Capítulo 1
Toda minha vida tinha sido resumida em apenas um objetivo: seja a melhor. A melhor aluna da classe, a melhor filha, a primeira a conseguir um estágio. Forme com todas as honras possíveis e conquiste uma vaga de emprego na melhor empresa de comunicação do país.
Não fume. Não beba. E, se possível, não faça sexo até você conhecer o cara com quem vai se casar, porque Deus nos livre de um filho fora do casamento. E se vier a namorar, que ele seja bonito, mas não tão bonito como os modelos que sua mãe conviveu. Que ele seja atlético, mas não pratique esportes violentos. De preferência, que o salário dele seja maior que o seu, afinal ele quem vai sustentar a casa. Que ele goste de uma cerveja, mas nunca tenha experimentado drogas. E, por favor, não se apaixone. Paixão faz com que as pessoas cometam erros, e você não tem o direito de errar.
Nos últimos 25 anos, foi isso que escutei. Todo Natal eu era recebida em casa com o pedido do boletim e exames de sangue. E que eu não ousasse comer demais na ceia de Natal porque precisava manter o corpo magro e curvilíneo.
Por 25 anos eu acreditei que esse nível de perfeição era normal. Me sujeitei a abaixar a cabeça e fazer tudo que meus pais pediam. Eu sabia que meu pai era preocupado com imagem. Cresci vendo os filmes que ele rodava e acompanhando minha mãe em desfiles de moda.
Desde criança me perguntavam se eu iria para Hollywood ou talvez desfilar nas passarelas em Nova York. Nunca teve um meio termo. Nunca me perguntaram se eu queria ser veterinária porque minha casa tinha muitos animais. Nunca me perguntaram se um dia eu poderia ser astronauta porque tive minha fase de ser apaixonada por astronomia. Nunca me perguntaram qual era meu livro favorito porque livros não era assunto na casa da família .
Nasci e cresci em LA. Mas nunca conheci a famosa vida luxuosa da cidade. Em parte, porque meus pais sempre me protegeram de paparazzi e não me deixavam ir as festas mais badalas. Porém, a grande culpada disso tudo era a minha constante necessidade de perfeição. A última coisa que eu queria era decepcionar meus pais. Chegar em casa e encontrar o olhar reprovador do meu pai e o nariz empinado da minha mãe julgando cada passo que eu dava.
Eu já havia experimentado essa cena na adolescência, quando arrumei meu primeiro namorado. Um garoto do colégio que não tinha nada de especial, mas foi o suficiente para meus pais me sentarem no sofá da sala e terem “A” Conversa. Porém, ao invés de apenas me explicarem métodos contraceptivos, eles fizeram questão de criar toda uma história de que, se eu continuasse saindo com esse menino, ou qualquer garoto que fosse, eu jamais seria bem sucedida.
E tudo que eu queria era ser bem sucedida.
Eu nunca seria o suficiente. E demorei vinte e cinco anos para entender que a falta de namorado, a falta de convites para sair no fim de semana e o diploma que não havia me dado um emprego não era saudável.
Eu tinha crescido em uma ilusão. Talvez por meu pai criar tantos filmes, ele também soube dirigir a minha vida dentro dessa história fantástica. Uma história que eu acreditei e que só agora via como ela era frágil. Manipulável.
Sexta à noite e no meu celular brilhava a manchete que causou a briga do século entre meus pais. E o pior de tudo: eu não tinha culpa de nada.
TRIS CARPINIELLO É VISTA COM DAN MORISSON, EX-SÓCIO DO SEU PAI, O DIRETOR ROBERT CARPINIELLO.
Eu estava voltando da academia quando Dan parou o carro e ofereceu uma carona. E é claro que eu não aceitei. Papai estava sendo processado por Morisson depois que recusou o contrato milionário para dirigir o novo filme da Netflix.
O roteiro tratava de assuntos como estupro e pedofilia como se fossem banais, e papai não concordou. Chegou a acusar os representantes da Netflix de serem criminosos ao proporem um filme com essa abordagem. Morisson não concordou. Ele só viu a cifras no cheque gordo e assinou o contrato.
Meu pai era o responsável criativo e Dan o homem de negócios da Enterprises, apesar da empresa levar o nome da nossa família. Essa briga foi parar na justiça e, apesar de não poder ter certeza, eu suspeitava que era por causa desse processo que não passei na entrevista da NBC.
Com o fim da faculdade, tentei todas as empresas grandes de comunicação. Fui chamada para algumas entrevistas e até mesmo voltei para a rádio onde fiz estágio em alguns verões. Porém o escândalo da Enterprises estourou e meu sobrenome passou a ser odiado nas empresas de mídia.
Sem emprego e sem perspectiva, me vi obrigada a voltar para casa dos meus pais. Eles não se importaram uma vez que foram contra eu ter me mudado para fazer faculdade. Na cabeça deles eu teria tudo que precisava morando na mansão .
E de fato eu tinha tudo. Menos privacidade.
— , o jantar está pronto! — Minha mãe bateu na minha porta e escutei os saltos se distanciando.
Eu não queria encarar esse jantar. Meu rosto, que meus pais fizeram de tudo para manter em segredo, estava estampado em revistas e portais de fofoca com várias manchetes que questionavam o meu envolvimento com Dan Morisson.
Primeiro: eca. O cara tinha idade para ser meu pai e, segundo: tinha um motivo para eu não ter redes sociais. Esse motivo era manter a minha imagem o mais longe possível da dos meus pais. Tanto para me distanciar da carreira deles quanto para proteger minha privacidade.
E, ainda assim, meu pai me recebeu em casa naquele mesmo dia me perguntando por que eu tinha ido ver Dan Morisson. Obviamente que não entendi nada até ler as manchetes.
E é claro que ser a filha perfeita por 25 anos foi inútil. Meu pai não acreditou e ainda me acusou de ter ido até o seu rival pedir um emprego, como se trabalhar como assistente dele fosse pouco.
Bem, era pouco. Jamais quis trabalhar com cinema e eu estava com zero vontade de ir para o set na segunda-feira. Mas era um emprego. Era um salário que eu poderia começar a juntar e me distanciar de vez dos meus pais. Porém eu não fazia ideia de quem estaria no filme ou qual o roteiro.
Mas eu não havia dito nada disso para meu pai. Apenas abaixei a cabeça e escutei como a filha perfeita tinha sido ensinada a fazer. Minha mochila para a segunda já estava pronta na cadeira do meu quarto e agora eu só poderia rezar que ele não voltasse atrás. Não era o que eu queria, mas era melhor do que passar os dias sozinhas trancada no meu quarto apenas vendo o sol escaldante de L.A. em junho.
Olhei para a manchete no celular mais uma vez e me senti cansada. Cansada de ficar sozinha no mundo de aparências. Meu estômago roncou e decidi encarar meus pais em troca de comida. Eu não poderia evitar eles para sempre, especialmente meu pai.
Abri meus e-mails antes de me levantar da cama e encontrei um convite que jamais achei que fosse receber. Eu não tinha redes sociais, nunca fui de usar internet ou aparecer em festas. Mas aparentemente tinha sido preciso apenas uma manchete e o sobrenome correto para o exclusivo site de namoro hyna me enviar um convite.
Aquilo era o oposto de tudo que eu sempre fiz. Me expor, ainda que para uma elite de pessoas, não tinha nada a ver comigo. Site de relacionamentos não tinha nada a ver comigo.
Escutei meu pai me chamando do andar debaixo. Sua voz rouca e grossa tinha um tom se raiva que ele não usava comigo desde que eu tinha dez anos. Eu era uma mulher de 25 anos ainda presa nas ideais de uma família rica e sem nenhuma ideia do que eu queria para mim.
Cliquei no link e aceitei o convite. Deixei meu celular na cômoda depois de fazer o perfil e fui jantar pensando que, depois de adulta, estava na hora de começar a me rebelar contra as regras da família .
…
O silêncio da sala de jantar estava atípico. Eu deveria ter lido isso como um sinal e voltado para o quarto apesar do estômago vazio. Porém, me sentei à mesa e arrisquei servir um pouco do macarrão com molho de camarão.
— Caham... — Os dois olhos azuis da minha mãe me encararam, me fazendo recuar e servir metade do prato que eu pretendia comer. De repente a fome não parecia tão grande assim.
Com o garfo, enrolei um pouco do espaguete, levando à boca sem tirar os olhos do prato à minha frente. Na terceira garfada, foi a vez do meu pai fazer o famoso "xaham" da nossa família, quando alguém queria falar algo, mas não abriria a boca antes que o alvo da conversa estivesse olhando para ele.
— Oi, pai. — disse depois que engoli, sentindo o macarrão descer seco.
— Eu conversei com sua mãe e agora sei que você não iria até o Morrison sem um motivo plausível. Então, de coração aberto, eu quero saber por que você estava com ele e, pior, como deixou que paparazzi pegasse você entrando no carro dele. — Robert cruzou as mãos em cima da mesa, se inclinando para chegar mais perto.
Por outro lado, eu estava boquiaberta. Já havia contado a história mil vezes, mas, aparentemente, mesmo após anos de obediência, meu pai ainda não confiava em mim. Levei as mãos no rosto respirando fundo. Calmamente coloquei meu cabelo atrás da orelha e olhei para minha mãe antes de voltar para meu pai. Melissa era uma mulher maravilhosa. No auge dos seus 53 anos, ela ainda frequentava desfiles de moda, mesmo que tivesse abandonado as passarelas 15 anos atrás. Naquele dia, seu rosto tinha a mesma expressão vazia e ao mesmo tempo confiante que modelos exibiam.
— Filha, não estamos te acusando de nada, mas precisamos saber o que Morrison te falou. Qualquer interação pode entrar no processo e não podemos perder a empresa. — Minha mãe levou o copo de suco até seus lábios.
— Mãe, pai, eu já falei. Eu estava voltando da academia como faço todos os dias, Tio Dan... O Sr. Morisson parou o carro e perguntou se eu queria carona. Educadamente eu parei, sorri e disse que não precisava. Continuei andando e não dei mais notícia de onde ele estava. Não faço ideia de como um paparazzi conseguiu fotografar justamente esse momento, mas foi apenas isso que aconteceu.
— Você tem certeza, ? — papai perguntou.
— Claro! Última coisa que eu quero é conversar com esse homem ou me meter nos processos da família. — Papai assentiu, mas algo ainda o incomodava. — O que foi, pai?
— Por 25 anos ninguém nunca soube seu rosto, . Agora, ainda mais com todo o processo na mídia, você precisa tomar cuidado. Amanhã mesmo vou contratar seguranças e...
— Não! — Minha voz saiu mais alta do que eu desejava. — Não quero seguranças. Eu mal estou saindo de casa. Só vou para academia ou a casa das meninas, e agora vou com você para o estúdio. Eu não preciso de segurança.
— Robert, eu tenho que concordar com a . Seguranças vão atrair mais atenção ainda para ela. Nós sabemos nos cuidar. Tenho certeza de que algum daqueles atores da Marvel vai fazer alguma coisa em breve e nem vão lembrar mais da .
Meu pai suspirou, os cabelos escuros, hoje mais ralos a cada dia, estava completamente bagunçados. Eu tinha certeza de que ele havia passado a manhã no telefone com jornalistas, relações publicas e advogados.
— Então, você não sai sozinha. Ouviu, ? Você vai comigo para o trabalho e pede para Frankie te buscar quando quiser ir para casa delas. A academia você pode usar a do condomínio, não entendo mesmo por que você insiste em frequentar aquele lugar.
— O que? — Mais uma vez gritei, sem acreditar no que estava ouvindo. Ele não poderia mesmo estar me colocando de castigo por algo que nem sequer havia sido culpa minha. Infelizmente, dessa vez minha mãe não ficou ao meu lado.
— É só por algumas semanas . Por favor. — Ela esticou a mão para minha, mas eu apenas me levantei, deixando o prato de macarrão quase cheio, agora completamente sem fome.
Sai da sala sem dizer uma palavra e bati a porta do meu quarto. Se eles iriam me tratar como criança, eu poderia mesmo agir como uma. Sentei na cama sentindo as lágrimas de raiva saírem. Tentei respirar para passar, mas devo ter ficado uns cinco minutos chorando. Aquele choro cheio de baba e murmúrios. Minha vontade era socar a parede tal qual um garoto adolescente, porém me mantive sentada na cama.
Escurei meu celular vibrando várias vezes e pensei que pudesse ser Frankie ou Ana, minhas duas melhores amigas mais antigas, quem sempre esteve ao meu lado mesmo nas piores épocas. As duas dividiam um apartamento em Berverly Hills. Ana era uma compositora, das melhores que existia na cidade. Havia feito faculdade de música e hoje trabalhava para grandes estúdios, compondo músicas para artistas e bandas famosas. Frankie, por outro lado, ainda não havia se formado. Depois de trocar de curso umas três vezes, ela finalmente havia encontrado a sua paixão: engenharia mecânica. O pai dela havia sido um dos galãs nos anos 1990 ao lado de Brad Pitt e Leonardo DiCaprio e bancava o aluguel das duas. Elas me convidaram para morar com elas quando voltei para L.A., mas meu pai não permitiu. Mais uma das coisas que Robert me impedira de viver.
Porém, não era nenhuma das duas que faziam meu celular quase cair da cômoda. O novo aplicativo de relacionamentos estava cheio de notificações. Músicos, modelos, jovens empresários e atores famosos lotavam a minha dm. Cada um deles com uma cantada pior do que a outra em busca de impressionar a herdeira da Enterprises e a mais nova queridinha da mídia.
Comecei a passar mensagem uma por uma. Não tinha nada a perder. Foi então que vi uma mensagem que me chamou atenção. Steve Robson, 25 anos, ator de uma série de TV adolescente que eu sinceramente odiava. Eu já tinha conhecido o cara uma vez, alguns anos atrás, quando ele fez teste para um dos filmes do meu pai. O cabelo escuro e o sorriso molha-calcinha me fizeram responder à mensagem.
S: Oi, ! Nunca achei que você te ver por aqui. Está à procura de algo?
: Oi, Steve! Eu acabei de baixar esse app e confesso que estou um pouco perdida ainda.
S: Imaginei mesmo que você fosse nova. Nunca achei seu Instagram, mesmo depois que você me deixou esperando na chuva.
Ops... Eu tinha esquecido que ele me chamou para sair na época, eu disse de forma irônica que iria, porque era claro que meu pai não deixaria. Eu tinha 19 anos, ficaria apenas o fim de semana na cidade e o garoto achou que eu tinha falado sério e ligou no celular do meu pai perguntando se algo tinha acontecido. Meu pai nunca riu tanto e até deu um papel menor para o garoto por pena. Hoje, Steve já havia conquistado seu espaço no mercado e eu tenho certeza de que ele era grato pela oportunidade que meu pai deu para ele.
Mas, pelo visto, ele ainda não havia superado o meu bolo.
: Eu não tenho rede social. Por um acaso recebi o convite para o Hyna e resolvi tentar. Não é como se eu estivesse comprometida...
S: Então, quer dizer que está em busca de um namorado?
: Eu não colocaria as coisas tão sérias assim...
S: Show! O que acha de a gente sair, então?
Pensei um pouco. Eu não pretendia arrumar um encontro, ou até mesmo uma noite sem compromisso. Porém, sair de casa com certeza iria contra as regras de Robert e ver Steve não seria uma forma ruim de provar que meu pai estava exagerando. Talvez fosse hora de eu tomar as rédeas da minha vida.
: Claro! Que tal hoje? Prometo não te deixar sozinho na chuva de novo.
S: Às 22h no Eiffel Tower. E não vai me deixar sozinho, ein?
Era claro que ele marcaria em um hotel. Aquilo não seria um encontro. Talvez ele tivesse a decência de pagar um jantar, mas, conhecendo atores de Hollywood, as 22:05 eu já estaria nua e as 23 estaria de volta a minha casa. Com sorte, satisfeita com orgasmos e prontinha para uma noite de sono.
: Te vejo mais tarde.
...
Não era a primeira vez que eu visitava o Eiffel Tower. O hotel tentava imitar tudo que vinha de Paris de uma forma extremamente estereotipara e, se me permitem dizer, cheia de mal gosto. Entretanto, aquela era a primeira vez que eu ia ficar em um dos quartos.
Steve me esperava na porta, já com a chave magnética em mãos. Ele vestia uma calça jeans que modelava os músculos da sua perna e um suéter amarelo por cima de uma camisa social que o deixava mais jovem do que de fato era. Se eu não o conhecesse melhor, poderia até mesmo pensar que ele era um galã de cinema saindo de uma revista dos anos 1990. Entretanto, assim que Steve sorriu para mim, lembrei que não poderia ser vista com ele em público. A última coisa que eu precisava era outro boato estampado nos portais de notícia.
— Você veio, ! — O sorriso com covinha me fez corar, um charme que deveriam ensinar nas escolas de atuação porque não havia outra explicação para ele.
— Oi, Steve! — Parei rapidamente ao lado dele, apenas para pegar a chave da sua mão tentando ser o mais discreta possível. — Me encontra lá em cima.
No caminho, eu decidi que não estava com saco para um jantar e conversas sem importância quando nós dois tínhamos ido até ali com um único objetivo. Meu estômago ainda estava embrulhado da tentativa de jantar mais cedo.
Entrei no elevador sozinha, apertei o botão para o sétimo andar e prendi meu cabelo em um rabo de cabalo. A musiquinha estava me irritando e confesso que comecei a pensar o real motivo de estar ali. Eu não era fã de sexo casual, Steve não seria minha primeira opção para isso, mas, ainda assim, tinha dito sim. Estava ali para provar um ponto a mim mesma. Provar que eu poderia fazer algo fora da minha zona de conforto e me divertir no processo.
Abri a porta do quarto e a deixei encostada, sabendo que Steve não demoraria. Mantive as luzes apagadas e deixei minha bolsa na poltrona. Comecei a abrir os botões do meu cardigã cinza que havia colocado por cima do vestido rosa. Eu não era de usar vestido, mas se estávamos na chuva era para molhar e não custava me arrumar um pouquinho.
— Você está linda hoje. — Steve sussurrou no meu ouvido, abraçando a minha cintura por trás e distribuindo beijos no meu pescoço. Lentamente ele puxou o meu casaco para o chão e o meu vestido não demorou para acompanhá-lo.
Me virei para ele e, com as mãos na sua nuca, o beijei. Deslizei meus dedos pelos seus fios escuros e macios, arfando quando ele agarrou minha bunda. Senti sua ereção em sua calma e mordi seu lábio inferior separando o beijo apenas para puxar seu suéter e camisa.
— Alguém anda malhando, hein? — Ele sorriu com meu elogio e voltou a me beijar, dessa vez sem nenhum tipo de delicadeza ou pudor.
Steve foi andando comigo até a cama e me jogou no centro do colchão, ainda de calcinha e sutiã. Rapidamente tirei a parte debaixo enquanto ele se despia. Fazia anos que eu não via Steve e os músculos com certeza haviam feito diferença. O abdome definido, as cochas grossas e tive que morder o lábio quando vi seu pau. Aquilo sim era algo digno das revistas de fofoca.
Comecei a me tocar enquanto ele, já nu, buscava a camisinha. Os músculos das suas costas me faziam salivar. Queria que ele se deitasse ao meu lado e me deixasse lamber cada pedacinho desse corpo.
— Já começou sem mim, ? — A voz dele estava grossa enquanto ele se deitava sobre mim.
Primeiro beijou meus lábios, um beijo rápido e casto, e começou a distribuir pequenos beijinhos e lambidas pelo meu pescoço e tronco. Quando chegou entre minhas pernas, afastou minhas coxas antes de ir com a língua no ponto sensível que pulsava para ele.
Porém, Steve acertou tudo, menos aquele lugarzinho especial. Olhei para o teto quando comecei a ficar entediada com sua língua, pensando em tudo menos que deveria gozar. Talvez com o pau ele fosse melhor, afinal o dele era consideravelmente avantajado.
— Steve, entra em mim. Por favor... — Falei com o tom mais sensual que consegui, apesar de ser completamente fingimento. Pelo visto sua língua só servia para falar merda.
— Tá apressada, linda? — Ele sussurrou no meu ouvido, beijando meu pescoço e novamente senti arrepios. Talvez o clima não estivesse tão perdido assim.
Puxei ele para os meus lábios enquanto entrelaçava minha perna em sua cintura. Seu pau roçava minha entrada, mas ele estava lento demais para o meu gosto. Desci uma mão entre nossos corpos e comecei a masturbá-lo lentamente, antes de encaixa-lo em mim.
— Me fode, Steve.
— Agora. — Ele me beijou novamente enquanto entrava lentamente em mim. O movimento de vai e vem estava lento. Arranhei as costas dele e apertei sua bunda, aproximando ainda mais nossos corpos.
— Mais rápido.
Ele aumentou a velocidade, mas estava longe do ideal. Com pouco tempo eu estava entediada novamente e segui encarando o teto por alguns minutos quando escutei ele gemendo, enfim chegando ao orgasmo. Fingi um gemido para que ele não perguntasse, mas eu não tinha chegado nem perto.
Ele saiu de dentro de mim e se jogou na cama ofegante, sem nem mesmo perceber que eu não havia gozado.
— Foi bom para você? — Perguntou de olhos fechados.
— Aham. — Falei sem emoção.
Quando me dei conta, Steve já havia virado para o lado e estava dormindo. Me levantei e fui ao banheiro me limpar, vesti minhas roupas e em menos de meia hora eu estava na minha cama, completamente frustrada e ainda com tesão.
...
— , só você mesma para ter uma noite péssima com um cara daqueles. — Frankie estava sentada no balcão da cozinha da casa que dividia com Ana. Assim que acordei no dia seguinte, liguei para as meninas e pedi para passar o dia com elas. Frankie me buscou e no caminho compramos donuts e, é claro, café gelado, no Dunkin Donuts.
Agora eu tomava o meu segundo copo de iced coffe enquanto contava para as meninas do fracasso que tinha sido a noite com Steve. Depois que cheguei em casa precisei do meu amigo vibrador para conseguir dormir.
— Puta que pariu, viu? O homem lindo daquele e péssimo!
— Por isso que eu sempre falo. — Ana terminava de bater seu suco verde. Como uma boa vegana, ela reclamava sempre que comprávamos café com leite. Pelo menos havíamos trazido a imitação de donuts vegano que vendia no Dunkin. — Melhor um bom vibrador do que me sujeitar a esse tipo de encontro.
Ana era assumidamente lésbica. Para ela, sexo não era um mais importante em um relacionamento e eu sabia pouquíssimo sobre ex-namoradas dela. Honestamente? A vida sexual das minhas amigas era definitivamente mais normal do que a minha: ou inexistente ou extremamente péssima.
— Mas, , ainda não entendi uma coisa. — Frankie tinha os olhos azuis intensos e o cabelo avermelhado com as ondas soltas que deixava qualquer coisa que ela dizia mais intenso do que era. — Como você encontrou esse cara?
Peguei meu celular no bolso de trás e abri o aplicativo roxo recém instalado no aparelho.
— Recebi um e-mail me convidando para esse app de relacionamento mega exclusivo chamado Hyna. Vocês sabem que nunca liguei para rede social, mas depois da raiva que passei com meu pai, resolvi me dar o direito.
Abri o app e Ana e Frankie se aproximaram de mim olhando a tela do meu celular. Mostrei algumas das mensagens que eu estava ignorando, alguns dos perfis que tinha aparecido para mim e enquanto Frakie dizia que eu deveria responder todo mundo porque não era possível que nenhum desses caras soubessem transar, Ana disse que sexo não era tudo e que da próxima vez eu deveria tentar uma conversa antes de ir para cama com um homem.
— Para falar a verdade, eu acho que vou é excluir o perfil. — Joguei o copo de plástico no lixo, dando de ombros.
— Por quê? — Frankie indagou.
— Eu nunca gostei de rede social, sabe? Amanha começo o trabalho novo com meu pai e duvido que terei tempo com ele grudado em mim o dia inteiro. — O choque de realidade finalmente estava começando a chegar. A liberdade que eu sempre sonhei estava cada dia mais longe de acontecer.
— , mais um motivo para você não excluir o app! Onde você vai conhecer gente nova se Tio Robert não te deixa sair? — Frankie tinha um bom ponto.
— Eu acho que você deveria ver isso aqui antes de decidir qualquer coisa. — Ana arregalou os olhos com o celular em mãos. Franzi a testa ao me aproximar sem entender por que justamente Ana estaria de acordo com aquela loucura.
Peguei o aparelho enquanto as duas me olhavam com olhos arregalados. Quando olhei para tela, entendi o motivo do susto. tinha acabado de dar match comigo.
Não fume. Não beba. E, se possível, não faça sexo até você conhecer o cara com quem vai se casar, porque Deus nos livre de um filho fora do casamento. E se vier a namorar, que ele seja bonito, mas não tão bonito como os modelos que sua mãe conviveu. Que ele seja atlético, mas não pratique esportes violentos. De preferência, que o salário dele seja maior que o seu, afinal ele quem vai sustentar a casa. Que ele goste de uma cerveja, mas nunca tenha experimentado drogas. E, por favor, não se apaixone. Paixão faz com que as pessoas cometam erros, e você não tem o direito de errar.
Nos últimos 25 anos, foi isso que escutei. Todo Natal eu era recebida em casa com o pedido do boletim e exames de sangue. E que eu não ousasse comer demais na ceia de Natal porque precisava manter o corpo magro e curvilíneo.
Por 25 anos eu acreditei que esse nível de perfeição era normal. Me sujeitei a abaixar a cabeça e fazer tudo que meus pais pediam. Eu sabia que meu pai era preocupado com imagem. Cresci vendo os filmes que ele rodava e acompanhando minha mãe em desfiles de moda.
Desde criança me perguntavam se eu iria para Hollywood ou talvez desfilar nas passarelas em Nova York. Nunca teve um meio termo. Nunca me perguntaram se eu queria ser veterinária porque minha casa tinha muitos animais. Nunca me perguntaram se um dia eu poderia ser astronauta porque tive minha fase de ser apaixonada por astronomia. Nunca me perguntaram qual era meu livro favorito porque livros não era assunto na casa da família .
Nasci e cresci em LA. Mas nunca conheci a famosa vida luxuosa da cidade. Em parte, porque meus pais sempre me protegeram de paparazzi e não me deixavam ir as festas mais badalas. Porém, a grande culpada disso tudo era a minha constante necessidade de perfeição. A última coisa que eu queria era decepcionar meus pais. Chegar em casa e encontrar o olhar reprovador do meu pai e o nariz empinado da minha mãe julgando cada passo que eu dava.
Eu já havia experimentado essa cena na adolescência, quando arrumei meu primeiro namorado. Um garoto do colégio que não tinha nada de especial, mas foi o suficiente para meus pais me sentarem no sofá da sala e terem “A” Conversa. Porém, ao invés de apenas me explicarem métodos contraceptivos, eles fizeram questão de criar toda uma história de que, se eu continuasse saindo com esse menino, ou qualquer garoto que fosse, eu jamais seria bem sucedida.
E tudo que eu queria era ser bem sucedida.
Eu nunca seria o suficiente. E demorei vinte e cinco anos para entender que a falta de namorado, a falta de convites para sair no fim de semana e o diploma que não havia me dado um emprego não era saudável.
Eu tinha crescido em uma ilusão. Talvez por meu pai criar tantos filmes, ele também soube dirigir a minha vida dentro dessa história fantástica. Uma história que eu acreditei e que só agora via como ela era frágil. Manipulável.
Sexta à noite e no meu celular brilhava a manchete que causou a briga do século entre meus pais. E o pior de tudo: eu não tinha culpa de nada.
Eu estava voltando da academia quando Dan parou o carro e ofereceu uma carona. E é claro que eu não aceitei. Papai estava sendo processado por Morisson depois que recusou o contrato milionário para dirigir o novo filme da Netflix.
O roteiro tratava de assuntos como estupro e pedofilia como se fossem banais, e papai não concordou. Chegou a acusar os representantes da Netflix de serem criminosos ao proporem um filme com essa abordagem. Morisson não concordou. Ele só viu a cifras no cheque gordo e assinou o contrato.
Meu pai era o responsável criativo e Dan o homem de negócios da Enterprises, apesar da empresa levar o nome da nossa família. Essa briga foi parar na justiça e, apesar de não poder ter certeza, eu suspeitava que era por causa desse processo que não passei na entrevista da NBC.
Com o fim da faculdade, tentei todas as empresas grandes de comunicação. Fui chamada para algumas entrevistas e até mesmo voltei para a rádio onde fiz estágio em alguns verões. Porém o escândalo da Enterprises estourou e meu sobrenome passou a ser odiado nas empresas de mídia.
Sem emprego e sem perspectiva, me vi obrigada a voltar para casa dos meus pais. Eles não se importaram uma vez que foram contra eu ter me mudado para fazer faculdade. Na cabeça deles eu teria tudo que precisava morando na mansão .
E de fato eu tinha tudo. Menos privacidade.
— , o jantar está pronto! — Minha mãe bateu na minha porta e escutei os saltos se distanciando.
Eu não queria encarar esse jantar. Meu rosto, que meus pais fizeram de tudo para manter em segredo, estava estampado em revistas e portais de fofoca com várias manchetes que questionavam o meu envolvimento com Dan Morisson.
Primeiro: eca. O cara tinha idade para ser meu pai e, segundo: tinha um motivo para eu não ter redes sociais. Esse motivo era manter a minha imagem o mais longe possível da dos meus pais. Tanto para me distanciar da carreira deles quanto para proteger minha privacidade.
E, ainda assim, meu pai me recebeu em casa naquele mesmo dia me perguntando por que eu tinha ido ver Dan Morisson. Obviamente que não entendi nada até ler as manchetes.
E é claro que ser a filha perfeita por 25 anos foi inútil. Meu pai não acreditou e ainda me acusou de ter ido até o seu rival pedir um emprego, como se trabalhar como assistente dele fosse pouco.
Bem, era pouco. Jamais quis trabalhar com cinema e eu estava com zero vontade de ir para o set na segunda-feira. Mas era um emprego. Era um salário que eu poderia começar a juntar e me distanciar de vez dos meus pais. Porém eu não fazia ideia de quem estaria no filme ou qual o roteiro.
Mas eu não havia dito nada disso para meu pai. Apenas abaixei a cabeça e escutei como a filha perfeita tinha sido ensinada a fazer. Minha mochila para a segunda já estava pronta na cadeira do meu quarto e agora eu só poderia rezar que ele não voltasse atrás. Não era o que eu queria, mas era melhor do que passar os dias sozinhas trancada no meu quarto apenas vendo o sol escaldante de L.A. em junho.
Olhei para a manchete no celular mais uma vez e me senti cansada. Cansada de ficar sozinha no mundo de aparências. Meu estômago roncou e decidi encarar meus pais em troca de comida. Eu não poderia evitar eles para sempre, especialmente meu pai.
Abri meus e-mails antes de me levantar da cama e encontrei um convite que jamais achei que fosse receber. Eu não tinha redes sociais, nunca fui de usar internet ou aparecer em festas. Mas aparentemente tinha sido preciso apenas uma manchete e o sobrenome correto para o exclusivo site de namoro hyna me enviar um convite.
Aquilo era o oposto de tudo que eu sempre fiz. Me expor, ainda que para uma elite de pessoas, não tinha nada a ver comigo. Site de relacionamentos não tinha nada a ver comigo.
Escutei meu pai me chamando do andar debaixo. Sua voz rouca e grossa tinha um tom se raiva que ele não usava comigo desde que eu tinha dez anos. Eu era uma mulher de 25 anos ainda presa nas ideais de uma família rica e sem nenhuma ideia do que eu queria para mim.
Cliquei no link e aceitei o convite. Deixei meu celular na cômoda depois de fazer o perfil e fui jantar pensando que, depois de adulta, estava na hora de começar a me rebelar contra as regras da família .
O silêncio da sala de jantar estava atípico. Eu deveria ter lido isso como um sinal e voltado para o quarto apesar do estômago vazio. Porém, me sentei à mesa e arrisquei servir um pouco do macarrão com molho de camarão.
— Caham... — Os dois olhos azuis da minha mãe me encararam, me fazendo recuar e servir metade do prato que eu pretendia comer. De repente a fome não parecia tão grande assim.
Com o garfo, enrolei um pouco do espaguete, levando à boca sem tirar os olhos do prato à minha frente. Na terceira garfada, foi a vez do meu pai fazer o famoso "xaham" da nossa família, quando alguém queria falar algo, mas não abriria a boca antes que o alvo da conversa estivesse olhando para ele.
— Oi, pai. — disse depois que engoli, sentindo o macarrão descer seco.
— Eu conversei com sua mãe e agora sei que você não iria até o Morrison sem um motivo plausível. Então, de coração aberto, eu quero saber por que você estava com ele e, pior, como deixou que paparazzi pegasse você entrando no carro dele. — Robert cruzou as mãos em cima da mesa, se inclinando para chegar mais perto.
Por outro lado, eu estava boquiaberta. Já havia contado a história mil vezes, mas, aparentemente, mesmo após anos de obediência, meu pai ainda não confiava em mim. Levei as mãos no rosto respirando fundo. Calmamente coloquei meu cabelo atrás da orelha e olhei para minha mãe antes de voltar para meu pai. Melissa era uma mulher maravilhosa. No auge dos seus 53 anos, ela ainda frequentava desfiles de moda, mesmo que tivesse abandonado as passarelas 15 anos atrás. Naquele dia, seu rosto tinha a mesma expressão vazia e ao mesmo tempo confiante que modelos exibiam.
— Filha, não estamos te acusando de nada, mas precisamos saber o que Morrison te falou. Qualquer interação pode entrar no processo e não podemos perder a empresa. — Minha mãe levou o copo de suco até seus lábios.
— Mãe, pai, eu já falei. Eu estava voltando da academia como faço todos os dias, Tio Dan... O Sr. Morisson parou o carro e perguntou se eu queria carona. Educadamente eu parei, sorri e disse que não precisava. Continuei andando e não dei mais notícia de onde ele estava. Não faço ideia de como um paparazzi conseguiu fotografar justamente esse momento, mas foi apenas isso que aconteceu.
— Você tem certeza, ? — papai perguntou.
— Claro! Última coisa que eu quero é conversar com esse homem ou me meter nos processos da família. — Papai assentiu, mas algo ainda o incomodava. — O que foi, pai?
— Por 25 anos ninguém nunca soube seu rosto, . Agora, ainda mais com todo o processo na mídia, você precisa tomar cuidado. Amanhã mesmo vou contratar seguranças e...
— Não! — Minha voz saiu mais alta do que eu desejava. — Não quero seguranças. Eu mal estou saindo de casa. Só vou para academia ou a casa das meninas, e agora vou com você para o estúdio. Eu não preciso de segurança.
— Robert, eu tenho que concordar com a . Seguranças vão atrair mais atenção ainda para ela. Nós sabemos nos cuidar. Tenho certeza de que algum daqueles atores da Marvel vai fazer alguma coisa em breve e nem vão lembrar mais da .
Meu pai suspirou, os cabelos escuros, hoje mais ralos a cada dia, estava completamente bagunçados. Eu tinha certeza de que ele havia passado a manhã no telefone com jornalistas, relações publicas e advogados.
— Então, você não sai sozinha. Ouviu, ? Você vai comigo para o trabalho e pede para Frankie te buscar quando quiser ir para casa delas. A academia você pode usar a do condomínio, não entendo mesmo por que você insiste em frequentar aquele lugar.
— O que? — Mais uma vez gritei, sem acreditar no que estava ouvindo. Ele não poderia mesmo estar me colocando de castigo por algo que nem sequer havia sido culpa minha. Infelizmente, dessa vez minha mãe não ficou ao meu lado.
— É só por algumas semanas . Por favor. — Ela esticou a mão para minha, mas eu apenas me levantei, deixando o prato de macarrão quase cheio, agora completamente sem fome.
Sai da sala sem dizer uma palavra e bati a porta do meu quarto. Se eles iriam me tratar como criança, eu poderia mesmo agir como uma. Sentei na cama sentindo as lágrimas de raiva saírem. Tentei respirar para passar, mas devo ter ficado uns cinco minutos chorando. Aquele choro cheio de baba e murmúrios. Minha vontade era socar a parede tal qual um garoto adolescente, porém me mantive sentada na cama.
Escurei meu celular vibrando várias vezes e pensei que pudesse ser Frankie ou Ana, minhas duas melhores amigas mais antigas, quem sempre esteve ao meu lado mesmo nas piores épocas. As duas dividiam um apartamento em Berverly Hills. Ana era uma compositora, das melhores que existia na cidade. Havia feito faculdade de música e hoje trabalhava para grandes estúdios, compondo músicas para artistas e bandas famosas. Frankie, por outro lado, ainda não havia se formado. Depois de trocar de curso umas três vezes, ela finalmente havia encontrado a sua paixão: engenharia mecânica. O pai dela havia sido um dos galãs nos anos 1990 ao lado de Brad Pitt e Leonardo DiCaprio e bancava o aluguel das duas. Elas me convidaram para morar com elas quando voltei para L.A., mas meu pai não permitiu. Mais uma das coisas que Robert me impedira de viver.
Porém, não era nenhuma das duas que faziam meu celular quase cair da cômoda. O novo aplicativo de relacionamentos estava cheio de notificações. Músicos, modelos, jovens empresários e atores famosos lotavam a minha dm. Cada um deles com uma cantada pior do que a outra em busca de impressionar a herdeira da Enterprises e a mais nova queridinha da mídia.
Comecei a passar mensagem uma por uma. Não tinha nada a perder. Foi então que vi uma mensagem que me chamou atenção. Steve Robson, 25 anos, ator de uma série de TV adolescente que eu sinceramente odiava. Eu já tinha conhecido o cara uma vez, alguns anos atrás, quando ele fez teste para um dos filmes do meu pai. O cabelo escuro e o sorriso molha-calcinha me fizeram responder à mensagem.
S: Oi, ! Nunca achei que você te ver por aqui. Está à procura de algo?
: Oi, Steve! Eu acabei de baixar esse app e confesso que estou um pouco perdida ainda.
S: Imaginei mesmo que você fosse nova. Nunca achei seu Instagram, mesmo depois que você me deixou esperando na chuva.
Ops... Eu tinha esquecido que ele me chamou para sair na época, eu disse de forma irônica que iria, porque era claro que meu pai não deixaria. Eu tinha 19 anos, ficaria apenas o fim de semana na cidade e o garoto achou que eu tinha falado sério e ligou no celular do meu pai perguntando se algo tinha acontecido. Meu pai nunca riu tanto e até deu um papel menor para o garoto por pena. Hoje, Steve já havia conquistado seu espaço no mercado e eu tenho certeza de que ele era grato pela oportunidade que meu pai deu para ele.
Mas, pelo visto, ele ainda não havia superado o meu bolo.
: Eu não tenho rede social. Por um acaso recebi o convite para o Hyna e resolvi tentar. Não é como se eu estivesse comprometida...
S: Então, quer dizer que está em busca de um namorado?
: Eu não colocaria as coisas tão sérias assim...
S: Show! O que acha de a gente sair, então?
Pensei um pouco. Eu não pretendia arrumar um encontro, ou até mesmo uma noite sem compromisso. Porém, sair de casa com certeza iria contra as regras de Robert e ver Steve não seria uma forma ruim de provar que meu pai estava exagerando. Talvez fosse hora de eu tomar as rédeas da minha vida.
: Claro! Que tal hoje? Prometo não te deixar sozinho na chuva de novo.
S: Às 22h no Eiffel Tower. E não vai me deixar sozinho, ein?
Era claro que ele marcaria em um hotel. Aquilo não seria um encontro. Talvez ele tivesse a decência de pagar um jantar, mas, conhecendo atores de Hollywood, as 22:05 eu já estaria nua e as 23 estaria de volta a minha casa. Com sorte, satisfeita com orgasmos e prontinha para uma noite de sono.
: Te vejo mais tarde.
Não era a primeira vez que eu visitava o Eiffel Tower. O hotel tentava imitar tudo que vinha de Paris de uma forma extremamente estereotipara e, se me permitem dizer, cheia de mal gosto. Entretanto, aquela era a primeira vez que eu ia ficar em um dos quartos.
Steve me esperava na porta, já com a chave magnética em mãos. Ele vestia uma calça jeans que modelava os músculos da sua perna e um suéter amarelo por cima de uma camisa social que o deixava mais jovem do que de fato era. Se eu não o conhecesse melhor, poderia até mesmo pensar que ele era um galã de cinema saindo de uma revista dos anos 1990. Entretanto, assim que Steve sorriu para mim, lembrei que não poderia ser vista com ele em público. A última coisa que eu precisava era outro boato estampado nos portais de notícia.
— Você veio, ! — O sorriso com covinha me fez corar, um charme que deveriam ensinar nas escolas de atuação porque não havia outra explicação para ele.
— Oi, Steve! — Parei rapidamente ao lado dele, apenas para pegar a chave da sua mão tentando ser o mais discreta possível. — Me encontra lá em cima.
No caminho, eu decidi que não estava com saco para um jantar e conversas sem importância quando nós dois tínhamos ido até ali com um único objetivo. Meu estômago ainda estava embrulhado da tentativa de jantar mais cedo.
Entrei no elevador sozinha, apertei o botão para o sétimo andar e prendi meu cabelo em um rabo de cabalo. A musiquinha estava me irritando e confesso que comecei a pensar o real motivo de estar ali. Eu não era fã de sexo casual, Steve não seria minha primeira opção para isso, mas, ainda assim, tinha dito sim. Estava ali para provar um ponto a mim mesma. Provar que eu poderia fazer algo fora da minha zona de conforto e me divertir no processo.
Abri a porta do quarto e a deixei encostada, sabendo que Steve não demoraria. Mantive as luzes apagadas e deixei minha bolsa na poltrona. Comecei a abrir os botões do meu cardigã cinza que havia colocado por cima do vestido rosa. Eu não era de usar vestido, mas se estávamos na chuva era para molhar e não custava me arrumar um pouquinho.
— Você está linda hoje. — Steve sussurrou no meu ouvido, abraçando a minha cintura por trás e distribuindo beijos no meu pescoço. Lentamente ele puxou o meu casaco para o chão e o meu vestido não demorou para acompanhá-lo.
Me virei para ele e, com as mãos na sua nuca, o beijei. Deslizei meus dedos pelos seus fios escuros e macios, arfando quando ele agarrou minha bunda. Senti sua ereção em sua calma e mordi seu lábio inferior separando o beijo apenas para puxar seu suéter e camisa.
— Alguém anda malhando, hein? — Ele sorriu com meu elogio e voltou a me beijar, dessa vez sem nenhum tipo de delicadeza ou pudor.
Steve foi andando comigo até a cama e me jogou no centro do colchão, ainda de calcinha e sutiã. Rapidamente tirei a parte debaixo enquanto ele se despia. Fazia anos que eu não via Steve e os músculos com certeza haviam feito diferença. O abdome definido, as cochas grossas e tive que morder o lábio quando vi seu pau. Aquilo sim era algo digno das revistas de fofoca.
Comecei a me tocar enquanto ele, já nu, buscava a camisinha. Os músculos das suas costas me faziam salivar. Queria que ele se deitasse ao meu lado e me deixasse lamber cada pedacinho desse corpo.
— Já começou sem mim, ? — A voz dele estava grossa enquanto ele se deitava sobre mim.
Primeiro beijou meus lábios, um beijo rápido e casto, e começou a distribuir pequenos beijinhos e lambidas pelo meu pescoço e tronco. Quando chegou entre minhas pernas, afastou minhas coxas antes de ir com a língua no ponto sensível que pulsava para ele.
Porém, Steve acertou tudo, menos aquele lugarzinho especial. Olhei para o teto quando comecei a ficar entediada com sua língua, pensando em tudo menos que deveria gozar. Talvez com o pau ele fosse melhor, afinal o dele era consideravelmente avantajado.
— Steve, entra em mim. Por favor... — Falei com o tom mais sensual que consegui, apesar de ser completamente fingimento. Pelo visto sua língua só servia para falar merda.
— Tá apressada, linda? — Ele sussurrou no meu ouvido, beijando meu pescoço e novamente senti arrepios. Talvez o clima não estivesse tão perdido assim.
Puxei ele para os meus lábios enquanto entrelaçava minha perna em sua cintura. Seu pau roçava minha entrada, mas ele estava lento demais para o meu gosto. Desci uma mão entre nossos corpos e comecei a masturbá-lo lentamente, antes de encaixa-lo em mim.
— Me fode, Steve.
— Agora. — Ele me beijou novamente enquanto entrava lentamente em mim. O movimento de vai e vem estava lento. Arranhei as costas dele e apertei sua bunda, aproximando ainda mais nossos corpos.
— Mais rápido.
Ele aumentou a velocidade, mas estava longe do ideal. Com pouco tempo eu estava entediada novamente e segui encarando o teto por alguns minutos quando escutei ele gemendo, enfim chegando ao orgasmo. Fingi um gemido para que ele não perguntasse, mas eu não tinha chegado nem perto.
Ele saiu de dentro de mim e se jogou na cama ofegante, sem nem mesmo perceber que eu não havia gozado.
— Foi bom para você? — Perguntou de olhos fechados.
— Aham. — Falei sem emoção.
Quando me dei conta, Steve já havia virado para o lado e estava dormindo. Me levantei e fui ao banheiro me limpar, vesti minhas roupas e em menos de meia hora eu estava na minha cama, completamente frustrada e ainda com tesão.
— , só você mesma para ter uma noite péssima com um cara daqueles. — Frankie estava sentada no balcão da cozinha da casa que dividia com Ana. Assim que acordei no dia seguinte, liguei para as meninas e pedi para passar o dia com elas. Frankie me buscou e no caminho compramos donuts e, é claro, café gelado, no Dunkin Donuts.
Agora eu tomava o meu segundo copo de iced coffe enquanto contava para as meninas do fracasso que tinha sido a noite com Steve. Depois que cheguei em casa precisei do meu amigo vibrador para conseguir dormir.
— Puta que pariu, viu? O homem lindo daquele e péssimo!
— Por isso que eu sempre falo. — Ana terminava de bater seu suco verde. Como uma boa vegana, ela reclamava sempre que comprávamos café com leite. Pelo menos havíamos trazido a imitação de donuts vegano que vendia no Dunkin. — Melhor um bom vibrador do que me sujeitar a esse tipo de encontro.
Ana era assumidamente lésbica. Para ela, sexo não era um mais importante em um relacionamento e eu sabia pouquíssimo sobre ex-namoradas dela. Honestamente? A vida sexual das minhas amigas era definitivamente mais normal do que a minha: ou inexistente ou extremamente péssima.
— Mas, , ainda não entendi uma coisa. — Frankie tinha os olhos azuis intensos e o cabelo avermelhado com as ondas soltas que deixava qualquer coisa que ela dizia mais intenso do que era. — Como você encontrou esse cara?
Peguei meu celular no bolso de trás e abri o aplicativo roxo recém instalado no aparelho.
— Recebi um e-mail me convidando para esse app de relacionamento mega exclusivo chamado Hyna. Vocês sabem que nunca liguei para rede social, mas depois da raiva que passei com meu pai, resolvi me dar o direito.
Abri o app e Ana e Frankie se aproximaram de mim olhando a tela do meu celular. Mostrei algumas das mensagens que eu estava ignorando, alguns dos perfis que tinha aparecido para mim e enquanto Frakie dizia que eu deveria responder todo mundo porque não era possível que nenhum desses caras soubessem transar, Ana disse que sexo não era tudo e que da próxima vez eu deveria tentar uma conversa antes de ir para cama com um homem.
— Para falar a verdade, eu acho que vou é excluir o perfil. — Joguei o copo de plástico no lixo, dando de ombros.
— Por quê? — Frankie indagou.
— Eu nunca gostei de rede social, sabe? Amanha começo o trabalho novo com meu pai e duvido que terei tempo com ele grudado em mim o dia inteiro. — O choque de realidade finalmente estava começando a chegar. A liberdade que eu sempre sonhei estava cada dia mais longe de acontecer.
— , mais um motivo para você não excluir o app! Onde você vai conhecer gente nova se Tio Robert não te deixa sair? — Frankie tinha um bom ponto.
— Eu acho que você deveria ver isso aqui antes de decidir qualquer coisa. — Ana arregalou os olhos com o celular em mãos. Franzi a testa ao me aproximar sem entender por que justamente Ana estaria de acordo com aquela loucura.
Peguei o aparelho enquanto as duas me olhavam com olhos arregalados. Quando olhei para tela, entendi o motivo do susto. tinha acabado de dar match comigo.
Capítulo 2
Quando a gente é criança, idealizamos o tipo de vida que queremos para gente. Muitas vezes nos baseamos nos nossos pais, seja desejando as partes positivas ou querendo correr das negativas. Desde os nove anos eu tinha certeza que não queria trabalhar com moda. Trocas de roupas, maquiagens, viagens constantes. Sempre que eu ia com minha mãe para alguma locação e observava de perto o que era uma rotina de uma modelo, eu sabia que não queria aquilo para mim, mesmo que à medida que eu fui crescendo, eu ficasse mais parecida com minha mãe a cada dia.
Mas isso não era uma verdade. Talvez meus cabelos loiros e as sobrancelhas grossas fossem semelhantes, mas meu nariz arrebitado e os olhos castanhos eu tinha herdado do meu pai. Assim como sua paixão pela ficção. Meu pai havia me apresentado a magia do cinema. Como um diálogo, com a luz, composição e trilha sonora correta poderia se transformar em uma cena emocionante. Como personagens ganhavam vidas e, principalmente, a paixão por contar histórias.
Não consigo me lembrar uma época na minha vida em que eu não estivesse criando histórias. Às vezes contanto para minhas bonecas, ou escrevendo mini roteiros para mostrar ao meu pai. Aos 13 anos, conheci a magia das fanfics. De repente, minhas noites de fim de semana passaram a ser mais coloridas recheadas de histórias sobre mundo que existiam apenas na minha cabeça.
Porém, por mais criativa que eu pudesse ser, nada havia me preparado para aquela mensagem.
— ? — Escutei a voz de Frankie à distância, mesmo ela estando ao meu lado. Aquela notificação não fazia sentido. O cabelo loiro, os olhos azuis e o sorriso no rosto da foto do Hyna deveria ser fake. Eu tinha quase certeza que namorava. Porém aquele app era extremamente privado e seletivo.
— Amiga, fecha a boca senão mosca vai entrar. — Ana falou tomando um gole da sua garrafinha d'agua e só então percebi que estava boquiaberta.
Eu havia crescido entre estrelas de Hollywood, atores ganhadores de Oscas, sets de filmagens e desfiles de passarela. Mas, como toda garota, eu tinha um crush famoso. Havia crescido admirando à distância. Cada filme, cada série, cada episódio que eu assistia escondido no meu quarto nas sextas à noite. Porém, nunca, nem nos meus sonhos mais iludidos de adolescente, pensei que poderia conhecê-lo.
Nem mesmo nas fanfics que escrevia na época do colégio ele era protagonista. Era algo tão distante que precisei travar o celular e ir até a pia jogar água na cara, arrancando risadas de Frankie e olhares preocupados de Ana.
— , você está bem? — Ana segurou meu ombro, segurando um riso.
— Estou. — Finalmente consegui falar. — Gente, deve ser um fake.
— Fake no Hyna? Impossível. — Frankie falou pegando meu celular e destravando a tela. Naquele momento eu estava odiando a ideia idiota que tivemos dez anos atrás de colocar a mesma senha nos nossos celulares.
— Frankie, o que você vai fazer? — Corri para seu lado da bancada quando vi ela digitando.
— Vou responder ele, ué.
— FRANKIE!
[]: Hello, Darling! Seja bem-vinda ao Hyna.
— Como ele sabe que estou entrando agora nesse app? — Perguntei para Frankie.
— Alguns perfis são VIPs e eles tem acesso a informações adicionais como data que a pessoa criou o perfil. Faz sentido ser um deles. — Frankie deu de ombros enquanto apertava enviar.
[]: Hey, . Muito obrigada. Não esperava te encontrar por aqui.
— Desde quando isso é um flerte? — Ana reclamou por cima do ombro da Frankie e pegou o celular para si.
[]: Sabe como é, às vezes são nos lugares mais improváveis que se encontra o que estava procurando.
— Isso sim é um flerte! — Ana gritou enquanto digitava no meu celular.
[]: E às vezes o que nem sabíamos que procurávamos.
[]: Precisamente.
— Tá bom, chega disso aí. Ele está falando comigo, não com vocês. — Peguei meu celular de volta, ainda sem saber o que fazer e odiando o quanto era péssima em puxar assunto.
— , ele não está no novo filme do seu pai? — Frankie estava com o seu computador aberto na página do google, pesquisando o nome do .
— Não que eu saiba, ou pelo menos papai não me falou nada. Ele sabe o quanto sou fã do . — Frankie abriu a boca, mas a interrompi. — Não quero saber Frankie. Vou fingir que ele é mais um cara qualquer e me recuso a pesquisar o nome dele. Capaz que já sei mais coisa do que deveria sobre .
De repente todo o cansaço de uma noite mal dormida e o stress do dia anterior bateu. Eu amava minhas amigas, mas eram momentos como aqueles que eu me sentia mil anos luz atrás delas. Sei que nem Frankie nem Ana caíram na minha justificativa que estava com dor de cabeça, mas foi a única coisa que consegui pensar para ir embora pouco antes da hora do almoço.
Felizmente, quando abri a porta de casa, ela estava vazia. Fui até a gaiola do meu furão, o Draco, e peguei meu bichinho no colo. Ele era meu melhor amigo desde que eu tinha voltado para L.A. Na verdade, Draco tinha sido uma das formas do meu pai me convencer a ficar em casa. Depois de trocar a água dele, passei na cozinha para pegar uma água com gás e esquentei um resto de comida do jantar da noite anterior. Me tranquei no quarto com todo o suprimento necessário para me esconder pelo resto do dia: água, comida e Draco. Em alguns dias um companheiro felpudo era tudo que a gente precisava. Não fazia ideia de quanto tempo meus pais ficariam fora e eu ainda não estava com vontade de conversar com eles.
Peguei meu celular para colocar no carregador quando vi outra notificação do Hyna. Não era meu plano deixar no vácuo, mas eu não fazia ideia do que poderíamos conversar. De novo, tinha um motivo para eu estar solteira e só me envolver com caras babacas.
[]: Então, seu rosto finalmente saiu nos tabloides e você escolheu justo um app de relacionamentos para estrear as redes sociais?
Abri um sorriso involuntário. Eu não fazia ideia que ele sabia quem eu era muito menos que tinha prestado atenção nas notícias. Ou talvez isso não fosse algo tão bom assim. Teoricamente eu não posso contar para ninguém o que está acontecendo no processo.
[]: Na verdade, cheguei em casa e o Hyna tinha me mandado um e-mail. Achei que uma rede privada e desconhecida para Robert seria melhor que o Instagram.
Eu deitei na cama, me acomodando entre meus travesseiros e esquecendo totalmente a comida que tinha trazido. Parei de pensar sobre o que estava falando e apenas tentei ser eu mesma, repetindo como um mantra em minha mente que era apenas mais um garoto qualquer.
[]: é tão rigoroso assim?
[]: Ele é protetor. Não reclamei disso quando pude me mudar para o Arizona para estudar, porém precisei voltar para L.A. depois que formei.
[]: E então os paparazzi não te deixa mais em paz.
[]: Nem meu pai! HAHA
Escutei o portão da garagem abrindo e mordi o lábio. Já eram duas da tarde e nem percebi o tempo passado. Era cedo para meus pais estarem voltando de um almoço de confraternização, então talvez os dois só tivessem saído para um date. Das muitas críticas que eu tinha a eles, essa definitivamente não era uma delas. Após 30 anos juntos eles ainda faziam questão de saírem apenas os dois, como namorados adolescentes.
[]: E quem é esse cachorrinho na sua foto de perfil?
Assustei com a notificação e franzi o cenho. Tinha esquecido completamente de qual foto de perfil estava usando no aplicativo.
[]: É o Salsicha, cachorrinho dos pais da Frankie, minha amiga.
[]: Às vezes eu penso que cachorros são melhores do que humanos.
[]: Eu tenho certeza disso! Animais no geral, na verdade. Eu tenho um furão e na maioria dos dias ele é um melhor companheiro que minhas amigas.
O Draco estava deitado ao meu lado e não resisti em fazer um cafuné nele. Diziam que furões eram hiperativos e, de fato, meu bichinho tinha momentos agitados. Porém, ele parecia saber quando eu estava precisando de um companheirinho e simplesmente ficava ao meu lado, me permitindo acaricia-lo e mimá-lo.
[]: Não acredito que você tem um furão!
Mandei uma selfie com o Draco ao meu lado e sorri para como a foto havia ficado bonitinha.
[]: Bebê Draco.
Os três pontinhos mostravam que estava digitando e segurei o celular com mais força, ansiosa pela resposta. Eu nunca gostei de flertar e, obviamente, era péssima naquilo. Sempre fui horrível com cantadas, indiretas e, na maioria das vezes, nas diretas também.
Nunca ter tido redes sociais não ajudava em nada na minha falta de experiência. Para completar, aqueles segundos dos quais precisávamos aguardar a resposta pareciam uma eternidade e, quando a mensagem enfim chegava na tela do celular, o coração estava disparado e o nó no estômago não me deixava ler direito.
Quando a mensagem enfim chegou, Draco saiu correndo da cama pelo barulho da minha gargalhada.
[]: Me diz que você já teve certeza que é mesmo um furão e não um bruxo enfeitiçado.
[]: Eu tenho certeza que é só um furão HAHAHAHAH
[]: Ufa! Por um momento fiquei preocupado.
[]: Mas boa escolha de nome. Você tem bom gosto, .
[]: Obrigada!
[]: imagem
[]: Meu anjo da guarda animal.
A imagem com certeza também tinha sido tirada agora. Ele estava deitado no sofá, usando um boné cinza virado para trás. Ao seu lado estava a famosa labrador chocolate dele. O cachorrinho olhava para ele sem entender enquanto tinha um sorriso doce em seus lábios. Meus olhos encheram de lágrimas ao ver aquela foto e saber o significado por trás dela. Ou pelo menos o que conhecíamos pela internet.
[]: Essa é a cadela mais linda do mundo!
[]: Haha concordo.
Passei o resto da tarde trocando mensagens com , falando sobre trabalho, um pouco sobre família, livros favoritos e quais músicas não parávamos de ouvir. Ele admitiu que também odiava a forma como a mídia lidava com a fama e que tinha inveja do que meu pai fizera por mim, me mantendo longe dos holofotes por tantos anos.
Perguntei para ele como ele lidava com isso e ele apenas disse que fazia de tudo para ter controle do que saía, ao menos nos veículos tradicionais. Produzir seu próprio conteúdo era uma estratégia curiosa e que estava funcionando, já que quase ninguém sabia sobre sua vida privada.
Já estava escurecendo quando ele resolveu começar um jogo de verdade ou desafio e, quando me dei conta, passamos duas horas trocando fotos com as roupas mais bizarras que tínhamos no guarda roupa. Eu não fazia ideia da última vez que tinha me divertido tanto, principalmente com alguém que não fosse do meu círculo pessoal. De alguma forma, eu sentia que me conhecia. Em apenas uma tarde conversando por aplicativo ele já havia me tirado mais da minha zona de conforto do que eu mesa fui capaz nos últimos cinco anos.
Não queria que aquele dia terminasse. Havia me esquecido totalmente da vida real. O trabalho que começava no dia seguinte, a briga com meus pais e Dan Morison quando escutei batidas leves na minha porta e assustei, parando de rir instantaneamente.
— , posso entrar? — Meu pai falou baixo, o tom de voz dele totalmente diferente do que ele tinha ontem. Me levantei e destranquei a porta.
— Claro. — Disse ao voltar para cama e me sentar de pernas cruzadas.
Ele vestia um blazer vinho por cima da camiseta branca e calça jeans e isso significava que ele tinha ido a uma reunião. Meu pai não se arrumava a não ser que fosse negócios. Robert estava com uma ruga de preocupação na testa. Ele se sentou na beirada da minha cama, e eu só queria gritar para ele falasse logo o que quer que fosse a razão para ele estar ali.
— Eu tenho que te pedir desculpas. — De tudo que pensei em ouvir, aquelas eram as últimas palavras. — Entrei em contato com nosso advogado e descobri quem enviou aquelas fotos. Morison mandou um paparazzi te seguir, sabendo que te expor seria a melhor forma de me atingir. Eu sinto muito.
Seu olhar estava no meu tapete felpudo ao lado da cama. Eu mesma não conseguia encará-lo.
— Tudo bem, pai. — Dei de ombros. Não estava tudo bem, mas eu sabia o quanto ele estava se esforçando para estar ali. — Só... Da próxima vez escuta o que eu tenho para te dizer. Você sabe muito bem como a mídia funciona.
Ele assentiu enquanto pegava algo do seu bolso, e finalmente me encarou com um pequeno embrulho.
— Não era apenas lhe pedir desculpas. Eu também queria te entregar isso. Sei que o trabalho no set não é o que você sonhou, , mas eu estou muito orgulhoso de você.
Foi minha vez de franzir a testa, sem entender o que ele queria dizer. Havia sido ele quem me convocou para esse trabalho depois de eu ter levado "não" de todos os jornais para onde havia mandado currículo. Peguei o pacotinho e rasguei a embalagem.
Era um objeto pequeno que cabia na palma da minha mão e demorei a entender o que era.
— Um telefone de ouvido? — Era a coisa mais anos 2000 que eu já tinha visto. Honestamente não conseguia ver nenhuma utilidade em um daquele. Acho que nunca tinha visto um aparelhinho desses fora das telas de cinem... — As pessoas usam mesmo isso no set de filmagens?
— Mais rápido do que você imagina vai aprender como ter as mãos livres é essencial em um set. — Ele estivou a mão para a minha e estranhei. Fazia muito tempo que meu pai não era carinhoso assim comigo. — Filha, de novo, eu sei que não é o que você desejava, mas eu te conheço e também sei que você vai se esforçar todos os dias para fazer um trabalho espetacular. Não é um trabalho fácil e te peço para ter muita paciência. Esse é o primeiro filme independente que vou dirigir fora da Enterprises e eu não poderia ter escolhido uma pessoa melhor para ser minha assistente. Mas, no momento que entrarmos no set, quero que você saiba que vou exigir de você tanto quanto exijo de outros funcionários. Seja educada sempre, se possível com um sorriso no rosto e...
— Pai, eu acho que você teve 25 anos para me ensinar regras de educação. — Eu sorri para ele, o tranquilizando.
— Eu sei e eu confio em você. — Ele se levantou e deixou um beijo na minha testa. — Nos vemos amanhã, então.
— Que horas você quer sair? — Perguntei quando ele se aproximou da porta.
— Eu gosto de ser o primeiro a chegar. Às sete é muito cedo? — Ele franziu o cenho, já sabendo a minha resposta.
— É! — As filmagens em si começariam apenas às 11 e não fazia sentido chegar tão cedo. Mas da mesma forma que eu, Robert era perfeccionistas e cheio de manias. — Mas estarei acordada às 6:30.
Ele desejou boa noite e saiu fechando a porta. Peguei meu celular com o coração mais leve. Meu relacionamento com meus pais tinha altos e baixos, mas eu sempre sentia uma pontinha de esperança quando eles me enxergavam. Não apenas vendo , mas vendo apenas a . Uma garota que ainda tinha muito o que aprender, mas estava tentando.
Abri o Hyna e avisei a que iria dormir e desejei boa sorte no seu novo trabalho. Aparentemente, aquela nova semana estava começando cheia de novidades para todo mundo.
...
O sol já estava alto nas ruas de Los Angeles quando saímos de casa. Meu pai aceitou passar em um Dunkin' Donuts porque sabia que eu não sobreviveria um dia seu meu café gelado. Por fim, acabamos comprando uma caixa enorme com donuts para a equipe.
— Todo mundo gosta de ser valorizado, . Em um set as coisas podem ser divertidas, mas também podem ficar tensas com uma palavra dita do jeito errado.
Eu apenas assenti, mordendo meu donuts açucarado de morango. Já tinha escutado diversas histórias do meu pai e de outros artistas de como o trabalho poderia ser infernal se todos não colaborassem.
Todo filme tem uma estrela. Um protagonista. Um ator que de uma forma ou de outra se sobressai. Entretanto, para chegar àquela versão final nos cinemas, é preciso um trabalho em equipe dos quais todos precisam fazer concessões. Minha função no set seria garantir que meu pai tinha todo o equipamento necessário para criar, marcar os horários de filmagens e gerenciar toda uma equipe que envolvia maquiagem, atores e atrizes, cenário e, é claro, roteirista.
Não seria a primeira vez que eu trabalharia com meu pai, mas era a primeira vez que eu estaria presente em todas as etapas da direção do filme. Antes de sair de casa, papai me entregou o roteiro que eu passava as folhas tentando entender sobre o que se tratava. Quem não tem o habito de ler roteiros pode se sentir confuso quando tem contato com aquele texto pela primeira vez.
Apesar de algumas descrições de cenários existirem, um roteiro está mais centrado nas ações, e, é claro, nas falas dos personagens. O roteirista pode apontar alguma locação para onde se passa a cena, mas os detalhes, a luz, cores e figurino, são responsabilidade de outras equipes.
A maior diferença entre ler um livro e ler um roteiro é entender que, no roteiro, não há uma ambientação. É como se um escritor fosse a junção de um roteirista e um diretor: um fala sobre o enredo, as falas, as ações, o outro compõe as cenas, a atmosfera e conduz os personagens pela história.
Quando estávamos quase chegando no set, uma hora depois de ter saído de casa, eu começava a entender do que se tratava o filme. Era uma história que misturava viagem no tempo, faroeste e um casal que se odiava, mas que no final ficava junto. Não falei nada, mas Robert teria que se desdobrar para que aquela história fizesse sentido.
— Confuso, né? — Meu pai percebeu como eu havia ficado calada no caminho.
— Um pouco.
— Não se preocupe. Eu e você seremos criativos o suficiente para fazer esse filme dar certo.
Descemos do carro e o segui até o trailer central, onde aconteceria as primeiras reuniões do dia, carregando a enorme caixa de donuts. Meu pai gostava de participar de tudo, até mesmo das áreas que não eram especialidades dele como figurino e maquiagem. Porém, apesar do que poderia parecer, nunca vi ninguém reclamar de Robert , pelo contrário, todos adoravam trabalhar com ele.
— — Papai parou antes de abrir a porta do trailer e se virou para mim. — Eu espero que você não fique brava comigo, mas tinha um motivo para eu te convidar para trabalhar comigo e eu tenho certeza que você vai gostar.
Ele ajustou o boné azul marinho que eu usava por cima do meu cabelo trançado antes de abrir a porta. E então eu o vi. estava parado no meio do trailer, com um copo de café na mão e o script na outra.
Mas isso não era uma verdade. Talvez meus cabelos loiros e as sobrancelhas grossas fossem semelhantes, mas meu nariz arrebitado e os olhos castanhos eu tinha herdado do meu pai. Assim como sua paixão pela ficção. Meu pai havia me apresentado a magia do cinema. Como um diálogo, com a luz, composição e trilha sonora correta poderia se transformar em uma cena emocionante. Como personagens ganhavam vidas e, principalmente, a paixão por contar histórias.
Não consigo me lembrar uma época na minha vida em que eu não estivesse criando histórias. Às vezes contanto para minhas bonecas, ou escrevendo mini roteiros para mostrar ao meu pai. Aos 13 anos, conheci a magia das fanfics. De repente, minhas noites de fim de semana passaram a ser mais coloridas recheadas de histórias sobre mundo que existiam apenas na minha cabeça.
Porém, por mais criativa que eu pudesse ser, nada havia me preparado para aquela mensagem.
— ? — Escutei a voz de Frankie à distância, mesmo ela estando ao meu lado. Aquela notificação não fazia sentido. O cabelo loiro, os olhos azuis e o sorriso no rosto da foto do Hyna deveria ser fake. Eu tinha quase certeza que namorava. Porém aquele app era extremamente privado e seletivo.
— Amiga, fecha a boca senão mosca vai entrar. — Ana falou tomando um gole da sua garrafinha d'agua e só então percebi que estava boquiaberta.
Eu havia crescido entre estrelas de Hollywood, atores ganhadores de Oscas, sets de filmagens e desfiles de passarela. Mas, como toda garota, eu tinha um crush famoso. Havia crescido admirando à distância. Cada filme, cada série, cada episódio que eu assistia escondido no meu quarto nas sextas à noite. Porém, nunca, nem nos meus sonhos mais iludidos de adolescente, pensei que poderia conhecê-lo.
Nem mesmo nas fanfics que escrevia na época do colégio ele era protagonista. Era algo tão distante que precisei travar o celular e ir até a pia jogar água na cara, arrancando risadas de Frankie e olhares preocupados de Ana.
— , você está bem? — Ana segurou meu ombro, segurando um riso.
— Estou. — Finalmente consegui falar. — Gente, deve ser um fake.
— Fake no Hyna? Impossível. — Frankie falou pegando meu celular e destravando a tela. Naquele momento eu estava odiando a ideia idiota que tivemos dez anos atrás de colocar a mesma senha nos nossos celulares.
— Frankie, o que você vai fazer? — Corri para seu lado da bancada quando vi ela digitando.
— Vou responder ele, ué.
— FRANKIE!
[]: Hello, Darling! Seja bem-vinda ao Hyna.
— Como ele sabe que estou entrando agora nesse app? — Perguntei para Frankie.
— Alguns perfis são VIPs e eles tem acesso a informações adicionais como data que a pessoa criou o perfil. Faz sentido ser um deles. — Frankie deu de ombros enquanto apertava enviar.
[]: Hey, . Muito obrigada. Não esperava te encontrar por aqui.
— Desde quando isso é um flerte? — Ana reclamou por cima do ombro da Frankie e pegou o celular para si.
[]: Sabe como é, às vezes são nos lugares mais improváveis que se encontra o que estava procurando.
— Isso sim é um flerte! — Ana gritou enquanto digitava no meu celular.
[]: E às vezes o que nem sabíamos que procurávamos.
[]: Precisamente.
— Tá bom, chega disso aí. Ele está falando comigo, não com vocês. — Peguei meu celular de volta, ainda sem saber o que fazer e odiando o quanto era péssima em puxar assunto.
— , ele não está no novo filme do seu pai? — Frankie estava com o seu computador aberto na página do google, pesquisando o nome do .
— Não que eu saiba, ou pelo menos papai não me falou nada. Ele sabe o quanto sou fã do . — Frankie abriu a boca, mas a interrompi. — Não quero saber Frankie. Vou fingir que ele é mais um cara qualquer e me recuso a pesquisar o nome dele. Capaz que já sei mais coisa do que deveria sobre .
De repente todo o cansaço de uma noite mal dormida e o stress do dia anterior bateu. Eu amava minhas amigas, mas eram momentos como aqueles que eu me sentia mil anos luz atrás delas. Sei que nem Frankie nem Ana caíram na minha justificativa que estava com dor de cabeça, mas foi a única coisa que consegui pensar para ir embora pouco antes da hora do almoço.
Felizmente, quando abri a porta de casa, ela estava vazia. Fui até a gaiola do meu furão, o Draco, e peguei meu bichinho no colo. Ele era meu melhor amigo desde que eu tinha voltado para L.A. Na verdade, Draco tinha sido uma das formas do meu pai me convencer a ficar em casa. Depois de trocar a água dele, passei na cozinha para pegar uma água com gás e esquentei um resto de comida do jantar da noite anterior. Me tranquei no quarto com todo o suprimento necessário para me esconder pelo resto do dia: água, comida e Draco. Em alguns dias um companheiro felpudo era tudo que a gente precisava. Não fazia ideia de quanto tempo meus pais ficariam fora e eu ainda não estava com vontade de conversar com eles.
Peguei meu celular para colocar no carregador quando vi outra notificação do Hyna. Não era meu plano deixar no vácuo, mas eu não fazia ideia do que poderíamos conversar. De novo, tinha um motivo para eu estar solteira e só me envolver com caras babacas.
[]: Então, seu rosto finalmente saiu nos tabloides e você escolheu justo um app de relacionamentos para estrear as redes sociais?
Abri um sorriso involuntário. Eu não fazia ideia que ele sabia quem eu era muito menos que tinha prestado atenção nas notícias. Ou talvez isso não fosse algo tão bom assim. Teoricamente eu não posso contar para ninguém o que está acontecendo no processo.
[]: Na verdade, cheguei em casa e o Hyna tinha me mandado um e-mail. Achei que uma rede privada e desconhecida para Robert seria melhor que o Instagram.
Eu deitei na cama, me acomodando entre meus travesseiros e esquecendo totalmente a comida que tinha trazido. Parei de pensar sobre o que estava falando e apenas tentei ser eu mesma, repetindo como um mantra em minha mente que era apenas mais um garoto qualquer.
[]: é tão rigoroso assim?
[]: Ele é protetor. Não reclamei disso quando pude me mudar para o Arizona para estudar, porém precisei voltar para L.A. depois que formei.
[]: E então os paparazzi não te deixa mais em paz.
[]: Nem meu pai! HAHA
Escutei o portão da garagem abrindo e mordi o lábio. Já eram duas da tarde e nem percebi o tempo passado. Era cedo para meus pais estarem voltando de um almoço de confraternização, então talvez os dois só tivessem saído para um date. Das muitas críticas que eu tinha a eles, essa definitivamente não era uma delas. Após 30 anos juntos eles ainda faziam questão de saírem apenas os dois, como namorados adolescentes.
[]: E quem é esse cachorrinho na sua foto de perfil?
Assustei com a notificação e franzi o cenho. Tinha esquecido completamente de qual foto de perfil estava usando no aplicativo.
[]: É o Salsicha, cachorrinho dos pais da Frankie, minha amiga.
[]: Às vezes eu penso que cachorros são melhores do que humanos.
[]: Eu tenho certeza disso! Animais no geral, na verdade. Eu tenho um furão e na maioria dos dias ele é um melhor companheiro que minhas amigas.
O Draco estava deitado ao meu lado e não resisti em fazer um cafuné nele. Diziam que furões eram hiperativos e, de fato, meu bichinho tinha momentos agitados. Porém, ele parecia saber quando eu estava precisando de um companheirinho e simplesmente ficava ao meu lado, me permitindo acaricia-lo e mimá-lo.
[]: Não acredito que você tem um furão!
Mandei uma selfie com o Draco ao meu lado e sorri para como a foto havia ficado bonitinha.
[]: Bebê Draco.
Os três pontinhos mostravam que estava digitando e segurei o celular com mais força, ansiosa pela resposta. Eu nunca gostei de flertar e, obviamente, era péssima naquilo. Sempre fui horrível com cantadas, indiretas e, na maioria das vezes, nas diretas também.
Nunca ter tido redes sociais não ajudava em nada na minha falta de experiência. Para completar, aqueles segundos dos quais precisávamos aguardar a resposta pareciam uma eternidade e, quando a mensagem enfim chegava na tela do celular, o coração estava disparado e o nó no estômago não me deixava ler direito.
Quando a mensagem enfim chegou, Draco saiu correndo da cama pelo barulho da minha gargalhada.
[]: Me diz que você já teve certeza que é mesmo um furão e não um bruxo enfeitiçado.
[]: Eu tenho certeza que é só um furão HAHAHAHAH
[]: Ufa! Por um momento fiquei preocupado.
[]: Mas boa escolha de nome. Você tem bom gosto, .
[]: Obrigada!
[]: imagem
[]: Meu anjo da guarda animal.
A imagem com certeza também tinha sido tirada agora. Ele estava deitado no sofá, usando um boné cinza virado para trás. Ao seu lado estava a famosa labrador chocolate dele. O cachorrinho olhava para ele sem entender enquanto tinha um sorriso doce em seus lábios. Meus olhos encheram de lágrimas ao ver aquela foto e saber o significado por trás dela. Ou pelo menos o que conhecíamos pela internet.
[]: Essa é a cadela mais linda do mundo!
[]: Haha concordo.
Passei o resto da tarde trocando mensagens com , falando sobre trabalho, um pouco sobre família, livros favoritos e quais músicas não parávamos de ouvir. Ele admitiu que também odiava a forma como a mídia lidava com a fama e que tinha inveja do que meu pai fizera por mim, me mantendo longe dos holofotes por tantos anos.
Perguntei para ele como ele lidava com isso e ele apenas disse que fazia de tudo para ter controle do que saía, ao menos nos veículos tradicionais. Produzir seu próprio conteúdo era uma estratégia curiosa e que estava funcionando, já que quase ninguém sabia sobre sua vida privada.
Já estava escurecendo quando ele resolveu começar um jogo de verdade ou desafio e, quando me dei conta, passamos duas horas trocando fotos com as roupas mais bizarras que tínhamos no guarda roupa. Eu não fazia ideia da última vez que tinha me divertido tanto, principalmente com alguém que não fosse do meu círculo pessoal. De alguma forma, eu sentia que me conhecia. Em apenas uma tarde conversando por aplicativo ele já havia me tirado mais da minha zona de conforto do que eu mesa fui capaz nos últimos cinco anos.
Não queria que aquele dia terminasse. Havia me esquecido totalmente da vida real. O trabalho que começava no dia seguinte, a briga com meus pais e Dan Morison quando escutei batidas leves na minha porta e assustei, parando de rir instantaneamente.
— , posso entrar? — Meu pai falou baixo, o tom de voz dele totalmente diferente do que ele tinha ontem. Me levantei e destranquei a porta.
— Claro. — Disse ao voltar para cama e me sentar de pernas cruzadas.
Ele vestia um blazer vinho por cima da camiseta branca e calça jeans e isso significava que ele tinha ido a uma reunião. Meu pai não se arrumava a não ser que fosse negócios. Robert estava com uma ruga de preocupação na testa. Ele se sentou na beirada da minha cama, e eu só queria gritar para ele falasse logo o que quer que fosse a razão para ele estar ali.
— Eu tenho que te pedir desculpas. — De tudo que pensei em ouvir, aquelas eram as últimas palavras. — Entrei em contato com nosso advogado e descobri quem enviou aquelas fotos. Morison mandou um paparazzi te seguir, sabendo que te expor seria a melhor forma de me atingir. Eu sinto muito.
Seu olhar estava no meu tapete felpudo ao lado da cama. Eu mesma não conseguia encará-lo.
— Tudo bem, pai. — Dei de ombros. Não estava tudo bem, mas eu sabia o quanto ele estava se esforçando para estar ali. — Só... Da próxima vez escuta o que eu tenho para te dizer. Você sabe muito bem como a mídia funciona.
Ele assentiu enquanto pegava algo do seu bolso, e finalmente me encarou com um pequeno embrulho.
— Não era apenas lhe pedir desculpas. Eu também queria te entregar isso. Sei que o trabalho no set não é o que você sonhou, , mas eu estou muito orgulhoso de você.
Foi minha vez de franzir a testa, sem entender o que ele queria dizer. Havia sido ele quem me convocou para esse trabalho depois de eu ter levado "não" de todos os jornais para onde havia mandado currículo. Peguei o pacotinho e rasguei a embalagem.
Era um objeto pequeno que cabia na palma da minha mão e demorei a entender o que era.
— Um telefone de ouvido? — Era a coisa mais anos 2000 que eu já tinha visto. Honestamente não conseguia ver nenhuma utilidade em um daquele. Acho que nunca tinha visto um aparelhinho desses fora das telas de cinem... — As pessoas usam mesmo isso no set de filmagens?
— Mais rápido do que você imagina vai aprender como ter as mãos livres é essencial em um set. — Ele estivou a mão para a minha e estranhei. Fazia muito tempo que meu pai não era carinhoso assim comigo. — Filha, de novo, eu sei que não é o que você desejava, mas eu te conheço e também sei que você vai se esforçar todos os dias para fazer um trabalho espetacular. Não é um trabalho fácil e te peço para ter muita paciência. Esse é o primeiro filme independente que vou dirigir fora da Enterprises e eu não poderia ter escolhido uma pessoa melhor para ser minha assistente. Mas, no momento que entrarmos no set, quero que você saiba que vou exigir de você tanto quanto exijo de outros funcionários. Seja educada sempre, se possível com um sorriso no rosto e...
— Pai, eu acho que você teve 25 anos para me ensinar regras de educação. — Eu sorri para ele, o tranquilizando.
— Eu sei e eu confio em você. — Ele se levantou e deixou um beijo na minha testa. — Nos vemos amanhã, então.
— Que horas você quer sair? — Perguntei quando ele se aproximou da porta.
— Eu gosto de ser o primeiro a chegar. Às sete é muito cedo? — Ele franziu o cenho, já sabendo a minha resposta.
— É! — As filmagens em si começariam apenas às 11 e não fazia sentido chegar tão cedo. Mas da mesma forma que eu, Robert era perfeccionistas e cheio de manias. — Mas estarei acordada às 6:30.
Ele desejou boa noite e saiu fechando a porta. Peguei meu celular com o coração mais leve. Meu relacionamento com meus pais tinha altos e baixos, mas eu sempre sentia uma pontinha de esperança quando eles me enxergavam. Não apenas vendo , mas vendo apenas a . Uma garota que ainda tinha muito o que aprender, mas estava tentando.
Abri o Hyna e avisei a que iria dormir e desejei boa sorte no seu novo trabalho. Aparentemente, aquela nova semana estava começando cheia de novidades para todo mundo.
O sol já estava alto nas ruas de Los Angeles quando saímos de casa. Meu pai aceitou passar em um Dunkin' Donuts porque sabia que eu não sobreviveria um dia seu meu café gelado. Por fim, acabamos comprando uma caixa enorme com donuts para a equipe.
— Todo mundo gosta de ser valorizado, . Em um set as coisas podem ser divertidas, mas também podem ficar tensas com uma palavra dita do jeito errado.
Eu apenas assenti, mordendo meu donuts açucarado de morango. Já tinha escutado diversas histórias do meu pai e de outros artistas de como o trabalho poderia ser infernal se todos não colaborassem.
Todo filme tem uma estrela. Um protagonista. Um ator que de uma forma ou de outra se sobressai. Entretanto, para chegar àquela versão final nos cinemas, é preciso um trabalho em equipe dos quais todos precisam fazer concessões. Minha função no set seria garantir que meu pai tinha todo o equipamento necessário para criar, marcar os horários de filmagens e gerenciar toda uma equipe que envolvia maquiagem, atores e atrizes, cenário e, é claro, roteirista.
Não seria a primeira vez que eu trabalharia com meu pai, mas era a primeira vez que eu estaria presente em todas as etapas da direção do filme. Antes de sair de casa, papai me entregou o roteiro que eu passava as folhas tentando entender sobre o que se tratava. Quem não tem o habito de ler roteiros pode se sentir confuso quando tem contato com aquele texto pela primeira vez.
Apesar de algumas descrições de cenários existirem, um roteiro está mais centrado nas ações, e, é claro, nas falas dos personagens. O roteirista pode apontar alguma locação para onde se passa a cena, mas os detalhes, a luz, cores e figurino, são responsabilidade de outras equipes.
A maior diferença entre ler um livro e ler um roteiro é entender que, no roteiro, não há uma ambientação. É como se um escritor fosse a junção de um roteirista e um diretor: um fala sobre o enredo, as falas, as ações, o outro compõe as cenas, a atmosfera e conduz os personagens pela história.
Quando estávamos quase chegando no set, uma hora depois de ter saído de casa, eu começava a entender do que se tratava o filme. Era uma história que misturava viagem no tempo, faroeste e um casal que se odiava, mas que no final ficava junto. Não falei nada, mas Robert teria que se desdobrar para que aquela história fizesse sentido.
— Confuso, né? — Meu pai percebeu como eu havia ficado calada no caminho.
— Um pouco.
— Não se preocupe. Eu e você seremos criativos o suficiente para fazer esse filme dar certo.
Descemos do carro e o segui até o trailer central, onde aconteceria as primeiras reuniões do dia, carregando a enorme caixa de donuts. Meu pai gostava de participar de tudo, até mesmo das áreas que não eram especialidades dele como figurino e maquiagem. Porém, apesar do que poderia parecer, nunca vi ninguém reclamar de Robert , pelo contrário, todos adoravam trabalhar com ele.
— — Papai parou antes de abrir a porta do trailer e se virou para mim. — Eu espero que você não fique brava comigo, mas tinha um motivo para eu te convidar para trabalhar comigo e eu tenho certeza que você vai gostar.
Ele ajustou o boné azul marinho que eu usava por cima do meu cabelo trançado antes de abrir a porta. E então eu o vi. estava parado no meio do trailer, com um copo de café na mão e o script na outra.
Continua...
Nota da autora: Como boa parte das autoras de fanfic no ano de 2020, essa ideia veio depois de um TikTok. Teremos muitos clichês e eu estou muito animada com essa fic. Depois de 20 anos finalmente resolvi transformar o crush em fanfic. O pp é inspirado no Tom Felton e, apesar de usar o nome dele na interatividade, pretendo criar um personagem original. Sendo assim, esteja livre para ler com quem vocês quiserem! Não deixem de me seguir nas redes sociais para saber quando a fic será atualizada, @jbrennelly tanto no Twitter quanto no Instagram.
Outras Fanfics:
LONGS EM ANDAMENTO:
Illicit Affairs (Restrita/ Livros - Harry Potter)
Malfeito Refeito (Livros/ Harry Potter)
Perfeita Simetria(Original)
Where The Demons Hide (Restrita/ Livros - Harry Potter)
OUTRAS FICS:
I Found Peace in your violence (Shortfic/Harry Potter):
Halloween is just a night (Restrita/Esporte)
The Last Malfoy's Christmas (Shortfic/Harry Potter)
Perfeita Simetria (Restrita/Original - Finalizada)
Nota da beta: O pai dela mal sabe que acabou de dar gasolina para ela! Hahahahha
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Outras Fanfics:
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