Finalizada em: 18/07/2016

[Capítulo Único]

Eu estava na festa de aniversário do meu noivo, quando o meu celular tocou, repentinamente, me trazendo a pior notícia que eu poderia receber naquele momento.
— Alô?
, aconteceu algo gravíssimo. — Luna disse, nervosa, sua voz estava trêmula.
— O que houve? — Perguntei preocupada.
Então, o navio de cruzeiro no qual a sua irmã estava… Naufragou.
— O quê? Não… Isso não pode ser verdade! — Comecei a entrar em um estado de desespero sem igual — Mas, a está bem, não é mesmo? — O silêncio no outro lado da linha me incomodou profundamente — Pelo amor do Divino, Luna, me diga, como a minha irmã está?
, eu sinto muito, mas…
— Mas o que, Luna? — Eu já pensava no pior.
O corpo da desapareceu no mar.
Ouvir aquelas palavras foi o suficiente para tudo ao meu redor começar a girar e minha visão escurecer, de repente.
Acordei com ao meu lado, segurando um copo cheio d’água.
— O que houve? Eu estava conversando pelo celular com a Luna e ela disse que... — Encarei o meu noivo, que tentava manter a tranquilidade em sua face. Tentativa falha! — Isso é mentira, não é mesmo?!
— Eu gostaria de dizer que sim, mas não posso fazer isso com você, amor. — respondeu de forma hesitante e eu não pude e nem quis conter as lágrimas que já escorriam sobre o meu rosto.
Era como se um buraco tivesse se formado em meu coração e a dor causada por ele era intensa, a ponto de achar que eu não suportaria. Porém, eu precisava ser forte e encarar a realidade, eu tenho uma sobrinha para cuidar e ela é tudo que me resta da minha família.
— Amor, você pode me levar até a casa da Luna? — Perguntei e ele assentiu — Me desculpe por estragar a sua festa de aniversário.
— Não me peça desculpas por isso, amor, nunca mais. — Ele acariciou o meu rosto — Eu que peço desculpas por não poder fazer passar a dor que você está sentindo nesse momento.
— Você estando ao meu lado já ameniza um pouco — o abracei forte.
Todos os convidados já haviam deixado a casa e, eu, mentalmente, agradeci por isso. Não queria ficar ouvindo a frase mais falsa que se pode escutar quando perdemos alguém: "eu sinto muito". Sente muito? Não, não sente. Eu perdi uma irmã, mais que qualquer um, sou eu que sinto. Aliás, a minha sobrinha perdeu a mãe, ninguém sente mais que nós duas.
Que droga! Se for para colocar na ponta do lápis, não dá para medir a dor de um e de outro; dor é dor e ponto.
me acompanhou até o banco do carona e abriu a porta para mim, logo entrando no carro e dirigindo em alta velocidade, talvez pela adrenalina correndo em seu sangue. A notícia havia pegado todos de surpresa; era muito querida, por onde passava colecionava amigos… A verdade é que a morte trágica da minha irmã mexeu com todos.
Durante todo o trajeto, eu chorava bastante, mas tentava emitir o mínimo de som, não queria incomodar com o meu chororô.
— Amor, não precisa se privar de chorar por minha causa, eu entendo a sua situação. Você acabou de perder a sua irmã, eu sei o quanto vocês eram próximas. Sei também o quão difícil está sendo para você aceitar a o que aconteceu, é tudo muito recente. — Eu o olhei, tentei secar algumas lágrimas. — Você soube da tragédia há pouquíssimo tempo, amor, e se o choro é a sua forma de desabafar, então chore.
— Eu não quero ficar chorando o tempo inteiro, — eu sussurrei mais para mim mesma que para ele — Você sabe como foi difícil passar por aqueles momentos de profunda tristeza há um ano, eu nem mesmo sei se consegui a "cura". Tenho medo que aquela doença me atormente, novamente.
— Amor, calma, você já está livre e…
— Você não sabe, ! — Eu disse, alterada, e ele me olhou rápido, deixando a testa franzida. — Desculpa. É que, às vezes, eu ainda tomo alguns remédios para dormir, e outros para não ter recaídas.
— Por que não me contou sobre as recaídas?
— Não são recaídas, é só o meu medo de ter. — Suspirei alto, passando as mãos pelo cabelo, desviando o olhar para a janela. — Eu tinha vergonha de te contar. Eu ainda tenho...
, você não precisa ter vergonha de mim. Puxa vida, nós iremos nos casar, não precisamos esconder nada um do outro.
— Tem razão, amor. — Eu confessei, ainda sem o encarar e ele em pegou minha mão delicadamente, a beijando logo após. — Me desculpe.
— Só se você parar de se desculpar.
estacionou o carro e se aproximou mais de mim, acariciando o meu rosto e eu o olhei, forçando um sorriso, que ele sabia bem ser carregado de tristeza. Ele me abraçou tão forte que eu poderia ficar envolvida para sempre em seus braços, apenas aconchegada ao meu amor. Mas, a realidade era dura, e apesar disso, eu precisava encará-la.
saiu primeiro e abriu a porta do carro para mim, como o cavalheiro que sempre foi. Apertei por algumas vezes seguidas a campainha da casa de Luna, aquele "ring ding dong", quase que sem pausa, estava levemente irritando-me, talvez pela minha impaciência. Ela me atendeu com em seu colo.
A pequena me olhou com certa curiosidade e eu reparei em seus olhinhos vermelhos.
— Titia! — Ela disse, animada, e se agarrou em meu pescoço com euforia.
— Oi, meu amor — a abracei tão forte que, por um momento, parecia existir apenas ela e eu ali. — Vai ficar tudo bem, a titia vai cuidar de você, tá bom?! — A apertei com ainda mais força.
— Por favor, entrem — Luna nos deu passagem e eu me sentei no sofá com minha sobrinha no colo.
— Você tá chorando, titia? — perguntou ao notar os meus olhos provavelmente vermelhos de tanto chorar pela perda de sua mãe.
— Não, meu amor, a titia só está com os olhos ardendo, mas já vai passar. — Tentei enganá-la, mas, esperta do jeito que é, não duvido que não tenha acreditado.
— A mamãe tá ocupada? Ela não atendeu o celular quando a titia Luna ligou. — Olhei para a mesma, meio incrédula, ela parecia nervosa.
insistiu para que eu ligasse para a . — Luna se justificou e eu respirei fundo, jogando a cabeça para trás.
— Titia, liga para a mamãe, estou com saudades! — pediu, chorosa e eu precisei me conter por ela.
— Então, meu amor, a titia precisa conversar com você — olhei para e Luna, e os mesmo entenderam o que eu queria, já que se afastaram, deixando-me sós com . — Lembra que nesse fim de semana a mamãe foi trabalhar?
— Sim, a mamãe trabalha dentro de um barco bem grandão. Ela até disse que vai me levar para andar nele, um dia. — respondeu, com os olhinhos brilhando e eu senti um aperto ainda maior no coração.
— Isso mesmo. E sabe este barco grandão que a trabalhava? — Ela assentiu, despreocupada — E-e… Ele foi engolido por um tubarão gigante. — Eu disse a primeira coisa que me veio em mente, me arrependendo logo após. Droga!
— Minha mamãe tá na barriga do tubarão?
— Sim — ela me olhou de olhos arregalados. — Não! Ela está…
— Luna retornou à sala, se aproximando — Sua mamãe tentou escapar do barco grandão, porque ele estava afundando, mas não conseguiu.
— E o tubarão?
— Não teve tubarão, meu amor, a titia se enganou. — Eu disse, tentando desfazer a besteira que falei.
— E, onde a mamãe tá?
— Ainda não a encontraram, princesa — Luna disse, segurando as mãozinhas de e eu mordia meu lábio para não gritar em um choro desesperado.
— Por que ela não nadou? — perguntou, com os olhos marejados — A mamãe sabe nadar.
— Ela até tentou, mas…
— Chega, Luna! — Me levantei, apertando contra o meu corpo — Ela é só uma criança, não dê detalhes agora.
— Prefere que eu diga que foi engolida, dentro do cruzeiro, por um tubarão? — Luna perguntou, num tom debochado.
— Só não quero que ela saiba agora, entendeu?
— Diga logo a que está morta, . — Ela disse, simples, e eu arregalei os olhos, incrédula pelo que acabara de ouvir.
Coloquei sentada no sofá e avancei em cima de Luna, dando-lhe uma tapa bem dada no rosto e, por uma crise nervosa, tentando asfixiá-la. Senti braços fortes me puxando para trás, sabia que eram os do , enquanto eu via a mulher se levantar, tentando se recompor.
— Meu amor, tente se acalmar! — Ele disse, me afastando de Luna.
— Esta mulherzinha teve a coragem de dizer, na frente da própria sobrinha, sem nem mesmo se preocupar com os sentimentos da menina, que... — arregalou os olhos e fez sinal para que eu lembrasse que estava ali, assistindo e ouvindo tudo. E eu me atentei que iria cometer o mesmo erro de Luna. — Eu cansei! Você pode me levar para casa?
— Eu posso dizer tudo, novamente, se você quiser! — Luna disse, me fazendo encará-la, erguendo uma das minhas sobrancelhas e a mesma deu um passo para trás. — As coisas de estão lá em cima, você pode vir buscar amanhã, ?
— É claro que não, levaremos tudo hoje! É só você fazer a gentileza de ir buscar. — Eu disse, quase como uma ordem e ela nem pensou duas vezes, foi imediatamente pegar os pertences da sobrinha.
, se acalme, por favor. — pediu, ainda me segurando.
— Está muito difícil de manter a calma nesse momento, ! — O olhei com tristeza, tentando segurar o choro.
— Eu sei, meu amor — ele selou os nossos lábios — Mas, lembre-se que agora precisa de você.
— Tem razão. — Olhei para a minha sobrinha, que estava encolhida no sofá, me olhando com expressão de curiosidade e confusão — Vem cá, meu amor — a peguei no colo — Nós vamos para a casa da titia agora, tudo bem?
— Eu queria ficar com a titia Luna. — Ela disse de forma tão inocente, mas fazendo o meu coração se arder em ciúmes. Olhei para o , como se pedisse ajuda.
— Princesa, titia Luna não vai saber cuidar de você tão bem quanto a titia . Mas, você poderá visitá-la nos fins de semana, ok? — Ele disse, a convencendo.
— Está tudo aqui, podem pegar. — Luna retornou à sala com as mãos cheias dos pertences de nossa sobrinha e logo se afastou. Eu peguei a mochilinha e as bolsas mais pesadas. — , não vai me dar um abraço antes de ir? — A coloquei no chão e a mesma correu até Luna, que a abraçou com certa força — Eu te amo, minha princesa.
— Também te amo, titia. — respondeu, beijando a bochecha da mulher, e logo vindo em minha direção.
— Vai me deixar ficar com ela nos fins de semana? — Luna me perguntou, usando um tom de voz mais baixo que o de costume.
— Sim, por mais que eu odeie esse fato, também é a sua sobrinha e você tem todo o direito de vê-la. — Ela assentiu, sem me encarar e nós saímos da casa.
colocou as coisas de no porta-malas e eu sentei-me com ela no banco traseiro. Pelo olhar do meu noivo, percebi que ele não gostou muito da minha atitude, mas eu, sinceramente, não me importei.
Seguimos o nosso caminho sem conversar, o silêncio incômodo reinou entre nós.
estacionou o carro, em frente a minha casa, e respirou fundo, talvez pensando em como quebrar o silêncio.
— Tem certeza que não quer entrar? — Perguntei a ele, com dormindo em meu colo.
— Você não quer descansar?
— No momento, eu quero só a sua companhia. — Ele deu um sorriso contido e saiu do carro.
Depois de aguardarmos um tempo significante para eu achar a chave da casa, caminhou rápido pelo corredor, logo abrindo a porta da minha casa e levando para o meu quarto as coisas de , enquanto eu a deitava sobre a minha cama.
Fui ao banheiro para lavar o rosto, precisava pensar com calma no que eu iria fazer daqui para frente. Saí do quarto, deixando a porta encostada, e seguindo para a sala, encontrei sentado no sofá. Joguei-me ao seu lado e ele me apertou num abraço.
— Quer comer algo? Eu peço uma...
— Estou sem fome — respondi, preguiçosa. — Eu não sei como vai ser agora.
pode estudar na sua escola, agora que mora contigo. Você poderá levar e trazer ela todos os dias, sem problemas.
— Mas, ela não vai estudar em horário integral.
— Põe ela para praticar algum esporte ou fazer balé. — Ele deu de ombros.
— Tem uma companhia de dança aqui perto, vou visitar o lugar e levá-la para ver se gosta — assentiu e me encarou. — O que houve?
— Só estou pensando... — Ele forçou um sorriso e se ajeitou, me puxando para mais perto dele.
Acomodei-me em seus braços e acabei pegando no sono. Acordei com o grito de e seu choro alto. Dei um salto do sofá, acordando , bruscamente, e corri para o meu quarto, quase arrombando a porta e encontrando sentada.
— O que houve, meu amor? — A abracei forte, mas ela mal conseguia falar. — Calma, a titia está aqui. Vai ficar tudo bem.
apareceu no quarto e aproximou-se, sentando na cama.
— O que aconteceu? — Perguntou preocupado.
— Eu não sei, ela não para de chorar — Respondi, o olhando, desesperada e ele se levantou, acendeu a luz central e foi se acalmando.
— Titia, eu quero a mamãe! — Ela pediu, chorosa.
— Oh, meu amor! — A olhei, com os olhos transbordando. — A mamãe não pode mais vir aqui.
— Por que?
— Como vou dizer isso a ela? — Perguntei ao meu noivo, o mesmo se aproximou de .
— Agora a sua mamãe é uma florzinha no jardim da titia — Arregalei os olhos, encarando . — Você poderá vê-la quando quiser, só não poderá arrancá-la de lá!
— Mas eu queria a mamãe aqui perto de mim. — Ela disse, fazendo biquinho.
— Ela estará sempre pertinho de você, meu amor. — Eu disse.
— A mamãe não está aqui agora.
— Mas a titia , sim. — disse, segurando o rostinho de .
— Mas eu quero a mamãe! — Ela tornou a chorar e eu a peguei no colo, tentando fazê-la dormir. saiu do quarto.
Alguns minutos depois, deitei em minha cama, novamente, ela estava mesmo precisando dormir mais. Fui atrás de .
— Você está estranho — eu disse, assim que o vi.
— Eu não sei lidar com crianças, só isso.
— Você está se saindo bem com . — Eu tentei transparecer firmeza. — E ela só precisa de um tempo para começar aceitar a perda da mãe, mas é difícil.
— Ela nos assustou acordando daquele jeito! — Ele disse, erguendo as sobrancelhas e eu descansei as mãos na cintura.
— E, qual é o problema, ? A menina acabou de perder a mãe, ela não está sabendo lidar com isso. Deve ter tido algum pesadelo. — Eu defendi a minha sobrinha, indignada.
— E se for assim em todas as noites, ? Como eu vou aguentar isso quando nos casarmos?
— Você está sendo insensível! — Eu respondi, chateada e ele abaixou a cabeça.
— Me desculpa. — Ele pediu, cabisbaixo.
— Eu até te desculpo — pensei um pouco — Só espero não tomar a decisão errada. — Eu sussurrei para mim mesma.
— Sobre o que está falando?
— Só estou cansada.
— Imagino, hoje o seu dia foi cheio.
— Sim, preciso descansar um pouco.
— Você quer que eu…
— Preciso ficar durante esse tempo com a .
— Tudo bem, já vou indo.
— Boa noite, . — Foi o suficiente para ele entender e ir para a sua casa.
Joguei-me no sofá e chorei, muito mais que antes. Chorei pela minha irmã, chorei pela minha sobrinha, chorei por não saber o que fazer, chorei por medo do futuro, chorei por tudo.
No dia seguinte, fui acordada por , ela parecia confusa por me ver ainda no sofá.
— Oi, meu amor. Bom dia! — Eu disse, sentando-me e ela continuou me olhando. — Está com fome?
— Um pouco. — Respondeu com voz meio rouquinha.
— Vou te preparar algo.
Fiz um sanduíche natural para ela e a entreguei junto um copo de suco, esperei que ela terminasse de tomar o café da manhã para lhe dar um banho.
Fui até a casa da minha irmã para buscar todos os pertences de , eu sempre carreguei a chave da casa dela, em caso de emergência, e ela sempre fez o mesmo com a minha. Nós tínhamos uma amizade muito linda, sempre foi a minha parceira. Como era a mais velha, sempre tentou me proteger de tudo e todos. Quando brincávamos, ela costumava dizer que eu era o bebezinho e ela a mamãe, mas, acho que acabou crescendo pensando o mesmo.
Quando eu nasci, a nossa mãe faleceu, sempre me ajudou a não carregar a culpa da morte dela, pois eu sempre me culpei, mas a minha irmã sempre tentou me proteger, até mesmo dos meus próprios sentimentos. Eu sempre tive o psicológico mais frágil, principalmente depois da morte pré-anunciada do nosso pai, quando descobrimos o seu câncer no pâncreas, já era tarde demais.
também foi muito forte quando o pai de foi assassinado; quando aconteceu eles ainda viviam juntos, tentavam ser felizes do jeito conturbado deles. Era difícil ver a minha irmã e a minha sobrinha ainda bebê passando por tantas coisas. O problema nunca foi financeiro, já que o meu cunhado sempre chegava à casa deles com notas e mais notas de dinheiro, mas, o que aconteceu por causa do dinheiro; foi a grande merda da vez. Nunca vi minha irmã tão arrasada com algo, nem mesmo quando perdemos nosso pai, ela achava que não daria conta de criar , sozinha. Mas, o medo de ser mãe solteira só a deixou mais forte, criou a filha tão bem, que eu nem sei quem mais poderia o fazer melhor. Devia ter recebido o título de "mãe do ano" em todos eles, consecutivamente.
Até ano passado, eu tive o mal do século, e me ajudou muito durante esse tempo, assim como . Eu só tinha ele, minha irmã e .
Eu e sempre passamos por muitas coisas, mas em todas elas, estávamos juntas, agora que eu a perdi, me sinto sem rumo, sem chão. É como se metade de mim tivesse ido junto com ela.
Depois de todas as lembranças que ir à casa de mim me trouxe, eu tinha que sair de lá. Então, fui direto para a escola, precisava resolver todas as questões sobre a vaga de . Sou a dona do Colégio Brilho Flamejante, mas quero e faço questão que a minha sobrinha seja devidamente matriculada.
No fim do dia, assistia TV e eu a observava, quando a campainha tocou e eu fui atender.
— Me desculpe pelas coisas que eu disse ontem — pediu, com um buquê de flores nas mãos. — Eu acho que…
— Tudo bem, você estava cansado e eu também. Apenas esqueça isso. — Eu disse, o fazendo arregalar os olhos. — Entre.
adentrou a minha casa e o olhou torto, ele sorriu, sem graça, e aproximou-se dela.
— Oi, princesinha — ela ficou o encarando. — Eu trouxe isto para você. — estendeu a mão, entregando a um ursinho de pelúcia branco e rosa. Ela sorriu, largamente e o abraçou.
— Você é maravilhoso! — Eu disse, abobalhada, o beijando. — Gostou do presente, meu amor?
— Amei! — respondeu, empolgada, e nós rimos.
— E como é que se fala?
— Obrigada, tio . — Ela agradeceu, o abraçando, novamente.
ficou a noite toda em minha casa e acabamos dormindo no chão da sala, com em nosso meio.

◆◆◆

Passados quatro anos e meio da morte de , casei-me com . Não fizemos festa, apenas assinamos os papéis no cartório e preparamos um jantar em comemoração, mais pelos pais dele que por nós mesmos. Nossa honeymoon foi na Tailândia, por escolha conjunta. Minha sobrinha ficou com a Luna durante esse tempo, o que nos rendeu bastante aproveitamento do nosso momento. Aquele definitivamente era o nosso momento.
Eu e fomos morar na casa do , que era enorme e muito luxuosa também. já havia se adaptado a minha escola e ia entendendo a morte de sua mãe aos poucos, também estava amando as suas aulas de balé. se ocupava a cada dia mais cuidando de sua empresa e mal tinha tempo para nós dois. Chegava à nossa casa tão tarde, que apenas deitava ao meu lado e dormia. E eu, continuava trabalhando como diretora e professora no colégio, além de ser uma dona de casa e uma tia, que se considera mais mãe.
Nossas vidas mudaram bastante, mas os pesadelos que tinha com sua mãe a atormentava cada vez mais.
, está tudo bem? — Eu invadi o seu quarto, encontrando-a encolhida na parede, chorando forte.
— Desculpa por te acordar, tia, foi só mais um pesadelo. — Ela disse, enxugando as próprias lágrimas.
— Meu amor, você não precisa se desculpar — acariciei o seu rosto — Quer que eu fique aqui até você dormir?
— Sim, por favor. — Ela assentiu, freneticamente.
— Tudo bem.
A levei para a cama, novamente e ajeitei-me ao seu lado, fiquei acariciando o seu cabelo até a mesma adormecer. Levantei-me devagar para não acordá-la e fui para o meu quarto, no minuto em que abri a porta, me deparei com "jogado" na cama.
— Onde estava? — Perguntou, meio curioso.
— No quarto de , ela teve outro pesadelo.
— Ela está sendo o meu pesadelo!
— O quê, ? — Arqueei uma sobrancelha e ele me olhou, engolindo o seco.
— Desculpa, eu não devia ter dito isso.
— Mas, não é a primeira vez que você diz algo do tipo relacionado à minha sobrinha.
— Também não é a primeira vez que ela tem um pesadelo. Na verdade, já está virando rotina. — Suspirei, caminhando até a cama.
— Eu só preciso levá-la à uma clínica psicológica. — Deitei-me com cuidado, me achegando a ele.
— Então, faça logo isso! — Ele disse, firme, afastando o seu corpo de mim e virando-se para o meu lado oposto.
— Será sempre assim, ?
— Assim como?
— Você chegando tarde do trabalho, nem mesmo pergunta como foi o meu dia, não me conta como foi o seu… Não temos mais um momento apenas nosso.
— Eu só estou muito cansado, ultimamente.
— E você se conformou? — Ele suspirou alto — Acho que não são apenas os pesadelos de que viraram rotina.
— O que você quer que eu faça? — perguntou, virando-se bruscamente em minha direção — Eu tenho uma casa e uma família para bancar, fora as outras despesas. Seu salário mal dá para você custear suas próprias compras e, àquela menina, ela veio como um fardo para esta casa. — Ele dizia tudo tão friamente, que eu só fazia chorar, mal conseguia me mover.
Estava perplexa com a forma que falou comigo, nunca fora assim, nem mesmo quando precisava apartar a briga dos seus pais, principalmente quando sua mãe era agredida fisicamente. Seu estresse no trabalho estava nos afetando há tempos, mas o meu marido não percebia.
Senti-me tão humilhada e desrespeitada por ele, que não contive as minhas lágrimas. Meu choro era alto, não podia evitar.
— Desculpa. — Ele respirou fundo, lançando o seu corpo para trás, consequentemente deitando de barriga para cima, enquanto passava as mãos pelo rosto — Desculpa, eu não devia…
Levantei-me da cama, sem nem mesmo ouvi-lo, estava com a cabeça cheia demais para me atentar às suas desculpas esfarrapadas. Retirei-me do quarto o mais rápido que pude.
Fui para o terraço, fiquei observando a pouca movimentação nas ruas, mas, na verdade, só pensava em tudo que havia me dito, e não apenas nas palavras de minutos atrás, mas também as de anos atrás, além de seu comportamento.
Ele me trai com Luna, eu sempre soube disso pelo perfume dela, que ele sempre carrega em suas camisas. , com certeza, continuava com esse hábito, já que sempre se oferece para levar à casa de Luna, nos fins de semana. Sempre tinha uma desculpa, esse era o problema, mas eu só cansei... Eu só cansei de esperar pelo dia em que tudo irá mudar. Não adianta querer mudar se o outro não está disposto a isso. Só há mudança quando o outro também quer mudança. E o não quer mudar, ele se acomodou a vida que está levando, mas eu cansei.
Desci, enxugando as minhas lágrimas, indo para o quarto de . Peguei as suas malas e fui arrumando suas roupas, com certa urgência, porém, muito cuidado para não acordá-la. Aparentemente, tudo que precisaria eu tinha guardado.
Fui ao meu quarto e peguei as minhas malas com mais cuidado ainda para não acordar . Algumas delas já estavam prontas e guardadas há alguns meses, eu tinha a certeza que faria isso mais cedo ou mais tarde. Quando retirei a última mala do armário, olhei à minha volta, não me restava mais nada ali. Tudo que era meu e de , comprado com o meu dinheiro, guardei, mas tudo que veio do meu marido, eu deixei, sem sentir dó algum por isso.
Carreguei as malas para fora do quarto e desci, primeiro com as minhas, voltei para buscar as de , mas, antes a acordei para explicá-la a situação. No início, ela resmungou de sono, ficou bastante confusa também, já que na frente dela, eu e evitamos ao máximo discutirmos; nossas questões sempre foram resolvidas entre nós, em nosso quarto. Mas, ainda me ajudou com as suas malas, estava tudo pronto para a nossa saída.
— Ah, pegou os seus sapatos de fadinha debaixo da cama? — Perguntei e ela, a mesma arregalou os olhos, negando com a cabeça. — Vá lá buscar rapidinho, hein! — saiu correndo pela escada, mas a impediu de continuar.
— Sabia que é perigoso correr pela escada? — Ele se abaixou para ficar na altura de , mas direcionando o seu olhar para mim.
— Deixe-a ir, agora! — Eu o ordenei, tirando as mãos das malas.
, o que acha que eu irei fazer? — perguntou, desviando o seu olhar para ela. — Sou quase o pai desta criança.
, eu já disse para deixá-la ir. — Ele assentiu, dando passagem para , a mesma correu até o seu quarto.
me encarou, franzindo a testa, como sempre fazia; desceu pela escada e, à passos firmes, aproximou-se de mim. Pousou uma de suas mãos em minha cintura e a outra em minha nuca, beijando-me.
— O que pensa que está fazendo? — O empurrei.
— Beijando a minha esposa?! — Ele tentou me dar outro beijo, mas, eu o empurrei, novamente e, desta vez, mais forte. — , o que está acontecendo com a gente?
— A pergunta é: o que está acontecendo com você, ? — Ele enrugou ainda mais o cenho — Vive reclamando comigo sobre a , quase nunca melhora o humor, só sabe ficar estressado, e chega tarde em casa, todas as noites, com o perfume da Luna impregnado em suas camisas.
— O que está dizendo?
— Que vocês são amantes. — Seus olhos, que por natureza já não são tão estreitos, aliás, são bastante arredondados, arregalaram-se a ponto de eu pensar que iriam saltar em mim. — E não minta para mim, eu sempre soube.
— É o quê?
, eu juro que se você negar…
— Eu nunca fiquei com a Luna! — Eu apertei os olhos, tentando conter o nervosismo — Por que você pensou isso?
— Porque é a verdade.
— Não, não é.
— Então por que sempre está com o perfume dela em suas camisas, ?
— Eu comprei o mesmo perfume para usar. — Eu fiquei boquiaberta com o que acabara de ouvir. — Por que está tendo essa reação? Você sempre disse que a fragrância é boa.
— Então por que não me deu o perfume?
— Eu tentei, mas você o rejeitou, dizendo que não trocaria o seu Gnilb por Nogard. — Eu já me preparava para respondê-lo, quando lembrei-me de um fato.

Flashback On:

— Patrick Jane, você é o melhor! — Eu disse, sem tirar os olhos da TV, depois de já ter comido quase metade da pipoca que estava em um dos potes da Barbie que comprei para .
adentrou o quarto, já tirando o seu blazer azul escuro e sua gravata borboleta de cor preta; ele me olhava, sorridente, e eu logo o estranhei por isso. Não que o meu marido não fosse sorridente, mas, ele estava diferente… Misterioso, talvez.
— Oi, amor, como foi o jantar beneficente? — Eu o perguntei, oferecendo-o pipoca.
— Kinji comeu quase todo o frango que estava à mesa e Mint ficou bêbado porque pensou que estava tomando suco. — Eu ri um pouco, o acompanhando — Foi divertido.
— Imagino! — Desviei o olhar para a TV, logo recebendo um beijo roubado. — Conseguiu fechar o contrato?
— Hey, my name is — ele cantarolou de forma engraçada — É claro que eu consegui.
— Seu bobo! — Dei uma tapa em seu braço, já descoberto pela camisa social branca. — Amor, você não vai acreditar...
— O que? Yek finalmente lançou sua coleção de verão? — Eu o olhei, rindo alto, e ele fez o mesmo, enquanto tirava a calça e as meias.
— Não, mas, isso seria demais, Yek é um ótimo fashionista! — Continuei rindo, agora por já saber qual seria a sua reação ao ouvir o que eu estava prestes a dizer — Van Pelt e Rigsby se beijaram e, não parou por aí, foram além disso.
— O quê? — Seus olhos quase saltaram do seu rosto — Quando foi isso?
— No episódio de hoje. — Nós olhamos para a TV — Que terminou agora.
— Ah, que droga! — Ele bufou, pegando a sua bolsa lateral.
— Mas, não fique triste, amor, eu gravei o episódio de hoje para você. — Ele me olhou, animadinho.
— E eu trouxe uma coisinha para você — eu olhei para o embrulho que estava em suas mãos e o peguei, abrindo-o rapidamente.
— Nogard — eu o olhei com decepção e ele fez o mesmo. — Amor?!
— Pensei que você gostasse, sempre fala do perfume da Luna.
— Ah, o aroma é bom, mas, por que eu trocaria o brilho intenso de um anjo pelo sopro de fogo de um dragão? — pareceu confuso, mas, eu não esclareci nada, o deixei pensativo mesmo. — Eu agradeço muito pelo presente, fico feliz que tenha pensado em mim. Porém, fico com o meu maravilhoso Gnilb.
— Mas…
— Além disso, eu não quero exalar a mesma essência da Luna. — Obviamente, ela pensaria que eu a invejo, quando não, isso não é verdade. E eu realmente prefiro a minha fragrância. — Gosto do meu perfume.
— Oh, amor, comprei com o maior carinho. — Eu devolvi a ele o frasco e o abracei de lado.
— Eu sei, meu amor, mas, talvez se eu começar a usar esse perfume, ficarei com alergia. Por isso, eu não posso, e, sinceramente, nem quero, trocar o meu Gnilb pelo Nogard.
— É bem verdade que tudo te causa alergia. — Eu assenti, dando um beijo em sua bochecha. — Tudo bem, mas eu ficarei usando este perfume, a fragrância é boa.
— Sem problemas, eu amo quando você se perfuma.
— É mesmo?! — Ele me olhou, semicerrando os olhos, como sempre fazia. sabe o quão sedutor o seu olhar fica, e sabe também o quanto eu amo isso. — Então, o que acha de nós perfumarmos toda a nossa cama?
— Hum, agora? — Perguntei com a voz arrastada e ele molhou os lábios, passando a língua sobre.
— Sim — desviei os meus olhos dos seus para encarar a sua boca. — Agora.
— Bem, eu gosto da ideia.
foi deitando o seu corpo sobre o meu, fazendo-me arrepiar dos pés à cabeça, e com isso, eu já sabia que a noite seria uma daquelas bem proveitosas.

Flashback Off.

— Bem, e-eu... — Não queria dar o braço a torcer, mas também não tinha certeza se era verdade ou não. — Essa história pode até ser verdade, mas, nada disso me prova que você não esteve com a Luna.
— Amor, eu nunca te traí, pelo amor de Deus! — Ele parecia meio desesperado — Por que eu faria algo assim com você? Quantas vezes eu preciso te dizer que te amo e que você é a mulher da minha vida?
— Dizer que me ama não precisa ser uma obrigação, .
— Eu nunca disse que isso é uma obrigação, eu realmente te amo e gosto de te dizer isso, porque é a verdade. — Eu suspirei, ainda encarando os seus olhos. A intensidade no seu olhar me passava confiança e sinceridade, mas, o meu coração estava machucado e pedindo para não acreditar em meu marido.
, isso me dói demais. O ponto em que chegamos, me machuca muito. — comecei um choro fraco — não teve tempo de conhecer o pai porque ele foi morto quando ela ainda era um bebê, minha sobrinha também perdeu a mãe de forma trágica, e isso a traumatizou. Você nem mesmo tem a sensibilidade de entender que os pesadelos dela são devido a isso.
— Sei que fui muito insensível quando te disse aquelas coisas, mas, eu tenho a como minha filha, não quero que pense o contrário. — Eu pigarreei, secando as minhas lágrimas — Só acho que ela precisa de um tratamento psicológico mais rapidamente, estamos demorando quase cinco anos a buscar ajuda profissional para a menina.
— Acho que eu estou sendo uma péssima tia por isso.
— Não está, não — ele se aproximou mais — Todos nós passamos por problemas, é compreensível que tenhamos chegado a esse ponto. Só não podemos continuar assim, entende?
— É claro, e é por isso que eu estou te deixando.
— O quê?
— Eu preciso de um tempo, o meu coração está pedindo por isso.
— O seu coração está pedindo para você se afastar de mim? — estava incrédulo.
— Até parece que você não esperava por isso.
— É claro que eu não esperava por isso, jamais imaginei que algo do tipo aconteceria entre a gente.
— Mas, está acontecendo. — Ele me olhou, com os olhos marejados. — Eu também não queria isso, mas…
— Eu não tinha noção que estava fazendo tanto mal a vocês. Perdoe-me. — Disse, meio desnorteado, coçando a cabeça. — Engraçado, dizem que nós não encontramos o amor da nossa vida em qualquer esquina, mas, o meu eu encontrei na esquina da casa do meu avô. — Ele sorriu, em meio às lágrimas, mas eu só conseguia sentir ainda mais tristeza — Você se lembra quando a te levou para a festa da Lin? Ela era vizinha do meu avô desde quando tinha uns dez anos de idade, e como eu sempre estava lá na casa dele, Lin e eu nos tornamos amigos. Então, ela planejou sua festa de aniversário, eu a ajudei com algumas coisas, e depois o evento aconteceu. Nunca mais me esqueci daquele dia. — Eu dei um longo suspiro — Eu saí um pouco da festa, precisava tomar um ar fora dali; meus pais tinham brigado naquele dia, eu precisei separá-los, as imagens voltavam à minha mente incessantemente… Foi uma droga! Então, fui caminhando para a esquina, fiquei pensando um pouco na minha vida, até ver você com a . Naquele mesmo momento, senti-me hipnotizado por sua beleza. A mesma que você ainda possui.
— Então, percebendo o seu olhar sempre tão intenso e sedutor para mim, levou-me para a casa da Lin, imediatamente.
— Mas, eu fiquei fascinado por você, então, voltei para a festa.
— Por isso, pensou que você estava me seguindo. Não que isso fosse mentira, não é mesmo?! — Eu ri fraco, lembrando-me do ocorrido — Então, ela comentou com a Lin sobre você.
— Sim, Lin fez eu me desculpar pelo mal entendido e, vocês aceitaram. — Eu assenti — Depois conversamos por mais algumas horas, eu estava completamente interessado em você. E eu percebi que você também estava em mim.
— Isso não é verdade, eu só estava sendo simpática, na verdade, meu interesse era em Kinji. — bufou, cruzando os braços e eu ri da cena — Mas, depois de alguns meses de amizade, eu percebi que estava mesmo gostando de você, porém, não como antes. Era um sentimento diferente.
— Percebendo isso, eu te chamei para jogar video game lá em casa, depois da aula. Você estava estranha, parecia tensa demais.
— Eu estava confusa.
— Tanto que me beijou logo após eu te vencer naquela corrida de carros, até hoje eu amo aquele jogo, só por isso! — Ele soltou uma risada gostosa e eu o acompanhei, mesmo a contragosto — Você foi a melhor coisa que já me aconteceu, , nunca pense o contrário.
, e-eu… Eu preciso de um tempo. — Respirei fundo, precisava ser firme em minhas palavras — Passamos por muitas coisas, juntos, as lembranças são ótimas e algumas nem tanto assim, mas, eu preciso colocar os pensamentos em ordem. Espero que você entenda.
— Tudo bem, eu não quero ficar insistindo e tornar isso ainda mais difícil para mós. — Eu assenti, sentindo o meu coração se apertar.
— Fique bem, . — Afastei-me dele, segurando novamente as malas — — ela correu até a escada e me olhou, já com os seus sapatos em mãos. — Vamos?

◆◆◆

Depois de algum tempo separada do meu marido, eu comecei a me sentir muito pior que antes. Os enjoos, as sensações de tontura também e até mesmo desmaios estavam acabando comigo. Eu me sentia inchada e estranha, o meu corpo estava estranho, eu só não sabia identificar o que era. Mas, eu também não queria ir ao hospital por isso, acreditava que era apenas estresse, algo no meu psicológico que estava afetando a minha saúde física. Porém, por insistência de , eu marquei uma consulta e fiz alguns exames; descobri que estava grávida, mas não contei a ela, apenas disse que era um mal estar e que já iria passar. Eu realmente tive mal estar, a diferença é que não passava, pelo contrário, só se intensificava mais e mais.
Senti que a minha cabeça deu mil voltas e parou, repentinamente. Eu não conseguia agir, não tinha mais reação, eu só conseguia pensar e pensar. E sempre o mesmo pensamento, que eu não estava preparada para ser mãe, mesmo já sendo como uma para . Era diferente, nunca havia ficado grávida, eu estava desesperada, não me sentia pronta para ter uma criança agora. Ainda mais depois dessa separação, de todo esse estresse, do meu psicológico frágil… Não achava que era o momento, mas aconteceu.
, o que houve? — Conseguia sentir a aflição de através da sua voz — Você não me atende há dias e, agora está me ligando, de repente, a essa hora. — Respirei fundo. A minha inquietação estava me dominando, o medo de contar a ele também. — Você nunca me ligou enquanto eu estou no trabalho, fazer isso agora me deixa preocupado.
— Não quero te preocupar, mas, é que eu preciso muito falar contigo.
Bem, eu não posso sair daqui agora, tenho uma reunião daqui a dez minutos, mas, à noite passo aí na sua casa e te levo para jantar no restaurante da minha tia Eponina. Poderemos conversar melhor lá.
, não quero jantar fora e nem nada do tipo, só preciso te contar algo muito sério e que eu realmente não estou sabendo lidar.
Não me diga que você ou estão com alguma doença grave? — Eu estava começando a me irritar um pouco com as tentativas de adivinhação do . — Por Deus, , me responda, eu estou muito apreensivo agora! Você está com algum problema de saúde?
— Não, , mas...
Então, é ? — Quando eu me preparei para responder, foi mais rápido e fez outra pergunta: — O que aconteceu com a minha princesa?
, se acalme, nós estamos bem, okay?! Estamos bem. — Eu pigarreei um pouco — Mas, se você não me der tempo para te responder, nós ficaremos neste impasse durante o dia inteiro. — Bem, eu…
Desculpa, , mas eu não consigo me acalmar agora e…
Não tive mais paciência para continuar o ouvindo. Não queria ser grosseira, mas, eu já estava nervosa e apreensiva demais para ter que lidar com ele também tendo essa crise de euforia; finalizei a chamada e desliguei o celular para nem mesmo tentar me ligar.
Passei a tarde toda na escola, trabalhando sem parar, apesar de continuar me sentindo mal, precisava manter a minha mente ocupada com algo que não fosse a gravidez. Pensar em ter um bebê, ainda mais nesse momento delicado da minha vida, estava me deixando bastante conturbada, comigo mesma. Os pensamentos negativos de que eu não irei conseguir conciliar bebê, e trabalho são os que mais me apavoram.
Tudo bem, não sou mais tão jovem, não estou tentando lidar com uma gravidez precoce, mas, ainda assim, é uma gravidez. Eu não sei o que me espera. O meu corpo está me assustando, já sinto as mudanças e isso me causa pânico. Às vezes. só queria ouvir: "vai ficar tudo bem", porém, talvez, com os medos que eu sinto, nem mesmo esta frase iria me tranquilizar... Talvez, nada irá me tranquilizar. Talvez.
Fui buscar depois da aula de balé. Fiquei esperando por ela sem sair do carro, a mesma veio correndo em minha direção e adentrou o veículo com euforia. Vê-la assim, além de me alegrar, me alivia, presenciar as suas crises no meio da madrugada sempre depois de algum pesadelo era algo que me partia o coração duas vezes mais: por vê-la tão assustada e por não saber o que fazer para ajudá-la, no momento em que acontecia. Entretanto, tem tido pesadelos com menos frequência, suas noites de sono já estão mais longas, seu desempenho no colégio tem melhorado, sua aparência já é mais radiante e não com feições sempre de cansaço.
Meu maior medo era que ela caísse em profunda tristeza, assim como um dia aconteceu comigo. Mas, o bom é que agora eu sei que a mesma história não precisa se repetir na vida dela.
— Tia, a professora disse que eu melhorei bastante o meu desempenho como bailarina — abraçou-me com força, fazendo-me sorrir abobalhada — Ela disse que eu estou mais confiante em minhas habilidades.
— Isso é ótimo, meu amor, eu fico muito feliz em ouvir isso! — Eu disse, a abraçando mais forte, mas ela logo se desviou dos meus braços e colocou o rosto perto da janela, que estava escancarada. Eu precisava de ventilação. — Hoje você vai para a casa da Luna, okay?
— Tia, eu não quero ir. — Ela disse, num tom baixo, fazendo-me olhá-la incrédula. A mesma abaixou a cabeça.
— Mas, por que, meu amor? — Ela continuou em silêncio e eu comecei a dirigir — Olha, eu tenho os meus motivos para não gostar de Luna e isso não começou de agora, desde que ela… — Eu olhei pelo retrovisor e prestava atenção em cada palavra — Bem, ela também é a sua tia, não é mesmo? Não há o que se fazer quanto a isso.
— O que a tia Luna fez a você? — Eu suspirei alto, sempre me esqueço que a não é mais uma aquela criancinha de quatro aninhos que eu via mais como uma bebê, ela já tinha quase 9 anos e é tão esperta quanto sua mãe foi. Talvez, seja até mais. — Não precisa mais me esconder as coisas, tia, eu sou quase uma...
, não é porque você já anda de skate e patins que já é grande. Quero dizer, você é mais alta que a maior parte das crianças da sua idade, mas, assim, você continua sendo uma criança.
— Tia…
, entenda, há assuntos que eu não posso te contar.
— Ah, assuntos como o porquê de você odiar a tia Luna. — A olhei, mais uma vez, pelo retrovisor.
— Eu não odeio a Luna — pensei um pouco — Só não acho que ela tenha uma boa índole.
— Não a odeia? Você é mesmo como um anjo, tia — eu sorri, satisfeita — Se alguém me roubasse algo muito valioso, eu acho que iria…
— O quê? — Dei uma freada brusca e acabei nos fazendo bater com a cabeça no teto. — Como sabe do roubo?
— Tia Luna me contou que roubou o seu colar de ouro. — respondeu, passando a mão pela cabeça. Pude ver pelo retrovisor. — Na verdade, ela disse que o pegou emprestado para depois de usá-lo em uma festa, te devolver, mas, eu sei que você não a autorizou, portanto foi roubo.
— Aquela mulherzinha… — Eu respirei fundo, tentando manter a calma e o enjoo controlado, enquanto encostava o carro. — , vamos esquecer isso, okay? É bem verdade que eu tenho as minhas diferenças com a Luna, e só para você saber, ela nunca devolveu o meu colar. Mas, apesar de tudo, Luna sempre te tratou muito bem.
— Eu sei.
— Então, por qual motivo você não quer passar o fim de semana com ela? — Fiquei esperando por sua resposta — Pode falar sem medo, princesa.
— Eu não quero ficar longe de você, tia, ultimamente você tem passado muito tão mal. — Girei meu corpo na direção da minha sobrinha e a mesma parecia preocupada — Eu tenho medo de te perder também.
— Meu amor, você não vai me perder! — Ela me olhava fixamente, esperando pela resposta. — Eu não estou doente ou algo do tipo, é só que... Estou grávida.
— O quê? Ah! — Ela deu gritinho espontâneo e eu ri de sua reação — Eu vou ter um priminho ou uma priminha... Que legal!
— Eu estou tão perdida por isso, mas…
— Mas? — ergueu as sobrancelhas.
— Nada, esqueça o que eu disse. Nós iremos tomar um sorvetinho agora e depois eu te levo para a casa da Luna, certo? — Ela assentiu, sorrindo, e eu tornei a dirigir.
Mais tarde, cheguei à minha casa e tomei um banho quente e relaxante, coloquei um vestido não tão curto, mas bastante rodado. Depois de me dirigir até à cozinha e fazer um suco de limão bem forte, fui para a sala. Bebi um pouco do suco, mas ainda me sentia enjoada.
Fiquei assistindo a primeira apresentação de balé da ; minha princesa estava tão linda e sorridente, como sempre foi. Emocionava-me cada vez mais pelo vídeo, quando fui interrompida pela campainha, levantei-me rapidamente e atendi a porta.
— Arqueei as sobrancelhas.
— Você parece surpresa.
— É, eu tinha me esquecido que você viria — Ele assentiu — Quero dizer, eu não tinha mais certeza se você… Ah, apenas entre.
não está? — se sentou no sofá.
— Não, a deixei na casa da Luna. — Sentei-me na poltrona de frente para ele e o encarei.
— Então, qual é o assunto tão sério a ponto de te fazer me ligar, depois de todo esse tempo que você nem mesmo quis manter contato?
— Quero deixar bem claro que é exatamente por isso que tornei a falar com você, o assunto é bem sério. — Eu disse, firme, e ele assentiu. — Eu estava me sentindo muito mal por esses dias e me pediu para ir ao médico, estava com medo de me perder. — Eu sorri, lembrando do momento em que ela me contou o seu medo. — Minha sobrinha é uma doçura de criança!
— Eu também senti esse mesmo medo quando você me ligou hoje cedo. — disse, fazendo a sua expressão de sempre: franzir o cenho e semicerrar os olhos. Virei o meu rosto para o lado e fingi não me afetar com isso, o seu olhar ainda é o meu fraco.
— Descobri que estou grávida e com quase três meses. — Eu disse de uma vez, receosa pela reação do , mas o que reinou na sala foi o silêncio. Olhei para ele de sobrancelhas arqueadas e o mesmo me olhava fixamente de olhos arregalados. — ?!
— E-eu não sei o que dizer — ele continuou da mesma forma e eu sentei-me ao seu lado, preocupada.
— ele se virou para me olhar — Está tudo bem? Quer beber um pouco d’água? — Sem resposta, ele permaneceu calado — Eu irei bus... — Eu já estava me levantando quando segurou em meu braço, puxando-me para o seu colo. Nossos olhos se encontraram como há tempos não faziam, e eu sentia falta disso. Eu sentia falta dele.
Tomada pela saudade, o beijei, como se aquilo fosse a última coisa que me restasse fazer e, cedendo às minhas carícias, colocou-me deitada no sofá, sem interromper o beijo, logo deslizando o seu corpo suavemente sobre o meu.
— Eu não sei bem o que dizer agora — ele disse, com os olhos marejados, cessando o beijo — Te confesso que estou muito surpreso, eu não achava que algo assim nos aconteceria tão de repente, ainda mais no momento em que estamos vivendo, mas, eu nunca me senti tão agraciado. — Ele sorria abobalhado — O nosso bebê será o mais amado deste mundo.
, eu não queria estragar este momento, mas também preciso te fazer uma confissão — Ele franziu o cenho, mas desta vez, eu não me afetei; só me sentia apavorada mesmo. — Eu não sei se estou pronta para ter um bebê agora. — Respirei fundo, fechando os meus olhos imediatamente, esperando por alguma reação contrária da parte dele.
— Por que disse isso? — Perguntou, calmamente.
— Eu não sei como farei para cuidar de um bebê e de , sozinha, e ainda tem o trabalho. Eu não estou sabendo lidar com esse fato. O meu psicológico está muito abalado e eu sinto que isso só piora, assim como os meus enjoos. — Senti as lágrimas escorrendo sobre o meu rosto. — Eu estou com medo do que irei enfrentar, eu não sei como será daqui para frente. As dores do parto também me assustam, aliás, eu posso acabar vindo a óbito. E, se isso acontecer? — Perguntei, em meio ao desespero, com os olhos quase saltando do meu rosto de tão arregalados. — Não quero deixar . Ela já perdeu a mãe e foi muito traumático para ela. Também não teve a chance de conhecer o pai.
.
— Luna é uma ótima tia, eu confesso, mas não confio em deixar com ela. Não por muito tempo. — As minhas mãos estavam tão trêmulas que eu mal conseguia passá-las sobre o meu rosto — Céus, eu não posso deixar a minha sobrinha, ela precisa de mim!
— Amor, acalme-se, por favor — pediu, ajudando-me a sentar-me novamente no sofá — Lembre-se que agora você carrega uma parte de nós dois dentro de você, precisa controlar as suas emoções para preservar a saúde do bebê.
— Eu acho que não posso ter essa criança — eu disse, me acabando em lágrimas.
— Hey, amor, não diga isso, nós sempre desejamos ter um bebê nosso e... — Ele continuava a dizer-me coisas que eu nem mesmo ouvia. Eu escutava a sua voz ao fundo, porém não conseguia ter controle sobre o meu nervosismo. Eu negava a tudo com a cabeça, descontroladamente. O meu corpo tremia como eu nunca antes senti. — Amor?! — pousou as suas mãos sobre o meu rosto, com delicadeza, fazendo-me olhar em seus olhos — Consegue me ouvir?
— E-eu… — Os meus olhos transbordavam lágrimas e mais lágrimas, eu me sentia frágil e insegura; estava tendo uma crise. — Acho que sim.
— Vai ficar tudo bem, okay? Passaremos por todo esse processo da gravidez, juntos. — Ele selou os nossos lábios — Eu entendo que você esteja assustada com o que irá acontecer nos próximos meses, acontece. Mas, é melhor não nos preocuparmos tanto antes do tempo. — Eu respirei fundo, tentando atentar-me a cada palavra dita por — Vamos pensar positivamente em cada detalhe desta benção que veio à nós, pois não vale a pena sofrer antes do tempo. Se alguma coisa sair do nosso controle futuramente, deixemos para pensar nisso quando então vier a acontecer. Mas, vamos pensar nas coisas boas, vamos aproveitar esse momento feliz e inédito em nossas vidas.
Após alguns minutos bem tensos, passando por uma crise nervosa, tudo o que disse, todas aquelas frases, a sua voz, ecoaram continuamente no meu subconsciente.
Suspirei alto, retornando aos poucos ao meu estado normal, mesmo ainda sentindo os meus músculos rígidos e a cabeça prestes a explodir. secava minhas lágrimas, com toda serenidade e paciência que alguém poderia ter.
O abracei tão forte, que eu realmente achei que o fosse quebrar ao meio. Não que seja frágil, pelo contrário, seu corpo é bem robusto, mas a intensidade do meu abraço era do tamanho da minha gratidão por ter o seu apoio, ainda mais agora.
— Desculpe-me por tudo isso — pedi, chorosa, me referindo ao pânico de minutos atrás. — Eu estou muito receosa, realmente. Não sei mesmo como irei lidar com , gravidez, hormônios, trabalho, casa... Depois o nascimento do bebê, , traba…
— Amor, você pode contar comigo! — Ele afirmou.
, você não pode ficar aqui comigo — eu disse, suspirando fraco — Não por muito tempo.
— Só se você não me permitir ficar — minha vez de franzir o cenho — Amor, eu gostaria que a gente se reconciliasse.
— Só por que eu estou grávida? — Fiquei boquiaberta — Não precisa. E-eu… Darei um jeito de lidar com toda a situação, sozinha. — soltou uma risadinha fraca, me deixando levemente irritada.
, você sabe que eu estou tentando essa reconciliação desde que você foi embora. — Ele beijou as minhas mãos e me olhou nos olhos — Eu sinto muito a sua falta. Sinto falta até dos gritos da , depois de um pesadelo. — Eu dei uma tapa em seu braço, fazendo-o soltar novamente uma risadinha fraca — Eu realmente me preocupo com vocês.

— Quando você me ligou hoje cedo, eu achei que algo grave havia acontecido — Percebi algumas lágrimas começaram a escorrer por seu rosto — Senti tanto medo que, naquele momento, eu nem me reconheci.
, eu…
— Quero estar por perto, já perdi tempo demais longe de vocês. Sim, eu vivi muito tempo em prol da empresa, fui deixando de conviver com a família por causa do trabalho, dinheiro, mas hoje sei o que tudo isso me custou — Ele fixou os seus olhos nos meus — Contudo, me deixe tentar ser um marido melhor para você? Me deixe tentar ser um pai melhor para ? Me deixe tentar ser um bom pai para esse pedacinho de nós dois aí dentro de você? — acariciou a minha barriga, fazendo-me emocionar-me com a cena — Eu preciso de uma oportunidade para ser alguém melhor, só peço que me ajude nisso, dando-me uma nova chance.
— Se você não for desperdiçá-la — eu disse, secando as minhas lágrimas e ele sorriu, roubando-me um beijo.
— Eu não irei.
— Tudo bem. — Eu respirei fundo, ainda estava com o corpo meio tenso — Mas, precisamos conversar com a .
— Sem problemas! — Ele não tirou o sorriso do rosto e eu finalmente o acompanhei, logo o beijando novamente. — Quanto a saber lidar com o bebê, , trabalho, casa, entre otras cositas más, podemos aprender tudo isso, juntos.
— Então, que assim seja.

◆◆◆

A semana seguinte começou tranquila. Fiz bolo de batata para o jantar, no fim do dia, enquanto terminava de fazer a sua lição de matemática no quarto. A campainha tocou, mas eu já sabia a quem esperar.
— Luna? — Fiquei surpresa, já que ela não era e nem seria a pessoa por quem eu esperava. — O que está fazendo aqui?
esqueceu o seu livro escolar lá em casa — ela me entregou o objeto — E como eu imaginei que é importante, fiz o favor de trazer a ela. — Respondeu num tom sério e firme.
— Tudo bem, obrigada. — Ela assentiu — Bem, não quer entrar e...
— Não, obrigada. Nós duas sabemos que isso seria estranho.
— Tanto quanto sabemos que eu estava apenas sendo educada. — Ela deu de ombros.
— Eu vejo no fim de semana. — Ela deu as costas, fazendo questão de jogar o seu cabelo em minha face, antes de sair desfilando pelo corredor.
— Luna? — , parecia surpreso ao se deparar com a mulher. — O que está fazendo aqui?
— Pergunte a , não tenho tempo para dar explicações a alguém que eu nem mesmo me importo. — Ela disse, ríspida, e me olhou, confuso. — Por que você está usando uma fragrância igual a minha?
— Bem, eu… — me olhou, novamente, e eu tentei conter a gargalhada que estava prestes a dar.
— Tanto faz — ela deu de ombros e eu rolei os olhos — Me dê licença, estou atrasada. — Luna o empurrou e saiu apressada.
— Ela veio trazer o livro que a esqueceu na casa dela. — O mostrei o objeto em minhas mãos e ele assentiu.
— Eu estou ansioso para conversarmos com ela! — Disse, empolgado e eu ri fraco.
O jantar já estava no ponto, apenas terminei de aprontar a mesa.
?
— Oi, tia.
— Já terminou de fazer a sua lição?
— Sim — ela saiu do quarto — Que cheiro bom!
— Espero que o sabor também esteja! — Eu disse, insegura, e ela riu fraco — Lave as mãos e sente-se.
Terminamos o nosso jantar, que por sinal foi bem agradável, e lavou toda a louça, enquanto secava tudo e eu guardava.
— Agora que já terminamos, posso ir para o meu quarto? — pediu.
— Bem, na verdade, e eu gostaríamos de conversar com você — Ela franziu cenho — Mas, vamos para o quarto.
correu pela casa e eu, na mesma brincadeira, fiz o mesmo, correndo atrás dela. , em total desespero, me parou, como se eu estivesse prestes a sofrer um acidente ou algo do tipo.
— O que foi isso?
— Agora você carrega um bebê dentro do seu corpo! — Ele disse, meio assustado — Se você correr e tropeçar? Sua barriga já está ficando maior e…
— Nossa, deixa de drama, amor! — Eu ri fraco — Até porque, foi só desta vez. — Eu fiz um biquinho e ele riu, beijando-me.
— Venham logo! — nos chamou, meio impaciente — O que vocês querem me contar? Vamos todos morar juntos, novamente?
— Sim — e eu nos entreolhamos, surpresos — Eu e o seu tio conversamos bastante e decidimos voltar a morar juntos, na casa dele.
— Sem mim? — Ela perguntou, chorosa.
— Claro que não, meu amor, com você também. — Segurei em seu rosto e depositei um beijo em sua bochecha. — Por que pensou que não levaríamos você com a gente?
— É que o tio não gosta muito de mim por causa dos meus pesadelos. — Mais uma vez, eu e ele nos entreolhamos, e eu arqueei as sobrancelhas como se dissesse: "resolva isto agora!".
— Eu sei que fui muito insensível com você, princesa, mas não pense assim, eu realmente te tenho como uma filha. — Ele disse, sincero, e o olhava, atentamente. — Espero que você possa me perdoar.
— Tudo bem, eu te perdoo. — Ela o abraçou, me olhando sorridente.
— Não se preocupe com os pesadelos, até porque você nem os tem mais com tanta frequência. — assentiu — Pense que, a partir de agora, você irá ter apenas sonhos bons.
— Eu posso fazer um pedido?
— Isso já foi um pedido. — disse, me fazendo dar uma tapa forte nele — Ai! Eu só estou brincando.
— Peça, meu amor. — O ignorei e esperei pelo pedido dela.
— Posso chamá-los de mãe e pai? — Ela pediu, de olhinhos fechados, provavelmente, pelo medo de receber um "não" como resposta.
— É claro que sim, meu amor, nem precisava ter perguntado. — Olhei para , também esperando por sua resposta.
— Será a nossa maior felicidade, princesa! — Ele respondeu e abriu os olhos, sorridente.
— Então, todos os dias e em todos os lugares, eu irei chamá-los de mãe e pai, okay? — Ela perguntou, de forma tão inocente, que a minha vontade era de apertá-la em um abraço de urso. Nós assentimos, sorrindo bobos. — Mãe, você gostou de ser chamada de mãe?
— Claro que sim, meu amor, eu esperei tanto por isso — eu disse, emocionada, a chacoalhando em um abraço. — Mas, também quero te fazer um pedido.
— Qual? — Sorri, mais uma vez, ao ouvi-la novamente chamando-me de mãe.
— Nunca se esqueça de sua outra mãe, aquela que te concebeu. — assentiu — te amava com todas as suas forças e até o fim de sua vida, não deixe que o amor dela por você seja esquecido, okay?
— Ainda que eu quisesse, jamais conseguiria me esquecer dela. Sempre que sinto a sua falta, vou até o jardim para vê-la. — Olhei para , o responsável por considerar a mãe como a florzinha mais linda do meu jardim, e ele sorriu largo. — Como faremos para levá-la à casa do meu pai?
— Não se preocupe, nós daremos um jeito!

◆◆◆

Finalmente a mudança de casa havia sido feita, foi muito trabalhoso, visto que eu e , juntas, possuímos muitos pertences e, talvez, alguns deles até desnecessários, mas conseguimos concluir essa etapa.
Deixamos algumas coisas para o futuro comprador da minha casa, toda a mobília não seria necessário levar para a casa de , mas o valor do imóvel seria acrescentado por este motivo.
Ficamos na casa por um pouco mais de tempo, já era fim de tarde, mas, estávamos nos despedindo de cada cômodo, principalmente eu, que vivi por anos ali. E, mesmo depois de me casar com , me separar dele, a casa estava ali sempre tão aconchegante para mim. Estava sendo difícil desapegar.
Reparei que estava bem mais inquieta que o seu estado normal.
— Aconteceu algo, meu amor? — Perguntei, preocupada.
— Ainda não levaram minha mãe — ela disse, triste — Como faremos?
— Vamos até o jardim — , foi à frente e nós o seguimos — Qual delas é a sua mãe? — Ele perguntou, meio confuso, e foi até a maior e mais bonita flor de todo o jardim, apontando para a mesma. — Nossa, como ela cresceu! Pegue-a com cuidado. — me olhou, como se esperasse pela minha aprovação.
— Pode pegar, meu amor. — Eu a disse, confirmando com a cabeça.
Ela tirou a flor do solo com total cuidado e veio em minha direção, pegou uma caixa média e vermelha, pedindo a para colocar a representação de ali dentro. E assim ela fez.
— Pronto, agora a sua mãe estará lá em nosso jardim. — Disse , num tom heróico.
— Obrigada, pai! — o abraçou forte, dando a ele a chance de colocá-la em sua cacunda. me entregou a caixa.
— Acho que serei um bom pai — disse, dando de ombros.
— Você já está sendo! — Eu disse, deixando-o com uma expressão mista de surpresa e alegria.
Ele me deu um beijo calmo, e talvez longo, se não fosse por nos interromper, dizendo que estava ansiosa para ir logo à nossa nova casa. E, sinceramente, eu também estava.
Depois da mudança, o nosso relacionamento como família melhorou bastante, já que se dedicava a cada dia mais para esta melhora. Mas, não partiu apenas dele esse querer, eu também estava disposta e dedicada a fazer a mudança entre nós acontecer. E, desde então, até os nossos sentimentos mais pesados se tornaram leves. Querer a mudança já é um grande passo. Fazer a mudança realmente acontecer é o que traz os resultados positivos.
já não tem mais pesadelos, consegue dormir durante uma noite inteira, melhorou as suas notas na escola, e se sai cada vez melhor em sua habilidade na dança lírica. Me surpreendeu com o seu recente e súbito interesse pela dança contemporânea também, mas eu e a damos todo o apoio que ela precisa e merece.
Quanto ao meu trabalho, diminuí um pouco a carga horário, já que o meu problema com os enjoos ainda não havia cessado e com o inchaço só estava começando, eu precisava cuidar melhor de mim e do bebê. Mas, estou conseguindo conciliar bem a minha vida profissional com as outras áreas, principalmente a pessoal.
No geral, nós ainda estamos aprendendo a lidar com tudo que atualmente está nos acontecendo, mas, sempre aprendendo juntos. Independente do grau de dificuldade, continuaremos nos apoiando desta forma. Também aguardando, ansiosos, pela irmãzinha linda que, em breve, conhecerá.
A certeza que nós temos é que, a chegada de em nossas vidas, de uma vez por todas, foi o maior desafio que já tivemos para o nosso amadurecimento, tanto como casal, quanto como pais. Aconteceu muito de repente, mas nos marcou de uma forma única e especial. E, a chegada de será um marco lindo em nossas vidas. Será a concretização real e pessoal de uma mudança de vida. Para melhor.


[Fim]


Nota da autora: Esta fanfic é a minha primeira do SHINee, um dos primeiros grupos de k-pop que eu conheci e logo amei, por isso, eu a amo demais! E espero muito que vocês gostem do resultado, de verdade!
Desde já, agradeço por tudo, galera. Até a próxima, BJoo 💚💚

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