Capítulo Um
Kara estava discutindo comigo sobre os reais benefícios de uma banana da terra no preparo de poções, quando Djena bruscamente invadiu meus aposentos reais com o rosto coberto de preocupação.
— Princesa . – Murmurou, curvando-se quando chegou até mim.
— Oi, Djena. – Disse, com Kara ao meu lado aguardando para saber o que a elfa queria de tão urgente.
— Lamento interromper seu descanso, Vossa Alteza, mas precisamos da senhorita. – Disse a miúda criatura. – Um cervo, há um cervo machucado na Metsäelämä. Ele está morrendo. A Floresta está morrendo.
Encarei Kara com pesar.
— Eu preciso ir. – Disse a ela. – E você precisa ficar aqui, não sabemos como está sendo a Goblin-oorlog, e pode ser ruim para você se sair do castelo.
— Mas você é a princesa, ! – Argumentou ela, se levantando. – É a vocês que eles querem!
— Eles querem qualquer membro da corte real e estão há décadas sem aparecerem. Talvez tenham desistido. – Mas dispensei ideia depois de ver as faces de ambas olhando para mim como quem não acredita.
Dei de ombros.
— Os elfos guardiões estão esperando lá embaixo. – Disse Djena para Kara. – Prometo que Vossa Alteza estará segura e em boas mãos.
Kara ainda parecia insegura, mas assentiu.
— Eu jurei, e eu faço tudo pelo bem da Metsäelämä. – Sussurrou, fazendo nosso símbolo sagrado para a elfa e para mim. – Como guardiã da princesa das fadas, eu permito sua partida, . – Proferiu formalmente. Somente com um pedido formal eu teria permissão para ultrapassar as barreiras mágicas que cercavam o palácio.
Segui Djena até um certo ponto e em seguida ela encostou em mim, me transportando até os portões em um estalo mágico. Já tinha viajado com elfos antes, mas mesmo assim a sensação me dava enjoos. Como prometido, os elfos guardiões me aguardavam do lado de fora, e uma vez atravessada a barreira mágica, minhas asas começaram a brilhar. Fui cercada pelos elfos, que me guiaram pelos jardins do palácio, pela aldeia e pelos Montes Nevados. Seria uma viagem longa até a Floresta da Vida, a nossa Metsäelämä.
Os elfos estavam apreensivos porque eram os protetores da Metsäelämä, que por sua vez guardava a energia vital de todas as criaturas que viviam em Wildflower. Se algum animal, árvore ou rio fosse ferido nos limites da floresta, todos nós estaríamos em apuros.
Há muitos anos, fadas, bruxas, elfos, ogros e duendes viviam em harmonia no reino. Isso até a ganância do rei dos duendes, Magnodum, resolver tomar o reino para eles. Não apoiava a monarquia constituída pelas fadas, e tentou, a todo custo, colocar os cidadãos contra o rei. Foi uma época difícil. Ninguém sabia em quem confiar. No fim das contas, os duendes tinham os ogros e algumas bruxas de seu lado, e às fadas couberam a proteção dos elfos e de bruxas que não tinham sido desvirtuadas pela ganância do rei rebelde. O rei e a rainha conseguiram banir os inimigos lançando uma proteção mágica ao redor do palácio e do reino, mas com um preço: a morte de seu único herdeiro. O príncipe perdido jamais fora encontrado e sem um herdeiro, o rei e a rainha abdicaram o trono, cedendo esse espaço ao meu avô, quando já era bem idoso. Por ordem dele as bruxas em conjunto com os elfos curandeiros criaram a proteção ao redor da Metsäelämä, cuja energia vital estava suportando, ano após ano, a maldade de nossos inimigos. A floresta era a única coisa forte o bastante para mantê-los no exílio.
Desde então, todas as fadas que nasciam eram batizadas e abençoadas no rio abaixo da Árvore Mutterbaum. A cada década, a árvore cedia parte de seus poderes e uma fada era agraciada pelo Poder. Eu tinha recebido a graça do poder da cura, e por essa razão eu deveria ajudar Metsäelämä sempre que ela estivesse com problemas.
Estava assustada, é claro. Nenhum dos nossos jamais mataria um cervo para enfraquecer a floresta. Isso só queria dizer uma coisa: A Guerra dos Duendes, Goblin-oorlog, estava bem longe de acabar.
Quando finalmente chegamos na orla da Metsäelämä, eu e os elfos nos entreolhamos.
— Estamos com problemas. – Disse Jasan, o elfo mensageiro que estava a nossa espera. – Não estamos encontrando o cervo ferido.
— Eu vou tentar rastreá-lo através de suas emoções. – Disse a Jasan. – Se o pobre animal ainda estiver vivo, provavelmente estará com medo.
Desci do ar até meus pés pousarem no chão. Senti minhas asas tremularem e desaparecerem, enquanto aos olhares atentos dos elfos guardiões, entrava floresta adentro.
Para o meu alívio, as árvores ainda estavam densas, suas folhas se espreguiçando e tentando recolher os últimos raios de sol do dia. As frutas pareciam fartas, apesar de não podermos comê-las, e o rio parecia límpido como sempre. Fui avançando, atenta a novas emoções.
Foi quando senti. Raiva, desprezo, angustia. Parei, fazendo um sinal para que os guardiões parassem também. Estava a leste. Segui a emoção e quanto mais eu ouvia, mais forte ela ficava. Eram coisas ruins, eu nunca tinha sentido nada daquilo.
— Alteza! – Gritou um dos elfos quando comecei a correr na direção de sentimentos tão ruins. – Pare, princesa!
Apesar dos protestos, eu não conseguia parar. Estava freneticamente sendo atraída para os limites da Metsäelämä, onde as emoções me machucavam e me faziam sangrar por dentro.
Uma armadilha! Era uma armadilha!
— Socorro! – Gritei de volta, enquanto era arrastada para fora do alcance de meus súditos guardiões. – Alguém me ajuda, eu não consigo parar!
— Ajudem a princesa! – Gritaram, e em seguida diversos elfos foram transportados para perto de mim.
Mas não importava o quanto eles corressem, eu ia mais rápido. Ia correndo pela floresta, minhas pernas não me obedeciam. Eu tropeçava em pequenas raízes, batia em alguns galhos soltos, que me arranhavam conforme eu passava. Sem qualquer intensão minha, levantei cinco centímetros do chão, minhas asas brilharam e se abriram. Estava sendo literalmente sugada para os confins da Metsäelämä, quando percebi meu destino final: Zemya, a terra exilada que pertencia aos duendes.
Olhei para trás enquanto ainda era atraída pela força misteriosa. Jasan era o mais próximo de mim agora, e reuni toda minha força de vontade para tocar minhas mãos nas dele. Se eu conseguisse encostar só uma pontinha, ele poderia me transportar para a orla da floresta novamente. Mas quando eu estava prestes a encostar em Jasan, senti que ultrapassava uma barreira. Jasan passou por ela e foi imediatamente desintegrado em uma explosão de pó dourado.
— Não! – Gritei, conforme outros elfos desavisados passavam a barreira e tiveram o mesmo triste fim. – Não passem, voltem! Voltem para casa! – Tentei gritar mais ainda, com lágrimas nos olhos e o coração pesado de culpa.
Quando Djena chegou até onde eu estava, tão pequenina e se sentindo tão culpada quanto eu por ter sido uma armadilha, meu coração congelou.
— Djena, volta! – Berrei, gesticulando os braços. – Não! Não passa dessa árvore!
Mas aparentemente eu não me fazia ser ouvida. Djena passou pela barreira, sendo igualmente desintegrada. Seu chapeuzinho de elfo mensageiro jazia no chão, do lado de fora da barreira. Minhas lágrimas voltaram a cair, e minhas asas perderam a força, me jogando no chão.
Os elfos pareceram notar que tinha algo estranho, já que o guardião mais próximo fez um sinal para os outros pararem. Depois de fazerem uma checagem rápida, deram meia volta, afastando-se da barreira invisível. E foi então que eu percebi: eles não estavam me ouvindo. Eles não estavam nem me vendo.
— Eles não podem mais ver você. – Disse uma voz feminina atrás de mim.
Era uma bruxa. Eu sabia disso só de olhar para ela. Os longos cabelos escuros contrastavam com a pele clara, o vestido azul marinho parecia cintilar ao seu redor.
— O que você fez com os elfos? – Questionei, me levantando e indo mais próxima a ela. – O que você fez com eles?
A bruxa riu, uma risada feia que mostrou todos os seus dentes. Eu nunca tinha visto uma bruxa assim antes. A bruxas que eu conhecia eram boas, nos forneciam remédios e trabalhavam em harmonia com os elfos curandeiros.
— Foram transportados desse mundo, criança. – Respondeu ela.
— Para onde?
— Eu não sei. – Disse, dando de ombros. – Podem ter ido para qualquer lugar.
— Traga meus elfos de volta, bruxa! – Ordenei.
— Você não tem poderes aqui, princesa.
Sem que eu percebesse, alguns duendes saíram de trás das árvores. Eu não estava mais na Metsäelämä, duendes nunca seriam permitidos. Com horror vi até uns ogros, e eu nunca tinha visto um ogro pessoalmente na vida. Os sentimentos ruins estavam bem mais fortes ali, e onde eu olhava, sentia. Sentia tanto que as emoções pareciam já fazer parte de mim. Me deixavam fraca, infeliz e impotente. Dor, medo, injustiça.
— O que você quer de mim? – Perguntei a bruxa, muito embora eu já soubesse a resposta.
— Olá, Vossa Alteza. – Sussurrou uma voz debochada e cortante saída do meio das árvores.
Eu não precisava ter reparado nos outros duendes se curvando para ter certeza de quem tinha saído do meio das árvores. O rei duende tinha um pouco mais de um metro e meio, ostentava uma coroa de ouro puro no alto de sua grande cabeça cheia de caroços. A pele era esverdeada e, mesmo para um rei, usava roupas rasgadas e sujas. Seus olhos eram grandes e profundos, olhar de quem vivia há muitos anos. Eu não podia acreditar que ele ainda estava vivo, depois de todas essas décadas.
— Magnodum – Sussurrei, quando o rei duende chegou ao meu campo de visão. – O que vocês querem?
Os duendes riram, junto com a bruxa que ainda me encarava.
— Enfraquecer a monarquia das fadas. Recuperar nosso reino. Destruir Metsäelämä. – Rosnou o monarca, estarrecido. Apontou para a barreira que destruiu alguns de meus súditos. – E agora que descobrirmos como passar por ali, finalmente poderemos começar nossa missão. Finalmente sairemos do exílio!
Foi quando o encarei, confusa. Eu não tinha sido desintegrada.
— Porque eu consegui atravessar? – Perguntei para a bruxa.
Ela revirou os olhos.
— Você carrega a benção da Mutterbaum, criança. – Explicou, etérea. – Ela protege você. Ela protege as fadas.
Encarei os outros. Eu sabia que era uma batalha perdida. Eram numerosos e eu era uma só. Toda a ajuda que eu poderia ter tinha ficado para trás.
— Vocês vão perder. Todos vocês.
— Acho que não, princesa. – O rei duende me rodeava, e ele fedia a esgoto. Caí no chão e tive ânsia de vômito várias vezes, e percebi que a presença deles estava me deixando doente de verdade. – A bruxa Luz da Noite descobriu um jeito de tirar o Poder de você, de forma temporária. E quando o pôr-do-sol começar, te lançaremos na barreira, que se destruirá, e a Metsäelämä finalmente estará desprotegida.
— Não! – Gritei, quando dois duendes menores se aproximaram para me amarrar. Eles ainda eram menores do que eu, mas estava tão fraca que mal conseguia me levantar. – Vocês não vão conseguir!
Foi quando Luz da Noite se aproximou de onde eu estava, junto com mais três de suas irmãs, e começaram a entoar um cântico maligno. Luz da Noite levantou uma pedra lisa e azul em suas mãos, com veias arroxeadas. Quando os últimos raios de sol tocaram a pedra, ela brilhou, um azul intenso e assustador. A luz resplandecia sobre mim, e pareciam tirar minha alma. Eu me sentia leve e vazia. As emoções perto de mim estavam cada vez piores e eu senti que iria morrer.
— Não destruam Metsäelämä! – Murmurei, sem força, enquanto duendes me levantavam sem esforço em direção a barreira.
O cântico foi ficando cada vez mais alto e a pedra brilhava cada vez mais. O calor foi ficando cada vez mais insuportável, e eu senti o Poder se apagar dentro de mim de uma forma lenta e dolorosa, até que em um rompante, tudo se silenciou.
Fui jogada junto com a pedra, que ainda brilhava, na barreira invisível, e a última coisa que eu ouvi foi o brado de vitória dos nossos inimigos, que poderiam colocar fim a linhagem das fadas para sempre.
— Princesa . – Murmurou, curvando-se quando chegou até mim.
— Oi, Djena. – Disse, com Kara ao meu lado aguardando para saber o que a elfa queria de tão urgente.
— Lamento interromper seu descanso, Vossa Alteza, mas precisamos da senhorita. – Disse a miúda criatura. – Um cervo, há um cervo machucado na Metsäelämä. Ele está morrendo. A Floresta está morrendo.
Encarei Kara com pesar.
— Eu preciso ir. – Disse a ela. – E você precisa ficar aqui, não sabemos como está sendo a Goblin-oorlog, e pode ser ruim para você se sair do castelo.
— Mas você é a princesa, ! – Argumentou ela, se levantando. – É a vocês que eles querem!
— Eles querem qualquer membro da corte real e estão há décadas sem aparecerem. Talvez tenham desistido. – Mas dispensei ideia depois de ver as faces de ambas olhando para mim como quem não acredita.
Dei de ombros.
— Os elfos guardiões estão esperando lá embaixo. – Disse Djena para Kara. – Prometo que Vossa Alteza estará segura e em boas mãos.
Kara ainda parecia insegura, mas assentiu.
— Eu jurei, e eu faço tudo pelo bem da Metsäelämä. – Sussurrou, fazendo nosso símbolo sagrado para a elfa e para mim. – Como guardiã da princesa das fadas, eu permito sua partida, . – Proferiu formalmente. Somente com um pedido formal eu teria permissão para ultrapassar as barreiras mágicas que cercavam o palácio.
Segui Djena até um certo ponto e em seguida ela encostou em mim, me transportando até os portões em um estalo mágico. Já tinha viajado com elfos antes, mas mesmo assim a sensação me dava enjoos. Como prometido, os elfos guardiões me aguardavam do lado de fora, e uma vez atravessada a barreira mágica, minhas asas começaram a brilhar. Fui cercada pelos elfos, que me guiaram pelos jardins do palácio, pela aldeia e pelos Montes Nevados. Seria uma viagem longa até a Floresta da Vida, a nossa Metsäelämä.
Os elfos estavam apreensivos porque eram os protetores da Metsäelämä, que por sua vez guardava a energia vital de todas as criaturas que viviam em Wildflower. Se algum animal, árvore ou rio fosse ferido nos limites da floresta, todos nós estaríamos em apuros.
Há muitos anos, fadas, bruxas, elfos, ogros e duendes viviam em harmonia no reino. Isso até a ganância do rei dos duendes, Magnodum, resolver tomar o reino para eles. Não apoiava a monarquia constituída pelas fadas, e tentou, a todo custo, colocar os cidadãos contra o rei. Foi uma época difícil. Ninguém sabia em quem confiar. No fim das contas, os duendes tinham os ogros e algumas bruxas de seu lado, e às fadas couberam a proteção dos elfos e de bruxas que não tinham sido desvirtuadas pela ganância do rei rebelde. O rei e a rainha conseguiram banir os inimigos lançando uma proteção mágica ao redor do palácio e do reino, mas com um preço: a morte de seu único herdeiro. O príncipe perdido jamais fora encontrado e sem um herdeiro, o rei e a rainha abdicaram o trono, cedendo esse espaço ao meu avô, quando já era bem idoso. Por ordem dele as bruxas em conjunto com os elfos curandeiros criaram a proteção ao redor da Metsäelämä, cuja energia vital estava suportando, ano após ano, a maldade de nossos inimigos. A floresta era a única coisa forte o bastante para mantê-los no exílio.
Desde então, todas as fadas que nasciam eram batizadas e abençoadas no rio abaixo da Árvore Mutterbaum. A cada década, a árvore cedia parte de seus poderes e uma fada era agraciada pelo Poder. Eu tinha recebido a graça do poder da cura, e por essa razão eu deveria ajudar Metsäelämä sempre que ela estivesse com problemas.
Estava assustada, é claro. Nenhum dos nossos jamais mataria um cervo para enfraquecer a floresta. Isso só queria dizer uma coisa: A Guerra dos Duendes, Goblin-oorlog, estava bem longe de acabar.
Quando finalmente chegamos na orla da Metsäelämä, eu e os elfos nos entreolhamos.
— Estamos com problemas. – Disse Jasan, o elfo mensageiro que estava a nossa espera. – Não estamos encontrando o cervo ferido.
— Eu vou tentar rastreá-lo através de suas emoções. – Disse a Jasan. – Se o pobre animal ainda estiver vivo, provavelmente estará com medo.
Desci do ar até meus pés pousarem no chão. Senti minhas asas tremularem e desaparecerem, enquanto aos olhares atentos dos elfos guardiões, entrava floresta adentro.
Para o meu alívio, as árvores ainda estavam densas, suas folhas se espreguiçando e tentando recolher os últimos raios de sol do dia. As frutas pareciam fartas, apesar de não podermos comê-las, e o rio parecia límpido como sempre. Fui avançando, atenta a novas emoções.
Foi quando senti. Raiva, desprezo, angustia. Parei, fazendo um sinal para que os guardiões parassem também. Estava a leste. Segui a emoção e quanto mais eu ouvia, mais forte ela ficava. Eram coisas ruins, eu nunca tinha sentido nada daquilo.
— Alteza! – Gritou um dos elfos quando comecei a correr na direção de sentimentos tão ruins. – Pare, princesa!
Apesar dos protestos, eu não conseguia parar. Estava freneticamente sendo atraída para os limites da Metsäelämä, onde as emoções me machucavam e me faziam sangrar por dentro.
Uma armadilha! Era uma armadilha!
— Socorro! – Gritei de volta, enquanto era arrastada para fora do alcance de meus súditos guardiões. – Alguém me ajuda, eu não consigo parar!
— Ajudem a princesa! – Gritaram, e em seguida diversos elfos foram transportados para perto de mim.
Mas não importava o quanto eles corressem, eu ia mais rápido. Ia correndo pela floresta, minhas pernas não me obedeciam. Eu tropeçava em pequenas raízes, batia em alguns galhos soltos, que me arranhavam conforme eu passava. Sem qualquer intensão minha, levantei cinco centímetros do chão, minhas asas brilharam e se abriram. Estava sendo literalmente sugada para os confins da Metsäelämä, quando percebi meu destino final: Zemya, a terra exilada que pertencia aos duendes.
Olhei para trás enquanto ainda era atraída pela força misteriosa. Jasan era o mais próximo de mim agora, e reuni toda minha força de vontade para tocar minhas mãos nas dele. Se eu conseguisse encostar só uma pontinha, ele poderia me transportar para a orla da floresta novamente. Mas quando eu estava prestes a encostar em Jasan, senti que ultrapassava uma barreira. Jasan passou por ela e foi imediatamente desintegrado em uma explosão de pó dourado.
— Não! – Gritei, conforme outros elfos desavisados passavam a barreira e tiveram o mesmo triste fim. – Não passem, voltem! Voltem para casa! – Tentei gritar mais ainda, com lágrimas nos olhos e o coração pesado de culpa.
Quando Djena chegou até onde eu estava, tão pequenina e se sentindo tão culpada quanto eu por ter sido uma armadilha, meu coração congelou.
— Djena, volta! – Berrei, gesticulando os braços. – Não! Não passa dessa árvore!
Mas aparentemente eu não me fazia ser ouvida. Djena passou pela barreira, sendo igualmente desintegrada. Seu chapeuzinho de elfo mensageiro jazia no chão, do lado de fora da barreira. Minhas lágrimas voltaram a cair, e minhas asas perderam a força, me jogando no chão.
Os elfos pareceram notar que tinha algo estranho, já que o guardião mais próximo fez um sinal para os outros pararem. Depois de fazerem uma checagem rápida, deram meia volta, afastando-se da barreira invisível. E foi então que eu percebi: eles não estavam me ouvindo. Eles não estavam nem me vendo.
— Eles não podem mais ver você. – Disse uma voz feminina atrás de mim.
Era uma bruxa. Eu sabia disso só de olhar para ela. Os longos cabelos escuros contrastavam com a pele clara, o vestido azul marinho parecia cintilar ao seu redor.
— O que você fez com os elfos? – Questionei, me levantando e indo mais próxima a ela. – O que você fez com eles?
A bruxa riu, uma risada feia que mostrou todos os seus dentes. Eu nunca tinha visto uma bruxa assim antes. A bruxas que eu conhecia eram boas, nos forneciam remédios e trabalhavam em harmonia com os elfos curandeiros.
— Foram transportados desse mundo, criança. – Respondeu ela.
— Para onde?
— Eu não sei. – Disse, dando de ombros. – Podem ter ido para qualquer lugar.
— Traga meus elfos de volta, bruxa! – Ordenei.
— Você não tem poderes aqui, princesa.
Sem que eu percebesse, alguns duendes saíram de trás das árvores. Eu não estava mais na Metsäelämä, duendes nunca seriam permitidos. Com horror vi até uns ogros, e eu nunca tinha visto um ogro pessoalmente na vida. Os sentimentos ruins estavam bem mais fortes ali, e onde eu olhava, sentia. Sentia tanto que as emoções pareciam já fazer parte de mim. Me deixavam fraca, infeliz e impotente. Dor, medo, injustiça.
— O que você quer de mim? – Perguntei a bruxa, muito embora eu já soubesse a resposta.
— Olá, Vossa Alteza. – Sussurrou uma voz debochada e cortante saída do meio das árvores.
Eu não precisava ter reparado nos outros duendes se curvando para ter certeza de quem tinha saído do meio das árvores. O rei duende tinha um pouco mais de um metro e meio, ostentava uma coroa de ouro puro no alto de sua grande cabeça cheia de caroços. A pele era esverdeada e, mesmo para um rei, usava roupas rasgadas e sujas. Seus olhos eram grandes e profundos, olhar de quem vivia há muitos anos. Eu não podia acreditar que ele ainda estava vivo, depois de todas essas décadas.
— Magnodum – Sussurrei, quando o rei duende chegou ao meu campo de visão. – O que vocês querem?
Os duendes riram, junto com a bruxa que ainda me encarava.
— Enfraquecer a monarquia das fadas. Recuperar nosso reino. Destruir Metsäelämä. – Rosnou o monarca, estarrecido. Apontou para a barreira que destruiu alguns de meus súditos. – E agora que descobrirmos como passar por ali, finalmente poderemos começar nossa missão. Finalmente sairemos do exílio!
Foi quando o encarei, confusa. Eu não tinha sido desintegrada.
— Porque eu consegui atravessar? – Perguntei para a bruxa.
Ela revirou os olhos.
— Você carrega a benção da Mutterbaum, criança. – Explicou, etérea. – Ela protege você. Ela protege as fadas.
Encarei os outros. Eu sabia que era uma batalha perdida. Eram numerosos e eu era uma só. Toda a ajuda que eu poderia ter tinha ficado para trás.
— Vocês vão perder. Todos vocês.
— Acho que não, princesa. – O rei duende me rodeava, e ele fedia a esgoto. Caí no chão e tive ânsia de vômito várias vezes, e percebi que a presença deles estava me deixando doente de verdade. – A bruxa Luz da Noite descobriu um jeito de tirar o Poder de você, de forma temporária. E quando o pôr-do-sol começar, te lançaremos na barreira, que se destruirá, e a Metsäelämä finalmente estará desprotegida.
— Não! – Gritei, quando dois duendes menores se aproximaram para me amarrar. Eles ainda eram menores do que eu, mas estava tão fraca que mal conseguia me levantar. – Vocês não vão conseguir!
Foi quando Luz da Noite se aproximou de onde eu estava, junto com mais três de suas irmãs, e começaram a entoar um cântico maligno. Luz da Noite levantou uma pedra lisa e azul em suas mãos, com veias arroxeadas. Quando os últimos raios de sol tocaram a pedra, ela brilhou, um azul intenso e assustador. A luz resplandecia sobre mim, e pareciam tirar minha alma. Eu me sentia leve e vazia. As emoções perto de mim estavam cada vez piores e eu senti que iria morrer.
— Não destruam Metsäelämä! – Murmurei, sem força, enquanto duendes me levantavam sem esforço em direção a barreira.
O cântico foi ficando cada vez mais alto e a pedra brilhava cada vez mais. O calor foi ficando cada vez mais insuportável, e eu senti o Poder se apagar dentro de mim de uma forma lenta e dolorosa, até que em um rompante, tudo se silenciou.
Fui jogada junto com a pedra, que ainda brilhava, na barreira invisível, e a última coisa que eu ouvi foi o brado de vitória dos nossos inimigos, que poderiam colocar fim a linhagem das fadas para sempre.
Capítulo Dois
Quando pisquei de novo, uma coisa enorme de aço quase me atropelou. Dei um grito, subindo em um dos degraus que tinha no grande vão. Tive que me desvencilhar de vários seres, que esbarravam em mim sem pedir desculpa, e por onde eu olhava havia concreto. Vi vários arcos coloridos ao redor desses seres e de alguma forma eu conseguia saber o que estavam sentindo. A maioria era laranja e vermelha, mas também vi umas poucas amarelas, verdes e cinzas e até uma preta. Não fazia a menor ideia de onde estava, mas não precisava ser a fada mais sábia do mundo para entender que me encontrava bem longe de Wildflower.
Suspirei, pensando na Metsäelämä, nos duendes, no que estava acontecendo em casa e de que forma eu poderia ajudar. Esperança era uma das qualidades mais fortes em mim, e eu não descansaria até que pudesse retornar para casa. Estava suja, sangrando, minhas roupas todas rasgadas e não precisava nem dizer que minhas asas não funcionavam.
Ao longe, vi um homem chutando um cachorro que tentava entrar em um estabelecimento. O homem gritava palavras ríspidas e tentava colocar o cão para fora. O cachorro tentou entrar de novo e o homem conseguiu acertar sua pata dianteira com um sapato. O cão chorou, e eu também, por dentro. Percebi que estava na Terra. Esse cara só podia ser humano. Fui até o animal, que fugiu de mim antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. O homem brilhava com uma luz vermelha viva, e me encarou ferozmente quando me viu.
— Não vou ter que te chutar também, vou, garota? – Perguntou, ainda ríspido. – Não tenho nada para mendigos.
Balancei a cabeça, consternada.
— Mendigo? Eu sou uma princesa, seu tolo! – Esbravejei.
Ele ficou em silêncio por uns segundos, e então riu, pela primeira vez analisando meu vestido rasgado, as joias que eu usava e minha aparência, que apesar de estar bem degastada, sugeria que eu não morava na rua.
— Essa é boa, uma princesa no Tatuapé. – Debochou. – Pois bem, de que castelo você caiu? Bela Vista? Mooca? Jardins?
— Wildflower. – Respondi, fazendo o homem se calar.
— Vai embora daqui antes que eu chame a polícia. – Murmurou, carrancudo.
Humanos eram ignorantes. Pensei que todos sabiam sobre a existência dos sete mundos, mas aparentemente estava enganada. A Terra parecia ser uma exceção, e me perguntei como acharia meu caminho para casa em um mundo cheio de segredos.
Quando me virei para continuar pedindo ajuda, esbarrei em uma garota que vinha conversando com um outro rapaz, caindo no chão sujo.
— Me desculpa, mesmo. Você está bem? – Disse a garota, me ajudando a levantar.
Ela tinha uma luz verde muito bonita, e o rapaz em quem bati brilhava com um amarelo alaranjado.
— Estou bem, não se preocupe. – Disse, sacudindo meu vestido.
O local era barulhento, fedido e entulhado de pessoas. Eu só queria ir embora dali, e percebi que não tinha nem para onde ir. O casal se despediu de mim com mais um pedido de desculpas, indo embora, e eu fiquei plantada sem saber o que fazer. Eu sabia que tinha que achar uma floresta. Na minha cabeça, isso fazia sentido, e minha intuição nunca falhava. Resolvi escolher uma direção qualquer, e segui até ela. A frente tinha uma porção gigante dos objetos de metal que passavam em alta velocidade, e decidi evitar aquele lugar. Por isso virei à direita, observando um conjunto de mais casas e comércios de aspectos estranhos, mais pessoas e mais barulhos.
Devia estar andando há horas, quando desisti e me sentei no chão sujo daquele imenso chiqueiro.
Decidi pensar positivamente. Se eu tinha atravessado aquele portal e estava viva, talvez meus elfos também estavam perdidos em algum lugar por aqui. Mas eu sabia que era um planeta enorme, e eles podiam ter ido para qualquer lugar. Perdi as esperanças novamente.
Estava absorta sentindo pena de mim mesma quando alguém tocou meu ombro, fazendo eu me levantar. Era a mesma garota em quem tinha trombado uns minutos antes.
— Não sei se você se lembra, mas eu...
— Eu me lembro. – Interrompi, sorrindo.
Ela sorriu de volta, e o rapaz que a acompanhava se juntou a nós.
— Eu sou Clarisse. – Se apresentou. – E esse é meu irmão Gustavo. – Indicou o rapaz, que sorriu.
— Meu nome é . – Falei.
— Você parece perdida. – Observou o garoto, falando pela primeira vez.
— É porque estou. Eu não faço ideia de como vim parar aqui. Não sei como farei para voltar para casa.
— Onde você mora? Talvez possamos ajudar. – Contribuiu Clarisse, ajustando a blusa em sua cintura.
Eu não podia cometer o erro de citar Wildflower novamente somente para assustar as únicas pessoas que tinham sido realmente legais comigo. Não gostava de mentir, mas eu sentia que não era o certo.
— Basta dizer que... é muito longe daqui. – Murmurei, triste.
Clarisse e Gustavo se encararam.
— Isso não é muito comum, mas se quiser pode vir com a gente. Moramos nesse prédio. – Falou, gesticulando para uma grande construção a minha frente.
Eu geralmente não confiaria em estranhos tão rapidamente, mas eles eram pessoas gentis e eu não tinha mais nada a perder.
Atravessamos um jardim e subimos em algo que Clarisse chamou de “elevador”. Quando chegamos a sua casa, me senti, pela primeira vez, segura. E não porque eu era uma princesa que estava acostumada com guarda costas e raramente saía de casa, e sim porque provavelmente eu me sentia em casa ali, por algum motivo que eu desconhecia.
— Essa aqui é Serena. – Disse Clarisse, puxando uma garota loira com ela.
A menina era pequena, porém aparentava maturidade e elegância. A aura dela era quase tão translúcida que quase não consegui lê-la, mas deu para ver vislumbres de rosa-claro emanando dela.
— Oi, me chamo . – Cumprimentei, indo até ela. Seus olhos brilharam quando eu disse meu nome, e ela me deu um sorriso.
— Seja bem-vinda, . Pode ficar aqui o tempo que precisar. – Respondeu, e eu entendi que a casa era dela.
Clarisse me arrumou uma cama no quarto dela e seu irmão tinha sumido. Ela me deixou sozinha para que eu me acomodasse e perguntou se eu queria tomar um banho. Enquanto ela ia buscar algo para mim, deixei-me deitar na cama, suspirando.
Eu tinha que arrumar um jeito de sair daqui.
Fazia uma semana que estava nessa Terra tão distante, e tinha chegado a algumas conclusões sobre o planeta: humanos são maus, tem muito lixo e o ar é pesado por conta da poluição. Eu podia sentir que Metsäelämä morreria em instantes se colocasse um centímetro de suas raízes nesse lugar. Apesar disso, não estava tão ruim quanto eu pensei. As pessoas que me deram abrigo eram legais comigo, e eu procurava ajudar já que não tinha como pagar a moradia. Para uma princesa que nunca tinha feito nada doméstico, me dei muito bem, mas ainda acho que Gustavo estava mentindo quando disse que minha comida não estava salgada. Principalmente porque depois do desastroso jantar, Clarisse gentilmente me informou que a partir daquele dia ela mesma cuidaria da cozinha.
Eles estudavam, com exceção de Serena, então passávamos o dia juntas. Aprendi muito sobre costumes e cultura, mas ainda não estava nem perto de achar meu caminho para casa.
Estava assistindo um filme com Serena, tentando disfarçar que era a primeira vez que eu via algo do tipo na vida, quando alguém bateu na porta. A garota sorriu, indo atender.
— ! Você voltou! – Disse, pulando nos braços de um garoto alto e esguio. Ele não parecia muito mais velho que eu, mas seus olhos indicavam que tinha vivido muito mais do que parecia.
— Essa é . – Falou Serena, quando ele parou diante de mim. – E esse é .
Se a aura de Serena era quase impossível de ler, a de sequer existia. Fiquei rondando o garoto com os olhos, a procura de um brilho que fosse, mas ao redor dele não existia nada. Ele não tinha alma?
— Você é... vazio. – Murmurei, alto demais.
Ele, que já não aparentava ser muito simpático, fechou a cara mais ainda.
— É uma boa observação para se fazer quando conhece alguém.
Senti que estava corada.
— Desculpe, não foi isso que quis dizer, eu...
Me interrompi, abaixando a cabeça. O que eu poderia dizer? Qualquer coisa que eu proferisse não passaria de piada para tolos e incrédulos humanos.
O rapaz deu de ombros, olhando torto para Serena e indo em direção aos muitos quartos.
— Desculpe, é... fique aqui. – Disse Serena, correndo atrás de .
Contrariando as ordens dela, fui furtivamente até uma porta de quarto entreaberta.
— ... vocês tinham que falar comigo antes de trazer qualquer pessoa para cá! – Falou o garoto, ríspido.
Serena ficou em silêncio por uns instantes.
— Foram Clarisse e Gustavo que encontraram a garota. – Falou, finalmente. – É ela, , eu sinto que é ela. O nome dela é .
— Devem existir muitas garotas com esse nome.
— Não nessa região, e não nesse país. – Ela suspirou. – Dê uma chance a ela. Se não for a garota da profecia, pelo menos talvez a gente ganhe uma amiga.
— Amiga. – Debochou.
Decidi que já tinha ouvido mais do que deveria, e fui seguindo lentamente até onde Serena tinha pedido que eu ficasse. Quando me sentei, ela apareceu, parecendo bem arrependida.
— Peço desculpa pela má educação de . – Disse, com um semblante preocupado.
— Tudo bem. – Respondi.
Queria perguntar porque eles estavam me esperando, que profecia era aquela e do que estavam falando. Não tive a oportunidade de dizer nada, porque Serena afagou meu ombro gentilmente, me deixando sozinha no recinto com todas as minhas dúvidas.
Suspirei, pensando na Metsäelämä, nos duendes, no que estava acontecendo em casa e de que forma eu poderia ajudar. Esperança era uma das qualidades mais fortes em mim, e eu não descansaria até que pudesse retornar para casa. Estava suja, sangrando, minhas roupas todas rasgadas e não precisava nem dizer que minhas asas não funcionavam.
Ao longe, vi um homem chutando um cachorro que tentava entrar em um estabelecimento. O homem gritava palavras ríspidas e tentava colocar o cão para fora. O cachorro tentou entrar de novo e o homem conseguiu acertar sua pata dianteira com um sapato. O cão chorou, e eu também, por dentro. Percebi que estava na Terra. Esse cara só podia ser humano. Fui até o animal, que fugiu de mim antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. O homem brilhava com uma luz vermelha viva, e me encarou ferozmente quando me viu.
— Não vou ter que te chutar também, vou, garota? – Perguntou, ainda ríspido. – Não tenho nada para mendigos.
Balancei a cabeça, consternada.
— Mendigo? Eu sou uma princesa, seu tolo! – Esbravejei.
Ele ficou em silêncio por uns segundos, e então riu, pela primeira vez analisando meu vestido rasgado, as joias que eu usava e minha aparência, que apesar de estar bem degastada, sugeria que eu não morava na rua.
— Essa é boa, uma princesa no Tatuapé. – Debochou. – Pois bem, de que castelo você caiu? Bela Vista? Mooca? Jardins?
— Wildflower. – Respondi, fazendo o homem se calar.
— Vai embora daqui antes que eu chame a polícia. – Murmurou, carrancudo.
Humanos eram ignorantes. Pensei que todos sabiam sobre a existência dos sete mundos, mas aparentemente estava enganada. A Terra parecia ser uma exceção, e me perguntei como acharia meu caminho para casa em um mundo cheio de segredos.
Quando me virei para continuar pedindo ajuda, esbarrei em uma garota que vinha conversando com um outro rapaz, caindo no chão sujo.
— Me desculpa, mesmo. Você está bem? – Disse a garota, me ajudando a levantar.
Ela tinha uma luz verde muito bonita, e o rapaz em quem bati brilhava com um amarelo alaranjado.
— Estou bem, não se preocupe. – Disse, sacudindo meu vestido.
O local era barulhento, fedido e entulhado de pessoas. Eu só queria ir embora dali, e percebi que não tinha nem para onde ir. O casal se despediu de mim com mais um pedido de desculpas, indo embora, e eu fiquei plantada sem saber o que fazer. Eu sabia que tinha que achar uma floresta. Na minha cabeça, isso fazia sentido, e minha intuição nunca falhava. Resolvi escolher uma direção qualquer, e segui até ela. A frente tinha uma porção gigante dos objetos de metal que passavam em alta velocidade, e decidi evitar aquele lugar. Por isso virei à direita, observando um conjunto de mais casas e comércios de aspectos estranhos, mais pessoas e mais barulhos.
Devia estar andando há horas, quando desisti e me sentei no chão sujo daquele imenso chiqueiro.
Decidi pensar positivamente. Se eu tinha atravessado aquele portal e estava viva, talvez meus elfos também estavam perdidos em algum lugar por aqui. Mas eu sabia que era um planeta enorme, e eles podiam ter ido para qualquer lugar. Perdi as esperanças novamente.
Estava absorta sentindo pena de mim mesma quando alguém tocou meu ombro, fazendo eu me levantar. Era a mesma garota em quem tinha trombado uns minutos antes.
— Não sei se você se lembra, mas eu...
— Eu me lembro. – Interrompi, sorrindo.
Ela sorriu de volta, e o rapaz que a acompanhava se juntou a nós.
— Eu sou Clarisse. – Se apresentou. – E esse é meu irmão Gustavo. – Indicou o rapaz, que sorriu.
— Meu nome é . – Falei.
— Você parece perdida. – Observou o garoto, falando pela primeira vez.
— É porque estou. Eu não faço ideia de como vim parar aqui. Não sei como farei para voltar para casa.
— Onde você mora? Talvez possamos ajudar. – Contribuiu Clarisse, ajustando a blusa em sua cintura.
Eu não podia cometer o erro de citar Wildflower novamente somente para assustar as únicas pessoas que tinham sido realmente legais comigo. Não gostava de mentir, mas eu sentia que não era o certo.
— Basta dizer que... é muito longe daqui. – Murmurei, triste.
Clarisse e Gustavo se encararam.
— Isso não é muito comum, mas se quiser pode vir com a gente. Moramos nesse prédio. – Falou, gesticulando para uma grande construção a minha frente.
Eu geralmente não confiaria em estranhos tão rapidamente, mas eles eram pessoas gentis e eu não tinha mais nada a perder.
Atravessamos um jardim e subimos em algo que Clarisse chamou de “elevador”. Quando chegamos a sua casa, me senti, pela primeira vez, segura. E não porque eu era uma princesa que estava acostumada com guarda costas e raramente saía de casa, e sim porque provavelmente eu me sentia em casa ali, por algum motivo que eu desconhecia.
— Essa aqui é Serena. – Disse Clarisse, puxando uma garota loira com ela.
A menina era pequena, porém aparentava maturidade e elegância. A aura dela era quase tão translúcida que quase não consegui lê-la, mas deu para ver vislumbres de rosa-claro emanando dela.
— Oi, me chamo . – Cumprimentei, indo até ela. Seus olhos brilharam quando eu disse meu nome, e ela me deu um sorriso.
— Seja bem-vinda, . Pode ficar aqui o tempo que precisar. – Respondeu, e eu entendi que a casa era dela.
Clarisse me arrumou uma cama no quarto dela e seu irmão tinha sumido. Ela me deixou sozinha para que eu me acomodasse e perguntou se eu queria tomar um banho. Enquanto ela ia buscar algo para mim, deixei-me deitar na cama, suspirando.
Eu tinha que arrumar um jeito de sair daqui.
Fazia uma semana que estava nessa Terra tão distante, e tinha chegado a algumas conclusões sobre o planeta: humanos são maus, tem muito lixo e o ar é pesado por conta da poluição. Eu podia sentir que Metsäelämä morreria em instantes se colocasse um centímetro de suas raízes nesse lugar. Apesar disso, não estava tão ruim quanto eu pensei. As pessoas que me deram abrigo eram legais comigo, e eu procurava ajudar já que não tinha como pagar a moradia. Para uma princesa que nunca tinha feito nada doméstico, me dei muito bem, mas ainda acho que Gustavo estava mentindo quando disse que minha comida não estava salgada. Principalmente porque depois do desastroso jantar, Clarisse gentilmente me informou que a partir daquele dia ela mesma cuidaria da cozinha.
Eles estudavam, com exceção de Serena, então passávamos o dia juntas. Aprendi muito sobre costumes e cultura, mas ainda não estava nem perto de achar meu caminho para casa.
Estava assistindo um filme com Serena, tentando disfarçar que era a primeira vez que eu via algo do tipo na vida, quando alguém bateu na porta. A garota sorriu, indo atender.
— ! Você voltou! – Disse, pulando nos braços de um garoto alto e esguio. Ele não parecia muito mais velho que eu, mas seus olhos indicavam que tinha vivido muito mais do que parecia.
— Essa é . – Falou Serena, quando ele parou diante de mim. – E esse é .
Se a aura de Serena era quase impossível de ler, a de sequer existia. Fiquei rondando o garoto com os olhos, a procura de um brilho que fosse, mas ao redor dele não existia nada. Ele não tinha alma?
— Você é... vazio. – Murmurei, alto demais.
Ele, que já não aparentava ser muito simpático, fechou a cara mais ainda.
— É uma boa observação para se fazer quando conhece alguém.
Senti que estava corada.
— Desculpe, não foi isso que quis dizer, eu...
Me interrompi, abaixando a cabeça. O que eu poderia dizer? Qualquer coisa que eu proferisse não passaria de piada para tolos e incrédulos humanos.
O rapaz deu de ombros, olhando torto para Serena e indo em direção aos muitos quartos.
— Desculpe, é... fique aqui. – Disse Serena, correndo atrás de .
Contrariando as ordens dela, fui furtivamente até uma porta de quarto entreaberta.
— ... vocês tinham que falar comigo antes de trazer qualquer pessoa para cá! – Falou o garoto, ríspido.
Serena ficou em silêncio por uns instantes.
— Foram Clarisse e Gustavo que encontraram a garota. – Falou, finalmente. – É ela, , eu sinto que é ela. O nome dela é .
— Devem existir muitas garotas com esse nome.
— Não nessa região, e não nesse país. – Ela suspirou. – Dê uma chance a ela. Se não for a garota da profecia, pelo menos talvez a gente ganhe uma amiga.
— Amiga. – Debochou.
Decidi que já tinha ouvido mais do que deveria, e fui seguindo lentamente até onde Serena tinha pedido que eu ficasse. Quando me sentei, ela apareceu, parecendo bem arrependida.
— Peço desculpa pela má educação de . – Disse, com um semblante preocupado.
— Tudo bem. – Respondi.
Queria perguntar porque eles estavam me esperando, que profecia era aquela e do que estavam falando. Não tive a oportunidade de dizer nada, porque Serena afagou meu ombro gentilmente, me deixando sozinha no recinto com todas as minhas dúvidas.
Capítulo Três
Acordei com um silêncio absoluto. Geralmente despertava com Clarisse na cama ao lado, mas por algum motivo parecia que tinha levantado mais tarde do que o normal. Vesti uma das roupas limpas que Serena havia deixado para mim, pronta para investigar o motivo de o dia estar tão estranho. Mas só precisei chegar até a sala para descobrir a razão.
— Bom dia. – Sussurrei para o impetuoso rapaz que estava de costas para mim.
— Bom dia. – Respondeu, seco.
Era de se imaginar que depois de cinco dias ele já teria se acostumado com a minha presença, mas aparentemente não ia mesmo com a minha cara. Ele se esquivava de todas as minhas tentativas de aproximação e não respondia minhas perguntas diretamente. Além disso eu sempre o ouvia cochichar sobre mim com Serena e sentia que se não fosse por ela, eu já estaria lá fora, com os humanos ruins, pois não sentia nenhuma necessidade em me abrigar. De fato, ele havia mesmo questionado a Gustavo se ele sabia quando eu iria partir.
tinha mais ou menos um metro e oitenta de altura, e para idade terrestre eu daria a ele uns dezoito anos. Tinha uma barba rala, da qual ele cuidava todas as manhãs, um porte atlético e olhos profundos e escuros, circundados por grossas sobrancelhas, que poderiam intimidar até mesmo o Rei, meu pai.
Eu não sabia quanto tempo tinha naquela terra estranha e não queria ir embora dali se não fosse para ir direto para casa. Algo me dizia que esse estranho rude poderia me ajudar, se eu conseguisse vencer as barreiras que nos separavam.
— Onde está Serena? – Comecei.
— Saiu. – Respondeu, sem parar de fazer o que estava fazendo.
— E Clarisse?
— Saiu. Todo mundo saiu. Estamos sozinhos aqui.
Ele era realmente rude.
— Preciso de ajuda para voltar para casa. – Tentei novamente.
— Você deveria procurar uma delegacia. – Disse, simplesmente. Como se eu soubesse o que é uma delegacia.
— Eu não acho que eles possam me ajudar.
— Uma pena. – Lamentou. – Mais para mim do que para você.
— Se você não me ajudar, eu nunca vou embora daqui.
— Garanto que uma hora você vai embora sim. Todas vão. É só uma questão de tempo. – Falou, tão baixo que eu não sabia se era para eu ter ouvido.
Estava cansada de ficar em pé, mas descobri que melhorava a posição se eu transferisse meu peso de uma perna para outra. Não me lembrava de ter usado tanto as pernas na minha vida.
— Talvez você não precise me tratar assim, . – Tentei, quando ele não disse mais nada.
— Talvez eu goste. – Retrucou.
Bufei.
— Eu ouvi você perguntando a Gustavo quando eu iria embora. – Acusei, dessa vez fazendo ele se virar de frente para mim, provavelmente por que entreguei a tristeza e angústia na minha voz. Aproveitei a deixa e andei até ele, seu olhar não me deixando por um segundo.
— Certo. – Falou, voltando a mexer em uma grande máquina, um pouco menor que a TV.
— Você tem me tratado mal desde que cheguei, e não deveria.
— Tudo bem.
— No lugar de onde venho, você seria punido por isso. – Não resisti dizer.
— Tanto faz.
— Você não vai se defender?
Ele revirou os olhos.
— O orgulho do tolo é a...
— ... ferida dos inocentes. – Terminei a frase junto com ele, sem perceber.
de repente mudou sua expressão, me encarando com interesse, pela primeira vez em dias.
— Só existe um lugar onde você poderia ter aprendido isso. – Falou, seus olhos me encarando com confusão. – Diga-me, , de onde você é?
Dei uma risada, respirando fundo.
— Você me acharia louca se eu dissesse.
Então fez uma coisa que achei muito estranha. Ele segurou minha mão na sua. Meu sorriso morreu, e seus olhos pareciam mais desesperados do que nunca.
— Experimente.
Não. Não era desespero. Era esperança. Eu poderia me arrepender e ser jogada na rua de novo, mas algo em seu olhar me convenceu que era a coisa certa.
— Eu venho de uma terra que humanos desconhecem. – Comecei, testando sua expressão. – Um lugar onde a natureza é respeitada e seres místicos vivem em harmonia. Nós a chamamos de Wildflower.
Uma lágrima solitária escapou dos grandes olhos de , que se não bastasse meu choque a sua reação emocionada, resolveu também que seria uma boa ideia me abraçar. Eu nunca imaginaria um homem desse tamanho chorando assim, mas fazia parte da minha função, como portadora do Poder, curar quaisquer aflições.
Eu não sabia se o Poder funcionava tão longe da Metsäelämä, mas mesmo assim resolvi tentar. Fechei os olhos e me concentrei, me concentrando em varrer da alma de o que o afligia. Depois de uns minutos pareceu surtir efeito, mas não sabia dizer o que havia, de fato, consolado o rapaz: meu colo ou meu poder. Provavelmente nunca saberia.
— Mas como? – Questionei, quando ele se recompôs. – Como você sabe sobre esse lugar?
Era óbvio que ele sabia. Sua reação só mostrava que não só ele sabia, como parecia estar procurando por ele, incansavelmente.
— Você disse que os humanos desconhecem essa terra. – Ele explicou. – E está certa. Só que eu não sou humano.
De repente, tudo fez sentido.
— Você também é uma fada. – Contestei. – É por isso que não vejo sua aura. É por isso que está tão rancoroso. É claro! Tanto tempo sem a floresta devem ter te deixado péssimo.
— , eu estou exilado aqui há dez anos. – Confessou, os olhos tristes, varrendo para longe de mim toda minha esperança. – Eu estou aqui desde a Goblin-oorlog.
— Mas... já se passaram mais de trinta anos desde a Goblin-oorlog, . – Falei, lentamente.
O rapaz levantou-se da cadeira, andando em círculos pela sala. Eu preferi não dizer nada a ele sobre eu ser a princesa, nem as condições em que deixei Wildflower, mas ele precisava saber que estávamos sofrendo um ataque e que precisávamos voltar o quanto antes.
— , você era a resposta que estava faltando. Finalmente nós três poderemos ir para casa.
Encarei-o, confusa.
— Nós três?
— Serena. Serena é uma elfo mensageiro. Estava comigo no dia que fui exilado, por sorte caímos juntos.
Meu coração se aqueceu de repente.
— Isso significa que meus elfos estão vivos! – Falei, levando as mãos a boca. – Ah, que notícia maravilhosa!
— Finalmente, depois de tanto tempo... – Murmurou.
— , Wildflower está sob ataque. Temos que voltar o mais rápido possível.
Ele assentiu.
— No centro da cidade tem um livro. Encontrei um ancião há cinco anos atrás, que me deu a dica de como conseguiríamos voltar. Tem uma maneira muito específica de abrir esse livro. – Falou. – Não podemos ir ser Serena. Iremos atrás dele pela manhã!
E o resto do dia foi dedicado ao nosso plano de retorno para o nosso lar, que foi repassado para Serena assim que chegou. Gustavo e Clarisse eram humanos comuns, mas sabiam sobre Wildflower porque precisava de humanos para cobrir seu rastro. Ao contrário das fadas, duendes podiam viajar entre os mundos e ele temia estar sendo caçado. O cheiro humano dos gêmeos escondia Serena e há muitos anos.
Depois de discutirmos o plano, fui dormir relaxada e tive a melhor noite de sono desde que havia chegado a Terra.
— Bom dia. – Sussurrei para o impetuoso rapaz que estava de costas para mim.
— Bom dia. – Respondeu, seco.
Era de se imaginar que depois de cinco dias ele já teria se acostumado com a minha presença, mas aparentemente não ia mesmo com a minha cara. Ele se esquivava de todas as minhas tentativas de aproximação e não respondia minhas perguntas diretamente. Além disso eu sempre o ouvia cochichar sobre mim com Serena e sentia que se não fosse por ela, eu já estaria lá fora, com os humanos ruins, pois não sentia nenhuma necessidade em me abrigar. De fato, ele havia mesmo questionado a Gustavo se ele sabia quando eu iria partir.
tinha mais ou menos um metro e oitenta de altura, e para idade terrestre eu daria a ele uns dezoito anos. Tinha uma barba rala, da qual ele cuidava todas as manhãs, um porte atlético e olhos profundos e escuros, circundados por grossas sobrancelhas, que poderiam intimidar até mesmo o Rei, meu pai.
Eu não sabia quanto tempo tinha naquela terra estranha e não queria ir embora dali se não fosse para ir direto para casa. Algo me dizia que esse estranho rude poderia me ajudar, se eu conseguisse vencer as barreiras que nos separavam.
— Onde está Serena? – Comecei.
— Saiu. – Respondeu, sem parar de fazer o que estava fazendo.
— E Clarisse?
— Saiu. Todo mundo saiu. Estamos sozinhos aqui.
Ele era realmente rude.
— Preciso de ajuda para voltar para casa. – Tentei novamente.
— Você deveria procurar uma delegacia. – Disse, simplesmente. Como se eu soubesse o que é uma delegacia.
— Eu não acho que eles possam me ajudar.
— Uma pena. – Lamentou. – Mais para mim do que para você.
— Se você não me ajudar, eu nunca vou embora daqui.
— Garanto que uma hora você vai embora sim. Todas vão. É só uma questão de tempo. – Falou, tão baixo que eu não sabia se era para eu ter ouvido.
Estava cansada de ficar em pé, mas descobri que melhorava a posição se eu transferisse meu peso de uma perna para outra. Não me lembrava de ter usado tanto as pernas na minha vida.
— Talvez você não precise me tratar assim, . – Tentei, quando ele não disse mais nada.
— Talvez eu goste. – Retrucou.
Bufei.
— Eu ouvi você perguntando a Gustavo quando eu iria embora. – Acusei, dessa vez fazendo ele se virar de frente para mim, provavelmente por que entreguei a tristeza e angústia na minha voz. Aproveitei a deixa e andei até ele, seu olhar não me deixando por um segundo.
— Certo. – Falou, voltando a mexer em uma grande máquina, um pouco menor que a TV.
— Você tem me tratado mal desde que cheguei, e não deveria.
— Tudo bem.
— No lugar de onde venho, você seria punido por isso. – Não resisti dizer.
— Tanto faz.
— Você não vai se defender?
Ele revirou os olhos.
— O orgulho do tolo é a...
— ... ferida dos inocentes. – Terminei a frase junto com ele, sem perceber.
de repente mudou sua expressão, me encarando com interesse, pela primeira vez em dias.
— Só existe um lugar onde você poderia ter aprendido isso. – Falou, seus olhos me encarando com confusão. – Diga-me, , de onde você é?
Dei uma risada, respirando fundo.
— Você me acharia louca se eu dissesse.
Então fez uma coisa que achei muito estranha. Ele segurou minha mão na sua. Meu sorriso morreu, e seus olhos pareciam mais desesperados do que nunca.
— Experimente.
Não. Não era desespero. Era esperança. Eu poderia me arrepender e ser jogada na rua de novo, mas algo em seu olhar me convenceu que era a coisa certa.
— Eu venho de uma terra que humanos desconhecem. – Comecei, testando sua expressão. – Um lugar onde a natureza é respeitada e seres místicos vivem em harmonia. Nós a chamamos de Wildflower.
Uma lágrima solitária escapou dos grandes olhos de , que se não bastasse meu choque a sua reação emocionada, resolveu também que seria uma boa ideia me abraçar. Eu nunca imaginaria um homem desse tamanho chorando assim, mas fazia parte da minha função, como portadora do Poder, curar quaisquer aflições.
Eu não sabia se o Poder funcionava tão longe da Metsäelämä, mas mesmo assim resolvi tentar. Fechei os olhos e me concentrei, me concentrando em varrer da alma de o que o afligia. Depois de uns minutos pareceu surtir efeito, mas não sabia dizer o que havia, de fato, consolado o rapaz: meu colo ou meu poder. Provavelmente nunca saberia.
— Mas como? – Questionei, quando ele se recompôs. – Como você sabe sobre esse lugar?
Era óbvio que ele sabia. Sua reação só mostrava que não só ele sabia, como parecia estar procurando por ele, incansavelmente.
— Você disse que os humanos desconhecem essa terra. – Ele explicou. – E está certa. Só que eu não sou humano.
De repente, tudo fez sentido.
— Você também é uma fada. – Contestei. – É por isso que não vejo sua aura. É por isso que está tão rancoroso. É claro! Tanto tempo sem a floresta devem ter te deixado péssimo.
— , eu estou exilado aqui há dez anos. – Confessou, os olhos tristes, varrendo para longe de mim toda minha esperança. – Eu estou aqui desde a Goblin-oorlog.
— Mas... já se passaram mais de trinta anos desde a Goblin-oorlog, . – Falei, lentamente.
O rapaz levantou-se da cadeira, andando em círculos pela sala. Eu preferi não dizer nada a ele sobre eu ser a princesa, nem as condições em que deixei Wildflower, mas ele precisava saber que estávamos sofrendo um ataque e que precisávamos voltar o quanto antes.
— , você era a resposta que estava faltando. Finalmente nós três poderemos ir para casa.
Encarei-o, confusa.
— Nós três?
— Serena. Serena é uma elfo mensageiro. Estava comigo no dia que fui exilado, por sorte caímos juntos.
Meu coração se aqueceu de repente.
— Isso significa que meus elfos estão vivos! – Falei, levando as mãos a boca. – Ah, que notícia maravilhosa!
— Finalmente, depois de tanto tempo... – Murmurou.
— , Wildflower está sob ataque. Temos que voltar o mais rápido possível.
Ele assentiu.
— No centro da cidade tem um livro. Encontrei um ancião há cinco anos atrás, que me deu a dica de como conseguiríamos voltar. Tem uma maneira muito específica de abrir esse livro. – Falou. – Não podemos ir ser Serena. Iremos atrás dele pela manhã!
E o resto do dia foi dedicado ao nosso plano de retorno para o nosso lar, que foi repassado para Serena assim que chegou. Gustavo e Clarisse eram humanos comuns, mas sabiam sobre Wildflower porque precisava de humanos para cobrir seu rastro. Ao contrário das fadas, duendes podiam viajar entre os mundos e ele temia estar sendo caçado. O cheiro humano dos gêmeos escondia Serena e há muitos anos.
Depois de discutirmos o plano, fui dormir relaxada e tive a melhor noite de sono desde que havia chegado a Terra.
Capítulo Quatro
e Serena me levaram para um sebo sujo e antigo no centro de São Paulo. O dono, um antigo ancião, era um dos protetores do poder místico e por isso tinha guardado consigo os segredos que não podia contar para o resto do mundo. Depois de identificar nós três como reais habitantes de Wildflower, o senhor permitiu que andássemos até os fundos do sebo e após apertar em um botão, uma estante foi para trás, revelando uma escada secreta fora dos olhares desatentos dos poucos humanos que andavam por ali. A escada, tão velha quanto todo o resto, rangia um pouco quando descemos por ela, e depois de cada um ligar sua lanterna. encontrou um jeito de acender a luz ali embaixo.
Estávamos em uma grande biblioteca subterrânea, que um dia provavelmente já teve sua glória. Todos os volumes estavam cobertos de pó e teia de aranha, mas parecia saber exatamente para onde ir.
— Esperem aqui. – Pediu, para Serena e para mim, pegando sua lanterna e sumindo na parte mais escura do ambiente.
O rapaz voltou minutos depois, com uma expressão de descontentamento.
— O que houve? – Questionou Serena.
— Nada. Ainda não vejo nada.
— O que deveria ver? – Perguntei, olhando para eles sem entender.
— Uma profecia dizia que depois de encontrarmos uma a o livro da vida seria revelado. – Resumiu Serena.
Enquanto ela me explicava, um brilho azul emergiu na escuridão de onde tinha saído. Era um brilho bonito, porém espectral ao mesmo tempo. Mesmo assim não senti medo dele.
— , deixou sua lanterna ali? – Quis saber, interrompendo a teoria dos féericos.
— Não. – Respondeu, me mostrando sua lanterna.
— Não estão vendo aquele brilho?
Os dois encararam onde eu apontava.
— Não. – Responderam juntos.
Sorri para ele.
— Então eu acho que sou a a certa. – Murmurei, seguindo a luz azul com toda coragem que eu ainda tinha.
Conforme fui chegando mais perto, percebi que a fonte da luz não era o corredor em si, e sim um livro. A capa dele dizia que era o mesmo que estava procurando, e com a ajuda dele conseguimos tirá-lo da prateleira. O acúmulo de pó me fez tossir quando eu o segurei, e assim que sua capa encontrou a ponta dos meus dedos o brilho se extinguiu. Fui guiada de volta para a pequena sala com as lanternas de Serena e .
— Eu passei cinco anos nessa biblioteca e nunca vi esse livro. – Murmurou, encantado, encarando a capa antiga e empoeirada. A capa era azul com o título em dourado, e quando abrimos percebemos que ele tinha sido feito a mão, com tinta.
— É muito velho. – Exclamei, fazendo Serena dar uma risadinha.
— Provavelmente. – Concordou, dando uma espiada. – Vamos, , alguma coisa sobre ir para Wildflower?
examinava página por página minuciosamente, deixando Serena e eu cada vez mais ansiosas, por isso ficamos mais afastadas para não o atrapalhar.
— Então é isso que ele fazia em suas viagens. – Perguntei a Serena. – Ele estava tentando voltar.
Serena concordou.
— Ele sempre tentou voltar, desde o seu primeiro dia aqui. E ele era apenas uma criança para os padrões humanos.
— E você? – Questionei. – Envelheceu?
Serena sorriu.
— Eu não envelheci nada desde que cheguei. – Contou. – No começo eu me passava pela mãe dele para que não precisasse me retratar com as autoridades.
— Tem isso aqui?
— Ah, tem. Eles são muito rigorosos. – Ela olhou para de um jeito muito maternal, e fiquei me perguntando quem era na sociedade antes de ser mandado para cá visto que ele tinha, aparentemente, um elfo mensageiro particular. – Mudamos muito de cidade. Fomos atacados por duendes algumas vezes. Isso parou quando adotamos Clarisse e Gustavo, de qualquer forma. – Acrescentou, dado a minha evidente expressão de pânico.
— Certo.
— Não se preocupe. – Consolou. – Você passou tempo o suficiente com os gêmeos. Acho que nosso rastro está coberto.
Suspirei, um pouco mais aliviada.
— Achei! – Gritou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.
Sorrindo, Serena e eu voltamos até onde ele estava, com o livro aberto quase na metade.
— Não vai ser fácil. – Começou. – Mas é para valer.
— O que precisamos fazer? – Serena era sem dúvida muito corajosa, ainda mais para um elfo mensageiro.
— Precisamos viajar para o interior de Minas Gerais, uma cidade chamada Capitólio. A caverna que procuramos fica próxima ao poço dourado. Essa caverna nos levará para casa.
Eu o encarei confusa.
— Isso não parece difícil.
me encarou com deboche.
— Essa era a parte fácil. – Comentou, voltando a ler o manuscrito. – Para dar certo, precisamos estar na caverna no primeiro dia de lua azul, portando em mãos a Pedra da Vida.
— É, parece mais complicado que antes. – Murmurou Serena.
— E é. – Completei. – Suponho que não temos essa pedra, temos?
olhou para baixo.
— Não. Além disso, Capitólio fica há seis horas daqui e a próxima lua azul acontece hoje a noite.
— O que isso significa, ?
Ele fez uma careta.
— Significa que temos aproximadamente duas horas para acharmos essa pedra e pegarmos o ônibus. Caso contrário teremos que tentar novamente no próximo ciclo da lua azul, que só vai acontecer novamente daqui... dois anos.
— Não podemos esperar tanto tempo. – Resmunguei, me lembrando da informação que havia me passado. – Parece que o tempo passa mais rápido em Wildflower.
— Temos alguma informação de como iremos recuperar essa pedra? – Serena perguntou, a face preocupada.
gemeu.
— Não, nada.
Mas havia uma dica.
— Mostre-me o desenho dessa pedra. – Pedi.
deu espaço para que eu encarasse o desenho no livro. Era exatamente a mesma, a pedra azul com veias arroxeadas. Eu não sabia onde ela estava, mas agora tinha certeza de que pelo menos se encontrava nesse mundo.
— Eu não sei onde está a pedra, mas talvez esteja aqui, nessa cidade. Talvez perto de casa.
Serena e se encararam.
— Como sabe?
— Porque eu acho que essa pedra veio para cá comigo. Usaram a pedra para entoar um cântico e me deixar sem poderes e quando atravessei a barreira, a pedra veio junto.
de repente folheou o livro com mais intensidade, sorrindo quando encontrou o que procurava.
— É claro! – Murmurou. – Ela pertence a esse mundo, para o cântico funcionar precisava voltar ao seu local de origem. Eu sei onde ela está.
Sem perder tempo, Serena e eu seguimos para as escadas novamente. Agradecemos ao ancião e uma vez na rua precisei adaptar meus olhos a claridade, já que tínhamos passado muito tempo no escuro. escondeu o livro na mochila, nos guiando para uma grande praça. No centro da praça, uma imensa catedral se resplandecia. Era uma imponente construção, com um estilo neogótico e majestoso. Na fachada era possível contemplar um portal principal encimado por uma grande rosácea e duas torres altas flanqueavam a fachada. Mesmo que nunca tivesse visto uma catedral antes, eu sabia para o que serviam, é claro. Em Wildflower éramos ensinado sobre línguas e religiões de todos os mundos.
Conseguimos entrar no interior da igreja. Serena parecia cansada de tanto correr, mas pelo menos entendia que o nosso tempo era curto. Notei a existência de um órgão, instrumento a muito abandonado nos palácios reais de Wildflower, mas corria tanto que foi impossível observar de mais perto. Descemos mais escadas, nos deparando com o que eu sabia que era uma cripta. Era bonita e de forma nenhuma horripilante, e torci para aquele ser o local de origem da pedra.
— Liguem a lanterna. – Pediu , chegando próximo ao final da parede que estava mais próxima a escada.
Ele moveu uma estátua, que revelou outro cômodo. Mais uma passagem secreta. O interior era escuro, úmido e cheirava esquisito. Escutei o gotejar de alguma coisa pingando ao longe e desejei imensamente retornar a tranquilidade e claridade da cripta. Engolindo em seco, encarei Serena e nós duas seguimos , que parecia hesitante com algo.
— Tem alguma coisa errada. – Observou, lançando sua lanterna ao redor de si mesmo.
Quando ele iluminou o caminho que precisávamos seguir, percebi que não estávamos em uma sala e sim algo que parecia uma caverna. Aparentemente era o subsolo da cidade, exatamente igual ao sebo. Me perguntei quão ignorantes humanos precisavam ser para desconhecer esses lugares sob os quais eles pisavam todos os dias.
— Eles nos acharam. – Sussurrou Serena.
Mordi o interior das bochechas.
— É culpa minha. – Respondi. – Meu cheiro deve os ter nos localizado. Eu sinto muito.
— Não é culpa sua, . – Disse com a voz carregada de consolo. – Vamos por ali. – Orientou, apontando para a nossa direita.
Mas não era o caminho certo. E eu sabia disso porque assim que ele proferiu a ordem, eu senti a pedra. Mais do que isso, foi possível ver um imenso brilho azul, exatamente igual ao da biblioteca.
— Vocês confiam em mim? – Questionei, já sabendo que eles não estavam vendo o brilho.
— Confio. – Disse Serena, imediatamente.
— Desliguem as lanternas e não façam barulho. – Pedi, desligando minha própria lanterna. – Vocês não estão vendo, mas eu vejo. Vou guiar vocês.
— Encontrou a pedra?
Mesmo que ele não pudesse ver minha expressão por conta da escuridão, sorri para ele.
— Sim. – Sussurrei. – Vamos para a esquerda. Cada um segura em um dos meus braços.
E assim o fizeram. Andamos devagar e em silêncio por toda a extensão da caverna pelo que pareceu vinte minutos, atentos a qualquer tipo de som estranho que nos denunciasse. Eu não sabia se haveriam duendes protegendo a pedra, até mesmo porque eles tinham a posse dela antes, então seriam capazes de guardarem a mesma. Principalmente se descobrissem, finalmente, como eliminar o poder de uma princesa.
Conforme me aproximava da pedra, mais forte o brilho ficava. Quando cheguei perto o suficiente para tocar nela, vi que estava encaixada na parede e que alguma coisa estava pingando água ali por perto: a pedra estava molhada.
— Chegamos. – Falei, soltando a mão deles do meu braço. – Se acontecer a mesma coisa de quando eu encostei no livro, o brilho irá sumir imediatamente. Fiquem com as lanternas a postos.
Mas não foi o que aconteceu. Ao invés de parar de brilhar, como eu pensei que ocorreria, a pedra brilhou ainda mais quando encostei nela e pelos olhares de e Serena, supus que eles estavam vendo também. Já ia dizendo para irmos embora dali, quando mais de uma sombra começou a convergir em nossa direção.
— Eu disse que ela ia conseguir voltar. – Exclamou um duende.
— Mas nós somos mais espertos! – Disse o outro.
Sendo guiada apenas pela luz da pedra era impossível ver quantos tinham e da onde vinham.
— Corram! – Gritei, protegendo a pedra com meu próprio corpo.
Nós três corremos, mas eles ainda eram rápidos. O corredor era longo e Serena já estava cansada. Se ela estivesse certa sobre nunca ter envelhecido, em Wildflower ela já seria uma elfo anciã.
— Serena! – Gritou , fazendo com que eu parasse de correr devido ao desespero em sua voz.
A elfo jazia no chão, e a cada segundo os duendes estavam mais perto de chegar até nós. Eles gritavam e incentivavam uns aos outros e temi que não fosse sair viva daquele lugar.
Serena se levantou, as lágrimas vertendo em seu belo rosto.
— Corram. Corram! – Gritou, ainda fraca. – Eu vou atrasá-los!
— Não! – Gritamos e eu ao mesmo tempo.
Tentei voltar para onde ela estava, mas a pedra parava de brilhar se eu virasse ela na direção oposta. alcançou Serena, colocando-a sob o ombro. Ele também tentou, mas dava para ver que o esforço o deixava mais lento.
Serena caiu no chão, para o desespero de um em pânico, mas conseguiu se levantar, olhando para onde os duendes vinham, furiosos.
Com o brilho da pedra, consegui ver os olhos de desespero de quando percebeu o que Serena iria fazer.
— Eu jurei, e eu faço tudo pelo bem da Metsäelämä. – Sussurrou ela, fazendo nosso símbolo sagrado para e para mim. – Como guardiã do príncipe das fadas, eu ordeno sua partida, . – Formalizou fraca, empurrando para mim.
Serena andou fraca em direção aos duendes que ainda vinham, e muito hesitante virou-se de frente para mim, as feições duras. Alcançamos a escada e corremos, não sem antes ouvir o grito estarrecedor e agonizante do sacrifício de Serena que, eu tinha certeza, jamais seria esquecido.
Estávamos em uma grande biblioteca subterrânea, que um dia provavelmente já teve sua glória. Todos os volumes estavam cobertos de pó e teia de aranha, mas parecia saber exatamente para onde ir.
— Esperem aqui. – Pediu, para Serena e para mim, pegando sua lanterna e sumindo na parte mais escura do ambiente.
O rapaz voltou minutos depois, com uma expressão de descontentamento.
— O que houve? – Questionou Serena.
— Nada. Ainda não vejo nada.
— O que deveria ver? – Perguntei, olhando para eles sem entender.
— Uma profecia dizia que depois de encontrarmos uma a o livro da vida seria revelado. – Resumiu Serena.
Enquanto ela me explicava, um brilho azul emergiu na escuridão de onde tinha saído. Era um brilho bonito, porém espectral ao mesmo tempo. Mesmo assim não senti medo dele.
— , deixou sua lanterna ali? – Quis saber, interrompendo a teoria dos féericos.
— Não. – Respondeu, me mostrando sua lanterna.
— Não estão vendo aquele brilho?
Os dois encararam onde eu apontava.
— Não. – Responderam juntos.
Sorri para ele.
— Então eu acho que sou a a certa. – Murmurei, seguindo a luz azul com toda coragem que eu ainda tinha.
Conforme fui chegando mais perto, percebi que a fonte da luz não era o corredor em si, e sim um livro. A capa dele dizia que era o mesmo que estava procurando, e com a ajuda dele conseguimos tirá-lo da prateleira. O acúmulo de pó me fez tossir quando eu o segurei, e assim que sua capa encontrou a ponta dos meus dedos o brilho se extinguiu. Fui guiada de volta para a pequena sala com as lanternas de Serena e .
— Eu passei cinco anos nessa biblioteca e nunca vi esse livro. – Murmurou, encantado, encarando a capa antiga e empoeirada. A capa era azul com o título em dourado, e quando abrimos percebemos que ele tinha sido feito a mão, com tinta.
— É muito velho. – Exclamei, fazendo Serena dar uma risadinha.
— Provavelmente. – Concordou, dando uma espiada. – Vamos, , alguma coisa sobre ir para Wildflower?
examinava página por página minuciosamente, deixando Serena e eu cada vez mais ansiosas, por isso ficamos mais afastadas para não o atrapalhar.
— Então é isso que ele fazia em suas viagens. – Perguntei a Serena. – Ele estava tentando voltar.
Serena concordou.
— Ele sempre tentou voltar, desde o seu primeiro dia aqui. E ele era apenas uma criança para os padrões humanos.
— E você? – Questionei. – Envelheceu?
Serena sorriu.
— Eu não envelheci nada desde que cheguei. – Contou. – No começo eu me passava pela mãe dele para que não precisasse me retratar com as autoridades.
— Tem isso aqui?
— Ah, tem. Eles são muito rigorosos. – Ela olhou para de um jeito muito maternal, e fiquei me perguntando quem era na sociedade antes de ser mandado para cá visto que ele tinha, aparentemente, um elfo mensageiro particular. – Mudamos muito de cidade. Fomos atacados por duendes algumas vezes. Isso parou quando adotamos Clarisse e Gustavo, de qualquer forma. – Acrescentou, dado a minha evidente expressão de pânico.
— Certo.
— Não se preocupe. – Consolou. – Você passou tempo o suficiente com os gêmeos. Acho que nosso rastro está coberto.
Suspirei, um pouco mais aliviada.
— Achei! – Gritou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.
Sorrindo, Serena e eu voltamos até onde ele estava, com o livro aberto quase na metade.
— Não vai ser fácil. – Começou. – Mas é para valer.
— O que precisamos fazer? – Serena era sem dúvida muito corajosa, ainda mais para um elfo mensageiro.
— Precisamos viajar para o interior de Minas Gerais, uma cidade chamada Capitólio. A caverna que procuramos fica próxima ao poço dourado. Essa caverna nos levará para casa.
Eu o encarei confusa.
— Isso não parece difícil.
me encarou com deboche.
— Essa era a parte fácil. – Comentou, voltando a ler o manuscrito. – Para dar certo, precisamos estar na caverna no primeiro dia de lua azul, portando em mãos a Pedra da Vida.
— É, parece mais complicado que antes. – Murmurou Serena.
— E é. – Completei. – Suponho que não temos essa pedra, temos?
olhou para baixo.
— Não. Além disso, Capitólio fica há seis horas daqui e a próxima lua azul acontece hoje a noite.
— O que isso significa, ?
Ele fez uma careta.
— Significa que temos aproximadamente duas horas para acharmos essa pedra e pegarmos o ônibus. Caso contrário teremos que tentar novamente no próximo ciclo da lua azul, que só vai acontecer novamente daqui... dois anos.
— Não podemos esperar tanto tempo. – Resmunguei, me lembrando da informação que havia me passado. – Parece que o tempo passa mais rápido em Wildflower.
— Temos alguma informação de como iremos recuperar essa pedra? – Serena perguntou, a face preocupada.
gemeu.
— Não, nada.
Mas havia uma dica.
— Mostre-me o desenho dessa pedra. – Pedi.
deu espaço para que eu encarasse o desenho no livro. Era exatamente a mesma, a pedra azul com veias arroxeadas. Eu não sabia onde ela estava, mas agora tinha certeza de que pelo menos se encontrava nesse mundo.
— Eu não sei onde está a pedra, mas talvez esteja aqui, nessa cidade. Talvez perto de casa.
Serena e se encararam.
— Como sabe?
— Porque eu acho que essa pedra veio para cá comigo. Usaram a pedra para entoar um cântico e me deixar sem poderes e quando atravessei a barreira, a pedra veio junto.
de repente folheou o livro com mais intensidade, sorrindo quando encontrou o que procurava.
— É claro! – Murmurou. – Ela pertence a esse mundo, para o cântico funcionar precisava voltar ao seu local de origem. Eu sei onde ela está.
Sem perder tempo, Serena e eu seguimos para as escadas novamente. Agradecemos ao ancião e uma vez na rua precisei adaptar meus olhos a claridade, já que tínhamos passado muito tempo no escuro. escondeu o livro na mochila, nos guiando para uma grande praça. No centro da praça, uma imensa catedral se resplandecia. Era uma imponente construção, com um estilo neogótico e majestoso. Na fachada era possível contemplar um portal principal encimado por uma grande rosácea e duas torres altas flanqueavam a fachada. Mesmo que nunca tivesse visto uma catedral antes, eu sabia para o que serviam, é claro. Em Wildflower éramos ensinado sobre línguas e religiões de todos os mundos.
Conseguimos entrar no interior da igreja. Serena parecia cansada de tanto correr, mas pelo menos entendia que o nosso tempo era curto. Notei a existência de um órgão, instrumento a muito abandonado nos palácios reais de Wildflower, mas corria tanto que foi impossível observar de mais perto. Descemos mais escadas, nos deparando com o que eu sabia que era uma cripta. Era bonita e de forma nenhuma horripilante, e torci para aquele ser o local de origem da pedra.
— Liguem a lanterna. – Pediu , chegando próximo ao final da parede que estava mais próxima a escada.
Ele moveu uma estátua, que revelou outro cômodo. Mais uma passagem secreta. O interior era escuro, úmido e cheirava esquisito. Escutei o gotejar de alguma coisa pingando ao longe e desejei imensamente retornar a tranquilidade e claridade da cripta. Engolindo em seco, encarei Serena e nós duas seguimos , que parecia hesitante com algo.
— Tem alguma coisa errada. – Observou, lançando sua lanterna ao redor de si mesmo.
Quando ele iluminou o caminho que precisávamos seguir, percebi que não estávamos em uma sala e sim algo que parecia uma caverna. Aparentemente era o subsolo da cidade, exatamente igual ao sebo. Me perguntei quão ignorantes humanos precisavam ser para desconhecer esses lugares sob os quais eles pisavam todos os dias.
— Eles nos acharam. – Sussurrou Serena.
Mordi o interior das bochechas.
— É culpa minha. – Respondi. – Meu cheiro deve os ter nos localizado. Eu sinto muito.
— Não é culpa sua, . – Disse com a voz carregada de consolo. – Vamos por ali. – Orientou, apontando para a nossa direita.
Mas não era o caminho certo. E eu sabia disso porque assim que ele proferiu a ordem, eu senti a pedra. Mais do que isso, foi possível ver um imenso brilho azul, exatamente igual ao da biblioteca.
— Vocês confiam em mim? – Questionei, já sabendo que eles não estavam vendo o brilho.
— Confio. – Disse Serena, imediatamente.
— Desliguem as lanternas e não façam barulho. – Pedi, desligando minha própria lanterna. – Vocês não estão vendo, mas eu vejo. Vou guiar vocês.
— Encontrou a pedra?
Mesmo que ele não pudesse ver minha expressão por conta da escuridão, sorri para ele.
— Sim. – Sussurrei. – Vamos para a esquerda. Cada um segura em um dos meus braços.
E assim o fizeram. Andamos devagar e em silêncio por toda a extensão da caverna pelo que pareceu vinte minutos, atentos a qualquer tipo de som estranho que nos denunciasse. Eu não sabia se haveriam duendes protegendo a pedra, até mesmo porque eles tinham a posse dela antes, então seriam capazes de guardarem a mesma. Principalmente se descobrissem, finalmente, como eliminar o poder de uma princesa.
Conforme me aproximava da pedra, mais forte o brilho ficava. Quando cheguei perto o suficiente para tocar nela, vi que estava encaixada na parede e que alguma coisa estava pingando água ali por perto: a pedra estava molhada.
— Chegamos. – Falei, soltando a mão deles do meu braço. – Se acontecer a mesma coisa de quando eu encostei no livro, o brilho irá sumir imediatamente. Fiquem com as lanternas a postos.
Mas não foi o que aconteceu. Ao invés de parar de brilhar, como eu pensei que ocorreria, a pedra brilhou ainda mais quando encostei nela e pelos olhares de e Serena, supus que eles estavam vendo também. Já ia dizendo para irmos embora dali, quando mais de uma sombra começou a convergir em nossa direção.
— Eu disse que ela ia conseguir voltar. – Exclamou um duende.
— Mas nós somos mais espertos! – Disse o outro.
Sendo guiada apenas pela luz da pedra era impossível ver quantos tinham e da onde vinham.
— Corram! – Gritei, protegendo a pedra com meu próprio corpo.
Nós três corremos, mas eles ainda eram rápidos. O corredor era longo e Serena já estava cansada. Se ela estivesse certa sobre nunca ter envelhecido, em Wildflower ela já seria uma elfo anciã.
— Serena! – Gritou , fazendo com que eu parasse de correr devido ao desespero em sua voz.
A elfo jazia no chão, e a cada segundo os duendes estavam mais perto de chegar até nós. Eles gritavam e incentivavam uns aos outros e temi que não fosse sair viva daquele lugar.
Serena se levantou, as lágrimas vertendo em seu belo rosto.
— Corram. Corram! – Gritou, ainda fraca. – Eu vou atrasá-los!
— Não! – Gritamos e eu ao mesmo tempo.
Tentei voltar para onde ela estava, mas a pedra parava de brilhar se eu virasse ela na direção oposta. alcançou Serena, colocando-a sob o ombro. Ele também tentou, mas dava para ver que o esforço o deixava mais lento.
Serena caiu no chão, para o desespero de um em pânico, mas conseguiu se levantar, olhando para onde os duendes vinham, furiosos.
Com o brilho da pedra, consegui ver os olhos de desespero de quando percebeu o que Serena iria fazer.
— Eu jurei, e eu faço tudo pelo bem da Metsäelämä. – Sussurrou ela, fazendo nosso símbolo sagrado para e para mim. – Como guardiã do príncipe das fadas, eu ordeno sua partida, . – Formalizou fraca, empurrando para mim.
Serena andou fraca em direção aos duendes que ainda vinham, e muito hesitante virou-se de frente para mim, as feições duras. Alcançamos a escada e corremos, não sem antes ouvir o grito estarrecedor e agonizante do sacrifício de Serena que, eu tinha certeza, jamais seria esquecido.
Capítulo Cinco
havia passado a última hora sem dizer absolutamente nada. Eu sabia que ele estava triste, então preferi não quebrar o silêncio. Também preferi não dizer nada sobre ele ser príncipe, o que não fazia o menor sentido. Em todo caso, Kara era minha guardiã desde que nasci e eu ficaria desolada se ela partisse ou exigisse que eu fosse embora, mesmo se fosse para salvar a minha vida.
Encontramos Clarisse no caminho, que entregou a um papel. Também ficou sentida quando descobriu sobre a morte de Serena e mais ainda depois que explicou que provavelmente não voltaria para casa. Desejou boa sorte para nós e mesmo eu, que convivi tão pouco com ela, agradeci a oportunidade de conhecer uma humana tão gentil naquele antro de maldade que era a Terra.
Depois de nos despedirmos, e eu chegamos a um local sujo e com muitos ônibus, como ele me explicou depois. Era ali que pegaríamos nossa carona para a caverna que nos levaria de volta para casa.
Uma vez dentro do ônibus, não havia muito o que fazer a não ser esperar chegar. Ele ainda estava quieto e brincava com o papel que Clarisse tinha entregado a ele.
— O que é isso?
Ele pareceu ter saído de um transe, olhando para mim com os olhos cansados.
— É um documento. Sem ele você não poderia ter viajado. É falso, claro. – Murmurou, me entregando o papel verde e ligeiramente amassado. Havia uma foto minha e ao lado dela o papel de aspecto oficial dizia que eu me chamava Maria Ana Garcia.
— Que nome original. – Brinquei. deu um sorriso mínimo, guardando o documento de volta em seu bolso.
Ele ficou em silêncio novamente.
— , sobre o que a Serena disse...
— O que?
— Príncipe das fadas? – Questionei.
Ele se arrumou na cadeira, suspirando antes de falar.
— Atravessei uma árvore estranha quando Serena e eu fugíamos de duendes durante a guerra. O castelo foi atacado e não estávamos seguros. O Rei, meu pai, pediu que Serena me levasse para um local protegido na Floresta da Vida, mas nunca conseguimos chegar lá. Em um momento estava na Metsäelämä e quando ultrapassei essa árvore estava aqui, na Terra.
Arregalei os olhos.
— ! Você é o príncipe perdido!
— Eu já tenho esse nome por lá? – Riu, ainda chateado. – Como estão meus pais?
Como eu daria a ele a notícia de que os pais abdicaram o trono e nunca mais foram vistos? Como dizer a ele que eu era a herdeira do trono e tudo que um dia foi dele por direito já não existia mais? Como poderia fazer isso tendo acabado de perder alguém que ele amava?
— ... muitos anos se passaram em Wildflower. – Tentei, calma. – Sem herdeiro, seus pais precisaram abdicar o trono.
suspirou, derrotado.
— O importante é que estou voltando. Esse lugar nunca me fez bem.
Curiosa, resolvi continuar minha investigação.
— Se era criança quando chegou aqui... como conseguiu se manter?
As bochechas do rapaz se enrubesceram.
— Sou um príncipe, . Eu tenho poderes, lembra-se? – Questionou. – Eu... eu consigo prever o futuro. Fragmento. Pequenas partes. Acontece que aqui é um dom bem útil. Consegui muito dinheiro com isso.
Não podia falar de poderes com ele sem mencionar os meus próprios e se o fizesse, minha identidade seria revelada. Eu não gostava de pensar que ele faria isso, mas eu conhecia não havia uma semana completa, como poderia saber que ele não me deixaria aqui sozinha apenas para recuperar seu título?
— Você não consultou nenhum ancião. – Acusei. – Você previu que eu chegaria.
— Eu previ muitas coisas. Mas ao longo dos anos foram tantas garotas perdidas erradas que perdi a esperança. Elas chegavam sem memória, mas depois se lembravam e iam embora. E nenhuma conhecia Wildflower. – Suspirou profundamente. – Penso que eram duendes me enviando garotas aleatórias para mostrarem que estavam de olho em mim. Nos mudávamos sempre que isso acontecia, até que me cansei disso.
— Por isso me tratou tão mal quando nos conhecemos.
Ele sorriu.
— Me desculpe por isso.
— Está tudo bem. Estamos a caminho de casa agora.
Viajamos por horas naquele espaço apertado, e depois de algumas horas o ônibus parou, o que denunciou que tínhamos chegado a cidade. Como a lua ainda não estava no céu, determinou que nossa jornada havia sido um sucesso e resolveu deixar sua herança para os gêmeos. Eu não entendia nada do dinheiro dos humanos, mas ele frisou que era uma boa quantia para se manterem por um tempo.
— Mais uma coisa que não contei. – Disse ele, quando saímos do veículo.
— O que?
— Aparentemente, o Poço Dourado é um lugar turístico.
— O que isso significa?
Ele demorou um pouco para responder.
— Que vai estar cheio de gente.
Saímos da rodoviária e entramos em um grande local, repleto de veículos brancos. Segui até um desses carros, que era dirigido por um humano careca de óculos escuros, ainda que não tivesse mais luz do dia.
informou o nosso destino ao homem, que nos levou até o local tranquilamente. Como havia prometido, tinham mesmo muitas pessoas, mas como se tratava do final do dia, muitos já estavam indo embora, então foi seguro nos misturar a multidão.
Encontramos um canto deserto, onde achou discreto o bastante para retirar o livro da mochila. Abriu o manuscrito com cuidado na página com as instruções.
— Temos que ir para mais perto da cachoeira. – Explicou, apontando em algum lugar atrás de mim. – A entrada da caverna está logo atrás dela.
Ele guardou o livro novamente, me puxando pela mão. Seguimos pela trilha escura, sem poder ligar a lanterna, até encontrarmos um riacho, que banhava pedras lisas e escorregadias. Quando já não era mais possível caminhar por terra, precisamos nos equilibrar juntos para vencermos a distância das pedras lisas até a cachoeira. Encontramos uma árvore do outro lado, e como o céu ainda estava com uma lua branca normal, nos sentamos embaixo dela para aguardar o momento.
Não precisamos aguardar muito. Poucos minutos depois, a pedra dentro da mochila de começou a brilhar. Nos encaramos rapidamente, até ele retirar a pedra de onde estava. Para a nossa surpresa, a lua imediatamente ficou azul, refletindo sua luz azul brilhante, por fim, na cortina de água que caia da cachoeira. Ficamos encantados por alguns instantes, encarando com fascinação a grande queda d’agua que se abria, como se fosse, de fato, uma cortina.
— Olha! – Exclamei, quando vi uma entrada na pedra atrás da cachoeira.
sorriu.
— Nós conseguimos!
Sorri para ele de volta, e nos embrumamos para passarmos pelas pedras novamente. A escuridão não mais incomodava, uma vez que a luz azul da lua nos guiava até a caverna que passou metade da vida procurando.
Alguns tropeços depois, conseguimos pisar no chão da caverna. E tão de repente quanto havia começado, a luz se apagou.
— Pegue, toma. – Ofereceu , me oferecendo uma lanterna.
Ligamos os objetos para nos localizarmos dentro. Andamos em linha reta pelo que pareceram minutos, e em algum momento durante a caminhada, a lanterna de perdeu sua força. Continuamos a andar sendo guiados apenas por um faixo de luz, quando uns minutos depois, nos encontramos totalmente no escuro. Não sem antes nos depararmos com uma bifurcação e não termos nenhuma ideia de qual era a saída. Estávamos sem luz e não conseguíamos nem mesmo ler o Livro da Vida, quanto mais saber para onde ir.
— Vamos ter que chutar. – Falou .
— Ou cada um pode ir por um caminho. – Sugeri. – Ambos teríamos cinquenta por cento de chance de chegar em casa.
Ele colocou a mão no meu ombro.
— A essa altura do campeonato, acho que só conseguimos fazer isso se continuarmos juntos.
Suspirei.
— Acho que você tem razão.
Resolvi tirar a Pedra da Vida do bolso, e para minha surpresa, ela ainda brilhava.
— , olha!
Eu conseguia ver sua face, e dava para notar que ele ainda não estava enxergando nada.
— Eu não vejo.
Levantei a pedra sob a minha cabeça para que ela pudesse iluminar o local correto. Apenas o lado direito brilhou de volta e eu sorri, sabendo que era o lado certo.
— Vem! – Pedi, puxando ele pela mão.
— Quem te nomeou líder? – Resmungou, não tendo opção a não ser me seguir.
— A culpa não é minha se só eu vejo a luz! – Retruquei.
revirou os olhos.
— E eu vi isso.
Quando chegamos mais ou menos na metade da caverna, notei que possuía uma relva verde e limpa, adornada por várias flores silvestres que recebiam felizes a luz azul que visitava. No momento que as flores tremeluziram e se reverenciaram, eu soube que estava em casa.
— Nós conseguimos mesmo. – Sussurrou , encarando as flores e a grama, fazendo com que eu descobrisse que agora ele estava vendo tudo.
Eu sentia, de alguma forma, que nós tínhamos atravessado alguma barreira que nos trouxe para casa. Eu estava em Wildflower.
Sorrimos um para o outro, vendo uma luz clara e natural no final da caverna. Corremos em direção a ela, sendo recebidos com muitas felicitações das flores que acampavam do lado de dentro da caverna.
Quando saímos do local, respirei fundo, encontrando um ar limpo e calmo. Para minha completa alegria, Metsäelämä estava aparentemente inteira, pelo menos até onde minha vista alcançava. No chão aos meus pés, as flores silvestres se curvavam, prendendo suas gavinhas em mim como uma forma de abraço.
Olhei para trás e notei me olhando de maneira suspeita.
— , o que aconteceu? – Questionei, notando a aparência abatida do monarca.
— Seu nome é . – Acusou, os olhos frios de repente. – Você disse que eu era vazio quando nos conhecemos. Você vê auras, é sensitiva. Mencionou que os duendes usaram essa pedra para retirar seu poder. – Continuou, dando voltas ao redor de mim, conforme eu encolhia. – Disse que eu seria punido por te tratar mal no lugar de onde vinha. Conhecia um ditado real, que não é tão popular quanto pensamos. Disse que seus elfos estavam vivos, como se fosse a senhora deles. Consegue ver o poder de Wildflower e as flores se curvam aos seus pés quando passa.
— , eu posso explicar. – Comecei, mas ele se afastou.
— Você é uma princesa, . – Concluiu, o semblante machucado. – Porque não me contou?
Cruzei os braços.
— Você também não me contou.
— Achou mesmo que eu ia te destituir? Ir atrás do que, por direito, eu mereço? Você realmente achou que eu queria isso?
Olhei para frente, o castelo brilhava. E, tanto ele quando eu, já tínhamos passado tempo demais longe do nosso reino.
— . Me desculpe. Eu devia ter colocado mais fé no seu caráter. Prometo que conversaremos mais a respeito disso depois, mas por ora, será que podemos ir para casa?
Ele riu, um riso estranho.
— Casa? Eu nem tenho mais casa.
Sorri para ele, segurando sua mão na minha.
— Tem sim. Vamos.
Uma vez dentro dos limites do nosso reino, minhas asas se abriram, ansiosas para isso em muito tempo. seguiu meu exemplo, e juntos sobrevoamos a Metsäelämä; ele, matando as saudades e eu, em busca de danos. Chegamos a proteção mágica ao redor do palácio em poucos minutos, onde reconheci Kara conversando com alguns seguranças e uns poucos elfos guardiões.
— Princesa! – Gritou Kara quando me viu chegando. – Vejam, a princesa voltou!
— Sua guardiã? – Questionou quando a viu.
Me senti culpada, mas concordei.
Meu retorno para o castelo foi muito tranquilo. Meus pais deixaram as condutas e etiqueta de lado, e correram para me abraçar.
— ! – Exclamou minha mãe, me abraçando tanto que chegamos a flutuar. – Você encontrou o caminho de casa!
Estavam emocionados, mas eu tinha outras preocupações além de matar as saudades.
— E Metsäelämä? Os duendes? O que aconteceu? – Quis saber, encarando-os com seriedade.
— Está tudo bem com Metsäelämä. Seu poder de cura deve ser mesmo forte, minha princesa, quando você passou pela barreira nossos guardas foram avisados e caçamos até o último duende. – Exclamou meu pai. – A floresta nunca esteve tão segura.
— Pai, estive em um lugar horroroso, onde sei que muitos de nossos bravos elfos também estão. – Disse-lhe. – Gostaria de uma equipe de busca.
Meu pai me abraçou de novo.
— Vamos encontrar todos. Um por um. – Prometeu.
Meu olhar pousou em , que ainda parecia bravo comigo.
— Aquele é . – Murmurei, fazendo meus pais olharem para ele. – Ele é o príncipe perdido.
Meus pais se levantaram, de repente, voltando a postura de sempre.
— Bem-vindo, Vossa Alteza. – Desejou meu pai para o assustado .
por sua vez, recusou o título com um gesto negativo.
— Sua Majestade, meu senhor Rei, eu não desejo tomar seu trono. – Falou, chegando mais próximos a nós. – Tudo o que lhe peço é abrigo e sustento para que eu possa me restabelecer em sociedade.
Encarei com um sorriso afetado. Seu título era a única coisa que o restava, e mesmo assim o rejeitou.
Meu pai sorriu.
— Tenho certeza que temos quartos o suficiente para te abrigar nesse palácio. – Respondeu meu pai, olhando em seus olhos. – Muito obrigado por ter trazido minha menina em segurança.
se curvou.
— Eu quem devo agradecer. Sem eu jamais teria retornado.
Descobri que fiquei fora por um pouco mais de um mês. A vida no palácio voltou para os eixos conforme o inverno se aproximava. se tornou um grande conselheiro e eu, pela primeira vez na história das fadas, estava liderando minha própria equipe de busca. Agora que sabíamos como ir e vir, muitos elfos perdidos já haviam sido encontrados, entre eles Djena, que me agradeceu eternamente por tê-la tirado de ser maior pesadelo.
Minha amizade com se manteve firme, mesmo depois dos segredos revelados. Fizemos um túmulo simbólico para Serena em um dos locais que ela mais amava em Wildflower e nunca esquecemos Clarisse e Gustavo e toda a proteção que eles haviam nos oferecido.
Metsäelämä estava mais saudável do que nunca, assim como o meu poder, e no que dependesse de mim, os duendes nunca mais iriam nos assustar assim.
— Oi. – Disse , chegando perto de mim. Eu estava na ala leste do castelo, observando as colinas que engoliam o sol se pondo. Senti falta dessa vista e sempre que possível vinha para cá admirar mais um final de dia.
— Oi, . – Respondi, sorrindo.
Ele sorriu de volta, os vestígios do rapaz rude que conheci na Terra tendo sumido por completo. Em Wildflower era ela perfeitamente tolerante; e elegante.
— Queria dizer que você é a verdadeira flor silvestre, . – Falou, baixinho.
— Mesmo?
tirou uma mecha de cabelo da minha cara, prendendo com a minha orelha.
— Só uma verdadeira flor silvestre teria achado o caminho para casa.
Eu não tinha como saber, mas e eu tínhamos um futuro muito mais unidos do que parecia. O que começou com desprezo e provocação não passou disso. Parecia que ali mesmo, em Wildflower, a verdadeira história iria começar.
E eu não queria perder essa história por nada.
Encontramos Clarisse no caminho, que entregou a um papel. Também ficou sentida quando descobriu sobre a morte de Serena e mais ainda depois que explicou que provavelmente não voltaria para casa. Desejou boa sorte para nós e mesmo eu, que convivi tão pouco com ela, agradeci a oportunidade de conhecer uma humana tão gentil naquele antro de maldade que era a Terra.
Depois de nos despedirmos, e eu chegamos a um local sujo e com muitos ônibus, como ele me explicou depois. Era ali que pegaríamos nossa carona para a caverna que nos levaria de volta para casa.
Uma vez dentro do ônibus, não havia muito o que fazer a não ser esperar chegar. Ele ainda estava quieto e brincava com o papel que Clarisse tinha entregado a ele.
— O que é isso?
Ele pareceu ter saído de um transe, olhando para mim com os olhos cansados.
— É um documento. Sem ele você não poderia ter viajado. É falso, claro. – Murmurou, me entregando o papel verde e ligeiramente amassado. Havia uma foto minha e ao lado dela o papel de aspecto oficial dizia que eu me chamava Maria Ana Garcia.
— Que nome original. – Brinquei. deu um sorriso mínimo, guardando o documento de volta em seu bolso.
Ele ficou em silêncio novamente.
— , sobre o que a Serena disse...
— O que?
— Príncipe das fadas? – Questionei.
Ele se arrumou na cadeira, suspirando antes de falar.
— Atravessei uma árvore estranha quando Serena e eu fugíamos de duendes durante a guerra. O castelo foi atacado e não estávamos seguros. O Rei, meu pai, pediu que Serena me levasse para um local protegido na Floresta da Vida, mas nunca conseguimos chegar lá. Em um momento estava na Metsäelämä e quando ultrapassei essa árvore estava aqui, na Terra.
Arregalei os olhos.
— ! Você é o príncipe perdido!
— Eu já tenho esse nome por lá? – Riu, ainda chateado. – Como estão meus pais?
Como eu daria a ele a notícia de que os pais abdicaram o trono e nunca mais foram vistos? Como dizer a ele que eu era a herdeira do trono e tudo que um dia foi dele por direito já não existia mais? Como poderia fazer isso tendo acabado de perder alguém que ele amava?
— ... muitos anos se passaram em Wildflower. – Tentei, calma. – Sem herdeiro, seus pais precisaram abdicar o trono.
suspirou, derrotado.
— O importante é que estou voltando. Esse lugar nunca me fez bem.
Curiosa, resolvi continuar minha investigação.
— Se era criança quando chegou aqui... como conseguiu se manter?
As bochechas do rapaz se enrubesceram.
— Sou um príncipe, . Eu tenho poderes, lembra-se? – Questionou. – Eu... eu consigo prever o futuro. Fragmento. Pequenas partes. Acontece que aqui é um dom bem útil. Consegui muito dinheiro com isso.
Não podia falar de poderes com ele sem mencionar os meus próprios e se o fizesse, minha identidade seria revelada. Eu não gostava de pensar que ele faria isso, mas eu conhecia não havia uma semana completa, como poderia saber que ele não me deixaria aqui sozinha apenas para recuperar seu título?
— Você não consultou nenhum ancião. – Acusei. – Você previu que eu chegaria.
— Eu previ muitas coisas. Mas ao longo dos anos foram tantas garotas perdidas erradas que perdi a esperança. Elas chegavam sem memória, mas depois se lembravam e iam embora. E nenhuma conhecia Wildflower. – Suspirou profundamente. – Penso que eram duendes me enviando garotas aleatórias para mostrarem que estavam de olho em mim. Nos mudávamos sempre que isso acontecia, até que me cansei disso.
— Por isso me tratou tão mal quando nos conhecemos.
Ele sorriu.
— Me desculpe por isso.
— Está tudo bem. Estamos a caminho de casa agora.
Viajamos por horas naquele espaço apertado, e depois de algumas horas o ônibus parou, o que denunciou que tínhamos chegado a cidade. Como a lua ainda não estava no céu, determinou que nossa jornada havia sido um sucesso e resolveu deixar sua herança para os gêmeos. Eu não entendia nada do dinheiro dos humanos, mas ele frisou que era uma boa quantia para se manterem por um tempo.
— Mais uma coisa que não contei. – Disse ele, quando saímos do veículo.
— O que?
— Aparentemente, o Poço Dourado é um lugar turístico.
— O que isso significa?
Ele demorou um pouco para responder.
— Que vai estar cheio de gente.
Saímos da rodoviária e entramos em um grande local, repleto de veículos brancos. Segui até um desses carros, que era dirigido por um humano careca de óculos escuros, ainda que não tivesse mais luz do dia.
informou o nosso destino ao homem, que nos levou até o local tranquilamente. Como havia prometido, tinham mesmo muitas pessoas, mas como se tratava do final do dia, muitos já estavam indo embora, então foi seguro nos misturar a multidão.
Encontramos um canto deserto, onde achou discreto o bastante para retirar o livro da mochila. Abriu o manuscrito com cuidado na página com as instruções.
— Temos que ir para mais perto da cachoeira. – Explicou, apontando em algum lugar atrás de mim. – A entrada da caverna está logo atrás dela.
Ele guardou o livro novamente, me puxando pela mão. Seguimos pela trilha escura, sem poder ligar a lanterna, até encontrarmos um riacho, que banhava pedras lisas e escorregadias. Quando já não era mais possível caminhar por terra, precisamos nos equilibrar juntos para vencermos a distância das pedras lisas até a cachoeira. Encontramos uma árvore do outro lado, e como o céu ainda estava com uma lua branca normal, nos sentamos embaixo dela para aguardar o momento.
Não precisamos aguardar muito. Poucos minutos depois, a pedra dentro da mochila de começou a brilhar. Nos encaramos rapidamente, até ele retirar a pedra de onde estava. Para a nossa surpresa, a lua imediatamente ficou azul, refletindo sua luz azul brilhante, por fim, na cortina de água que caia da cachoeira. Ficamos encantados por alguns instantes, encarando com fascinação a grande queda d’agua que se abria, como se fosse, de fato, uma cortina.
— Olha! – Exclamei, quando vi uma entrada na pedra atrás da cachoeira.
sorriu.
— Nós conseguimos!
Sorri para ele de volta, e nos embrumamos para passarmos pelas pedras novamente. A escuridão não mais incomodava, uma vez que a luz azul da lua nos guiava até a caverna que passou metade da vida procurando.
Alguns tropeços depois, conseguimos pisar no chão da caverna. E tão de repente quanto havia começado, a luz se apagou.
— Pegue, toma. – Ofereceu , me oferecendo uma lanterna.
Ligamos os objetos para nos localizarmos dentro. Andamos em linha reta pelo que pareceram minutos, e em algum momento durante a caminhada, a lanterna de perdeu sua força. Continuamos a andar sendo guiados apenas por um faixo de luz, quando uns minutos depois, nos encontramos totalmente no escuro. Não sem antes nos depararmos com uma bifurcação e não termos nenhuma ideia de qual era a saída. Estávamos sem luz e não conseguíamos nem mesmo ler o Livro da Vida, quanto mais saber para onde ir.
— Vamos ter que chutar. – Falou .
— Ou cada um pode ir por um caminho. – Sugeri. – Ambos teríamos cinquenta por cento de chance de chegar em casa.
Ele colocou a mão no meu ombro.
— A essa altura do campeonato, acho que só conseguimos fazer isso se continuarmos juntos.
Suspirei.
— Acho que você tem razão.
Resolvi tirar a Pedra da Vida do bolso, e para minha surpresa, ela ainda brilhava.
— , olha!
Eu conseguia ver sua face, e dava para notar que ele ainda não estava enxergando nada.
— Eu não vejo.
Levantei a pedra sob a minha cabeça para que ela pudesse iluminar o local correto. Apenas o lado direito brilhou de volta e eu sorri, sabendo que era o lado certo.
— Vem! – Pedi, puxando ele pela mão.
— Quem te nomeou líder? – Resmungou, não tendo opção a não ser me seguir.
— A culpa não é minha se só eu vejo a luz! – Retruquei.
revirou os olhos.
— E eu vi isso.
Quando chegamos mais ou menos na metade da caverna, notei que possuía uma relva verde e limpa, adornada por várias flores silvestres que recebiam felizes a luz azul que visitava. No momento que as flores tremeluziram e se reverenciaram, eu soube que estava em casa.
— Nós conseguimos mesmo. – Sussurrou , encarando as flores e a grama, fazendo com que eu descobrisse que agora ele estava vendo tudo.
Eu sentia, de alguma forma, que nós tínhamos atravessado alguma barreira que nos trouxe para casa. Eu estava em Wildflower.
Sorrimos um para o outro, vendo uma luz clara e natural no final da caverna. Corremos em direção a ela, sendo recebidos com muitas felicitações das flores que acampavam do lado de dentro da caverna.
Quando saímos do local, respirei fundo, encontrando um ar limpo e calmo. Para minha completa alegria, Metsäelämä estava aparentemente inteira, pelo menos até onde minha vista alcançava. No chão aos meus pés, as flores silvestres se curvavam, prendendo suas gavinhas em mim como uma forma de abraço.
Olhei para trás e notei me olhando de maneira suspeita.
— , o que aconteceu? – Questionei, notando a aparência abatida do monarca.
— Seu nome é . – Acusou, os olhos frios de repente. – Você disse que eu era vazio quando nos conhecemos. Você vê auras, é sensitiva. Mencionou que os duendes usaram essa pedra para retirar seu poder. – Continuou, dando voltas ao redor de mim, conforme eu encolhia. – Disse que eu seria punido por te tratar mal no lugar de onde vinha. Conhecia um ditado real, que não é tão popular quanto pensamos. Disse que seus elfos estavam vivos, como se fosse a senhora deles. Consegue ver o poder de Wildflower e as flores se curvam aos seus pés quando passa.
— , eu posso explicar. – Comecei, mas ele se afastou.
— Você é uma princesa, . – Concluiu, o semblante machucado. – Porque não me contou?
Cruzei os braços.
— Você também não me contou.
— Achou mesmo que eu ia te destituir? Ir atrás do que, por direito, eu mereço? Você realmente achou que eu queria isso?
Olhei para frente, o castelo brilhava. E, tanto ele quando eu, já tínhamos passado tempo demais longe do nosso reino.
— . Me desculpe. Eu devia ter colocado mais fé no seu caráter. Prometo que conversaremos mais a respeito disso depois, mas por ora, será que podemos ir para casa?
Ele riu, um riso estranho.
— Casa? Eu nem tenho mais casa.
Sorri para ele, segurando sua mão na minha.
— Tem sim. Vamos.
Uma vez dentro dos limites do nosso reino, minhas asas se abriram, ansiosas para isso em muito tempo. seguiu meu exemplo, e juntos sobrevoamos a Metsäelämä; ele, matando as saudades e eu, em busca de danos. Chegamos a proteção mágica ao redor do palácio em poucos minutos, onde reconheci Kara conversando com alguns seguranças e uns poucos elfos guardiões.
— Princesa! – Gritou Kara quando me viu chegando. – Vejam, a princesa voltou!
— Sua guardiã? – Questionou quando a viu.
Me senti culpada, mas concordei.
Meu retorno para o castelo foi muito tranquilo. Meus pais deixaram as condutas e etiqueta de lado, e correram para me abraçar.
— ! – Exclamou minha mãe, me abraçando tanto que chegamos a flutuar. – Você encontrou o caminho de casa!
Estavam emocionados, mas eu tinha outras preocupações além de matar as saudades.
— E Metsäelämä? Os duendes? O que aconteceu? – Quis saber, encarando-os com seriedade.
— Está tudo bem com Metsäelämä. Seu poder de cura deve ser mesmo forte, minha princesa, quando você passou pela barreira nossos guardas foram avisados e caçamos até o último duende. – Exclamou meu pai. – A floresta nunca esteve tão segura.
— Pai, estive em um lugar horroroso, onde sei que muitos de nossos bravos elfos também estão. – Disse-lhe. – Gostaria de uma equipe de busca.
Meu pai me abraçou de novo.
— Vamos encontrar todos. Um por um. – Prometeu.
Meu olhar pousou em , que ainda parecia bravo comigo.
— Aquele é . – Murmurei, fazendo meus pais olharem para ele. – Ele é o príncipe perdido.
Meus pais se levantaram, de repente, voltando a postura de sempre.
— Bem-vindo, Vossa Alteza. – Desejou meu pai para o assustado .
por sua vez, recusou o título com um gesto negativo.
— Sua Majestade, meu senhor Rei, eu não desejo tomar seu trono. – Falou, chegando mais próximos a nós. – Tudo o que lhe peço é abrigo e sustento para que eu possa me restabelecer em sociedade.
Encarei com um sorriso afetado. Seu título era a única coisa que o restava, e mesmo assim o rejeitou.
Meu pai sorriu.
— Tenho certeza que temos quartos o suficiente para te abrigar nesse palácio. – Respondeu meu pai, olhando em seus olhos. – Muito obrigado por ter trazido minha menina em segurança.
se curvou.
— Eu quem devo agradecer. Sem eu jamais teria retornado.
Descobri que fiquei fora por um pouco mais de um mês. A vida no palácio voltou para os eixos conforme o inverno se aproximava. se tornou um grande conselheiro e eu, pela primeira vez na história das fadas, estava liderando minha própria equipe de busca. Agora que sabíamos como ir e vir, muitos elfos perdidos já haviam sido encontrados, entre eles Djena, que me agradeceu eternamente por tê-la tirado de ser maior pesadelo.
Minha amizade com se manteve firme, mesmo depois dos segredos revelados. Fizemos um túmulo simbólico para Serena em um dos locais que ela mais amava em Wildflower e nunca esquecemos Clarisse e Gustavo e toda a proteção que eles haviam nos oferecido.
Metsäelämä estava mais saudável do que nunca, assim como o meu poder, e no que dependesse de mim, os duendes nunca mais iriam nos assustar assim.
— Oi. – Disse , chegando perto de mim. Eu estava na ala leste do castelo, observando as colinas que engoliam o sol se pondo. Senti falta dessa vista e sempre que possível vinha para cá admirar mais um final de dia.
— Oi, . – Respondi, sorrindo.
Ele sorriu de volta, os vestígios do rapaz rude que conheci na Terra tendo sumido por completo. Em Wildflower era ela perfeitamente tolerante; e elegante.
— Queria dizer que você é a verdadeira flor silvestre, . – Falou, baixinho.
— Mesmo?
tirou uma mecha de cabelo da minha cara, prendendo com a minha orelha.
— Só uma verdadeira flor silvestre teria achado o caminho para casa.
Eu não tinha como saber, mas e eu tínhamos um futuro muito mais unidos do que parecia. O que começou com desprezo e provocação não passou disso. Parecia que ali mesmo, em Wildflower, a verdadeira história iria começar.
E eu não queria perder essa história por nada.
Fim!
Nota da autora: Oi, meninas! Segunda fanfic de fantasia, estou tentando melhorar e sair da minha zona de conforto haha Espero que tenham curtido!
Outras Fanfics:
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Burn With You [original/finalizada]
Take Me Back To San Francisco [especial A Whole Lot Of History/ em andamento]
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