Capítulo 1
Nem ódio consegue ser pior que a indiferença. É muito triste olhar pra alguém que você amou muito e não sentir nada. Absolutamente nada. Nem raiva, nem mágoa, nem carinho, nem saudades. Só um vazio sem graça, feio, solitário. Mais triste é saber que alguém que te amava muito, agora te olha assim, sem se importar, sem se interessar. É dessa forma que eu te vejo hoje. Parece um pouco exagero dizer que não existe mágoa. Já que, de fato, existe. Desde o dia em que ela passou pela porta amadeirada da casa que tinhamos comprado, eu tive certeza. Não era recíproco, e talvez, nunca tivesse sido.
Nunca soube o motivo real pelo fim, entretanto nunca mais a vi depois daquele dia. O que garantiu noites a fundo em bares, com centenas de doses das piores bebidas. Não a culpo pelo nível em que cheguei, culpo a mim mesmo, por colocar minha expectativa de vida em alguém que não me tinha como nem uma vírgula em sua vida. O Beb’s era meu ponto de derrota de todos os dias. Eu havia recebido uma ligação de gerente do banco, comunicando sobre a dívida da nossa conta conjunta. O que eu diria? Ela decidiu sair do meio da noite e não deixou explicação, mas se souber de algo, eu aviso.
Eu disse milhares de coisas, mas quando ele me atualizou do extrato do cartão, eu percebi a quantidade de lugares em que o cartão foi usado e pelo visto era para quitar a dívida em uma funeraria e outros milhares de coisas relacionadas a isso. Faziam três meses, desde que ela decidiu me deixar. Em um dia tivemos uma longa conversa, mas nada que nos direcionasse para o fim. Pelo menos, não pelo meu ponto de vista.
3 de dezembro, 2018, 21:30.
— Eu não disse sobre isso, Lelie
— Claro que não, Alex.
— Eu só disse que eu quero ter filhos.
— Mas eu não, amor. Não é um plano de vida para mim.
— Eu entendo. Não concordo, mas, entendo.
//3 de dezembro, 2018
Disquei o numero de sua irmã pela quinta vez aproveitando que eu ainda não beirava a perda total e milagrosamente foi atendido.
— Alex?
— Rosi, quanto tempo.
— Eu realmente estive esperando por sua ligação, creio que deve estar sendo difícil pra você também.
— Difícil? Eu não entendi exatamente.
— A morte de alguém nunca é facil, Alex. Principalmente pelo motivo que foi.
— Quem morreu, rosi?
— Oh…
Por um segundo eu procurei milhares de explicações para tudo que ela poderia dizer, mas a frase seguinte acabou com qualquer força que me restava.
— Lelie faleceu, Alex. Ela não resistiu.
Silêncio
— Era um risco que ela sabia correr.
— O que você acaba de dizer?
— Lelie não resistiu.
— Ao que diabos Amelie não resistiu, Rosi?
— Clínicas clandestinas, na maioria das vezes causam danos irreparáveis. Ela não resistiu e sabia que isso podia acontecer. Foi escolha dela, Alex. Ela deve ter tido seus motivos.
— Clínicas clandestinas?
— Amelie estava grávida, você não sabia?
— Meses? de quantos meses?
— Segundo o laudo, três meses e duas semanas.
— Amelie estava grávida.
— De um filho que ela não queria.
// It started off so well
They said we made a perfect pair
I clothed myself
In your glory and you love
How I loved you
How I cried
Observando as paredes do apartamento, relembrei de todos os momentos que tivemos ali. As cores vivas do apartamento refletiam várias situações e sentimentos que todos eles pertenciam ao meu passado com Amelie. Os sonhos, os planos que perderam-se do dia pra noite e agora, para sempre. Durante o dia ouvi vários comentários sobre a causa da morte. Todos eles a culpavam e por mais que eu tivesse sim alguma mágoa de Amelie, e saiba que todos esses anos foram cobertos e fingimentos. Mas não podia mais fazer nada, tão pouco julga-la. Sabia que a escolha era dela e se ela tinha morrido por alguma complicação pós aborto. Era pela falta de recursos e pela negação da legalização. Enquanto viviam no ritmo tradicional no mundo iriam permanecer desta forma. Era totalmente sem sentido a posição do brasil. Mas não podia fazer mais nada. Não agora. Então reuni todos os sentimentos bons e as lembranças daquele lugar e os guardei. Tinha amado Amelie mais do que qualquer outra pessoa em toda vida. Abri mão dos planos, sonhos, projetos e, no fim, ela tinha o deixado, simplesmente por não conseguir ao menos assumir a situação. Não custaria, talvez, por talvez ter aceitado a decisão dela, podiam procurar alguma clinica legalizada. Ou ela teria alguém ao lado dela.
Flashback: Sete anos atrás.
Não sabia descrever o quanto o sentimento por Amelie só crescia. Tinha começado por simples amigos em comum, uns encontros aqui, noites juntos acolá. E estavam oficializando o relacionamento. Após meses. Ele pensava, enquanto analiso o movimento de Amelie divido entre uma panela e outra, Pensa em confessar ao pé do ouvido que não esperava pela sua chegada tão repentina, porque andava com o peito fechado depois de abrir demais pra pessoas que não souberam valorizar o espaço, então ela o olha sorrindo e ele só retribui, pois tem coisas que guardar só pra si mesmo é melhor e ponto final. Enquanto ela descolou os pés do chão e em um momento repentino envolveu o pescoço dele o abraçando e arrancando um beijo. Ele não tinha a minima idéia de como acabaria e preferia não ter.
//Flashback
"Quando me perguntavam o porquê de termos acabado, eu não sabia explicar o motivo, eu não conseguia pensar em uma explicação razoável, porque não tinha uma. Nada fazia sentido quando eu tentava falar! Então eles diziam “mas vocês se amavam tanto” e eu sentia vontade de chorar porque sim, a gente se amava tanto! E mesmo longe o amor nunca acabou, ao menos, não o meu. Então por quê? Por que nós dois acabamos? Por que colocamos um ponto final se nenhum seguiu em frente? Se não deixamos de pensar um no outro? De um buscar um pelo outro? Eu demorei, mas agora já sei o porquê. Acabamos porque não fomos maiores que o nosso orgulho. Maiores do que os medos, maiores do que as mentiras desse relacionamento. Então nada mais valia.
The years of care and loyalty
Were nothing but a sham it seems
The years belie, we lived a lie
I love you 'til I die
Uma semana depois o alcool permanecia fazendo parte de um grande período da minha vida. A falta de senso e de noção do que fazia também eram bem evidentes. Com a porta do carro fechada, arranquei o carro daqui me livrando das lembranças que aquele bar me trouxe. Arrancando os sentimentos que a falta de Amelie estavam desencadeando, arrancando todas as mentiras, mágoas, medos e receios que ficaram dentro de mim. deus talvez tivesse misericórdia de Amelie, se é que o dito cujo tenha algum tipo de importância nos últimos acontecimentos, ja que toda minha vida parecia ter sido vazia. Eu duvidava bastante. O transito parecia movimentado demais. Eu podia observar as coisas em um segundo, e no outro.
Nada mais era visto.
Quem tá gritando?
Porque tá tudo girando?
Tento chamar algum nome, mas minha boca ao menos abre.
Então tudo pareceu escuro demais
Morte significa o fim.
A quase morte, o recomeço.
A morte não dói porque é morte, a morte dói porque é perda, é falta, é saudade. A morte não dói por egoísmo, a morte dói porque separa, ela tira sem devolução, ela leva sem despedida. Eu temo a morte porque, diferente da vida, ela não tem tempo definido. A vida é cronometrada, a morte é pra sempre. Mas e quando ela quase leva você? E pior, quando você está indeciso em querer viver ou acabar com tudo de uma vez. E se a opção fosse viver? O que eu faria pra isso. Vivi todos os meus dias ouvindo as seguintes frases “Deus sabe o que faz” “Só Ele pode te salvar” “Deus pode qualquer coisa” e se ele poderia qualquer coisa, isso incluía escutar qualquer coisa que eu pedisse? Mesmo que minha incredulidade e minha forma de ser indigno durante toda minha vida falassem mais alto? Contudo eu não tinha nada pior que a morte para enfrentar ali. Então pedir pela vida era minha única opção. Não podia realizar grandes gestos, eu mal sabia onde estava, então fiz o que deveria ser feito, O Ao menos por hora.
E ao quase partir eu, eu sou indigno, torne meu sofrimento em testemunho, me esvazie de mim e deste mundo e que o meu nome morra com meu corpo e que o de Cristo permaneça em tudo. Que eu receba aquilo que preciso e nem um pouco mais, me dê os bens que de imediato eu possa abandonar. E que seja feita a Tua vontade, me salve!
Save me, save me, save me
I can't face this life alone
Save me, save me, save me
I'm naked and I'm far from home
As paredes brancas do hospital nunca foram tão convidativas. Depois da suposta oração, finalizada com “Que seja feita a Tua vontade, só peço que me salve.” Todo local ficou escuro e eu finalmente senti uma paxz absurda. Ele tinha me salvado. Mesmo sendo totalmente indigno. E eu não precisava de muito mais. Eu tinha encontrado quem me salvaria de verdade. E Ele tinha me dado o recomeço.
Nunca soube o motivo real pelo fim, entretanto nunca mais a vi depois daquele dia. O que garantiu noites a fundo em bares, com centenas de doses das piores bebidas. Não a culpo pelo nível em que cheguei, culpo a mim mesmo, por colocar minha expectativa de vida em alguém que não me tinha como nem uma vírgula em sua vida. O Beb’s era meu ponto de derrota de todos os dias. Eu havia recebido uma ligação de gerente do banco, comunicando sobre a dívida da nossa conta conjunta. O que eu diria? Ela decidiu sair do meio da noite e não deixou explicação, mas se souber de algo, eu aviso.
Eu disse milhares de coisas, mas quando ele me atualizou do extrato do cartão, eu percebi a quantidade de lugares em que o cartão foi usado e pelo visto era para quitar a dívida em uma funeraria e outros milhares de coisas relacionadas a isso. Faziam três meses, desde que ela decidiu me deixar. Em um dia tivemos uma longa conversa, mas nada que nos direcionasse para o fim. Pelo menos, não pelo meu ponto de vista.
3 de dezembro, 2018, 21:30.
— Eu não disse sobre isso, Lelie
— Claro que não, Alex.
— Eu só disse que eu quero ter filhos.
— Mas eu não, amor. Não é um plano de vida para mim.
— Eu entendo. Não concordo, mas, entendo.
//3 de dezembro, 2018
Disquei o numero de sua irmã pela quinta vez aproveitando que eu ainda não beirava a perda total e milagrosamente foi atendido.
— Alex?
— Rosi, quanto tempo.
— Eu realmente estive esperando por sua ligação, creio que deve estar sendo difícil pra você também.
— Difícil? Eu não entendi exatamente.
— A morte de alguém nunca é facil, Alex. Principalmente pelo motivo que foi.
— Quem morreu, rosi?
— Oh…
Por um segundo eu procurei milhares de explicações para tudo que ela poderia dizer, mas a frase seguinte acabou com qualquer força que me restava.
— Lelie faleceu, Alex. Ela não resistiu.
Silêncio
— Era um risco que ela sabia correr.
— O que você acaba de dizer?
— Lelie não resistiu.
— Ao que diabos Amelie não resistiu, Rosi?
— Clínicas clandestinas, na maioria das vezes causam danos irreparáveis. Ela não resistiu e sabia que isso podia acontecer. Foi escolha dela, Alex. Ela deve ter tido seus motivos.
— Clínicas clandestinas?
— Amelie estava grávida, você não sabia?
— Meses? de quantos meses?
— Segundo o laudo, três meses e duas semanas.
— Amelie estava grávida.
— De um filho que ela não queria.
// It started off so well
They said we made a perfect pair
I clothed myself
In your glory and you love
How I loved you
How I cried
Observando as paredes do apartamento, relembrei de todos os momentos que tivemos ali. As cores vivas do apartamento refletiam várias situações e sentimentos que todos eles pertenciam ao meu passado com Amelie. Os sonhos, os planos que perderam-se do dia pra noite e agora, para sempre. Durante o dia ouvi vários comentários sobre a causa da morte. Todos eles a culpavam e por mais que eu tivesse sim alguma mágoa de Amelie, e saiba que todos esses anos foram cobertos e fingimentos. Mas não podia mais fazer nada, tão pouco julga-la. Sabia que a escolha era dela e se ela tinha morrido por alguma complicação pós aborto. Era pela falta de recursos e pela negação da legalização. Enquanto viviam no ritmo tradicional no mundo iriam permanecer desta forma. Era totalmente sem sentido a posição do brasil. Mas não podia fazer mais nada. Não agora. Então reuni todos os sentimentos bons e as lembranças daquele lugar e os guardei. Tinha amado Amelie mais do que qualquer outra pessoa em toda vida. Abri mão dos planos, sonhos, projetos e, no fim, ela tinha o deixado, simplesmente por não conseguir ao menos assumir a situação. Não custaria, talvez, por talvez ter aceitado a decisão dela, podiam procurar alguma clinica legalizada. Ou ela teria alguém ao lado dela.
Flashback: Sete anos atrás.
Não sabia descrever o quanto o sentimento por Amelie só crescia. Tinha começado por simples amigos em comum, uns encontros aqui, noites juntos acolá. E estavam oficializando o relacionamento. Após meses. Ele pensava, enquanto analiso o movimento de Amelie divido entre uma panela e outra, Pensa em confessar ao pé do ouvido que não esperava pela sua chegada tão repentina, porque andava com o peito fechado depois de abrir demais pra pessoas que não souberam valorizar o espaço, então ela o olha sorrindo e ele só retribui, pois tem coisas que guardar só pra si mesmo é melhor e ponto final. Enquanto ela descolou os pés do chão e em um momento repentino envolveu o pescoço dele o abraçando e arrancando um beijo. Ele não tinha a minima idéia de como acabaria e preferia não ter.
//Flashback
"Quando me perguntavam o porquê de termos acabado, eu não sabia explicar o motivo, eu não conseguia pensar em uma explicação razoável, porque não tinha uma. Nada fazia sentido quando eu tentava falar! Então eles diziam “mas vocês se amavam tanto” e eu sentia vontade de chorar porque sim, a gente se amava tanto! E mesmo longe o amor nunca acabou, ao menos, não o meu. Então por quê? Por que nós dois acabamos? Por que colocamos um ponto final se nenhum seguiu em frente? Se não deixamos de pensar um no outro? De um buscar um pelo outro? Eu demorei, mas agora já sei o porquê. Acabamos porque não fomos maiores que o nosso orgulho. Maiores do que os medos, maiores do que as mentiras desse relacionamento. Então nada mais valia.
The years of care and loyalty
Were nothing but a sham it seems
The years belie, we lived a lie
I love you 'til I die
Uma semana depois o alcool permanecia fazendo parte de um grande período da minha vida. A falta de senso e de noção do que fazia também eram bem evidentes. Com a porta do carro fechada, arranquei o carro daqui me livrando das lembranças que aquele bar me trouxe. Arrancando os sentimentos que a falta de Amelie estavam desencadeando, arrancando todas as mentiras, mágoas, medos e receios que ficaram dentro de mim. deus talvez tivesse misericórdia de Amelie, se é que o dito cujo tenha algum tipo de importância nos últimos acontecimentos, ja que toda minha vida parecia ter sido vazia. Eu duvidava bastante. O transito parecia movimentado demais. Eu podia observar as coisas em um segundo, e no outro.
Nada mais era visto.
Quem tá gritando?
Porque tá tudo girando?
Tento chamar algum nome, mas minha boca ao menos abre.
Então tudo pareceu escuro demais
Morte significa o fim.
A quase morte, o recomeço.
A morte não dói porque é morte, a morte dói porque é perda, é falta, é saudade. A morte não dói por egoísmo, a morte dói porque separa, ela tira sem devolução, ela leva sem despedida. Eu temo a morte porque, diferente da vida, ela não tem tempo definido. A vida é cronometrada, a morte é pra sempre. Mas e quando ela quase leva você? E pior, quando você está indeciso em querer viver ou acabar com tudo de uma vez. E se a opção fosse viver? O que eu faria pra isso. Vivi todos os meus dias ouvindo as seguintes frases “Deus sabe o que faz” “Só Ele pode te salvar” “Deus pode qualquer coisa” e se ele poderia qualquer coisa, isso incluía escutar qualquer coisa que eu pedisse? Mesmo que minha incredulidade e minha forma de ser indigno durante toda minha vida falassem mais alto? Contudo eu não tinha nada pior que a morte para enfrentar ali. Então pedir pela vida era minha única opção. Não podia realizar grandes gestos, eu mal sabia onde estava, então fiz o que deveria ser feito, O Ao menos por hora.
E ao quase partir eu, eu sou indigno, torne meu sofrimento em testemunho, me esvazie de mim e deste mundo e que o meu nome morra com meu corpo e que o de Cristo permaneça em tudo. Que eu receba aquilo que preciso e nem um pouco mais, me dê os bens que de imediato eu possa abandonar. E que seja feita a Tua vontade, me salve!
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Fim.
Nota da autora: Sem nota.
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