Capítulo 1
É aquela coisa, quando se é adolescente você pode ser o popular, o isolado, o gordo, o magro, o nerd, o garanhão, o feio, o bonito, o gostoso, o sem graça, o sonhador, o antissocial, enfim, se existem várias maneiras de definir um adolescente. Podemos sonhar até o dia clarear; temos tempos para pensar em coisas novas e em que tipo de vida queremos para um futuro não muito distante.
Minha adolescência não foi sendo o garoto popular da turma, e nem o isolado, muito menos o nerd. Eu tinha meus deveres e afazeres, sem contar que meu sonho sempre foi seguir carreira como médico em um hospital famoso, bem longe de minha cidade natal que é o Rio de Janeiro.
Okay, o Rio de Janeiro tinha lá suas vantagens, mas eu queria viajar, conhecer gente nova, namorar uma garota extrovertida e construir uma família, eu sonhava em ser feliz, mas agora quem sou eu? Andando pelo asfalto em meio àqueles vários caminhões de cargas, em uma noite gelada, podem dizer que minha vida se tornou em algo bem longe do que eu desejava...
Meu nome é , não costumo dizer minha idade, mas vou abrir uma exceção e dizer que tenho vinte e oito anos. Velho, não? Sim, e eu falando de adolescência, onde estava com a cabeça?!
Esse sou eu, um mero policial que vaga pelas rodovias do Rio de Janeiro verificando a carga dos caminhoneiros com intenção de combater o crescimento do tráfico de drogas. Vocês sabem o Brasil não é um país santo, e alguém tem que combater o contrabando!
E esse é o resumo da ópera.
– Documento, por favor? – pedi, batendo a lanterna em mãos.
– Só um instante. – o rapaz respondeu enquanto vasculhava seus pertences.
– Só não demore muito, não tenho a noite toda. – deixei claro, sendo grosso mesmo.
– Certo, certo... Aqui está! – exclamou, meio que se pendurando na janela para entregar os documentos.
Apertei o botão da lanterna, começando verificar todos os dados que constavam naqueles papéis. O motorista me encarava parecendo paciente, e tudo que pude fazer foi lhe direcionar um olhar ríspido antes de guiar minhas pernas para frente do veículo para conferir os dígitos da placa.
Assenti, logo recompondo meu posto. E com um breve "tenha uma boa viagem", devolvi os pertences do rapaz e o deixei partir, fazendo com que em poucos minutos eu nem mais me lembrasse de que seu nome era Alan Kolly.
Suspirei, visualizando todos os veículos que aguardavam para poder seguir com suas viagens. Ah, estava tudo apenas começando, e eram exatamente dez e vinte da noite, pelo que constava em meu relógio de pulso, ou seja, demoraria muito até o amanhecer!
Mas quando estava preste dar o primeiro passo em direção do próximo caminhão, meu celular começou tocar no bolso.
– Alô? – atendi.
– Papai! – sorri apenas por ouvir aquela voz tão doce e inocente.
– Oi meu amor! – imediatamente me afastei de meus colegas, andando até a base. – Como está passando a noite? Espero que não tenha comido muito hambúrguer com a tia Lúcia e o tio Walter. – fingi um tom embravecido, porém não tinha como ficar bravo de verdade.
– Não comi hambúrguer, somente salada. – respondeu em um tom inocente.
– Ah, e eu sou o Batman! – brinquei deixando meu sorriso se alargar.
– Você não é o Batman, papai, é melhor que ele! – disse enquanto eu apoiava meus braços no concreto da mureta, de onde poderia ter uma boa visão dos caminhões.
– O Batman tem uma capa, . – respondi.
– E você tem um distintivo de policial. – ela riu, ah, como daria de tudo para vê-la sorrindo.
– Ah, isso não é nada perto do carro dele. – ela riu de novo.
– Você tem um Ranger Rover preto, papai, e ele é bem mais bonito que o carro do Batman! – era incrível como sempre tinha algo na ponta da língua.
– Você não existe filha. – sorri tanto por dentro quanto por fora.
– Estou com saudade. – ela confessou. – Quando vai voltar pra casa? – quis saber e eu encarei novamente os caminhões.
– Logo, logo, assim que eu chegar irei ver você, eu prometo! – respondi sabendo que chegaria exausto.
– Promete? – pareceu querer confirmar.
– Prometo palavra de escoteiro. – respondi fazendo-a rir.
– Preciso ir agora, tia Lúcia está me chamando para dormir. – senti um aperto apenas por saber que ela desligaria. – Eu te amo papai.
– Também te amo filha. – e então ela desligou.
Afastei o celular da orelha encarando a tela por alguns longos segundos, ah, como eu queria estar deitado na cama acariciando os cabelos de , daria de tudo para estar com ela naquele momento...
Minha filha era tudo para mim, vivo por ela!
Quando nasceu perdi o meu pertence mais valioso que recebia o nome de Mallory Jackson, minha esposa linda, amada e única. Os médicos não me deixaram acompanhar a cesárea de urgência, eles me jogaram para fora da sala de cirurgia como se eu fosse um nada, me empurraram e bateram a porta na minha cara.
Apenas acompanhei todo o procedimento pelo enorme vidro. Foi angustiante. Eles se moviam tão depressa para salvar o meu bebê, que me lembro de quase ter tido um ataque de nervos. Existiam tantas mãos trabalhando juntas, e mesmo assim o resultado não foi como eu esperava...
nasceu saudável, e fiquei orgulhoso quando pude pegá-la em meus braços. A enfermeira me deixou dar o primeiro banho, era o mínimo que podiam fazer já que praticamente tinham me privado de assistir o parto.
Mas enquanto eu sorria com minha filha nos braços, sentindo a alegria correr em minhas veias, um dos médicos – o responsável pela cesárea – veio até mim, e parou ao meu lado. Eu lhe direcionei a atenção com um sorriso tão grande que fiquei arrasando quando ele desapareceu de meus lábios.
"A criança nasceu bem, foi um sucesso, mas... Sua esposa corre risco de não ter a oportunidade de segurá-la nos braços", foi realmente com essas palavras que o médico me deu a notícia.
Ele foi direto. Quando exigi que me contasse logo sobre o estado de Mallory, logo revelou que ela não passaria daquela mesma noite. Meu coração nunca tinha ficado tão apertado, como naquele dia, pude senti-lo vago e fiquei sem chão...
Corri para ficar ao lado de minha mulher, deixando com a enfermeira, mas quando cheguei ao quarto, Mallory apenas me olhou e sorriu deitada na cama. Sorriu e esticou o braço. E eu já com lágrimas apenas me aproximei dela, e lhe puxei para um abraço tão apertado que mostrou meus reais sentimentos.
Eu a amava, e amaria até mesmo depois da morte!
Mas agora ela estava no céu, e eu na terra. Por isso tinha um significado tão grande em minha vida, pedi meu pertence mais valioso para ganhar um ainda mais valioso, e ele custava bilhões, trilhões, quer dizer, não tinha preço exato para definir quanto valia minha filha .
E eu já disse que daria de tudo para estar com , naquele exato momento, deitado em uma cama?
– ! – chamaram por mim, e só então percebi que ainda estava no mesmo lugar. – Vai ficar debruçado na mureta à noite inteira ou vai fazer o seu trabalho? – meu chefe era um carrasco!
Suspirei, tratando logo de guardar o celular e me dirigir de volta para as fiscalizações. Pompeu me acompanhou com os olhos, e juro que me segurei para não enfrentá-lo, pois caso fizesse poderia dizer "adeus" para o meu emprego.
Não sou homem de levar desaforos para casa e muito menos broncas do chefe. Eu era forte o suficiente para enfrentar qualquer imbecil que entrasse em meu caminho, mas acontece que com o chefe, eu tinha que colocar o rabo no meio das pernas.
***
Narração em terceira pessoa
Abriu a porta do caminhão e pulou, não se importando com a altura. Quando seus pés entraram em contato com o asfalto, começou imediatamente caminhar em direção dos homens reunidos atrás do veículo, estes discutiam pela carga.
– O que eu falei de atrasos? – ditou com a voz firme.
– Chefe a carga está incompleta. – um deles disse recebendo um olhar fuzilante de seu superior.
– Foda-se, quero que embarquem o que temos. E agora! – ordenou observando seus homens correrem para o outro lado do caminhão.
Com as sobrancelhas arcadas observou o enorme caminhão. Seu veículo, com certeza, passaria totalmente despercebido pelas bases policiais, o modelo novo do caminhão nunca levantaria suspeitas e ninguém iria suspeitar que eles carregavam mais de dois quilos de drogas ilícitas.
Retirou um maço de cigarros do bolso, e o acendeu. O delicioso cheiro da maconha logo invadiu suas narinas, o que o fez fechar os olhos para tirar proveito maior de sua droga favorita. Desde adolescente tinha fascínio pela maconha e quando cresceu essa fascinação apenas aumentou, e agora pelo menos tinha de fumar um cigarro de maconha, por dia, para não ficar alienado.
– Eu tenho nojo de você! – uma mulher surgiu e empurrou o homem. – Por que estraga a minha vida desse jeito?! – o empurrou novamente com a expressão derrotada.
– Está louca, garota?! – emitiu tragando o cigarro.
A mulher trincou os dentes e imediatamente avançou no homem lhe retirando o cigarro, o lançou no chão e pisou em cima. O homem apenas observou os movimentos, já eufórico ele pelo menos esperava que ela fosse tragar, mas pelo visto...
– Você é meu pai, por favor, pare de ser assim! – pediu com a voz alterada.
– Pare com isso irmãzinha. – outro homem surgiu abraçando a mulher de lado.
– Já que sente nojo do seu próprio pai, por que não volta para sua vidinha medíocre de merda que não dá lucro algum?! – o mais velho ditou e a mulher se livrou dos braços do irmão.
– É melhor voltar para uma vida digna de respeito que não dá lucro algum, ao ficar aqui com vocês! – cuspiu enfrentando o próprio pai, sendo ele quase um nada em sua vida.
– Cadê a minha garotinha que sorria, com minhas vitórias? – se aproximou da filha querendo tocar no queixo dela, porém recebeu uma mão carregada de força agarrando em seu pulso.
– Não ouse tocar em mim, papai! – ordenou com ódio lançando o braço dele para longe de si. – Eu não sou mais sua garotinha, e não vou continuar nessa roubada! – revelou encarando ao irmão. – Me deixem viver em liberdade. – foram suas últimas palavras antes de deixá-los para trás.
O mais velho sorriu largo passando acompanhar os passos de sua filha, então cruzou os braços ainda rindo, ela era incrível e muito irritadinha ao gosto dele.
Sua menina poderia ser a mulher mais linda da cidade, tinha os cabelos , olhos iguais ao da mãe, um corpo estrutural e força, se ela tinha uma coisa diferente das outras mulheres, era força, porém nunca seria digna de viver sem sua família por perto, não era tão fria a esse ponto.
– O que acha? – o mais novo pronunciou ao lado do mais velho, levando um cigarro até a boca.
– Aposto que não vai conseguir sobreviver sem a gente. – respondeu fazendo o filho sorrir. – Ela vai voltar Jones, vai voltar... – emitiu antes de se dirigir para o outro lado do caminhão para verificar a carga que era transportada.
Fim da narração em terceira pessoa.
***
– ! – minha vontade era de não responder, mas meu chefe, ainda era meu chefe!
– Diga Pompeu. – me virei para poder encará-lo.
– Sei que seu horário já bateu, mas estou avisando para todos sobre esse caminhão. – esticou uma fotografia do qual não hesitei em pegar.
Era a foto de um caminhão com cabine vermelha que tinha a carroceria coberta por uma lona marrom. Seja lá o que ele transportava parecia muito importante, analisando o jeito das cordas amarradas com firmeza. O modelo do veículo aparentava ser novo, e eu me arriscava em dizer que se fosse de algum traficante passaria totalmente despercebido pelas bases policiais.
– É algum tipo de veículo roubado? – perguntei com uma sobrancelha arcada ainda analisando a fotografia.
– Eu quero que você fique de olho caso esse caminhão cruze esta base. É o melhor policial que temos, e não quero perder a oportunidade de prender esses filhos da mãe! Fui claro? – ditou seriamente e apenas pude assentir.
– Suspeitas de tráfico?! – devolvi a foto cruzando os braços em frente ao peito.
– Recebi um telefonema onde estão pedindo para todas as bases ficarem atentas, há suspeita que esse caminhão pertença a uma máfia muito poderosa. – explicou.
– Uma máfia poderosa... Brasileira? – tive que questionar com a sobrancelha erguida.
Eu sabia que o Brasil era um país bastante fascinado em drogas ilícitas, mas sobre máfias poderosas no território, essa era nova!
– Eu suponho que essa máfia tenha envolvimento com alguma máfia italiana, mas isso é completamente irrelevante. – Pompeu direcionou o olhar para os policiais que ainda revistavam os caminhões das 3h da manhã. – Quero você no comandando dos agentes, vai ser o líder agora! – exclamou batendo em meu ombro.
Apenas sorri sem os dentes antes que ele me desse às costas. Era só o que me faltava ter que controlar um bando de policiais para prender mafiosos, poderia ainda ficar pior?!
Bati com a mão na testa, porra o que Pompeu queria de mim? Eu poderia ser o melhor policial do Rio de Janeiro, mas nunca mostrei espírito de liderança, de onde ele tirou aquela ideia que eu teria capacidade de liderar uma equipe?
O jeito era aceitar os fatos como são afinal, eu não poderia fazer nada.
***
Empurrei a porta branca e adentrei em silêncio. Meus olhos logo caíram sobre a cama onde minha garotinha dormia como um anjo. Aproximei-me devagar ajeitando o cobertor que tocava o chão, respirou profundamente e então se virou de lado.
Sorri tratando de afastar o cobertor, deitando meu corpo no espaço vago da cama atrás de . Minha filha não moveu um músculo continuando a dormir, era até bom que ela não acordasse, pois não queria interromper seus sonhos.
Com cautela aproximei nossos corpos, e passei acariciar os cabelos macios e de . Os fios lembravam muito os cabelos de Mallory, ah, como eu sentia falta dela... Pena que não teve a chance de conhecer a mãe, tinha certeza que as duas seriam cópias idênticas e super próximas uma da outra.
Apoiei a cabeça na mão livre continuando distribuir meu carinho em , era o mínimo que eu poderia fazer por ela, já que tinha ficado quase o dia inteiro fora de casa. Não era justo deixar uma criança tão longe dos pais daquela maneira, principalmente se ela tivesse apenas seis anos.
Eu tentava ser um pai presente; um pai responsável que brinca com o filho depois do trabalho; um pai carinhoso que lê uma história para o filho antes de ele dormir; um pai atencioso que faz careta; um pai que paga mico para ver o filho sorrindo; eu queria ser o pai que um dia eu tive...
Mas acontece que sempre falhei quanto a isso...
– Papai...? – ouvi a voz baixa de .
– Oi, meu amor. – sorri ainda acariciando os cabelos dela.
– Sabia que não quebraria a promessa... – então sonolenta, se virou e se aconchegou próximo de meu peito.
– Eu nunca iria quebrar uma promessa. – beijei sua testa ficando com a cabeça encostada ali.
Acariciei as costas de podendo já ouvir a respiração tranquila dela. Tão pequena, e frágil... Esse era o anjo que Deus me enviou. Ela veio para o mundo para me fazer feliz, mesmo sem Mallory ao meu lado, eu sabia que era o motivo dos meus melhores sorrisos.
E ela sendo o motivo de tudo, meu único dever era protegê-la, e eu como pai faria esse papel de cabeça erguida e sem medo de me arrepender no futuro!
***
– Pai...? – ouvi uma voz doce e angelical, pensei até que era Mallory. – Pai... Pai acorda você tem que levantar. – me balançou com as pequenas mãos.
– Hum... – suspirei abrindo, com muito sacrifício, os olhos. – Ainda não amanheceu . – bocejei logo em seguida.
– Não, mas você tem que ir pai. – ela pareceu encarar o relógio em cima da cômoda. – Eu queria que você ficasse mais comigo, mas já são 5h da manhã. – fez um beicinho e sorri.
– Eu prometo que hoje vou chegar cedo, assim vamos poder dar uma volta naquele parque de diversões. – prometi acariciando o queixo dela com o polegar antes de me levantar, soltando um suspiro. – Volte a dormir agora, meu amor. – beijei sua testa enquanto estava ajoelhada na cama. – Vai... – mandei e esperei que ela se deitasse para cobri-la com o cobertor. – Papai te ama. – distribuir apenas um último beijo na testa de minha garota.
– Eu também te amo pai. – retribuiu me abraçando pelo pescoço, me pegando desprevenido.
Acariciei as costas de antes de puxá-la para mais perto, em seguida apoiei a cabeça em seu ombro, absorvendo o momento único que havia muito mais do que o amor envolvido.
era tudo para mim, e eu era tudo para ela.
Eu não sabia exatamente como fazer, mas ia implorar para Pompeu me deixar sair antes das sete da noite, pois tinha que conseguir o parque de diversões aberto caso quisesse ter um momento de pai e filha com . Que se dane o mundo, dessa vez eu seria o pai que todo filho sonha em ter. Compraria algodão doce, maçã do amor, ganharia jogo para pegar como prêmio bichinhos de pelúcia e posso dizer que até deixaria o sorvete cair em minha camiseta para ver minha pequena sorrindo!
Eu queria pelo menos fazê-la se sentir dentro de uma família de verdade. Ela não chegou conhecer a mãe, apenas a viu através de fotografias, assim crescendo me vendo sendo o seu único familiar. Sou as duas faces de uma família, tenho a responsabilidade de ser pai e mãe ao mesmo tempo, desde quando era um mero bebê, recém-nascido, eu tive de amamentá-la e trocar as fraldas. Claro que me deparei com dificuldades na questão da amamentação, mas minha irmã, Diana, me ajudou a sobreviver. Eu nunca, em momento algum, pensei em desistir de exercer o papel de mãe.
Era difícil? Sim, mas por Mallory, eu tentei. Tinha certeza que ela faria o mesmo no meu lugar.
– Papai precisa ir agora, . – falei sentido ela me abraçar mais forte.
Resolvi que ficaria por mais alguns minutos até ela pegar no sono. Não demorou muito para que os olhinhos se fechassem e caíssem em um sono profundo, e somente quando tive certeza que ela realmente dormira que decidi sair do quarto.
Beijei a testa de pela última vez, antes de sair rumo à base. Era o dia que eu teria de liderar a equipe em busca do caminhão que Pompeu me mostrou na fotografia, eu sinceramente não estava com cabeça para agir como líder, porém teria de fazer tudo direito caso quisesse ser liberado mais cedo. Meu único dever era mandar e o mais importante ficar longe de brigas ou discussões irrelevantes com Pompeu, o que seria a parte mais difícil...
Pompeu me irritava somente com sua voz e por ser baixinho, o cara não chegava nem nos meus ombros!
Enquanto descia as escadas pensando em como ficar longe de encrencas, ouvi a porta da frente se abrindo, só identifiquei como sendo Milena, a empregada e babá, quando os cabelos morenos voaram com o vento gelado do amanhã.
– Bom dia Sr. ! – abriu seu belo sorriso enquanto fechava a porta.
– Bom dia Milena. – retribui.
– Já falei para me chamar de Mili, Sr. . – disse pegando o caminho da cozinha.
– Do mesmo modo que me chama de "Sr. ", te chamarei sempre de Milena. – expliquei com os braços cruzados seguindo até a cozinha também.
– Não acho que tenho o direito de me dirigir ao meu padrão como , já que isso é para os íntimos. – explicou começando lavar a garrafa de café.
– Se eu estou permitindo isso, por que insiste em não usar? – disparei ficando debruçado no balcão.
– Ah, tudo bem. – se deu por vencida, pegando o pó de café no armário. – Vai ficar no meu pé até eu te chamar de ? – quis saber e eu ri.
– Bom... – bati no balcão com um sorriso divertido no rosto. – Vou trabalhar, cuide da . – ela rolou os olhos e riu em seguida. – Ah, Milena, hoje poderá sair às 18h, pois vou chegar mais cedo do trabalho para levar no parque de diversões.
– Tudo bem, quer que eu deixe a janta pronta? – perguntou colocando o pó de café no coador.
– Não, acho que jantaremos fora mesmo. – respondi já seguindo para a saída.
– Ah, ... – me virei para encará-la. – É Mili. – sorrimos e eu sai.
***
Chequei a guia de Dexter antes de iniciar os passos a caminho da equipe reunida mais a frente. Pompeu me deixou no comando, enquanto ele se dirigiu para a outra base para esclarecer um pequeno desentendimento com um dos cachorros que havia fugido do canil policial e aparecido na casa dele.
Ficar no comando como já dito, não era meu forte. Não nasci para liderar, se tivesse nascido, teria conseguido o cargo de delegado e não de agente. Minha mãe sempre disse que eu nasci para comandar, porém ela sempre esteve enganada, pois eu não levava jeito para isso!
– Quanto mais cedo começarmos, mais rápido encontrarem o filho da mãe. – ditei mostrando meu melhor tom de líder.
– E você sabe o que está fazendo ? – rolei os olhos quando Jonathan questionou com os braços cruzados.
– Eu fui treinado e nasci para comandar Jonathan. Ditar ordens, para vocês, não é problema. – rebati com uma mentira e ele bufou.
– Não se ache , sabemos bem que você não nasceu para ser líder! – rebateu com um sorriso sarcástico nos lábios.
– Não me subestime antes da luz aparecer Jonathan! – enfrentei ficando cara a cara com ele.
– E você tem medo do escuro ? Pois eu não tenho, então posso te encarar com a escuridão! – disse firme se aproximando mais de mim com seu peito carregado de ar.
– Ei! – Luiz se intrometeu, nos afastando com as mãos. – Se nenhum dos dois percebeu, há cinco caminhões esperando para seguir viagem, então vamos parar de brigar e agir?! – ditou, sem dúvida Luiz tinha mais espírito de liderança que eu.
– Vão para seus postos, e façam seus trabalhos! – ordenei caminhando em direção da base, com Dexter, pouco me importando se a equipe ia ou não cumprir com minhas ordens.
Empurrei a porta de vidro da base, encontrando com uma mulher pendurada ao telefone parecendo resolver algo importante, e com um policial, o Sr. Ronly, da base 02. Apenas o cumprimentei com um aceno de cabeça, e segui para a sala onde Pompeu disse que tinha deixando alguns arquivos que deveriam ser de meu conhecimento.
Entrei no corredor, analisando as fotografias penduradas no grande mural junto aos anúncios de jornais onde a equipe policial daquela base, a base 05, tinha ganhado destaque por ser a base que conseguiu em dois dias impedir que quase vinte quilos de drogas ilícitas fossem traficados ilegalmente dentro das cargas de caminhões e veículos de pequeno porte.
Meus olhos pareciam brilhar feito um menino de cinco anos, nunca tinha ficado tão admirado com algo vindo da base 05, que agora tinha eu no comando. Sempre achei que minha base fosse uma fracassada quanto ao potencial das bases vizinhas, mas olhando aquele mural com fotos da equipe, tive certeza de que nem tudo que eu pensava era real.
Balancei a cabeça de um lado para o outro, voltando para a realidade. Mas quando voltei ao mundo real, meus olhos logo pairaram na grande janela do corredor, onde avistei um caminhão de cabine vermelha idêntica ao da foto preste entrar na fila de veículos pesados para ter sua carga revistada. Não hesitei, e com Dexter ainda preso a guia, segui imediatamente para o lado de fora, tinha certeza que a minha chance de capturar o delinquente, traficante tinha chegado!
Desci praticamente correndo as escadas da base com Dexter, não poderia desperdiçar essa chance de jeito algum, Pompeu me agradeceria depois por ter pegado o traficante; sem precisar saber que fui um mau líder!
– Jonathan! – chamei.
– Tudo certo Sr. Souza, pode seguir agora e tenha uma boa viagem! – desejou sorrindo simpático e o motorista seguiu.
– Jonathan! – chamei novamente, e ele se virou com uma cara de tédio.
– O que você quer ? – disparou ficando frente a frente comigo.
– Está vendo aquele caminhão? – apontei o veículo vermelho com o queixo, fazendo-o imediatamente olhar.
– Sim, um caminhão de cabine vermelha com uma lona bem amarrada, o que tem ele? – quis saber com as sobrancelhas erguidas.
– Eu tenho quase certeza que ele é o veículo que todas as bases estão procurando. – expliquei e ele rolou os olhos cruzando os braços.
– E onde eu entro nessa ladainha? – sinceramente tive vontade de socar a cara dele e traçar uma briga!
"Não faça isso , lembre-se que você está no comando hoje!" meu cérebro aclamava.
– Quero que você deixe de ser burro e assuma a responsabilidade de ir verificar os documentos e a carga daquele veículo! – falei quase entre os dentes.
– Desculpa , você não é o meu líder, e outra coisa você disse que acha que é o caminhão que procuramos, mas não tem nenhuma certeza disso! – riu parecendo debochar de mim.
– Acontece que eu estou no comando hoje, e você deveria seguir as minhas ordens e não ir contra elas! – se ele queria brigar, então iríamos brigar!
– Meu chefe é Pompeu Thomas e não você . – disse com calma, levantando as sobrancelhas em deboche antes de sair andando.
– Imbecil! – xinguei enquanto o encarava se dirigir para a base.
O acompanhei até ele empurrar a porta de vidro e expor um de seus sorrisos mais irritantes do mundo. Jonathan Stephen e eu nunca formos amiguinhos, desde que entrei na polícia, meu dever era seguir as ordens de Pompeu, sendo que por um longo período eu fui o queridinho do chefe, até Jonathan entrar com um tapado iniciante e disputar meu posto de melhor agente!
Éramos jovens e iniciantes. Eu mesmo gostava de jogar com ele, tínhamos um entusiasmo do tamanho de mundo e sempre que podíamos competíamos por inutilidades. O que mais jogávamos era "desafio depois consequência", sim, nós que escolhemos o nome. A meta era pegar o maior número de bandidos em uma semana, caso contrário o perdedor estaria sujeito aceitar qualquer desafio proposto pelo oponente.
Diversas vezes Jonathan me ameaçou largar a polícia, e eu engolia tudo, até que na última vez me explodi e o joguei contra a parede, dizendo claramente que o melhor agente sempre seria eu. E daquele dia em diante, crescemos e nos tornamos muito mais que dois competidores, nos tornamos rivais; dois verdadeiros galos de briga!
Por isso ele não ia com a minha cara, porque tivemos um passado meio controverso e cheio de discórdias. Pompeu nunca ficou sabendo dos nossos desafios, e nem ficaria sabendo.
– Boa noite senhor. – cumprimentei encarando o motorista. – Peço apenas o seu documento e a sua permissão para revistar a carga que transporta. – pronunciei esperando minhas respostas.
– O documento. – disse me entregando os papéis. – Vou abrir as trancas para vocês poderem revistar. – avisou descendo do veículo.
Enquanto ele – Jorge Maurício – se dirigia para a parte traseira do caminhão com suas chaves, apenas caminhei até a parte da frente do veículo para conferir os algarismos da placa. Não estava muito interessado naquele caminhão, por isso não terminei de verificar os documentos, se havia passado algo despercebido, o motorista era um sortudo.
– Pronto. – disse me dando passagem.
O caminhão estava completamente vazio, mas isso não queria dizer que não tivesse de conferir tudo. Com ajuda de um pedaço de madeira apoiado na carroceria, ordenei que Dexter subisse e começasse fazer o que ele fazia de melhor, cheirar. E durante esse tempo pairei meus olhos em Luiz que verificava os documentos do meu caminhão vermelho.
– Dexter já deu, venha! – chamei e o cachorro obedeceu. – Aqui seus documentos Jorge, tenha uma boa viagem. – desejei e ele assentiu.
Com Dexter ao meu lado caminhei até o caminhão vermelho, ignorei a presença de Luiz e fui direto verificar a carga escondida pela lona marrom. A primeira coisa que fiz, foi desfazer os nós e deixar o cachorro cheirar as caixas de alimentos industrializados.
Sentia que era aquele o caminhão, e torcia para Dexter encontrar logo as drogas para eu poder retirar as algemas do cinto e levar o motorista até a delegacia. Porém me senti um idiota quando o pastor desceu do veículo e se sentou ao meu lado, como assim não tinha nenhuma droga ilícita no meio daquelas caixas? Tinha algo errado.
– Alguma coisa ? – Luiz questionou devolvendo os documentos do motorista.
– Tudo limpo. – falei sem entusiasmo.
"Filho da mãe, me passou para trás!" raciocinei saindo andando, como? Não era possível, eu tinha certeza que era aquele caminhão vermelho que estava na foto! Como? COMO?!
– Algo errado chefe? – ouvi a voz de Luiz atrás de mim.
– Não, eu só pensei que era esse o caminhão que procurávamos. – respondi seguindo com meu caminho para o próximo veículo.
***
Três horas da tarde, o sol estava alto e ali estava eu, sentado em um banco com o tronco curvado, Dexter deitado aos meus pés, Luiz ao meu lado esquerdo fazendo um lanche e Lucca do outro jogando uma bolinha verde para cima. Nosso turno havia acabado, e agora Pompeu decretava as ordens, e isso era um alívio pelo menos assim eu não teria mais que trocar palavras com o idiota do Jonathan. Quanto mais eu falasse com ele, melhor para minha saúde!
Pelos meus cálculos, já tinham se passando mais da metade do horário do meu trabalho, e nada de encontrar o caminhão. Estávamos na merda mesmo...
Dexter vasculhou todos os caminhões vermelhos que pararam na base e sequer encontrou indícios de drogas nos transportes, e isso me deixava irritado, porra pelo menos uma vez na vida eu tinha de ganhar reconhecimento; o mural dentro da base merecia ter uma foto minha no centro e não de Jonathan!
– É aqu-que-que-ele cami-min-nha-nhão? – Luiz questionou com a boca cheia.
– Engula a merda de comida antes de falar Luiz Joseph! – gritei irritado.
– Desculpa. – pediu enquanto eu limpava minha calça devido às migalhas de pão. – Eu disse... – pausou para engolir. – Que não é aquele caminhão? – apontou o veículo com a cabeça.
Segui sua cabeça e olhar, encontrando com um caminhão vermelho com a lona amarrada de modo firme, idêntico ao da foto e o de mais cedo. Rolei os olhos, não estava mais interessando em pegar o traficante, que se foda o traficante, se Pompeu e Jonathan estavam ali, então deixaria para eles esse serviço, tinha desistido definitivamente.
– Que se foda o caminhão. – dei de ombros.
– Uai, desistiu de pegar o traficante? – perguntou antes de dar uma mordida no sanduíche.
– Eu... – foi interrompido.
– Ele sabe que eu vou pegar o traficante, por isso desistiu. – Jonathan apareceu na nossa frente e não me contive.
– Escuta Jonathan, não sei qual é a sua, mas é melhor calar a boca e se colocar no seu lugar! – rosnei me levantando. – No passado competíamos, mas acontece que agora acho que estamos um pouco velhos para ficar de briguinhas inúteis pelos cantos não acha? Pelo menos saiba que eu cresci e agora tenho uma filha, consegui construir uma família, mas olha para você, o que você tem? Nada! – arregalei os olhos e trinquei os dentes. – Você não tem nada Jonathan, e não tendo nada, não vai conseguir me derrubar, você sempre soube que eu era melhor que você em tudo, mas continuou insistindo em seu potencial, e olha onde está na merda! – depositei tudo que estava enroscado na garganta fazia muito tempo.
De repente Dexter se levantou e começou a latir enquanto discutíamos.
– Já que tem uma filha, por que não fica em casa e cuida dela? Afinal sua mulher está morta, opa, acho que toquei no ponto fraco do bebezinho, não é? – debochou.
– Pelo menos ela morreu me amando e sabendo que era recíproco! – rebati e Dexter começou forçar a guia. – Ela morreu me amando e me deixou um anjo, coisa que você nunca vai ter na vida! – cuspi sentindo todo o ódio de Jonathan subindo por minhas veias.
– Você... – foi impedido assim que Dexter arrebentou a coleira e saiu correndo em direção dos caminhões.
– Dexter! – gritei sentindo mais raiva, merda de cachorro! – Sai da minha frente Jonathan! – o empurrei para o lado, correndo em direção do cachorro.
Gritava o nome do animal na tentativa de fazê-lo parar, mas algo parecia que estava o atraindo para os caminhões. Pompeu, que estava verificando um dos caminhoneiros, estranhou a me ver correndo atrás de Dexter, pois para ele meu turno havia acabado.
As quatro patas continuou correndo, até parar ao lado do caminhão vermelho que Luiz tinha citado. O cachorro então se apoiou nas duas pernas e ficou girando e latindo feito um louco. O que ele queria dizer? Que havia alguma coisa naquela carga!
– Algum problema? – um homem com aparência de quarenta e poucos anos com uma barba mal feita, questionou pela janela do veículo.
– Meu cachorro parece ter identificado algo dentro do seu veículo. – respondi. – Posso dar uma olhada? – eu sei, eu não deveria pedir permissão, mas o veículo ainda era dele.
O homem apenas voltou para dentro do veículo, parecendo discutir algo importante com o motorista. Eu esperei pacientemente, enquanto Dexter se atrevia cheirar as rodas e a madeira ao redor da carroceria.
– Nunca playboy! – o mesmo homem gritou alto sacando uma arma na direção de Dexter.
Apertou o gatilho, e quando eu ia tentar salvar uma vida de uma bala, já era tarde, ele havia atirado no meu cachorro, que agora agonizava de dor naquele asfalto. E eu não sabia como reagir...
Rapidamente meus colegas correram em nossa direção, Pompeu já com a arma em punho, atirou direto nos pneus do veículo para impedi-lo de seguir viagem. Eu então agi e quando visualizei os dois homens descendo do caminhão e correrem, não pensei duas vezes antes de segui-los com a arma.
Eles pagariam por atirar no meu cachorro!
Corri atrás daquele que aparentava ser mais novo, já que o outro parecia mais esperto e tinha tomando outro caminho. Ainda correndo, mais a frente pude ver um carro preto que parecia esperar pelos dois, então fui rápido e mirei o rapaz, e assim que ele chegou próximo do veículo, disparei. Ele pareceu se desequilibrar, porém o mesmo homem que estava no banco do passageiro do caminhão, o alcançou e o levou para dentro do carro.
Tentei aumentar a velocidade de minhas pernas, mas quando menos esperava, o carro deu uma acelerada brusca e cantou os pneus. Pensei em atirar em uma das rodas traseiras, mas quando processei a ideia, o carro já estava bem longe de mim.
Fiquei parado por alguns minutos antes de retornar em busca de meu parceiro, Dexter podia ser da polícia, mas ele ainda era o meu parceiro de anos!
***
Narração em terceira pessoa.
Jones gemeu novamente dentro do carro, sentindo as dores abaixo de suas costelas se intensificarem mais e mais a cada minuto que passava. tinha lhe acertado em cheio pelas costas e o sangue que escorria manchava o banco traseiro parecendo uma torneira aberta. Seu pai tentava conter o sangue com a blusa de moletom de um de seus capangas, mas era inútil.
– Ele não vai resistir por muito tempo Rony. – Jacob pronunciou no banco do passageiro.
– Não posso perder o único filho que ficou do meu lado. – disse apertando com mais força a blusa contra o ferimento. – Quem foi o desgraçado que atirou no meu filho? – gritou já sentindo raiva de si mesmo por ver seu filho partindo daquela maneira tão dolorosa.
– Pai... – o rapaz gemeu agarrando no braço do mais velho. – E-eu não vou sobreviver... – disse tossindo em seguida.
– Não! Jones você não pode me deixar. Sua mãe já me deixou sua irmã também, agora você não! – disse com os olhos arregalados com a voz alterada em medo e desespero.
– Me desculpa... Pai... – pediu em um último suspiro antes de cair nos braços do próprio.
– Rony... – o motorista tentou uma iniciativa de consolo, mas o chefe o impediu mandando-o se calar.
Rony derramou uma lágrima. Desde a morte de sua esposa não havia derramado uma lágrima, quando vira o corpo dela no caixão jurou para si mesmo que nunca mais choraria. Pois não adiantava chorar, os mortos nunca iriam voltar.
– Rony, o nome dele é , é policial há seis anos; a esposa, Mallory Jackson, morreu no parto da filha; tem uma pequena rivalidade com Jonathan Stephen... – Jacob continuou detalhando a vida do policial. – Ele é pai solteiro; é considerado o melhor agente da polícia...
– Espera Jacob! – Rony levantou o olhar do filho para o rapaz que tinha o celular na mão. – Ele cuida da filha? – quis saber.
– Sim, o nome da menina é . – respondeu e Rony sorriu largo.
– E quantos anos ela tem? – perguntou sentindo todo o ódio transparecer em seu sorriso.
– Seis anos chefe.
– Ótimo... Luke desvie do caminho e vá para a casa desse filho da puta, ele vai pagar por tudo que fez! – apertou os olhos encarando o rosto do filho.
Fim da narração em terceira pessoa.
***
Não conseguia me acomodar naquela cadeira de hospital, não olhando Dexter desacordado na minha frente. A cirurgia para a retirada da bala tinha sido um sucesso, e meu cachorro já se encontrava fora de perigo, mas eu não conseguia olhá-lo deitado naquela cama respirando com ajuda de aparelhos.
Eu nunca me perdoaria se ele morresse. Pompeu deixou Dexter em minhas mãos sendo praticamente um presente, então se eu o perdesse não perderia só um amigo, eu perderia uma parte de mim. Dexter além de meu parceiro era parte da minha alma; se não fosse a polícia, eu o levaria para morar comigo e com .
Falando em , tinha certeza que quando chegasse em casa a encontraria desapontada comigo. Eu tinha prometido que passaríamos uma noite de pai e filha, nos divertiríamos no parque de diversões, que comeríamos besteiras, mas olha onde estou... Em uma clínica veterinária olhando para meu melhor amigo sofrendo por causa de uma droga de traficante!
Aquele caminhão e aquele rosto... Eu não conseguia tirá-lo da cabeça, e sempre que fechava os olhos para respirar, a imagem daquele delinquente aparecia. Estava disposto ir atrás dele e fazê-lo pagar pelo que fez com Dexter, mas primeiro eu queria tirar meu cachorro daquela situação. Só que não valia a pena sujar as mãos com pouca coisa, eu tinha sim vontade de fazer o mesmo com ele, mas eu não era assim, a vingança nunca passou por minha mente.
– ? – bateram na porta do quarto.
– Ah, oi, Luiz. – cumprimentei continuando com o corpo curvado. – Entre. – convidei mantendo as mãos apoiadas no joelho e o queixo sobre elas.
– Como está o Dexter? – quis saber caminhando em direção da cama.
– Ainda está sob o efeito da anestesia. – respondi visualizando Luiz acariciar o cachorro.
– Ele vai ficar bem , o que o veterinário disse? – perguntou continuando distribuir seu carinho.
– Que Dexter está fora de perigo, e que provavelmente somente amanhã ele vai acordar. – expliquei. – Eu sei que ouvir isso é um alívio, mas eu me preocupo, ele é meu cachorro e tudo mais. – comentei.
– Volte pra casa , eu fico com o Dexter. – disparou de repente e o olhei assustado. – Pode confiar em mim. Eu já fui dono de um cachorro, e sei bem como está se sentindo, meu parceiro também já foi baleado. E, aliás, prometeu sair com hoje, não foi isso que me disse? – explicou e encarei Dexter.
Estava confuso. Não sabia se era certo deixá-lo ali, pois ele dependia de mim, ele precisa de mim ao seu lado. Só que também precisava, e ela me esperava para uma noite inesquecível que ficaria marcada em toda sua vida.
Eu confiava em Luiz, afinal não tinha como não confiar, ele era o único cara na polícia que parecia ser meu amigo. Em todos os nossos intervalos era ele a minha companhia e o responsável por me fazer rir nos momentos mais difíceis. Quando Mallory morreu, foi Luiz quem ficou ao meu lado no velório, tinha ficado sob os cuidado de Diana, enquanto eu ficara ali, e Luiz foi o único que jogou os compromissos para os ares e permaneceu comigo até o enterro.
Eu devia muito a ele.
– Não vai mais dar tempo, já são 19h46min, prometi para que estaria em casa às 18h. – falei verificando o relógio no pulso.
– Não importa, se você voltar agora e explicar a situação ela vai entender e somente vai querer que você fique ao lado dela nesta noite. Tente brincar, assistir um desenho, deixe-a ajudar com a janta, não sei, só faça essa criança feliz ! – Luiz disse e sorri pequeno. – Vai e não se preocupe. – incentivou e assenti.
– Obrigado por tudo Luiz! – agradeci.
– Vai embora ! – brincou e rimos.
– Mal educado. – sorri e me levantei da cadeira.
Aproximei-me da cama, acariciando o corpo de Dexter. Pude sentir quando ele respirou profundamente, imediatamente encarei sua cabeça na esperança que ele acordasse, mas não aconteceu. Foi quando senti algo profundo em meu peito, parecia uma pontada forte. Me arrepiei e engoli em seco, somente tinha sentido essa pontada quando Mallory morreu no hospital em meus braços, e agora naquele momento, somente poderia ser...
Não! Não com a minha !
Entrei em desespero e rapidamente sai correndo do quarto. Precisava saber se minha pequena estava segura, nunca iria me perdoar se acontecesse alguma coisa de ruim com meu anjo. Minha filha era tudo o que eu tinha, e não podia perdê-la!
– , o que houve? – Luiz gritou, mas eu já estava no corredor.
Sai da clínica veterinária como um furacão, e me enfiei no carro já pisando fundo no acelerador para chegar o mais rápido em minha casa. Desviei todas as ruas com sinaleiros, e cheguei a minha casa em questões de minutos, só que o que eu vi me deixou com a garganta seca...
A porta estava aberta, e havia duas viaturas estacionadas bem em frente da casa. Estacionei o carro de qualquer jeito próximo da guia e sai correndo do veículo, identificando Milena no meio de todos os vizinhos conversando com um dos policiais, com lágrimas no rosto.
– Ah, ! – ela rapidamente me reconheceu e correu em minha direção.
– Cadê a ? – foi a primeira coisa que eu pude pensar.
– , se acalma, ela... – Milena tentou me segurar, mas não me contive e invadi a casa. – ! – gritou, mas eu não parei.
Adentrei a sala já chamando por , e recebendo o silêncio como resposta. Sentindo meu coração acelerado aos extremos subi as escadas ainda gritando por minha filha, logo cheguei a frente da porta do quarto dela e meu coração se partiu em mil pedaços...
– Não... – foi tudo que pude dizer quando encarei todos os objetos de jogados pelo quarto.
Os guarda-roupas estavam revirados, as cômodas tinham as gavetas abertas, a cama não tinha lençóis, os travesseiros estavam pelo chão e os bichinhos de pelúcia estavam rasgados. Que tipo de monstro faria aquilo?
Caminhei dentro do quarto, tentando absorver tudo, mas não conseguia acreditar. Até que um pouco de esperança apareceu em meu cérebro e comecei revirar os guarda-roupas e o banheiro em busca da minha pequena, mas tudo que encontrei foi o silêncio, aquele silêncio sombrio que nos deixa com nós na barriga.
Com as mãos nos cabelos sai de dentro do banheiro, com a expressão de espanto. Onde estava minha filha? Quem foi que arrombou a minha porta? E por que fizeram isso?!
– Minha não... – pronunciei antes de meus olhos pairarem no notebook em cima da cama.
Sentindo a garganta mais seca que o comum, me aproximei da cama, e não hesitei ao abri a tela, sendo imediatamente surpreendido por um vídeo aparecendo na tela escura sem eu fazer qualquer movimento com o mouse.
"Olá , se meus capangas não estão errados, você é o filho da puta que barrou meu caminhão. , ah, é um belo nome, devo dizer então que sua filha se chama ?", o sorriso irônico que surgiu nos lábios do homem me deixou com o estômago revirado "Não precisa ajustar o som, pois você vai ouvir bem o que vou dizer: eu estou com a sua filha!" levantou as sobrancelhas e girou a câmera mirando que dormia em um sofá com sua coberta de bichinhos "Ela está bem, por enquanto não deu um grito, está a educando direitinho em, devo lhe parabenizar." riu escandalosamente me fazendo engolir em seco ao vê-la dormindo, com certeza nem fazendo ideia de onde estava"Escute bem, , você matou meu filho, lembra-se do tiro? Então você tirou meu filho de mim, e agora nada mais justo que eu tirar a sua filha de você! Eu sei que filho não tem preço, mas podemos negociar e você pode ter seu bebezinho de volta se me pagar 400 mil reais. O meu Jones valia mais que isso, aliás, ele não tinha preço, e eu nunca vou tê-lo de volta, e bem que eu poderia fazer o mesmo com você, eu queria fazer você sentir a dor que eu senti quando ele morreu em meus braços. Mas sabe de uma coisa? Vou poupar essa linda criança, e oferecer meu preço com prazo de um mês para me arrumar a grana toda, negócio fechado? E não se preocupe, está em boas mãos..." somente pelo sorriso final dele antes do vídeo acabar, senti que minha filha não estava em boas mãos e sim a um passo da morte!
Capítulo 2
Narração em terceira pessoa.
– Você não está falando sério, está? – a moça sorriu com uma cara de surpresa. – Sério mesmo que vão anunciar na rádio e na televisão?! – o rapaz assentiu e ela bateu a mão no balcão mostrando sua imensa felicidade. – Então a última vez foi um sucesso grandioso! – sorriu largo se sentindo orgulhosa.
– Alex sabe como agradar o público. Não é fácil colocar um lutador no ringue, ainda mais pra lutar contra um brutamonte como o James Lopes e sair ganhando. – comentou e ela riu ficando debruçada no balcão.
– E isso é maravilhoso, finalmente o clube vai ganhar reconhecimento! – sorriu de novo, expondo sua magnífica carreira de dentes brancos.
Eles continuaram conversando sobre a propaganda que fariam do clube Energia do MMA. A mulher era uma das donas e treinadoras do lugar, desde muito cedo lutava nos ringues para conseguir seu próprio dinheiro, e até certo período somente se sustentava com o dinheiro das lutas. Ela nunca havia ganhado o cinturão, mas não precisava, pois a força em seus bíceps já provava seu potencial.
E agora que estava de volta para o mundo do boxe, passaria acompanhar apenas as lutas. Não tinha mais prática para treinar iniciantes. Ensinar não era o problema, isso era fácil perto da sensação que era ver seu aluno apanhando na frente de milhões de pessoas.
E assim que bebericou sua água, a porta da emissora se abriu fazendo os olhos da moça caírem imediatamente na figura masculina que adentrou o local. Foi que se surpreendeu com ele, porra, quem era aquele homem? Cabelos sedosos, ombros largos, braços fortes, um leve indício de barba e olhos em um tom magnífico, se não fosse pela tristeza transparecida neles.
– Quem é ele Taylor? – quis saber como uma boa curiosa.
– É , o melhor policial de todas as bases do Rio de Janeiro. – respondeu e a mulher apoiou os cotovelos no balcão.
– Solteiro? – perguntou na maior cara de pau, enquanto se aproximava.
– Em que posso ajudar? – Taylor ignorou a pergunta da mulher.
– Só estou aqui porque quero que você anuncie o desaparecimento da minha filha, , ela foi sequestrada, e acrescente que preciso de ajuda para consegui 400 mil reais para salvá-la. – respondeu com um tom de voz bastante derrotado. – Eu não sei mais o que fazer para conseguir esse dinheiro! – se lamentou apoiando os cotovelos no balcão e abaixando a cabeça.
Taylor imediatamente encarou a mulher que terminava de beber sua água. Ela somente piscou e quando pousou o copo de volta no balcão, começou dizer:
– ... – saiu de seu assento, parando ao lado do rapaz. – Eu tenho uma solução para poder salvar sua filha. – revelou e ele levantou a cabeça, ficando em segundos com os olhos arregalados.
Sem falas, apenas estudou a mulher a sua frente. Sua garganta secou, como na noite anterior, quem era ela? Só poderia estar sonhando, pois Mallory estava morta, então não poderia estar na sua frente!
Ela era linda demais, perfeita. A cópia viva de Mallory Jackson tinha olhos em um tom vivo, os lábios pareciam desenhados com delicadeza, os cabelos caiam em seus ombros e o sorriso, ah, o sorriso só ajudava se lembrar de mais da esposa.
– Como? – não sabia responder se perguntou se referindo a suposta solução ou a aparência dela.
– Venha comigo . – ouvir seu nome naquela voz, o deixou mais fora da realidade, até a voz era igual!
A mulher, até então desconhecida, caminhou até a porta, e como um cachorrinho a seguiu. Seja lá quem ela era não queria deixá-la partir, não sem antes saber seu verdadeiro nome...
Fim da narração em terceira pessoa.
***
O que estava acontecendo? Eu praticamente tinha perdido , quebrado assim a promessa que fizera a mãe dela, e simplesmente aparece o clone de Mallory Jackson para me dar uma lição? Eu sei que tinha errado, mas poderia consertar tudo sozinho, não precisava de nenhuma cópia muito bem feita da minha esposa!
– Desculpa ser um "indelicado", mas não sei seu nome. – pelo menos isso eu precisava saber antes de tirar conclusões precipitadas.
– Não está sendo indelicado, , não há nada de ruim em querer saber o nome da outra pessoa. – respondeu continuando a caminhar.
– Se me quiser dizer ficaria grato, caso contrário não vai fazer diferença alguma na minha vida mesmo. – ela riu.
– Tenho certeza que meu nome vai fazer muita diferença na sua vida. – rebateu com um sorriso largo nos lábios, e por um momento quase, eu disse quase, pensei que era Mallory.
– Em quê, por exemplo? Me diga um motivo. – exigi e ela negou com a cabeça.
– Me siga e descubra. – disse com o tom misterioso.
Ela então continuou caminhando na frente e virou a esquina, me levando para um bairro escuro. Senti um arrepio, só o que me faltava ela estar me atraindo para a armadilha da morte!
Eu não sabia exatamente de quem ela era, mas apenas de olhar em seus olhos, sabia bem que não se tratava de uma mulher qualquer. Havia algo naqueles olhos que me alertavam sobre o perigo.
– Se quiser salvar a , vai ter que fazer parte disso... – alertou antes de empurrar uma porta de metal.
Pude imediatamente ouvir a música eletrônica extremamente alta saindo de dentro daquele lugar, sério mesmo que ela havia me levado para uma boate?
Quando ela entrou e me esperou, senti como se aquilo fosse minha única saída. E com passos desconfiados passei pela porta, encontrando com cenas do qual nunca pensaria que encontraria um dia no Rio de Janeiro, e bem ao contrário do que eu imaginava...
Havia um ringue no centro de tudo, onde dois homens musculosos, apenas de bermuda e luvas, lutavam levando as pessoas ao redor a loucura. Em primeiro momento me senti como uma formiga, nunca tinha presenciado uma luta de boxe tão de perto, sempre achei que fosse ilegal por ser um esporte extremamente bruto.
– Irá haver várias lutas com o decorrer do mês o que é uma boa oportunidade para testar suas habilidades. Ah, e no final de todos os meses a UFC sempre organiza lutas especiais que lucram demais. – a voz feminina disse no pé de meu ouvido.
– Mas... – me virei de frente para ela. – Eu não entendo nada de boxe. – ela sorriu e se aproximou mais de mim, colocando as duas mãos em meus ombros.
– Está olhando para sua treinadora querido. – continuou sorrindo e piscou os olhos. – Vai ser divertido, vou te ensinar tudo que precisa saber. – ela se atreveu em contornar meus lábios e eu com os olhos já assustados apenas fiquei a encarando.
– Você é estranha. – falei a primeira coisa que me veio à cabeça.
Então ela puxou a corrente de prata que eu usava no pescoço, nos fazendo ficar com os rostos mais próximos.
– Não seja ingênuo , você deveria estar agradecido por uma mulher como estar te ajudando! – foi somente isso que disse antes de me soltar e dar as costas sumindo em meio à multidão, não sem antes lançar uma piscadela em minha direção.
Neguei com a cabeça, ainda muito confuso com tudo que tentava absorver. Em que macumba estava me metendo?! Lutar boxe? Eu só poderia estar ficando louco! O esporte era considerado o mais bruto da face da terra, e ali estava eu, somente a um passo de fazer parte dos lutadores que sobem nos ringues e lutam até sangrarem!
O que mais eu poderia fazer? Se a suposta " " disse que é a minha única chance para salvar , então eu me arriscaria e me daria de corpo e alma ao boxe. Nem que eu tivesse de morrer dentro do ringue, mas pelo menos morreria tentando salvar minha filha da morte!
***
– Regra número um: nunca fique mais que seis horas na cama! – de repente uma quantidade absurda de água gelada foi lançada em cima de mim.
– Sua maluca! – foi tudo que consegui dizer quando abri os olhos e me deparei com a cama totalmente molhada.
– Se acostume com sua nova vida . – ela deu de ombros deixando o balde do lado da cama e se dirigindo para o guarda-roupa. – Agora levanta o traseiro gordo da cama, troque a roupa molhada...
– Roupa molhada por sua causa.
– Cala a boca. – ordenou retirando um cabide do guarda-roupa. – Aqui, coloque essa camiseta azul. – disse jogando a camiseta na minha cara. – E seja rápido, não quero começar tarde. – deixou claro saindo do quarto.
Bufei e rolei os olhos. Em que merda de vida eu fui me enfiar? Aliás, que horas são? Encarei imediatamente o relógio, enquanto puxava aquela camiseta do corpo e me enxugava com uma toalha que provavelmente, já sabendo que me daria um banho gelado, deixara ali. Os ponteiros marcavam 4h15min, porra qual era o problema daquela mulher? Foi exatamente isso que questionei quando sai do quarto sem arrumar a cama e já vestido com a camiseta e bermuda seca.
– Qual o seu problema garota? – ela riu permanecendo encostada na parede.
– Aqui nós temos regras querido, se quiser salvar sua filha vai ter que se acostumar em acordar esse horário. – respondeu firme seguindo para o corredor.
Apenas engoli meu ego e a segui até o final do corredor, onde ela me levou até ficarmos parados em frente a duas enormes portas de vidro. esperou que eu estivesse ao seu lado para abrir as portas e me mostrar a enorme sala que escondiam. Se eu dissesse que não fiquei impressionado, estaria mentindo descaradamente.
Havia três enormes janelas ao fundo, um enorme tatame que cobria todo o chão da sala, cinco sacos de bancadas pendurados do lado esquerdo, dois pequenos armários encostados próximos da porta e uma geladeira ao lado deles. Nas paredes havia alguns quadros com fotografias reais, e claro, alguns pôsteres de lutadores famosos e fotos do famoso cinturão que era bastante disputado por todos.
– A primeira lição é aprender a diferença entre MMA e boxe. – ela começou retirando dois pares de luvas do armário.
– Não é a mesma coisa? – me arrisquei em perguntar encarando os quadros pendurados na parede.
– Se me deixar explicar, talvez você entenda. – revirei os olhos.
– Você é sempre assim todas as manhãs? – quis saber me virando de repente e me deparando com ela olhando fixamente para mim.
– MMA são artes marciais que incluem golpes de luta em pé e técnicas de luta no chão. – ignorou minha pergunta e avançou seus passos em minha direção. – Já o boxe é a luta entre dois competidores que usam luvas próprias ou ataduras nas mãos para se enfrentarem, um tentando derrubar o outro com murros. – explicou dando mais um passo, ficando com o corpo a poucos metros do meu.
– E você vai... – tentei pronunciar, mas ela me acertou com um chute no abdômen. – Ei! – exclamei assim que minhas costas encontraram o tatame.
– Executamos o MMA, ! – ela sorriu e arremessou as luvas em cima de mim. – Se levante. – ordenou recuando alguns passos.
Enquanto me levantava e colocava as luvas, em um movimento rápido socou o saco de pancada e logo em seguida o chutou, repetindo os movimentos em segundos alternados e calculados. Ela usava luvas pretas e era impressionante sua força sendo demonstrada daquela maneira, eu era capaz de visualizar todos os seus músculos conforme socava e chutava.
Prendi o velcro da luva vermelha e continuei observando os golpes alternados que aplicava contra o saco de pancada. Eu estava boquiaberto, nunca imaginei que mulheres poderiam lutar no mundo do MMA, sempre achei que o UFC proibisse figuras femininas nos ringues, mas pelo jeito eu estava errado.
parecia uma mulher perigosa, e isso me deixava de uma forma doentia, excitado e bastante submisso a si. Queria lutar com ela e descobrir seus pontos fracos, ela seria minha treinadora, e por causa desse fator não via a hora de tê-la lutando comigo naquele tatame.
Olhe para mim sendo egoísta. Enquanto poderia estar chorando e com medo, ali estava eu louco por uma mulher desconhecida que só tinha a aparência igual de minha esposa.
– Há quanto tempo você luta? – comecei deixando a voz um pouco roca.
– Desde quando eu tinha dezesseis anos. – respondeu chutando o saco.
– Já ganhou alguma luta na vida? – questionei.
– Já fui dona do cinturão, antes de meu pai me tirar do mundo do UFC. – explicou e direcionou o olhar para mim.
– Como tem tanta certeza que lutar vai me fazer ter de volta? – perguntei.
– A luta que vai acontecer nesse final de semana, vai gerar o prêmio de 60 mil reais. Se eu inscrever você para o combate especial do UFC, que será nofinal do mês, vão haver apostas e podemos fraturar até 200 mil, ou seja, fazendo assim faltar apenas mais 200 mil reais para você salvar sua filha. – explicou e franzi o cenho.
– Como sabe que eu preciso de 400 mil reais para salvar ? – perguntei me sentindo um idiota, pois ela ficou séria.
– Você disse o valor da emissora e porque... – mordeu os lábios de um jeito sexy, mesmo sabendo que ela não queria parecer sexy.
– Por que...? – gesticulei para ela continuar.
– O homem que sequestrou sua filha, ... É meu pai. – disse e me encarou com os olhos nublados em medo da minha possível reação.
– Seu pai? – levantei uma sobrancelha.
– Sim, meu pai legítimo, o filho da puta que engravidou minha mãe. – respondeu abaixando a cabeça.
– E por que está me ajudando? Você deveria ficar do lado dele. – falei e ela levantou o olhar.
– Eu quero acabar com ele. Nunca fui a favor dos planos malignos dele. – explicou e engoli em seco.
– E você sabe que matei seu irmão? – soltei logo a verdade.
– Jones? – abriu um sorriso. – Você fez um favor para todos nós, ele era o diabo, na verdade seu apelido era "eldiablo". Jones matou almas inocentes e esquartejou várias pessoas, eu vi como ele agia e sempre tive vontade matá-lo. Você só me fez um favor , e acho justo retribui-lo. – explicou se aproximando de mim. – Eu vou te ajudar salvar a , nem que eu tenha de morrer tentando. – disse começando analisar meu corpo.
Engoli em seco quando me estudou dos pés a cabeça. Me sentiincomodado, pois ela parecia escolher alguma parte do meu corpo para enfiar uma faca, e me senti mais incomodado ainda quando começou andar ao meu redor, e tudo que pude fazer foi acompanhá-la com o olhar mantendo o silêncio.
então me surpreendeu quando espalmou as mãos em minhas costas e as escorregou até pairarem em meu abdômen. Seus dedos invadiram minha camiseta e passaram levantá-la, porém eu a impedi e segurei sua mão, acabando por fim me virando para encará-la nos olhos.
– Tire a camiseta . – mordeu os lábios me deixando louco. – É mais confortável para lutar. – sorriu pervertido, e já percebendo sua intenção, apenas retribui o sorriso.
E assim puxei a camiseta do corpo, fazendo-a encarar meu abdômen com um dedo na boca, e isso me deixou com a calça mais apertada. Que criatura sexy!
– Wow, estou vendo que não vai ser difícil conseguir suspiros das garotas. – disse pairando a mão em meu abdômen. – Vamos lutar Sr. ? – quis saber mordendo os lábios antes de me puxar pelo cós da bermuda.
Sorri pervertido em sua direção, assentindo e me dando mal em seguida. foi rápida e quando menos esperei, ela já havia acertado a pernas atrás dos meus joelhos e me feito cair de costas no tatame de novo, e enquanto me recuperava do impacto ela ria parecendo se divertir com a situação.
– Golpe baixo. – rimos.
– Você assentiu, pensei que já estivesse pronto. – disse estendendo a mão para mim.
Apenas a olhei de relance e a aceitei, só que ela não contava que eu fosse puxá-la em minha direção, fazendo-a cair em cima de mim. Rimos feitos dois adolescentes e ficamos naquela posição por alguns segundos, até nossos olhos se encontrarem.
pousou seu braço em meu peito e logo em seguida encostou seus lábios nos meus. Estranhei por ela ter tomado a iniciativa, porém não reclamei, apenas retribui, sentindo-a puxar minha corrente. Levei minhas mãos até sua cintura onde segurei firme, e a virei devagar para o lado, até me encontrar por cima.
E nesses pequenos movimentos, nossas línguas se encontraram fazendo uma magnífica sensação de déjà vu surgir em minhas entranhas. Eu já tinha feito algo parecido em meu passado, mas não sabia exatamente se era com Mallory ou em minha vida passada.
afastou suas pernas e me encaixou no meio delas, levei aquilo como um incentivo e aprofundei mais o beijo. Ela em momento algum parou de me puxar pela corrente e eu somente pude escorregar minhas mãos por suas curvas, levantando a camiseta cinza e curta que ela usava.
– Deveríamos lutar . – pronunciou rompendo o beijo.
– Qual o seu problema ? – eu quis saber, começando distribuir beijos por toda extensão daquele pescoço que estava me deixando louco.
– Eu tenho medo de me apaixonar. – disse tão baixo que eu quase não ouvi. – Já fui machucada uma vez, e não quero me machucar de novo... – complementou e apenas a encarei.
– Eu não vou te machucar. – sussurrei. – Sou apenas seu aluno. – brinquei descendo os beijos para o colo dela.
suspirou e jogou a cabeça para trás, e podia jurar que ela fechou os olhos para aproveitar de minhas carícias.
– não... – murmurou colocando as mãos em meu peitoral. – Vamos lutar primeiro amor. – pronunciou a última palavra e sorri.
– Agora eu gostei! – sorri lhe roubando um selinho antes de me levantar.
Ofereci ajuda, porém ela me rejeitou e rapidamente se levantou já começando com os golpes, mas eu consegui me desviar de todos. Lutar com ela seria muito, mas muito excitante!
Capítulo 3
Narração em terceira pessoa.
Rony reservou seu assento na primeira fila, pois não queria perder a oportunidade de ver apanhando de um lutador bem mais experiente que ele. Desde que soube através de sua filha – ou Kieran, que seja!– que iria lutar para conseguir a grana, ficou completamente ansioso para vê-lo dentro do ringue.
estava em boas mãos dentro de um enorme depósito abandonado, e o papaizinho sequer teve a chance de se despedir, e não teria essa chance, pois a garota com certeza já tinha partido daquele mundo para um mundo melhor!
O que mais doía era ver , a sua garotinha, do lado errado. Ela estava do lado de , o assassino de Jones Kieran, seu próprio irmão!
Rony sentia raiva de até o último fio de cabelo e se pudesse assim que ele adentrasse o ringue, o acertaria com um tiro, pelo menos assim a vingança estaria completa, mas ele preferia esperar para ver a reação do policial quando descobrisse que nunca mais teria em seus braços.
– Tudo certo? – perguntou a Jacob que sentará ao seu lado.
– Tudo resolvido chefe, a garota não existe mais. – respondeu fazendo o homem sorrir vitorioso.
– Vamos matar o playboy também. – disse rindo alto.
(...) enquanto isso...
– Eu estou preocupado, e se eu cometer alguma penalidade? E se eu perder? E se as apostas não atingirem o preço esperado? E se...
– ! – gritou segurando nos ombros do homem, fazendo-o parar de andar de um lado para o outro. – Você vai ganhar, está bem? Não treinamos pesado um mês para você perder! – disse pensando do lado positivo, coisa que ele deveria fazer.
– Relaxa , vai dar tudo certo! – Alex Spencer, o dono do clube onde e faziam parte, se pronunciou.
apenas sorriu pequeno para o mais novo chefe, enquanto o abraçava e tinha a cabeça apoiada em seu peitoral descoberto na tentativa de mantê-lo calmo. Alex, mais dois homens – treinadores – e algumas pessoas da área hospitalar estavam em volta do casal apenas esperando a hora que o locutor anunciaria a última luta da noite onde a disputa seria pelo cinturão.
– Ninguém sabe quem vai ser o adversário? – Alex questionou encarando o ringue, onde dois lutadores se encaravam nos últimos minutos.
– Tentei descobrir, mas parece que essa noite na luta do cinturão, os adversários somente vão se olhar na hora exata. – respondeu e suspirou se mostrando tenso.
– Eu não estou pronto para competir o cinturão. – revelou se soltando de e se dirigindo para a poltrona, levando as mãos para os cabelos.
– , se ganhar o cinturão poderá fraturar até 40 mil reais, e sendo iniciante, o UFC abre a chance de você conseguir triplicar esse valor, pois seu número de lutas vencidas dentro do ringue é de três e isso para eles não é nada, mas se você ganhar o cinturão você sai daqui com 120 mil reais no bolso.
– Eu preciso de 400 mil reais, Alex! – gritou sentindo que não conseguiria mais salvar . – E tudo o que eu tenho até o momento são os 240 mil das minhas únicas três lutas!
– Há as apostas também garoto. – lembrou, mas apenas abaixou a cabeça.
"Já estão abertas as apostas para os lutadores da última luta da noite, a luta mais esperada do momento! Nossos lutadores ainda são misteriosos, mas faça suas apostas nas equipes, lado vermelho ou azul? Logo iniciaremos esse duelo e veremos quem será o mais novo dono do cinturão!" o locutor disse com entusiasmos e apenas relaxou as costas na poltrona.
– Vai dar tudo certo garoto! – Alex passou forças e apenas suspirou antes de fechar os olhos.
estava preocupado demais para entrar no ringue aquela era sua última chance para salvar das mãos dos traficantes, durante um mês não conseguiu parar de pensar no quanto estava se arriscando para salvá-la. Tudo até agora foi por ela, nem mesmo seu início de romance com conseguir fazê-lo tirar a preocupação da cabeça. Como pai era seu dever salvar a filha, mas já estava perdendo as esperanças de ainda encontrá-la com vida.
Já fazia um mês desde a última vez que a vira, e não conseguia mais ficar sem ela. Sentia saudade, e implorava todas as noites para poder abraçá-la. Para um homem isso seria sofrimento de uma garota, mas para um pai é apenas a mais simples e pura demonstração de amor verdadeiro...
“E agora meus queridos, a luta mais esperada da noite!!!” o locutor começou e a platéia foi a loucura.
fez o sinal da cruz e se levantou da poltrona. Alex logo surgiu a sua frente segurando as luvas e o protetor bucal, o ajudou com as luvas sentindo o quanto ele estava tenso, pois seu corpo não parava quieto no lugar. segurou o protetor bucal com a mão e esperou até seu nome ser chamado, enquanto isso recebia alguns selinhos de para se manter calmo.
“Do lado azul:com três vitórias, nenhuma derrota; 28 anos; pesando 83 Kg; 1,80 m de altura; do clube Energia do MMA da cidade do Rio de Janeiro mesmo, chamo... !!!” anunciou gritando com empolgação.
colocou o protetor bucal e correu em direção da entrada do ringue, levando a platéia a loucura, principalmente as mulheres, o que poderia deixar com ciúmes, mas ela não ficava, pois já tinha sido bastante difícil fazê-la ceder a ele depois de ter sido machucada no passado.
Com a animação da platéia, se exibiu por uns segundos, até se posicionar do lado azul do ringue, onde estava sua equipe reunida.
“E agora do lado vermelho: com vinte e três vitórias, duas derrotas; 29 anos; pesando 83 Kg; 1,83m de altura; do clube Lotus Boxe da cidade do Rio de Janeiro também, chamo... Jonathan Stephen!!!” chamou e imediatamente encarou a entrada do ringue, onde seu inimigo passava com luvas pretas nas mãos e um corpo musculoso.
Jonathan lançou um olhar medonho para , será que o próprio UFC sabia que naquela luta se encaravam dois verdadeiros rivais?
– tudo bem? – quis saber quando o encarou com a expressão indignada.
– Alex ainda dá tempo de apostar? – disparou pedindo tempo para o arbítrio.
– Estamos nos últimos minutos, o que pretende? – se aproximou do ringue.
– Quero que aposte todo o meu dinheiro em mim.
– Ficou louco? – disparou assustada.
– Esse é Jonathan Stephen, meu rival de anos, e não vou deixá-lo sair ganhando essa luta! – explicou voltando para sua posição. – Vá rápido Alex! – ordenou e o homem obedeceu.
“Antes de começar a luta, vamos encerrar nossas apostas, e ver quanto estão valendo nossos lutadores dessa noite!”, o locutor pronunciou e deixou que os dados das apostas aparecessem no telão“WOW! você ultrapassou todas as apostas já feitas em uma luta pelo cinturão, 250 mil reais?!” a platéia ficou eufórica e sorriu vitorioso “Enquanto que Jonathan Stephen tem apenas 20 mil reais em apostas.”, Stephen não se mostrou para baixo, ainda poderia derrubar e ganhar novamente seu cinturão “Mas isso não importa, vocês querem luta?” a platéia gritou. “Então ‘It's fight time'!”.
O arbítrio convocou os dois lutadores para o centro do ringue e a platéia inteira se fez em imenso silêncio. Os dois se encararem e se mostraram já prontos para a luta com as mãos posicionadas na altura do peito. Jonathan pulava se mostrando inquieto, enquanto tentava manter a calma, pois caso perdesse todo o seu plano de salvar iria ralo abaixo.
Então o arbítrio anunciou o começo da luta.
Os dois começaram calmos apenas passeando pelo ringue em pulos e com simples ameaças de ataques, só que sequer se cumprimentaram o que causou estranheza no público. Mas logo todo o momento do início da luta passou quando foi ao chão com um golpe executado pela perna de Jonathan, que agora acertava soco em seu rosto sem dó e nem piedade. tentou se proteger com os braços, mas podia sentir que a intenção de Jonathan não era lutar pelo cinturão e sim lutar para acabar com a raça dele!
Mas acontece que não tinha chegado até a última luta do UFC para perder para um imbecil como Jonathan Stephen!
Sendo ágil, lançou todo seu corpo para frente conseguindo agarrar Jonathan pelo pescoço. Os dois continuaram no chão,porém atrás e Jonathan na frente preso nos braços dele em um golpe que se chamava Mata-Leão, onde tentava estrangular Stephen enquanto ao mesmo tempo tinha as pernas enlaçadas na cintura do mesmo e o acertava com socos na face.
O arbítrio quando viu que Jonathan estava completamente imobilizado, encarou o relógio e percebeu estar faltando trinta segundos para acabarem o round, por isso se interviu e os separou. então se levantou e abriu os braços indicando a vitória no primeiro round.
“QUE PRIMEIRO ROUND IMPRESSIONANTE!!!” o locutor gritou enquanto os médicos e as equipes entravam no ringue.
O intervalo de um minuto passou voando e logo e Jonathan já esperavam pela permissão do arbítrio para começarem o segundo round, que era anunciado por uma das ring girls super gostosas que sempre estavam presentes em lutas organizadas pelo UFC.
– Tempo! – Jonathan gritou e o arbítrio permitiu.
não utilizou da chance para ir até a grade do ringue, permanecendo onde estava apenas encarando seu inimigo conversando com um homem de capuz, que com certeza não queria ser reconhecido. Arqueou as sobrancelhas, achando estranho, pois aquele pouco pedaço de rosto que era iluminado lhe parecia muito familiar.
– , vem aqui. – chamou, porém ele não obedeceu. – , vem aqui agora! – insistiu, porém ele deu apenas os passos para frente e se posicionou para começar a luta. – Não idiota! – levou as mãos para os cabelos vendo Stephen se recompor.
Ela sabia que o homem que amava estava em um tremendo perigo com Jonathan sendo seu adversário de luta, e precisava avisá-lo, mas a cabeça dura não a escutava!
– Tudo certo? – questionou o arbítrio encarando de para Jonathan.
Ambos assentiram então a luta começou.
Acontece que o round começou diferente... teve toda sua atenção tomada para a plateia por um momento, onde encontrou todos os integrantes da polícia sentados na terceira fila mais próxima do ringue. Não só isso, assim que virou um pouco a cabeça para o lado, encontrou um cano de revólver apontado em sua direção...
– Cuidado ! – Jonathan se jogou em cima dele, o protegendo do tiro.
A platéia então se mostrou assustada com o barulho do tiro, se mantendo apenas em silêncio. tossiu e fechou os olhos sentindo o peso de Jonathan completamente em cima de si. O arbítrio olhou para os lados, em busca do responsável pelo tiro, não encontrando absolutamente nada, somente uma platéia assustada e curiosa para saber o que aconteceu com os dois lutadores.
Pompeu imediatamente se levantou de seu acento e passou encarar e Jonathan ainda no chão do ringue sem executarem um movimento. Sua garganta estava seca, e não queria ter que pensar na hipótese de perder seus dois melhores policiais!
– JAY!!! DEIXE-ME ENTRAR!!! – gritava desesperada na entrada do ringue, porém estava sendo impedida pelos seguranças.
abriu os olhos e ergueu a cabeça lentamente, podendo ouvir a respiração ofegante de Jonathan que tinha metade do tronco em cima de si. Os dois se encararam e somente nesse momento que ambos finalmente puderam se entender como bons amigos, Jonathan havia salvado da morte, nunca que ele demonstrava fazer uma atitude parecida!
“Pessoal peço que todos mantenham a calma, está tudo sob contro...” mais um tiro foi disparado e todos gritaram, mas não se atreveram levantar das poltronas.
– !!! – gritou já com lágrimas nos olhos.
– ! – Jonathan chamou assim que ouviu gemendo ao seu lado. – olha para mim! – ordenou podendo ver o sangue escorrendo pelo ferimento feito entre o ombro e pescoço de .
Stephen levantou o olhar e imediatamente encontrou com o olhar maligno de Rony, e tudo que o lutador pôde fazer foi trincar os dentes, sentindo raiva por ele ter atirado em sem ao menos ter um motivo!
– eu sei onde está sua filha. – disse baixo, fazendo o rapaz o encarar com uma expressão de dor. – Vem comigo. – ordenou e apenas lançou um olhar felino para Rony que correu. – Vem! – se levantou rapidamente e correu em direção da saída do ringue, atropelando os seguranças e .
demorou um pouco mais para se levantar, devido à dor, mas quando se colocou em pé, imediatamente, assim que viu correndo em sua direção, se desviou dela e seguiu os passos de Jonathan. Correu o mais rápido que conseguia atrás do seu inimigo – talvez agora ex-inimigo, não importa –, ele disse que sabia onde estava, por isso o seguia, pelo menos uma vez na vida confiaria em Jonathan.
Ambos saírem do evento do UFC e chegaram às ruas escuras do Rio de Janeiro. mesmo sentido dor continuou a correr, porque seu coração implorava para que aguentasse pelo menos chegar até onde Jonathan dizia que estaria, se fosse para morrer perdendo sangue, pelo menos teria que abraçá-la uma última vez...
– aqui! – Jonathan gritou assim que eles viraram uma esquina e encontraram com uma porta de ferro arrombada.
encarou Jonathan se mostrando desconfiado, será mesmo que podia confiar nele? Na luta ele se uniu a Rony, mas depois o salvara do tiro, em que lado realmente Jonathan Stephen jogava?
– Ela está atrás dessa porta. – indicou a porta com a mão.
ficou o encarando com o mesmo olhar desconfiado, até Jonathan rolar os olhos e ele adentrar o local primeiro. sentindo um calafrio na espinha o seguiu e quando se viu totalmente dentro do depósito, imediatamente seus olhos se arregalaram e pairaram sobre a figura de uma criança deitada em um subposta coberta de bichinhos no meio de todos aqueles materiais abandonados.
– ! – gritou correndo em direção da pequena.
Mas acontece que quando se aproximou, não adiantou sentir dor nos joelhos ao se jogar no chão, pois seu coração se quebrou em mil pedaços assim que viu a imagem de desacordada e com a boca entreaberta.
– , papai está aqui... – pronunciou sorrindo em felicidade por encontrá-la, deixando uma lágrima escorrer. – Papai está aqui meu amor... – a pegou nos braços permanecendo no chão, acariciando o rosto da menina. – Acorda, por favor... – pediu derramando algumas lágrimas.
Jonathan permaneceu parado na frente da porta arrombada apenas observando a cena a sua frente, ele se recusava a se aproximar, pois sabia que caso o fizesse não aguentaria e acabaria caindo em lágrimas assim como . Mas não conseguia se aproximar nem mesmo se quisesse, fez tanto mal para que não conseguia se aproximar, se uniu com Rony no meio de uma luta para matá-lo, que tipo de homem era?
logo surgiu atrás dele fazendo-o lhe encarar, e junto dela, trouxe todos que estavam dentro do evento do UFC.
– ... Eu daria tudo para ter você de volta, por favor, acorda... Por favor, meu amor... Por favor... – pediu entre soluços.
Todos observaram a cena, se aproximando devagar. fora a única que correu até e se abaixou ao lado dele.
– ... – chamou.
– Vai embora. – mandou puxando a filha para si, encostando a cabeça dela em seu peito.
resolveu ficar em silêncio, era um momento doloroso demais, que merecia respeito...
– Ela se foi, e eu não consegui salvá-la do seu pai... Eu não consegui ... – deixou as lágrimas rolarem.
colocou a mão no ombro de em um consolo, mas ele não merecia ser consolado e sim julgado.
– Eu não a salvei, não... Eu sou um merda... Não a salvei... – encarou novamente o rosto da filha. – , por favor... – implorou e fungou. – “Lost in the mirror. I knew your face once, but now it's unclear” – começou cantar. – “And I can't feel my body now. I'm separate from here and now”… – fungou novamente.
– “It's pulling me apart, this time. Everything is never ending. Slipped into a peril that I'll never understand”. – continuou assim que ele caiu em lágrimas. – “This feeling always gets away. Wishing I could hold on longer”…
continuou:
– “It doesn't have to feel so strange. To be in love again”…
– “To be in love again”… – foi a vez de .
– “To be in love again”... – uma terceira voz surgiu, fazendo o casal direcionar imediatamente o olhar para baixo. – É você B-Batman? – perguntou com um pingo de voz e sorriu.
– Ao vivo. – respondeu e puxou para um abraço, enterrando o rosto no pescoço da filha.
então deixou suas lágrimas rolarem sem vergonha alguma, sua filha estava viva!
– Eu te amo , te amo muito, eu não sei o que faria sem você na minha vida, eu te amo, te amo... – falava rápido fazendo sorrir.
– O Batman ama? – quis saber se afastando o pai, e encarando a mulher ao lado dele, o que fez os olhos da menina brilharem. – MAMÃE!!! – gritou e logo encarou .
– É querida, mamãe voltou! – disse sorrindo e sorriu junto quando abraçou a mulher com toda alegria do mundo.
– Você disse que ela não voltaria! – direcionou ao pai.
– É... O Batman, às vezes, erra... Ah! – respondeu e então se jogou no chão começando fazer cócegas na menina e beijá-la.
Se duvidasse ficaria ali para sempre a beijando e a fazendo rir somente para recompensar o um mês que teve de ficar longe dela...
E Rony, bem... Ninguém nunca mais o vira, nem mesmo a própria ...
FIM!
Nota da autora: Eu achei o ritmo da música bastante fofinha, sabem do que eu to falando né? A letra, tem algumas partes que fazem sentido, como nesse final que eu coloquei nosso pp cantando para a filha, achei bem fofo colocar ele assim para derrubar um pouco aquela imagem dele de lutador de MMA bruto, mas e aí o que acharam? Gostaram?
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Outras Fanfics:
Shortfics
01.Confident (Finalizada)
05.Don’t Be a Fool (Finalizada)
16.Sex With Me (Finalizada)
Longfics
Juntos em Nova York (Finalizada/Restritas)
Por Trás da Máfia (Em Andamento/Restritas)
Shoot Me (Finalizada/Restritas)
Shoot Me – Part. 2 (Finalizada/ Restritas)
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