Finalizada em: 09/11/2020

Capítulo Único

DUAS SEMANAS ANTES DO MUSIC FESTIVAL

Daniel Hale estava preocupado com o destino da banda. Já estavam na metade do segundo ano do ensino médio e eles ainda não tinham tocado em nenhum outro lugar que não fosse a escola. No fundo o garoto se ressentia quanto a isso, afinal ele prometeu aos outros que fariam sucesso quando os convenceu a entrar nessa com ele. É claro que os amigos jamais o cobraria. A ambição deles não era a mesma que de Daniel: realmente fazer sucesso.
Colin McGregor só queria ser popular, o que devido a sua aparência física nem seria necessário estar na banda. Talvez o baixo pendurado no pescoço e a posição de vocalista tenham mexido com a mente dele, mas no final conseguiu o que queria.
Oliver Jordan só não queria passar o ensino médio sozinho. Quando seu vizinho Daniel o convidou para tocar seu teclado na banda, ele aceitou tão somente porque não tinha nenhuma intenção de viver isolado pelos próximos quatro anos. E ele também conseguiu o que queria.
Por fim, Kevin Lewis só queria uma boa desculpa para tocar aquela bateria barulhenta. Qual oportunidade melhor do que uma banda de garagem?
Só sobrava Daniel Hale e a sensação de que eles estavam indo do nada para lugar nenhum. Não dividia essa preocupação com os amigos, principalmente depois de constatar que os outros três estavam felizes sentados na segunda mesa mais privilegiada da escola.
A primeira mesa, é claro, estava ocupada. Pelas Angel’s.
Talvez a maior concorrente musical dos Devil’s na escola. Annie Hale, irmã gêmea de Daniel, tinha as mesmas ambições e os mesmos genes que ele. Mesmo que os dois grupos fossem inimigos entre si, Annie e Daniel sempre sobravam para acalmar ambos os grupos quando as coisas ficavam muito feias.
Daniel olhou para o lado, mais especificamente para a baterista mais revoltada da cidade inteira. Scarlet Reyes estava rindo de algo que Melanie havia dito. Os cabelos claros de Scar contrastava com a mecha roxa que ela tinha, sem contar toda a aura badgirl que deixava Daniel com um humor péssimo.
— Olha só para ela. – Comentou Colin, percebendo a direção do olhar de Daniel. – Parece uma sonsa.
Daniel riu, mais da imitação péssima que Melanie fez da professora de história do que do comentário de Colin.
— Quando essa guerra idiota vai terminar e vocês vão crescer? – Perguntou Oliver.
Colin revirou os olhos.
— Não é minha culpa se Melanie Foley é uma retardada.
Colin deve ter se esquecido que as mesas eram realmente próximas, então claro que Melanie ouviu ser citada.
— Como é, McGregor? – Perguntou Melanie, os olhos brilhando em sua direção.
Como sempre acontecia sempre que falava com ela, Colin recuou, envergonhado, e só sobrou para Oliver fazer uma cara de bem feito ao amigo.
— Nada que te interesse. – Resmungou, infantilmente.
— Olha, você...
— Deixa ele para lá, Melanie. – Interveio Emma, levantando-se do banco. A líder era claramente a mais madura das quatro, mas era esquentadinha também. Talvez mais que Scar. – Vamos embora.
Annie e Daniel trocaram um sorriso triste de gêmeos, e as meninas saíram do refeitório.
— Se ele gosta de mim porque me trata desse jeito? – Melanie começou, chorosa.
— Porque você não gosta dele. – Completou Scarlet. – Homens são burros e bobos, Melanie.
— Do mesmo jeito que o burro e bobo do meu irmão te persegue? – Alfinetou Annie. – Ele só finge que te odeia.
— Quer parar de ficar me dizendo isso? – Retrucou Scar, apontando para a miga a sua frente. – Olha só para a Melanie!
Ouvindo seu nome, garota fungou, cruzando os braços enquanto andava nervosa.
— Não, nada disso. – Disse Emma, parando-a no meio do corredor apinhado de alunos. – Você não vai chorar por causa daquele imbecil.
— Eu não... – Ia dizendo Melanie, quando recebeu um olhar de repreensão das outras três. – Tá, eu ia. Mas, olha, já passou. Estou animada para o ensaio de hoje a tarde!
A mudança de assunto repentina fez as amigas rirem, e isso foi um gatilho para uma conversa animada sobre o Music Festival que a escola estava organizando e que aconteceria dali a duas semanas. Tudo que sabiam era que o vencedor ganhava uma viagem com tudo pago para Los Angeles, a fim de participarem de um novo concurso cujo prêmio era o contrato de um ano com uma das melhores gravadoras do país.
Nenhuma delas estava disposta a abrir mão de seu prêmio.

— Vamos ensaiar hoje? – Perguntou Oliver quando as aulas terminaram.
Colin jogou uma alça da mochila no ombro, despreocupado.
— Por mim.
— É, pode ser. – Concordou Kevin, tirando as baquetas do bolso.
Daniel ainda estava frustrado com o fato de que eles estavam ensaiando para nada, mas mesmo assim concordou.
— Vamos para minha casa.
Os quatro se amontoaram no pequeno carro de Oliver, o único dos quatro que já tinha idade para dirigir, e foram em direção a casa de Daniel. Quando chegaram já cumprimentaram a Sra. Hale que assava cookies na cozinha e foram direto para o porão. O porão da casa dos Hale era o mais parecido com uma bat-caverna que eles já tinham entrado, provavelmente por isso gostavam tanto de ficar por lá. O pai de Daniel e Annie também fizera parte de uma banda como baterista, então apesar de velho, Kevin usava essa bateria para ensaiar.
O lugar se dividia em vários cômodos. Logo que desciam, a direita ficava um lugar isolado com uma acústica ótima onde tinha a bateria já montada. Tinha um sofá bem grande e vários pufes no chão, além de uma mesa. Quando paravam de ensaiar, as vezes Oliver conseguia convencer os outros três a fazer a lição de casa acumulada. Indo para a esquerda, tinha uma pequena sala de cinema improvisada, que com muita insistência, Annie convenceu o pai a montar. Eles ajudaram, mas o projeto era inteiro de Annie e suas amigas, e tinha que reconhecer que ficou bem bom. Ainda na porta ao lado tinha um banheiro e uma cozinha em miniatura, com uma pia, um frigobar e algumas porcarias dentro do armário. Era uma área tão completa que durante as férias Daniel ficava dias sem ir ao andar de cima.
Mas tinha algo diferente quando chegaram ao porão aquele dia: já tinha alguém lá. E foi com muita raiva que Daniel fuzilou Scarlet com o olhar quando ela deu a ele um sorriso debochado. Quando percebeu que tinha mais gente ali, Emma parou de cantar, pedindo que as outras meninas também encerrassem seu som.
Annie tirou a carreia da guitarra do pescoço, abandonando o instrumento de encontro a parede e indo até o irmão.
— O que estão fazendo aqui?
— Viemos ensaiar. – Disse Daniel, como se fosse óbvio.
As meninas riram.
— Vocês não ensaiam a semanas. – Lembrou Scarlet.
— Não tem nem motivos para ensaiarem. – Continuou Emma.
Daniel ficou vermelho.
— E vocês tem?
— Claro que temos, vamos tocar no Music Festival. – Respondeu Melanie, automaticamente.
— Melanie! – Reprenderam as outras três ao mesmo tempo. A pobre garota corou, sem entender direito o que tinha feito de errado.
Mas isso foi o suficiente para plantar um enorme sorriso no rosto de Colin, que se aproximou da dela.
— Obrigado por compartilhar a informação. – Disse ele, sem pensar dando um beijo no rosto de Melanie.
Ela gritou, indo para trás, o que deixou Colin estupefato questionando o próprio ato. A fim de não constranger a amiga, Emma resolveu mudar de assunto.
— Mesmo que queiram se inscrever para o festival, sugiro que ensaiem em outro lugar. Nós chegamos primeiro.
Depois de resmungarem muito, decidiram ir para a garagem de Kevin, já que seria impossível levar a bateria dele para outro lugar. As meninas deram gritinhos de felicidade bem bobo quando eles saíram, o que fez Colin e Daniel revirarem os olhos.
Mesmo com a limitação de ambiente, Daniel não se deixou levar. Agora tinham uma chance. E ele não estava disposto a perder.


DOIS DIAS ANTES DO MUSIC FESTIVAL

Annie, Emma, Scarlet e Melanie sentaram-se no chão e se encaravam, frustradas. Estavam certas de que, como a banda mais famosa da escola, não teriam que se esforçar muito, mas parecia que o destino tinha outros planos para ela. Ás vezes não era para ser, e pronto. Melanie suspirou, infeliz, brincando um pacotinho de skittles que alguém havia deixado ali. Scarlet se levantou, jogando as baquetas no chão, em uma clara linguagem de derrota. Emma bebia seu quinto copo de água em menos de dez minutos e fazia exercícios vocais, em uma tentativa inútil de trazer sua voz de volta. E ainda havia Annie, que encarava sua guitarra quebrada, se amaldiçoando por ter deixado os primos pequenos brincarem no porão no dia anterior.
— É isso. – Começou Scar. – Teremos que retirar nossa inscrição.
— Você podia cantar no meu lugar. – Sugeriu Emma. – E Melanie podia voltar com o violão.
— Emma, eu não toco violão há anos. Me acostumei com o teclado, não tem nada a ver uma coisa com a outra.
— Tem que existir alguma forma de fazer um arranjo musical com um teclado e uma bateria. – Murmurou Annie.
— Em dois dias? Impossível. – Contestou Scar, sentando-se em um dos pufes. – Prefiro desistir agora do que passar vergonha.
Melanie concordou.
— É verdade.
— Aquela bandinha vai ficar insuportável quando descobrir. – Comentou Scarlet, fazendo Annie revirar os olhos.
— Quando vai assumir que ama o líder daquela bandinha, cunhada?
A loira levantou-se do pufe para empurrar Hale, que caiu de cara no chão.
— Não força, Annie. – Defendeu Melanie.
— E você, hein, Melanie? – Disse a ruiva, com um olhar inteligente. – Vai continuar fingindo que Colin, o cara mais gato da escola, não está na sua?
— Annie!
— Ela tem razão, Melanie. – Concordou Emma, rindo. – Estamos falando de Colin McGregor.
— Até eu tenho que confessar: Colin é mesmo o maior gostoso.
Melanie bem ia contestar a afirmação, mas levou as mãos a boca quando o próprio Colin surgiu na porta do porão.
— Gostei. – Disse ele, cruzando os braços com um olhar orgulhoso. – Podem continuar os elogios, façam de conta que não estou aqui.
Os meninos riram atrás dele, o que fez as garotas protestarem com a invasão, mais uma vez.
— Vieram ver nossa desgraça? – Disse Emma, desolada.
— Não, viemos prestar apoio. – Afirmou Kevin, com o braço engessado.
Isso fez todas as meninas circundarem o rapaz, questionando o que havia acontecido e se estava tudo bem. Só depois perceberam o que aquilo significava.
— Kevin quebrou o braço, não pode tocar. E o teclado de Oliver misteriosamente parou de fazer som e não vamos conseguir um novo até quarta-feira.
— Meu teclado funciona bem. – Informou Melanie. – Mas Emma não consegue mais cantar porque a garganta inflamou.
— E nosso querido primo Dylan estourou a corda da minha guitarra. – Completou Annie, mostrando a guitarra quebrada ao irmão.
— Então basicamente as duas melhores bandas da escola não vão mais se apresentar. – Concluiu Oliver, sentando-se no sofá grande, ao lado de uma Emma triste.
— Até tentamos pensar em algo com os instrumentos que sobraram, mas sem a bateria, que afinal é a estrela da banda, não há nada que possamos fazer. – Disse Kevin, arrancando uma revirada de olhos dos amigos.
Mas o comentário acendeu uma lâmpada na mente criativa de Annie, que sorriu já sabendo o que fazer.
— E se a gente juntasse na banda os membros que sobraram?
— Está louca?
Annie foi persistente.
— Não, escuta. – Começou,tendo a atenção de todos sobre si. – Colin no vocal e no baixo, Melanie no teclado, Daniel na guitarra e Scar na bateria.
Os adolescentes pareceram realmente pensar no assunto.
— Mas se a banda nova ganhar, como faremos para dividir o prêmio? – Questionou Emma.
— Tenho certeza que daremos um jeito. Eu topo. – Falou Melanie, se levantando. – Se Colin parar de ser idiota comigo.
Colin sorriu.
— Estou dentro também. Se Melanie aceitar ir comigo ao baile de primavera.
A garota corou.
— Feito.
— Também estou dentro. – Disse Daniel, e então todos olharam para Scarlet, esperando a garota selar seus destinos.
Revirando os olhos, levantou também.
— Tá, tanto faz, estou dentro.
Annie e Kevin sorriram um para o outro, felizes que tinham descoberto uma maneira de fazer funcionar.
— Isso vai dar muito certo! – Exclamou ela, feliz.

UM DIA ANTES DO MUSIC FESTIVAL

— Isso nunca vai dar certo. – Murmurou Annie, sentando no chão ao lado de Oliver, tentando ignorar a discussão que estava ocorrendo. – Porque eles não param de brigar?
— Passei o ano inteiro me perguntando isso. Até onde sei vocês costumavam se dar bem no fundamental, não?
— Sim, até que Daniel teve a brilhante ideia de montar uma banda. – Annie suspirou, desviando os olhos de Oliver para a briga que tinha se instaurado no porão.
— Você só quer fazer as coisas do seu jeito, eu também sou a líder. – Disse Emma para Daniel.
— Mas eu sou a segunda voz, não Scarlet! – Retrucou o menino.
— Na minha banda, eu sou a segunda voz! – Disse a garota, saindo de trás da bateria.
— Gente, não precisam brigar por isso, os dois podem ser a segunda voz. – Foi a vez de Melanie tentar, sem sucesso, ser ouvida.
Colin chegou perto dela.
— Não adianta, baixinha, eles não aceitam que se amam. Vão ficar discutindo até se beijarem.
Melanie corou.
— E beijar alguém resolve alguma coisa?
Os olhos de Colin faiscaram, debochado.
— Não sei, quer ir lá na sala de cinema testar? – Ofereceu, apontando para a sala escura.
O mais engraçado era que Melanie queria sim ir lá testar e parte de Colin estava torcendo para ela levar a brincadeira a sério. Fazia pouco tempo desde que tinha entendido essa sua nova atração por Colin McGregor, mesmo que não tivesse contado a ninguém. Ela queria sentir seus lábios macios e pensava que o beijo de Colin era muito melhor do que o de Ben, o único garoto que ela tinha beijado até então. Mas ao contrário das amigas, Melanie não tinha como saber que ele estava dizendo o que realmente queria, ela achava que as amigas estavam exagerando. Por isso tratou a brincadeira de Colin apenas como uma brincadeira, deixando o vocalista um tanto quanto decepcionado.
— Engraçadinho. Até parece. – Tentou desviar, corando violentamente. Foi o necessário para que Colin notasse que algo tinha mudado: sim, ela queria!
Não muito longe dali, Daniel e Scarlet travavam sua própria batalha pessoal.
— Eu disse para elas que nunca iria funcionar, você sempre vai ser esse engomadinho estupido que gosta de se sentir em poder de liderança. – Cuspiu Scarlet.
— Eu não gosto de me sentir no poder!
— Então prove! Passe a liderança para a Emma! – Gritou a loira.
Daniel riu.
— Emma nem está nessa banda!
— Ei, eu ainda faço parte dela! – Tentou gritar a garota, mas sua voz havia piorado muito de um dia para o outro e então mal passou de um murmúrio rouco. Deu duas tossidas e tentou de novo. – Eu faço parte da banda!
— É claro que faz, assim como eu. – Disse Kevin, entrando na discussão. – Daniel deixa Scar fazer a segunda voz, você pode ser o apoio.
Oliver saiu do lado de Annie para apoiar a sugestão do amigo, mas Daniel não parecia querer se dar por vencido.
— Eu devo ser o único líder da história das bandas que não canta.
— Então eu deveria ser o líder, só por que sou vocalista? – Foi a vez de Colin debochar, com seu usual tom sarcástico.
— Gente, chega! – Gritou Annie. – Daniel, só dessa vez, cede. Deixa a Emma fazer o que quiser e deixa a Scar fazer a segunda voz. Cantar não é para você.
— Valeu. – Murmurou um Daniel cabisbaixo.
O clima no porão de repente ficou muito pesado, todos os adolescentes se entreolhando, alguns arrependidos de suas próprias ações.
— Annie tem razão, isso nunca vai dar certo se vocês não cooperarem. – Insistiu Oliver. – Daniel, te nomeamos líder por alguma razão. Faça seu papel de líder, não seja mesquinho.
O apelo pareceu acordar Daniel Hale, que encarava a baterista, envergonhado.
— Scarlet pode fazer a segunda voz, eu faço o apoio. – Sussurrou, cabisbaixo. – E Emma pode dar suas sugestões sempre que quiser.
— Tarde demais. – Bufou Scarlet, pegando as baquetas do chão. – Eu não quero mais fazer isso.
— Nem eu. – Disse Emma.
Colin olhava para Daniel apreensivo, e até mesmo Melanie estava triste, principalmente porque tinha descoberto uma maneira de passar mais tempo com seu recém descoberto crush.
— Meninas, calma aí. – Começou Kevin, também olhando para o amigo.
— Eu não quero mais saber. Vamos, Angel’s. – Ditou Emma, chamando as amigas para a saída. Melanie e Annie se entreolharam, chateadas, mas se colocaram em pé para seguirem o resto da banda.
Scarlet mostrou um sorriso feio para Daniel quando passou por ele.
— Scarlet. Meninas, esperem. – Chamou Daniel, indo em direção a elas. Emma se virou e o então líder subiu no palco onde estavam os instrumentos para chamar a atenção de todos.
— Todo mundo aqui tem um sonho. E eu respeito isso. Kevin quer ser arquiteto. Disse Daniel, mostrando um sorriso ao amigo. – Oliver que ir para o MIT e Colin quer ser, sei lá, modelo?
Colin riu sarcástico, mostrando o dedo do meio.
— Você sabe que é...
— Chefe de cozinha. Eu sei. – Completou Daniel. – Eu não conheço as meninas tão bem quanto antes, mas sei que Annie tem um grande sonho de ser atriz em Hollywood e Scarlet daria a vida para salvar aqueles animais em extinção. Quer viver de voluntariado em ONGs.
Scarlet corou, cruzando os braços.
— É um jeito legal de levar a vida.
— Com certeza é. – Concordou Daniel. Virou-se para Melanie. – E essa garota aqui quer ser dentista. Com esse sorriso lindo, vai tirar de letra. E por fim, Emma gostaria de, em primeiro lugar...
— Ir para o exército. – Completou todos e arrancando um sorriso da garota.
— Mas o meu sonho, o meu grande sonho, é viver de música. Ao contrário de todos os seus dons, eu só tenho esse. Música não é um hobby para mim, é tudo que eu sei fazer e faço de melhor. Se nunca voássemos, jamais cairíamos. Então precisamos aceitar o que temos e o que temos agora é meia banda de cada lado. Já estamos no meio do caminho agora. E eu preciso da ajuda de vocês para ir até o fim. Por favor.
Emma parecia mais calma, assim como Scarlet. Mas bastou um olhar entre as duas para decidirem que aquilo não era para ser, e não era uma boa ideia.
— Sinto muito, Daniel. – Disse Emma, com os olhos brilhando. – Acho que não era para ser.
Melanie deu um sorriso triste para Colin, que se sentiu mal ao ver o sofrimento do amigo. As meninas saíram do porão triste e silenciosamente, e por culpa dele mesmo, colocaram um fim no grande sonho de Daniel Hale.


DIA DO MUSIC FESTIVAL

O concurso já tinha começado, Daniel e Colin olhavam a entrada do teatro, preocupados, enquanto Kevin e Oliver ajustavam os instrumentos. Para a realização do show foram necessários todos os instrumentos que eles tinham, então estavam apreensivos que as meninas tivessem desistido de vez, pois isso significava que não teriam teclado, uma vez que este estava com Melanie.
— Elas não vão vir. – Murmurou Colin, procurando Melanie na multidão.
—Vão sim, confie em mim. – Retrucou Daniel. – Eu vi Annie se arrumando mais cedo.
Colin concordou, mas notou que Daniel não parecia muito confiante. Oliver chegou perto de onde os amigos estavam.
— Tudo certo com os instrumentos. Só falta o teclado.
Faltavam duas bandas a se apresentarem e os garotos estavam cada vez mais desiludidos. Daniel nunca em sua vida havia de sentido tão aflito, principalmente vindo de uma aliança tão difícil entre as duas bandas.
Quando a última banda entrou no palco, Daniel só faltou desfalecer de alívio quando viu o cabelo ruivo de Annie destoando da multidão de pessoas, ajudando Melanie a carregar seu pesado teclado. Logo atrás delas vinha Scarlet, com uma cara amarrada de quem queria dar o fora dali, e Emma vinha logo atrás, a pose orgulhosa e os olhos um pouco vermelhos. Oliver e Kevin foram ajudar Melanie com o teclado, e Daniel ficou preocupado quando viu que os olhos de Scar também estavam vermelhos, como se ela tivesse chorado. O grupo parecia bem desanimado, mas ele não tinha como fazer nada no momento.
— Está tudo bem? – Perguntou para Scarlet, que revirou os olhos, colocando as mechas roxas do cabelo atrás da orelha.
— Está tudo ótimo, oh Rei. – Ironizou, passando direto por ele e sacando as inseparáveis baquetas dos bolsos.
— O que ela tem? – Questionou o garoto para a gêmea que estava passando por ali.
Annie suspirou.
— Tivemos uma discussão bem tensa sobre vir ajudar ou não. Scarlet não queria vir.
— Porque?
— Por sua causa. – Apontou a ruiva. – Ela te acha muito mandão. Mas no fim não teve escolha, Emma a convenceu.
Annie foi direto até onde estava uma Scarlet bicuda e Daniel estava chateado com ele mesmo por ter agido dessa forma. A banda não iria vencer se não estivesse em harmonia, e eles não estavam! Foi andando devagar até Emma, com quem também se exaltou, com uma cara de quem pede desculpas.
— Emma. – Chamou. A garota ainda carregava os olhos de alguém que foi obrigada a estar ali, mas pelo menos estava prestando atenção. – A gente não vai vencer assim. Você precisa fazer alguma coisa.
Emma o olhou, incrédula.
— Ah, eu? Não é você o líder, Daniel Hale?
A voz dela estava melhor que no dia anterior, mas ainda estava baixa. Ele suspirou.
— Se for assim, eu não quero ser. Por favor, fale com todos. Seja a líder.
Emma ponderou por um momento.
— Tudo bem. Mas só porque eu quero que elas vençam. – Falou por fim, apontando para as amigas.
Em poucos minutos os oito estavam reunidos na parte de trás do palco enquanto alguns voluntários arrumavam seus instrumentos. Emma começou a falar.
— Sei que estar aqui é difícil para alguns de nós. Mas temos que tentar. Temos que deixar nossa inimizade de lado e lutar por esse prêmio. A gente merece isso. – Apelou, rouca, olhando para cada um deles. – Nós nos conhecemos desde sempre. Oliver sempre ajudava Annie com a lição de casa. Kevin sempre brincava com meu irmão na hora da saída quando ele chorava. Colin adora se pagar de machão, mas toda vez que Melanie queria assistir um filme meloso ele era o primeiro a concordar. E Daniel, desde que eu me lembro, sempre deixou Scarlet tocar bateria na casa dele quando o pai dela deixava ela de castigo.
— É verdade. – Concordou Melanie, sorrindo para Colin.
— Já fomos amigos um dia, antes dessa coisa de banda começar. – Disse Kevin. – Podemos ser de novo.
Até Scar parecia mais feliz que antes. Fulminou Daniel com o olhar, mas se lembrou de todas as vezes que pode passar horas no porão sem ser incomodada por ninguém. Lembrou que só tinha se tornado amiga de Annie porque conheceu Daniel primeiro, em uma das vezes que estivera lá. Seu olhar se suavizou, e ela quase sorriu.
— Sim, não vim até aqui para perder. – Declarou.
Os quatro que iriam tocar naquela noite sorriram um para o outro, certo de que a ligação que tinham era muito maior do que os anos que não se falaram. Quando o apresentador estava prestes a chamar as Angel’s, Kevin, o mais extrovertido deles, invadiu o palco, sob os aplausos do resto da escola.
— Me deixe fazer isso, Sr. Lemos. – Pediu, para o confuso professor de matemática, que por fim passou o microfone para o garoto.
— Que seja. – E foi para os fundos do palco.
— Boa noite, galera! – Cumprimentou Kevin. – Vocês já sabem, mas aqui é Kevin Lewis e eu vim dizer que... não vou tocar com os Devil’s essa noite.
A plateia lamentou. Annie veio ao encontro de Kevin, e pegou o microfone da mão dele.
— Aqui é Annie Hale. – A plateia vibrou ao som do nome dela. – E as Angel’s também não tocarão hoje.
Os alunos ficaram confusos, e Kevin e Annie sorriram um para o outro.
— Pode entrar, Scarlet Reyes na bateria! – Chamou Kevin.
— Daniel Hale na guitarra! – Gritou Annie
— Melanie Foley no teclado! – Disse Kevin ao microfone, relevando uma tímida Melanie andando ao som de muitos aplausos.
— E por último, mas não menos importante, Colin McGregor com sua voz maravilhosa! – Anunciou Annie, fazendo com que Colin exibisse uma fileira interminável de dentes brilhantes. Os gritos foram principalmente femininos, e isso não passou despercebido para Annie, que riu.
— E com vocês, senhoras e senhores...
Angel’s and Devil’s – Falaram Kevin e Annie ao mesmo tempo.
A escola inteira estava assistindo a apresentação, já que esperavam por ela. As duas bandas, apesar de inimigas, eram muito queridas e antes mesmo da música acabar, Daniel já sentia que eles tinham ganhado.
Os jurados olhavam para trás, admirados com a repercussão do som da banda, e os alunos batiam palmas no ritmo da música.
Os quatro jovens músicos olhavam um para o outro, felizes pelo sucesso da parceria, e Daniel não se sentia tão longe do seu sonho.
Quando a música acabou, foi visível que os aplausos para eles foram muito mais altos e mais longos do que para qualquer outra banda que tenham se apresentado naquele dia.
Como foram os últimos a se apresentarem, não precisaram recolher os instrumentos imediatamente. Foram para os fundos novamente, onde Angel’s e Devil’s comemoravam o sucesso, cada um com a sua banda. Um silêncio desconfortável surgiu por alguns minutos, mas logo depois que Annie abraçou Kevin, todos os outros começaram a se cumprimentar também. Aguardaram a deliberação dos jurados enquanto isso, mas ninguém estava mais ansioso do que Daniel.
Após o anuncio dos dois últimos lugares, aguardavam com tensão a proclamação do primeiro. Em terceiro lugar, ficou a banda de Christian Ferrari, do colégio próximo a eles. Em segundo lugar, ficou a banda de Felix, os BrutaMontes, nome legal se considerar que eram todos grandes e fortes, e que também já tinham certa popularidade na escola. Os juízes chamaram os participantes até o palco, a fim de informar quem foi o grande vencedor da noite.
— E agora, a banda vencedora que vai levar esse troféu, uma viagem para Los Angeles, uma passagem para o Musical Fest – Senior e, quem sabe, um CD gravado é... – O homem fez um suspense, olhando para todos os participantes antes de finalmente falar. – Angel’s and Devil’s!
Os oito gritaram e vibraram, Daniel só faltava desmaiar de emoção. Seus pais saíram da plateia para os cumprimentar, e os amigos deles também vieram ao seu encontro. O troféu foi entregue a Melanie, que, por ser baixinha, acabou sendo levantada por várias pessoas enquanto a garota exibia o troféu no ar. Até mesmo os outros participantes comemoraram, iria ser muita sorte mesmo ganhar de uma das melhores bandas da escola.
— A gente conseguiu, Hale! – Gritou Scarlet, jogando as baquetas no chão e pulando no colo de Daniel. O garoto ficou confuso por um momento, e mais confuso ainda quando ela tascou um beijão em sua boca. – Sempre um prazer fazer Daniel Hale corar. – Disse, recolhendo as baquetas e indo em direção as amigas, que ainda estavam comemorando.
Emma e Annie se abraçavam, felizes. Colin e Melanie estavam conversando algo sério em um canto e não muito longe dali Oliver organizava uma fila para as pessoas assinarem no braço engessado de Kevin. Daniel analisou a algazarra, tendo a certeza de que aquele era sim, até agora, o dia mais feliz de sua vida.
E que nada iria, nunca mais, ficar no meio do seu caminho.





Fim!



Nota da autora: Uma fanfic curtinha, mas ela é base para uma long que estou planejando. Espero que gostem!





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