04. Fire in my heart

Fanfic Finalizada: 22/02/2021

Capítulo único

Eu estava saindo do teatro, pensando comigo o quanto aquela peça ridícula de imitação barata de Shakespeare foi uma perda de tempo, eu gostava de algumas coisas mais clássicas, ensinava literatura na faculdade New River e tentava encontrar bons programas para indicar para meus alunos.
Estava andando em direção a uma cafeteria que eu sabia que ficava aberta até mais tarde olhando indignado para o programa que prometia tanto para uma apresentação tão medíocre, quando alguém esbarrou em mim, vi que era uma de minhas alunas e ela estava chorando.
- Ah, me desculpe, eu não estava prestando atenção. – Ela levantou o rosto com a maquiagem meio escorrida pelas lágrimas. – Nossa, professor, desculpa mesmo, ai que patético. – Ela escondeu o rosto nas mãos e deu uma risada nervosa.
- Não tem problema, Srta. , eu também estava desatento. – Dei um meio sorriso, encostando de leve no braço dela.
- , por favor. Minha noite já estava um lixo, você não precisava me ver assim. – Ela tentou limpar o rosto nas mãos meio em vão. – Eu já vou indo, preciso ir pra casa. Tenho que chamar um táxi.
- , você não quer tomar um café? Se acalma um pouco antes de ir, não vai querer um estranho te perguntando o que houve, né?
- Olha, eu vou aceitar, é bom que tenho uma desculpa para usar o banheiro e tentar melhorar minha cara, o pessoal da república ia me atormentar o resto da noite...
Seguimos para o café perto do teatro e ela foi para o banheiro, voltou tão recomposta que nem havia rastros de que havia chorado e borrado todo o rosto, fiquei surpreso e me perguntando como ela conseguiu aquela proeza tão rápido.
- Bem melhor, né? – Ela deu um sorriso de lado quando viu a minha expressão. – Aquele babaca não merece nem um xingamento digno, ainda mais as minhas lágrimas...
- Hum, então foi uma briga com o namorado.
- Nem sei se chegamos a ser namorados, mas deixa isso pra lá, estou parecendo uma adolescente dramática.
- Se fez uma aluna tão brilhante e com redações tão maduras como as suas chorar, acredito que não tenha sido nada sem importância.
- Aluna brilhante? Uau... Obrigada, não acho que sou tudo isso não, mas não importa, eu que fui idiota de achar que o cara mais galinha que eu já conheci na vida fosse ser diferente comigo, ele não perdoou nem a moça da bilheteria e depois ainda me disse que eu era chata e sem graça. Enfim, não vou ficar te perturbando com essas bobagens.
- Não acredito que tenha nada de chata e sem graça, tenho certeza que quem perdeu foi ele. – Não pude conter o comentário, depois que percebi que podia ser mal interpretado, mas eu estava mais nervoso do que deveria estando com uma aluna. – Quer dizer, você sempre escreveu boas histórias e a cada apresentação sua eu vejo o caminho de sucesso que você tem pela frente.
- Ah, professor, assim me deixa sem graça. – A forma como a palavra “professor” saiu da boca dela e como ela mordeu de leve o lábio inferior me deu um gelo no estômago. – Mas mudando de assunto, o que te trouxe aqui hoje?
- Apenas procurando novas inspirações e indicações para a minha aula. – Expirei lentamente, agradecido por ela ter feito uma pergunta fácil.
- Interessante, é engraçado imaginar que vocês professores tem uma vida quase normal fora da sala de aula, porque mesmo no tempo livre ficam pensando e se esforçando para nos manter interessados.
- Que isso? Lógico que temos uma vida normal, mas pelo menos no meu caso, faz parte da minha rotina encontrar programas interessantes para lazer e de bônus poder indicar pra vocês na aula.
- Mas confessa que essa peça foi uma verdadeira piada, eu nem assisti inteira, não aguentei ficar lá sozinha vendo aquele fiasco depois da minha própria cena bem horrível em plena bilheteria. Como não queria ir pra casa explicar porque cheguei mais cedo, resolvi enrolar lá dentro no escuro, mas imaginei Shakespeare se revirando no túmulo.
- Você descreveu maravilhosamente bem essa experiência terrível. – Soltei uma gargalhada e ela me acompanhou, fiquei aliviado de vê-la rindo depois daquelas lágrimas que não faziam nenhuma justiça aquele rosto tão bonito.
Continuamos conversando sobre as partes mais insanas da peça e descrevendo as obras originais, ela era tão apaixonada pela leitura, se entusiasmou tanto falando tudo o que faria diferente na apresentação, aquilo me atordoou completamente, sabia que era uma aluna especial, mas ali ela era só uma garota cativante falando sobre bons livros, acabei me deixando levar pelo momento e ofereci uma carona depois do café.
A conversa fluiu pelo mesmo assunto durante o percurso até a república onde ela morava, mas quando eu estacionei, instalou-se um silêncio estranho, eu virei devagar e ela estava me olhando, ainda sorrindo meio incrédula por causa de um comentário bobo que eu tinha feito e me esqueci no momento em que meus olhos encontraram os dela.
Ela continuou me encarando e passava uma mistura de surpresa e desejo naquele rosto tão lindo, a boca dela estava entreaberta, mas ela não ria mais, eu suspirei bem lentamente e me aproximei, o que veio a seguir nublou a minha mente totalmente, ela se inclinou na minha direção e nossas bocas se juntaram como se fossem imãs, o beijo foi intenso e urgente, mas muito bom.
Muito bom mesmo, mas aquilo era uma insanidade, ela era minha aluna, eu apertei os olhos e a empurrei devagar para que soltasse os braços do meu pescoço. Ela me olhou com culpa e até me permito dizer um pouco de dor.
- Desculpa, nós não...
- Desculpa, professor, eu não sei o que deu em mim...
- Não se desculpe, eu provoquei também, mas não podemos, você sabe as regras.
- Regras mais idiotas – ela abaixou um pouco a cabeça e soltou uma risadinha. – Bom, não vamos prolongar o constrangimento, muito obrigada pela carona, tenha um ótimo fim de semana. – Ela deu um beijo rápido no meu rosto e pulou do carro, deu uma olhadinha rápida antes de entrar e acenou com a mão.
Eu estava simplesmente perdido, aquele beijo me tirou o chão. Sempre admirei muito a e claro, ela era linda demais, não de um jeito exagerado, mas sempre linda, me obrigava a não pensar nela dessa forma nas duas aulas que tínhamos todas as semanas, mas aquele contato, o encontro no teatro, o café e essa maldita carona...

Algumas semanas depois

As aulas que eu dava pra turma da se tornaram uma pequena tortura, uma penitência, ela se comportava como sempre, sem se insinuar ou me provocar de alguma forma, mas aquilo só estava me deixando mais tenso.
Um dia, no fim de uma aula, eu estava fechando a maleta para sair e vi que a enrolou um pouco para arrumar as coisas dela e demorou na porta e acabou voltando, quando todos já tinham saído e se aproximou da minha mesa.
- Olá, Srta. , posso te ajudar?
- Acho que podemos dispensar as formalidades, né? – Ela riu sem humor e se inclinou um pouco e se apoiou na mesa, aquela proximidade estava me fazendo suar um pouquinho, mas ela parecia levemente tensa e preocupada, resolvi não fazer nenhum comentário inconveniente sobre acontecimentos passados. Então ela prosseguiu depois que eu assenti: - Eu sei que ficou meio sub entendido que não tocaríamos mais naquele assunto, mas eu juro que tentei, tentei com muita força não ficar pensando naquele beijo...
- Por favor, . – Suspirei pesadamente, me levantando da cadeira para tentar manter uma distância segura.
- Se você me disser que não tem nada a ver, que foi só um momento de insanidade, eu vou me esforçar mais e tentar deixar pra lá, mas eu já te vi me olhando, não sou só eu, né? – Ela veio mais perto pela lateral da mesa, aquilo foi me deixando com a sensação de que a gravata ia me sufocar, puxei levemente o colarinho e dei mais um passo para trás.
- Eu sou seu professor, não pode acontecer nada parecido de novo – as palavras soaram muito mais ríspidas que a minha intenção, não queria magoá-la em hipótese alguma, mas aquela proximidade repentina depois de tanto tempo não estava ajudando com o meu auto controle.
- Não foi isso que eu perguntei, eu sei de todas as complicações, mas no fim do ano acaba essa matéria pra mim, você pode só me dizer se eu não estou imaginando coisas? – Ela tentou alcançar minha mão e eu não consegui mais me afastar. Respirei fundo e segurei a mão dela.

I bet you didn't know
You started off a chain reaction
I saw no intention on your face
It must've been some kind of chemical attraction


- Olha, eu gosto muito de você, , mas é melhor esquecer isso, é tudo muito problemático e perigoso. – Ela assentiu parecendo chateada e seus olhos encontraram os meus, fazendo minha mente girar um pouco. Quando ela fez menção de soltar minha mão e se afastar, não pensei e puxei-a para mais perto, tomando sua boca com a minha, foi pega de surpresa, mas correspondeu ao beijo, foi mais calmo que aquele primeiro, mas tão intenso quanto, eu estava realmente brincando com fogo. Me afastei devagar, neguei de leve com a cabeça e encarei-a novamente. – Eu sinto muito, sinto muito mesmo.

I felt the spark
Left the mark
I can't erase
(I can't erase)


- Tudo bem, vamos deixar pra lá, eu só queria saber... – ela pegou a bolsa dela e os cadernos e saiu o mais rápido possível da sala, me deixando lá parado igual um idiota, com meus pensamentos rodopiando em todas as consequências ruins possíveis dessa aproximação. Pensando em tudo que poderia dar errado: eu podia perder o emprego, ela podia ser penalizada de alguma forma como aluna e não poderia seguir seus planos das bolsas que estava tentando caso tivesse uma advertência ou suspensão, ou eu teria que assumir toda a culpa para salvá-la e ver minha carreira voar pelos ares...
“Calma , respira, não aconteceu nada mais sério, você só precisa ficar longe dela, o quanto puder, somente o mínimo de contato necessário nas aulas.” Pensei comigo para tentar fazer meu coração voltar a bater num compasso regular, afrouxei um pouco a gravata e consegui respirar um pouco melhor, peguei minhas coisas e fui para casa.

[…]


Eu não sabia como deixei chegar naquele ponto, estávamos no mirante da pedra do sol, um lugar lindo que eu costumava ir sozinho pra pensar, mas resolvi levar ela lá, ela estava linda como o pôr do sol à nossa frente, sentados juntos na caçamba da pick up dela, beijava meu pescoço enquanto eu acariciava suas costas e mexia em seus cabelos.
Quando ela subiu dando selinhos até minha boca, eu a abracei com mais força, aprofundando o beijo, que era mais urgente que o beijo no dia do teatro, muito mais quente que o beijo na sala de aula e também muito mais doce que ambos.


Acordei todo suado com o despertador esgoelando já, era a terceira noite seguida que eu sonhava com ela, aquilo estava acabando comigo, as semanas pareciam não passar direito e eu tinha impressão de que a encontrava todo dia, mesmo tendo apenas duas aulas por semana.

It's like, oh, oh
Something like a bolt of lightning
Oh, oh
It's going on inside

'Cause I'm burning up, it ain't no joke
And all my cells are going rogue


Uns dois meses depois, eu ainda estava enfrentando a tormenta de alguns sonhos com a , mas precisava desviar a mente disso. Teria uma festa de fraternidade e fui convidado pelos garotos, não era muito mais velho que o pessoal e achei que precisava me distrair um pouco.
Cheguei e cumprimentei alguns alunos e ex-alunos, estava torcendo para não virar uma daquelas festas que pareciam cena de filme: totalmente fora de controle, com a casa praticamente destruída, ri sozinho pensando nisso e resolvi pegar uma cerveja, apesar de tudo, não tinha ido lá pra ser o “tiozão chato”.
Fui dar uma volta para dar um oi para mais alguns conhecidos, inclusive tinha mais um professor lá, era Erick, o professor de História Britânica, fomos no jardim conversar um pouco e ver o que os meninos estavam fazendo por lá, até que a vi num canto conversando com outra garota, me arrependi imediatamente de ter ido na festa, como era uma república dos meninos, ignorei que ela poderia estar lá, até porque sabia que ela não andava muito com aquele pessoal, mas é claro que dei essa sorte. Nossos olhares se cruzaram e um arrepio passou pela minha nuca quando lembrei dos momentos reais e dos que eu andava sonhando. Não podia dar nenhuma bandeira.

Depois de algumas cervejas, um pouco de conversa, Eick se despediu e disse que tinha outro compromisso, só aparecera para fazer uma graça pros alunos que duvidaram dele dizendo que ele era “caretão” demais para ir nessas festas.
Pensei 10 vezes em usar a mesma desculpa e sumir de lá, mas quando estava decidindo entre mais uma cerveja ou ir para casa, vi que tinha um cara perto da , perto demais, quando dei por mim, percebi que ele estava segurando o braço dela e ela parecia incomodada, me aproximei devagar para ver se não estava imaginando coisas antes de fazer uma cena.
Não sabia quem era o garoto, nunca o tinha visto, ela realmente estava pedindo para que ele a soltasse.
- Com licença, algum problema aqui? – Perguntei encostando no ombro dela, na surpresa pela minha presença, acho que o cara afrouxou um pouco a mão e ela se soltou rapidamente, pulando no meu pescoço.
- Não, amor, não foi nada, ele só estava implorando pra eu apresentar minha amiga e ela não está interessada, não é, Drake? Ele já estava indo embora. – Eu fiquei muito confuso com aquilo, o cara pareceu mais confuso ainda, assentiu meio abobalhado e se afastou. – Ai, desculpa... – ela me soltou como se tivesse levado um choque. – Esse cara é um babaca absoluto, aliás, obrigada por me livrar dele, eu dei um monte de sinal pro Josh ali atrás, mas acho que ele está muito bêbado pra entender, dava dando sinal de positivo e parecia estar torcendo por alguma coisa, credo.
- Tudo bem, eu estava indo embora também, só vi que estava com problemas.
- Não, fica um pouquinho, vamos tomar uma cerveja.
- É melhor não.
- Por favor, vai, não vamos conseguir ficar nos ignorando até o fim do ano, são mais quatro meses inteiros... Precisamos saber conversar em público como duas pessoas normais, ou pelo menos como professor e aluna. – Ela estava levemente alterada e eu sabia que era a pior ideia do mundo, mas acabei ficando, precisava criar uma resistência em ficar perto dela sem querer beijá-la para ver se meus sonhos paravam de seguir na direção daquela linda garota que estava voltando com duas garrafas na mão. - Cheers - Ela brindou, dando um sorrido de lado.
Eu sorri e dei um gole na bebida, dei uma olhada em volta para ver se não estávamos chamando atenção, mas àquela altura já estava todo mundo bem bêbado ou ocupado se pegando para prestar atenção no que estava acontecendo em volta.
levantou e começou a dançar ali perto de mim, senti uma gota de suor escorrer até meu pescoço, aquilo era demais, ela estava tão sexy. Eu senti meu corpo esquentando cada vez mais.

Caught up in a blaze with no way out
And as my self-control goes up in smoke
One more hit, I get so stoked
That I
I'm glowing in the
dark
You lit a fire in my heart


Num impulso impensado, eu me levantei e puxei-a para um canto mais afastado, apertei-a entre meus braços e ela se segurou no meu pescoço, rindo um pouco da situação...
Beijei-a intensamente, deslizei as mãos pelas costas delas e ela correspondeu a cada toque, gemendo baixinho contra meus lábios, aquilo era tão errado, mas também era tão certo, acabei me entregando ao momento e me deixei levar, no fim das contas, ela foi comigo para o meu apartamento.

You lit a fire in my heart


Acordei no dia seguinte com um pouco de dor de cabeça, fiquei repassando as imagens na cabeça pensando se eu tinha sonhado com ela de novo, mas os cabelos de estavam espalhados no meu peito e ela dormia tranquilamente. Fechei os olhos de novo e suspirei, estávamos numa grande fria, mas pelo jeito não conseguiríamos mais negar os sentimentos um pelo outro.
Meu corpo estava levemente dolorido, mas era uma sensação boa, eu estava com ela finalmente em meus braços, meu coração estava em chamas com a memória da noite anterior.

It was kicking that beat
Steady in my body
(In my body)
Until you pumped it up with gasoline
You struck a match and just like that you got me
Now I'm the brightest firework you've ever seen


Eu velei o sono dela por um tempo e acariciei seus cabelos, até que ela acordou e me olhou sorrindo, meu coração derreteu mais um pouco com aquele olhar, ela era minha, toda minha.

You lit a fire in my heart






Fim?



Nota da autora: Oi gente, essa fic foi um desafio bom, eu tive uma ideia bem do nada assistindo um filme e resolvi escrever com Sebastien Lefebvre como professor, ficou mais curtinha, mas quem sabe não sai uma continuação depois? *-*
Espero que gostem e comentem, até a próxima, beijinhos.




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