08.Your Type

Última atualização: 28/02/2018

Capítulo Unico

Akai Ito
“Akai Ito" é uma lenda que diz que quando a pessoa é destinada a outra, ambas têm um laço vermelho que as ligam no dedo mindinho. O laço pode embaraçar, emaranhar, mas ele nunca quebra. O laço não é visível a olho nu, mas está lá desde o momento do nascimento. Quanto mais longo estiver o fio, mas longe as pessoas estão e mais tristes estarão. Sequer a morte o rompe, apenas o alarga para se encontrarem em outra vida.
O universo trás de volta tudo que é nosso. Eu não acreditava nisso. As vezes, ainda duvido. Mas certas coisas aparecem na hora certa. Ou não. Girei a cama novamente e vi Nicole andando no corredor de um lado para o outro.

- O que diabos você está fazendo, Nicole?
- Estou tentando falar com Alex, ligaram no Buffet pedindo pra irmos até lá com urgência e o pai dele chega no aeroporto daqui há quinze minutos. Um de nós precisa de ir em um respectivo compromisso, mas estou sem carro e não vou buscar meu sogro de Uber.
- Eu levo você até lá.
- É por isso que eu te amo. – Ela piscou e me abraçou.
- Só por isso?
- E por tudo que faz por mim. – Ela gargalhou e soltou alguma frase sobre trocar de roupa e eu parei para observa-la. Vinte anos e iria se casar daqui á uma semana. E eu não conseguia acreditar nessa situação. Desde que seu pai faleceu há oito anos. Fomos somente eu e Nicole. E ela tinha crescido tanto, em todos os sentidos possíveis. Eu nunca imaginei levá-la até o altar. Principalmente sem Peter.
- Vamos, mãe? - Assenti e peguei as chaves do carro indo em direção ao elevador. Alex era um bom garoto e eu não duvidava que a família fosse da mesma forma. De boa índole e aproveitando de meus momentos de juventude. Ele era lindo.
(...)

- Que horas ele ia chegar aqui mesmo?
- Ás dez e cinco.
- E são dez e quatro.
- Vocês vão se dar bem, ele é um amor de sogro, mãe.
- Eu imagino que seja, filha.
- Ele chegou. – Ela apontou para o homem que caminhava entre as pessoas e a partir daquele minuto eu não soube dizer mais nada. E nem escutar. Tudo parecia superfulo de mais. Eu tinha entrado em universo paralelo e vi que ele também quando ele parou no lugar que estava e curvou a cabeça um pouco para o lado. , meu melhor amigo e primeiro amor estava parado em minha frente. Exatos vinte e um anos depois ele estava parado ali. E incrivelmente dizendo, estava completamente igual. Não tão jovem. Mas os traços, o olhar, o jeito e o sorriso. Estavam no mesmo lugar.
- Mãe, esse é o . – Eu podia contar pra Nicole ou eu podia negar a história e fingir que nada disso tinha acontecido. E optei pela segunda opção. Que minha conversa com acontecesse outra hora.
- Prazer, . Sou . – Ele riu e eu soube que ele percebeu meu joguinho.
- É um prazer conhecê-la, Senhora .
- Senhora é um exagero, devemos ter a mesma idade. – Eu sorri fraco e suspirei. – Vamos? – Eu tinha assinado minha sentença, ou tinha algum tipo de carma. Até o cheiro do maldito parecia o mesmo. Eu não conseguiria pronunciar mais palavra nenhuma pela próxima viagem. Eu não conseguia lidar com qualquer tipo de acontecimento que acontecesse ali. Eu estava entregando a mão da minha filha, para o filho do homem no qual eu era perdidamente apaixonada. E que depois desse reencontro e dessas sensações não sentidas desde minha juventude. Eu não tinha tanta certeza que o sentimento tinha passado.
- Senhor , onde o senhor vai ficar? – Ouvi Nicole questionar ao homem.
- No Bristol Pallace, não ia conseguir ficar oito dias perto de Meredith. – Vi Nicole rindo e supus que era alguém do passado dele.
- Não difame sua ex esposa.
- Graças a Deus é ex, Nicole. – Eles riram da piada interna de ambos e eu já tinha coletado uma informação. Ele era divorciado. Olhei pelo retrovisor interno do carro tentando encará-lo disfarçadamente e não obtive êxito, já que ele fazia o mesmo. No segundo que meu olhar cruzou com o dele eu o vi rir e não segurei ao maximo pra não rir também. Eu tinha me enfiado em uma situação e tanto.
Minutos depois deixamos ele no hotel e seguimos pra casa. Nicole observou meu silencio e ficava me encarando e batendo as unhas umas nas outras com a intenção de me perguntar algo. Mas tinha medo do que fosse.
- Está com saudades do papai?
- Não é isso. Só alguns pensamentos.
- Me diz o que é?
- Não me venha com essa persuasão.
- Você devia me contar tudo.
- Isso não é um assunto simples.
- Não seria tão complicado. Você não gostou do ?
- Não é isso.
- Me diz o que é, mãe. – Ela piscou fazendo a cara que fazia quando mais nova e tentava me convencer de algo.
- O que tem pra fazer na próxima hora?
- Comer. Estou faminta.
- Então vamos comer e eu te conto.
(...)

Me sentei na cafeteria que encontramos e fiz nossos pedidos e Nicole me encarava atenta.
- Pareço estar prestes á ouvir uma história.
- É uma história conhecida. Você se lembra de como conheceu Alex?
- Ele tinha se mudado pra cá com a mãe e nós viramos melhores amigos. Eu me apaixonei e ele também. E agora estamos prestes a nos casar.
- E isso te lembra algo?
- Aquele seu melhor amigo que você conheceu antes do papai e falava com tanto amor.
- Promete não gritar e nem me encarar com seus olhos gigantes e nem ter crise de risos?
- Que mistério mãe, fala logo.
- É o .
- Ahn? – Ela me encarou confusa e olhou para o alto como se pensasse. – Seu melhor amigo é o ? Meu sogro? – E tudo que eu pedi pra que ela não fizesse. Ela fez.
- Pode parar de gritar por favor.
- MEU-DEUS.
- Nicole...
- Mãe do céu.
- Nicole, por deus!
- Eu não estou respirando.
- Eu não vou atrapalhar seu casamento.
- O universo é tão lindo.
- O que?
- Vocês se encontraram depois de anos. Eu amo o universo.
- Não estou entendendo nada.
- Vocês são almas gêmeas.
- Ahn?
- As famosas linhas vermelhas.
- De onde você tirou isso, Nicole?
- Akai-Ito.
- Começou a falar japonês.
- É uma lenda japonesa que diz que quando as pessoas estão destinadas á ficarem juntas. Elas se encontram. Independente da distância, tempo ou circunstancias.
- E o que eu e o temos com isso?
- O universo me uniu com Alex pra vocês se encontrarem.
- Eu sempre achei que tivesse que te levar no psiquiatra.
- Larga de ser boba, mãe. Ele é divorciado e você viúva.
- E somos os pais dos noivos?
- E eu e o Alex vamos nos casar e ir embora?
- Ir o que?
- É..
- Você nunca quis sair de Manhattan.
- Agora quero.
- Pra onde você vai?
- Rio de janeiro.
- Quem sai de Manhattan pra ir para o Rio?
- Eu?
(...)

Eu realmente não tinha visto o tempo passar. Eu realmente estava perdida em um universo paralelo em que minha filha ia se casar, ir embora e me apoiava com seu futuro sogro. Eu não sabia mais o que dizer ou falar, é por isso que o melhor momento foi deixar o consultório em período de férias enquanto Nicole não se casasse e todo esse “baque” de distancia, futuro e passado juntos passasse. Eu dirigia pela Oitava Avenida e observava os lugares ao redor pensando na quantidade de tempo eu não pensava em mim mesma. Desde que virei viúva. – Palavra um pouco forte, diga-se de passagem. – Eu tinha focado apenas na carreira e não pensava tanto assim em mim. Tinha me esquecido de como era passar um dia inteiro cuidando de mim mesma. E precisava disso.
(...)
Quando a noite chegou eu pude me sentir uma adolescente que mudava o visual completamente e se sentia a rainha do momento. Eu só tripliquei a sensação. Quando entrei porta a dentro e a família do Alex esperavam para o jantar de ensaio. Nicole não me surpreendeu quando soltou um meio grito dizendo o quanto eu estava gata e Alex tentou puxa-la pra baixo tentando controlar sua espontânidade E vi rir e caminhar com o olhar em minha direção. Tive uma sensação de frio na barriga e me lembrei de tudo que tinha acontecido no passado.
(<<<<)

- Eu te acho insuportável.
- Você ama seu melhor amigo.
- Você é insuportável, definitivamente.
- Você está linda.
- E você dá para o gasto.
- Se souber usar direito, até sobra. – Não hesitei em gargalhar. – Vem me conceder essa dança. – Ele me puxou pela cintura e nós observamos os pais dele dançando. Eles estavam fazendo bodas de prata e pareciam felizes demais para o momento.
- Eu estou me sentindo a Julia Robberts em Uma linda mulher.
- Até com a parte da prostituta?
- Sua, em particular. – Nós gargalhamos da brincadeira e ele abaixou o rosto chegando próximo ao meu ouvido.
- Se não fossemos tão amigos. Eu juro que te beijava agora mesmo.
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Esse sempre fora o problema. Eramos amigos demais pra ele. Somente isso, eu nunca tinha sido o tipo de menina que viraria sua mulher e faria tudo com ele. Eu nunca seria mais do que sua melhor amiga, que ouvia seus casos de noites loucas com as gurias de Manhattan. Eu não seria quem iria acompanha-lo quando ele saiu e foi embora para o Canadá levando uma vida nova e se casando. E por isso eu parecia ter encontrado tudo que precisava em Peter. Ele havia me dado amor, carinho e cuidado de mim. E acima de tudo me dado Nicole e agora graças ao tempo e ao universo eu havia encontrado novamente. Eu só não sabia se isso era bom ou não. Se era um sinal, ou mera imaginação. Mas eu preferia que fosse a primeira opção. Depois de vários elogios e de me sentir bem comigo mesma. Vi a casa ir se esvaziando e sobrar apenas Meredith e . E ouvindo a mulher falar, eu entendia perfeitamente o fato de ser divorciado.Não era futilidade. Era a insuperabilidade da mulher. Comentei no jantar sobre ter conseguido algumas bolsas de estudo em Doutorados excelentes. Ela comentava sobre já ter feito e estar no segundo. Quando dizia sobre o quão Nicole tinha sido sortuda em passar em algumas coisas e era completamente inteligente, ela superava Alex.
- Todos já entenderam em o quanto você é insuperável, Meredith. – reclamou e a mulher soltou um resmungo.
- Bom, eu vou indo. – Me despedi utilizando todo meu bom senso e vi Nicole e Alex a abraçarem. E observei Nicole cochichar algo com o noivo e sair andando pra dentro enquanto falavam algo um com outro. O silêncio predominou e eu observei de lado. A blusa social vinho destacava os braços e os olhos claros permaneciam intactos e lindos, por sinal. Os cachos do cabelo não tinham se desfeito e eu me odiava por perceber cada detalhe do homem.
- Eu acho que vou indo.
- É..
- Quanto tempo, não?
- Vinte anos.
- Nunca pensei que iria te ver novamente. – Ele soltou e riu, eu não quis falar o que falei no minuto seguinte. Mas acabou saindo.
- Eu rezei a cada dia para que te visse de novo. Mas não foi bem como combinado
- Nossa vida mudou com o tempo.
- E você esqueceu que tinha alguém em Manhattan por você.
- Nunca esqueci disso. – Ele piscou atordoado vendo que eu tinha passado a ponta dos dedos disfarçando algumas lagrimas que insistiram em se formar depois que relembrei do quão eu tentei falar com ele durante meses. E nenhum sinal de vida. – Eu nunca quis machucar você, . Nunca quis que você ficasse mal
. - Eu fiquei, durante muito tempo. Mas ai eu precisei seguir minha vida. Me casei, tive a Nicole e Piter morreu algum tempo depois. Você se casou, teve Alex e se divorciou da sua insuperável Meredith. - Ela é muito difícil de lidar. Mas era o tipo de mulher que eu queria para o meu futuro, naquela época.
- Um tipo bem diferente do meu.
- Não fale como se isso fosse ruim
. - Mas, de alguma forma é.
- Não estou entendendo, .
- Você disse uma vez que se não fossemos tão amigos, me beijaria. Sem se lembrar que no seu aniversário de dezesseis anos tinha me beijado. Varias vezes. Você disse que Meredith era seu tipo de mulher, naquela época. – Parei e vi que ele me encarava de forma estranha. – Já eu, nunca fui.
- Você é.
- Por isso eu nunca te disse. Eu nunca seria seu tipo. – Vi que ele gargalhava e percebi que tinha perdido certa parte do momento. – Você disse o que?
- Você é meu tipo, .
- Vinte anos depois?
- E há vinte anos atrás também.
- Eu acho que preciso entrar. – Ele gargalhou e parou em minha frente me dando um beijo na testa.
- Boa noite, . – Ele virou-se de costas, mas parou novamente quando parou no elevador. – E certas coisas nunca mudam. Nem com tempo, tampouco com a distância. – Não pude evitar de sorrir e ter a confirmação do universo. No fundo, eu era o tipo dele.
(...)
- Duas almas, um sentimento, dois sobrenomes e um juramento. Considerem-se casados. – O padre finalizou e Nicole e Alex se beijaram e eu pude ver a felicidade da minha filha exposta ali. Observei todos caminharem para pista de dança, para que a primeira dança fosse feita e observei alguns casais de juntarem. Eu parecia nostálgica demais imaginando o que Peter acharia daquilo. De ver sua garotinha.
- Será que você me concede essa dança? – Ouvi a voz de e senti uma arrepio no mesmo momento. Sabendo que repetiria a cena de vinte e dois anos atrás.
- Por que eu diria não?
- Por não saber que as vezes as grandes declarações, estão em pequenos gestos.
- E o que você quer dizer com isso? – Eu coloquei as mãos em seus ombros e senti uma de suas mãos em minha cintura e a outra em minha nuca.
- Que talvez. – Ele acariciou lentamente e eu fechei os olhos sentindo o momento. – Você devesse confiar em mim. E perceber que Manhattan vai ficar pequeno demais pra nós dois.
- Você vai se mudar pra cá?
- Vou voltar pra onde eu nunca deveria ter saído. Pra quem, eu nunca devia ter deixado.
- E essa garota sabe que ela tem toda essa moral?
- Estou dizendo pra ela agora. Que ela sempre foi a garota dos meus sonhos.




Continua...





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