08. Untitled (How Does it Feel)


Finalizada em: 07/12/2019

Capítulo Único

“Girl it's all on you”

Quando a ligação foi encerrada sentou na cama e se segurou para não jogar o celular longe.
Podia ser um trote.
Podia ser mentira.
Podia ser alguém com inveja.
Podia ser alguém contra o relacionamento dos dois.
Podia, podia, podia....
A única coisa que não podia, era ser verdade.
Por que alguém ligaria falando que flagrou com uma loira misteriosa?
E se fosse a ex?
E se fosse uma... Amante?
Não, não deixaria aquilo abalar o casamento dela. Amava com todo seu coração, e sabia que era recíproco.
Será que ele havia enjoado?
Balançou a cabeça querendo afastar o pensamento.
"preciso de ajuda" foi tudo que digitou na mensagem que enviou para Karime e Sebastian, seus melhores amigos.
confiava em , apenas estava... Insegura.
Acreditava no amor dele, sentia diariamente. Mas e se o desejo não estivesse mais lá?
Algo que ela particularmente falando não entendia. Sempre souberam se encaixar tão bem, sempre souberam como incendiar um o corpo do outro. Não era atoa que o quarto dos dois tinha isolamento acústico.
não fazia o estilo sexo amorzinho, longe disso...
tentou lembrar qual a última vez que fizeram sexo bruto, do jeito que ambos gostavam, sexo com marcas, mas não conseguiu. Desde o nascimento dos gêmeos não tinham tido mais que sete noites de sexo puro, carnal, selvagem no sentido literal da palavra. Detalhe: Os gêmeos já haviam completado oito meses.
É.. Talvez ele tivesse perdido o desejo.
Despertou de seus pensamentos ao ouvir o som de passos subindo as escadas, provavelmente o ator havia chegado em casa.
Mordeu o lábio pensando em como fingiria não estar afetada com nada quando o marido entrasse.
Mas ele perceberia. sempre percebia.
- Oi. - o deu um sorriso aberto, porém cansado ao entrar no quarto. - A casa tá silenciosa. - comentou antes de dar um beijo rápido nela e ir até o closet já tirando a roupa. - O que foi? - parou de andar ao notar como a morena estava quieta, algo muito incomum na rotina dos dois.
- Nada. - forçou um sorriso fechado. - Vou encher a banheira. - usou qualquer desculpa para sair de perto, mas não funcionou.
- - segurou o pulso dela sem apertar, apenas para mantê-la no lugar. - O que... - não terminou a pergunta, apenas a olhou em dúvida querendo saber o que passava na mente da mulher que amava.
- Nada, . - bufou baixo se afastando.
Definitivamente odiava ser tão transparente, mesmo que se esforçasse não conseguia fingir que estava tudo bem.
E como explicaria para ele?
Sabia que mesmo não o acusando de nada, o loiro provavelmente ficaria magoado e nervoso só de saber a falta de confiança nele.
Mas o que podia fazer? Por mais que o amasse e confiasse, tinha uma pulga atrás da orelha. E o problema das pulgas é que por menores que sejam, sabem fazer um estrago grande.
- ? - o ator repetiu franzindo o cenho em uma careta confusa. - - riu de nervoso - O que eu fiz? - realmente não entendia de onde vinha aquele tratamento dela.
- Mas que saco, ! - exclamou escondendo o rosto com as mãos sentindo os olhos marejarem. Andava tão sensível... - Será que você pode ir tomar seu banho e depois nós conversamos? - perguntou cruzando os braços e encarando o chão para não ter que olhar os olhos azuis dele.
fitou a esposa concordando em silêncio com o pedido dela. Tocou a bochecha de de modo delicado antes de passar o polegar suavemente sob os lábios dela que formavam um bico emburrado.
O homem suspirou e se afastou de uma vez cortando todo o contato, deixando a pele de formigando querendo mais seu toque.
A morena assistiu o esposo ir até o banheiro que havia no quarto e se jogou na cama sentindo a frustração, insegurança e medo voarem por sua mente.
desistiu de seu banho de banheira, quanto mais rápido se limpasse, mais rápido resolveria a situação com a esposa.
Situação essa que ele nem sabia sobre o que se tratava.
Deixou a água escorrer por sua nuca enquanto seu cérebro trabalhava a milhão tentando lembrar de algo que pudesse ter chateado .
Suspirou desistindo, soltando uma risada irônica.
Estava prestes a ter um DR e nem o motivo sabia.
Enrolou uma toalha na cintura de qualquer maneira, não se dando ao trabalho de secar as gotas do tronco e abdômen.
- Banho tomado, podemos conversar agora? - perguntou andando devagar até a esposa, parando em pé em frente a cama.
ergueu as costas se apoiando nos cotovelos, demorando seu olhar no corpo dele antes de subir até os olhos um tanto quanto angustiados.
- Achei que demoraria mais... - murmurou suspirando antes de sentar na cama abraçando as próprias pernas - Eu... Eu andei pensando em umas coisas...
- Certo. - concordou com a cabeça a incentivando prosseguir. - Que coisas?
mordeu o lábio inferior com força sem saber o que dizer, como explicar suas inseguranças?
- Você ainda me ama. - afirmou, mas o olhou um pouco receosa.
- Mais que ontem e menos que amanhã. - disse a frase clichê que ela detestava com um sorriso pequeno e provocador no canto da boca, rindo ao vê-la revirar os olhos. - Claro que amo, . - falou com seriedade sentando ao lado dela.
- E eu também te amo, muito. - ela se apressou em dizer. - Mas... amor não é tudo, sabe?
arregalou um pouco os olhos e sentiu o coração acelerar. Que papo era aquele?
- Do-do que você tá falando? - perguntou esfregando as mãos na toalha que usava, querendo se livrar do suor frio.
- Desejo, . - levantou impaciente, começando a andar em círculos de maneira ansiosa. - Tô falando de desejo...
- Desejo? - ele repetiu em dúvida a encarando perdido.
- Desejo. - concordou impaciente, parando de andar. - , você ainda me ama, eu sei, mas... você me deseja? - mesmo estando só os dois ali, ficou constrangida em perguntar aquilo. - Ainda sou a pessoa que você olha e pensa em...
Antes que ela pudesse terminar de falar, foi para beira da cama e a puxou para perto de seu corpo pela cintura.
- Penso em.. - repetiu querendo que ela continuasse, subindo as duas mãos por baixo da camisa de até chegar no fecho do sutiã. - O quê, ? - perguntou passando os lábios pelo pescoço da morena a deixando arrepiada.
- Vo-você entendeu. - gaguejou apertando os ombros dele com força, fechando os olhos ao sentir as carícias.
"Foco, " disse para si mesma, tendo subitamente em sua mente a imagem dele fazendo isso com outra mulher.
- , para! - o empurrou pelo peitoral se afastando do corpo dele tentando pensar.
- - chamou um tanto impaciente. - Eu não tô entendendo porcaria nenhuma, será que você pode ser mais específica, por favor?! De onde ta saindo tudo isso?
mordeu o lábio sentindo os olhos arderem com vontade de chorar.
- Eu preciso saber se é verdade o que me ligaram contando. - mesmo que doesse, encarava os olhos do marido. - E se é verdade eu preciso entender o porquê. - balançou a cabeça sentindo o peito doer. - Você sabe que sempre fui aberta para um diálogo, se você não, sei lá, não me quer mais, não precisava apelar, podia ter falado comigo, seria menos doloroso.
- ! - chamou quase desesperado se aproximando dela. - É claro que eu te quero! - segurou a mão dela e praticamente suplicava com o olhar. - O que faz você pensar que eu não te quero? Que eu não te desejo? Você é... - Mordeu o lábio sem nem saber o que falar. - Você é a pessoa que eu quero ficar pro resto da vida, . Imagino a gente juntos, velhinhos, andando na praia antes de irmos para casa para eu fazer almoço pros nossos netos enquanto você faz a sobremesa... eu... eu planejo um futuro todo do teu lado, , e eu jamais jogaria isso fora!
- Me ligaram de uma revista perguntando se eu podia dar uma entrevista a respeito da sua traição, e se eu conhecia a loira com quem te flagraram. - falou entre soluços de um choro doído. - E eu tô tentando entender o porquê disso.
- Você... você acha que eu faria isso, ? - a olhou um pouco surpreso e incrédulo.
- Você anda estranho, cansado, , a gente só faz sexo automático praticamente. - se justificou chorando ainda mais. Só o que faltava ele colocar a culpa nela.
- Eu ando estranho porque depois de meses sem trabalhar de licença dos gêmeos, voltei agora e fico atolado de coisa para fazer, ... e sexo automático? - riu incrédulo. - Claro, é a única coisa que dá tempo antes de alguém precisar de ajuda e vir atrás de você, antes de alguém chegar em casa, antes dos bebês chorarem. - tentou se defender. - Tendo tudo isso em pauta, você ainda preferiu acreditar que eu ando te traindo? - perguntou magoado. - Se você não confia em mim, o que é isso? - apontou pros dois.
- Isso? - seu peito doeu ainda mais com o modo que ele se referiu. - Você tá sendo muito injusto, ...
- Um site qualquer te liga inventando histórias e você se quer pensou que pudesse ser mentira? Preferiu já pensar em motivos que me levaram a traição?!
- , não foi bem assim, você sabe que não!
- Foi como então, ? - arqueou uma sobrancelha esperando.
A mulher abriu a boca para explicar a confusão interna que a levou até aquele ponto, mas o choro de sua filha foi ouvido na babá eletrônica.
- Pode deixar que eu resolvo isso. - ele murmurou olhando magoado para esposa antes de sair com passos duros do quarto.

“Have it your way”

O homem foi até o quarto dos bebês e pegou a filha no colo a ninando até que a menina dormisse. Ficou observando a filha com as feições muito parecidas com a de . Suspirou, cansado e sem entender o que tinha acontecido. Ali olhando a filha e o filho dormindo, parou para pensar na discussão. Percebeu que no fim a esposa não duvidava de sua fidelidade, se fosse a questão, não teria se mantido calma, provavelmente já estaria fazendo as malas. Não... O problema era ela não estar mais sentido que eles eram eles.
refletiu um pouco a respeito e concluiu que realmente, andavam mais frios um com o outro. Chegava a sentir culpa em saber que a mulher que mais amava e desejava, não sentia isso por falta de demonstração dele, mas isso mudaria. tomaria uma atitude.
Algumas horas depois, voltou pro quarto sentindo o coração apertar um pouco ao encontrar dormindo abraçada em seu travesseiro com a ponta do nariz avermelhada por conta do choro. Se aproximou de maneira silenciosa e deu um beijo leve nela antes de ir para cozinha começar a pensar no que faria.

“And if you want you can decide”

- Tudo bem se não queria dormir comigo – disse enquanto pegava suco na geladeira, acordando o marido que dormia em cima do próprio braço apoiado no balcão. - Mas podia ter usado um quarto de hóspedes, não precisava dormir na cozinha...
levantou assustado checando a hora no relógio. Olhou de um jeito estranho e escondeu o papel onde havia anotado suas ideias.
- Ahm... - ele coçou a nuca sem saber bem o que fazer. - Hoje vou almoçar com o Evans e o Sebastian, tudo bem?
- Claro, como quiser. – murmurou sem olhar pro . “Sério que depois de ontem é isso que ele faz?” pensou incrédula.
Pegando de surpresa, se aproximou e deu um beijo rápido antes de quase correr para fora do cômodo.
Enviou mensagem pros amigos e foi se arrumar para colocar tudo em prática.

“And if youll have me
I can provide
Everything that you desire”

- E depois de acordar na cozinha ele saiu como se nada tivesse acontecido – a morena desabafou apoiando o queixo na mão enquanto assistia Karime, sua melhor amiga, fazer bolo, sua especialidade.
- Sem falar nada? - perguntou sem olhar para , a ruiva sabia bem o que estava acontecendo, e não podia estragar a surpresa. – Ah, , o cara foi acusado de traição, normal ele estar chateado...
- Eu não o acusei de traição... - Encolheu o ombro. – Eu só... - procurou palavras para explicar, mas nem conseguiu. – Certo, na minha cabeça fazia sentido, só que fora dela tudo parece uma bagunça!
- A psicóloga aqui é você. - riu jogando um pouco de farinha em .
- Ei! - reclamou se limpando risonha. – E infelizmente, ou não, minha profissão não me livra dos erros, sentimentos e bom, não me livra de ser humana.
Checou o celular mais uma vez esperando alguma mensagem do marido, mas acabou se decepcionando mais uma vez.
- Acho melhor eu ir para casa. – falou desanimada. - Não tô no clima hoje...
- NÃO! - exclamou rápido demais. – Quer dizer... Não vou te deixar sozinha assim, além de que uma de nós estar na bad nunca foi motivo para não ficarmos juntas. – enrolou com uma desculpa qualquer, sabendo que não podia deixar a amiga ir para casa enquanto não recebesse o sinal de .
- Okay. - resmungou preocupada demais com outras coisas para notar que a amiga agia de maneira anormal.
terminou de espalhar os arranjos de rosas vermelhas com girassóis, fez um caminho com velas até o quarto de casal, deixando pétalas pelo chão.
Na cama deles, deixou duas taças e uma garrafa de vinho da safra favorita de , querendo fazer de tudo para esposa sentir o quanto era especial, principalmente através de seus atos.
Encheu a banheira com espuma e jogou algumas pétalas ali também, além de deixar o ambiente a meia luz, criando um clima sensual.
Na varanda do quarto o ator preparou uma mesa romântica com jantar pros dois, prepararia o prato favorito de .
Mesmo que arrumasse tudo cuidadosamente, mesmo que tivesse pensado em mil coisas para dizer e fazer, sentia que nada era o bastante.

“Said if you get a feeling
Feeling that I am feeling
Won't you come closer
To me baby”

parou estática na porta assim que a abriu, sentindo o coração acelerar quase que instantaneamente.
O que era aquilo?
Olhou pros lados procurando pelo marido, mas o encontrou ali. Àquela altura do campeonato sua pupila provavelmente já estava dilatada, adorava esse tipo de coisa. Suas flores preferidas, velas, tudo para criar um cenário romântico.
Subiu as escadas seguindo o caminho que as velas e pétalas traçavam, parando em frente a porta do quarto principal da casa. Encarou surpresa algumas fotos que havia colocado ali, foto do casamento, deles em Malibu, na Disney, na Austrália, e até mesmo deitados na sala de casa.
Abriu a porta com as mãos um pouco trêmulas, e teve que conter um suspiro que quis sair assim que encontrou o marido em trajes sociais, a esperando no meio do quarto com um sorriso charmoso no rosto, segurando uma única rosa na mão.
- Foi difícil decidir qual flor te daria. – riu por conta do nervosismo, se aproximando da esposa que ainda o olhava surpresa, parando alguns centímetros dela. - Você sabe o significado de quase todas, precisei tomar cuidado... - brincou com um sorriso ladino tentando disfarçar o nervosismo. – Pensei em dar a flor Amor-Perfeito, significa recordações e bons pensamentos, e... – tocou o rosto dela com uma mão, fazendo um carinho suave. – Eu amo cada lembrança nossa, desde como nos conhecemos, até o momento em que estamos, todo momento contigo é algo que vale a pena ser vivido...
Mesmo sentindo os olhos marejarem e seu coração quase sair pela boca, a morena continuou em silêncio fitando os olhos azuis de que transmitiam uma intensidade e verdade quase palpável.
- Cogitei te dar uma camélia rosa. – continuou contando.
- Beleza perfeita? - o interrompeu pela primeira vez, com uma sobrancelha arqueada.
- Você precisa entender que sim... - lambeu os lábios encarando a boca da esposa por alguns segundos antes de voltar a focar nos olhos dela. – Deus... - riu balançando os próprios cabelos de maneira ansiosa. – , se você enxergasse o mesmo que eu cada vez que te olho... É tudo sobre você... É você e... - parou de falar balançando a cabeça. - Violeta branca. - disse simples como se isso respondesse algo. – Representa promessa, não é? - concordou com a cabeça ainda em silêncio. - Eu prometi te amar e respeitar até que a morte nos separe, , e eu farei isso – limpou uma lágrima que escorreu no rosto dela. – Talvez tulipas vermelhas tivessem sido uma boa. – riu fraco encostando sua testa na dela. – Amor fervoroso e duradouro. Talvez a mais propícia fosse a miosótis por significar amor e fidelidade, mas a gente tem dessas no jardim, não queria que parecesse desleixo meu. – foi sincero sorrindo ao vê-la rir fraco. - Orquídea representaria muito agora...
- Desejo. - murmurou tocando de leve o rosto dele. – E mesmo assim a rosa solitária foi a escolha final, algum motivo específico para isso?
- Acho que o desejo eu posso demonstrar de outras maneiras essa noite. – deu um sorriso ladino um tanto quanto malicioso. – Por que a rosa? Porque tudo que eu quero te dizer hoje se resume a uma coisa... Amor. – entregou a rosa para ela. – Talvez eu não esteja demonstrando o suficiente, mas ... eu não quero que você duvide do amor que tenho, não quero dar motivos para você esquecer que eu te amo, , que eu te desejo, que você... Você é a pessoa. Aquela pessoa que sempre que eu escutar qualquer coisa sobre amor, vou pensar, você... - não o deixou terminar de falar, juntando logo a boca dos dois em um beijo quase que desesperado.
- Eu te amo... - murmurou contra os lábios dele. – E obrigada por isso... Por demonstrar e me fazer sentir.
- , você nunca vai precisar me agradecer por te amar... - puxou o cabelo da nuca dela causando arrepios. – Eu sinto o mesmo que você.
Andou empurrando até a cama com um sorriso malicioso que deixava nítido o que ele queria que acontecesse em seguida.
Algo que desejava na mesma intensidade.





FIM.





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