Última atualização: 02/04/2018

15 - Readaptação

— Bom dia, Mani. 

Acordei com a voz trovejante de Black ao pé do meu ouvido, sua mão forte acariciava meus cabelos.  E um cheiro agradável de café forte com hortelã enebriava meus sentidos olfativos. Abri os olhos lentamente, processando a imagem do extenso sorriso de Jacob à minha frente. Endireitei-me na cama, sorrindo de volta para ele agachado à minha frente. 

— Bom dia Jacob. Sente-se. - indiquei a cama do próprio para que ele se acomodasse.
— Preparei um café de boas vindas. - ele pegou a bandeja depositando-a com cuidado em meu colo - Tem torradas, daquelas suas favoritas, morangos, iogurte de pêssego, queijo branco e peito de peru no delicioso pão de batata da Sue, e café forte com hortelã. Está tudo direitinho?
— Uau. Você não esqueceu de nada. Vai ser assim todos os dias? Meu café da manhã favorito na cama? - olhei para ele enquanto bebericava o café - Posso me acostumar muito mal assim.
— Infelizmente não será assim todos os dias. Não nas atuais circunstâncias.

Não quis discutir com Black, o que aquilo significava, mas obviamente aquilo ficaria na minha mente durante um tempo.

— Não vai comer? 

Perguntei quebrando o clima que havia ficado entre nós. Jacob  apenas pegou sua caneca de café no criado mudo ao meu lado, levantou-a e sorriu.
Enquanto eu comia, ele observava-me com aqueles olhos de devoção. E eu não poderia me esquecer de evitar aquele olhar, ao máximo.

— Sei que não é da minha conta, mas você sumiu ontem à noite. Algum problema na região?
— Apenas fui aos Carter, antes que fechassem, para fazer umas compras de última hora.
— Não me diga que... Jacob, este café da manhã não tem nada a ver com isso né?

Ele sorriu e abaixou a cabeça.

—  Idiota. Não deveria se incomodar assim. 
— Deveria sim. Você disse que deixaria eu te mimar o quanto quisesse. Ou já esqueceu?

Mantive o silêncio e o encarei séria. Como um sinal de que entendia o que ele estava tentando fazer, e não aceitaria as chantagens a fim de apagar tudo o que acontecera.

— Meu pai disse que conversaram um pouco sobre o passado... Desculpe, mas tivemos que entender a sua mudança tão repentina para cá.
— Fico feliz que todos já estejam sabendo. Me poupa de contar e encarar as reações.
— Ora ! Sabe que as reações foram boas! Todos adoraram. Acredite.
— Pode ser... Mas é diferente ter uma hóspede e uma nova moradora permanente.
— Fico feliz com o permanente.
— Claro que... Por enquanto é permanente. A gente nunca sabe quando é hora de partir.
— E você pretende partir?
— Não sei Jacob. Mal sei o que acontecerá daqui há vinte minutos.
— Vai tomar banho e me ajudar na marcenaria. 
— O quê?
— Você não tem trabalho, tem?
— Não, hoje não. Mas... Como você sabe? 
— E então, sobre a história de Bella e os frios... Está com medo?
— Olha só, alguém já consegue pronunciar o nome dela.
— Bella é um passado sem dor desde a sua chegada. 

Novamente evitando aquele assunto, desviei nosso diálogo:

— Não me respondeu como sabe que não tenho trabalho. Anda espionando minha vida?
— E você não me respondeu se está com medo dos frios.
— Perguntei primeiro.
— Teimosa. - ele disse rindo fraco - Digamos que Scott Carter e eu temos finalmente um assunto em comum.
— Eu não acredito! O que vocês andam falando sobre mim?
— Sua vez de me responder.
— Não tenho medo de nada. Na verdade o que mais quero é encontrar um deles, pra arrancar algumas repostas. 
— Você não tem ideia do que está dizendo ! Eu jamais vou deixar um deles se aproximar de você. 
— Se vai ser meu cão de guarda é melhor pedir permissão à sua namorada antes. - abaixei a cabeça um pouco envergonhada pela grosseria —  Me desculpe. Não quis te ofender.
, eu e Bruh não somos namorados. Eu já tentei te explicar, mas você não quer me ouvir.
— Vamos mudar de assunto?
— Como perguntou, Scott e eu não ficamos falando de você. Mas parece que vocês passam bastante tempo juntos, já que ele conhece o seu paladar tão bem - ele disse com certa raiva, ou ciúme, presumo —  Se é que é só o paladar que ele conhece... 
— Eu realmente fingirei que não ouvi isso... - olhei incrédula para ele.
— Desculpa, você não deve satisfações a mim. Enfim... Ele notou que minhas compras não eram literalmente para mim, e perguntou se eu tinha notícias suas. Contei que você estava passando um tempo na minha casa - Jacob sorriu maleficamente —  Ele ficou surpreso e pediu para avisar que estaria aguardando o seu telefonema.
— Droga! Eu me esqueci! Ai não, não acredito! 

Levantei da cama andando de um lado ao outro com a mão na cabeça, enquanto Jacob parecia se divertir com a situação. 

, como foi se esquecer do seu encontro?
— Não me provoque Black! Scott não merecia isso!
— Não mesmo, apesar das diferenças ele é um cara muito legal. Poxa , você deveria ter telefonado. 
— O quê? Seu idiota! - dei um soco no ombro dele, que gargalhava da minha reação —  Porque você não me passou o recado? Foi de propósito não é mesmo? Seu grandiosíssimo babaca! 

Fui pra cima de Black com empurrões e tapas, até que ele me segurou.

— Ei, calma aí! O encontro era seu, meu amor. E eu, bem... Me esqueci.
— Não acredito em você. - disse me soltando e indo até o espaço no armário que Jacob disponibilizou para eu guardar minhas coisas.
— Isso não é novidade. 

Jacob também se direcionou à sua parte do armário pegando uma toalha limpa e me entregando.

— Não precisa, eu trouxe. - Disse já mais calma.
— Te espero na sala então. 

Assim que terminou de falar, me abraçou apertado dando um beijo em meu rosto. Saiu pelo corredor do quarto, e voltou de repente na soleira da porta dizendo com um sorriso sacana:

— AH! Você deveria ligar para o Scott. Coitado!

Olhei para aquele moleque, que eu ainda não conhecia ou se conheci havia me esquecido, e lancei a minha expressão "caia fora!". Assim que Black saiu, fiquei pensando sobre aquela manhã e sobre aquela reação amigável da parte dele. Talvez não seria tão difícil a convivência, como eu havia pensado. Jacob sabia das minhas mágoas, respeitava-as, mas não havia esquecido a nossa amizade. Amizade que eu sentia falta. E seria imaturidade da minha parte negar a aproximação. Até porque, eu não queria mesmo. Aquela história de orgulho, o tão antigo orgulho que nos impede de ser feliz.
Coloquei uma camiseta branca, uma bermudinha jeans e calcei uma bota para "trabalhar na marcenaria" com Jacob. Não sabia o que ele estaria aprontando com aquela história. Prendi meus cabelos em rabo de cavalo alto. Organizei o quarto e peguei a bandeja de café, a levando para a cozinha. No caminho passei por Black que estava jogado ao sofá, coisa rara de se ver.

— Você, deitado no sofá? 
— Ei garota, eu estou te esperando. - ele disse seguindo-me.

Ajudou-me com a louça e ao acabarmos me escorei na pia de braços cruzados.

— E então Black?
— Como você sabe, eu vendo minhas obras pela cidade. Tenho uma encomenda de souvenirs temáticos da cidade e uma mesa grande para entregar. Enquanto eu trabalho na mesa, você trabalhará nos artesanatos. 
— Espera aí bonitão! Eu nunca esculpi nada.
— Você aprende rapidinho. Nós sabemos disso.

Enquanto caminhávamos em direção ao galpão de Black, peguei meu celular discando para Scott.

— Vai ligar para seu namorado? - Jacob espiou o visor e sorriu me provocando.
— Alô? Scott! - andei me afastando aos poucos de Jacob, o que o deixou um pouco irritado, pude perceber — Primeiramente, mil desculpas! Ontem aconteceram muitas coisas, Charlie me trouxe para a reserva de última hora, e eu acabei adormecendo de cansaço ao anoitecer. Jacob não me deu o seu recado, porque quando chegou eu já havia dormido. E hoje ao acordar eu me lembrei de você. Desculpe!
— Tudo bem , eu entendo.
— Não, não Scott! Eu sei que você deve estar pensando que eu te dei outro fora, mas não é nada disso! Por favor, aceite o meu convite para o almoço de hoje!  Ou um jantar! Eu tenho muito pra contar a você. E não quero que fique uma má impressão.
, tudo bem, mesmo. Não se preocupa. Quando você quiser...
— Eu quero! É exatamente isso Scott, eu quero me encontrar com você, eu quero sair com você, só que ontem, eu tive muitas surpresas e acabei me esquecendo de telefonar pra cancelar. Por favor Scott, - eu sorri fraco pelo telefone - Não desiste de mim vai... Você é o amigo mais próximo da minha vida normal. Quero dizer... Adoro a reserva, mas às vezes é difícil entende... Eu realmente sinto sua falta.

Scott ficou mudo por um tempo.

— Scott? 
— Oi... Eu não posso almoçar hoje , mas podemos jantar sim. Dessa vez eu não irei te aguardar, eu vou buscar você, para não correr o risco de você esquecer.  - ele riu.
— Ótimo! Eu te aguardo às oito horas. 
— Combinado.

Desliguei o telefone e sorri com a expectativa daquela noite. Eu adorava passar um tempo com o Scott, pois a calmaria dele é o que me faltava. E sempre tão paciente, Scott sabia me reconfortar. No entanto, aquela seria que eu me lembre, a primeira vez que nós iríamos sair sem que eu tivesse algo ruim, triste ou desanimador para despejar nele. E era de fato um encontro. Não uma saída entre amigos. Eu estava animada com aquilo. Jacob seguia a frente, e quando entrei ao galpão ele me perguntou um pouco desanimado:

— Se acertou com seu namorado?
— Sim, ele vem me buscar hoje às oito. - eu disse sorridente.
— Espera... Vocês estão mesmo namorando?
— Não. Pelo menos não ainda. Mas... Eu ainda não estou preparada para me abrir sobre este assunto contigo Black. Você entende?
— Claro. Eu não tenho nada a ver com a tua vida. Fico feliz, que você esteja feliz.

E a culpa me corroeu. Porque apesar de saber que eu não estava fazendo nada de errado, eu me sentia tão mal com aquela situação?

— Nós só estamos saindo. Como amigos. Mas, desta vez eu não estou impondo barreiras a algo mais. Como seu pai mesmo me disse, a gente nunca sabe de onde virá a felicidade.
— Faz bem. Seguir em frente. Lamento que eu não saiba fazer isso tão bem.

Nos olhamos tímidos, e enquanto eu observava ao redor desviando o olhar, Jacob pigarreou se direcionando há um balcão extenso.

— Venha! Vou te mostrar os souvenirs.
— Eu conheço, esqueceu que coleciono seus artesanatos em casa?
— Sim, eu sei, mas eu quero te mostrar como fazê-los. 

Ele me mostrou alguns pequenos brindes, uns conhecidos, outros novos, mas Black me explicou e demonstrou como esculpir devagar cada um. Enquanto eu me concentrava em meu trabalho, Jacob se concentrava em sua mesa, hora ou outra espiando-me por cima de seus ombros. Eu conseguia reparar, graças ao dom da visão periférica e meus sentidos aguçados. Black então, se levantou após um tempo, veio em minha direção e parado ao meu lado observava meu trabalho. Até que se direcionou às minhas costas, agachando-se me envolveu em seus braços e segurando as minhas mãos junto as suas, guiava o esculpir.

— Nesta fase de finalização, mantenha a mão firme, porém delicada. Embora a peça ainda vá passar pela lixa e pintura, é importante que a lapidação da madeira seja delicada, porque auxilia a não ter tanto o que finalizar com lixamento. 

Minhas memórias voltaram aos inúmeros momentos como aquele, que anteriormente tivemos. Suspirei pesado, como se quisesse me livrar daqueles braços, e embora quisesse algo no meu íntimo dizia não querer. Black se afastou após me explicar tudo aquilo, girou o banquinho onde eu estava sentada de frente para ele, e sorrindo me disse:

— E então? O que achou?
— Achei relaxante. Mas me diga você, peguei minhas esculturas para ele. O que achou?
— Que para uma primeira vez, você foi muito bem. - e sorriu.

Sorri de volta, e levantando minha mão em direção ao seu rosto limpei as lascas de serragem. Jacob fez o mesmo por mim. E após tiramos a sujeira do rosto um do outro, sorrimos e nos levantamos voltando à cabana.
No caminho de subida, Jake estava calado e eu também, nos olhávamos vez ou outra sorrindo, mas silenciosos cada um na sua. Até que ele decidiu se pronunciar.

— Sabe, desde que você chegou... Eu não pude te dar um abraço.

Parei e olhei para ele, em dúvida, e pude notar o desconforto em sua face.

— Eu sei que está chateada comigo. Sei que está seguindo em frente com Scott ou não... Enfim, eu sei que forçar a barra não é a melhor opção e não quero isso. Eu pedi para você ser paciente comigo o tempo todo, até que estraguei tudo, então eu serei paciente com você. Mas, eu gostaria da minha amiga de volta. E sinto falta do seu cheiro, do seu abraço, das suas mordidas em meu ombro. Eu só queria dizer isso, para você saber. Saber que, eu entendo você... Mas torço para que você possa me perdoar nas pequenas coisas pelo menos...

Nos mantivemos em silêncio um tempo, olhei para frente e estávamos próximos à cabana. Quase chegando no toco de carvalho. Então olhei para os meus pés, e Jake começou a caminhar novamente. Então segurei seu braço.

— Espera. Jacob, eu não estou feliz com esta nossa situação. Mas é como você disse... Eu te esperei. Eu aceitei seu desprezo até achar que havia conquistado você. E no fim, não conquistei. 
— Conquistou sim . Eu é que fui idiota demais para impedir que a armação de uma criança te magoasse.
— Armação da Bruh, acidente, ou não, o fato é que eu me magoei. E fiquei muito confusa. Foi tão difícil iniciar alguma relação contigo, enquanto que com o Scott foi tão natural... Eu não amo o Carter, assim como não amei o Erick. E não estou tentando despejar nele a frustração com você. Eu apenas gosto de estar com ele, e me sinto bem. E não sei o que esperar de você, de nós... Enfim... Eu preciso de um tempo para voltar a ter controle dos meus sentimentos sabe Black. Também sinto sua falta. A falta da amizade. Mas eu fui de cabeça até você. E agora eu preciso só desacelerar... 
— É, foi tudo muito intenso. Sua chegada, nossos costumes e segredos. Entendo...
— Mas, você pode sim abraçar a sua Mani, que sente muita falta disso. Só vamos manter o controle, para não confundir as coisas de novo.

Ao terminar minha frase, sorri segurando sua mão. Black mais do que rapidamente, me envolveu em seu abraço protetor. Cheirou meu pescoço como sempre fazia, e eu me mantive imóvel. Um passo de cada vez. Não poderia negar meus sentimentos. Ele beijou minha testa sorrindo largo. E continuamos a nossa subida. Ao chegar próximo ao pátio das cabanas, lá estava Bruh Ateara nos espionando. Sua expressão raivosa já era conhecida, e eu me afastei um pouco de Jake. Ele por sua vez, se colocou a minha frente, rígido e calado. Bruh olhou-me de soslaio e saiu a passos fundos e largos em direção ao seu canto da reserva.

— A lobinha traiçoeira já sabe que eu estou morando aqui, pelo visto.
— É, sabe sim. E sabe de algumas coisas a mais... - Jake disse me olhando de lado. 
— Como assim? Que coisas?
— Não se preocupe, ela não fará nada contra você. 
— Ah, eu não me preocupo não. Vou até a cabana de Sue. Nos vemos depois. 

Depositei um beijo no rosto de Jacob e acenando fui até a cabana de Sue calmamente. Queria encontrar Lia, para poder contar sobre meu encontro com Scott.

— Bom dia Sue!
— Bom dia , como foi com o Jacob? - Sue perguntou sentando-se à própria mesa de sua cozinha, logo sendo seguida por Charlie, Seth, e Lia.
— Sente-se! - Seth puxou a cadeira ao seu lado.

Todos olhavam para mim, com olhar de lêmure. Aguardavam ansiosos a resposta do "como foi com o Jacob?". Eu ri fraco daquela situação, e puxando uma cadeira e servindo-me de café encarei a todos, calma e divertidamente.

— Bem, plateia... - os olhares de Charlie e Sue se encontraram em uma expressão pouco constrangida, Lia e Seth por sua vez não piscaram nenhuma pálpebra
— O que exatamente vocês querem dizer com "como foi o Jacob"?
— Oras ! Não enrola! - Lia já estava impaciente e eufórica como sempre —  Como foi dormir lá? Vocês conversaram? Se acertaram? 
— Nós vimos vocês dois saírem sorridentes em direção ao galpão esta manhã, . - Seth me respondeu envergonhado pela reação da irmã, e compartilhava a mesma expressão de sua mãe, e Charlie.
— AH! Então é isso... - eu ri —  Bom, ontem não trocamos muitas palavras. Ele saiu pela noite e eu adormeci antes mesmo dele chegar.
— Então nada mudou? 

Lia, mal esperava eu beber meu café para interromper a fim de esclarecer aquela história. Sue ao observar a ansiedade da filha pegou em sua mão e, encarou-na tenra. Embry acabara de chegar assim que Lia terminou de falar. Cumprimentou a todos nós, e selando os lábios da namorada se sentou ao lado dela. Embry pareceu ter ideia do que se tratava e não demorou muito para atacar os biscoitos, os bolinhos e outras gostosuras que Sue havia preparado e com a boca cheia olhar-me ansioso também. Aquilo tudo me fez sorrir ainda mais. Eu me recordei de Billy falando sobre a esperança que mantinha sobre Jacob e eu. Obviamente ele não era o único a torcer por nós.

— Mudou sim. Esta manhã Black me acordou com meu café na cama favorito e um oferta de paz. Eu resolvi que em respeito à hospedagem dos Black, e pela minha amizade com ele, nós iríamos nos dar bem. Por mais chateada que eu esteja com tudo o que aconteceu, não faz sentido ignorá-lo agora. 
— Muito bem . - Charlie me sorria orgulhoso.
— Eu sei que você não vai querer escutar isto, mas acredite que nunca aconteceu nada entre Jake e a pirralha sem noção da Bruh.  

Embry pronunciara-se e todos o olharam apreensivos, talvez por acreditarem que ele estivesse sendo muito invasivo ou precoce naquele assunto. Eu estava calma, na verdade, Embry era o meu melhor amigo ali. E ele me amparou naquela história. Natural que tanto ele quanto Lia quisessem que uma pedra fosse colocada sobre aquele assunto de uma vez por todas. Enquanto eu sorria serenamente para Embry abraçado à Lia, Sue e Charlie sorriam para nós três observando-nos de um modo íntimo. Compartilhavam algum pensamento que eu não poderia decifrar, mas que talvez os lobos entendessem. Foi quando Seth, tímido e um pouco deslocado segurou a minha mão fazendo-me percebê-lo.

— E... O que vocês foram fazer no galpão esta manhã?  

Lia riu maliciosamente e Embry também. Sue e Charlie se levantaram da mesa como se quisessem não participar mais da história. Imaginei que todos pensavam que Black e eu havíamos passado a noite juntos, devido ao "meu café na cama".

— Nós não estamos juntos, se é o que vocês pensaram. Fui ajudar Jacob com umas encomendas de marcenaria Seth. 

O garoto sorriu, eu diria até aliviado. Sue focou em sua cozinha, Charlie saiu para seu trabalho. Então me recordando do motivo de ter ido à casa de Sue, interrompi um diálogo entre Lia e Embry.

— Ei, Lia... Eu precisava falar com você.
— Este é o momento em que nós nos vemos depois, amor. - ela disse sorridente ao namorado e se levantando da cadeira me chamou em direção ao seu quarto.

Beijei a testa de Seth, que mantinha uma expressão preocupada desde o que eu havia dito. E aquilo estava me deixando curiosa. No entanto acompanhei Lia até seu quarto. Ela escorou a porta depois que entrei e antes que eu pudesse sentar-me em sua cama, Lia já estava ansiosa de novo.

— Vamos lá, eu sabia que você estava escondendo algo naquela cozinha!
— Não é nada com o Black, Lia... Eu acho que você vai querer me matar quando eu disser e nem sei se deveria mesmo falar sobre isto contigo. Talvez Emy, fosse a melhor opção... - eu sorria debochada.
— Você me chamou até o meu quarto para me insultar? Sua otária!
— Ok, mantenha a calma! Por favor!
— Você está me deixando muito nervosa ... Não me diga que você e aquele imbecil do Erick estão juntos de novo?
— Não! Eu não voltaria com o Erick em hipótese alguma... Mas tem outra pessoa sim.
— Scott Carter. 
— Como sabia?
— Seth é amigo do irmão caçula dele, e ultimamente tem passado muito tempo com os Carter. Outro dia, o tal Peter esteve aqui. Ouvi os dois conversando no quarto dele sobre Scott e você.
— Eu sabia que eles eram amigos, mas não imaginava que fossem próximos assim... E o que eles disseram sobre mim?
— Algo sobre "meu irmão é totalmente apaixonado por ela", e o Seth disse "e ela totalmente apaixonada por Jake".
— Eu vou matar o Seth!

Lia riu divertida com minha cara de raiva e espanto.

— Bem vinda ao meu mundo. Agora imagina um bando de garotos adolescentes como o Seth se metendo em sua vida. Foi assim que passei maior parte da minha adolescência. 
— Enfim... O fato é que, ontem eu tinha um encontro com Scott. Nós costumamos sair como amigos às vezes. E eu dormi e acabei me esquecendo. Só que Jacob, esta manhã me contou que esteve com Scott ontem à noite no mercado e o boca grande contou a ele, antes de mim, que eu estava morando aqui agora. Scott deve ter ficado um pouco chateado e pediu para Black me dar um recado, que adivinhe você...
— Ele não deu... - Lia ria das coisas que eu havia dito —  O que você esperava? Que Jake fosse entregar você de mãos beijadas para outro?
— Não tem essa de "me entregar". Para dar algo a alguém, primeiro esta coisa tem que pertencê-lo. E eu não pertenço ao Black, ok?
— Pode até ser, mas é como Seth diz, não dá para encarar como se você e Jacob não tivessem algo, seja lá como vocês denominem isso!
— Tá, tá! - eu já estava irritada com aquela colocação. 

Era tão previsível que eu mergulhei de cabeça nos meus sentimentos não correspondidos por Black? Eu estava me sentindo a idiota da reserva.

— Não é como se ele não te correspondesse ... Do jeito dele, Jake sente o mesmo. - Lia o defendeu como se pudesse adivinhar meus pensamentos, ou ouvi-los.
— O fato é que liguei para Scott hoje, e ele vem me buscar às oito horas. Eu precisava dar uma satisfação e me desculpar com ele.
— E isto é um tipo de encontro?
— Eu não tenho certeza. Scott e eu nos damos muito bem, e é sempre um alívio estar com ele, porque ele me traz sossego. A calmaria dele me contagia sabe? Mas todas as vezes que saímos eu estava cheia dos meus problemas, então despeja tudo neles. Nunca dei uma chance de conhecer Scott de verdade. Quando ele me levou até a tribo da família dele, foi o mais próximo de um encontro que chegamos. Inclusive...
— Inclusive?
— Nos beijamos aquela noite. Eu não lembro se te contei.
— Uow. Eu não lembro também. Acho que sim... Mas, vamos lá . Você está pensando em dar uma chance ao Carter?

Neste momento ouvimos um barulho vindo do corredor. E Lia, visivelmente irritada correu até a porta e virando-se para a outra extremidade do corredor, disse:

— Pode voltar, Seth Clearwater!

Seth logo entrou no quarto de Lia, com o rosto tão vermelho de vergonha e a cabeça baixa.

— Eu ouvi tudo, desculpe.
— E aí , o que vamos fazer com ele? - Lia disse encarando o irmão em reprovação.
— Senta aqui Seth. - eu bati ao meu lado no colchão, e ele arrastando-se obedeceu —  O que está acontecendo? Eu sei que você está incomodado com alguma coisa.
— Eu sinto muito por ter invadido sua vida, falando de seus sentimentos com Peter, mas tanto eu quanto ele estamos preocupados. 
— Que história é essa moleque? - Lia sentou-se ao lado do irmão julgando.
— Eu gosto muito do Jake, Scott e de você . E Peter está preocupado com o irmão dele. Não é segredo para ninguém que Scott é louco por você, e você vai me desculpar, mas não é segredo também que você gosta do Jake. E o pior é que, Jake também. Eu não entendo porque vocês não acabam com essa briga idiota. Bruh armou tudo aquilo, e todos sabemos inclusive você que, Jake é completamente outro homem desde a sua chegada. Então, para mim está claro que vocês dois devem ficar juntos, mas tem o Scott no meio disso. E desculpe , mas você está o colocando numa situação constrangedora. O cara é apaixonado por você, mas não é com ele que você quer ficar! E agora, olha você se envolvendo com ele a fim de sanar qualquer coisa, ou se vingar, sei lá...

Seth se manteve calmo e firme em tudo o que disse. Lia estava espantada, mas compreensiva com os sentimentos e palavras do irmão. E eu também.

— Você não está completamente errado Seth, mas não é apenas por Bruh que eu me magoei com Black. - Lia sabia do que eu estava falando e nós olhamos uma para a outra cúmplices —  Já que você tocou neste assunto... Deixe eu te falar dos meus sentimentos ok?

Seth assentiu me dirigindo uma atenção ainda maior.

— É verdade que eu não correspondo aos sentimentos do Carter. Mas eu o adoro. E quero a amizade dele. Não é que eu esteja me envolvendo com ele, eu só quero poder estar com ele sem nenhum compromisso ou preocupação e deixar que o que tiver que acontecer, aconteça. Eu fui muito clara com ele, ao dizer que não iria dá-lo esperanças falsas. Mas, eu não vou me afastar de um amigo, só porque ele se apaixonou. Pode parecer cruel, mas abrir mão de uma amizade por causa disso, nunca fez sentido para mim. Eu sempre impus em situações como esta que, se eu quiser estar com alguém eu estarei, a menos que esta pessoa me peça para ir embora. Se ela tem um amor não correspondido por mim, nós trabalharemos juntos nisto. Seja para me conquistar ou me esquecer.

Lia e Seth não viam muito sentido no que eu dizia. E não era novidade para mim. Quando completei dezessete anos, um dos garotos do High School em Phoenix, havia se declarado para mim. E após eu dizer que queria apenas ser sua amiga, ele perturbava Bella com recados e desesperados pedidos de ajuda à minha melhor amiga. Assim que eu fiz o mesmo discurso que acabara de fazer a Seth e Lia, minha antiga amiga olhou-me assustada e disse: 



— Você não tem coração. É cruel forçar alguém a conviver com você sabendo que a verdade é que você não vai corresponder aos sentimentos dele. É como se você quisesse ter um lacaio fiel e apaixonado.


Aquele dia, me recordo de ter discutido com ela. Bella nunca soubera lidar muito bem com as emoções. E foi através de uma mensagem, pelo celular, que eu e ela fizemos as pazes. Eu havia explicado a ela da melhor maneira:

— É cruel forçar alguém a se afastar de você, mesmo contra sua vontade, apenas por quê você não sabe lidar com sentimentos contrários aos seus. Eu não vou abrir mão de alguém especial para mim, apenas porque ele não sabe lidar com um não. Nunca fizeram isso por mim, eu aprendi a lidar com todos os "não" e "sim" que recebi a vida toda. Nem tudo o que nós ganhamos é perfeito como queremos, mas pode ser perfeito como podemos ter.


E foi recordando desta fala que eu continuei a falar  com Seth e Lia, que ainda pensavam sobre o que eu havia dito.

— É cruel me forçar a afastar dele, mesmo contra minha vontade, apenas pela hipótese dele não conseguir lidar com sentimentos contrários aos seus. Eu não vou abrir mão de alguém especial para mim, apenas porque ele não sabe lidar com um não. Eu aprendi a lidar com todos os "não" e "sim" que recebi a vida toda. Não vou me afastar de Scott, assim como Jacob não se afastou de mim, quando não correspondeu o que eu sentia. Nem tudo o que nós ganhamos é perfeito como queremos, mas pode ser perfeito como podemos ter. 
— Como assim, Jake não correspondeu? , ele está implorando para você perdoá-lo! - Seth disse um pouco incompreensivo e impaciente.
— Você não sabe quantas vezes eu investi no Jacob, e ele desviou-se de mim! Eu mergulhei de cabeça nos sentimentos por ele. Deixei muito claro, e em todas as vezes eu recebi o desprezo dele Seth! Quando eu ia tentar de novo, eu tive que dar de cara com Jake beijando a Bruh! E pode ser que eles não tenham nada, mas eu tive que lidar com o fantasma de Bella, ou seja lá quem for o tempo todo. E eu cansei. Eu estou aqui, mesmo depois de tanto "não" da parte dele, mas não me forcem a fingir que nada aconteceu.

Após um breve silêncio entre nós três, Seth se desculpou e segurando a minha mão beijou-a.

— O problema é que todos os garotos desejam uma garota como você.
— Deixa de ser bobo Seth - eu sorri — Isso é um exagero. Eu não sou a garota perfeita. E não são todos os garotos, olha você por exemplo.
— Ingênuo da sua parte achar que eu não deseje ou já tenha desejado você. - ele sorriu sedutoramente me deixando boquiaberta. Lia também estava espantada.
— Ei garoto! Que nojento. Se quiser dar em cima das minhas amigas, faça isso longe de mim!
— Cala a boca. - ele olhou odioso para a irmã, e ambos ficaram encarando um ao outro, logo voltando suas atenções para mim. 
—  Eu nem sabia que você pensava nestas coisas! Eu vou contar pra mamãe!

Parece que um diálogo mental estava acontecendo sem que eu pudesse notar.

— Se liga Lia, eu não tenho mais quinze anos.
— Eu não quero falar com você sobre isso! Que horror! - Lia levantou-se da cama eufórica e eu precisei intervir.
— Eu não sei o que vocês estão conversando em suas cabeças aí, e nem quero imaginar o que você pensa a meu respeito agora Seth... Mas, podemos voltar ao assunto Scott?
— Desculpe ... É que você não se enxerga da mesma forma que todos nós. - Seth falava dele, e de "todos os garotos" se desculpando e pondo fim aquilo —  Mas fica tranquila, não estamos competindo por você. Seu único e exclusivo problema são Scott e Jacob. 
— E você já pode responder a minha pergunta: você está pensando em dar uma chance ao Carter, ? - Lia me encarava curiosa e confusa.
— Não. É como eu disse, eu não vou dar falsas esperanças a ele. Sei o que ele sente! Mas não vou impedir se por acaso acontecer alguma coisa. Vocês acham que eu estou sendo muito idiota com ele?
— Eu não sei ... São os seus sentimentos, e não podemos falar por você. Mas, se aceita meu conselho... Toma cuidado. São três corações envolvidos nesta história, e se dois ficam bem, um vai acabar se machucando. Não acho que tenha como evitar isto, a menos que sacrifique os três.

Assim que Seth terminou de falar, ele beijou minha testa e foi em direção à porta. Lia e eu nos mantivemos caladas até ele sair.

— Puxa... Esse garoto é esperto! No final, não era nem você e nem a Emy que eu deveria ter procurado. - eu sorri.
— Eu vou apenas aceitar o agradecimento que eu não ouvi, ok? - ela rebateu.
— Parece que seu irmãozinho afinal, se tornou um homem.
— Você não tem ideia do quanto. - ela disse como se recordasse de algo —  Eu sabia que um dia Seth iria crescer, sabe? Mas depois da morte do papai, ele continuou tão alegre e ingênuo. Não era a relação que eu esperava. Eu achei que ele fosse se fechar e rebelar. E quando Charlie surgiu, eu notei que ele estava tão bem com aquilo que pensava "esse moleque não sabe de nada". Mas no fundo, quem não sabia era eu. Parece que Seth herdou toda a sabedoria do papai e da mamãe. - ela sorriu com orgulho. 
— Vocês lidam com as perdas e traumas de forma diferentes. Não é que um saiba mais do que o outro... Mas por quê eu acho que não é exatamente da morte de seu pai que você está falando?
— Naquele breve momento em que ele e eu compartilhamos os pensamentos, eu vi que Seth passou por algumas coisas desconhecidas por mim, enquanto estive fora. Mas ele não quer se abrir comigo. Por algum motivo, ele se sente mais à vontade com você para isso. 

Lia manteve uma decepção no rosto, mas uma compreensão na voz. E eu nada entendia.

— Espero que você possa ajudá-lo mais do que eu.
— Do que você está falando? O que aconteceu?
— Seth está lá fora agora, quando você descobrir, se puder me conte.

Lia saiu do quarto e eu a segui. Assim que passei pela porta de entrada dos Clearwater, vi Seth sentado ao tronco grande de carvalho à caminho da trilha de La Push. Me aproximei calmamente, enquanto o garoto segurava uma expressão séria e reflexiva. Ao notar minha presença, ele sorriu de canto sem encarar-me.

— Parece que este é o carvalho das reflexões - disse e me sentei ao seu lado.
— E o que você veio refletir?
— Eu nada... O que você disse me ajudou bastante. Eu vim te dizer que se precisar, pode contar comigo.

Ele se virou para mim sorrindo. 

— Assim como você teve as palavras certas, talvez eu também possa ter. E se não as tiver, meu colo é bastante confortável. - sorri paciente.
— Não há nada que deva se preocupar, . Eu estou bem.

Eu o abracei e voltei a encarar a praia. Seth ainda mantinha seu olhar sobre mim.

... Desculpe pelo que insinuei lá no quarto. 

Certamente ele se referia à história suposta de ter se interessado por mim.

— Não é como se eu estivesse dando em cima de você, ou algo do tipo. Desculpe se foi o que pareceu, quero que saiba que te respeito e sei que sou um moleque que...
— Seth. - eu o interrompi —  Não tem que pedir desculpas, por nada. Gostei da sua sinceridade, e entendi o que você quis dizer. Não me senti desrespeitada. Surpresa, talvez. E você não é um moleque... Nem de longe se parece com um. Eu vejo um homem, e você realmente o é.
— Obrigada. - ele sorriu beijando minha mão novamente.
— Bem, eu vou subir. Posso não estar no trabalho, mas há trabalho a ser feito. - levantei beijando o topo de sua cabeça — Não esquece, posso conversar sobre qualquer coisa.  E o fato de não ser uma loba ajuda, às vezes. 

Ele sorriu compreensivo. Enquanto eu subia em direção à cabana Seth me gritou, desta vez mais animado:

— Ei ! Se algum dia precisar de ajuda com o trabalho, é só me avisar. Eu aprendo rápido.  

Acenei concordando e sorrindo com a mesma animação que a dele, e voltei às pesquisas.  Ainda havia muito a descobrir sobre as propriedades medicinais de minhas algas, e faltava pouco para desenvolver meu emplasto caseiro. Se as minhas expectativas sobre aquilo estivessem corretas, eu poderia ajudar muitas pessoas.


16 - Desvendando Seth Clearwater

Após subir para a cabana peguei todas as minhas coisas e continuei com a pesquisa durante o dia todo. Parei apenas para almoçar e auxiliar Sue nas arrumações. Por volta das dezoito horas, havia acabado parte de meu trabalho e estavam prontos os meus primeiros protótipos do emplasto. Eu já estava utilizando aquela pomada caseira há algum tempo, e observando as reações que poderiam ter. Não houve nenhuma reação adversa comigo, e então planejei testar com os meninos. Afinal, eles tinham uma genética totalmente diferente. Sem excluir a hipótese de aplicá-la a um grupo experimental, redigi o Termo de Consentimento, e os documentos necessários a serem encaminhados dentro dos protocolos de saúde. Enviei os documentos aos irmãos Julian, e ambos que apoiavam minha pesquisa procederiam com o passo a passo da fase de testes. Logicamente, eu já havia dado um jeito de manter a patente original sobre minha guarda.  Jacob entrou em seu quarto enrolado em uma toalha. Estava molhado, com os cabelos escorrendo por seu pescoço e eu o amaldiçoava mentalmente. Fingindo não ter reações sobre aquela tentação, eu o olhei rapidamente de lado, voltando minha atenção para a mesa. Ele veio andando calmamente até mim, e secando seus cabelos. De pé à frente da escrivaninha eu organizava os papéis na pasta, e reunia os pequenos potes transparentes com as amostras de pomada dentro. Jacob estranhando aquela situação parou ao meu lado. E embora seu cheio perfumado me fizesse desejar pular em seu colo, eu mantive meu olhar no que estava fazendo.

— Você passou o dia todo nisto. Tem certeza de que não precisa de alguma ajuda?
— Eu já acabei Black, mas obrigada. - olhei para ele sorrindo e voltando à mesa. 

Era verdade que não havia mais nenhum papel para organizar, mas em busca de fugir da situação eu estava lá: mais bagunçando a escrivaninha do que arrumando. Black jogou a toalha que tinha em suas mãos, em cima da cama, e bagunçou seus cabelos agora secos. E quando eu menos esperava ele me abraçou por trás cheirando meu pescoço. Era habitual aquilo acontecer antes de nós brigarmos, e naquele momento me indaguei se, sem que eu notasse houvesse me inserido num tipo de jogo do Black.

— E o que você estava fazendo com estes potinhos? - Black perguntou com sua voz rouca ao pé do meu ouvido.
— O que você está fazendo Black? - eu disse séria.

Ele me virou de frente para ele, ainda enlaçado à minha cintura. Olhou para mim com expressão de dúvida e confusão.

— Nós tínhamos combinado de não forçar as situações. - esclareci. 
— E você tinha dito que eu podia te abraçar quando quisesse.

Embora me olhasse com certa ingenuidade nos olhos, eu tinha certeza absoluta, de que tudo havia sido premeditado. E não sabia se Jacob respeitaria nosso acordo. Na verdade, desconfiava de que ele encontraria inúmeras concessões no meio de uma cláusula ou outra que eu impusesse.  Peguei um dos potinhos em cima da mesa atrás de mim, e ele encarava-me. Estendi o remédio a ele, que o pegou, finalmente me soltando.

— É um emplasto caseiro para cicatrizações. Teste. Eu vou entregar os outros aos meninos.

Saí do quarto pegando meus potinhos e indo até a cabana de Sue. Pude ouvir uma risada fraca de Black assim que dei as costas a ele. Certamente, ele sabia muito bem o que estava fazendo. Grandioso idiota.
Assim que expliquei à Sue e Billy sobre o meu remédio, ambos acharam uma boa ideia testar com os garotos da reserva, e iriam distribuí-los entre eles. Eu estava animada com aquilo. Fui até o quarto de Seth e após três batidas na porta, ouvi sua voz:

— Entre!

Ele estava enrolado em uma toalha também, e observava o guarda-roupa como se escolhesse o que vestir. Qual o problema daqueles garotos naquele dia? 

— Ai desculpe! - eu exclamei ao vê-lo e daria meia volta, mas Seth rindo baixo me chamou:
! Relaxa, pode entrar. 

Voltei sem graça estendendo a ele o remédio.

— O que é isso?
— Uma pomada que eu fiz, e estou testando com vocês, use-a quando se machucar. Ela é uma espécie de "super" cicatrizante.
— Ok. Obrigada! Eu não vou morrer não é?
— É o que estamos tentando descobrir. 

Nós dois rimos e ele guardou o potinho em seu guarda-roupa. 

— Não consigo escolher uma roupa bonita.
— Hum... Vai sair com alguma garota, bonitão? - eu sorria zombeteira observando Seth enrubescer.
— É, digamos que sim... - ele ria.

Assim que olhei em seu guarda-roupa separei uma camisa e um jeans, ambos escuros. E tênis claros. Ele gostou da sugestão e arrancou sua toalha para vestir-se. Obviamente eu me assustei e ele ria divertido me avisando que poderia abrir os olhos, pois ele estava de cueca. Como se eu fosse a irmã mais velha dele, para ficar o observando de cueca. De fato, os quileutes eram menos pudicos com seus corpos. Seth vestiu suas calças, calçou-se e ao vestir sua camisa me olhou em dúvida, dizendo:

— E você, não deveria estar se arrumando para seu encontro com Scott? 
— Céus! Não! Eu já estava me esquecendo de novo! Quantas horas? - eu procurava desesperadamente um relógio pelo quarto de Seth. 

Seth segurou um dos meus braços e me trazendo frente a ele, fez-me encará-lo.

— Calma. Ainda não deu sete horas. O encontro é às oito, certo?
— Certo.
— Eu apenas estranhei, porque vocês garotas demoram demais escolhendo suas roupas... Imaginei que você já deveria estar pensando sobre isso, mas pelo visto...
— Pelo visto o que?
— Você não esteve nem um pouquinho preocupada com este compromisso. - Seth sem querer me acusar, acabou fazendo-o pela forma como me olhava.
— Ei! Primeiro, não tem essa de "meninas demoram a se arrumar e frufru!" - eu falei apontando a ele meu dedo indicador, tão incisiva na atitude quanto ele no olhar —   E depois, não é como se eu não desse a mínima, eu só acabei me ocupando o dia todo com trabalho.
— E se esqueceu que tinha que sair com Scott. Você mesma disse!

Era estranho admitir, mas Seth estava bravo comigo. E aquilo me causava uma sensação de indignação e culpa, descomunais. Eu não entendia as reações dele,  assim como não entendia os meus sentimentos diante aquilo tudo.

— Vamos lá Seth! Porque você está agindo assim? Até parece que eu tenho dado furo com você, e não com o Scott.
— Eu espero que você não continue com isso . De verdade. - me olhou decepcionado e abaixou a cabeça.

Puxei Seth pela mão até sua cama, e me sentei convidando-o a fazer o mesmo.

— Olha, eu sei que você desaprova  esta situação, mas eu já falei que eu não vou iludir Scott. E eu sei que tem mais coisa nesta história que está te afetando. Então... Se abre comigo? - ao terminar de falar eu puxei o rosto do rapaz para que ele me olhasse.
— É muito difícil você amar alguém e não poder conviver com a pessoa. Mas imagino o quão pior é amar, e poder estar todos os dias lado a lado da pessoa, mas não tê-la verdadeiramente. E é isso o que você faz com Scott. Pode ser involuntariamente, você diz que não quer e não vai magoá-lo, você diz que não abrirá mão da amizade dele apenas por Scott provavelmente não saber lidar com o não... Mas, ele já tem o seu não desde que você chegou e tem lidado com isso, então , talvez não seja direito seu escolher se é melhor vocês se verem com frequência ou não. Talvez o Scott é quem deva saber o que é melhor. O coração partido afinal, tem sido o dele.

Fiquei perplexa com todas aquelas palavras.

— Seth... Obrigada, eu prometo que cada palavra sua está sendo levada em consideração e nunca havia visto por este ângulo. Mas estou preocupada. Esta sua reação de defesa pró-Scott... Tem algo a mais acontecendo?
— Tipo o quê?
— Hã... Sei lá... Você... Você reagiu como um lobo em defesa dele.
— O que está querendo insinuar? Pode falar abertamente.
— Você gosta do Scott? - depois que as palavras foram proferidas, não me pareceu óbvio como dentro da minha cabeça.
— Você realmente acha que eu sou gay? - Seth sorriu de canto, ainda um pouco alarmado — Oras, isto é ótimo! Então esta é a impressão que eu causo? 

Seth não estava bravo, mas surpreso. 

— Não, é só que... Você reagiu como se quisesse defender alguém que ama muito.
— E quero. Estou tentando defender você de erros que podem te machucar.
— Eu não entendo.
— Eu que não entendo! - ele gargalhava agora —  Só pra deixar claro, o Scott não faz o meu estilo. Eu prefiro pessoas com um pouco mais de curvas, e não precisa de muitos seios ou pernas grossas. Não sou tão exigente, só tem que ser mulher. 

Nós dois começamos a rir, e eu estava bem envergonhada do que havia pensado.

— Entendi... E será que eu posso saber quem foi esta pessoa que você amou e não pode ter?

Assim que terminei de falar, Seth havia mudado sua expressão. Ele beijou meu rosto e levantando-se em direção à porta do quarto, me disse antes de sair:

— Talvez algum dia você possa me desvendar. Por hora, acho que deve correr para se arrumar. - me mandou um beijo no ar, seguido de um sorriso enquanto segurava a maçaneta da porta.
— Posso pelo menos saber o nome da pessoa de curvas, com quem vai se encontrar hoje?
— Ela não é muito de curvas. Uma garota de curvas não olha para mim.
— Você é tão modesto! Acho que só precisa sair um pouco mais da reserva pra encontrar a pessoa certa.
— E você, pelo visto teve que entrar, não é? - ele ria divertido.
— Desculpe, eu não consegui entender o nome, você falou muito baixo. - desconversei em tom de ironia.
— Lili. Lili Parker.
— Sério? A caçula dos Parker? Acho que você deveria fugir daquela família.
— E acho que você vai se atrasar se continuar na minha cama. Geralmente as meninas que acabam na minha cama, custam sair mesmo. É normal. Mas sabe... Você pode voltar quando quiser.

Fui andando até Seth sorrindo e quando cheguei perto dei um tapa em sua barriga, - e pasme, tão rígida como pedra - e apontando o dedo em sua face falei:

— Me respeite moçoilo. Eu poderia ser sua irmã mais velha. 
— Nem é para tanto. Formaríamos um belo casal. - ele sorria travesso e enquanto fechava a porta, ouvimos Lia gritar do outro lado do corredor:
— Ei! Vocês dois aí! 

A garota nos olhava desconfiada e parou em frente ao irmão de braços cruzados calada, encarou em seus olhos, Seth ainda sustentava o sorriso travesso, e ela farejou o ar na altura de seu pescoço.

— Onde você vai? Por que está tão cheiroso assim? A mamãe sabe? O que vocês dois estavam fazendo lá dentro? 

Assim que terminou de falar, olhou para mim inquisidora e antes que o som saísse de minha boca, Seth se pronunciou:

— Grosseiro da sua parte pensar isto. - Lia já percebendo que os seus pensamentos estavam sendo compartilhados retornou o olhar ao irmão —  E fica feio você se expressar desta forma: "comer". Eu não como mulheres, eu dou carinho a elas. 
... Desculpe, eu não... - Lia falava para mim e bronqueando o irmão disse: — Seu moleque, não tem que externalizar o que eu penso! 
— Constrangedor não é? 

Aquilo me pareceu uma espécie de vingança entre irmãos. Assim que ele se virou para seguir adiante no corredor, Lia tentando não sair por menos bradou:

— Sai mesmo! Vai lá dar "carinho" a quem quer que esteja te esperando.

Aguardei a loba recuperar a calmaria e me pronunciei.

— Você precisa parar de agir como se ele fosse um garotinho. Já pensou que talvez por isso, ele não se abra com você?
— É eu sei... De ontem para hoje pude notar que se tem algo que Seth não é mais, é um garoto.
— Pois é... E fala sério! Você realmente pensou que ele e eu estávamos no quarto dele, fazendo...
— Porque não pensaria? Depois de ontem no meu quarto, eu não sei se lembra eu estive na mente dele!
— Eu tenho idade pra ser a irmã mais velha dele. 
— E isso não quer dizer nada.
— Seria como você e ele.
— Que nojo garota. Não chega nem aos pés. Ele é meu irmão, não seu.
— Para mim é como se fosse.
— Mas não é para ele.
— Como assim ? Tá dizendo que Seth pensa nestas coisas comigo? Você viu o que na cabeça dele, hein? E puxa... Que invasão de privacidade Lia!
— Você não tem um encontro ? 

As pessoas começavam a me lembrar demais daquele compromisso. Não sabia distinguir se eu quem estava errada, ou se era o álibi do dia para que desconversassem comigo. 

— Já estou indo.

19:55 da noite.


Billy, Sue, Charlie, Emy, Sam, Lia e Embry estavam na varanda da casa dos Black. E o vozerio ecoava junto às risadas. Eu acabara de calçar meus saltos, quando a porta do quarto entreabriu revelando um rosto preocupado: Jacob Black.

— Aconteceu alguma coisa?

Ao me levantar, deparei-me com o olhar frenético e firme de Jacob sobre mim. Ele sorriu de lado, como se acordasse de algum devaneio.

Minha Mani vai sair com um menininho. Nem posso acreditar que este dia chegou. - zombou.
— O que? Estou tão infantil assim? - eu disse correndo ao espelho —  É este penteado! Eu sabia, vou soltar o cabelo. 
— Não precisa ficar insegura, você está linda. E não tem nada de... - eu sacudi os cabelos me virando para Black e então ele calou-se, continuando após um breve silêncio: —  infantil. 
— Em todo caso, vamos manter as madeixas livres. Cabelo solto não tem erro! - eu sorri.
— Parece animada com o encontro... Você pretende dormir em casa?
— Eu pretendo. - não esclareci porém que as chaves da minha casa estavam na bolsa caso eu realmente fosse "dormir" em casa.
— Droga.
— O quê? Você quer o quarto livre pra você hoje? Porque eu posso...
— Não! Não é isso! Pode ficar com ele todinho... O meu quarto! Eu vou estar na cama te esperando. Esperando você chegar, eu quis dizer.

Sorri fraco encarando um Black atrapalhado, e ouso dizer, transbordando ciúme.

— Tudo bem Black, não me espere acordado. - depositei um beijo em seu rosto e fui em direção à porta.

Enquanto eu saia pelo corredor Jacob que vinha logo atrás, parou um pouco antes na saída do quarto e murmurou escondido:

— Merda, merda! Idiota!

Em seguida veio atrás de mim. Chegamos ambos à varanda e todos olharam para mim, os meninos com tom provocadores faziam piadinhas e assim que o carro de Scott surgiu à frente da casa de Billy, uma redoma foi formada nos degraus abaixo da cabana. Sam, Embry, Paul, Quil, e Jacob respectivamente nesta ordem desceram os degraus e formaram uma fileira à minha frente. Scott desceu do carro e aproximou-se. Olhava para mim sorrindo radiante como em todas as vezes que nos víamos. Lia sentada na cerca da varanda falou um pouco mais alto, em minha direção:

— Nossa, ele está mesmo um gato! 

As mulheres na varanda riam e eu não pude deixar de rir também. Afinal, quem mais imprópria que a Lia para externalizar um momento como aqueles? Não pude deixar de me sentir especial quando Charlie parou ao meu lado com os braços cruzados, olhou-me de canto sorrindo e voltou sua expressão séria para Scott. Meu convidado cumprimentou todos os rapazes, que foram corteses embora intimidadores, e pousando os olhos em Jacob apertou sua mão. Eu tinha medo por aquela atitude. Não sabia se Black, estaria tranquilo com aquilo. Então Jacob apenas acenou com a cabeça enquanto com um aperto de mão, devolvia o cumprimento. Parando um degrau à minha frente, Scott deu boa noite a todos. Logo, pousou seu olhar aflito sobre Charlie.

— Delegado Swan...
— Apenas Charlie. - ele assentiu sorrindo —  Onde pretende levar minha filha?

Aquela pergunta espantou a maioria dos meninos, mas não espantou Jacob, Billy, Sue e muito menos eu. Se algo me confortava imensamente era a paternidade adotiva que Charlie correspondia a mim. E se eu não fosse calejada com o assunto "família" provavelmente teria chorado com aquela atitude. Tive vontade de abraçá-lo. Mas por algum motivo, não o fiz.

— Silverdale.
— Você não pretende beber e dirigir, não é?
— Não mesmo, senhor delegado. - Scott continha um sorriso tranquilo e cúmplice ao meu. 
— Charlie... Acho que eles não são mais adolescentes. - a voz de Sue ecoou doce ao ouvido de Charlie. 
— É Charlie! Daqui a pouco você vai dizer que horas o mocinho deve trazer a sua filhinha para casa! - Lia zombava, arrancando risadas de todo mundo e despertando o delegado Swan daquele transe.
— Não se preocupe Charlie, vamos ficar bem. - eu disse.
— Em todo caso - ele sorriu para Scott e para mim, e voltando a ficar sério respondeu: — Eu ficaria tranquilo se ela voltasse ainda esta noite.

Nós dois abaixamos a cabeça sorrindo e Sue cutucou o delegado. Os demais, já haviam se entretido após o comentário humorado de Lia, de volta aos seus lugares.  Scott e eu seguimos para o carro, acenando e nos despedindo de todos. Emy gritou um "divirtam-se" para nós, e ao passarmos por Black sorrimos. Ele apenas sorriu de volta para mim. Da janela do carro observei quando Black entrou de volta à cabana sem pronunciar nada a ninguém.

— Parece que a senhorita encontrou uma porção de irmãos para defendê-la. - Scott dizia sorrindo antes mesmo de passarmos o portão da reserva.
— Sim. Enfim encontrei uma família. 
— Meu pai tinha razão afinal.
— As premonições de seu pai, ainda não devem ser concluídas.
— Mas, estão caminhando para isso.

Sorrimos.

— Silverdale, então? - perguntei puxando assunto.
— Espero que goste de dançar...
— Muito! - eu respondi animada observando Scott rir.
— Country!

Olhei para ele que dava risadas animadas enquanto vigiava a minha reação.

— Bem, eu não sou lá uma "expert". Mas eu aprendo rápido.
— Você vai gostar! Temos a noite toda para eu te ensinar... A menos que...
— Não se preocupe com Charlie, ele estava apenas brincando! - eu sorri prevendo o que Scott diria.
— Não é bem com o Charlie que me preocupo.
— Os meninos não irão atrás de nós! - eu disse e Scott me observou desconfiado —  Nenhum deles! 
— Bem, então hoje é o dia que você sairá de Silverdale dançando country!
— Hoje eu sou toda sua. Me ensine. 

Embora animada e ingênua com a resposta, Scott me observou com certa malícia, que logo se desfez em seu cavalheirismo iminente. Seja lá o que tinha se passado em sua mente, ele já havia afastado. E me serviu como um alerta para pensar um pouco mais antes de falar, pois como havia prometido ao Seth, não iria iludir Scott.

— Você está linda. Não que isto seja difícil para você.
— Obrigada, mas você poderia ter dito que eu iria dançar country hoje, teria vindo à caráter!
— Então, agradeçamos por eu não ter dito nada! - ele sorriu ligando o aparelho de som do carro, e uma música qualquer embalava nosso diálogo.
— Acredita que Seth saiu para um encontrinho com a Lili Parker?
— Não!? - ele olhou-me surpreso —  Ele não sabe onde está se metendo! 

Ambos ríamos.

— É eu avisei a ele, mas ele não quis me ouvir. Meninos...
— "Encontrinho",  "meninos"... Por que se refere ao Seth como se ele fosse um pré-adolescente? Ele não é tão mais novo do que nós.
— Tem razão... Ultimamente eu tenho pego esta mania da irmã dele.
— Lia sempre verá o irmão como um moleque de 15 anos.
— Verdade, mas Seth é mais maduro do que ela pensa.
— Ele passou por muita coisa afinal. - Scott disse como se soubesse de algo que nós, incluindo a própria família de Seth não soubéssemos.
— Claro! Eu falava disto com Lia... - tentei pescar algo com aquela conversa através de Scott — As pessoas agem diferente diante das perdas. 
— E Seth amadureceu muito com as duas perdas na mesma época não é? - Scott ao observar meu cenho desentendido com aquele comentário notou, que talvez eu não estivesse falando da mesma coisa que ele e, portanto desconversou —  Mas Lili Parker? Ele não está em seu juízo! Eu vou perguntar ao Peter que tipo de amigo ele é para não avisar ao Seth do problema que é se meter com aquela família de mulheres loucas!

Sorrimos um para o outro.

— Acho que já que você não quer entrar na família, e o sonho de Peter é conquistar Daniela, ele está tentando arrastar o melhor amigo para a mesma aventura.
— Precisamos salvar estes garotos.

O resto da viagem correu tranquila, e ao chegarmos no restaurante onde Scott havia feito as reservas, não demoramos muito para jantar, embora estivéssemos agradáveis com o clima, a comida e a presença um do outro.
Logo nos apressamos para seguir à danceteria que ele havia prometido me levar. Noite do Country. Assim que adentramos, uma banda típica estava no palco do local não tão pequeno. Pessoas gargalhavam, um flashmob country ocorria no centro do salão, os mais tímidos aplaudiam. Os grupos de amigos bebiam, alguns pelos balcões, outros pelas pequenas mesas que circundavam os cantos do estabelecimento.
Scott puxou-me pela mão sorrindo animado.

— Vamos para alguma das mesas, e eu pego algumas bebidas pra nós no balcão. 

Assenti e enquanto rondávamos alguma mesa, assim que encontramos uma vazia, Scott perguntou o que eu queria beber e antes de sair um homem alto e forte apareceu ao lado dele, chamando por meu nome.

!
— Seth? Como assim? - rimos da coicidência e ele abraçou Scott cumprimentando-o.
— Cara, porque não disse que viriam para cá?
— Eu não sabia. Scott fez uma surpresa.
— Está tudo bem Seth? - Scott perguntou ao notar que Seth estava extremamente feliz em nos ver. 
— Bem, agora que vocês chegaram vai melhorar. - olhando para mim, completou: — Eu devia ter te escutado e ficado em casa! Aquela Lili é completamente insana.

Scott e eu rimos. 

— Nós vamos te salvar garoto. Senta aí. 

Scott disse e foi buscar as bebidas. Seth disse que não bebia, então não precisava se incomodar. Sentando-se ao meu lado e me abraçando como se eu fosse sua salvação, Seth olhava em direção ao banheiro feminino impaciente. Eu observava as danças pelo salão e assim que Scott chegou, começamos a desvendar qual tipo de furada Seth havia se metido.

— Ela é insana! Ela acha que somos namorados, e é a primeira vez que saio com ela! Ela não para de falar um minuto, e pelo amor de Deus... Ela não fala nada de útil!

Scott e eu só conseguíamos rir enquanto conversamos com Seth.

— Onde ela está?
— Na fila para o banheiro, há uns 10 minutos. Bendita fila! 
— As mulheres da família Parker são ótimas para serem suas amigas, até o ponto em que não cismam com você. Sempre chega um momento em que elas forçam uma situação. E se você não se cuidar, acaba sendo engolido pelos compromissos fantasiosos delas! 
— Scott, eu mato seu irmão!
— Viu só? Eu sabia que o Peter tinha empurrado o Seth pra esta aventura, Scott!
— Ei Seth, pode ficar conosco aqui o tempo que quiser. 
— De forma alguma, eu não vou atrapalhar mais o encontro de vocês! 
— Ei Seth, não tem problema! Scott e eu estamos ainda mais animados por ter encontrado você.
— É, a é ótima com as Parker. Tem algo na comunicação delas, que é muito... Íntimo. - Scott zombou rindo de mim, enquanto eu sorria fazendo uma careta vencedora.
— Olha Seth, tem várias garotas por aqui, e você facilmente encontra alguém. Claro que você não vai ser cafajeste de largar a Parker, que você mesmo inventou de trazer, mas conversa com ela que o interesse não é mútuo. Talvez ela não seja como as irmãs.

Scott olhou-me incrédulo.

— Ok. Talvez ela não seja tão superficial como as irmãs.
— Pode ser, mas eu vou dar uma volta pra aproveitar que já vão completar 20 minutos que ela está na fila do banheiro. - Seth sorriu bem mais animado.

Scott e eu acenamos, brindamos. 

— O que você está bebendo?
— É só um suco. Relaxe... Eu não me atreveria a desobedecer uma ordem do delegado Swan. - ele riu.
— Eu vou te acompanhar, no próximo. Não gosto de beber sozinha.
— Tem certeza? Eu posso cuidar de você se por acaso você não conseguir andar em linha reta até o fim da noite. 
— Você já fez isso uma vez! 
— Não necessariamente! Você apenas pegou no sono!
— É, mas hoje eu prometo que não vou dormir! E aí, quando começa a minha aula de dança?
— Agora! 

Scott depositou os copos na mesa e pegando minhas mãos, me guiou até o centro do salão onde ocorria "a grande dança". De longe observei Seth dançando com outras meninas, e logo Lili Parker o encontrou, ela se aproximou timidamente. Seth é um cavalheiro exímio, e continuou a dançar com sua acompanhante fazendo com que ela sorrisse abertamente. Talvez a caçula dos Parker não fosse uma caça-dotes como as irmãs, mas sim estivesse encantada por Seth. 
Entre danças e danças, risadas e mais risadas, a noite correu muito divertida e alegre. Seth e Lili se juntaram a nós outras vezes na mesa, e a garota era realmente mais tragável do que as irmãs. Ainda assim, perdurava a marca registrada dos Parker: o egocentrismo. Mas nada que, não houvesse salvação para ela. Após nossa chegada Seth ficou mais relaxado, então de certa forma acredito que a noite acabou bem para ele também. 
Na saída, observei que Seth havia pego o carro de Jacob emprestado. Então disse a ele um "até logo", ele deu de ombros ainda em dúvida. Talvez Seth não voltasse para casa aquela noite. Eu não poderia afirmar se mesmo após nossa chegada, suas impressões sobre a jovem continuavam as mesmas. Scott e eu voltamos de Silverdale para Forks muito mais animados do que antes. Conversamos sobre como eu me saí bem dançando country, apesar de estar desengonçada devido ao meu vestido e saltos. Prometemos que repetiríamos a dose, porém da próxima vez, vestidos à caráter. E quando finalmente chegamos à estrada de Forks, Scott pronunciou-se a respeito de nosso encontro.

— Foi uma noite incrível. 
— Foi mesmo. Obrigada pela segunda chance. Sei que eu andei vacilando muito contigo, mas acho que posso afirmar que foi uma das noites mais divertidas que tivemos. 
— Já notou que toda vez que saímos é sempre divertido, ? Por isso que eu adoro quando você, finalmente, encontra um tempinho para nós.
— Prometo ser uma amiga mais atenciosa. - olhamos um para o outro amenos, e então não pude evitar ser sincera — Sabe Scott, eu tenho muito medo de te magoar. De te iludir. Eu sei dos seus sentimentos, mas lamento não poder correspondê-los como você merece.
— Eu sei de tudo isso moça. E não fique com medo, eu não vou te pedir em casamento ou algo do tipo. Eu só quero estar com você e ficar o máximo que puder contigo, porque é como eu disse, nós nos divertimos muito.
— Eu queria tanto poder corresponder seus sentimentos, de verdade. - pousei minha mão sobre a coxa direita de Scott, ele me olhou um pouco espantado. — Mas, acho que expectativas não devem ser criadas de nenhum dos lados.
— Concordo. Eu só quero deixar as coisas irem acontecendo. E no momento se a sua amizade é a minha melhor oferta, eu a agarrarei.
— Pra ser sincera, você tem alguns méritos. Aquele beijo... Eu não o esqueci. 

Mas o que eu estava fazendo? Não podia negar que Scott tinha sua parcela de atração. No entanto, que sujeirada eu armaria se o fizesse crer naquilo para depois negá-lo. Estávamos na entrada da reserva, e nem notei que o carro já havia parado. Scott e eu nos olhávamos tímidos sem imaginar qual o passo dar a seguir. Ele se aproximou de mim, e imediatamente recordei do dia em que vi Black e Bruh se beijando. Segurei a nuca de Scott, e mordi seu lábio inferior. Ele segurou meus cabelos os puxando para trás, encostamos nossos lábios novamente e quando eu decidi avançar impetuosa para Scott, ele segurou firme meus braços impedindo-me.
— Acho melhor, nós esperarmos outras saídas, para ter certeza se devemos...
— Você tem razão... - respondi despertando do transe que aquelas lembranças haviam trazido. 

Scott estava totalmente certo. Eu não sabia se estava agindo por vingança, ou se ao lembrar de Jacob com Bruh eu imaginava que Scott era o próprio Black. De qualquer modo, Scott ou Black, as reações foram as mesmas: ambos haviam negado meu beijo. Não culparia Scott por aquilo, ele estava protegendo seus sentimentos. Eu faria o mesmo se estivesse no lugar dele.
Faria? Talvez eu não fizesse. Se Jacob se aproximasse daquele jeito, eu o teria beijado, mesmo sabendo que ele não me amava. Mesmo sabendo que no final da noite, o frio da minha cama continuaria esperando por mim. 
Nos despedimos com um abraço. Eu desci do carro, e não avistei o carro de Black na porta de Sue. Talvez Seth não houvesse voltado. Scott saiu da reserva, e eu adentrei à cabana pé por pé, sem fazer barulho para não acordar os moradores. Tudo estava apagado e não quis acender a luz afinal, Black dormia na sala e eu poderia acordá-lo. Entrei no quarto, fechei a porta, acendi as luzes e ao me virar, lá estava Black. 
Sem camisa e deitado na cama, abraçado à minha camisola. Achei a cena um tanto quanto fofa e sorri sem perceber. E o que eu faria? Peguei minha toalha, minha lingerie e uma outra camisola, tomei um banho muito rápido, apenas para tirar o suor. E após feita a higiene noturna, voltei ao quarto. Black ainda dormia, ainda mais afundado em minha camisola.
Eu sabia que as ações seguintes poderiam me gerar uma extrema dor de cabeça, contudo, eu havia sido dispensada por Scott e aquilo me soou como um sinal divino. Algo no universo havia evitado que eu me afundasse ainda mais nos meus devaneios. Então, afastei o edredom e me deitei ao lado de Jacob. Aninhei-me em seu pescoço, e enquanto esperava o sono chegar, me enebriando com seu cheiro, eu repensava em tudo que Seth e Lia, e Billy disseram sobre Black e seus sentimentos sobre mim. Recordei de toda a conversa com Seth, e de fato, era melhor evitar corações feridos. Scott pareceu maduro com a hipótese de continuarmos nos vendo, mesmo sem qualquer relação. No entanto, a minha mágoa sobre Jacob ter me evitado durante tanto tempo continuava. E eu não sabia se era correto me entregar ao desejo, independente do que ocorrera anteriormente. Não seria nada bacana que Black acordasse e me encontrasse em seus braços, pois estaria claro que, eu poderia investir em quem quer que fosse, mas seria nos teus braços que eu desejaria estar. E meu orgulho me impedia de permiti-lo tal descoberta. Ao mesmo tempo, era ali que eu queria estar e não me importava naquele momento o que aconteceria no dia seguinte, desde que eu acordasse antes de Black, tudo poderia ficar bem.

Eu mal pude acreditar quando abri meus olhos e Jacob ainda dormia. Estava tudo resolvido: eu levantaria, tomaria um banho e faria o café antes que ele acordasse e quando perguntassem, diria que o sofá era um pouco desconfortável. Seria o plano perfeito se, por acaso, não tivesse me esquecido que Billy era praticamente a coruja da madrugada. Ao sair pelo quarto, senti ainda no corredor o cheiro do café. 
"Droga Billy! Por que você não dorme?" pensei e irritada retornei ao quarto para pegar meu roupão. Após cobrir-me e sair com todo cuidado para manter os olhos de Jacob bem fechados e seus sentidos adormecidos, bufei pelo corredor em direção ao banheiro. Enquanto escovava os dentes praguejava mentalmente contra Billy Black: "Merda, esse homem precisa de uma namorada!", "Mas que droga, fica de guarda a noite toda?", "Ele já tem idade, era para ser mais sonolento!", "Aposto que Charlie está dormindo, afinal de contas, ele tem a Sue!", "É isto: o senhor Billy precisa de uma mulher pra mantê-lo exausto!". Sequei o rosto, joguei meus cabelos que eram mais bonitos ao acordar do que quando os penteava, e comecei a rir sozinha no banheiro. Afinal de contas, que pensamentos eram aqueles contra Billy? Quando foi que eu me tornei uma adolescente de novo? Parecia até que meu pai havia proibido-me de dormir com meu namorado.
Enquanto eu abri a porta e saí sorrindo, me recordei de que de todo modo, Billy teria notado que nem eu, e nem Black dormimos na sala. O que eu deveria fazer então? 

— Bom dia Billy. - disse assim que adentrei a cozinha. —  Tudo bem se eu fizer um bolo?
— Bom dia . Não está muito cedo para você acordar? - ele disse e eu comecei a pensar o que ele estaria querendo insinuar com aquilo. — Afinal, você deve ter chegado tarde ontem. Como foi sua noite?
— Ah foi muito divertida Billy, aprendi a dançar country! Acredita que Scott e eu encontramos Seth e Lili em Silverdale? Nossa nos divertimos muito.
— Uow! Alguém ficou realmente empolgada. - ele ria divertido, e até mesmo eu não entendi aquele tagarelar matutino — Eu nem sabia que Seth estava saindo com uma garota.
— Na verdade, ontem foi o primeiro encontro deles, e não tenho certeza se repetirá.
— O que houve?
— A princípio ele não se deu muito bem com a Parker. - eu ri.
— Bem, isso deve ter mudado, afinal Sue está com os nervos exaltados porque ele não voltou para casa e nem avisou que não dormiria. - Billy gargalhava com a travessura de Seth —  Ela não entende que o filho dela já não é mais um menino! Imagine, como se ele fosse ligar...
— Eu fico feliz por ele ter se divertido então. E depois eu conversarei com Sue sobre isso, mas acha que ela ficará chateada comigo Billy?
— De forma alguma! É apenas ciúme de mãe. Ela é mente aberta, afinal, foi ela quem fez o Charlie se tocar ontem não é? 

Enquanto eu já misturava os ingredientes do bolo, nós dois morríamos de rir lembrando as reações. Na verdade eu estava rindo muito mais por contágio da alegria de Billy aquela manhã. Ele não era muito de brincar, mas estava mais animado que o habitual. No meio dos risos, recordei de algo que talvez Billy pudesse esclarecer.

— Ei Billy... Ontem Scott me disse algo que eu não entendi muito bem. Ao falarmos sobre a maturidade de Seth, ele disse que "Seth havia passado por duas perdas ao mesmo tempo, e que embora difícil, aquilo ajudou ele a amadurecer". Você sabe do que ele estava falando?
— Não . Não faço ideia! A única perda significativa para ele fora o pai. E agora você me deixou realmente curioso.
— Fica entre nós Billy... Lia e eu temos achado Seth um pouco introspectivo, e eu tenho tentado conversar com ele. Achamos que seja lá o que for, ele acabará me contando. Então poderíamos deixar isso entre nós?  
— Claro, saiba que se precisar pode contar comigo com isso. Se nosso Seth precisa de cuidados, faremos o que for preciso.
— Obrigada. 
— Quer deixar entre nós também, você e Jacob terem dormido juntos de novo?

Na hora em que eu bebia meu café, pois já havia batido a massa de bolo que naquele momento Billy colocava ao forno, engasguei diante àquela pergunta.

— Você sabe que sou discreto, mas não posso deixar de perguntar: o que aconteceu?
— Ah isso... Droga Billy! - exclamei correndo até a porta da cozinha para me certificar de que Black não estaria ouvindo, o pai dele apenas sorria — Não aconteceu nada! Estava cansada demais para deitar no sofá. Ele é quem não deveria ter dormido no quarto.
— Como foi com Scott?
— Bem... Eu não posso iludir ele, nós gostamos de sair e somos bons amigos. Vocês todos que criaram expectativas sobre ontem.
— Eu criei mesmo, mas só quando fui ao quarto de Jacob ontem o chamar e o peguei dormindo aninhado à sua camisola, e ao acordar hoje pela manhã e não ver nenhum dos dois no sofá que voltei a sentir esperança.
— Com todo respeito Billy, você precisa de uma namorada. - ele se espantou e me olhou sério — Não quero ser uma abusada, mas se você tivesse uma namorada não ficaria "de guarda" a noite toda e eu teria conseguido acordar antes dos dois.

Billy gargalhou com minhas ideias, e enquanto eu estava emburrada guiou sua cadeira até mim. Eu estava sentada à mesa e ele pegou minha mão sobre a mesa, e acariciando-a parou de rir, transformando o riso em um sorriso paterno:

— Os cães devem ficar de guarda. Desculpe este lobo velho, que quase não tem mais sono. Eu não queria deixar você sem saída. Eu juro!
— Pois é, mas meus planos foram por água abaixo. Planejei acordar antes de todos e fingir que dormi no sofá!
— Jacob a ama, . - me encarou ao mesmo tempo tenro e firme —  Depois que você saiu, ele entrou e foi para o quarto. E não saiu mais de lá. Quando fui vê-lo, havia dormido e tive pena de acordá-lo. Afinal, eu nem sabia se você voltaria para casa. Achei melhor deixá-lo lá. E você? Quer falar sobre o que aconteceu quando chegou?
— Bem... Quando o vi dormindo com minha roupa... Eu não sei explicar, mas me senti culpada. E ao mesmo tempo feliz. Eu queria estar com ele, no entanto senti que não devia. Foi aí que decidi deitar lá e ficar abraçada a ele, e no dia seguinte se tudo desse certo - eu disse com certa ênfase —  Eu acordaria como se nada tivesse acontecido.
— Entendo - ele riu —  Mas não acha cruel fazer isso? Você mata a sua vontade de estar com ele e aí ele acorda, mas com a triste lembrança de uma peça de roupa nos braços?
— Desde quando você é poético? 
— Estou gostando da nossa relação - ele ria —  Mas é sério . Você o ama, não tem motivos para não viverem isto.
— Pode ser um pouco cruel, mas... E o que ele fez comigo? Não estou falando da Ateara, estou falando de todas as outras vezes que ele não soube apenas dizer o que sentia, fazendo eu me sentir uma completa idiota que achava que conseguiria quebrar as barreiras no coração dele.
— Sabe, eu não tenho o direito de te contar sobre o passado dele, e é por isso que vou deixar que ele conte quando achar que deve. Apenas pare de remoer os erros entre vocês dois. Isso não está ajudando nem você e nem ele. Acabaram se afastando quando sentem falta um do outro, e sabem que juntos são muito mais felizes. 
— Você tem razão, mas... Ele teve o tempo dele, e eu tenho o meu.
— Devo ficar quieto sobre tudo então?
— Eu mesma contarei a ele que dividimos a cama esta noite. - sorri e perguntei tímida —  Posso te dar um abraço Senhor Black? 

Billy assentiu e após receber um abraço do lobo velho, fui em direção ao forno, pois o bolo estava pronto. Jacob havia acordado e entrou na cozinha com uma expressão de mau humor, como há muito Billy e eu não víamos, ao colocar os olhos em mim vestida de roupão com o tabuleiro nas mãos ele sorriu abertamente dizendo:

— Como assim?
— É eu também não acredito, Billy podia me dar este forno quando eu me mudar! Eu nunca vi um bolo assar tão rápido. - ambos riram.
— Não, eu tô dizendo que... Achei que você não dormiria em casa! - ele respondeu beijando minha testa, um pouco eufórico e confuso por não ter certeza se eu havia ou não dormido em casa.
— Eu vou ver se o Seth já chegou, e acalmar a Sue para tomar um café conosco. Pela hora Charlie já foi trabalhar. - Billy piscou para mim e saiu balançando a cabeça. Jacob estava ainda mais confuso.
— Vai, senta aí para tomar café - eu disse. 
— Você... Você... Olha, eu não...
— Black - o interrompi — Do que você está falando? Eu dormi com você.

Minha vontade de gargalhar era grande, mas me mantive quieta. Black estava mais confuso ainda.

— Você não percebeu que dormi ao seu lado? - perguntei.
— Eu não tenho certeza...
— Não foi um sonho Jacob. - disse convencida —  Eu cheguei tarde ontem e você dormia na cama abraçado com minha camisola, e eu estava cansada demais para dormir no sofá. Apenas deitei ao seu lado. Só não imaginei que minha presença fosse tão despercebível.
— Não é isso... - não pretendendo se explicar, Jacob apenas sorriu e afagou meus cabelos. 

Tomamos nosso café, contei para ele sobre as partes divertidas da noite, não contei nada sobre Scott e eu. Beijando-o ou não decidi que, não havia por que dar explicações ao Jacob sobre aquilo, não naquele momento. Quando Sue chegou abracei ela, e novamente contei sobre a noite para os presentes, inclusive comentei sobre Seth. Sue ficou visivelmente incomodada enquanto Billy e Black riam do garoto. Fui me arrumar para o trabalho e quando saía pela porta da cabana, encontrei Seth descendo do carro e vindo em direção à casa dos Black. Bati em sua mão quando paramos de frente um para o outro na varanda.

— Então você não dormiu em casa... "A Parker é um chata, a Parker isso, a Parker aquilo" - zombei dele fazendo voz de criancinha.
— Ei! Ela continua não sendo o meu tipo, ok?
— Ah cachorro! Agora você diz isso né?

Seth beijando minhas mãos e olhando-me com cara de súplica falou:

— Eu não dormi com ela, tudo bem?
— O quê? Seth, você tem muito a me contar!
— Mais tarde, agora estou com fome, e com sono! Você tem que trabalhar né?
— Sim, eu tenho! E tô pensando seriamente em te empregar sabia? - eu zombei, mas havia um tom de verdade na minha fala.
— Ok. - ele beijou minha testa —  Bom trabalho, até mais tarde. Tô em fuga pra casa de Jake, porque quero evitar minha mãe. Tem café aqui?
— Olha.. Tem bolo que eu acabei de preparar, café, frutas, queijo, leite... E tem também uma outra coisinha...
— Ok, ok! - Seth disse se virando e me ignorando.
— Bom café da manhã explicando-se para sua mãe.

Imediatamente ele voltou me segurando pelo braço e me guiando até meu carro, como se realmente ele fosse um fugitivo.

— Não brinca!? 
— E aí, vai encarar ela na sua casa ou na casa dos Black?
— Se eu for pra casa, posso tomar café por lá e dizer que estava o tempo todo no meu quarto. 
— Eu acho que ela procurou pelo filho dela no quarto dele, né?
— Tem razão. Vou dizer que saí com o Quil, e acabei dormindo lá.
— Seth... Sem mentiras, ok? - revirei os olhos sem entender o que Sue poderia fazê-lo de tão ruim. Tudo bem que ela era muito ciumenta, mas aquilo era exagero. —  Até porque, eu contei pra eles que ontem nos encontramos.

Assim que terminei de falar, Seth suspirou fundo e enfim entrou na cabana dos Black. Entrei em meu carro e segui para meu trabalho na cidade. Na hora do almoço passei no mercado dos Carter para fazer umas compras, almocei, voltei ao trabalho na farmácia e após as 15 horas deixei Stuart no balcão e finalizei minhas tarefas de gerência do dia. Segui para a reserva e antes de prosseguir, parei na minha casa. O bairro Kalil parecia ainda mais assustador, e a minha casa, com todas as minhas coisas ali e sem movimentação deixavam o ambiente pior. Peguei as minhas plantas, coloquei-as no carro, e segui para a reserva. 
Assim que cheguei,  pedi ao Billy e à Sue para deixar os vasos de plantas nas varandas deles, até que eu tivesse enfim uma casa na reserva.  Perguntei onde estavam todos, e Emy muito animada respondeu: 

— Atrás da cabana de Sue, preparando o alicerce para a sua cabana!
— Não brinca! Eu quero ver isso! - corri para atrás das cabanas e sorri de orelha a orelha ao ver todos engajados daquele jeito.
— Café da tarde, matilha! - Sue gritou da janela de sua cozinha. 

Os meninos todos olharam para ela, e largando pouco a pouco suas ferramentas foram se encaminhando para casa. Passaram por mim me cumprimentando com beijos e abraços suados. Embry lambeu minha bochecha e eu apenas fiz cara de nojo, Seth vinha em minha direção aparentemente exausto.

— Obrigada por isto. - eu peguei sua mão andando acompanhada a ele —  Mesmo cansado está ajudando com minha cabaninha.
— Ei, não tem que agradecer... - ele sorriu beijando minha mão.
— Eu assumo daqui, pode ir tomar um banho, comer e descansar!
— Valeu! Vou mesmo aceitar! - ele sorriu aliviado e enquanto estava de costas eu gritei:
— Como foi com sua mãe?
— Tranquilo! Sobre ontem, te conto depois!

Sorri afirmando, ao olhar para trás, Black e Charlie estavam vindo. Decidi parar para falar com eles também, agradeci aos dois e recebi seus abraços de volta. Continuamos andando em direção à cozinha de Sue.

—  Desde quando ele conta sobre as noitadas dele para você e não para mim? - Black perguntou se referindo ao Seth.
— Eu sou muito mais divertida, e posso ajudar ele com as mulheres. 
— Também posso! Na verdade, era eu quem vinha fazendo isso, e muito bem por sinal!

Charlie ria do ciúmes de Black, e eu também. Abracei Charlie de lado e ignorei a cena de Jacob.

— Obrigada por ser meu pai aquela noite. - eu disse para Charlie — Eu nunca soube como era.
— Eu que agradeço por me deixar fazer parte disso. -  tínhamos os olhos marejados.
— Eu posso me habituar facilmente a chamar você de pai, gostaria de saber se teria algum problema. - eu disse um pouco tímida e Charlie parou de andar. <

Deixando algumas lágrimas escorrerem ele me puxou para um abraço e beijou o topo de minha cabeça.

— Eu serei muito feliz com isso. - ele disse e acariciando meu rosto, limpou seus olhos e saiu.

Jacob parado ao meu lado sorria com a cena e me abraçou pelos ombros.

— Ele sente falta. E Lia, mesmo depois de aceitá-lo, nunca pode chamar ele de pai. Nem Seth. Mas Charlie entende. O Sr. Clearwater era muito amado por todos, inclusive Charlie.

Eu apenas sorri de volta para Black que me aninhando cada vez mais em seus braços me acompanhava pela sala de Sue. Charlie saindo do banheiro e nos encontrando disse:

— Black! Solte minha garota e vá lavar suas mãos.

Nós dois rimos com aquilo, mas obedecemos.
Ao restante da tarde, todos voltaram seus trabalhos à minha cabana. Fui à cidade acompanhada de Emy e Lia para comprar alguns materiais de construção e aproveitamos para eu contar os detalhes da noite. Ao contar do quase beijo, tanto Emy quanto Lia concordaram que manter a amizade de Scott era o melhor caminho e assim que eu contei sobre minha conversa com Billy pela manhã, elas assinaram embaixo de tudo o que velho lobo dissera. 
Ao voltar pegamos firme no restante da construção. Os meninos estimaram um tempo de 3 meses para tudo ficar pronto. Jantaríamos na casa de Sue para comemorar o primeiro dia de trabalho na cabana da nova quileute. Eu estava mesmo muito feliz. Depois de nos arrumarmos, jantamos todos, e seguimos de conversa até o alto da lua no céu. Em determinado momento, senti falta de Seth e fui ao seu quarto. Dei duas batidas na porta, e logo Embry estava ao meu lado. Havia saído do quarto de Lia com um cd em mãos.

— Está tudo bem ?
— Sim. Que música vamos ouvir?
— Lia e essas bandas esquisitonas que ela escuta... - ele riu me mostrando a capa de uma banda que eu não fazia ideia de quem eram —  Está tudo bem com Seth?
— É isto que eu vim conferir. Estar cansado sobre ontem, ok. Mas ele não está apenas cansado. Você sabe de alguma coisa?
— Vocês estão muito amigos não é? - Embry sorriu nostálgico.
— Eu sou amiga de todos vocês. Só que vocês oscilam em momentos diferentes. E que bom! Não daria conta de ser psicóloga de todos ao mesmo tempo. - Embry sorria me abraçando —  Sabe qual o problema? Essa falta de privacidade mental de vocês! - eu disse apontando pra cabeça de Embry.
— Não, isso é algo que todos estamos habituados. O que está mexendo com ele, é algo que aconteceu há algum tempo. Ele tem remoído isto, mas ficará bem. Mas é como Lia diz... Seth não se sente mais à vontade como antes para se abrir com a gente, mas com você tem sido diferente, e agora acho que pode ser justamente pelo o que você disse: este vínculo que vocês não tem, deve deixá-lo mais confortável pra falar sem medo.
— Você é sempre tão esperto. 

Abracei Embry e disse que o encontraria logo, lá em baixo. Ele saiu. Estranhando a demora de Seth em atender as batidas à sua porta, resolvi abri-la devagar e deparei-me com ele dormindo em sua cama. Não sabia se devia acordá-lo, mas senti que deveria entrar. Avancei alguns passos, e encostei a porta.
Ele estava de costas para mim, então sentei-me na beira da cama e iniciei um cafuné em seus cabelos. Estava realmente preocupada com Seth. Ele remexeu-se um pouco na cama e virou para o meu lado. Em outros momentos, outros dias, eu estaria sem graça pelo que fiz. Acharia estar invadindo o espaço dele, mas a verdade é que eu sentia que pertencia cada vez mais àquela imensa família, e sentia por Seth a mesma preocupação que senti quando Embry precisou do meu ombro amigo. Pensava nisto enquanto afagava os cabelos de Seth, e mal percebi quando ele passou as mãos em minha cintura e me puxou sobre si colocando-me deitada ao seu outro lado da cama. Fiquei tão assustada e inerte com aquilo e já ia gritar com ele, quando ele se aninhando a mim, deitou seu rosto em meu pescoço e sussurrou um nome: Anna
Anna? Quem diabos era Anna? E por que Seth estava me confundindo com essa tal de Anna? Observei melhor o rosto dele e pude notar as lágrimas que escorriam de seus olhos. Lembrança ou apenas sonho, Seth estava sofrendo. Coloquei a mão em seu rosto a fim de acordá-lo e sussurrei seu nome baixinho, Seth em resposta colocou sua mão sobre meu rosto e esboçava um sorriso confuso. Ao abrir os olhos fracamente, eu disse: 
— Seth... Sou eu, a ... 

Ele soltou meu rosto confuso e foi nos afastando devagar. Sentou-se na cama e me encarou envergonhado.

— Tudo bem... Não precisa ficar mal. O que aconteceu só vai ficar entre nós, ok? - eu disse e Seth levantou apavorado.

Ao se olhar apenas de cueca correu para pegar sua bermuda e eu não pude deixar de rir com aquilo.

— O que aconteceu ? - disse espantado. 
— Nós transamos. - falei calma e séria.
— O que? - Seth correu até a porta do seu quarto, trancando-a — Como assim? Não é possível... O que eu... 

Era nítido o pavor no rosto dele, e mesmo eu rindo da situação pacificamente Seth não desconfiava de nada, então resolvi parar antes que ele saísse correndo perguntando aos outros o que havia acontecido.

— Senta aqui Seth. Nós não fizemos nada, seu idiota, se acalma. 

Seth sem entender, respirou fundo se acalmando, e colocou a mão sobre os olhos quando a ficha caiu de que tudo não havia passado de uma brincadeira.

— Você enlouqueceu ou o quê?
— Nossa, não precisava ficar apavorado. - eu ri.
— NÃO, IMAGINA! 
— Por que este desespero? - confesso que não entendi, era só uma brincadeira.
— Você é mulher proibida ! - disse óbvio voltando a sentar-se ao meu lado da cama.
— Que papo é esse, lobinho?
— Você é a mulher do meu amigo...
— Ei! - interrompi o discurso —  Desconheço este fato! 
— Desconhece por enquanto...
— O que você sabe que eu não sei? - perguntei já imaginando se ele saberia sobre a outra noite que dormi novamente com Jacob.
— O que aconteceu pra você ficar preocupada assim? Agora você vai me contar.

Tratei de desconversar, pois notei que ele havia se reanimado como antes.

— Olha, eu vim até seu quarto saber de ontem, o que aconteceu e tal... Mas aí você estava dormindo, me aproximei, te fiz um carinho e você praticamente me jogou nos seus braços e me chamou de Anna. Quem é Anna? A mulher de curvas que dormiu com você ontem?

Seth arregalou os olhos e ficou um tempo em silêncio. Tempo aquele que estava me incomodando bastante e eu já pensava em falar algo quando ele disse que iria ao banheiro de seu quarto escovar os dentes, pois não iria me explicar nada com "bafinho de sono". Aguardei ele voltar ainda sentada em sua cama, e logo Seth se juntou a mim. Cruzou as mãos e como quem procurava as palavras iniciou:

— Vamos lá, podemos falar sobre ontem primeiro?
— Podemos falar sobre tudo que você quiser.
— Podemos começar por você?
— Podemos, mas não sei se vou falar tudo que aconteceu comigo ontem antes de você falar o que aconteceu com você.
— Você transou?
— Não. O que isso tem a ver?
— Então o que você não iria me contar? - ele disse sorrindo e eu assenti —  Já eu, transei então tecnicamente não posso te contar nada. Vamos lá comece!
— Ei! Você vai me contar sim! Não precisa explicitar sua noite sórdida, mas temos um acordo de manos aqui! Não temos?
— Um acordo de manos? - ele disse zombeteiro —  Se eu tivesse um mano como você, teriamos realmente transado. - ele riu.
— Cala a boca que você quase caiu pra trás com a minha brincadeira. Faltou sair correndo pelo corredor. 
— Ok, desculpe, mas é como eu disse...
— Eu não sou mulher de amigo seu, e nem de ninguém. Vamos ao ontem... Depois que deixamos vocês lá em Silverdale, nós voltamos para casa conversando o caminho inteiro sobre como a noite havia sido divertida e quando chegamos aqui, nós quase nos beijamos. Mas Scott foi mais sensato do que eu, e nos parou antes que o fizéssemos. Decidimos que é cedo para "deixar rolar". É isso, e você?
— 'Tá faltando coisa.
— 'Tá nada! Que história é essa?
— Você morde o lábio inferior quando mente ou está escondendo algo. - olhei para ele sem entender desde quando ele havia notado aquilo —  Jacob e Embry me contaram isso. Na verdade Embry soube primeiro e Jacob apenas concordou depois.  
— Droga... Eu cheguei e vi Jacob dormindo com minha camisola em seus braços, e ele estava na minha cama, então... - comecei a rodear o assunto —  Eu estava cansada, não ia dormir no sofá!

Seth começou a gargalhar e sussurrar um "eu sabia!". 

— Sabia do que garoto? - perguntei óbvia e enfática.
— Que você ama o Jacob.
— Ai cala a boca, Seth.
— Mas e aí, o que aconteceu depois?
— Nada oras! Dormimos e acordamos.
— Espera... - disse Seth óbvio após ouvir meu relato —  Não é a primeira vez que vocês dormem juntos, não é? 

Seth gargalhava ainda mais.

— Quando foi que eu disse isso?
— Não precisa nem dizer! "Dormimos e acordamos"? É óbvio que se fosse a primeira vez que isto acontecesse, você estaria toda desesperada sobre essa atitude! Eu não sou bobo, tá?
— Ok. Você venceu. Já aconteceu antes, há muito tempo. E não, nós não transamos.
— E porque não transaram ontem? 
— Seth! Você acha que é assim que funcionam as coisas? "Ei Black, vem cá, vamos foder!".
— Acho.
— Ah cala a boca, garoto!
— Se eu tivesse a mulher que amo ao meu lado, não exitaria. 
— Bem, isso me lembra que minha história acabou. Sua vez.
— Ok. - ele suspirou pesadamente — Eu trouxe a Lili para casa ontem. Conversamos e expliquei que ela estava fantasiando muito e criando expectativas e diante disso, eu não queria magoá-la, e achava melhor irmos devagar.  Ela concordou comigo. Falou que se divertiu bastante, e quando eu quisesse era só procurá-la. Então voltei para o carro, e meu telefone tocou. Era a Paige, uma amiga do colegial. Ela chorava muito e perguntou se eu podia ir encontrá-la na casa dela. Eu já estava na rua mesmo, então eu fui. Assim que cheguei lá, os pais dela não estavam em casa porque tinham viajado. Meu alerta soou dizendo "cai fora" imediatamente. - ele parou de contar e vagueou em suas memórias tristonho.
— Então. Por que mesmo você tinha que cair fora?
— Ela disse que havia sonhado e que ninguém mais podia acalmá-la se não eu. Ela começou a desabafar sobre como eram difíceis as lembranças para ela, mesmo depois de tanto tempo. E no meio das lágrimas, o choro que consumiu nós dois, eu acabei não resistindo e quando ela tentou me beijar, eu correspondi. E dali por diante... Bem você já sabe né.
— Tá. - eu pensava sobre o que havia escutado — Não preciso de Jacob e nem do Embry para me dizerem que 'tá faltando história... O que ela sonhou? Por que vocês dois estavam chorando sobre estas lembranças e que lembranças são estas? E afinal, quem é Anna?
— Droga... - Seth deixou uma lágrima escorrer — Eu vou ter que me abrir com você.
— Não precisa fazer isto se não quiser Seth, eu só quero ajudar.
— Eu sei. Desculpe. Eu só posso fazer isto com você... Não me sinto confortável de falar com mais ninguém sobre isto.
— Tudo bem, eu estou aqui. - me virei para Seth e o abracei apertado sendo correspondida.
— Um pouco antes do meu pai morrer... Eu tive um imprinting com uma garota chamada Anna. Meu pai era o único que sabia. Ele havia dito que era muito cedo para ter acontecido meu imprinting, uma vez que nem o da Lia havia acontecido ainda. E que não era para eu me preocupar com aquilo, apenas aproveitar a companhia da Anna. Éramos amigos desde o dia em que fui para o colégio na cidade. Algumas semanas depois, meu pai faleceu e Anna me apoiou da melhor forma que pode. Sem meu pai eu não sabia como contar para minha mãe sobre aquilo, ou apenas com quem desabafar. Peter Carter não sabia de nós, e na verdade nem eu sabia que ele descendia de outra tribo da região. Então eu pensei em falar com algum dos meninos, mas além das coisas estarem muito conturbadas na época, eu observava como todo o assunto da matilha deixava de ser pessoal. E como a Lia sofria em relação ao Sam, eu não queria nenhum deles controlando a minha vida. Todos estavam ocupados demais com as... As coisas que iam acontecendo em nossas vidas. E eu tinha ainda minha mãe para ajudar a consolar. Peter acabou sendo o amigo que eu tive para contar certas coisas. Eu não havia dito nada para ele sobre imprinting, mas confessei gostar da Anna. E era correspondido. Estava tudo voltando a ficar bem, mas numa noite Peter me ligou dizendo que Anna havia sido internada. Ela estava doente, e por isso foi levada para Phoenix. Quando eu pude ir vê-la, ela já estava muito mal, e na primeira noite que eu dormi no hospital, Anna não resistiu. Eu perdi meu pai, e meu imprinting na mesma época. Quando voltei, Peter que sabia dos meus sentimentos notou que eu não superava Anna, e foi quando ele me contou sobre a Paige. Paige era a irmã gêmea de Anna, e confidente dela. Eu achei estranho não conhecer ela, ou Anna nunca ter mencionado a irmã. Peter disse que Paige morava em outro país, e Anna não falava muito sobre a irmã pra evitar as saudades e melancolia. E depois que ela havia falecido Paige estava vindo. Então eu tive que me preparar, afinal a irmã gêmea da minha garota estava vindo à Forks. Quando todos souberam acharam que Anna era apenas uma paixonite de colegial, e Embry foi quem mais parou de viver o caos do mundo, para viver meu caos comigo. Mesmo assim eu não tive coragem de dizer a ele que eu havia perdido meu imprinting. Só se tem um imprinting uma vez na vida, e enquanto todos sonham em como será o seu, eu já não teria o meu.

Seth chorava como se tudo aquilo que ele estava me contando tivesse acontecido aquela semana.  E a minha única reação era de abraçá-lo e confortá-lo. Sobre aquilo de imprinting, eu não podia opinar a respeito. Apenas tentar compreender. A medida que Seth foi se acalmando eu perguntei:

— E o que aconteceu quando Paige chegou?
— Peter se apaixonou por ela, e nós dois nos tornamos muito amigos. Anna era, e é tudo o que temos em comum.  Eu contei a Peter logo depois sobre o imprinting, foi quando descobri que na tribo dele há algo parecido. Ele acreditou e me compreendeu e se compadeceu da minha tristeza. E durante estes anos, eu superei e tudo ficou bem. Mas... Depois de você aqui ...
 — Oh-oh... Não gosto quando as pessoas dizem isto.
— Tudo bem, não é como se você fosse culpada de algo, mas você chegou e Jacob mudou, Embry mudou, Lia finalmente encontrou o seu imprinting e você não sabe como fiquei feliz com tudo isso. E aí você e Scott começaram esta história e ao mesmo tempo você e Jacob... Fiquei pensando sobre os sentimentos de Scott, perguntei a Peter e ele me garantiu que não é algo como um imprinting que Scott sente. E eu fiquei aliviado. Sei o quão doloroso é não ter quem você mais sonhou um dia encontrar. E não é o caso entre vocês, mas me peguei pensando de novo nisso tudo. E procurei a Paige, depois de todo este tempo.  Andamos nos vendo e conversando sobre a Anna... Até então ela estava bem, me apoiando e dizendo que eu logo encontraria alguém, até ontem. Quando ela desabou com toda essa história que eu desenterrei e acabou se entregando pra mim, e eu idiota que fui...
— Entendo... Seth não se culpe. Tem sentimentos demais de ambos os lados. O que houve com Paige e Peter?
— Terminaram há muito tempo. Como você sabe, Peter é apaixonado por Daniella Parker. Mas ainda me sinto sujo de ter dormido com ela. Ela era minha amiga, gêmea da garota que eu amava e ex namorada do meu melhor amigo.
— Não, não pensa assim. Vocês dois estavam fragilizados e acabaram cedendo a algo que já existia dentro de vocês. Este interesse não veio de agora, pode ter sido notado agora, mas não se culpe você não fez nada de errado e nem ela. E quanto a Peter, ele virou a página e não acho que tenha motivos pra dizer isso a ele. A menos que você e Paige decidam...
— Não! - Seth interrompeu minha fala — Não vai acontecer mais nada. Hoje pela manhã me desculpei com ela, e ficamos numa boa. Só é duro lidar com a minha consciência.
— Ei, imagino o quanto tudo isto deva ser difícil, mas você precisa continuar. Sabe disso não é? Olha a sua irmã! Havia desistido de amar, e entendo que com ela aconteceu o inverso do que com você, mas não é porque a pessoa do seu imprinting não está aqui, que não exista mais ninguém possível para você amar. Seth, você está me entendendo?
— Você é mesmo incrível. - ele disse sorrindo para mim, e me olhando com ternura. 
— Obrigada por compartilhar isto comigo.
— Eu que agradeço, ...
— Eu só não entendo. Eu não sou como vocês, não posso entender exatamente a força disto tudo... Do imprinting... - ele sorriu franco —  Você tem várias pessoas que entendem e te acolheriam, cuidariam de você... Então por que não compartilhar.
— Por entender, eles me olhariam com pena. Isso se tornaria um fantasma sobre quem eu seria dentro da matilha. E não é este o olhar que quero.
— Por Lia.
— Exatamente, eu vi o que ela passou.
— Bem, todos estão preocupados com você agora. Sua irmã, me pediu pra conversar contigo. Embry, Billy... O que eu faço?
— Apenas diga que, eu me apaixonei pela pessoa errada.  - Seth me encarou firme, e compartilhando seu olhar mais carinhoso completou: —  Mas já estou me curando. 

Nós dois ficamos ali abraçados um tempo. Nos acomodamos na cama, e com sua cabeça em meu peito fiz cafuné em Seth até que ele adormecesse novamente. Eu não sabia como lidar com aquilo. Os quileutes não me prepararam para "imprintings" perdidos. Este capítulo era desconhecido, e eu sentia o quanto aquela tradição, ou benção, ou seja lá o que fosse, era algo profundo e íntimo para os lobos.
Doía ver que Seth, no auge de seus 20 anos teria aquela bagagem toda de perdas. E após saber daquilo, eu pude compreendê-lo melhor. Nós nos tornamos o que são as nossas experiências. E Seth, se tornou um homem íntegro, maduro, amoroso da melhor maneira, mas sobre as mais difíceis circunstâncias. Eu orgulhava-me ainda mais dele, após saber daquilo tudo.
Antes da nossa conversa, quando foi lavar seu rosto, Seth destrancou a porta e alguns segundos após ele adormecer em meu peito, alguém abriu lentamente a porta nos procurando. Era Jacob. Olhou para nós dois curioso, e espantado e eu sorri, fiz sinal com a mão para ele entrar. Iniciamos um diálogo breve em sussurros, para não acordar Seth.

— O que houve? 
— Dor de amor. Mas ele ficará bem.  
— O que eu faço? Embry pediu para eu vir vê-los, e todos esperam uma resposta.
— Eu já desço. Deixa só eu conseguir me soltar sem acordá-lo. 

Jacob saiu um pouco contrariado. Não entendi se, pelo o que acontecia ao Seth, ou por não saber o que dizer a todos. Devagar e delicadamente desvencilhei meu corpo ao de Seth, e ajeitando-o - da melhor maneira que pude - beijei seu rosto longamente, acariciei seus cabelos e me retirei devagar do quarto. Parada à porta, antes de fechá-la o observei uma última vez aquela noite e deixei uma lágrima escorrer. Eu segurei o máximo que pude, mas aquela pequena lágrima teimosa insistiu em descer de meus olhos revelando a realidade de alguém que por conhecer o medo da solidão também temia por ela. Enxuguei meu rosto e fui ao encontro de todos.


17 - Um ataque

Eu descia as escadas da cabana de Sue ao encontro de todos à varanda. Jacob me esperava no último degrau. Nos entreolhamos, e eu não pude deixar outra lágrima guardada, ele se compadecendo da situação de Seth mesmo sem saber ao certo do que se tratava, enxugou aquela trilha molhada em meu rosto. Abraçados seguimos casa à fora.


— Está tudo bem com o Seth, ?
— Vai ficar, Sue.
— O que ele tem? Conseguiu descobrir? – Lia perguntou disfarçando sua aflição.
— Ele se apaixonou por alguém que não pode corresponder.

Todos assentiram me encarando curiosos. Lia olhava profundamente em meus olhos e nos olhos de Jake. Então, Paul prosseguindo com o falatório daquela tarde, concluiu:

— Ele vai ficar bem, quando o imprinting dele acontecer.

E percebendo que ninguém ali, teria a dimensão do que o Seth precisava, eu sorri e me despedi. Falei que ia descansar, Embry e Lia ficaram me observando estranhos. Correspondi o olhar curioso deles, como alguém que implorava para que eles entendessem o quê os meus olhos tentavam dizer. Dei as costas em direção à cabana de Billy e ouvi passos me seguindo devagar.
Deitada na cama de Jacob pude ouvi-lo entrar alguns minutos depois, e sentar ao meu lado. Passou um dos braços acima de meu abdômen, com as mãos apoiadas na cama.

— O que houve com ele, de verdade?
— Eu não tenho este direito.
— Ele já teve um imprinting, não é?
— Eu acho que você deveria perguntar a ele.
— Eu não vou contar para ele, e nem torturá-lo por isso. Seth pode ter se esquecido, mas, as pessoas que mais o compreenderiam com isso são eu, e talvez Lia.
— Seja como for, ele não se abriu comigo para que eu saísse contando a vocês o que, o aflige.
— Tudo bem. Mas, e sobre você, pode me contar?
— Contar o que?
— Para alguém que “não acreditava em amor” como Embry insistia em dizer, e para alguém que não compreende a dimensão de um imprinting… Você ficou bem abalada.
— E você está achando que sabe demais não é?
— Não precisa ficar nervosa. – ele riu.
— Não estou nervosa.
— Não está. Devo me preparar para ser mordido?

Olhava-me zombeteiro.

— Sabe, eu queria muito morder você agora. De verdade!

Jacob estava me irritando com aquele assunto, e eu não sabia ainda o motivo para me incomodar tanto com aquele sentimento antigo. Algo que havia ficado no passado, tão remoto, tão distante, e que iniciava-se numa latente recordação de dor.

— Você pode me morder. – e se aproximando do meu rosto, sussurrou — Quando você quiser.
— Você está confundindo as concessões que lhe dei, Black.
— Uma coisa por vez, primeiro, conte-me o quê te magoou tanto com a situação de Seth.
— Eu enterro certas coisas que nem mesmo a minha sombra reencontra.
— Uau. Entendi. Isto nos faz pular para a próxima pauta. O olhei confusa e saltando sobre mim calmo, com sua respiração próxima e olhar fulgurante, Jacob se deitou ao meu lado. Apoiou a cabeça em uma das mãos e me encarou sedutor.

— Vamos falar de nós.
— Nós? Não há um nós, Black. Há eu, e há você.
— Você e Scott se beijaram?
— Achei que falaríamos sobre “nós” e não sobre mim.
— Você precisa se decidir.
— Eu não acho, que lhe devo alguma explicação da minha relação com Scott.
— Não, não deve. Mas, eu estou tentando consertar as coisas entre nós dois.
— Ah é, e posso saber por quê?
— Porque é estupidez demais continuar negando um para o outro o que sentimos.
— As coisas sempre são assim contigo? Na sua hora?
— Ora vamos, ! Você é extremamente teimosa!
— Pode até ser, mas, quando eu quis investir nisso – apontei para nós dois – você ergueu um muro de Berlim. E agora, porque você quer, acha que pode vir e dizer “Scott cai fora!”?

Me virei na cama, sendo espelho dele, e o encarava furiosa.

— Eu só quero que saiba que eu já me arrependi de tudo o que eu não fiz. E quero que fiquemos bem de novo.
— Nós estamos bem, eu te disse quando voltamos do galpão. Até te abracei.
— Não é o suficiente.
— Que droga, Jacob! O que você quer?
— Você e Scott estão juntos mesmo, ou não?
— Ainda não! Satisfeito?

Silêncio.

— Ele me ama.
— Ele disse?
— Tantas vezes quanto as que corri atrás de você.

Novamente silêncio.

— Não… Não corri tanto assim atrás de você. Não foi preciso, você me dispensou bem rápido. Ele disse que me ama, muito mais do que isso. Não é segredo para ninguém nesta cidade, e só você não enxerga que eu poderia ter tido qualquer cara desde que cheguei…

Decidi não continuar a frase. Não poderia esclarecer para Jacob o poder que ele tinha sobre mim.

— E você pretende dar uma chance a ele?
— Por que te interessa?
— Porque eu amo você, e estou disposto a lutar por isso.

Jacob se aproximou de mim, lentamente. Nossos olhos hipnotizados um no outro. Ele umedeceu seus lábios, tão chamativos, e quando roçou-os ao meu, o empurrei. Levantei da cama, um pouco ansiosa, com uma das mãos na cintura, e a outra bagunçando os meus cabelos. Ele me encarava, tranquilo. E eu queria bater nele. Peguei meu casaco, as chaves do meu carro, e saí.
Billy, Sue, e Charlie ainda conversavam na varanda de Sue, e me encararam atentos.

— Onde vai, ? – perguntou Charlie com autoridade paternal.
— Só dar uma volta pai!

Gritei sem perceber o que havia dito, e ao fechar a porta do carro, o olhei novamente:

— Er.. Desculpe, Charlie.

Ele apenas sorriu, indicando que eu poderia chamá-lo por “pai” quando quisesse. Sue o abraçou de lado, e sussurrava feliz, algo para ele obtendo o cativo sorriso de emoção do delegado. Encarei o pequeno grupo pelo retrovisor uma última vez, e lá estava Billy me encarando com sua habitual feição indecifrável. Jacob surgiu na porta da cabana, e encostado nela me olhava sereno. Trocamos olhares e dei partida sem pensar duas vezes.
Dirigia pela estrada, devagar. Não estava nervosa, e nem com medo, nem ódio, ou raiva, mas feliz. Feliz pelo que havia escutado. E confusa. Confusa, porque, era como se Jacob estalasse os dedos para que eu fosse em sua direção. Eu já havia passado de Erick a Embry, de Embry a Jacob, de Jacob a Erick, de Erick a Jacob, e enfim, de Jacob a Scott.
Céus, eu brincava de malabares com os corações. Inclusive o meu.
Se eu, não tivesse me envolvido com a reserva, Erick e eu estaríamos juntos?
Não… Somos muito diferentes.
E não haveria, como não me envolver com La Push, uma vez que eu fora à Forks justamente pelo desejo de conhecer La Push. Bella havia falado tanto, naqueles e-mails, sobre a reserva, a praia, os índios… Eu nunca quis conhecer Forks.
Nem mesmo quando…


— Ei linda, e se fossemos até aquela cidade aonde o pai de Bella mora? Como se chama mesmo Bell?
— Forks. Não acho que Luna gostaria de Forks. Ela é ensolarada demais para um distrito como aquele.
— Exatamente, Theo!
– eu disse beijando o meu namorado – Não vamos mudar os planos! Iremos para a Califórnia nas férias!
— Theo, por favor, nós custamos a convencer René…
— Eu sei Bell, mas não acho que sua mãe se importaria caso quiséssemos voltar uma semana mais tarde, apenas para você visitar o seu pai.
— Theodor… Eu não vou a Forks. Eu odeio lugares frios!

Bella riu, olhando cúmplice para Theo. Ele me pegou no colo, enchendo-me de carinhos e sussurrou em meu ouvido: “Eu faço tudo por você, você não poderia fazer isto por mim?!”.

Balancei a cabeça afastando aquelas memórias. Já não chorava por ele há muito tempo. Olhei para o céu à minha frente, e a mistura de tons indicavam o crepúsculo. O sol havia se deitado. Retornando aos meus pensamentos, dei-me conta de que, eu não havia ido à Forks nem mesmo por Theo. E o traíra por isto. Eu havia ido à Forks, exatamente por La Push. O paraíso escondido de Bella. E quão falso aquilo me soava, uma vez que, Bella havia ido embora como fumaça que se esvai sob a chuva.
Não havia sequer o fantasma de minha antiga amiga. Às vezes, eu sentia como se tudo houvesse existido apenas em minha mente. Todos aqueles e-mails pareciam histórias fantasiosas, de alguém criativo o suficiente para se tornar um escritor.
Por onde estaria Bella? E como ela pôde sumir do mapa, abandonar o pai, La Push…
Se Embry não tivesse o imprinting com Lia, estaríamos juntos?
E se tivéssemos juntos, eu e Black teríamos nos tornado amigos? Eu também sentia como se, fosse empurrada para Black desde o primeiro instante. Aquele Jacob do quarto era tão oposto daquele homem que esbarrei caminhando na areia da praia. Tão oposto daquele que socorreu meu carro quebrado na estrada. Tão diferente daquele que me levou até Sue. E daquele em minha cozinha no escuro…
Eu não o amava, eu dependia dele. Doentio. Tudo soava como se, Forks não fosse o meu lugar sem ele. E se eu não pudesse tê-lo, por que estar ali?
Eu desejava amar Scott. Seria tão prudente. Tão mais fácil! Poderíamos ser uma família comum, de pessoas apaixonadas com filhos divertidos, que se reúnem aos domingos na casa dos avós… E…
O que eu estava pensando? Nada naquele lugar era comum. Nada. Nenhuma pessoa. Tudo em Forks, era peculiar demais para quem deseja ser medíocre.

Parei o carro em frente a grande casa branca. Abri o portão preto, alto, de grades pontiagudas ouvindo-o ranger. Caminhei na curta trilha de pedras, e bati à porta.

?
— Como vai senhora Eva?
— Ótima. Que surpresa! Ora, entre.

Dando-me espaço para entrar, avistei o senhor Carter sentado em sua poltrona. Dobrou os jornais em seu colo e se levantou para cumprimentar-me.

— Como vão as coisas ? – apertamos as mãos.
— Estão bem. E por aqui?
— Hã… Algumas décadas são necessárias para uma grande novidade surgir, outra vez, em Forks.
— Entendo, depois da “amiga da misteriosa Bella”, vão levar alguns anos. – rimos — Desculpem-me atrapalhá-los a esta hora, mas eu gostaria de saber se o Scott estaria em casa.
— Oh querida – Eva voltou com uma xícara de café para mim — Ele saiu.
— Certo, tudo bem. Não era nada importante… – beberiquei o café com os olhos do casal sobre mim.

Péssima ideia ter ido até lá. Peter descia as escadas e sorrindo me abraçou.

— Procurando Scott?
— Sim.
— Saiu com a Parker.

Eva pigarreou olhando-o reprovadora.

— Ér… Ele não deve demorar. Você sabe como ele é em relação as Parker.
— Tudo bem, Peter! Me acompanha até lá fora?
— Claro, se quiser aguardá-lo eu te faço companhia.
— Pode ser. Tenho mesmo que falar contigo sobre um assunto aí…

Saímos pela varanda e Peter fechou a porta da casa, sob sussurros e caretas aos pais. Sorri discretamente. Caminhamos até meu carro, e Peter acomodou-se no banco do carona enquanto eu entrava pelo outro lado.

— E aí, o que você quer saber do Scott?
— Eu não quero saber nada dele. Quero saber que ideia estapafúrdia é esta a sua, de empurrar o Seth para Lili?
— Bem, antes eu podia contar com meu irmão, para me aproximar de Daniela, mas aí você surgiu…
— Você sabe que ela é apaixonada pelo Scott, não sabe?
— Ela é apaixonada pelo dinheiro da nossa família, e não por algum de nós.
— Você sabendo disso, não acha também que merece uma pessoa melhor?
— Eu gosto dela. Não dá pra evitar por quem nos apaixonamos… Não é?
— É.

Um breve silêncio se fez até Peter se pronunciar novamente.

— Posso te perguntar uma coisa?
— Se eu gosto do Scott?
— É.
— Ele é muito especial para mim, um amigo que eu sinto que posso contar tudo, e que sempre estará ao meu lado. Não importa o que eu faça de errado. E… É como se ele fosse igualzinho a mim, sabe? O mais próximo da realidade que eu já pertenci um dia. Não sei explicar. É um sentimento fraternal.
— Então, por quê você dá esperanças a ele?
— Eu não dou, Peter. Seu irmão e eu acordamos que, não vamos evitar um ao outro independente de nossos sentimentos.
— Típico dele. Escolheu se contentar com a sua amizade mesmo sabendo, que isso o destruirá por dentro.
— Peter, do jeito que você fala é como se eu fosse um veneno para ele.
— E é. Scott sempre deixa os sentimentos dele o intoxicarem. E eu torço a cada dia, para que ele um dia se apaixone por alguém capaz de amá-lo.

Me senti mal com as palavras de Peter. Sorri sem graça para ele e girando a chave de meu carro, me despedi.

— Bem Peter, eu não quero fazer mal ao seu irmão… Fique tranquilo quanto a isto. – sorrindo, ainda sem jeito, concluí — E eu preciso ir agora.
— Não era a minha intenção constranger você, eu não tenho nada a ver com a relação de vocês, me desculpe.
— Imagina! Tudo bem, eu realmente tenho que ir.
— Ok.

Peter beijou meu rosto e saiu do carro. O sr. Carter aproximou-se da minha porta sem que eu percebesse.

tenha cuidado na volta para casa, certo?
— Obrigada, Sr. Carter. – olhei-o em dúvida.

Dei partida deixando os dois homens para trás acenando em minha direção. Scott chegou antes que eu pudesse me afastar demais. Vi pelo retrovisor. Apenas continuei acelerando. Ao passar pela minha casa à beira da estrada, eu parei o carro no que antes era um gramado. Sem cerimônias, abri a porta da sala deixando um rastro de pegadas na poeira da varanda.
Acendi as luzes e fui até a cozinha. Eu havia esquecido algumas coisas na geladeira, que acabaram por apodrecer. Iniciei uma limpeza em minha cozinha. E meu celular alertou a chegada de mensagens.


“Aconteceu alguma coisa? Onde você está? – Beijos, Sct.”
“Está tudo bem Scott. Estou em casa.”
“Posso passar aí? Você veio até aqui e eu não estava… Daniela me chamou para um jantar na casa dela, e eu não deveria ter ido. Foi extremamente desagradável.”
“Que chato. Você é gentil demais para se livrar da Daniela, não é mesmo? Fique tranquilo, não precisa se explicar.”
“Desculpe… Isto é ciúmes? :D ”
“Não. É só um toque. Se não gosta da situação, por que não se livra disso, Sct?”.
“Algumas situações eu, simplesmente não sei como me livrar... Você não respondeu se posso passar aí. :/ ”
“Precisa aprender. E acho melhor não Scott, eu comecei uma faxina. Nos vemos depois, beijos! :* ”.


Scott digitava uma mensagem quando o interrompi enviando outra: “E antes que pergunte, eu não estou chateada”. Ele não digitou mais nada.
Depois de limpar toda a minha cozinha subi as escadas com os objetos de limpeza em mãos. Abri a porta do meu quarto e estranhei a janela aberta. Pensei por alguns segundos recordando o último dia que estive ali. Alguém havia invadido minha casa. Enviei uma mensagem à Jacob.

“Estou no Kalil. Venha rápido, acho que tem alguém em minha casa.”


Estava com medo demais para sair do quarto, ou fazer qualquer barulho. Minha mente dizia para ter coragem e ir até o corredor vasculhar outros cômodos. Mas, algo em mim estava frio demais. Meu corpo congelava e aquele vento assobiando pela janela do meu quarto, não trazia uma boa sensação.
Peguei o telefone e disquei uma chamada para Erick. Ele não atendia. Então telefonei ao Charlie, e ao me atender ele disse:

— Não faça nada , você está bem?
— Sim. – sussurrei.
— Fique onde está. Tem alguém com você aí?
— Não sei. A janela do meu quarto estava aberta quando cheguei. Alguém esteve aqui, ou está. – sussurrei.

Ouvi um barulho das tábuas rangendo no andar inferior da minha casa.

— Ouvi barulhos, tem alguém na sala.
— Esconda-se, e não faça nada! Estamos chegando.

Desliguei e disquei novamente para Erick, a chamada ainda não havia sido atendida, então coloquei o celular em meu bolso e abaixei o volume. Saí cautelosa do quarto, embora Charlie houvesse pedido para não me mexer. Há algum tempo, eu escondia tacos de beisebol em lugares estratégicos da casa. Peguei um deles, embaixo da minha cama, e saí pelo corredor sorrateiramente. No alto da escada olhei para a sala e não avistei ninguém, as luzes estavam acesas. Desci degrau por degrau, com o taco de beisebol a punho. Nenhuma sombra. Nenhum som. Dei costas para a entrada da cozinha, quando o ouvi.

— Você é muito mais bonita do que nas fotos espalhadas pela casa.

Um tom de voz sedutor e firme. Eu me sentia ainda mais fria do que antes, e poderia afirmar ter tido uma queda considerativa da minha pressão arterial. Virei-me para o homem. Ele vestia uma blusa fina de mangas compridas, preta e justa. Calças jeans surradas que caiam levemente de sua cintura. Botas pretas de cadarços. Era forte, notei pelos braços cruzados à frente do corpo. Seus olhos eram pequenos e negros, sua barba bem-feita ruiva no mesmo tom dos cabelos, também impecáveis.

— Quem é você e o que faz na minha casa?
— O que você faz sozinha numa casa como essa? Pode ser perigoso sabia? – se aproximou aos poucos, rodeando-me à medida que eu fugia devagar.
— Responde a minha pergunta! – eu disse enérgica tentando passar confiança ao meu corpo em tremores.
— Brava! – sorriu mostrando os dentes — Eu posso ser seu amigo. Ou não. Depende de você.

Chegando à minha frente segurou firme o taco de beisebol em minha mão e retirou-o com agilidade sussurrando:

— Mas, posso garantir que um taco de beisebol não é uma boa arma para defesa, gracinha.

Me mantive muda, o encarando com a respiração muito mais ofegante do que eu esperava. Ele aproximou-se do meu pescoço afastando os meus cabelos. Notei um anel em seu indicador direito, com as iniciais “KN”. Cheirou o local roçando seu nariz gelado em minha pele.

— Doce… Mas, há algo diferente em você, gracinha.

Mantendo um invasivo contato visual, e hipnotizada nele, eu o deixei parar novamente de frente ao meu corpo. Muito, muito perto. O homem puxou o meu braço com agressividade, e sentindo a minha veia sobressaltada levou meu braço novamente ao seu nariz.

— Mas, embora confundível… Doce. O que é você?
— Quem é você?

Com uma risadinha irônica, ele puxou o braço em suas mãos fazendo nossos corpos colarem um no outro.

— Eu quero você comigo.

E de repente a porta da minha casa se abriu revelando Erick, com a arma apontada em nossa direção.

— Solte-a! – ele gritou.

O homem continuou rindo e quando Erick ameaçou atirar, ele beijou os meus lábios. Eu encarava Erick de olhos saltados, à espera de que ele fizesse algo a mais do que largar a arma ao chão e sair pela porta da frente.
Era sério que ele me abandonaria ali?
Ao partir do beijo, o homem sorriu para mim. Havia um olhar maligno nele. Eu estava assustada demais para me mexer. Ele afastou nossos corpos, e voltando-se em direção à cozinha parou próximo à mesa de recados. Pegou o meu porta-retratos e o observou me perguntando:

— Qual seria o seu último…

Imediatamente parou de falar e olhou descontente em direção à porta da sala. Deixou o porta-retratos no lugar e sorrindo com a mesma ironia de antes, para mim, concluiu:

— Qual seria o seu último desejo? Reflita sobre isso.

E saiu pela cozinha ao terminar de falar. Ouvi barulhos de portas de carro. E logo, Charlie surgiu com a arma empunhada, me encontrando sozinha.

— Tem mais alguém por aqui? – perguntou se aproximando a mim cauteloso, eu assenti negativamente e logo ele estava me abraçando — O que houve? Está tudo bem?
— Cadê o Jacob?
— Já está o perseguindo.
— Ele demorou!
— Eu o fiz vir de carro comigo, desculpe.
— E o Erick?
— Não havia ninguém lá fora, e nenhuma viatura. Ele esteve aqui? – disse Charlie confuso.
— Sim! Entrou e ameaçou o cara. Deixou a arma cair ao chão antes de sair pela porta. Parecia hipnotizado.
— Vamos sair daqui, Jake sabe se cuidar e vai nos encontrar na reserva.

Aguardei Charlie no sofá da sala enquanto ele verificava e trancava os cômodos da casa. Minha ficha caiu e a partir dali me dei conta do risco corrido.
Afinal, quem era aquele homem?
Ao entrar na viatura, Charlie não perguntou nada até chegarmos à reserva.


18 - O frio

Passados alguns minutos que a viatura de Charlie havia saído de minha casa, me lembrei de que havia deixado o carro parado em frente a minha casa. Contudo, antes mesmo de retornarmos, Jacob me ligara. Enquanto eu o lotava com indagações pertinentes a quem era aquele homem estranho, Jacob pedira calmo para que eu também me acalmasse. E assim, avisou que nos encontraria na reserva. Pedi para que ele trouxesse o carro, cujo as chaves, eu havia deixado na mesa da sala.

— Como vou entrar para pegar a chave?
— Não importa mais, pode arrombar a porta se for preciso. Amanhã mesmo eu retornarei para esvaziar esta casa!
— Tudo bem, tente se manter calma.

Charlie e eu não conversamos no caminho até a reserva. Eu observava a mata do lado de fora imaginando se, aquele homem peculiar estaria por lá rondando a região. Olhei para o rosto de Charlie na intenção de afastar os meus pensamentos e nos distrair, porém, sua face sempre tão pacífica se emoldurava num cenho ranzinza e meticuloso. O que o delegado estaria a pensar? Decidi que minha curiosidade esperaria, o deixando a sós com seus pensamentos.
A viatura parou no pátio da reserva, e Billy balançava-se em sua varanda, numa cadeira de balanço. Sue, ao seu lado conversava com Seth. O jovem lobo, ao notar a nossa chegada ergueu-se vindo em nossa direção.

! Você está bem? – disse Seth ao me abraçar apertado.
— Sim, por sorte.
— O que houve Charlie?

O delegado apenas encarou Seth e eu, e abaixando a cabeça seguiu na direção dos mais velhos.

— Viemos em silêncio todo o caminho, e ele compenetrado em seus pensamentos. Onde estão os meninos?
— Foram vasculhar.
— O que você acha?
— Primeiro, me conte a sua história.

Fomos andando na direção dos outros, e logo contei sobre o ocorrido. Billy, Sue e Charlie se entreolhavam duvidosos. Eu já conhecia muito bem aqueles olhares, e sabia que, não conseguiria arrancar nenhuma informação antes da hora. Apenas aguardei Black voltar, bem como os demais garotos. Seth e eu conversávamos afastados dos mais velhos, e com ele, eu poderia arriscar uma resposta.

— E então, o que você acha Seth? Será que era apenas um ladrão?
— Eu diria que pode ser um ladrão, ou um assassino, ou qualquer meliante. As características físicas não podem definir. No entanto, a reação de Erick me preocupa… Você disse que ele pareceu hipnotizado?
— Erick não abandonaria o seu posto. E jamais me deixaria em risco, apesar de nossas diferenças. Ele ficou estático ao perceber o homem, largou a arma e foi embora!
— É, uma reação incomum demais para o policial “caça lobos”.
— Eu realmente gostaria de entender, numa outra hora, esta rincha de vocês.
— Não temos nada contra ele. Como eu disse, ele que é um “caça lobos”. Sobre o seu amiguinho misterioso… Vamos aguardar Jake chegar, com ou sem informações.
— Eu li a respeito dos “frios” Seth, e Emy me contou sobre os vampiros. Os Cullen. Os Volturi. E Bella.

Seth olhou-me boquiaberto por uns instantes. E notando que enfim, eu descobrira os últimos segredos, se posicionou sobre o assunto.

— E eu acho que aquele homem, também era um deles. – concluí.
— Achamos o mesmo, então.

Jacob surgiu com meu carro atraindo a nossa atenção.
Caminhou até seu pai e falou algumas coisas em baixo tom, permitindo Charlie e Sue o ouvirem. Enquanto Seth e eu apenas observávamos do canto da varanda. Não demorou muito para que ele viesse em minha direção.
Seus olhos aflitos. Urgentes. Preocupados. Com passos firmes ele se aproximou de nós, e eu que estava sentada mal consegui processar as ações de Black quando ele puxou-me com ferocidade para seu corpo. Me envolveu em um abraço apertado, e afundou seu nariz em meu pescoço. Como de costume, eu deveria morder seu ombro. Aquele era o nosso cumprimento. Mas, eu não pude. Ele havia se declarado para mim quando eu saí atrás de Scott. E em seguida todo aquele susto ocorrido. Eu não conseguia reagir, porque eu não sabia como fazê-lo.
Eu deveria fingir que não ouvi Black dizer que me amava e lutaria por nós?
Eu deveria agir como sempre, correspondendo o carinho amigo que nós tínhamos?
Eu deveria me entregar ao desejo profundo de aceitar os sentimentos dele, e com isso abraçá-lo sem pudor?
Eu não sabia o que fazer. Mas fiz. Abracei Black de volta. Eu tive medo de nunca mais ver aqueles olhos, e a postura ranzinza, o sorriso solar…
Jacob ainda abraçado a mim, afastou sua cabeça de meu pescoço e olhou para Seth tocando seu ombro. Seth sorriu para nós. Um cretino sorriso, de alguém que acha saber mais do que há.

— Por que saiu daquele jeito?

Fora a primeira coisa que Jacob me dissera. Seth, beijou minha testa e se retirou. Eu estava em maus lençóis. Como dizer que fugi?

— Eu precisava pensar.
— E se colocar em risco é a sua forma de pensar?
— Não. Eu fui dar uma volta na cidade. Quando estava a caminho da reserva, decidi parar em casa para…
— Sua casa é aqui agora, .
— É, eu sei. Não vem bronquear comigo não, como eu imaginaria que…
— Você veio para cá ciente dos perigos que corria no Kalil. Não deveria estar lá a esta hora!
— Por que você está falando desse jeito comigo!? – eu começava a me irritar.
— Porque eu tive muito medo hoje ! Um absurdo medo de perder você!
— Ei… – toquei seu rosto – Eu estou bem, você não vai me perder. Não vai ser tão fácil assim.

Os nossos olhares se cruzavam enquanto eu o consolava. Não consegui decifrar o que os olhos dele me diziam, mais uma vez. Mas, eu estava feliz por vê-lo preocupado comigo. Sorri de canto, a fim de passar falsa calma a ele, e exatamente após soltar seu rosto Jacob puxou meu pescoço em sua direção. Segurou meus cabelos com uma força abrasadoramente confortável, e me beijou. Um beijo cheio de desejo, carinho, e necessidade. E eu correspondi no mesmo ritmo. Eu pude ouvir a risada fraca dos três mais velhos na varanda, e murmúrios comemorativos de Seth.
Não sabia qual a razão de uma lágrima escorrer por um dos meus olhos, mas senti o mesmo acontecer ao Black, molhando nossas faces cúmplices. Ele sorriu entre nosso beijo. Nosso primeiro beijo . E nos encaramos sorridentes. Ele abraçou meu corpo ainda mais forte, apertou minha cintura e iniciou um segundo beijo, mais calmo. E a medida que nossa respiração voltou ao normal, demos as mãos. O silêncio era acolhedor, o som baixo da vitrola de Billy num instrumental de guitarra já conhecido por mim. Tínhamos uma trilha sonora, como todo casal que se preze. “Dream On” dominava, baixinho, o nosso momento de muda voz.
Mordi o lábio inferior balançando a cabeça negativamente, e sorria boba. Tola, e desacreditada. E Black me acompanhou numa risada muda, e desajeitada.
Sue, Billy, Charlie, e Seth se retiraram nos deixando a sós na varanda. Não que fosse necessário, pois, não havia mais nada além de nós e nossa nuvem de sentimentos mistos. E só quando o silêncio da vitrola de Billy pode ser notado, que acordamos Black e eu, do nosso transe temporário.

— Droga, Billy podia ter esperado o fim da música para desligar. – eu disse.
— Meu pai vai adorar saber que vocês vão compartilhar Aerosmith.

Olhei duvidosa para Jacob e então, ele esclareceu que Aerosmith não era muito o seu estilo.

— Bem, o que você descobriu?
— Não consegui pegá-lo. Mas segui seu rastro até a antiga casa dos Cullen.
— Eles voltaram?
— Aparentemente não, mas há outros aqui.
— Os ataques podem ser…?
— Sim, mas eu estranho não termos notado eles antes.
— Como assim?
— Não é comum que eles transitem tanto tempo entre nós.
— Você acha que são outra coisa?
— Não, eles são frios. Eu tenho certeza. Dois. Mas, de alguma forma eles conseguiram se camuflar muito bem. A casa dos Cullen parece habitada há mais de um mês.

Abracei Jacob, e nos sentamos na varanda compartilhando o aperto quente dos braços um do outro. E entre conversas aleatórias – que não englobavam mais o assunto dos frios e nem tocavam no assunto “nós” –, ele e eu rimos, contemplamos o céu da reserva, bebemos chá e acenamos aos meninos que chegaram mais tarde. Eles me perguntaram se eu estava bem, e cansados, se despediram. Teríamos tempo para contar sobre o que Jacob descobrira, e o que acontecera a mim. Por fim, Jacob e eu fomos dormir.
Tanto Black quanto eu, não estávamos confortáveis para iniciar uma discussão sobre “o quê” nós teríamos, ou quais resultados aquele beijo traria. Apenas continuamos nossa relação amiga e confusa. Ele pegou suas coisas e foi dormir na sala, e eu me preparei novamente para dormir em sua cama. Antes de apagarmos em sono profundo, demos um último beijo de boa noite e nos direcionamos às nossas respectivas camas.
No dia seguinte ao amanhecer, bem mais cedo que o habitual, eu acordei. Após me vestir para o trabalho saí de casa deixando Billy e Jacob ainda adormecidos. Ao passar pela sala, olhei para Black que dormia tranquilo no sofá, e antes de fechar a porta o encarei novamente. E sorri. Depois saí com meu carro, e por algum motivo que provavelmente teria a ver com o beijo do dia anterior, eu fui tomada de nostalgia musical. Coloquei um CD antigo, no meu carro antigo, no meu aparelho de som moderno demais para aquele carro. E cantando bem alto, “Pink” do Aerosmith – ora, ora Billy – eu segui até minha antiga casa. E ao contrário do que possa parecer, eu não estava desafiando o perigo. A minha intenção era outra, totalmente diferente: me livrar do casebre.

Fiquei parada, com o rock and roll no último volume encarando a construção. Sair do carro ou voltar depois? Decidi sair e desliguei meu rádio. Tranquei o carro e segui. O tal “KM” não estaria ali, e embora eu não pudesse ter certeza, minha intuição pressentia que ele de fato não estaria.
Cautelosa, adentrei e fui diretamente ao meu quarto. Separei todas as coisas que havia deixado lá e que eram importantes para mim: lembranças da minha vida, fotografias, documentos não habituais importantes, alguns dos meus muitos livros e CD’s. Desci e peguei no meu depósito externo à casa uma caixa de papelão guardada. Antes de retornar para dentro de casa, dei uma boa olhada à volta do quintal dos fundos. Não havia nenhum vestígio de presença humana, ou de qualquer outra coisa que fosse. E então, empacotei minhas coisas, e coloquei-as no carro. Dei partida à cidade.
Os comércios ainda estavam fechados, alguns de costume abriam, o relógio marcava uma hora e meia anterior ao meu horário na farmácia. Estacionei em frente a loja e caminhando lentamente, passei na banca de jornal. Comprei o noticiário impresso do dia. Cumprimentei algumas pessoas no curto caminho até o Coffee & Bar e entrei, com o mínimo de barulho para uma manhã. Mas, todo o silêncio de minhas botas não eram páreo para aquela sineta da porta. Dois bêbados, um grupo de quatro alpinistas – aparentemente turistas –, um senhor de barbas branca, e Joe – que era motorista operador de uma extratora perfuradora de pedras, ele trabalhava na antiga pedreira de Forks – olharam em minha direção quando entrei. Acenei discretamente com a cabeça, na direção de todos. Joe que constantemente surgia na farmácia para buscar sua medicação de rotina sorriu e trouxe até a mesa em que eu fui sentar, uma caneca limpa que a garçonete lhe entregara e a cafeteira de mão. Trocamos corriqueiras palavras e serviu-me de café, gentil. Logo retornou ao seu lugar e a garçonete chegou.

— Desculpe , eu estou sozinha esta manhã e aceitei a ajuda de Joe para lhe servir. Bom dia!
— Bom dia Stacy, e não se preocupe. Pode me trazer um pão quente com bastante queijo, uma xícara de leite quente e um muffin de chocolate?
— Não vai querer waffles? Acabo de colocar na máquina.
— Com mel, por favor.

Sorrimos uma para a outra e volvi a atenção ao meu jornal. Das tragédias lidas, nada me surpreendera. Busquei nos classificados, anúncios de compra à imóveis e infelizmente não havia nada. Aguardei o meu café folheando devagar cada página. Stacy estava com dificuldades para expulsar os bêbados que insistiam em atormentá-la do balcão. E aquilo me irritou. Fui até eles.

— Vocês dois! Já é de manhã, e a maioria das pessoas desta cidade tem que trabalhar. Não me interessa a vida de vocês, ou o motivo para estarem aqui até agora. Mas, o bar já fechou. E não é porque a garçonete está sozinha por enquanto, que vocês dois podem atormentá-la em seu trabalho. Olhem em volta: as pessoas estão tomando seu café da manhã para irem aos seus respectivos trabalhos. E ninguém está bêbado. A hora da farra acabou senhores, então paguem suas bebidas e deem licença!

Os dois me encararam silenciosos, se entreolharam, e resmungando grosserias para mim levantaram pagando suas contas e saíram cambaleantes do bar. Stacy me agradeceu informando que já estaria a caminho de minha mesa.
Enquanto eu voltava para a mesa, o jovem garçom da manhã adentrou o bar atrapalhado. Com certeza, estava atrasado. Stacy o olhou contrariada e veio até minha mesa. Chegamos juntas, e assim que ela saiu, a sineta do bar denunciava a chegada de mais alguém.

— Que apetite, hein?

Olhei para frente e lá estava Erick sorridente.

— Bom dia .
— Bom dia Erick. Sente-se.

Sem muitas delongas ele sentou-se à minha mesa, fez seu pedido ao garçom recém-chegado. Ofereci a ele, dividir meus waffles e sem a menor cerimônia ele cortou um pedaço e embebendo-o de mel, o comeu. Algo estava diferente. Erick reagia como se ainda estivéssemos na minha primeira semana em Forks. Muito mais receptivo, muito mais íntimo.

— O que houve com você ontem? – disparei o analisando.
— Engraçado você perguntar, eu não lembro de nada. Não tenho a menor memória do que eu fiz ontem, só sei que acordei hoje com dor de cabeça. Devo tê-la batido…

Ele forçava os pensamentos em uma careta, e tentava se recordar a todo custo. Perguntei a ele a data daquela manhã. Ele, mesmo estranhando o jornal à mesa, ainda assim me respondeu. Desconversei e continuamos ali tomando café juntos.

— Erick… Por que você nunca me falara absolutamente nada sobre Bella? Você sempre soube que eu vim por ela, e mesmo assim, nunca disse nada.
— Você já deve saber que ela se envolveu com um pessoal estranho, não é?
— Sim, os Cullen.
— É. Eles não fizeram nada suspeito enquanto estiveram aqui, mas, tenho pressentimento de que não eram boas pessoas, mesmo Carlisle tendo sido um médico dedicado em nossa cidade por tanto tempo.
— Você ainda não respondeu a minha pergunta.
— Não queria ser eu, a te dar a notícia de que ela havia ido embora com eles, e deixado um rastro de mau presságio na cidade. As pessoas estranhavam os Cullen, não apenas por serem muito fechados entre si, mas, porque eles passavam algo de sombrio a todos. Sabe como é, tudo o que é misterioso e desconhecido causa espanto, e com eles não era diferente. A Bella já era esquisita, e digamos que ela não se uniu com a turminha mais popular da cidade.
— Entendo.
— Ao contrário de você.
— Não começa.
— Só uma brincadeira, sem malícias. – o olhei duvidosa — Juro, ! Eu não me importo mais com a sua paixão pelos indígenas da reserva. Desde que eu e você possamos ser amigos.

Tive vontade de dizer para ele naquele momento: “Amigos não abandonam um ao outro em um momento de perigo”, mas não seria justo. Continuamos a conversa e ao acabar de comer, me despedi. Ao caminho da loja, passei em frente a floricultura. A mesma velha senhorinha floreira, dona do lugar estava varrendo sua calçada e observei um anúncio de trabalho colado à vitrine. Pensei em Seth, e mandei uma mensagem para ele.

“Bom dia! Venha até a cidade e passe na floricultura. Você estava querendo trabalhar não é? Estão precisando de carregador. Até mais, .”


Entrei na farmácia, iniciei o sistema e ao ponteiro soar seu “tic” exato às oito horas, abri a loja. Separei as medicações da população local. Era dia de distribuição gratuita. Não demorou muito, para que a população idosa surgisse com suas receitas médicas, ávidas pelas suas caixinhas de anti-hipertensivos, antidiabéticos, medicações controle entre outros. Aquele projeto dos irmãos Hernando, de distribuir as medicações que o sistema público não podia ofertar à população era tão fantástico.
Por volta das dez e meia da manhã o movimento diminuiu. Avistei Seth sair da floricultura e fui até a calçada da farmácia, a fim de acená-lo. E logo, veio até mim. Havia conseguido o trabalho e me agradecia. Seria um trabalho de meio turno, e portanto, uma ideia que já martelava em minha mente fez-se oportuna. Ofereci à Seth um trabalho de turno posterior como entregador da farmácia. Ainda não oferecíamos “disque entrega”, mas eu já estudava que existia uma necessidade. Ele aceitou. Avisei a ele que eu prepararia a papelada burocrática, os anúncios com alinha telefônica e o novo serviço de entregas e assim, o chamaria para consolidar tudo.
O relógio da igreja badalou as doze horas, e eu já estava com muita fome de novo. Meu apetite duplicara desde que fui morar na reserva, e parando para pensar naquilo decidi que precisava voltar a fazer exercícios. Às doze horas e trinta minutos, Steve surgiu para seu turno.

— Já almoçou?
— Sim, chefe.
— Para com isso, garoto! Então, bom trabalho e qualquer coisa me liga.
— Tranquilo.

Voltei para o Coffee & Bar , não antes de passar no Carter’s Market. Na frente do mercado eu olhava, sem entrar, para o estabelecimento à procura de Scott. E não o vi. Mas, fui vista por Junior. O senhor Carter sorriu para mim e me vi obrigada a entrar.

— Bom dia !
— E aí, Senhor Carter, tudo bem?
— Sim, sim! Em que posso te ajudar?
— Ah nada não, eu só vim ver se o Scott estava por aqui, e saber se ele está bem.
— Ele está bem sim. Mas, não está trabalhando hoje.
— Certo… Mande um abraço meu a ele, Eva e Peter. – eu já ia me retirando do local quando Junior Carter me chamou de volta:
, você não está chateada pelo quê Peter disse, não é?
— De forma alguma. Peter agiu muito bem protegendo o irmão.
— Fique tranquila, nenhum de nós te culparíamos pelos sentimentos de Scott. Ele fora avisado há muito tempo do que aconteceria, e decidiu assumir o risco.
— Eu só não queria ter que me afastar dele.
— E não tem. O que a faz pensar isso?
— De certa forma, Peter estava certo. Scott pode não saber o que faz, mas, eu sei o que estou fazendo.
— Muitas coisas começarão a se encaixar agora, menina. Não se culpe por nada.
— Outra premonição, senhor Carter?
— Isso é bobeira que o povo diz…
— Tudo bem senhor Carter… Eu acredito na sabedoria indígena.

Ele me olhou surpreso por eu saber de sua origem. E sorriu de canto, um pouco assustado. Larguei-lhe um sorriso divertido e acenei para ele, já de costas. Ao entrar no pequeno estabelecimento – que de manhã era um café e restaurante, à tarde café novamente, e no início da noite um bar – sentei na mesma mesa da manhã, que estava vaga. E pedi ao jovem garçom o meu almoço.
Erick e Scott chegaram juntos, sendo denunciados pela sineta, e olharam em minha direção.
Scott veio até mim, e após notar para onde ele iria, Erick acenou com a cabeça para mim e seguiu para o lado oposto.
Scott beijou meu rosto e sentou-se à frente da minha cadeira.

— Boa tarde, como você está?
— Boa tarde Scott. Eu estou bem, e você?
— Preocupado com ontem. O que houve?
— Do que você está falando?
— Você foi até minha casa para falar algo comigo, mas saiu antes que eu chegasse.
— Não houve nada, só estava tarde para aguardar você chegar.
— Entendo. Bem, e o que você queria conversar?
— Nada propriamente. Eu só saí um pouco para espairecer.
— Se precisava espairecer, é porque algo aconteceu…
Ele fez um silêncio, pouco constrangedor. Não queria soar uma grosseira com ele, mas, após a conversa com Peter e o beijo com Jacob eu não continuaria naquele jogo com o Carter. Não era justo a ele, e nem a mim. Além do mais, depois do que Peter disse eu ponderei todas as vezes que eu – mesmo sabendo do sentimento de alguns amigos, e não os correspondendo – continuei uma amizade com quem fosse apaixonado por mim. E todas essas ponderações me fizeram perceber que eu não sei o quão doloroso aquilo poderia ter sido. Eu apenas sabia que seria extremamente difícil se do outro lado fosse eu.
Seth dissera aquilo. Bella, há muito tempo, dissera também. E agora eu faria diferente com Scott.

— Desculpe Scott. Não queria ser grosseira.
— Eu só quero entender se eu te fiz algo, ou se… Alguém te fez algo ontem em minha casa.
— Não. Eu só… Estive pensando e sinceramente Scott…

Stacy chegou com meu almoço à mesa, e Scott contrariado, despediu-se dizendo que iria me deixar almoçar e conversávamos depois. Ele não me parecia com raiva. Mas, chateado. Eu diria até triste. E isso sem eu ao menos tê-lo contado o que pretendia. Beijou minha testa e foi sentar-se algumas mesas mais afastadas.
Almocei em silêncio, e antes de sair do estabelecimento me direcionei até ele e marquei de passar em sua casa para conversarmos.

! – me chamou antes que o desse as costas — Poderíamos sair, o que você acha?
— Eu não sei Scott. Acho melhor eu só passar na sua casa.
— Somos amigos, não é?
— É… Tudo bem.
— Eu te ligo mais tarde.

Antes de retornar à reserva decidi dar uma volta pelos arredores de Forks atrás do meu terreno. Aquele amontoado de problemas que surgiam, um atrás do outro, me fizeram atrasar a construção do meu laboratório.
Dirigi entre bairros. Não adiantaria muito fazer daquela forma, então retornei à cidade e visitei a única imobiliária local. Após algum tempo, cerca de 40 minutos, conversando sobre o que eu procurava e sobre preços, condições de pagamento entre outras coisas, algumas visitas foram feitas. O corretor me mostrou alguns terrenos bons, outros ótimos, e alguns extremamente fora de cogitação. “Não basta aquele elefante branco no Kalil, eu não posso deixá-lo me enfiar outro terreno ruim!”, eu pensava enquanto observava o terceiro terreno que o corretor me mostrara. Afastado da cidade, e pequeno. Eu já havia favoritado alguns, então dizendo que pensaria nas propostas e retornaria a procurar por ele, me despedi.
Dirigi com intenção de procurar outras possíveis oportunidades, que talvez ele não houvesse me mostrado por algum motivo, nas regiões que gostei mais. E enquanto cantarolava High by the Beach – Lana Del Rey, eu pensava em como vender minha casa mal assombrada. A corretora da cidade não pegaria aquele imóvel para vender novamente, pois, fora o grande alívio deles saírem daquilo. Eu teria que encontrar um comprador antes de recorrer à “Maine’s Empreendiment”.
Quando dei por mim, havia avançado ruas a dentro de um dos bairros. E eu nunca estivera ali. O final daquela rua não tinha saída. Dei a ré e retornei. Novamente atenta à estrada avistei uma placa à direita que dizia “Cullen’s Territory”. Parei o carro à beira da entrada. Observei por algum tempo a estrada de chão que imergia-se pela floresta densa.
Má ideia! Má ideia?
Aquele era o antigo território dos Cullen. Jacob avisara que os frios poderiam estar ali.
Eu deveria pisar no acelerador e partir o quanto antes, contudo, algo dentro de mim desafiava-me a seguir em frente. E fora o que eu fiz. Como em quase todos os momentos desde que eu chegara em Forks, ali estava eu desafiando a morte com minha impetuosidade.

Dirigi devagar, até chegar a um ponto final da estrada. Não havia como seguir de carro. Desci. Coloquei as chaves do carro, e o celular em meus bolsos. Caminhei lenta e cuidadosa até uma encosta da floresta.
Os pinhos desciam a encosta formando um monte retilíneo de árvores enfileiradas, e decrescentes. E lá abaixo, uma mansão de vidro. Tudo inóspito demais, silencioso demais, e cristalino demais. Desci até aproximar-me da mansão.
Não havia sinal de vida ali. E aquilo me preocupava muito mais do que se houvesse alguém. Minha respiração começara a falhar. Estava com medo. Como poucas vezes, mas, de uma intensidade absurda. E então recordei o dia que confrontei o estranho em minha casa.
Por mais que tivesse percebido a estupidez que cometi em ir até lá, não pude simplesmente dar às costas e correr de volta ao carro.
Passos fraquejantes, olhos atentos, e meus braços envolvendo o meu tronco. Segui até a varanda da luxuosa casa vazia. Espionei tudo por fora. Nenhum móvel. Nenhuma presença humana. Nada além de silêncio, luz e poeira. Retornei à entrada da casa e olhei mais uma vez, ao redor. Não havia ninguém. Subi a encosta mais atenta e apressada do que quando cheguei ali. Eu tivera sorte. De novo.
Desesperada para entrar em meu carro, abri a porta e entrei. Afivelei o cinto sem dar-me o tempo que precisava para respirar fundo e me acalmar. Fui tomada de um medo fantasmagórico e minhas mãos tremiam, como se eu pressentisse que cada segundo ali era um segundo mais próximo à morte. Girei a chave na ignição e ao olhar para o vidro de minha janela o avistei. Gritei de susto.
O mesmo homem estava ali me observando com um sorriso de canto. Ele bateu em meu vidro indicando-me para abaixá-lo. Decidi que pisaria no acelerador, e daria ré sem importar se aquilo seria sensato ou não. Meu Deus, o que seria sensato naquele momento!? Enquanto encarava os olhos negros do homem, imaginei o que ele faria se eu acelerasse. Não seria uma boa ideia demonstrar que eu queria fugir. Abaixei o vidro torcendo para ver os olhos de Jacob, mais uma vez.

— Ei docinho, o que faz por aqui? – ele perguntou escorando-se à janela do meu carro assim que eu a abri.
— Você mora aqui? – perguntei diretamente.
— Depende do que você quer.

Ele tinha um ar displicente e autoconfiante. Encarava meus olhos como se estivesse me decifrando. Embalava-me à me deixar totalmente entregue. Algo magnético e inexplicável.

— Não é como se eu estivesse invadindo a sua casa para ficarmos quites.

Eu disse irônica na busca de me acalmar e soando amigável pedi desculpas. Ele sorriu fraco sem perder o contato visual.

— Em quê eu posso te ajudar?
— Bem, me disseram que esta casa estava vazia e abandonada. Decidi dar uma olhada antes de ir à corretora.
— Você curte um lugar mais ermo, não é?
— Na verdade não seria para morar.
— Hum… E o que seria?
— Desculpe, por mais que você tenha invadido a minha casa e tenhamos respirado quase a respiração um do outro ontem, eu não acho que deva compartilhar a minha vida pessoal.
— Eu gostei muito de você. – ele disse respirando profundamente, e aqueles olhos negros hipnotizantes não desviavam-se dos meus — A casa está, mesmo, abandonada. Estou passando uns dias aqui.
— Sabe, tem uma corretora na cidade.
— Eu sei, gracinha. Mas, eu gosto deste lugar. Cheguei há pouco na cidade e ainda não tive tempo de procurar um trabalho ou uma moradia.
— Um estranho na cidade que invade casas abandonadas.
— Me desculpe por ontem, mas a sua casa me pareceu mesmo abandonada.
— Eu não costumo viver mais lá.
— Hum…
— Porque invade os lugares, em vez de se estabelecer logo?
— Eu sou um aventureiro. Contudo, acho que minha estadia por esta cidade será mais permanente do que o planejado.
— Entendo… Bem, boa sorte.

Girei a ignição do meu Mustangue e preparei a marcha, ele se afastou ainda sorrindo me encarando. Deu passagem para que eu desse partida. Dei partida e saí dali atenta ao redor. O misterioso homem observava-me parado, e enquanto eu o encarava pelo retrovisor, ele dera às costas e seguiu em direção à mansão. E até o jeito como ele andava era inebriante.
Eu estava pálida. E como todos na cidade faziam questão de afirmar, aquela não era a minha cor. Lia roía suas unhas, nervosa, sentada à entrada de sua casa. E veio andando na direção do meu carro quando notou, que algo havia acontecido. Desliguei o motor e recostei-me no banco do motorista. Respirei dez vezes, entre inspirações e expirações concentradas. Não queria abrir os olhos, mas ao fazê-los, lá vinha Lia com ar sondante à frente do carro. Desci.

— Aconteceu alguma coisa ?
— Não, só não estou me sentindo muito bem.
— Você está pálida! E seu pulso acelerado – ela disse ao tocar meus punhos — Vamos, vou te examinar.
— O quê?
— Esqueceu-se que sou uma médica quase formada?
— Totalmente.

— Onde estão todos?
— Minha mãe foi fazer “sei lá o quê” com a Emy. Seth está trabalhando, como você já deve saber. Embry foi dar uma volta na praia e o resto não faço a menor ideia, até porque não sou babá de ninguém.

Ela roía as unhas novamente.

— Certo. Quer falar sobre este humor?
— Quer falar sobre seu súbito mal estar?
— Não pergunto mais. Já entendi.
— Desculpe índia branca… – ela disse acariciando sua testa e suspirando pesado — Seth contou para nós sobre o ocorrido de ontem e o que Jake descobriu.
— Ah, entendi. Está preocupada com os frios também não é?
— Não. Na verdade não. Mas, já que tocou no assunto, eles também estão me deixando extremamente irritada! Que droga! Enquanto eles não forem exterminados, nós não poderemos ser também!
— O quê?

Ela me encarou confusa, nervosa e um pouco… Chorosa.

— Eu não costumo falar dos meus sentimentos, mas, você já compartilhou tanta coisa conosco…
— Sabe que pode confiar em mim, eu não vou falar a respeito com ninguém.
— Eu escolhi fazer medicina porque acredito que posso reverter este “dom” que nós temos.
— Sério? Eu achei que você não se importasse.
— Nenhum de nós gosta de sermos o que somos ! É horrível compartilhar todo pensamento com uma matilha, esta ligação que temos nos impossibilitando de sermos livres…

Fiz sinal para que ela continuasse a falar, mesmo que eu não entendesse.

— Se um lobo deixa a matilha, ele é um lobo sozinho. E acredite… Não é algo bom. Assim como não é bom, estar preso num poder sobrenatural que te impede de viver uma vida normal. São tantas coisas… E antes, quando decidi que faculdade faria, ainda tinha o maldito imprinting que não surgia. Então eu volto para cá, porque ele finalmente havia acontecido, com esperanças de conseguir me encaixar nisso tudo e… E aí o meu imprinting se transforma num lobo muito mais fora de controle e nada mais é garantido.

Lágrimas fracas escorreram dos olhos de Lia. Sua pose ainda era a mesma pose de loba corajosa e insensível. Um contraste admirável. E por saber que, ela não era do tipo que demonstrava fraqueza optei por não tentar consolá-la, servindo apenas de ouvidos dispostos.

— Tenho estudado tanto, e quando eu começo a enxergar uma saída veio esta transformação do Embry!
— Espera… Você conseguiu uma espécie de cura?
— Não posso afirmar nada. Eu ainda nem testei. E nem posso contar aos outros na reserva, porque eles acabariam comigo. Com toda certeza, a posição de alfa do Sam não seria sensível às minhas razões. Eu pretendia testar em mim, mas, após tudo o que veio acontecendo eu não sei se estou pronta para ser uma pessoa comum, caso dê certo.
— Lia! Isto é fantástico! Quero dizer… É uma descoberta fantástica!
— Eu sei. Mas, não é nada certo pois ainda não tive resultados. São teorias. Estudos. Que penso em deixar de lado por um tempo.
— Entendo… Deve ser bem difícil lidar sozinha com tudo isso.
— Pior é esconder o assunto. Eu não tenho privacidade de pensar no assunto quando estou aqui , porque a proximidade com os outros pode fazer a conexão revelar meus pensamentos.
— Espera… Eu achei que vocês pudessem ter domínio sobre os seus pensamentos.
— E temos. Mas, Sam tem um pé – maldito – atrás comigo desde que o enfrentei há muitos anos.
— Eu já notei que vocês não se dão muito bem.
— Já passou da hora de Jake assumir suas responsabilidades também!
— O que ele tem a ver com tudo isso?
— Jake é o alfa por herança. Mas desde que Sam assumiu, ele não mencionou tomar seu posto. Só que quando o assunto é do interesse dele, ele não se importa de ir contra as decisões de Sam.
— Nossa quanta confusão. Até eu que sou normal já estou exausta.

Lia riu baixinho ao observar meu semblante cansado e esbarrando, fraco, em meu braço advertiu que eu não tinha mais o direito de fugir deles. Rimos.

— Mas, eu volto em breve para Seattle retomar meus estudos e até lá poderei decidir como agir. Se não fossem os frios a voltar agora, eu testaria em mim e voltaria para salvar os outros.
— E se eles não quiserem?
— Eu salvaria pelo menos, o Embry.
— E se ele não quisesse?
— Ele quer.
— Acredito que sim. – pensei em como realmente aquela parecia ser uma decisão em conjunto entre Lia e Embry, diante todas as dificuldades que os dois haviam passado enquanto vestiam aquela pele selvagem — E Lia, quando você parte?
— Daqui há uma semana.
— E como o Embry está em relação a isso?
— Não sei, quando contei ele apenas disse: “vou dar uma volta na praia”.

Rimos.

— Era o Embry mesmo, ou o Jacob? – rimos novamente.
— Verdade! É bem mais o tipo do seu lobo fazer isso.
— Ele não é meu lobo, para com isso.
— Nem mesmo depois do beijo de ontem?
— O quê? – recordei que Seth não guardava segredos e ri.
— Quando pretendia me contar, sua idiota?
— Não sei… Nós não estamos lidando com isso… Quero dizer, depois do beijo não tocamos no assunto. Fomos dormir e eu ainda não o vi hoje.
— Qual é!? Vocês não vão ficar fazendo jogo depois de tanto tempo, não é? Assumam de uma vez estes sentimentos!
— É só que, talvez, seja mais prudente irmos com calma.
— Mais calma do que vocês já vem tendo?

Lia me encarava desacreditada.

— Bom, eu não posso ir direto ao assunto. Fora Jacob que me impusera vários tempos, pausas e distâncias! Lembra?
— Tá! Mas, pelo que eu pude entender, ele finalmente se declarou para você e no mesmo dia te beijou! Eu acho que ele está tentando recuperar as chances que vocês jogaram fora, não é?
— Pode ser, mas, eu quero tudo muito claro a partir de agora. Tudo muito bem definido.
— E termine logo com o Scott Carter!
— Nós não temos nada.
— Sim, eu sei. E você vai deixar claro que não terão.
— Eu já faria isso de um jeito ou outro. Vamos sair hoje e vou fechar os parênteses abertos.
— Certo. Então vamos! Você se resolve com Jake, e eu vou atrás de Embry.

Lia puxou-me do sofá. Perguntou se eu me sentia melhor e depois que afirmei, saímos. Black saía de sua cabana e, ao me ver ao lado de Lia sorriu como poucas vezes tinha feito. Segurou em minha cintura após aproximarmos, e me beijou. Lia uivou, falsamente, em comemoração. Sorri sem graça, e depois de acariciar meu rosto Jacob a mandou calar-se. Ela advertiu-o que eu cheguei me sentindo mal, e desceu em direção à praia.
Black e eu nos sentamos no banco de carvalho à trilha de descida da praia.

— O que você tem?
— Relaxa, foi só um mal estar. Nada preocupante.
— Tem certeza?
— Tenho.

Eu apoiava os cotovelos em meus joelhos, enquanto rabiscava o chão com um graveto que encontrei ali.

— Aconteceu alguma coisa, Mani? – perguntou preocupado e cauteloso.
— Relaxa Black… Estou pensando em algumas coisas que fiz hoje.
— Que seriam…?

O olhei curiosa por tanta curiosidade dele. Sem esperar que eu mencionasse qualquer pergunta, me esclareceu:

— Estou tentando participar mais do seu dia a dia.
— Mais? Por quê? – eu ri divertida.
— Você se incomoda com isso?
— Só estou curiosa.
— Bem… Nós já somos amigos. Amigos com alguma intimidade. E… Eu consegui me declarar ontem, e pensei que… – ele se enrolava nas palavras quase inaudíveis.

Parecia doloroso para Jacob admitir que queria estreitar mais os nossos laços. Abria a boca tentando pronunciar algum balbuciado, sacudia a cabeça em negação com aquele sorriso contrariado. Há tanto, tanto tempo eu não o via agir daquela forma, que eu não poderia deixar de aproveitar um dos primeiros trejeitos de Black que me encantara quando o conheci.

— Droga, Mani…
— Pensou que devíamos estreitar os laços ainda mais?
— É. O que você acha?
— Isso significa o quê?
— Que nós… Poderíamos – novamente o trejeito de homem tímido ou impassível — Namorar?
— Jacob Black. Você está me pedindo em namoro? – sorri involuntariamente.
— Eu não sei.
— Não sabe? – indaguei confusa.
— Eu deveria?
— Merda Black, você não pode dizer algo assim e perguntar se deveria depois! O que você quer?
— Eu quero ficar com você. Pra sempre. Mas, depois de tudo o que aconteceu entre nós eu não sei se você…

Interrompi Black beijando-o. Ele não sabia como fazer algo que ele queria. E eu também.

— Somos namorados, agora. Pronto. Facilitei para você, ok? – eu disse o encarando mandona.
— Tá bom.
— Céus… Você voltou a ser um adolescente cheio de espinhas?
— Idiota.
— Idiota?
— Uma linda idiota.
— Certo, agora somos namorados mesmo.
— E eu nunca tive espinhas, só para você saber.

Rimos divertidos, e sem se conter ele me beijou de novo. E eu poderia ficar ali, aproveitando o carinho de Black se não fosse o meu celular tocando em meu bolso.

— É o Scott.
— O que ele quer?
— Talvez dizer a que horas vai vir me buscar.
— Como assim?
— Preciso resolver umas coisas com ele.

Ele não sabia disfarçar o ciúme. Assim como eu. Scott e eu combinamos um horário. Black e eu ficamos um tempo, juntos ali sob a árvore. Embry e Lia voltaram aparentemente bem.
Black fez questão de contar para eles que, agora sim nós éramos um casal. E Lia tratou de ordenar aos dois que já poderiam nos dar os anéis que estavam atrasados. Eu neguei com a cabeça para que Jacob não se preocupasse com aquilo. E ele apenas sorriu me abraçando de lado. Embry e Lia se retiraram e Black e eu continuamos conversando ali, e eu o contei sobre os terrenos. Não toquei no assunto da mansão dos Cullen. E não contaria enquanto eu vivesse.
Mais tarde, antes de sair com Scott, eu terminava de prender meus cabelos e então Jacob começou a sondar sobre qual assunto, nós trataríamos. E deixando bastante claro a ele que, não haveria razões para desconfianças de mim ou Scott, me despedi. Antes que eu saísse, Black explicou que não desconfiava de nenhum de nós, e que o hábito de sentir aquele ciúme desnecessário sumiria. Que ele se esforçaria para não ser um “idiota maníaco”. Palavras dele. Eu o beijei sorrindo, e saí.
Scott e eu, retornamos à tribo de seus avós. Ele não abriria mão da nossa amizade e deixou muito claro. Contudo, eu fiz questão de que, o melhor era nos afastar por um tempo. Scott não aceitava. Disse que não era nenhum adolescente imaturo. Sabia separar as situações, e que seria infantil da minha parte deixar de vê-lo ou sair com ele por achar que o iludiria. E então contei que estava namorando Jacob. E Scott, me surpreendeu:

— Você acha que eu não esperava por isso, ? Óbvio que eu já havia sacado seus sentimentos por Jake. Por que acha que evitei aquele beijo no nosso último encontro?
— Desculpe Scott. Eu só não quero que você sofra ou se magoe.
— Não sei o que Peter ou meu pai, ou minha mãe te disseram. Mas, eu não sou criança. Sei me cuidar.
— Desculpe de novo Scott, não queria te ofender.
— Relaxa… Não precisa se preocupar. Eu sei lidar com um fora, mas e você ? Vai saber lidar com nossa amizade?
— Claro que vou. Se não for ruim para você, não será para mim.

Sorri e Scott sorriu tímido e nos abraçamos.

— Vamos. Vou te deixar em casa, já está ficando muito tarde para perambular por aí.
— Por quê?
— Tivemos dois ataques ontem. Os policiais de Forks estão muito assustados com as proporções dos ataques, como há muito tempo não ocorria. E recomendam que os cidadãos evitem sair à noite até que eles tenham controle do que vem acontecendo.
— Não sabem ainda o quê vem atacando?
— Não tocam muito no assunto, mas, você bem que poderia perguntar ao seu pai delegado e me contar.
— Claro! – sorri batendo em minha testa.

Saí do carro de Scott e Billy estava em sua varanda. Estranhei aquele fato, porque habitualmente ele se recolhe cedo – quando não ocorre algo que o impeça – e também por seu semblante preocupado.

— Boa noite Billy!
— Boa noite . Divertiu-se?
— Como sempre quando Scott e eu saímos. Foi bacana colocar a situação em pratos limpos com ele também.
— Hum… Então agora é sério, uh?
— É sim. Não foi um pedido de namoro típico, mas… Nós estamos falando do seu filho, não é?

Billy apenas sorriu assentindo positivo e, embora eu tenha tentado arrancar alguma informação dele, não foi possível. Notando que ele preferiria ficar a sós, me despedi. E quando já estava na sala, algo martelou em minha mente fazendo com que eu voltasse até ele.

— Billy?
— Sim? – girou-se em sua cadeira para me encarar.
— Algo o incomoda nessa minha relação com Jacob? Quero dizer… Você sempre deixou claro ser a favor, mas, gostaria de saber se algo o fez mudar de ideia.
— De forma alguma. – ele riu sereno — Eu só tenho a agradecer o bem que você faz ao meu filho.

Assenti outra vez, e com um sorriso tranquilo o deixei. Passei pela sala, risonha. E voltei passos atrás ao perceber que não havia um Jacob dormindo no sofá. E aí minha cabeça girou. Ponderei inúmeras vezes se entrava ou não no quarto. Tive medo de encontrar Black dormindo na cama.
Por mais que já tenhamos dividido-a, agora era diferente. Éramos assumidamente um casal, e com isso não teríamos motivos para pudores que antes limitavam nossas ações. Apesar de ser impetuoso, Black jamais passaria a linha do consenso. Disso eu tinha certeza. E não temia pelas ações dele, mas sim, pelas minhas.
Entretanto eu poderia entrar e me deparar com Black acordado, apenas aguardando-me chegar. E confiando nisto eu entrei ao quarto. Ele dormia. Deitado de lado, com um dos braços passando por cima dos olhos.
Peguei um pijama de frio, premeditado. Pé por pé me movimentei pelo quarto, e fui tomar um banho rápido. E bem rápido mesmo. Apenas para me relaxar e trazer o sono, como eu estava acostumada a fazer.
Durante os três minutos sob a água quente eu conciliava as lembranças recentes de Black e eu, com os planos futuros. Longe de mim imaginar nós dois com lindos pirralhos correndo pelo pátio da reserva, ou nós dois com idade avançada compartilhando a varanda de nossa cabana. Não que eu não quisesse, mas, meus pés tocavam o chão quando se tratava de relacionamentos. Black havia sim, feito com que eu alçasse alguns voos insanos numa relação que existia só em minha cabeça. Passei pelas fases do encantamento, do apego, da desilusão, da posse, e enfim da realidade: reconheci o quão eu cobrava dele sem termos tido uma conversa significativa. Contudo, sempre houvera o interesse, mas, interesse não é o suficiente para que exista algo. É necessário diálogo e decisões.
Somente após Black contar abertamente que me amava, eu pude entender que a decisão já existia, além do interesse.
Então, lá estava eu, no banho fazendo planos para nós dois para o dia seguinte, para aquela semana, para aquele mês. Apenas. Um passo de cada vez.
Me vesti e saí em direção ao quarto. De mansinho me preparei para dormir.
A janela do quarto estava aberta e o luar alto iluminava parte do cômodo, deixando uma penumbra gostosa. Em frente ao guarda-roupa encarei Black deitado à cama na exata posição de antes, não havia se mexido em nada. Eu estava ansiosa. Caminhei calma até a janela do quarto, o analisando por inteiro. Uma brisa mansa bateu em meu rosto, recostei-me ao parapeito da janela e conversei com a Lua. Uma atividade mental, uma brincadeira que eu gostava de fazer às vezes. O farfalhar baixo das folhas lá fora. A pouca luz prazerosa daquele quarto. O vento geladinho. E ele deitado ali, meu. Totalmente meu. Eu poderia me aninhar em seu abraço quente sempre tão contrário ao clima da noite, sem medo do que alguém vai pensar ou de como ele reagirá, ou ainda, sem medo de abalar ou não nossa amizade. Agora eu poderia me aconchegar em Black como eu tanto esperei. E com o bobo sorriso do amor nos lábios, fui até ele.
Levantei a colcha que o cobria, e como uma pluma tentei me colocar ao seu lado. Infelizmente, eu não sou tão delicada quanto gostaria. O que era surpreendentemente contrário ao Jacob – aquele homenzarrão bruto conseguia ser mais imperceptível do que eu com meus poucos, um metro e sessenta de altura. Ele se movimentou um pouco com a minha presença, e o olhei com cara assustada, pois não queria o acordar. Ele abriu os olhos devagar e ao notar que era eu, me abraçou. Sorriu fraco, beijou meus cabelos.

— Minha mani… – sussurrou sonolento.
— Meu Black.

Respondi dando-lhe um selinho carinhoso. Ele dormira novamente. E até pegar no sono fiquei encarando cada traço de seu rosto, tão pacífico ali, e afundei-me em seu pescoço para sentir seu cheiro. Com aquele abraço seguro e quente, não demorou para que eu adormecesse também.

Amanheceu um dia solar lindo. E eu estranhava, mas me esperançava com aquele presságio de felicidade. Beijei a ponta do nariz de Black, antes de me levantar. Billy estava na cozinha, quando eu surgi já preparada para o trabalho. Jacob não demorou a acordar e se juntar ao nosso café da manhã. Billy nos admirava com um sorriso farto, e comentou o quanto estava feliz por nós, e o quanto Black e eu tínhamos o encaixe perfeito. Sorrimos para ele, e enquanto eu terminava meu gole de café, Jacob beijou minha bochecha saindo apressado.
Lavei a louça da manhã, em seguida me despedi de Billy. Encontrei Jacob com sua camionete – que eu mal reparara na noite anterior, estava carregada de encomendas para entregar – e ele, recostado à porta dela gritava para que Seth se apressasse.
Seth pegara as chaves de uma das motos de Jacob para ir trabalhar. E Black, sem delongas as jogou no ar para ele dizendo: “É sua agora, você vai precisar. Se vire com sua mãe!”. Seth estava só sorrisos e agradecimentos a nós dois: ao Jacob pela moto, e a mim pelo trabalho que seria álibi para aceitar aquele presente. Rimos do garoto com os olhos brilhantes se apressando em sair com a moto. Black e eu nos beijamos antes de entrar em nossos respectivos automóveis e seguir para os respectivos empregos.
Abri a farmácia e procedi com o ritual de rotina. Enquanto eu fechava o balanço do mês, para entregar o relatório aos irmãos Hernando; a corretora me telefonara, indicando novo terreno que poderia me interessar. Eu já havia escolhido alguns favoritos, mas, perguntei algumas coisas por curiosidade. E por fim, não me interessei. Antes de finalizar, perguntei se eles intermediariam a venda da minha antiga casa, apenas por curiosidade também. Devido aos recentes ataques no Kalil, e todos os problemas já conhecidos não consegui.

— Mas, eu reformei a casa e entendo que o momento não é de valorização pela região, contudo, acredito que o preço ainda é maior do que foi vendido a mim pelas melhorias feitas recentemente.
— Senhorita , infelizmente não estamos num bom momento para investir num negócio ali, e, aquela casa com melhorias ou não pertenceu à nossa corretora e fora um negócio muito demorado de ser feito. Se a senhorita não tivesse surgido, provavelmente ainda estaríamos encalhados com a casa.
— É eu sei, vocês deveriam ter me avisado dos riscos antes de me vender um elefante branco não é? Eu não deixaria de fazer negócio com vocês, pelo contrário, admiraria a franqueza. Mas… Agora preciso de novos serviços e infelizmente não temos outra corretora na cidade. Obrigada pela atenção.


Desliguei a chamada muito irada com aquele breve diálogo. Não bastasse terem me enfiado aquele mau negócio, ainda deixavam claro para mim que o negócio que fiz fora péssimo!
Erick surgiu notando meu cenho irritadiço.

— O que a deixa com este bico, logo cedo? – beijou minha testa em cumprimento — Bom dia.
— A maldita corretora que me enfiou aquele mausoléu! Aliás, você acompanhou minha chegada! Poderia ter me alertado de muitas coisas não é? – o repreendi com as mãos na cintura e logo me acalmando sorri — Bom dia, Erick.
— É, eu poderia. Desculpe por isso.
— Como estão as coisas?
— Voltei com a Jessica.
— Hum… Bom saber, assim me preparo para quando ela aparecer aqui segurando o troféu.
— Deixa disso, ela é só um pouquinho difícil.
— Sim, vocês são um ótimo casal.

Erick fingiu estar ofendido enquanto eu ria.

— E você e o Scott? Eu ia falar com você ontem, mas ele parecia bem interessado e ansioso.
— Somos apenas amigos.
— Não é o que a Daniela costuma dizer.
— Outra louca. Vai acreditar no que eu digo ou no que ela diz? Posso garantir que sei mais da minha vida, do que ela.
— Certo, se você diz…
— Scott andou interessado em mim, sim. Mas, somos só amigos. E estamos muito bem com isso.
— É… Parece que os caras da cidade não tem chance com você, mesmo. E o tal Embry? Ainda está com ele?
— Não, há muito tempo.
— Entendi…

Observei a reação de Erick, e era notória a sua curiosidade.

— Você está morrendo de curiosidade né?
— Como assim?
— Quer saber se eu estou envolvida com Jacob.
— Oras ! Veja bem se eu tenho cara de Maria Futriqueira!
— Certo.

Um breve silêncio e eu comecei a rir prevendo que ele perguntaria.

— E então, está ou não?
— Estou. Começamos a namorar recentemente. E estamos muito felizes, obrigada.
— Bem, felicidades. Fico contente em saber que está feliz, claro que, eu aceitaria melhor se fosse o Carter, mas…
— Mas, você não tem que aceitar nada. E tem que trabalhar, antes que sua namorada venha me importunar.

Sorrimos e Erick logo saiu. Nossa amizade seguia tranquila, e ele sempre que podia passava na farmácia para trocar algumas palavras. Após a saída dele, eu fui bater os documentos de contratação de Seth. Avistando Seth na cidade, o chamei na hora do almoço para comermos juntos e o pedi para que lesse os contratos com calma, e entreguei-lhe os papéis. Ele sorriu muito animado. Faltava pouco para finalizarmos nosso almoço quando Seth, sem graça, acabou de beber seu suco.

… Você tem um tempo antes de ir embora?
— Você sabe que sim. O que houve?
— Paige. Me telefonou dizendo que quer conversar comigo.

Parei de mastigar e o encarei atenta. Engoli a comida antes de beber um gole de suco, e abandonar meu prato vazio para conversar com Seth dedicadamente.

— Você não quer falar com ela?
— Não. Na verdade, eu só não quero estender esta história. Sabe, eu gosto da amizade de Paige, mas, não é possível que sejamos amigos.
— Por causa de?
— De mim. Eu me conheço o suficiente para saber que não tenho maturidade para isso, e só irei me torturar ainda mais. Além de brincar com os sentimentos dela.
— Seth… – ri admirada — Se tem algo que você tem, é maturidade.
— Obrigada . – ele sorriu pegando minha mão carinhosamente — E aí, o que eu faço?
— Eu acho que você deve conversar com ela sim. Evitar o problema não o faz se resolver. Ela tem algo a dizer, e dependendo do que for, você vai dizer exatamente o que está me dizendo.
— Mas … O problema é que eu não confio que eu vá conseguir dizer alguma coisa. Eu não paro de pensar naquela noite.

Seth sussurrava, de modo quase desesperado. E embora engraçada situação, eu queria não rir.

— Olha só: isso é natural. Mas, o maior passo você já deu. Reconheceu que não sente algo pela Paige, e sim pela imagem de Anna que ela o faz lembrar. Então, se recorde de tudo o que conversamos. Até mesmo, das suas colocações a respeito de Scott e eu. Você não pode embarcar numa relação assim, e sabe disso, e melhor: você não quer isso. Não tenha medo dos seus desejos. Você os conhece e sabe que não esqueceu aquela noite, não por Paige, mas por Anna.
— Você é tão sensacional… – ele ouvia a tudo atento e sorridente — Jake é extremamente sortudo.
— Acredite, a garota que tiver você também será.
— Te amo.

Diante aquela declaração tão carinhosa de Seth, eu não pude me conter. Levantei, e o puxei para se levantar também. E abracei Seth, apertado, sendo retribuída. E de abraço lateral, nos encaminhamos ao caixa para pagar as nossas refeições. Seth pegou sua moto e foi para a reserva. Os meninos ainda trabalhavam na construção de minha cabana e logo estaria pronta, portanto, Seth queria ajudar o máximo que pudesse. E eu, afirmando que chegaria logo mais fui à corretora.
Havia decidido qual o terreno compraria e precisava conversar sobre as condições de pagamento. Com as dúvidas retiradas, o próximo passo fora dado: buscar um comprador. Deixei avisado em algumas lojas da cidade, que eu venderia o imóvel. E por mais que eu soubesse que aquilo nada adiantaria, não custava avisar.
Uma das lojas em que fui, era a “House’s Montain” onde eram vendidos os artigos esportivos para os turistas. Meu foco era vender para alguém de fora. E aquilo me parecia muita sujeira porque ninguém deveria viver ali, mas, o que eu faria?
Eu caminhava em direção ao meu carro, quando o homem misterioso surgiu saindo da corretora. “Então ele, realmente, decidira ficar?”, pensei.
Aquilo seria um problema.
E na indecisão de entender se aquilo era um problema ou não, percebi o quão distante parecia a ideia dele ser um vampiro. Não havia me atacado. Estava andando à luz do dia tranquilamente. E para uma leitora de Lord Byron, aquilo era estranho. Não era aquela a imagem que eu tinha de um vampiro, e nem mesmo era a imagem que eu li na internet sobre “os frios”. Por mais insano que parecesse pensar que Jacob houvesse se enganado, algo não se encaixava.
Decidi tratar aquele homem, como um andarilho invasor de obras abandonadas que passaria uma estadia em Forks. Decidi também que pesquisaria mais sobre os frios.
Ele atravessava a rua após conversar com o corretor na calçada da loja. Eu o observava de dentro do meu carro. E ele, como se soubesse disso virou bruscamente seu rosto em minha direção. Nossos olhares se cruzaram. Ao encarar seus olhos tão ferozes daquele jeito, um arrepio me passou pela coluna. Dei partida no meu carro, saindo do alcance visual dele.
Que sensação absurdamente desconfortável aquele homem me causava. Perturbador estar próxima dele, mas, ao mesmo tempo, atraente. E com esta atração descontrolada, dei a volta com o carro indo até ele.
O que eu estava fazendo?
Era como se não fosse eu dirigindo.
Minha cabeça dizia uma coisa, meu corpo fazia outra. Então freei. Nada entendi. Eu tinha o controle dos meus passos, mas por que era tão tentada a ir até ele?
Ele sorriu sarcástico, subindo em sua motocicleta. Ele sabia que eu me aproximaria. Com o carro lento, parei ao seu lado. Ele ajeitava suas luvas, e olhou para o lado encarando-me pela janela do meu carro.

— Ei docinho. Você de novo?
— Decidiu ficar na cidade?
— Isso a deixaria feliz?
— Depende. Se você estiver interessado em comprar um imóvel.

Ele passou a língua pelo lábio inferior, e ao ouvir minha fala parou-a num gesto entre os dentes. Cada movimento, cautelosamente lento ele dava e meus olhares percorriam seus gestuais, ávidos. Me encarou imóvel, com olhos semicerrados, indagativos.

— É. Eu estou sim.
— Gostou da minha casa?
— Você vem junto com ela?
— Eu não estou interessada em estreitar mais a nossa comunicação.
— Não é o que tem parecido.
— Foi você, que apareceu no meu território.
— E desde então você tem aparecido nos meus.

Silenciei. Era totalmente coerente ele pensar daquela maneira. Com uma mão pousada no volante, e o braço em minha janela, eu desviei o olhar para a frente. Tamborilei os dedos no volante de meu carro e soltei de uma só vez:

— Escuta. Eu quero vender aquela casa. O lugar é ermo, como você mesmo dissera e ninguém na cidade se interessa. Eu irei a uma corretora em outra cidade, mas, você chegou agora e não custava te oferecer, principalmente porque eu quero vender logo.
— Quanto quer pelo imóvel?
— 60 mil. Eu reformei ela recentemente. E você não vai encontrar uma casa pela Maine’s Empreendiment com um valor desse, e em boas condições.
— Por que quer vender? Tem algum problema na região?
— Além de eu estar afastada de tudo? Eu moro com meu namorado, agora. E também preciso do dinheiro.
— Eu posso dar uma olhada?
— Você já não conhece o imóvel? – eu disse irônica.
— Não o suficiente para comprá-lo.
— Certo. Quer ir agora?
— Eu te sigo.

Balancei a cabeça positivamente, e dirigi até a minha casa antiga. O que eu estava fazendo? Eu só poderia ter perdido a sanidade em acompanhar aquele cara, até o Kalil – o cemitério inóspito.
Estacionei na entrada, peguei as chaves em minha bolsa e logo o estranho apareceu atrás de mim em minha varanda. Encostado no batente da porta, de frente a mim, me encarava de cima a baixo aguardando eu abrir a porta.

— A propósito, eu me chamo Mark. – disse estendendo sua mão.
. – respondi pegando sua fria mão e entrei.

Ele veio em seguida, e mostrei todos os cômodos para ele. O medo palpitava em meu peito, junto às batidas de meu coração. Retornamos à sala, após mostrá-lo o quintal dos fundos.

— E aí, Mark? O que achou?
— É… A quem devo fazer a transferência?
— Direto e decidido. – sorri desafiadora — Gosto assim!

Peguei um papel, e anotei meus dados bancários. Eu sabia, na verdade, eu pressentia que aquele negócio deveria ser feito para ele desde o momento que o vi sair da corretora. E não sabia explicar, de onde aquela certeza vinha. Estiquei-lhe as anotações, ele as pegou e leu.

— Fará um bom negócio Mark. O lugar é ótimo para alguém como você.
— Alguém como eu? – perguntou se aproximando e pude reviver a cena do outro dia, com os olhos invasivos dele a centímetros dos meus.
— Sim… – sussurrei paralisada — Alguém desprendido.
— Claro.

Se afastou lento até a mesma mesinha onde eu fizera as anotações, e rasgando um papel do bloquinho, anotou seu telefone. Voltou predador até mim, que ainda me mantinha estranhamente paralisada e depositou o papel dobrado na palma de minha mão.

— E o seu namorado? Não vai me perseguir de novo, por causa disso não é?
— Não, até porque ele não precisa saber disso.

Se aproximou ainda mais do meu rosto me encarando profundamente nos olhos. Colocou uma mexa do meu cabelo para trás, e acariciou meu rosto e sorriu.

— Um segredinho nosso?

Fiquei em silêncio. Eu queria sair correndo, mas algo não deixava.

— Acho que vamos nos dar muito bem.

E dito aquilo, ele se aproximou mais numa tentativa de me beijar, eu o empurrei. Com toda a força que eu tinha, consegui me mexer, naquele ato rápido de impedi-lo.

— Vamos embora! Eu vou aguardar a compensação do dinheiro em minha conta e aí esvazio a casa.
— Como quiser.

Saímos, tranquei a casa e entrei ao carro apenas acenando séria para ele. Dei a ré e peguei a estrada na direção oposta a ele. Afundei o pé no acelerador. Havia deixado uma garrafa de água no meu carro ao lado do carona, peguei-a e embora quente bebi todo o líquido. Passei da entrada da reserva. Eu queria dirigir somente. E não poderia voltar para casa naquele estado de pavor. Mark não mexeu nenhum pouco com meus hormônios. Ele mexia com um instinto muito pior: o instinto de sobrevivência. Era horrível a sensação de não conseguir me defender, quando estava próxima dele. Eu tinha medo de Mark.
Então por causa de quê, eu era tão atraída até ele?
Estava quase na saída de Forks, quando avistei o galpão onde seria a oficina de Jacob. Fechado. Um homem saía por uma portinhola lateral. Parei ali, me recordando o dia que Jacob me mostrara o lugar antes do nosso passeio de moto. Recordei que eu havia pensado em pagar o conserto de meu carro, investindo na reforma com ele. Desci do carro, e o velhote gordo que passava um cadeado na pequena porta parou o que fazia, me olhando curioso.

— Boa tarde. Este imóvel pertence a Jacob Black, certo?
— Sim. Algum problema?
— Não, não. Ele me falou deste lugar, eu sou namorada dele.

“Eu sou namorada dele” . Um sorriso imenso quis se formar em meu rosto ao dizer aquilo, mas ficou apenas no meu interior, pois, o velhote me olhava desconfiado. E não era pra menos, Jacob Black não tinha uma namorada, ou não apresentara nenhuma para ninguém.

— Ele me pediu para vir olhar o lugar para ele por um tempo.
— O que houve com a reforma que iria ser feita? Achei que já estaria quase pronto.
— Ele parou. Na verdade, pelo tempo que tem, já teria até mesmo inaugurado e estaria em funcionamento agora.
— Há quanto tempo o senhor tem olhado o galpão?
— Já faz alguns meses, moça. E se a senhorita me dá licença, eu preciso ir.
— Tudo bem, não quero o atrapalhar. Obrigada.
— Disponha.
— Ei, o senhor vem com qual frequência?
— Desculpe moça, mas, eu não a conheço e o senhor Black é um pouco sistemático…
— É eu sei, afinal, como eu disse eu sou namorada dele. Não se preocupe. Eu só quero dar procedimento às reformas, mas, eu mesma falo com ele. Me desculpe.

Me despedi do homem que só deixou o local após a minha saída. Deve ter sido bem estranho para ele. Black precisaria me apresentar à sociedade, antes que todos achassem que eu era a maluca que pensa ser namorada dele.
Voltei para a reserva focada em falar-lhe sobre isso, sobre a oficina e ajudar na construção de minha cabana. E assim foi. Não comentamos nada sobre a minha empreitada em vender a casa para Mark. Black contou que parou as reformas devido à situação de Embry e também porquê recebeu muitas encomendas da marcenaria. E como havia feito as entregas naquela manhã, poderia retomar a oficina. Eu falei a ele que o ajudaria, pois, havia o prometido isso há tempos. Ele não fez cerimônia.

Era noite, eu estava sentada na cama com o computador aberto em meu colo e pesquisando sobre os frios. Jacob atravessou a porta com seus cabelos molhados, secando-os com a toalha. Sorriu quando me viu e me beijou em um selinho carinhoso.

— Cheirosa.

Apenas sorri, sem perder a atenção às leituras. Notou minha concentração e sorriu curioso. E logo após se vestir saiu do quarto, e voltou com um copo de suco e uma fatia de bolo. Deixou ao criado ao meu lado. Sentou-se ao meu lado, observando a tela do computador.

— Coma, Mani. Já está aí desde que saiu do banho.

Só então, percebi o lanche ao meu lado. Apertei sua perna ao meu lado, em agradecimento. Black puxou o computador de meu colo e o colocou mais afastado na cama. Enquanto eu comia, ele me encarava. Eu sorri com aquele olhar admirado dele.

— O que foi?
— Você é linda. – disse sorrindo, sem perder os olhos.
— É eu sei. Mas, você também é.
— Uau, obrigada.

Beijei seu rosto.

— Por que estava pesquisando aquilo tudo?
— Estou curiosa, em relação àquele homem.
— Curiosa como?
— Curiosa. Você estranhou o fato dele ser um vampiro que ainda não fora notado por nenhum de vocês.
— É, mas meu pai já me explicou que isso pode acontecer. Há mais de um tipo de frios.
— Ah é? Então, tudo que eu li sobre vampiros a minha vida inteira pode ser real?
— Depende. – ele riu fraco — O que você leu?
— Byron. Drácula. Criaturas sombrias, sugadoras de sangue que não saem à luz do dia porque podem queimar, e que são irrevogavelmente sedutoras e atraentes.

Jacob riu baixinho, não como se zombasse de mim, mas como se achasse engraçado as histórias.

— Não sei se Byron teve algum embasamento real. Acredito que ele pode sim, ter tido lá as suas inspirações. Mas, Drácula é apenas uma história. Em geral, o que sabemos e conhecemos nestas gerações todas de lobos é que, os frios sugam sangue sim. Qualquer fonte de sangue, humano ou animal. Mas, o sangue humano é a melhor dieta para eles. E, bem… Eles podem andar entre nós como se fossem um de nós, sem serem notados. Andar pela luz do dia, que nada lhes acontece, ou no caso dos Cullen… – começou a gargalhar zombeteiro ao se relembrar — Não podem porque eles brilham ao Sol.
— Brilham? Como paetês e purpurina?
— Tipo isso.

Jacob ria da minha careta de incrédula.

— O que mais vocês sabem?
— São sedutores sim. É a arma que tem para atrair suas presas. São muito atrativos, e despertam a curiosidade humana. Tem poderes individuais, alguns são paranormais psíquicos, outros, mutantes físicos… Etc.
— Os Cullen. Como eram?
— Edward lia mentes, Alice previa o futuro. Eram os únicos com dons. Alguns deles não desenvolvem paranormalidade. Embora, só o fato de existirem já seja uma paranormalidade.
— E… E ela?
— Está falando da Bella?
— Sim.
— Ela era imune a qualquer dom. E parece que isso era é bem valioso para eles.
— Hm… Entendi.
— Meu pai disse que aquele homem, o frio que estava na sua casa, é dessa… Espécie, se assim posso chamar, que é facilmente confundido com humanos. E por isso, mais perigoso.

Engoli seco.

— Ele por acaso te procurou de novo?
— O quê?
— Você está bem curiosa com isso.
— Eu sou curiosa, Black. Você sabe.
— Não quero que me esconda nada se ele a procurar.

“E se eu procurar por ele?”, pensei.

— Como foi o seu dia? – mudar o assunto deixou Jacob desconfiado.
— Fiz as entregas e trabalhei na sua cabana. E só. E o seu?
— Hum… Erick voltou com a Jessica. Almocei com Seth, depois fui à corretora ver as condições de compra do terreno que olhei esta semana…
— Porque não me contou que estava olhando terrenos para o seu laboratório?
— Ahn… Não sei, eu só fui tentar resolver.
— Eu gostaria de participar.
— Tudo bem. – sorri.
— E onde fica?
— Na Collins.
— Bom local… E quais as condições de compra?
— Vendendo a minha casa dou entrada no financiamento.
— Bem, vamos ter que vender para alguém de fora. Dificilmente alguém daqui vai comprá-la.
— É, mas eu acho que consegui vender.
— O quê? Para quem?
— Céus, eu acho que você não vai gostar. – eu não poderia mentir, e não acreditava que tinha dado o mole de falar para ele.
. Para quem você vendeu a sua casa?

Me levantei da cama, andando de um lado a outro no quarto. Não podia acreditar que depois de um dia inteiro evitando escapar aquele assunto, eu soltei daquele jeito a bomba.

— Mark. Mark soube que eu estava querendo vender a casa, e me procurou quando eu saía da corretora. E Mark é o nome do homem que invadiu a minha casa.
— VOCÊ VENDEU A SUA CASA PARA UM FRIO?

Black estava de pé na minha frente extremamente nervoso.

— E por que você aceitou a aproximação dele se sabia o que ele é? E como ele soube? Simplesmente soube!? E … Eu não acredito que isso está acontecendo outra vez.

Black disse e saiu do quarto. Eu fui atrás dele, na cozinha. Ele virava água gelada num copo e me olhava desacreditado.

— Black, não é bem assim. Eu não sabia o que ele era. Ele me pareceu um homem comum, um doido que invade casas, e eu fiquei com medo sim de fazer a coisa errada, mas ele estava interessado. E com dinheiro na mão, e eu preciso comprar o terreno, e preciso ainda mais me livrar daquela casa. Não me importo se vou vender pro Joseph, pra Marie ou pro Mark.
— Você entregou a um frio, de mãos beijadas, toda uma população!
— Não, eu não meti os pés pelas mãos desse jeito. Vocês caçam frios, eu dei a vocês a gaiola perfeita para acabarem com eles. Vocês conhecem muito bem o Kalil. Vocês vão acabar com eles e disso, eu não tenho dúvidas.
— Okay, . – suspirou pesado — E… Como foi que um estranho recém-chegado descobriu que logo você, queria vender a casa?
— Vários estabelecimentos da cidade estão sabendo.

Jacob colocou o copo na pia, e saiu novamente para o quarto. Me olhou furioso quando passou por mim. Voltei para o quarto junto a ele.

— Ei Black… Eu fiz algo tão ruim assim?
— Não quero você perto dele. Não só pelos riscos, mas porque eu não vou perder você para ele!
— Você… – sorri discretamente — Você está com ciúmes do Mark?
Argh! Para de chamar ele assim?
— É o nome dele.
— Estou! Estou com ciúmes! Eu poderia aceitar você e o Erick por aí, você e o Scott, você e qualquer um. Mas você e um frio, não é algo que eu vá aceitar nem em um milhão de anos.
— Não terá que se preocupar com isso.

Eu o abracei na tentativa de acalmá-lo e o beijei. Voltamos a nos sentar na cama.

— Inclusive, acho que você deveria contar a todo mundo que agora tem uma namorada, para que ninguém me ache uma maluca.

Black acariciava meus cabelos, ainda nervoso. E me olhou profundamente quando eu disse aquilo. Retirou o computador da cama, e eu já estava imaginando que ele diria: “Não quero que ninguém saiba de nós”, tamanho o mistério em falar alguma coisa após ter me escutado. Então Black, virou-se de lado para mim, acariciou meu rosto e iniciou um beijo apaixonado. A medida que aprofundávamos o beijo, Jacob se colocou por cima de mim e fazia carinhos em meu rosto enquanto nos beijamos. Ouvimos batidas na porta. Black bufou e falou alto: “entre”. Era Sue, que me chamava para falar com Seth. Ela ficou extremamente desconcertada, e só então notando a cara descontente de Jacob pediu desculpas dizendo que não era nada sério, e que pela manhã eu poderia falar com Seth. Sue se retirou e Black e eu voltamos os carinhos de onde tínhamos parado.


19 - Os frios se estabelecem em Forks

A quantia que pedi pela minha casa ao Mark, compensou em minha conta bancária. Eu acabara de atender a uma ligação do banco. Jacob estava no galpão esculpindo e eu fui andando até lá. Billy e Charlie foram pescar. E todos os outros estavam na praia. Eu optei por ficar, havia parado com minhas pesquisas diante à correria que estava minha vida.
Assim que entrei no galpão, Jacob parou o que fazia. Quebrava algumas madeiras com o machado.

— Não precisava parar. Eu gostei da cena.

Ele sorriu malicioso e incrivelmente sexy. Caminhei me aproximando, e tirei o machado de sua mão. Colei nossos corpos. Black e eu estávamos cada vez mais apaixonados e próximos.
Na noite anterior as coisas esquentaram entre nós, e embora eu quisesse muito me entregar a ele, decidi esperar.
Certamente, esperar o quê, eu não sabia. Mas, a cada passo mais íntimo entre Jacob e eu, tinha a certeza de que nosso compromisso se consolidava de uma maneira irreversível. E por mais feliz que eu estivesse, também tive medo. Minha vida mudara tanto em Forks, e de repente eu me peguei novamente a um passo de me amarrar com alguém para a vida toda. Já havia tanto tempo, desde Theo, que eu não sabia se estaria preparada para que a minha relação com Jacob se transformasse num compromisso sólido o bastante para pensarmos em família.
Eu o amava. Mas, antes eu vivi uma relação normal e sem riscos. Tive tudo para ser feliz, e não deu certo. Eu era noiva de Theo. Nosso casamento estava marcado, e eu o perdi. Meu ex-noivo assassinado fora o meu grande amor e não tivemos chance de viver nossos planos. E Black pertencia, a uma realidade totalmente perigosa, as chances de perdê-lo brutalmente também eram grandes. Eu não queria me envolver tão rápido, e até ali já havia quebrado esta regra. Contudo, eu poderia ser cautelosa.
Ao nos separar daquele caloroso beijo, Black sorriu para mim, e com as lembranças de Theo na cabeça eu o olhava confusa.

— O que foi?
— Ando remoendo traumas antigos…
— Que traumas?
— Uma outra hora, eu prometo que falaremos disso. No momento, eu vim te atrapalhar por um outro assunto mais urgente.

Entortei a boca em reprovação para que antes de qualquer coisa, a burrada que eu fiz fosse amenizada pela certeza eu pudesse passar ao Jacob, de meu arrependimento.

— Deixe eu me sentar para ouvir o problema. – ele suspirou preocupado sentando-se num toco, e de ombros relaxados, com os braços apoiados um em cada joelho olhou para cima.
— O banco me ligou. Mark depositara o dinheiro e já foi compensado. – eu estava de pé, de braços cruzados olhando para baixo atenta à expressão de Jacob.
— A cabana fica pronta em aproximadamente uma semana.
— É eu sei. Eu só quis te avisar porque, eu pensei em esvaziar a casa e trazer tudo aqui para o galpão e falar com Mark que…
— Você não vai falar com ele.
— Jacob, eu vendi a casa para ele.
— Eu mesmo vou até ele, e falo que em uma semana a chave estará na corretora da cidade para ele pegar.
— A corretora não intermediou a venda, tenho que entregar a chave em mãos.
— Então tá, eu entrego.

Ele levantou impassivo e voltou ao seu trabalho sem olhar para mim.
Black estava extremamente incomodado pela presença de Mark. E eu não o culpava. Fui estúpida o suficiente para me envolver com o inimigo, o mínimo que fosse. Entretanto, ver Jacob ditar as minhas ações – o que eu devia ou não fazer – estava me dando nos nervos! Ao se tratar da venda da casa, eu deixaria passar. Após aquele problema ser resolvido, eu não voltaria a abaixar a cabeça para o Black.
Me retirei do galpão sem me despedir também. E em casa, retornei aos meus estudos.
Assim que os lobos voltaram da praia, Seth me procurou.

— Sua mãe disse que você queria falar comigo ontem. Aconteceu alguma coisa?

Abracei-o ao notar que ele entrava no quarto.

— Eu fiquei mal, depois da conversa com Paige e ela estava preocupada. Lia disse que eu costumava desabafar com você, então ela queria que você fosse correndo resolver o problema do “meu filho feliz está sofrendo”.

Sorri para ele, e o puxei para se sentar na cama de Black e assim conversarmos.

— Ela só não achou que fosse interromper você e o Jake… – gargalhou zombando da minha cara.
— Engraçadinho. – fingi não estar sem graça.
— Me conta! Como foi sua noite com Black, seu namorado? – bateu em meu ombro, sem me machucar, mas como o amigo de confidências que éramos.
— Seth! Eu não vou te contar nada! Você é menino!
— E daí? Tudo o que vocês fizeram, eu também faço. Eu acho. – e riu — Isto é normal garota!
— Cala a sua boca, seu idiota. Não aconteceu nada.
— Por quê?
— Não é momento para isso, Seth. Eu não quero atropelar as fases.
— Eu não entendo, mas tudo bem… E vocês estão bem?
— Sim, com isso sim. Mas, Black está morrendo de ciúme do Mark e age como se fosse meu dono.
— Bom, você pirou e sabe disso.
— É eu sei, por isso que não estou o culpando. Mas assim que este assunto for encerrado, ele vai parar de agir como se eu fosse uma das lobinhas da matilha dele!
— Ei!
— Ele não é meu alfa, Seth!
— Você que é a alfa dele, a gente sabe disso.

Ri com a comparação boba de Seth em dizer, que entre Jacob e eu, as ordens eram dadas por mim. O que era mentira. Mas também podia ser verdade.

— E aí, como foi com Paige?
— Péssimo! Ela disse que quer ficar comigo.
— Sério?
— Ela se apaixonou, … – Seth abaixou a cabeça tristonho — Olha a idiotice que eu fiz!
— Ei, Seth… Você conhece a Paige, sabe das qualidades dela e por mais que ela seja gêmea da Anna, não é a Anna. E isso pode ser bom para te ajudar a superar. Talvez você devesse dar uma chance, não?
— Não. Eu definitivamente quero virar esta página. Não é justo com ninguém.
— E o que você falou para ela?
— Nada.
— Como assim, Seth Clearwater?
— Ela se declarou e me beijou. Eu não consegui falar nada.
— Seth. O quê você fez?
— Beijei de volta, lógico. Presta atenção! Uma menina me beija e você quer que eu faça o quê? Bata nela?

Comecei a rir com a forma como Seth falou. Apesar de não estar humorado com aquele assunto, pelo contrário, estava preocupado, nervoso e sério, Seth era muito engraçado.

— Olha a confusão que eu estou arrumando. , você não quer resolver isso para mim?
— Seth, depois do beijo você fez o quê? Saiu correndo?
— Isso.
’Tá brincando comigo, não é garoto?
— Pior que não. Saí de lá, bem rápido porque ir embora não era bem o que eu queria. Cheguei em casa, me tranquei no quarto e fiquei pensando na merda que eu fiz.
— Certo! Liga pra ela!
— Agora?
— Não, não, pode ser daqui uns noventa dias. Claro que é agora Seth! Você deve uma explicação a ela! A garota fala que te ama, te beija, e você sai correndo? ’Tá ficando doido?
— Beleza, beleza. Mas, eu não sei o que dizer.
— A verdade! Eu vou pegar um café pra gente e você liga aí que eu já volto.

Andei até a cozinha ainda risonha pela história de Seth. Black apareceu na casa para buscar a chave do carro.

!

Me assustei com o seu grito. Ele ainda estava com a expressão de quando eu o deixara no galpão. Estava suado e sujo de madeira. Pegou uma blusa que estava jogada no braço do sofá.

— Onde você vai desse jeito, o que houve? – perguntei preocupada.
— Você sabe onde o frio mora?
— Como eu saberia?
— Não sei, você andou vendendo uma casa para ele.
— O que está insinuando Black?
— Nada. – suspirou fundo — Nada, me desculpe. Só… Deixa pra lá. Eu vou até a casa dos Cullen, foi o último lugar que o vi.
— Para quê vai atrás dele?
— Resolver de uma vez por todas esta pendência que você arrumou.

Paul, Quil e Embry surgiram na porta da cabana. Disseram ao Jacob que estavam prontos, me abraçaram, beijaram e despediram-se correndo da porta da cozinha para fora da casa. Pude ver de longe os meninos subindo na caçamba da camionete nova de Jacob e ele andando a passos fundos até o lado do motorista, Charlie entrando do lado do carona.
Fiquei num misto de alegria e ódio. Alegria por vê-lo se preocupando com meus problemas, e tomando a posição de “parceiro provedor”, e ódio porque me dando conta daquilo, eu gostaria de ter sido consultada. Peguei as xícaras de café e voltei para o quarto.
Seth havia acabado de ligar, e Paige de atender. Ele dissera “Alô?” e ficara mudo me olhando.
Bati na minha testa e sussurrei algumas palavras para Seth.

— Paige, me desculpa por ontem… Eu fiquei sem ação. – e dali por diante ele desenvolveu o diálogo sozinho — Eu gosto muito de você, da sua amizade, mas, não consigo lidar com isso. É doloroso demais para mim, e será para você também. Então acho melhor, nós evitarmos que aconteçam outras vezes.

Ele ficou mudo por um tempo, olhando para os próprios pés sobre a cama. E de repente me olhou sério e ainda mais preocupado.

— Você não está fazendo isto por minha causa não é?

Mais um tempo em silêncio.

— Entendo. Desejo que você seja feliz, e é claro que eu irei aí.

Mais algumas despedidas e Seth desligou, pegando a xícara de café da minha mão. Bebeu, apoiou os cotovelos para trás na cama. Olhou silencioso para o teto. Sentou-se, me entregou a caneca e assim que eu a peguei ele retirou sua camiseta a jogando longe. Voltou a pegar a caneca de minha mão, e recostou-se sobre os cotovelos de novo. Uma cena bem sexy, porque Seth como os outros quileutes, era um belo rapaz.

— Que isso? Você arranca as roupas quando fica irritado? – perguntei encarando sua face séria.
— Ela vai embora.
— Seth, eu não estou te entendendo!
— A culpa é minha! Ela disse que não, que já havia decidido isso antes de nós sairmos. E que depois do que aconteceu pensou em ficar, mas, sabendo das minhas intenções ela prefere ir embora. Quer que eu vá numa reunião íntima que vai acontecer, em despedida.
— Não foi culpa sua então. Seria culpa sua se ela ficasse, mas, não é o que você quer não é?
— Eu só quero que este sofrimento por Anna acabe.

Ele disse e deitou-se em meu colo choroso. Eu odiava, simplesmente não tinha estômago para ver Seth daquele jeito. Tão homem para suas responsabilidades e tão menino para sofrer por amor.

— Isso passa Seth, uma hora você aprende a conviver.
— Você diz como se soubesse o que é perder um grande amor.

Fiquei em silêncio e uma lágrima escorreu pelo meu rosto caindo na testa de Seth. Eu não chorava por Theo há tanto tempo, mas me lembrava dele com tanta frequência nos últimos tempos. Seth se ergueu limpando a lágrima do meu rosto e encarando meu olhar vazio.

?
— Eu tinha um noivo. – as palavras saíram abafadas.
— O quê?
— Eu era noiva antes de vir para Forks. O nome dele era Theo. Bella, Theo e eu éramos um grupo de amigos na época do colegial. Ele e eu começamos a namorar um ano antes de Bella ir embora de Phoenix. E ficamos juntos desde então, e noivamos. E iríamos nos casar naquela semana que… – outras lágrimas puxaram outras, e meus olhos escorriam sem força.
… – Seth me abraçou apertado, e eu retribuí. — Não precisa contar.
— Preciso. – me separei do abraço — Esta história estava bem enterrada, mas tem se tornado um fantasma que eu não tenho com quem compartilhar.
— Tem sim, eu estou aqui. – Seth segurou meu rosto beijando minha testa.
— Na semana do nosso casamento, faltavam três meses para eu formar na faculdade, e íamos casar na semana da formatura dele. Duas festas de uma vez. Ele se formou numa quinta-feira, e no domingo era o nosso casamento. Mas… – suspirei fundo — Ele saiu de carro para buscar o smoking dele e parou no sinal. Me enviou uma mensagem bonitinha e, antes do sinal abrir um carro passou ao seu lado em alta velocidade fugindo da polícia. Efetuaram disparos para trás quando o carro da polícia entraria na frente do dele, mas dois tiros o atingiram. Ele morreu ali, no sinal. Meia hora depois, me telefonaram do telefone dele porque a última mensagem aberta era a minha. “Esposa”. Ele estava radiante, por poder mudar uma coisa simples como o meu nome no celular dele.

Seth me abraçou ainda mais forte, e eu me permiti chorar com ele.

“Eu quero que você seja muito feliz, por toda a sua vida”. Foi a última mensagem de Theo para mim. Não pudemos nos despedir.
— Eu sinto tanto, . Você não merecia isso. E tenho certeza que ele também não.
— Você lembra um pouco o jeito dele, às vezes. – eu sorri para ele.
— Fico lisonjeado. E ... – Seth puxou meu rosto para encará-lo — Você vai ser muito feliz, eu te prometo que sempre estarei ao seu lado, para o que for necessário. Fomos feitos para sermos felizes.
— Obrigada. Theo é uma lembrança boa, eu abandonei a dor junto ao luto. Mas, foi cruel o que aconteceu com ele. Eu só queria que ele estivesse vivo. Não precisava ser comigo, mas ele tinha uma vida linda para viver…
— Tenho certeza disso.
— E é por isso que tenho medo de estar me envolvendo cada vez mais intensamente ao Jacob. Eu não posso aceitar perdê-lo. Já é forte demais, o que eu sinto.
— Não vai perdê-lo.

Seth, e eu continuamos conversando coisas aleatórias. E falamos da arrumação da minha cabana. Falamos do que Jacob e os outros estariam a aprontar. E mais tarde, por volta da meia-noite, Black e os meninos apareceram com a camionete lotada de coisas da minha casa. Haviam desmontado os móveis e trazido para a reserva.
Paul gritou animado para mim algo como: “Agora você não tem mais escapatória!”. Sorri. Quil também estava animado e correu até onde Seth e eu estávamos, agora ao lado de Billy na varanda. Beijou meu rosto e puxou Seth para o trabalho de descarregar o carro.
Black passou ao nosso lado e quando eu sorri para ele, ele não me olhou. Entrou direto em casa, sem ao menos falar com o próprio pai. Billy me olhou e apontou Charlie vindo até nós. O delegado Swan me beijou, abraçou, cumprimentou Billy.

— Eu andei tendo uma conversa com ele. De sogro para genro.
— Obrigada por isso, Charlie. Mas, isto não impede a conversa que ele e eu teremos.
— Não era nem mesmo a intenção. Ele está com ciúmes . Se roendo de ciúmes, com medo de perder de novo para um vampiro.
— Então ele não confia no que eu sinto.
— Foi mais ou menos, nesta linha de argumentos que eu dei uns puxões de orelha nele.
— Certo Charlie… Obrigada.
— Embora você esteja se culpando, e todos achando que você agiu mal, … Você fez o que achou certo: vendeu a sua casa para alguém interessado. Você não é obrigada a acreditar em vampiros só porque acredita em lobisomens. Mas, eu gostaria de – como um pai, assim como Charlie a considera filha –, te pedir para ter cautela. Os seus instintos não falham, garota. Atente-se a eles.

Billy me surpreendera de todas as formas com aquela compreensão. Sorri, o abracei, beijei sua testa e fui ajudar os garotos a descarregar o carro. Black não voltara. Assim que terminamos, os meninos e eu, todos saímos para descansar. Entrei no quarto e Black estava deitado pensativo, olhando o teto.
Peguei minhas roupas e saí.
Após o banho voltei para o quarto e penteava meus cabelos quando senti os braços de Black me envolverem num abraço pelas costas. Ele cheirou meu pescoço, como habitualmente.

— Desculpe Mani… – sussurrou em meus ouvidos — Eu fui o idiota maníaco que havia dito que não seria…
— Se você não confia no que eu sinto, então não devíamos estar juntos. – eu disse me virando para ele e me afastando — Fala sério, Black! O cara chegou ontem, praticamente. E eu não tô nem aí para quem ele é ou deixa de ser, eu não tenho interesse nele, tá? Então para de agir como se eu fosse sua propriedade.
— Você tem razão, mas, ele invadiu a sua casa e oferece um risco para você, que você não pode imaginar!
— Então por quê ele não fez nada comigo quando teve chance?

Ficamos em silêncio, e Black despertando para aquela dúvida me olhou ainda mais irritado.

— Eu não sei. – ele disse — Ele quer alguma coisa de você!
— Ah é, o quê? Porque se fosse enriquecer a dieta dele, eu já não estaria aqui!
— Eu não acredito que isto está acontecendo de novo.
— Black, olha só: eu não sou a Bella, a menina dos vampiros! Okay? Eu me apaixonei por você, e é aqui o meu lugar. Eu não vivo nem mesmo entre os meus, então não aceito você achar que um belo dia você vai acordar e eu terei fugido com Mark! Porque isso não vai acontecer!

Me puxou para um abraço. Logo em seguida, fomos dormir.


Eu andava de um lado ao outro da cozinha da cabana de Sue. Ela, Lia, Emy e eu preparávamos os lanches da cerimônia particular de inauguração da Oficina de Black. Uma semana havia passado, e eu já morava na minha nova cabana.
Paul, Quil, Embry e Jacob nos ajudavam guardando as comidas nas caixas térmicas e as levavam para os carros. Charlie e Billy haviam ido buscar as bebidas na cidade e levar para a oficina. Aquela também seria uma festa de despedida para Lia.
Lia já estava mais calma com aquela partida. Embry, embora triste, já estava conformado que seria temporário.
Depois de resolvidos os preparativos para ida, fomos para a Oficina animados e ansiosos. Desci do meu carro e Black saiu do carro dele vindo me abraçar. O pessoal retirava as coisas dos carros, e levavam para dentro da oficina. Charlie e Billy já nos esperavam na porta, com suas respectivas cervejas em mãos, e as demais bebidas nas tinas de gelo.
Seth chegou de moto e veio abraçar Jacob. Me abraçou com uma cara não muito feliz.

— E aí, como foi lá? – perguntei me referindo à festa de despedida de Paige.
— Acabou. Acompanhei ela até a saída da cidade. Foi morar em Washington.
— Agora você tem uma amiga para visitar em Washington.
— Não , quando eu disse que acabou, é porque eu não tenho mais nada a ver com esta história.
— Entendo… Foi melhor assim.

Passei a mão nos cabelos dele, Jacob surgiu com cervejas e brindamos, os três.

— Seth, você pode fazer as honras de retirar o véu da placa?
— Claro!

Seth subiu nas escadas e Black avisou a todos que revelaria o nome da Oficina e assim inaugurá-la.

— Lia, eu gostaria que você viesse aqui comigo, por favor. Esta reunião é também para comemorarmos a sua viagem, afinal, falta muito pouco para você realizar o seu sonho e voltar de vez para casa. Onde estaremos todos, com muitas saudades e ansiosos. – Black disse e Embry se aproximou ao lado de Lia.
— Jake, por quê você é sempre tão dramático?

Rimos. Lia não faria a linha fofa, por mais que a atitude de Black tenha a deixado emocionada. E ele a mandou calar assim que ela se prostrou ao seu lado, num abraço de irmãos.
Fizemos uma pequena contagem regressiva e Seth retirou o pano da placa. Todos aplaudiam e gritavam e eu olhei desacreditada para Jacob.

“Auto’s Mani”? Você colocou o meu nome no seu estabelecimento?
— Não deixou de ser uma conquista nossa. Você ajudou muito.
— Black, isto é…
— Um passo a mais?

O olhei ainda sem acreditar. Lia ria ao meu lado e aplaudia esbarrando em meu braço. Então Embry e Black se colocaram em nossa frente. Os dois tiraram uma caixinha de seus bolsos. E o pessoal da reserva começou a gritar e fazer mais barulho.

— Calma pessoal, ainda não é um pedido de casamento! – Embry gritou para todos e virando-se para nós dois, perguntou: — Ou é Jake?

O olhei com cara de “você não me apronte uma dessas!”.

— Ainda não pessoal, são apenas formalidades. – ele riu sem graça.

— Finalmente Embry! Eu achei que iria embora sem este anel! Deixa eu ver o tamanho do diamante! – Lia arrancou risada de todos nós.
— Até parece… Amo você. – Embry declarou colocando o anel na mão dela e a beijando em seguida.

— Ei… Eu sei que você disse que não precisava, mas é… Isso é um passo a mais. – Jacob me disse, beijando-me cauteloso. — Tudo bem por você?
— É claro! – respondi deixando-o colocar o anel em meu dedo, mas a verdade é que eu estava extremamente nervosa com aquilo.

Aplausos. Beijos. Abraços. Felicitações. Risadas. Bebedeiras. Comerias. Alegrias. Família.
Assim seguiu aquele dia de inauguração.
Na manhã seguinte, Lia partiu. Todos levantamos cedo para nos despedir dela antes de trabalharmos, e Embry foi quem mais se sentiu mal com aquele “até breve” . Ele deixou Lia no aeroporto de Seattle, e depois foi trabalhar na loja do pai de Quil. Não havia começado há muito tempo.
Em esperança de se distrair pela saudade de Lia, ele buscou um trabalho e Quil comentou que seu pai precisava de mais ajuda.

— Os meninos estão mesmo crescendo, não é Emy? – disse Sue ao nosso lado, após vê-los voltando cada um do trabalho no final da tarde.
— É. Estão sim.

Emy parecia sem graça com aquela conversa. E eu não entendendo, apenas fui pegar o chá que apitava na chaleira da minha cozinha.
Quando retornei à varanda de minha cozinha, Emy e Sue conversavam algo que, pude perceber, desconversaram com a minha chegada. Eu sabia que o assunto não era especificamente sobre mim, Emy estava nervosa. Não nervosa do tipo brava, mas sim nervosa do tipo incomodada.
Sam surgiu com seu uniforme amarrotado, após um longo dia de trabalho na trilha de escaladas de Forks. Emy foi até ele, o beijou e direcionaram-se à sua casa. Sue os observava de longe, de uma forma como eu ainda não havia visto e nem saberia dizer o que aquele olhar significaria.
Seth surgiu ao meu lado, após seu banho e contou como foi produtivo o dia de trabalho na farmácia. Ele já estava se tornando amigo de Steve, ambos tinham quase a mesma idade, e contou que Peter estava irritado com ele por aquilo.

— Peter é um tipo possessivo de amigo.

Ele riu ao se referir do melhor amigo, e eu o acompanhei num sorriso sereno. Quil e Paul se aproximavam de nós.

— Vocês andam muito afastados! O que aconteceu, eu fiz alguma coisa ruim para vocês dois? – falei a eles enquanto se sentavam em minha varanda.
— Jamais, ! A gente se amarra na sua! – disse Quil.
— Eu ando muito ocupado nas trilhas, aliás, Sam e eu. É alta temporada de turismo agora, então… – Paul sorria demonstrando o cansaço.
— Bebam. – lhes servi chá — Logo La Push também terá de lidar com visitantes, não é? – perguntei.
— É! Jacob ficará uma pilha de nervos com isso, se prepare.
— Por que, Paul?
— Seu namorado não gosta de gente, . Achei que soubesse disso! – Quil me respondeu fazendo os outros meninos rirem.
“Seu namorado”! Finalmente, uh? – Paul me olhou com um sorriso sacana.
— Eu vou buscar um pedaço de torta para vocês três… – me levantei desconversando.

Eu me preparava para sair da cozinha quando Bruh me surpreendera. Ela estava na soleira da porta dos fundos de minha cozinha.

— Então esta é a cabana da índia branca? – ela dizia de braços cruzados, e eu me virei para encará-la.
— É Bruh… Esta é a minha cabana, bem-vinda.

Ficamos trocando olhares em silêncio. Ela tinha revolta em torno de suas íris. E eu tentava lhe passar um clima ameno, pois eu já estava farta daquela rincha sem sentido com uma adolescente recém-saída da puberdade.

— Quil me contou que você e o Jake estão juntos. Isso é verdade?
— Por que não foi perguntar ao Black?
— Ele daria qualquer resposta que me afastasse.
— Por que você aceitou este tipo de humilhação, Bruh?
— Você pode responder a minha pergunta?
— Estamos namorando sim. – respondi pousando a bandeja sobre a mesa.
— Este anel – ela apontou para a minha mão — Foi ele quem te deu?
— Sim.

Ela continuou em silêncio, desta vez olhando seus pés. Não chorava. Não mostrava raiva. Eu não sabia ler os sentimentos dela naquele momento.

— Ei Bruh… Nunca foi a minha intenção magoar você e…
— Eu sei. – ela me interrompeu — A culpa foi minha, eu que idealizei conquistar o coração amargurado de um cara mais velho que só me enxerga como uma pirralha.

Eu não sabia o que dizer. “É verdade, você se iludiu” , seria bastante rude mesmo para Bruh, que era apenas uma garota desiludida com o primeiro amor.

— Está tudo bem índia branca. – e pela primeira vez ela me dera um meio sorriso sincero, eu diria — Vocês tem mesmo tudo a ver. E é bom ver o Jake feliz de novo. Eu não vou dar mais trabalho, e depois, eu ainda vou ter um imprinting algum dia, então não é como se você ganhasse.

Sorrimos. Seth apareceu na cozinha perguntando se estava tudo bem e por quê eu demorava. Quando viu a Bruh me olhou preocupado, e então eu contei que estávamos só conversando. E ele se assustou com aquilo. Seth se mantinha sorrateiro quanto à Bruh.
Eu saí, pois, ouvi a voz de Charlie me gritando lá fora. Seth dissera que levaria a bandeja, no entanto, Bruh queria ajudar também.

— Deixa comigo Seth! – ela pegou a bandeja ao mesmo tempo que ele, e quase a deixou cair.

Seth foi mais rápido e pegou a bandeja no ar. Olhou para mim, desconfiado. Eu sabia que ele estranhara a boa vontade, repentina de Bruh. E eu também.
Saí dali após o susto e os dois sorriam vindo a caminho da minha varanda.
Charlie dissera que avistou um cara estranho com Mark nos arredores da escarpada da praia.

— Você tem algum conhecimento, se este tal Mark vive sozinho? – me perguntou.
— Não, pai, não tenho.
— Eu tenho que contar ao Sam.
— Certo…

Charlie foi diretamente à cabana de Sam sem trocar palavras com ninguém. Paul, Quil, Seth e Bruh me indagavam se algo havia acontecido. E eu dissera que não era algo preocupante, mas, fora eu terminar de falar para Sam sair correndo de casa indo em direção à mata. Os meninos o gritaram da varanda, perguntando se necessitava de alguma ajuda e ele apenas gritou que estava tudo bem.
Black chegava em sua camionete, e todo sujo de graxa, afinal, já estava trabalhando em sua oficina.

— Onde o Sam foi? – me perguntou após me dar um beijo.
— Venha. – eu disse o puxando para a sala — Charlie avistou um cara desconhecido com Mark nas escarpadas da praia. E pediu para Sam averiguar, mas, ele quis ir sozinho.
— Outro frio? E o Sam foi sozinho? – Jacob perguntava enquanto corria de volta para fora.
— Você vai atrás dele? – eu falei mais alto o acompanhando para fora.
— Não sabemos a intenção deles, ele não devia ter ido sozinho. São dois contra um!
— Jake! – Seth gritou, Quil e Paul estavam de pé ao seu lado.
— Fiquem aqui, e vigiem a reserva. Não se preocupem. Sam e eu damos conta!

Os meninos obedeceram e quando olhei para o lado não vi Bruh. Jacob já havia partido.

— Quil… Onde está a Bruh? – perguntei.

Os meninos me olharam e se entreolharam confusos.

— Droga… – resmungou Quil — Ela foi atrás deles.
— E agora? – perguntei.
— Bruh sabe se meter em encrenca, mas, sabe sair delas também. Vamos seguir as ordens de Jake.

Paul dissera finalizando, e sentou-se para comer e os meninos o acompanharam.
Charlie surgiu na varanda da casa de Sam, e ao seu lado estavam Sue e Emy. Emy continuava cabisbaixa. Fui até eles.

— Jacob foi atrás dele, Emy. – eu falei na tentativa de acalmá-la, seja lá o que estivesse acontecendo eu previa ter algo a ver com o ocorrido.

Sue e Charlie me abraçaram e saíram.

— Emy, estou notando que algo está deixando você tensa. E é algo que Sue tenha falado. Quer conversar?
… Eu estou com um mau pressentimento, desde ontem. E eu acho que vai acontecer alguma coisa com Sam.
— Acalme-se. – eu a abracei — Nem sempre maus pressentimentos são reais.
— Pode ser, mas, somos tendenciosos a isto. – ela sorriu desanimada.
— E tem mais alguma coisa acontecendo?
— Sue tem conversado muito comigo sobre… – me olhou sem graça e me puxou para dentro da cabana — Bebês.
— Bebês? – perguntei sem entender.
— Ela acha que está na hora de Sam e eu começarmos a pensar em família. Ela disse que está chegando o momento em que Sam deixará de ser o alfa.
— Por que? Tem algum prazo?
— Não… Ela somente sente. Mas, diz não ter certeza das provisões, e aí eu fico ainda mais preocupada com estes maus pressentimentos que sinto em torno de Sam.
— Sendo assim, eu vou dizer aos garotos para irem atrás deles.
— Será que Jake não ficará bravo?
— Vocês são uma alcateia. E defendem-se uns aos outros.

Ao chegar de volta à minha cabana os meninos não estavam mais lá.

— Onde estão os rapazes? – perguntei aos mais velhos: Charlie, Billy e Sue.
— Foram atrás de Jake e Sam. – Billy dizia atento e ansioso.
— Billy… O que vai acontecer? – Emy perguntou-o.
— Já aconteceu.

Billy respondeu e ficamos todos apreensivos olhando a mata, aguardando o menor sinal dos rapazes.
Cerca de vinte minutos depois Bruh surgiu ensanguentada e ofegante. E antes mesmo que pudéssemos perguntar qualquer coisa, Seth atrás dela surgiu a segurando. Bruh havia desmaiado. Corremos em suas direções.

— Seth, o que houve?! – Sue gritava.
— Ela está bem, só cansada. – ele disse referindo-se à Bruh.
— Leva ela para dentro. – eu disse o chamando para dentro da minha cabana.

Subimos até meu quarto.

— Seth… Me conta. – Emy falou assim que ele deixara Bruh sobre a minha cama.

Sue retirava as roupas da garota dentro do quarto, e Billy e Charlie nos aguardavam lá em baixo. Seth numa tentativa de desconversar olhou para Sue e para Bruh.

— Mãe, quer alguma ajuda?
— Responda a pergunta de Emily, Seth. – ela disse séria.

Sue saiu com as roupas sujas de Bruh e deixou a garota de roupas íntimas deitada dormindo sobre a minha cama. Seth não conseguia olhar para Emily. Eu cobri a mais nova, e fui até Seth segurando sua mão firme. Também segurei a mão trêmula de Emily.

— Foi o Sam… Emy…

Ela começou a chorar silenciosa, de olhos arregalados para Seth.

— Seth, o que exatamente aconteceu ao Sam? – perguntei a fim de acabar com aquele martírio por qual Emy passava.
— Ele está ferido. Os garotos o levaram para o hospital de Forks.
— Quão ferido? – Emy perguntou.
— Eu não sei dizer o estado em que ele está, Emy…

Emily chorava, Seth tremia e apertava ainda mais a minha mão.

— Seth! – o chamei decidida — Ajude sua mãe a cuidar da Bruh. Eu vou levar Emy até lá. Vamos, Emy!

Ela me seguiu sem olhar para trás. Saímos sem falar nada ao Billy e ao Charlie, mas, Seth os explicaria. Embry chegava na reserva no momento em que eu entrava no carro. Ele estranhara o clima que estava no lugar e me olhou indagativo.

— Entra no carro! – eu gritei para ele.

Dirigi até o hospital de Forks e encontramos os garotos sentados na sala de espera. Eles correram para abraçar Emily. Black veio me abraçar em seguida.

— Você está bem? – sussurrei.
— Não sei se vou ficar. – sussurrou em resposta.

Emy começou a chorar descontroladamente.

— Céus, Black, o que aconteceu?

Os meninos abraçavam a Emy.

— O outro frio. Arrancou um braço de Sam e causou ferimentos mais graves. Ele está sendo operado.

Abracei meu lobo, e Embry fora dar apoio à Emy. Logo, eu estava ao lado dela afagando seus cabelos recostados ao meu ombro. O médico surgira um pouco depois, e nos dera a notícia de que Sam ficaria bem, no entanto, seu braço esquerdo fora amputado e não havia chances de reimplantá-lo. Muitas terminações nervosas foram dilaceradas e a urgência foi estancar o ferimento e preservar a vida dele.
Sam estava vivo. Iria se recuperar. Mas, não seria mais um lobo guerreiro. E embora todos estivéssemos assustados, também estávamos aliviados por saber que Sam sairia dali com vida. Emy mostrou-se muito confortada, apesar da notícia de que seu marido havia perdido seu membro esquerdo. Talvez, por ela já ter passado por um risco como aquele e ter escapado com vida, ela soubesse que eles se readaptariam àquilo. Quão pior seria ter de se readaptar à morte?
Precisei sair dali de dentro e tomar um ar fresco. Ao sair, me sentei nos bancos externos da rua.
Mark surgira ao meu lado, sorrateiramente sem que eu notasse.

— Seu namorado é bem bravo. – ele disse ao pé do meu ouvido, assustando-me.

Levantei me afastando dele.

— O que você está fazendo aqui?
— Meu amigo e eu fomos surpreendidos pelo lobo, apenas nos defendemos. Logo o seu namorado chegou e então recuamos. Ele está bem? Digo… O cara que Darak atacou.
— Ele vai ficar, mas, não tão bem quanto antes.
— Você namora um lobo.
— E isto não é da sua conta. O que o outro frio veio fazer aqui?
— Frio? Então você sabe o que somos… – ele sorriu indecifrável.
— O que vocês estão fazendo aqui? – eu me aproximei com raiva dele.
— Também não é da sua conta. Bem, eu só vim saber como o cara estava. Como eu dissera, nós apenas estávamos de passagem.
— Em La Push? Acaso não sabiam que a reserva é proibida para seres como vocês?
— Seres como nós… – ele riu — Você também é loba?
— Não.
— Eu sabia. E é estranho ouvir você falar assim, afinal, você é uma humana. Uma presa tanto para nós, quanto para eles.
— Saia daqui Mark! – vociferei.
— Bom… Nos vemos por aí. Desculpe pelo seu… O que o cara que atacamos é seu?
— Você está sozinho agora Mark, já eu tenho quatro lobos lá dentro.
— Okay, acalme-se gracinha… Eu não vim provocar. Mas, acho bom você saber que será intermediadora dos seres como nós, para os lobos. – sorriu, um sorriso ingênuo e assustador.

Se virou distanciando. E eu estava tonta. Bastante tonta. Como da última vez que estive com ele na casa dos Cullen.

— Ah! A propósito! Passe lá em casa para tomarmos um chá, qualquer hora.

Ele disse sarcástico, com aquele sorriso branco e afiado estendido em minha direção. Eu gelei. Seu olhar mortal se distanciou do meu, e eu estava extremamente enojada. Suava frio. Alguma coisa acontecia ao meu corpo, e eu não sabia o que era, mas, sabia que tinha algo a ver com o Mark.
Voltei para o hospital, trôpega. Assim que apontei no corredor da sala de espera, os meninos me olharam com cara de nojo. Eu andava cambaleante até cair nos braços de Jacob, que notou a minha fraqueza vindo ao meu encontro.

— Você está com o cheiro de um deles . – Quil falou me olhando enojado.
— Black… Mark… Lá fora. – eu falava zonza.
— Ele fez algo a você?
— Não.

Jacob me ajudou a sentar em uma das cadeiras. O corpo dele estremecia, e ele preparava-se para sair atrás de Mark. Segurei-o pelo punho.

— Ele já foi.

Paul me estendeu um copo de água, e recuperei pouco a pouco meus sentidos.

— O que ele estava fazendo lá fora?
— Eu estava sentada no banco quando ele me surpreendeu… Disse que estavam de passagem e foram pegos de surpresa por vocês. Ele disse que não queria confusões. E aparentemente não sabiam que La Push é um território quileute, e restrito.
— Por quê este cara continua procurando você, ? – Black estava tão irritado quanto sempre ficava ao se tratar de Mark.
— Eu não sei. Mas ele disse que eu serei a intermediadora entre vocês. O que ele quis dizer com isto?
— Que ele não te fará mal porque precisa de você pra se comunicar com nós. – Quil afirmou.
— A questão é: o quê ele tem a tratar conosco? – concluiu Paul.

Dias se passaram desde aquele ocorrido. Mark não aparecera mais em meus caminhos. La Push estava tranquila. Sam recuperava-se em casa. E eu já havia comprado o terreno para meu laboratório. Os irmãos Vincent, como prometido, tomaram as rédeas da construção de meu laboratório junto a mim. E em breve a construção daria início.
A rotina continuava a mesma. Black entre a oficina e o artesanato. Embry e Quil trabalhando juntos. Paul cobrindo a falta de Sam na empresa local de ecoturismo. Sam voltaria a trabalhar, exatamente no mesmo posto, mas, algumas adaptações seriam tomadas. Ele passaria por um novo preparatório que a empresa bancaria para se readaptar ao serviço e às novas medidas de segurança, uma vez que, agora ele seria instrutor de escalada, mas principalmente, em escalada adaptada. A empresa enxergara no acidente de Sam, uma ótima oportunidade de incorporar uma nova atividade para um novo público. Nenhuma novidade mundial, mas, para Forks aquilo era uma grande novidade. Emy estava mais calma em relação à Sam e todas as preocupações.
Seth trabalhava bastante e voltara a sair com a Lili Parker. Ele e Bruh, se aproximaram um pouco mais após o dia na minha cozinha. Eu previa que, pelo jeitinho da lobinha, Seth encontraria uma nova paixonite em seu pé. Contudo, Bruh também parecia mais madura e amizade deles fluía mansa. Seth até descolara para Bruh, um emprego na floricultura. Segundo ele, a dona procurava uma moça nova para trabalhar como florista. E lá estavam Bruh e Seth trabalhando juntos, pelo menos por meio período. Seth confessou para mim, em um final de manhã que almoçávamos juntos que, Bruh não era o tipo de pessoa que amadurecia rápido, ou que, desistia fácil de um objetivo. Ele não confiava nas atitudes da novata, e por causa disso se dispôs em segredo a vigiá-la de perto. E por mais que eu o dissesse para esquecer aquela história, e dar uma chance à menina, ele me alertara:

— Seth, por causa deste tipo de descrença que a Bruh vive revoltada. Dê uma chance, afinal, com traumas vem a maturidade, não é?
, você não pode confiar que todas as pessoas vão agir assim. Bruh Ateara é totalmente o oposto do irmão, ela não é o tipo de pessoa que muda da água para o vinho.
— Acho que você pode estar enganado, ela me pareceu muito sincera aquela tarde em minha cozinha.
— Só um aviso: cuidado com a Bruh. Eu vou continuar vigilante.


Black e eu também estávamos cada vez mais apaixonados. E eu decidia pouco a pouco embarcar mais fundo em nosso romance. A semana corria, assim, tranquila. E eu passava os dias pós-expediente acompanhando as obras do meu laboratório retornando à casa somente ao final do dia.

, posso falar com você? – perguntou Billy.

Eu havia acabado de chegar da obra do laboratório, estava exausta. Precisava de um bom banho e um jantar apetitoso. Black prometera cozinhar para nós dois naquela noite. Então, eu estava bastante ansiosa. As luzes de minha cabana estavam acesas, e supus que Jacob já estaria lá. Foi então que eu notei que, Billy se aproveitara daquilo para me falar alguma coisa. Fechei a porta do carro e caminhei até ele.

— Boa noite Billy.
— Boa noite, querida.
— Por que eu tenho a impressão de que, alguma coisa aconteceu e o Black não pode saber? – o perguntei com uma sobrancelha arqueada.
— Preciso que faça uma coisa, e Jacob não pode saber, realmente.
— Certo, vamos entrar?

Entrei à cabana de Billy e fui até a cozinha beber um copo d’água. Eu também me sentia em casa, dado o tempo que estadiei por ali.

, preciso que você fale com os frios.

Billy fora direto. Sem rodeios, como sempre. O olhei sem entender.

— Um novo acordo deve ser feito. Temos que proteger nossas terras e eles não podem andar por aqui. Assim como fiz com os Cullen, faremos um acordo com eles, se desejam viver em Forks.
— Eu ajudo, é claro. Mas, isto não deveria ser responsabilidade do alfa?
— Jacob será nomeado o alfa daqui há uma semana, .
— Como?
— É o momento dele. Sam não pode ser mais um alfa. E como Jacob não está confortável com a presença dos frios, não podemos contar que ele aceitará um acordo. Por isso, eu estou agindo antes da nomeação dele. Até porque, se os frios não aceitarem…
— Teremos uma guerra… Entendo. E você quer que eu vá em seu lugar acordar com os frios?
— Eles disseram que você seria intermediadora, não é?
— Sim…
— Não te farão mal. Contudo, Quil irá com você. Ele é o mais discreto.
— Tudo bem! Quando quer façamos isto?
— Quanto antes melhor. Mas, … O antigo acordo proibia os Cullen de frequentar as terras da reserva e também de ferir qualquer cidadão de Forks.
— Billy, desculpe a minha ignorância, mas de quê eles viviam? Se é que você me entende.
— Os Cullen caçavam animais. E este é o ponto difícil neste novo acordo, estes frios não são os Cullen.
— Entendi. Pedir aos vampiros para caírem fora das terras e não beberem o sangue de nenhum humano… – eu ri sarcástica — Não tem nada mais difícil?
— Eu sei que pode ser difícil, mas, por alguma razão eles estavam certos: você é a mediadora entre nós.
— Sabe o que acho? – perguntei cansada ao Billy que apenas assentiu para que eu prosseguisse — Que vocês confiam muito que eu não seja parte da dieta deles.
— Se fosse já saberia. – Billy riu, prosseguindo: — E é bem curioso eles não te atacarem, não acha?
— E acho também que é bom que eu desenvolva algum tipo de poder como vocês, porque para uma reles humana, eu ando rindo muito na cara do perigo.

Falei sacudindo a cabeça negativamente. Sorri para Billy e me direcionei à minha cabana onde o cheiro do jantar estava realmente apetitoso.


20 - Novo acordo, novas revelações

Aquele tipo apaixonado estúpido. Que olha o ser amado com brilho, e esboça um sorriso tolo pela face. Eu não curtia ser este tipo de “garotinha apaixonada”. Em meus relacionamentos eu era, como diziam “segura demais para pouca coisa”. E deixava externalizar essa imagem. A mulher bem resolvida que não solta suspiros vassalos, mas sim, os arranca. Contudo, quem era a mulher escorada à porta da própria cabana a admirar o ser amado de avental na cozinha? Aquela mulher esboçava um sorriso tolo e encantado, ainda discreto, ali no cantinho esquerdo dos lábios a serem denunciados.
Descruzei meus braços e pernas e me desprendi do batente da porta. Tirei meus tênis empoeirados e os deixei na varanda. Não havia mais problemas em fazer aquilo. Os lobos que dormiam em minha varanda, hoje, eu sabia serem selvagens amigos. Coloquei minha bolsa e minha pasta sobre a mesinha do meu escritoriozinho abaixo da escada.
Black assobiava uma canção, da qual eu não reconheci. Entrei na cozinha, como uma gatuna mansa e ataquei suas costas largas, enquanto ele picava legumes.
Mordi seu ombro. E ele girando-se para mim cheirou meu pescoço. Aquele ritual era a identidade de nossa relação, desde o princípio. Sorri me abandonando num abraço confortável.

— Agora eu posso parar de chorar, você chegou. – ele falou manhoso.

Manhoso? Com aquele trovão de voz? Como manter a sanidade? Eu nunca soube como eu conseguia mantê-la junto ao Jacob, mas mantinha. A fim de, desvendar a piada em seu recente comentário, eu espiei a tábua de carnes. Ele estava cortando cebolas. Explicado o motivo de um olhar avermelhado – não como se fosse transformar-se em lobo – e dos cílios, desnecessariamente longos para alguém que não se importa, umedecidos.
Beijei o meu lobo, num selinho casto e saí. Em meu quarto, a camisola confortável e o hobby quentinho estavam separados. Aquela seria uma fria noite, e meu corpo exausto pelas obras do laboratório pediam pelo máximo de conforto que eu o pudesse permitir. Embora eu não fizesse nada – comparado aos empreiteiros – na obra, acompanhar o passo a passo da construção, a execução dos planejamentos e andar de um lado para o outro também a tornava exaustiva para mim.
Após o banho desci as escadas no rastro de um cheiro apetitoso. Apertava-me em um abraço friorento, contra o próprio corpo e segui à cozinha. Na bancada central, um jantar quase romântico, posto. E a comida me enchia de água na boca. Black e eu trocamos sorrisos demonstrando uma ansiedade por nosso primeiro jantar na minha nova casa.

— Ainda me lembro da primeira vez que jantamos juntos.
— Você com aquele seu ar sombrio, me apavorando e ao mesmo tempo me entorpecendo.
— Louco de vontade de sair de perto de você, e ao mesmo tempo de te tomar em meus braços.
— Você realmente me passou a impressão de que poderia me devorar, sabia? Não que eu goste de confessar isto, mas, às vezes eu senti medo.
— Como se você também não intimidasse, Mani…

Sorrimos e nos abraçamos. E não suportando a falta do contato entre nossas bocas, nos beijamos. E foi ao chocar lábio contra lábio que a energia caiu. Gargalhamos, pela ironia. Na primeira noite em que Jacob jantou em minha casa, a luz também faltara nos fazendo acender velas por toda a casa.

— Bom, podemos dizer que este será um jantar romântico. – ele falou acendendo as velas nos castiçais sobre a bancada.

Durante todo o jantar, delicioso por sinal, nós rimos e conversamos tranquilos. E eu senti como se um prenúncio de eternidade se repousasse naquele momento. A energia não voltara. E não era apenas em minha cabana, logo não nos preocupamos. Não lavamos as louças ao terminar, pois a falta do aquecedor mantinha a cabana mais gelada.
Black saiu pela porta dos fundos da cozinha, enquanto eu guardava o restante do jantar na geladeira. Não demorou muito a retornar com um feixe de lenhas cortadas nos braços.

— Eu preparei alguns tocos de lenha para que você queime em sua lareira quando necessário e os coloquei num suporte ao lado de fora da cozinha.
— O que seria de mim sem você?
— Você saberia se virar… – ele disse rindo abafado caminhando em direção à lareira da sala.
— Eu vou até o quarto buscar um edredom enquanto você acende a lareira.
— Traga um bem pesado, parece que teremos uma cerração bem fria esta noite.
— Oras… Não é você quem não sente frio?
— Ei! Eu ainda sou um ser humano, ok?

O tapete da sala de minha cabana, coberto de almofadas. Black de frente a lareira soprando o fogo e aquecendo suas mãos. Cheguei com os cobertores e os estendi sobre o tapete, logo me acomodando. Black girou-se no chão engatinhando até onde eu estava. Se acomodou sob o edredom comigo e ficamos abraçados em silêncio.

— Obrigada, foi um jantar especial.
— Por ser o primeiro em sua cabana?
— Também. Mas, por ser o primeiro feito pelo meu namorado. – ri em seguida, por me sentir uma adolescente.
— O primeiro de muitos. – ele disse e suspirou me apertando em seus braços.
— Você vai dormir aqui hoje?
— Você quer que eu durma?
— Sim, e eu gostaria de dormir aqui sob a lareira, porque meu quarto está bem frio.
— Se eu estiver com você, estará sempre aquecida. – ele disse encarando a fogueira.

E enquanto eu olhava pude notar o fogo refletir em seus olhos distantes. Um momento de nostalgia. Algo naquele momento o recordava o passado. E eu não me preocuparia com as lembranças do passado dele, uma vez que meu próprio passado me assombrava recentemente. E encarando a fogueira num gesto de imitá-lo, eu recordei de Theo e eu na cabana em que ficamos numa de nossas viagens.
Havíamos ido ao Canadá para esquiar, e embora eu detestasse as baixas temperaturas, aquela era uma data especial. E como Black e eu naquele momento, nos aquecemos numa lareira.
Despertando de nossas lembranças, nos encaramos ao mesmo tempo e nos beijamos. Como se estivéssemos na busca de construir novas recordações em cima das antigas, não querendo as apagar, mas, tornar a nossa realidade melhor do que o nosso passado.
Ao romper do ósculo, Black acariciava meu rosto e mantinha um fulgurante olhar. O fogo em suas íris já não eram reflexo da lareira.

— Nunca fui tão feliz por Bella não ter me escolhido desde que você chegou.
— Como?
— É isso mesmo. Ela não é um terço do que você é. E nem chegaria jamais a me causar as sensações que você causa.
— Nós sempre fomos muito diferentes, e eu agradeço por isso.
— Eu te amo.
— Black… – sorri abobalhada — Eu também.
— Você sente esta mesma intensidade?
— Desde que o vi na praia, eu soube que você me traria muita curiosidade, e cada dia ao seu lado fazia eu me sentir na obrigação de chegar aonde ninguém chegou dentro de você.
— E já sentiu isso antes por outra pessoa, Mani?

Me silenciei num ato reflexivo de avaliar aquela pergunta. Avaliar as experiências anteriores.

— Não foi idêntico ao que é contigo, e nem poderia ser. São relações diferentes e momentos diferentes da minha vida.
— Qual o nome dele?
— Theo.
— E o que aconteceu? Ele também trocou você?
— Não. Nós íamos nos casar.

Black arregalou os olhos numa surpresa.

— Como?
— Ele faleceu um dia antes do casamento.

Silêncio. Choque. O olhar fulgurante e não penoso. Ele buscava me desvendar de alguma forma, e observava minhas reações. Talvez esperasse lágrimas. Mas, elas não vieram e então eu pude sorrir ao notar aquilo. A ferida estava fechada novamente, e graças ao Black.

— Não quero ser insensível, mas, que bom que não se casou.
Eu ri.
— Acho que posso cumprir o desejo dele agora... – falei me aproximando do rosto de Jacob, e recordando aquela última mensagem de despedida de Theo.
— Eu te quero… – ele sussurrou entre o beijo.

Levei meu corpo sutilmente para o colo de Black, que me abraçou pela cintura. Uma das fortes mãos pulsando minha nuca contra seu beijo. Os estalos da madeira incendiada na lareira servindo de trilha sonora. E o nosso abraço quente.
Eu poderia imaginar aquele momento de tantas formas, mas nunca o havia feito. Eu não pensava em planejar aquilo, ou em como seria.
Black puxou o cordão de meu pesado hobby devagar. E meus ombros sob as finas alças de uma camisola se fizeram aparecer. Depositando beijos cálidos no caminho de meu pescoço até as clavículas, de maneira lenta despia a parte de cima de meu corpo. E um arrepio pelo choque de temperaturas, perceptível sob minha pele o fez grudar mais os nossos corpos enquanto nos beijávamos.
Sua camisa de mangas longas pouco a pouco desaparecia de seu corpo também, assim como as outras peças de roupas que vestíamos. Jacob puxou o edredom atrás de minhas costas, nos protegendo do frio, embora soubéssemos que nos manteríamos aquecidos.
E nossos sentidos foram se perdendo a medida que aquele momento ia se concretizando.

Estremeci com a pequena corrente fria que bateu em minhas costas desnudas. Abri os olhos devagar, e senti o cheiro das cinzas da lareira. À volta de minha sala a cena: a leve e discreta claridade da manhã do lado de fora da minha cabana, roupas espalhadas ao nosso redor, as centelhas das últimas lenhas queimando, o edredom batendo de minha cintura para baixo – o qual puxei por sentir frio – e Black dormindo pesadamente. Seu rosto sereno e a mandíbula contraída.
Recordei a noite anterior com um largo sorriso, e apertei-me no abraço em que nos encontrávamos. Mordi os lábios passeando sob o corpo dele com a ponta de meus dedos. E meu lobo apertou-me sob si, murmurando um suspiro prazeroso.
Eu não queria acordá-lo, também não queria sair dali. Por mim, o dia todo ficaria trancada com ele em minha cabana, apenas nós deitados naquele mesmo lugar. Dormindo, ou conversando.
Como eu me sentia tola! Pelos céus, eu não sentia aquela sensação a tanto tempo e na verdade, julgava que nunca teria a sentido daquela forma. Era como se fosse a primeira vez que aquilo me acontecia. E por tamanha felicidade extasiante, eu decidi que aquela era a primeira vez. A tão falada primeira vez que o amor acontece.
Jacob Black roubara qualquer experiência anterior e eu sentia meu coração bater junto ao dele.

Por volta das onze horas da manhã, Jacob despertou com o cheiro vindo da cozinha. Eu já havia levantado há algum tempo e decidi deixá-lo acordar sozinho. Decidi também me dar folga aquele dia. Steve ficara confuso com minha repentina ligação, mas não reclamou quando o pedi educadamente para cobrir meu turno. Eu também não abri a cabana. Ainda fazia muito frio. E mesmo que não estivesse uns cinco, ou dez graus lá fora, eu não abriria a casa. Não queria interagir com a reserva. E agradeci por ninguém bater em minha porta. Já havia reacendido a lareira para nos manter aquecidos, embora o aquecedor da cabana estivesse funcionando, uma vez que a energia fora estabelecida. Não queria perder o clima da lareira. E pensando em que eu faria aquele resto de dia após Black acordar, pude sentir seu abraço nu.

— Você deveria se vestir, ainda está muito frio.
— Eu queria te sentir primeiro.
— Você apagou, uh? – respondi correspondendo ao abraço dele.
— Não dormia tão bem assim, desde que me lembro existir.
— Uau! – eu ri.
— É sério – ele falou me encarando risonho e logo ficou sério — Foi como recomeçar.
— Eu sinto o mesmo.
— Obrigada, Mani... – sussurrou em meus ouvidos cheirando meu pescoço.
— Obrigada, Black... – respondi mordendo seu ombro.

Jacob subiu e eu permaneci na cozinha preparando o nosso almoço. E ele também deu-se folga, uma vez que passamos o dia ali na cabana. Conversamos, assistimos filme, jogamos jogos de tabuleiro e quando julgamos que o restante da reserva estaria preocupado com nosso desaparecimento, saímos.
E encontramos todos reunidos na varanda da casa de Sue nos encarando curiosos. E ao ver todos reunidos, Black e eu abaixamos os rostos rindo divertidos e então, os demais acompanharam o riso. Billy, Sue e Charlie nos olhavam como se presenciassem o nascer de uma vida, e de certa forma, era bem como nos sentíamos.
Sam surgiu em nossa direção, enquanto caminhávamos até ele.

— Eu sei que vocês estão ótimos, mas, esperei o dia todo para falar com você Jake. Desculpe, . – ele sorriu amigo.
— Tudo bem, já tiramos a nossa fuga da realidade.

Saí os deixando no caminho, e fui até Emy e Sue que sorriam entre si.

— Aproveitando que Sam já está falando com Jacob, nós precisamos conversar .
— Billy, dê um tempo a ela! Logo hoje? – disse Sue de forma gentil.

Ao notar que Billy tinha urgência em falar, mas, ficou visivelmente sem graça com a fala de Sue, eu decidi aceitar o diálogo.

— Tudo bem Billy, como eu disse ao Sam já fugi da realidade por hoje. Podemos falar sim.
— Obrigado. Me acompanhe até a cozinha de Sue?
— Claro.

Entramos e logo fui preparando um chá, já conhecia meu sogro o suficiente para saber que toda conversa, incluindo as mais tensas exigiam aqueles seus amargosos chás. No entanto, eu estava nas nuvens para tomar qualquer coisa amarga, e portanto corri a preparar uma bebida quente confortante.

— Ah propósito, estou radiante por vocês dois.
Rimos cúmplices.
— Agora eu acho que devo mesmo chamá-lo de sogro.
— Fique à vontade…
— E então Billy? Suponho que seja sobre o acordo, correto?
— Sam está falando com Jacob sobre o cargo de alfa. E eu já avisei ao Quil sobre acompanhar você no encontro com os frios.
— Entendido. Vou procurar o Mark o quanto antes.
, você precisa falar com eles de forma que entendam que não deve surgir outros. Até porque, em comparação aos Cullen, a dieta de Mark pelo que eu soube é bem tradicional.
— Os ataques frequentes…Você tem confirmação de que foram eles?
— Eu só não tenho comprovação.
— Amanhã mesmo Billy. Deixe comigo!
— Eu não poderia ter uma nora melhor…
— Não mesmo, disso não tenha dúvidas.

Sorrimos e seguimos ao encontro dos nossos amigos. Eu ainda deveria manter segredo com Black sobre tudo aquilo, embora, confesso não me agradava a ideia de mentir para ele após tudo o que passamos. Antes de todos nos despedirmos, conversei com Charlie algo referente ao plano do dia seguinte.
Aquela noite, Jacob dormiu em minha cabana mais uma vez e eu poderia apostar que se tornaria um hábito cada vez mais frequente, que ele estadiasse mais em minha cabana. E não me incomodava, não mesmo!
Enquanto ele estava no banho, precisei telefonar para Erick.

? Aconteceu alguma coisa?
— Eu preciso encontrá-lo amanhã na delegacia para esclarecer algumas coisas referentes aos últimos ataques. Conversei com o Charlie, e ele autorizou-me. E provavelmente ele entrará em contato com você para que confirme o que eu digo.
— Certo, a hora que você preferir. Estarei lá o dia todo. Mas… O que você poderia esclarecer?
— Vai ser muito importante também que, você não me faça perguntas Erick. Apenas, confie em mim, ok?
— Veremos , eu não posso afirmar nada.
— Tudo bem, até amanhã, eu preciso desligar.
— Boa noite, até amanhã.

De certo Erick estava com uma família de pulgas atrás das orelhas. E mesmo conversando com Charlie para saber a opinião dele, e tendo a afirmativa como resposta, eu indagava-me se era correto envolver Erick naquilo. Como eu faria para explicar o meu interesse na investigação dos ataques?
Escovei os dentes, enquanto Black vestia sua roupa para dormir e fiz o possível para evitar demonstrá-lo minhas preocupações.

Logo que amanheceu, acordei Jacob e nos preparamos para nossos trabalhos. Nos despedimos e quem quer que nos visse juraria sermos um casal de longo tempo. E era tão boa a sensação de intimidade e eternidade que crescia entre nós.
Erick me aguardava na delegacia bem cedo, e eu aproveitei o tempo livre pré expediente para resolver o assunto.
Ele me mostrou os dossiês dos ataques, as fotos das vítimas e relatos. Eu poderia tirar de uma vez por toda a dúvida de quem andava assassinando as pessoas na cidade. E tudo indicava para Mark e seus amigos. Após ver todas aquelas imagens de corpos, meu coração acelerava em pensar que estive tão próxima de Mark. Minha cabeça latejava em pensar como seria ter que encontrar Mark de novo, e mesmo com Quil ao meu lado, eu não estava tranquila.
Erick, lógico, tentou arrancar informações sobre o meu interesse no assunto, e eu sabia que ele continuaria tentando descobrir mesmo depois que eu saí da delegacia. Como se eu não tivesse que me preocupar com coisas mais importantes, Daniela Parker me viu sair da delegacia e despedir do policial.

— Se a sua cunhadinha for responsável por qualquer importuno da sua namoradinha no meu dia, eu juro que vou acabar com a palhaçada dessas duas. Não ando com paciência para as Parker!
— Nossa, calma! Por que tanto ódio?
— Não é ódio. Só que sou madura demais para lidar com a birra delas, e paciência tem limite. Tudo está ótimo na minha vida, e eu não quero me aborrecer. Entendido?
— Entendido capitã…
— É sério Erick, você sabe que ela vai aprontar né? Então evite isso, por favor. Não é possível que não podemos ao menos conviver.
— Eu vou ter uma conversa definitiva com elas. Não tem motivos para implicância mesmo. Nós dois... – Erick abaixou a cabeça e concluiu com um sorriso triste — Não temos possibilidade.
— Funcionamos muito melhor como amigos.
— É… E como andam as obras do laboratório?
— Está correndo dentro das expectativas, com glória!
— Fico feliz! Soube que vendeu sua casa…
— Sim! Consegui! – comemorei com as mãos para o alto — Estou morando na reserva.
— Uau… Então é oficial… Você se tornou uma quileute.
— Sempre fui uma deles, não é?
— Espero que seja muito feliz por lá, de verdade.
— Já estou sendo. Obrigada.

Sorri e acenei saindo em direção à farmácia. Antes de me afastar totalmente, virei em direção ao Erick que ainda me observava afastar e perguntei com um sorriso no rosto:

— E você? Está feliz?
— Não como você.
— Torço para que seja.
— Sei disso, obrigado.
— Até mais, policial!

Depois de realizar muitas das minhas atividades na farmácia, o relógio tiquetaqueava as dez horas da manhã. Telefonei ao Quil, para saber quando ele preferia e poderia me acompanhar. E em seguida telefonei ao Mark.

— A que devo a honra?
— Preciso… Intermediar uma mensagem dos quileutes a você.

E assim que terminei de falar, Mark encerrou a chamada. Fiquei confusa encarando o aparelho celular, até que senti uma corrente fria percorrer meu corpo. E aquela sensação sempre surgia quando Mark se aproximava de mim. Olhei à frente e o vi atravessar a rua em direção à farmácia.
No momento em que meu olhar cruzou com o dele, eu pensei nas fotos que Erick me mostrou, e o arrepio percorreu toda minha coluna. O andar gingado e o céu nublado atrás de Mark mesclavam terror e sedução. Por quê era sempre assim quando se tratava de Mark?
Ele adentrou lentamente o estabelecimento com um sorriso sacana. Apoiou-se no balcão à minha frente e ficamos nos encarando um tempo.

— E então gracinha? Não vai dizer que me chamou aqui apenas para ficar admirando minha beleza.
— Não te chamei aqui. Disse que tinha um recado, e mal pude terminar já que você desligou a chamada na minha cara.
— Sempre é brava, ou é só comigo?
— Tenho de fato, uma repulsa por você.
— Não tem não… Suas reações dizem o contrário.
— Ah por favor, cale-se.
— Então?
— Fui delegada a estabelecer um acordo com você. Os Cullen e os quileutes tinham um acordo, e agora que você está aqui, é necessário um novo acordo.

Mark sorriu debochado, e quando sorria seus olhos pequenos se apertavam ainda mais, numa figura extremamente sexy.

— Ah… As tradições quileutes! Não podemos pular este misticismo todo?
— Creio que não.
— Então… Você já tem certeza de quem eu sou?
Do que você é… Tenho. – engoli seco
— E está tão tranquila assim de estar tão perto?
— Nós sabemos que se fosse para tentar algo contra mim, já teria tentado.
— Tão confiante... – riu e ficando sério se aproximou mais dizendo — Não fique.

Prendi a respiração por poucos instantes e o encarei impassiva.

— Amanhã, eu te telefonarei para dizer onde devemos nos encontrar.
— Por que não tratamos logo?
— Porque não é assim que funciona.
— Entendi… Você terá escolta. Quantos?
— Apenas uma companhia, por segurança.
— Segurança? É melhor que ele seja melhor do que o outro.
— Idiota!
— Eu levarei companhia também. – ergueu-se do balcão, batendo de leve no mesmo — Até mais, gracinha.

Saiu rapidamente da loja sem me dar ao menos chance de falar qualquer outra coisa.
Almocei com Seth naquela manhã e o contei dos ocorridos. Não lembrava se devia manter segredo para ele também, mas, Seth tornara-se um confidente e eu não poderia ficar calada sobre tudo aquilo.

— Agora… E sobre o dia de ontem, não tem nada a me dizer?
— Não.
— Qual é, ! Sabe o quão estou curioso?
— Sei. E parece uma velha futriqueira.
— Você não vai contar nada?
— O que você espera que eu diga?
— Vocês já…?
— Seth! Quando você vai entender que não é para termos este tipo de conversa?
— Só quando te convém não é, espertinha?

Eu gargalhei, me lembrando que o fiz me contar as intimidades dele antes.

— Certo… Estabelecemos uma relação de manos, então.
— Para de dizer isso, por favor!
— De irmãos?
— Você por acaso, acha que eu conto para a Lia sobre as garotas com quem durmo?
— Que difícil. Ok. Não somos nada.
— Dois amigos íntimos. Só isso.
— Certo Seth, como quiser.
— Desembucha logo!
— Sim! Satisfeito?
— Quem tem que me dizer se ficou satisfeita, é você. – ele disse, maroto e aos risos.
— Céus, como você é idiota.
— E aí, como foi?
— Foi perfeito.
— Eu estou feliz por vocês dois! Quem diria que chegaríamos até aqui, não é mesmo?
— Verdade. E como você está?
— Não tenho razões para dizer que não estou bem.

Naquele restante de dia, nada de novo ocorreu. E no dia seguinte, Quil e eu combinamos de nos encontrar com os frios às quatro horas da tarde. Telefonei para Mark e confirmado.
Eu passei todo o dia até o horário do encontro, ansiosa e nervosa. Não poderia negar que se Sam, não fora suficiente para Mark e o outro vampiro, não seria Quil sozinho o suficiente para me defender também.
E para piorar, Quil disse-me pouco antes que passara o dia todo sentindo um mal estar estranho. Eu não poderia estar mais nervosa.
Tive que fugir de encontrar Jacob até aquele horário, não que ele viesse até mim, mas pensei em todas as desculpas possíveis para que o plano prosseguisse sem imprevistos.
Às quatro da tarde, lá estávamos Quil e eu na mata, poucos metros dos limites da reserva. A neblina da tarde me deixava ainda mais nervosa, por não conseguir enxergar claramente. Quil mantinha-se em guarda, porém, calmo. Como ele poderia?
Pouco a pouco aquela sensação de arrepio, frio, e pânico se instalava em meus órgãos e ossos. Era Mark. Eu já sabia identificar quando ele se aproximava. E não demorou para que ouvíssemos passos se aproximando. Entretanto, as sensações que eu sentia quando Mark se aproximava, duplicaram. Havia outro com ele.

— Prontos para o piquenique? – Mark zombou quando estávamos os quatro, cara a cara.
— Dispenso as piadinhas, Mark. Quem é o seu acompanhante?

Eles se entreolharam. Mark sorria, e o outro mantinha-se sério. Ele olhava-me profundamente, dos pés à cabeça. Havia um ar de segredo entre eles. E não bastasse o olhar cortante dele, o homem era um pouco maior que Mark. Ou seja, se eu já sentia pavor do ruivo, não teria como não sentir pelos dois agora. Quil seria estraçalhado facilmente, não o desmerecendo, mas, o que era um lobo sem a matilha? Sam, comprovou-me o suficiente de que um lobo sozinho não poderia detê-los.

— Este é Darak. E o seu acompanhante?
— Quil.

Assim que fora dito seus nomes, os dois frios olhavam Quil com desafio e despreocupação. E eu surtava para que aquilo acabasse logo. Darak, não manteve o contato visual com Quil tanto tempo quanto Mark. Rapidamente ele voltou a me encarar, e eu sabia que ele analisava-me com interesse incomum.

— Vamos logo com isso, Mark. Eu vim aqui para dizer que vocês não podem viver em Forks sem regras. Como você sabe, os quileutes têm tradições que devem ser mantidas. Os Cullen nunca foram problema, porque rapidamente eles se adaptaram por aqui. No entanto, se vocês continuarem assassinando cidadãos de Forks não poderão ficar.
— E quem os quileutes são? Os donos da cidade?
— Mark…
! Nós sabemos que dentro de seus territórios não poderemos transitar. E não pretendemos. Mas, restringir nossa vinda à cidade é um tanto quanto, prepotente não acha?
— Só estou dizendo que, os ataques de vocês tem causado muitos problemas e levantado suspeitas. Se ficarem na cidade, com a frequência que parece que ficarão… Terão de parar com os ataques.
— Não somos como os Cullen, e ficaremos na cidade diante nossas próprias regras.
— Mark… Não é prudente que estouremos esta situação numa luta desnecessária.
— Concordo. Por isso, não nos metemos com vocês e vocês não se metem conosco.
— Mark, entenda, se você mexe com os cidadãos da cidade envolve as autoridades locais, e os quileutes serão obrigados a intervir também. E há grande chance de expor aos dois lados nesta situação.
— O que te faz pensar que nós escondemos o que somos?
— O quê? – por essa eu não esperava.
— Só porque os Cullen não podiam se expor, não significa que temos a mesma preocupação. Eles não andavam por aí porque fisicamente eram diferentes de nós também. Não percebeu?
— Ela não os conheceu. – interveio Quil.
— Ah… E mandaram alguém que não sabe o que diz para nos convencer?
— Não se trata disso Mark, temos que manter um equilíbrio.
— Certo… Quil, não é? Pois bem, façamos assim: nós não nos metemos com vocês e vocês não se metem com a gente.
— O que vieram fazer em Forks? – perguntei.
— Não é da sua conta. – respondeu o outro frio que até então apenas observava calado.
— Uma vez que a chegada de vocês interferiu na minha vida, é da minha conta sim! – respondi tão agressiva quanto ele.

Mark ria da situação.

— Darak, acalme-se. – ele sorriu para o outro.
— E tem mais Mark … – eu disse — Não é para Forks se tornar a nova Transilvânia de vocês.
— Você nos ofende, sabia? Transilvânia?
— Pare de gracinhas e tratemos logo de estabelecer este acordo.
— Não pretendemos povoar Forks, fique tranquila.
— Então estamos acordados? Nada de ataques, nada de novos moradores.
— Não vamos prometer nada… Ou melhor, prometo que não se preocuparão com outros de nós. E como eu já disse… Nos manteremos longe da sua tribo. É só o que garantimos.

Encarei Quil, e como se soubesse que era o melhor que conseguiríamos garantir até ali, assentimos.

— E como selaremos o acordo? Um pacto de sangue?

Mark falou rindo com zombaria. Quil, Darak e eu nos mantivemos sérios, enquanto Mark se divertia com o trocadilho.

— O diálogo basta.
— Tem certeza Quil? Você confia tanto assim em nós?
— Nem um pouco. Mas, é assim que será.
— Oras… Me parece tão corrompível um acordo de palavras…
— Certo Mark, um aperto de mãos então!

Eu já estava impaciente com as gracinhas dele. Estendi minha mão para ele. Mark aproximou-se lentamente e a segurou puxando-me levemente. Dei dois passos em sua direção e nossos olhares estavam firmes um no outro, Mark ainda ria.

— Vamos Darak, se estou certo estamos há um metro e meio dentro da reserva.

Mark assentiu em despedida para nós dois, e ambos deram as costas desaparecendo da minha frente como um vulto. Eu estava surpresa. Ouvi Quil grunhir e ao olhar para ele ao meu lado, lá estava o rapaz ajoelhado.

— Quil, o que foi? – me aproximei dele, o sentindo suar.
— Aquele mal estar que falei. Vamos voltar rápido para a reserva.

Eu já desconfiava daquela reação. E assim que Quil levantou-se para que fossemos embora, suas pernas sucumbiram ao chão novamente. Sua pele incendiava de tão quente. A febre da transformação. Entrei em pânico, pois não sabia como ajudá-lo.

, corra para a reserva.
— Não posso deixar você aqui, aqueles dois podem voltar!
, apenas vá!

Ouvimos um barulho na mata atrás de nós, e quando olhei a velha índia da tribo que Scott me levara, a sua avó, se aproximava. Mas, o que ela faria ali?
Ela veio até nós e me encarou com um sorriso plácido. Abaixou-se na direção de Quil e tirou um cantil de dentro da bolsa velha de panos gastos que carregava. O fez beber algo, e pouco a pouco Quil parava de se debater. A velha índia falava algo que eu não conseguia compreender e foi então que Seth surgiu até nós.

— Seth?
— Billy se preocupou com a demora e pediu para eu vir atrás.
— Por quê ela está aqui?
— Não sei. Quem é ela? E o que houve com Quil?
— Ela é uma índia. Avó de Scott Carter. Quanto ao Quil… Apresentou os primeiros sinais da transformação.

Seth abaixou a cabeça tristonho. Logo que a senhora se levantou, nos preparamos para voltar à reserva. Auxiliei Seth a apoiar Quil nos ombros. A índia começou a falar algo para mim, num dialeto que não pude entender.

— Eu não a entendo… Desculpe.

Tentei me comunicar, e sem saber se ela compreendeu. A senhora sorriu e assentiu positivamente para mim, em seguida nos deu as costas e continuou seu caminho pela mata.
Encarei Seth, tão confuso quanto eu, e partimos de volta à reserva com Quil nos ombros. No caminho para a reserva, eu estava pensando sobre toda a conversa do acordo. E alguns pontos iam sendo ligados em minha memória.

— Por que tão quieta? Como foi o acordo?
— Não foi exatamente tão bom, eles se recusaram a cessar os ataques aos cidadãos de Forks.
— Droga… Eles estão dificultando as coisas.
— Pelo menos disseram que não haverão mais deles, mas… Não sei se podemos confiar.
— Nunca podemos confiar em frios. Mas, o que te faz pensar isso?
— No dia em que Sam fora atacado, eu saí do hospital e encontrei Mark lá fora. Ele havia dito que não sabiam que estavam em território quileute e por isso atacaram Sam. Por defesa. No entanto, hoje Mark demonstrou saber sobre as tradições da tribo, sobre a relação dos Cullen com os quileutes. E antes de ir embora mencionou com exatidão reconhecer os limites de onde começa e termina a reserva.
— Ou seja… Eles não andavam a toa nos nossos territórios quando Sam os atacou.
— O que o Sam falou sobre isso, Seth?
— Até agora nada, que eu me lembre, ele apenas os sentiu e os abordou.
— Posso falar algo só entre nós? – olhei para Quil desmaiado em meus ombros apenas para comprovar que ele não escutaria.
— Sim.
— Acho que o ataque ao Sam foi algo planejado.
— Isso faria bem mais sentido.
— E o que, afinal, a avó de Scott fazia por aqui? Céus, Seth! Será que não teremos paz?
— O que foi que ela disse a você?
— Eu sei lá! Mas, vou descobrir. Assim que chegarmos na reserva, vou até Scott.
— Sabe que eu poderia carregar o Quil sozinho, não é? E já estaríamos na reserva.
— É verdade… – o encarei me dando conta da situação — Idiota! Por que ficou quieto? Ele pesa, tá!?

Seth riu e soltei Quil de meus ombros, sem avisá-lo. Seth rapidamente o apoiou em suas costas e saiu em disparada. Sabendo que, se eu não me apressasse não o alcançaria, me prontifiquei a correr atrás de Seth.
Chegamos à reserva e reportei ao Billy, todo o ocorrido. Em seguida, peguei as chaves do meu carro, e fui à cidade atrás de Scott.
Estacionei o carro em frente ao mercado e pude avistar Scott no caixa, estalando sua cervical, visivelmente exausto. Desci e caminhei até ele.

— Scott…
! – esboçou seu sorriso de sempre para mim — Como você está?
— Bem, mas preciso da sua ajuda.
— O que houve?
— Sua avó surgiu na reserva, num momento inesperado, e… Ai, é muita coisa para explicar agora. Pode me acompanhar até a tribo?

Scott franziu o cenho confuso, e seu sorriso se desfez em seriedade. Olhou em volta, suponho que a procura de Peter e não o encontrou. O senhor Carter apareceu descendo as escadas da parte superior do mercado, e Scott acenou ao pai. Se levantou indo até ele pedindo para que eu o aguardasse. Trocaram frases, acenei ao senhor Junior e Scott veio em minha direção.

— Vamos .
— Obrigada Scott.
— Deixe disso, agora me explique o que houve.

Entramos em meu carro e comecei a explicar a situação.

— O quão você conhece das tradições quileutes, mesmo?
— A lenda dos lobos? É eu conheço.
— Sério?
— O que há de mais, é só uma lenda, não é?
— Er… Não Scott, não é.
— Tudo bem , minha família sabe da verdade. Peter, meu pai e eu, na verdade. Nossas tribos guardam os segredos umas das outras.
— Isso faz a coisa toda ter um pouco mais de sentido.
— Certo, o que há em relação aos lobos desta vez?
— Quil e eu estávamos na mata, e recentemente os quileutes têm sofrido uma evolução negativa de suas transformações. Embry foi o primeiro, e fora levado à reserva Whitton. Conhece?
— Há histórias, mas, não tenho conhecimento tanto quanto sobre os quileutes. Nossas tribos têm uma ligação apenas porque estamos regionalizados.
— Entendo… Bem, na reserva Whitton há mais informações sobre este novo processo dos lobos e por isso conseguimos controlar Embry. Hoje Quil foi o segundo a dar sinais. E sua avó surgiu na mata bem na hora em que ele se debatia. Ela arrancou um cantil de dentro da bolsa e deu algo para ele beber que o acalmou, e em seguida Quil desmaiou. Ela também me falou umas coisas, e por isso vim até você. Eu não entendo a língua deles, e não faço ideia do que ela disse, mas sei que era importante.
— E o que mais ela fez?
— Nada. Sorriu ao perceber que eu nada compreendia e sumiu mata a dentro. Por quê ela estaria nos arredores, você sabe dizer?
— É a época das colheitas de cura. Colhemos algumas ervas que existem na região para produzir nossos remédios.
— Mas, só ela?
— Não, provavelmente ela estaria com algumas outras mulheres pela mata.
— E o que ela deu para Quil beber, é um destes remédios?
— Não há dúvidas, já que surtiu algum efeito.
— Scott, preciso da sua ajuda para descobrir o que é! Isso pode ajudar e muito na reserva!
— É claro.

Segui as indicações de Scott para chegar até lá, pois não havia gravado o caminho, uma vez que fora Scott que me levara até lá. E quando chegamos, já era noite. A senhora índia parecia me aguardar.
Scott conversou com ela no dialeto deles, e em seguida fomos até o fundo do bar, onde iniciava-se a cabana da avó dele. Ela sentou-se no chão sobre um tapete e fizemos o mesmo.

— Saya mengatakan kepadanya bahwa sekarang adalah waktu kebangkitan. Serigala akan terjaga kutukan kuno.

Scott traduzia frase por frase:

— Eu disse a ela que é chegada a época do despertar. Os lobos serão acordados da milenar maldição.
— Dewi Rikhan mengungkapkan dalam tubuh Anda, wanita muda. Dengan tangan Anda binatang akan setuju. Dan Anda akan bisa tidur lagi. Atau tidak. Tergantung pada berapa banyak Anda memiliki kontrol atas Anda.
— A deusa Rikhan manifesta no seu corpo, minha jovem. Por suas mãos as feras acordarão. E por sua vontade poderão dormir de novo. Ou não. Dependerá de quanto você tem domínio sobre quem você é.

— O que ela diz é parecido com o que os Whitton disseram. Mas… O que eu preciso fazer para parar a maldição?
— Dia ingin tahu apakah Anda tahu apa yang dibutuhkan untuk menghentikan kutukan – Scott perguntou-a.
— Jawabannya tidak diberikan. Seperti saya katakan, dia akan harus mencari tahu tentang Anda sendiri.
— A resposta não pode ser dada. Como eu disse, ela terá que descobrir sozinha – ele traduziu.

— Céus... – sorri para a senhora índia conformando-me com o que ouvi — Scott, pergunte a ela o que era a bebida que ela deu ao Quil e se ela pode me mostrar como é preparada, por favor!
— Apa adalah minuman yang Anda berikan kepada anak laki-laki?
— Maserasi herbal.
— Uma maceração de ervas. – ele respondeu a mim o que ela havia acabado de responder e continuou a perguntá-la: — Nenek, dapat menunjukkan kepada Anda bagaimana hal ini dilakukan untuk kita?

Ela sorriu e se levantou. Scott se levantou também a acompanhando cômodos a dentro, e me indicando para o seguir.

— Ela vai mostrar como é feito. – ele me disse.

Num cômodo externo à cabana, algo parecido com uma cozinha, mas cheio de plantas estavam sob uma bancada um punhado de ervas. Ainda havia terra e pareciam recém-colhidas. Ela fez sinal para eu me aproximasse dela para ver as plantas.

— As folhas se parecem com a alga que eu encontrei na encosta de La Push.

Scott traduziu o que eu havia dito, enquanto eu avaliava as plantas, concentrada.

— Ela disse que são plantas irmãs. Enquanto a alga é um pouco mais fraca, aqui é usada como remédio para feridas e doenças respiratórias. A outra é mais forte, e é usada para diminuir os batimentos cardíacos, cessar febres, abortiva e também é chamada de “falsa morte”, porque pode levar o indivíduo que a consumir a um desmaio tão profundo que pode confundir como se ele estivesse morto, dependendo da dose. Devido ao poder de baixar a pressão arterial.
— A erva de Romeu e Julieta... – afirmei recordando-me já ter lido a respeito na faculdade.

A velha índia preparava potes e misturas, da planta com algumas outras e iniciava o preparo do insumo. Me mostrando como fazer. Ao terminar virou em um potinho de cabaça e me entregou. Também me deu algumas das folhas utilizadas para eu saber quais usar. Pedi a Scott que lhe perguntasse o nome das folhas utilizadas para completar o insumo. Confrei (Symphytum officinale), Agastache (Agastache foeniculum ) e Cidreira (Melissa Officinalis) .
Saímos da tribo após nos despedir da senhora com sorrisos e promessas de visitá-los novamente.

— Obrigada pela ajuda.
— Sempre que precisar, .

Deixei Scott em sua casa e parti para a reserva.
Não encontrei Black quando voltei. Quil estava acordado, porém em repouso. Bruh não estava com o irmão. Billy também não estava na reserva, e nem Sam, Seth, Embry e Paul. Apenas encontrei Sue, Emy e Charlie.

— Onde foram todos?
— É o ritual de preparação do alfa – disse Emy.
— E os que faltam na matilha? Quil e Lia.
— Apenas os antecessores do alfa devem estar na presença do sucessor para o ritual acontecer. Os demais da matilha se apresentam em respeito ao seu novo líder. – explicou-me Sue.
— Quer dizer que Lia está desrespeitando Jacob? Bem a cara dela. – rimos com a ironia do que eu disse. — Eu não posso assistir ao ritual do alfa?
— Desculpe querida, claro que pode… Mas, não podíamos esperar. Era necessário que Jacob tomasse o quanto antes o posto. E não tem nada demais, por incrível que pareça.

Sue respondeu e eu compreendi com um sorriso decepcionado. Eu realmente queria estar naquele momento com Black, mesmo que fosse um lobo uivando para outro.

… Podemos conversar? – Emy perguntou envergonhada.

Sue e Charlie conversavam próximos, em uma intimidade que não percebia à fala de Emy. Concordei a convidando a ir até minha cabana, queria deixar o casal a sós.

— Oras… Você disse quando entrou pela primeira vez em minha cabana que, ela era aconchegante e queria ter um cantinho parecido para deixar com a sua cara... – ela observava sorrindo à volta de meu lar — E então, conseguiu?
— Ainda faltam alguns toques. A sua cabana é uma boa mistura de Sam e Emy.
— Será que a sua se tornará uma mistura de Jake e ?
— Tenho pensado que é possível Black passar mais tempo aqui, agora…
— Tenho certeza que ele planeja isto.
— Ele disse alguma coisa?
— Não, mas… Jacob sempre quis deixar o pai na cabana e ter a sua própria família.
— Fa… Fa-mília? – engasguei gaguejando, arrancando risos de Emy.
— Calma. É uma possibilidade futura, ou não?
— Não sei Emy, que papo mais precoce!
— Okay, desculpe. Eu entendo. Não é legal ser pressionada a nada.
— Não me senti pressionada, é só que acabamos de começar uma relação. Não é que eu não queira um futuro com ele, apenas não penso nisso agora.
— Eu sei exatamente como é, ... – Emy abaixou a cabeça e suspirou pesado.
— O que queria dizer?
— Sue não para de falar sobre a maternidade. Disse que agora que Sam não é mais alfa, deveríamos ter filhos.
— Você não quer ter filhos?
— Quero, mas no tempo certo. E não por que Sue acha que está passando da hora!
— Você e Sam pensam em ter filhos quando?
— Nós, não falamos sobre isso. Sam quer uma família, mas nunca ficamos tocando neste assunto.
— Eu compreendo Sam, ele tinha as obrigações dele. É comum que não planejasse algo que não sabia se teria tempo para viver.
— Tem razão… Mas, eu sinto que… Se eu não tiver esse bebê agora, não teremos mais. Estamos juntos há muito tempo . Quando Bella surgiu aqui nós já éramos casados.
— Então, qual é o problema Emy?
— Eu não sei! Depois deste acidente, tudo é novo entre Sam e eu! São muitas mudanças ao mesmo tempo.
— Faça o seguinte: diga a Sue que este assunto cabe a você e ao Sam, e que você respeita os conselhos dela, mas se incomoda com a pressão que ela está fazendo. Sei que Sue não faz por mal. E viva os seus novos dias com Sam, um após o outro, no tempo de vocês. Não tem por quê se incomodar com isso, se não quiser.
— Eu sei, mas é que… Para os quileutes, uma vez juntos, tudo deve seguir no tempo deles! Quando eu quis ter filhos fui obrigada a esperar, e agora, eu sou pressionada a ter filhos no tempo deles!
— Calma Emy... – abracei-a — Não se irrite com isso…

Emily e eu conversamos até que ela se acalmasse e esquecesse aquele papo de maternidade.
Fui ver Quil, saber como ele estava e conversamos um pouco sobre o acordo. Expliquei para ele minhas dúvidas em relação ao ataque de Sam. E antes que ficasse ainda mais tarde do que já estava, segui para minha cabana. Não encontrei Black naquela noite. O encontrei no dia seguinte, após voltar das obras do laboratório e mal podia aguentar tanta saudade e curiosidade.
Contei a ele o quão próxima estava a inauguração do laboratório e o quanto eu gostaria de ter participado do ritual de alfa. Jantamos juntos, conversamos e Black voltou para a cabana do pai.
À meia-noite, ele entrou na cabana e bateu à porta do meu quarto.

— Black? Achei que não dormiria aqui hoje. – disse sonolenta.
— Eu… Queria perguntar se... – fitou meu olhar com expressão de dúvida.
— Se?
— Posso ficar aqui hoje?

Sorri e o abracei, depois dei um beijo no meu lobo – naquele momento – tão inseguro e o puxei para o quarto. Estávamos silenciosos e abraçados no colchão, enquanto deitados e eu pensava no que Emily havia dito na noite anterior: “uma vez juntos, tudo deve seguir no tempo deles” . Será que meu namoro com Black significava um compromisso além do que eu enxergava? Eu não queria atropelar as fases, embora tenha demorado a chegar onde estávamos, mas, eu gostaria de seguir um passo de cada vez. E Black sabia disso. Não era a primeira vez que nós havíamos decidido: um passo de cada vez.

Após três semanas àquela, Black ainda não sabia que eu fui responsável pelo acordo. Billy assumiu a responsabilidade e dissera que Quil fora com ele. Nós três sabíamos como irritaria ao Jacob saber que eu havia sido delegada àquilo. Ele conhecia as condições do acordo e eu temia que, se em algum momento Black decidisse tocar no assunto com Mark, que o frio comentaria que fora comigo que ele fechara um acordo.
Pedi ao Billy para esclarecermos as coisas, mas, o velho patriarca da matilha acreditava ser melhor deixar tudo como estava.
Meu laboratório fora inaugurado na última semana do mês. E tudo caminhava calmo.
Na última noite do mês, eu sentia uma fria brisa correndo por meu quarto. Quil havia voltado às suas atividades normais, no entanto, não estava totalmente melhor. A transformação dava sinais. E a primeira pesquisa que eu daria procedência em meu novo laboratório seria sobre a bebida que aprendi com a avó de Scott. Julian e Hernando Vincent estavam felizes pela minha conquista, e eu já havia entregue a chave do laboratório emprestado.
Enquanto eu sentia aquela brisa fria da madrugada, meu corpo estremecia e escorria em suor. Na minha mente flashes ritualísticos, fogueiras e danças. Uma grande lua e uma mulher em um trono alto abaixo dela. Ambas pareciam uma só: a lua e a mulher. Como se a presença feminina se estendesse até o satélite natural. Ao lado esquerdo da mulher, uma multidão das quais os rostos não se faziam visíveis, sentados em círculo numa penumbra sob fracos feixes de luz lunar. Ao lado direito, povos em danças e rituais, rodeados por fogo e iluminados pela lua igualmente pelas chamas. E os dedos da mulher movimentavam-se, em suas mãos inclinadas uma para cada lado.
Acordei assustada, quente, e com as roupas molhadas. Black dormia ao meu lado e acordou subitamente.

— Mani? O que houve?
— Nada… Apenas um sonho.
— Certeza? – perguntava analisando minha feição confusa.
— Sim, volte a dormir… – o beijei e levantei da cama.
— Onde vai?

Abri os braços indicando-lhe meu estado físico, e após Jacob observar meu corpo dos pés à cabeça inteiramente encharcado, como se houvesse pego uma chuva, lhe respondi:

— Tomar um banho.

21 - Vão Surgindo as Feras

Na manhã que sucedeu a madrugada, eu acordara muito mais cedo que o habitual. Não havia conseguido dormir após aquele sonho, enquanto Jacob dormia como pedra. Preparei o café, a fumaça aromática subia acima do bule, e eu me concentrava lá fora, através da janela de minha cozinha.
Uma reunião incomum dos mais velhos à porta da cabana de Billy. E naquele horário, era para Sue estar, preparando o café da manhã de sua matilha. Emy surgiu correndo até Sue, e após trocarem poucas palavras, minha amiga correu de volta à cabana dos Clearwater. Charlie se despedia de sua noiva com um beijo e acenando ao Billy saiu com a viatura. Talvez, não fosse nada. Apenas acordaram mais cedo que o de costume. No entanto, meu faro não me engana. Algo estava para acontecer. A reserva adormecia, naquela luminosidade tímida de manhã. Sue e Billy olhavam atentos à mata. Trocavam poucos olhares e muitas palavras. Pousei minha xícara sobre a pia, e estiquei meu pescoço pela janela, a fim de encarar o mesmo ponto fixo na mata.

— Eu é que não vou ficar aqui... – sussurrei pensando em ir até eles.

Entretanto quando girei a cabeça para me afastar, rapidamente voltei. Uma movimentação a caminho dos dois patriarcas da reserva, se fazia notar. Três indígenas se aproximavam. Peles de lobos cobriam seus ombros. E uma senhora anciã ao meio. Sue aproximou-se deles. A senhora sorriu para ela. Eu já havia reconhecido-a. Era a mesma velha índia xamã que me recebera na reserva Whitton. O que eles fariam ali? Teria algo a ver com Black ser o novo alfa? Ficaram na varanda da cabana de Sue, dialogando: Billy, os Whitton e Sue. A índia virou seu olhar para minha cabana, e cumprimentou-me com um aceno de cabeça e um sorriso franco. Todos os outros olharam em minha direção. Sorri tímida e acenei de volta. Por mais que eles não soubessem quanto tempo eu estava ali, fora desconfortável ser pega espionando. Retomei minha xícara que estava sobre a pia, e bebi o restante de meu café.

— Hmm... – Jacob surgira abraçando-me pelas costas e eu tomei um susto quase derrubando o meu café sobre nós — Desculpe, não quis assustá-la.
— Ai Black, como consegue ser tão sorrateiro sendo tão grande?
— Eu não vou encarar como uma ofensa.
— Está mais para uma curiosidade.
— Notei que dormiu pouco… Como está?
— Depois do sonho foi difícil apagar, mas, deu para descansar.

Trocamos olhares. Ele, curioso e preocupado. Eu, ansiosa para voltar minha atenção ao que ocorria lá fora.

— Me conte o sonho.

Ele pediu assim que eu virei meu corpo para a janela, mais uma vez. E Black acompanhou-me.

— Tem ideia do que eles vieram fazer aqui? – perguntei.
— Talvez.
— E…?
— Me conte o sonho.
— Não tem importância, Black! O que eles estão fazendo aqui?
— Você é muito fofoqueira, sabia?

Bati em seu ombro irritada pelo comentário, Black apenas riu e foi se servir de café.

— Sente-se aqui comigo e vamos tomar café, Mani.

A velha índia, acompanhada com os outros dois índios e Sue seguiram para a cabana de Sam. O que diabos estaria, acontecendo?

— Eu vou é descobrir que confusão é esta.

Saí em disparada deixando Black reclamar sozinho. Billy sorria para mim, quando me aproximei apressada até ele.

— Bom dia, .
— Bom dia. E aí? Você me conhece…
— Vieram por causa de Quil.
— Eles vão o levar como fizeram com Embry?
— Não queremos. Ainda temos receio dos métodos deles, mas, não temos muito com quem contar.
— Temos sim. Descobri um sedativo para isso.
— Como assim?
— Os Carter. Eu conheci a tribo deles, e aprendi algumas coisas que podem funcionar. Inclusive, a avó de Scott ministrou uma bebida em Quil assim que ele começou a transformar.
— Você havia dito…
— Vamos lá? Eu tenho algo a ensinar para os outros.

Sorri presunçosa e Billy sorrindo me acompanhou. Passando em frente a minha cabana, Black estava encostado à porta com sua xícara. Mandei um beijo para ele no ar, e segui com Billy nos estudando.

— Jacob odeia tomar café sozinho.
— E o que ele fez todo este tempo antes de eu surgir?
— Exatamente. Agora você está aqui.
— Billy, foi só um café da manhã.
— Ele não está com uma cara boa, só estou te alertando. – disse rindo.

Olhei para Billy, descontraída, em seguida olhei para onde Jacob estava. E continuava lá, me lançando um olhar tão escuro que desfiz o contato visual com certo medo.

— Já até havia me esquecido em como pode ser difícil me relacionar com ele.
— Ele só quer aproveitar todos os minutos com você, querida. Entenda que agora ele tem motivos para aproveitar.

Adentrei a cabana de Sam, pensativa sobre o que Billy dissera. Era um ato simples, o de sentarmos para o desjejum antes de seguirmos nossas vidas, que eu mal pude imaginar que aquele singelo momento pudesse representar tanto para Black.
Sam nos cumprimentou.

— Onde está Emy? – perguntei.
— Preparando o café de Seth, Paul e Bruh na casa de Sue.
— Bruh voltou, então. – Billy perguntou vendo Sam concordar impaciente.
— Onde mesmo, ela esteve este tempo todo?
— Fugindo de você e Jacob. – Sam respondera.

Revirei os olhos tão impaciente quanto ele. Sam nos disse que estavam todos no quarto com Quil, e subimos. Com ajuda de Sue, interpretando a língua nativa dos Whitton, contei-lhes sobre a maceração de ervas. E todos decidiram que, a velha índia ficaria na reserva para cuidar de Quil, e os outros poderiam voltar. Qualquer necessidade de intervir, com os rituais dos Whitton, nós levaríamos Quil e ela para a reserva parceira.
Subi as escadas em direção ao banheiro. Ouvi o som da água cair do chuveiro e entrei. Black estava de costas à porta, tomando seu banho. E eu sorria abertamente em vê-lo. Até que ele se virou e eu sorri ainda mais. Tomou um susto comigo, e ficou me encarando de olhos arregalados. Eu sabia que aquela abordagem desfaria a pirraça dele, por eu ter saído o deixando só na cozinha.

— Isto são modos? – ele perguntou após recuperar-se da surpresa, ainda ensaboando o próprio corpo.
— Quer ajuda?

Sorri travessa, e ele me olhando de lado sorriu.

— Eu não sei se deveria responder a esta pergunta.
— Tudo bem, eu tenho que ir trabalhar mesmo… Deixa para outra hora. Só vim me despedir.
— Comeu alguma coisa? – esfregava o próprio rosto.

Os gestos bruscos de Jacob o deixavam ainda mais bonito, e eu me reapaixonava a cada descoberta daquelas. Abri o box do banheiro e aproximei meu rosto do dele. O puxei para um beijo tentando não molhar a minha roupa de trabalho. Não foi possível, uma vez que ele me puxou para si arrebatando um beijo como nenhum outro.

— Bom trabalho Black, agora eu vou ter que trocar de roupa.
— Não esqueça de secar os cabelos.
— Hunf… Obrigada mesmo!
— Eu te pego outra hora… – ele disse vingando-se por minha ousadia de estar ali.

No horário de almoço, Seth passara na farmácia para almoçarmos juntos.

— O que você está dizendo Seth?
— Que ela voltou ainda mais abusada, ou você não acha que foi de uma petulância absurda?

Seth estava estressado contando-me a história de que Bruh na noite anterior, invadiu seu quarto e o beijou enquanto dormia.

— Não acho, inclusive vocês tem uma diferença de idade bacana, talvez você possa torná-la mais madura.
— Claro que você aprova isso! Assim, ela sai do pé do Jake!
— Seth, por que está tão irritado? Não é legal saber que Bruh demonstra interesse em você?
— Não. Não. E não. Eu não confio nela, já te disse isso desde o dia que ela começou a ser legal contigo!
— Oras, se você não está a fim, é só falar para ela! Mas, fale com jeitinho. Vai ser o segundo toco que ela vai ganhar de um quileute.
— Você faz piada…
— O que quer que eu diga?
— Nada! Eu só estou irritado.
— Vem cá… E a Lili Parker?
— Ah , por favor né?
— Eu acho que você precisa dar uma nova chance a este coraçãozinho. – coloquei os talheres sobre o prato e me encaminhei até o balcão.
— Nenhuma das opções é válida. - ele respondeu-me assim que voltei à mesa com dois brownies. Dei um para ele.
— Seth… Você é fantástico. Sério, se fosse mais velho eu teria ficado com você facilmente. É sensível, gentil, cavalheiro, muito bonito e divertido e não tem uma bipolaridade que me faz pisar em ovos o tempo todo...
— Está falando de mim, ou do Jake? – me interrompeu.
— Comparando os dois, na verdade... – ele riu — Não conte para ele, senhor “língua solta”! O que eu quero dizer é que você é partidão, e fica aí, reticente em relação a se abrir…
— Eu só não encontrei quem valesse a pena. Você não tem uma irmã?
— Desculpe, mas Jacob foi mais rápido.
— Na verdade não, né?

Ele gargalhava e eu sujei seu rosto com chocolate. E ele devolveu-me sujando minha bochecha com chocolate também.

— Sério? Você vai limpar!
— Quem começou foi você... – ele afirmou e segurou meu rosto com as duas mãos e lambeu meu rosto.
— Nojento! – exclamei e notei Bruh parada ao balcão nos encarando confusa — É melhor eu ir, antes que ela ache que eu quero todos os quileutes dela.

Me levantei, Seth protestou por minha saída estratégica. Fui ao caixa pagar, e cumprimentei-a com um aceno. De onde eu estava até eu sair eu os observei. Seth a chamou para se sentar com ele. Eu realmente adoraria que ele encontrasse uma garota legal, ele era tão maduro. Se fosse um moleque, teria saído e deixado Bruh sozinha, mas, ao invés disso a chamou para sentar-se com ele e conversaram. Deixei a lanchonete sorrindo e avistei Mark com uma mulher na praça. Ele me viu de longe, olhava-me apreensivo. Colocou as mãos às costas daquela mulher e falou algo em seguida se retirando ambos na direção oposta à minha.
Ele havia trazido alguém para Forks? Ou estava abordando alguém da cidade? Que droga, eu não reconhecer todas as pessoas da cidade. A mulher era bem bonita, loira e magra, e alta. Eu precisava saber quem era ela, e porque estava com Mark.
Contudo, como descobrir? Dirigi em direção ao meu laboratório. Passei a tarde trabalhando no remédio de Quil, e pensando em Mark com aquela mulher. Parecia alguém inocente. Comecei a me culpar se algo acontecesse a ela. Como se eu pudesse fazer alguma coisa, para defendê-la.

Ao fim da tarde a primeira coisa que fiz foi ver Quil. Embry estava lá com ele. O apoiava como ninguém ali poderia apoiar. Embry sabia o que Quil estava sentindo. Ouvi as conversas deles atrás da porta, e sorri ao notar o quão maravilhosa pessoa o Embry era. Quil não pareceu revoltado como Embry ficara, muito talvez por ter alguém que compreendesse suas dúvidas e medos ao seu lado. Ele perguntou sobre sua irmã. Preocupava-se muito mais com Bruh do que com sua saúde. E o amigo lhe respondia, que Bruh parecia amadurecer finalmente. Quil dizia o quanto queria que a irmã se tornasse uma pessoa mais paciente e bondosa, que o gênio difícil de Bruh e às vezes vingativo, o deixava temeroso por ela. “Nada de bom pode surgir de um sentimento ruim”, proferiu Quil e eu bati à porta. Sorriram ao me ver, e ele me agradeceu pela ajuda na noite anterior e perguntou se eu estava bem. O tranquilizei e entreguei as ampolas para que ele bebesse conforme a minha prescrição.
Um pouco depois encontrei Sam e Emy discutindo amigáveis na cozinha de sua cabana.

— Só vim entregar a vocês estas ampolas, para guardarem na geladeira.

Expliquei-lhes como seria o uso com Quil e eles assentiram, visivelmente sem graça, ambos. Emy me sorriu cúmplice. E eu já entendia o motivo daquilo.

... – Sam iniciou a fim de dissipar a discussão entre ele e Emy — Eu escrevi, os sintomas e como me senti fazendo uso do emplasto. Vou pegar.

Saiu nos deixando a sós. Emy não tocara no assunto e não seria eu a fazê-lo.

— Cadê a índia Whitton?
— Na cabana de Sue.
— E você está bem, Emy?
— Sim, eu acho…

Sam retornou com os papéis e enquanto eu lia, ele erguia a manga curta de sua camiseta para me mostrar como havia ficado a cicatrização de seu braço decepado.

— Parabéns .

Disseram sorridentes por minha descoberta. Os resultados eram incríveis e rápidos. Saí de lá orgulhosa, lendo os relatos de Sam e trombei com Seth no caminho.

— Tão cedo?
— Vamos!

Saiu me puxando para dentro de minha cabana e subindo direto ao meu quarto.

— Sabe que Black está para chegar, né? – eu disse zombando dele se jogando em minha cama e tirando a camiseta.

Hábito próprio de Seth, sempre que se sentia irritado.

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O MUNDO? – gritou.
— Hey, o que houve?
— Bruh me beijou de novo no meio da praça. E Peter viu. E vieram mais problemas.
— Ai Seth, me deixe ao menos tomar um banho primeiro?
— Vai logo!

Ele estava tão irritado que eu saí correndo. Voltei com os cabelos molhados, um short jeans ainda aberto e vestindo a minha camiseta.

— Sabe que Jake está para chegar, né? - ele respondeu ao me ver numa imagem tão bagunçadamente sugestiva.
— A culpa é sua.
— Vem, senta aqui. – me puxou para minha cama aninhando sua cabeça em meu colo — Eu preciso beber, tem alguma coisa aí?
— Não, estamos no meio da semana e se eu começar não vou parar. Quer um suquinho?
— Peter se declarou.
— Peter? Para a Bruh? Espera… Ele não estava de olho na Lili Parker, ou algo assim?
— Agora faz sentido, Peter sempre escolher “se apaixonar” pelas minhas garotas! Filho da mãe!
— Era uma vez… Você pode começar assim, se quiser.

Ironizei, por não compreender nada.

— Conversei com a Bruh aquela hora, sobre não estar preparado para nenhum tipo de relacionamento agora. E que não era nada pessoal, e…
— Mas é…
— Sem interrupções, bonitinha. – olhou feio para meu rosto acima do seu — Ela entendeu que tenha me pego de surpresa, mas disse que não queria nada sério, apenas curtir. E não era muito a favor de pessoas da reserva se envolvendo com pessoas de fora, e que se não fosse sua obsessão por Jake teria prestado mais atenção em mim e tal, blá-blá-blá nada que interesse e coisa e tal. Saímos, e Peter nos viu andando juntos. Acenei para ele e fui para a farmácia. Na porta, antes de vir embora a Bruh me beijou de novo, dizendo que foi apenas para eu não esquecer. Como esta garota me irrita!
— Eu confesso que curto a ousadia dela…
— Sei… Agora né? Porque até tempo atrás quando ela…
— Prossiga com sua história, bonitinho! – fuzilei-o com um olhar cortante, ele riu.
— No fim do expediente, eu me despedia de Stuart quando a Parker apareceu me perguntando quem era a garota que estava me beijando. Eu já estava irritado, e fiquei ainda mais.
— Chovendo garotinhas no colo dele… - falei em tom de zombaria gargalhando — Garanhão!
, só escuta, por favor.

Seth se mostrava sério e confuso e então decidi parar de fazer gracinhas.

— Eu falei que não era ninguém, e a Parker começou a me irritar mais dizendo que achou que eu não queria nada com ninguém e …
— Precisa parar de dar essa desculpa se toda hora for surgir uma garota beijando a sua boca!
— Como eu dizia… Peter apareceu dizendo que precisava falar comigo. E me salvou da segunda maluca do dia. E fomos até a lanchonete. Só que aí, quando estávamos lá, notei ele desconfortável.



— Cara, o que tá pegando? Não podemos conversar aqui? - perguntei.
— Seth, mano… Eu não sei nem como dizer, mas, eu não posso não dizer.
— Tem a ver com a Lili conversando comigo? Relaxa, eu não tenho mais nada com ela.
— Não.
— E então?
— Você tem sempre uma garota no seu pé, e eu até entendo de verdade. Por isso, acho que é melhor termos esta conversa logo. Se não aliviar agora, vai ser um alívio lá na frente.
— Eu andei pegando alguma garota que você estava a fim, mano?
— Seth, eu sou a fim de você. Já tem um tempo, mas é isso.




— É O QUÊ?
— Não grita, !
— Mas, mas,… Peter Carter é gay!?
— Eu acho que quando um cara, diz que é a fim de outro cara, é … Ele é gay.
— Céus, que surpresa!
— Surpresa? Você só diz isso? Sabe há quantos anos eu sou amigo dele?
— Mas, ele sempre foi gay? Ou ele, descobriu agora? Ele já ficou com outros caras?
, você realmente acha que eu comecei uma fofoca da vida amorosa dele?
— E o que você fez?
— Falei que não tinha a menor possibilidade daquilo.



— Eu sei Seth, não é como se eu estivesse contando que você ficaria comigo… Mas, somos amigos e eu precisava manter nossa amizade, e ser franco.
— Tipo, Peter. Cara, que história absurda é essa?
— Desde que surgiu e começou aquele lance entre ela e Scott, que eu tenho te notado diferente e…




— ELE ME CULPOU?
— Não, eu também achei que ele faria isso, mas ele explicou que foi mais o lance de ver Scott agir com você, como ele agia em relação às Parker. E um papo furado de que repensou a vida dele, e notou o quanto sempre teve uma atração incomum por alguns caras, mas jurou que só começou a “me ver com outros olhos”, depois de você e Scott. Muito, por nós conversarmos muito sobre aquilo.
— Você não vai colocar essa na minha conta também, não né?
— Convenhamos, que tem um monte de gente saindo da casinha depois que você chegou. Qual o seu problema garota?
— A deusa Rhikan se manifesta em mim... – eu disse pensativa.
— Quê?
— Foi a avó dele que me contou. Eu preciso saber que poderes são estes.
, do que você está falando?

Rimos.

— Esquece! E o que você vai fazer em relação a sua amizade com ele?
— Eu gosto dele, de verdade. É meu melhor amigo, mas vamos combinar que é estranho…
— Não acho, Seth.
— Você está “não achando” muito hoje.
— Não é como se eu estivesse discordando de você de propósito. É só que, o próprio Peter confessou que sabe que entre vocês não aconteceria nada, e que precisava ser franco com o amigo dele. Eu acho que ele só não quer perder a amizade.
— Eu não consigo lidar com isso agora … Mal estou conseguindo lidar com as mulheres atrás de mim, imagina agora com o meu melhor amigo…
— Sabe… Acho que você está precisando transar.
— É um convite?

Seth levantou-se do meu colo, sorrindo.

— Nós somos manos, para com isso!
— E daí? Ao que parece manos tem vontade de trepar uns com os outros!
— Você está sendo cruel. Eu sei que é difícil, mas não aja desse jeito com Peter.

Seth afundou a cara no colchão da minha cama, ficando de bruços. Eu sorri do pobre garoto cheio de dilemas e desamores. Sentei em suas costas e comecei uma massagem em seus ombros.

— Você é a melhor irmã do mundo… - sussurrou abafado no colchão.

Enquanto eu ria, Jacob surgiu na porta do meu quarto nos encarando sério.

— Ei amor!

Eu disse, e Seth deu um pulo da cama me jogando para trás. Caí no chão com as pernas para o alto. Black mantinha-se sério e Seth desesperado me ajudou a levantar.

— Jake, não é nada disso!

Black arqueava as sobrancelhas se aproximando lentamente de Seth, e eu massageava meu bumbum pela dor.

— Eu sei. Não tenho porque me preocupar com você Seth… Ou tenho? – Jacob o perguntou encarando próximo demais.
— Claro que não. É só que… Cara eu ando tão enrolado que não ligaria se você duvidasse de mim.
— Mas ele mencionou que transássemos – eu disse sorridente.
! Jake, não foi nada disso e…
— Sua mãe está te chamando Seth. – Black falou categórico.

Eu gargalhava enquanto Seth saía me fuzilando com o olhar. Black o acompanhou até a porta do meu quarto e a fechou, voltou-se sério para mim. Eu ainda ria, e comecei a estranhar a reação de Jake. Arqueei uma sobrancelha e Black me jogou em minha cama, deitando-se sobre mim, me beijou. Arfei quando nos separamos e encarei seus olhos vermelhos, sua pele incendiada.

— Black, você está…

Me interrompeu beijando-me feroz de novo, e começou a arrancar as nossas roupas. As palmas de minha mão queimaram ao tocar seus braços. Ele notou, e sem parar nossos toques me puxou em seu colo. Nos guiou até o banheiro, e abrindo o chuveiro nos colocou ambos sob a água que aos poucos esfriava. Um banho quente não seria recomendado, mesmo. Olhei em seus olhos, vermelhos, numa chama trepidante de tons fogosos. Eu estava com medo do que estava acontecendo a ele, mas não queria parar. Havia uma selvageria incomum nas carícias de Black, e por mais medo da besta que se mostrava sob ele, eu não desejava parar.

- x -

Eu esfregava meus cabelos com pouca força, afinal, eu já não tinha nenhuma. Black à minha frente, mantinha sua testa encostada ao vidro do box, cansado.

— O que foi aquilo?

Ele me olhou zombeteiro e rimos.

— Eu disse que te pegava outra hora.
— Certo, mas, eu estou falando daquela besta que surgiu.
— Você notou? - seu cenho mostrou-se preocupado.
— Black… Foi incrível, mas, você estava igual ao dia que começou a se descontrolar…
— Eu não sei explicar, mas, depois de ver você e o Seth daquele jeito… Eu comecei a “ferver”.

Ele disse fazendo aspas com as mãos. Desliguei o chuveiro e puxei minha toalha secando meus cabelos. Pedi a ele para sair da entrada do box, e ir se enxugar. Mas, ele me puxou de volta em um beijo. Beleza, eu gostava e tudo mais, porém, eu precisava descansar. Então saí dali, antes que um quarto round começasse.

— Quais as chances de você se transformar enquanto nós… – perguntei meio sem graça, e aflita o olhando pelo espelho do banheiro.
— Nunca aconteceu antes.
— No geral?
— Comigo.
— E com os outros?
— Acredito que não, se não, eu saberia…
— E a Emy? Digo… A cicatriz.

Black saiu do quarto sacudindo a cabeça negativamente. Fui atrás dele.

— Black!
— Aquilo não foi enquanto eles transavam, .
— Mas, você não acha estranho que…
— Mani. Não precisa ficar com medo de mim, tá? Eu nunca te machucaria.
— Não é isso, é só que…
— Então é o que? – pude notar sua irritação quando ele ameaçou elevar a voz.
— Certo! Venha cá!

Eu estava vestida apenas de lingerie, e puxei o meu namorado lobo para sentar em minha cama. Ele estava já vestido com sua bermuda.

— Black, eu sei que não me machucaria. Mas, não podemos negar que as transformações vem acontecendo e já é a segunda vez que você dá sinais semelhantes aos dos outros. E sabemos também, que há alguma coisa na minha relação com vocês que desperta isto. Foi assim com Embry, lembra?
— Eu não vou virar algo pior, ok?
— Eu só quero ajudar, Black… Manter todas as informações sobre isto no controle para entender como lidaremos com tudo. Você não pensa que a qualquer hora pode ser você?
— Penso... – ele suspirou de cabeça baixa — … Se eu me transformar, você continuaria ao meu lado?
— Que pergunta mais idiota. Eu por acaso saí correndo em algum momento, desde que cheguei aqui?
— Uma vez.
— Mas eu fugia de você, e não do seu lobo. Porque achava que você estava namorando a Bruh. Não é a mesma coisa.
— Bella… Conseguiu superar as adversidades e ficar com aquele frio. Ela foi até o fim, apesar de tudo.
— Esta é a coisa mais semelhante entre nós duas que disseram até agora, só que eu não escolhi um frio.

Jacob e eu nos encaramos sorrindo tímidos, havia um fulgor maior nos olhos dele. E eu o puxei para um beijo tranquilo e saboroso. Subi em seu colo e fiquei ali, depositando beijos calmos. Como alguém que pétala a pétala desflora uma flor.
Ouvimos um engasgo da porta, e era Seth. Olhei para trás, ainda estava sentada ao colo de Black. Pude notar o olhar de Jacob mudar.

— Foi mal gente, estou saindo. Só queria falar com a
— Você anda falando demais com ela, não acha?

Tanto Seth quanto eu o olhamos confusos. Seth levantou o queixo afrontador, e se aproximou de nós a passos calmos. Encarava Jacob.

— Jake, eu não tenho este tipo de interesse em . Ela é como minha irmã. E me ofende você dizer isso, uma vez que eu também sempre o admirei como irmão.
— Black... – completei a fala de Seth — Você está sendo imaturo.

Jacob abaixou a cabeça num suspiro pesaroso, e olhou de volta ao Seth.

— Desculpe. Não é por você, eu fiquei enciumado porque vi a minha Mani em cima de outro cara que não era eu. E poderia ser qualquer cara, não quer dizer que é por sua causa.
— Tudo bem, mas, eu não vou me afastar dela por causa disso, entendeu?
— E nem eu, dele. Isso é ridículo.
— Não quero que façam isso, só estou justificando os meus sentimentos.

Nos entreolhamos, eu voltei a encarar Black e o beijei. Seth pigarreou dizendo que voltaria outra hora e Black desabotoou meu sutiã por trás.

— Ah não, sério. Me dá um descanso? A fera não sou eu.
— Não era o que parecia… - riu sacana, cheirando meu pescoço.

Mordi seu ombro e saímos dali.

Black foi para a cozinha preparar um jantar, enquanto Seth e eu estávamos na sala. Fiz um chá para acalmar a adrenalina que corria por meu corpo e sentei ao lado de Seth no sofá. Ele apoiou sua cabeça em meu colo.

— Fala, big baby o que aconteceu?
— Vocês mandaram ver, não é?
— Ele morreu de ciúme.

Rimos.

— Eu posso ouvi-los! – Black gritou para nós.
… Eu tô pensando em ir embora.
— O quê? – bati em sua cabeça.
— Outch!
— Que história é esta? Ficou louco?
— Eu só estava pensando… Lia foi fazer faculdade e talvez eu devesse buscar sair daqui um pouco também.
— Isso tudo é por causa da Bruh?

Black se aproximava de nós, com duas carnes congeladas na mão. Estendeu-as a mim, para que eu escolhesse.

— O que a Bruh fez desta vez? – ele perguntou olhando ao Seth.
— Beijou o Seth.
!
— Sério, Seth? O que esta garota tem na cabeça? Até outro dia não saía do meu pé!
— Acaso está com ciúme, Black?
— Não viaja. Mas, é confuso… Eu vou preparar o jantar!

Saiu com meu olhar cortante sobre si, enquanto Seth ria divertido. Me aproximei do ouvido de Seth e sussurrei:

— Provavelmente está com o ego ferido por ter sido esquecido tão rápido pela miniloba.

Rimos.

— Você deve ser a namorada perfeita, .
— Tem razão, mas, você não me respondeu.
— Não é por causa dela, se manca. É só que… Eu queria mudar algumas coisas na minha vida, sabe?
— Seth, vou dizer de novo: você está muito sozinho. Apesar de todos nós, eu sei que não é a mesma coisa… Tive uma ideia!
— Hm?
— Que tal, irmos para Silverdale neste fim de semana?
— Eu não vou segurar vela pra você, de novo.
— Se bem me lembro, da outra vez o senhor estava acompanhado da Parker.
— Mas, segurei vela por um tempo.
— Só nós dois. Sem Black, sem Parker, sem Bruh.
— Feito!

Batemos as palmas das mãos um do outro.

— É – olhei em direção à cozinha — Como dizer isso a ele, é que será o problema.
— Relaxa, eu falo com ele: “Jake, sua garota é minha esta noite”.
— Ah, com certeza que vou deixar você falar isso sim!

Começamos a gargalhar e logo mudamos de assunto.
Naquela noite, jantamos os três e como habitualmente, nos reunimos em uma das cabanas. A velha índia Whitton estava reunida a nós. Se chamava Mailaka. Ela me encarava risonha, e nos observava como se estudasse todos os nossos gestos.
Logo, Sue pediu para que eu me aproximasse das duas. Ela perguntou como eu estava, e o que eu estava sentindo de estar entre eles – os quielutes – e, ainda perguntou se eu me esqueci do que ela havia dito na tribo dela. Respondi a tudo com sinceridade, e contei também o que a avó de Scott me dissera. Ela se assustou e disse aflita algo à Sue. Nós duas acabamos por nos afligir também.

— O que ela disse, Sue?
— Que você corre grande perigo.

Nos encaramos e Embry surgira chamando às duas senhoras para socorrerem Quil. Bruh saiu correndo para o quarto do irmão.
Fiquei ali, parada onde estava refletindo as palavras de Mailaka. Billy, Black, Seth e Paul foram chamados tão logo que Embry voltara. Acompanhei a movimentação ainda reflexiva, e de repente, Jacob surgira ao meu lado.

— Vamos dormir?
— E o Quil?
— Parece que o seu remédio está começando a deixar de fazer efeito.

Abaixei a cabeça triste, sentindo a mão de Black em meu ombro massageando-os. Me pegou a mão e me guiou para dentro do quarto.

— No seu quarto?
— Não quer dormir aqui? – ele perguntou confuso.
— Achei que você iria para minha cabana.
— Eu terei que sair muito cedo amanhã…
— Ok, o que você não está dizendo?
— Paul, Embry e eu partimos amanhã em uma viagem.
— Que viagem?
— Os Whitton virão nos guiar.
— O quê? Quanto tempo?

Black foi me colocando em sua cama, como se eu fosse uma criança e logo deitou-se ao meu lado.

— Não sabemos, Mani. É uma busca para ajudar Quil.
— Então é mais sério…
— Do que foi com Embry? Sim. E pelo que soubemos a tendência é piorar.
— Black – me virei de frente para ele, tendo sua mão enlaçada à minha cintura — E se acontecer com você enquanto estiver com eles? Não confio neles.
— Não vai acontecer. Se eles estiverem certos, a probabilidade é menor porque você não estará.
— Eles realmente acreditam que eu tenho culpa, não é?
— Não é culpa… É dom.
— Mailaka disse que eu corro perigo.
— Não é nenhuma novidade, minha Mani… - me beijou pacifíco.
— Mas, é que são muitas informações para minha cabeça.
— Esquece as preocupações, eu estou aqui. Concentre-se no calor do meu corpo…

Sussurrou aquilo em meus ouvidos e nos mantivemos abraçados trocando carinhos. Apoiei-me em seu peito, e logo Black adormeceu. Sorri fraca ao constatar que finalmente, o cansaço daquele dia batera nele. E não pude esquecer a cena de Mark com a mulher loira, enquanto a voz de Sue ecoava em minha mente: “Que você corre grande perigo”.
A sexta-feira havia chegado e Seth e eu estávamos a caminho de Silverdale cantando alto uma música qualquer. Convidamos Embry para ir conosco, ele estava nervoso por Quil. Mas, ele não queria sair do lado do amigo, então restou tirarmos no “0” ou “1” para ver quem dirigiria. Os dois, queríamos beber. Por fim, não conseguimos ninguém para nos acompanhar. Todos estavam muito cansados na reserva para ir a uma festa e não beber. Clocks começava a tocar no rádio e eu cantava alto enquanto levava o carro na ida.

— Promete que não vai bater o carro, por causa do Chris Martin?
— Eu sou uma excelente motorista! Mas, te devo mesmo uma dessas pelo dia do ataque de Embry.
— Três dias sem notícias de Jake e Paul…
— Seth, se me lembrar disto mais uma vez, eu te jogo deste carro.
— Yooooou aaaare…

Ele gritou cantando a parte da música, para desconversar.
Chegamos ao bar e o movimento era grande. Lá pelos tantos viras de tequila que demos, Seth e eu dançávamos e um cara se aproximou de mim. Seth me defendeu da cantada do estranho, fingindo ser meu namorado. Fomos à mesa, para comer alguma coisa antes de voltar a beber.

! Eu não tenho condições de levar o carro…
— E nem eu! Combinamos uma coisa e fizemos outra!
— Eu adoro esta música! - Seth exclamou alto, me arrancando risadas.

“Shut up and let me go! This hurts, I told you so. For the last time you will kiss my lips, now shut up and let me go!”



Ambos havíamos levantado os copos e cantamos alto a primeira estrofe da música, e não aguentando ficar ali, levantamos e iniciamos uma dancinha insana de amigos bêbados. Umas garotas perto de nós ficaram nos encarando e rindo, e Seth puxou uma por uma beijando-as. Gritinhos se fizeram ouvir e eu estava no meio deles.
Enquanto a nossa música tocava, porque a partir daquele dia, “Shut up and let me go” seria a música de Seth e eu. Nosso hino de manos. E quando a música acabou voltamos à nossa mesa, caindo sentados em nossas poltronas.

— Sério, sério… Eu quero sair com você pra sempre! - gritei para ele que gargalhava.
— Nós somos demais.
— Você saiu beijando todo mundo! E agora? Eu sou a corna, né?
— Ah, aquele cara nem deve estar aqui mais!
— Uow, eu estou cansada, mas eu quero beber mais.
— ESPERA! – ele gritou antes que eu virasse meu copo — Vamos resolver, como nós vamos voltar?
— Você quer parar de beber agora, pra levar o carro mais tarde?
— E ficar sóbrio sozinho? Nem fudendo!
— Ei mocinho, olha o palavreado.
— A Sue ficou em Forks!
— Então, que tal se nós dormirmos por aqui e sairmos cedinho?

Seth me olhou com uma cara divertida e pediu ao garçom outra rodada de tequila.
Na hora de “Attention”, Seth e eu estávamos dançando juntos, coladinhos e sensualizando na pista. As meninas que tinham ficado com ele, estavam eufóricas. E nós dois ríamos por provocá-las. Era tão bom, ver meu maninho daquele jeito… Tão leve e feliz.
Em determinado momento, ele saiu para ir ao banheiro e eu continuei dançando sozinha até ele voltar. Quando chegou, colou nossos corpos e continuamos nos divertindo, atraindo olhares conhecidos para mim.

— Aquele encarando nós dois, é o Peter? - perguntei ao ouvido de Seth.
— É!
— Desde quando ele está aqui?
— Não sei, mas acabei de vê-lo na fila do banheiro.
— E está dançando assim comigo, para provocar ou seduzir ele?

Eu sorria abertamente, e após me ouvir, Seth nos afastou e segurou meu rosto próximo ao seu encarando-me friamente.

— Brincadeirinha…
, não me faça fazer o que eu não deveria.
— Longe de mim… - sorri receosa e confusa.

Voltamos para nossa mesa, e beliscamos a porção de petiscos, – que não me recordo o que era — antes pedida. Fiquei olhando para Peter que nos encarava enquanto virava seu copo. Sorri para ele.

— Para com isso !
— Qual é Seth, por que não chamamos ele?
— É melhor não.
— Hey! Eu estou bêbada, mas o que vou falar agora é muito sério: não comece a ser o babaca que você nunca foi!
— Eu não sei como agir com ele, porra!
— Parece até que foi você que levou o fora! Quem deveria sentir esta insegurança, é o Peter. E tenho certeza, que ele está sentindo.

Seth abaixou a cabeça e voltou a me encarar envergonhado.

— Não exclua as suas lembranças, ou as pessoas importantes em sua vida porque elas não são o que você espera.

Seth virou um gole de sua bebida e foi até Peter. Observei os dois amigos, eles se cumprimentaram como sempre: com uma batida de mãos e ombros. Seth falava e Peter o ouvia de cabeça baixa. E então sorriu, e Seth sorriu o abraçando. Eles vieram juntos até a mesa. E juntos, bebemos os três. Mas, Peter não ficou conosco a noite toda, estava acompanhado de uma galera desconhecida e iria embora de carona com eles. Se despediu de nós, e antes de ir embora se virou para Seth sentado à minha frente e disse:

— Ei cara, obrigado.

Seth acenou positivo com a cabeça e sorriu. Ficamos novamente eu e ele, e então brindamos sorrindo.

— Eu me orgulho de você.
— E eu de você.
— Você merece um prêmio.
— Mereço? Por ser honrado?
— Tem razão, você não merece nada.
— Só de curiosidade… O que eu ganharia?
— O que quisesse. Eu faria o possível para arranjar pra você.
— Droga…

O público da balada interiorana de Silverdale, em vez de diminuir, só aumentava. Seth e eu concordamos que era momento de irmos atrás de um pensionato, ou albergue para dormirmos. Então, ele que àquela altura já era amigo do garçom o perguntou onde poderíamos encontrar um.

— Vocês vão ter que dirigir bastante até encontrar o mais próximo.
— E aí, ? O que quer fazer?
— E se dormirmos no carro?
— E aí cara, sabe onde podemos ficar estacionados numa boa?
— Se não se importarem com o barulho, podem ficar no estacionamento daqui.

Agradecemos e pagamos nossas contas. Saímos abraçados até o carro.

— Obrigado. – Seth sussurrou em meu ouvido.

Depois de acomodados no carro, eu encarava a lua até pegar no sono. Seth por estar muito cansado adormeceu rápido. Eu não parava de pensar em Jacob. Onde ele estaria? Como se sentia? Então, meu celular tocou. Era uma chamada de Black, mas, infelizmente a ligação estava tão ruim que só pude ouvir sua voz dizendo meu nome. Iniciei um choro aflito, e adormeci com a luz da lua em meu rosto. Como um abraço consolador, por saber que aquela saudade ainda me levaria ao fundo do poço um dia.
Acordamos ao mesmo tempo, Seth e eu. Por culpa dos raios solares em nossos olhos. Nos olhamos confusos, e começamos a gargalhar.

— Cara, o Jake já sabe que você é louca assim?
— Não. Black e eu, nunca fizemos programas como este.
— Vocês são como um casal de velhos, namorando.
— Ainda bem que eu tenho meu “mano/namorado falso” para me divertir, não é?
— Enquanto eu estiver aqui, gatinha, não lhe faltarão noites como essa.

Rimos, e enquanto eu me espreguiçava, Seth bocejava.

— Vamos! Vamos tomar um café, e comer algo antes de ir.
Muito café. Eu ainda estou cheio de sono.

Descemos do carro e o trancamos. Três papéis rosa escrito à caneta estavam grudados no para-brisa do meu carro. Peguei e os li, eram nomes de garotas e números de telefone. Estendi ao Seth, que riu abafado os colocando no bolso.
O mesmo garçom da noite anterior saía de seu turno quando entramos. O lugar nem de longe parecia a balada badernosa em que estávamos. Pessoas tomavam café.

— Céus, olha o nosso estado. Que vergonha, Seth.
— Vamos comer logo e ir embora. – ele disse rindo.

Seth levara o carro até Forks, colocamos o rádio para tocar a fim de não pegarmos no sono e fomos conversando sobre a noite anterior, sobre os sentimentos em relação à reaproximação de Peter e minha saudade de Jacob. Quando chegamos na reserva, Sue estava sentada na varanda e sorriu negando com a cabeça ao nos ver. Mailaka estava a seu lado, balançando em outra cadeira. Emy chegava de algum lugar com Sam. E Bruh – com cara de poucos amigos - nos encarava dentro do carro, sorridentes.

— Eu passo a noite fora com você e minha mãe nem dá sinal de surto! – Seth constatou ainda dentro do automóvel.
— É porque ela confia mais em mim, do que em você.
— Vá te catar… Podemos ficar aqui?
— Por?
— Bruh…
— Céus, a cara dela é de alguém que vai me devorar… Ela deve achar que é provocação minha.
— Deixa disso! Eu não tenho nada com ela!

Descemos do carro, e antes que eu pudesse responder algo que Seth dizia, o garoto estava à minha frente de braços abertos. Bruh se transformara e furiosa jogara Seth em uma árvore próxima. Ele batera a cabeça e desmaiara. A loba se colocou sobre mim, rosnando próxima ao meu rosto. Fiquei trêmula e furiosa também. Dei-lhe um soco e com as minhas pernas consegui me desvencilhar dela.
Sue começara a gritar e Sam e Emy surgiram para ajudar. Logo, Billy surgiu na porta de sua cabana.
Bruh Ateara, avançou até mim e abocanhou meu pé arrastando-me. Naquela hora, eu não sabia de onde vinha aquele ímpeto selvagem, mas com uma força que eu desconhecia chutei a cara da loba, e avancei sobre ela enlaçando minhas pernas em seu pescoço, mordi sua orelha e uma luta corpo a corpo se iniciara. Lobo contra mulher. Minhas roupas rasgaram-se pelas garras da garota, e em posição de ataque e ofegante, eu corri na direção de Bruh e lhe deferi chutes, socos, cotoveladas e mordidas. Ao tempo que todos gritavam para que parássemos, e Sam se aproximara de mim, para me tirar dali, eu o empurrei tão forte que ele batera assim como Seth, numa árvore. Mas, não caíra desacordado.
Meus dentes se sobressaltaram em presas afiadas, e o ar começou a me faltar. Baixei a guarda, e Bruh veio em minha direção e então eu mordi-a em seu pescoço animal. Outro lobo havia se transformado e puxou o corpo da loba para longe de mim, fazendo com que meus dentes rasgassem um pouco da pele da menina. Bruh caíra ao chão sangrando muito e em forma humana.
Seth voltara ao normal ainda sobre mim, me encarava amendrontado e confuso. Sam e Emy foram até Bruh, enquanto Sue e Mailaka vieram até mim.

? Você está bem? - Seth perguntava aflito analisando meu corpo.

Senti uma falta de ar, e ao passar a língua em meus dentes eles estavam normal.

— Aquilo foi ilusão minha? - perguntei ao Seth.
— Não.

Ouvimos as vozes de Sue e Billy, nos perguntando como estávamos. Sue abaixou-se a mim para verificar se eu estava bem. Mailaka saiu em direção à Bruh.

— Eu estou bem, mas acho que machuquei a Bruh.

Todos voltaram suas atenções a ela, e Seth me pegou no colo me levando para dentro. Ao passarmos pela garota pude ver seu pescoço ferido e ela desacordada. Olhei confusa nos olhos também confusos de Seth.

— Você bateu a cabeça.
— O que foi aquilo ?
— Eu não sei. Foi tão instintivo…
— Presas! Saíram presas de você, e… aquela força?
— Seth! Eu não sei!
— Tome um banho e descanse, eu vou lá fora.
— Mas e sua cabeça?
— Estou bem. Relaxe. - beijou minha testa e saiu.

22 - O que ela está se tornando?

Eu limpava os ferimentos que Bruh me causara no embate. Enquanto todos estavam auxiliando-a em cuidados mais precisos. Sam achou melhor que Quil não soubesse do ocorrido e que, a loba adolescente fosse levada imediatamente a um hospital. Então Charlie fora chamado por Sue, para prestar o socorro em levá-la. Quando Seth me contara que, segundo os médicos, por muito pouco a artéria carótida de Bruh não fora atingida levando-a ao óbito, um mal súbito me surgiu. Eu estava zonza, e não pude controlar o enjoo que senti. Embry sabia do ocorrido tendo comprometido-se a evitar que a notícia chegasse ao irmão da jovem Ateara. Ele foi me visitar em minha cabana, e me encontrou escorada ao vaso sanitário de meu banheiro. Prestou ajuda me colocando em repouso, continuando a fazer meus curativos, e Emy que fora chamada por ele, cozinhava uma sopa para eu comer depois que meu estômago estivesse melhor.
Acreditando ser causa de gastrite nervosa, os despreocupei de meu mal estar. Haviam questões mais preocupantes, tais como: o que eu era? Billy, não demorou a manifestar sua preocupação com aquilo, e como o senhor prudente que era, reuniu os quileutes presentes – com exceção de Bruh e Quil – para esclarecermos o fato. Novamente lá estava eu rodeada de indígenas curiosos, e alguns da reserva Whitton, que decidiram me analisar e conforme desejo de Malaika, realizar outro ritual como o anterior que havia sido feito a mim.
Nada adiantava eu perguntar à Billy ou Sue, sobre o que acontecia comigo, porque ninguém ali sabia esclarecer. Ao voltar do hospital para a reserva, Bruh permaneceu em repouso na casa de Sue. Fui vê-la e me desculpar, e fui surpreendida pela menina implorando desculpas pelo ataque. Outra vez seu ciúme falara mais alto, no entanto, a deixando com sequelas daquela luta que jamais pensara ela, ser derrotada por mim. Em todos os sentidos. Não estabelecemos uma amizade ou tranquilidade, mas, a tolerância e o respeito pareciam surgir em prol do bem da reserva, de quem amávamos e de nós. Ela me perguntou o que eu havia feito para ficar daquele jeito, e eu sem resposta, neguei com a cabeça em um sorriso doloroso.
Jacob não dava notícias há dias, e algumas noites e podia escutá-lo perto a mim. Era como se sussurrasse em meus ouvidos, enquanto eu dormia. Como se os seus pensamentos fossem meus. E era assustador. Por mais distante que ele estivesse, eu não estava desesperada, porque sentia saber exatamente como ele estava e o que ele fazia.
A rotina de todos seguiu sem maiores eventos, pós Bruh x , e inclusive a minha. A mulher loira com Mark ainda era uma incógnita para mim. E um desejo suicida de encontrar Mark para perguntar a ele diretamente, perambulava minha cabeça. E foi pensando nisso, que em um dia ameno e tranquilo, Seth surgiu batendo no balcão da farmácia me chamando para almoçar e afastando meus pensamentos. Não quis comer. E achando que teria algo a ver com Black, o garoto soltara ter notícias. O olhei apreensiva, e saí de trás do balcão o mais rápido possível.

— Ele voltou?
— Não. Mas, consegui falar rapidamente com ele por telefone. Ele está bem, e esperarão mais alguns dias antes de decidir se devem ou não voltar.
— Droga.
— Agora vamos almoçar?
— Não. Eu estou sem fome.
— O que está havendo com você? Não me parece bem. Achei que estaria preocupada com Jake.
— Eu sei exatamente o que está acontecendo com Jake, não estou preocupada.
— Como assim?
— Não sei explicar, mas, posso senti-lo quando quero.

Seth encarava-me curioso.

— E o que te preocupa, então?

Olhei para ele, sem saber se deveria dizer a verdade, ou se deveria esconder. Mas, as nossas conexões estavam mudadas também, Seth pressentira pelo visto:

— Não, você não vai atrás daquele frio! O que pode querer com ele?
— O vi semanas atrás acompanhado de uma mulher.
— E daí?
— Ou ele trouxe alguém para Forks, ou ele estava abordando alguém daqui. E não o vi mais, e nem a mulher.
— Quem era?
— Eu não sei, e por isso fico aflita. Me sentirei muito culpada se aquela for, mais uma… presa de Mark ou Darak.
— Não os vejo e nem temos notícias deles, há muito tempo.
— Então concorda comigo, que temos que averiguar se tudo ocorre bem com o acordo?
— Sim, eu irei até o esconderijo deles.
— Não! São dois contra um, e agora podem ser três!
— E quem fará isso? Você? Jacob me mata se souber que deixei você se aproximar do frio.
— Vamos combinar assim: ninguém faz nada por enquanto. Pensaremos juntos numa maneira de investigá-los. Certo?
— Certo. – Seth respondeu-me desconfiado e se despediu — Trarei uma marmita para você.
— Não quero.

Com minha teimosia o irritando mais que o normal, Seth acenou a cabeça contrariado e foi embora. Telefonei para saber como estavam Quil e Bruh, e Sue me disse que o mais velho Ateara recuperava-se bem. Parece que Quil desejava sair daquela o mais rápido possível, antes mesmo de Jacob retornar com a solução. Já Bruh, não apresentava bons sintomas. Tinha febres altíssimas, e embora cicatrizados os ferimentos graças aos meus ataques, ainda estava muito fraca para tomar a forma canina.
Passei mais tempo em meu laboratório aquele dia, em pesquisas incessantes sobre como ajudar os quileutes. Nada muito promissor, nos artigos. E uma das universidades em que entrei em contato, me trouxeram um atrativo material. Eu lia e relia as páginas da Università di Bologna, meus olhos cansados começavam a deixar as palavras turvas e letras embaralhadas. Olhei no relógio e já marcava oito horas da noite. Havia perdido a noção do tempo. Inúmeras chamadas de casa, no meu celular.
Retornei a ligação para Sue avisando o que acontecera e que já voltaria para a reserva. A noite estava bastante fria, e eu, com um fino suéter que mal conseguia aquecer-me. Tranquei o laboratório e caminhei até meu carro. Ao tocar na maçaneta, um vento rápido e perfumado passou por mim. Olhei para trás e nada vi. Aquela sensação estranha de quando Mark se aproximava…

— Mark?

Olhei em volta o chamando, mas não enxergava ninguém.

— Mark, você está aí? Pare de palhaçada e fale logo o que quer…

Nada.

— Darak, é você?

Continuei falando sozinha para a penumbra da noite. Estava enlouquecendo mais rápido do que imaginei que aconteceria, desde que cheguei à Forks. Entrei no carro e dei partida de volta à minha casa, mais tranquila e confortável pelo quentinho lá dentro. E mais segura por estar trancada dentro do meu carro. Na altura do meu antigo bairro, o Kalil, me assustei com algo parado no meio da estrada e freei bruscamente. Havia alguém no meio da estrada. E ao olhar para os lados, constatei que estava de frente para a minha antiga casa. A casa que vendi para Mark. Uma única luz acesa dentro dela. Retornei o olhar à frente novamente e gritei de susto ao ver a pessoa tão perto. Ela caminhou calma e risonha até a lateral de minha janela. Eu estava muito, muito, eufórica, mas, não demonstraria aquilo nem que estivesse com as mãos da morte sobre meu pescoço.
A mulher, loira, a mulher que vi com Mark bateu no vidro do carro pedindo para falar comigo. Tinha um sorriso plácido, e um olhar mortal. Olhei novamente para a casa, e nada diferente da única luz acesa estava ali. Encarei aquela mulher, com a coragem que aprendi a ter em Forks. “Se fosse para me matar, eu estaria morta”, pensei ao encará-la. O fascínio nos olhos dela era horrendo. Retirei o cinto de segurança, mantive o carro ligado. Meu celular tocou denunciando uma chamada de Embry. Nós duas o encaramos juntas – eu dentro do carro com o telefone em mãos, e ela do lado de fora observando-me. Não atendi. Abaixei o vidro da janela.

— Então você é a ?
— Quem é você, e o que quer comigo parada como uma assombração na estrada?

Ela gargalhou fino e assustadora.

— Eles disseram que você era corajosa e ousada.
— E não socializo muito com tipos como vocês, fale logo quem é você!
— Tipo como nós? Mas, o que eu sou?
— Diga você.

Arqueou uma sobrancelha e estendeu-me sua mão com unhas perfeitamente feitas.

Muito prazer. Eu sou Valerie.
— O que você é? – perguntei pegando sua mão em cumprimento, e notando o quão gelada estava: era uma vampira, eu tinha certeza — Ou melhor: há quanto tempo você é um frio?

Irritada com minha petulância, mas sem demonstrar alterações de humor, aproximou seu rosto do meu e sorrindo respondeu-me a centímetros de distância. Minha respiração dava sinais de falha.

— Há muito mais tempo do que você sonhava nascer.
— E o que quer comigo, Valerie?
— Apenas queria me apresentar…
— Certo.

Dei indícios de partir com meu carro, deixando-a com aquela provocativa palhaçada para trás, mas, Valerie segurou o volante fazendo-me encará-la.

— Eu vim ajudar você . As suas respostas estão bem guardadinhas comigo, e mais rápido do que pensa você poderá tê-las. Acredite: tudo pode mudar para você, e para melhor.
— Do que está falando?
— Tudo tem um preço, você sabe. E o meu preço… Bom, se quiser mesmo continuar esta conversa, sabe onde me encontrar. – disse apontando minha antiga casa — Está muito friozinho para continuar conversando aqui fora, agora, não é?

Ela abraçou os braços e fingindo uma ingenuidade que eu já notara não existir, sorriu esfregando-os. Deu meia-volta em meu carro, caminhando de volta para a casa. Acenou sorrindo em despedida. Frio definitivamente era a última coisa que ela sentia.
Dei partida no carro, respirando fundo e longo. Fechei as janelas e assim que cheguei à reserva encontrei Embry em minha cabana, preocupado.

— Por quê não me atendeu?
— Boa noite, e desculpe… Eu estava dirigindo.
— Hm…
— O que houve?
— Estou preocupado com você! Seth disse que você estava estranha, e não quis nem comer.
— Em compensação eu comeria um carneiro inteiro, agora.
— Já preparei o seu jantar.

O olhei calma, e feliz por tê-lo como amigo. Andando até ele, o abracei forte.

— A gente se afastou tanto, não é?
— Não acho… - ele riu suspirando — E já acendi a lareira para te aquecer, suba para tomar um banho, te espero aqui.

Beijou o topo de minha cabeça e afagou meus cabelos. Ao entrar em meu quarto, havia uma blusa de moletom sobre a cama. A blusa era de Embry e eu me lembrava perfeitamente daquele dia. O dia em que fui para a reserva da primeira vez, e por conta da chuva molhei minhas roupas. Sorri saudosa àquele tempo onde eu não passava de uma querida estranha intrusa na reserva. E depois, no banho sorri divertida ao lembrar de Embry e eu como um casal. Quem diria que tanta coisa mudaria para nós dois. Contudo, chegar em casa e notar a preocupação e cuidados dele apenas reforçava que Embry nunca deixaria de ser o primeiro amigo quileute que fiz, como um irmão mais velho.
Desci as escadas e Seth já havia invadido minha casa, e comia meu jantar sentado em frente a lareira ao lado de Embry.

— Ele invadiu e roubou sua comida, eu tentei impedir.
— Tudo bem, Embry. Eu já estou me acostumando em como reagem os irmãos caçulas.

Sorrimos, e após montar meu prato de fetuccine de cenoura ao molho pesto, me reuni com eles.

— O que fez hoje, ?
— Trabalhei, como uma escrava.
— Estava até agora no laboratório?
— Sim, Embry… Recebi alguns artigos de Bolonha, e perdi a noção do tempo os lendo… Seth, conseguiu falar com Jacob de novo?
— Não…

Todos suspiramos pesadamente. Seth recordando-se da nossa conversa mais cedo, de repente iniciou um diálogo investigativo. Embry não entendia nada, mas contei a ele o mesmo que dissera ao Clearwater mais novo. E quando Seth iniciou seu “eu tenho um plano”, o interrompi contando de Valerie.
— Nós combinamos que ninguém faria nada até decidirmos juntos! – ele protestou.
— Ela veio até mim! O que queria que eu fizesse? “Só um momento, que eu vou ver com meu sócio se posso falar com você”!
— Você correu risco demais, ! Deveria ter atendido minha ligação.
— Exatamente Embry, eu corri risco! Já pensaram se eu a ignoro ou atendo a sua ligação? Ela poderia resolver atacar!
— Afinal! Ela é uma transformada recente, ou não?
— O que isto importa Embry? O tal Mark quebrou o acordo que a Luna estabeleceu com ele, de qualquer jeito! Vamos, vamos nos reunir e ir atrás dele!

Seth se levantou impetuoso, mas Embry o segurou pelo punho revirando o olhar.

— Cale, a boca garoto, senta aqui.
— Você dois, me ouçam! Ela veio propor algo a mim, pelo menos foi o que pareceu.

Repeti as palavras dela e os meninos refletiam sem entender nada. Seth coçava a cabeça, pirracento por toda a nova confusão que começava. Parecia que um problema nunca teria fim para outro começar. Ou na pior hipótese – a que eu acreditava – todos os problemas eram apenas um, interligados como uma grande bomba programada.
Embry, mais maduro a cada dia controlou o nervosismo de Seth, e decidiu que não agiríamos por impulso. O que significava que eu não deveria teimar em agir igual. Lembrei-os de que eu era o “meio de comunicação” entre os lados, e que sabia como agir com Mark, se fosse preciso dialogar. Mesmo assim, preocupados, os dois disseram que vigiariam meus passos. Antes de irem embora, Seth abriu a porta da cabana na saída, e olhando para mim ordenou:

— E vigiar seus passos também engloba controlar a sua alimentação, ouviu garota!?

Sorri, afirmando cansada e logo depois que saíram, eu fui dormir.

No meio da madrugada outro pesadelo. Diferentemente do anterior, eu andava à frente de um imenso túnel escuro. Ao meu lado, Mark e atrás de nós, pessoas encapuzadas. Parecia adentrar uma caverna, e quando a imensa porta se abrira, ouvi uma voz me chamando. Acordei assustada. Minha lombar formigava, me sentei na cama e sacudi meus cabelos. Não entendia nada do que vinha acontecendo comigo. Aquele formigamento muscular só poderia ser o cansaço extremo de horas sentada no laboratório, e a fim de espreguiçar-me levantei e toquei minha lombar esticando-a para frente. Senti uma queimação local, incomum. Caminhei até a caixa de medicamentos no banheiro para procurar um relaxante muscular. A dor e queimação aumentavam. E quando toquei o local, com a mão direita senti um reflexo branco em meu olhos, e uma espécie de visão do momento em que toquei a mão de Valerie, surgiu. Puxei a mão que havia cumprimentado Valerie, e que era a mesa sobre minha lombar, e estava suja com sangue. Ainda sentia dor e estava assustada, apavorada na verdade, de costas ao espelho fui averiguar. E qual surpresa horrenda não foi, ao ver uma marca surgindo aos poucos sob minha pele, rasgando-a e ferindo, deixando uma linha fina e mais clara que minha pele, como um sinal natural, uma tatuagem sem cor. Me aproximei mais do espelho e devido ao sangue, pela marca em aparente queimadura – como aquelas feitas a ferro quente – não pude entender o que era o desenho. Reuni meus itens de primeiros socorros e limpei com dificuldade o local. Não conseguia sozinha. Telefonei ao celular de Seth, na esperança de que ele acordasse e atendesse. E ele atendeu. Surgiu eufórico, batendo apressado na porta da minha cabana.

— O que houve, !?
— Venha, suba comigo!

Seth se preocupara ainda mais ao notar a minha feição de horror. Ao entrar no banheiro, ele bateu os olhos nos preparos de primeiros socorros e antes que perguntasse qualquer coisa, retirei minha blusa e me virei de costas a ele.

— O QUE VOCÊ FEZ?
— Eu não fiz nada! Juro!
— Como isso aconteceu?

Ele tocara na ferida, e outra visão forte e clara veio à minha frente: Jacob correndo pela mata densa e atrás dele a matilha, em seguida Seth ao meu lado indo comigo há algum lugar desconhecido.

?
— Outra visão, quando você tocou a marca.
— Pelos céus, o que está acontecendo aqui?

Contei a Seth tudo que ocorrera naquela madrugada. Seth tocara de novo na ferida e não senti mais nada além da dor do ferimento. Ele limpou, e fez os curativos. Já não havia mais sono. Outra vez.
Descemos para minha cozinha, preparei um café quente e Seth dissera que estava exausto demais para se dopar com cafeína. Se jogou no sofá de minha sala e adormeceu rápido. Sua feição confusa e séria, denunciava o sono conturbado pelos inúmeros ocorridos de dias. Sentei no banco de minha cozinha, e fiquei de frente a janela daquele cômodo observando a neblina lá fora.
Ao amanhecer, saí antes de Seth acordar deixando-o apenas com um bilhete:

“Fui atrás de respostas, e não se preocupe, não irei até Valerie.”


Eu estava parada encostada ao capô do meu Munstang de frente a mansão de vidro. A placa “Residência Cullen” sob a neblina fraca que se dissipava naquela manhã, mostrava fracamente um risco sobre as palavras, e que parecia recém-feito.

— Eu estou pensando mesmo em arrancar esta placa daí.

Ouvi ele dizer e já imaginava o sorriso sacana que estaria em seu rosto. Eu já sabia que ele estava chegando, afinal, eu podia pressenti-lo. Ele saiu de trás do meu carro e parou encostado ao meu lado, sorridente.

— Ah que devo…?
— Onde estava, Mark?
— Sou seu namoradinho agora, por acaso para lhe dar alguma satisfação?
— Nunca, apenas queria saber porque não saiu pela porta da frente da sua casa.

O encarei desafiadora, e o olhar de Mark sobre mim mudara. Era sempre tão ameaçador, mas naquele momento, ao cruzar de nossos olhares pude notá-lo desarmado.

— Há algo diferente com você…
— Há mesmo, e você vai me responder algumas questões.
— E se eu não quiser? – virou-se apoiando-se sobre seu cotovelo e me desafiou.
— Não estou lhe dando escolhas.
— Uau… O que fizeram com você?
— Quem é Valerie, e por que ela está aqui?
— Ela já te encontrou?

Mark pareceu-me surpreso e alarmado, tudo, claro, dentro de suas atitudes sempre muito concisas.
Assenti com a cabeça e ele se levantou ajeitando sua impecável vestimenta. Andou em direção ao interior da casa, e após um tempo observando em volta, decidi o seguir. Olhou levemente sobre seu ombro e sorriu de lado afirmando:

— Estamos sós, não se preocupe.
— Isto nunca foi razão para não me preocupar.

Ele deu uma risada fraca e abriu a porta para que eu entrasse. Era a segunda vez que eu pisava ali, e a sensação não se tornara melhor. Aquele lugar era sombrio, mesmo com tanta luz adentrando-o.

— Valerie te assustou, foi?
— Não. Talvez um pouco, mas, me deixou muito mais curiosa do que com medo.
— Claro… E aonde ela te encontrou?
— Ao que parece você cedeu à minha antiga casa aos seus amigos monstrinhos.
— Outch! Monstrinhos? E os seus amigos são o quê?
— Certamente não são monstros, mas não vim discutir quais seres sobrenaturais são mais assustadores, ok?
— Até porque ganharíamos.
— Não seja infantil, Mark. Não faz o seu estilo.

Ele riu debochado e ofereceu que eu me sentasse. Não recordava se havia móveis naquela casa a última vez que estive ali. Mas, agora havia.

— O que quer saber? Já adianto que não garanto responder nada.
— Você vai responder. E para começar, quem é Valerie e porque está aqui?
— Não é minha namorada se quer saber.
— Não perguntei isso.
— Aquele dia na praça, você me pareceu bem enciumadinha.
— Mark! Não faça piadas, eu não estou com esta paciência.

Sua expressão brincalhona modificou-se à séria.

— Sua ousadia é irritante. Vale lembrar que você está no meu território.

Engoli a seco. Eu interpretava um excelente papel despreocupada, embora estivesse uma pilha de nervos. O que faria se por acaso outros deles chegassem?

— Apenas me responda, sem mais piadas, por favor.
— Melhor assim… Valerie é uma de nós, e está aqui por sua causa.
— Ela disse que veio me dar respostas, sob um preço. Do que ela estava falando?
— Ela estava falando o que você queria ouvir, não significa que ela veio para isso. Ela pode manipular você, se você não acordar antes disso .
— Sem piadas e sem metáforas, Mark.
— Já deve ter notado que há algo diferente em você.
— Sim.
— Você, por incrível que pareça, pode representar um risco para nós, zinha.
— Sentenças de diálogo maiores, serão apreciadas, Markzinho.
— Antes de mais nada… Quero que saiba que… – ele parou como se congelasse e girou sua cervical, manteve uma face enojada — Droga!
— O que houve?
— Você não tem dimensão do que faz comigo.
— Do que você está falando?
— Pare!
— Eu não estou fazendo nada.
— Este seu… desejo de saber a verdade… é perigoso .

Mark se levantou e ficou de costas para mim. Como um estalo em minha mente, notei que, algo em mim o fazia reagir aos meus comandos… Ele não queria falar nada, mas, estava ali. Algo em mim parecia controlar as reações dele, e imediatamente recordei as várias vezes que ele poderia ter me assassinado e não o fez, e as outras tantas vezes que ele indicara sentir uma atração a estar comigo, assim como eu a ele. Como um ímã. E a maneira como eu falava com ele desde que cheguei... Tão confiante... Certamente, algo em mim estava diferente.

— Meu desejo de saber a verdade? - levantei me aproximando e refletindo sobre aquilo.

Minha sede pelas respostas o fazia falar? Era isso? Eu não sabia, mas usaria a meu favor.

— Olhe para mim Mark.

Ele virou-se após relutar um pouco se deveria ou não, mas na aposta de que tinha o poder de controlá-lo, eu acreditava que desejando fortemente ele obedeceria.

— Fale o que sabe sobre mim, Mark.
— Você tem poderes sobrenaturais e já sabe disso, Valerie foi enviada para detê-la. E a melhor forma é transformar você, então fuja de Valerie.
— Como eu represento um risco para vocês?
— Vai descobrir quando se despertar para o que você é.
— Seja mais claro, por favor, despertar para o quê ?
— Eu não sei. Ainda não descobri, mas Valerie sabe e por isso está aqui. Mas, não pense que conseguirá as respostas dela tão fácil como está sendo comigo. Desde o nosso primeiro contato, você estabeleceu um controle que me afetou, eu já estava envolvido sem que fosse minha vontade.
— Valerie pretende me transformar, e Darak e você vieram para ajudá-la?
— Não, nós viemos por outra razão, mas ao descobrir você, outros descobriram.
— Como outros descobriram que eu estava aqui? Vocês disseram?
— Sim, inicialmente, Valerie estava envolvida com as mesmas questões de Darak e eu, mas… Foi designada a cuidar de você.
— Então, a Valerie sabe mais ao meu respeito, e há alguém que não me quer por perto. Certo?
— Sim.
— Então, Valerie terá que me explicar direitinho o que tá acontecendo!
— Não, não faria isso se fosse você. No estágio em que você está, Valerie concluiria seu objetivo rapidamente.
— Por que está me ajudando, Mark?
— Porque você está me obrigando.
— Quanto mais eu posso te obrigar? – falei me aproximando lentamente dele.
— Você terá que descobrir essa, sozinha, mi amore.

Nossos olhares eram desafiadoramente atraentes. Como em toda vez que estávamos próximos. Eu começava a gostar bastante daquilo.

— Outra coisa, Mark: Darak não precisa saber desta conversa, certo? Até porque, eu não sei qual é a dele.
— E nem a minha.
— Mas, acho que eu consigo colocar você todo na palma da minha mão, logo, logo.
— Veremos. Mas, fique tranquila, se você me pegar, pega o Darak também.
— Vou providenciar as duas jaulas, o mais rápido possível.

Assim que terminei de falar, Mark relaxou como se aquela fosse a primeira vez que respirava durante todo nosso diálogo. E eu sorri vitoriosa saindo dali e acenando-o de costas. Eu não sabia a razão para aquilo, mas: eu não tinha mais medo de Mark. E não sei se é necessário salientar, mas, naquele momento em que saía, minha marca ardia ainda mais forte.
No caminho de volta à reserva, liguei para Seth.

— Garota! Onde você está? , você perdeu o juízo?
— Estou bem Seth, fica calmo. Já foi trabalhar?
— Não! Como iria, sem saber o que te aconteceu?
— Malaika está aí, não está?
— Sim, mas o que…
— Você lembra o caminho para a reserva Whitton?
— Lembro, mas o que…
— Prepare algumas roupas, vamos sair e pode ser que não voltemos hoje.
— O que está tramando, ?
— Tente arrancar informações sobre mim com Malaika, não acho que ela vá me falar mais alguma coisa…
— E nem eu a mim, mas tentarei.
— Certo, estou quase chegando.
— Espera! É segredo que vamos sair?
— Não, eu não te chamaria se fosse… Como se você soubesse manter segredo.
— Você vai me contar direitinho o que foi que te deixou atrevida assim, esta manhã!
— Atrevimento, é minha mais nova qualidade… Você não sabe o quanto!

Desligamos a chamada e não demorou para que saíssemos em direção à reserva Whitton.

23 - Atrás de respostas



Eu dirigia atenciosa e ansiosa, enquanto Seth me ensinava o caminho à reserva Whitton. Ele não havia mencionado nada sobre o que acontecera porque sabia que alguma hora, eu mesma faria. Mas, como sua curiosidade era característica principal, não segurou por muito tempo.

— Você não vai me contar nada?
— Este é o Seth. Seth não sabe esperar. Seth é impaciente e fofoqueiro. Acalme-se Seth, estou colocando as ideias no lugar.
— Esta é a . quer tudo no tempo dela. deixa os amigos aflitos. na verdade, está selecionando o que vai me contar ou não. Oras , fale logo.

Nos entreolhamos zombeteiros e sorrimos.

— Está certo… Estive com Mark.
— Eu sabia.
— E ele me revelou fatos curiosos, e estamos a caminho da verdade.
— Sobre você? Na reserva Whitton? Mal sabem sobre nós…
— É verdade, mas, Malaika já provou conhecer alguma história não é?
— Conte sobre o que ele disse.
— Antes de falar o que eu ouvi, preciso te contar como eu me senti. - encarei Seth com espanto recordando-me das sensações, e ele desligou o rádio atentando-se ao que escutaria: — Seth, assim que cheguei… Na verdade… Dias atrás. Quando encontrei Valerie. Eu senti o habitual temor e calafrios de quando eles se aproximam. Mas, hoje com Mark, eu pressenti que ele chegava, mas não com a sensação de antes. Era como se eu não tivesse medo. Como se eu soubesse exatamente quando ele chegaria. E aí, enquanto conversávamos, eu descobri que posso estabelecer um controle sobre ele.
— Como assim?
— Eu não sei explicar ainda, mas, Mark foi respondendo minhas perguntas “meio obrigado”, era o meu desejo de saber a verdade que o fazia responder. E ele lutava contra aquilo.
— Já vi algo parecido antes. Uma deles, quando Bella ainda estava aqui. Na verdade, nada exatamente igual, mas tinha uma Volturi que podia torturar os outros com dor. E outra podia eletrificar os outros… Bem, nenhuma delas é parecido com o que você diz.
— Não é físico. O que eu pude fazer com Mark, é psíquico.
— Edward lia pensamentos. E tem a Alice, que podia prever o futuro. Até onde me lembro, eles estão mais perto do que você diz conseguir ter feito.
— É mas, eu não sei como fiz isso. Eu só deduzi, pelas reações de Mark.
— Quando você lutou com a Bruh, não se transformou em nada, mas, eu vi. E você sabe que é verdade: presas saíram de sua boca.
— O que está insinuando? Que eu sou um tipo de frio?
— Bem… Você lutava como eles… Com força sobre-humana, num corpo de mulher e tinha dentes afiados. Eu diria que foi um embate muito parecido.
— Não! Não viaja Seth! Eu não sou uma deles!
— Não estou dizendo que é. Só estou buscando pistas de onde começar a procurar.
— Espera… Mark disse que Valerie sabe sobre mim, e ela também disse que tinha respostas… Ele disse também que ela veio para cá, para me deter e que eu deveria ficar longe dela. Ela pretende me transformar numa deles, e eu represento uma ameaça a eles.
— Mas, se você fosse como eles, por que te deter? E te transformar? E como você é uma ameaça?
— Droga Seth… Está tudo tão confuso, eu nem sei por onde começar!
— Calma, vamos passo a passo, tudo bem?
— Certo! Primeiro, vamos descobrir o que os Whitton podem saber a meu respeito.
— Malaika não me contou nada diferente do que já havia dito a você.
— Pegue um papel e caneta na minha bolsa. Vamos criar um roteiro.

Seth seguiu meus comandos, e a medida que viajávamos e nos aproximávamos, o “roteiro” ia ficando grande. Tão grande quanto o a quantidade de dúvidas naquilo tudo.

Quem é ?

- tem descendência indígena, e possível proximidade com os quileutes;
- Malaika diz que é responsável por despertar algo nos quileutes, que guarda o espírito de um lobo e que é uma presença perigosa;
- Os pesadelos de demonstram duas espécies sob o controle de uma mulher;
- pressente os frios e possivelmente pode os controlar;
- Surge em uma marca, e ela sente-a queimar quando está com os frios;
- teve visões possíveis do futuro;
- Mark disse que Valerie tem interesse particular em , e que ela é uma ameaça aos frios.
- não é um frio, pois segundo Mark, Valerie ainda tem que transformá-la;
- Mark revela que realmente tem poderes sobrenaturais;


Seth leu item a item. E encarou-me aguardando a minha posição sobre tudo.

— Ainda está confuso, mas… Vamos começar pela minha ligação indígena com vocês? Quer dizer… Tentar descobrir que lenda é esta que faz os Whitton “me selarem” com aquele ritual.
— Eu já te previno que eles não são muitos adeptos a compartilhar segredos.
— AH! E agora você diz isso? Por que não trouxe Malaika, então?
— Porque eu mal sabia o que estava acontecendo!

Chegamos na reserva “vizinha”, nos encaramos, incrédulos um com o outro. Não poderíamos perder aquela viagem. Então eu disse ao meu amigo que, se nada ali nos ajudasse, eu procuraria a avó de Scott. Ela parecia saber muita coisa também.
Seth assentiu e desceu do carro antes, e foi caminhando até o líder da reserva que já nos espreitava. Apresentou-se, mas fora reconhecido. Fomos bem recebidos, mas, como Seth imaginava, os Whitton não facilitaram.
Após insistir respeitosamente, os convenci a compartilharem algo. Contei a eles o que Malaika havia dito a mim, mas esperava conseguir compreender melhor. Logicamente, Seth me auxiliou com o dialeto deles. O ancião da tribo me chamou para dentro de uma das cabanas. Os anciãos estavam acima dos líderes, e fora com a ajuda dele que eu consegui saber algumas coisas. Entre elas, a lenda da deusa Rhikan, que a avó de Scott havia me contado.
Olhei para Seth, um pouco apreensiva. Ele me passou confiança – como sempre – e então seguimos o ancião, cujo nome Seth me informara: Taekhi.
A cabana dos Whitton pouco se diferenciavam das quileutes. E eu já havia estado numa delas, antes, mas, não havia me atentado à detalhes: eles tinham demasiadas imagens talhadas espalhadas por suas cabanas. Acreditavam, ou cultuavam mais espíritos do que os quileutes. Fomos convidados a nos sentar sobre um grande tapete, após entrarmos em um cômodo que eu julgava ser “o oratório” do ancião.
Ele sorriu amigo para nós dois, e Seth comunicou-se com ele. Algo que talvez fosse um “pode começar”, uma vez que assim que o falou, Taekhi começou a história.

“Em um tempo muito antigo, antes mesmo de homens caminharem pelas matas conscientes do que eram, e de todas as coisas terem nome, existia uma deusa. Rhikan. Detentora do conhecimento sobre as matas, e sobre magia. Rhikan era a própria Lua e o Sol. Ela podia controlar os ventos, as águas, mas principalmente o nascer da noite e do dia. Conta-se que nada mais vivia sob o universo. Então, Rhikan manifestou-se num corpo humano e desceu à Terra, no desejo de saber o que havia aqui. Ela peregrinou por todo o canto, onde o olho humano possa ver. E chegou a infinitos onde nem mesmo nossa cabeça poderia criar. Não havia outros como ela, e nem figuras como as que ela havia se materializado. Apenas animais. Rhikan passou muito tempo sozinha na Terra, descobrindo-as. Lobos a acompanhavam durante o dia. E os morcegos, faziam da noite, um evento mais vivo. Um dia, Rhikan notou que quando ela invocava o anoitecer, os lobos adormeciam, e ao invocar o dia, eram os morcegos que adormeciam. Nomeou-os criaturas do dia, e da noite. Até que chegou o tempo em que, lobos e morcegos não satisfaziam mais a companhia da deusa, e ela criou um ser idêntico ao que ela havia materializado-se. Contudo, os animais antes fiéis a ela, se aproximaram daquele novo ser. E Rhikan enciumada decidiu retomar sua forma divina e voltar à dimensão do universo ao qual pertencia. A nova criatura então, se apaixonou pelos lobos. E originou outros iguais a ela, mas também iguais aos lobos. Foram os primeiros de nós a existir. Rhikan enfurecida, tomou a noite fazendo todos adormecerem, e com sua magia fez com que os morcegos transformassem alguns deles, em seres como eles. Não exatamente iguais, assim nasceram os frios. A primeira criatura, chorou a perda de seus filhos, que deixaram de ser o que eram. E Rhikan ressurgiu após sua maldade, separando as espécies e lançando a maldição: um não pode viver com o outro. A noite é inimiga dos cães, e o dia inimigo dos frios. A deusa era a única que podia controlar a noite e o dia, e por isso, controlar os frios e os cães, assim como seus descendentes. E àquela primeira criatura que criara, ela proferiu: darás a luz a uma criança que será minha e entre os dois mundos poderá trazer a paz ou o caos. Nunca mais ouvira-se falar na deusa, que sumira da Terra deixando-os, e apenas voltara a controlar o nascer da noite e do dia.”



Seth traduzia cada frase de Taekhi e ao terminar, nos olhamos curiosos e confusos. Taekhi sorriu e nos perguntou:

— Suponho que não é o suficiente para compreender.

Seth traduziu a pergunta do ancião a mim. Neguei com a cabeça. E então, o ancião levantou-se, e saiu retornando com um livro velho em mãos.

“Há muitos anos, é aguardada a profecia. Os frios buscam a criança de Rhikan, para que tomem o poder da deusa para si e dizimem aqueles que os destroem. Contudo, a profecia é clara. A criança, cuja a deusa disse que nasceria daquela que deu à luz e apaixonou-se pelos lobos, é irmã dos lobos. E por isso, eles se encontrarão em algum tempo. E juntos formarão uma forte aliança.”


Taekhi mostrava as páginas do livro, cheia de frases em dialetos desconhecidos que Seth lia, ávido. Eu apenas me atentava as figuras. Poucas eu compreendia. E então, numa das páginas eu vi o selo que Malaika havia colocado em mim e apontei para ele, olhando o ancião em dúvida. Ele compreendera o que eu queria dizer, mas nada dissera. Então pedi a Seth que o perguntasse, se eu era a criança de Rhikan.

“Não é algo que devemos assumir. E nem negar. A única pessoa que pode descobrir a criança, é ela mesma. Que despertará no tempo certo. Tudo o que sabemos sobre a lenda de Rhikan é isto. E por isso, controlamos os ataques com o selo de Rhikan. Acreditamos ter funcionado em você, e por isso Malaika o utilizou. Mas, não podemos dizer que é você a criança da profecia. Isso só você pode descobrir, ou não.”
.


Eu me dei por satisfeita após tudo aquilo. E disse ao Seth que podíamos partir. Nos levantamos e agradecemos o ancião. Saímos da cabana e o líder da tribo estava do lado de fora aguardando. O ancião sorriu-nos e pegando em minha mão, encarou meus olhos por alguns minutos, sério e silencioso. E depois sorriu dizendo: “não se preocupe com as respostas, elas virão até você”. Afirmei com a cabeça e saí em direção ao carro.
No caminho de volta, Seth e eu parecíamos ter descoberto a cura de um câncer raro. Estávamos pensativos e silenciosos. Só até a metade do caminho de volta, quando eu decidi falar:

— E então? - perguntei.
— Muita coisa indica que a profecia pode ser sobre você.
Muita. Pegue aquele papel, e me acompanhe…

Seth pegou o “roteiro” em seu bolso e acompanhou meus pensamentos.

— Segundo a lenda… A deusa detém conhecimento das plantas… Uma coincidência, mas…
— Você cria remédios e emplastros com maestria.
— A criatura se apaixonou por um lobo.
— Você por vários.
— E então, uma criança nasce dela que também não é nem lobo, nem frio, e nem criatura. Mas transita entre os três mundos.
— Você de novo. Humana esquisita, loba no sangue, e intermediária dos frios. E não esqueça, que a deusa tem poderes mágicos que controlam os mundos.
— O que me remete ao que aconteceu com Mark. E meus “poderes” sobrenaturais. Na profecia também, os frios estarão atrás da criança.
— Confere.
— Mas os lobos se encontrarão a ela, por serem descendentes indiretos.
— Você veio até nós.
— E não posso esquecer do meu pesadelo Seth: a mulher sob a lua controlando lobos e seres sombrios, um sob a noite e o outro sob o fogo. Só pode ser isso: a criança da profecia.
… Eu não acho que tenha alguma coisa que não deixe claro que é você. E teve o lance da avó de Scott afirmar que a deusa se manifesta no seu corpo.
— Supondo a realidade ser justamente a da profecia… Qual o nosso próximo passo?
— Descobrir o interesse dos frios em você?
— A profecia já diz: me destruir para dominar Rhikan.
— Sim, mas… Será mesmo só isso? O Mark não havia dito que a razão de terem vindo para cá primeiramente não era você?
— Verdade… Vieram por outros motivos, mas ao me descobrirem… Na verdade, ao me descobrirem só Valerie fora encarregada de me deter. Mark e Darak ainda estão aqui, pelo mesmo motivo.
— O que me faz pensar que, o ataque ao Sam foi mesmo proposital e nada teve a ver contigo.

Ao voltarmos à reserva, combinamos Seth e eu, que nada seria comentado sobre aquilo. O foco se fazia necessário, e deixar todos cientes colocariam mais pessoas a “comandar” a situação. E não era o que eu queria.
Aquela noite, mal pude dormir. Não conseguia parar de pensar no que acontecia. E depois, comecei a pensar em Jacob. Até escutá-lo me chamando. Acordei assustada. Estava sonhando. Mas, sua presença se fazia sentir, como se estivesse ao meu lado.
Seria mais uma novidade da minha recém-descoberta paranormalidade?

Amanheceu e eu preparava-me para o trabalho, quando abri a porta de minha cabana e encontrei Malaika. Ela não havia dito nada, apenas pegou em minha mão e me entregou um pacotinho. Ao abrir descobri dentro dele: sementes vermelhas. Eu não recordava o nome, as reconheci pelo cheiro. Era veneno. Não entendi aquilo, mas Malaika sorrira e voltou à cabana de Sue. Guardei o embrulho em meu bolso.
Charlie estava chegando do trabalho noturno e me abraçou caminhando comigo até Sue. Abracei a mulher e adentrei à casa. Subi ao quarto de Quil. Ele estava em pé, com Embry e Seth ao seu lado.

— Quil!
! Estou bem melhor!

Nos abraçamos.

— Eu fico muito contente com isso, de verdade.
— Agora, quero ver a Bruh. Estranhei ela não ter me visitado mais.
— Ahn… Quil… - eu começara a falar, me sentia culpada, mas Embry me interrompeu.
— Ela andou doente Quil, mas está melhor e está na cabana de Emy, foi buscar o emplastro da .

Eu não sabia daquilo. Quil assentiu e saiu do quarto apressado. Parecia revigorado.

— O que foi essa melhora repentina de Bruh?
— Foi o seu remédio. Sam, nos contou da recuperação dele e nós entupimos Bruh daquela bruxaria sua.

Embry disse brincalhão, e Seth e eu nos entreolhamos cúmplices. Disfarçamos antes que Embry percebesse que escondíamos algo.

— E quanto ao Quil? Ficou bem, tão de repente…
— O Quil na verdade foi uma surpresa mesmo. De ontem para hoje, teve uma melhora significativa.

Assentimos, Seth e eu, e Embry se despediu de nós. Estava apressado para tomar o café da manhã.

— Vamos Seth?
— Vamos, já faltei o trabalho ontem por sua causa. - ele abraçou-me e descemos as escadas.
— Notícias do Black?
— Me diga você.

Rimos, mais uma vez cúmplices, e neguei com a cabeça. Dei carona ao Seth e combinamos de ir embora juntos.
O dia na farmácia foi como todos os outros. E a tarde no laboratório tão cansativa e cheia de fórmulas como todas as outras. Minhas pesquisas avançavam em teoria, mas não em prática. Ainda faltava algo para descobrir exatamente como parar as transformações quileutes. Antes de ir encontrar Seth, ele já estava parado ao lado do meu carro.

— Veio andando?
— Correndo. Percebi que estou ficando um lobo muito fraco.
— A culpa é minha também?
— Não tenho dúvidas. - ele zombou e riu da minha cara, me irritando.

Entramos no carro e seguíamos para a reserva até sermos abordados por Mark, poucos metros depois do laboratório, muitos metros antes do bairro Kalil.
Seth desceu do carro nervoso, e eu o pedi para ter calma. Fomos andando até Mark, que parecia apressado.

— O que foi? - eu disse séria a ele, já tentando estabelecer o controle sobre ele, minha marca queimava. Estava funcionando.
— Você tem que vir comigo. Antes que Valerie a encontre.
— Ir contigo para onde? Está louco? não vai com você a canto algum… - Seth avançou na direção dele, mas eu o segurei.
— Calma Seth! Mark, me diga o que aconteceu.

Mark não parecia estar contra a minha, discreta ordem.

— Eu vou te levar a um lugar que pode fazer você achar as respostas que precisa. E de quebra ficará protegida de Valerie por um tempo, seu amiguinho lobo aí que me desculpe, – apontou para Seth — mas, vocês não são capazes de defendê-la de Valerie.
— E por quê – Seth proferia com ódio aproximando-se mais e mais de Mark — você quer ajudá-la?

Mark sorriu desafiador ao Seth, e olhando para mim disse:

e eu temos um lance… Ela sabe. E, para ser sincero eu preciso da sua ajuda, . Então não posso deixar nada te acontecer, ainda.
— Seth… - o chamei distanciando-o de Mark — Eu vou com ele. Pressinto que Mark não mente, inclusive porque eu não quero que ele minta. Entende?
— Você descobriu ontem que é um tipo de bruxa e já achando que pode montar numa vassoura e sair voando?
— Seth… Eu sei que parece imprudente, mas, eu tenho que ir. É uma boa chance de descobrir o quê além de mim os trouxe aqui.
— Eu vou com vocês.
— Não Seth! Eu preciso que você me dê cobertura aqui, e controle as coisas para mim…
— Não concordo com nada disso.

Mark se aproximou de nós dois, como uma rajada de vento, e revirando os olhos nos disse:

— Ei garoto. Eu não vou acabar com ela, fique tranquilo. Tem a minha palavra.
— O que faz você pensar que isso valha algo para mim?
— Eu já disse: eu não quero que ela seja pega. E você também não. Então, colabora tá?
— Tudo bem Seth. Só, faz o que eu pedir. - eu disse e a muito contragosto, mais uma vez, Seth cedeu aos meus pedidos.

Combinei que Mark me encontraria na saída da cidade. Pedi ao Seth para me acompanhar até a reserva e depois me deixar no ponto de encontro. Seth, certamente e revoltado, bradava broncas a mim, no caminho de volta. Ele não estava errado quando dizia que era uma loucura absurda eu acompanhar um frio, a algum lugar que eu não fazia ideia, por um motivo que não havia sido exposto. Mas, além do meu ímpeto a correr riscos, a minha intuição dizia que eu deveria seguir.
A desculpa que daríamos, Seth e eu, aos outros na reserva era de que, Julian e Hernando precisavam que eu viajasse para resolver um problema para eles. E não imaginamos que teríamos nenhum problema com aquilo, uma vez que os gêmeos mal apareciam em Forks. E se aparecessem, não era como se alguém os fosse perguntar de algo. Eu não sabia quanto tempo ficaria fora, e portanto, a desculpa também serviria a Jacob. Entretanto, deixei a Seth a instrução: se Black voltar antes de mim, não deixe que ele encontre os irmãos. E me avise imediatamente.
Seth embora desgostoso de tudo aquilo, se deixou ser convencido por mim. Ele seria a única ajuda que eu teria.
Chegamos na reserva e dei as explicações aos presentes, que por mais desconfiados que pudessem estar, acharam uma urgência normal na minha rotina sempre fantástica que: “a funcionária fora solicitada pela empresa”.
Já em minha cabana, eu preparava as malas quando Seth chegou dizendo que Sue insistiu que eu jantasse antes de partir, e perguntou a ele aonde eu iria, mas, o meu amigo sabia ser discreto quando queria. Fingiu não saber de nada.
Ele me ajudava a separar algumas peças de roupas, quando ouvimos um barulho no andar de baixo.

— Alguém aí? - perguntei no andar de cima, à beira de minha porta. Ninguém respondeu.
— Não é ninguém . Venha aqui.
— O que foi?
— Vamos combinar que assim que chegar lá sabe-se onde, você vai me dizer onde é o lugar. E se for perigoso vai me enviar a sua localização via GPS.
— Certo.
— E tem mais, dependendo do local, eu vou calcular uma média de dias para você demorar e se passar o tempo, irei atrás de você.
— Ok.
— E você assim que possível vai me contar o motivo de Mark levá-la, nem que seja por mensagem, ou alguma telepatia das suas novas bruxarias.
— Eu não sou uma bruxa.
— Você não sabe. E tem mais uma coisinha.

Eu estava ansiosa, e Seth não parava de falar. Entendendo a preocupação dele, respirei fundo e larguei minha jaqueta sobre a cama.

— Fala, Seth.
— Já usou essa aqui com o Jake?

Me virei, e lá estava Seth com uma cara atrevida segurando uma das minhas calcinhas de renda, azul-turquesa das mais bonitas que eu tinha. Sorri sem graça e ele gargalhou correndo para me abraçar.

— Não! E devolve isso!
— Promete que me deixa vê-la vestindo um dia?
— Seth!
— Sem maldade, juro. É só curiosidade.
— Deixa o Black saber.
— Ei! Ele não precisa saber, me mataria! Quer que eu morra?
— Quero que me solte.
— Promete primeiro!
— Você é um pervertido, eu não prometo nada e vamos logo!

Ele me soltou gargalhando. Lógico que era apenas uma brincadeira para me descontrair, e descontraiu, mas, precisávamos ser rápidos. Finalizamos as bagagens, que não foram muitas além de uma mala pequena, e a minha bolsa.
Descemos e me despedi com falsa calma, de todos os moradores da reserva. Sue reclamou por eu não jantar, mas, eu menti que já havia comido. No caminho para a saída da cidade Seth parou no mercado dos Carter, para que eu retirasse um dinheiro emergencial, e ele me comprou um sanduíche e suco. Fui comendo no banco do carona e ouvindo mais recomendações de Seth. Antes de chegar ao posto, ele parou novamente na estrada para anotar meus dados bancários, caso eu precisasse de mais dinheiro. Não seria necessário recorrer às poupanças de Seth, mas ele ficaria mais tranquilo se eu apenas concordasse em ceder os dados.
Surpreendentemente, assim que ele estacionou no posto – ponto de encontro marcado – Seth se atirou sobre mim, num abraço de irmão aflito.

— Eu estou lutando contra minhas próprias convicções em te ajudar nisso, então por favor, volte para nós. E rápido. Eu não conseguirei seguir se algo de ruim acontecer a você.
— Que isso Seth! - o abracei ainda mais apertado e me afastei, ele colocou a mão em meu rosto e me acariciou encarando meus olhos.
— Eu falo sério, . Eu não me perdoaria, mesmo que todos me perdoassem. Volte inteira para mim.

Eu sorri envergonhada, e um pouco preocupada com o que eu ouvira. Seth me demonstrava o desespero real daquela situação, o desespero que eu não alimentava até aquele momento. Beijei o rosto dele, e peguei minhas coisas para sair do carro. Descemos os dois juntos, e ele pegou minha mala na traseira de meu carro. Mark já me aguardava dentro de uma Ferrari, e se por algum segundo eu pudesse me permitir animar: era por saber que estaria dentro daquela Ferrari.

— Cuide bem do meu bebê.

Eu falei ao Seth o dando um último abraço, me referindo ao meu Mustangue. Ele assentiu sorrindo, e mais uma vez, antes que eu o desse as costas puxou meu punho.

— Já sabe: se demorar, eu vou atrás de você.
— Relaxe, Seth.

Caminhei até o carro de Mark, que estava a me aguardar. Ele encarava Seth, quando cheguei ao lado da porta do carona e bati no vidro indicando a mala para guardar na traseira. Ele me olhou sorrindo, como uma criança indo ao parque, e com um botão pressionado por ele, a porta traseira abriu.
Coloquei a mala lá dentro e antes que eu pensasse em sentar atrás, Mark proferiu: “não sou seu choffer”. E eu respondi no mesmo tom: “achei que fosse”. Dirigi-me ao banco da frente e ao afivelar o cinto, notei que ele e Seth ainda travavam um duelo por olhares. Pigarreei.

— Achei que o seu namoradinho fosse outro cachorro.
— Eu não namoro cães. E Seth não é meu namorado.
— Não é o que parece.
— Por que diz isso?
— Pronta para se divertir comigo, na nossa primeira viagem?

Ignorou minha pergunta e deu partida. Passamos ao lado de Seth, e ele entrava em meu carro. Lançou-me um último olhar aflito e meu coração apertou-se. Eu começava a me arrepender do que havia feito. Quanta imprudência eu ainda seria capaz de cometer?
Mark estava calado, observando os retrovisores. Notei a preocupação em sua face. E notei a falta de Darak. Não que eu quisesse estar na presença dos dois, indo sabe-se Deus para onde, mas, aquilo era algo a ser considerado. Eu já tinha as minhas muitas perguntas, e nenhuma resposta, e me concentrei em fazê-lo falar, até que…

— Não precisa se esforçar me obrigando a dizer nada, certo? Eu disse que precisava de você, e não pretendo negar as respostas.
— Quem disse que me esforçarei?
— Que bom, porque… Não sei se sabe, mas é doloroso quando faz isso.
— Mark… Aqui estou eu, no seu carro, indo para qualquer lugar desconhecido com você e sabe-se lá por quê, então, julgando que me faria mal… Eu já teria facilitado muito, não é?
— Eu sei também que não está com medo, se não, não teria vindo. Quando eu disse pro seu namoradinho que nós temos um lance, eu não menti, . Nós temos. Ou, a minha boa vontade em colaborar com você não pode ser considerada?
— Ok. Temos uma parceria.
— Era o que eu precisava saber.
— Mas… Não se anime. Toda parceria exige o mínimo de trocas e informações, e por enquanto, não temos nenhuma.
— Você é muito, muito ansiosa. Espere sairmos deste perímetro e eu falarei.

Observei que Mark continuava nervoso.

— Está fugindo de quem? Darak ou Valerie?
— Qual dos dois está atrás de você?

Não respondi. Meu celular vibrou e ao pegá-lo em minha bolsa, em meu colo, a mensagem de Seth piscava.

— Nossa! Seu namoradinho é realmente possessivo.

Mark riu. Eu estava sem humor, e não foi necessário dá-lo atenção, uma vez que, após soltar sua piadinha imediatamente voltou-se a observar a estrada.

“Não deixe de dar notícias. Eu estou realmente preocupado após encará-lo daquele jeito. Tivemos uma troca telepática. Acho que esse é o poder especial dele… Como Edward”.


Então Mark podia se comunicar por telepatia com outros? Mas, com lobos também? Recordei-me de Seth comentando sobre o assunto, e nada ele havia esclarecido sobre os frios terem efeito com estes poderes sobre os lobos. Mas, se havia acontecido minutos antes, então era verdade. Pelo menos com Mark.

“Confie em mim, você saberá cada passo nosso”.


Respondi a Seth. Queria perguntar sobre o que falaram, mas, me senti insegura pela companhia ao meu lado.
Já estávamos bastante afastados do perímetro da saída de Forks, e entrando na autoestrada. Guardei o telefone na bolsa e pelo canto de meus olhos analisei a postura de Mark. Não estava mais tão focado ao nosso redor, estava até com uma expressão menos rugosa. Embora ainda mantivesse-se concentrado em seus pensamentos. E tratando de pensamentos, tive cuidado com os meus, afinal, quantas vezes ele não teria lido-os?
E mais uma vez, me indaguei se Mark já havia premeditado todos os meus passos. Olhei para ele, discreta, e o vi sorrir de canto.
Será que ele estava lendo minha mente naquele momento? O melhor era não pensar em nada. Corri meus olhos rapidamente, sobre as mãos dele. E vi o anel com as iniciais KM. Recordando a primeira vez que nos vimos, eu não tinha até então, reparado se ele sempre usava aquele anel. Aparentemente, sim.
Verdadeiramente, eu estava nervosa por toda aquela situação que havia me metido, e ainda mais por desconfiar que minha mente não era mais segura. A única maneira de me ocupar e me livrar da interação mental com ele, seria fazer Mark abrir a boca.

— E então, Mark? Vai começar a falar?
— Como pode viajar com alguém que não consegue confiar?
— Como poderia confiar em você?
— Certo , eu sou um vampiro, perigoso, você uma humana vulnerável, eu morro de vontade de te chupar…
— Argh! - “rosnei” em negativa pelo comentário dele.
— Ok, escolha errada de palavras… - ele fez uma pausa — Talvez não.
— Mark!
— O fato é que, eu sou perigoso desde o início. E quando foi que realmente te ofereci algum risco?
— Não é como se tenha deixado de ser um risco porque somos bons amigos, mas sim, porque por alguma razão você precisa de mim.
— Boa percepção, mas está errada. Quando eu vim, você não era nada interessante a mim.
— Ah é? E por que me deixou livre então?
— Porque eu gosto de brincar com a comida.
— Você é detestável. Fale logo, por favor, qual a razão disso tudo?
— Bem… Anteontem, eu descobri por Darak uma coisa sobre você. Você tem algo que pode me ajudar. Mas, eu não sei ao certo se pode realmente.
— E o que é?
— Liga o aparelho de som e dê o play.

Fiz o que ele pediu: liguei o aparelho de som do carro, o número 01 apareceu e dei o play. Os primeiros acordes de um piano começaram, e em seguida uma canção instrumental. Eu achava que haveria alguma gravação ou coisa do tipo, e o olhei irritada e incrédula.

— O quê? Eu gosto de uma musiquinha embalando minhas histórias.
— Idiota… - sussurrei e ele riu continuando.
— Eu venho de uma província ao Sul da Bélgica, nasci em 1647 e me chamo Killiam Mark.
— Killiam? - olhei o anel e entendi as iniciais — Gosto desse nome.
— Pois eu não, era o nome do meu pai.
— Hm… Problemas familiares.
— Fui transformado aos dezoito anos de idade, por Killiam Ruskt depois de presenciar um ataque dele a uma mulher. Eu fui criado por meu pai e por minha mãe até os doze anos de idade. Ela faleceu naquela época, de uma praga. A peste negra havia assolado nossa região, e eu fui mandado para um colégio interno bem antes dela morrer, para evitar que eu fosse infestado. Quando reencontrei meu pai, aos dezoito anos, ele já era um vampiro. Fora salvo da doença, desta forma. Se é que pode-se dizer que foi salvo. Após minha transformação continuamos a viver juntos, saímos da Bélgica em direção a outros países, a procura de outros como nós. E encontramos. Àquela altura, meu pai tinha mais conhecimento e tempo como vampiro do que eu, obviamente, o que me fez o seguir. Ele se tornara pouco a pouco um caçador de recompensas. Caçava crianças vampiras, mas, não transformadas como nós, e sim… Que nasceram, já vampiros.

Ao ouvir aquilo, me lembrei de Emy, Lia e Embry me falando de Renesmée.

— Crianças nascidas… É possível?

Ele ignorou a pergunta retórica e continuou sua história.

— E eu continuei fazendo as mesmas coisas que ele. Foram longos tempos de matança… O que me levou a me separar do meu pai, foi que ele passou a me caçar. Descobriu algo valioso, algo pelo qual ele poderia se tornar importante, mas, era preciso que me entregasse a um grupo de vampiros poderosos.
— O que ele descobriu?
— A lenda de Rhikan.

Fiz o que pude para não demonstrar surpresa, mas, Mark já sabia que eu tinha informações sobre aquilo.

— É … A mesma lenda da qual você vem.
— Como sabe se eu venho mesmo da lenda?

Mark me ignorou novamente, e esboçou um falso riso pelo nariz.

— Os Volturi, são um grupo de caças talentos. Uma família antiga e poderosa entre nós, e certamente você já ouviu falar deles por causa do seu namoradinho. Enfim… Eles buscavam a criança. E meu pai tinha algo valioso para que eles a encontrassem.
— Que coisa valiosa?
— Eu. E acreditando que, se os ajudasse ele seria recompensado no meio disso tudo, ele começou a trabalhar para eles e me enganou. Azar o dele eu ter um talento escondido.
— Vo-cê?
— É, ! Achou que era a única com poderes sobrenaturais? Eu sou telepata, gatinha!
— Não Mark! Não é disso que estou falando! Você… Você e a lenda… O que poderia…?
— Eu falei que nós temos um lance.

Mark zombava rindo.

— E pelo visto você não soube uma parte da profecia: a criança será encontrada pelos lobos, mas, terá um frio que nascerá designado a dominá-la. Quando Rhikan lançou a maldição, ela lançou também outra maldição oculta. Um ser da noite nascerá muito antes da criança, para que em sua vida seja preparado a encontrar no futuro a criança, e assim despertar a Deusa dentro dela. Ele será o sacrifício para Rhikan despertar, ou aquele que a dominará primeiro. Entende?
— Você é o caminho para encontrar a criança…
— Não só isso. Eu passei muito tempo, depois de descobrir os planos de meu pai e dos Volturi, me escondendo. Os Volturi nunca souberam que eu era o ser da profecia porque assassinei o meu pai antes que descobrissem, e quando estive cara a cara com um deles, meu poder de telepatia preservou a verdade. Mas, não sei quanto tempo mais isso poderá ser evitado agora que você foi descoberta.
— Mas, eu posso não ser a criança!
— Não seja ingênua! Como não percebeu que foi depois da minha chegada que seus poderes começaram a despertar?
— Não foi não!
— O quê? Acha que os lobos são responsáveis por isso? , … Você não entendeu a profecia ainda? Rhikan dentro de você pode despertar o que os lobos têm dentro deles, mas, só depois que o frio liberar a deusa dentro de você, é que você pode se tornar uma ameaça para nós. Se não, porque todos estariam, buscando você antes que a Rhikan desperte?
— Eu estou zonza com toda esta informação…

Mark me olhou um pouco preocupado e ficamos em silêncio. Eu assimilava tudo o que eu ouvi. Estava mais uma vez, como tantas outras, confusa e surpresa.

— Durma. Você está cansada do dia longo e de todas as coisas que eu disse.
— Não, eu estou bem.
— Durma! Vai precisar estar bem para tudo que ainda virá.
— Não, eu estou bem.
— Céus, como é teimosa. Durma, ! Eu não vou fazer nada contra você! E depois, eu quero chegar logo, e para isso correr a uma velocidade que pode te dar enjoo, então… Apenas durma.
— Certo… Mas, antes me diga: para onde estamos indo?
— Para a Bélgica.

A fanfic foi dividida.
Leia: PARTE TRÊS.


Nota da autora: A TRILHA SONORA AGORA ESTÁ DISPONÍVEL PELO SPOTIFY ;) Link abaixo.
#COMENTEMAIS Ansios@s para descobrir T-U-D-O sobre a "paranormalidade" de ? Me conteeeeem! Estou curiosa igual à fofoqueira de janela para receber as opiniões de vocês. Já sabem né? Comentem aí abaixo. E se quiser conversar, estreitar os laços, e confabular mais sobre a fic, estarei aguardando você no Grupo do Facebook, e nas redes sociais. Os links estão disponíveis abaixo ;D

GRUPO DA FANFIC NO FACEBOOK | PÁGINA DO FACEBOOK
Eu tenho uma ask só para responder às perguntas e curiosidades das minhas leitoras, e o link está logo abaixo:


Outras Fanfics:
| Semiapagados (Finalizada) | O modo mais insano de amar é saber esperar (Finalizada) | A Garota da Jaqueta (Finalizada) | Conversas de Varanda (Finalizada) | Pretend | Western Love | No Coração da Fazenda | | 07.Take Over (Ficstape Nick Jonas)


comments powered by Disqus