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Última atualização: 17/02/2017 (Fanfic finalizada)

Capítulo 36¹


Até que um dos Vingadores aparecesse para socorrê-la, Monica ainda conseguiu ter estabilidade para fazer mais algumas perguntas, até conseguindo informações úteis, que ela apenas anotaria quando assistisse as gravações da conversa mais tarde, já que suas mãos ainda tremiam. Talvez imaginando que precisava de uma pessoa que transmitisse segurança apenas por sua presença, Thor que aparecera ao seu lado minutos depois, sua voz grave e potente comunicando à que aquela conversa se encerrava ali.
Ciente que a mulher não estava em suas melhores condições, o asgardiano tomou a iniciativa de reunir o material que ela usava antes e colocara embaixo do braço, e com a outra mão em suas costas ele a guiou de volta para o elevador. O olhar de Thor caíra rapidamente sobre a prisioneira, que voltara a assumir sua postura indiferente. O deus queria lhe perguntar algo, ele só não sabia o que, e aquela incerteza aos poucos estava tirando-o do sério. A própria presença de de alguma forma estava incomodando-o, e não conseguir explicar aquilo em palavras chegava a ser pior do que aquela sensação ruim que o dominava.
- Vocês precisam ser cuidadosos com ela – alertou Monica, quando já estavam distantes da cela, dentro do elevador. Quando sentiu que Thor não compreendera, ela continuou – Não sei dizer o que, mas ela está planejando algo, e não é bom.
- Me surpreenderia se fosse bom... – retrucou o asgardiano, suspirando alto. O Universo provavelmente implodiria caso algo naquilo tudo se resolvesse de forma fácil.
Quando Monica voltou a se reunir com os Vingadores, algumas horas mais tarde, foi na sala de convivência, e não no laboratório do Dr. Banner, o que apenas aumentou seu nervosismo. Sempre os encontrava, fosse em sessão individuais ou mesmo em grupo, em locais que deixavam clara a distinção entre eles – eles como pacientes e ela, a médica. Já ali, como eles melancolicamente distribuídos pela sala, ela se sentia mal por eles, como se o ar do ambiente estivesse contaminado. Seus olhares ansiosos em alguns momentos caíam sobre ela, divididos entre pedir respostas ou continuar na amigável ignorância dos fatos, e Monica no fundo queria que eles continuassem nela.
Aquilo de alguma forma iria destruí-los.
- Você vai continuar admirando nossa beleza ou vai dizer seu diagnóstico? – indagou Tony de uma vez, abandonando o sofá para rumar em busca de alguma bebida.
- Preciso que vocês se sentem – foi a resposta que eles obtiveram, com a mulher sinalizando para Steve e Clint, que estudavam a silhueta da cidade pelas amplas janelas.
- Tão ruim assim? – brincou o arqueiro, mesmo que sua voz não tivesse expressado humor algum.
- Tão delicado assim... Srtª Stark é de longe a paciente mais complexa que eu já vi, e por isso tenho certo receio com o meu diagnóstico – contou a mulher, tomando desconfortavelmente o lugar vago ao lado de Romanoff. Suas mãos que já haviam se acalmado mais uma vez estavam trêmulas e geladas – Ela está apresentando mudanças bruscas de humor, mas isso não a determina como bipolar. Um paciente bipolar apresenta mudanças de humor extremas, mas não em um período de tempo tão curto, e, no pouco tempo que eu fiquei lá embaixo com ela, foram mais mudanças do que eu pude contar na hora. Só isso já a aproxima de uma paciente borderline.
Como ela esperava, um silêncio confuso se estendeu no ambiente, à espera de mais explicações.
- Os outros sintomas são difíceis de notar enquanto ela está isolada dessa forma, mas é o melhor palpite que eu tenho até agora. Afinal, é um caso infinitamente singular, então posso estar me equivocando – continuou a médica – E se for mesmo uma variação de borderline, eu não acredito que seja algo recente. Claro que se agravou agora, mas receio que seja algo que ela já tinha antes.
- O que você quer dizer com isso? – indagou Bruce, levemente confuso. Depois do relato que seus colegas fizeram a ele quando retornaram para a Torre, ele gastava algumas horas estudando sobre doenças mentais, e se lembrava vagamente de ter visto aquele termo algumas vezes, embora não conseguisse entender em que ponto a mulher queria chegar dizendo aquilo.
- Pacientes borderline normalmente começam a apresentar sinais na adolescência. O fato de ela ter habilidades também agrava o caso. Da ficha que vocês me deram... Ela não teve uma infância muito calma.
- Você está dizendo que é minha culpa? Que eu estraguei a minha filha?! – rosnou Tony, já irritadiço. Os nós de seus dedos ficaram brancos quando ele apertou a garrafa em suas mãos com mais vontade, se virando em direção da médica. Seu olhar logo caiu em Steve, que o repreendeu silenciosamente, gesticulando para que ele se acalmasse e a deixasse terminar.
- Isso é algo que já faz parte dela, Sr. Stark – disse a mulher com cuidado, relembrando que o homem tivera um episódio complicado no dia anterior com a filha, e sabia que aquilo deveria estar assombrando-o – Pode sim ter algo que tenha contribuído, mas acredito que as habilidades podem ter sido um fator decisivo. É uma diferença essencial dela para qualquer outra pessoa, isso traz alguns problemas de identidade.
- Eu estou um pouco perdido... – interrompeu Thor, que chegara até a pigarrear e erguer a mão para fazer a pergunta – O que é um borderline?
- É um transtorno de personalidade – contou Monica, depois de respirar fundo enquanto pensava na melhor forma de não os encher com termos técnicos – Nós costumamos usar mais Transtorno de personalidade borderline, mas os nomes Transtorno de personalidade emocionalmente instável e Transtorno de intensidade emocional também são bastantes comuns, e um pouco mais autoexplicativos.
- Eu... Eu não entendi.
- Eu vou organizar um material explicativo para vocês mais tarde, não é algo fácil de entender realmente... – a mulher sorriu em simpatia para o asgardiano, que ficou um pouco menos constrangido do que antes – Um borderline tem uma grande instabilidade nas emoções, relações e autoimagem. Isso significa que está sempre em um estado-limite, ela pode ir de zero a cem em segundos, mudar completamente o comportamento. Apresentar uma crise de fúria por algo completamente banal...
- Ela constantemente repete que está instável – comentou Natasha, só então percebendo como ouvira várias vezes aquela palavra nos últimos dias.
- É algo curioso, na verdade. está muito consciente. Acho que é algo relacionado às habilidades dela, mesmo que ela não entenda por completo – disse Monica, feliz por alguém ter abordado aquele ponto sem seu auxílio. Ela não fazia ideia se a paciente tinha algum conhecimento sobre aquela doença, mas isso não tiraria o peso que tinha a escolha logo daquele termo – Quando ela fala em instabilidade, é mais como se ela estivesse saindo do controle de alguém, e não perdendo o controle das emoções. Esses episódios onde ela para de agir de acordo com um determinado padrão nem sempre coincidem com as mudanças de humor, e ela já percebeu isso e está começando a desassociar os dois conceitos, o que, a propósito, é a coisa mais incrível que eu já vi. Nunca vi nada como isso antes.
A repentina animação da psicóloga os surpreendeu, e isso não passou despercebido por ela, que logo se recompôs.
- Você acha que as lavagens cerebrais ocasionaram nisso? – Clint a incentivou a continuar.
- Apenas na visão que ela tem de si mesma, a crise de identidade – contou ela, já se preparando para a próxima reação explosiva do dono do prédio, já que a informação que daria era um tanto pesada – Geralmente, esse transtorno surge na adolescência, ou no começo da vida adulta. Está muito ligado com crianças que tiveram infância conturbada, em lares instáveis, e que sofreram alguma forma de abuso.
O som de um copo se estatelando no chão preencheu a sala, com todos os vingadores se virando sobressaltados para a área do bar, apenas para visualizarem um Stark irritado.
- O que você pensa que está insinuando?!
- Tony...! – começou Steve, até pronto para se levantar e conversar com o homem, mas Monica sinalizou para que deixasse que ela lidasse com aquilo e ele continuasse em seu lugar.
- Os últimos meses para foram praticamente uma segunda infância, Sr. Stark. Ela não tinha memórias: ela tinha informações, e aquele que ela acreditava ser o pai dela estava praticando uma forma de abuso – disse a mulher com firmeza, não vacilando quando o olhar do bilionário se intensificou em sua direção, mesmo que aquela fúria não fosse realmente direcionada a ela – Olhe como ela reage quando o padrasto é mencionado, senhor... Aquilo é ódio. E esse não é um sentimento que surge do nada, sem motivos.
Monica estava certa, aquele tipo de sentimento não surgia do nada, e Tony tinha todos os motivos do mundo para odiar aquele homem. Krigor havia mexido com a pessoa errada, e pagaria por isso. Não precisava nem de armas ou trajes tecnológicos: se tivesse a chance, faria aquilo com suas próprias mãos. Ele havia mexido com uma das poucas coisas com que o homem se importava, e, já que não fora o suficiente para protegê-la, mas ao menos ele iria vingá-la.
- A instabilidade emocional é tudo que esse transtorno apresenta? – questionou Bruce, quando percebeu que Tony se perdera mais uma vez em pensamentos destrutivos, e que não conseguiriam tirá-lo daquilo tão cedo, ainda mais com o assunto que estavam abordando no momento.
- Bem, é aí que as coisas vão ficar um pouco mais complicadas... – começou Monica, e todos ficaram apreensivos pela mudança em sua postura, um pouco mais cuidadosa – Por causa de traumas e instabilidade na infância, um borderline tem problemas com abandono, tanto reais como imaginários.
- Imaginários?
- Com vocês se mantendo afastados dela agora. Algo como apenas dizer que você vai sair por um curto espaço de tempo pode ser considerado como abandono – explicou ela – E a mente de um borderline é binária: você é bom ou você é mal. E quem vai embora nunca é bom. Não é uma classificação definitiva, é bem instável na verdade. O próprio cuidador pode passar de bom para mal facilmente.
- Cuidador?
- Eu não expliquei isso ainda, não é? – suspirou a mulher, passando a mão no rosto em um movimento cansado. Ela provavelmente seria capaz de dormir a semana inteira, embora duvidasse que sua mente pararia de trabalhar naquele caso e a permitisse descansar – O paciente costuma se tornar dependente de uma pessoa, alguém que ele confia, quase a coloca em um pedestal. Costuma se sentir mais seguro com essa pessoa.
- Steve...? – arriscou Clint incerto, assim como os outros membros da equipe, se virando para o Capitão.
- Acha que eu seria essa pessoa? – a pergunta chegara a ser mais para ele mesmo do que para os outros. Depois de tudo que acontecera, seria ele a pessoa com quem se sentia segura? Depois de todas as falhas que cometera para protege-la, como poderia logo ele ser colocado em um pedestal, como se estivesse próximo da perfeição? Steve não se achava mais digno de nada daquilo, e se questionava se um dia realmente fora.
- De todos aqui, acredito que você seja o único com quem ela não teve problemas no passado – argumentou Natasha, estranhando a reação um tanto descrente do soldado. Claro que ela imaginava que aquilo seria doloroso, mas depois de todas as vezes que notara que a única coisa que ele queria fazer era descer para o andar da cela e fazer companhia a , esperava que ele fosse aceitar com toda boa vontade do mundo ficar mais próximo a ela – Temos Bruce e Thor, claro, mas acho que você sai na frente deles.
- Costuma ser algum tipo de interesse amoroso, às vezes um familiar – acrescentou Monica, e assim como esperava, um silêncio desconfortável se estendeu. O trio de homens mais próximos de eram sem dúvidas os piores: ambos se culpavam pela falha na proteção da mulher, e, em alguns momentos de fúria, acabavam culpando uns aos outros, mesmo que não fizesse o menor sentido. Clint deveria ter comunicado que algo estava errado, Steve deveria ter percebido por conta própria, e Tony não deveria ter se envolvido com alguém da HYDRA. No final eles acabavam por pedir desculpas uns aos outros, e até eram sinceros em relação a isso, mas aquele ressentimento e a culpa nunca o abandonavam, e aos poucos Monica se via com menos recursos para tentar amenizar aquilo.
Talvez a volta de auxiliaria naquele processo. Ou explodiria tudo de uma vez, era difícil prever.
- Algo que vocês já devem ter percebido, é como ela está agindo como uma criança – continuou a médica, depois de um tempo relembrando dos tópicos que precisavam ser abordados naquele primeiro momento, e dos avisos e conselhos importantes que precisava transmitir a eles – Na forma como ela responde.
- É um sintoma também?
- É um tanto confuso, mas ela quer ter certeza que não vai ser abandonada, ent...
- Ela está nos testando – concluiu Tony, entendendo o ponto que a mulher queria chegar antes mesmo que ela pudesse se explicar. As imagens da fracassada tentativa de conversar com sua filha voltaram a sua mente, não que isso tivesse finalmente o abandonado. Aquilo fazia tanto sentido que ele teria estapeado a própria testa se seu corpo não tivesse paralisado com aquela constatação – E eu falhei.
- Ela vai constantemente tentar fazer com que vocês desçam ao nível dela, que percam a cabeça. É importante que vocês saibam se manter como adultos nas discussões – o tom de voz de Monica se tornara um pouco mais amigável, se sensibilizando pelo homem. Ela não estava no prédio quando aquele episódio acontecera, já que teria sido a primeira a vetar a decisão, em vista que precisava de alguém com emocional um pouco mais bem estruturado do que o do homem para tal contato – De fator comportamental, é aconselhável vocês tomarem cuidado com os momentos que ela fica sozinha. Um borderline por si só já apresenta certas tendências autodestrutivas, e ainda somado a mais um estresse pós-traumático recente... Eu não sei dizer se ela vai apresentar o quadro completo. Eu precisaria de um tempo maior de análise para um diagnóstico mais preciso, mas sei que vocês estão fazendo o melhor que conseguem.
Mesmo mudando o tom de seu discurso, o estrago já estava feito: de sua maneira, cada um dos membros da equipe estava temeroso sobre o que poderia fazer sem supervisão, tanto de mal ao próximo como a ela própria. O desejo era unanime de trazê-la para aquele andar ou todos descerem para a cela, não confiando no que viam pelas câmeras ou que poderiam alcançá-la rápido o suficiente caso fosse necessário.
- Ela está consciente demais do que está acontecendo, e, se ela não estiver fingindo, é algo muito bom. Eu já lidei com borderlines antes, e ela se assemelha quase a alguém que já está há meses em tratamento, mas como eu não sei se posso confiar nisso, é melhor vocês ficarem atentos – Monica continuou a tentar animá-los, conseguindo apenas risos irônicos em concordância e descrença – Eu não posso ficar por perto o tempo todo, isso vai ser com vocês. É uma doença com tratamento, e a maior parte é psicoterapia, o que eu recomendo para todos vocês também porque lidar com ela não vai ser nada fácil, e vocês vão precisar de muita paciência, porque ela vai tentar fazer com que todos percam a sanidade.
- Certo... Isso é bem ruim – constatou Clint sem humor algum, retomando a pergunta que fizera na chegada da médica.
- Poderia ser bem pior, acredite – insistiu a mulher, já se levantando – é especial. Três lavagens cerebrais e a última com o intuito de matar. Qualquer outra pessoa não teria sobrevivido, pelo menos não com sanidade.
Quando não recebeu mais perguntas, Monica rapidamente se despediu do grupo, dizendo que voltaria no outro dia pela manhã, já com o planejamento do tratamento da caçula do grupo. Talvez fosse precisar de algumas horas extras naquele dia para conseguir fazer tudo o que precisava, mas precisaria reservar nem que fosse alguns minutos para um cochilo assim que deixasse a Torre, ou acabaria em um emocional instável como o de sua paciente.
- O que vamos fazer? – perguntou Clint, quando não conseguiu mais suportar aquele silêncio da equipe e a confusão em seus pensamentos.
- Não podemos deixar ela trancada, isso é uma certeza – suspirou Bruce, jogando seus óculos na mesa de centro, esfregando o rosto algumas vezes para tentar afastar o sono que começava a dar sinais novamente, resultado das poucas horas dormidas nos últimos dias.
- Ela está com a coleira, não tem muita coisa que ela consiga fazer, certo? – arriscou Steve, embora não acreditasse muito no que dizia – Ela ainda está debilitada.
- Ela ainda consegue falar, já é mais do que o necessário para ela causar problemas – lembrou o arqueiro, ganhando a concordância dos outros quatro membros da equipe.
- Nós somos seis, ela é apenas uma – disse Natasha, um riso sem humor em sua voz – No momento ela é uma criança, me recuso a acreditar que vocês estão com medo disso.
- Não deveríamos? – retrucou Tony, cruzando os braços e lançando um olhar desafiador à mulher – Ela não tem mais noção, ruiva. É uma criança com uma bazuca que a munição nunca acaba.
- Talvez colocando assim soe bem ruim.
- Você acha?
- Então vamos apenas chamar ela para cá para bater um papo? – continuou Bruce, a expressão em seu rosto deixando claro como desaprovava a ideia – Vai ser mega estranho.
- Tem algumas coisas que ainda não conseguimos decodificar... Será que seria demais pedir ajuda a ela? – lembrou Tony, mesmo não gostando da ideia de deixar perto de qualquer coisa tecnológica. Aquele era o extremo fundo do poço da confiança que tinha na filha. A menor possibilidade de ela se virar contra eles mais uma vez o amedrontava.
- Provavelmente... – concordou Clint – Mas também seria uma forma fácil de integrar pelo menos um pouco ela de volta, não?
- Arriscado.
- Tem alguma ideia melhor, Capitão?
- Bem que eu queria.
- J.A.R.V.I.S.? Guie até aqui, por favor – ordenou Tony, assim que percebeu que Steve não se oporia aquilo, já que afundara no sofá em sinal de derrota. Ele próprio também dera aquele sinal, mas fora se debruçando sobre a bancada do bar e buscando uma garrafa de whisky, dispensando o copo e bebendo direto do gargalo – Vinte e cinco anos e agora eu estou legitimamente com medo do que pode acontecer quando ela chegar.
Em um acordo silencioso, todos prenderam a respiração quando J.A.R.V.I.S. anunciou a chegada de e as portas do elevador se abriram, tomados pela apreensão daquele momento. Antes de permitirem sua subida, haviam entregado a ela uma muda de roupa limpa, peças de seu próprio guarda-roupa: calças jeans de lavagem escura e uma regata branca, junto com um par de tênis simples. Por ser um conjunto que ela pouco utilizara, a sensação de estranheza que a dominava apenas se intensificou, já que nem cheiros e texturas familiares lhe envolviam. Com calma, caminhou para fora do elevador, não demorando para conseguir localizar a equipe espalhada pela sala, todos com posturas tensas demais para conseguirem passar uma imagem casual. Ela não disse nada, principalmente porque não sabia o que dizer. Em todos aqueles anos, ela própria já havia utilizado muitas palavras para classificar os Vingadores como equipe, e uma das mais utilizadas era frágil. Eles eram uma equipe de equilíbrio muito delicado, era fácil demais fazer com que eles se desentendessem, e fora exatamente disso que Loki se aproveitara. Só que agora percebera que aquela fragilidade não estava restrita a eles como equipe: vinha deles como indivíduos. Seus poderes estavam fora do ar graças à coleira e mesmo assim ela poderia derrota-los sem muitos esforços, com apenas algumas palavras, tamanha era a vulnerabilidade de cada um à sua frente.
- Você parece incomodada – comentou Clint, quando aquele silêncio insuportável da mulher se tornou demais. arregalou levemente os olhos, só então tendo ciência de como agora era mais fácil se perder em devaneios. Perceber que talvez aquela fragilidade deles pudesse estar espelhada na sua própria lhe causara um pequeno tumulto em seus pensamentos, o que por si só já comprovada sua teoria. Afinal, quanto era necessário para a fazer surtar?
- O que você espera quando vocês todos estão me encarando? – resmungou ela por fim, balançando o corpo para frente e para trás, sem saber como agir – Que eu comece a dançar?
Tony revirou os olhos, batendo palmas duas vezes para que J.A.R.V.I.S. jogasse ao seu redor as telas em que anteriormente eles trabalhavam, utilizando a própria bancada do bar para teclado, praguejando baixo quando outro aviso de "acesso negado" piscou em vermelho a sua frente depois de mais uma tentativa falha para acessar os arquivos da última aquisição que fizeram.
- Não estamos conseguindo descriptografar alguns arquivos – contou ele, sinalizando para que a filha se aproximasse, o que ela fez apenas depois de um tempo, ponderando se ele realmente a queria ao seu lado sem nenhuma forma de proteção – Pensei que talvez você soubesse a chave.
- Tenho uma ideia do que pode ser, mas posso estar errada – contou ela, olhando desconfiada para o pai quando ele pediu que ela tentasse. olhou rapidamente para a equipe às suas costas, respirando fundo quando não viu ninguém se opor – Okay.
se sentou em uma das banquetas do bar, batucando os dedos na madeira lustrada fora do holograma do teclado enquanto tentava montar alguns esquemas mentalmente. Krigor de alguma forma era bastante previsível, não deveria ser tão difícil. Quando falhou na primeira tentativa, ela apenas deu de ombros, trabalhando em outra variação. Depois da quinta falha, ela começou a se irritar, chegando a praguejar baixo enquanto batia na bancada com um pouco mais de força do que devia, mesmo que não tivesse danificado o móvel.
- Com problemas, pirralha? – gritou Clint do fundo, recebendo um olhar repreendedor de Natasha, que logo entendeu o que ele estava tentando fazer. Que melhor forma tinha de integrá-la novamente do que a tratando como de costume?
- Eu me recuso a viver em uma realidade em que aquele cara é mais esperto do que eu... – resmungou ela irritada, voltando a digitar com velocidade. Seus dedos apenas vacilaram quando uma epifania lhe ocorreu, e ela teve que rir da estupidez do padrasto.
- Quer compartilhar a piada? – disse Tony, depois de pigarrear para atrair a atenção da filha.
- Sabe o que uma pessoa idiota faz quando ela quer se passar por inteligente? Ela exagera para compensar a falta de inteligência – explicou , afastando as mãos do teclado. Ela não precisava mais fazer nada, J.A.R.V.I.S. poderia terminar aquilo sem seu auxílio direto – Ele codificou a chave também. Colocou duas trancas que eu tenho certeza que foram fabricadas no mesmo molde. J.?
- Sim, senhorita?
- Tente alguma combinação de datas de aniversário, e nomes. Datas importantes relacionadas aos programas...
- Dos integrantes da família Ivanov, senhorita?
- Isso. Krigor é sentimentalista... Faça o processo duas vezes e rode as variantes que conseguir.
“Acesso permitido”.
- Até que o mundo não está tão errado assim... – comentou , sorrindo satisfeita antes dos arquivos serem acessados.
Quatro telas diferentes foram projetadas no fundo da sala, de maneira que todos pudessem ver com bastante clareza. Cada tela tinha uma coluna ao lado, com informações básicas do integrante da família à esquerda da foto mais recente que tinham registro. Do outro lado, um vídeo era reproduzido, com miniaturas embaixo para mostrar que havia mais material visual disponível, basicamente sobre sessões de treinamento e testes com soro. A tela de Krigor era a com menos informações: com dois ou três vídeos de seu treinamento na infância e começo da vida adulta. A tela de Valerik já tinha um pouco mais: vídeos de treinamento e durante experiências, tanto dela própria como cobaia como com o Soldado Invernal. A tela de era sem dúvida nenhuma a tela com mais informações, tanto que a barra de rolagem fora necessária, tanto para as informações em texto como para as informações visuais.
- Isso é...? – estranhou Bruce, se virando para o arqueiro que mostrava o mesmo semblante inexpressivo de . Ele não precisava de imagens para relembrar daquela época.
- O treinamento dela na S.H.I.E.L.D.
A dupla no vídeo era claramente mais jovem, a diferença notável principalmente em , já que pela roupa justa de treino era fácil perceber a ausência de músculos definidos em seu corpo que nem havia saído ainda da adolescência. Seus golpes mal desenvolvidos sequer tinham a oportunidade de parecerem golpes de fato, já que eram habilmente bloqueados logo em seu início, e sua irritação com isso era clara.
Seu rosto, a única parte do corpo realmente descoberta, tinha pelo menos cinco cortes problemáticos: um em cada supercilio, um no dorso do nariz quebrado, o lábio inferior brutalmente rachado, e um no queixo. Desses cortes era que saía a maior quantidade de sangue que manchava o tatame, onde ela até já escorregara algumas vezes. Em um desses escorregões ela acabara levando outro soco potente, e, quando tentara se levantar, Clint lhe chutara o estômago, fazendo que ela caísse no tatame de barriga para cima. O arqueiro passou o antebraço na testa para limpar o suor que se acumulava, sua respiração ofegante já pelo tempo considerável que estavam ali.
- Pronta para voltar para a proteção do papai, princesa?
Clint estremeceu com a frieza e desprezo em sua própria voz, mas seus olhos não abandonaram a tela. Fazia muito tempo que não relembrava aquilo, talvez fosse um momento oportuno.
- Hoje não.
se levantou com dificuldade, não conseguindo disfarçar os gemidos que passavam por sua garganta diante da movimentação de qualquer músculo. Suas habilidades ainda não eram tão bem trabalhadas naquela época, mas ela tinha ciência de todos os ferimentos críticos que tinha, o que a fazia se distrair com alguns menores que ainda assim também estava lhe causando problemas.
- Qual é, pirralha... – suspirou Clint, as mãos na cintura quando a assistiu cair de joelhos, sem conseguir suportar o próprio peso – Continue no chão e tudo isso acaba.
Uma risada baixa ecoou pela sala, e logo a imagem de se pôs de pé, os punhos incapazes de se fecharem relaxados em frente ao corpo, que pendia hora para um lado, hora para o outro.
- Você não me diz o que fazer – foi a sua resposta, chegando até a esboçar um sorriso debochado em meio a tanto sangue. Clint em um primeiro momento riu descrente, e logo partira para cima dela. O primeiro soco na altura do rosto ela até conseguira bloquear, mas o segundo na boca do estômago ela sequer vira de onde viera. Depois de mais um soco no rosto ela voltou ao chão, sem nenhum sinal de que pretendia levantar, mesmo estando ainda um pouco consciente, mas não foi o suficiente para que Clint parasse. Ao fundo, gritos para que o arqueiro parece se iniciaram assim que ele chutou o rosto da garota, a forma que seu corpo virara no chão deixando claro que ela não tinha mais condições de se defender, que sequer estava acordada. Depois de mais um golpe nas costelas, dois agentes seguraram o arqueiro pelos braços, enquanto mais dois saíram em socorro de . Assim que o vídeo acabou, o seguinte foi iniciado, de alguns meses depois daquele incidente.
- , lembra desse dia? Lembra do que aconteceu depois? – perguntou Clint, assim que notou que o silêncio da equipe era exatamente para eles tentarem dar algum tipo de explicação, mesmo que elas fossem desnecessárias. Boa parte deles, pelo menos o arqueiro acreditava, já tinha uma certa noção de como era seu relacionamento com sua pupila nos primeiros meses, e, se não acreditavam naquilo, agora tinham uma das maiores comprovações.
- Fury te suspendeu e me demitiu depois disso – contou a mulher, a falta de alteração em seu semblante chegando a irritar o arqueiro. Todos os problemas que tiveram naquele início conturbado foram exatamente pelo excesso de emoções que ela carregava, a falta de controle. Ali parecia ser exatamente o contrário que o tirava do sério: o vazio – Disse que eu não me encaixava no perfil da S.H.I.E.L.D., que eu era teimosa demais para ter um futuro na agência.
- E o que você fez?
- Eu disse que ele estava certo, que eu era sim teimosa demais, e por isso um dia ele teria que liberar a cadeira de Diretor para mim – se flagrou mais rindo por perceber que perdera a oportunidade de substituir Fury na diretoria da S.H.I.EL.D. do que pela lembrança da memória em si, já que a revolta do então Diretor não fora pouca, e ela continuou demitida por algumas semanas, até ele perceber que a dupla que antes mal conseguia se aturar estava treinando escondida, e de alguma forma bizarra estava tendo avanços – Eu já disse que lembro de tudo, não precisa ficar fazendo testes de memória.
- Quero saber se você lembra quem você é – continuou Clint, apenas para a fazer rolar os olhos para trás, suspirando alto por perceber que estava esperando por alguma fala daquele gênero mais cedo ou mais tarde. Eles podiam ter liberado – ela desconfiava de quanta liberdade eles estavam falando – sua saída da cela, mas ainda não tinham compreendido o quadro maior em que estavam.
- Eu sei muito bem quem eu sou, Barton – respondeu ela, chegando até a se inclinar um pouco mais para frente no banco que sentava, suas mãos no estafado garantindo que ela não cairia – Vocês que estão com problemas para aceitar.
- Há uma energia diferente em você – comentou Thor, quando sentiu que aquele assunto havia sido encerrado, e que até era melhor abordar outro tópico antes que as coisas desandassem de vez – Mais hostil.
- Você pode sentir esse tipo de coisa? – perguntou , um tanto surpresa. Até aquele dia apenas seu irmão conseguira identificar alguma mudança na energia que ela transmitia – Você está sentindo isso agora? A coleira me faz bloquear os poderes para não ser eletrocutada, você não deveria estar notando isso.
- Estou habituado com magia, e a sua está mais poderosa – foi a única coisa que o asgardiano respondeu, deixando todas as dúvidas da mulher pairando pelo ar. Talvez tivesse que trabalhar aquilo em um futuro próximo. A coleira deveria ser uma via de duas mãos: proteger quem está a seu redor, e protegê-la em contrapartida. Se ela era incapacitada de se defender, não podia ficar perceptível, já que isso a deixaria exposta e vulnerável.
- Eles usaram o cetro em você de novo – constatou Bruce, diante do silêncio desconcertante da mais nova do grupo, que apenas assentiu.
- Você disse que ele não tinha mais poder sobre você – lembrou Steve. Seu tom de voz descrente fez com que ela sorrisse.
- Se eu não permitir... – suspirou ela, se voltando para o teclado na bancada, passeando pelas informações recém-liberadas que também eram expostas em frente ao bar, embora em uma proporção menor. A coluna de seu irmão rodava alguns vídeos de treinos sob o comando do Soldado Invernal, e ela agradecera pelo áudio estar desligado. Não era algo certo, mas ela temia que algo em sua mente travasse se ouvisse a voz do assassino, além de que teria que dar várias explicações que não desejava. Não podia despejar informações demais sobre eles, ou poderia perder o controle da situação, que tanto trabalhara para conquistar, mesmo que cada vez sentisse que ele escapava mais por entre seus dedos, ou que aquela sensação de estar no comando não passava de uma ilusão, talvez uma brincadeira de sua mente debilitada.
- Você permitiu?
- Me pediram com educação – foi a única resposta que o Capitão obteve, já que a atenção da mulher logo era por completo do teclado que não lhe obedecia. Seus dedos batucaram na madeira brilhante mais algumas vezes até entender que tivera permissão apenas para desvendar o código, e que agora mais uma vez ela estava bloqueada para qualquer ação, por isso se virou para o pai ao seu lado, tentando tirar os rastros de irritação de seu rosto antes de lhe fazer o pedido – Pode liberar meu acesso aos arquivos, Tony? Preciso checar uma coisa.
- Não, não posso – avisou o homem, se virando para ela com os braços cruzados e olhar desafiador, a espera de alguma retaliação que nunca chegou – Faça o comando verbal e talvez eu libere.
ponderou por alguns segundos e revirou os olhos demoradamente. Era uma péssima ideia, mas não dava para reclamar tanto. Os comandos verbais tornariam muito mais fácil a tarefa da equipe de tentar desvendar o que ela planejava, e, pela falta de tempo, era a única alternativa que lhe restava.
- Corvo mais velho. Processos submetidos durante os primeiros cinco anos de vida.
- J.?
Quando as informações começaram a voar pela tela, se virou para a que continuava no fundo da sala, já que estava perto demais para conseguir ter uma boa visão e não pretendia se levantar. Seguindo uma ordem decrescente, várias fotos de Petr passaram pela tela, começando da mais recente – que deveria ser de alguns meses atrás – até as primeiras registradas, que acompanhavam as informações que requisitara. Abaixo da foto correspondente ao período descrito, havia incontáveis tópicos, todos relacionados aos testes que o garoto havia sido submetido e as alterações feitas no soro para que atingissem o objetivo com a cobaia. passeou os olhos superficialmente pelas palavras, em busca de termos chaves sobre o que encontrara na pasta física em Moscou, mas não encontrou o que procurava.
- Corvo mais jovem – tentou ela mais uma vez, olhando rapidamente para o pai para confirmar que ainda tinha a permissão – Citação em missões durante o primeiro ano de vida.
De maneira semelhante ao irmão, algumas fotos suas mais recentes apareceram, enquanto J.A.R.V.I.S. fazia a busca nos arquivos. A foto atual já era em seu uniforme da HYDRA, e ela sequer se lembrava de ter posado para o registro, visto que ela estava perfeitamente enquadrada na imagem e encarava a câmera. A anterior era ela em Washington, deixando o cemitério depois que todos seus problemas com o Congresso haviam sido resolvidos, na companhia de Steve, Natasha e Sam. Depois disso as fotos começaram a ter um maior espaço de tempo entre elas, provavelmente pela pouca atividade importante que realizava, que talvez não valesse a pena registrar em arquivos separados. Seu período como responsável pela Fase 2 da S.H.I.E.L.D. tinha uma pasta separada, assim como seu ingresso na agência. Antes disso, tinha apenas a colagem de duas fotos suas na companhia de Tony – uma em algum evento das Indústrias Stark, já que seus trajes não eram dos mais casuais, e outra onde ela dormia em seus braços, enquanto ele caminhava por algum lugar que aparentava ser pouco movimentado. Diferente da pesquisa nos arquivos de Petr, a busca não parou em nenhuma foto que ilustrava a idade, piscando um irritante “não há registros” em vermelho algumas vezes.
- Soldado Invernal. Missões de janeiro de 1989 a dezembro do mesmo ano.
Pasta não encontrada.
- Por que eu ainda fico surpresa? – resmungou , as mãos passeando pelo rosto em um movimento cansado. Claro que ela já imaginava que não encontraria nada aquilo em arquivos virtuais, mas ainda tinha esperanças de que um dia o Universo conspiraria a seu favor. Não que ela merecesse alguma ajuda divina, mas seria bom, para variar.
- O que você está procurando, exatamente? – questionou Tony ao seu lado, ainda um pouco em choque pelo Soldado Invernal ter sido mencionado sem o menor aviso prévio. Ele notara como Steve também ficara tenso, provavelmente na expectativa da mulher explicar o que acontecera semanas atrás em Fort McMurray, mas ela não parecia disposta para aquilo, se virando mais uma vez para o bar e encarando a notificação de “pasta não encontrada”, que continuava a piscar em vermelho, quase como se zombasse de sua ingenuidade.
- Desculpe, não vou contar agora – respondeu ela em quase um sussurro, encarando momentaneamente as mãos que descansavam em seu colo. Suas mãos estavam um tanto geladas e trêmulas, e não sabia dizer exatamente o motivo daquelas reações. A coleira em seu pescoço a obrigava a suprimir seus poderes, e aquele era um dos momentos que ela mais precisava deles: tinha que manter as aparências e ao mesmo tempo se curar. Fosse a quantidade de soro a que fora exposta nos últimos momentos na HYDRA ou fosse o dano cerebral que fora causado pela máquina, o fato era que ela estava mais debilitada do que jamais se lembrava, e os poderes fora de ar apenas atrasavam ainda mais o processo de cura que provavelmente seria mais lento que o habitual. Precisava logo fazer algo a respeito disso, ou as consequências seriam irreparáveis. Respirando fundo, voltou a se virar para o pai, que estudava com cuidado seus movimentos, usando o melhor tom de voz calmo e amigável que tinha – Pode me liberar para estudar um pouco melhor a ficha do meu irmão? Deve ter alguma brecha em algum lugar, e não dá para checar isso por comando de voz.
Tony relutou por alguns segundos, até procurando socorro no olhar dos outros membros da equipe, apenas para suspirar alto no final e liberar o acesso da filha.
- Vai contar agora o que está procurando? – arriscou Tony, apenas para ouvir a mulher suspirar alto, coçando a nunca rapidamente antes de passar a trabalhar com a permissão recém-adquirida.
- Nessa família, e em família estou incluindo o lado Ivanov também, desculpe... – murmurou ela, tão rápido que eles mal conseguiram acompanhar – Quem vocês acham que foi o mais enganado? Você? Eu? Não, foi Pete. Se voltarmos um pouquinho na história, ele é o centro disso tudo, não nós.
- O outro Corvo? – arriscou Thor, seu maxilar travado ao relembrar o combate com o outro Ivanov – Não gostei dele.
- Foi por isso que eu fiquei na HYDRA – continuou a mulher, ignorando o comentário do asgardiano, mesmo que concordasse que as vezes seu irmão conseguia passar dos limites no sentindo encher o saco – Eu sabia que tinha algo errado, e eu era a única que podia fazer alguma coisa.
- E o que você fez? – questionou Natasha, mesmo que algo lhe dissesse que ela não queria saber. Sua constatação veio quando em sincronia todos os Vingadores sentiram o sangue gelar em suas veias.
Aquela risada não antecedia coisa boa.
- Pergunta errada – avisou , girando na banqueta para fitar a equipe agora tensa e apreensiva, sentimento que apenas se acentuou com o sorriso cruel que não sumiu de seu rosto – “O que você está fazendo, ?” seria a certa.
Tony fora o primeiro a reagir, pegando a garrafa que deixara sobre o balcão e tentando atingi-la com o objeto. Só que, mesmo sem seus poderes, ainda era mais rápida do que ele, se jogando em um movimento ágil para o chão quando a garrafa estava na metade do percurso para acertar sua cabeça, chutando o joelho do pai para o lado quando já estava segura no piso, estremecendo brevemente tanto pelo estalo alto que a articulação produzira como pelo grito abafado que Tony dera antes de se juntar a ela no chão. Os outros membros da equipe não tiveram a mesma oportunidade de tentar fazer algo a respeito, já que logo estavam cercados por armaduras da Legião de Ferro, sob a mira de suas armas.
- Eu não faria isso, Thor – avisou enquanto se levantava, vendo o deus esticar a mão para convocar o martelo – Dê a entender que está tentando convocar o martelo e alguém sai machucado.
Já de pé, pediu para J.A.R.V.I.S. desativar a coleira antes mesmo de olhar para seu pai jogado no chão, segurando a perna lesionada. Ela sequer precisava olhá-lo para imaginar o semblante traído que ele usava, e talvez fosse precisar trapacear um pouco, deixando que seus poderes filtrassem as emoções que esboçava. O dispositivo se desligou com um bip, mas mesmo assim optou por tirá-lo primeiro do pescoço apenas por garantia antes de permitir que seus poderes voltassem a agir como bem entendiam. Os Vingadores todos ofegaram ao notar um brilho azul celeste que percorreu a pele da mulher, como um pulso elétrico, terminando na ponta de seus dedos e em seus olhos. Em seus olhos eles permaneceram por mais um tempo, enquanto ela parecia estudar as próprias mãos, como se algo estivesse errado. Em um certo momento, eles poderiam jurar que a ouviram sussurrar um desesperado “não vai dar tempo” antes de balançar a cabeça com violência e se direcionar para Tony caído próximo a ela.
- Fica longe de mim...! – grunhiu o homem, tentando manter a distância entre eles, mas, como um de seus braços mantinha o joelho lesionado próximo ao seu corpo, ele estava com poucas formas de locomoção. O olhar que a filha lhe lançara não tinha mais nenhum vestígio do brilho azul de seus poderes, mas era aquilo que ele via, era aquilo que ele se forçava a ver. A ameaça. Se por um instante ele vacilasse e considerasse seu relacionamento com aquela mulher a sua frente, ele estaria perdido, todos eles estariam condenados. Porque Tony a protegeria, mesmo sabendo que não era algo reciproco.
- Não percebeu ainda? Não é tão fácil se livrar de mim... – resmungou ela, se agachando para puxar o pai pela blusa que usava quando ele insistiu em tentar se afastar, o jogando sobre seu ombro na primeira oportunidade – E vê se não reclama tanto. Foi só um ligamento estendido. Não é tão demorado para curar isso.
- Me põe no chão, . Agora.
- Eu vou te colocar no sofá, que é bem mais confortável... – retrucou ela, o jogando até que com delicadeza no móvel que até segundos atrás era ocupado por Steve e Clint, que agora estavam cercados por armaduras mais ao fundo da sala – Vou precisar que vocês sejam um pouco dramáticos, mas também não precisam exagerar.
- O que você pensa que está fazendo?! – indagou Thor, assim que a mulher correu de volta para o bar depois que algo apitara.
- Tirando vocês da jogada.
- A Srtª Stark está desativando o sistema de segurança da Torre.
- Você está deixando alguém entrar – constatou Tony, se sentando com certa dificuldade. Diferente dos colegas, apenas duas armaduras estavam responsáveis por sua guarda, já que além de aparentemente não conseguir convocar seu traje, não conseguiria fazer muita coisa sem ele.
- Exatamente.
- Foi tudo parte de um plano, não é? – arriscou Natasha, rindo sem humor algum. A russa na verdade queria socar o conterrânea até que seu bom senso voltasse, e até queria rir, mais por não ter percebido aquilo com mais antecedência. Eles foram ingênuos em confiar minimamente nela com tanta facilidade.
- Mas é claro que não – respondeu ela rindo – Eu só sou inacreditavelmente muito boa com improvisos.
- Você não vai conseguir fugir, – avisou Steve, atraindo sua atenção. O soldado não fazia ideia de como cumpriria aquela promessa, mas iria. Ele já estava cansado de perder pessoas, e, mesmo que aquela não fosse a que conhecia, ela não seria inclusa naquele grupo mais uma vez, não sem ser por cima de seu cadáver – Você não vai.
- Quem disse que eu quero sair daqui? – repetiu a mulher confusa, deixando momentaneamente o teclado de lado para se virar para eles, buscando alguma resposta em seus olhares raivosos – Vocês ainda não entenderam, não é? Céus, pensei que vocês fossem mais inteligentes do que isso...! Eu disse que tinha algo errado na história e que eu tinha que fazer algo a respeito.
- Seu irmão...? – arriscou Natasha, erguendo levemente as sobrancelhas surpresa quando a mulher assentiu.
- Ele está entrando na Torre, e ele está sozinho – contou . Seus dedos voltaram a trabalhar em sequências de códigos e comandos, tentando arquitetar uma estratégia com menos danos possíveis – Krigor nunca o enviaria para cá depois de tudo, ele está desobedecendo umas vinte ordens para tentar me resgatar.
- Eu não estou mais entendendo nada – comentou Bruce, rindo nervoso. Uma das armaduras que o guardava encarou como suspeita a movimentação de suas mãos, apontando com mais empenho as armas em seu braço na direção de seu rosto, em um aviso silencioso.
- Srtª Stark, aconselho que o Dr. Banner seja retirado do ambiente.
- Bem lembrado, J. Escolte-o para o quarto dele, por favor.
- Você só pode estar brincando.
- Eu tiraria todos vocês daqui, mas vamos dizer que eu não estou em condições para entrar em combate, e, como a situação aqui vai ficar um tanto imprevisível, alguns vingadores de reserva não me parece uma má ideia – explicou ela, até chegando a erguer sua camiseta para mostrar um brilho azul próximo de suas costelas: uma área que ainda não estava nem perto de estar curada mesmo com seu organismo se focando nisso, e que claramente poderia se tornar um problema – Eu sei que vai parecer a coisa mais ridícula para falar nesse momento, mas vocês precisam confiar em mim.
- Você está nos fazendo de reféns.
- Porque sei que vocês não confiam em mim, e eu não estou julgando – ela concluiu a constatação do arqueiro – E eu estaria se tivessem. Se eu deixar vocês interferirem, ele não vai me escutar. Então, se quiserem manter as expressões irritadas, vai me ajudar bastante.
- Ah coração, não vai ser difícil – disse Tony entre gemidos baixos, que tentava confirmar que sua articulação estava no lugar certo.
- Thor, eu disse sem martelo – lembrou mais uma vez, reconhecendo o movimento da mão do asgardiano depois de tantas vezes que presenciara aquela cena. Ela sequer se virara para ele, apenas parando de digitar com uma mão para apontar em sua direção, deixando claro que estava ciente do que ele planejava – Você de todas as pessoas deveria saber o que é tentar salvar um irmão.
- Exatamente por isso quero te parar – retrucou ele, o tom traído e ao mesmo tempo cheio de simpatia por ela fazendo com que a mulher hesitasse por alguns instantes – Eu já estive em seu lugar, e não quero que passe pela mesma coisa que eu.
- Ele não é o Loki – respondeu ela por fim, mesmo que sua voz não tivesse soado tão firme como queria. O que mais a desconcertara não era a comparação de seu irmão com o que se tornara um inimigo pessoal seu, mas o fato de Thor não ter sido capaz de salvá-lo, mesmo com todos os seus esforços – Se me deixarem fazer as coisas do meu jeito, ele passa para o nosso lado.
- Ainda existe um nosso lado, ? – indagou Natasha – Ou você não acabou de tomar um terceiro?
- Qualquer lado que queira o Krigor morto é meu lado.
- E você ainda não percebeu como isso te torna manipulável?
- Vocês ainda não entenderam, não é? Ela tinha duas crianças e só poderia levar uma – grunhiu ela, abandonando todo seu trabalho depois de não conseguir se manter indiferente às acusações de sua antiga mentora – Dois irmãos, dois iguais. No momento que ela me tirou da HYDRA, ele virou minha responsabilidade. E vocês não vão me atrapalhar.
até pretendia voltar a trabalhar com J.A.R.V.I.S., e seus dedos até chegaram a ficar suspensos sobre o teclado, até que notou uma presença discreta próxima ao elevador, e a tensão que se intensificou nos Vingadores era uma dica um tanto óbvia de quem se juntara a eles.
Petr não estava com seu uniforme completo, nem muito bem organizado: a jaqueta mais grossa que tinha como função levar a maior parte dos danos estava mal abotoada, e sua máscara estava presa de qualquer jeito em seu cinto, deixando seu rosto cansado e pálido completamente livre. não pensou duas vezes antes de correr em sua direção, se jogando nos braços do irmão como dava, incumbindo a ele a tarefa de manter os dois em pé. Mesmo com a considerável distância, os Vingadores conseguiram notar como a mulher tremia, o claro desespero de seus dedos ao agarrarem o material das costas da jaqueta do irmão, como se temesse que ele tentasse se afastar. Petr em contrapartida parecia muito mais controlado que a irmã: apenas um de seus braços passava pelos seus ombros, a mantendo próxima, seu queixo apoiado na lateral de sua cabeça, alguns dos fios de cabelo dela ficando presos entre sua barba um pouco mais grossa que o de costume, e parecia murmurar algo em seu ouvido, já que ela balançava a cabeça em negação. Seu outro braço pendia ao lado do corpo, mas mesmo assim seus dedos não diminuíram o aperto na arma que carregava.
- Eles te machucaram? – foram umas das primeiras coisas que ele perguntara, e ela logo negou. Só então seu olhar caiu sob os Vingadores no fundo da sala, cercados por armaduras que já sabia que funcionavam sob o comando da Inteligência Artificial de Tony Stark – Você tomou controle da Torre, não é?
- Eu te disse que conseguia lidar com eles – resmungou contra o peito do homem, se afastando minimamente depois para arriscar olhar para a equipe, que não parecia estar fingindo a revolta que transmitiam. Com cuidado, Petr a afastara mais um pouco, pegando uma de suas mãos e lhe entregando a arma que até agora portava.
- Vá em frente, дорогая – murmurou ele um pouco mais alto, seu olhar travado no grupo enquanto seus lábios beijavam a têmpora da irmã – Termine com isso de uma vez...
ajeitou melhor a pistola em suas mãos, ainda sentindo um leve tremor em seus dedos mesmo depois de tentar os encerrar. Cometera o erro de focalizar sem querer em Steve, acompanhando as mudanças em seu rosto enquanto ela empunhava a arma, mesmo sem mirar em alguém específico. Ele não parecia acreditar que mais uma vez ela estava com uma arma apontada para algum deles, e ao mesmo tempo parecia tão cansado daquilo tudo como ela. Petr pareceu notar alguma hesitação nos movimentos da irmã, aproveitando o braço que passava por de trás de seus ombros para agarrar com violência seus cabelos na altura da nuca, puxando sua cabeça para trás enquanto com a outra mão ele rapidamente puxara uma adaga. A arma teria pelo menos se aproximado do pescoço de sua irmã se ela não tivesse sido mais ágil, golpeando o braço que segurava a arma para que ele perdesse sua posse, e virando o rosto o máximo que conseguia para morder seu antebraço, fazendo que ele perdesse o aperto em seus cabelos. Mesmo com o pouco espaço entre eles, conseguira erguer uma das pernas, o chutando no abdômen para longe.
- Traidora – acusou ele, quando mal atingira o chão.
- Não pelo que você acredita – retrucou ela, depois de transformar a arma que o homem lhe entregara em uma bola de metal contorcido ao constatar que se tratava apenas de munição comum. Quando se levantou, o russo empunhava mais uma vez sua adaga – Guarda isso, Pete... Eu sou a única pessoa viva que realmente se importa com você, me matar é idiotice.
- Quem disse que eu vou te matar? – retrucou Petr, rindo como se tivesse ouvido a melhor piada do ano – Eu estou te levando para casa.
Mesmo não precisando de um aviso, já que estava mais do que ciente da movimentação da equipe, J.A.R.V.I.S. lhe alertou das “intenções do Capitão Rogers de interferir”, assim como seu pai, mesmo estando jogado no sofá.
- Controle seus amiguinhos, irmãzinha – comentou Petr, apontando com a cabeça para eles – Porque se você não terminar com eles, eu vou.
- Pete... Preciso que me escute dessa vez. Você precisa confiar em mim nessa, ok? - começou , tentando ignorar toda a hostilidade que dominava o ambiente, vindo de todas as direções possíveis. Ela era o único ponto neutro naquela sala, e de repente a tarefa de manter todo mundo vivo e inteiro lhe pareceu um tanto impossível. Não que ela fosse desistir agora. Não havia passado por tudo aquilo para deixar a missão incompleta, muito menos falhar – Krigor pode ter contado para a gente algumas coisas que não eram nem um pouco verdade... Eu posso estar sem provas concretas porque ele meio que já deve ter destruído os arquivos, então você vai ter que confiar em mim porque eu não quero nada menos do que o seu bem.
Petr lançara a adaga em direção à irmã, na altura do ombro, a deixando apenas com duas opções: ou ela pegava a arma antes de atingi-la, ou desviava. Por alguma razão que o russo desconhecia – talvez os malditos americanos tivessem brincando com o organismo dela também –, Dominik estava um tanto debilitada, seus movimentos mais lentos e forçados, então não seria completa garantia que ela conseguiria segurar a arma sem acabar se machucando. Apenas quando saiu do percurso da arma que ela percebeu que não era a única que poderia ser atingida, que depois dela, Bruce também era um alvo. Antes mesmo que tivesse tempo de dar um comando, uma das armaduras próximas se colocou em frente ao cientista, segurando a lâmina entre seus dedos metálicos, assentindo com a cabeça pelo olhar de agradecimento da chefe.
- Certo, vai ser da maneira dolorida então – suspirou a mulher, vendo que o irmão começara a se aproximar com passos lentos e os punhos fechados – J.A.R.V.I.S., não deixe que eles interfiram.
- Estou tentando, senhorita.
Petr tentara lhe aplicar um gancho de esquerda, e rapidamente ela segurou seu braço, impedindo que ele finalizasse o movimento. Antes que ele pudesse continuar os golpes com os membros livres, pegou impulso e jogou as pernas para cima, prendendo o ombro do irmão entre suas panturrilhas. Girando o corpo, ela ouviu o estalo alto da articulação de Petr sendo deslocada antes mesmo de ambos irem ao chão. Assim como o irmão, terminara de costas no piso lustrado sem delicadeza nenhuma, tendo dificuldades tanto para recuperar o fôlego que lhe escapara como para fazer sua cabeça parar de girar pela movimentação repentina.
- Srtª Stark, tem certeza que não quer que eles interfiram? – questionou J.A.R.V.I.S., quando Petr com o ombro deslocado conseguiu se recuperar muito mais rápido do que ela.
- Só se a coisa ficar muito feia para o meu lado – retrucou a mulher, rapidamente esticando a perna para chutar a nova arma que o irmão empunhava, só que ele já esperava aquele movimento, segurando seu tornozelo com a mão livre, golpeando com o outro cotovelo sua coxa um pouco acima do joelho. Como já tinha entendido o que Petr planejava, flexionou a perna presa e girou o corpo no chão para que ele perdesse ou aperto em seu tornozelo ou o equilíbrio por se recusar a soltá-la. Como se tratou da última opção, ela ainda conseguiu aproveitar o movimento que começara e acertou com velocidade o rosto do russo com o calcanhar da outra perna.
Petr caíra afastado da irmã, passando rapidamente a mão no maxilar para limpar um pouco do sangue que lhe escapava da região que a pele cedera, se colocando de pé logo depois da mulher. Como não viera tão preparado para batalhas, seu poder de fogo era limitado. Uma pistola já destruíra, e uma de suas lâminas estava presa com uma das armaduras. Ainda tinha mais duas pequenas adagas escondidas em seu uniforme, e outra arma em seu coldre – e ele optou pela última.
desviou com mais agilidade que acreditava ter no momento dos dois disparos que seu irmão conseguiu dar, gritando instruções para que J.A.R.V.I.S. ficasse atento. Mais uma vez tentara chutar a mão de Petr, mas falhou porque ele já esperava aquele movimento. permitiu que o corpo terminasse o giro do chute que não acertara nada, ficando de costas para o homem e lhe chutando mais uma vez com o calcanhar, só que agora no abdômen, mais uma vez sem obter sucesso. Aproveitando da posição, ela segurava o pulso do irmão que empunhava a pistola com as duas mãos, tentando manter a arma apontada para o chão enquanto tentava tirá-la de sua posse. Mais uma vez a mão de Petr se encheu com os cabelos da irmã, a puxando para trás enquanto ela grunhia baixo. Sabendo que não tinha outra escolha a não desarmar o russo, primeiro puxou o braço dele como se fosse envolver o seu, apenas para girar seu corpo em seguida, sem alterar suas posições, mas agora o braço do irmão ficando às suas costas. Petr sabia que ela arriscaria aquele movimento, por isso até chegou a relaxar o braço para conseguir mirar em algo antes de perder a arma de suas mãos. O som do disparo antecedeu um gemido baixo da mulher antes que ela pudesse terminar o golpe, continuando a girar o corpo e forçando suas costas contra o cotovelo esticado do russo, até que ele não tivesse escolha a não ser soltar a pistola, permitindo que a pegasse e se afastasse dele com agilidade, parando a uma distância segura e com ele em sua mira.
- Relaxa, foi de raspão – avisou ela, assim que Clint gritou por seu nome ao fundo, claramente tendo problemas com as armaduras que o mantiveram no lugar. Uma mão livre da mulher tentava tampar a mancha vermelha em sua regata, mantendo a pressão até que seu corpo conseguisse parar a hemorragia.
- Puxe o gatilho, Stark – rosnou ele, um pouco de seu sotaque finalmente dando as caras, pronunciando o sobrenome com todo o ódio possível, a respiração pesada evidente no movimento de subir e descer de seu peito, tão ofegante quanto a mulher.
- Não me chame assim... – avisou a mulher, destravando a arma – Eu continuo sendo sua irmã.
- Puxe. O. Gatilho. Stark - disse ele pausadamente, voltando a gritar em seguida – PUXE O MALDITO GATILHO!
- PARA DE GRITAR COMIGO, INFERNO! – berrou de volta, chegando até a tirar a mão de seu ferimento para dar mais estabilidade a arma, sujando seu metal com sangue – Você que está forçando essa situação...! Você simplesmente escapou da HYDRA! O pai não te mandou me capturar que eu sei muito bem porque não faz sentindo ele tentar me resgatar depois de quase me matar! Você fugiu do mesmo jeito que eu! Na verdade, você fugiu com mais glória do que eu, já que eu fui resgatada.
- Você é uma traidora.
- A mãe? Ela era uma traidora – corrigiu a mulher – A mulher teve uma epifania e percebeu que aquilo era furada! Por isso ela me deixou com o Tony. Ela ia voltar para te buscar, mas n...
- Do que você está falando?! Ela morreu em um acidente, Dominik – Petr interrompeu a irmã, rindo descrente – O Invernal a matou durante uma sessão de reparação. Você sabe disso.
- Não, Barnes a matou porque ela era a missão dele. Missão que Krigor designou. Foi a punição dela por ter me tirado da HYDRA! – contou , um arrepio ruim percorrendo seu corpo por finalmente estar contando aquilo a alguém, por ouvir aquelas palavras em sua própria voz – Pense um pouco: se ela morreu na Sibéria, como eu fui parar em NY? Eu não sei você, mas a ideia de que ou a HYDRA resolveu mandar a garotinha órfã de mãe para a família do pai me parece muito mais absurda do que um bebê de três meses fugindo de uma das bases mais seguras e pegando um avião. A história que nos contaram não faz o menor sentido, Pete!
- E quem te contou isso? – questionou o russo, sem se abalar pelas palavras da irmã. Aquilo não havia partido dela, e ele tinha certeza disso. Eram palavras de um terceiro, e ele tinha um suspeito – Barnes?
- Tipo isso...? – se xingara por sua voz ter perdido completamente a firmeza, já adiantando a reação nada amigável do irmão, que cumpriu suas expectativas: ela teve que disparar uma vez para que ele se lembrasse que ela que estava no comando da situação, mesmo que não tivesse o atingido.
- Você perdeu a cabeça, assim como ele...! – riu Petr descrente, voltando a adotar uma postura mais raivosa em seguida – Então você acredita mais no soldado desmemoriado do que no nosso pai?
- Ele não é meu pai.
- Então quem é?! – berrou Petr, se adiantando em um movimento tão rápido que mal conseguiu acompanhar. Em um momento ela estava disparando para avisá-lo que deveria manter distância, no outro ele estava estapeando a arma para longe de seus dedos, uma das mãos dele se fechando ao redor de seu pescoço, a tirando do chão – O maldito americano?
tentou se libertar algumas vezes, mas naquele momento seu irmão era mais forte do que ela, e sua mente ainda resolveu que era um bom momento para lhe pregar uma peça. A cada segundo que se passava sem oxigênio, a figura de seu irmão ia se alterando, até que ela não via mais a sua frente os olhos escuros de Petr, mas os azuis gelados e animalescos do Soldado Invernal. Aquele medo antigo voltou a percorrer suas veias, mas não era por pensar que morreria: era medo de permitir que Barnes fizesse algo que o assombraria mais depois.
- B-bucky... Pare.
Petr demorou para compreender o que ela falara, já que sua voz estava prejudicada pela falta da circulação de ar, mas quando compreendeu, foi um movimento involuntário libertar a irmã, o som desesperado de seu corpo recebendo mais uma vez oxigênio preenchendo seus ouvidos assim como o baque de seu corpo mole atingindo o chão. Antes que pudesse reagir, uma das armaduras entrara em ação, o lançando para longe ao golpeá-lo no rosto, enquanto uma segunda saiu em socorro da mulher caída, que continuava a produzir aquele ruído desesperado por ar enquanto não se acalmava.
- D-do q... Do que você me chamou? – ofegou o russo, se colocando de pé sem pressa. Dominik ainda estava deitada no chão, a respiração ainda fora de controle, mas mesmo assim parecia estar passando ordens para as armaduras manterem os Vingadores presos.
- Você não sabia? - a mulher engasgou com a própria risada, gastando mais alguns instantes para poder voltar a falar – A forma favorita do Invernal de matar alguém é por estrangulamento. Foi assim com a mãe, quase foi assim comigo duas vezes. Então avizinho para o futuro: fica longe do meu pescoço.
- E mesmo assim você ainda acredita no cara? – debochou Petr, assistindo a irmã se levantar com a ajuda da armadura, que manteve uma mão de metal em sua cintura, garantindo que ela ficasse em pé enquanto ela se acostumava mais uma vez com o próprio peso – Era para você ser a inteligente de nós dois.
- Um dia você ainda vai ter que agradecer muito o Barnes pelo o que ele fez.
- O que? Matar a mãe e quase conseguir a mesma coisa com você?
- Srtª Stark, a Dama está sendo ativada – anunciou J.A.R.V.I.S., a tirando momentaneamente da discussão.
- Nã..! Na verdade, excelente ideia, J.– negou a mulher em seguida, sem entender de fato o que o sistema estava sugerindo, e só depois se xingando por não ter pensado naquilo mais cedo. Do andar próximo da manutenção da Legião de Ferro, ela conseguiu sentir J.A.R.V.I.S. seguindo suas instruções. Aquela seria sua última carta da manga, e ela agradeceria muito se não precisasse a usar – Última chance, Pete. Você no fundo sabe que eu estou falando a verdade, mas não faz diferença nenhuma se você não aceitar.
- Eu não vou acreditar em nada que venha do Invernal – disse Petr, o tom em sua voz deixando claro que não discutiria mais aquilo, que era um assunto acabado – E você também não deveria.
- Eu sei que vai soar ridículo, mas no momento Barnes é a pessoa mais consciente de nós três.
- Pelo amor de Deus! – berrou o homem, pegando o impulso para extinguir de vez a distância entre ele e a irmã – Você realmente quer que eu acredite nisso?!
Antes que Petr pudesse realmente alcançá-la, uma das armaduras antigas de Tony entrou pela janela, o golpeando no pescoço com o joelho flexionado, fazendo com que ele recuasse alguns bons metros. A primeira coisa que todos estranharam – até mesmo o russo –, era a falta do braço direito da armadura, que o ameaçava apenas com o esquerdo. em contrapartida não demonstrou nenhum sinal de surpresa, então todos assumiram que ela ainda planejava mais alguma coisa.
- Senhor, tenho que pedir que se afaste. Ameaças à vida da Srtª Stark não são bem aceitas nesse prédio.
- Eu não escrevi isso, mas até gostei – comentou rindo, embora seu rosto continuasse sério – J.A.R.V.I.S., mande o resto.
- Srtª Stark, as simulações mostram falhas perigosas no protótipo, devo lembrar que essa escolha não é recomendáv...
- Então recalibre! Só faça o que eu mandei – ordenou ela, e, como o sistema não insistiu mais, ela assumiu que ele estava apenas ocupado fazendo os últimos ajustes – Última chance, Pete.
- ...?! – questionou-a Tony, um tanto desesperado ao notar algo voando no laboratório acima da sala em que estavam.
- Não era chamada de Ás por ficar sem cartas na manga.
Em segundos, dois objetos voaram pela sala: o primeiro, o maior de todos, colidiu com as costas da mulher, suas peças se ajeitando agilmente até que a parte superior de seu tronco estivesse protegida pela armadura prata; enquanto a segunda atingiu as costas de sua mão direita, as peças vermelhas logo cobrindo todo seu braço. respirou fundo algumas vezes, tentando se adequar ao peso da armadura que suas pernas agora tinham que suportar, e, pela falta de um braço, ela ainda tinha dificuldades para se equilibrar.
Ela definitivamente odiava ficar de armadura, não se lembrava porque insistira naquela ideia idiota.
- Eu não quero mais lutar com você, Pete. Só que se alguém tem que te parar, esse alguém sou eu – disse ela com cuidado, chegando a erguer a mão direta na direção do irmão, posicionando a esquerda em seu pulso por saber que o ricochete seria violento. Se tivesse que disparar, pelo menos esperava não perder o braço – Última chance, e agora eu estou falando sério.
Assim que a armadura autônoma saiu de entre eles, Petr também saiu da posição de ataque. Seus ombros ainda tensos relaxaram minimamente, e ele deixou que sua cabeça pendesse para frente, fitando o chão com os olhos vagos. Se sua irmã tinha uma última cartada, ele não estava muito atrás.
- Dezenove... Água-marinha... Pólvora... Oito... – murmurou ele em russo lentamente, e logo a mulher ficou tensa, inexpressiva – Rua vazia...
Demorou para que as emoções voltassem a habitar seu rosto, mas quando voltaram, foi como uma fúria sem igual. O braço de que chegara a vacilar se ergueu mais uma vez, e ela não hesitou em dar o comando para o disparo.
O disparo nada mais era do que um pulso eletromagnético, forte o suficiente para fazer cair toda a energia do andar e inutilizar as armaduras que convocara mais cedo, que foram ao chão com um estrondo, mas que ninguém chegou a ouvir. Os Vingadores perderam a audição por alguns instantes – Steve por um pouco mais de tempo do que os outros, já que sua audição também era sobre-humana, embora não se comparasse a dos irmãos Ivanov –, e eles mal acompanharam o desenrolar dos acontecimentos: sem saber distinguir quem era alvo e quem disparara, o pulso jogara ambos os Ivanov com violência para trás. Petr atingira uma coluna com as costas antes de ir ao chão, e ficar ali. Já fora lançada em direção ao bar, suas costelas quase se encaixando no balcão antes ser jogada para o outro lado, acertando algumas garrafas no processo.
“- Bayu Bayushki Bayu.
A voz calma e um tanto grave o ninava como mais ninguém conseguia. Até mesmo Dominik, já conhecida pela base por sua forte oposição ao silêncio, dormia tranquila em seus braços, enquanto o irmão tentava ao máximo se manter acordado, não querendo perder nada daquele momento que era tão raro.
- Valerik – uma voz mais grave preencheu o quarto, fazendo com que os dois Ivanov ainda acordados se virassem para a porta sobressaltados, avistando sem dificuldades para o patriarca da família – O que pensa que está fazendo?”

- J.A.R.V.I.S....?! – gemeu ainda no chão, tentando se apoiar em algo para levantar, sentindo uma dor insuportável na lateral esquerda de seu corpo, no começo de suas costelas. Querendo poupar aquele lado, ela tentou se levantar usando o braço direito, apenas para não conseguir movimentá-lo – Mas o q...?!
- Anotações do teste devidamente feitas – avisou o sistema, conseguindo se conectar com a sala pelo sistema de emergência – Recomendo que trabalhe no ricochete do pulso e nas defesas dos sistemas da armadura, senhorita.
- Sugestão aceita – grunhiu ela, jogando a cabeça para trás e batendo de leve no chão antes de respirar fundo e girar seu corpo para o lado esquerdo mesmo, já que não tinha outro jeito – Sugestão muito aceita mesmo...
- Múltiplas contusões detectadas.
- Sério, J.A.R.VI.S.?! – resmungou ela sarcástica, evitando respirar para não gemer enquanto se colocava de pé com dificuldades – Não estava sentindo até agora... A armadura pifou, não é?
- Temo que sim, senhorita.
“Petr se encolheu na cama junto a parede ao notar que o pai não falava em russo, mas sim em alemão com o sotaque carregado, enquanto sua mãe levantava sem pressa, devolvendo o bebê adormecido a seu berço. O problema ali não era a criança não entender o que falavam – ele não conseguia voltar em suas memórias até o ponto em que aprendera alemão, mas compreendia e falava muito bem o idioma.
O problema era que Krigor só mudava para outra língua com eles quando não era exatamente uma figura familiar, mas sim um dos líderes da organização.
- Você sabe muito bem que não tem permissão para esse tipo de contato com as cobaias – grunhiu ele rápido, olhando do garoto ainda acordado para a mulher a sua frente, que se mostrava completamente indiferente às suas advertências – Pare de pedir por punições, Valerik. Não vou pegar leve com você por ser minha esposa. Principalmente por isso.”

- O que você fez? – berrou o russo se arrependendo assim que seus ouvidos passaram a zunir ainda mais – Eu não consigo enxergar!
- É uma variação de uma arma que o governo americano não aprovou – explicou , dando a volta no bar e parando apoiada em um dos bancos, para tentar recuperar o fôlego. Seu olhar logo encontrou o de Tony, já que ele seria o único a saber do que ela estava falando. Quando o olhar confuso de seu pai mudou para repreendedor, ela quis rir, logo sentindo que era uma péssima escolha. Tinha algo muito errado com seu tórax, e, dada a confusão mental que o pulso também causara nela, não era capaz de fazer um diagnóstico – No momento estou me questionando porque acreditei que seria uma boa ideia tentar adaptá-la.
“- Você não me diz como criar meus filhos, Krigor – foi a única resposta que o homem obteve, já que em seguida ela murmurou um simples boa noite para o filho e deixou o quarto.
Krigor bufou alto depois da saída da mulher, controlando sua vontade de chutar algo porque sabia que se acordasse Dominik, mais ninguém dormiria àquela noite.
- Vê se mantenha ela quieta hoje, Pete – murmurou ele em russo, deixando o quarto só depois que o garoto assentiu.”

- Anthony, nove, habitável, introdução... E eu não lembro da última – murmurou , arrastando os pés lentamente em direção ao irmão, que tinha o olhar em direção a ela, embora ainda não fosse capaz de vê-la de fato. Sua visão ainda estava toda branca, como se o pulso tivesse acabado de ser disparado. Sua audição pelo menos estava voltando aos poucos, o zumbido em seus ouvidos sumindo gradativamente – Eu nunca me lembro da última. Não faço ideia de que tipo de mecanismo de proteção minha mente criou para eu nunca lembrar da última maldita palavra, que tipo de poder doentio ela tem sobre mim. Eu lembro de todas as outras, mesmo depois de meses sem elas me controlarem. E sabe de uma coisa? Você também tem palavras de gatilho, irmão.
Se fechasse os olhos, poderia sentir os arquivos sob seus dedos, o cheiro de papel antigo. Sequer precisava se esforçar para aquela memória dominar sua mente, para o fantasma daquela informação vir assombrar sua sanidade. Havia passado o que? Um ou dois dias consciente e ainda não conseguia acreditar que Krigor tivera coragem de ser tão baixo, que família significava tão pouco para ele.
- Sabia que é um processo muito delicado apagar as memórias de alguém? Instabilidade normalmente é um efeito colateral do processo, por isso as palavras de gatilho: para ter uma forma de controlar a cobaia – explicou . Ela parara no exato ponto onde a distância entre Petr e os Vingadores era a mesma, só restava a ela decidir para quem seguir. Tudo se resumia àquele momento. Não teria outra chance de fazer seu irmão entender como as coisas realmente funcionavam naquela família, pelo menos não em um cenário onde ele não tinha oportunidade de tentar fugir – Barnes e eu passamos por isso várias vezes, mas você só passou por uma.
queria muito acreditar que aquilo era alguma brincadeira sem graça de alguém dos arquivos, que aquilo era algo para distraí-la, despistar sua atenção do que realmente importava. Mas o pior era que fazia tanto sentido que não dava para contestar: seu nascimento em abril e sua aparição em NY apenas em agosto, nesse meio tempo Petr teria interagido com ela, se lembraria de ver a irmã pequena, mas não se lembrava. Desde que voltara para a HYDRA, notara como Petr falava pouco da mãe, e chegara a conclusão errônea de que ele não tocava naquele assunto por ser algo delicado, quando na verdade ele não tinha memórias sobre ela.
- Eles zeraram sua mente um pouco depois que eu sumi. Eles zeraram sua mente porque você lembrava da mãe fugindo comigo. Ela dizendo que voltaria por você – não sabia dizer de onde estava conseguindo forças para dizer aquilo por dois motivos: o primeiro era sua recente dificuldade para respirar, uma pressão estranha em seu pulmão esquerdo; o segundo era seu emocional aos poucos se quebrando. A ausência daquelas memórias, a ignorância daqueles fatos, era provavelmente o que mantinha o homem de pé. Ninguém tinha o direito de tirá-las dele, mas forçá-lo a aceitá-las para parecia algo tão cruel como as remover – Você surtou porque estava presente quando Krigor enviou o Barnes atrás de nós, e que a ordem de resgate era apenas para mim.
Até os Vingadores estavam reagindo àquela revelação, mas não Petr: ele se manteve inexpressivo, mesmo quando a imagem de sua irmã passou a se formar como se devia em sua retina. chegou até a se questionar se a audição dele não havia sido mais prejudicada do que deveria, mas ela sabia que ele estava sim a ouvindo. Ela só não sabia dizer se ele estava de fato a ignorando ou apenas não acreditando naquela história. Pela primeira vez em vinte e cinco anos ela estava na presença de dois pontos cegos.
- E eu sei suas palavras de gatilho, Pete, embora eu ache que elas não funcionariam, pelo mesmo motivo que as minhas não funcionam. Mas de qualquer forma eu não as usaria nem se isso fosse a única coisa que pudesse te impedir de matar qualquer um nessa sala, porque você não é só meu irmão: você é uma pessoa, não merece alguém brincando com sua mente, sendo usado como um maldito brinquedo – pela primeira vez, Petr chegou a esboçar alguma reação: suas sobrancelhas se aproximaram minimamente, e um vinco apareceu no meio de sua testa, expressando sua confusa – Só você não pensa assim, não é? Não me vê dessa forma. Você tem ciência de que há alguma conexão emocional entre nós, mas eu sou apenas uma arma para você. Eu arrisquei tudo que eu me importo por meses para salvar a sua pele, mas foi só... Desperdício de tempo. Eu não posso te salvar se você não quer ser salvo.
Petr deixou um sorriso sem humor se desenhar em seu rosto antes de abaixar a cabeça, a sacudindo algumas vezes, no que parecia descrença.
- Pertencer... – contou ele, a voz mais grave do que o de costume, graças a bola que se formara em sua garganta e ele não conseguia desfazer, não importava seus esforços. Quando notou a confusão da irmã, ele voltou a erguer o rosto, os olhos marejados – É a última palavra.
Pertencer.
A palavra ecoou pelos ouvidos de várias vezes, em diferentes tons e vozes, em diversos momentos, até chegar naquele que presenciava.
- Mas é claro que é – riu ela concordando, olhando para cima quando sentiu os olhos arderem um pouco mais do que deviam. Havia uma infinidade de palavras no mundo, e algumas chegavam a ter um correspondente em outros idiomas, mantendo seu sentido intacto. Pertencer era uma dessas, e a falta daquele sentimento era exatamente o que a acompanhara a vida toda. Nada mais justo, não? – Você sabe que eu não estou mentindo, Pete. Sei o quanto você ama o Krigor, mas ele é um monstro, e nós somos os brinquedos favoritos dele. Você não é uma má pessoa.
- Krigor te protege, e mesmo assim você está se voltando contra ele – retrucou Petr sem convicção, algo que passou despercebido pela mente confusa da mulher, que apenas se irritou mais.
- Protege?! Pete, ele nos despreza! Você acha que ele nos ama? Você acha que ele sabe o que é isso? – explodiu mais uma vez, ignorando por completo a dor em suas costelas pressionadas contra a armadura. Costela quebrada. Pulmão perfurado. Uma parte de sua mente praticamente gritava o aviso para que ela parasse antes que as coisas se tornassem ainda piores, apenas para ser ignorada – Se ele se importasse comigo ou com você, ele não teria nos transformado em armas, não teria matado a mãe.
- Ele a amava, ele nunca a machucaria.
- Aquele monstro é incapaz de amar, Petr! – resmungou ela cansada, passando a mão que ainda tinha movimento pelo rosto em um movimento desesperado. Ela simplesmente não podia estar falhando. Se o homem não aceitasse aquilo tudo de uma vez por todas, não teria mais nada que ela pudesse fazer. Ele seria preso por todos os seus crimes e não teria a menor chance de defesa. E se existia alguém naquela família que merecia uma chance para fazer as coisas direito, era Petr – Ele e a mãe podem ter tido algum desentendimento que resultou em ela tentando deixar a HYDRA, mas ele mandou o Soldado Invernal atrás dela com ordens de execução. Eu passei uma vida inteira discutindo com o Tony, me pergunte quantas vezes eu mandei um assassino de elite atrás dele. Isso mesmo: nenhuma. O que você acha que é cuidado de um pai nada mais é do que um sociopata desenvolvendo armas que coincidentemente tem o sangue dele. Não é amor. Se você não consegue entender isso até agora, não sei se tem mais alguma coisa que eu possa fazer.
esperou pacientemente pelo que pareceu uma eternidade algum sinal de que ele magicamente tinha entendido tudo, mas Petr manteve a mesma expressão traída e contrariada, para o desespero da mulher. Ela até chegou a abrir a boca na esperança de que saísse algum novo argumento milagroso, mas o único som que produzira fora um sonoro e rápido soluço de choro que a pegou completamente desprevenida. A movimentação brusca de seu diafragma permitiu que mais ar escapasse para sua caixa torácica, diminuindo o espaço que seu pulmão tinha para se expandir, e então seu choro passou ter duas fontes diferentes.
- Pai... Bruce... Ajuda – pediu ela, antes mesmo de se virar para a equipe, tomando um cuidado extra para não tropeçar nos próprios pés que pareciam abobados e sem apoio, já que uma queda apenas pioraria a situação. Bruce foi o primeiro a alcança-la, já que Tony precisou gesticular nervoso várias vezes para que alguém se voluntariasse para ser sua muleta momentânea, com Steve cumprindo o papel – A hidráulica do traje travou, e eu não consigo alcançar... A trava de emerg... Não conseguir respirar definitivamente não está ajudando.
- Por que você não está respirando? – questionou Bruce, tentando empurrar a pequena alavanca que deveria soltar todas as peças, apenas para constatar que ela estava emperrada. No que tentara aplicar mais força na peça, as pernas de cederam, ela escorregando desajeitadamente para o chão com um gemido alto disfarçado em meio ao seu choro incessante. Steve, que já estava bastante próximo, deixou Tony se equilibrar por conta própria para evitar a queda da mulher, mas chegou muito tarde, sendo capaz apenas de mantê-la no local e tentar acalmá-la – Você fez o design muito justo?
- Não... Mas a costela quebrada que o traje está empurrando mais ainda para dentro do meu pulmão está tornando tudo bem mais difícil.
Tony, pulando apenas em uma perna e depois com auxílio de Clint, se juntara ao grupo, tentando auxiliar na melhor forma que podia. Depois de pouco tempo ele constatou que não havia outra forma: teriam que cortar o traje. Clint e Natasha já estavam a postos para correrem para o laboratório mais próximo e buscarem as ferramentas necessárias, quando uma risada baixa e distante atraiu a atenção de todos.
Petr ainda estava sentado no chão, a cabeça baixa e as pernas flexionadas a sua frente. Seu tronco tremia de leve: primeiro eles pensaram que era pela risada engasgada que ele dava, e só depois perceberam que ele estava em um estado semelhante ao da irmã. Ele fungou uma ou duas vezes antes de dizer algo de fato, passando uma mão sem delicadeza sobre a boca, tirando de lá algumas lágrimas que ameaçavam atingir sua barba.
- Lembro de estar tomando conta de você enquanto o pai trabalhava e a mãe dormia.
A respiração de travou na garganta, sem saber como agir, ou o que pensar. Ela ficou ali estática, meramente existindo porque seu coração ainda continuava a bombear sangue, mesmo com a recente cobrança a mais que o músculo estava sofrendo. Sua mente mesmo havia parado de funcionar, não processava mais nenhuma informação. Ele tinha... Ele tinha relatado uma memória com ela, não tinha?
- Sabe... – continuou ele, um sorriso largo, misto de alegria e tristeza apareceu brevemente em seu rosto quando ele ergueu os olhos, facilmente encontrando os confusos da irmã, cercada pelos Vingadores em seu auxílio – Quando você era pequena, você simplesmente odiava ficar em silêncio, quase como se estivesse realmente sofrendo. Talvez fosse o soro, mas sua garganta tinha uma potência insana... Eu já tinha visto outras crianças na base, mas nenhuma gritava como você, e eu sempre era repreendido por isso. Você só ficava quieta quando conseguia agarrar meu cabelo e puxava com tanta força que até conseguia arrancar alguns fios...
- D-do que você... Do que você está falando? – indagou a mulher, a voz embargada. O que a surpreendeu foi a resposta de sua pergunta vir de alguém às suas costas.
Tony fechou os olhos com força assim que o rapaz começou o relato. Ele não sabia explicar, mas reconhecera algo na voz do russo, sabia dizer que ele não estava mentindo. Quando ele terminou de contar do que se recordava, Tony já sentia grossas lágrimas percorrendo seu rosto. Ele era só um menino. Ambos eram apenas crianças.
- ... – o Stark mais velho até pigarreou para recuperar a voz, mas sabia que não tinha como disfarçar. Pela proximidade de seu corpo do da filha, ele apoiou de leve o queixo no ombro protegido pela armadura, tentando manter sua voz baixa. Ele era só um menino, não importava sua idade. Ele era mais uma criança envolvida naquilo tudo sem que pudesse fazer algo a respeito. Ambos eram, e sua filha praticamente tivera que se destruir para resgatar o que restava do irmão – Eu passei dias sem dormir quando você chegou, e levei semanas para saber como te pegar no colo sem correr o risco de ficar careca. Ele não está mentindo. Ele não perdeu as memórias, .
Mesmo sem a confirmação de Petr, ergueu o braço esquerdo apesar de seu corpo reclamar pela movimentação, uma hora tampando a boca, outra mordendo os dedos na falha tentativa de engolir aquele choro, de se manter neutra. Mas não dava.
- Pai dizia que eu tinha que tomar cuidado com você, porque você um dia ia ser mais forte do que eu e isso ia ser errado. Eu tinha que treinar para ser melhor que minha irmã caçula – continuou Petr, depois de um tempo. Ele sabia muito bem quais memórias queria, mas era complicado verbalizá-las. Elas eram um tanto escorregadias, difíceis de organizar de forma lógica, até mesmo de extrair algum sentindo – E um dia mamãe entrou no meu quarto e... Ela saiu com você e não voltou... Sempre pensei que era algum tipo de sonho, a manifestação de um desejo antigo de ter vocês comigo... Mas eu sempre soube que era algo a mais. Sempre me apaguei a isso.
- Você recuperou as memórias? Você...? – foi forçada a parar a frase no meio, sua respiração irregular e pesada dificultando ainda mais a tarefa de produzir uma fala com sentindo – Você sabia disso o tempo todo...?! Por que nunca me contou?
Um olhar foi tudo que ela obteve de resposta, e o foi o suficiente para quebrá-la de vez. Se tivessem tecnologia o suficiente para traduzir um olhar, chegariam ao resultado que era exatamente o que Petr queria dizer, mas sabia que não conseguiria passar nem da primeira palavra se abrisse a boca.
O que você acha que fariam comigo se eu contasse, idiota?
- Droga...! Termino de tirar isso na enfermaria – avisou Tony, assim que abriu a boca para dizer algo, mas tudo que saiu foi aquele ruído característica de alguém que não conseguia respirar, o que fez com que ela entrasse ainda mais em desespero, sobrecarregando o outro pulmão que deveria estar intacto – Steve, você leva a . Natasha, pegue as ferramentas no meu laboratório, J.AR.V.I.S. vai te guiar. Bruce, você me ajuda a levantar, colega. Thor e Clint cuidam do Petr.
Todos obedeceram sem pestanejar, Steve agilmente erguendo a mulher em seus braços, com o máximo de cuidado possível para não piorar ainda mais seus ferimentos. A armadura travada foi um desafio para conseguir equilibrá-la, já que não conseguia passar o braço livre pelo pescoço do soldado, dando assim a ambos um pouco mais de estabilidade. Sua sorte era que o trajeto de onde estavam para o elevador, e do elevador para a enfermaria era bastante curto, caso contrário as chances de ambos acabarem caindo seriam grandes.
- Shh... Você precisa se acalmar – pediu ele, depois de poucos segundos dentro do elevador. A armadura não permitia que ele acompanhasse o movimento rápido e desesperado de seu peito, mas o pouco ar que entrava e saía de sua boca e nariz era suficiente para denunciar aquilo, assim como o ruído sofrido de sua respiração – Presta atenção no meu coração, ou algo do tipo. Foca em alguma coisa.
- Seu batimento está mais acelerado que o meu, Steve – comentou ela, a voz fraca e falha, mas baixa que um sussurro, mas nada que pudesse passar despercebido por seus ouvidos atentos. Um vestígio de sorriso divertido apareceu nos lábios de – Deveria pedir leito para dois?
- Certo, foi uma péssima ideia. Respiração. Minha respiração ainda está controlada – “alguma coisa você tem que estar controlando, não é, Rogers?” resmungou ele mentalmente, notando a cabeça de se apoiar mais contra seu ombro, tentando encontrar o ritmo de sua respiração, que ela logo tentou imitar – Não tente respirar fundo, fique na superficial. Isso...
sentiu um pouco mais aliviada quando pareceu tomar um pouco mais controle da situação, apenas para notar outro problema em seguida.
- Steve, não surta.
- Porque sempre acontece coisa boa quando você me diz isso.
- Eu vou desmaiar.
- Falta de oxigênio? – arriscou o soldado, ele próprio entrando um pouco em desespero ao vê-la assentir. Sem ter como liberar as mãos, tudo que ele pode fazer foi apoiar seu queixo na cabeça da mulher depois de lhe beijar os cabelos – Está tudo bem, eu estou aqui. Isso vai passar. Quando você acordar, isso tudo vai ter passado. Nova em folha, prometo.
- Tenho sua palavra, Capitão? – perguntou , que já tinha os olhos fechados. Seus sentidos já estavam bastante fora do ar, mas ela tinha certeza que tivera tempo de ouvir uma resposta.
- Sempre.

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acordou com os sentidos ainda um tanto confusos.
Ainda sentia certa dificuldade em respirar, mas nada comparado com suas últimas memórias antes de desmaiar. Alguns pontos de seu corpo imploravam por sua atenção, mas ela inconscientemente ignorava os estímulos de dor, tentando em um primeiro momento entender o que acontecia ao seu redor. Ela forçou as mãos no colchão desconfortável da maca, no intuito de se sentar, e só então ela entendeu o que era o calor e o peso que sentia em sua mão que descansava em cima de sua barriga: a palma de Steve impediu que ela se levantasse de fato, a mantendo deitada. Ainda um pouco desnorteada, ela virou a cabeça em direção ao soldado, que estava sentado em uma das poltronas de visita, bem próximo a sua cama, seu rosto com leves marcas do lençol deixando claro que ele estava descansando ao seu lado.
- Você ainda está com o tubo torácico – avisou ele, olhando rapidamente para o local que lembrava de o aparelho ter sido colocado no tórax da mulher para retirar todo o ar que escapara de seus pulmões – Ainda não saiu tudo. Consegue respirar direito?
negou com a cabeça, se deixando afundar momentaneamente no travesseiro enquanto tentava encontrar uma forma de respirar que não a incomodasse tanto. Inconscientemente, sua mão livre cobriu a mão levemente trêmula de Steve, que assim como ela encontrou certa dificuldade em respirar, se acalmando aos poucos com o aperto em busca de algo familiar que os dedos dela aplicavam em sua palma.
- Steve...? – perguntou ela, logo se arrependendo pela ardência em sua garganta por ousar usar sua voz depois da sessão de gritos com o irmão – Tem como você me arrumar outro travesseiro? A posição não está me ajudando.
Steve se pôs de pé em prontidão, mesmo que não quisesse perder o toque da mulher em sua mão, dando a volta na maca para buscar o travesseiro na vizinha, já que era a única paciente naquele andar. Com cuidado, ele ergueu a parte superior de seu corpo para ajeitar os travesseiros, depois de checar várias vezes se o comprimento do tubo era o suficiente para aquela movimentação, já que não precisavam que ela tivesse mais nenhuma complicação médica. Assim que a ajeitou de volta deitada, foi claro como passou a respirar com um pouco mais de facilidade, seu próprio rosto parecendo muito mais tranquilo.
- Você parece cansada – comentou Steve, quando ela o questionou sobre o que ele tanto encarava. O soldado havia voltado para sua poltrona, mas mantivera uma distância maior entre eles, se inclinando completamente no encosto, suas mãos trêmulas escondidas nos bolsos de sua calça.
- Talvez porque eu esteja... – brincou ela, mas seu sorriso era forçado, por isso não o sustentou por muito tempo – Está sendo um dia daqueles, em uma semana daquelas. Em uns meses bem complicados com umas reviravoltas de muito mal gosto. Então sim, eu estou cansada.
Steve apenas assentiu, fazendo uma breve retrospectiva dos últimos meses apenas para chegar a mesma resposta que a mulher: ele também estava cansado, como nunca se sentira antes. Pela primeira vez, era quase como se ele pudesse sentir o peso de seus quase cem anos em seus ombros, mesmo que não tivesse vivido todos eles.
- ...? – arriscou ele depois de muito considerar se era mesmo uma boa ideia abordar aquele assunto no momento. O lado bom era que ela não tinha como literalmente fugir daquela pergunta, já que estava presa naquele quarto por umas boas horas, mas temia tanto como o clima ficaria no ambiente como as respostas em si.
Ele não estava pronto. E notar como ficara tensa ao compreender o que ele planejava foi apenas uma confirmação disso.
- Você quer saber do Barnes – deduziu ela, tentando manter o olhar distante, temendo que não fosse aguentar ver a decepção nos olhos do soldado. Desde que Steve levara sua refeição na cela que ela se questionava sobre como contaria aquilo a ele, ou se um dia realmente contaria. Era arrependimento que preenchia seu peito, e ela sequer queria imaginar como se sentiria caso Barnes tivesse sido arrastado de volta para a HYDRA junto com ela. No momento tudo seu plano lhe parecera perfeito e agora, muito mais consciente, ela percebera como fora egoísta e ingênua.
- Você o encontrou.
- Acabei esbarrando com ele durante uma das missões... – optou por contar de uma vez, ambas as mãos tentando aliviar a tensão ao brincarem com as dobras do fino lençol que a cobria – Mandei minha equipe voltar para buscar reforços enquanto eu ficava o seguindo de longe, só que ele me descobriu e eu achei que era melhor agir logo. Poderia muito bem derrubá-lo sozinha.
- Você o capturou.
- Não, foi o contrário: Barnes me raptou – corrigiu ela, arriscando olhar para o soldado apenas para constatar seu semblante confuso – Ele se lembrava de mim, do atentado em Washington. Demorou um pouco para ele entender o que estava acontecendo, como que a HYDRA teria o mandado atrás de um deles... Então ele conseguiu fazer a ligação entre mim, Valerik, e o bebê que ele deveria proteger, e vantagem ficou toda com ele. Algumas palavras certas e eu já apresentava mal funcionamento, assim foi bem mais fácil me derrubar.
- Ele... – começou Steve, sua respiração travada no meio de sua garganta. Ansiedade e medo inundaram sua corrente sanguínea, e ele ouvia os próprios batimentos ecoarem no fundo de seus ouvidos. Quase um ano, e apenas agora ele tinha uma pista concreta de onde seu amigo poderia estar, e Steve estava amedrontado – E-ele se lembra? A memória dele antes do acidente?
- Muito fragmentada. Ele só estava um pouco mais lúcido do que eu porque: um, ele já estava a mais tempo naquele estado; dois, internet ajuda muito.
- Ele sabe quem ele é.
O tom esperançoso de Steve fez com que hesitasse. Uma voz em sua mente fez questão de lembrá-la o motivo principal de não querer relatar aquele episódio: o soldado estar ali era mais do que uma prova de que ele não se importava com todas as atrocidades que ela cometera nos últimos meses, mesmo ela tendo ciência em uma parte do tempo, mas isso continuaria mesmo quando ele soubesse que ela quase entrega seu amigo? Steve não era perfeito, tinha que ter algum limite, e se ela tivesse ultrapassado o único sem se dar conta?
- A diferença entre saber e lembrar é muito grande, Steve. Saber é um mero fato, mas lembrar é quem você é – disse ela, o pesar claro tanto em sua voz como nos olhos marejados – Barnes não é o mesmo homem que você conheceu. Sinto muito.
Steve estava tentando de fato entender o peso das palavras da mulher, mas parecia incapaz disso. Compreendera perfeitamente o que ela quisera dizer, só não conseguia aceitar. O tom na voz de era quase definitivo, como se não houvesse mais nada que pudesse ser feito, que deveria esquecer suas esperanças de recuperar o amigo, e isso no fundo o irritou. Ele só não sabia dizer com quem estava irritado de fato: com a HYDRA por ser a causa daquilo tudo, ou com a mulher por ter interagido com Bucky e não tê-lo levado para a Torre.
- Se você estava instável... – indagou ele, mesmo com a mente nublada pela confusão de sentimentos, se esforçando para encontrar alguma lógica na situação – Como ele te manteve sob controle?
- Eu sabia que algo estava errado em toda história, e sabia que Barnes tinha respostas, por isso fiquei com ele por um tempo – contou , sem dar muita atenção às palavras que escolhia, só percebendo como estava cavando a própria cova quando notou a próxima frase que iria expressar, seu sangue gelando nas veias – E quando percebi que ele não poderia me dar as informações que f-faltavam...
- ... – Steve não tivera a intenção de parecer ameaça-la, mas fora exatamente assim que soara. Seus próprios batimentos aceleraram quando a máquina que monitorava a mulher começou a apitar com menor intervalo, se mexendo desconfortável em sua poltrona quando ela engoliu em seco, seu olhar sem foco não parando por um segundo, indicando sua ansiedade.
- Comecei a deixar um rastro para que a HYDRA nos encontrasse. Eu seria punida por ter falhado e ter sido imprudente, mas teria o ponto positivo de ter auxiliado na minha busca e entregado o alvo.
- Você...
- Barnes percebeu antes que fosse tarde – contou ela logo, antes que o soldado pudesse perder a cabeça de vez – Quando a HYDRA chegou, ele já estava bem longe. Não o encontraram até hoje e não vão encontrar. Não o chamam de fantasma por nada.
- Acha que pode rastreá-lo? Se você...
- Você não ouviu sequer uma palavra do que eu disse, não é? – riu sem humor, seu olhar frio travado no confuso do homem – Quem quer seja o cara com quem você cresceu, não é ele. Não mais. A última coisa que ele precisa é de mais alguém na cola dele. Sim, Barnes sabe quem ele é. E não sei se isso é algum tipo de novidade para você, mas seu endereço é de conhecimento público. Ele sabe onde estamos, e acredito que ele não ter batido na nossa porta até agora é um sinal bem claro de que ele não está afim de conversar.
- Ele está confuso – insistiu Steve, apenas para ser cortado.
- Mas é claro que ele está! Só que uma equipe de super-heróis na cola dele não vai ajudar nada nisso – retrucou ela, vendo o soldado desviar o rosto, contrariado – Eu me recuperei rápido, mas eu sou a exceção, não a regra. Ele passou setenta anos por aquela doideira. E não vou mentir, para alguém que deveria estar com o cérebro já transformado em geleia, ele está indo muito bem.
Quando Steve não voltou o rosto para a posição antiga, soube que o limite havia sido ultrapassado, que algo havia sido quebrado e nem toda cola do mundo faria as coisas voltarem a ser como antes.
- Sei que não tenho poder para fazer você entender o que eu estou falando, ou de fazer você parar, mas tenho o poder de recusar te ajudar – continuou ela, prendendo o lábio entre os dentes com tanta força que conseguia sentir a dor mesmo quando ignorava os estímulos. Até aquele momento, nunca tinha percebido como havia sido obrigada a escolher lados, e que não era o de Steve em que ela estava, pelo menos não por completo – O que eu te disse até agora é o máximo de informações do Barnes que você vai conseguir de mim. Eu já traí a confiança dele uma vez, e não vou fazer isso de novo.
Steve pareceu assentir ainda sem se virar para ela, mas ela não podia ter completa certeza pela cortina de lágrimas que seus olhos abrigavam, prejudicando sua visão. Pela primeira vez em meses o peso de todas as suas ações a atingiram de uma vez, e não tinha muito que ela pudesse fazer a não sei aceitar. Virando o rosto para o outro lado, as lágrimas cheias de arrependimento e culpa percorreram seu rosto até atingirem a camisola hospitalar que vestia, seu choro silencioso não atraindo a atenção de ninguém, nem da enfermeira que aparecera vários minutos mais tarde para checar se tudo estava bem. Steve também manteve a mesma posição, fungando baixo uma vez ou outra, coçando o nariz e passando a mão na boca para tentar disfarçar, mas não parecia estar prestando atenção nele. Ela estava longe, e em alguns momentos chegou a considerar que ela tinha adormecido novamente, apenas para vê-la em seguida passar com cuidado a mão pelos lençóis, ocasionalmente tensionando os dedos apenas para relaxá-los em seguida. O soldado tinha motivos até demais para estar abatido, mas naquele momento ele não sabia dizer qual era o motivo de seu choro, ou qual era a combinação que estava causando aquilo, se não era tudo. Nos últimos dias tivera que passar tanto tempo segurando as pontas para Tony se restabelecer, que só agora afastado de todos conseguia perceber como aquilo também o sensibilizara. Natasha estava mais do que certa: eles deveriam ter mantido distância e deixado outras pessoas agirem, mas quem em sã consciência conseguiria concordar com aquilo? Ele estava exatamente onde queria estar, onde deveria estar. Se aquilo estava o matando? Estava, e bem lentamente, mas não haveria atalhos, e o soldado nem queria. As coisas se resolveriam de um jeito ou de outro, ele próprio garantiria isso.
Ambos só foram tirados dos próprios pensamentos quando um pigarreio na entrada da enfermaria vazia quebrou o silêncio.
Petr estava incontestavelmente sério, os braços atrás das costas, em um conjunto de roupas que não era dele – talvez de Thor ou Steve, já que nenhum dos outros homens da Torre tinha um porte físico tão avantajado. Alguns cortes e hematomas ainda eram visíveis em seu rosto e braços desprotegidos, mas não havia nenhum curativo evidente, talvez porque sua recuperação seria muito mais rápida que a da irmã. Seus cabelos ainda molhados indicavam que ele fizera uma visita a um dos banheiros do prédio, e só então se questionou de quantas horas haviam se passado desde o combate entre os dois.
- Capitão, eu gostaria de falar com a minha irmã – anunciou o russo, se adiantando mais alguns passos para dentro do ambiente – A sós.
- Como se eu fosse deixar ela sozin....
- Ei, se comportem – se intrometeu, notando a hostilidade entre os dois mesmo sem o auxílio de seus poderes – Rogers, está tudo bem. Não é como se ele fosse fazer algo idiota.
- Isso é mais a sua cara – Petr resmungou baixo sem pensar, se surpreendendo ao ganhar a olhar irritado da irmã.
- Você invadiu a Torre dos Vingadores sozinho! Do que você está falando?
- Cap. Rogers, você está sendo requisitado pelo restante da equipe.
Steve queria se opor mais um pouco a sua ausência no quarto, ainda mais com a presença do russo. Por ter se responsabilizado pela locomoção de para a enfermaria, não participara da conversa que ele acreditava ter ocorrido em respeito do intruso, embora suspeitasse que ela ainda não teria acabado, ou não teria sido convocado. O soldado sabia que o quarto estava sendo monitorado mesmo com ele ali, e que isso não mudaria quando os irmãos ficassem sozinhos, mas mesmo assim ele estava receoso. Não duvidava que o garoto ao menos não estava mais ao lado do pai – embora não tivesse um tempo de convivência considerável para ter completa certeza disso, a vantagem que tinha sobre os poderes de pareciam também ser estendidas ao seu irmão –, só que ele continuava sendo aquele que arrancara a mulher de seus braços, o deixando naqueles meses de agonia e desespero constantes. Petr poderia derrotar a HYDRA toda sozinho com as próprias mãos que aquele ainda seria algo difícil de ser superado, independentemente da decisão que a equipe tomaria nas próximas horas.
Quando J.A.R.V.I.S. começou a repetir o aviso, o Capitão se levantou devagar, chegando até a ouvir alguns pontos de seu corpo estalarem graças a posição ruim que se encontrava nos últimos minutos. No caminho para a saída, Steve parara ao lado do Ivanov, que imitou sua postura mesmo sem instruções, trocando alguns olhares duros antes de seguirem seu caminho. Para ele sequer olhara, e a mulher até respirou com um pouco mais de liberdade assim que sentiu a presença do soldado longe, adentrando no elevador.
Quando estavam finalmente sozinhos, Petr se sentiu voltando alguns meses no tempo, quando iria pela primeira vez ver a irmã depois de anos, se questionando sobre como ela reagiria a sua presença enquanto estava do lado de fora do quarto dela, no corredor vazio. De alguma forma, o sentimento era ainda pior: na primeira vez, ele acreditava que tinha feito algo de bom para ela, a trazendo de volta para casa, e agora ele tinha noção de tudo de ruim que a forçara a passar.
- Eu sinto muito – foi a única coisa que o russo conseguiu formular, sequer se importando com sua voz embargada. Ele passara as últimas horas indiferente, respondendo sem pensar às perguntas dos Vingadores durante o tratamento de seus ferimentos, mas não dava para manter aquela máscara diante de sua irmã: mesmo se quisesse, aqueles olhos pareciam invadir a sua alma – Muito mesmo.
- É, eu também... – concordou , rindo sem jeito. Com cuidado, ela tentou se mover mais para a beirada da cama, deixando o lado sem o tubo ligado ao seu tórax livre para que Petr a acompanhasse – Nós realmente não demos muita sorte com pais...
- Tony...? – estranhou o homem, sequer terminando a frase enquanto se sentava no espaço que ela liberara. Havia presenciado a irmã defender tanto o pai, que até se esquecera de seu passado conturbado.
- Tony está limpo, eu estava falando mesmo da mãe e do Krigor – suspirou , balançando a cabeça em descrença com um sorriso cansado no rosto – Perto desses dois, Tony realmente merece aquele prêmio de pai do ano...
- Não entendo como ainda pode estar me permitindo ficar no mesmo ambiente que você – disse ele de repente, surpreendendo a mulher por alguns instantes por ela não compreender do que se tratava.
- Pete, você está se direcionando para um caminho bem obscuro, não faz isso.
- Por quê? – questionou o russo, sua voz cada vez mais baixa até chegar em um sussurro a medida que seu desespero parecia aumentar – Não consigo entender por que você se forçaria a passar por tudo aquilo de novo, com tantos riscos.
se mexeu inquieta na maca, tentando encontrar alguma forma de se sentar um pouco mais alto no colchão duro, de se virar para o irmão, mas o longo tubo que diminuía a pressão em seu pulmão não era não longo assim, por isso ela teve que se contentar em se inclinar um pouco em sua direção, tomando a mão gelada dele na sua morna.
- Eu não te deixaria para trás – contou ela com convicção, sentindo Petr retribuir com delicadeza o aperto que ela produzia em sua mão – É como aquelas promoções de loja: pede por um e leva dois. Enquanto você quiser, é assim que funciona: você e eu, somos um time.
- Laços sanguíneos significam tanto assim para você?
- Mas é claro que não! – riu. Era algo que havia notado desde sua volta de Fort McMurray: embora fosse alguns anos mais velho do que ela, Petr era a criança na dupla. Talvez fosse a interação social intermediada pela HYDRA, mas o fato era que ele tinha uma visão um pouco mais fechada do mundo, um olhar um tanto mais inocente, mesmo sendo um assassino de elite desde criança. Por isso a mulher tentou respirar um pouco mais fundo, sabendo que precisaria de paciência com seu irmão mais velho – No momento, os Vingadores são a minha família, e eu sou apenas parente de um, e mesmo assim eu passaria por tudo isso por qualquer um deles.
- Você está me comparando com eles? – Petr riu irônico – Meu amor, eu sou da HYDRA.
- Você é? Tem certeza? – questionou ela, seu semblante confiante o deixando desconsertado – Você é bem mais do que a HYDRA te fez ser.
- Eu nunca fui nada além disso.
- Por que assumiu a missão de me recuperar? – notou a culpa voltar a ocupar os olhos do irmão, mas não parou de insistir. Ele precisava entender aquilo de uma vez, facilitaria muito as coisas – Por que você desobedeceu a ordens diretas para vir para cá?
- Acreditava que seu lugar era com a sua família – contou ele depois de um tempo, já que se distraíra com os bips da máquina que monitorava sua irmã. Os sons estavam tão bem espaçados e uniformes que pareciam estar zombando dos seus acelerados e imprevisíveis – Que você estava segura comigo.
- E quantas vezes você se meteu em problemas tentando me proteger nos últimos meses? Você queria o meu melhor, não me importa se você estava certo ou não. O que importa é a intenção, pontos de vista mudam... – voltou a respirar fundo, até engolindo em seco. Ela realmente não queria dizer o que estava prestes a dizer, e esperava que quem estivesse os monitorando entendesse qual era seu objetivo naquela conversa toda – Agora eu te digo que, se você quiser voltar para a HYDRA, eu vou junto. Eu estou sem a coleira. Eles não conseguem derrotar nós dois juntos. Você quer?
Petr até chegou a prender a respiração, surpreso pelas palavras da irmã, e, por alguns instantes, sem reação.
- Só se formos destruir o lugar com nossas próprias mãos – disse ele por fim, a fazendo sorrir satisfeita – O método dos seus heróis não me agrada muito.
- Viu, isso não é da HYDRA – continuou , tentando não rir tanto já que tinha uns bons quinze centímetros de tubo dentro de seu tórax, o que dificultava as coisas – É tudo com que eu me importo. Eu não poderia te deixar naquele lugar sabendo do tanto de potencial que você tem. Faço tudo de novo se for preciso.
- Eu não valho tudo isso.
- Não cabe a você decidir.
Petr sorriu para a irmã, passando o braço por seus ombros e a puxando para mais perto, lhe beijando a testa com carinho.
- Você parece mais madura quando é a – comentou ele, ainda sem se afastarem – Dominik sempre me pareceu um tanto ingênua.
- Quando eles limparam a minha memória, me fizeram esquecer muita coisa importante, impactou demais minha personalidade. Recuperar as memórias também causou o mesmo impacto – explicou a mulher, suspirando baixo no final – Você não teve contato com a , mas aconteceram algumas mudanças um pouco dramáticas.
- Ah, eu percebi – disse ele, se permitindo sorris sarcástico – Isso está um pouco óbvio nos Vingadores.
- Eles vão se acostumar com o tempo. Eu também vou. É idiotice esperar que as coisas continuem a ser como eram antes.
- Você estava discutindo com Rogers – constatou ele, se referindo ao momento entre os dois que interrompera com sua entrada – Não sei se ele está mais tenso por minha causa, por você, ou as duas coisas.
- Desculpe, não consigo ver isso. Que ele está tenso eu consigo, mas não vai além disso.
- Você não consegue ou você não quer? – insistiu Petr, uma certa maldade em sua voz. Nos arquivos da S.H.I.E.L.D. a que tivera acesso, tinha algumas boas linhas explicitando a ligação no mínimo curiosa entre a dupla de heróis, mesmo que ele não acreditasse que aquilo realmente poderia ser possível. Eles não tinham restrições.
O que ele realmente não esperava era a reação explosiva da irmã.
- Sério mesmo? Primeiros cinco minutos de conversa civilizada e você quer falar do Rogers? Não acha que temos outros assuntos importantes para abordar?! – da mesma forma que a explosão começara, ela também se extinguira. Petr continuou a encarar a mulher com certo receio nos olhos, sem saber como agir. Por fim, suspirou cansada – Eu perdi a noção de novo, não é? Desculpa.
- Você não tem o menor controle sobre isso, não é? – perguntou ele, genuinamente preocupado. Em todos aqueles meses, ele nunca havia presenciado aquilo, e agora se questionava como ela havia mantido tudo isso sob controle – Nunca te vi tão frustrada. Quer me socar de novo?
- Quem sabe mais tarde... Sabe, quando eu voltar a respirar direito.
- Está tão mal assim? – perguntou o russo, até chegando a se inclinar sobre a irmã para ver melhor o local que o tubo entrava em sua caixa torácica. Desde que chegara ele notou que o estado da mulher não era dos melhores, só não tivera tempo de fazer uma avaliação mais detalhada.
- Levei tiros demais em Moscou, e mais o dano cerebral... Qualquer coisa que meu corpo for fazer agora vai ser da forma mais lenta possível.
- Dano cerebral?
- Papai não te contou que ele achou que seria interessante colocar aquela desgraça de máquina no máximo para ver o que acontecia? – comentou ela irônica, fazendo com que os ombros do irmão voltassem a ficar tensos.
- Como diabos você ainda está viva e com memórias?
- Não faço ideia, e o processo não funciona em mim. Estou vacinada contra isso.
- Agora estou confuso.
- A primeira vez funcionou por completo. A segunda parcialmente, não tinha sobrado nada concreto, mas era o suficiente para montar o quadro... – ela foi enumerando, sem querer se aprofundar demais no assunto – A terceira só apagou os últimos minutos, e eu já te fiz o relato.
- Eu não lembro do processo – comentou Petr, a surpreendendo. ainda não tinha digerido por completo essa história de ele ter recuperado as memórias da infância, e nem sabia ao certo como agir em relação a isso – Lembro das memórias apagadas, mas não lembro de como elas foram.
- Sua mente está te protegendo. Não é uma coisa legal de se lembrar...
- Você lembra, não é?
- Não é nenhuma novidade que minha mente não gosta de mim. Ela não me protege, ela me ataca.
- Dramática.
- Falou o Sr."eu não saio daqui sem você" – retrucou ela rindo, ambos parando quando um som distante de discussão preencheu o ambiente, como se alguém tivesse aberto a comunicação com eles e mudado de ideia tarde demais.
- Acho que eles estão nos vigiando – comentou o russo, estranhando quando a irmão um risonho “mas é claro que estão” – Você parece de boa com isso.
- Querido, em vinte e cinco anos só teve dois momentos da minha vida que eu não estava sendo monitorada, e nos dois eu terminei sendo sequestrada – lembrou ela, rindo um pouco mais quando Petr ficou emburrado – Já aceitei que não sou o tipo de pessoa que pode viver sem supervisão.
- Nem me fale disso...
- Ainda não está pronto para entrar no fã clube do Barnes? – brincou , quase sendo assassinada pelo olhar raivoso do irmão – Credo, eu só perguntei.
- Quase trinta anos odiando o cara, e eu ainda tenho meus outros motivos – lembrou ele, ainda mal-humorado – Você só me deu um para não o matar assim que eu o ver.
- Eu disse Barnes, não o Invernal – corrigiu a mulher – Mas no seu lugar eu também teria esse receio inicial.
- Do que você está falando?
- Eu quebrei a defesa da base para que eles conseguissem hackear – contou ela – Nas informações adquiridas entrou alguns arquivos do Presságio. Alguns registros do seu treinamento. Eu vi algumas coisas antes de você chegar.
- Então agora você realmente sabe porque não gosto do cara.
- Barton e eu não tivemos o melhor começo também. E hoje se ele disser que precisa que eu pule, eu só vou perguntar quão alto – lembrou , e quase podia ouvir a risada surpresa do arqueiro, mesmo com os andares que os separavam – Não precisa ser algo permanente, e ajuda o fato do Barnes ser quase um amor de pessoa. Ele é um pouco irritante, mas talvez eu que desperte esse lado dele, não seria a primeira vez.
- Você sabe onde ele está? – perguntou Petr com cuidado. Se tivesse que dar um palpite, ele arriscaria que o clima pesado no quarto quando chegara tinha alguma relação com esse tópico. Ele só precisava de uma confirmação.
- Não. E nem quero saber.
- Por isso o Capitão está puto contigo.
- Exatamente – concordou ela – É a primeira vez em décadas que o cara tem a chance de poder escolher o que quiser. No momento que ele quiser nossa proteção, eu vou ser a primeira da linha de frente. Provavelmente me estapeando com o Steve pela posição.
- Você está em débito com ele – deduziu o russo, completando quando notou a expressão confusa da irmã – Barnes.
- Se não fosse por ele, ainda estaríamos sob o domínio do Krigor – lembrou ela, desviando o olhar para longe, sem focalizar em nada – E eu forcei ele a fazer muitas coisas que ele não queria. Ele até pode me perdoar um dia, mas eu não vou. Eu não tinha o menor direito de forçar ele àquilo.
- Você não lutou com ele, não é? – questionou Petr. Desde o começo ele estranhara os sinais de luta confuso que estava no local. Não parecia que ela tinha tentado se defender, e aquela possibilidade perturbou sua mente por dias – Foi algo combinado.
- Foi. Vocês só me aceitariam se eu parecesse ter sido derrotada.
- Foi definitivamente uma das coisas mais estúpidas que você já vez, Nikky – resmungou ele categoricamente – Barnes deve estar um poço de instabilidade. Ele poderia ter voltado ao modo soldado e te matado. Te confundir com a mãe e te matar da mesma forma que a matou.
- Pode parecer idiotice dizer isso, mas seja como James Barnes ou Soldado Invernal... – começou , até parando para passar as mãos no rosto para ganhar tempo, tentando encontrar uma forma de verbalizar aquilo sem parecer tão idiota – Aquele cara é a última pessoa que eu acredito que possa me matar. Ele pode querer, mas ele nunca vai terminar o serviço. Ele já teve chances demais, e em todas ele desiste.
- Por quê?
- Não sei, e ele também não sabe – suspirou ela – Meu palpite é que a mãe tenha deixado alguma programação escondida na mente dele, que o impede de nos matar de fato.
- Muito bom montar uma teoria em algo que nunca vamos poder confirmar – resmungou Petr, um sorriso sarcástico em seu rosto.
- Se Barnes reestabelecer todas as suas memórias, talvez...
- Mas ele não é você. Ou eu – lembrou o homem, sem deixar que ela terminasse o raciocínio – Não colocaria tanta esperança assim.
- Ele está se saindo bem, também não precisa ser tão pessimista.
- Sr. Ivanov, o Sr. Stark gostaria de falar com você¬ – J.A.R.V.I.S. interrompeu a conversa, percebendo que não havia um momento adequado para isso, já que eles não pareciam dispostos a lhe dar alguma brecha – Ele está com o restante da equipe no laboratório do Dr. Banner. Eu o guiarei até lá.
- Esse é o J.A.R.V.I.S., caso ninguém tenham sido devidamente apresentados. Ele comanda toda a Torre. – disse quando notou o olhar confuso do irmão – J., pode me adiantar qual vai ser o assunto tratado?
- Acredito que você tenha sido completamente retirada da hierarquia dessa vez, senhorita. Não tenho permissão obedecer seus comandos.
- Estou de castigo, não é?
- Esse é o melhor termo encontrado, senhorita.
- Quem está com mais problemas aqui: eu ou você? – brincou Petr, dando um sorriso que deveria ser animado e travesso, mas apenas transmitia cansaço – Se a gente fazer drama será que funciona como com o Ivan?
- Thor – disse ela, sem pensar duas vezes – Ele parece uma montanha de músculos, mas é quase um ursinho de pelúcia. E quando você chegar ele vai estar emburrado porque eu acabei de lembrar que estamos sendo monitorados.
- Você esqueceu?
- Pete, eu já estou na bateria reserva – resmungou ela, permitindo que seu corpo escorregasse pelo colchão, voltando a ficar deitada – Eu não estou filtrando mais nada do que estou falando
- Que você ainda esteja assim quando eu voltar, ainda tenho algumas perguntas para fazer – brincou o russo, sorrindo mais um pouco antes de se inclinar para beijar sua testa mais uma vez – Agora descanse um pouco.
- Esteja vivo quando eu acordar!
dissera aquilo na brincadeira, já que não planejava dormir. Ela só não percebera até aquele momento como seu corpo estava cansado, seu organismo lento e preguiçoso. Agora que não tinha mais ninguém para se focar, suas pálpebras começaram a ficar pesadas, e logo ela teve que dar o braço a torcer e fechar aos olhos pelo menos por alguns míseros segundos. O que ela não esperava era adormecer, um sono pesado e sem sonhos, como fazia tempos que não tinha.

1 As características de TPB utilizadas nesse capítulo foram adaptadas para se encaixar no quadro da Stark. Se eu viajei demais, perdoem porque não sou da área.

Capítulo 37


girou o corpo para o outro lado. Seu braço passou por debaixo do travesseiro, o forçando ainda mais contra seu rosto, como se ele já não estivesse afundado no material. Suas pernas antes encolhidas se esticaram, seu corpo ficando ainda mais em contato com o lençol macio que cobria o colchão. Um cheiro familiar tomara conta de seus pulmões e ela não se importou, chegando até a tirar o braço de debaixo do travesseiro para permitir que sua mão tateasse o espaço vago ao seu lado, em busca do dono daquele cheiro. Não encontrar ninguém não foi o motivo de sua surpresa, mas sim estar procurando alguém.
Ela se sentou em um pulo, seu rosto amassado encarando a parede familiar em frente a cama, enquanto ao mesmo tempo tentava normalizar sua respiração e entender o que acontecia. Não demorou muito para que ela virasse o rosto para o lado que se lembrava de estar a janela, onde costumava ter um pequeno sofá, não encontrando ninguém. Ao virar para o outro lado ela encontrou uma pequena luminária acesa, a luz que ela emitia era tão pouca que sequer chegava à cama, iluminando apenas o rosto de Steve e o livro que ele segurava próximo ao corpo, sentado em sua cadeira e com os pés apoiados no tampo de vidro de sua mesa.
A verdade era que ele não estava lendo. Ele tentara, é claro, mas a história, por mais que fosse boa, não o prendia mais. A mulher mais uma vez em sua cama, sim, isso prendia sua atenção. Quando notou que ela começava a despertar, Steve ao menos se deu o trabalho de pegar o livro abandonado em seu colo mais uma vez, fingindo ler enquanto acompanhava suas reações. Quando viu a mão dela passeando pelos lençóis já fora de ordem, claramente buscando alguém, foi como se uma pedra descesse por seu estômago, e ele não pode demonstrar uma reação sequer, já que logo o olhar surpreso o encontrara.
- Mas o que...? Esse é seu quarto...? – constatou ela, piscando várias vezes. sequer se deu o trabalho de tentar maquiar sua voz, deixando que ela soasse tão confusa quanto quisesse – O que eu estou fazendo no seu quarto?
- Você não precisava mais ficar na enfermaria, recebeu alta algumas horas atrás – explicou o soldado, mudando a folha do livro depois de se certificar que tinha memorizado a página que estava antes, apenas para fazer sua atuação parecer mais convincente – Então te trouxe para cá.
- A alta eu entendo, mas por que para cá? Por que não me deixar no meu próprio q...? Merda – ofegou ela, quando finalmente entendeu o que acontecia, fechando os olhos com força e se xingando por não ter previsto aquilo – Eu não tenho mais permissão para ficar sozinha, não é? Agora vai ser supervisão 24 horas por dia de verdade, não é?
O olhar triste de Steve foi tudo que ela obteve como resposta.
- Por que não continuar com a cela? – perguntou ela depois de um suspiro alto.
- Emprestamos para o Petr – contou ele, até chegando a fechar o livro e devolver à mesa, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto lançava um olhar piedoso à mulher – Não temos certeza se ele realmente está do nosso lado, então achamos melhor não arriscar.
- Ele está – garantiu ela, bufando, principalmente por eles terem tomado a decisão certa – Mas foi uma escolha inteligente, admito.
apoiou as mãos no colchão, recuando até suas costas encontrarem a cabeceira da cama. Mentalmente ela condenava o próprio corpo por tamanha traição, por se sentir tão segura ali. Tinha alguma coisa no ar, ela tinha certeza. Era um ambiente tão familiar que seu corpo completamente ignorava seus comandos para permanecer atento à menor ameaça, apenas relaxando e mandando sua mente fazer a mesma coisa. Ao mesmo tempo que parecia tão certo se sentir bem naquele ambiente, naquela companhia, também era muito errado. Ela não podia e nem merecia aquela regalia, precisava manter aquela distância se presava sua sanidade.
- Então você é a minha babá agora? Por que você concordou com isso? – perguntou , curiosa. Para falar a verdade, desde que chegara tudo o que via era vários protocolos sendo jogados pela janela, e a cada dia eles só pareciam aumentar – Deixar essa tarefa para a Romanoff teria sido muito mais sensato.
- Natasha não consegue te superar nem em força nem mentalmente – respondeu Steve automaticamente – Te deixar com ela não teria sido muito mais sensato.
- Claro, porque você com certeza tem cabeça para ficar me vigiando.
- Vou ter que ter.
revirou os olhos. As mesmas respostas prontas de sempre, o mesmo otimismo idiota. A última vez que ouvira aquilo parecia ser há tanto tempo, em outra vida, uma outra pessoa, e ao mesmo tempo era algo tão familiar que ela chegou a perder o ar, ficando em silêncio por mais tempo que planejava.
- O que vocês decidiram? – perguntou ela depois de um tempo, abraçando as pernas e apoiando o queixo nos joelhos, o olhar travado na porta aberta do banheiro a sua frente. não podia mentir, todos seus planos sempre acabavam nas horas anteriores, ou fosse lá quanto tempo havia passado desde que precisara ser movida para a enfermaria. Em nenhum momento ela pensou em como seria caso conseguisse mudar a lealdade de seu irmão, ou mesmo se falhasse. Seus esforços haviam sido concentrados apenas para aquele momento, e não sobrara nada para caso ambos continuassem vivos depois disso – Em relação a mim e ao Pete.
- Volte a dormir, amanhã conversamos.
- Eu já acordei – resmungou , um pouco de sua postura irritadiça voltando a dar as caras – Custa me responder?
- Custa – retrucou o soldado, seco. Ilustrando seu desinteresse em continuar a conversa, Steve voltou para sua posição antiga na poltrona, buscando o livro em sua mesa e passando a folhear as páginas sem pressa para encontrar onde parara – Volte a dormir, amanhã cedo falamos sobre isso.
- Mas...!
- . Dormir. Agora.
- Eu só estou obedecendo porque ainda estou com sono – bufou a mulher, puxando os lençóis que chutara mais cedo e se cobrindo ao voltar a se deitar – Não vá acreditando que eu voltei sendo capaz de obedecer a ordens.
- Nunca sonharia com isso – sussurrou Steve sarcástico, sabendo que ela tinha o escutado fingir uma risada.
- E onde você vai dormir? – perguntou em seguida, notando a ausência de travesseiros para ele ao seu lado, além de que tinha certeza absoluta que seria a coisa mais embaraçosa dividir a cama com ele depois de tudo, e ela sabia que alguém teria considerado aquilo.
- Tem um outro colchão do seu outro lado.
- Quer saber? Não vou discutir isso agora... Vai ficar aí? Ótimo – resmungou ela mal-humorada, girando o corpo para o outro lado.
até tentara voltar a dormir logo de cara, mas quando percebeu, já estava observando a silhueta da cidade pela janela ampla do quarto. Dali dava para ver um pouco dos prédios ao redor da Torre, e um pouco do céu, mesmo que fosse difícil ter uma boa visão de estrelas, já que a maçante iluminação da cidade não permitia.
- Steve? – chamou-o depois de um tempo, não se surpreendo em ouvir sem demora um resmungo em concordância para que ela continuasse – Sobre o que eu disse mais cedo sobre o Barnes... Não que eu não quisesse dizer aquilo, mas eu peguei pesado. Desculpe.
- Você quer protegê-lo de alguma forma, não posso julgar isso – suspirou Steve, agora abandonando de vez o seu livro. Depois dessa até ele iria querer dormir um pouco. Ele assistiu a mulher assentir com a cabeça, e seu lado mais idiota quis se juntar a ela, confortá-la. Encolhida no meio dos lençóis parecia bem menor e bem mais frágil do que realmente era, mas o soldado sabia que não tinha nada que pudesse fazer no momento. Precisava manter distância, permitir que as coisas se ajeitassem a seu tempo, da forma que dava.
Com aquele pensamento em mente, ele rumara para o banheiro para se preparar para dormir também, buscando fazer o mínimo possível de ruído para não perturbar sua nova/antiga colega de quarto. Quando deu a volta na cama para ir para seu colchão no chão, ainda estava na mesma posição, mas já tinha voltado para seu sono pesado. Seus próprios olhos já pesavam de sono, e Steve logo conseguiu entender que sua incapacidade de dormir era que, deitado no chão, ele não conseguia ter visão da mulher, o que fazia ele se levantar minimamente vez ou outra para confirmar que ela ainda estava ali. Quando viu seu relógio na parede quase marcar duas da manhã, Steve pegou seu lençol e se arrastou para a poltrona. Dali ele só precisava de uma brechinha de suas pálpebras para confirmar que ainda estava próxima, o que provavelmente facilitaria muito as coisas. E não deu outra.
Não fora um sono tão pesado como o de , mas pelo menos fora tranquilo.

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Steve a tinha chamado uma infinidade de vezes antes de desistir e subir para a cozinha, deixando J.A.R.V.I.S. alerta para chamar qualquer um que já estivesse acordado caso suspeitasse de alguma movimentação da mulher. Quase meia hora mais tarde, equilibrando uma bandeja com a refeição de nas mãos, ele voltou para o quarto apenas para encontrá-la mais afundada em seus travesseiros, virada para o outro lado.
- , acorda – pediu ele mais uma vez, bem menos paciente de que quando começara.
abriu um dos olhos com cuidado, por já saber que o filtro na janela havia sido desligado e a luz do sol iluminava o ambiente. Conseguiu focalizar sua visão a tempo de ver o soldado depositar a bandeja na mesa de cabeceira, com mais coisa do que ela poderia comer.
- Café-da-manhã na cama... Romântico – debochou ela entre um bocejo, afastando o lençol para jogar as pernas para fora da cama e se levantar, cambaleando para o lado e voltando a se sentar com a ajuda de Steve, que já esperava aquilo. Não havia tido algum ferimento sério nas pernas, mas seu organismo ainda estava meio bobo e os pontos em recuperação no tronco não facilitavam muito as coisas – Não posso nem ir na cozinha?
- Você ainda está em recuperação, quanto menos precisar sair do quarto, melhor – lembrou ele, assistindo passar algumas vezes a mão sobre a região onde seu tórax fora perfurado. Ela parecia tão perdida em pensamentos que Steve acreditava que ela concordou sem prestar atenção no que ele dissera – Acha que consegue andar ou preciso pegar uma cadeira? ?
- Dá para andar, relaxa – resmungou ela, esticando uma mão para que ele segurasse, servindo assim de apoio para que ela tentasse se levantar mais uma vez. Suas pernas voltaram a dar uma bambeada, mas logo passou – Só não vai dar para correr porque né, minha capacidade pulmonar está ótima.
- Vai ser tudo ao seu tempo, – disse o soldado, que a acompanhara até a porta do banheiro apenas com precaução – Sem pressa.
- Como se eu não fosse apressada...
- Você me entendeu – retrucou ele, o tom de ordem claro em sua voz, que fez com que ela revirasse os olhos – Desacelere.
- Sim, Capitão – brincou ela, antes de fechar a porta. Steve sorriu para o chão, fazendo sem perceber o caminho para sua cama e se jogando nela. Aquilo seria com certeza cansativo.
Vinte minutos mais tarde ambos estavam no elevador em rumo para a sala de reuniões que os Vingadores costumavam usar. Bruce ainda não tinha aparecido quando eles chegaram, e quem já estava lá ainda estava de pé, em uma conversa calma. Tony não parecia muito feliz de ter sido acordado cedo, mas pode notar o rosto mais saudável do pai, como se tivesse tido algumas boas horas de sono. Thor e Clint já nem pareciam prestar atenção no que acontecia nos arredores, claramente dormindo de olhos abertos. Apenas Natasha e Petr pareciam bem-dispostos, vez ou outra interrompendo Tony para comentar algo.
- Você está bem? – perguntou Petr, se adiantando para ela assim que a dupla recém chegada atraiu todas as atenções – Você dormiu por mais de um dia.
- Relaxa, está tudo bem – não apenas respondeu em russo, como também tomara o cuidado de usar uma codificação que seu irmão estava familiarizado, o que fez com que os americanos do grupo, e Thor, ficassem apreensivos – E você? O que eles te disseram até agora?
- Romanoff ou J.A.R.V.I.S. – começou Tony, cruzando os braços – Alguém, por favor, traduza o que eles estão dizendo.
- Eles estão conversando em código, Stark – explicou Natasha, depois de um certo tempo pensando que talvez eles estivessem conversando em um dialeto que ela não conhecesse – É russo, mas está codificado.
- Então será que dá para vocês pararem?
- A maior parte foi bem ameaça mesmo, aquela história de traição e tal – Petr respondeu a pergunta da irmã, ignorando a conversa paralela que se iniciara – Algumas perguntas sobre a HYDRA, regras de como as coisas vão funcionar para mim aqui.
- Tem certeza que está me contando tudo?
- Gente, eu vou ter que deixar os dois de castigo? – suspirou Tony irritado, batendo na madeira da mesa ao seu lado para tentar atrair a atenção dos dois – Ei!
- Barton e Thor quase me socaram por causa da luta em Moscou depois que o Capitão saiu com você. Eles meio que estavam perdendo naquele dia, então...
- Essa é uma reunião em grupo, então será que dá para vocês colaborarem? – pediu Natasha com a voz firme, parando entre os irmãos, uma mão no ombro de cada. O restante do grupo bufou baixo. Pronto, mais uma falando russo – Está ficando suspeito, então parem.
Os irmãos ergueram as mãos em sinal de desistência, cada um tomando seu lugar na longa mesa, já que sentiam que Bruce já se aproximava, e assim poderiam dar início. Antes mesmo que percebesse o que fazia, tomou seu antigo lugar, em uma das pontas laterais, de frente para o pai. Parecendo não dar importância mesmo dando, Steve como de costume ocupou o lugar ao seu lado, seguido depois de Bruce e Natasha. Do outro lado da mesa, seguindo Tony, ficaram Clint, Thor, e, a novidade, Petr.
- A localização do cetro? – perguntou Thor, parecendo agora acordado até demais, antes mesmo que os membros da equipe pudessem trocar olhares para saber quem começava. Tanto como Petr engoliram a risada que queriam dar, assim como os comentários inapropriados de “sem preliminares?” e coisas do tipo – Vocês sabem onde está.
- Sokovia – respondeu depois de respirar fundo, nem ousando olhar alguém nos olhos, deixando seu olhar procurar algo de diferente na mesa que ela conhecia tão bem – O cetro está em Sokovia.
- Que parte de Sokovia?
Com a pergunta de Natasha, os irmãos olharam um para o outro, em um incentivo para que o outro respondesse. Quando notaram isso, eles começaram a rir de nervoso.
- Você, hm... – começou , chegando até a tossir algumas vezes para recuperar a voz – Você prestou atenção no trajeto, certo?
- Você foi para lá duas vezes, eu só fui uma! – se apressou Petr em dizer, já tomando uma postura defensiva.
- A primeira não conta porque eu estava loucona por causa do cetro, e na segunda o Vagner não calava a boca e eu não prestei atenção – resmungou a mais jovem do grupo, batendo a testa na mesa e ficando naquela posição mesmo quando emendou: – Talvez a gente não tenha a localização exata.
- O que vocês lembram de lá? – questionou Steve.
- Vários nadas. O que? Eu fiquei grogue por dias depois daquilo. Pete? – se defendeu a mulher, jogando a bomba para o irmão, que disse ter ficado no mesmo estado.
- Havia outras cobaias?
- Depois de mim, sim, mas quase ninguém sobrevivia – contou Petr, tentando buscar algo em sua memória, apenas para se decepcionar. Era bem pouco o que comentavam daquele lado da HYDRA perto dele, e, quando surgia a conversa, era difícil ele prestar atenção, já que não tinha fé naquele programa – Sei que eles têm alguns sobreviventes, mas não tenho muitos detalhes, já que não tenho muito contato com aquele lado.
- Tem dois experimentos bem-sucedidos – lembrou , sua expressão deixando claro que ela estava forçando suas memórias a colaborarem – Só tive contato com um.
- Lembra algum nome?
- Era uma variação de Peter também, não tenho certeza. Na real, eu passei o dia inteiro chamando ele de Ligeirinho.
Petr, pego completamente de surpresa, tentou suprimir a risada, que acabou saindo um tanto engasgada. Ele ainda tentou disfarçar, forçando o punho fechado contra os lábios, mas todos já lhe lançavam olhares confusos e repreendedores. Não tinha muito o que fazer.
- Ele é um tipo de velocista, seu mente suja – continuou que, se não estivesse em reunião, com certeza estaria rindo junto com seu irmão, assim como Clint, que não estava tendo muita sorte em se manter sério – Ele era rápido demais, eu só conseguia acompanhar mentalmente.
- Tá brincando...? – ofegou o russo, o riso abandonando por completo sua voz – E os outros? A irmã dele? Você está falando dos Gêmeos, não é?
- Algum poder mental também, por isso não me deixarem chegar perto – contou ela, lembrando de alguns fragmentos das conversas de Strucker com outros oficiais de Sokovia – Eles ficaram com medo de acabarmos desestabilizando uma a outra.
As perguntas cessaram por alguns instantes, os Vingadores trocando olhares questionadores entre eles, até que Steve resolveu se pronunciar.
- Vamos reunir mais informações sobre a base de Sokovia.
- Por quê? – estranhou , genuinamente confusa, se virando para o soldado. Claro que eles precisavam de informações úteis de lá, mas não era a prioridade do momento – Strucker é o menor de nossos problemas agora. Krigor é o líder da HYDRA.
- E Sokovia é uma das instalações mais seguras que temos... Quer dizer, que eles têm – Petr se juntou à irmã, tendo que parar para se corrigir. Talvez fosse dar mais trabalho tirar o “nós” de “HYDRA” do que parar de chamar de Dominik – Tentar tomá-la agora é suicídio, além de idiotice.
- E vocês não estão apenas dizendo isso porque querem ir atrás do papai? – questionou Natasha, ganhando reclamações ofendidas dos irmãos.
- Estamos dizendo que Sokovia tem mais surpresas do que podemos esperar, além de não ser a maior ameaça no momento – explicou Petr, tentando manter sua irritação longe de sua voz, e até que se saindo bem – Strucker é um cientista, não um militar. Ele tem algumas muitas cartas nas mangas com os Gêmeos, mas ele não vai entrar em ação a não ser que o pescoço dele esteja na reta. Strucker e meu pai não se dão bem, ele não vai mover uma palha para ajudar a nos deter, ainda mais se isso significar expor seus experimentos.
- Nosso objetivo é recuperar o cetro – insistiu Thor, e duvidara se ele estava dando atenção aos argumentos que estavam sendo apresentados.
- Thor, querido. Eu quero ele de volta tanto ou mais do que você – lembrou a mulher, se debruçando sobre a mesa para poder fitá-lo melhor – Se tivesse outra alternativa, pode ter certeza que eu estaria optando por ela.
- Certo, e o que vocês sugerem? – Steve interveio, não querendo ter que separar brigas logo cedo – Não tomamos a base de Moscou, mas duvido que a HYDRA ainda esteja lá.
- Estávamos para ser remanejados quando eu fugi.
- Quais eram as opções? – perguntou Clint, se virando para , que ergueu as mãos em inocência.
- Eu só conheci a de Moscou.
- A maior parte das bases que costumávamos ficar quando precisávamos sair de Moscou vocês já tomaram, mas acho que as de Noruega e Islândia ainda estão em funcionamento – contou o russo – Dinamarca também. Não sei dizer qual que ele vai escolher. Tinha algumas na Ásia Central também... É difícil dizer.
- Pode começar detalhando cada uma – Tony sorriu para o rapaz, já pedindo que J.A.R.V.I.S. criasse um teclado na frente dele, para que pudesse apontar as localizações no mapa que fora projetado na larga parede próxima à mesa.
- Tem uma forma fácil de eu conseguir saber para onde eles estão indo... – comentou Petr, enquanto trabalhava nas anotações, e algo em sua voz fez com que uma luz vermelha de aviso piscasse na mente de sua irmã.
- Pode ir tirando o cavalinho da chuva – o cortou sem pensar duas vezes. Planos idiotas não deveriam sequer ser mencionados.
- Eu nem disse nada ainda!
- Mas eu já entendi sua sugestão, e vai ser um belo não.
- Será que dá para os dois pararem de segredinhos e explicar o que pensaram? – pediu Clint cansado, afastando sua cadeira e apoiando o queixo na beirada da mesa. Nem havia dado muita atenção ao casal de irmãos mais cedo e mesmo assim já estava cansado de ouvir os dois discutirem.
- Petr quer fingir que me recuperou – contou , e todos já ficaram tensos antes mesmo de ela terminar – Contatar Krigor e pedir um local de pouso.
- Não gostei da ideia – se pronunciou Bruce, o menos surpreso de todos.
- É uma alternativa.
- Só que para manter esse teatrinho, eu estaria que estar realmente contida, o que deixaria minha segurança completamente nas suas costas – continuou a russa mais nova, mesmo que seu irmão já soubesse que sua ideia não iria para frente – Sem contar que teríamos que colocar isso em ação o mais rápido possível, o que significa que eu estaria realmente sem condições de lutar. Coloca nós dois em um risco desnecessário. Isso é um não.
- está certa – Steve se juntou a ela – Não é uma opção. Pense em outra coisa.
- Vocês sempre concordam nas coisas ou é algo pessoal comigo? – resmungou Petr, mesmo sem tirar os olhos de seu trabalho com os mapas. Ele tinha a leve impressão de que aquele comentário poderia causar um pequeno desconforto no grupo, e ele não foi desapontado. Tanto como Steve ficaram mais tenso, se mexeram desconfortáveis em suas cadeiras, e ainda assim a pergunta ficou pairando no ar.
- As aquisições de Manchester – comentou Clint, mudando de assunto sem olhar para a antiga pupila. Ela por sua vez pareceu ficar ainda mais tensa, até mesmo inquieta, pedindo para seu pai liberar J.A.R.V.I.S. para que pudesse fazer algo – Para onde foram movidas?
- Eu posso rastrear – contou ela, segundos antes da tela na parede ser dividida, e um teclado aparecer também a sua frente. Petr parou o que fazia para a questionar.
- Como?
- Eu nunca faço armas sem rastreador, por isso – respondeu sem olhar para o irmão, que ficou ainda mais confuso.
- E desde quando você faz armas?
Em sincronia, todos se virarem lentamente para o novato.
- Eu posso não estar mais exercendo isso, mas eu fui criada para ser designer de armas, Pete – lembrou a russa mais jovem, com um sorriso descrente no rosto – As Indústrias Stark saíram desse ramo faz pouco tempo, você deveria se lembrar disso.
- Mesmo antes de eu fechar a produção, fazia anos que nós não... – começou Tony, a resposta chegando em sua mente antes mesmo de terminar sua pergunta – ...produzíamos uma criação sua. S.H.I.E.L.D. As armas roubadas em Manchester...
- Fase 2, exclusivamente – respondeu Clint, puxando o relatório de perda que a S.H.I.E.L.D. disponibilizara a eles depois do ataque.
- Mas que ótimo...! – bufou Tony, afundando em sua cadeira, assistindo a filha continuar a trabalhar no rastreamento. estava tão irritada como eles com aquela história, ainda mais por ter participado da operação e não ter podido interferir. Ela poderia ter diminuído o poder de fogo da HYDRA e só pode observar eles colocarem as mãos em suas criações.
- Estão na Noruega – avisou a mulher, assim que o programa deu os primeiros resultados, a localização batendo com o que Petr tinha salvo mais cedo.
- Consegue hackear a base? – perguntou Steve, e ela logo disse que “precisava de mais um minuto”.
A atenção do grupo então foi dividida para montar uma estratégia já que as armas da Fase 2 costumavam causar problemas, até que Petr interrompeu a conversa para auxiliar a irmã.
- Se você seguir por aí, vai travar todo o seu acesso – disse o rapaz alto, ele próprio tão confuso quanto os outros membros da equipe, já que reconhecia algo na sequência de códigos que a irmã usava, e só quando perguntou impaciente o que o incomodava que ele conseguiu desvendar – Esse não... Esse não é o código da Leona? Ai, droga...! Esqueci da mulher.
- Você está ferrado – cantarolou divertida, mesmo sabendo que o desespero do irmão era verdadeiro – Ela vai arrancar sua cabeça fora. Não disse qual.
- Dá um jeito nela no meu lugar? – choramingou Petr, se deitando sobre a mesa para fazer mais drama – Aquela garota é quase tão psicótica quanto você.
- E acabar com toda a diversão? – continuou a mulher, negando com a cabeça – Quero assistir comendo pipoca.
- Quando? – indagou Thor, de repente interessado, o que traiu alguns olhares confusos – Que foi? Eu gosto de pipoca.
- Quem é Leona? – perguntou Clint, falhando em se manter sério depois da intromissão do asgardiano.
- Uma das cientistas do Presságio – explicou o russo emburrado, voltando a apoiar as costas no encosto da cadeira – Tem potencial para causar problemas.
- Alguém deixou a namoradinha para trás? – debochou Tony, se surpreendo em ouvir sua filha intervindo antes que o rapaz pudesse tentar se defender.
- Ele não é doido de trazer aquela louca para cá.
- Irmã ciumenta – constatou o bilionário, olhando para o resto da equipe – Estou surpreso.
fingiu rir em concordância antes de comunicar que já tinha hackeado a base, todas as informações que precisavam na tela ao fundo. Steve a partir daí tomou a dianteira, já começando a fazer os primeiros esboços do que seria a estratégia deles para aquela missão. Como de costume, o soldado saiu dividindo tarefas entre os membros, deixando alguns responsáveis por analisar o terreno aos arredores da base, as estruturas da construção e essas coisas.
- ? – ele a chamou depois de um tempo, esperando que ela terminasse de anotar algo antes de continuar – Quanto tempo você precisa para poder voltar à ação?
- Uma semana, no máximo.
- Ótimo. Temos bastante tempo para planejar essa.

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terminava de vestir a calça de seu uniforme quando ouviu uma batida na porta do banheiro, logo seguida de Steve perguntando se ela se importava em ajudá-lo. Ela pediu por um segundo, pegando a camiseta de malha resistente e a vestindo com mais agilidade do que há uma semana atrás, rumando para fora do banheiro com os pés descalços. Steve estava jogado na cama, encarando o teto. Precisava de ajuda de uma segunda pessoa para conseguir fechar o traje nas costas, então apenas vestia a parte de baixo e uma regata branca, que deveria ser pelo menos dois números maiores para não ficar tão justa em seu corpo. Assim que ouviu a porta se abrindo, ele voltou a se sentar, já buscando a peça com que necessitava ajuda, entregando a assim que ela se aproximou.
Para facilitar, ele ficou sentado na beirada da cama, assim poderia ajustar tanto na frente como nas costas. Quando ia começar a trabalhar nos ajustes, uma batida na porta surpreendeu a dupla.
- Está aberta – avisou Steve, depois de J.A.R.V.I.S. anunciar que se tratava do agregado da equipe.
Petr entrou no quarto com os braços abertos, chegando a até a dar uma giradinha ao alcançar o meio do quarto, fazendo a dupla rir.
- Papai Stark me deu um uniforme novo de Natal atrasado – brincou ele, quando voltou a ficar de frente para os dois. O traje do russo parecia aproveitar detalhes de outros uniformes, em especial de Steve, Clint, e : a parte de cima obedecia quase os mesmo esquemas de costura que o colete da irmã, porém sem se estender abaixo da linha do quadril, e era também algo mais completo, como o traje do Clint, que se estendia aos braços na mesma peça, embora tivesse protetores nos ombros e cotovelos que mais se assemelhavam ao traje do Steve, mesmo sendo um pouco mais discretos em tamanho – Pensei que eu ia continuar usando meu uniforme antigo.
- Você queria lutar contra a HYDRA usando o uniforme que eles projetaram? Que filho ingrat... Ah, teria sido curioso! – riu , terminando de fechar o traje de Steve e colocar o apoio do escudo em suas costas, lhe dando batidinhas no ombro para avisar que tinha terminado – Mas fala sério...
- O tecido, não é? – arriscou o russo, vendo a irmã concordar. Tony aproveitara o tecido especial que projetara para a filha, já que diminuir os ruídos também facilitaria a vida do russo – Será que ele faz umas roupas para ficar em casa com isso se eu pedir com jeitinho?
- Eu já pedi e ele negou, então duvido – tratou de o cortar logo, rindo mais um pouco quando ele saiu dizendo um animado “desafio aceito”. A mulher não fazia ideia do que esperar de seu irmão na Torre convivendo com os Vingadores, e não podia negar que, embora em um momento ou outro eles se estranhavam, na maior parte as coisas ocorriam daquela forma: uma brincadeira ou alfinetada ali, nada muito ofensivo. Mais de uma semana e ninguém trocara chutes, socos ou tiros, era algo para se orgulhar.
O voo em rumo à Noruega fora mais silencioso do que se lembrava. O próprio Steve repassara as estratégias bem menos vezes do que de costume, o que era algo para se estranhar.
Como agora eram uma equipe com número par de integrantes, eles seriam divididos em duplas. Thor ficaria do lado de fora da base com o Hulk, e os outros invadiriam assim que possível. O restante foi dividido em habilidades de curta e longa distância, no intuito de equilibrar o máximo possível as duplas – e de garantir que e Petr não formassem uma. Clint ficaria com o russo, e ela com Steve, o que deixava Tony com Natasha. Diferente do restante, o objetivo de Steve e naquela missão era encontrar o arsenal de armas da base e garantir a segurança do pacote que buscavam até que toda a situação fosse controlada. Não era a tarefa mais divertida para se ter, mas ela não estava em posição de reclamar. Sabia que não teria sido reintegrada na equipe se não tivesse outra maneira, então ajudaria no que pedissem tentando não fazer careta de reprovação. Sem contar que teria um pouco de ação até localizarem o arsenal, então poderia descarregar um pouco daquela energia que só parecia se acumular em seu corpo.
Em um momento ou outro quase chegou a sentir falta daquela maldita máscara que a HYDRA a obrigava a usar, quando fumaça ou até mesmo poeira preenchia o ambiente. O fato de ter sido designada a Steve também ajudou bastante, já que ele era o mais paciente de todas as possibilidades. Ela estava fora de forma para o padrão Vingadores, e o Capitão constantemente tinha que lhe repreender, pedir que mudasse sua abordagem.
- Não é uma missão suicida, Stark! – berrou ele em um momento, depois de desligar seu canal de comunicação para que aquilo não se tornasse uma conversa em grupo. Steve a prensara com um braço contra a parede mais próxima, o escudo no outro braço para caso alguém se aproximasse sem ele perceber, já que estava um pouquinho mais alterado do que gostaria de admitir. sabia que o corredor estava cheio de inimigos e armadilhas, e mesmo assim quase entrara nele desfilando – Para de negligenciar sua segurança, ou te mando de volta para a nave. Entendido?
Depois disso pareceu se lembrar um pouco de como sua postura nas missões deveria ser, mas ele continuava atento. Era mais estressante do que nunca trabalhar ao seu lado, mas pelo menos Steve podia ficar realmente de olho nela. Tony vez ou outra pedia atualizações em um canal privado para eles, e ele sempre via a mulher revirar os olhos quando percebia isso.
Algumas muitas horas mais tarde e depois de muita munição descarregada, parecia que a base estava sob o comando deles. Tanto Petr como já tinham avisado um pouco mais cedo que Krigor não estava nem perto dali, mas continuavam atentos em busca de alguma ameaça que poderia resolver dar as caras nos últimos minutos do segundo tempo.
E mesmo assim eles não foram atentos o suficiente.
, Steve, Clint e Petr estavam no arsenal fazendo um catálogo rápido apenas para terem certeza que a S.H.I.E.L.D. não deixaria alguma sem querer de fora. O novo Diretor havia garantido que aquela aquisição seria mantida sob segurança máxima, mas ninguém estava colocando tanta fé como queriam. Afinal, não dava para acreditar muito em um cara que eles viram morrer anos atrás. Estavam todos tão distraídos em suas contagens que só ouviram os sons de passos quando já estavam próximos demais.
- Dominik – chamou-a uma voz infantil, e Steve olhando para o começo do corredor de armas com expressões confusas. A mulher demorou um pouco para reconhecer a criança, a garota que recrutara na Austrália.
- Ah, inferno... – resmungou , sem ter como soltar o tablet em suas mãos para pegar uma arma sem que a criança disparasse antes, endurecendo a voz em seguida para ao menor tentar dar a ordem – Pirralha, solta essa arma. Agora.
- Traidora – retrucou a garota, apertando com mais vontade a pistola que parecia maior em suas mãos pequenas.
- É uma ordem, pirralha – Petr se juntou a eles do fundo do corredor com Barton logo atrás. O russo também tinha sua arma em mãos, e a criança sabia que não conseguiria ganhar dele em velocidade daquela forma, por isso abaixou as mãos, mas o sorriso maldoso em seus lábios que só se esticavam mais deixou todos desconfortáveis, até que a dupla de irmãos entendeu o motivo.
- Bomba!
A explosão não fora tão grande, mas como estavam cercados de armas um tanto delicadas, por alguns segundos todos esperaram pelo pior. Steve e apenas não tiveram mais queimaduras e mais machucados porque o soldado conseguira colocar o escudo entre eles e a explosão. Algumas caixas próximas à garota foram destruídas, com algumas armas sendo danificadas, mas nenhuma chegou a ajudar a aumentar os estragos. sequer olhou para aquela direção, sabendo que não encontraria a garota ali, já que os explosivos estavam muito bem escondidos dentro de seu colete.
- Isso é o que acontece quando você é uma vadia com crianças, Nikky... – comentou Petr em um resmungou, passando as mãos nos cabelos várias vezes para tirar a poeira e observando o teto em busca de danificação à estrutura. Ele reclamou baixo quando sentiu Clint chutar seu braço antes mesmo de se levantar. Quando se virou para o arqueiro, ele o olhava feio – Que foi?!
Clint voltou a chutá-lo, e, quando ele estava prestes a pedir socorro à irmã que ele entendeu.
- Peguei pesado, não foi? – perguntou ele primeiro para o arqueiro, que quase berrou um “o que você acha, gênio?” – ?
- Relaxa, só termine o trabalho – ela logo o cortou, se levantando primeiro e esticando a mão para Steve para ajudá-lo em seguida, seu tom de voz mais sério do que em qualquer outro momento do dia.

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Chegava a ser um tanto bizarro, porém mais uma vez depois de várias horas de sono atrasado colocadas em dias, toda equipe resolveu subir para a cozinha particular quase que no mesmo espaço de tempo, causando praticamente uma superlotação. Havia lugar para todos na mesa de oito lugares, mas como alguns tinham um porte físico mais avantajado, alguns espaços eram violados.
- Por que corvo? – perguntou Clint, depois de colocar uma colher cheia de cereal na boca, recebendo várias reprovações das mulheres da equipe, que pediam um pouco mais de educação na mesa – Do você está falando, Stark?! Olha aí você falando de boca cheia também!
- Sinal de morte. HYDRA gosta de ser dramática – respondeu Petr, mesmo com a discussão paralela não parecendo que fosse acabar tão cedo – E a coisa de copiar a voz.
- Como assim? – estranhou Bruce – Copiar a voz?
- Você fez algo desse tipo no resgate, não foi, ? – comentou Natasha, e a russa mais nova assentiu, não conseguindo retomar sua discussão com Clint por seu irmão a cortar.
- Sério? Por quê?
- Markus estava me dando problema, tive que improvisar.
- Então vocês conseguem simplesmente copiar a voz de alguém? – deduziu o arqueiro, gesticulando nervoso para que todos fizessem silêncio – Demonstração requisitada.
- Para isso você precisa ter uma boa quantidade de material do timbre da pessoa armazenado – Petr deu a desculpa, sendo vaiado por alguns por ser estraga-prazeres – Eu não tenho isso ainda de vocês. ?
revirou os olhos e soltou seus talheres ao lado do prato, pigarreando várias vezes. Era uma habilidade um tanto útil se adquirisse boa prática, e a falta dela prejudicava sua garganta. Era uma tensão muito forte em suas pregas vocais, e sempre tinha problemas para conseguir controlar a saída de ar.
- J.A.R.V.I.S.? - chamou-o ela um tanto incerta, imitando a voz do pai.
- Sim, Sr. Stark? – o queixo de todos se aproximou um pouco mais do chão, tanto por ouvir a voz de Tony saindo da mulher, como pelo próprio sistema não conseguir diferenciar a voz de seu criador de uma fraude.
- Mande alguém limpar o laboratório da minha filha, por favor.
- Cuidarei disso, senhor.
Tony em contrapartida não parecia nem um pouco feliz.
- Eu nunca usei isso antes, relaxa – tratou de dizer logo. Não queria mais um castigo em suas costas.
- Graças a Deus você não sabia fazer isso na adolescência – comentou Tony, ainda de cara fechada, mas deixando escapar um sorriso discreto quando ouviu a filha gargalhar.
- Isso teria sido divertido.
- Você não sabia fazer isso antes? – estranhou Petr – Eu levei anos para aprender.
- Você que me ensinou Pete – lembrou ela, gesticulando com uma mão para o incentivar – Vá em frente, escolha um e imite.
- Não tenho material o suficiente de ninguém aqui.
- Nem da sua irmã? – arriscou Bruce.
- Ela era muito quieta. Infelizmente isso mudou.
- Ei!
- A verdade dói, não é? – a voz do russo saíra bem mais aguda, e até um tanto desafinada. Não se parecia em nada com a voz de , mas era uma boa forma de fazer graça.
- Eu não soo assim!
- Soa sim – concordou Tony, ganhando um guardanapo voando em sua direção.
- Ele fez soar como um gato... morrendo!
- Você é um papagaio – Clint não aguentou mais, explodindo em risada, uma mão tampando a boca e outra apertando a barriga.
- Corvo. É mais elegante. Me deixa – corrigiu ela depressa, tentando ficar séria, mas a risada do arqueiro era contagiante – Para de rir!
- Carma é uma vadia, cara Stark – suspirou o ex-agente, limpando algumas lágrimas de riso que escaparam de seus olhos – Lembra de você dizer que não queria nome de bicho?
- Cala a boca, Barton.
- Acredito que passamos do limite de pessoas com nome de pássaro por metro quadro – debochou Tony.
- Vocês são horríveis – resmungou ainda rindo – E está faltando o Falcão. Não excluam o Wilson.
As piadas logo morreram, e todos voltaram suas atenções para seus respectivos pratos, até que a potente risada do asgardiano ecoou pela cozinha, e já sabia o que ele estava prestes a dizer.
- Isso quer dizer que eu posso usar vocês para enviar mensagens?
- THOR!
- Quem é Huginn e quem é Muninn? – continuou ele, mesmo que a maior parte da equipe não fosse compartilhar da piada. ainda olhou para o irmão, pensando se realmente cada um deles poderia representar um dos corvos mitológicos, apenas para se flagrar rindo e balançando a cabeça em descrença.
- Esperava mais de você, Odinson.
- Vocês são um bando de pombos, não sei por que estão reclamando – alfinetou Tony, e se viu cuspindo de volta para o copo o suco que estava bebendo.
- Certo, é só eu ou estamos oficialmente trocando o “caw caw motherfucker” pra “pruu pruu motherfucker”? – brincou ela com um sorriso maldoso para o arqueiro, que se engasgou com seu cereal, e precisou de vários minutos para se recuperar e poder rir livremente.
- Eu desisto de vocês – resmungou Natasha, se levantando para devolver seu prato vazio à pia, com um coro de “pruu pruu” às suas costas.
também se levantou para jogar fora o suco de seu copo, já que não se sentia muito a vontade de terminar a bebida naquele estado. Ela deixou o copo agora vazio e limpo da bancada da pia e se virou para a geladeira, já que alguém resolvera guardar a garrafa de suco mesmo de antes de todos terminarem a refeição. A mulher esticou o braço para pegar a garrafa, mas seus dedos não conseguiram se fechar ao redor do vidro, que escorregou de sua mão e ia em direção ao chão. Como reflexo, ela tentara alcança-la, mas uma dor aguda surgiu no meio de suas costelas. tentara se segurar na bancada, mas não tinha apoio. Foi ao chão poucos segundos depois da garrafa, batendo a testa na quina do tampo de mármore no processo.
- ?! – Bruce foi o primeiro a alcançá-la, a puxando pelas mãos e a deitando em suas pernas – , fala comigo.
- Acho melhor alguém me levar para o quarto... – pediu ela baixo, levando a mão a testa e olhando para o próprio sangue em seus dedos – Sabia que era uma péssima ter voltado para a equipe.
- Do que você está falando?
- O soro que eles usam para me apagar... – explicou ela, parando para agradecer o pano de prato que Thor lhe entregara – Uma quantidade grande pode me matar, lembra?
- Eles usaram em você?
- Não tanto, mas eu não tinha me recuperado da última ainda.
Petr era o que assistia a cena mais de longe, os braços tensos ao lado do corpo, o maxilar travado.
- Tire a camiseta dela – ordenou ele, e não teve dificuldades em perceber como ele estava irritado.
- Pete, não prec...
- Tire a porcaria da camiseta, Stark.
Bruce a ajudou a se livrar do tecido, revelando a longa macha escura que se estendia desde o começo de suas costelas até a base de seu pescoço, que ficara escondido até aquele momento por seu cabelo amarrado baixo. O contraste da pele com aquela mancha dava à mulher uma aparência de doente e cansada.
- Por que não falou antes, idiota? – grunhiu Petr, forçando as unhas nas palmas de suas mãos para evitar descontar em algum objeto próximo. Havia uma política na Torre de evitar destruir mobília e decoração, e até que estava gostando de não levar bronca por aquilo – Quantas vezes eu vou ter que repetir? Você esconde esse tipo de coisa de mim e acaba morta.
- Porque não faria diferença, e não estava tão ruim assim quando eu fui dormir.
- Não podemos fazer algum tipo de vacina para isso? – Bruce se intrometeu na conversa, sabendo que nada de útil teria na discussão dos irmãos – Um antídoto?
- De qualquer forma precisaríamos de uma amostra que não estivesse no meu sangue, coisa que não temos no momento.
- Na verdade, nós temos – comentou o russo, atraindo olhares surpresos – Que foi?
- Como é que é? – Tony verbalizou a dúvida de todos.
- Quando eu invadi o prédio. Eu tinha um frasco com um pouco do soro, caso fosse necessário derrubá-la – contou o rapaz, cruzando os braços – Vocês confiscaram. Espero que tenham guardado.
- E você só fala disso agora? Petr! – choramingou , deixando que Bruce se virasse com todo o seu peso e deitando de vez sobre as pernas no homem.
- O que foi? Você é a inteligente da dupla, não pensou nisso porque não quis.
- Claro, porque eu adoro ser envenenada toda vez que saio do prédio.
- Vamos fazer um antídoto então – anunciou Bruce, se virando para ela, apertando seu ombro carinhosamente – Vou precisar de você no laboratório.
- Posso ajudar enquanto estiver dormindo? Você não faz ideia de como essa porcaria bagunça meu sistema.

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Steve já tinha notado um padrão: quando o russo não estava na companhia da irmã – como quando ela estava trancada no laboratório com Bruce, ou quando ela estava em sua companhia no quarto que agora dividiam –, ele estava na academia. Depois da primeira semana na Torre, Petr já havia entregado as chaves da cela da irmã e ganhado seu próprio quarto, sendo agora o novo vizinho da outra russa da equipe – um aviso discreto e eficiente de que deveria andar na linha, ou teria que lidar com uma Viúva Negra em seu quarto no meio da noite. Sendo assim, ele tinha agora um pouco mais de liberdade no prédio, embora pudesse apenas circular nos andares privados que eram reservados para os Vingadores, e sua falta de compromissos deixava seus horários sempre livres. Steve até já tinha comentado as visitas do rapaz à academia nos horários que ninguém a utilizava com Tony, porém o mais velho dos Stark não lhe deu muita atenção, julgando que ele poderia muito bem lidar com aquilo seu auxílio. Tony até notara o claro tom de pedido de permissão para agir com o novato, como se tivesse de fato alguma responsabilidade e poder sob o irmão de sua filha, e por isso achou melhor se ausentar naquele tópico e deixar Rogers levar toda a bomba. Se ficasse muito sério, era apenas chamar a e esperar que tudo se resolvesse.
- Sabe, quando esse prédio deixou de ser a Torre Stark para ser a Torre dos Vingadores, todo esse material foi reforçado para suportar Thor, e eu durante os treinos – comentou Steve, se adiantando em direção ao moreno, que não parecia disposto a querer lhe dar atenção, continuando sua sequência de golpes bem ritmada – Você pode continuar usando toda a força que tiver, mas não vai conseguir derrubar ess...
Petr aplicara um soco mais potente, e a corrente que mantinha o saco pendurado rompeu, o objeto parando alguns metros mais à frente.
- é apenas meio super soldado, mas eu sou inteiro, colega. Assim como você – resmungou Petr, começando a tirar as faixas das mãos sem delicadeza nenhuma – Seu soro pode ser mais elaborado que o meu, mas não estou muito longe de você.
- Nunca disse eu estava.
- Olha, eu sei o que você está fazendo, entendeu? – resmungou o russo impaciente, se aproximando do soldado americano assim como ele, deixando apenas a distância de um passo curto entre eles – Você não é o primeiro. No pouco tempo que ela ficou na HYDRA, qualquer babaca que queria se engraçar com ela, primeiro se aproximava de mim. Então deixa eu te adiantar uma coisa: você não precisa se aproximar de mim por causa da minha irmã, nem para conquistá-la nem para agradá-la.
- Acho que você tem uma visão um pouco errada de mim, Ivanov... – respondeu Steve sorrindo cínico, sem se deixar abalar pela postura que provavelmente deveria intimidá-lo. Ele já havia lutado em mais batalhas do que podia contar, já havia enfrentado aliens e ameaças muito maiores do que o pequeno russo. Petr teria que aprender muito para fazê-lo hesitar – Eu não estou aqui pela sua irmã. Ela é um tópico completamente diferente. Para mim não faz a menor diferença se vocês são parentes, entendeu? Você está sendo parte da equipe, mesmo que momentaneamente. É com isso que me importo.
- Veio aqui para me treinar, Capitão? – debochou o rapaz, girando os calcanhares e rumando para os bancos onde deixara sua mochila e sua garrafa d’água.
- Primeiro queria saber por que você não está dormindo.
- Não fui projetado para dormir, amor – respondeu Petr sorrindo, até oferecendo a bebida para o soldado, que negou com a cabeça – Só preciso dormir umas duas vezes por semana e algumas poucas horas para funcionar plenamente.
- Sua irmã não funciona assim – comentou Steve, incomodado por ter que se referir a ela daquela forma, como se não passasse de uma máquina.
- Dom... está incompleta – lembrou ele – Eles a apagavam tanto para alimentar como para testar novos soros.
Steve assentiu, e abaixou a cabeça por uns instantes, as mãos na cintura enquanto ponderava o que fazer. Bem, um treino leve não faria mal a ninguém, certo? Não dava para eles se meterem em problemas com isso.
- Então estou aqui para te treinar.

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Bruce esperou pacientemente por um bom tempo para ver o que faria, apenas para assistir a mulher passar a seringa de uma mão para outra, as vezes a devolvendo à bancada bagunçada e colocando as mãos na cintura, bufando alto, a tensão que sentia clara em seus ombros e rosto. Depois de dias trabalhando naquilo, eles finalmente chegaram a um soro que parecia estar se dando bem com a amostra que tinham de seu organismo, mas isso não garantia que seria um procedimento completamente seguro, e que as coisas não pudessem desandar.
- Não estou acostumado a te ver tão hesitante – confessou Bruce até rindo de leve, embora no fundo estivesse tão nervoso quando a mulher. havia o ajudado da melhor maneira que podia, mas ela era uma mecânica, assim como o pai, não entendia tão bem de organismos que não precisavam de óleo – Ainda mais relacionado a seu trabalho.
- Dessa vez é diferente – foi a única coisa que ela respondeu, ficando em silêncio por mais um longo tempo, sentindo o vidro frio da seringa em seus dedos. Seu suor estava quase na mesma temperatura que o objeto e o líquido que ele abrigava, que logo estaria em sua corrente sanguínea.
- Isso não vai te matar, .
- Sei disso, doutor. Só que... Não é esse meu medo. Nós não tentamos recrear o soro, mas isso não muda o fato de que isso vai ter efeitos colaterais – suspirou ela, deixando o objeto mais uma vez na bancada para levar ambas as mãos à nuca, tentando aliviar a tensão e falhando – Historicamente, nunca terminou bem. Você de todas as pessoas sabe muito bem disso. Nós fizemos mil testes, mas meu organismo é algo impossível de prever. Isso pode terminar em um desastre, e eu já sou um sem muito esforço. Não tenho medo de morrer, tenho medo de causar mais problemas.
Bruce não conseguiu pensar em nada para responder. Bem no fundo, ele estava contente. Durante o tempo que ficaram trabalhando incansavelmente naquele antídoto, vez ou outra ele conseguia ter um dos vislumbres que Steve e Tony tanto falavam: um breve momento que se podia ver um gesto ou sorriso que a diferenciava por completo de Dominik. Ali o que Bruce viu foi quase uma memória antiga, o peso da responsabilidade de suas ações nos ombros cansados da mulher. Até os eventos próximos eram semelhantes: nos dois casos, ela atacara a equipe, e estava de alguma forma sendo controlada por outra força. Nos dois casos, estava a consciência e o senso de responsabilidade que ele aprendera tanto a admirar na mulher.
respirou fundo mais uma vez, se adiantando para a seringa quando o cientista assentiu com a cabeça, a incentivando a fazer aquilo logo de uma vez. Com agilidade, ela localizou a veia mais adequada em seu braço, perfurando a pele sem cerimônias e logo injetando o líquido azul escuro e gelado. Um arrepio ruim percorreu seu corpo quando ela devolveu a seringa vazia a bancada, e logo todos seus músculos travaram, por sua garganta subiu um som que deixava claro que ela não conseguia mais respirar.
Bruce permaneceu no mesmo lugar, sem saber o que fazer. Ele apenas se adiantou para ela quando os gritos começaram e ela se agachou no chão, abraçando o tronco com força. Ele a chamou algumas vezes, passando a mão em seu ombro para tentar conquistar sua atenção. O homem apenas percebeu que algo estava estranho quando notou a forma que o corpo dela tremia.
Ela estava rindo.
- Desculpa, eu não aguentei! – pedia ela entre risadas, quando Bruce se afastou usando a expressão mais inconformada que tinha – Eu sou uma pessoa horrível, eu sei. Oh...
com um braço voltou a abraçar a barriga, e a outra mão livre tampou a boca. Bruce não conseguia ver por trás de seus poderes como Steve, mas julgou que daquela vez não era encenação. Sua certeza veio quando ela correu para o banheiro do laboratório e fechou a porta.
- Stark? – arriscou ele, batendo de leve na porta, fazendo uma careta enjoada quando ouviu os ruídos característico de alguém esvaziando o estômago, logo seguido do som da descarga sendo acionada – Efeito colateral?
- Colocar para fora meus órgãos internos? – resmungou ela, abrindo a porta. Sua expressão ficara ainda mais cansada, e ela segurava a cabeça nas mãos – O que você me deu, Banner? Ressaca em vidro?
- Você está bem?
- Depois que isso me matar eu vou estar ótima.

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Todos ficaram em silêncio a espera de explicações, principalmente quando os soldados decidiram fingir que nada tinha acontecido. Todos os olhares seguiram para , que tinha uma sobrancelha erguida em questionamento. Petr foi o primeiro a arriscar olhar para ela, se arrependemos logo em seguida. Parecia que ela estava prestes a deixá-lo no castigo mais longo de sua vida.
- Nós estávamos treinando, juro – garantiu o moreno, tentando de qualquer jeito cobrir o corte em seu supercilio com um punhado de cabelo. Seu nariz ainda com um pouco de sangue e inchado já era uma prova difícil de encobrir. sequer lhe deu atenção, se virando para o outro soldado com os braços cruzados, o que irritou seu irmão – Você confia mais no Rogers do que em mim?!
- Você ainda sabe alguns truques para mentir para mim, Rogers é horrível mentindo.
- Nós estávamos treinando – repetiu Steve. Não queria ser tão baixo, mas usara sua melhor expressão de cachorro sem dono para amolecer a mulher – Eu queria ver primeiro do que ele era capaz, e as coisas não saíram exatamente como eu planejava.
- Aí você desceu o cacete nele? – acusou a mulher, as reclamações de Petr voltando a ecoar pela cozinha.
- Não gostei da sua escolha de vocabulário, irmãzinha...
revirou olhos, inclinando sua cadeira para trás enquanto tentava tirar algo de um dos bolsos da frente de sua calça.
- É isso que eu ganho por tentar ser uma boa irmã – resmungou ela, entregando uma nota de dez para Thor, que não parecia muito feliz.
- Pensei que nós iríamos ver o combate... – suspirou o asgardiano, fingindo admirar a nota amassada em suas mãos – Teria feito arrancar seu dinheiro uma atividade muito mais prazerosa.
- Thor está passando muito tempo com a gente.
- Vocês apostaram quem iria ganhar entre nós dois? – questionou Petr, mais ofendido do que nunca. Como assim tinha apostas acontecendo ao seu respeito e ninguém tivera a decência de lhe contar?
- Se fosse contra o Clint, ou até mesmo a , talvez nós tivéssemos apostado a seu favor – comentou Natasha, mais interessada em seu sanduíche.
- Ei! – reclamou o arqueiro que lava a louça, jogando um pouco de água na nuca da ruiva como forma de retaliação.
- Só a apostou a meu favor?
- Sabia que você iria pegar no meu pé eternamente se eu apostasse contra.
- Você não colocou fé em mim!
- Steve é mais inteligente do que parece.
- Isso deveria ser um elogio? – retrucou Steve, embora risse. Depois de beber mais um pouco de água e devolver seu copo usado para a pia, ele girou os calcanhares para deixar o ambiente, parando apenas por o ter chamado – Sim?
- Onde você vai?
- Tomar um banho? – ele estranhou a pergunta, só depois entendendo as intenções da mulher, até checando o relógio em seu pulso – Você já quer descer? Está bem cedo ainda.
- Nós testamos um novo soro hoje – explicou Bruce antes que ela pudesse abrir a boca – Ainda está deixando-a sonolenta.
- Certo, vamos descer então – suspirou o loiro, segurando a porta aberta para que ela passasse primeiro. Quando foi a sua vez, ele não olhou para as pessoas que ficaram na cozinha. Toda noite era a mesma coisa, os mesmos olhares incomodados com a situação. Petr não era mais monitorado por alguém além de J.A.R.V.I.S., diferente da irmã, que eles não deixavam ficar sozinha por mais de cinco minutos. A avaliação psicológica da caçula da família não havia sido nada boa. Metade das coisas que ela fora diagnosticada já era o suficiente para medicamentos pesados e até mesmo internação, ambas coisas que não eram viáveis na situação que se encontravam. Eram poucos medicamentos que conseguiam agir em seu organismo, e mesmo assim por pouco tempo, e afastá-la da Torre era perigoso demais, a deixava vulnerável. O máximo que podiam fazer no momento era não deixá-la sozinha por longos espaços de tempo até que ela se habituasse por completo, e ter o máximo de precaução possível quando ela precisava agir no campo.

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Steve parou no meio do caminho, olhando da mulher que se jogara na cama com um livro no colo para a porta do banheiro algumas vezes antes de verbalizar seus pensamentos.
- Você quer... Tomar banho?
- Está me convidando, Rogers? – perguntou ela risonha, sabendo exatamente como reagiria. No mesmo instante ela conseguiu notar a coloração rosada subindo no rosto do soldado, e todo seu constrangimento que viria a seguir.
- Eu não... Não foi isso que eu... Seria inapropriado devido... Uau, eu definitivamente não esperava voltar para a fase do constrangimento – Steve tentara disfarçar com uma risada, coçando a nuca nervoso – Você quer tomar banho primeiro?
- Você precisa mais do que eu – negou ela, rindo quando o homem resmungou um “obrigado pela parte que me toca” antes de entrar de vez no banheiro.
Como já bem imaginava, o que Steve encontrou quando voltou para o quarto com os cabelos ainda úmidos foi a mulher em uma posição estranha na cama, em um sono que logo se tornaria pesado se não interrompesse. Ele até considerou por alguns instantes deixar que dormisse daquele jeito mesmo, mas sabia que o humor dela não seria dos melhores se fingisse que se esquecera.
- ... Acorda – ele acabou por optar em acordá-la, jogando sua toalha molhada na cadeira próxima, se sentando na beirada da cama para a sacudir com vontade. de princípio apenas resmungou, se encolhendo no colchão e tentando afastar a mão desconhecida de seu ombro.
- Eu já acordei hoje. Me deixa em paz...
- O banheiro está livre – contou Steve rindo – E você está precisando de um banho.
- Obrigada pela parte que me toca – devolveu ela manhosa, não ajudando o soldado nem um pouco quando ele a puxou pelas mãos, seu corpo mole obedecendo qualquer movimentação que ele forçava.
- Super olfato, coração. E você está cheirando àquele soro – comentou ele, fazendo uma careta. Ganhando pela insistência, Steve finalmente conseguira colocá-la de pé. Claro que em seguida ela cambaleou para frente e ele teve que segurá-la antes que o pior acontecesse, abraçando seus ombros para a manter no lugar – Não está te incomodando?
apenas assentiu soltando um resmungo longo com algumas risadas quando o soldado passou a guia-la para o banheiro, tendo que dar passos mais afastados para não tropeçar em seus pés descalços, e ela por sua vez via graça em andar de costas quando até andar de frente parecia difícil, a testa apoiada no ombro descoberto de Steve. Ele apenas a soltou quando estava em frente ao banheiro, a girando com cuidado e empurrando de leve seu ombro para que ela entrasse de uma vez. Ela resmungou um sonolento “obrigada”, uma mão se esticando para a maçaneta para fechar a porta, quando um chamado de Steve atraiu sua atenção.
Steve por sua vez estava do mesmo jeito que a mulher: esperando explicações. Em um momento de falta de bom senso, o filtro que impedia que seus pensamentos fossem verbalizados entrou em pane, e, junto com sua incapacidade de mentir e inventar histórias, era um perfeito desastre. Havia se saído tão bem nos últimos dias, ajudava na adaptação quando podia, a acalmava quando ela perdia um pouco o tato e dava a impressão de que teria algum surto. Até mesmo Natasha estava surpresa com seu bom desempenho ao lado da mulher, e agora parecia estar prestes a jogar tudo para o alto. Tudo por um breve instante de questionamento que não cabia naquele momento, que ele não deveria apresentar a ela.
- ? Você acha... Não voltar ao que éramos, mas... – ele respirou fundo. Se era para estragar tudo de uma vez, que pelo menos falasse direito – Acha que um dia vamos nós nos tornar algo novamente?
Seu olhar até agora se mantivera no chão, observando mexer nervosamente os dedos do pé sobre o outro. Quando erguera o olhar, encontrara exatamente o que já esperava: o olhar machucado da mulher.
- Steve... Eu não sei como lidar comigo em relação a mim – foi o que ela respondeu, uma sinceridade em seus olhos que Steve tinha até se desacostumado – Qualquer coisa a mais disso está além do que eu posso lidar no momento.
- Eu sei disso... Não devia ter tocado no assunto, me desculpe – disse ele rápido, já lhe dando as costas.
- Steve? Não se desculpe – pediu ela, antes que ele pudesse se afastar como planejava, a lateral do rosto apoiada no batente da porta, enquanto as pontas dos dedos percorriam o material dali – Você costumava confiar em mim, certo? Seria demais pedir para você ao menos tentar? Você costumava me contar tudo, fosse importante ou não. Eu ainda sei dizer quando você que me contar algo, e...
- Tenho medo de ser demais para você.
- Se você não me quebrar, outro alguém vai – lembrou ela, recebendo um olhar confuso do homem por cima do ombro – Eu honestamente prefiro que seja você.
- Te proteger é meu dever – retrucou ele sem pensar duas vezes, voltando a se virar para a mulher, seu olhar firme.
- Acho que já passamos do ponto onde é meio óbvio que eu não sou o tipo de pessoa que se pode proteger – riu cansada – Não importa o que eu faça, sempre vou estar na linha de frente.
- E eu vou estar ao seu lado.
- Já é mais do que eu mereço.
Steve lhe lançou um sorriso não muito convincente, girando os calcanhares e rumando para a cama, enquanto fechou finalmente a porta, se apoiando contra ela por alguns instantes antes de começar a se despir. Era difícil, mas as vezes era possível pegá-la de surpresa, e Steve sabia muito bem como fazer aquilo. Sua mente estava tão confusa que seu banho fora no automático, logo ela limpava o vidro embaçado e pegava seu pijama.
saiu no banheiro enquanto vestia a camiseta larga, sorrindo sem querer ao ver o que a esperava no quarto. Steve desajeitadamente deitado no lado oposto da cama que normalmente ela ocupava, com o livro que ela lia mais cedo caído sobre seu peito que subia e descia no ritmo calmo de sua respiração. Por mais que quisesse negar, ela sentia falta daquilo. Dele. As mesmas memórias que a faziam se sentir em segurança eram as mesmas que mais a assombravam. Eram memórias de outra pessoa, alguém que por mais que ela se esforçasse, ela nunca voltaria a ser. A parte mais sensata de seu cérebro exigiu que ela o acordasse, pedisse que ele voltasse a dormir na sua cama improvisada a uma distância segura dela. Mas não foi isso que ela fez. tirou com cuidado o livro de suas mãos e o deixou sobre a mesa de cabeceira, e puxou uma das mantas para o cobrir. Instintivamente, Steve se ajeitou em seu lugar, virando minimamente para o lado vazio da cama, que ocupou com certo receio depois de pedir para que as luzes se apagassem. Uma sensação estranha dominava seu peito. Uma mescla de ansiedade com temor. Não importava o que suas memórias lhe diziam, ela não era mais uma pessoa digna daquele espaço, da sua companhia. Seu corpo ansiava pelo toque do homem, por mais uma vez se acolher em seus braços, e ao mesmo tempo não permitia a ela esquecer que aquilo não lhe pertencia mais. Steve era a personificação de tudo que ela fora feita para não ser, e aquele contraste não abandonava seus pensamentos por mais que se esforçasse.
Quando Steve abriu um dos olhos minimamente para tentar entender o que acontecia, a mulher se concentrou em fingir que também dormia. Ela estava virada para ele, mas a uma certa distância que chegou a machucá-lo por ser basicamente o resumo da situação que se encontravam: próximos o suficiente para poder tocá-la, e mesmo assim ela estava longe do seu alcance. Steve tinha completa ciência de que muita coisa tinha mudado, até mesmo seu cheiro, graças aos constantes testes de novos soros, havia sofrido alterações sutis, se tornando ainda mais discreto. Mas aquele não era o que mais o perturbava. As mudanças mentais e comportamentais eram o que mais o incomodavam, principalmente por ser algo que ele não podia consertar, estava completamente fora de seu alcance, assim como a mulher a sua frente.
- ...? - ele a chamou com a voz quase tão baixa como um sussurro. Quando não obteve resposta, forçou seu corpo a levantar, mesmo que contra a sua vontade. Se fosse seguir seus desejos, ele não deixaria aquela cama, não a deixaria abandonar seus braços. Steve a queria de volta, fosse , Dominik, ou qualquer outro nome que pudessem lhe designar. Ele queria a pessoa, não importava o nome, e estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe o matava mais do que tudo. Estar longe física e emocionalmente talvez fosse a mais segura das opções. Ele apenas não se afastou porque dedos frios percorreram de leve os músculos até se fecharem em um aperto sutil ao redor de seu braço.
não fazia a menor ideia do que estava fazendo. Ele estava se levantando, exatamente como devia, quando seu braço praticamente criara vida própria, o impedindo. Não fazia sentindo. Tomar aquele tipo de iniciativa deveria requerer um grau imenso de concentração para que ela tomasse uma decisão que a maior parte de sua mente discordava, e acabara que aquilo fora tão simples que sequer percebera o que fizera até encontrar o olhar confuso e ressentindo de Steve travado no seu.
- É sua cama, no final das contas – comentou ela em um sussurro – Fica.
- Não quero te deixar desconfortável.
soltou uma risada rouca e baixa, o que quase diminuiu o desconforto do soldado.
- Sua presença pode ser tudo, mas não desconfortável – retrucou a mulher, o aperto que fazia no braço de Steve diminuindo, as pontas de seus dedos passeando sem pressa por sua pele – Eu estar te afastando está te fazendo mal...
Steve fechou os olhos com força, se sentando mesmo sob os protestos de . Merda, ela estava fazendo aquilo por causa dele, porque ele fora um boca aberta. Se não tivesse inventado de trocar as mãos pelos pés e tocado no assunto deles como algo, a noite teria seguido como de costume, como deveria seguir. Agora sentia que estava forçando a mulher a algo que não queria, a algo que provavelmente a machucava.
- Não precisa se preocupar comigo – disse ele por fim, depois de um longo suspiro, quase se levantando da cama, se não tivesse se ajoelhado às suas costas. As mãos delas envolveram seus ombros, o mantendo no lugar, seu queixo se apoiando próximo à curva de seu pescoço.
- Mas eu me preocupo, sempre me preocupei. O curto espaço de tempo com conflito de personalidade não conta – sussurrou contra seu ouvido. O arrepio que percorreu o corpo não foi apenas pela proximidade da mulher, algo que parecia que não tinha há séculos, mas a firmeza e seriedade em sua voz – Realmente espero que saiba que eu nunca quis te machucar, mesmo que tenha parecido isso.
- ... – ele começou, sem saber ao certo o que dizer, quase agradecendo por ter se perdido nos olhos profundos da mulher quando virou o rosto em sua direção.
- Steve, eu estou te pedindo. Deita de novo, por favor – pediu ela mais uma vez, tendo que controlar sua vontade de revirar os olhos quando percebeu que teria que apelar para convencê-lo – Se te faz sentir melhor, você perto diminui os pesadelos. Eu já percebi isso.
Aquilo pareceu surtir efeito, já que depois de alguns instantes em silêncio Steve assentiu vagamente, forçando as mãos contra o colchão para colocar as pernas de volta na cama. por sua vez recuou e tornou a se deitar, ambos se encarando por um tempo sem saber o que fazer. Era estranho, para falar o mínimo. Depois do nível de intimidade que atingiram voltar para aquele estágio, que eles sequer acreditavam que tinham passado por ele um dia. Em um momento de ousadia, Steve se virou um pouco mais e ergueu o braço, a convidando para mais perto. prendeu a respiração antes de aceitar o convite, ficando parcialmente deitada sobre o soldado, que beijara seu cabelo depois que ela se ajeitara como bem queria, sussurrando um “boa noite” que ela respondeu em seguida. Sua mão ficara sobre o peito de Steve, bem acima de seu coração, onde ela conseguia acompanhar seu batimento acelerado aos poucos se acalmando até que ele adormecesse, assim como ela.

Capítulo 38


Como de costume, Tony saíra de seu quarto poucos minutos depois de Clint e Natasha, entrando na cozinha segundos depois deles. Logo de cara ele estranhou a dupla parada em frente à porta aberta, só entendo o que estava de errado ao notar o cômodo vazio, sem indícios de que já fora utilizado naquele dia.
Steve e eram sempre os primeiros a chegar.
- Essa é novidade... – comentou Tony, se adiantando para a cafeteira – J.A.R.V.I.S., cadê o Rogers e a minha filha?
- Eles saíram antes do amanhecer, senhor – contou o sistema, fazendo com que Tony perdesse o aperto da caneca em suas mãos, que caiu dentro da pia com um barulho alto, mesmo sem se quebrar.
- Como assim saíram? – repetiu ele, procurando alguma explicação na dupla de ex-agentes, que negaram ter algum conhecimento – Eles deixaram o prédio?
- Esse é o conceito de sair, senhor.
- Quero Rogers na linha agora!
Não demorou muito para que a conexão com o aparelho celular do Capitão fosse estabelecida, alguns ruídos característicos da movimentação urbana preenchendo em um primeiro momento a linha, sendo substituídos em seguida por pedidos desesperados do soldado por silêncio.
- Sim...?
- Não tente se fazer de inocente, Rogers – esbravejou o homem – Onde diabos vocês estão? não tem permissão para deixar a Torre.
- Sério mesmo que vocês dois tiraram o dia para gritar comigo? – resmungou Steve, olhando para a mulher ao seu lado rapidamente, que retrucou um bem humorado “eu ainda não gritei com você hoje, mas confesso que me sinto tentada”, que fez com que ele risse abertamente.
- Onde vocês estão?
- No parque. Alguém já estava ficando com deficiência em vitamina D por falta de sol – se explicou o soldado, logo sendo interrompido por uma emburrada.
- E mesmo assim você não teve a decência de lembrar de trazer um protetor solar.
- Você também não lembrou.
- Você que está coordenando a operação, meu amor. Era seu dever pensar no meu bem-estar.
- Eu posso continuar me desculpando pelo resto do dia que você não vai deixar esse assunto quieto, não é?
- Pode apostar.

- Eu não quero saber de nada disso! – Tony interrompeu a pseudodiscussão da dupla, que parecia tentar engolir a risada – Vocês têm dez segundos para estarem nessa cozinha, ou vão estar com problemas.
Mesmo sem o recurso visual, o trio na cozinha sabia que eles haviam trocado olhares cúmplices antes de começarem a correr em direção à Torre, mesmo sem terem decidido o prêmio da aposta, já que conseguiram reconhecer suas risadas divertidas antes da ligação ser encerrada. Quando eles chegaram na cozinha – muito tempo depois do prazo surreal de Tony –, todos já tinham levantado e já terminavam sua refeição, torcendo o nariz ao avisar a imagem nada agradável dos dois: ambos trajando suas roupas de academia que estavam a muito tempo grudadas no corpo, as respirações ofegantes, e os cabelos molhados de suor.
- Vocês estão um nojo – Natasha foi a primeira a se pronunciar, deixando seu prato na pia e contornado a dupla com o máximo de distância possível quando foi deixar o ambiente.
- Está de manhã, e, por mais bizarro que pareça, está sol – resmungou alto para que a outra russa ouvisse mesmo do corredor, se adiantando para a geladeira para ingerir a décima garrafinha de água do dia – E alguém me fez dar umas trinta voltas no parque inteiro, sem contar a corrida para ir e para voltar. Eu estou a cara da vitória por ter sobrevivido a isso.
- E alguém vai ficar a cara do castigo por ter te tirado do prédio sem autorização – Tony aproveitou a deixa, fuzilando o soldado com os olhos, que ergueu as mãos em sinal de inocência – Você sabe muito bem como a mídia é, não podia ter saído com ela sem mais nem menos.
- Eu posso ter reclamado muito, mas eu concordei – saiu em defesa de Steve, que sorriu em agradecimento – Não posso dizer que não fomos reconhecidos, mas o número de fotos com qualidade é bem baixo porque né, estávamos correndo.
- Não quero saber, os dois de castigo.
- Você tinha razão... – comentou Petr para Clint, que estava ao seu lado na mesa – Família mais estranha que eu já vi.
- Dez minutos para descer para a academia, Stark – avisou o soldado, erguendo a mão para bater no ombro da mulher, parando quando a mulher o olhou feio mesmo tendo se encolhido na espera da colisão
- Faça isso e você é um cara morto – ameaçou . Devido aos muitos meses sem contato continuo com luz solar, sua pele estava sensível, então sua pele avermelhada era em razão disso. Steve voltou a erguer as mãos, e até deu as costas ao grupo para deixar a cozinha, apenas voltando quando a mulher estava distraída com sua água.
O som estalado do tapa que Steve dera em seu ombro fizera com que todos pulassem sobressaltados, segurando a risada em seguida enquanto o soldado corria para fora do cômodo, e fazia uma careta para tentar se controlar.
- Filho de uma p...!
- Olha a língua!
interrompeu o xingamento, sem aguentar e começando a rir descrente. Queria dizer que aquela era a primeira vez que ele a repreendia pelo linguajar, mas estaria mentindo mais do que estava acostumada.
- Não vai fazer a menor falta se eu matar ele, não é? – perguntou ela enquanto fechava sua garrafinha já vazia, a jogando na lata de lixo enquanto rumava para a saída – Eu faço parecer um acidente.

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Graças a aparição não planejada de na semana anterior e todo o alvoroço que causara na mídia, Hill e Pepper acabaram por decidir que no evento beneficente organizado pelas Indústrias Stark aconteceria uma aparição completa da família mais agregados. Nem mesmo Petr ou Steve escaparam dessa vez, recebendo olhares nada amigáveis quando questionaram se realmente precisavam aparecer. Ambos estavam desconfortavelmente em pé próximos ao sofá da sala, já trajando seus respectivos smokings, a cada dois segundos reclamando da demora dos outros, já que esperavam que quanto mais cedo chegassem, mais cedo poderiam voltar.
- Ah cara, que errado! – resmungou Petr depois de um longo período em silêncio, conseguindo vários olhares curiosos. Só agora ele percebera um detalhe curioso: era o único sem acompanhante – Eu virei uma Tocha Olímpica! O Stark vai estar com a Potts, você com a minha irmã, e eu olhando pros lados! Thor, quer vir?
O asgardiano olhou de seu balde de pipoca para o russo algumas vezes, apenas para negar com a cabeça depois e rir da decepção do rapaz.
- Sério mesmo que você convidou o Thor invés da Natasha? – brincou Bruce, sua voz um tanto nervosa. Foi uma brincadeira desnecessária, ele logo percebeu. Não deveria ter sugerido aquilo.
- Eu não sento do lado dela nem no café-da-manhã, acha mesmo que quero passar a noite inteira com ela do meu lado? – resmungou ele, olhando em seguida para a conterrânea, que lhe lançava um olhar indiferente – Que foi? Quer ir comigo?
Natasha até chegou a esboçar um sorriso maldoso, e já tinha a resposta na ponta da língua, mas a chegada da com Tony roubou a atenção de todos, que precisaram de um tempo para digerir a cena. O patriarca da família trajava um smoking de aparência cara, nada que já não estivessem acostumados. A surpresa foi a escolha de guarda-roupa da caçula: nada dos vestidos chamativos e mais adultos que ela acostumava usar desde a metade de sua adolescência. estava com um vestido comprido e de mangas de um tecido claro e transparente enfeitado com pequenos bordados em cinza, da mesma tonalidade das partes não transparentes da peça. Embora a saia de baixo fosse mais justa, a saia transparente ficava mais solta desde a cintura marcada com um fino cinto branco. Sua maquiagem também não seguia o padrão já estabelecido pelos anos: os lábios pintados em uma tonalidade natural de rosa, as bochechas coradas, e os olhos sem peso nenhum, destacados apenas pelo delineado fino e algumas camadas de máscara de cílios.
- ... – começou Clint, uma risada reprimida clara em sua voz.
- Eu sei. Parece que a Disney vomitou em mim – resmungou ela, pegando o comunicador que seu pai lhe oferecia. Depois de encaixar o objeto no ouvido, ela puxou um pouco de cabelo para o esconder. Potts e Hill haviam entrado em um acordo sem seu consentimento que era melhor ela manter distância de qualquer coisa mais sombria, que um visual mais leve e meigo era uma boa ideia depois de todas as especulações sobre seu sumiço e os boatos de ela estar trabalhando com a HYDRA. duvidava que alguém usaria uma foto sua daquela noite, com algum argumento tipo “essa parece uma assassina psicótica da HYDRA? Eu acho que não”, mas ela não tinha poderes para se opor àquela ideia – Ou que eu saí de um filme da Barbie.
- Não gosta do apelido de princesa? Vai ter que agir como uma – debochou Tony, continuando a andar em direção ao bar enquanto parou ao lado do irmão e Steve – E se me mostrar o dedo pelas minhas costas como está pensando em fazer, vai ficar de castigo.
- Xingar mentalmente está permitido, papai? – retrucou , a voz mais infantil. Se era para parecer tem dezessete anos e ser tratada como tal, iria agir assim também. Seu olhar caiu no grupo jogado em frente à TV na sala, notando que apenas eles estavam arrumados – Espera, quem vai com o Pete? Vocês vão deixar o menino no meio de uma festa de gente intrometida sozinho? Sério?
- Romanoff, acredito que você tenha uma roupa para a ocasião – comentou Tony, acompanhando a filha na expressão confusa. Tinha falado com a ex-espiã naquela manhã sobre isso, não entendia o motivo de ela não estar pronta.
- Ele não queria ir com ela, chamou até o Thor – contou Steve, fazendo ao seu lado rir. Seu irmão e Thor em uma festa de gala era tudo que ela precisava para aquela noite não ser um tédio completo.
- Thor é amor demais para lidar com aquela gente, Clint não está nem aí para isso e não iria prestar atenção, e o Bruce não merece passar por esse trauma – suspirou ela, se apoiando no ombro do soldado para retirar seus saltos e entregando a ele em seguida – Anda, ruiva. Barton e eu ajudamos.
- Sério mesmo? – choramingou Natasha, jogando a cabeça para trás antes de se virar para o grupo ao fundo.
- É você ou a Hill.
- Bora, ruiva! – disse Petr fingindo animação para disfarçar seu desespero, juntando as mãos em frente ao rosto – Fico te devendo essa.
- Eu cobro caro, Ivanov – avisou Natasha enquanto se levantava, sinalizando para que Clint e a acompanhassem, já que não estava com a menor vontade de se arrumar sozinha.
- Eu cabelo, você maquiagem?
- O contrário, não dá para eu correr o risco de me sujar com esse vestido claro – se apressou em dizer – E o maquiador entre nós dois é você, amor.

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apenas pode se desfazer daquele irritante sorriso educado quando conseguiu se afastar da multidão com o auxílio de Steve, ficando ambos fingindo que não existiam na parte mais afastada do bar. Música clássica preenchia o salão cheio, mas a mulher sequer conseguia apreciar: aquilo estava basicamente funcionando como uma missão, tendo que monitorar seus arredores para garantir que tudo estava saindo conforme o planejado. Tony também não estava lá muito relaxado, sequer dando atenção ao que as pessoas diziam a ele quando o abordavam, embora isso até lhe fosse costumeiro. A atenção dele estava dividida entre checar a filha de um lado do salão e checar Petr do outro lado, vez ou outra utilizando da comunicação restrita do grupo para ter alguma confirmação verbal de que estava tudo bem. Natasha sempre revirava os olhos quando ele fazia isso, já que toda aquela preocupação do bilionário com os irmãos era excessiva, embora compreensível. Petr era um espião tão bom quanto ela própria, estava conseguindo levar aquele teatrinho com tamanha maestria que ela chegava a estar surpresa, embora não deixasse isso transparecer. O russo tinha até conseguido manter uma conversa com conteúdo com um dos acionistas das Indústria, opinando sem dificuldade nenhuma sobre a atual situação do mercado e o que poderia ser feito para que aquele momento bom se prolongasse.
- Antes de levar para Moscou, posso ter passado um tempo estudando o ambiente – explicou ele, assim que o senhor de afastou, dizendo que precisava trocar algumas palavras com um outro colega, mas que “gostaria de continuar essa conversa em um outro momento, Sr. Stark”. Quando um garçom passou próximo a eles, Petr pegou duas taças de champanhe, entregando uma à mulher – Uma das formas amigáveis de invadir a Torre seria como investidor.
- Se você deixar a Potts saber disso, ela nunca vai largar do seu pé – comentou Natasha, o brilho em seus olhos anunciando que um comentário maldoso estava a caminho – Ela adora ver um Stark assumindo responsabilidades da empresa.
Petr se engasgou de leve com sua bebida.
- Se você comentar isso com alguém... – resmungou ele em um tom ameaçador, a que a mulher sequer deu atenção.
A única preocupação real ali era como iria se sair em público, ainda mais na companhia de alguém que também não era a melhor pessoa naquela situação. Era capaz da mulher ter que tirar Steve de saias justas, e não o contrário. Mas até os dois estavam se saindo bem: respondiam com educação as perguntas que lhe eram direcionadas, desconversavam quando alguém tentava bancar o jornalista atrás de um furo, e vez ou outra soltava um comentário desnecessário para mostrar que era realmente ela ali e não um clone mais agradável seu, o que sempre resultava em Steve pedindo licença e levando os dois para outra parte do salão.
Agora eles estavam em silêncio, cada um apreciando sua bebida. Bom, Steve estava apreciando a bebida. estava apreciando o homem ao seu lado.
Era um tanto engraçado, mas ao mesmo tempo que parecia completamente deslocado naquele ambiente, o soldado também parecia pertencer a ele: o smoking que lhe parecia tão comum e se ajustava com perfeição em seu corpo, a maneira como segurava despreocupadamente o copo, e seu olhar vago pelo salão. Mesmo que não gostasse, Steve poderia facilmente viver em paz aquela vida sob holofotes, provavelmente de maneira muito mais elegante do que ela. Pepper aprovaria, com certeza – na verdade, já aprovava. Era uma personalidade integra para balancear a sua conturbada, Pepper já tinha deixado isso claro desde o começo, e mais do que nunca aquilo era verdade. Antes que aqueles pensamentos voltassem a ocupar sua mente, virou de uma vez o resto da bebida de seu copo, devolvendo-o ao balcão antes de se virar para Steve, gesticulando para que ele terminasse sua bebida logo também.
- Argh, dança comigo – seu intuito era que aquilo tivesse soado como um pedido, mas havia um vestígio de ordem em sua voz, mesmo que não tenha sido isso que tenha feito Steve travar. o assistiu manter aquela expressão idiota por longos instantes, o queixo levemente caído e as sobrancelhas franzidas. Parecia que ele sequer tinha entendido o que ela falara, por isso voltou atrás, relaxando a postura – O que foi? Eu troquei o idioma para russo sem querer de novo?
- Não! Não, eu... – a expressão apreensiva de não facilitou em nada a tarefa de se manter indiferente. Agora no desespero ele não sabia dizer se nunca havia tocado naquele assunto com ela, ou se ela estava apenas ignorando aquilo – E-eu não danço.
- Fala sério! – riu , cruzando os braços quando percebeu que ele estava falando sério – Já cansei de te pegar dançando quando acha que está sozinho, Rogers.
- Eu não sei dançar, .
O desespero na voz do soldado foi tão evidente que a mulher simplesmente parou, espelhando a expressão que ele fizera mais cedo.
- Eu te ensino, não tem problema – disse ela com a voz mais calma, lhe estendendo a mão – Vem.
Steve ponderou por alguns instantes, até que terminou sua bebida em um gole, aceitando a mão da mulher em seguida e se deixando ser guiado para o local onde alguns casais já dançavam. Mesmo estando no fim do inverno, e com alguns aquecedores mantendo a temperatura suportável, o soldado começava a suar no ritmo de seus passos, e só aumentou quando eles pararam no meio da pista, suas mãos trêmulas sem saber o que fazer. sorriu amigável, assentindo de forma a encorajá-lo. Quando a música calma estava quase na metade que Steve tomou uma iniciativa, tomando sua posição mesmo ainda com todos os músculos tensos. Sua sorte foi sua parceira poder prever seus movimentos enquanto ele ainda os planejava, o que dificultava a tarefa de pisar em seus pés protegidos pelo sapato de salto alto. Uma vez ou outra Steve tropeçara nos próprios pés que ele tanto encarava, enquanto estudava seu rosto, até que duas músicas mais tarde ele já tinha se entendido com seus membros inferiores, até arriscando um tímido giro com a mulher que guiava. soltou uma risada baixa e animada, deixando que Steve tivesse o seu momento. Ela vira o pai a chamando do outro lado do salão, gesticulando que já estava na hora de voltar para a Torre, mas ela fingiu que não viu. Só queria alongar aquela dança mais um pouquinho.

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respirou fundo mais uma, duas, três vezes antes de bufar irritada novamente, esticando a mão para acionar a torneira e voltar a encher o copo. Mesmo com ele já transbordando, ela não desligou o registro, assistindo o líquido passear por cima de seus dedos, as gotas se juntando no fundo da pia e sumindo ralo a dentro. Sua concentração estava comprometida. Malditos pesadelos. Havia sido ingênua a acreditar que estava protegida nos braços de Steve, que seu calor seria o suficiente para manter aqueles pensamentos ruins afastados. Claro que havia funcionado por um tempo, assim como seu cheiro no ambiente nos primeiros dias, só que nunca era uma medida com efeitos permanentes, ela já deveria saber.
- Aconteceu alguma coisa? - a voz baixa de Steve fez com que ela se sobressaltasse, fazendo com que ela perdesse o copo em sua mão, que quase chegara a quebrar ao atingir o interior da pia. Antes de se virar, desligou a torneira, passando a mão molhada na testa em uma tentativa falha de se acalmar. Aquele era um dos maiores problemas de quando sua mente se enchia, não havia espaço para monitorar seus arredores, e aquilo era perigoso. Até que era pequena a lista de pessoas que precisava evitar naquele momento, e claro que uma que estava no topo da lista que a encontraria.
- Sem sono – foi o que ela respondeu, respirando fundo para pelo menos tentar manter a expressão neutra ao se virar para a porta, onde Steve ainda estava apoiado – Te acordei?
- Não estava dormindo.
apenas pode rir, assistindo ele passar ao seu lado e ir buscar algo na geladeira.
- Você ronca, coração – lembrou ela risonha, os braços cruzados em frente ao peito e se apoiando na bancada da pia – Você estava dormindo.
- Por que você está sem sono? – perguntou ele, olhando rapidamente por cima do ombro para a mulher antes de tirar a garrafa de suco que procurava de uma das prateleiras, fechando a porta em seguida.
- Meu organismo está se normalizando. Aos poucos estou voltando à rotina antiga.
- Espero que isso seja algo bom – murmurou Steve antes de se jogar em uma das cadeiras, tomando dois grandes goles do suco antes de fingir interesse na tampa da garrada que jogara antes sobre a mesa, um certo rancor em sua voz que não passou despercebido pela russa.
- Eu não sou tão paciente, Rogers – avisou , conseguindo o olhar confuso do soldado – Se você quer falar algo, só fale de uma vez. Pare de ficar enrolando.
- Eu disse exatamente o que eu disse – disse ele, mesmo sentindo que suas palavras não estivessem soando tão confiantes como desejava. Steve se sentia exposto, como se a mulher estivesse espionando sua mente e pensamentos, buscando algo em sua alma. Mesmo que fosse uma paranoia de sua mente, ele quase chegou ver os olhos de brilharem em um tom discreto de azul – Espero que seja algo bom.
- Vá em frente – suspirou séria – Me explique por que está bravo comigo.
- Não estou bravo com você.
- Se não está bravo, está ressentido.
Steve bufou de leve, até se mexeu desconfortável em sua cadeira, mas permaneceu em silêncio, na esperança de que aquele tópico fosse abandonado assim que a mulher constatasse sua falta de vontade para falar sobre aquilo. Na verdade, nem era falta de vontade, era medo de como as coisas se desenrolariam. Nas últimas semanas, tudo que ele fazia era para amenizar possíveis confrontos, monitorar a mulher em busca de qualquer sinal que não fosse de melhora em seu quadro complicado. Sabia que em algum momento ela notaria aquilo, e temia o que aconteceria depois.
- Vá em frente e fale – voltou a incentivá-lo, diante de mais tempo em silêncio do que o aceitável.
- Melhor irmos dormir... – disse Steve, abandonando a garrafa aberta em cima da mesa e se levantando, não conseguindo se afastar muito porque uma das mãos de se fechou ao redor de seu braço quando passou ao seu lado, o puxando de volta com menos delicadeza do que esperava.
- Não, vamos terminar isso agora! – retrucou ela, com certa urgência, abaixando o tom de voz quando encontrou os olhos não tão amigáveis do soldado a encarando de volta – Quero que você diga o que quer que seja que você está guardando. Se quer gritar comigo, tudo bem também. Só diga de uma vez.
- Eu não tenho nada para dizer.
- Nós estamos tendo a chance que poucas pessoas têm, Steve. Eu não tenho uma personalidade fixa ainda. Eu estou consideravelmente maleável, influenciável. Se você perder o momento certo, eu volto a ser exatamente o que eu fui antes – diante da explicação, notou as menores mudanças no semblante do soldado: algumas rugas se suavizando, o olhar um pouco mais perdido que não focalizava em seu rosto. Claro que ele não considerara aquilo, não sabia porque estava surpresa – Talvez mesmas qualidades e provavelmente mesmos defeitos. E eu não quero voltar a ser essa pessoa. Porque eu fiz algo que te magoou, e não foi a Dominik. Foi a . Se não terminarmos essa discussão, eu provavelmente vou continuar cometendo os mesmos erros, e você continua se machucando. É isso que você quer?
Pareceu uma eternidade o tempo que levou para Steve fazer algum gesto mais significativo, como abaixar a cabeça e respirar fundo várias vezes, se preparando para dizer algo – ou simplesmente a mandar para o inferno e voltar para o quarto. Era uma possibilidade um tanto remota, mas não poderia descartá-la. O soldado tinha que ter um limite e, ao mesmo tempo que continuava a caminhar em sua direção, temia também finalmente o encontrar.
- Você contou para o Barton e não para mim – disse Steve por fim, erguendo o olhar duro para a mulher, seu maxilar travado – Eu sei muito bem quão próximos vocês são, mas eu nunca tinha notado quão distantes nós éramos.
- Não... Não é assim – foi tudo que conseguiu responder, depois de um tempo considerável com o cenho franzido, tentando encontrar algum sentido na fala do homem, até localizar o episódio que ele se referia: o soldado da HYDRA que não a matara na Polônia. Mas é claro que aquilo voltaria um dia para a atormentar, era assim que as coisas funcionavam.
- Não? Tem certeza? - continuou Steve, um tom frio em sua voz que a mulher nunca ouvira antes. Todo aquele sarcasmo concentrado, a expressão dura e machucada... estava certa desde o começo: havia pisado na bola com o soldado, e não fora algo irrelevante, que poderia ser esquecido com facilidade ou superado – Então por que eu tive que ouvir do Barton e depois do sequestro?
- É mais complicado do que você imagina...
Steve até cruzou os braços à espera das explicações, e como elas nunca chegaram, ele se pôs de pé e rumou para a saída, soltando uma risada alta e amarga quando pediu que ele voltasse.
- Agora você quer conversar? – debochou Steve, um sorriso cínico bem desenhado nos lábios e um brilho estranho nos olhos – Se você chamar Barton aparece em dois segundos.
- Pelo amor de Deus, Rogers. Cresce – a mulher explodiu, o pegando desprevenido – Não consigo acreditar que logo você está com ciúmes do Barton, ainda mais por isso.
- Você confia nele, . Mais do que confia em mim – lembrou o soldado, se irritando mais quando ela riu descrente – Foi para ele que você saiu correndo quando percebeu algo errado.
- Eu não estou acreditando que você falou isso...! – suspirou ela entre risadas, ficando mortalmente séria em seguida – Ele percebeu que eu estava estranha porque ele estava fazendo dupla comigo naquele dia, eu contei para ele porque para mim era algo sem importância e eu sabia que ele não faria alvoroço por aquilo. E agora você vem me dizer que eu confio mais nele do que em você? – sua voz de tornara mais rancorosa, seu rosto se contorcera em uma expressão indignada – Porque foi para ele que eu contei todo o problema com o cetro, não é? Foi por ele que eu chamei quando tudo desandou, não foi? Depois de todo esse tempo e de tudo isso, pensei que você soubesse melhor.
A falta de resposta de Steve permitiu que a mulher respirasse com um pouco mais de calma, acreditando que o pior já tinha passado. Steve Rogers era uma das pessoas mais inteligentes que ela conhecia, era difícil aceitar que ele poderia estar deixando tanta informação importante de lado para chegar naquela conclusão errônea.
- Você é mais que o Capitão América, não é? Você também é Steve Rogers – comentou ela, apoiando as mãos na bancada as suas costas – São personalidades muito próximas, mas diferentes. Mesma coisa com Stark e Às, ou Corvo. Mas, por favor, seja sincero: se eu tivesse te contado daquele episódio, qual seria sua providência?
- Te tirar de ação – respondeu ele, sem pensar muito, já que não era a primeira vez que aquela pergunta lhe era feita. Nos últimos meses, inúmeras vezes ele próprio se questionara o que teria feito caso tivesse comentado aquele episódio com ele, como deveria, e aquela era a única conclusão que sempre chegava. Ela estava em perigo e aquela era a única forma de protegê-la.
- Decisão do Capitão, não do Steve. Eu confio em você, não no Capitão América. O Capitão é meu líder, você é m... – “seu o que, idiota?” pensou ela amargurada, até desistindo daquela sentença – Não julguei aquele episódio como preocupante o suficiente para me afastar da ação, e sabia que essa seria a medida que você ia tomar, por isso não te contei.
- Você me contaria? – perguntou Steve sério, quase que emendando à fala da mulher. enrugou a testa no mesmo instante, não conseguindo fazer a ligação com a pergunta.
- Desculpe?
- Se soubesse que tudo isso fosse acontecer – explicou o homem, arriscando diminuir a distância entre eles em um passo. Steve não estava perto o suficiente para sua respiração pateticamente controlada bater no rosto confuso da russa, mas ainda poderia tocá-la caso esticasse um pouco o braço – Você me contaria se soubesse?
- Que tipo de pergunta é essa...?
- Como eu posso saber que nada desse gênero vai acontecer de novo? Que você vai me esconder algo assim e completamente sabotar qualquer possibilidade de eu poder impedir – Steve terminou de esclarecer sua dúvida, assistindo de perto a expressão da mulher passar de confusa para intrigada – Você me contaria ou não, ?
- Eu sei que parece que eu prevejo o futuro, Steve, mas não é assim que as coisas funcionam – respondeu ela, saindo do local onde estava ao perceber que o soldado tentava a encurralar não apenas no assunto, mas também fisicamente – Não tem como eu saber de fato o que vai acontecer, ou se meus julgamentos estão corretos ou não.
- Minha pergunta foi simples: nós saímos em missão amanhã e acontece a mesma coisa que aconteceu na Polônia, você me conta ou não? – insistiu ele, respirando fundo quando a ouviu bufar alto às suas costas – Eu sei quando você mente, então nem ouse.
- Para você dar esse showzinho? Não conto – respondeu pausadamente, ela agora diminuindo a distância entre eles quando o homem se virou para ela, quase espelhando seu semblante enraivecido – Eu tomei a decisão certa na época, e eu não volto atrás na decisão.
- Você é inacreditável...! – ofegou Steve depois de um tempo, sem acreditar na mulher a sua frente. Nos últimos anos aprendera a ter uma imagem mais madura de , a respeitar e até admirar suas escolhas, mas em momentos como aquele parecia que ela jogava tudo aquilo no lixo. Ela continuava a mesma garotinha mimada e teimosa que conhecera anos atrás.
- O que diabos teria mudado em tudo que aconteceu se eu tivesse contado? Você me trancafiaria na Torre com o apoio do meu pai? Isso não me protegeria, pelo contrário. Ou acha que Petr e a equipe dele não invadiriam a Torre em algum momento caso eu continuasse a ficar para trás durante as missões, como quando estava em recuperação? – retrucou ela. Steve revirara os olhos e tentara se afastar, mas uma das mãos de se fechou com agilidade ao redor de seu braço, o puxando para perto em um movimento violento. Seu olhar duro a desafiava a continuar com aquilo, e ela não vacilou – Tudo que você faria seria colocar a equipe em desvantagem por ter um membro a menos, então não. As pessoas podem te santificar o quanto quiserem que isso não vai tornar todas as suas ideias as mais viáveis, Rogers.
- Solta meu braço, Stark – pediu ele em um sussurro rouco depois de passar a língua pelos lábios, deixando que seus dentes capturassem o inferior enquanto se forçava a respirar fundo – Agora.
- Para que? Para você vir mais tarde dizer que eu que estou complicando as coisas sendo que é você que vive fugindo do assunto? Não – o aperto se intensificou, e o homem pode sentir as unhas de contra sua pele mais determinadas – Terminamos isso agora.
Em um momento que o bom-senso lhe fugira, Steve usou a mão do braço preso para torcer o de , segurando seu pulso contra suas costas. O que o trouxe de volta para a realidade não foi o gemido surpreso da mulher, mas sim ele esbarrando no copo que fora deixado na pia, que se espatifou próximo aos pés dos dois. O som do vidro se quebrando poderia facilmente ser ouvido do lado de fora da cozinha, e ele logo se lembrou que nenhum dos dois estava mais exatamente falando baixo, e que não demoraria para alguém aparecer em busca de explicações.
Não deu outra: antes mesmo que conseguisse reagir ou Steve soltasse seu pulso, a porta da cozinha foi aberta de supetão.
- O que diabos está acontecendo aqui?! - praticamente gritou Tony, com o restante dos Vingadores às suas costas. J.A.R.V.I.S. emitira um aviso de alerta minutos antes quando pressentiu que a situação sairia de controle, e que talvez fosse melhor ter todos prontos para caso fosse necessário apartar os dois super soldados. Steve soltou o pulso da mulher, permitindo que o sangue voltasse a circular como se devia. amoleceu completamente a expressão ao se virar para o pai, já com alguma desculpa pronta, que nunca chegou a deixar seus lábios, já que Steve saindo da cozinha tirou toda sua concentração.
- Onde você pensa que está indo, Rogers? – grunhiu ela, passando pelos colegas e se livrando das mãos que tentaram impedir de também passar para o corredor.
- Dormir no laboratório – respondeu ele, seco, sem olhar para trás enquanto apertava mais vezes que o necessário o botão do elevador – Você volta para o quarto. Conversamos de manhã.
- Você realmente acredita que vai ter a última palavra nessa discussão?
- Não estou te ouvindo, Stark – cantarolou ele, agradecendo baixo quando as portas se abriram a sua frente. Agora só precisava que elas se fechassem logo.
- Muito maduro, Rogers.
- Pelo visto estou passando tempo demais com você – replicou ele, sorrindo cínico para a mulher enquanto as portas se fechavam entre eles e ele podia finalmente bufar frustrado. Assim que deixou de dividir o mesmo espaço que a mulher que Steve ficou ciente de todos os erros que cometera, batendo a cabeça na parede ao lado algumas vezes.
apenas revirou os olhos, e se virou para a cozinha. Sua respiração continuou profunda e bem ritmada enquanto ela passava pelos colegas, pedindo com a mão que ninguém comentasse.
- Espera, você vai realmente obedecer? – disse Natasha mesmo assim, sua curiosidade sendo maior do que seu receio sobre o que a mulher poderia fazer – Não faço ideia do que aconteceu, mas estava parecendo bem sério.
- Vou só beber um pouco de água, depois vou matar a criatura – resmungou ela, procurando o copo que usava antes sobre a pia, e o achando em pedaços no chão. Perfeito.
- O que aconteceu?
- Nada, pai – respondeu ela, sem lhe dar muita atenção. Indo procurar nos armários mais distantes algo que a ajudasse a limpar a sujeira que Steve fizera – Problema meu e dele.
- Crianças, podem me deixar a sós com a minha filha? – pediu Tony ao grupo, com quase todos aceitando sem resistência, já que ninguém estava feliz com o sono brutalmente interrompido. Petr fora o único que relutara um pouco mais, mas acabara cedendo. Tony esperou que a filha se livrasse dos cacos do copo destruído antes de dizer alguma coisa, já que não se sentia tão bem em abordar aquele assunto com ela nervosa e objetos perigosos tão próximos. Já bastava estarem na cozinha – Quer me dizer o que aconteceu?
- Não, Tony – disse ela, buscando outro copo no armário e enchendo com água. Ele, por sua vez, ocupou uma das cadeiras da mesa – É algo que eu vou ter que resolver com o Rogers.
- Vocês voltaram, não é? – deduziu Tony, quase sorrindo com a ideia. Já fazia mais de duas semanas que ele notara uma mudança significativa no entrosamento dos dois. Ele só não sabia dizer se estava esperando um aviso formal, com talvez Rogers fazendo as coisas como mandava o bom e velho protocolo que ele ignorara na última vez, ou se acabaria por flagrar os dois se agarrando em algum canto. Pessoalmente, ele preferia a última opção. Fazia um tempo que não tinha motivos concretos para gritar com o Capitão, e já sentia falta disso.
- Problemas profissionais, pai – explicou ela de má vontade, se sentando de frente para o pai – E pode relaxar, definitivamente a última coisa que vai acontecer é nós reatarmos.
- O que está acontecendo, de verdade? – perguntou ele, sua postura mudando drasticamente. Agora ele parecia mais cansado, os ombros caídos, como se já tivesse repetido aquilo mil vezes – Ele pode estar um pouco ressentido por tudo o que aconteceu, mas aquele cara te ama. Mais do que qualquer coisa.
buscou no rosto do pai qualquer sinal de que ele estava brincando, e quando não achou, passou a analisar seu batimento cardíaco, respiração... Quando estava convencida de que Tony havia encontrado uma forma de mentir para ela sem ser detectado, a mulher começou a rir.
- Eu vivi para ver tudo nessa vida... – murmurou ela descrente – Anthony Stark defendendo Steven Rogers.
Tony riu sem graça, olhando para os lados para disfarçar seu constrangimento.
- Tenho que defender os dois lados, coração – disse ele por fim – Não posso dar as costas para ele.
- Vocês se aproximaram muito enquanto eu estive fora – comentou , só então parando para pensar no assunto – Não vi vocês discutirem uma vez sequer desde que voltei. É muito tempo.
- Cair juntos é melhor do que cair sozinho.
- Meu Deus, você está até falando como ele! – ofegou inconformada, emendando uma risada em seguida.
- Eu sei!
balançou a cabeça descrente, logo o riso morrendo e seus os olhos começando a arder. Sempre soube que as diferenças entre os homens poderiam ser acertadas, que eles podiam muito bem conviver no máximo de paz possível, só não esperava que fosse naquelas condições. Ela não se empenhou muito em tentar disfarçar, já que Tony estava atento demais às suas expressões para que aquilo passasse despercebido, então apenas respirou fundo e se esforçou para se acalmar.
- Sobre o que vocês estavam brigando? – perguntou Tony em um sussurro. Tinha notado os olhos da filha se tornarem um pouco avermelhados, mas optou por não comentar, já que imaginava isso a deixaria mais hostil. Com aquela pergunta menos direta, tudo que ele viu foi suspirar alto, afundando em sua cadeira, parecendo exausta.
- Eu nem sei mais...
- Deixa eu ver seu braço – pediu ele, dando a volta na mesa para se sentar ao seu lado, examinando com cuidado o pulso da filha, que parecia estar em perfeito estado – Nem está mais vermelho... Quando entrei, podia jurar que ele estava quase quebrando seu braço.
- O dele é capaz de estar.
- ...
- Eu vou falar com ele... – avisou a mulher, já se levantando. Quando sentiu que Tony pretendia a impedir, ela continuou: – Se eu deixar essa conversa para a manhã, só vai resultar em nós dois ainda mais ranzinzas pela falta de sono, porque nenhum de nós vai conseguir dormir sem resolver isso. Confie em mim.
- Eu vou ficar acordado. A menor movimentação suspeita e J.A.R.V.I.S. vai me avisar, e vocês vão estar com problemas – ameaçou Tony também se pondo de pé, se inclinando em seguida para beijar o rosto da filha – Sem problemas. Não estou brincando.
- Sei que não está.
deixou o pai na cozinha, que permaneceu ali por mais alguns minutos antes de rumar para seu laboratório. Como sabia que não dormiria tão cedo, ele levara consigo o máximo de guloseimas que conseguiu carregar, além de um pacote de pó de café, já que o que tinha no pote do laboratório acabara naquela manhã. Cafeína e açúcar provavelmente o manteriam acordado para monitorar a conversa dos dois.
A mulher sequer pediu direções para onde Steve fora, e muito menos precisava apelar para seus poderes para o localizar: tinha um lugar em comum para qual qualquer membro da equipe sempre fugia quando as coisas começavam a ficar pesadas ou desconfortáveis.
A academia.
Steve percebeu sua presença no exato momento que pisou para dentro do amplo salão, abandonando a sequência de socos que aplicava no saco de areia pela metade. Com sua respiração já ofegante mesmo com o consideravelmente pouco tempo de treino, o soldado se virou para ela, sequer se incomodando de tentar aliviar os traços de seu rosto tensos demais. por sua vez não se intimidou, caminhando sem pressa até os bancos próximos aos armários, em frente ao tatame que ele estava.
- J.? Interrompa a transmissão do que está acontecendo nesse andar, por favor – pediu ela assim que se sentou, passando uma perna por cima da outra e apoiando os cotovelos nos joelhos.
- Seu pai...
- Ele vai ficar puto, eu sei. Só faça – resmungou ela o sistema, revirando os olhos. Steve ameaçou a voltar seu treino, mas desistiu no meio do caminho, desenrolando as faixas em suas mãos enquanto rumava para se juntar à mulher – Eu te machuquei?
Steve girou o braço um pouco para fora, expondo a pele em perfeito estado e sem nenhum tipo de hematoma. assentiu sem vontade, seu olhar perambulando pelo chão que agora parecia mais empoeirado do que devia. Talvez fosse falar com o pessoal da limpeza mais tarde.
- Eu te machuquei, não foi? – perguntou Steve, tomando o lugar vago ao seu lado. apenas ergueu o pulso onde ele esperava ver marcas escuras – Me perdoa.
- Você já viu, não me machucou – disse ela, cruzando as pernas sobre o banco, ficando de frente para ele. Algo em sua voz que praticamente dizia que aquilo não fora nada demais o irritou um pouco – Relaxa.
- Eu não estava falando apenas disso, e do mesmo jeito... – retrucou o soldado sério, passando uma perna para o outro lado do banco para também ficar de frente para ela – Eu não tenho o direito de encostar um dedo em você, não pelo o que você passou, mas porque não é certo. Eu estar irritado com você não me dá direito de nada.
- Fale comigo – pediu em um sussurro – Me diga o que está em sua mente.
- Eu não sei se realmente deveria confiar em você antes – confessou ele sem rodeios, o olhar firme travado no dela – Não sei se devo agora.
- Já passamos por isso, é por sua conta e risco. Isso se você está utilizando o conceito de confiança da forma certa – lembrou ela, a segunda parte do comentário mexendo com sua curiosidade por não compreender o que ela queria dizer – Se você estiver pensando em confiança como grau de previsibilidade dos meus atos, você nunca vai ter paz. Você não pode esperar que alguém como eu seja previsível. Posso prever acontecimentos em um curto espaço de tempo, lembra?
Steve assentiu de leve. Tinha completamente ignorado aquele pequeno detalhe, e estava completamente certa. Era aquilo que ele queria e não podia ter: uma forma de prever seus atos, que normalmente acabavam sendo prejudiciais a ela. Não dava para simplesmente se preparar para algum acontecimento, e ao mesmo tempo que isso o irritava, também era fonte de medo. Era algo que não fazia o menor sentido descontar suas frustações nela, mas como poderia proteger alguém assim?
- Eu exagerei, desculpa – admitiu ele, passando ambas as mãos pelo cabelo em um movimento cansado, continuando a fitar o chão.
- Nós dois exageramos, do nosso jeito. Eu deveria ter feito uma abordagem bem menos agressiva. Desculpe – corrigiu ela, respirando fundo antes de continuar. Os anos passavam e não ficava nada mais fácil se desculpar – Eu te deixei em uma situação ruim ao não te contar. Sei o quanto você gosta de se martirizar por erros que não são seus. Só nunca mais diga que eu não confio em você. Uma das poucas coisas que para mim são certas é você saber que eu confio em você. Eu seria mais idiota do que realmente sou se não confiasse.
- Srtª Stark, seu pai está prestes a reestabelecer a transmissão – J.A.R.V.I.S. interrompeu abruptamente o momento, já que nenhum dos dois parecia disposto a dar uma brecha para seu pronunciamento.
- O que você fez? – Steve tentara deixar o tom acusador longe de sua voz e falhara, causando riso na mulher.
- Queria falar com você, sem alguém xeretando – contou ela, suspirando alto antes de se levantar – Melhor eu ir logo levar a segunda bronca do dia.
- Eu falo com ele – se ofereceu Steve, assim que ouviu o bocejo abafado dela, que coçava os olhos discretamente – Volte para o quarto e tente dormir mais um pouco. Sei que ele vai querer falar mais comigo do que com você.
apenas assentiu, deixando que ele saísse na frente da academia já que iriam para andares diferentes. Assim que adentrou no laboratório de Tony, com os avisos de J.A.R.V.I.S. de que ele não estava exatamente de bom-humor, Steve logo notou a hostilidade no ar o aconselhando a dar meia volta, mas continuou a seguir para a mesa do engenheiro. Tony estava entretido com alguns protótipos e informações que passeavam pelas telas a sua frente, mas tinha completa ciência de que agora tinha companhia.
- Desembucha, Stark – bufou o soldado, cruzando os braços e se apoiando contra uma das paredes.
- Espero nunca mais te ver gritando com a minha filha daquela forma – disse Tony de uma vez, sem desviar os olhos de seu trabalho – Melhor: que isso nunca mais aconteça. Estou a dois segundos de projetar uma armadura especialmente para te derrubar.
- É, pior que eu não consigo ver essa sendo nossa última discussão...
- Não tenho problema nenhum com vocês discutindo, só que eu já estava vendo aquilo se tornando físico, e com físico eu não quero dizer sexo de reconciliação, ou nada do tipo. Eu estava vendo aquilo se tornando uma briga física – rosnou ele, girando sua cadeira para ficar de frente para o soldado – Você estava segurando o braço dela como se fosse a atirar contra a parede.
- Eu estava tentando afastá-la, mas sim... – Steve suspirou alto, coçando a nuca – Aparentemente a HYDRA a ensinou quais botões apertar para me deixar irritado.
- Tem certeza? Não foi você que mudou? – questionou Tony sério, rindo sem humor ao ver como o soldado ficara confuso – Tudo que eu vejo é minha filha como ela sempre foi: inquieta, insolente. Ela te empurra até à beira se você não der a resposta que ela quer.
- Bem, então parece que eu não conhecia esse lado dela – admitiu ele amargurado – Pelo menos não me lembrava dele.
- Ela é pior que um diamante, Rogers. E tão cabeça dura quanto um.
- Isso eu sempre soube.
Tony respirou fundo, tentando clarear sua mente. Sabia que todo o conflito ali tinha sido causado por sua filha, mas o desenrolar das coisas deixara explícito que nem Steve conseguia lidar com todas as situações. era ardilosa, conhecia muito bem cada membro da equipe, o que era um perigo, já que aparentemente ela era capaz de tirar qualquer um do sério, até o mais centrado deles. Ela precisava melhorar, e logo.
- Sobre o que foi a briga? – perguntou Tony, que tinha se voltado mais uma vez para a mesa depois de J.A.R.V.I.S. o avisar que já tinha os resultados da simulação que estava rodando. Quando não recebeu uma resposta de imediato, ele olhou por cima do ombro, vendo Steve com a expressão mais confusa que vira até aquele dia.
- ... Barton? – a afirmativa saíra como um questionamento, não pela sua dúvida no motivo da discussão, mas sim por agora sua descrença em ter sido mesmo aquilo. Enquanto Tony soltava um sonoro hein, Steve abaixou a cabeça – Eu sou um idiota...
- Não quero saber, só explica essa história! – exigiu Tony, agora agitado pela confusão de pensamentos que o atingiam. Não fazia sentido e soava errado, não dava nem para pensar muito naquilo.
- Passei tanto tempo a ajudando a pensar em como resolver a situação entre você e o Barton, e acabei caindo na mesma – murmurou Steve cansado, rumando com os ombros caídos para a cadeira vazia mais próxima. Tony por sua vez franziu ainda mais o cenho.
- Agora eu estou entendendo menos ainda.
- Eles são próximos, isso te incomodava – lembrou o soldado, sem saber ao certo por onde começar a abordar o assunto, ou deixá-lo de uma forma entendível.
- Yeap, eu não quero falar sobre isso – avisou Tony de uma vez, pegando uma de suas ferramentas para ameaçar o homem – Não muda o foco, Rogers. Que história é essa da minha filha e o Barton?
- Você não ficou incomodado de ela ter falado para o Barton sobre o episódio na Polônia e não para você, ou para mim? Eu fiquei – admitiu o soldado, não estranhando o olhar inconformado que Tony lhe lançava.
- Foi por isso a discussão?
- Eu não precisei nem ficar pensando no assunto para ela perceber que algo me incomodava – continuou Steve – Ela voltou muito mais atenta.
- E transparente. A garota é um livro aberto agora, Rogers – lembrou Tony, rindo. Na verdade, ele estava com pena do cara, mas não podia negar que estava sendo no mínimo inusitado ele não saber como agir com a sua filha. Era bom para variar ser aquele que tinha noção do que fazer – Se algo a incomodar, ela grita. Você ouviu.
- Não sei se é certo continuar permitindo que ela integre a equipe, Tony – disse o soldado, seu olhar vagando pelo ambiente por saber que Tony não aprovaria sua posição – Ela continua instável demais. Vai de zero a cem em dois segundos.
- Ela nunca vai concordar com isso – lembrou ele.
- E se algo acontecer com ela porque eu não tive coragem de bater o pé eu nunca vou me perdoar – retrucou Steve sério, um silêncio em concordância sendo a única resposta que obteve – Você lembra o que a psicóloga falou no outro dia. É perigoso.
- Até agora só vi ela mudando de personalidade em casa, e poucas vezes – argumentou Tony, optando por ignorar a clara resistência do soldado. Ele não planejava mudar de ideia, e não havia nada que pudesse dizer que o faria mudar de opinião – No campo ela está sempre centrada.
- Vamos realmente esperar algo acontecer para tomar uma atitude?
- Eu conheço a minha filha, e estresse pós-traumático também me é familiar. Ela precisa de um propósito, Rogers. Se você tirar ela da ação, ela vai sucumbir – ponderou o mecânico, puxando sua cadeira para mais próximo da mesa, voltando a trabalhar em seus projetos – Ela é mais esperta do que eu, vai demorar bem menos do que eu para entender como essas coisas funcionam. Mas isso não quer dizer que não vamos ficar de olho.
- Você está parecendo um poço de calma – comentou Steve, um pouco incomodado com a postura relaxada do homem – Pensei que ficaria surtando com isso tanto quanto eu.
- É assim que funciona, coração: quando você surta, eu seguro as pontas – explicou Tony rindo baixo mesmo sem voltar a olhá-lo – Você está estranhando porque está habituado com a situação contrária.
Aquilo era uma completa mentira, e ambos sabiam muito bem disso. Se precisassem colocar todos os momentos complicados em uma balança, era capaz de estarem muito bem equilibrados, com uma vez ou outra pendendo um pouco mais para o lado de Tony. Talvez o restante da equipe pudesse ter aquela visão que ele descreveu, mas ia muito além daquilo. Nos últimos meses eles não tinham apenas aprendido a conviver um com o outro de forma mais civilizada, como tinham criado um laço mais profundo.
- Não sei o que eu faria sem você – a frase em um sussurro fora pronunciada mesmo sem a permissão de Steve, mas em nenhum momento ele quis voltar atrás. Era verdade. Pai da ou não, aquele à sua frente era um amigo, um dos que sempre poderia contar.
- Ei, Stark errado. Esse tipo de coisa você diz para a – brincou Tony, não querendo levar aquela conversa mais para frente. Conhecia Steve muito bem e não planejava aguentar melação àquela hora da madrugada – Não vamos incentivar a internet.
- Você realmente foi procurar? – perguntou Steve entre risos preguiçosos e descrentes.
- Eu sou curioso – se defendeu Tony, gesticulando para que o soldado deixasse logo seu laboratório – Agora vai dormir um pouco. Temos muito o que fazer amanhã, como sempre.
Steve concordou com um resmungo baixo, lhe desejando boa noite e logo deixando o ambiente. Assim que entrou em seu quarto, o soldado não pediu para que as luzes fossem acesas. A pouca iluminação que vinha do lado de fora do prédio foi o suficiente para ele alcançar a cama, conseguindo distinguir o relevo na cama como aparentemente já adormecida, logo ocupando o espaço vago ao seu lado. Os sons calmos de sua respiração ritmada que aos poucos foram trazendo seu sono de volta, afastando todas aquelas duvidas que tumultuavam sua mente. Talvez uma boa noite de sono fosse o suficiente para clarear suas ideias e tomar uma decisão sensata.

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Em um espaço de um mês desde o regresso de e a chegada de Petr, eles já tinham tomado duas das três bases onde acreditavam que Krigor poderia estar, e agora eles estavam na última – pela qual eles deveriam ter começado. A base da Islândia tinha se tornado o refúgio do líder da HYDRA, e eles já sabiam que os Vingadores logo se direcionariam para lá, então estavam prontos para aquele ataque, pegando a equipe de heróis completamente desprevenida.
Principalmente a dupla de irmãos que costumava lutar do lado contrário até o começo daquele ano.
deixou que suas costas colidissem com a parede ao seu lado sem delicadeza nenhuma, tentando de alguma maneira diluir a bola que se formara em sua garganta atrapalhando sua respiração. Era aquele ar que estava aos poucos piorando ainda mais seu estado, e o ferimento próximo ao seu quadril onde o sangue não estancava também dificultando mais as coisas. O material de sua calça já estava encharcado com seu sangue quente, que escapava por entre seus dedos enquanto ela fazia pressão no corte, tentando controlar a situação. Calma, era disso que ela precisava. Se sucumbisse ao desespero que queria se apossar dela, era derrota na certa. O chiado em seus ouvidos já era um lembrete de que precisava ficar atenta ao que acontecia em tempo real, que o acaso estava à espera do menor de seus deslizes para acabar com tudo que ela tanto lutava para proteger.
- , para – ordenou Steve, quando ela ameaçou voltar a correr corredor a cima, a puxando com um pouco de violência pelo braço, a prensando mais uma vez contra a parede. Mesmo de capacete era possível identificar os traços preocupados do homem – Você está machucada.
- Eu estou bem. Estou bem – repetia ela se convicção, sacudindo a cabeça algumas vezes para tentar se concentrar – A comunicação caiu? Meu canal está apenas chiando.
- Estamos às cegas aqui – concordou o soldado, bufando alto e tentando localizar mais alguém nos arredores – Precisamos abortar. Localize todo mundo.
assentiu, logo ignorando a dor no quadril e a tontura que vinha e voltava, se concentrando em tentar localizar todos os membros da equipe: Natasha e seu pai estavam até que próximos, talvez um andar os dois abaixo deles, Thor e Hulk estavam na superfície, do lado de fora da base. Clint era o mais distante de todos, e a mulher demorou para estranhar ele estar sozinho, já que para aquela missão ele havia sido designado para fazer dupla com Petr. Um sentimento ainda mais ruim se juntou ao desespero que já habitava seu peito, já que ela não conseguia localizar seu irmão no raio que seus poderes conseguiam cobrir.
- Pete...
- O que tem ele?
Tendo que apelar para uma alternativa, passou a procurar algo que pudesse indicar pelo menos a direção que seu irmão seguira, logo conseguindo encontrar quase uma fila de agentes derrubados próxima à saída leste da base, como se tivessem tentado derrubar um alvo que não parara, deixando um rastro de soldados semiconscientes para trás. Os batimentos cardíacos da mulher desaceleraram, cada pulsação marcando uma sequência de dedução: Petr havia deixado a base; Krigor havia estruturado uma armadilha para desestabilizar os Vingadores, em especial seus filhos; Krigor não estava mais na base; fora da base, era ainda mais impossível os Vingadores localizarem a dupla de irmãos a tempo.
Sem pensar duas vezes, afastou Steve com um empurrão e rumou para a saída que seu irmão utilizara sabe-se lá quanto tempo atrás, ignorando tanto os inimigos como os aliados que apareceram em seu caminho.
- , volte aqui...! – berrava Steve, mas ela já estava longe – !
Frustrado, o soldado socou a parede a sua frente, apertando os botões de seu comunicador enquanto corria mesmo sabendo que ele não voltaria magicamente a funcionar. Sua esperança era Tony não estar tendo problemas com J.A.R.V.I.S., senão eles estariam definitivamente condenados. Depois de dobrar em alguns corredores, ele acabara esbarrando com Natasha, que também parecia estar correndo em busca de algo ou alguém.
- Capitão! Cadê...? – começou a ruiva, notando que ele também estava sozinho.
- e Pete. Eles foram atrás do Krigor – explicou o soldado, logo ouvindo a mulher praguejar baixo em russo – Natasha, tem algo no ar. Os dois estão fora do jogo, foram contaminados. Eles estão em perigo.
- Precisamos encontrá-los.
- E nós estamos sem nosso dois localizadores. Perfeito, não? – resmungou Steve sem humor algum. Algo em seu peito estava inquieto, apreensivo. Não tinha um bom pressentimento, temia não ter algo que pudesse fazer.
sequer se lembrava o caminho que percorrera. Se precisasse virar as costas e retornar para a base, existia a grande possibilidade de ela simplesmente sentar no chão daquela floresta e esperar por socorro do que realmente se arriscar a voltar. Seus sentidos estavam completamente bagunçados, seus poderes fora de ordem. Ela só sabia que estava seguindo na direção certa por causa das pegadas que hora ou outra sua visão conseguia identificar no solo irregular e seco. A cada passo que dava, tinha mais certeza de que aquilo tudo fora planejado: o ar que os intoxicara, eles sendo atraídos para fora, que Krigor os queria longe de qualquer forma de apoio. Claro que só poderia ser seu padrasto, apenas sua aparição faria com que Petr abandonasse todas as estratégias que anteriormente combinaram, mesmo sob os efeitos daquele gás. E Krigor sabia que ela os seguiria para garantir a segurança do irmão, mesmo que isso significasse desobedecer ordens diretas.
Era uma armadilha, claro. E eles estavam seguindo passo a passo direitinho.
os encontrou em uma clareira no meio da floresta, um sob a mira da arma do outro. Eles falavam alguma coisa que ela não conseguiu ouvir pela distância, mas ela não deu muita importância a isso, buscando sua última pistola com munição em sua coxa.
- Krigor, abaixa a arma – ordenou ela, a voz no volume mais alto que conseguia no momento, descendo com cuidado o pequeno barranco para se juntar aos dois, a nuca do patriarca sendo seu alvo – Agora.
- Demorou para chegar, filha – riu o homem – Pensei que tinha desistido de nós.
- Eu falei para abaixar a arma, Krigor – repetiu , arriscando um olhar rápido para o irmão. Ela não sabia dizer exatamente como estava seu estado, mas acreditava que Petr tivesse igual ou pior que ela: o uniforme rasgado e sujo de poeira e sangue em alguns lugares, diversos cortes e hematomas no rosto, além da expressão cansada e um tanto grogue – Você também, Pete.
Krigor entendeu logo de cara o que a mulher planejava, e, por mais incrível que parecesse, ele estava decepcionado. Aquela postura mais amigável e correta dela não lhe agradava nem um pouco. Ele sabia muito bem do que era capaz de fazer, e assisti-la pedir que ele fosse poupado era quase como um insulto à reputação que ela criara nos últimos meses.
- Petr...! – berrou , mas seu irmão sequer se mexera, apenas apertara ainda mais a pistola em suas mãos – Abaixa a arma.
- Ele merece morrer – disse ele entre os dentes, sem desviar os olhos dos desafiadores do pai.
- Mas você não merece passar por isso. Ele é seu pai – fora arriscando passos curtos em direção à dupla, sem nunca tirar a cabeça de Krigor de sua mira. Sua voz, em contraste com seu batimento acelerado e o tremor em suas mãos, era calma e firme, sem nenhum sinal de hesitação – Pete, se você fizer isso... Não tem mais volta, entendeu? Isso vai te assombrar pelo resto da vida. Ele é seu pai, não é sua tarefa terminar com ele.
Krigor quase ralhou com o filho ao vê-lo praticamente abaixar sua arma. Garoto fracote, covarde. Era aquele maldito sangue de Valerik em suas veias que o deixara mole, era aquele sangue fraco e medroso do lado da família de sua mulher, que tivera a audácia de continuar a utilizar o nome Ivanov mesmo quando pararam de compartilhar a coragem e valentia do restante dos membros. Com ódio espelhado em seus olhos que Krigor notou que era muito mais uma Ivanov do que o irmão, mesmo sem compartilharem uma gota de sangue. A garota que deveria ser filha dele, não aquele frouxo. Ela sim tinha perspectiva, sabia atingir seus objetivos custasse o que fosse, sabia manter a cabeça no lugar mesmo depois de fazer tudo que jurara não fazer. Perto da irmã, Petr era uma piada, por isso o patriarca da família se flagrou rindo ao vê-lo obedecer à caçula.
Os sentidos de pareceram desacelerar, se distraindo com detalhes pequenos, como uma folha teimosa que o vento finalmente conseguira desprender do galho da árvore. Em um instante lá estava seu irmão abaixando sua arma, mesmo que contra sua vontade, e Krigor não atiraria por também estar na mira de mais alguém. No outro instante – mesmo que tivesse parecido existir uma eternidade entre eles –, ouviu o estalo de armas sendo destravadas, mas não era a sua, nem de nenhum dos Ivanov. Inconscientemente, os três membros da família se viraram para a mesma direção, em sincronia entendendo o que acontecia em um quadro maior, já que estavam completamente alheios ao que acontecia ao seu redor.
fora a primeira a reagir, mudando seu alvo para qualquer um dos cinco agentes que mantinham ela e seu irmão na mira, conseguindo derrubar apenas um antes da rajada de tiros se iniciar. Entretanto, o primeiro disparo que a atingira viera de suas costas, da arma de Krigor que agora jazia no chão, já que Petr também conseguira reagir rápido, atirando no ombro do pai para o desestabilizar, mas não sendo rápido o suficiente, já que sua irmã ainda assim fora atingida. Quando ele se voltou para os outros agentes, que estavam um pouco acima deles pelo relevo do terreno, eles já haviam começado a disparar. Petr não conseguiu contar quantos foram, seus sentidos cederam muito antes da execução se encerrar, mas ainda assim vira sua irmã cair primeiro, tombando para frente primeiro de joelhos, para depois todo seu tronco estar esparramado em meio a folhas secas e mortas. Antes dele próprio cair, o russo chegou a ouvir o som distante de repulsores disparando, até aquele eco vibrante característico de um escudo atingindo um alvo. Talvez até tivesse chegado a ver de relance os atiradores serem derrubados, mas não podia mais afirmar nada com certeza. A única coisa que ocupava sua mente era a necessidade de alcançar sua irmã e confirmar seu bem-estar.
Depois dos inimigos neutralizados, Tony foi o primeiro a descer para a clareira, pulando de sua armadura assim que ela se abriu, apenas para ficar paralisado alguns poucos passos em frente a ela. Os três Ivanov estavam caídos, e apenas um deles imóvel. Suspeitava que até se colocasse de volta o reator no peito não iria fazer seu coração voltar a bater. Ele parara de joelhos ao lado da filha, o olhar travado em seu rosto sem cor, os olhos abertos que não se movimentavam mais. Tony tocou seu ombro apenas para constatar o que tanto temia, virando seu corpo para o lado para que ela ficasse de barriga para cima, o movimento mole de seus músculos facilitando a tarefa. Sua respiração ficou presa na garganta ao notar a ausência da respiração da filha, seu olhar congelado para algum ponto à sua frente, mesmo que não estivesse mais lá.
Steve parou de gritar por atualizações assim que notou a armadura sozinha atirar em Krigor, que chegara perto de empunhar sua arma mais uma vez. Tony sequer havia mexido um músculo para tentar detê-lo, e o possível motivo fez com que o soldado congelasse no local, sequer se importando em pegar seu escudo quando ele ricocheteou em sua direção. Seu lado líder sabia que precisava sair em socorro de Petr, confirmar se ele estava bem e pedir cobertura, mas ele apenas continuou plantado no chão. Tony sem sombra de dúvidas teria primeiro ido socorrer a filha, e ele não estar respondendo ou partir para socorrer o outro irmão no fundo era tudo que Steve mais temia.
A imagem do corpo estático de sobre as pernas do pai rapidamente se fixaram nas retinas do Capitão, como uma tatuagem. Tony estava tão imóvel quanto ela, um braço passando por trás de suas costas sujas de terra e sangue, a segurando firme contra seu corpo, a outra mão acariciando com delicadeza seu queixo com as pontas dos dedos geladas. O homem sequer chorava, seu corpo não tremia. Choque. Sua mente sequer deveria ter processado a informação, e nem Steve tinha direito. O soldado engoliu em seco antes de correr em direção de Petr, a saliva descendo por sua garganta como lâminas, até chegar em seu peito, onde ele sequer sabia descrever o que sentia, e nem podia se dar ao luxo de se ocupar com aquilo. Ele estava em missão, e alguém dependia dele.
Petr ainda tentava alcançar a irmã, mesmo com vários metros os separando. Quando sentiu Steve o puxar para que ficasse de barriga para cima, ele comprimiu um gemido dolorido, mas não parou de se contorcer para continuar a procurar algum sinal de vida na mulher caída.
- Steve... Me diga que ela está bem – pediu ele desesperado, sua voz engasgada pelo sangue que subiu por sua garganta – Me diga que ela está bem, por favor.
- Ela está bem.
Petr parou de se debater, passando mais alguns segundos analisando o rosto do Capitão, logo constatando o que tanto temia.
- Você é um péssimo mentiroso, Rogers.
Steve mordeu o interior da boca, desviando o olhar para tentar se recompor. Esperava que, por sua convivência constante com , de repente tivesse pegado a mania de pesadelos cruéis no meio da noite, e que aquele fosse apenas mais de um deles. Se fosse bem sincero, aquilo tudo tinha as características de um sonho ruim: não se lembrava como fora parar ali, e nem como aquele desenrolar de acontecimentos terminara daquele jeito, que pareciam tão surreais. Só podia ser aquilo. Precisava aguardar o momento do despertar.
- J.A.R.V.I.S. – ele chamou a armadura depois de alguns momentos analisando os ferimentos do russo – Peça que Romanoff vá buscar o Banner, e que Clint traga a nave para cá. Não podemos mover Petr sem piorar a situação dele. Se a comunicação não estiver sido reestabelecida, use a Legião de Ferro para passar a mensagem. Sei lá, improvisa.
- A comunicação foi reestabelecida há alguns minutos, Capt. Rogers – avisou o sistema – Já estão todos a caminho.
Não demorou muito para que a nave pousasse próxima a eles, com Clint e Thor logo descendo quando a tampa se abaixou para entender o que acontecia. Antes que qualquer um pudesse fazer alguma pergunta, Tony finalmente se mexeu, se levantando com a filha nos braços, dando passos lentos e arrastados em direção à nave, com sua armadura o seguindo de perto, como se temesse ele desabando sem o menor aviso. No fundo, o próprio Tony também esperava isso.
Engolindo em seco quando Tony passou ao seu lado, Clint sinalizou para que Thor fosse ajudar também com os outros caídos. Como merecia mais delicadeza, o arqueiro ficou de auxiliar Steve a levar o novato para a nave, enquanto o asgardiano ficou encarregado de verificar o estado de Krigor. Ele ainda estava consciente, resmungava baixo enquanto mantinha pressão em um dos seus ferimentos, tentando conter a hemorragia. Quando sentiu alguém se aproximando, ele chegou a se virar no chão para identificar a pessoa, chegando a ter a audácia de rir ao ver ao fundo Stark com o semblante sério entrar na nave com a filha nos braços. Tomado por uma raiva que Thor não queria admitir, ele chutou o rosto do homem, garantindo que ele permaneceria inconsciente por um bom tempo.
Natasha e Bruce foram os últimos a entrar na nave, estranhando o motivo de não terem sido passadas a eles explicações pelo abortamento da missão, só compreendendo ao sentirem o clima sufocador dentro do transporte. Clint havia deixado a nave no piloto automático, podendo assim se ocupar com o auxílio de Thor no cuidado dos ferimentos de Petr, que ocupava a única maca de atendimento do veículo, enquanto fora deitada no chão, próxima a uma fileira de bancos. Steve havia deixado seu capacete e escudo de qualquer jeito pelo caminho, mas não havia se aproximado da mulher. Todos seus músculos estavam travados, não permitiam que ele se mexesse. De alguma forma, se ele se aproximasse e pudesse tocá-la, seria uma confirmação que ele não desejava. Do jeito que estava, ele podia se iludir que ela estava apenas dormindo – já que Tony havia fechado os olhos dela assim que a deitara no piso.
Bruce soltara um sonoro palavrão ao entender a gravidade da situação, esquecendo momentaneamente de todo seu cansaço pela recente transformação para seu tamanho compacto, empurrando Steve sem querer no processo para alcançar a mulher. Tony chegara a se opor em um primeiro momento quando o cientista passou a procurar sinais de pulsação no pescoço de , pedindo para que ele se afastasse, até entender que o desespero dele era porque nem tudo estava perdido. Com agilidade, Bruce contara o número de ferimentos no corpo da mulher, calculando mentalmente o quanto de soro deveria estar no sistema dela, logo lembrando que havia algo também no ar da base, que deveria ser levado em consideração.
- Tony, eu preciso da sua permissão – anunciou Bruce, depois de se levantar em um pulo e seguir para o compartimento de medicações, pegando dois frascos de antídoto, um de adrenalina e uma seringa. Ninguém mais na nave se mexia, na expectativa do cientista obter sucesso – Porque ou eu vou matá-la de vez ou conseguir a menor possibilidade de salvá-la.
Um tanto extasiado, Tony assentiu com a cabeça, saindo de perto da filha quando lhe foi solicitado. Bruce pedira para que Natasha conseguisse de alguma forma expor o colo de , a deixando encarregada de dar um jeito no material resistente de seu traje enquanto ele aplicava as duas doses de antídoto em uma das suas veias de seu pescoço, e a dose de adrenalina em sua coxa. Assim como os outros, ele ficou na expectativa de que algo acontecesse, apenas para bufar frustrado segundo depois.
- Natasha, o desfibrilador.
Enquanto ela ia com auxílio de Steve buscar a máquina, Bruce tratou de rasgar um pouco mais a malha que protegia o corpo de , expondo ainda mais seu top esportivo. Ele respirou fundo quando a máquina estava ao seu lado e carregando depois de ele posicionar os coxins como era mandado, rezando para que aquilo funcionasse. O corpo de se curvou enquanto a descarga elétrica percorria seu corpo, voltando ao estado anterior quando ela se extinguiu. Bruce contou os segundos devagar mentalmente, dando brecha para que o antídoto fizesse efeito. O maior problema de seu plano era que a substância inicialmente também fazia mal a seu organismo, assim como o soro que a envenenava. Sua esperança ali era que o antídoto parasse o soro que estava fazendo seu corpo entrar em pane, impedindo que ele tentasse se salvar. Claro que apenas aquilo não seria o suficiente para salvá-la, mas pelo menos estenderia um pouco seu tempo de vida, talvez o suficiente para conseguirem apoio médico adequado.
Quando sua contagem chegou a dez segundos, Bruce pediu para que o aparelho fosse preparado mais uma vez enquanto ele iniciava a massagem cardíaca. No primeiro movimento de empurrar seu peito para baixo, Bruce sentiu ele desesperadamente fazer o movimento contrário em seguida, o ruído baixo e fraco subindo pela garganta da mulher explicitando que ela estava com dificuldades para respirar.
- Para o hospital mais próximo! – ordenou Bruce entre risadas aliviadas, que logo deram lugar para seu silêncio sério enquanto analisavam qual ferimento deveria tratar primeiro. Muitas hemorragias, muitos ferimentos de saída, e vários apenas de entrada. Ah, aquilo era ruim. Era muito ruim.
- Isso pode demorar um pouco, doc – lembrou Natasha, que já tinha se virado para o compartimento onde o material que ele iria precisar estava. Steve e Tony ainda estavam em choque, sem desviar os olhos do corpo da mulher, com medo de constatar depois que tudo não passava de uma brincadeira de sua mente, que aquele reconfortante movimento de sua respiração não passava se sua imaginação.
- Vamos ter que fazer melhor que isso – retrucou o cientista, olhando rapidamente para a russa mais velha – Não temos tempo para demora dessa vez.

Capítulo 39


Sons aleatórios preenchiam seus ouvidos, que não condiziam com a pouca informação que conseguia pegar no ar que a cercava. Prestando um pouco mais de atenção, ela conseguiu distinguir o ruído de folhas secas sendo esmagadas, sons de disparos, alguns gritos e o som de seu batimento irregular ecoando em seus ouvidos. Um choro alto foi o que fez com que voltasse a ter controle sobre seu corpo, tentando se sentar em um movimento rápido, mas falhando por algo a segurar.
O ambiente estava quase que por completo escuro, com exceção das máquinas que monitoravam pacientes, e a luz forte do corredor do prédio que mal entrava no quarto. Entre as coisas que a mantiveram no lugar, estava o tubo que conectava o acesso em uma de suas veias à bolsa de soro, os diversos eletrodos que monitoravam seus batimentos cardíacos, e o musculoso braço de alguém.
- , sou eu. Steve – se apressou uma voz próxima a dizer, a segurando firmemente contra o colchão, sua respiração também descompassada pela movimentação repentina. Quando a mulher fechou os olhos e voltou a depositar a cabeça no travesseiro, o soldado arriscou olhar para o outro lado da cama, encontrando um arqueiro praticamente desmaiado, dormindo até de boca aberta. Steve até chegou a sorrir descrente. Sabia que ele não ia aguentar mais ficar acordado por muito tempo – Você está em casa. Está tudo bem.
- Pete...? – disse ela com a voz engasgada, fraca e falha pelo que deveria ter sido alguns dias sem uso.
- À sua esquerda. Pai à direita.
- O que aconteceu com Tony? – perguntou a mulher um tanto desesperada, sem saber para que lado olhar. À sua esquerda, ela encontrou o irmão dormindo tranquilamente em outra maca, com Clint em uma situação parecida em uma poltrona para visitantes. De seu outro lado, atrás da poltrona de Steve, seu pai dormia abraçado a um travesseiro, sem nenhum tipo de aparelho ligado a seu corpo, diferente dos mais novos da família.
- Você quase morrendo de novo? – arriscou Steve rindo, embora sua voz não tivesse nenhum humor. Ela sequer precisava se esforçar para identificar o cansaço em seu timbre, ele estava exposto em seu rosto – Ele não tem mais o reator no peito, . Você está testando o coração dele e ele não pode mais trocar as baterias. Você está ficando muito boa em matar a gente de susto.
- E os imprevistos estão ficando cada vez piores – acrescentou ela, forçando as palmas das mãos no colchão fino para se sentar, logo sendo repreendida pelo soldado.
- , fica deitada...
- Há quantas horas vocês estão aqui?
Steve olhou rapidamente para o relógio, tentando calcular algum espaço de tempo que não o deixasse em problemas, mas os números sequer fizeram sentido para ele no momento. Seu cochilo nos últimos cinco minutos não havia ajudado em nada o seu estado.
- Algumas...
- Vai para o quarto, dormir um pouco para variar. Vocês dois – ordenou , se inclinando para dar um tapa de leve no ombro de Clint, que acordou sem saber o que acontecia – Eu cuido deles. Eles são meu problema, afinal das contas.
- Você precisa de cuidado também, – argumentou Steve, com as perguntas confusas do arqueiro de fundo sonoro.
- Preciso saber que todo mundo está bem, e isso inclui vocês. Podem negar o quanto quiserem, sei que os dois estão há dias sem dormir direito – insistiu ela, e Clint foi o primeiro a se dar por vencido, suspirando alto antes de se levantar da poltrona que ele temia já ter se tornado parte de seu corpo – Por favor, vão descansar.
- Ouviu a garota, Capitão – brincou o arqueiro, se debruçando sobre a cama para beijar o rosto da mulher enquanto afagava seus cabelos completamente fora de ordem e cheios de nós – Bom te ver acordada, para variar.
resmungou um “engraçadinho” antes do homem se afastar, esperando Steve no corredor vazio, já que imaginava que ele fosse enrolar o máximo possível para obedecer a ordem da mulher. Ele tentou convencê-la com os olhos para permitir sua presença, mas ela estava decidida. Na verdade, a cada segundo a mais que passava olhando para o soldado, mais certeza tinha de que ele precisava de um tempo afastado, de um pouco de sono em um local mais adequado. Um tanto incerto, Steve se debruçou sobre a maca da mulher quando se levantou, depositando uma mão com cuidado sobre sua nuca, em um toque tão delicado que chegava a questionar se realmente existia. Mesmo assim a hesitação estava muito bem expressa em seus movimentos, até mesmo quando seus, lábios encostaram de leve na testa agora sem machucados da mulher, que apenas pode sorrir com o gesto. Quando se afastou sem pressa, Steve ainda buscou um sinal de que ela desistira da ordem, suspirando vencido e deixando os ombros caírem quando murmurou um calmo "boa noite".
- J.A.R.V.I.S.? Como está o resto da equipe? – perguntou , assim que Steve deixara o quarto, e ela voltou a se deitar.
- Os únicos comprometidos em combate foram você e o Sr. Ivanov. O Sr. Stark apresentou problemas com ansiedade no trajeto e assim que retornaram à Torre. O restante da equipe está sob as melhores condições que a situação permite.
- Todo mundo uma pilha de nervos? – arriscou a mulher.
- Acredito que se pode dizer isso, senhorita.
- Pode avisar para o Barton e para o Rogers que se eles não forem para seus respectivos quartos nesse exato momento, eu vou subir e arrastar os dois? – pediu ela, a voz mais abafada ao se virar de costas para tentar ajeitar seu travesseiro, que agora mais parecia uma pedra de tão desconfortável.
- O Sr. Barton pediu que eu ressaltasse que você não deveria estar utilizando seus poderes, senhorita.
- Não estou. Só sei que os dois idiotas não iriam me obedecer logo de primeira – suspirou ela cansada, olhando para todos os fios que a ligavam a máquinas, outra fonte de desconforto – Chame uma enfermeira, por favor. Esse monte de coisa ligada em mim está começando a me irritar.
Não demorou muito para que uma das enfermeiras de plantão entrasse no quarto, lhe enchendo de perguntas que ela sequer lembrava das respostas que dera. Algumas talvez fossem pelas mentiras para que fosse liberada da monitoração, e se agradecera mentalmente por ter insistido em expulsar Steve do quarto, ou teria sido descoberta. Ela até conseguira tirar um cochilo considerável depois de um tempo, acordando mais tarde com aquela sensação ruim no peito de que as coisas estavam prestes a desandar e tudo que ela podia fazer era observar. Maldito estresse pós-traumático. Uma fina cama de suor já frio cobria seu rosto, e somado à boca seca, se viu obrigada a se levantar para pegar água.
Demorou mais do que ela se orgulhava para sentir firmeza em suas pernas, para garantir que elas não iriam simplesmente ceder assim que deixasse de apoiar seu peso na maca, e demorara ainda mais para se arrastar até o armário onde duas jarras de água fresca estavam. Até que o corpo de estava dando uma boa resposta, todos os músculos obedecendo a seus comandos – até ela tentar segurar a alça da jarra e seus dedos moles deixarem que ela tombasse na bancada. Fosse o barulho da jarra caindo ou praguejando baixo, mas a movimentação despertara um dos pacientes do quarto, que acordara agitado.
Tony murmurava pedidos de ajuda desesperados, tentando se livrar do lençol que o envolvia e apenas se enrolando ainda mais.
- Ei, respire. Devagar – pediu ela com calma, deixando a mão apenas apoiada no ombro do homem. Ele ainda se debatera mais algumas vezes até localizar a fonte da voz, sentindo dificuldades para identificar o rosto no ambiente com pouca luz – Não queria te acordar, desculpe.
- Voc...? – ofegou Tony ao reconhecer a filha, começando a perder o controle de sua respiração – Eu estou alucinado?
- Sério mesmo? Se fosse para me imaginar, você me imaginaria assim? – brincou , puxando a poltrona que Steve usara mais cedo para perto da maca – Parecendo uma morta viva e com a bunda de fora? Já disse que odeio camisola de hospital?
- Minha mente não parece gostar exatamente de mim, não seria nenhuma surpresa.
- Disso eu entendo muito bem... – resmungou ela baixo, rindo antes de pegar a mão fria do pai entre as suas ainda machucadas – Como você está?
- Não dando a mínima, quero saber como você está – retrucou Tony, a afastando um pouco para se sentar no colchão fino.
- Ainda estou respirando, então já é vitória.
- Como está seu irmão?
- Não acordou ainda, mas vai sobreviver também.
- Krigor?
- Não perguntei – Tony estranhou em um primeiro momento a resposta da filha, mas logo notou que ela estava sendo sincera – No momento ele é problema de outra pessoa. Tem um limite de pessoas com quem eu consigo me preocupar no momento, e os dois estão aqui.
- Você quase me matou de susto.
- Ajuda se eu disser que eu também fiquei bem assustada? – brincou ela incerta.
- Na verdade, nem um pouco. Mas já passou – desconversou o homem, jogando as pernas para fora da maca para ficar de frente para a filha, tomando seu rosto em suas mãos – Agora temos que nos focar em recuperar o cetro, e estabilizar você e Petr. Quão estranho seria se eu adotasse um cara de trinta anos? Facilitaria muito as coisas.
- Se você sugerir isso para ele, é capaz que ele acabe te dando um soco.
- Nós melhoramos um pouco no quesito ódio nos últimos tempos...
- Sério mesmo? – questionou brincando. Nas últimas semanas havia notado a mudança na dinâmica entre os dois. Na verdade, apenas queria ouvir o pai admitindo aquilo.
- Ele não é tão ruim assim – confessou ele com um suspiro, um vestígio de sorriso travesso aparecendo no canto de seus lábios – Para falar a verdade, ele é mais agradável do que você.
revirou os olhos brincalhona, rindo em descrença.
- Vá em frente e diga que você queria um menino.
- E por que eu iria querer um menino? – Tony se fingiu de desentendido, buscando seus sapatos que se lembrava de Steve ter deixado em algum lugar próximo – Você sabe que eu não queria nenhum.
- Me sinto tão amada quando você diz isso...
- Mas eu tive o que eu precisava: uma criança teimosa que me fez e ainda me faz querer sempre ser melhor por ela – concluiu ele, beijando sua testa com o som do riso baixo dela de fundo.
- Você está convivendo demais com o Steve – comentou dela depois de devolver o beijo no rosto, reclamando baixo em seguida pela barba por fazer a pinicando – Esse é o tipo de clichê que ele diria.
- Acha que Steve seria um pai como eu? – a pergunta lhe escapara antes mesmo de entender o que fazia. A ideia o incomodou mais do que admitiria, mas o problema era se sentir pressionada por aquilo.
- Todo excesso é perigoso, Tony. Imagine eu crescendo sob a guarda de alguém tão rígido como Steve. O resultado seria o mesmo – respondeu ela, sem parecer dar importância ao tópico – E o mais importante: eu nunca te trocaria, você é meu pai. Não importa toda essa zona familiar, mesmo que não fossemos parentes de sangue. Você é meu pai, e isso nunca vai mudar.
- Você não está esperando que eu diga aquela palavra com a, certo? – Tony brincou, tentando disfarçar a leve fungada que deu. logo estava no mesmo estado que ele, revirando os olhos marejados divertida enquanto mordia o lábio.
- Não acreditaria se você dissesse.
- Mas é verdade – ele se apressou em dizer, a ponta dos dedos percorrendo as leves marcas de ferimentos no rosto da mulher, que deveriam sumir nas próximas horas – Mais do que tudo nesse mundo.
- Eu também – sussurrou com a voz um tanto engasgada, se pondo de pé para abraçar o pai. Tony continuava não sendo o maior fã de abraços, mas daquela vez ele não reclamou, pelo contrário. Depois de todos os sustos que levara nos últimos meses, em especial o dos últimos dias, tudo que ele queria era tê-la na proteção dos seus braços. E perceber que ela estava tão assustada quanto ele não ajudava em nada no quesito manter o controle. Mas estava tudo bem agora, aquilo era passado.
Não havia mais ameaças.

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Depois de muita discussão e gritaria, ganhara aquela briga.
Quando pararam em um hospital próximo para estabilizarem o quadro dos irmãos abatidos, Krigor foi entregue para a OTAN, onde estava encarcerado. O problema era que ele apenas abrira a boca uma vez, e foi para dizer que apenas responderia aquelas perguntas se elas fossem feitas por sua filha, e pessoalmente. Tony ficou irado ao receber aquele vídeo, principalmente por aquele homem ainda ter a audácia de chamar de sua filha, gritando aos quatro ventos que não existia a menor possibilidade de concordarem com aquela exigência. por sua vez concordou sem pensar duas vezes, o que transformou o que era para ser uma reunião da equipe em uma discussão familiar, onde a única mulher ficou sozinha, já que nem Petr concordara com a ideia.
Algumas horas mais tarde e depois de muitos argumentos que foram simplesmente ignorados, e Steve estavam em uma nave a caminho da prisão da OTAN. Eles precisavam da colaboração de Krigor, e, se ele queria um interrogador mais qualificado, era o que ele teria. Era até mais aconselhável ser ela e não o irmão, já que Petr não era o mais bem controlado dos dois quando o assunto era família, e conseguia se manter um pouco mais indiferente do que ele.
O som do salto de suas botas e do solado pesado do coturno de Steve eram as únicas coisas que ecoavam pelo corredor. Nenhuma palavra a mais foi trocada desde que receberam instruções antes de a entrada deles ser permitida, ambos ocupados com seus próprios pensamentos. Steve não poderia entrar na sala de interrogação junto com ela, acompanhando toda a conversa assim como os Vingadores, por vídeo. Fora um pedido da própria , já que não lhe agradava muito fazer um interrogatório com a sala cheia, além de que não tinha nada que Krigor pudesse fazer para a atingir.
Pelo menos era nisso que ela queria acreditar.
Krigor tinha ambas as mãos algemadas à mesa quando ela entrou na sala. Embora já estivesse lá por mais de uma semana, ele parecia estar perfeitamente bem, como se ainda fosse o líder da organização, onde nada o atingia. engoliu em seco, se sentando a sua frente, deixando o tablet com o roteiro de perguntas na mesa antes de se sentar, lhe mostrando um sorriso contente e cruel assim que já estava acomodada.
- O uniforme de prisioneiro te cai bem... – comentou ela – Deveria ter tentado esse visual mais cedo.
- Não vou mentir, não esperava que você fosse atender meu pedido, criança – suspirou o homem, seus olhos gélidos parecendo querer invadir sua alma, mas falhando. Não, ela sabia exatamente como lidar com ele agora.
- E perder a chance de te ver sem nada? – riu a mulher, seu sorriso se alargando – Estava à espera disso há meses, tinha que ver pessoalmente.
Krigor assentiu em concordância algumas vezes antes de erguer o olhar para ela.
- Bem, você disse que entregaria as informações se eu viesse, estou esperando – avisou ela, seu cenho franzindo quando o homem começou a rir com vontade. Se ele não tivesse recursos ali, poderia jurar que ele ainda tinha alguma carta na manga – Por que está rindo?
- Me deu vontade – respondeu ele cínico, e a mulher revirou os olhos.
- Mentira.
- Sua mãe deve estar orgulhosa de você – começou Krigor de repente, parecendo deixar o assunto anterior de lado. Ela só não sabia que ele estava falando da mesma coisa – Acredito que você tenha seguido todos os passos que ela planejou.
- Eu diria para você perguntar para ela, mas espero que tenha uma vida longa nesse buraco – debochou a mulher, seu sorriso irônico permanecendo em seu rosto assim como Krigor desejava.
- Ela está sempre te observando, meu amor – continuou ele, voltando a rir de leve ao notar a expressão da enteada se tornando aos poucos mais confusa – Comigo fora do jogo, não estranharia se ela fizesse uma aparição.
- Você está chapado? – questionou ela, séria – O que estão te dando aqui?
- Sua mãe é esperta, mas é sentimental demais – continuou ele, ignorando por completo que continuava perdida. Em seu ouvido, Tony pedia que ela retomasse as rédeas do interrogatório, já que começava a se irritar pela filha estar deixando ele livre para falar o que quisesse – Não me surpreenderia em nada se ela escolhesse aparecer no seu aniversário de novo.
- Nossa, uma semana preso e você já perdeu a sanidade.
- Sua mãe está viva, coração – concluiu Krigor – Mais viva que eu e você, provavelmente.
- Sério? – disse ela cínica.
- Acha que estou mentindo? – constatou ele, rindo ao ter sua confirmação nos olhos inexpressivos da mulher. Ela estava se forçando a não acreditar no que ele contava, era tudo que ele mais queria.
- Eu sei que está – retrucou , sua irritação começando a ficar evidente – Sou um detector de mentira, esqueceu?
- Então você está apresentando defeito porque não estou mentindo.
- O Soldado Invernal a matou.
- Você deveria saber melhor do que confiar em alguém que passou por todos aqueles processos... – o forte tom de conselho e sarcasmo na voz de Krigor fez com que perdesse um pouquinho a cabeça, algo que seu próprio pai percebeu, já que voltou a despejar ordens em seu ouvido.
- Não muda o fato de que você está mentindo – disse ela por fim, encerrando o assunto – Vim aqui para você me passar informações úteis, não para perder tempo. Tenho coisas mais importantes para fazer.
- Em alguns momentos eu entendo o motivo por ela ter te escolhido, embora não saiba dizer como que ela pôde prever isso tudo... – continuou ele, claramente a ignorando – Petr não é como você. Ele não teria como continuar o que ela começou.
- Você acha que eu que eu me importo com Valerik? Com o legado dela? – a mulher finalmente explodiu, se pondo de pé e espalmando as mãos na mesa com um estalo alto – Eu não quero saber se ela mudou de ideia no meio do caminho, se queria tirar Pete e eu das suas mãos. Foi ela que me colocou nesse inferno. Além de ter colocado meu pai em constante perigo por me deixar sob a proteção dele. Você acha que eu me importo com uma dessa assim? – seu tom de voz mudou drasticamente, diminuindo para algo um pouco mais alto que um sussurro – Então você não sabe merda nenhuma sobre mim. Ela só não é pior do que você. Provavelmente vocês se mereciam, formavam um bom casal.
- Você parece com ela mais do que pensa – replicou Krigor, sem parecer ter se abalado com a fúria da enteada. apenas riu em deboche antes de se jogar de volta em sua cadeira.
- Em que momento eu disse que eu era uma boa pessoa?
- Ah, eu nunca ousaria dizer algo parecido com isso... – esclareceu ele, se debruçando levemente sobre a mesa para encarar a mulher mais de perto, seu olhar falsamente intrigado – Me diga, Stark: como é colocar seu uniforme de Vingadora com tanto sangue inocente nas mãos? Sangue de amigos, não é? Você não é digna do título que carrega, mas sim do título que se recusa a aceitar.
Foi visível engolindo em seco, tentando manter a postura firme e determinada, e conseguir notar aquilo apenas deixou Krigor mais satisfeito. Ele estava ali, sem HYDRA e seus brinquedos favoritos, algemado a uma mesa, e ele ainda podia facilmente controlar a garota. Não, melhor: até mesmo com sua mente livre de mecanismos e em perfeito estado, ele ainda sabia como operá-la.
- Se estamos em um mundo de heróis e vilões, acho que você precisa ter certeza se está na categoria certa – aconselhou ele, voltando a encostar suas costas na cadeira, o sorriso divertido nunca abandonando seu rosto. franziu os lábios e ergueu levemente as sobrancelhas, ponderando qual seria seu próximo passo.
- Você não tem nenhuma informação útil, não é?
- Já disse tudo o que você precisava saber.
No mesmo instante, voltou a espalmar as mãos na mesa, mas agora em um movimento muito mais delicado e silencioso, se levantando em seguida. Aquela viagem fora apenas perda de tempo. Krigor provavelmente sequer tinha alguma informação valiosa, apenas queria brincar um pouco mais com sua mente, e o pior era que ele conseguiu. Sem trocar mais nenhuma palavra com o homem, ela apertou o botão no tablet que lhe fora entregue para que a porta fosse aberta e abandonou o aparelho sobre a mesa, passando pelo portal sem pensar duas vezes.
Ela planejava deixar suas costas contra a fria porta de metal assim que ela se fechasse quando saiu a sala, mas suas pernas não a obedeciam. Na verdade, nenhuma parte de seu corpo estava a respondendo. A mulher apenas parou quando encontrou a parede oposta à porta, deixando seus punhos pressionados contra o concreto, assim como sua testa. Sua respiração agora estava desregulada, e, se não controlasse, logo ela desmaiaria. No fundo, talvez fosse aquilo que acreditava precisar: desligar, preferencialmente por tempo indeterminado.
- Eu não consigo... Eu não consigo...
- , o que aconteceu? – perguntou a voz de Steve no fim do corredor, com claros sinais de que ele tinha corrido até ali, o que significava que logo oficiais do prédio apareceriam para devolver Krigor a sua cela. Embora não soubesse o motivo, já que pelo vídeo de segurança por onde acompanhara não parecia que Krigor tivesse feito algo, o soldado com facilidade notou que ela estava passando por um ataque de pânico. A morena repetia as mesmas palavras repetidas vezes com o mesmo tom de voz, seu corpo inteiro tremia, e seus músculos todos tensos e travados. Quando finalmente a alcançou, ele parou a alguns passos de distância – , preciso que fale comigo. Preciso que me diga o que aconteceu para eu te ajudar.
Sua vontade era tomar a mulher em seus braços, mas sabia que seria perigoso, não para ele, que pouco se importava com os possíveis ataques que sofreria, mas por , já que podia acabar a assustando mais e a deixando mais instável. Um dos guardas logo apareceu perguntando se estava tudo bem, e Steve apenas pediu mais um segundo para que pudesse acalmá-la e removê-la do corredor, já que nem por cima de seu cadáver iria permitir Krigor vê-la naquele estado.
- Eu não consigo mais... – ela continuava a repetir, cada vez mais baixo e com mais desespero – Não consigo mais fazer isso... Não consigo mais...
- O que Krigor te fez, ?
- Não foi ele, fui eu! – grunhiu ela, com as mãos trêmulas próximas ao rosto, finalmente se virando para ele, o rosto contorcido em uma expressão sofrida e lavada por lágrimas – É sobre o que eu fiz.
Ignorando as ordens de Natasha para não se aproximar mais ainda, Steve extinguiu a distância entre eles, travando os braços ao redor da mulher, que surpreendentemente não tentou o afastar, embora também não tivesse retribuído o abraço. permaneceu naquela posição travada, os braços presos entre ela e o soldado. O máximo de movimento que ela conseguiu fazer foi apoiar a testa em seu ombro protegido pela jaqueta grossa.
- Eu matei, e-eu...
- Você estava sendo controlada – Steve tratou de interrompê-la logo de cara, apenas para ouvir uma risada desacreditada enquanto ela se afastava minimamente para poder fitar seu rosto. A mataria dizer aquilo vendo o desapontamento logo nos olhos dele.
- Não, eu não estava – corrigiu ela, seguida por uma risada sem humor engasgada. No mesmo momento Steve ficou mais sério, e ela sequer precisava analisá-lo para saber que ele estava questionando mais uma vez seu posicionamento naquela história toda, assim como ela – Eu não recebi ordens para metade das atrocidades que eu fiz. Eu matei, recrutei crianças... E entregava para o Strucker como cobaia para os experimentos dele. Eles nunca me pediram nada disso. Eu ainda não tinha recuperado memórias o suficiente para entender a outra personalidade, mas isso não importa. Isso já estava dentro de mim, desde o começo... E eu fiz tudo porque eu queria! – naquela pausa, optou por fechar os olhos. Não conseguia mais manter o contato visual quando era tão visível como ela não era a única ali sofrendo. Steve não tinha nada a ver com aquela história, e ela estava o arrastando junto. Aquilo era errado – Não é algo que eu consigo mais ignorar. Eu matei amigos, matei pais em frente de seus filhos, e se a criança não aceitasse vir comigo, eu também a matava. Eu não consigo mais...
- ... – Steve tentou intermediar, mas não teria prosseguido mesmo que a mulher não tivesse o cortado. Aquele tom de pena na voz, ele sabia que não o aceitaria, que não era digna daquilo. Com cuidado, o soldado tirou os braços de ao redor dela, levando suas mãos até o rosto excessivamente corado, tirando os vários fios que grudaram em sua pele pela confusão de suor e lágrimas.
- Não dá mais... Não consigo continuar com isso... Eu não consigo enfrentar um inimigo e me defender quando sei que dizer que mereço uma bala na testa é pouco – desabafou ela com seu olhar baixo, só então percebendo como seus dedos se agarravam com desespero a camiseta de Steve – Eu cansei de fingir ser alguém que não sou mais, aceitar uma redenção que sei que não mereço. Não consigo continuar nisso.
- Está tudo bem, ... , olhe para mim – pediu ele, erguendo seu queixo e depois segurando seu rosto com ambas as mãos, a puxando para mais perto – Se você quer sair, você sai. Você está fora. Ninguém vai te obrigar a nada. Queremos seu bem. Se isso significa você sair da equipe, não é um problema. Você é mais importante.
- Aí é que está o problema: eu não quero sair – continuou ela, seu riso triste refletindo aquele infinito conflito de sentimentos – Vou precisar de umas três vidas para tentar de alguma forma compensar tudo que eu fiz, mas eu não acho que consigo mais.
- Rogers, o que diabos está acontecendo aí? – a voz alterada do arqueiro interrompeu a tentativa inexistente de Steve de a confortar, ganhando sua atenção – Eu estou quase desistindo de segurar o Tony e deixar ele ir para aí. Por que a parou de responder?
- Você tirou seu comunicador? – perguntou ele para a mulher, acompanhando seus olhos se arregalarem em desespero.
- Eu não quero voltar para casa. Por favor – pediu ela, finalmente jogando os braços ao redor de seu pescoço, o mantendo em um aperto firme – Pelos menos não agora. Me dá um pouco mais de tempo.
- Gente? – disse Steve, sem pensar duas vezes – Voltar agora vai ser muito cansativo. Vamos ficar por aqui.
Na Torre, todos queriam explicações pelo motivo de ter encerrado o interrogatório de maneira tão abrupta, já que não esperavam que as palavras do prisioneiro teriam algum poder sobre ela, mas algo na voz do Capitão os avisava que era melhor não questionar no momento. Se estivesse tudo bem, teria entrado na linha e se explicado, mas isso não aconteceu. O difícil foi convencer Tony e Petr a deixar aquilo quieto no momento, que Steve podia muito bem lidar com ela sozinho, como praticamente vinha fazendo nas últimas semanas, que ele avisaria caso precisasse de assistência.
Com o auxílio de um taxista simpático que tivera a decência de não questionar o estado de mesmo tendo reconhecido a dupla, quase uma hora depois eles estavam hospedados em um hotel próximo, com Steve aproveitando sua vez no chuveiro enquanto zapeava os canais da TV sem o menor interesse, bem acomodada em um robe quentinho e comprido, as costas apoiadas contra a cabeceira da cama de casal.
Vez ou outra ela parava em um canal de notícias ao perceber que falavam sobre a HYDRA e os Vingadores, sempre estranhando quando a citavam sem mencionar sua estadia na organização inimiga, a pintando sempre como uma heroína. não fazia ideia de como estavam abafando aquela história, mas no fundo até agradecia. Se já estava sendo difícil lidar com o seu próprio julgamento, sabe-se o que poderia acontecer quando fosse o mundo inteiro.
- Pensei que finalmente falar aquilo em voz alta faria com que eu me sentisse melhor... – suspirou alto, assim que Steve deixou o banheiro, trajando um robe semelhante ao dela. Com um sorriso discreto ela fez uma aposta consigo mesma: não dava mais de dez minutos para ele se livrar da peça alegando calor, mesmo que estivesse um frio chato no quarto – Não fez.
- Você precisa parar de querer tudo pronto de imediato. Não funciona assim, e você sabe – alertou-a Steve, gastando alguns poucos segundos checando seu celular antes de se juntar a ela – Por que está rindo?
- É engraçado... Nós costumávamos falar até que bastante dessas coisas, sabe... Essas coisas de problemas mentais e tal – disse a mulher, a forma que ela gesticulava deixando claro seu desconforto – Bem no começo, lembra? Antes do Fury convocar a gente.
Steve concordou com um aceno de cabeça vago, sem querer comparando os cenários tão distantes, tanto temporalmente como em um sentido de gravidade, que dava uma falsa sensação de uma ser mais séria que a outra. Em uma a ameaça viera do espaço, coisas que eles não tinham compreensão, a outra viera de algo mais familiar, que eles conheciam muito bem. E em ambas estava ele, sem a menor ideia de como resolver as coisas.
- Depois disso nós apenas passamos a esconder coisas um do outro, ou pelo menos ignorar – continuou , já que seu interlocutor não parecia muito disposto a continuar a conversa, seu comentário o intrigando – Sabe do que eu me lembro de antes de ir para a HYDRA? Lembro de estar feliz, e o maior motivo disso tudo era você. Parece até que são memórias intocáveis, estão em um nível que sinto que nunca vou alcançar. Sabe o porquê? Porque elas são falsas.
Steve até chegou a abrir a boca ofendido, pronto para gritar alguma coisa que nunca chegou a ser verbalizada. Ela estava certa e ele sabia, mesmo que lhe faltasse coragem para admitir.
- Aquele paraíso que estávamos vivendo era só fachada – continuou ela – Duas pessoas destruídas por dentro fingindo serem inteiras. Ambos abalados pelos acontecimentos de Washington, e individualmente por coisas ainda mais antigas. Nós estávamos nos sentindo felizes, mas era só algo superficial. No fundo nós estávamos morrendo.
- Você chegou nisso sozinha ou a Monica te ajudou? – indagou Steve, com uma sobrancelha erguida. Já conhecia muito bem algumas daquelas palavras, e não era pela voz de . Ela por sua vez, riu de leve.
- Não vou mentir, ela me manipulou para chegar a essa conclusão – admitiu a mulher, soando um tanto impressionada – E de forma bem sutil, devo dizer. Ela é boa.
Steve riu em concordância, voltando a ficar em silêncio em seguida, o que fez suspirar alto.
- Nossos quadros são bem parecidos, apenas em níveis e situações diferentes – continuou ela – Além do fato que todos esperam que eu seja a louca que grita e esperneia enquanto sequer duvidam de você. Ninguém espera que o Capitão América caía por uma ameaça tão insignificante como a própria mente.
esperou que ele dissesse alguma coisa, aquele silêncio todo começando a incomodar. Era para ser uma via de duas mãos, certo? Era assim que as coisas deveriam funcionar. Não adiantava em nada ela estar disposta a ajudar se ele não permitia.
- Você não tem que se fazer de forte por mim, Steve. Admito que já tentei fazer isso para ver se você se toca, mas fica difícil te enganar quando você sabe que eu estou fingindo – a brincadeira não parecera surgir muito efeito, o soldado mantendo o olhar nos próprios pés ao longe, olhando para a mulher ao seu lado apenas quando ela pediu – Não quero te pressionar, mas... Eu não sei dizer quando você está guardando algo, certo? Mas não me deixa de fora. Sempre foi assim entre nós desde o começo, não é? Um ajudando o outro. E eu não quero isso porque você está me ajudando, eu... Eu quero você bem, e se eu posso ajudar, eu quero.
Steve voltou a assentir, dessa vez pegando a mão da mulher apoiada no colchão ao seu lado, entrelaçando seus dedos e lhe dando um aperto carinhoso. Sem separar suas mãos, ele a puxou para mais perto, a deixando parcialmente deitada sobre ele, beijando seus cabelos depois de murmurar um agradecimento pelo gesto.
- Odeio ter que dizer isso, Capitão, mas você está completamente ignorando o conceito de trabalho em equipe – brincou enquanto se aconchegava em seu peito, o acompanhando na risada quando sentiu seu peito vibrando – Você deveria se envergonhar.
- Ainda bem que tenho uma boa segunda em comando do meu lado, hm? – devolveu Steve, e ela quase chorou de alegria por ele ter voltado a soltar frases mais completas. Ele ter sido sincero na discreta brincadeira fez com que seu sorriso se alargasse.
- Boa? Meu amor, eu sou incrível.
Steve concordou rindo, soltando sua mão para buscar o controle remoto de sua posse, já que ela falhara na missão de escolher algo decente para assistir.
Eles fizeram check-out no começo da manhã do dia seguinte, deixando que J.A.R.V.I.S. na maior parte do tempo pilotasse a nave, já que eles estavam ocupados demais passeando os olhos pelos nomes das novidades de filmes e séries que perderam nos últimos meses, já se programando para alguma maratona assim que o primeiro tempo livre aparecesse. Na Torre tiveram um pouco de problema para explicarem o motivo de terem adiado o retorno, mas logo aquilo tudo foi esquecido. O primeiro a desistir daquele assunto fora Tony, para surpresa geral, e, como perdera seu principal apoio, Petr desistiu logo em seguida.
A verdade era que o Stark mais velho tinha algo em sua mente o incomodando, algo que Krigor dissera durante o interrogatório, algo que todos estavam assumindo como mentira, mas que não saia de seus pensamentos. Não me surpreenderia em nada se ela escolhesse aparecer no seu aniversário de novo. Talvez fosse a aproximação da data real do nascimento de sua filha, mas Tony não conseguia esquecer aquela fala. Ele precisava passar algumas coisas a limpo, apenas para garantir.

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Steve praticamente já não respirava mais.
Ele deveria saber que aquele tipo de aproximação em algum momento lhe colocaria em um cenário como aquele. dormia pesado, completamente alheia ao que estava acontecendo ali. Se ele próprio não tivesse acordado, também ainda estaria dormindo em paz, só que sua mente decidira torturá-lo um pouco mais. O costume era ele adormecer de barriga para cima, com deitada por cima dele. Se Steve não se perdesse em pensamentos, aquela posição não lhe causava problemas, e até o ajudava a dormir: o movimento sereno da respiração de contra seu peito o acalmava como nada mais conseguia, o aperto leve de suas mãos em seu tronco lhe transmitia uma sensação de segurança tão grande como adormecer com ela firmemente em seus braços. Suas pernas não demoravam muito para se entrelaçarem, como faziam com tanta naturalidade meses atrás, e, se Steve evitasse pensar no que acontecia, podia facilmente se manter alheio ao que acontecia. Sem crise nenhuma. O problema era ele acordar no meio da madrugada, agora de costas para ele, só que seus braços a mantinham perto, seus corpos perfeitamente encaixados. Para apenas o distrair ainda mais, seu rosto estava perto demais da nuca da mulher, o perfume de seus cabelos bagunçando seus sentidos. Esse era um dos motivos de ele mal-estar respirando. O outro era que, quando ele respirava, seu corpo se mexia, e quando ele se mexia, também acabava se mexendo, e os braços dela envolvendo os seus em um aperto firme descartava por completo a possibilidade de se afastar e tomar um banho frio. Outro detalhe era que ele realmente não queria. Ele sentia sua falta, de todas as formas possíveis. Uma vez ou outra por dia ele conseguia ter um vislumbre da mulher por quem originalmente se apaixonara: as vezes uma risada mais alta, ou até mesmo uma mais discreta; alguma frase que ela gostava de repetir, ou até que repetia sem ter consciência; algum olhar ou gesto em resposta à alguma brincadeira do resto da equipe. Eram meros detalhes, mas que já o deixavam feliz, esperançoso. Só que não era apenas aquilo de que ele sentia falta: seus momentos sozinhos, as conversas aleatórias no meio da noite, seu toque, seus beijos, a energia que ela emanava de alguém intocável, de uma pessoa que poderia passar por qualquer provação e continuar sendo a pessoa mais feliz do mundo. Sem que ele quisesse, uma frase de Petr voltara a seus pensamentos. "Dominik está incompleta". O rapaz talvez não fizesse ideia de que aquilo pudesse carregar mais de um significado, mas estava coberto de razão. era uma pessoa incompleta agora, precisava de mais tempo e espaço para se recompor, para voltar a ser alguém inteiro. E Steve sentia que aquele tipo de desejo violava aqueles direitos da mulher.
Ele tinha completa ciência disso, só que seu corpo resolvera o trair. Os sons que produzia enquanto dormia lhe eram tão familiares e reconfortantes que seu subconsciente se sentia na liberdade de lhe pregar uma peça, o fazendo sonhar com um período onde tudo estava em perfeita ordem – havia inimigos para se derrotar, problemas para resolver, mas nada disso passava da porta do quarto. Porém quando ele acordava, uma realidade completamente diferente que o recebia.
Quase que pondo um fim em seus esforços para manter a cabeça no lugar, o quadril de se remexeu com mais empenho contra ele, e, ao mesmo tempo que sua respiração ficara presa na garganta, seus braços se fecharam com mais vontade ao redor do corpo da mulher, a puxando para mais perto, se é que isso era possível.
Ah, ela estava acordada.
- Você não está jogando limpo, – sussurrou Steve com certa urgência, sua respiração já pesada batendo em seu ouvido, seus lábios abertos encostando de leve em seu lóbulo.
- E desde quando eu jogo limpo? – retrucou ela, um riso distante em sua voz. O próprio soldado se flagrou rindo, embora fosse mais de nervoso e desespero do que por achar graça. girara o corpo em seus braços, agora ficando ambos frente a frente, a confusão de pernas aumentando ainda mais.
- Qual é, ...! As coisas estão diferentes agora, isso não é mais apropriad... – Steve até fizera um bom trabalho em se manter centrado, não vacilando sob o olhar próximo da mulher até ela abaixar os olhos para seus lábios, fazendo com que ele se perdesse um pouco – Você só está sendo cruel no momento.
sorriu de lado. Assim como praticamente toda as vezes em que eles estavam sozinhos, a mulher mais uma vez estava forçando a barra com Steve. A diferença era que ele já estava acostumado com ela praticamente forçando discussões, e não aquele tipo de cenário. Outra diferença essencial era que ela não estava de fato o testando. sentia sua falta, sabia que não o teria de volta, muito menos na velocidade que desejava. Não havia um relacionamento que ela não tivesse estragado e que agora tinha que lutar para recuperar, mas a distância entre ela e o soldado era o que mais a machucava, e definitivamente seria o que levaria mais tempo para consertar. não era idiota, tinha completa noção de seus limites, e o que Steve realmente queria ela ainda não tinha estruturas emocionais para dar, mas talvez o que ele parcialmente queria talvez pudesse ser considerado.
Ainda com o olhar baixo, ela tocou de leve com o polegar os lábios entreabertos do homem, que até chegou a minimamente avançar com o rosto em sua direção, apenas para recuar em seguida. Como ele não parecera se opor ao seu toque, deslizara a mão pelo seu rosto, passando as unhas pela barba que começava a dar sinais de vida até alcançar seus cabelos, percorrendo sem pressa o caminho até sua nuca, voltando depois e deixando seus dedos na linha do seu maxilar. Apenas quando o movimento parou que Steve se permitiu abrir os olhos, estudando o olhar conflitante da mulher a sua frente.
- Eu continuo sendo a mulher que você ama? – perguntou depois de várias vezes hesitar, quase se desesperando ao ouvir a risada baixa de Steve.
- Se você sente a necessidade de perguntar, eu não estou exatamente fazendo um bom trabalho, não é? – suspirou ele, posicionando uma mão sobre o pulso da mulher, acariciando a região com o polegar.
- Você sabe que não é isso... Eu só preciso ouvir você dizer.
- É claro que você é, ... – sussurrou Steve, sentindo um pesar ainda maior por se encontrarem naquela situação. Em um momento de coragem, e de falta de bom senso, ele encostara sua testa na dela, seus narizes timidamente se tocando – Sempre foi. Sempre vai ser.
- Só que eu não me sinto completamente confortável para voltar a ser aquela pessoa em tempo integral – contou ela, erguendo o olhar para os seus olhos por um breve instante antes de retornar a focar em seus lábios – Mas para isso eu me sinto mais do que confortável.
Mesmo se tivesse lhe dado a chance de responder, Steve não tinha exatamente o que dizer, por isso agradeceu quando ela ocupou seus lábios com outra função, imediatamente correspondendo ao beijo enquanto suas mãos garantiam que ela não se afastaria tão cedo. Ele não sabia dizer se estava confortável ou não com aquela ideia, mas ele não estava pensando direito desde que acordara. Apenas em um primeiro momento o beijo fora calmo, com receando se Steve iria ou não recuar de vez, a dinâmica das coisas mudando drasticamente quando ambos perceberam que nenhum deles pretendia voltar atrás.
Uma de suas pernas passou por de trás da dele, seu pé percorrendo toda a extensão desde a panturrilha, e ele na mesma velocidade passeava uma mão por sua coxa, até que a perna dela estivesse travada em sua cintura. Steve girara seu corpo sobre o dela, mas ele não planejava se deitar, e agradecera mentalmente por ter envolvido o pescoço do soldado com os braços, já que ele a puxara junto quando se sentara. No instante que sentira as mãos ágeis de Steve na barra de sua camiseta, interrompera o beijo e criara uma distância o suficiente para que ele conseguisse se livrar do material, sequer se importando em saber que rumo a peça tomara.
- Estou assumindo que vai ser sem enrolação, certo? – ofegou Steve contra a pele exposta de seu pescoço, beijando a região enquanto uma de suas mãos tentava segurar os fios de cabelo da mulher que insistiam em lhe escapar, enquanto a outra mantinha o quadril dela pressionado contra o seu. deixou que uma risada grave e baixa lhe subisse pela garganta, Steve sorrindo contra seu pescoço antes de morder sua pele ao sentir a vibração de sua risada, algo que o lembrava um ronronar. Quase que como resposta, as mãos de em seus ombros aplicaram uma quantidade considerável de força, fazendo com que ele caísse de costas no colchão, ela agora por cima dele.
- Pelo menos não no primeiro round.

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Steve se espreguiçou mais uma vez na esperança daquele incômodo no ombro o abandonar, apenas para bufar iludido em seguida, mesmo com o sorriso bobo ainda no rosto. O dia não tinha ainda nem amanhecido quando ele deixou o quarto para rumar para a cozinha, esperando assim ter um pouco de paz na primeira refeição para variar, já que a cada dia ficava mais difícil conseguir encontrar o cômodo sem superlotação.
Por isso seus ombros caíram em desânimo quando percebeu que já tinha alguém lá.
- Bom dia, Capitão...! – lhe desejou Tony assim que ele passou pela porta, um sorriso largo em seu rosto que o deixou incomodado. Ele não era uma pessoa matinal. Na verdade, ele não era uma pessoa animada em nenhum momento do dia, a não ser que estivesse tramando alguma coisa.
- Bom dia... Stark – respondeu ele desconfiado, se adiantando para a cafeteira. Quando passou ao seu lado, Tony perguntou o paradeiro da filha – Ainda está dormindo... Certo, o que foi?
- Do que você está falando? Eu só perguntei, credo – desconversou Tony rindo, pegando um pacote de frutas secas e se sentando do outro lado da mesa, um brilho divertido nos olhos enquanto levantava sua caneca para beber um gole do café recém passado – Até parece que tem algo que você não quer falar...
- Você já sabe! Como q...? – ofegou Steve, apontando acusadoramente para o homem quando lhe ocorreu uma explicação, e mesmo assim seu rosto estava vermelho de vergonha – É melhor você não estar espionando meu quarto.
- Relaxa... Queria que a revisasse um projeto para mim, e pedi que J.A.R.V.I.S. a chamasse. Ele disse que não podia fazer isso e que não podia explicar o motivo. Não há uma variedade muito grande de situações que o J.A.R.V.I.S. se recusa a explicar, se você quer saber – explicou Tony, seu sorriso cínico se alargando enquanto ele apontava como quem não quer nada para a própria nuca – E o puta hematoma que você tem na lateral do pescoço não parece ser do tipo que você consegue caindo. A não ser que você tenha caído na boca de alguém. Eu estou apenas assumindo que foi a boca da , ou você vai estar com problemas.
Steve respirou fundo e fechou os olhos. Queria acreditar que aquilo era apenas um sonho ruim, mas era tão a cara do Tony insistir em uma conversa daquelas que ele teve que aceitar que se tratava da realidade.
- Então...? – incentivou o engenheiro, claramente na expectativa para que o soldado continuasse o assunto, o que deixou Steve completamente horrorizado.
- Pelo amor de Deus, Tony! Ela é sua filha, é estranho demais.
- Eu não estou pedindo por detalhes, idiota – resmungou Tony nervoso, rindo em seguida ao perceber que estava conversando com o soldado como normalmente conversava com a filha, assumindo que entendia todas as suas intenções – Quero saber se vocês voltaram. Sabe, de verdade.
- Eu não sei, acho que não... – respondeu Steve incerto, se jogando em uma das cadeiras vazias com uma expressão confusa. Quando Tony voltou a rir, ele revirou os olhos cansado – O que foi dessa vez?
- O grande Capitão América acabou de ter um caso de uma noite? – alfinetou o homem, que até tentara se manter sério, mas falhara sem nenhum peso na consciência.
- Você não pode chamar de algo de uma noite quando a mulher dorme do meu lado todas as noites, Tony – retrucou Steve, aproveitando do rápido momento de choque de Tony para puxar seu pacote de lanche, jogando uma pequena quantia na boca antes de se levantar com a caneca vazia em mãos.
- Olha só! O menino certinho sabe responder! – Tony riu ainda mais – E ainda pegou minha comida sem pedir... Minha filha é uma péssima influência para você, pelo visto.
- J.A.R.V.I.S.? – suspirou o soldado alto, enquanto lavava a pouca louça que sujara – Por acaso a mudou as coisas de maquiagem dela de lugar ou ainda está no mesmo?
- Quer brincar com maquiagem a essa hora, Rogers? – brincou Tony depois que seu sistema disse que permanecia no mesmo lugar, quase se arrependendo ao ver o sorriso estranho que o Capitão lhe lançara por cima do ombro. Aquilo era novidade...
- Melhor eu dar um jeito nisso antes que o pessoal acorde e fique fazendo perguntas – explicou o soldado, se referindo ao hematoma que Tony comentara mais cedo.
- E você sabe passa essas coisas? Tem quase um arco-íris de corretivos.
Steve sorriu travesso, jogando o pano de prato de volta a seu lugar e se virando para Tony.
- Se eu não soubesse usar, já teríamos tido essa conversa muito antes, se é que me entende.
Se ele estivesse com seu celular, teria registrado a expressão horrorizada do mais velho dos Stark.
- Oh, Rogers! É a minha filha, lembra? – resmungou Tony assim que recuperou a fala, aumentando a voz quando o soldado deixou a cozinha – Não te dei essas liberdades!
- Pior que deu, Stark – respondeu Steve do corredor – O pior é que deu, sim.

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ainda tinha o celular em mãos quando saiu do elevador, nervosamente batucando o aparelho com os dedos. Sabia que não receberia atualizações por alguns bons dias, ou até semanas, mas mesmo assim não conseguira se separar do aparelho na hora de deixar seu quarto. Temendo que alguém fosse notar seu nervosismo, ela guardou o celular em um dos bolsos do short jeans que usava, logo se juntando ao restante da equipe que estava espalhado pela sala em frente da grande TV.
Steve, Thor, Petr, e Clint estavam no meio do tapete, completamente entretidos com as imagens que viam, mal tocando nos baldes de asas de frango fritas que os cercavam. Tony e Natasha dividiam um dos sofás, enquanto Bruce tinha outro apenas para ele. Antes que pudesse o questionar sobre o que assistiam, o narrador do jogo elogiou Tom Brady pelo belo passe que resultou em um touchdown. Era Super Bowl, e eles estavam no meio da semana, não tinha como aquele jogo estar acontecendo agora, já que ele sempre era de domingo, e no começo de fevereiro.
- Por que vocês estão assistindo um jogo antigo? – perguntou , parando atrás do sofá que estava de frente para a TV, o que seu pai ocupava.
- A gente estava em missão – respondeu Steve.
- E por que estão assistindo agora? – continuou ela – Patriots ganharam. Até eu sei isso, e olha que nem estava procurando a informação.
- O que importa é a gente parar para assistir. Confraternização, querida – resmungou Clint, rapidamente se virando para ela apenas para apontar para o local vago ao lado de Bruce – Senta a bunda ali e come.
- Depois desse convite transbordando educação, não tenho outra escolha, não é? – bufou a mulher, se jogando ao lado de Bruce e negando com a cabeça quando ele lhe ofereceu o balde com frango. tinha feito uma rápida parada na cozinha há pouco tempo, e só não tinha recusado aquele convite porque era engraçado ver o quarteto no tapete sofrendo com cada lance do jogo como se fosse ao vivo.
Foi em meio a uma onda de reclamações que notou algo estranho com um pouco mais de antecedência de que seu irmão, já que ele estava distraído com o jogo. Havia uma pessoa a mais na sala, alguém que não fora anunciado e que ela tinha dificuldades para sentir a presença, seu reflexo na TV sendo o único indício de que estava realmente ali. Havia uma diferença muito grande entre não estar se focando para monitorar seus arredores, com praticamente não registrar alguém próximo daquela forma. Só havia um tipo de pessoa que tinha dificuldades para registrar: aprimorados.
Em um movimento rápido, ela se jogou do sofá e deu uma cambalhota em direção a mesa de centro, até ouvindo algumas reclamações por ter atrapalhado a visão de todos ao passar na frente da TV, algo que logo se cessou ao notarem ela tirar uma pistola escondida de debaixo do móvel, e apontar para algo às costas de todos.
- Mãos para cima! – ordenou ela, ignorando todas as exclamações surpresas da equipe, que não haviam entendido ainda a seriedade da situação. O único que se manteve em silêncio foi seu irmão, que parecia estar tendo uma reação confusa muito mais controlada do que ela – Pete, você está a sentindo? Petr?!
- Ei, ... Abaixa a arma – pediu Steve com cuidado, assim como os outros, já de pé. Provavelmente ela estava certa e se tratava de uma ameaça, mas as mãos trêmulas de poderiam ferir alguém. Aquilo na verdade era o que mais estava o surpreendendo: se conheciam há muito tempo e já haviam vivido praticamente todo tipo de situação, e ele nunca a vira empunhar uma arma com tanta falta de concentração. Observando tudo de um contexto mais geral, ela como todo não estava agindo como de costume: a respiração descompassada; os músculos tensos, não para realizar melhor certos movimentos, mas sim travados; e os olhos agitados que expressavam algo que ele quase se recusava a acreditar como medo. Petr não estava no mesmo estado que a irmã, mas o mínimo que se podia dizer era que ele também estava assustado. Tinha algo muito errado ali, e parecia que a fonte era a intrusa.
A intrusa em um primeiro momento não parecia ter nada demais: uma mulher alta que deveria ter algo perto de quarenta anos, cabelos negros em um corte irregular um pouco acima da base do pescoço, olhos de um castanho mais amigável, e um sorriso inocente que, fosse paranoia sua ou não, parecia se tornar mais satisfeito e cruel a medida que se alargava.
- Quem é você? J., status da segurança? – lançou as duas perguntas quase que de uma vez, suas mãos se fechando com mais vontade contra sua arma ao não obter nenhuma resposta, tentando respirar fundo mais uma vez para tentar se reestabelecer – J.A.R.V.I.S.?!
- Sequer consigo acreditar que consegui encontrar todos vocês juntos! – comemorou a mulher, sua voz melodiosa ecoando pela ampla sala. Ela deu um passo em direção às costas do sofá, o que resultou nos Vingadores mais próximos dali recuando um passo, por precaução. Thor tensionava e relaxava os dedos de sua mão, à espera do menor sinal de que deveria entrar em ação. Steve rapidamente buscara com o olhar a localização de seu escudo, que descansava próximo a escada que dava acesso ao laboratório de Tony. O arco de Clint estava no mínimo alguns andares dali, então ele, assim como Natasha, repassava mentalmente a localização de todas as pistolas escondidas no andar. Tony, por sua vez, sequer pensara em chamar uma armadura, ou checar o status do seu sistema de inteligência. Sua imagem já havia sido o suficiente para fazer com que sua mente parasse de processar os dados, assumindo que estava diante de algum truque. Só que aquela voz ele reconheceria mesmo daqui cem anos – E J.A.R.V.I.S. está descansando no momento, дорогая.
Enquanto franziu ainda mais o cenho ao ouvir um tratamento russo naquele momento, Petr assistira seu corpo expulsar todo o ar que seus pulmões armazenavam. Sua memória até era superior, se comparada com um homem comum, mas para aquela associação até ele estava com um pé atrás, mesmo que algo lhe dissesse que estava certo.
- Mãe...?
- Oi, Pete. Meu garoto... – Valerik sorriu para ele, juntando as mãos em frente ao peito. Ela sabia muito bem quanto o filho havia crescido e como era sua aparência agora, mas ver pessoalmente ainda era algo especial. Próximo a ele e um pouquinho mais à frente, estava o dono do prédio, para quem seu sorriso se tornara um pouco mais sombrio – Tony... Você está velho. Bem, ao restante eu não fui apresentada, e também não é o momento.
Steve discretamente tentara chamar , mas ela parecia em outro mundo, a boca um pouco aberta enquanto sua mente trabalhava, tentando acompanhar o que acontecia. Tinha que ter algo errado ali, aquilo não fazia sentido. Não podia fazer. Faltava alguma peça-chave naquele quebra-cabeça, só que não tinha como ele alterar por completo toda a imagem, ou tinha?
- Se vocês me dão licença, preciso conversar por um momento com meus filhos – disse a mulher por fim, erguendo uma das mãos na altura dos ombros, fazendo um singelo movimento com os dedos para o lado, a mesma direção que a arma de seguira até colidir com a parede. Antes que ela pudesse reagir ou até entender o que acontecia, seu corpo pareceu obedecer a outra força, sendo arrastada em um segundo até estar de frente para a mãe, sua mão ao redor de seu pescoço em aperto firme – Vamos começar com a caçula.
Sua pele em contato com os dedos frios de Valerik logo começou a formigar, aquela sensação se espalhando lentamente pelo seu corpo. Algum tipo de energia estava passando da mulher para ela, todo seu ser se esforçando para não sucumbir ao que quer que fosse aquele poder, com juntando toda a concentração que tinha e segurando seu pulso com vontade para lhe servir de apoio, em um movimento rápido encaixando o pé no começo das costelas da mãe. Os Vingadores terem entrado em combate facilitou sua tarefa de escapar do aperto de Valerik, ainda tendo um tempo extra para tentar entender o que ela fizera antes de precisar voltar para a ação, saindo de seu campo de alcance quando ela tentou a agarrar pelos cabelos depois de jogar Clint em direção ao bar. Um peso se instalara em seu peito, o corpo trêmulo, sua respiração desregulada como se estivesse tendo um ataque de pânico, e não entender o motivo daquilo tudo apenas piorando seu estado. Valerik havia transmitido alguma energia para ela e confundido seu sistema nervoso, era a única coisa que conseguia deduzir, e até fazia algum sentido. e Petr tinham certo controle a mais que o normal sobre os próprios corpos, e se a matriarca da família tivesse desenvolvido a habilidade de controlar corpos de terceiros?
Steve agarrou o antebraço de assim que teve a chance, agradecendo por ela estar atenta o suficiente para repetir a ação com ele, suas unhas arranhando de leve sua pele enquanto a girava no ar, conseguindo pegar Valerik desprevenida com um chute no rosto, jogando no sofá mais distante por ela ainda estar claramente abalada, deixando que o resto da equipe ainda de pé continuasse no combate. Valerik não demorou muito para se levantar, limpando rapidamente o sangue que escorria de seu lábio rachado antes de se defender dos ataques do Capitão e de seu filho. Eles estavam dificultando para o seu lado, intercalando com perfeita sincronia os golpes do outro, por isso a mulher teve que apelar para o nunchaku que estava no bolso traseiro de sua calça, dois bastões de madeira ligados por uma pequena corrente. O cotovelo de Steve foi o primeiro a ser atingido, o choque do impacto travando seu braço e abrindo sua defesa, praticamente permitindo que Valerik encaixasse os dois pés em seu peito e o jogasse para perto da TV, puxando o filho para o chão junto ao jogar a arma ao redor do pescoço do homem.
Thor fora o próximo da fila, girando o corpo para acertá-la com seu martelo, ofegando de leve surpreso ao ver o movimento sendo parado pelo antebraço. Estava clara a quantidade de força que Valerik estava utilizando para aquilo pela forma que seus músculos estavam tensos, mas da mesma forma era impressionante. Por algum motivo esperava que ela perdesse para os filhos no quesito força, mas não parecia que ela estava assim tão distante. Aproveitando que não tinha mais alguém tão próximo, Valerik se deu ao luxo de voltar a usar telecinese, lançando o asgardiano o mais longe que conseguia, atravessando uma divisória de vidro no andar superior. Thor até se preparou para voar em direção da mulher com mais hostilidade do que antes, mas por algum motivo seu olhar caiu sobre próxima a um dos sofás, seu olhar intenso em sua direção, a mão sobre o pescoço como um pedido silencioso que ele logo compreendera.
Precisavam da coleira, e um dos seus exemplares estava no laboratório de Tony, que ele acabara de invadir sem querer.
se pôs de pé assim que Thor entendeu seu recado. Precisava que Valerik ficasse entretida, se ela suspeitasse que tinham um dispositivo que podia a parar, talvez tudo fosse posto a perder. O combate físico não a manteria ocupada por muito, já que nem todos conseguiam enfrentá-la: Tony não tinha nem psicológico ou armadura para dar um passo sequer, Bruce estava mais afastado na sala, torcendo para que a mulher não tivesse planos de atiçar o outro cara, Natasha acabara de ser atirada na mesma direção que Clint, precisando de mais alguns segundos para se recuperar do impacto forte de ter atingido o balcão do bar com as costas, o que deixava apenas Steve e Petr para a auxiliar.
O russo havia conseguido tirar o nunchaku das mãos da mãe, depois de o travar em seus braços e girar o corpo para que escapasse de sua mão, jogando a arma longe na esperança de que fosse conseguir a manter ocupada o suficiente para não ter brecha para voltar a utilizar telecinese. Já tinha entendido o padrão: ela precisava de concentração para conseguir usar aqueles poderes, algo que era difícil de manter em um combate com tantos oponentes, e, por estar em número muito maior, aquela era a vantagem que tinham. Pelo menos era nisso que Petr acreditava, até sentir os dedos da mãe se fecharem ao redor de seu pescoço, e todos os seus questionamentos começarem.
- Pete! – ofegou assim que viu o irmão caindo de joelhos, o corpo mole tombando para o lado. Steve até chegou a ameaçar se adiantar para voltar ao combate, mas o puxou pelas costas da camiseta em um aperto desesperado, se pendurando em seus ombros quando ele recuou um passo para impedir que ele fosse para frente – Fica longe, Steve. Pete?!
- E-ela... – o russo tentou explicar, mas a confusão estava explicita em sua voz embargada. Petr conseguiu recuar um pouco, mas não chegou a ousar a erguer os olhos para mulher em pé próxima a ele. Não fazia ideia do que estava acontecendo e tinha a sensação de que tudo ficaria mais confuso se buscasse explicações nos olhos cruéis da mãe – , eu não consigo diferenciar realidade da ilusão.
- F-fiquem longe dela – ordenou para todos, sua voz falha não conseguindo transmitir firmeza para ninguém – Não cheguem perto.
- ...? – sussurrou Steve confuso, segurando a mão gelada da mulher que estava sobre seu peito, tentando lhe passar algum conforto ao mesmo tempo que exigia mais detalhes. Havia demorado um pouco para aprender, mas sabia que ela não tomava as melhores decisões quando estava com medo, ou família era envolvida. Precisava estar atento para qualquer forma de ação autodestrutiva.
- Garota esperta – riu Valerik, olhando do Petr caído para ela – Sua demora para entender comprometeu seu irmão, mas acho que estava esperando demais de você.
- Não deixem que ela toque em vocês – ignorou a fala da mãe, respirando fundo antes para tentar recuperar a estabilidade da voz – Qualquer que seja o poder dela, é pelo toque.
- E como chegou a essa conclusão?
- Você tentou passar algum tipo de energia pelas suas mãos – continuou ela, aos poucos começando a desgrudar de Steve, que relutou em soltar sua mão. Thor encontrara a coleira e descia sem pressa as escadas do laboratório. Precisava estar pronta para entrar em combate ao menor sinal do deus, não podia gastar tempo para se afastar do soldado mais tarde – Petr e eu fomos os únicos que você segurou, e os únicos que sentiram algo diferente.
- Engraçado você ainda estar de pé, tenho que dizer que estou surpresa – comentou Valerik, levando uma mão ao queixo enquanto parecia pensativa – Pensei que funcionaria em você. Talvez eu devesse ter levado em conta quantas vezes você foi exposta ao tal cetro.
- Querida, se você entrar na minha mente, tem que pedir por favor – zombou , arriscando alguns passos confiantes em direção à mulher, apoiando as mãos no encosto do sofá e se inclinando, o sorriso arrogante marcando presença em seu rosto – E com jeitinho.
Aí está minha filha, Valerik logo notou. Toda aquela postura era completamente fruto de seus poderes, ela sabia muito bem, e era exatamente isso que fazia com que fosse dominada por algum tipo de orgulho: no meio daquela loucura toda, ainda conseguia encontrar o ponto de equilíbrio, manter tudo sob seu controle firme. Levava anos de treinamento intenso para atingir aquele nível, e ela, além de ser a mais nova da família, fora a que menos tivera instruções. Aquilo tudo lhe era natural não por ter nascido com aquilo, mas por ter adquirido domínio ter sido conquistado de forma instintiva. O cetro sequer deveria ter ajudado, já que os arquivos que conseguira ter acesso diziam que a arma apenas amplificara algumas habilidades e criara outras, mas não lhe dera um manual de instruções. A lista de diferenças entre e o resto da família era imensa, ela poderia passar o dia inteiro numerando.
- Como q...? Você...? – Tony tentou verbalizar a dúvida geral, aos poucos recobrando seus sentidos e o controle sob seu corpo. Não era um maldito pesadelo, ele tinha que fazer alguma coisa. Valerik sorriu em piedade para ele.
- Acha que é tão fácil assim me matar?
- Mas com...? Barnes...?
- Ela altera memórias – explicou , ficando de joelhos no sofá e virando o rosto para o pai – Cria novas.
- Barnes conseguiu distinguir a ilusão? – perguntou Valerik, seu tom de voz entregando sua curiosidade genuína – Você passou uma temporada com ele, não foi? Por isso diz com tanta certeza ou é apenas insolência?
- Ele ainda acredita que te matou – respondeu ela séria – O que você quer aqui?
- Conversar com você.
- Vai sonhando – debochou Tony, sua irritação aumentando ao ouvir a mulher rir divertida.
- Não preciso sonhar, já que ela vai, não é, ? – Valerik deixara a voz mais macia e baixa, chegando até a se adiantar para o sofá e tentar tocar o rosto da filha, que parou seu braço com as costas da mão. Não podia deixar seus dedos tocarem ninguém naquela sala, não precisava de mais ninguém comprometido. Petr estava sentado do chão a poucos metros das duas, a respiração ainda falha, mas ele estava causando aquilo. O que quer que Valerik tivesse feito com que ele visse, ele já havia se recuperado, e agora esperava o sinal de Thor para voltar para ação, já que notara o plano silencioso que se desenvolvera na sala.
- Vá em frente – incentivou , sorrindo mentalmente ao notar Thor parando próximo a eles, girando ameaçadoramente o martelo por seus dedos. Ela por sua vez ergueu a mão para que ele parasse, tanto com a ameaça como com a tentativa de a derrubar de vez. Sua curiosidade estava falando mais alto, queria ver até onde Valerik iria – Me faça querer conversar.
- Sei que você acha que está brava comigo... Mas eu só quero ajudar – disse ela, o rosto levemente contorcido em uma expressão de pesar, que não convenceu ninguém, especialmente a mais jovem na sala – Não pude interferir antes. Seu irmão estava com o Krigor, era arriscado. Infelizmente não pude ajudar com seu padrasto.
- Ah, você não...? – começou , teve que fazer uma pausa para rir descrente – Petr saiu da HYDRA faz semanas, e você sabe muito bem disso porque saiu na mídia. Mas a prisão do Krigor? Ninguém sequer sabe quem ele é, ninguém se importa. E você me aparece aqui uma semana depois que ele foi preso e quer que eu acredite que é uma coincidência? – o sorriso irônico sumiu de seus lábios, sua expressão passando rapidamente da indiferença até alcançar a raiva mal controlada, voltando a se apoiar no encosto do móvel onde estava, deixando seus rostos perigosamente perto – Não tente bancar a desinformada porque sei que você não é. Se quer mentir para mim, vai ter que se esforçar muito mais porque eu não vou acreditar em qualquer porcaria.
- Palavras corajosas para alguém que estava se escondendo atrás do namorado até agora – retrucou Valerik, imitando o tom baixo e profundo que a filha usara, falhando em notar que ela mal prestara atenção em sua ofensa. Foi algo de um breve segundo, mas notou uma oscilação na mãe. Até aquele momento, ela se deu conta, Valerik não estava controlando a suas ações por meio de seus poderes, e agora estava. O estranho era que tinha certeza que ela estava os utilizando desde que chegara – Krigor te avisou.
- Sim – respondeu a filha, e a mãe seguiu seu silêncio ao não entender o motivo de sua voz ter regredido para um tom mais amigável, até mesmo confuso. Aquele era um bom momento para se saber ler mentes.
- , você disse que ele estava mentindo – lembrou Tony ao fundo, tirando ambas de seus pensamentos.
- E ele estava. Krigor sempre assumiu que ela estava viva, mas nunca chegou a ter uma confirmação de fato – explicou a jovem, sem quebrar o contato visual com Valerik – Eu não estava apostando muito nisso, mas nada como estar preparada.
- Sempre um passo à frente... É um bom lugar, não é?
- Bom lugar vai ser de onde eu vou assistir você sendo presa. Ou esperava bancar a inocente? – debochou – É para isso que veio aqui? Tentar ser inocentada? Não vai acontecer.
- Ah, meu anjo... Tão inteligente e ao mesmo tempo tão ingênua – lamentou Valerik, unindo as sobrancelhas – Conheço meus crimes melhor do que ninguém, e não nego nenhum deles. Só que ainda tem algo que preciso fazer, e ajuda sua e de seu irmão vai ser necessária.
- Um favor, é disso que você veio atrás? E eu sou a ingênua... – zombou ela, cruzando os braços em frente ao peito – E por que nós te ajudaríamos logo você, que não faz por merecer tamanha bondade?
- Você não tem filhos, . E espero que você nunca precise sentir como é difícil abandonar um – lembrou a mulher, assistindo a filha ficar indiferente – Ter que sacrificar o futuro de um para que o outro possa pelo menos sobreviver. Foi isso que eu tive que fazer. Tive que escolher entre você e Petr.
- Se está tentando fazer com que eu fique com peso na consciência, definitivamente não vai funcionar.
- Eu não sou a vilã aqui, .
- Não, você é só a vadia – retrucou ela, pulando o encosto do sofá com sincronia dos movimentos de Petr e Thor.
Usando o sofá de apoio, chutou a mãe no abdômen, conseguindo a derrubar com o auxílio do irmão, já que Petr a segurava na altura dos joelhos. O russo se sentou nas costas da mulher e prendeu seus braços no mesmo instante que Thor se adiantou com a coleira, empurrando Petr para longe antes de fechar o dispositivo no pescoço da mulher já que a descarga elétrica acabaria passando para ele também. O próprio deus optou por se afastar também, para garantir que o choque fosse recebido apenas pela intrusa, assistindo assim como a dupla de irmãos Valerik se contorcer e depois seu corpo ficando imóvel.
- F-funcionou? – perguntou respirando rápido, buscando apoio no sofá à suas costas, suas unhas fincadas no tecido do móvel. Estava exigindo tanto de si para manter a concentração que, na menor possibilidade do inimigo ter sido neutralizado, seu controle se dispersara em um nível que talvez até tivesse dificuldades de dizer qual era seu nome – Ela ainda está viva ou...?

Capítulo 40


sorriu para Bruce assim que ele lhe entregou uma larga caneca com chá quente, se encolhendo ainda mais em sua cadeira assim que experimentou a bebida, aproveitando a falsa sensação de conforto e segurança que o líquido causara em seu corpo. Todos os Vingadores estavam espalhados pela sala de reunião, alguns cuidando de ferimentos – Natasha e Clint – e outros apenas ocasionalmente assistindo as imagens da cela de Valerik. Mesmo com a coleira ainda em seu pescoço, suas mãos algemadas à mesa estavam protegidas por uma grossa luva de metal, para garantir que não poderia tocar alguém com tanta facilidade. A mulher olhava com tédio para as paredes de vidro, à espera de seu interrogador, mas aquela decisão não tinha sido introduzida na conversa ainda.
Alguns tópicos ainda não estavam completamente claros para todos.
- Me diz mais uma vez, quais são as habilidades dela? – pediu Clint, gemendo baixo quando Natasha perfurou sua pele mais uma vez enquanto fazia a sutura em seu supercílio. revirou os olhos, colocando sua caneca sobre a mesa.
- As mesmas que as minhas, mais manipulação mental.
O arqueiro assentiu de leve, dizendo que havia entendido, apenas para segundos depois voltar a erguer a mão com uma dúvida, o que fez com que batesse a cabeça na mesa em desespero.
- Me explica de novo como ela pode conseguir manipular a mente de alguém.
- Magia – resmungou ela irritada, olhando feio para o irmão quando ele começou a rir descrente do outro lado da sala, parado próximo à porta ao lado de Steve – Que foi agora?
- Sério mesmo? Uma cientista acreditando em magia? – zombou Petr – Pensei que você fosse cética, ou algo do tipo.
- Tenho permissão para chamar sua mãe de bruxa? – se intrometeu Thor, tentando aliviar o clima pesado, até conseguindo arrancar um sorriso da mulher enquanto ela concordava.
- Magia e ciência são a mesma coisa, a diferença é que chamamos de magia algo que não sabemos explicar – esclareceu ela, buscando apoio do asgardiano, que assentiu contente com a forma que ela estava abordando o assunto – Eu não faço ideia de como ela pode fazer isso, então vamos poupar a dor de cabeça e chamar de magia no momento.
- Nenhuma suposição? – incentivou Natasha, terminando de colar uma tira de esparadrapo na testa do arqueiro para que a gaze não escapasse do lugar, voltando sua atenção em seguida para guardar todo o material que utilizara.
- Houve uma transferência de energia – lembrou Petr, buscando a confirmação com a irmã – Você não sentiu?
- Comunicação entre as células? Acha que ela consegue fazer isso com células de outras pessoas? – arriscou ela, mordendo as unhas enquanto tentava montar uma teoria aceitável. Aquela talvez até que desse para engolir, se forçasse bastante – Chega ao cérebro pelo sistema nervoso. Hackeia a mente da pessoa.
- Não me parece mais tanta magia assim... – alfinetou o russo, revirando os olhos quando a irmã devolveu um “mas não faz soar menos bizarro”.
- Acha que vocês vão conseguir fazer aquilo um dia? – perguntou Bruce, fazendo com que um silêncio desconfortável se instalasse na sala – , você consegue concentrar energia quando quer. Nos olhos, veias...
- Obrigada pela paranoia gratuita que você acabou de me dar, doc – agradeceu ela cínica, o leve desespero claro em seus olhos – Eu realmente precisava de mais.
- Alguém vai ter que interrogar a mulher – comentou Natasha, tomando seu lugar à mesa enquanto Bruce murmurava suas desculpas, o silêncio retornando em seguida, todos se revezando hora encarando um dos irmãos, que negaram em sincronia.
- Jokenpo? – sugeriu Petr, deixando os ombros caírem em cansaço e já colocando seu punho fechado sobre a palma aberta.
- Não! Nós não p... – retrucou com urgência, fazendo uma pausa para respirar fundo quando percebeu que estava mais alterada do que devia transparecer – Não dá para ser um de nós. Ela tem vantagem sobre nós.
- Ela não vai conseguir usar os poderes, por isso a coleira e as luvas – lembrou Tony, o olhar curioso em direção à filha. Ela estava escondendo alguma coisa, e no momento ele nem sabia se queria saber o que era. Já havia recebido informação demais na última hora, e, se tinha um motivo para estar ocultando algo, queria acreditar que ela tinha um bom motivo para isso.
- Ela quis dizer que vocês podem obrigá-la a parar os poderes, mas não podem parar a mente dela – explicou Petr, que no fundo concordava com o ponto da irmã. Eles podiam ser os mais qualificados para o interrogatório, mas isso não queria dizer que eles fossem os mais indicados – Esse é o maior problema, ela saber como nos manipular.
- Pensei que vocês fossem mais poderosos do que ela – alfinetou Clint, não conseguindo a reação que esperava da dupla. Pensou que eles ficariam ofendidos com o comentário, mas acabou que pareciam conformados, algo que não condizia com a personalidade dos dois.
- Sim, mas o que é determinante numa luta: força ou técnica? Nós somos bons, mas ela tem o que, trinta anos a mais de experiência do que nós? – lembrou , seu olhar baixo não abandonando as mãos que descansavam sobre suas pernas – Ela entrou pela porta da frente, sabia o que ia acontecer, está contando com um de nós aparecendo lá.
- Ela está dizendo isso porque está assustada, mas ela tem razão – Natasha intercedeu, ajustando a frequência do comunicador em seu ouvido e pegando o tablet para instruções que estava na ponta da mesa – É melhor eu ir.
Como ninguém se opôs a ideia, a russa logo deixou a sala e rumou para o elevador, se preparando mentalmente para o que esperava ser um dos interrogatórios mais exaustivos de toda sua carreira. Durante o treinamento de , em alguns momentos elas ficaram naquele mesmo cenário, e se lembrava muito bem de como era difícil conseguir arrancar informações da garota, principalmente com ela adquirindo mais tato com o passar dos anos. Agora ficava a dúvida de quanto tato Valerik teria, já que, como seus próprios filhos fizeram questão de frisar, ela tinha muito mais experiência do que eles. Dizer que precisava de toda a concentração que tinha ainda era pouco.
- Isso vai demorar, melhor irmos para um lugar mais confortável – sugeriu Steve, segundos depois que a ex-espiã deixou a sala, com todos concordando sem lhe dar muita atenção, já que estavam ocupados demais encarando a imagem da prisioneira na tela ao fundo. Aos poucos eles foram se dispersando, Petr até se adiantou para chamar a irmã, que continuara sentada em seu canto, mas parou quando o Capitão sinalizou para que não o fizesse. Sabia que tinha algo incomodando a mulher, e temia que seria pior se deixasse para tocar no assunto quando fosse dormir.
apenas ergueu o olhar quando percebeu o soldado sentando ao seu lado, praticamente implorando por sua atenção. Quando ele girou sua cadeira e passou um braço por de trás de seus ombros, a mulher não hesitou em passar para seu colo, descansando a cabeça em seu peito enquanto ele afagava seus cabelos.
- Você não consegue mais dizer, não é? Se eles estão mentindo ou não – perguntou ele em um sussurro, suspirando baixo quando ela assentiu – Outro ponto cego? Você disse que Krigor nunca teve certeza, mas...
- Eu perdi a imparcialidade – o cortou, impedindo que ele continuasse aquele raciocínio errado. Sua vida seria muito mais fácil se apenas se tratasse de outro ponto cego, aquilo era bem mais crítico – Vi o que eu queria ver, e isso poderia ter nos custado muito caro. Talvez não tivesse uma forma de nos prepararmos para ela, mas pelo menos não teríamos perdido tempo estando surpresos.
- Não é sua culpa.
- Você sabe muito bem que é. Eu fiz um mal julgamento, e acabou nessa situação – discordou, forçando suas palmas contra os ombros do soldado para se afastar, forçando um sorriso que sabia que não o convenceria – Mais um erro meu para lista.
Antes que ele pudesse insistir em inocentá-la, se pôs de pé, dizendo que tomaria um banho rápido para tentar pôr seus pensamentos em ordem antes de subir para se juntar à equipe e assistir o interrogatório. Steve gostara da ideia, principalmente por ser uma boa oportunidade de trocar a camisa que rasgara no combate, e uma ducha quente também não faria mal nenhum para relaxar os músculos tensos. Por ter deixado a mulher usar o banheiro primeiro, ele fora o último a subir da equipe, o interrogatório já em andamento quando chegara, as imagens da cela de Valerik mostradas na ampla TV.
- Krigor sabia desde o começo que eu não tinha sido eliminada. Fingir que eu tinha sido foi uma forma de me torturar. Ele sabia que estava fora da jogada, que nenhum de nós ia conseguir recuperá-la uma vez que ela estava com os Stark, sabia que Petr era o próximo que eu tentaria resgatar... – Valerik fez uma pausa longe, respirando fundo antes de olhar brevemente para a câmera que registrava as imagens e voltando olhar para sua interrogadora – Krigor sempre teve o garoto em suas mãos, pronto para machucá-lo caso eu ousasse fazer um movimento suspeito. Fazer com que os dois acreditassem que eu estava morta era apenas mais um jeito de controlá-los.
- O que vocês estão fazendo? – perguntou Steve, assim que chegou perto o suficiente para avistar o trio que dividia o sofá lateral. estava no meio dos dois homens, com a cabeça descansando no ombro de Tony e os dedos da mão direita entrelaçados com os de Petr.
- É nossa última alternativa... Se juntar e desejar junto a mesma coisa do fundo do coração – explicou o russo, com um vestígio de sarcasmo em sua voz – Quem sabe a gente consiga por quantidade, já que qualidade aqui está meio difícil.
- E o que estão desejando? – questionou o soldado, parando com as mãos na cintura próximos a eles, decidindo entrar na brincadeira.
- Que algum de nós ganhe um novo poder – explicou , só então tirando os olhos da tela para se virar para ele – Sabe, para voltarmos para a realidade onde ela continua morta.
- E agora nós pegamos o cara – concluiu Natasha – Você pode andar livremente.
- Aparentemente ele andou avisando os coleguinhas de que eu ainda estava viva, e que seria muito útil em certos experimentos que eles estão fazendo.
- Strucker
– foi o palpite da ruiva, sua desconfiança clara mesmo em uma imagem tão distante.
- Eles acreditam que eu vá saber lidar com o tal cetro melhor do que eles.
- Ela está mentindo? – perguntou para o irmão. O que o cientista alemão poderia ter contra ela? – Parece que ela está mentindo.
- É difícil dizer dessa distância, . Sossega – resmungou o homem, mas ele estava tão incomodado quanto sua irmã caçula.
- Você veio atrás de proteção?
- Aprendi do pior jeito que não é uma boa ideia subestimar a HYDRA.

Natasha esperou por poucos segundos alguma notificação piscar em sua tela com mais algum tema que deveria abordar. Sabia que já tinha esgotado todos os temas essenciais, e que não era aconselhável dar muita brecha para a prisioneira, ou ela poderia arrumar um jeito de virar a situação a seu favor. O fato de Valerik parecer estar absolutamente confortável com a situação fazia com que seus instintos apitassem o tempo todo. Ela tinha um plano, o problema era como eles o descobririam sem que fosse o vendo em ação.
- Minha pergunta é bem simples – anunciou Natasha assim que retornou para a sala, nem se dando ao trabalho de se sentar primeiro –: Ela está mentindo ou não?
- Só que a resposta é que não é simples, Romanoff – suspirou Petr, afundando uns bons centímetros no sofá. Já havia repetido tantas vezes aquela explicação nas últimas horas que até considerava gravar a resposta e deixar que J.A.R.V.I.S. assumisse, embora suspeitasse que até o sistema logo se irritaria por ter que repeti-la incontáveis vezes – Ela é habilidosa, mais do que eu e . Ela sabe como manipular as respostas para soar como verdade.
- A pergunta não é essa... – interrompeu o que estava prestes a se tornar uma discussão entre dois, assumindo pela postura mais irritadiça de Natasha – O que ela ganha dizendo essas coisas? O que ela ganha vindo até aqui?
- Desenvolva – pediu Bruce de imediato, contente por enfim terem desistindo de bater na mesma tecla e talvez estarem agora no caminho certo. Não dava para tudo dar em um beco sem saída, em algum lugar tinha que ter uma solução.
- Ela passou os últimos vinte e cinco anos se fingindo de morta, afastada da HYDRA. Nada do que ela disse é novidade ou algo que possa nos ajudar. Mesmo assim ela veio direto para nós, mal lutou... – parou para olhar feio para o arqueiro quando ele contestou o “mal lutou”. A mulher não precisava ter parado para conversar com eles durante a invasão, ela simplesmente não queria lutar – Qual a motivação? Ela poderia ter continuado vivendo a vida patética dela.
- Ela sabe que estamos nos perguntando isso, e só piora a situação. Ela não está dois degraus acima, é a desgraça da escadaria toda – acrescentou Petr pensativo – Ela sabe todas as variantes, não teria vindo aqui desconhecendo alguma possibilidade.
- Ela disse q... – começou Bruce, apenas para ser brutalmente interrompido pela caçula do grupo.
- Não, escolha errada – avisou. Aquele jogo não era deles, era de Valerik. Se jogassem da forma que ela queria, nunca iriam ganhar – As palavras dela não são confiáveis. Ela sabe que não vamos acreditar em nada que ela d...
Valerik sabia que nenhum dos dois acreditaria em uma palavra que saísse de sua boca, sabia que precisaria de um outro meio para conseguir a atenção de seus filhos, e havia sido a escolhida, mesmo agora percebendo que queria continuar na ignorância. Não iria sair coisa boa daquilo, e tudo que ela mais queria era distância.
- Filha da p... – ofegou ela, sem perceber que se virara para seu irmão, que ficou assustado ao ver a mulher com os olhos marejados. precisava de uma máquina do tempo, talvez dar uns três tapas na cara para que sua versão do passado desistisse de bancar a detetive.
- ... O que foi? – perguntou Pert com cuidado, desconfortável com a reação da irmã – O que você descobriu?
- Tem um caixa de madeira escura dentro do meu closet... No meu quarto, não do Steve – começou ela, tentando controlar sua respiração naturalmente. Tony ao fundo fez menção de se pronunciar, mas desistiu – Tem uma coisa lá dentro que acho que vamos precisar. Vai lá pegar, por favor.
- Para q...?
- Pete, por favor!
O homem ergueu as mãos em um movimento rápido, pedindo que ela se acalmasse, logo seguindo para o elevador para não perder tempo. Tony dera a entender que ia voltar a questioná-la, mas a mulher logo sinalizou para que esperasse. Petr ainda estava muito próximo, e, se suspeitasse de algo, colocaria tudo a perder.
- ... – começou Tony, ciente de que algo estava muito errado, principalmente quando viu a filha se pôr de pé e começar a andar de um lado para o outro – Por que você mandou ele buscar sua caixa de fotos?
- J.A.R.V.I.S., protocolo de segurança 3983 – Tony não reconheceu de imediato o comando que a mulher estava dando, e apenas ficou mais confuso quando entendeu o que ela pedia – Tranque o quarto assim que ele entrar.
- ...
- Shhh... eu preciso pensar...! – resmungou ela, levando ambas as mãos às têmporas e apertando a região, tentando restabelecer uma concentração que sabia ter escapado por entre seus dedos. Aquilo não era nada bom. A ideia principal era conseguir ter alguma vantagem sobre Valerik, não lhe dar uma – Droga, ela conseguiu.
Alguns questionamentos foram proferidos, mas nenhum chegou a conquistar sua atenção. Mentalmente, ela tentava esquematizar algum roteiro de perguntas, identificar pontos em que a mãe poderia se aproveitar para tirar vantagem, ou que não permitiria que fossem abordados. Mais do que nunca precisava estudar todas as variantes. Não queria nem pensar no que poderia acontecer caso desse um passo errado, embora duvidasse que Valerik tivesse planos de catástrofe de nível mundial, mas temia pela sua sanidade.
- Interrompa a comunicação com a cela dela – pediu ela para J.A.R.V.I.S., tirando seu comunicador do ouvido e apertando alguns botões antes de o posicionar novamente, dando alguns passos para longe do grupo mesmo sem olhar para o chão – Se a situação sair de controle, eu ligo meu canal de novo. Ou grito, sei lá.
- Ow, espera... Você vai entrar lá? – indagou Steve com urgência, segurando seu braço antes que ela saísse de seu alcance – Você disse mais cedo que isso era uma péssima ideia.
- Tenho que admitir que ela é mais esperta do que eu pensava.
- E isso é motivo para você entrar lá? – retrucou o soldado, a mulher revirando os olhos diante de tanto sarcasmo em poucas palavras. Em um movimento rápido, se livrou do aperto que ele fazia em seu braço, se afastando um passo antes que ele pudesse pensar em repetir o movimento.
- Ela conseguiu. Eu quero falar com ela – disse ela, olhando para cada membro da equipe mesmo sabendo que não encontraria apoio em nenhum deles – Ela veio aqui para conversar, e ela conseguiu minha atenção.
- Como? – questionou Clint. O arqueiro sabia muito bem que ela era capaz de perceber detalhes que o restante das pessoas sequer era capaz de notar, mas parecia ter algo a mais naquela história. havia finalmente encontrado alguma informação importante que mudava sua percepção das coisas, só que sua postura não era confiante, e ela não estar se esforçando para disfarçar isso era apenas um indício de que aquilo não era uma boa ideia. Se não a conhecesse bem, Clint diria que ela estava assustada.
- É entre eu e ela – foi a resposta que escolheu, que causou uma reação curiosa em Tony: ele começou a rir.
- Então ela volta dos mortos e dez minutos depois vocês já têm segredinhos mãe e filha? – disse ele com calma, mesmo que nada disso transparecesse em seus olhos. Tony estava possesso e agradecia não ter nada por perto que pudesse quebrar, ou faria um belo de um estrago. Toda a confusão da aparição repentina de Valerik já havia passado, e agora ele só sentia ódio, e até que estava fazendo um trabalho melhor do que esperava para se controlar. Normalmente quando alguém morre, as pessoas têm certa resistência para manter as memórias do que o falecido vez de ruim, acabam o elevando a um nível a que nunca fez por merecer. Lauren Smith nunca tivera esse problema, mesmo quando viva já era posta em um pedestal, algo em que ele não via problema nenhum. Só que as coisas mudaram no instante que ele foi obrigado – depois de muita relutância e gritaria – a aceitar que a perfeita Lauren não passava de uma cientista da HYDRA. Tony agora tinha dois nomes para dividir o ódio e a culpa por tudo de ruim que acontecera com sua filha, mas logo percebera que aquele sentimento apenas aumentara de proporção.
- Sim, e, como você pode ver, estou muito feliz com isso – grunhiu , fuzilando o pai antes de voltar a caminhar para o elevador, sem ninguém mais se opondo – Vou ser o mais breve possível, prometo.
Steve a acompanhou com os olhos até as portas se fecharem, deixando todo o ar que seus pulmões armazenavam abandonar seu corpo de uma vez, buscando Tony no fundo da sala em seguida para o questionar se ia mesmo permitir que as duas ficassem no mesmo espaço sem supervisão, até respirando mais aliviado quando ele devolveu um descrente “o caramba que vou”.

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Valerik estava quase tirando um cochilo com a cabeça apoiada na mesa de metal quando ouviu sons discretos de alguém se aproximando, aos poucos seus sentidos cansados diminuindo a lista de possibilidades. Romanoff passara um bom tempo ali, e, além de duvidar que retornaria tão cedo, já estava acostumada com os sons que seu corpo produzia, então definitivamente não era ela. Os passos eram leves demais, o que também já tirava a parte não treinada dos Vingadores da lista, porém a presença era discreta demais, o calor que o corpo perdia para o ambiente bem menor do que o considerado ideal, o que diminuía as possibilidades para duas pessoas. Quando debatia se erguia a cabeça para descobrir de uma vez ou se tentava identificar pelo olfato, a pessoa se sentou na cadeira vaga do outro lado da mesa.
- Você acha que me conhece muito bem, não é? – a voz calma e baixa de sua filha chegou a seus ouvidos, a fazendo sorrir antes de se sentar direito. Ela estava irritada. A afirmativa que trouxera era verdadeira e parecia ser algum tipo de ofensa. estava tentando mascarar, e até estava fazendo um bom trabalho, mas a percepção de Valerik a superava – Você entrou nesse prédio consciente de que eu não acreditaria em nada que você pudesse manipular, que não haveria nada que dissesse que fosse me fazer mudar de ideia, que eu só confiaria naquilo que está fora de sua zona de controle...
Na sala alguns andares acima, Tony quase enviou Steve e Thor para interromperem a cena durante aquela pausa, vendo ambas as mulheres esboçarem o mesmo sorriso. Satisfação estava expressa no rosto das duas, e, mesmo que não soubesse dizer o motivo, aquilo lhe causava uma sensação ruim. Se não soubesse melhor, poderia pensar que estavam tramando algo, o que era a interpretação mais errônea possível. Valerik na verdade estava surpresa. Sabia que a filha ainda não tinha terminado de explicar seus motivos por ter descido, mas pelo rumo daquela conversa, ela já sabia onde iria chegar.
- Irônico que você mesma está fora dessa zona – apontou a jovem – Sabia que só assim eu aceitaria ficar no mesmo ambiente que você mais uma vez.
- Você me superestima, ... Não esperava que você fosse concordar, talvez porque eu possa ter te subestimado – confessou a mulher, institivamente puxando as mãos para poder puxar sua cadeira para mais perto da mesa, bufando baixo quando o barulho do metal a lembrou que nada tiraria seus membros dali – Não imaginei que você fosse compreender tão rápido. Para perceber esse detalhe... É necessário um grau de atenção imenso, não pensei que você já tivesse.
- Há uma diferença essencial entre nós – continuou , optando por ignorar a bajulação da mulher. Aquilo a deixava enojada, Valerik não tinha o menor direito de comentar suas habilidades quando ela a forçara a ser daquele jeito – A coleira em seu pescoço foi feita para mim, ela só se ativa quando detecta o uso de poderes. Só que os seus não funcionam como os meus. Eu posso ligar e desligar, mas você, assim como o Petr, não consegue. É ligado o tempo inteiro. Pelo menos as mais essenciais.
quase riu ao notar a movimentação na sala, com alguns gritos que ela entendera como “então a coleira está sendo só um enfeite?!”, embora não pudesse julgá-los por aquele pensamento também ter lhe ocorrido momentos antes, apenas para respirar aliviada ao perceber que não havia nada que Valerik poderia fazer fisicamente para a ameaçar. As palavras eram sua única arma, e felizmente também tinha bastante munição.
- Você teve o topete de entrar nesse prédio usando o mínimo de habilidade possível, e eu não notei... Pelo menos até você começar a usar de verdade – prosseguiu com suas teorias, repassando mentalmente a memória recente apenas para garantir que estava deixando algo passar – Eu te irritei, aí você teve que apelar para manter a imagem de durona. Eu te disse algumas verdades e você perdeu a linha. Mentirosos não gostam de ser desvendados, não é?
O sorriso da mulher se alargou quando Valerik respirou fundo, no mínimo mal-humorada. Ela não queria dar o gostinho para a filha de repetir o que fizera mais cedo, iria se acalmar sem ajuda de suas habilidades. já não precisava mais de provas, sabia que estava certa em suas colocações, só que também não precisava deixar que ela se sentisse ainda mais confiante por saber que conseguia a tirar do sério. Talvez agora ela não julgasse mais tanto Tony, conviver com aquela garota não deveria ser tão fácil como uma vez imaginara.
- Eu não sei dizer se é vantagem ou desvantagem, já que eu prefiro poder sentir a dor para me colocar de volta no meu lugar, mas talvez seja porque eu esteja um pouco perto demais na insanidade... Bom ponto para falar com minha psicóloga depois, ela vai adorar esse tópico – fez uma breve pausa ao perceber a digressão, mas a animação não deixou o rosto. Era um tanto confuso por um lado, já que a conclusão a que chegara não era nada boa, mas seu lado curioso não conseguia conter a satisfação depois de desvendar o mistério que lhe fora entregue – Só que você não tem essa escolha, não é? Se eu estivesse no estado que você está e com a coleira, eu estaria gritando e me contorcendo no chão. E sabe o que é curioso? Petr não estaria. No momento, ele está com o herumus trincado bem próximo ao ombro, mas ele está agindo como se nada tivesse acontecido porque não está atrapalhando no momento, e o osso vai ter que se colar sozinho de qualquer jeito.
Tudo que Valerik lhe deu como confirmação foi silêncio, incentivando que ela continuasse ou debochando de suas suposições, caso estivesse errada. Era difícil dizer. Mesmo que ela não estivesse mascarando suas reações, a mulher não era difícil de ler.
- Você está sofrendo, constantemente. Cada célula do seu corpo está emitindo sinal de dor, mas você não sente, porque você não tem essa habilidade, não é? É desnecessária, se for pensar bem – continuou , depois de respirar fundo e ficar um pouco mais séria, já que agora estava adentrando em um tópico um pouco mais delicado, se aproximando do desfecho – Se formos pensar em termos teóricos, eu sou a ultrapassada nessa linha de evolução, já que para que eu iria precisar sentir dor se sei diagnosticar o problema sem esse artificio? E eu não estou acreditando que eu precisei de quase seis meses e você chutando a porta da frente para algo que inconscientemente eu já sabia desde o começo.
desapoiou os braços da mesa e deixou suas costas descansarem no encosto, visualmente mostrando que era a vez da prisioneira tomar a dianteira da conversa, coisa que não aconteceu de imediato. Ela apenas ficou encarando-a, seus olhos ainda mais escuros que os delas nunca abandonando os seus, como se tivesse algo ali para ser decifrado.
- Então, parabéns – disse ela, sorrindo para disfarçar seu desconforto – Você queria minha atenção, e agora você a tem. Agora se explique.
- Faça meu diagnóstico.
- Você está morrendo – disse sem pensar duas vezes, sequer se dando ao trabalho de se irritar com a mulher parecer ignorar o que ela falava – Todas suas células estão debilitadas. Não sei dizer a causa. Não é câncer, não é algo que se propaga, provavelmente é algo que começou simultaneamente e em todas as células. Nunca ouvi sobre algo desse tipo.
- Você é realmente especial, ...
- Chega! – exigiu a jovem, surpreendendo Valerik, que olhava para ela confusa. Sabia muito bem como irritar a filha, mas dessa vez não estava sequer tentando – No menor desvio de assunto que você fizer, eu saio dessa sala. É um aviso. Agora explica.
- Eu estou explicando: você é especial – Valerik repetiu, sorrindo em compaixão pela confusão da filha. Ela era inteligente, claro, mas sua ingenuidade era perigosa, impedia que ela visse o cenário com uma visão mais ampla e objetiva. No fim das contas, ela continuava uma criança – Você disse que estaria ultrapassada na linha evolutiva, mas eu duvido. Agora entendo porque Krigor se empenhou tanto em te ter em sua posse. Você vê... O que corre em minhas veias, nas de Petr, e até nas suas, não é o soro que foi usado no Soldado Invernal, muito menos o que foi usado no Capitão América. Não, foi um soro incompleto, em fase de testes... Eles não são boas comparações, se somos parecidos com alguém, seria...
- O Caveira Vermelha – completou quando a mãe fez uma breve pausa, como se temesse terminar o raciocínio. Mesmo sem as versões de Steve, ela já tinha conhecimento de toda aquela história, já que em alguns pontos não só envolvia seu avô e Tia Peggy, mas como o próprio surgimento da S.H.I.E.L.D., e ela quisera saber de tudo assim que ingressara na agência. Mesmo sem querer, ficou minimamente abatida. Não era todo dia que se é comparada com uma das ameaças da Segunda Guerra, e não era muito agradável.
- Eu e Petr, sim. Você não – Valerik tratou logo em corrigir – Se formos separar em grupos, você fica no mesmo que Barnes e Rogers. É quase uma brincadeira do destino você e Rogers terem acabado um do lado do outro mesmo com a barreira do tempo. O segredo nunca está no soro, está na pessoa.
riu já cansada daquela conversa, passando a mão pelo rosto enquanto bufava. Só faltava ela dizer que o segredo estava no coração para terminar de citar o Erskine e fazer com que todos perdessem a paciência de vez. Ela pelo menos estava.
- Me diga, ... – suspirou Valerik, depois de notar a má vontade da filha em acrescentar algo na conversa muito espirituosa que estavam tendo – Você ficou um longo período sob o domínio da HYDRA, depois de décadas eles tinham a esperada cobaia de novo em suas mãos. Quantos experimentos eles fizeram? Quantas variações se soro?
- Eu parei de contar depois da segunda vez.
- E nenhum deles te matou, pelo visto – comentou a mais velha, praticamente já vendo a resposta que esperava da filha saindo de sua boca.
- Não é como se não tivessem chegado perto.
- Exatamente. Perto – repetiu Valerik, um entusiasmo em sua voz que ela nem tentara esconder. Seu lado cientista queria compartilhar aquela teoria que vinha aperfeiçoando há anos, era o momento – É exatamente o mesmo mecanismo com que você se recuperou das perdas de memória. Quantos anos demorou para que seu irmão recuperasse as memórias, e quantas semanas você demorou? A ameaça chega, e te derruba. Você aprende como funciona, a derruba, e fica mais resistente a ela. Não são os soros que eles injetaram em você que te deixaram mais forte... Eles são apenas desafios para o seu organismo. Você se fortalece sozinha. E essa é uma diferença essencial entre você e nós. Nós três tomamos o mesmo soro, e ele é letal para os três. Só que enquanto o meu organismo e o de Petr o aceita, deixando ser alterado e usufruindo dessa força que vem com um custo muito alto, o seu se fortalece lutando contra ele.
- O que está te enfraquecendo é o soro – concluiu , mal assimilando todas as informações que recebera. Teria muito tempo para pensar a respeito de como seu organismo funcionava, o foco agora era seu irmão. Ele era igual a Valerik, ela própria tinha dito isso antes, o problema também se estendia a ele. Seu subconsciente sabia desde o começo o que tudo aquilo significava, mas era diferente quando não se tinha outra opção além de aceitar a realidade.
- Quase poético – brincou Valerik, a tirando de seus devaneios.
- Ainda não explica o que veio fazer aqui – lembrou a mais jovem, balançando a cabeça de leve para tentar voltar a sua postura anterior. Não podia fraquejar na presença da mulher, precisava manter a concentração – No estado que você está, duvido que possamos fazer alguma coisa, e tenho certeza de que não querermos.
Os cantos dos lábios de Valerik se ergueram, seus olhos com um brilho travesso.
- Quer ouvir a mentira que eu tentei me convencer ou a verdade? – ofereceu ela, tendo apenas como resposta a filha erguendo a sobrancelha – Não pensei que você fosse pegar a dica tão fácil, mas que talvez você fosse se lembrar disso no futuro, quando percebesse as complicações no estado de seu irmão. Que saber que eu passei pela mesma coisa ajudaria em algo.
- Me deixa arriscar... – suspirou cansada, sequer dando o trabalho de analisá-la – Essa é a mentira.
- A verdade é que eu sou egoísta, e queria ver vocês uma última vez – confessou ela – Sem ser por fotos.
respirou fundo, uma, duas vezes antes de apoiar as mãos na mesa e se levantar, o ruído da cadeira sendo forçada para trás fazendo com que Valerik fechasse os olhos. Não podia mentir e dizer que não esperava uma reação daquelas da filha, até esperava piores, com ela esperneando e gritando como a boa menina mimada que era. Ela estava apenas mais uma vez provando como estava errada a seu respeito. Claro que tinha fé, mas em nenhum momento acreditou que praticamente sozinha iria controlar a situação na HYDRA, ainda mais conseguir tirar seu irmão junto. Ser capturada pelo Soldado Invernal e de alguma forma ainda conseguir manipulá-lo? Valerik teria que aceitar que estava delirando caso considerasse aquilo. Não havia mentido quando dissera que a subestimara. A garota recebera o mínimo possível de instruções, e aparentemente se saíra melhor do que ela em alguns quesitos, que fora treinada a adolescência inteira. Tinha que dar algum crédito a ela, mesmo que não fosse aceitar com facilidade.
- Por que você continua me chamando pelo nome americano? – questionou ela, assim que a mãe a chamou, pedindo que não deixasse a sala. Com um leve indício de irritação em sua seriedade, a jovem se virou com os braços cruzados – Krigor sequer consegue pronunciar sem parecer que está morrendo, e o Pete às vezes ainda faz careta.
- Seu pai não te contou? Seu nome original te trouxe nada menos do que dor. Não queria que você crescesse com ele – contou Valerik, o cenho franzido em confusão, mesmo que fizesse sentido que ela não soubesse daquela história. Pensando bem, talvez nem Tony soubesse, já que o pedido fora feito diretamente aos pais dele – poderia ter o mundo inteiro de possibilidades a sua espera, já Dominik estava destinada a coisas cruéis. Foi o principal motivo de ter tirado da HYDRA, pensei que já tivesse entendido isso.
não respondeu de imediato, rapidamente se questionando se seu pai realmente sabia daquilo tudo e resolvera não compartilhar, logo identificando o que realmente estava a irritando naquela história, e, como de se esperar, era as ações contraditórias.
- Eu realmente não te entendo... Sei exatamente que tipo de reação você espera de mim, mas ao mesmo tempo parece que você espera algo a mais – comentou , antes que seu lado mais racional conseguisse lhe convencer que confrontá-la era uma péssima ideia. No fundo ela sabia que aquela era a única chance que tinha de dizer tudo o que queria, que tanto não teria permissão para descer ali uma outra vez, como também ela ficaria tanto tempo no prédio, além de duvidar que fosse viver tanto para conseguir persuadir a todos para que poder ficar mais uma vez no mesmo espaço que a mãe. O fato de que também não iria querer era algo a ser considerado – É patético, especialmente para você. Você escolheu por tudo isso, não importa o tipo de mentiras que você se convenceu nos últimos anos. As coisas poderiam ter sido completamente diferentes, e talvez assim você fosse ser digna de pena. Então me poupe.
Valerik não se opôs quando a filha voltou a lhe dar as costas e saiu da sala, e até duvidava se ela pararia caso tivesse a chamado mais uma vez. Claro que havia algumas coisas que ainda gostaria de perguntar a ela, talvez como Barnes estava, se sabia da sua localização e se ele estava seguro, apenas para quietar um pouco sua consciência. Porém ela sabia que seria a última vez que teriam a oportunidade de conversar, e que tinha conseguido o encerramento de que precisava, e aquilo já era suficiente para ela. Um já fora, faltam mais dois.
Três, na verdade.

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teve que se controlar para não xingar Deus e o mundo quando percebeu que Petr estava de volta na sala com o restante da equipe, o clima pesado evidenciando que talvez tivessem desconsiderado seu pedido de não monitorarem a conversa, mas na verdade estava cansada demais para discutir com alguém. Precisava de sua cama e várias horas de sono sem interrupções, embora duvidava que fosse conseguir. Sua mente tinha um longo histórico de a torturar em momentos de pressão, dificilmente aquele seria diferente.
O silêncio pesado permaneceu mesmo quando ela entrou na sala, parando atrás do sofá onde Tony, Steve e Petr estavam desconfortavelmente sentados, todos com as posturas tensas.
- Envelhecer é para quem merece, , e não acho que estou nesse grupo seleto – disse o russo, assim que percebeu que a irmã finalmente tinha conseguido escolher o que dizer, provavelmente alguma coisa para lhe dar esperanças de uma salvação. Sabia que ela tinha boas intenções, mas não queria sua pena – Se eu sobreviver até à idade dela, para mim já é vitória, então nem estressa.
concordou irônica, desviando o olhar assim que ele se colocou de pé. A mulher sabia que seu estado não era assim tão digno de pena, mas pelo menos a coloração de seus olhos não estava sob seu controle, aquele tom avermelhado a entregando, um aviso prévio para qualquer um tomar cuidado com as palavras que diziam caso não quisessem ter que a consolar aos prantos. Talvez ações também pudesse entrar naquela, já que seu irmão rumando para o elevador causou o mesmo efeito. Sabia muito bem para onde ele queria ir, e não tinha como concordar com aquilo.
- Não ouse tentar me parar, – avisou ele com a voz bem mais controlada do que a da mulher, que quase revirara os olhos quando sua voz saíra falha ao tentar pará-lo. O leve toque em seu braço logo sumiu ao perceber a hostilidade que Petr transmitia, e como era direcionada a ela – Você se acha tão inteligente, mas ainda não entendeu, não é? Você tem todo o direito de ficar puta com ela, mas você não se lembra. Então eu tenho todo o direito do mundo de falar umas poucas e boas para ela, e é melhor você não tentar me impedir.
O silêncio retornou assim que Petr deixou a sala, e agradeceu ninguém tentar aliviar o clima ou lhe fazer alguma pergunta para a fazer se sentir útil. Precisava passar por aquilo da maneira mais difícil, sem atalhos. Se tentasse deixar aquela confusão de sentimentos para uma outra hora, talvez fosse realmente perder a sanidade, dessa vez sem volta.
- Vocês monitoram a conversa para mim? – pediu ela depois de um tempo e um longo suspiro – Não tenho cabeça para isso no momento.
Várias afirmações em concordância ecoaram pelo ambiente, em um tom prestativo demais que até fez com que ela soltasse uma risada fraca antes de seguir para o elevador. Assim que a única russa no local passou a ser Natasha, todos soltaram a respiração que nem haviam percebido que prendiam.
- O negócio ficou bem mais pesado do que esperava... – comentou Clint, as mãos passeando pelos cabelos e os olhos levemente arregalados. Seu olhar caiu em Tony no outro sofá, seu olhar sem foco perdido em algum lugar no tapete, estado que ele notara o homem estar há uns bons três minutos – Tony, você está legal?
- Ainda assimilando, mas provavelmente não.
- O que vamos fazer com ela? – perguntou Natasha, fechando os olhos cansada quando percebeu que eles entenderam que ela se referia à Ivanov errada – Valerik precisa ser entregue à autoridades. Ela tem alguns bons crimes para responder, até onde me lembro.
- Vou entrar em contato com a OTAN – anunciou Steve, soltando um gemido sofrido ao forçar os braços para se levantar, seus músculos o punindo pela posição que mantivera por muito tempo, além da postura tensa demais. O soldado até tentara relaxar um pouco enquanto buscava um tablet perdido no andar, só que o aviso de J.A.R.V.I.S. que viria a seguir faria com que ele travasse completamente no lugar.
- Cap. Rogers, acredito que a Srtª Stark esteja se direcionando para o telhado do prédio.
- Essa foi uma tentativa amigável de me chamar de suicida, J?
– a voz de ecoou no ouvido de todos, que não sabiam se respiravam aliviados ou mais preocupados – Não foi tão amigável.
De qualquer forma, Steve rapidamente pediu para que outra pessoa falasse com a OTAN e para que Tony deixasse que ele lidasse com aquilo dessa vez, já que o patriarca da família também não estava no melhor estado. O soldado optara pelas escadas para tentar controlar sua ansiedade, além de que também o elevador não o levaria até o telhado.
Assim que chegara lá, o vento frio da noite logo o recepcionou com violência, por se tratar de um dos locais mais altos da cidade. Localizar não foi muito difícil, já que ela sequer saíra da linha da porta, apoiada na proteção do prédio para que ninguém caísse por acidente, os cabelos soltos seguindo qualquer direção que a ventania quisesse, vez ou outra tentando colocar um punhado de fios atrás da orelha quando eles ficavam muito em seu rosto.
- Você não está pensando em pular, não é? – perguntou ele um pouco mais alto mesmo parando ao seu lado, já que o barulho dos carros lá embaixo e o zumbido do vento em seus ouvidos atrapalhavam um pouco – Não estou com o escudo e seria muito idiota pular atrás de você sem ele.
- Claro, porque com o escudo pular do prédio fica menos idiota – retrucou ela, tentando soar brincalhona, mas sabia que iria falhar antes mesmo de abrir a boca. Steve passou um braço por de trás de suas costas em um movimento que só aparentava ser confiante, incerto se ela iria querer ou não ainda mais aproximação. Talvez ele não esperasse que o frio que fazia ali estivesse a incomodando, ficando um pouco surpreso, embora mais tranquilo, quando ela se alinhou contra seu corpo – Daqui de cima todos os ruídos da cidade parecem mais altos para mim, sabia? Consigo ouvir do quarto, mas bem mais abafado. Pensei que talvez ouvindo eles sem interferência fosse ocupar de vez a minha mente... Me enganei.
- Como você está?
- Não estou – ela riu sem humor, os olhos passeando pelas poucas estrelas que conseguiam superar a iluminação da cidade – Sabe, estou começando a sentir falta de quando Loki era o maior dos meus problemas. Ignorância é realmente uma benção. Algumas coisas realmente deveriam permanecer desconhecidas.
- Seria o caminho mais fácil, e nós não exatamente gostamos das coisas facilitadas, não é? – brincou ele, mas dessa vez a mulher não o acompanhou na risada.
- Eu não sei o que fazer, Steve. Dessa vez realmente não sei – desabafou ela, ficando agora de frente para Steve, as costas contra a proteção. Em seus olhos, logo notou que ele se sentia de mãos atadas tanto quando ela – Para falar a verdade, nem há o que fazer... Valerik está presa e morrendo, Krigor também está preso e espero que morra logo mesmo merecendo uma vida longa de sofrimento, nós estamos mais perto do que nunca de finalmente derrubar a HYDRA e recuperar o cetro, mas eu me sinto perdida. Sem saber que passo dar.
- Ei... Valerik te abalou, isso era de se esperar – lembrou ele, a mão livre acariciando seu rosto – Você cresceu com a informação de que sua mãe estava morta, e acabou que ela ainda nunca foi que você imaginou que ela era. Não faço ideia de como você está aguentando tudo isso tão bem.
- Eu não estou.
- Mas parece – insistiu Steve, sorrindo para tentar animá-la, apertando seus ombros de forma carinhosa – Você tomou a dianteira, tentou proteger seu irmão... Sei que você não está sentindo, mas você está lidando com tudo com a cabeça no lugar, mesmo que o coração não esteja.
- Não quero perder o Pete. Tem muito mais o soro no organismo dele do que no de Valerik e... – o nome da mãe aparecer em sua fala fez com que se controlasse um pouco mais, respirando fundo e olhando para cima para diminuir a quantidade de lágrimas que seus olhos haviam começado a acumular – Ela diz que se importa conosco, mas a única coisa com que ela se preocupa é com ela mesma, e ela não foi capaz de se salvar. Ela já tinha anos de experiência nessa área, e teve muito tempo livre, e mesmo assim não conseguiu. Se ela não achou uma forma de parar isso, duvido que eu consiga.
- Desistir antes de lutar não parece em nada com você. Você está com medo e eu entendo, mas essa não é a falando – disse Steve sério, mesmo que seu tom de advertência estivesse muito mais amigável do que de costume – Valerik era uma só, só podia contar com ela mesma. Nós somos uma equipe. Bruce te ajudou com o antídoto e teve sucesso, e, como a própria Valerik disse, há três organismos aprimorados que servem de exemplo, e acontece de dois deles serem você e eu. Se encontrarmos Bucky um dia, teremos os três. Se tiver um jeito de salvá-lo, nós vamos. Tenha um pouco de fé.
assentiu sem muita convicção, mas Steve já esperava aquilo. Ela precisava de um pouco mais de tempo, acontecera muita coisa em um espaço de tempo pequeno demais, era mais do que compreensível. Com cuidado, ele a envolveu com o outro braço, a mantendo próxima enquanto beijava seus cabelos, logo sentindo as mãos dela segurarem o material de sua camisa em suas costas.
- Você veio aqui pelo ar livre e pela barulheira, que tal nós sairmos do prédio um pouco? Pegar um filme ou só andar no parque? – sugeriu ele depois de um tempo – Você precisa espairecer.
- A ordem de “ não pode deixar o prédio” foi revogada? – estranhou a mulher, sua voz abafada pelo rosto contra o peito de Steve fazendo com que ele risse de leve.
- Não... Isso é um problema?
esboçou um sorriso que ele julgou verdadeiro enquanto se afastava minimamente para fitar seu rosto.
- Qualquer dia alguém vai me acusar de corromper o Capitão América... – comentou ela, seu olhar automaticamente abaixando para os lábios do soldado quando ele abaixou o rosto em sua direção – Você costumava seguir ordens.
- Ordens que eu acredito que valham a pena serem seguidas, é diferente – lembrou ele, a puxando pela mão em direção à porta depois de um beijo rápido.

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Tony sabia muito bem que não iria conseguir dormir mesmo agora que sua filha havia retornado para a Torre, mas ele era teimoso e queria se irritar virando de um lado para o outro em sua cama ocupada por apenas uma pessoa. Em algum momento daquela madrugada longa, ele chegara a se lamentar por Pepper não estar na cidade naquela semana, para logo se arrepender do pensamento. Na verdade, tinha que agradecer por Valerik ter escolhido logo um dos poucos dias que a CEO das Industrias Stark não estava no prédio, e isso apenas serviu para que o homem se irritasse ainda mais. Ainda ter que agradecer aquela psicopata era o fundo do poço, embora agora Tony sentisse que já tinha passado até disso. Aquela história de que em um certo momento não era possível piorar era uma completa mentira.
Não só podia, como sempre piorava.
Frustrado por mais uma vez não conseguir pregar os olhos, Tony jogou as pernas para fora da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos afastados e o rosto nas mãos, respirando fundo algumas vezes na esperança de que encontraria um pouco bom senso no oxigênio do quarto, apenas para ficar ainda mais determinado a fazer o que planejava. Perguntou para J.A.R.V.I.S. a localização e o status de todos os membros da equipe antes de deixar o quarto, negando sem pensar duas vezes quando o sistema perguntou se ele desejava que alguém fosse acordado. Ninguém concordaria com o que ele queria fazer, além de que precisava ser sozinho.
Já havia passado da hora de Valerik e ele terem uma conversa.
A mulher parecia dormir tranquila mesmo com a posição desconfortável, o cabelo curto todo para um lado, o rosto de expressão serena virado para a porta. Seus passos pesados logo fizeram com que Valerik despertasse antes mesmo de entrar na cela, seu sorriso discreto fazendo questão de lhe avisar que ela não estava nem um pouco surpresa.
- Sabia que você viria aqui mais cedo ou mais tarde – disse ela, lutando para voltar a se sentar direito sem o auxílio das mãos, que continuavam presas à mesa. Tony se xingou mentalmente enquanto puxava a cadeira vaga a sua frente, já que passaria por aquele estresse apenas porque escolhera passar. Não era nada agradável quando não podia passar a culpa para alguém.
- Pare de agir como se me conhecesse, Valerik – resmungou ele ao se sentar. Ela, por sua vez, pareceu hesitar ao ouvir o nome na voz de Tony, fechando a boca assim que percebeu que se perdera em pensamentos. Ele nunca havia a conhecido de fato, não passava de um garoto inocente quando se encontraram pela primeira vez, que agora realmente parecia ser em outra vida. Tony já não era mais inocente, muito menos um garoto, e agora também sabia quem ela era, sem disfarces.
- Posso te pedir um favor, Tony? – perguntou ela em um sussurro, ignorando o seco “não” que ouviu em resposta – Me chame de Lauren.
- Qual o seu problema com os nomes originais? – retrucou ele depois de rir descrente. Sabia que a mulher conseguiria irritá-lo com facilidade, mas realmente não esperava que fosse com aquele tópico, daquela forma – Por que não ser você mesma?
- Talvez eu não goste de quem eu sou, quem me obriguei a ser.
- O que você já fez para mudar isso?
- Talvez eu seja quem eu deva ser – devolveu ela, no mesmo tom enigmático da resposta anterior, mas Tony não se deixou abalar. De alguma forma, ele já estava acostumado a ter alguém fugindo com habilidade de suas perguntas, e, coincidentemente ou não, a pessoa se parecia muito com Valerik.
- Você precisa aprender a ser direta – alfinetou o homem e, para sua surpresa, obteve algum resultado.
- O que você quer que eu diga, Tony? Que eu sinto muito? – rosnou ela, com uma ferocidade que não se lembrava de ter visto antes em seu rosto – Eu sinto, mas faria tudo de novo se fosse necessário.
- Você é a vadia – Tony concordou com a fala da filha, horas atrás. Em nenhum momento se iludira que sairia dali certo de que apenas ouvira palavras sinceras, mas em algumas partes Valerik poderia apenas mentir para proteger sua imagem, e parecia que ela não estava disposta a fazer isso. Ela queria brincar de vítima, só que em nenhum momento abaixava a arma carregada que empunhava.
- Você não faria o necessário por ela? – perguntou a mulher com um tom inocente na voz, chegando até a inclinar a cabeça para o lado e franzir de leve o cenho. De alguma forma, ele percebeu que a russa sabia de todos os seus esforços desesperados nos últimos meses para recuperar a filha, e, se não sabia de fato, estava fazendo uma dedução certeira. Aquela maldita sensação que sempre tivera quando mais jovem ao estar em sua presença, e um dos fatores que fizeram com que seu pai valorizasse tanto a mulher: ou ela agia como se soubesse de tudo, ou realmente sabia.
- Ela nunca vai te perdoar – desconversou ele, balançando a cabeça discretamente em negação – Eu também não.
- Eu não mereço perdão. Não vim para cá atrás disso, eu já disse isso. Eu queria ver as crianças mais uma vez – lembrou a mulher, a pausa seguida parecendo que ela se questionava se deveria mesmo dizer aquilo – E você também.
- Eu? – repetiu Tony confuso.
- Eu joguei uma responsabilidade grande demais nas suas costas sem você ter nenhum preparo – explicou ela, assistindo o rosto do homem aos poucos se contorcer em uma expressão indignada – Foi injusto com você.
- Você é inacreditável – resmungou ele irritado, até pronto para se retirar e desistir daquela ideia idiota, mas a fala seguinte de Valerik fez com que ele ficasse parado no lugar absorvendo a informação, o irritando ainda mais.
- Eu não iria conseguir protegê-la, Tony.
- Protegê-la? Lembra do seu marido? – começou ele, cínico – Ele disse uma coisa bem interessante sobre você tentando contato há muito tempo quando a foi interrogá-lo, e eu fui checar. Eu chequei todos os dias de aniversário dela, até mesmo os que ela estava na Europa, e só depois que eu fui pensar que talvez ele nem considerava a data de agosto como aniversário dela, então fui checar todos os 20 de abril, e em 2007, aniversário dela de dezoito anos, teve uma festa das Industrias Stark, a mesma que ela desapareceu por uma semana depois, e você estava lá, assim como Krigor – Tony se debruçou sobre a mesa, ficando mais próximo da mulher que se esforçava para se manter indiferente – Se ele não estivesse lá, você teria ou não a raptado? Você queria ou não usá-la para invadir a HYDRA?
- Não sabia que você sabia disso – confessou Valerik devagar, desconfortável por nunca ter assumido que aquela informação chegaria a ele – Você não entenderia.
- Não entenderia? Você clama se preocupar com ela, mas planejava usá-la do mesmo jeito que Krigor – acusou Tony – Você vê apenas uma arma, não sua filha.
- Eu pensei... Vocês não têm noção do potencial dela, Tony – suspirou ela cansada, optando por abrir o jogo de uma vez. O homem a sua frente talvez fosse a única pessoa naquele planeta que poderia compreendê-la, tinha que ao menos lhe dar uma chance – Naquela idade ela já tinha certo domínio e... Eu poderia tê-la treinado. A S.H.I.E.L.D. a treinou com base em hipóteses, eu teria a treinado com base nas minhas experiências. Teria tirado Petr da HYDRA e toda essa confusão teria sido evitada.
- Você queria tirá-la de mim – concluiu ele, por algum motivo, nem um pouco surpreso ou sentido.
- Você já tinha a perdido, Tony...
- Você não fala sobre o que você não sabe! – ele perdeu o controle por alguns instantes, os punhos fechados batendo na mesa de metal e fazendo um barulho alto, mas que não surpreendeu a mulher, que continuou inabalável – Não foi você que a criou. Onde você estava no aniversário da sua suposta morte? Onde você estava quando ela precisou de você? Você não tem direito de dizer que se preocupa com ela.
- Tudo que eu fiz foi para protegê-la.
- Que belo trabalho de merda você fez – retrucou ele sem pensar duas vezes – Ela nunca vai voltar a ser quem um dia ela foi e a culpa é sua.
- Ela está viva, e isso para mim já é mais do que suficiente – disse Valerik, e Tony precisou de alguns segundos para chegar à conclusão de que ela estava realmente ousando acreditar no que dizia.
- E para os infernos com a saúde mental dela, não é? A garota está em constante dor, Valerik. Você nunca vai presenciar isso, mas dá para ver nos olhos dela quando ela está bem e se lembra que não se acha digna de estar bem, ela não se permite estar bem por muito tempo – contou ele – E isso me mata por dentro, porque não importa quantas vezes eu diga o contrário, é uma verdade que ela não tem mais capacidade de aceitar. E você me vem dizer que ela estar viva já é mais que o suficiente? Que tipo de mãe acha que está tudo bem um filho passar por esse tipo de coisa?
- Nós reagimos de forma diferentes a traumas, Tony – insistiu ela. Seu olhar agora não estava mais preso do no homem, mas sim baixo em suas mãos presas à mesa. Quase parecia que sua consciência estava pesando, embora suas palavras contradissessem sua linguagem corporal – Ela não continuou caída por causa de Loki, ela não vai continuar por minha causa. Ela só precisa de tempo.
Tony ponderou por um segundo. De uma forma bem conturbada, ela estava certa. Pelo menos ele esperava que estivesse. Só que ele, diferente daquela mulher irresponsável, não deixaria tudo à mercê do tempo. Se havia alguma forma de ajudar sua filha, ele iria. E se não tivesse, ele inventaria um jeito.
- Ela precisa de alguém que pare de fazer da vida dela um inferno – disse ele por fim enquanto se levantava, lançando um sorriso satisfeito para a mulher no processo – E, felizmente, agora há uma pessoa a menos para isso.
- Você não vai acreditar, mas eu estou feliz com isso – comentou ela, fazendo com que o homem parasse à porta – Ela merece o melhor. Ela e Petr. E eu nunca fui o melhor. Você aprendeu a ser.
- Você nunca tentou. Se escondeu atrás de desculpas a vida inteira – explicou ele, escondendo as mãos nos bolsos da calça e andando devagar pela sala, como se estivesse explicando um caso que mais ninguém conseguira desvendar – Você nunca se arriscou por eles.
- Nunca me arrisquei? – repetiu Valerik, rindo irônica – Faça-me o favor...
- Você fugiu. Diz que abandonou Petr, mas a verdade é que você abandonou todo mundo, foi covarde – continuou Tony, ou alucinando ou realmente vendo um pouco de culpa passar com rapidez pelos os olhos escuros da mulher antes de voltar a sua postura indiferente – Já imaginou quantas vidas teriam sido salvas se você tivesse feito o que precisava ser feito? Você era mãe da neta do fundador da S.H.I.E.L.D., poderíamos ter tirado a HYDRA das sombras antes de ela ter poder para ser um problema. , Pete, e a até mesmo Barnes teriam sofrido muito menos. Claro que você seria condenada à prisão perpétua, mas seus filhos estariam bem.
Valerik chegou a abrir a boca para retrucar, seus olhos brilhando com um pouco mais de fúria quando Tony a privou de seu turno.
- Então não venha tentar bancar a vítima para o meu lado, porque eu não sou tão piedoso quanto as crianças – finalizou ele, rumando de vez para a porta, sem mais intenções de retornar – Se isso te machuca tanto assim como você diz, você nunca deveria ter a chance de vê-los.
- Vocês são os heróis, Tony. Eu sou apenas humana – respondeu ela, sequer olhando para a sua direção – Fiz o que eu achava que deveria ser feito.
- Você fez o que achava que te pouparia mais, o que torna um tipo mesquinho de ser humano – retrucou ele, a porta se fechando em seguida. Pensou em gritar alguma despedida mesmo com o vidro de proteção os separando, mas optou por deixar as coisas daquele jeito. Ela não merecia sequer um desejo falso de que ela aproveitasse seus últimos dias viva.

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Tony pensou em ligar a TV da sala assim que se jogou no sofá em frente ao aparelho, uma garrafa de bebida pela metade em mãos. Já bastava o barulho de seus pensamentos em sua mente, não precisava de mais distrações, além de que a pouca iluminação da sala estava agradável. Até pensara em um momento em retornar para seu quarto quando J.A.R.V.I.S. perguntou para onde queria ir assim que entrou no elevador, mas mudou de ideia no último instante. Se iludira ao imaginar que conseguiria dormir depois de falar com Valerik. Parecia que suas dúvidas e questionamentos estavam em época de procriação.
- Dos três, você parece o mais calmo depois de falar com ela – comentou uma voz baixa e próxima, fazendo com que ele se virasse no susto para trás, logo reconhecendo seu acompanhante.
- Mas que p...? Ia machucar fazer a porcaria de um barulho enquanto se aproxima? que pode me dar paradas cardíacas, esse privilégio não foi estendido para você, Rogers – resmungou Tony, voltando a se sentar com a postura relaxada no sofá – E como diabos você sabia que eu estava aqui?
- J.A.R.V.I.S. me avisou – contou ele, ocupando o lugar vago ao seu lado – Ele não sabia se acordava , preferiu me acordar.
- Você monitorou nossa conversa? – indagou o moreno, logo desistindo do sermão que deveria dar no soldado, gesticulando com a mão que “tanto faz” – Estou cansado até para ficar bravo contigo.
- Foi uma discussão um tanto intensa, para falar o mínimo. Quer conversar? – se ofereceu Steve, arriscando um sorriso brincalhão para tentar melhorar o humor do homem – Eu praticamente já virei o ouvinte dessa família, embora não esteja nem um pouco a fim de ouvir a Valerik... Capaz de eu colocar uma mordaça nela mais tarde para garantir que ela vai ficar quieta a viagem toda até a prisão.
- Eu não deveria falar contigo... – suspirou Tony, tomando um grande gole antes de continuar – Você é um péssimo mentiroso. Vai me colocar em problemas no futuro.
- Agora estou com medo de você fazer alguma coisa estúpida, então vai ter que falar – avisou Steve sério e preocupado. Estavam todos tão preocupados em vigiar e Petr que se esqueceram que havia a possibilidade de Tony também não saber lidar direito com aquela situação. Nenhum dos três tinha um bom histórico de decisões inteligentes em momentos de instabilidade emocional, era algo para se preocupar.
- Eu deveria falar disso com a Pepper, mas ela vai chegar a conclusões erradas...
- Tony? – disse o soldado com cuidado, talvez chegando a mesma conclusão errada que o homem temia que a namorada também chegasse – Você... ainda sente algo por ela?
Era uma pergunta um tanto ofensiva, mas Tony não podia reclamar dela. Ouvir outra pessoa fazendo aquele questionamento lhe trouxe um pouco de clareza.
- É mais complicado do que isso, Cap – respondeu ele – Eu só não consigo sentir tanta raiva dela. Eu entendo o que ela fez.
- Agora não estou entendendo mais nada – comentou Steve, rindo em constrangimento – Eu ouvi a conversa, e você estava agindo completamente ao contrário.
- Você não entende essa relação, Rogers. Ter um projetinho de ser humano nos braços e sentir que eles dependem completamente de você. Laur... – ele teve que parar para respirar fundo, corrigindo o pequeno erro de nome que não esperava mais que fosse acontecer, seu olhar travado na tela desligada da TV – Valerik entendeu como isso funcionava muito antes do que eu. Nós não estamos aqui para que eles gostem da gente, que sejam nossos amigos e essa baboseira toda. Seu dever é garantir que eles tenham as melhores chances, os proteger a qualquer custo. Eles podem te odiar por isso, mas não importa. Não acho que eu conseguiria ser tão sangue frio como Valerik, mas... – Tony se virou para o soldado, a compreensão aos poucos se apossando de seu rosto, mesmo que relutasse – No momento que eu finalmente entendi que eu estava estragando a minha filha pela convivência, eu deixei que ela colocasse um maldito oceano entre nós porque acreditei que era o melhor para ela. E de alguma forma bem distorcida, foi o melhor. Mesmo com todos os problemas que o ingresso na S.H.I.E.L.D. trouxe para ela, se tornou uma pessoa consciente, responsável... Algo que ela nunca seria se tivesse ficado comigo. Se isso quebrou meu coração? Destroçou, na verdade, mas foi um sacrifício necessário, e é por isso que você vai manter essa boca a fechada, Capitão: porque nem você e nem ela vão entender o que eu estou passando, porque eu não quero passar por isso de novo.
Tony já havia perdido a filha o suficiente pelo resto da vida, não dava para aceitar ser separado dela novamente, ainda mais caso ela quisesse ficar longe. Era idiotice pensar daquela forma por se tratar de uma mulher já adulta que dificilmente aceitaria continuar morando com ele quando toda a caça a HYDRA terminasse e o cetro fosse recuperado, mas tinha certeza que faria um certo esforço para se manter próximo, talvez mais alguns projetos em conjunto. O importante era ela estar disposta a manter o bom relacionamento entre eles, ou nada daquilo faria o menor sentido. E nada daquilo se manteria caso ela suspeitasse que no fundo ele conseguia entender Valerik.
- Eu a perdi tantas vezes. Eu sei como é bom quando estamos bem, eu valorizo isso mais do que tudo, e eu sei que nunca vai me perdoar se descobrir que eu tomei partido pela mãe dela. Nem mesmo Pete iria compreender, e nessa eu nem sei direito porque me importo – continuou ele, uma risada um tanto desesperada lhe escapando – Não quero nenhum dos dois contra mim, mas não posso simplesmente fingir que não entendendo o lado dela. Eu estou nessa bagunça por causa de uma, e ela tem dois. Ela teve que pensar logicamente para momentos que lógica é a última coisa que importa. Valerik ama aqueles dois mais q... Como diabos tudo virou essa merda? Está tudo errado.
Tony pensou que Steve fosse aproveitar que ele se calara para ingerir mais um pouco do que sobrara da bebida na garrafa, mas se viu em um silêncio desconfortável, e logo entendeu o motivo tão exposto em seus olhos azuis: Steve concordava com ele. Não estava na mesma situação que ele, mas conseguia se colocar em seu lugar, e também não conseguia se ver agindo diferente. Talvez devesse levar aquele tópico à filha, só que ela não era tão compreensiva como o soldado, além de ser bem mais explosiva do que ele. Em um dia distante, quem sabe.
- Sabe, você acha parecida comigo, mas você não conheceu a Valerik. Claro que ela estava infiltrada, mas elas têm os mesmos traços de personalidade, então não acho que era tudo encenação... – comentou Tony depois de um tempo, o silêncio incomodando mais do que gostaria de admitir – O mesmo sorriso fácil que te provoca a contestá-la, o olhar determinado, a postura relaxada que simplesmente desaparece quando o assunto fica sério... Meu pai a idolatrava, quase tanto quanto te idolatrava. Ela passava mais tempo com meus pais do que eu. Se ela não tivesse sumido... Ele teria a adotado apenas para poder chamá-la de Stark e ser parte da família.
- Você gostava dela – concluiu Steve em um sussurro, a confirmação no sorriso nostálgico e no brilho cansados nos olhos de Tony.
- Eu não sei mais. No começo, quando nos conhecemos, ela era um desafio com pernas – brincou ele, o tom travesso em sua voz fazendo com que Steve revirasse os olhos, mesmo o acompanhando na risada sem graça – Ótimas pernas, a propósito. Ela ainda tem, você deve ter percebido. Mas aí ela sumiu, voltou com um bebê, e depois veio a morte de mentira... – Tony parou por um momento, finalmente depois de tantos anos se colocando a pensar naquele assunto – Eu nunca tive a chance de saber como eu me senti em relação a ela. Só sei que nos momentos mais difíceis, quando eu não fazia a menor ideia do que fazer em relação a paternidade, eu sentia a falta dela. A mulher que eu conheci sempre sabia o que estava fazendo, sempre. Até chegava a ser irritante. E eu sempre tive essa sensação de que ela saberia lidar com a filha muito melhor que eu. Agora eu já sei que isso não é verdade, já que ela fez uma zona muito maior que a minha.
- O que você quer fazer em relação a ela?
- Não há muito o que fazer. A mulher está morrendo, não temos recursos o suficiente para salvá-la, e não acredito que ela queira ser salva – suspirou ele, rodando a garrafa vazia pelos dedos – Ela sabia muito bem o que ia acontecer quando entrasse nesse prédio.
- Ela sabe que vai ser presa.
- Sabe – concordou Tony, rindo a algo lhe ocorrer, mesmo que tivesse demorado um mero segundo para ele perceber que poderia estar certo – Talvez ela apenas queria ver o marido mais uma v... Não!
Steve, que encarava as próprias unhas que precisava cortar o mais rápido possível, se virou confuso para o homem, logo a compreensão também lhe atingindo, sua expressão se tornando séria e inconformada.
- Isso seria muita loucura.
- Exatamente por isso acho que descobrimos o plano dela – insistiu Tony, praguejando baixo depois de pensar mais a respeito por mais alguns segundos, ainda mais convencido – É a cara dela, não é?

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Todo o trajeto até a sala de interrogatório foi feito em silêncio, mesmo que Krigor não conseguisse parar de se perguntar o motivo de estar sendo levado para lá novamente. Não podia ser um pedido dos Vingadores, já que duvidava que mandariam mais uma vez a seu encontro, ou que eles achassem que ainda tinha informações que ele pudesse dar. Bem, de qualquer forma, em breve ele entenderia o motivo para aquilo tudo.
O último agente deixou a sala assim que suas algemas foram presas a mesa, demorando um pouco para que a porta voltasse a ser aberta, com um novo grupo de agente adentrando no espaço, escoltando alguém que ele logo identificou como outro prisioneiro, a julgar pelas roupas que trajava. Apenas quando a pessoa foi sentada a sua frente que ele conseguiu reconhecê-la.
- Valerik...? – arriscou Krigor, um tanto confuso. Fazia muitos anos desde a última vez que se viram, tanto que ele mal conseguia reconstituir a imagem da mulher em sua mente, mas as semelhanças com ainda existiam, mesmo com a ação do tempo clara, embora bem mais amenas do que o natural, em seu rosto – Você está velha.
- Não tanto quanto você, Krigor – retrucou a mulher, brincando com a corrente das algemas em seus pulsos que acabara de ser presa a mesa antes de erguer os olhos para ele, mostrando um brilho divertido que apenas o irritou mais. Querendo o mínimo de privacidade que a situação permitia, Valerik esperou que todos os agentes deixassem a sala – O soro retardou um pouco meu envelhecimento, você não teve esse privilégio.
- O que você está fazendo aqui? – questionou ele por fim, apontando para o uniforme semelhante que a mulher usava – Não acredito que tenha conseguido entrar aqui como visitante.
- Vou passar uma breve temporada aqui... Cortesia de nossos filhos – a ênfase em nossos causou exatamente o efeito que Valerik esperava: a postura já tensa do homem se intensificou e, se ele não estivesse também algemado à mesa, era claro que as mãos dele estariam ao redor de seu pescoço. Um sorriso maldoso disfarçado com doçura apareceu em seus lábios – Pete e mandaram um oi.
- Eles conseguiram te rastrear? Oh, eu devia ter arriscado essa – riu Krigor debochado. A verdade era que ele poderia sim ter tentado fazer os filhos se virarem contra a mãe, mas tanto ele não acreditava que eles seriam capazes de achar, como também lhe parecia um desperdício de energia. Se ele quisesse Valerik sob seu poder, ele a teria. O detalhe era que ele a queria sofrendo, e as crianças eram seu único ponto fraco. Continuar fingindo que ela não existia era um método bem mais interessante – Acredito que subestimei as habilidades deles de localizarem pessoas.
- Por favor, Greg...! Acha mesmo que as crianças acreditaram no que você disse a eles? Eles sabem melhor do que isso – zombou ela, um relance de pena passando por seus olhos por ele cogitar por um segundo que eles conseguiriam manipular os dois para fazer o que planejava – Claro que Tony ficou desconfiado e foi checar alguns registrou e descobriu que eu estava viva, mas ele optou por manter segredo, não quis assustar as crianças. Vamos dizer que isso agora isso seja um segredinho de nós pais.
- Então como você veio para aqui? Se entregou? – arriscou Krigor, uma risada incrédula lhe escapando pela garganta ao encontrar certa concordância no rosto da mulher – Você se entregou, não é? Você é ótima em tomar decisões estúpidas. puxou isso completamente de você.
- Meu amor... – suspirou ela, pegando as mãos grossas do homem nas suas, um aperto que deveria parecer carinhoso, mas que causava nada além de repulso em Krigor – Você estava preso, e as crianças em uma posição neutra. Esperei tempo demais para vê-los mais uma vez, e não iria desperdiçar a oportunidade.
- E eles te prenderam.
- Eu queria te ver! – contou a mulher, seu sorriso se tornando mais discreto – Esse era o único jeito.
Krigor bufou alto, se livrando dos dedos insistentes da mulher com um movimento ágil dos pulsos.
- Ainda odeio quando você age como se controlasse tudo...
- É porque eu controlo – lembrou ela.
- Você me parece satisfeita para alguém que está tão presa quanto eu – comentou Krigor, quase se arrependendo logo em seguida ao vê-la voltar a rir satisfeita. Aquilo era exaustivo demais, alguém precisava o levar de volta para sua cela.
- Aí é que está, amor: eu não estou – contou ela, o deixando confuso – Não vou ficar aqui muito tempo.
- Acha que sua filhinha vai te tirar daqui? – debochou ele – Tenho a impressão de que ela quer que você apodreça aqui...
- Ela não é idiota, é claro que ela quer. E de alguma forma ela atendeu meu último desejo: te ver mais uma vez. Te ver aqui, fracassado... – a mulher abaixou o tom de voz, concentrando toda a crueldade que tinha, os olhos brilhando em diversão – Eu vou morrer nos próximos dias sabendo que todos os seus esforços para me atingir e controlar as crianças falharam. Vou morrer sabendo que eles estão bem, que eles tiveram a chance de escolher o que queriam ser e agora são heróis, e que você vai passar o resto de seus muitos dias aqui, remoendo todas as suas derrotas... É mais do que eu mereço.
- Você acha que ganhou? – admirou-se Krigor, no mesmo instante que um alarme soou na sala, avisando que o tempo de conversa tinha terminado.
- Claro que não... Eles ganharam, e isso era tudo que eu queria – negou a mulher, sorrindo para o agente que já se adiantara para a soltar assim que entrou no ambiente, a puxando pelo braço para fazer com que ela levantasse – Espero que esse lugar seja um inferno para você, Krigor. Até nunca mais.
- Aí é que você se engana, meu amor – retrucou Krigor, a voz ligeiramente mais alta para que ela conseguisse ouvir da porta – É no inferno que vamos nos reencontrar de novo.
Valerik permitiu que seus lábios se esticassem em um sorriso animado, forçando seu corpo para trás para dificultar a tarefa dos agentes que a arrastavam para fora da sala. Tinha apenas mais uma coisa para dizer, e precisava ser dita olhando nos olhos de seu marido.
- Mal posso esperar.

Fim



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Nota da autora: Calma, respira. Nesse ponto você provavelmente já xingou até a minha 23784239423ª geração por eu não ter avisado que o final desse arco coincidia com o final da primeira parte da fic, e eu mega te entendo. Finalizar sem avisar foi cruel, admito, mas ceis sabem que eu adoro chegar na surpresa.
Passei muito tempo ponderando se TRS continuaria como uma fic só, ou se dividiria. Acabei optando por dividir porque, vamos ser sinceras, a gente tá só no capítulo 40 e olha esse tamanhão todo. Fiquei imaginando como seria cansativo se a gente seguisse em uma fic só pra alguém começar a ler, sei lá, lá pro começo de Infinity War e estar tipo quase no capítulo 100 – e não são mais capítulos curtinhos como no começo (e até agora, TRS apenas passou por dois filmes de fato – o Avengers de 2012 e CA:TWS –, imagina o tamanho que isso ficaria passando por mais cinco – CINCO – filmes!). Mesmo assim, vou sentir mega saudades de me distrair lendo comentários antigos quando vou ver os novos (meu, já teve foto do Chris de cueca em Qual É o Seu Número? e discussão sobre qual deveria ser o ship da fic aqui! Essa é ou não a melhor seção de comentários do FFOBS? Pra mim é, sorry but not so sorry), mas realmente acho que vai ser uma boa dividir, ainda mais da forma que acabou esse capítulo. Fechou tão bonitinho todo o arco da Dinastia Ivanov, ainda mais sendo os líderes da família se encontrando pela última vez. Deu um ar de fim de história mesmo. O próprio capítulo que seria o 41 se não fosse a divisão, no começo já me dá uma sensação de algo novo, uma dinâmica diferente da equipe – que agora tem OITO pessoas, os russos vão ou se tornar maioria nesse time, eis a questão –, por isso com muita dor no coração, porque eu nunca pensei de fato que diria isso um dia desde que eu reformulei toda a história em 2015, eu finalizo aqui a primeira parte de The Real Side [sons de soluços que não parecem humanos no fundo].
Nos vemos em breve em The Real Side II: Dark Times. VEM ULTRON!

MAIS DE THE REAL SIDE:
The Real Side: Belonging
The Real Side: Longing
The Wrong Side
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