Finalizada Em: 10/02/2019

24 - Uma Viagem Inesperada

Depois que Mark dissera para onde estávamos indo, eu queria contar ao Seth, entretanto não achei prudente. Não sabia ainda, o que o Mark – exatamente – queria comigo. E acabaria por preocupar Seth sem ter todas as respostas.
Apenas digitei: “Estou bem e assim que souber tudo, eu te conto o que está acontecendo” e enviei a mensagem. Seth não respondera e apesar de saber que ele deveria estar muito ansioso, também soube que ele procurava confiar em mim.
Virei meu rosto para a janela e fechei os olhos. Não conseguiria dormir, principalmente por estar com Mark, mas tentaria ao menos fingir. Alguns minutos depois de fechar meus olhos, senti um grande impacto sobre meu corpo, como se eu afundasse no banco e abri levemente os olhos. Não enxerguei nada além de borrões na paisagem da janela, e o motor do carro embora silencioso, “ronronava” mais forte. Era a aceleração que Mark havia avisado. De fato, eu não estava acostumada a correr daquela forma numa estrada tão sinuosa, e senti o início dos enjoos. Me remexi, e voltei a fechar os olhos. Mark, talvez por perceber meu desconforto, parou a música que tocava no rádio. Acabei adormecendo sem notar. Meu corpo estava muito cansado e alguma hora cederia aos próprios limites.
Quando acordei, não sabia onde estava e Mark abastecia a Ferrari. Peguei meu celular a fim de ver novas mensagens. Muitas mensagens de Seth preocupado comigo, das quais respondi com: “estou bem, não se preocupe”. Àquela altura, eu deveria ao menos dizer para onde estava indo, então desci do carro e Mark sorriu.
— E você não queria dormir!
— Onde estamos?
— Ainda na América. Já passamos de Washington e levaremos mais ou menos, meia hora para pegar o avião. Pretendo chegar antes disso, se você aguentar a corrida.
— Por que não pegamos o voo do aeroporto de Washington?
— Porque eu não gosto de voos apertados, gatinha. Iremos num voo particular.
— Não gosto disso.
Mark pagou o combustível na bomba, e caminhou lentamente até mim e zombou sorrindo:
— Não gosta de ficar a sós comigo, ?
Aquele tom de voz provocativo era de fato perigoso. Em outras ocasiões eu perderia meu autocontrole, facilmente, para Mark. Contudo, eu já não me atraía mais pelo olhar profundo e charme viril dele. Rolei os olhos entediada.
— Não é um fato desconhecido a você que não gosto mesmo, de ficar muito perto. - respondi.
— Até o fim desta viagem mudaremos isso.
— Estou com fome. Pegue algumas coisas naquela máquina de lanches que eu vou ao banheiro.
— E sou seu empregado?
— Não, mas é o anfitrião da viagem. Aja como tal.
Ele riu – percebi que Mark estava muito bem-humorado com tudo aquilo – e eu entrei à porta do banheiro feminino daquela parada. Conferi, e não havia ninguém dentro dele. Puxei o meu telefone e disquei o número de Seth, que atendeu muito rápido. Com certeza, o aparelho estava em suas mãos.

— Pelo amor de Deus, até que enfim! Sabe o quanto estou desesperado? As pessoas estão começando a notar que tem algo errado.
— Pelo amor de Deus, digo eu, Seth! Não deixe o nosso disfarce ser descoberto! Tome uns calmantes, se preciso for!
— Fala logo, : onde você está, como está e o que ele quer?
— Calma, eu estou muito bem. Mark está sendo até cuidadoso comigo, o que não me deixa muito confortável, admito, mas estou bem! Estamos indo para a Bélgica, e agora exatamente estamos num posto de gasolina em um lugar que eu não conheço. Mas, já passamos de Washington e pegaremos um voo particular dentro de meia hora, em algum lugar.
— Moral da história: ele está levando você para a Bélgica com um saco preto na cabeça! Por Deus! Como pode não saber onde está?
— Eu dormi, Seth!
— Como pode dormir ao lado desse cara!? Você confia demais!
— Ei, olha só, para de julgar. Eu não quero levantar suspeitas desse telefonema, e até saber o que realmente ele quer comigo, eu não vou demonstrar que estamos em contato. Mas o que já sei é que estamos indo à Bélgica porque eu realmente sou a criança da lenda de Rhikan, e Mark está ligado à lenda também.
— O quê? Argh! ! Assim que puder me falar conte tudo! E mande agora sua localização!
— Está bem, beijo e se cuide.
— Se cuide você!


Desliguei a chamada e ouvi a porta do banheiro se abrir. Uma mulher com itens de limpeza adentrou. Sorri e a mulher me olhou desconfiada.
Enviei a localização ao Seth e saí do banheiro encontrando Mark escorado à porta do carro, com os braços cheios de coisas.
— Vamos.
— Você demorou.
— Uma mulher não pode ter um pouco de privacidade?
— Para quê privacidade num banheiro de posto?
— Ok… Eu estava tentando telefonar para meu namorado. Ele viajou muito antes de mim, e pelo visto não vai me encontrar quando chegar… Preciso justificar essa viagem repentina que fiz.
Entramos no carro e Mark despejou as muitas guloseimas em meu colo.
— O que é isso?
— Você não está com fome? Eu não sabia o que pegar.
— Não precisava pegar isso tudo. Eu não sou uma draga.
— Como eu disse, eu não sabia. Você está sendo mal-agradecida.
— Ok, obrigada. E você não está com fome?
— Estou.
— Não vai comer?
Mark olhou-me com cara de tédio e riu. Levantou um copo tampado e com canudinho e o sacudiu, indicando que aquele era o alimento dele.
— Só um suco?
— Quer um pouco? – me estendeu o copo e eu recusei.
Ele levou o canudo aos lábios e eu pude ver o líquido grosso e vermelho forte subindo pelo canudo. Arregalei os olhos me dando conta de que estava ao lado de um vampiro. Fiquei aliviada por saber que ele providenciara o próprio alimento, mas extremamente enojada.
— O que foi? Eu não poderia viajar com você sem o meu lanchinho, não é?
— Mark… Quanto tempo esta… dose vai te alimentar?
Ele gargalhava do meu apavoramento, e abriu um compartimento entre os nossos bancos. Era uma geladeira com outros copos como aquele. Coloquei a mão à boca, enjoada.
— Ei! Nada de vomitar dentro do meu carro!
— Fecha isso.
— Qual é! É só sangue, garota…
— É nojento!
— Não é não, ainda mais o tipo O negativo, que tem um sabor inigualável. A melhor safra.
— Para, por favor.
— Qual o seu tipo sanguíneo, ?
— Não sei!
— Duvido.
E então, Mark aproximou seu rosto do meu rapidamente, e sorriu maquiavélico. Seus olhos eram de um brilho vívido e sedutor. Ele aproximou o nariz de meu pescoço e cheirou. Senti a ponta gelada de seu nariz sobre minha pele, e arrepiei-me. Mark fez tudo isso, enquanto dirigia, numa agilidade apavorante. Se ele decidisse me destruir, eu não teria tempo de gritar.
— Ora, ora! Você é deliciosa…
— Nunca mais faça isso! – esbravejei enquanto ele, com cobiça me encarava entre um olhar e outro para a estrada.
— Seu tipo é O negativo! Sorte sua eu ter me alimentado agora, pois se eu fizesse isso com fome… Certamente não resistiria.
— Quer um bolinho? Você deveria experimentar novas dietas. – falei estendendo o bolo de chocolate na minha mão, para ele.
Eu não sabia se funcionaria, mas eu estava assustada e queria dispersar o meu cheiro que ele havia acabado de sentir. E parece ter funcionado, pois o olhar dele, deixou de ser predador. Mark riu e desconversou:
— Então, aquele que a levou até mim não é o seu namorado?
— Eu já havia dito que não, e você conhece Jacob.
— Isso, isso… Jacob Black. O seu namorado.
— Por que achou que Seth era meu namorado?
— Porque ele te deseja como tal.
— Nada a ver.
— Você não sabia? – Mark riu — Não se preocupe com isso, é só o poder de Rhikan. Todos os lobos sentirão uma espécie de desejo por você. Não é algo voluntário.
— Como pode saber tanto?
— Gatinha, eu tenho só 370 anos, sem contar o tempo como humano… Como poderia não saber tanto?
— Três séculos de maldição… Quando você morre?
— Não é como você pensa, com estacas, alho e aquelas bobagens. E lógico que não vou te contar como é. Não que você pudesse me matar se quisesse…
— Eu posso. Esqueceu?
— Uma pena que você não sabe como.
— Uma sorte que meus poderes surgem cada vez mais quando estou perto de você, não é?
E de repente, Mark entendera que eu havia compreendido: cada minuto perto de mim despertava Rhikan, o que significava que ele precisava dominá-la o mais rápido possível, ou morreria.
— Você se finge de boba, não é mesmo?
— Talvez você que não saiba tanto, quanto demonstra.
— Coma as suas balinhas e fique quieta.
Ele estava irritado, e eu gostei daquilo. Peguei um dos refrigerantes que ele comprara e abri. Ele me observava pelo canto dos olhos, e impaciente ligou o rádio.
— Mark, não fique irritado. Ainda passaremos muito tempo juntos.
— Não estou irritado.
— Hm… Sei. O que me remete a uma pergunta, e você disse que não negaria as respostas.
— O que é?
— Por que disse que esta seria nossa primeira viagem?
— Porque certamente, você vai amar e querer outra.
— Idiota… Você diz que os lobos me desejam, mas você é muito mais pervertido.
— Natural, você tem os sentimentos castos dos lobos… Lealdade, amor, admiração… Mas quanto aos frios, você desperta os sentimentos mais impuros… Cobiça, ambição, luxúria… Eu diria até, sentimentos carnais. Coisa de humano.
— Por que a deusa teve este tipo de fidelidade dos vampiros?
— Os frios são mais independentes do que os lobos, eles não precisam de um líder… Como eles chamam mesmo?
— Um alfa.
— Exato. O papel do seu namoradinho.
— Como sabe disso?
— Um lobo sem pata não pode lutar.
— Sam… Foi de propósito! Não é?! Vocês o atacaram para fazer Black assumir a alcateia!
— Como eu dizia, nós vampiros não temos isso. Então é muito mais fácil que mudemos de ideais e de lado. Os frios não eram leais à Rhikan, mas comparado aos lobos, mais fáceis de ceder aos interesses dela. Por isso, eu sou o sacrifício colocado para despertá-la e você a coisa que a hospeda.
— Mark, porquê atacaram o Sam de propósito?
— Não foi.
— Não minta.
Minha marca queimava, e eu não sabia se poderia ter o controle de Mark como imaginara, mas tentei. Infelizmente, aquele tempo todo Mark fingira que obedecia “aos meus comandos”.
— Certo , vamos esclarecer: você não tem domínio sobre mim, ok? Não sinto nada além de cócegas quando você faz isso. E desgasta suas energias à toa. Guarde para vampiros mais fracos. Você vai precisar.
— Mark, se quiser a minha ajuda, como diz, conte toda a verdade. Desde a sua vinda para Forks, quanto ao tipo de ajuda que pode querer de mim.
Ele me encarou sério, e notou o quanto eu estava decidida. O carro freou bruscamente. E só então me dei conta de que havíamos chegado a um aeroporto particular. E havia somente um homem nos aguardando. E um que eu conhecia.
Mark estacionou o carro num galpão, e desceu sem falar nada. Peguei minha bolsa e o segui. Darak estava parado próximo à aeronave no mesmo galpão.
— Prepare-se para entrar no avião.
Mark me disse e depois foi ao seu lado do carro, e carregou seus “lanchinhos” para dentro da aeronave. Darak me encarava sério, e agora sim, eu estava preocupada. Observei ao meu redor e vi um banheiro.
— Aonde vai?
A voz de Darak trovejou, e sem demonstrar medo, empinei o nariz e o respondi seca:
— Ao banheiro.
Dei as costas a ele e dentro do reservado enviei minha localização de novo para Seth.

“Não me responda, só leia: estou num aeroporto particular, vamos partir
para a Bélgica agora. Darak também está aqui. Não sei o motivo. Mas,
descobri que o ataque a Sam foi de propósito para Black assumir-se como
alfa. Estou bem, até agora. Fique atento, assim que puder enviar mais
notícias o farei”.


Quando saí do banheiro, Darak não estava mais lá, e Mark carregava minhas guloseimas numa sacola e trancava a Ferrari com o alarme. Me esperou aproximar dele, para subirmos à aeronave.
— Quantas vezes por dia você precisa de “privacidade no banheiro”? Foi ligar para o seu namoradinho, de novo?
— Eu tomei uma lata inteira de refrigerante, esqueceu?
— O quê? Você não aguenta nem um litro sem ir ao banheiro?
— Por que Darak está aqui?
— Qual o seu problema com ele? Ele te mete mais medo do que eu?
Entramos no avião, e não avistei Darak ali.
— Só quero saber o motivo.
— Sente-se, e ponha o cinto.
Mark deixou a sacola de guloseimas perto de mim, e entrou à cabine do piloto. Demorou um tempo ali, até o avião decolar. E ao alcançarmos altitude, olhei pela janela, estávamos estabilizados e eu retirei meu cinto.
Mark surgiu pela porta que dava para a cabine e caminhou até mim, sentando-se à minha frente.
— Darak está aqui para me ajudar também.
— Ele é o piloto?
— O principal. Conseguiu falar com Jacob?
— Não.
— Quando ele retorna?
— Não sei ao certo.
— Tentaremos voltar antes dele, até porque não quero problemas com ele agora.
— Agora? Quando arrumará problemas com ele?
— Vamos falar de nós. Esquece seu namorado.
— Nós? Pode começar.
, eu te trouxe para a Bélgica, porque… Há uma maneira de eu me livrar da responsabilidade em ser o seu dominador. Não que eu queira me livrar, mas estando ligado a você que é uma caça, eu me torno uma caça também. Já te expliquei isso. E preciso saber como me defender. O problema é que Darak descobriu isso, e também descobriu que a criança já deveria ter sido encontrada para que eu consiga me livrar disso. Então, estamos indo à Bélgica, atrás das respostas e de como faremos isso. Não quero que os Volturi me encontrem e descubram tudo, agora que sabem sobre você.
— Eles sabem sobre mim?
— Lógico, foram eles que mandaram Valerie atrás de você.
— E mandaram vocês três para outra coisa também. Afinal, até onde havia me dito, vocês tinham uma missão e depois que me acharam, foram divididos em duas missões. O que me remete a: porque atacaram Sam de propósito a fim de que Jacob fosse o novo alfa?
— Eu digo que os Volturi estão atrás de você, e Valerie é perigosa o suficiente para isso uma vez que enviaram ela, e você está preocupada em por que arrancamos o braço do irmãozinho do seu namorado? Como pode se preocupar mais com ele do que com você?
— Primeiramente porque amar é isto.
Own… que romântica! – Mark zombou de mim.
— E depois, porque confio o suficiente em mim, e nos quileutes para saber que vou me livrar deste problema.
— Você não sabe o que está prestes a enfrentar.
— Então me diga.
— Os Volturi dominam grande parte dos clãs dos frios. E os Cullen foram um deles. E só estão vivos porque Alice previu que a aliança entre os lobos e os Cullen derrotaria os Volturi. Mas, não significa que os lobos venceriam os Volturi sozinhos.
— Então, quem fez nova aliança com os Volturi e veio atrás dos quileutes agora, Mark?
— Como?
Ele estava assustado.
— Os Cullen, não é? Ou melhor… Isabella Cullen.
— Eu não vim aqui para dizer o que eu fui designado a fazer, ou Darak. Eu vim me livrar do compromisso profético com esta maldita Rhikan dentro de você.
— O que você não percebeu é que, você depende de mim para isto. E se eu não quiser, você não se livrará da sua responsabilidade.
— Acha mesmo que tem poder para dar as cartas aqui? Somos dois, contra uma. Dois vampiros contra uma humana.
— Eu não acho que tenho o poder de dar as cartas. Eu simplesmente, tenho.
— Sabe que se você fosse uma vampira seria uma, muito forte? É confiante, assume riscos e bastante arrogante!
— Não é com a Bella que você está falando.
— Achei que fossem amigas.
— Fomos. Não sei se poderíamos continuar sendo agora.
— Confesso que, seria interessante um reencontro entre vocês.
— Então você a conhece mesmo!
Ele ficara mudo.
— O que foi Mark? Não entendeu que eu já descobri o motivo de você e Darak terem ido à Forks?
— Você acha que sabe.
Mark se levantou, e o bom humor havia ido embora. Foi em direção à cabine do piloto e me deixou na poltrona sozinha.
Fiquei pensando em como eu havia conseguido manipular as informações daquele jeito, já que Mark era um telepata. E pude notar uma fraqueza: ele não conseguia controlar todo o tempo a telepatia dele. Ou, não fosse uma fraqueza, mas os meus poderes se revelando mais fortes.
Eu aceitaria colaborar com aquela “missão” que Mark havia me trazido apenas por uma razão: eu precisava descobrir mais a respeito da criança da profecia, se é que eu realmente fosse ela.
Porém àquela altura, eu não desconfiava do contrário. Então, eu teria que descobrir sobre mim e deter Mark de descobrir qualquer coisa que me deixasse nas mãos dele.
Aproveitei o tempo sozinha para enviar ao Seth as mensagens contando tudo aquilo. E ele me enviou uma mensagem de apoio, dizendo que estava preparando tudo para viajar se preciso fosse, e infelizmente, dissera algo mais que eu não gostei: Bruh Ateara descobrira que eu viajei com Mark. Não perguntei o que o Seth teria feito para deixar a informação vazar, e ele prometeu que estaria de olho nela.
No momento, Bruh era a última das minhas preocupações.
O tempo que levou para chegarmos à Bélgica, eu não calculei, embora achei-o muito longo. Principalmente por ter estado o voo inteiro, sozinha. Me permiti cochilar algumas vezes no fundo da aeronave, pois queria evitar dormir durante a noite agora que havia dois vampiros ao meu lado.
Chegamos no local, já em noite alta. E eu já tinha tomado uma cápsula de cafeína, que trouxera em minha bolsa.
O céu era nublado e não pude observar abaixo dele.
Não demorou muito tempo sobre as densas nuvens, logo, o avião começou a baixar voo e pousou numa pista aberta. Eu ainda não conseguia enxergar nada. Escutei o barulho das turbinas diminuir, e me levantei para espiar mais pelas janelas.
Darak apareceu junto ao Mark, ele abriu a porta da aeronave, enquanto Mark me encarava.
— Chegamos.
Darak desceu na frente, e eu peguei a minha bolsa. Coloquei-a sobre o ombro e esperei Mark sair, no entanto, ele me deu passagem primeiro. Por uma razão desconhecida eu não queria sair na frente de Mark. Ainda mais depois de perceber a maneira como ele me encarava. Me odiei, por não ter aproveitado para mandar a localização ao Seth, enquanto o avião baixava voo.
Desci à frente de Mark. Não vi Darak.
— Onde está Darak?
— Indo para o mesmo lugar que nós.
Uma chuva fina caía, e o caminho era muito escuro. De repente, os postes de luzes da pista de pouso começaram a acender e iluminar o caminho. Ainda não havia descoberto para onde estávamos indo, mas o caminho era longo. Mark andava calmo sob a chuva fria, e embora estivesse com um sobretudo grosso de couro, não era como se não sentisse o gelo das gotículas por causa dele. Ele realmente, não sentia incômodo com o vento frio cortando o rosto, e a água gelada tocando a pele.
Eu, por minha vez, apertava-me em minha jaqueta.
— Logo poderá se aquecer. – ele disse.
— Para onde estamos indo?
— Para minha casa.
— Por que Darak foi na frente?
— Não se preocupe, ele só foi adiantar as coisas para você.
— Que coisas?
— Não tenha medo, eu já disse que nada vai te acontecer.
— Que coisas, Mark?
— Agora que chega aqui é que se preocupa? Ele foi acender a lareira, preparar o quarto de hóspedes, estas coisas…
Olhei desconfiada para ele. Por que me tratar como uma hóspede? E pedir para Darak fazer tudo?
— O que você e Darak são um do outro?
— Que pergunta é esta?
— Parece que ele faz tudo para você.
— Não é assim, ele só está me ajudando.
— São parentes?
— Talvez parceiros.
— A palavra amigo não existe no seu vocabulário, ou está tentando esconder que vocês são um casal?
— Ok, chame como amigos se preferir. Eu vou fingir que não ouvi a sua ofensa.
Eu sorri zombando. Seria engraçado se Mark e Darak fossem mesmo um casal. Mas, não era algo evidente. De repente uma grande mansão, na verdade, um castelo antigo, se iluminou. Aquela era a casa de Mark. Darak havia acendido as luzes. E eu encarava aquilo imaginando o próprio castelo do Drácula. Era amedrontador. Mark não pode evitar rir. E lembrei-me de que tudo o que eu pensava não estava protegido dele.
— Eu sei que você está se comunicando com Seth desde que saímos, e enviando a ele nossa localização. – ele disse.
— Como?
— Eu sei que você também já sabe que não há segredos da sua mente, para mim.
Parei de andar, e Mark ao notar parou também, ele se virou para mim com uma expressão confusa.
— Eu não darei nem um passo a mais, se você não me contar tudo Mark.
— Tudo o que você precisa saber, é que… Não há um passo seu, que eu já não saiba.
— Eu quero saber a verdade, Killiam. Desde a sua vinda para Forks.
Ele não gostou que eu tenha o chamado pelo primeiro nome. Uma rajada de vento, e Mark já estava colado à minha frente. Nos encaramos desafiantes. Eu não poderia negar: coragem era algo que eu tinha.
As mãos de Mark, passaram lentamente por minha cintura e ao sentir a pegada forte dele, apertei ainda mais o olhar na direção dele, como se dissesse: “continue e eu te matarei”. Algo que ainda não era possível, mas a postura de confiança faz toda diferença.
De repente, Mark me colocara sobre seus ombros, e correu até a mansão. Tudo num movimento explosivo, como uma bala que sai do revólver.
Eu estava molhada, e gritava contra o gesto dele. Quando ele me colocou no chão, estávamos numa grandiosa sala daquele castelo.
Eu estava brava, mas não falei mais nada, além de reparar o local. Totalmente diferente do que eu havia imaginado. Era moderno, bem mobiliado e muito elegante. Não se parecia em nada com o castelo mal-assombrado, por fora.
Darak, encostado na parede e de braços cruzados a frente do tórax, nos encarava entediado.
— E então, o que achou da minha casa?
— Diferente do que eu imaginei, mas que se dane a casa. Eu disse que quero saber tudo, ou eu não vou colaborar em nada com você, Mark!
— Eu avisei para não contar nada a ela. – Darak se pronunciou irritado.
— Acho melhor você não nos irritar , e dançar conforme a nossa música.
— Acho bom vocês não me irritarem também, e contarem tudo o que eu quiser saber!
— Argh! Ela é muito mais irritante do que eu pensava! – Darak reclamou novamente.
— Darak, pode nos dar licença? – Mark pediu.
— Deveria? Você amolece fácil perto dela.
— Darak. Por favor. – ele repetiu como se fosse uma ordem, discreto e cortês como um lord e o outro vampiro saiu.
Mark caminhou em minha direção, e cara a cara, ele desfez a postura rígida. Respirou fundo e com as mãos na cintura, sorriu:
, eu vou te falar o que for preciso saber, mas por favor, se concentre no motivo pelo qual eu a trouxe. Depois, eu te conto tudo. Tem a minha palavra. E antes que teime em discordar: eu farei um pacto com você.
— Pacto?
— Só tem que confiar em mim, até porque você não tem muitas escolhas, por mais que finja ter o controle sabemos que você não o tem. Estou um passo à frente de você.
Ponderei sobre o que ele dizia. E senti a necessidade de concordar com ele.
— Por hora… Eu vou me concentrar nisso. – me referi ao motivo de estarmos ali.
— Obrigado. Será bom para você também.
Naquele instante, senti como se Mark estivesse me protegendo, ou ajudando em algo que ainda não havia acontecido. Ele chamou Darak e o outro, apareceu diante de nós.
— Pode ir primeiro. Não se preocupe em voltar até estar saciado.
— Mas, e você?
— Tenho minhas reservas.
— Certo. A papinha do seu bebezinho aí, está na geladeira.
Eles riram e Darak saiu.
— Que babaca! Odeio ele! – eu disse.
— É recíproco. Mas, como eu disse antes… Se você me tiver nas mãos, terá o Darak.
— Ele foi fazer o que eu acho que foi?
— Caçar? Sim. Digamos que Darak tem menos controle quanto às suas necessidades, do que eu, o que o faz ser um pouco mais perigoso.
— Que horror… E onde, exatamente, estamos na Bélgica?
— Bruxelas.
— Que ironia. E você quando vai caçar?
— Quando minhas reservas acabarem. Ainda passaremos um tempinho, juntos.
Ele disse sedutor e passou as costas da mão em meu rosto. Eu o olhei séria e afastei a mão dele. Mark deu-me as costas e seguiu para uma escadaria larga, parou no terceiro degrau e convidou-me a subir.
— Mostrarei seus aposentos. Vamos. – ele disse.
Eu o segui, com minha bolsa em mãos e ao chegar no quarto, minha mala já estava lá. Darak deve tê-la carregado até ali. Mark dissera que no closet do quarto, havia roupas de cama para eu me aquecer e agasalhos também. Despediu-se e saiu, falou para eu ficar à vontade.
Caminhei até a janela grande do quarto, e ao chegar no vidro, um raio grotesco se mostrou diante da janela, fazendo a cena se tornar um clássico de filme de terror. Olhei para baixo e notei o quão alto estavam os quartos daquele castelo. Eu me sentia uma prisioneira na torre do castelo.
Me afastei das janelas devido à chuva perigosa, e as grandes cortinas grossas, azul-marinho davam um toque gótico ao estilo moderno do quarto. Abri minha mala e quando pensei em colocar as roupas no closet, eu encarei aquela ação e desisti. Não desejava ficar por ali muito tempo. Então não faria nada para acomodar-me àquela situação.
Peguei meu celular em meu bolso e não havia sinal naquele lugar. Eu estava incomunicável.
Depois de trocar minha roupa, vestindo algo mais confortável e me aquecendo bem, inclusive com um dos agasalhos do guarda-roupas do quarto, eu me deitei na cama olhando para o teto.
Black. Era tudo o que se passava em minha mente. Fechei os olhos e recordei do beijo dele. Dos toques dele sobre mim. E das nossas memórias, juntos. Onde e como estaria o meu amor? O que ele pensaria se voltasse e não me encontrasse?
Céus, eu sentia tanto a sua falta, que chegava a doer. E de repente, como se seus lábios estivessem sobre os meus, senti o toque quente deles. Abri os olhos assustada e não havia ninguém ali.
Fechei-os novamente, me concentrando em Jacob. O sorriso dele surgira em minha mente, como um borrão. Franzi as sobrancelhas demonstrando o meu esforço em conseguir me concentrar. E aí um grande clarão em minha mente se fez nítido. Em seguida, eu vi o sorriso de quem desaprendeu a sorrir: o primeiro gesto dele em que eu me apegara. Depois, o olhar marcante, os traços do rosto em suas expressões próprias e por fim, o sorriso solar: aquele sorriso de quem havia tido o brilho devolvido. E ao lembrar do nosso primeiro beijo, eu revi mentalmente aquela cena, porém, fora mudando aos poucos: nós girávamos e tudo ao nosso redor ficava turvo, e giramos até nos vermos em uma praia de ondas fortes e muito sol. Black estava vestido todo de branco. Pela primeira vez, inteiramente vestido. Havia uma cicatriz nova em seu pescoço. Eu não conseguia me ver, mas toda a reserva estava ali. Me olhavam admirados. E estávamos felizes. Aquela cena, que mais parecia uma visão do futuro, fora interrompida infelizmente por toques em minha porta.
Despertei assustada, levantando da cama e indo até a porta confusa. Ao abri-la não havia ninguém. Achei estranho, e saí dali em busca de outros cômodos. Muitos passos depois, encontrei uma porta entreaberta, e era outro quarto. Muito maior do que o meu. Não entrei, mas, achei estranho que os dormitórios fossem tão distantes um do outro. Desci as escadas e caí em novo corredor, com algumas outras portas distantes, cujas quais eu não precisei passar por elas. A escada continuava a descer à minha frente, e eu segui. E então, o último corredor ao qual me encontrei tinha uma luz ao fundo e ao seguir me vi saindo pela lateral esquerda da grandiosa escadaria da entrada.
Desci e observei novamente o lugar. Grandes sofás, um piano, uma harpa, poltronas e mesas decorativas. Dois ambientes montados: de um lado, o direito à escadaria, uma antessala sisuda, como se fosse para conversas sérias, e no outro lado, o esquerdo à escadaria, uma sala confortável como se fosse para relaxar.
Segui pelo lado direito, adentrando novo corredor e ao fim dele encontrei a cozinha. Mark estava com roupa mais confortável também e preparava algo num fogão moderno sobre a bancada. Ele notou-me chegar e olhou com travessura.
— Vejo que está mais confortável.
— Sim.
— E agasalhada.
— Você está fazendo o que, exatamente? – perguntei estranhando um vampiro cozinhar.
— O seu jantar.
— Está muito tarde para isso.
— Agora você vai comer. Não fiz tudo isto à toa.
— Por que você não come?
Ele fez uma pausa me encarando e ao notar que eu realmente, tinha dúvidas do motivo pelo qual não se alimentavam, mudou sua face em uma expressão envergonhada. Abaixou a cabeça e continuou a picar as cebolas e sorriu de lado, me respondendo óbvio:
— Porque minha alimentação é outra.
— E daí? Qual o problema em me fazer companhia e experimentar coisas novas? – falei me sentando à bancada.
… Vampiros não tem sistema digestivo.
— O quê?
— Desde que fui transformado, nunca mais pude sentir o gosto disso. – ele falou apontando para o fogão — Somos, como você disse uma vez: monstros. E nos alimentamos de sangue. E só.
Encarei Mark com espanto. Não pelo o que eu ouvira, mas por sentir a tristeza dele em falar aquilo. Ele não gostava de ser vampiro?
— Você é um bom anfitrião. Cozinhando o que não come para suas visitas. Mas, como sabe cozinhar?
— Você não é a primeira humana para quem cozinho. – ele olhou-me com expressão maléfica — Afinal, as mulheres se encantam por caras que dominam a culinária, pelo que eu pude perceber em meus 300 anos.
— Você atrai as suas presas pelo estômago?
— Claro! É eficaz.
Eu me levantei para sair dali contrariada e irritada por saber que ele utilizava aquele truque para acabar com a vida de outras mulheres. Agir daquela forma, as iludindo para depois matar era muito mais cruel do que se ele apenas as atacasse. Antes que eu conseguisse sair, Mark surgiu em minha frente, prendendo-me entre a bancada e ele.
Foi então que um clarão veio em minha mente, recordando um momento como aquele. O dia em que Black fizera a mesma coisa, prendendo-me entre ele e a bancada, o dia em que pela primeira vez Jacob dormira em minha casa.
? – Mark olhava-me curioso.
— Saia.
Ele se distanciou ainda confuso, e me encarava com seus olhos apertados, analíticos.
— O que houve?
— Você não sabe? – perguntei surpresa, pois uma memória daquela, tão forte, deveria ser fortemente perceptível a ele, também.
— Você ficou como uma estátua.
E ali eu descobri: Mark não podia ler minhas visões e memórias. Apenas os pensamentos superficiais. Sorri para ele, relaxando meu corpo.
— Está me escondendo algo. – ele falou ao notar minha reação de alívio.
— Não, não estou. Só que pelo visto, você não é tão telepata assim.
— Como?
— Esqueça Mark. Deixe eu te avisar uma coisa: eu nunca prepararei uma refeição para você, se algum dia os papéis inverterem.
Ele ainda confuso, retornou às panelas, me encarando com uma sobrancelha arqueada.
— Nem poderia. A menos que você fosse a refeição.
— Bem, isso não acontecerá.
— O que houve, ? Por que diz que não sou tão telepata assim?
— Se fosse, teria esta resposta.
Mark estava irritado. Eu já sabia identificar por seus gestos. Ele empurrou o prato com a refeição em minha direção. Estava bonito, mas eu não estava com fome. E jamais comeria qualquer coisa preparada por ele. Ainda era o meu inimigo.
— Coma. Não faça esta desfeita depois do trabalho que tive.
Ele disse sério e saiu da cozinha, me deixando sozinha. Peguei o meu telefone e ainda estava incomunicável. Estava nervosa por aquilo. O prato ainda cheio com a massa de talharim, perfeitamente apresentável e cheirosa à minha frente, demonstrava a falta de perigo. Mas, eu não comeria nada feito por ele. Não mesmo! Joguei a comida no lixo e coloquei o prato na lava-louças, junto com as panelas que ele utilizara para preparar o jantar. Aquela era uma cozinha fictícia, então eu a manteria limpa sempre que eu a utilizasse.
Depois de tudo lavado, seco e guardado retornei ao meu quarto. Subi a escadaria e no segundo corredor decidi ver aqueles cômodos. Acendi as luzes e caminhei cautelosa até a porta, eram apenas mais dois quartos de hóspedes e vazios. Retornei à escada e subi até o corredor do meu quarto. Passei pela porta daquele outro quarto, que ainda tinha a porta semiaberta e decidi espionar daquela vez.
Entrei e gostei do que vi. Uma enorme cama king size, numa decoração rústica monárquica. A cama de quatro grandes pilares com um tecido escuro fechando-a por cima. Impecável. O guarda-roupas antigo, todo em pedra mármore com portas de madeira talhadas à mão em toques dourados. Pouca mobília, mas uma poltrona de apoio ao pé da cama, abajures em criados-mudos e estátuas decorativas. Cortinas cobrindo as grandes janelas, muito antigas em vermelho-sangue com dourado. Caminhei até a janela e observei a vista: dava para ver toda a entrada do castelo. Suntuoso e apavorante. O dono daquele quarto só poderia ser o dono da casa, a julgar pela visão. Me virei para sair rapidamente dali, pois eu já sentia calafrios perturbadores. E dei de cara com Mark às minhas costas assim que me virei.
Ele me olhava novamente, com olhos de predador.
— Gostou do meu quarto?
— Desculpe entrar assim, mas sabe que sou curiosa.
— Gostou do meu quarto?
— É muito bonito.
— Gostou do meu quarto?
Por que ele repetia aquela pergunta?
— Eu já disse que é muito bonito.
— E não foi isso que eu perguntei.
Nos encarávamos um analisando o outro.
— Gostei.
Ele sorriu satisfeito. Havia algo estranho naquela pergunta.
— Bem, eu vou indo… – eu falei, mas Mark me segurou pela mão impedindo-me de sair.
— Gostou do seu quarto, ?
— Aquele não é o meu quarto. Mas, estou bem acomodada se esta é a sua dúvida.
— Claro… Vá dormir. Amanhã iniciaremos as buscas.
Ele me soltou e eu saí dali bem rápido. Queria perguntá-lo se ele dormia naquela cama, ou num caixão, mas eu também já sabia quando Mark indicava um perigo a mim. E naquele momento, ele agia como se ludibriasse sua presa. Eu detestava aquela sensação.
Entrei no quarto e tomei uma segunda cápsula de cafeína. Passei a noite em claro, trancada no quarto e pensando em La Push. Minha vontade era de explorar aquele castelo em busca de respostas, para que pudesse estar à frente dos vampiros. Mas, não tive coragem, aquela noite Darak ainda estava caçando e eu não queria ser surpreendida por ele ao voltar. Deixaria para o dia seguinte.


25 - O Diário de Killiam

Ouvi um barulho de caminhada no corredor, e supus serem os dois. Estava realmente cansada, mas, não consegui dormir. Abri a porta do quarto, já vestida para sair e dei de cara com os dois vampiros sérios me encarando.
— Eu acordo cedo. – eu disse.
— Ótimo! – disse Darak saindo na frente.
Saí e Mark caminhava ao meu lado me olhando discreto.
— Dormiu bem? – ele perguntou.
— Não.
Ele sorriu convencido e ao chegarmos nas escadas ele desceu à minha frente, virando-se rapidamente para mim:
— Pena você não ser como nós. Ter ficado acordada a noite toda deve ter sido difícil para você.
Não respondi nada, eu havia entendido. Eles não dormem e por isso, Mark sabia que eu também não. Ele continuou descendo as escadas e mais uma vez falara comigo, desta vez, sem se virar:
— Você prepara o seu café da manhã, já que vai jogar fora tudo o que eu fizer.
— Nada contra sua comida, só que eu prefiro me prevenir.
Então, ele se virou para mim, já estávamos na escadaria do saguão e me impedindo de passar à sua frente disse:
— Não estou chateado, pelo contrário, estou orgulhoso em saber que ainda me teme, apesar do nosso “lance”… Nos encontre na biblioteca quando acabar.
Ele apontou a direção de outro corredor e saiu. Fui em direção a cozinha, não queria comer na verdade, mas, tinha fome. Preparei waffles e um suco rápido. Limpei tudo enquanto os waffles eram assados na máquina e depois de comer, terminei de arrumar a cozinha de mentirinha do Mark.
Caminhei em direção ao local que ele mostrara. Ele e Darak estavam sentados em poltronas opostas, com livros em mãos.
— E então? – perguntei.
— Vê os livros sobre a mesa? Pode pegar um deles e investigar.
Mark falara de sua poltrona, e eu me aproximei da tal mesa, mas ficando de frente para eles – um pudor que era uma tremenda idiotice – espiei as capas dos livros. Eu não sabia o que procurar nos livros, e não entendia nada daquela linguagem que Lia.
— Será que podem me dizer, exatamente o quê, eu devo procurar?
— Apenas folheie e veja se, identifica-se com algo. Você não tem ajuda nenhuma para nós nisso, mas parece que Mark não anda mais sem o brinquedinho dele.
— Darak... – chamei-o com falsa amizade — Não precisa ter ciúmes, meu interesse no Mark é estritamente profissional.
Darak olhou-me com raiva e respirou fundo, olhou para Mark de esguelha. Mark disse para ele ignorar-me, e depois me encarou divertido.
Sentei-me à cadeira da mesa, e folheei dez livros sem ter nenhum sucesso. Até que em um dos livros, que mais parecia um diário, eu achei algo. Recordei-me do livro de Taekhi, a figura era muito parecida. Porém, enquanto no livro do índio eu avistara o selo utilizado por Malaika, no “diário” de Mark, o mesmo selo vinha acompanhado de uma espécie de “contrasselo”. A mesma figura, com alguns elementos diferentes, e espelho da outra. Na página seguinte, algumas palavras ininteligíveis para mim, e o esboço de uma mulher. Muito parecida com a mulher de meu sonho. Eu estava um tanto quanto confusa, e ao decidir fingir que não havia encontrado nada, Mark foi mais rápido e surgiu ao meu lado. Eu desejava descobrir aquilo antes dele, mas Darak e ele apareceram cada um ao meu lado. Mark retirou o livro de minha mão, sorrindo falsamente e leu. Depois o entregou a Darak, que leu e confirmou, risonho, alguma coisa em um aceno de cabeça para Mark.
Deram-me as costas e então perguntei:
— Ei! Qual é? O que está escrito aí?
— Não é da sua conta. – Darak dissera.
, você encontrou o que eu procurava. – Mark interrompeu os xingamentos que eu estava prestes a dizer ao outro.
— O quê? Assim? Vim de tão longe para vasculhar a sua biblioteca? Não poderia fazer isto sozinho?
— Sinceramente? Não. Por que acha que ele quis trazê-la? Embora eu tenha dito que eu daria conta de encontrar sozinho.
— Darak… Só para que você saiba: eu não suporto você. Então estamos quites. Não fala comigo e eu não falo com você.
— Vocês dois parecem duas crianças. Darak, por favor, dê o próximo passo. Ele saiu, deixando-me novamente a sós com Mark sem falar nada.
— Mark? Qual é? Vai ficar de segredinhos?
— Você é tão desesperada.
Ele voltou a aproximar-se de mim. Puxou a cadeira que eu estava sentada, dando espaço para que ele passasse e se recostasse na mesa, à minha frente. Apoiou os pés nos braços da minha cadeira, e apoiou os seus braços sobre os próprios joelhos fazendo com que, assim, eu estivesse presa entre a cadeira e ele. E nós muito próximos.
— Estou desconfortável. – eu disse encarando a posição invasiva dele.
— Eu sei.
Ele sorriu irônico, e eu suspirei pesado.
— Vamos lá: qual o próximo passo?
— Vai saber quando eu quiser que saiba.
— Vai tentar extrair o espírito da Deusa de mim, não é?
— O que lhe faz pensar isso?
— Sem bumerangue de perguntas, Killiam.
— Não me chame assim. E eu já disse que saberá meus planos quando eu quiser.
— Mas, se extrair o espírito precisará de outro receptor. Ou acha que vai libertar Rhikan e conseguir domá-la facilmente? Não se esqueça que a sua morte faz parte do processo de libertação.
— Calada.
— Darak será seu novo receptor, não é?
— Calada!
— E se vocês não conseguirem, Mark? Se despertá-la, você conhece os riscos, como escapará?
Ele irritou-se e pressionou meu pescoço com certa força. No entanto, eu não desviei meus olhos momento algum. Pelo contrário, continuei o encarando e sentia tanta fúria que meu desejo de o matar tornava-se forte a cada instante. Minha cicatriz começou a queimar, e meus olhos ardiam também. E então, Mark, ainda me estrangulando foi perdendo as forças sem me soltar, e seu olhar se tornou mais opaco e vazio. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas pouco a pouco, ele parecia ficar mais “desfalecido” e então, como se reunisse as poucas forças em si, ele atirou-se sobre mim. A cadeira em que eu estava, deslizou batendo à parede, com a ação de Mark.
Tomei um susto ao sentir os lábios dele nos meus. E as mãos que antes estavam em meu pescoço migraram para minha nuca. Ele tentava invadir minha boca, com sua língua e então eu o empurrei.
Mark entendera que era para se afastar, e calmamente saiu de perto de mim. Me olhava furioso, bravo, ofegante e ao mesmo tempo aliviado.
— O que você pensa que está fazendo?
— Quem é você para tentar me matar? – ele estava mais do que furioso comigo.
Gritou para mim, e se aproximou ameaçadoramente. Apontava o dedo em minha face segurando a cadeira com a mão livre. Eu ainda não entendia. E foi ali que ele notou.
— Você não sabe o que fez? – me perguntou e calada, neguei — Ótimo! Você se torna uma bomba atômica a cada instante e não percebe nada que acontece com o seu corpo!
— Eu… Estava mesmo o deixando fraco?
— Fui obrigado a beijar você. Uma sensação anula outra. Esta é a sua fraqueza. Não pode dominar todos os sentimentos ao mesmo tempo.
— Eu… Posso sugar você, até a morte?
— Acho melhor você ir para o seu quarto, até que Darak volte.
Ele falou raivoso e saiu. E eu aproveitei o tempo na biblioteca, para fazer as pesquisas que queria. Certamente, à noite, com eles ali não seria tão fácil espionar. Vasculhei todos os livros que pude. E por mais que não entendesse muita coisa, eu senti que algumas das páginas podiam ser importantes e então fotografei-as. Entre algumas páginas, achei uma imagem das sementes que Malaika me entregara. Eu havia trago-as comigo, no bolso da jaqueta. E tentei ler aquele idioma estranho, mas, não consegui. Estava concentrada, quando Darak surgiu na entrada da biblioteca como um sopro.
— Que susto! – gritei.
— Onde está o Mark?
— Eu não sei.
— Saia daqui.
— Por que?
— Saia daqui! – ele gritou comigo.
Eu não queria, mas por mais raiva que sentisse dele, era melhor me afastar. Subi ao quarto e não vi nenhum dos dois novamente. Enquanto estava trancava em meu quarto busquei sinal de telefone. Não tive muito sucesso, porém, mesmo assim enviei uma mensagem ao Seth. Pedi que pesquisasse tudo o que pudesse sobre as fotografias das páginas que eu lhe mandava. Na hora que meu sinal de telefone voltasse, Seth receberia a mensagem.
Saí do quarto, e desci sorrateiramente as escadas. Espionar os dois vampiros poderia ser uma burrice, mas eu estava curiosa para saber o que eles fariam.
Quando cheguei ao topo da escadaria do saguão, ouvi a porta da biblioteca fechar.
— Droga, eles sabem que estou aqui, óbvio! – eu sussurrei para mim. Caminhei até a cozinha e bebi água. Não podia escutá-los. E nem me aproximar, pois saberiam. E não poderia pensar muito sobre o assunto porque Mark também descobriria. Então, decidi voltar ao quarto. No caminho, ao lado da escadaria do saguão, havia um móvel – tipo um aparador com gavetas – e avistei o diário que eles tomaram de minhas mãos. Peguei, e o folheei rapidamente. Tirei mais fotos, e em uma das páginas vi um desenho de uma planta, que pareciam ser a mesma semente avistada há pouco no livro, ou seja, as sementes que Malaika me dera. Ao lado do desenho, haviam escrituras no mesmo idioma que eu não sabia, porém, no desenho setas levavam para uma lua e um sol riscados com um “x”. Certamente, Darak deixara o livro ali por saber que eu não entenderia a linguagem. E embora não entendesse realmente, gravei aquela informação.
Subi rapidamente ao quarto e deitei na cama. Passaram-se dez minutos e Darak surgiu batendo à porta. Atendi e ele disse para eu me arrumar para partir.
Meu coração acelerava de ansiedade. Peguei a minha jaqueta e a vesti. Guardei minhas poucas roupas levadas, e continuei com a roupa de frio que eu já vestia. E desci com a mala em mãos. Mark dissera que não era necessário reunir minhas bagagens, pois apenas daríamos um passeio. Mesmo assim, eu carreguei minhas coisas para onde iríamos. Eles me guiaram para fora do castelo, e entramos num carro que Darak dirigia. Mark viera atrás, junto a mim. Nenhum dos dois, dissera nada o caminho inteiro. Chegamos em um local, totalmente esmo, e comecei a temer minha morte. Adentramos uma mata densa, fria, e escura – apesar do horário matutino – e Darak entrou em uma caverna. Segui ele, com Mark atrás de mim, quase me forçando a andar.
Ao chegar ali, havia um lobo morto sobre uma pedra. Meu coração dilacerou e eu quis vomitar. Me aproximei correndo do animal, e ao notar que não era nenhum dos quileutes – pois, era um lobo de tamanho normal – fiquei mais calma, entretanto, triste da mesma forma por ser um animal inocente. Senti ódio dos dois vampiros e os encarei, ambos me olhavam com escárnio. Então Mark me puxou de perto do cadáver jogando-me para trás, ele se aproximou do bicho e bebeu o sangue dele. Eu me senti ainda mais enojada pela cena. E quis fugir. Darak segurou meu braço. Fechei os olhos, não admitiria assistir àquela cena.
Quando Mark acabou, Darak sujou as mãos com o sangue, que escorria através do pelo do pobre animal e Mark tirou a camisa. Darak fazia inscrições no peito de Mark.
Eu olhei para trás, e pensei em correr, mas eles me alcançariam. Ao mesmo tempo que eu queria correr, eu queria ficar e matar minha curiosidade. Depois que Darak terminara de inscrever aquelas figuras sobre o corpo de Killiam, ele se virou para o lobo morto. Perguntei o que ele estava fazendo, mas não obtive respostas. Enquanto os dois vampiros estavam concentrados no ritual, eu me recordei das sementes em meu bolso. Por mais que soubesse que eram veneno, eu sabia que haveria um motivo para Malaika me entregá-las, e se eu morresse ali, ao menos teria impedido os vampiros de realizar o que quer que fosse. Com lágrimas nos olhos, por imaginar que não veria meus amigos de novo, eu peguei as sementes no bolso da minha jaqueta, mastiguei e as engoli. O efeito viria logo.
Darak e Mark não perceberam, e o primeiro veio até mim, com um cálice de sangue do animal. Ele ordenou que eu tirasse a blusa. Neguei, e então Mark se aproximou calmo e disse:
— Não vamos lhe fazer nenhum mal, pelo contrário, lhe faremos um favor. Tire.
Neguei novamente, e Mark impaciente, atirou-se sobre mim retirando minha jaqueta e puxando meu suéter. Sorriu irônico ao ver meu sutiã.
Darak se aproximou o mandando me segurar. E enquanto Mark me segurava, Darak despejava à força em minha boca, o sangue do animal. Por mais que eu cuspisse, não impedi alguns goles daquele líquido viscoso e tão ruim. Eu chorava de ódio, de tristeza, e como não dizer também, de medo. Darak fez umas inscrições em meu corpo, e as reconheci. O selo inverso escrito no livro.
Depois, Mark segurou-me de frente para ele, e então Darak proferiu palavras estranhas em nossa direção. Eles executavam algum tipo de ritual que eu sabia para que servia: libertar Rhikan.
Enquanto Darak falava, eu não entendia por que o veneno não fazia efeito. E Mark sorria alegre falando para mim:
— Me agradeça depois por te livrar desta maldição. Você é bem inteligente , nós vamos tirar isso de dentro de você, sem precisar que eu morra.
Quanto mais Darak falava, mais enjoada eu ficava, e zonza. Minha cicatriz queimava muito, e meus olhos ardiam também. Novamente senti os braços de Mark se enfraquecerem enquanto ele me segurava. Eu suava muito e Mark lutava para soltar-se de mim. Então ele mordeu meu braço, e eu relutante, senti as suas presas adentrarem minha pele e a região queimar tanto quanto minha cicatriz. Foi através daquela mordida, que Mark novamente se salvou de mim.
Darak continuava falando e eu me aproximei fraca, até ele. O vampiro não entendia porque Mark me soltara, e também não parava de falar as palavras descritas no livro. E por causa disso não pode ouvir seu amigo, desmaiando no chão dizer-lhe: “afaste-se dela”. Toquei o braço de Darak e com um ânimo maior do que qualquer outra vez, observei Darak ser sugado por mim. Sentia-me ainda mais forte, enquanto ele secava.
Meu corpo tremia ainda mais, assim como queimava, e eu suava, ficava zonza e cada vez mais enjoada. Quando o corpo de Darak, seco como uma múmia, caiu ao chão, retrocedi alguns passos e caí de joelhos. Vomitei um líquido branco, espumoso e ácido. Era o veneno. Eu havia conseguido. Me livrei de Darak, e do perigo que aquele ritual poderia oferecer, e ainda estava viva.
Sentei-me ao chão recuperando as minhas forças e olhei o corpo de Mark estendido ao chão. Ele ainda estava vivo, embora fraco. Rastejei-me até o cadáver de Darak e procurei a chave do carro nos bolsos do paletó. Peguei também, o diário que continha o ritual. Depois me vesti. Encarei a chave em minhas mãos, e pensei se deixaria Mark ali ou não. Infelizmente eu precisaria dele, ainda.
E agora que eu sabia o que eu era capaz de fazer, Killiam Mark estava em minhas mãos. Seria matar, ou morrer.
Por mais que eu estivesse certa em tentar manipular o Mark, eu decidi não ficar ali para aguardá-lo despertar. Com as chaves em mãos, saí daquela caverna o mais rápido que pude. Estava exausta, mas graças à Darak, eu me sentia forte. Corri pela mata, tentando lembrar o caminho feito antes. E encontrei uma trilha que decidi seguir. Por sorte, eu posso afirmar, encontrei o carro. Entrei dentro dele, minha mala e minha bolsa estavam no banco de trás. Coloquei o diário dentro de minha bolsa, e dei partida. Não tive certeza se o caminho que eu fazia seria o correto, mas, arrisquei fazendo um retorno oposto à direção em que o automóvel estava estacionado. Dirigi cerca de trinta minutos e uma placa descrevia a entrada para uma cidade.
Cheguei até uma cidade pequena, mas moderna. Estacionei o carro em frente a uma lanchonete, e peguei minha bolsa. Quando entrei no lugar, que não estava cheio, os funcionários me olharam com expressões assustadas. Os cumprimentei em um aceno de cabeça e fui ao banheiro. A faxineira lá dentro, já estava de saída quando nos esbarramos e ela me encarou assustada. Fui até a pia, e pelo espelho vi o que os assustava: eu estava despenteada, um pouco suja de poeira, e em meu rosto havia vestígios do sangue que escorrera. Me limpei, tentei me ajeitar e decidi não passar tanto tempo ali naquele estabelecimento. Antes ainda de partir dali, aproveitei a civilidade para telefonar ao Seth.
— Seth! Seth! Consegue me ouvir?
! Graças aos céus! Estou muito aflito por você, você precisa voltar imediatamente!
— O que houve? Esquece! Eu preciso ser rápida. Caí em uma armadilha do Mark, mas estou bem e consegui fugir. Buscarei uma forma de voltar para casa.
— Eu irei até aí, se você puder me encontre no aeroporto da capital. Sairei o quanto antes daqui, para chegar a tempo.


26 - O caos do lar

— Seth! Escuta! Eu estou em uma estrada qualquer, de uma cidade pequena na Bélgica. Mark está desacordado, e eu o abandonei na mata. Darak está morto. Eu peguei o carro dele e fugi. Preciso que me envie imediatamente o caminho até o aeroporto mais próximo, de acordo com a localização que irei enviar!
— Certo, me envie. Vou te encontrar em Washington!
— Vou desligar, até mais!
Desliguei a chamada, enviei a minha localização ao Seth. Saí daquele banheiro partindo imediatamente para dentro do carro. Aguardaria a resposta de Seth ali, por medo de não ter sinal para onde quer que eu fosse. Repassei em minha mente, se as minhas coisas estavam naquele carro, e me alegrei por ter colocado tudo ali. E mais ainda, por ter pegado o diário. Em alguns minutos, a resposta de Seth – ainda que mais atrasada que o habitual – chegara a meu celular. Decidi partir diretamente para o aeroporto.
Mark não era tolo, e embora eu conseguisse o atrasar, não confiei tê-lo afastado por muito tempo. Então, ele que conhecia melhor aquele lugar do que eu, facilmente chegaria ao meu alcance. No caminho, eu me mantinha atenta à estrada e dirigia no máximo de velocidade que eu podia.
Depois de quatro horas dirigindo, o tanque do carro denunciava a reserva. Peguei minha bolsa no banco ao lado, e tateei minha carteira lá dentro. Depois que a alcancei, com auxílio da minha boca, para não diminuir a velocidade e nem soltar o volante, abri-a. O dinheiro que continha ali, seria suficiente para um tempo a mais de estrada. Não estava tão distante do aeroporto.
Encontrei um posto de gasolina, e abasteci meu carro. O fato de ser um “auto abastecimento” me deixou receosa, pois o cenário era deserto e perigoso. Após encher o tanque até a quantia referida, eu passei o cartão na máquina. O dinheiro que estava em minha bolsa, continuou ali intacto.
Mais uma hora e meia de estrada e cheguei à capital próxima, onde imediatamente abandonei o carro numa rua qualquer e pegando minhas coisas fui atrás de um táxi. Assim que o motorista parou, pedi que me levasse ao aeroporto e com dificuldade ele compreendeu. Entreguei-lhe alguns dólares, de maneira tão apressada que não soube a quantia correta, mas a julgar pela feição satisfeita do homem o prejuízo teria sido meu.
Desci correndo em direção à entrada do lugar. Procurei atenta e eufórica o guichê da companhia aérea necessária, e enquanto estive na fila procurei meus documentos. Mas, não encontrei meu passaporte. Onde estava? Não seria possível que eu deixara o meu passaporte em Forks!
Olhava para todos os lados, como se soubesse da presença de Mark. Revirei a bolsa com ainda mais pressa, e as pessoas começavam a notar meus atos. Logo chegou minha vez no guichê, e a senhorita que me atendeu olhava-me curiosa e preocupada. Perguntou-me três vezes, se havia algo errado. Na terceira respondi que não achava meu documento. “Lamento senhorita, sem o passaporte não será possível embarcar” ela falou num inglês não natural.
Eu assenti estressada, afinal, ela pensava que eu não sabia daquilo? Resmunguei odiosa, e quando pensava estar tudo perdido encontrei o que procurava. Com força desmedida, bati no balcão do guichê com os documentos sob minha palma. Se eu fosse a atendente, teria chamado a segurança por causa de minhas atitudes tão suspeitas.
— Uma passagem para Washington, EUA. O próximo voo, mais rápido possível. É uma emergência familiar! – justifiquei mentindo a fim de não causar mais suspeitas.
— O voo sairá daqui dez minutos, a senhorita terá de se apressar para o embarque.
— Então seja rápida!
Respondi grosseiramente e estendi para ela o dinheiro da passagem. A atendente pôs-se nervosamente a cumprir seu dever. Puxei o bolo de papéis em suas mãos e corri em direção ao embarque. Havia três pessoas na fila, e o local era um pouco afastado. Peguei minha mala pequena de rodas, pela alça de mão e corri o mais rápido que pude. Alcancei a fila e quando respirei mais calma, olhei para trás e o avistei. Mark vinha andando em minha direção com expressão raivosa e passos ágeis. A menina pegou os papéis de minhas mãos, e mais uma vez pedi pressa por urgência familiar. Ela, menos paciente que a outra, olhou-me descontente e continuou lentamente seu dever.
Mark estava a quinze passos, dez, oito, cinco passos...
— Aqui está senhora, tenha uma boa viagem.
Quando ouvi a voz da atendente e ela liberou a catraca passei como se escapasse da foice da morte, pela segunda vez naquele dia. O longo e iluminado corredor até o local de embarque também me parecia mais longo que o normal.
Dentro de poucos minutos eu estava no avião, enviando a última mensagem à Seth antes de decolar. E quando a aeronave levantou voo, finalmente eu pude respirar aliviada. Observei à minha volta, ainda paranoica e com medo, mas felizmente Mark não estava ali. Por pouco tempo, já que eu sabia que em Forks a realidade seria outra.
Horas de voo, e o avião pousava. Embora tivesse aliviada enquanto vinha embora, naquele momento, eu senti calafrios em imaginar a hipótese de Mark com seu jatinho ter conseguido alcançar-me e estar ali, na plataforma de desembarque à minha espera. Qual não foi meu desesperador alívio em ver a figura de Seth!
Corri até ele, o abraçando forte e foi impossível não chorar. Ele me abraçava e me tateava investigando cicatrizes ou qualquer sinal de maldade que haviam feito. Saímos dali imediatamente, embora paradoxal, eu me sentiria apenas totalmente segura ao chegar em casa. No mesmo lugar onde meu assassino também estaria.
Seth puxou-me em direção ao estacionamento, e com meu Munstang levou-me o mais rápido possível de volta. No caminho o expliquei tudo, e o silêncio dele me deixara ainda mais nervosa.
— Eu te contei tantos absurdos e você não reage?
— Eu sabia que não deveria ir!
— Você estava certo, mas eu precisei ir. E nada adiantará reclamar agora!
— Ele vai te encontrar . E não será nada, nada fácil!
— Eu sei! E como estão as coisas na reserva?
— Nada bem para você. Bruh descobriu tudo. Não sei como! E Jacob já voltou, e ela contou tudo a ele. Saí escondido da reserva para te encontrar aqui, assim que os vi conversando.
— Eu vou matar aquela estúpida!
— Não, não vai. Você vai lidar com as suas consequências. E depois, de nada adiantaria.
Chegamos à reserva e todos estavam parados na varanda de Sue. Discutiam algo, com exceção de Billy que estava parado e sério em sua varanda. Ele nos viu chegando e gritou:
— Ali está ele! – indicando Seth.
Pela primeira vez, vi Seth agir com força, em vez de abaixar a cabeça, constrangido por seu erro. Ele estufou o peito, respirou fundo puxando minha mala e me disse:
— Prepare-se.
Como num relâmpago, minhas vistas escureceram à medida que eu via, lentamente, todas aquelas pessoas virem em nossa direção. Meus olhos ardiam, e de repente todos pararam me olhando assustados. Malaika surgiu no meio da mata, e ao lado dela estava Jacob. Pude ver tudo muito devagar, e em poucos segundos. Como se eu estivesse vivendo o tempo rápido demais, mas as coisas acontecendo em câmera lenta. Minha cicatriz também queimava. Minha pele esfriava, e meu suor escorria frio. Seth, também devagar olhou para trás e gritou meu nome. Tudo acontecia devagar. Eu me senti fraca e antes que fosse ao chão, senti os braços fortes de Jacob me segurando. Eu não enxergava nada.
! ! – ouvi me gritarem.
Abri os olhos, e as imagens iam voltando aos poucos. Todos me olhavam espantados, e Malaika segurava uma de minhas mãos, com um semblante preocupado. Ela sorriu para mim, assim que a olhei. Eu respirei fundo e me levantei rápida. Como se nada tivesse acontecido. Todos me olhavam curiosos. Mas, o pior olhar era o de Jacob: havia decepção ali.
— Sei que preocupei a todos. E causei problemas, mas preciso descansar, comer, e contar muitas coisas a vocês.
Eu disse não suportando aquela pressão de olhares. Encarei Jacob e abaixei o olhar, preocupada e envergonhada com ele, dei as costas a todos e saí. Seth me chamou, mas eu apenas acenei a ele que depois nos falávamos. Eu achei que me livraria das perguntas por hora, mas assim que adentrei minha cabana e joguei a bolsa no sofá seguindo para a cozinha, Jacob surgiu batendo a porta da sala. Eu olhei na direção dele assustada pelo barulho estrondoso.
— Você não vai ao menos falar com seu namorado?
— Sei que quer discutir, então achei melhor deixar para depois.
— Você está péssima. – ele disse caminhando até mim e me olhando de cima a baixo.
— Eu sei. – respondi largando o copo de água que bebi, na pia.
Não tive tempo de encarar Jacob, imediatamente as mãos dele me puxaram para si. Estávamos os dois com os corpos colados e encarando o olhar um do outro. O dele, com ódio. O meu, com saudades.
— Senti sua falta. – eu disse.
— Não foi o que pareceu. – ele respondeu e atacou a minha boca, num beijo quente e violento.
Puxava meus cabelos com tanta força, que temi pela falta deles. Uma das suas mãos adentrou minha camisa e rapidamente ele puxou-a, observou meu corpo manchado de sangue, com as inscrições estranhas e olhou-me com mais raiva e curiosidade. Apertou meu seio, enquanto ainda me beijava e tirou meu sutiã com facilidade. Seus lábios se direcionaram ao meu pescoço e suas mãos me ergueram para seu colo. Agarrei-me em seus braços, mordi seu ombro enquanto ele beijava meu pescoço. Cruzei minhas pernas em sua cintura e ele subia as escadas até meu quarto, carregando-me.
Já lá em cima, ele me colocou deitada em minha cama e continuou os carinhos e afagos, selvagens, como só Jacob sabia ser. Ele pegou em minhas mãos e ergueu meus braços sobre minha cabeça, e voltou a me encarar, eu sorri promíscua e então ele me beijou. Sem sorrir para mim. Passeou as mãos, de um jeito delicado pela lateral de meu tronco e antes de continuar, encarou meu corpo de novo. Dessa vez, meu punho não passou despercebido. Ele ergueu o próprio corpo, pegou minha mão e olhando a ferida, perguntou com ódio no olhar:
— O que é isso?
— Não foi nada.
— Eu sei exatamente o que é isto, .
— Foi só…
— QUEM FOI? – ele me interrompeu, gritou rude como eu nunca tinha visto.
— Mark.
Levantou-se da cama irado e me deu as costas, ofegante.
— Temos todo o cuidado de não deixar você se ferir...
— Jacob...
— EU tenho todo o cuidado de não ferir você... – o tom de voz dele aumentava.
— Jacob...
— PARA VOCÊ FAZER ISSO ?
Encarei novamente ele gritando e me calei.
— Você viajou com um...
— Não é como se eu tivesse escolhido a eles. Não sou a Isabella Swan, e nunca mais ouse imaginar que eu faria a mesma escolha que ela ao te abandonar.
Falei calma, e tão dura quanto ele.
— Não estou te comparando, o que sinto é muito pior do que a decepção por Bella.
— Conversamos lá embaixo, Black. Eu preciso tomar um banho.
Ele saiu batendo a porta do meu quarto e eu fui fazer a única coisa que não poderiam fazer por mim: tomar um longo e delicioso banho. Retirar os vestígios de Mark, e as provas visíveis em meu corpo, do meu erro.
Quando desci, pensativa e com medo pela conversa que teria com Jacob, ele estava na cozinha. Cozinhava para mim, e aquilo não me aliviou como deveria. Soava como dar um abraço antes de apunhalar as costas de alguém. Ao mesmo tempo, senti ódio de mim por tê-lo feito aquilo. Mas, que outras opções eu teria?
— Coma primeiro. – ele disse sério ao notar minha presença.
— Não. Eu não sei se terei indigestão com a conversa, melhor esclarecermos tudo logo.
— Coma! E vomite depois se precisar, mas antes, coma! Ou Mark tratou você bem o suficiente para lhe servir um jantar?
O ciúme nítido na voz dele, me fizera sorrir e Jacob ficou ainda mais bravo:
— Você está toda errada, e ainda tem a coragem de debochar desse jeito?
— Jacob, não estou debochando. Desculpe, é só que.... É bom saber que você sentiu ciúme...
— Foi por isso que foi com ele? Para colocar nossa relação num fio frágil sob uma navalha?
Ele não sorriu e com aquela frase temi pelo fim de tudo.
— Vamos conversar...
— Coma. – ele disse e sentou-se à mesa da minha cozinha, de frente a mim. Apenas obedeci. Não estava em cargo de exigir nada. E assim que terminei de comer, em silêncio com Jacob me encarando sem a menor expressão, ele pôs-se a falar antes mesmo que eu pusesse o prato à pia.
— Comece.
— Não tive alternativas Jacob. Ou eu ficava aqui, sem descobrir as respostas, ou eu acompanhava Mark. E eu não preciso de ninguém me julgando. As consequências são minhas e só minhas.
— Só suas? Toda a reserva pode estar envolvida nisto!
— Eu sei. Tem razão. E por isso, que enquanto eu tomava banho eu pensei que.... Vou precisar ir embora.
— Ir embora? – ele falou como se concluísse o que estava pensando: — Não vai ao menos disfarçar?
— Eu não estou fugindo com o Mark, Jacob! Eu estou fugindo dele.
— Fugindo dele? Agora? Depois de uma viagem romântica? Parece que ele realmente caprichou nas marcas, não é? – ele disse bravo apontando meu punho com os olhos.
— Larga a mão de ser babaca! Eu não te traí com ele. Eu errei em aceitar acompanhar ele para um lugar desconhecido sim, mas também acertei. Mesmo quase tendo morrido!
— É difícil acreditar, ... – ele abaixou a cabeça, triste e insatisfeito.
— Ótimo, porque também é difícil acreditar que as palavras de uma estúpida pré-adolescente sejam mais confiáveis para você, do que as minhas!
— O que a Bruh tem a ver? Só porque ela descobriu a sua mentira e contou para todo mundo?
— Não. Não é por isso, porque a verdade Jacob é que eu não devo satisfações da minha vida para ninguém aqui. Faço isso porque considero a todos, e compartilho minha vida com todos, e não porque tenho alguma obrigação disso. A Bruh tem a ver quando, por causa dela, você não confia no que eu estou dizendo.
— Não venha se vitimar. Assuma o que você fez!
— Eu assumi! – gritei: — Mas você não acredita, não é?
Ele ficou em silêncio, com o semblante fechado.
— Você confia em mim, Jacob Black?
— Eu não sei.
— Ótimo. Obrigada por responder. – eu disse já chorando.
Dei as costas a ele e me direcionei para fora da cabana, antes de sair eu me virei em sua direção. Ele seguia lento atrás de mim. Com a mão na maçaneta da porta eu lhe disse:
— Só gostaria de lembrá-lo que eu confiei em estranhos, confiei nas suas mentiras, e em tudo o que vocês me escondiam até o momento que vocês achavam que eu deveria saber de tudo. Vocês podem mandar uns nos outros, mas, não em mim e nas minhas ações. Não pense que manda, porque esperar as suas verdades e o seu tempo, foi uma escolha.
Bati a porta e saí. Já na parte de fora da reserva, todos prestaram atenção em mim quando me aproximei.
— Eu sei que estão todos chateados. Confesso que isso me entristece, mas me chateia mais saber que estão irritados com o Seth por ter me ajudado. E peço que, não o julguem. Ele fez o que qualquer amigo de verdade faria. E eu teria feito o mesmo por ele.
Eu falei e senti Jacob segurando minha mão atrás de mim. Olhei para ele ainda magoada com nossa conversa.
. – ele pronunciou meu nome como se pedisse para eu não falar.
Soltei a mão dele, o ignorando e olhando para todos, voltei ao meu discurso:
— Eu sei que todos aqui estiveram preocupados comigo, e com o que eu fiz. E instantes atrás, após conversar com o Jacob, eu percebi que eu não precisava ter mentido para ninguém. Eu não estava fazendo nada errado. Eu não precisava ter mentido ou escondido o que eu fui fazer. Mas, eu sabia que haveria uma retaliação por parte de vocês. Vocês tentariam me impedir. Mas, saibam que eu jamais revelaria os segredos, quaisquer que fossem sobre os quileutes. E por isso, eu gostaria de pedir desculpas, primeiramente por ter mentido e os, decepcionado, e também por preocupar vocês. Em momento algum nesta minha viagem, os quileutes foram assunto, eu não faria nada que pudesse os prejudicar. Não ofereci nenhum risco, pelo menos, diretamente a vocês. A única a correr riscos, fui eu. Eu fui atrás das respostas sobre mim, que são direitos meus. O que me remete a…
. – Billy me interrompeu: — Em momento algum nós nos sentimos ameaçados pelo que você fez, e nem desconfiamos de você. Apenas nos preocupamos, por sua escolha. Pois, não é a primeira vez que vemos uma jovem escolher…
— Billy!
Antes que Billy falasse, eu o interrompi incisiva. Ele estava com raiva, dava para perceber.
— Eu não sou Isabella Swan! Eu não sou a filha do delegado Swan. Eu não sou a garota que se casou com um vampiro, viveu e escolheu os vampiros e bagunçou a vida de muita gente nesta cidade. Não me comparem! Eu fui amiga da Bella há muitos, muitos anos atrás, mas sempre que lembro que ela escolheu a vida que tem, eu não consigo compreender. Não sei se ela se tornou uma má pessoa, ou não, mas não acho que poderíamos ser amigas. Porque assim como ela escolheu os vampiros, eu também escolhi seres sobrenaturais. Eu escolhi vocês, e não que esteja comparando-os com os vampiros porque não há comparação, mas… Eu também fugi à regra, e principalmente, eu sou algo sobrenatural também. Então não venham falar das minhas escolhas. Porque se um dia disserem que eu escolhi algo errado, não foi a viagem com o Mark e o Darak, mas sim, me intrometer ainda mais nesse mundo de homens e lobos.
Todos me olhavam assustados, e o Billy respirou fundo olhando para Jacob.
— E eu sei Billy, que você está decepcionado por seu filho, mas eu nunca tive a intenção de magoar Jacob, ou qualquer um de vocês. Eu só fui atrás das minhas respostas. E lembro-lhes que eu esperei pelo tempo de vocês, e pelas respostas de vocês o quanto quiseram. E só vocês tinham o poder de me afastar de me envolver nisso tudo, vocês tinham as respostas para me dar a chance de escolher me afastar, mas fizeram segredo até chegar ao ponto de “eu saber toda a verdade”. Entretanto, eu já estava envolvida demais para me afastar. E por isso chegamos até aqui. E como eu ia dizendo…
Jacob novamente segurou em minha mão, de maneira apertada e me puxou até ele. Não tive reação, ele me abraçou, e afagou meus cabelos em seu abraço. Enxugou minhas lágrimas e sussurrou para mim:
— Pare…
Neguei com a cabeça e me afastei, voltando a falar para todos que prestavam atenção em mim:
— Como eu dizia… Eu vou deixar claro aqui, que… Vocês não mandam em mim. Eu não sou uma loba que deve seguir a um alfa ou às ordens dos anciãos da alcateia. Eu não tenho obrigação alguma com isso. Tudo se trata de escolhas. Eu escolhi o tempo de vocês. Os segredos de vocês. Os costumes. Os hábitos e a vida ao lado de vocês. Então respeitem as minhas escolhas, principalmente, quando elas não tiverem a menor ligação com o que vocês acham certo ou não. Não pensem que está sendo fácil dizer tudo isto. Mas, eu acho que devemos esclarecer tudo antes de…
Parei de falar, e comecei a chorar fraco. Estava vindo de um nível tão alto de exaustão, depois de tudo que tinha passado que aquilo ali era ainda mais doloroso.
— Eu tenho algumas coisas a contar… A primeira, é que… vou precisar partir da reserva.
O burburinho começou imediatamente. Jacob negou e todos os outros reclamavam e falavam ao mesmo tempo também.
— Por favor, escutem. Eu matei Darak. E Mark, infelizmente ficou vivo. Ele vai vir atrás de mim. E muitos outros. Eu descobri coisas. Muitas coisas sérias e, eu não posso ficar aqui…
Jacob me puxou ainda mais brusco que da, outra vez segurou meus ombros encarando-me firme, e pude ver que ele chorava:
— Nunca diga que vai se afastar de mim, está entendendo ? Eu não aceito te perder, principalmente porque eu sei que não é o que você quer. Ou é? Você quer me deixar? – ele perguntou mais baixo que no início.
— Não. – respondi baixinho.
— Ótimo. Porque nem eu, e ninguém aqui, desejamos que você se vá. E só por isso ficamos tão chateados. Porque te proteger é o nosso dever. Então que venham quantos quiserem, eu não vou deixar tocarem em você, como ele fez aqui.
Jacob ergueu meu braço, ferido por Mark, que ninguém antes tinha notado. Vi as expressões de preocupação e raiva no olhar da maioria.
— Nós não vamos deixar nada te acontecer, nunca. – Jacob encerrou a conversa e me beijou.
Quando nos separamos, Sam começou a falar:
. Você é uma de nós, também porque nós escolhemos que você fosse. Está certa quando diz que tudo é uma questão de escolhas e peço desculpas em nome de todos se agimos com você de maneira invasiva ou autoritária. Mas, por te considerarmos uma quileute, agimos como tal. Preocupamos igualmente como irmãos de matilha, e exigimos igualmente. Perdoe-nos por ter mentido e escondido informações importantes. Mas, saiba que não desejamos que você vá embora, mas se essa for a sua vontade, nunca nos oporemos a ela.
— Ela não quer ir embora Sam! – Jacob disse bravo, segurando minhas mãos.
— Só estou esclarecendo que ela pode, se quiser, Jake. Ela não é obrigada a nada.
— Olha… – eu disse interrompendo aquilo tudo: — Eu sei que fui dura agora no meu posicionamento, e agi errado também por esconder da minha família o que acontecia, mas acho que já entendemos ambos os lados, não é? Eu peço desculpas pelas minhas duras palavras, e agradeço todo o carinho e preocupação, mas… – olhei para a entrada da reserva, aflita: — Eu preciso contar o que houve…
— Não precisa ter medo, . Ele sabe que aqui dentro ele não pode entrar. Pelo menos não em minoria. – Seth me acalmou parcialmente, sabendo da minha aflição.
Assenti e Sue pediu que entrássemos à sua casa para falarmos sobre o que ocorrera.
Seguimos todos para lá, com ânimos mais calmos, e expliquei tudo para eles. Cada descoberta sobre eu ser a criança de Rhikan. E depois expliquei sobre o diário, meus poderes e por fim o ritual. Todos estavam surpresos demais para assimilar a tudo, Malaika veio até mim, e abriu a mão com as sementes.
— Claro… – eu sorri para ela e olhei a Sue para que traduzisse a ela por mim: — Muito obrigada Malaika, você salvou a minha vida quando me deu as sementes. Elas impediram que eles conseguissem.
Em seguida ela sorriu e respondeu:
— É veneno. Mas é cura também. Veneno que anula veneno vira cura.
Entendi tudo o que ela disse quando me recordei do ritual. Eu me envenenei com as ervas para me livrar do veneno posto no sangue daquele animal, na taça para eu beber. O mesmo veneno que Mark permitiu passar em minha corrente sanguínea ao me morder. O veneno dos vampiros.
— Agora que sabe tudo, até mais que nós… – Malaika continuou: — Mostre as inscrições. E cuidado, você está vulnerável. Eles não completaram o ritual, mas iniciaram. E isso… – ela pegou meu braço apontando a ferida: — Isso já começou.
— Eu vou me tornar uma vampira?
— Não. – ela respondeu: — Pelo menos foi pouco aqui. Mas, é o que eles querem, não é? Libertar Rhikan.
— Eu não vou deixar. Se eles tirarem ela de mim, não só eu morro como eles terão a arma que querem. – me aproximei dela segurando suas mãos: — Preciso ajudar os lobos, Malaika. Parar as transformações permanentes.
— Você não pode. É por sua causa que estão se libertando.
— Então devo me afastar.
Novamente todos reclamaram e negaram. Jacob me abraçava ainda mais forte, de modo possessivo. E Malaika se silenciou. Não negou que eu devesse ir, mas também, não falou sobre eu ficar.
— Querida… – Sue me disse calma, como sempre: — Nós acharemos uma resposta sem que você tenha de partir. Já passou todo este tempo aqui. O que fará diferença agora?
Ela sorria confiante, mas meus olhos transmitiam dor e preocupação:
— O tempo. Não temos tempo. Eu não terminei de contar tudo, então, preciso que entendam que… É muito mais sério. Não sou a única a ser perseguida. Os Volturi se uniram aos Cullen, para voltar e destruir o clã quileute.
Charlie abaixou a cabeça, tristonho e Sue segurou firme em sua mão.
— Foi ela, não foi? – disse Charlie chateado, com lágrimas nos olhos.
— Creio que ela não é a mesma Bella. Não é mais a sua garotinha, Charlie. Ao mesmo tempo em que ficar é arriscado a vocês e a mim, partir também. Eles querem a mim, para apreender o poder que tenho, domá-lo e usá-lo contra vocês e contra todos. Mas, eu não sei exatamente como e quando. Mark, Darak e Valerie foram enviados para descobrir as fraquezas atuais de vocês, a fim de que os Cullen retornassem com a ajuda dos Volturi iniciassem a guerra que anos antes fora impedida. Mas, dessa vez com vocês em desvantagem. Quando me descobriram… Por causa de Rhikan eles, atrasaram o evento. E Valerie foi enviada com novo propósito: matar-me e libertar a deusa para dominá-la.
Todos estavam bem surpresos com as descobertas. Sem muita opção de soluções, naquele momento, continuamos as nossas vidas. Eu estava exausta, precisava dormir, então me levantei e fui para minha cabana. Seth veio logo atrás, em seguida Black.
— Ei, !
— Seth! – eu parei me lembrando de agradecê-lo.
Caminhei ao encontro dele, metros antes de chegar em minha cabana e o abracei bem apertado.
— Ei, nossa! Está tudo bem? – ele disse surpreso.
— Eu quero agradecer você maninho. Eu nunca vou poder agradecer como você merece, por cuidar de mim e me ajudar nisso tudo, e por aparecer para me buscar tão prontamente! – eu ainda estava abraçada forte com ele, e queria chorar.
— Ei… Não precisa agradecer. Somos um só, tá legal? Você sempre me ajuda e… – ele se separou de mim, fazendo-me olhá-lo e ao me ver chorando ele franziu a testa dizendo: — … Não chora princesa. A gente está com você nessa. Não pensa em nada daquilo agora, ? Só me abraça e… Vai dormir. Você não dorme e nem descansa ou come há dias.
— Jacob já preparou comida para mim. – eu afirmei abraçando-o de novo, e ouvi a risada abafada de Seth.
— Ele te ama, como um verdadeiro imprinting. Ainda que não tenha sido você.
— Não sei Seth. Apesar de tudo, a nossa discussão ainda me deixa mal.
— Falaremos disso depois, está bem? – Seth começou a sussurrar: — Ele está um pouco atrás de nós e esperando eu te soltar, morrendo de ciúmes. Acho que vai sobrar para mim, então, o agarre logo.
Bati de leve no ombro de Seth enquanto eu sorria e o vi se afastar. Jacob me olhava e então eu sorri para ele. Aproximou-se de mim, calmo e ao me alcançar me colocou em seu abraço. Entramos à minha cabana e fomos direto ao meu quarto. Eu estava bem cansada, então puxei as cobertas da cama, pedi para ele fechar as cortinas escurecendo o quarto e logo me deitei. Jacob deitou ao meu lado, e me recostou a seu peito.
— Desculpa.
Depois de alguns minutos a sua voz soou arrependida e forte.
— Vamos esquecer tudo. – eu afirmei na tentativa de romper com aquele assunto.
— Não dá.
— Jacob…
— Eu sei que você não vai esquecer Mani…
Sorri ao ouvir aquele apelido que há tanto eu não ouvia. Me ergui, apoiando-me pelo cotovelo a fim de encarar os olhos dele:
— Sabe Jacob… Eu sei que você me ama e imagino que foi péssimo chegar aqui, louco para me ver e descobrir que eu estava com outro em sabe-se lá onde. Eu teria agido igual a você, ou pior. Então, eu prometo que vou esquecer de verdade o seu ciúme de hoje e as suas palavras. Vou acreditar que foram da boca para fora.
— Eu confio em você. Não confio neles.
— Black… – pronunciei como há muito não fazia, e ele sorriu ao ouvir aquilo — Como vai reagir se a Bella reaparecer?
Olhou-me confuso e surpreso.
— Terei vontade de matá-la, por querer fazer mal a você.
— Ela talvez nem saiba que eu sou eu…
— Tenho muitos motivos para querer matá-la.
— Teria coragem mesmo? A mulher que amou um dia?
— Ela não é a garota por quem me apaixonei na adolescência há anos, e se, nem mesmo o meu imprinting pode me impedir de fazer o certo, por que a Bella me pararia?
— Sabe… Se um imprinting é algo tão forte assim… Tenho receios que um dia você não me ame mais, principalmente porque eu sei que foi só pela Rhikan que você acabou se apaixonando e…
— Ei, ei! Que história é essa? Eu não vou deixar de amar você, porque você está acima até mesmo do imprinting de um lobo… Nem sei mais o que é isso, se existe, se é real… Só sei que… Você é tudo para mim. E não foi por causa do que há dentro de você que me apaixonei. Eu te amei pouco a pouco, a cada dia mais. Até você me preencher por completo.
Jacob calou-me com um beijo apaixonado, e depois de algum tempo conversando bobagens, fazendo carinho um no outro e rindo, eu peguei no sono. E dormi por dois dias. A falta da cafeína no meu corpo serviu como uma válvula do sono, e felizmente pude me desintoxicar por completo, das substâncias, das sensações e das memórias.
Naquela semana, eu não pude sair da reserva. Nenhum deles me permitiu arriscar, me expondo pela cidade com Mark atrás de mim. Eu mal sabia se Mark ainda estaria em Forks. Acreditei que ele se reuniria aos outros vampiros e retornaria por vingança, mas a verdade que ninguém soubera – apenas Seth – é que ele havia voltado no mesmo dia que eu, e havia me mandado uma mensagem por telefone dizendo: “você não vai me evitar por muito tempo, aguarde”.
Eu estava muito marcada, para uma comum garota de Phoenix que só quis rever a amiga se mudando para a mesma cidade que ela. Onde foi que Isabella Swan me metera? E será que, por ventura, Bella já soubesse de minha ligação mística com aquele lugar anos atrás quando me enviava aqueles e-mails, ou foi tudo coincidência, destino?
Malaika, Sue, Billy, outros anciãos e eu, estudávamos uma maneira de compreender melhor aquele diário. Eles já sabiam muito sobre mim, e nos concentrávamos agora em como romper com as transformações definitivas dos lobisomens. Embry manifestara até ali, duas vezes a sua transformação. Sabíamos que na terceira, seria definitivo. Quil, uma vez. Jacob, uma vez. Os demais, não manifestaram, e imaginamos que não manifestariam devido às suas linhagens afastadas do tronco principal. Quem mais nos preocupava na verdade, era o herdeiro direto da alcateia: Black.
Destrinchei-me em estudos infinitos sobre o meu emplastro. Havia dado resultados positivos com Sam e os demais, mas estava longe de se tornar um antídoto. Concentrei-me numa combinação das sementes que Malaika me entregara e o meu emplastro. Mas, ainda estava longe do que eu pretendia.
Lia havia retornado para Forks. Eu tive de pedir sua ajuda e imediatamente ela pausou seus estudos e voltou, ao saber que a urgência era tanta. Ficou revoltada comigo por ter ido à Bélgica, irada com o que eles tentaram me fazer e muito, muito mais irada por saber que tinha dedo dos Cullen naquela história.
Estávamos reunidos todos ali, na sala de minha cabana, buscando maneiras de associar uma cura.
— Se pode conter os poderes dos vampiros, e é a criança da profecia, por que ela não pode salvar os lobos? – perguntou Charlie de um modo tímido.
— Porque enquanto ela detém os vampiros por efeito de uma maldição, aos lobos ela desperta-os seus instintos. – respondeu Billy.
— Bom, eu testei três novas fórmulas químicas e fitoterápicas, mas creio que para o que falamos tudo seja paliativo… Mas, Lia teve outra linha de raciocínio muito mais válida do que a minha. – sorri para ela, e agradeci: — E por isso muito obrigada, novamente por ter vindo me ajudar.
— Não tem que agradecer, também se trata de mim.
Sue, ansiosa perguntou:
— E então, minha filha? O que você descobriu?
— Na verdade, eu não descobri nada extraordinário. Malaika me ajudou muito. – ela sorriu para a anciã, simpática que a correspondeu: — Nossos ancestrais pararam isto por um tempo se envenenando, o que nos associou às sementes que salvaram . Depois, nós entendemos que o emplastro da acelera a capacidade regenerativa dos lobos. Em terceiro, não podemos negar que tem o poder de despertar isso. Então, vamos unir tudo. Entretanto, se aquilo que na natureza pode matar, também pode curar ou vice-versa… Então que desperta o monstro, também pode adormecê-los.
— Faz todo sentido. – disse Sue.
— Então, temos que investigar onde, na genética dela que se encontra a válvula que nos desperta.
— Genético? Não acredito que haja “magia” no meio dos meus genes, Lia… – falei descontente.
, você precisa aceitar que não é uma humana. Você é um ser sobrenatural, como nós. E por isso que há essa… “magia”, se assim posso dizer, na sua genética. – Billy falou convincente.
— Tem razão, desculpem. Eu ainda não me compreendi direito.
— Tudo bem, querida. – Charlie pegou em minha mão condolente.
— Bom! – Lia falou alto e suspirou pesado: — A minha aposta é, células-tronco. Tudo na medicina moderna tem a ver com elas, e acho que essas coleguinhas podem nos trazer o que precisamos.
De repente, Malaika que não compreendia muito daquela conversa, apenas transcrevia as informações daquele diário, na sua língua nativa a fim de que outros da tribo pudessem compreender aquilo no futuro, olhou em nossa direção e nos estendeu uma folha. A mesma folha do ritual feito por Mark e Darak.
— Eles sabem. – eu afirmei.
Aproximei-me dela, e olhei melhor as figuras. Ela tinha razão, começou a falar em seu idioma, como sempre traduzido por Billy ou Sue, e explicou a chave que ainda não havíamos encontrado: os vampiros sabiam como deter os lobos através de Rhikan. Do contrário, não teriam motivos para querê-la.
— Por que eles desesperaram-se tanto quando viram que eu sabia deter o poder deles em mim? – perguntei sussurrando.
— Porque você pode matá-los? – Lia concluiu.
— Não. Tem mais coisa aí… E eu sei quem vai me contar.
! – Billy afirmou rígido: — Você não vai atrás dele.
— Então que ele venha até nós. – respondi.
Todos se entreolharam curiosos e pensativos.
Cinco dias se passaram, e havíamos conseguido preparar a armadilha de Mark. Estávamos fora do território quileute, no meio da mata, mas ele concordou em me encontrar ali acreditando que eu estava sendo vigiada de não me afastar muito. Ele agora estava cercado, mas não se preocupava. Estava sozinho, e seus olhos apenas me encaravam.
— Vocês não vão me matar, porque precisam de mim. – ele disse.
— Depende, Mark. Com quem você está? Comigo, que posso te livrar da maldição de Rhikan, ou com eles? – perguntei.
— Será que pode mesmo?
— Façamos um pacto. – eu disse me aproximando: — Um pacto de vampiro. Todos me olharam assustados, com exceção de Lia que sabia dos meus planos, por trás dos planos dos quileutes. Sim, aquela era eu, novamente escondendo fatos para eles.
II bacio del vampiro? – Mark perguntou surpreso.
— Exatamente.
Pude ver Seth sussurrar para Jacob:
— Jake, o beijo do vampiro!
— O quê? Ela está louca?
E Jacob surgir próximo a mim:
— Não vou permitir que cometa esta loucura!
— Black, eu sei o que estou fazendo!
— Hm… Conflitos amorosos… – ironizou Mark.
Ao ver Jacob tentar avançar sobre ele, eu segurei a sua mão o impedindo. Lia olhou para Seth, e Seth aproximou-se falando para Jake apenas confiar em mim. Afirmou que nenhum mal aconteceria, uma vez que estávamos todos ali. Relutante e aflito, Jacob se afastou. Mark e eu retomamos o nosso assunto.
— Você me deve isto, pelo que me fez semanas atrás. – ele sorria com escárnio e suas vistas já estavam escurecidas de desejo.
— Eu faço este pacto contigo: te liberto da profecia, concedo-lhe poder e você deverá ser leal a mim até a morte, do contrário, eu mesma o matarei.
— Apenas pelo fato de provar teu precioso, saboroso e cheiroso sangue eu já me contentaria… Entretanto, sabemos que a oferta é bastante alta e também sabemos que você não tem ideia de como cumprir o que promete.
— Mark, Mark... Você continua subestimando a garota da profecia.
— Não sei se quero servir-te até a morte, Rhikan. Na verdade, estou em busca de cortar os laços com este demônio a quem chamam Deusa. E quanto à … É evidente que está mais forte, mas se esquece de que sou telepata? Ainda estou à sua frente e sei exatamente que não dominou por completo o seu poder.
— Eu sei de tudo isto Mark, mas você também não sabe algumas coisas… Como por exemplo, que meus pensamentos podem ser enganosos. Recorda-se de nossa viagem, onde em determinado momento eu descobri que você não pode saber tudo?
— Você descobriu. – ele respondeu com mais raiva do que antes.
— E eu preciso lhe agradecer também. Não nota nada diferente em mim? Ele me olhou com atenção e pude ler em seus olhos o orgulho próprio, em admitir fracasso. Entretanto, ele admitiu numa única frase:
— Eu de fato a subestimei.
— Esta noite Mark, na casa dos Cullen. E todos irão.
— No território rival? Os quileutes andam inocentes, não acham? – ele andou ao meu redor falando e provocando os presentes.
— É contra as nossas leis, permitir algo tão nojento dentro de nossas terras! – gritou Lia para ele.
Depois de encarar um a um, Mark reverenciou-me e se aproximou encarando-me olho a olho. Segurou minha face para si, como se fosse beijar-me. Jacob a esta altura era segurado por Paul e Embry. As presas de Mark sobressaltaram como uma ameaça, e sorrindo ele se afastou:
— Até a noite, mia signoria!
Depois que ele se afastou suficientemente, retornamos todos à reserva e eu teria de me explicar.
— Qual o lance desse cara, com o italiano? Ele não é belga? – Seth aproximou-se me distraindo com esta piada, à medida que todos estavam me olhando ainda mais sérios e Black, se afastava furioso.
— Eu explico para eles, vá descansar. – Lia passou ao nosso lado me dizendo e eu apenas concordei.


27 – II Bacio del Vampiro

Na reserva, Lia explicou a todos o nosso plano escuso. Há dias, eu havia descoberto que a combinação do veneno de Mark com meu sangue era a provável resposta para dominar os lobos. Por isso, Valerie me caçava, por isso ela pretendia me morder. E por isso Mark deveria estar perto, quando ela fizesse isso, uma vez que ele se fazia necessário. Nós descobrimos isto um pouco depois da reunião em minha casa. Eu havia passado mal, quando chegara da Bélgica, mas atribuí aquilo ao cansaço. Numa noite, Lia e eu, revíamos nossas anotações e estudos, quando novamente aquele mal-estar me acometeu. Ela estranhou a maneira como eu estava ótima e de repente me senti fraca. A visão turva, escurecendo aos poucos, a palidez de minha pele, a queimação interior como se estivesse pegando fogo em meus órgãos e refletindo no calor da minha pele, entre outros sintomas atípicos e que preocuparam Lia.
Segui meu caminho de retorno à cabana de Black. Eu sabia que ele não estava bem com aquela ideia do pacto. E eu sabia que ele iria para a casa dele, a fim de evitar descontar em mim sua raiva após termos passado por discussões recentes.
Quando entrei, Billy perguntou se tudo havia ocorrido bem. Apenas respondi que Lia os explicaria e fui imediatamente até Jacob. Ele estava no quarto arrancando suas roupas, e mexendo no armário. Olhou em minha direção ao sentir alguém se aproximar.
— Preciso tomar banho e me acalmar.
— Eu sei. Eu te espero aqui, ou no meu quarto? – falei com voz calma e ele me olhou contrariado.
— Corajosa, .
A expressão de incredulidade dele se contrapôs ao meu riso baixo de gozação e nem mesmo Black resistiu. Esqueceu a bronca que me daria e apenas caminhou até mim me abraçando.
— Você é minha. – ele disse após segundos de silêncio entre nós.
— E você, meu.
— Que ideia é esta agora? Por que anda desafiando tanto o perigo… Sabe que ele… Ele…
— Sei. E não tenho medo, porque eu realmente sei o que estou fazendo Black. E preciso testar todas as alternativas. E vocês estarão lá comigo. É um sacrifício que pode salvar vocês.
— Deve haver outro jeito. Nem mesmo sabemos se vai funcionar.
— Se não funcionar, ao menos teremos Mark ao nosso lado. Eu pensei em tudo, Black. Eu e Lia temos o controle, eu prometo. Fica tranquilo.
— Só de imaginar as presas daquele… – fez uma cara de nojo — Eu não sei se vou deixar.
— Se eu me tornasse uma vampira, Jacob… – precisei perguntar algo que vinha me incomodando os pensamentos, desde que eu voltara da viagem: — Você ficaria comigo?
Houve um silêncio constrangedor, e desviei meu olhar do dele envergonhada. Não deveria ter feito uma pergunta tão cretina para ele. Afinal, aquilo talvez fosse demais para todos. Não apenas para Black. Ele notou minha reação arrependida, e também medrosa. Pegou meu rosto forçando-me a olhar em seus olhos:
— Por que você viraria uma vampira? Isto é impossível, você já é uma loba.
Sorri. Ainda que ele não tivesse respondido. Ainda que não tivéssemos respostas, Jacob se esforçara em me acalmar. Ou talvez, buscasse convencer-se do que ele mesmo dizia.
A noite caiu mais rápido do que eu esperava, e todos estavam a postos para a “escolta”. Billy estava extremamente descontente com tudo aquilo. Ele não acreditava em nós. Jacob, estava tenso como eu nunca havia visto. Apertei sua mão, cruzando seus dedos aos meus e partimos. Seguíamos divididos em meu carro e no de Black. No meio da estrada, a caminho da entrada para a mata que indicava o antigo território dos Cullen, o pneu de um dos carros furou. Tivemos todos que parar, e eu aguardava calma, dentro do meu carro. Não demoraria, uma vez que estávamos rodeados por homens fortes. Trocar o pneu de uma camionete não seria tão difícil.
Seth e Jacob que haviam descido do carro para ajudar estavam concentrados no que faziam, e vi pelo retrovisor que realmente seria rápido. Mas, quando retornei novamente o meu olhar para o para-brisa do carro, avistei ela. Ali, parada com uma expressão de ódio e um sorriso amedrontador. Meu corpo gelou. Eu não sabia que reagiria daquela forma. Ela me olhava como se esperasse alguma reação minha. Saí do carro atordoada, e parei ao lado da porta aberta.
— Me acompanhe, Bobuna.
Ela disse sorrindo e deu-me as costas. Olhei para trás e os meninos finalizavam tudo. Aquilo seria uma armadilha? Mas, ela não faria aquilo. Viu que eu estava acompanhada, e, com certeza, os rapazes me acompanhariam. Decidi que avisaria algum deles. Quando virei meu corpo para trás, Jacob me olhava com uma séria expressão:
— Vamos. O pessoal nos alcança, não podemos deixá-la escapar.
Assenti aliviada por não estar sozinha e segui para o caminho aonde Bella havia saído. Eu não estava me sentindo segura como deveria. E aquilo era estranho. Caminhava seguindo-a pela mata.
— O que faz aqui Bella? – perguntei.
— O que você faz aqui, minha amiga… – ela perguntou de uma forma menos doce do que antigamente, e mais provocante.
— Para aonde estamos indo?
— Você não ia encontrar Mark?
— O quê? Como sabe disso?
Eu respondia contra a minha real vontade. E naquele momento saí daquele transe, percebendo que estava sendo manipulada. Eu jamais responderia a um frio, entregando meus planos, pelo contrário, meu desejo era desconversar e dizer: “Quem é Mark?”. Mas, as palavras proferidas não eram minhas. Eu despertei. Estava sob efeito de algum poder. E estava fazendo algo errado. Caindo na armadilha inimiga.
Parei de caminhar e foquei o olhar à frente. Aquela não era Bella, mas sim, Valerie.
— Merda… – susurrei baixinho e então ela escutou gargalhando.
Parou de andar e voltou-se a me encarar:
— Você é forte. Despertou muito mais rápido do que qualquer outra pessoa.
Eu vou te matar. – respondi com dentes cerrados.
Eu sentia medo, mas também muito ódio. Minha cicatriz queimava conforme meu desejo de estrangulá-la. Contudo, quando pisquei novamente Valerie estava à minha frente, com as presas expostas e com rosto muito próximo ao meu. Não me mexi, e esperei ela me tocar. E senti novamente meus olhos queimarem. Quando ela percebeu que havia algo diferente em mim, soltou um riso de escárnio e se afastou. Ela havia notado que se me tocasse, eu faria algo.
— Não. Eu é quem vou te matar. – ela disse lançando-se de uma vez sobre mim.
Eu não conhecia os ataques de um vampiro e não sabia que tipo de coisas poderiam fazer, mas entendi que se ela fosse mais rápida que eu, não me daria tempo de reagir. Não fui atingida, pois a figura de Mark surgiu sobre Valerie. Eles começaram a lutar e eu me afastei atenta a todos os lados da floresta. Ela seria tão boa a ponto de não precisar de mais ninguém para me atacar? Mesmo eu estando acompanhada dos lobos?
Comecei a ouvir vozes me chamando. E escutei os pensamentos de Jacob a me procurar. Então eu podia mesmo ouví-lo. Não era coisa da minha cabeça pela saudade que eu sentia, quando ele estava fora. Me concentrei em ouvir a voz dele, numa tentativa de reconhecer aquele novo formato de comunicação, mas o barulho da luta entre Mark e Valerie me distraíam. E eu abri os olhos, apavorada, e atenta a eles. De repente, a cena mais horrível de toda minha vida, se fez vista. Mark subiu no corpo de Valerie, e após girar seu pescoço arrancou-lhe a cabeça. Eu gritei alto com aquilo. E me mantive de olhos arregalados. Ele jogou a cabeça sobre o corpo caído e puxando seu isqueiro do bolso de seu sobretudo, ateou fogo.
— Lembra que tinha curiosidade sobre como se mata um vampiro? – ele perguntou me olhando, numa placidez aterrorizante.
Eu nada dizia.
— É assim que fazem aqueles que não tem poderes como os seus.
Eu ainda não conseguia dizer nada. Mark aproximou-se lentamente. Suspirou ao me ver, e com uma de suas mãos em meu ombro me guiou:
— Vamos, você tem o pacto a fazer comigo.
— Não! Os rapazes não estão aqui.
— Eles sabem onde nos encontrar. É perigoso aqui.
Mark me puxava e eu seguia ele. Ouvi novamente Jacob me chamar, e ao passar pela fogueira do corpo de Valerie eu me senti uma humana frágil como há muito não vinha me sentindo. Consegui estabelecer uma conexão mental com Black.
Chegando à mansão antiga, Mark me indicou que sentasse.
— Olhando-a daquele jeito apavorada, até me esqueci do demônio de mulher que você é. Me pareceu uma presa fácil. Uma humana. – ele disse em pé à minha frente.
— Eu também. – respondi.
Mark riu com o sarcasmo.
— Percebe que este pacto não faz o menor sentido para mim, não é? Valerie iria derrotá-la facilmente.
— Então o que te fez aceitar?
— Além do fato de provar teu sangue… – os olhos dele, apenas a mencionar aquilo adquiriram nova coloração — Eu sou ainda mais perseguido agora: Darak está morto e eu perdi uma das minhas armas. Valerie, eu sabia que ela tentaria me matar. Faz parte do plano de ser um sacrifício. E ainda tem isso. Me livrar da maldição.
— Mark… Com tudo o que você soube em todos estes anos, sobre Rhikan, e ainda, com todos que você tem nas mãos… Agora me parece absurdo que você tenha realmente se sentido ameaçado por mim a ponto de aceitar estar do meu lado.
— Você é muito inteligente, e audaciosa, claro! – ele ria com sarcasmo me olhando — De fato, há mudanças em você. A ferida que deixei em seu braço não foi suficiente, mas teve algum efeito…
— Mark. Você ainda esconde muita coisa. O que pretendia, realmente com aquele ritual?
— Tirar Rhikan de você, sem que eu morresse, domá-la e te transformar em uma de nós depois que estivesse livre dessa sua maldição.
— Me transformar? Por qual motivo?
Mark caminhou calmo até mim, com aqueles olhos predadores. Abaixou a face lentamente e roçou seu nariz em meu pescoço. Eu senti um arrepio frio percorrer meu corpo. Aquele toque tão gelado, era repulsivo demais para mim. Eu gostava dos toques quentes. E me soou invasiva demais aquela aproximação de Mark. Não menos invasiva do que todas as outras que ele já tivera comigo. O som de suas presas saindo me fizeram fechar os olhos, com o corpo rígido e tenso. Ele afastou meu cabelo com seus dedos delicados. Eu estava me sentindo inebriada por aquela sensação de perda de controle das minhas ações. Era assim então? Era desse jeito que uma vítima se sentia? Totalmente seduzida por aqueles mínimos gestos? Mark afastou o rosto de meu pescoço e eu abri os olhos o encarando confusa. Ele sorriu analisando minhas expressões. O famigerado brilho no olhar, que fazia eu me sentir morta.
— Pelo mesmo motivo que defendi você de Valerie.
Ele respondeu a minha pergunta. Eu já havia inclusive esquecido a pergunta feita.
— E que motivo seria este?
Novamente ele se aproximou de meu pescoço sorrindo, e eu suspirei fundo. Torcia para que Jacob chegasse logo, e fechei os olhos me concentrando em saber por que ele tanto demorava. Não consegui perceber nenhuma comunicação, mas, a barba rala de Mark roçando em meu rosto, o som de sua língua movimentando-se sedenta em sua boca, ao pé de meu ouvido, a mão fria de toque delicado em minha nuca, poderiam ser o bloqueio para que eu chegasse até Black em pensamentos. Ele engoliu a saliva, aspirou fundo o meu cheiro e senti uma pressão na ponta de seus dedos, sussurrou com voz rouca em meu ouvido:
— Porque eu te amo.
Arregalei os olhos ao ouvir aquela confissão, mas não pude sofrer por verdades, tamanha a dor que senti ao toque de seus dentes em minha pele. Aquilo era ainda pior que a primeira vez – em meu punho – ardia muito mais, e eu sentia-me entorpecida. Escutar e sentir meu sangue sair do meu corpo daquela maneira, era a sensação mais horripilante que eu havia passado até ali. Era pior que todas as outras muitas sensações absurdas que eu havia passado.
Black surgiu tempestivo no cômodo, e Seth e Lia se aproximaram de mim. Lia gritou algo ininteligível, mas, eles sabiam melhor do que eu o que estava acontecendo. Jacob puxou o corpo de Mark de cima de mim, e lhe deferiu um soco no rosto. Eu estava zonza, e Lia veio me acudir acompanhada por Embry. Eu não era capaz de escutar nada, e meus olhos pesavam, a visão estava turva. Vi os três lobos: Black, Paul e Seth transformando-se à frente de Mark. E então não vi mais nada.
Morta.
Eu estava morta.
Estava?
Sons de água sendo depositada em algum recipiente se fizeram ouvir. E um cheiro doce de flores percorreu meu nariz. Lentamente abri os olhos, e me deparei com Lia ao meu lado.
— Finalmente acordada, graças a Deus. – ela se aproximou preocupada, mas, aliviada.
Ficamos em silêncio nos observando um tempo. Eu não sabia o que perguntar, e ela certamente aguardava eu esboçar reações maiores. Olhei em volta, e estava em meu quarto.
— Jake está no banho, ele não saiu nenhum momento do seu lado nestes dois dias.
— Dois dias?
Perguntei confusa e suspirei fundo, me levantando um pouco a fim de sentar recostada à cabeceira da cama. Olhei para as flores e sorri.
— Malaika colheu. Disse que afastam maus espíritos.
Lia olhava para as flores com cara de tédio, e um sorriso grato. Sorri de sua expressão.
— Como se fosse adiantar alguma coisa. O que são maus espíritos para tudo o que está acontecendo? Ela é muito legal, mas fala sério, que falta de noção… – concluiu Lia me olhando e eu não pude evitar rir.
Já me sentia mais animada. Passei a mão em meu pescoço e não havia nada. Nenhuma marca em nenhum lado. Encarei Lia confusa.
— Seu emplastro. Parece que tem um efeito ainda mais poderoso em você. - ela concluiu.
— Estranho, porque quando o criei eu testei em mim antes várias vezes.
— Mas agora você é outra .
Fizemos silêncio nos encarando, e eu senti medo de perguntar:
— O que aconteceu Lia?
— Quando chegamos você estava quase morta. Não deveria ter iniciado sem nós! Mark não conseguiu se controlar, e estava prestes a finalizar tudo, até que os meninos tiraram ele de cima de você e o contiveram. E você fez a sonsa, né? Desmaiou para fugir da confusão que me arrumou! Mas, foi bom, porque aí eu e Embry ajudamos os meninos a controlar não só o Mark, como o Jake que estava a ponto de matar o vampiro.
— Desculpe por isso tudo. Mas, acha que funcionou?
— Não sei . Só depois dos testes, mas estamos receosos… Mark parece ter ido além…
— Quê?
Ajeitei minha postura assustada. Lia me estendeu um espelho e eu me senti apavorada de novo. Para que eu inventava me meter em tanta coisa, se no fim, ficaria apavorada o tempo todo?
Peguei o espelho e encarei minha figura. Não havia mudado, mas, algo estava diferente. Uma expressão mais vívida, mais bonita. Os traços do rosto mais contornados, as olheiras de dias de sufoco, haviam clareado e minha pele tinha um brilho um pouco mais incomum. Minha análise foi interrompida por Lia:
— Está tão mais gata, que eu me senti seduzida enquanto estava aqui.
Eu comecei a rir, revirando os olhos por ela me assustar daquele jeito.
— Palhaça!
— Sério, não estou brincando . O veneno te atingiu da mesma forma como fizera com Bella. Só que ela sempre foi uma morta-viva então não fazia diferença, mas você está diferente. Está realçada. E eu não estou brincando! Fui expulsa do seu quarto três vezes pelo Jacob! Um idiota! Só porque eu fiquei repetindo que você estava linda.
Eu comecei a rir e Lia imitou a voz grave de Jacob, com zombaria:
“Ela pode ter virado um deles, Lia! Cala essa boca ou eu vou ter que te calar?”, “Saia, não vou falar de novo”, “Ok, Lia agora já deu!”.
Eu não conseguia conter o riso com as palhaçadas dela.
— Você é terrível… – eu falei acalmando meu riso: — Mas… Acha que Mark completou uma transformação?
— Não. Seus olhos continuam os mesmos. Pelo que me lembro, é diferente quando acontece.
— Ótimo! Porque eu não sei se Jacob me aceitaria se…
, você tem que saber é se ele vai aceitar o Mark te rondando após confessar que te ama! – ela sussurrou para mim: — Mas que droga! Será que vocês humanas não podem não se envolver com essa gente? Olhei para ela espantada, e aproximei-me puxando a mão dela e falando baixo:
— Ele já sabe?
— Não! Eu cheguei antes dos meninos aquele dia, e ouvi a conversa de vocês. Não quis interromper. E fiquei esperando o idiota contar os motivos dele, até que ele… Você sabe! E foi tão rápido que entrei correndo e só percebi os rapazes chegando quando Jake pulou sobre ele.
Tampei meu rosto com ambas as mãos, de modo aflito.
— Não sei como contar ao Black.
— Não acho que deva contar… Foi a mesma coisa com a Bella, e ele já está nervoso demais com todas essas coisas acontecendo igual ao passado e…
— Não é igual! – eu a interrompi grosseira: — Eu não sou a Bella, eu não fiz nada igual a ela, e eu não me envolvi e nem vou me envolver com o Mark. Não tenho culpa se ele que se apaixonou por mim.
— Tem razão… – Lia disse curiosa e revoltada: — Esses vampiros precisam parar de se apaixonar por humanas.
— Não sou humana. – falei ainda pensando em como contaria aquilo ao Jacob.
— Ah! Agora você sabe né?
Lia disse sarcástica, e eu revirei os olhos para ela.
— Está com fome? – ela perguntou.
Antes que eu respondesse, Jacob surgiu em nossa frente. Eu sorri largo e ele correu até nós. Puxou Lia de modo rude a jogando para fora da cama, e me abraçou. Eu olhei espantada para ela que fazia caras e bocas, protestando em silêncio contra Jacob.
— Viu? Eu falei que ele está com ciúme, de que eu roube você dele! – ela disse zombando.
— Saia daqui, Lia. – ele respondeu grosseiro ainda agarrado a mim.
— Eu como depois. – falei para ela respondendo sua pergunta anterior.
Lia sorriu nos admirando e acenou positivamente para mim, desejando um silencioso “boa sorte”. Ela saiu e Black e eu ficamos abraçados um ao outro. Ele analisou como eu estava, me encheu de perguntas preocupadas. Eu respondi tudo com tranquilidade, e calei sua boca com um beijo de saudade. Os carinhos se tornaram intensos e paramos antes que perdêssemos o controle. Ele comentou o quanto eu havia ficado linda, após a trágica semi transformação, e o quanto estava preocupado com as sequelas daquele plano louco. Passamos um tempo curtindo a presença um do outro. Havia saudade em todos os nossos gestos. Ele me aninhava em seu corpo quente, e eu relembrei os toques de Mark. Eu havia ficado apavorada naquele momento, mas ao sentir a pele incendiante de Jacob, eu me senti ainda mais apavorada em perde-lo. Definitivamente, Mark era a morte para mim, enquanto Jacob, a minha vida.
— Eu ouvi tudo.
A voz dele ecoou calma e grave, no silêncio.
— Como?
— Eu ouvi o que ele te disse. Ouvi seus pensamentos.
— Black… - me senti culpada por não ter falado nada ainda, e pensava numa maneira de não parecer que estava o escondendo aquilo, mas Jacob começou a sorrir para mim e me beijar calmo.
— Mani… Eu não estou nem um pouco satisfeito em saber que ele te deseja, mas não é como se eu não desconfiasse dele desde o momento que ele surgiu… – Jacob massageou minhas bochechas me encarando com um sorriso e continuou: — E além do mais, é como eu disse… Eu escutei seus pensamentos.
Não pude não ruborizar com aquilo. Então ele me ouvia. E será que ainda estava me ouvindo? Eu o olhava curiosa e ele começou a rir de repente, ainda me olhando:
— Você estabeleceu uma conexão sem volta. Agora vai saber como é ser um lobo… – ele dizia como se confirmasse meus pensamentos. Eu ainda estava em dúvida e sorri. Desci os olhos para sua boca, admirando aquele sorriso. Novamente todos aqueles processos de sorrisos, que pouco a pouco foram sendo desbloqueados para mim, se passou em minha mente como as melhores memórias. Eu mordi meu lábio inferior e suspirei fundo, querendo me aninhar ainda mais em seu abraço. E assim o fiz. Jacob se ajeitou melhor na cama comigo. E riu de modo sussurrado:
— É sério que você pensa em mim o tempo todo? – ele perguntou num tom de voz abobalhado.
— Sai agora da minha cabeça, Black. – eu o repreendi.
Fechei os olhos e sorri, confortável em seu abraço quente.


28 - Até quando Lobos-Homens?

— Embry aceitou ser cobaia. Mas, vou logo adiantando que eu não estou muito tranquila com isso!
— Lia! Isso foi praticamente ideia sua. Se acalme, nós não faremos nada sem ter certeza que é seguro.
— Vou preparar as coisas para o exame.
Lia e eu estávamos em meu laboratório. Após toda a confusão do pacto, nós daríamos prosseguimento ao plano de buscar a cura das transformações através de mim. Embry havia aceitado nos ajudar e assim que desligou a chamada telefônica, Lia veio em minha direção bastante preocupada por seu namorado. Tentei reconforta-la, pois, em hipótese alguma eu permitiria usar Embry como teste se não soubesse o quão seguro fosse para ele. E acredito que ela se acalmou em saber que pensávamos primeiramente no bem-estar dele, do que em alcançar uma cura a qualquer custo.
Enquanto Lia preparava as seringas para coletar meu sangue e fazer os testes, eu pensava no que seria possível fazer caso nossa hipótese estivesse errada. Brincava com o vidrinho de meu próprio emplastro cicatrizante, quando Lia me chamou para iniciar os exames. Jacob ligou no momento em que ela preparava meu braço para a coleta.
— Fala sério! Essa conexão mental de vocês dois está deixando a todos cansados, sabia? – ela reclamou assim que peguei o celular.
— Não fui eu quem pediu para ele ligar.
— Este é o problema. Fala ao Jake para dar um tempo. Eu preciso respirar sabia? Nossos pensamentos se cruzam tanto que eu nem sei mais quando é coisa da minha cabeça ou de outro!
Lia parecia realmente estressada e eu ri. Assim que atendi ao telefone passei o recado. Ele pediu desculpas e concordou que andávamos inconscientemente atingindo ao elo mental de toda a alcateia, mas que era difícil no início. Levaria um tempinho a mais para “calibrarmos” nossas psiques. Ele desejou sorte a nós, e assim que desliguei a chamada, Lia coletou o meu sangue. Ficamos um pouco assustadas. Havia se modificado consideravelmente. Ainda era vermelho e espesso como sangue humano, mas brilhava. Tinha uma mescla magnética.
— Você tem muita sorte, garota.
— É, eu não sei o que houve de fato, mas, pelo que vejo acho que... na verdade, não acho nada. O que aconteceu com meu sangue, Lia?
— Vi uma vez o veneno deles. É um líquido viscoso e prateado, como prata derretida. E seu sangue apresenta a mesma viscosidade agora, pelo que vejo há um elemento brilhante nele. Provavelmente veneno de Mark, mas não modificou a coloração. O que pode indicar que por muito pouco você não se transformou totalmente. Mas, vamos ter que fazer os testes de composição. E torcer para que ele não tenha atingido tanto.
Deixei nas mãos de Lia toda a análise sanguínea, eu não conseguia pensar direito. Afinal, mais uma vez eu escapei por muito, muito pouco.
Dois dias após a coleta os resultados já haviam ficado prontos. O meu sangue fora minimamente modificado, os componentes “naturais” dele, ou melhor, aqueles que pertenciam à Rhikan, eram mais fortes. Não permitiram uma incorporação eficiente do veneno de Mark. Logo, tínhamos em mãos uma fórmula química que torcíamos para dar certo.
Todos os quileutes estavam reunidos na reserva aguardando o resultado. Embry ao meu lado, de mãos dadas comigo, tão nervoso quanto eu para saber se nosso teste havia funcionado. Os outros parados à varanda de Billy igualmente ansiosos. Lia pegou o papel em suas mãos e leu o resultado recém-impresso no laboratório. Eu não tive coragem de ler os resultados que ela coletou, e nem ela teve coragem de ler sozinha, ainda que já soubesse o resultado, após os dois dias de trabalho duro.
— A incorporação hematopoiética ao elemento zircônio ultra reativo fora negativa. Entende-se que as quantidades mínimas não foram atingidas. – ela terminou a leitura e nos olhou desanimada concluindo: — Ou seja, não houve reação. A quantidade mínima de elementos reagentes nem foram alcançadas. O sangue da é altamente resistente ao veneno, e cerca de 0,001% do veneno de Mark foi o que restou. Seu corpo elimina o veneno , as sequelas que ficaram em você se formaram na primeira hora de contaminação, e depois... seu sangue desintoxicou.
Eu havia entendido, mas algumas faces mantinham-se confusas.
— Eu não sou o único leigo, então explica melhor Lia. Por favor. – disse Jacob confuso.
— Funciona como se o corpo da fosse atingido pelo veneno apenas na primeira hora de contaminação, e depois seus anticorpos combatem ao mal. Ela fica com sequelas, mas o sangue dela volta ao normal. Ela não tem como “contaminar” outros.
— Então.... Num exemplo tosco... ela se torna uma vampira que não pode transformar outros, porque volta a ser humana?
— Basicamente isto, Seth. Ela fica com ônus de ter os poderes dos vampiros, dependendo do nível de veneno no sangue. Como Mark não finalizou, não há como saber. Entretanto comparando ao que ocorreu à Bella por ser humana, e tendo claro que não soubemos quanto de veneno foi exposto à corrente sanguínea da , posso afirmar que foi uma quantidade muito mínima, capaz de ser expelida por seu organismo, mas igualmente potente para deixar as alterações.
Enquanto todos comemoravam o fato de eu não ter me tornado uma vampira, e nem existir esta possibilidade, eu me levantava desanimada.
— Não está feliz de saber que é inatingível a eles, ?
— Não é isso, Black.... É que agora sabemos que eu não posso ajudar Embry ou Quil que já manifestaram as transformações lobisomens.
Todos me olharam atentos e preocupados.
— Use o Mark. Não foi para isso que você deixou ele te morder? Ele não é seu escravinho apaixonado, agora?
A resposta arrogante e talvez, mais certeira, veio de onde menos esperávamos. Bruh que estava mais afastada soltou sua frase e saiu de perto de nós. Observei ela dar as costas enquanto Quil desculpava-se pela irmã. Segundo ele, ela estava apenas preocupada com o irmão, mas eles não entenderam que havia possibilidade de ela estar certa.
— É isso! – eu afirmei enquanto via Bruh entrar na cabana de Sue — Ela está certa. Se os níveis de veneno não foram suficientes temos que aplicar mais, e uma parcela muito, muito menor do meu. Por exemplo: se o “sangue” de Mark é ácido, e o meu básico a ponto de neutralizá-lo, então temos que aplicar mais ácido até que o meu sangue possa reagir, mas sem permitir a neutralização.
— Você está certa , mas teremos que fazer vários testes até encontrar a porcentagem ideal do seu sangue para que ocorra a reação.
— Não vejo problema, Lia.
— Eu vejo. – Jacob se pronunciou — Primeiramente Mark teria que aceitar ajudar vocês, e em segundo.... Eu teria que aceitar Mark a ajudando.
Todos olharam em nossa direção constrangidos. Àquela altura não havia como manter segredos, certamente todos sabiam da “confissão de amor” de Mark.
— Jake... – Paul, o único que nunca falava muito, se manifestou: — Temos que pensar em como ajudar a todos. Embry e Quil tiveram sorte até agora. Eles ainda podem ter seus quadros revertidos, mas até quando? Lia e precisam de nosso apoio, de toda a ajuda necessária. Até porque sabemos que não irá parar em Quil. Vamos ficar sem tentar?

Eu não sabia o que estava acontecendo, Bruh foi pontual, Paul foi pontual e só faltava Charlie para completar o círculo de “os calados que nunca opinam”, trazerem as repostas certas. Todos olharam-se cientes de que Paul estava certo. E fora Billy quem – mais uma vez – deu a palavra final. Ele pediu que convencêssemos Mark. Infelizmente, todos ali podiam se encarregar daquilo, mas sabíamos que só eu poderia alcançar a ajuda dele.

–– x ––


Jake e eu descemos do carro, e demos as mãos em direção à minha antiga casa. O descontentamento era visível no rosto de Jacob. Mark, abriu a porta antes que chegássemos à varanda.
Benvenuta, il mio tesoro! – gritou Mark para nós, parado à porta.
— Sem palhaçadas Mark.
Jacob o dissera direto. Ele me passou à sua frente a fim de que eu entrasse primeiro e ficou encarando Mark ao lado da porta, quando ele entrou.
— Eu estava ansioso para revê-la depois de nosso bacio.
— Eu acho que você não entendeu, não é Mark? – Jacob tentou avançar na direção dele, mas eu o segurei.
— Amigo, amigo... – Mark zombou de Jacob referindo-se a ele, como se ele fosse um cão.
— Mark. Sem gracinhas! Não torne tudo mais complicado, por favor. – eu o repreendi arrancando-lhe um sorriso de zombaria.
— Como se sente, ?
— Como pode ver, você deixou algumas sequelas.
Eu abri os braços me olhando, como se as mudanças em meu corpo fossem visíveis demais.
— Não. Não deixei. Há um realce diferente em sua aparência... Como a sua pele mais clara.... Ah! – ele suspirou pesadamente com ar de pena: — Que droga! Eu adorava o seu bronzeado natural... mas, creio que para uma moradora da praia, logo isso voltará ao normal.
Jacob bufava.
— Mark, algumas alterações foram feitas, mas a verdade é que eu sou imune ao seu veneno.
A feição de Mark pareceu conformada, como se ele já soubesse daquilo.
— Eu sei. Desde que feri teu punho eu descobri que por mais que a ferisse, não ia adiantar. E fico confuso com isso desde então. Estudei cada linha de meus escritos sobre como libertaria Rhikan já que não faria efeito transformá-la. Então reli as descobertas de Darak, e de fato, o ritual poderia dar certo. Mas, com essa sua maldita ligação com os lobos...
— Descobriu algo?
— Você anda transformando seus lobinhos, não é? Acho que por isso está aqui.
— Como esse cara sabe tanta coisa? – Jacob sussurrou para mim, contrariado.
— Trezentos anos de sabedoria meu caro, lobo! E lamento que prefira os atletas, aos inteligentes.
Jacob novamente tentou avançar sobre ele, mas eu o segurei.
— Temos um pacto, Mark. E você tem que me ajudar.
— Não, eu não tenho. Mas, eu vou porque eu ainda acho que posso tirar o Jacob do meu caminho. Afinal, Edward conseguiu e ele é um, banana. Por que eu não conseguiria?
Eu tentei segurar Jacob novamente, mas com aquela provocação eu não teria como. Black foi muito mais rápido e forte e lá estava ele segurando Mark pelo pescoço contra a parede. O vampiro ria zombando.
— Oras Jacob, supere isso! E me solte porque é você quem precisa de mim.
— Black...
Ao ouvir minha voz ele soltou Mark, e lhe deu as costas, mas voltou e deu um soco em seu rosto. Revirei os olhos e estendi a mão para que Black a pegasse se juntando a mim.
Estressadinho, o seu namorado. – Mark continuou zombando.
— Vamos precisar do seu veneno. Muitas vezes. E, das respostas que já tem.
— Uma coisa de cada vez, . Eu não sou idiota. Vou querer algo em troca...
— Eu não vou hesitar de novo, Mark. Ou você para com as gracinhas ou eu te mato sem pensar duas vezes se precisarei ou não de você vivo!
— Jacob, acalme-se! Mark só quer te provocar.
— Ah.... Eu realmente adoro provocar você. – Mark respondeu rindo e caminhou até minha antiga escrivaninha puxando um livro da gaveta — , eu te ajudo com seu “antídoto”. É isso o que está tentando fazer, não é? Mas, pelo que li aqui... não vai funcionar...
— O que é isso?
— Darak era um exímio matador, mas também estudioso. Este é o diário dele com tudo o que havia descoberto. E essas transformações não podem ser contidas, muito menos enquanto você estiver por perto. É você que as causa. Aliás, Rhikan.
— Então, por que contavam que meus poderes aliados aos poderes dos vampiros seriam capazes de conter os quileutes?
— Darak não teve tempo de contar isso aos outros. Afinal, ele era meu aliado. O nosso plano era me livrar da maldição e levar a garota. Os outros ainda acham que podem contar com isso.
— Que outros? – Jacob perguntou eufórico.
— Os Volturi. E seus velhos amigos, Jacob.
— Malditos! – grunhiu Black enquanto Mark ria.
— Ainda assim tentaremos Mark. Você por favor, nos acompanhe ao laboratório. Eu quero tentar todas as possibilidades.
— É perda de tempo, mas se quer tentar...
Mark respondeu e subiu as escadas. Ficamos confusos o aguardando. Quando desceu, ele me estendeu uma caixa.
— Eu estarei esperando-a , como eu disse... sua única chance de salvar os quileutes é se afastando deles, porque Rhikan só pode ser extraída de você com a minha morte e eu não pretendo morrer.
— O que é isso? – abri a caixa e haviam ali três vidros com um líquido parecido com o que Lia me disse.
— É o veneno dele. – respondeu Jacob com a cara fechada.
Provavelmente as dolorosas lembranças que ele não me contava, deveriam ter surgido.
— Como sabia?
— Depois de nossa viagem à Bélgica achei que tinha entendido que não pode me esconder nada.
— Ai que merda... Cada hora uma confusão.
— Você quem procura isso, gracinha!
Mark ria e eu decidi esquecer a tal “ligação” que tinha também com o Mark. Era menor do que a minha ligação com Jacob, mas também importante por dar a ele informações preciosas, desde que não estejam em minhas memórias.
— Uma última coisa Mark.... Por que o ritual não deu certo?
— Porque não basta tudo aquilo... O lobo presente no ritual, não pode ser qualquer um.
Ele sorriu com maldade e eu me arrepiei com aquilo. Jacob perguntou-me do que ele estava falando, e eu não respondia. Fitava os olhos cruéis de Mark e quando ele lançou um olhar de cobiça ao Jacob, eu o entendi. Peguei a mão de Black e o guiei para fora dali. Mark nos acompanhou calmo e acenou falsamente da varanda. Enquanto entrávamos no carro, Jacob me perguntava o que ele queria dizer, e eu apenas o pedi para ir em direção ao laboratório. Lia estava me esperando.
Ao chegarmos no laboratório, Jacob não insistiu naquelas perguntas. Ele conseguiu entender o que Mark quis dizer quando percebeu a minha grande preocupação com o assunto. Abri a porta de entrada do laboratório e fui até a parte de trás do balcão da recepção deixando minha bolsa ali. Antes que eu entrasse à porta do laboratório em si, Black segurou minha mão impedindo-me. De fato, a preocupação estava grande em meu rosto.
— Eu teria que morrer, não é?
— Não tenho certeza se foi isso que ele quis dizer.
— Mas, se não for eu, certamente é um de nós. O tal lobo que ele falou não poder ser “qualquer lobo”.
— Ninguém vai ter que morrer, porque eu tenho isso! – eu falei enérgica para Black mostrando a caixa com as porções de veneno de Mark.
— Mani... Apenas não fique alarmada com as palavras de Mark. Ele mente, não é confiável. Tenho certeza que seja qual for a saída, todos ficaremos bem.
— Não me venha com este tom de morte, Black!
Eu soltei minha mão da dele, e Lia abriu a porta da sala saindo de dentro do laboratório e nos encarando curiosa. Black e eu não deixamos de nos, olhar nos olhos, e nem de terminar o assunto mesmo com a presença dela.
— Eu não vou deixar ninguém morrer por causa disso!
— Mani, eu só quero dizer que algumas coisas podem estar fora do seu controle. Eu também acredito que há outro modo. Como eu disse, Mark não é confiável, então, não se preocupe a ponto de se maltratar em fazer isso... – ele pegou a caixa de minha mão — Dar certo a qualquer custo por medo do que ele disse.
— Eu sei, Black. Vai dar certo, sem que ninguém se sacrifique por isso... Desculpa.
— Desculpa, pelo quê?
— Por ter feito todo este mal a vocês, desde que cheguei aqui.
— Você não tem culpa de nada!
Black estava exaltado. Na verdade, estávamos. Eu também vivia um misto de controvérsias. Não sabia se acreditava ou não em Mark. Maldito vampiro.
— Sempre soubemos que eu tenho influência nisso tudo. E hoje, Mark confirmou tudo o que vinham me dizendo sobre eu ser a responsável por....
— Para! – Black me interrompeu — Pare de se culpar, eu já disse que não devemos acreditar em tudo o que aquele maldito frio diz.
— Acontece Black, que eu devo a ele tudo o que descobri até agora. Como não acreditar? Se Mark estivesse mentindo eu já teria descoberto há muito tempo. E, no entanto, tudo o que ele disse fizeram as peças se encaixarem.
— Er... Pessoal... O que está acontecendo? – Lia nos tirou de nossa discussão a dois.
— Black, pode passar na farmácia e ajudar Steve com todas as burocracias do dia? É só pegar tudo o que ele vai lhe entregar, eu confiro depois.
— Claro. Fique bem, e não esquece que eu te amo.
Ele me abraçou apertadamente e beijou minha testa. Se despediu silencioso de Lia e quando ela e eu ficamos sozinhas, contei tudo o que havia acontecido. Lia estava tão assustada quanto nós, mas concordava piamente com Jacob sobre não acreditar em tudo o que Mark dizia. Decidimos que a melhor coisa a fazer no momento, era focar nos trabalhos com as fórmulas.
Passamos pouco mais de uma semana trabalhando na fórmula. Os resultados estavam cada vez mais pertos, entretanto, todo pequeno erro culminava na perda de material. E tempo. Quando nos restou o último frasco de veneno, Lia adotou uma postura tão animada para alcançar um resultado positivo que eu não conseguia ter. Estava cansada de furar minha veia coletando sangue, cansada de chegar ao quase, cansada de pensar o que faria se não desse certo, cansada de pensar que Mark mais uma vez poderia dizer a verdade. Cansada, apenas. No fim da tarde de sexta-feira, eu saía da farmácia após verificar os trabalhos da semana com Steve, quando vi a motocicleta de Lia aproximar. Ela tirou o capacete revelando um sorriso largo.
— Consegui!
— Não brinca!
— Vamos para casa.
Eu corri apressada ao meu carro estacionado do outro lado da praça e Lia partiu rápida. Chegamos quase juntas à reserva, e quando ela desceu da moto gritou a todos. Eu estava eufórica! Fui ao encontro dela no meio do pátio enquanto pouco a pouco os quileutes se aproximavam.
— Lia! Não faça rodeios! – estava tão preocupada e ansiosa que mal podia esperar todos chegarem para saber.
— Calma , deixe que todos cheguem então eu digo.
Saí apressada até a cabana de Billy, o encontrei dormindo em sua poltrona e o acordei desesperada.
— Desculpe Billy! Lia tem um recado urgente, onde está Black?
— Na marcenaria.v — Por favor, se apresse.
— Pedir a um velho para correr já é um insulto. Pedir a um velho para correr numa cadeira de rodas ainda mais, .
Ele resmungou e eu me coloquei a empurrar a cadeira dele rapidamente. Billy se assustou e reclamou um pouco, saí correndo até Black e sorrindo marotamente para Billy.
Jacob estava concentrado em um totem que talhava e não me percebeu chegando. — Black! Venha rápido!
Ele me olhou assustado e antes que perguntasse algo, eu saí correndo. Logo Jacob me seguia apressado e todos nos aguardavam em um grande círculo no meio do pátio.
— Pronto Lia, fale de uma vez! – eu disse ansiosa e ela sorria encarando todos.
e eu trabalhamos com muito foco no antídoto estes dias. E foram muitas as falhas, mas estivemos próximas dos resultados. Há alguns dias, eu consegui atingir o percentual exato de hemácias da reagentes ao veneno de Mark.
— O quê?! Como não me diz isso? – perguntei revoltada e chateada com Lia.
— Eu não queria que todos tivéssemos falsas expectativas, . Por isso eu menti para você. Mas, a verdade é que eu consegui o resultado.
Todos sorríamos e comemorávamos.
— Então agora é só testar!? – Seth perguntou sorridente fazendo com que todos encarássemos novamente Lia.
— Não necessariamente.
— Como? – lá se ia o meu sorriso de alívio por água abaixo.
— Eu já testei.
— O quê? – todos perguntamos confusos.
Encarei os olhos negros de Lia com curiosidade, confusão e medo. O que ela teria feito para chegar à conclusão que parecia-me ter chegado.
— Eu não podia criar expectativas em mais ninguém. E de acordo com os estudos que a desenvolveu ao longo de nossos dias de pesquisa, a probabilidade de dar certo resultaria num antídoto potente a ponto de curar os lobos inclusive de sua forma natural. Se um de nós deixasse de ser lobo, então a probabilidade de anular o avanço das transformações é muito maior.
— Lia... – Sue pronunciou o nome da filha com certo pesar e preocupação, mas a jovem continuou sem deixar Sue dizer mais nada.
— O que quero dizer é que, se um de nós deixasse de ser um lobo comum, logo, um de nós ao chegar ao estágio de lobisomem voltaria apenas a ser lobo. Não só retardaríamos, como anularíamos o avanço.
— Lia o que você fez? – Embry perguntou preocupado.
Eu estava certa. Eu sentia que ela havia feito o que eu imaginava. E eu me sentia muito culpada.
— Quando descobri os resultados positivos da fórmula, eu me fiz de cobaia. E já se passaram os dias necessários para saber se a fórmula funcionou em mim. E antes que qualquer um me recrimine por isso, eu quero dizer que foi minha escolha. E se isso der certo, eu vou ter realizado um sonho. Ela olhou para Embry com os olhos marejados, para sua mãe, seu irmão e para Sam. Sam de certa forma estava chateado com aquilo. Ele abaixou a cabeça sem encará-la.
— Eu passei anos me sentindo perdida, me sentindo sem uma identidade porque tudo envolvia a todos. A vida de um, era a vida de todos. Meus pensamentos eram compartilhados contra a minha vontade. Eu não podia fazer muitas coisas, como as garotas normais. Eu sofri com um imprinting maldito. E depois que encontrei o meu verdadeiro amor... – ela olhou para Embry — Eu tive que lidar com a chance de perdê-lo, com a falta de paz por estar distante.... Este elo quileute que não nos permite nos afastar, e nos maltrata quando perdemo-nos da alcateia. O rompimento que nunca é permitido.... Enfim... tudo isso me fazia sofrer estudando longe de todos, como se uma corrente amarrada aos meus pés me impedisse de seguir. Minha mãe sabe da minha dor, e sempre soube que eu escolhi a Medicina, para tentar me livrar disso.
Todos os quileutes estavam de certa forma confusos. Os sentimentos de Lia deviam ser conhecidos por alguns, mas o rompimento com a tradição sempre fora um tabu. Algo quase proibido.
— A vida é mesmo injusta. Enquanto eu fui forçado a não ser um lobo, você, Lia, escolheu isso.
Sam proferiu com mágoa e Emily segurou a mão dele.
— O que você diz ser uma benção, Sam.... – Lia tinha um tom de choro com raiva em sua voz — Eu vejo como uma maldição tão grande quanto a de um frio! Todos se espantaram com a fala dela. Sue abaixou a cabeça num choro contido. Ela sempre soubera as razões de Lia, e a compreendia. Mas, também se sentia ferida por não poder fazer nada.
— Ter a vida roubada por um fardo, geração após geração. Um fardo que agora se torna maior e pior! Isso não é uma benção! Jake tentou fugir de ser o alfa, e não pode escolher! Você feriu a mulher que ama e perdeu um de seus braços por isso que você diz ser uma benção! Malaika nos comprovou quantos de nossos antepassados tiveram que se matar aos poucos por causa dessas transformações! E nós, passamos a nossa vida a vigiar e defender um território de seres tão repugnantes. Mas, quem disse que não somos repugnantes como eles? Só porque protegemos os cidadãos de Forks? Eles não têm outra condição de sobrevida, Sam. São seres selvagens, malditos, assim como nós que os caçamos. A única diferença é que nós podemos nos camuflar melhor entre humanos. Ou melhor... podíamos.
Sam escutou todas aquelas palavras, calado, assim como todos ali. Lia conseguiu transformar uma condição em que todos se orgulhavam, em uma ponta de dúvida. Ele pegou Emy pela mão e saiu dali. Os outros permaneceram, quietos, assustados, alguns compreensivos e outros não.
— Eu concordo com ela. – Bruh respondera chamando atenção de todos. — Mas, não sei se é melhor ser um monstro, ou um ser vulnerável e indefeso. A jovem Ateara saiu e o único que disse algo, no meio daquele silêncio constrangedor foi o patriarca da reserva.
— Lia. O que está feito, está feito. Como saberemos se você agora é uma humana apenas, ou não?
Billy retornou nossa atenção para o fato de não sabermos ainda se dera certo. — É por isso que os reuni. Eu preciso testar... se ainda tenho alguma ligação com os outros.
Lia limpou as lágrimas e se fez forte. Era claro que, ela sentia-se atingida pelos outros. Não era a revolta o que ela esperava. Achou realmente que iriam entendê-la, mas todos pareciam desapontados demais. Eu não achava que o discurso dela estava errado, aliás, sempre enxerguei uma hipocrisia quileute em não compreender que suas tradições feriam também. Não diretamente, mas indiretamente. Como Emily que ultimamente vinha sendo cobrada de uma maternidade que não queria ainda. E Sam, que quando deixou de “ser útil” deixou de fazer parte do escalão de frente da alcateia. Ou de Black que por mais escolhas de fugir das responsabilidades no passado, não conseguiu atingi-las, fora o peso de ser um Black. Considerado líder e exemplo para o povo quileute. E para além dos sentimentos deles, coloco também os meus. Eu ainda não esqueci o quanto sofri quando cheguei por ser “uma intrusa” com pouco conhecimento de questões importantes. Logicamente, uma coisa não se compara à outra, mas eu conseguia compreender Lia.
— Então vamos começar. – disse Jacob tomando a frente do círculo.
Ele sorriu para Lia na tentativa de dar-lhe apoio. Ela sorriu de volta e acenou levemente a cabeça agradecendo. Paul, Quil, Embry e Seth se colocaram ao centro junto ao Black. Lia aproximou-se mais deles. Passaram um tempo se olhando silenciosos.
— Não ouviu nada?
— Não. – ela respondeu.
Todos se olharam novamente, Billy abaixou o olhar e Sue o encarou preocupada.
— Então vamos direto ao que nos garantirá se você perdeu ou não seus poderes, Lia.
Black disse e foi o primeiro a se afastar dos outros correndo e transformou-se. Em seguida Seth, Quil, Paul, Embry. Eu já havia os, visto em forma de lobo, mas sempre era espantoso presenciar aquilo. Lia se afastou um pouco e correu de olhos fechados. Quando os abriu, encarou a todos novamente em suas formas humanas. Ela pode perceber pela altura que os via, que nada havia acontecido. Era isso. Ela havia se tornado humana, apenas humana.
— Estou aliviado. Nunca mais você vai se meter nos meus pensamentos e correr para contar qualquer coisa à mamãe!
Seth foi o primeiro a falar, e o único a fazer alguns de nós sorrirmos.
— Não nos cabe julgar Lia, mas agradecê-la. Por causa dela sabemos que temos uma chance de salvar outros de nós. Eu fico feliz também que, você pode ter a sua própria escolha, Lia.
Black falou como um líder. Abraçou Lia. Em seguida, Sue, Seth e Embry vieram abraça-la. Ela estava muito sorridente e alegre. Aos poucos os outros aceitariam aquilo. No momento, eles sentiam-se divididos e aquilo era natural.
Eu saí dali em direção à minha cabana, após abraçar Lia, num misto de felicidade e culpa. Me senti extremamente culpada por tudo o que vinha acontecendo, e embora soubesse que não teria como eu evitar chegar até onde chegamos eu pensava se deveria continuar entre os quileutes.
— Pode tirar essa ideia absurda da sua cabeça.
— Black... Não faça mais isso! É invasivo.
— Desculpe amor, força do hábito.
Ele me abraçou carinhoso e eu o puxei para sentar-se comigo ao sofá.
— Tem acontecido tanta coisa, e eu sinto que estamos longe do fim.
— Não pense assim, meu amor. Agora que sabemos a cura estamos próximos de finalizar isso tudo.
— Embry foi o primeiro, você o segundo, Quil o terceiro... será que vai dar certo? Eu não consigo parar de pensar no que Mark disse.
— Já deu certo, Mani! Lia é a prova.
— Lia foi topetuda de testar nela, o antídoto! Meus estudos eram apenas hipóteses prováveis de dar certo, com o caso dos lobisomens. É como uma ferida, quanto mais raso o corte, mais fácil cicatrizar.
— Então, pode não dar certo?
— Pois é. Temo que ela tenha feito tudo à toa.
— Não. Não. Ela estava muito confiante, e à toa não foi. Ela está feliz.
— Verdade... A propósito... – virei-me de frente a ele e coloquei minhas pernas em seu colo — Estou orgulhosa pela forma como a tratou.
— Não foi nada. Ela merece a compreensão de todos. Ela teve coragem de dizer e agir como muitos de nós nunca conseguimos.
Sorrimos um para o outro, e ficamos pensativos.
— Vai seguir a ordem para aplicar o antídoto?
— É o certo. Devido ao tempo que cada um foi exposto às mudanças, mas é estranho o fato de você ser o único que não teve sintomas tão significativos quanto os outros.
— Não me recordo quando diz que ocorreu comigo.
— Voltando do passeio de moto, na estrada discutimos...
— Verdade! Lembrei. Mas, não foi uma transformação, só um momento de fúria.
— Segundo Malaika e tantos outros, eu posso ter despertado seus primeiros sinais. Lembra-se quando ela contou o motivo para acontecer ao Embry? E ele sentir-se ligado a mim, ao ponto de vocês precisarem me salvar dele?
— É, tem razão. Pode ser, mas por que não manifestou mais?
— É o que eu não sei. Desde que você se tornou o alfa, eu tenho me preocupado muito com isso, mas até hoje nada mais aconteceu. Já os outros, me parecem mais vulneráveis.
— Hm... Sabe o que está vulnerável?
— O que?
— Meu corpo tão perto assim de você e minha boca tão longe da sua... Jacob sorriu travesso me puxando num abraço para mais perto de si. Eu não poderia discordar daquele fato. Há algum tempo nós não curtíamos um ao outro com tranquilidade.
— Sabe do que precisamos? – eu perguntei depois de beijá-lo.
— Subir para o quarto?
— Também... – respondi rindo — Mas, eu estava falando de passar um dia sozinhos trancados na cabana...
— Ótima ideia.... Mas, do jeito que as coisas andam, eu acho que não duraria um minuto a sós. Podíamos ficar sozinhos longe daqui.
— Alguma ideia nova, Black? – perguntei animada.
— Sim! Nós vamos para o quarto agora.
Jacob me ergueu em seus braços, e enchendo-me de beijos guiou-nos ao meu quarto. Desci risonha de seu colo o empurrando levemente até a cama. Antes que ele caísse nela, ele me virou abraçada em seu corpo e quem caiu na cama fui eu. Fiquei encarando seu olhar firme que analisava cada linha do meu rosto.
— Você é tão linda, Mani.
Sorri e ruborizei. Ouvir qualquer elogio por parte de Black me deixava constrangida. Aquele homem me amava tão verdadeiramente, que eu mal podia acreditar. Contornei as linhas de seus lábios com a ponta dos meus dedos, e ele passou o braço por baixo das minhas costas. Puxou-me para perto e me beijou apaixonadamente. Senti a mão quente de Black acariciar minha cicatriz, e imediatamente ela queimou. Não pela temperatura dele, mas pela minha. Ataquei-o feroz com um beijo forte e um abraço entregue e dali seguimos com nossos carinhos até o amanhecer.
Senti o sol bater em meu rosto e como se houvesse sonhado com a noite sórdida que tive com Black, levantei de súbito sentando-me na cama. Abri os olhos assustada e lá estava ele ao meu lado deitado e igualmente surpreso.
— O que houve?
— Achei que tinha sonhado.
— Como?
Ele apoiou-se sob os cotovelos me olhando confuso. E eu avancei novamente sobre ele, o abraçando firme.
— Em hipótese alguma saia de nossa cama sem que eu acorde. Ouviu? Ele riu baixo e eu me ergui sentada em seu colo. O vidro da janela que tinha sombra da árvore do lado de fora, permitiu ver o meu reflexo, mesmo com o Sol invadindo o espaço. Eu estava descabelada como nunca estive.
— Céus.... Olha o meu cabelo!
— Está lindo.
— Estamos cada vez mais selvagens, Black.
— Somos lobos. O que você queria? – ele riu me beijando.
Saí da cama e fui ao banheiro, logo Jacob me seguiu e enquanto escovávamos os dentes não paramos de olhar um para o outro. A cada dia que passava eu me sentia mais, e mais apaixonada. E acredito que Jacob também. Desci antes dele para preparar o café da manhã. Ele chegou um tempo depois e comemos juntos, abraçados na varanda da cabana. Alguns amigos acenavam e nos convidavam para tomar café na cabana de Sue. Mas, queríamos ficar juntos.
— Eu não disse que está ficando difícil ficar a sós?
— Como faremos? – perguntei suspirando.
— Se arrume. Vamos passar o dia na oficina.
— Sério Jacob? Que romântico... – eu disse sarcástica.
— Quero mostrar uma coisa a você.
— Na oficina?
Ele me empurrou para dentro de casa, rindo e fazendo voto de silêncio e mesmo sob meus protestos de curiosidade, não contou nada até chegarmos lá. O lugar estava organizado, muito bonito e havia uma mesa central coberta com algo grande.
— Confesso que nem me lembro direito da oficina...
— Você deveria vir mais vezes ao trabalho do seu namorado.
— O que é isso?
Perguntei tentando espionar o que tinha abaixo do lençol que cobria algo na mesa central. Aquela era a mesa onde Jacob deixava a peças mecânicas que consertava, montava ou desmontava. Ele surgiu ao meu lado batendo de leve em minha mão.
— É surpresa!
— Não foi para isso que me trouxe aqui?
— Sim, mas não agora. Primeiro vamos passear. Eu só vim pegar a moto.
Eba! Quero pilotar!
Ahn... Eu planejei pilotar com você na minha garupa... – ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha — Bem coladinha em mim...
— Tudo bem, eu deixo passar dessa vez.
Nos preparamos para sair e eu olhei mais uma vez para o lençol coberto tentando imaginar o que havia ali. Não me aguentava de curiosidade.
Black parou em um posto de gasolina alguns quilômetros à frente da oficina e encheu o tanque. Seguimos pelas estradas o dia todo. Ele havia preparado um dia de circuito viajante. Fomos de cidade em cidade das proximidades de Forks com a moto. Eu não podia acreditar naquela loucura. O dia inteiro tiramos fotos, conhecemos lugares – a maioria ele já estivera –, e por fim paramos num restaurante de uma das cidades para jantar.
— Black! Estou destruída! Olha para mim, não vai me fazer entrar aí para jantar, não é?
— Você está linda, e a fachada é só uma fachada! Vamos! Você vai gostar daqui o dono é meu amigo.
Assim que entrei fiquei abismada. O lugar elegante que nos parecia ao lado de fora, por dentro recriava um bar de motociclistas. Eu comecei a gargalhar assim que entrei e Black ria junto, me perguntando “o que havia de errado”. Minha risada atraiu olhares das mais diversas figuras ali: motoqueiros charmosos, dos clássicos aos modernos, motoqueiros mal-encarados e ao grupo de motoqueiros idosos. Este último eu achava ainda mais engraçado. Black me abraçou me guiando ao balcão e logo ouvimos um homem o chamando.
— Carl! Como você está cara?
— Jake! Seu idiota, por que não veio mais aqui?
— Andei ocupado nos últimos tempos. Mas, senti saudades do melhor hambúrguer da região!
O homem que o cumprimentara me observava atento.
— E eu trouxe uma pessoa para conhecer a Toca.
— Estou vendo... – ele respondeu olhando-o surpreso.
— Esta é , minha namorada.
A voz orgulhosa de Black ao me apresentar, me deixara encantada. Eu nunca havia o visto se referir a mim como sua namorada daquela forma.
— Eu sou o Carl. – ele estendeu a mão em cumprimento para mim — Seja bem-vinda à Toca dos Desviados, . E parabéns por conquistar esse cara.
— É um prazer conhecê-lo, Carl. Estou muito feliz em descobrir outros lugares de vivência do Black.
Ele sorriu, e logo foi direcionando-se ao balcão. Jacob pediu a ele “o de sempre” para nós dois.
— Trouxe sua namorada para comer hambúrguer, num bar de motoqueiros chamado “Toca dos Desviados” como programa romântico, Black? – perguntei risonha.
— Não gostou? – ele perguntou preocupado.
— Adorei. Nunca outra pessoa poderia pensar em algo tão... Próprio.
Ele sorriu. O mesmo sorriso solar que eu amava. Beijei tranquilamente o meu namorado, e assim que avistei uma vitrola corri até ela. Jacob observava sorrindo. Peguei uma moeda em meu bolso e inseri na máquina, procurei pela música que tinha em mente. E logo que encontrei eu dei play, me virei para Black, e dali onde eu estava comecei a fingir tocar uma guitarra imaginária. Aos poucos as pessoas ali me olhavam curiosas, satisfeitas com a música, e Black começou a rir desacreditando que sua namorada pagaria tamanho mico. Eu puxei um dos tacos de sinuca da mão de um dos caras que jogava e me olhou sem entender nada e continuei tocando minha guitarra imaginária, que logo se transformou num microfone. A galera do local começou a bater palmas no compasso da música e logo chamei Black. Ele deu um salto do banco onde estava e começou a cantar alto comigo, a segunda estrofe de “Dream On”. A nossa música. Me puxou pela cintura e de corpos colados continuamos cantando, como se não existisse mais ninguém ali. Ouvimos o coro de alguns cantando conosco, o refrão. Dancei colada ao Black e ele pegou o taco de sinuca fazendo-o de guitarra. Eu deixei ele tocando e subi na sinuca incorporando o próprio vocalista do Aerosmith. Joguei os cabelos de um lado ao outro, todos batiam palmas junto com a música e cantaram o refrão comigo. Fizemos um verdadeiro estardalhaço ali, Jacob devolveu o taco ao dono, eu me joguei em seu colo sendo abraçada e beijada por ele. Todos gritavam e assobiavam e aos poucos retornavam às suas diversões no bar, enquanto Black e eu continuávamos rodopiando, beijando e curtindo o nosso rock’in roll.
Quando voltamos ao balcão, Carl já estava lá com nossos pedidos. Ele ria conosco, e nos servia as bebidas. Eu mais do que faminta peguei o hambúrguer e antes de dar a primeira mordida me desculpei com Carl.
— Me desculpe a bagunça na Toca, Carl.
— Que nada! Jake! Case-se com esta garota! – ele disse e nos olhamos rindo.
— Uau Carl! Este hambúrguer é coisa de outro mundo!
— Fico feliz que tenha gostado, . E você! – ele apontou para Jacob: — É sério, case-se com esta garota!
— Pode deixar. – Black respondeu sorrindo e piscando para mim.
Pegamos a estrada um pouco depois de conversarmos mais com Carl, e terminarmos de comer. Voltamos à oficina às duas horas da manhã, estacionamos a camionete e antes que eu entrasse nela, Black me segurou pela mão.
— Não está esquecendo de nada? – ele perguntou apontado com o olhar, o lençol coberto.
— Céus! Eu havia esquecido!
Comecei a rir e corri até lá retirando o lençol e dando de cara com uma maquete linda. Toda talhada e montada em madeira. Era uma casa. Uma espécie de cabana muito maior. E quando eu girava a base dela podia ver toda a maquete de outros ângulos, a parte de trás mostrava cômodo por cômodo. E dois bonequinhos lá dentro deitados em frente à uma lareira.
— O que é isso Black? – perguntei enquanto observava a maquete minunciosamente.
— Eu construí enquanto você estava na Bélgica.
Me virei para encará-lo, espantada. Mas, o que vi me deixou ainda mais espantada. Black recostado à moto, com um braço cruzado e na outra mão uma caixinha de joia aberta.
— O que significa isso?
— A maquete é a nossa casa, e isso – ele balançou a caixinha aberta em sua mão — Digamos que estou seguindo o conselho de Carl.
— Black... – sussurrei com a voz falha.
Me apoiei na mesa atrás de mim e o encarava surpresa. Black se levantou da moto e caminhou lentamente até mim. Segurou minha mão, e me beijou calmo. Encarou meus olhos marejados secando as lágrimas que se formavam.
— Você quer que eu ajoelhe? – ele perguntou e eu acenei negativo — Mani... Você me devolveu a alegria de estar vivo. E eu quero ser feliz contigo, para o resto da minha vida. Aceita se casar comigo?
— Não brinca, Black. Isso não tem graça!
— Eu sei que dissemos para “deixar as coisas acontecerem”, mas elas aconteceram Mani. Eu não posso viver sem você.
Não sei se os últimos acontecimentos com Mark ou se o risco da morte surgindo tantas vezes entre nós, foram os motivos para Black tomar aquela atitude, mas eu estava extremamente feliz. Pulei em seu corpo enlaçando-me em sua cintura. Ele cheirou meu pescoço e eu mordi seu ombro. Afinal, era nosso ritual. Nosso gesto de mostrar o quanto pertencíamos um ao outro.
— Isto é um “sim”?
— Para sempre!
Desci de seu colo chorando e sorrindo. Eufórica e letárgica. Todos os paradoxos possíveis. Ele enxugou minhas lágrimas e selou nossos lábios. Pegou o anel dentro da caixinha e o colocou em minha mão. Sorri largamente, e novamente o abracei.
No caminho de volta à reserva, não consegui parar de olhar minha mão com o anel de compromisso. Black ria hora ou outra quando me pegava sorrindo e admirando a joia.
Por volta das duas e quarenta e cinco da manhã, nós chegamos na reserva. E estranhamos a movimentação àquela hora. Luzes acesas nas cabanas e um burburinho na casa de Sue. Nos entreolhamos curiosos e batemos à porta. Quando Lia a abriu, imediatamente ela começou a reclamar:
— Onde é que vocês se meteram, hein? Passamos horas tentando falar com vocês, e eu o dia todo os procurando!
— Precisamos fugir um pouco, ter um dia só nosso. – Black falou encarando a todos — O que houve, pai?
— Paul. Ele sumiu esta tarde e não o encontramos até agora.
— Quem foi atrás dele?
— Embry, Sam, Emily e Bruh.
— Sam e Emily voltaram no início da noite. Seth e Quil foram procurar. Já Embry e Bruh estão desde cedo.
— Eu vou também! Para que lado seguiram? O que Paul fazia quando sumiu? – Black perguntou a caminho da porta.
— Não sabemos, Jake. Ele simplesmente desapareceu.
— Eu vou com o Black!
— Não, . Você fica aqui com Sue, meu pai, Lia e os outros.
— Eu vou sim! Não me venha com essa agora, Black! Sabe que posso ser útil.
— Infelizmente não sabemos em que direção os outros estão, Jake. Eu não tenho mais como me comunicar... – Lia disse preocupada.
— Não se preocupem, nós daremos um jeito. – eu disse abraçando-a.
Jacob seguiu direto ao carro, já eu segui até minha cabana. Preparei uma bolsa de viagem emergencial, peguei carregador de celular e quando cheguei ao carro exigi ao Jacob que me permitisse dirigir. Ele aceitou, afinal, estava exausto de nosso dia de passeio.


29 - O Retorno dos Cullen

Eu dirigi pela estrada de Forks que circundava toda a reserva, e Black decidiu nos separar temporariamente na mata. Parei o carro à altura da entrada do território Cullen. Algo dizia a ele que Paul passara por ali.
— Sinto o rastro dele por aqui.
— O que Paul viria fazer deste lado da floresta?
— Eu não sei. Mas, Mark pode estar metido nisto. , sabendo que os riscos de um ataque a você são menores... Vá até Mark. Eu vou seguir o cheiro de Paul.
— Uau... O que um pedido de casamento não faz à confiança de um homem! – eu zombei tirando um sorriso bobo do rosto dele: — Tenha cuidado, meu amor.
— Você também Mani.
Nos beijamos rapidamente, e cada um seguiu para um lado. Observei Black adentrar à mata transfigurado. Encarei o caminho até a casa dos Cullen e segui confiante. Ao chegar próxima à encosta alta de mata virgem, que escondia a casa de vidro abaixo, eu fui puxada pela cintura sendo afastada de onde estávamos e tive a boca fechada por uma mão.
— Shh... Fique quietinha. – ele sussurrou ao meu ouvido — O que faz aqui, gracinha?
Ele me soltou e eu me virei para encará-lo.
— Mark? Estou procurando Paul. O rastro dele nos trouxe aqui.
— Nos? Não me diga que Jacob está aqui!
— O que houve Mark?
— O lobo pressentiu que minhas visitas estavam a caminho e veio até aqui, mas transformou-se em outro monstro muito rápido. Eu tive de contê-lo.
— O que você fez com Paul? De que visitas você está falando?
— Eu o parei e deixei o corpo dele lá na praia de vocês. Os outros já devem tê-lo achado.
— Não, ninguém conseguiu senti-lo. Só Black, até agora farejou o rastro dele.
— É porque os sentidos de um alfa são mais aguçados. Desculpe, mas eu tive de parar seu amiguinho do meu jeito. Ele deve estar fraco.
— Eu vou te matar!
Mark lançou-se a mim tampando minha boca.
— Shhh...! Eu não posso falar mais. Eles estão chegando. Vai embora! Vá para La Push! E mantenha todo quileute bem longe daqui, principalmente o seu amado Jacob se quiser evitar uma guerra fora de hora!
— Quem está chegando?
— Os Cullen. Agora vá, Edward está pressentindo sua presença.
Olhei aflita e confusa para Mark. Foquei o olhar há alguns quilômetros e descobri mais uma nova sequela: percepção visual aguçada. Enxerguei vampiros chegando, a visão ainda turva e confusa, mas com certeza deveriam ser eles.
— VÁ! – Mark ordenou se afastando de mim, bastante nervoso por eu ainda estar ali.
Corri em direção ao carro, e dirigi acelerada até La Push. Me concentrei em me conectar com os outros, e Black foi o primeiro deles.

“Estou indo à praia, encontrei ele Mani! ”


Eu ouvi sua voz ecoar em minha mente. Novamente Mark me dissera a verdade. Eu respirei aliviada, por encontrar Paul e extremamente aflita por novamente perceber que Mark não mentia para mim. Encontrei os outros chegando na praia onde estava Black carregando o corpo de Paul. Abri a porta do carona na camionete, e ali colocamos Paul. Todos os outros entraram à caçamba, inclusive Jacob. Eu dirigia nervosa, cansada e toda vez que olhava o rapaz desmaiado ao meu lado, culpada. Quando chegamos à reserva, tudo o que mais queríamos Jacob e eu, era dormir. No entanto, Paul dava sinais de algum sintoma estranho. Pedi que o levassem à minha cabana, e que Black pedisse à Lia para me encontrar com os itens médicos.
— Ele foi envenenado pelo Mark!
Eu disse com a redoma de quileutes à nossa volta em meu quarto. Paul desacordado, mas dando sinais de enfraquecimento cardíaco deitado em minha cama. Lia sabia o que eu pretendia fazer, quando me sentei à cama arregaçando a manga de meu casaco.
— Esteja com o antídoto em mãos , eu vou transfundir e a chance de ele despertar transformado vai ser grande!
— Você vai aplicar uma transfusão do sangue da nele? – Seth perguntou à irmã.
— É! Uma bomba na corrente sanguínea dele. E agora vamos ver ele se transformar muito rápido, ou.... Eu não sei! Calado Seth! Não me deixe mais nervosa!
— Calma Lia!
Eu gritei com ela, que após retirar uma seringa sanguínea de minha veia, trocou as agulhas e preparou a veia de Paul para receber. Eu dei sinal para os outros afastarem-se. Aquela multidão dentro do meu quarto nos deixava aflitas. Corri preparando outra seringa de antídoto. A última dose que havia sobrado desde Lia ter testado nela mesma. Eu ainda não tinha ido até Mark pedir novas amostras de veneno, e agora não sabia quando poderia fazer aquilo tão cedo.
Lia injetou a transfusão sanguínea e observamos Paul inerte. Nos entreolhamos, e ela contou cinco minutos. E nada. Em sete minutos Paul começou a debater-se. Abriu os olhos numa nova coloração, e podemos observar a musculatura dele se expandir. Era uma cena horrível.
Black avançou até nós e empurrou Lia para trás, agora ela era a mais vulnerável ali. Os outros a protegiam, e Black lançou-se sobre o corpo de Paul o segurando firme, enquanto eu pegava a veia e aplicava o antídoto.
Parecia que Paul convulsionava, e estávamos amedrontados! Ele foi voltando ao normal à medida que debatia o corpo inconsciente, e de repente desmaiou. Todos nos encaramos assustados. A cena foi demais para todo mundo que estava presente ali.
— É isso. Agora vamos ter certeza ou não da cura.
Lia falou nos fazendo recordar de suas palavras:

“Se um lobo transformado receber o antídoto ele volta a ser um lobo comum.
Se um lobo comum receber o antídoto, ele deixa de ser um lobo”.


Saímos todos dali em direção à sala da minha cabana.
— Mas afinal, porque Mark o atacou? – perguntou Seth confuso. — Eu tenho notícias desagradáveis.
Todos presentes: Quil, Embry, Sam, Emily, Sue, Charlie, Billy, Black e Lia me encaravam com cautela e curiosidade.
— Paul estava perto do território Cullen, por ter farejado uma presença estranha. Ele se transformou na frente de Mark, e ele precisou contê-lo. A forma encontrada foi atacando Paul. Ele levou o corpo de Paul para a praia, e devido o envenenamento, os outros não podiam encontra-lo. Mas, Black sendo o alfa, ele... tem uma conexão maior com vocês, vocês já sabem...
— O que Paul farejou para Mark ter de afastá-lo assim, ? – Billy demonstrou-se muito mais preocupado do que todas as vezes que eu já havia o visto.
— Vampiros.
— Outros frios chegando à Forks? Então eu estava certo! Eu senti o cheiro deles, mas.... Estava concentrado em Paul. – disse Embry.
— Todos sentimos. – confirmou Quil.
, eram os Volturi? – Seth perguntou confuso atraindo os olhares preocupados de todos.
Eu encarei um a um, e ao olhar Black, ele encarava o chão, raivoso. Ergueu o olhar até o meu, e nós dois pronunciamos ao mesmo tempo:
— Os Cullen.
Todos estavam surpresos. Charlie caiu sentado ao meu sofá e inerte.
— Como sabem que eram eles? – ele perguntou.
— Senti o cheiro deles, Charlie. – respondeu Black.
— E eu os vi chegar distante. Não me perguntem! É uma novidade para mim também. – eu afirmei.
— Mais um dos poderes transferidos a você por Mark. – Lia concluiu.
Charlie ergueu-se e me encarou aflito, perguntando:
— Você a viu, ? Bella também veio?
— Eu não consegui distingui-los totalmente, Charlie.
— Sim. Ela veio. – Black pronunciou.
Charlie caiu novamente sentado. Certamente Black sentiu o cheiro dela, e aquilo era prova concreta. Ele não esqueceria o cheiro dela. Meus olhos saíram dos seus, e eu pensava que agora teria de encarar a minha ex-amiga. Uma fria. Uma rival. Uma peça de todo o passado de Black. Ele caminhou-se até mim e abraçou-me.

– x –


Na manhã seguinte, Black e eu estávamos ansiosos pelo despertar de Paul. Mas, o rapaz não acordava. Chamamos a Lia muito cedo pedindo para o examinar. Estava tudo certo com a frequência cardíaca dele, e tudo o mais, contudo, o rapaz entrara numa espécie de “hibernação” temporária.
— Acalme-se . Você não fez nada errado. Quando o Mark te mordeu, você levou dois dias dormindo, lembra?
— Certo. Eu vou ao trabalho.
Me distanciei do quarto, e enquanto descíamos as escadas Jacob estava na cozinha preparando o café da manhã. Lia puxou minha mão de repente, me assustando e encarando o anel surpresa.
— Jake! Jake!
Ela começou a gritá-lo e eu não consegui evitar um esboço de sorriso sem graça. Ele se aproximou de nós, com uma expressão de tédio pela gritaria de Lia.
— Você tem alguma coisa a ver com este rubi no dedo da ?
— Tenho.
Black começou a sorrir tão sem graça quanto eu.
— Vocês dois, são dois idiotas! Como fazem algo assim e não contam para nós?
— Ele fez o pedido ontem, Lia. E quando voltamos.... Bem...
— Eu quero matar vocês! Venham aqui!
Lia me abraçava forte e animada e em seguida fez o mesmo com Black.
— Você tem lágrimas nos olhos? – Black perguntou encarando-a como se aquilo fosse absurdo.
— Tenho. Eu quero tanto que vocês sejam felizes!
— Obrigada Lia. – me segurei para não chorar e a abracei novamente.
Ela nos encarou admirada e em seguida saiu correndo gritando:
— E eu vou ser a primeira a sair contando para todo mundo!
— Lia! Espera! – Black e eu gritamos, mas nada adiantou.
Olhamo-nos prevendo que não teríamos paz. Não era daquele jeito, muito menos naquele momento que queríamos contar. Mas... quando é que um quileute tem privacidade de sua própria vida, não é?
Alguns minutos após Lia ter saído, Black e eu sentávamos à mesa da cozinha para comer, e a multidão de pessoas ainda com as caras amarrotadas adentraram minha barraca, falantes, sorridentes, carinhosas. Recebemos abraços, felicitações, algumas lágrimas também. Billy não se conteve ao abraçar o filho. Um coro de “ooown” se fez ouvir, e eu ri encabulada. Alguns sentaram-se à mesa conosco e tomamos café como uma grande família feliz. Parei um instante para refletir sobre aquela cena: eu tinha muito mais do que já sonhara em ter, naquele momento. Eu realmente havia ganhado uma nova família. E algumas lágrimas teimosas e discretas escorreram sob meus olhos. Black percebeu, e enxugou-as beijando minha face. Nós estávamos tão felizes que temíamos. Temíamos toda a atmosfera sombria que insistia em perseguir nossas vidas. Ao tempo que os riscos, as dúvidas e os conflitos se aproximavam nós ainda conseguíamos ser felizes. Havia um equilíbrio cósmico inexplicável entre todos que fazia com que nossas vidas seguissem “normais” mesmo em meio a todo o horror.
Eu segui para o trabalho na farmácia, Black para oficina, Sue tomaria conta do Paul, e Charlie estava abalado com a volta de Bella, mas decidiu ocupar-se também com trabalho. No horário do almoço, ele surgiu na farmácia acompanhado de Erick.
— Bom dia, senhores! – sorri ao vê-los.
— Bom dia, . – disse Erick sorrindo e Charlie apenas nos encarou apreensivo.
— Tudo bem?
— Sim! E com você, Erick?
— É, o mesmo. ... eu vim te entregar isto.
Ele me estendeu um envelope dourado. Olhei para Charlie curiosa, e o delegado me encarava com um meio-sorriso e sobrancelha arqueada.
— Um convite de casamento? Seu!
— É. Não me pergunte. Quando eu vi, já estava com meu nome nisso.
— Você não quer se casar com a Jéssica?
— Quero. É claro.
— Hm... Então, sorria! Eu fico feliz por você, de verdade Erick!
— Que bom. É... Eu ainda não sei o que estou fazendo, mas.... Enfim.... Sei que é um pouco em cima da hora, mas espero que você possa ir e levar quem você quiser.
— Obrigada. Eu irei.
Saí de trás do balcão para abraça-lo, e ao deixar o envelope sobre o balcão, Erick notou minha mão. Abraçamo-nos e antes que ele me soltasse sussurrou em meu ouvido:
— É um belo rubi.
Soltei-me dele sorrindo fraco. Charlie observava a tudo atento, e com sarcasmo em sua face.
— Obrigada. Eu me contentaria com um anel mais barato...
— Jacob sabe que você não merece menos. Merece muito mais, e ele é um homem com muito bom gosto.
— Você está elogiando o Jacob?
Erick riu zombeteiro e beijou minha testa, saiu sem me responder e despedindo-se de Charlie e eu.
— E aí filha, vamos almoçar na reserva?
— Como recusar um pedido desses?
Sorri e depois de pegar minhas coisas, acompanhei ele até a viatura. De certa forma, Charlie me pegou de surpresa. Me espantou muito mais aquele convite do que a notícia do casamento de Erick Jones e Jéssica Parker.
— Está tudo bem, Charlie?
— Não. Eu não sei como vai ser quando...
— Por acaso, vocês brigaram antes dela partir?
— Não. Mas, ficamos em lados opostos, não é?
— Nesse caso, não acho que ela seria uma idiota de descontar no próprio pai suas desavenças com os quileutes.
— Temo que ela... não seja mais a minha filha, .
— Estou intrigada também. Sei que ela e eu nos encontraremos hora ou outra.
— Bem, até lá estejamos atentos. Os Cullen não voltariam se não fosse por um motivo forte.

– x –


Paul acordara, três dias após o ocorrido. Sentia-se bem, mas um pouco fraco. Não entendíamos a dimensão do que acontecia em seu organismo, mas sabíamos que seria uma mudança absurda. Bruh, no segundo dia em que ele não despertava, não saía de perto dele.
Seth e eu comentávamos sobre aquilo, enquanto deixamos a garota a sós.
— A Bruh é muito estranha, .
— Ela deve estar gostando do Paul agora, já que percebeu que você não deu ideia para ela.
— Não... não estou falando disso.... Tem algo muito errado com ela.
— Como o quê?
— Eu não sei, mas sinto que não podemos confiar nela.
— Ela é uma quileute, Seth. Apesar de tudo não acho que faria algo contra nós, se fosse assim, ela já teria feito.
— Pode ser, mas.... Meu instinto me diz para ficar em alerta.
Alguns dias se passaram, e eu precisava de nova dose de veneno de Mark. Mandei uma mensagem a ele, e fui até minha antiga casa no bairro Kalil. Assim que estacionei o carro na entrada da casa, observei Mark no andar de cima olhar pela janela e distanciar-se quando percebeu que era eu.
Abriu a porta para que eu entrasse e rapidamente a fechou.
— Saudades de sua casinha?
— Nem um pouco.
— Saudades de mim, então?
— Também não. Deixe de rodeios, você sabe porque eu vim.
— Que falta de educação, . Sente-se, vamos conversar.
— O que você tem a dizer?
— Fique longe da casa dos Cullen. Eles vieram todos. Inclusive sua amiguinha Bella.
— Eu sei. O que eles pretendem?
— Não sei. Bella desconfia que eu os traio. Alguém, que não foi Valerie e nem Darak, contou algo a eles que os fizeram voltar.
— Como sabe que não foram eles?
— Estão mortos. Os Cullen vieram assim que souberam.
— E o que eles souberam?
— Que Rhikan está em Forks. E você sabe.... Eles ainda acham que podem dominar os lobos, dominando a coisa.
— Bella é quem está liderando isso?
— Com certeza. Carlisle e Emma não estão de acordo com alguma coisa. Eu lamento, mas eles me deixam de fora dos novos planos. A única coisa que sei, é que todos seguem o ideal de serem uma família unida por isso estão aqui. Não há unanimidade sobre as decisões.
— Eu vou precisar que você me mantenha informada, Mark. Afinal, eu posso contar com você?
Ele se aproximou lentamente de mim, e me encarou nos olhos muito próximo a meu rosto.
— Eu já disse que vou tirar o lobinho da jogada, não disse? Este rubi na sua mão será apenas mais uma das suas lembranças.
— Me poupe!
— Vou pegar sua encomenda, gracinha. – ele sorriu e distanciou-se subindo.
Não era possível que Mark realmente fosse apaixonado por mim. Mas, enquanto ele me ajudasse na esperança de que eu o seguiria por toda a eternidade, eu não tinha que me preocupar.
Peguei a caixa de suas mãos assim que ele desceu e fui até à porta. Quando toquei a maçaneta ele chamou novamente minha atenção:
— Eu já disse que não vai dar certo, não disse?
— Talvez você esteja enganado.
— Você já leu o diário de Darak?
Fiz silêncio recordando-me que havia deixado o material no laboratório quando ele me entregou.
— Então você não leu. – nos encaramos silenciosos e logo Mark prosseguiu: –- Cuidado ao sair , não se deixe ser vista comigo ou poderá me trazer problemas.
— Eles sabem que eu sou a Rhikan?
— Eu não sei. Mas, é bom evitar interrogatórios sobre você.
Saí logo após acenar e sorrir sarcástica para o frio. Mark não sorriu de volta, ele subiu e retornou à janela de meu antigo quarto me encarando sair com o carro. Fui ao laboratório, peguei o diário e ao voltar decidi ir até próximo à casa dos Cullen. Mas, fui tomada de consciência e desisti.
Eu dirigia preocupada com tudo que Mark havia dito e não saía de minha mente: que não iria dar certo, que o sacrifício de um lobo era a resposta, que eu precisaria ir embora. Encarei o anel de noivado em meu dedo, e deixei um suspiro pesado no ar.
Encarei o diário no banco do carona, e ao retornar o olhar à estrada freei bruscamente. Estava passando pelo trecho de estrada que dava direção à floresta dos Cullen. Olhei a mata dos dois lados da estrada, e não pressenti riscos. Mas, aquela figura que havia passado à frente do meu carro me deixara intrigada. Seria um deles?
O carro morreu e eu tentava dar partida, mas não obtinha sucesso.
— Vamos, vamos... – sussurrei para mim.
Um barulho na traseira de meu carro chamou meu olhar aos retrovisores. Eu não encontrei nada.
Continuava tentando fazer o carro pegar, quando olhei para o lado de fora da janela e um sorriso maquiavélico me encarava. Encarei aquele olhar vermelho brilhante, e antes que o ser abrisse a porta do meu carro como parecia que faria, eu a abri. Parecia que estava caçando. Então, mais rápida eu saí do carro para que pudéssemos nos encarar.
A expressão maquiavélica, tornou-se surpresa.
?
— Oi Bella.


30 - Cara a Cara Com o Passado

Então, o grande momento havia chegado. Eu estava cara a cara com Isabella Swan. Bella, aquela que um dia fora a minha melhor amiga. A expressão na face dela era de dúvida. E a minha... bem, eu estava ali fingindo ser uma atriz digna de Oscar.
Se Bella descobrisse que eu sabia de sua verdadeira forma, talvez eu estaria em apuros. E estar em apuros revelaria minha verdadeira – e nova– identidade.
— O que faz em Forks? – ela perguntou-me ainda inexpressiva.
Ponderei cada uma das minhas ações naquele momento. Enquanto ela analisava-me curiosa eu recapitulava o que de melhor eu poderia fazer. E cheguei à conclusão que reagir como alguém que já a esperava seria o tiro no meu pé. Então, encarei-a da mesma forma. Eu não deixaria de notar as mudanças nela, não é? Encarei Bella da cabeça aos pés. Caminhei lenta até ela, mas não me aproximei demais. Ela deu-se conta que eu notara as mudanças em si, e deu dois passos para trás. Ainda havia dúvida em seu olhar. E que olhar. Antes de respondê-la – até porque eu criava um script em minha mente naquele momento – eu decidi fazer as perguntas.
— Você está muito diferente, Bella. O que houve?
— Você também está. Eu não a reconheci facilmente.
Eu gostaria de saber que explicação ela me daria para suas mudanças.
— Desde quando você usa lentes de contato, Bella? – falei divertida tentando arrancar-lhe um sorriso.
— Bem.... O casamento traz mudanças, . – e ela respondeu sorrindo.
— É verdade. Ouvi falar que se casou com um rapaz chamado Edward Cullen.
Ficamos ali nos encarando estranhas. De repente uma nostalgia se apossou de mim. E eu percebi que embora não conhecesse a nova Bella, eu jamais conseguiria odiar a antiga. As memórias de nossos momentos juntas em Phoenix, quase me fizeram chorar. E eu choraria de verdade porque aquela menina frágil havia se tornado aquele ser imortal. Mas, se eu chorasse eu perderia o controle da minha farsa. E dei graças a Deus por ela ter aberto a boca para falar.
— Eu posso te abraçar, ?
Que justificativas eu teria para negar? “Não, porque agora você é algo que eu devo destruir!”? Eu teria de correr o risco daquele contato, então, sorri em resposta e ela e aproximou. Aproximou-se rápida. E abraçou-me forte ao ponto de arrancar-me um suspiro sufocado.
— Você me traz lembranças de uma vida doce... – ela murmurou ao meu ouvido.
Havia um sentimento de dor naquela fala. Será que Isabella arrependia-se de ter se tornado o que se tornou? Ela respirou fundo, e num gesto muito rápido se afastou. Talvez fosse o meu cheiro. Mark vivia dizendo o quão tentador era se manter perto de um humano, principalmente quando se tinha sede. Aquilo me fez pensar o que ela faria ali na estrada àquela hora e sozinha.
— Você.... Eu estou curiosa... Você está muito diferente mesmo! A cor dos seus olhos... eles...
— Estou usando lentes sim. – ela cortou-me — E há alguns anos eu me tornei uma atleta de academia, se posso assim dizer.
— Ah... Uau. Você malhando? Incrível.
Ela riu abaixando a cabeça. Mas, nem o seu sorriso bobo era o mesmo. Havia tanta confiança em seus gestos que eu me preocupei se aquele momento era uma ilusão, como ocorrera com Valerie na noite em que ela tentou me atacar.
— O que fazia aqui na estrada a esta hora Bella? Olha... Pode ser perigoso. Ataques tem ocorrido com certa frequência.
Ela soltou um breve riso debochado.
— Eu gosto de caminhadas noturnas, principalmente nesta cidade que me traz tantas lembranças. Forks é um lugar perigoso. Com o tempo você vai descobrir.
Fiz silêncio olhando-a curiosa.
— O que você faz em Forks, ?
— Lembra da última vez que trocamos e-mails?
Ela franziu o cenho pensativa.
— Não... Não lembro, me desculpe.
— Imaginei que não lembraria. Você me mandou e-mails sobre La Push na época em que veio morar com o seu pai, e bem.... Após me formar e sofrer a perda de Theo, eu decidi vir visita-la. Mas, você não estava mais aqui.
— Perda de Theo? O que houve com ele?
Pela primeira vez naquela noite, a vi agir como a antiga Bella.
— Íamos nos casar, mas um acidente de carro... – abaixei a cabeça e ela entendeu.
— Lamento. Theo era adorável, e vocês... Se casar, hein? Por que será que eu já imaginava?
Sorri pelo modo como a vida era irônica. No fim, ela até se lembrava de algumas coisas do passado. Mas, a atmosfera nostálgica dela logo passou:
— Quando isso aconteceu?
— Há um ano. E eu cheguei aqui um pouco depois disso. Não há muito tempo que estou em Forks.
— E conheceu La Push?
— Sim! É lindo como você dizia nos e-mails! – eu sorri amplamente — Mas se tratando de praia, Phoenix ainda é um lugar mais aconchegante!
Ela sorriu sarcástica.
— Você mora aqui agora?
— Sim.
Prevendo a enrascada que eu poderia me meter, decidi cortar o assunto. Imagine se eu digo a ela que moro na reserva?
— Bella! Foi fantástico lhe ver, mas... Está realmente tarde e eu preciso ir. Eu não gosto de andar por aqui à noite.
Eu já ia entrando em meu carro quando ela puxou-me pela mão e me abraçou novamente.
— Foi muito bom te ver. Reavivou algumas memórias.
— Para mim também. – respondi.
Entrei no carro, afivelei o cinto, e fechei a janela sorrindo para ela. O carro ainda insistiu em não funcionar, mas o motor roncou na segunda tentativa. Ela ainda me encarava parada à estrada quando meu carro se distanciava e eu a encarava do retrovisor. Fiquei atenta ao restante do percurso. E se fosse uma armadilha?
Não contive as lágrimas que escorreram de meus olhos. Eu me dei conta do que acontecia e estava apavorada. Eu vi a minha ex melhor amiga antes de declarar a guerra final. Quando ela descobrisse minha vida em Forks – se é que já não soubesse – iria reagir muito mal. E eu senti, após sair daquele lugar definitivamente que nada mais seria como antes. Nada era igual na minha “rotina” naquela cidade, contudo, se eu já tive alguma certeza no meio de tanta turbulência era de que as coisas não demorariam a findar-se.
Meu celular tocou e só então notei as muitas chamadas não atendidas de Black. Eu adentrava à reserva e então Black surgia na varanda guardando o telefone em seu bolso. Bati a porta do carro fortemente e disparei ao encontro dele, aos prantos.
Black abraçou-me e eu senti o meu refúgio. Ficamos em silêncio apenas sentindo um ao outro. Eu não sabia onde os outros estavam, mas Black me levou até minha cabana. Abri a porta e acendi as luzes ainda cabisbaixa. Black então pegou minha mão, e olhou-me profundamente. Aquele olhar voluptuoso que eu conhecia. Ele apagou novamente as luzes nos deixando no escuro. Beijou meu rosto e acariciou meus ombros, tirou meu casaco e continuou os carinhos.
— A primeira vez que me lembro de desejar um beijo seu, nós estávamos na cozinha da sua casa, completamente no escuro.
Black sussurrou em meu ouvido e as lembranças vieram recheadas das mesmas emoções, só que agora, eu poderia tocá-lo. Eu podia beijá-lo. E foi o que eu fiz. Beijei meu noivo, o meu lobo, o homem que eu amava. Ele abraçou-me mais forte e caminhamos calmos pela sala, um levando o corpo do outro. Caímos desajeitados no sofá da cabana, e Black me amou. Amou de uma forma tão lenta, e tão carinhosa que eu me senti uma peça rara de porcelana em suas mãos. Como se eu pudesse quebrar, ele manipulou meu corpo com toda a delicadeza possível.
Eu não consegui dormir, apesar das agradáveis carícias entre nós. E ele também não. Ele sentiu a tristeza sobre mim, e puxou-me novamente para seu corpo. E embora o calor do corpo de Jacob fosse o suficiente para que eu me sentisse aquecida, algo no meu coração mantinha um frio canadense.
Ele pegou-me em seu colo, e subimos até o quarto. Deitou-me em minha cama e puxou cobertas grossas sobre nós. Me aninhei ao corpo dele, e o cheiro de seu pescoço me faria dormir, se eu não estivesse tão fraca emocionalmente.
As mãos dele, ásperas por todos os trabalhos manuais, acariciavam minha cintura e logo os dedos dele dedilhavam minhas costas na tentativa de me relaxar de novo. Olhei para Black e encontrei os profundos olhos voluptuosos misturados à preocupação fitando meu rosto. Sorri desanimada, mas beijei-o novamente. E ali fiquei por toda noite, até que a madrugada me acordasse num horário que eu não sabia qual era. Levantei-me e vesti uma roupa quente. Na cozinha preparei chocolate quente para dois, porque por mais que eu não quisesse o acordar, eu sabia que ele viria logo. E sorri convencida ao ouvir os passos fundos de meu noivo pela escada. Ele abraçou minhas costas cheirando meu pescoço.
— Eu te amo como nunca imaginei que poderia amar alguém. – sussurrou para mim.
— Eu te amo, Black. Como sempre sonhei amar um dia.
Virando-me para ele selei nossos lábios e peguei as canecas. Ele pegou a dele, e fomos de mãos dadas à lareira da sala. Ele acendeu-a e eu me aconchegava no sofá o observando.
— Podemos nos casar logo? – perguntei.
Ele encarou-me confuso, e sem responder concentrou-se em soprar as brasas. Assim que a chama da lenha subiu, ele sentou-se ao meu lado e puxou minhas pernas para cima das suas.
— Quer fazer isso agora?
Brincou e eu sorri largamente olhando-o desafiadora.
— Queria tê-la visto chegar com este sorriso, Mani.
— Desculpe amor...
— Casaremos na hora que você quiser. E estou falando sério. Não tem um único pedido seu que eu não vá atender.
— Amanhã?
— Amanhã.
— Em Silverdale?
— Onde quiser.
— Com todos nossos amigos?
— Arrasto todos do que estiverem fazendo se preciso for.
Gargalhei. Eu queria me casar logo, mas sabia que não seria possível daquele jeito.
— Eu a vi.
Falei encarando-o tristonha. E algo me dizia que Black já sabia.
— Eu sei.
— Não vai perguntar como foi?
— Eu já sei como foi. Eu vi. Eu senti quando você chegou.
— As coisas vão ser difíceis...
— Mani. Esqueça o que vai acontecer. Não se martirize pelo futuro.
— Como não martirizar, Black? Eu não sei o que eu devo fazer para proteger a todos!
— Você não tem que proteger. As coisas são como são, e vão acontecer como tiver que acontecer.
— Eu não posso deixar. Eu preciso proteger você, Black.
— Já parou para pensar que talvez você não tenha poder de controlar os fatos?
— O quê?
— Você não conseguiu evitar nada do que quis até agora, não é?
— Claro que consegui. Embry e Paul por exemplo...
— Mani. Destino. Você sabe o que é?
Mantive o silêncio e chateada encarei a caneca em minhas mãos.
— Você vai tentar travar uma luta com o destino? Se ele mesmo a trouxe até aqui? Se ele mesmo não nos impediu de ficar juntos? Se o próprio destino é o dono do tempo?
— O que você sugere que eu faça, Black?
Levantei-me nervosa:
— Que eu fique de braços cruzados vendo todos se transformando em lobisomens por minha causa? Que eu espere o momento em que os Cullen invadirão a reserva atrás de você? Que eu aceite que para que todos sejam salvos você deverá morrer?
Ele encarava-me silencioso e sério. Pousou a caneca na mesa do abajur ao lado do sofá, e pegou minha mão puxando-me para sentar ao colo dele.
— Andei pensando que talvez, as transformações tenham acontecido para que finalmente essa história entre frios e nós acabasse. Eu vi o alívio de Lia, e eu sei o que ela sentia. Todos sabemos. Porque no fundo, sermos normais é o que sempre quisemos. Não acredito que as transformações sejam o fim. Não acho que elas sejam assim tão absurdas.
— Do que você está falando? Ser um lobisomem é uma maldição! É a maneira como o lado humano de vocês se perderá cada vez mais!
— Nós já somos uma maldição, Mani. Você não percebe? Passar a vida fugindo da herança genética. Passar a vida sem opção. Passar a vida caçando seres que julgamos menos dignos que nós. O discurso de Lia me fez pensar no dia em que eu pudesse me imaginar livre. Vivendo uma vida simples, com a mulher que amo, filhos...
— Então é isso? Você quer jogar tudo para o alto?
— Quero.
Olhei-o confusa e incrédula.
— Mas não posso. Nunca pude.
E então, ao ouvir aquilo eu o entendi.
— É essa a minha missão. Cumprir a reponsabilidade de ser um alfa, haja o que houver. E eu jamais poderei aceitar que você, tome as responsabilidades de tudo o que acontece, para você.
... Ok Black. E mais uma vez eu pergunto: o que faremos? Vamos esperar um ataque à reserva?
— Quem disse que a reserva será atacada? Você ainda não entendeu Mani? Sou eu! Sou eu que eles querem derrotar. É a mim que eles acham que poderão controlar se derrotarem Rhikan. Só que eles não imaginam que isso não é mais possível. Isso claro, se Mark não o contou a verdade. E depois.... Se eu enfrentar a fúria deles antes que todos se ponham a postos para defender-me, eu terei assegurado o bem de todos.
— O bem de quem? DE QUEM JACOB? – enfatizei chorando desesperadamente — Servir-se numa bandeja de prata para eles não fará ninguém feliz! Nem mesmo a eles. Acha que derrotar você é o suficiente?
— Eu preciso tentar algo, não é? – ele falou óbvio e nervoso.
— Nós. Nós precisamos tentar algo. Eu e você. E todo o restante.
Ele encarou-me aflito e abraçou-me apertadamente. Beijou novamente minha boca e ficamos nos encarando em silêncio.
Rompi aquele momento terminando de beber meu chocolate que já estava frio, e ergui a mão para que ele pegasse-a. Fomos ao quarto e dormimos.

– x –


No dia seguinte eu ia ao laboratório com Lia. Pedi para Black olhar meu carro, a fim de descobrir o que houve para que não funcionasse quando eu mais precisei fugir. Não contamos a ninguém que eu havia encontrado Bella. Nem mesmo à Charlie.
Enquanto Lia e eu trabalhamos nos novos antídotos, mal vimos a hora passar. Ela pegou a moto em que viemos e foi buscar almoço na cidade, e eu ficaria trabalhando um pouco mais. Esfreguei os olhos cansada e observei a estante do meu laboratório. Encarei diretamente as pastas ali. Eu tinha tanto trabalho comum a ser feito. Tantos planos que me levaram a conquistar o laboratório e não dediquei tempo nenhum a eles. O que os irmãos Vincent diriam se soubessem que eu usei o laboratório apenas para desenvolver um “antídoto anti-lobisomem”? Certamente ficariam decepcionados.
Saí dali e caminhei à recepção. Peguei o diário de Darak em minha bolsa. Eu estava evitando ler aquele livro. Mas, uma hora eu precisaria o fazer. Deitei no sofá da recepção – que não havia sido aberta ao público muitas vezes – e folheei o caderno. Cada página lida era uma sensação diferente. Ali constava tudo. Tudo o que eu precisava saber. Tudo o que o Mark havia me dito todo aquele tempo. Tudo que eu queria e não queria saber. Inclusive, tudo o que eu sabia, mas neguei.
Quando Lia retornou com o almoço, eu não tinha mais fome. Ela perguntou o que houve, eu estendi o diário a ela. E depois de ler parte até onde eu li, ela só me disse:
— Vamos almoçar, terminar o trabalho e guardar o antídoto para o dia em que for necessário. E chegando em casa... pensaremos sobre isso.
— Malaika disse tudo o que sabia?
— Aquela velha é maluca. Você sabe! Eu não sei mesmo te responder, mas... minha mãe e Billy talvez saibam.
— Então vamos ao trabalho, porque eu mal posso esperar para chegar em casa.
— Ei, não vamos comer?
Lia perguntou contrariada ao me ver entrar no laboratório sem tocar na comida. E pelo tempo que demorou a juntar-se a mim, percebi que ela decidira almoçar.

– x –


Chegamos na reserva e tudo parecia normal. Procurei Jacob que estava no galpão e ao me ver ele falava sobre o carro, mas eu não quis ouvir. Me joguei em seus braços e o beijei. Ele olhou-me confuso enquanto eu o puxava de volta à reserva.
Assim que nos aproximamos das cabanas, Seth olhou em direção à nossa trilha, e Black parou.
— O que houve? – perguntei observando os dois encarando-se silenciosos.
— Ele disse para voltar.
Encarei Seth que mantinha um olhar aflito. E quando fiz menção a prosseguir Black segurou minha mão. Ele encarou o chão, enquanto Seth nos observava de onde estava ainda mais aflito. Percebi Seth transferir o olhar de nós até outro lugar próximo de onde ele estava. Black saiu da pose pensativa, olhou firme na direção de Seth que acenou negativo com a cabeça, e então Black puxou-me de mãos dadas a prosseguir.
Lia estava atrás de Sue e Billy, os três atentos observavam de trás de Quil, Embry e Paul o que acontecia. Black e eu surgimos no campo de visão de todos. E Charlie que encarava a filha à sua frente, imóvel, ao reparar nós dois ali fez com que todos nos reparassem. Black se colocou à minha frente.
Edward – imaginei que fosse ele – e Bella o encararam com ódio. Com tanto ódio que Bella quase não se conteve. Ela ia caminhar até Jacob, quando Edward a segurou sussurrando algo. Ela soltou-se dele e encarou Charlie e os outros. Eu puxei Black para caminhar até Seth, em frente à minha cabana e então ela me notou.
?
— Oi Bella. – eu disse pela segunda vez.
— Você... – ela encarou a mão de Black entrelaçada à minha.
Ele continuou segurando-me firme e nós esperávamos o que ela diria, mas Charlie interrompeu-a.
— Isabella. Você veio até aqui porque queria me ver?
Ela olhou-o dando atenção novamente.
— Pai. Precisamos conversar.
— Certo. Como você está?
— Eu estaria melhor se você viesse comigo.
— Ir para onde?
— Pai...
— Senhor Swan, o que a Bella quer dizer é que nós gostaríamos que o senhor morasse conosco. – Edward pronunciou.
— Isabella... Eu não posso ir. Sue e eu somos casados e você sabe disso. Além do mais, eu não acho que...
— Pai, por favor... O senhor agora é a única prova da humanidade que eu ainda tenho. – ela disse e voltou a me olhar.
— E Renée.
— Ela não conta.
— Bella... Eu não posso. Além de quê... eu não sei mais se posso dizer que você tem alguma humanidade a julgar pelos seus olhos.
Edward abaixou o olhar. E Bella soltou de sua boca um estalo contrariado.
— Eu não me adaptei tão bem aos animais, afinal.
— Senhor Swan... – Edward disse, mas Charlie o interrompeu.
— Edward, por favor. Eu acho que você já se meteu suficientemente entre minha filha e eu por todo este tempo.
— Não fala assim com ele!
Bella disse enfática e então Charlie encarou-a decepcionado olhando ao chão. A atmosfera ali era palpável de tão densa. Ele pôs as mãos na cintura e inspirou rapidamente.
— Então é isso? Vai me dar as costas de novo, pai?
— Eu nunca dei as costas a você. Minha vida sempre foi em Forks. Eu e Sue já estávamos juntos quando você decidiu ser o que é.
Bella encarou o pai uma última vez e virou-se de costas para ele. Quando achamos que ela sairia, ela virou-se em minha direção e caminhou calmamente até mim. Jacob ficou ainda mais tenso, assim como imaginei que todos ali estivessem.
O olhar dela foi de mim, ao Black novamente. E quando ela parecia se aproximar mais, num repente Jacob havia se transfigurado em lobo à minha frente em posição de defesa.
Ele acabara de revelar a ela que eu sabia sobre os lobos. Engoli a minha saliva seca e não tirei os olhos dos olhos dela. Ela analisou aquela situação, e levantou o lábio num sorriso irônico.
— Não me diga que ela é seu novo imprinting, Jacob! – disse com escárnio.
— Bella. – Edward a chamou, mas ela o ignorou.
— Cuidado , ele é dado a assassinar os próprios imprintings!
Jacob rosnou em direção a ela, e Edward num ato muito rápido estava atrás de Isabella a segurando, e toda a matilha – possível – já estava em volta dos frios.
— Sua hora vai chegar, Black! – ela disse raivosa revelando as presas e novamente uma lufada de ar ficou no rastro dos dois frios que já estavam longe da reserva.
Respirei fundo, aliviada. Jacob tentou correr atrás deles, mas os outros lobos avançaram sobre ele o impedindo.
Levei as mãos aos cabelos e encarei Lia. Ela acenou afirmativa e sussurrou algo para Billy e Sue.
Seth ao meu lado também me sussurrou algo:
— Precisamos falar sobre a Bruh.
— Eu vou subir e tomar banho. Você pode contar enquanto me espera.
— No banho?
— Na porta do banheiro.
— Está doida? O Jake vai me matar.
— Se tem algo a falar para ela, então vamos logo Seth! – Jacob disse atrás dele o assustando e entrando em minha casa comigo.
Seth estava totalmente desconfortável. Ele estava de costas ao boxe sentado à porta do banheiro, e eu tomava banho quando Black passou por ele com suas roupas em mãos. Seth parou de falar quando ouviu o barulho da porta do boxe se abrindo.
— É sério que vocês vão tomar banho juntos comigo aqui?
— Ninguém está fazendo nada demais, Seth. E não ouse pensar na nua, ou eu vou saber. – Black falou brincando, embora não estivesse sorrindo ainda.
— Como se eu já não tivesse visto coisas piores na sua mente.
— Seth! – eu o repreendi olhando para Jacob.
— Não dá para evitar às vezes, quando estou pensando nisso.
Jacob se justificou e Seth riu baixinho. Eu saí do boxe abismada com a falta de privacidade que toda aquela conexão quileute fazia.
Assim que vesti minha roupa saí do banheiro e Seth se levantou me seguindo.
— E então Seth Clearwater? Eu já terminei o banho e você não falou nada.
— A culpa é do Jake.
— Fala logo Seth.
... Eu só quero dizer que eu avisei para não confiarmos nela.
Olhei para o garoto sentado à minha cama com uma das expressões mais sérias que eu já havia visto. Imediatamente a conversa com Mark veio à tona:

“ — Alguém, que não foi Valerie e nem Darak contou a eles que Rhikan
está em Forks.”


— O que você descobriu?
— Eu andei vigiando ela. E esta madrugada a segui. Bruh se encontrou com uma pessoa encapuzada. Eu não pude ver quem era, porque tive que ficar longe para ela não me notar, mas... eu tenho certeza , que era um frio.
— Um Cullen?
— Não tenho certeza. Como eu disse não pude me aproximar muito, mas não me lembro de nenhum Cullen se portar daquela maneira.
— Se ela fez isso porque nenhum de nós detectou? – a voz de Jacob se fez ouvir.
Os dois: o quileute mais novo e o alfa, se entreolhavam confusos. Black estava certo. A menos que o frio que ela havia encontrado pudesse vetar os pensamentos de Bruh. Ou apagá-los. Levantei atônita e muito certa do que eu iria dizer:
— Ela pode ter sido envenenada como Paul, mas em dose menor. Afinal, Black foi o único que podia encontrá-lo!
O outros dois me olhavam ainda mais confusos, porém, a expressão deles mudou aos poucos ao ponto de entrarem em acordo comigo.


31 - A Origem das Criaturas

Lia ainda não havia conversado com Billy e Sue, sobre os escritos no diário em virtude do abalo emocional de Charlie. Embora durão, o delegado era também amoroso demais para suportar um reencontro daqueles com Bella, sem ficar abalado. Então, Sue passava um tempo com ele a fim de distraí-lo.
Black, Seth e eu ainda estávamos em minha cabana pensando o que ocorria com Bruh, quando Lia bateu à porta. Eu abri e ela entrou, bastante irritada e reclamando:
— Eu odeio a Swan de todas as maneiras!
Black não falou nada, apenas observou Lia sentar-se pirracenta ao sofá. Seth sorriu fraco e eu mordi o lábio imaginando quem mais havia ficado com ânimos alterados por causa da visita.
— Não consegui falar com eles, Aff.... Como você é intrometido na vida alheia, hein?
Black e eu nos olhamos rindo divertidos da pequena discussão que se iniciaria entre irmãos.
— Eu tenho assuntos com meus amigos. E você que veio aqui só para reclamar? E atrapalhar né! E eu que sou o inconveniente?
— Não vim atrapalhar! Também tenho assuntos, pirralho!
Okay vocês dois... vamos tratar dos assuntos então! – eu disse me aninhando no abraço de Black ao sofá.
Seth explicou brevemente o que descobriu para a irmã, e ela ficou ainda mais raivosa. Lamentou ter deixado de ser loba, porque aquele momento era perfeito para ela cravar presas na Ateara mais nova.
— Quem mais sabe sobre isso?
— Só nós. – Seth repondeu.
— E você não vai fazer nada, Jake? – ela perguntou alarmada.
— Temos que ter certeza. Não posso simplesmente acusá-la, esta é uma dúvida não comprovada de Seth.
— Mark poderia nos ajudar de novo. – constatei.
— Você não disse que estão desconfiando dele?
— Sim, mas Mark é inteligente demais para se deixar ser pego.
— Espera... Quando você voltou da Bélgica disse-nos que os Volturi haviam se unido aos Cullen. – Seth recordou-me.
Todos nos encaramos, e os Quileutes me disseram que não seria a primeira vez que os Volturi coletariam informações de alguém contra eles. Disseram que antes, há muito tempo quando Renesmée havia nascido, uma vampira entregou os Cullen em troca de favores dos Volturi. E agora pensávamos ser possível ter ocorrido o mesmo à Bruh.
Precisaríamos de um plano para descobrir o que Bruh Ateara estava tramando, e eu recorreria à Mark se fosse preciso.
Lia e eu contamos aos rapazes o que tínhamos lido no diário. E Black não se demonstrou abalado. Era como se ele não acreditasse em algo do tipo. Eu não gostei da reação dele e tive uma pontada de certeza que os anciãos da tribo, bem como o alfa e os anciãos da tribo Whitton já soubessem de tudo desde o começo.
Pedi em segredo à Lia, que não falasse mais nada com Sue e Billy. Eu iria agir por minha cabeça primeiro.
A brisa calma da noite alta, e a lua cheia sobre minha cabeça era um cenário tranquilo que eu decidi observar enquanto havia deixado Black dormir. E não só a mim, mas Charlie pareceu também ter a mesma ideia. O avistei sair da cabana de Sue, e sorrir ao me notar na minha varanda. Caminhou até mim e sorrimos em silêncio trocando olhares. Ele sentou-se no banco ao meu lado.
— Aceita uma bebida? – perguntei.
Ele sorriu óbvio pegando a lata de minha mão e abriu-a me olhando de canto:
— O que houve com os chás?
— Ninguém mais quer ficar calmo a esta altura dos fatos. Queremos é ficar bêbados.
Ele riu e virou um grande gole.
— Tem razão.
— Como você está?
— Eu já imaginava que tinha a perdido.
— Ela ainda o ama, Charlie. Do contrário não teria vindo até aqui.
— Eu sei. Eu também a amo, mas ela deveria entender que o que está me pedindo é um pouco demais.
— Não acho. Afinal, você está imerso na realidade fantástica dos Quileutes pela mulher que se casou. Na cabeça dela por que não poderia fazer o mesmo por sua filha?
Ele olhou-me aturdido vendo sentido no que eu dizia.
— É. Novamente você tem razão, mas... há muito tempo quando ela se foi e eu descobri a verdade sobre ela, eu já havia dito o que eu achava das ações dela. Não foi uma condição inata . Ela escolheu aquilo.
Murmurei concordando e suspirei fundo.
— Não foi um bom reencontro para você também, não é? Ela deve estar pensando como a amiga de Phoenix e Jacob agora são um casal.
— Talvez ela já saiba a verdade agora. Eu me encontrei com ela antes daquilo. Na estrada. Ela estava caçando eu acho e acabou me surpreendendo. Ficou alarmada ao me ver. Não decifrei mais nenhum tipo de sentimento da parte dela a não ser dúvida.
— Sentimento. Eu não sei se ele ainda pode sentir.
Abracei Charlie de lado, ao ouvir aquela confissão decepcionada.
— Pode sim. Como eu disse, ela tem você.
— Acha que ela tentará fazer algo contra você?
— Não sei Charlie, mas Bella não me parece agir impulsivamente. Ela ainda deve premeditar um novo encontro entre nós para ter explicações...
Bufei irritada e comecei a rir. Charlie não entendeu nada e eu o expliquei:
— Vê? Precisamos ficar bêbados! É muita coisa para minha cabeça... Bella volta e me encontra, descobre que eu namoro Jacob, o ex sei-lá-o-quê da filha dela, sai enraivecida sem nem mesmo descobrir que eu sou o que ela procura. Bruh nos trai...
— Bruh?
— Que fique entre nós, mas... parece que ela me dedurou a alguns frios.
— E agora?
— Agora? – encarei Charlie que transbordava dúvida e preocupação e sorri:— Abrimos outra cerveja.
Rimos baixo, não com humor. Um riso de sufoco. Duas pessoas “normais” buscando uma porta para fugir de volta ao mundo meramente humano.
— Mudando o assunto.... Vai ao casamento de Erick?
— Eu vou sim. Jéssica estará lá com a expressão de vitória zombando de mim, mas Erick merece que eu esteja lá. Ele é um amigo, apesar de tudo.
— Vai levar Jacob?
— Mas é lógico! Afinal, como acha que vou deixar a Jéssica no chinelo com o sorrisinho de escárnio dela?
Charlie negou com a cabeça sorrindo e murmurou:
— Mulheres.
— Espero conseguir convencer Black.
— Ah você nem vai precisar! Quando ele descobrir que Erick vai se casar, Jake será o primeiro a chegar, aliviado.
— Nem precisa tanto. – eu ri.
— Erick ainda te ama . E Jacob sabe disso. Só você que pensa o contrário.
— Então por que ele vai se casar?
— Queria que ele continuasse lutando por você?
— Não! Só que não faz sentido...
— Erick sabe perder.
Refleti sobre a fala de Charlie. Ele terminou de beber sua cerveja e amassou a lata e levantou-se me encarando. Ergueu a mão para me ajudar a levantar também, e quando eu estava de pé ele beijou minha testa despedindo-se, e disse:
— Vá dormir, minha pequena menina entre lobos e homens.
Sorri e acenei. Fiquei observando Charlie entrar e quando a brisa gelada da noite cortou o meu rosto eu refleti de novo: “entre lobos e homens”. Eu havia realmente me colocado entre aqueles mundos. Mundos de homens mortais, imortais e lobos.

– x –


— Ele vai se casar?
Jacob perguntou pela terceira vez, ainda desconfiado enquanto tomávamos café.
— Este final de semana. E nós vamos, porque fomos convidados.
— Você foi.
— Eu e quem eu quiser levar.
— Você já tem roupa?
— Iremos a Silverdale hoje.
— Iremos?
Encarei-o óbvia e Black sorriu sem nada pronunciar. Após o café fomos para a cidade vizinha alugar roupas de festa. Passamos em frente à uma loja e ele parou observando a vitrine nostálgico.
— O que houve?
— Foi aqui que aluguei minha roupa para o baile de formatura da Bella.
— Achei que ela não iria. Na época disse que o tal Edward havia sumido.
— Ele sumiu um tempo depois disso, mas reapareceu de repente.
— Entendi.
Recordei-me dos relatos de Bella por e-mail descrevendo os sentimentos de Jacob por ela, e o quanto ela sentia-se mal por magoar o amigo. Mas justificava que desde o primeiro momento estava apaixonada por um garoto estranho do colégio novo.
Avistei um vestido em uma arara e puxei Black para entrar na loja. Ele não mostrou resistência e assim que entramos, Black começou a procurar vestidos para mim. Eu havia pedido para experimentar o outro que tinha gostado e o observei divertida.
— Acho que o seu traje é outro. – abracei-o risonha.
— Você pode experimentar alguns que eu escolher, o que acha?
Sorri afirmativa e peguei os vestidos das mãos dele, e o outro que a atendente me trouxe. Caminhei ao provador, e após sair de lá com um lindo vestido vermelho escolhido por Jacob, me deparei com a cena mais linda que eu já havia visto: Black saindo de um provador ajeitando-se num smoking.
— Você... está lindo de noivo.
Falei admirando-o e embora os olhos dele não desgrudassem do meu corpo naquela peça de roupa, Black concentrou-se em fazer piada:
— Não é justo que você tenha uma prévia do seu noivo vestido para um casamento.
— Podíamos casar na mesa cerimônia.
— Não. Eu quero apreciar você vestida assim. Por favor, leve este vestido.
Disse sem tirar os olhos dos meus e me beijou comportadamente. Decidi não alugar, mas comprar aquele vestido que parecia feito sob medida para mim. E comprei, principalmente após ver o preço da peça que surpreendentemente era mais barato do que eu imaginava. Antes de deixar a loja, notei uma sessão de vestidos de noiva. Black encarou o lugar para onde eu olhava e me puxou até lá. Tateamos um a um, e enquanto me perguntava qual eu gostei mais, eu desconversava com “você não pode saber qual vai ser o vestido!”, e ele convenceu-me a apontar pelo menos três favoritos. Entrei na brincadeira, até porque eu tinha certeza que até me casar com ele, eu desistiria daqueles modelos.
– x –


Ao voltar para a reserva, eu também voltei à realidade de alguém que teria uma descoberta a fazer. E o senhor Carter era a pessoa que poderia me responder. Pedi Black para me deixar na casa deles, e não menti sobre o que eu pretendia fazer.
Estávamos ambos sentados à sala da família, o senhor Carter nos servindo café e com a expressão mais plácida possível. Só estávamos os três na casa.
— Algo me diz que o senhor já nos esperava. – disse Black.
— Eu já sabia deste momento desde o dia em que vocês dois entraram em meu estabelecimento. Tão separados e diferentes, mas tão entrelaçados e iguais. Eu acertei, não foi querida ?
— É... Tinha algo mesmo à minha espera.
— Senhor Carter, se já sabia de tudo então sabe o que viemos fazer aqui, não é?
— Vocês querem saber como deter os lobos e os vampiros ao mesmo tempo.
Olhamos um para o outro, e Junior Carter permanecia imóvel sorrindo e nos observando.
. Você conheceu minha avó Surya, não é?
— Sim. Scott me levou à tribo há algum tempo.
— Somos uma das tribos mais antigas da região. A premonição sempre foi um dom entre nós. Mas de tempos em tempos uma criança guardiã dos segredos indígenas nasce. Eu sou a última criança nascida, e ainda viva.
— Não teve outra? – perguntei.
— Não. Como guardião, eu devo proteger os segredos da minha tribo. Por isso, muitas vezes Scott precisou mentir sobre o que ele sabia, para você. No entanto uma profecia antiga nos fez esperar pelo momento que outros segredos – que já nos eram conhecidos – de outras tribos, teriam um final. E a profecia, você deve conhecer.
— Uma criança que abriga o espírito de uma antiga deusa dentro de si...
— Exatamente. Por séculos os vampiros serviram à Rhikan enquanto os lobos haviam sido aprisionados em forma humana. De tempos em tempos, Rhikan libertaria uma geração de lobos à sua verdadeira forma de novo. Aos seres selvagens que são. E embora Rhikan seja a única força capaz de impedir isso, não é o que deverá acontecer. Pois, para que o ciclo de servidão dos vampiros e dos lobos acabe é preciso que a deusa seja liberta e destrua tudo o que ela mesma criou.
— Espera. Mas, e as transformações que conseguimos conter? – Black perguntou.
— Não creio que seja definitivo. Assim como os Whitton vêm atrasando e bloqueando as mudanças há muitas gerações, a tentativa de vocês pode dar no mesmo.
— Senhor Carter, se Rhikan for libertada e destruir tudo, o que acontece?
— O ciclo volta ao normal, onde os lobisomens e os vampiros nunca foram inimigos, mas criaturas sobrenaturais de um mesmo mundo. E claro... Eles perdem a forma humana para sempre. Vocês conhecem a lenda do nascimento dessas espécies?
Black respondeu conhecer uma lenda muito mais antiga do que todas as gerações de seus antepassados que se lembre, mas apenas esta. E eu, disse ter lido algo sobre isso num diário, mas não tinha certeza...
Carter assentiu e nos pediu licença indo até seu escritório e voltando com um grande livro antigo. Disse que nos contaria umas histórias.
— Seres sobrenaturais capazes de se transformar de homens à animais, são relatados por muitas civilizações ao longo da história da humanidade. Interesses da igreja, em condenar pagãos como as bruxas, nos séculos XVII a XIX por seus atos “anticristãos”, bem como justificar crimes cometidos em muitas sociedades foram também formas de fortalecer a existência destas histórias. Conhecidas como mitos, mitologias antigas ou lendas, o ser humano utilizou dessas ferramentas, mas nunca pôde comprovar exatamente a existência de um submundo fantástico. Bem.... Até alguns de nós, nos depararmos de verdade com essa realidade. O que eu vou lhes contar agora é conhecida por nós como a verdadeira história da origem destes seres. Mas, não é a única versão existente e eu também vou mostrar algumas. , como uma cidadã não quileute vai compreender melhor que você Jacob, que sempre esteve imerso nas suas próprias tradições.
Assentimos e observamos calados ao senhor Carter abrir o livro.

“O Licantropo dos gregos é o mesmo que o Versipélio dos romanos, o Volkodlák dos eslavos, o Werewolf ou Dracopyre dos saxões, o Werwolf dos alemães, o Óboroten dos russos, o Hamtammr dos nórdicos, o Loup-garou dos franceses, o arbac-apuhc da Península Ibérica, o Lobisomem dos brasileiros e da América Central e do Sul, com suas modificações fáceis de Lubiszon, Lobisomem, Lubishome; nas lendas destes povos, trata-se sempre da crença na metamorfose humana em lobo, por um castigo divino. Existem muitas versões dessa lenda, variando de acordo com a região. Uma versão diz que a sétima criança em uma sequência de filhos do mesmo sexo tornar-se-á um lobisomem. Outra versão diz o mesmo de um menino nascido após uma sucessão de sete mulheres. Outra, ainda, diz que o oitavo filho se tornará a fera. Outra já diz que é após a morte de um familiar que possuía a aberração e passou de pai para filho, avô pra neto e assim por diante. As pessoas conhecem o licantropo na forma humana através de comportamentos estranhos, como mudança de comportamento, misteriosa e quase sempre com olhos cansados.
O licantropo na forma humana é uma pessoa muito atenta as outras, sempre desconfiando de tudo como por exemplo, tem muito medo de ser descoberto à humanidade que é uma aberração, porém é muito protetora em forma humana. A Peeira ou fada dos lobos é o nome que se dá às jovens que se tornam as guardadoras ou companheiras de lobos. Elas são a versão feminina do lobisomem e fazem parte das lendas de Portugal e da Galiza. A peeira tem o dom de comunicar e controlar alcateias de lobos”.


O senhor Carter interrompeu sua narração nos olhando atento. Indiquei com face enrugada e ansiosa que ele continuasse.

“Mas a verdade existente, e acreditada por nós povos guardiães de muitas civilizações pode-se explicar pela profecia de Rhikan. Há entre nós, aqueles que não pertencendo à nossa tribo, transformam-se desde o início de suas gerações em seres licantropos. Metade homem, metade lobo. Há ainda aqueles que não pertencendo nem mesmo à nossa espécie surgiram vindos de um portal, num submundo entre a linha do tempo, considerados imortais por suas maldições. Homens por completo, de almas perdidas e instintos monstruosos. Entre os Whitton e os Quileutes, povos primitivos americanos, a partir do décimo quinto ano de vida, indivíduos de ambos os sexos podem transformar-se em licantropo. Uma herança genética para eles perpetuada entre gerações. Há uma diferença peculiar entre os Whitton e os Quileutes percebida no estágio evolutivo de suas licantropias. Os Whitton, como povo forte de ritualísticos característicos e muito ancestrais sendo eles também ancestrais antigos do povo quileute, a licantropia ocorrida gera um ser indomável, de aspecto sombrio e monstruoso e com possibilidade irreversível à forma humana. Já os Quileutes, povo de primitivismo menor e mais evoluído humanamente do que os Whitton, a licantropia herdada os revela na figura de lobos. Maiores do que um lobo normal, contudo, mais dóceis e conscientes de sua forma humana. Os Quileutes contam que há muito tempo, uma ameaça surgiu na tribo quileute, e seu líder transformou-se para proteger seu povo. Este líder, de nome Efraim Black, perpetuou o gene mutável por gerações sendo ele o veio principal da evolução de seus ancestrais Whitton. Porém, tais tradições Quileutes não estão totalmente reveladas. O povo Whitton, conhecedor um pouco mais da história compreende em tábulas rasas a realidade metamórfica de todos estes povos, mas, apenas nós povos guardiães detemos o conhecimento da profecia real. Entre os Whitton a necessidade de conter a metamorfose sempre foi muito forte, e os Quileutes resultaram alguns rituais Whitton em sua licantropia. Porém, nenhum destes povos compreende o quão incontrolável é o destino que os cerca. E por isso, anos, gerações de rituais ou pseudo evoluções não serão capazes de conter o retorno de Rhikan.”

Black interrompeu o senhor Carter num repente explosivo de inconformidade:
— Não é possível! Não é possível que nós não saibamos nada sobre nós! O senhor só pode estar enganado!
— Black! – segurei-o contendo seu andar de um lado ao outro: — Acalme-se! Vamos ouvir tudo, até porque... não faz sentido para você? Porque para mim faz, afinal, não é a primeira vez que ouço essas palavras.
Ele me olhou confuso e atônito, e eu o puxei a sentar-se mais calmo e estendi a ele um copo de água, retirado da jarra que o próprio senhor Carter havia buscado. Sentei-me novamente ao seu lado e pedi ao senhor Carter para continuar.

“Os segredos de Rhikan deverão ser guardados pelo povo Menitt Howa por todas as gerações até que chegue a hora: a Peeira, que guardará o espírito de Rhikan conforme professado procurará nosso povo ao se aproximar o fim do ciclo dos ciclos e só então o guardião vivo deverá revelar a verdade. Quando a Peeira surgir os lobos despertarão da milenar maldição”.

— Vocês conhecem a história de Rhikan?
Perguntou-nos senhor Carter e afirmamos um pouco em dúvida.
— Este é um escrito que se espalhou entre algumas épocas. Ouçam atentamente, porque aqui vocês saberão aonde de fato, se originaram os lobos e os frios.

“Em um tempo muito antigo, antes mesmo de homens caminharem pelas matas conscientes do que eram, e de todas as coisas terem nome, existia uma deusa. Rhikan. Detentora do conhecimento sobre as matas, e sobre magia. Rhikan era a própria Lua e o Sol. Ela podia controlar os ventos, as águas, mas principalmente o nascer da noite e do dia. Nada mais vivia sob o universo...”

— Conheço este fragmento! – eu afirmei ao Carter o interrompendo, e ele sorriu continuando.

“Então, Rhikan manifestou-se num corpo humano e desceu à Terra, no desejo de saber o que havia aqui. Ela peregrinou por todo o canto, onde o olho humano possa ver. E chegou a infinitos onde nem mesmo nossa cabeça poderia criar. Não havia outros como ela, e nem figuras como as que ela havia se materializado. Apenas animais.
Rhikan passou muito tempo sozinha na Terra, descobrindo-a. Lobos a acompanhavam durante o dia. E os morcegos faziam da noite, um evento mais vivo. Um dia, Rhikan notou que quando ela invocava o anoitecer, os lobos adormeciam, e ao invocar o dia, eram os morcegos que adormeciam. Nomeou-os criaturas do dia, e da noite.
E como Rhikan era solitária ela distinguiu-os numa espécie leal para fazê-la companhia ao dia e numa espécie sombria que não dormia à noite, para vigiar os perigos que poderiam se aproximar de sua forma humana. Até que chegou o tempo em que, lobos e morcegos não satisfaziam mais a companhia da deusa, e ela criou um ser idêntico ao que ela havia materializado.
Contudo, os animais antes fiéis a ela, se aproximaram daquele novo ser. E Rhikan enciumada decidiu retomar sua forma divina e voltar à dimensão do universo ao qual pertencia. A nova criatura então, se apegou aos lobos. Tornou-se uma peeira. Uma mulher que os cuidava. A Peeira, apaixonou-se pelo alfa da alcateia e originou outros iguais a ela, mas também iguais aos lobos. Foram os primeiros lobos-homens a existir.
Rhikan enfurecida, tomou a noite fazendo todos adormecerem, e com sua magia fez com que os morcegos transformassem alguns dos lobos-homens, em seres como eles. Não exatamente iguais, assim nasceram os frios. A primeira criatura mulher, a peeira original chorou a perda de seus filhos, que deixaram de ser o que eram. E Rhikan ressurgiu após sua maldade, separando as espécies e lançando a maldição: um não pode viver com o outro. A noite é inimiga dos cães, e o dia inimigo dos frios.
A deusa era a única que podia controlar a noite e o dia, e por isso, controlar os frios e os cães, assim como seus descendentes. E àquela primeira criatura que criara, ela proferiu: darás à luz a uma criança que será minha e entre os dois mundos poderá trazer a paz ou o caos.
Rhikan permitiu que a peeira vivesse até se cumprir a profecia, e entre as criaturas fantásticas e animalescas, ela resolveu criar seres mais inferiores. Seres sem nenhuma mutação, seres humanos. E entre humanos a peeira misturou-se. E quando os humanos se tornaram mais numerosos que os frios e que os lobos, Rhikan separou-os sobre a Terra. Espalhou-os e não mais ouvira-se falar na deusa, que sumira da Terra deixando-os e apenas voltara a controlar o nascer da noite e do dia. A Peeira, acreditando que a profecia nunca aconteceria permitiu-se apaixonar-se por um humano. Abandonando os lobos, ela acreditou que a criança nunca poderia vir. E Rhikan, conhecedora de toda a verdade aguardou até o dia em que o encarnado à sua escolha, viria à Terra para que nele ou nela, a deusa se ocultasse até sua libertação”.


Quando Jacob e eu terminamos de ouvir tudo aquilo, o senhor Carter fechou o livro com mansidão em sua face.
— Muito do que o senhor disse eu já sabia. Já ouvi alguns fatos distorcidos ou parecidos, mas... exatamente tudo o que está no livro, eu li há alguns dias em um diário que consegui capturar de um frio.
— Darak! Você o conheceu, não é? Ele roubou o nosso livro quando Menitt Howa ainda era uma tribo forte. O livro ficou perdido por anos, até que meu antecessor o resgatou. Tudo acontece, porque deve acontecer .
— Senhor Carter. Eu não consigo assimilar nada agora.
Black estava muito confuso e contrariado.
— Pode nos dar uma resposta final de como tudo isso acaba? – ele perguntou um pouco impaciente.
O Senhor Carter olhou-me em resposta ao Black:
. Surya lhe disse que só você saberia quando estivesse pronta, você tem alguma ideia do que fazer?
Black me encarou e eu respirei fundo.
— Alguns escritos revelam que há alguns sacrifícios a serem feitos.
Black bufou ao me escutar.
— Mark atacou Sam de propósito para que o legítimo alfa assumisse, e assim como ele, o legítimo libertador de Rhikan, ambos sacrifícios fossem feitos. Eu estive em um ritual com Darak, e bem.... Não deu muito certo. Mas, já sei o motivo. Não era qualquer lobo a ser sacrificado. E estive todo este tempo pensando que o sacrifício seria como aquele, mas... sinto que já sei a reposta.
Os homens me olhavam atentos. Um deles aflito, o outro plácido.
— A profecia deve se cumprir. Rhikan liberta, os lobos despertos e a guerra ou paz entre frios e licantropos. Lamento que... A paz não seja possível.
— E depois, tudo se recolocará em seu lugar . A paz não é possível pois, os Quileutes não aceitarão o sacrifício e nem os frios. Eu lamento.
Eu já deixava algumas lágrimas escorrerem. E Black ao notar meu semblante agradeceu ao senhor Carter e pegou-me pela mão. Nos despedimos e voltamos ao carro, com Black proferindo irritado:
— O senhor Carter não sabe de nada, Mani! Vamos buscar respostas em outro...
— Eu já sei Black. Eu tive a epifania enquanto ele falava. A profecia está se cumprindo.
— E o que você viu?
— Não vamos falar sobre isso.
Eu disse categórica o suficiente para Jacob entender que eu não revelaria nem mesmo – e principalmente – a ele o que eu vi.

– x –


Nada contei aos outros. E pedi ao Jacob que também não dissesse nada, e apenas confiasse. Mais do que nunca eu sabia que nada poderia ser evitado. Por que causar mais alvoroço?
O dia do casamento de Erick chegou. A igreja lotada com a maioria dos moradores de Forks, mas entre os Quileutes só havia Jacob e eu. Afinal, Billy preocupava-se que os Cullen utilizassem a situação para invadir a reserva quando ninguém estivesse nela. Depois da cerimônia na igreja, eu tinha o convite à festa de casamento, mas não me sentia disposta a ir. Então cumprimentei alguns conhecidos, como Scott, Peter, Steve e alguns outros da cidade antes de ir diretamente ao casal.
Jacob e eu nos aproximamos deles e Erick, com olhar indecifrável cumprimentou Jacob com um sorriso grato e abraçou-me. Jéssica sorriu frívola e quando abracei Black ela notou o anel em meu dedo e seu sorriso esmoreceu. Foi melhor do que eu imaginava. Nos desculpamos com Erick por, no fim das contas, eu não ir à sua festa, mas ele compreendeu e acredito que estivesse mais aliviado por não ter que encarar Black e eu juntos em sua festa de casamento com Jéssica.
Saímos da igreja após nos despedirmos e ainda na porta do templo, Black retesou todo o corpo. Havia escutado um pensamento ou visto algo.
— Bruh está sendo atacada por um frio.
— Não. Provavelmente ela está sendo sedada com o veneno dele para que interrompa a conexão com você.
— A cena sumiu. Você está certa!
Ele puxou-me pelas mãos para andarmos rápido até o carro e ao entrar eu o perguntei:
— Conseguiu definir o local?
— Nas encostas da enseada de Forks. Quase perto de La Push! Frios! Em território Quileute! – ele falava enérgico e com ódio.
— Está começando... – eu afirmei pesarosa em sussurros.


32 - O Castigo de Bruh e o Prenúncio Final

Black dirigia apressado e eu recebi um telefonema de Mark. Atendi surpresa pela ligação, justo naquele momento.
! Por favor, me ouça! Seja o que for que estiver acontecendo não vá até eles!
— Mark... Acalme-se... – olhei confusa para Black, que me olhava tão confuso quanto: — O que houve? Do que você está falando?
E antes mesmo que eu pudesse ter respostas, a freada brusca dada no carro por Black demonstrava o vampiro com uma expressão de euforia na face. Ele fez sinal para que Jacob saísse e assim ele o fez. Observei Black conversando com Mark de modo nervoso e irritado. Saí imediatamente, pois eu tinha certeza que era sobre mim que eles estavam falando.
— O que está acontecendo? – me aproximei enérgica.
— Eu te amo, Mani. Tenha cuidado.
Black proferiu e me beijou.
— Não estou satisfeito em deixá-la com ele, acredite. Jamais gostaria que essa cena se repetisse.
— Black! Espera! O que você está fazendo?
Eu nada entendia. Fui até Black que novamente me abraçou e me deu um beijo ainda mais apaixonado. Ele entrou no carro e fechou a porta. Não pude me conter: comecei a socar a porta sem entender que merda de atitude era aquela! Mark surgiu atrás de mim, puxando-me brando.
— Ei , acalme-se. Eu preciso que me acompanhe.
— Que merda é essa de te acompanhar? Você enlouqueceu Mark? Por que Black me deixou aqui com você?
Eu andava de um lado para o outro, raivosa.
, nós temos que ir. Black só quer te proteger.
— Com você?! Que bela proteção! Deixar-me na mão de um frio!
Eu pude notar pelo olhar de Mark que as minhas palavras lhe causaram algum desconforto. E foi a primeira vez que o vi ao que me recordo, tão... humano.
— Eu te protejo a muito mais tempo do que você imagina...
E antes que eu dissesse qualquer coisa, Mark pegou-me nos braços e colocando-me às suas costas, pôs-se a correr.
— Para onde está me levando?
— Para o único lugar que não irão te encontrar...
Mark correu a uma velocidade absurda, e eu mal pude observar o caminho, tamanha era a corrente de ar em minha face. Escondi o rosto às costas dele, em busca de alguma proteção. Que ironia. Proteção... Nos braços de Mark? Conectei-me mentalmente com Black, e o vi frente à Bruh e outros frios encapuzados. Toda a alcatéia estava ali. Certamente, aqueles arrepios em meu corpo não eram pela temperatura da forte corrente de vento, mas sim, mau presságio.
Quando abri os olhos sentindo que Mark havia parado, estávamos na frente da casa de Hernando Vincent. Desci das costas de Mark e os dois irmãos ali parados, me encaravam sorrindo.
— Bem vinda novamente .
— O quê? Vocês se conhecem? – encarei os três homens.
— Muita história você desconhece, . Mas seus amigos e protetores, irmãos Vincent, são guardiães de seu segredo.
— Vamos entrar. – afirmou Hernando.
Mark fez sinal positivo e de repente, nada mais fazia nenhum sentido. O que os Vincent sabiam sobre mim, sobre os quileutes, sobre Mark...?
Acompanhei Julian que me abraçou de lado, a fim de me acalmar. As esposas de ambos, bem como as crianças estavam sentadas ao tapete da sala de estar brincando e sorrindo. Ao me notarem, imediatamente as duas mulheres vieram ao meu encontro, animadas.
! Que bom recebê-la em minha casa de novo! – falou Stella, esposa de Hernando.
— Obrigada. – afirmei contida e desconfiada.
— Sou Mariah, é um prazer conhecê-la finalmente. Está com fome? – perguntou a esposa de Julian.
— O prazer é meu. Obrigada Mariah, mas eu estou bem.
— Serviremos um chá com torradas, por favor, não faça desfeita. Mark nos disse que você estava vindo do casamento de Erick.
Olhei para Mark em dúvida. Ele assentiu para os quatro adultos ali: Julian, Hernando, Mariah e Stella, como se pedisse um momento a sós comigo. Os quatro sorriram, as mulheres me abraçaram a fim de me acalmar, eu imagino. Logo estavam todos entretidos em seu momento familiar e Mark me guiava até a varanda de fora, próxima a entrada da casa.
— Mark, o que está...
— Sente-se. – ele me interrompeu indicando o banco de ferro ao gramado.
Olhei em volta, e sentei-me. Abaixei os olhos encarando minhas mãos. Não havia tido nenhum indício daquilo. Não tinha previsto nada como aquilo. A profecia que se fazia clara, envolvia apenas aos quileutes, os frios e eu.
— Daqui algumas horas, tudo vai acontecer. Você sabe, não é?
Assenti com a cabeça, e senti lágrima escorrer em meu rosto.
— Então daqui a algumas horas você vai descobrir sobre os frios, sobre os motivos pelos quais você está sendo perseguida há séculos, sobre as pessoas que estiveram em seu caminho. Sobre... Sobre nós.
Encarei a face de Mark, ao ouvir tão baixo a última frase, que me parecia ser pronunciada com tanta dor.
— Perseguida há séculos?
— Você verá toda a sua história, minha querida.
— Por que estou aqui, Mark?
— Os quileutes e os Volturi se encontraram. Bruh entregou a eles informações sobre seu paradeiro, sobre quem você é. Os Cullen ainda não sabem de que lado estão. Por sorte, Edward e Carlisle tem um forte poder de persuasão e Bella está alarmada com o fato de você ser a Rhikan. Ela veio até mim, para saber onde te encontrar. E eu também fui descoberto como traidor entre eles, por ter estado ao seu lado esse tempo todo e não a entregue. Mas, eu não poderia. Jamais poderia fazer isso...
— Espera... Black e os outros estão lutando nesse exato momento? – ergui-me desesperada.
— Ainda não. Os Volturi vão tentar negociar de alguma forma, eles não são prematuros e impetuosos como a senhorita Swan. Mas, creio que quando Black me enviar o sinal combinado, vamos voltar diretamente para a guerra.
— Céus... Eu odeio tanto essa vida.
Mark riu irônico e me olhando falou baixinho:
— Não há uma só vida tua em que tenhas sido feliz.
Um lampejo de memória turva veio à minha mente, ao ouvi-lo dizer aquela frase, daquela maneira tão antiga e carregada de algum sotaque europeu. E um arrepio subiu à minha espinha. Mark levantou-se e aproximou-se de mim, como na primeira vez que nos encontramos. Senti a respiração dele tão próxima. Ele fechou os olhos, e uma lágrima escorreu de seus olhos. Uma lágrima. De um vampiro. Era possível? Novamente o resquício de humanidade nele reverberou sentimentos dentro de mim. Mark beijou minha testa e me abraçou. E eu nada consegui fazer. Não era a hipnose dele. Não era nenhum efeito mágico, apenas o estranho vibrar de alguma coisa que eu não conhecia, dentro do meu peito. Afastamos-nos um do outro, e eu suspirei pesadamente.
— Onde os Vincent entram nessa história?
— São meio humanos, e meio vampiros. Assim como Renesmée e outros pelo mundo. E são guardiães de Rhikan.
— Não é possível! Black e os outros saberiam se eles...
Parei de falar, estava assustada demais, então uma lembrança surgiu: Sue.v — Sue sabia?
— Claro. Ela sempre soube que você chegaria. Mas, Sue apenas sabia que uma mulher surgiria e precisaria de sua ajuda e acolhida. Julian contou a ela que uma criança de uma profecia antiga precisaria ser protegida dos vampiros, e seria protegida através dos lobos. Sue imaginava que eram dos quileutes que a profecia falava, mas... Ela é a pessoa que menos sabe verdades sobre tudo.
— Por que ela mentiu para mim todo este tempo?
— Ela não mentiu. Ela quis proteger você e à medida que as coisas aconteciam, ela não podia fazer nada. Ninguém sabia de nada, foi você quem foi descobrindo tudo e contando aos quileutes aos poucos, como tinha que ser.
— Chega. Eu não quero mais saber de nada disso... Eu não agüento mais.
— Vamos entrar você precisa descansar.

Aquele momento, eu tomei o chá que me deram – e prevendo que eu não estava disposta, me indicaram aposentos para eu descansar – e depois fui dormir. A noite fria e os pensamentos confusos, sem falar no sonho que tive com Black vasculhando a floresta como um cão, não me deixavam dormir profundamente. Acordei algumas vezes na noite, e em determinado momento da madrugada, sentei-me à própria cama. A figura de Mark em pé ao canto escuro do quarto e seus olhos vermelhos, sendo a única visão possível naquela escuridão me apavorou. Ao perceber ele sorriu vindo até a luz da lua que entrava ao quarto.
— Sou eu.
— Nunca mais faça isso, seu idiota. Você não é o único com olhos vermelhos por aí.
Ele sorriu abertamente e cruzou os braços.
— Está difícil dormir hoje, não é?
— Que tipo de pessoa consegue dormir com um vampiro?
— Bella.
Eu não evitei o riso com a pequena graça feita por Mark. Ele sabia que eu queria o ofender, e mesmo assim não ligou. Como todas as vezes que eu havia tentado ofendê-lo.
— É... Bella. – concordei.
— E você. – ele arqueou a sobrancelha, zombeteiro: — Várias vezes, aliás.
— Este é o seu sonho Mark e não a realidade.
Ele riu abafado e mordeu os lábios deixando à mostra as próprias presas. Quantas vezes eu havia visto as presas brilhantes dele, fora o dia que ele me mordeu? E por que a figura vampiresca dele me parecia mais exaltada como se ele não precisasse mais parecer um humano?
— Recentemente na Bélgica você pode ter se entupido de cafeína para não dormir, mas em outras vidas ... Você era totalmente entregue aos encantos de um frio.
— Não viaja... – falei desconfiada e contida.
— Já que acordou, levante-se e se arrume. Seth está vindo buscar você.
Levantei-me de súbito.
— Acabou?
— Não. Só está começando.
Horas depois, quando o raiar do dia se fazia presente, Seth surgiu em sua moto. Despedi-me dos Vincent, agradecendo-os por tudo, inclusive por toda a ajuda que eu nem sabia que eles haviam dado. E Mark ficou parado ao lado deles, apenas me observando subir na moto. Coloquei o capacete e olhei para trás, encarando o olhar profundo de Mark a encarar o meu. Novamente a sensação de ter perdido algum fio naquele novelo todo... Abracei Seth fortemente. Ele também estava sério, apenas perguntou-me se eu estava bem e não conversamos muito. Enquanto nos afastávamos eu observava hora e outra, a figura daquelas pessoas se distanciando. Mark permaneceu imóvel com os olhos fixos em nós. Apoiei o rosto no ombro de Seth e iniciei um choro silencioso, que eu mal sabia explicar de onde vinha.

– x –


A reserva estava caótica. Seth entrou com a moto, e nós passamos por trás das cabanas até entrar pelos fundos da minha. Os anciãos da tribo, inclusive aqueles que não residiam naquela parte da reserva estavam reunidos ao centro do pátio. Jacob ouvia o tagarelar da multidão e nem olhou em minha direção quando eu o disse mentalmente, que havia chegado e estava na cabana. Pela janela de minha cozinha, notei Bruh na frente de Black, Quil sendo amparado por Sue e todos os outros com expressões muito sérias.
— Seth... O que está acontecendo?
Ele finalmente sorriu para mim e findou o nosso silêncio. Sentado à bancada com os braços cruzados nela, ele me chamou para sentar à sua frente.
— O julgamento de Bruh.
— O que acontece aos traidores do clã?
— Não sei. Nunca aconteceu. Sempre fomos unidos, mas... O que ela fez é grave demais. Entregou segredos nossos aos Volturi. E agora para evitar a guerra, ou nós entregamos Rhikan a eles, ou eles assassinam à Bruh.
— O que?! – falei alarmada principalmente com a tranquilidade na voz de Seth.
— Calma... Jake já a puniu. Foi uma... Escolha sensata, mas não acho que foi punição suficiente.
— O que ele fez? Pelo amor de Deus Seth, fale logo de uma vez!
— Bruh é uma humana agora. Lia aplicou o antídoto nela, e Jake exilou-a de Forks e dos territórios quileutes. Ela terá que viver com outros de nós por um tempo, em outras terras. Até que tenhamos certeza de que ela poderá ir para onde quiser.
— Levando tudo o que ela sabe sobre vocês?
— Jake acha que ela sendo só uma humana não terá mais armas contra nós, e é isso que está sendo discutido lá fora agora. Os anciãos acham que mantê-la presa à reserva para sempre é o melhor, porque ela ainda pode ser transformada num frio agora que é só humana e voltar a trair nossa raça.
— Também acho.
— Provavelmente, ela ficará aqui. Jake vai perceber que afastá-la não é o melhor. É doloroso saber que teremos de conviver com ela, mas... É o mais seguro não acha?
— Acho que não vai ser preciso mandar ela a lugar algum, Seth.
— O que quer dizer com isso?
— Quando eles voltam?
— Não vamos entregar você e nem deixar você fazer isso.
— Sei que não, mas o que virá é inevitável.
— Jake me falou que você previu o final disso.
Deixei as lágrimas escorrem novamente, e não encarei o olhar de Seth. Observei o povo revoltado lá fora pela janela, enquanto pensava numa resposta para meu amigo.
... Sabe que você foi a melhor pessoa que eu conheci em minha vida, não sabe?
— Melhor que Anne?
— Melhor sim.
— Isso é uma despedida, Seth?
— Eu não sei. Mas, você sabe.
Encarei o olhar dele aflita, e corri para abraçá-lo. Deu tempo apenas de Seth abrir os braços, ainda sentado à bancada e me acolher.
— Obrigada por tudo, Seth. Tudo que fez, e que fará.
— Eles voltam hoje pela noite.


33 - Rhikan x

Durante toda à tarde, Black e eu estivemos juntos. Eu sabia que faltavam poucas horas para que o mundo desse uma reviravolta. Aliás, talvez aquele fosse o momento mais equilibrado desde que eu chegara a Forks: toda a reviravolta teria um fim.
Estávamos apreensivos. A reserva estava movimentada com a chegada dos anciãos do conselho que levaram Bruh para a tribo Whitton até que ela pudesse retornar. Fora decidido que ela viveria para sempre junto aos quileutes, mas não seria mais uma quileute. Era uma medida de prevenção até saberem quais riscos, dela oferecer qualquer mal aos segredos da tribo de novo.
Mas, não haveria tribo. E esta era a verdade que mais cortava meu coração.
Sue, Charlie, Emy, Sam, Lia, Seth, Paul, Quil – consternado pela irmã – e Embry estavam todos à cabana de Billy. Eu já havia saído de lá há algum tempo e logo Black veio até minha cabana. O clima segundo ele, entre todos, era fúnebre. E eu não podia fingir que não sabia a verdade.
— Depois de hoje, pode ser que todos me odeiem. Pode ser que você me odeie, Black. Mas... Eu quero dizer que eu tentei tudo o que eu podia. Eu não sei mais como deter os fatos.
Ele estava abraçado a mim, em meu quarto. Estar recostada ao peito dele, em minha cama, daquela vez não trazia a sensação de conforto ou segurança. Trazia culpa. E por me conhecer bem demais, Black entendia que aquilo era uma despedida.
— Ninguém jamais te odiará independente de tudo. Eu jamais te odiarei. Quantas vezes forem precisas, eu te amarei.
— Eu te amo. E te amar é a única razão pela qual eu não desejaria que tudo fosse diferente, Black.
Black beijou-me. E eu me entreguei àquele beijo como se eu nunca tivesse o beijado. Eu poderia fazer daquele momento a eternidade. Eu queria ter este poder. Congelar o tempo, congelar as sensações, amá-lo infinitamente sem me preocupar com o que viria a seguir. Black sentia o mesmo. Eu soube por seus pensamentos. Eu soube por suas lágrimas. Eu soube por seu beijo, e principalmente pela forma como suas mãos tocavam o meu corpo. Era o anúncio da nossa última troca de fluidos, do último enlace de almas, dos últimos carinhos. Senti-lo era o que eu queria, e a única coisa que eu poderia fazer por nós dois naquele momento. A pele incendiada que eu jamais esqueceria o quão me causava arrepios. Os lábios macios, e os braços fortes. A maneira única como nossos braços se envolviam no abraço perfeito de nossos corpos. Aquela foi nossa despedida.
Dali para frente, todos os fatos foram flashes aleatórios e sincronizados do que viria.
! Jake já foi para La Push.
Seth adentrou à cabana, enquanto eu secava as lágrimas sentadas ao sofá.
— Eu queria poder fazer algo para evitar suas lágrimas ...
— Vamos Seth. Não temos escolha a não ser enfrentar o destino.
Levantei-me do sofá da sala ajeitando minha jaqueta. A noite era fria como toda noite Forkense, e ainda mais. Seth abraçou-me apertado. O típico abraço de Seth. E nos encaramos carinhosos antes de sair pela porta da cabana.
Não havia ninguém lá fora. Não havia nem mesmo Charlie. Todos, com exceção de Emy, haviam ido para a praia. O ponto onde tudo começou, e onde tudo terminaria. E a minha missão, naquele momento, era ir até Mark.
Quando Jacob me disse que os Cullen desejavam um último acordo, marcado na praia de La Push no mesmo lugar onde Renesmée havia sido morta por ele, eu sabia que não adiantaria nada. E ele também imaginava uma armadilha por parte dos Cullen e dos Volturi. Afinal, os Volturi tinham dito para que ele entregasse Rhikan ou matariam Bruh, mas nós sabíamos que não era a ameaça final. Então Black me contou que todos iriam ao encontro dos vampiros, liderados por ele e que até os mais velhos como Billy estariam lá. Billy não poderia se transformar, devido à sua deficiência, mas convencê-lo a ficar na reserva foi impossível até mesmo para o alfa. Sue acompanhava Charlie, que tinha como última cartada tentar convencer a filha a não prosseguir apoiando os Volturi.
Seth me deu um último abraço e seguiu até a praia, enquanto eu dirigi até o lugar marcado com Mark. Não seria no mesmo ponto que Black e os outros, mas seria numa encosta bem afastada da praia, numa caverna. Ainda que fosse para evitar armadilhas, a verdade é que só estávamos cumprindo as coisas como em minha visão.
Ao encontrar Mark próximo às pedras, ele pegou-me em seus braços correndo rapidamente para dentro da caverna. E ao me colocar no chão, encarou minha face com o mesmo olhar de horas antes.
— Eu vou te contar logo a verdade sobre nós, porque não temos tempo. O acordo falso dos Cullen, já resulta em algumas perdas...
Meus olhos marejavam. Eu ainda tinha conexão ao Black, e podia ouvir e sentir o que acontecia há um quilômetro de nós.
— Éramos jovens apaixonados. Você serviçal do castelo do meu pai que na época eu não sabia, já era um vampiro. E eu estava prometido a uma duquesa, a Valerie. Envolvemos-nos . Fomos muito apaixonados um pelo outro. E embora eu tenha prometido a você nunca casar com Valerie, eu era apenas um humano frágil na mão de dois vampiros. Fui assassinado e transformado na noite de núpcias por Valerie, e ao mesmo tempo, você foi assassinada por Lorde Killiam. Eles já estavam em busca de Rhikan. Consegue se lembrar?
— Não.
— Eu fui transformado para sorte de Valerie e Killiam, pois, eles ainda não sabiam muito sobre Rhikan e como encontrá-la. Mas já sabiam dos nossos destinos: meu e da Deusa. A coincidência, ou não... Foi eu me apaixonar pela hospedeira. Naquela vida e em outras. Depois de transformado eu jurei que te encontraria e protegeria dos vampiros, daria um fim àquele absurdo e cumpriria à promessa de pertencer somente a você.
— E quantas vezes você me encontrou?
— Algumas... Infelizmente, você estava destinada a morrer a cada encarnação humana sua, por causa dessa maldita Deusa. E eu não consegui deter isso em nenhuma delas, até hoje. Eu não pretendo perder você de novo.
— Nem que tenha que morrer para isso?
Mark aproximou-se ainda mais, e encostou a fria mão em meu rosto. Novamente, aquele vulto de humanidade em seus olhos.
— Eu posso morrer para que você viva, mas eu não conseguirei mais suportar a imortalidade se eu perder você para sempre. Enquanto eu viver, eu te amarei.
Engoli a saliva que se formou em minha boca. Era a segunda pessoa a me dizer aquilo. Desfiz o contato visual e entrelacei meus braços frente ao corpo, quando Mark puxou-me para seus lábios. E enquanto eu era beijada de surpresa, a cicatriz em minha lombar começara a queimar. Era aquele o sinal. Era aquele beijo a chave para as memórias da mulher, e em seguida... Da Deusa. Quando Mark separou-se de mim, eu vi o homem e não o vampiro. Uma imagem antiga dele vestido de outra forma... Num século antigo.
— O que vê?
— O jovem Mark.
— Algumas cenas podem acontecer à sua frente agora, e eu posso mudar de aparência algumas vezes. Você vai reviver as suas memórias de vidas passadas.
— Eu estou numa masmorra...?
Perguntei e senti a dor estrangular minha jugular. Urrei de dor, e levei a mão ao pescoço. Mark, o antigo e jovem humano, me olhava com cenho franzido. Era o mesmo Mark. Apenas a minha visão dele que era outra.
— Seu primeiro assassinato . São memórias, não está acontecendo nada com você agora. É um tipo de transe, apenas.
— Estou em uma padaria agora... Mas, ainda em um século antigo...
— Foi a primeira vez que te encontrei depois de ter sido transformado. Você era a filha de um padeiro francês, e...
— Estou sufocando... – eu disse fazendo o possível para puxar o ar.
Mark fazia um silêncio ensurdecedor, e ao olhar em sua direção eu conseguia vê-lo, num reflexo, acima de mim com outras roupas e aparência mais parecida com a atual, enquanto eu afundava em águas escuras.
Em seguida eu o vi com uma roupa de baile. Olhei no espelho e estava vestida como uma princesa.
— Eu fui uma princesa? – encarei-o surpresa e então Mark sorriu enviesado.
— Você achava que era uma, mesmo. Mas, não. Era apenas uma mulher nobre e mimada. Muito mimada, inclusive.
— E... Ugh!
Senti um puxão em meu cabelo antes de terminar de falar e Mark não mais sorria, apenas me observava sentir as dores das vidas passadas. A dor de uma lança a ferir minhas costas era pior do que o afogamento ou a mordida no pescoço.
Respirei profundamente, após recuperar-me da dor e perguntei ansiosa:
— Quantas mortes mais eu terei que reviver?
— Esta será a última. O que vê?
— Uma espécie de escritório sujo. E você... Em roupas policiais?
— Foi a nossa convivência mais longa, acredite. Foi nessa época que eu aprendi a disfarçar que havia encontrado você e por isso demorou, para que os Volturi lhe achassem, mas sua morte não foi melhor, porque para te salvar deles, eu tive que...
— AH! – eu dei um grito sentindo a queimação no peito, olhei para Mark e ele apontava uma arma para mim — Você atirou em mim?!
— Éramos detetives. Seu sonho era ser policial, mas sua época não permitia uma mulher trabalhando como tal, e eu ofereci a você um emprego. Assim pude passar mais tempo com você, mas infelizmente quando Darak avisou-me que os Volturi descobriram, eu tive que assassiná-la. Não suportaria ver você sofrer nas mãos deles de novo.
Um brilho foi surgindo em meus olhos, e eu imaginava que tinha acabado, mas não.
— Pai? Tia? Por que estou vendo os dois?
— Sua última memória humana. A da sua vida atual.
— Meu antigo quarto – eu sorri para Mark como se ele pudesse ver, e desta vez ele era o mesmo da realidade — todas as minhas coisas...
— Vai repassar fases da sua vida, .
— Theo! – o vi caminhar acenando até mim, ao lado de Bella — E Bella... Os convites de casamento...
Eu novamente chorava. Estava realmente revivendo as memórias da atual vida.
— O dia em que cheguei a Forks? Até quando irão as lembranças? – perguntei confusa para Mark.
— Até este momento. Depois, você será Rhikan. Se você permitir, é claro. Você sabe o que eu tenho que fazer, não é?
— Eu estou vendo eles... Os quileutes... NÃO! NÃO!
Era a batalha. Black estava lutando contra Bella, e estava ferindo-se. Billy estava ao chão, Seth protegia Sue e Charlie que acolhiam Lia ferida em seus braços e choravam. Paul, Quil e Embry lutavam contra os vampiros que acompanhavam os Volturi. Não havia outros Cullen. Eles não estavam lá, com exceção de Edward e Bella.
— Jacob! – o chamei, ao perceber nossa conexão voltar.
Black continuava atacando alguns vampiros que surgiam encapuzados. O clã principal dos Volturi assistia. Bella atacou Jacob e eu me posicionei a correr sendo segurada por Mark.
— Eu preciso ir!
— Só tem um jeito de acabar, você sabe! – Mark gritou para mim.
Olhei na direção de um quilometro onde todos estavam, Black jogara o corpo de Bella à uma rocha, e Edward se aproximou dela. Ele foi à direção dos outros lobos, havia muitos vampiros. Seth adentrava a mata correndo, com Sue e Charlie em suas costas, e segurava Lia em sua boca. Sam também lutava, embora não tivesse uma das patas, e seguiu Seth. Vi os dois lobos chegando à reserva. E Seth retornar sozinho, caindo em uma emboscada ao retornar. Embry surgiu ao seu lado, e a cena dos lobos arrancando a cabeça dos vampiros a mordidas, não foi pior do que a cena de Black sendo ferido. A vampira loira parada à sua frente o fazia se contorcer, e outros vampiros devagar se aproximavam dele. Paul foi arremessado longe quando tentou ajudá-lo, e Quil estava desacordado ao chão.
— BLACK! NÃO! – eu gritei como se gritar fosse ajudar.
! Eu preciso libertá-la!
Mark desesperado puxou o meu rosto na tentativa de me fazer concentrar a ele. E eu não vi mais nada que acontecia no “campo de batalha”.
— Faça. – eu disse somente.
E então, Mark caminhou até minhas costas, e abaixou-se erguendo minha blusa.
— Espera!
Ele parou e encarou-me ainda abaixado.
— O que vai acontecer com você Mark?
— Eu não sei. Diz a lenda, que eu morro aqui. Mas, talvez o meu desejo de não te deixar em paz possa servir pra me salvar. – ele fez piada e sorriu.
— Você é imortal.
— Faz sentido, mas não era para eu ter me tornado vampiro. Foi um acidente de descuido de Valerie e Killiam.
— A profecia fala de um menino que liberta Rhikan. Não diz nada sobre o menino não ser um vampiro, ou um lobo.
— Sim. Em todo caso, a profecia fala de um sacrifício.
— Eu não vi o seu sacrifício em minha visão, Mark. Algo morria sim, mas não era o menino da profecia. Creio que todos interpretaram errado à Rhikan.
Mark então me encarou surpreso. E eu não sorri. Não havia motivos para sorrir, embora eu tivesse quase certeza de que ele se salvaria.
— Eu vou tentar te ajudar, mesmo depois que tudo acabar. – falei e dei-lhe as costas de novo.
Mark voltou a erguer minha blusa e então eu o senti cravando suas presas delicadamente em minha cicatriz, e em seguida do sangue que ele sugava parte escorria em minhas costas. Vi Black, a última cena antes de minha consciência ser tomada. Ele estava caído, desacordado e ferido. Não mais como lobo, mas como homem. Haviam muitas mordidas em seu corpo. Marcas de presas vampirescas.
Mark caiu ao chão, desacordado quando senti meu corpo erguer no ar, e de repente, tudo ficou escuro.

– x –


O corpo de caiu ao chão ao lado de Mark e o sopro brilhante que saiu de dentro da mulher pairou minutos sobre seus corpos. Uma luz que irradiava do ventre de fez clarão em toda a caverna. O sopro flutuou como uma brisa movimentando a areia, e percorreu as águas do mar. Em uma velocidade tão grande, que mais do que uma brisa, o sopro era visível. Uma forma de luz branca, que chegou até onde estavam os vampiros mortos. Entre eles somente os Volturi caminhavam a dar as costas ao cemitério que aquele lugar se tornara. Passou flutuando veloz entre corpos ao chão. E em poucos instantes pairava sobre corpos inteiros e não dilacerados de alguns vampiros que estavam ali desacordados, assim também em corpos humanos desacordados, dos quileutes. O sopro era tão veloz que não se fez sentir pelos vampiros mais antigos. De repente, o clã dos Volturi caiu por terra, restando capaz vazias ao chão e cinzas negras a flutuar levadas ao vento. O sopro brilhante seguiu em direção oposta por entre as matas. Seth caminhava junto a Embry, quando os dois caíram ao chão. Haviam também sido tocados pelo sopro. Sue, que já avistara os meninos que quase chegavam ao meio da reserva correu em suas direções ao vê-los cair, e o sopro transpassando o corpo da mulher, também a desacordou. Seguiu até Lia, desacordada e pairou sobre ela. Seguiu até Sam, desacordado e pairou sobre ele. Seguiu até Emy e envolveu-a, não desacordando-a. Todos os corpos pelos quais o sopro pairou, foram salvos. O sopro apenas não pôde salvar, os corpos que já haviam sido mortos. O sopro, era Rhikan.


Epílogo

Seth sorria largamente brincando com a criança que cuspia toda a papinha de volta à colher. Joanne resmungava com ele, por atrapalhar ela.
— Seth! Pare de tirar a atenção do bebê! Ela tem que comer!
— Ok, Jô!
Ele parou de brincar e encarou o barulho de passos apressados a se aproximarem.
— Seth, Jô! Emily e Sam estão a caminho para cá com Victoria. Ou seja, alguém precisa fazer o bolo de chocolate daquela criança!
— Você vai há algum lugar?
Seth perguntou para que se apressava a remexer os armários da cozinha.
— Não entendeu que tem visitas chegando? E com uma criança que come como dois Seths? Eu preciso que vocês me ajudem, eu tenho que fazer o bolo!
— E quem olha o bebê? – Seth perguntou obviamente.
— Eu sou péssima na cozinha. Deixa comigo. – Joanne afirmou deixando Seth descontente.
— Okay, eu ajudo você .
— Pode começar telefonando para o Mark? Já era para ele estar aqui! Ele saiu da entrevista há uma hora, eu estou ficando preocupada!
Seth concordou e saiu até a sala para fazer o telefonema.
— E eu estou curiosa para saber se ele conseguiu o emprego. – Joanne comentou com , enquanto limpava o rosto do bebê.
— Pois é, eu também.
A campainha da casa tocou, e as duas mulheres na cozinha observaram Seth atravessar a sala com o telefone na orelha, apressado para atender a porta.
— Emy e Sam já chegaram? – Joanne perguntou à .
— Não é possível! Eles não disseram que já estavam tão perto!
desesperou-se por nem ter começado o bolo ainda, e gritou na direção da sala:
— SETH! ELES CHEGARAM?
Houve um silêncio e Seth aproximou-se boquiaberto, com o telefone caído em sua mão e respondeu com uma expressão espantada para as mulheres à cozinha: — Não.

Fim.



Nota da autora:O que sinto com esta última n/a? Saudade, mas mais do que saudade, alívio. Missão cumprida. Tem uma lágrima escorrendo meu rosto sim, afinal eu comecei esta história em 2012! Mas, justamente por estar há tanto tempo – entre pausas e lutas diárias com o tempo para escrever, e o tempo para as obrigações da vida – esperando o famigerado “Fim”, que agora é inacreditável que aqui estamos. Eu tenho certeza que se não fosse agora, não seria mais. Sabe o que é? É que eu já estava levando essa história meio com a barriga. Buscando forças para conseguir terminá-la, pois, por mais que motivações com as mensagens de vocês eu tivesse, a verdade é que eu já não tinha mais fervor em escrevê-la. E eu creio que a relação sincera de um escritor com seu público seja fundamental! E crendo nessa relação eu estou sendo sincera: não sei se este final era o que vocês desejavam ter, mas era o final que já estava no roteiro há muito tempo. Anos na verdade. E eu tive um cuidado absurdo para deixar o final o mais “vazio” o possível, porque o “feliz para sempre” é lindo, mas quando o fim é posto “aberto” nós podemos criar o que quisermos. E eu espero que este final permita a vocês uma eternidade de interpretações, cada qual da forma como vocês desejarem. E neste epílogo, vocês podem inclusive continuá-la. Eu não prometo uma continuação porque este é o tipo de obra que quando nós finalizamos é pra finalizar mesmo. Tudo bem que nada é eterno, nem mesmo os finais, mas... Por hora, eu não posso dizer que continuarei esta história. Se um dia, eu for tocada da mesma inspiração, paixão e do mesmo gênio literário que me acompanhou por todos estes anos de ELEH, quem sabe, ele e eu não criamos uma nova versão? Por enquanto, o que posso prometer ou deixar até talvez, como uma reparação por este final, é a shortfic que está no site em andamento: “Entre Lobos e Homens: Killiam Mark”, um conto que não levará tanto tempo para acabar, mas que deixará um pouquinho mais de ELEH no coração de cada um de nós. No mais, eu só tenho a AGRADECER. OBRIGADA, mil vezes. Obrigada a cada pessoa que leu e acompanhou até aqui, curtiu a página da história apesar de não ter movimentação, entrou no meu grupo falando o quanto ama a história, obrigada a cada comentário aqui escrito. Tem comentário e público que acompanhou ELEH desde 2012 quando o FFOBS ainda usava outro formato de site, e não tinha muito mais de 20 mil leitores. OBRIGADA à leitora que ganhou o mini concurso que fiz, nos primeiros anos de história e se tornou a personagem Bruh. A Bruh existe gente, só que diferente da personagem ela é um anjo. Obrigada a cada beta-reader que tive dos tempos antigos (Fernanda Conceição, Letícia Gregory) aos novos tempos (Mayh Angeli, Carolina Mioto). Obrigada as capistas: Bella Prudêncio (foi leitora FFOBS 2012, capista do site e hoje escritora conhecida e realizada) que fez a 1ª capa de ELEH, e Carolina Mioto, atual capista do site e que nesta nova fase de repostagem de ELEH aqui no site, elaborou as quatro capas atuais que eu tanto amo. Obrigada ao FFOBS pela minha PRIMEIRA LONGFIC FINALIZADA EM 7 ANOS! UAU! ELEH não foi a primeira história postada no FFOBS, mas foi a primeira do meu início de “carreira” que continuou no site (mesmo saindo do hiatus pra respostagem), longfic e que foi agora, finalizada. Obrigada. Eu não sei nem o quê mais dizer. Eu só sei que estou tomada de orgulho, tomada de amor, de saudade e gratidão a todo o caminho até aqui e a cada um de vocês.

Com afeto, Ray Dias.

Não deixem de ouvir a trilha sonora disponível no Spotify, com o link abaixo. Entrem no Grupo de Leitores da Autora (clique: Autora Ray Dias), e vamos fofocar sobre #Eleh e outras das minhas histórias por lá!





Nota da beta: Invadindo aqui porque não podia deixar de falar e deixar um pouquinho do meu amor ao final dessa história tão linda! Ray, tenho certeza que uma etapa da sua vida foi concluída com sucesso ao fim de uma obra que tanto cativou todos esses leitores lindos que você tem. Você tem que estar orgulhosa por concluir um projeto, e ficar orgulhosa pelo fim dele. Mesmo doendo, na luta de conseguir escrever, você foi lá e finalizou. E eu tenho muito orgulho de você por isso, meu amor.
ELEH terminou, mas, seguimos juntas em todas as suas outras fanfics, que eu tenho o prazer de ser scripter. Tenho certeza que seus leitores vão lhe acompanhar também. Pode contar comigo sempre, tá? ♥

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» No Coração da Fazenda » Pretend
» Intro: Singularity » Western Love
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