse e eu virei meu rosto, olhando pela janela.
Avistei a casa branca e mediana com um lindo jardim e uma enorme garagem. Também vi quando Olivia apareceu e desceu as pequenas escadas, vindo em nossa direção. Tirei meu cinto de segurança e abri a porta do carro, mas a voz de me impediu no instante seguinte.
- O que está fazendo?
- Vou sentar lá atrás para ela poder sentar aqui com você. – expliquei.
- Mas por quê? Não há necessidade disso, .
- Não se preocupe, . Eu não me incomodo nem um pouco com isso.
Saí do carro e abri a porta de trás, voltando a entrar e me sentar no banco traseiro. Olivia se aproximou e entrou, sentando-se ao lado de .
- Oi, . – sua voz sorridente ecoou pelo carro que começava a se movimentar.
- Oi, Olivia. – respondeu no mesmo tom e pelo espelho retrovisor, vi que ele estampava um enorme sorriso nos lábios.
- Olá, . – se dirigiu a mim e eu sorri de canto.
- Oi.
- Eu não sabia que você viria conosco. – disse se virando e me olhando.
- Eu a convidei. Espero que não tenha problema. – disse dando-me uma rápida olhada pelo espelho.
- É claro que não! Nós vamos nos divertir muito. – ela sorriu animada e eu apenas assenti com a cabeça.
O caminho se resumiu a e Olivia conversando sobre trabalho e depois a uma conversa interna a qual eu não fazia ideia sobre o que era. Eles até pareciam melhores amigos desde a infância e que tinham códigos os quais só eles conseguiam entender e foda-se quem estava por perto. Respirei fundo e peguei meu celular. Troquei algumas mensagens com e marcamos de sair amanhã para comprar as minhas roupas novas.
Finalmente chegamos ao shopping e eu saí do carro. O vento frio me rondou e eu me encolhi mais dentro do meu moletom, colocando as mãos dentro dos bolsos do mesmo. e Olivia entrelaçaram as mãos e eu observei aquilo enquanto os seguia para dentro do shopping. Eu tinha a ligeira sensação de que eu ia sobrar nesse ‘’encontro triplo’’. E a sensação só foi piorando enquanto estávamos na fila do cinema para comprar pipoca e refrigerante. O casal trocava palavrinhas fofas e um dava beijo na bochecha do outro. Peguei minha pipoca e refrigerante juntamente com um pacotinho de bala de menta e dei o dinheiro para a moça que tinha me atendido.
Ficamos na fila para entrar na sala de cinema e eu suspirei ao ver que e Olivia se afastavam cada vez mais de mim em meio à multidão que entrava na sala. Levei um empurrão que quase minha pipoca voou para o outro lado do shopping. Bufei irritada. Eu odiava aglomerações. Simplesmente odiava. Fora o fato de que eu tinha um sério problema de claustrofobia, e isso não ajudava em nada a minha situação.
- ! Vem! – ouvi gritar enquanto entrava com Olivia.
Fiquei na ponta dos pés na tentativa falha de enxergá-lo.
- Já vou! – gritei de volta.
Mais um empurrão me foi dado e dessa vez eu tive de segurar os óculos para eles não voarem. Com muito esforço, consegui entrar na sala de cinema e procurei em volta pelo casal vinte. Encontrei-os se sentando na fileira do meio. olhou para trás e acenou assim que me viu. Fui até ele, passando por algumas pernas no caminho, e me sentei ao seu lado. Soltei um suspiro aliviado e me ajeitei mais na poltrona.
Assim que a luz se apagou e os trailers começaram, eu me pus a comer minha pipoca. Sempre fui de comer a pipoca nos trailers e quando chegava ao filme, não tinha sobrado quase nada. Mas não me importei. Eu só queria afastar um pouco a sensação de quase ter sido pisoteada minutos atrás. E como eu faria isso? Comendo, é claro. O filme começou e eu me encolhi na poltrona acolchoada. Os minutos se passaram; Uma hora se passou e eu não estava me sentindo nem um pouco confortável.
E o principal motivo do meu desconforto era o fato de e Olivia estarem se pegando ao meu lado. Eu conseguia ouvir o som dos beijos que os dois trocavam, e era um som muito irritante, diga-se de passagem. Quando não estavam trocando saliva, estavam sussurrando algumas coisas e rindo baixo, mas que mesmo assim tirava a minha atenção do filme. Eu já não entendia mais nada que se passava na tela, só conseguia ouvir os dois ao meu lado. Apertei com força a latinha de refrigerante já vazia entre meus dedos e mordi o lábio inferior.
Rosnei baixo, mas que foi o suficiente para chamar a atenção de .
- O que houve, ? Está sentindo alguma coisa? – perguntou me encarando.
- É... Sim! Na verdade, não estou muito bem. – eu pensava em algo convincente para fugir dali o mais rápido possível. – Eu estou com falta de ar. Eu... Eu tenho claustrofobia e aqui está muito abafado. Acho melhor eu ir lá para fora.
- Oh sim, eu entendo. – disse num tom compreensivo. – Eu também tenho claustrofobia e entendo bem dessas coisas.
- Que bom. – falei fingindo uma falta de ar. – Eu vou lá para fora, okay?
- Okay. Quer que eu te acompanhe? – ele ameaçou se levantar.
- Não, não! – respondi rápido, fazendo-o franzir a testa. – Eu vou ficar bem. Fique com a Olivia. Não quero estragar o encontro de vocês. Só preciso de um pouco de ar.
- Mas, ... – ele ia dizer, mas me apressei em sair dali.
Levantei-me e saí quase correndo da sala de cinema. Já do lado de fora, eu puxei uma boa quantidade de ar e passei as mãos pelos cabelos. Olhei para o lado e vi um casal sentado num banco. Eles sorriam um para o outro e se beijavam, trocando carícias. Bufei e olhei para o outro lado, vendo a mesma coisa. Ah qual é? Por acaso hoje é o dia dos namorados?! É claro que não! Esse maldito dia é só em quatorze de fevereiro, então por que eles me torturam desse jeito? – minha mente gritava em agonia. Eu nem sabia o que se passava comigo. Só de ver casais felizes, eu sentia um ódio tão grande que quase se apoderava completamente de mim.
Eu devo ser uma pessoa muito amarga, porque às vezes nem eu mesma me aguento.
Fiquei passeando pelo shopping e vendo algumas vitrines enquanto o filme não acabava. Encarei uma saia xadrez na vitrine e quando me virei, meu corpo deu de encontro a outro e cambaleei. Se não fossem os braços fortes que me seguraram, eu certamente estaria no chão a essa hora.
- Ahn, me desculpe. – falei sem graça.
Levantei meu rosto e encarei a pessoa que ainda me segurava pelos braços. Arregalei meus olhos no mesmo instante. .
Capítulo 9 – A Primeira Conversa
- Não, eu que fiquei no seu caminho. Desculpe-me. – ele riu fraco e me soltou lentamente. Levou suas mãos aos bolsos da calça e ficou me encarando. – Eu acho que te conheço de algum lugar...
Ótimo, ele nem se lembra de mim. Para ele, eu devo ser só a garota cdf e tímida da universidade.
- É... Sim. Eu estudo na Universidade de Nova York. – falei.
- Ah! Você é Wright, certo? – franziu a testa e eu assenti. – Já te vi pelos corredores. Sempre com seus dois amigos, e .
Espera! Como ele sabe disso? Será que eu ando sendo observada e nem percebi?
- Exatamente. A menina tímida e desajeitada... – comentei baixo, mas ele pareceu ouvir, já que soltou uma risada.
- Eu sou . Carter. – estendeu sua mão em minha direção e eu o cumprimentei.
Sua pele contra a minha fez meu corpo se arrepiar levemente. Um choque elétrico passou por meu corpo assim que ele apertou minha mão, transmitindo seu calor para mim.
- Eu sei quem você é. – disse prontamente e ele me olhou com um sorriso de canto, super charmoso.
Ai, meu fraco coração.
- Sabe, é? – perguntou e eu assenti.
- É... Quem não conhece Carter na NYU? Você é o carinha mais popular da faculdade.
- Wow! Eu nem sabia disso. – riu fraco.
- Pois é...
Um silêncio angustiante se formou e eu queria quebrá-lo, mas não sabia como. Minha timidez não me permitia fazer tal ato.
- Então, ...
- . – corrigi-o. – Pode me chamar de .
- Bom, ... – sorriu – Aceita comer um Big Mac comigo?
Ri fraco pela sua proposta.
- Mas e a sua namorada?
- Namorada? – olhou-me confuso.
- É. Courtney Banks.
- Oh... Courtney não é minha namorada. – fez uma careta e eu ri internamente com aquilo.
- Ah não?
- Não. Ela e eu só ficamos algumas vezes... Você sabe, eu sou homem e... – ele coçou a nuca, visivelmente constrangido e eu sorri de canto.
- Entendo. Mas as fofocas rolam soltas pela universidade. Já chegaram a dizer que ela estava grávida de um filho seu.
- Disseram isso?! – me olhou assustado e eu não me aguentei. Caí na gargalhada e ele me olhou ainda desesperado.
- Eu estou brincando, . – disse e ele respirou aliviado. – Mas a parte de dizerem que vocês estão namorando, é verdade.
- Esse povo não tem o que inventar. – negou com a cabeça. – Mas enfim, você aceita ou não comer um Big Mac comigo?
Sorri abertamente e abaixei a cabeça. Quando voltei a encará-lo, ele ainda me olhava com seus lindos olhos azuis brilhantes e senti minhas bochechas esquentarem.
- Sim, eu aceito.
Fomos à praça de alimentação e depois ao Mc Donald’s. Fizemos nossos pedidos e nos sentamos. Começamos a comer enquanto conversávamos. Parecíamos amigos e admito que aquilo me surpreendeu um pouco já que ele nunca nem sequer falou comigo pelos corredores da universidade. Nunca tivemos a oportunidade de nos conhecermos melhor. Acabei até descobrindo que cursava Direito e fiquei realmente surpresa com aquilo. Só de imaginar um vestido com um terno caríssimo e com uma postura séria, indo trabalhar, já me fazia sorrir abobalhada.
- Psicologia, huh? É um ótimo curso! – disse assim que lhe contei sobre meu curso.
- Sim, eu gosto muito. Sempre quis conhecer mais sobre a mente humana e ajudar as pessoas a se encontrar de alguma forma. E felizmente, achei isso na psicologia. – dei uma mordida em meu hambúrguer e me olhou, sorrindo fraco.
- Sabe que você tem jeito de psicóloga? É bem tranquila e parece ser uma pessoa bastante compreensiva. Vai se dar bem nesse ramo.
- E você também, futuro advogado! – disse e rimos.
- Como eu nunca prestei atenção em você na faculdade? – perguntou e eu corei um pouco. – Você é muito legal, .
- Não sei. Talvez pelo fato de sempre ter alguma garota te rondando. – dei de ombros e ele assentiu.
- É... Elas são bem... interessadas em mim.
Interessadas, ? Eu chamaria de piranhas que praticamente se jogam para cima de você, mas vamos deixar isso quieto.
- Pois é. – afirmei baixo.
- Ah, sabe do que eu acabei de lembrar? – ele sorriu maroto.
- Hm?
- Do dia em que você esbarrou em um menino no corredor e ele derrubou a Coca-Cola em sua blusa!
Arregalei os olhos e corei violentamente. Oh não. O dia mais vergonhoso da minha vida! Por que ele foi lembrar logo disso?
- Ah... Sim. Aquele dia foi bem...
- Vergonhoso? – ele completou e eu assenti. – Admito que sim. Fiquei com pena de você.
- Eu sei. Eu vi pela sua cara. – comentei terminando de comer meu hambúrguer.
- Meus amigos até acharam graça e ficaram rindo, mas eu... Eu simplesmente achei que você tinha ficado com vergonha e nem achei engraçado. Eu vi pela sua expressão que você estava desconfortável pela situação e eu tive a plena certeza quando você passou praticamente correndo por mim, querendo sair dali o mais rápido possível.
Olhei-o em silêncio, um tanto chocada com a sua observação a meu respeito. Então ele tinha reparado o meu constrangimento? Ele tinha percebido tudo? Oh, meu Deus!
- Acertou em cheio! Eu sou muito tímida e bem... Aquela situação toda não foi nem um pouco agradável para mim.
- Entendo, mas esqueçamos isso.
Concordei com a cabeça e continuamos a comer enquanto conversávamos sobre nossos cursos na faculdade e sobre assuntos aleatórios como a roupa de algumas pessoas que passavam por nós. tirava sarro da cara de algumas meninas, mandando beijos e piscadelas para elas quando as mesmas passavam por nós. Elas ficavam sem graça e coradas, o que nos fazia rir muito. , certamente, tinha uma enorme habilidade com mulheres.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para , pedindo para ela adivinhar com quem eu estava. Vendo que ela não ia descobrir nunca, eu disse logo que se tratava de Carter. Ela deu uma crise tremenda e eu só ria das coisas que ela escrevia. Voltei minha atenção para e ele me olhava enquanto bebia sua Coca-Cola pelo canudinho. Sorri tímida e também bebi um gole do meu refrigerante.
- ? – uma voz rouca interrompeu o meu momento de risadas com e eu levantei meu olhar, tendo a visão de e Olivia parados ao meu lado.
- Ah... Oi, ! – sorri e me levantei.
também se levantou e eu o olhei.
- Esse é o Carter. – o apresentei. – E esse é o .
Eles se cumprimentaram e me olhou discretamente como se perguntasse se aquele era o tal que eu havia falado. Balancei a cabeça afirmativamente, ainda com um sorriso nos lábios.
- Hm, e essa é Olivia. – a apresentei e eles se cumprimentaram.
- Prazer em conhecê-los. – disse educadamente.
- O estuda Direito na NYU. Isso não é maravilhoso, ? – sorri encantada.
- Certamente. Lembro-me de ter me falado sobre um . Acho que ele seja você, certo? – disse e eu abaixei a cabeça, envergonhada.
- anda falando de mim, então? – seus olhos azuis me encararam e ele sorriu lindamente.
- ? Vocês já têm tanta intimidade assim? – perguntou. Seu tom era brincalhão, mas sua expressão era de seriedade, o que me deixou um tanto confusa.
Vi quando Olivia apertou discretamente sua mão, repreendendo sua pergunta. Agradeci a ela mentalmente por isso.
- É... – começou a dizer, um tanto sem jeito e o interrompi.
- Eu pedi que ele me chamasse assim. Todos os meus amigos podem me chamar assim, por que ele não? – arqueei a sobrancelha e me olhou.
- Eu não... – ele ia dizendo, mas Olivia o interrompeu.
- Bem, pessoal, já que o filme acabou, o que acham de darmos uma passeada pelo shopping? – ela sorriu simpática – Você pode vir com a gente se quiser, . Será muito bem-vindo.
- Eu aceito, então.
Sorri e começamos a andar. Olhei novamente algumas vitrines à procura das roupas que eu compraria amanhã com . parou ao meu lado e olhou para a blusa que eu encarava.
- Ficaria muito bonita em você. – ele disse e eu sorri tímida.
- Obrigada. Vou fazer umas compras com uma amiga amanhã e quem sabe eu não a compro?
- Deixe-me adivinhar... ? – sugeriu e eu assenti, rindo baixo.
Voltamos a andar e sem que eu percebesse, acabei pisando em uma poça d’água e escorreguei. Quase caí se não tivesse sido rápido e me segurado por mais uma vez naquele dia. Suas mãos estavam firmes na minha cintura e eu suspirei com o seu toque.
- Opa, cuidado aí! – ele riu, ainda me segurando. – Você é bem atrapalhada, não?
Concordei e rimos enquanto ele me soltava.
- Obrigada por me segurar de novo. Digamos que você salvou a minha vida.
- Estou me sentindo um herói agora. – riu – Mas não há de quê, .
Sorri encantada com a forma que seus olhos brilhavam quando ele sorria. Meu coração se acelerou enquanto nos encarávamos, mas senti como se alguém estivesse me olhando. Olhei para frente e vi que nos olhava enquanto estava parado com Olivia perto de uma loja. nos encarava sério e quando viu que eu olhava de volta, virou o rosto. Franzi a testa em confusão e neguei. Por que ele estava tão sério? Será que ele e Olivia já discutiram e eu não fiquei sabendo?
(...)
- Você viu aquilo, ? Ele conversou e passeou comigo pelo shopping! Isso só pode ser um sonho! Oh, meu Deus! Carter me notou, senhoras e senhores! – gritei animada assim que adentramos o apartamento.
Joguei-me no sofá e apertei a almofada entre meus braços enquanto eu gritava e sorria tanto que minhas bochechas doíam.
- É, eu vi. Parece que Wright está indo bem no nosso plano. – comentou, dando de ombros.
Ele foi até a geladeira e pegou a jarra d’água, enchendo um copo e bebendo alguns goles enquanto se recostava à bancada da cozinha. Franzi o cenho ao observá-lo quieto e fui até ele, parando ao seu lado.
- Aconteceu alguma coisa? Você não parece muito animado.
- Não foi nada. É só que... eu estou cansado. Tive um dia cheio e preciso dormir. – colocou o copo dentro da pia.
- E como foi o filme? – perguntei tentando puxar assunto. não era tão calado assim. Aquela situação estava realmente muito estranha.
- Foi ótimo. – ele sorriu parecendo se lembrar de algo.
- Por que está sorrindo?
- Olivia e eu nos beijamos pela primeira vez.
Meu pequeno sorriso se desmanchou e eu dei de ombros.
- É, eu ouvi. – rolei os olhos. – A troca de saliva de vocês foi bem intensa, não?
Ele riu sem graça, coçando a nuca. – Desculpe-me por isso. Eu só não consegui aguentar. Ela estava tão perto e tão bonita...
Seu sorriso bobo fez meu estômago revirar e eu apenas assenti com os braços cruzados.
- Bem, eu vou dormir. Boa noite, .
- Boa noite, .
Afastei-me e fui em direção ao corredor. Ouvi um suspiro de e ele resmungar algo que não entendi antes de entrar em meu quarto. Tirei minha roupa e coloquei meu pijama. Deitei-me na cama e fiquei lendo um livro até sentir meu sono chegar, coisa que não aconteceu. O que restou foi rolar na cama, tentando inimagináveis posições confortáveis para ver se assim meu sono chegava, mas nada. Bufei irritada e fiquei encarando o teto em meio à escuridão. A única luz que existia era a da lua, que adentrava um pouco o quarto mesmo através das cortinas.
Levantei-me da cama e calcei meus chinelos. Coloquei meus óculos e andei em direção à porta. Abri a mesma e saí do quarto, indo em direção à sala, mas o toque de um celular fez com que eu recuasse alguns passos. Parei em frente à porta do quarto de , de onde os toques vinham e encostei minha orelha à porta.
- Alô? – ouvi sua voz rouca e sonolenta dizer. – Ryan? Por que está me ligando a essa hora? Eu estava dormindo, cara! – pausa – Você chegou agora? Não tinha um voo mais cedo, não? Como eu vou te buscar no aeroporto a essa hora?! Eu tenho trabalho daqui algumas horas! Pega um táxi!
Ouvi bufar contrariado e logo depois alguns passos pelo chão de madeira.
- Okay, eu já estou indo, então. Espero que tenha arrumado um lugar para ficar, porque na minha casa não vai rolar.
Sorri de canto quando ele falou ‘’minha casa’’, mas me afastei rapidamente quando senti seus passos se aproximando da porta. Fui até a cozinha e peguei um pote de cookies dentro do armário e coloquei sobre a pia. Sentei em frente à bancada e me pus a comê-los lentamente. Senti se aproximar e em meio à escuridão, ele quase deu um pulo quando me viu.
- ? – acendeu as luzes e eu espremi um pouco meus olhos por conta da claridade. – O que está fazendo acordada a essa hora? – bocejou.
- Estou sem sono. E você? – mordi um cookie.
- Meu melhor amigo me acordou para ir buscá-lo no aeroporto. – bufou – Ele chegou agora do Canadá. Veio se juntar a nós na empresa.
- Ah sim...
- Bom, vou indo. Não devo demorar.
Assenti e ele acenou antes de sair pela porta. Ri de seu rosto que ainda estava amassado por conta do sono e seu cabelo meio bagunçado. Neguei com a cabeça e continuei a comer. Voltei para o quarto e me deitei. Encolhi-me nas cobertas e fechei os olhos, finalmente pegando no sono.
Ótimo, ele nem se lembra de mim. Para ele, eu devo ser só a garota cdf e tímida da universidade.
- É... Sim. Eu estudo na Universidade de Nova York. – falei.
- Ah! Você é Wright, certo? – franziu a testa e eu assenti. – Já te vi pelos corredores. Sempre com seus dois amigos, e .
Espera! Como ele sabe disso? Será que eu ando sendo observada e nem percebi?
- Exatamente. A menina tímida e desajeitada... – comentei baixo, mas ele pareceu ouvir, já que soltou uma risada.
- Eu sou . Carter. – estendeu sua mão em minha direção e eu o cumprimentei.
Sua pele contra a minha fez meu corpo se arrepiar levemente. Um choque elétrico passou por meu corpo assim que ele apertou minha mão, transmitindo seu calor para mim.
- Eu sei quem você é. – disse prontamente e ele me olhou com um sorriso de canto, super charmoso.
Ai, meu fraco coração.
- Sabe, é? – perguntou e eu assenti.
- É... Quem não conhece Carter na NYU? Você é o carinha mais popular da faculdade.
- Wow! Eu nem sabia disso. – riu fraco.
- Pois é...
Um silêncio angustiante se formou e eu queria quebrá-lo, mas não sabia como. Minha timidez não me permitia fazer tal ato.
- Então, ...
- . – corrigi-o. – Pode me chamar de .
- Bom, ... – sorriu – Aceita comer um Big Mac comigo?
Ri fraco pela sua proposta.
- Mas e a sua namorada?
- Namorada? – olhou-me confuso.
- É. Courtney Banks.
- Oh... Courtney não é minha namorada. – fez uma careta e eu ri internamente com aquilo.
- Ah não?
- Não. Ela e eu só ficamos algumas vezes... Você sabe, eu sou homem e... – ele coçou a nuca, visivelmente constrangido e eu sorri de canto.
- Entendo. Mas as fofocas rolam soltas pela universidade. Já chegaram a dizer que ela estava grávida de um filho seu.
- Disseram isso?! – me olhou assustado e eu não me aguentei. Caí na gargalhada e ele me olhou ainda desesperado.
- Eu estou brincando, . – disse e ele respirou aliviado. – Mas a parte de dizerem que vocês estão namorando, é verdade.
- Esse povo não tem o que inventar. – negou com a cabeça. – Mas enfim, você aceita ou não comer um Big Mac comigo?
Sorri abertamente e abaixei a cabeça. Quando voltei a encará-lo, ele ainda me olhava com seus lindos olhos azuis brilhantes e senti minhas bochechas esquentarem.
- Sim, eu aceito.
Fomos à praça de alimentação e depois ao Mc Donald’s. Fizemos nossos pedidos e nos sentamos. Começamos a comer enquanto conversávamos. Parecíamos amigos e admito que aquilo me surpreendeu um pouco já que ele nunca nem sequer falou comigo pelos corredores da universidade. Nunca tivemos a oportunidade de nos conhecermos melhor. Acabei até descobrindo que cursava Direito e fiquei realmente surpresa com aquilo. Só de imaginar um vestido com um terno caríssimo e com uma postura séria, indo trabalhar, já me fazia sorrir abobalhada.
- Psicologia, huh? É um ótimo curso! – disse assim que lhe contei sobre meu curso.
- Sim, eu gosto muito. Sempre quis conhecer mais sobre a mente humana e ajudar as pessoas a se encontrar de alguma forma. E felizmente, achei isso na psicologia. – dei uma mordida em meu hambúrguer e me olhou, sorrindo fraco.
- Sabe que você tem jeito de psicóloga? É bem tranquila e parece ser uma pessoa bastante compreensiva. Vai se dar bem nesse ramo.
- E você também, futuro advogado! – disse e rimos.
- Como eu nunca prestei atenção em você na faculdade? – perguntou e eu corei um pouco. – Você é muito legal, .
- Não sei. Talvez pelo fato de sempre ter alguma garota te rondando. – dei de ombros e ele assentiu.
- É... Elas são bem... interessadas em mim.
Interessadas, ? Eu chamaria de piranhas que praticamente se jogam para cima de você, mas vamos deixar isso quieto.
- Pois é. – afirmei baixo.
- Ah, sabe do que eu acabei de lembrar? – ele sorriu maroto.
- Hm?
- Do dia em que você esbarrou em um menino no corredor e ele derrubou a Coca-Cola em sua blusa!
Arregalei os olhos e corei violentamente. Oh não. O dia mais vergonhoso da minha vida! Por que ele foi lembrar logo disso?
- Ah... Sim. Aquele dia foi bem...
- Vergonhoso? – ele completou e eu assenti. – Admito que sim. Fiquei com pena de você.
- Eu sei. Eu vi pela sua cara. – comentei terminando de comer meu hambúrguer.
- Meus amigos até acharam graça e ficaram rindo, mas eu... Eu simplesmente achei que você tinha ficado com vergonha e nem achei engraçado. Eu vi pela sua expressão que você estava desconfortável pela situação e eu tive a plena certeza quando você passou praticamente correndo por mim, querendo sair dali o mais rápido possível.
Olhei-o em silêncio, um tanto chocada com a sua observação a meu respeito. Então ele tinha reparado o meu constrangimento? Ele tinha percebido tudo? Oh, meu Deus!
- Acertou em cheio! Eu sou muito tímida e bem... Aquela situação toda não foi nem um pouco agradável para mim.
- Entendo, mas esqueçamos isso.
Concordei com a cabeça e continuamos a comer enquanto conversávamos sobre nossos cursos na faculdade e sobre assuntos aleatórios como a roupa de algumas pessoas que passavam por nós. tirava sarro da cara de algumas meninas, mandando beijos e piscadelas para elas quando as mesmas passavam por nós. Elas ficavam sem graça e coradas, o que nos fazia rir muito. , certamente, tinha uma enorme habilidade com mulheres.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para , pedindo para ela adivinhar com quem eu estava. Vendo que ela não ia descobrir nunca, eu disse logo que se tratava de Carter. Ela deu uma crise tremenda e eu só ria das coisas que ela escrevia. Voltei minha atenção para e ele me olhava enquanto bebia sua Coca-Cola pelo canudinho. Sorri tímida e também bebi um gole do meu refrigerante.
- ? – uma voz rouca interrompeu o meu momento de risadas com e eu levantei meu olhar, tendo a visão de e Olivia parados ao meu lado.
- Ah... Oi, ! – sorri e me levantei.
também se levantou e eu o olhei.
- Esse é o Carter. – o apresentei. – E esse é o .
Eles se cumprimentaram e me olhou discretamente como se perguntasse se aquele era o tal que eu havia falado. Balancei a cabeça afirmativamente, ainda com um sorriso nos lábios.
- Hm, e essa é Olivia. – a apresentei e eles se cumprimentaram.
- Prazer em conhecê-los. – disse educadamente.
- O estuda Direito na NYU. Isso não é maravilhoso, ? – sorri encantada.
- Certamente. Lembro-me de ter me falado sobre um . Acho que ele seja você, certo? – disse e eu abaixei a cabeça, envergonhada.
- anda falando de mim, então? – seus olhos azuis me encararam e ele sorriu lindamente.
- ? Vocês já têm tanta intimidade assim? – perguntou. Seu tom era brincalhão, mas sua expressão era de seriedade, o que me deixou um tanto confusa.
Vi quando Olivia apertou discretamente sua mão, repreendendo sua pergunta. Agradeci a ela mentalmente por isso.
- É... – começou a dizer, um tanto sem jeito e o interrompi.
- Eu pedi que ele me chamasse assim. Todos os meus amigos podem me chamar assim, por que ele não? – arqueei a sobrancelha e me olhou.
- Eu não... – ele ia dizendo, mas Olivia o interrompeu.
- Bem, pessoal, já que o filme acabou, o que acham de darmos uma passeada pelo shopping? – ela sorriu simpática – Você pode vir com a gente se quiser, . Será muito bem-vindo.
- Eu aceito, então.
Sorri e começamos a andar. Olhei novamente algumas vitrines à procura das roupas que eu compraria amanhã com . parou ao meu lado e olhou para a blusa que eu encarava.
- Ficaria muito bonita em você. – ele disse e eu sorri tímida.
- Obrigada. Vou fazer umas compras com uma amiga amanhã e quem sabe eu não a compro?
- Deixe-me adivinhar... ? – sugeriu e eu assenti, rindo baixo.
Voltamos a andar e sem que eu percebesse, acabei pisando em uma poça d’água e escorreguei. Quase caí se não tivesse sido rápido e me segurado por mais uma vez naquele dia. Suas mãos estavam firmes na minha cintura e eu suspirei com o seu toque.
- Opa, cuidado aí! – ele riu, ainda me segurando. – Você é bem atrapalhada, não?
Concordei e rimos enquanto ele me soltava.
- Obrigada por me segurar de novo. Digamos que você salvou a minha vida.
- Estou me sentindo um herói agora. – riu – Mas não há de quê, .
Sorri encantada com a forma que seus olhos brilhavam quando ele sorria. Meu coração se acelerou enquanto nos encarávamos, mas senti como se alguém estivesse me olhando. Olhei para frente e vi que nos olhava enquanto estava parado com Olivia perto de uma loja. nos encarava sério e quando viu que eu olhava de volta, virou o rosto. Franzi a testa em confusão e neguei. Por que ele estava tão sério? Será que ele e Olivia já discutiram e eu não fiquei sabendo?
(...)
- Você viu aquilo, ? Ele conversou e passeou comigo pelo shopping! Isso só pode ser um sonho! Oh, meu Deus! Carter me notou, senhoras e senhores! – gritei animada assim que adentramos o apartamento.
Joguei-me no sofá e apertei a almofada entre meus braços enquanto eu gritava e sorria tanto que minhas bochechas doíam.
- É, eu vi. Parece que Wright está indo bem no nosso plano. – comentou, dando de ombros.
Ele foi até a geladeira e pegou a jarra d’água, enchendo um copo e bebendo alguns goles enquanto se recostava à bancada da cozinha. Franzi o cenho ao observá-lo quieto e fui até ele, parando ao seu lado.
- Aconteceu alguma coisa? Você não parece muito animado.
- Não foi nada. É só que... eu estou cansado. Tive um dia cheio e preciso dormir. – colocou o copo dentro da pia.
- E como foi o filme? – perguntei tentando puxar assunto. não era tão calado assim. Aquela situação estava realmente muito estranha.
- Foi ótimo. – ele sorriu parecendo se lembrar de algo.
- Por que está sorrindo?
- Olivia e eu nos beijamos pela primeira vez.
Meu pequeno sorriso se desmanchou e eu dei de ombros.
- É, eu ouvi. – rolei os olhos. – A troca de saliva de vocês foi bem intensa, não?
Ele riu sem graça, coçando a nuca. – Desculpe-me por isso. Eu só não consegui aguentar. Ela estava tão perto e tão bonita...
Seu sorriso bobo fez meu estômago revirar e eu apenas assenti com os braços cruzados.
- Bem, eu vou dormir. Boa noite, .
- Boa noite, .
Afastei-me e fui em direção ao corredor. Ouvi um suspiro de e ele resmungar algo que não entendi antes de entrar em meu quarto. Tirei minha roupa e coloquei meu pijama. Deitei-me na cama e fiquei lendo um livro até sentir meu sono chegar, coisa que não aconteceu. O que restou foi rolar na cama, tentando inimagináveis posições confortáveis para ver se assim meu sono chegava, mas nada. Bufei irritada e fiquei encarando o teto em meio à escuridão. A única luz que existia era a da lua, que adentrava um pouco o quarto mesmo através das cortinas.
Levantei-me da cama e calcei meus chinelos. Coloquei meus óculos e andei em direção à porta. Abri a mesma e saí do quarto, indo em direção à sala, mas o toque de um celular fez com que eu recuasse alguns passos. Parei em frente à porta do quarto de , de onde os toques vinham e encostei minha orelha à porta.
- Alô? – ouvi sua voz rouca e sonolenta dizer. – Ryan? Por que está me ligando a essa hora? Eu estava dormindo, cara! – pausa – Você chegou agora? Não tinha um voo mais cedo, não? Como eu vou te buscar no aeroporto a essa hora?! Eu tenho trabalho daqui algumas horas! Pega um táxi!
Ouvi bufar contrariado e logo depois alguns passos pelo chão de madeira.
- Okay, eu já estou indo, então. Espero que tenha arrumado um lugar para ficar, porque na minha casa não vai rolar.
Sorri de canto quando ele falou ‘’minha casa’’, mas me afastei rapidamente quando senti seus passos se aproximando da porta. Fui até a cozinha e peguei um pote de cookies dentro do armário e coloquei sobre a pia. Sentei em frente à bancada e me pus a comê-los lentamente. Senti se aproximar e em meio à escuridão, ele quase deu um pulo quando me viu.
- ? – acendeu as luzes e eu espremi um pouco meus olhos por conta da claridade. – O que está fazendo acordada a essa hora? – bocejou.
- Estou sem sono. E você? – mordi um cookie.
- Meu melhor amigo me acordou para ir buscá-lo no aeroporto. – bufou – Ele chegou agora do Canadá. Veio se juntar a nós na empresa.
- Ah sim...
- Bom, vou indo. Não devo demorar.
Assenti e ele acenou antes de sair pela porta. Ri de seu rosto que ainda estava amassado por conta do sono e seu cabelo meio bagunçado. Neguei com a cabeça e continuei a comer. Voltei para o quarto e me deitei. Encolhi-me nas cobertas e fechei os olhos, finalmente pegando no sono.
Capítulo 10 – Os Sete Minutos
No dia seguinte, acordei no mesmo horário de sempre e fui tomar banho. Vesti-me rapidamente e fiz um coque em meu cabelo. Ajeitei os óculos e calcei os tênis. Peguei minha bolsa onde estavam todos os meus materiais já separados e fui até a sala. Peguei algumas torradas dentro do pote e passei um pouco de manteiga de amendoim e comi junto com um pouco de leite com chocolate. Assustei-me quando vi aparecer afobado.
Ele jogou sua pasta em cima da bancada e tentou arrumar a gravata de seu terno ao mesmo tempo em que separava algumas torradas em seu prato e passava a manteiga de amendoim.
- Bom dia, . – ele disse com a boca cheia.
- Bom dia, .
- Eu estou muito atrasado. Dormi demais e se não estiver na empresa em vinte minutos, meu pai vai arrancar minha cabeça.
- Seu pai não vai sair do Canadá só para vir arrancar a sua cabeça, . – ri fraco.
- Você diz isso porque não sabe do que ele é capaz, cara .
Ele comeu rapidamente e eu o ajudei com a gravata, que ele ainda tentava arrumar sem jeito nenhum. Sorri fraco para ele assim que terminei e ele agradeceu. Deu-me um beijo na bochecha e perguntou se eu queria carona. Aceitei de bom grado e ele me levou até a faculdade antes de sair cantando pneu, apressado. Segurei firme minha bolsa em meu ombro e adentrei a universidade.
- Ah! Meu Deus, ! – o grito de me assustou e eu arregalei os olhos. – O Carter falou com você! Conte-me tudo, agora!
- Menos, , bem menos. – ri de suas feições e começamos a andar pelo corredor. , e eu. Como fazíamos todos os dias.
- A está surtando desde ontem. Ela interrompeu o meu treino de basquete só para me contar que você estava saindo com o . – disse e eu balancei a cabeça.
- Não foi bem uma saída. Eu fui ao cinema com e Olivia e encontrei o pelo shopping. Na verdade, eu esbarrei nele e ele me segurou. – sorri ao lembrar de ontem. – Nós lanchamos juntos, passeamos pelo shopping e conversamos. Ele é muito engraçado e simpático. Sério, ele é muito fofo! Foi muito legal comigo e eu ainda acho que tudo foi um sonho. É difícil de acreditar.
- Ai, amiga! Estou tão feliz por você! Parece que começamos bem. – me abraçou de lado e eu sorri, assentindo.
Passei por no corredor e ele me deu uma piscadela enquanto segurava uns livros com uma mão e a outra estava dentro do bolso da calça.
- Ele piscou para você! Ele piscou! – disse animada e eu ri.
Fui para a aula e o professor mostrou os horários na agenda, para os estágios. Fiquei com o período da tarde e acabei por lembrar de e nossas aulas. Pelo visto, elas teriam de ser à noite. Eu começaria na próxima semana e fiquei feliz por isso. Parece que as coisas na minha vida finalmente estavam voltando aos trilhos. Recolhi meus materiais, colocando-os na bolsa e fui para o estádio da universidade. Hoje teria um jogo do nosso time contra o time da Universidade Columbia.
Sentei-me com na arquibancada, já que participaria do jogo. Ao longe, avistei se aquecendo junto aos outros caras do time. Fiquei observando seus braços e seu corpo perfeitamente desenhado, mas minhas observações foram interrompidas com um cutucão de . Olhei-a e ela acenou com a cabeça para o meu lado esquerdo. Virei o rosto e vi que Courtney e suas amigas se sentavam a duas pessoas de distância de nós. Revirei os olhos e voltei minha atenção para o jogo que ia começar.
A música das líderes de torcida começou a tocar e elas entraram com seus pompons, animando a galera. Fizeram sua performance e e eu nos levantamos, dançando um pouco também. A música que tocava era Pompeii de Bastille e logo depois, outra música começou e eu sorri abertamente ao lembrar de por conta de Wiggle. As líderes de torcida rebolaram e sacudiram seus bumbuns ao som do assovio da música e eu ri, achando a coreografia muito bacana.
Ao fim de tudo, nós aplaudimos e os jogadores entraram. Os nossos jogadores e os da equipe adversária se cumprimentaram e ficaram em suas marcações. A bola foi lançada para o alto junto ao som do apito e o jogo começou, fazendo todos da arquibancada gritarem animados. Eu vibrava como todo mundo daquele estádio quando uma cesta era feita pelo nosso time. fez uma cesta e e eu gritamos enlouquecidas. O time adversário fez uma cesta, mas logo depois, fez uma cesta de três pontos e eu gritei, batendo palmas.
A minha animação, contudo, foi interrompida quando eu ouvi a seguinte frase vinda de Courtney:
- Hoje à noite, e eu vamos comemorar a nossa vitória!
Meu sorriso se desmanchou e eu voltei a me sentar.
(...)
- Parabéns, meu amor! A vitória é nossa! – disse animada enquanto abraçava e beijava .
- Obrigado, amor. – ele sorriu mostrando seus dentes brancos e eu me aproximei.
Abracei-o assim que ele e se separaram e o parabenizei pelo desempenho.
- O que faremos agora? – perguntei.
- Vamos comemorar, com certeza! Vamos para a sua casa comer umas dez pizzas! – disse e eu ri, assentindo.
Peguei minhas coisas e fomos para o meu apartamento logo depois de tomar um banho e se trocar no vestiário. Assim que abri as portas de casa, minha testa franziu ao ver que tinha um homem com . Eles estavam conversando seriamente enquanto usavam seus notebooks e anotavam algumas coisas em um bloco de anotações.
- Ah, boa tarde. – disse sem graça enquanto entrava com e no meu encalço.
- ! Boa tarde. – disse enquanto se levantava. O rapaz se levantou e ficou ao seu lado. – Esse é o meu melhor amigo, Ryan.
- Aquele que você foi buscar de madrugada? – sorri de canto, colocando minha bolsa no sofá.
- Exatamente. Ele mesmo. – respondeu olhando raivoso para o tal Ryan.
- Desculpe por isso. O meu voo atrasou e acabei chegando de madrugada. – o rapaz meio aloirado de olhos azuis explicou, com um sorriso no rosto.
Aproximei-me dos dois e estiquei minha mão, cumprimentando-o educadamente.
- Sou Wright.
- Ryan Butler. – sorriu, apertando minha mão.
- Esses são meus amigos, e .
Eles se olharam e sorriram, fazendo um aceno com a cabeça.
- E aí, pessoal? – se dirigiu aos meus amigos. – O que estão fazendo aqui?
- Viemos comemorar a nossa vitória no jogo de hoje. – respondeu .
- Ganhamos de cento e dez a oitenta e nove . – disse sorrindo vitorioso.
- Sério? Parabéns, cara! – o abraçou, dando-lhe tapas nas costas. – Na minha época de faculdade, eu também jogava no time da universidade. Talvez possamos jogar um dia desses.
- É claro. É só marcar. – sorriu.
- Agora vamos às pizzas! – gritou .
- Sinta-se à vontade para participar da nossa comemoração, Ryan.
Ele assentiu sorrindo.
(...)
- Eu não aguento mais comer pizza! Tire isso da minha frente! – coloquei a mão na barriga, fazendo uma careta de sofrimento.
Eu havia comido uns sete pedaços e não aguentava mais. Eu sentia que ia explodir a qualquer momento.
- Não sei como vocês conseguem comer tanto. – disse assustada com o fato de , Ryan e ainda estarem comendo. Eles já deviam ter comido uns quinze pedaços e não paravam nunca.
- Concordo com a . Vocês são uns esfomeados. – disse e eu ri fraco.
Eles soltaram um arroto em uníssono e eu fiz uma careta.
- E nojentos. – completei.
- E então, o que vamos fazer agora? – perguntou .
- Um filme? – sugeri.
- Não... – disse pensativa – Que tal sete minutos no céu? – sorriu maliciosa e eu engoli em seco.
Eu sabia que isso não ia acabar bem. E não é que eu estava certa?
- Você deu a ideia só porque tem o . É bem mais fácil quando a garrafa acaba em vocês dois, já que são namorados. – sorriu de canto, apoiando as mãos no chão e jogando o corpo para trás.
Concordei com a cabeça.
- Então e eu não jogamos. Vai você, e Ryan. – ela respondeu e eu arregalei os olhos.
- Não, não e não! Deixem-me fora dessa! – falei apressada e me olhou com a sobrancelha arqueada.
- Está com medo, ? – perguntou e eu cruzei os braços.
- É claro que não, idiota! Só não gosto desse tipo de brincadeira. – dei de ombros.
- Ah é, esqueci-me de que você não sabe beijar. – sorriu desafiador e eu bufei, irritada.
Todos ficaram em silêncio, encarando-nos. Senti o rubor em minhas bochechas e abaixei o olhar para minhas mãos entrelaçadas.
- É... O que vai ser, então? – perguntou Ryan e eu o olhei.
Suspirei e disse:
- Que comece o jogo.
Olhei para , desafiadora. Ele me encarava de volta, esbanjando um sorrisinho convencido. bateu as mãos, animada, e se levantou. Ela pegou uma garrafa de cerveja vazia sobre o balcão e fizemos uma roda, com a garrafa no meio. nos deu uma rápida olhada antes de girar a garrafa.
- Wow! – disse assim que a garrafa parou.
Levei meus olhos ao meio da roda e vi que o fundo estava virado para mim enquanto o bico estava para ninguém mais do que . Engoli em seco e mordi o lábio inferior.
- . . Banheiro. – disse pausadamente.
Levantei-me do chão, acompanhada de . Andei até o banheiro e disse, antes de fechar a porta:
- Estaremos marcando o tempo aqui fora.
Assenti e me encostei à bancada da pia, cruzando os braços. parou a minha frente e me encarou, com as mãos nos bolsos da calça.
- E então...? – perguntou e eu arqueei a sobrancelha.
- Nós não vamos fazer nada, . – neguei com a cabeça – Estou só esperando o tempo acabar. Aliás, quanto já deu? Acho que um minuto, não é?
Ele rolou os olhos e suspirou.
- Já parou para pensar que isso pode ser uma boa oportunidade de treino? Posso ser seu professor agora. – o encarei com a testa franzida – E se algum dia você estiver nessa mesma situação com o ? O que pensa em fazer?
- E-eu... não... – gaguejei.
- Exatamente. Você não sabe.
Bufei.
- E se ele quiser te beijar ou até fazer outras coisas com você? E se... – o interrompi.
- Okay, , okay! Eu já entendi. – levantei as mãos em rendição. – O que pretende fazer?
- Como temos pouco tempo, eu posso começar te tocando. – arregalei os olhos e ele riu fraco, me olhando. – Vou pegar leve. E só para você ir se acostumando com, digamos assim, a pegada masculina.
Gargalhei e ele me olhou com a testa franzida.
- Pegada masculina? – ri alto.
- Isso aqui.
Fui surpreendida com me puxando fortemente pela cintura, chocando-me contra seu corpo. Engoli em seco, parando de rir no mesmo instante. , ao contrário de mim, sorriu maroto e apertou os braços ao meu redor. Nossos rostos ficaram a centímetros de distância e minhas mãos começaram a suar repentinamente. adentrou minha blusa com sua mão e apertou a pele de minha cintura. Estremeci sob seus dedos e ele pareceu perceber, já que sorriu ainda mais.
Ele prensou seu corpo contra o meu e deu impulso, fazendo-me sentar na bancada da pia. Pegou minhas mãos trêmulas e passou por seu pescoço, fazendo com que eu o abraçasse, diminuindo ainda mais a distância entre nós. Passei meus dedos por sua nuca e senti seus pelos eriçarem. fechou os olhos por um momento e balançou a cabeça, parecendo espantar algo de seus pensamentos.
Voltou a abrir seus olhos e me encarou profundamente. Levou suas mãos até minhas coxas, entrelaçando-as em volta de seu quadril. Arregalei um pouco meus olhos quando minha intimidade encostou-se a sua barriga. Eu nunca tive tanto contato assim com alguém do sexo masculino e admito que eu estava um pouco... Ou talvez até muito assustada em relação àquilo tudo.
Senti suas mãos apertando minhas coxas cobertas pela calça jeans e aquilo foi tão bom que eu não consegui ficar com os olhos abertos. Meu corpo ficou totalmente tenso quando senti a respiração de bater contra meu pescoço. Ele levou sua boca até minha orelha e mordeu o lóbulo levemente. Como foi um ato totalmente inesperado, meu corpo quase deu um pulo pelo susto e por impulso, apertei os braços de .
Ouvi sua risadinha marota ecoar pelo meu ouvido e sua respiração bater em meu pescoço novamente.
- Desculpe-me por isso, , mas preciso explorar os pontos fracos. – ele sussurrou e com meus olhos fechados, franzi minha testa, sem saber o que aquilo significava.
Prendi a respiração quando senti os lábios de contra a pele arrepiada de meu pescoço. Seus lábios eram tão macios que me fizeram suspirar, enquanto eu apertava seus braços levemente. Suas mãos voltaram a minha cintura e a apertaram firmemente enquanto ele distribuía beijos por meu pescoço. Com as mãos ainda trêmulas, tirei meus óculos e os coloquei ao meu lado na pia. Mordi meu lábio inferior quando senti a língua molhada de acariciar minha pele sensível.
Arrepiei-me ainda mais quando ele mordeu minha pele. Sua mordida suave foi capaz de ativar pequenos choques elétricos por todo o meu corpo e eu suspirei. Seus lábios maravilhosos envolveram uma pequena parte da minha pele e ele a chupou intensamente. Abri minha boca no mesmo instante e eu deixei que um pequeno som saísse pela mesma, o qual eu deduzi que fosse um gemido. Apertei os ombros de e ele voltou sua boca ao meu ouvido.
- Pode gemer se quiser, . Eu sei o quão isso pode ser prazeroso.
Balancei a cabeça afirmativamente e coloquei minha mão na nuca de . Aproximei meu rosto de seu pescoço cheiroso e o cheirei. Seu perfume adentrou meu nariz e eu fiquei um pouco tonta por estar tão próxima dele. Senti seu corpo ficar tenso por baixo de meus dedos e ele apertou minha cintura como resposta. Levei meus lábios até sua pele e o beijei demorada e suavemente para que ele também sentisse o que eu sentia. Sua pele se arrepiou no mesmo instante e ele soltou uma risada nasalada em minha orelha.
- Isso é uma espécie de vingança? – sorri de canto – Porque se for, está dando certo.
Voltei a beijar aquela região, mas com mais intensidade. apertava minha cintura conforme eu depositava os beijos e respirava pesadamente em minha orelha. Quando encostei a pontinha de minha língua, ofegou e se separou um pouco de mim. Olhei-o com a testa franzida e ele sorriu de canto.
- Você vai poder me tocar, mas hoje é a sua vez de ser tocada. Quero que você sinta o prazer de ser acariciada e beijada.
Assenti e ele depositou um beijo em minha bochecha, logo depois voltando a distribuir beijos lentos e molhados em meu pescoço. Sua mão direita, que estava em minha cintura, começou a subir por minha barriga, chegando às costelas. Quando ia alcançar meus seios cobertos pelo sutiã, ouvimos batidas na porta.
- O tempo acabou! – disse .
parou os beijos imediatamente e tirou as mãos do meu corpo, deixando uma espécie de vazio me atingir. Mas o que é isso? Eu estou sentindo falta do toque dele? É isso mesmo?!
Ele suspirou e me encarou, com um sorriso de canto. Estendeu sua mão em direção aos meus óculos e os pegou, colocando-os lentamente em meu rosto em seguida. Ele encarou meus olhos e senti minhas bochechas esquentarem.
- Vamos? – estendeu sua mão em minha direção e eu assenti, segurando-a.
me ajudou a descer da pia e passou as mãos rapidamente por meus cabelos e depois pelos seus, arrumando-os. Abriu a porta e logo avistamos o olhar de todos sobre nós, acompanhados de sorrisinhos maliciosos, o que me fez corar mais ainda.
Oh, céus.
***
Existe uma palavra que me define agora: vergonha. Eu estou tão envergonhada que não consigo encarar . Depois do ocorrido no banheiro, eu simplesmente passei a ‘’ignorá-lo’’. Lembrei a sobre o nosso compromisso no shopping para comprarmos minhas roupas novas e assim, saímos de casa. Enquanto andávamos pelo shopping à procura de roupas legais, , Ryan e ficaram em casa, alegando que ia passar um jogo de basquete muito importante que eles queriam assistir.
Assim, e eu fomos sozinhas, o que sinceramente é um grande alívio já que eu não teria que ficar no mesmo ambiente que . Acho que depois de tudo, eu não agiria da mesma forma na frente dele. Qual é?! Eu cheguei a gemer na frente dele! Isso é um enorme motivo para ter vergonha! E eu sei que percebeu meu desconforto, já que ele também quase não se dirigia a mim e ficava somente me olhando ou negando com a cabeça.
- O que você acha dessa saia, ? – ouvi a voz de dizer e saí de meu transe.
- Desculpe. O que você disse? – perguntei.
- Onde você está com a cabeça, menina? – ela perguntou, dividindo sua atenção entre mim e as roupas penduradas a nossa frente.
- Eu estava pensando sobre algumas coisas... Só isso. – dei de ombros enquanto segurava uma sacola de outra loja.
- E essas coisas estariam relacionadas a um homem chamado ? – arqueou a sobrancelha em minha direção e eu desviei o olhar, assentindo. – Como eu te conheço há um tempo, eu sei que o que aconteceu no banheiro não vai sair da sua cabeça tão cedo.
- É que... Eu não sei... Eu só estou morrendo de vergonha. Não consigo evitar me sentir assim. Sei que sou meio imatura, mas...
- Mas vocês chegaram a se beijar? Tipo, troca de salivas? – ela perguntou risonha e eu fiz uma careta de nojo.
- Não! Claro que não! – neguei rapidamente – E por que nos beijaríamos? Digo, não há necessidade disso, não é? Beijo é uma coisa muito íntima e e eu somos apenas amigos. Amigos de pouco tempo. Às vezes, ele ainda é um desconhecido para mim.
- Desconhecido que vive sob o mesmo teto que você. – disse, pegando a saia xadrez. – E se vocês não se beijaram, acho que não há motivo para tanta vergonha! Se vocês quase tivessem transado, aí tudo bem, mas não é o caso.
- Mas... Não sei...
- Você é muito confusa, . – ela me olhou, cruzando os braços – Você aceitou o plano dele de te ensinar tudo o que você precisasse saber, se lembra? – assenti – Então... Acho que dentro de todo esse ensino, vão ter situações quentes como essa. vai te ensinar a ser uma mulher mais desinibida. Mas até lá, você tem que dar um desconto para o cara e aceitar o que ele quiser fazer. Ou você não quer ficar com o ?
Fiquei pensativa por um momento. Mas e se o que eu estiver fazendo não valesse de nada no final? E se mesmo depois de tudo, ainda não quisesse ficar comigo? É claro que ele havia sido muito fofo e legal comigo, mas quem garante que eu serei o tipo dele e mais do que uma simples amiga?
- O que realmente me desanima é o fato de ele ainda se encontrar com a Courtney... – suspirei. – Hoje mesmo durante o jogo de basquete, eu ouvi a Courtney dizer que ia comemorar a vitória com .
me olhou surpresa. – O quê?!
- Exatamente isso que você ouviu. Às vezes eu sinto que eles vão ter algo por um longo tempo ainda.
- Não até você aparecer totalmente diferente. Aí vamos ver quem é que ficará com Carter! Ou eu não me chamo Moore.
Soltei uma risadinha enquanto me abraçava pelos ombros, empurrando-me em direção ao provador. Vesti a saia vermelha com listras pretas, que ficava acima dos meus joelhos e me olhei no espelho. Entortei os lábios enquanto me observava. Eu me sentia tão estranha usando aquele tipo de roupa, tão diferentes dos meus confortáveis moletons e calças jeans. Suspirei e balancei a cabeça, saindo do provador.
me esperava sentada em uma das cadeiras e abriu um enorme sorriso assim que me viu. Ela se levantou e veio até mim, girando-me, e eu ri.
- Uau, ! Você está linda! – ela cobriu a boca com as mãos enquanto ainda me olhava – Mas sabe o que eu acho que combinaria com essa saia? Uma magnífica bota de couro de salto alto!
soltou um gritinho agudo e eu fiz uma careta, tampando os ouvidos. Ela saiu para pegar as botas e eu ri enquanto a observava se afastar, quase dando pulos de alegria.
- Eu juro que se eu fosse um homem, eu te pegava, ! – ela me encarou boquiaberta e eu corei fortemente.
Eu estava experimentando as lingeries que ela escolheu. Eram de várias cores: vermelha, rosa, preta, branca. Digamos que eu não estava me sentindo muito bem com aquela situação, mas fazer o quê? Se eles achavam que eu tinha que fazer uma reforma no meu armário, quem sou eu para contrariá-los?
- Você tem certeza de que está bom? – entortei a boca e me olhei no espelho.
- Você está falando sério? Está lindo! Acho que nunca te vi tão sexy e bonita como agora! Vai arrasar corações, amiga!
Gargalhei e neguei com a cabeça.
- Eu estava até pensando em comprar algumas lingeries para mim também. Preciso diferenciar um pouco na hora do sexo com ... – ela pensou em voz alta e eu arregalei os olhos, gargalhando.
- !
- O quê? Eu estou falando sério! Ou você não sabia que e eu temos uma vida sexual ativa?
Cobri meu rosto com as mãos e ri.
- Mas agora chega de conversa. Você tem mais três lingeries para experimentar, e não vamos sair daqui hoje até nós levarmos tudo que temos direito.
e eu lanchamos um sanduíche logo depois de terminarmos as compras e pegamos um táxi, voltando para minha casa. Entramos no prédio e eu cumprimentei Ezequiel, como sempre fazia. Subimos e chegamos em frente à porta do meu apartamento. Abri a porta e entramos, jogando as sacolas sobre o sofá. Suspirei aliviada por estar em casa e joguei minhas chaves sobre o balcão da cozinha.
- Que bom que chegaram, meninas. – apareceu no corredor, vindo em nossa direção. – Eu já estava com saudades da minha namorada.
sorriu e eles deram um selinho enquanto envolvia sua cintura com o braço. Ele direcionou seu olhar às sacolas e abriu uma delas, pegando a lingerie vermelha que ali dentro estava. Senti minha bochecha esquentar quando ele olhou a peça e soltou uma risada, logo depois me olhando.
- Não consigo te imaginar vestindo isso, sinceramente. – ele disse e eu revirei os olhos.
- Deixa de ser chato, amor. Está deixando a com vergonha. – comentou , pegando a caixa de suco na geladeira.
- Desculpe-me, mas é que é só... Estranho? – deu de ombros, colocando a lingerie dentro da sacola novamente.
- Eu sei que é estranho, e até agora não concordo com isso. É capaz de rir da minha cara quando me vir usando isso! – comentei, me jogando no sofá, de braços cruzados.
- Com toda a certeza, ele não vai rir. – ouvi a voz rouca e conhecida de , e logo ele também estava parado na sala. – Você não sabe o quanto esses tipos de roupas íntimas deixam um homem excitado.
Engoli em seco e desviei meu olhar. Fiquei encarando meus próprios pés apoiados na mesinha de centro, ainda sentindo minhas bochechas queimarem. Ouvi um suspiro da parte de e ele se aproximou, puxando as roupas de dentro das sacolas, que estavam espalhadas ao meu lado. Olhei-o de canto de olho e ele analisava as roupas, uma por uma. Sorriu de canto de vez em quando ao ver alguma peça que claramente lhe agradava.
- Onde está o seu amigo? – perguntou se aproximando com um copo de suco em mãos.
- Ryan teve que ir embora. Tinha algumas coisas para resolver. – respondeu dando de ombros.
- Bom, acho melhor nós irmos também. Já está ficando tarde. – pôs o copo na pia e voltou para a sala, dando-me um beijo na bochecha.
me abraçou e eles se despediram de .
- Nos vemos amanhã na universidade. – disse e eu assenti.
Eles saíram e fecharam a porta, deixando-me a sós com . Suspirei e me levantei.
- Vou tomar banho. – informei com a voz baixa, mas a voz dele me fez parar no meio do caminho ao banheiro.
- É sério mesmo que você vai ficar desse jeito só por causa do que aconteceu hoje naquele banheiro? – sua voz era um misto de indignação com raiva.
- Não sei do que você está falando. – disse ainda de costas para ele.
- Não sabe? – ele riu sem humor – É claro que sabe, ! Acho que não somente eu, mas todo mundo percebeu o modo que você ficou depois do ocorrido. E na minha opinião, isso é uma extrema falta de maturidade.
Fechei os olhos e respirei fundo.
- Você não entende, . – declarei.
- Realmente, eu não entendo. Por que ficou desse jeito? Por que tanta vergonha? Não fizemos nada demais!
- Para você pode não ter sido nada, mas para mim... – suspirei, interrompendo minha própria fala.
- Para você...? – senti passos e ele se aproximou, ficando atrás de mim enquanto eu ainda estava de costas.
Faltava-me coragem de olhá-lo.
- Para mim... Foi algo totalmente novo. Eu nunca me senti daquele jeito e foi estranho ao mesmo tempo. E sinceramente, eu tenho medo do que possa vir depois daquilo.
- Está falando de sexo? – perguntou e eu suspirei, abaixando a cabeça. – Olha, eu sei que você é virgem, mas não precisa ter medo. Eu nunca faria algo que você não quisesse.
Fiquei em silêncio.
- Então você está com vergonha do que sentiu?! Desde quando sentir desejo é motivo para vergonha? – suas perguntas só faziam eu me sentir mais ridícula do que eu já era.
- , eu gemi na sua frente! – virei em sua direção e ele me encarava sério. – Eu gemi! Você entende o tamanho disso? Eu nem sei mais o que pensar! Eu estou muito confusa.
- E qual o problema de você expressar o prazer que estava sentindo? Eu mesmo te disse que você podia gemer se quisesse! Não tem porque se reprimir do que jeito que você se reprime, !
- Você não entende. – balancei a cabeça.
- É, eu não entendo mesmo. Já ouvi mulheres demonstrarem o que sentem o tempo todo e nenhuma nunca foi tão complicada como você.
Olhei-o surpresa e cerrei meus punhos. – Oh, desculpe-me se você é o experiente aqui e eu não! Se você é o fodão, que já teve inúmeras namoradas e eu nunca tive alguém para chamar de meu! – gritei nervosa, sentindo meus olhos arderem.
me olhou com um olhar de pena e eu só senti minha vontade de chorar aumentar gradativamente.
- ... – ele começou a dizer enquanto se aproximava, mas o interrompi.
- Não! Esquece! Eu sabia que isso não ia dar certo!
Virei novamente e voltei a fazer meu caminho até o banheiro. Bati a porta com raiva e a tranquei. Fiquei de frente ao espelho, encarando a minha imagem refletida ali e me pus a chorar. Eu chorava de vergonha, medo, frustração. Eu odiava o fato de ser fraca diante de alguma situação e era exatamente assim que eu me sentia. Sentia a vergonha de expor meus sentimentos e minhas frustrações para alguém, e ainda esse alguém sendo , que constantemente parecia tentar invadir o meu canto onde eu me refugiava e me escondia.
Eu mais parecia um bichinho amedrontado do que uma mulher. E isso era patético. parecia quebrar aos poucos a barreira construída por mim mesma ao meu redor e esse fato me aterrorizava. Eu não poderia me expor desse jeito. Não poderia deixar que um homem me explorasse assim. Mas o simples fato de tê-lo perto de mim, beijando-me daquela forma e me abraçando, fazia-me desmoronar. Eu derretia diante de seus toques e isso não me agradava em nada. Eu devia ter alguma espécie de atração física por ele. Não é possível.
Ao terminar de tomar banho, joguei a minha roupa no cesto de roupa suja e saí do banheiro, com a toalha enrolada em meu corpo. Fui ao meu quarto e pus meu pijama. Saí do mesmo e fui até a sala, enquanto secava meus cabelos. Um papel em cima do balcão me chamou a atenção e eu o peguei.
“Vou passar a noite na casa da Olivia. Só escrevi este bilhete porque achei que você deveria saber caso precisasse de mim para alguma coisa.
Tenha uma boa noite,
.”
Amassei o papel em minhas mãos e o joguei no lixo. Eu estava com raiva. Raiva por estar aqui, sentindo uma possível atração pelo idiota, e ele com a Olivia. Aposto que amanhã ele vai chegar aqui sorrindo feito um bobo e contando aos quatro ventos sobre a noite maravilhosa que eles tiveram. Pisei forte de volta ao banheiro e penteei meus cabelos. Eu os penteava com tanta força, que chegava a machucar um pouco meu couro cabeludo, mas eu não me importava. Eu só queria achar alguma maneira de extravasar a revolta que se instalava fervorosamente em minhas veias.
Fui até a geladeira e peguei cinco garrafas de cerveja de uma vez. Sentei-me no sofá e abri a primeira garrafa, dando um longo gole enquanto ligava a televisão. Eu ia relaxar de qualquer jeito, nem que para isso eu tivesse que beber. Nem que a vergonha voltasse no dia seguinte, eu ia beber para assim, afogar o meu sentimento e colocá-lo novamente em seu devido lugar: dentro do meu coração.
Ele jogou sua pasta em cima da bancada e tentou arrumar a gravata de seu terno ao mesmo tempo em que separava algumas torradas em seu prato e passava a manteiga de amendoim.
- Bom dia, . – ele disse com a boca cheia.
- Bom dia, .
- Eu estou muito atrasado. Dormi demais e se não estiver na empresa em vinte minutos, meu pai vai arrancar minha cabeça.
- Seu pai não vai sair do Canadá só para vir arrancar a sua cabeça, . – ri fraco.
- Você diz isso porque não sabe do que ele é capaz, cara .
Ele comeu rapidamente e eu o ajudei com a gravata, que ele ainda tentava arrumar sem jeito nenhum. Sorri fraco para ele assim que terminei e ele agradeceu. Deu-me um beijo na bochecha e perguntou se eu queria carona. Aceitei de bom grado e ele me levou até a faculdade antes de sair cantando pneu, apressado. Segurei firme minha bolsa em meu ombro e adentrei a universidade.
- Ah! Meu Deus, ! – o grito de me assustou e eu arregalei os olhos. – O Carter falou com você! Conte-me tudo, agora!
- Menos, , bem menos. – ri de suas feições e começamos a andar pelo corredor. , e eu. Como fazíamos todos os dias.
- A está surtando desde ontem. Ela interrompeu o meu treino de basquete só para me contar que você estava saindo com o . – disse e eu balancei a cabeça.
- Não foi bem uma saída. Eu fui ao cinema com e Olivia e encontrei o pelo shopping. Na verdade, eu esbarrei nele e ele me segurou. – sorri ao lembrar de ontem. – Nós lanchamos juntos, passeamos pelo shopping e conversamos. Ele é muito engraçado e simpático. Sério, ele é muito fofo! Foi muito legal comigo e eu ainda acho que tudo foi um sonho. É difícil de acreditar.
- Ai, amiga! Estou tão feliz por você! Parece que começamos bem. – me abraçou de lado e eu sorri, assentindo.
Passei por no corredor e ele me deu uma piscadela enquanto segurava uns livros com uma mão e a outra estava dentro do bolso da calça.
- Ele piscou para você! Ele piscou! – disse animada e eu ri.
Fui para a aula e o professor mostrou os horários na agenda, para os estágios. Fiquei com o período da tarde e acabei por lembrar de e nossas aulas. Pelo visto, elas teriam de ser à noite. Eu começaria na próxima semana e fiquei feliz por isso. Parece que as coisas na minha vida finalmente estavam voltando aos trilhos. Recolhi meus materiais, colocando-os na bolsa e fui para o estádio da universidade. Hoje teria um jogo do nosso time contra o time da Universidade Columbia.
Sentei-me com na arquibancada, já que participaria do jogo. Ao longe, avistei se aquecendo junto aos outros caras do time. Fiquei observando seus braços e seu corpo perfeitamente desenhado, mas minhas observações foram interrompidas com um cutucão de . Olhei-a e ela acenou com a cabeça para o meu lado esquerdo. Virei o rosto e vi que Courtney e suas amigas se sentavam a duas pessoas de distância de nós. Revirei os olhos e voltei minha atenção para o jogo que ia começar.
A música das líderes de torcida começou a tocar e elas entraram com seus pompons, animando a galera. Fizeram sua performance e e eu nos levantamos, dançando um pouco também. A música que tocava era Pompeii de Bastille e logo depois, outra música começou e eu sorri abertamente ao lembrar de por conta de Wiggle. As líderes de torcida rebolaram e sacudiram seus bumbuns ao som do assovio da música e eu ri, achando a coreografia muito bacana.
Ao fim de tudo, nós aplaudimos e os jogadores entraram. Os nossos jogadores e os da equipe adversária se cumprimentaram e ficaram em suas marcações. A bola foi lançada para o alto junto ao som do apito e o jogo começou, fazendo todos da arquibancada gritarem animados. Eu vibrava como todo mundo daquele estádio quando uma cesta era feita pelo nosso time. fez uma cesta e e eu gritamos enlouquecidas. O time adversário fez uma cesta, mas logo depois, fez uma cesta de três pontos e eu gritei, batendo palmas.
A minha animação, contudo, foi interrompida quando eu ouvi a seguinte frase vinda de Courtney:
- Hoje à noite, e eu vamos comemorar a nossa vitória!
Meu sorriso se desmanchou e eu voltei a me sentar.
(...)
- Parabéns, meu amor! A vitória é nossa! – disse animada enquanto abraçava e beijava .
- Obrigado, amor. – ele sorriu mostrando seus dentes brancos e eu me aproximei.
Abracei-o assim que ele e se separaram e o parabenizei pelo desempenho.
- O que faremos agora? – perguntei.
- Vamos comemorar, com certeza! Vamos para a sua casa comer umas dez pizzas! – disse e eu ri, assentindo.
Peguei minhas coisas e fomos para o meu apartamento logo depois de tomar um banho e se trocar no vestiário. Assim que abri as portas de casa, minha testa franziu ao ver que tinha um homem com . Eles estavam conversando seriamente enquanto usavam seus notebooks e anotavam algumas coisas em um bloco de anotações.
- Ah, boa tarde. – disse sem graça enquanto entrava com e no meu encalço.
- ! Boa tarde. – disse enquanto se levantava. O rapaz se levantou e ficou ao seu lado. – Esse é o meu melhor amigo, Ryan.
- Aquele que você foi buscar de madrugada? – sorri de canto, colocando minha bolsa no sofá.
- Exatamente. Ele mesmo. – respondeu olhando raivoso para o tal Ryan.
- Desculpe por isso. O meu voo atrasou e acabei chegando de madrugada. – o rapaz meio aloirado de olhos azuis explicou, com um sorriso no rosto.
Aproximei-me dos dois e estiquei minha mão, cumprimentando-o educadamente.
- Sou Wright.
- Ryan Butler. – sorriu, apertando minha mão.
- Esses são meus amigos, e .
Eles se olharam e sorriram, fazendo um aceno com a cabeça.
- E aí, pessoal? – se dirigiu aos meus amigos. – O que estão fazendo aqui?
- Viemos comemorar a nossa vitória no jogo de hoje. – respondeu .
- Ganhamos de cento e dez a oitenta e nove . – disse sorrindo vitorioso.
- Sério? Parabéns, cara! – o abraçou, dando-lhe tapas nas costas. – Na minha época de faculdade, eu também jogava no time da universidade. Talvez possamos jogar um dia desses.
- É claro. É só marcar. – sorriu.
- Agora vamos às pizzas! – gritou .
- Sinta-se à vontade para participar da nossa comemoração, Ryan.
Ele assentiu sorrindo.
(...)
- Eu não aguento mais comer pizza! Tire isso da minha frente! – coloquei a mão na barriga, fazendo uma careta de sofrimento.
Eu havia comido uns sete pedaços e não aguentava mais. Eu sentia que ia explodir a qualquer momento.
- Não sei como vocês conseguem comer tanto. – disse assustada com o fato de , Ryan e ainda estarem comendo. Eles já deviam ter comido uns quinze pedaços e não paravam nunca.
- Concordo com a . Vocês são uns esfomeados. – disse e eu ri fraco.
Eles soltaram um arroto em uníssono e eu fiz uma careta.
- E nojentos. – completei.
- E então, o que vamos fazer agora? – perguntou .
- Um filme? – sugeri.
- Não... – disse pensativa – Que tal sete minutos no céu? – sorriu maliciosa e eu engoli em seco.
Eu sabia que isso não ia acabar bem. E não é que eu estava certa?
- Você deu a ideia só porque tem o . É bem mais fácil quando a garrafa acaba em vocês dois, já que são namorados. – sorriu de canto, apoiando as mãos no chão e jogando o corpo para trás.
Concordei com a cabeça.
- Então e eu não jogamos. Vai você, e Ryan. – ela respondeu e eu arregalei os olhos.
- Não, não e não! Deixem-me fora dessa! – falei apressada e me olhou com a sobrancelha arqueada.
- Está com medo, ? – perguntou e eu cruzei os braços.
- É claro que não, idiota! Só não gosto desse tipo de brincadeira. – dei de ombros.
- Ah é, esqueci-me de que você não sabe beijar. – sorriu desafiador e eu bufei, irritada.
Todos ficaram em silêncio, encarando-nos. Senti o rubor em minhas bochechas e abaixei o olhar para minhas mãos entrelaçadas.
- É... O que vai ser, então? – perguntou Ryan e eu o olhei.
Suspirei e disse:
- Que comece o jogo.
Olhei para , desafiadora. Ele me encarava de volta, esbanjando um sorrisinho convencido. bateu as mãos, animada, e se levantou. Ela pegou uma garrafa de cerveja vazia sobre o balcão e fizemos uma roda, com a garrafa no meio. nos deu uma rápida olhada antes de girar a garrafa.
- Wow! – disse assim que a garrafa parou.
Levei meus olhos ao meio da roda e vi que o fundo estava virado para mim enquanto o bico estava para ninguém mais do que . Engoli em seco e mordi o lábio inferior.
- . . Banheiro. – disse pausadamente.
Levantei-me do chão, acompanhada de . Andei até o banheiro e disse, antes de fechar a porta:
- Estaremos marcando o tempo aqui fora.
Assenti e me encostei à bancada da pia, cruzando os braços. parou a minha frente e me encarou, com as mãos nos bolsos da calça.
- E então...? – perguntou e eu arqueei a sobrancelha.
- Nós não vamos fazer nada, . – neguei com a cabeça – Estou só esperando o tempo acabar. Aliás, quanto já deu? Acho que um minuto, não é?
Ele rolou os olhos e suspirou.
- Já parou para pensar que isso pode ser uma boa oportunidade de treino? Posso ser seu professor agora. – o encarei com a testa franzida – E se algum dia você estiver nessa mesma situação com o ? O que pensa em fazer?
- E-eu... não... – gaguejei.
- Exatamente. Você não sabe.
Bufei.
- E se ele quiser te beijar ou até fazer outras coisas com você? E se... – o interrompi.
- Okay, , okay! Eu já entendi. – levantei as mãos em rendição. – O que pretende fazer?
- Como temos pouco tempo, eu posso começar te tocando. – arregalei os olhos e ele riu fraco, me olhando. – Vou pegar leve. E só para você ir se acostumando com, digamos assim, a pegada masculina.
Gargalhei e ele me olhou com a testa franzida.
- Pegada masculina? – ri alto.
- Isso aqui.
Fui surpreendida com me puxando fortemente pela cintura, chocando-me contra seu corpo. Engoli em seco, parando de rir no mesmo instante. , ao contrário de mim, sorriu maroto e apertou os braços ao meu redor. Nossos rostos ficaram a centímetros de distância e minhas mãos começaram a suar repentinamente. adentrou minha blusa com sua mão e apertou a pele de minha cintura. Estremeci sob seus dedos e ele pareceu perceber, já que sorriu ainda mais.
Ele prensou seu corpo contra o meu e deu impulso, fazendo-me sentar na bancada da pia. Pegou minhas mãos trêmulas e passou por seu pescoço, fazendo com que eu o abraçasse, diminuindo ainda mais a distância entre nós. Passei meus dedos por sua nuca e senti seus pelos eriçarem. fechou os olhos por um momento e balançou a cabeça, parecendo espantar algo de seus pensamentos.
Voltou a abrir seus olhos e me encarou profundamente. Levou suas mãos até minhas coxas, entrelaçando-as em volta de seu quadril. Arregalei um pouco meus olhos quando minha intimidade encostou-se a sua barriga. Eu nunca tive tanto contato assim com alguém do sexo masculino e admito que eu estava um pouco... Ou talvez até muito assustada em relação àquilo tudo.
Senti suas mãos apertando minhas coxas cobertas pela calça jeans e aquilo foi tão bom que eu não consegui ficar com os olhos abertos. Meu corpo ficou totalmente tenso quando senti a respiração de bater contra meu pescoço. Ele levou sua boca até minha orelha e mordeu o lóbulo levemente. Como foi um ato totalmente inesperado, meu corpo quase deu um pulo pelo susto e por impulso, apertei os braços de .
Ouvi sua risadinha marota ecoar pelo meu ouvido e sua respiração bater em meu pescoço novamente.
- Desculpe-me por isso, , mas preciso explorar os pontos fracos. – ele sussurrou e com meus olhos fechados, franzi minha testa, sem saber o que aquilo significava.
Prendi a respiração quando senti os lábios de contra a pele arrepiada de meu pescoço. Seus lábios eram tão macios que me fizeram suspirar, enquanto eu apertava seus braços levemente. Suas mãos voltaram a minha cintura e a apertaram firmemente enquanto ele distribuía beijos por meu pescoço. Com as mãos ainda trêmulas, tirei meus óculos e os coloquei ao meu lado na pia. Mordi meu lábio inferior quando senti a língua molhada de acariciar minha pele sensível.
Arrepiei-me ainda mais quando ele mordeu minha pele. Sua mordida suave foi capaz de ativar pequenos choques elétricos por todo o meu corpo e eu suspirei. Seus lábios maravilhosos envolveram uma pequena parte da minha pele e ele a chupou intensamente. Abri minha boca no mesmo instante e eu deixei que um pequeno som saísse pela mesma, o qual eu deduzi que fosse um gemido. Apertei os ombros de e ele voltou sua boca ao meu ouvido.
- Pode gemer se quiser, . Eu sei o quão isso pode ser prazeroso.
Balancei a cabeça afirmativamente e coloquei minha mão na nuca de . Aproximei meu rosto de seu pescoço cheiroso e o cheirei. Seu perfume adentrou meu nariz e eu fiquei um pouco tonta por estar tão próxima dele. Senti seu corpo ficar tenso por baixo de meus dedos e ele apertou minha cintura como resposta. Levei meus lábios até sua pele e o beijei demorada e suavemente para que ele também sentisse o que eu sentia. Sua pele se arrepiou no mesmo instante e ele soltou uma risada nasalada em minha orelha.
- Isso é uma espécie de vingança? – sorri de canto – Porque se for, está dando certo.
Voltei a beijar aquela região, mas com mais intensidade. apertava minha cintura conforme eu depositava os beijos e respirava pesadamente em minha orelha. Quando encostei a pontinha de minha língua, ofegou e se separou um pouco de mim. Olhei-o com a testa franzida e ele sorriu de canto.
- Você vai poder me tocar, mas hoje é a sua vez de ser tocada. Quero que você sinta o prazer de ser acariciada e beijada.
Assenti e ele depositou um beijo em minha bochecha, logo depois voltando a distribuir beijos lentos e molhados em meu pescoço. Sua mão direita, que estava em minha cintura, começou a subir por minha barriga, chegando às costelas. Quando ia alcançar meus seios cobertos pelo sutiã, ouvimos batidas na porta.
- O tempo acabou! – disse .
parou os beijos imediatamente e tirou as mãos do meu corpo, deixando uma espécie de vazio me atingir. Mas o que é isso? Eu estou sentindo falta do toque dele? É isso mesmo?!
Ele suspirou e me encarou, com um sorriso de canto. Estendeu sua mão em direção aos meus óculos e os pegou, colocando-os lentamente em meu rosto em seguida. Ele encarou meus olhos e senti minhas bochechas esquentarem.
- Vamos? – estendeu sua mão em minha direção e eu assenti, segurando-a.
me ajudou a descer da pia e passou as mãos rapidamente por meus cabelos e depois pelos seus, arrumando-os. Abriu a porta e logo avistamos o olhar de todos sobre nós, acompanhados de sorrisinhos maliciosos, o que me fez corar mais ainda.
Oh, céus.
***
Existe uma palavra que me define agora: vergonha. Eu estou tão envergonhada que não consigo encarar . Depois do ocorrido no banheiro, eu simplesmente passei a ‘’ignorá-lo’’. Lembrei a sobre o nosso compromisso no shopping para comprarmos minhas roupas novas e assim, saímos de casa. Enquanto andávamos pelo shopping à procura de roupas legais, , Ryan e ficaram em casa, alegando que ia passar um jogo de basquete muito importante que eles queriam assistir.
Assim, e eu fomos sozinhas, o que sinceramente é um grande alívio já que eu não teria que ficar no mesmo ambiente que . Acho que depois de tudo, eu não agiria da mesma forma na frente dele. Qual é?! Eu cheguei a gemer na frente dele! Isso é um enorme motivo para ter vergonha! E eu sei que percebeu meu desconforto, já que ele também quase não se dirigia a mim e ficava somente me olhando ou negando com a cabeça.
- O que você acha dessa saia, ? – ouvi a voz de dizer e saí de meu transe.
- Desculpe. O que você disse? – perguntei.
- Onde você está com a cabeça, menina? – ela perguntou, dividindo sua atenção entre mim e as roupas penduradas a nossa frente.
- Eu estava pensando sobre algumas coisas... Só isso. – dei de ombros enquanto segurava uma sacola de outra loja.
- E essas coisas estariam relacionadas a um homem chamado ? – arqueou a sobrancelha em minha direção e eu desviei o olhar, assentindo. – Como eu te conheço há um tempo, eu sei que o que aconteceu no banheiro não vai sair da sua cabeça tão cedo.
- É que... Eu não sei... Eu só estou morrendo de vergonha. Não consigo evitar me sentir assim. Sei que sou meio imatura, mas...
- Mas vocês chegaram a se beijar? Tipo, troca de salivas? – ela perguntou risonha e eu fiz uma careta de nojo.
- Não! Claro que não! – neguei rapidamente – E por que nos beijaríamos? Digo, não há necessidade disso, não é? Beijo é uma coisa muito íntima e e eu somos apenas amigos. Amigos de pouco tempo. Às vezes, ele ainda é um desconhecido para mim.
- Desconhecido que vive sob o mesmo teto que você. – disse, pegando a saia xadrez. – E se vocês não se beijaram, acho que não há motivo para tanta vergonha! Se vocês quase tivessem transado, aí tudo bem, mas não é o caso.
- Mas... Não sei...
- Você é muito confusa, . – ela me olhou, cruzando os braços – Você aceitou o plano dele de te ensinar tudo o que você precisasse saber, se lembra? – assenti – Então... Acho que dentro de todo esse ensino, vão ter situações quentes como essa. vai te ensinar a ser uma mulher mais desinibida. Mas até lá, você tem que dar um desconto para o cara e aceitar o que ele quiser fazer. Ou você não quer ficar com o ?
Fiquei pensativa por um momento. Mas e se o que eu estiver fazendo não valesse de nada no final? E se mesmo depois de tudo, ainda não quisesse ficar comigo? É claro que ele havia sido muito fofo e legal comigo, mas quem garante que eu serei o tipo dele e mais do que uma simples amiga?
- O que realmente me desanima é o fato de ele ainda se encontrar com a Courtney... – suspirei. – Hoje mesmo durante o jogo de basquete, eu ouvi a Courtney dizer que ia comemorar a vitória com .
me olhou surpresa. – O quê?!
- Exatamente isso que você ouviu. Às vezes eu sinto que eles vão ter algo por um longo tempo ainda.
- Não até você aparecer totalmente diferente. Aí vamos ver quem é que ficará com Carter! Ou eu não me chamo Moore.
Soltei uma risadinha enquanto me abraçava pelos ombros, empurrando-me em direção ao provador. Vesti a saia vermelha com listras pretas, que ficava acima dos meus joelhos e me olhei no espelho. Entortei os lábios enquanto me observava. Eu me sentia tão estranha usando aquele tipo de roupa, tão diferentes dos meus confortáveis moletons e calças jeans. Suspirei e balancei a cabeça, saindo do provador.
me esperava sentada em uma das cadeiras e abriu um enorme sorriso assim que me viu. Ela se levantou e veio até mim, girando-me, e eu ri.
- Uau, ! Você está linda! – ela cobriu a boca com as mãos enquanto ainda me olhava – Mas sabe o que eu acho que combinaria com essa saia? Uma magnífica bota de couro de salto alto!
soltou um gritinho agudo e eu fiz uma careta, tampando os ouvidos. Ela saiu para pegar as botas e eu ri enquanto a observava se afastar, quase dando pulos de alegria.
- Eu juro que se eu fosse um homem, eu te pegava, ! – ela me encarou boquiaberta e eu corei fortemente.
Eu estava experimentando as lingeries que ela escolheu. Eram de várias cores: vermelha, rosa, preta, branca. Digamos que eu não estava me sentindo muito bem com aquela situação, mas fazer o quê? Se eles achavam que eu tinha que fazer uma reforma no meu armário, quem sou eu para contrariá-los?
- Você tem certeza de que está bom? – entortei a boca e me olhei no espelho.
- Você está falando sério? Está lindo! Acho que nunca te vi tão sexy e bonita como agora! Vai arrasar corações, amiga!
Gargalhei e neguei com a cabeça.
- Eu estava até pensando em comprar algumas lingeries para mim também. Preciso diferenciar um pouco na hora do sexo com ... – ela pensou em voz alta e eu arregalei os olhos, gargalhando.
- !
- O quê? Eu estou falando sério! Ou você não sabia que e eu temos uma vida sexual ativa?
Cobri meu rosto com as mãos e ri.
- Mas agora chega de conversa. Você tem mais três lingeries para experimentar, e não vamos sair daqui hoje até nós levarmos tudo que temos direito.
e eu lanchamos um sanduíche logo depois de terminarmos as compras e pegamos um táxi, voltando para minha casa. Entramos no prédio e eu cumprimentei Ezequiel, como sempre fazia. Subimos e chegamos em frente à porta do meu apartamento. Abri a porta e entramos, jogando as sacolas sobre o sofá. Suspirei aliviada por estar em casa e joguei minhas chaves sobre o balcão da cozinha.
- Que bom que chegaram, meninas. – apareceu no corredor, vindo em nossa direção. – Eu já estava com saudades da minha namorada.
sorriu e eles deram um selinho enquanto envolvia sua cintura com o braço. Ele direcionou seu olhar às sacolas e abriu uma delas, pegando a lingerie vermelha que ali dentro estava. Senti minha bochecha esquentar quando ele olhou a peça e soltou uma risada, logo depois me olhando.
- Não consigo te imaginar vestindo isso, sinceramente. – ele disse e eu revirei os olhos.
- Deixa de ser chato, amor. Está deixando a com vergonha. – comentou , pegando a caixa de suco na geladeira.
- Desculpe-me, mas é que é só... Estranho? – deu de ombros, colocando a lingerie dentro da sacola novamente.
- Eu sei que é estranho, e até agora não concordo com isso. É capaz de rir da minha cara quando me vir usando isso! – comentei, me jogando no sofá, de braços cruzados.
- Com toda a certeza, ele não vai rir. – ouvi a voz rouca e conhecida de , e logo ele também estava parado na sala. – Você não sabe o quanto esses tipos de roupas íntimas deixam um homem excitado.
Engoli em seco e desviei meu olhar. Fiquei encarando meus próprios pés apoiados na mesinha de centro, ainda sentindo minhas bochechas queimarem. Ouvi um suspiro da parte de e ele se aproximou, puxando as roupas de dentro das sacolas, que estavam espalhadas ao meu lado. Olhei-o de canto de olho e ele analisava as roupas, uma por uma. Sorriu de canto de vez em quando ao ver alguma peça que claramente lhe agradava.
- Onde está o seu amigo? – perguntou se aproximando com um copo de suco em mãos.
- Ryan teve que ir embora. Tinha algumas coisas para resolver. – respondeu dando de ombros.
- Bom, acho melhor nós irmos também. Já está ficando tarde. – pôs o copo na pia e voltou para a sala, dando-me um beijo na bochecha.
me abraçou e eles se despediram de .
- Nos vemos amanhã na universidade. – disse e eu assenti.
Eles saíram e fecharam a porta, deixando-me a sós com . Suspirei e me levantei.
- Vou tomar banho. – informei com a voz baixa, mas a voz dele me fez parar no meio do caminho ao banheiro.
- É sério mesmo que você vai ficar desse jeito só por causa do que aconteceu hoje naquele banheiro? – sua voz era um misto de indignação com raiva.
- Não sei do que você está falando. – disse ainda de costas para ele.
- Não sabe? – ele riu sem humor – É claro que sabe, ! Acho que não somente eu, mas todo mundo percebeu o modo que você ficou depois do ocorrido. E na minha opinião, isso é uma extrema falta de maturidade.
Fechei os olhos e respirei fundo.
- Você não entende, . – declarei.
- Realmente, eu não entendo. Por que ficou desse jeito? Por que tanta vergonha? Não fizemos nada demais!
- Para você pode não ter sido nada, mas para mim... – suspirei, interrompendo minha própria fala.
- Para você...? – senti passos e ele se aproximou, ficando atrás de mim enquanto eu ainda estava de costas.
Faltava-me coragem de olhá-lo.
- Para mim... Foi algo totalmente novo. Eu nunca me senti daquele jeito e foi estranho ao mesmo tempo. E sinceramente, eu tenho medo do que possa vir depois daquilo.
- Está falando de sexo? – perguntou e eu suspirei, abaixando a cabeça. – Olha, eu sei que você é virgem, mas não precisa ter medo. Eu nunca faria algo que você não quisesse.
Fiquei em silêncio.
- Então você está com vergonha do que sentiu?! Desde quando sentir desejo é motivo para vergonha? – suas perguntas só faziam eu me sentir mais ridícula do que eu já era.
- , eu gemi na sua frente! – virei em sua direção e ele me encarava sério. – Eu gemi! Você entende o tamanho disso? Eu nem sei mais o que pensar! Eu estou muito confusa.
- E qual o problema de você expressar o prazer que estava sentindo? Eu mesmo te disse que você podia gemer se quisesse! Não tem porque se reprimir do que jeito que você se reprime, !
- Você não entende. – balancei a cabeça.
- É, eu não entendo mesmo. Já ouvi mulheres demonstrarem o que sentem o tempo todo e nenhuma nunca foi tão complicada como você.
Olhei-o surpresa e cerrei meus punhos. – Oh, desculpe-me se você é o experiente aqui e eu não! Se você é o fodão, que já teve inúmeras namoradas e eu nunca tive alguém para chamar de meu! – gritei nervosa, sentindo meus olhos arderem.
me olhou com um olhar de pena e eu só senti minha vontade de chorar aumentar gradativamente.
- ... – ele começou a dizer enquanto se aproximava, mas o interrompi.
- Não! Esquece! Eu sabia que isso não ia dar certo!
Virei novamente e voltei a fazer meu caminho até o banheiro. Bati a porta com raiva e a tranquei. Fiquei de frente ao espelho, encarando a minha imagem refletida ali e me pus a chorar. Eu chorava de vergonha, medo, frustração. Eu odiava o fato de ser fraca diante de alguma situação e era exatamente assim que eu me sentia. Sentia a vergonha de expor meus sentimentos e minhas frustrações para alguém, e ainda esse alguém sendo , que constantemente parecia tentar invadir o meu canto onde eu me refugiava e me escondia.
Eu mais parecia um bichinho amedrontado do que uma mulher. E isso era patético. parecia quebrar aos poucos a barreira construída por mim mesma ao meu redor e esse fato me aterrorizava. Eu não poderia me expor desse jeito. Não poderia deixar que um homem me explorasse assim. Mas o simples fato de tê-lo perto de mim, beijando-me daquela forma e me abraçando, fazia-me desmoronar. Eu derretia diante de seus toques e isso não me agradava em nada. Eu devia ter alguma espécie de atração física por ele. Não é possível.
Ao terminar de tomar banho, joguei a minha roupa no cesto de roupa suja e saí do banheiro, com a toalha enrolada em meu corpo. Fui ao meu quarto e pus meu pijama. Saí do mesmo e fui até a sala, enquanto secava meus cabelos. Um papel em cima do balcão me chamou a atenção e eu o peguei.
“Vou passar a noite na casa da Olivia. Só escrevi este bilhete porque achei que você deveria saber caso precisasse de mim para alguma coisa.
Tenha uma boa noite,
.”
Amassei o papel em minhas mãos e o joguei no lixo. Eu estava com raiva. Raiva por estar aqui, sentindo uma possível atração pelo idiota, e ele com a Olivia. Aposto que amanhã ele vai chegar aqui sorrindo feito um bobo e contando aos quatro ventos sobre a noite maravilhosa que eles tiveram. Pisei forte de volta ao banheiro e penteei meus cabelos. Eu os penteava com tanta força, que chegava a machucar um pouco meu couro cabeludo, mas eu não me importava. Eu só queria achar alguma maneira de extravasar a revolta que se instalava fervorosamente em minhas veias.
Fui até a geladeira e peguei cinco garrafas de cerveja de uma vez. Sentei-me no sofá e abri a primeira garrafa, dando um longo gole enquanto ligava a televisão. Eu ia relaxar de qualquer jeito, nem que para isso eu tivesse que beber. Nem que a vergonha voltasse no dia seguinte, eu ia beber para assim, afogar o meu sentimento e colocá-lo novamente em seu devido lugar: dentro do meu coração.
Capítulo 11 – Beije-me
No dia seguinte, acordei em uma posição extremamente desconfortável no sofá. Sentei-me lentamente e levei minhas mãos ao meu pescoço que doía. Fiz uma careta e recolhi as garrafas de cerveja vazias, jogando tudo na lixeira. Passei as mãos no cabelo, puxando os fios desarrumados e pondo tudo em um rabo de cavalo no alto da cabeça. Suspirei e fui até a cozinha. Meu estômago roncava e eu tinha que cozinhar alguma coisa, ou morreria de fome.
Abri a geladeira e peguei uma vasilha onde estavam as fatias de bacon. Coloquei-as na frigideira com um pouco de óleo e comecei a fritá-las. Dei um pulo para trás, assustada, quando alguns respingos de óleo vieram em minha direção. Cobri a frigideira com a tampa e me recostei ao lado do fogão, com os braços cruzados. Uma pontada na cabeça me fez fechar os olhos e o arrependimento de ter bebido tanto na noite passada, bateu à minha porta.
O cheiro do bacon infestou a minha cozinha e coloquei as tiras em um prato assim que ficaram prontas. Levei a frigideira de volta ao fogão e quebrei dois ovos. Quando os mesmos estavam prontos, eu os coloquei junto ao bacon e joguei a frigideira dentro da pia. Fui até a geladeira e peguei a caixa de suco, logo enchendo um copo. Sentei-me de frente ao balcão e me pus a comer em meio ao silêncio do apartamento. Não sei se é por eu já estar me acostumando à presença de nessa casa, que estar sozinha como agora, me fazia sentir mais solitária ainda.
Ao terminar de comer, numa lentidão enorme, levantei e coloquei a louça suja dentro da lavadora de louças. Deixei a mesma trabalhando enquanto fui ao banheiro para tomar um banho rápido. Ao fim de tudo, fui ao meu quarto e me vesti para mais um dia de faculdade. Arrumei meus materiais logo depois de pentear os cabelos, deixando-os soltos. Calcei meus tênis e peguei minha bolsa. Joguei meu celular dentro da mesma e saí do quarto. A lavadora de louça parou de trabalhar e assim, eu pude sair do apartamento. Tranquei a porta e andei pelo grande corredor, em direção ao elevador.
Assim que cheguei ao térreo, avistei Ezequiel e ele acenou com a cabeça, desejando-me bom dia. Cumprimentei-o de volta e sorri fraco, logo saindo do prédio. Acenei para um táxi e o mesmo parou. Entrei e dei o endereço da universidade. Quando o carro parou, eu saí do mesmo logo depois de pagar, e fechei a porta. Virei meu rosto e tive a visão de . Ele estava sentado nas escadas que davam para a porta da universidade, juntamente com alguns amigos jogadores de basquete.
Suspirei e abaixei minha cabeça. Comecei a andar em direção à entrada, enquanto segurava a alça da minha bolsa em meu ombro. Subi as escadas lentamente, passando bem ao lado de , que pareceu nem perceber a minha presença. Ele continuou a conversar e rir com seus amigos, sem nem me olhar. Aquilo me deixou tão chateada que eu apenas voltei meu olhar para meus pés enquanto eu apressava ainda mais meus passos para sair dali.
Entrei na universidade e fui direto para a minha sala, já que faltavam apenas alguns minutos para o início da aula de filosofia. Sentei-me mais no fundo, ao lado da parede, e encostei minha cabeça na mesma. Fechei meus olhos e fiquei assim por um longo tempo até sentir algo batendo na minha bochecha. Abri os olhos na mesma hora e vi que se tratava de uma bolinha de papel. Franzi a testa e peguei a mesma no chão. Abri o papel e vi a conhecida letra de .
“Aconteceu alguma coisa? Por que está com essa cara?”
“Não foi nada. Está tudo ótimo.” – respondi de volta e joguei-lhe o papel.
me olhou com uma expressão desconfiada logo depois de ler, e eu apenas sorri fraco, voltando a fechar meus olhos e encostar a cabeça à parede.
tentou me fazer falar o que aconteceu, mas eu simplesmente dizia que estava bem e que não havia motivo para preocupação. Voltei para casa de táxi novamente e passei para ver minha caixinha de correio antes de ir para o meu andar. Sorri ao ver que eu tinha recebido uma carta do meu pai e levei-a ao peito enquanto fechava os olhos. Fui até o elevador e subi até meu andar. Em meio ao meu caminho pelo corredor, eu procurei minha chave dentro da bolsa. Assim que a achei, abri a porta e entrei.
Fechei a porta e assim que virei meu corpo, o pequeno sorriso que estava em meu rosto, simplesmente se desmanchou com aquela imagem. e Olivia estavam ali, de frente para a enorme janela, se beijando. Engoli em seco e fechei os olhos por um instante, tentando processar o que eu tinha visto. Ao abri-los novamente, vi que os dois estavam tão envolvidos naquilo que nem notaram minha presença.
“Parece que eu voltei a ser invisível.”
Senti meus olhos arderem ao ver a forma como a tocava enquanto eles se beijavam. O carinho que ele tinha com ela me fez chorar em silêncio. Ajeitei meus óculos e me pus a caminhar em passos rápidos até meu quarto. Joguei-me na cama e fechei os olhos, sentindo as lágrimas escorrerem por minhas bochechas. Peguei a carta do meu pai e comecei a ler mesmo em meio ao choro. A saudade só aumentou ainda mais quando ele me contou sobre as peripécias que meu priminho mais novo estava fazendo pela casa.
Meu momento foi interrompido com a porta sendo aberta. Sentei rapidamente na cama enquanto escondia a carta debaixo do travesseiro e secava minhas lágrimas com as mãos e braços. apareceu e a cena dele e Olivia na sala só se repetia na minha mente.
- Ah, oi, . – sorriu de canto enquanto se aproximava. – Vejo que já voltou da faculdade. Por que não falou comigo quando chegou?
Porque não quis estragar o seu lindo momento com Olivia.
- Oh, acho que nem te vi. Eu estava pensando em algumas coisas da faculdade, e bem... Nem percebi que você estava em casa também. – respondi.
- Ok... Você vai querer almoçar? A comida está quase pronta. – ele disse e eu neguei com a cabeça.
- Não. Não estou com fome. – olhei para minhas mãos e engoli em seco.
Senti passos e sentou ao meu lado. Seu olhar pairou sobre mim, mas não ousei olhá-lo de volta.
- Aconteceu alguma coisa, ? Você parece ter chorado.
Funguei baixo e balancei a cabeça.
- Não, , está tudo bem.
- Não me venha com essa. Eu sei que não está. – virou-se em minha direção e eu continuei a encarar minhas mãos sobre meu colo. – Me fale o que houve.
Respirei fundo e disse: - O ... Ele...
- O que tem esse cara? – levantei meu olhar e tinha o maxilar travado.
- Ele e a Courtney continuam ficando e... Hoje eu passei por ele na faculdade e foi como se... – meus olhos lacrimejaram e repentinamente, senti me puxar contra seu corpo. Encostei o rosto em seu peito e fechei meus olhos, com meus braços ao redor de sua cintura. – Como se eu não existisse... Ele nem percebeu a minha presença. Senti-me invisível novamente. E isso é horrível.
Ouvi respirar fundo e o seu peito se encheu de ar, logo o liberando lentamente.
- Não se preocupe, . Não chore por causa desse idiota. – sua voz era baixa e cheia de emoção.
“Não estou chorando só por causa dele.” – pensei.
- Hoje nós vamos continuar com as suas aulas, certo? – afastei-me um pouco dele e assenti.
levou seus polegares até minhas bochechas e limpou as lágrimas enquanto olhava profundamente em meus olhos. Ele sorriu fraco e eu suspirei, colocando minha mão sobre a sua.
- Obrigada... Por me aguentar. – ri baixo e ele me acompanhou. – Não sei como você ainda tem paciência depois de tudo que eu te disse ontem, e toda a vergonha que eu senti...
- Vamos esquecer isso, ok? Vamos pensar só no presente. – assenti e ele deu um beijo demorado em minha bochecha.
Um beijo que me fez estremecer. O primeiro beijo que me causou um impacto tão grande. O simples toque dos seus lábios na minha bochecha me fez soltar um suspiro baixo e sofrido, que eu desejei com todo o meu coração que não tivesse percebido.
- Bom, vamos comer! – ele se levantou e estendeu sua mão. Olhei-a e neguei.
- Não. Eu prefiro ficar aqui. – sorri fraco. – Não estou com fome.
A verdade é que eu não queria encarar Olivia junto a . Então, eu preferia ficar em meu quarto enquanto ela estivesse aqui.
- ... – disse num tom repreensivo. – Você precisa se alimentar.
- Eu estou bem, . Eu tomei um café bem reforçado hoje.
- O quê? – ele me olhou surpreso – Você cozinhou?!
Soltei uma risada e me olhou risonho.
- É, parece que sim. Meu chefe de cozinha não estava aqui hoje. – dei de ombros, apoiando minhas mãos na cama e ficando um pouco deitada para trás.
riu fraco e coçou a nuca, parecendo sem graça.
- Desculpe-me por isso. Parece que não consegui vir mais cedo.
- Imagino que a noite deve ter sido boa, huh? – falei num tom seco e ele se remexeu, incomodado.
- Acho melhor não falarmos sobre isso.
- É, é melhor. Minha dor de cabeça também não permite estresse.
- Consequência das garrafas de cerveja. Pensa que eu não as vi na lixeira, mocinha? – ele usava um tom como se falasse com uma criança de quatro anos, e eu rolei os olhos com isso. – Por que você bebeu? Virou alcoólatra agora?
- E se eu tiver virado, o que você tem a ver com isso? , eu já sou adulta, se não percebeu.
- Adulta? Pois a única coisa que eu vejo aqui é uma criancinha birrenta. – ele cruzou os braços e me encarou com a sobrancelha arqueada.
Peguei um travesseiro e joguei em sua direção, mas ele desviou, fazendo com que o travesseiro batesse na porta. me encarou incrédulo e eu gargalhei.
- Isso vai ter volta, Wright! – ele disse num tom ameaçador, apontando em minha direção.
Sorri marota. – Que tenha, então. Não tenho medo de você, .
Ele sorriu desafiador e saiu do quarto. Ri sozinha e me deitei na cama, voltando a ler a carta do meu pai. Depois de ler, peguei meu notebook e fiquei fazendo algumas pesquisas que eu sempre fazia. Depois de algumas horas, quando eu já não ouvia mais as vozes de Olivia e , eu me levantei e fui sorrateiramente até a porta, abrindo-a lentamente. Avistei da porta, que estava de frente a pia. Não vi Olivia, então decidi ir até a sala.
Chegando lá, tive a plena certeza de que ele estava sozinho e respirei aliviada. Meu estômago roncou alto e isso chamou a atenção de , que me olhou risonho.
- Acho que tem um monstro na sua barriga, pequena .
Ri de seu comentário e fui até o fogão. Tirei a tampa de uma das panelas e o cheirinho bom de comida adentrou meu nariz. Fiz um prato e sentei-me, começando a comer. Eu admito que eu parecia uma esfomeada, o que fazia me olhar e rir. Quando terminei de comer, levei meu prato até a pia e ele disse que lavaria tudo. Assenti, agradecendo, e fui até o armário. Procurei por algo doce que eu pudesse comer como sobremesa e meus olhos brilharam quando eu vi o pote de Nutella a minha frente.
Lambi os lábios e peguei o pote, em seguida, uma colher. Fui até a sala e me joguei no sofá enquanto me deliciava com o doce. veio até mim alguns segundos depois e se jogou ao meu lado. Ele intercalava seu olhar entre mim e a parede a nossa frente. Algumas vezes, seu olhar pairava sobre a minha boca quando eu lambia a colher. Vi quando ele mordeu o lábio inferior e franzi a testa.
- Já podemos ter aula? – perguntou e eu dei de ombros, assentindo. Estiquei-me para pôr o pote de Nutella na mesinha, mas a sua voz me interrompeu: - Não, vamos precisar disso.
- E por quê? – perguntei confusa.
- Eu estava pensando em uma aula diferente hoje. – ele se virou em minha direção e eu fiz o mesmo, cruzando minhas pernas na posição de índio.
- E no que pensou?
- Eu vou te ensinar a beijar. Acho que já está na hora. – ao ouvir aquilo, meu coração disparou quase na velocidade da luz. Juro.
Engoli em seco e passei a mão no cabelo.
- Está nervosa, ? – soltou uma risadinha debochada e pegou o pote de minha mão. Ele encheu a colher de Nutella e depois a lambeu, enquanto me encarava intensamente com aqueles olhos indecifráveis.
- N-Não. - gaguejei. Droga.
- Certo. Podemos começar, então? – perguntou sugestivo.
- Sabe o que é, ? E-Eu não sei se isso é uma boa ideia... Você sabe, a gente se beijar assim.
- E por que não? – franziu o cenho. – Eu estive pensando nisso no caso de você e se beijarem. Você tem que passar a impressão a ele de que você sabe o que está fazendo. Tem que passar segurança até nos movimentos dos seus lábios. E quem melhor para te ensinar do que eu, seu professor? – arqueou a sobrancelha, sorrindo de canto.
Respirei fundo e fechei os olhos, balançando a cabeça afirmativamente.
- Certo... Vamos lá.
- E tem mais uma coisa. Hoje eu vou te dar a liberdade para me tocar onde quiser, assim como eu fiz com você ontem.
Fiquei surpresa com a sua declaração, mas disfarcei, apenas assentindo com a cabeça.
Às vezes, eu penso até onde isso vai parar...
- Ok, vem aqui. – chamou-me logo depois de encher a colher com Nutella.
Hesitei um pouco, mas me aproximei dele. passou um pouco do doce no meu lábio superior e eu franzi a testa, ainda confusa.
- O que está fazendo?
- Eu falei que ia te ensinar de forma diferente. E é com Nutella. – sorriu maroto.
- Mas eu não... – comecei a dizer, mas me interrompeu, colocando o dedo indicador sobre meus lábios.
- Shhh... Eu sou seu professor, e a aluna faz o que o professor manda, certo?
Assenti, suspirando. sorriu e levou seu dedo sujo de chocolate até a boca, chupando-o. Esse pequeno ato fez minha cabeça revirar e lembrei-me de seus chupões no meu pescoço. Seus dedos em minha bochecha me fizeram despertar de meu pequeno devaneio e eu o olhei receosa, engolindo seco, enquanto ele se aproximava.
- Primeiramente, eu vou te beijar. Quero que preste muita atenção, porque depois você terá que repetir. – sussurrou contra meus lábios e eu balancei a cabeça, concordando.
Ele esticou o braço e pegou mais um pouco de Nutella, passando agora no meu lábio inferior, deixando meus lábios cheios de chocolate. Tive vontade de lambê-los, mas me contive. Respirei fundo e fechei os olhos quando senti seu rosto se aproximar mais do meu. Repentinamente, comecei a tremer. Foi como se eu tivesse enfiado o dedo na tomada e uma corrente elétrica percorresse meu corpo sem que eu conseguisse parar.
Minhas mãos começaram a suar e a escorregar uma na outra, já que estavam entrelaçadas. Senti um calor intenso na nuca e minha garganta ficou seca. Oh, droga! Não consigo nem controlar o meu próprio corpo! Que decepção comigo mesma. Quando senti a respiração de bater em meu rosto, eu simplesmente congelei, literalmente. Eu não conseguia me mexer. E a situação só piorou quando senti seu dedo polegar ficar em minha bochecha enquanto os outros dedos envolviam minha nuca, puxando meu rosto para mais perto do dele.
Quando sua língua tocou meu lábio superior, foi o fim. Meu coração acelerou no mesmo instante e eu pude jurar que conseguia ouvir seus batimentos. lambeu meu lábio lentamente, tirando todo o chocolate que ali estava. Respirei pesadamente e percebeu, separando-se um pouco de mim.
- Relaxe, . – sussurrou contra meus lábios.
Como eu vou relaxar quando ele está a ponto de me dar o meu primeiro beijo?!
Apenas assenti, tentando controlar minha respiração que começava a ofegar. lambeu meu lábio inferior, sugando-o em seguida. Estremeci com aquilo. Senti seus dentes mordiscando-o e logo, ele o puxou para si de uma forma suave. Eu não conseguia abrir os meus olhos, e minhas mãos não se soltavam uma da outra. Oh, céus. Acho que nunca estive tão nervosa na minha vida.
Seus lábios macios, que já haviam tocado meu pescoço, levando-me ao céu, dessa vez tocavam os meus. Suspirei quando beijou o canto da minha boca. Ele levou sua língua novamente aos meus lábios e os lambeu lentamente, de baixo a cima. Senti sua outra mão que não estava no meu rosto, envolver a minha cintura e puxar meu corpo contra o seu. Deixei com que meu corpo fosse guiado por sua mão e me pôs sentada no seu colo, com uma perna de cada lado do seu quadril.
Abri meus olhos e me encarava intensamente com um sorriso malicioso. Ele pegou minhas mãos e as levou até sua nuca, para que eu envolvesse seu pescoço. Mordi meu lábio inferior e levou suas mãos novamente ao meu rosto, tirando meus óculos, e colocando-os no braço do sofá. Seus dedos acariciaram levemente minhas bochechas e ele colocou algumas mechas do meu cabelo para trás de minhas orelhas. De volta, acariciei sua nuca com as pontas dos meus dedos, e logo depois, os cabelos.
fechou os olhos por um momento e suspirou. Percebi que ele apreciava o toque dos meus dedos em sua nuca. Ri mentalmente quando vi que ele mais parecia um gatinho manhoso sendo acariciado por seu dono. Sorri de canto e ele abriu os olhos. Seus dedos tocaram meus lábios entreabertos e ele os acariciou com firmeza. Curvei um pouco meus lábios e beijei levemente seus dedos. sorriu com meu ato e em um movimento rápido, ele me puxou mais contra seu corpo, segurando firmemente minha cintura, e selou nossos lábios em um selinho.
Arregalei meus olhos com sua atitude e com um pouco de receio, sem saber o que fazer. Acabei me lembrando de que ele disse que ia me ensinar primeiro, então, deixei que ele fizesse o que tivesse de ser feito. Fechei os olhos e deu pequenos selinhos em meus lábios antes de selá-los com mais firmeza, e eu senti sua língua deslizar por meu lábio inferior. Senti um aperto em minha cintura e entendi que eu devia abri-los. Entreabri meus lábios e aprofundou o beijo. Não senti sua língua em momento algum, somente o toque de seus lábios nos meus.
Seus movimentos eram lentos e ele parecia querer aproveitar ao máximo aquele momento. Suas mãos adentraram minha blusa e ele a levantou até um pouco acima do meu umbigo. Senti seus dedos deslizarem sobre minha pele e me arrepiei. Suas mãos foram até minhas costas e ele as acariciou de cima a baixo, lentamente, chegando até o final de minha cintura. Um arrepio incontrolável passou por meu corpo, desde a pontinha do meu dedo até o último fio de cabelo. Oh, céus! O que está acontecendo comigo?
Repentinamente, senti se afastar um pouco, deixando-me com um bico quando seus lábios descolaram dos meus. Ouvi sua risada baixa e abri os olhos, vendo-o esticar-se um pouco, pegando novamente o pote de Nutella. Ele passou novamente o chocolate em meus lábios, mas dessa vez com a ponta de seu dedo indicador, e ao final, levou até meus lábios entreabertos e disse:
- Chupe.
Envolvi seu dedo com minha boca e o chupei, tirando todo o chocolate dali. encarou-me durante o processo, com a boca entreaberta e ao final, deu uma mordida em seu lábio inferior.
- Lembra-se de quando eu te falei sobre o pirulito e o picolé? – ele sussurrou em meu ouvido e eu assenti. – Pois é, você acabou de fazer isso comigo.
Estremeci com a possibilidade de tê-lo excitado e respirei um pouco ofegante. deu um beijo molhado em minha bochecha e encostou seu nariz ao meu.
- Certo, você já ouviu falar em beijo francês? – perguntou enquanto acariciava minha bochecha e eu neguei com a cabeça. Seu tom era rouco e baixo, o que só fez com que o calor em minha nuca aumentasse. – Também é conhecido como beijo de língua.
Suspirei contra seus lábios e apertei ainda mais sua nuca. apertou minha cintura de volta.
- Você quer sentir a minha língua, ? – perguntou roucamente e eu arfei.
Minha respiração ficou pesada e eu fiquei em silêncio. Eu era muito tímida para isso. Droga! Vendo que eu não iria responder, ele disse:
- Eu vou repetir. Você quer sentir a minha língua, ? Eu quero que você diga sim ou não.
Engoli em seco e disse: - S-Sim.
- Sim o quê? – perguntou com a voz firme. Ele estava me provocando!
- Eu quero senti-la, . – admiti com a voz falha.
Ele sorriu malicioso.
- Okay. O seu pedido é uma ordem.
Sem que eu esperasse, pressionou seus lábios novamente contra os meus e o abracei pelo pescoço. Ele passou a língua em meu lábio inferior e entreabri minha boca, mas dessa vez, sua língua adentrou-a e eu suspirei contra seus lábios. Ao senti-la tocar a minha, eu simplesmente derreti em seus braços. Eu não sabia que beijar era tão bom. A língua de acariciou a minha lentamente e logo, começou a explorar minha boca de um modo totalmente sensual e envolvente. O gosto de chocolate tomava conta das nossas bocas, tornando aquela sensação ainda melhor.
O beijo foi ficando mais intenso e eu levei minhas mãos até a barra da blusa de . Não, eu não tinha coragem suficiente para tirá-la. Então, eu simplesmente deixei-as depositadas ali. pareceu perceber minha hesitação, como sempre, e se afastou um pouco de mim, separando nossos lábios.
- Se quiser tirar a minha blusa, eu não vou impedi-la, baby.
Baby? Wow! Por essa eu não esperava. Onde foi parar o ?
Os olhos de pareciam estar mais escuros e mais brilhantes, o que me tirou o fôlego por um momento. Encarando-me nos olhos, ele colocou suas mãos sobre as minhas e foi erguendo lentamente sua camisa. Ele a tirou completamente e jogou sobre o sofá. Meus olhos desceram por seus ombros, passando por seu peito e chegando ao seu abdômen lindíssimo. Suspirei encantada e ouvi uma risadinha da parte de .
- Você gosta do que vê, baby? – assenti tímida e ele pegou minha mão, levando-a ao seu abdômen. – Toque-me.
Subi minhas mãos até seus ombros e os toquei suavemente. fechou os olhos e se sentou de forma mais relaxada no sofá, ajeitando-me em seu colo. Seus cabelos meio bagunçados o deixaram ainda mais atraente e a essa altura do campeonato, eu já não conseguia controlar meu coração e meus instintos. Desci minhas mãos por seus braços tatuados e fortes e senti sua pele se arrepiar levemente sob meus dedos trêmulos. Cheguei ao seu peito e me inclinei um pouco, dando-lhe um leve beijo.
Eu nunca havia tocado um homem dessa maneira e admito que eu estava um pouco assustada e com medo de fazer algo errado, mas se não me repreendeu até agora, é porque tudo estava indo bem, não é? Olhei para o rosto de enquanto acariciava seu peito e vi um sorriso discreto se formar em seus lábios, seguido de um suspiro. Desci mais minhas mãos e toquei seu abdômen. Acariciei sua pele e passei minhas pequenas unhas por aquela região, vendo-o se arrepiar por inteiro. apertou minha cintura com certa força e eu acabei me movimentando um pouco, fazendo-o gemer baixo.
Olhei-o surpresa e com os olhos ainda fechados, ele disse: - Cuidado aí embaixo. Você acabou de se movimentar em algo perigoso. – seu tom era malicioso e eu sorri fraco, mordendo o lábio inferior.
Inclinei-me e dei um rápido beijo em seu abdômen, logo subindo meu rosto e indo de encontro ao seu pescoço totalmente exposto. Depositei alguns beijos suaves por sua pele, apertando levemente seus braços, e senti ofegar debaixo de mim. Beijei seu ombro direito e dei uma pequena chupada, como ele tinha feito comigo no banheiro. Um bom aluno também tem que aprender através de pequenas observações, certo? E eu era uma boa observadora, então, isso só me ajudou ainda mais quando eu fosse repetir os mesmos movimentos em .
Levei meu rosto de novo ao seu pescoço e o beijei mais demoradamente, logo dando um pequeno chupão e uma mordida. ofegou e um pequeno som saiu de seus lábios entreabertos, o qual eu chamei de gemido. Um gemido reprimido na verdade. Ele também parecia querer se controlar. E depois ainda fala de mim. Suas mãos subiram por minhas costas, de forma desesperada, levando minha blusa junto. E eu só tive tempo de raciocinar para levantar os braços.
passou a blusa por minha cabeça e a tirou, jogando no sofá, em cima da sua. Ele puxou meu corpo contra o seu e me abraçou. Seu nariz em meu pescoço e seu peito contra meus seios cobertos pelo sutiã me fizeram arrepiar. Ele envolveu meu corpo com seus braços fortes e eu encostei minha testa em seu ombro, sentindo o calor do corpo dele ser transmitido ao meu. Seu nariz cheirou meu pescoço e o beijou. Sua mão direita foi até a alça do meu sutiã e a afastou um pouco.
lambeu meu ombro e o chupou. Não consegui reprimir um gemido baixo e soltou uma risada nasalada. Ele acariciou minha pele com seu nariz, indo até a minha clavícula, distribuindo beijos e chupões em seguida. Quando ele abaixou seu rosto e deu um beijo no meio dos meus seios, seguido de uma lambida, gemi novamente.
- ... – disse com a voz falha, agarrando seus cabelos da nuca.
- Eu sei, baby, eu sei. Você não sabe como isso é excitante para mim também. – ele sussurrava extasiado com aquele momento assim como eu. – O seu cheiro é tão bom. Você me entorpece, .
Afastei-me um pouco e beijei seu pescoço de forma mais intensa. Seus pelos se eriçavam ainda mais e ele mantinha seus olhos fechados com certa força. Seu lábio estava vermelho por conta das mordidas que dava nele. Levei meu polegar até sua boca, fazendo-o parar de mordê-lo.
- Não faça isso, . – sussurrei. – Seus lábios são muito bonitos para você machucá-los.
Ele abriu seus olhos e me encarou. Seus orbes estavam brilhantes e percebi que sua pupila estava dilatada. Seu olhar estava bem diferente, e eu nunca o tinha visto assim.
- Desculpe-me, mas é a minha forma de me segurar quando estou com você. – franzi a testa sem entender. – Eu sinto tesão por você, .
A sua declaração me fez paralisar. Meu coração quase saltou do peito e eu fiquei o encarando, perplexa. O quê? tem desejo por mim?
- O-o quê? – perguntei confusa.
- Isso mesmo que você ouviu. Meu corpo anseia pelo seu, baby.
Fiquei estática até sentir seu dedo polegar acariciar minha bochecha.
- Você pode me beijar, ? – sua pergunta acendeu fogos de artifício em mim e eu sorri abobalhadamente.
Sem perder tempo, eu peguei o pote de Nutella. Estava na hora de lhe mostrar o que eu tinha aprendido. riu baixo quando eu passei meus dedos sujos de chocolate em seus lábios e logo os selei firmemente. O sabor do chocolate adentrou minha boca quando eu passei minha língua em seu lábio inferior, e ele me deu passagem. Os toques de nossas línguas ficaram mais intensos e gemi por entre o beijo quando senti a mão de subir por minha costela e apertar levemente meu seio. Sua outra mão pousou em meu bumbum coberto pela calça jeans e o apertou com um pouco de força.
Remexi-me um pouco no colo de por conta de seus apertos e ele gemeu por entre o beijo.
- Sugiro que não faça isso novamente, pequena . – murmurou contra meus lábios e eu ri tímida. – Não sei se conseguirei me controlar por muito tempo.
- Desculpe-me. – disse baixo e voltou a selar nossos lábios com gosto de chocolate.
A campainha tocou e eu me separei rapidamente dele. Encarei com os olhos assustados e ele me encarou de volta.
- Quem é? – falei alto.
- É a Olivia. Eu esqueci as chaves da empresa! – ela respondeu e eu encarei , com os olhos arregalados.
me encarou igualmente assustado e eu ameacei levantar de seu colo.
- Já estou indo! – respondi.
me segurou antes que eu pudesse levantar e selou nossos lábios novamente, dando-me um beijo rápido. Levantei-me e vesti minha blusa, assim como . Coloquei meus óculos e passei as mãos pelos cabelos antes de caminhar até a porta, mas os tênis de estavam no caminho, e como não vi, acabei tropeçando e caindo.
deu uma gargalhada e passou por mim, abrindo a porta. Olivia apareceu bem a minha frente e me encarou com uma expressão preocupada.
- Você está bem, ? – perguntou enquanto entrava.
- Ah, sim. Estou bem. – respondi com um sorriso tímido.
Senti minhas bochechas ruborizarem com a vergonha e suspirei, abaixando a cabeça, e levantando do chão.
É, algumas coisas nunca mudam...
Abri a geladeira e peguei uma vasilha onde estavam as fatias de bacon. Coloquei-as na frigideira com um pouco de óleo e comecei a fritá-las. Dei um pulo para trás, assustada, quando alguns respingos de óleo vieram em minha direção. Cobri a frigideira com a tampa e me recostei ao lado do fogão, com os braços cruzados. Uma pontada na cabeça me fez fechar os olhos e o arrependimento de ter bebido tanto na noite passada, bateu à minha porta.
O cheiro do bacon infestou a minha cozinha e coloquei as tiras em um prato assim que ficaram prontas. Levei a frigideira de volta ao fogão e quebrei dois ovos. Quando os mesmos estavam prontos, eu os coloquei junto ao bacon e joguei a frigideira dentro da pia. Fui até a geladeira e peguei a caixa de suco, logo enchendo um copo. Sentei-me de frente ao balcão e me pus a comer em meio ao silêncio do apartamento. Não sei se é por eu já estar me acostumando à presença de nessa casa, que estar sozinha como agora, me fazia sentir mais solitária ainda.
Ao terminar de comer, numa lentidão enorme, levantei e coloquei a louça suja dentro da lavadora de louças. Deixei a mesma trabalhando enquanto fui ao banheiro para tomar um banho rápido. Ao fim de tudo, fui ao meu quarto e me vesti para mais um dia de faculdade. Arrumei meus materiais logo depois de pentear os cabelos, deixando-os soltos. Calcei meus tênis e peguei minha bolsa. Joguei meu celular dentro da mesma e saí do quarto. A lavadora de louça parou de trabalhar e assim, eu pude sair do apartamento. Tranquei a porta e andei pelo grande corredor, em direção ao elevador.
Assim que cheguei ao térreo, avistei Ezequiel e ele acenou com a cabeça, desejando-me bom dia. Cumprimentei-o de volta e sorri fraco, logo saindo do prédio. Acenei para um táxi e o mesmo parou. Entrei e dei o endereço da universidade. Quando o carro parou, eu saí do mesmo logo depois de pagar, e fechei a porta. Virei meu rosto e tive a visão de . Ele estava sentado nas escadas que davam para a porta da universidade, juntamente com alguns amigos jogadores de basquete.
Suspirei e abaixei minha cabeça. Comecei a andar em direção à entrada, enquanto segurava a alça da minha bolsa em meu ombro. Subi as escadas lentamente, passando bem ao lado de , que pareceu nem perceber a minha presença. Ele continuou a conversar e rir com seus amigos, sem nem me olhar. Aquilo me deixou tão chateada que eu apenas voltei meu olhar para meus pés enquanto eu apressava ainda mais meus passos para sair dali.
Entrei na universidade e fui direto para a minha sala, já que faltavam apenas alguns minutos para o início da aula de filosofia. Sentei-me mais no fundo, ao lado da parede, e encostei minha cabeça na mesma. Fechei meus olhos e fiquei assim por um longo tempo até sentir algo batendo na minha bochecha. Abri os olhos na mesma hora e vi que se tratava de uma bolinha de papel. Franzi a testa e peguei a mesma no chão. Abri o papel e vi a conhecida letra de .
“Aconteceu alguma coisa? Por que está com essa cara?”
“Não foi nada. Está tudo ótimo.” – respondi de volta e joguei-lhe o papel.
me olhou com uma expressão desconfiada logo depois de ler, e eu apenas sorri fraco, voltando a fechar meus olhos e encostar a cabeça à parede.
tentou me fazer falar o que aconteceu, mas eu simplesmente dizia que estava bem e que não havia motivo para preocupação. Voltei para casa de táxi novamente e passei para ver minha caixinha de correio antes de ir para o meu andar. Sorri ao ver que eu tinha recebido uma carta do meu pai e levei-a ao peito enquanto fechava os olhos. Fui até o elevador e subi até meu andar. Em meio ao meu caminho pelo corredor, eu procurei minha chave dentro da bolsa. Assim que a achei, abri a porta e entrei.
Fechei a porta e assim que virei meu corpo, o pequeno sorriso que estava em meu rosto, simplesmente se desmanchou com aquela imagem. e Olivia estavam ali, de frente para a enorme janela, se beijando. Engoli em seco e fechei os olhos por um instante, tentando processar o que eu tinha visto. Ao abri-los novamente, vi que os dois estavam tão envolvidos naquilo que nem notaram minha presença.
“Parece que eu voltei a ser invisível.”
Senti meus olhos arderem ao ver a forma como a tocava enquanto eles se beijavam. O carinho que ele tinha com ela me fez chorar em silêncio. Ajeitei meus óculos e me pus a caminhar em passos rápidos até meu quarto. Joguei-me na cama e fechei os olhos, sentindo as lágrimas escorrerem por minhas bochechas. Peguei a carta do meu pai e comecei a ler mesmo em meio ao choro. A saudade só aumentou ainda mais quando ele me contou sobre as peripécias que meu priminho mais novo estava fazendo pela casa.
Meu momento foi interrompido com a porta sendo aberta. Sentei rapidamente na cama enquanto escondia a carta debaixo do travesseiro e secava minhas lágrimas com as mãos e braços. apareceu e a cena dele e Olivia na sala só se repetia na minha mente.
- Ah, oi, . – sorriu de canto enquanto se aproximava. – Vejo que já voltou da faculdade. Por que não falou comigo quando chegou?
Porque não quis estragar o seu lindo momento com Olivia.
- Oh, acho que nem te vi. Eu estava pensando em algumas coisas da faculdade, e bem... Nem percebi que você estava em casa também. – respondi.
- Ok... Você vai querer almoçar? A comida está quase pronta. – ele disse e eu neguei com a cabeça.
- Não. Não estou com fome. – olhei para minhas mãos e engoli em seco.
Senti passos e sentou ao meu lado. Seu olhar pairou sobre mim, mas não ousei olhá-lo de volta.
- Aconteceu alguma coisa, ? Você parece ter chorado.
Funguei baixo e balancei a cabeça.
- Não, , está tudo bem.
- Não me venha com essa. Eu sei que não está. – virou-se em minha direção e eu continuei a encarar minhas mãos sobre meu colo. – Me fale o que houve.
Respirei fundo e disse: - O ... Ele...
- O que tem esse cara? – levantei meu olhar e tinha o maxilar travado.
- Ele e a Courtney continuam ficando e... Hoje eu passei por ele na faculdade e foi como se... – meus olhos lacrimejaram e repentinamente, senti me puxar contra seu corpo. Encostei o rosto em seu peito e fechei meus olhos, com meus braços ao redor de sua cintura. – Como se eu não existisse... Ele nem percebeu a minha presença. Senti-me invisível novamente. E isso é horrível.
Ouvi respirar fundo e o seu peito se encheu de ar, logo o liberando lentamente.
- Não se preocupe, . Não chore por causa desse idiota. – sua voz era baixa e cheia de emoção.
“Não estou chorando só por causa dele.” – pensei.
- Hoje nós vamos continuar com as suas aulas, certo? – afastei-me um pouco dele e assenti.
levou seus polegares até minhas bochechas e limpou as lágrimas enquanto olhava profundamente em meus olhos. Ele sorriu fraco e eu suspirei, colocando minha mão sobre a sua.
- Obrigada... Por me aguentar. – ri baixo e ele me acompanhou. – Não sei como você ainda tem paciência depois de tudo que eu te disse ontem, e toda a vergonha que eu senti...
- Vamos esquecer isso, ok? Vamos pensar só no presente. – assenti e ele deu um beijo demorado em minha bochecha.
Um beijo que me fez estremecer. O primeiro beijo que me causou um impacto tão grande. O simples toque dos seus lábios na minha bochecha me fez soltar um suspiro baixo e sofrido, que eu desejei com todo o meu coração que não tivesse percebido.
- Bom, vamos comer! – ele se levantou e estendeu sua mão. Olhei-a e neguei.
- Não. Eu prefiro ficar aqui. – sorri fraco. – Não estou com fome.
A verdade é que eu não queria encarar Olivia junto a . Então, eu preferia ficar em meu quarto enquanto ela estivesse aqui.
- ... – disse num tom repreensivo. – Você precisa se alimentar.
- Eu estou bem, . Eu tomei um café bem reforçado hoje.
- O quê? – ele me olhou surpreso – Você cozinhou?!
Soltei uma risada e me olhou risonho.
- É, parece que sim. Meu chefe de cozinha não estava aqui hoje. – dei de ombros, apoiando minhas mãos na cama e ficando um pouco deitada para trás.
riu fraco e coçou a nuca, parecendo sem graça.
- Desculpe-me por isso. Parece que não consegui vir mais cedo.
- Imagino que a noite deve ter sido boa, huh? – falei num tom seco e ele se remexeu, incomodado.
- Acho melhor não falarmos sobre isso.
- É, é melhor. Minha dor de cabeça também não permite estresse.
- Consequência das garrafas de cerveja. Pensa que eu não as vi na lixeira, mocinha? – ele usava um tom como se falasse com uma criança de quatro anos, e eu rolei os olhos com isso. – Por que você bebeu? Virou alcoólatra agora?
- E se eu tiver virado, o que você tem a ver com isso? , eu já sou adulta, se não percebeu.
- Adulta? Pois a única coisa que eu vejo aqui é uma criancinha birrenta. – ele cruzou os braços e me encarou com a sobrancelha arqueada.
Peguei um travesseiro e joguei em sua direção, mas ele desviou, fazendo com que o travesseiro batesse na porta. me encarou incrédulo e eu gargalhei.
- Isso vai ter volta, Wright! – ele disse num tom ameaçador, apontando em minha direção.
Sorri marota. – Que tenha, então. Não tenho medo de você, .
Ele sorriu desafiador e saiu do quarto. Ri sozinha e me deitei na cama, voltando a ler a carta do meu pai. Depois de ler, peguei meu notebook e fiquei fazendo algumas pesquisas que eu sempre fazia. Depois de algumas horas, quando eu já não ouvia mais as vozes de Olivia e , eu me levantei e fui sorrateiramente até a porta, abrindo-a lentamente. Avistei da porta, que estava de frente a pia. Não vi Olivia, então decidi ir até a sala.
Chegando lá, tive a plena certeza de que ele estava sozinho e respirei aliviada. Meu estômago roncou alto e isso chamou a atenção de , que me olhou risonho.
- Acho que tem um monstro na sua barriga, pequena .
Ri de seu comentário e fui até o fogão. Tirei a tampa de uma das panelas e o cheirinho bom de comida adentrou meu nariz. Fiz um prato e sentei-me, começando a comer. Eu admito que eu parecia uma esfomeada, o que fazia me olhar e rir. Quando terminei de comer, levei meu prato até a pia e ele disse que lavaria tudo. Assenti, agradecendo, e fui até o armário. Procurei por algo doce que eu pudesse comer como sobremesa e meus olhos brilharam quando eu vi o pote de Nutella a minha frente.
Lambi os lábios e peguei o pote, em seguida, uma colher. Fui até a sala e me joguei no sofá enquanto me deliciava com o doce. veio até mim alguns segundos depois e se jogou ao meu lado. Ele intercalava seu olhar entre mim e a parede a nossa frente. Algumas vezes, seu olhar pairava sobre a minha boca quando eu lambia a colher. Vi quando ele mordeu o lábio inferior e franzi a testa.
- Já podemos ter aula? – perguntou e eu dei de ombros, assentindo. Estiquei-me para pôr o pote de Nutella na mesinha, mas a sua voz me interrompeu: - Não, vamos precisar disso.
- E por quê? – perguntei confusa.
- Eu estava pensando em uma aula diferente hoje. – ele se virou em minha direção e eu fiz o mesmo, cruzando minhas pernas na posição de índio.
- E no que pensou?
- Eu vou te ensinar a beijar. Acho que já está na hora. – ao ouvir aquilo, meu coração disparou quase na velocidade da luz. Juro.
Engoli em seco e passei a mão no cabelo.
- Está nervosa, ? – soltou uma risadinha debochada e pegou o pote de minha mão. Ele encheu a colher de Nutella e depois a lambeu, enquanto me encarava intensamente com aqueles olhos indecifráveis.
- N-Não. - gaguejei. Droga.
- Certo. Podemos começar, então? – perguntou sugestivo.
- Sabe o que é, ? E-Eu não sei se isso é uma boa ideia... Você sabe, a gente se beijar assim.
- E por que não? – franziu o cenho. – Eu estive pensando nisso no caso de você e se beijarem. Você tem que passar a impressão a ele de que você sabe o que está fazendo. Tem que passar segurança até nos movimentos dos seus lábios. E quem melhor para te ensinar do que eu, seu professor? – arqueou a sobrancelha, sorrindo de canto.
Respirei fundo e fechei os olhos, balançando a cabeça afirmativamente.
- Certo... Vamos lá.
- E tem mais uma coisa. Hoje eu vou te dar a liberdade para me tocar onde quiser, assim como eu fiz com você ontem.
Fiquei surpresa com a sua declaração, mas disfarcei, apenas assentindo com a cabeça.
Às vezes, eu penso até onde isso vai parar...
- Ok, vem aqui. – chamou-me logo depois de encher a colher com Nutella.
Hesitei um pouco, mas me aproximei dele. passou um pouco do doce no meu lábio superior e eu franzi a testa, ainda confusa.
- O que está fazendo?
- Eu falei que ia te ensinar de forma diferente. E é com Nutella. – sorriu maroto.
- Mas eu não... – comecei a dizer, mas me interrompeu, colocando o dedo indicador sobre meus lábios.
- Shhh... Eu sou seu professor, e a aluna faz o que o professor manda, certo?
Assenti, suspirando. sorriu e levou seu dedo sujo de chocolate até a boca, chupando-o. Esse pequeno ato fez minha cabeça revirar e lembrei-me de seus chupões no meu pescoço. Seus dedos em minha bochecha me fizeram despertar de meu pequeno devaneio e eu o olhei receosa, engolindo seco, enquanto ele se aproximava.
- Primeiramente, eu vou te beijar. Quero que preste muita atenção, porque depois você terá que repetir. – sussurrou contra meus lábios e eu balancei a cabeça, concordando.
Ele esticou o braço e pegou mais um pouco de Nutella, passando agora no meu lábio inferior, deixando meus lábios cheios de chocolate. Tive vontade de lambê-los, mas me contive. Respirei fundo e fechei os olhos quando senti seu rosto se aproximar mais do meu. Repentinamente, comecei a tremer. Foi como se eu tivesse enfiado o dedo na tomada e uma corrente elétrica percorresse meu corpo sem que eu conseguisse parar.
Minhas mãos começaram a suar e a escorregar uma na outra, já que estavam entrelaçadas. Senti um calor intenso na nuca e minha garganta ficou seca. Oh, droga! Não consigo nem controlar o meu próprio corpo! Que decepção comigo mesma. Quando senti a respiração de bater em meu rosto, eu simplesmente congelei, literalmente. Eu não conseguia me mexer. E a situação só piorou quando senti seu dedo polegar ficar em minha bochecha enquanto os outros dedos envolviam minha nuca, puxando meu rosto para mais perto do dele.
Quando sua língua tocou meu lábio superior, foi o fim. Meu coração acelerou no mesmo instante e eu pude jurar que conseguia ouvir seus batimentos. lambeu meu lábio lentamente, tirando todo o chocolate que ali estava. Respirei pesadamente e percebeu, separando-se um pouco de mim.
- Relaxe, . – sussurrou contra meus lábios.
Como eu vou relaxar quando ele está a ponto de me dar o meu primeiro beijo?!
Apenas assenti, tentando controlar minha respiração que começava a ofegar. lambeu meu lábio inferior, sugando-o em seguida. Estremeci com aquilo. Senti seus dentes mordiscando-o e logo, ele o puxou para si de uma forma suave. Eu não conseguia abrir os meus olhos, e minhas mãos não se soltavam uma da outra. Oh, céus. Acho que nunca estive tão nervosa na minha vida.
Seus lábios macios, que já haviam tocado meu pescoço, levando-me ao céu, dessa vez tocavam os meus. Suspirei quando beijou o canto da minha boca. Ele levou sua língua novamente aos meus lábios e os lambeu lentamente, de baixo a cima. Senti sua outra mão que não estava no meu rosto, envolver a minha cintura e puxar meu corpo contra o seu. Deixei com que meu corpo fosse guiado por sua mão e me pôs sentada no seu colo, com uma perna de cada lado do seu quadril.
Abri meus olhos e me encarava intensamente com um sorriso malicioso. Ele pegou minhas mãos e as levou até sua nuca, para que eu envolvesse seu pescoço. Mordi meu lábio inferior e levou suas mãos novamente ao meu rosto, tirando meus óculos, e colocando-os no braço do sofá. Seus dedos acariciaram levemente minhas bochechas e ele colocou algumas mechas do meu cabelo para trás de minhas orelhas. De volta, acariciei sua nuca com as pontas dos meus dedos, e logo depois, os cabelos.
fechou os olhos por um momento e suspirou. Percebi que ele apreciava o toque dos meus dedos em sua nuca. Ri mentalmente quando vi que ele mais parecia um gatinho manhoso sendo acariciado por seu dono. Sorri de canto e ele abriu os olhos. Seus dedos tocaram meus lábios entreabertos e ele os acariciou com firmeza. Curvei um pouco meus lábios e beijei levemente seus dedos. sorriu com meu ato e em um movimento rápido, ele me puxou mais contra seu corpo, segurando firmemente minha cintura, e selou nossos lábios em um selinho.
Arregalei meus olhos com sua atitude e com um pouco de receio, sem saber o que fazer. Acabei me lembrando de que ele disse que ia me ensinar primeiro, então, deixei que ele fizesse o que tivesse de ser feito. Fechei os olhos e deu pequenos selinhos em meus lábios antes de selá-los com mais firmeza, e eu senti sua língua deslizar por meu lábio inferior. Senti um aperto em minha cintura e entendi que eu devia abri-los. Entreabri meus lábios e aprofundou o beijo. Não senti sua língua em momento algum, somente o toque de seus lábios nos meus.
Seus movimentos eram lentos e ele parecia querer aproveitar ao máximo aquele momento. Suas mãos adentraram minha blusa e ele a levantou até um pouco acima do meu umbigo. Senti seus dedos deslizarem sobre minha pele e me arrepiei. Suas mãos foram até minhas costas e ele as acariciou de cima a baixo, lentamente, chegando até o final de minha cintura. Um arrepio incontrolável passou por meu corpo, desde a pontinha do meu dedo até o último fio de cabelo. Oh, céus! O que está acontecendo comigo?
Repentinamente, senti se afastar um pouco, deixando-me com um bico quando seus lábios descolaram dos meus. Ouvi sua risada baixa e abri os olhos, vendo-o esticar-se um pouco, pegando novamente o pote de Nutella. Ele passou novamente o chocolate em meus lábios, mas dessa vez com a ponta de seu dedo indicador, e ao final, levou até meus lábios entreabertos e disse:
- Chupe.
Envolvi seu dedo com minha boca e o chupei, tirando todo o chocolate dali. encarou-me durante o processo, com a boca entreaberta e ao final, deu uma mordida em seu lábio inferior.
- Lembra-se de quando eu te falei sobre o pirulito e o picolé? – ele sussurrou em meu ouvido e eu assenti. – Pois é, você acabou de fazer isso comigo.
Estremeci com a possibilidade de tê-lo excitado e respirei um pouco ofegante. deu um beijo molhado em minha bochecha e encostou seu nariz ao meu.
- Certo, você já ouviu falar em beijo francês? – perguntou enquanto acariciava minha bochecha e eu neguei com a cabeça. Seu tom era rouco e baixo, o que só fez com que o calor em minha nuca aumentasse. – Também é conhecido como beijo de língua.
Suspirei contra seus lábios e apertei ainda mais sua nuca. apertou minha cintura de volta.
- Você quer sentir a minha língua, ? – perguntou roucamente e eu arfei.
Minha respiração ficou pesada e eu fiquei em silêncio. Eu era muito tímida para isso. Droga! Vendo que eu não iria responder, ele disse:
- Eu vou repetir. Você quer sentir a minha língua, ? Eu quero que você diga sim ou não.
Engoli em seco e disse: - S-Sim.
- Sim o quê? – perguntou com a voz firme. Ele estava me provocando!
- Eu quero senti-la, . – admiti com a voz falha.
Ele sorriu malicioso.
- Okay. O seu pedido é uma ordem.
Sem que eu esperasse, pressionou seus lábios novamente contra os meus e o abracei pelo pescoço. Ele passou a língua em meu lábio inferior e entreabri minha boca, mas dessa vez, sua língua adentrou-a e eu suspirei contra seus lábios. Ao senti-la tocar a minha, eu simplesmente derreti em seus braços. Eu não sabia que beijar era tão bom. A língua de acariciou a minha lentamente e logo, começou a explorar minha boca de um modo totalmente sensual e envolvente. O gosto de chocolate tomava conta das nossas bocas, tornando aquela sensação ainda melhor.
O beijo foi ficando mais intenso e eu levei minhas mãos até a barra da blusa de . Não, eu não tinha coragem suficiente para tirá-la. Então, eu simplesmente deixei-as depositadas ali. pareceu perceber minha hesitação, como sempre, e se afastou um pouco de mim, separando nossos lábios.
- Se quiser tirar a minha blusa, eu não vou impedi-la, baby.
Baby? Wow! Por essa eu não esperava. Onde foi parar o ?
Os olhos de pareciam estar mais escuros e mais brilhantes, o que me tirou o fôlego por um momento. Encarando-me nos olhos, ele colocou suas mãos sobre as minhas e foi erguendo lentamente sua camisa. Ele a tirou completamente e jogou sobre o sofá. Meus olhos desceram por seus ombros, passando por seu peito e chegando ao seu abdômen lindíssimo. Suspirei encantada e ouvi uma risadinha da parte de .
- Você gosta do que vê, baby? – assenti tímida e ele pegou minha mão, levando-a ao seu abdômen. – Toque-me.
Subi minhas mãos até seus ombros e os toquei suavemente. fechou os olhos e se sentou de forma mais relaxada no sofá, ajeitando-me em seu colo. Seus cabelos meio bagunçados o deixaram ainda mais atraente e a essa altura do campeonato, eu já não conseguia controlar meu coração e meus instintos. Desci minhas mãos por seus braços tatuados e fortes e senti sua pele se arrepiar levemente sob meus dedos trêmulos. Cheguei ao seu peito e me inclinei um pouco, dando-lhe um leve beijo.
Eu nunca havia tocado um homem dessa maneira e admito que eu estava um pouco assustada e com medo de fazer algo errado, mas se não me repreendeu até agora, é porque tudo estava indo bem, não é? Olhei para o rosto de enquanto acariciava seu peito e vi um sorriso discreto se formar em seus lábios, seguido de um suspiro. Desci mais minhas mãos e toquei seu abdômen. Acariciei sua pele e passei minhas pequenas unhas por aquela região, vendo-o se arrepiar por inteiro. apertou minha cintura com certa força e eu acabei me movimentando um pouco, fazendo-o gemer baixo.
Olhei-o surpresa e com os olhos ainda fechados, ele disse: - Cuidado aí embaixo. Você acabou de se movimentar em algo perigoso. – seu tom era malicioso e eu sorri fraco, mordendo o lábio inferior.
Inclinei-me e dei um rápido beijo em seu abdômen, logo subindo meu rosto e indo de encontro ao seu pescoço totalmente exposto. Depositei alguns beijos suaves por sua pele, apertando levemente seus braços, e senti ofegar debaixo de mim. Beijei seu ombro direito e dei uma pequena chupada, como ele tinha feito comigo no banheiro. Um bom aluno também tem que aprender através de pequenas observações, certo? E eu era uma boa observadora, então, isso só me ajudou ainda mais quando eu fosse repetir os mesmos movimentos em .
Levei meu rosto de novo ao seu pescoço e o beijei mais demoradamente, logo dando um pequeno chupão e uma mordida. ofegou e um pequeno som saiu de seus lábios entreabertos, o qual eu chamei de gemido. Um gemido reprimido na verdade. Ele também parecia querer se controlar. E depois ainda fala de mim. Suas mãos subiram por minhas costas, de forma desesperada, levando minha blusa junto. E eu só tive tempo de raciocinar para levantar os braços.
passou a blusa por minha cabeça e a tirou, jogando no sofá, em cima da sua. Ele puxou meu corpo contra o seu e me abraçou. Seu nariz em meu pescoço e seu peito contra meus seios cobertos pelo sutiã me fizeram arrepiar. Ele envolveu meu corpo com seus braços fortes e eu encostei minha testa em seu ombro, sentindo o calor do corpo dele ser transmitido ao meu. Seu nariz cheirou meu pescoço e o beijou. Sua mão direita foi até a alça do meu sutiã e a afastou um pouco.
lambeu meu ombro e o chupou. Não consegui reprimir um gemido baixo e soltou uma risada nasalada. Ele acariciou minha pele com seu nariz, indo até a minha clavícula, distribuindo beijos e chupões em seguida. Quando ele abaixou seu rosto e deu um beijo no meio dos meus seios, seguido de uma lambida, gemi novamente.
- ... – disse com a voz falha, agarrando seus cabelos da nuca.
- Eu sei, baby, eu sei. Você não sabe como isso é excitante para mim também. – ele sussurrava extasiado com aquele momento assim como eu. – O seu cheiro é tão bom. Você me entorpece, .
Afastei-me um pouco e beijei seu pescoço de forma mais intensa. Seus pelos se eriçavam ainda mais e ele mantinha seus olhos fechados com certa força. Seu lábio estava vermelho por conta das mordidas que dava nele. Levei meu polegar até sua boca, fazendo-o parar de mordê-lo.
- Não faça isso, . – sussurrei. – Seus lábios são muito bonitos para você machucá-los.
Ele abriu seus olhos e me encarou. Seus orbes estavam brilhantes e percebi que sua pupila estava dilatada. Seu olhar estava bem diferente, e eu nunca o tinha visto assim.
- Desculpe-me, mas é a minha forma de me segurar quando estou com você. – franzi a testa sem entender. – Eu sinto tesão por você, .
A sua declaração me fez paralisar. Meu coração quase saltou do peito e eu fiquei o encarando, perplexa. O quê? tem desejo por mim?
- O-o quê? – perguntei confusa.
- Isso mesmo que você ouviu. Meu corpo anseia pelo seu, baby.
Fiquei estática até sentir seu dedo polegar acariciar minha bochecha.
- Você pode me beijar, ? – sua pergunta acendeu fogos de artifício em mim e eu sorri abobalhadamente.
Sem perder tempo, eu peguei o pote de Nutella. Estava na hora de lhe mostrar o que eu tinha aprendido. riu baixo quando eu passei meus dedos sujos de chocolate em seus lábios e logo os selei firmemente. O sabor do chocolate adentrou minha boca quando eu passei minha língua em seu lábio inferior, e ele me deu passagem. Os toques de nossas línguas ficaram mais intensos e gemi por entre o beijo quando senti a mão de subir por minha costela e apertar levemente meu seio. Sua outra mão pousou em meu bumbum coberto pela calça jeans e o apertou com um pouco de força.
Remexi-me um pouco no colo de por conta de seus apertos e ele gemeu por entre o beijo.
- Sugiro que não faça isso novamente, pequena . – murmurou contra meus lábios e eu ri tímida. – Não sei se conseguirei me controlar por muito tempo.
- Desculpe-me. – disse baixo e voltou a selar nossos lábios com gosto de chocolate.
A campainha tocou e eu me separei rapidamente dele. Encarei com os olhos assustados e ele me encarou de volta.
- Quem é? – falei alto.
- É a Olivia. Eu esqueci as chaves da empresa! – ela respondeu e eu encarei , com os olhos arregalados.
me encarou igualmente assustado e eu ameacei levantar de seu colo.
- Já estou indo! – respondi.
me segurou antes que eu pudesse levantar e selou nossos lábios novamente, dando-me um beijo rápido. Levantei-me e vesti minha blusa, assim como . Coloquei meus óculos e passei as mãos pelos cabelos antes de caminhar até a porta, mas os tênis de estavam no caminho, e como não vi, acabei tropeçando e caindo.
deu uma gargalhada e passou por mim, abrindo a porta. Olivia apareceu bem a minha frente e me encarou com uma expressão preocupada.
- Você está bem, ? – perguntou enquanto entrava.
- Ah, sim. Estou bem. – respondi com um sorriso tímido.
Senti minhas bochechas ruborizarem com a vergonha e suspirei, abaixando a cabeça, e levantando do chão.
É, algumas coisas nunca mudam...
Capítulo 12 – Atração
Observei Olivia e falando sobre algumas coisas do trabalho em frente à porta do apartamento. Estiquei meu braço e fechei o potinho de Nutella, logo me levantando do sofá para guardá-lo. Olhei novamente para a porta, vendo encostado à mesma, e com um sorriso no rosto enquanto olhava atentamente para Olivia. Revirei os olhos ao ver que Olivia o olhava com a mesma intensidade, e me afastei, indo em direção ao meu quarto.
A noite tinha chegado e eu decidi que não ficaria em casa. Hoje eu passearia por Nova York. Fui até meu armário e peguei a saia xadrez vermelha com uma regata preta e as botas de couro pretas. Vesti-me e fui até o espelho, penteando os cabelos e os deixando soltos, caindo sobre os ombros. Peguei um casaco para o caso de um frio repentino, e ajeitei os óculos em meu rosto. Respirei fundo e fui ao banheiro, passando um pouco de perfume no pescoço e nos pulsos.
Voltei ao quarto e guardei meu celular no bolso de meu casaco. Saí do quarto e vi que e Olivia ainda conversavam. Aproximei-me dos dois, que estavam bloqueando a passagem, e pigarreei. Os dois me olharam e eu forcei um sorriso.
- Com licença? – pedi educadamente e eles se afastaram um pouco para o lado, dando-me passagem.
- , aonde vai? – ouvi a voz rouca de perguntar e o encarei. Ele tinha seu olhar pairando sobre mim com certa surpresa. Acho que pelo fato de eu estar usando as roupas novas.
- Vou passear por aí. Volto mais tarde. – respondi casualmente e voltei a andar.
- Você está linda, . – Olivia disse e eu sorri de canto.
- Obrigada, Olivia. Essa é a intenção.
Dei uma última olhada em , que me encarava de cima a baixo com a boca um pouco aberta, e sorri. Acenei com a cabeça e andei pelo corredor, indo em direção ao elevador. Apertei o botão do térreo e assim que o elevador chegou, eu entrei. Chegando ao térreo, passei por Ezequiel, e ele me olhou surpreso, assim como alguns moradores. Sorri, acenando, e continuei a andar.
Fiquei caminhando pelas ruas de Nova York enquanto observava ao redor. As pessoas sempre apressadas ou atrasadas para algo; Homens vestidos com ternos elegantes, assim como mulheres com seus terninhos finos e cabelos arrumados em um lindo coque, andando apressados pelas ruas, com seus celulares em mãos, provavelmente fazendo alguma ligação importante.
Outras pessoas já não tinham tanta pressa assim. Provavelmente turistas, andavam lentamente enquanto apreciavam a linda visão da cidade à noite, já iluminada por suas luzes fortes e que chamavam a atenção de qualquer um que tivesse um tempinho para admirá-las. Os turistas, deslumbrados, paravam e tiravam fotos ou faziam filmagens. Era um tanto engraçado ver a animação em seus rostos, parecendo não acreditar que realmente estavam na Big Apple.
Cheguei à Times Square e suas luzes me fizeram sorrir. Sempre tão movimentada, era um dos principais pontos turísticos da cidade. Eu estava tão concentrada olhando em volta, que levei um susto quando senti alguém me puxar pelo braço. Olhei para o cara que me segurava e franzi a testa, vendo-o posicionar a câmera de seu celular em nossa direção, para tirar uma selfie. Soltei uma risada ao ouvi-lo falar um idioma diferente do inglês, o qual eu identifiquei como espanhol. Okay, era só mais um turista doido.
Sorri para a câmera e ele tirou a foto.
- Gracias, señorita. – ele disse e eu sorri.
- De nada. – respondi.
Olhei com a testa franzida para o carinha que usava um chapéu mexicano e estava todo afobado para tirar foto de tudo que ele via, literalmente. Soltei uma gargalhada e neguei com a cabeça, arrumando meu casaco em meu braço. Voltei a andar e senti meu estômago roncar depois de avistar o Mc Donald’s logo a minha frente. Entrei no mesmo e fiz meu pedido. Peguei minha bandeja e me sentei perto de um dos enormes vidros, que davam a perfeita visão da cidade do lado de fora.
Abri a embalagem do hambúrguer e lambi os lábios, logo dando uma mordida. Peguei o sachê de ketchup e o abri, jogando o ketchup sobre minhas batatas. Levei algumas batatas à boca e senti meu celular vibrar dentro do meu casaco que estava sobre meu colo. Com dificuldade, peguei-o, e dei outra mordida no hambúrguer enquanto atendia o celular.
- Alô? – falei com a boca cheia.
“Que falta de educação da minha parte.” – pensei.
- ? – ouvi uma voz do outro lado e franzi a testa, sem identificar quem era. O barulho do ambiente não me permitia tal simples ato.
- Sou eu. Quem fala? – perguntei.
- . Não reconhece mais a minha voz, ma chérie? – engoli o pedaço de hambúrguer de uma só vez.
- O que quer, ? Está muito barulho. Não posso falar agora.
- Onde você está? – perguntou, ignorando minha fala.
- Na Times Square, mais especificamente no Mc Donald’s. Por quê?
- Como assim você vai ao Mc Donald’s e não me chama?! – ele quase gritou do outro lado. – Que bela amiga você é!
Ri de seu tom dramático e voltei a comer.
- Oh, desculpe-me, mas você estava muito entretido com a Olivia. Não quis atrapalhá-los. – falei num tom seco.
Um silêncio tomou conta da linha e até tirei o celular da orelha para ver se não tinha desligado. Ao ver que ele ainda estava do outro lado, levei novamente o aparelho à orelha e esperei um pouco para ouvir o que ele diria.
- Posso ir até você? – ele perguntou e eu suspirei. Certo, já era a segunda vez que ele desviava do assunto Olivia.
- Se você vier sozinho... – deixei claro e ouvi sua risadinha do outro lado.
- Ela já foi embora. – assenti mesmo sabendo que ele não poderia ver. – Estou indo, então. Fique aí.
- Okay, . – disse e finalizei a chamada.
Minutos se passaram e eu já até tinha terminado de comer quando vi entrar no Mc Donald’s. Ele olhou ao redor e eu me encolhi mais na cadeira, cobrindo meu rosto com o casaco. Senti sua presença ao meu lado e ele puxou meu casaco.
- Engraçadinha. – olhou-me com a sobrancelha arqueada e eu sorri.
Ele foi até o balcão e fez o pedido. Aproximou-se de mim com sua bandeja e sentou-se de frente a mim.
- Eu nunca tinha vindo à Times Square desde que cheguei à Nova York. Isso aqui é realmente lindo. – ele comentou, dando uma mordida no hambúrguer em seguida.
Seus olhos se encontraram com os meus e eu sorri, concordando.
- Realmente. Nova York em si é muito linda. – encostei-me à cadeira e cruzei os braços, olhando pelo vidro.
Senti algo bater em mim e olhei rapidamente para o meu colo, vendo uma batata frita.
- Hey! – reclamei e olhei para .
- Por que está com essa cara? – ele perguntou e eu encolhi meus ombros.
- Não é nada. – respondi simplesmente. – Nem sei de qual cara você está falando.
- Essa sua cara de quem comeu e não gostou. – soltei uma risada de seu comentário e dei de ombros.
- Não é nada, . – repeti.
Ele me encarou por alguns segundos e negou com a cabeça, voltando a olhar para sua bandeja.
- Está assim pelo que aconteceu hoje?
- E o que aconteceu hoje? – perguntei fingindo não saber do que ele falava. Meu olhar continuava fixo no vidro. Não sei o porquê, mas eu não queria olhar para agora.
- Estou falando sobre o beijo, . E você sabe muito bem. Por favor, não finja não se lembrar. – seu tom era sério e eu comprimi meus lábios em uma linha fina.
- Você e a Olivia se beijaram logo depois que eu saí? – perguntei repentinamente.
- O quê? Por que está perguntando isso?
- Eu só quero saber. Responda, .
- Sim. E eu... – encarei-o – Eu a pedi em namoro.
Engoli em seco.
- Ela aceitou? – perguntei, forçando minha voz para que não falhasse.
Ele apenas assentiu com a cabeça.
Desviei meu olhar novamente, sentindo um aperto imenso no meu peito. Fechei os olhos, evitando que as lágrimas se formassem. Eu nem sabia o porquê de estar desse jeito, mas com certeza meu coração sabia. Minha mente podia lutar contra o meu coração dizendo que era uma besteira sofrer por alguém o qual eu nem sabia se sentia algo, mas o meu coração simplesmente não conseguia aguentar as palavras de . Imaginá-lo com Olivia, os momentos dos dois, os beijos, as risadas, os abraços e as carícias faziam-me sangrar.
Um buraco se formou no lugar onde antes meu coração pulsava lentamente, e agora eu só sentia o vazio tomar conta do meu ser. É só uma atração física, . Somente isso. Você não gosta do . Você gosta do . O é o cara certo para você. Você tem que ficar com ele. Você tem que conquistá-lo. Afinal, não era isso que você queria o tempo todo? – minha mente simplesmente gritava comigo, e eu apenas fechei meus olhos com certa força.
Eu tinha que escutar a minha mente. Eu não podia deixar meu coração me dominar. O coração é confuso, ele te faz agir feito uma boba. Mas a mente não. A mente é esclarecedora e está sempre certa. Eu precisava seguir a razão ao coração. nunca foi para mim. Eu nunca fui e nunca serei o suficiente para ele. Se ele apareceu na minha vida, foi simplesmente para me ensinar o que eu devia saber, para assim, poder ser feliz ao lado de .
Bom, pelo menos espero que assim seja.
- Você foi muito bem na aula de hoje, . – me elogiou enquanto caminhávamos pelas ruas, ainda na Times Square. – Nem parecia que nunca tinha beijado alguém. Acredito que ficará impressionado.
Apenas assenti fracamente com a cabeça enquanto enfiava minhas mãos nos bolsos do casaco que agora eu vestia.
- O que houve? – perguntou, percebendo meu silêncio.
- É verdade o que você disse sobre sentir desejo por mim? – parei de andar no mesmo instante e o encarei.
olhou para o chão e depois levantou o rosto, encarando-me. Ele soltou uma risadinha fraca e coçou a nuca, visivelmente sem graça.
- Ah, sobre isso... – disse sem jeito e eu o olhei com impaciência.
- É verdade, ? – perguntei novamente, com seriedade na voz.
- É... Tecnicamente, não. Eu disse aquilo para “testar” você. Digamos que eu tentei ao máximo me colocar no lugar de , e se caso ele falasse aquilo, eu queria ver qual seria sua reação. – fiquei em silêncio ao ouvi-lo e desviei meu olhar, encarando o outro lado da rua, com raiva. – Você sabe, , eu sou seu professor e tento observar todos os detalhes, todos os seus movimentos para ver se está tudo certo.
- Ah, claro... Você é só o meu professor. – disse com certa raiva. – Não está fazendo mais do que a sua obrigação, não é, professor?
- É claro que eu não sou só seu professor, . Eu também sou o seu amigo, não sou? – ele franziu a testa.
Bufei e rolei os olhos, voltando a andar com pressa. Eu queria e precisava ir para a minha casa e me jogar na minha cama.
- Não sou, ? – ele me seguiu, segurando em meu braço repentinamente, obrigando-me a olhá-lo.
Encarei seus olhos confusos e comprimi meus lábios. – Sim, . Você é meu amigo. Será que pode me soltar agora? – olhei para sua mão ainda em meu braço. – Eu estou cansada e quero ir para casa.
assentiu levemente e soltou meu braço, devagar. Dei-lhe uma última olhada e virei meu corpo, voltando a caminhar às pressas.
Acho que por hoje já deu.
Chegamos em casa e eu entrei rapidamente, fazendo meu caminho para meu quarto.
- A propósito, você está muito bonita com essa roupa, ! – ouvi-o falar e neguei com a cabeça, abrindo a porta de meu quarto.
- Babaca. – falei baixo e bati a porta.
Tirei meu casaco e o joguei na cama. Fui até a janela do meu quarto e passei as mãos pelo cabelo enquanto encarava a lua, que brilhava intensamente do lado de fora, clareando tudo ao meu redor.
Ótimo, . Acho que agora é a hora de apertar o botão desligar para toda essa atração idiota que você sente pelo . Ele pertence à Olivia, não a você.
No dia seguinte, levantei mais cedo para não ter o risco de chegar atrasada à faculdade. Tomei banho e me vesti com uma saia, uma regata e sapatos de salto alto. Assim que fiquei de pé, tive que me equilibrar enquanto segurava na parede para não cair de cara no chão. Firmei-me e dei meus primeiros passos. Sorri satisfeita ao ver o meu pequeno progresso. Fui até o banheiro, dando um passo atrás do outro, tentando andar em linha reta, como tinha dito.
Cheguei ao banheiro e penteei meus cabelos úmidos. Passei um pouco de perfume e dei uma última olhada no espelho. Hoje eu faria o me notar de qualquer jeito. Voltei ao meu quarto, peguei minha bolsa e saí. Fui até a cozinha e estranhei o fato de já estar lá, sentado e tomando seu café da manhã. Joguei minha bolsa em cima do sofá e me aproximei da geladeira, pegando a caixa de suco. Senti o olhar de nas minhas costas, mas o ignorei.
Sentei-me do outro lado do balcão e comecei a passar a manteiga de amendoim nas torradas. Por mais uma vez, senti o olhar de sobre mim, mas continuei a prestar atenção no alimento a minha frente. Ouvi um pigarro de sua parte, e ele disse:
- Você está muito bonita, . Essa roupa pegou bem em você.
- Obrigada. – disse num tom seco e dei uma mordida na torrada.
- É... Eu tenho algo para você. – levantei meu olhar em sua direção.
- E o que seria? – perguntei com uma sobrancelha arqueada.
virou-se em direção à sua pasta e tirou uma caixinha de dentro. Franzi minha testa e o observei enquanto ele abria a mesma. Colocou-a em cima do balcão e a empurrou em minha direção. Tive a visão das lentes de contato transparentes, e engoli o pedaço da torrada que mastigava.
- Eu comprei para você ontem. – começou a dizer. – Eu preferi as transparentes, porque como eu acho os seus olhos lindos... Eu não quis, você sabe, que as lentes os tampassem.
Engoli em seco ao ouvir “acho os seus olhos lindos”. Desviei meu olhar da caixinha e voltei a comer, ainda sem olhar para .
- Obrigada, . – agradeci educadamente e ele ficou em silêncio.
Terminamos de comer e fui até o banheiro para escovar os dentes. Não percebi que também vinha atrás. Somente percebi na hora em que fomos entrar ao mesmo tempo, mas ele parou, dando-me passagem. Peguei minha escova de dente e coloquei a pasta, logo começando minha higiene bucal. fez o mesmo e percebi que ele me olhava através do espelho, em alguns momentos.
Desviei meu olhar e fiquei – numa tentativa falha – observando o vidro do box ao meu lado. Cuspi a espuma de minha boca e logo depois, também abaixou sua cabeça para cuspir. Nossos rostos ficaram bem próximos e eu levantei minha cabeça, dando-o a vez de enxaguar a boca. Ele assim o fez, e logo foi minha vez. Ao fim de tudo, sequei meus lábios com a toalha, e fui até o balcão da cozinha.
Peguei a caixinha com as lentes e voltei ao banheiro, onde ainda terminava de enxugar sua escova de dente. Abri a caixinha e peguei uma lente. Eu era muito desastrada com algumas coisas bem fáceis, e isso infelizmente, me atrapalhou na hora de colocar a lente em meu olho. Quase a deixei cair no chão e pelo canto do olho, vi que me observava com um sorrisinho de canto.
- Você quer ajuda? – perguntou.
- Não. Eu consigo. – afirmei depressa, e tentei novamente. E mais uma vez, não consegui pôr.
Bufei inconformada comigo mesma, e senti uma das mãos de em minha cintura, virando meu corpo para si.
- Deixa eu te ajudar com isso. Não seja orgulhosa.
Ele pegou a lente de minha mão e eu revirei os olhos.
- Primeiramente, esteja com a mão bem lavada antes de colocá-las. Qualquer poeira ou sujeira pode inflamar os seus olhos, e até prejudicá-los. Certifique-se de que elas estejam limpas também. Quando se trata da saúde, todo cuidado é pouco.
- Okay, doutor. – ironizei e riu baixo.
se aproximou mais de mim a ponto de eu sentir seu hálito de menta bater em meu rosto. Suspirei, evitando fechar os olhos, e olhei para cima. Ele levou sua mão abaixo do meu olho, abrindo um pouco, e logo senti a lente sendo colocada. Pisquei algumas vezes e se virou, pegando a outra lente dentro da caixinha. Ele se aproximou novamente e fez o mesmo procedimento com meu outro olho.
Pisquei novamente e fixei meu olhar em , vendo tudo desembaçar aos poucos. O sorriso maravilhoso de tomou todo o meu campo de visão e eu sorri de volta.
- Como está se sentindo? – perguntou, com suas mãos em minhas bochechas.
- Bem. – respondi com a voz suave.
Encarei seus olhos castanhos que brilhavam em minha direção. Senti minhas bochechas ficarem quentes e fechei os olhos por um momento, sentindo acariciar minhas bochechas com seus polegares. Abri novamente meus olhos e ele parecia estar mais próximo a mim. Nossos narizes quase se tocando.
- Seus olhos me fascinam. – ele falou num tom rouco e baixo.
- E os seus me hipnotizam. – deixei escapar, e ele sorriu ainda mais.
- Fico lisonjeado de ser o primeiro a te ver assim. – seus dedos continuavam a acariciar-me. – Tão linda...
Como num estalo, eu acordei de meu transe, e me afastei de seu corpo.
- Obrigada mais uma vez. Agora eu tenho que ir. Não quero me atrasar.
Apressei-me em sair daquele pequeno espaço que já começava a esquentar, e andei até o corredor. Peguei minha bolsa e quando estava prestes a sair, ouvi a voz de dizer:
- Quer carona?
Assenti levemente com a cabeça.
No caminho para a universidade, ficamos em total silêncio. O carro era novo. Assim como comentou uma vez, ele comprou outro carro. Dessa vez era uma Ferrari vermelha, muito linda assim como a outra. Apesar do silêncio, meu coração estava disparado no peito, mas era pelo simples fato da direção de ser tão perigosa para o meu bem-estar.
Como das outras vezes em que entrei em um carro com ele, corria feito um louco. Sempre desviando dos outros carros e cortando por entre eles, ele fazia um caminho bem mais rápido do que eu era acostumava a fazer dentro de um táxi. Quando chegávamos perto de algum semáforo, ele freava com toda força e eu tinha que me agarrar ao cinto de segurança para não ser arremessada contra o vidro.
Fora o fato de que ele andava numa velocidade acima da permitida. Senão fosse a bela realidade de ele ter bastante dinheiro para pagar as multas que recebia, ele estaria ferrado. Fora os subornos que eu acredito que ele fazia com os policiais quando era parado por alguma viatura. Um homem de vinte e três anos agindo como um adolescente irresponsável. Eu não mereço isso.
Chegamos à faculdade e eu pude soltar o apoio para braços ao meu lado. Tirei o cinto de segurança e coloquei minha bolsa em meu ombro, pronta para abrir a porta. Senti a mão de segurar meu pulso e me virei em sua direção.
- Surpreenda o tal . – ele disse, sorrindo fraco em seguida.
- Pode deixar. – sorri de volta e saí do carro. – Tenha uma boa manhã na empresa.
- Você também. – falou e saiu cantando pneu.
Andei em direção à universidade e entrei. Como sempre, e já me esperavam perto da porta. Assim que me viram, arregalaram os olhos e sorriu animada.
- Você está linda, amiga. É hoje que o cai duro. – falou me abraçando e eu ri.
- Está gostosa, . Se eu não tivesse namorada, eu te pegava. – disse e lhe deu um tapa no braço. – Au! Eu falei se eu não tivesse namorada! – exclamou e eu ri, abraçando-o. – Parece que a é a única carinhosa aqui.
o olhou com desdém e eu comecei a andar com eles pelo corredor. Abri minha bolsa e verifiquei para ver se meu celular estava ali dentro. Na mesma hora, senti um cutucão em meu braço e levei meu olhar até .
- Ele está te olhando... – ela falou quase num sussurro.
Olhei na mesma direção que ela e realmente, estava encostado à parede, me olhando. Ele sorriu de canto e eu retribuí, enquanto passávamos por ele. Virei minha cabeça e fiquei o encarando pelo ombro. Senti um puxão que me fez “acordar” e logo ouvi dizer:
- Opa, cuidado por onde anda, gatinha!
Vi que ele me encarava risonho enquanto me segurava pelo braço.
- Obrigada. – agradeci ao perceber que ele tinha me livrado de dar de cara com a pilastra.
- Eu sei que você está toda boba pelo ter te notado, mas por favor, preste atenção por onde anda, ! Você não vai querer pagar outro mico na frente dele, ou vai? – arqueou a sobrancelha, me observando. Neguei rapidamente com a cabeça. – Ah, bom. Foi o que pensei.
Fomos para a primeira aula e ao final de todas, segui novamente pelo corredor. Eu estava distraída, tentando me equilibrar em meus saltos, e evitando os olhares e murmúrios de todo mundo que me encarava. Realmente, todos estavam comentando sobre a minha repentina mudança, e isso não me deixou nem um pouco confortável. Eu odeio ser o centro das atenções. Até meus professores resolveram me elogiar hoje, dizendo o quão bonita e diferente eu estava. Nem preciso dizer que pareci um pimentão na hora.
Senti uma mão quente segurar meu braço e me virei, assustada. Quando encarei aqueles olhos azuis tão conhecidos, senti meu coração acelerar duas vezes mais. Seu perfume adentrou minhas narinas e minhas pernas bambearam. Opa, não posso me tremer muito senão caio daqui de cima desse saltão. Seu cabelo estava ligeiramente bagunçado como de costume e não pude conter um suspiro de escapar de meus lábios.
- Wright. – sua voz sedutora disse e eu sorri tímida.
- Carter. – imitei-o e ele sorriu, abaixando sua cabeça rapidamente.
Seus olhos pareceram faiscar quando se direcionaram novamente a mim, e eu sorri boba.
- Você está linda. Já te disseram isso? – perguntou, soltando meu braço.
- Na verdade? – assentiu – Sim. É do que mais me chamam hoje. – confessei e ele riu.
- Sinal de que não estão cegos. – falou e o rubor tomou minhas bochechas. – Acho ainda mais lindo quando você fica com as bochechas rosadas.
Abaixei minha cabeça, com muita vergonha, e ouvi sua risada novamente.
- Eu estava pensando se você não queria sair comigo um dia desses... – ele começou a dizer e eu levantei minha cabeça, encarando-o.
Sua mão direita coçava a nuca e ele parecia estar totalmente sem graça. Pelo menos, eu não era a única envergonhada ali.
- Você sabe, podíamos passear pelo parque ou até tomar um café... Não sei. O que você preferir. Mas se bem que eu conheço um ótimo restaurante de comida japonesa. Eu poderia te levar lá.
- Eu aceito! – afirmei prontamente. – E eu ia adorar comer comida japonesa pela primeira vez.
- Pela primeira vez? – olhou-me surpreso e eu assenti. – Bom, então ficarei lisonjeado em levá-la para experimentar. Pode ser amanhã às oito horas?
- Claro! – sorri.
- Então eu passo na sua casa amanhã às oito horas em ponto. Só me dê seu endereço e seu número de telefone, caso eu vá precisar.
Assenti e ele me estendeu seu celular, e eu fiz o mesmo. Guardei meu número em sua agenda telefônica enquanto ele também guardava o seu. Ao fim, devolvi-lhe o celular ao mesmo tempo que ele.
- Anotei meu endereço no bloco de notas. – avisei e ele assentiu.
- Ótimo. Vejo você amanhã.
Concordei com a cabeça e ele se curvou, dando-me um beijo na bochecha. Sorri feliz com seu ato e ele se afastou, voltando a andar pelo corredor, segurando seus livros com um dos braços.
- Nós vimos aquilo, ! O que ele falou com você? – apareceu com ao meu lado, assustando-me.
Respirei fundo, acalmando meu coração pelo susto. Sorri para eles e disse:
- Eu tenho um encontro com o amanhã à noite.
O grito de ecoou pelo corredor, chamando a atenção de todos, e eu gargalhei enquanto ela me abraçava animada.
***
Cheguei em casa e joguei minha bolsa no sofá, jogando-me junto. Fechei meus olhos enquanto sorria, ainda não acreditando que aquilo estava acontecendo. A porta se abrindo me chamou a atenção e eu vi entrando. Ele colocou sua pasta no balcão da cozinha e se aproximou de mim enquanto tirava sua gravata e o paletó. Abriu os primeiros botões de sua camisa social e me olhou com a testa franzida, junto com um sorrisinho confuso de canto.
- Por que está assim? Um bicho te mordeu por acaso? – perguntou fazendo graça.
Neguei com a cabeça, ainda sorrindo. – É melhor do que isso.
Ele sentou-se no braço do sofá e disse:
- Conte-me, então. Diga-me o motivo de estar tão feliz.
Respirei fundo e me sentei.
- O me convidou para um encontro amanhã à noite.
Percebi o pequeno sorriso de se desmanchar e ele passou a mão pelo cabelo, bagunçando-o.
- Uau, que ótimo, huh?! – senti seu tom irônico e franzi a testa, confusa. – Logo depois de te ignorar e agir como se você não existisse, ele te chama para sair. Isso não é maravilhoso?!
- É claro que é maravilhoso! Você devia estar feliz por mim, não? Afinal, eu consegui surpreendê-lo como você disse.
Ele riu debochado e se levantou, ficando de costas para mim. Suas mãos passavam por seu cabelo de forma impaciente e eu bufei, levantando-me do sofá.
- Eu não sei como você ainda consegue ser tão boba e iludida assim. Se eu fosse você, já teria desistido desse idiota há muito tempo.
- Mas você não é, . – ele continuava de costas, parecendo não querer me olhar. – E eu estou feliz por simplesmente conseguir o que eu tanto queria por esses anos. Você também devia ficar feliz por mim! Afinal, não estamos tendo todas essas aulas por causa disso? – meu tom era de indignação.
Eu não conseguia entendê-lo. Quando eu contei, pensei que ele ficaria orgulhoso e feliz por mim, mas não. Aconteceu o contrário. E eu nem sei o porquê. é muito confuso. Eu o encarava com a testa franzida e ele continuava de costas. Sua respiração estava um pouco ofegante e seus ombros subiam e desciam de maneira rápida.
- Sim, é por isso! Mas você não devia ter aceitado de imediato. Devia ter o ignorado um pouco ou até negado o convite. Agora ele vai pensar que você é uma garota fácil!
Respirei fundo e balancei a cabeça.
- Você não avisou sobre isso. E mesmo se eu fosse fazer o que você falou, eu não conseguiria. Não consigo negar nada quando o assunto é Carter. Desculpe-me dizer isso, mas é a verdade. Eu sou apaixonada por ele.
pareceu ficar ainda mais impaciente e passou as mãos pelo cabelo, com certa força, antes de andar em direção ao seu quarto. Ele adentrou o mesmo e bateu a porta com força, assustando-me com seu ato inesperado. Encarei a porta de seu quarto por algum tempo e balancei a cabeça.
Definitivamente, eu não entendo .
Eu estava mexendo em meu notebook quando vi sair de seu quarto. Ele estava muito bem vestido com uma calça jeans e uma camisa social branca com as mangas erguidas até os cotovelos. Nos pés, ele usava uns Supras combinando com a camisa, e o seu cabelo estava penteado em um topete, como sempre. No pulso direito, ele usava um relógio banhado a ouro, e que só de olhar, senti um pouco de incômodo em meus olhos por conta de seu brilho.
O seu perfume tomou conta da sala e eu tirei meus fones de ouvido antes de me dirigir a ele.
- Já está mais calmo, nervosinho? – perguntei com certo deboche na voz.
Ouvi bufar ao mesmo tempo em que não obtive resposta.
Balancei minha cabeça em negação e voltei meu olhar para a tela do computador. Não consegui manter minha atenção naquele ponto por muito tempo. Alguns segundos depois, eu observava pelo canto do olho. Todos os movimentos de seu corpo eram milimetricamente acompanhados por meus olhos. Desde um simples levantar de sua mão para ajeitar o cabelo até o momento em que ele abriu a geladeira, tirando a jarra de água lá de dentro.
encheu um copo até a metade e tomou quase tudo num só gole. E novamente, ele foi até a geladeira e colocou a jarra em seu devido lugar. Intercalei meu olhar em meu notebook e nele, para que ele não percebesse que eu o observava em silêncio. Suas mãos foram até a gola de sua camisa, ajeitando-a um pouco, e logo depois ele se aproximou do porta chaveiro ao lado da porta e pegou sua chave junto a de seu carro.
Ele abriu a porta do apartamento e respirou fundo, dizendo em seguida:
- Eu vou sair. Provavelmente não voltarei hoje.
- Mas... É meio de tarde e... – eu não sabia por que, mas eu procurava algum motivo para fazê-lo ficar. Eu não queria que se fosse. – E as minhas aulas?
- Eu resolvo isso depois. Tenho alguns assuntos a tratar. – ele respondeu sem me olhar.
O baque da porta se fechando interrompeu qualquer frase que havia passado por minha mente. Suspirei, olhando para a porta fechada, e voltei a colocar meus fones de ouvido.
Eu sabia que ele não tinha assunto nenhum a tratar, senão ele teria resolvido tudo na empresa hoje de manhã. , na verdade, estava indo vê-la.
’s POV
Adentrei meu carro que estava estacionado na garagem e respirei fundo, fechando os olhos. Minha mente está uma confusão. Meu coração está uma confusão. Eu sou uma confusão. Envolvi o volante com minhas mãos, mesmo nem tendo ligado o carro, e o apertei com força, na esperança de depositar ali todas as minhas frustrações. Desde que eu cheguei à Nova York, ou mais especificamente, desde que conheci , minha mente pareceu dar um nó sem tamanho. Um nó sem solução. Um nó que não podia ser desfeito.
Eu vim aos Estados Unidos com somente um propósito: Cuidar dos negócios do meu pai. Meu pai sempre foi um cara trabalhador, que pensava na família, mas que ao mesmo tempo, chegava a ser um pouco obsessivo. Sempre buscando mais e mais, nunca satisfeito com o que já tinha, foi assim que eu vim parar em outro país. Ele abriu a segunda empresa e mandou Ryan, Olivia, eu e mais alguns funcionários da empresa do Canadá para Nova York.
Em um ponto, tudo isso era bom. Eu estava tendo a oportunidade de conhecer um novo lugar, de respirar um novo ar, de construir uma nova vida longe de casa, e de ser tão bem-sucedido profissionalmente como Jeremy . Mas toda essa situação me pegou totalmente desprevenido. E com meu coração totalmente desarmado, eu acabei aqui. Dentro desse carro, confuso em relação a tudo. Eu não esperava encontrar alguém por aqui. Minha vida no Canadá sempre foi regada a conforto, namoradas, diversões e noitadas. Uma vida de prazeres carnais.
Então, eu chego aqui e me deparo com algo totalmente novo: dividir o mesmo teto com uma pessoa desconhecida. E ainda mais sendo Wright. Uma mulher totalmente diferente de qualquer outra com quem eu já fiquei. Tenho convicção em dizer que desde que bati os olhos em , eu senti uma certa pena. Pena do seu jeito de ser, de se vestir, de tudo. Ela nunca foi uma mulher com quem eu ficaria. Na verdade, ela passava bem longe disso.
Em relação a minha vida amorosa, Olivia Hastings fazia parte dela já há um certo tempo. Na verdade, desde que eu terminei com minha namorada de faculdade, eu já sentia um sentimento forte por Olivia. Ela, com certeza, é a mulher com quem eu ficaria. Nem que fosse por um tempo. Um enorme entusiasmo me tomou quando eu vi nos olhos dela, o mesmo que eu sentia em meu coração. Paixão. Aos poucos, eu fui procurando me aproximar de Olivia. No Canadá, nós saíamos, conversávamos por praticamente horas e eu até estive ao seu lado quando seu avô faleceu há alguns meses atrás.
Éramos como melhores amigos, que aos poucos, foram se apaixonando. E no início, eu gostei disso. Gostei da situação em que nos encontrávamos. Quando cheguei à Nova York, eu estava louco para vê-la. Olivia tinha chegado alguns dias antes de mim, e eu me lembro de que dentro do avião, eu mal esperava para vê-la, tocá-la e abraçá-la de novo. O seu perfume simplesmente me inebriava e deixava meu coração acelerado, sempre querendo mais.
Tudo estava perfeito. Eu estava começando a ficar com Olivia. Beijamo-nos pela primeira vez naquele cinema. Começamos a agir como um casal apaixonado, não mais como melhores amigos que flertavam e insinuavam que queriam algo mais. Eu gosto de ficar com Olivia. A presença dela me faz bem. Eu estou apaixonado por ela. Não estou? Simplesmente tudo parecia estar acontecendo como deveria ser, até o momento em que e eu nos beijamos naquele sofá.
Aquele beijo foi o auge. Depois daquilo, não consigo parar de vê-la com outros olhos. Os seus lábios pareciam ainda estar junto aos meus. O cheiro de sua pele parecia ainda estar em meu nariz. O calor que emanava de seu corpo ainda podia ser sentido por meus dedos que queimavam por conta de sua pele quente. Seus olhos lindos pareciam ainda me encarar por detrás de seus óculos, que a deixavam com aquele ar de intelectual e de mais inteligente do que eu. Eu gosto disso. Gosto que ela seja mais inteligente do que eu, que seja mais geniosa, e até tímida.
A forma como suas bochechas tomavam um tom rosado quando ela ficava com vergonha, ou a forma como ela amarrava os cabelos em um rabo de cavalo ou coque frouxo, ou até o sorriso tímido que ela me dava quando eu lhe lançava meu olhar malicioso. Ela é diferente. Diferente de qualquer outra. Há algumas semanas atrás quando cheguei, eu nunca pensaria em olhá-la como olho agora. Ou melhor, se eu nunca tivesse tido a ideia de ensiná-la tudo que eu sabia, eu continuaria a enxergá-la como uma simples garota solitária e ingênua.
Eu tive todo esse plano para simplesmente ajudá-la. Eu não sabia que me envolveria tanto. Eu não sabia que ia sentir tanta atração assim por alguém. Atração. É somente isso que eu sinto. me desperta os pensamentos mais pecaminosos. O seu jeito de menina ingênua, tímida e inexperiente me acende completamente por dentro. Eu sinto desejo por ela. E eu nem sei como isso começou. Acho que foi pelo simples fato de tê-la em minha presença, de estar me acostumando a viver sob o mesmo teto.
O seu jeito simplesmente me encantou de uma hora para outra. Eu não quero mudá-la. Não quero transformá-la em algum objeto sexual para o prazer de Carter ou qualquer outro homem. Eu quero a do jeito que ela é. Quero-a com seus moletons largos, cabelos presos e óculos. Quero-a com seu jeitinho de menina, sua irritabilidade com besteiras e brincadeiras de minha parte. Quero-a sábia e ao mesmo tempo desligada dos acontecimentos ao seu redor. Quero-a usando seus tênis ao invés de saltos altos que a fazem ficar praticamente da minha altura. Quero-a baixinha, para que eu possa abraçá-la e sentir sua cabeça encostar-se ao meu peito. Quero-a pequenina para que eu possa colocá-la em meus braços e protegê-la de todos os marmanjos que tentarem se aproximar dela.
Quero preservar a sua ingenuidade e sua beleza natural. Quero seu rosto sem maquiagens para que eu possa admirá-lo sem que qualquer coisa me impeça. Quero coisas que infelizmente estão fora de cogitação. é apenas minha amiga, mas quero fazê-la minha melhor amiga. Mesmo com todo o desejo que eu sinto – e que negarei eternamente se for preciso –, eu quero cuidar dela como uma irmã. Quero protegê-la dos corações partidos e das desilusões. E o principal: Quero guardar todas essas vontades em uma caixinha com cadeado, para que nunca venha abri-la.
Até o último minuto, eu vou negar que sinto alguma atração por ela. Não quero trazê-la para o meu mundo confuso. Não quero fazê-la sentir-se perdida. Não quero machucá-la. Eu preciso e vou focar somente em Olivia. É com ela que eu estou agora. Olivia é a minha namorada. E eu não sou tão canalha a ponto de magoá-la. Muito menos de magoar . Continuarei com as aulas, mas somente para ajudá-la no que for preciso para conquistar sua paixão. Talvez a mereça. Mesmo com todo o incômodo que sinto em meu corpo ao vê-la mencionar seu nome, talvez ele seja o cara certo.
E se ele for o cara certo, eu farei o possível para ver feliz. Com ele.
Dirigi até o apartamento de Ryan, tentando afastar qualquer pensamento que me ligasse a . Mas era impossível. Ela parecia estar lá em todos os momentos, nem que fosse no meu subconsciente. Ela estava lá. Chegando ao prédio, o porteiro anunciou a minha chegada e permitiu a minha entrada. Entrei no elevador e me recostei à parede, logo depois de apertar o botão do décimo quarto andar. Fechei os olhos por um momento enquanto ouvia a musiquinha tocar por aquele cubículo.
Assim que a porta se abriu, eu quase dei um pulo para fora dali. Eu sou claustrofóbico, e só uso o elevador por conta do número do andar. Se eu viesse ao décimo quarto andar pelas escadas, acabaria morrendo pelo meio do caminho, na certa. Caminhei pelo corredor e parei em frente à porta do apartamento do meu melhor amigo. Dei duas batidas e me apoiei no batente da porta enquanto esperava. Em questão de segundos, a porta foi aberta. Levantei minha cabeça e encarei Ryan, que me olhava confuso.
- ? O que está fazendo aqui, irmão? – perguntou.
- Você tem whisky aqui? Eu preciso beber. – disse com uma voz que transbordava agonia.
Ryan assentiu e me deu passagem. Entrei e fiquei andando de um lado a outro, enquanto passava as mãos pelos cabelos. Uma mania minha que sempre demonstrava a minha impaciência e frustração.
- Beleza, o que que está pegando? – Ryan perguntou enquanto enchia um copo de gelo e whisky.
Aproximei-me da mesinha onde a bebida ficava, e ele me estendeu o copo.
- Obrigado. – levei o copo à boca e tomei um longo gole da bebida.
Fechei os olhos ao sentir a bebida passar por minha garganta e entortei um pouco a boca por conta do gosto forte.
- Eu... Eu estou confuso, cara. – comecei a dizer, enquanto voltava a andar de um lado a outro. – É a . Ela...
- Eu sabia que essa menina ia ser problema. – ele me interrompeu e eu franzi a testa, confuso.
- O quê?
- Eu sabia que ela ia acabar mexendo com você. Eu percebi isso na sua cara no dia em que vocês saíram do banheiro depois do jogo.
- O quê? Não, não! Você entendeu errado. Eu não estou apaixonado pela . – neguei rapidamente e Ryan apenas me olhava enquanto dava mais um gole em sua bebida.
- Então é o quê? O que está acontecendo? – perguntou indicando o sofá com a mão, mas preferia ficar de pé.
Ficando de pé, o sangue parecia fluir melhor por minhas veias. Talvez isso me trouxesse mais clareza.
- Eu não sei. Eu sinto... Atração por ela. O jeito dela me encanta, cara. – confessei. – Mas eu não...
A risada de Ryan me interrompeu e eu o olhei sério. – É sério isso? Você está se sentindo atraído pela ?! Olha, ela com certeza é uma menina legal. É simpática, me fez sentir em casa e tudo mais. Eu realmente gostei dela. Mas você chegar a sentir atração por ela já não é demais? Quero dizer, ela não faz o tipo de !
- E você acha que eu não sei? É claro que ela não faz o meu tipo, mas eu não consigo controlar! É algo do meu corpo, sei lá. É algo físico. – bufei, passando a mão livre no cabelo. Eu já devia ter feito tal ato umas dez vezes só hoje.
- Okay, algo físico... – Butler disse pensativo. – Eu fico imaginando como ela é por trás de toda aquela roupa e aquele jeito desastrado. Realmente, ela me parece ser bem gostosinha.
Fuzilei-o com o olhar. – Olha como fala dela, imbecil!
- Como se você também não achasse isso, ! – riu – Acha que eu não sei o que se passa nessa sua cabecinha. Eu te conheço desde pirralho, cara. Você com certeza já teve pensamentos bem sujos em relação à .
Mordi o lábio inferior. – Sim, já tive.
Repentinamente, o sonho da noite passada se passou por minha mente. Tomei mais um longo gole do whisky ao me lembrar das inúmeras posições que e eu experimentávamos em um dos sonhos mais eróticos da minha vida. Além das posições, ainda tinham os ambientes que eram diferentes. Praticamente em todos os cômodos daquele apartamento, eu a tomava para mim. Desde o meu quarto e o dela até a enorme janela que tinha a maravilhosa vista para a cidade.
Só de me lembrar, eu já me excitava.
- Ei, cara! Acorda! – ouvi a risada de Ryan soar e o encarei. – Estava pensando nela, huh? – outra risada – Só não fique muito animado, okay? Não quero macho excitado na minha sala!
Gargalhei de sua careta de nojo e neguei com a cabeça.
- Mesmo sentindo toda essa atração, acho melhor eu esquecer tudo isso. Olivia e eu estamos namorando agora. Não posso ser tão sujo com ela.
Ryan deu um gole antes de dizer: - E o que pretende fazer, então?
- Vou ignorar meus instintos, e simplesmente deixar ser feliz com a paixão dela.
- Se é assim que você quer, cara... Eu estou com você.
- Obrigado, irmão.
Sorri de canto e bebi mais do meu whisky, enquanto meus pensamentos voltavam a dominar minha mente.
Era isso mesmo que eu faria. Deixá-la-ei ir e buscar o amor com outro alguém. Eu nunca poderia dar a ela o sentimento que tanto quer. Eu não sei amar.
A noite tinha chegado e eu decidi que não ficaria em casa. Hoje eu passearia por Nova York. Fui até meu armário e peguei a saia xadrez vermelha com uma regata preta e as botas de couro pretas. Vesti-me e fui até o espelho, penteando os cabelos e os deixando soltos, caindo sobre os ombros. Peguei um casaco para o caso de um frio repentino, e ajeitei os óculos em meu rosto. Respirei fundo e fui ao banheiro, passando um pouco de perfume no pescoço e nos pulsos.
Voltei ao quarto e guardei meu celular no bolso de meu casaco. Saí do quarto e vi que e Olivia ainda conversavam. Aproximei-me dos dois, que estavam bloqueando a passagem, e pigarreei. Os dois me olharam e eu forcei um sorriso.
- Com licença? – pedi educadamente e eles se afastaram um pouco para o lado, dando-me passagem.
- , aonde vai? – ouvi a voz rouca de perguntar e o encarei. Ele tinha seu olhar pairando sobre mim com certa surpresa. Acho que pelo fato de eu estar usando as roupas novas.
- Vou passear por aí. Volto mais tarde. – respondi casualmente e voltei a andar.
- Você está linda, . – Olivia disse e eu sorri de canto.
- Obrigada, Olivia. Essa é a intenção.
Dei uma última olhada em , que me encarava de cima a baixo com a boca um pouco aberta, e sorri. Acenei com a cabeça e andei pelo corredor, indo em direção ao elevador. Apertei o botão do térreo e assim que o elevador chegou, eu entrei. Chegando ao térreo, passei por Ezequiel, e ele me olhou surpreso, assim como alguns moradores. Sorri, acenando, e continuei a andar.
Fiquei caminhando pelas ruas de Nova York enquanto observava ao redor. As pessoas sempre apressadas ou atrasadas para algo; Homens vestidos com ternos elegantes, assim como mulheres com seus terninhos finos e cabelos arrumados em um lindo coque, andando apressados pelas ruas, com seus celulares em mãos, provavelmente fazendo alguma ligação importante.
Outras pessoas já não tinham tanta pressa assim. Provavelmente turistas, andavam lentamente enquanto apreciavam a linda visão da cidade à noite, já iluminada por suas luzes fortes e que chamavam a atenção de qualquer um que tivesse um tempinho para admirá-las. Os turistas, deslumbrados, paravam e tiravam fotos ou faziam filmagens. Era um tanto engraçado ver a animação em seus rostos, parecendo não acreditar que realmente estavam na Big Apple.
Cheguei à Times Square e suas luzes me fizeram sorrir. Sempre tão movimentada, era um dos principais pontos turísticos da cidade. Eu estava tão concentrada olhando em volta, que levei um susto quando senti alguém me puxar pelo braço. Olhei para o cara que me segurava e franzi a testa, vendo-o posicionar a câmera de seu celular em nossa direção, para tirar uma selfie. Soltei uma risada ao ouvi-lo falar um idioma diferente do inglês, o qual eu identifiquei como espanhol. Okay, era só mais um turista doido.
Sorri para a câmera e ele tirou a foto.
- Gracias, señorita. – ele disse e eu sorri.
- De nada. – respondi.
Olhei com a testa franzida para o carinha que usava um chapéu mexicano e estava todo afobado para tirar foto de tudo que ele via, literalmente. Soltei uma gargalhada e neguei com a cabeça, arrumando meu casaco em meu braço. Voltei a andar e senti meu estômago roncar depois de avistar o Mc Donald’s logo a minha frente. Entrei no mesmo e fiz meu pedido. Peguei minha bandeja e me sentei perto de um dos enormes vidros, que davam a perfeita visão da cidade do lado de fora.
Abri a embalagem do hambúrguer e lambi os lábios, logo dando uma mordida. Peguei o sachê de ketchup e o abri, jogando o ketchup sobre minhas batatas. Levei algumas batatas à boca e senti meu celular vibrar dentro do meu casaco que estava sobre meu colo. Com dificuldade, peguei-o, e dei outra mordida no hambúrguer enquanto atendia o celular.
- Alô? – falei com a boca cheia.
“Que falta de educação da minha parte.” – pensei.
- ? – ouvi uma voz do outro lado e franzi a testa, sem identificar quem era. O barulho do ambiente não me permitia tal simples ato.
- Sou eu. Quem fala? – perguntei.
- . Não reconhece mais a minha voz, ma chérie? – engoli o pedaço de hambúrguer de uma só vez.
- O que quer, ? Está muito barulho. Não posso falar agora.
- Onde você está? – perguntou, ignorando minha fala.
- Na Times Square, mais especificamente no Mc Donald’s. Por quê?
- Como assim você vai ao Mc Donald’s e não me chama?! – ele quase gritou do outro lado. – Que bela amiga você é!
Ri de seu tom dramático e voltei a comer.
- Oh, desculpe-me, mas você estava muito entretido com a Olivia. Não quis atrapalhá-los. – falei num tom seco.
Um silêncio tomou conta da linha e até tirei o celular da orelha para ver se não tinha desligado. Ao ver que ele ainda estava do outro lado, levei novamente o aparelho à orelha e esperei um pouco para ouvir o que ele diria.
- Posso ir até você? – ele perguntou e eu suspirei. Certo, já era a segunda vez que ele desviava do assunto Olivia.
- Se você vier sozinho... – deixei claro e ouvi sua risadinha do outro lado.
- Ela já foi embora. – assenti mesmo sabendo que ele não poderia ver. – Estou indo, então. Fique aí.
- Okay, . – disse e finalizei a chamada.
Minutos se passaram e eu já até tinha terminado de comer quando vi entrar no Mc Donald’s. Ele olhou ao redor e eu me encolhi mais na cadeira, cobrindo meu rosto com o casaco. Senti sua presença ao meu lado e ele puxou meu casaco.
- Engraçadinha. – olhou-me com a sobrancelha arqueada e eu sorri.
Ele foi até o balcão e fez o pedido. Aproximou-se de mim com sua bandeja e sentou-se de frente a mim.
- Eu nunca tinha vindo à Times Square desde que cheguei à Nova York. Isso aqui é realmente lindo. – ele comentou, dando uma mordida no hambúrguer em seguida.
Seus olhos se encontraram com os meus e eu sorri, concordando.
- Realmente. Nova York em si é muito linda. – encostei-me à cadeira e cruzei os braços, olhando pelo vidro.
Senti algo bater em mim e olhei rapidamente para o meu colo, vendo uma batata frita.
- Hey! – reclamei e olhei para .
- Por que está com essa cara? – ele perguntou e eu encolhi meus ombros.
- Não é nada. – respondi simplesmente. – Nem sei de qual cara você está falando.
- Essa sua cara de quem comeu e não gostou. – soltei uma risada de seu comentário e dei de ombros.
- Não é nada, . – repeti.
Ele me encarou por alguns segundos e negou com a cabeça, voltando a olhar para sua bandeja.
- Está assim pelo que aconteceu hoje?
- E o que aconteceu hoje? – perguntei fingindo não saber do que ele falava. Meu olhar continuava fixo no vidro. Não sei o porquê, mas eu não queria olhar para agora.
- Estou falando sobre o beijo, . E você sabe muito bem. Por favor, não finja não se lembrar. – seu tom era sério e eu comprimi meus lábios em uma linha fina.
- Você e a Olivia se beijaram logo depois que eu saí? – perguntei repentinamente.
- O quê? Por que está perguntando isso?
- Eu só quero saber. Responda, .
- Sim. E eu... – encarei-o – Eu a pedi em namoro.
Engoli em seco.
- Ela aceitou? – perguntei, forçando minha voz para que não falhasse.
Ele apenas assentiu com a cabeça.
Desviei meu olhar novamente, sentindo um aperto imenso no meu peito. Fechei os olhos, evitando que as lágrimas se formassem. Eu nem sabia o porquê de estar desse jeito, mas com certeza meu coração sabia. Minha mente podia lutar contra o meu coração dizendo que era uma besteira sofrer por alguém o qual eu nem sabia se sentia algo, mas o meu coração simplesmente não conseguia aguentar as palavras de . Imaginá-lo com Olivia, os momentos dos dois, os beijos, as risadas, os abraços e as carícias faziam-me sangrar.
Um buraco se formou no lugar onde antes meu coração pulsava lentamente, e agora eu só sentia o vazio tomar conta do meu ser. É só uma atração física, . Somente isso. Você não gosta do . Você gosta do . O é o cara certo para você. Você tem que ficar com ele. Você tem que conquistá-lo. Afinal, não era isso que você queria o tempo todo? – minha mente simplesmente gritava comigo, e eu apenas fechei meus olhos com certa força.
Eu tinha que escutar a minha mente. Eu não podia deixar meu coração me dominar. O coração é confuso, ele te faz agir feito uma boba. Mas a mente não. A mente é esclarecedora e está sempre certa. Eu precisava seguir a razão ao coração. nunca foi para mim. Eu nunca fui e nunca serei o suficiente para ele. Se ele apareceu na minha vida, foi simplesmente para me ensinar o que eu devia saber, para assim, poder ser feliz ao lado de .
Bom, pelo menos espero que assim seja.
- Você foi muito bem na aula de hoje, . – me elogiou enquanto caminhávamos pelas ruas, ainda na Times Square. – Nem parecia que nunca tinha beijado alguém. Acredito que ficará impressionado.
Apenas assenti fracamente com a cabeça enquanto enfiava minhas mãos nos bolsos do casaco que agora eu vestia.
- O que houve? – perguntou, percebendo meu silêncio.
- É verdade o que você disse sobre sentir desejo por mim? – parei de andar no mesmo instante e o encarei.
olhou para o chão e depois levantou o rosto, encarando-me. Ele soltou uma risadinha fraca e coçou a nuca, visivelmente sem graça.
- Ah, sobre isso... – disse sem jeito e eu o olhei com impaciência.
- É verdade, ? – perguntei novamente, com seriedade na voz.
- É... Tecnicamente, não. Eu disse aquilo para “testar” você. Digamos que eu tentei ao máximo me colocar no lugar de , e se caso ele falasse aquilo, eu queria ver qual seria sua reação. – fiquei em silêncio ao ouvi-lo e desviei meu olhar, encarando o outro lado da rua, com raiva. – Você sabe, , eu sou seu professor e tento observar todos os detalhes, todos os seus movimentos para ver se está tudo certo.
- Ah, claro... Você é só o meu professor. – disse com certa raiva. – Não está fazendo mais do que a sua obrigação, não é, professor?
- É claro que eu não sou só seu professor, . Eu também sou o seu amigo, não sou? – ele franziu a testa.
Bufei e rolei os olhos, voltando a andar com pressa. Eu queria e precisava ir para a minha casa e me jogar na minha cama.
- Não sou, ? – ele me seguiu, segurando em meu braço repentinamente, obrigando-me a olhá-lo.
Encarei seus olhos confusos e comprimi meus lábios. – Sim, . Você é meu amigo. Será que pode me soltar agora? – olhei para sua mão ainda em meu braço. – Eu estou cansada e quero ir para casa.
assentiu levemente e soltou meu braço, devagar. Dei-lhe uma última olhada e virei meu corpo, voltando a caminhar às pressas.
Acho que por hoje já deu.
Chegamos em casa e eu entrei rapidamente, fazendo meu caminho para meu quarto.
- A propósito, você está muito bonita com essa roupa, ! – ouvi-o falar e neguei com a cabeça, abrindo a porta de meu quarto.
- Babaca. – falei baixo e bati a porta.
Tirei meu casaco e o joguei na cama. Fui até a janela do meu quarto e passei as mãos pelo cabelo enquanto encarava a lua, que brilhava intensamente do lado de fora, clareando tudo ao meu redor.
Ótimo, . Acho que agora é a hora de apertar o botão desligar para toda essa atração idiota que você sente pelo . Ele pertence à Olivia, não a você.
No dia seguinte, levantei mais cedo para não ter o risco de chegar atrasada à faculdade. Tomei banho e me vesti com uma saia, uma regata e sapatos de salto alto. Assim que fiquei de pé, tive que me equilibrar enquanto segurava na parede para não cair de cara no chão. Firmei-me e dei meus primeiros passos. Sorri satisfeita ao ver o meu pequeno progresso. Fui até o banheiro, dando um passo atrás do outro, tentando andar em linha reta, como tinha dito.
Cheguei ao banheiro e penteei meus cabelos úmidos. Passei um pouco de perfume e dei uma última olhada no espelho. Hoje eu faria o me notar de qualquer jeito. Voltei ao meu quarto, peguei minha bolsa e saí. Fui até a cozinha e estranhei o fato de já estar lá, sentado e tomando seu café da manhã. Joguei minha bolsa em cima do sofá e me aproximei da geladeira, pegando a caixa de suco. Senti o olhar de nas minhas costas, mas o ignorei.
Sentei-me do outro lado do balcão e comecei a passar a manteiga de amendoim nas torradas. Por mais uma vez, senti o olhar de sobre mim, mas continuei a prestar atenção no alimento a minha frente. Ouvi um pigarro de sua parte, e ele disse:
- Você está muito bonita, . Essa roupa pegou bem em você.
- Obrigada. – disse num tom seco e dei uma mordida na torrada.
- É... Eu tenho algo para você. – levantei meu olhar em sua direção.
- E o que seria? – perguntei com uma sobrancelha arqueada.
virou-se em direção à sua pasta e tirou uma caixinha de dentro. Franzi minha testa e o observei enquanto ele abria a mesma. Colocou-a em cima do balcão e a empurrou em minha direção. Tive a visão das lentes de contato transparentes, e engoli o pedaço da torrada que mastigava.
- Eu comprei para você ontem. – começou a dizer. – Eu preferi as transparentes, porque como eu acho os seus olhos lindos... Eu não quis, você sabe, que as lentes os tampassem.
Engoli em seco ao ouvir “acho os seus olhos lindos”. Desviei meu olhar da caixinha e voltei a comer, ainda sem olhar para .
- Obrigada, . – agradeci educadamente e ele ficou em silêncio.
Terminamos de comer e fui até o banheiro para escovar os dentes. Não percebi que também vinha atrás. Somente percebi na hora em que fomos entrar ao mesmo tempo, mas ele parou, dando-me passagem. Peguei minha escova de dente e coloquei a pasta, logo começando minha higiene bucal. fez o mesmo e percebi que ele me olhava através do espelho, em alguns momentos.
Desviei meu olhar e fiquei – numa tentativa falha – observando o vidro do box ao meu lado. Cuspi a espuma de minha boca e logo depois, também abaixou sua cabeça para cuspir. Nossos rostos ficaram bem próximos e eu levantei minha cabeça, dando-o a vez de enxaguar a boca. Ele assim o fez, e logo foi minha vez. Ao fim de tudo, sequei meus lábios com a toalha, e fui até o balcão da cozinha.
Peguei a caixinha com as lentes e voltei ao banheiro, onde ainda terminava de enxugar sua escova de dente. Abri a caixinha e peguei uma lente. Eu era muito desastrada com algumas coisas bem fáceis, e isso infelizmente, me atrapalhou na hora de colocar a lente em meu olho. Quase a deixei cair no chão e pelo canto do olho, vi que me observava com um sorrisinho de canto.
- Você quer ajuda? – perguntou.
- Não. Eu consigo. – afirmei depressa, e tentei novamente. E mais uma vez, não consegui pôr.
Bufei inconformada comigo mesma, e senti uma das mãos de em minha cintura, virando meu corpo para si.
- Deixa eu te ajudar com isso. Não seja orgulhosa.
Ele pegou a lente de minha mão e eu revirei os olhos.
- Primeiramente, esteja com a mão bem lavada antes de colocá-las. Qualquer poeira ou sujeira pode inflamar os seus olhos, e até prejudicá-los. Certifique-se de que elas estejam limpas também. Quando se trata da saúde, todo cuidado é pouco.
- Okay, doutor. – ironizei e riu baixo.
se aproximou mais de mim a ponto de eu sentir seu hálito de menta bater em meu rosto. Suspirei, evitando fechar os olhos, e olhei para cima. Ele levou sua mão abaixo do meu olho, abrindo um pouco, e logo senti a lente sendo colocada. Pisquei algumas vezes e se virou, pegando a outra lente dentro da caixinha. Ele se aproximou novamente e fez o mesmo procedimento com meu outro olho.
Pisquei novamente e fixei meu olhar em , vendo tudo desembaçar aos poucos. O sorriso maravilhoso de tomou todo o meu campo de visão e eu sorri de volta.
- Como está se sentindo? – perguntou, com suas mãos em minhas bochechas.
- Bem. – respondi com a voz suave.
Encarei seus olhos castanhos que brilhavam em minha direção. Senti minhas bochechas ficarem quentes e fechei os olhos por um momento, sentindo acariciar minhas bochechas com seus polegares. Abri novamente meus olhos e ele parecia estar mais próximo a mim. Nossos narizes quase se tocando.
- Seus olhos me fascinam. – ele falou num tom rouco e baixo.
- E os seus me hipnotizam. – deixei escapar, e ele sorriu ainda mais.
- Fico lisonjeado de ser o primeiro a te ver assim. – seus dedos continuavam a acariciar-me. – Tão linda...
Como num estalo, eu acordei de meu transe, e me afastei de seu corpo.
- Obrigada mais uma vez. Agora eu tenho que ir. Não quero me atrasar.
Apressei-me em sair daquele pequeno espaço que já começava a esquentar, e andei até o corredor. Peguei minha bolsa e quando estava prestes a sair, ouvi a voz de dizer:
- Quer carona?
Assenti levemente com a cabeça.
No caminho para a universidade, ficamos em total silêncio. O carro era novo. Assim como comentou uma vez, ele comprou outro carro. Dessa vez era uma Ferrari vermelha, muito linda assim como a outra. Apesar do silêncio, meu coração estava disparado no peito, mas era pelo simples fato da direção de ser tão perigosa para o meu bem-estar.
Como das outras vezes em que entrei em um carro com ele, corria feito um louco. Sempre desviando dos outros carros e cortando por entre eles, ele fazia um caminho bem mais rápido do que eu era acostumava a fazer dentro de um táxi. Quando chegávamos perto de algum semáforo, ele freava com toda força e eu tinha que me agarrar ao cinto de segurança para não ser arremessada contra o vidro.
Fora o fato de que ele andava numa velocidade acima da permitida. Senão fosse a bela realidade de ele ter bastante dinheiro para pagar as multas que recebia, ele estaria ferrado. Fora os subornos que eu acredito que ele fazia com os policiais quando era parado por alguma viatura. Um homem de vinte e três anos agindo como um adolescente irresponsável. Eu não mereço isso.
Chegamos à faculdade e eu pude soltar o apoio para braços ao meu lado. Tirei o cinto de segurança e coloquei minha bolsa em meu ombro, pronta para abrir a porta. Senti a mão de segurar meu pulso e me virei em sua direção.
- Surpreenda o tal . – ele disse, sorrindo fraco em seguida.
- Pode deixar. – sorri de volta e saí do carro. – Tenha uma boa manhã na empresa.
- Você também. – falou e saiu cantando pneu.
Andei em direção à universidade e entrei. Como sempre, e já me esperavam perto da porta. Assim que me viram, arregalaram os olhos e sorriu animada.
- Você está linda, amiga. É hoje que o cai duro. – falou me abraçando e eu ri.
- Está gostosa, . Se eu não tivesse namorada, eu te pegava. – disse e lhe deu um tapa no braço. – Au! Eu falei se eu não tivesse namorada! – exclamou e eu ri, abraçando-o. – Parece que a é a única carinhosa aqui.
o olhou com desdém e eu comecei a andar com eles pelo corredor. Abri minha bolsa e verifiquei para ver se meu celular estava ali dentro. Na mesma hora, senti um cutucão em meu braço e levei meu olhar até .
- Ele está te olhando... – ela falou quase num sussurro.
Olhei na mesma direção que ela e realmente, estava encostado à parede, me olhando. Ele sorriu de canto e eu retribuí, enquanto passávamos por ele. Virei minha cabeça e fiquei o encarando pelo ombro. Senti um puxão que me fez “acordar” e logo ouvi dizer:
- Opa, cuidado por onde anda, gatinha!
Vi que ele me encarava risonho enquanto me segurava pelo braço.
- Obrigada. – agradeci ao perceber que ele tinha me livrado de dar de cara com a pilastra.
- Eu sei que você está toda boba pelo ter te notado, mas por favor, preste atenção por onde anda, ! Você não vai querer pagar outro mico na frente dele, ou vai? – arqueou a sobrancelha, me observando. Neguei rapidamente com a cabeça. – Ah, bom. Foi o que pensei.
Fomos para a primeira aula e ao final de todas, segui novamente pelo corredor. Eu estava distraída, tentando me equilibrar em meus saltos, e evitando os olhares e murmúrios de todo mundo que me encarava. Realmente, todos estavam comentando sobre a minha repentina mudança, e isso não me deixou nem um pouco confortável. Eu odeio ser o centro das atenções. Até meus professores resolveram me elogiar hoje, dizendo o quão bonita e diferente eu estava. Nem preciso dizer que pareci um pimentão na hora.
Senti uma mão quente segurar meu braço e me virei, assustada. Quando encarei aqueles olhos azuis tão conhecidos, senti meu coração acelerar duas vezes mais. Seu perfume adentrou minhas narinas e minhas pernas bambearam. Opa, não posso me tremer muito senão caio daqui de cima desse saltão. Seu cabelo estava ligeiramente bagunçado como de costume e não pude conter um suspiro de escapar de meus lábios.
- Wright. – sua voz sedutora disse e eu sorri tímida.
- Carter. – imitei-o e ele sorriu, abaixando sua cabeça rapidamente.
Seus olhos pareceram faiscar quando se direcionaram novamente a mim, e eu sorri boba.
- Você está linda. Já te disseram isso? – perguntou, soltando meu braço.
- Na verdade? – assentiu – Sim. É do que mais me chamam hoje. – confessei e ele riu.
- Sinal de que não estão cegos. – falou e o rubor tomou minhas bochechas. – Acho ainda mais lindo quando você fica com as bochechas rosadas.
Abaixei minha cabeça, com muita vergonha, e ouvi sua risada novamente.
- Eu estava pensando se você não queria sair comigo um dia desses... – ele começou a dizer e eu levantei minha cabeça, encarando-o.
Sua mão direita coçava a nuca e ele parecia estar totalmente sem graça. Pelo menos, eu não era a única envergonhada ali.
- Você sabe, podíamos passear pelo parque ou até tomar um café... Não sei. O que você preferir. Mas se bem que eu conheço um ótimo restaurante de comida japonesa. Eu poderia te levar lá.
- Eu aceito! – afirmei prontamente. – E eu ia adorar comer comida japonesa pela primeira vez.
- Pela primeira vez? – olhou-me surpreso e eu assenti. – Bom, então ficarei lisonjeado em levá-la para experimentar. Pode ser amanhã às oito horas?
- Claro! – sorri.
- Então eu passo na sua casa amanhã às oito horas em ponto. Só me dê seu endereço e seu número de telefone, caso eu vá precisar.
Assenti e ele me estendeu seu celular, e eu fiz o mesmo. Guardei meu número em sua agenda telefônica enquanto ele também guardava o seu. Ao fim, devolvi-lhe o celular ao mesmo tempo que ele.
- Anotei meu endereço no bloco de notas. – avisei e ele assentiu.
- Ótimo. Vejo você amanhã.
Concordei com a cabeça e ele se curvou, dando-me um beijo na bochecha. Sorri feliz com seu ato e ele se afastou, voltando a andar pelo corredor, segurando seus livros com um dos braços.
- Nós vimos aquilo, ! O que ele falou com você? – apareceu com ao meu lado, assustando-me.
Respirei fundo, acalmando meu coração pelo susto. Sorri para eles e disse:
- Eu tenho um encontro com o amanhã à noite.
O grito de ecoou pelo corredor, chamando a atenção de todos, e eu gargalhei enquanto ela me abraçava animada.
***
Cheguei em casa e joguei minha bolsa no sofá, jogando-me junto. Fechei meus olhos enquanto sorria, ainda não acreditando que aquilo estava acontecendo. A porta se abrindo me chamou a atenção e eu vi entrando. Ele colocou sua pasta no balcão da cozinha e se aproximou de mim enquanto tirava sua gravata e o paletó. Abriu os primeiros botões de sua camisa social e me olhou com a testa franzida, junto com um sorrisinho confuso de canto.
- Por que está assim? Um bicho te mordeu por acaso? – perguntou fazendo graça.
Neguei com a cabeça, ainda sorrindo. – É melhor do que isso.
Ele sentou-se no braço do sofá e disse:
- Conte-me, então. Diga-me o motivo de estar tão feliz.
Respirei fundo e me sentei.
- O me convidou para um encontro amanhã à noite.
Percebi o pequeno sorriso de se desmanchar e ele passou a mão pelo cabelo, bagunçando-o.
- Uau, que ótimo, huh?! – senti seu tom irônico e franzi a testa, confusa. – Logo depois de te ignorar e agir como se você não existisse, ele te chama para sair. Isso não é maravilhoso?!
- É claro que é maravilhoso! Você devia estar feliz por mim, não? Afinal, eu consegui surpreendê-lo como você disse.
Ele riu debochado e se levantou, ficando de costas para mim. Suas mãos passavam por seu cabelo de forma impaciente e eu bufei, levantando-me do sofá.
- Eu não sei como você ainda consegue ser tão boba e iludida assim. Se eu fosse você, já teria desistido desse idiota há muito tempo.
- Mas você não é, . – ele continuava de costas, parecendo não querer me olhar. – E eu estou feliz por simplesmente conseguir o que eu tanto queria por esses anos. Você também devia ficar feliz por mim! Afinal, não estamos tendo todas essas aulas por causa disso? – meu tom era de indignação.
Eu não conseguia entendê-lo. Quando eu contei, pensei que ele ficaria orgulhoso e feliz por mim, mas não. Aconteceu o contrário. E eu nem sei o porquê. é muito confuso. Eu o encarava com a testa franzida e ele continuava de costas. Sua respiração estava um pouco ofegante e seus ombros subiam e desciam de maneira rápida.
- Sim, é por isso! Mas você não devia ter aceitado de imediato. Devia ter o ignorado um pouco ou até negado o convite. Agora ele vai pensar que você é uma garota fácil!
Respirei fundo e balancei a cabeça.
- Você não avisou sobre isso. E mesmo se eu fosse fazer o que você falou, eu não conseguiria. Não consigo negar nada quando o assunto é Carter. Desculpe-me dizer isso, mas é a verdade. Eu sou apaixonada por ele.
pareceu ficar ainda mais impaciente e passou as mãos pelo cabelo, com certa força, antes de andar em direção ao seu quarto. Ele adentrou o mesmo e bateu a porta com força, assustando-me com seu ato inesperado. Encarei a porta de seu quarto por algum tempo e balancei a cabeça.
Definitivamente, eu não entendo .
Eu estava mexendo em meu notebook quando vi sair de seu quarto. Ele estava muito bem vestido com uma calça jeans e uma camisa social branca com as mangas erguidas até os cotovelos. Nos pés, ele usava uns Supras combinando com a camisa, e o seu cabelo estava penteado em um topete, como sempre. No pulso direito, ele usava um relógio banhado a ouro, e que só de olhar, senti um pouco de incômodo em meus olhos por conta de seu brilho.
O seu perfume tomou conta da sala e eu tirei meus fones de ouvido antes de me dirigir a ele.
- Já está mais calmo, nervosinho? – perguntei com certo deboche na voz.
Ouvi bufar ao mesmo tempo em que não obtive resposta.
Balancei minha cabeça em negação e voltei meu olhar para a tela do computador. Não consegui manter minha atenção naquele ponto por muito tempo. Alguns segundos depois, eu observava pelo canto do olho. Todos os movimentos de seu corpo eram milimetricamente acompanhados por meus olhos. Desde um simples levantar de sua mão para ajeitar o cabelo até o momento em que ele abriu a geladeira, tirando a jarra de água lá de dentro.
encheu um copo até a metade e tomou quase tudo num só gole. E novamente, ele foi até a geladeira e colocou a jarra em seu devido lugar. Intercalei meu olhar em meu notebook e nele, para que ele não percebesse que eu o observava em silêncio. Suas mãos foram até a gola de sua camisa, ajeitando-a um pouco, e logo depois ele se aproximou do porta chaveiro ao lado da porta e pegou sua chave junto a de seu carro.
Ele abriu a porta do apartamento e respirou fundo, dizendo em seguida:
- Eu vou sair. Provavelmente não voltarei hoje.
- Mas... É meio de tarde e... – eu não sabia por que, mas eu procurava algum motivo para fazê-lo ficar. Eu não queria que se fosse. – E as minhas aulas?
- Eu resolvo isso depois. Tenho alguns assuntos a tratar. – ele respondeu sem me olhar.
O baque da porta se fechando interrompeu qualquer frase que havia passado por minha mente. Suspirei, olhando para a porta fechada, e voltei a colocar meus fones de ouvido.
Eu sabia que ele não tinha assunto nenhum a tratar, senão ele teria resolvido tudo na empresa hoje de manhã. , na verdade, estava indo vê-la.
’s POV
Adentrei meu carro que estava estacionado na garagem e respirei fundo, fechando os olhos. Minha mente está uma confusão. Meu coração está uma confusão. Eu sou uma confusão. Envolvi o volante com minhas mãos, mesmo nem tendo ligado o carro, e o apertei com força, na esperança de depositar ali todas as minhas frustrações. Desde que eu cheguei à Nova York, ou mais especificamente, desde que conheci , minha mente pareceu dar um nó sem tamanho. Um nó sem solução. Um nó que não podia ser desfeito.
Eu vim aos Estados Unidos com somente um propósito: Cuidar dos negócios do meu pai. Meu pai sempre foi um cara trabalhador, que pensava na família, mas que ao mesmo tempo, chegava a ser um pouco obsessivo. Sempre buscando mais e mais, nunca satisfeito com o que já tinha, foi assim que eu vim parar em outro país. Ele abriu a segunda empresa e mandou Ryan, Olivia, eu e mais alguns funcionários da empresa do Canadá para Nova York.
Em um ponto, tudo isso era bom. Eu estava tendo a oportunidade de conhecer um novo lugar, de respirar um novo ar, de construir uma nova vida longe de casa, e de ser tão bem-sucedido profissionalmente como Jeremy . Mas toda essa situação me pegou totalmente desprevenido. E com meu coração totalmente desarmado, eu acabei aqui. Dentro desse carro, confuso em relação a tudo. Eu não esperava encontrar alguém por aqui. Minha vida no Canadá sempre foi regada a conforto, namoradas, diversões e noitadas. Uma vida de prazeres carnais.
Então, eu chego aqui e me deparo com algo totalmente novo: dividir o mesmo teto com uma pessoa desconhecida. E ainda mais sendo Wright. Uma mulher totalmente diferente de qualquer outra com quem eu já fiquei. Tenho convicção em dizer que desde que bati os olhos em , eu senti uma certa pena. Pena do seu jeito de ser, de se vestir, de tudo. Ela nunca foi uma mulher com quem eu ficaria. Na verdade, ela passava bem longe disso.
Em relação a minha vida amorosa, Olivia Hastings fazia parte dela já há um certo tempo. Na verdade, desde que eu terminei com minha namorada de faculdade, eu já sentia um sentimento forte por Olivia. Ela, com certeza, é a mulher com quem eu ficaria. Nem que fosse por um tempo. Um enorme entusiasmo me tomou quando eu vi nos olhos dela, o mesmo que eu sentia em meu coração. Paixão. Aos poucos, eu fui procurando me aproximar de Olivia. No Canadá, nós saíamos, conversávamos por praticamente horas e eu até estive ao seu lado quando seu avô faleceu há alguns meses atrás.
Éramos como melhores amigos, que aos poucos, foram se apaixonando. E no início, eu gostei disso. Gostei da situação em que nos encontrávamos. Quando cheguei à Nova York, eu estava louco para vê-la. Olivia tinha chegado alguns dias antes de mim, e eu me lembro de que dentro do avião, eu mal esperava para vê-la, tocá-la e abraçá-la de novo. O seu perfume simplesmente me inebriava e deixava meu coração acelerado, sempre querendo mais.
Tudo estava perfeito. Eu estava começando a ficar com Olivia. Beijamo-nos pela primeira vez naquele cinema. Começamos a agir como um casal apaixonado, não mais como melhores amigos que flertavam e insinuavam que queriam algo mais. Eu gosto de ficar com Olivia. A presença dela me faz bem. Eu estou apaixonado por ela. Não estou? Simplesmente tudo parecia estar acontecendo como deveria ser, até o momento em que e eu nos beijamos naquele sofá.
Aquele beijo foi o auge. Depois daquilo, não consigo parar de vê-la com outros olhos. Os seus lábios pareciam ainda estar junto aos meus. O cheiro de sua pele parecia ainda estar em meu nariz. O calor que emanava de seu corpo ainda podia ser sentido por meus dedos que queimavam por conta de sua pele quente. Seus olhos lindos pareciam ainda me encarar por detrás de seus óculos, que a deixavam com aquele ar de intelectual e de mais inteligente do que eu. Eu gosto disso. Gosto que ela seja mais inteligente do que eu, que seja mais geniosa, e até tímida.
A forma como suas bochechas tomavam um tom rosado quando ela ficava com vergonha, ou a forma como ela amarrava os cabelos em um rabo de cavalo ou coque frouxo, ou até o sorriso tímido que ela me dava quando eu lhe lançava meu olhar malicioso. Ela é diferente. Diferente de qualquer outra. Há algumas semanas atrás quando cheguei, eu nunca pensaria em olhá-la como olho agora. Ou melhor, se eu nunca tivesse tido a ideia de ensiná-la tudo que eu sabia, eu continuaria a enxergá-la como uma simples garota solitária e ingênua.
Eu tive todo esse plano para simplesmente ajudá-la. Eu não sabia que me envolveria tanto. Eu não sabia que ia sentir tanta atração assim por alguém. Atração. É somente isso que eu sinto. me desperta os pensamentos mais pecaminosos. O seu jeito de menina ingênua, tímida e inexperiente me acende completamente por dentro. Eu sinto desejo por ela. E eu nem sei como isso começou. Acho que foi pelo simples fato de tê-la em minha presença, de estar me acostumando a viver sob o mesmo teto.
O seu jeito simplesmente me encantou de uma hora para outra. Eu não quero mudá-la. Não quero transformá-la em algum objeto sexual para o prazer de Carter ou qualquer outro homem. Eu quero a do jeito que ela é. Quero-a com seus moletons largos, cabelos presos e óculos. Quero-a com seu jeitinho de menina, sua irritabilidade com besteiras e brincadeiras de minha parte. Quero-a sábia e ao mesmo tempo desligada dos acontecimentos ao seu redor. Quero-a usando seus tênis ao invés de saltos altos que a fazem ficar praticamente da minha altura. Quero-a baixinha, para que eu possa abraçá-la e sentir sua cabeça encostar-se ao meu peito. Quero-a pequenina para que eu possa colocá-la em meus braços e protegê-la de todos os marmanjos que tentarem se aproximar dela.
Quero preservar a sua ingenuidade e sua beleza natural. Quero seu rosto sem maquiagens para que eu possa admirá-lo sem que qualquer coisa me impeça. Quero coisas que infelizmente estão fora de cogitação. é apenas minha amiga, mas quero fazê-la minha melhor amiga. Mesmo com todo o desejo que eu sinto – e que negarei eternamente se for preciso –, eu quero cuidar dela como uma irmã. Quero protegê-la dos corações partidos e das desilusões. E o principal: Quero guardar todas essas vontades em uma caixinha com cadeado, para que nunca venha abri-la.
Até o último minuto, eu vou negar que sinto alguma atração por ela. Não quero trazê-la para o meu mundo confuso. Não quero fazê-la sentir-se perdida. Não quero machucá-la. Eu preciso e vou focar somente em Olivia. É com ela que eu estou agora. Olivia é a minha namorada. E eu não sou tão canalha a ponto de magoá-la. Muito menos de magoar . Continuarei com as aulas, mas somente para ajudá-la no que for preciso para conquistar sua paixão. Talvez a mereça. Mesmo com todo o incômodo que sinto em meu corpo ao vê-la mencionar seu nome, talvez ele seja o cara certo.
E se ele for o cara certo, eu farei o possível para ver feliz. Com ele.
Dirigi até o apartamento de Ryan, tentando afastar qualquer pensamento que me ligasse a . Mas era impossível. Ela parecia estar lá em todos os momentos, nem que fosse no meu subconsciente. Ela estava lá. Chegando ao prédio, o porteiro anunciou a minha chegada e permitiu a minha entrada. Entrei no elevador e me recostei à parede, logo depois de apertar o botão do décimo quarto andar. Fechei os olhos por um momento enquanto ouvia a musiquinha tocar por aquele cubículo.
Assim que a porta se abriu, eu quase dei um pulo para fora dali. Eu sou claustrofóbico, e só uso o elevador por conta do número do andar. Se eu viesse ao décimo quarto andar pelas escadas, acabaria morrendo pelo meio do caminho, na certa. Caminhei pelo corredor e parei em frente à porta do apartamento do meu melhor amigo. Dei duas batidas e me apoiei no batente da porta enquanto esperava. Em questão de segundos, a porta foi aberta. Levantei minha cabeça e encarei Ryan, que me olhava confuso.
- ? O que está fazendo aqui, irmão? – perguntou.
- Você tem whisky aqui? Eu preciso beber. – disse com uma voz que transbordava agonia.
Ryan assentiu e me deu passagem. Entrei e fiquei andando de um lado a outro, enquanto passava as mãos pelos cabelos. Uma mania minha que sempre demonstrava a minha impaciência e frustração.
- Beleza, o que que está pegando? – Ryan perguntou enquanto enchia um copo de gelo e whisky.
Aproximei-me da mesinha onde a bebida ficava, e ele me estendeu o copo.
- Obrigado. – levei o copo à boca e tomei um longo gole da bebida.
Fechei os olhos ao sentir a bebida passar por minha garganta e entortei um pouco a boca por conta do gosto forte.
- Eu... Eu estou confuso, cara. – comecei a dizer, enquanto voltava a andar de um lado a outro. – É a . Ela...
- Eu sabia que essa menina ia ser problema. – ele me interrompeu e eu franzi a testa, confuso.
- O quê?
- Eu sabia que ela ia acabar mexendo com você. Eu percebi isso na sua cara no dia em que vocês saíram do banheiro depois do jogo.
- O quê? Não, não! Você entendeu errado. Eu não estou apaixonado pela . – neguei rapidamente e Ryan apenas me olhava enquanto dava mais um gole em sua bebida.
- Então é o quê? O que está acontecendo? – perguntou indicando o sofá com a mão, mas preferia ficar de pé.
Ficando de pé, o sangue parecia fluir melhor por minhas veias. Talvez isso me trouxesse mais clareza.
- Eu não sei. Eu sinto... Atração por ela. O jeito dela me encanta, cara. – confessei. – Mas eu não...
A risada de Ryan me interrompeu e eu o olhei sério. – É sério isso? Você está se sentindo atraído pela ?! Olha, ela com certeza é uma menina legal. É simpática, me fez sentir em casa e tudo mais. Eu realmente gostei dela. Mas você chegar a sentir atração por ela já não é demais? Quero dizer, ela não faz o tipo de !
- E você acha que eu não sei? É claro que ela não faz o meu tipo, mas eu não consigo controlar! É algo do meu corpo, sei lá. É algo físico. – bufei, passando a mão livre no cabelo. Eu já devia ter feito tal ato umas dez vezes só hoje.
- Okay, algo físico... – Butler disse pensativo. – Eu fico imaginando como ela é por trás de toda aquela roupa e aquele jeito desastrado. Realmente, ela me parece ser bem gostosinha.
Fuzilei-o com o olhar. – Olha como fala dela, imbecil!
- Como se você também não achasse isso, ! – riu – Acha que eu não sei o que se passa nessa sua cabecinha. Eu te conheço desde pirralho, cara. Você com certeza já teve pensamentos bem sujos em relação à .
Mordi o lábio inferior. – Sim, já tive.
Repentinamente, o sonho da noite passada se passou por minha mente. Tomei mais um longo gole do whisky ao me lembrar das inúmeras posições que e eu experimentávamos em um dos sonhos mais eróticos da minha vida. Além das posições, ainda tinham os ambientes que eram diferentes. Praticamente em todos os cômodos daquele apartamento, eu a tomava para mim. Desde o meu quarto e o dela até a enorme janela que tinha a maravilhosa vista para a cidade.
Só de me lembrar, eu já me excitava.
- Ei, cara! Acorda! – ouvi a risada de Ryan soar e o encarei. – Estava pensando nela, huh? – outra risada – Só não fique muito animado, okay? Não quero macho excitado na minha sala!
Gargalhei de sua careta de nojo e neguei com a cabeça.
- Mesmo sentindo toda essa atração, acho melhor eu esquecer tudo isso. Olivia e eu estamos namorando agora. Não posso ser tão sujo com ela.
Ryan deu um gole antes de dizer: - E o que pretende fazer, então?
- Vou ignorar meus instintos, e simplesmente deixar ser feliz com a paixão dela.
- Se é assim que você quer, cara... Eu estou com você.
- Obrigado, irmão.
Sorri de canto e bebi mais do meu whisky, enquanto meus pensamentos voltavam a dominar minha mente.
Era isso mesmo que eu faria. Deixá-la-ei ir e buscar o amor com outro alguém. Eu nunca poderia dar a ela o sentimento que tanto quer. Eu não sei amar.
Capítulo 13 – Bipolaridade
Passei um tempo com Ryan e conversamos enquanto bebíamos. Eu já podia sentir o efeito da bebida em meu sangue, mas não me importava. Eu só queria esfriar um pouco a cabeça, e quando senti que já estava bom o suficiente, parei de beber. Despedi-me de Ryan – que me levou até a entrada do prédio – e entrei em meu carro. Dirigi em direção à casa de Olivia e assim que estacionei o carro, saí com um pouco de dificuldade do mesmo. O álcool já me deixava meio tonto e eu ria de besteiras. Se passasse uma formiga por mim, eu ria. Posso dizer que a minha situação era um tanto deplorável, e eu não podia voltar para o apartamento de desse jeito.
Em passos lentos e cambaleantes, eu me aproximei da porta da casa, dando algumas batidas. Ouvi passos e me aproximei do olho mágico, quase enfiando meu nariz no mesmo. Vi um olho me observar através do mesmo e logo a porta foi aberta. Quase caí para frente, já que eu estava meio apoiado à mesma.
- O que está fazendo aqui, amor? – ouvi a voz de Olivia perguntar e soltei uma risada.
Droga. Eu sou um otário.
- Eu... E-eu vim te fazer uma visita. – apoiei minha mão direita ao batente da porta, sentindo mais uma tontura me invadir. Eu me segurava para não cair de cara no chão. E estava sendo difícil, muito difícil.
Levei minha mão esquerda ao cabelo, bagunçando-o, enquanto engolia em seco.
- Você está bêbado, ? – seu tom de voz era de indignação e eu rapidamente neguei com a cabeça.
Levantei meu rosto e encarei uma Olivia com a testa franzida.
- Não, eu não estou bêbado. Eu só bebi um pouco, mas não estou bêbado. – apontei em sua direção, tentando deixar claro que eu estava em perfeitas condições. Ou não.
- Não, é claro que não! – ela rolou os olhos e eu ri mais uma vez.
- Você é tão fofa revirando os olhos. – comentei num tom risonho. Ela bufou, rindo em seguida enquanto negava com a cabeça.
- Vem. Eu vou te ajudar. – ela se aproximou de mim, puxando-me pela cintura.
Adentrei sua casa e ela fechou a porta, logo a trancando. Observei a enorme sala, mas minha observação não durou muito, já que fiquei tonto e fui obrigado a fechar os olhos.
- Acho melhor te dar um banho gelado. – Olivia disse parada ao meu lado.
Olhei-a de cima a baixo, notando que ela vestia um hobby vermelho vinho. Franzi a testa e perguntei:
- Que horas são? Por que está vestida assim?
Ela olhou para si mesma e fechou mais o hobby, abraçando seu próprio corpo.
- Ah, isso... É que como eu não pretendia sair, eu quis ficar mais confortável. E bem, me vesti assim. Eu não esperava visita às nove horas da noite. – sua sobrancelha se arqueou em minha direção, enquanto ela me lançava um olhar reprovador.
- Nove horas? – perguntei com uma voz surpresa. – Eu nem vi a hora passar.
Realmente, eu não tinha visto. Para mim, eu fiquei somente uma hora e meia no máximo na casa de Ryan. Suspirei e joguei-me no sofá branco e confortável. Senti Olivia sentar-se ao meu lado e seu olhar ser depositado sobre mim.
- Onde você estava, ? E por que bebeu assim?
- Na casa do Ryan. – respondi dando de ombros.
- E por que bebeu? – reforçou a pergunta e eu bufei.
- Porque eu gosto. Você sabe disso. – encarei-a e ela me olhava séria.
- Você nunca bebeu tanto a ponto de ficar bêbado. O que está acontecendo com você, ? – perguntou de forma amigável. – Você não é assim. Eu sinto que está estranho. Você sabe que pode me contar tudo. Antes de ser sua namorada, eu sou sua amiga.
- Eu sei, amor, eu sei. – segurei sua mão, acariciando seus dedos com o polegar. – Não aconteceu nada. Eu estou bem, acredite.
Eu queria convencer mais a mim mesmo do que a Olivia.
Seus olhos pareceram me analisar por completo por alguns minutos. Eles pareciam querer invadir a minha alma, e eu me senti um pouco intimidado com isso. Desviei meu olhar para a televisão a nossa frente e engoli em seco. Sua mão apertou a minha, dando-me a certeza de que ela estaria ali quando eu precisasse. A questão é que eu simplesmente não podia contar a verdade a ela. Eu não queria vê-la machucada por minha causa. Não queria ter que dizer que me sinto atraído por outra mulher, e ainda mais quando essa mulher é , com quem Olivia queria ter uma amizade.
- Se você não quer me contar agora, eu entendo. E eu espero o tempo que for necessário. – sua voz transbordava compreensão, e eu senti meu coração ser espremido dentro do meu peito.
Entretanto, como eu disse a Ryan, eu pretendo esquecer . Eu quero mandar de volta para onde vieram todos esses pensamentos que venho tendo e essas atrações que eu venho sentindo. Eu quero ser alguém melhor. E o primeiro passo é ficar somente com uma mulher. Olivia Hastings, minha namorada.
Assenti lentamente enquanto encarava seu rosto perfeitamente desenhado. Um sorriso de canto surgiu em meus lábios enquanto eu me aproximava mais de seu corpo. Envolvi sua cintura com meu braço e puxei sua nuca com minha outra mão. Percebendo a nossa proximidade, Olivia sussurrou contra meus lábios:
- Eu acho melhor te dar um banho e você beber um café para melhorar essa...
- Shhh... Eu não preciso de nada disso agora. – sussurrei de volta. – Preciso somente de você.
Olivia suspirou, fechando os olhos. Eu rapidamente a puxei pela nuca e a beijei com certa violência. Passei minha língua em seu lábio inferior e ela me deu passagem. Aprofundei o beijo e apertei sua cintura com a outra mão enquanto me deitava sobre seu corpo. Levei minhas mãos ao laço de seu hobby e eu o desfiz lentamente, beijando-a com fervor. Suas mãos foram até meu cabelo, posicionando-as na raiz dos meus fios e logo os puxando com um pouco de força, fazendo-me arrepiar por inteiro.
Mordi seu lábio inferior antes de separar os nossos lábios e levar os meus até seu pescoço. Um suspiro escapou de sua boca quando eu chupei sua pele, dando-lhe uma mordida em seguida. Puxei uma de suas pernas, colocando-a flexionada na altura de meus quadris, e apertei sua coxa desnuda. Distribuí beijos por seu pescoço cheiroso e macio e levei uma de minhas mãos até um dos lados de seu hobby, abaixando o mesmo lentamente. Logo seu ombro direito ficou à mostra e eu comecei a beijá-lo. Afastei o hobby, tendo a visão de seu colo e barriga. Sorri sapeca em sua direção e Olivia sorriu de volta, envolvendo meu pescoço com seus braços.
Desci meus beijos por seu colo e beijei demoradamente seu seio coberto pelo sutiã. Afastei mais seu hobby na intenção de tirá-lo por completo, e Olivia me ajudou. Ela voltou a se deitar debaixo de mim e desci uma das alças de seu sutiã, distribuindo beijos pelo seu ombro. Fiz o mesmo com o outro lado e por fim, levei minhas mãos até suas costas. Olivia arqueou um pouco as mesmas e assim, eu pude abrir o fecho de seu sutiã e tirá-lo por completo. Joguei o mesmo no chão ao nosso lado e ataquei seus lábios macios.
Nossas línguas se acariciavam enquanto eu descia minha mão por seu corpo e envolvia um de seus seios com a mesma. Dei um leve aperto e Olivia gemeu baixo contra meus lábios. Suas mãos, um pouco trêmulas, foram até a minha camisa social e a tirou com certa pressa logo depois de desabotoá-la. Ajudei-a, deslizando a camisa por meus braços, e logo meu tronco estava desnudo. Olivia encarou meu peito e abdômen com um sorriso malicioso e lentamente, ela passou suas unhas grandes pelos mesmos, distribuindo arrepios por todo o meu corpo.
Mordi meu lábio inferior e fechei os olhos. Sua mão envolveu minha nuca e puxou meu rosto, logo me dando um beijo sedento. Apertei sua cintura e desci mais minhas mãos, chegando aos seus quadris e as barras de sua calcinha que combinava perfeitamente com seu sutiã, em um tom lilás. Coloquei meus dedos indicadores por dentro de sua calcinha e comecei a puxá-la para baixo. Olivia pressionou uma perna contra a outra enquanto eu descia sua peça íntima e após tirá-la, passei meus dedos delicadamente por sua intimidade, vendo o quão excitada ela já estava.
Suas mãos rápidas foram até minha calça e desabotoaram o cinto. Ela jogou o cinto no chão enquanto me encarava e mordia o lábio inferior. Devolvi seu olhar intenso e malicioso e a ajudei a tirar minha calça quando ela abriu o botão e desceu o zíper da mesma. Joguei minha calça para o lado e tirei meus tênis e meias com meus próprios pés. Levei uma de minhas mãos até seu cabelo e puxei um pouco o mesmo enquanto voltava a beijá-la intensamente. Ela mordeu meu lábio inferior, puxando-o para si, e afastei meus lábios.
Descendo beijos novamente por seus ombros, pescoço e colo, fui até sua barriga e dei uma leve chupada, arrancando um gemi baixo de Olivia. Minha mão foi até sua intimidade e eu a acariciei. Vi quando Olivia fechou os olhos fortemente e mordeu o lábio inferior. Levei meu dedo indicador até seu clitóris e o pressionei enquanto fazia movimentos circulares lentos. Ouvi um gemido mais alto escapar da sua boca dessa vez, e isso foi o incentivo que eu precisava para continuar a tocá-la.
Apertei um pouco sua coxa com a outra mão, e abri mais suas pernas. Lentamente, penetrei-a com um dedo e com o polegar, continuei a acariciar seu clitóris um pouco inchado. Olivia sussurrou meu nome enquanto revirava os olhos e eu soltei uma risadinha baixa e maliciosa. Penetrei-a com outro dedo e comecei a movimentá-los com mais firmeza e precisão. Meus dedos escorregavam para dentro dela com facilidade e isso só me deixava ainda mais excitado. Minha cueca branca já estava marcada pelo tamanho da minha excitação, e a expressão de prazer no rosto de Olivia só me animava ainda mais.
Aumentei a velocidade dos movimentos de meus dedos enquanto pressionava seu clitóris. Com um gemido alto, e apertando meus ombros, Olivia desmanchou-se. Sorri para ela, que retribuiu com a respiração ofegante, e voltei a beijá-la com pressa. Suas mãos foram até minha cueca e ela finalmente me libertou. Senti quando meu membro encostou-se a sua barriga e ronronei um pouco, fazendo Olivia rir baixinho. Ela levou sua boca até minha orelha e mordiscou o lóbulo da mesma, enquanto eu sentia sua mão descer por meu peito e abdômen, chegando ao meu membro.
Ela envolveu o mesmo com sua mão fria e trêmula, e eu mordi meu lábio inferior, reprimindo um gemido. Olivia começou a me masturbar e eu, eufórico, ataquei seus lábios com força e violência. Meus lábios já deviam estar vermelhos e inchados, assim como os dela, mas eu não me importava. E só queria sentir prazer hoje. Pelo menos assim, eu não ficaria com a mente ocupada pensando em algo que eu não deveria. Quando eu senti sua mão acariciar a cabeça do meu membro e aumentar os movimentos no vai e vem, eu senti que estava chegando ao meu clímax.
Rapidamente, segurei sua mão e a impedi de continuar. Segurei fortemente seu quadril com uma mão enquanto erguia sua perna com a outra. Envolvi uma de suas pernas em minha cintura e a penetrei com força. Olivia arqueou suas costas, soltando um gemido alto e fechando os olhos. Suas mãos foram até minhas costas e as arranharam um pouco, fazendo-me soltar um rosnado baixo. Beijei seus lábios enquanto aumentava meus movimentos gradativamente. Sua outra perna também envolveu minha cintura, facilitando minhas investidas nela.
Olivia arranhava minhas costas e às vezes cravava suas unhas em meus ombros enquanto eu apertava seus quadris e continuava a me movimentar cada vez mais fundo e mais rápido. Levei meus lábios ao seu seio esquerdo e o beijei, logo dando algumas sugadas e mordidas, enquanto acariciava o bico de seu outro seio com o polegar. Fiz as mesmas carícias em seu seio direito e subi meus beijos até seu pescoço e depois ao seu queixo, dando uma leve mordida.
Uma camada de suor tomou conta da testa de Olivia e eu passei meus dedos, enxugando-a. Ela sorriu e fez o mesmo comigo, mas continuando a acariciar meu rosto em seguida. Repentinamente, senti Olivia começar a mexer seus quadris contra os meus e os nossos movimentos se intensificaram. Levei meu dedo polegar até seu clitóris e voltei a massageá-lo enquanto ainda saia e entrava nela. Seu interior se apertou ao meu redor e Olivia arqueou as costas, gemendo alto.
Percebendo que ela havia atingido seu clímax, continuei investindo, e logo alcancei o meu também. Soltei um gemido rouco e arrastado enquanto gozava e mordi seu lábio inferior com um pouco de força. Os espasmos tomaram conta do meu corpo antes de eu desabar sobre o corpo de Olivia, tomando cuidado para não depositar meu peso sobre ela. Deitei minha cabeça em seu peito e respirei fundo, tentando controlar meus batimentos cardíacos, assim como Olivia fazia. Seu coração acelerado batia em meu ouvido e eu depositei um pequeno e rápido beijo em seu seio, sentindo suas mãos acariciarem meu cabelo molhado pelo suor. Senti seu sopro lento sobre minha testa e fechei os olhos, enquanto abraçava seu corpo.
Sorri bobo ao sentir suas carícias em meu cabelo e suspirei. Levantei meu rosto e encarei seu rosto sereno me observando. Olivia esboçava um lindo sorriso nos lábios carnudos e eu lhe dei um selinho demorado.
- Você é maravilhoso. – ela sussurrou e eu sorri, acariciando sua bochecha com meu polegar.
- É, eu sei. – respondi.
- Metido. – ela disse e rimos juntos.
Voltei a beijá-la e como um flash, vi a imagem de sentada no sofá, exatamente do jeito que ela estava quando eu saí do apartamento. Entretanto, seus olhos estavam tristes e eu parecia estar parado à frente dela, já que ela me encarava. Seus olhos estavam marejados e ela negava lentamente com a cabeça. Em desespero, abri meus olhos e separei meus lábios dos de Olivia. Franzi minha testa e passei minha mão pelo cabelo, suspirando.
- Está tudo bem, ? – ela perguntou.
- Sim, está tudo bem. – afirmei rapidamente.
Não, não está tudo bem. Acho que a bebida não pegou muito bem, ou eu realmente estou ficando louco e tendo alucinações.
Wright’s POV
Então é isso. Aqui estou eu, jogada nesse sofá enquanto está por aí. Ah, não, espera. Por aí não. Está acompanhado de Olivia Hastings, mais conhecida como seu lindo amor. Suspirei, colocando o notebook sobre a mesinha de centro, e me levantei. Fui até a janela e fiquei observando a vista lá de cima. Já era noite e eu estava sozinha. Eu já tinha até me esquecido de como era a sensação de se estar só. Por quase um mês, eu venho tendo a companhia de . Quando ele sai ou passa a noite fora, é como se eu voltasse um tempo atrás e sentisse as mesmas coisas quando eu morava sozinha: solidão, rejeição e baixa autoestima.
Nos momentos como esse, eu simplesmente pegava um livro ou alguma matéria da faculdade e me sentava na beirada da janela, tomando um chocolate quente enquanto lia. Mas agora, é como se eu não soubesse o que fazer. Eu fico encarando o teto, ou a parede branca ou até mesmo a janela, à procura de algo para me distrair e fazer o tempo passar mais rapidamente. É, eu sou uma idiota. Nem sequer sei como consigo ser tão sentimental na maioria das vezes.
Cruzei os braços e balancei a cabeça, afastando-me da janela. Um som ao fundo me fez acordar de meus pensamentos e eu franzi o cenho, sem saber de onde ele vinha. Como um estalo, lembrei-me de meu celular e comecei a procurá-lo pelo apartamento. Seguindo o som, eu fui até meu quarto. Entrei no mesmo e o som ficou mais alto. Aproximei-me de minha cama e me agachei, vendo meu celular jogado ali debaixo. Peguei o mesmo e franzi a testa, sem saber como ele foi parar lá.
Encarei o aparelho em minha mão e quando vi quem era, meus olhos se arregalaram e quase saltaram do meu rosto. O nome “” pareceu estar escrito em letras neon gigantes e senti meu coração saltitar. Levantei-me do chão e andei de um lado a outro pelo quarto, sem saber o que fazer. Eu atendo ou não? Eu espero mais um pouco para entender ou atendo logo? Eu me faço de difícil ou simplesmente deixo rolar? Oh, céus! Que confusão.
Dane-se. Eu vou atender.
Com as mãos ainda trêmulas, levei meu dedo até a tela do celular e atendi a ligação. Levei o aparelho até a orelha e prendi minha respiração, sentindo meu coração quase sair pela minha boca já seca.
- Wright. – seu tom era sedutor e tive que me sentar na cama para não desabar no chão.
- Carter. – repeti sua fala, mas com a voz um pouco falha, o que o fez rir um pouco.
- Desculpe-me ligar essa hora. Atrapalho em algo? – perguntou.
- Não! – respondi depressa, quase como um grito. Percebi minha exaltação e respirei fundo, voltando a falar: - É claro que não está me atrapalhando. Eu não estava fazendo nada mesmo.
- Ah, ótimo. Como a senhorita está? – sua voz tranquila quase me fazia derreter, e o sorriso simplesmente não saia do meu rosto.
- Estou bem, e você?
- Melhor agora falando com você.
Prendi a respiração por um momento, sem acreditar no que tinha ouvido. Percebendo meu silêncio, ele voltou a falar:
- Bom, espero que não tenha esquecido o nosso compromisso de amanhã.
- Não esqueci. – respirei mais aliviada ao mesmo tempo em que meu coração voltava aos seus batimentos normais.
- Que bom, porque eu estou muito ansioso para te ver. Desculpe-me dizer isso.
Meu sorriso se alargou e eu pigarreei um pouco antes de responder.
- Eu também estou muito ansiosa.
- Aposto que você estará muito bonita. Na verdade, você é linda, .
Tirei rapidamente o celular da orelha e reprimi um gritinho enquanto rodopiava pelo quarto. Eu mais parecia uma adolescente com os hormônios saltitantes do que uma mulher, mas eu não conseguia conter a animação e a surpresa por ele estar me dizendo esse tipo de coisa. Meu corpo parecia estar em êxtase e eu tinha vontade de sair pulando e gritando aos quatro ventos que Carter me acha bonita e que me chamou para sair.
Levei o celular até minha orelha novamente e disse:
- Obrigada, . Você está me deixando constrangida falando isso. – confessei e ele riu.
- Ser sincero faz parte da minha personalidade, . Eu estou apenas falando a verdade. E hoje quando eu te vi na faculdade, vestida daquele jeito, eu fiquei muito surpreso. Eu não imaginava que você fosse tão atraente. O que te fez mudar tão de repente? – sua voz transbordava curiosidade e eu me segurei para não lhe contar a verdade. A verdade de que eu estava fazendo tudo aquilo só por causa dele.
- Eu não sei. Acho que eu estava cansada do jeito que eu era, sabe? Às vezes, a mudança é necessária. – dei de ombros, enquanto andava de um lado a outro no quarto.
- Entendo. E eu tenho que confessar que gostei muito da sua mudança. – sorri ao ouvir suas palavras. – Ah, , desculpe-me, mas eu tenho que ir agora. Tenho algumas coisas da faculdade para fazer. Vejo-te amanhã, certo?
- Certo. – afirmei prontamente.
- Okay. Tenha uma ótima noite.
- Você também, . – sorri boba.
Ouvi-o desligar a ligação e fiz o mesmo. Joguei-me na cama e sorri, fechando os olhos. Eu ainda não acreditava que tinha falado com ao telefone. Eu tinha escutado sua voz no telefone pela primeira vez, e ela era tão... Tão perfeita.
No dia seguinte, fui à faculdade, mas não falei com . Na verdade, nem o vi pelos corredores. Acho que também pelo fato de eu ter ficado com e e contado tudo a eles. Em algum momento eu devo ter passado por , mas nem percebi. Depois que o sinal do fim da última aula tocou, meus amigos e eu nos encontramos perto do meu armário e caminhamos juntos até a saída da universidade. Do lado de fora, segurou-me pelo braço.
- Você tem que arrasar hoje! Escolha o seu melhor vestido. Se quiser, eu posso te ajudar. Tem que ser um vestido maravilhoso e de preferência, um dos novos que nós compramos. Aqueles são lindos e um deles vai ficar perfeito para a ocasião! – ela falava tudo rapidamente e eu apenas assentia, rindo baixo. – E por favor, não exagere na maquiagem! Você não vai querer parecer com um palhaço, não né?
Neguei com a cabeça e ela assentiu. – Ótimo. Use um sapato confortável. Se não quiser usar um salto, use pelo menos sapatilhas. Sem tênis, por favor! Já que é um restaurante japonês, não vejo necessidade de muito exagero no vestido e na maquiagem. Use algo confortável, mas que te deixe bonita ao mesmo tempo.
- Okay, respira um pouco, amor! – a interrompeu, acariciando seus ombros. – Acho que a já entendeu.
- É que ela não pode errar. Ela tem que impressioná-lo!
- Mas eu já entendi, . E prefiro até que para você se sentir mais calma, você me ajude. O vai passar lá em casa por volta das oito horas. Então, você pode ir por volta de umas seis e meia para me ajudar. O que acha?
me olhou animada e me abraçou. – Ótimo, ótimo! Assim eu fico mais tranquila para que você não erre nada.
- Meninas, aquele lá não é o carro do ? – ouvi a voz de perguntar e me afastei de .
Olhei na mesma direção que ele e franzi a testa. Avistei a Ferrari azul dele e confirmei com a cabeça.
- O que ele está fazendo aqui? – perguntei.
- Só há uma forma de saber. Vamos falar com ele.
me puxou pelo braço e eu ajeitei minha bolsa em meu ombro. Nós nos aproximamos do carro e assim que estávamos bem perto, o vidro foi se abaixando, dando-nos a visão de lá dentro. Ele usava óculos escuros que me impediam de olhar seus olhos, mas que lhe davam um ar... Sexy.
Ele sorriu em nossa direção e passou a mão no cabelo, arrumando alguns fios fora do lugar.
- Hey, ! – o cumprimentou.
- Hey, . – ele disse sorridente.
Abriu a porta do seu lado e saiu, vindo abraçá-la.
- E aí, cara? – cumprimentou , fazendo um aperto de mãos desconhecido por mim.
- O que você está fazendo aqui? – perguntei nem lhe dando a oportunidade de me cumprimentar.
colocou as mãos no bolso da calça e ficou me encarando por trás de seus óculos.
- Eu vim te buscar. Algum problema nisso?
Confusa, franzi a testa e o encarei como se ele fosse maluco.
- Você está de acordo com as suas faculdades mentais? – perguntei e ele deu uma risadinha.
- É claro que sim, . Por que a pergunta?
- Você parece doido. Ontem mesmo deu crise comigo e saiu quase batendo a porta na minha cara, sem nem me responder direito. E hoje, você vem me buscar na faculdade como se nada tivesse acontecido?
Notando que o clima estava bem tenso, e se entreolharam e deram as mãos.
- Acho melhor nós irmos. e eu temos que fazer algumas coisinhas antes de eu ir para a sua casa. – disse e se aproximou, dando-me um beijo na bochecha. – Vejo você às seis e meia. Tchau, .
- Tchau, . – respondeu com um sorriso simpático.
e ele acenaram um para o outro e então, meus amigos se afastaram. Encarei novamente, com a sobrancelha arqueada e cruzei os braços.
- E então... Ainda estou esperando sua resposta.
Ele bufou e cruzou os braços também.
- Será que nós não podemos simplesmente esquecer o que aconteceu ontem? Eu só estava num dia ruim.
Soltei uma risada debochada e vi travar o maxilar. – Dia ruim?! Então só por que o seu dia estava uma merda, você decidiu descontar em mim? Muita maturidade da sua parte, huh?
- , por favor...
- Por favor uma ova! Você é ridículo, ! – falei um pouco alto e algumas pessoas que estavam em volta, ficaram nos olhando.
fez uma careta e levou uma das mãos até a cabeça. – Só não grite. Eu estou com uma dor de cabeça filha da puta.
- E posso saber por que está com dor de cabeça? – perguntei séria, batendo meu pé no chão.
- Eu bebi demais ontem. – falou com uma voz entediada.
- E por que bebeu? Ah, não, espera! Porque não sabe enfrentar os seus problemas como uma pessoa normal. Vocês, homens, são uns idiotas!
- Você nem sabe o motivo de eu ter bebido! Não pode falar nada! – ele aumentou seu tom de voz, mas logo outra careta demonstrou que não foi algo bom a ser feito. Com certeza, sua cabeça devia estar latejando, mas eu não dava a mínima.
- Então me fale o motivo! Por que você bebeu?
- Eu não vou te falar nada! Pare de agir como se fosse a minha mãe. Eu já sou um adulto!
- E que lindo exemplo de adulto, huh? – ri debochada e o vi fechar os punhos.
Ui, parece que alguém está ficando nervoso.
- , vai tomar no meio do seu...
- Alto lá! – o interrompi – Ouse completar essa frase e eu meto a mão na sua cara.
Apontei em sua direção e ele suspirou, derrotado.
- Será que você pode, por favor, esquecer toda a confusão de ontem e entrar nessa porra desse carro?
- Não vou entrar no seu carro! Prefiro ir andando a entrar aí.
- Para de infantilidade, Wright!
- Para você, .
- Não me faça te obrigar a entrar no carro! – ele disse irritado e eu o olhei com desdém. – Caralho, que garota teimosa! Eu devo ter jogado pedra, cuspido e grudado chiclete na cruz para merecer uma coisa dessas!
- Se não está satisfeito, se manda. Não mandei você vir me buscar. É só dar meia volta com o seu lindo carro e ir embora.
- Eu só quis te fazer um favor e é assim que você me agradece? Puta que pariu! – passou as mãos no cabelo, demonstrando sua irritabilidade.
- Não tenho que te agradecer por nada. E me dê licença, pois um táxi está se aproximando e eu quero voltar para casa ainda hoje. Não vou passar o resto da tarde discutindo com você.
Afastei-me dele e fiquei na beirada da calçada.
- Táxi! – gritei assim que vi um táxi se aproximando e estiquei minha mão.
- Não faça isso, . Deixa de ser orgulhosa. – escutei dizer ao meu lado, mas o ignorei.
O táxi parou a minha frente e eu abri a porta para entrar, mas meu ato foi interrompido com braços envolvendo minha cintura.
- Ei, me solta, ! – disse nervosa, tentando me desvencilhar de seus braços. Ele fechou a porta que eu tinha aberto, sem dificuldade alguma.
- Eu não vim até aqui para nada. Você vai entrar naquela porra de carro por bem ou por mal.
Ele me puxou pela cintura enquanto ia em direção ao seu carro. Olhei para o motorista que nos olhava assustado.
- Senhor, por favor, me ajuda! Mande esse maluco me soltar! – fingi com uma voz chorosa enquanto me debatia.
- Não se preocupe, senhor. Ela é só minha irmã mais nova. Muito teimosa, por sinal. – disse e a minha vontade foi de estapeá-lo pela mentira deslavada. – Pode ir. Eu vou levá-la para casa.
O motorista assentiu e eu bufei. Logo o táxi foi embora e abriu a porta de seu carro, praticamente me jogando lá dentro. Por conta de tanta delicadeza de sua parte, minha bolsa acabou caindo no chão.
- Isso, , parabéns! – bati palmas enquanto o fuzilava com o olhar.
Ele bufou, irritado, e pegou minha bolsa do chão. Jogou-a no meu colo e então, bateu a porta ao meu lado. Ele deu a volta pela frente e sentou-se no banco do motorista, logo ligando o carro. Repentinamente, o rádio do carro ligou a todo volume e eu tampei meus ouvidos com as mãos. soltou uma risada da minha careta e esticou seu braço, desligando o som.
- Acho que você não tem ideia do quanto é prejudicial ouvir o som nessa altura. – coloquei o cinto de segurança. – Sinto pena dos seus ouvidos.
- Estava tocando minha música favorita. Não preciso dizer mais nada.
O carro começou a se mover e eu bufei, afundando meu corpo no estofado do banco.
- Espero chegar viva em casa. – comentei ao me lembrar da direção perigosa de .
riu sarcasticamente e disse:
- Engraçadinha. O seu humor ácido me encanta, . – seus olhos estavam vidrados na rua.
- É bom saber que te agrada, querido. É uma das coisas que você não vai mudar em mim. – disse séria, olhando em sua direção.
Ele devolveu meu olhar e balançou a cabeça em negação.
- E quem disse que eu quero mudar isso em você?
- Só estou dizendo. – dei de ombros. – Posso mudar por fora, mas pretendo preservar a minha personalidade.
- Personalidade forte, por sinal. – comentou com seu tom rouco.
- Vou levar isso como um elogio.
- Mas é um elogio. Acho a sua personalidade muito bacana. – ele disse casualmente enquanto fazia a curva, entrando na rua do nosso prédio.
- Muito bacana? – arqueei a sobrancelha, observando-o. – E isso é algo que uma pessoa diga? Acho que isso nem pode ser considerado um elogio.
- E preferia que eu dissesse o quê? – ele parou em frente ao portão da garagem, enquanto a mesma se abria. – Que a sua personalidade é instigante, sensual, excitante? – olhou-me e um sorrisinho sacana e bem discreto apareceu em seus lábios rosados.
- Você não presta. – comentei, de braços cruzados e balancei negativamente a cabeça.
- Relaxa e goza, . – seu tom sedutor me fez arrepiar, e eu decidi ignorar seu comentário enquanto ele adentrava a garagem com seu carro.
Nada mais podia me distrair hoje. Toda a minha atenção devia ser direcionada a apenas uma pessoa: . E é claro, o nosso encontro.
Em passos lentos e cambaleantes, eu me aproximei da porta da casa, dando algumas batidas. Ouvi passos e me aproximei do olho mágico, quase enfiando meu nariz no mesmo. Vi um olho me observar através do mesmo e logo a porta foi aberta. Quase caí para frente, já que eu estava meio apoiado à mesma.
- O que está fazendo aqui, amor? – ouvi a voz de Olivia perguntar e soltei uma risada.
Droga. Eu sou um otário.
- Eu... E-eu vim te fazer uma visita. – apoiei minha mão direita ao batente da porta, sentindo mais uma tontura me invadir. Eu me segurava para não cair de cara no chão. E estava sendo difícil, muito difícil.
Levei minha mão esquerda ao cabelo, bagunçando-o, enquanto engolia em seco.
- Você está bêbado, ? – seu tom de voz era de indignação e eu rapidamente neguei com a cabeça.
Levantei meu rosto e encarei uma Olivia com a testa franzida.
- Não, eu não estou bêbado. Eu só bebi um pouco, mas não estou bêbado. – apontei em sua direção, tentando deixar claro que eu estava em perfeitas condições. Ou não.
- Não, é claro que não! – ela rolou os olhos e eu ri mais uma vez.
- Você é tão fofa revirando os olhos. – comentei num tom risonho. Ela bufou, rindo em seguida enquanto negava com a cabeça.
- Vem. Eu vou te ajudar. – ela se aproximou de mim, puxando-me pela cintura.
Adentrei sua casa e ela fechou a porta, logo a trancando. Observei a enorme sala, mas minha observação não durou muito, já que fiquei tonto e fui obrigado a fechar os olhos.
- Acho melhor te dar um banho gelado. – Olivia disse parada ao meu lado.
Olhei-a de cima a baixo, notando que ela vestia um hobby vermelho vinho. Franzi a testa e perguntei:
- Que horas são? Por que está vestida assim?
Ela olhou para si mesma e fechou mais o hobby, abraçando seu próprio corpo.
- Ah, isso... É que como eu não pretendia sair, eu quis ficar mais confortável. E bem, me vesti assim. Eu não esperava visita às nove horas da noite. – sua sobrancelha se arqueou em minha direção, enquanto ela me lançava um olhar reprovador.
- Nove horas? – perguntei com uma voz surpresa. – Eu nem vi a hora passar.
Realmente, eu não tinha visto. Para mim, eu fiquei somente uma hora e meia no máximo na casa de Ryan. Suspirei e joguei-me no sofá branco e confortável. Senti Olivia sentar-se ao meu lado e seu olhar ser depositado sobre mim.
- Onde você estava, ? E por que bebeu assim?
- Na casa do Ryan. – respondi dando de ombros.
- E por que bebeu? – reforçou a pergunta e eu bufei.
- Porque eu gosto. Você sabe disso. – encarei-a e ela me olhava séria.
- Você nunca bebeu tanto a ponto de ficar bêbado. O que está acontecendo com você, ? – perguntou de forma amigável. – Você não é assim. Eu sinto que está estranho. Você sabe que pode me contar tudo. Antes de ser sua namorada, eu sou sua amiga.
- Eu sei, amor, eu sei. – segurei sua mão, acariciando seus dedos com o polegar. – Não aconteceu nada. Eu estou bem, acredite.
Eu queria convencer mais a mim mesmo do que a Olivia.
Seus olhos pareceram me analisar por completo por alguns minutos. Eles pareciam querer invadir a minha alma, e eu me senti um pouco intimidado com isso. Desviei meu olhar para a televisão a nossa frente e engoli em seco. Sua mão apertou a minha, dando-me a certeza de que ela estaria ali quando eu precisasse. A questão é que eu simplesmente não podia contar a verdade a ela. Eu não queria vê-la machucada por minha causa. Não queria ter que dizer que me sinto atraído por outra mulher, e ainda mais quando essa mulher é , com quem Olivia queria ter uma amizade.
- Se você não quer me contar agora, eu entendo. E eu espero o tempo que for necessário. – sua voz transbordava compreensão, e eu senti meu coração ser espremido dentro do meu peito.
Entretanto, como eu disse a Ryan, eu pretendo esquecer . Eu quero mandar de volta para onde vieram todos esses pensamentos que venho tendo e essas atrações que eu venho sentindo. Eu quero ser alguém melhor. E o primeiro passo é ficar somente com uma mulher. Olivia Hastings, minha namorada.
Assenti lentamente enquanto encarava seu rosto perfeitamente desenhado. Um sorriso de canto surgiu em meus lábios enquanto eu me aproximava mais de seu corpo. Envolvi sua cintura com meu braço e puxei sua nuca com minha outra mão. Percebendo a nossa proximidade, Olivia sussurrou contra meus lábios:
- Eu acho melhor te dar um banho e você beber um café para melhorar essa...
- Shhh... Eu não preciso de nada disso agora. – sussurrei de volta. – Preciso somente de você.
Olivia suspirou, fechando os olhos. Eu rapidamente a puxei pela nuca e a beijei com certa violência. Passei minha língua em seu lábio inferior e ela me deu passagem. Aprofundei o beijo e apertei sua cintura com a outra mão enquanto me deitava sobre seu corpo. Levei minhas mãos ao laço de seu hobby e eu o desfiz lentamente, beijando-a com fervor. Suas mãos foram até meu cabelo, posicionando-as na raiz dos meus fios e logo os puxando com um pouco de força, fazendo-me arrepiar por inteiro.
Mordi seu lábio inferior antes de separar os nossos lábios e levar os meus até seu pescoço. Um suspiro escapou de sua boca quando eu chupei sua pele, dando-lhe uma mordida em seguida. Puxei uma de suas pernas, colocando-a flexionada na altura de meus quadris, e apertei sua coxa desnuda. Distribuí beijos por seu pescoço cheiroso e macio e levei uma de minhas mãos até um dos lados de seu hobby, abaixando o mesmo lentamente. Logo seu ombro direito ficou à mostra e eu comecei a beijá-lo. Afastei o hobby, tendo a visão de seu colo e barriga. Sorri sapeca em sua direção e Olivia sorriu de volta, envolvendo meu pescoço com seus braços.
Desci meus beijos por seu colo e beijei demoradamente seu seio coberto pelo sutiã. Afastei mais seu hobby na intenção de tirá-lo por completo, e Olivia me ajudou. Ela voltou a se deitar debaixo de mim e desci uma das alças de seu sutiã, distribuindo beijos pelo seu ombro. Fiz o mesmo com o outro lado e por fim, levei minhas mãos até suas costas. Olivia arqueou um pouco as mesmas e assim, eu pude abrir o fecho de seu sutiã e tirá-lo por completo. Joguei o mesmo no chão ao nosso lado e ataquei seus lábios macios.
Nossas línguas se acariciavam enquanto eu descia minha mão por seu corpo e envolvia um de seus seios com a mesma. Dei um leve aperto e Olivia gemeu baixo contra meus lábios. Suas mãos, um pouco trêmulas, foram até a minha camisa social e a tirou com certa pressa logo depois de desabotoá-la. Ajudei-a, deslizando a camisa por meus braços, e logo meu tronco estava desnudo. Olivia encarou meu peito e abdômen com um sorriso malicioso e lentamente, ela passou suas unhas grandes pelos mesmos, distribuindo arrepios por todo o meu corpo.
Mordi meu lábio inferior e fechei os olhos. Sua mão envolveu minha nuca e puxou meu rosto, logo me dando um beijo sedento. Apertei sua cintura e desci mais minhas mãos, chegando aos seus quadris e as barras de sua calcinha que combinava perfeitamente com seu sutiã, em um tom lilás. Coloquei meus dedos indicadores por dentro de sua calcinha e comecei a puxá-la para baixo. Olivia pressionou uma perna contra a outra enquanto eu descia sua peça íntima e após tirá-la, passei meus dedos delicadamente por sua intimidade, vendo o quão excitada ela já estava.
Suas mãos rápidas foram até minha calça e desabotoaram o cinto. Ela jogou o cinto no chão enquanto me encarava e mordia o lábio inferior. Devolvi seu olhar intenso e malicioso e a ajudei a tirar minha calça quando ela abriu o botão e desceu o zíper da mesma. Joguei minha calça para o lado e tirei meus tênis e meias com meus próprios pés. Levei uma de minhas mãos até seu cabelo e puxei um pouco o mesmo enquanto voltava a beijá-la intensamente. Ela mordeu meu lábio inferior, puxando-o para si, e afastei meus lábios.
Descendo beijos novamente por seus ombros, pescoço e colo, fui até sua barriga e dei uma leve chupada, arrancando um gemi baixo de Olivia. Minha mão foi até sua intimidade e eu a acariciei. Vi quando Olivia fechou os olhos fortemente e mordeu o lábio inferior. Levei meu dedo indicador até seu clitóris e o pressionei enquanto fazia movimentos circulares lentos. Ouvi um gemido mais alto escapar da sua boca dessa vez, e isso foi o incentivo que eu precisava para continuar a tocá-la.
Apertei um pouco sua coxa com a outra mão, e abri mais suas pernas. Lentamente, penetrei-a com um dedo e com o polegar, continuei a acariciar seu clitóris um pouco inchado. Olivia sussurrou meu nome enquanto revirava os olhos e eu soltei uma risadinha baixa e maliciosa. Penetrei-a com outro dedo e comecei a movimentá-los com mais firmeza e precisão. Meus dedos escorregavam para dentro dela com facilidade e isso só me deixava ainda mais excitado. Minha cueca branca já estava marcada pelo tamanho da minha excitação, e a expressão de prazer no rosto de Olivia só me animava ainda mais.
Aumentei a velocidade dos movimentos de meus dedos enquanto pressionava seu clitóris. Com um gemido alto, e apertando meus ombros, Olivia desmanchou-se. Sorri para ela, que retribuiu com a respiração ofegante, e voltei a beijá-la com pressa. Suas mãos foram até minha cueca e ela finalmente me libertou. Senti quando meu membro encostou-se a sua barriga e ronronei um pouco, fazendo Olivia rir baixinho. Ela levou sua boca até minha orelha e mordiscou o lóbulo da mesma, enquanto eu sentia sua mão descer por meu peito e abdômen, chegando ao meu membro.
Ela envolveu o mesmo com sua mão fria e trêmula, e eu mordi meu lábio inferior, reprimindo um gemido. Olivia começou a me masturbar e eu, eufórico, ataquei seus lábios com força e violência. Meus lábios já deviam estar vermelhos e inchados, assim como os dela, mas eu não me importava. E só queria sentir prazer hoje. Pelo menos assim, eu não ficaria com a mente ocupada pensando em algo que eu não deveria. Quando eu senti sua mão acariciar a cabeça do meu membro e aumentar os movimentos no vai e vem, eu senti que estava chegando ao meu clímax.
Rapidamente, segurei sua mão e a impedi de continuar. Segurei fortemente seu quadril com uma mão enquanto erguia sua perna com a outra. Envolvi uma de suas pernas em minha cintura e a penetrei com força. Olivia arqueou suas costas, soltando um gemido alto e fechando os olhos. Suas mãos foram até minhas costas e as arranharam um pouco, fazendo-me soltar um rosnado baixo. Beijei seus lábios enquanto aumentava meus movimentos gradativamente. Sua outra perna também envolveu minha cintura, facilitando minhas investidas nela.
Olivia arranhava minhas costas e às vezes cravava suas unhas em meus ombros enquanto eu apertava seus quadris e continuava a me movimentar cada vez mais fundo e mais rápido. Levei meus lábios ao seu seio esquerdo e o beijei, logo dando algumas sugadas e mordidas, enquanto acariciava o bico de seu outro seio com o polegar. Fiz as mesmas carícias em seu seio direito e subi meus beijos até seu pescoço e depois ao seu queixo, dando uma leve mordida.
Uma camada de suor tomou conta da testa de Olivia e eu passei meus dedos, enxugando-a. Ela sorriu e fez o mesmo comigo, mas continuando a acariciar meu rosto em seguida. Repentinamente, senti Olivia começar a mexer seus quadris contra os meus e os nossos movimentos se intensificaram. Levei meu dedo polegar até seu clitóris e voltei a massageá-lo enquanto ainda saia e entrava nela. Seu interior se apertou ao meu redor e Olivia arqueou as costas, gemendo alto.
Percebendo que ela havia atingido seu clímax, continuei investindo, e logo alcancei o meu também. Soltei um gemido rouco e arrastado enquanto gozava e mordi seu lábio inferior com um pouco de força. Os espasmos tomaram conta do meu corpo antes de eu desabar sobre o corpo de Olivia, tomando cuidado para não depositar meu peso sobre ela. Deitei minha cabeça em seu peito e respirei fundo, tentando controlar meus batimentos cardíacos, assim como Olivia fazia. Seu coração acelerado batia em meu ouvido e eu depositei um pequeno e rápido beijo em seu seio, sentindo suas mãos acariciarem meu cabelo molhado pelo suor. Senti seu sopro lento sobre minha testa e fechei os olhos, enquanto abraçava seu corpo.
Sorri bobo ao sentir suas carícias em meu cabelo e suspirei. Levantei meu rosto e encarei seu rosto sereno me observando. Olivia esboçava um lindo sorriso nos lábios carnudos e eu lhe dei um selinho demorado.
- Você é maravilhoso. – ela sussurrou e eu sorri, acariciando sua bochecha com meu polegar.
- É, eu sei. – respondi.
- Metido. – ela disse e rimos juntos.
Voltei a beijá-la e como um flash, vi a imagem de sentada no sofá, exatamente do jeito que ela estava quando eu saí do apartamento. Entretanto, seus olhos estavam tristes e eu parecia estar parado à frente dela, já que ela me encarava. Seus olhos estavam marejados e ela negava lentamente com a cabeça. Em desespero, abri meus olhos e separei meus lábios dos de Olivia. Franzi minha testa e passei minha mão pelo cabelo, suspirando.
- Está tudo bem, ? – ela perguntou.
- Sim, está tudo bem. – afirmei rapidamente.
Não, não está tudo bem. Acho que a bebida não pegou muito bem, ou eu realmente estou ficando louco e tendo alucinações.
Wright’s POV
Então é isso. Aqui estou eu, jogada nesse sofá enquanto está por aí. Ah, não, espera. Por aí não. Está acompanhado de Olivia Hastings, mais conhecida como seu lindo amor. Suspirei, colocando o notebook sobre a mesinha de centro, e me levantei. Fui até a janela e fiquei observando a vista lá de cima. Já era noite e eu estava sozinha. Eu já tinha até me esquecido de como era a sensação de se estar só. Por quase um mês, eu venho tendo a companhia de . Quando ele sai ou passa a noite fora, é como se eu voltasse um tempo atrás e sentisse as mesmas coisas quando eu morava sozinha: solidão, rejeição e baixa autoestima.
Nos momentos como esse, eu simplesmente pegava um livro ou alguma matéria da faculdade e me sentava na beirada da janela, tomando um chocolate quente enquanto lia. Mas agora, é como se eu não soubesse o que fazer. Eu fico encarando o teto, ou a parede branca ou até mesmo a janela, à procura de algo para me distrair e fazer o tempo passar mais rapidamente. É, eu sou uma idiota. Nem sequer sei como consigo ser tão sentimental na maioria das vezes.
Cruzei os braços e balancei a cabeça, afastando-me da janela. Um som ao fundo me fez acordar de meus pensamentos e eu franzi o cenho, sem saber de onde ele vinha. Como um estalo, lembrei-me de meu celular e comecei a procurá-lo pelo apartamento. Seguindo o som, eu fui até meu quarto. Entrei no mesmo e o som ficou mais alto. Aproximei-me de minha cama e me agachei, vendo meu celular jogado ali debaixo. Peguei o mesmo e franzi a testa, sem saber como ele foi parar lá.
Encarei o aparelho em minha mão e quando vi quem era, meus olhos se arregalaram e quase saltaram do meu rosto. O nome “” pareceu estar escrito em letras neon gigantes e senti meu coração saltitar. Levantei-me do chão e andei de um lado a outro pelo quarto, sem saber o que fazer. Eu atendo ou não? Eu espero mais um pouco para entender ou atendo logo? Eu me faço de difícil ou simplesmente deixo rolar? Oh, céus! Que confusão.
Dane-se. Eu vou atender.
Com as mãos ainda trêmulas, levei meu dedo até a tela do celular e atendi a ligação. Levei o aparelho até a orelha e prendi minha respiração, sentindo meu coração quase sair pela minha boca já seca.
- Wright. – seu tom era sedutor e tive que me sentar na cama para não desabar no chão.
- Carter. – repeti sua fala, mas com a voz um pouco falha, o que o fez rir um pouco.
- Desculpe-me ligar essa hora. Atrapalho em algo? – perguntou.
- Não! – respondi depressa, quase como um grito. Percebi minha exaltação e respirei fundo, voltando a falar: - É claro que não está me atrapalhando. Eu não estava fazendo nada mesmo.
- Ah, ótimo. Como a senhorita está? – sua voz tranquila quase me fazia derreter, e o sorriso simplesmente não saia do meu rosto.
- Estou bem, e você?
- Melhor agora falando com você.
Prendi a respiração por um momento, sem acreditar no que tinha ouvido. Percebendo meu silêncio, ele voltou a falar:
- Bom, espero que não tenha esquecido o nosso compromisso de amanhã.
- Não esqueci. – respirei mais aliviada ao mesmo tempo em que meu coração voltava aos seus batimentos normais.
- Que bom, porque eu estou muito ansioso para te ver. Desculpe-me dizer isso.
Meu sorriso se alargou e eu pigarreei um pouco antes de responder.
- Eu também estou muito ansiosa.
- Aposto que você estará muito bonita. Na verdade, você é linda, .
Tirei rapidamente o celular da orelha e reprimi um gritinho enquanto rodopiava pelo quarto. Eu mais parecia uma adolescente com os hormônios saltitantes do que uma mulher, mas eu não conseguia conter a animação e a surpresa por ele estar me dizendo esse tipo de coisa. Meu corpo parecia estar em êxtase e eu tinha vontade de sair pulando e gritando aos quatro ventos que Carter me acha bonita e que me chamou para sair.
Levei o celular até minha orelha novamente e disse:
- Obrigada, . Você está me deixando constrangida falando isso. – confessei e ele riu.
- Ser sincero faz parte da minha personalidade, . Eu estou apenas falando a verdade. E hoje quando eu te vi na faculdade, vestida daquele jeito, eu fiquei muito surpreso. Eu não imaginava que você fosse tão atraente. O que te fez mudar tão de repente? – sua voz transbordava curiosidade e eu me segurei para não lhe contar a verdade. A verdade de que eu estava fazendo tudo aquilo só por causa dele.
- Eu não sei. Acho que eu estava cansada do jeito que eu era, sabe? Às vezes, a mudança é necessária. – dei de ombros, enquanto andava de um lado a outro no quarto.
- Entendo. E eu tenho que confessar que gostei muito da sua mudança. – sorri ao ouvir suas palavras. – Ah, , desculpe-me, mas eu tenho que ir agora. Tenho algumas coisas da faculdade para fazer. Vejo-te amanhã, certo?
- Certo. – afirmei prontamente.
- Okay. Tenha uma ótima noite.
- Você também, . – sorri boba.
Ouvi-o desligar a ligação e fiz o mesmo. Joguei-me na cama e sorri, fechando os olhos. Eu ainda não acreditava que tinha falado com ao telefone. Eu tinha escutado sua voz no telefone pela primeira vez, e ela era tão... Tão perfeita.
No dia seguinte, fui à faculdade, mas não falei com . Na verdade, nem o vi pelos corredores. Acho que também pelo fato de eu ter ficado com e e contado tudo a eles. Em algum momento eu devo ter passado por , mas nem percebi. Depois que o sinal do fim da última aula tocou, meus amigos e eu nos encontramos perto do meu armário e caminhamos juntos até a saída da universidade. Do lado de fora, segurou-me pelo braço.
- Você tem que arrasar hoje! Escolha o seu melhor vestido. Se quiser, eu posso te ajudar. Tem que ser um vestido maravilhoso e de preferência, um dos novos que nós compramos. Aqueles são lindos e um deles vai ficar perfeito para a ocasião! – ela falava tudo rapidamente e eu apenas assentia, rindo baixo. – E por favor, não exagere na maquiagem! Você não vai querer parecer com um palhaço, não né?
Neguei com a cabeça e ela assentiu. – Ótimo. Use um sapato confortável. Se não quiser usar um salto, use pelo menos sapatilhas. Sem tênis, por favor! Já que é um restaurante japonês, não vejo necessidade de muito exagero no vestido e na maquiagem. Use algo confortável, mas que te deixe bonita ao mesmo tempo.
- Okay, respira um pouco, amor! – a interrompeu, acariciando seus ombros. – Acho que a já entendeu.
- É que ela não pode errar. Ela tem que impressioná-lo!
- Mas eu já entendi, . E prefiro até que para você se sentir mais calma, você me ajude. O vai passar lá em casa por volta das oito horas. Então, você pode ir por volta de umas seis e meia para me ajudar. O que acha?
me olhou animada e me abraçou. – Ótimo, ótimo! Assim eu fico mais tranquila para que você não erre nada.
- Meninas, aquele lá não é o carro do ? – ouvi a voz de perguntar e me afastei de .
Olhei na mesma direção que ele e franzi a testa. Avistei a Ferrari azul dele e confirmei com a cabeça.
- O que ele está fazendo aqui? – perguntei.
- Só há uma forma de saber. Vamos falar com ele.
me puxou pelo braço e eu ajeitei minha bolsa em meu ombro. Nós nos aproximamos do carro e assim que estávamos bem perto, o vidro foi se abaixando, dando-nos a visão de lá dentro. Ele usava óculos escuros que me impediam de olhar seus olhos, mas que lhe davam um ar... Sexy.
Ele sorriu em nossa direção e passou a mão no cabelo, arrumando alguns fios fora do lugar.
- Hey, ! – o cumprimentou.
- Hey, . – ele disse sorridente.
Abriu a porta do seu lado e saiu, vindo abraçá-la.
- E aí, cara? – cumprimentou , fazendo um aperto de mãos desconhecido por mim.
- O que você está fazendo aqui? – perguntei nem lhe dando a oportunidade de me cumprimentar.
colocou as mãos no bolso da calça e ficou me encarando por trás de seus óculos.
- Eu vim te buscar. Algum problema nisso?
Confusa, franzi a testa e o encarei como se ele fosse maluco.
- Você está de acordo com as suas faculdades mentais? – perguntei e ele deu uma risadinha.
- É claro que sim, . Por que a pergunta?
- Você parece doido. Ontem mesmo deu crise comigo e saiu quase batendo a porta na minha cara, sem nem me responder direito. E hoje, você vem me buscar na faculdade como se nada tivesse acontecido?
Notando que o clima estava bem tenso, e se entreolharam e deram as mãos.
- Acho melhor nós irmos. e eu temos que fazer algumas coisinhas antes de eu ir para a sua casa. – disse e se aproximou, dando-me um beijo na bochecha. – Vejo você às seis e meia. Tchau, .
- Tchau, . – respondeu com um sorriso simpático.
e ele acenaram um para o outro e então, meus amigos se afastaram. Encarei novamente, com a sobrancelha arqueada e cruzei os braços.
- E então... Ainda estou esperando sua resposta.
Ele bufou e cruzou os braços também.
- Será que nós não podemos simplesmente esquecer o que aconteceu ontem? Eu só estava num dia ruim.
Soltei uma risada debochada e vi travar o maxilar. – Dia ruim?! Então só por que o seu dia estava uma merda, você decidiu descontar em mim? Muita maturidade da sua parte, huh?
- , por favor...
- Por favor uma ova! Você é ridículo, ! – falei um pouco alto e algumas pessoas que estavam em volta, ficaram nos olhando.
fez uma careta e levou uma das mãos até a cabeça. – Só não grite. Eu estou com uma dor de cabeça filha da puta.
- E posso saber por que está com dor de cabeça? – perguntei séria, batendo meu pé no chão.
- Eu bebi demais ontem. – falou com uma voz entediada.
- E por que bebeu? Ah, não, espera! Porque não sabe enfrentar os seus problemas como uma pessoa normal. Vocês, homens, são uns idiotas!
- Você nem sabe o motivo de eu ter bebido! Não pode falar nada! – ele aumentou seu tom de voz, mas logo outra careta demonstrou que não foi algo bom a ser feito. Com certeza, sua cabeça devia estar latejando, mas eu não dava a mínima.
- Então me fale o motivo! Por que você bebeu?
- Eu não vou te falar nada! Pare de agir como se fosse a minha mãe. Eu já sou um adulto!
- E que lindo exemplo de adulto, huh? – ri debochada e o vi fechar os punhos.
Ui, parece que alguém está ficando nervoso.
- , vai tomar no meio do seu...
- Alto lá! – o interrompi – Ouse completar essa frase e eu meto a mão na sua cara.
Apontei em sua direção e ele suspirou, derrotado.
- Será que você pode, por favor, esquecer toda a confusão de ontem e entrar nessa porra desse carro?
- Não vou entrar no seu carro! Prefiro ir andando a entrar aí.
- Para de infantilidade, Wright!
- Para você, .
- Não me faça te obrigar a entrar no carro! – ele disse irritado e eu o olhei com desdém. – Caralho, que garota teimosa! Eu devo ter jogado pedra, cuspido e grudado chiclete na cruz para merecer uma coisa dessas!
- Se não está satisfeito, se manda. Não mandei você vir me buscar. É só dar meia volta com o seu lindo carro e ir embora.
- Eu só quis te fazer um favor e é assim que você me agradece? Puta que pariu! – passou as mãos no cabelo, demonstrando sua irritabilidade.
- Não tenho que te agradecer por nada. E me dê licença, pois um táxi está se aproximando e eu quero voltar para casa ainda hoje. Não vou passar o resto da tarde discutindo com você.
Afastei-me dele e fiquei na beirada da calçada.
- Táxi! – gritei assim que vi um táxi se aproximando e estiquei minha mão.
- Não faça isso, . Deixa de ser orgulhosa. – escutei dizer ao meu lado, mas o ignorei.
O táxi parou a minha frente e eu abri a porta para entrar, mas meu ato foi interrompido com braços envolvendo minha cintura.
- Ei, me solta, ! – disse nervosa, tentando me desvencilhar de seus braços. Ele fechou a porta que eu tinha aberto, sem dificuldade alguma.
- Eu não vim até aqui para nada. Você vai entrar naquela porra de carro por bem ou por mal.
Ele me puxou pela cintura enquanto ia em direção ao seu carro. Olhei para o motorista que nos olhava assustado.
- Senhor, por favor, me ajuda! Mande esse maluco me soltar! – fingi com uma voz chorosa enquanto me debatia.
- Não se preocupe, senhor. Ela é só minha irmã mais nova. Muito teimosa, por sinal. – disse e a minha vontade foi de estapeá-lo pela mentira deslavada. – Pode ir. Eu vou levá-la para casa.
O motorista assentiu e eu bufei. Logo o táxi foi embora e abriu a porta de seu carro, praticamente me jogando lá dentro. Por conta de tanta delicadeza de sua parte, minha bolsa acabou caindo no chão.
- Isso, , parabéns! – bati palmas enquanto o fuzilava com o olhar.
Ele bufou, irritado, e pegou minha bolsa do chão. Jogou-a no meu colo e então, bateu a porta ao meu lado. Ele deu a volta pela frente e sentou-se no banco do motorista, logo ligando o carro. Repentinamente, o rádio do carro ligou a todo volume e eu tampei meus ouvidos com as mãos. soltou uma risada da minha careta e esticou seu braço, desligando o som.
- Acho que você não tem ideia do quanto é prejudicial ouvir o som nessa altura. – coloquei o cinto de segurança. – Sinto pena dos seus ouvidos.
- Estava tocando minha música favorita. Não preciso dizer mais nada.
O carro começou a se mover e eu bufei, afundando meu corpo no estofado do banco.
- Espero chegar viva em casa. – comentei ao me lembrar da direção perigosa de .
riu sarcasticamente e disse:
- Engraçadinha. O seu humor ácido me encanta, . – seus olhos estavam vidrados na rua.
- É bom saber que te agrada, querido. É uma das coisas que você não vai mudar em mim. – disse séria, olhando em sua direção.
Ele devolveu meu olhar e balançou a cabeça em negação.
- E quem disse que eu quero mudar isso em você?
- Só estou dizendo. – dei de ombros. – Posso mudar por fora, mas pretendo preservar a minha personalidade.
- Personalidade forte, por sinal. – comentou com seu tom rouco.
- Vou levar isso como um elogio.
- Mas é um elogio. Acho a sua personalidade muito bacana. – ele disse casualmente enquanto fazia a curva, entrando na rua do nosso prédio.
- Muito bacana? – arqueei a sobrancelha, observando-o. – E isso é algo que uma pessoa diga? Acho que isso nem pode ser considerado um elogio.
- E preferia que eu dissesse o quê? – ele parou em frente ao portão da garagem, enquanto a mesma se abria. – Que a sua personalidade é instigante, sensual, excitante? – olhou-me e um sorrisinho sacana e bem discreto apareceu em seus lábios rosados.
- Você não presta. – comentei, de braços cruzados e balancei negativamente a cabeça.
- Relaxa e goza, . – seu tom sedutor me fez arrepiar, e eu decidi ignorar seu comentário enquanto ele adentrava a garagem com seu carro.
Nada mais podia me distrair hoje. Toda a minha atenção devia ser direcionada a apenas uma pessoa: . E é claro, o nosso encontro.
Capítulo 14 – O Primeiro Encontro de Três
Subi até o apartamento e joguei minha bolsa no sofá assim que entrei. Fiquei andando de um lado a outro, passando as mãos pelos cabelos. Suspiros escapavam de meus lábios. É, eu estou nervosa. E ansiosa, agitada, pensativa e com um pouquinho de medo. Eu não sei ao certo o que sentir. É uma mistura de sentimentos que eu não posso evitar. Só de lembrar que faltavam apenas algumas horas para que eu tivesse o meu primeiro encontro com , minhas pernas já tremiam. Depois de dois anos com essa paixonite, finalmente eu vou conseguir o que tanto quis: sair com Carter.
Fui até a geladeira e peguei a jarra d’água. Enchi um copo e bebi praticamente toda a água de uma só vez. Coloquei o copo dentro da pia e apoiei minhas mãos sobre a bancada da mesma. Fechei os olhos e respirei fundo com a cabeça baixa. Senti a presença de alguém ao meu lado. Sabendo que se tratava de , continuei na mesma posição, sem mover um músculo sequer.
Até que a voz dele acabou com o silêncio.
- Olha, eu não sou psicólogo nem nada, mas está obviamente claro que você está passando por uma crise de nervosismo e ansiedade pelo seu tão sonhado encontro.
Levantei minha cabeça e o olhei.
- Não me diga. – falei com deboche.
- E isso é pura frescura da sua parte. – completou e eu rolei os olhos.
- Eu não estou com paciência para você agora, . Então, por que não vai dar uma voltinha por Nova York ou qualquer coisa, e me deixa sozinha? Tudo bem para você?
- Okay, okay! – ele levantou as mãos em rendição. – Eu só estava pensando que... Não sei... Eu podia te ajudar com algumas coisas antes de você ir encontrá-lo.
Franzi a testa e cruzei meus braços, virando em sua direção.
- Como o quê?
O corpo de estava encostado à bancada da pia e estava de frente para a janela da sala. Ele estava com os braços cruzados e tinha uma pose de sabe-tudo.
- Eu podia fingir ser o e você conversaria comigo exatamente do jeito que pretende conversar com ele. Seria a simulação de um encontro. – propôs e eu fiquei lhe encarando enquanto pensava.
- Tudo bem. Isso pode dar certo.
Ele sorriu esperto e eu rolei os olhos.
- É, eu sei. Minhas ideias são ótimas.
- Sem se achar, por favor. E vamos logo com isso. – o apressei e fui até a sala. – Por onde começamos?
- Pelo começo. – respondeu num tom brincalhão.
- Nossa, que engraçado. Morri de rir aqui.
- É, minhas piadas são as melhores também. Eu podia ser comediante ao invés de trabalhar com o meu pai. – pôs a mão no queixo com uma expressão pensativa.
- Você ia morrer de fome. Vai por mim, continue a trabalhar na empresa do seu pai. É um conselho que te dou. – toquei seu ombro num gesto amigável e revirou os olhos.
- Vamos logo, então. Eu vou sair e bater à sua porta. – disse se aproximando da porta do apartamento, abrindo-a em seguida. – Por favor, haja de uma forma atraente. Não me desaponte.
Bufei e o empurrei para fora, fechando a porta em sua cara. Ri internamente de sua cara de idiota e fiquei parada, esperando o momento em que ele anunciaria sua chegada. Esperei e esperei e nada. Impaciente, fui até a porta e abri. Tive a visão de encostado à parede ao lado da porta, mexendo em seu celular.
- ! – chamei sua atenção. – Larga esse celular agora e me ajuda. Que cacete, viu?!
Ele riu e me olhou curioso. – O quê? Wright falando palavrão? Essa é nova.
Bati a porta e cruzei os braços, voltando a esperar a boa vontade da pessoa do outro lado. Ouvi suas batidas e respirei fundo. Abri a mesma e vi com uma das mãos no bolso da calça e a outra apoiada no batente da porta. Ele levantou sua cabeça, e por um momento, tudo pareceu acontecer em câmera lenta. Lançou-me aquele sorriso malicioso junto a um olhar sedutor e eu engoli em seco, sentindo minhas pernas tremerem.
Oh, droga.
- Wright. – ele disse com sua voz tipicamente rouca. Um arrepio percorreu minha espinha.
- Carter. – forcei-me ao máximo para não gaguejar, mas foi impossível. Balancei a cabeça negativamente e bati com a mão em minha testa.
- Sem gaguejar, . – me repreendeu.
- Eu sei. Desculpe-me.
- Voltando. – falou e eu assenti. – Wright. – repetiu.
- Carter. – falei com a voz mais firme.
- Espera! – disse repentinamente. – É desse jeito que ele te chama, não é?
- Sim. Ele me chama de também, mas isso é só no decorrer da conversa. Quando ele vem falar comigo, sempre se refere a mim pelo nome e sobrenome.
assentiu. – Certo. Vamos continuar. – ele voltou a me olhar de forma intensa e eu levei minhas mãos para trás do corpo, tentando esconder minha pequena tremedeira. – Será que eu posso entrar?
- Claro. Fique à vontade. – dei espaço a ele.
entrou e eu fechei a porta. Ele olhava tudo em volta como se estivesse ali pela primeira vez, e eu reprimi uma risada.
- Gostei da sua casa... – comentou – É bem aconchegante.
- Obrigada. – sorri agradecida.
- Imagino as sacanagens que poderíamos fazer aqui... Seu sofá é confortável? Sua cama é bem resiste a movimentos bruscos? – perguntou e meus olhos se arregalaram.
- ! O nunca falaria isso!
- Ah, não? Desculpe. – deu de ombros. – Eu, pelo menos, falaria.
- Mas a questão aqui não é ser você, e sim, ele.
ignorou minha fala e apontou para o sofá.
- Será que eu posso me sentar?
Assenti com a cabeça e ele se sentou. Chamou-me com a mão e eu me sentei ao seu lado.
- Então, ... – surpreendi-me um pouco ao ouvi-lo me chamar pelo meu apelido, mas tratei logo de voltar a minha expressão normal. Ele só estava agindo como Carter. É, eu posso aceitar isso. – Fale mais sobre você. O que você gosta de fazer quando não está na faculdade?
Ajeitei-me no sofá e disse:
- Bom, eu gosto de ler um bom livro enquanto bebo um delicioso chocolate quente ou um chá. Gosto de ir ao parque, sentir o vento batendo em meus cabelos. – sorri ao lembrar-me da sensação de liberdade. – Gosto de assistir alguns documentários também, mas especialmente sobre psicologia. Gosto de procurar curiosidades na internet, e o principal: Gosto de ouvir música. Muita música mesmo. Digamos que eu respiro música. – soltei uma risadinha.
Levei meu olhar até e ele me olhava com a testa franzida e os olhos indecifráveis.
- O que foi? – perguntei.
- Nada. – balançou a cabeça. – Você é bem quieta, huh? Gosta de ficar em casa, não sai para festas ou baladas. Prefere ficar sozinha?
- Exatamente. Eu não sou antissocial, eu só... Sou bem seletiva em relação às minhas amizades.
assentiu e ficamos em silêncio.
- ! – falei repentinamente. – E se o quiser me beijar?
- Mas eu sou o . – ele respondeu num tom brincalhão.
- Eu estou falando sério. O que eu faço?
- Isso vai depender de você. Eu acho que já te ensinei como você deve fazer.
Suspirei e escondi meu rosto em minhas mãos.
- Você quer beijá-lo? – sua voz curiosa perguntou e eu levantei meu rosto para encará-lo.
- E-Eu não sei...
- Faça o que achar que deve fazer, . Só quero que lembre que você não é qualquer uma. Você é diferente. Não pode deixá-lo fazer o que ele quiser. Tem que deixar claro que ele deve te respeitar acima de tudo e que antes de fazer qualquer coisa, tem que ter o seu consentimento. – ele dizia calmamente. – Eu falo isso porque eu sou homem. Eu sei o quão longe nós podemos ir para, infelizmente, satisfazer as nossas vontades e desejos. Só não se deixe levar por palavras bonitas. Muitas vezes, usamos artifícios como esses, para atrair alguém. E depois simplesmente... Jogamos fora.
Dito isso, me lançou um último olhar de compreensão e se afastou, saindo de minha visão. Ele tem razão. Se disse isso, é porque é verídico. Suspirei e fui até o meu quarto. Peguei meu celular e liguei para o meu pai. Eu precisava ouvir a voz dele. Depois de mais ou menos uma hora, eu voltei até a sala e fui até a pequena cozinha. estava de costas, sem camisa e com um boné preto virado para trás. O cheiro de comida invadiu o meu nariz e eu fiquei parada, encostada ao balcão, enquanto o observava.
Observei as tatuagens em suas costas e fui descendo o olhar até quase sua bunda, onde por mais uma vez, eu vi sua cueca da Calvin Klein. Eu já estava até acostumada com o jeito que ele vestia suas calças quase nos joelhos e sua cueca ficava praticamente à mostra para qualquer um apreciar. Mordi os lábios ao ver os furinhos que ele tinha no final das costas, um pouco acima da bunda. Até suas costas eram lindas. Minha vontade era de simplesmente chegar por trás e beijar cada mínimo pedacinho de pele e depois passar as pontas das minhas unhas curtas por toda a sua extensão. Meus olhos foram até sua bunda redondinha e eu imaginei meus dedos deslizando sobre sua pele macia e quente. Balancei a cabeça e acordei dos meus pensamentos meio sujos.
Eu já estou começando a me estranhar. Nunca fui de ter pensamentos como esses com alguém. Nem mesmo com .
Sentei-me em um dos bancos, e no instante seguinte, se virou. Ele sorriu maroto sem nem me olhar, e continuou a picar as verduras e legumes bem em frente a mim.
- Eu não sabia que estava aqui, . – o tom de sua voz era malicioso e o sorriso não saía de seus lábios.
Não sabia?! Conta outra!
- Estou sabendo. – falei num tom de ironia e ele riu, negando com a cabeça. – Você sempre percebe tudo. Deve ter algum tipo de sensor de presença implantado no seu cérebro.
- Ou na minha bunda, já que era para ela que você estava olhando. – o fluxo de sangue nas minhas bochechas aumentou e uma enorme vergonha tomou conta do meu corpo.
- Você não tem como afirmar isso. – dei de ombros.
- Eu sei que você estava secando a minha bunda. Nem tente me enganar. – ele jogou os legumes na frigideira e virou-se novamente para mim. – Mas eu tenho que admitir que ela é bonita, não é? Minhas antigas namoradas tinham uma certa fissura por ela.
- Você é ridículo. – disse com raiva por seu comentário.
- Posso até ser, mas que você estava me secando... Ah, estava!
Revirei os olhos e me levantei.
- Fique aí se gabando sozinho. Não tenho paciência para isso.
Ouvi sua risada enquanto eu me afastava e ia até meu quarto.
~°~
- Não, ! Tire isso agora! Esse vestido não ficou legal! – dizia quase num tom desesperado, e eu ri de sua careta.
- Mas eu gostei tanto dele. – fiz bico e ela me olhou como se eu tivesse cometido a maior gafe do mundo.
- Você não pode estar falando sério. Por favor, me diga que está brincando comigo.
Gargalhei e me pus a tirar o vestido. – É claro que eu estou brincando. Eu só queria ver o que você ia falar.
Ela revirou os olhos e foi até o meu armário. Pegou todos os vestidos ali pendurados e os jogou sobre minha cama.
- Essa lingerie está ótima. Pelo menos nisso você acertou. – ela comentou enquanto se aproximava de mim com mais um vestido e o colocava à frente de meu corpo.
- Até eu me surpreendi comigo mesma. – disse num tom de surpresa e riu.
Depois de alguns minutos vestindo vestidos e mais vestidos, deu um grito e eu a olhei, assustada.
- Esse! É esse! Esse está perfeito em você! – ela comemorava enquanto me girava. Parei de girar no momento em que fiquei tonta e já quase trocava os olhos. – Eu sabia que nós íamos achar o vestido perfeito.
Sorri e fui até o espelho. Olhei meu reflexo e sorri ainda mais, passando minhas mãos pelo tecido do mesmo.
- Ele realmente ficou muito lindo. – comentei ao ver os desenhos das flores, espalhados pela renda azul.
Passados longos minutos fazendo a minha maquiagem e arrumando o meu cabelo, sorriu orgulhosa ao ver o seu trabalho finalizado.
- Você está perfeita! Vamos escolher o sapato agora. Acho que uma sapatilha delicada combina perfeitamente com o vestido. Não há necessidade de sapato alto.
Apenas assenti, vendo-a indo em direção à minha sapateira. voltou com as sapatilhas de um tom claro, quase um creme. Calcei-as e pus uma pulseira e um brinco dourado. Olhei meus cabelos pelo espelho e vi o lindo trabalho que havia feito. Eles estavam ainda mais ondulados, quase formando perfeitos cachos, e caiam sobre meu ombro. A maquiagem combinava com o vestido, mas não era muito forte, apenas realçava meus olhos e cílios cobertos por rímel. Nos lábios, um batom claro os cobria. E nas bochechas, um pouquinho de blush para deixá-las mais rosadinhas.
Tudo estava perfeito. Eu não conseguia acreditar que era eu quem estava sendo refletida ali. Wright estava completamente diferente do seu normal.
- Você está magnífica, amiga! O vai cair duro quando te vir assim. E não estou falando de modo malicioso! – ri de seu comentário e a abracei.
- Obrigada, . Obrigada por tudo, mesmo.
- Amigas são para essas coisas, não são? – ela disse sorrindo e eu assenti, segurando-a pelas mãos.
(...)
- Eu tenho o prazer de apresentá-lo, minha querida e belíssima amiga, ! – fez toda uma cerimônia antes de sair da minha frente, deixando que me visse por completo.
O olhar dele caiu sobre meu corpo e sua boca se entreabriu enquanto ele levantava do banquinho. Aproximei-me lentamente e parei um pouco a sua frente. me olhava de cima a baixo, parecendo não acreditar no que via. Envergonhada, encarei os meus pés e entrelacei as mãos por trás de meu corpo. Vi quando estendeu sua mão até meu queixo e levantou meu rosto. Encarei seus olhos e ele disse:
- Você está linda. – sua voz tranquila me fez suspirar.
- Obrigada, . – agradeci ainda com minhas bochechas ruborizadas.
A campainha tocou e eu arregalei um pouco meus olhos. Na mesma hora, lembrei-me de ter avisado a Ezequiel sobre , para que ele o deixasse subir.
- Nós vamos ficar aqui na sala. Só finja que não estamos aqui. – disse com uma voz amigável e eu assenti.
desviou o olhar do meu e soltou meu rosto. Deu alguns passos para trás e eu respirei fundo antes de caminhar até a porta. Estendi minha mão e toquei a maçaneta por alguns segundos, antes de finalmente girá-la e abrir a porta. Logo tive a visão do rosto de . Ele esboçava um lindo sorriso e com os olhos espertos, observou meu corpo de cima a baixo antes de voltar para meu rosto.
- Wow, você está linda! – elogiou-me. – Acho que vou deixar os outros homens com inveja hoje.
Ri fraco de seu comentário. – Obrigada, . Você também está lindo.
Observei a camisa polo que ele usava, exatamente da mesma cor que o meu vestido. Usava também uma calça jeans num tom mais claro e um sapatênis de cor creme.
- Parece que combinamos as roupas. – ele disse exatamente o que eu pensava e eu ri.
- É, parece que sim.
- Bom, vamos? – sugeriu e eu assenti.
Acenei discretamente para e e saí de casa. ofereceu-me seu braço e eu sorri, entrelaçando meu braço no dele. Chegamos ao térreo do prédio e fomos até a porta de vidro, onde eu vi um carro estacionado logo à frente. Aproximamo-nos e soltou meu braço para abrir a porta para mim. Achei seu ato muito fofo e cavalheiro, e sorri agradecida.
- Conheça o meu bebê. Meu pai me deu de presente de aniversário há pouco tempo.
Observei a Lamborghini prateada a minha frente e fiquei um tanto encabulada. Eu não sabia que era de família rica.
- É um belo presente. – comentei.
Com a porta já aberta, eu me sentei e fechou a porta. Logo ele estava sentado ao meu lado, ligando o carro. Lançou-me um lindo sorriso que quase me fez derreter por inteira. Por um momento, durante o percurso até o restaurante japonês, esticou sua mão e tocou a minha. Olhei para nossas mãos, com meu corpo um pouco trêmulo, e apertei sua mão de volta.
Estou com uma leve impressão de que esse encontro será lembrado por mim para sempre.
’s POV
Eu estou inquieto. Não somente inquieto. Eu estou incomodado também, e com uma pontinha de raiva. Eu não sei por que, mas estou ligeiramente preocupado com . Ela estava muito linda, e estar muito linda perto de homens, é perigoso. Não estou me sentindo bem ao saber que ela ficará sozinha por horas com um homem, que até ontem, praticamente nem sabia de sua existência. Quem já está se arrependendo desse plano todo sou eu. Eu andava de um lado a outro enquanto pensava nas inúmeras tentativas de em tocá-la, em beijá-la e até em... Levá-la para cama.
Eu não estava gostando nada dos possíveis artifícios que ele poderia usar com ela. Eu sei que qualquer sorriso, qualquer toque ou carinho, palavra e até beijo poderia mexer com o sentimental de . Ela é fraca. Ela não vai conseguir dizer não caso precise. Ela não vai fazê-lo parar. E esse pensamento me invadia a mente a cada segundo que se passava, e eu não conseguia parar. Só de imaginá-lo tocando, beijando ou até transando com , meu sangue esquentava nas veias e meus punhos se cerravam. Uma pontada de um sentimento que eu não simpatizava nem um pouco, tomou meu coração. Ciúmes.
Ela é a . Ela é inexperiente e ingênua. E o principal: ela é minha amiga.
Em passos rápidos, peguei a chave do meu carro no porta-chaves e abri a porta de casa. me olhou confusa e veio até mim, segurando-me pelo braço.
- Aonde você vai, ? – ela perguntou e eu a encarei. – O que pensa que está fazendo?
- Eu vou atrás da . Vou seguir aquele carro.
arregalou os olhos e me segurou com mais força.
- Nem pensar! Você tem que deixá-la seguir o seu caminho e ser feliz com o ! Ela está apaixonada por ele. Não estrague um dos momentos mais importantes na vida dela.
- Eu sei! Eu sei! Eu sei que ela está apaixonada por ele, mas eu tenho que estar lá para ajudá-la no que ela precisar. E se ele quiser abusar dela ou fazer qualquer outra coisa sem o seu consentimento?
- Ele não vai fazer isso, . é um cara legal e um cavalheiro. Ele vai saber como respeitá-la.
A certeza em sua voz só me deixou com mais raiva e ciúmes.
- E quem te garante isso? é muito especial para mim, e eu vou protegê-la contra tudo e contra todos! – dito isso, soltei-me de seu braço e saí porta a fora.
Seguindo o carro de , cheguei ao restaurante japonês. Estacionei o carro um pouco longe do dele para que não me vissem. Vi quando eles saíram do carro e entrelaçaram as mãos enquanto caminhavam até a entrada do estabelecimento. Quando os dois passaram pela porta dupla, eu tirei o cinto de segurança e saí do carro. Em passos lentos, fui até a porta e a abri, entrando em seguida. Vasculhei o local com os olhos, e vi e se sentando a uma mesa quase no centro.
Fui até uma mesa no canto – que me dava uma ótima visão de todo o restaurante – e me sentei. Logo, uma garçonete japonesa veio em minha direção. Ela usava o uniforme preto e vermelho e tinha os cabelos em um corte Chanel. Seu cabelo era extremamente liso e ela parou ao meu lado, com um sorriso simpático.
- Boa noite. O que gostaria de pedir? – perguntou com seu legítimo sotaque.
Olhei-a e forcei um sorriso. – Por enquanto, nada. Mas obrigado.
- Quando quiser pedir, é só me chamar. – avisou.
- Okay. Obrigado mais uma vez. – assenti com a cabeça e ela se afastou, dando-me novamente a visão da mesa de .
Encolhi-me um pouco na cadeira, ficando meio deitado, e peguei o cardápio. Coloquei o mesmo em frente ao meu rosto e passei a observá-los do outro lado. Eu intercalava meu olhar entre o cardápio e a mesa dos dois, fingindo que eu estava escolhendo o que pediria. Com somente os meus olhos acima do cardápio, eu fixei meu olhar em , que sorria e ria o tempo todo. Ela parecia estar se divertindo bastante, e esse pensamento fez meu sangue ferver. Eu que devia estar ali com ela, fazendo-a rir.
Estreitei meus olhos quando vi a mão de segurar a de . Ela olhou tímida para suas mãos juntas e sorriu. Ele apertou sua mão e entrelaçou seus dedos. Fechei meus punhos e segurei-me para não levantar e ir até lá para tirar satisfação com aquele cara. Eu não queria que ele a tocasse. Passei a mão no cabelo e respirei fundo, buscando paciência do fundo do poço.
Vi quando outra garçonete se aproximou e eu bufei, um pouco irritado.
- Gostaria de pedir, senhor? – perguntou.
- Eu já falei com a sua colega que quando eu quiser pedir, eu vou pedir! Mas agora eu não quero. – falei um pouco rude e ela me olhou receosa.
- Certo. Desculpe-me.
Ela se afastou e eu pude observar novamente. Eu me sentia uma espécie de maníaco esperando o momento certo para atacar sua vítima, mas eu não me importava. Quando se tratava de , eu virava o maníaco que fosse para defendê-la.
Wright’s POV
- Eu posso te perguntar uma coisa, ? – perguntei com receio.
- Claro, . Pode perguntar o que quiser.
Sorri um pouco antes de suspirar e dizer:
- Por que você me ignorou na faculdade? – franziu o cenho e eu continuei: - Um dia desses, eu estava chegando à universidade e você estava sentado nos degraus com os seus amigos. Eu passei por você e... Você nem me notou. Eu não quero ser a sensível nem nada, mas eu fiquei realmente chateada, pois alguns dias antes tivemos aquela conversa no shopping e você tinha demonstrado ser bem legal. Admito que eu estranhei a sua atitude.
ficou me olhando por um tempo antes de apertar novamente minha mão sobre a mesa.
- Desculpe-me, . Você acreditaria se eu dissesse que não te vi?
Fiz uma expressão de desconfiança e ele riu fraco.
- Pois eu não te vi. Admito que sou um pouco desligado quando estou na companhia dos meus amigos. E você passou por mim justamente num dia em que eu estava com eles. Provavelmente, devíamos estar rindo ou conversando sobre alguma coisa e não te vi. Peço desculpas por ser tão avoado às vezes.
Ri baixo e neguei com a cabeça.
- Não me peça desculpas por isso. Eu também sou avoada... A maioria das vezes. – admiti e ele sorriu – Eu só pensei que talvez... Você não quisesse mais falar comigo, não sei. Que você não quisesse ser visto com uma garota como eu. – abaixei a cabeça.
- Ei, não fale uma coisa dessas. – encarei-o – Você é uma mulher incrível e qualquer cara teria sorte de estar ao seu lado. Eu nunca te trataria bem num dia e te ignoraria no outro. Acredite, eu não sou tão cafajeste assim. E aliás, eu gosto muito de estar na sua companhia e de conversar com você. Sinto-me muito confortável, e isso é raro de acontecer, . Portanto, sinta-se especial. – apontou em minha direção com um olhar sincero e eu sorri, assentindo.
- Obrigada por dizer essas coisas e por me esclarecer tudo. Isso estava martelando em minha cabeça por dias.
- Devia ter me chamado para conversar antes e já teríamos resolvido. Não quero que existam confusões ou más interpretações entre nós. Prefiro deixar tudo claro, certo?
- Certo. – assenti com um sorriso.
A garçonete se aproximou de nós e soltou minha mão. Ela colocou nossas comidas sobre a mesa e fez um cumprimento com a cabeça e as mãos antes se retirar. Peguei os palitos e os desgrudei logo após observar os movimentos de . Observei o prato à minha frente e voltei a encarar , que molhava seu sushi em um molho e o levava à boca. Ele me olhou e lançou-me um sorriso de canto ao ver a minha confusão. Em várias tentativas, tentei segurar o sushi com os palitinhos, mas foram tentativas falhas. O sushi simplesmente escapava por entre os palitos e eu fazia uma careta emburrada.
Ouvi dar uma risada e logo ele se esticou um pouco sobre a mesa e segurou minha mão.
- Deixe-me te ajudar com isso.
Sorri em agradecimento e ele me mostrou como segurava os palitinhos e quais dedos eu usava. Com a sua mão sobre a minha, ele aproximou os palitos do prato e pegou o sushi fujão. Ao ver firmeza em mim, ele soltou minha mão e assim, eu pude levar o sushi até a boca.
- Isso aí! – falou sorrindo e voltando a comer enquanto me olhava.
Mastiguei o sushi lentamente, saboreando-o, e logo o engoli.
- Então, o que achou? – perguntou visivelmente curioso.
- Até que é bom. Eu gostei. – sorri e levei meu olhar até o prato, apontando para um peixe cru. – Como se chama esse aqui?
Ele olhou para o peixe com uma coloração alaranjada e disse:
- Sashimi. É muito bom também. Experimente com o molho shoyu.
Peguei o sashimi e o mergulhei um pouco no molho. Levei-o até a boca e mastiguei, sentindo seu sabor.
- Muito bom mesmo. Gostei. – sorri e ele assentiu. – Só achei o molho um pouquinho forte, mas acho que consigo aguentar.
riu, fazendo-me rir junto.
Ficamos conversando enquanto comíamos e descobri algumas coisas sobre . Ele gosta muito de basquete – não é à toa que ele joga no time da faculdade –, gosta de sair para festas e baladas (o que eu não achei muito parecido comigo), gosta de cavalgar – já que a família dele tem uma fazenda – e tem um amor extremo a esportes radicais. Ele me contou que no natal do ano passado, viajou com sua família para o Canadá para andar de esqui e que neste ano, ele passou um dos finais de semana em uma cidade no interior do país só para saltar de Bungee Jump pela primeira vez.
Só de imaginá-lo fazendo essas coisas, meu coração acelerou. Seria muito legal sentir a adrenalina pulsando nas veias, mas não sei se eu teria tanta coragem de arriscar a minha vida assim. Afinal, esse era um dos objetivos de esportes radicais, não? Arriscar sua própria vida e enfrentar a morte de perto. Isso pode ser bem interessante, mas acho que não é para mim. Sou muito medrosa.
Contei a algumas coisas sobre mim e ele ouvia tudo atentamente, prestando bastante atenção. Bem, pelo menos era isso que ele demonstrava. E eu fiquei muito feliz em saber que alguém estava tão interessado assim em saber mais sobre mim e meus gostos. Ao final de tudo, pagou a conta e nos levantamos. Ele passou a mão por minha cintura assim que fiquei ao seu lado, e andamos em direção à saída do restaurante. me guiava enquanto andava e o seu jeito carinhoso e protetor ao segurar minha cintura, fez meu coração palpitar levemente. Eu não esperava tal ato de sua parte, e admito que fiquei um tanto surpresa.
Virei meu rosto e franzi a testa ao avistar uma cabeleira loira a algumas mesas de distância da porta. Eu conheço aquele cabelo. Não, não pode ser. Deve ser coisa da minha cabeça. Eu preciso parar de pensar em . Isso vai acabar não me fazendo bem. Balancei minha cabeça e parei de encarar a pessoa que tinha o cardápio a frente de seu rosto.
- Você ouviu o que eu disse, ? – ouvi a voz de e o encarei no mesmo instante.
- Ah, na verdade, não. Desculpe, o que você disse? – perguntei enquanto ele abria a porta do restaurante para mim.
- Perguntei se você gostaria de ir a um lugar comigo antes de eu te deixar em casa.
- Oh, sim. Claro. – sorri.
e eu nos aproximamos do carro estacionado quase em frente ao restaurante, e ele abriu a porta para mim, novamente em um ato de cavalheirismo. Adentrei o mesmo e ele fechou a porta. Logo ele estava ao meu lado, dirigindo ao local que ele gostaria de me levar. Passados alguns minutos, ele parou o carro rente à calçada, e eu olhei em volta. Sorri ao ver as árvores em volta, sendo iluminadas pelas luzes espalhadas e pela lua, que estava muito brilhante hoje.
- Você me trouxe ao Central Park? – o encarei e ele sorriu, dando de ombros.
- Achei que gostaria de vê-lo durante a noite. Você me contou que gosta muito daqui, então... A ideia me surgiu.
- E eu amei. – admiti – Não há outro lugar melhor para me trazer do que aqui. Pontos para você, Carter.
Ele riu fraco e abriu a porta do carro, logo passando por sua frente e abrindo a porta ao meu lado. Saí do mesmo e olhei em volta, ainda encantada com a vista, que ficava ainda mais bela à noite. Senti a mão de escorregar por meu braço e chegar à minha mão, segurando-a firmemente. Ele me puxou um pouco e começamos a andar. Passamos pelo caminho em meio às árvores altas e sorri ao admirá-las. Através das árvores, pude contemplar o céu estrelado e suspirei com aquela visão magnífica.
- Muito lindo, huh? – comentou . – Eu amo vir aqui. Admito que esse é o melhor lugar de Nova York. Sem prédios para tampar a visão do céu...
- Concordo. Isso tudo é maravilhoso. – inspirei lentamente o ar e expirei, suspirando em seguida. Senti o aperto de se intensificar e logo ele me puxou novamente.
- Vem aqui. Quero te mostrar uma coisa.
Assenti e o segui. Chegamos à ponte e ficamos recostados a ela, enquanto eu observava a água logo abaixo de nós.
- Ainda estou impressionada com tudo isso. Nem sei o que dizer. De verdade.
Senti se aproximar mais, e seu ombro encostou-se ao meu, já que ele estava um pouco inclinado sobre o parapeito da ponte. O movimento por ali era mínimo, estávamos praticamente sozinhos se não fossem uma ou duas pessoas que passavam por ali. Estremeci um pouco quando senti a mão de repousar sobre a minha, que estava apoiada na ponte.
Seus dedos acariciaram as costas da minha mão de forma delicada e eu engoli em seco com meu coração saltitante. Senti seu olhar sobre mim, mas continuei a olhar para frente. Eu não conseguiria encará-lo tão de perto.
- Você é linda, . – ouvi sua voz falar de maneira suave e minhas pernas bambearam.
- Obrigada, . – forcei para não gaguejar ou minha voz sair falha.
A sua outra mão se aproximou de meu rosto e o tocou, virando o mesmo lentamente em sua direção. Respirei fundo e fechei os olhos por um momento, logo os abrindo e encarando bem de perto. Eu nunca havia ficado tão perto dele dessa maneira, sentindo sua respiração lenta batendo contra minha bochecha, e essa aproximação estava mexendo com os meus neurônios e até com meus sentidos. Eu não sabia mais se eu respirava ou se engolia em seco ou se tentava parar minhas mãos trêmulas.
Todos os meus sentidos pareciam ter sido congelados e um nó se formou na minha cabeça. Eu, literalmente, estava paralisada. Oh, céus. Alguém me ajude. Acordei do meu transe ao sentir os dedos de acariciando minha bochecha.
- Você é tão meiga, sensível e doce. Nunca tinha visto alguma mulher com esse seu jeitinho de menina, e isso sinceramente, me fascina.
Eu já nem conseguia mais agradecer. Somente fiquei o encarando enquanto ele se aproximava ainda mais do meu rosto. Senti a ponta de seu nariz tocar o meu e fechei meus olhos. Levei minha mão trêmula até o pulso da sua mão que me acariciava e o apertei, sem saber exatamente o que fazer. Eu o beijo ou não? No mesmo instante, o conselho de me invadiu a mente e foi como se ele estivesse ali à minha frente, dizendo tudo de novo.
“Faça o que achar que deve fazer, .”
“Você é diferente. Não pode deixá-lo fazer o que ele quiser.”
“Tem que deixar claro que ele deve te respeitar acima de tudo e que antes de fazer qualquer coisa, tem que ter o seu consentimento.”
“Só não se deixe levar por palavras bonitas.”
“Jogamos fora. Jogamos fora. Jogamos fora.”
Essa frase se repetia em minha mente enquanto eu mantinha meus olhos fechados. Quando eu já podia sentir o perfume de adentrar meu nariz e os seus lábios roçarem os meus, eu tive uma leve crise de consciência e me afastei um pouco dele. Abri os olhos e espalmei minha mão em seu peito, empurrando-o levemente.
- Desculpe-me, . Acho melhor irmos com calma. – falei assim que ele me olhou confuso.
Ele assentiu e sorriu fraco. – O que você quiser, . Eu posso esperar o tempo que for.
Sorri, mas meu sorriso foi interrompido com o som de um celular tocando. Peguei meu celular dentro da bolsa e vi que não era o meu.
- É o seu? – perguntei a e ele negou com a cabeça, encarando seu celular.
Olhei ao redor e não vi ninguém por ali. Aparentemente, estávamos sozinhos. Ou não. Levei meu olhar por entre as árvores e franzi o cenho ao ver um vulto se afastando logo depois de o celular parar de tocar. Eu pensei em perguntar a se ele tinha visto o mesmo que eu, mas balancei a cabeça, decidida a ignorar aquilo.
Senti tocar o meu braço e virei meu corpo, voltando a encará-lo.
- Acho melhor eu te levar para casa. Já está ficando tarde.
Assenti e sorri de canto. Ele envolveu minha cintura com sua mão novamente e assim, voltamos a fazer o mesmo caminho de volta, para a saída do parque.
Fui até a geladeira e peguei a jarra d’água. Enchi um copo e bebi praticamente toda a água de uma só vez. Coloquei o copo dentro da pia e apoiei minhas mãos sobre a bancada da mesma. Fechei os olhos e respirei fundo com a cabeça baixa. Senti a presença de alguém ao meu lado. Sabendo que se tratava de , continuei na mesma posição, sem mover um músculo sequer.
Até que a voz dele acabou com o silêncio.
- Olha, eu não sou psicólogo nem nada, mas está obviamente claro que você está passando por uma crise de nervosismo e ansiedade pelo seu tão sonhado encontro.
Levantei minha cabeça e o olhei.
- Não me diga. – falei com deboche.
- E isso é pura frescura da sua parte. – completou e eu rolei os olhos.
- Eu não estou com paciência para você agora, . Então, por que não vai dar uma voltinha por Nova York ou qualquer coisa, e me deixa sozinha? Tudo bem para você?
- Okay, okay! – ele levantou as mãos em rendição. – Eu só estava pensando que... Não sei... Eu podia te ajudar com algumas coisas antes de você ir encontrá-lo.
Franzi a testa e cruzei meus braços, virando em sua direção.
- Como o quê?
O corpo de estava encostado à bancada da pia e estava de frente para a janela da sala. Ele estava com os braços cruzados e tinha uma pose de sabe-tudo.
- Eu podia fingir ser o e você conversaria comigo exatamente do jeito que pretende conversar com ele. Seria a simulação de um encontro. – propôs e eu fiquei lhe encarando enquanto pensava.
- Tudo bem. Isso pode dar certo.
Ele sorriu esperto e eu rolei os olhos.
- É, eu sei. Minhas ideias são ótimas.
- Sem se achar, por favor. E vamos logo com isso. – o apressei e fui até a sala. – Por onde começamos?
- Pelo começo. – respondeu num tom brincalhão.
- Nossa, que engraçado. Morri de rir aqui.
- É, minhas piadas são as melhores também. Eu podia ser comediante ao invés de trabalhar com o meu pai. – pôs a mão no queixo com uma expressão pensativa.
- Você ia morrer de fome. Vai por mim, continue a trabalhar na empresa do seu pai. É um conselho que te dou. – toquei seu ombro num gesto amigável e revirou os olhos.
- Vamos logo, então. Eu vou sair e bater à sua porta. – disse se aproximando da porta do apartamento, abrindo-a em seguida. – Por favor, haja de uma forma atraente. Não me desaponte.
Bufei e o empurrei para fora, fechando a porta em sua cara. Ri internamente de sua cara de idiota e fiquei parada, esperando o momento em que ele anunciaria sua chegada. Esperei e esperei e nada. Impaciente, fui até a porta e abri. Tive a visão de encostado à parede ao lado da porta, mexendo em seu celular.
- ! – chamei sua atenção. – Larga esse celular agora e me ajuda. Que cacete, viu?!
Ele riu e me olhou curioso. – O quê? Wright falando palavrão? Essa é nova.
Bati a porta e cruzei os braços, voltando a esperar a boa vontade da pessoa do outro lado. Ouvi suas batidas e respirei fundo. Abri a mesma e vi com uma das mãos no bolso da calça e a outra apoiada no batente da porta. Ele levantou sua cabeça, e por um momento, tudo pareceu acontecer em câmera lenta. Lançou-me aquele sorriso malicioso junto a um olhar sedutor e eu engoli em seco, sentindo minhas pernas tremerem.
Oh, droga.
- Wright. – ele disse com sua voz tipicamente rouca. Um arrepio percorreu minha espinha.
- Carter. – forcei-me ao máximo para não gaguejar, mas foi impossível. Balancei a cabeça negativamente e bati com a mão em minha testa.
- Sem gaguejar, . – me repreendeu.
- Eu sei. Desculpe-me.
- Voltando. – falou e eu assenti. – Wright. – repetiu.
- Carter. – falei com a voz mais firme.
- Espera! – disse repentinamente. – É desse jeito que ele te chama, não é?
- Sim. Ele me chama de também, mas isso é só no decorrer da conversa. Quando ele vem falar comigo, sempre se refere a mim pelo nome e sobrenome.
assentiu. – Certo. Vamos continuar. – ele voltou a me olhar de forma intensa e eu levei minhas mãos para trás do corpo, tentando esconder minha pequena tremedeira. – Será que eu posso entrar?
- Claro. Fique à vontade. – dei espaço a ele.
entrou e eu fechei a porta. Ele olhava tudo em volta como se estivesse ali pela primeira vez, e eu reprimi uma risada.
- Gostei da sua casa... – comentou – É bem aconchegante.
- Obrigada. – sorri agradecida.
- Imagino as sacanagens que poderíamos fazer aqui... Seu sofá é confortável? Sua cama é bem resiste a movimentos bruscos? – perguntou e meus olhos se arregalaram.
- ! O nunca falaria isso!
- Ah, não? Desculpe. – deu de ombros. – Eu, pelo menos, falaria.
- Mas a questão aqui não é ser você, e sim, ele.
ignorou minha fala e apontou para o sofá.
- Será que eu posso me sentar?
Assenti com a cabeça e ele se sentou. Chamou-me com a mão e eu me sentei ao seu lado.
- Então, ... – surpreendi-me um pouco ao ouvi-lo me chamar pelo meu apelido, mas tratei logo de voltar a minha expressão normal. Ele só estava agindo como Carter. É, eu posso aceitar isso. – Fale mais sobre você. O que você gosta de fazer quando não está na faculdade?
Ajeitei-me no sofá e disse:
- Bom, eu gosto de ler um bom livro enquanto bebo um delicioso chocolate quente ou um chá. Gosto de ir ao parque, sentir o vento batendo em meus cabelos. – sorri ao lembrar-me da sensação de liberdade. – Gosto de assistir alguns documentários também, mas especialmente sobre psicologia. Gosto de procurar curiosidades na internet, e o principal: Gosto de ouvir música. Muita música mesmo. Digamos que eu respiro música. – soltei uma risadinha.
Levei meu olhar até e ele me olhava com a testa franzida e os olhos indecifráveis.
- O que foi? – perguntei.
- Nada. – balançou a cabeça. – Você é bem quieta, huh? Gosta de ficar em casa, não sai para festas ou baladas. Prefere ficar sozinha?
- Exatamente. Eu não sou antissocial, eu só... Sou bem seletiva em relação às minhas amizades.
assentiu e ficamos em silêncio.
- ! – falei repentinamente. – E se o quiser me beijar?
- Mas eu sou o . – ele respondeu num tom brincalhão.
- Eu estou falando sério. O que eu faço?
- Isso vai depender de você. Eu acho que já te ensinei como você deve fazer.
Suspirei e escondi meu rosto em minhas mãos.
- Você quer beijá-lo? – sua voz curiosa perguntou e eu levantei meu rosto para encará-lo.
- E-Eu não sei...
- Faça o que achar que deve fazer, . Só quero que lembre que você não é qualquer uma. Você é diferente. Não pode deixá-lo fazer o que ele quiser. Tem que deixar claro que ele deve te respeitar acima de tudo e que antes de fazer qualquer coisa, tem que ter o seu consentimento. – ele dizia calmamente. – Eu falo isso porque eu sou homem. Eu sei o quão longe nós podemos ir para, infelizmente, satisfazer as nossas vontades e desejos. Só não se deixe levar por palavras bonitas. Muitas vezes, usamos artifícios como esses, para atrair alguém. E depois simplesmente... Jogamos fora.
Dito isso, me lançou um último olhar de compreensão e se afastou, saindo de minha visão. Ele tem razão. Se disse isso, é porque é verídico. Suspirei e fui até o meu quarto. Peguei meu celular e liguei para o meu pai. Eu precisava ouvir a voz dele. Depois de mais ou menos uma hora, eu voltei até a sala e fui até a pequena cozinha. estava de costas, sem camisa e com um boné preto virado para trás. O cheiro de comida invadiu o meu nariz e eu fiquei parada, encostada ao balcão, enquanto o observava.
Observei as tatuagens em suas costas e fui descendo o olhar até quase sua bunda, onde por mais uma vez, eu vi sua cueca da Calvin Klein. Eu já estava até acostumada com o jeito que ele vestia suas calças quase nos joelhos e sua cueca ficava praticamente à mostra para qualquer um apreciar. Mordi os lábios ao ver os furinhos que ele tinha no final das costas, um pouco acima da bunda. Até suas costas eram lindas. Minha vontade era de simplesmente chegar por trás e beijar cada mínimo pedacinho de pele e depois passar as pontas das minhas unhas curtas por toda a sua extensão. Meus olhos foram até sua bunda redondinha e eu imaginei meus dedos deslizando sobre sua pele macia e quente. Balancei a cabeça e acordei dos meus pensamentos meio sujos.
Eu já estou começando a me estranhar. Nunca fui de ter pensamentos como esses com alguém. Nem mesmo com .
Sentei-me em um dos bancos, e no instante seguinte, se virou. Ele sorriu maroto sem nem me olhar, e continuou a picar as verduras e legumes bem em frente a mim.
- Eu não sabia que estava aqui, . – o tom de sua voz era malicioso e o sorriso não saía de seus lábios.
Não sabia?! Conta outra!
- Estou sabendo. – falei num tom de ironia e ele riu, negando com a cabeça. – Você sempre percebe tudo. Deve ter algum tipo de sensor de presença implantado no seu cérebro.
- Ou na minha bunda, já que era para ela que você estava olhando. – o fluxo de sangue nas minhas bochechas aumentou e uma enorme vergonha tomou conta do meu corpo.
- Você não tem como afirmar isso. – dei de ombros.
- Eu sei que você estava secando a minha bunda. Nem tente me enganar. – ele jogou os legumes na frigideira e virou-se novamente para mim. – Mas eu tenho que admitir que ela é bonita, não é? Minhas antigas namoradas tinham uma certa fissura por ela.
- Você é ridículo. – disse com raiva por seu comentário.
- Posso até ser, mas que você estava me secando... Ah, estava!
Revirei os olhos e me levantei.
- Fique aí se gabando sozinho. Não tenho paciência para isso.
Ouvi sua risada enquanto eu me afastava e ia até meu quarto.
- Não, ! Tire isso agora! Esse vestido não ficou legal! – dizia quase num tom desesperado, e eu ri de sua careta.
- Mas eu gostei tanto dele. – fiz bico e ela me olhou como se eu tivesse cometido a maior gafe do mundo.
- Você não pode estar falando sério. Por favor, me diga que está brincando comigo.
Gargalhei e me pus a tirar o vestido. – É claro que eu estou brincando. Eu só queria ver o que você ia falar.
Ela revirou os olhos e foi até o meu armário. Pegou todos os vestidos ali pendurados e os jogou sobre minha cama.
- Essa lingerie está ótima. Pelo menos nisso você acertou. – ela comentou enquanto se aproximava de mim com mais um vestido e o colocava à frente de meu corpo.
- Até eu me surpreendi comigo mesma. – disse num tom de surpresa e riu.
Depois de alguns minutos vestindo vestidos e mais vestidos, deu um grito e eu a olhei, assustada.
- Esse! É esse! Esse está perfeito em você! – ela comemorava enquanto me girava. Parei de girar no momento em que fiquei tonta e já quase trocava os olhos. – Eu sabia que nós íamos achar o vestido perfeito.
Sorri e fui até o espelho. Olhei meu reflexo e sorri ainda mais, passando minhas mãos pelo tecido do mesmo.
- Ele realmente ficou muito lindo. – comentei ao ver os desenhos das flores, espalhados pela renda azul.
Passados longos minutos fazendo a minha maquiagem e arrumando o meu cabelo, sorriu orgulhosa ao ver o seu trabalho finalizado.
- Você está perfeita! Vamos escolher o sapato agora. Acho que uma sapatilha delicada combina perfeitamente com o vestido. Não há necessidade de sapato alto.
Apenas assenti, vendo-a indo em direção à minha sapateira. voltou com as sapatilhas de um tom claro, quase um creme. Calcei-as e pus uma pulseira e um brinco dourado. Olhei meus cabelos pelo espelho e vi o lindo trabalho que havia feito. Eles estavam ainda mais ondulados, quase formando perfeitos cachos, e caiam sobre meu ombro. A maquiagem combinava com o vestido, mas não era muito forte, apenas realçava meus olhos e cílios cobertos por rímel. Nos lábios, um batom claro os cobria. E nas bochechas, um pouquinho de blush para deixá-las mais rosadinhas.
Tudo estava perfeito. Eu não conseguia acreditar que era eu quem estava sendo refletida ali. Wright estava completamente diferente do seu normal.
- Você está magnífica, amiga! O vai cair duro quando te vir assim. E não estou falando de modo malicioso! – ri de seu comentário e a abracei.
- Obrigada, . Obrigada por tudo, mesmo.
- Amigas são para essas coisas, não são? – ela disse sorrindo e eu assenti, segurando-a pelas mãos.
- Eu tenho o prazer de apresentá-lo, minha querida e belíssima amiga, ! – fez toda uma cerimônia antes de sair da minha frente, deixando que me visse por completo.
O olhar dele caiu sobre meu corpo e sua boca se entreabriu enquanto ele levantava do banquinho. Aproximei-me lentamente e parei um pouco a sua frente. me olhava de cima a baixo, parecendo não acreditar no que via. Envergonhada, encarei os meus pés e entrelacei as mãos por trás de meu corpo. Vi quando estendeu sua mão até meu queixo e levantou meu rosto. Encarei seus olhos e ele disse:
- Você está linda. – sua voz tranquila me fez suspirar.
- Obrigada, . – agradeci ainda com minhas bochechas ruborizadas.
A campainha tocou e eu arregalei um pouco meus olhos. Na mesma hora, lembrei-me de ter avisado a Ezequiel sobre , para que ele o deixasse subir.
- Nós vamos ficar aqui na sala. Só finja que não estamos aqui. – disse com uma voz amigável e eu assenti.
desviou o olhar do meu e soltou meu rosto. Deu alguns passos para trás e eu respirei fundo antes de caminhar até a porta. Estendi minha mão e toquei a maçaneta por alguns segundos, antes de finalmente girá-la e abrir a porta. Logo tive a visão do rosto de . Ele esboçava um lindo sorriso e com os olhos espertos, observou meu corpo de cima a baixo antes de voltar para meu rosto.
- Wow, você está linda! – elogiou-me. – Acho que vou deixar os outros homens com inveja hoje.
Ri fraco de seu comentário. – Obrigada, . Você também está lindo.
Observei a camisa polo que ele usava, exatamente da mesma cor que o meu vestido. Usava também uma calça jeans num tom mais claro e um sapatênis de cor creme.
- Parece que combinamos as roupas. – ele disse exatamente o que eu pensava e eu ri.
- É, parece que sim.
- Bom, vamos? – sugeriu e eu assenti.
Acenei discretamente para e e saí de casa. ofereceu-me seu braço e eu sorri, entrelaçando meu braço no dele. Chegamos ao térreo do prédio e fomos até a porta de vidro, onde eu vi um carro estacionado logo à frente. Aproximamo-nos e soltou meu braço para abrir a porta para mim. Achei seu ato muito fofo e cavalheiro, e sorri agradecida.
- Conheça o meu bebê. Meu pai me deu de presente de aniversário há pouco tempo.
Observei a Lamborghini prateada a minha frente e fiquei um tanto encabulada. Eu não sabia que era de família rica.
- É um belo presente. – comentei.
Com a porta já aberta, eu me sentei e fechou a porta. Logo ele estava sentado ao meu lado, ligando o carro. Lançou-me um lindo sorriso que quase me fez derreter por inteira. Por um momento, durante o percurso até o restaurante japonês, esticou sua mão e tocou a minha. Olhei para nossas mãos, com meu corpo um pouco trêmulo, e apertei sua mão de volta.
Estou com uma leve impressão de que esse encontro será lembrado por mim para sempre.
’s POV
Eu estou inquieto. Não somente inquieto. Eu estou incomodado também, e com uma pontinha de raiva. Eu não sei por que, mas estou ligeiramente preocupado com . Ela estava muito linda, e estar muito linda perto de homens, é perigoso. Não estou me sentindo bem ao saber que ela ficará sozinha por horas com um homem, que até ontem, praticamente nem sabia de sua existência. Quem já está se arrependendo desse plano todo sou eu. Eu andava de um lado a outro enquanto pensava nas inúmeras tentativas de em tocá-la, em beijá-la e até em... Levá-la para cama.
Eu não estava gostando nada dos possíveis artifícios que ele poderia usar com ela. Eu sei que qualquer sorriso, qualquer toque ou carinho, palavra e até beijo poderia mexer com o sentimental de . Ela é fraca. Ela não vai conseguir dizer não caso precise. Ela não vai fazê-lo parar. E esse pensamento me invadia a mente a cada segundo que se passava, e eu não conseguia parar. Só de imaginá-lo tocando, beijando ou até transando com , meu sangue esquentava nas veias e meus punhos se cerravam. Uma pontada de um sentimento que eu não simpatizava nem um pouco, tomou meu coração. Ciúmes.
Ela é a . Ela é inexperiente e ingênua. E o principal: ela é minha amiga.
Em passos rápidos, peguei a chave do meu carro no porta-chaves e abri a porta de casa. me olhou confusa e veio até mim, segurando-me pelo braço.
- Aonde você vai, ? – ela perguntou e eu a encarei. – O que pensa que está fazendo?
- Eu vou atrás da . Vou seguir aquele carro.
arregalou os olhos e me segurou com mais força.
- Nem pensar! Você tem que deixá-la seguir o seu caminho e ser feliz com o ! Ela está apaixonada por ele. Não estrague um dos momentos mais importantes na vida dela.
- Eu sei! Eu sei! Eu sei que ela está apaixonada por ele, mas eu tenho que estar lá para ajudá-la no que ela precisar. E se ele quiser abusar dela ou fazer qualquer outra coisa sem o seu consentimento?
- Ele não vai fazer isso, . é um cara legal e um cavalheiro. Ele vai saber como respeitá-la.
A certeza em sua voz só me deixou com mais raiva e ciúmes.
- E quem te garante isso? é muito especial para mim, e eu vou protegê-la contra tudo e contra todos! – dito isso, soltei-me de seu braço e saí porta a fora.
Seguindo o carro de , cheguei ao restaurante japonês. Estacionei o carro um pouco longe do dele para que não me vissem. Vi quando eles saíram do carro e entrelaçaram as mãos enquanto caminhavam até a entrada do estabelecimento. Quando os dois passaram pela porta dupla, eu tirei o cinto de segurança e saí do carro. Em passos lentos, fui até a porta e a abri, entrando em seguida. Vasculhei o local com os olhos, e vi e se sentando a uma mesa quase no centro.
Fui até uma mesa no canto – que me dava uma ótima visão de todo o restaurante – e me sentei. Logo, uma garçonete japonesa veio em minha direção. Ela usava o uniforme preto e vermelho e tinha os cabelos em um corte Chanel. Seu cabelo era extremamente liso e ela parou ao meu lado, com um sorriso simpático.
- Boa noite. O que gostaria de pedir? – perguntou com seu legítimo sotaque.
Olhei-a e forcei um sorriso. – Por enquanto, nada. Mas obrigado.
- Quando quiser pedir, é só me chamar. – avisou.
- Okay. Obrigado mais uma vez. – assenti com a cabeça e ela se afastou, dando-me novamente a visão da mesa de .
Encolhi-me um pouco na cadeira, ficando meio deitado, e peguei o cardápio. Coloquei o mesmo em frente ao meu rosto e passei a observá-los do outro lado. Eu intercalava meu olhar entre o cardápio e a mesa dos dois, fingindo que eu estava escolhendo o que pediria. Com somente os meus olhos acima do cardápio, eu fixei meu olhar em , que sorria e ria o tempo todo. Ela parecia estar se divertindo bastante, e esse pensamento fez meu sangue ferver. Eu que devia estar ali com ela, fazendo-a rir.
Estreitei meus olhos quando vi a mão de segurar a de . Ela olhou tímida para suas mãos juntas e sorriu. Ele apertou sua mão e entrelaçou seus dedos. Fechei meus punhos e segurei-me para não levantar e ir até lá para tirar satisfação com aquele cara. Eu não queria que ele a tocasse. Passei a mão no cabelo e respirei fundo, buscando paciência do fundo do poço.
Vi quando outra garçonete se aproximou e eu bufei, um pouco irritado.
- Gostaria de pedir, senhor? – perguntou.
- Eu já falei com a sua colega que quando eu quiser pedir, eu vou pedir! Mas agora eu não quero. – falei um pouco rude e ela me olhou receosa.
- Certo. Desculpe-me.
Ela se afastou e eu pude observar novamente. Eu me sentia uma espécie de maníaco esperando o momento certo para atacar sua vítima, mas eu não me importava. Quando se tratava de , eu virava o maníaco que fosse para defendê-la.
Wright’s POV
- Eu posso te perguntar uma coisa, ? – perguntei com receio.
- Claro, . Pode perguntar o que quiser.
Sorri um pouco antes de suspirar e dizer:
- Por que você me ignorou na faculdade? – franziu o cenho e eu continuei: - Um dia desses, eu estava chegando à universidade e você estava sentado nos degraus com os seus amigos. Eu passei por você e... Você nem me notou. Eu não quero ser a sensível nem nada, mas eu fiquei realmente chateada, pois alguns dias antes tivemos aquela conversa no shopping e você tinha demonstrado ser bem legal. Admito que eu estranhei a sua atitude.
ficou me olhando por um tempo antes de apertar novamente minha mão sobre a mesa.
- Desculpe-me, . Você acreditaria se eu dissesse que não te vi?
Fiz uma expressão de desconfiança e ele riu fraco.
- Pois eu não te vi. Admito que sou um pouco desligado quando estou na companhia dos meus amigos. E você passou por mim justamente num dia em que eu estava com eles. Provavelmente, devíamos estar rindo ou conversando sobre alguma coisa e não te vi. Peço desculpas por ser tão avoado às vezes.
Ri baixo e neguei com a cabeça.
- Não me peça desculpas por isso. Eu também sou avoada... A maioria das vezes. – admiti e ele sorriu – Eu só pensei que talvez... Você não quisesse mais falar comigo, não sei. Que você não quisesse ser visto com uma garota como eu. – abaixei a cabeça.
- Ei, não fale uma coisa dessas. – encarei-o – Você é uma mulher incrível e qualquer cara teria sorte de estar ao seu lado. Eu nunca te trataria bem num dia e te ignoraria no outro. Acredite, eu não sou tão cafajeste assim. E aliás, eu gosto muito de estar na sua companhia e de conversar com você. Sinto-me muito confortável, e isso é raro de acontecer, . Portanto, sinta-se especial. – apontou em minha direção com um olhar sincero e eu sorri, assentindo.
- Obrigada por dizer essas coisas e por me esclarecer tudo. Isso estava martelando em minha cabeça por dias.
- Devia ter me chamado para conversar antes e já teríamos resolvido. Não quero que existam confusões ou más interpretações entre nós. Prefiro deixar tudo claro, certo?
- Certo. – assenti com um sorriso.
A garçonete se aproximou de nós e soltou minha mão. Ela colocou nossas comidas sobre a mesa e fez um cumprimento com a cabeça e as mãos antes se retirar. Peguei os palitos e os desgrudei logo após observar os movimentos de . Observei o prato à minha frente e voltei a encarar , que molhava seu sushi em um molho e o levava à boca. Ele me olhou e lançou-me um sorriso de canto ao ver a minha confusão. Em várias tentativas, tentei segurar o sushi com os palitinhos, mas foram tentativas falhas. O sushi simplesmente escapava por entre os palitos e eu fazia uma careta emburrada.
Ouvi dar uma risada e logo ele se esticou um pouco sobre a mesa e segurou minha mão.
- Deixe-me te ajudar com isso.
Sorri em agradecimento e ele me mostrou como segurava os palitinhos e quais dedos eu usava. Com a sua mão sobre a minha, ele aproximou os palitos do prato e pegou o sushi fujão. Ao ver firmeza em mim, ele soltou minha mão e assim, eu pude levar o sushi até a boca.
- Isso aí! – falou sorrindo e voltando a comer enquanto me olhava.
Mastiguei o sushi lentamente, saboreando-o, e logo o engoli.
- Então, o que achou? – perguntou visivelmente curioso.
- Até que é bom. Eu gostei. – sorri e levei meu olhar até o prato, apontando para um peixe cru. – Como se chama esse aqui?
Ele olhou para o peixe com uma coloração alaranjada e disse:
- Sashimi. É muito bom também. Experimente com o molho shoyu.
Peguei o sashimi e o mergulhei um pouco no molho. Levei-o até a boca e mastiguei, sentindo seu sabor.
- Muito bom mesmo. Gostei. – sorri e ele assentiu. – Só achei o molho um pouquinho forte, mas acho que consigo aguentar.
riu, fazendo-me rir junto.
Ficamos conversando enquanto comíamos e descobri algumas coisas sobre . Ele gosta muito de basquete – não é à toa que ele joga no time da faculdade –, gosta de sair para festas e baladas (o que eu não achei muito parecido comigo), gosta de cavalgar – já que a família dele tem uma fazenda – e tem um amor extremo a esportes radicais. Ele me contou que no natal do ano passado, viajou com sua família para o Canadá para andar de esqui e que neste ano, ele passou um dos finais de semana em uma cidade no interior do país só para saltar de Bungee Jump pela primeira vez.
Só de imaginá-lo fazendo essas coisas, meu coração acelerou. Seria muito legal sentir a adrenalina pulsando nas veias, mas não sei se eu teria tanta coragem de arriscar a minha vida assim. Afinal, esse era um dos objetivos de esportes radicais, não? Arriscar sua própria vida e enfrentar a morte de perto. Isso pode ser bem interessante, mas acho que não é para mim. Sou muito medrosa.
Contei a algumas coisas sobre mim e ele ouvia tudo atentamente, prestando bastante atenção. Bem, pelo menos era isso que ele demonstrava. E eu fiquei muito feliz em saber que alguém estava tão interessado assim em saber mais sobre mim e meus gostos. Ao final de tudo, pagou a conta e nos levantamos. Ele passou a mão por minha cintura assim que fiquei ao seu lado, e andamos em direção à saída do restaurante. me guiava enquanto andava e o seu jeito carinhoso e protetor ao segurar minha cintura, fez meu coração palpitar levemente. Eu não esperava tal ato de sua parte, e admito que fiquei um tanto surpresa.
Virei meu rosto e franzi a testa ao avistar uma cabeleira loira a algumas mesas de distância da porta. Eu conheço aquele cabelo. Não, não pode ser. Deve ser coisa da minha cabeça. Eu preciso parar de pensar em . Isso vai acabar não me fazendo bem. Balancei minha cabeça e parei de encarar a pessoa que tinha o cardápio a frente de seu rosto.
- Você ouviu o que eu disse, ? – ouvi a voz de e o encarei no mesmo instante.
- Ah, na verdade, não. Desculpe, o que você disse? – perguntei enquanto ele abria a porta do restaurante para mim.
- Perguntei se você gostaria de ir a um lugar comigo antes de eu te deixar em casa.
- Oh, sim. Claro. – sorri.
e eu nos aproximamos do carro estacionado quase em frente ao restaurante, e ele abriu a porta para mim, novamente em um ato de cavalheirismo. Adentrei o mesmo e ele fechou a porta. Logo ele estava ao meu lado, dirigindo ao local que ele gostaria de me levar. Passados alguns minutos, ele parou o carro rente à calçada, e eu olhei em volta. Sorri ao ver as árvores em volta, sendo iluminadas pelas luzes espalhadas e pela lua, que estava muito brilhante hoje.
- Você me trouxe ao Central Park? – o encarei e ele sorriu, dando de ombros.
- Achei que gostaria de vê-lo durante a noite. Você me contou que gosta muito daqui, então... A ideia me surgiu.
- E eu amei. – admiti – Não há outro lugar melhor para me trazer do que aqui. Pontos para você, Carter.
Ele riu fraco e abriu a porta do carro, logo passando por sua frente e abrindo a porta ao meu lado. Saí do mesmo e olhei em volta, ainda encantada com a vista, que ficava ainda mais bela à noite. Senti a mão de escorregar por meu braço e chegar à minha mão, segurando-a firmemente. Ele me puxou um pouco e começamos a andar. Passamos pelo caminho em meio às árvores altas e sorri ao admirá-las. Através das árvores, pude contemplar o céu estrelado e suspirei com aquela visão magnífica.
- Muito lindo, huh? – comentou . – Eu amo vir aqui. Admito que esse é o melhor lugar de Nova York. Sem prédios para tampar a visão do céu...
- Concordo. Isso tudo é maravilhoso. – inspirei lentamente o ar e expirei, suspirando em seguida. Senti o aperto de se intensificar e logo ele me puxou novamente.
- Vem aqui. Quero te mostrar uma coisa.
Assenti e o segui. Chegamos à ponte e ficamos recostados a ela, enquanto eu observava a água logo abaixo de nós.
- Ainda estou impressionada com tudo isso. Nem sei o que dizer. De verdade.
Senti se aproximar mais, e seu ombro encostou-se ao meu, já que ele estava um pouco inclinado sobre o parapeito da ponte. O movimento por ali era mínimo, estávamos praticamente sozinhos se não fossem uma ou duas pessoas que passavam por ali. Estremeci um pouco quando senti a mão de repousar sobre a minha, que estava apoiada na ponte.
Seus dedos acariciaram as costas da minha mão de forma delicada e eu engoli em seco com meu coração saltitante. Senti seu olhar sobre mim, mas continuei a olhar para frente. Eu não conseguiria encará-lo tão de perto.
- Você é linda, . – ouvi sua voz falar de maneira suave e minhas pernas bambearam.
- Obrigada, . – forcei para não gaguejar ou minha voz sair falha.
A sua outra mão se aproximou de meu rosto e o tocou, virando o mesmo lentamente em sua direção. Respirei fundo e fechei os olhos por um momento, logo os abrindo e encarando bem de perto. Eu nunca havia ficado tão perto dele dessa maneira, sentindo sua respiração lenta batendo contra minha bochecha, e essa aproximação estava mexendo com os meus neurônios e até com meus sentidos. Eu não sabia mais se eu respirava ou se engolia em seco ou se tentava parar minhas mãos trêmulas.
Todos os meus sentidos pareciam ter sido congelados e um nó se formou na minha cabeça. Eu, literalmente, estava paralisada. Oh, céus. Alguém me ajude. Acordei do meu transe ao sentir os dedos de acariciando minha bochecha.
- Você é tão meiga, sensível e doce. Nunca tinha visto alguma mulher com esse seu jeitinho de menina, e isso sinceramente, me fascina.
Eu já nem conseguia mais agradecer. Somente fiquei o encarando enquanto ele se aproximava ainda mais do meu rosto. Senti a ponta de seu nariz tocar o meu e fechei meus olhos. Levei minha mão trêmula até o pulso da sua mão que me acariciava e o apertei, sem saber exatamente o que fazer. Eu o beijo ou não? No mesmo instante, o conselho de me invadiu a mente e foi como se ele estivesse ali à minha frente, dizendo tudo de novo.
“Faça o que achar que deve fazer, .”
“Você é diferente. Não pode deixá-lo fazer o que ele quiser.”
“Tem que deixar claro que ele deve te respeitar acima de tudo e que antes de fazer qualquer coisa, tem que ter o seu consentimento.”
“Só não se deixe levar por palavras bonitas.”
“Jogamos fora. Jogamos fora. Jogamos fora.”
Essa frase se repetia em minha mente enquanto eu mantinha meus olhos fechados. Quando eu já podia sentir o perfume de adentrar meu nariz e os seus lábios roçarem os meus, eu tive uma leve crise de consciência e me afastei um pouco dele. Abri os olhos e espalmei minha mão em seu peito, empurrando-o levemente.
- Desculpe-me, . Acho melhor irmos com calma. – falei assim que ele me olhou confuso.
Ele assentiu e sorriu fraco. – O que você quiser, . Eu posso esperar o tempo que for.
Sorri, mas meu sorriso foi interrompido com o som de um celular tocando. Peguei meu celular dentro da bolsa e vi que não era o meu.
- É o seu? – perguntei a e ele negou com a cabeça, encarando seu celular.
Olhei ao redor e não vi ninguém por ali. Aparentemente, estávamos sozinhos. Ou não. Levei meu olhar por entre as árvores e franzi o cenho ao ver um vulto se afastando logo depois de o celular parar de tocar. Eu pensei em perguntar a se ele tinha visto o mesmo que eu, mas balancei a cabeça, decidida a ignorar aquilo.
Senti tocar o meu braço e virei meu corpo, voltando a encará-lo.
- Acho melhor eu te levar para casa. Já está ficando tarde.
Assenti e sorri de canto. Ele envolveu minha cintura com sua mão novamente e assim, voltamos a fazer o mesmo caminho de volta, para a saída do parque.
Capítulo 15 – Seu Corpo é Um Paraíso
Música do capítulo (Your Body is a Wonderland)
(n/a: Ponham a música para tocar, por favor. É de suma importância).
me deixou em casa e somente me deu um beijo na bochecha. Agradeci mentalmente por ele estar respeitando a minha decisão e saí do carro. Passei por Ezequiel na recepção, que estava lendo um jornal, e acenei lhe desejando uma boa noite. Entrei no elevador e fui até o meu andar. Dentro do pequeno espaço, eu encostei meu corpo à parede e fechei meus olhos até sentir o elevador parar. Saí do mesmo e andei pelo corredor, indo até a minha porta. Tentei abri-la, mas vendo que estava trancada, levei minha mão até o fundo de minha bolsa e peguei o chaveiro.
Abri a porta e logo a fechei, trancado-a novamente.
- Boa noite. – cumprimentei ao vê-lo sentado no sofá, com um violão no colo.
- Boa noite, . – ele me olhou – E como foi o encontro?
- Ótimo. – disse me aproximando e jogando minha pequena bolsa ao seu lado. Sentei-me no braço do sofá. – e eu conversamos muito. Eu contei a ele sobre meus gostos e ele me contou os dele. Acho que deu bastante para nos conhecermos.
assentiu e posicionou o violão, começando a dedilhar uma música bastante conhecida. – Espero que não tenha cometido nenhum erro. Afinal, a primeira impressão em um encontro é a que vale.
- Acho que não fiz nada de errado. Eu me diverti muito. – sorri.
ficou em silêncio e continuou a tocar. Observei-o e me surpreendi ao ouvir sua voz alguns segundos depois. Ele realmente cantava muito bem.
We got the afternoon
(Temos a tarde toda)
You got this room for two
(Você tem esse quarto para dois)
One thing I’ve left to do
(Só uma coisa que eu tenho a fazer)
Discover me, discovering you
(Me descobrir, descobrindo você)
Sua voz tomou conta da sala e eu suspirei, pegando uma almofada. Abracei-a enquanto observava cantando e tocando com a maior concentração do mundo.
One mile to every inch of
(Uma milha para cada polegada)
Your skin like porcelain
(Da sua pele como porcelana)
One pair of candy lips and
(Dos seus doces lábios e)
Your bubblegum tongue
(Sua língua de chiclete)
And if you want love
(Se você quer amor)
We’ll make it
(Nós faremos)
Swimming a deep sea of blankets
(Num mar profundo de cobertores)
Take all your big plans and break ‘em
(Reúna todos os seus grandes planos e desfaça-os)
This is bound to be a while
(Isso vai demorar um tempo)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Your body is a wonder (I’ll use my hands)
(Seu corpo é um paraíso – Eu usarei minhas mãos)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Quando ele me olhou e cantou o refrão, eu senti meu coração disparar e um arrepio percorreu meu corpo todo. Mordi meu lábio inferior e desviei o olhar para minhas mãos. O olhar de parecia queimar sobre o meu corpo e minhas bochechas ruborizaram com a intensidade a qual ele usava para cantar aquela canção. Uma canção tão sincera e cheia de significados, pelo menos para mim.
Something about the way the hair falls in your face
(Tem algo no jeito que o cabelo cai sobre o seu rosto)
I love the shape you, take when crawling towards the pillowcase
(Adoro vê-la engatinhar em direção ao travesseiro)
You tell me where to go and though I might leave to find it
(Diga-me aonde ir e mesmo que eu vá)
I’ll never let your head hit the bed without my hand behind it
(Eu nunca deixarei sua cabeça encostar-se à cama sem minhas mãos para apará-la)
You want love, we’ll make it
(Você quer amor, nós faremos)
Swimming a deep sea of blankets
(Num mar profundo de cobertores)
Take all your big plans and break ‘em
(Reúna todos os seus grandes planos e desfaça-os)
This is bound to be a while
(Isso vai demorar um tempo)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Your body is a wonder (I’ll use my hands)
(Seu corpo é um paraíso – Eu usarei minhas mãos)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
me olhou e acenou com a cabeça, chamando-me para sentar ao seu lado. Suspirei e tirei a almofada de meu colo, arrastando-me até seu corpo de forma lenta. Quando eu já estava sentada ao seu lado, ele me encarou com aqueles olhos intensos e continuou a cantar enquanto me observava. Eu queria desviar meu olhar e abaixar a cabeça, mas eu simplesmente não conseguia. Seus olhos me prendiam a ele.
Damn, baby
(Caramba, baby)
You frustrate me
(Você me frustra)
I know you’re mine, all mine, all mine
(Eu sei que você é minha, toda minha, toda minha)
But you look so good, it hurts sometimes
(Mas você é tão bonita que chega a doer às vezes)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Your body is a wonder (I’ll use my hands)
(Seu corpo é um paraíso – Eu usarei minhas mãos)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Your body is wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Ele sorriu enquanto cantava o finalzinho da música e eu sorri de volta, abaixando um pouco a cabeça. Minhas mãos estavam entrelaçadas e eu fiquei as olhando como tivesse alguma coisa muito interessante de se observar ali. Ouvi os últimos acordes da música, até que parou de cantar e tocar. Um silêncio pairou sobre o ar e eu engoli em seco, antes de virar meu rosto e encará-lo. Ele estava com o rosto virado para a janela e ouvi um suspiro escapar de seus lábios.
- Eu não sabia que você cantava. – comentei tímida.
- E não canto. – declarou calmamente.
Ele me olhou e eu arqueei minha sobrancelha, cruzando meus braços.
- Ah, não? Então o que foi isso que você acabou de fazer? – perguntei.
riu e negou com a cabeça, colocando o violão no chão, ao lado de sua perna.
- Digamos que eu só canto para passar o tempo... É uma espécie de hobby. – deu de ombros.
- Eu nem sabia que você tinha um violão. Realmente, você me surpreendeu e me deixou sem palavras, .
Ele riu novamente e apoiou os cotovelos nas pernas.
- Eu comprei esse violão há uns dias. Deixei o meu no Canadá. – ele disse – Então, um dia desses, eu estava caminhando pelas ruas de Nova York logo depois do trabalho, e vi uma loja de instrumentos musicais. Decidi comprar... Para relembrar os velhos tempos.
- E como você aprendeu a tocar? – perguntei curiosa, sorrindo.
- Sozinho. – respondeu e eu arregalei os olhos.
- Sozinho? Sério mesmo?
- Sim. Eu sempre gostei de música e bem, não foi difícil aprender a tocar.
- Eu sempre quis aprender, mas acho que não tenho dom para música. – dei de ombros.
- Se você quiser, eu posso te ensinar algum dia. É bem fácil.
- Quem sabe... – sorri.
assentiu, e novamente o silêncio reinou entre nós.
Suspirei e recostei minhas costas ao sofá, sentando-me de forma mais relaxada. Passei a mão no cabelo e tirei minhas sapatilhas com o auxílio dos meus pés. Nem sei por quanto tempo e eu ficamos em silêncio, mas o mesmo fez questão de quebrá-lo. Ele parecia tão incomodado com isso quanto eu.
- Você o beijou? – sua voz rouca perguntou.
- O quê? – franzi a testa.
- Você beijou o ? – repetiu e eu tive a certeza do que ele queria saber. Inicialmente, pensei que tivesse ouvido errado, mas não.
Olhei para a parede branca à minha frente e entrelacei minhas mãos novamente.
- Por que quer saber? – perguntei calmamente.
- Acho que eu tenho o direito de saber, não? – ele me olhou, mas continuei a encarar a parede. Aquele assunto estava começando a me incomodar de alguma forma. – Eu sou o seu amigo e bem... Eu estou te ajudando com tudo isso.
Suspirei e falei baixo:
- Digamos que eu segui o seu conselho.
recostou-se ao sofá também e pelo canto do olho, vi que ele também olhava para frente, encarando a minha estante.
- Eu disse a ele para irmos devagar. Não quero dar a impressão de que sou fácil e nem me deixar levar por palavras bonitas. Não quero ser jogada fora.
- Um homem inteligente nunca te jogaria fora.
Fechei meus olhos por um momento e suspirei ao ouvir suas palavras.
- Obrigada... – agradeci quase num sussurro.
- Você... Você teria o beijado se eu não tivesse te dito aquilo? – perguntou.
Eu não sabia aonde ele queria chegar com aquelas perguntas.
- E-Eu não sei... Provavelmente não. Não gosto de apressar muito as coisas. Prefiro deixá-las seguir seu próprio ritmo, e se tiver de ser... Será.
Silêncio e suspiros de ambas as partes. Era assim que eu poderia descrever a nossa atual situação.
- E você e a Olivia? Está tudo bem?
Que tipo de pergunta foi essa, ? Deixa de ser burra, mulher! – minha própria mente gritava comigo.
- Sim, está tudo bem. – ele respondeu breve.
Assenti com a cabeça. Repentinamente, senti meu coração pesar. Minha respiração ficou mais pesada, juntando-se ao meu coração, e minha garganta ardeu. Eu senti vontade de chorar. Meus olhos ameaçaram lacrimejar, mas eu me recusava a chorar. Eu não tenho motivo para chorar. Eu preciso de um motivo para isso, mas não tenho.
- Eu nunca amei alguém. – ele disse repentinamente e eu o encarei, franzindo a testa.
- Por que está dizendo isso?
- Antes de você chegar, eu estava refletindo sobre a minha vida. E cheguei à conclusão de que eu nunca amei alguém. Eu posso ter me apaixonado ou ter me sentido atraído por várias mulheres, mas nunca cheguei a amar. – sua expressão era pensativa e ele olhava para a estante. Repentinamente, ele virou a cabeça e me olhou. Encarei seus olhos e vi a sinceridade dentro deles. – Você acha que tem algo de errado comigo?
- Não, não acho que tenha algo de errado com você. Só acho que ainda não chegou o momento. Quando for a hora certa, você vai saber. – declarei – Eu também nunca amei, e estou aqui.
- Mas você nunca namorou ou ficou com alguém. Ao contrário de mim, que sempre tentei buscar o amor através de namoros e ficadas. Na verdade, eu sempre procurei o amor, mas nunca o encontrei.
- Você não ama a Olivia?
- Eu gosto muito da Olivia, de verdade. Posso dizer que sou apaixonado por ela, mas não chega a ser amor. – suspirou – Às vezes, penso que tenho um coração de pedra.
Coloquei minha mão sobre a sua. – Não diga isso, . Você é uma pessoa maravilhosa e tem um coração lindo. Sei que ainda vai ser muito feliz com a pessoa certa ao seu lado.
Ele olhou para nossas mãos juntas e logo seu olhar estava em meu rosto de novo.
- Você que é maravilhosa, . – ele disse num tom baixo.
Sorri amigavelmente e tentei soltar minha mão da sua, mas a apertou ainda mais. Ele entrelaçou nossos dedos e eu encarei aquilo com um pouco de surpresa. Engoli em seco.
Ainda recostados ao sofá, ficamos ali por um tempo com o nosso costumeiro silêncio. Senti os dedos de começarem a acariciar minha mão e o olhei. Seu olhar estava sobre nossas mãos e ele parecia estar pensando em algo. Seu dedo indicador fez um pequeno rastro nas costas de minha mão e eu me arrepiei. Ele contornou meus dedos com o seu e eu fiquei encarando os seus movimentos. Ele virou minha mão e passou seu dedo sobre as linhas da minha palma. Logo, ele colocou a sua mão sobre a minha e as entrelaçou. Sentir seu toque sobre a pele de minha mão fez um calor subir, passando por meu braço e chegando ao meu coração, disparando-o no mesmo instante. Foi como uma corrente elétrica, que me assustou um pouco, admito.
- Sua mão é tão pequena. – ele comentou e eu ri fraco.
- Queria que eu tivesse mãos gigantes?
- É tão delicada e... Macia. – ele continuou, ignorando minha pergunta.
Repentinamente, sua mão começou a subir por meu braço, de forma lenta. Por cada pedacinho de pele que sua mão tocava, uma nova faísca parecia sair do meu corpo e a minha temperatura aumentava. Minha garganta ficou seca e eu suspirei, vendo sua mão chegar ao meu ombro. Ele desceu um pouco a alça do meu vestido e passou as pontas de seus dedos em minha pele. Encarei seu rosto e reparei o quão perto ele estava, sem que ao menos eu tivesse percebido sua aproximação. Sua respiração batia em minha bochecha direita e eu me arrepiei ainda mais quando seu dedo indicador fez um pequeno rastro por meu pescoço.
- Sua pele é tão quente. – disse com uma voz baixa, quase num sussurro, bem perto do meu ouvido.
Engoli em seco e fiquei em silêncio. Eu não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Parece que o seu toque me deixava fora de mim. Eu não sabia o que falar e nem o que fazer. Sinto até o cheiro de queimado exalando de meus neurônios. Ops, parece que eu sofri um curto circuito. Balancei a cabeça, afastando tais pensamentos idiotas. Olhei novamente para e ele continuava a acariciar minha pele apenas com as pontinhas de seus dedos. Ele os levou até o meu colo e o acariciou. Fechei os olhos por um momento e mordi o lábio quando senti seus lábios macios tocarem meu ombro desnudo.
distribuiu pequenos beijos por aquela região e depois levou seus lábios até minha clavícula, voltando a me beijar. Seus beijos eram delicados e calmos, mas que faziam minha pele arder e esquentar gradativamente. Por um momento, abri meus olhos e vi o corpo de inclinado, quase totalmente por cima do meu. Suspirei e parou de beijar minha clavícula. Ele subiu seu rosto e encarou meus olhos enquanto levava sua mão direita até minha bochecha, fazendo uma pequena carícia com o polegar.
Sua testa encostou-se à minha e eu fechei meus olhos, assim como . Seus lábios estavam entreabertos e eu podia sentir o seu hálito de menta exalando em meu rosto. Inesperadamente, senti seus lábios roçando em meu pescoço e senti meu corpo todo ficar mole. Relaxei ainda mais no sofá e um suspiro escapou dos meus lábios quando beijou levemente meu pescoço. Ele distribuía beijos de cima a baixo e depois, fazia o caminho inverso. Ele beijou minha mandíbula, passou para minha bochecha e logo depois, chegou ao meu nariz. Ele o beijou e eu apertei o pulso de sua mão direita que ainda se encontrava em meu rosto.
Senti seus dedos escorregarem pelo meu outro ombro, levando as alças do vestido consigo. Ele se inclinou e o beijou, exatamente como ele tinha feito com o direito. Ele beijou o outro lado do meu pescoço, subindo até chegar à minha orelha. Beijou o lóbulo da minha orelha e o mordiscou em seguida, fazendo a corrente elétrica retornar ao meu corpo em questão de segundos.
- ... – suspirei seu nome. Eu tentava juntar forças para fazê-lo parar, mas eu simplesmente não conseguia. Estava sendo impossível para mim.
- Your body is a wonderland... I’ll use my hands... – ele cantou suavemente em meu ouvido e aquilo foi o fim. Meu corpo cedeu aos seus encantos naquele exato momento.
Sua mão foi até minha nuca e se embrenhou em meus cabelos, puxando meu rosto em direção ao seu.
- One pair of candy lips and... Your bubblegum tongue. – ele cantou outro trecho da música e eu suspirei.
Num ato desesperado, envolvi seu pescoço com ambas as mãos e puxei seu rosto para mim. Nossos lábios se roçaram e nos encaramos bem de perto. Suas íris estavam bem mais brilhantes do que o normal e uma expressão de fascínio estava estampada em seu rosto. me olhava como se estivesse hipnotizado e eu acredito que eu o olhava da mesma maneira. Ele passou a língua por seus lábios, de forma preguiçosa, e eu acompanhei cada movimento com o olhar.
Mordi meu lábio inferior.
- Você quer que eu te beije, ? – perguntou com sua voz rouca e um tom sedutor. – Eu quero ter o seu consentimento.
Suspirei e fechei meus olhos. – Sim, . Eu quero que você me beije.
Eu já não poderia negar mais nada a ele. Eu já não me reconhecia mais.
- E quero agora. – completei.
Ouvi um suspiro pesado de sua parte e logo seu nariz encostou-se ao meu. Entreabri meus lábios e mordiscou levemente meu lábio inferior e o puxou para si, antes de selá-lo. Ele beijou meu lábio inferior de forma suave e o sugou em seguida. Puxei um pouco os cabelos de sua nuca e ele levou sua outra mão até minha cintura, apertando-a.
- Você tem certeza disso? – ele sussurrou contra meus lábios.
- , cala a boca e me beija logo. – respondi um tanto impaciente.
Sem perda de tempo, ele cobriu meus lábios com os seus, e senti meu coração saltitar. Sua língua tocou meu lábio inferior e eu lhe cedi passagem. Logo, sua língua acariciava a minha da mesma forma sensual e envolvente da outra vez. Eu gostava do seu beijo. Era lento e sem pressa para acabar. Ele sabia onde tocar e como me envolver de uma forma inexplicável. Praticamente todos os pelos do meu corpo se eriçavam quando ele me beijava. E eu não sei se algum dia eu preferiria outro beijo a não ser o seu. Só esse pensamento já me deixava atordoada e um pouco confusa, sem saber exatamente o que eu estava sentindo.
A atração que eu sentia por parecia se apossar do meu corpo de uma forma arrebatadora, e eu já nem tinha mais controle sobre minha mesma e os meus sentidos.
se inclinou sobre mim de tal maneira que eu já me encontrava deitada no sofá. Ele abriu minhas pernas e se posicionou no meio delas enquanto me beijava. Como consequência, meu vestido subiu um pouco em minhas coxas, e também não facilitou para o meu lado, já que colocou uma de suas mãos por baixo do tecido, subindo-o cada vez mais. Minhas coxas já se encontravam descobertas e o vestido estava abaixo do meu umbigo. segurou firmemente a minha coxa esquerda e a ergueu um pouco, levando-a a altura do seu quadril.
Suas mãos subiram por minhas coxas até chegarem a minha cintura, onde ele apertou com mais força. Quando o fôlego nos faltou, ele separou nossos lábios e levou sua boca até minha clavícula, distribuindo beijos por toda a minha pele. Deixei um gemido baixo escapar de meus lábios quando se movimentou sobre mim, encostando nossas intimidades. Como resposta, ele deu uma chupada quase no meio dos meus seios. Puxei seu cabelo com ambas as mãos e fechei meus olhos, jogando minha cabeça um pouco para trás. Senti quando sua mão subiu ainda mais sob meu vestido. Suas pequenas unhas arranharam minhas costas e eu arfei.
- ... – falei com a voz falha.
Levei minhas mãos de forma desesperada até a barra de sua camisa. Puxei-a para cima e me ajudou, levantando seus braços. Logo tive a visão de seu belo corpo e sorri tímida. Senti a pressão de seus lábios sobre os meus novamente e em seguida, sua língua já tocava a minha, mas de forma mais feroz e sedenta. Nem senti quando voltou a subir meu vestido. Somente percebi quando o mesmo já estava em meus seios e se afastou de mim para tirá-lo. Hesitante, eu levantei meus braços e deixei que ele passasse o vestido por minha cabeça.
Senti minhas bochechas esquentarem quando seus olhos passearam por meu corpo. Cobri meu rosto com minhas mãos e senti quando se inclinou mais sobre mim, chegando ao meu ouvido.
- Não fique com vergonha, . Seja uma mulher ousada e sensual. – ele sussurrou num tom de alerta.
Tirei minhas mãos do rosto e o olhei. – Você está sendo o ou meu professor agora?
Arqueei minha sobrancelha e revidou meu olhar.
- Os dois. Tudo que eu fizer com você vai ser uma aula. Portanto, faça o que eu digo.
Olhei-o incrédula.
- Eu não acredito que... Eu... – minha mente parecia ter dado um nó. Eu não conseguia formular uma única frase por conta da incredulidade que se apossava de mim.
- Já fazia um tempo que não tínhamos aulas. Então, eu tomei a liberdade de ter uma agora. – deu de ombros e eu continuei a encará-lo com a testa franzida.
- Então você quer que eu seja ousada e sensual? – sorri maligna em sua direção.
assentiu com uma expressão de tédio.
Em um movimento rápido, eu ergui meu corpo e empurrei , sentando-me em seu colo. Levei minhas mãos um pouco trêmulas por conta de meu nervosismo até o botão de sua calça e o abri.
- O que está fazendo? – ele me olhou confuso enquanto segurava minha cintura com ambas as mãos.
- Sendo ousada. – dei de ombros e levei minha mão até seu zíper, abrindo-o lentamente.
observava meus movimentos parecendo não acreditar no que eu estava fazendo. Levei minhas mãos até a barra de sua cueca e desci um pouco mais, chegando ao seu membro coberto pelo tecido preto. Senti o corpo de ficar tenso debaixo do meu e sua testa se franziu quando eu o toquei. fechou os olhos com certa força e mordeu seu lábio inferior. Movimentei minha mão, fazendo uma pequena carícia em seu membro e apertou mais minha cintura.
- ... – ele falou num tom repreensivo.
- O que foi, ? Eu estou apenas fazendo o que você disse, professor. – falei com uma voz inocente e ele me olhou com raiva.
- Okay, pode parar. Eu já entendi. – tentou tirar minha mão de seu membro, mas eu neguei com a cabeça, forçando a minha mão ainda mais contra ele. Ele rosnou baixo e eu arqueei a sobrancelha ao ver um volume se formando por baixo do tecido.
- Olha só quem está ficando excitado... – comentei debochada e ia gritar comigo, se eu não tivesse coberto seus lábios com os meus, impedindo-o de falar qualquer coisa.
Ele entreabriu seus lábios e eu aprofundei o beijo. Num movimento inesperado, mordeu meu lábio com certa força e eu recuei, soltando um grito.
- Não acredito que você me mordeu, ! – disse incrédula, levando minha mão até meu lábio. Olhei meus dedos sujos de sangue e encarei com raiva.
Ele deu de ombros, sorrindo maroto. Bufei e apertei seu membro com força. O corpo de deu um pequeno pulo e ele fez uma careta de sofrimento e prazer.
- Não me atiça, . – avisou com uma voz baixa, rosnando em seguida. – Até agora eu estava me segurando. Não me faça perder o controle com você.
- Ah, é? E o que você vai fazer? – provoquei contra seus lábios. – Eu não tenho medo de você, .
Ele arqueou a sobrancelha, aceitando o meu desafio. Voltei a acariciar seu membro com certa pressão, mas um ato totalmente inesperado me fez parar no mesmo instante. A mão de adentrou minha calcinha e ele passou seu dedo indicador na divisória dos lábios da minha intimidade. Mordi meu lábio inferior e desabei sobre o corpo de , encostando minha testa em seu ombro desnudo. riu contra minha orelha. Uma risada debochada e divertida, que fez meu sangue ferver nas veias. Droga, ele sabe jogar.
Seu dedo indicador adentrou meus lábios e começou a fazer pequenos movimentos circulares em meu clitóris.
- , para... – avisei ameaçadora em sua orelha.
- Me obrigue. – ele respondeu no mesmo tom.
Adentrei sua cueca com minha mão e toquei seu membro. Uma corrente elétrica dez vezes mais forte do que as outras percorreu meu corpo desde o fio de cabelo até a ponta do dedo do pé. Um gemido rouco saiu de seus lábios rosados e eu mordisquei o lóbulo de sua orelha.
- Eu te avisei... – sussurrei.
- Você não sabe com quem está brincando, ...
- Você também não, querido. Eu posso ser virgem, mas não sou burra. – ele riu baixo de minhas palavras e voltou a mover seu dedo em mim.
Sua mão foi até o meu ombro e desceu a alça de meu sutiã de forma lenta.
- A propósito, gostei da lingerie. – disse num tom mais rouco. – Assim fica bem mais fácil de deixar um homem de pau duro.
- Como... você? – perguntei, segurando uma risada.
- Exatamente, baby.
Ele deu uma mordida em minha bochecha e mordi a sua de volta. Senti seu dedo ainda acariciando minha intimidade e eu voltei a movimentar minha mão, fazendo movimentos lentos de vai e vem.
- Parece que não sou o único excitado aqui. – ele comentou. – Acho que consegui te excitar pela primeira vez, baby.
Ele tirou o dedo de minha intimidade e o levou até perto do meu rosto. Franzi a testa ao ver um líquido transparente em seu dedo.
- Agora você sabe como é estar molhada. – falou e eu o encarei.
Suas pupilas estavam dilatadas e me olhava da mesma forma da outra vez. Seus olhos estavam brilhantes ao mesmo tempo em que tinham uma coloração mais escura.
- E você sabe o que isso significa, babe? – ele se aproximou do meu ouvido e sussurrou: - Você está pronta para mim... E quer saber? Eu deslizaria facilmente para dentro de você.
- ... – meu tom de repreensão era bem claro, o que o fez soltar uma risada nasalada.
- O que foi, ? Não gosta de ouvir umas sacanagens de vez em quando?
Fiquei em silêncio e engoli em seco.
- Oh, baby... Você está tão molhadinha... Eu adoraria ter o meu pênis dentro de você, e te satisfazer até você gozar pela primeira vez... Comigo.
Mordi meu lábio inferior e balancei a cabeça, tentando controlar meus impulsos. Admito que estava sendo bem difícil quando se tem falando sacanagens em seu ouvido ao mesmo tempo em que desliza seus dedos em minha intimidade nunca tocada antes. Apertei seus ombros e encostei nossas testas, sentindo sua respiração ofegante bater contra a minha, que estava da mesma maneira. Eu já nem o tocava mais, mas não desistia de me explorar. Droga, o que eu fui inventar?
- Acho que já está bom, ... Pare. – minha voz saia entrecortada.
Ele riu fraco. – Logo agora que está ficando mais divertido? Oh, não, ...
Seus dedos aumentaram a intensidade dos movimentos em meu clitóris e meu coração se acelerava ainda mais. Revirei meus olhos quando seu polegar pressionou meu ponto de prazer.
- Pare... ! – falei um pouco atordoada. Minha voz estava falha e minha mente estava dividida em pedir para parar e ficar calada, apenas aproveitando as sensações que ele estava a me proporcionar.
- Diga-me, ... Você gostaria de ter o seu primeiro orgasmo comigo? – ele perguntou, ignorando completamente o meu pedido.
- Eu me recuso a responder isso. – pela primeira vez, consegui dizer com a voz mais firme.
Ele riu debochado e a minha vontade naquela hora foi arrancar-lhe a cabeça e jogar para os leões. Oh céus, eu estou tão atordoada com seus dedos que nem consigo formar um pensamento decente.
- Eu vou fingir que a sua resposta foi sim, porque eu quero isso tanto quanto você.
Arranhei seus ombros com minhas unhas curtas e fechei meus olhos. Seus movimentos se intensificaram e eu já não conseguia falar nada. Eu só sabia arfar e ofegar contra a orelha de . Eu estava com a cabeça deitada em seu ombro e uma camada fina de suor começou a aparecer em minha testa. Senti um de seus dedos descendo até chegar à entrada de minha intimidade. Meu corpo ficou tenso e eu paralisei na mesma hora.
- Não se preocupe. Eu não vou te penetrar. – ele disse com sua voz suave e eu assenti.
Meu corpo relaxou quando eu senti seu dedo apenas acariciando a minha entrada, sem penetrá-la. Ele fez movimentos circulares enquanto continuava a pressionar meu clitóris com seu polegar.
- Se movimente contra meus dedos, . – ele instruiu, mas eu neguei com a cabeça.
- Não, eu não...
- Faça o que eu mando. – ele me interrompeu com firmeza na voz. – Mova seus quadris como se estivesse transando comigo.
Suspirei e com meu rosto na curvatura de seu pescoço, comecei a movimentar meus quadris lentamente. Os movimentos pareceram ficar ainda mais intensos e os lugares tocados por pareceram ficar mais sensíveis.
- Está gostando que eu te masturbe, baby? – gemi baixo em resposta. – Agora imagine quando eu estiver dentro de você. Nossos quadris se movimentando juntos enquanto eu te levo às alturas... Enquanto eu faço você gemer o meu nome e atinjo seu ponto de prazer mais profundo. Oh, babe, você deve ser tão apertadinha.
- ! – gemi alto seu nome.
- Está sentindo seu orgasmo se formando, ? – ele sussurrou e soprou contra meu pescoço, causando-me arrepios. – Deixe-o encontrar-se aos meus dedos, pequena.
Minhas pernas tremeram e meus quadris aumentaram o ritmo. Eu já não tinha controle sobre o meu corpo. Meus quadris iam cada vez mais rápidos ao encontro dos dedos de , até que eu senti espasmos por minhas partes baixas e soltei um gemido.
- Isso... Goza para mim, babe. – ao ouvir sua voz, senti um líquido escorrer por minha intimidade e meu corpo relaxou, caindo por cima do de , inclinado no sofá.
Meu coração parecia querer saltar do meu peito e minha respiração estava muito acelerada. O suor escorria por minha testa e pingava no ombro de .
- Você acaba de ter o seu primeiro orgasmo, . Como se sente sobre isso? – o ouvi perguntar como se estivesse fazendo uma entrevista de emprego.
Soltei uma risadinha baixa, sem muita força. – Eu estou me sentindo incrivelmente bem. Isso foi... Ótimo.
- E isso não é nada comparado ao que eu ainda posso fazer com você.
Dei-lhe um tapa fraco no ombro e ele riu.
- Não comece de novo, .
- Sabe do que eu não gostei nem um pouco?
Levantei meu rosto e o encarei.
- Do quê? – perguntei.
- Eu te masturbei, te dei o seu primeiro orgasmo e eu continuo aqui. Duro e necessitado. O que fazer, doce ? – ele arqueou a sobrancelha em minha direção.
Ri tímida, sentindo minhas bochechas esquentarem.
- Bem, eu não sei... Você não quer que eu te masturbe... Ou quer? – engoli em seco, encarando-o.
fez uma expressão pensativa e me olhou, sorrindo malicioso. – Não seria uma má ideia...
Arregalei um pouco meus olhos e ele gargalhou.
- Eu estou brincando, . Tudo há seu tempo, certo?
Assenti e levei minha mão até sua bochecha, fazendo uma pequena carícia.
- Até porque se eu te deixasse fazer isso, não conseguiria me controlar. O resto de sanidade que ainda existe em mim, iria para o espaço, e eu te jogaria nesse sofá e fod... – o interrompi.
- ! Acho melhor você ficar quietinho. – disse tímida.
- Agora está com vergonha, huh? Mas antes... Quando meus dedos estavam em você...
Balancei a cabeça e escondi meu rosto em seu peito.
- Completando a minha frase... Eu foderia com você até entrar em coma.
Olhei-o assustada.
- Eu estou brincando, ! – gargalhou com as mãos em forma de rendição. – Ou não...
- Eu desisto de você, . Você é um pervertido.
- Posso até ser, mas foram os dedos desse pervertido aqui que te satisfizeram... – ele apontou para si mesmo e eu suspirei.
, você me satisfaz de qualquer maneira.
(n/a: Ponham a música para tocar, por favor. É de suma importância).
me deixou em casa e somente me deu um beijo na bochecha. Agradeci mentalmente por ele estar respeitando a minha decisão e saí do carro. Passei por Ezequiel na recepção, que estava lendo um jornal, e acenei lhe desejando uma boa noite. Entrei no elevador e fui até o meu andar. Dentro do pequeno espaço, eu encostei meu corpo à parede e fechei meus olhos até sentir o elevador parar. Saí do mesmo e andei pelo corredor, indo até a minha porta. Tentei abri-la, mas vendo que estava trancada, levei minha mão até o fundo de minha bolsa e peguei o chaveiro.
Abri a porta e logo a fechei, trancado-a novamente.
- Boa noite. – cumprimentei ao vê-lo sentado no sofá, com um violão no colo.
- Boa noite, . – ele me olhou – E como foi o encontro?
- Ótimo. – disse me aproximando e jogando minha pequena bolsa ao seu lado. Sentei-me no braço do sofá. – e eu conversamos muito. Eu contei a ele sobre meus gostos e ele me contou os dele. Acho que deu bastante para nos conhecermos.
assentiu e posicionou o violão, começando a dedilhar uma música bastante conhecida. – Espero que não tenha cometido nenhum erro. Afinal, a primeira impressão em um encontro é a que vale.
- Acho que não fiz nada de errado. Eu me diverti muito. – sorri.
ficou em silêncio e continuou a tocar. Observei-o e me surpreendi ao ouvir sua voz alguns segundos depois. Ele realmente cantava muito bem.
We got the afternoon
(Temos a tarde toda)
You got this room for two
(Você tem esse quarto para dois)
One thing I’ve left to do
(Só uma coisa que eu tenho a fazer)
Discover me, discovering you
(Me descobrir, descobrindo você)
Sua voz tomou conta da sala e eu suspirei, pegando uma almofada. Abracei-a enquanto observava cantando e tocando com a maior concentração do mundo.
One mile to every inch of
(Uma milha para cada polegada)
Your skin like porcelain
(Da sua pele como porcelana)
One pair of candy lips and
(Dos seus doces lábios e)
Your bubblegum tongue
(Sua língua de chiclete)
And if you want love
(Se você quer amor)
We’ll make it
(Nós faremos)
Swimming a deep sea of blankets
(Num mar profundo de cobertores)
Take all your big plans and break ‘em
(Reúna todos os seus grandes planos e desfaça-os)
This is bound to be a while
(Isso vai demorar um tempo)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Your body is a wonder (I’ll use my hands)
(Seu corpo é um paraíso – Eu usarei minhas mãos)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Quando ele me olhou e cantou o refrão, eu senti meu coração disparar e um arrepio percorreu meu corpo todo. Mordi meu lábio inferior e desviei o olhar para minhas mãos. O olhar de parecia queimar sobre o meu corpo e minhas bochechas ruborizaram com a intensidade a qual ele usava para cantar aquela canção. Uma canção tão sincera e cheia de significados, pelo menos para mim.
Something about the way the hair falls in your face
(Tem algo no jeito que o cabelo cai sobre o seu rosto)
I love the shape you, take when crawling towards the pillowcase
(Adoro vê-la engatinhar em direção ao travesseiro)
You tell me where to go and though I might leave to find it
(Diga-me aonde ir e mesmo que eu vá)
I’ll never let your head hit the bed without my hand behind it
(Eu nunca deixarei sua cabeça encostar-se à cama sem minhas mãos para apará-la)
You want love, we’ll make it
(Você quer amor, nós faremos)
Swimming a deep sea of blankets
(Num mar profundo de cobertores)
Take all your big plans and break ‘em
(Reúna todos os seus grandes planos e desfaça-os)
This is bound to be a while
(Isso vai demorar um tempo)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Your body is a wonder (I’ll use my hands)
(Seu corpo é um paraíso – Eu usarei minhas mãos)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
me olhou e acenou com a cabeça, chamando-me para sentar ao seu lado. Suspirei e tirei a almofada de meu colo, arrastando-me até seu corpo de forma lenta. Quando eu já estava sentada ao seu lado, ele me encarou com aqueles olhos intensos e continuou a cantar enquanto me observava. Eu queria desviar meu olhar e abaixar a cabeça, mas eu simplesmente não conseguia. Seus olhos me prendiam a ele.
Damn, baby
(Caramba, baby)
You frustrate me
(Você me frustra)
I know you’re mine, all mine, all mine
(Eu sei que você é minha, toda minha, toda minha)
But you look so good, it hurts sometimes
(Mas você é tão bonita que chega a doer às vezes)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Your body is a wonder (I’ll use my hands)
(Seu corpo é um paraíso – Eu usarei minhas mãos)
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Your body is wonderland
(Seu corpo é um paraíso)
Ele sorriu enquanto cantava o finalzinho da música e eu sorri de volta, abaixando um pouco a cabeça. Minhas mãos estavam entrelaçadas e eu fiquei as olhando como tivesse alguma coisa muito interessante de se observar ali. Ouvi os últimos acordes da música, até que parou de cantar e tocar. Um silêncio pairou sobre o ar e eu engoli em seco, antes de virar meu rosto e encará-lo. Ele estava com o rosto virado para a janela e ouvi um suspiro escapar de seus lábios.
- Eu não sabia que você cantava. – comentei tímida.
- E não canto. – declarou calmamente.
Ele me olhou e eu arqueei minha sobrancelha, cruzando meus braços.
- Ah, não? Então o que foi isso que você acabou de fazer? – perguntei.
riu e negou com a cabeça, colocando o violão no chão, ao lado de sua perna.
- Digamos que eu só canto para passar o tempo... É uma espécie de hobby. – deu de ombros.
- Eu nem sabia que você tinha um violão. Realmente, você me surpreendeu e me deixou sem palavras, .
Ele riu novamente e apoiou os cotovelos nas pernas.
- Eu comprei esse violão há uns dias. Deixei o meu no Canadá. – ele disse – Então, um dia desses, eu estava caminhando pelas ruas de Nova York logo depois do trabalho, e vi uma loja de instrumentos musicais. Decidi comprar... Para relembrar os velhos tempos.
- E como você aprendeu a tocar? – perguntei curiosa, sorrindo.
- Sozinho. – respondeu e eu arregalei os olhos.
- Sozinho? Sério mesmo?
- Sim. Eu sempre gostei de música e bem, não foi difícil aprender a tocar.
- Eu sempre quis aprender, mas acho que não tenho dom para música. – dei de ombros.
- Se você quiser, eu posso te ensinar algum dia. É bem fácil.
- Quem sabe... – sorri.
assentiu, e novamente o silêncio reinou entre nós.
Suspirei e recostei minhas costas ao sofá, sentando-me de forma mais relaxada. Passei a mão no cabelo e tirei minhas sapatilhas com o auxílio dos meus pés. Nem sei por quanto tempo e eu ficamos em silêncio, mas o mesmo fez questão de quebrá-lo. Ele parecia tão incomodado com isso quanto eu.
- Você o beijou? – sua voz rouca perguntou.
- O quê? – franzi a testa.
- Você beijou o ? – repetiu e eu tive a certeza do que ele queria saber. Inicialmente, pensei que tivesse ouvido errado, mas não.
Olhei para a parede branca à minha frente e entrelacei minhas mãos novamente.
- Por que quer saber? – perguntei calmamente.
- Acho que eu tenho o direito de saber, não? – ele me olhou, mas continuei a encarar a parede. Aquele assunto estava começando a me incomodar de alguma forma. – Eu sou o seu amigo e bem... Eu estou te ajudando com tudo isso.
Suspirei e falei baixo:
- Digamos que eu segui o seu conselho.
recostou-se ao sofá também e pelo canto do olho, vi que ele também olhava para frente, encarando a minha estante.
- Eu disse a ele para irmos devagar. Não quero dar a impressão de que sou fácil e nem me deixar levar por palavras bonitas. Não quero ser jogada fora.
- Um homem inteligente nunca te jogaria fora.
Fechei meus olhos por um momento e suspirei ao ouvir suas palavras.
- Obrigada... – agradeci quase num sussurro.
- Você... Você teria o beijado se eu não tivesse te dito aquilo? – perguntou.
Eu não sabia aonde ele queria chegar com aquelas perguntas.
- E-Eu não sei... Provavelmente não. Não gosto de apressar muito as coisas. Prefiro deixá-las seguir seu próprio ritmo, e se tiver de ser... Será.
Silêncio e suspiros de ambas as partes. Era assim que eu poderia descrever a nossa atual situação.
- E você e a Olivia? Está tudo bem?
Que tipo de pergunta foi essa, ? Deixa de ser burra, mulher! – minha própria mente gritava comigo.
- Sim, está tudo bem. – ele respondeu breve.
Assenti com a cabeça. Repentinamente, senti meu coração pesar. Minha respiração ficou mais pesada, juntando-se ao meu coração, e minha garganta ardeu. Eu senti vontade de chorar. Meus olhos ameaçaram lacrimejar, mas eu me recusava a chorar. Eu não tenho motivo para chorar. Eu preciso de um motivo para isso, mas não tenho.
- Eu nunca amei alguém. – ele disse repentinamente e eu o encarei, franzindo a testa.
- Por que está dizendo isso?
- Antes de você chegar, eu estava refletindo sobre a minha vida. E cheguei à conclusão de que eu nunca amei alguém. Eu posso ter me apaixonado ou ter me sentido atraído por várias mulheres, mas nunca cheguei a amar. – sua expressão era pensativa e ele olhava para a estante. Repentinamente, ele virou a cabeça e me olhou. Encarei seus olhos e vi a sinceridade dentro deles. – Você acha que tem algo de errado comigo?
- Não, não acho que tenha algo de errado com você. Só acho que ainda não chegou o momento. Quando for a hora certa, você vai saber. – declarei – Eu também nunca amei, e estou aqui.
- Mas você nunca namorou ou ficou com alguém. Ao contrário de mim, que sempre tentei buscar o amor através de namoros e ficadas. Na verdade, eu sempre procurei o amor, mas nunca o encontrei.
- Você não ama a Olivia?
- Eu gosto muito da Olivia, de verdade. Posso dizer que sou apaixonado por ela, mas não chega a ser amor. – suspirou – Às vezes, penso que tenho um coração de pedra.
Coloquei minha mão sobre a sua. – Não diga isso, . Você é uma pessoa maravilhosa e tem um coração lindo. Sei que ainda vai ser muito feliz com a pessoa certa ao seu lado.
Ele olhou para nossas mãos juntas e logo seu olhar estava em meu rosto de novo.
- Você que é maravilhosa, . – ele disse num tom baixo.
Sorri amigavelmente e tentei soltar minha mão da sua, mas a apertou ainda mais. Ele entrelaçou nossos dedos e eu encarei aquilo com um pouco de surpresa. Engoli em seco.
Ainda recostados ao sofá, ficamos ali por um tempo com o nosso costumeiro silêncio. Senti os dedos de começarem a acariciar minha mão e o olhei. Seu olhar estava sobre nossas mãos e ele parecia estar pensando em algo. Seu dedo indicador fez um pequeno rastro nas costas de minha mão e eu me arrepiei. Ele contornou meus dedos com o seu e eu fiquei encarando os seus movimentos. Ele virou minha mão e passou seu dedo sobre as linhas da minha palma. Logo, ele colocou a sua mão sobre a minha e as entrelaçou. Sentir seu toque sobre a pele de minha mão fez um calor subir, passando por meu braço e chegando ao meu coração, disparando-o no mesmo instante. Foi como uma corrente elétrica, que me assustou um pouco, admito.
- Sua mão é tão pequena. – ele comentou e eu ri fraco.
- Queria que eu tivesse mãos gigantes?
- É tão delicada e... Macia. – ele continuou, ignorando minha pergunta.
Repentinamente, sua mão começou a subir por meu braço, de forma lenta. Por cada pedacinho de pele que sua mão tocava, uma nova faísca parecia sair do meu corpo e a minha temperatura aumentava. Minha garganta ficou seca e eu suspirei, vendo sua mão chegar ao meu ombro. Ele desceu um pouco a alça do meu vestido e passou as pontas de seus dedos em minha pele. Encarei seu rosto e reparei o quão perto ele estava, sem que ao menos eu tivesse percebido sua aproximação. Sua respiração batia em minha bochecha direita e eu me arrepiei ainda mais quando seu dedo indicador fez um pequeno rastro por meu pescoço.
- Sua pele é tão quente. – disse com uma voz baixa, quase num sussurro, bem perto do meu ouvido.
Engoli em seco e fiquei em silêncio. Eu não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Parece que o seu toque me deixava fora de mim. Eu não sabia o que falar e nem o que fazer. Sinto até o cheiro de queimado exalando de meus neurônios. Ops, parece que eu sofri um curto circuito. Balancei a cabeça, afastando tais pensamentos idiotas. Olhei novamente para e ele continuava a acariciar minha pele apenas com as pontinhas de seus dedos. Ele os levou até o meu colo e o acariciou. Fechei os olhos por um momento e mordi o lábio quando senti seus lábios macios tocarem meu ombro desnudo.
distribuiu pequenos beijos por aquela região e depois levou seus lábios até minha clavícula, voltando a me beijar. Seus beijos eram delicados e calmos, mas que faziam minha pele arder e esquentar gradativamente. Por um momento, abri meus olhos e vi o corpo de inclinado, quase totalmente por cima do meu. Suspirei e parou de beijar minha clavícula. Ele subiu seu rosto e encarou meus olhos enquanto levava sua mão direita até minha bochecha, fazendo uma pequena carícia com o polegar.
Sua testa encostou-se à minha e eu fechei meus olhos, assim como . Seus lábios estavam entreabertos e eu podia sentir o seu hálito de menta exalando em meu rosto. Inesperadamente, senti seus lábios roçando em meu pescoço e senti meu corpo todo ficar mole. Relaxei ainda mais no sofá e um suspiro escapou dos meus lábios quando beijou levemente meu pescoço. Ele distribuía beijos de cima a baixo e depois, fazia o caminho inverso. Ele beijou minha mandíbula, passou para minha bochecha e logo depois, chegou ao meu nariz. Ele o beijou e eu apertei o pulso de sua mão direita que ainda se encontrava em meu rosto.
Senti seus dedos escorregarem pelo meu outro ombro, levando as alças do vestido consigo. Ele se inclinou e o beijou, exatamente como ele tinha feito com o direito. Ele beijou o outro lado do meu pescoço, subindo até chegar à minha orelha. Beijou o lóbulo da minha orelha e o mordiscou em seguida, fazendo a corrente elétrica retornar ao meu corpo em questão de segundos.
- ... – suspirei seu nome. Eu tentava juntar forças para fazê-lo parar, mas eu simplesmente não conseguia. Estava sendo impossível para mim.
- Your body is a wonderland... I’ll use my hands... – ele cantou suavemente em meu ouvido e aquilo foi o fim. Meu corpo cedeu aos seus encantos naquele exato momento.
Sua mão foi até minha nuca e se embrenhou em meus cabelos, puxando meu rosto em direção ao seu.
- One pair of candy lips and... Your bubblegum tongue. – ele cantou outro trecho da música e eu suspirei.
Num ato desesperado, envolvi seu pescoço com ambas as mãos e puxei seu rosto para mim. Nossos lábios se roçaram e nos encaramos bem de perto. Suas íris estavam bem mais brilhantes do que o normal e uma expressão de fascínio estava estampada em seu rosto. me olhava como se estivesse hipnotizado e eu acredito que eu o olhava da mesma maneira. Ele passou a língua por seus lábios, de forma preguiçosa, e eu acompanhei cada movimento com o olhar.
Mordi meu lábio inferior.
- Você quer que eu te beije, ? – perguntou com sua voz rouca e um tom sedutor. – Eu quero ter o seu consentimento.
Suspirei e fechei meus olhos. – Sim, . Eu quero que você me beije.
Eu já não poderia negar mais nada a ele. Eu já não me reconhecia mais.
- E quero agora. – completei.
Ouvi um suspiro pesado de sua parte e logo seu nariz encostou-se ao meu. Entreabri meus lábios e mordiscou levemente meu lábio inferior e o puxou para si, antes de selá-lo. Ele beijou meu lábio inferior de forma suave e o sugou em seguida. Puxei um pouco os cabelos de sua nuca e ele levou sua outra mão até minha cintura, apertando-a.
- Você tem certeza disso? – ele sussurrou contra meus lábios.
- , cala a boca e me beija logo. – respondi um tanto impaciente.
Sem perda de tempo, ele cobriu meus lábios com os seus, e senti meu coração saltitar. Sua língua tocou meu lábio inferior e eu lhe cedi passagem. Logo, sua língua acariciava a minha da mesma forma sensual e envolvente da outra vez. Eu gostava do seu beijo. Era lento e sem pressa para acabar. Ele sabia onde tocar e como me envolver de uma forma inexplicável. Praticamente todos os pelos do meu corpo se eriçavam quando ele me beijava. E eu não sei se algum dia eu preferiria outro beijo a não ser o seu. Só esse pensamento já me deixava atordoada e um pouco confusa, sem saber exatamente o que eu estava sentindo.
A atração que eu sentia por parecia se apossar do meu corpo de uma forma arrebatadora, e eu já nem tinha mais controle sobre minha mesma e os meus sentidos.
se inclinou sobre mim de tal maneira que eu já me encontrava deitada no sofá. Ele abriu minhas pernas e se posicionou no meio delas enquanto me beijava. Como consequência, meu vestido subiu um pouco em minhas coxas, e também não facilitou para o meu lado, já que colocou uma de suas mãos por baixo do tecido, subindo-o cada vez mais. Minhas coxas já se encontravam descobertas e o vestido estava abaixo do meu umbigo. segurou firmemente a minha coxa esquerda e a ergueu um pouco, levando-a a altura do seu quadril.
Suas mãos subiram por minhas coxas até chegarem a minha cintura, onde ele apertou com mais força. Quando o fôlego nos faltou, ele separou nossos lábios e levou sua boca até minha clavícula, distribuindo beijos por toda a minha pele. Deixei um gemido baixo escapar de meus lábios quando se movimentou sobre mim, encostando nossas intimidades. Como resposta, ele deu uma chupada quase no meio dos meus seios. Puxei seu cabelo com ambas as mãos e fechei meus olhos, jogando minha cabeça um pouco para trás. Senti quando sua mão subiu ainda mais sob meu vestido. Suas pequenas unhas arranharam minhas costas e eu arfei.
- ... – falei com a voz falha.
Levei minhas mãos de forma desesperada até a barra de sua camisa. Puxei-a para cima e me ajudou, levantando seus braços. Logo tive a visão de seu belo corpo e sorri tímida. Senti a pressão de seus lábios sobre os meus novamente e em seguida, sua língua já tocava a minha, mas de forma mais feroz e sedenta. Nem senti quando voltou a subir meu vestido. Somente percebi quando o mesmo já estava em meus seios e se afastou de mim para tirá-lo. Hesitante, eu levantei meus braços e deixei que ele passasse o vestido por minha cabeça.
Senti minhas bochechas esquentarem quando seus olhos passearam por meu corpo. Cobri meu rosto com minhas mãos e senti quando se inclinou mais sobre mim, chegando ao meu ouvido.
- Não fique com vergonha, . Seja uma mulher ousada e sensual. – ele sussurrou num tom de alerta.
Tirei minhas mãos do rosto e o olhei. – Você está sendo o ou meu professor agora?
Arqueei minha sobrancelha e revidou meu olhar.
- Os dois. Tudo que eu fizer com você vai ser uma aula. Portanto, faça o que eu digo.
Olhei-o incrédula.
- Eu não acredito que... Eu... – minha mente parecia ter dado um nó. Eu não conseguia formular uma única frase por conta da incredulidade que se apossava de mim.
- Já fazia um tempo que não tínhamos aulas. Então, eu tomei a liberdade de ter uma agora. – deu de ombros e eu continuei a encará-lo com a testa franzida.
- Então você quer que eu seja ousada e sensual? – sorri maligna em sua direção.
assentiu com uma expressão de tédio.
Em um movimento rápido, eu ergui meu corpo e empurrei , sentando-me em seu colo. Levei minhas mãos um pouco trêmulas por conta de meu nervosismo até o botão de sua calça e o abri.
- O que está fazendo? – ele me olhou confuso enquanto segurava minha cintura com ambas as mãos.
- Sendo ousada. – dei de ombros e levei minha mão até seu zíper, abrindo-o lentamente.
observava meus movimentos parecendo não acreditar no que eu estava fazendo. Levei minhas mãos até a barra de sua cueca e desci um pouco mais, chegando ao seu membro coberto pelo tecido preto. Senti o corpo de ficar tenso debaixo do meu e sua testa se franziu quando eu o toquei. fechou os olhos com certa força e mordeu seu lábio inferior. Movimentei minha mão, fazendo uma pequena carícia em seu membro e apertou mais minha cintura.
- ... – ele falou num tom repreensivo.
- O que foi, ? Eu estou apenas fazendo o que você disse, professor. – falei com uma voz inocente e ele me olhou com raiva.
- Okay, pode parar. Eu já entendi. – tentou tirar minha mão de seu membro, mas eu neguei com a cabeça, forçando a minha mão ainda mais contra ele. Ele rosnou baixo e eu arqueei a sobrancelha ao ver um volume se formando por baixo do tecido.
- Olha só quem está ficando excitado... – comentei debochada e ia gritar comigo, se eu não tivesse coberto seus lábios com os meus, impedindo-o de falar qualquer coisa.
Ele entreabriu seus lábios e eu aprofundei o beijo. Num movimento inesperado, mordeu meu lábio com certa força e eu recuei, soltando um grito.
- Não acredito que você me mordeu, ! – disse incrédula, levando minha mão até meu lábio. Olhei meus dedos sujos de sangue e encarei com raiva.
Ele deu de ombros, sorrindo maroto. Bufei e apertei seu membro com força. O corpo de deu um pequeno pulo e ele fez uma careta de sofrimento e prazer.
- Não me atiça, . – avisou com uma voz baixa, rosnando em seguida. – Até agora eu estava me segurando. Não me faça perder o controle com você.
- Ah, é? E o que você vai fazer? – provoquei contra seus lábios. – Eu não tenho medo de você, .
Ele arqueou a sobrancelha, aceitando o meu desafio. Voltei a acariciar seu membro com certa pressão, mas um ato totalmente inesperado me fez parar no mesmo instante. A mão de adentrou minha calcinha e ele passou seu dedo indicador na divisória dos lábios da minha intimidade. Mordi meu lábio inferior e desabei sobre o corpo de , encostando minha testa em seu ombro desnudo. riu contra minha orelha. Uma risada debochada e divertida, que fez meu sangue ferver nas veias. Droga, ele sabe jogar.
Seu dedo indicador adentrou meus lábios e começou a fazer pequenos movimentos circulares em meu clitóris.
- , para... – avisei ameaçadora em sua orelha.
- Me obrigue. – ele respondeu no mesmo tom.
Adentrei sua cueca com minha mão e toquei seu membro. Uma corrente elétrica dez vezes mais forte do que as outras percorreu meu corpo desde o fio de cabelo até a ponta do dedo do pé. Um gemido rouco saiu de seus lábios rosados e eu mordisquei o lóbulo de sua orelha.
- Eu te avisei... – sussurrei.
- Você não sabe com quem está brincando, ...
- Você também não, querido. Eu posso ser virgem, mas não sou burra. – ele riu baixo de minhas palavras e voltou a mover seu dedo em mim.
Sua mão foi até o meu ombro e desceu a alça de meu sutiã de forma lenta.
- A propósito, gostei da lingerie. – disse num tom mais rouco. – Assim fica bem mais fácil de deixar um homem de pau duro.
- Como... você? – perguntei, segurando uma risada.
- Exatamente, baby.
Ele deu uma mordida em minha bochecha e mordi a sua de volta. Senti seu dedo ainda acariciando minha intimidade e eu voltei a movimentar minha mão, fazendo movimentos lentos de vai e vem.
- Parece que não sou o único excitado aqui. – ele comentou. – Acho que consegui te excitar pela primeira vez, baby.
Ele tirou o dedo de minha intimidade e o levou até perto do meu rosto. Franzi a testa ao ver um líquido transparente em seu dedo.
- Agora você sabe como é estar molhada. – falou e eu o encarei.
Suas pupilas estavam dilatadas e me olhava da mesma forma da outra vez. Seus olhos estavam brilhantes ao mesmo tempo em que tinham uma coloração mais escura.
- E você sabe o que isso significa, babe? – ele se aproximou do meu ouvido e sussurrou: - Você está pronta para mim... E quer saber? Eu deslizaria facilmente para dentro de você.
- ... – meu tom de repreensão era bem claro, o que o fez soltar uma risada nasalada.
- O que foi, ? Não gosta de ouvir umas sacanagens de vez em quando?
Fiquei em silêncio e engoli em seco.
- Oh, baby... Você está tão molhadinha... Eu adoraria ter o meu pênis dentro de você, e te satisfazer até você gozar pela primeira vez... Comigo.
Mordi meu lábio inferior e balancei a cabeça, tentando controlar meus impulsos. Admito que estava sendo bem difícil quando se tem falando sacanagens em seu ouvido ao mesmo tempo em que desliza seus dedos em minha intimidade nunca tocada antes. Apertei seus ombros e encostei nossas testas, sentindo sua respiração ofegante bater contra a minha, que estava da mesma maneira. Eu já nem o tocava mais, mas não desistia de me explorar. Droga, o que eu fui inventar?
- Acho que já está bom, ... Pare. – minha voz saia entrecortada.
Ele riu fraco. – Logo agora que está ficando mais divertido? Oh, não, ...
Seus dedos aumentaram a intensidade dos movimentos em meu clitóris e meu coração se acelerava ainda mais. Revirei meus olhos quando seu polegar pressionou meu ponto de prazer.
- Pare... ! – falei um pouco atordoada. Minha voz estava falha e minha mente estava dividida em pedir para parar e ficar calada, apenas aproveitando as sensações que ele estava a me proporcionar.
- Diga-me, ... Você gostaria de ter o seu primeiro orgasmo comigo? – ele perguntou, ignorando completamente o meu pedido.
- Eu me recuso a responder isso. – pela primeira vez, consegui dizer com a voz mais firme.
Ele riu debochado e a minha vontade naquela hora foi arrancar-lhe a cabeça e jogar para os leões. Oh céus, eu estou tão atordoada com seus dedos que nem consigo formar um pensamento decente.
- Eu vou fingir que a sua resposta foi sim, porque eu quero isso tanto quanto você.
Arranhei seus ombros com minhas unhas curtas e fechei meus olhos. Seus movimentos se intensificaram e eu já não conseguia falar nada. Eu só sabia arfar e ofegar contra a orelha de . Eu estava com a cabeça deitada em seu ombro e uma camada fina de suor começou a aparecer em minha testa. Senti um de seus dedos descendo até chegar à entrada de minha intimidade. Meu corpo ficou tenso e eu paralisei na mesma hora.
- Não se preocupe. Eu não vou te penetrar. – ele disse com sua voz suave e eu assenti.
Meu corpo relaxou quando eu senti seu dedo apenas acariciando a minha entrada, sem penetrá-la. Ele fez movimentos circulares enquanto continuava a pressionar meu clitóris com seu polegar.
- Se movimente contra meus dedos, . – ele instruiu, mas eu neguei com a cabeça.
- Não, eu não...
- Faça o que eu mando. – ele me interrompeu com firmeza na voz. – Mova seus quadris como se estivesse transando comigo.
Suspirei e com meu rosto na curvatura de seu pescoço, comecei a movimentar meus quadris lentamente. Os movimentos pareceram ficar ainda mais intensos e os lugares tocados por pareceram ficar mais sensíveis.
- Está gostando que eu te masturbe, baby? – gemi baixo em resposta. – Agora imagine quando eu estiver dentro de você. Nossos quadris se movimentando juntos enquanto eu te levo às alturas... Enquanto eu faço você gemer o meu nome e atinjo seu ponto de prazer mais profundo. Oh, babe, você deve ser tão apertadinha.
- ! – gemi alto seu nome.
- Está sentindo seu orgasmo se formando, ? – ele sussurrou e soprou contra meu pescoço, causando-me arrepios. – Deixe-o encontrar-se aos meus dedos, pequena.
Minhas pernas tremeram e meus quadris aumentaram o ritmo. Eu já não tinha controle sobre o meu corpo. Meus quadris iam cada vez mais rápidos ao encontro dos dedos de , até que eu senti espasmos por minhas partes baixas e soltei um gemido.
- Isso... Goza para mim, babe. – ao ouvir sua voz, senti um líquido escorrer por minha intimidade e meu corpo relaxou, caindo por cima do de , inclinado no sofá.
Meu coração parecia querer saltar do meu peito e minha respiração estava muito acelerada. O suor escorria por minha testa e pingava no ombro de .
- Você acaba de ter o seu primeiro orgasmo, . Como se sente sobre isso? – o ouvi perguntar como se estivesse fazendo uma entrevista de emprego.
Soltei uma risadinha baixa, sem muita força. – Eu estou me sentindo incrivelmente bem. Isso foi... Ótimo.
- E isso não é nada comparado ao que eu ainda posso fazer com você.
Dei-lhe um tapa fraco no ombro e ele riu.
- Não comece de novo, .
- Sabe do que eu não gostei nem um pouco?
Levantei meu rosto e o encarei.
- Do quê? – perguntei.
- Eu te masturbei, te dei o seu primeiro orgasmo e eu continuo aqui. Duro e necessitado. O que fazer, doce ? – ele arqueou a sobrancelha em minha direção.
Ri tímida, sentindo minhas bochechas esquentarem.
- Bem, eu não sei... Você não quer que eu te masturbe... Ou quer? – engoli em seco, encarando-o.
fez uma expressão pensativa e me olhou, sorrindo malicioso. – Não seria uma má ideia...
Arregalei um pouco meus olhos e ele gargalhou.
- Eu estou brincando, . Tudo há seu tempo, certo?
Assenti e levei minha mão até sua bochecha, fazendo uma pequena carícia.
- Até porque se eu te deixasse fazer isso, não conseguiria me controlar. O resto de sanidade que ainda existe em mim, iria para o espaço, e eu te jogaria nesse sofá e fod... – o interrompi.
- ! Acho melhor você ficar quietinho. – disse tímida.
- Agora está com vergonha, huh? Mas antes... Quando meus dedos estavam em você...
Balancei a cabeça e escondi meu rosto em seu peito.
- Completando a minha frase... Eu foderia com você até entrar em coma.
Olhei-o assustada.
- Eu estou brincando, ! – gargalhou com as mãos em forma de rendição. – Ou não...
- Eu desisto de você, . Você é um pervertido.
- Posso até ser, mas foram os dedos desse pervertido aqui que te satisfizeram... – ele apontou para si mesmo e eu suspirei.
, você me satisfaz de qualquer maneira.
Capítulo 16 – Carolina do Norte
Peguei uma blusa de moletom no armário e a coloquei sobre a cama. Fiz meu percurso até o armário novamente e peguei mais algumas roupas. Encarei a passagem de avião em cima do criado-mudo e sorri. Finalmente eu ia rever a minha família e a ansiedade quase não podia ser suportada dentro de mim. Dobrei cada peça de roupa e coloquei uma por uma dentro da grande mala que estava estendida sobre a cama. Amanhã eu embarcaria para a Carolina do Norte para passar o feriado de 4 de Julho com meus familiares, e só de pensar nisso, meu coração se acelerava. Eu queria abraçar o meu pai mais do que tudo e dizer a ele o quanto eu o amo. Quero ver a tia Sarah e o meu priminho Adam. Quero abraçar e beijar muito meus avós maternos. Quero ficar com a minha família.
Fechei a mala, verificando antes se eu não tinha esquecido nada. Eu embarcaria amanhã à tarde, e não queria deixar nada de importante para trás. Encarei o porta-retratos com uma foto minha com meu pai e minha mãe. Suspirei ao ver o sorriso sincero que esbanjava dos lábios de minha mãe. Teresa Wright. Ela era tão jovem quando se foi, e eu me lembro da dor que eu senti quando soube da notícia de seu falecimento. É como se mesmo depois de tanto tempo, eu ainda sentisse aquela mesma dor esmagadora em meu peito, a mesma angústia e o mesmo desespero.
Sorri de canto me lembrando dos bons momentos que tivemos. Eu nunca poderia me esquecer dos momentos ao seu lado. Serão lembranças que ficarão bem guardadinhas na minha memória. Ouvi batidas à minha porta e falei um “entre”. Virei meu corpo e vi quando entrou em meu quarto, em passos lentos.
- Vejo que já arrumou tudo. – ele comentou após encarar minha mala fechada sobre a cama.
Respirei fundo e balancei a cabeça. – Sim.
Passei as mãos em meus cabelos e os prendi num coque frouxo. Arrumei meus óculos – já que não havia necessidade de usar as lentes em casa – e esfreguei minhas mãos, uma na outra. O tempo tinha fechado de repente e fazia muito frio, fora os relâmpagos do lado de fora, ameaçando chover a qualquer momento.
- E você, também vai passar o feriado com sua família? – perguntei casualmente.
- Ah, não, não. – negou, rindo fraco. – Eu sou canadense. Não comemoramos o dia da independência de outro país.
Franzi o cenho. – Mas... Você mora nos Estados Unidos agora. Seria o certo você comemorar, não?
- Não exatamente... – deu de ombros.
Sentei-me na cama e olhei para cima, encarando-o parado à minha frente.
- Então o que pretende fazer durante esses dias? Vai ficar aqui sozinho?
- Exato. Vou ficar aqui comendo besteiras e quem sabe... Assistindo a alguns filmes. Garanto a você que não existe diversão melhor. – seu tom era sarcástico e eu ri fraco, negando com a cabeça.
Uma ideia me surgiu, assim como tantas outras ideias malucas que eu tinha de vez em quando. Não, , é melhor não... Não faça isso. – minha mente gritava, mas por mais uma vez, eu a ignorei.
- Você gostaria de passar o feriado comigo, ? – a pergunta escapuliu sem que eu me desse conta.
me olhou por alguns segundos, caindo na risada Logo depois. Cruzei os braços e arqueei a sobrancelha, esperando sua crise de risos passar.
- Você... Você está falando sério? – perguntou e eu assenti – Tem certeza disso? Já moramos juntos e agora você me convida para passar mais dias com você e sua... família. Não acho que isso vai dar muito certo.
Levantei-me da cama com meus braços ainda cruzados.
- Eu só te dei uma ideia para que você não ficasse aqui sozinho, mas se você quiser, pode ficar. Não tem problema nenhum se você recusar, sério. Acho que seria até melhor você não ir mesmo. – dei de ombros.
Virei e puxei minha mala pesada, levando-a até o canto do quarto.
- Acho bom você ter muita paciência e muito amor nesse coração, porque eu aceito passar o feriado com você, pequena . – sua voz era de deboche e eu semicerrei meus olhos assim que me virei em sua direção.
- Certo, , você vai comigo... Mas...
- Mas...? – incentivou-me a continuar.
- Mas sem gracinhas. Você ficará em uma casa de família. Meus parentes são muito sérios, então, por favor, não me faça passar vergonha.
- Eu? Fazer você passar vergonha? – ele apontou para si mesmo e eu bufei – Nunca. Eu serei o cara mais respeitador que sua família já conheceu. – afirmou e o avaliei por alguns segundos, antes de soltar um longo suspiro.
- Okay. Agora, um aperto de mão para oficializar o acordo. – estiquei minha mão.
me olhou com a sobrancelha erguida e eu devolvi o olhar. Repentinamente, ele cuspiu em sua mão e ia tocar na minha, se eu não tivesse a recolhido. Fiz uma careta de nojo e o encarei incrédula.
- O quê? – ele perguntou visivelmente confuso – Quando fazemos um acordo, temos que cuspir na mão para que ele seja realmente oficializado.
- Eu não vou apertar a sua mão cuspida! Deixa de ser nojento!
- Então como faremos isso? – perguntou entediado.
- Promessa de dedinhos. – sorri.
- Promessa de dedinhos é para mulheres! – falou com indignação e eu segurei a risada.
- Vamos, ! E por favor, com a outra mão. Mantenha a cuspida longe de mim.
Ele revirou os olhos e eu estendi meu dedo mindinho. À contragosto, ele bufou e entrelaçou seu dedo com o meu. Sorri vitoriosa e assenti com a cabeça.
(...)
- Por favor, seja educado. – avisei a assim que saímos do avião.
Tínhamos acabado de pousar em Carolina do Norte e somente o ar daquele lugar já me fazia sorrir feito uma boba. Andamos pela pista até chegarmos ao aeroporto. Assim que adentramos, coloquei minha mala no chão ao meu lado, e olhei em volta à procura do meu pai.
- Eu sempre sou educado. – ouvi falar, mas o ignorei.
- Vamos. Meu pai deve estar do outro lado. – peguei novamente minha mala e arrumou sua enorme bolsa esportiva em seu ombro.
Fomos até o outro lado do aeroporto, perto das escadas rolantes. Olhei novamente em volta e meus olhos lacrimejaram um pouco quando eu o vi ali, segurando uma pequena plaquinha com meu nome. Larguei a mala imediatamente e corri em sua direção. Praticamente me joguei em seus braços e o abracei fortemente, deixando com que minhas lágrimas molhassem sua camisa azul claro.
- Eu estava com tantas saudades, pai. – minha voz saiu chorosa.
- Eu também, minha garotinha, eu também. – ele me abraçou ainda mais forte, tirando meus pés do chão, e eu ri fraco em meio ao choro.
Soltei-o lentamente e encarei seus olhos, secando as mínimas lágrimas que escorriam por sua bochecha. Acariciei seu rosto e meu pai pegou minha mão, dando um beijo. Seus olhos encararam algo por trás do meu ombro e ele franziu a testa. Lembrei-me de e fui até ele, puxando-o pelo braço.
- Pai, esse aqui é o , um amigo. – disse com certo receio ao ver o olhar duro de meu pai sobre .
Ele estendeu a mão e cumprimentou . Vi pelo rosto de , a força que meu pai utilizara para apertar-lhe a mão. Segurei o riso e abaixei a cabeça por um momento.
- Sou Benjamin Wright, pai da . – senti que ele queria deixar bem claro aquele fato. Meu pai sentia um ciúme danado de mim, e parecia analisar minuciosamente os movimentos de .
- Prazer em conhecê-lo, senhor Wright. – estranhei a educação de , mas lembrei de que ele mesmo tinha prometido ser um bom rapaz. Espero que ele cumpra a promessa.
Meu pai o analisou de cima a baixo enquanto estava com as mãos nos bolsos da calça jeans. Um silêncio se formou e eu incomodada, pigarreei.
- Bom, acho melhor irmos, huh? Eu estou muito ansiosa para rever todos! – falei animada e meu pai levou seu olhar até mim, sorrindo em seguida.
- Vamos. – assentiu – Quer que eu leve sua mala?
Abracei meu pai de lado e encostei minha cabeça em seu peito. – Não será necessário. O é muito gentil, sei que ele vai amar levar a minha mala. Não é, ?
Olhei para trás e vi me lançando um olhar raivoso. Acho que se ele pudesse me desintegrar com o olhar, ele com certeza não perderia tempo. Ele forçou um sorriso e mexeu a cabeça, fazendo um pequeno estralo com o pescoço.
- É claro. Será um prazer levar a sua mala, minha amiga. – senti que ele controlava seu tom debochado e segurei uma risada.
- Obrigadinha. – agradeci e voltei a aconchegar-me nos braços do meu pai.
Fomos até a caminhonete cinza do meu pai e abri a porta, sentando-me no banco do passageiro. Vi quando meu pai e colocaram as malas na parte de trás da caminhonete e Logo se aproximaram. Meu pai sentou ao meu lado e sentou no banco atrás do meu. Meu pai e eu ficamos conversando a caminho de casa. Contei a ele sobre minha vida em Nova York e ele me contou sobre algumas coisinhas que aconteceram desde a última vez em que estive aqui. Tudo estava ótimo, até ele soltar uma simples, mas significativa pergunta.
- Onde vocês se conheceram? – engoli em seco e pelo espelho retrovisor, vi que fez a mesma coisa. Ele me encarou e ao mesmo tempo, senti o olhar do senhor Benjamin sobre mim.
- É... é do Canadá. Ele foi à Nova York porque trabalha na empresa do pai, e bem, nos conhecemos porque ele é um grande amigo do e da . Você lembra deles, pai? Meus melhores amigos. Falei sobre eles com você.
- Ah, sim. Lembro-me de seus amigos. Você poderia trazê-los para cá algum dia. Eu ia adorar conhecê-los. – ele deu um sorriso simpático e por um momento, eu me esqueci da seriedade que tomava conta de seu rosto há um minuto atrás. Sorri e assenti. – Então foi assim que se conheceram?
- Exatamente. – respondi.
- E há quanto tempo chegou aos Estados Unidos, ? – meu pai o olhou pelo espelho retrovisor.
- Há mais ou menos um mês, senhor. – respondeu.
- Por favor, me chame de Ben. – falou e o encarei no mesmo instante. Ben? Somente os amigos e familiares o chamavam assim. O que deu em meu pai? – E seu pai tem uma empresa de quê?
- Turismo. A empresa começou no Canadá e ele a expandiu, trazendo-a aos Estados Unidos. – respondia com uma educação e suavidade na voz que me fazia estranhar.
- Muito bom. Muito bom mesmo. – meu pai disse pensativo e o encarei, franzindo minha testa. Aonde ele queria chegar? – E quantos anos você tem?
- Vinte e três.
- Ah, desculpe... – interrompi a conversa – Mas isso aqui é algum tipo de interrogatório? Pai, eu trouxe para que ele não ficasse sozinho em Nova York. Não para que o senhor o interrogasse como se fosse algum pretendente meu ou algo do tipo. – meu tom saiu um pouco rude, mas não me importei. Eu estava indignada, na verdade. – E eu peço encarecidamente que o senhor pare com isso.
- Eu não estou fazendo nada demais, querida. Eu só queria conhecer melhor o rapaz. – meu pai deu de ombros enquanto virava a rua, entrando numa área gramada – e um pouco afastada da cidade – que eu conhecia bem.
- Sei muito bem do que se trata esse seu “conhecer”. – fiz aspas com os dedos. – Então, por favor, pare já com isso.
- Não, . – ouvi a voz de e virei meu corpo, olhando-o. – Eu estou gostando de conversar com o seu pai. Na verdade, estou achando a conversa bem interessante e eu gostaria que continuássemos, Ben.
Semicerrei os olhos em sua direção e sorriu maroto, lançando-me uma piscadela. Ajeitei-me novamente no banco e cruzei os braços, bufando baixo.
- Está vendo, filha? Acho que você é a única chata aqui.
Olhei com raiva para meu pai e ele riu, apertando meu nariz com seus dedos indicador e médio. Fiz uma careta e entortei meu nariz, respirando fundo. Olhei pela janela e meus olhos brilharam quando eu avistei a casa em que passei toda a minha infância e adolescência. Meu pai foi entrando aos poucos na garagem e eu já não me aguentava mais para abrir a porta e entrar Logo naquela casa. Eu já podia sentir o seu cheiro. Aquele cheiro bom e característico que só minha casa tinha.
Assim que meu pai parou o carro, eu abri a porta com certa afobação e quase saí correndo em direção à porta de entrada. Minha família toda devia estar na sala e eu mal esperava para vê-la. Subi os três degraus e envolvi a maçaneta da porta verde com a minha mão. Respirei fundo e a abri de uma vez. Os olhares de todos caíram sobre mim e eu sorri ao vê-los levantando e vindo em minha direção.
- , minha sobrinha linda! – tia Sarah me abraçou forte, quase me esmagando, e eu retribuí. – É tão bom vê-la em casa novamente.
- É bom estar em casa, tia. – sorri e olhei para o lado vendo meus avós maternos.
- Oi, vovô. – abracei-o com carinho e Logo fui abraçar minha avó. – Oi, vovó.
- Minha neta está tão grande e bonita. Que orgulho! – vovó disse e eu sorri, abraçando-a mais uma vez.
Vi um pequeno furacão passar correndo por mim e ri fraco.
- Adam, filho! Venha falar com a sua prima! – gritou tia Sarah.
O furacãozinho apareceu em minha frente, segurando um carrinho. Agachei-me e o peguei no colo, abraçando-o fortemente.
- Senti saudades de você, meu pequeno. – falei.
- Eu também senti saudade de você, Lie. – ele falou com sua vozinha fofa e eu dei um beijo em sua bochecha, colocando-o no chão novamente. Ele voltou a correr pela casa e todos rimos.
- Adivinha o que eu fiz para comemorar a sua chegada, menina ? – disse tia Sarah e eu sorri de canto, fazendo uma expressão pensativa.
- Hm, deixe-me ver... – coloquei a mão no queixo – Bolo de chocolate?
- Nem tem graça com você. Sempre acerta! – ela disse fingindo desânimo e eu ri.
- Como eu não ia acertar? O seu bolo é o melhor, tia!
- Receita de família, você sabe. – deu de ombros, sorrindo. Ela amava quando eu eLogiava sua comida.
- Sei bem. – afirmei prontamente.
Repentinamente, um som me fez olhar em volta para saber de onde vinha. Olhei para o sofá e vi uma cabeleira loira. Sorri e me aproximei por trás.
- É sério mesmo que você não vai falar com a sua prima linda que acabou de chegar? – quase gritei em seu ouvido e ele deu um pulo.
- E cadê a prima linda? – perguntou com a sobrancelha arqueada.
- Muito engraçado, Paul! Venha até aqui agora e me dê um abraço. Essas crianças de hoje em dia não largam seus celulares por nada! Essa geração está perdida mesmo.
Paul riu e colocou o celular no sofá, se levantando. Ele se aproximou de mim na parte de trás do sofá e eu abri meus braços. Abracei-o e ele retribuiu. Passei a mão por seus cabelos, bagunçando-os um pouco, sabendo que ele não gostava quando eu fazia isso. Paul se afastou e arrumou o cabelo, enquanto eu ria.
- Você sabe que eu não sou mais criança, . Eu agora sou um adolescente com quinze anos. – ele encheu a boca para declarar aquilo e eu gargalhei.
- Sim, sim. Adolescente com a alma de uma criança.
Ele lançou-me o dedo do meio e eu arregalei meus olhos.
- Não foi essa educação que eu te dei, Paul Butcher! – tia Sarah o repreendeu e eu segurei a risada.
Paul revirou os olhos, igual a mim, e eu sorri.
- Exato, não foi essa educação que tia Sarah te deu, criança. – enfatizando bem a palavra “criança”, Paul fuzilou-me com o olhar e voltou a se jogar no sofá, mexendo em seu celular.
Vi quando meu pai e entraram em casa. Meu pai carregava minha mala e Logo a colocou no chão. colocou a sua bolsa ao lado da minha mala e olhou tudo em volta até seus olhos pararem em mim. Ele pôs as mãos nos bolsos da calça, um pouco tímido por estar no meio de pessoas desconhecidas. Todos os olhares pareceram cair sobre ele, fazendo-o encolher um pouco os ombros.
- Quem é ele, querida? – perguntou vovó Lidiane.
- Ah, esse é o . Ele é o meu mais novo amigo canadense. – sorri de canto.
Vi quando tia Sarah sorriu maliciosamente em minha direção, quase perguntando com o olhar se era realmente só meu amigo. Neguei com a cabeça em forma de reprovação por sua atitude e entrelacei minhas mãos por trás de meu corpo.
- É um prazer conhecê-lo, . – tia Sarah o cumprimentou, apertando sua mão. – Sinta-se à vontade.
- Obrigado. – ele sorriu fraco – Eu posso afirmar que já me sinto em casa.
Seu olhar sapeca caiu sobre o meu e eu engoli em seco, vendo sua mão apertar a da minha tia.
Não sei por que, mas eu tenho a ligeira impressão de que o nosso acordo não valeu de nada.
Atravessei o corredor enquanto carregava minha mala e fui até o meu quarto. Parei de frente a porta do mesmo e a abri. Sorri ao ver o meu quarto exatamente do mesmo jeito que tinha o deixado e adentrei o mesmo. Coloquei minha mala em cima da cama e me aproximei do mural de fotos, vendo as fotos que foram coladas recentemente. Quando fui embora da última vez, pedi a meu pai que colasse todas as fotos que a minha família tirasse em algumas ocasiões e as colasse no mural para que eu as apreciasse quando voltasse. Toquei uma das fotos com as pontas dos dedos e sorri enquanto admirava uma por uma.
Era um misto de risadas com algumas caretas e expressões de raiva que estavam estampadas ali. As expressões de raiva, certamente, vinham de Paul. Ele era o mais irritável da família e quando passavam a mão em seu cabelo ou não faziam algo que ele queria, simplesmente ele fechava a cara e fazia um bico maior do que o mundo. Quando eu digo que Paul ainda se comporta como uma criança, eu estou certa. Em algumas fotos, meu pai estava abraçado à vovó Lidiane e vovô Maxwell. Todos sorriam. E em outras, tia Sarah estava ao lado de meu pai, segurando uma travessa com alguma comida que ela cozinhara.
Ouvi um pigarro e virei meu corpo, vendo um encostado ao batente da porta.
- Eu ainda não acredito que não posso dormir aqui com você. Seria bem melhor do que dormir no sótão. – ele revirou os olhos enquanto se aproximava e eu neguei levemente com a cabeça. – O meu colchão ficaria perfeito aqui. – apontou para o espaço vazio no chão ao lado da minha cama.
- A casa é pequena e só temos dois quartos. Mas se preferir, posso ver com a tia Sarah se você pode ficar na casa dela. Lá é bem grande e...
- E ficar longe de você no meio de um monte de gente que mal conheço? – me interrompeu – Nem pensar.
- Você quem disse que já se sentia em casa. – dei de ombros, sorrindo debochada.
- Acho que ficou bem claro que eu disse aquilo para confortar a sua tia. Ela me disse para ficar à vontade, eu apenas retribuí sua gentileza.
- Certamente... – afirmei com desdém e me aproximei de minha cama.
Pus-me a tirar as peças de roupa de minha mala, calmamente.
- Então quer dizer que você não quer que seu pai saiba que moramos juntos? – ouvi a voz de perguntar, num tom interessado.
Virei meu rosto e semicerrei meus olhos em sua direção.
- Fico imaginando o motivo de tal mentira de sua parte, pequena .
Bufei.
- Eu não menti. Eu só... Só preferi não falar certas coisas. Eu apenas poupei meu pai de certos desgostos. – tirei a última blusa de dentro da mala.
- Desgostos? E por que ele sentiria desgosto se soubesse que dividimos o mesmo teto?
- , o que sua mãe ou seu pai faria se soubesse que você mora com uma desconhecida? Que divide o apartamento com uma mulher que conhece há somente um mês? – encarei-o e ele me encarou de volta.
- Bom, meu pai... – um sorrisinho de canto se formou em seus lábios – Meu pai ficaria muito orgulhoso de mim e com certeza, acharia que eu estou pegando essa mulher.
Fiz uma careta de nojo a qual ignorou completamente.
- E minha mãe... Acho que ela não veria problema nenhum nisso. Afinal, eu já sou independente. Não devo satisfações de minha vida a papai e mamãe. – ele me lançou um olhar debochado, deixando claro que falava sobre mim.
- Eu também não sou dependente de meu pai. Não devo satisfações.
- Você está falando sério? – ele riu – Qualquer passo que você dá, tem que dizer a ele. Já percebi isso, . Nem tente me enganar.
- Você diz isso porque tem uma mãe e não é filho único! – aumentei meu tom ao falar – Consegue por acaso imaginar como é crescer sem uma mãe e não ter nenhum irmão para se apoiar em algum momento difícil? Sempre fomos só eu e meu pai! Sempre tivemos somente um ao outro! Posso até ter meus avós, tia e primos, mas nos momentos em que a saudade da minha mãe batia, éramos só nós dois! Somente nós sabíamos o que sentíamos e dividíamos a dor.
me olhava sério e em silêncio.
- Mas você não sabe como é isso, porque nunca perdeu ninguém! Nunca sentiu a dor que é perder alguém e saber que nunca mais vai ver aquela pessoa. Nunca mais vai sentir o cheiro do seu perfume ou os carinhos em seu cabelo ou ouvir a canção de ninar que sempre fora cantada antes de dormir! Nunca mais vai ouvir a voz da pessoa te desejando boa noite ou até quando ela te dava uma bronca por você ter derramado suco de hortelã no tapete! – quando eu percebi, as lágrimas já rolavam por minha face e minha visão estava totalmente turva. Minha garganta ardia enquanto eu tentava me controlar, mas era em vão.
- Você nunca mais vai... – sem que eu pudesse terminar minha frase, senti os braços quentes de me apertando contra seu corpo.
- Shhh... Está tudo bem, ... – ele disse num tom calmo enquanto me abraçava. – Está tudo bem, apenas se acalme...
Envolvi o corpo de com meus braços e afundei meu rosto em seu peito. Eu sentia as lágrimas rolando em meu rosto e caindo em sua blusa, mas ele parecia não se importar, sempre me apertando ainda mais, querendo me confortar. Uma de suas mãos foi até meu cabelo e o acariciou suavemente.
- Desculpe por ter dito aquilo. Eu não sabia... – disse com um leve tom de culpa.
- Não, está tudo bem... Não se preocupe com isso. – minha voz saiu um pouco abafada já que minha boca estava contra seu peito.
Afastei-me dele, mas segurou meu braço. Olhei em seus olhos e ele levou seus dedos polegares até minhas bochechas, limpando minhas lágrimas. Seu rosto ficou mais próximo do meu e fechei meus olhos ao sentir seus lábios depositando um beijo em minha bochecha. Abri meus olhos assim que ele se afastou e virei meu corpo em direção ao armário, ficando de costas para .
- Quer ajuda para arrumar suas coisas no sótão? – perguntei, mudando de assunto.
Ouvi bufar e sorri de canto. Ele ainda está inconformado de ter que dormir lá.
- Eu não sabia que ia dormir num sótão. Eu preferia ter ficado em Nova York.
Soltei uma risadinha e fui até minha cama, pegando a mala e a jogando debaixo da mesma.
- Ei! Você sabia disso, não é? – ele perguntou repentinamente e eu o olhei, confusa.
- Sabia de quê?
- De que como aqui só tem dois quartos, eu teria que dormir no sótão. – cruzou seus braços e arqueou a sobrancelha.
- Na verdade, não. Eu nem me lembrava desse fato. – dei de ombros. – E pare de reclamar! Se não gostou, pegue um voo e volte para Nova York.
- Mas é muita sacanagem comigo. – falou e eu sorri marota.
- Não posso fazer nada, meu caro. – levantei meus ombros.
Peguei algumas roupas e levei-as até meu armário, começando a pendurá-las nos cabides.
- Na verdade, você pode sim. – falou num tom rouco que me chamou a atenção. Virei meu pescoço e o encarei, esperando que ele continuasse. – Pode me emprestar seu quarto.
Ri com o que ele acabara de falar.
- Você só pode estar tirando uma com a minha cara. – cruzei meus braços e me virei em sua direção. – E onde eu vou dormir?
- Aqui. – ele apontou em volta. – Acho que tem espaço suficiente para nós dois.
- Você vai mesmo desistir de dormir na cama do sótão para dormir num colchão no chão? – arqueei as sobrancelhas.
- E quem disse que eu vou dormir no chão? – encarei-o confusa e ele sorriu. – Eu vou dormir é na sua cama mesmo, minha amiga. A não ser que você queira que eu conte ao seu pai o que eu sou na verdade... – seu sorriso malicioso aumentava e meu sangue fervia. Que ódio de . – Vejamos... Eu sou um desconhecido que mora no seu apartamento e ainda te dá aulas de beijo e outras coisinhas básicas... Seria maravilhoso um pai superprotetor saber disso, huh? Sua querida filhinha beijando os lábios de um desconhecido...
Fechei minha cara em fúria e me segurei para não pular no pescoço daquele infeliz a minha frente.
- Acha que ele gostaria que eu contasse algumas historinhas a ele, ? – sua expressão debochada foi o meu limite.
Com os punhos cerrados, eu avancei em . Bati em seu peito e quando ia lhe dar um tapa, ele segurou meus pulsos com força e eu grunhi de ódio.
- Você acha que ele ia gostar, ? – repetiu sua pergunta e num movimento rápido, ele me jogou na cama, ficando por cima de mim. Ainda segurando meus pulsos, e eu tentando me soltar, ele prendeu minhas pernas com as suas.
- Me solta, ! – quase gritei, vermelha de raiva. – Você é um ridículo e um debochado! Eu odeio você! Seu irritante!
Ele me olhou com tédio e revirou os olhos. – Você também é debochada e irritante e nem por isso eu jogo na sua cara, baby.
Bufei e desisti de me soltar de seu aperto. Relaxei meu corpo e meus pulsos, mas continuou por cima de mim, me segurando.
- Já pode me soltar agora, seu idiota.
- E correr o risco de você escapar? – riu – Nem pensar.
Rolei os olhos e virei o rosto, encarando meu travesseiro ao meu lado.
- E então, ? O que vai ser? Eu durmo aqui ou você vai preferir que eu conte ao seu pai?
- Como se ele não fosse descobrir que você estará dormindo aqui! – disse irritada.
- Mas isso é fácil. É só eu acordar antes dele e voltar ao sótão sem que ele veja.
- Isso não vai dar certo...
- Deixa de ser pessimista, mulher! – bufei – E então? Ainda espero sua resposta...
Fiquei em silêncio e levou uma das mãos até meu rosto, virando-o para ele.
- Okay, okay! Você dorme aqui, mas não na minha cama! Eu me recuso!
- Te garanto que cabe nós dois nela. – ele sorriu maroto.
- Não, ! Desiste!
- Então vou contar tudo ao seu pai. – deu de ombros, se preparando para levantar de cima de mim. Percebendo que ele falaria tudo agora, eu arregalei meus olhos e o puxei pela camisa, fazendo-o cair sobre mim novamente.
- Nem pense nisso! Entendeu? – apontei para seu rosto que estava a centímetros de distância do meu.
- Quem tem que me dizer se entendeu é você, baby. Ou aceita os meus termos e condições ou saio daqui nesse mesmo instante e vou até seu pai. A escolha é toda sua. – seu hálito bateu contra meu rosto e fechei os olhos por alguns segundos, antes de abri-los e avistar com a mesma expressão sacana.
- Está bem! – suspirei derrotada – O que eu não faço para livrar meu pai de desgostos...
- E livrar a sua pele, que é o principal. – completou num tom risonho.
Rolei os olhos.
- Você parece uma criança quando revira os olhos assim. – ele comentou, levando sua mão até minha bochecha e a acariciando com o polegar.
- Você já pode sair de cima de mim agora, . – ignorei seu comentário.
- Hmm, não... Estou bem assim. – depositou mais o seu peso contra mim.
- Vai acabar me esmagando desse jeito! – resmunguei, colocando minha mão em seu peito, tentando afastá-lo.
- Essa é a intenção. – lançou-me uma piscadela, rindo fraco.
Ele se movimentou sobre mim e meu corpo entrou em alerta quando senti seu membro se chocar contra minha intimidade. Empurrei-o mais uma vez, mas quanto mais eu o empurrava, mais pressionava seu membro contra mim. Mordi meu lábio inferior, constrangida com a situação, ao contrário de , que continuava em silêncio, lançando-me seus olhares maliciosos.
- É sério, . Sai agora. – disse incomodada.
- Por que, baby? Algum problema? – seu tom era cínico e ele agia como se não estivesse fazendo nada demais.
- Não banque o inocente, rapaz. Eu te conheço muito bem. – falei com as mãos ainda espalmadas em seu peito.
- Ah, conhece? – ele riu fraco, voltando se mover para frente. – Duvido.
- Muito lindo uma pessoa comprometida como você fazendo isso. Por acaso, Olivia sabe que você faz esse tipo de coisa pelas costas dela? – perguntei num tom debochado.
- O que os olhos não veem, o coração não sente, huh? – disse com uma voz rouca, voltando a se mover.
- Que pensamento maravilhoso! – falei irônica – Você é muito cafajeste. Eu nunca ia querer ser sua namorada.
- Ah, não? – perguntou e eu neguei. Seu tom era rouco e sedutor, parecendo querer me excitar de alguma forma. E por mais uma vez, ele se movimentou, pressionando nossos sexos. Fechei meus olhos por um momento e mordi meu lábio inferior. – Pois parece que você iria querer ser a primeira da lista.
- Sonhe mesmo, . – ri sarcástica – É bom sonhar de vez em quando. Faz bem ao cérebro e... – movimentou-se novamente, simulando sexo entre nós. Contive um gemido baixo que queria escapar de meus lábios. – A imaginação. – completei minha frase.
Ele riu baixo e balançou a cabeça. Senti encostar seu rosto à curvatura de meu pescoço e sua respiração batendo ali, fez minha pele se arrepiar.
- Falando em imaginação, baby... Diga-me quais são suas fantasias, seus fetiches...
Ri fraco.
- Eu não tenho fantasias e fetiches. – meus olhos ainda estavam fechados e eu ainda sentia seu vai e vem sobre mim, de forma lenta.
- Garanto que tem. Todos nós temos. – afirmou – Não seja tímida, . Conte-me. – sussurrou em meu ouvido e eu levei minha mão até seu cabelo, agarrando-o suavemente.
- Não vou contar nada. – disse firme em seu ouvido, dando-lhe uma leve mordida no lóbulo de sua orelha.
- Você não tem ideia do quanto esse seu jeito decidido me excita. – sussurrou de volta e eu ri, balançando a cabeça.
- Bom para você, então. – dei de ombros.
- Bom para nós. – corrigiu-me – Diga-me, , você gostaria que eu fosse o primeiro a estar dentro de você?
- ! – o repreendi com os olhos arregalados.
- O quê? – perguntou-me, olhando em meus olhos. – Eu estou falando sério.
- Você é tão inapropriado. – balancei a cabeça.
Ele acariciou minha bochecha novamente e sorriu. – Já deveria estar acostumada.
Sem que eu pudesse falar algo, ele colou nossos lábios em um delicado selinho.
- O que está acontecendo aqui? – uma voz fez com que e eu nos separássemos na mesma hora.
Arregalei os olhos para e ele fez o mesmo.
Encarei por alguns segundos até ter uma ideia. Levantei um pouco minha blusa e peguei as mãos de , colocando-as por baixo da mesma. Ele me lançou um olhar confuso e eu apenas comecei a mexer suas mãos. entendeu minha ideia e se pôs a fingir que estava me fazendo cócegas enquanto eu gargalhava.
- Tia, o que... a senhora... quer? – perguntei meio ofegante por entre as risadas.
Por cima do ombro de , vi tia Sarah nos olhando com a testa franzida e um sorriso de canto.
- Desculpe atrapalhar a brincadeira de vocês, mas é que o jantar já está pronto. – ela avisou num tom risonho, provavelmente se segurando para não rir das minhas caretas enquanto me fazia cócegas.
- Ah, o-obrigada, tia! Já estamos... indo! – falei e ela assentiu, Logo saindo do quarto.
Rapidamente, segurei os pulsos de , afastando suas mãos de mim. Respirei aliviada e fechei meus olhos por alguns segundos.
- Essa foi por pouco... – o ouvi comentar e balancei a cabeça afirmativamente.
me encarou um pouco antes de aproximar seu rosto. Com um sorriso de canto em seus lábios, pensei que ele fosse me beijar novamente, e ia impedi-lo, mas ele virou um pouco seu rosto, dando-me um rápido beijo na bochecha.
- Vamos comer! – seu tom de animação me fez rir baixo. – Estou morrendo de fome!
Ele saiu de cima de mim e me deu um puxão pela mão que quase me fez atravessar a parede. Em passos rápidos, ele saiu do meu quarto enquanto ainda me puxava, querendo que eu acompanhasse seus passos a todo custo. Com dificuldade e tropeçando em meus próprios pés, eu continuei a andar pelo corredor até chegarmos à porta da cozinha. Soltei a mão de e adentrei a cozinha, vendo meus familiares já sentados à mesa enquanto tia Sarah terminava de colocar os recipientes de comida sobre a mesma.
Sorri para todos e me sentei. Quando ia sentar ao lado de minha avó e meu pai, tia Sarah interrompeu seu ato.
- Oh, , querido, sente-se ao lado de minha sobrinha. Deixe que eu me sento aí.
Encarei minha tia e Logo depois, . Ele apenas me encarou de volta e assentiu, vindo até meu lado e se sentando. Assim que tia Sarah se sentou a minha frente, todos começaram a se servir. Coloquei um pouco do macarrão em meu prato e comecei a comer. Todos estavam em silêncio até que minha tia (como sempre tagarela) começou a falar.
- Então, , conte-nos mais sobre você. De onde é?
Desviei meu olhar do prato por um instante e a olhei. Pelo olhar divertido que ela me lançou, eu tive a certeza de que estava aprontando algo. Tia Sarah sempre foi curiosa demais e um tanto intrometida, devo dizer. Ela é como minha mãe em alguns aspectos, com o seu jeito cuidadoso, amigável, simpático e atencioso. Mas sendo irmã do meu pai, ela também puxou o lado ruim dos Wright. É um tanto desconfiada e fofoqueira, mas eu não a culpo. Culpo o sangue dos Wright.
- Sou do Canadá. – respondeu num tom calmo. – Mas estou morando em Nova York.
- Então foi assim que conheceu minha sobrinha? – ela deu mais uma garfada no macarrão.
- Exatamente. – ele disse, dando-me uma rápida olhada.
Voltei minha atenção para o prato e levei um pouco mais do macarrão à boca, mastigando lentamente.
- E você tem namorada? – arregalei os olhos com a pergunta de tia Sarah e até cheguei a me engasgar um pouco.
Tossi algumas vezes e até bateu em minhas costas, ajudando-me. – Tia! Que tipo de pergunta é essa?! – perguntei indignada, assim que recuperei o fôlego.
- Uma simples pergunta, querida. – deu de ombros – Todos aqui percebemos que o rapaz é bonito, elegante e com certeza, deve ter uma namorada. Eu apenas quis sanar uma curiosidade.
- Eu não percebi nada disso aí que você falou! – papai se referiu aos eLogios de tia Sarah a .
Soltei uma risada baixa ao ver meu pai com as mãos para o alto, em um movimento de quem não sabia de nada. Neguei com a cabeça e bebi um gole de meu suco.
- Sim, senhora. Eu tenho namorada. – respondeu .
- Por favor, me chame de Sarah. Não sou tão velha para ser chamada de senhora.
- Só está com quase cinquenta anos nas costas. – ouvi Paul murmurar e segurei uma risada, assim como todos à mesa.
- Estou só com quarenta anos, e você sabe muito bem disso, filho! – ela falou num tom raivoso e até desviei meu olhar de volta ao prato.
Tia Sarah ficava uma fera quando tocavam no assunto idade. Ainda mais quando diziam que ela era velha, sendo que ela ainda se achava na flor da idade. É claro que ela não era nova, mas também não era velha como Paul dizia. Todos sabíamos que ele falava tal coisa só para irritá-la. Adolescentes são uma coisa.
- Acho melhor não tocarmos nesse assunto, certo? – vovó se pronunciou pela primeira vez ao ver a tensão no ambiente. – Se formos falar de idade, me sentirei já dentro de um caixão e enterrada.
Rimos do humor de vovó Lidiane e voltamos a comer.
- É uma pena você ter namorada, querido. Você e minha sobrinha formariam um lindo casal.
Tia Sarah e sua boca grande mais uma vez!
No mesmo instante, senti minhas bochechas ruborizarem e me encolhi na cadeira, quase caindo para debaixo da mesa. De canto de olho, vi papai olhar para com uma cara de poucos amigos. Parece que ele não gostou nem um pouco da ideia...
- É claro que não! Eles são só amigos, Sarah. Não fale uma besteira dessas! – engoli em seco ao ouvir a voz grossa e um tanto afetada de meu pai. Eu me lembro bem da última vez em que o vi nervoso, e não quero nem um pouco reviver aquele momento novamente.
- Se acalme, Benjamin! Eu apenas fiz um comentário. – ela deu de ombros.
Olhei discretamente para e ele encarava tudo com um certo receio. Na verdade, acho que ele estava um tanto assustado com a reação de meu pai. Aposto que ele havia pensado que já tinha o coroa no papo, sendo que nem tinha chegado perto.
É, ... Você se enganou. Meu pai é duro na queda.
- Um comentário inoportuno. – meu pai lançou um olhar sério à tia Sarah, que não se afetou nem um pouco. – Agora vamos comer em paz, por favor.
Um silêncio pairou no ar e o que podia ser ouvido era somente o som dos talheres batendo nos pratos. E assim se foi até o fim do jantar, quando tia Sarah se levantou e pegou uma travessa dentro do forno. Meus olhos brilharam quando eu vi o tão esperado e desejado bolo de chocolate se aproximando. Tia o colocou bem no meio da mesa e me olhou com um sorriso.
- Aqui está seu bolo especial, querida. Espero que esteja bom. – falou e eu sorri, começando a cortar o bolo e me servir.
- O seu bolo sempre está bom. Na verdade, bom é um adjetivo muito simples para essa comida dos deuses! – lambi os lábios e todos riram.
Cortei um pedacinho e levei até boca. Meus olhos até se reviraram quando eu comecei a mastigar.
- Fabuloso! – falei com a boca um pouco cheia, arrancando risadas fracas.
- Porquinha. – Paul disse e eu lhe dei língua.
- Você faz coisas bem mais nojentas e eu não te chamo de porco. – ele deu de ombros. – Acho que vou começar a chamar, e bem na frente da Madison!
Paul arregalou os olhos e eu reprimi a risada. Madison é a menina por quem Paul é apaixonado desde o ano passado. Ela é líder de torcida da sua escola e ele tem planos de formar uma banda de rock. Ou seja, os dois são completamente diferentes. Enquanto ela é toda cheia de purpurina, ele é do tipo foda-se, que não está nem aí para as responsabilidades.
- Você não faria isso, ! – Paul apontou em minha direção e eu dei de ombros.
- Pague para ver, priminho.
Ele me olhou com raiva e eu sorri de canto, voltando a comer meu delicioso bolo. Ao fim da sobremesa, eu me ofereci para ajudar tia Sarah com a louça. Recolhemos todos os talheres, copos e pratos da mesa e eu me pus a ajudá-la. Ela lavava tudo e eu secava e guardava.
- Que tipo de comentário foi aquele, tia? – perguntei assim que estávamos sozinhas na cozinha.
Meus familiares foram à sala para assistir a um reality show e foi até o sótão, para “arrumar” suas coisas. Eu sabia que aquilo era uma desculpa, pois segundo seus planos, ele dormiria comigo e eu seria obrigada a aguentá-lo roncando ao meu lado.
Tia Sarah riu, dando-me um prato molhado. – Foi um simples comentário, querida. Não se preocupe com isso.
- Assim como sua simples pergunta, huh? – sequei o prato, colocando-o no armário acima de nossas cabeças.
- Eu realmente acho que vocês ficariam lindinhos juntos. E não pense que eu não reparei o jeito que ele te olhava durante o jantar. Você pode até não ter percebido, mas eu percebi.
- Ele estava me olhando? – perguntei curiosa e ela apenas assentiu com a cabeça. – Eu nem reparei.
- Eu sei, e é porque você é muito desligada. Tem que aprender a ser mais esperta, .
- Olha quem fala! – ri e ela me acompanhou.
Sequei mais alguns pratos e os guardei no armário.
- Ele me parece um rapaz muito bom e um grande amigo.
- Sim... Ele é um ótimo amigo. – afirmei pensativa.
- E quando você diz “ótimo amigo” está se referindo a quê? – arqueou a sobrancelha para mim e eu sorri fraco.
- Ele me escuta, me entende, me ajuda... E eu sei que quando eu precisar, ele estará lá. é um bom companheiro nas horas difíceis. – dei de ombros, tentando ser indiferente.
- Você o conhece há quanto tempo? – perguntou me dando uma rápida olhada.
- Há quase um mês. – respondi.
- E já está falando assim dele? – sorriu e eu franzi a testa, confusa. – Parece que as coisas estão melhores do que eu imaginava.
- O que está insinuando?
- Nada... Só acho que são muitas qualidades para uma pessoa que você conhece há pouco tempo.
- Queria que eu falasse mal dele?! Nós somos amigos. – disse secando os últimos talheres.
- Somente amigos? – lançou um olhar malicioso em minha direção e eu bufei, jogando os talheres na gaveta.
- Quer saber? Já chega desse assunto! Não quero mais falar sobre isso.
- Só uma última pergunta...
- Diga. – revirei os olhos, cruzando os braços.
- Naquela hora em que eu peguei vocês dois no quarto, vocês não estavam necessariamente brincando de cócegas, não é?
Engoli em seco e me controlei para não ficar vermelha de vergonha. – Você não tem jeito mesmo.
Coloquei o pano de prato sobre a bancada da pia e saí da cozinha enquanto negava com a cabeça e ouvia algumas risadas de tia Sarah. Andei com tanta pressa que acabei esbarrando em alguém. Senti umas mãos me segurarem, impedindo que eu fosse ao chão, e eu agradeci mentalmente a essa pessoa. Mas assim que vi de quem se tratava, bufei e rolei os olhos, cruzando os braços.
- Não olha para onde anda, não?
- Me diga você, senhorita espaçosa. – disse no mesmo tom debochado.
Um celular começou a tocar de repente, e enfiou a mão no bolso, pegando o aparelho. Ele sorriu ao ver o nome da pessoa na tela e Logo atendeu, ainda sorrindo.
- Oi, Olivia. – revirei os olhos ao ouvir o nome do ser. – Ah, claro, amor. E como está aí na casa dos seus pais? Mande um abraço para o seu pai e um beijo para sua mãe.
Descruzei os braços e ia começar a andar em direção à sala, se não fosse a mão de segurando meu braço.
- Um minuto, amor. – ele disse e eu lhe encarei, esperando que ele me soltasse. – Amanhã você vai me levar para conhecer a cidade. – sussurrou em meu ouvido.
- E por que eu? – perguntei sem nem fazer questão de sussurrar.
- Você me convidou, você me leva. – respondeu simples, me soltando.
Bufei e me afastei, indo até a sala, em passos firmes. Joguei-me no sofá ao lado de meu pai e sorri quando ele me abraçou pelo ombro. Fiquei assistindo ao reality show com meus avós e pai enquanto tia Sarah arrumava algumas coisas na cozinha. Meu pai era muito desorganizado, tenho que admitir. Então, sempre que tia Sarah vinha visitá-lo, tinha que arrumar alguma coisa. Isso quando ela não vinha justamente para fazer uma faxina na casa. No quarto do meu pai, era meia jogada de um lado, camisa do outro e calças pelo chão. Parecia até o quarto de um adolescente rebelde.
Passado um tempo, meus familiares se despediram e foram para casa. Tia Sarah, meus avós e meus primos moravam juntos enquanto eu morava sozinha com meu pai. E eu gostava disso, fazia eu me lembrar do tempo em que éramos só meu pai, minha mãe e eu aqui nessa casa. Meu pai me deu um beijo na testa e se levantou do sofá, dizendo que ia tomar um banho para se deitar. Ele havia trabalhado a madrugada toda de ontem para hoje e estava exausto. Assenti e continuei a assistir televisão. Um cheiro bom tomou conta do ar ao mesmo tempo em que passos quase silenciosos se aproximavam.
Virei meu rosto e vi sentando ao meu lado. Ele usava uma calça de moletom cinza, uma camisa branca e meias. Seu cabelo estava molhado e assim que ele passou a mão pelo mesmo, o seu cheiro adentrou meu nariz novamente. Parece que alguém acabou de sair do banho.
- O que está assistindo? – perguntou.
Voltei a encarar a televisão, que era a única coisa que iluminava um pouco a sala escura.
- Um filme, mas não me pergunte o nome, pois eu não sei.
soltou uma risada nasalada e eu sorri de canto, discretamente. Abracei uma almofada e continuei a olhar para a televisão.
- Filme chato, huh? – ele comentou depois de um tempo em silêncio. – É óbvio que aquela garota vai ficar com o cara no final.
- Não tire a graça do filme, por favor.
- Okay, okay. – ergueu as mãos em rendição.
Estava tudo ótimo, tudo tranquilo, com em silêncio e eu vendo meu filme em paz, se não fosse (maluco, devo deixar claro) me pegar no colo do nada. Segurei um gritinho agudo de susto e me agarrei a sua camisa, com medo de cair.
- Me solta agora, ! – falei baixo para que meu pai não ouvisse.
- Já está na hora de dormir, . Isso não é hora de criança estar acordada. Ainda mais, vendo um filme chato como esse. – ele dizia com a maior naturalidade enquanto atravessava o corredor comigo no colo.
Bufei e comecei a me sacudir, tentando sair de seus braços.
- Acho que eu posso andar sozinha, huh? Eu tenho pernas para isso.
Ele me ignorou e adentrou meu quarto, jogando-me com brutalidade na cama. Olhei para ele com surpresa e raiva ao mesmo tempo, com minhas mãos agarrando o lençol da cama. riu da minha careta e balançou a cabeça.
- Vou tomar banho primeiro. – disse e levantei da cama. Fui até o armário e peguei meu pijama.
- Faça isso mesmo. O seu fedor está vindo aqui.
Semicerrei meus olhos em sua direção e entrei no banheiro do meu quarto, batendo a porta. Joguei minha roupa no cesto de roupa suja e tomei meu banho, lavando meus cabelos. Assim que me vesti e saí do banheiro, tive a visão de jogado de bruços em minha cama e sem camisa. Cruzei os braços e arqueei a sobrancelha, andando até ele. Levantei meu pé e cutuquei a perna de com o mesmo.
- Ei, chega para lá. – falei ao ver que ele estava bem no meio da cama.
resmungou alguma coisa e chegou mais para o lado. Tirei meus chinelos e coloquei minhas meias. Estiquei meu braço e apaguei a luz do abajur. Deitei-me na cama e me cobri. Reclamei mentalmente pela cama ser muito pequena para nós dois. Era uma cama de solteiro um pouco maior do que as outras, mas ainda sim estava me incomodando. Eu gostava de ter muito espaço ao dormir, e estava me privando disso naquele momento.
Fechei os olhos e me concentrei em dormir, mas deu um solavanco na cama que me assustou. Ele se mexeu mais uma vez em menos de um minuto e eu bufei, me virando em sua direção.
- , para de se mexer! – resmunguei.
- Foi mal. – respondeu baixo.
Fechei os olhos novamente, mas algo me fez abri-los: sua proximidade. Bufei e peguei um dos travesseiros, colocando-o entre nós. Vi quando ele abriu os olhos e fitou o travesseiro, franzindo a testa.
- O que é isso? – perguntou.
- Respeite a barreira, . – disse simplesmente.
- Que mané barreira! – olhei-o boquiaberta quando ele pegou o travesseiro e o jogou do outro lado do quarto.
- Era o meu travesseiro preferido! – disse como uma criança birrenta.
- Dane-se. – ele deu de ombros.
Afastei mais meu corpo do dele, e eu já estava quase caindo da cama. Mas que merda. Nem dormir eu posso.
- Pare de agir como se eu tivesse alguma doença, . – o encarei e ele mantinha os olhos fechados. – Eu senti você se afastar.
- Não é questão de ter doença ou não. É questão de privacidade, e você está tirando a minha nesse exato momento.
- Fresca. – respondeu num tom calmo e eu fiz careta.
- Eu não sou... – me autointerrompi quando senti um forte puxão na minha blusa do pijama. – Você vai rasgar o meu pijama desse jeito, seu estúpido!
- Dane-se. – repetiu.
A minha vontade era de estrangulá-lo até a morte, mas me segurei. Não quero passar o resto da minha vida atrás das grades.
Repentinamente, senti sua mão quente adentrar minha blusa e tocar minhas costas, puxando-me mais contra seu corpo. Suspirei assim que senti o calor de seu corpo emanar até o meu por debaixo do cobertor. Ele começou a acariciar minhas costas com a ponta dos dedos e eu já podia sentir o seu nariz um pouco gelado encostando-se ao meu.
- Você está cheirosa. Gosto assim. – ele disse com a voz baixa e rouca.
- Depois de praticamente me chamar de fedida. – falei debochada e o vi abrir um sorriso em meio à luz da lua que entrava pela janela.
- Mas você estava fedida mesmo.
- Cale a boca. – disse e fechei os olhos.
Nossas respirações calmas se misturaram e o sono se apossou de meu corpo. Aos poucos, fui relaxando e já estava entrando na primeira etapa do sono quando senti a mão de descer aos poucos. Ela adentrou a parte de baixo de meu pijama e deu um leve aperto em minha bunda Logo depois de envolvê-la com sua mão quente.
- Se você não parar com isso agora, eu te expulso do meu quarto a tapas. – avisei com uma voz ameaçadora.
Ele deu uma risada fraca, fazendo sua respiração bater ainda mais contra meu rosto.
- Pensei que estivesse dormindo. – ele disse.
- Pois estou bem acordada, e você já está avisado. Tarado.
riu novamente e parou de apertar minha bunda, mas sua mão permaneceu ali.
Não acredito que vou ter que dormir com alguém praticamente me bolinando. Oh, vida.
Fechei a mala, verificando antes se eu não tinha esquecido nada. Eu embarcaria amanhã à tarde, e não queria deixar nada de importante para trás. Encarei o porta-retratos com uma foto minha com meu pai e minha mãe. Suspirei ao ver o sorriso sincero que esbanjava dos lábios de minha mãe. Teresa Wright. Ela era tão jovem quando se foi, e eu me lembro da dor que eu senti quando soube da notícia de seu falecimento. É como se mesmo depois de tanto tempo, eu ainda sentisse aquela mesma dor esmagadora em meu peito, a mesma angústia e o mesmo desespero.
Sorri de canto me lembrando dos bons momentos que tivemos. Eu nunca poderia me esquecer dos momentos ao seu lado. Serão lembranças que ficarão bem guardadinhas na minha memória. Ouvi batidas à minha porta e falei um “entre”. Virei meu corpo e vi quando entrou em meu quarto, em passos lentos.
- Vejo que já arrumou tudo. – ele comentou após encarar minha mala fechada sobre a cama.
Respirei fundo e balancei a cabeça. – Sim.
Passei as mãos em meus cabelos e os prendi num coque frouxo. Arrumei meus óculos – já que não havia necessidade de usar as lentes em casa – e esfreguei minhas mãos, uma na outra. O tempo tinha fechado de repente e fazia muito frio, fora os relâmpagos do lado de fora, ameaçando chover a qualquer momento.
- E você, também vai passar o feriado com sua família? – perguntei casualmente.
- Ah, não, não. – negou, rindo fraco. – Eu sou canadense. Não comemoramos o dia da independência de outro país.
Franzi o cenho. – Mas... Você mora nos Estados Unidos agora. Seria o certo você comemorar, não?
- Não exatamente... – deu de ombros.
Sentei-me na cama e olhei para cima, encarando-o parado à minha frente.
- Então o que pretende fazer durante esses dias? Vai ficar aqui sozinho?
- Exato. Vou ficar aqui comendo besteiras e quem sabe... Assistindo a alguns filmes. Garanto a você que não existe diversão melhor. – seu tom era sarcástico e eu ri fraco, negando com a cabeça.
Uma ideia me surgiu, assim como tantas outras ideias malucas que eu tinha de vez em quando. Não, , é melhor não... Não faça isso. – minha mente gritava, mas por mais uma vez, eu a ignorei.
- Você gostaria de passar o feriado comigo, ? – a pergunta escapuliu sem que eu me desse conta.
me olhou por alguns segundos, caindo na risada Logo depois. Cruzei os braços e arqueei a sobrancelha, esperando sua crise de risos passar.
- Você... Você está falando sério? – perguntou e eu assenti – Tem certeza disso? Já moramos juntos e agora você me convida para passar mais dias com você e sua... família. Não acho que isso vai dar muito certo.
Levantei-me da cama com meus braços ainda cruzados.
- Eu só te dei uma ideia para que você não ficasse aqui sozinho, mas se você quiser, pode ficar. Não tem problema nenhum se você recusar, sério. Acho que seria até melhor você não ir mesmo. – dei de ombros.
Virei e puxei minha mala pesada, levando-a até o canto do quarto.
- Acho bom você ter muita paciência e muito amor nesse coração, porque eu aceito passar o feriado com você, pequena . – sua voz era de deboche e eu semicerrei meus olhos assim que me virei em sua direção.
- Certo, , você vai comigo... Mas...
- Mas...? – incentivou-me a continuar.
- Mas sem gracinhas. Você ficará em uma casa de família. Meus parentes são muito sérios, então, por favor, não me faça passar vergonha.
- Eu? Fazer você passar vergonha? – ele apontou para si mesmo e eu bufei – Nunca. Eu serei o cara mais respeitador que sua família já conheceu. – afirmou e o avaliei por alguns segundos, antes de soltar um longo suspiro.
- Okay. Agora, um aperto de mão para oficializar o acordo. – estiquei minha mão.
me olhou com a sobrancelha erguida e eu devolvi o olhar. Repentinamente, ele cuspiu em sua mão e ia tocar na minha, se eu não tivesse a recolhido. Fiz uma careta de nojo e o encarei incrédula.
- O quê? – ele perguntou visivelmente confuso – Quando fazemos um acordo, temos que cuspir na mão para que ele seja realmente oficializado.
- Eu não vou apertar a sua mão cuspida! Deixa de ser nojento!
- Então como faremos isso? – perguntou entediado.
- Promessa de dedinhos. – sorri.
- Promessa de dedinhos é para mulheres! – falou com indignação e eu segurei a risada.
- Vamos, ! E por favor, com a outra mão. Mantenha a cuspida longe de mim.
Ele revirou os olhos e eu estendi meu dedo mindinho. À contragosto, ele bufou e entrelaçou seu dedo com o meu. Sorri vitoriosa e assenti com a cabeça.
(...)
- Por favor, seja educado. – avisei a assim que saímos do avião.
Tínhamos acabado de pousar em Carolina do Norte e somente o ar daquele lugar já me fazia sorrir feito uma boba. Andamos pela pista até chegarmos ao aeroporto. Assim que adentramos, coloquei minha mala no chão ao meu lado, e olhei em volta à procura do meu pai.
- Eu sempre sou educado. – ouvi falar, mas o ignorei.
- Vamos. Meu pai deve estar do outro lado. – peguei novamente minha mala e arrumou sua enorme bolsa esportiva em seu ombro.
Fomos até o outro lado do aeroporto, perto das escadas rolantes. Olhei novamente em volta e meus olhos lacrimejaram um pouco quando eu o vi ali, segurando uma pequena plaquinha com meu nome. Larguei a mala imediatamente e corri em sua direção. Praticamente me joguei em seus braços e o abracei fortemente, deixando com que minhas lágrimas molhassem sua camisa azul claro.
- Eu estava com tantas saudades, pai. – minha voz saiu chorosa.
- Eu também, minha garotinha, eu também. – ele me abraçou ainda mais forte, tirando meus pés do chão, e eu ri fraco em meio ao choro.
Soltei-o lentamente e encarei seus olhos, secando as mínimas lágrimas que escorriam por sua bochecha. Acariciei seu rosto e meu pai pegou minha mão, dando um beijo. Seus olhos encararam algo por trás do meu ombro e ele franziu a testa. Lembrei-me de e fui até ele, puxando-o pelo braço.
- Pai, esse aqui é o , um amigo. – disse com certo receio ao ver o olhar duro de meu pai sobre .
Ele estendeu a mão e cumprimentou . Vi pelo rosto de , a força que meu pai utilizara para apertar-lhe a mão. Segurei o riso e abaixei a cabeça por um momento.
- Sou Benjamin Wright, pai da . – senti que ele queria deixar bem claro aquele fato. Meu pai sentia um ciúme danado de mim, e parecia analisar minuciosamente os movimentos de .
- Prazer em conhecê-lo, senhor Wright. – estranhei a educação de , mas lembrei de que ele mesmo tinha prometido ser um bom rapaz. Espero que ele cumpra a promessa.
Meu pai o analisou de cima a baixo enquanto estava com as mãos nos bolsos da calça jeans. Um silêncio se formou e eu incomodada, pigarreei.
- Bom, acho melhor irmos, huh? Eu estou muito ansiosa para rever todos! – falei animada e meu pai levou seu olhar até mim, sorrindo em seguida.
- Vamos. – assentiu – Quer que eu leve sua mala?
Abracei meu pai de lado e encostei minha cabeça em seu peito. – Não será necessário. O é muito gentil, sei que ele vai amar levar a minha mala. Não é, ?
Olhei para trás e vi me lançando um olhar raivoso. Acho que se ele pudesse me desintegrar com o olhar, ele com certeza não perderia tempo. Ele forçou um sorriso e mexeu a cabeça, fazendo um pequeno estralo com o pescoço.
- É claro. Será um prazer levar a sua mala, minha amiga. – senti que ele controlava seu tom debochado e segurei uma risada.
- Obrigadinha. – agradeci e voltei a aconchegar-me nos braços do meu pai.
Fomos até a caminhonete cinza do meu pai e abri a porta, sentando-me no banco do passageiro. Vi quando meu pai e colocaram as malas na parte de trás da caminhonete e Logo se aproximaram. Meu pai sentou ao meu lado e sentou no banco atrás do meu. Meu pai e eu ficamos conversando a caminho de casa. Contei a ele sobre minha vida em Nova York e ele me contou sobre algumas coisinhas que aconteceram desde a última vez em que estive aqui. Tudo estava ótimo, até ele soltar uma simples, mas significativa pergunta.
- Onde vocês se conheceram? – engoli em seco e pelo espelho retrovisor, vi que fez a mesma coisa. Ele me encarou e ao mesmo tempo, senti o olhar do senhor Benjamin sobre mim.
- É... é do Canadá. Ele foi à Nova York porque trabalha na empresa do pai, e bem, nos conhecemos porque ele é um grande amigo do e da . Você lembra deles, pai? Meus melhores amigos. Falei sobre eles com você.
- Ah, sim. Lembro-me de seus amigos. Você poderia trazê-los para cá algum dia. Eu ia adorar conhecê-los. – ele deu um sorriso simpático e por um momento, eu me esqueci da seriedade que tomava conta de seu rosto há um minuto atrás. Sorri e assenti. – Então foi assim que se conheceram?
- Exatamente. – respondi.
- E há quanto tempo chegou aos Estados Unidos, ? – meu pai o olhou pelo espelho retrovisor.
- Há mais ou menos um mês, senhor. – respondeu.
- Por favor, me chame de Ben. – falou e o encarei no mesmo instante. Ben? Somente os amigos e familiares o chamavam assim. O que deu em meu pai? – E seu pai tem uma empresa de quê?
- Turismo. A empresa começou no Canadá e ele a expandiu, trazendo-a aos Estados Unidos. – respondia com uma educação e suavidade na voz que me fazia estranhar.
- Muito bom. Muito bom mesmo. – meu pai disse pensativo e o encarei, franzindo minha testa. Aonde ele queria chegar? – E quantos anos você tem?
- Vinte e três.
- Ah, desculpe... – interrompi a conversa – Mas isso aqui é algum tipo de interrogatório? Pai, eu trouxe para que ele não ficasse sozinho em Nova York. Não para que o senhor o interrogasse como se fosse algum pretendente meu ou algo do tipo. – meu tom saiu um pouco rude, mas não me importei. Eu estava indignada, na verdade. – E eu peço encarecidamente que o senhor pare com isso.
- Eu não estou fazendo nada demais, querida. Eu só queria conhecer melhor o rapaz. – meu pai deu de ombros enquanto virava a rua, entrando numa área gramada – e um pouco afastada da cidade – que eu conhecia bem.
- Sei muito bem do que se trata esse seu “conhecer”. – fiz aspas com os dedos. – Então, por favor, pare já com isso.
- Não, . – ouvi a voz de e virei meu corpo, olhando-o. – Eu estou gostando de conversar com o seu pai. Na verdade, estou achando a conversa bem interessante e eu gostaria que continuássemos, Ben.
Semicerrei os olhos em sua direção e sorriu maroto, lançando-me uma piscadela. Ajeitei-me novamente no banco e cruzei os braços, bufando baixo.
- Está vendo, filha? Acho que você é a única chata aqui.
Olhei com raiva para meu pai e ele riu, apertando meu nariz com seus dedos indicador e médio. Fiz uma careta e entortei meu nariz, respirando fundo. Olhei pela janela e meus olhos brilharam quando eu avistei a casa em que passei toda a minha infância e adolescência. Meu pai foi entrando aos poucos na garagem e eu já não me aguentava mais para abrir a porta e entrar Logo naquela casa. Eu já podia sentir o seu cheiro. Aquele cheiro bom e característico que só minha casa tinha.
Assim que meu pai parou o carro, eu abri a porta com certa afobação e quase saí correndo em direção à porta de entrada. Minha família toda devia estar na sala e eu mal esperava para vê-la. Subi os três degraus e envolvi a maçaneta da porta verde com a minha mão. Respirei fundo e a abri de uma vez. Os olhares de todos caíram sobre mim e eu sorri ao vê-los levantando e vindo em minha direção.
- , minha sobrinha linda! – tia Sarah me abraçou forte, quase me esmagando, e eu retribuí. – É tão bom vê-la em casa novamente.
- É bom estar em casa, tia. – sorri e olhei para o lado vendo meus avós maternos.
- Oi, vovô. – abracei-o com carinho e Logo fui abraçar minha avó. – Oi, vovó.
- Minha neta está tão grande e bonita. Que orgulho! – vovó disse e eu sorri, abraçando-a mais uma vez.
Vi um pequeno furacão passar correndo por mim e ri fraco.
- Adam, filho! Venha falar com a sua prima! – gritou tia Sarah.
O furacãozinho apareceu em minha frente, segurando um carrinho. Agachei-me e o peguei no colo, abraçando-o fortemente.
- Senti saudades de você, meu pequeno. – falei.
- Eu também senti saudade de você, Lie. – ele falou com sua vozinha fofa e eu dei um beijo em sua bochecha, colocando-o no chão novamente. Ele voltou a correr pela casa e todos rimos.
- Adivinha o que eu fiz para comemorar a sua chegada, menina ? – disse tia Sarah e eu sorri de canto, fazendo uma expressão pensativa.
- Hm, deixe-me ver... – coloquei a mão no queixo – Bolo de chocolate?
- Nem tem graça com você. Sempre acerta! – ela disse fingindo desânimo e eu ri.
- Como eu não ia acertar? O seu bolo é o melhor, tia!
- Receita de família, você sabe. – deu de ombros, sorrindo. Ela amava quando eu eLogiava sua comida.
- Sei bem. – afirmei prontamente.
Repentinamente, um som me fez olhar em volta para saber de onde vinha. Olhei para o sofá e vi uma cabeleira loira. Sorri e me aproximei por trás.
- É sério mesmo que você não vai falar com a sua prima linda que acabou de chegar? – quase gritei em seu ouvido e ele deu um pulo.
- E cadê a prima linda? – perguntou com a sobrancelha arqueada.
- Muito engraçado, Paul! Venha até aqui agora e me dê um abraço. Essas crianças de hoje em dia não largam seus celulares por nada! Essa geração está perdida mesmo.
Paul riu e colocou o celular no sofá, se levantando. Ele se aproximou de mim na parte de trás do sofá e eu abri meus braços. Abracei-o e ele retribuiu. Passei a mão por seus cabelos, bagunçando-os um pouco, sabendo que ele não gostava quando eu fazia isso. Paul se afastou e arrumou o cabelo, enquanto eu ria.
- Você sabe que eu não sou mais criança, . Eu agora sou um adolescente com quinze anos. – ele encheu a boca para declarar aquilo e eu gargalhei.
- Sim, sim. Adolescente com a alma de uma criança.
Ele lançou-me o dedo do meio e eu arregalei meus olhos.
- Não foi essa educação que eu te dei, Paul Butcher! – tia Sarah o repreendeu e eu segurei a risada.
Paul revirou os olhos, igual a mim, e eu sorri.
- Exato, não foi essa educação que tia Sarah te deu, criança. – enfatizando bem a palavra “criança”, Paul fuzilou-me com o olhar e voltou a se jogar no sofá, mexendo em seu celular.
Vi quando meu pai e entraram em casa. Meu pai carregava minha mala e Logo a colocou no chão. colocou a sua bolsa ao lado da minha mala e olhou tudo em volta até seus olhos pararem em mim. Ele pôs as mãos nos bolsos da calça, um pouco tímido por estar no meio de pessoas desconhecidas. Todos os olhares pareceram cair sobre ele, fazendo-o encolher um pouco os ombros.
- Quem é ele, querida? – perguntou vovó Lidiane.
- Ah, esse é o . Ele é o meu mais novo amigo canadense. – sorri de canto.
Vi quando tia Sarah sorriu maliciosamente em minha direção, quase perguntando com o olhar se era realmente só meu amigo. Neguei com a cabeça em forma de reprovação por sua atitude e entrelacei minhas mãos por trás de meu corpo.
- É um prazer conhecê-lo, . – tia Sarah o cumprimentou, apertando sua mão. – Sinta-se à vontade.
- Obrigado. – ele sorriu fraco – Eu posso afirmar que já me sinto em casa.
Seu olhar sapeca caiu sobre o meu e eu engoli em seco, vendo sua mão apertar a da minha tia.
Não sei por que, mas eu tenho a ligeira impressão de que o nosso acordo não valeu de nada.
Atravessei o corredor enquanto carregava minha mala e fui até o meu quarto. Parei de frente a porta do mesmo e a abri. Sorri ao ver o meu quarto exatamente do mesmo jeito que tinha o deixado e adentrei o mesmo. Coloquei minha mala em cima da cama e me aproximei do mural de fotos, vendo as fotos que foram coladas recentemente. Quando fui embora da última vez, pedi a meu pai que colasse todas as fotos que a minha família tirasse em algumas ocasiões e as colasse no mural para que eu as apreciasse quando voltasse. Toquei uma das fotos com as pontas dos dedos e sorri enquanto admirava uma por uma.
Era um misto de risadas com algumas caretas e expressões de raiva que estavam estampadas ali. As expressões de raiva, certamente, vinham de Paul. Ele era o mais irritável da família e quando passavam a mão em seu cabelo ou não faziam algo que ele queria, simplesmente ele fechava a cara e fazia um bico maior do que o mundo. Quando eu digo que Paul ainda se comporta como uma criança, eu estou certa. Em algumas fotos, meu pai estava abraçado à vovó Lidiane e vovô Maxwell. Todos sorriam. E em outras, tia Sarah estava ao lado de meu pai, segurando uma travessa com alguma comida que ela cozinhara.
Ouvi um pigarro e virei meu corpo, vendo um encostado ao batente da porta.
- Eu ainda não acredito que não posso dormir aqui com você. Seria bem melhor do que dormir no sótão. – ele revirou os olhos enquanto se aproximava e eu neguei levemente com a cabeça. – O meu colchão ficaria perfeito aqui. – apontou para o espaço vazio no chão ao lado da minha cama.
- A casa é pequena e só temos dois quartos. Mas se preferir, posso ver com a tia Sarah se você pode ficar na casa dela. Lá é bem grande e...
- E ficar longe de você no meio de um monte de gente que mal conheço? – me interrompeu – Nem pensar.
- Você quem disse que já se sentia em casa. – dei de ombros, sorrindo debochada.
- Acho que ficou bem claro que eu disse aquilo para confortar a sua tia. Ela me disse para ficar à vontade, eu apenas retribuí sua gentileza.
- Certamente... – afirmei com desdém e me aproximei de minha cama.
Pus-me a tirar as peças de roupa de minha mala, calmamente.
- Então quer dizer que você não quer que seu pai saiba que moramos juntos? – ouvi a voz de perguntar, num tom interessado.
Virei meu rosto e semicerrei meus olhos em sua direção.
- Fico imaginando o motivo de tal mentira de sua parte, pequena .
Bufei.
- Eu não menti. Eu só... Só preferi não falar certas coisas. Eu apenas poupei meu pai de certos desgostos. – tirei a última blusa de dentro da mala.
- Desgostos? E por que ele sentiria desgosto se soubesse que dividimos o mesmo teto?
- , o que sua mãe ou seu pai faria se soubesse que você mora com uma desconhecida? Que divide o apartamento com uma mulher que conhece há somente um mês? – encarei-o e ele me encarou de volta.
- Bom, meu pai... – um sorrisinho de canto se formou em seus lábios – Meu pai ficaria muito orgulhoso de mim e com certeza, acharia que eu estou pegando essa mulher.
Fiz uma careta de nojo a qual ignorou completamente.
- E minha mãe... Acho que ela não veria problema nenhum nisso. Afinal, eu já sou independente. Não devo satisfações de minha vida a papai e mamãe. – ele me lançou um olhar debochado, deixando claro que falava sobre mim.
- Eu também não sou dependente de meu pai. Não devo satisfações.
- Você está falando sério? – ele riu – Qualquer passo que você dá, tem que dizer a ele. Já percebi isso, . Nem tente me enganar.
- Você diz isso porque tem uma mãe e não é filho único! – aumentei meu tom ao falar – Consegue por acaso imaginar como é crescer sem uma mãe e não ter nenhum irmão para se apoiar em algum momento difícil? Sempre fomos só eu e meu pai! Sempre tivemos somente um ao outro! Posso até ter meus avós, tia e primos, mas nos momentos em que a saudade da minha mãe batia, éramos só nós dois! Somente nós sabíamos o que sentíamos e dividíamos a dor.
me olhava sério e em silêncio.
- Mas você não sabe como é isso, porque nunca perdeu ninguém! Nunca sentiu a dor que é perder alguém e saber que nunca mais vai ver aquela pessoa. Nunca mais vai sentir o cheiro do seu perfume ou os carinhos em seu cabelo ou ouvir a canção de ninar que sempre fora cantada antes de dormir! Nunca mais vai ouvir a voz da pessoa te desejando boa noite ou até quando ela te dava uma bronca por você ter derramado suco de hortelã no tapete! – quando eu percebi, as lágrimas já rolavam por minha face e minha visão estava totalmente turva. Minha garganta ardia enquanto eu tentava me controlar, mas era em vão.
- Você nunca mais vai... – sem que eu pudesse terminar minha frase, senti os braços quentes de me apertando contra seu corpo.
- Shhh... Está tudo bem, ... – ele disse num tom calmo enquanto me abraçava. – Está tudo bem, apenas se acalme...
Envolvi o corpo de com meus braços e afundei meu rosto em seu peito. Eu sentia as lágrimas rolando em meu rosto e caindo em sua blusa, mas ele parecia não se importar, sempre me apertando ainda mais, querendo me confortar. Uma de suas mãos foi até meu cabelo e o acariciou suavemente.
- Desculpe por ter dito aquilo. Eu não sabia... – disse com um leve tom de culpa.
- Não, está tudo bem... Não se preocupe com isso. – minha voz saiu um pouco abafada já que minha boca estava contra seu peito.
Afastei-me dele, mas segurou meu braço. Olhei em seus olhos e ele levou seus dedos polegares até minhas bochechas, limpando minhas lágrimas. Seu rosto ficou mais próximo do meu e fechei meus olhos ao sentir seus lábios depositando um beijo em minha bochecha. Abri meus olhos assim que ele se afastou e virei meu corpo em direção ao armário, ficando de costas para .
- Quer ajuda para arrumar suas coisas no sótão? – perguntei, mudando de assunto.
Ouvi bufar e sorri de canto. Ele ainda está inconformado de ter que dormir lá.
- Eu não sabia que ia dormir num sótão. Eu preferia ter ficado em Nova York.
Soltei uma risadinha e fui até minha cama, pegando a mala e a jogando debaixo da mesma.
- Ei! Você sabia disso, não é? – ele perguntou repentinamente e eu o olhei, confusa.
- Sabia de quê?
- De que como aqui só tem dois quartos, eu teria que dormir no sótão. – cruzou seus braços e arqueou a sobrancelha.
- Na verdade, não. Eu nem me lembrava desse fato. – dei de ombros. – E pare de reclamar! Se não gostou, pegue um voo e volte para Nova York.
- Mas é muita sacanagem comigo. – falou e eu sorri marota.
- Não posso fazer nada, meu caro. – levantei meus ombros.
Peguei algumas roupas e levei-as até meu armário, começando a pendurá-las nos cabides.
- Na verdade, você pode sim. – falou num tom rouco que me chamou a atenção. Virei meu pescoço e o encarei, esperando que ele continuasse. – Pode me emprestar seu quarto.
Ri com o que ele acabara de falar.
- Você só pode estar tirando uma com a minha cara. – cruzei meus braços e me virei em sua direção. – E onde eu vou dormir?
- Aqui. – ele apontou em volta. – Acho que tem espaço suficiente para nós dois.
- Você vai mesmo desistir de dormir na cama do sótão para dormir num colchão no chão? – arqueei as sobrancelhas.
- E quem disse que eu vou dormir no chão? – encarei-o confusa e ele sorriu. – Eu vou dormir é na sua cama mesmo, minha amiga. A não ser que você queira que eu conte ao seu pai o que eu sou na verdade... – seu sorriso malicioso aumentava e meu sangue fervia. Que ódio de . – Vejamos... Eu sou um desconhecido que mora no seu apartamento e ainda te dá aulas de beijo e outras coisinhas básicas... Seria maravilhoso um pai superprotetor saber disso, huh? Sua querida filhinha beijando os lábios de um desconhecido...
Fechei minha cara em fúria e me segurei para não pular no pescoço daquele infeliz a minha frente.
- Acha que ele gostaria que eu contasse algumas historinhas a ele, ? – sua expressão debochada foi o meu limite.
Com os punhos cerrados, eu avancei em . Bati em seu peito e quando ia lhe dar um tapa, ele segurou meus pulsos com força e eu grunhi de ódio.
- Você acha que ele ia gostar, ? – repetiu sua pergunta e num movimento rápido, ele me jogou na cama, ficando por cima de mim. Ainda segurando meus pulsos, e eu tentando me soltar, ele prendeu minhas pernas com as suas.
- Me solta, ! – quase gritei, vermelha de raiva. – Você é um ridículo e um debochado! Eu odeio você! Seu irritante!
Ele me olhou com tédio e revirou os olhos. – Você também é debochada e irritante e nem por isso eu jogo na sua cara, baby.
Bufei e desisti de me soltar de seu aperto. Relaxei meu corpo e meus pulsos, mas continuou por cima de mim, me segurando.
- Já pode me soltar agora, seu idiota.
- E correr o risco de você escapar? – riu – Nem pensar.
Rolei os olhos e virei o rosto, encarando meu travesseiro ao meu lado.
- E então, ? O que vai ser? Eu durmo aqui ou você vai preferir que eu conte ao seu pai?
- Como se ele não fosse descobrir que você estará dormindo aqui! – disse irritada.
- Mas isso é fácil. É só eu acordar antes dele e voltar ao sótão sem que ele veja.
- Isso não vai dar certo...
- Deixa de ser pessimista, mulher! – bufei – E então? Ainda espero sua resposta...
Fiquei em silêncio e levou uma das mãos até meu rosto, virando-o para ele.
- Okay, okay! Você dorme aqui, mas não na minha cama! Eu me recuso!
- Te garanto que cabe nós dois nela. – ele sorriu maroto.
- Não, ! Desiste!
- Então vou contar tudo ao seu pai. – deu de ombros, se preparando para levantar de cima de mim. Percebendo que ele falaria tudo agora, eu arregalei meus olhos e o puxei pela camisa, fazendo-o cair sobre mim novamente.
- Nem pense nisso! Entendeu? – apontei para seu rosto que estava a centímetros de distância do meu.
- Quem tem que me dizer se entendeu é você, baby. Ou aceita os meus termos e condições ou saio daqui nesse mesmo instante e vou até seu pai. A escolha é toda sua. – seu hálito bateu contra meu rosto e fechei os olhos por alguns segundos, antes de abri-los e avistar com a mesma expressão sacana.
- Está bem! – suspirei derrotada – O que eu não faço para livrar meu pai de desgostos...
- E livrar a sua pele, que é o principal. – completou num tom risonho.
Rolei os olhos.
- Você parece uma criança quando revira os olhos assim. – ele comentou, levando sua mão até minha bochecha e a acariciando com o polegar.
- Você já pode sair de cima de mim agora, . – ignorei seu comentário.
- Hmm, não... Estou bem assim. – depositou mais o seu peso contra mim.
- Vai acabar me esmagando desse jeito! – resmunguei, colocando minha mão em seu peito, tentando afastá-lo.
- Essa é a intenção. – lançou-me uma piscadela, rindo fraco.
Ele se movimentou sobre mim e meu corpo entrou em alerta quando senti seu membro se chocar contra minha intimidade. Empurrei-o mais uma vez, mas quanto mais eu o empurrava, mais pressionava seu membro contra mim. Mordi meu lábio inferior, constrangida com a situação, ao contrário de , que continuava em silêncio, lançando-me seus olhares maliciosos.
- É sério, . Sai agora. – disse incomodada.
- Por que, baby? Algum problema? – seu tom era cínico e ele agia como se não estivesse fazendo nada demais.
- Não banque o inocente, rapaz. Eu te conheço muito bem. – falei com as mãos ainda espalmadas em seu peito.
- Ah, conhece? – ele riu fraco, voltando se mover para frente. – Duvido.
- Muito lindo uma pessoa comprometida como você fazendo isso. Por acaso, Olivia sabe que você faz esse tipo de coisa pelas costas dela? – perguntei num tom debochado.
- O que os olhos não veem, o coração não sente, huh? – disse com uma voz rouca, voltando a se mover.
- Que pensamento maravilhoso! – falei irônica – Você é muito cafajeste. Eu nunca ia querer ser sua namorada.
- Ah, não? – perguntou e eu neguei. Seu tom era rouco e sedutor, parecendo querer me excitar de alguma forma. E por mais uma vez, ele se movimentou, pressionando nossos sexos. Fechei meus olhos por um momento e mordi meu lábio inferior. – Pois parece que você iria querer ser a primeira da lista.
- Sonhe mesmo, . – ri sarcástica – É bom sonhar de vez em quando. Faz bem ao cérebro e... – movimentou-se novamente, simulando sexo entre nós. Contive um gemido baixo que queria escapar de meus lábios. – A imaginação. – completei minha frase.
Ele riu baixo e balançou a cabeça. Senti encostar seu rosto à curvatura de meu pescoço e sua respiração batendo ali, fez minha pele se arrepiar.
- Falando em imaginação, baby... Diga-me quais são suas fantasias, seus fetiches...
Ri fraco.
- Eu não tenho fantasias e fetiches. – meus olhos ainda estavam fechados e eu ainda sentia seu vai e vem sobre mim, de forma lenta.
- Garanto que tem. Todos nós temos. – afirmou – Não seja tímida, . Conte-me. – sussurrou em meu ouvido e eu levei minha mão até seu cabelo, agarrando-o suavemente.
- Não vou contar nada. – disse firme em seu ouvido, dando-lhe uma leve mordida no lóbulo de sua orelha.
- Você não tem ideia do quanto esse seu jeito decidido me excita. – sussurrou de volta e eu ri, balançando a cabeça.
- Bom para você, então. – dei de ombros.
- Bom para nós. – corrigiu-me – Diga-me, , você gostaria que eu fosse o primeiro a estar dentro de você?
- ! – o repreendi com os olhos arregalados.
- O quê? – perguntou-me, olhando em meus olhos. – Eu estou falando sério.
- Você é tão inapropriado. – balancei a cabeça.
Ele acariciou minha bochecha novamente e sorriu. – Já deveria estar acostumada.
Sem que eu pudesse falar algo, ele colou nossos lábios em um delicado selinho.
- O que está acontecendo aqui? – uma voz fez com que e eu nos separássemos na mesma hora.
Arregalei os olhos para e ele fez o mesmo.
Encarei por alguns segundos até ter uma ideia. Levantei um pouco minha blusa e peguei as mãos de , colocando-as por baixo da mesma. Ele me lançou um olhar confuso e eu apenas comecei a mexer suas mãos. entendeu minha ideia e se pôs a fingir que estava me fazendo cócegas enquanto eu gargalhava.
- Tia, o que... a senhora... quer? – perguntei meio ofegante por entre as risadas.
Por cima do ombro de , vi tia Sarah nos olhando com a testa franzida e um sorriso de canto.
- Desculpe atrapalhar a brincadeira de vocês, mas é que o jantar já está pronto. – ela avisou num tom risonho, provavelmente se segurando para não rir das minhas caretas enquanto me fazia cócegas.
- Ah, o-obrigada, tia! Já estamos... indo! – falei e ela assentiu, Logo saindo do quarto.
Rapidamente, segurei os pulsos de , afastando suas mãos de mim. Respirei aliviada e fechei meus olhos por alguns segundos.
- Essa foi por pouco... – o ouvi comentar e balancei a cabeça afirmativamente.
me encarou um pouco antes de aproximar seu rosto. Com um sorriso de canto em seus lábios, pensei que ele fosse me beijar novamente, e ia impedi-lo, mas ele virou um pouco seu rosto, dando-me um rápido beijo na bochecha.
- Vamos comer! – seu tom de animação me fez rir baixo. – Estou morrendo de fome!
Ele saiu de cima de mim e me deu um puxão pela mão que quase me fez atravessar a parede. Em passos rápidos, ele saiu do meu quarto enquanto ainda me puxava, querendo que eu acompanhasse seus passos a todo custo. Com dificuldade e tropeçando em meus próprios pés, eu continuei a andar pelo corredor até chegarmos à porta da cozinha. Soltei a mão de e adentrei a cozinha, vendo meus familiares já sentados à mesa enquanto tia Sarah terminava de colocar os recipientes de comida sobre a mesma.
Sorri para todos e me sentei. Quando ia sentar ao lado de minha avó e meu pai, tia Sarah interrompeu seu ato.
- Oh, , querido, sente-se ao lado de minha sobrinha. Deixe que eu me sento aí.
Encarei minha tia e Logo depois, . Ele apenas me encarou de volta e assentiu, vindo até meu lado e se sentando. Assim que tia Sarah se sentou a minha frente, todos começaram a se servir. Coloquei um pouco do macarrão em meu prato e comecei a comer. Todos estavam em silêncio até que minha tia (como sempre tagarela) começou a falar.
- Então, , conte-nos mais sobre você. De onde é?
Desviei meu olhar do prato por um instante e a olhei. Pelo olhar divertido que ela me lançou, eu tive a certeza de que estava aprontando algo. Tia Sarah sempre foi curiosa demais e um tanto intrometida, devo dizer. Ela é como minha mãe em alguns aspectos, com o seu jeito cuidadoso, amigável, simpático e atencioso. Mas sendo irmã do meu pai, ela também puxou o lado ruim dos Wright. É um tanto desconfiada e fofoqueira, mas eu não a culpo. Culpo o sangue dos Wright.
- Sou do Canadá. – respondeu num tom calmo. – Mas estou morando em Nova York.
- Então foi assim que conheceu minha sobrinha? – ela deu mais uma garfada no macarrão.
- Exatamente. – ele disse, dando-me uma rápida olhada.
Voltei minha atenção para o prato e levei um pouco mais do macarrão à boca, mastigando lentamente.
- E você tem namorada? – arregalei os olhos com a pergunta de tia Sarah e até cheguei a me engasgar um pouco.
Tossi algumas vezes e até bateu em minhas costas, ajudando-me. – Tia! Que tipo de pergunta é essa?! – perguntei indignada, assim que recuperei o fôlego.
- Uma simples pergunta, querida. – deu de ombros – Todos aqui percebemos que o rapaz é bonito, elegante e com certeza, deve ter uma namorada. Eu apenas quis sanar uma curiosidade.
- Eu não percebi nada disso aí que você falou! – papai se referiu aos eLogios de tia Sarah a .
Soltei uma risada baixa ao ver meu pai com as mãos para o alto, em um movimento de quem não sabia de nada. Neguei com a cabeça e bebi um gole de meu suco.
- Sim, senhora. Eu tenho namorada. – respondeu .
- Por favor, me chame de Sarah. Não sou tão velha para ser chamada de senhora.
- Só está com quase cinquenta anos nas costas. – ouvi Paul murmurar e segurei uma risada, assim como todos à mesa.
- Estou só com quarenta anos, e você sabe muito bem disso, filho! – ela falou num tom raivoso e até desviei meu olhar de volta ao prato.
Tia Sarah ficava uma fera quando tocavam no assunto idade. Ainda mais quando diziam que ela era velha, sendo que ela ainda se achava na flor da idade. É claro que ela não era nova, mas também não era velha como Paul dizia. Todos sabíamos que ele falava tal coisa só para irritá-la. Adolescentes são uma coisa.
- Acho melhor não tocarmos nesse assunto, certo? – vovó se pronunciou pela primeira vez ao ver a tensão no ambiente. – Se formos falar de idade, me sentirei já dentro de um caixão e enterrada.
Rimos do humor de vovó Lidiane e voltamos a comer.
- É uma pena você ter namorada, querido. Você e minha sobrinha formariam um lindo casal.
Tia Sarah e sua boca grande mais uma vez!
No mesmo instante, senti minhas bochechas ruborizarem e me encolhi na cadeira, quase caindo para debaixo da mesa. De canto de olho, vi papai olhar para com uma cara de poucos amigos. Parece que ele não gostou nem um pouco da ideia...
- É claro que não! Eles são só amigos, Sarah. Não fale uma besteira dessas! – engoli em seco ao ouvir a voz grossa e um tanto afetada de meu pai. Eu me lembro bem da última vez em que o vi nervoso, e não quero nem um pouco reviver aquele momento novamente.
- Se acalme, Benjamin! Eu apenas fiz um comentário. – ela deu de ombros.
Olhei discretamente para e ele encarava tudo com um certo receio. Na verdade, acho que ele estava um tanto assustado com a reação de meu pai. Aposto que ele havia pensado que já tinha o coroa no papo, sendo que nem tinha chegado perto.
É, ... Você se enganou. Meu pai é duro na queda.
- Um comentário inoportuno. – meu pai lançou um olhar sério à tia Sarah, que não se afetou nem um pouco. – Agora vamos comer em paz, por favor.
Um silêncio pairou no ar e o que podia ser ouvido era somente o som dos talheres batendo nos pratos. E assim se foi até o fim do jantar, quando tia Sarah se levantou e pegou uma travessa dentro do forno. Meus olhos brilharam quando eu vi o tão esperado e desejado bolo de chocolate se aproximando. Tia o colocou bem no meio da mesa e me olhou com um sorriso.
- Aqui está seu bolo especial, querida. Espero que esteja bom. – falou e eu sorri, começando a cortar o bolo e me servir.
- O seu bolo sempre está bom. Na verdade, bom é um adjetivo muito simples para essa comida dos deuses! – lambi os lábios e todos riram.
Cortei um pedacinho e levei até boca. Meus olhos até se reviraram quando eu comecei a mastigar.
- Fabuloso! – falei com a boca um pouco cheia, arrancando risadas fracas.
- Porquinha. – Paul disse e eu lhe dei língua.
- Você faz coisas bem mais nojentas e eu não te chamo de porco. – ele deu de ombros. – Acho que vou começar a chamar, e bem na frente da Madison!
Paul arregalou os olhos e eu reprimi a risada. Madison é a menina por quem Paul é apaixonado desde o ano passado. Ela é líder de torcida da sua escola e ele tem planos de formar uma banda de rock. Ou seja, os dois são completamente diferentes. Enquanto ela é toda cheia de purpurina, ele é do tipo foda-se, que não está nem aí para as responsabilidades.
- Você não faria isso, ! – Paul apontou em minha direção e eu dei de ombros.
- Pague para ver, priminho.
Ele me olhou com raiva e eu sorri de canto, voltando a comer meu delicioso bolo. Ao fim da sobremesa, eu me ofereci para ajudar tia Sarah com a louça. Recolhemos todos os talheres, copos e pratos da mesa e eu me pus a ajudá-la. Ela lavava tudo e eu secava e guardava.
- Que tipo de comentário foi aquele, tia? – perguntei assim que estávamos sozinhas na cozinha.
Meus familiares foram à sala para assistir a um reality show e foi até o sótão, para “arrumar” suas coisas. Eu sabia que aquilo era uma desculpa, pois segundo seus planos, ele dormiria comigo e eu seria obrigada a aguentá-lo roncando ao meu lado.
Tia Sarah riu, dando-me um prato molhado. – Foi um simples comentário, querida. Não se preocupe com isso.
- Assim como sua simples pergunta, huh? – sequei o prato, colocando-o no armário acima de nossas cabeças.
- Eu realmente acho que vocês ficariam lindinhos juntos. E não pense que eu não reparei o jeito que ele te olhava durante o jantar. Você pode até não ter percebido, mas eu percebi.
- Ele estava me olhando? – perguntei curiosa e ela apenas assentiu com a cabeça. – Eu nem reparei.
- Eu sei, e é porque você é muito desligada. Tem que aprender a ser mais esperta, .
- Olha quem fala! – ri e ela me acompanhou.
Sequei mais alguns pratos e os guardei no armário.
- Ele me parece um rapaz muito bom e um grande amigo.
- Sim... Ele é um ótimo amigo. – afirmei pensativa.
- E quando você diz “ótimo amigo” está se referindo a quê? – arqueou a sobrancelha para mim e eu sorri fraco.
- Ele me escuta, me entende, me ajuda... E eu sei que quando eu precisar, ele estará lá. é um bom companheiro nas horas difíceis. – dei de ombros, tentando ser indiferente.
- Você o conhece há quanto tempo? – perguntou me dando uma rápida olhada.
- Há quase um mês. – respondi.
- E já está falando assim dele? – sorriu e eu franzi a testa, confusa. – Parece que as coisas estão melhores do que eu imaginava.
- O que está insinuando?
- Nada... Só acho que são muitas qualidades para uma pessoa que você conhece há pouco tempo.
- Queria que eu falasse mal dele?! Nós somos amigos. – disse secando os últimos talheres.
- Somente amigos? – lançou um olhar malicioso em minha direção e eu bufei, jogando os talheres na gaveta.
- Quer saber? Já chega desse assunto! Não quero mais falar sobre isso.
- Só uma última pergunta...
- Diga. – revirei os olhos, cruzando os braços.
- Naquela hora em que eu peguei vocês dois no quarto, vocês não estavam necessariamente brincando de cócegas, não é?
Engoli em seco e me controlei para não ficar vermelha de vergonha. – Você não tem jeito mesmo.
Coloquei o pano de prato sobre a bancada da pia e saí da cozinha enquanto negava com a cabeça e ouvia algumas risadas de tia Sarah. Andei com tanta pressa que acabei esbarrando em alguém. Senti umas mãos me segurarem, impedindo que eu fosse ao chão, e eu agradeci mentalmente a essa pessoa. Mas assim que vi de quem se tratava, bufei e rolei os olhos, cruzando os braços.
- Não olha para onde anda, não?
- Me diga você, senhorita espaçosa. – disse no mesmo tom debochado.
Um celular começou a tocar de repente, e enfiou a mão no bolso, pegando o aparelho. Ele sorriu ao ver o nome da pessoa na tela e Logo atendeu, ainda sorrindo.
- Oi, Olivia. – revirei os olhos ao ouvir o nome do ser. – Ah, claro, amor. E como está aí na casa dos seus pais? Mande um abraço para o seu pai e um beijo para sua mãe.
Descruzei os braços e ia começar a andar em direção à sala, se não fosse a mão de segurando meu braço.
- Um minuto, amor. – ele disse e eu lhe encarei, esperando que ele me soltasse. – Amanhã você vai me levar para conhecer a cidade. – sussurrou em meu ouvido.
- E por que eu? – perguntei sem nem fazer questão de sussurrar.
- Você me convidou, você me leva. – respondeu simples, me soltando.
Bufei e me afastei, indo até a sala, em passos firmes. Joguei-me no sofá ao lado de meu pai e sorri quando ele me abraçou pelo ombro. Fiquei assistindo ao reality show com meus avós e pai enquanto tia Sarah arrumava algumas coisas na cozinha. Meu pai era muito desorganizado, tenho que admitir. Então, sempre que tia Sarah vinha visitá-lo, tinha que arrumar alguma coisa. Isso quando ela não vinha justamente para fazer uma faxina na casa. No quarto do meu pai, era meia jogada de um lado, camisa do outro e calças pelo chão. Parecia até o quarto de um adolescente rebelde.
Passado um tempo, meus familiares se despediram e foram para casa. Tia Sarah, meus avós e meus primos moravam juntos enquanto eu morava sozinha com meu pai. E eu gostava disso, fazia eu me lembrar do tempo em que éramos só meu pai, minha mãe e eu aqui nessa casa. Meu pai me deu um beijo na testa e se levantou do sofá, dizendo que ia tomar um banho para se deitar. Ele havia trabalhado a madrugada toda de ontem para hoje e estava exausto. Assenti e continuei a assistir televisão. Um cheiro bom tomou conta do ar ao mesmo tempo em que passos quase silenciosos se aproximavam.
Virei meu rosto e vi sentando ao meu lado. Ele usava uma calça de moletom cinza, uma camisa branca e meias. Seu cabelo estava molhado e assim que ele passou a mão pelo mesmo, o seu cheiro adentrou meu nariz novamente. Parece que alguém acabou de sair do banho.
- O que está assistindo? – perguntou.
Voltei a encarar a televisão, que era a única coisa que iluminava um pouco a sala escura.
- Um filme, mas não me pergunte o nome, pois eu não sei.
soltou uma risada nasalada e eu sorri de canto, discretamente. Abracei uma almofada e continuei a olhar para a televisão.
- Filme chato, huh? – ele comentou depois de um tempo em silêncio. – É óbvio que aquela garota vai ficar com o cara no final.
- Não tire a graça do filme, por favor.
- Okay, okay. – ergueu as mãos em rendição.
Estava tudo ótimo, tudo tranquilo, com em silêncio e eu vendo meu filme em paz, se não fosse (maluco, devo deixar claro) me pegar no colo do nada. Segurei um gritinho agudo de susto e me agarrei a sua camisa, com medo de cair.
- Me solta agora, ! – falei baixo para que meu pai não ouvisse.
- Já está na hora de dormir, . Isso não é hora de criança estar acordada. Ainda mais, vendo um filme chato como esse. – ele dizia com a maior naturalidade enquanto atravessava o corredor comigo no colo.
Bufei e comecei a me sacudir, tentando sair de seus braços.
- Acho que eu posso andar sozinha, huh? Eu tenho pernas para isso.
Ele me ignorou e adentrou meu quarto, jogando-me com brutalidade na cama. Olhei para ele com surpresa e raiva ao mesmo tempo, com minhas mãos agarrando o lençol da cama. riu da minha careta e balançou a cabeça.
- Vou tomar banho primeiro. – disse e levantei da cama. Fui até o armário e peguei meu pijama.
- Faça isso mesmo. O seu fedor está vindo aqui.
Semicerrei meus olhos em sua direção e entrei no banheiro do meu quarto, batendo a porta. Joguei minha roupa no cesto de roupa suja e tomei meu banho, lavando meus cabelos. Assim que me vesti e saí do banheiro, tive a visão de jogado de bruços em minha cama e sem camisa. Cruzei os braços e arqueei a sobrancelha, andando até ele. Levantei meu pé e cutuquei a perna de com o mesmo.
- Ei, chega para lá. – falei ao ver que ele estava bem no meio da cama.
resmungou alguma coisa e chegou mais para o lado. Tirei meus chinelos e coloquei minhas meias. Estiquei meu braço e apaguei a luz do abajur. Deitei-me na cama e me cobri. Reclamei mentalmente pela cama ser muito pequena para nós dois. Era uma cama de solteiro um pouco maior do que as outras, mas ainda sim estava me incomodando. Eu gostava de ter muito espaço ao dormir, e estava me privando disso naquele momento.
Fechei os olhos e me concentrei em dormir, mas deu um solavanco na cama que me assustou. Ele se mexeu mais uma vez em menos de um minuto e eu bufei, me virando em sua direção.
- , para de se mexer! – resmunguei.
- Foi mal. – respondeu baixo.
Fechei os olhos novamente, mas algo me fez abri-los: sua proximidade. Bufei e peguei um dos travesseiros, colocando-o entre nós. Vi quando ele abriu os olhos e fitou o travesseiro, franzindo a testa.
- O que é isso? – perguntou.
- Respeite a barreira, . – disse simplesmente.
- Que mané barreira! – olhei-o boquiaberta quando ele pegou o travesseiro e o jogou do outro lado do quarto.
- Era o meu travesseiro preferido! – disse como uma criança birrenta.
- Dane-se. – ele deu de ombros.
Afastei mais meu corpo do dele, e eu já estava quase caindo da cama. Mas que merda. Nem dormir eu posso.
- Pare de agir como se eu tivesse alguma doença, . – o encarei e ele mantinha os olhos fechados. – Eu senti você se afastar.
- Não é questão de ter doença ou não. É questão de privacidade, e você está tirando a minha nesse exato momento.
- Fresca. – respondeu num tom calmo e eu fiz careta.
- Eu não sou... – me autointerrompi quando senti um forte puxão na minha blusa do pijama. – Você vai rasgar o meu pijama desse jeito, seu estúpido!
- Dane-se. – repetiu.
A minha vontade era de estrangulá-lo até a morte, mas me segurei. Não quero passar o resto da minha vida atrás das grades.
Repentinamente, senti sua mão quente adentrar minha blusa e tocar minhas costas, puxando-me mais contra seu corpo. Suspirei assim que senti o calor de seu corpo emanar até o meu por debaixo do cobertor. Ele começou a acariciar minhas costas com a ponta dos dedos e eu já podia sentir o seu nariz um pouco gelado encostando-se ao meu.
- Você está cheirosa. Gosto assim. – ele disse com a voz baixa e rouca.
- Depois de praticamente me chamar de fedida. – falei debochada e o vi abrir um sorriso em meio à luz da lua que entrava pela janela.
- Mas você estava fedida mesmo.
- Cale a boca. – disse e fechei os olhos.
Nossas respirações calmas se misturaram e o sono se apossou de meu corpo. Aos poucos, fui relaxando e já estava entrando na primeira etapa do sono quando senti a mão de descer aos poucos. Ela adentrou a parte de baixo de meu pijama e deu um leve aperto em minha bunda Logo depois de envolvê-la com sua mão quente.
- Se você não parar com isso agora, eu te expulso do meu quarto a tapas. – avisei com uma voz ameaçadora.
Ele deu uma risada fraca, fazendo sua respiração bater ainda mais contra meu rosto.
- Pensei que estivesse dormindo. – ele disse.
- Pois estou bem acordada, e você já está avisado. Tarado.
riu novamente e parou de apertar minha bunda, mas sua mão permaneceu ali.
Não acredito que vou ter que dormir com alguém praticamente me bolinando. Oh, vida.
Capítulo 17 – O 4 de Julho
No dia seguinte, acordei com um peso quase sobrenatural em cima de mim. Eu quase não podia respirar com um braço em meu rosto. Tirei forças não sei de onde e empurrei o braço de para o lado, conseguindo enfim, respirar aliviada. Virei meu corpo e avistei o ser deitado ao meu lado, quase babando no travesseiro. Levantei um pouco meu tronco e procurei o relógio que ficava em cima do meu criado-mudo. Minha visão ainda estava um pouco embaçada e demorou alguns segundos até eu finalmente verificar a hora. Arregalei os olhos quando vi que já eram quase dez e meia.
Um desespero pareceu adentrar o meu corpo seguido de um arrepio. Meu pai. Foi nisso que eu pensei ao perceber o quão tarde estava ficando. Meu pai sempre acordava por volta de umas oito horas todos os dias. A essa altura do campeonato, ele já tinha acordado, tomado banho e tinha comido seu precioso café da manhã. Sem mais delongas, comecei a sacudir o corpo de com certa brutalidade, torcendo para que ele acordasse o mais rápido possível, senão estaríamos encrencados.
- , pelo amor de Deus, acorde! – disse ao sacudi-lo mais uma vez.
Ele resmungou algo quase inaudível e virou o rosto para o outro lado, voltando a dormir em questão de segundos. Bufei, nervosa, e me levantei num pulo.
- , acorda! Se meu pai te pega aqui, você está morto! – controlei minha voz para não gritar e chamar a atenção de meu pai, enquanto o sacudia.
- O que é isso? Está acontecendo algum terremoto? Está tudo tremendo. – ele falou, finalmente acordando. Bufei ao ver sua lerdeza. Ele parecia ter o tempo dele ao se levantar numa lentidão tremenda, bocejando e se espreguiçando. Enquanto eu, estava me tremendo nas bases. – Maravilhosa forma de me acordar, . Por que não me acorda assim mais vezes? – seu tom irônico me irritou.
- Vai embora daqui Logo. Você disse que ia acordar mais cedo do que o meu pai e olhe só, já são dez e meia! Você vai acabar ferrando com tudo, seu idiota! – eu gesticulava enquanto se levantava da minha cama. Ele vestiu sua camisa numa calmaria sem fim e eu apenas o observava com a sobrancelha arqueada, esperando que ele se desse conta da situação e acordasse para os fatos.
- , se acalme! – se aproximou e colocou as mãos em meus ombros. – Respira.
Ele fez os movimentos de inspiração e expiração e rolei os olhos.
- Como quer que eu me acalme? O meu pai pode... – minha frase foi interrompida com batidas à porta.
- , já está acordada, querida? – a voz do meu pai me fez arregalar os olhos.
- Sim, pai! Já estou indo! – falei alto para que ele ouvisse.
- O que faremos? – sussurrou .
Dei uma rápida olhada pelo quarto e apontei em direção ao banheiro.
- Se esconde no banheiro e não saia de lá, pelo amor de Deus! – sussurrei de volta.
assentiu e foi em direção ao banheiro. Ele fechou a porta do mesmo assim que entrou e eu respirei fundo, tentando controlar minha respiração um pouco ofegante. Arrumei o cabelo com minhas mãos e abri a porta, forçando um sorriso assim que avistei meu pai.
- Bom dia, pai. – o cumprimentei, aproximando-me e dando-lhe um rápido abraço.
- Bom dia, querida. – sorriu – Na verdade, já é quase boa tarde. Estava cansada? – perguntou adentrando meu quarto.
Entrelacei minhas mãos por trás de meu corpo e dei uma breve olhada em direção à porta fechada do banheiro.
- Sim. A viagem foi bem cansativa... – comentei casualmente.
Meu pai assentiu e se aproximou, em passos lentos, do mural de fotos. Fiquei ao seu lado e virei meu rosto, olhando-o. Ele mantinha uma expressão serena no rosto e um sorriso de canto nos lábios.
- Gostei muito das fotos. Ficaram maravilhosas. – falei baixo. – Obrigada pelo mural.
- Não há de quê, filha. Eu me diverti muito enquanto as tirava. – ele me encarou com aqueles olhos acinzentados, exatamente iguais aos meus.
- O senhor já tomou café da manhã, certo? – ele assentiu – Gostaria de me acompanhar enquanto tomo o meu? Estou morrendo de fome. – ri fraco.
- Oh, claro, querida! Vamos! – abracei-o pela cintura enquanto andávamos pelo quarto, em direção à porta.
Olhei rapidamente para a porta do banheiro, na esperança de que tivesse ouvido minhas palavras e aproveitasse a chance de sair do mesmo. Fechei a porta do quarto assim que meu pai e eu passamos pela mesma e ainda abraçados, fomos andando pelo corredor até chegar à cozinha. Sentei-me à mesa ainda posta e me servi com alguns waffles enquanto conversava com meu pai. Passados alguns minutos, apareceu devidamente vestido e nos cumprimentou com um “Bom dia!”, Logo se sentando de frente a mim e ao lado de meu pai.
Observei, em silêncio, e meu pai conversando sobre basquete. Eu não entendia muito sobre o assunto, então, nem poderia opinar em nada. Quando eles mudaram de assunto e mencionou o nosso passeio pela cidade, pude finalmente intervir.
- Não será possível fazer o passeio hoje. A não ser que você queira ver lojas fechadas e ruas vazias. Hoje é feriado.
- Ah, sim! Tinha me esquecido desse pequeno detalhe. – disse com um certo lamento na voz.
- É por isso que estamos aqui. É por isso que eu te trouxe aqui. – encarei seus olhos castanhos. sorriu maroto ao perceber o meu tom um tanto “rude”.
- Oh, desculpe-me por esquecer. – falou num tom debochado e eu encostei-me à cadeira, cruzando os braços. – Parece que você é a certinha que nunca se esquece de nada.
- Por acaso você está tentando se fazer de coitadinho? Porque não está colando nem um pouco.
- Eu? Longe de mim! Só não entendo esse seu tom rude ao se dirigir a mim. Por que tanto ódio no coração, ? – parecia estar atuando enquanto dizia tais palavras, querendo se passar por bom moço, mas eu sabia muito bem que ele nem chegava perto disso.
Se ele queria me fazer passar por uma mulher mal educada e grosseira na frente de meu pai, pois bem. Eu aceito o seu joguinho, . Semicerrei meus olhos em sua direção e ele me lançou um sorriso sacana, arqueando a sobrancelha.
- Na verdade, eu sou muito boa. Sou boa até com gente que não merece. – lancei-lhe uma indireta bem direta, o que só fez seu sorriso aumentar, quase rasgando suas bochechas rosadas.
- Muito boa, huh? Por acaso eu não sou digno de ser tratado com tamanha bondade? – senti seu tom malicioso acompanhado de seus olhos que brilhavam com segundas intenções.
- Diga-me, ... Você sempre foi de levar as frases das pessoas para outros sentidos? – arqueei minha sobrancelha – Porque se sim, é uma mania muito feia. Precisa parar com isso, huh?
Ouvi um pigarro e levei meu olhar até meu pai, que observava tudo calado até então.
- Vocês sempre trocam farpas desse jeito? – perguntou meu pai.
- Sim!
- Não! – respondeu ao mesmo tempo.
- Pensei que fossem amigos... – meu pai nos olhou de forma desconfiada.
- E somos. – e eu respondemos juntos mais uma vez. – Digamos que nossa amizade é um tanto... Diferente. – dei de ombros.
- Bem diferente. – ele me lançou um olhar malicioso, dando uma rápida lambida em seus lábios.
Abaixei minha cabeça, um tanto envergonhada, e torcendo para que o senhor Benjamin não tivesse percebido nada. não sabia ser nada discreto. Puta merda.
- Bom, posso deixá-los sozinhos enquanto terminam de comer? – perguntou meu pai, já levantando de seu assento. – Preciso fazer uma ligação urgente para um colega de trabalho.
- Oh, claro, pai. Pode ir. – sorri e ele retribuiu meu sorriso.
- Espero vê-los vivos quando voltar. Não se matem, por favor. – ri fraco do humor dele.
- Não se preocupe, Ben. e eu ficaremos bem. – garantiu a meu pai enquanto sorria.
Meu pai apenas balançou a cabeça em afirmação e saiu da cozinha Logo após tirar o telefone da base.
Levei um pedaço do meu waffle até a boca e mastiguei lentamente. Desviei meu olhar para a janela e fiquei observando o pássaro que havia pousado ali. Sorri enquanto admirava sua cor azul bem forte. Eu nunca tinha o visto antes.
- Saí-azul. – ouvi a voz de em um tom baixo.
Virei meu rosto em sua direção e franzi o cenho enquanto terminava de mastigar. – O quê?
- O pássaro. O nome é Saí-azul. Dizem que está ameaçado de extinção.
- E o que ele faz aqui? – perguntei curiosa, voltando meu olhar ao pássaro que ainda estava parado na janela.
- Não faço a menor ideia, mas o habitat dele com certeza não é aqui.
Assim que o pássaro voou, voltei a fitar meu prato quase vazio. Por um momento, eu me comparei àquele pequeno pássaro. Por inúmeras vezes, eu me sentia fora do meu “habitat”, fora do lugar de onde realmente eu sou. Sentia-me perdida e sozinha, precisando de um ombro amigo, mas infelizmente, nunca o tendo. Acho que é durante a solidão que você realmente para e pensa na sua vida até aqui. No que você fez e o que deixou de fazer, nos planos e sonhos que deixou para trás com a certeza de que nunca iriam se realizar, nas viagens que você deixou de fazer por medo de se aventurar e sair da sua vidinha monótona e um tanto... Vazia.
Foram tantas vezes que esses pensamentos se passaram por minha cabeça, que eu já nem podia contar. Às vezes me pergunto se algum dia, os sentimentos de exclusão e solidão deixarão meu coração. Se algum dia, eu realmente serei amada e feliz. Se algum dia, poderei dizer que a minha vida valeu à pena e que foi com os erros que eu acertei. Eu gostaria de poder me abrir com alguém. Abrir o meu coração e deixar sair tudo que me sufoca, tudo que está me engasgando, tudo que está me machucando e me rasgando por dentro. Eu chego a sentir dor física com essa explosão de sentimentos. Dizem que quando a dor é muito forte, ela chega a ser tão profunda que você sente dores, como se fossem algo físico; mas não, são somente dores do coração. Dores da alma. Dores e mais dores que te fazem sentir como se estivesse num quarto escuro com a porta trancada e ninguém tivesse a chave para te libertar.
E assim, você se afoga nas próprias dores. Inevitáveis. Angustiantes. Sôfregas, em busca de mais e mais do seu pobre coração. E o coração, fraco como é, se deixa levar por esses sentimentos que nunca parecem estar satisfeitos com a sua já suportável infelicidade.
- ? – balancei a cabeça, saindo de meus pensamentos. – Está tudo bem?
- Sim, está tudo bem. – afirmei, voltando a comer.
- Tem certeza? Você estava distante. – me olhou parecendo um tanto curioso.
- Impressão sua. – dei de ombros.
- Então me diz o que eu acabei de falar. Se você não estava distante, deve ter ouvido, huh? – arqueou uma sobrancelha para mim e eu rolei os olhos.
- Eu só estava pensando... E não, eu não ouvi nada do que você falou. Para ser honesta, se alguém chegar aqui e me perguntar sobre o que estávamos falando, eu não saberei responder. – admiti, arrancando uma risadinha dele.
- Isso é magnífico, huh? Eu aqui, falando com uma mulher que não está dando a mínima para mim. Sinto-me falando com as paredes! – levou as mãos ao alto e eu segurei a risada. – Acho até que elas seriam ótimas companhias. Quem sabe elas não têm um bom papo?
Acabei rindo, balançando a cabeça em negação. – Não aja feito um louco, porque eu sei que você não é.
- E como pode ter certeza disso? Eu posso ser um maluco que fugiu do hospício antes de aparecer à porta de sua casa e você nem sabe. – ele deu de ombros e eu semicerrei meus olhos, desconfiada.
- Você me contaria...
(Deem o play nessa música tema, por favor: Animals – Maroon 5)
- Eu não teria tanta certeza se fosse você. Há muitas coisas sobre mim que você não sabe, minha cara . – ele se inclinou sobre a mesa, chegando mais perto de mim.
Inclinei-me, assim como ele, e lancei-lhe um olhar desafiador. – Ah, é? E o que seriam essas coisas?
Ele sorriu maliciosamente, abaixando a cabeça por um instante. Quando seus olhos se encontraram com os meus, havia um brilho intenso nos mesmos. Ao mesmo tempo em que eles podiam ser indecifráveis, eram totalmente hipnotizantes e encantadores. passou a língua em seus lábios e eu acompanhei cada movimento com os meus olhos. Um tanto hipnotizada, eu deixei que meu olhar ficasse fixado ali, naqueles lábios perfeitamente desenhados e rosados, com uma textura extremamente macia a qual eu já tive a oportunidade de provar algumas vezes.
Senti se aproximar ainda mais sobre a mesa, apoiando suas mãos na mesma. Ele sorriu e em seguida, mordeu levemente seu lábio inferior. Eu não conseguia desviar meu olhar daqueles lábios incrivelmente perfeitos, e já estava me irritando comigo mesma por ser tão fraca em relação a . Ao mesmo tempo, eu sabia por que eu era assim em relação a tudo isso que vem acontecendo. Eu nunca havia tido esse contato tão intenso com alguém do sexo oposto e isso simplesmente estava abalando as minhas estruturas, deixando-me totalmente perdida.
Às vezes, eu queria dizer não a , mas eu não conseguia. Tudo que ele me fazia sentir era bem mais forte do que eu mesma, do que a minha própria vontade e minha razão. Eu simplesmente me deixava ser levada por meus impulsos e pensamentos mais maliciosos. Eu sinto que aos poucos eu estou me transformando em algo que eu nem sabia que poderia ser. Oh, céus! O que está acontecendo comigo? No que eu estou me tornando? Eu não quero ser mais uma mulher que anseia incontrolavelmente pelos toques e beijos de , assim como eu sei que outras mulheres fizeram em seu passado. Afinal, quem em sã consciência, conseguiria resistir a ele?
Somente me dei conta de que ainda estava com o olhar fixo em seus lábios quando disse:
- Meus olhos estão aqui em cima, .
Balancei a cabeça rapidamente e saí do meu segundo transe do dia. Levantei meu olhar e vi um risonho me encarando. Ele parecia se divertir com a minha expressão abobalhada. Oh, droga.
- Você é muito engraçadinho. – disse irônica.
- E você fica uma gracinha me encarando assim. Parece o ursinho Pooh olhando para um pote de mel. Chega a babar. – fiquei boquiaberta com seu comentário e gargalhou da minha careta.
- Já te disseram que você é um idiota?
- Na verdade, sim. Mas não com tanta frequência como você. Com certeza, você está no topo do ranking. Meus parabéns! – ele fingiu uma empolgação e eu sorri de canto.
- Fico lisonjeada por estar no topo.
Dito isso, eu me afastei dele e me levantei. Coloquei a louça dentro da pia e saí da cozinha. Fui até meu quarto e procurei uma roupa no armário. Peguei uma calça de moletom por conta do frio e uma blusa de mangas compridas. Joguei as roupas na cama e comecei a tirar a parte de baixo do meu pijama e em seguida, a parte de cima. Quando eu estava prestes a vestir minha blusa, ouvi um barulho vindo da porta e me virei rapidamente, tendo a visão de encostado à mesma que se encontrava fechada, enquanto me observava com os braços cruzados.
- Oh, meu Deus! – disse assustada, cobrindo meu busto com a blusa.
soltou uma risadinha, dando uma rápida passada de mão no cabelo um pouco bagunçado. Por um momento, estranhei o fato de seu cabelo não estar arrumado em um topete, mas Logo tirei esse pensamento de minha mente. Eu tinha coisas mais sérias para me preocupar: como o fato de estar me observando seminua.
- O que você está fazendo aqui, ? Se não percebeu, eu estou um pouco ocupada. – disse um tanto raivosa, tentando ao máximo cobrir meu corpo com a blusa.
- Eu percebi que está bem ocupada. – olhou-me, mordendo o lábio de uma forma extremamente sexy que fez minhas pernas bambearem ligeiramente. – Hm, quer uma ajudinha?
Tarado. Pervertido.
- Não, obrigada. Quero que você saia do meu quarto, por favor.
- Qual é, ? Uma ajudinha não vai fazer mal a ninguém. – ele sorriu, aproximando-se em passos lentos. – Vejo que está um tanto enrolada aí.
- Não, ! – virei de costas – Saia daqui, por favor. Se meu pai te pega aqui, você está ferrado.
Suspirei. Eu não sabia o que fazer. Eu queria me vestir, mas com ali não dava. E se eu tirasse a blusa de meu busto, com certeza ele veria alguma coisa com aqueles olhinhos espertos.
Meu coração pulsou mais rápido quando senti chegando por trás de mim. Ele praticamente grudou seu corpo ao meu, roçando seu membro em minha bunda. Instintivamente, apertei a blusa entre meus dedos, fincando as unhas no tecido da mesma. Uma de suas mãos segurou minha cintura, pressionando ainda mais as minhas costas contra seu peito. Prendi a respiração por um momento, tentando controlar meu nervosismo. Senti os dedos de sua outra mão adentrando lentamente minha calcinha. Abaixei meu olhar e vi quando o dedo indicador dele foi abaixando a renda da minha peça íntima. Seus dedos pareciam deixar rastros de fogo por onde passavam. O dedo indicador abria caminho para os outros, que tocavam minha pele sem nenhum pudor. Quando seus dedos tocaram minha bunda, meu corpo entrou em alerta.
- Saia daqui, . Se meu pai... – tentei dizer, mas me interrompeu, mordiscando levemente o lóbulo de minha orelha. Meu corpo se arrepiou por inteiro e fechei os olhos, apertando ainda mais o tecido da blusa com meus dedos.
- Shhh... Não acha que está muito preocupada com isso? Relaxa e aproveita o momento, . – ele sussurrou em meu ouvido. – Afinal, eu sei que você gosta dos meus toques... Não é? Você gosta do que eu te faço sentir. Gosta de ser tocada como nunca foi antes...
Ele continuava a sussurrar enquanto seus dedos acariciavam suavemente minha bunda. Senti seu dedo indicador passar pela divisão de minhas nádegas e prendi minha respiração. Meu corpo tremia levemente e eu apertei ainda mais meus olhos, mantendo-os fechados.
- Acho que eu nunca te falei o quanto gosto da sua bunda, não é? É tão sexy que me deixa excitado só de olhar para ela. – mordi meu lábio inferior quando ele deu um aperto com vontade.
Senti a sua mão soltar minha cintura e subir por minhas costelas. Quando tocou a blusa que eu segurava, eu apertei-a ainda mais, com receio de que ele a puxasse. Ele soltou uma risada nasalada em minha orelha e negou com a cabeça.
- Sem pudores, . – falou com certa repreensão na voz, deixando meu corpo tenso. – Fico pensando se algum dia você me deixaria admirá-la enquanto toma banho... Você me deixaria contemplar o seu corpo, babe?
Oh, céus. Até quando eu conseguirei resistir a isso?
Grunhi um pouco, fazendo rir fraco. Eu queria juntar forças não sei de onde e sair de seus braços, mas meus hormônios não me deixavam. Eles pareciam implorar para que eu permanecesse estática ali, sem movimentar um músculo sequer, deixando apenas que me tocasse e me explorasse. Com uma rapidez admirável, ele puxou a blusa de minhas mãos, jogando-a no chão, ao lado de meus pés. Arregalei um pouco meus olhos e virou meu rosto em sua direção, meio que me obrigando a olhá-lo. Ele parecia querer ver todas as expressões de meu rosto enquanto seus dedos deslizavam por meu corpo que só tinha a calcinha cobrindo algo ali.
- Você é maluco... – sussurrei quando sua mão foi até meu seio direito, começando a acariciá-lo.
Ele soltou uma risada nasalada e me encarou nos olhos. Seus olhos eram profundos e estavam um pouco escuros. Eu sabia o que isso significava. Toda vez em que estávamos em momentos íntimos como esse, suas íris ficavam mais escuras e brilhantes, demonstrando o contentamento que ele sentia em me ver na palma de suas mãos.
- Talvez... Mas até hoje nunca reclamaram da minha maluquice... – ele respondeu também em sussurro.
Apertou-me levemente o seio e eu arfei. Seu polegar foi até meu mamilo e o acariciou em movimentos circulares, principalmente o bico rígido.
- Você não presta. – disse com a voz falha.
Ele riu baixo, de uma forma rouca e sexy. – Acho que você já me disse isso.
- E volto a repetir: você não presta, . – disse e deitei minha cabeça em seu ombro ao sentir seus dedos pressionando meu seio, aumentando a intensidade das carícias.
- Contanto que eu te dê o prazer que nunca sentiu... Eu não me importo com isso. – sussurrou, dando uma mordidinha em meu lóbulo. – Se for para ouvir você gemer o meu nome, eu faço qualquer coisa... Até ser o maior cafajeste do mundo. – ele levou sua outra mão ao meu seio esquerdo. Com suas mãos envolvendo meus seios e meu corpo totalmente grudado ao seu, ele os apertou novamente.
Segurei um gemido e mordi meu lábio inferior.
- Parece que eu me enganei ao dizer que você não tinha seios... Você com certeza os tem. – ele riu malicioso e senti seus lábios em minha orelha. – E são umas belezinhas.
Gemi baixo, não conseguindo me segurar.
, você sabe como me tirar dos eixos, literalmente.
Inesperadamente, se sentou em minha cama e me levou junto, sentando-me em seu colo. Arfei um pouco quando senti a respiração de bater contra minha pele entre os seios. Ele deu um leve beijo na mesma e subiu até meu pescoço, dando pequenas e rápidas sugadas. Levei minhas mãos até sua nuca e agarrei os seus cabelos, fechando os meus olhos enquanto sentia seus beijos em mim. Suas mãos foram até minhas costas e eu me arrepiei inteira ao sentir suas unhas curtas as arranhando de cima a baixo.
- , eu não acho isso uma boa ideia. O meu pai vai... – minha frase foi brutalmente interrompida quando seus lábios se chocaram aos meus e sua língua adentrou minha boca sem que eu nem tivesse reação.
Uma de suas mãos foi até minha coxa descoberta e a apertou fortemente enquanto ele movia seus lábios ao mesmo tempo em que eu tentava acompanhá-lo. Seus movimentos eram rápidos, sedentos e desejosos. Com a outra mão, ele apertava minhas costas, quase cravando suas unhas em minha pele. deu uma leve sugada em meu lábio e o mordiscou antes de se afastar. Levou seu rosto à altura de meu busto e pôs-se a distribuir beijos, Logo chegando ao meu seio direito. Soltei um gemido baixo quando sua língua tocou meu mamilo e em seguida, o bico. Começou a fazer movimentos circulares e eu revirei os olhos, ainda agarrando seus cabelos.
Ele sugou minha pele e eu mordi meu lábio inferior, reprimindo um gemido mais alto. Quando começou a mordiscar meu seio direito enquanto massageava suavemente o outro, um estalo veio em minha mente e eu agarrei seu cabelo por trás, afastando seu rosto de meu corpo.
- Já chega. – falei com a voz ofegante.
me encarou com um sorriso malicioso e o olhei séria, ainda segurando-o pelo cabelo, obrigando-o a olhar para mim.
Ele levou seu dedo indicador até o bico de meu seio esquerdo e mordeu seu lábio inferior. Em momento algum, ele desviou o olhar do meu, o que só me deixou ainda mais arrepiada e provocou um calor em minha nuca. Seu dedo começou a se mover, acariciando aquela parte do meu corpo tão sensível e eu revirei os olhos por um momento. Droga, eu não queria ter feito isso.
- Você tem certeza, ? – ouvi sua voz rouca, tomada pela malícia, me perguntar. – Não aparenta ser o que o seu corpo quer...
Choraminguei enquanto uma batalha interior era travada em mim. Ao mesmo tempo em que eu queria aquilo, eu não queria. Eu sentia medo do meu pai aparecer a qualquer momento, e ainda por cima, eu sentia culpa. Eu gosto do e estou começando a me dar muito bem com ele para jogar tudo ao vento. Repentinamente, outro estalo me veio e eu o empurrei levemente.
- Você tem namorada, ! – arregalei meus olhos. – Oh, meu Deus!
Levantei-me de seu colo e peguei minha blusa no chão. Vesti-a rapidamente e me afastei de o máximo que eu podia. Eu já estava do outro lado do quarto enquanto ele ainda estava sentado na minha cama, encarando-me seriamente. Ele suspirou e passou a mão pelo cabelo, Logo abaixando a cabeça. Seus cotovelos estavam apoiados em sua perna e ele se mantinha encarando o chão, como se ali tivesse algo extremamente importante e curioso de ser observado.
Encostei-me à parede e respirei fundo, acalmando meus batimentos cardíacos e minha respiração agitada.
- Espero que tenha ideia do tamanho da culpa que eu estou sentindo nesse exato momento. – declarei com a voz um tanto trêmula. Eu me sentia culpada e envergonhada. – Oh, meu Deus, o que eu fiz? Eu não acredito que cheguei a esse ponto! Eu sou uma vagabunda... – falei pensativa com a minha mente atordoada. – Eu sou uma...
- Você não fez nada, ! – disse repentinamente em voz alta. – A culpa não é sua! Pare de se culpar!
Ele se levantou da minha cama e se pôs a andar de um lado a outro pelo quarto. Eu diria que ele estava extremamente nervoso, meio perdido e até se sentindo culpado, assim como eu. Acredito que por sua mente se passavam vários pensamentos, talvez até os seus momentos com a Olivia. Por um momento, eu me pus no lugar dele, e me senti... Um lixo. Um traidor.
- A culpa é minha... Eu só não consigo controlar! É mais forte do que eu. – ele parecia dizer aquilo mais para si mesmo do que para mim, então permaneci em silêncio. – Eu até tentei deixar para lá, até tentei ignorar e esquecer, mas é quase impossível. Toda vez que você está perto, eu me sinto assim. O seu cheiro me deixa como um animal, eu ajo feito um selvagem quando eu te toco. É como se eu precisasse de você o tempo inteiro. Preciso te tocar o tempo inteiro, preciso te beijar o tempo inteiro... Isso é algum tipo de doença! Não é possível!
Engoli em seco e me abracei. – ? – chamei-o e ele me encarou. Seu olhar era perdido e ao mesmo tempo, angustiante. – Do que você está falando? – perguntei baixo.
Eu estava agindo feito uma garotinha ou até como uma presa com medo de seu caçador. Eu só conseguia me encolher ainda mais na parede, quase que a ultrapassando. E se eu pudesse, eu atravessaria aquela parede e sairia dali o mais rápido possível. A verdade é que eu não queria enfrentar aquilo, eu não queria ouvir as suas palavras, mas ao mesmo tempo, minha curiosidade falava mais alto. Eu queria saber se o que ele sentia por mim era o mesmo que eu sentia por ele.
- Desejo, ! – ele declarou – É disso que eu estou falando! Desse desejo incontrolável e insaciável que eu sinto por você. Eu não queria sentir, mas eu sinto.
Olhei-o surpresa e engoli em seco, sem saber o que falar. Meu corpo ficou paralisado e por mais que eu tentasse me mover, eu não conseguiria dar um passo sequer para longe dali.
- Mas... Você disse que não sentia nada por mim. Você disse que era...
- Encenação? – ele me interrompeu, soltando uma breve risada. – Eu admito que sou um bom mentiroso. Eu minto muito, sobre várias coisas... E eu obviamente menti quando disse aquilo para você. Eu só queria negar a mim mesmo o que eu sentia, mas até agora tem sido quase impossível. Parece que a cada dia que passa, esse desejo imensurável aumenta e eu não consigo fazer nada a respeito.
Suspirei e fiquei parada, apenas o encarando enquanto ele falava. Como uma futura psicóLoga, eu queria que falasse tudo o que ele sentia e pensava, queria que ele desabafasse para que assim, talvez, eu pudesse ajudá-lo. Agora, no quesito ajuda... Eu não sei como. Que eu saiba, não existe um manual de como controlar os desejos. Ou talvez exista? Eu não sei.
- Você quer que eu te ajude? Eu posso, não sei... Ajudar-te a ignorar isso que você tem por mim. – propus um tanto tímida.
Ele me encarou por alguns segundos antes de andar rapidamente em minha direção. Como um gatinho assustado, eu arregalei um pouco os olhos e me encolhi ainda mais na parede. Qual é? Eu não estou acostumada com isso! E digamos que estou um pouco... assustada.
colocou as mãos ao lado de minha cabeça e aproximou mais o seu corpo do meu, como uma forma de me prender. Prendi a respiração quando seu rosto ficou a centímetros de distância do meu.
- E quem disse que eu preciso de ajuda? – ele falou bem baixo. Seu hálito bateu em meu rosto e fiquei um tanto atordoada, fitando seus olhos brilhantes. – Antes eu até aceitaria sua ajuda, mas agora não... – acariciou minha bochecha com as costas da mão. – Agora eu quero apenas me entregar a tudo isso.
Sua confissão me fez tremer e eu desviei meu olhar para o chão.
- Você é doido. – neguei com a cabeça, voltando a encarar-lhe nos olhos. – Eu aqui me sentindo culpada pelo que fizemos e você pensando nisso? , você tem uma namorada! Uma namorada! Você sabe o que é isso? – perguntei e ele me olhava sério. – Você tem um relacionamento com uma pessoa e essa pessoa confia em você. Ela se entrega a você, compartilha a vida dela com você. E olha só o que estamos fazendo... Você está traindo a Olivia. Está quebrando a confiança dela. – suspirei – Por isso eu disse que nunca te namoraria. Eu simplesmente não posso tapar o sol com a peneira e fingir que nada está acontecendo, porque eu sei que é errado. Eu estou te levando à traição! Eu estou provocando tudo isso! Eu...
Ele colocou a mão em minha boca, impedindo-me de finalizar a frase.
- Shhh... Já falei que a culpa não é sua, então, pare com isso. Eu que provoquei isso, eu que tenho te provocado. – ele disse me olhando atentamente, ainda com a mão em minha boca. – Acontece que eu cheguei ao meu limite e queria que você chegasse também. Eu queria que você entregasse completamente o seu corpo a mim.
Tirei sua mão de minha boca e balancei a cabeça em negação.
- Pare, ! Pare! Não quero mais ouvir o que você tem a dizer.
Eu agi como uma criança birrenta ao falar isso, mas não me importava. Só queria que ele me soltasse e me deixasse sair dali. Aquele meu pensamento anterior de deixá-lo desabafar havia desaparecido totalmente quando ele começou a dizer aquelas besteiras sem pé nem cabeça. Aquilo não tinha cabimento.
- Você sabe o que eu realmente quero, ? – ele ignorou o meu pedido, e eu apenas fiquei em silêncio. Aproximou sua boca do meu ouvido e sussurrou: - Eu quero estar dentro de você. Quero transar com você até meu corpo perder as forças. Quero te jogar naquela cama e te fazer gemer o meu nome até cansar. Quero tocar cada centímetro de pele do seu corpo. Quero beijar os seus lindos lábios e te deixar em chamas, querendo mais e mais de mim.
- ... – falei num tom de repreensão e ele mordiscou o lóbulo da minha orelha. – Você realmente não pensa nas consequências, huh? Parece um garoto inconsequente que faz o que der na telha.
- Quando se trata de desejos, sim. Eu deixo os meus instintos me levarem.
- E não se sente culpado? Nem um pouco? – perguntei.
Ele embrenhou sua mão por baixo de meus cabelos e segurou minha nuca. Seu corpo exalava masculinidade e tesão, o que só me deixou com as pernas bambas.
- Um pouco, mas o que eu posso fazer se a minha nova obsessão está a minha frente? – sussurrou e eu ofeguei. – Isso vai soar um pouco doentio, mas imagine que você é a caça e eu sou o caçador... E esse caçador aqui não vai parar até te ter nas mãos.
Fui surpreendida quando seus lábios rosados selaram os meus. Não tive nem tempo de ceder à sua língua, já que ele a enfiou em minha boca com vontade, assim como fez anteriormente. Sua língua tocou a minha e uma corrente elétrica percorreu meu copo, desde o fio de cabelo ao dedinho do pé. Ele agarrou minha cintura com força e me fez entrelaçar minhas pernas ao redor de sua cintura. Enquanto eu não fiz tal ato, ele não sossegou. Suas mãos percorreram meus braços e ele agarrou minhas mãos, Logo as forçando contra a parede. Eu não tinha apoio nenhum e a única coisa me segurava para não cair, era o seu corpo totalmente grudado ao meu.
Os sons do beijo ficavam cada vez mais altos conforme aumentava o ritmo do mesmo. Seus lábios, agora, se moviam de forma mais rápida contra os meus, fazendo uma pressão maravilhosa que me causava arrepios. O cheiro natural de seu corpo invadiu meu nariz e eu reprimi um suspiro por conta daquele cheiro maravilhoso. Até seu cheiro era bom, oh céus. Eu tentava acompanhar os lábios de , mas por um instante, fiquei perdida e não sabia mais para onde virar minha cabeça e nem o que fazer. percebeu minha confusão e riu em meio ao beijo. Como já estava sem fôlego, ele foi diminuindo o ritmo até parar totalmente com alguns selinhos.
Eu pensando que ele se afastaria, fui totalmente enganada, já que ele se aproximou alguns segundos depois e mordeu meu lábio inferior, puxando-o para si. Encarou meus olhos para justamente ver a minha expressão. Fiz uma careta de propósito, fazendo-o rir baixo. passou a língua suavemente sobre meus lábios e eu acabei me lembrando do dia em que nos beijamos pela primeira vez. Lambeu-os de baixo a cima e atacou-os novamente em outro beijo. Eu ainda estava me recuperando e lá vem ele de novo... Oh céus. Seus lábios macios e molhados contra os meus me faziam ficar um tanto aérea e eu perdia totalmente a noção de tempo e espaço. E isso não é um sinal muito positivo.
Ao menos dessa vez, ele me beijou com mais calma. Seu beijo foi tranquilo e ia totalmente contra a maneira que ele prensava seu corpo ao meu. Aqueles toques calmos e sem pressa de línguas pareciam deixar seu corpo ainda mais eufórico. E eu tive a certeza de que estava mexendo com ele quando o senti apertar levemente minha bunda e seu membro ganhar certa “vida” no instante em que nossas intimidades se encontraram.
Repentinamente, se afastou e encostou sua testa à minha. Nossas respirações estavam ofegantes e nossos olhos, fechados.
- Acho melhor pararmos por um momento. Estou ficando excitado. – sussurrou contra meus lábios.
- Eu percebi. – disse num tom risonho.
- Graças a você, Wright. – ele sussurrou novamente, com um sorrisinho nos lábios. – Espero que não consiga dormir hoje por conta do que provoca em mim. Se bem que eu ficaria muito feliz se ficássemos acordados a noite toda... – seu tom malicioso quase me fez rir se não fosse por sua mão que pegou a minha e a levou até seu membro coberto pela calça de moletom.
Dei um pequeno pulo de susto por conta de seu ato e riu fraco, olhando-me malicioso e mordendo o lábio.
- Espero que esteja feliz com isso, babe... – sussurrou roucamente, movendo suavemente minha mão sobre seu membro. – Porque nenhuma mulher me deixou tão excitado assim em poucos minutos.
Ele fechou os olhos e apreciou o movimento que minha mão fazia, sendo guiada pela sua. Soltou um rosnado baixo e apertou os olhos quando fiz mais pressão com minha mão.
- Filha, posso entrar? – ouvi a voz de meu pai do outro lado da porta.
No mesmo momento, soltei-me de e saí de seu colo. Afastei-me de e vesti minha calça, Logo me sentando na cama.
- Claro, pai! – falei e no segundo seguinte, o vi abrir a porta e colocar somente a cabeça para dentro. – Eu estava apenas conversando com .
Lancei uma rápida olhada em direção ao e ele segurava o riso, mas concordava com a cabeça.
Também, se ele não concordasse, teria de se ver comigo depois.
***
- Vocês vão mesmo passar o feriado jogando cartas? – fiz careta na direção dos meus familiares.
Todos estavam sentados no tapete da sala, num formato de círculo e jogando como se não houvesse amanhã.
- Algum problema com isso, querida? – vovó perguntou e mordi o interior da bochecha.
- Não, é só porque vocês sabem que eu não faço a mínima ideia de como jogar pôquer, e mesmo assim, insistem nisso. Fico me sentindo totalmente excluída. – fiz uma carinha triste enquanto me aproximava do círculo. – Chega para lá – cutuquei a perna de com o meu pé e ele bufou, afastando um pouco para o lado.
Sentei-me e analisei o jogo. Certo, não estou entendendo nada.
- Fique aqui conosco, . Adoraríamos a sua companhia. – vovô Max disse e eu sorri carinhosa para ele.
- Valeu, vovô.
Peguei Adam e o coloquei em meu colo, brincando com seus cabelinhos loiros. Distribuí alguns beijos em suas bochechinhas e ele riu, fazendo uma careta, enquanto brincava com seu aviãozinho.
- Passa. – ouvi a voz de dizer e arqueei a sobrancelha, esticando um pouco meu pescoço, tentando ver suas cartas. – Com licença? – ele me olhou sério e eu dei de ombros, voltando à minha posição inicial.
- Ah não, Adam, fica aqui comigo. – choraminguei quando o pequeno ameaçou se levantar do meu colo. – Amanhã eu vou embora e você vai sentir minha falta.
- E por que você tem que ir embora? – perguntou com sua vozinha fofa, o que só aumentou a minha vontade de apertar-lhe as bochechas. – Eu não quero que você vá...
- Oh bebê, eu tenho que ir. Eu moro em Nova York agora, tenho minha faculdade e minha vida lá. – expliquei calmamente, abraçando-o, e ele encostou sua cabeça em meu peito. – Mas eu voltarei o mais rápido possível. Mais rápido do que você pensa. – olhei-o após me afastar e ele me encarou com desconfiança.
- Promete? – perguntou e eu assenti.
- Eu prometo! Promessa de dedinho. – estiquei meu dedo mindinho em sua direção e ele sorriu, entrelaçando seu dedo ao meu. – Antes mesmo que você possa piscar, eu estarei aqui de novo, te abraçando e te apertando como sempre faço.
Adam gargalhou Logo após eu apertar suas bochechas e eu o acompanhei, rindo de sua carinha.
- Eu te amo, pequeno. – abracei-o novamente, depositando um beijo em seus cabelos.
- Eu também te amo, Lie. – sorri ao ouvir o apelido que ele me dera.
Adam era o único que me chamava assim, desde que nasceu, praticamente. Parece que “” para ele era muito difícil na época, então, ele simplesmente encurtou a palavra. Mesmo depois de quase quatro anos, ele ainda me chama assim. E eu amo isso incondicionalmente.
O tempo foi se passando e o jogo continuou. Eu somente observava, ainda sem entender nada. Nunca fui boa com jogo de cartas, e para mim, não fazia nenhuma diferença. Eu não gostava desses tipos de jogos. A noite Logo chegou e o frio a acompanhou. Fui rapidamente até meu quarto e peguei o meu cobertor, Logo voltando para a sala. Sentei-me no sofá e cobri minhas pernas, abraçando uma das almofadas. Como sentei atrás de , pude ter uma perfeita visão de suas cartas. Ele me deu uma rápida olhada e eu levantei meus ombros.
- O quê? Eu nem sei jogar isso. Não se preocupe. – disse e semicerrou os olhos, voltando sua atenção ao jogo.
Aproveitei a deixa e mandei-lhe um dedo do meio, causando alguns risos da parte de tia Sarah e Paul. Meu pai estava muito concentrado para perceber algo ao seu redor e meus avós estavam um tanto aéreos, enquanto Adam ainda brincava no canto da sala. Dessa vez, ele estava rodeado por mais brinquedos e parecia se divertir bastante mesmo sozinho.
Uma vibração me incomodou e eu franzi a testa, sem saber de onde aquilo vinha. Quase dei um pulo quando percebi que vinha do bolso da minha calça e lembrei-me do meu celular no mesmo instante. Com certa dificuldade, peguei o aparelho e olhei o visor. Um sorriso iluminou meu rosto quando o vi o nome de quase em letras neon. Deslizei o dedo pela tela e atendi.
- Carter. – não contive um sorriso bobo nos lábios.
- Com licença, mas esse número é de uma moça chamada ? – sua voz brincalhona soou do outro lado e eu ri fraco, levantando-me do sofá.
- Sou eu. – andei até o corredor e encostei-me à parede.
- Ah, então é com a senhorita mesmo que eu quero falar. A linda moça de cabelos loiros, olhos brilhantes e um sorriso que poderia iluminar toda a cidade. – sorri, mordendo levemente meu lábio inferior. – Como você está, ?
- Estou bem, e você?
- Digamos que meu dia foi uma merda, mas agora melhorou bastante. Ouvir a sua voz é o que faz a minha noite ser boa. – meu coração acelerou ao ouvir suas palavras e eu fechei meus olhos por um instante.
- Não fale esse tipo de coisa... Ainda bem que não estamos nos vendo, pois te garanto que estou mais vermelha do que um pimentão. – admiti e ele riu fraco.
- Acho que um dos meus deveres é eLogiá-la. Na verdade, todas as mulheres do mundo deveriam ser eLogiadas todos os dias.
- O seu pensamento é muito lindo. – falei um tanto boba.
- Espero que o seu feriado esteja sendo bom. – ele disse.
- E está. Estou com a minha família aqui na Carolina do Norte. É bom passar um tempo por aqui.
- Que ótimo. Estou na casa do meu pai em Washington. Não é tão legal assim, já que ele trabalha até durante o feriado, mas enfim... – suspirou.
- Sinto muito.
- Está tudo bem. Já estou acostumado. – riu fraco, mas eu sabia que aquele riso era só para disfarçar o seu desapontamento. – Eu estava pensando e a gente podia sair assim que voltássemos para Nova York. O que acha?
Sorri abobalhada encostando minha cabeça à parede.
- Claro. Eu ia adorar.
- Ótimo. Vou pensar em algum lugar legal para te levar.
- Okay. – falei e um silêncio tomou conta da linha, até eu voltar a falar. – ? – o chamei.
- Sim? Estou aqui.
- Eu prefiro seguir a regra dos três encontros antes de tentarmos algo sério. Você tem algum problema com isso?
Mordi o lábio inferior, um tanto receosa com sua resposta. Eu sempre tive essa “regra”. Acho que pelo menos três encontros são necessários para que você conheça um pouco mais a pessoa e veja se vale à pena entrar em um relacionamento. Nunca tive a oportunidade de usar a regra, mas agora... Tendo essa chance com , com certeza eu a usaria.
- Oh, não. Claro que não. Faça o que achar certo, . – sorri com sua resposta.
- Obrigada, de verdade.
Algum tempo – que eu não sei dizer quanto – se passou enquanto eu ainda conversava animadamente com . Ele parecia estar bem disposto em conversar comigo e isso quase fazia meu coração transbordar de felicidade. Contou-me sobre algumas coisas que estava fazendo lá em Washington e disse que mal podia esperar a hora de voltar para casa e se encontrar novamente comigo. Ele até me disse que estava com saudade, coisa que eu achei um pouco precipitada já que ele acabara de me “conhecer”, mas também não pude conter o sorriso em meu rosto, por mais uma vez durante toda aquela conversa.
- Ah, , vou desligar agora. Parece que meu pai quer que eu o ajude com algo do trabalho. Quando venho aqui, digamos que eu sou uma espécie de assistente. – ele bufou.
Ri baixo.
- Certo. Falamo-nos depois, então. – disse.
- Tenha uma boa noite.
- Você também. – sorri.
- Beijos.
Dito isso, ele desligou e eu também. Mordi meu lábio inferior e fechei meus olhos com minha cabeça e meu corpo ainda encostados à parede do corredor. Dei um pulo quando abri meus olhos e tive a visão de parado à minha frente. Seu cenho estava franzido e ele tinha seus braços tatuados cruzados.
Por instinto, levei a mão ao peito e respirei fundo.
- Você me assustou, seu idiota. – bufei e ele continuou a me fitar sério. – O que está olhando? Perdeu algo aqui?
respirou fundo e descruzou os braços, levando as mãos aos bolsos da calça.
- Com quem estava falando? – seu tom era rouco e calmo, mas a firmeza estava explícita em sua voz. A seriedade estampada em seu rosto e seus olhos fitando os meus, sem desviá-lo por nenhum segundo.
- Acho que não lhe devo satisfações da minha vida, huh? – o olhei com desdém.
Ele semicerrou os olhos e segurou firmemente meu braço, prendendo-me contra a parede.
- Era ele, não é? – perguntou.
- Ele quem? – me fiz de desentendida.
- Carter.
Bufei e rolei os olhos.
- Primeiramente, solte o meu braço. Odeio que me segurem assim. – falei e ele me encarou profundamente antes de soltar o meu braço aos poucos. – Sim, era o . Ele me ligou para saber como eu estava. Feliz agora? – cruzei os braços.
- Viu? Não foi difícil me responder. – sorriu de canto, arqueando a sobrancelha.
Desviei meu olhar, inconformada com sua petulância. – O que está fazendo aqui, ? Pensei que estivesse muito ocupado jogando pôquer com a minha família.
- Demorou tanto nesse telefone que nem percebeu as horas. – balançou negativamente a cabeça, fazendo uns barulhinhos com a língua. – O jogo já acabou há tempos e sua tia está chamando para jantar.
- Oh, sim. – assenti.
Comecei a andar, mas fui brutalmente interrompida quando segurou meu braço, virando meu corpo para ele. Inesperadamente, ele pressionou seus lábios contra os meus com força. Arregalei os olhos e o empurrei, causando o afastamento de nossos lábios com um barulhinho.
- Você está louco? – perguntei afobada, mas controlando minha voz para que minha família não escutasse. – Se alguém nos pega aqui, vai tudo pelo espaço!
riu e passou a mão pelos cabelos. – Você acha que eu faria isso se não soubesse que todos estão na cozinha? Provavelmente já sentados, esperando o jantar.
Bufei.
- Você é impossível! – declarei ainda incrédula com sua ousadia.
- É, eu sei. – deu de ombros. Ele veio até meu lado e sussurrou em meu ouvido, antes de voltar a andar: – E aconselho que não se sente ao meu lado nesse jantar.
Franzi a testa, confusa.
- E por quê?
Ele apenas sorriu sacana e continuou seu caminho, Logo virando o corredor e saindo do meu campo de visão. Semicerrei os olhos e balancei a cabeça, indo em direção à cozinha. Seja o que for que esteja armando, não deve ser coisa boa. Agora eu tenho a plena certeza de que o nosso acordo desceu por ralo abaixo. Eu já devia saber que ele não faz o tipo que cumpre uma promessa. Cheguei à cozinha e sorri para todos. Peguei o meu prato e coloquei um pouco da comida que até o momento eu não sabia o que era.
A hora de me sentar é que foi o problema. Lembrando-me das palavras de , eu procurei um assento o mais longe possível dele. Felizmente, achei uma cadeira ao lado de minha avó e fui até lá, mas minha ação foi interrompida com as seguintes palavras de meu pai:
- Oh, não, querida. Sente-se ao lado de seu pai.
Parei por um momento e analisei o ambiente. Meu pai estava sentado no lugar de sempre, como se fosse o rei em meio aos seus convidados; tia Sarah estava bem ao seu lado direito, dando comida para Adam; minha avó ao lado de tia Sarah; meu avô do outro lado da mesa, de frente ao meu pai; Paul ao lado de meu avô e ao lado de Paul, sobrando assim, a cadeira ao lado do meu pai e de... . Ao encará-lo, vi o mesmo levantar o olhar de seu prato e me encarar, com um sorriso discreto de canto. Engoli em seco e assenti. Em passos lentos, andei ao redor da grande mesa retangular e pus meu prato sobre a mesma.
Sentei-me na cadeira e sorri fraco para meu pai, que apertou minha mão sobre a mesa e assentiu com a cabeça, gostando da minha companhia que ele mesmo solicitara. Assim, começamos a comer. Ao contrário da última refeição juntos, minha família estava bem animada dessa vez. Era noite de feriado de quatro de Julho e todos pareciam bem contentes com a Independência ocorrida há exatos duzentos e trinta e oito anos atrás. Todos vestidos com blusas da bandeira dos Estados Unidos, o que era algo magnífico de se ver.
- Então, , querido... – tia Sarah começou e eu revirei os olhos, já imaginando o que viria. – Ainda estou bem curiosa a seu respeito. Há algo sobre você que gostaria de nos contar?
- Ahn... – pareceu pensativo – Acho que só de quando eu morava com meus pais e minha irmã no Canadá. – seu tom era totalmente de alguém constrangido. Aliás, minha tia era muito boa nisso: constranger as pessoas.
- Oh, você tem uma irmã? – ela sorriu simpática.
- Sim. Ela se chama Jazmyn e tem dezenove anos. – respondeu sorridente.
- Que adorável! – tia sorria de quase suas bochechas rasgarem e eu franzi o cenho com isso. Ela está muito interessada na vida de ... – E você sente muita saudade da sua família?
- Um pouco. – confessou – Mas provavelmente meu pai virá me visitar, nem que seja para ver como andam as coisas na empresa. Ele é muito precavido em relação àquela empresa. E tenho certeza de que se acontecer alguma coisa, ele me mata. – todos riram fraco com sua declaração e admito que até eu me deixei levar um pouco.
- Nos conte mais sobre sua namorada, querido. – lancei um olhar fuzilante para tia Sarah e ela simplesmente me ignorou, com seu sorriso ainda nos lábios e um olhar sugestivo direcionado a .
- É... – coçou a nuca, demonstrando seu incômodo ao falar de seu relacionamento.
- Não precisa responder, . – intervi – Acho que tia Sarah está sendo um pouco intrometida. Será que não vê que ele fica sem graça ao falar disso? Não se meta em sua vida pessoal, tia! – exclamei e senti os olhares de todos sobre mim.
Neguei com a cabeça e voltei meu olhar para o prato, continuando a comer. O silêncio não durou muito tempo, já que Logo todos voltaram a conversar sobre algo que não me interessei. Admito que estava um tanto pensativa quando repentinamente, senti algo tocar em minha perna por debaixo da mesa. Abaixei o meu olhar e arregalei levemente os olhos ao notar que se tratava da mão de . Ele deu uma leve apertada em minha coxa, ainda por cima da calça, quando percebeu que meus olhos estavam vidrados em sua mão.
Levantei meu rosto e encarei meus familiares que conversavam empolgadamente. Até parecia estar entrosado no assunto e ria de algumas coisas que eram ditas, mas nunca largando a minha coxa. Encarei meu pai e ele conversava com meu avô sentado do outro lado da mesa, sempre com um sorriso nos lábios.
- Oh, sim, esse dia foi engraçado! Paul não sabia o que fazer com Adam, coitadinho! – ouvi tia Sarah dizer, rindo em seguida.
Sorri, mas meu sorriso Logo murchou quando senti outro aperto de em minha coxa. Franzi a testa e o olhei, esperando que ele me dissesse o que se passava ali, mas o que consegui de sua parte foi um sorriso e Logo um desvio de olhar de volta para a minha tia que conversava com ele. Peguei a jarra de suco e coloquei um pouco em meu copo, levantando-o até minha boca. Quase cuspi o suco quando subiu sua mão até o cós de minha calça de moletom e lentamente, adentrou a mesma. Engoli em seco e coloquei o copo sobre a mesa, antes que eu o deixasse cair no chão.
- E você, querida? Conte-nos sobre sua vida em Nova York. – tia sorriu para mim, lançando seu olhar meigo em minha direção.
- Ah, minha vida está boa. Segunda-feira eu começarei meu estágio num hospital, e estou muito animada com isso. – sorri empolgada. – Mal posso esperar a hora para colocar em prática tudo que venho aprendendo.
Segurei um suspiro e um arregalar de olhos quando tocou suavemente a minha intimidade coberta pela calcinha, acariciando-a com a ponta de seus dedos quentes. Como tia Sarah e a maioria dos meus parentes ainda me olhava, eu simplesmente sorri.
- Mas isso é muito bom, filha. Vejo que meu conselho de que você fosse estudar em Nova York, deu certo. Está finalmente conseguindo realizar o seu sonho. – meu pai disse orgulhoso, segurando minha mão sobre a mesa.
- É... E-eu... – gaguejei ao sentir os dedos ligeiros de adentrando minha calcinha, tocando diretamente minha intimidade dessa vez. – Só tenho que te agradecer, papai. Isso não seria possível se... – suspirei, sentindo os dedos de acariciando meus grandes lábios. – Se o senhor não tivesse praticamente me obrigado a ir para Nova York. – completei, finalmente, minha frase.
Ouvi alguns risos fracos se espalhando pela cozinha e forcei um sorriso. Os dedos de estavam tirando toda a minha atenção daquela conversa. Eu já nem saberia responder uma pergunta sem suspirar ou reprimir um gemido no meio da frase. Olhei-o de canto de olho, quase implorando para que ele parasse com aquilo. Ele simplesmente me olhou com um sorriso, como se não estivesse fazendo nada demais, continuando a me acariciar por debaixo da mesa. Eu sabia que por dentro, ele estava extremamente orgulhoso de si mesmo por estar mexendo tanto comigo. E com certeza, ele me lançaria um daqueles sorrisos e olhares maliciosos se não estivéssemos no meio de um jantar com a minha família.
Mordi meu lábio inferior discretamente ao sentir seus dedos abrindo espaço para que tocassem diretamente o meu ponto de prazer. Estremeci e minhas pernas bambearam quando ele começou a fazer movimentos circulares com o indicador. Reprimi uma revirada de olhos e um gemido baixo por conta de suas carícias intensas.
- E você já tem algum pretendente, querida? – vovó perguntou – Imagino que um broto tão bonito como você já deve ter algum paquerador.
- Vovó! – ri de seu comentário.
- Broto... Essa palavra nem é mais usada hoje em dia. – disse Paul, fazendo uma careta, enquanto mexia sua comida com o garfo.
- Mas no meu tempo era muito usada. – disse vovó com sua voz um pouco rouca – Assim como cocota e tesouro. Cada um com suas gírias.
Rimos do que ela havia falado, mas Logo me acalmei para respondê-la. – Na verdade, vovó... – fui interrompida com uma pressionada mais intensa do dedão de em meu clitóris. Mordi meu lábio inferior e pigarreei, tentando retomar o foco de minha frase. – Eu tenho sim um pretendente. Ele estuda na NYU também e se chama .
- Qual curso? – perguntou tia Sarah, visivelmente interessada. Mas é claro, quando se tratava de minha vida amorosa, tia ficava totalmente em alerta.
- Direito. – sorri. – Ele está no terceiro ano de Direito.
- Hmm... Um futuro advogado... – ela sorriu maliciosa acompanhando seu tom e eu rolei os olhos, segurando um riso.
Felizmente, o foco da conversa mudou e já não era mais a minha pessoa. Todos, agora, falavam da paixão de Paul: Madison. Inclinei-me sobre a mesa e me apoiei em meus cotovelos, escondendo meu rosto em minhas mãos. Tentei controlar minha respiração que já ficava um tanto acelerada conforme o dedo de pressionava ainda mais meu clitóris, oras em movimentos circulares, oras na vertical. Lancei-lhe um olhar discreto com minhas mãos em minha testa. apenas me olhou de volta e eu sibilei um “Por favor” com os lábios, mas ele apenas sorriu maroto e negou lentamente com a cabeça.
Eu começava a suar frio e já não conseguia manter o controle sobre meu próprio corpo. Até fechei as pernas, espremendo a mão de no meio delas, tentando fazê-lo parar, o que não deu certo. Ele deu um pequeno beliscão no interior de minha coxa, reprovando-me por meu ato, e Logo voltou a me acariciar. Minha respiração começou a ofegar e meu peito subia e descia de forma desesperada, acompanhando meus batimentos cardíacos. Eu estava com medo. Medo de alguém me ver naquela situação, de perceberem alguma coisa.
- Querida, você está bem? – perguntou meu pai. Ele segurou minha mão e me olhou com preocupação. – Está um pouco pálida.
- Está tudo bem, pai. – afirmei, tentando manter minha voz normal. – Está tudo bem. – repeti como uma forma de assegurar a mim mesma de que tudo não passava de algo psicológico.
Não é tão psicológico quando tem alguém te tocando por debaixo da mesa, mas como a excitação começa na mente, eu tentava afastar qualquer pensamento sujo de minha cabeça. Eu, falhamente, estava tentando lutar contra mim mesma e os meus impulsos primitivos. Eu juro que tentava com todas as forças, ignorar os dedos de em minha intimidade, acariciando-me com carinho, mas precisão.
- Tem certeza? – meu pai voltou a perguntar. – Está suando frio. – ele levou sua mão até minha testa.
- Não se preocupe, pai. Estou ótima. – forcei um sorriso. Por impulso, acabei apertando sua mão com mais força quando acelerou os movimentos.
Lancei-lhe um olhar bravo, mas ele não me olhava. Parecia estar entretido com minha tia, sempre sorrindo do que ela dizia. Mas eu sabia muito bem com o que ele estava realmente se divertindo.
- Okay, mas qualquer coisa, me fale. Podemos chamar um médico ou te levar ao hospital se quiser. – meu pai disse sério, ainda me analisando lentamente com o olhar, parecendo procurar por algo em meu rosto.
- Okay, pai. – sorri fraco.
Soltei sua mão e a levei para debaixo da mesa. Segurei firmemente a mão de , obrigando-o a parar de me alisar. Eu já estava no meu limite, mais um pouco e eu teria um orgasmo ali na frente de todo mundo, o que seria uma tremenda vergonha. Com certa raiva, tirei sua mão de dentro de minha calcinha. sorriu de canto e me olhou de canto de olho. Fiquei boquiaberta ao vê-lo lambendo os dedos que me acariciavam há segundos atrás. Sua expressão era de satisfação, assim como quando você termina de comer um salgadinho e lambe os dedos para sentir aquele gostinho bom que fica nas pontas.
passou a língua preguiçosamente por seu lábio superior e me lançou um olhar malicioso, de forma discreta, Logo voltando sua atenção para a minha tia que não parava de falar.
A malícia de parecia nunca ter limites, e eu não sei por quanto tempo eu aguentaria isso.
Um desespero pareceu adentrar o meu corpo seguido de um arrepio. Meu pai. Foi nisso que eu pensei ao perceber o quão tarde estava ficando. Meu pai sempre acordava por volta de umas oito horas todos os dias. A essa altura do campeonato, ele já tinha acordado, tomado banho e tinha comido seu precioso café da manhã. Sem mais delongas, comecei a sacudir o corpo de com certa brutalidade, torcendo para que ele acordasse o mais rápido possível, senão estaríamos encrencados.
- , pelo amor de Deus, acorde! – disse ao sacudi-lo mais uma vez.
Ele resmungou algo quase inaudível e virou o rosto para o outro lado, voltando a dormir em questão de segundos. Bufei, nervosa, e me levantei num pulo.
- , acorda! Se meu pai te pega aqui, você está morto! – controlei minha voz para não gritar e chamar a atenção de meu pai, enquanto o sacudia.
- O que é isso? Está acontecendo algum terremoto? Está tudo tremendo. – ele falou, finalmente acordando. Bufei ao ver sua lerdeza. Ele parecia ter o tempo dele ao se levantar numa lentidão tremenda, bocejando e se espreguiçando. Enquanto eu, estava me tremendo nas bases. – Maravilhosa forma de me acordar, . Por que não me acorda assim mais vezes? – seu tom irônico me irritou.
- Vai embora daqui Logo. Você disse que ia acordar mais cedo do que o meu pai e olhe só, já são dez e meia! Você vai acabar ferrando com tudo, seu idiota! – eu gesticulava enquanto se levantava da minha cama. Ele vestiu sua camisa numa calmaria sem fim e eu apenas o observava com a sobrancelha arqueada, esperando que ele se desse conta da situação e acordasse para os fatos.
- , se acalme! – se aproximou e colocou as mãos em meus ombros. – Respira.
Ele fez os movimentos de inspiração e expiração e rolei os olhos.
- Como quer que eu me acalme? O meu pai pode... – minha frase foi interrompida com batidas à porta.
- , já está acordada, querida? – a voz do meu pai me fez arregalar os olhos.
- Sim, pai! Já estou indo! – falei alto para que ele ouvisse.
- O que faremos? – sussurrou .
Dei uma rápida olhada pelo quarto e apontei em direção ao banheiro.
- Se esconde no banheiro e não saia de lá, pelo amor de Deus! – sussurrei de volta.
assentiu e foi em direção ao banheiro. Ele fechou a porta do mesmo assim que entrou e eu respirei fundo, tentando controlar minha respiração um pouco ofegante. Arrumei o cabelo com minhas mãos e abri a porta, forçando um sorriso assim que avistei meu pai.
- Bom dia, pai. – o cumprimentei, aproximando-me e dando-lhe um rápido abraço.
- Bom dia, querida. – sorriu – Na verdade, já é quase boa tarde. Estava cansada? – perguntou adentrando meu quarto.
Entrelacei minhas mãos por trás de meu corpo e dei uma breve olhada em direção à porta fechada do banheiro.
- Sim. A viagem foi bem cansativa... – comentei casualmente.
Meu pai assentiu e se aproximou, em passos lentos, do mural de fotos. Fiquei ao seu lado e virei meu rosto, olhando-o. Ele mantinha uma expressão serena no rosto e um sorriso de canto nos lábios.
- Gostei muito das fotos. Ficaram maravilhosas. – falei baixo. – Obrigada pelo mural.
- Não há de quê, filha. Eu me diverti muito enquanto as tirava. – ele me encarou com aqueles olhos acinzentados, exatamente iguais aos meus.
- O senhor já tomou café da manhã, certo? – ele assentiu – Gostaria de me acompanhar enquanto tomo o meu? Estou morrendo de fome. – ri fraco.
- Oh, claro, querida! Vamos! – abracei-o pela cintura enquanto andávamos pelo quarto, em direção à porta.
Olhei rapidamente para a porta do banheiro, na esperança de que tivesse ouvido minhas palavras e aproveitasse a chance de sair do mesmo. Fechei a porta do quarto assim que meu pai e eu passamos pela mesma e ainda abraçados, fomos andando pelo corredor até chegar à cozinha. Sentei-me à mesa ainda posta e me servi com alguns waffles enquanto conversava com meu pai. Passados alguns minutos, apareceu devidamente vestido e nos cumprimentou com um “Bom dia!”, Logo se sentando de frente a mim e ao lado de meu pai.
Observei, em silêncio, e meu pai conversando sobre basquete. Eu não entendia muito sobre o assunto, então, nem poderia opinar em nada. Quando eles mudaram de assunto e mencionou o nosso passeio pela cidade, pude finalmente intervir.
- Não será possível fazer o passeio hoje. A não ser que você queira ver lojas fechadas e ruas vazias. Hoje é feriado.
- Ah, sim! Tinha me esquecido desse pequeno detalhe. – disse com um certo lamento na voz.
- É por isso que estamos aqui. É por isso que eu te trouxe aqui. – encarei seus olhos castanhos. sorriu maroto ao perceber o meu tom um tanto “rude”.
- Oh, desculpe-me por esquecer. – falou num tom debochado e eu encostei-me à cadeira, cruzando os braços. – Parece que você é a certinha que nunca se esquece de nada.
- Por acaso você está tentando se fazer de coitadinho? Porque não está colando nem um pouco.
- Eu? Longe de mim! Só não entendo esse seu tom rude ao se dirigir a mim. Por que tanto ódio no coração, ? – parecia estar atuando enquanto dizia tais palavras, querendo se passar por bom moço, mas eu sabia muito bem que ele nem chegava perto disso.
Se ele queria me fazer passar por uma mulher mal educada e grosseira na frente de meu pai, pois bem. Eu aceito o seu joguinho, . Semicerrei meus olhos em sua direção e ele me lançou um sorriso sacana, arqueando a sobrancelha.
- Na verdade, eu sou muito boa. Sou boa até com gente que não merece. – lancei-lhe uma indireta bem direta, o que só fez seu sorriso aumentar, quase rasgando suas bochechas rosadas.
- Muito boa, huh? Por acaso eu não sou digno de ser tratado com tamanha bondade? – senti seu tom malicioso acompanhado de seus olhos que brilhavam com segundas intenções.
- Diga-me, ... Você sempre foi de levar as frases das pessoas para outros sentidos? – arqueei minha sobrancelha – Porque se sim, é uma mania muito feia. Precisa parar com isso, huh?
Ouvi um pigarro e levei meu olhar até meu pai, que observava tudo calado até então.
- Vocês sempre trocam farpas desse jeito? – perguntou meu pai.
- Sim!
- Não! – respondeu ao mesmo tempo.
- Pensei que fossem amigos... – meu pai nos olhou de forma desconfiada.
- E somos. – e eu respondemos juntos mais uma vez. – Digamos que nossa amizade é um tanto... Diferente. – dei de ombros.
- Bem diferente. – ele me lançou um olhar malicioso, dando uma rápida lambida em seus lábios.
Abaixei minha cabeça, um tanto envergonhada, e torcendo para que o senhor Benjamin não tivesse percebido nada. não sabia ser nada discreto. Puta merda.
- Bom, posso deixá-los sozinhos enquanto terminam de comer? – perguntou meu pai, já levantando de seu assento. – Preciso fazer uma ligação urgente para um colega de trabalho.
- Oh, claro, pai. Pode ir. – sorri e ele retribuiu meu sorriso.
- Espero vê-los vivos quando voltar. Não se matem, por favor. – ri fraco do humor dele.
- Não se preocupe, Ben. e eu ficaremos bem. – garantiu a meu pai enquanto sorria.
Meu pai apenas balançou a cabeça em afirmação e saiu da cozinha Logo após tirar o telefone da base.
Levei um pedaço do meu waffle até a boca e mastiguei lentamente. Desviei meu olhar para a janela e fiquei observando o pássaro que havia pousado ali. Sorri enquanto admirava sua cor azul bem forte. Eu nunca tinha o visto antes.
- Saí-azul. – ouvi a voz de em um tom baixo.
Virei meu rosto em sua direção e franzi o cenho enquanto terminava de mastigar. – O quê?
- O pássaro. O nome é Saí-azul. Dizem que está ameaçado de extinção.
- E o que ele faz aqui? – perguntei curiosa, voltando meu olhar ao pássaro que ainda estava parado na janela.
- Não faço a menor ideia, mas o habitat dele com certeza não é aqui.
Assim que o pássaro voou, voltei a fitar meu prato quase vazio. Por um momento, eu me comparei àquele pequeno pássaro. Por inúmeras vezes, eu me sentia fora do meu “habitat”, fora do lugar de onde realmente eu sou. Sentia-me perdida e sozinha, precisando de um ombro amigo, mas infelizmente, nunca o tendo. Acho que é durante a solidão que você realmente para e pensa na sua vida até aqui. No que você fez e o que deixou de fazer, nos planos e sonhos que deixou para trás com a certeza de que nunca iriam se realizar, nas viagens que você deixou de fazer por medo de se aventurar e sair da sua vidinha monótona e um tanto... Vazia.
Foram tantas vezes que esses pensamentos se passaram por minha cabeça, que eu já nem podia contar. Às vezes me pergunto se algum dia, os sentimentos de exclusão e solidão deixarão meu coração. Se algum dia, eu realmente serei amada e feliz. Se algum dia, poderei dizer que a minha vida valeu à pena e que foi com os erros que eu acertei. Eu gostaria de poder me abrir com alguém. Abrir o meu coração e deixar sair tudo que me sufoca, tudo que está me engasgando, tudo que está me machucando e me rasgando por dentro. Eu chego a sentir dor física com essa explosão de sentimentos. Dizem que quando a dor é muito forte, ela chega a ser tão profunda que você sente dores, como se fossem algo físico; mas não, são somente dores do coração. Dores da alma. Dores e mais dores que te fazem sentir como se estivesse num quarto escuro com a porta trancada e ninguém tivesse a chave para te libertar.
E assim, você se afoga nas próprias dores. Inevitáveis. Angustiantes. Sôfregas, em busca de mais e mais do seu pobre coração. E o coração, fraco como é, se deixa levar por esses sentimentos que nunca parecem estar satisfeitos com a sua já suportável infelicidade.
- ? – balancei a cabeça, saindo de meus pensamentos. – Está tudo bem?
- Sim, está tudo bem. – afirmei, voltando a comer.
- Tem certeza? Você estava distante. – me olhou parecendo um tanto curioso.
- Impressão sua. – dei de ombros.
- Então me diz o que eu acabei de falar. Se você não estava distante, deve ter ouvido, huh? – arqueou uma sobrancelha para mim e eu rolei os olhos.
- Eu só estava pensando... E não, eu não ouvi nada do que você falou. Para ser honesta, se alguém chegar aqui e me perguntar sobre o que estávamos falando, eu não saberei responder. – admiti, arrancando uma risadinha dele.
- Isso é magnífico, huh? Eu aqui, falando com uma mulher que não está dando a mínima para mim. Sinto-me falando com as paredes! – levou as mãos ao alto e eu segurei a risada. – Acho até que elas seriam ótimas companhias. Quem sabe elas não têm um bom papo?
Acabei rindo, balançando a cabeça em negação. – Não aja feito um louco, porque eu sei que você não é.
- E como pode ter certeza disso? Eu posso ser um maluco que fugiu do hospício antes de aparecer à porta de sua casa e você nem sabe. – ele deu de ombros e eu semicerrei meus olhos, desconfiada.
- Você me contaria...
(Deem o play nessa música tema, por favor: Animals – Maroon 5)
- Eu não teria tanta certeza se fosse você. Há muitas coisas sobre mim que você não sabe, minha cara . – ele se inclinou sobre a mesa, chegando mais perto de mim.
Inclinei-me, assim como ele, e lancei-lhe um olhar desafiador. – Ah, é? E o que seriam essas coisas?
Ele sorriu maliciosamente, abaixando a cabeça por um instante. Quando seus olhos se encontraram com os meus, havia um brilho intenso nos mesmos. Ao mesmo tempo em que eles podiam ser indecifráveis, eram totalmente hipnotizantes e encantadores. passou a língua em seus lábios e eu acompanhei cada movimento com os meus olhos. Um tanto hipnotizada, eu deixei que meu olhar ficasse fixado ali, naqueles lábios perfeitamente desenhados e rosados, com uma textura extremamente macia a qual eu já tive a oportunidade de provar algumas vezes.
Senti se aproximar ainda mais sobre a mesa, apoiando suas mãos na mesma. Ele sorriu e em seguida, mordeu levemente seu lábio inferior. Eu não conseguia desviar meu olhar daqueles lábios incrivelmente perfeitos, e já estava me irritando comigo mesma por ser tão fraca em relação a . Ao mesmo tempo, eu sabia por que eu era assim em relação a tudo isso que vem acontecendo. Eu nunca havia tido esse contato tão intenso com alguém do sexo oposto e isso simplesmente estava abalando as minhas estruturas, deixando-me totalmente perdida.
Às vezes, eu queria dizer não a , mas eu não conseguia. Tudo que ele me fazia sentir era bem mais forte do que eu mesma, do que a minha própria vontade e minha razão. Eu simplesmente me deixava ser levada por meus impulsos e pensamentos mais maliciosos. Eu sinto que aos poucos eu estou me transformando em algo que eu nem sabia que poderia ser. Oh, céus! O que está acontecendo comigo? No que eu estou me tornando? Eu não quero ser mais uma mulher que anseia incontrolavelmente pelos toques e beijos de , assim como eu sei que outras mulheres fizeram em seu passado. Afinal, quem em sã consciência, conseguiria resistir a ele?
Somente me dei conta de que ainda estava com o olhar fixo em seus lábios quando disse:
- Meus olhos estão aqui em cima, .
Balancei a cabeça rapidamente e saí do meu segundo transe do dia. Levantei meu olhar e vi um risonho me encarando. Ele parecia se divertir com a minha expressão abobalhada. Oh, droga.
- Você é muito engraçadinho. – disse irônica.
- E você fica uma gracinha me encarando assim. Parece o ursinho Pooh olhando para um pote de mel. Chega a babar. – fiquei boquiaberta com seu comentário e gargalhou da minha careta.
- Já te disseram que você é um idiota?
- Na verdade, sim. Mas não com tanta frequência como você. Com certeza, você está no topo do ranking. Meus parabéns! – ele fingiu uma empolgação e eu sorri de canto.
- Fico lisonjeada por estar no topo.
Dito isso, eu me afastei dele e me levantei. Coloquei a louça dentro da pia e saí da cozinha. Fui até meu quarto e procurei uma roupa no armário. Peguei uma calça de moletom por conta do frio e uma blusa de mangas compridas. Joguei as roupas na cama e comecei a tirar a parte de baixo do meu pijama e em seguida, a parte de cima. Quando eu estava prestes a vestir minha blusa, ouvi um barulho vindo da porta e me virei rapidamente, tendo a visão de encostado à mesma que se encontrava fechada, enquanto me observava com os braços cruzados.
- Oh, meu Deus! – disse assustada, cobrindo meu busto com a blusa.
soltou uma risadinha, dando uma rápida passada de mão no cabelo um pouco bagunçado. Por um momento, estranhei o fato de seu cabelo não estar arrumado em um topete, mas Logo tirei esse pensamento de minha mente. Eu tinha coisas mais sérias para me preocupar: como o fato de estar me observando seminua.
- O que você está fazendo aqui, ? Se não percebeu, eu estou um pouco ocupada. – disse um tanto raivosa, tentando ao máximo cobrir meu corpo com a blusa.
- Eu percebi que está bem ocupada. – olhou-me, mordendo o lábio de uma forma extremamente sexy que fez minhas pernas bambearem ligeiramente. – Hm, quer uma ajudinha?
Tarado. Pervertido.
- Não, obrigada. Quero que você saia do meu quarto, por favor.
- Qual é, ? Uma ajudinha não vai fazer mal a ninguém. – ele sorriu, aproximando-se em passos lentos. – Vejo que está um tanto enrolada aí.
- Não, ! – virei de costas – Saia daqui, por favor. Se meu pai te pega aqui, você está ferrado.
Suspirei. Eu não sabia o que fazer. Eu queria me vestir, mas com ali não dava. E se eu tirasse a blusa de meu busto, com certeza ele veria alguma coisa com aqueles olhinhos espertos.
Meu coração pulsou mais rápido quando senti chegando por trás de mim. Ele praticamente grudou seu corpo ao meu, roçando seu membro em minha bunda. Instintivamente, apertei a blusa entre meus dedos, fincando as unhas no tecido da mesma. Uma de suas mãos segurou minha cintura, pressionando ainda mais as minhas costas contra seu peito. Prendi a respiração por um momento, tentando controlar meu nervosismo. Senti os dedos de sua outra mão adentrando lentamente minha calcinha. Abaixei meu olhar e vi quando o dedo indicador dele foi abaixando a renda da minha peça íntima. Seus dedos pareciam deixar rastros de fogo por onde passavam. O dedo indicador abria caminho para os outros, que tocavam minha pele sem nenhum pudor. Quando seus dedos tocaram minha bunda, meu corpo entrou em alerta.
- Saia daqui, . Se meu pai... – tentei dizer, mas me interrompeu, mordiscando levemente o lóbulo de minha orelha. Meu corpo se arrepiou por inteiro e fechei os olhos, apertando ainda mais o tecido da blusa com meus dedos.
- Shhh... Não acha que está muito preocupada com isso? Relaxa e aproveita o momento, . – ele sussurrou em meu ouvido. – Afinal, eu sei que você gosta dos meus toques... Não é? Você gosta do que eu te faço sentir. Gosta de ser tocada como nunca foi antes...
Ele continuava a sussurrar enquanto seus dedos acariciavam suavemente minha bunda. Senti seu dedo indicador passar pela divisão de minhas nádegas e prendi minha respiração. Meu corpo tremia levemente e eu apertei ainda mais meus olhos, mantendo-os fechados.
- Acho que eu nunca te falei o quanto gosto da sua bunda, não é? É tão sexy que me deixa excitado só de olhar para ela. – mordi meu lábio inferior quando ele deu um aperto com vontade.
Senti a sua mão soltar minha cintura e subir por minhas costelas. Quando tocou a blusa que eu segurava, eu apertei-a ainda mais, com receio de que ele a puxasse. Ele soltou uma risada nasalada em minha orelha e negou com a cabeça.
- Sem pudores, . – falou com certa repreensão na voz, deixando meu corpo tenso. – Fico pensando se algum dia você me deixaria admirá-la enquanto toma banho... Você me deixaria contemplar o seu corpo, babe?
Oh, céus. Até quando eu conseguirei resistir a isso?
Grunhi um pouco, fazendo rir fraco. Eu queria juntar forças não sei de onde e sair de seus braços, mas meus hormônios não me deixavam. Eles pareciam implorar para que eu permanecesse estática ali, sem movimentar um músculo sequer, deixando apenas que me tocasse e me explorasse. Com uma rapidez admirável, ele puxou a blusa de minhas mãos, jogando-a no chão, ao lado de meus pés. Arregalei um pouco meus olhos e virou meu rosto em sua direção, meio que me obrigando a olhá-lo. Ele parecia querer ver todas as expressões de meu rosto enquanto seus dedos deslizavam por meu corpo que só tinha a calcinha cobrindo algo ali.
- Você é maluco... – sussurrei quando sua mão foi até meu seio direito, começando a acariciá-lo.
Ele soltou uma risada nasalada e me encarou nos olhos. Seus olhos eram profundos e estavam um pouco escuros. Eu sabia o que isso significava. Toda vez em que estávamos em momentos íntimos como esse, suas íris ficavam mais escuras e brilhantes, demonstrando o contentamento que ele sentia em me ver na palma de suas mãos.
- Talvez... Mas até hoje nunca reclamaram da minha maluquice... – ele respondeu também em sussurro.
Apertou-me levemente o seio e eu arfei. Seu polegar foi até meu mamilo e o acariciou em movimentos circulares, principalmente o bico rígido.
- Você não presta. – disse com a voz falha.
Ele riu baixo, de uma forma rouca e sexy. – Acho que você já me disse isso.
- E volto a repetir: você não presta, . – disse e deitei minha cabeça em seu ombro ao sentir seus dedos pressionando meu seio, aumentando a intensidade das carícias.
- Contanto que eu te dê o prazer que nunca sentiu... Eu não me importo com isso. – sussurrou, dando uma mordidinha em meu lóbulo. – Se for para ouvir você gemer o meu nome, eu faço qualquer coisa... Até ser o maior cafajeste do mundo. – ele levou sua outra mão ao meu seio esquerdo. Com suas mãos envolvendo meus seios e meu corpo totalmente grudado ao seu, ele os apertou novamente.
Segurei um gemido e mordi meu lábio inferior.
- Parece que eu me enganei ao dizer que você não tinha seios... Você com certeza os tem. – ele riu malicioso e senti seus lábios em minha orelha. – E são umas belezinhas.
Gemi baixo, não conseguindo me segurar.
, você sabe como me tirar dos eixos, literalmente.
Inesperadamente, se sentou em minha cama e me levou junto, sentando-me em seu colo. Arfei um pouco quando senti a respiração de bater contra minha pele entre os seios. Ele deu um leve beijo na mesma e subiu até meu pescoço, dando pequenas e rápidas sugadas. Levei minhas mãos até sua nuca e agarrei os seus cabelos, fechando os meus olhos enquanto sentia seus beijos em mim. Suas mãos foram até minhas costas e eu me arrepiei inteira ao sentir suas unhas curtas as arranhando de cima a baixo.
- , eu não acho isso uma boa ideia. O meu pai vai... – minha frase foi brutalmente interrompida quando seus lábios se chocaram aos meus e sua língua adentrou minha boca sem que eu nem tivesse reação.
Uma de suas mãos foi até minha coxa descoberta e a apertou fortemente enquanto ele movia seus lábios ao mesmo tempo em que eu tentava acompanhá-lo. Seus movimentos eram rápidos, sedentos e desejosos. Com a outra mão, ele apertava minhas costas, quase cravando suas unhas em minha pele. deu uma leve sugada em meu lábio e o mordiscou antes de se afastar. Levou seu rosto à altura de meu busto e pôs-se a distribuir beijos, Logo chegando ao meu seio direito. Soltei um gemido baixo quando sua língua tocou meu mamilo e em seguida, o bico. Começou a fazer movimentos circulares e eu revirei os olhos, ainda agarrando seus cabelos.
Ele sugou minha pele e eu mordi meu lábio inferior, reprimindo um gemido mais alto. Quando começou a mordiscar meu seio direito enquanto massageava suavemente o outro, um estalo veio em minha mente e eu agarrei seu cabelo por trás, afastando seu rosto de meu corpo.
- Já chega. – falei com a voz ofegante.
me encarou com um sorriso malicioso e o olhei séria, ainda segurando-o pelo cabelo, obrigando-o a olhar para mim.
Ele levou seu dedo indicador até o bico de meu seio esquerdo e mordeu seu lábio inferior. Em momento algum, ele desviou o olhar do meu, o que só me deixou ainda mais arrepiada e provocou um calor em minha nuca. Seu dedo começou a se mover, acariciando aquela parte do meu corpo tão sensível e eu revirei os olhos por um momento. Droga, eu não queria ter feito isso.
- Você tem certeza, ? – ouvi sua voz rouca, tomada pela malícia, me perguntar. – Não aparenta ser o que o seu corpo quer...
Choraminguei enquanto uma batalha interior era travada em mim. Ao mesmo tempo em que eu queria aquilo, eu não queria. Eu sentia medo do meu pai aparecer a qualquer momento, e ainda por cima, eu sentia culpa. Eu gosto do e estou começando a me dar muito bem com ele para jogar tudo ao vento. Repentinamente, outro estalo me veio e eu o empurrei levemente.
- Você tem namorada, ! – arregalei meus olhos. – Oh, meu Deus!
Levantei-me de seu colo e peguei minha blusa no chão. Vesti-a rapidamente e me afastei de o máximo que eu podia. Eu já estava do outro lado do quarto enquanto ele ainda estava sentado na minha cama, encarando-me seriamente. Ele suspirou e passou a mão pelo cabelo, Logo abaixando a cabeça. Seus cotovelos estavam apoiados em sua perna e ele se mantinha encarando o chão, como se ali tivesse algo extremamente importante e curioso de ser observado.
Encostei-me à parede e respirei fundo, acalmando meus batimentos cardíacos e minha respiração agitada.
- Espero que tenha ideia do tamanho da culpa que eu estou sentindo nesse exato momento. – declarei com a voz um tanto trêmula. Eu me sentia culpada e envergonhada. – Oh, meu Deus, o que eu fiz? Eu não acredito que cheguei a esse ponto! Eu sou uma vagabunda... – falei pensativa com a minha mente atordoada. – Eu sou uma...
- Você não fez nada, ! – disse repentinamente em voz alta. – A culpa não é sua! Pare de se culpar!
Ele se levantou da minha cama e se pôs a andar de um lado a outro pelo quarto. Eu diria que ele estava extremamente nervoso, meio perdido e até se sentindo culpado, assim como eu. Acredito que por sua mente se passavam vários pensamentos, talvez até os seus momentos com a Olivia. Por um momento, eu me pus no lugar dele, e me senti... Um lixo. Um traidor.
- A culpa é minha... Eu só não consigo controlar! É mais forte do que eu. – ele parecia dizer aquilo mais para si mesmo do que para mim, então permaneci em silêncio. – Eu até tentei deixar para lá, até tentei ignorar e esquecer, mas é quase impossível. Toda vez que você está perto, eu me sinto assim. O seu cheiro me deixa como um animal, eu ajo feito um selvagem quando eu te toco. É como se eu precisasse de você o tempo inteiro. Preciso te tocar o tempo inteiro, preciso te beijar o tempo inteiro... Isso é algum tipo de doença! Não é possível!
Engoli em seco e me abracei. – ? – chamei-o e ele me encarou. Seu olhar era perdido e ao mesmo tempo, angustiante. – Do que você está falando? – perguntei baixo.
Eu estava agindo feito uma garotinha ou até como uma presa com medo de seu caçador. Eu só conseguia me encolher ainda mais na parede, quase que a ultrapassando. E se eu pudesse, eu atravessaria aquela parede e sairia dali o mais rápido possível. A verdade é que eu não queria enfrentar aquilo, eu não queria ouvir as suas palavras, mas ao mesmo tempo, minha curiosidade falava mais alto. Eu queria saber se o que ele sentia por mim era o mesmo que eu sentia por ele.
- Desejo, ! – ele declarou – É disso que eu estou falando! Desse desejo incontrolável e insaciável que eu sinto por você. Eu não queria sentir, mas eu sinto.
Olhei-o surpresa e engoli em seco, sem saber o que falar. Meu corpo ficou paralisado e por mais que eu tentasse me mover, eu não conseguiria dar um passo sequer para longe dali.
- Mas... Você disse que não sentia nada por mim. Você disse que era...
- Encenação? – ele me interrompeu, soltando uma breve risada. – Eu admito que sou um bom mentiroso. Eu minto muito, sobre várias coisas... E eu obviamente menti quando disse aquilo para você. Eu só queria negar a mim mesmo o que eu sentia, mas até agora tem sido quase impossível. Parece que a cada dia que passa, esse desejo imensurável aumenta e eu não consigo fazer nada a respeito.
Suspirei e fiquei parada, apenas o encarando enquanto ele falava. Como uma futura psicóLoga, eu queria que falasse tudo o que ele sentia e pensava, queria que ele desabafasse para que assim, talvez, eu pudesse ajudá-lo. Agora, no quesito ajuda... Eu não sei como. Que eu saiba, não existe um manual de como controlar os desejos. Ou talvez exista? Eu não sei.
- Você quer que eu te ajude? Eu posso, não sei... Ajudar-te a ignorar isso que você tem por mim. – propus um tanto tímida.
Ele me encarou por alguns segundos antes de andar rapidamente em minha direção. Como um gatinho assustado, eu arregalei um pouco os olhos e me encolhi ainda mais na parede. Qual é? Eu não estou acostumada com isso! E digamos que estou um pouco... assustada.
colocou as mãos ao lado de minha cabeça e aproximou mais o seu corpo do meu, como uma forma de me prender. Prendi a respiração quando seu rosto ficou a centímetros de distância do meu.
- E quem disse que eu preciso de ajuda? – ele falou bem baixo. Seu hálito bateu em meu rosto e fiquei um tanto atordoada, fitando seus olhos brilhantes. – Antes eu até aceitaria sua ajuda, mas agora não... – acariciou minha bochecha com as costas da mão. – Agora eu quero apenas me entregar a tudo isso.
Sua confissão me fez tremer e eu desviei meu olhar para o chão.
- Você é doido. – neguei com a cabeça, voltando a encarar-lhe nos olhos. – Eu aqui me sentindo culpada pelo que fizemos e você pensando nisso? , você tem uma namorada! Uma namorada! Você sabe o que é isso? – perguntei e ele me olhava sério. – Você tem um relacionamento com uma pessoa e essa pessoa confia em você. Ela se entrega a você, compartilha a vida dela com você. E olha só o que estamos fazendo... Você está traindo a Olivia. Está quebrando a confiança dela. – suspirei – Por isso eu disse que nunca te namoraria. Eu simplesmente não posso tapar o sol com a peneira e fingir que nada está acontecendo, porque eu sei que é errado. Eu estou te levando à traição! Eu estou provocando tudo isso! Eu...
Ele colocou a mão em minha boca, impedindo-me de finalizar a frase.
- Shhh... Já falei que a culpa não é sua, então, pare com isso. Eu que provoquei isso, eu que tenho te provocado. – ele disse me olhando atentamente, ainda com a mão em minha boca. – Acontece que eu cheguei ao meu limite e queria que você chegasse também. Eu queria que você entregasse completamente o seu corpo a mim.
Tirei sua mão de minha boca e balancei a cabeça em negação.
- Pare, ! Pare! Não quero mais ouvir o que você tem a dizer.
Eu agi como uma criança birrenta ao falar isso, mas não me importava. Só queria que ele me soltasse e me deixasse sair dali. Aquele meu pensamento anterior de deixá-lo desabafar havia desaparecido totalmente quando ele começou a dizer aquelas besteiras sem pé nem cabeça. Aquilo não tinha cabimento.
- Você sabe o que eu realmente quero, ? – ele ignorou o meu pedido, e eu apenas fiquei em silêncio. Aproximou sua boca do meu ouvido e sussurrou: - Eu quero estar dentro de você. Quero transar com você até meu corpo perder as forças. Quero te jogar naquela cama e te fazer gemer o meu nome até cansar. Quero tocar cada centímetro de pele do seu corpo. Quero beijar os seus lindos lábios e te deixar em chamas, querendo mais e mais de mim.
- ... – falei num tom de repreensão e ele mordiscou o lóbulo da minha orelha. – Você realmente não pensa nas consequências, huh? Parece um garoto inconsequente que faz o que der na telha.
- Quando se trata de desejos, sim. Eu deixo os meus instintos me levarem.
- E não se sente culpado? Nem um pouco? – perguntei.
Ele embrenhou sua mão por baixo de meus cabelos e segurou minha nuca. Seu corpo exalava masculinidade e tesão, o que só me deixou com as pernas bambas.
- Um pouco, mas o que eu posso fazer se a minha nova obsessão está a minha frente? – sussurrou e eu ofeguei. – Isso vai soar um pouco doentio, mas imagine que você é a caça e eu sou o caçador... E esse caçador aqui não vai parar até te ter nas mãos.
Fui surpreendida quando seus lábios rosados selaram os meus. Não tive nem tempo de ceder à sua língua, já que ele a enfiou em minha boca com vontade, assim como fez anteriormente. Sua língua tocou a minha e uma corrente elétrica percorreu meu copo, desde o fio de cabelo ao dedinho do pé. Ele agarrou minha cintura com força e me fez entrelaçar minhas pernas ao redor de sua cintura. Enquanto eu não fiz tal ato, ele não sossegou. Suas mãos percorreram meus braços e ele agarrou minhas mãos, Logo as forçando contra a parede. Eu não tinha apoio nenhum e a única coisa me segurava para não cair, era o seu corpo totalmente grudado ao meu.
Os sons do beijo ficavam cada vez mais altos conforme aumentava o ritmo do mesmo. Seus lábios, agora, se moviam de forma mais rápida contra os meus, fazendo uma pressão maravilhosa que me causava arrepios. O cheiro natural de seu corpo invadiu meu nariz e eu reprimi um suspiro por conta daquele cheiro maravilhoso. Até seu cheiro era bom, oh céus. Eu tentava acompanhar os lábios de , mas por um instante, fiquei perdida e não sabia mais para onde virar minha cabeça e nem o que fazer. percebeu minha confusão e riu em meio ao beijo. Como já estava sem fôlego, ele foi diminuindo o ritmo até parar totalmente com alguns selinhos.
Eu pensando que ele se afastaria, fui totalmente enganada, já que ele se aproximou alguns segundos depois e mordeu meu lábio inferior, puxando-o para si. Encarou meus olhos para justamente ver a minha expressão. Fiz uma careta de propósito, fazendo-o rir baixo. passou a língua suavemente sobre meus lábios e eu acabei me lembrando do dia em que nos beijamos pela primeira vez. Lambeu-os de baixo a cima e atacou-os novamente em outro beijo. Eu ainda estava me recuperando e lá vem ele de novo... Oh céus. Seus lábios macios e molhados contra os meus me faziam ficar um tanto aérea e eu perdia totalmente a noção de tempo e espaço. E isso não é um sinal muito positivo.
Ao menos dessa vez, ele me beijou com mais calma. Seu beijo foi tranquilo e ia totalmente contra a maneira que ele prensava seu corpo ao meu. Aqueles toques calmos e sem pressa de línguas pareciam deixar seu corpo ainda mais eufórico. E eu tive a certeza de que estava mexendo com ele quando o senti apertar levemente minha bunda e seu membro ganhar certa “vida” no instante em que nossas intimidades se encontraram.
Repentinamente, se afastou e encostou sua testa à minha. Nossas respirações estavam ofegantes e nossos olhos, fechados.
- Acho melhor pararmos por um momento. Estou ficando excitado. – sussurrou contra meus lábios.
- Eu percebi. – disse num tom risonho.
- Graças a você, Wright. – ele sussurrou novamente, com um sorrisinho nos lábios. – Espero que não consiga dormir hoje por conta do que provoca em mim. Se bem que eu ficaria muito feliz se ficássemos acordados a noite toda... – seu tom malicioso quase me fez rir se não fosse por sua mão que pegou a minha e a levou até seu membro coberto pela calça de moletom.
Dei um pequeno pulo de susto por conta de seu ato e riu fraco, olhando-me malicioso e mordendo o lábio.
- Espero que esteja feliz com isso, babe... – sussurrou roucamente, movendo suavemente minha mão sobre seu membro. – Porque nenhuma mulher me deixou tão excitado assim em poucos minutos.
Ele fechou os olhos e apreciou o movimento que minha mão fazia, sendo guiada pela sua. Soltou um rosnado baixo e apertou os olhos quando fiz mais pressão com minha mão.
- Filha, posso entrar? – ouvi a voz de meu pai do outro lado da porta.
No mesmo momento, soltei-me de e saí de seu colo. Afastei-me de e vesti minha calça, Logo me sentando na cama.
- Claro, pai! – falei e no segundo seguinte, o vi abrir a porta e colocar somente a cabeça para dentro. – Eu estava apenas conversando com .
Lancei uma rápida olhada em direção ao e ele segurava o riso, mas concordava com a cabeça.
Também, se ele não concordasse, teria de se ver comigo depois.
***
- Vocês vão mesmo passar o feriado jogando cartas? – fiz careta na direção dos meus familiares.
Todos estavam sentados no tapete da sala, num formato de círculo e jogando como se não houvesse amanhã.
- Algum problema com isso, querida? – vovó perguntou e mordi o interior da bochecha.
- Não, é só porque vocês sabem que eu não faço a mínima ideia de como jogar pôquer, e mesmo assim, insistem nisso. Fico me sentindo totalmente excluída. – fiz uma carinha triste enquanto me aproximava do círculo. – Chega para lá – cutuquei a perna de com o meu pé e ele bufou, afastando um pouco para o lado.
Sentei-me e analisei o jogo. Certo, não estou entendendo nada.
- Fique aqui conosco, . Adoraríamos a sua companhia. – vovô Max disse e eu sorri carinhosa para ele.
- Valeu, vovô.
Peguei Adam e o coloquei em meu colo, brincando com seus cabelinhos loiros. Distribuí alguns beijos em suas bochechinhas e ele riu, fazendo uma careta, enquanto brincava com seu aviãozinho.
- Passa. – ouvi a voz de dizer e arqueei a sobrancelha, esticando um pouco meu pescoço, tentando ver suas cartas. – Com licença? – ele me olhou sério e eu dei de ombros, voltando à minha posição inicial.
- Ah não, Adam, fica aqui comigo. – choraminguei quando o pequeno ameaçou se levantar do meu colo. – Amanhã eu vou embora e você vai sentir minha falta.
- E por que você tem que ir embora? – perguntou com sua vozinha fofa, o que só aumentou a minha vontade de apertar-lhe as bochechas. – Eu não quero que você vá...
- Oh bebê, eu tenho que ir. Eu moro em Nova York agora, tenho minha faculdade e minha vida lá. – expliquei calmamente, abraçando-o, e ele encostou sua cabeça em meu peito. – Mas eu voltarei o mais rápido possível. Mais rápido do que você pensa. – olhei-o após me afastar e ele me encarou com desconfiança.
- Promete? – perguntou e eu assenti.
- Eu prometo! Promessa de dedinho. – estiquei meu dedo mindinho em sua direção e ele sorriu, entrelaçando seu dedo ao meu. – Antes mesmo que você possa piscar, eu estarei aqui de novo, te abraçando e te apertando como sempre faço.
Adam gargalhou Logo após eu apertar suas bochechas e eu o acompanhei, rindo de sua carinha.
- Eu te amo, pequeno. – abracei-o novamente, depositando um beijo em seus cabelos.
- Eu também te amo, Lie. – sorri ao ouvir o apelido que ele me dera.
Adam era o único que me chamava assim, desde que nasceu, praticamente. Parece que “” para ele era muito difícil na época, então, ele simplesmente encurtou a palavra. Mesmo depois de quase quatro anos, ele ainda me chama assim. E eu amo isso incondicionalmente.
O tempo foi se passando e o jogo continuou. Eu somente observava, ainda sem entender nada. Nunca fui boa com jogo de cartas, e para mim, não fazia nenhuma diferença. Eu não gostava desses tipos de jogos. A noite Logo chegou e o frio a acompanhou. Fui rapidamente até meu quarto e peguei o meu cobertor, Logo voltando para a sala. Sentei-me no sofá e cobri minhas pernas, abraçando uma das almofadas. Como sentei atrás de , pude ter uma perfeita visão de suas cartas. Ele me deu uma rápida olhada e eu levantei meus ombros.
- O quê? Eu nem sei jogar isso. Não se preocupe. – disse e semicerrou os olhos, voltando sua atenção ao jogo.
Aproveitei a deixa e mandei-lhe um dedo do meio, causando alguns risos da parte de tia Sarah e Paul. Meu pai estava muito concentrado para perceber algo ao seu redor e meus avós estavam um tanto aéreos, enquanto Adam ainda brincava no canto da sala. Dessa vez, ele estava rodeado por mais brinquedos e parecia se divertir bastante mesmo sozinho.
Uma vibração me incomodou e eu franzi a testa, sem saber de onde aquilo vinha. Quase dei um pulo quando percebi que vinha do bolso da minha calça e lembrei-me do meu celular no mesmo instante. Com certa dificuldade, peguei o aparelho e olhei o visor. Um sorriso iluminou meu rosto quando o vi o nome de quase em letras neon. Deslizei o dedo pela tela e atendi.
- Carter. – não contive um sorriso bobo nos lábios.
- Com licença, mas esse número é de uma moça chamada ? – sua voz brincalhona soou do outro lado e eu ri fraco, levantando-me do sofá.
- Sou eu. – andei até o corredor e encostei-me à parede.
- Ah, então é com a senhorita mesmo que eu quero falar. A linda moça de cabelos loiros, olhos brilhantes e um sorriso que poderia iluminar toda a cidade. – sorri, mordendo levemente meu lábio inferior. – Como você está, ?
- Estou bem, e você?
- Digamos que meu dia foi uma merda, mas agora melhorou bastante. Ouvir a sua voz é o que faz a minha noite ser boa. – meu coração acelerou ao ouvir suas palavras e eu fechei meus olhos por um instante.
- Não fale esse tipo de coisa... Ainda bem que não estamos nos vendo, pois te garanto que estou mais vermelha do que um pimentão. – admiti e ele riu fraco.
- Acho que um dos meus deveres é eLogiá-la. Na verdade, todas as mulheres do mundo deveriam ser eLogiadas todos os dias.
- O seu pensamento é muito lindo. – falei um tanto boba.
- Espero que o seu feriado esteja sendo bom. – ele disse.
- E está. Estou com a minha família aqui na Carolina do Norte. É bom passar um tempo por aqui.
- Que ótimo. Estou na casa do meu pai em Washington. Não é tão legal assim, já que ele trabalha até durante o feriado, mas enfim... – suspirou.
- Sinto muito.
- Está tudo bem. Já estou acostumado. – riu fraco, mas eu sabia que aquele riso era só para disfarçar o seu desapontamento. – Eu estava pensando e a gente podia sair assim que voltássemos para Nova York. O que acha?
Sorri abobalhada encostando minha cabeça à parede.
- Claro. Eu ia adorar.
- Ótimo. Vou pensar em algum lugar legal para te levar.
- Okay. – falei e um silêncio tomou conta da linha, até eu voltar a falar. – ? – o chamei.
- Sim? Estou aqui.
- Eu prefiro seguir a regra dos três encontros antes de tentarmos algo sério. Você tem algum problema com isso?
Mordi o lábio inferior, um tanto receosa com sua resposta. Eu sempre tive essa “regra”. Acho que pelo menos três encontros são necessários para que você conheça um pouco mais a pessoa e veja se vale à pena entrar em um relacionamento. Nunca tive a oportunidade de usar a regra, mas agora... Tendo essa chance com , com certeza eu a usaria.
- Oh, não. Claro que não. Faça o que achar certo, . – sorri com sua resposta.
- Obrigada, de verdade.
Algum tempo – que eu não sei dizer quanto – se passou enquanto eu ainda conversava animadamente com . Ele parecia estar bem disposto em conversar comigo e isso quase fazia meu coração transbordar de felicidade. Contou-me sobre algumas coisas que estava fazendo lá em Washington e disse que mal podia esperar a hora de voltar para casa e se encontrar novamente comigo. Ele até me disse que estava com saudade, coisa que eu achei um pouco precipitada já que ele acabara de me “conhecer”, mas também não pude conter o sorriso em meu rosto, por mais uma vez durante toda aquela conversa.
- Ah, , vou desligar agora. Parece que meu pai quer que eu o ajude com algo do trabalho. Quando venho aqui, digamos que eu sou uma espécie de assistente. – ele bufou.
Ri baixo.
- Certo. Falamo-nos depois, então. – disse.
- Tenha uma boa noite.
- Você também. – sorri.
- Beijos.
Dito isso, ele desligou e eu também. Mordi meu lábio inferior e fechei meus olhos com minha cabeça e meu corpo ainda encostados à parede do corredor. Dei um pulo quando abri meus olhos e tive a visão de parado à minha frente. Seu cenho estava franzido e ele tinha seus braços tatuados cruzados.
Por instinto, levei a mão ao peito e respirei fundo.
- Você me assustou, seu idiota. – bufei e ele continuou a me fitar sério. – O que está olhando? Perdeu algo aqui?
respirou fundo e descruzou os braços, levando as mãos aos bolsos da calça.
- Com quem estava falando? – seu tom era rouco e calmo, mas a firmeza estava explícita em sua voz. A seriedade estampada em seu rosto e seus olhos fitando os meus, sem desviá-lo por nenhum segundo.
- Acho que não lhe devo satisfações da minha vida, huh? – o olhei com desdém.
Ele semicerrou os olhos e segurou firmemente meu braço, prendendo-me contra a parede.
- Era ele, não é? – perguntou.
- Ele quem? – me fiz de desentendida.
- Carter.
Bufei e rolei os olhos.
- Primeiramente, solte o meu braço. Odeio que me segurem assim. – falei e ele me encarou profundamente antes de soltar o meu braço aos poucos. – Sim, era o . Ele me ligou para saber como eu estava. Feliz agora? – cruzei os braços.
- Viu? Não foi difícil me responder. – sorriu de canto, arqueando a sobrancelha.
Desviei meu olhar, inconformada com sua petulância. – O que está fazendo aqui, ? Pensei que estivesse muito ocupado jogando pôquer com a minha família.
- Demorou tanto nesse telefone que nem percebeu as horas. – balançou negativamente a cabeça, fazendo uns barulhinhos com a língua. – O jogo já acabou há tempos e sua tia está chamando para jantar.
- Oh, sim. – assenti.
Comecei a andar, mas fui brutalmente interrompida quando segurou meu braço, virando meu corpo para ele. Inesperadamente, ele pressionou seus lábios contra os meus com força. Arregalei os olhos e o empurrei, causando o afastamento de nossos lábios com um barulhinho.
- Você está louco? – perguntei afobada, mas controlando minha voz para que minha família não escutasse. – Se alguém nos pega aqui, vai tudo pelo espaço!
riu e passou a mão pelos cabelos. – Você acha que eu faria isso se não soubesse que todos estão na cozinha? Provavelmente já sentados, esperando o jantar.
Bufei.
- Você é impossível! – declarei ainda incrédula com sua ousadia.
- É, eu sei. – deu de ombros. Ele veio até meu lado e sussurrou em meu ouvido, antes de voltar a andar: – E aconselho que não se sente ao meu lado nesse jantar.
Franzi a testa, confusa.
- E por quê?
Ele apenas sorriu sacana e continuou seu caminho, Logo virando o corredor e saindo do meu campo de visão. Semicerrei os olhos e balancei a cabeça, indo em direção à cozinha. Seja o que for que esteja armando, não deve ser coisa boa. Agora eu tenho a plena certeza de que o nosso acordo desceu por ralo abaixo. Eu já devia saber que ele não faz o tipo que cumpre uma promessa. Cheguei à cozinha e sorri para todos. Peguei o meu prato e coloquei um pouco da comida que até o momento eu não sabia o que era.
A hora de me sentar é que foi o problema. Lembrando-me das palavras de , eu procurei um assento o mais longe possível dele. Felizmente, achei uma cadeira ao lado de minha avó e fui até lá, mas minha ação foi interrompida com as seguintes palavras de meu pai:
- Oh, não, querida. Sente-se ao lado de seu pai.
Parei por um momento e analisei o ambiente. Meu pai estava sentado no lugar de sempre, como se fosse o rei em meio aos seus convidados; tia Sarah estava bem ao seu lado direito, dando comida para Adam; minha avó ao lado de tia Sarah; meu avô do outro lado da mesa, de frente ao meu pai; Paul ao lado de meu avô e ao lado de Paul, sobrando assim, a cadeira ao lado do meu pai e de... . Ao encará-lo, vi o mesmo levantar o olhar de seu prato e me encarar, com um sorriso discreto de canto. Engoli em seco e assenti. Em passos lentos, andei ao redor da grande mesa retangular e pus meu prato sobre a mesma.
Sentei-me na cadeira e sorri fraco para meu pai, que apertou minha mão sobre a mesa e assentiu com a cabeça, gostando da minha companhia que ele mesmo solicitara. Assim, começamos a comer. Ao contrário da última refeição juntos, minha família estava bem animada dessa vez. Era noite de feriado de quatro de Julho e todos pareciam bem contentes com a Independência ocorrida há exatos duzentos e trinta e oito anos atrás. Todos vestidos com blusas da bandeira dos Estados Unidos, o que era algo magnífico de se ver.
- Então, , querido... – tia Sarah começou e eu revirei os olhos, já imaginando o que viria. – Ainda estou bem curiosa a seu respeito. Há algo sobre você que gostaria de nos contar?
- Ahn... – pareceu pensativo – Acho que só de quando eu morava com meus pais e minha irmã no Canadá. – seu tom era totalmente de alguém constrangido. Aliás, minha tia era muito boa nisso: constranger as pessoas.
- Oh, você tem uma irmã? – ela sorriu simpática.
- Sim. Ela se chama Jazmyn e tem dezenove anos. – respondeu sorridente.
- Que adorável! – tia sorria de quase suas bochechas rasgarem e eu franzi o cenho com isso. Ela está muito interessada na vida de ... – E você sente muita saudade da sua família?
- Um pouco. – confessou – Mas provavelmente meu pai virá me visitar, nem que seja para ver como andam as coisas na empresa. Ele é muito precavido em relação àquela empresa. E tenho certeza de que se acontecer alguma coisa, ele me mata. – todos riram fraco com sua declaração e admito que até eu me deixei levar um pouco.
- Nos conte mais sobre sua namorada, querido. – lancei um olhar fuzilante para tia Sarah e ela simplesmente me ignorou, com seu sorriso ainda nos lábios e um olhar sugestivo direcionado a .
- É... – coçou a nuca, demonstrando seu incômodo ao falar de seu relacionamento.
- Não precisa responder, . – intervi – Acho que tia Sarah está sendo um pouco intrometida. Será que não vê que ele fica sem graça ao falar disso? Não se meta em sua vida pessoal, tia! – exclamei e senti os olhares de todos sobre mim.
Neguei com a cabeça e voltei meu olhar para o prato, continuando a comer. O silêncio não durou muito tempo, já que Logo todos voltaram a conversar sobre algo que não me interessei. Admito que estava um tanto pensativa quando repentinamente, senti algo tocar em minha perna por debaixo da mesa. Abaixei o meu olhar e arregalei levemente os olhos ao notar que se tratava da mão de . Ele deu uma leve apertada em minha coxa, ainda por cima da calça, quando percebeu que meus olhos estavam vidrados em sua mão.
Levantei meu rosto e encarei meus familiares que conversavam empolgadamente. Até parecia estar entrosado no assunto e ria de algumas coisas que eram ditas, mas nunca largando a minha coxa. Encarei meu pai e ele conversava com meu avô sentado do outro lado da mesa, sempre com um sorriso nos lábios.
- Oh, sim, esse dia foi engraçado! Paul não sabia o que fazer com Adam, coitadinho! – ouvi tia Sarah dizer, rindo em seguida.
Sorri, mas meu sorriso Logo murchou quando senti outro aperto de em minha coxa. Franzi a testa e o olhei, esperando que ele me dissesse o que se passava ali, mas o que consegui de sua parte foi um sorriso e Logo um desvio de olhar de volta para a minha tia que conversava com ele. Peguei a jarra de suco e coloquei um pouco em meu copo, levantando-o até minha boca. Quase cuspi o suco quando subiu sua mão até o cós de minha calça de moletom e lentamente, adentrou a mesma. Engoli em seco e coloquei o copo sobre a mesa, antes que eu o deixasse cair no chão.
- E você, querida? Conte-nos sobre sua vida em Nova York. – tia sorriu para mim, lançando seu olhar meigo em minha direção.
- Ah, minha vida está boa. Segunda-feira eu começarei meu estágio num hospital, e estou muito animada com isso. – sorri empolgada. – Mal posso esperar a hora para colocar em prática tudo que venho aprendendo.
Segurei um suspiro e um arregalar de olhos quando tocou suavemente a minha intimidade coberta pela calcinha, acariciando-a com a ponta de seus dedos quentes. Como tia Sarah e a maioria dos meus parentes ainda me olhava, eu simplesmente sorri.
- Mas isso é muito bom, filha. Vejo que meu conselho de que você fosse estudar em Nova York, deu certo. Está finalmente conseguindo realizar o seu sonho. – meu pai disse orgulhoso, segurando minha mão sobre a mesa.
- É... E-eu... – gaguejei ao sentir os dedos ligeiros de adentrando minha calcinha, tocando diretamente minha intimidade dessa vez. – Só tenho que te agradecer, papai. Isso não seria possível se... – suspirei, sentindo os dedos de acariciando meus grandes lábios. – Se o senhor não tivesse praticamente me obrigado a ir para Nova York. – completei, finalmente, minha frase.
Ouvi alguns risos fracos se espalhando pela cozinha e forcei um sorriso. Os dedos de estavam tirando toda a minha atenção daquela conversa. Eu já nem saberia responder uma pergunta sem suspirar ou reprimir um gemido no meio da frase. Olhei-o de canto de olho, quase implorando para que ele parasse com aquilo. Ele simplesmente me olhou com um sorriso, como se não estivesse fazendo nada demais, continuando a me acariciar por debaixo da mesa. Eu sabia que por dentro, ele estava extremamente orgulhoso de si mesmo por estar mexendo tanto comigo. E com certeza, ele me lançaria um daqueles sorrisos e olhares maliciosos se não estivéssemos no meio de um jantar com a minha família.
Mordi meu lábio inferior discretamente ao sentir seus dedos abrindo espaço para que tocassem diretamente o meu ponto de prazer. Estremeci e minhas pernas bambearam quando ele começou a fazer movimentos circulares com o indicador. Reprimi uma revirada de olhos e um gemido baixo por conta de suas carícias intensas.
- E você já tem algum pretendente, querida? – vovó perguntou – Imagino que um broto tão bonito como você já deve ter algum paquerador.
- Vovó! – ri de seu comentário.
- Broto... Essa palavra nem é mais usada hoje em dia. – disse Paul, fazendo uma careta, enquanto mexia sua comida com o garfo.
- Mas no meu tempo era muito usada. – disse vovó com sua voz um pouco rouca – Assim como cocota e tesouro. Cada um com suas gírias.
Rimos do que ela havia falado, mas Logo me acalmei para respondê-la. – Na verdade, vovó... – fui interrompida com uma pressionada mais intensa do dedão de em meu clitóris. Mordi meu lábio inferior e pigarreei, tentando retomar o foco de minha frase. – Eu tenho sim um pretendente. Ele estuda na NYU também e se chama .
- Qual curso? – perguntou tia Sarah, visivelmente interessada. Mas é claro, quando se tratava de minha vida amorosa, tia ficava totalmente em alerta.
- Direito. – sorri. – Ele está no terceiro ano de Direito.
- Hmm... Um futuro advogado... – ela sorriu maliciosa acompanhando seu tom e eu rolei os olhos, segurando um riso.
Felizmente, o foco da conversa mudou e já não era mais a minha pessoa. Todos, agora, falavam da paixão de Paul: Madison. Inclinei-me sobre a mesa e me apoiei em meus cotovelos, escondendo meu rosto em minhas mãos. Tentei controlar minha respiração que já ficava um tanto acelerada conforme o dedo de pressionava ainda mais meu clitóris, oras em movimentos circulares, oras na vertical. Lancei-lhe um olhar discreto com minhas mãos em minha testa. apenas me olhou de volta e eu sibilei um “Por favor” com os lábios, mas ele apenas sorriu maroto e negou lentamente com a cabeça.
Eu começava a suar frio e já não conseguia manter o controle sobre meu próprio corpo. Até fechei as pernas, espremendo a mão de no meio delas, tentando fazê-lo parar, o que não deu certo. Ele deu um pequeno beliscão no interior de minha coxa, reprovando-me por meu ato, e Logo voltou a me acariciar. Minha respiração começou a ofegar e meu peito subia e descia de forma desesperada, acompanhando meus batimentos cardíacos. Eu estava com medo. Medo de alguém me ver naquela situação, de perceberem alguma coisa.
- Querida, você está bem? – perguntou meu pai. Ele segurou minha mão e me olhou com preocupação. – Está um pouco pálida.
- Está tudo bem, pai. – afirmei, tentando manter minha voz normal. – Está tudo bem. – repeti como uma forma de assegurar a mim mesma de que tudo não passava de algo psicológico.
Não é tão psicológico quando tem alguém te tocando por debaixo da mesa, mas como a excitação começa na mente, eu tentava afastar qualquer pensamento sujo de minha cabeça. Eu, falhamente, estava tentando lutar contra mim mesma e os meus impulsos primitivos. Eu juro que tentava com todas as forças, ignorar os dedos de em minha intimidade, acariciando-me com carinho, mas precisão.
- Tem certeza? – meu pai voltou a perguntar. – Está suando frio. – ele levou sua mão até minha testa.
- Não se preocupe, pai. Estou ótima. – forcei um sorriso. Por impulso, acabei apertando sua mão com mais força quando acelerou os movimentos.
Lancei-lhe um olhar bravo, mas ele não me olhava. Parecia estar entretido com minha tia, sempre sorrindo do que ela dizia. Mas eu sabia muito bem com o que ele estava realmente se divertindo.
- Okay, mas qualquer coisa, me fale. Podemos chamar um médico ou te levar ao hospital se quiser. – meu pai disse sério, ainda me analisando lentamente com o olhar, parecendo procurar por algo em meu rosto.
- Okay, pai. – sorri fraco.
Soltei sua mão e a levei para debaixo da mesa. Segurei firmemente a mão de , obrigando-o a parar de me alisar. Eu já estava no meu limite, mais um pouco e eu teria um orgasmo ali na frente de todo mundo, o que seria uma tremenda vergonha. Com certa raiva, tirei sua mão de dentro de minha calcinha. sorriu de canto e me olhou de canto de olho. Fiquei boquiaberta ao vê-lo lambendo os dedos que me acariciavam há segundos atrás. Sua expressão era de satisfação, assim como quando você termina de comer um salgadinho e lambe os dedos para sentir aquele gostinho bom que fica nas pontas.
passou a língua preguiçosamente por seu lábio superior e me lançou um olhar malicioso, de forma discreta, Logo voltando sua atenção para a minha tia que não parava de falar.
A malícia de parecia nunca ter limites, e eu não sei por quanto tempo eu aguentaria isso.
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