Consequências
Estabelecimentos emocionais consistem naquilo que a mente toma como lembrança. A sensação de alívio ou rancor ao pôr os pés num ambiente que em outrora fora responsável por grandes sensações, por muitas vezes define a mente como uma montanha russa de emoções e diante de tal ocorrido, evitar pontos específicos se torna um ambiente seguro.
Durante a vida, crianças costumam manter o coração aquecido diante viagens, histórias e divertimentos que se misturarão com posteriores memórias. Tais acontecimentos constroem um adulto repleto por sensações interessantes e de grande graciosidade. Aquilo que se é vivido quando criança será levado para todo o sempre, referenciando positivamente ou não em tal construção.
Pontos específicos conseguem ir e vir sempre que uma reação falha. Os traumas também entram em cena. A escuridão repleta por gritos, a angústia de uma criança assustada buscando felicidade em relacionamentos que já não fazem sentido. O medo da perda, a sensação de nunca se sentir bom o suficiente.
Uma estatística que se embasa na frieza de adultos que em outrora não conseguiram superar as lembranças emocionais que os afligiam.
Um misto entre alguém que eu fui e outro homem no qual eu lutava para me tornar.
— Eu quero mais outra dose, não... Não, eu quero comprar a garrafa de vodka. — Ergui a mão, sentado num banco acolchoado e preto do bar no qual eu me forcei a vir. As luzes baixas e o som ambiente ressoavam como uma boa pedida para um dia de semana. Alguns casais se beijavam, enquanto outras pessoas, assim como eu, enchiam a cara sem pensar ou lembrar que no dia seguinte, no trabalho que nos aguardava. As paredes eram repletas por posters de bandas que certamente eu não conseguia reconhecer; diante a visão embaçada que se desenhava, somente um palmo a minha frente era nitidamente perceptível. — Traz a garrafa, porra. O cara não pode sofrer com uma garrafa de vodka? — Tentei reclamar e em menos de um minuto, peguei algumas notas da minha carteira, deixando-as em cima do balcão ao puxar a garrafa da mão do barman, seus olhos piedosos em cima de mim.
Dei de ombros. Eu conseguia vê-la caminhar a minha frente, seu sorriso ressoava como a única maravilha que eu queria naquele instante e não existia medo, angustia ou temor que me fizesse continuar sentado naquela espelunca. Notas mentais referentes aos bêbados que se mantém visualizando imagens que não existem, se tornaram cotidianas.
Eu precisava ir atrás da minha mulher.
Ao me movimentar para fora do bar, observei ao redor, um sorriso se fez presente, eu finalmente teria coragem o suficiente. O álcool estava ali, eu confesso, mas diante os meus cálculos, a caminhada até sua casa seria suficiente para que eu logo ficasse sóbrio. Levei a garrafa aos lábios, tossindo ao finalizar o longo gole. As luzes se intercalavam gradativamente. Um som ensurdecedor fora suficiente para me fazer tropegar a passos desconexos, uma ambulância perambulava pelo local. Olhei para a mão machucada e caminhei atrás daquele veículo como se ele estivesse me guiando.
Apesar de novo na vizinhança, o estabelecimento fora rapidamente se deteriorando. Sua pintura logo fora deixada de lado, e tal qual os ambientes modernos repletos por concretos e sujeira, aquele lugar havia sido o meu lugar preferido nas noites em que eu me deixei ser aquele babaca que sempre fugira de situações difíceis. Ou dela.
Minha mão, cortada com um vidro no seu centro, evidenciava o motivo do desespero em acompanhar a sirene que logo fora desaparecendo. Diante os meus olhos, percebi quando aquele misturar de cores e sons cessaram. Vi algumas pessoas espiarem pelas suas janelas o motivo daquele chamado e não me importei. Seria mais fácil correr mais alguns metros atrás dos paramédicos em prol de um ponto ou dois. O pano em que o garçom simpático e piedoso amarrou para cessar o sangue agora se vestia da cor vermelha.
— Acidentes acontecem, meu amor. Você sabe disso. — Ensaiei frases soltas diante um tom de voz extremamente alterado. Na minha mente, as passagens ressoavam com bastante clareza. Porém, o som que eu escutei não fora bem assim. — Eu estava bêbado logo ali para tentar esquecer você e, olha só, aqui estamos nós... Você pode me fazer um café? — Questionei com um sorriso sorrateiro que não deveria estar lá muito bom. — Podemos conversar sem gotas de álcool no meu corpo, eu finalmente me decidi.
Fechei os olhos e logo imaginei que ela pularia nos meus braços, beijando-me com aquela ânsia na qual ela sempre demonstrara, deixando-me até perdido por um tempo, buscando uma explicação nas suas reações que sequer existiam.
Não que alguma coisa importasse naquele instante.
Tive a imagem de como seria a nossa vida e não tive problema com o que enxerguei. A mulher mais difícil de lidar se encontrava a minha frente nos meus sonhos, mas talvez... Ela fosse real.
Dei um passo à frente e erguendo a mão. Eu pensei em tocá-la, mas ela se foi — Princesa? — Questionei, mas não havia ninguém. Achei estranho, confesso, mas a ideia de uma alucinação referente a dor que eu sentia no pulso, um pouco anestesiada, junto ao álcool presente, poderiam ter como resultado aquela desconstrução. O sorriso que se encontrava no meu rosto fora embora, mas eu não recuei, a coragem havia surgido e diante todas as minhas escolhas, estar ao seu lado resultara numa ordem que eu fugi por tempo o suficiente.
No final das contas, ela nunca estivera errada mesmo.
Meus passos cambaleantes me levavam a um endereço ao qual eu conseguia chegar com os olhos fechados. A brincadeira não ressoaria malvada, tampouco auto destrutiva. A quantidade de passos que me levariam até o seu quarto não se demoraria mais do que vinte minutos e a garrafa de vodka na minha mão somente me qualificaria como mais um filho da puta prestes a implorar perdão à mulher da sua vida.
Seria cômico, caso não fosse trágico.
As imagens distorcidas costumam cegar aqueles que por muito buscam a visão. Os olhos palpitantes, as pupilas dilatas e a sensação de torpor consistia numa atuação do corpo e mente em prol de segundos, minutos e, por tantas vezes, horas de deleite, deixando de lado a complexidade de problemas que se embasam em uma vida repleta por grandes e péssimas escolhas.
Estranho seria se a metade da população mundial, até mesmo sem maioridade, não sentisse o torpor ao injetar dentro do corpo aquelas substancias que elevavam a mente, distorcendo as imagens que se multiplicavam como uma avalanche de histórias e verdades não ditas.
Lembranças causadas por pontos difíceis a serem esquecidos, mas que magicamente se tornavam borrões capazes de aniquilar a necessidade em sentir-se mal diante episódios estranhos e inquietantes.
Em sua grande maioria, o álcool conseguia jogar para longe histórias como aquelas, sofrimentos como o meu. Não que eu me colocasse como um cara que se mantém bêbado esquecendo aquilo que o consome por dentro, eu não esqueço, somente jogo a bola, isolando para o mais longe que eu possa; e dependendo da intensidade da problemática que costuma me inquietar, são dias até que eu sente em frente a tela de um celular e surte.
Algo que eu não recomendo a ninguém.
Não sei por quanto tempo fiquei paralisado, somente imaginando como seria nosso encontro, mas eu vi quando mais dois carros em alta velocidade passaram por mim. Acenei como bom cidadão e logo levei a garrafa aos lábios. Um carro de polícia parou ao meu lado e eu voltei meus olhos até eles, inclinando o corpo para frente, aos sorrisos. — Boa noite, policial! Fazendo a ronda? — O excesso de simpatia se dava pelo álcool, obviamente. Ele encarou meu rosto, acenando e logo seus olhos se voltaram a minha mão machucada, levando-o a apontar uma vez. — Machuquei no bar, derrubei uma longneck. — Respondi. Ele voltou a acenar com a cabeça e eu ergui a sobrancelha. De alguma maneira, eles pareciam mais desconfiados do que o normal, não que eu tivesse algum tipo de contato com eles. — Aconteceu alguma coisa?
— Um corpo feminino sem vida logo a frente. — Sem muitos rodeios, ele respondeu. Não questionei suas palavras, mesmo diante a curiosidade que se fazia presente em mim. — Rua Antônio de Cabral. Número 28.
Rua Antônio de Cabral. Número 28.
Rua Antônio de Cabral. Número 28.
Antes que eu pudesse responder uma palavra que fosse, perdi o equilíbrio e a garrafa de vidro fora ao chão. Meus olhos desviaram do rosto dos policiais e eu voltei-me para os cacos completamente espatifados, junto ao liquido transparente que logo elevou seu cheiro por todo o ambiente, perdendo-se junto ao vento que circulava naquela noite fria. O álcool atingira em cheio as minhas narinas e eu recuei alguns passos para trás. Talvez, na fantasia que se misturava com a realidade, eu tenha visto o policial abrir a porta do carro, caminhando até a mim. Eu não consegui escutar suas palavras e cada milímetro do meu corpo começava voltar à normalidade. O famoso clique que eleva o nível alcoólico a zero. Talvez meu coração tenha disparado ou parado de bater, eu não consigo entender o que aconteceu ao meu redor. Senti meus braços serem puxados para dentro do carro e me mantive imóvel. Eu não soube explicar o porquê, mas algo dentro de mim, emocionalmente, afirmava que aquele endereço não dizia respeito a algum vizinho das meninas.
Alguma coisa havia acontecido a ela.
costumava afirmar que nós estávamos ligados por uma força muito maior do que poderíamos entender. Suas palavras assustavam-me quando ela repetia inúmeras vezes sobre aquela sentença na qual eu não gostava de participar. Os anos foram passando até que eu entendesse e sentisse. Puxá-la para mim sempre que ela estivera prestes a ir embora sempre fora a minha maior loucura. A obsessão na qual eu sempre me colocava a trazia para mais perto de mim e aí, quando ela já não conseguia lidar com o fato de que eu estava ao seu redor, eu conseguia voltar a viver a minha vida sem canalizar todas as minhas forças em prol de trazê-la.
Eu precisava mantê-la ali. Ao meu lado, por perto. A necessidade em tê-la como a única chance que eu tinha na vida de ser feliz fora se enraizando no meu corpo e no final de tudo, eu me tornei aquele cara que almeja uma única mulher, independente de quantas acabavam na minha cama ao final de cada noite.
O aperto no peito fora aumentando a cada instante em que eu percebia as luzes se direcionando àquele endereço. A sobriedade já se encontrava presente e nada mais importava além do que eu não conseguia entender que acontecia. Diante uma certa dificuldade, puxei o celular no bolso do casaco e percebi algumas ligações. Antes de abri-las, fechei os olhos e me apeguei a credos que eu geralmente não me deixava aceitar a existência. Senti minha mão tremer e abrindo os olhos, percebi que os policiais, já com o carro parado, observavam e aguardavam a minha primeira movimentação. Tentei sorrir ao posicionar o polegar para desbloquear o aparelho e foi ali que eu entendi que, por muitas vezes, nós temos a ideia de que o medo de perder alguém é capaz de nos cegar e ante tais pensamentos, nos colocamos perante uma dramatização que nem sempre resulta na realidade, porém, numa pequena porcentagem, nossos piores pesadelos podem se tornar reais. — Eu não quero descer. — Sussurrei como o garoto amedrontado que sempre fui e observando obsessivamente o único número que se repetia inúmeras vezes nas chamadas não atendidas, as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
25 ligações não atendidas – .
Percorri as mãos pelo meu cabelo, deixando o celular cair pelo carro e não senti a dor na mão que certamente iria retornar em alguma hora, já sem o álcool percorrendo o meu corpo. Voltei a fechar os olhos, encostando o tronco no banco, inclinando a cabeça para trás.
Ela possuía uma áurea única. Um coração que cabia o maior número de pessoas possíveis e enchia meu saco com um time de futebol onde todo mundo queria um pedacinho dela. Quando me chamava de Darling eu esquecia do mundo. Tanto fazia o que eu precisava fingir para me enquadrar por entre pessoas que necessitavam da minha personalidade descolada, eu era abduzido para outro lugar, um universo onde somente ela existia e que nada poderia destruir. A força do que eu sentia, a magnitude do que nós sentíamos um pelo outro não era o bastante para que tudo ruísse. Ainda tínhamos tanto para viver, e eu havia tomado a minha decisão.
Eu precisava do amor da minha vida ao meu lado.
— Você está bem, filho? — Escutei a voz do policial e funguei alto, percorrendo a mão que agora escorria sangue pela grande movimentação. Extremamente perdido perante o que deveria fazer. — Nós precisamos descer. — Ele explicara pausadamente. — Nós iremos analisar o que aconteceu, certo?
Inclinei a cabeça, voltando-me a posição original para encarar o seu rosto. As sobrancelhas curvadas para baixo, os olhos tristes, um sorriso piedoso nos lábios e ele não fazia ideia do que estava acontecendo.
Ninguém sabia.
Neguei com a cabeça e abri a porta do carro, pulei para fora e comecei a andar por entre a grande movimentação ao redor. Um Audi se encontrava parado com um homem em pé. Ele era loiro, forte e estava vestido com um terno, gesticulava sem cessar no telefone, a sua voz se elevava a cada novo minuto e eu realmente tive a impressão de que existiam dois dele no local. Não precisei que ele virasse o corpo para que eu soubesse de quem se tratava e o meu maxilar fora trincado.
Aquele homem poderia ser sido o salvador de alguém que não estava necessitando ser salva. O perfeito empresário, herdeiro, prestes a oferecer tudo o que uma mulher como ela necessitava, menos o amor inigualável que nós sentíamos um pelo outro.
No instante em que o girou o corpo e seus olhos claros se fixaram nos meus, ele avançou muito mais rápido do que eu conseguiria calcular. Eu não cambaleei para trás e sequer me importei quando senti o primeiro soco atingir o meu olho. A dor fora inicialmente anestesiada pelo que corrompia a minha mente, mas quando ele direcionou o segundo movimento, atingindo meu nariz e parte do meu lábio, a tontura se fizera presente e eu cambaleei. Ele não me deixou cair. Não por algum vestígio de piedade, mas por que ele necessitava bater ainda mais.
Os golpes foram se sucedendo até que tudo começou a perder a cor. Talvez eu tenha ido ao chão, não consigo me situar. Num instante confuso, levei a mão aos lábios e o sangue predominava o local. Neguei com a cabeça, sentindo meus olhos ainda menores devido ao inchaço. — Me mata. Eu... Eu não consigo mais fingir. Eu não consigo sem ela — Fechei os olhos e escutei gritos ao redor do meu corpo. Era engraçado pensar que minhas frases foram ditas com uma dificuldade na qual eu sequer conseguira entender se ele havia escutado. Algumas lágrimas tímidas aqueciam as laterais do meu rosto e eu soube que ele havia entendido quando os golpes cessaram. soltou-me o colarinho e eu desejei que ele voltasse a segurar. Eu quis mais daquele espancamento, necessitei que ele me batesse até que eu perdesse a consciência por completo. A minha mente poderia cessar os questionamentos e o flagelamento.
Eu não via problema algum em continuar. Até que eu morresse.
Não consegui entender o que me levou a cogitar a possibilidade de ter acontecido algo com ela, talvez fosse mesmo coisa do destino estar apaixonado a alguém que tem tanto de si. Uma ligação como a nossa não se destruiria tão fácil e eu gostaria que tudo tivesse sido diferente, talvez se eu pudesse ter outra chance, ela estivesse casada ao meu lado. Acordando-me em plena madrugada para transar.
Tentei sorrir, mas meus lábios inchados não se movimentaram, a minha boca seca fora segurada por mãos, tal qual o meu corpo. Não consegui assimilar o que acontecia comigo até que a visão fora fechando. Tornando-se negra.
Os gritos foram cessando, meu corpo já completamente absorto em dor somente referenciava aquilo que eu sentia dentro de mim. Uma dor aguda no peito. A culpa por algo que eu sequer tinha certeza, mas que diante tudo o que havíamos vivido e sentido, não existia hipótese para uma outra resolução.
— Eu... Eu não posso perder... Ela é o amor da... Eu não posso.
Antes de mergulhar por completo na imensidão do seu sorriso, busquei por alguma explicação. As palavras me faltaram, as forças também. A minha frente, encontrava-se com a mão estendida. Ela sorria, de forma tímida e amedrontada. Eu não poderia culpá-la. Por tantos anos ela estivera ali, a mão aberta para que eu segurasse e meus dedos escorregadios sempre a soltaram. Em momentos periclitantes. Em histórias nas quais nós deveríamos construir juntos e eu nunca deixei.
Ali, meus dedos foram de encontro aos dela e apertando fortemente, percebi que não existia nada mais intenso do que um pequeno gesto. A sensação de tê-la ao meu lado para todo o sempre.
Quem me dera encontrar-me imerso a uma realidade feliz que me envolvesse com braços quentes e amorosos, narrativas destoantes daquelas que tivemos.
Uma última vez.
Durante a vida, crianças costumam manter o coração aquecido diante viagens, histórias e divertimentos que se misturarão com posteriores memórias. Tais acontecimentos constroem um adulto repleto por sensações interessantes e de grande graciosidade. Aquilo que se é vivido quando criança será levado para todo o sempre, referenciando positivamente ou não em tal construção.
Pontos específicos conseguem ir e vir sempre que uma reação falha. Os traumas também entram em cena. A escuridão repleta por gritos, a angústia de uma criança assustada buscando felicidade em relacionamentos que já não fazem sentido. O medo da perda, a sensação de nunca se sentir bom o suficiente.
Uma estatística que se embasa na frieza de adultos que em outrora não conseguiram superar as lembranças emocionais que os afligiam.
Um misto entre alguém que eu fui e outro homem no qual eu lutava para me tornar.
— Eu quero mais outra dose, não... Não, eu quero comprar a garrafa de vodka. — Ergui a mão, sentado num banco acolchoado e preto do bar no qual eu me forcei a vir. As luzes baixas e o som ambiente ressoavam como uma boa pedida para um dia de semana. Alguns casais se beijavam, enquanto outras pessoas, assim como eu, enchiam a cara sem pensar ou lembrar que no dia seguinte, no trabalho que nos aguardava. As paredes eram repletas por posters de bandas que certamente eu não conseguia reconhecer; diante a visão embaçada que se desenhava, somente um palmo a minha frente era nitidamente perceptível. — Traz a garrafa, porra. O cara não pode sofrer com uma garrafa de vodka? — Tentei reclamar e em menos de um minuto, peguei algumas notas da minha carteira, deixando-as em cima do balcão ao puxar a garrafa da mão do barman, seus olhos piedosos em cima de mim.
Dei de ombros. Eu conseguia vê-la caminhar a minha frente, seu sorriso ressoava como a única maravilha que eu queria naquele instante e não existia medo, angustia ou temor que me fizesse continuar sentado naquela espelunca. Notas mentais referentes aos bêbados que se mantém visualizando imagens que não existem, se tornaram cotidianas.
Eu precisava ir atrás da minha mulher.
Ao me movimentar para fora do bar, observei ao redor, um sorriso se fez presente, eu finalmente teria coragem o suficiente. O álcool estava ali, eu confesso, mas diante os meus cálculos, a caminhada até sua casa seria suficiente para que eu logo ficasse sóbrio. Levei a garrafa aos lábios, tossindo ao finalizar o longo gole. As luzes se intercalavam gradativamente. Um som ensurdecedor fora suficiente para me fazer tropegar a passos desconexos, uma ambulância perambulava pelo local. Olhei para a mão machucada e caminhei atrás daquele veículo como se ele estivesse me guiando.
Apesar de novo na vizinhança, o estabelecimento fora rapidamente se deteriorando. Sua pintura logo fora deixada de lado, e tal qual os ambientes modernos repletos por concretos e sujeira, aquele lugar havia sido o meu lugar preferido nas noites em que eu me deixei ser aquele babaca que sempre fugira de situações difíceis. Ou dela.
Minha mão, cortada com um vidro no seu centro, evidenciava o motivo do desespero em acompanhar a sirene que logo fora desaparecendo. Diante os meus olhos, percebi quando aquele misturar de cores e sons cessaram. Vi algumas pessoas espiarem pelas suas janelas o motivo daquele chamado e não me importei. Seria mais fácil correr mais alguns metros atrás dos paramédicos em prol de um ponto ou dois. O pano em que o garçom simpático e piedoso amarrou para cessar o sangue agora se vestia da cor vermelha.
— Acidentes acontecem, meu amor. Você sabe disso. — Ensaiei frases soltas diante um tom de voz extremamente alterado. Na minha mente, as passagens ressoavam com bastante clareza. Porém, o som que eu escutei não fora bem assim. — Eu estava bêbado logo ali para tentar esquecer você e, olha só, aqui estamos nós... Você pode me fazer um café? — Questionei com um sorriso sorrateiro que não deveria estar lá muito bom. — Podemos conversar sem gotas de álcool no meu corpo, eu finalmente me decidi.
Fechei os olhos e logo imaginei que ela pularia nos meus braços, beijando-me com aquela ânsia na qual ela sempre demonstrara, deixando-me até perdido por um tempo, buscando uma explicação nas suas reações que sequer existiam.
Não que alguma coisa importasse naquele instante.
Tive a imagem de como seria a nossa vida e não tive problema com o que enxerguei. A mulher mais difícil de lidar se encontrava a minha frente nos meus sonhos, mas talvez... Ela fosse real.
Dei um passo à frente e erguendo a mão. Eu pensei em tocá-la, mas ela se foi — Princesa? — Questionei, mas não havia ninguém. Achei estranho, confesso, mas a ideia de uma alucinação referente a dor que eu sentia no pulso, um pouco anestesiada, junto ao álcool presente, poderiam ter como resultado aquela desconstrução. O sorriso que se encontrava no meu rosto fora embora, mas eu não recuei, a coragem havia surgido e diante todas as minhas escolhas, estar ao seu lado resultara numa ordem que eu fugi por tempo o suficiente.
No final das contas, ela nunca estivera errada mesmo.
Meus passos cambaleantes me levavam a um endereço ao qual eu conseguia chegar com os olhos fechados. A brincadeira não ressoaria malvada, tampouco auto destrutiva. A quantidade de passos que me levariam até o seu quarto não se demoraria mais do que vinte minutos e a garrafa de vodka na minha mão somente me qualificaria como mais um filho da puta prestes a implorar perdão à mulher da sua vida.
Seria cômico, caso não fosse trágico.
As imagens distorcidas costumam cegar aqueles que por muito buscam a visão. Os olhos palpitantes, as pupilas dilatas e a sensação de torpor consistia numa atuação do corpo e mente em prol de segundos, minutos e, por tantas vezes, horas de deleite, deixando de lado a complexidade de problemas que se embasam em uma vida repleta por grandes e péssimas escolhas.
Estranho seria se a metade da população mundial, até mesmo sem maioridade, não sentisse o torpor ao injetar dentro do corpo aquelas substancias que elevavam a mente, distorcendo as imagens que se multiplicavam como uma avalanche de histórias e verdades não ditas.
Lembranças causadas por pontos difíceis a serem esquecidos, mas que magicamente se tornavam borrões capazes de aniquilar a necessidade em sentir-se mal diante episódios estranhos e inquietantes.
Em sua grande maioria, o álcool conseguia jogar para longe histórias como aquelas, sofrimentos como o meu. Não que eu me colocasse como um cara que se mantém bêbado esquecendo aquilo que o consome por dentro, eu não esqueço, somente jogo a bola, isolando para o mais longe que eu possa; e dependendo da intensidade da problemática que costuma me inquietar, são dias até que eu sente em frente a tela de um celular e surte.
Algo que eu não recomendo a ninguém.
Não sei por quanto tempo fiquei paralisado, somente imaginando como seria nosso encontro, mas eu vi quando mais dois carros em alta velocidade passaram por mim. Acenei como bom cidadão e logo levei a garrafa aos lábios. Um carro de polícia parou ao meu lado e eu voltei meus olhos até eles, inclinando o corpo para frente, aos sorrisos. — Boa noite, policial! Fazendo a ronda? — O excesso de simpatia se dava pelo álcool, obviamente. Ele encarou meu rosto, acenando e logo seus olhos se voltaram a minha mão machucada, levando-o a apontar uma vez. — Machuquei no bar, derrubei uma longneck. — Respondi. Ele voltou a acenar com a cabeça e eu ergui a sobrancelha. De alguma maneira, eles pareciam mais desconfiados do que o normal, não que eu tivesse algum tipo de contato com eles. — Aconteceu alguma coisa?
— Um corpo feminino sem vida logo a frente. — Sem muitos rodeios, ele respondeu. Não questionei suas palavras, mesmo diante a curiosidade que se fazia presente em mim. — Rua Antônio de Cabral. Número 28.
Rua Antônio de Cabral. Número 28.
Rua Antônio de Cabral. Número 28.
Antes que eu pudesse responder uma palavra que fosse, perdi o equilíbrio e a garrafa de vidro fora ao chão. Meus olhos desviaram do rosto dos policiais e eu voltei-me para os cacos completamente espatifados, junto ao liquido transparente que logo elevou seu cheiro por todo o ambiente, perdendo-se junto ao vento que circulava naquela noite fria. O álcool atingira em cheio as minhas narinas e eu recuei alguns passos para trás. Talvez, na fantasia que se misturava com a realidade, eu tenha visto o policial abrir a porta do carro, caminhando até a mim. Eu não consegui escutar suas palavras e cada milímetro do meu corpo começava voltar à normalidade. O famoso clique que eleva o nível alcoólico a zero. Talvez meu coração tenha disparado ou parado de bater, eu não consigo entender o que aconteceu ao meu redor. Senti meus braços serem puxados para dentro do carro e me mantive imóvel. Eu não soube explicar o porquê, mas algo dentro de mim, emocionalmente, afirmava que aquele endereço não dizia respeito a algum vizinho das meninas.
Alguma coisa havia acontecido a ela.
costumava afirmar que nós estávamos ligados por uma força muito maior do que poderíamos entender. Suas palavras assustavam-me quando ela repetia inúmeras vezes sobre aquela sentença na qual eu não gostava de participar. Os anos foram passando até que eu entendesse e sentisse. Puxá-la para mim sempre que ela estivera prestes a ir embora sempre fora a minha maior loucura. A obsessão na qual eu sempre me colocava a trazia para mais perto de mim e aí, quando ela já não conseguia lidar com o fato de que eu estava ao seu redor, eu conseguia voltar a viver a minha vida sem canalizar todas as minhas forças em prol de trazê-la.
Eu precisava mantê-la ali. Ao meu lado, por perto. A necessidade em tê-la como a única chance que eu tinha na vida de ser feliz fora se enraizando no meu corpo e no final de tudo, eu me tornei aquele cara que almeja uma única mulher, independente de quantas acabavam na minha cama ao final de cada noite.
O aperto no peito fora aumentando a cada instante em que eu percebia as luzes se direcionando àquele endereço. A sobriedade já se encontrava presente e nada mais importava além do que eu não conseguia entender que acontecia. Diante uma certa dificuldade, puxei o celular no bolso do casaco e percebi algumas ligações. Antes de abri-las, fechei os olhos e me apeguei a credos que eu geralmente não me deixava aceitar a existência. Senti minha mão tremer e abrindo os olhos, percebi que os policiais, já com o carro parado, observavam e aguardavam a minha primeira movimentação. Tentei sorrir ao posicionar o polegar para desbloquear o aparelho e foi ali que eu entendi que, por muitas vezes, nós temos a ideia de que o medo de perder alguém é capaz de nos cegar e ante tais pensamentos, nos colocamos perante uma dramatização que nem sempre resulta na realidade, porém, numa pequena porcentagem, nossos piores pesadelos podem se tornar reais. — Eu não quero descer. — Sussurrei como o garoto amedrontado que sempre fui e observando obsessivamente o único número que se repetia inúmeras vezes nas chamadas não atendidas, as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
25 ligações não atendidas – .
Percorri as mãos pelo meu cabelo, deixando o celular cair pelo carro e não senti a dor na mão que certamente iria retornar em alguma hora, já sem o álcool percorrendo o meu corpo. Voltei a fechar os olhos, encostando o tronco no banco, inclinando a cabeça para trás.
Ela possuía uma áurea única. Um coração que cabia o maior número de pessoas possíveis e enchia meu saco com um time de futebol onde todo mundo queria um pedacinho dela. Quando me chamava de Darling eu esquecia do mundo. Tanto fazia o que eu precisava fingir para me enquadrar por entre pessoas que necessitavam da minha personalidade descolada, eu era abduzido para outro lugar, um universo onde somente ela existia e que nada poderia destruir. A força do que eu sentia, a magnitude do que nós sentíamos um pelo outro não era o bastante para que tudo ruísse. Ainda tínhamos tanto para viver, e eu havia tomado a minha decisão.
Eu precisava do amor da minha vida ao meu lado.
— Você está bem, filho? — Escutei a voz do policial e funguei alto, percorrendo a mão que agora escorria sangue pela grande movimentação. Extremamente perdido perante o que deveria fazer. — Nós precisamos descer. — Ele explicara pausadamente. — Nós iremos analisar o que aconteceu, certo?
Inclinei a cabeça, voltando-me a posição original para encarar o seu rosto. As sobrancelhas curvadas para baixo, os olhos tristes, um sorriso piedoso nos lábios e ele não fazia ideia do que estava acontecendo.
Ninguém sabia.
Neguei com a cabeça e abri a porta do carro, pulei para fora e comecei a andar por entre a grande movimentação ao redor. Um Audi se encontrava parado com um homem em pé. Ele era loiro, forte e estava vestido com um terno, gesticulava sem cessar no telefone, a sua voz se elevava a cada novo minuto e eu realmente tive a impressão de que existiam dois dele no local. Não precisei que ele virasse o corpo para que eu soubesse de quem se tratava e o meu maxilar fora trincado.
Aquele homem poderia ser sido o salvador de alguém que não estava necessitando ser salva. O perfeito empresário, herdeiro, prestes a oferecer tudo o que uma mulher como ela necessitava, menos o amor inigualável que nós sentíamos um pelo outro.
No instante em que o girou o corpo e seus olhos claros se fixaram nos meus, ele avançou muito mais rápido do que eu conseguiria calcular. Eu não cambaleei para trás e sequer me importei quando senti o primeiro soco atingir o meu olho. A dor fora inicialmente anestesiada pelo que corrompia a minha mente, mas quando ele direcionou o segundo movimento, atingindo meu nariz e parte do meu lábio, a tontura se fizera presente e eu cambaleei. Ele não me deixou cair. Não por algum vestígio de piedade, mas por que ele necessitava bater ainda mais.
Os golpes foram se sucedendo até que tudo começou a perder a cor. Talvez eu tenha ido ao chão, não consigo me situar. Num instante confuso, levei a mão aos lábios e o sangue predominava o local. Neguei com a cabeça, sentindo meus olhos ainda menores devido ao inchaço. — Me mata. Eu... Eu não consigo mais fingir. Eu não consigo sem ela — Fechei os olhos e escutei gritos ao redor do meu corpo. Era engraçado pensar que minhas frases foram ditas com uma dificuldade na qual eu sequer conseguira entender se ele havia escutado. Algumas lágrimas tímidas aqueciam as laterais do meu rosto e eu soube que ele havia entendido quando os golpes cessaram. soltou-me o colarinho e eu desejei que ele voltasse a segurar. Eu quis mais daquele espancamento, necessitei que ele me batesse até que eu perdesse a consciência por completo. A minha mente poderia cessar os questionamentos e o flagelamento.
Eu não via problema algum em continuar. Até que eu morresse.
Não consegui entender o que me levou a cogitar a possibilidade de ter acontecido algo com ela, talvez fosse mesmo coisa do destino estar apaixonado a alguém que tem tanto de si. Uma ligação como a nossa não se destruiria tão fácil e eu gostaria que tudo tivesse sido diferente, talvez se eu pudesse ter outra chance, ela estivesse casada ao meu lado. Acordando-me em plena madrugada para transar.
Tentei sorrir, mas meus lábios inchados não se movimentaram, a minha boca seca fora segurada por mãos, tal qual o meu corpo. Não consegui assimilar o que acontecia comigo até que a visão fora fechando. Tornando-se negra.
Os gritos foram cessando, meu corpo já completamente absorto em dor somente referenciava aquilo que eu sentia dentro de mim. Uma dor aguda no peito. A culpa por algo que eu sequer tinha certeza, mas que diante tudo o que havíamos vivido e sentido, não existia hipótese para uma outra resolução.
— Eu... Eu não posso perder... Ela é o amor da... Eu não posso.
Antes de mergulhar por completo na imensidão do seu sorriso, busquei por alguma explicação. As palavras me faltaram, as forças também. A minha frente, encontrava-se com a mão estendida. Ela sorria, de forma tímida e amedrontada. Eu não poderia culpá-la. Por tantos anos ela estivera ali, a mão aberta para que eu segurasse e meus dedos escorregadios sempre a soltaram. Em momentos periclitantes. Em histórias nas quais nós deveríamos construir juntos e eu nunca deixei.
Ali, meus dedos foram de encontro aos dela e apertando fortemente, percebi que não existia nada mais intenso do que um pequeno gesto. A sensação de tê-la ao meu lado para todo o sempre.
Quem me dera encontrar-me imerso a uma realidade feliz que me envolvesse com braços quentes e amorosos, narrativas destoantes daquelas que tivemos.
Uma última vez.
Escolhas
Se você pudesse escolher uma única pessoa para passar o resto da vida ao seu lado, quem você escolheria?
A complexidade de uma vida consegue ser relevante o bastante para que o mundo aguarde por uma resposta coerente e rápida das pessoas. Por muitas vezes, tais questionamentos ocasionam momentos constrangedores entre aqueles que se relacionam e almejam uma vida em conjunto, em contrapartida, ressoa como depressivo e solitário para muitos dos que não costumam se manter por muito tempo com alguém.
A dança das cadeiras sempre se movimenta e o seu contínuo dançar vai de acordo com a maturidade e história de vida dos seus participantes.
Vivemos uma grande dança, a troca de pares vai de acordo com diversos fatores e nós, meros mortais, ante a grande brincadeira que definiram como destino, tentamos nos movimentar de acordo com as voltas que a vida dá. E eu, como todo cara que não precisa de ninguém para ser feliz, me mantenho completamente imune às perguntas difíceis que são geradas somente para uma grande inquietude.
Aí que eu começo a grande mentira.
Quem você escolheria?
Uma certa vez, escutei aquela pergunta e logo me vi preso numa resposta que fora completamente aleatória e estranha. Naquela ocasião, devido a grande quantidade de álcool ingerida, percebi que alguma coisa não ia bem dentro de mim. Mexendo-me na cadeira de um bar, repleto por garotas a minha disposição, logo vi que aquela resposta na qual minha mente se colocara disposta a evidenciar fora ocasionada pela grande quantidade alcoólica, então ok.
Tudo certo.
Até que eu fui surpreendido com outro pensamento voltado àquela mesma imagem que se desenhara a minha frente.
Ela deveria ter um sexo inigualável. O tesão que eu conseguia sentir por ela era absurdo e diante a quantidade de tempo desejando sem ter, fazia sentido vê-la como pessoa que eu escolheria para o resto da vida, certo?
Completamente errado, , mas você percebeu tarde demais.
Ela era a dona dos meus maiores surtos, não por ter transado com o meu irmão - eu já havia passado por isso, mas por reconhecer em mim, alguém que eu nunca havia visto e quando as imagens que surgiam ao me encontrar bêbado, começaram a evidenciar meus dias sem que eu tivesse controle e conseguisse lidar. Eu já não conseguia imaginar uma vida sem ela presente, muito menos sabia viver sem que ela se mostrasse coeva e ao meu lado.
A minha obsessão, meu sorriso e a minha loucura. Aquela mulher lá, a que surgiu como um sexo fácil que eu teria com a melhor amiga de alguém da família, se tornou a minha maior insanidade e a maior dor que eu havia sentido ao me olhar no espelho e perceber o merda que eu sempre havia sido.
A saia preta e a blusa de mangas amplas, que ela teimava em afirmar que estava em trend, cobriam-lhe o corpo. No rosto, uma maquiagem que eu não conseguia reconhecer e os cabelos longos se moldavam aos ombros com a perfeição de sempre. Ela encontrava-se com os braços cruzados, olhando-me como se eu tivesse a resposta para todos os nossos problemas, quando na verdade, eu sequer sabia como lidar com eles.
— O que você quer? — Meus olhos encontraram os dela no instante em que sua respiração iniciara uma entonação completamente ofegante. Eu conseguia sentir e perceber que a sua reação não era lá das mais felizes e aquilo me incomodou mais do que eu estava disposto a admitir a mim mesmo. — Eu vim correndo, você não disse o que estava acontecendo.
Uma parte de mim buscava por algum resquício de sanidade. Um controle da mente que fosse capaz de me levar a um recuo ainda maior do que não tocar o seu rosto e talvez puxá-la para mais próximo. Minhas entranhas necessitavam do seu toque, do seu abraço e com toda a certeza que eu pudesse esconder até de mim mesmo, eu necessitava dela ao meu lado.
Mais do que eu pudesse admitir.
Neguei com a cabeça e me afastei. Comecei a brincar com as inúmeras canetas coloridas que se encontravam em cima da sua escrivaninha e senti seus olhos me sugarem como sempre haviam feito.
— Veio por que quis, . Ninguém apontou uma arma. Eu apontei?
Neguei com a cabeça e deixei um sorriso fraco brotar dos meus lábios. — Você é um eterno Call of duty, sabia? — Alarguei o sorriso negando com a cabeça — Irritadinha.
— Você pode parar de me colocar como diminutivo, por gentileza? — Ela retrucou e eu mordi a língua. Fortemente. Senti os olhos lacrimejarem somente para suprir a necessidade de beijar-lhe os lábios, ansioso. Eu precisava voltar à vida normal e aniquilar aquele tipo de sentimento que ia e vinha o tempo todo, referente a ela, somente a ela.
Busquei por uma concentração inexistente, brinquei com alguns lances do último jogo do Barcelona ou aquela festa na qual eu bebi como um condenado somente para que ela fosse embora da minha mente tal qual um pássaro livre que não ansiava por manter-se preso a um ninho.
Uma doce mentira, tão letal quanto um veneno que pudesse ser injetado nas minhas veias, me matando dia após dia, lentamente, sem que eu pudesse perceber. Ela ressoava como uma combinação destrutiva, sua intensidade, seu ultimato, a maneira na qual ela conseguia me deixar à sua mercê.
Veneno como o álcool no qual eu buscava por alívio. Desejando e lidando com qualquer outra problemática que não fosse ter que lidar com tudo o que eu sentia e sinto por ela.
tocou o meu braço, meus olhos voltaram-se para seus dedos pequenos e unhas vermelhas. Sua pele se mantinha gélida e eu desejei conseguir entrelaçar sua mão a minha, mas não o fiz.
Ergui o rosto e me deparei com aqueles olhos intensos, grandes e castanhos. O buraco negro no qual eu buscava fugir para não me afogar ainda mais, não que fosse possível.
Ela não afirmara uma única palavra e para mim, um cara cético que costuma deixar qualquer sentimentalismo de lado, seu silêncio fora responsável por metade das minhas dúvidas e questionamentos. Eu poderia enumerar os poderes nos quais ela possuíra sobre mim. Suas palavras, seus desejos, seus porquês.
, por muitas vezes, não necessitava de uma grande explicação. A confusão, o medo e insegurança que se instalava dentro de mim era oriundo das suas palavras não ditas, dos seus sentimentos que me amedrontam e da intensidade, da qual eu tento, inutilmente, esquecer.
— Você parece com medo.
Quando ela, já tamborilando meu braço enquanto ainda me segurava, afirmou palavras que eu tentava fingir não existir, movimentei-me para trás, nos afastando e virando de costas para conseguir talvez raciocinar. — Medo de que, ?
— Não sei, — Ela sussurrou e eu fechei meus olhos com bastante força. — Se eu soubesse, não estava questionando. Você tá distante e... sei lá... parece ter medo de mim.
Inclinando a cabeça para trás, pensei em contabilizar de um até cinquenta, e, talvez, voltar mais uma vez para os gols perdidos pelo Messi no último jogo. Busquei lembranças de todas as mulheres com as quais eu flertei no final de semana, tentei manter alguma delas por perto, pensei nas transas e até mesmo nos dias intermináveis de trabalho.
A necessidade em manter-me distante dela aflorou o meu corpo e eu pensei, eu realmente cogitei a possibilidade de inventar uma desculpa e dar o fora daquele apartamento.
A frase mais dita a mim mesmo e por mim. Desde o primeiro instante em que eu pus meus olhos naquela mulher. O seu sorriso, seu corpo, seu jeito. Tudo nela ressoava como gatilhos que me deixavam como um garotinho assustado. Não existia o homem fodão que conseguia a mulher que desejasse, não. Eu não possuíra flerte, tampouco a certeza de que ao final da noite levaria aquele espetáculo de mulher para cama.
Não que eu não quisesse.
Analisando meu desejo doentio e obsessivo por ela, a simples ideia de talvez transar uma única vez conseguia me deixar com um adolescente em plena puberdade.
Eu havia conhecido mulheres o suficiente para manter a soberba de que eu seria bom o suficiente para me envolver com todas elas sem nenhuma necessidade por apaixonar-me. Altas, baixas, loiras, negras, ruivas. Não existia o menor vestígio de envolvimento presente no meu corpo capaz de me deixar no mínimo incomodado ou amedrontado diante delas, e eu gostava de me vangloriar diante de tal feitio. Uma construção mentirosa e falsa, em se tratando da mulher a minha frente, que não se enquadrava em nada com o que eu havia sentido por alguém, em algum instante na minha vida.
— Eu tô cansado, . Ando trabalhando muito. As coisas não andam muito fáceis. — Sussurrei com uma voz trepidante e extremamente duvidosa. Eu não olhei para o seu rosto, mas não fora nenhuma novidade quando ela caminhou até o meu corpo, cruzando os braços na altura dos seios, voltando meus olhos para lá.
Ela conseguiu aniquilar todo o raciocínio que eu tentava adicionar como realidade a sua frente. Sua respiração um pouco descompassada, seus lábios fechados em sinal de objeção, seus olhos presos ao meu rosto. Ela consistia na personificação de todos os meus desejos obscuros, mantendo presente a junção de uma adoração diante a perfeição que eu sabia que ela não tinha, como todo outro ser humano, mas que eu não conseguia não adicionar a ela.
negou com a cabeça e ergueu seus braços na altura dos meus ombros, numa oscilação frouxa e estupidamente infantil. Tentei recuar alguns passos para trás, tombando na beirada da sua cama, sentando-me contra a minha vontade.
Num movimento rápido, ela se posicionou por entre as minhas pernas e eu senti a necessidade por depositar minhas mãos envolta da sua cintura, tal qual ela se inclinava para frente. Ela percorreu suas unhas pelos fios dos meus cabelos e eu fechei os olhos. Eu acho que todo o problema em me manter distante dela era a junção de todos os meus medos que naquele instante haviam ido embora e eu mergulhei mais uma vez no escuro dos seus olhos.
— Você sabe que eu tô aqui — sussurrou e eu não levei aquela frase para o caminho ideal. Eu sabia desde o início daquela conversa a tudo o que ela era referenciada, mas a minha cabeça não tinha o menor interesse em agir com um homem honrado e a necessidade de pôr as minhas mãos no corpo dela diante daquela frase ambígua, fora avassaladora. Não que ela tivesse a pretensão de me fazer levar toda a conversa para aquele patamar. Mesmo com a malicia transpondo pelos seus poros, quando ela conseguia e queria lidar com uma conversa sem o menor indicio de sexo, sua construção não possuíra nenhum resquício de segundas intenções, o grande problema era explicar à minha mente perturbada que nunca desejou tão ardentemente que ela estivesse sentada com as pernas abertas sobre mim. — Meu Deus, . Para de pensar nisso.
Ela arranhou o meu pescoço e eu me movimentei. Meus dedos foram em direção a sua cintura e eu não tive um bom discernimento para entender o que ela havia afirmado. Na minha cabeça ressoou como um ‘por favor, me toca’ e, como bom moço que sempre fui, eu não deixaria que ela se mantivesse desejando aquela aproximação maior por muito mais tempo.
O tal do vício nos torna dependentes até mesmo quando nós acreditamos que não somos. Quando dei por mim, em algum instante da nossa vida, me vi desejando cada vez mais por me encontrar perto dela, próximo daquilo que ela havia projetado como homem perfeito em mim.
Logo eu, um merdinha, medroso, que não consegue decidir absolutamente nada que fujisse do controle, me vejo perdido entre uma vida dentre os conformes que eu vi minha mãe planejar desde a minha infância e à que alguém que conseguia me manter preso aos encantos dela, sem ao menor indício de que eu entendesse o porquê.
— Você sabe que essa coisa de me manter são é bastante complicado em se tratando de você. — Respondi ainda com os olhos fechados, sentindo suas unhas percorrerem a minha nuca, arrepiando-me por completo — Prefiro fingir que não existe nada acontecendo ao nosso redor.
— Até você fugir mais uma vez?
Sem aviso prévio, senti suas mãos se afastarem do meu corpo e abrindo meus olhos, vi cambalear para trás, mantendo-se o mais distante que fosse possível naquele pequeno quarto.
Ela virou de costas para mim e eu me deixei observar seu corpo, seus cabelos. Eu era esse merda que ela se afastava a cada pequena lembrança de passado que tínhamos. Nosso presente não destoava tanto assim e eu conseguia entender o motivo pelo qual ela conseguia deixar-me para o lado, somente para não ter que se misturar com um cara complicado como eu.
Minhas palavras não foram ouvidas por ela naquele instante e em nenhum outro no qual ela desejou que eu fosse mais homem do que rato. Uma mulher como aquela não necessitava de alguém como eu e, por maior que fosse o desejo que eu sempre tive para que ela fosse feliz, o egoísmo me fazia cultivá-la próximo a mim, pensando nela e puxando-a para o mais perto que eu pudesse cogitar.
Ao seu lado, descobri o real significado do sentir algo por alguém. Ela não era um ponto construído no qual eu comia a mulher três vezes por semana, e diante um cotidiano, o sentimento começava a surgir. não era o meu desejo imediato, tampouco fora tudo o que eu sonhei sentir um dia. Ela resumia-se em muito mais. O tipo do sentimento que eu escondia de cada pessoa que se mantinha ao meu redor, até mesmo de mim.
Eu sei, nunca foi difícil admitir que quando eu me perdia nos seus olhos, nada mais importava além disso e eu logo esquecia todas as baboseiras as quais eu adorava definir como nossos problemas. Os segundos de entendimento diante tudo o que se movia dentro de mim e me puxavam como um imã para ela eram avassaladores e logo em seguida, aquele ponto negro e escuro no qual eu me jogava ia logo se esvaindo e só me restava o medo de que aquilo não pudesse ser um sentimento ou sensação normal.
Não era possível sentir aquele tipo de coisa por alguém, eu não poderia me deixar pertencer tanto a alguém a ponto de ela ter total controle por cada parte.
Ergui meu corpo da cama e respirei fundo, antes de caminhar até o seu corpo, parando a milímetros, observando a rua repleta por neve que ela tanto se deixava perder. — Acho eu melhor ir embora.
Minhas palavras ressoaram como pequenas farpas de madeira adentrando a minha pele, destruindo a minha calma e elevando a dor que era evidenciada no meu corpo. negou com a cabeça e respirou fundo. Esperei por mais alguma movimentação vinda dela, algo que nunca aconteceu naquele instante, levando-me a dar um passo para trás, pronto para virar as costas para a mulher da minha vida mais uma vez.
— Uma hora você vai se arrepender por tantas vezes escolher qualquer outra coisa além de mim.
— Eu não tô desistindo de você.
— Não, , você está mais uma vez preferindo a sua vida de merda a enfrentar o mundo ao meu lado.
Minha garganta secou e eu senti aquele incomodo que sempre se fizera presente em instantes como aqueles. Momentos dela. Nas primeiras vezes, o meu maior desejo era socar alguém, depois eu percebi que discussões e brigas não me levariam a lugar algum e eu logo me vi preso entre a necessidade de correr atrás dela e me encolher como um garotinho assustado, ansiando por alguém que pudesse escolher as diretrizes da minha vida quando eu, aparentemente, não conseguia.
Com os anos, eu aprendi a me acalmar, não sentir o desespero crescente. O medo de perder alguém que eu sequer entendia que tinha. Ou o porquê dela me pertencer.
Uma vez, ela explicou que sempre sonhou com grandes amores e por muito tempo, eu, o cara fodão que não sentia nada por ninguém, consegui visualizar naquela mulher maravilhosa, uma sonhadora que sequer conseguia cogitar possibilidades reais de vida. Ela enxergava em mim alguém que eu sequer acreditava que existia: um menino que fora crescendo e perdendo um brilho no qual ela havia se encantado; um homem que havia se tornado refém de alguém que sequer havia pedido por algo além de pequenas conversas e um cuidado com os outros que eu, sinceramente, não via necessidade.
conseguia tirar o melhor de mim, ela sugava a minha loucura, ela se tornara a minha muralha e talvez, somente talvez, eu havia depositado nela a necessidade que eu tive por viver. Afinal, um cara tão novo como eu não estava pronto para tudo o que ela almejava ao meu lado.
Mas a certeza continuou lá. Ao meu lado, tocável, assim como o seu rosto, os seus lábios, sua pele.
Eu queria ir embora, ou ficar. Gostaria de puxá-la para os meus braços e beijá-la até que ela cansasse ou talvez torná-la minha de uma vez por todas. Ao mesmo tempo, a insegurança me cegava ao ponto de me fazer virar as costas para ela ou para nós. Buscando uma perfeição em mim, a qual apenas ela enxergava e que eu nunca consegui visualizar.
— Eu tô indo. — Respondi baixo, como o covarde que sempre fui. Não recebi nenhuma palavra de protesto, tampouco os tapas que em outrora ela depositara no meu rosto. Ela não tivera reação alguma e eu voltei meus olhos para ela. Eu queria que, como todas as outras vezes, ela implorasse para que eu não fosse embora, mas ela não o fez.
se manteve em silêncio, seus olhos não se encontravam em mim, muito menos o seu corpo. Por algum instante, senti um aperto desagradável e voltei alguns passos em sua direção. Busquei pelo seu toque, entrelacei minhas mãos as suas, mas ela se afastou. Tentei sorrir, aquele sorriso pelo qual ela se dizia apaixonada, mas ela também não demonstrou nada.
— Covarde. — Sua palavra fora frágil tal qual ela e eu abri a boca para falar o que quer que fosse por diversas vezes, mas, tão idêntico a outros momentos, eu não consegui.
Senti meu corpo num vazio único e o orgulho se instalara. Algumas pessoas afirmavam a ela que eu só verdadeiramente daria valor a sua atenção, ao seu amor, quando ela não mais olhasse em minha direção e eu, como todo cara que verdadeiramente acreditava que entre nós nada tivesse forças o bastante para distanciar, sempre dei de ombros.
Eu ignorei quando ela reclamou dos flertes, me irritei quando ela buscou em mim alguém que eu não queria ser no instante. Não quis ouvi-la quando ela tentou me trazer para a realidade, tampouco me fiz presente quando ela mais precisou.
— , olha pra mim.
Trinquei o maxilar e aguardei por pequenos braços ao redor do meu pescoço, mas ela não virou. negou com a cabeça e continuou procurando por alguma merda na rua, algo que eu não estava com paciência em fazer.
Insistente, busquei pelos seus dedos mais uma vez. Ela voltou a cambalear para o lado, afastando-se e no instante em que nossos olhos se encontraram, eu percebi um olhar que eu nunca havia visto no seu rosto anteriormente.
Ela estava finalmente me deixando ir.
— Acho que eu não preciso falar nada, não é? Você está livre, . Vá.
Durante toda a minha vida, joguei futebol. Lembro que aos quinze anos, diante uma jogada mais incisiva, prestes a fazer o gol, o zagueiro do time adversário fodeu o meu pé. O pênalti não fora legal, tampouco o outro cara que teve que bater. O campeonato do sub15 tinha fotos dos meus amigos felizes pelo jogo e eu, com o pé engessado, não sentia nada além de um grande rancor por não ter estado presente naquela final. O hospital fora palco para o meu troféu e outro garoto agora tinha o nome do Gol do título. Diante as minhas lembranças com bastante sofrimento, aquela se sobressaia sempre que possível e depois desse ocorrido, algumas coisas costumavam me incomodar, mas eu sempre tirava de letra.
Deixava de lado, ignorava. O que não se dava com a mulher que se encontrava dispensando-me a minha frente. Os acontecimentos com a ressoavam como assombrações. Eu sentia o estômago revirar e sempre voltava meus pensamentos para os instantes em que ela sorrira para mim. Aquela frase feminina sobre chutar o balde e voltar para buscar nunca se aplicou a nós dois. Eu sempre voltei em menos de vinte e quatro horas. Eu nunca verdadeiramente deixei que ela fosse e talvez, melancolicamente pensando, esse tenha sido o pior momento no qual eu conseguia pensar da minha vida atual.
Um covarde dando as costas para a mulher da sua vida por medo de lutar, sentir, deixar-se viver.
Eu não me demorei muito tempo em seu quarto. Neguei com a cabeça e virei à esquerda junto ao extenso corredor. Avistei a Mia andando de um lado e para o outro, balançando o rabinho, bastante satisfeita. Por um instante, tive os olhos da cachorra observando-me e tive a sensação de que ela me estudava, julgando o babaca que eu sempre havia sido. Neguei com a cabeça, arrastando-me a passos largos para a sala. Observei uma garota sentada no sofá e percebendo que ela não me cumprimentaria, somente deixei que o ar dos meus pulmões fossem embora, caminhando para a porta já com os olhos vermelhos e um peso nas minhas costas que poderia ser comparado a uma manada de elefantes. Pisando firme por sobre os meus ombros.
— Ela merece alguém melhor do que você. Espero que você saiba disso.
Conhecer alguém durante toda uma vida proporciona momentos de intimidade sem precedentes algum. Eu imaginei que poderia escutar as palavras de uma pessoa sem me abalar, não depois de tudo, mas eis que tapas na cara não precisam de nenhum movimento brusco. A violência ali estava espancando-me sem uma movimentação e ao encarar e sustentar os olhos quase verdes dela, eu percebi que caso ela me olhasse por mais tempo, eu choraria ali.
Tal como aquela cena aos quinze anos em que eu estava indo a um hospital ao seu lado.
— Vai se foder, .
Respondi por entre os dentes, sabendo que a minha voz não ressoou tão violenta quanto eu queria expor. O garotinho amedrontado estava presente e muito mais forte do que a dor física daquele instante, ou a revolta por não fazer parte de algo, era a sensação de perda. A constatação de que o merda iria perder a mulher mais perfeita que ele já teve ao seu lado.
— Eu posso até me foder, mas eu espero que você saiba que você a perdeu de vez.
Eu não respondi.
Não senti quando as lágrimas inundaram meus olhos. Tampouco entendi quando a minha reação, desesperada, buscando por ar livre diante da dificuldade em respirar, me levou a correr o mais longe possível daquele lugar.
Minha mente repetia um único nome. . . .
Eu tentava imaginar como seria dali pra frente. O casaco estava cobrindo o meu corpo e o frio não conseguia sobrepor à agonia presente. Meus olhos dificultavam a minha possibilidade para enxergar um palmo a minha frente, mas, para um bom alcoólatra nas horas vagas no qual eu havia me transformado, graças à ela, um bar eu conseguia enxergar com grande facilidade.
Os flashes dos momentos ao seu lado foram indo e vindo gradativamente, conforme a minha luta para que aquilo fosse embora; mas eu sabia que nada iria.
Destruir o que ela almejava ao meu lado era como perceber o merda que eu sempre havia sido e, bom, eu não poderia fugir da única coisa que havia restado ali.
Eu e a minha covardia.
A complexidade de uma vida consegue ser relevante o bastante para que o mundo aguarde por uma resposta coerente e rápida das pessoas. Por muitas vezes, tais questionamentos ocasionam momentos constrangedores entre aqueles que se relacionam e almejam uma vida em conjunto, em contrapartida, ressoa como depressivo e solitário para muitos dos que não costumam se manter por muito tempo com alguém.
A dança das cadeiras sempre se movimenta e o seu contínuo dançar vai de acordo com a maturidade e história de vida dos seus participantes.
Vivemos uma grande dança, a troca de pares vai de acordo com diversos fatores e nós, meros mortais, ante a grande brincadeira que definiram como destino, tentamos nos movimentar de acordo com as voltas que a vida dá. E eu, como todo cara que não precisa de ninguém para ser feliz, me mantenho completamente imune às perguntas difíceis que são geradas somente para uma grande inquietude.
Aí que eu começo a grande mentira.
Quem você escolheria?
Uma certa vez, escutei aquela pergunta e logo me vi preso numa resposta que fora completamente aleatória e estranha. Naquela ocasião, devido a grande quantidade de álcool ingerida, percebi que alguma coisa não ia bem dentro de mim. Mexendo-me na cadeira de um bar, repleto por garotas a minha disposição, logo vi que aquela resposta na qual minha mente se colocara disposta a evidenciar fora ocasionada pela grande quantidade alcoólica, então ok.
Tudo certo.
Até que eu fui surpreendido com outro pensamento voltado àquela mesma imagem que se desenhara a minha frente.
Ela deveria ter um sexo inigualável. O tesão que eu conseguia sentir por ela era absurdo e diante a quantidade de tempo desejando sem ter, fazia sentido vê-la como pessoa que eu escolheria para o resto da vida, certo?
Completamente errado, , mas você percebeu tarde demais.
Ela era a dona dos meus maiores surtos, não por ter transado com o meu irmão - eu já havia passado por isso, mas por reconhecer em mim, alguém que eu nunca havia visto e quando as imagens que surgiam ao me encontrar bêbado, começaram a evidenciar meus dias sem que eu tivesse controle e conseguisse lidar. Eu já não conseguia imaginar uma vida sem ela presente, muito menos sabia viver sem que ela se mostrasse coeva e ao meu lado.
A minha obsessão, meu sorriso e a minha loucura. Aquela mulher lá, a que surgiu como um sexo fácil que eu teria com a melhor amiga de alguém da família, se tornou a minha maior insanidade e a maior dor que eu havia sentido ao me olhar no espelho e perceber o merda que eu sempre havia sido.
A saia preta e a blusa de mangas amplas, que ela teimava em afirmar que estava em trend, cobriam-lhe o corpo. No rosto, uma maquiagem que eu não conseguia reconhecer e os cabelos longos se moldavam aos ombros com a perfeição de sempre. Ela encontrava-se com os braços cruzados, olhando-me como se eu tivesse a resposta para todos os nossos problemas, quando na verdade, eu sequer sabia como lidar com eles.
— O que você quer? — Meus olhos encontraram os dela no instante em que sua respiração iniciara uma entonação completamente ofegante. Eu conseguia sentir e perceber que a sua reação não era lá das mais felizes e aquilo me incomodou mais do que eu estava disposto a admitir a mim mesmo. — Eu vim correndo, você não disse o que estava acontecendo.
Uma parte de mim buscava por algum resquício de sanidade. Um controle da mente que fosse capaz de me levar a um recuo ainda maior do que não tocar o seu rosto e talvez puxá-la para mais próximo. Minhas entranhas necessitavam do seu toque, do seu abraço e com toda a certeza que eu pudesse esconder até de mim mesmo, eu necessitava dela ao meu lado.
Mais do que eu pudesse admitir.
Neguei com a cabeça e me afastei. Comecei a brincar com as inúmeras canetas coloridas que se encontravam em cima da sua escrivaninha e senti seus olhos me sugarem como sempre haviam feito.
— Veio por que quis, . Ninguém apontou uma arma. Eu apontei?
Neguei com a cabeça e deixei um sorriso fraco brotar dos meus lábios. — Você é um eterno Call of duty, sabia? — Alarguei o sorriso negando com a cabeça — Irritadinha.
— Você pode parar de me colocar como diminutivo, por gentileza? — Ela retrucou e eu mordi a língua. Fortemente. Senti os olhos lacrimejarem somente para suprir a necessidade de beijar-lhe os lábios, ansioso. Eu precisava voltar à vida normal e aniquilar aquele tipo de sentimento que ia e vinha o tempo todo, referente a ela, somente a ela.
Busquei por uma concentração inexistente, brinquei com alguns lances do último jogo do Barcelona ou aquela festa na qual eu bebi como um condenado somente para que ela fosse embora da minha mente tal qual um pássaro livre que não ansiava por manter-se preso a um ninho.
Uma doce mentira, tão letal quanto um veneno que pudesse ser injetado nas minhas veias, me matando dia após dia, lentamente, sem que eu pudesse perceber. Ela ressoava como uma combinação destrutiva, sua intensidade, seu ultimato, a maneira na qual ela conseguia me deixar à sua mercê.
Veneno como o álcool no qual eu buscava por alívio. Desejando e lidando com qualquer outra problemática que não fosse ter que lidar com tudo o que eu sentia e sinto por ela.
tocou o meu braço, meus olhos voltaram-se para seus dedos pequenos e unhas vermelhas. Sua pele se mantinha gélida e eu desejei conseguir entrelaçar sua mão a minha, mas não o fiz.
Ergui o rosto e me deparei com aqueles olhos intensos, grandes e castanhos. O buraco negro no qual eu buscava fugir para não me afogar ainda mais, não que fosse possível.
Ela não afirmara uma única palavra e para mim, um cara cético que costuma deixar qualquer sentimentalismo de lado, seu silêncio fora responsável por metade das minhas dúvidas e questionamentos. Eu poderia enumerar os poderes nos quais ela possuíra sobre mim. Suas palavras, seus desejos, seus porquês.
, por muitas vezes, não necessitava de uma grande explicação. A confusão, o medo e insegurança que se instalava dentro de mim era oriundo das suas palavras não ditas, dos seus sentimentos que me amedrontam e da intensidade, da qual eu tento, inutilmente, esquecer.
— Você parece com medo.
Quando ela, já tamborilando meu braço enquanto ainda me segurava, afirmou palavras que eu tentava fingir não existir, movimentei-me para trás, nos afastando e virando de costas para conseguir talvez raciocinar. — Medo de que, ?
— Não sei, — Ela sussurrou e eu fechei meus olhos com bastante força. — Se eu soubesse, não estava questionando. Você tá distante e... sei lá... parece ter medo de mim.
Inclinando a cabeça para trás, pensei em contabilizar de um até cinquenta, e, talvez, voltar mais uma vez para os gols perdidos pelo Messi no último jogo. Busquei lembranças de todas as mulheres com as quais eu flertei no final de semana, tentei manter alguma delas por perto, pensei nas transas e até mesmo nos dias intermináveis de trabalho.
A necessidade em manter-me distante dela aflorou o meu corpo e eu pensei, eu realmente cogitei a possibilidade de inventar uma desculpa e dar o fora daquele apartamento.
A frase mais dita a mim mesmo e por mim. Desde o primeiro instante em que eu pus meus olhos naquela mulher. O seu sorriso, seu corpo, seu jeito. Tudo nela ressoava como gatilhos que me deixavam como um garotinho assustado. Não existia o homem fodão que conseguia a mulher que desejasse, não. Eu não possuíra flerte, tampouco a certeza de que ao final da noite levaria aquele espetáculo de mulher para cama.
Não que eu não quisesse.
Analisando meu desejo doentio e obsessivo por ela, a simples ideia de talvez transar uma única vez conseguia me deixar com um adolescente em plena puberdade.
Eu havia conhecido mulheres o suficiente para manter a soberba de que eu seria bom o suficiente para me envolver com todas elas sem nenhuma necessidade por apaixonar-me. Altas, baixas, loiras, negras, ruivas. Não existia o menor vestígio de envolvimento presente no meu corpo capaz de me deixar no mínimo incomodado ou amedrontado diante delas, e eu gostava de me vangloriar diante de tal feitio. Uma construção mentirosa e falsa, em se tratando da mulher a minha frente, que não se enquadrava em nada com o que eu havia sentido por alguém, em algum instante na minha vida.
— Eu tô cansado, . Ando trabalhando muito. As coisas não andam muito fáceis. — Sussurrei com uma voz trepidante e extremamente duvidosa. Eu não olhei para o seu rosto, mas não fora nenhuma novidade quando ela caminhou até o meu corpo, cruzando os braços na altura dos seios, voltando meus olhos para lá.
Ela conseguiu aniquilar todo o raciocínio que eu tentava adicionar como realidade a sua frente. Sua respiração um pouco descompassada, seus lábios fechados em sinal de objeção, seus olhos presos ao meu rosto. Ela consistia na personificação de todos os meus desejos obscuros, mantendo presente a junção de uma adoração diante a perfeição que eu sabia que ela não tinha, como todo outro ser humano, mas que eu não conseguia não adicionar a ela.
negou com a cabeça e ergueu seus braços na altura dos meus ombros, numa oscilação frouxa e estupidamente infantil. Tentei recuar alguns passos para trás, tombando na beirada da sua cama, sentando-me contra a minha vontade.
Num movimento rápido, ela se posicionou por entre as minhas pernas e eu senti a necessidade por depositar minhas mãos envolta da sua cintura, tal qual ela se inclinava para frente. Ela percorreu suas unhas pelos fios dos meus cabelos e eu fechei os olhos. Eu acho que todo o problema em me manter distante dela era a junção de todos os meus medos que naquele instante haviam ido embora e eu mergulhei mais uma vez no escuro dos seus olhos.
— Você sabe que eu tô aqui — sussurrou e eu não levei aquela frase para o caminho ideal. Eu sabia desde o início daquela conversa a tudo o que ela era referenciada, mas a minha cabeça não tinha o menor interesse em agir com um homem honrado e a necessidade de pôr as minhas mãos no corpo dela diante daquela frase ambígua, fora avassaladora. Não que ela tivesse a pretensão de me fazer levar toda a conversa para aquele patamar. Mesmo com a malicia transpondo pelos seus poros, quando ela conseguia e queria lidar com uma conversa sem o menor indicio de sexo, sua construção não possuíra nenhum resquício de segundas intenções, o grande problema era explicar à minha mente perturbada que nunca desejou tão ardentemente que ela estivesse sentada com as pernas abertas sobre mim. — Meu Deus, . Para de pensar nisso.
Ela arranhou o meu pescoço e eu me movimentei. Meus dedos foram em direção a sua cintura e eu não tive um bom discernimento para entender o que ela havia afirmado. Na minha cabeça ressoou como um ‘por favor, me toca’ e, como bom moço que sempre fui, eu não deixaria que ela se mantivesse desejando aquela aproximação maior por muito mais tempo.
O tal do vício nos torna dependentes até mesmo quando nós acreditamos que não somos. Quando dei por mim, em algum instante da nossa vida, me vi desejando cada vez mais por me encontrar perto dela, próximo daquilo que ela havia projetado como homem perfeito em mim.
Logo eu, um merdinha, medroso, que não consegue decidir absolutamente nada que fujisse do controle, me vejo perdido entre uma vida dentre os conformes que eu vi minha mãe planejar desde a minha infância e à que alguém que conseguia me manter preso aos encantos dela, sem ao menor indício de que eu entendesse o porquê.
— Você sabe que essa coisa de me manter são é bastante complicado em se tratando de você. — Respondi ainda com os olhos fechados, sentindo suas unhas percorrerem a minha nuca, arrepiando-me por completo — Prefiro fingir que não existe nada acontecendo ao nosso redor.
— Até você fugir mais uma vez?
Sem aviso prévio, senti suas mãos se afastarem do meu corpo e abrindo meus olhos, vi cambalear para trás, mantendo-se o mais distante que fosse possível naquele pequeno quarto.
Ela virou de costas para mim e eu me deixei observar seu corpo, seus cabelos. Eu era esse merda que ela se afastava a cada pequena lembrança de passado que tínhamos. Nosso presente não destoava tanto assim e eu conseguia entender o motivo pelo qual ela conseguia deixar-me para o lado, somente para não ter que se misturar com um cara complicado como eu.
Minhas palavras não foram ouvidas por ela naquele instante e em nenhum outro no qual ela desejou que eu fosse mais homem do que rato. Uma mulher como aquela não necessitava de alguém como eu e, por maior que fosse o desejo que eu sempre tive para que ela fosse feliz, o egoísmo me fazia cultivá-la próximo a mim, pensando nela e puxando-a para o mais perto que eu pudesse cogitar.
Ao seu lado, descobri o real significado do sentir algo por alguém. Ela não era um ponto construído no qual eu comia a mulher três vezes por semana, e diante um cotidiano, o sentimento começava a surgir. não era o meu desejo imediato, tampouco fora tudo o que eu sonhei sentir um dia. Ela resumia-se em muito mais. O tipo do sentimento que eu escondia de cada pessoa que se mantinha ao meu redor, até mesmo de mim.
Eu sei, nunca foi difícil admitir que quando eu me perdia nos seus olhos, nada mais importava além disso e eu logo esquecia todas as baboseiras as quais eu adorava definir como nossos problemas. Os segundos de entendimento diante tudo o que se movia dentro de mim e me puxavam como um imã para ela eram avassaladores e logo em seguida, aquele ponto negro e escuro no qual eu me jogava ia logo se esvaindo e só me restava o medo de que aquilo não pudesse ser um sentimento ou sensação normal.
Não era possível sentir aquele tipo de coisa por alguém, eu não poderia me deixar pertencer tanto a alguém a ponto de ela ter total controle por cada parte.
Ergui meu corpo da cama e respirei fundo, antes de caminhar até o seu corpo, parando a milímetros, observando a rua repleta por neve que ela tanto se deixava perder. — Acho eu melhor ir embora.
Minhas palavras ressoaram como pequenas farpas de madeira adentrando a minha pele, destruindo a minha calma e elevando a dor que era evidenciada no meu corpo. negou com a cabeça e respirou fundo. Esperei por mais alguma movimentação vinda dela, algo que nunca aconteceu naquele instante, levando-me a dar um passo para trás, pronto para virar as costas para a mulher da minha vida mais uma vez.
— Uma hora você vai se arrepender por tantas vezes escolher qualquer outra coisa além de mim.
— Eu não tô desistindo de você.
— Não, , você está mais uma vez preferindo a sua vida de merda a enfrentar o mundo ao meu lado.
Minha garganta secou e eu senti aquele incomodo que sempre se fizera presente em instantes como aqueles. Momentos dela. Nas primeiras vezes, o meu maior desejo era socar alguém, depois eu percebi que discussões e brigas não me levariam a lugar algum e eu logo me vi preso entre a necessidade de correr atrás dela e me encolher como um garotinho assustado, ansiando por alguém que pudesse escolher as diretrizes da minha vida quando eu, aparentemente, não conseguia.
Com os anos, eu aprendi a me acalmar, não sentir o desespero crescente. O medo de perder alguém que eu sequer entendia que tinha. Ou o porquê dela me pertencer.
Uma vez, ela explicou que sempre sonhou com grandes amores e por muito tempo, eu, o cara fodão que não sentia nada por ninguém, consegui visualizar naquela mulher maravilhosa, uma sonhadora que sequer conseguia cogitar possibilidades reais de vida. Ela enxergava em mim alguém que eu sequer acreditava que existia: um menino que fora crescendo e perdendo um brilho no qual ela havia se encantado; um homem que havia se tornado refém de alguém que sequer havia pedido por algo além de pequenas conversas e um cuidado com os outros que eu, sinceramente, não via necessidade.
conseguia tirar o melhor de mim, ela sugava a minha loucura, ela se tornara a minha muralha e talvez, somente talvez, eu havia depositado nela a necessidade que eu tive por viver. Afinal, um cara tão novo como eu não estava pronto para tudo o que ela almejava ao meu lado.
Mas a certeza continuou lá. Ao meu lado, tocável, assim como o seu rosto, os seus lábios, sua pele.
Eu queria ir embora, ou ficar. Gostaria de puxá-la para os meus braços e beijá-la até que ela cansasse ou talvez torná-la minha de uma vez por todas. Ao mesmo tempo, a insegurança me cegava ao ponto de me fazer virar as costas para ela ou para nós. Buscando uma perfeição em mim, a qual apenas ela enxergava e que eu nunca consegui visualizar.
— Eu tô indo. — Respondi baixo, como o covarde que sempre fui. Não recebi nenhuma palavra de protesto, tampouco os tapas que em outrora ela depositara no meu rosto. Ela não tivera reação alguma e eu voltei meus olhos para ela. Eu queria que, como todas as outras vezes, ela implorasse para que eu não fosse embora, mas ela não o fez.
se manteve em silêncio, seus olhos não se encontravam em mim, muito menos o seu corpo. Por algum instante, senti um aperto desagradável e voltei alguns passos em sua direção. Busquei pelo seu toque, entrelacei minhas mãos as suas, mas ela se afastou. Tentei sorrir, aquele sorriso pelo qual ela se dizia apaixonada, mas ela também não demonstrou nada.
— Covarde. — Sua palavra fora frágil tal qual ela e eu abri a boca para falar o que quer que fosse por diversas vezes, mas, tão idêntico a outros momentos, eu não consegui.
Senti meu corpo num vazio único e o orgulho se instalara. Algumas pessoas afirmavam a ela que eu só verdadeiramente daria valor a sua atenção, ao seu amor, quando ela não mais olhasse em minha direção e eu, como todo cara que verdadeiramente acreditava que entre nós nada tivesse forças o bastante para distanciar, sempre dei de ombros.
Eu ignorei quando ela reclamou dos flertes, me irritei quando ela buscou em mim alguém que eu não queria ser no instante. Não quis ouvi-la quando ela tentou me trazer para a realidade, tampouco me fiz presente quando ela mais precisou.
— , olha pra mim.
Trinquei o maxilar e aguardei por pequenos braços ao redor do meu pescoço, mas ela não virou. negou com a cabeça e continuou procurando por alguma merda na rua, algo que eu não estava com paciência em fazer.
Insistente, busquei pelos seus dedos mais uma vez. Ela voltou a cambalear para o lado, afastando-se e no instante em que nossos olhos se encontraram, eu percebi um olhar que eu nunca havia visto no seu rosto anteriormente.
Ela estava finalmente me deixando ir.
— Acho que eu não preciso falar nada, não é? Você está livre, . Vá.
Durante toda a minha vida, joguei futebol. Lembro que aos quinze anos, diante uma jogada mais incisiva, prestes a fazer o gol, o zagueiro do time adversário fodeu o meu pé. O pênalti não fora legal, tampouco o outro cara que teve que bater. O campeonato do sub15 tinha fotos dos meus amigos felizes pelo jogo e eu, com o pé engessado, não sentia nada além de um grande rancor por não ter estado presente naquela final. O hospital fora palco para o meu troféu e outro garoto agora tinha o nome do Gol do título. Diante as minhas lembranças com bastante sofrimento, aquela se sobressaia sempre que possível e depois desse ocorrido, algumas coisas costumavam me incomodar, mas eu sempre tirava de letra.
Deixava de lado, ignorava. O que não se dava com a mulher que se encontrava dispensando-me a minha frente. Os acontecimentos com a ressoavam como assombrações. Eu sentia o estômago revirar e sempre voltava meus pensamentos para os instantes em que ela sorrira para mim. Aquela frase feminina sobre chutar o balde e voltar para buscar nunca se aplicou a nós dois. Eu sempre voltei em menos de vinte e quatro horas. Eu nunca verdadeiramente deixei que ela fosse e talvez, melancolicamente pensando, esse tenha sido o pior momento no qual eu conseguia pensar da minha vida atual.
Um covarde dando as costas para a mulher da sua vida por medo de lutar, sentir, deixar-se viver.
Eu não me demorei muito tempo em seu quarto. Neguei com a cabeça e virei à esquerda junto ao extenso corredor. Avistei a Mia andando de um lado e para o outro, balançando o rabinho, bastante satisfeita. Por um instante, tive os olhos da cachorra observando-me e tive a sensação de que ela me estudava, julgando o babaca que eu sempre havia sido. Neguei com a cabeça, arrastando-me a passos largos para a sala. Observei uma garota sentada no sofá e percebendo que ela não me cumprimentaria, somente deixei que o ar dos meus pulmões fossem embora, caminhando para a porta já com os olhos vermelhos e um peso nas minhas costas que poderia ser comparado a uma manada de elefantes. Pisando firme por sobre os meus ombros.
— Ela merece alguém melhor do que você. Espero que você saiba disso.
Conhecer alguém durante toda uma vida proporciona momentos de intimidade sem precedentes algum. Eu imaginei que poderia escutar as palavras de uma pessoa sem me abalar, não depois de tudo, mas eis que tapas na cara não precisam de nenhum movimento brusco. A violência ali estava espancando-me sem uma movimentação e ao encarar e sustentar os olhos quase verdes dela, eu percebi que caso ela me olhasse por mais tempo, eu choraria ali.
Tal como aquela cena aos quinze anos em que eu estava indo a um hospital ao seu lado.
— Vai se foder, .
Respondi por entre os dentes, sabendo que a minha voz não ressoou tão violenta quanto eu queria expor. O garotinho amedrontado estava presente e muito mais forte do que a dor física daquele instante, ou a revolta por não fazer parte de algo, era a sensação de perda. A constatação de que o merda iria perder a mulher mais perfeita que ele já teve ao seu lado.
— Eu posso até me foder, mas eu espero que você saiba que você a perdeu de vez.
Eu não respondi.
Não senti quando as lágrimas inundaram meus olhos. Tampouco entendi quando a minha reação, desesperada, buscando por ar livre diante da dificuldade em respirar, me levou a correr o mais longe possível daquele lugar.
Minha mente repetia um único nome. . . .
Eu tentava imaginar como seria dali pra frente. O casaco estava cobrindo o meu corpo e o frio não conseguia sobrepor à agonia presente. Meus olhos dificultavam a minha possibilidade para enxergar um palmo a minha frente, mas, para um bom alcoólatra nas horas vagas no qual eu havia me transformado, graças à ela, um bar eu conseguia enxergar com grande facilidade.
Os flashes dos momentos ao seu lado foram indo e vindo gradativamente, conforme a minha luta para que aquilo fosse embora; mas eu sabia que nada iria.
Destruir o que ela almejava ao meu lado era como perceber o merda que eu sempre havia sido e, bom, eu não poderia fugir da única coisa que havia restado ali.
Eu e a minha covardia.
Desenlace
A beleza se encontra nos olhos de quem a vê. Algumas pessoas conseguem acreditar em frases como essa e constroem toda uma vida em prol desse mantra. Enxergar o mais belo em pequenos acontecimentos eram significados presentes ao lado de alguém especial.
Noitadas repletas por vodka costumavam se manter vazias e desinteressantes. Em contrapartida, ver um corpo vestido com a sua camisa do Barcelona requer uma atenção maior, e mesmo perdido entre me deixar levar pelo que sempre senti e mentir para mim, cenas simples se denominavam como a beleza simples que eu fingia não enxergar.
Quando tudo perde a cor, quando o vazio toma conta e a escuridão se mostra como o único amigo, gritar por socorro, mesmo sem palavras, ressoa como uma boa opção. Geralmente, dores se vão com o amanhecer. Sofrimentos terminam e um novo início aquece o coração com bastante esperança.
Eu sempre pensei em pontos como esse. Acordar num novo país, começar um novo curso. Fugir dos meus problemas, encarar soluções temporárias e até mesmo me afogar em álcool.
Tudo funcionou alguma hora e eu esperei que um novo dia chegasse daquela vez. Algo que não aconteceu.
A escuridão estava dentro de mim. Enraizada. Solitária. Nada seria capaz de novamente me manter sorrindo e eu descobri, quando me dei conta de que nada voltaria ao que era antes, que eu havia perdido o meu sorriso.
Ela havia ido embora ou eu havia deixado que ela fosse.
— Você está bem? — Escutei uma voz temerosa ao meu lado e não respondi. Meus olhos não se voltaram até os da pessoa em questão e eu continuei ali, preso num horizonte repleto por uma paz externa que não se manifestava dentro de mim. — , eu estou falando com você.
Negando com a cabeça, senti mais outra lágrima se aproximar dos meus lábios, levando-me a esconder-me ainda mais numa escuridão que somente eu enxergava diante os meus olhos.
A pergunta feita havia sido sobre eu estar bem.
Um questionamento simplório, caso eu não tivesse a visão perfeita de um cemitério a minha frente. Um ambiente repleto por calma que exalava e transportava para mim, uma dor ainda maior do que aquela que eu sentia.
Poucas vezes em toda a minha vida eu fui a um cemitério. Minha mãe sempre me poupou de instantes repletos por lamúria e eu, como todo homem covarde que fui, somente deixei-me manter distante.
A lembrança da morte do meu avô voltava minha memória para ela.
Da sua maneira um tanto quanto invasiva, ela caminhou até a mim e buscou mais uma vez por um homem no qual eu nunca me transformei.
A imagem dela buscando um abraço, tentando me confortar, segurando minha mão em prol de que eu segurasse a de outras pessoas me levou mais uma vez ao precipício. Tal qual tudo o que era relacionado a ela.
Naquela ocasião, eu fui o mesmo babaca de sempre. Busquei brigar com . Tentei inutilmente ser um cara sem sentimentos, e tive junto a mim o seu silêncio.
Talvez o maior de todos eles.
— Eu não vou conseguir sem ela. — A constatação daquela certeza se fez presente no instante em que eu retirei os óculos de sol do rosto. Diante daquelas árvores isoladas, não existiam muitas pessoas que pudessem observar o semblante destruído no qual eu me encontrava. As olheiras diminuíam ainda mais os meus olhos ainda machucados, meus lábios, com dois pontos, impossibilitavam a minha dicção e meu estômago ainda respondia a reflexos maiores, ante os socos deferidos. Sorrisos eram quase que impossíveis sem dores, não que eu estivesse num ponto da minha vida em que a risada fosse minha melhor amiga. — Eu não consigo continuar.
Repeti minhas palavras e pensei no que ela diria diante a minha grande facilidade em preferir fugir de tudo ao ter que lutar.
— Eu sei que dói, mas você não pode simplesmente...
— Acho que o grande problema das pessoas em tentar entender o que eu sinto, é justamente por tanto esconder. Eu mantive dentro de uma caixinha. Eu escondi por quantas vezes doeu estar longe dela, vê-la sorrir, imaginá-la para mim e não ter condições de proporcionar tudo o que eu sonhei para ela. Vocês não entendem nada, porra.
— Todo mundo já se apaixonou, . As pessoas conseguem entender.
— Não. — Encarei os olhos que me olhavam piedosos e sorri sarcástico, percorri a mão pela minha nuca e neguei com a cabeça. Por um momento, fechei meus olhos e voltei-me às imagens dela a minha frente. Senti o corpo enfurecer diante daquela ideia de que nunca mais ela se movimentaria, me provocando, e voltei a abrir os olhos.
A ideia de que o fantasma da viveria para sempre presente, muito mais do que sempre se manteve dentro de mim, ressoava como quase assustador. — As pessoas se apaixonaram. Não conheço nenhuma história que se mantenha minimamente parecida com a nossa, . Não vem com essa. Por esse tipo de comentário que eu perdi a mulher da minha vida. Vocês sempre falaram para que eu deixasse de lado, não valia a pena. Eu sempre fui louco por sentir tanta coisa por ela, né? Aparentemente, ela fugia dos padrões que eu precisava ter na minha vida. — Afastei-me, dando alguns passos para o lado, percorrendo meus dedos trêmulos pelas mechas de cabelo em desalinho. — Valeu a pena? Me levar para balada? Me falar milhões de vezes para que eu fizesse algo por mim? Seguir em frente? Deixar a de lado?
— A culpa não foi sua, cara. — Escutei as palavras baixas do meu melhor amigo e me neguei em escutar. A culpa não era minha? — teve um ataque cardíaco, . Não foi sua culpa.
— ingeriu uma grande quantidade de calmantes, . Ela só não sabia que tinha problemas com um dos compostos da medicação. Por que ela tomou tanto calmante? Pelo babaca do que não foi. Vocês não precisam ficar com medo que eu me mate, porra. Eu já tô morto.
Eu já tô morto.
Quando a ficha caiu, eu estava deitado numa cama de hospital. Minhas mãos entrelaçadas às da minha mãe e o meu corpo todo dolorido, tal qual hoje se encontra. Eu abri meus olhos depois de um pesadelo no qual a mulher da minha vida havia sido coberta por uma lona preta, sendo levada ao IML. Eu chorava copiosamente e ao meu lado, não existia ninguém. Num sobressalto, acordei e percebi que o pesadelo iria embora como todos os outros, até que os olhos da minha mãe pousaram nos meus olhos e a piedade em que ela refletia dentro de si mesma fora suficiente para que eu entendesse que pesadelos em algum ponto se tornavam reais. Encontrar-me morto em vida era apenas um dos reflexos que eu havia tido como reais desde o instante em que ela se foi. A coragem por finalizar a minha vida não seria prática, mas me moveria para cada nova caminhada qur eu tivesse dali para frente.
Chutei alguns cascalhos que se mantinham sobre a grama e afastei-me dele. Fechando os olhos, novamente tive a imagem do seu sorriso estampando minhas lembranças. Talvez moldando a minha vida para todo o sempre. Perder alguém nunca foi algo no qual eu soube lidar. Por inúmeras vezes, tive que me desdobrar para buscar aquela mulher de volta para mim, até o dia em que ela resolvera não mais olhar para trás. A ideia de que o destino havia nos colocado juntos para sempre, havia sido suficiente para que eu não culminasse uma pressa de que os nossos dias acabassem.
Até o dia em que tudo acabou.
Uma garrafa de vodka fora inclinada em frente ao meu tronco e eu não soube por quanto tempo fiquei paralisado, observando aquele conteúdo límpido no qual eu gostaria de mergulhar e nunca mais sair. Os remédios percorriam pelas minhas veias e não faziam efeito. Não que alguma coisa em minha frente tivesse o poder de fazer alguma relevância. Neguei com a cabeça e comecei a andar sem um rumo ou direção. Eu conseguia escutar a risada dela ao meu lado, sua voz ressoando melodias envergonhadas em línguas das quais ela não possuía completo domínio. Sentindo-me abençoado por ter ao meu lado aquela mulher de tantas faces que costumava me fascinar a cada novo segundo.
Eu a enxergava correndo por entre as árvores e até que ela começasse a desaparecer. Aos poucos, seu corpo fora coberto por sangue e como que se estivesse desmanchando, ela se foi.
Abri meus olhos e procurei por algum vestígio de veracidade. Meus olhos mais uma vez vermelhos, buscaram por ela. Pelo seu toque. Pelo seu beijo, mas eu nada encontrei.
Nada além de mim.
Um pouco tonto, senti as mãos do meu melhor amigo sobre os meus olhos. Não entendi como ele caminhara até ao meu lado e tampouco me importei. Sem uma única palavra, puxou-me para um abraço e eu desabei, não que aquilo já não estivesse acontecendo a um longo tempo. Minhas pernas fraquejaram e meus joelhos foram ao chão. As lágrimas saíram compulsivamente e eu nada tive coragem por afirmar.
Anos antes, me vi perdido entre lágrimas diante a perda de Robb Stark, em Game of thrones - sua esposa foi brutalmente assassinada, junto ao filho que ela carregava no seu ventre. Naquele instante, com a pouca fé na qual eu ainda culminava, busquei pedir para não perder a mulher da minha vida. Aquela que eu ainda não conhecia. Depois de algum tempo, vi na Talissa um pouco do que eu sempre enxerguei na e lembrei daquele episódio como uma antecedência da mulher que eu conheceria por aquela mesma época.
Eu demorei anos para entender aquilo que nos ligava e perdi metade da minha vida lutando contra a imensidão que ela sempre representou para mim.
Aos poucos, ela foi deixando um pouco dela dentro de mim. Foi como uma onda que repetidas vezes molha os pés, indo e vindo até que o coração, já aquecido, se deixa levar pelos movimentos, trazendo para junto de si, a personificação da perfeição.
— . — Entre meus soluços silenciosos, escutei a voz da minha prima e voltei-me para ela, afastando-me do ao encará-la com os olhos embaçados. — Você vai levar o... o...
Abri meus lábios para afirmar palavras de conforto para ela, mas nada disse. Eu assenti com as lágrimas rolando. Percorri as mãos pelo terno e comecei a andar em direção do número reduzido de pessoas que se encontravam envolta do caixão. Eu sabia que precisava de mim, mas eu poderia culpá-la por ter colocado na minha vida. Caso não fosse ela, não estaríamos naquela situação e eu talvez, ainda pudesse viver.
Avistei o pai da junto a sua mãe, o mantinha-se parado ao lado da mãe dela e suas mãos estavam sobre os seus ombros. Ele estava com óculos escuros, tal qual a maioria das pessoas, menos eu.
Tentei esconder-me em algum canto, mas quando sua mãe me avistou não existiu mais essa possibilidade. Ela soltou-se de e caminhou até o meu corpo. Tentei sorrir para ela, mas aquilo seria impossível. Ela caminhava como a , decidida, demonstrando uma força absurda, mesmo que o corpo sequer estivesse vivendo aquilo.
Antes que eu pudesse afirmar o que quer que fosse, ela me abraçou. Tentei me segurar e não chorar mais uma vez. Homens não choram, eles afirmam por aí. Eu não deveria demonstrar fraqueza diante um acontecimento tão corriqueiro. Mulheres existiriam aos montes para mim, eu deveria compreender e agir com maturidade.
Eu deveria.
— Você foi o grande amor da vida dela, . — Sua voz encontrava-se embargada e eu senti o meu estômago revirar diante a sua afirmativa. Ela percorria as mãos pelas minhas costas e com o corpo inclinado para frente, devido a nossa diferença de altura, eu fechei os olhos com força, buscando aniquilar aquela frase antes que ela se mostrasse para sempre presa dentro de mim. — Eu fico feliz por ela ter vivido uma história tão bonita como a que vocês viveram. — Senti suas lágrimas molharem o tecido da minha roupa e forcei um sorriso. Levei minhas mãos até os seus ombros e elevando-as até o seu cabelo, deixei-me acariciar para que talvez ela se acalmasse. Buscando uma força que eu não tinha, mas tentando expressar todo o meu carinho pela mulher que criou a tão bem. — Força, , ela odiaria te ver morrer em vida.
— Ela viria aqui só para me xingar e acabar comigo. — Sorri e, cambaleante, afastei meu corpo do dela e fui até o caixão que ainda se encontrava aberto. Percorri a manga do terno pelo rosto e funguei antes de olhar para o seu rosto e percorrer meus dedos pela sua pele. Aproximei-me lentamente e deixei-me beijar seus lábios. Ela poderia acordar, tal qual as princesas que ela costumava amar e idolatrar. Abrir os olhos e sorrir, afirmando que tudo não havia passado de uma brincadeira. — Abre os olhos, meu amor. Não me deixa sozinho. Eles acham que eu vou conseguir, mas eles não me conhecem. Eles não entendem que eu não consigo sem você, eles não entendem que você é tudo o que eu tenho, eles não sabem que sem você eu nunca vou conseguir ser feliz.
As palavras ditas em momentos desesperados qualificavam a minha desestabilidade mental. Minha mão entrelaçada à dela também definia perante os amigos e familiares daquela mulher, uma completa deficiência de sanidade na qual eu sentia. Neguei com a cabeça e inclinei-me para beijar-lhe os dedos, um por um. As unhas pintadas em vermelho fizeram-me sorrir ao defini-la como perfeitamente apresentável, algo típico dela.
— O mundo precisa seguir, . — Sendo transferido para o que acontecia ao meu redor, escutei aquele sotaque alemão afirmar tais palavras e ergui meus olhos até os dele. Suspirei pesadamente e percebi que o homem que me mandava seguir em frente havia pedido aquela mulher em casamento e certamente gostaria de terminar o resto da vida ao seu lado. Por mais frio que ele pudesse parecer. — Não adiante ficar remoendo. O passado não volta mais, tampouco a .
Pela primeira vez, deixei-me sorrir. O nervosismo levou-me a soltar sua mão e voltar minha postura para trás. Meus olhos encontraram com o rosto do homem mais alto do que eu e ele possuía um semblante sério. A sobrancelha erguida definia a indagação que ele tinha ao me fitar confuso enquanto eu, pateticamente, continuava a gargalhar. Minha risada infantil ressoou pelo silêncio do ambiente e eu logo me vi lacrimejando. O motivo da gargalhada eu não conseguia definir, mas em se tratando dela, talvez a ideia dele me mandando seguir em frente ressoara como uma resposta na qual eu sempre tive dentro de mim.
— Você sabe que quando o amor da vida de uma pessoa morre, não existe seguir em frente, não sabe? — Por entre sorrisos, indaguei. Ele cruzou os braços e eu me recompus. Toda e qualquer pessoa que se encontrava ao nosso redor nos encarava e àquela altura, eu estava pouco me fodendo para a cena que eu estava causando.
— . — Escute a voz da e neguei com a cabeça. Ela caminhou em minha direção e eu fechei os olhos por um instante. Senti as mãos do seu namorado tocarem meus ombros e me soltei.
Percorri as mãos pelos cabelos e cambaleei para o lado, tocando no caixão, percebendo que eu não poderia mais movimentar-me para lado algum.
— você precisa seguir em frente. — Comecei fazendo careta, fingido imitar uma das inúmeras pessoas que haviam dito aquelas palavras — Você precisa reagir, meu filho. A não gostaria de ver você sofrer, a não... — Parei por um instante, observando os rostos e os olhos virados para mim sem verdadeiramente identificar ninguém. — Vocês sabem que a odiaria que eu estivesse tranquilo, não sabem? Vocês conhecem a mesma que eu? A apaixonada, a fascinada, a que ficaria tranquilamente onde ela estivesse somente sabendo que assim como ela, eu passaria o resto da minha vida pensando nela? Vocês conhecem a minha ? A mulher que nunca, e quando eu falo nunca, é nunca mesmo, iria admitir que eu olhasse para outra mulher? Essa é... — Pigarrei sentindo a voz embargar, balançando a cabeça de um lado para o outro — Essa era a minha . A mulher da minha vida, alguém que eu nunca superaria em vida, quanto mais em morte. A minha vai estar me esperando onde for. E eu... — Neguei com a cabeça, percorrendo a mão pela nuca. — Eu vou transar com quem quer que seja pensando nela. Eu posso até viver como vocês querem — Apontei para as pessoas dando de ombros. — Mas saibam que eu vou continuar na farsa que vocês sempre me incentivaram a ficar, porque ela era a única pessoa que conseguia enxergar luz em mim.
Cocei meus olhos, avistando o na entrada, segurando a garrafa de vodka e caminhei até lá. Puxei a garrafa da sua mão e levei aos lábios, voltando-me ao momento em que eu estive embriagado pela última vez. Não demorou muito até que eu, como bom babaca que sempre fui, mirei uma parede branca e arremessei a garrafa sem me importar com quem se encontrava presente. Tudo o que dói dentro de mim, uma hora ou outra, vai ser externado de modo violento e eu não precisava ter controle de nada.
Ela havia ido embora.
Algumas pessoas gritaram. Escutei alguns xingamentos e dei de ombros. Meus olhos foram em direção ao corpo dela uma última vez e eu senti a garganta secar. Eu poderia ter feito tudo diferente. As probabilidades de darmos certos seriam enormes e eu sabia disso, eu conseguia enxergar. Ela ainda estaria ao meu lado, talvez como mãe dos meus filhos.
Eu poderia ter salvado a nós dois. Eu deveria ter conseguido ser forte o suficiente.
A vida é curta demais para ter medo e infelizmente, eu perdi a minha vida por sempre deixá-la para depois.
Noitadas repletas por vodka costumavam se manter vazias e desinteressantes. Em contrapartida, ver um corpo vestido com a sua camisa do Barcelona requer uma atenção maior, e mesmo perdido entre me deixar levar pelo que sempre senti e mentir para mim, cenas simples se denominavam como a beleza simples que eu fingia não enxergar.
Quando tudo perde a cor, quando o vazio toma conta e a escuridão se mostra como o único amigo, gritar por socorro, mesmo sem palavras, ressoa como uma boa opção. Geralmente, dores se vão com o amanhecer. Sofrimentos terminam e um novo início aquece o coração com bastante esperança.
Eu sempre pensei em pontos como esse. Acordar num novo país, começar um novo curso. Fugir dos meus problemas, encarar soluções temporárias e até mesmo me afogar em álcool.
Tudo funcionou alguma hora e eu esperei que um novo dia chegasse daquela vez. Algo que não aconteceu.
A escuridão estava dentro de mim. Enraizada. Solitária. Nada seria capaz de novamente me manter sorrindo e eu descobri, quando me dei conta de que nada voltaria ao que era antes, que eu havia perdido o meu sorriso.
Ela havia ido embora ou eu havia deixado que ela fosse.
— Você está bem? — Escutei uma voz temerosa ao meu lado e não respondi. Meus olhos não se voltaram até os da pessoa em questão e eu continuei ali, preso num horizonte repleto por uma paz externa que não se manifestava dentro de mim. — , eu estou falando com você.
Negando com a cabeça, senti mais outra lágrima se aproximar dos meus lábios, levando-me a esconder-me ainda mais numa escuridão que somente eu enxergava diante os meus olhos.
A pergunta feita havia sido sobre eu estar bem.
Um questionamento simplório, caso eu não tivesse a visão perfeita de um cemitério a minha frente. Um ambiente repleto por calma que exalava e transportava para mim, uma dor ainda maior do que aquela que eu sentia.
Poucas vezes em toda a minha vida eu fui a um cemitério. Minha mãe sempre me poupou de instantes repletos por lamúria e eu, como todo homem covarde que fui, somente deixei-me manter distante.
A lembrança da morte do meu avô voltava minha memória para ela.
Da sua maneira um tanto quanto invasiva, ela caminhou até a mim e buscou mais uma vez por um homem no qual eu nunca me transformei.
A imagem dela buscando um abraço, tentando me confortar, segurando minha mão em prol de que eu segurasse a de outras pessoas me levou mais uma vez ao precipício. Tal qual tudo o que era relacionado a ela.
Naquela ocasião, eu fui o mesmo babaca de sempre. Busquei brigar com . Tentei inutilmente ser um cara sem sentimentos, e tive junto a mim o seu silêncio.
Talvez o maior de todos eles.
— Eu não vou conseguir sem ela. — A constatação daquela certeza se fez presente no instante em que eu retirei os óculos de sol do rosto. Diante daquelas árvores isoladas, não existiam muitas pessoas que pudessem observar o semblante destruído no qual eu me encontrava. As olheiras diminuíam ainda mais os meus olhos ainda machucados, meus lábios, com dois pontos, impossibilitavam a minha dicção e meu estômago ainda respondia a reflexos maiores, ante os socos deferidos. Sorrisos eram quase que impossíveis sem dores, não que eu estivesse num ponto da minha vida em que a risada fosse minha melhor amiga. — Eu não consigo continuar.
Repeti minhas palavras e pensei no que ela diria diante a minha grande facilidade em preferir fugir de tudo ao ter que lutar.
— Eu sei que dói, mas você não pode simplesmente...
— Acho que o grande problema das pessoas em tentar entender o que eu sinto, é justamente por tanto esconder. Eu mantive dentro de uma caixinha. Eu escondi por quantas vezes doeu estar longe dela, vê-la sorrir, imaginá-la para mim e não ter condições de proporcionar tudo o que eu sonhei para ela. Vocês não entendem nada, porra.
— Todo mundo já se apaixonou, . As pessoas conseguem entender.
— Não. — Encarei os olhos que me olhavam piedosos e sorri sarcástico, percorri a mão pela minha nuca e neguei com a cabeça. Por um momento, fechei meus olhos e voltei-me às imagens dela a minha frente. Senti o corpo enfurecer diante daquela ideia de que nunca mais ela se movimentaria, me provocando, e voltei a abrir os olhos.
A ideia de que o fantasma da viveria para sempre presente, muito mais do que sempre se manteve dentro de mim, ressoava como quase assustador. — As pessoas se apaixonaram. Não conheço nenhuma história que se mantenha minimamente parecida com a nossa, . Não vem com essa. Por esse tipo de comentário que eu perdi a mulher da minha vida. Vocês sempre falaram para que eu deixasse de lado, não valia a pena. Eu sempre fui louco por sentir tanta coisa por ela, né? Aparentemente, ela fugia dos padrões que eu precisava ter na minha vida. — Afastei-me, dando alguns passos para o lado, percorrendo meus dedos trêmulos pelas mechas de cabelo em desalinho. — Valeu a pena? Me levar para balada? Me falar milhões de vezes para que eu fizesse algo por mim? Seguir em frente? Deixar a de lado?
— A culpa não foi sua, cara. — Escutei as palavras baixas do meu melhor amigo e me neguei em escutar. A culpa não era minha? — teve um ataque cardíaco, . Não foi sua culpa.
— ingeriu uma grande quantidade de calmantes, . Ela só não sabia que tinha problemas com um dos compostos da medicação. Por que ela tomou tanto calmante? Pelo babaca do que não foi. Vocês não precisam ficar com medo que eu me mate, porra. Eu já tô morto.
Eu já tô morto.
Quando a ficha caiu, eu estava deitado numa cama de hospital. Minhas mãos entrelaçadas às da minha mãe e o meu corpo todo dolorido, tal qual hoje se encontra. Eu abri meus olhos depois de um pesadelo no qual a mulher da minha vida havia sido coberta por uma lona preta, sendo levada ao IML. Eu chorava copiosamente e ao meu lado, não existia ninguém. Num sobressalto, acordei e percebi que o pesadelo iria embora como todos os outros, até que os olhos da minha mãe pousaram nos meus olhos e a piedade em que ela refletia dentro de si mesma fora suficiente para que eu entendesse que pesadelos em algum ponto se tornavam reais. Encontrar-me morto em vida era apenas um dos reflexos que eu havia tido como reais desde o instante em que ela se foi. A coragem por finalizar a minha vida não seria prática, mas me moveria para cada nova caminhada qur eu tivesse dali para frente.
Chutei alguns cascalhos que se mantinham sobre a grama e afastei-me dele. Fechando os olhos, novamente tive a imagem do seu sorriso estampando minhas lembranças. Talvez moldando a minha vida para todo o sempre. Perder alguém nunca foi algo no qual eu soube lidar. Por inúmeras vezes, tive que me desdobrar para buscar aquela mulher de volta para mim, até o dia em que ela resolvera não mais olhar para trás. A ideia de que o destino havia nos colocado juntos para sempre, havia sido suficiente para que eu não culminasse uma pressa de que os nossos dias acabassem.
Até o dia em que tudo acabou.
Uma garrafa de vodka fora inclinada em frente ao meu tronco e eu não soube por quanto tempo fiquei paralisado, observando aquele conteúdo límpido no qual eu gostaria de mergulhar e nunca mais sair. Os remédios percorriam pelas minhas veias e não faziam efeito. Não que alguma coisa em minha frente tivesse o poder de fazer alguma relevância. Neguei com a cabeça e comecei a andar sem um rumo ou direção. Eu conseguia escutar a risada dela ao meu lado, sua voz ressoando melodias envergonhadas em línguas das quais ela não possuía completo domínio. Sentindo-me abençoado por ter ao meu lado aquela mulher de tantas faces que costumava me fascinar a cada novo segundo.
Eu a enxergava correndo por entre as árvores e até que ela começasse a desaparecer. Aos poucos, seu corpo fora coberto por sangue e como que se estivesse desmanchando, ela se foi.
Abri meus olhos e procurei por algum vestígio de veracidade. Meus olhos mais uma vez vermelhos, buscaram por ela. Pelo seu toque. Pelo seu beijo, mas eu nada encontrei.
Nada além de mim.
Um pouco tonto, senti as mãos do meu melhor amigo sobre os meus olhos. Não entendi como ele caminhara até ao meu lado e tampouco me importei. Sem uma única palavra, puxou-me para um abraço e eu desabei, não que aquilo já não estivesse acontecendo a um longo tempo. Minhas pernas fraquejaram e meus joelhos foram ao chão. As lágrimas saíram compulsivamente e eu nada tive coragem por afirmar.
Anos antes, me vi perdido entre lágrimas diante a perda de Robb Stark, em Game of thrones - sua esposa foi brutalmente assassinada, junto ao filho que ela carregava no seu ventre. Naquele instante, com a pouca fé na qual eu ainda culminava, busquei pedir para não perder a mulher da minha vida. Aquela que eu ainda não conhecia. Depois de algum tempo, vi na Talissa um pouco do que eu sempre enxerguei na e lembrei daquele episódio como uma antecedência da mulher que eu conheceria por aquela mesma época.
Eu demorei anos para entender aquilo que nos ligava e perdi metade da minha vida lutando contra a imensidão que ela sempre representou para mim.
Aos poucos, ela foi deixando um pouco dela dentro de mim. Foi como uma onda que repetidas vezes molha os pés, indo e vindo até que o coração, já aquecido, se deixa levar pelos movimentos, trazendo para junto de si, a personificação da perfeição.
— . — Entre meus soluços silenciosos, escutei a voz da minha prima e voltei-me para ela, afastando-me do ao encará-la com os olhos embaçados. — Você vai levar o... o...
Abri meus lábios para afirmar palavras de conforto para ela, mas nada disse. Eu assenti com as lágrimas rolando. Percorri as mãos pelo terno e comecei a andar em direção do número reduzido de pessoas que se encontravam envolta do caixão. Eu sabia que precisava de mim, mas eu poderia culpá-la por ter colocado na minha vida. Caso não fosse ela, não estaríamos naquela situação e eu talvez, ainda pudesse viver.
Avistei o pai da junto a sua mãe, o mantinha-se parado ao lado da mãe dela e suas mãos estavam sobre os seus ombros. Ele estava com óculos escuros, tal qual a maioria das pessoas, menos eu.
Tentei esconder-me em algum canto, mas quando sua mãe me avistou não existiu mais essa possibilidade. Ela soltou-se de e caminhou até o meu corpo. Tentei sorrir para ela, mas aquilo seria impossível. Ela caminhava como a , decidida, demonstrando uma força absurda, mesmo que o corpo sequer estivesse vivendo aquilo.
Antes que eu pudesse afirmar o que quer que fosse, ela me abraçou. Tentei me segurar e não chorar mais uma vez. Homens não choram, eles afirmam por aí. Eu não deveria demonstrar fraqueza diante um acontecimento tão corriqueiro. Mulheres existiriam aos montes para mim, eu deveria compreender e agir com maturidade.
Eu deveria.
— Você foi o grande amor da vida dela, . — Sua voz encontrava-se embargada e eu senti o meu estômago revirar diante a sua afirmativa. Ela percorria as mãos pelas minhas costas e com o corpo inclinado para frente, devido a nossa diferença de altura, eu fechei os olhos com força, buscando aniquilar aquela frase antes que ela se mostrasse para sempre presa dentro de mim. — Eu fico feliz por ela ter vivido uma história tão bonita como a que vocês viveram. — Senti suas lágrimas molharem o tecido da minha roupa e forcei um sorriso. Levei minhas mãos até os seus ombros e elevando-as até o seu cabelo, deixei-me acariciar para que talvez ela se acalmasse. Buscando uma força que eu não tinha, mas tentando expressar todo o meu carinho pela mulher que criou a tão bem. — Força, , ela odiaria te ver morrer em vida.
— Ela viria aqui só para me xingar e acabar comigo. — Sorri e, cambaleante, afastei meu corpo do dela e fui até o caixão que ainda se encontrava aberto. Percorri a manga do terno pelo rosto e funguei antes de olhar para o seu rosto e percorrer meus dedos pela sua pele. Aproximei-me lentamente e deixei-me beijar seus lábios. Ela poderia acordar, tal qual as princesas que ela costumava amar e idolatrar. Abrir os olhos e sorrir, afirmando que tudo não havia passado de uma brincadeira. — Abre os olhos, meu amor. Não me deixa sozinho. Eles acham que eu vou conseguir, mas eles não me conhecem. Eles não entendem que eu não consigo sem você, eles não entendem que você é tudo o que eu tenho, eles não sabem que sem você eu nunca vou conseguir ser feliz.
As palavras ditas em momentos desesperados qualificavam a minha desestabilidade mental. Minha mão entrelaçada à dela também definia perante os amigos e familiares daquela mulher, uma completa deficiência de sanidade na qual eu sentia. Neguei com a cabeça e inclinei-me para beijar-lhe os dedos, um por um. As unhas pintadas em vermelho fizeram-me sorrir ao defini-la como perfeitamente apresentável, algo típico dela.
— O mundo precisa seguir, . — Sendo transferido para o que acontecia ao meu redor, escutei aquele sotaque alemão afirmar tais palavras e ergui meus olhos até os dele. Suspirei pesadamente e percebi que o homem que me mandava seguir em frente havia pedido aquela mulher em casamento e certamente gostaria de terminar o resto da vida ao seu lado. Por mais frio que ele pudesse parecer. — Não adiante ficar remoendo. O passado não volta mais, tampouco a .
Pela primeira vez, deixei-me sorrir. O nervosismo levou-me a soltar sua mão e voltar minha postura para trás. Meus olhos encontraram com o rosto do homem mais alto do que eu e ele possuía um semblante sério. A sobrancelha erguida definia a indagação que ele tinha ao me fitar confuso enquanto eu, pateticamente, continuava a gargalhar. Minha risada infantil ressoou pelo silêncio do ambiente e eu logo me vi lacrimejando. O motivo da gargalhada eu não conseguia definir, mas em se tratando dela, talvez a ideia dele me mandando seguir em frente ressoara como uma resposta na qual eu sempre tive dentro de mim.
— Você sabe que quando o amor da vida de uma pessoa morre, não existe seguir em frente, não sabe? — Por entre sorrisos, indaguei. Ele cruzou os braços e eu me recompus. Toda e qualquer pessoa que se encontrava ao nosso redor nos encarava e àquela altura, eu estava pouco me fodendo para a cena que eu estava causando.
— . — Escute a voz da e neguei com a cabeça. Ela caminhou em minha direção e eu fechei os olhos por um instante. Senti as mãos do seu namorado tocarem meus ombros e me soltei.
Percorri as mãos pelos cabelos e cambaleei para o lado, tocando no caixão, percebendo que eu não poderia mais movimentar-me para lado algum.
— você precisa seguir em frente. — Comecei fazendo careta, fingido imitar uma das inúmeras pessoas que haviam dito aquelas palavras — Você precisa reagir, meu filho. A não gostaria de ver você sofrer, a não... — Parei por um instante, observando os rostos e os olhos virados para mim sem verdadeiramente identificar ninguém. — Vocês sabem que a odiaria que eu estivesse tranquilo, não sabem? Vocês conhecem a mesma que eu? A apaixonada, a fascinada, a que ficaria tranquilamente onde ela estivesse somente sabendo que assim como ela, eu passaria o resto da minha vida pensando nela? Vocês conhecem a minha ? A mulher que nunca, e quando eu falo nunca, é nunca mesmo, iria admitir que eu olhasse para outra mulher? Essa é... — Pigarrei sentindo a voz embargar, balançando a cabeça de um lado para o outro — Essa era a minha . A mulher da minha vida, alguém que eu nunca superaria em vida, quanto mais em morte. A minha vai estar me esperando onde for. E eu... — Neguei com a cabeça, percorrendo a mão pela nuca. — Eu vou transar com quem quer que seja pensando nela. Eu posso até viver como vocês querem — Apontei para as pessoas dando de ombros. — Mas saibam que eu vou continuar na farsa que vocês sempre me incentivaram a ficar, porque ela era a única pessoa que conseguia enxergar luz em mim.
Cocei meus olhos, avistando o na entrada, segurando a garrafa de vodka e caminhei até lá. Puxei a garrafa da sua mão e levei aos lábios, voltando-me ao momento em que eu estive embriagado pela última vez. Não demorou muito até que eu, como bom babaca que sempre fui, mirei uma parede branca e arremessei a garrafa sem me importar com quem se encontrava presente. Tudo o que dói dentro de mim, uma hora ou outra, vai ser externado de modo violento e eu não precisava ter controle de nada.
Ela havia ido embora.
Algumas pessoas gritaram. Escutei alguns xingamentos e dei de ombros. Meus olhos foram em direção ao corpo dela uma última vez e eu senti a garganta secar. Eu poderia ter feito tudo diferente. As probabilidades de darmos certos seriam enormes e eu sabia disso, eu conseguia enxergar. Ela ainda estaria ao meu lado, talvez como mãe dos meus filhos.
Eu poderia ter salvado a nós dois. Eu deveria ter conseguido ser forte o suficiente.
A vida é curta demais para ter medo e infelizmente, eu perdi a minha vida por sempre deixá-la para depois.
Fim
Nota da autora: Sem nota.
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