Última atualização: 30/07/2021

Único

não sabia de quem tinha sido a ideia idiota de sair de casa em uma terça-feira. Ela tinha aula na manhã seguinte, assim como todos os seus amigos. Mas eles não pareciam se importar e, se ela usasse esse argumento, tinha certeza que Carla iria reclamar.
— É meu aniversário ! Você não vai mesmo deixar de ir né?
bufou ao escutar o comentário da amiga. Era sempre assim. Todo mundo queria ir para as festas, happy hours e qualquer lugar que tivesse bebidas e que se virasse para deixar os trabalhos da faculdade em dia.
Era uma fria noite de junho. Ela amava o frio e talvez agradecesse por morar em São Paulo.
A boate escolhida ficava na esquina de alguma rua paralela com a Av. Paulista, única rua que sabia o nome desde que tinha se mudado para a capital paulista três anos antes. Ela preferia guardar os lugares do que nomes de ruas.
Sua jaqueta jeans era pouco para o frio. O vento balançava a sua saia enquanto ela esperava na fila. É claro que todos os seus amigos já tinham entrado.
Foi então que ela o viu. A poucos metros à sua frente e entrando pela área vip estava Bruninho. O famoso jogador de vôlei, um dos campeões olímpicos de 2016.
Ele parecia entrar correndo, com medo de ser reconhecido. Não que isso fosse um problema já que a maioria das pessoas ali estavam mais preocupados em mexer em seu celular.
odiava celulares. É claro que tinha o dela, infelizmente era uma coisa necessária no dia a dia, mas em um momento como aquele, ela preferia observar a rua. Talvez esse fosse o seu problema, ela observava demais.
Ela viu o jogador entrar e tinha certeza que não o veria de novo. O lugar era grande o suficiente para se perder.

Bruno estava acostumado a ir àquela balada, principalmente depois que terminara o seu namoro de cinco anos. Às vezes ele sentia como se não soubesse mais como era começar algo com alguém.
A boate estava quente se comparado com a temperatura do lado de fora. Geralmente ele não sairia no meio da semana, muito menos iria sozinho. Mas naquela terça-feira completava exatamente três meses que Luiza o havia deixado. Se ele ficasse em casa, com certeza faria algo que se arrependeria depois.
Andou lentamente até o bar para pegar uma cerveja. Parou em alguns pontos para receber cumprimentos de pessoas que ele nunca havia visto na vida. Sorria e era educado com todos. Já se acostumara em ser reconhecido onde quer que fosse, eram as desvantagens de ter o trabalho que tinha. Mas desde pequeno era seu sonho, e, se para realizá-lo era necessário abrir mão de um pouco da sua privacidade, que assim seja.
Pelo menos teve um pouco de paz ao chegar no bar.
A cerveja gelada descia por sua garganta o acalmando e levando as memórias embora.
Ainda se lembrava do sorriso dela, de como ela sempre estava na primeira fileira da torcida, em como seu nome saia de seus lábios.
Bruno respirou fundo. Não poderia deixar Luiza estragar aquela noite.

encontrou com seus amigos perto do bar. Cada um já estava com uma bebida colorida e ela se sentiu como uma intrusa. De todas as pessoas que estavam ali, ela conhecia apenas Carla.
— Gente, essa é a .
— Olá.
As pessoas a cumprimentaram de longe. Era por isso que ela odiava esses convívios sociais, ser obrigada a parecer animada no meio de um tanto de gente que ela não tinha intimidade e não se sentia confortável.
— Vou pegar uma bebida. — Sinalizou para Carla que estava indo ao bar. Sua ideia era sair de fininho sem que eles notassem, mas uma cerveja não lhe faria mal.
...


Ao fundo começou a tocar uma “Hey Soul Sister” do Train. Para aquela não era uma música de boate. Muito menos uma música que deveria ser ouvida. Já estava batida, tinha memória demais de quando ainda prestava vestibular e tinha zero ideia do que queria fazer. A letra a lembrava de seus amigos que há anos não conversavam mais com ela porque ela tinha escolhido mudar para outro estado. Porém, aquela leve melodia familiar a deixou animada o suficiente para abraçar a jaqueta jeans e ir até o bar. Se ela não poderia lutar contra, pelo menos ia tentar se divertir sozinha.
— Uma cerveja, por favor.
Bruno escutou aquela voz. Por algum motivo, ela lhe chamava atenção. Assim como a dona dela. A garota de cabelos cor de mel, um vestido amarelo e uma jaqueta jeans. Ela era bonita, e, como ele, parecia estar incomodada de estar ali.
sentou no banco que dava para o balcão sem nem olhar para o lado, e exatamente por isso se assustou quando uma voz conhecida lhe chamou.
— Noite complicada, ein?
Bruno puxara assunto com . Uma coisa idiota e clássica de bar. Normalmente a garota teria tido um pequeno ataque de fã, mas naquele momento, nem a presença do jogador medalhista de ouro lhe chamava a atenção.
— Complicada — deu de ombros, concordando enquanto brincava com a garrafa a sua frente.
— Namorado?
— Não, não. Aniversário de colega de sala. — deu aquele clássico sorriso amarelo de quem sabia que estava fazendo tempestade em copo d’água. — E você? Namorada?
— Ex. Terminamos a alguns meses e talvez essa seja a primeira vez que eu esteja saindo de casa.
— Porque eu não acredito nisso?
— Visão estereotipada?
riu e Bruno a acompanhou.
— Fala sério, Bruno. Se você está solteiro é por opção.
— Ei, já estamos em desvantagem aqui e você vem me dando esses tiros?
— Desvantagem? — franziu a testa sem conseguir acompanhar o que ele dizia.
— Você provavelmente sabe metade da minha vida e eu não sei nem o seu nome.
.
Ela finalmente sorriu naquela noite, relaxando perto de um rosto conhecido, mesmo que fosse apenas pela TV.

Bruno e conversaram sobre a música que estava tocando na boate, discordando sobre a qualidade da mesma. Falaram sobre esporte quando Bruno descobriu que era muito mais entendida do que ela falava.
Mas depois de quase uma hora de assunto, Carla começou a ligar para . A garota havia esquecido completamente de ter dito que ia apenas pegar uma bebida no bar e seus amigos com certeza já deveriam achar que ela havia ido embora.
— Preciso achar meus amigos.
Bruno segurou seu pulso de leve quando ela fez menção a levantar.
— Você vai voltar?
— Talvez.
— Me passa seu número? — Ele nunca pedia o número de uma garota tão rápido e nunca passava seu número para qualquer um. Mas, por algum motivo, ela sentiu que aquele não deveria ser um adeus.
Eles trocaram números depois de prometer que não iria espalhar o telefone dele para todo o Brasil. A garota riu quando ele falou disso, mas o compreendeu. Não deveria ser fácil fazer amizade com não famosos quando seu nome era de reconhecimento internacional.

, onde você estava?
— Encontrei um rapaz no bar e estávamos conversando. O que eu perdi?
— Acho que está mais para o que EU perdi né? Que rapaz? Qual o nome dele? Conta.
Foi só então que percebeu que os amigos de Carla não estavam mais ali. Haviam ido embora ou talvez estivessem com seus pares em outros lugares da boate.
— Ele se chama Bruno e não tem nada demais. Estávamos apenas conversando.
— Você pegou o número dele, né? — Carla arregalou os olhos sabendo que a amiga raramente falava de garotos. era focada no que precisava fazer e garotos nunca foram uma prioridade.
— Talvez... — nem sequer tentou disfarçar um sorriso. Carla apenas olhou para ela sem dizer uma palavra. Que quer que fosse esse tal de Bruno, deveria ser alguém diferente.
Mas não contaria que o Bruno em questão era o mesmo Bruninho levantador da seleção brasileira. Certos assuntos eram melhores quando não eram compartilhados, e era a mestre em esconder detalhes.

Bruno esperou que voltasse por mais meia hora, porém, no fundo, ele sabia que ela não voltaria. Não que ela não quisesse, afinal, a garota parecia tão interessada na conversa quanto ele, mas porque era aniversário da amiga dela. Seria estranho se ela os abandonasse para conversar com um cara que conhecera no bar.
Ele voltou a dar atenção a cerveja gelada na sua frente. Deveria ser a terceira ou a quarta, porém não estava contando.
Foi quando ele viu seus olhos sendo tampados com duas mãos. Pensou que fosse a voltando, mas por sorte não falara nada. A garota parecia tímida o suficiente para não fazer algo assim.
— Adivinha quem é?
Bruno não precisava de muito para identificar aquela voz. Aquela voz que havia desgraçado seu coração, que o fizera ir do céu ao inferno sem pensar duas vezes.
— Luiza.
— Oi amor, você ainda me reconhece!
— O que você está fazendo aqui? E porque está me chamando de amor? Você deixou bem claro da última vez que nos vimos que não queria mais nada comigo.
— Para de ser tão careta, Bruno.
A morena vestia uma saia que mostrava mais do que o indicado. Na época ele achava sexy, namorava uma mulher que tinha presença, que se vestia de forma provocante. Mas hoje ele apenas a achava irritante. Era linda, claro, mas não era mais o tipo de mulher que ele procurava.
Bruno levantou com a sua cerveja, na tentativa de se afastar da mulher. No entanto, ela veio atrás.
— Bruno, espera aí. Vamos conversar.
— Não temos mais nada para conversar, Luiza. Três meses atrás você me deixou esperando no aeroporto. Não apareceu e apenas mandou uma mensagem dizendo que não me amava mais. O que você espera que eu faça?
— Eu estou pedindo para conversar, não para voltar.
— Eu não tenho nada para conversar com você.
Ele saiu andando, finalmente se livrando da ex-namorada.
Por um tempo Bruno se culpou pelo término. Achou que tinha feito algo errado, mas percebeu que eles apenas eram diferentes demais para darem certo.
Andou até um canto da boate. Pensou até mesmo em ir embora, mas talvez procurar por fosse uma opção melhor.
Pegou o celular e depois de pensar mil vezes, arriscou mandar uma mensagem para ela.
“Onde você está?”

A garota sentiu seu celular vibrar em sua mão e sorriu ao ver de quem era a mensagem.
“Estou em um sofá do lado oposto do bar. Mas já devo ir embora. Não nasci para esses lugares. =(“
“Vou te procurar.”
— Com quem você está conversando? — Carla se esticou tentando olhar o celular de .
Ela estava no colo de um rapaz que acabara de conhecer e, na desculpa de não deixar sozinha, estava se revezando entre beijar o garoto e conversar com . A garota não pensou duas vezes em usar aquela mensagem como sua deixa.
— Ninguém importante. Vou dar uma volta Ca, talvez vá embora.
— Mas está cedo!
— Não quero ser empata foda. — Ela piscou para a amiga falando de forma que o rapaz não escutasse.
começou a andar à procura de Bruno. Sabia que ele também estaria procurando por ela.
Foi quando ela viu um ruivo beijando uma garota. mordeu o lábio reconhecendo a me. Sem dúvidas era a ex namorada de Bruno. Ela lembrava da garota nas fotos dos jogos olímpicos.
Ele havia se decidido então.
deu meia volta rumo a porta de saída. Que idiota era ela por ter pensado que um campeão olímpico poderia se interessar por ela.
Foi quando ela sentiu alguém a cutucando.

— Mas…
— O que foi? — Bruno franziu a testa sem entender o que ela falava.
— Achei que você estava ali.
Foi quando ele notou que Luiza beijava um ruivo. Era claro que ela estava fazendo os mesmos joguinhos de sempre.
— Você quer sair daqui? — Ele finalmente falou as quatro palavras que mais queria ouvir.
— Para ontem!
Bruno pegou na mão da garota, e juntos, deixaram para trás a boate abafada que apenas os deixaram irritados.
Boates eram assim. Lugares de encontros e desencontros. Alguns dias as pessoas iam apenas pela bebida, dançando sozinhas ao som daquelas músicas que nem gostavam de verdade, apenas para fingir que eram sociáveis.
Mas se você desse sorte, se você tivesse muita sorte, você poderia encontrar com uma pessoa que lhe entendesse e que tudo que queria ouvir era “Você quer sair daqui?”.




Fim?



Nota da autora: Depois de ver tanta gente pedindo fic com os jogadores de vôlei resolvi resgatar essa que escrevi em 2016. É uma das minhas histórias favoritas que já escrevi com um dos crushs esportivos mais antigos rs. Espero que vocês tenham gostado!





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