Capítulo Único
sentiu raios de sol baterem em seus olhos fechados, fazendo-os arderem. Sentiu um chão áspero em suas costas e suas narinas estavam ardendo por causa de algum cheiro ruim. Mesmo querendo só continuar dormindo para o resto da vida, obrigou-se a abrir os olhos. Então tudo voltou. As lembranças da pior noite de toda sua vida apareceram em sua mente como um flash.
levantou-se cedo, como sempre fazia. Preparou um café da manhã para Derek, seu noivo. Deixou um bilhete em cima da mesa e saiu para ir ao mercado, comprar algo para fazer no almoço. Como era muito cedo, o supermercado estava vazio. Ela agradeceu mentalmente a isso e comprou tudo que precisava. Voltou para casa e carregou as sacolinhas de no braço, levando-as para dentro do apartamento. Reparou na movimentação no apartamento vizinho e espiou quem era o novo morador.
foi atingida por uma memória tão forte que a deixou atordoada. Era mesmo , o encrenqueiro drogado da turma, se mudando para o apartamento vizinho ao seu? Não podia ser possível! Ela tinha certeza de que pararia na cadeia antes dos 26 anos, então o que ele fazia ali, no corredor de seu apartamento?
O que ele fazia ali? Tão lindo e gostoso, como sempre, montado em uma jaqueta de couro, calças jeans de lavagem escura e uma camiseta preta. Os óculos escuros tampando os olhos sempre vermelhos devido às drogas que ingeria sem se preocupar com nada e o cabelo tão bagunçado quanto ela se lembrava.
— ? — ele chamou, finalmente olhando para a mulher que já havia perdido alguns segundos encarando-o.
— ?
Ele sorriu abertamente e tirou os óculos, pendurando-os na gola da camiseta. Abriu os braços, esperando que ela corresse de encontro a ele, e foi exatamente o que aconteceu. Os dois se abraçaram para compensar os cinco anos que não se viam.
e estudaram juntos e até namoraram por um tempo. Eles se conheceram no último ano do ensino médio. nunca tivera uma vida fácil, já que nascera em um bordel, no meio de prostitutas e cafetões. Sua mãe morrera ao dar a luz e sua tia, Marine, era quem cuidava dela. sempre escondia suas origens, morria de vergonha de ter nascido em um bordel. Não sabia quem era seu pai e tinha certeza de que o ser humano nem sabia que tinha uma filha. Ela não fora obrigada a se tornar uma puta, como suas tias e amigas do bordel, mas trabalhava como stripper e garçonete na boate de Tio John, o cafetão principal. Por causa dessa vida... Agitada, não tinha tempo de estudar a acabou repetindo o último ano, já que trabalhava dois turnos e ia à escola no outro. Nunca dormia e andava com bolsas arroxeadas sob os olhos.
Enquanto isso, tinha uma vida de rei. O pai era dono de uma das maiores empresas alimentícias do Reino Unido e se gabava por isso. As drogas entraram na sua vida com muita facilidade e isso o tornou uma pessoa completamente agressiva. Ele não se importava com os sentimentos de ninguém, principalmente os dos pais, já que estes nunca estiveram presentes na sua vida, sempre ocupados com “coisas da empresa”. Brigar se tornou outro hábito e esse era o motivo de sua mais nova expulsão. Outra expulsão, fique bem claro.
Então, ele e acabaram se trombando nos corredores da escola. havia repetido o ano duas vezes e estava com 20 anos no último do colegial. As pessoas da escola nova não o conheciam e não sabiam o quanto era letal, então comentavam sobre aquilo, até que, um dia, um engraçadinho, Derek alguma coisa, se lembrava, resolvera falar besteiras para ele.
“— Olha, lá vai o riquinho! — ouvi a voz que pertencia a Derek Sei-Lá-O-Que falar. Ignorei e continuei a guardar alguns livros em meu armário, já que Derek era tão inútil que não daria nem uma boa briga.
— Está com medo, ? — ele provocou — Venha aqui e me encare!
Virei para ele com tédio nos olhos. Queria fumar meu baseado no telhado em paz, mas Derek estava mesmo com vontade de me irritar.
— O que você quer?
— Ouvi dizer que você é encrenqueiro! Que sabe brigar! Por que não vem aqui e briga comigo pra provar mesmo quem é?
As pessoas começaram a se amontoar em nossa volta, fazendo um pequeno círculo. Fofoqueiros filhos de uma puta.
— Você não dá uma boa luta nem para mim, Derek. — dei de ombros, fazendo um burburinho começar entre os espectadores — Foi mal, cara.
Virei-me para voltar a pegar meu baseado em meu armário, mas Derek não desistiu.
— Está com medo, não está? — ele riu — Como você é frouxo! Então essas roupas caras e de couro é só para comer as garotas?
— Derek, cala a porra da sua boca! — ouvi uma voz feminina e, curioso, virei para ver quem era a garota que estava se metendo na briga.
— Amor, já falei pra você me deixar resolver as coisas.
— Não há nada para ser resolvido! Para de arrumar briga com os outros. Isso é ridículo, Derek. E para de me chamar de ‘amor’!
— Vai defender o encrenqueiro agora? — ele desafiou — Por que não aproveita e dá pra ele, já que é uma puta?
Vi a raiva crescer nos olhos da garota. Antes que qualquer um pudesse prever — inclusive o próprio Derek — ela deu-lhe um tapa no rosto. Colocou tanta força no ato que Derek chegou a cambalear para trás. A marca da mão dela ficou marcada no rosto dele e ela o olhou com fúria, aparentemente gostando do que havia feito. Todos ao redor prendiam a respiração, esperando ver o que aconteceria a seguir.
Derek a olhou incrédulo, logo dando lugar ao ódio. Sem pensar duas vezes, fechou a mão em punho e preparou-se para socar o rosto da garota. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, segurei sua mão, segundos antes de atingir o rosto dela, que olhou com surpresa para Derek.
— Faça o que fizer, não bata em uma garota, cara. — disse-lhe, como se fosse um conselho, torcendo seu braço em minhas mãos, jogando-a com força para baixo depois, fazendo Derek ficar ainda mais puto.
Derek virou a outra mão e acertou um soco inesperado em meu rosto. Senti a área em cima de minha sobrancelha começar a esquentar mais do que o normal e depois uma dor me atingiu ali. Então, Derek finalmente conseguiu o que queria, me fazendo perder o controle e descer a porrada nele.
Sem pensar duas vezes, acertei socos em seu estômago, fazendo-o curvar-se para baixo. Segurei-o ao meu lado e forcei sua cabeça a continuar abaixada enquanto acertava joelhadas em seu rosto. O sangue molhava o material de meus jeans e reparei que a garota ao meu lado nem mesmo se importava com o que acontecia com Derek. Deduzi que aquela era , namorada de Derek. A prostituta. Eram assim que eles a chamavam, já que trabalhava num bordel. Algo desse tipo.
Joguei Derek no chão, com força. parou ao meu lado e se aproximou de Derek, segurando minha mão antes que eu começasse a acertar mais socos na cara dele.
— Deixa que eu faço isso. — pediu. Afastei-me e fiquei olhando curiosamente o que faria. Posicionou-se na frente de Derek, levou uma das suas pernas para trás e então chutou-lhe no meio das pernas com tanta força que Derek chegou a ir um pouco para trás. O grito de dor que eu não havia conseguido tirar dele ao desfigurar seu rosto, conseguiu com um chute. Sorri.
— Vem, . — ela me chamou. sabia meu nome? Pegou minha mão e empurrou os curiosos que ficavam nos cercando — Vamos sair daqui.
me conduziu para fora da escola, passando pelo porteiro sem nenhum problema, dizendo que me levaria para o hospital, alegando que eu me machucara ao cair da escada. Achei tudo muito engraçado e não disse nada até que chegamos em um beco que não conseguia ser iluminado pelos raios solares.
— Espero que não se importe com o que vai ver. — ela pediu, suspirando.
Abriu uma porta de metal que eu não havia visto. A porta nos revelou um corredor escuro, com as paredes pintadas de roxo e um carpete vermelho aveludado. Uma música baixa e sensual tocava ao fundo e ela me guiou até o fim do corredor, parando na frente de um elevador de aspecto antigo. Apertou um botão e esperou.
— Desculpa por Derek. — ela quebrou o silêncio — Ele é um babaca.
— Não me importo com ele. — dei de ombros.
— Obrigada por me defender. — engoliu em seco — Não é sempre que alguém faz isso.
— Não gosto de ver garotas apanhando.
Entramos no elevador sem dizer mais nada. Quando saímos, demos de cara com um quarto cor de rosa. corou e puxou minha mão para dentro do quarto, fechando a porta e deixando o elevador parado no andar.
— Isso aqui é seu quarto? — perguntei, reparando na quantidade de camas que tinha ali.
— Não. Não só meu. — ela respondeu — Divido-o com algumas garotas.
— Entendi.
Ela apontou sua cama, uma encostada na parede, ao lado de uma janela e pediu que eu me sentasse. Fiz o que ela mandou e sentei enquanto ela desaparecia pelo quarto, entrando no que eu imaginava ser o banheiro. Saiu, segundos depois, com uma maleta branca.
— Não! — protestei — Não me diga que isso é uma maleta de primeiros socorros!
— Por quê? — ela pareceu espantada — Você está sangrando. Vou cuidar de você.
Dei um gemido em protesto e riu.
— O que foi? Não gosta de ser cuidado?
— Não gosto de hospital. Médico, agulhas, nada disso.
— Mas tem um piercing na boca e aposto que tem tatuagens. — disse ela, colocando o dedo sobre o piercing que eu tinha abaixo de meu lábio inferior. A bolinha de metal pareceu se esquentar ao seu toque.
— Verdade, tenho tatuagens. — concordei, enquanto ela se afastava e molhava um algodão com soro — Como sabe?
— A pose de James Dean me deu a dica. — sorriu — Isso pode doer.
Fechei os olhos e senti o algodão gelado em meu rosto. A princípio, não doeu porque ela estava só limpando o sangue que havia escorrido, então apreciei a carícia lenta e precisa de seus dedos em meu rosto. Logo parei de sentir o algodão contra o rosto.
— Já acabou? — perguntei, abrindo os olhos e vendo-a mexer na maleta, tirando outra bola de algodão e molhando-o com mais soro.
— Claro que não. Ainda nem limpei o corte! Isso foi só o sangue que tirei do seu rosto. — apontou para a lixeira ao lado da cama, onde um algodão vermelho vivo estava largado.
— Ah. — suspirei, sabendo que agora sim sentiria dor. Fechei os olhos.
Suas mãos trabalharam o mais calmamente possível enquanto eu reclamava da ardência e ela implicava, dizendo que não estava doendo e eu era um bebezão. Depois, pegou uma gaze e colocou-a sobre o corte e prendeu com esparadrapos.
— Pronto! — sorriu, admirando meu rosto com o curativo feito por ela.
— Obrigado. — agradeci.
— Sou eu quem deve agradecer. Derek iria detonar meu rosto se não fosse por você.
Estávamos sentados na cama, muito próximos um do outro. Reparei que era extremamente bonita e tinha um cheiro bom. Não era perfume, só o seu cheiro natural. Ela tinha um piercing de argola prateado no nariz e eu apostava que também tinha uma tatuagem. Aproximei meu rosto do dela, com a óbvia intenção de beijá-la.
O momento foi quebrado quando a porta por qual entráramos foi aberta com um estrondo e várias garotas de lingerie entraram por ali. Estavam rindo e falando merda quando viram sentada na cama comigo. Nós nos afastamos rápida e quase involuntariamente.
— ! — uma delas disse, sorrindo maliciosamente — Não acredito que você finalmente largou aquele calça frouxa do Derek e está dando para alguém gostoso!
riu e se levantou da cama, parando de frente para mim.
— , essas são minhas amigas. Nós moramos juntas e elas são minha família.
Foi nesse dia que aprendi que todos podem ser felizes, independente dos problemas que enfrentam.”
A lembrança do dia que conheceu atingiu e ele soube que a mulher lembrou-se da mesma coisa ao olhar em seus olhos. Soltaram-se.
— O que está fazendo aqui? — perguntou para , sorrindo.
— Estou me mudando para cá. — ele sorriu de volta — Quer entrar?
entrou no apartamento, deparando-se com um lugar extremamente calmo e de cores escuras e tons de azul claro. Jamais imaginou aquilo como sendo de e sorriu ao notar as caixas amontoadas no canto da sala, assim como seu violão, apoiado no canto do sofá.
“Então corri.
Estava cansada de tudo. Da vida que eu levava e da falta de perspectiva que eu tinha. Não havia fé, não havia esperança. Eu estava destinada a ser uma puta.
Corri pelas ruas frias de Londres até parar na frente do apartamento de . Sabia que ele me receberia calorosamente e me faria esquecer de meus problemas.
Entrei no apartamento sem bater, já que eu tinha uma cópia da chave. Eu e estávamos namorando há um ano. A escola já havia terminado e, graças aos céus, havíamos passado!
estava na sala, com seu violão, compondo algo. Levantou os olhos para mim, sorrindo, mas mudando sua expressão na mesma hora quando olhou em meus olhos. Levantou-se e largou tudo o que fazia para me abraçar.
— O que aconteceu, morena? — ele tinha a mania de me chamar de ‘morena’ e isso me fazia bem.
— Eu não sou nada, . — chorei, molhando seu peito. Senti seu queixo pousar em minha cabeça enquanto ele me abraçava com mais força contra seu peito.
— Como assim, ‘não é nada’? Você sabe que é o meu mundo, não sabe?
— Eu não passo de uma puta. — continuei, sentindo minhas bochechas corarem quando ouvi dizer que eu era seu mundo — É isso que sou e o que vou sempre ser.
Ele soltou-me para poder olhar em meus olhos.
— Para de falar merda, . Você não é o que dizem. Eu sei que há bem mais nesse coração. — ele disse, colocando o dedo onde meu coração batia aceleradamente, em partes pela corrida e em partes pelo que ele havia acabado de dizer — Você é mais do que você mesma acredita que é.
— Como pode ter tanta certeza? — perguntei com a voz manhosa, ainda chorando um pouco.
— Porque eu vejo você, morena. — ele limpou minhas lágrimas com os polegares. Depositou um beijo em cada lado das minhas bochechas e então voltou a fitar meus olhos — Não importa o que te digam ou o que o mundo te mostre; eu vou estar sempre aqui, para mandá-los todos à merda e te beijar.
Comecei a chorar novamente, dessa vez emocionada com tudo que ele dizia.
— Por que está chorando de novo?
— Porque eu te amo. — respondi, beijando seus lábios.
Senti sorrir no meio do beijo. Passei os braços em seu pescoço, ficando na ponta dos pés. Ele passou os dele por minha cintura e me ergueu. Desgrudamos nossos lábios, olhando um para o outro. Começamos a rir e me girou. Não havia razão nenhuma para rir, mas nós rimos. Não havia razão nenhuma para sermos felizes, mas nós éramos.
— Fiz algo pra você. — ele sussurrou, ainda me carregando em seus braços.
— O quê? — perguntei, um tanto quanto curiosa. não era o tipo de namorado que dava presentes.
— Acabei de terminar de escrever uma música para você. — sorriu, conduzindo-me para o sofá, fazendo-me sentar ali — Ia te ligar agora mesmo.
— Uma música? — sorri, não aguentando esconder minha felicidade — Sério?
— Você acha que eu brincaria com algo assim?
Pegou seu violão e começou a dedilhar notas calmas, que me lembravam do frio que era agora em dezembro. Fitei-o, enquanto ele deixava a folha de papel em sua frente, olhando atentamente para as notas que tocava.
—White lips, pale face, breathing in snowflakes. Burnt lungs, sour taste.(Lábios brancos, rosto pálido, respirando flocos de neve. Pulmões queimados, gosto azedo).
Ele fez uma pausa e olhou para mim. Sorri ao ver a compaixão que demonstrava ao tocar. Lágrimas ameaçavam descer de meu rosto e me sentei no chão, para poder olhá-lo melhor enquanto tocava para mim.
— Light’s gone, day’s end. Struggling to pay rent. Long nights, strange men. (A luz se foi, o dia acabou. Lutando para pagar o aluguel. Noites longas, homens estranhos).
A primeira lágrima caiu no momento em que ele cantou a última frase. A vida de stripper não era fácil e fazia o melhor para tentar compreendê-la, mas, por ele, eu deveria largar tudo e ir para seu apartamento. Não era tão simples assim. Marine era minha tia e ainda estava lá, sofrendo como todas as minhas amigas. Eu não conseguia ir embora e largar tudo.
— And they say she is in the class A Team, stuck in her daydream. Been this way since 18, but lately her face seems slowly sinking, wasting, crumbling like pastries and they scream the worst things in life come free to us. (E eles dizem que ela está na classe A, presa em sua fantasia. É assim desde seus 18 anos, mas, ultimamente, seu rosto parece estar afundando lentamente, cansado, desmoronando como doces e eles gritam que as piores coisas da vida vêm de graça para nós).
sorriu para mim ao ver que eu chorava. Não sabia o que fazer, como reagir. Tudo que sabia era que eu estava diante do ser humano mais perfeito de todo o universo.
— Cos we're just under the upper hand and go mad for a couple of grams. And she don't want to go outside tonight and in a pipe she flies to the Motherland or sells love to another man. It's too cold outside for angels to fly... Angels to fly. (Porque nós não temos vantagens e ficamos bravos por muito pouco. Ela não quer sair hoje de noite e em um tubo ela voa até seu porto seguro ou vende amor para outro homem. Está muito frio lá fora para que os anjos voem... Anjos voem).
Toda a dor que vinha sendo contida em meu peito simplesmente foi embora e eu já não a sentia mais. Os motivos para chorar pareceram ser idiotas e eu não havia motivos para fazê-lo. O mundo ao meu redor era perfeito. era perfeito.
Fiquei pensando o quanto me observava para saber o que eu realmente sentia e como ele havia reparado em tudo aquilo. Quero dizer, é a pior pessoa do mundo quando se trata de reparar em algo. Por quanto tempo ele esteve lá, me observando, me amando, para saber tanto sobre mim e sobre como eu me sentia?
Eu gostava do modo como a canção soava em meus ouvidos. A voz aveludada de fazia-a parecer uma prece. era meu porto seguro, tudo que eu precisava para ser quem eu queria ser. As lágrimas corriam livremente por meu rosto e eu não tentava mais contê-las.
De alguma forma, eu me sentia amada. Não era fácil ser quem eu era, viver como eu vivia. Os caras me olhavam, me desejavam e me xingavam quando viam que não podiam me ter, já que eu era só a stripper. No outro dia, não se lembravam do meu nome, nem mesmo como eu era. Lembravam-se do meu corpo e das músicas provocantes que eu dançava.
era um tipo de anjo para me aceitar daquele jeito. Toda noite eu tirava a roupa na frente de um monte de caras, que me elogiavam e me xingavam também, jogando dinheiro para mim. Eu recolhia tudo e pagaria Tio John no fim do mês com esse dinheiro. Ele nunca havia exigido nada de mim, apesar de eu saber que ele odiava o que eu fazia. Mas, qual o tipo de namorado que iria gostar de ver a namorada ficar pelada da frente de outros caras?
O bom é que sabia que, no fim da noite, era com ele que eu dormiria e era nele que eu iria pensar antes de fechar meus olhos, assim como só o teria em mente quando acordasse.
E, naquele momento, entendi o convite óbvio. Ele cantou sobre desaparecer calmamente, sumir sem deixar pistas. estava pedindo que eu fugisse com ele. O pior era que eu não conseguiria dizer não. Nós fugiríamos juntos por aí, sem nos importarmos com o amanhã, vivendo o futuro, cada dificuldade por vez.
Assenti, concordando mudamente com seu pedido. Eu fugiria com , em busca da minha própria felicidade.
Ele sorriu o mais abertamente possível e clareou a garganta antes de cantar o fim da música.
Ele pousou o violão no chão da sala e me fitou com seus olhos brilhantes.
— Então? — perguntou — Vai vir comigo?
— Você sabe que vou para qualquer lugar com você.”
— Bonito apartamento. — elogiou — Não parece nada com você.
riu, gostando do jeito que ainda era brincalhona.
— Volte em duas horas e vai parecer com algo que eu teria.
Agora foi a vez da garota rir.
— O que esteve fazendo? — perguntou.
— Trabalhando por aí. — deu de ombros — Ainda tenho bastante dinheiro dos meus pais. Às vezes vendo uns negócios por aí, o que dá dinheiro. E você?
— Entrei em uma faculdade. Vou ser médica.
olhou para , um pouco incrédulo. Era mesmo que pronunciara aquela frase? A que ele conhecia jamais seguiria a carreira de médica. não gostava de hospitais e odiava pessoas doentes. Mas ele deveria ter reparado que havia algo estranho ao notar suas roupas. Ela vestia uma saia branca comprida que terminava abaixo de seus joelhos e a parte de cima do corpo estava escondida por uma regata rosa bebê. Nos pés, uma sapatilha dourada ao invés dos coturnos pretos.
— Honestamente? — disse, não acreditando que estava na frente de — Você mudou. Muito.
— Nem tanto assim! — ela riu, nervosa — Só tentei tomar outro rumo na vida. Não podia ficar roubando carros e lojas de conveniência para sempre, podia?
— Você nunca foi alguém ruim, . — a chamou pelo apelido, fazendo ter arrepios. Ele costumava chamá-la daquele jeito quando estavam se beijando. Pelo menos costumava ser assim — Só fazia o que te dava na cabeça.
— Eu resolvi mudar. — ela admitiu. notou o pesar em sua voz, mas não comentou nada, concluindo que deveria estar enganado. Pessoas como não se arrependiam — Sabe, parar de roubar, voltar a estudar, esquecer as drogas. Vou começar a tirar os piercings e vou remover as tatuagens.
— Vai... O quê?
Agora estava realmente chocado. Não podia acreditar que iria remover as tatuagens.
— Todas? — ele perguntou — Inclusive as que fizemos juntos?
“— , estou com medo. — sussurrou em meu ouvido enquanto apertava minha mão com força.
— Calma, morena. — beijei sua cabeça, devolvendo o aperto na mão, para passar certa confiança — Eu vou fazer isso com você.
— Eu fiquei muito nervosa da última vez. — confessou.
Sorri de lado para e beijei seus lábios.
— Da última vez eu não estava com você.
— Tá bom. — ela bufou — Vamos logo fazer essa porra.
E, corajosamente, abriu a porta de correr do estúdio de tatuagem.”
olhou discretamente as costas de , inclinando-se um pouco, mas não conseguiu ver os pássaros que deveriam estar ali, enquanto ele tinha uma enorme gaiola tatuada no mesmo lugar. Engoliu em seco.
— Quer beber alguma coisa? — quebrou o silêncio, já que não estava disposta a responder sobre a remoção de suas tatuagens — Eu vou dar uma festa hoje, então tem bastante bebida aqui. Por que você não aparece?
— Na verdade, eu...
— ? ! — gelou. Ouviu a voz de Derek no corredor e fechou os olhos, suspirando com pesar.
— Desculpa, . — se levantou em um pulo, arrumando a saia com as mãos e pegando as sacolas que havia largado na porta da casa dele — Tenho que ir.
— Aconteceu alguma coisa? — se levantou tão rápido quanto, olhando-a preocupadamente.
— É só o meu... Noivo.
Sem dizer mais nada, saiu pela porta como um tiro. saiu atrás, querendo ver quem era o babaca que havia roubado sua garota.
Ele podia ter caído de cara no piso quando viu Derek parado na porta vizinha.
— ? — Derek franziu o cenho — Da escola?
— Derek? — o imitou, fazendo um tom muito mais engraçado — O babaca?
— , o que estava fazendo com ele?
Derek apontou para com a cabeça com puro nojo na voz. Mas, se conhecia mesmo , sabia que essa era a hora em que ela mandaria Derek ir se foder. Mas ele deveria saber que a nova jamais faria algo desse tipo.
— Eu só o encontrei. — ela respondeu, de modo cansado — Vamos entrar, por favor. As compras estão pesadas.
Derek pegou uma das sacolas da mão de e observou os dois entrarem. Fez o mesmo e trancou a porta de seu novo apartamento. Escorou-se na madeira, e, como se estivesse se derretendo, caiu sentado no piso frio. Por que, dentre tantos apartamentos, ela tinha que morar justo no mesmo que o dele?
— , você ainda não me respondeu o que estava fazendo no apartamento daquele maconheiro.
No apartamento do lado, guardava as compras na despensa enquanto Derek questionava-a. Estava começando a ficar farta de questionamentos e pediu aos céus que Derek deixasse o assunto morrer. Caso contrário, ela explodiria.
— Ele não é maconheiro. — defendeu , mesmo sabendo que fumava todo tipo de substâncias — E eu já disse, só o encontrei.
Derek não pareceu satisfeito e saiu resmungando. começou a se mover rapidamente pela cozinha, decidindo o que iria preparar para o almoço enquanto a saia comprida demais se enroscava em seus pés e ela praguejava baixinho. Como um furacão, foi para seu quarto, onde colocou um short e uma camiseta escura. Trocou as sapatilhas por um All Star qualquer e prendeu os cabelos em um rabo de cavalo. Suspirou aliviada.
Antes de voltar para a cozinha, passou no bar que tinha na sala e pegou uma dose de uísque. Bebeu-a de uma vez e pegou a garrafa, resolvendo que precisava dela.
— Vai beber logo de manhã? — ouviu a voz de Derek vinda da sala.
— Vou. Preciso clarear meus pensamentos.
— Não sei por quê. Mulher não pode pensar demais que dá merda.
bufou com o jeito babaca dele e se perguntou por que estava noiva de alguém como ele.
— Não vou apagar minhas tatuagens. — declarou, tomando um grande gole da garrafa de uísque.
— Como não? — Derek pareceu incrédulo — Você disse que iria começar o tratamento a laser hoje.
— É, mas eu vou desmarcar. Essas merdas doem pra caralho e não quero me desfazer das tatuagens. Nem dos piercings.
— Ei, quem é você e o que fez com a ? — ele se levantou, completamente confuso e entrou na cozinha, encontrando com uma garrafa de uísque, escorada na bancada — Por que está falando palavrões e agindo como uma vadia?
— Quer saber por quê? — ela se exaltou — Porque eu sou assim! Se você me acha uma vadia e prefere aquela vaca frígida que eu estava fingindo ser só pra te agradar, então está se casando com a mulher errada!
Ele ficou sem palavras.
Não era o silêncio que queria ouvir.
— Diga algo, Derek.
— O que quer que eu diga?
— Você deveria saber, porra! — ela voltou a se exaltar — Quer saber? Eu cansei. Sim, sou uma vadia, uma puta, uma stripper. Eu era antes de te conhecer, era quando namorávamos e, só mudei para te agradar. Você nunca fez nada para me fazer feliz. Quem você pensa que é?
— Quem você pensa que é para falar assim comigo?
— Eu penso que sou a Rainha da Inglaterra falando com um pirralho assustado. É isso que você está parecendo agora, Derek.
O silêncio predominou o ambiente e isso estava irritando . Toda a raiva que havia contido nesses anos explodiu em suas veias e precisava extravasar.
— Eu quero um tempo. — anunciou, fazendo Derek prestar atenção nela — Vou sair. Quando voltar, não quero ver nada seu aqui.
— ... O que está dizendo?
— Não estou dizendo nada. Estou mandando você vazar daqui! Só saia. Depois nós nos resolvemos, mas agora, estou tão puta que não quero mais olhar para essa sua cara de bundão.
Dizendo isso, pegou a garrafa e saiu pela porta.
Não sabia o que havia acontecido com ela. Normalmente, ela não agia assim. Não mais. Não era mais explosiva, nem falava palavrões e, se tivesse que escolher um modelo de vida, escolheria a doce Taylor Swift e abominaria a louca Joan Jett. Mas, ver de novo havia iluminado algo dentro dela. As lembranças voltaram com força demais e ela se sentia pressionada pelas forças do passado a dar um basta em Derek. Já estava se sentindo de saco cheio há um bom tempo, mas a visita do ex havia sido o suficiente para explodir a bomba de pavio curto que estava acesa em seu coração.
“— , eu quero que você pegue suas coisas e suma da porra do meu apartamento. — sibilei, contendo minha raiva, falando o mais calmamente possível.
— , me deixa explicar...
— , PORRA! — ela gritou e se esquivou violentamente do toque de — EU MANDEI VOCÊ SAIR DO APARTAMENTO E, SE A CARAPUÇA NÃO SERVIU, QUERO QUE SUMA DA PORRA DA MINHA VIDA!
— , você não está entendendo! Eu estava completamente chapado! Essa merda é muito forte, eu não sabia que...
— Não quero ouvir! Só quero que você suma! Sua mente de retardado é muito devagar para entender isso?
— Eu juro pra você que não aconteceu nada! Eu só dormi por causa da droga! Não sei como aquela vadia foi parar pelada na cama! Eu apaguei!
— EU JÁ DISSE QUE NÃO QUERO OUVIR MERDA NENHUMA, !
Peguei a arma que estava pendurada no cós de meus jeans e apontei para sua cabeça, destravando a trava de segurança. ficou pálido instantaneamente.
— , abaixa isso.
— Agora, eu quero que você me escute bem. — pressionei a arma contra sua testa, enquanto erguia as mãos lentamente — Você vai sair daqui e torcer para eu não estar em casa quando você voltar para pegar suas coisas. Porque, se eu estiver, as coisas que fizemos no passado não terão peso nenhum na minha consciência de tão violenta que serei com você.
— ...
— Esqueceu que eu não sou nada misericordiosa? Não quero ouvir a porra da sua voz. Vire-se e vai embora!
E, sem dizer mais nada, fez exatamente o que eu estava mandando. Ele saiu e eu guardei a arma. Tentou pronunciar algo, mas fechei a porta na cara dele. Assim que o fiz, dei um grito desesperado. Havia acabado de perder a razão de viver.
Eu havia visto , deitado em nossa cama, com uma das strippers do bordel. Ela estava completamente nua e estava somente de boxer. Naquele momento, tudo que eu acreditava havia ido ao chão.”
Mais tarde, Alison, a stripper traidora, contara para o que havia feito e que realmente não sabia de nada. Porém, era tarde demais e seu orgulho não permitiu que fosse procurar . Depois disso, eles nunca mais se encontraram.
Como no dia em que sua vida começou a ser uma mentira — ou quando terminou com , dá no mesmo — script>document.write(Alyssa) rumou para o bordel. Digam o que quisessem, mas aquele lugar era sua casa e seu porto seguro.
Entrou no bordel pela porta dos fundos, onde somente quem sempre ia lá conhecia. já não visitava sua antiga casa há um bom tempo, mas ainda assim lembrava o caminho. Caminhou pelos corredores onde tinha passado com cinco anos atrás, sentindo-se nostálgica; os corredores ainda tinham a mesma aparência conservada. Derek não permitia que fosse lá, já que achava aquele o lugar mais ofensivo do mundo para uma mulher estar, mas ele mesmo já havia frequentado lugares como aquele. Hipócrita.
Entrou no elevador e apertou o botão familiar que sentia falta. Apesar de ser uma dançarina não ser a melhor coisa do mundo, sentia falta das noites que passava com as garotas. Bem, até Alison resolver dormir com seu namorado... Não que ela tenha mesmo dormido, mas enganou , e isso a deixou completamente furiosa. Ela terminou com por causa de Alison e isso tirara a maior parte de sua felicidade. A outra parte se esvaiu quando não tinha coragem nem de olhar na cara de Alison, que costumava a ser sua amiga e não suportava trabalhar no mesmo lugar que ela. Quando descobriu que tudo não passou de um plano para acabar com sua felicidade, já que Alison morria de inveja dela, ficou completamente desolada se demitiu da boate.
deveria saber que não é tão simples tirar as pessoas de seu coração.
As portas do elevador se abriram revelando o quarto que já conhecia. As garotas estavam todas lá, dormindo, depois de uma noite de trabalho. esquecera-se que elas costumavam a acordar só depois das 15h. Resolveu que não deveria ter ido perturbar as antigas colegas de trabalho e estava entrando no elevador quando uma voz chamou seu nome, fazendo-a sorrir.
— ? — Marine chamou.
virou-se com um enorme sorriso no rosto.
— Oi, Marine.
— Oh, meu Deus, !
Com um pulo, Marine se levantou e correu para abraçar a sobrinha que não via há três anos. Algumas garotas acabaram acordando também, devido aos passos trôpegos e destrambelhados de Marine, que tropeçou nas coisas jogadas pelo quarto.
— ? — ouviu a voz de , sua melhor amiga.
— Sim, ! Sou eu! , em carne e osso!
Depois disso, todas se levantaram e correram para abraçar a amiga que não viam há muito tempo. Algumas garotas resmungaram e outras não entenderam nada; concluiu que eram garotas novas, que entraram nos últimos três anos, já que ela não reconheceu suas faces. Depois dos beijos e abraços, viu o rosto que evitava olhar há três anos.
— Oi, . — Alison murmurou, com um sorriso amarelo. O quarto ficou em silêncio instantaneamente.
poderia ter feito mil e uma coisas. Podia ter mandado Alison se foder por ter acabado com sua felicidade; podia bater nela, o que queria fazer há uns... Três anos. Ou podia dar uma resposta irônica, seguida por uma piadinha sobre ela estar grávida ou ainda roubando o namorado das outras; talvez perguntasse se a inveja dela havia diminuído um pouco. Ignorá-la também era uma opção. Dentro de todas essas, escolheu a menos provável.
Virou-se na direção da garota com um sorriso e braços abertos.
— Oi, Alison.
Alison abraçou com lágrimas nos olhos. Jamais pensou que fosse ser perdoada, na verdade, não acreditava que merecia. Por alguns segundos, havia tido inveja da amiga e destruíra seu relacionamento com o namorado, acabando com sua única fonte de alegria. Não precisava ser amigo íntimo de para saber que e as besteiras que os dois faziam juntos eram o que fazia feliz. Estava, praticamente, tatuado em sua testa.
— Desculpa, . — a garota sussurrou, chorando no ouvido de — Juro que eu me arrependo. Se eu pudesse voltar no tempo e...
— Hey! — interrompeu — Não precisa disso. Eu já superei e virei a página. Quero que você faça isso também, ok?
— Mas...
— Sem mas, Alison. — afastou-se um pouco para olhá-la nos olhos — Eu já disse que estou bem.
Alison sorriu e se afastou de .
— Meninas, essa é , nossa princesa aqui do clube! — Marine apresentou para as garotas que estavam com ponto de interrogação na cara — Ela esteve com a gente durante 23 anos, então saiu, por motivos... Particulares. Espero que se sinta bem-vinda, .
As amigas de bateram palma e assobiaram, como se ela estivesse sendo apresentada para uma grande plateia, fazendo corar. sentou-se na cama de Marine, já que sua antiga cama pertencia a outra garota agora, fazendo as amigas sentarem-se em sua volta, seja na cama, seja no chão. Todas queriam perguntar para por onde ela andara.
— O que você esteve fazendo durante esses três anos, ? — perguntou quando todas já estavam devidamente acomodadas.
— Se vocês querem saber, eu quase me casei. — respondeu com uma voz cansada.
— Quer dizer que você e fizeram as pazes? — Alison perguntou, realmente interessada na felicidade da amiga.
— Não. Não exatamente. — mordeu o lábio — Eu e nunca mais nos vimos.
— Como assim? Não estamos entendendo.
— Quando saí daqui, eu não queria mais nada da minha vida antiga, mesmo sabendo que não havia feito nada. — explicou — Então eu me apoiei na primeira coisa mais próxima de uma vida normal. Derek era essa “coisa normal”.
— Derek?! — todas praticamente gritaram em uníssono.
— Eu sei, eu sei. — balançou a cabeça — Não sei porque diabos fiz isso, mas fiz.
— Você não procurou nenhuma vez depois de tudo? — questionou, conhecendo bem a amiga que tinha — Nenhuma vez mesmo?
“— Calma, . — Jonny pediu, dando um beijo em minha testa — Você tirava a roupa na frente de um monte de cara babão e agora tá com medo de cantar na frente de algumas pessoas?
— Ah, Jonny! — senti meu estômago dar várias voltas — É diferente. Essa música representa algo pra mim.
— Você escreveu praquele cara, não é? — ele questionou, olhando-me com um sorriso torto.
Assenti.
— Isso sai completamente da minha zona de conforto. — sentei na cadeira preta do camarim, com o rosto entre as mãos — Deus, eu queria que ele me perdoasse.
— Já tentou falar com ele?
— O que eu vou falar? — olhei para Jonny, pedindo ajuda com os olhos — ‘Desculpa por ter te colocado para fora de casa e apontado uma arma pra sua cabeça sem ouvir a sua versão dos fatos! Devia ter acreditado em você! Ah, e, só pra constar, ainda te amo, ok?’.
— Não precisa ser tão ridícula assim! — Jonny bufou, andando em círculos.
Estava pronta para rebater, quando a porta se abriu, revelando um Patrick sorridente. Ele abraçou Jonny e deu-lhe um selinho estalado, fazendo ambos rirem. Resmunguei e apoiei minha cabeça na estante.
— Dá pras duas mocinhas pararem com isso? Sei que eu to fodida, mas não precisa jogar na cara.
— Credo, Joe! — Patrick fez uma voz afetada — Você me disse que era fofa e delicada!
— Ela é bem mais fofa e delicada com um Jack Daniels nas mãos. — Jonny assinalou, fazendo-me rir.
Sim, Jonny era gay. Seus olhos eram azuis e seus cabelos eram escuros como ébano. A pele era um pouco mais clara do que deveria ser, mas ele passava uma impressão sempre saudável. Já havia se relacionado com mulheres antes, mas o que gostava mesmo era de um cara bem forte e másculo em sua cama. Fazer o quê? Homens são uns filhos da puta, mas filhos da puta irresistíveis.
— Desculpe. — sorri para Patrick — Jonny me falou muito de você, eu deveria ser mesmo mais educada. Sou .
— Prazer em conhecê-la, moça. — ele deu um beijo em minha mão e uma piscadela safada.
Ignorando esses pensamentos, voltei a me olhar no espelho. Arrumei meu cabelo que estava informalmente jogado para o lado, preso com grampos invisíveis. A franja cobria um pouco meu rosto, mas dava um ar de mistério que estava me agradando. Pela primeira vez, em anos, usava um vestido que não tinha a intenção se ser revelador e sim comportado. Era um simples vestido lilás colado no corpo, mas que abria no quadril, formando uma saia de babados somente na parte de trás, deixando minhas pernas à mostra. Meu batom vermelho e os olhos com um pouco de preto aumentavam o mistério de meu visual, porém ainda me deixando doce e delicada de um jeito que nunca pensei que fosse capaz de ser.
— Está pronta, ? — Jonny perguntou com um sorriso e me estendendo o violão.
— A casa está cheia hoje. Todos querem ver sua apresentação! — Patrick comentou.
— Estou nervosa, mas eu encaro. — sorri de lado, sentindo um arrepio passar em minhas veias.
Eu havia conhecido Jonny em uma boate, quando ele estava caído de bêbado, em uma situação deplorável após terminar com Patrick. Eu estava mais ou menos na mesma, já que estava sem ver há duas semanas e havia descoberto que ele não me traíra, isso sem contar a demissão na boate de Tio John. Levei-o para meu apartamento e cuidei dele. No outro dia, nós nos demos muito bem e comentei que estava sem emprego e Jonny me ofereceu um show em seu restaurante, em uma sexta de noite. O cachê era bom, então não recusei, já que eu sabia cantar e conhecia um vasto repertório de música para tocar em uma pequena apresentação.
Eu havia escrito uma música para , falando tudo que eu queria que ele ouvisse, mas que eu não tinha coragem de falar. Cantei a música para Jonny, para que ele tivesse certeza que me queria cantando em seu pub e acabei passando no ‘teste’. E lá estava eu.
Lá estava eu. Entrando no palco enquanto as pessoas aplaudiam-me e viravam-se parcialmente para me ver. Eu já havia ido lá algumas vezes. Eu e gostávamos da comida e das apresentações ao vivo.
Sentei na banqueta posicionada no meio do palco, em sua frente um microfone. Sorri antes de falar e posicionei meu violão no colo.
— Obrigada por me assistirem. — agradeci previamente — Espero que gostem do que vou tocar.
Cantei e toquei um repertório calmo de músicas que iam de Bubbly da Colbie Caillat a Strangers In The Night do Frank Sinatra. E então, todo meu mundo parou.
Eu estava terminando de cantar Bleeding Love da Leona Lewis quando eu o vi. Seus olhos brilhantes ficaram completamente estáticos quando ouviu a minha voz terminar de cantar a música que eu tanto gostava e que achava melosa demais. De algum modo, aquilo até pareceu se encaixar no que eu estava sentindo naquele momento.
– I don’t care what they say; I’m in love with you. They try to pull me away, but they don’t know the truth. My heart’s crippled by the vein that I keep on closing. You cut me open and I… Keep bleeding, keep, I keep bleeding love. (Não me importo com o que dizem; estou apaixonada por você. Eles tentam me afastar, mas não sabem a verdade. Meu coração está danificado pela veia que tento fechar. Você me cortou e eu... Continuo sangrando, continuo, eu continuo sangrando amor).
Aos poucos, fui diminuindo o tom da voz, cantando mais devagar e então parando completamente. sentou-se em uma mesa vaga e pediu algo para o garçom enquanto eu terminava a música e era aplaudida. Ele sabia que eu havia visto-o e que o olhava com certa incredulidade agora.
— Obrigada. — sorri — Essa foi uma das melhores noites da minha vida. Mas, se me permitirem, quero tocar uma última música. Uma que eu mesma escrevi. Nunca toquei-a para tantas pessoas, mas escrevi-a para que chegue nos ouvidos daqueles que se sentirem tocados. Espero que gostem.
Clareei a garganta discretamente enquanto as pessoas aplaudiam. Menos . Ele continuava imóvel, sem tirar os olhos de mim.
A melodia suave do violão preencheu o ambiente por alguns segundos, antes de eu olhar fixamente para e deixar que minha voz saísse.
— ‘Never look back’, we said. How was I to know I’d miss you so?. (‘Nunca olharemos para trás’, nós dissemos. Como eu imaginaria que sentiria tanto a sua falta?) — comecei, esperando que ele entendesse. fechou os olhos e suspirou enquanto minha voz vazia uma pequena pausa para o violão — Loneliness up ahead, emptiness behind. Where do I go? (Solidão à frente, vazio para trás. Para onde eu vou?).
Respirei fundo, sentindo meus olhos lacrimejarem. sabia que aquilo era para ele. O garçom apareceu com a bebida de , que pegou o copo e tomou tudo de uma vez, servindo-se de mais do líquido transparente enquanto continuava a me fitar. Encarei seus olhos, sem medo algum.
— And you didn’t hear all my joy through my tears, all my hopes through my fears. Did you know still I miss you somehow? (E você não ouviu toda a minha alegria apesar das minhas lágrimas, todas as minhas esperanças apesar dos meus medos. Você sabia que eu ainda sinto sua falta?) — minha voz aumentou um tom na última parte. Eu queria enfatizar meus sentimentos, mas não sabia se estava sendo perfeitamente clara.
— From the bottom of my broken heart, there’s just a thing or two I’d like you to know: you were my first love, you were my true love. From the first kisses to the very last rose. (Do fundo do meu coração partido, tem só uma coisa ou duas que eu gostaria que você soubesse: você foi meu primeiro amor, você foi meu amor verdadeiro. Desde os primeiros beijos até a última das rosas).
Eu realmente queria que ele entendesse o quanto doía deixá-lo ir e saber que eu era a culpada. Se eu tivesse escutado-o, pelo menos um pouco, não teria pirado. Nós poderíamos dar um jeito, como sempre dávamos. Nós havíamos passado quatro meses na França, só fazendo merda e amando um ao outro e isso não havia nos destruído. Quase fôramos para a prisão umas mil vezes, mas ainda estávamos de pé. Então qual o problema de tentar novamente? Qual o problema de admitir que não podíamos ficar separados?
— From the bottom of my broken heart, even if the time may find me somebody new, you were my real love. I never knew love ‘til there was you. From the bottom of my broken heart. (Do fundo do meu coração partido, mesmo que o tempo me arrume alguém novo, você foi meu amor verdadeiro. Eu nunca conheci o amor até você aparecer. Do fundo do meu coração partido).
O problema é que eu apontei uma arma para a cabeça de e mandei que sumisse da minha vida sem nem mesmo saber se ele havia feito o que eu pensava que tinha.
E não havia feito absolutamente nada.
Uma lágrima escorreu por meu rosto, morrendo em meus lábios.
— ‘Baby’, I said, ‘Please, stay. Give our love a chance for one more day’. We could have worked things out. Taking time is what love’s all about. (‘Amor’, eu disse, ‘Por favor, fique. Dê ao nosso amor uma chance por mais um dia’. Nós poderíamos ter resolvido as coisas. O amor é sobre dar um tempo).
Em nenhum momento eu estava mentindo ou exagerando. Estava sendo o mais honesta possível, para poder fazê-lo entender. Eu estava me humilhando na frente dele, sem me importar se isso seria ou não certo. Eu só queria ser perdoada.
— But you put a dart through my dreams, through my heart. And I’m back where I started again, never thought it would end. (Mas você passou uma flecha nos meus sonhos, no meu coração. E eu estou onde comecei outra vez, nunca pensei que nós fossemos acabar).
Mais algumas lágrimas caíram de meu rosto. não parecia se importar com o que eu estava lhe cantando. Talvez eu tivesse machucado-o pra valer. Talvez não tivesse volta. Não tinha como saber; ele era frio como gelo quando queria.
Eu estava confusa. Meu coração estava vazio, mas minha cabeça doía de tão pesada.
— From the bottom of my broken heart, there’s just a thing or two I’d like you to know: you were my first love, you were my true love. From the first kisses to the very last rose. From the bottom of my broken heart, even if the time may find me somebody new, you were my real love. I never knew love ‘til there was you. From the bottom of my broken heart. (Do fundo do meu coração partido, tem só uma coisa ou duas que eu gostaria que você soubesse: você foi meu primeiro amor, você foi meu amor verdadeiro. Desde os primeiros beijos até a última das rosas. Do fundo do meu coração partido, mesmo que o tempo me arrume alguém novo, você foi meu amor verdadeiro. Eu nunca conheci o amor até você aparecer. Do fundo do meu coração partido).
Peguei o máximo de ar possível em meus pulmões e pisquei até que as lágrimas se extinguissem completamente de mim. A música estava para acabar e eu estava me desesperando, não conseguindo mostrar para ele o quanto sentia sua falta e o quanto precisava de tudo o que nós éramos. De algum jeito, era aquilo que me fazia ser quem eu era. E, honestamente, eu sentia falta daquela .
—You promised yourself, but to somebody else. And you made it so perfectly clear… Still I wish you were here. (Você se prometeu, mas para outra pessoa. E você deixou isso tão claro... Ainda assim eu queria que você estivesse aqui).
Quando olhei para , sua expressão dura e fria estava tremendo. Finalmente eu tinha conseguido tocá-lo.
— From the bottom of my broken heart, there’s just a thing or two I’d like you to know: you were my first love, you were my true love. From the first kisses to the very last rose. From the bottom of my broken heart, even if the time may find me somebody new, you were my real love. I never knew love ‘til there was you. From the bottom of my broken heart. (Do fundo do meu coração partido, tem só uma coisa ou duas que eu gostaria que você soubesse: você foi meu primeiro amor, você foi meu amor verdadeiro. Desde os primeiros beijos até a última das rosas. Do fundo do meu coração partido, mesmo que o tempo me arrume alguém novo, você foi meu amor verdadeiro. Eu nunca conheci o amor até você aparecer. Do fundo do meu coração partido).
Eu precisava que ele soubesse daquilo. Que, apesar de tudo, eu tinha amado-o com tudo de mim e era grata por ele ter me apresentado o amor, mesmo que tivesse sido tão louco e conturbado como foi.
— ‘Never look back’, we said. How was I to know I’d miss you so? (‘Nunca olharemos para trás’, nós dissemos. Mas como eu iria saber que sentiria tanto a sua falta?).
Finalizei a música com o último acorde. Então, a máscara de garota feliz e sorridente voltou, assim como o sorriso falso em meu rosto.
— Obrigada pela noite e pela atenção. — levantei-me no meio de aplausos. Os olhos brilhantes de não estavam mais onde eu havia visto-os e isso cortou meu coração mais do que tudo. Mesmo assim, não deixei de sorrir enquanto voltava para dentro do camarim.
Passei por um Jonny risonho e orgulhoso. A máscara havia caído novamente e eu estava me segurando para não desabar em lágrimas. Abracei-o e tentei dar um sorriso, o que deve ter saído mais como uma careta esquisita, já que Jonny franziu o cenho ao dizer:
— Está tudo bem?
Ah, essas três palavrinhas. Por que as coisas sempre pioram quando alguém pergunta se você está bem? Fechei meus olhos e passei correndo por Jonny, que gritou meu nome, mas eu o ignorei e entrei no camarim, fechando a porta com a chave, para não ser interrompida em meus minutos de autopunição e autoconsolo. Coloquei o violão sobre a mesa que tinha ali no meio e me sentei sobre a banqueta da penteadeira, olhando-me no espelho, enquanto minhas lágrimas caiam lenta, mas rigorosamente, uma atrás da outra, tornando difícil respirar. Peguei uma bola de algodão e embebedei-a com o produto demaquilante e comecei a limpar meu rosto. O preto dos olhos começou a borrar e a me dar uma imagem assustadora e sombria, mas eu não me importei. Nada estava tão assustador e sombrio quanto meu coração.
Um por um, tirei os grampos que prendiam meu cabelo, deixando-o solto e caindo por camadas em minhas costas. Os saltos estavam machucando meus pés, então tirei-os também. Continuei a chorar até que ouvi alguém bater na porta.
— Jonny, por favor, me deixe em paz. — pedi, falando alto o bastante para que Jonny pudesse ouvir.
— É o .”
sorriu, lembrando-se da reconciliação que tiveram no sofá do camarim. Mesmo assim, não havia sido o bastante para fazê-los voltar a ser o que eram antes, apenas o suficiente para que não se odiassem e odiassem a si mesmos.
— Talvez, mas isso não vem ao caso. — deu de ombros, respondendo — Eu estou precisando de ajuda e dos conselhos de vocês; as únicas que me entendem!
Todas murmuraram um “awn” coletivo, fazendo rir.
— Primeiro de tudo, você precisa dar um pé na bunda do comédia que você chama de noivo. — concluiu, me dando um beijo na bochecha.
— Já fiz isso. — sorriu — Acabei de fazer, na verdade. Ele está saindo do meu apartamento.
— Ah, isso facilita as coisas. — suspirou, pensando no próximo passo.
— Tem alguma pista de onde possa estar? — Marine perguntou — Se você encontrá-lo, pode dizer que sente muito.
— Ele é meu vizinho.
— Ele... O quê? — as garotas murmuraram — Como assim?
— Bom, tudo começou quando acordei de manhã e encontrei com se mudando para o apartamento do lado do meu. Ele me convidou para uma festa que vai dar hoje de noite, mas Derek apareceu antes que eu pudesse responder. Acabei me lembrando de como eu era antes de terminar tudo com e decidi que eu queria voltar a ser aquela . E aqui estou eu.
— Isso facilita muito. — remontou sua frase — Então é só você ir atrás dele.
— Não é tão simples assim...
— Claro que é! — Marine interrompeu — Ele vai dar uma festa, aparece lá e mostra que você ainda é aquela garota de três anos atrás!
— E se ele não me quiser?
— Ele não te convidaria para uma festa se não te quisesse. — revirou os olhos.
— Não sei... — hesitou.
— , quando eu tentei... — Alison se pronunciou pela primeira vez — Fazer aquilo com , ele não me aceitou. Ele não me quis, mesmo chapado. O cara te amava muito. Em três anos, não acho que ele tenha te esquecido. O que vocês tiveram foi muito forte.
assentiu, concordando. Sorriu docemente para Alison, agradecida pelas palavras da amiga traidora.
— Obrigada, Alison. Acho que já sei o que vou fazer...
contou seu plano para as garotas e todas concordaram, rindo e imaginando a cena. estava mais ansiosa do que nunca.
voltou para casa por volta das 17h. Havia passado um bom tempo com as antigas colegas de trabalho e família. Estava pronta para aceitá-las de volta em sua vida e ser aceita por elas. Não pretendia parar a faculdade para voltar a ser stripper, mas, quem sabe, ela ainda pudesse fazer alguma apresentação especial uma noite dessas.
Bateu na porta de , querendo dizer que aceitava seu convite. A porta se abriu alguns segundos depois de bater.
— ? — se espantou, não só pela garota estar vestida como se vestia quando eram mais novos como também por ela estar em sua porta — Aconteceu alguma coisa?
— Sim. Eu resolvi ser a que eu era há três anos. — sorriu — Posso entrar?
— Claro. — murmurou, um pouco confuso, mas abriu a porta para que passasse.
— Eu quero vir à festa hoje. — ela anunciou — Eu não estou mais com Derek. Quero que ele se foda.
— Mesmo? — um sorriso começou a brincar no rosto de — Os gritos que ouvi eram seus?
assentiu timidamente, pensando se todos os vizinhos haviam ouvido-a.
explodiu em gargalhadas.
— Apontou uma arma pra cabeça dele?
— Não.
— Estou me sentindo importante agora. — ele sentou-se no sofá e bateu no lugar ao lado dele, convidando a sentar-se também — Você apontou pra mim!
— Olha, estava descarregada, ok? — ela fez bico.
— Eu sei!
— Não sabia nada! Ficou morrendo de medo!
— Na hora eu não sabia! Depois eu pensei melhor e sabia que você jamais apontaria uma arma carregada para mim.
— Mesmo?
— Não exatamente. Encontrei as balas mais tarde, quando fui pegar minhas coisas.
riu, fazendo dar um sorriso também.
— Então, ainda estou convidada para vir naquela festa? — perguntou, olhando nos olhos brilhantes de .
— É claro! — ele sorriu — Você vai ser minha convidada de honra! Alguns caras antigos estão vindo também.
— , sobre o que aconteceu... — suspirou, sem saber bem o que falar.
pousou um dedo nos lábios de , calando-a.
— Isso não importa mais. — ele se aproximou dela — Nós ainda somos os mesmos.
— Você sabe que eu te amava muito, mas não estou pronta pra voltar exatamente ao que era antes. — ela murmurou, ficando um pouco vermelha — Prefiro não ter compromisso. Não me apegar mais. Não quero.
— Entendo. — assentiu, aproximando o rosto ainda mais — Não estamos tendo nada, mas podemos ter uma ótima noite juntos. Como antigamente.
sorriu de lado e juntou os lábios aos de , em um beijo provocativo. Não tinha amor nem nada do tipo, apenas desejo e provocação. De algum jeito, preferiu aquilo aos beijos apaixonados.
— Você não mudou nada, não é, ? — perguntou, mordendo o lábio inferior do rapaz, fazendo um arrepio percorrer por seu corpo.
— Você vai ter que esperar para descobrir. — respondeu provocativamente.
riu e deixou o apartamento. A festa seria mais tarde e ela precisava se preparar.
“— Por quanto tempo vamos ficar fora? — me perguntou, um meio sorriso brincando em seu rosto.
— Não sei. — dei de ombros e depositei um selinho em seus lábios — Por quanto tempo você quiser.
— Estou com um pouco de medo de ir. — admitiu quando colocou sua mala no porta-malas do carro.
— Se você confia em mim, não precisa ter medo. — fechei a porta traseira e me virei para , olhando em seus olhos. O vento batia um pouco forte sobre nós e apertava a jaqueta de couro contra o corpo. Nós não sabíamos para onde íamos nem quando íamos voltar, mas, ainda assim, queríamos ir. Apesar de ver o medo em seus olhos, sabia que queria a viagem mais do que eu, até. A boate a deixaria louca a qualquer momento, com todos aqueles clientes e John. Isso sem contar que eu não gostava nem um pouco de saber que, toda noite, centenas de caras diferentes viam completamente nua — Eu vou te proteger, morena.
— Eu sei que vai. Confio em você. — ela disse, dando um sorriso e ficando na ponta dos pés para alcançar meus lábios. Inclinei-me para ficar na sua altura e deixei que nossos lábios se juntassem em um misto de amor, desejo e expectativa. Aquela seria a melhor viagem de nossas vidas, só porque estávamos juntos.”
sorriu abobalhado. Por que ficava se lembrando dos momentos que tivera com ? Principalmente os momentos mais românticos. Por que, quando a imagem da garota invadia sua mente, não eram os momentos mais quentes que lhe percorriam? Não que ele não se lembrasse das vezes que haviam feito sexo durante a noite toda e só pararam quando os raios de sol invadiram o quarto, mas não eram esses que eram realçados com mais clareza.
A campainha do apartamento tocou e ele deu algumas piscadas. Ainda não estava acostumado a morar em um lugar sem hall de entrada, apenas uma simples escada nos fundos do pequeno prédio que levavam aos andares. Já eram 22h e seus convidados já tinham chegado. Abriu a porta.
— Hey, ! — Tyler, amigo muito antigo de sorriu, abrindo a porta com um estrondo. Já devia estar meio chapado — Que lugar é esse, cara?
— É discreto. — deu de ombros, rindo quando o amigo passou por ele e lhe deu um abraço — Você sabe, não podemos ficar mostrando pra todo mundo o que temos.
— A não ser que esse “todo mundo” seja uma mulher. — Mike deu uma piscadela, entrando na casa.
— E gostosa. — Lexi completou.
Os três eram amigos de da escola que estudara antes de conhecer . Lexi era lésbica e a única garota que costumava a andar com eles, já que as outras achavam os quatro muito grosseiros, mas fariam qualquer coisa por uma noite com eles. Completamente... Hipócritas.
Eles não eram os únicos convidados de , mas os únicos que ele realmente queria por perto. Os outros convidados eram apenas viciados para quem venderia algumas drogas e não queria nem um pouco por perto. Em cada pó, ele colocava uma pequena dose de alguns compostos do famoso Boa Noite Cinderela. Não eram doses o suficiente para fazer alguém dormir, mas era o suficiente para fazê-los esquecer de onde morava. Com muito esforço se lembravam de e das drogas que consumiam. É claro que isso fazia tudo mais lascivo e fatal, levando-os para morte cada vez mais rápido, mas não se importava o bastante. Precisava vender para ganhar dinheiro.
Um traficante.
Quem diria?
Lexi colocou seu iPod para tocar no amplificador enquanto pegava um baseado e começava a fumar, dividindo-o com os amigos. recusou e pegou uma garrafa de Jack Daniels. Isso o lembrava a , que adorava aquele uísque. Eles beberam aquilo, juntos, muitas vezes.
— E aí, como está a vida, ? — Mike perguntou, jogando-se em seu sofá.
— Encontrei aquela garota. — ele deu de ombros, um sorriso pervertido brincando em seus lábios.
— ? — Tyler arregalou os olhos — Você vai se meter com ela de novo?
— Qual o problema com a ? – Lexi perguntou — Ela é gostosa. E beija bem.
— Você já ficou com a ? — perguntou, um pouco enciumado.
— Calma aí, príncipe encantado. — Lexi riu — Ela não foi tão boa quanto disse que foi nesse tempo todo.
— O que quer dizer com isso?
— Que ela nos procurou. — Tyler concluiu — estava louca para saber sobre você. Então nós saímos com ela algumas vezes.
— E por que não me disseram?
— Você sumiu, cara. – Lexi reclamou — Ninguém conseguiu te achar. Até você nos ligar e dizer que queria se encontrar mais uma vez.
assentiu, digerindo os fatos. Então fora atrás dele. E ela havia sido corajosa o bastante para sair com seus amigos. Ela estava diferente.
Com essa conclusão, ele sorriu.
No apartamento vizinho, ouvia o som do 3OH!3 começar a tocar uma das milhões de músicas que adorava. De algum jeito, as perversões e safadezas que aqueles caras pronunciavam, agradavam os ouvidos de . acreditava que era porque ele era tão pervertido e safado quanto o próprio 3OH!3.
Vestiu a roupa que pegara na boate, que as amigas emprestaram justamente para ela. Era um conjunto sexy de lingerie, com cinta-liga, corpete e meia 7/8. Jogou um vestido preto vintage por cima, guardando-se para . O vestido era tão curto que era fácil ver a cinta-liga e o fim da meia 7/8 rendada. Arrumou o cabelo e colocou todos seus piercings na orelha. Arrumou a argola que tinha no nariz e ajeitou os cabelos. Colocou a maquiagem mais preta nos olhos e o batom mais claro na boca. Estava satisfeita com o resultado que havia obtido com si mesma.
Pegou seu iPod e suas chaves e saiu, reparando que já era quase meia noite. Queria chegar depois que a festa já tivesse acabado para que pudesse se divertir com sem que ninguém interrompesse. Conferiu se a música que queria estava ali e sorriu em aprovação.
Alguns segundos depois, estava tocando a campainha de , sorrindo até um pouco pervertida quando ele abriu a porta.
— Oi, . — cumprimentou.
olhou-a de cima a baixo. nunca estivera mais gostosa. Vestia uma meia rendada que ia até o meio das coxas e usava mais maquiagem do que o necessário. Seu cabelo estava arrumado em ondas, dando certo volume para seu tronco, realçando seus seios. Oh, queria ver aquele vestido no chão de seu quarto.
— Pare de babar. – sussurrou, aproximando o corpo do dele.
— A festa já está quase no fim.
— Na verdade, vai acabar agora. — ela disse, decididamente, fazendo arquear uma sobrancelha — E vamos começar outra, nós dois.
— Isso parece bom pra mim.
sorriu pervertidamente.
abriu a porta, dando passagem para , que encontrou o apartamento praticamente vazio, a não ser por muitas garrafas de cerveja e três pessoas rindo como loucos, completamente alterados pelas drogas. sabia que aquelas pessoas eram os melhores amigos de , pois lembrava-se da época que fora atrás deles para descobrir como estava. É claro que isso havia lhe rendido algumas confusões, mas não se arrependia de nada. Lembrava-se até mesmo de ter beijado a garota, que não lembrava o nome.
— Caras, desculpa informar, mas a festa acabou. — anunciou, falando grossamente, mas os amigos nem pareceram perceber, rindo cada vez mais.
v Então você vai mesmo transar com a garota? — a única mulher perguntou. lembrava de tê-la beijado.
— Por que você não fica... Lexi, certo? — pediu. Lexi riu do convite.
— Só por alguns minutos. Realmente não curto o que você tem entre as pernas, .
— E os caras? — preocupou-se vendo o estado dos amigos.
— Relaxa. Eles vão se virar. — Lexi deu de ombros e empurrou os dois amigos para fora do apartamento.
riu.
— Lexi, pega uma cadeira para mim? — pediu com um tom suave e macio na voz.
— Claro, gata. — ela piscou e foi à cozinha pegar a cadeira.
— O que você está planejando, ? — perguntou, pressionando contra a parede enquanto a garota tentava chegar ao iPod conectado nas caixas de som.
— A melhor noite da sua vida. Está com sorte, bonitinho.
jogou os lábios sobre os de e o empurrou para se livrar de seu aperto. Sabia que ele já estava excitado só com a ideia do que poderia acontecer ali e isso estava encantando .
Tirou o iPod de e colocou o seu. Programou a música Your Body da Christina Aguilera para tocar repetidas vezes. A música começou e Lexi chegou com a cadeira. agradeceu e empurrou para que ele se sentasse no meio da sala. Sendo assim, ela puxou Lexi e, na frente de , beijou a garota com fúria.
arregalou os olhos, um pouco surpreso. beijava Lexi com certa empolgação e Lexi devolvia o sentimento, fazendo se perguntar o que realmente havia acontecido quando encontrou-se com seus amigos.
Mesmo que estivesse um pouco desconfiado de tudo, ainda achava aquilo muito excitante. era sexy e gostava disso. Lexi era uma das pessoas mais brincalhonas do mundo, então era um pouco estranho vê-la tão concentrada em beijar , principalmente quando estava chapada.
As mãos de correram pelo corpo de Lexi sensualmente e vice-versa. sentia que seus jeans estavam ficando cada vez mais apertados, mas estava gostando.
soltou os lábios da garota, dando-lhe uma mordidinha no inferior ao fazê-lo, olhando para com os olhos enviesados. Ele estava entendendo que era tudo uma grande provocação e estava se sentindo realmente excitado com tudo aquilo. havia mudado. Para pior?
— É toda sua, . — Lexi sorriu, dando um leve tapa na bunda de .
— Você já vai embora? — perguntou com a voz um pouco manhosa.
— Tenho que cuidar de Tyler e Mike. — suspirou — Mas você sabe onde me encontrar, gata.
— Claro que sei. — sorriu de lado.
Com mais um singelo beijo e uma troca de olhares, Lexi deixou o apartamento, fazendo sorrir mais do que o Gato da Alice. estava enlouquecendo na cadeira.
— Você se lembra de quando eu fazia meus shows? — perguntou, se aproximando de , falando baixinho perto de sua orelha e apoiando as mãos em suas coxas, perigosamente perto de sua virilha.
— Como iria esquecer?
— Esse vai ser o melhor de todos eles.
Mordeu o lóbulo de e o puxou levemente. estava pronto para agarrar e possuí-la, mas a garota tinha outras ideias. Com um sorriso pervertido, ficou no centro da sala, virando-se de costas para .
Puxou o zíper de seu vestido, fazendo-o deslizar pelo seu corpo, como imaginava as mãos de fazendo e isso fez com que fechasse os olhos e desse um sorriso de pura malícia. acompanhava seus movimentos com os olhos transbordando tesão.
se virou para , sorrindo sensualmente. também sorriu, levantando-se lentamente.
Sem dizer mais uma única palavra, puxou pela cintura, colando seus lábios nos dela com força. abafou um gemido espantado, mas sabia que as coisas eram assim com . Pousou uma das mãos na nuca dele enquanto a outra descia por seu peito e abdômen, parando da barra da camiseta, onde começou a fazer o caminho inverso, por baixo do tecido, levando-a junto e expondo a pele sarada de . abriu os olhos para espiar, mordendo os lábios de e os seus próprios ao se deparar com a visão.
— Se eu lembrasse que você era tão gostoso assim, teria tirado suas roupas hoje de tarde. — sussurrou no pé da orelha de , puxando sua camiseta para cima, despindo seu tronco.
— Quer dizer que você não se lembrava do meu corpo? — ele perguntou, fazendo uma voz manhosa e acariciando seus seios por cima do sutiã — Acho que estou um pouco ofendido.
— Me desculpe, . Vai querer me punir?
— Acho que você merece, não acha?
ameaçou jogá-la no sofá, mas impediu-o e, com um movimento rápido, ela mesmo conseguiu fazer o que o rapaz tentara segundos atrás.
— Pena que hoje é a minha vez.
se sentou sobre o volume na parte da frente dos jeans de , se esfregando nele, enquanto deixava beijos molhados em seu pescoço e por todo seu corpo e, finalmente, em sua boca. apertava a bunda da garota, fazendo com que se esfregasse mais forte contra ele, que deixava gemidos quase inaudíveis escaparem por seus lábios.
Habilidosamente, puxou a fita que prendia o espartilho de , começando a deixá-lo mais folgado e, quando viu, já tinha soltado-o completamente. sorriu e beijou o peito de , abrindo o zíper de seus jeans. Furtivamente, colocou as mãos em seu membro, por cima da boxer, fazendo soltar um resmungo. Começou a fazer movimentos de vai e vem enquanto o rapaz se preocupava em abrir seu sutiã e finalmente ter contato com seus seios.
— Você é a louca mais gostosa dessa porra desse planeta.
— Sabia que você ia mencionar minhas “aventuras”.
Com certa força, jogou no chão. Não gostava de ficar por baixo, nunca. Algumas vezes, permitira-se ser dominado, mas isso não era o que mais gostava. empurrou seus jeans com os pés enquanto seus lábios se tocavam furiosamente. A mão de envolvia um dos seios de , brincando com o mamilo, estimulando-o e fazendo a garota dar leves gemidos. observava suas reações com deleite, como se isso desse mais prazer para ele do que para ela. As pernas dela envolviam sua cintura e ele sentia o tecido molhado de sua calcinha molhar sua boxer. Aquilo estava deixando-o mais duro do que nunca.
Sem mais preliminares, tirou a calcinha rendada de com um movimento rápido e tirou a própria boxer. gemeu ao ver o desejo em seu olhar e fez questão de colocar a camisinha nele, que gemeu baixinho quando ela o fez, achando tudo aquilo muito excitante.
Depois de tanto tempo, ele finalmente transaria com ela de novo.
Tinha como ser melhor?
Com esse pensamento na cabeça, penetrou em um movimento brusco e com força, fazendo ambos gemerem. Tanto ela quanto ele sentiam falta daqueles movimentos selvagens que pareciam machucar, mas eles sabiam que estavam sendo protegidos pela paixão e pelo amor que sentiam um pelo outro.
Sendo assim, passaram a noite fazendo sexo. Sem parar, sem se importarem com nada além de si mesmos. Paravam por alguns segundos e então recomeçavam. Aquela foi, com certeza, uma das melhores noites da vida de .
acordou por volta das quatro da manhã por causa de um carro de som que passara com a música muito alta. , como fazia antigamente, dormia como uma pedra. sorriu.
Estava deitada no chão frio da sala de . As costas doíam um pouco, então resolveu se esticar. Andou até o amplificador de som que estava conectado com seu iPod e percebeu que o aparelho estava quase sem bateria. A música havia parado muito tempo atrás e agora o silêncio reinava no apartamento, a não ser pelo barulho da respiração de . Sorriu.
Resolveu colocar seu iPod para carregar e foi procurar o carregador do aparelho de . Lembrava-se que ele guardava uma caixinha azul no guarda-roupa com todo tipo de aparelho eletrônico e rumou em direção ao quarto dele, na esperança de achar o carregador e de que ainda mantivesse as mesmas manias de anos atrás.
O quarto de estava completamente bagunçado, como era de seu feitio. Até aquele momento, ele ainda mantinha as mesmas manias. Abriu o guarda-roupa e começou a fuçar atrás da caixinha azul familiar. Depois de mais algumas remexidas, não encontrou nada, mas encontrou uma caixa um pouco maior do que a azul, bege. Quando abriu a caixa, ficou espantada quando viu milhares de cartas, endereçadas à , mas em um endereço de Oxford, Inglaterra
— Mas o quê...
Interrompeu sua própria fala ao ver o nome do remetente.
Alison.
Respirou fundo e olhou para as outras cartas, querendo saber se eram todas de Alison. Sim, eram todas dela. Franziu o cenho quando percebeu que haviam algumas sem endereço, somente com o nome de escrito, mas haviam datas.
As datas batiam com o tempo que estavam juntos, antes mesmo de conhecer Alison.
Ou pensava que ele não conhecia.
Com as mãos trêmulas, pegou a carta com o endereço mais antigo, com uma data de quando e ainda nem haviam se beijado, se ela não estava enganada, e abriu o envelope.
“,
Espero que ainda não tenha beijado a vadia. Sei que vai ter que fazer isso cedo ou tarde, mas, se puder escolher, escolha fazê-lo mais tarde.
A verdade é que estou me mordendo de ciúmes. Juro que se você não gemesse meu nome quase toda noite, já teria matado aquela vadia. Todos aqui bajulam . Só porque ela perdeu a mãe... BELA PORCARIA! Eu também sou órfã e não fico chorando pelos cantos, nem repetindo o ensino médio milhões de vezes.
Parando de enrolar e falando a verdade, ela parece mesmo que acreditou em você e nessa história de que você acabou de ser expulso de uma escola e repetiu ‘trocentos’ anos escolares. Ela é mesmo muito burra! Quer dizer, não tem uma lei que impede alguém de estar na escola com mais de 20 anos? Mesmo assim, a lei não deve saber que você tem 23, sabe? *risos*
Não sei o que você pretende fazer, mas espero que consiga enganá-la logo. Marine está quase falando para ela sobre o pai ricaço. Na hora que souber sobre ele, vai largar tudo. Conheço ela para saber que vai. Não deixe isso acontecer em hipótese alguma.
Em breve, vai ser eu e você, gato. Juntos, pelo mundo, amando um ao outro.
Não vejo a hora de te beijar.
Com amor,
Alison”
Chocada com tudo, largou a carta, deixando uma lágrima escorrer de seus olhos.
pegou outras cartas que estavam ali, percebendo que todas eram parecidas. Alison rindo de sua cara. E ela podia imaginar fazendo o mesmo. Isso doeu tanto que ela sentiu falta de ar.
Ouviu o telefone de vibrar. O aparelho estava sobre a mesinha de cabeceira, junto com um pacotinho de drogas. pegou o celular e viu o nome de Alison aparecer na tela. Atendeu o aparelho, mas não disse nada.
— ? — Alison chamou — ! Porra, acorda, gato! descobriu sobre tudo. Sobre nós! Sobre o plano de enganar e pegar a herança do pai rico dela. Ela ameaçou contar tudo para e Marine, a não ser que nós saíssemos do país! Vamos para Oxford! Não dá pra ficar aqui e... Por que está tão quieto, ?
— Vai se foder, Alison. — respondeu, a raiva correndo em seus poros.
Alison continuava a falar, mas ela apenas virou-se e arremessou o celular pela janela, com toda sua força, fazendo com que o aparelho quebrasse o vidro e fosse parar no meio da rua, completamente despedaçado.
— ? — chamou, acordando com o barulho — O que foi isso?
Sua voz ainda estava meio mole, mas ele estava acordado. estava vestida com sua calcinha e seu sutiã, somente. O rosto estava completamente encharcado de lágrimas e um pouco vermelho por causa da raiva. Respirava rápido e só pensava em gritar. Precisava gritar.
E, sem a menor cerimônia, foi exatamente o que fez.
Abriu a boca e gritou o mais alto que pode.
tapou os ouvidos e se levantou, vestindo sua boxer e andando em direção à garota, que parecia completamente devastada.
— , o que aconteceu?
Um tapa forte estalou no rosto de .
— Nunca mais me chama assim, seu filho da puta.
— , não estou...
reparou na caixa e nas cartas jogadas no canto do quarto. Com olhos alarmados, ele olhou .
— Sim, eu descobri. — ela sorriu sem humor — Quando ia me contar que estava me comendo enquanto pensava em pedir uma amiga minha em casamento? Ou que eu tinha um pai rico e que você pretendia casar comigo, matá-lo e depois pegar toda minha herança? Estava esperando a hora certa?
— , isso é coisa...
— Da Alison! — empurrou , tirando-o de sua frente — Quer saber? Vai pro inferno! Pra puta que pariu! Pro mais longe possível de mim!
Ela correu para fora do apartamento sem dizer mais uma única palavra. Ele não tentou impedi-la.
esqueceu os sapatos e o vestido no apartamento de . Trancou a porta de seu apartamento e pegou uma garrafa de Smirnoff Ice da geladeira e bebeu o líquido refrescante direto do gargalo. A vodka desceu por sua garganta, deixando um gosto de álcool por onde passava. sentia como se pudesse colocar fogo sobre si mesma.
Colocou uma regata preta, da cor de sua calcinha, de alças finas e decotada e sentou-se na frente do sofá, no tapete macio de sua sala. Bebeu mais alguns goles da garrafa e, quando percebeu, estava vazia. Correu para geladeira e pegou mais uma.
As paredes pareciam estar se fechando em sua volta, então saiu do apartamento, vestida do jeito que estava, só de calcinha e regata. Estava calor e ela não se importava. Bebeu vários goles da garrafa e começou a sentir os efeitos calmantes da vodka. Quem diria que , o amor de sua vida, seria o filho da puta que a destruiria completamente?
Andou sem rumo pelas ruas vazias e parcialmente escuras. As luzes dos postes ainda estavam acesas e o sol ainda não tinha nascido para que a iluminação fosse clara o bastante. As lágrimas escorriam por seus olhos, fazendo seu rímel e lápis de olho deixassem um rastro preto por seu rosto. Andava de um jeito torto, tropeçando nos próprios pés. Estava descalça e não se importava em pisar em algo letal.
O que queria dela, afinal? Ele pensava que seu pai iria deixar alguma coisa para ela? Uma... Uma... Uma puta? Coitado! Era mais iludido do que ela pensou que fosse.
Continuou andando sem rumo pela rua. Pisou algo que fez com que retorcesse o rosto em dor e, sem querer fazer mais nada, deitou-se no chão de um beco que estava ali, há alguns metros de distância. Terminou a garrafa de Smirnoff e jogou-a longe, sem se preocupar com os cacos nem com onde a garrafa havia caído. Enterrou seu rosto no braço e começou a chorar compulsivamente.
Várias lembranças de tudo que ela tinha vivido com invadiam sua mente a cada segundo. Desejou ter mais uma garrafa de Smirnoff, mesmo que sentisse o álcool querendo escapar de seu estômago. As lágrimas escorriam por seu rosto e queria poder pará-las. Queria poder esquecer tudo que a fez sentir, todas as coisas que se lembrava sobre ele.
Queria poder esquecer os erros que ele havia cometido.
Seus olhos foram ficando pesados e, apesar da posição desconfortável, acabou dormindo. Logo, o sol não tardou em acordá-la, mas continuou de olhos fechados, ainda tentando esquecer tudo que havia acontecido.
Ouviu um barulho de um carro parar bruscamente na frente do beco, mas ela não abriu os olhos.
Porque ela não era boa o bastante para ? Milhares de homens desejavam poder tocar seu corpo, nem que fosse só por alguns minutos, mas mantinha em mente que ela era toda de e só dele. Mas, agora, ele havia deixado-a, sozinha, em um canto qualquer. Ela nunca deveria ter tentado começar algo com ele.
— ? — ouviu uma voz vagamente conhecida — , meu Deus!
Abriu os olhos o mínimo necessário para ver quem estava ali, encontrando com uma feição preocupada.
Deveria estar furiosa, não deveria? Deveria estar odiando e pronta para matar Alison. Mas não se sentia assim. Só queria um pouco de paz e de sua própria prisão mental. Queria se sentir isolada, queria sentir a dor.
— Você já descobriu, não? — perguntou, ajudando-a a se levantar, fazendo apoiar um braço em seus ombros enquanto andava cuidadosamente em meio aos cacos de vidro. Não se lembrava de ter sentido tanta dor de cabeça alguma outra vez em toda sua vida.
Apenas assentiu, respondendo .
— Sinto muito.
apertou de encontrou ao seu corpo, dando-lhe um abraço. Colocou-a em seu carro e foi quando falou pela primeira vez.
— Como sabia que eu estava aqui? Nem eu sei onde estou. — ela franziu o cenho.
— Eu conheço você. Refiz seus passos desde o apartamento e concluí que você não passaria do beco. Acertei em cheio.
— Obrigada.
sussurrou o agradecimento meio sem jeito enquanto arrancava com o carro para algum lugar. Não estava mesmo se importando com isso. Tudo que queria era esquecer e toda dor que ele havia criado. Por que era tão difícil esquecer alguém? fora tão marcante assim em sua vida?
abriu o vidro da janela do carro e deixou que o vento balançasse seus cabelos. Estava se sentindo péssima e seu estômago estava tão revirado quanto sua cabeça.
Não havia nada pior do que ser enganada pelo amor de sua vida.
Mas, pensando bem, ela nunca deveria ter corrido atrás dele depois de vê-lo com Alison. Deveria ter colocado um ponto final em si mesma. Não importava o tanto que falasse que já tinha superado e que não ligava mais para o rapaz, ele ainda estaria no fundo de suas lembranças, sempre influenciando tudo que faria. Como poderia esquecer alguém que não queria ser esquecido?
Corrigiu-se mentalmente: não havia nada pior do que ser enganada por si mesma.
FIM
Nota da autora: Olá pra você, que leu mais uma fic minha!
Eu sou completamente apaixonada pela princesinha do pop, aka Britney Spears! E quando vi que esse ficstape estava acontecendo, não pude ficar de fora! Escrevi essa fic há muito tempo e ela se encaixou perfeitamente nessa música sobre o primeiro amor! Não tenho muito para falar sobre ela, só que tenho um amor muito grande guardado!
Não se esqueçam de ler as outras fics desse hinário!
Bom, é isto! Espero que tenham gostado dessa fic e que comentem o que acharam (significa muito para mim!!)!
XOXO, Flowers
E o grupo no face, vocês já conhecem? Podem acessar clicando aqui, e aí a gente pode conversar, falar sobre spoilers e tudo mais!
Também escrevo outras fics, caso você tenha interesse em conhecer um pouco mais do meu estilo como escritora! Entra aqui e dá uma olhada na minha página de escritora do FFOBS! Tem todas as minhas fics já escritas, incluindo essa que você está lendo!
Outras Fanfics:
Beautiful [Restritas — Outros/Em Andamento]
Made In The A.M. [Restritas — Outros/Em Andamento]
01. Harder To Breathe [Ficstapes/Finalizadas]
02. Animals [Ficstapes/Finalizadas]
02. Burnin' Up [Ficstapes/Finalizadas]
04. From The Bottom Of My Broken Heart [Ficstapes/Finalizadas]
05. Two More Lonely People [Ficstapes/Finalizadas]
06. Woo [Ficstapes/Finalizadas]
07. So It Goes [Ficstapes/Finalizadas]
09. 3000 Miles [Ficstapes/Finalizadas]
09. Woman [Ficstapes/Finalizadas]
10. Just A Little Bit Of Your Heart [Ficstapes/Finalizadas]
11. Pacify Her [Ficstapes/Finalizadas]
12. Haunted [Ficstapes/Finalizadas]
12. I Know Places [Ficstapes/Finalizadas]
14. Lolita [Ficstapes/Finalizadas]
14. Lost Stars [Ficstapes/Finalizadas]
14. TiO [Ficstapes/Finalizadas]
16. Scream [Ficstapes/Finalizadas]
16. The Way I Loved You [Ficstapes/Finalizadas]
MV: Love Story [Music Video/Finalizadas]
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