Última atualização: 13/02/2023

Capítulo 07

Boa noite, Carlos”.
Uma frase simples, dita de uma forma estranha, incerta. Uma frase que podia ser normal, mas que, naquela noite, não foi para ele. Não depois do que quase tinha acontecido. Não quando ela havia usado o seu primeiro nome, pela primeira vez. Talvez fosse o álcool que consumiu na festa, talvez fosse a bagunça interna de emoções que afloraram depois de beijá-la, talvez fosse a sensação de querer continuar de onde pararam, Carlos não sabia, mas, no minuto que levou entre sair do apartamento de Ricciardo e entrar de novo em seu carro, ele tinha certeza de que estava enlouquecendo.
Sua mente projetava, em lapsos de memória, em segundos, tudo o que tinha acabado de acontecer, as palavras da modelo, a imagem de . E, por um momento, sentado em seu carro sem saber exatamente o que deveria fazer, ele se perguntou se tudo aquilo tinha mesmo acontecido, na realidade, ou se desejava tanto aquilo, naquela noite, que estava sonhando acordado. Carlos se sentia ridículo. Como um adolescente que tinha acabado de beijar, pela primeira vez, a menina por quem se interessava, feliz pelo passo que haviam dado, irritado por terem sido interrompidos, ansioso por descobrir o que aconteceria dali em diante - se é que havia mesmo um adiante.
O piloto não soube dizer exatamente quanto tempo ficou ali, parado diante do prédio, pensando, sozinho, sem saber o que fazer. Mas ele não tardou a ir embora e não reparou que, do oitavo andar, olhava discretamente pela janela, acompanhando o movimento dele. Estava igualmente incerta sobre o que deveria fazer. Parte dela tentava racionalizar o momento, querendo entender o que sentia. Outra parte estava angustiada, querendo correr atrás dele e, sem qualquer hesitação, continuar de onde pararam. Mas, a maior parte dela, a que sempre se recusava a aceitar os fatos, gritava em sua mente que não foi nada demais. Estavam bêbados, passaram dos limites e era aquilo. Nada demais.
Mas, se assim o fosse, por que o cheiro de Carlos parecia ter impregnado na pele dela, por que estava ali, o observando ir embora pela janela e por que, no fundo de seu coração, ela não queria que ele tivesse ido? não sabia a resposta. Decidiu tomar um banho gelado para tirar o calor espanhol de si e sair de vista antes que Daniel e sua companhia chegassem. Rindo sozinha daquela ideia ridícula, se afastou da janela, feliz e frustrada, assim que não mais podia ver o carro dele.
Depois de sair da casa de Ricciardo, Sainz não sentiu mais vontade de voltar para a festa. O que genuinamente lhe interessava nela não estaria mais lá e não estava afim de servir de vela para os outros amigos. Por isso, foi direto de volta para a casa de Charles, querendo desfrutar de sua própria companhia e do silêncio do lugar. Deixou o carro estacionado de qualquer jeito na entrada, tirou seus sapatos na porta da frente e, sem sequer acender as luzes, seguiu até a geladeira, pegando a primeira garrafa de cerveja que encontrou pela frente. Aparentemente estava sozinho e, querendo aproveitar o máximo possível daquele momento, sentou-se em uma cadeira qualquer na beira da piscina, na varanda do apartamento, observando a vista do mar.
Sainz estava pensativo, silencioso. Entre um gole e outro de sua cerveja, tentava explicar para si mesmo o por que provocou , por que queria tanto saber se realmente rolava algo com Daniel. Precisava tirar aquela dúvida de sua mente e não imaginava, nem em seus melhores sonhos, que a modelo tomaria alguma atitude e lhe beijaria. Já tinham sido ousados o suficiente em se beijar na festa, sem mais nem menos, e Carlos só foi perceber o que fazia depois que já estava feito.
A surpresa de ser correspondido o deixou ainda mais caótico, sem entender se estava fazendo aquilo para entrar no personagem que criaram ou se, de fato, queria aquilo. E, depois, não bastasse aquilo, ele transformou toda a bagunça de sua mente em perguntas, cujas respostas deveriam dar a ele certas certezas. Mas não ajudaram muito.
Tudo estava confuso em um nível absurdo. Carlos só conseguia pensar na sensação dos lábios da modelo sobre os seus, as mãos delicadas dela em seu corpo, o jeito que ela reagia a ele, os toques que pareciam ficar mais quentes e mais íntimos a cada segundo. Sainz queria ela. E queria naquela noite. Daquele jeito. Provavelmente, nunca mais esqueceria daquela noite, como não conseguia esquecer de quando apareceu em sua casa, para devolver-lhe o carro. estava presa em sua mente e, dali em diante, Carlos não tinha mais controle algum do que aconteceria entre eles. Parecia que, a cada novo encontro, algo inesperado acontecia e ele mal podia esperar para ver o que viria a seguir.
Perdido nos próprios pensamentos, reparando que já tinha terminado com a garrafa de cerveja, Sainz se levantou de onde estava sentado, indo em busca de uma nova garrafa. Contudo, parou no exato segundo em que colocaria o pé para dentro da sala do apartamento, assim que ouviu o barulho fino da trava eletrônica da porta apitar, avisando que alguém estava entrando na casa. Pensando rápido, já esperando o que viria a seguir, Carlos manteve-se do lado de fora, na área da piscina, escondido atrás de uma das altas colunas que dividiam o espaço interno do externo do apartamento, observando, em silêncio, pela parede de vidro.
A porta foi aberta com delicadeza, dando espaço para Charles entrar em sua casa com . Abraçado de frente com ela, que seguia de costas para Sainz, Charles empurrava a mulher delicadamente para dentro, sussurrando alguma coisa que Carlos não podia ouvir. desceu rapidamente das sandálias de salto que usava, jogando sua bolsa no sofá mais próximo, enquanto Charles fechou a porta com cuidado e tirou seu celular e carteira do bolso. Pareciam não querer fazer barulho algum, mas toda delicadeza do minuto que demoraram para entrar foi completamente esquecida no segundo seguinte.
Assim que Charles deixou seus pertences em cima da bancada na entrada da casa, ele se virou novamente para e, dizendo algo que tirou dela uma risada baixa, a puxou de volta para perto de si e a beijou intensamente. Pelos minutos que pareceram uma eternidade para Sainz, que não conseguia se livrar de assistir a cena sem que atrapalhasse ela, ele se segurava para não rir da situação que tinha se metido. O casal seguiu se beijando na sala da casa do monegasco, dando passos discretos cada vez mais sentido ao quarto dele, sem pressa alguma, aproveitando o momento.
Carlos viu as duas mãos de Charles ir para dentro da saia do vestido que ela usava, em sua bunda, assim que ele a encostou na parede mais próxima e desceu seus beijos pelo pescoço dela. arfava e soltava botão por botão da camisa dele, até a jogar no chão, quebrando o beijo charmoso, o olhando nos olhos com um sorriso provocante. Charles, então, levou suas mãos até o colo dela e, sedutoramente, abaixou as alças do vestido que ela usava, demorando-se ali, acariciando a pele dela, a encarando de frente, até, enfim, voltar a beijá-la com calma, sem pressa alguma, novamente pressionando seu corpo contra o dela na parede.
O espanhol ponderou por um segundo se não deveria mesmo interromper eles e acabar com o filme pornô ao vivo, mas achou que seria sacanagem. Ele era a visita e deveria, ao menos, ter aparecido quando eles chegaram e, mais do que isso, já tinha tido a experiência, naquela mesma noite, de ter o seu momento interrompido, o exato mesmo momento que o casal de amigos tinha ali. Não daria a eles a frustração que estava sentindo desde que se separou de .
Contudo, Carlos não precisou pensar muito mais em como se livrar da cena, porque cinco minutos depois em que se perdeu novamente em seus pensamentos, o barulho de algo caindo no chão chamou atenção não só dele, como do casal. Pela posição em que estavam, Charles tinha esbarrado no quadro pendurado na parede ao lado de onde ele encostou assim que tentou trocar de posição com ela e, sem querer, o quadro tinha caído no chão.

— Cuidado, mi corazón, o Sainz está em casa — Apesar de dito bem baixinho e com a boca encostada na de Charles, Carlos conseguiu ouvir a amiga comentar.
— Eu adoro quando você fala assim — Charles respondeu charmoso. Algo que, definitivamente, Sainz se esforçaria em esquecer.
— Adora que eu diga que o Sainz está em casa? — perguntou em um tom de voz mais alto, sem conter a gargalhada. Cortando completamente o clima entre eles, Charles riu junto com ela, enquanto Carlos cobria a própria boca, rindo, para não ser ouvido.
— Sim, eu fico bastante animado com a presença do Carlos na minha casa — Charles brincou, afastando-se ligeiramente dela, para dar uma olhada rápida no quadro caído. Mais um item quebrado, infelizmente.
— Que pena, achei que ficava mais animado com a minha presença aqui — Manhosa, sem desviar o olhar dele, ela fez um biquinho, dando alguns passos para trás em direção ao corredor que daria aos quartos.
— Preciso pensar no seu caso, ma petite — Charles a encarou novamente, desejosamente, caminhando alguns passos, de frente para ela. Sua calça já estava aberta, os cabelos levemente bagunçados e a respiração descompassada.
— Posso te ajudar a pensar, se você quiser — Sugestiva, Carlos ouviu responder baixo e, no segundo seguinte, deixou o vestido que usava, e que já tinha sido aberto na lateral por Charles minutos antes, cair no chão. Ela trocou um olhar silencioso com Charles por um segundo até, enfim, desaparecer pelo corredor.

Carlos se engasgou com a própria risada que queria soltar, surpreso com a atitude da amiga. De onde estava, conseguiu assistir o que ela tinha feito, de costas para ele. Viu, então, a reação animada de Charles até ele ir atrás dela, como o bom cachorrinho que era por . E fazia muito sentido, agora. Carlos também seria, no lugar dele. Rindo da ideia, ele esperou alguns minutos e, na certeza de que eles não voltariam, finalmente foi buscar sua nova garrafa de cerveja. Estava feliz pelo rumo da coisa toda entre seus amigos e feliz de ver o quanto eram verdadeiramente íntimos um com o outro, a ponto de parar o que faziam, de rir, de brincar em um momento como aquele. Estava satisfeito de ver que e Charles estavam, finalmente, se permitindo ser felizes um com o outro e pareciam felizes, satisfeitos. Mas, certamente, Carlos precisaria de muito álcool para esquecer o que viu deles, ali, naquela noite.
Se lembraria de zoar eles no dia seguinte, e para sempre, por aquele momento e mal podia esperar para ver a cara dos dois quando descobrissem que ele havia visto, parcialmente, o que rolou. Se lembraria também de nunca mais ficar hospedado na casa de Charles. E, mais do que isso, se lembraria de que poderia ter sido ele e naquela noite, daquele jeito, se não tivessem sido interrompidos.
E aquela simples ideia tirou completamente o sono de Carlos.

~ ❤ ~


Ainda era cedo quando Carlos acordou naquela manhã de domingo. Suas costas estavam ridiculamente doloridas e ele descobriu, meio segundo depois de abrir os olhos, o motivo. Tinha dormido na espreguiçadeira na área externa, na beira da piscina de Charles, talvez menos de quatro horas, e, assim que o primeiro raio de sol cortou o céu, já estava acordado. As garrafas de cerveja vazias, que tomou na noite anterior, estavam no chão ao seu redor e ele sentia sua cabeça girar. Não tinha muita noção sobre em qual momento decidiu dormir ali fora, mas se arrependeu profundamente da decisão assim que se forçou a se sentar.
O dia amanhecia quente, novamente, e Carlos podia sentir seu corpo suado, talvez pela noite calorosa, talvez pelos sonhos que teve com . Estava cansado, um pouco agitado, com a mente ansiosa e o corpo quebrado, como um caco de vidro. Precisava se alongar, talvez fazer algum exercício físico o faria se sentir melhor, para aliviar as dores de seu corpo e a angústia de sua mente. Precisava comer, depois de tantas horas só ingerindo álcool, precisava de um banho, precisava conversar com alguém sobre o ocorrido e precisava de .
Passando as mãos pelo rosto, ele bufou, cansado em recomeçar o ciclo mental, que parecia sempre começar e terminar com a modelo em sua mente. Tentando se livrar daqueles pensamentos, Carlos pegou seu celular do chão, reparando ser exatamente 6:10 da manhã. Não tinha nada planejado para aquele domingo e achou viável ir para seu quarto, antes que o turno da manhã do casal Hermann-Leclerc começasse. Podia tirar aquela roupa, tomar um banho demorado e, quem sabe, relaxar de novo a ponto de dormir em sua cama até um horário que fosse viável estar acordado.
Carlos se espreguiçou vagamente, recolheu as garrafas de cerveja e as descartou no cesto de lixo próximo, pensando no quanto ouviria Charles reclamar se visse a zona que ele fez ali, e entrou dentro da casa com cuidado, não querendo fazer barulho. Mas bastou ele virar-se de frente para dentro da casa, fechando a grande porta de vidro atrás de si, para reparar na figura parada em pé, no meio da sala. tomava seu suco detox da manhã, estava com um conjunto de academia, de top e shorts-saia, rosa claro metalizado, os cabelos presos em um rabo de cavalo alto e tênis da Nike nos pés. Ela prestava atenção em seu celular, distraída em recompartilhar em seus stories uma selfie que tirou com Lando e Carmen na noite anterior e foi compartilhada pelo piloto da McLaren. Carlos agradeceu a Deus, mentalmente, por ela estar sozinha na sala e, dessa vez, por estar vestida.

Buenos días, cielo — Carlos se aproximou dela.
Buen día, mi vida respondeu do mesmo modo carinhoso, bloqueando seu celular e o colocando no suporte esportivo, em seu braço esquerdo, enquanto recebia um beijo no rosto, do amigo — Como estás?
— Quebrado — A resposta honesta dele fez reparar no amigo por um segundo. Carlos estava com a mesma roupa da festa da noite anterior, amassado, com os cabelos para cima, como se tivesse passado por um furacão.
— O que aconteceu? — soltou uma risada alta. Sainz pensou por um instante se deveria ser honesto, mas achou muito cedo para aquilo. Ateve-se em dizer:
— Uma noite conturbada.
— Você chegou agora? — Ela perguntou curiosa, tomando um gole de seu suco, pelo canudinho de metal — Não te vi entrar.
— Estava lá fora, — ele apontou para trás, por onde entrou e, vendo o olhar curioso de , resumiu: — longa história.
— Estou com tempo — Ela sorriu animada, tentando abaixar o cabelo dele com uma mão, enquanto segurava o suco com outra.
— Não é o que parece — Carlos gesticulou, indicando o fato da amiga estar trocada para sair — Caiu da cama?
— Não consigo dormir muito quando bebo demais, você sabe — deu de ombros, desistindo do cabelo do amigo que, naquela altura, parecia apontar para o teto.
— E aproveitou para ser fitness num domingo, às seis horas da manhã, de ressaca? — Sainz negou com a cabeça — Por Dios, .
— Está calor, o dia está lindo, pensei em correr na praia. Não deve ter quase ninguém nesse horário, melhor do que ir para a academia mais tarde — Ela justificou, tomando um novo gole de seu suco. Por um momento, aquilo fez um sentido absurdo para Carlos. Não era uma má ideia, afinal.
— Charles vai com você? — Ele perguntou curioso, pensativo.
— Ele nem acordou ainda — fez um biquinho — Charles não acorda cedo de domingo, “exceto quando tem corrida”. Palavras dele.
— É um príncipe mesmo — Carlos riu, esticando os braços. Era a chance perfeita de fazer metade das coisas que precisava naquela manhã: malhar, conversar e tirar de dentro de si o peso que estava carregando desde a noite anterior.
— Escolhi a dedo — revirou os olhos, negando com a cabeça.
— Me dá dez minutos? — Ele pediu de repente, a vendo olhá-lo meio confusa, mas concordar.
— Claro.

E foi o tempo exato que ele demorou a voltar. Carlos tinha corrido para seu quarto, tomado um banho hiper rápido, escovado os dentes, colocado a primeira roupa leve e esportiva que encontrou em sua mala e, dez minutos cravados depois, lá estava ele, de volta à sala. Usava uma bermuda azul clara, na altura das coxas, uma camiseta branca, sem mangas e, jogando os cabelos para trás, colocava um boné cinza. terminava de passar seu protetor solar e, assim que o viu voltar, levantou-se do sofá em um pulo.
Já imaginando que ele se juntaria a ela na corrida, tinha enchido duas garrafas de água e deixou um bilhete fofo colado na geladeira de Charles, dizendo: "Bonjour mon amour, saímos para correr na praia, voltamos já ❤”. Voltou para sala ao mesmo tempo que o amigo chegava ali também e, já sabendo que ele não comeria nada de café da manhã porque, provavelmente, estava enjoado demais pela quantidade de álcool que ingeriu, ela atirou-lhe uma maçã no ar. Carlos a pegou rapidamente e agradeceu-lhe sorrindo pelo carinho. Como se fosse uma de suas irmãs, o conhecia bem o suficiente para prever certas coisas.
Sempre tiveram uma relação muito boa entre eles. Tinham quase a mesma idade, vinham de contextos familiares muito parecidos, gostavam de muitas coisas em comum e sempre se entendiam de uma forma que não encontravam em outras pessoas. Tinham uma amizade mais séria, mais responsável, pessoal e íntima. Uma proximidade que nasceu quando viraram vizinhos em Marbella e que se fortaleceu no tempo. Eram presentes na vida do outro como extensões de suas famílias e, no fundo, ambos amavam aquilo.

Vamonos — Carlos deu uma mordida na maçã e pegou a garrafa de água que a amiga estendeu para ele.
— Com você usando esse tênis? — arregalou os olhos, apontando para o tênis verde florescente que ele usava — Não vou. Vão me fotografar com você, minha reputação estará em risco.
— Você namora o Charles, — Caminhando ao lado da amiga, para fora do apartamento, Carlos a provocou — sua reputação já está ruim.
— Não namoramos — o corrigiu brincando, como por anos o fez, o vendo bufar, enquanto abria a porta para ela.
— Namoram sim, desde ontem a noite e eu estou muito feliz que venceram essa etapa, finalmente — A vendo passar por ele, porta afora, o piloto riu.
— Acho que não me acostumei ainda — Ela respirou fundo, o olhando de lado. Carlos a encarou de volta, assentindo com a cabeça.
— Está acontecendo alguma coisa, só não se acostumou ainda ou não tem certeza se fez certo em aceitar? — Ele seguiu caminhando com ela pelas escadas do prédio até saírem pelo portão. Charles morava tão perto da praia que podiam contar em passos a distância até ela.
— Que conversa é essa, Sainz? — franziu a testa, confusa.
— Sei lá, só estou me certificando de que você está mesmo bem com a escolha que fez — Ele encolheu os ombros, sincero. Acompanhou nos dois longos anos que passou vivendo no caos de Charles e, no fundo, tinha medo que ela se magoasse com aquela história toda.
— Passei dois anos querendo viver o momento que estou vivendo agora, é só… estranho, sabe? — comentou baixo, olhando a praia a frente de onde caminhavam — Estranho saber que eu posso mesmo ficar com o Charles, que sou eu a namorada agora.
— Um estranho estranho ou um estranho bom? — A olhando, o piloto levantou as sobrancelhas, terminando de comer sua maçã.
— Um estranho bom, eu acho — Ela riu — Mas um estranho estranho também, porque eu nunca sei, com segurança, se… bom, ainda vou ser a namorada amanhã, entende?
— Não confia nele, ? — Com a voz baixa, mais séria, Sainz caminhava enquanto encarava a amiga, que desviou seu olhar novamente para o mar.
— Confio nele, é só que… — Ela ficou em silêncio por um momento — Toda a situação, como aconteceu, não é muito favorável.
— Eu entendo.

E Carlos entendia mesmo, de verdade. Não podia julgar a amiga. Charles não tinha um histórico muito positivo de relacionamentos. Sempre agiu por impulso, trocou uma namorada pela outra porque parecia se apaixonar mais vezes do que um ser humano normal. Talvez estivesse perdido em seus sentimentos, talvez ainda não tivesse a certeza de que tinha feito a escolha certa e, por isso, seguia buscando em outras pessoas, inconscientemente, o que ele queria ter em alguém. Mas, apesar de ter uma explicação, aquele não era, nem de longe, o cenário mais seguro. Era normal que sentisse medo do tempo, normal que ela achasse que aconteceria com ela o que foi com as últimas duas namoradas que ele teve, normal que se perguntasse o que aconteceria com ela caso, ou quando, o amor fosse embora.

— Complicado — A mulher comentou depois do breve silêncio, soltando uma risada baixa — Estou tentando não pensar nisso, viver o momento. Estou feliz agora e é isso o que importa, não é?
— Se serve de alguma coisa, acho que Charles realmente tem certeza do que ele quer agora — Carlos comentou sério, reflexivo — Ele está agindo de outra forma com você, não está sendo como foi com as outras.
— O que quer dizer com isso? — Caminhando um pouco mais rápido, perguntou delicada.
— Ele está com medo de fazer merda com você, — Carlos abriu um sorriso lateral, acompanhando o ritmo dela, jogando o miolo da maçã no lixo mais próximo, assim que passaram por ele — Eu acho que ele está indo devagar, esperando você dar às regras do jogo. Você desconcerta ele de um jeito que Charles não tem mais certeza de nada do que faz, porque tem medo de errar contigo.
— E isso é bom? — riu alto, sendo acompanhada pelo amigo.
— Talvez, não sei — Carlos deu de ombros — Ele parece mais centrado agora, mais maduro, talvez. E ele sorri mais com você do que sorria com elas, isso é um fato que todo mundo anda comentando. Acho que só nos sentimos assim, vulneráveis, abertos, com medo de perder, de errar, quando realmente estamos com alguém que queremos estar. Ele quer, sim, estar com você. E depois do que eu vi ontem a noite, eu diria que ele seria louco de te trocar por qualquer outra, .
— Estou até com medo de pensar o que você viu ontem a noite — Ela brincou, rindo, começando a correr levemente com o amigo ao lado.
— “Posso te ajudar a pensar, se quiser” — Carlos repetiu a exata mesma frase que ela havia dito a Charles, um segundo antes de tirar o vestido na noite anterior.

Completamente surpresa, despreparada em ouvir aquilo, parou de correr no mesmo segundo, boquiaberta. Sua mente a levou de volta para o contexto da noite anterior, procurando qualquer sinal de que Carlos estivesse por perto, mas não encontrou nada. Só se…

— AI CARALHO! — Ela tapou a boca, envergonhada, vendo o amigo parar de correr também, rindo da cara dela.
Hermann sedutora, tirando o vestido no meio da sala, depois de quebrar um quadro, por isso eu juro que não esperava — Tirando uma com a cara dela, Carlos seguiu dizendo com normalidade, em um espanhol rápido, o que fazia da situação ainda mais engraçada.
— QUE PORRA É ESSA, SAINZ? — Ela gritou, sem conter a risada.
— Pois é, eu estava lá — Carlos brincou, rindo com a amiga que, naquela altura, estava mais vermelha do que um morango — Deixa minha tia Mirabel ouvir essa, ela nunca mais vai te venerar.
— Meu Deus, o que exatamente você viu? — Cobrindo o rosto com as mãos, ela seguiu rindo — Eu não acredito nisso.
— Nada que eu já não tenha visto antes — Ele gesticulou, a abraçando pelos ombros de lado, voltando a caminhar — Eu estava na área da piscina, tomando uma cerveja, vocês estavam tão focados um no outro, que nem perceberam.
— Essa amizade atingiu níveis estranhos — o abraçou de volta, pela cintura.
— Nem fala, pelo menos não era o Charles pelado — Carlos brincou.
— Para mim, essa é a melhor parte — Ela o olhou, brincando de volta, quebrando o abraço entre eles e gargalhando da careta que ele fez — Mas, vem cá, o que você estava fazendo lá fora?
— Tomando uma cerveja — Carlos deu de ombros, pensando se deveria mesmo falar sobre aquele assunto.

era um espaço seguro de sua vida, de fato. Sabia que podia contar a ela o que quer que fosse e, talvez, precisasse ouvir dela o que ela também precisou ouvir dele há pouco. Ela conhecia , era amiga dela. Podia ter um ponto de vista diferente, podia ajudá-lo a entender o que sentia, a organizar os pensamentos, a tirar de si aquela sensação estranha de ter gostado do que aconteceu e de, ao mesmo tempo, não saber direito como reagir a tudo aquilo. Talvez, se conversasse com ela sobre , poderia, finalmente, conversar consigo mesmo sobre aquele assunto.

— Certo, e quando você pretende começar a me dizer a verdade? — Começando a correr novamente, com o amigo ao lado, o cutucou.
— Quando você prometer que isso morre aqui — Com a voz grave, olhando para frente, Carlos pediu. o encarou estranhando, mas logo concordou.
— Nada vai sair daqui.
— Vou dizer de uma vez, porque é… complicado — Carlos respirou fundo — foi até minha casa devolver o meu carro, jantou com a minha família, me devolveu o relicário. Eu fui atrás dela no aeroporto, não encontrei ela lá e quase um mês depois, nos encontramos aqui, na festa do Dani. Eu beijei ela, levei ela embora, ela me beijou, quase transamos e eu não consegui dormir, porque estou preso em tudo isso.
— Espera, ela… o que? Você… o que? O QUE? gritou confusa, olhando do amigo para algumas pessoas que passavam por eles, tirando fotos deles em seus celulares.
— Isso que você ouviu — Sem querer repetir aquilo tudo em voz alta, Carlos resumiu-se. parecia absorver as palavras dele, tão confusa quanto ele mesmo se sentia.
— Carlos, isso é… — Ela tentou encontrar alguma palavra para descrever toda a situação, mas logo foi cortada por ele:
— Uma loucura, eu sei. Caralho, eu estou ficando louco. Eu não paro de pensar nela desde o dia em que ela apareceu na minha casa, . Ela viajou até lá para me devolver o carro, ela foi dirigindo de Milão até Marbella.
— Essa é a minha garota — Sussurrando para si mesma, comemorou — E como foi esse dia?
— Posso ser honesto? — Sainz respirou fundo outra vez, sentindo seu coração acelerado pela corrida — Foi perfeito. Ela me pediu desculpas pelo o que disse no seu desfile, me deixou se desculpar com ela também. Minha mãe convidou ela para o jantar, era um dos eventos beneficentes, você sabe… — ouvia atentamente, concordando com a cabeça — Minha família amou ela. Tivemos bons momentos também, ela… conseguimos conversar, tipo, conversar mesmo. Contei a ela sobre Isabel, sobre Laura.
— Ai meu Deus — parecia verdadeiramente feliz em ouvir aquilo. Carlos logo continuou a dizer:
— Foi leve, foi bom. E no final, ela precisou ir embora para Milão novamente. Deixou uma caixa com meu relicário no porta-luvas e uma foto nossa, no dia do pôquer — Contente, fechou as mãos e segurou um gritinho animado, vendo o amigo rir levemente da reação dela. tinha não só ouvido os conselhos da amiga, como feito muito mais por Carlos do que esperava — Blanca viu, conversamos sobre isso. E eu fui atrás dela.
— No aeroporto? — A amiga parecia chocada, ofegante pela corrida — Você foi atrás dela no aeroporto?
— Sim, mas o voo já estava saindo — Ele respondeu frustrado — e ela nem sabe disso.
— Ai meu Deus, isso é tão clichê e fofo — comentou, sorrindo boba pela atitude do melhor amigo.


Ao tempo em que corriam pela praia, Carlos seguiu contando os detalhes daquela noite. Contou sobre o que aconteceu com a tia Mirabel, contou sobre a reação de seus pais, sobre o quanto Miguel gostou de . Disse a sobre o como se sentiu estranho depois que voltou para casa, sobre o quanto queria ter ligado para , contar que foi atrás dela ao mesmo tempo em que não queria que ela soubesse de nada daquilo. Carlos estava dividido entre aceitar que estava se apaixonando pela modelo e se proteger de ter outro relacionamento ruim, mal sucedido. E podia entender como ele se sentia. Depois de tudo o que aconteceu com Isabel, ela sabia que o amigo estava se cercando o quanto podia para não sofrer outra vez. Era o lado mais frio e racional dele, o lado que o estava causando tantas dúvidas, tantas incertezas.
E não bastasse ter acontecido aquilo, Carlos seguiu contando sobre a festa da noite anterior. Contou que a havia beijado para tirar o outro cara de perto dela, que havia correspondido, o surpreendendo. A levou de volta para o apartamento de Daniel e, confrontando ela sobre o fato de parecer ter algo a mais com o piloto australiano, foi quem o beijou. E os beijos viraram toques, viraram arfadas, esquentaram como aquela manhã esquentava, ficaram urgentes e mais necessários a ponto de quase terem transado, não fosse pela interrupção. Carlos parecia bastante irritado com o fato de não terem ido em frente. Uma irritação de vontade, de desejo reprimido, de chateação. Contou a amiga que passou a noite atormentado com as memórias e que estava tão perdido que sequer sabia o que fazer.

— Vocês precisam conversar — Entre uma arfada e outra, cansada de correr mas seguindo firme, comentou, depois de ouví-lo.
— E vou dizer o que? — Carlos a olhou assustado.
— O que sente, é simples.
— Não é simples, — Ele negou com a cabeça — Eu nem sei se é recíproco, nem sei o que eu sinto.
— Você acha mesmo que ela teria ido até sua casa, em outro país, que teria dito às coisas que te disse, que teria correspondido ao beijo, te beijado de novo e quase transado com você se não sentisse a mesma confusão que você está sentindo agora? — revirou os olhos — Se liga, Sainz. Está com medo de assumir para si mesmo que está se apaixonando por ela.
— Eu não sei se é isso mesmo. Esse é o problema — Abrindo a garrafa e água e tomando um gole dela, ele respondeu.
— O problema é que você está vivendo como se ainda tivesse Laura em sua vida — Cirúrgica, pontuou séria — Está projetando em o fracasso que foi com Laura, esperando que aconteça outra vez. E isso não vai acontecer.
— Como pode saber disso? — Sincero, Carlos perguntou, reduzindo o ritmo da corrida, até parar. Já tinham ido até a ponta da praia e voltado, em quase 1h30.
— Porque estamos falando de aqui — parou de correr também, tentando recuperar seu fôlego — e ela não chega nem perto de Laura. É responsável, afetuosa e sabe respeitar os espaços. É alguém que te ouve, que assume os erros, apesar de ser meio teimosa, que fez questão da sua família e que não precisa de você para absolutamente nada.
— Essa doeu — Carlos brincou, caminhando com a amiga de volta para a casa de Charles.
— É sério — riu com ternura, tomando sua água — Ela não está fazendo tudo isso com você porque têm qualquer interesse no que você pode oferecer para ela. Ela está fazendo isso, porque se interessa por quem você verdadeiramente é, porque quer descobrir isso, se importa com você. E você precisa mudar o seu jeito de olhar para si mesmo, cielo — Carlos ficou em silêncio por um instante, digerindo o que a amiga lhe dizia com cuidado e carinho — Você precisa aceitar que merece o que tem de melhor nesse mundo. Merece ser feliz, merece ser amado e é uma pessoa que pode te oferecer isso. Mas você precisa, primeiro, aceitar. E só depois que se permitir começar de novo, vai entender o que está sentindo por ela.
— De onde você tira essas coisas? — Sem querer se mostrar extremamente sentido pelas palavras da amiga, Carlos brincou, olhando para ela. Uma vez mais, estava lá para salvar ele dos desastres amorosos que se metia, com a doçura e a compreensão de sempre.
— Dos dois anos em que achei que não seria o suficiente — riu tímida, respondendo honestamente e apontando para o prédio onde entravam, emendou: — e olha o que aconteceu.
— Não sei o que seria de mim sem você — Sainz a abraçou de lado, sem se importar com o fato de estarem os dois suados, grudando. sorriu sem conter a cara de nojo — Gracias por todo, mi vida.
— Pensa nisso. Se olhar para si mesmo, vai ver que não é exatamente ela quem está criando todas as dúvidas em você — A empresária se desvencilhou do abraço, entrando no apartamento, com o piloto atrás de si — É você mesmo e esse seu passado que precisa ser superado.
— Vou tentar. Eu só não sei o que esperar dela, principalmente da próxima vez que nos encontrarmos, depois de tudo… — Carlos comentou reflexivo, tirando a camiseta ensopada pelo suor da corrida. Contudo, antes mesmo que pudesse responder algo, Charles apareceu na sala onde estavam, trocado para sair.
— Que pouca vergonha — O monegasco riu, fingindo tapar os olhos para Sainz sem camisa.
— Quer mesmo falar sobre pouca vergonha, Charles? — Sainz rebateu encarando o amigo, vendo colocar a mão na testa, envergonhada, já sabendo o que viria a seguir — Porque eu assisti ao vivo o pornô de vocês, nesta sala, ontem.
— O quê? — Charles perguntou confuso.
— Longa história, vou pro banho — negou com a cabeça, enquanto passava por ele e lhe dava um beijinho de bom dia.
— Se Charles não for com você, eu vou, estou avisando. Eu não fico mais só assistindo não — Carlos provocou, vendo a expressão do amigo ficar ainda mais perdida. riu alto.
— Mas o quê…? — Charles perguntou confuso, olhando para o amigo e para a namorada que negava com a cabeça — Ah quer saber, esquece, vocês dois têm meia hora para se aprontar, vamos pro iate do Ric — Charles falou alto, para que a namorada também ouvisse — e, no caminho, eu quero ouvir a longa história do pornô…?

~ ❤ ~


Do outro lado da cidade, havia acabado de acordar e estaria mentindo se dissesse que sua cabeça não estava explodindo. Latejava de dor e todo seu corpo implorava por mais algumas horas de sono, apesar de sua mente parecer ansiosa, não a deixando relaxar para dormir mais. Estava exausta e com tanta preguiça que, a decisão mais sábia que podia tomar era se virar de lado na cama e embalar mais algumas horas de sono, mas ela sabia que não conseguiria. E cada evento da noite passada que caia em sua mente feito uma bomba davam-na mais certeza disso.
Carlos havia feito a modelo ter sensações que nunca imaginou e havia gostado mais do que deveria de tudo aquilo. Se fechasse os olhos, ainda conseguia sentir as mãos do espanhol, a trilha de beijos sobre seu pescoço e o formigamento por todo seu corpo. Parecia mais como um sonho do que realidade e resmungou para si mesma, se sentando na cama. Sentia como se a cada encontro que tivesse com Sainz alguma coisa a fizesse sair da realidade de tal forma que custava a voltar. Queria viver presa naquele sonho, naquelas sensações, mas sabia que, uma vez mais, não poderia. Era Carlos Sainz. O irritantemente gostoso e charmoso, Carlos Sainz. O cara de, da água para o vinho, podia voltar a ser com ela o que era pouco meses atrás.
Ignorando aqueles pensamentos, se espreguiçou e levantou-se em um pulo. Fez sua higiene matinal e trocou de roupa, querendo sair logo de seu quarto em busca de um remédio para dor de cabeça, um bom café e algo farto para comer. Estava morrendo de fome. Sem demorar muito, a modelo deixou seu quarto e saiu pelo apartamento, guiada pelo sono e pelos raios de sol que iluminavam aquela manhã, até, enfim, passar pela sala. Parecia mais um dos dias lindos em Mônaco, que daria uma boa praia, e pelo silêncio do lugar, achou que estava sozinha. Não sabia se Daniel havia voltado para casa ou se estaria sozinho por ali, não o havia encontrado desde que dançaram juntos na noite passada, mas não demoraria muito a ter notícias dele. Daniel sempre aparecia.
Assim que cruzou a sala, sem encontrar ninguém, entrou na área da cozinha, onde fez um café, esquentou waffles e pegou algumas frutas, sentando-se à mesa em seguida. E como se soubesse que ela estava prestes a começar a comer, na solidão e no silêncio que tanto amava, assim que tirou sua caneca da mesa para tomar um gole do café, a porta do quarto do piloto foi aberta repentinamente, revelando um Daniel somente de cueca, com os cabelos e o rosto todo amassado. o encarou discretamente de cima a baixo, tomando o café, reparando, finalmente, na tatuagem da coxa que ele tanto falava.

— Bom dia, Daniel — sorriu, destacando um dos remédios de dor de cabeça.
— Só estarei disponível depois de uma hora da tarde, por favor, deixe seu recado, beeeep — O rapaz brincou, se aproximando dela e dando-lhe um beijo no topo da cabeça — Bom dia, meu amor. Tomando remédio de café da manhã?
— A culpa é sua e das suas festas — Ela deu de ombros, apontando para a caixa de suco que deixou em cima da bancada da cozinha.
— Nunca mais vou te chamar — O piloto brincou ofendido, pegando o suco e passando para ela.
— Aí nenhuma delas vai ter graça mais — se serviu rapidamente e engoliu o remédio.
— Isso é verdade — Daniel se sentou de frente para ela na mesa, puxando algumas das frutas que ela tinha separado — Mas acho que não tenho mais idade para elas, estou acabado.
— Essa é a sua versão acabada? — o encarou, vendo o amigo concordar com a cabeça, enquanto comia um mamão — Estou passando vergonha aqui.
— Ainda dá tempo de largar tudo e ficar comigo — Mandando um beijo no ar para ela, Dani brincou.
— E essa carência toda? A noite não foi boa? — perguntou sugestiva, dando um breve sorriso lateral.
— Pode ficar tranquila, porque você é a única mulher da minha vida, paixão — Ele brincou, piscando para a amiga e recebendo um olhar de tédio dela.
— Não acredito que a noite foi ruim mesmo! — A modelo provocou, se fazendo de chocada.
— Foi ÓTIMA, se quer mesmo saber. A única parte ruim foi ela ter ido embora tão cedo hoje — Ele desviou os olhos dela, levemente tímido. sorriu para a cena, mas logo perguntou séria, novamente:
— Foi embora ou você foi babaca e mandou ela sair assim que acordou?
— O que você pensa de mim, ? — Daniel perguntou, fingindo estar magoado e atuando com um pequeno drama, fingindo chorar enquanto a amiga ria e negava com a cabeça.
— Eu não penso nada, meu amor — respondeu, colocando mais café em sua xícara — Eu sei.
— Você é tão carinhosa — Ele deu de ombros, tomando um gole de seu suco.
— Eu sei — falou se gabando, rindo — Por que não a chamou para tomar café da manhã, então?
— Por que ela tinha um compromisso e nós também temos — Ricciardo deu de ombros e parou por um segundo, o olhando surpresa — O que?
— Compromisso? O que marcamos para um domingo, Daniel? — Mais séria do que gostaria, perguntou. Não era o fato de terem algo para fazer, repentinamente, que a incomodava. Mas sim, quem estaria nesse compromisso.
— Vamos passar o dia no meu iate — Ele sorriu animado, puxando a caneca de café dela e tomando um gole, a devolvendo em seguida.
— E você decidiu isso quando? — A modelo riu, negando com a cabeça.
— Ontem, no final da festa.
— Quem vai? — Tentando se focar no que levaria, que biquíni usar e sendo o mais casual possível, perguntou com naturalidade. Apesar da tentativa, contudo, Daniel riu sozinho. Sabia que ela estava sondando.
— Eu não te avisei? — Ele deu de ombros novamente, se recostando na cadeira — Devo ter me esquecido. Convidei nosso grupo, todos já estão cientes e nos encontraremos na marina em… — olhando para o relógio da cozinha, ele completou: — uma hora.
— Infelizmente não poderei ir — respirou fundo. Não queria encarar Sainz no susto. Não depois de quase ter transado com ele na noite anterior e não ter tido nem a chance de conversar com alguém sobre isso. As chances de aquilo não dar certo eram grandes e ela não queria testar o destino.
— Por que não? — Daniel franziu a testa, desentendido.
— Estou com dor de cabeça — fez um biquinho nada convincente.
— Já ouviu dizer que curamos uma ressaca com outra? — Como se fosse óbvio, ele gesticulou pausadamente. riu e, prontamente, negou com a cabeça.
— Estou fora.
— Tem medo do mar? — O piloto insistiu, sem entender exatamente o porquê da resistência dela ao passeio. Seria legal, estariam todos reunidos, não poderia faltar.
— Com você e o Lando no mesmo barco? — Ela arregalou os olhos, brincando — Tenho sim.
— Fica tranquila, porque Sainz estará lá para te proteger — Casual, Daniel pontuou, colocando as mãos em sua cabeça, se espreguiçando — Podemos te jogar de propósito no mar, ele pula para te salvar, fica todo molhado… não disse onde.
— DANIEL!? — gritou, sem conseguir segurar a gargalhada.

Desde que contou ao amigo sobre a briga que teve com Sainz no desfile da Hermann, o australiano vivia pegando no pé dela em relação ao piloto espanhol. Do mesmo jeito que as meninas faziam, por um motivo em especial que não queria assumir. E, talvez, por aquilo, por saber que eles tinham razão, estava custando a ela contar que tinha ido devolver o carro dele, que tinha jantado com sua família e que tinham quase transado na noite anterior. pensou por alguns segundos se não deveria aproveitar o momento a sós com Daniel para lhe contar o que tinha acontecido. Talvez o amigo, vendo de fora e conhecendo Sainz há mais tempo, pudesse ajudá-la a entender o que, de fato, tinha acontecido, quais eram as entrelinhas e como deveria reagir ao homem, assim que se encontrassem novamente.
Daniel, por sua vez, com toda a experiência vasta em relacionamentos e os poucos anos de vida a mais, tinha clareza do que acontecia entre e Carlos, mas não queria interferir no andamento da coisa. Soube, desde que começou a reparar neles dois, nos encontros que tiveram com os amigos, que todas as discussões e briguinhas que travavam escondiam algo a mais por trás. Algo provocativo, uma tensão sexual clara, um tesão enrrustido, um interesse em querer chamar a atenção um do outro, de estar no foco, seja como for. Se não podiam despertar o interesse que desejavam um no outro, então porque não tentar de outras formas? Toda aquela provocação demonstrava claramente aquele cenário e Daniel, no fundo, esperava que logo algo a mais acontecesse entre eles.
ficou em silêncio por um momento, focada em seu café da manhã, tentando pensar em como começar a contar aquilo tudo para o amigo. Mas, antes mesmo que tivesse a oportunidade de dizer algo, Daniel, que puxou o prato com meio waffle dela, voltou a dizer:

— Anda, vai se arrumar porque nenhuma desculpa foi boa o suficiente e não podemos nos atrasar.
— Você é o dono do negócio, a festa não começa sem você — resmungou, já se levantando. Tinham que tomar banho, se arrumar, preparar suas bolsas e chegar na marina no horário marcado. Já estavam atrasados, para ser honesta.
— Começa sim, George e Lando são britânicos, não esperam ninguém — Daniel gritou, vendo a amiga se afastar, de volta para seu quarto.

Uma hora e meia depois, super atrasados como esperado, e Daniel saíram do apartamento, em direção à marina. O caminho até lá não foi muito longo e passaram por ele jogando qualquer conversa fora e ouvindo música. fez alguns vídeos do caminho, encantada por cada lugar de Monte Carlo, como se estivesse ali pela primeira vez em sua vida - a sensação, ao menos, era de que estava. Daniel eventualmente aparecia nos vídeos e nas fotos que ela tirava, sendo escolhidos a dedo para ir a suas redes sociais, com legendas que, de antemão, livrariam qualquer rumor de que estavam juntos. Já não bastasse ter que lidar com tudo o que o mundo dizia sobre ela e Sainz, não queria se meter em novos rumores com Daniel.
Lily e Albon foram os primeiros a chegar à marina e ficaram por ali, conversando animados, trocando carinhos e tirando fotos um do outro no píer próximo. Não muito tempo depois, Luisa, Lando, George e Carmen se aproximaram do casal junto com Gasly, que foi convidado pelo casal mais cedo, chegando ao mesmo tempo, e ficaram por ali, com eles, conversando sobre a festa do dia anterior. Entre as risadas altas, as provocações e a conversa animada, os sete esperaram mais algum tempo até que Charles e Júlia se aproximaram, com Carlos logo atrás, em seu carro alugado, cumprimentando todos com abraços e aguardando o dono do iate chegar.
Apesar de cansados, e de terem dormido muito pouco na noite anterior, todos pareciam empolgados em passar mais um tempo juntos, longe da terra firme. A tarde ensolarada sobre o mar calmo de Mônaco davam um ânimo extra e, certamente, a canseira seria esquecida assim que começassem a tomar os primeiros drinks do dia. Carlos assistiu se aproximar com Daniel, tentando ser o mais casual que conseguia. Seus olhos estavam levemente perdidos, sem saber se olhavam para algum outro canto da marina ou se focavam nela e tudo parecia ridiculamente em câmera lenta para ele naquele momento.
Cada passo da modelo, o jeito que ela sorria e prestava atenção em algo que Daniel a dizia, os cabelos balançando com o vento, a pele iluminada pelo sol aberto no céu. Tudo nela parecia iluminado, feliz, confortável, absurdamente lindo. E se Carlos pudesse eleger um momento, desde que a conheceu, para se lembrar de , para dizer seguramente o quanto era linda, talvez aquele fosse o momento. Piscando algumas vezes e procurando seus óculos de sol no bolso, ele tentou prestar atenção em alguma outra coisa, desviar seu foco por um momento.
Estava em silêncio o tempo todo, sem dar atenção à conversa dos amigos ao redor, sem saber o que deveria fazer ou falar quando , enfim, chegasse perto dele. Carlos definitivamente não esperava encontrá-la tão cedo e não saber como reagir àquela situação o incomodava. Ainda não havia contado para os outros amigos sobre a noite passada e imaginava que também não, já que não havia dito nada até o momento.

— Aleluia, já estava quase indo buscar vocês em casa — Albon brincou, assistindo o último casal de amigos se aproximar do grupo. Daniel fez uma dancinha animada ao ver eles, enquanto segurava uma garrafa de champanhe.
— A culpa é da madame aqui do lado, que levou uma eternidade para ficar pronta — Daniel colocou os braços sobre os ombros da amiga, a vendo rir sem graça.
— É claro, você me avisou hoje cedo que iríamos passar o dia inteiro no meio do mar — se desvencilhou do amigo, indo cumprimentar cada um dos presentes.
— Ninguém mandou você sumir mais cedo da festa ontem e perder o momento em que tivemos essa ideia brilhante — Daniel rebateu, tentando cutucar a amiga.

não queria falar sobre aquilo e não tinha pensado em uma desculpa boa o suficiente para explicar o seu sumiço repentino da festa. Terminando de cumprimentar os amigos, seu olhar parou em Carlos por um segundo, que, como ela, parecia ter engolido a seco aquele comentário. Apesar do estranhamento em se ver novamente, tão logo depois da noite anterior, trocou um leve abraço com ele, o que não passou despercebido por alguns dos amigos mais atentos. Percebendo o leve clima esquisito entre eles, decidiu quebrar o silêncio, a falta de resposta de para a brincadeira curiosa de Daniel.

— Falou o cara que também sumiu da festa mais cedo — A empresária sorriu para ele, recebendo um olhar sério do australiano.
— Você joga sujo, Hermann.
— Falando em sair mais cedo da festa, — Lando se intrometeu também — como foi a noite, George e Carmen?
— Quer mesmo saber? — George o encarou sério.
— Não — Lando deu de ombros, tirando risadas do grupo.
— Vamos ficar fazendo hora aqui ou vamos para esse iate? — perguntou animada, aproveitando a deixa do assunto desviado.
— Só vamos quando você disser onde estava ontem a noite — Daniel insistiu.
— Na sua casa — Ela deu de ombros, evitando olhar para Carlos. Dani chegou a abrir a boca para rebater aquilo, mas foi logo cortado por Carmen:
— Resposta dada, Dani querido, agora vamos — Puxando-a pelo braço enquanto o australiano ficava para trás, Carmen veio arrastando as outras meninas com ela.
— Já vou avisando que hoje eu só quero saber de álcool e sol — Lily saiu dando pulinhos, deixando todos rindo para trás.
— Eu também, só saio daqui hoje com marquinha de biquíni e bêbada — Luisa brincou com o grupo, rindo enquanto todos subiam a bordo.

Daniel cumprimentou a pequena tripulação, animado. Estava realmente satisfeito com a recente aquisição do iate e, apesar de viver a maior parte do ano rodando o mundo, sempre gostou de ter um tempo para si mesmo, longe de tudo e nada parecia mais perfeito para isso do que o meio do mar. O piloto ajudou seus amigos a se localizarem e se acomodarem dentro do iate e, poucos minutos depois de embarcarem, o comandante passou algumas instruções gerais e, rapidamente, o barco saiu em direção ao mar aberto.
Longe dali, dos paparazzis e de fãs, dos curiosos e de suas câmeras, podiam aproveitar como quisessem aquela tarde, ser eles mesmos e ter um dia de descanso verdadeiro, confortável e bastante íntimo. Naturalmente se separando em dois grupos, com os rapazes ficando no deck, na parte de cima, as meninas foram para dentro do iate, deixar suas bolsas e as roupas que vestiam, conversando animadas.

— Aí, cara, muito maneiro esse seu iate novo — George elogiou tirando a camisa, enquanto Daniel apresentava mais do local aos rapazes.
— Nossa senhora, liberaram o vampirão — Albon gritou exageradamente, colocando seus óculos de sol de propósito, assim que Russell ficou sem camisa. Lando se protegeu falsamente com o braço, como se o sol refletisse pelo amigo enquanto Charles e Carlos também vestiam seus óculos de sol, de propósito. Os demais riam alto da cena, enquanto Russell negava com a cabeça.
— Está engraçadão hoje, hein, Albon — George tentou falar sério, mas logo riu junto com eles.
— Fechem os olhos das meninas, o Edward está entre nós — Alex seguiu zoando.
— Que merda de referência é essa? — Pierre perguntou risonho, livrando-se também de sua camiseta.
— Fã de Crepúsculo, Albon? — Lando levantou as sobrancelhas, rindo da cara do amigo.
— Se você pegou a referência é porque você também é — Alex logo rebateu, fazendo os outros caras murmurarem agitados, zoando Lando agora.
— Lily também te forçou a assistir? — Ele deu de ombros, negando com a cabeça. Luisa sempre queria assistir aquela merda, já tinha perdido as contas de quantas vezes ele assistiu com ela, quando estavam em casa, sem muito o que fazer. Alex riu concordando com a cabeça, respondendo exatamente o que o amigo pensava:
— Mais de uma vez.
— É por isso que eu não namoro — Pierre cuspiu as palavras, com um tom de desprezo.
— Você namorava até um mês atrás, animal — Daniel apontou para ele, sério.
— Mas não namoro mais — Gasly deu de ombros, dando uma volta pelo redor dos amigos, observando o iate.
— Porque é um babaca — Carlos completou o amigo, tirando sua camisa e a deixando jogada no monte, onde as de George e Pierre já estavam.
— Olha quem fala, Sainz — Pierre virou-se de frente para ele, lançando a brincadeira com um pingo de verdade nítida em sua voz — está aí para comprovar isso.
— O que ela tem a ver com essa conversa? — O espanhol perguntou sorrindo, cínico. Daniel olhava de um para o outro, meio perdido no tom da conversa.
— Preciso mesmo responder? Acho melhor você ser mais esperto, meu amigo — Gasly deu dois tapinhas no ombro do espanhol e seguiu seu caminho observando o redor. Carlos chegou a abrir a boca para dizer algo, mas Charles foi mais rápido.
— Dá para fazer umas festas maneiras aqui — Apesar de já estar acostumado com tudo ao redor e nada mais ser novidade para ele ali, Charles olhou para o mar, sorridente. Nada lhe parecia melhor do que aquilo: estar em casa, no verão, naquele mar, com seus amigos.
— Por isso chamei vocês hoje — Ric sorriu concordando.
— Só falta chamar umas garotas diferentes… — Pierre comentou, risonho — Você já foi melhor em dar festas, Dani, encher isso aqui de gatas.
— Que isso cara, agora só tem uma mulher que eu quero trazer aqui — Daniel comentou, lembrando-se da noite anterior e sorrindo sozinho.
— Mas eu posso imaginar várias… — Pierre comentou baixo e os outros rapazes riram.
— Gasly solteiro é o maior prejuízo — Charles comentou, se livrando de sua camiseta com cuidado para não tirar a bandana que usava no cabelo e os óculos de sol.
Sainz aproveitou o momento para buscar cervejas para todos eles, poucos passos dali, e não demorou para voltar e servir uma garrafinha para cada um deles.
— Segurem suas filhas por que o garanhão está na área, galera — Albon zombou, abrindo sua cerveja com a mão.
— O perigoso — Lando entrou na provocação.
— Ah, calem a boca, só estou curtindo um pouco a vida — Pierre comentou, abrindo uma cerveja, e brindando com os rapazes.
— Cuidado para não curtir demais cara, vai acabar se dando mal — George o aconselhou e os rapazes concordaram com a cabeça.
— Qual é? Não tem nada de errado em querer curtir a vida de solteiro — Gasly bufou.
— Até alguém lhe prender de jeito, meu amigo — Charles bebericou sua cerveja.
— Ah, não, estou muito bem assim, merci — Mentindo, Gasly deu de ombros.

A verdade era que Pierre estava fugindo das polêmicas que rondavam seu nome nas redes sociais, mas depois que um vídeo, no qual ele aparecia com uma modelo em uma festa, amiga de Luisa, tinha vazado, tudo pareceu piorar genuinamente para ele. Desde então, ele evitava qualquer pergunta sobre seu antigo relacionamento e sobre Kate. Evitava falar e evitava pensar nela, no que tinha feito, na falta que ela o fazia. E aquilo era bem mais fácil de ser feito quando estava bêbado ou acompanhado de outra mulher.

— E quando você vai contar para nós o que houve com a Kate? — Cirúrgico e insistente, Charles perguntou, curioso.
— Eu fui um idiota, só isso — Respondeu baixo, Gasly deu um longo gole em sua bebida, dando aquele assunto como encerrado enquanto era observado pelos amigos.

Do lado de dentro do iate, às cinco meninas ajeitavam suas coisas em cima de um dos sofás de couro branco, conversando sobre coisas aleatórias enquanto tiravam fotos umas com as outras, gravavam vídeos e se preparavam para o dia que teriam. Tudo estava absolutamente leve e divertido entre elas e às cinco queriam aproveitar o máximo que podiam daquele momento que, até ao menos o final da temporada seria bastante raro de acontecer novamente.

— E aí, o que rolou no final da festa ontem? — perguntou de repente, emendando um assunto no outro.
— Alex e Lando se jogaram na piscina, metade das pessoas decidiu ir para a praia, do nada, Martin Garrix ficou tão louco que dormiu no chão perto do bar e o Pierre chorou horrores, depois de ter passado mal horrores — resumiu para a amiga, que a olhava incrédula, entre as risadas baixas das outras amigas.
— Eu vi esse momento do Gasly, antes de eu ir embora — apontou para a empresária — mas achei arriscado me aproximar de vocês.
— Foi sua melhor decisão da noite — riu, tirando o shorts jeans que vestia — Ele estava muito mal, tipo, MESMO. Não estava falando nada com nada, mas parece que está se sentindo sozinho, fiquei com pena dele. Pedi para ele esperar um minuto e o tempo que eu fui chamar o Charles para irmos embora, levar Pierre de volta pro hotel, ele simplesmente sumiu. E vi hoje cedo as fotos dele indo embora com duas meninas aleatórias.
— Complicado — Foi tudo o que Luisa conseguiu responder, reflexiva.
— Tentei ajudar ele ontem, mas né… acho que ele está em outra vibe — Dando de ombros, concluiu a fofoca, vendo concordar com a cabeça. Contudo, antes mesmo que pudesse responder o que pensava da situação do amigo, Lily perguntou eufórica:
— Vi que o Ric foi embora com a menina que estava com ele na festa, mas não soube de mais nada. Ela passou a noite por lá, ?
— Você conheceu ela? — Luisa a olhou animada, mas a outra modelo negou com a cabeça, frustrada.
— Passou a noite com o Dani, sim, mas foi embora assim que acordou, bem cedo, eu ainda estava dormindo — comentou animada, em um tom de voz mais baixo, como se quisesse que o assunto ficasse só ali, entre elas — Pelo o que Betty, a moça que trabalha no Ric, comentou, ela tem ido até que bastante na casa dele.
— Parece que a coisa está ficando séria — Lily riu fofa, amarrando seu cabelo em um rabinho.
— E você está sendo ótima em investigar — Carmen brincou com , que gargalhou cheia de si — Trazendo conteúdo de qualidade para esse grupo.
— Se Dani não fala, então eu descubro sozinha.
— Ontem conversei um tempão com ela na festa, mas ela nem mencionou o nome dela — Luisa fofocou, procurando seu protetor solar na bolsa — Ou está na mesma vibe do Dani, de não querer assumir nada, ou está sendo meio resistente a ele.
— Juro que não entendo essas coisas — Lily comentou sincera — Comigo e com o Alex tudo foi tão… linear, certinho, que essas histórias de vocês me deixam confusa.
— A minha não — Carmen protestou, atraindo os olhares das amigas — Nunca resisti ao George.
— Percebemos ontem a noite — Provocando a amiga, sorriu sugestiva. Carmen deu uma risada alta, tímida.
— Você também não pode falar nada — Luisa empurrou levemente a empresária, sentando no sofá ao lado de onde ela estava. Já estava com seu biquíni em modelo clássico, azul claro, pronta — Saiu da festa bem animadinha com o Charles ontem.
— Preciso tirar os dois anos de atraso, amiga — falou casualmente, tirando risadas e gritinhos das amigas.
— Ai meu Deus! O que rolou? — perguntou curiosa.
— O que vocês já sabem — desviou o olhar para qualquer lugar, rindo envergonhada.
— Confesso que não consigo imaginar o Charles fazendo… coisas demais — Carmen gesticulou, sincera.
— Pois é, ele é tão fofo — Lily concordou.
, mate nossa curiosidade, imploramos — Luisa puxou a amiga, fazendo-a se sentar ao lado dela, a abraçando. A empresária usava um biquíni bastante moderno e recortado, preto e branco, de sua própria autoria.
— Eu vou me arrepender de falar isso — Ela negou com a cabeça, rindo sozinha e se escondendo no abraço da amiga — mas, sim, ele é mais o estilo fofo. Gosta das coisas mais lentas, de aproveitar o que ele pode, se me entendem, e digamos que uma vez nunca é suficiente e quebramos o quadro da sala dele ontem a noite.
— MENTIRA? — gritou exasperada, tapando a boca em seguida.
— Eu não acredito nisso — Rindo, Luisa abraçou a amiga mais forte ainda.
— Sempre soube que aquela carinha de anjo não enganava ninguém — Lily comentava rindo com as amigas, enquanto a empresária tapava o rosto, envergonhada em ter dito aquilo.
— Quem diria que o Charles era assanhado? Eu nunca — Carmen brincou, pedindo ajuda a Lily para amarrar novamente a parte de trás de seu maiô laranja e amarelo, com as costas totalmente abertas. Carmen usava um óculos de sol quadrado, de armação bege e tinha nos cabelos um coque baixo.
— Tivemos uma noite ótima, meninas, é isso que posso dizer — brincou.
— E essa manhã? — Luisa perguntou sugestiva, se aproveitando da timidez da amiga sobre aquele tema para tirar dela mais informações que amava saber das amigas.
— Foi com o Sainz — Casual, se arrumando no sofá, respondeu sem se dar conta do contexto errado daquela frase. O silêncio repentino das meninas não durou um segundo inteiro, até Carmen gritar:
— EITA, , O QUE É ISSO?
— Os dois agora? Desde quando você reveza? — Lily provocou, rindo da cara da amiga que, só naquele momento, pareceu se dar conta do teor da conversa.
— NÃO — gritou, gargalhando — Não foi nesse sentido. Quis dizer que tive uma manhã agradável com Sainz hoje.
— Manhã agradável? — perguntou curiosa, fingindo não dar atenção àquele assunto. Apesar de seus esforços, tinha notado a mudança na expressão dela assim que ouviu a simples menção ao nome dele.
— Ficou curiosa? — Luisa olhou sugestiva para a outra modelo. Estava terrivelmente fofoqueira naquele dia.
— Não, que isso… É que — se perdeu, sem saber bem o que falar, se virando enquanto arrumava o biquíni em seu corpo. Rosa choque, pequeno e com algumas partes em crochê, os detalhes em preto do biquíni que vestia combinavam com o óculos de sol que ela colocava em seu rosto, enquanto ajeitava os cabelos soltos em suas costas.
— Está tudo bem, amiga, fomos caminhar na praia e conversamos um pouco — Um pouco mais séria do que o normal, olhou para a amiga. se perguntou se ela sabia o que ela estava escondendo do grupo, se Carlos a havia dito algo nessa conversa que tiveram, mas não ousou perguntar ou insinuar nada naquele momento. Se soubesse de algo, com certeza daria um jeito de conversar com ela mais tarde, com mais discrição.
— Falando em praia, girls, vamos nessa? — Carmen sugeriu, reparando que todas elas já vestiam seus biquínis e pareciam prontas para, finalmente, subir ao deck.

Assim que todas estavam prontas, elas subiram para o deck, encontrando os rapazes rindo enquanto Daniel escolhia a música que começava a sair alta das caixas de som. Lily passou uma garrafa de cerveja para , que agradeceu sorrindo, e a abriu rapidamente, se sentando-se entre Gasly e Ricciardo na proa do iate. Carlos não pode deixar de reparar nela, no biquini, no jeito que arrumava os cabelos longos para trás, sem se importar com o vento. Não pode deixar de encará-la por alguns segundos e não pode deixar de se lembrar da sensação de ter o corpo dela no seu, como na noite anterior.

Cuidado con la baba que gotea — Divertida, comentou baixo, em espanhol, assim que passou pelo amigo. Carlos cortou seu olhar de para ela.
Quedate quieta, Hermann, no es tu maldito negocio — Ele respondeu rindo, vendo dar de ombros e, puxando a cerveja da mão dele num movimento rápido, seguir andando até onde Charles estava. Carlos esperava que, mais cedo ou mais tarde, ela soltasse algo para , mas confiava que não falaria nada ali, na frente dos outros.

Desde a festa de Albon, há alguns meses atrás, e Gasly não haviam mais se visto ou conversado direito. Ela sabia que o piloto francês agora estava solteiro e que ele passava por uma fase ruim da vida, a tirar pelas coisas que as meninas falavam dele e pelo o que viu na festa na noite anterior.
não tinha se importado com as coisas que ele havia lhe dito, com o jeito com que deu em cima dela na festa de Daniel. Pelo contrário, levou tudo da brincadeira e apegou-se ao fato de Pierre estar bêbado o suficiente para talvez sequer se lembrar daquilo naquele dia novo que começava. Ela lembrou-se também da fala de , minutos antes, dizendo que havia tentando o ajudar na festa, mas que ele parecia não querer aquilo. pensou que, talvez, naquele ambiente, mais íntimo, sóbrio e amigável ele pudesse, ao menos, se sentir confortável e seguro em conversar e ela queria poder entender o que acontecia, queria poder fazê-lo de sentir menos sozinho, queria ajudá-lo, se pudesse e se ele quisesse.

— Como andam as coisas, Pierre? — perguntou, virando-se para o rapaz ao seu lado.
— Ah, estão indo… — Gasly suspirou, dando um longo gole em sua cerveja — Tendo que ler várias barbaridades na internet, mas tentando ignorar.
— Eu imagino, as pessoas conseguem ser muito cruéis quando querem — Dando um sorriso de apoio, concordou com a cabeça.
— Essa é uma das merdas de termos nossas vidas públicas dessa forma — Ele soltou uma risada cínica — É foda.
— Pelo menos não estão detonando a Kate, pelo que eu vi — comentou delicada, lembrando-se de algumas mensagens que leu no twitter alguns dias atrás.
— Sim, isso é bom. Mas, por outro lado, estão massacrando a Diane — Frustrado, Pierre respondeu. Tudo o que precisou ouvir, ler, ver acontecer e como havia se afastado da mulher que amou, depois daquele dia, principalmente depois do escândalo, o atormentavam. Não queria realmente falar daquilo.
— Eles vão esquecer disso logo — A modelo deu de ombros. Uma das coisas que havia aprendido desde que se tornou uma figura pública era que nada, absolutamente nada, era público para sempre. Outras coisas sempre aconteciam e levavam a atenção das pessoas embora.
— Mas eu não vou esquecer — Sincero, ele respondeu baixo, triste.
— E isso não é necessariamente uma coisa ruim — pensou alto, o olhando por baixo de seu óculos de sol — Você errou com ela, foi bem filho da puta, na verdade. E precisa se lembrar disso para não repetir o erro.
— Acho que eu mereço ouvir isso — Ele riu amargo, tomando um novo gole da cerveja.
— Vocês já se viram novamente? — perguntou curiosa, tomando um novo gole da cerveja — Depois do que rolou…
— Não. Eu tentei, algumas vezes, mas ela nem me responde mais — Gasly desviou seu olhar até a frente, vendo Carmen e Alex conversarem perto de onde ele e estavam.

Alguns passos dali, Sainz e Lando praticamente saiam nos tapas para decidir qual seria a próxima música a ser tocada, enquanto Lily tirava algumas fotos de Luisa sentada na beira do iate. Do outro lado delas, de frente para onde estavam, passava protetor solar nas costas de Charles, que parecia já estar ficando vermelho pelo sol, enquanto prestavam atenção em algo que Russell os contava. Daniel estava distraído, em pé, respondendo mensagens em seu celular com uma mão, enquanto a outra segurava a garrafa de cerveja pela metade.
A energia levemente caótica daquele grupo, daquele tipo de encontro que tinham, davam a Gasly a sensação boa de pertencer a alguma coisa. Como uma gasolina, um combustível que o fazia feliz, que o fazia seguir em frente, apesar de tudo, de seus erros. Nenhum deles o tinha julgado mal, não o tinham desprezado ou criticado pela merda que fez mas, pelo contrário, seguiam ali. Juntos, solícitos, querendo conversar, entender o lado dele, o ajudar, o incluir.
Pierre se sentia sozinho, era um fato. Contudo, estar com eles melhorava relativamente muito o que sentia, reduzia o tamanho da fossa que havia se enfiado e o fazia abrir os olhos para o que verdadeiramente importava na vida. Aquilo importava. A essência de saberem quem ele verdadeiramente era, de conhecê-lo tão bem, de entender os seus limites e o tempo bosta de vida que passava. Ia passar. Tudo sempre passava. E Pierre superaria aquela fase de sua vida com eles, porque sempre seriam eles. Por um momento, pensando naquilo, ouvindo as palavras duras mas verdadeiras de , tão diretas e tão honestas, Pierre achou que tinha muita sorte em pertencer a tudo aquilo.

— Acho que foi melhor assim — Pierre deu o assunto por encerrado, suspirando fundo. Sem querer dizer mais nada sobre aquilo, ele, então, se virou de frente para : — E você, gatinha, como anda o coração?
— “Como anda o coração?” Sério, Gasly? — riu alto, chamando atenção de alguns dos outros amigos por perto. Carlos reparou pelo canto de olho que eles dois conversavam e, frustrado por não ser ele ali, tentou focar-se novamente na lista de músicas que fazia com Lando.
— Foi uma pergunta sincera — Ele deu de ombros, rindo ela — Quero saber como está a vida amorosa de Voitenko.
— É assim que você flerta sóbrio? — Ela o provocou, sorrindo.
— Prefere a versão bêbado? Porque já já ela aparece — Pierre levantou a garrafa de cerveja que bebia, claramente consciente das coisas que tinha dito a ela na noite anterior.
— Prefiro a versão que sabe conversar comigo sem dar em cima de mim — rebateu alto, rindo novamente. Alguns passos dali, Carlos engoliu em seco, ouvindo a conversa deles. Que porra de conversa era aquela? Pierre dando em cima dela?
— Eu não estava tentando dar em cima de você — O francês rebateu um pouco ofendido, rindo com ela — Se eu realmente estivesse dando em cima de você, pode ter certeza de que não seria assim.
— Ah é? — Cruzando a perna e sorrindo, perguntou — E como seria?
— Olha, primeiro… — Gasly começou a dizer, mas foi impedido de continuar no exato mesmo segundo:
— Ei, cara, fala para o Lando que essa playlist dele está uma porcaria — Carlos disse rindo, sentando ao lado do piloto francês e cortando o assunto dos dois.
— A gente tava no meio de uma coisa aqui, sabia? — Ele perguntou rindo, apontando para ele e .
— Hm, no meio de uma coisa? Eu atrapalhei? — Carlos perguntou, cínico e o restante do grupo parou por um momento, para prestar atenção no que acontecia ali.
— Atrapalhou — Pierre concordou com a cabeça.
— Que pena — Falso, Carlos respondeu no mesmo instante.
— O que você está fazendo, Sainz? — Pierre perguntou, bebericando sua cerveja.
— O que você está fazendo, Pierre? — Carlos o encarou sério, apontando para ele com a sua garrafa de cerveja. O queixo levemente levantado, os olhos semicerrados, como se, de fato, o encarasse de frente. olhou de um para outro, se segurando para não rir da situação. Sainz estava com… ciúmes dela?
— O que você está querendo dizer? — Encarando o amigo da mesma forma, Gasly levantou as sobrancelhas.
— Ok, meus queridos amigos, agora é hora de se divertir e dançar — Daniel puxou para longe deles, a empurrando até mais perto das outras amigas — E você — Ele apontou para o francês — Vem me ajudar a fazer alguns drinks. Agora.

se aproximou de Lily e Luisa, que dançavam animadamente ao som Stay (Zedd ft. Alessia Cara). Estava se segurando para não rir do que tinha acabado de acontecer, a ceninha ridícula, o fato de Carlos ter parecido realmente bravo com Pierre dando em cima dela. se segurou para não se meter no meio deles dois, mas ficou tão surpresa pelo movimento de Carlos, de ter se enfiado no meio da conversa, que não saberia exatamente o que dizer. Dados os fatos da noite anterior, se perguntou se Carlos realmente estava sentindo algo a mais ou ela ou se tudo não tinha passado de um surto deles dois. Soltou uma risada sozinha, ela deixando-se ser puxada pelas meninas para se juntar a elas, enquanto o resto do grupo focava-se, novamente, em outras coisas que não o triângulo -Carlos-Pierre.
Sainz, por sua vez, havia tentado fazer algum tipo de contato visual com , depois que Gasly foi tirado de perto por Daniel mas, como ela estava fazendo ao longo do dia, o ignorou. Cansado de assistir o ignorar por todo aquele tempo, ele saiu em direção a parte de dentro do iate, onde Lando e Charles iam, se juntando ao resto dos amigos que faziam alguns drinks e comentavam sobre a partida de basquete que teria naquela semana. Apesar da encarada que deu em Gasly, o clima entre eles parecia absolutamente normal e conseguiram seguir tranquilos, curtindo o momento com os amigos.
Os oito homens se perderam no tempo ali, conversando, rindo, bebendo os drinks que preparavam. Daniel e Gasly ficaram responsáveis por fazer os drinks, enquanto Lando, Alex e Sainz davam ideias, inventavam coisas e serviam de cobaia para prová-los. Depois que os drinks estavam prontos, a cada um deles, George e Leclerc eram os responsáveis por entregar as garotas, que seguiam dançando e tomando sol do lado de fora, aproveitando o clima e as músicas que tocavam.
Não muito tempo depois, já em alto mar, os motores do iate foram totalmente desligados e toda a equipe preparou brinquedos e jet skis para que o grupo a bordo pudesse, enfim, aproveitar o mar. Lily e Albon foram os primeiros a estrear o enorme escorredor que havia ali, sendo seguidos por , Gasly, Charles e Russell. Carmen e acompanharam Daniel e Sainz, respectivamente, nos jet skis, ao tempo que Lando e Luisa simplesmente pularam no mar.
Entre as escorregadas, o jet ski e a galera se revezando para pular no mar ou tomar sol, em algum momento da tarde, Lily teve a brilhante ideia das amigas pularem juntas no mar. Ficaram lado a lado, na extrema ponta da proa do iate, em cima do corrimão e, contando até cinco, entre risadas, elas pularam, dando gritos empolgados, captados pelas câmeras dos celulares dos pilotos, que gravavam tudo.
A tarde passou rápida, com eles nadando e aproveitando o mar tranquilo e bonito da costa de Monte Carlo, até resolverem voltar para o barco. Depois de secar-se rapidamente com a toalha, e as meninas resolveram se sentar na parte de trás, no enorme sofá quadrado, confortável, que dava a elas a vista para o oceano enquanto ainda tinham o sol mais fraco do final da tarde. Os rapazes, por sua vez, que ficaram responsáveis pela comida e, novamente, pelas bebidas, voltaram para a área interna onde começaram a preparar a refeição.

— Eu preciso contar uma coisa para vocês — suspirou cansada, cutucando com o canudo a rodada de Sangria que tomavam e que tinha sido servida a elas por Carlos, alguns minutos antes. Não aguentava mais conviver com ele ali e guardar aquele segredo, tinha que falar com alguém e certamente as meninas saberiam como ajudá-la, ao menos, a entender o que sentia.
— Ui, fofoca — Carmen ajeitou os óculos de sol, sentada ao lado de .

Mais ao lado delas, Lily estava sentada com seu drink em mãos, na borda do iate, seguida por , que estava deitada no sofá de barriga para cima torrando no sol e, enfim, Luisa, que estava deitada de bruços. O círculo fechado, as vozes que se abaixaram levemente para ouvir o que a modelo tinha a dizer. ponderou por um segundo se deveria mesmo contar aquilo, mas os olhos curiosos das amigas indicavam ser tarde demais. Não teria nada de errado em dizer a elas, em confessar o que tinha acontecido, elas entenderiam. Já tinham passado por aquela etapa, conheciam Carlos e saberiam o que dizer. dizia isso para si mesma num looping mental contínuo, tentando engolir a incerteza e a vergonha em, pela primeira vez desde o ocorrido, colocar aquele fato em palavras altas e claras.

— Carlos e eu nos beijamos noite passada.
— VOCÊS O QUE? — Carmen perguntou chocada com a revelação, assim como todo o resto do grupo, exceto por que, apoiando-se em seus cotovelos para levantar o tronco em direção a amiga, a olhou intrigada.
— VOCÊ BEIJOU O SAINZ? — Luisa gritou em seguida, incrédula.
— Dá para falar baixo? Eu não quero que Mônaco inteiro ouça — pediu, gesticulando com a mão. Luisa e Carmen taparam a boca ao mesmo tempo, rindo — Ele me ajudou, espantando um idiota que estava tentando ficar comigo ontem na festa, me beijou para que ele fosse embora e deu certo.
— Como é que é? — Lily perguntou
— Exatamente isso! E logo depois fomos embora, mas quando chegamos no apartamento do Daniel… — ignorava as caras surpresas das amigas, continuando a falar. Sabia que se parasse não teria coragem de continuar — Nos beijamos novamente, dessa vez com mais intensidade e… toques, se é que vocês me entendem.
— Eu não acredito que você só está nos contando só agora — Sem desviar seus olhos da amiga, puxou seu drink do porta copos do sofá — E como você está se sentindo?
— Eu só estava confusa e não sabia como contar para vocês, já que sabe… Vocês presenciaram todas as nossas brigas e confusões desde o começo e tem mais…
— Mais? — Luisa perguntou, curiosa, soltando uma risada.
— Tivemos um momento muito diferenteDigamos assim, há algumas semanas atrás, na casa dele, em Marbella. — Sincera, falando baixo, desviou seu olhar para o conteúdo de sua taça — E meus sentimentos por ele estão completamente confusos agora.
—Calma, PARA TUDO! Você foi para a casa dele em Marbella? Vocês se beijaram? E agora estão se gostando? — Lily gesticulava a cada nova pergunta, com a boca aberta, sem acreditar em tudo aquilo — O mundo está acabando ou eu não estou entendendo mais nada.
— Ok, do começo, amiga — Carmen pediu educadamente, deitando-se no sofá, enquanto as meninas se aproximavam um pouco mais de , no intuito de não serem ouvidas.

, então, logo contou tudo a elas, sobre sua decisão de devolver o carro dele, sobre a viagem até a casa do rapaz, o pedido de desculpas, o jantar, a família dele, a conversa que tiveram. Contou como se sentiu nas semanas seguintes, por que não quis ficar hospedada na casa de Charles. Contou sobre a noite anterior. Sobre o beijo e as sensações que aquilo despertou nela, sobre como a coisa ficou mais quente de repente e o quanto ela não queria que ele tivesse ido embora, quando foram interrompidos. Cada palavra da modelo, cada sentimento que demonstrava ter por ele, pelas situações recentes que compartilharam, deixava claro para as meninas que, desde o começo, elas estavam certas sobre eles dois e, mais do que isso, deixava claro, bastante explícito, tudo o que havia acontecido entre eles ali, naquele dia.
Dentro do iate, Daniel, Lando, Albon e Sainz preparavam a refeição enquanto Pierre, George e Charles estavam encarregados das bebidas e da preparação da mesa - no caso, para todos eles, estavam mais para tentar, já que eles não pareciam ter muita experiência na cozinha em geral, o que causava mais risadas e burburinhos no grupo. A única exceção àquela regra era Sainz, que amava cozinhar e, por isso, tentava comandar os amigos pelo local. Um cortava, outro mexia e o outro lavava a louça, um fluxo caótico enquanto ele mesmo, claro, ficou apenas com a parte misturar tudo na panela. Enquanto trabalhavam em equipe, começaram a conversar sobre alguns acontecimentos da festa, então, Daniel aproveitou para contar mais sobre a mulher com ele na noite anterior.

— Estava achando que você tinha encontrado com ela na festa e feito a noite… — Lando comentou, mexendo a comida no fogão um tanto impaciente.
— Na verdade não, temos alguns amigos em comum e já tínhamos nos encontrado em outros eventos — Dani deu de ombros, meio desinteressado.
— E você está gostando dela? — Foi a vez de Charles perguntar, juntando alguns ingredientes de um drink que Pierre via como fazer pelo celular, no google.
— Ela é legal e tudo mais, mas acho que não chega a tanto — O piloto australiano respondeu sincero, terminando de lavar a louça, já que não possuía muito talento com a faca — Já tinha ficado com ela antes, mas nunca havíamos transado.
— Sem transar no primeiro encontro? Essa é nova… — Sainz olhou o amigo, risonho.
— Acho que alguém está com medo de se apaixonar — George cantou brincando.
— Está bem longe disso, meu amigo — Daniel negou com a cabeça — Temos que ir com calma quando o assunto é relacionamento.
— Certo está o Lewis, que faz contrato com todas as mulheres que pega — Gasly comentou, tirando uma risada geral do grupo.
— Já pensou se você fizesse isso, Pierre? — Lando provocou, rindo — Teria que ter uma gráfica só para você, para imprimir tanto contrato…
— Inimigo do meio ambiente — Sainz gargalhou com os amigos, recebendo um dedo do meio de Pierre.
— Eu sei que vocês me amam, mas o foco não sou eu — Pierre pegou alguns morangos e um limão que Charles havia separado na bancada — Sinceramente, achei que ia trazer ela aqui hoje, Ric.
— Nem fodendo — Daniel riu — Não quero misturar as coisas. Só ficamos e é isso, não tenho nem interesse em ir além…
— Hoje pode ser que não tenha interesse, mas logo você encontra mais uma para o clubinho das wags ali — Alex brincou, apontando para fora de onde estava, onde as meninas riram e soltavam gritinhos altos.
— A conversa deve estar boa, pelos gritos — Russell aproximou-se discretamente da porta, tentando entender algo que conversavam mas estavam falando tão baixo, de repente, que era impossível ouvir. Certamente estavam fofocando.
— Depois eu que levo a fama de fofoqueiro — Charles sentou-se diante de um dos balcões da pequena cozinha, com um copo de sangria na mão — Mas Ric, se acha que vale a pena, corre atrás dela, cara.
— Não, é só… um lance casual — Concordando com o amigo, Dani respondeu.
— Experiência própria, Charles? — Provocativo, Gasly virou-se para o monegasco.
— Perdi tempo demais — Tomando um gole de sua bebida, Charles deu de ombros, honesto.
— Mas está compensando bem o tempo perdido, pelo jeito — Sainz cutucou o amigo, se referindo ao que viu na noite anterior.
— O que não sabemos? — Daniel parou por um segundo, no meio do caminho de se servir com mais bebida.
— De muita coisa — Charles respondeu rápido, antes mesmo que Carlos pudesse falar mais do que deveria e, devolvendo na mesma moeda, concluiu: — inclusive, de onde Carlos se enfiou na noite passada e nem que horas foi embora.
— Ih, verdade — Já meio alto pelos drinks, Alex riu.
— Sainz estava na festa? — Pierre olhou para ele sério, surpreso, tirando uma gargalhada geral.
— Você me cumprimentou uma hora lá, imbecil — O espanhol negou com a cabeça, rindo. Pierre pensou por um segundo, sem realmente saber se aquilo tinha acontecido ou se Sainz estava de sacanagem com ele.
— Você se lembra de alguma coisa da festa, Pierre? — George perguntou voltando para dentro, sentando-se na poltrona ao lado da de Charles.
— Me lembro do essencial: — Ele gesticulou exageradamente, o claro sinal de que já estava mais alcoolizado do que deveria.

Como se tivessem combinado o movimento, os amigos, todos, olharam de Gasly para Sainz, em silêncio. Uma vez mais, Pierre não havia entendido o que acontecia ali e Carlos sentia o seu corpo ferver, de dentro para fora, engolindo o comentário do amigo junto com o gole amargo da cerveja que terminava de tomar. Não era possível que Pierre estivesse mesmo a fim de . Conhecendo bem o francês, Carlos poderia quase ter certeza absoluta de que ele não estava, mas sim, só exercendo o poder de sua época solteira para cima dela. Mas ele estava tão insistente no tema naquele dia que, para Sainz, parecia de fato ter algo a mais. Cansado daquilo, querendo colocar todos os pontos finais possíveis nas farsas, nas especulações e nas teorias, Carlos decidiu dizer, de uma vez por todas.

— Eu beijei a — Carlos comentou suspirando, enquanto mexia fraco a panela.
— Você o quê? — Achando que não tinha ouvido direito, Charles perguntou, descendo da bancada. Daniel e Pierre pareciam chocados, enquanto Lando e Alex trocavam uma risada baixa.
— Deveria ter apostado — George comentou, indo encher seu copo com mais sangria — Eu falei que não ia demorar muito…
— Pois eu apostei e você está me devendo cem euros, Daniel — Albon riu, parando ao lado de Ricciardo e dando tapinhas leves em seu ombro.
— Eu não acredito que ela não me falou nada — Daniel murmurou, sem acreditar que não só havia perdido a aposta, mas pela amiga não ter contado a ele.
— Eu não acredito que você não falou nada, Sainz — Lando completou, ainda rindo.
— Foi ontem, na festa, eu só contei para a e… — Carlos tentou se explicar, mas logo foi cortado:
— Você falou para ? — Charles repetiu novamente, ainda mais chocado — E ela não me contou?
— Ih, a crise no relacionamento — Russell brincou, com seu copo na boca.
— Qual é o seu problema? — Rindo do jeito do amigo, Alex virou para George, que deu de ombros.
— Se foi ontem, na minha festa, como não vimos isso? — Intrigado, tentando digerir a informação, Ricciardo voltou ao assunto.

Pierre ainda olhava espantado para Sainz, só, enfim, entendendo o por que do amigo estar sendo meio reativo quando o ouvia falar sobre ela e por que de negar qualquer tentativa dela de se aproximar mais. Apesar de sempre ter pegado no pé de Carlos, na zoeira, em relação a , insinuando coisas com base no “ódio” que pareciam sentir um pelo outro, Pierre não imaginava que, de fato, Sainz estava… sentindo algo a mais por ela. Por um segundo, Gasly se sentiu meio otário com o amigo, como se tivesse passado por cima dele, do que ele sentia por ela.

— Ai, caralho… — Foi tudo o que Gasly conseguiu dizer, atônito.
— Depois que você deixou ela dançando sozinha, Ric, um idiota se aproximou, estava tentando forçar ela a ficar com ele — Resumindo, Carlos respondeu.
— Quem foi o babaca? — Fechando a expressão em clara irritação ao ouvir aquilo, Daniel perguntou, encarando o amigo.
— Não sei, não reconheci — Sainz negou com a cabeça — Só sei que quando me dei conta do que estava fazendo, a beijei na frente de todo mundo ali — Carlos explicou, sem saber bem como falar o resto.
— E ai? — Prestando atenção nele, enquanto pegava um pouco de água, Alex perguntou.
— Ela quis ir embora da festa, a levei e, então, nos beijamos novamente.
— Na minha casa? — Daniel gritou pasmo, tirando uma risada alta dos demais, enquanto Carlos concordava com a cabeça — Porra, Sainz! Vocês não…?
— Não — Carlos rapidamente negou, rindo do amigo suspirando de alívio — E a culpa foi sua, que interrompeu tudo para avisar que estava chegando em casa.
— Bendita hora que fui ligar, caralho — Celebrando, Daniel brincou, tirando risadas de todos — Deus me livre ter que sentar no sofá da minha casa e pensar que vocês transaram ali.
— Você me deve essa, Daniel — Carlos riu.
— E você me deve um sofá novo, cara — Rindo também, Daniel rebateu.
— Espera, estamos nos perdendo na questão principal, irmãos — Albon disse sério, colocando a mão esquerda sobre o ombro de Carlos, assim que passou por ele cozinhando.
— Nos conte tudo, meu amigo — Colocando seu óculos de sol outra vez, apesar de estar na cozinha, George pediu, curioso.
— Vocês são foda, hein… — Carlos negou com a cabeça, ouvindo os amigos resmungarem algo — Vamos lá.

Carlos, então, contou tudo a eles. Falou sobre o dia em que ela apareceu em sua casa para devolver o carro, o pedido de desculpas, o jantar, a família dele, a conversa que tiveram. Contou como se sentiu nas semanas seguintes, por que decidiu ficar hospedado na casa de Charles, esperando que ela ficasse também. Contou sobre a noite anterior. Sobre o beijo e como aquilo mexeu com ele. Falou sobre como a coisa ficou mais quente de repente e o quanto ele ficou irritado em ter que ir embora, quando foram interrompidos.

~ ❤ ~

Quase duas horas depois, sem sinal da comida, que já tinha virado um jantar pelo horário, e as amigas decidiram procurar os rapazes e constatar que ainda havia alguma chance de comer naquele dia. Diferente do desastre que esperavam encontrar, tudo parecia organizado e limpo na cozinha e a comida parecia já estar pronta. A primeira a entrar no local foi Lily, que ia acompanhada de Carmen checar se já podiam ir comer. Ao receber a confirmação de Carlos, elas logo chamaram o restante das amigas, que correram até lá.
Todos eles logo foram se sentando e se acomodando. De um lado da mesa, George, Carmen, Lily, Alex, Pierre e Daniel estavam, de frente para Charles, , Lando, Luisa e Sainz. sentou-se entre Gasly e Ricciardo, ficando de frente para Carlos que, propositalmente, escolheu aquele lugar para poder olhar diretamente para ela. não teria como fugir dele por muito mais tempo, ao menos, não no tempo que comeriam. Discretos, sem saber que o outro grupo tinha consciência do que aconteceu entre Sainz e , o resto do pessoal tentou manter-se o mais casual possível, centrando-se uns nos outros, apesar dos olhares serem eventualmente lançados a postura do casal mais novo, e incerto, do grupo.
Não demoraram para se servir e menos ainda para comer. Estavam bebendo o dia inteiro, estavam com fome e assim que a comida finalmente foi servida, o caos para pegar um pouco dela se instalou no ambiente, mas não demorou a se dissipar. Uma conversa animada surgiu assim que todos voltaram aos seus lugares. Comentavam sobre os últimos acontecimentos do grupo, sobre o tempo de férias que já terminava, sobre as expectativas e agendas para o retorno a temporada. Entre risadas e, às vezes, conversas paralelas que dividiam o grupo à mesa, todos eles comeram tranquilamente e logo se serviam de algumas frutas e sorvete, que encontraram para sobremesa na geladeira do iate.

— Vocês não sabem quem acabou de me procurar — Gasly comentou enquanto dava uma olhada em seu celular. Tinha acabado de postar algumas fotos que tirou com os amigos naquele dia quando uma notificação em especial chamou sua atenção.
— Lá vem — Recebendo uma colherada de sorvete na boca, de Luisa, que dividia com ele, Lando brincou.
— A Kate? — Lily sugeriu, com um pingo de esperança na voz.
— Quem dera — Sincero, Pierre negou com a cabeça e logo deixou seu olhar recair sobre o amigo sentado à sua frente, sorrindo para ele: — A Laura.
— Ah não! Eu não acredito! — Bufando, resmungou. Já tinha terminado de comer e, sentada mais ao canto da mesa, encostada na parede do barco, ela estava com Charles praticamente deitado nela, de costas para ela e de frente para os amigos. o abraçava por cima dos ombros.
— Pois acredite, ela me seguiu no Instagram, curtiu nossas fotos de hoje, comentou e ainda me chamou no privado agora — Gasly riu incrédulo, vendo revirar os olhos, em silêncio, terminando seu sorvete. Percebendo o jeito dela, Carlos deu um leve sorrisinho.
— Se puder te dar um conselho de amigo: fique longe — Carlos comentou sério, dando de ombros.
— Marcando território, Sainz? — Luisa brincou, empurrando Lando levemente para o lado, que tentava pegar a colher com sorvete dela.
— Só evitando que Gasly viva o inferno de ter ela atrás dele — Sainz arregalou os olhos, tirando risadas baixas dos amigos — em absolutamente todos os lugares do mundo.
— E não é exagero — Brincando com as pulseiras que Charles usava, comentou — Ela encontrou até o meu endereço, assim que eles terminaram.
— Como? — se engasgou levemente, encarando da amiga até Carlos, pela primeira vez durante o tempo que estavam ali. O piloto espanhol apenas concordou com a cabeça, meio chateado com aquela situação, a encarando de volta. A cada nova informação que descobria sobre Laura, entendia o porquê dele ficar tão irritado com ela. Fazia sentido, afinal. Até ela já estava assustada com o comportamento da outra mulher, sem nem mesmo tê-la visto.
— É sério isso? — Charles levantou seu olhar levemente para a namorada, desconhecendo aquela história.
— Sim, é sério — concordou o olhando e, então, encarando o resto do grupo — Ela nunca foi muito com a minha cara, mas apareceu lá em casa em Marbella, em uma tarde aleatória, dois dias depois do término, sem ser convidada. Sorte que eu não estava e o porteiro do condomínio colocou ela para correr.
— Meu Deus? — Lily colocou as duas mãos sobre a mesa, incrédula.
— De onde ela tirou essa ideia bosta? — Com os olhos arregalados, Lando perguntou.
— Vai saber! Ela sabia que os Hermann são vizinhos da minha família, mas eu nunca falei que a vivia na cidade também e muito menos comentei sobre o endereço — Carlos explicou, assustado — Ela simplesmente descobriu e foi parar em La Milla de Oro.
— Não é difícil descobrir que você vive na casa da , no caso, o mundo inteiro sabe disso desde que você entrou na F1 — Pierre comentou pensativo, encarando Sainz.
— Mesmo assim, isso é assustador — Carmen comentou horrorizada, encostada em George, que a abraçava de lado e brincava com as pontinhas do cabelo dela.
— Está maluco — Ele concordou.
— Ela esperava encontrar o Carlos lá? — Daniel riu meio debochado do amigo, que deu de ombros mais uma vez, e se apoiando na mesa, respondeu:
— Sei lá o que ela esperava, o fato é que ela é meio… demais.
— Pois é, então, escuta o Sainz, Pipi — Mexendo carinhosamente no cabelo de Charles agora, olhou séria para o francês: — Sai fora dessa.
— Ela é gata — Gasly voltou seu olhar para o celular, entrando no perfil dela.
— Pierre!? — Quase como um alerta, Luisa o encarou.
— Pelo amor de Deus — Lily jogou a casca do mamão que comeu nele — Você não ouviu nada do que falamos aqui?
— Ela só está interessada em você, porque é um piloto, cara, se liga — Albon comentou pela primeira vez. Não gostava muito de palpitar naquele tipo de assunto, mas Pierre parecia meio descompensado — Ela não quer você, ela quer o que você tem a oferecer para ela.
— Viu que o Carlos já está em outra e pulou para o próximo — Falando mais do que devia, Lando soltou do nada, olhando sugestivamente de Carlos para .

Assim que terminou a frase, contudo, recebeu um olhar assassino da namorada, que pegou uma colherada cheia de sorvete e praticamente enfiou na boca dele. O resto da mesa gargalhou da cena, impedindo o silêncio constrangedor de se instalar no ambiente. riu sem graça, ajeitando os cabelos e, desviando seu olhar rapidamente de Lando e Luisa, encontrou o de Carlos no caminho, a encarando com certa expectativa, com uma atenção carinhosa.
A verdade era que aquele dia estava sendo bastante difícil para ela. Difícil de resistir. Estava se esforçando o máximo que podia em manter-se longe de Carlos, evitando criar uma situação em que tivesse que lidar com ele, com o que quase fizeram na noite anterior, com a estranheza de terem que se falar, de fingir que nada aconteceu ou de, eventualmente, reagir de outra forma. De que forma? não sabia o que fazer diante dele e, na ausência de respostas, achou a melhor saída em ignorar o máximo que podia dele. Mas Carlos era irresistível. E estava irresistivelmente gostoso, o dia todo sem camisa, com aquela bermuda verde escura curta, grudada em seu corpo. Metade do dia brilhando no sol como uma estrela e a outra metade molhado. Não era possível ignorá-lo, não era possível resistir aquilo.
bebeu o quanto podia, ficou com as amigas o quanto podia, enturmou-se com os outros caras o quanto podia e ocupou seu tempo se divertindo o quanto podia. Mas, no fundo, o que ela queria mesmo era estar de outra forma. Queria ter aprendido a pilotar o jet ski com ele, como Lando ensinou Luisa naquela tarde, ou dividido o sorvete como faziam ali, ou gravado vídeos juntos como viu eles fazendo mais cedo naquele dia. Queria ter tomado sol deitada em cima dele, como Carmen fez com George ou ter recebido uma toalha nas costas, como quando Russell viu que estava sol demais para Carmen.
De frente com ela na mesa, tão perdido em seus próprios pensamentos quanto ela estava, a encarando de volta, Carlos desejava a mesma coisa. Queria ter aproveitado o dia com ela, como Alex e Lily aproveitaram. Ter passado bons minutos dentro do mar, abraçados, mergulhando, juntos; poder perguntar se ela queria beber algo diferente, se precisava de algo mais, ter dado um beijinho nela sempre que ia trocar o drink dela, como Alex fazia com Lily, ou como Carlos viu ele cortar as frutas que Lily queria comer depois do almoço. Ele queria estar deitado em seu colo, enquanto ela fazia carinhos nele e ponto dele ficar sonolento, exatamente como Charles estava no colo de naquele momento, piscando pesado ao tempo que brincava com seus cabelos e, eventualmente, deixava beijos nele.
Carlos queria de o mesmo carinho e atenção que sua amiga e Charles tiveram um com o outro naquele dia, lembrando do protetor solar, dançando juntos, tirando fotos e mexendo um com o outro, sempre que passavam por perto. Queria um pouco da ansiedade que Daniel estava sentindo, olhando em seu celular a cada cinco minutos para ver se tinha uma mensagem da menina que ele estava saindo, rindo sozinho para o aparelho, se afastando do grupo por alguns segundos para responder seus áudios, com o maior sorriso que ele poderia dar. Carlos queria aquilo de . Um pouco do todo, um pouco de tudo, mas não havia conseguido nada mais senão meia dúzia de palavras vagas, olhares discretos e rápidos e sorrisos que, na maior parte das vezes, eram bastante contidos. Ele queria mais. Queria o que tiveram ontem e um pouco mais daquilo, se fosse possível.

— Laura nunca me enganou — Cortando o silêncio breve que se instalou no grupo, tentando amenizar a troca intensa de olhares entre Carlos e , Carmen comentou casualmente.
— Sempre achei ela meio doida, para ser honesto — Ao lado dela, entrando na virada de clima, George concordou, puxando uma nova cerveja.
— Se vocês dizem, vou acreditar — Gasly se deu por vencido, aceitando a cerveja que George oferecia para ele, vendo Albon e Daniel aceitarem também.
— Vai por mim cara, você não quer esse problema para você — Carlos cortou seu olhar de e, frustrado, virou-se para Gasly.
— Eu nem vou responder ela, estou fora — Gasly riu — Meu interesse agora é outro.
— Outro que, com certeza, não está nesse barco — Sem dar tempo para que ele soltasse qualquer indireta ou comentário desnecessário, ainda mais depois de ter ouvido tudo o que ouviu de Carlos, Ricciardo comentou sério, passando o braço no encosto da cadeira de e dando um tapa na cabeça de Gasly.
— Claro que não está aqui, só comentei — Arregalando os olhos, Gasly olhou para Carlos, que parecia levemente mais gélido e sério. engoliu em seco, sem reagir.
— ÓTIMO! Então, fica na sua cara — Ricciardo emendou.
— Foi só uma brincadeira, credo — O francês resmungou, tomando um gole de sua cerveja — Agora eu só quero saber de curtir minha solteirice, com as amigas da Luisinha, de preferência.
Amiga, no singular — A portuguesa o olhou, apontando para ele — E foi só ela. Uma vez. Nunca mais te apresento para ninguém.
— Assim você me magoa — Pierre a encarou de volta, falsamente triste.
— Você quem anda numa onda de magoar as pessoas, Gasly, ninguém aqui vai te apresentar para mais ninguém — Sincera, Lily comentou alto.
— Eita… — George olhou impressionado para Lily que deu de ombros.
— Massacrado pelas gatas — Lando riu, esticando sua taça para Carmen servir-lhe um pouco de Mojito.
— Eleito o mais sem moral do grupo — Albon zoou o amigo.
— Esse posto ainda é do Charles, que usa essas bandanas — Mudando o teor da conversa, Gasly riu para o monegasco.
— Me deixa em paz — Sonolento, Charles fez uma careta.
— Que bom que falou nisso, Pipi — sorriu abertamente para ele e, em um movimento rápido, tirou a bandana do cabelo do namorado.
— EI! — Incrédulo, Charles se desencostou de e a encarou.
— Você sabe o que eu acho das bandanas, corazón — Colocando a bandana em seu próprio cabelo, como se fosse uma faixa, riu da carinha fofa de tristeza dele.
— Eu disse, não tem moral nem com a namorada — Murmurando, Pierre gesticulou.
— Todos concordamos que você fica mais lindo sem a bandana — deu um beijinho no bico frustrado que Charles fazia para ela e, tentando confrontar o comentário de Gasly, emendou, brincando: — Mas se quer minha opinião, fica mais lindo sem nada, na verdade.
— AE, CARALHO! — Alex e George gritaram ao mesmo tempo, tirando gargalhadas e novos gritos do grupo.
— Agora ele acordou — Rindo alto, Daniel apontou para Charles, que ria sem jeito, ficando vermelho, enquanto abraçava a namorada.

O grupo ficou por ali por mais algum tempo, conversando e bebendo, até que resolveram assistir ao pôr do sol do lado de fora. Charles, , Alex e Lily ficaram responsáveis em retirar a louça, George e Carmen por organizar a mesa, enquanto Ricciardo e Lando voltaram a ser os preparadores de drinks do grupo, ao tempo que Luisa e Pierre escolhiam uma nova playlist de músicas. e Carlos, com uma certa ajudinha dos amigos, ficaram responsáveis em lavar e secar a louça, respectivamente.
Os amigos que ficaram dentro da cozinha deram um jeito de resolver rapidamente o que precisavam ali e, um a um, nada discretos, foram se juntando aos outros do lado de fora do iate, no intuito de deixar e Carlos a sós lá dentro. Sainz, que deveria secar a louça, sentou-se no balcão que ficava no centro do local enquanto , que estava de costas para o piloto, começava a passar água na louça e a direcionar para a lavadora, silenciosamente. O grupo de amigos já estava todo lá fora, onde era possível ouvir um reggaeton e os gritos animados dos amigos, que riam alto e dançavam.

— Você acha que eles planejaram isso? — Carlos perguntou de repente, quebrando o silêncio ensurdecedor entre eles.
— Isso o quê? — tentou desconversar.
— Ah, você sabe… nós dois aqui, organizando a cozinha, sozinhos — Carlos enrolava o pano de prato em sua mão, uma forma de espantar o nervosismo.
— Você ainda tem dúvidas? — riu, dissipando levemente aquele clima estranho entre eles — A lavadora de louças também seca sozinha, você foi enganado, eu não ia dizer nada.
— Por que eles são assim? — Rindo daquela informação e jogando o pano de prato em cima da mesa, Carlos perguntou rotórico.
— Você, que é amigo deles há mais tempo, deveria saber — deu de ombros, colocando mais louça dentro da lavadora.
— Com certeza foi ideia da — Carlos refletiu alto, conhecia a figura — Ela nos conhece bem.
— O que quer dizer? — virou-se pela primeira vez durante aquela conversa, observando o espanhol descontraído, usando seu shorts, sem camisa e com o boné para trás. Estava mais bonito que o normal e ela se amaldiçoou quando pegou-se olhando para ele por mais tempo do que deveria, cortando o olhar quando percebeu o sorriso charmoso que Carlos a lançava, notando o olhar dela.
— Que ela sabe que nós dois somos assim, difíceis demais para nos resolvermos sozinhos, então, tenho certeza de que ela deu um jeito de ficarmos a sós, para isso aqui… — Sainz apontou para os dois — se resolver.
— Não sei do que está falando — comentou, virando-se novamente para frente e continuando a sua tarefa — O que temos para resolver?
— O que aconteceu ontem, talvez? — O espanhol se aproximou dela, por trás, parando a uma passo de onde ela estava. estava com uma saia curta e só a parte de cima do biquíni, tinha os cabelos soltos ondulados em suas costas e um cheiro gostoso, uma mistura de protetor solar e de perfume.
— Como você sugere resolver o que aconteceu ontem? — Sem se virar para ele, perguntou baixo, o olhando por sobre seus ombros.
— Quer mesmo saber? — Carlos perguntou no mesmo tom de voz, fazendo sentir o riso frouxo dele sobre o pescoço.
— Quero saber o que você quer que façamos depois de ontem — Carlos pressionou os lábios com a pergunta, enquanto sua mão segurava delicadamente a cintura da modelo. sentiu o corpo todo estremecer com o toque quente dele, ansiosa pela resposta, mas ela não veio. Pelo contrário, como um furacão, outra pessoa os atrapalhou.
— Oi, amigos queridos, vocês viram o abridor de vinho? — Claramente bêbado, Gasly chegou ao local inesperadamente, fazendo os dois se separarem em um pulo. Percebendo o clima estranho que estava rolando ali, Pierre viu balançar a cabeça em um movimento negativo enquanto Sainz dava alguns passos pela cozinha, de costas para os dois.
— Acho que vi no bar, ao lado da mesa de jantar — O espanhol respondeu rapidamente, ríspido.
— Ah, fechou, obrigado e gracias! — Pierre saiu em direção ao bar. Meio segundo depois ele voltou, gritando animado: — ENCONTREI! — E logo seguiu para fora novamente.
— Esse cara está começando a me irritar — Carlos comentou baixinho, mas foi impossível não ouvir.
— Está com ciúmes, Sainz? — Sorrindo, provocou, virando-se novamente para o espanhol e seu olhar enigmático sobre si.
— Voltamos para “Sainz”? — Carlos perguntou sério, desviando da pergunta da modelo, sem querer admitir que sim, estava com muita raiva de sempre ser interrompido e sim, estava com um pouco de ciúmes do amigo, desde que percebeu que ele estava dando em cima da modelo e que parecia gostar da atenção dela.
— Responde minha pergunta e então eu posso voltar a te chamar de Carlos — Negociando, insistindo no assunto, sorriu para ele.
— Não gosto de disputas — Dando alguns passos em direção a ela, Sainz respondeu seco.
— Jura? Achei que você fosse um piloto de Fórmula 1 — comentou manhosa.
— Não gosto de disputar quando eu sei que vou ganhar — Confiante, Carlos passou a língua nos lábios e levantou as sobrancelhas — Acho que é perda de tempo e de energia.
— O que você quer dizer com isso? — perguntou séria, espremendo os olhos.
— Acho que você entendeu bem — Já perto o suficiente dela, Carlos respondeu e, dando um selinho rápido nela, completou baixo, com os lábios próximos: — E, por favor, me chame de Carlos da próxima vez.

E assim, a deixando para trás completamente estática e séria, o espanhol saiu da cozinha, indo se juntar aos amigos. bufou irritada, secou as mãos e, sem pensar duas vezes, foi para o andar de baixo do iate, em direção aos quartos. Precisava ficar um pouco sozinha, com seus pensamentos, colocou tudo em ordem. Talvez estivesse inflando tudo por conta do álcool, talvez só quisesse sair dali, jogar Sainz na primeira parede que visse e dar a ele o que ele perecia, o que ela queria. Ou talvez só precisasse ir embora, um banho, uma caixa de chocolates e um filme de romance que a fizesse chorar.
chegou ao primeiro quarto que encontrou e jogou-se sobre a cama, repensando os últimos acontecimentos em sua cabeça. Carlos a tirava do sério, isso já era evidente para todos, mas desde a noite anterior, algo havia mudado completamente. não conseguia mais respondê-lo a altura, simplesmente não conseguia rebater ele. E Sainz a tinha beijado de novo? Como se aquilo tivesse desbloqueado toda a confusão que, ao longo do dia, ela tentou ordenar dentro de si, queria gritar. Carlos era insuportável. Imprevisível, irritadinho, lindo e muito interessante. não sabia o que achar, o que pensar e muito menos o que fazer. Ficou ali, deitada, olhando o teto por algum tempo, tão distraída em si mesma que nem viu quando entrou no cômodo, levemente bêbada, sentando-se na ponta da cama.

— ¿Que pasó, mi amor? — O espanhol perfeito, praticamente gritado, fez dar um pequeno pulo na cama, de susto, tirando uma risada de — Desculpe!
— Sem problemas — respondeu, dando de ombros.
— Por que está aqui sozinha?
— Queria espaço para pensar — A modelo fez um biquinho, ajeitando-se na cama.
— Isso tem a ver com o Carlos, não tem? — perguntou, recebendo um olhar triste da amiga. Carinhosa, a empresária fez um sinal para que se deitasse em seu colo e, fazendo o que a amiga mandou.
— Ele me deixa confusa, eu não sei… — comentou baixo, sincera.
— Ele me contou hoje, mais cedo, sobre o que aconteceu entre vocês ontem, imaginei que você não estivesse muito bem com isso — seguiu passando a mão nos cabelos dela.
— Então, você já sabia? — a olhou, de ponta cabeça.
— Já, esperava que você me contasse antes — deu de ombros, honesta.
— Eu sei, eu queria te contar tudo antes, sobre eu ter ido a Marbella, principalmente… — suspirou — Eu só não sabia como fazer isso, você sabe… Por conta da aproximação de vocês dois. Sei o quanto Carlos é importante para você e não queria… te usar para saber coisas dele, não sei.
— Ei, escuta — Segurando o rosto da amiga em seu colo com as duas mãos, a olhou séria — Antes de qualquer coisa, você precisa sempre se lembrar que eu amo o Sainz, como meu irmão, mas sou sua amiga também. E vou estar sempre do seu lado, ok?
— Obrigada por isso — apoiou sua bochecha na mão da amiga, sorrindo com ternura — Só está tudo uma confusão, sabe? A gente vinha discutindo, as provocações viraram uma briga e, de repente, eu me vi pensando nele, em tudo o que você me disse, querendo devolver o carro, pedir desculpas. E isso me atormenta, eu penso nele, eu beijei ele ontem, . Eu quero ele, é… meu Deus, eu não sei nem dizer.
— Claro que sim, — riu sozinha, sentia sua cabeça girar pelo álcool — é confuso porque vocês não querem dar nome ao que acontece. Mas eu vou te dizer, amiga: vocês são cabeça dura demais para perceber que realmente se gostam e isso está atormentando vocês agora, porque estão notando isso.
— Não fala assim, Hermann — fez uma careta para ela, mas logo riu junto com a amiga.
— É a verdade, você gostando da ideia ou não, vocês estão se identificando e estão criando conexão — deu de ombros — e isso diz muito sobre o que está acontecendo, .
— Eu só queria que as coisas fossem mais claras, queria ouvir dele que ele também está dessa forma, sei lá — A modelo parou por um instante, pensando — Eu queria ter certeza do que estou fazendo, mas ele não me passa essa certeza, essa segurança, sabe?
, o Carlos foi atrás de você no aeroporto, em Marbella — Sem nem se ligar que tinha realmente dito aquilo, falou casualmente — Se isso não te der certeza de que ele realmente é afim de você, eu não sei mais do que você precisa.
— O que? — se sentou na cama, assustada, encarando a amiga — , o que você disse?
— Que o Carlos gosta de você, amiga. Ele ficou tão confuso quanto você nessas semanas, depois que você foi devolver o carro. E ter ficado com você ontem despertou muitas coisas nele — Embolando as palavras e falando meio mole, gesticulava — Ele…
— Não, , antes disso — Apreensiva, surpresa por uma informação que desconhecia totalmente, insistiu — Carlos foi atrás de mim no aeroporto? Em Marbella?
— Foi, a olhou séria — Ele foi atrás de você, mas não te encontrou lá. Tentou comprar uma passagem aérea, mas seu voo já estava saindo, não deu tempo…
— O que ele pretendia? — Olhando a amiga como se ela fosse um diamante, perguntou curiosa. Seu coração parecia acelerado, feliz em ouvir aquilo.
— Acho que vai ter que perguntar isso para ele — Esticando os braços no ar, falou simplesmente.
… por favor — A modelo implorou, fazendo um biquinho. Ou a amiga sabia de mais coisas, mas estava protegendo o amigo. Ou só estava bêbada mesmo.
— Eu não sei o que ele pretendia, amiga — Ajeitando a camiseta de Charles em seu corpo, que vestia por cima do biquíni como se fosse um vestido curtinho, pensou — Apesar de sermos amigos, Carlos não é o cara mais aberto do mundo. Ele teve relacionamentos passados muito ruins, frustrantes, não tem sido fácil para ele recomeçar agora. Acho que vocês precisam conversar, direito. Precisam tentar entender tudo isso juntos, não como estão tentando fazer.
— Você sabe que ele é uma pessoa difícil de lidar, não sabe? — olhou sugestivamente para a amiga.
— Só ele? — levantou a sobrancelha séria, mas logo riu com a modelo.
— Tudo bem, admito, não sou uma pessoa fácil também — Levantando os braços, se rendendo, comentou — Mas parece que desde a noite anterior tudo mudou, quer dizer…Talvez desde o jantar na casa dele… Eu não consigo mais continuar o jogo de provocações, brigas, como fazíamos antes, parece que algo mudou em mim.
— Viu? Foi como disse, amiga. Vocês se apaixonaram um pelo outro.
— Se apaixonar? — riu nervosa — Não, não é isso.
— Então, o que seria? — cruzou os braços seriamente, enquanto observava o olhar perdido da amiga sentada à sua frente.
— Eu não sei… — suspirou, brincando com os próprios dedos — Só sei que me sinto fraca, vulnerável, me pego pensando nele mais tempo do que o normal, fico meio… ansiosa quando sei que vou ver ele, isso me irrita.
— E o que isso significa? — A outra mulher perguntou com obviedade, rindo.
— Eu realmente não sei, mas não é isso que você está pensando — comentou gesticulando — Ele sempre foi um arrogante completo, me tratou com indiferença desde o início e nunca mediu o peso de suas palavras comigo.
— Você também nunca foi fácil com ele — rebateu, recebendo um olhar assassino da amiga — Não estou defendendo ele, mas vocês dois sempre foram crianças demais um com o outro, desde o dia zero.
— Eu sei, mas agora parece que isso já mudou, depois do que quase rolou ontem a noite — suspirou mais uma vez, sem graça, desviando seu olhar do jeito feliz que a amiga a olhava. bêbada conseguia ser ainda mais fofa — Não sei mais ficar perto dele, não sei como agir a partir de agora.
— Só seja você mesma, amiga, — riu do conselho mais clichê que ela poderia lhe dar, apesar de saber que, no fundo, ela tinha razão — Quem você é já foi o suficiente para conquistar ele, não precisa fingir nada, nem ignorar o Carlos — pegou a mão dela, carinhosa — Acredite quando te digo que ele também está na mesma situação que você, nesse momento. Talvez um pouco pior, porque ele procurou sua atenção o dia todo e não encontrou muita coisa.
— Fui babaca com ele? Você acha? — Preocupada, mordeu os lábios.
— Foi insegura só, ele sabe disso, está tudo bem — apertou a mão dela, sorrindo em seguida.
— E como fica a situação a partir de agora? — Incerta sobre a resposta que receberia da amiga, mas curiosa em saber ela, perguntou.
— Isso é com vocês — fez uma pose, tirando uma gargalhada da amiga — Mas, agora, que tal a gente subir agora e pensar apenas em um bom drink e se divertir com os loucos lá em cima?
— Eu vou querer beijar o Sainz — assumiu manhosa, tirando uma risada da amiga que, se levantando da cama, cambaleou para o lado, rindo ainda mais.
— Beija, amiga, eu aprovo — Com o tranco leve que o iate deu, de repente, quase caiu no chão, se segurando na cama e gargalhando com a amiga.
— Você é uma péssima influência, Hermann. Já parou para pensar que tudo isso só aconteceu porque eu encontrei você e a louca da Lily num golfe? — sorriu, levantando-se rapidamente e, abraçando a amiga pelos ombros, a viu sorrir emocionada.
— Fala sério, mudamos sua vida para melhor — a abraçou pela cintura — Você está num iate, no meio de Mônaco, bêbada com o álcool mais caro do mundo, tendo um rolo com um piloto gostoso de fórmula 1. O que mais você quer? Você teve sorte de encontrar a gente, minha amiga.
gargalhou do jeito espalhafatoso da amiga, apertando levemente o abraço entre elas.
— Obrigada , Charles tem muita sorte de ter você, sabia?
— Ai, amiga, não fala esse nome porque é meu ponto fraco, sabe? Eu amo tanto ele que, às vezes, eu acho que vou explodir — A empresária disparou empolgada, mais uma vez claramente bêbada, tirando uma nova risada alta de . A modelo pensou em zoar ela, mas, antes mesmo que pudesse dizer algo, a porta do quarto foi aberta de sopetão:
— ENCONTREI VOCÊS, ufa — Luisa gritou animada, fazendo uma dancinha em seguida. Estava com uma saída de praia que pode reparar ser da Hermann, porque estava do avesso, um chinelinho da Hermès e meio descabelada. Mais uma que estava bêbada, pensou.
— Luisinha do nosso coração — celebrou gritando.
— Te amo, ok? — Mandando beijos no ar, Luisa olhou dela para e de para ela de volta — A ideia da cozinha deu certo?
— Então, foi realmente ideia sua? — Soltando e a encarando, risonha, perguntou rindo.
— Não foi minha, foi das meninas também — apontou para Luisa e logo voltou-se para a modelo — Deu certo?
— Não sei — suspirou, lembrando-se do selinho que ganhou de Carlos — Vamos dizer que sim.
— Ai, ótimo, somos ótimas nessas missões do amor — Luisa fez uma pose, se achando — Vocês precisam subir, acabamos de chegar de volta na marina.
— O que rolou? — Curiosa, deu passos cambaleantes até Luisa, com logo atrás.
— Charles dormiu no sofá externo, — Luisa riu sozinha, ouvindo a amiga comentar “aw, meu neném” — e o Lando está desenhando coisas nele, com as maquiagens da Lily, enquanto o George filma.
— E a Lily sabe disso? Que o Lando mexeu nas coisas dela? — Incrédula, riu, imaginando a cena. Lily certamente ficaria irada quando soubesse daquilo. Lando podia se preparar para o ataque de fúria dela.
— Está pegando o Albon aqui no quarto do lado — Abaixando a voz, como se fosse segredo, Lu respondeu, assim que elas passaram pela porta fechada do quarto, indo sentido a área externa, acima, onde os demais estavam.
— Ui, a coisa ficou boa para alguém — sussurrou, rindo baixinho.
— Eu vou socar o Lando e o George — revirou os olhos, apoiando Luisa enquanto ela subia a escada e sendo apoiada, atrás, por .
— Vim te chamar para isso mesmo, amiga — Luisinha bateu uma palma, tentando ser séria sem nenhum sucesso — Fora isso, o Daniel está querendo ir encontrar, hoje ainda, uma menina que ele conhece, mas está num estado deplorável e a Carmen está tentando dizer isso para ele, mas ele não ouve.
— Santo Deus, só fica pior a cada segundo — negou com a cabeça, já no andar de cima, com as meninas ao seu lado.
— Espera só eu chegar no Gasly — Rindo da ideia, Luisa deu de ombros.
— Eu vou adivinhar — levantou a mão — Está passando mal ou chorando?
Quase passando mal, porque tomou uns oito shots de tequila com a Carmen e com o George agora pouco, e quase chorando — A corrigindo, Luisa apontou para ela e, em seguida, para onde Pierre estava.

Sentado sozinho, no deck da proa do iate, ele olhava para o mar escuro pela noite, pensativo. Era possível ver seus olhos cheios, brilhantes, pelas lágrimas e o copo em sua mão vazio, amargo como o que ele parecia sentir. As meninas se entreolharam meio tristes, sem realmente saber o que fazer. pensou em como o tempo das coisas era algo tão ingrato na vida. Pierre errou e não teve tempo de concertar. Estava preso no tempo em que era feliz, em que tinha tudo o que queria com Kate, em um tempo que ele sabia que nunca mais voltaria. E ele esperava que o tempo, o mesmo tempo que o amargurava, também o curasse em breve, levando todas as mágoas embora, tirando dele a culpa e os erros que cometeu.
não queria esperar pelo tempo. E por aquele segundo, pensando naquilo, ela desejou não ter que contar com o tempo a seu favor para fazer o que seu coração a mandava fazer. Cada instante que deixava passar podia ser tarde demais, cada segundo um novo atraso, uma oportunidade perdida. Como aquele dia que amanheceu e já terminava, como a noite que já havia caído, ela sentiu que tinha perdido tempo em realmente resolver as coisas com Carlos, como ele mesmo se propôs a fazer mais cedo, quando ficaram a sós na cozinha. Por que não ali e por que não agora? Se ela sabia que a noite anterior também havia mexido com ele, como mexeu com ela, por que não resolver aquilo?
Passando seu olhar ao redor de onde estavam, procurou por ele. De onde estavam podiam ver Pierre sozinho no deck e Carmen e Daniel conversando seriamente perto do bar. Do outro lado, no fundo do iate, na área externa, Lando e George riam vendo algo no celular de Russell, enquanto Charles dormia tranquilamente no sofá externo, encolhido, ao lado de onde eles estavam. Tinha o rosto colorido e com glitter, maquiado pelos amigos. sabia que Lily e Alex estavam no quarto e, fora isso, não tinham encontrado com mais ninguém pelo caminho que percorreram. A tripulação do iate já deveria ter ido embora e, de volta a marina, podia ficar o quanto quisessem no iate ou ir embora também.

— E o Carlos? — perguntou baixinho, olhando ao redor, atraindo a atenção das duas amigas — Onde ele está?
— Acho que foi embora — Luisa respondeu com naturalidade, olhando ao redor, sem notar a expressão surpresa da amiga.

olhou para por um instante, absorvendo aquela informação. Carlos estava indo embora sozinho? Será que a falta de resposta dela o havia frustrado tanto a ponto de ele ter ido embora? Ou será que o fato de ela tê-lo ignorado ao longo do dia tivesse passado a ele uma mensagem diferente do que ela esperava? se sentiu levemente mal por um segundo. Tinha sumido de vista depois do que rolou na cozinha e não considerou que Sainz, talvez, também estivesse se esforçando em fazer parecer que tudo estava bem entre eles quando, na verdade, ele também estava vivendo um caos interno. tinha que fazer alguma coisa.
E como se tivesse tido a exata mesma ideia de , que a encarava atônita, esperando qualquer reação dela, desviou seu olhar até onde embarcaram no iate. De fato, a rampa de acesso estava acionada e, por um momento, desejou que fosse apenas porque a tripulação foi embora, e não ele. Voltando seu olhar preocupado para , que entendeu o recado, ela não demorou três segundos até ouvir a amiga dizer, assertiva:

— Vai.

Apressada, sentindo seu coração bater acelerado enquanto sua mente repassava sem parar que Sainz tinha ido atrás dela em Marbella, no aeroporto, como ela fazia naquele momento, foi em direção a rampa. Contudo, bastou a ela subir no acesso para que seus olhos se deparassem com as luzes do farol do carro de Carlos, alguns bons metros longe dali, acendendo-se. Com elas, o carro deu partida e, sem demorar, saiu rapidamente dali.
assistiu Carlos ir embora da marina com a terrível sensação de que, daquela vez, foi tarde demais para ela.
~ ❤ ~


Capítulo 08

Monte Carlo, Mônaco

— Eu não acredito que vocês vão me fazer sair nessa última semana de férias, eu só queria descansar — Carlos bufou para Charles, assim que eles entraram no avião, encontrando George e Carmen conversando animados dentro da aeronave.

Assim que saiu do iate no final daquele domingo, Carlos voltou para sua casa em Marbella, onde passou os próximos dias na companhia de sua família e de outros amigos mais próximos. Era a última semana de férias, por isso, não pensou muito em criar planos ou aceitar compromissos para aqueles dias. Sua única preocupação era descansar o máximo possível e curtir os dias com tranquilidade, recuperar as energias, antes da temporada voltar com tudo.
Seus planos, contudo, foram parcialmente por água abaixo quando Charles, do nada e sem avisar, chegou na sexta-feira à tarde, com a desculpa esfarrapada de que tinha ido buscar algumas roupas de em casa e com a brilhante ideia de levar Carlos de volta para Mônaco com ele. O restante do grupo havia combinado de se reunir em Monte Carlo, para passar o último final de semana juntos, tendo em vista que, assim que a temporada retornasse, não seria tão fácil reunirem-se, todos, e com tanto tempo livre, tão cedo. Tinham planos clássicos para jogar golfe, beber e se divertir no calor da cidade, antes do reinício do campeonato. E aquele plano parecia ótimo, exceto pelo fato de Carlos, definitivamente, não querer fazer parte dele. Não daquela vez. Não com a possibilidade de estar lá também e, como sempre, tornar tudo para ele um caos extremo.
Mas o que ele podia fazer, afinal? Parecia ser o ponto mais fraco da corda naquela situação e podia ser muito persuasiva quando queria. Tinha ligado para ele assim que Charles avisou que Carlos estava fazendo “corpo mole” e, menos de dez minutos depois, convencido o melhor amigo a se juntar a eles, oferecendo nada mais do que dias incríveis, bons drinks e boas horas de sol no mar. Parecia razoável. E ela jurou que ele poderia ir embora quando quisesse, caso algo fora dos planos dele acontecesse. Bingo. Ponto para Hermann.
De todo modo, por mais que tentasse não ir, Carlos sabia que teria pessoas demais enchendo seu saco pelos próximos dias, questionando seus motivos e o provocando com indiretas bem diretas sobre Elanor. E ele nem sabia se ela estaria lá também. Tinha seus compromissos, seus trabalhos e não necessariamente estaria com eles. Carlos jogou sua mala de mão no bagageiro, ainda emburrado, pensando naquilo. Não tinha clareza sobre o quanto não queria mesmo vê-la. E era possível que, bem no fundo, tivesse sido convencido a ir com os amigos mais pela chance de, de repente, estar lá, do que pela mentira que contava a si mesmo de que ela não estaria.

— Finalmente! — Carmen bateu palminhas animadas, com o namorado sorrindo ao seu lado — Achei que teria que ir buscá-los pelos cabelos.
— Culpa do cabrón aqui — Charles apontou para o amigo, vendo-o abraçar o casal rapidamente, os cumprimentando.
— Talvez porque eu não estava a fim de vir? — Carlos olhou sugestivamente para Charles, que fez uma careta, enquanto sentava em uma das poltronas.
— Ih, acho que alguém está bravinho — Russell sentou-se na poltrona ao lado da namorada, de frente para onde Charles e Carlos se acomodavam.
— Relaxa, cara, falta pouco para você ver a de novo — Charles debochou rindo, recebendo um olhar furioso do amigo.
— Ah, então, está explicado! Tudo isso é saudades do seu benzinho? — Fazendo uma voz propositalmente melosa, Russell cutucou o amigo, recebendo um tapinha de Carmen, como se pedisse que o deixasse em paz.
— Nossa, que engraçadinhos — Tirando os fones da mochila e colocando em seus ouvidos, Carlos revirou os olhos — Se me dão licença, prefiro ouvir algo que preste…

Sainz ainda ouviu Russell soltar um som alto aleatório, enquanto Charles ria, e logo tratou de dar play na primeira música que apareceu no seu Spotify, querendo se desligar o quanto antes daquele assunto. Resolveu ignorar os amigos, olhando para a janela e assim ficou, o tempo que demorou para decolarem de Marbella. George, por sua vez, trocou mais algumas palavras com a namorada e Charles e não demorou para se ajeitar em seu lugar, confortavelmente, colocando seus óculos de sol e, poucos minutos depois que o avião planou no ar, ele dormiu.
Assim, boa parte da viagem prosseguiu sem muita conversa com eles dois, enquanto Carmen e Charles, por outro lado, pareciam emendar um assunto no outro, empolgados, conversando animadamente. Carlos ficou por bons minutos concentrado em seus próprios pensamentos e nas músicas que tocavam em seus fones mas, em certo momento, enquanto uma música terminava e antes de escolher uma próxima para ouvir, ele se pegou prestando atenção no que os dois amigos diziam.

— Sério, eu estava acabado — Charles riu, olhando Carmen — Eu só lembro de ter acordado no dia seguinte com a chorando de rir, me olhando eufórica — Foi a vez de Carmen soltar uma risada leve — Eu estava todo rabiscado de maquiagem, e nem sabia de onde aquilo tinha vindo.
— Foi uma missão e tanto te tirar do iate — Carmen comentou.

tinha levado meia hora para tentar acordar ele e convencê-lo de que tinham que ir embora do iate, mas Charles simplesmente não queria nem se mover dali. George e Lando quase tiraram ele à força de lá e o colocaram num táxi com . Charles foi o caminho todo dormindo no colo dela e, assim que chegaram em sua casa, sonolento, ele caminhou com ajuda dela até seu quarto e capotou na cama - literalmente. E do jeito que caiu na cama, ele acordou no dia seguinte, com as risadas altas da namorada em ver o estado dele.

— Eu só lembro de você conversando com o Dani, antes de eu pegar no sono oficialmente, e ele parecia frustrado, — Charles negou com a cabeça — o que aconteceu?

Carmen sorriu abertamente para ele, ponderando se, de fato, deveria contar o que aconteceu, mas que mal teria, afinal? Charles era confiável e era amigo o suficiente de Daniel para compartilhar o silêncio de Carmen sobre aquele assunto.
Ela estava sozinha naquele momento da noite do último domingo. Alguns minutos antes conversava com e Carlos, mas o amigo espanhol foi ao banheiro e, não muito tempo depois, a amiga austríaca foi atrás de . Carmen estava sentada na parte da proa do iate e, dali, podia ver Gasly, sentado perto e sozinho, pensativo, encarando o mar como se visse algo sair dele. Lily e Alex tinham desaparecido em algum dos quartos do iate, Luisa parecia ir atrás das amigas na parte de baixo do iate e Charles, Lando e George estavam no sofá na parte de dentro, conversando.
Daniel já tinha bebido um pouco mais do que deveria e bastou a ele os poucos segundos em que avistou Carmen, sozinha, para decidir se juntar a ela. Gostava de conversar com Carmen, se sentia confortável e acolhido por ela, e naquele dia ainda não tinha tido a oportunidade de se aproximar dela assim, em algum momento em que estivesse sozinha. A verdade era que Daniel precisava muito conversar com alguém. Estava se sentindo um tanto sufocado com algo que viu não muito tempo antes e precisava pedir uma opinião, de preferência, de alguma de suas amigas.
Carmen abriu um sorriso assim que viu ele se aproximar, trazendo uma garrafinha de água e seu celular na mão e sentando-se ao seu lado. Daniel suspirou por alguns segundos, atiçando a curiosidade da espanhola que o olhou curiosa, esperando o momento certo para perguntar o que estava acontecendo. Não foi, contudo, necessário. Daniel virou-se para ela no momento seguinte e, apoiando sua cabeça em seu braço na borda do barco, fechou os olhos por um segundo:

— O que está acontecendo, Dani? — Ele ouviu ela perguntar, ajeitando-se ao seu lado no estofado branco e macio onde estavam sentados.
— Eu sou um grande idiota, Carmen — Dani respondeu baixo, olhando em direção ao chão. Tinha deixado a garrafinha de água de lado, no sofá, e segurava seu celular com a mão direita.
— Por que diz isso? — Ela perguntou um tanto confusa, vendo-o olhar em volta. Parecia não querer que ouvissem a conversa e, de fato, ele não queria.

Não tinha contado sobre aquela parte de sua vida para nenhum dos amigos ali, com receio de, de alguma forma, ela se tornar pública, e ele não estava realmente pronto para que todos soubessem. Confiava em Carmen, contudo. E se não precisasse realmente conversar com alguém, como ela, talvez seguiria lidando com todos aqueles sentimentos passados sozinho, como há anos vinha fazendo.
Carmen, por sua vez, estava ligeiramente confusa. Daniel parecia meio bêbado e meio atordoado, ela não sabia dizer ao certo. Tinham o costume de conversar bastante, talvez até mais do que ela tinha com os outros meninos, e, justamente por conhecê-lo, sabia que alguma coisa nele parecia errada.

— Olha, eu vou ser direto e falar de uma vez por todas, porque isso está me… consumindo, há anos — Ele começou, observando Carmen concordar com a cabeça, em silêncio — Eu tive um grande amor, muitos anos atrás, tipo… quinze anos atrás…
— Quinze anos? — Ela repetiu, surpresa, vendo ele concordar com a cabeça — Isso é… uau… quer dizer, muito tempo. Vocês tinham o que… dezoito anos?
— Éramos jovens e eu fodi tudo… — Daniel suspirou pesadamente, desviando seu olhar para o mar — Eu amava ela, de verdade, e eu joguei isso no lixo, porque tudo o que eu pensei foi em mim e na minha carreira.
— E se você não tivesse feito isso, você não estaria aqui, nesse momento, e não seria o piloto incrível que é hoje — Ela o cortou, segurando delicadamente em seu braço, vendo-o concordar com a cabeça.
— Eu sei, não me arrependo dessa parte, mas, não é isso… eu a magoei, Carmen. Eu sei que machuquei ela, não só o meu primeiro mas talvez o único amor da minha vida — Ele desabafou, sem reparar em Carmen sorrindo triste, em silêncio, enquanto observava o amigo.
— O que aconteceu, Dani? Do começo… — Tentando juntar as partes soltas de uma história que Carmen nunca tinha ouvido, ela insistiu. Daniel, depois de uns drinks, já não conseguia mais nem ordenar seu nome inteiro, quanto mais uma história que aparentemente era longa e complexa.
— Eu nunca contei isso a ninguém e, para ser honesto, acho que nem sei por onde começar a contar… — Ele riu amargo, frustrado, voltando a olhar os olhos atentos e cuidadosos de Carmen — Nós estudávamos juntos, na mesma turma. Começamos a namorar no ensino médio e, caralho, eu tinha tantas certezas sobre ela… sobre o que eu queria, sobre o nosso futuro depois da escola. E então veio uma oportunidade irrecusável — Daniel abaixou seu olhar outra vez, saudoso, preso às memórias em sua mente que parecia incomodar seu coração — Minha vida era correr, meus pais estavam dando tudo o que eles tinham para me manter nos campeonatos e aquela era uma chance em um milhão, não teria outra. E, então, eu…
— Teve que escolher entre ela e essa oportunidade? — Carmen completou sugestiva. Daniel concordou levemente com a cabeça e seguiu contando por cima:
— Mas eu fui um babaca. A abandonei, sem dizer nada, e nunca mais a procurei.
— Como assim “abandonou”? — Carmen franziu a testa, intrigada.
— Fui embora da Austrália… só… fui embora e não disse nada a ela…
Daniel engoliu todos os detalhes doloridos daquele dia, daquela decisão, sem querer reviver todos eles, sem saber o que esperar que Carmen diria se ela soubesse exatamente como tinha sido. Parte dele, hoje, adulto e maduro, se envergonhava de ter tido uma atitude tão infantil e covarde. Mas parte dele ainda aceitava a escolha que fez como a única possível, naquele contexto em que vivia, naquele momento. Carmen manteve-se em silêncio, sem saber direito se tinha mesmo entendido o que tinha acontecido, sem saber se deveria perguntar mais detalhes e, definitivamente, sem querer ser invasiva. Lembraria de, em outra ocasião e certamente sóbrio, conversar com ele sobre aquele assunto.

— Eu sei, fui um bosta… — Diante do silêncio dela, Daniel seguiu dizendo — mas depois de tantos anos, eu acho que acabei a encontrando no Instagram...
— Ai, caramba, Dani, isso é ótimo! — Carmen celebrou animada mas, vendo a expressão só amigo manter-se frustrada, perguntou: — Não é bom?
— Não sei, sinceramente… — Ele deu de ombros, honesto — Acho que ela não quer mais saber de mim.
— Por que diz isso? — Ela perguntou curiosa, pegando a garrafa de água do amigo e tomando um longo gole.
— Antes de achar o Insta dela, eu a encontrei, alguns dias atrás, em uma loja, no shopping — Ele contou, gesticulando com as mãos — Foi rápido e ela estava acompanhada por uma amiga, eu acho, então, não me aproximei muito. Mas ela me viu! Eu sei que ela me viu…
— E? — Curiosa, Carmen instruiu ele a continuar.
— Ela ficou pálida, como se tivesse visto um fantasma, e fingiu que não era nada, que não tinha me visto, foi embora correndo, não deu tempo de ir atrás — Daniel passou uma mão pelo cabelo, nitidamente incomodado por aquilo.
— Então, depois disso, você decidiu procurar ela no Instagram? — Como um quebra-cabeças, Carmen juntou as peças.
— Eu achei ela e, caralho, ela ainda é a mesma garota pela qual eu me apaixonei — Ele sorriu meio bobo, meio triste. Sabia que o álcool em seu corpo estava embaralhando os detalhes da história, mas Carmen parecia estar entendendo — Fiquei perdido vendo as fotos dela, reconhecendo coisas que ela ainda gosta de fazer, ela continua… linda — Sem desviar os olhos dele, Carmen sorriu com ternura — e quando eu vi, já estava enviando uma mensagem para ela.
— Meu Deus, e o que ela respondeu? — Carmen perguntou empolgada, se aproximando do piloto, que negou com a cabeça.
— Esse foi o problema — Daniel respondeu baixo, suspirando — Ela visualizou, ou talvez a equipe dela, não sei, mas simplesmente ignorou. Ela não respondeu.
— E isso mexeu com você, não foi? — Carmen o questionou.
— Mais do que deveria — Ele fez um leve bico, enquanto Carmen concordava com a cabeça.

Carmen não sabia como ele se sentia, definitivamente não. Nunca tinha passado por situação parecida, nunca tinha ouvido uma história como aquela. Parecia triste como ele estava bem a sua frente, parecia melancólica como o mar ao redor deles. Mas no fundo, também, parecia uma história bonita. Duas pessoas que haviam se encontrado no mundo, se amado e se perdido. Duas pessoas que estavam se reencontrando pelo acaso da vida, pelo destino talvez. E quem sabe, com sorte, não teriam um final feliz.
Daniel merecia uma história de amor daquelas boas, bonitas e memoráveis. Merecia ter alguém que pudesse amá-lo pelo homem incrível que era, que pudesse tirar dele aquele sorriso único, que pudesse compartilhar a vida com tanta diversão e otimismo, como só ele fazia. Por um segundo, o olhando ali no breve silêncio que pairou entre eles, Carmen desejou aquilo. E pensou que, talvez, pudesse ajudá-lo de alguma forma, mas, certamente, em outro momento, mais sóbrio.
A espanhola e o australiano ficaram mais alguns minutos por ali, em silêncio, digerindo o que haviam acabado de conversar, mas não durou muito tempo. Sentado de frente para eles, Gasly logo começou a querer pular no mar, aquelas horas da noite, “para se refrescar” segundo ele, e precisou ser impedido por Daniel, enquanto Carmen ia de volta para dentro do iate, atrás das amigas.

— E foi isso — Carmen resumiu a conversa que se lembrava ter tido com Daniel, no silêncio curioso e atento de Charles em descobrir aquilo tudo. Conhecia Ric há anos e ele nunca sequer tinha falado sobre aquela garota para eles, deveria ser íntimo e sério o suficiente — Espero ter outra chance de conversar novamente com ele sobre isso, talvez em um momento mais… sóbrio.
— Dani não é a pessoa mais aberta do mundo com o que sente, apesar de ser bem expansivo — Charles sorriu de lado, pensativo — Isso tudo deve mexer muito com ele…
— Tadinho — Carmen lamentou, desviando o olhar da janela do avião de volta até o amigo monegasco à frente — mas, e então, do que mais você se lembra do final da festinha no iate?
— Da meio chateada com alguma coisa, você pegou essa parte? — Charles riu, tentando resgatar em sua mente — Parece que todo mundo ficou meio triste no final, bad vibes bateu…
— Foi um final de dia meio conturbado — Olhando discretamente para Carlos, que não ousou em reagir, Carmen concordou. Aparentemente, com fones de ouvido e o olhar perdido na janela afora do avião, Sainz não estava prestando atenção no que conversavam ali — Ela queria ter falado com ele no final, mas ele já tinha ido embora. Ela tentou ir atrás, mas não rolou — Carmen abaixou o tom de voz e, sempre que dizia "ele", seu olhar ia de Charles para o amigo espanhol ao seu lado.
— Ela foi atrás dele? — Charles perguntou no mesmo tom de voz, surpreso.
— Foi, aham, — Carmen concordou com a cabeça, sorridente — assim que soube que ele tinha ido embora. Mas ela ficou chateada, porque não deu tempo.
— O que ela ia fazer? — Charles pensou alto e trocando um olhar sugestivo com Carmen, eles riram juntos.

Carlos não conseguiu ouvir mais nada, porque em seus fones a batida de Wake Me Up (Avicii) começou, enfim, a tocar logo. Ele engoliu em seco, sentindo as palmas de suas mãos suarem. tinha ido atrás dele? Como ele foi atrás dela no aeroporto? O que ela queria dizer? Ou fazer? Não podia ser verdade. Estava sendo tão apática com ele naquele dia, o ignorando, não parecia ser verdade. Carmen e Charles já tinham bebido bastante, como os demais, deviam ter entendido tudo errado ou visto coisa onde não tinha.
Depois que a deixou na cozinha e que ela sumiu, Carlos ficou pensativo, concluindo que, talvez, a presença dele ali e suas tentativas insistentes de chamar a atenção dela, de querer resolver o dia anterior, a tivessem assustado ou a feito mal, a ponto de ter se isolado de todos eles. Talvez não tenha nada a ser resolvido mesmo. Talvez eles dois agiram por puro impulso, sem pensar e tudo não passou de um erro. Mas Carlos não estava satisfeito e nem feliz com aquela ideia. Se tivesse mesmo sido um erro, um impulso, porque parecia que ela também o queria como ele queria ela? Ela teria se abalado tanto com a tentativa de aproximação dele? E se aquela conversa de Carmen e Charles fosse real, se tivesse mesmo ido atrás dele, não o teria dito nada?
Suspirando frustrado, tentando focar-se na música que tocava em seus fones, Carlos pensou que talvez tivesse mesmo sido uma boa voltar a Monte Carlo. Suas perguntas estavam todas lá e, quem sabe, dessa vez, ele não fosse descobrir as respostas.

~ ❤ ~


Ainda em Monte Carlo, passou os dias seguintes ao passeio no iate na casa e na companhia de Ricciardo. O tempo de férias que pegou para descansar foi de muito bom grado e ela estava realmente feliz por ter aceitado o convite do amigo de ficar alguns dias a mais por ali. Pode visitar alguns conhecidos que moravam no país, fez trilhas com o australiano, o ajudou com algumas questões de sua marca, aproveitou o quanto podia de calor nas praias e, despretensiosamente, depois de encontrar com ele em um coquetel que acompanhou Daniel, almoçou com Lewis Hamilton.
Na ocasião, ela pode conhecer Roscoe, o buldogue do piloto inglês, que havia roubado toda a atenção dela naquela tarde e conquistado o coração da modelo. No fim da noite, sem nada planejado, e Daniel toparam sair juntos com Lewis para uma balada. Lewis estava acompanhado de uma garota, mas não ousou perguntar sobre a relação dos dois até porque o inglês estava acompanhado de seu melhor amigo Daniel Forrest e outras mulheres.
A modelo estava amando os dias na companhia do amigo. Ricciardo tinha uma energia muito boa, estava sempre para cima, animado, agitado, sorrindo. Pode entrar um pouco mais na vida dele naqueles dias ao tempo que também abria a sua para ele. Uma troca natural, verdadeira, muito genuína e divertida. gostou dos dias que passou ali, ocupada demais para se perder em seus pensamentos, atarefada demais para pensar em Carlos e na frustração de tê-lo perdido de vista no iate, naquela noite.
não teve mais notícias dele. Carlos não publicava mais nada em suas redes sociais desde então e não interagiu com ela de forma alguma, em nenhuma rede social ou nos grupos que estavam juntos. chegou a postar alguns stories e fotos em seu Instagram, torcendo, no fundo, que ele ao menos as curtisse, mas nada. Sainz parecia ter se fechado em seu mundo e, não fosse por Daniel comentar casualmente que ele tinha voltado para a Espanha, ela não teria sabido daquilo. Sainz tinha ido embora de Mônaco. E se questionava se tinha sido por causa dela.
Mas ela não poderia fazer nada, poderia? A escolha era dele e nada tinha acontecido para criar uma situação dramática como aquela. Carlos só deveria ter compromisso de volta em seu país, com sua família ou só queria voltar para casa mesmo. Não tinha nada demais naquele fato e foi se apegando a isso que aclamou seu coração, seus pensamentos e seguiu os dias calorosos de Monte Carlo.
Na sexta-feira à noite, contudo, quase uma semana depois do passeio de iate, foi convocada por Luisa, , Carmen e Lily para um jantar entre elas. Daniel tentou protestar e enfiar os amigos no convite delas, mas não demorou a entender que era uma noite das meninas e que queriam sair a sós. Sem compromissos para aquele dia, animada com a ideia, não pode negar o convite. Era mais um momento de fazer aquilo que elas amavam fazer juntas: colocar as fofocas em dia.

— Vocês não sabem quem eu encontrei na quarta-feira? — Lily chamou a atenção do grupo, enquanto dava um leve pulinho sobre a cadeira, animada.
— Quem? — Carmen perguntou curiosa, ajeitando o guardanapo em seu colo.
— Alguém que logo logo deve se juntar ao nosso grupo seleto de gostosas — Balançando os ombros enquanto falava, Lily gesticulou.
— Fala logo mulher… — Cutucando sua salada no prato, praticamente gritou para a amiga que, sorrindo, bebia um gole de seu vinho branco.
— Fui na Sephora, ver se encontrava um batom novo igual ao que o Lando estragou usando no Charles — Lily comentou casualmente, tirando risadas das amigas e, então, virou-se para Luisa — Vou mandar a conta para o seu namorado.
— Deveria mandar mesmo — Comendo os tomates, Luisa deu de ombros — e pro George.
— A ideia foi do Lando — Carmen defendeu o namorado e logo emendou: — e nem foi tão ruim, vai? Aquela cor combinou com o Charles — As meninas gargalharam.
— Enfim, voltando ao assunto, eu estava escolhendo os batons e uma garota estava lá também, me perguntou o que eu achava deles — Lily explicou, tomando seu vinho branco — Achei a conversa estranha, mas depois descobri que ela é a dona da marca. Hills Makeup, ela é a dona. Disse que estava comprando umas coisas por lá e quis ver a execução da coleção nova, que está perfeita, eu recomendo.
— Eu amo as maquiagens dela — sorriu animada, vendo Luisa concordar.
— O que você achou dela? — Carmen perguntou curiosa, depois de bebericar sua taça de vinho branco, como se não estivesse tão interessada, escondendo o estranhamento daquela coincidência com o que tinha ouvido de Daniela no iate.
— Achei ela muito bonita, simpática e bastante amigável — Lily respondeu, olhando as amigas curiosas ao redor da mesa — Parece ser uma pessoa boa, mas achei estranha a reação dela quando eu toquei no nome do Daniel, conversando com o Alex por telefone.
— Reação? Ela conhece o Daniel? — Carmen encarou Lily.
— Eu não sei, não conseguimos entrar em tantos detalhes, mas ela pareceu um tanto surpresa, sei lá… — Lily deu de ombros e logo deixou isso de lado, voltando seu foco ao tema principal: — enfim, trocamos contatos e agora estamos nos falando por mensagens, parece que ela tem um projeto envolvendo mulheres nos esportes, estou interessada.
— Lily arranja trabalho até quando está nas horas de descanso, no meio do nada — brincou.
— É porque eu sou bonita e simpática — Lily fez uma pose forçada, tirando risadas das amigas.
— Queria ter essa sorte — Luisa fez um biquinho.
— Eu também! Mas, agora, eu preciso saber: o que aconteceu nessa semana com você e o Charles, ? — Carmen perguntou dramática, vendo Luisa concordar com a cabeça, enquanto olhava curiosa para a amiga e Lily ria levemente.
— Como assim? — desconversou, pegando sua taça de vinho.
— Vocês dois sumiram — Lily falou com obviedade e seguiu gesticulando — Sabemos que Charles não gosta muito de ficar no celular, mas ele não mandou nenhuma mensagem no grupo, todos esses dias, e você está aí, toda feliz, sorrindo bobamente.
— Ai, meninas, foram dias… — fez uma breve pausa, olhando para cima — não sei nem como descrever.
— O que rolou? — Vendo o jeito mais sério da amiga, Luisa perguntou carinhosa.
— Minha mãe decidiu vender a casa de Viena — sorriu triste para as amigas e, por um momento, o silêncio tomou conta da mesa.

As meninas sabiam o que aquele lugar significava para . Foi a casa que seu pai havia comprado quando ela nasceu, a casa que viveu e cresceu seus primeiros quatorze anos até eles decidirem se mudar para Marbella, em busca de um clima mais quente e tranquilo, mais perto da família de Noelle e onde Anton podia ter espaço para, enfim, deixar de trabalhar como estilista de marcas de luxo e começar a pensar em sua própria. Quando fez 14 anos e deixou a casa de Viena para viver na Espanha, muita coisa mudou em sua vida, não só estruturalmente como em definições do que seria o futuro próximo. Teve que recomeçar em outro lugar, mas teve mais tempo com seu pai a partir dali, aproximou-se genuinamente dele, ajudou a escolher o lugar de seu atelier, de frente para o mar, passava horas depois da escola nele, aprendendo a desenhar, a entender o mundo da moda.
A casa de Viena passou, então, a ser como uma casa de campo. Gostavam de ir passar os final de ano por lá, aproveitar o inverno, reunir a família. Mantinham a casa ativa e, algumas vezes no ano, passavam temporadas por lá. sempre fazia suas icônicas festas de aniversário naquela casa, se reunia com amigos nela sempre que queria ficar um tempo a sós, livre das rotinas de seus pais e fez o primeiro desfile da Hermann no imenso jardim que tinham lá. Sua vida era marcada por aquele lugar e desistir dele, sobretudo quando seu pai já não estava mais ali, presente, seria muito difícil para ela. Como se, enfim, fosse colocar um ponto final no passado tão feliz e acolhedor que viveu com Anton.

— Eu sinto muito, — Carmen passou a mão no braço da amiga, em sinal de apoio.
— Como você está se sentindo em relação a isso? — Voltando a perguntar, preocupada, Luisa ainda olhava a amiga.
— Triste, não vou mentir — suspirou, desviando seus olhos para a mesa — Eu não queria que ela fosse vendida, é a única coisa que ainda restou do meu pai. Mas minha mãe não vai mais lá desde que ele partiu, ela não consegue lidar com o fato de ainda termos a casa e acho que ela precisa vender para superar essa etapa das nossas vidas, sabe? Eu respeito a decisão dela, mas não queria que fosse assim.
— Talvez seja melhor mesmo, amiga — Lily comentou serena — A casa foi muito boa enquanto vocês estavam todos juntos mas, talvez, agora, ela não faça mais nenhum sentido, não sem seu pai aqui.
— Você já nem faz mais seus aniversários lá — Concordando com Lily, Carmen comentou baixo, ainda segurando carinhosamente o braço da amiga.
— Eu sei, vocês têm razão — sorriu com ternura para elas — Mas ainda assim é bem difícil desapegar.
— A gente sabe que sim — sorriu triste para a amiga — mas você vai sempre poder visitar o lugar, quando sentir saudades.
— Vamos com você todas as vezes que quiser ir — Animada, Lily dançou na cadeira, tirando uma risada leve das meninas.
— Obrigada por isso, meninas, vocês são perfeitas — Tentando afastar a tristeza repentina, engolindo as lágrimas em lembrar-se do pai, soltou uma risada baixa — Bom, mas esse nem é o foco da conversa aqui. O fato é que minha mãe me disse que já tem um comprador à vista e que ele deveria fechar negócio nesse final de semana. Ela me avisou para que eu pudesse me despedir da casa e eu fui para Viena, na segunda-feira de tarde.
— Isso é ótimo — Carmen sorriu feliz — E como foi?
— Menos difícil do que achei que seria, porque Charles fez questão de ir junto — riu baixinho — Fomos na segunda, voltamos hoje cedo. Foi bem…

Diferente do que ela tinha esperado, na verdade. tinha uma tendência forte a se isolar sempre que os assuntos familiares vinham à tona. Apesar do tempo ter passado, a morte de seu pai ainda era muito presente dentro dela e qualquer tema que tocasse aquele assunto, ela sempre dava um jeito de resolver sozinha. tinha feito uma mala pequena para passar a semana em Viena e não sabia ao certo como dizer aquilo a Charles. Contou a ele durante o café da manhã e, no tempo que ela demorou para tomar banho e se arrumar para sair, Charles já tinha mandado preparar o avião que os levaria até Viena naquela tarde.
não tinha aberto aquela parte de sua vida à ele. Não falava muito de seu pai e nem tinha levado Charles para conhecer nenhuma das propriedades de sua família. Desde que o conheceu, suas festas de aniversário já não aconteciam mais naquela casa e, apesar de já ter se encontrado com ele em Marbella, na casa de Carlos, em algumas festas, nunca tinha tido a oportunidade de efetivamente apresentar ele a sua vida, a sua rotina. Aquele era um passo novo, um movimento novo dentro do relacionamento deles e foi bastante importante para ela tê-lo ali, pelo apoio, sem dúvidas, mas pela sensação de, enfim, criar mais uma conexão com ele.
A viagem até Viena foi tranquila. Deitados lado a lado nas poltronas do avião, Charles a assistiu ver o mundo passar pela janela, em silêncio, pensativa. Ela tinha insistido que estava tudo bem ir sozinha, mas, tão insistente quanto ela, era ele. Ele quis ir. Quis ir por ela e porque sabia o peso da situação, porque, infelizmente, entendia o que ela sentia no meio daquela história toda. Pensou que se estivessem juntos, talvez, minimamente, tudo poderia ser menos pior. E assim foi.
O padrinho de , amigo de infância do pai dela e dono de uma marca famosa de chocolates na Europa, a estava esperando no aeroporto. Carinhoso, caloroso, a recepcionou como uma filha, se apresentou a Charles e os levou até a casa dos Hermann. Ele estava fazendo a gentileza de intermediar a venda da propriedade, tendo em vista que Noelle não tinha condições emocionais para visitar a casa. Os deixou por ali, garantiu que ficariam bem e, logo foi embora. Charles conheceu cada detalhe da casa com ela e, à noite, jogados no chão da enorme e elegante sala, amena, quente pela calefação, se perderam nas horas vendo fotografias que ela guardava ali e que, há anos, não mexia.
Charles a ouviu contar sobre partes de sua vida na Áustria que ele não sabia terem existido. Descobriu nas fotos que teve um cachorro, que ajudou seu pai a construir a casa da árvore que tinha no jardim da casa, que as primeiras estampas que seu pai desenhou para a Hermann foram inspiradas na vista de Viena no inverno. Viu Anton sorrindo com ela em todas as imagens, reparou que ele sempre esteve nas festinhas da escola e que pareciam ser muito amigos, se divertindo bastante no tempo juntos. ainda guardava o colar de coração que ela usava nas fotos, que havia ganhado dele aos dezesseis anos, mas já o usava mais. Charles a viu chorar quando chegaram no último álbum, nas fotos que ela estava com ele já no hospital, sem muitas forças. E ficou abraçado com ela pelo tempo que foi, em silêncio, até ela enfim, dormir.
Querendo a todo custo evitar aquele sofrimento, Charles encaixotou as fotografias de volta na madrugada e recolheu todos os porta-retratos que encontrou pela casa. havia comentado que uma empresa de mudança recolheria os pertences dela e da mãe da casa no final da semana, mas achou que seria melhor ele mesma fazer aquilo, para garantir que nenhuma das memórias fosse esquecida. Charles a levou para tomar café da manhã fora, na manhã seguinte. E ocupou o dia andando pela cidade, passando em pontos turísticos, conhecendo os lugares que ela mais gostava na capital. E conforme os dias passavam ali, parecia mais confortável com a ideia de estar se despedindo da casa. Decidiu que fariam a janta todos os dias em casa, para aproveitar o momento, mesmo sem saber cozinhar - o que sempre gerava um pouco de risadas e um pouco de estresse entre os dois.
E a casa vazia, solitária, foi sendo preenchida nos dias por gargalhadas, músicas altas dançadas no meio da sala de estar, falas de filmes que assistiam, por lembranças que ela tinha e que saiam em palavras com o mesmo carinho que Charles parecia ouvi-las. Desbravaram a casa da árvore em uma tarde, inventaram um piquenique no jardim em outro, que terminou com eles rindo embaixo da chuva e as comidas todas molhadas. Charles a ajudou a tirar as roupas antigas dos armários e mandar tudo para doação, montaram um quebra-cabeças antigo que encontraram em um armário, usufruiam da academia todos os dias e, na madrugada anterior, acordados, maratonando uma série, decidiram entrar na piscina e ver quem aguentava mais tempo no frio que fazia lá fora - o recorde de 1 minuto de Charles, que logo implorou para ligar o aquecedor da água. E ali dentro, no quentinho, no conforto dos braços um do outro, eles ficaram, até não haver mais roupas e o silêncio da madrugada na área da casa ser preenchido pelas arfadas e os gemidos baixos.

— Vocês batizaram a piscina, então? — Provocando a amiga, Luisa brincou, tirando risadas do grupo. Estavam prestando atenção no que ela contava, eventualmente comentando algo ou reagindo ao que elas diziam.
— Eu fico chocada com as coisas que descubro do Charles — Carmen arregalou os olhos, rindo.
— Trocamos a água no dia seguinte, está tudo sob controle — riu com as amigas, mas logo voltou ao assunto inicial — e foi isso meninas. Acordamos hoje cedo, tomamos café e já viemos embora para Monte Carlo de novo. Tivemos um tempo bom lá, porque conseguimos nos desligar de tudo, sabe?
— Sem dúvidas, amiga — Lily concordou feliz em ouvir aquilo — Tirar um tempo para respirar e sair dessa correria, do caos todo que vivemos, é muito importante.
— E essa questão das famílias, de você ter oficialmente se inserido na dele, de ele ter conhecido esse lado da sua, foi um passo essencial — Carmen refletiu, vendo a amiga tomar um gole de água, concordando.
— Fiquei feliz por ter mostrado esse lado mais íntimo da minha vida para ele, da minha família, e senti que, pela primeira vez em muito tempo, desde que meu pai se foi, consegui ocupar aquela casa de novo de um jeito bom, feliz… criei novas memórias nela, eu acho — sorriu bobamente, lembrando-se dos momentos que passaram juntos.
— E como está se sentindo agora? — perguntou carinhosa.
— Leve, eu acho — suspirou, como se tirasse um peso de suas costas — Estou mais confortável com a ideia de virar essa página, de deixar a casa ser vendida. Charles foi parte importante desse processo e ele ter ido junto comigo, ter feito tudo isso, mudou tudo para mim.

Seguindo a conversa enquanto desfrutavam de suas refeições, passaram logo a falar sobre alguns acontecimentos das últimas semanas de cada casal. Lily e Albon tiveram um romântico final de semana em Nova York, que foi detalhadamente comentado pela a chinesa. Carmen e George, por sua vez, tinham viajado para o interior da Inglaterra, para atender ao casamento do irmão do piloto, enquanto Luisa e Lando ficaram em Mônaco, aproveitando a cidade. Ela contou que tiveram alguns momentos com Max Verstappen, sua namorada, Kelly, e alguns amigos em comum. Tinham ido a algumas praias, fizeram um passeio de iate juntos e foram jantar na noite anterior, o que rendeu a Luisa e Lando, como um bom casal fofoqueiro que eles eram, uma porção de informações que compartilhou com as amigas, eufóricas em saber. aproveitou para contar mais sobre seus dias, a confusão de sentimentos em relação a Sainz e que eles ainda não haviam conversado, desde então.
Durante a sobremesa, Luisa decidiu gravar alguns stories com as amigas, que riam e conversavam, fazendo algumas poses para o celular da modelo, até que recebeu uma ligação. Atendendo rapidamente ao ver o nome do namorado na tela, as amigas viram o sorriso dela murchar em seu rosto, ficando em silêncio por alguns minutos, enquanto parecia prestar atenção nas palavras do piloto. Calmo, mas sério, Charles achou melhor ligar para falar com ela, antes que ela pudesse ver o que tinha acontecido e tirar conclusões precipitadas. Falando rapidamente com ele, então, logo desligou o telefone e foi conferir suas redes sociais. Tentando ser o mais casual que podia, ficou alguns minutos em silêncio, séria, enquanto lia as notícias que o namorado havia comentado com ela.

— Achei um absurdo! Eu falei para ela que não poderia ir, e nem queria… — Luisa comentava meio brava, contando alguma coisa que havia acontecido naquela semana, envolvendo Kelly, a namorada de Max Verstappen. , contudo, não conseguia acompanhar a conversa da amiga, estava aérea, seu olhar perdido pelo local, pensativa.
, está tudo bem? — Carmen perguntou, vendo o rosto preocupado da amiga, que olhava atentamente para o celular em mãos, em completo silêncio.
— Ahn? O quê? — Ela cortou seu olhar, levantando-o do aparelho até Carmen. As outras meninas pareceram ficar sérias — Ah, não é nada, deixa para lá — Ela gesticulou com a mão, tomando um longo gole de seu vinho.
— Quem era na ligação? — perguntou, curiosa, desconfiada.
— Era o Charles, ele só queria… avisar uma coisa, nada demais — Ela dizia meio nervosa, tomando outro gole de seu vinho, tentando se desvencilhar da conversa, mas já era tarde demais.
Ai, caramba — Luisa falou em português, segurando seu celular na mão, olhando atônita dele para .

Sem entender o que acontecia ali, achando graça do jeito surpreso da amiga, a encarou de volta por alguns segundos, notando negar com a cabeça para Luisa, como se sinalizasse para ela não dizer nada. Séria e curiosa, vendo as amigas com suas redes sociais abertas em mãos, decidiu checar as suas. Certamente havia algo nelas que estava despertando interesse e atenção das meninas, não ficaria de fora do momento. Mas não demorou a ela mais do que dois segundos para se arrepender amargamente daquela decisão.
Lá estava novamente. Estampando manchetes e fotos, protagonizando uma nova fofoca. Diversos canais de comunicação e fãs divulgavam fervorosamente um vídeo onde uma mulher dançava empolgada em uma festa, que reconheceu rapidamente como sendo a festa de Daniel. Apesar da mulher ser linda e parecer se divertir muito na festa, o que chamava atenção no vídeo era o que acontecia alguns passos atrás da mulher. Com exatamente quinze segundos de duração, as imagens traziam Sainz e se beijando na pista de dança até que, no final, eles trocaram um olhar intenso, surpreso.
Como estavam próximos da moça, era possível dizer com clareza e com certeza que eram eles dois ali. Milhares de pessoas pareciam comentar e compartilhar aquele evento fervorosamente, se perguntando sobre a relação do casal, confusos com as declarações que davam negando aquilo mas que sempre pareciam contradizer em fotos e vídeos que, eventualmente, apareciam juntos. As pessoas estavam criando nomes para de shipp para o casal, além de milhares de teorias e threads explicando sobre eles.
suspirou infeliz, ansiosa, cansada de toda aquela exposição. Encostou as costas na cadeira, frustrada, se perguntando o que Sainz tinha achado daquilo, o que ele estava pensando naquele momento e, principalmente, qual seria a reação dele, tendo em vista que, da última vez, não foi muito agradável. Descontente com aquilo, sem saber o que fazer, voltou a prestar atenção em seu celular e pesquisou pelo seu próprio nome no Instagram. Foi impossível não ler cada comentário, ver o que estavam dizendo sobre eles e, surpreendentemente, encontrar tantas pessoas esperando que aquilo fosse verdade, opinando como conhecessem ou soubessem da vida de cada um deles dois.
Aquilo era assustador. Como sempre foi muito reservada, havia poucas informações sobre a vida pessoal e íntima dela na internet, mas aquilo não parecia ser um problema para os milhares de seguidores que, repentinamente, ganhava e que criavam histórias sobre sua vida pessoal.

…? — Receosa, esperando pela reação da amiga, tentou quebrar o silêncio entre elas, encarando a modelo a sua frente. Podia imaginar como ela estava se sentindo, mas não sabia exatamente o que dizer ou como começar a falar.
— Não precisa falar nada, negou com a cabeça, pensando em mandar uma mensagem para Carlos. Tinham que conversar, mas ela não sabia o que ele estava achando daquilo tudo e, por um momento, teve medo de piorar a situação.
— A internet é uma merda — Luisa começou dizendo, bufando. Já tinha parado de ver seu celular e o jogou em cima da mesa, irritada pela situação — Não podemos ligar para tudo o que lemos. Umas semanas atrás, saiu uma foto do Lando em uma festa em Miami e já inventaram mil teorias de que ele estava me traindo, quando, na verdade, ele me falou cada passo dele nessa viagem.
— Exatamente! Eu mantive meu Instagram fechado por muito tempo, evitando esse tipo de comentário e os julgamentos que fazem sobre mim, por namorar o George — Carmen comentou, dando de ombros, enquanto as amigas acenavam em sinal de concordância.
— Eu não deixo mais comentarem meu stories e quase nunca respondo as pessoas via DM, não mais — negou com a cabeça — Muita gente vindo falar merda depois que as primeiras fotos minhas com o Charles começaram a brotar por aí. Ficam me comparando com a Charlotte, tem gente que diz que ele fez de novo o “troca-troca” de namoradas.
— Ai, é foda, viu — Luisa revirou os olhos — As pessoas são muito maldosas.
— Pelo menos vocês não enfrentam o ódio de todo o fandom do Tom Holland — Lily tentou comentar séria, mas tirou uma gargalhada alta do grupo — A gente ficou uma vez e pronto. Agora eu fui a filha a puta que trocou o Tom Holland pelo Albon. Vou te dizer… essa é uma das piores partes de sermos conhecidas e nos relacionarmos com pessoas conhecidas.
— Pois é, — concordou com a amiga — se formos dar moral para tudo o que dizem sobre nós, ferrou.

às olhava em silêncio, nunca tinha tido aquele tipo de conversa com as meninas e, de fato, nunca tinha parado para pensar que, apesar de parecerem lidar bem com a exposição, passavam por cima de muita coisa errada, muita fofoca e muito hate para seguirem ali, firmes, sendo quem eram. Não era novidade para aquele grupo e não deveria ser para . Era só uma consequência de quem era e, como às amigas, ela também tinha que aprender a lidar com aquilo. Por ela mesma, pelas amigas, pelos amigos, por Sainz. Aquela não era a primeira e nem seria a última fofoca que contariam sobre eles. Estava tudo bem, não estava?

— Eles são fogo de palha, logo mais vão esquecer — Carmen falou para , que, tomando um novo gole de seu vinho, parecia refletir.
— Daqui dois dias já vai ter uma fofoca nova sobre a gente e eles vão esquecer completamente desse vídeo — Lily disse, abraçando de lado enquanto segurou sua mão, em sinal de apoio.
— A gente inventa uma para eles esquecerem disso — Luisa brincou — Podemos falar que a Carmen está grávida.
— ESTÁ LOUCA? — Carmen gritou, tirando risadas das amigas — Bate na madeira. Por que eu?
— Porque, de nós, você é a que namora mais tempo e é a que tem cara de mãe — Luisa deu de ombros, como se aquilo fosse óbvio.
— Pensa em um Russelzinho, que fofinho — Lily apertou as próprias bochechas.
— Ai meu Deus! Eu ia desenhar uma coleção baby só para ele — fez um biquinho, rindo da cara de terror de Carmen.
— A fofoca perfeita — Luisa celebrou, recebendo um tapinha de Carmen — Você diz quando, , e soltamos ela no Twitter.
— Não precisa disso, meninas, obrigada — riu levemente, mas logo voltou a ficar séria, apreensiva: — Sabe o que é mais insano? É que eu estou mais preocupada com a reação do Sainz do que com a notícia em si.
— É compreensível, amiga — Lily disse, tomando um gole de sua água.
— Por que nós sabemos que as reações dele nem sempre são as melhores — Ela completou, fazendo as amigas se recordarem do dia do desfile, um mês atrás.
— Mas acho que, depois de todo esse tempo, ele já provou que mudou e, principalmente, que tudo mudou entre vocês — Carmen refletiu, olhando Luisa ao seu lado concordar com a cabeça.
— Vocês acham que deveríamos conversar? — Respirando fundo, perguntou.
— Acho que agora não é o momento ideal para isso porque, provavelmente, a Ferrari já deve estar tentando apaziguar essa história e vocês dois não sabem exatamente como lidar um com o outro, não podem correr o risco de piorar mais — Sincera, comentava, lembrando-se que o namorado comentou algo sobre isso na ligação.
— A Ferrari? — franziu a testa, confusa — O que eles poderiam fazer?
— Eles possuem uma equipe de relações públicas para cada um dos pilotos e, nesses momentos, que influenciam diretamente a imagem deles, a imagem que a escuderia quer passar deles, eles se metem — explicou — O Charles disse, no telefone, que já estavam vendo uma forma de lidar com isso, mas não sei como.
— Nesse caso, também acho melhor você não comentar nada e, principalmente, ficar longe do Carlos, por enquanto — Lily gesticulou, olhando .
— Como vou ficar longe dele se amanhã marcamos de ir jogar golfe? — perguntou levemente desesperada. Executar a regra era muito mais difícil do que pensar nela, ainda mais sendo parte daquele grupo e cumprindo a agenda cheia de encontros deles. Não seria fácil ficar longe de Carlos. Em nenhum sentido.
— Mas se não ir, vão achar estranho e vão comentar mais ainda — Carmen refletiu alto, pensando em todas as possibilidades possíveis.
— Ah, então, você vai — Lily riu da própria confusão — Eu já reservei o campo e nós viemos até aqui. Vamos nos divertir, usar esse tempo para esquecer tudo isso e não vamos deixar eles estragarem o último final de semana de férias dos meninos, do Carlos.
— Lily tem razão — Luisa logo concordou, animada, esticando a mão para pegar a de — Não vamos deixar que ninguém estrague esse final de semana. Estamos juntas, vai ficar tudo bem.
— E já estão resolvendo isso, não adianta ficar remoendo agora — Carmen encarou a modelo, sorrindo carinhosamente, tentando ser positiva — Está feito e já resolvido também. Vamos seguir em frente.
— Por que isso está acontecendo comigo? — suspirou cansada, chateada — Logo eu, que sempre fui tão discreta. Posso imaginar a cara dos meus pais quando esse vídeo chegar até eles…
— Você não está se culpando por ter saído e se divertido na festa? Por ter beijado o Carlos, sendo que você queria isso? Por ser nossa amiga? Ou por coisa do tipo? Não, né? — Dura nas palavras, mas muito honesta no que dizia, levantou as sobrancelhas para a amiga. , de fato, parecia se sentir culpada pelo o que tinha acontecido, mas não havia nenhum racional naquilo. Estava vivendo. E sua vida estava sendo exposta. Não tinha culpa dela ou de ninguém. Era só aquilo.
— Ai, meu Deus, não — praticamente gritou, arregalando os olhos. Nunca havia pensado por aquele lado e, refletindo rapidamente suas próprias palavras, de fato, parecia amargurar aqueles dias que passou com aquele grupo quando, na verdade, tinham sido alguns dos melhores de sua vida. Era grata por ter conhecido elas e os rapazes, estava satisfeita pelas coisas que viveram juntos e pelas memórias que estavam criando. Não era sobre aquilo. Ela seguiu dizendo: — Eu amo vocês e não me arrependo de nada, é só que… eu não estou acostumada com toda essa exposição, fofocas, notícias, enfim, é só… tudo muito novo para mim.
— Amiga, isso é comum, mais normal do que gostaríamos que fosse, acredite — Lily falou assertiva — mas logo você vai se acostumar e aprender a lidar.
— E caso isso te incomode por muito tempo, sempre podemos usar a gravidez da Carmen como solução — Falando séria, Luisa brincou novamente, tirando novas risadas altas das amigas.

~ ❤ ~


Na manhã de sábado, acordou mais cedo que o normal. Mal havia dormido durante a noite, precisou conversar com os pais por um bom tempo, para tentar explicar algo que nem ela sabia bem o que era. Sua mãe, como sempre, foi mais razoável e compreensiva, porém seu pai não gostou nem um pouco do que viu. Pelo contrário, estava furioso e querendo que a modelo se afastasse do rapaz e dos amigos o mais rápido possível. Não achava que era uma boa influência para sua menina e não queria vê-la, de forma alguma, envolvida com um piloto de Fórmula 1. A vida, de exposições de rumores e de fofocas, tão instáveis, vivendo em todos os lados do mundo, sem criar raízes e sem estar realmente perto da família o preocupavam, e muito.
não tinha sido criada com aqueles valores. E ele fez questão de pontuar aquilo em seu sermão, palavras que repassavam na mente de ao longo da madrugada, que a tiraram o sono. E pensando no que seu pai havia dito, pensou também em Carlos. Ficou repassando diversos diálogos que, em sua mente, poderiam acontecer no dia seguinte, quando se encontrariam. Imaginou o que falaria, como agiria e até como seria, como se sentiria se, de repente, ele decidisse dar um gelo nela. não sabia como agir e sua mente ficou pregando peças a noite inteira, até, enfim, pegar no sono quase de manhã.
Carlos, por sua vez, amanheceu naquele dia ainda sem acreditar no que tinha acontecido. Como , como todo mundo, literalmente, ele havia visto as notícias sobre seu suposto namoro com a modelo no dia anterior e, desde então, estava lutando para digerir aquilo. Mais uma vez estava sendo exposto, sendo o protagonista dos sites de fofocas e com diversas pessoas comentando um monte de merdas sobre sua vida pessoal. Blanca ligou no mesmo instante que viu o vídeo e, depois de horas no telefone explicando a situação para ela, foi a vez de ouvir os seus pais.
Reyes parecia feliz por, finalmente, seu filho e a modelo terem se acertado, embora ele continuasse dizendo, o tempo todo, que não havia relacionamento algum. Seu pai, por outro lado, apesar de aprovar , sempre foi a favor da descrição e não gostou de ver o filho, mais uma vez e em tão pouco tempo, sendo exposto e não de uma maneira positiva. Teve uma conversa bastante dura com ele e, assim que ele desligou a ligação, Carlos sentiu seu coração implorando para conversar com . Não sabia o que falaria, como começaria ou se ela estava disposta a qualquer coisa com ele, depois de tudo. Contudo, dominado pelo medo, que parecia falar mais alto, ele se viu confuso, pensativo e sem saber o que fazer. Ao menos, a veria naquele dia.
Os amigos ficaram de se encontrar às dez horas da manhã, em frente ao clube onde Lily fez a reserva do campo. , Charles e Carlos se encontraram com George, Carmen, Luisa e Lando, no hotel em que estavam hospedados e se dividiram em dois carros, para irem juntos. Já Lily e Albon iriam com e Ricciardo, já que o carro do Alex estava no conserto para uma manutenção.
havia acabado de se levantar e, depois de sua higiene matinal, saiu do quarto, encontrando o melhor amigo terminando o seu treino na varanda de seu apartamento. Parecia animado, enquanto conversava com o seu treinador e, assim que viu a modelo, ele abriu um sorriso e foi em direção dela, abraçando-a apertado. Reclamando do suor dele, desviou do abraço e acenou para o treinador, que se despediu brevemente deles. Betty já tinha servido a mesa e, delicada, terminava de ajeitar os talheres, os esperando para o café da manhã.

— Bom dia, amour de ma vie — Com um sotaque francês forçado e um biquinho proposital, Ricciardo a cumprimentou, causando risadas em e Betty.
— Cada dia você me surpreende com uma língua nova, está tentando me impressionar? — perguntou rindo e o piloto gargalhou, com uma mão no peito.
— De forma alguma, até porque não me chamo Carlos Sainz — Ele provocou, recebendo uma bolinha de papel toalha no rosto.
— Por que não vai impressionar uma de suas garotas— Levantando as sobrancelhas, sugeriu séria.
— Por que são elas que me impressionam, toda vez que as encontro, se é que você me entende — Ele piscou maroto.
— Ai, pelo amor de Deus, menos Ricciardo — dizia rindo, tampando os ouvidos — Eu não preciso saber desses detalhes, muito menos essas horas da manhã.
— Você tem quantos anos, ? Até parece que nunca transou — Ele dizia rindo, percebendo o olhar chocado e perdido dela. Betty terminou de servir o café rapidamente e, discreta, saiu da cozinha, os deixando a sós.
— Você espantou a Betty — Desconversando, murmurou. Mas a falta de resposta dela não passou despercebida por Daniel que, impressionado em constatar aquilo, gritou:
— AI MEU DEUS! Você não transa há quanto tempo?
— Por que está querendo saber da minha vida amorosa? — O olhando meio brava, o questionou.
— Amorosa, não, sexual — Ele a corrigiu, gargalhando.
— O que só deixa tudo ainda pior — Ela revirou os olhos — Por que isso?
— Por que se o Sainz não está comparecendo e você não me diz nada sobre outros caras, então, suponho que já faz meses desde que… — Ele fez um gesto com as mãos tão infantil e tirou uma risada alta de — Caralho, ! Vocês estão precisando transar, urgentemente.
— Caralho, Ricciardo! Você está precisando me deixar em paz — O imitando, ela disparou, sem acreditar muito no que ouvia do amigo. Bem que diziam que intimidade era uma grande merda, ela pensou — Você é ridículo! Por que não vai transar e me deixar em paz?
— Viu só? Se estivesse transando estaria liberando toda essa tensão e não ia estar assim — Daniel brincou gesticulando, recebendo um tapa da modelo no braço direito — Aí, violenta.
— Será que podemos parar de falar da minha vida sexual e ir para uma conversa mais interesse, do tipo: soube que Luisinha conheceu o seu primeiro amorzinho arriscou a última palavra em português, que havia aprendido com a amiga, porque ela sempre dizia isso para Lando. Rindo da cara séria do amigo, sabia que tinha acabado de tocar no ponto fraco dele. Por sorte, contudo, antes mesmo que Ric pudesse rebater, no exato instante em que o piloto ia comentar algo, Lily e Albon chegaram animados na cozinha, do nada.
— Bom dia, meus amores — Lily entrava animada pela porta da frente, abrindo os braços e, num movimento rápido, abraçou e Daniel ao mesmo tempo, puxando seus pescoços. Ela usava uma mini saia azul marinho, uma camiseta polo azul mais clara, sua luva preta na mão esquerda e uma viseira na mesma cor. Como era patrocinada pela Nike, todo seu look foi escolhido com a marca.
— Bom dia, raios de sol — Como ela, Albon os cumprimentou se juntando só abraço, rindo com o grupo.
— De onde vocês vieram? — perguntou risonha, arregalando os olhos. Estava realmente surpresa por vê-los ali, tão cedo e tão do nada.
— Do Hôtel de Paris — Literal, Alex respondeu, já se sentando à mesa, ao lado de .
— Betty abriu a porta pra gente — Lily explicou, dando de ombros, indo se sentar ao lado de Daniel e de frente para o namorado.
— Ia dizer para se sentirem em casa, mas vejo que já estão bem confortáveis — Ricciardo zoou, vendo Lily se servir com suco enquanto Alex pegava um pedaço do bolo de maçã com quinoa que estava sobre a mesa.
Su casa, mi casa, meu amigo — Lily deu dois tapinhas gentis no braço de Daniel, que riu do espanhol fofo dela.
— Alguém está esfomeado, pelo visto! Que tipo de exercícios vocês fizeram agora cedo? — Ricciardo voltou a zoar, olhando de Alex comendo até Lily ao seu lado.
— Olha, se você quer mesmo saber, nós fizemos um se… — Lily ia começar a dizer, mas foi logo interrompida por , que olhava sem graça para o grupo:
— AI, NÃO! Não vamos começar a falar de vida sexual novamente, não é?
— Ih, desde quando não pode falar de sexo mais? — Alex perguntou curioso, encarando a amiga enquanto Ricciardo dava uma de suas gargalhadas marcantes.
— Isso é por que ela não está transando, não reparem — Ricciardo respondeu fingindo sussurrar, causando risadas altas no casal e um olhar de raiva da modelo
— Por que você não vai se foder, Ricciardo? — juntou as mãos, irônica.
— Porque não preciso — Ele deu de ombros, soberbo, brincando — Já estou fodendo demais nos últimos tempos.
— Para, Daniel, que inferno! — bateu as mãos na mesa, sem conter a risada, junto com os demais.
— Se quiser, eu posso chamar alguém para te ajudar a tirar as teias de aranha, amiga — Lily dizia sugestivamente, entrando na brincadeira e recebendo um olhar animado de Albon e Ricciardo.
— Sempre vai ter o Gasly de opção, se você quiser, ele quer, com certeza — Foi a vez de Alex zoar.
— Dá para vocês pararem com isso? — implorou, se escondendo em suas próprias mãos.
— Por que? É tão legal te ver irritada — Daniel dizia rindo com os amigos, que concordavam com a cabeça.
— Quer saber? — se levantou e encarou cada um dos três amigos, vermelha pela vergonha do assunto — Eu vou me arrumar. Fiquem aí.
— Espera! — Lily se levantou em um pulinho, vendo-a dar as costas e sair da cozinha — eu vou com você.

Assim que as meninas deixaram a sala, os rapazes embalaram uma conversa sobre a partida de basquete do dia anterior e logo foram para a sala, procurar pelos melhores lances na televisão. Albon e Daniel riam alto, chamando a atenção das meninas que, do quarto de hóspedes, os podiam ouvir eventualmente. Lily ajudou a escolher a roupa do dia e, enquanto assistia a amiga se arrumar, puxou um assunto qualquer, contando sobre o dia e logo passou a compartilhar algumas fofocas que soube sobre Gasly.
Ela e as meninas estavam realmente preocupadas com a fase que o piloto francês estava passando e pensavam em conversar seriamente com ele sobre tudo aquilo. Estar constantemente na mídia, envolvido em polêmicas e protagonizando vídeos bem comprometedores não estavam fazendo nada bem para ele e para sua carreira. A festa do Ricciardo tinha caído no conhecimento público depois do vídeo vazado de e Sainz, no dia anterior, e, a partir daí, outros vídeos e fotos começaram a aparecer, como peças de um quebra-cabeças que, fervorosamente, as pessoas tentavam montar.
Tinha vídeos do Martin Garrix chapado, vídeos do Alex pulando na piscina, fotos pouco nítidas de Daniel beijando a garota misteriosa, em momentos diferentes da festa. Havia fotos de Lily dançando meio acabada, segurando uma garrafa de bebida que tomava sozinha, no gargalo; fotos de Luisa e Lando claramente bêbados, se ajudando a parar de pé, de George e Carmen se pegando… com bastante vontade em um dos sofás do local. Havia um vídeo de péssima qualidade de Charles ridiculamente alcoolizado tentando responder algumas perguntas de uma menina qualquer que estava na festa, misturando vários idiomas, sem conseguir formar uma única frase decente.
O vídeo que estava gerando a polêmica de “será que ele realmente está com a Hermann?”, enquanto ela, em outra foto igualmente borrada, aparecia há alguns passos de Charles, com Luisa sentada em seu colo, tendo uma conversa com o treinador físico de Ricciardo e um dos engenheiros da Ferrari. Outras fotos não muito claras mostravam tomando alguns shots de tequila com George e Alex, ela dançando abraçada com Daniel e um vídeo dela passando pela pessoa que a filmava, meio cambaleante, sentido ao bar. Apesar do conteúdo fragmentado dizer muito sobre como tinha sido a noite, as piores partes dele ficaram com Pierre.
Um vídeo de um minuto vazado mostrava ele absurdamente bêbado, andando aos tropeços pela festa, dançando sozinho, mexendo com as pessoas pelo caminho. Outro vídeo, dava um zoom nele e sentados no chão, conversando. Pierre chorava copiosamente e parecia dizer coisas sérias para a amiga que, por sua vez, parecia tentar consolá-lo, enquanto lhe dava água. E não bastasse o estado deplorável dele estar sendo comentado pelas pessoas, ainda tinham conseguido fotos e um vídeo dele chegando no hotel onde estava hospedado, acompanhado por outras três garotas, rindo alto. Gritavam escandalosamente e chamavam a atenção do pequeno público que estava na entrada do local, que pareciam incomodados, não gostaram nada daquilo.

— Sinceramente, acho que ele não vai ouvir — comentava já trocada, escolhendo a maquiagem que faria — A já tentou falar com ele, eu tentei, sei o que o Dani teve uma conversa séria com ele também e, até agora, não surtiu efeito nenhum…
— Parece que ele fica se enfiando nessas situações de propósito — Lily respirou fundo.
— Ele está claramente tentando chamar a atenção da Kate — pensou alto, olhando Lily concordar com a cabeça — Faz essas merdas para dizer que está superando e que está seguindo a vida, mas torce para ela ir falar com ele.
— Homens…por que sempre tão previsíveis? — A chinesa revirou os olhos, apoiando seus cotovelos na cama atrás de si, deitando-se levemente.
— Nem fale — concordou, andando pelo quarto enquanto pegava alguns itens espalhados por ele — Pierre já é um caso perdido, na minha opinião.
— Tentar conversar é tudo o que podemos fazer por ele antes de que seja tarde demais — Sentada sobre a cama da amiga, Lily comentou preocupada.
— O que quer dizer? — perguntou, curiosa, virando-se para a amiga.
— Ah, você sabe, antes que isso atrapalhe o contrato dele com a Alpha Tauri e a Fórmula 1 — Lily respondeu, dando de ombros.
— Você acha mesmo que isso pode acontecer? — Assustada com aquela possibilidade, perguntou mais uma vez, enquanto enchia sua bolsa sacola da Dior com o biquíni, toalha, sua necessaire e um look para a noite, já imaginando que os amigos inventariam alguma coisa para depois do clube.
— Acho que é possível, se ele continuar assim — Lily comentava, ajudando a modelo a arrumar a bolsa.

aproveitou a ajuda da amiga para terminar de se arrumar, enquanto ouvia Lily falar mais sobre a situação de Gasly e ia comentando de vez em quando. Extremamente organizada como era, Lily dobrava roupa por roupa da amiga e encaixava tudo perfeitamente dentro de sua bolsa, prestando atenção no que fazia. Estavam tão distraídas, rindo e conversando, que só notaram ter um movimento próximo, quando ouviram Daniel bater na porta do quarto, impaciente.

— Vocês têm cinco segundos para estar na sala ou vamos deixar vocês duas para trás — Ele disse alto, entrando sem cerimônias no cômodo, parecendo um furacão. Lily riu. Daniel estava com um shorts mais curto, preto, uma camisa polo cinza e tênis escuros. Tinha um boné na mão e um olhar matador para as duas, que não se aprontavam nunca.
— Você não seria louco de fazer isso — respondeu afrontosa, revirando os olhos enquanto colocava os tênis.
— E meu namorado jamais permitiria isso, queridinho — Levantando, Lily apontou para ele.
— Não mesmo, meu amor — Encostado na porta do quarto, Albon respondeu fofo, abraçando a mulher pela cintura, dando-lhe um leve beijo em seus lábios.
— Vocês são tão bregas — Daniel bufou rindo, enquanto pegava a bolsa de de cima da cama. A modelo riu, arrumando o cabelo rapidamente.
— Cuidado, cara, logo menos você vai começar a ser brega assim também — Sugestivo, ainda abraçado com Lily por trás dela, Albon comentou rindo.
— Não sei do que estão falando — Daniel pareceu sem graça, disfarçando, enquanto saia rapidamente do cômodo, com a bolsa da modelo em mãos.
— Vai ser difícil ele admitir que está apaixonado, não é? — Albon perguntava para que ria, concordando com a cabeça.
— Apaixonado? — Daniel gritou debochado, vendo os amigos vindo atrás dele, sentido a porta do apartamento.
— Quem sabe um dia… — olhou para Alex, que deu de ombros.
— Será que podemos finalmente ir? — Ricciardo perguntava enquanto tirava seu celular do bolso, abrindo rapidamente uma mensagem que tinha acabado de receber de Lando — O pessoal já está a caminho e nós nem saímos de casa ainda.
— Relaxa, cara, já estamos indo — Albon ria, saindo com a namorada a frente, em direção aos elevadores, carregando a bolsa dela embaixo do seu braço.
— Depois eu que sou a estressada — Provocando o amigo, murmurou.
— Vocês são enrolados demais — Daniel fechava a porta de seu apartamento e já corria para dentro do elevador, onde o grupo o esperava — Isso é culpa da .
— Minha? — Ela gritou indignada, apontando para si mesma — Oh, Daniel, por que você não vai se… — Ela ia dizer uma palavrão, mas foi logo interrompida quando as portas do elevador se abriram, para um casal de idosos, que moravam dois andares abaixo de Ric.
— Bom dia, meus queridos, como estão? — A senhora sorriu com ternura. Lily segurou a porta do elevador para ela, enquanto Alex, gentil, estendeu-lhe a mão, para ajudá-la a entrar no elevador.
— Muito bem Sr. e Sra. Maldonado, estamos bem e vocês? — Daniel sorriu educado, ajeitando a postura. O jeito formal fez os amigos rirem discretamente dele, enquanto o casal se posicionava dentro do elevador.
— Muito bem, campeão, obrigado — O marido respondeu, cumprimentando ele com um aperto de mão breve.
— Está um lindo dia lá fora, vão jogar golfe? — A senhora perguntou simpática, reparando nas roupas que as duas meninas vestiam.
— Vamos sim, aproveitar o final das férias deles dois — apontou para Dani e Albon, que concordaram com a cabeça.
— Fazem bem — O senhor respondeu e logo se virou novamente para Daniel — Essa é a sua nova namorada?
— Não, na verdade — Ele tentou responder, mas aquilo soou pior do que ele imaginou. A senhora arregalou os olhos no mesmo instante, enquanto seu marido soltou uma risada baixa. Ricciardo tentou consertar rapidamente: — é uma amiga.
Amiga — O senhor repetiu, vendo o elevador parar no subsolo e, saindo dele com sua esposa, sussurrou para ela: — É assim que os jovens chamam esse tipo de coisa hoje em dia.

De dentro do elevador, os quatro amigos se entreolharam por um segundo e riram contidos. Deixaram o casal de senhores se afastar alguns passos e logo foram estacionamento adentro, em direção a um dos carros do piloto australiano, um Audi RS 7 preto, fosco, modelo mais recente da marca. Daniel foi dirigindo, enquanto Albon esperou as meninas entrarem no banco de trás e sentou-se, enfim, no passageiro, ao lado do amigo.
Dirigiam embalados por Tarot (Bad Bunny e Jhay Cortez) pelas ruas de Monte Carlo ensolarada, em direção ao interior da região. O trânsito estava relativamente tranquilo e, com isso, conseguiram sair rapidamente da região central. O clube ficava a cerca de quarenta minutos de distância da casa do piloto australiano, deviam chegar lá por volta das 10h30 da manhã. Como o caminho era curto, Daniel não acelerou muito, para que pudessem aproveitar a paisagem enquanto conversavam animadamente e ouviam as músicas da playlist de Ricciardo.
O Monte Carlo Golf Club era um clube exclusivo para sócios, sobretudo da elite de Mônaco. Localizado no alto de colinas, contemplava uma linda vista de toda a região, possuía quase cinquenta anos de história e foi visitado por monarquias, figuras importantes e artistas do mundo todo. Com mais de 900 metros quadrados, além do campo de golfe com dezoito buracos, o clube tinha um bar, um restaurante, um spa, piscinas e um salão de festas. Lily, Lando e Charles eram membros do clube e, por isso, não foi difícil conseguir uma reserva exclusiva para o seleto grupo de amigos. Charles havia reservado o local todo para o dia inteiro, a fim de aproveitarem tranquilamente, sem interrupções.
Como o local estava fechado para o grupo e ainda era cedo, não havia quase ninguém por ali. O estacionamento vazio abrigava apenas alguns carros de funcionários e, por isso, não foi difícil encontrar os amigos, que já estavam estacionados e conversavam apoiado nos veículos. Lando estava encostado na sua McLaren 720s laranja, com Luisa encostada nele, em sua frente, abraçados. Pierre mexia em seu celular, ao lado do casal, ao tempo que Russell, Carmen e Carlos estavam mais próximos da MG GT-R do britânico. Charles seguia sentado no piloto de sua Ferrari personalizada, com a porta aberta, enquanto mexia em sua bolsa, apoiada no teto do carro.
Como o carro de Charles tinha apenas dois lugares, Carlos foi de carona com George e Carmen, que, junto com Lando e Luisa, que deram carona para Pierre, passaram no apartamento do monegasco mais cedo, para tomar café da manhã com eles. Levaram cerca de 1 hora para comer, conversando sobre os últimos acontecimentos dos dias e, logo depois, já saíram em três carros, sentido ao clube de golfe. Fizeram uma viagem agradável e não tinham chegado tanto tempo antes de Daniel, , Lily e Albon. Ficaram por ali mesmo, conversando, se esticando da viagem.

— Mais um pouco e o dia já teria terminado — Lando brincou, assim que viu os amigos estacionarem ao seu lado e começarem a sair do veículo.
— Por que a pressa, Lando? Você nem joga bem — Daniel zuava o amigo, o abraçando de lado.
— Nossa, como você é engraçado, cara — Ele dizia saindo do abraço do colega de equipe, que se virava para Luisa, e seguiu cumprimentando os outros três.
— Eu nunca vi o Lando tão animado para perder, como ele está hoje — George riu com os amigos, enquanto abraçava os recém chegados.
— Dá um tempo, gente, vocês sabem como ele tenta — Segurando as bochechas do namorado, Luisa brincou, recebendo um olhar indignado do namorado. Ela estava vestindo uma calça legging branca, com uma camiseta preta e um boné na mesma cor da camiseta.
— Qual é? Até a minha namorada está contra mim — Com os braços cruzados, Lando respondeu bravo, recebendo um beijinho nos lábios da namorada.

Dani, Lily, Albon e seguiram cumprimentando os amigos, respectivamente. Entre abraços, beijos, sorrisos, comentários e piadinhas, foram passando de um em um até, enfim, chegar em quem estava mais ansiosa por ver. Carlos tinha acabado de abraçar Lily carinhosamente, comentando com ela algo sobre ter visto que tinham dado o nome dela em um drink no bar daquele clube quando seus olhos, enfim, caíram sobre os olhos de . O sorriso feliz foi claramente murchando e dando espaço para uma postura mais tensa, meio nervosa. Carlos parecia ter segurado a respiração por um segundo e, tentando ser o mais natural possível, cumprimentou com um abraço rápido, reparando no quão linda estava naquele dia, com uma saia plissada curta na cor bege, com tecido de caveiras, uma camiseta branca com gola alta, tênis e viseira na mesma cor.
Nenhum dos dois disse sequer uma única palavra. Não sabia o que poderiam dizer, o que deveriam dizer um para o outro. Não sabiam interpretar os jeitos mais sérios e formais que, sem querer, adotaram na presença um do outro, não sabia como reagir ao fato de estarem ali, se vendo outra vez, depois de tudo o que fizeram na noite da festa de Daniel ter se tornado público. Carlos não sabia o que se passava na cabeça dela, nem como ela estava em relação a tudo aquilo e muito menos quais eram suas expectativas em relação a ele. , por sua vez, não sabia como ele tinha reagido, se estava tudo bem por ele o que aconteceu ou se só não queria mais sequer direcionar uma palavra a ela. Trocaram um olhar tenso por um instante, deixando o silêncio e a curiosidade dos amigos os cercar, até, enfim, tudo se perder novamente.

— E aí, qual vai ser a boa de hoje? — Charles quebrou o breve silêncio do grupo, travando seu carro. Estava com uma bermuda branca e uma camisa polo preta, com tênis igualmente brancos e óculos de sol. Bagunçava os próprios cabelos para arrumá-los, enquanto caminhava para mais perto da namorada.
— Vamos de Match Play? O que vocês acham? — Lily sugeriu, animada — Doze buracos de Match e os seis próximos só jogam os vencedores.
— Acho que gosto — Gasly esfregou as mãos, competitivo.
— Vamos, e a vem comigo — Lando se apressou, correndo até a amiga, que riu.
— Ih, que isso? — Charles se virou para ele, o encarando sério.
— Nem ferrando, eu vou com ela — Sainz se meteu, puxando para mais perto de si e recebendo um novo olhar tenso de Charles. Venceria fácil a amiga, queria ir com ela.

O Match Play era uma das modalidades de golfe preferidas dos amigos e Lily sabia daquilo. Para jogar em um grupo grande era ótimo, porque deixava o jogo mais dinâmico. Dividiam-se em duplas e cada uma delas competia entre si por uma quantidade pré-estabelecida de buracos. Ao final, os vencedores de cada dupla completavam o circuito, competindo nos buracos faltantes sendo o de menor pontuação, a cada buraco, o perdedor da rodada. Com isso, iam reduzindo o número de jogadores, aumentando a competição entre os faltantes e desafiando ainda mais aqueles que permaneciam no jogo.
Como estavam em doze pessoas, podiam perfeitamente fazer 6 duplas e, ao final, teriam 6 jogadores vencedores competindo em 6 buracos. A conta era exata e Lily achou que aquele seria o melhor jeito de jogar. A formação das duplas, contudo, era um dos pontos mais estratégicos do jogo. Escolher o concorrente certo podia definir, ao menos, o lugar na partida final e era claro que, sendo ruins no jogo, todos queriam ter ou Lando como dupla - ou, ao menos, Lando não queria ter mais ninguém senão ela, a única pessoa com quem poderia competir sem ser humilhado.

— Está fugindo da Lily, Lando? — Daniel riu da cara de desespero dele.
— Não quero nem ter a chance de cair com ela, pode ficar — Lando respondeu risonho, olhando assustado para Lily que, na brincadeira, fez um pose de combate para ele — Eu vou com a ou não vou.
— Todo mundo quer pegar a , o que é isso? — zoou a amiga, mas antes mesmo que ela pudesse responder algo, Charles se meteu:
— Que conversa é essa? — Ele protestou alto, tirando risadas dos amigos. Sem graça, se escondeu atrás do namorado, o abraçando pela cintura. Ela estava com uma mini saia plissada rosa, uma blusa branca, com um boné da mesma cor.
— Tranquilo, Charles, ela só quer pegar você — Dando uns tapinhas nas costas do amigo, como se o acalmasse, Alex brincou.
— Escolhe, : Sainz ou Lando? — Lily tentou organizar o pequeno caos que se formou ali. se afastou de Charles, olhando de um amigo para outro, pensativa. Tinha que dar um jeito de chegar no décimo segundo buraco e só tinha um jeito dela conseguir passar pelo Match Play, sendo ruim no golfe como ela era:
Te quiero, mi corazón, pero hoy voy con… Landinho — mandou um beijo no ar para Carlos e deu um passo mais perto de Lando que, feliz, a abraçou pelos ombros, de lado.
— Já saí ganhando do Sainz hoje.
— Que duplinha, hein? — Gasly brincou, com as mãos nos bolsos de sua calça — Os dois juntos não dão um único jogador mediano.
— É ruim com ruim, eles se entendem — Concordando com a cabeça, George zoou os amigos.
— Se liguem, vamos chegar na final hoje! Vamos nessa, dupla — Motivada, hiper animada, puxou Lando pelos braços, rindo, logo saindo na frente em direção a entrada do clube, enquanto o grupo ria.
— Ele me trocou mesmo? — Boquiaberta, assistindo o namorado se afastar, Luisa brincou e falou mais alto, para que ele pudesse ouvi-la — Eu vou me lembrar disso mais tarde, viu, Lando Norris? — Mandando beijos e fazendo corações para ela, já meio longe, Lando se virou, recebendo risadas dos amigos.
— Eu não quero a Lily nem ferrando — Daniel apressou-se em dizer e logo apontou para a outra amiga, que sabia que tinha alguma chance de ganhar — Vou com a Carmen.
— Olha os caras, vindo para cima na cara de pau — George falou para Charles, incrédulo, negando com a cabeça.
— Eu topo — Carmen deu um beijo na bochecha do namorado e, aceitando o braço do australiano, foi com ele para onde e Lando caminhavam animados. Carmen havia escolhido um vestido rose curto com uma viseira na cor branca.
— Eu vou com você, Lily, gosto do desafio — Charles levantou a mão, fazendo um hi-five com a chinesa.
— Albonzinho, se prepare — Por baixo de seus óculos de sol, George olhou para o amigo.
— Para ganhar de você? Estou pronto — Alex fez um sinal com a cabeça, sentido a entrada no clube, onde Lily e Charles já passavam. Luisa, por sua vez, estava pensativa, observando as pessoas formarem suas duplas, sem saber com quem poderia jogar. Por sorte, não havia restado muitas opções. Podia ir com , com Carlos ou com Pierre e, pensando rápido em toda a situação, fez a escolha mais sábia possível:
— Pierre, somos eu e você hoje.
— Deixa o Lando ouvir isso, gata — Brincando com a amiga, enquanto a abraçava pelos ombros, Pierre a puxou alguns passos dali.
— Você não tem um dia de paz, não é, garoto? Não me enche a paciência ou eu vou te acertar com o taco, fica esperto — Luisa apontou para ele brincando, caminhando com o francês para onde o restante do grupo os esperava.

O grupo ria, saindo rapidamente do estacionamento em direção a entrada do local, deixando e Sainz para trás. Sem opção, tendo que fazer dupla um com o outro, os outros se entreolharam por um instante, apáticos. Por dentro, contudo, sentia seu coração bater acelerado, com receio do que uma nova competição entre eles dois poderia causar. Já tinham dado alguns passos em direção a um relacionamento mais amigável, mas parecia que, sempre que algo estava levemente dando certo entre eles, alguma coisa os colocava à prova novamente. Sainz, por sua vez, agradecia aos céus mentalmente por ter amigos tão óbvios quanto os seus, a ponto de, propositalmente, deixar os dois como dupla. Talvez pudesse, enfim, ter algum tempo com ela para conversarem sobre tudo, para tentarem resolver o que quer que eles tivessem.
Confiante de que aquele seria um bom dia, Carlos sorriu de lado, levemente, para ela, fazendo um gesto sentido à entrada do clube. deixou um suspiro frustrado sair e, sem dizer nada, o acompanhou até onde o grupo tumultuava. Com eles, havia dois funcionários que aguardavam o grupo e que prontamente os levou em direção aos carrinhos de golfe, onde seus equipamentos já os aguardavam. No campo, cada dupla se posicionou em um buraco diferente, de modo que todos pudessem jogar entre si, ao mesmo tempo, em círculo, em doze buracos diferentes sequenciados.
Pelas poucas horas que se passaram, o campo foi tomado pelos gritos de frustração de Charles, que estava levando uma surra de Lily, no golfe. Cada bolinha que ele perdia ou que não acerteva, era um grito diferente, em meio das risadas e celebrações da chinesa. A parte boa, contudo, era que Charles realmente gostava do esporte e jogar com Lily era uma excelente forma de aprender. Vez ou outra eles paravam, Lily analisava as jogadas com ele, dava dicas, ensinava o que sabia. E Charles, atento, prestava atenção em cada palavra, tentando colocar em prática no movimento seguinte.
Perto deles, podiam ouvir também os gritos de alegria de Luisa, que parecia estar vencendo de Pierre. O francês não era o maior fã do mundo do golfe, mas estava se divertindo naquela tarde e parecia mais preocupado em irritar a amiga do que em jogar. Já tinha levado diversas ameaças de ser agredido pelo taco dela, já tinha escondido as bolinhas dela, tinha roubado sua viseira e agora a vestia. Luisa aproveitou o momento a sós com Pierre para tentar conversar com ele sobre o que estava acontecendo em sua vida e, entre as palhaçadas que faziam e o jogo que rolava, conseguiu, ao menos, convencê-lo de falar como se sentia.
Alex e George pareciam ser os únicos que competiam para valer. Estavam centrados no jogo, faziam poses engraçadas e não tinha conversa ou risadinha entre eles. Estavam concentrados, focados em suas estratégias e querendo chegar na competição final. Vez ou outra, contudo, trocavam algumas provocações e empurrões de leve, rindo baixo para não perder o foco. Alguns passos dali, no buraco ao lado, Carmen e Daniel esperavam a bolinha do australiano correr pelo campo, atentos, até enfim, parar a um milímetro de cair no buraco. Carmen celebrou alto, vendo o amigo negar com a cabeça. Estavam jogando com elegância no começo mas, depois que Carmen deixou seu espírito competitivo aflorar, já estavam se cutucando com os tacos, se empurrando, cantando e dançando em volta um do outro para atrapalhar as jogadas.
Não longe deles, no buraco lado, a situação não era diferente. gargalhava das poses que Lando fazia sério, tentando avaliar o campo sempre que era sua vez de jogar. Ele já tinha perdido uma bolinha, tinha quebrado a ponta de um taco e, no final, estava empatado com ela. Gravavam vídeos um do outro em suas jogadas, porque eram sempre muito ruins e muito engraçados e, sem dúvidas, estavam se divertindo ali mais do que qualquer outra dupla, a tirar pelas risadas que vinham deles. No décimo segundo buraco, o último, se posicionou e, dando uma olhadinha onde a bolinha do amigo tinha parado, tacou a sua.
O movimento, contudo, mais pesado e forte do que ela havia calculado, fez a bolinha voar alguns bons metros, passar pelo buraco e acertar as costas de Daniel, do outro lado do campo. Ouvindo Lando gargalhar enquanto gritava “quase foi no buraco errado, ”, Daniel se virou para eles e, no segundo seguinte, saiu correndo atrás dos dois. Carmen aproveitou o momento para fazer uma tacada dupla de sua bolinha para dentro do buraco, dando a vitória, roubada, para si mesma.
Carlos e passaram a maior parte do tempo em silêncio. Estavam felizes por estarem ali com os amigos, mas toda a situação os envolvendo tirou um pouco o foco do dia para eles. Eles riam sozinhos, observando todo o cenário dos amigos, que pareciam estar se divertindo e aproveitando o momento. Ambos eram bons no golfe, não queriam perder um para o outro, principalmente depois do último jogo e da aposta. Por isso, tentavam se focar na partida, mas estava sendo bastante difícil para eles dois.
parecia distraída. Não sabia como agir estando tão próxima do rapaz, seu perfume amadeirado a estava deixando maluca e o fato de ele estar a ignorando, ou, ao menos parecer que a ignorava, a estava deixando confusa. Carlos, por sua vez, não estava tão diferente. A roupa elegante e curta que ela vestia estava distraindo ele, o jeito que ela ajeitava os cabelos, às risadas que ela soltava quando reparava nos amigos ou quando a modelo ia dar a tacada e arrumava a postura, empinando levemente a bunda. Tudo nela o estava deixando completamente perdido. Era difícil se concentrar quando tudo o que ele queria era ela.
Ainda assim, o piloto espanhol estava uma tacada a frente e, na tentativa de se distrair, toda vez que ia jogar, ele se focava nos amigos, para não reparar na forma que sua saia subia levemente e o vento empurrava seu rabo de cavalo, a deixava ainda mais encantadora. Na última tacada, enfim, a modelo conseguiu acertar o buraco e, alegre, comemorou, dando alguns pulos de felicidade, enquanto Carlos sorria discreto a olhando, batendo palmas pela performance dela.
Duas horas depois, o grupo estava reunido, sentados sobre a grama enquanto descansavam e discutiam sobre quem tinha sido melhor, como cada um jogou e sobre o desastre que foi o jogo entre e Lando, que arrancava gargalhadas de todos presentes. Ninguém conversou sobre a partida de e Carlos, entre eles, o fato de estarem juntos e não terem brigado até o momento, era uma vitória. Luisa ria de um vídeo que gravou do namorado e da amiga enquanto mostrava para o Ricciardo que gargalhou, pegando o aparelho, se levantando e mostrando para Charles.

— Tá legal, vamos começar a partida final — Lily bateu palma, animada — Quem vem de cada dupla? — Ela viu os amigos levantando as mãos, empolgados, se aproximando dela — Certo, Lu, Alex, Carmen…
— Carmen roubou — Daniel pontuou, se jogando sentado no campo, ao lado de Charles e Russell.
— Você não tem provas disso — Estreitando os olhos, ela o encarou.
— E da dupla mais craque do golfe, quem vem? — Rindo para e Lando, Lily virou-se para eles. Lado a lado, tomando suas águas, os dois se encararam por um breve segundo e desataram a rir.
— Se esses ai são os craques, imagina os ruins — Pierre passou por eles, levando um tapa na cabeça, de Lando.
— Empatamos, na verdade, mas como sou cavalheiro, vou deixar a ir — Lando discursou sério, tirando gritos e protestos dos amigos. De cavalheiro ele não tinha nada. Estava mesmo querendo evitar a humilhação de perder para todos os amigos.
— Achei que você fosse meu amigo — o encarou séria, caminhando tranquilamente pelo campo, até onde o namorado estava. Não ia entrar naquela roubada, pelo exato mesmo motivo que sabia que Lando estava querendo se livrar — É mesmo uma ótima oportunidade, pessoal, mas regras são regras. Se empatamos, não ganhamos, portanto, nenhum de nós pode ir.
— Que desculpinha, hein, Hermann — George riu, negando com a cabeça, vendo a amiga se sentar no chão, entre as pernas de Charles, deitando-se levemente nele.
— Já me diverti hoje, está ótimo assim — Ela deu de ombros.
— Vamos Lando — Lily o chamou com a mão.
— Também passo essa, Lilyzinha. Alguém precisa torcer para a mulher mais linda desse clube — Soltando uma cantada em Luisa, que mandou um beijo vitorioso para ele, Lando justificou.
— Bom, nesse caso, e Carlos, vem vocês dois — Lily os convidou empolgada, verificando se precisaria trocar seu taco.
— Empatamos também — Carlos deu de ombros, meio desanimado — Segundo a regra da , não podemos ir os dois.
— Corta essa, Sainz, anda logo — Carmen insistiu, vendo Luisa puxar pela mão.

Meio contrariado, sem querer engatar uma nova partida de golfe silenciosa e esquisita com , como foi a primeira parte do jogo, Carlos se aproximou no grupo, observando em silêncio enquanto Lily decidia a dinâmica, quem iria primeiro e repassando a regra de um eliminado por buraco. tentava ignorar o fato de Carlos parecer meio emburrado e não sabia que se era porque realmente não queria continuar jogando ou se era por conta dela. Lily não demorou cinco minutos para repassar tudo e, espalhando-se novamente pelo campo, caminhando para perto do buraco que os desafiaria, eles ouviram Lando gritar:

— Espera aí — Lando parou o grupo que começava, falando sério — Dessa vez vocês não estão apostando nada, não é?
— Não, Lando, não estamos apostando nada — respondeu entediada.
— Será que podemos começar a jogar logo? — Impaciente, sem querer dar abertura para que se lembrassem das apostas que ele e fizeram no passado recente, Carlos perguntou.
— Tudo bem, vamos lá — Lily disse e acenou para Luisa, que tendo ganhado o sorteio para começar a jogar, deu sua primeira tacada e saiu dando pulinhos de alegria, quando viu que conseguiu acertar.
— Por que você não é tão bom quanto a sua namorada, cara? — Abraçando Luisa, a parabenizando, Albon zoou Lando, que levantou o dedo do meio para ele.
— Sua vez, Carmen — Lily guiava o amigo, observando a amiga rapidamente posicionar sua bolinha e jogar.

O jogo final não durou mais do que quarenta minutos. Os seis envolvidos na partida pareciam concentrados em realmente jogar, enquanto os seis demais, que ficaram de fora dela, seguiram sentados no chão, pelo campo, conversando, tirando fotos e gravando vídeos dos amigos. Alex e Charles postaram um stories do local, marcando o clube e foram logo repostados pela empresa, enquanto os demais acharam melhor não tornar o momento público. Cada um deles tinha uma aposta de quem ganharia e seguiam torcendo para os diferentes amigos, rindo quando alguém errava, celebrando quando alguém pontuava. Carlos foi o primeiro a sair do jogo, sendo seguido por Luisa, Carmen, e, enfim, no último buraco, ficou Lily contra Alex.
A partida encerrou com a vitória de Albon, que, impressionantemente, havia ganhado a última tacada da namorada. O grupo comemorava animado, vendo Lando e Pierre se levantar correndo em direção a Alex, praticamente o pegando no colo, enquanto George passava 100 euros para Daniel, por ter apostado em Lily de olhos fechados. A chinesa ria da cena toda, feliz em ver a evolução de seu namorado no esporte mas dizendo que ele havia tido sorte e que ela tinha deixado ele ganhar. O grupo ficou disperso por algum tempo ali, conversando e descansando, até, enfim, decidirem ir almoçar.
O clube tinha um horário de almoço definido e, já perto das 14 horas, poucos minutos antes do fim do serviço, eles se deslocaram em direção ao restaurante. Recebidos pelo maitre, que lhes apresentou a carta de vinhos e o menu do dia, o chef logo começou a preparar as refeições especiais para o seleto grupo, enquanto os garçons, um destinado individualmente para cada um deles, dançavam pelo salão de um lado a outro, organizando a mesa, servindo às entradas, reabastecendo às taças de água e de vinho.

— Estou impressionado, Albon, você mandou bem — George comentava enquanto se levantava, assim que Carmen voltou do toilette. Cavalheiro, como sempre, ele então puxou a cadeira para que a namorada pudesse se sentar e, depois, sentou-se novamente ao seu lado.
— Eu estou treinando há muito tempo para vencer ela — Albon riu com o amigo sem perceber o olhar da namorada logo atrás dele, acenando negativamente com a cabeça.
— Você deu sorte, meu amor — Enfatizando o final, Lily o beijou levemente, enquanto ele sorria.
— Pode ter certeza que isso não vai acontecer novamente, cara — Carlos, sentado ao lado de Charles, tomou um gole de seu vinho — Ela já deve estar tramando uma maneira de se vingar.
— Pode ter certeza que sim — Lily riu, concordando com a cabeça.
— Se eu soubesse que o Albon iria ganhar, até teria jogado — Lando resolveu zoar o amigo.
— E aí perderia para ele, seria uma vergonha, cara — Charles riu, enquanto escolhia algo para beber.
— Foi melhor termos ficado de fora, meu amigo — rebateu, apoiando a mão no ombro do amigo, rindo.
— É uma vergonha o Lando jogar tão mal, o coitado tem vários amigos que são jogadores e ainda sim não aprendeu nada — George comentou, rindo com os amigos e Lando o olhou entediado, enquanto ria junto.
— Pegaram o dia para me zoar, hein — Lando riu, tomando um gole de sua água — Amor, faça alguma coisa.
— Eu não posso fazer milagres, benzinho — Ela continuou zuando o namorado, enquanto o grupo concordou, rindo.
— Pelo menos ninguém perdeu nada ou saiu brigado — Lando, então, tirou uma graça com e Carlos, que permaneciam em silêncio. O grupo riu nervoso, ao tempo que o casal se olhava rapidamente.
— Por que não mudamos de assunto? — Carmen tentou amenizar a situação, quando percebeu como o clima havia mudado de repente, mas logo foi interrompida por Alex, que aproveitou o momento para, finalmente, matar sua curiosidade:
— Ei, Carlos, como ficou aquele assunto de ontem? — Albon perguntou do nada, curioso, fazendo o grupo ficar em silêncio de repente, enquanto observava suspirar e abaixar seu olhar.
— Qual é o seu problema, cara? — George murmurou bravo, dando um pequeno soco no braço do amigo.
— Está tudo bem, o time de crise da Ferrari e meus advogados estão resolvendo — Ele finalmente respondeu, chamando a atenção de que dava um gole em seu suco.
— Resolvendo o que exatamente? — perguntou, cruzando os braços.
— Toda essa merda — Carlos deu de ombros, encostando-se em sua cadeira.
— E precisa dos seus advogados para…? — Debochada, sem querer, ela sorriu para ele — Vai me processar por ter te beijado? Ou vai processar o mundo inteiro por ter compartilhado um vídeo?
, por favor — Lily pediu serena, negando com a cabeça. O clima na mesa estava ridiculamente tenso, desconfortável. , contudo, pareceu ignorar.
— Preciso de advogados porque não sabemos o quão longe essa história vai — Respirando fundo, se segurando para não se importar com as perguntas dela, Carlos respondeu simplesmente.
— E, você não acha que minha equipe, meus advogados e o seus, não deveriam conversar e resolver isso juntos? — o perguntou séria, sentindo como se ela não estivesse ali, como se não estivessem envolvidos naquilo juntos.
— Por que está querendo tornar isso uma briga, ? — Carlos perguntou sincero, a encarando nos olhos.
— Não estou querendo tornar isso uma briga, mas na sua fala fica parecendo que só você foi prejudicado, como se a minha imagem também não tivesse sido afetada por mais um escândalo envolvendo nós dois — gesticulava, apontando para ambos. Tinha plena consciência do quão ríspida estava sendo apesar de, no fundo, não querer falar daquela forma. Toda aquela situação, a falta de conversa deles dois, o dia fingindo que estava tudo bem, a estavam incomodando muito.
— É mais do que a imagem que está em jogo aqui, — Carlos franziu a testa, sério, mantendo o tom de voz calmo. Ele a chamando pelo nome completo, não mais pelo apelido, a fez engolir em seco — Eu tenho um contrato com muitas regras e restrições a cumprir.
— E você acha que meus contratos são menos importantes do que o seu? — Soltando uma risada cínica, ela perguntou — Um dos mais importantes deles está sentado do seu lado, inclusive, então, você dizer isso é ridículo — apontou para , se referindo ao contrato que tinha fechado com a Hermann e que, desde então, desde sua estreia para a marca, só tinha trazido problemas de relações públicas para a empresa. desviou o olhar deles, sem querer se meter naquela conversa.
— Não foi isso que eu disse — Carlos respondeu olhando da melhor amiga para a modelo, incrédulo com o rumo da conversa
— Mas foi o que pareceu — rebateu, rapidamente.
— Por que você está distorcendo tudo o que eu digo? — Carlos perguntou sério, cansado daquela discussão. Não queria brigar com ela ali, na frente de todos. Não estava entendendo porque , outra vez, estava tão na defensiva com ele.
— Por que foi você que decidiu resolver tudo isso sozinho, sem nem conversar comigo antes. Foi logo correndo acionar seus diversos funcionários, o senhor “sou mega importante” — debochou dele.
, não está ajudando… — Daniel tentou acalmar a amiga, mas, como Lily, foi ignorado. Ela sequer conseguia desviar seus olhos de Carlos. Intensa, irritada.
— Por que você quer fazer parecer que eu sou o errado, ? — Negando com a cabeça, soltando uma risada nasalada, Carlos voltou a perguntar — Podemos conversar e resolver isso…
— Mas você já não resolveu tudo? O que mais tem a ser resolvido? — Ela estava brava, confusa e magoada.
— Ok, já chega — abriu os braços sobre a mesa, falando alto — Viemos aqui para descansar e nos divertir, por favor, parem com isso.
— Pode deixar, , fica tranquila — Fora de si, empurrou sua cadeira para trás com o corpo, pronta para se levantar — Aparentemente, eu sou tão insignificante para o seu amiguinho que nada disso vai ser um problema para ele hoje, podemos só conviver e fingir que está tudo normal. Sou um problema que ele já resolveu.
— Isso só pode ser brincadeira — Carlos riu nervoso, passando a mão pelo cabelo, sem desviar o olhar do dela — Você acha que só você está sendo afetada aqui por tudo o que vazou? Até minha família está sendo envolvida nessa porra toda, , se toca — Ele falou mais ríspido, sério — Estão falando um monte de merda de todo mundo aqui, nem tudo é só sobre a sua imagem.
— Nem sobre os seus contratos — Ela apontou para ele, se levantando.
— Chega, vocês dois — praticamente gritou, impaciente — , você entendeu tudo errado e Carlos, você está agindo feito um babaca. E, mais uma vez, estamos em público. Parem com isso ou a merda toda vai piorar ainda mais, é o que vocês querem? Que porra.
— Não vamos discutir sobre isso, nem aqui e nem agora — George completou a amiga, olhando sério de para Carlos.
— É o nosso último final de semana de férias, então, por favor, não estraguem isso também. Já não basta o aniversário do Alex, o desfile da , o que mais vem por aí? Parem com isso — Luisa gesticulou sem paciência alguma, cansada daquela ceninha toda, toda vez que se encontravam.
— Vamos parar agora e aproveitar o resto dia de hoje — Charles tentou acalmá-los, falando calmamente.
— E, vocês dois, — Daniel apontou para o casal, sério — se eu ouvir mais uma briga de vocês hoje, vão ser expulsos do rolê e vão voltar para casa a pé. Assim terão muito tempo para conversar.
— Tudo bem — Carlos concordou silenciosamente.
— Isso é ridículo — negou com a cabeça, contrariada, e se sentou de volta em seu lugar à mesa.

O grupo então ficou em silêncio enquanto os garçons serviam suas sobremesas e alguns snacks. Sainz e mal conseguiam se olhar, ainda estavam bravos e digerindo tudo que ouviram e disseram naquela pequena discussão, ressentidos pelo o que a conversa se tornou. tentava evitar os milhares de sentimentos que se tumultuavam em sua mente quando estava ao lado dele, tão confusa e incerta quanto o próprio Carlos.
Ele achava que poderia convencê-la a, ao menos, ouvir o que ele tinha a dizer Durante o dia todo mal conseguia trocar mais do que meia dúzia de palavras com ela, era difícil de lidar. Estava reclusa, inalcançável, o evitando e, mesmo sendo a dupla dela no jogo, ela não pareceu baixar a guarda nem por um único segundo. Carlos só queria conversar. Só queria que ela o ouvisse como o ouviu quando foi para Marbella, queria aquela , queria ser aquele Carlos.
Por que ela tinha que ser tão cabeça dura? Por que não poderiam concordar em algo? Por que não poderiam conviver bem naquele dia e ter uma tarde agradável? Ele estava completamente confuso, sentado ali, perto dela, cutucando a sobremesa que mal conseguia comer. Sua mente queria respostas, queria reações dela, bem diferentes da que ele recebeu. Seu corpo pedia pelo leve toque da modelo, pelo sorriso dela, pelas risadas, pelos olhos atentos e carinhosos nos dele, como na noite em sua casa, como na noite da festa. Ele nunca quis parecer arrogante e soberbo ao dizer que sua equipe estava trabalhando naquilo. Quis passar certa segurança, dizer a ela que estava tudo bem e que ela não teria que se preocupar, pois eles realmente estavam tentando retirar não só o nome dele, mas o dela também de toda aquela confusão.

— Acho melhor você nunca mais dar festas, Ric — Quebrando o gelo, tirando risadas baixas dos amigos à mesa, Lando comentou, comendo um pedaço da torta que havia pedido de sobremesa.
— Tá legal, qual é o plano para as próximas horas? — Daniel perguntou, curioso, quando todos já estavam terminando suas sobremesas.
— Vocês, rapazes, eu não sei, mas nós vamos para o spa — Carmen comentou empolgada, lembrando-se das reservas que Lily havia feito para elas.
— Piscina, rapazes? — Imitando o jeitinho da namorada de falar, George perguntou para os amigos, que riram.
— Eu topo — Lando levantou a mão, feito uma criança empolgada. Estava de olho na sobremesa de Luísa, torcendo para que ela não aguentasse comer tudo.
— O melhor bar do clube fica lá, então, estou dentro — Charles celebrou animado, tirando o guardanapo de seu colo e o colocando sobre a mesa.
, se eu beber, você leva o carro, combinado? Combinado — Daniel pegou a mão dela e fez um hi-five com a dele, tirando uma risadinha da amiga.
— Ou seja, , o recado foi: não beba — comentou rindo com a amiga, que concordava com a cabeça.
— Ou que vamos dormir aqui hoje — Lily pensou alto, tirando risadas dos amigos.
— E se a gente desse uma festa aqui? — Gasly sugeriu, dançando em sua cadeira.
— A resposta é não — Daniel apontou para o amigo, sério. Ao lado dele, Albon, que tomava um gole de sua água, riu sozinho, soltando todo o líquido e começou a tossir.
— Tudo bem aí, cara? — Charles perguntou, vendo Lily dar uns tapinhas nas costas do namorado, enquanto Gasly resmungava os benefícios de darem uma festa naquela noite, ali, mas que não durou muito, pois os garçons logo se reaproximaram da mesa do grupo.

Não muito tempo depois, as meninas se despediram dos rapazes e saíram em direção a área do spa. Haviam programado uma tarde de unhas, cabelos, massagens e ofurô relaxante, antes de voltar a encontrar com eles, à noite, para jantar ou curtir algum barzinho no centro de Monte Carlo. Entraram nos vestiários, onde puderam se trocar rapidamente, colocando seus biquínis e um roupão por cima e, então, foram em direção às salas do spa, onde as funcionárias as direcionaram para o enorme ofurô com sais relaxantes.
Pelos exatos vinte e cinco minutos seguintes, as meninas ficaram por ali, imersas na água quente do grande ofurô, cada uma em um canto, formando uma roda. Relaxavam, conversavam e ouviam uma à outra, enquanto comentavam sobre seus relacionamentos, atuais e antigos, e fofocavam sobre as últimas notícias do paddock. Uma garçonete logo se aproximou do grupo, entregando taças de mimosas sem álcool para cada uma delas, e logo deixou o local.

— Ai meu Deus, isso aqui, era exatamente o que eu precisava — Luisa comentou mexendo os braços na água.
— Eu também — Brincando os sais do ofurô, Carmen concordou sorrindo.
— Fazia muito tempo que nós não fazíamos algo assim, não é? — Lily refletiu, tentando buscar em sua mente qual foi a última vez que teve aquele tempo de spa com as amigas e se lembrando apenas de mais de um ano atrás, em Londres.
— Com certeza precisamos fazer mais vezes, tipo, uma vez a cada três meses — deu a ideia, mergulhando os braços para dentro da água.
— Eu topo — sorriu para a amiga.
— Eu também — As outras três responderam em uníssono, rindo em seguida.
— Ainda mais depois dos últimos acontecimentos, relaxar um pouco é a melhor opção para hoje — Lily
— E falando neles… — Luisa
— Não vamos falar dos últimos acontecimentos — suspirou baixo, fechando os olhos brevemente.
— Vamos sim — Luisa respondeu.
— Estou até agora sem entender porque você se incomodou com o fato de ele estar tentando resolver tudo, — Carmen comentou, curiosa.
— Porque ele é um egoísta — respondeu, dando de ombros enquanto observava o olhar atento das amigas.
— Sem querer fazer a advogado do diabo, mas já fazendo... — disse, bebericando levemente sua bebida.
— Não começa, riu, enquanto observava a amiga.
— Já comecei — acrescentou, rindo — Achei bem fofo da parte dele não te envolver nisso, na verdade. Ele te conhece, sabe o quanto esse lance da exposição te machuca e ele quis resolver isso antes mesmo que você pensasse em fazer algo.
— Mas ele deveria ter falado comigo antes — disse, suspirando.
, se liga! A Ferrari está no meio, não é como se ele tivesse muita opção — Lily disse, gesticulando, enquanto tentava mostrar o ponto ali — Ele ainda está dando um jeito de livrar o seu nome junto, já é mais do que a gente esperava.
— Eu odeio o fato de vocês defenderem ele — bufou, cruzando os braços.
— Não defendemos ele — Carmen respondeu, sentando-se e tomando outro gole de sua bebida — Tudo bem, às vezes sim. Mas hoje você pegou meio pesado.
— Ele só parecia querer te passar segurança no que estava acontecendo, ele queria conversar, eu acho — tentava apaziguar a relação dos dois amigos, já que amava ambos.
— E você está meio esquisita com ele o dia todo — Lily comentou, expondo o que todos estavam pensando — Todo mundo percebeu.
— Eu até escolhi o Pierre de propósito para deixar vocês a sós e se resolver e nem isso vocês fizeram, sabe… — Luisa revirou os olhos, sorrindo.
— Vocês não aproveitaram nenhum pouquinho do jogo? — Carmen fez um gesto de pouquinho com os dedos, curiosa.
— Eu não queria aproveitar o jogo, eu queria aproveitar ele confessou frustrada, meio triste — mas eu não sei o que acontece, meninas. Parte de mim quer jogar a real para ele, de novo, e parte de mim sabe que ele já sabe o que eu sinto por ele e não vê ele fazendo nada.
— Amiga, como ele pode saber o que você sente, se vocês não conseguem nem conversar direito? — Lily flutuava no ofurô.
— Eu beijei ele, a gente quase transou… — tentava apresentar os fatos, ressaltando as palavras, como se tudo fosse óbvio.
— Pois é, e fizeram tudo isso sem se conversar, sem entender o que sentem um pelo outro, o que só piorou a situação um pouco mais — Carmen riu, tentando amenizar o clima
— Não é possível que ele ainda não tenha entendido nada do que acontece comigo, com a gente — questionou, confusa.
— Eu vou falar, porque me sinto na obrigação de falar isso: ele pode até imaginar o que você sente, , mas ele não sabe e não tem certeza. Depois do que rolou com a Isa, e isso morre aqui entre a gente — Cuidadosa em suas palavras, resolveu contar um pouco mais sobre o amigo, sem expô-lo demais — Carlos não acredita mais nas coisas que ele sente, porque parecem erradas para ele, parecem mentira, parecem que vão afundar ele nesse passado todo. Ele não percebe, mas cada vez que te vê, que encontra com você, ele fica preso nisso, nessa necessidade de saber com clareza o que você sente e nesse incômodo de achar que é tudo mentira. Por isso, eu acho, que o jeito mais fácil que ele encontra de lidar com isso é não lidando, e entra nessas briguinhas.
— Fora que sabemos que ele faz isso para chamar a sua atenção — Luisa encarou significativamente.
— Como se precisasse disso — revirou os olhos — Ele chamou minha atenção desde a festa do Alex, quando eu vi ele ir cumprimentar a . Não precisava de absolutamente nada disso.
— Espera! — gritou, animada, e ajeitando no ofurô — Você lembra desse dia? Lembra de ter visto ele nesse momento que chegamos na festa?
— Sim. Não sabia do Charles na época, cheguei até a pensar que talvez fosse dele que a Lily falava quando te zoava — confessou, rindo com as amigas.
— E, por isso, você decidiu deixar a gente a sós? — completou o raciocínio e, vendo a amiga concordar com a cabeça, bateu uma mão na testa — Aí, foi aí que a confusão toda começou.
— O que quer dizer? — Lily perguntou, confusa.
— O Carlos tentou falar com a nesse momento da festa, mas ela simplesmente virou as costas e saiu de perto. Ele achou ela mal educada, mas se me lembro bem, comentou algo sobre ela ser bonita — contou, se lembrando daquela noite e rindo, como se tudo, enfim, fizesse sentido agora.
— E daí quando ele chegou na mesa e a estava lá, ele não quis muito falar com ela porque ela, em teoria, já tinha ignorado ele — Carmen seguiu encaixando as peças e logo foi completada pela Lily:
— E nesse meio tempo, ele encontrou a Laura.
— E falou tudo o que falou, mas nada foi para mim e eu absorvi tudo errado, como fiz hoje — completou baixo — Aí eu sou muito burra.
— Amiga, está tudo bem — Luisa alisou o braço direito da amiga, em sinal de apoio.
— Não, não está, Lu — confessou — Eu estou estragando tudo com ele desde o primeiro dia e ele continua insistindo, mas vai chegar uma hora que ele não vai suportar mais, e nem eu, e já vai ser tarde demais.
— Fala com ele, — Carmen implorando — Ele precisa ouvir, e de você, o que você sente, o que você acha, o que você espera dele.
— E quando você começar a falar, ele também vai se sentir confortável em te dizer algumas coisas — assentiu com a cabeça, falando suavemente.
— Eu já tentei, no dia do iate — recordou — Mas ele já tinha ido embora, não nos encontramos.
— E você desistiu? — Luisa levantou as sobrancelhas.
— Às vezes eu acho que ele desistiu — suspirou baixo — Não sei o que fazer.
— Definitivamente fingir ignorar ele não é a melhor das opções — Carmen respondeu, bebericando sua taça de mimosa.
— Preciso de tempo para pensar — negou com a cabeça, Mas logo emendou, carinhosa:
— Não, amiga, você precisa tomar coragem e falar com ele, do mesmo jeito que fez quando apareceu na casa dele, em Marbella.

~ ❤ ~


Do outro lado do clube, os rapazes já ocupavam a área interna da piscina aquecida. Daniel, Carlos, Charles e George estavam sentados na borda, enquanto Pierre, Lando e Albon nadavam por toda a piscina, competindo para ver quem chegava primeiro do outro lado, espirrando água por todos os cantos, se empurrando e rindo feito ogros. Pierre, que havia acabado de ganhar a pequena competição, comemorava animado, voltando em direção ao restante do grupo, no ponto inicial.

— O que será que elas devem estar fazendo agora? — Lando perguntou curioso, balançando o pé dentro da água.
— Já está com saudades, Lando? — Ricciardo zoou o amigo, vendo os outros rir.
— Saudades nada, ele deve estar querendo estar lá no meio das gatas de biquini, fazendo massagem — Gasly brincou, recebendo um jato de água do amigo.
— Eu queria ser uma mosca, para saber o que elas devem estar conversando nesse momento — Albon deu de ombros, curioso.
— Vocês são muito fofoqueiros, eu hein — Carlos riu, apoiando suas duas mãos no chão atrás de si.
— Fofoqueiros não, só comentaristas de fatos — Charles brincou, rindo com os amigos — Aquelas lá quando se juntam são melhores do que site de fofoca.
— Deixa elas aproveitarem o dia juntas, nem sempre conseguem se reunir — Defendendo as amigas, Carlos seguiu indiferente.
— Até parece que você não gostaria de estar lá também — George encarou o espanhol, sugestivo.
— Depois do almoço que tivemos? Sinceramente, não — Carlos respondeu, se referindo a briga de mais cedo com .
— É, cara, a exagerou um pouco dessa vez — Comentando o que tinha acontecido, Daniel colocou uma mão no ombro do amigo sentado ao seu lado, em sinal de apoio. Alex e Charles concordaram com a cabeça.
— Só dessa vez? — Carlos o olhou, indignado — Ela nem me deu chance de explicar, de conversarmos.
— Ela está de cabeça quente, passou grande parte da noite em ligações com o empresário e a família, o pai dela estava furioso com o que viu — Daniel tentou defender a amiga e Carlos suspirou — Do meu quarto dava para ouvir ela tentando acalmar ele, mas, pelo jeito, a conversa não foi boa.
— Melhor coisa possível é evitar que a família veja essas coisas — Pierre refletiu, sério — A minha, por exemplo, já nem olha mais nada sobre mim.
— Até eles já sabem que você é um caso perdido — Lando lançou um pouco de água no amigo, que deu de ombros.
— Mas é sério, aqui, Carlos: pegou um pouco mal a forma que você falou com a , na mesa — Gasly comentou sério, dando de ombros. Por um instante, Sainz o olhou bravo, sem gostar muito do fato do francês defender , mas nunca admitiria aquilo em voz alta.
— Agora, manda a real para a gente aqui… — Charles resolveu perguntar, curioso. Já sabia de alguma coisa porque o contava, mas nunca tinha ouvido o amigo assumir nada — O que você sente por ela?
— É, porque essa desculpa de “nos odiamos” não cola mais — George o empurrou pelo ombro, rindo com os amigos.
— Eu não sei, só é tudo muito confuso — Carlos suspirou, sincero — Era tudo mais fácil quando nos odiávamos, mas agora que eu a beijei, que a gente quase transou, tudo mudou.
— É o poder do amor, meu amigo — Albon brincou, rindo.
— Antes estava claro para mim o que ela sentia, que ela não ia muito com a minha cara. Mas, agora, ela demonstra indiferença, se aproxima, mas nem tanto, dá sinais confusos e me deixa intrigado — Carlos gesticulava nervoso, enquanto os amigos concordavam com a cabeça.
— Sinceramente, acho que ela está na sua, mas tem medo de toda a exposição, mídia em cima, e do que está sentindo — Daniel confessou o que percebia da amiga, pelas conversas que vinham tendo.
— Está meio claro que ela está na dele, não? — George encarou Dani, que concordou com a cabeça — Qual é o sinal que você não está vendo, cara?
— Não sei, sinceramente. Estar com ela parece tão certo, mas tão…errado, entende? — Carlos perguntou, colocando para fora tudo que estava sentindo.
— O que eu não consigo entender é o por que vocês não conseguem ter uma conversa decente — Albon comentou sério. Aquilo era algo que não só ele, mas todo o grupo percebia.
— É por que eles são cabeça dura demais para isso — Charles comentou, entrando na piscina, logo recebendo um jato de água de Gasly.
— Para mim e para a Carmen, isso acontece porque vocês dois são como fogo e gasolina, prontos para entrarem em combustão — George comentou rindo.
— Bom saber que nós dois viramos assuntos dos casais — Carlos riu fraco.
— Vocês dois são nossos grandes divertimentos, cara — Lando fez um high-five com o inglês.
— Temos assunto por meses quando vocês se encontram — Charles concordou com os amigos, rindo.
— Eu só queria que pudéssemos nos resolver, mas acho que ficou claro que ela não sente nada por mim e se arrepende do que tivemos na festa — Carlos soltou cansado.
— Você ouviu o que eu acabei de dizer? — Daniel perguntou, levantando uma das sobrancelhas.
— E você estava naquela mesa hoje, certo? — Carlos perguntou de volta — Viu a forma como me olhou ou como falou comigo? Viu que ela me ignorou o dia inteiro, durante o jogo de golfe?
— Por que você não agiu muito bem no almoço, meu amigo — Gasly comentou, enquanto o ouvia bufar.
— E porque você também não foi o cara mais aberto do mundo durante o jogo — Alex pontuou.
— Eu estava tentando resolver as coisas — Carlos insistiu em seu ponto.
— E a gente reconhece isso, cara — Lando sentou-se na borda da piscina, deixando Charles, Gasly e Albon ainda dentro, nadando um ao lado do outro, ainda próximos do grupo.
— Mas, talvez, não tenha sido a melhor forma de resolver — Dani comentou, pulando na piscina com os amigos.
— A culpa é do Albon, que resolveu puxar o assunto — Sainz apontou para o amigo, que havia sido puxado para dentro da piscina, de volta, por Gasly.
— Minha? Eu só quis matar a curiosidade de todo mundo.
— Mas não era o momento, cabeção — George concordou com o espanhol.
— Certo, mas o que você vai fazer agora? — Lando encarou Carlos, desviando da tentativa de Charles o cutucar com uma bóia estilo macarrão.
— Vou deixar para lá, claramente não teremos nada e, pela forma que lidamos no almoço, não vamos voltar a conversar tão cedo — Carlos respondeu, sincero.
— E é isso o que você quer?— Dani o questionou.
— É isso o que eu sei — Carlos deu de ombros, enquanto observava a troca de olhares entre os amigos.
— Se é assim que você quer… — Foi a vez de Lando dar de ombros, voltando para o meio da piscina e começando uma nova brincadeira com os amigos que estavam lá, se dispersando da conversa.
— Olha, cara, se puder te dar um conselho: não faça isso com você mesmo — George, que era o único sentado com ele na borda da piscina, comentou — Vocês claramente se gostam, a não é a Laura e você não precisa combater o que sente por ela.
— Eu sei disso, mas ela já provou que não sente o mesmo por mim… Então, por que eu devo insistir? — Carlos o olhou intrigado.
— Por que você acha isso? O que eu vi no almoço foi totalmente diferente, o oposto, na verdade — George comentou sorrindo de lado.
— O que você viu? — Arrumando a coluna, sério, Carlos o olhou, com um pingo de expectativa.
— Vi alguém que realmente gosta de você, que brigou porque esperava uma ligação, um encontro, algum contato seu, para que pudesse saber, ter uma confirmação, de que vocês estão na mesma sintonia, que resolveriam isso juntos, como um casal, talvez — Refletindo alto, George sorriu ao final enquanto, em um sinal de apoio, tocou seu ombro no dele. Carlos pensou por alguns instantes no que o amigo havia dito e, esticando sua mão esquerda até o ombro do inglês, concluiu:
— Você é muito bom em conselhos, meu amigo.
— Pensa nisso — Sem dizer mais nada, George, então, pulou na piscina, deixando o espanhol sozinho e pensativo ali, enquanto assistia os amigos se divertirem.

~ ❤ ~


Às 19h em ponto, as meninas deixaram o spa, totalmente arrumadas para curtir a noite. Os rapazes já esperavam por elas, próximos ao saguão do clube, igualmente arrumados depois do banho pós-piscina. Carlos, Albon e Lando estavam encostados no balcão, conversando sobre a partida de golfe, enquanto Pierre, Daniel, George e Charles estavam na frente deles, mexendo no celular e decidindo sobre o próximo destino do grupo. Discutiam sobre ir a uma festa no Jimmy’z Club ou ficarem na casa do australiano em uma noite mais tranquila, regada a cervejas, karaoke e muita fofoca. A discussão parecia fervorosa quando as mulheres se aproximaram, indo cada uma para seu respectivo namorado enquanto se dirigia até Daniel, sorrindo. Sem deixar de notar aquilo, Carlos suspirou.

— Beleza, a gente vai pra festa que o Pierre sugeriu ou vamos lá para casa? — Daniel perguntou alto, tentando organizar o grupo em uma única conversa.
— Festa? — Luisa olhou de Daniel para Lando, que deu de ombros.
Jimmy’z Club — Pierre respondeu animado, esfregando as mãos — Consegui colocar nossos nomes na lista, o DJ Ollie vai tocar lá hoje.
— Acho melhor não — negou com a cabeça, prontamente, assim que ouviu o nome do lugar. A coisa era sempre meio… doida, quando iam lá, era melhor não.
— Mas uma festa no último dia de férias não parece nada mal — Lando tentou insistir, inclinado a aceitar aquela opção.
— Eu topo também — Lily trocou um olhar rápido com Alex, que concordou a abraçando.
— Acho melhor evitarmos esse tipo de evento por enquanto, galera — Concordando com , Carmen opinou, meio receosa. Ao lado dela, George parecia pensar no assunto.
— Concordo, já entregamos conteúdo demais esses dias, melhor ficarmos mais quietos até tudo abafar — cruzou os braços, rindo do bico que Pierre fazia.
— Então é isso: festinha na minha casa? — Daniel perguntou animado, vendo todos os amigos, contrariados ou não, concordaram.

Decididos, o grupo então saiu do saguão sentido a linda entrada do clube, com portas enormes de madeira maciça de tom escuro. Já estavam se aproximando das portas quando um funcionário pediu, apressado, que não saíssem do local, enquanto outros dois rapazes fecharam rapidamente as portas e os instruíram para que ficassem por ali dentro, por mais alguns minutos. Curiosos, e um pouco assustados com a movimentação repentina, o gerente do clube explicou que a localização do grupo foi divulgada e, por isso, haviam diversos repórteres e paparazzis no local, os esperando.
Tenso com a situação, sem saber qual seria a reação deles, o gerente pedia desculpas repetidas vezes, enquanto informava que os seguranças já estavam dando um jeito de os colocar para fora e que guiaram o grupo em segurança até seus veículos, no estacionamento. O que estava sendo um final de tarde calmo, de repente, se tornou um caos completo. Todos começaram a falar ao mesmo tempo, enquanto o funcionário tentava acalmá-los e os seguranças passavam correndo, às pressas, para fora do lugar. O gerente conversava com , que tentava apaziguar toda a situação entre os amigos. Alguns pareciam tranquilos com aquilo, acostumados a aquele tipo de situação. Alguns estavam irritados, outros confusos e alguns meio bravos, querendo ir embora logo.

— Ir para a festa seria o menor dos eventos hoje, pelo jeito — Pierre sentou-se em um dos sofás que havia pelo local, cansado demais para continuar em pé, enquanto esperavam pelos seguranças.
— Como eles chegaram aqui? Quer dizer, como nos acharam? — Lily perguntou, acompanhando o amigo.
— Eu também gostaria de saber — questionou, assim que agradeceu ao gerente pelas informações.
— Acho que a culpa foi minha — Charles levantou a mão, receoso, e Albon, ao seu lado, logo concordou, dizendo sem graça:
— De nós dois, na real. Nós dois postamos algumas coisas mais cedo, no Instagram e acabamos marcando o clube.
— Espera, o quê? — Irritado em saber daquilo, Daniel perguntou.
— Ótimo, por que vocês dois postaram a nossa localização? — Sentindo que poderia explodir de raiva, Carlos perguntou irritado, apontando para Charles e Alex, que estavam quietos, até então.
— Qual é, caras… — George tentava acalmá-los. Sabia que Daniel estava mais irritado por não poder ir embora do que pela situação em si, mas Carlos, de todos ali, parecia genuinamente nervoso.

Não bastasse todo o problema que estava enfrentando com a mídia, havia mais deles ali, em cima, para terminar de foder tudo de uma vez por todas. E não era para ser daquela forma, não seria daquela forma, não fosse pela decisão bosta de Charles e Alex em expor o dia deles. Carlos estava furioso. Em qualquer outra situação, não ficaria daquela forma, ele sabia. Mas naquele dia, depois de tudo o que rolou ao longo da semana e depois da briga que teve com , aquilo era exatamente o que não podia acontecer de forma alguma. A gota d’água em um copo que já tinha começado a transbordar.

— Não tem nada a ver uma coisa com a outra — Abraçando Alex pela cintura, Lily tentou os defender.
— A culpa não é deles — concordou, entrelaçando seu braço no de Charles que, se sentindo mal por aquilo, parecia meio cabisbaixo.
— Não, , a culpa é minha — Irônico, Carlos revirou os olhos para a amiga — Charles nunca usa a porra do Instagram e quando usa é pra fazer merda.
— Qual é o seu problema hoje, cara? — George o cortou, ríspido — Está se ouvindo?
— Não é exatamente o Charles quem está fazendo merda aqui — Igualmente ríspida, rebateu. Conhecia o amigo o suficiente para saber que ele estava ficando fora de si, irritado, mas aquilo não justificava o descarrego do estresse todo em cima de quem não tinha nada a ver com tudo aquilo.
— O que quer dizer com isso? — A encarando, Carlos perguntou sério.
— Que de Alex e Charles terem postado algo até ter uma aglomeração de gente lá fora, tem um vão bem grande no meio — Impaciente, gesticulou.
— Se é assim que você quer entender a coisa toda, por mim tudo bem — Ele deu de ombros, irônico.
— Ninguém teria vindo aqui encher o nosso saco se não fosse o casinho que você está metido — soltou mais do que gostaria — Parabéns, Carlos, conseguiu seus minutos de atenção.
, deixa para lá — Charles a puxou levemente de volta para trás.
— Não, ele tem que ouvir isso mesmo — Daniel se meteu no meio — Passou da hora já dessa coisa toda acabar, de você entender, Carlos, que também tem culpa em tudo o que está acontecendo e parar de jogar nas costas dos outros.
— Ah, agora a culpa é minha, então? — Carlos apontou para si mesmo, rindo amargurado. Podia sentir seus olhos encherem-se de lágrimas. Se sentia tão pressionado por tudo que mal estava raciocinando direito.
— Por que está tão irritado, Sainz? — perguntou, dando um passo em direção a ele, se colocando na frente dos amigos, como se os protegessem — A culpa não é deles mesmo, é nossa, está certa. É minha e sua, na verdade.
— Era só o que faltava — Soltando uma risada cínica, ele negou com a cabeça.
— Não começa você também, — Dani tentou controlar a amiga, claramente exausto — A merda já está feita agora, não piore.
Eu vou piorar? — Ela se virou para o amigo, praticamente gritando — O cara está dando um novo showzinho aqui, mas sou eu quem pioro as coisas?
— Você entendeu o que eu quis dizer — Passando as mãos nos cabelos, irritado, Daniel deu alguns passos atrás, saindo fora da discussão.
— Sinto muito por isso, gente — Alex encolheu os ombros, tímido — Não foi por mal. A gente só…
— Quis aumentar a situação, não é? — Carlos cortou o amigo, irracionalmente cuspindo as palavras — Ter o que comentar no dia seguinte, por que não é isso que vocês amam fazer?
— Pega leve, Sainz, ninguém está falando isso — Luisa o olhou séria. Ao seu lado, Lando encarava a discussão em silêncio, sem querer se envolver.
— Acho melhor pararmos por aqui, se não quisermos que mais notícias sobre a gente saia amanhã — Carmen tentou apaziguar o grupo, preocupada, vendo os flashes das câmeras piscarem no lado de fora de onde estavam — Está tudo bem, tudo sob controle.
— Claro, porque não é com você — Carlos deu no meio dela.
— Seu problema é com ela agora também, Carlos? — George perguntou se colocando na frente da namorada, encarando o espanhol.
— Meu Deus, eu não estou entendendo porque todos vocês estão distorcendo o que eu falo — Exasperado, ele passou as mãos pelo rosto.
— Porque nós não estamos entendendo o motivo da sua irritação toda — respondeu áspera, falando pausadamente.
— Não está claro ainda? Quer que eu desenhe? — Ele apontou para as portas fechadas do saguão.
— Mas não foi você que disse que já estava tudo resolvido? — perguntou irônica, sorrindo para ele. Carlos sentiu seu coração querer sair pela boca — É só você se acalmar, ir lá fora e dizer isso para eles ou chamar um dos seus advogados.
— Claro, , brilhante! — Carlos bateu palma, a olhando — Vou dizer para eles exatamente o que você quer ouvir: que desde o dia em que nos conhecemos, tudo o que aconteceu entre nós não passou de um grande erro.

O grupo ficou em silêncio por um momento. Não fossem pelos barulhos que vinham de fora, do tumulto de pessoas os esperando sair, não poderiam ouvir nada senão as respirações arfantes de Carlos e de . Como facas, às palavras dele a atingiram finas, pontiagudas, diretas em seu coração. sentiu seu corpo tremer por um segundo e seus olhos marejaram. Era aquilo mesmo o que ele achava? Que ela tinha sido um erro? Ou só estava falando aquilo porque estava nervoso? não conseguia interpretar as palavras dele.

— É isso o que você acha? — Transparecendo a mágoa, ela perguntou em um tom de voz mais baixo, engolindo as lágrimas. Carlos respirou pelo minuto em silêncio, se arrependendo profundamente de ter dito aquilo.
— Eu não… — Ele tentou dizer mas sequer o esperou. Negou com a cabeça, se esforçando o máximo possível em não chorar na frente dele.
— Bom saber disso — Ela murmurou enquanto passava por ele, sentido a porta — e nem se dê ao trabalho de vir atrás de mim, como fez no aeroporto. Não precisa mais cometer o mesmo erro.

Carlos não conseguiu responder nada. Absolutamente nada. De jeito algum era um erro em sua vida, não foi o que ele quis dizer, mas foi o que já tinha dito, em claro e bom som. Ficou com as palavras dela presas em sua mente, revirando-as, inquieto. Estava, uma vez mais, perdendo para uma besteira, por um comportamento idiota dele, por ser tão impulsivo. De fato, não teria chegado naquele ponto se ela, desde o começo do dia, não o estivesse despejando um monte de incertezas, se não estivesse distorcendo tudo o que ele dia, interpretando errado. Mas, de fato, nada justificava a inverdade que havia dito. se afastava dele magoada, com a certeza de que ele não sentia nada mais por ela senão arrependimento. E aquilo não era nada senão uma grande mentira.
A observando caminhar sentido a porta e sentindo os olhares surpresos e silenciosos dos amigos em si, Carlos se sentiu tão exposto naquele momento que seu rosto queimava de vergonha. Uma vez mais, tinha estragado o dia dos amigos, uma vez mais tinha feito o showzinho que disse. E uma outra coisa, em especial, o estava incomodando naquele momento. Como ela sabia que ele tinha ido atrás dela no aeroporto, em Marbella? Carlos não tinha sequer mencionado aquilo para ela, para nenhum dos amigos. Contudo, bastou a ele pensar um único segundo para tudo fazer algum sentido. Como um estalo, Carlos subiu seu olhar até a única pessoa possível que poderia ter soltado aquela informação. A única pessoa que ele realmente confiou a dizer aquilo e que, aparentemente, tinha contado para .

— Você…? — Ele tentou começar a dizer para , irritado, magoado, vendo Charles se colocar na frente dela levemente, encarando o amigo tenso, sério.

Só que não deu tempo do espanhol dizer mais nada e, muito menos, de sua amiga se explicar. No segundo seguinte, os seguranças se aproximaram do grupo, informando que toda a aglomeração já estava fora do local, na calçada e que poderiam sair tranquilamente até seus veículos. sequer deu tempo deles terminarem de dizer, pois, assim que entraram no local, ela já saia dele, firme, ignorando os gritos dos fotógrafos e fãs que a chamavam pelo portão, do lado de fora do estacionamento.
Estavam todos tão cansados e sem clima depois da interrupção e da discussão que, em silêncio e rapidamente, cada um foi para o seu respectivo veículo e, sem muitas despedidas, saíram em direção a cidade. Alguns fotógrafos mais ousados tentaram tirar fotos pelos vidros dos veículos, os chamando eufóricos, mas sem sucesso. A festa na casa de Daniel estava oficialmente cancelada e, indo de volta para suas casas ou hotéis, sem conversas, resolveram descansar naquele último dia de férias.

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Capítulo 09

Monza, Itália
Alguns dias depois

Após a pequena confusão no campo de golfe em Mônaco, Carlos foi, na manhã seguinte, direto para Monza, onde seria a primeira corrida após as férias de verão. O piloto resolveu focar na corrida e dividiu seus dias em treinos na academia, simulador, corridas matinais e passava a maior parte do tempo sozinho, tentando colocar em ordem tudo o que havia acontecido nos últimos dias, seus pensamentos e seus sentimentos. Estava evitando até mesmo sua equipe, que já havia percebido a mudança de humor do piloto, sempre bufando, mal-humorado e bravo durante aqueles dias. Carlos Oñoro, seu primo e empresário, soube um pouco do que havia acontecido, acompanhando as movimentações de seu primo através da mídia e até tentou conversar com o espanhol, durante um almoço, mas, rapidamente, foi cortado pelo piloto, indisposto em falar sobre aquilo.
Mesmo que Carlos se esforçasse e, apesar de querer esquecer de tudo, deixar para trás, era impossível não se lembrar do olhar gélido da modelo sobre si, quando soltou aquela maldita frase, que o fazia se arrepender amargamente desde então. Sua válvula de escape estava sendo aqueles dias, sem ter que ver a modelo ou pensar em como reagir a ela, sem esperar por novas brigas e discussões. Apesar de também não estar muito próximo de seus amigos, envergonhado da discussão que causou com eles, e entre eles, no clube de golfe, Carlos tinha visto algumas trocas de mensagens nos grupos e, por eles, soube que, por sorte, não estaria em Monza naquele final de semana. Ele poderia correr tranquilamente.
Para , por sua vez, também não teve dias nada fáceis. Depois do clube de golfe, voltou para a casa de Daniel e, no primeiro horário possível do dia seguinte, estava em um avião, fugindo para casa, em Milão. A modelo resolveu se isolar das redes sociais por algum tempo, evitando qualquer contato com a mídia, fugindo de jornalistas, das teorias dos fãs e dos questionamentos dos pais. Aproveitou sua própria companhia, visitou alguns dos lugares que mais amava pela cidade, fez compras e desfrutou de seus dias tentando relaxar e tirar alguma coisa positiva de toda aquela situação.
Conversou rapidamente com as amigas ao longo dos dias, sempre evitando qualquer menção ao piloto espanhol e, pelo que soube, parecia que nem tinha notícias dele. estava tão furiosa que havia simplesmente o excluído de sua vida e estava se esforçando em ignorar qualquer interação com ele, por menos que pudesse ser. Sentia-se usada, de certa forma, desprezada e, principalmente, decepcionada. sentia como se não tivesse passado de mais uma em sua lista de modelos, interesseiras, fúteis e irritantes.
Os planos da modelo, contudo, foram inesperadamente interrompidos quando, sem avisar, e Luisa bateram em sua porta, no sábado à tarde. Naqueles últimos dias, a empresária havia convidado a modelo portuguesa para umas fotos de teste, pensando em contratar Luisa como o novo rosto de sua nova linha de moda praia. Tinha uma beleza bastante natural, limpa, leve e com um ar que combinava perfeitamente com as novas peças que estava desenvolvendo para o verão seguinte. Como tinha um ateliê em Milão, e Luisa usaram a costa da Croácia, país vizinho, para fazer as fotos de teste, já com as primeiras versões das peças da Hermann e, em seguida, voltaram para a Itália, para um shooting.
e Luisa passaram a semana inteira juntas, trabalhando, e no final daquela sexta-feira decidiram visitar para, quem sabe, tirá-la de casa um pouco e se divertir. As duas sabiam que a modelo tinha se enfiado em uma espécie de fossa naqueles dias, estava mal e evitando contatos com o grupo, sobretudo com os meninos. Por isso, elas decidiram que aquela noite seria a noite delas e fariam de tudo para que pudesse se divertir um pouco, sem preocupações, tirar o peso dos acontecimento de suas costas. E, no dia seguinte, o plano era tentar, enfim, arrastar ela para a corrida. Como Milão era muito próxima de Monza e a corrida seria no período da tarde, poderiam ir tranquilamente para o circuito, encontrar o restante do grupo, e assistir o recomeço da temporada.

— SURPRESA! — As duas amigas gritaram juntas, assim que abriu a porta do apartamento, estranhando ter alguém batendo em sua porta, aquelas horas do dia.
— MEU DEUS!? O que estão fazendo aqui? — perguntou curiosa, sentindo as amigas a abraçarem juntas, rindo em seguida.
— A gente vem até aqui te tirar dessa fossa e é assim que somos recebidas? — Entrando no apartamento da amiga, com uma mochila nas costas, resmungou.
— É, amiga, mais ânimo porque hoje à noite é nossa! — Dando pequenos pulinhos para dentro, atrás de , Luisa dizia animada.
— Desculpe, meninas. Eu amei que vieram de surpresa assim, do nada, — fechou a porta e voltou-se para dentro, jogando-se novamente no sofá, onde assistia a terceira comédia romântica clichê do dia, no Netflix — mas eu ainda não entendi.
— Qual parte? A que suas melhores amigas vieram te visitar e te tirar do fundo do poço ou a que nós vamos sair hoje à noite ? — riu e se jogou no sofá, junto com Luisa, uma de cada lado de .
— As duas…? — Receosa, a olhou, rindo.
— Ai amiga, estávamos preocupadas com você. — Luisa confessou, enquanto deitava a cabeça no ombro da modelo e pegava a pipoca que estava em cima da mesinha de centro da sala — Viemos te animar e te levar para uma balada.
— Ah, não, hoje não meninas — suspirou cansada — Se quiserem ficar aqui e assistir outros filmes comigo, são muito bem-vindas, mas eu não vou sair hoje e, muito menos, ir para uma balada.
— Desculpe te frustrar, mas você vai sim — respondeu, puxando a pipoca do colo de Luisa que, protestando, puxou o pote de volta para si:
— Ei, sua folgada!
— Ah, , por favor — tentava apelar para a amiga, fazendo um biquinho e se afundando no sofá.
— Sem essa, , hoje nós três vamos sair e não tem conversa — respondia assertiva, vendo Luisa concordar com a cabeça enquanto mastigava — Por isso, pode se levantar e começar a se arrumar, porque vamos sair em uma hora. Eu e Lu vamos nos arrumar aqui também.
— Isso mesmo, eu ganhei um vestido ma-ra-vi-lho-so da e eu quero usar ele hoje mesmo — Luisa fez uma dancinha animada, lembrando-se da amiga a deixando escolher o que ela quisesse da loja de Milão.
— Ela está te usando para promover a marca dela — Brincando, riu para Luisa.
— Se for para ser usada assim, eu não me importo — Luisa deu de ombros, tirando risadas das amigas — Pode até me usar mais.
— Tudo bem, então, não use o vestido que eu te trouxe de presente hoje, — Fazendo manha, fingiu nem ligar, abrindo sua mochila. De dentro dela, ela tirou uma sacola verde escura de tecido, com o nome de sua marca estampada nela.
— Você está me comprando, Hermann? — a olhou boquiaberta e, no segundo seguinte, pegou a sacola das mãos da amiga, a abrindo rapidamente — Porque se sim, eu me vendo para você.
— Eu disse que ia funcionar — olhou Luisa, que riu concordando.

tirou o vestido de dentro da sacola, delicadamente, sorrindo feliz para a peça. a tinha dado um vestido preto clássico, de sua coleção atual. Ele não tinha alças e era tomara que caia, mas tinha mangas longas, bem moderno e diferente. Em um tecido fino e com caimento mais agarrado ao corpo, tinha um decote amplo, que começava no busto. rapidamente combinou ele, em sua mente, com uma sandália que tinha comprado naquela semana e, por um segundo, se sentiu animada em sair para usá-lo.

— É lindo, , obrigada — sorriu para ela, abraçando o vestido.
— Tudo pelas minhas amigas — respondeu carinhosa, sendo abraçada pelas duas, enquanto riam.
— Vai, vamos se arrumar, então — Luisa se levantou em um pulo, puxando as duas amigas consigo.
— Eu não acredito que vocês vão me arrastar para essa festa — negou com a cabeça, acompanhando as meninas até o seu quarto — E o namorado de vocês? Por que não estão com eles?
— Porque, como eu te disse, a noite é nossa — a encarou, colocando sua mochila em cima da cama da amiga.
— E nós não nascemos grudadas com eles, amiga. Eles estão cheios de compromissos com o retorno da temporada e aguentam as saudades, até porque amanhã nós três estaremos lá, com eles — Luisa completou e a olhou séria.
— Como é que é? — Olhando curiosa para as duas, meio desconfiada, perguntou.
— Bom, a gente não ia falar agora, mas sim, amanhã nós três iremos para Monza, assistir a corrida — deu de ombros, se levantando e, com seu vestido em mãos, foi para o closet da amiga, se trocar em frente ao espelho.
— Ah, mas eu não vou mesmo cortou o assunto, seca.
— Vai sim e não tem desculpa — respondeu de dentro do cômodo.
— Por que, ? Eu não estou a fim de ver o Sainz — respondeu honesta, suspirando.
— Porque vocês dois precisam conversar, precisam se ver e tentar resolver isso de uma vez por todas — respondeu, se apoiando no batente da porta. Já estava usando o seu vestido branco, com uma pequena faixa da mesma cor, cruzando o pescoço e passando por baixo de seu braço direito, enquanto o vestido colava em seu corpo e ia até a metade da coxa, muito elegante e poderoso, assim como a mulher.
— Não tem mais nada para resolver, acho que a resposta dele na saída do golfe já respondeu tudo o que precisávamos saber — deu de ombros e Luisa riu fraco.
— Olha, eu também fiquei muito irritada com ele naquele dia — comentou, sentando-se na cama — Mas, no final, agora que tudo ficou mais calmo, eu até entendo um pouco o lado dele.
— Eu ainda estou tentando digerir, mas não posso culpá-lo — Luisa concordou, deitando na cama.
— Mas eu não consigo entender. Vocês ouviram o que ele falou? — perguntou, irritada.
— Vocês são tão teimosos — Pegando seu celular em mãos e prestando atenção na mensagem que seu namorado havia lhe mandando, Luisa murmurou.
— Você acha que o Carlos queria mesmo dizer aquilo? — a perguntou, curiosa.
— Se queria ou não, eu não sei, mas ele disse — respondeu, sentando-se novamente na cama e pegando seu aparelho celular para disfarçar o incômodo sobre aquele assunto.
— E se arrepende amargamente desde então — A empresária a respondeu, a encarando — Dá uma chance para ele, amiga.
— Por quê? Para ele agir como um babaca novamente? — desabafou.
— Não, para que você possa ouvir o que ele tem a dizer, e também falar o que você sente. Para que ele possa se desculpar e vocês, finalmente, se resolverem — Ela segurou em sua mão e Luisa a acompanhou.
— Você sabe que nossas conversas nunca acabam bem — negou com a cabeça, falando baixo, se lembrando de algumas delas — Então, por que insistir? É tudo muito intenso, cansativo e inútil no final das contas.
— É tudo muy caliente, chica, isso sim — Luisa respondeu rindo, se levantando em seguida, para se trocar.
— Vamos fazer assim: vamos nos divertir hoje e amanhã nós resolvemos qualquer coisa, pode ser? — propôs e Luisa, caminhando para o closet com seu vestido em mãos, concordava fazendo um joia no ar.
— Tudo bem, certo — Meio contrariada, sabendo que não adiantaria falar nada para elas porque não as convenceria do contrário, respondeu, depois de alguns segundos em silêncio.
— Eba, vamos começar os trabalhos, então — Luisa gritou animada de dentro do closet, colocando uma música em seu celular. O vestido da Hermann que havia ganhado era de tom marrom claro, brilhoso e curto, com um grande decote em v, uma amarra abaixo do busto e duas alças diferentes sobre o ombro, era fino, sexy e simples, assim como ela.
— Isso aí, hoje é dia de festa, baby — puxou pela mão para que se levantassem e, animadamente dançando com ela, a empurrou para ir, enfim, se arrumar.

Enquanto cada uma terminava de escolher os detalhes de seu look, fazer as maquiagens e os cabelos, a conversa fluía naturalmente sobre os últimos dias de cada uma. Como estava ausente do grupo, pode finalmente saber mais sobre a viagem de Carmen com sua família, sobre os dias de Lily na Califórnia para uma campanha da Nike, pela qual a jogadora era patrocinada e das fotos que a portuguesa fez para a nova campanha da Hermann. sentia-se feliz naquele momento, sentia falta das meninas e até dos rapazes, que haviam completado praticamente todos seus dias nos últimos meses da vida dela. Ao final, prontas, tiraram algumas fotos juntas e esperaram apenas a confirmação de que seus nomes estavam na lista de convidados, para poder sair.
Já era por volta das onze horas quando o grupo saiu da casa de . Já haviam bebido algumas taças de vinho e tentavam chamar um Uber que as levasse até o local da festa. , que era figura conhecida por ali, havia sido convidada pelo dono de uma das baladas mais famosas e luxuosas da cidade, a Gattopardo, por isso, não foi difícil para a estilista conseguir colocar os nomes das amigas na lista para aquela noite. O lugar era uma antiga igreja da região e era conhecido por ser frequentado pela elite da cidade, além de famosos e figuras públicas.
Assim que o Uber estacionou na frente do local, as três amigas saíram rapidamente do veículo, agradecendo e ignorando a atenção que chamavam, das pessoas que estavam na fila para entrar e suas câmeras de celular e de alguns fotógrafos gritavam por elas. Como convidadas, foram rapidamente direcionadas pelos seguranças para a porta de entrada, passando direto pela fila e, em menos de cinco minutos, as três amigas já se encontravam de frente para o bar, onde um barman preparava suas bebidas.

— Uau, pelo jeito isso aqui vai lotar — Luisa comentou empolgada, enquanto sentava-se com as meninas de frente para o balcão do bar.
— Eu nunca me canso desse lugar — comentou rindo, observando algumas figuras conhecidas e outras nem tanto, circulando pelo local.
— Eu adoro também — concordou sorrindo. Como era moradora local, estava sempre que podia ali, uma das baladas favoritas dela.
— Ok, a partir de agora, vocês duas serão obrigadas a me trazer aqui sempre que eu estiver na cidade — Agradecendo ao barman assim que ele entregou sua bebida, Luisa comentou.
— Combinado! — As duas responderam juntas, pegando suas bebidas.
— Nós não viemos para cá para ficar no bar, vamos para a pista meninas — Luisa se levantou em um pulo, puxando as duas amigas juntas para o centro do local.
— Vamos lá! — falou alto, devido ao som que tocava no local, seguindo atrás delas enquanto provava sua bebida.

A festa parecia não ter começado há muito tempo e o DJ iniciou uma playlist eletrônica, agitando o ambiente escuro e aconchegante. O grupo de amigas se aproximou da pista para começar a se divertir, ao tempo que as primeiras batidas de Love Tonight (Shouse ft. David Guetta) começaram a tocar e as meninas dançavam animadamente, jogando o corpo no ritmo da música. Pelos trinta minutos seguintes, o grupo ficou por ali, dançando e se divertindo enquanto Luisa, que havia deixado o copo de qualquer jeito por ali, sacou o celular para gravar e tirar fotos delas. A batida sexy e ritmada do remix de Sun Came Up (Sofi Tukker ft. John Summit & Claptone) começou a tocar quando Luisa resolveu gravar.
dançava com , as amigas rebolavam e se insinuavam para a câmera enquanto Luisa gritava empolgada, postando rapidamente em seu Instagram. Ali, na batida da música, com as luzes baixas e com o álcool agindo em suas veias, as meninas não se importavam com a fama, o status ou os olhares que recebiam das pessoas ao redor, que eventualmente a reconheciam. Só queriam se divertir juntas e, o mais importante da noite: levantar o ânimo de .
Já estavam há algumas horas no local quando e as meninas desfrutavam da terceira ou quarta dose de tequila, finalmente sentadas em um dos sofás do local, para descansar depois de algumas horas na pista de dança. mandava mensagem para Charles, que perguntava se estava tudo bem com elas, ao tempo que Luisa assistia os seus próprios stories, respondendo os comentários que o namorado fazia deles, via DM. Ao lado delas, observava o local, vendo as pessoas se divertindo até que um rosto familiar brotou em seus olhos. Ela não demorou sequer dois minutos para reconhecer Richard, um modelo e amigo de longa data.
e Richard se conheceram em uma das campanhas da Hugo Boss, que fizeram juntos e que, inclusive na ocasião, terminaram a noite dividindo a cama. Apesar de Richard ser um cara lindo e muito interessante, nada entre eles nunca passou de sexo casual e já fazia quase seis meses que não se viam, devido a agenda conturbada de ambos. Assim que o olhar da modelo encontrou o dele, o homem sorriu, vindo em sua direção.

? Que surpresa! — Richard a abraçou, assim que a modelo se levantou sorrindo, retribuindo rapidamente.
— Richard, eu não acredito que te encontrei aqui — sorriu, dando um beijo rápido em sua bochecha. Luisa e levantaram seus olhares curiosos até eles, assistindo a cena em silêncio.
— Como você está? Faz tanto tempo que não nos vemos — Ele perguntou simpático abraçando a modelo pelo ombro e, finalmente, olhando para as outras duas com ela no local.
— Estou bem, — Ela respondeu, puxando o rapaz até as outras meninas — Rich, essas são minhas amigas, e Luisa, meninas, esse é o Richard, um colega de trabalho.
— Muito prazer — Elas responderam uníssono, observando a interação esquisita do casal.
— Muito bom conhecer vocês — Ele sorriu, cumprimentando com as mãos cada uma delas e logo voltou-se para a amiga — Um colega de trabalho? Só isso? Essa doeu.
— Não começa, Richard — Dando um tapa leve no braço do rapaz, riu. e Lu se entreolharam, estranhando a conversa.
— Agora, vem cá, me conta mais sobre os últimos meses… te vi mais na mídia nesses seis meses do que em todos os anos sendo modelo — Ele brincou sentando-se ao lado dela.
— Nossa, eu tenho tanta coisa para te contar — disse empolgada e, então, ali, embalaram uma conversa animada, criando uma bolha entre eles.

e Luisa assistiam intrigadas aquela interação em silêncio. Pelo teor da conversa e pelos toques mais íntimos, pareciam ser um pouco mais do que colegas de trabalho. Aquilo estava atiçando a curiosidade das duas, mas resolveram deixar o casal conversando a sós e voltaram para o bar. Conversando animadamente sobre os namorados, elas pediram outra bebida e logo voltaram para a pista de dança. parecia feliz e segura com aquele rapaz, por isso, as duas acharam razoável não atrapalhar o casal - apesar daquela ideia, de serem um casal, incomodar as duas.
No sofá, contava mais sobre os últimos meses, como havia se aproximado do grupo de pilotos da Fórmula 1, sobre o grupo de amigas, os últimos trabalhos, o desfile com a Hermann e os outros contratos que havia fechado para os próximos meses. Em nenhum momento contou sobre Sainz, evitou tocar no nome do espanhol, mas foi impossível não se lembrar dele quando o assunto parecia mudar para seus últimos relacionamentos. Impossível não lembrar de seu toque, de seu beijo, do sorriso, do jeito que pressionava os lábios ou mexia no cabelo, das carícias que trocaram algumas semanas atrás.
Richard contava sobre seus últimos trabalhos, alguns lugares que conheceu e, então, passou a falar sobre algumas mulheres que havia ficado. ouvia tudo com atenção e interesse, vez ou outra checando com os olhos onde estavam as amigas que, ainda dançando, cantavam as músicas juntas, gargalhavam, bebiam e eventualmente dispensavam os caras que chegavam nelas.

— E você? Namorando alguém? — Richard perguntou curioso, tomando o último gole em sua cerveja.
— Não, estou livre — sabia que era o álcool agindo e o jeito rápido que respondeu aquilo deixou bem claro. Não estava mentindo, afinal. Mas, naquele momento, só tinha uma pessoa que ela queria e ele que estava há milhares de quilômetros de distância, provavelmente odiando ela.
— Então, quer dizer que eu tenho chances hoje à noite — Richard sussurrou no ouvido da modelo, que riu charmosa. O clima ali já era outro, estava ainda mais íntimo, muito próximos e sorrindo um para o outro.
— Você sabe que entre nós dois só rola amizade agora — Honesta, mexendo na camisa dele, respondeu.
— Eu sei, somos melhores assim, não é? — Richard sorriu, se lembrando daquilo como a última coisa que ela o havia dito, meses atrás. concordou com a cabeça, o encarando — Mas éramos muito bons na cama — Ele seguiu dizendo, sorrindo maroto e piscando, arrancando uma risada alta da modelo.
— Não posso negar… — passou a mão pelo rosto desenhado do modelo, pela barba rala, arrancando um suspiro dele.
— Você ama me provocar, — Richard aproximou ainda mais seu rosto do dela, sobre a mão da modelo, sentindo seu toque.
— Você me conhece tão bem — Ela sorriu e, finalmente, se levantou, olhando as duas amigas na pista — Vem, vamos dançar.
— Eu sou todo seu essa noite, gatinha — Com certa dificuldade para se levantar, já meio bêbado, Richard se deixou ser levado pela amiga até a pista de dança, onde as outras duas garotas dançavam juntas.
Girls, chamei o Richard para dançar com a gente — comentou alto, assim que se aproximou das duas e, dançando com o homem, o deixou segurar levemente sua cintura.
— Sou o homem mais sortudo dessa balada — Se achando por estar no meio das três, ele riu.
— Não se empolga não, bonitão, nós duas temos namorados — logo o cortou, lembrando-se do monegasco que, naquele horário, já estava dormindo para a corrida no dia seguinte.
— Isso aí — Luisa respondeu arrastada devido ao álcool em seu sangue, tentando ficar séria, arrancando risadas de todos.
— Isso é álcool? — perguntou assim que viu o copo quase cheio da portuguesa que, concordou com a cabeça e assistiu a amiga o puxar de sua mão, tomando o conteúdo rapidamente.
— Calma, , vai devagar — Risonho, Richard comentou, reparando em uma gota escapar e cair sobre o colo descoberto dela. Richard engoliu em seco.
— Nem vem, você não é o meu pai — Secando a boca com cuidado para não tirar o batom, deu de ombros.

Sem dizer mais nada, acompanhou as amigas pelos próximos minutos, sobre a batida da Do It To It (ACRAZE ft. Cherish). As meninas improvisaram uma dança, enquanto arrancavam risadas não só do grupo, mas das pessoas ao redor que as observavam. logo puxou o celular e, animada, sem saber bem o que estava fazendo, começou a gravar a si mesma na câmera do aplicativo, sobre a luz branca do flash que a captava dançando com as amigas e, logo depois, focava nela com Richard.
No vídeo, eles riam enquanto o homem a abraçava pela cintura e dava um cheiro em seu pescoço, seguido de um beijo. sorria charmosa e, alguns segundos depois, o vídeo finalizou. Rapidamente, ela postou. Sem legenda ou qualquer menção, apenas compartilhou o vídeo e deixou novamente o aparelho na bolsa, voltando-se para o grupo de amigos.
Já eram cinco horas da manhã quando o grupo finalmente decidiu ir embora. Despediram-se rapidamente de Richard, que prometeu visitar futuramente a amiga em sua residência e educado, antes de ir embora, ele esperou até que o grupo de mulheres estivesse seguro dentro do automóvel. Assim que as três chegaram no apartamento de , rindo e cambaleando, recebendo uma bronca do porteiro. Foram para dentro da casa, pegaram alguns salgadinhos para comer e ficaram os próximos minutos, sentadas no sofá em total silêncio, apenas apreciando a comida e se deixando ser levadas pela canseira. Perto das seis horas da manhã, já quase dormia sentada no sofá, enquanto Luisa respondia o bom dia de Lando, em seu celular, quando a voz segura de chamou a atenção delas:

— Eu vou com vocês para Monza.

~ ❤ ~


Depois de quatro semanas de férias, os pilotos já estavam de volta ao trabalho, no interior da Itália, em Monza, onde aconteceria a primeira corrida após o recesso. O circuito, que era um templo do automobilismo, todos os anos apresentava uma das corridas mais interessantes do campeonato, graças às suas retas muito longas e que permitiam aos pilotos acelerarem o máximo que podiam, criando disputas e protagonizando as ultrapassagens mais incríveis de toda a temporada. Monza ficou conhecida, nos últimos anos, como o circuito que muda a perspectiva de campeão, já que a cada ano, um piloto diferente foi o vencedor ali, criando certa expectativa e apostas sobre o novo campeão do circuito.
Aquele domingo havia amanhecido ensolarado na cidade de Monza. Carlos acordou mais cedo do que o normal e manteve-se deitado em sua cama, sem realmente querer se levantar, preguiçoso. Apesar de estar feliz com o retorno da temporada, já estava sentindo falta dos dias de férias, de não ter muita rotina. Revirando na cama por alguns minutos, Carlos decidiu pegar seu celular e, enfim, depois de alguns dias, finalmente olhar suas redes sociais. Às estava evitando totalmente, para não se deparar com mais fotos de e nem ter muito contato com os amigos mas, daquele dia em diante, ele sabia que não os conseguiria mais evitar.
Inevitavelmente os encontraria ali e inevitavelmente tinha que se desculpar com eles. Carlos teve tempo o suficiente para repensar sua postura e as coisas que havia dito, tempo sozinho em que sentiu a falta de sua turma e que entendeu que se afastar deles não era exatamente a melhor decisão. Respirando fundo, ele então abriu o Instagram. Curtiu algumas fotos dos amigos mais distantes e de sua família, respondeu algumas mensagens que havia recebido, ignorou todas as centenas de marcações de fãs e, finalmente, começou a abrir os stories dos amigos mais próximos.
O primeiro foi o de Lewis, que postava sobre sua corrida e seu treino. Depois se deparou com uma publicação no feed do colega de equipe, que, finalmente, havia assumido o namoro com , postando uma foto dos dois, do passeio de barco em Mônaco, com uma legenda fofa. Carlos sorriu sozinho e comentou, zuando o casal, como se fosse algo do destino serem o casal fofo que eram e se vangloriando por ter sido ele a apresentá-los, mil anos atrás. Ele, então, abriu os stories da melhor amiga, reparando ter alguns ali.
havia postado um vídeo de Luisa, no backstage das fotos da Hermann no dia anterior e, em seguida, horas depois, uma foto dela com Luisa e com , em uma balada. As três estavam abraçadas e riam distraidamente, mas os olhos de Carlos cravaram em apenas uma delas, apertando o dedo na tela de seu celular para que o Storie não sumisse. Foi impossível não reparar na beleza da modelo. estava simplesmente deslumbrante, parecia feliz e se divertindo. Deixando a foto ir, logo depois, havia um vídeo do local, que mostrava os drinks e, no final, e Luisa fazendo caretas.
Carlos reagiu aos stories da melhor amiga os curtindo e, querendo saber se estava tudo bem entre eles, depois do recorde de uma semana sem se falar, ele mandou uma mensagem, perguntando: "Ainda está brava comigo?" e, depois de uns corações quebrados, "me diz que você vem para Monza". Aquela ideia, contudo, acendeu algo em Carlos. Não havia nenhuma localização nos stories de e sabia que ela não estava em Monza, porque ele e Charles passaram a semana toda ali e ela não estava com ele. Mas a balada, contudo, não pareceu diferente para Carlos. E se ela estava com horas antes, em uma festa, será que iria com para Monza?
Instantaneamente, querendo responder aquela pergunta, ele foi até os stories de Luisa. Encontrou lá várias fotos do dia anterior dela, de seu almoço e alguns cenários que ele não podia concluir onde eram e, enfim, mais vídeos delas três dançando na festa, mas sem nenhum indício de onde no mundo elas estavam. Soltando o ar pesadamente, frustrado, Carlos decidiu dar o último passo possível. E, por último, criando coragem, o piloto finalmente abriu o Instagram da garota que estava afim.
No primeiro vídeo postado, gravava e Luisa tentando criar uma coreografia para uma música que Sainz não deu muita atenção, no que imaginou ser o quarto de Luisa ou de , ou de algum hotel. No próximo, as três já estavam prontas para a tal festa, com uma legenda simples: “Girl’s night out 💜” . E, no stories seguinte, apareceu algo que fez Sainz bufar, extremamente irritado.
sorria, lindamente, enquanto uma música eletrônica tocava ao fundo, porém o que havia chamado a atenção do espanhol era o tal cara atrás dela, beijando seu pescoço e dançando muito próximo dela. Assim que terminou o vídeo, ele jogou o aparelho de qualquer jeito na cama e, bufando, levantou-se rapidamente. Pelo tempo que passou, entre tomar seu café da manhã e ir treinar, Carlos ficou irritado, furioso, pensando quem caralhos era aquele cara? E por que estava tão próximo de ? Eles estavam juntos? Desde quando? Ela o estava enganando o tempo todo?
Eram muitas perguntas, que ele simplesmente não sabia responder. Carlos estava tão bravo que nem percebeu como descontava tudo no treino, colocando tanta intensidade nos movimentos que fazia, o tempo todo em silêncio e de cara fechada, que assustou até seu treinador. Seu primo chegou na academia do hotel em que estavam hospedados não muito tempo depois e até tentou algum contato com ele, mas foi totalmente ignorado.
Carlos logo subiu de volta para o seu quarto, para tomar um banho gelado e se arrumar para, enfim, sair em direção ao circuito. No fundo, Carlos sabia que estava irritado porque se sentiu usado por . Se ela já tinha outra pessoa em vista, a ponto de estar lá, em uma festa, tão íntima e tão próxima, compartilhando conteúdo com ele em suas redes sociais, por que se envolveu com ele? Estava levando dois casos ao mesmo tempo? Duas pessoas ao mesmo tempo? O que estava acontecendo? Carlos estava, uma vez mais, confuso, totalmente perdido naquela sensação tão familiar a ele de estar sendo deixado de lado, de não ser bom o suficiente para alguém. E estava com um pouco de ciúmes, não podia negar. Não gostou muito do que viu, da aproximação daquele rapaz, do jeito que ele encostava nela e se perguntava, a todo momento, o por que teria postado aquilo, se não fosse real.
Do outro lado do corredor no mesmo andar do hotel, Charles acordava animado. Sempre tinha gostado de correr em Monza e, como se estivesse em casa, estava confortável e confiante com o dia pela frente. Ele se esticou preguiçosamente na cama e levantou-se, pegando seu celular enquanto caminhava para a janela, abrindo as cortinas. Aparentemente teriam um dia lindo, ensolarado e, por um momento, observando a paisagem de sua janela, sentiu-se ansioso, energizado. Charles esperou os segundos que levou para que seu celular ligasse e, bastou a ele desbloqueá-lo, para às centenas de notificações começarem a brotar na tela.
Curtindo, comentando, mandando mensagens, mencionando ele em compartilhamentos e o respondendo, Charles assistiu a reação das pessoas ao stories que postou na noite anterior, a foto que compartilhou dele com , na semana que passaram na Grécia. Apesar de a internet estar cheia de conteúdos deles dois juntos, aquela era a primeira vez que um deles verdadeiramente publicava algo sobre o outro, como um casal, em sua rede social. Desde que se tornaram amigos, alguns poucos anos antes, as pessoas costumavam fazer comentários sobre eles, analisando fotos e vídeos que eventualmente apareciam deles juntos, interagindo em eventos, participando das mesmas festas, das mesmas viagens, andando ou se cumprimentando pelos paddocks.
E com o começo do relacionamento, aquilo pareceu se intensificar, apesar de nenhum deles responder perguntas sobre o outro e de nenhuma foto ou vídeo deles verdadeiramente juntos, como um casal, ter vazado até então. A coisa toda havia gerado um rumor maior quando ele postou um storie de no desfile da Hermann, com um coraçãozinho e nada mais, mas nada foi oficializado. Além de serem cuidadosos com o tema por tudo o que tinham passado até ali, Charles tinha sua vida pública bastante controlada pela Ferrari e tinha uma imagem de marca atrelada a sua imagem pessoal, portanto tinham que tomar cuidado com o que comunicavam, sobretudo sobre relacionamentos porque, a partir do momento que se tornasse público, tudo aquilo se misturaria.
Charles, contudo, já não aguentava mais aquele silêncio e queria, enfim, assumir o que tinham para que não houvesse mais rumores e nem dúvidas. Conversou com sua assessoria de relações públicas naquela semana e, com a aprovação deles, pôde passar a comunicar pontualmente sobre seu relacionamento com a Hermann. Por isso, na noite anterior, postou uma selfie que tiraram em Santorini, com ele a abraçando por cima dos ombros e dando um beijinho em sua têmpora enquanto ela ria. As reações positivas de boa parte das pessoas, que pareciam celebrar eufóricas, comentando e repostando a foto, deixou Charles bastante feliz e mexendo em seu perfil, se deparou com os stories da namorada na balada com as amigas, na noite anterior.
Estava com saudades dela, sem tê-la visto naquela semana, e vendo suas fotos, teve uma nova ideia brilhante. Já que as pessoas os estavam apoiando e pareciam verdadeiramente animadas com o novo, nem tão novo assim, casal, Charles se sentiu confiante em postar, finalmente, uma foto deles em seu feed. Escolheu uma foto que Luisa tirou deles, no iate de Daniel, em que estava deitada em seu colo enquanto eles se beijavam, e finalmente a compartilhou com seus fãs. A novidade, que talvez não fosse tão novidade assim, de que estavam mesmo namorando veio acompanhada por uma legenda carinhosa e cheia de significados, “À la maison, mon cœur et mon grand amour”, mas que jamais demonstraria o tamanho do que verdadeiramente sentiam um pelo outro.

~ ❤ ~


Três horas depois, Charles e Carlos se encontraram no saguão do hotel para saírem juntos em direção ao circuito. Charles, muito feliz e sorridente naquele dia, se surpreendeu com a cara fechada do amigo e não entendeu exatamente de onde vinha todo aquele mal humor. Ao longo da semana, se encontrando em Monza, puderam conversar minimamente sobre o que tinha acontecido e Carlos se desculpou com ele por ter agido daquela forma no clube de golfe. Tudo parecia bem entre eles e tudo parecia melhorar para Sainz, conforme os dias passavam, mas lá estava ele, outra vez com aquele humor péssimo, como se tivesse voltado à etapa zero, a uma semana atrás.
Sainz cumprimentou rapidamente o amigo e ficou em silêncio total até chegarem ao paddock. Assim que chegaram ao motorhome, contudo, querendo evitar falatórios ou perguntas sobre seu estado de espírito, o espanhol estampou um belo sorriso e, junto com Charles, começaram os trabalhos por ali. Gravações, entrevistas, conhecer alguns fãs, tirar fotos e dar autógrafos, breves treinamentos. O monegasco até tentou conversar com ele, puxando o assunto em alguns momentos que puderam ficar mais isolados, a sós, mas foi totalmente ignorado ou viu o assunto morrer, ao menos por enquanto.
Alguns quilômetros de distância dali, em Milão, e as amigas haviam acabado de acordar e decidiam se realmente iam para a corrida ou não. A ressaca, a dor de cabeça e o enjôo estavam matando cada uma delas e ficar em casa, descansando, parecia a melhor das opções. Quando finalmente se levantaram, puxando umas às outras para terem forças, elas tomaram banho, café da manhã e, depois de alguma discussão, decidiram enfim se arrumar para pegar estrada em direção ao Monza. A viagem, com cerca de trinta e cinco minutos até o circuito, foi feita por um motorista de aplicativo, já que nenhuma das três estavam em condição de dirigir no momento. Foram conversando sobre alguns acontecimentos da noite anterior, rindo e cantando a música da rádio até, finalmente, chegarem ao circuito.
Retiraram seus passes de dentro das bolsas e, com certa dificuldade, devido a aglomeração de pessoas e jornalistas no local, vindo para cima delas, finalmente conseguiram entrar no paddock. e Luisa cumprimentavam alguns conhecidos que caminhavam pelo local e foi ao encontro de Hamilton, que acenava animado para a modelo, junto com a namorada, surpresos em vê-la ali. Se cumprimentaram rapidamente e, depois de uma conversa breve, se juntou ao grupo de amigas, que estavam próximas dos boxes da Mercedes, onde Carmen e Lily estavam, conversando em uma roda.

, eu não acredito que você veio, ai que saudades! — Lily abraçou a amiga e, logo depois, Carmen fez o mesmo.
— Você não pode sumir desse jeito, sabia? — Carmen sorriu para ela, dando um tapinha leve no ombro da amiga.
— Confesso que não iria vir, se não fossem essas duas… — sorriu, apontando para e Luisa, que riram, balançando a cabeça.
— Fiquei sabendo da festinha de vocês, suas traidoras! Nem nos chamaram — Lily fez um biquinho, enquanto as três amigas a olhavam, sem graça.
— A culpa é da , que inventou de sair de última hora — Luisa apontou para a amiga, que deu de ombros, respondendo:
— Eu não tenho culpa se vocês já estavam aqui em Monza, foi pura falta de coincidência.
— Da próxima vez, vamos todas juntas, então, e sem namorados — Carmen propôs ao grupo.
— Isso aí! Eu topo — Luisa respondeu animada, sorrindo abertamente.
— Ela tem a maior animação, não é ? — comentou rindo, ajeitando seus óculos de sol.

Cercando elas, próximo de onde estavam, algumas pessoas registravam a interação do grupo, curiosas. Já esperando por aquilo, pela atenção que receberiam, , e Luisa cobriam-se em seus óculos de sol, tentando disfarçar a ressaca ainda presente. Estavam com pouca maquiagem e tentavam se esconder do sol e da gritaria, poupando suas cabeças de explodir de dor e se mantendo firmes em seus jeitos, para não transparecer nada senão a normalidade de estarem ali, em mais um dia de corrida como qualquer outro. parecia mais séria do que o normal, com os olhos correndo pelo lugar em busca de quem ela não sabia exatamente se queria ou não encontrar. parecia feliz e simpática, apesar de esconder os bocejos constantes e Luisa estava empolgada e sorridente, mesmo com as poucas horas de sono.

— Não sei como ela consegue ter esse ânimo todo, minha cabeça está ao ponto de entrar em ebulição — Massageando as têmporas enquanto era observada pelo grupo, riu.
— Vocês são muito fracas, eu aguentaria mais uma festa e outra ressaca — Luisa tomava um gole da água que Carmen lhe entregou.
— Isso se chama idade, minha amiga — respondeu, arrancando uma gargalhada do grupo de mulheres, chamando a atenção de outras pessoas ao redor.
— Tudo bem, amigas, vejo vocês mais tarde no paddock? — perguntou fofa, ajeitando o shorts do conjunto que vestia — Vou atrás do Charles.
— Ai, como esquecemos de comentar isso? — Lily puxou a amiga pela mão, a impedindo de sair de perto delas — Finalmente vocês dois se assumiram!
— Nem me fale, não estava esperando por isso — Abraçando a amiga de lado, riu tímida — Já recebi milhares de perguntas, pedidos de fotos e até de autógrafos ali na entrada, hoje.
— Bem-vinda ao mundo oficial da wag — Carmen brincou com ela, abrindo sua garrafinha de água — Nenhum GP nunca mais será o mesmo a partir de hoje.
— Aquela declaração do Charles foi tão fofa, amiga — Luisa juntou as mãos, apaixonada pelo casal de amigos. Ao lado dela, concordou com a cabeça.
— Nós nem conversamos sobre isso, na verdade, e ele divulgou, do nada — contou, surpresa, mexendo na meia dúzia de cartões de acessos pendurados em seu pescoço — Não sei se dou um beijo ou se bato nele.
— Ah, para com isso, já estava na hora — Lily deu de ombros, soltando a amiga — Vocês não acham, meninas?
— Sim, agora, oficialmente a Sra. Leclerc — Carmen riu com as amigas.
— Está louca? Espero que esse passo demore um pouco para acontecer — A empresária riu com elas.
— Anda logo, vai lá ver ele antes que seja tarde e vocês não tenham tempo antes da corrida — empurrou levemente a amiga, mas logo foi puxada por ela, pelo braço.
— Você não escapa, não. Você vem comigo — Mandando beijos de longe para o grupo, saiu rapidamente com , obrigada, em direção ao motorhome da Ferrari.

não enfrentou dificuldade alguma para entrar no local. Antes já tinha a circulação livres pelas áreas da Ferrari, por quase ser parte da família de Sainz mas, agora, oficialmente namorada do piloto monegasco, sua entrada era mais do que autorizada e bem-vinda ao recinto. Por onde passava as pessoas a olhavam, sorriam e a cumprimentavam, reparando que ela não estava sozinha. , por sua vez, recebia alguns olhares curiosos por parte dos funcionários, que cochichavam discretamente e se atreviam, vez ou outra, a gravar a passagem delas por perto deles. Não era novidade para ninguém ali, de acordo com os rumores, que ela e Carlos tinham algo. Todos estavam por dentro das fofocas do momento.
O que era novidade, contudo, era o fato de ela estar ali depois da última declaração pública dele. Tinham terminado e tinham voltado? O que tinha acontecido? As pessoas, em geral, acreditavam que eles dois nem estavam mais juntos ou sequer se falavam mais depois do ocorrido, mas a surpresa foi real quando ela passou pelas portas, ao lado da empresária. As amigas foram guiadas para o andar de cima, onde Charles descansava em seu quarto, antes do começo da corrida.
Como parte de um ritual pessoal dele, o piloto gostava de aproveitar aqueles momentos para ficar em silêncio total, apenas focando-se em si mesmo, repensando as estratégias, tentando conter suas emoções. Eventualmente conversava com a família, mas, daquela vez, nenhum deles pode estar ali - sua mãe estava com Arthur em outro GP e Lorenzo tinha algumas questões pendentes do trabalho para resolver, não chegaria a tempo. As duas amigas caminharam tranquilas até o pequeno cômodo e, chegando nele, apressou-se em passar na frente da amiga, dando duas batidas na porta, a abrindo logo em seguida, assim que ouviu Charles murmurar que podiam entrar, lá de dentro.

— Presente para você — comentou animada, entrando no quarto do piloto.

Charles estava sentado em uma poltrona, usando o uniforme da Ferrari e subiu seu olhar surpreso e meio confuso para a amiga, até reparar em quem saia de trás dela, rindo. estava com um shorts de linho, creme, um top branco, e levava uma camisa por cima, de tecido leve e da exata mesma cor do shorts. Entre os colares que vestia, estava o que ele havia dado de presente e ela colocava o seu óculos de sol na cabeça, puxando levemente os cabelos para cima. Charles abriu o maior sorriso que já havia visto no mundo, enquanto a amiga colocava a pequena bolsa que levava no corpo em cima do sofá mais próximo e caminhou animada até ele.
assistiu eles se abraçarem com vontade, com força, trocarem alguns beijos rápidos e, dando passos para trás, discretamente, ela deixou a amiga ali. Sem querer atrapalhá-los, querendo deixá-los a sós, ao menos alguns minutos, ela mandou beijos no ar para Charles e saiu apressada do quarto. Sempre achava muito fofo o jeito que eles se olhavam e que se cumprimentavam quando se encontravam assim, alguns dias ou semanas sem se ver. E, pensando naquilo, foi andando pelo lugar, em busca de um local onde pudesse esperar pela amiga.

— Achei que você não vinha — Com um olhar ansioso sobre a namorada, Charles colocou as duas mãos carinhosamente sobre o rosto dela, enquanto ela o abraçava pela cintura.
— Não perderia Monza por nada — Ela sorriu carinhosa para ele — Fiz uma promessa para o Sainz, uns 10 anos atrás…
— Veio pelo Carlos, então? — Ele brincou, a olhando.
— Vim por você, mas não conta para ele — Dando de ombros, recebeu um beijinho dele em resposta — Fiquei com saudades.
— Senti sua falta também — Charles sussurrou e, deixando um pouco de sua ansiedade transparecer, seguiu dizendo: — Por um momento, realmente achei que você não ia querer vir.
— Por conta do ano passado? — levantou as sobrancelhas, apertando um pouco mais o abraço nele.
— Por conta do ano passado — Ele respondeu da mesma forma que ela, rindo baixo. negou com a cabeça e, encostando a pontinha de seu nariz no dele, comentou sincera, o acalmando:
— Não aconteceu nada ano passado, Charles.
— E esse foi o problema — Ele riu triste, se lembrando — Você se lembra de como foi?
— Uma das maiores decepções da minha vida, como eu não lembraria? — Em um tom divertido, ela brincou, deixando um beijo na bochecha dele.

Não tinha como esquecer Monza, porque foi o gatilho final deles dois.
No começo de setembro de 2021, o grupo de amigos havia se encontrado para celebrar o aniversário de Sainz, em Ibiza. Passado o período mais agressivo da pandemia e com todo mundo devidamente vacinado, aquele era um dos primeiros grandes eventos que reuniria o grupo inteiro e a festa estava prometendo lembranças das quais pouquíssimos deles se lembraram no dia seguinte. Na época, e Charles já eram bastante próximos e estavam no momento em que tinham consciência do que sentiam um pelo outro, um pouco mais do que a amizade que insistiam dizer para todos ao redor, mas não podiam fazer muita coisa porque simplesmente não tinham clareza do que o outro sentia, porque resistia a aceitar o fato de ter se apaixonado por ele e porque Charles namorava.
A festa foi em um Beach Club de Ibiza, fechado exclusivamente para o aniversário de Carlos e, apesar de ser o dia dele, quando todas as atenções deveriam ser voltadas para ele e quando tudo o que ele deveria fazer era nada além de se divertir, beber o quanto quisesse e virar a noite imerso na sensação de que ele era o maior e o único no mundo, Laura conseguiu estragar tudo. Ela não gostou do fato de ter a quantidade de meninas que tinha na festa, não gostou de Carlos dançando com suas amigas e não gostou do quanto ele estava bebendo. Brigou com ele no meio da festa e sobrou para e Carmen impedirem Carlos de ir embora, enquanto Laura fazia um escândalo porque queria que ele fosse com ela. Lando, e seu jeito único de ser intrometido, conseguiu espantar Laura da festa e Carlos, irritado, resolveu descontar a ira no álcool.
Naquela altura da noite, já tinha passado uma parte da festa com Charles e com os outros amigos. Tinham bebido juntos, tirado fotos juntos, dançado juntos e a conversa foi fluindo até a confusão toda com a Laura começar e eles dois se dispersarem. Assim que ela foi embora, contudo, Lando arrastou Sainz de volta para o meio da bagunça da festa e seguiu para o píer, um pouco mais afastado, onde tinha combinado de encontrar Lily, Carmen e Luisa, recém chegada no grupo e ainda não namorada oficial de Lando. estava aérea e não reparou que as meninas ainda não estavam lá, até ver quem, na verdade, ocupava o espaço.
Charles estava sentado em um dos sofás do píer, com as duas mãos na cabeça, olhando para o mar. Tinha o celular em uma das mãos e parecia angustiado, triste, tão solitário como se não estivesse em uma festa. parou de andar no exato segundo em que o viu e, ponderando se deveria mesmo ir até ele, pensou que não faria mal algum. Ele não parecia bem.

— Parece que alguém se perdeu da festa… — comentou baixo, abraçando a si mesma para evitar que o vento subisse o vestido curto e laranja soltinho que usava.
— E que outra pessoa se perdeu junto — Charles respondeu no mesmo tom de voz, levantando seu olhar e sorrindo triste para ela, enquanto abaixava as mãos para seu colo.
— As meninas disseram que estavam vindo para cá, mas elas não… — Como um estalo em sua mente, entendendo tudo, fechou os olhos.
— Ah, claro, — Charles riu envergonhado, se dando conta de que as amigas provavelmente o viram sozinho ali e, enganando , a mandaram até ele — elas fizeram isso de novo.
— Temos amigos péssimos — riu tímida, vendo ele apontar para o lado onde estava sentado, como se a chamasse para ir até ele. caminhou até lá.
— Depende do ponto de vista — Charles riu com ela, a vendo se sentar ao seu lado.

Os amigos sempre davam um jeito de insinuar que tinha alguma coisa a mais entre eles dois e, sempre que podiam, criavam aquele tipo de situação: os deixavam a sós em festas, reservavam assentos juntos em aviões quando viajavam, os colocavam como dupla no golfe, faziam eles se sentar frente a frente na mesa, quando iam jantar ou em barzinhos. Era sempre a mesma história. E sempre o mesmo sentimento frustrante, de não poder, de fato, acontecer nada, para eles dois.

— Pelo menos não nos deixaram sem carona dessa vez — deu de ombros, se lembrando da vez que deixaram eles dois para trás de propósito, para que pudessem ir embora de uma festa juntos.
— Eles não cansam nunca, não é? — Charles olhou para frente, ignorando o perfume que emanava dela.
— No dia que cansarem, eu vou até achar esquisito — Ela colocou às mãos aos lados das pernas, desviando seu olhar para onde ele olhava. Charles estava quieto, retraído, bem diferente do jeito animado que passou metade da festa — Aconteceu alguma coisa?
— Charlotte — Foi tudo o que ele respondeu, balançando o celular e o deixando de lado, em cima de onde estavam sentados.
— Você está bem? — Delicada, voltou a olhá-lo, de lado. Charles suspirou fundo, sem saber exatamente como responder aquilo.

Não estava bem. Há meses não estava bem, na verdade.
E sabia daquilo. Aquela não era a primeira festa que Charlotte não estava com ele, não era o primeiro evento que eles brigavam, como ela imaginou ter acontecido naquela noite, outra vez. Não era a primeira vez que via Charles daquele jeito, frustrado, triste, meio angustiado com alguma coisa que, apesar de sempre conversar com ele, não parecia claro para ela. Charles estava exausto de sempre discutir as mesmas coisas, de sempre ser mal interpretado, de esperar por algo que ele sabia, no fundo, que Charlotte não podia lhe dar.
Estava cansado de perder momentos bons, como perdia naquela noite, por problemas que ela colocava nele, por pressões que ele não tinha que ter. Estava confuso sobre o que sentia, confuso sobre seguir em um relacionamento que já não o fazia bem há algum tempo ou permanecer nele pela culpa que carregava de ter cometido o erro, no passado recente, de ter achado que tinha se apaixonado por Charlotte. Calhou que, no final das contas, ele não sentia por ela o que achava que sentia e não sabia exatamente como sair daquela situação, porque não sabia o que era real e o que era sua mente, seu coração, mais uma vez o empurrando a cometer um novo erro.
Um erro que, naquele momento, estava sentado exatamente do seu lado, parecendo preocupada e esperando por uma resposta dele à pergunta que, no fundo, ela já sabia a resposta.

— Eu não sei — Charles suspirou cabisbaixo — Estou cansado desse ciclo, sabe? Cansado de ter que justificar tudo, cansado de me sentir usado, não sei. Parece que ela está comigo porque precisa de mim para alguma coisa, não porque gosta de mim. Não sei o que acontece… — Sincero, descarregando o que estava pensando, ele seguiu dizendo baixo, olhando para frente — É como se hoje ela fosse uma pessoa totalmente diferente da que eu conheci e eu não sei mais remediar isso.
— Você sabe que não precisa sempre remediar a situação, não é? — Sentindo seu coração vibrar com a batida animada de Sad Boy, tocada por R3HAB, o DJ da noite, sorriu para ele, totalmente embalada pela letra da música — Precisa começar a dizer as coisas que sente, Charles. Não pode continuar em um relacionamento se censurando dessa forma.
— O problema é que eu não sei se eu quero que… — Charles engoliu seco, voltando seu olhar para , de lado — ela saiba o que eu realmente estou sentindo.
— Bom, esse já é um outro problema, então — Soltando uma risada baixa, desviou seu olhar do dele.
— A gente não consegue se entender mais, por mais que eu tente falar, mostrar o que eu sinto — Ele negou com a cabeça, brincando com os anéis que usava nas mãos — e cada vez que essa merda toda acontece, que a gente briga por nada, pelos mesmo motivos, isso fica mais claro para mim.
— Vocês precisam pensar no sentido que tudo isso tem. Precisam entender o que ainda faz sentido em vocês, que faz valer a pena ficarem juntos e precisam conversar. Tipo, honestamente. Cartas na mesa — refletiu alto, engolindo a tristeza em dizer aquilo. Apesar de ser apaixonada por Charles, não interferiria no relacionamento dele, de forma alguma.
— Com a Charlotte? — Ele riu amargurado, frustrado — Ela pega as minhas cartas, rasga e joga no lixo, sem eu nem terminar de colocar todas elas na mesa.

No fundo, não era aquilo que queria ouvir de , não queria que o incentivasse a consertar nada, por outro lado, queria que ela jogasse a merda toda no ventilador de uma vez por todas, que o ajudasse a terminar com aquilo de uma vez por todas. Charles queria ter dela as certezas que ele precisava ter para tomar uma decisão definitiva, corajosa. Mas ela estava ali, o incentivando a continuar com sua namorada, a entender o que acontecia e conversar.

— Essa foi uma metáfora muito ruim, você sabe, não é? — Brincando, riu com ele.
— O que eu sei é que estou, outra vez, estragando a sua festa com esse assunto que não se resolve nunca — Charles negou com a cabeça, abaixando o olhar para o chão, sem graça.

tinha sido um porto seguro para ele sobre o assunto nos últimos meses, desde que a situação toda começou a pesar. E apesar de saber que, ao menos parcialmente, a confusão toda que sentia vinha dela, sempre parecia entender o que ele sentia e sempre tinha bons conselhos para dar. Era leve e confortável conversar com ela, era seguro e tudo parecia natural. não o deixava ficar quieto ou triste por muito tempo, não conseguia não ser carinhosa e não conseguia não mudar o ânimo dele em, pelo menos, cem por cento.

— Por isso mesmo você precisa resolver isso logo, — Tentando animá-lo, sendo o mais falsamente positiva que conseguia, encostou o seu ombro no dele, brincando — para a gente parar de perder as festas e conseguir só aproveitar o tempo que temos.
— Me desculpe por descarregar isso em você — Sincero, ele olhou para ela.
— Sinto muito que você esteja passando por isso — Ela respondeu, abaixando a voz — Não era para ser dessa forma e você precisa saber disso. Merecia ser feliz, Charles, merecia sentir coisas melhores.
— Acho que posso te dar esse mesmo conselho — Fixando seu olhar no dela, ele riu tímido, a vendo rir baixo enquanto movimentava o corpo levemente no ritmo da música — Ainda está com o Vicenzo?
— Nunca estive com ele, na verdade — encolheu os ombros, se lembrando do último cara com quem teve um relacionamento mínimo, de poucos meses — Acho que estava só tentando me… — "forçar a te esquecer", era a verdade que ela queria ter dito, mas engoliu as palavras — enganar. Não estamos mais juntos, faz um tempo já.
— Fico feliz em ouvir isso, não vou mentir — Ele sorriu, desviando o olhar para o mar à frente deles, outra vez — Você deveria estar com alguém melhor, alguém tipo… — “eu”, Charles queria dizer, mas, como ela, também engoliu em seco e logo completou: — o Carlos.
— Sainz? — gargalhou alto, sendo acompanhada por ele. Charles amava quando conseguia tirar aquelas risadas dela — É sério isso?
— Na verdade, não — Ele riu junto, a olhando.

Tendo uma ideia que pareceu brilhante para ela, meio alta pelo álcool naquele momento, apontou para trás de si, onde a festa acontecia há alguns metros. De onde estavam sentados, no pier, podiam ver Carlos dançar desajeitadamente com alguns amigos, claramente bêbado. Estava com um óculos de sol, um copo cheio na mão e um sorriso feliz no rosto, como se mais nada no mundo o pudesse parar naquela noite.

— Bom, falando nele, olha só… — começou dizendo — Carlos brigou com a Laura hoje e está descontando a frustração dele daquele jeito ali. Acho que devemos fazer o mesmo e deixar os problemas para amanhã.
— Fazer o mesmo? Dançar? — Charles perguntou, surpreso, rindo em seguida.
— Sim, vamos — Se levantando em um pulo, estendeu as duas mãos para ele.
— Eu não sou bom dançando, — Manhoso, ele negou com a cabeça.
— Então sorte a nossa que ninguém está vendo — Dando de ombros e olhando ao redor, como se procurasse por alguém, ela rebateu.
— Você está vendo — Charles cruzou os braços, rindo do jeito fofo dela.
— Quem disse? — Virando-se de costas para ele, falou um pouco mais alto, para ser ouvida, dando alguns passos para frente, dançando no ritmo do final de Sad Boy. Charles soltou uma risada e, incrédulo por ela realmente estar fazendo aquilo, a encarou de costas para si por alguns segundos, tentando o encorajar a se juntar a ela.

R3HAB começava a tocar One More Dance, tirando gritos animados das pessoas a alguns bons metros ao lado do pier, na festa. Charles suspirou fundo e se levantou. Sentia a letra simples e um tanto dramática da música animada entrar dentro de sua mente, bagunçando o que já estava um caos dentro dele. E, no momento seguinte, sem saber exatamente de onde veio aquela ideia, ele se viu se aproximando de , a abraçando levemente ainda de costas, dançando com ela no ritmo animado do refrão da música.
Os dois minutos e vinte e cinco segundos mais intensos que Charles tinha vivido em anos, os dois minutos e vinte e cinco segundos que ele não queria que terminassem nunca, que ele queria gravar em sua mente para sempre. Charles acompanhava os movimentos dela, contendo seus toques, sem encostar totalmente seu corpo no dela, resistindo, segurando-se, fazendo o contrário do que sua mente e seu corpo queriam fazer naquele momento. E conforme a música passava, sua letra parecia ficar ainda mais intensa, ainda mais real e Charles só desejava que pudesse ter uma nova dança com ela naquela noite, uma nova dança que não deixasse aquele momento terminar.
Com a letra na ponta da língua, tirando de seu coração cada palavra como se fossem escritas dela para ele, se virou de frente para ele no meio da música, cantando sem sair som algum. You're in my head, you're in my head, you're in my head, I can't forget, I can't forget, just can't forget, want your romance, want your romance, want your romance, just one more dance, just one more dance, just one more dance. E conforme a música passava, e seus corpos seguiram dançando, eles foram se aproximando lentamente, sem perceber, até que tudo ao redor foi esquecido, até que se prenderam nos olhos um do outro, enquanto suas respirações se misturavam.
Charles deixou suas duas mãos caírem na cintura dela, enquanto colocava as suas em seu peito, delicadamente. Seus rostos foram se aproximando ao tempo que a música finalizava e eles seguiam dançando no ritmo, vez ou outra, descendo seus olhos para os lábios um do outro, receosos, calmos, lentos em seus movimentos. E não fosse a troca repentina de música, talvez, naquela noite, eles tivessem cometido um erro tremendo.
Seus narizes já estavam se encostando e suas respirações pareciam uma só naquele momento, se misturando, junto com a confusão do que sentiam, com os corações que estavam acelerados. Era um movimento milimétrico e a vontade que os consumia, um do outro, seria sanada, os quase dois anos que passaram se apaixonando, se deixando levar pelo o que crescia dentro deles aconteceria ali, naquele segundo. Era um movimento milimétrico, e nada mais.

— Charles, a gente não… — sussurrou a um milímetro de distância da boca dele, sem realmente saber o que fazer, sem querer acabar com o que foi o único momento que teve, daquela forma, com ele em dois anos.

Charles, contudo, parecia sequer ter ouvido o que ela havia dito. Estava completamente entregue ao momento, rendido ao cheiro doce que saia dela, a música que tocava, ao calor que emanava de seus corpos. Estava se deixando levar pelo momento que, por meses, pensou em viver e de repente, ali, daquela forma, tudo parecia ainda melhor. O barulho das ondas do mar quebrando próximas a eles, a brisa leve e quente do oceano. Aquilo era perfeito, aquele era o momento, e Charles simplesmente não pode se segurar, não quis mais se segurar.
E quando se deu conta, já estava com seus lábios grudados aos dela, em um beijo que começava, suave, calmo e que não durou mais do que um minuto.
Como se tomasse consciência do que estava fazendo, quebrou o beijo de repente e deu um passo atrás, surpresa, olhando dos lábios dele de volta para os olhos de Charles. Que porra ela estava fazendo? Aquilo estava errado em tantos sentidos, que sentiu o ar parar de entrar em seus pulmões. Charles não disse nada, parecia meio assustado. Seus olhos tomavam um novo tom e sua expressão fechou-se em claro sinal de frustração e de tristeza. fechou os olhos por um segundo, incerta, insegura e, engolindo a vontade de chorar, o olhou pela última vez naquela noite.

, eu… — Charles tentou dizer algo, mas engoliu as palavras, assim que reparou nos olhos marejados dela.
— Acho melhor a gente… — Júlia tentou sorrir e apontou para a festa, desconcertada. E sem conseguir dizer mais nada, apenas virou-se e saiu de perto dele.

E como se a merda já não tivesse sido grande o suficiente, se deparou com Pierre, na outra ponta do píer, próximo a aglomeração da festa. Ele os olhava tão confuso e surpreso quanto eles mesmos estavam e aquilo foi o suficiente para ela não se segurar mais. Deixando as lágrimas caírem em seu rosto, passou por Pierre sem sequer o encarar e saiu apressada festa adentro, tentando inutilmente segurar o choro de raiva e de culpa por ter beijado Charles, de desespero em não entender o que estava sentindo, de frustração por não poder ter feito o que gostaria, e muito, de ter feito.
Aquilo era errado e muito injusto com ela, com ele, com Charlotte. Era um absurdo.
Ela não podia ter deixado aquilo acontecer, de jeito nenhum. E, por sorte, conseguiu parar antes que o beijo pudesse virar algo mais. estava tão imersa nos próprios pensamentos que só parou de andar quando Lando se colocou na frente dela, em seu caminho.

, , , — Lando sorria e gritava o nome dela no ritmo da música. Certamente a puxaria para dançar com ele, mas só queria sair dali.
— Desculpa, Lando — Séria, ela roubou o shot de tequila que ele segurava e o tomou de uma única vez — Não deixe o Carlos fazer nenhuma merda pelo resto da noite e, se alguém perguntar, fala que ele eu fui embora porque passei mal.
— Você está passando mal? — Lando perguntou preocupado, percebendo que ela não estava bem, mas rapidamente se afastou dele — ? ! Eu posso ir embora com você…

Lando não entendeu muita coisa e ficou para trás, confuso, preocupado, chamando pela amiga, e chateado de ter perdido seu shot de tequila. Mas, alguma coisa fez sentido para ele quando, meio segundo depois dela, ele viu Charles passar por perto, indo na direção do bar. Parecia tão transtornado, cabisbaixo e frustrado quanto ela e mal encostou na bancada do bar, já pediu duas bebidas diferentes. Lando procurou algum dos amigos com os olhos e logo encontrou o olhar de Gasly, indo atrás de Charles, fazendo um sinal de "deu merda" para ele, de longe.
Se aquela noite tinha sido ridiculamente confusa para e Charles, a semana que se seguiu foi um inferno. Charles brigou com Charlotte quase todos os dias, pelos mesmos motivos de sempre, e havia sumido. Não apareceu nos eventos dos dias seguintes à festa, não celebrou mais o aniversário do melhor amigo e Charles descobriu, por acaso, que ela tinha voltado para Marbella na manhã seguinte à festa, “por motivos familiares”, de acordo com Carlos. Charles se sentia mal. Por ter beijado ela, por ter traído a namorada. Se sentia mal pelas escolhas erradas que parecia sempre fazer quando se tratava de relacionamentos e se sentia mal por não saber nem o que dizer a , apesar de querer, de precisar, vê-la ou, ao menos, conversar com ela.
E, então, Monza aconteceu.
Onze dias depois do aniversário de Carlos, e da festa que deixou Charles e desconcertados, em um limite extremo que não conseguiam sequer ver ou falar um do outro, o GP de Monza aconteceu. Por insistência de Carlos, e por tê-lo feito a promessa de que, desde 2010 quando ela não pode ir a uma corrida importante dele naquele circuito, ela nunca mais perderia uma corrida em Monza, foi assistir a corrida e fez o máximo que pode para se esconder pelo paddock, em lugares que ela tinha certeza absoluta de que não encontraria Charles de jeito algum.
Tinha cruzado com Charlotte, que parecia bastante irritada de estar ali, assim que chegou no circuito e, conversando brevemente com ela, ficou com a sensação de que ela sabia o que aconteceu, que sabia que era apaixonada pelo namorado dela e que tinha sido a pessoa com quem ele a havia traído onze dias atrás.
aproveitou a deixa de Carlos Onorio, o primo de Sainz, ter passado por perto delas e deu um jeito de se desvencilhar logo, se escondendo dentro do box de Sainz, até a corrida começar. Sabia que, mais cedo ou mais tarde naquele dia, ela encontraria com Charles, mas não estava realmente certa de como deveria reagir ao ver ele ou o que deveria fazer, falar, ainda mais se estivesse com Charlotte junto. Não tinha o que dizer. Ficou tudo tão explícito naquela noite, tão claro, sem precisar de palavra alguma.
Ela queria só ver a corrida e ir embora, e era sobre aquele plano que ela pensava, enquanto via a competição montar o pódio com Daniel, Lando e Bottas, respectivamente, e quando Lily e Carmen a puxaram para fora do box de Sainz, para o meio da multidão que se formava ali, assim que a corrida terminou.
Charles desceu do carro frustrado, se pesou e, depois de cumprimentar algumas pessoas da equipe, que se desculpavam e sentiam muito por ele ter perdido o pódio por tão pouco, ele seguiu caminhando apressado, em direção ao motorhome. Estava feliz pelos amigos, feliz em ter um pódio cheio deles e o quarto lugar, afinal, não era tão ruim assim. Mas, no fundo, ele queria estar entre os três melhores do dia, celebrando, orgulhando sua equipe, sua família e seus fãs.
Charles seguia distribuindo sorrisos tristes, caminhando pelo local, até encontrar-se com Charlotte, pelo caminho. Silenciosa, a namorada o abraçou apertado, tentando consolá-lo de alguma forma, mas Charles sequer se lembrava de sentir o que acontecia ali. Seus olhos caíram sobre a mulher alguns bons passos atrás da namorada, em meio a multidão de pessoas, rindo animada com as amigas, até que, enfim, ela o encarou de volta.
Pelo minuto que se passou, como se mais nada estivesse acontecendo ao redor deles, Charles viu sorrir triste para ele e concordar com a cabeça, levemente. Como se dissesse que sentia muito pela corrida, que estava tudo bem, que nada era para ser daquela forma. Nada. Como se pudesse sentir a dor que ela sentia em seu coração, em ver ele com outra pessoa, não com ela.
E, por um momento, enquanto se deixava ser abraçado, nos braços da pessoa que não queria, ele podia ver em o que ele queria ver, quem ele queria sentir, quem deveria estar com ele naquele segundo. Charles sorriu de volta para ela, igualmente triste e logo a viu ter sua atenção desviada dele para Carlos, que se aproximava animado dela, a tirando do chão em um abraço apertado.
Charles terminou com Charlotte no dia seguinte.
E pelos seis meses que se passaram, não viu mais , convicto de que ele a havia magoado em Monza, aparecendo com Charlotte depois de tê-la beijado no aniversário de Carlos. Não a viu mais até o aniversário de Alex acontecer.

— Lembro do jeito que você me olhou — quebrou o longo silêncio entre eles, cruzando os dedos nas costas de Charles, ainda o abraçando pela cintura — Fiquei seis meses atormentada pela cena.
— Eu nem dormi naquelas noites, na semana depois do aniversário do Carlos — Rindo do comentário dela, Charles confessou também — Foi horrível. Horrível a sensação de estar com uma pessoa e ser apaixonado por outra. Tudo tão errado.
— Mas esse ano vamos fazer o certo — Sorrindo, ela comentou.
— Já estamos fazendo o certo — Ele concordou com a cabeça — Estamos no lugar onde tudo começou e eu vou ganhar hoje, — Ele sorriu feliz, os olhos brilhando em confiança, em empolgação, enquanto suas mãos carinhosamente afagavam o rosto dela — vou descer daquele carro e fazer o que eu queria ter feito um ano atrás.
— Que é…? — Rindo do jeitinho fofo dele em dizer aquilo, levantou levemente o queixo, aproximando seu rosto do dele.
— Te beijar — Charles sussurrou, aproximando suas bocas — e fazer o mundo inteiro assistir.

riu levemente, deixando-se ser beijada pelo namorado, deixando a sensação boa da certeza de que estava no lugar certo, dessa vez, tomar conta de si. Não podia estar mais feliz, afinal. E como se cada dia angustiante esperando por aquele dia glorioso chegar tivesse valido a espera, a pena, retribuiu o beijo, sentindo-se a pessoa mais sortuda do mundo.
Logo após deixar com Charles, acabou indo em direção a varanda, onde podia ter uma visão privilegiada de todo o Paddock. Como faltavam poucas horas para o início da corrida, o local ainda estava relativamente vazio e não imaginava encontrar ninguém por ali, senão os funcionários. Não sabia exatamente como aquela área era organizada e nem se Carlos também ficava por ali, como Charles estava, mas, no fundo, ela torcia para que não. Se estava, por outro lado, imaginava que ele também estaria preso em seu ritual de concentração, como o amigo, e ela preferiu não procurá-lo.
Por isso, ficou sentada na pequena mesa que havia ali, esperando pela amiga, e logo se serviu com um café, pedindo para um dos funcionários. estava tão distraída, ora no celular, ora com o movimento do local, que nem percebeu uma movimentação ligeira bem a sua frente.

— O que está fazendo aqui? — Carlos perguntou, com seu sotaque carregado, assustando , que deu um pulinho, colocando a mão no peito.
— Que susto! — o encarou, sorrindo cínica, reparando, enfim, em quem estava a encarando, em pé, na sua frente — Você poderia ter sido mais delicado ao chegar aqui.
— Você não respondeu a minha pergunta — Sem se importar muito com a frase da modelo, ele continuou questionando, olhando atentamente para ela.
veio atrás do Charles e me arrastou para cá — Ela resumiu, dando de ombros e tomando um gole de seu café.

Carlos engoliu as palavras, sem saber o que deveria dizer. Era claro que a tinha trazido até ali, por que ele ainda se surpreendia? Não deveria. Mas ficou assustado quando viu a modelo ali, tão surpreso que, quando percebeu o que fazia, já estava perto dela, a questionando. De todas as pessoas que ele esperava encontrar naquele dia, , definitivamente, não era uma delas, não podia ser uma delas. Por um momento, enquanto passou a manhã fuçando as redes sociais das amigas, achou que ela estava bem longe de Monza, o que diabos ela fazia ali? Mesmo que estivesse acompanhando , não fazia sentido ela ter ido, fazia?
Carlos fechou os olhos por um segundo exato, tentando afastar de sua mente a ideia, talvez o desejo, de que ela só insistia em ir às corridas para vê-lo. Depois do que ele viu, da publicação dela na noite anterior, aquela ideia parecia um grande absurdo. era a última pessoa que Carlos precisava ver naquele dia, bem no reinício da temporada, porque ele sabia que, com ela ali, na sua frente, tudo mudaria, o jogo recomeçaria. Ele sequer conseguiria raciocinar direito e, daquele segundo em diante, tudo passaria a ser um caos em sua mente, em seu coração. Não estava pronto para vê-la, não queria que ela estivesse ali.
E não bastasse tudo o que sentia, ele ainda estava furioso. Irritado porque simplesmente não conseguia esquecer aquele vídeo, dela sorrindo, daquele homem a abraçando por trás e a beijando no pescoço. O que tinha acontecido entre eles? Tinha levado o cara junto com ela? Era só o que lhe faltava. Carlos desejou por um segundo que ela fosse embora, que nunca mais a visse e esquecesse que um dia conheceu Voitenko. Mas ela estava ali, linda, sorrindo fraco, distraída e tudo o que ele queria era beijá-la, mostrar que era um cara muito melhor para ela do que aquele otário do vídeo, a fazer implorar por ele do mesmo jeito que ele implorava, silenciosamente, por ela.
Para , por sua vez, que sustentava o olhar sério e duro sobre o homem em pé, a encarando, encontrar Carlos ali foi muito diferente do que ela imaginava. O caos de sua mente pareceu ter sido bloqueado e bastava sentir que ele estava ali, por perto, com ela, para que ela fosse tomada por uma sensação estranha de paz. Carlos estava ali, afinal. Depois de tudo, ele ainda estava ali. Podia ter se aproveitado do fato de ela não tê-lo visto e passar longe, não falar com ela, mas ele estava ali. Fazendo questão de ser visto, fazendo questão de que ela respondesse ao desespero de suas perguntas.
Estava bravo, de fato. Mas estava igualmente bonito e sexy, usando o uniforme da Scuderia, e ela não conseguia se concentrar em mais nada senão no vermelho vibrante de sua roupa, a exata mesmo cor do desejo que sentia por ele. sentia falta dele. Desde o último final de semana em Mônaco, esperava que ele a procurasse, que pedisse desculpas ou que conversassem sobre o que tinha acontecido, mas não foi isso que aconteceu e estava confusa. O que mais havia acontecido para ele chegar nela daquela forma? O que mais poderia ter feito para magoá-lo? Por que não podiam se resolver, de uma vez por todas?

— Você não deveria estar aqui, , é melhor você ir para o paddock club — Carlos disse seco, quebrando o breve silêncio. Seu olhar, mesmo que direcionado para a modelo, estava perdido, gélido e parecia não estar realmente a vendo ali.
— Você não é o dono daqui, Sainz — o respondeu, séria. Pareciam duas crianças disputando quem ganharia aquela queda de braço — Ou comprou isso também?
— Eu sou um dos pilotos e posso dizer quem deve ou não estar aqui — Carlos cruzou os braços, tentando não se abalar com a pergunta cínica que ela lhe fez.
— Não pode não — se levantou e, dando um passo na direção dele, também cruzou os braços.
— Por que você tem que complicar tudo? — Carlos a olhou sério.
— Eu? É sério? — riu debochada — Foi você que chegou aqui feito um ogro e que, na verdade, vem agindo como um completo idiota desde quando nos conhecemos, que me usou o tempo todo e eu cai como burra.
— Do que você está falando? — Carlos franziu a testa, sem realmente entender o que ela quis dizer com aquilo.
— Do seu plano ridículo de ficar comigo só para ter mais uma modelo, fútil, mimada e pegajosa na sua lista — apontou para ele, acusatória — E depois me descartou, como o playboy metido a besta que você é.
— É isso mesmo o que você acha? — Sem entender o rumo daquela conversa, Carlos riu incrédulo.
— Acho que já ficou bem claro — abaixou o tom de voz, enfim, suspirando ao final. Alguns funcionários que passavam pelo local os encaravam, tentando entender o que acontecia. E lá estavam eles, outra vez, fodendo tudo em público.
— Não se faça de inocente, , se acha que eu te usei, você não ficou muito atrás, não é? — Carlos a questionou baixo, dando um passo mais perto dela, e a olhou curiosa — Achou legal ter um piloto na sua listinha e como não fomos para frente, você fugiu por aí atrás de outro idiota qualquer só para te satisfazer.
— Do que você está falando? — Estridente, perguntou chocada.
— Da sua infantilidade, para chamar minha atenção ou para me magoar e, quer saber a verdade? — Carlos respondeu, dando de ombros. Sua voz parecia mais grave, sentida, seus olhos brilhavam — Conseguiu. Você conseguiu, .
— Ah meu Deus, agora eu entendi — passou a mão direita na testa e riu sozinha — Você acha mesmo que eu ter postado um vídeo com um amigo ontem foi para chamar a sua atenção? Você é patético, Sainz.
— Você não se parece nada com aquela mulher que passou horas maravilhosas comigo em Marbella — Carlos confessou sincero, negando com a cabeça.
— Tem razão! E nem você se parece com o homem pelo qual eu me apaixonei.

só percebeu o que havia dito quando as palavras ecoaram em alto e bom som pelo local. Carlos arregalou os olhos e, sustentando seu olhar no dela, a vendo respirar fundo por um instante, ele logo a assistiu pegar sua bolsa e sair correndo em direção a saída do local. parecia desconcertada, seus olhos estavam confusos e cheios de lágrimas, mas ela sequer deu tempo de o piloto fazer ou falar qualquer coisa.
Carlos sentiu-se o pior homem do mundo naquele momento. Depois que ela saiu, ele bufou irritado, enquanto mexia freneticamente no cabelo, sem saber o que fazer ou como agir depois da confissão da modelo. estava mesmo apaixonada por ele? Ela havia acabado de confessar aquilo para ele? Com sua mente o sabotando, Carlos sentia-se confuso, perdido, solitário. Ficou alguns minutos parado ali, completamente imerso no que sentia e sem saber o que fazer. Deveria ir atrás de ? E diria o que? Que também estava apaixonado por ela e só não estava sabendo lidar com o sentimento? O quão babaca aquilo poderia soar? Ela acreditaria nele, depois de tudo? E se…

— O que aconteceu? — A voz baixa e carinhosa de despertou a atenção de Carlos, que, enfim, cortou seu olhar de onde tinha ido embora para a amiga.

Apesar de tê-lo respondido mais cedo, dizendo que não estava mais brava com ele, e de terem trocado meia dúzia de mensagens desde então, aquela era a primeira vez que viam desde Mónaco, depois da semana silenciosa e estranha que passaram distantes. Aquilo não era comum para eles dois. E sabia que tinha alguma coisa errada com Carlos, sabia que ele estava se isolando de propósito com medo de enfrentar o que estava sentindo. Ela sabia.
não tinha visto o que tinha acontecido. Saiu casualmente do quarto do namorado e logo deu de cara com Carlos parado ali, olhando impassível e sério para o nada, silencioso, magoado com alguma coisa. Carlos deixou seus olhos caírem na amiga e, como se sentisse um peso sair de suas costas, como se estivesse acabado de chegar em casa, onde não tinha que se segurar ou esconder qualquer coisa, ele deixou-se ser abraçado por ela, em um rápido silêncio.

— Eu estraguei tudo — Carlos murmurou para , que o abraçava pelos ombros.
— Estragou o que, mi vida? — Ela perguntou amorosamente, preocupada.
— Foi tudo o que ele respondeu, quebrando o abraço. Seus olhos pareciam preocupados, tristes. Mas sequer teve a chance de continuar aquela conversa, porque uma das assistentes da Ferrari logo os cortaram:
— Com licença, Carlos? Vamos lá? — Ela sugeriu delicada e, sem dizer mais nada, Sainz apenas fechou o punho e saiu atrás dela, em direção aos boxes para o início da corrida.
— Carlos, espera… — tentou ir atrás do rapaz, mas o espanhol foi mais rápido e se enfiou no meio das pessoas, perdendo-se vista, sem dar a chance para que ela se aproximasse. Não havia tempo para conversas mais. Ele tinha que se concentrar e tinha que deixar tudo aquilo para mais tarde. Era aquilo, fim.
Alguns passos atrás dela, Charles se aproximou da namorada, a abraçando pelas costas e beijando sua têmpora, enquanto reparava no olhar sério da namorada.

— O que houve? — Ele perguntou, puxando ela pela mão em direção a saída do motorhome.
— Acho que o Carlos e a brigaram — o respondeu, pensando no que poderia ter acontecido. Fez questão que a amiga fosse até lá para que eles pudessem conversar e parecia ser justamente o contrário o que havia acontecido. De novo.
— Agora me conte uma novidade, ma petite — Charles brincou rindo, enquanto os dois caminhavam em direção aos boxes. No caminho, Charles tirava os anéis e as pulseiras que vestia e os dava para ela, que colocava em si mesma, para não perder.
— Dessa vez é diferente, estou sentindo — fez um biquinho pensativo e logo negou com a cabeça, tentando afastar os pensamentos de si e logo parou de andar, virando-se rapidamente de frente para Charles — Mas não se preocupe com isso, temos uma corrida para vencer agora.
— Te vejo do pódio — Charles afirmou sorrindo, confiante, puxando a namorada para um beijo rápido, que era capturado pelas câmeras que acompanhavam Charles por onde ele caminhava.
Bonne chance, ma vie. E tome cuidado, por favor! — O beijando rapidamente de volta, desejou e, trocando um último olhar com ele, correu de volta para o paddock club.

subiu em direção a área VIP e encontrou as amigas em um canto, sentadas nos sofás do local. Nenhuma delas parecia estar com uma cara muito boa, estavam silenciosas, em volta de , que tomava uma água e parecia perdida. O local estava lotado. Diversos convidados, familiares, famosos e pessoas influentes caminhavam, riam e bebiam, enquanto a corrida ainda não havia começado.
Ainda sim, apesar disso, ninguém se preocupou com o grupo que estava ali, mais isolado, parecendo fechado a qualquer contato de fora, senão elas mesmas. Lily estava sentada sobre a mesinha do centro, de frente para , ao tempo que Luisa e Carmen estavam cada uma de um lado da modelo, a abraçando de lado, enquanto a modelo suspirava e tomava outro gole de sua água.

— O que houve? — perguntou séria assim que se aproximou delas, sentando-se ao lado da Lily.
— Ela ainda não nos contou — Lily olhou para a empresária.
— Foi o Carlos, não foi? — perguntou diretamente para , impassível e bem direta, pois sabia que algo havia acontecido no motorhome.
— Eu sabia que eu não deveria ter vindo, maldita hora em que eu deixei que vocês me convencessem — suspirou triste, arrependida.

Estava cansada de todo aquele drama e sua mente insistia em repassar a nova briga que teve com o piloto. Carlos tinha mesmo dito que ela o havia magoado? Se estava se sentindo daquela forma e usado por ela, era porque sentia algo a mais por ela? Porque esperava algo diferente dela? O que ela tinha feito? queria explodir, queria cavar um buraco ali mesmo e de enfiar dentro, queria voltar no tempo e fazer tudo diferente, queria… tanta coisa e nada, ao mesmo tempo.

— O que ele fez? — Luisa perguntou, curiosa.
— Nasceu, não está bom para você? — perguntou sarcástica, mas logo voltou atrás, ao ver o olhar assustado da amiga — Me desculpe, não quis descontar em você.
— Tudo bem, amiga — Luisa apoiou a cabeça sobre a dela, rindo baixinho.
— Nós discutimos, de novo, e eu disse que estava apaixonada por ele — contou baixo e suspirou, observando os olhares das amigas, que pareciam chocados.
— Você disse o que? — Lily perguntou em um sussurro, vendo apenas concordar com a cabeça em resposta, sem coragem de dizer aquilo em voz alta outra vez. Ao seu lado, parecia encaixar as peças do quebra-cabeça, Carlos disse que havia estragado tudo… o que ele havia respondido para ela?
— Eu não acredito! — Carmen murmurou surpresa.
— Pois acreditem, meninas — arrumou os cabelos, frustrada — Mas foi no final da briga e eu saí correndo logo depois.
— O que ele te disse? — Preocupada, perguntou baixo. Lily dava uma olhada discreta ao redor, para garantir que ninguém as estava ouvindo ou gravando.
— Ele foi um idiota! Falou que eu postei aquele vídeo com o Richard ontem só para chamar a atenção dele, que eu nem deveria estar ali no motorhome, tentou me expulsar — contou irritada, se lembrando das palavras dele.
— Meu Deus, o que está acontecendo com o Sainz? — Brava, Carmen perguntou retórica. Carlos sempre foi meio nervosinho mesmo, não era novidade, mas estava passando dos limites nos últimos tempos.
— Ele está com ciúmes, eu acho. E está magoado com tudo isso, falou delicada, atraindo o olhar da amiga à sua frente — Charles disse que ele ficou sério o dia todo, que pegou mais pesado do que o normal na academia, não conversou com quase ninguém hoje.
— Você sabe que ele também está apaixonado por você, não sabe? — Lily questionou , pausadamente, como se escolhesse bem as palavras.
— Jeito estranho de confessar isso, não acha? — riu debochada.
— Jeito de quem deu com a cara na parede da última vez que confessou estar apaixonado por alguém — Defendendo o ponto de vista do amigo, comentou sorrindo, colocando uma mão no joelho de que, revirando os olhos, chegou a abrir a boca para dizer algo, mas logo foi cortada pela amiga, que seguiu dizendo: — Não estou defendendo ele, eu só acho que as coisas estão ficando mais intensas agora, e mais difíceis, porque tudo está ficando mais claro para vocês dois.
— E está se misturando no monte de merdas mentirosas que vocês contaram um pro outro para se proteger da verdade — Lily completou a amiga.
— E o Carlos está vendo acontecer de novo o que ele viu no passado e que ele jurou para si mesmo que nunca mais aconteceria com ele — Sem citar nomes, discreta, emendou.
— Carlos está com medo de entrar nisso de uma vez por todas, é nítido — Carmen concordou com as amigas — Parece que quer criar cena todas as vezes para se impedir de sentir o que todo mundo já sabe que ele sente. Ele precisa se entregar, de uma vez por todas.
— As vezes, eu tenho vontade de esganar o Sainz — Luisa confessou, rindo com Carmen, que concordava com a cabeça — Como pode ser tão idiota? Parece que gosta de complicar as coisas.
— Obrigada, amiga! — sorriu, segurando a mão da outra modelo — Mas eu realmente não sei o que fazer, meninas… agora eu já disse o que disse, ele sabe da verdade. E não sei mais como agir daqui para frente…
— Você não precisa agir ou fazer qualquer coisa agora, porque a corrida já vai começar — sorriu segurando a mão da modelo, reparando na movimentação do local diminuir consideravel e rapidamente em um único sentido — Você quer ficar para assistir?
— Senão, podemos ir embora — Carmen sugeriu, vendo as outras três amigas concordarem prontamente com a cabeça.
— Já estamos aqui, não é? — deu de ombros, tentando se animar — E vai ser bom ver o Ricciardo no final, estou com saudades daquele idiota.
— Você tem razão, amiga. Agora coloca um sorriso nesse rosto, porque já já alguma câmera vem dar zoom em você e vamos assistir essa corrida, porque hoje ela promete e o meu Lando também — Luisa respondeu empolgada, se levantando e dando um pulinho de alegria.
— Nunca vou entender como ela consegue ter tanta energia — Se levantando também, Carmen confessou, rindo com as amigas.
— Sortudo é o Lando — se levantou com Lily e , vendo Luisa gargalhar.
— Ele sabe a sorte que tem — Ela piscou para as meninas, enquanto puxava pela mão em direção a varanda, de onde assistiriam juntas a largada. Carmen, Lily e vinham logo atrás, comentando animadas sobre as possibilidades da corrida, relembrando o ano anterior, quando também puderam ver Monza acontecer presencialmente.

O circuito estava lotado e milhares de fãs gritavam animadamente para o início da largada. Charles havia feito a pole, Lewis ficou em segundo, Max em terceiro e Carlos na quarta posição, seguido por Daniel, em quinto, que no último segundo do Q3 havia feito um tempo extraordinário, saindo da décima posição para a quinta. Como todos os anos, o clima estava ótimo no Circuito de Monza e a energia daquele lugar parecia, uma vez mais, memorável. O calor que emergia na multidão de pessoas, em sua grande maioria ferraristas, combinava-se com os cantos e os gritos da multidão pelos pilotos, que já estavam entrando em seus veículos, se preparando para o início da largada.
Carlos entrou nos boxes pensativo. Estava irritado, frustrado e não conseguia parar de pensar nas palavras de , no quanto gostaria de ter tido tempo e a chance de conversar com ela, de se desculpar, de dizer que sabia que estava claramente fazendo tudo errado daquela vez. Ele caminhava em direção ao seu carro, completamente perdido em seus próprios pensamentos e, distraído, chegou a trombar com um ou outro colega pelo caminho, sem se importar muito com o que diziam conforme ele passava, ignorando tudo ao seu redor. Tentou procurar , olhando em direção a área VIP, mas não encontrou nada senão rostos desconhecidos. Carlos, enfim, entrou no cockpit, frustrado, chateado com tudo e tentou se concentrar minimamente na corrida, se esforçando em não parecer nem tão silencioso e nem tão perdido para o restante da equipe.
Às três horas em ponto do horário local, os carros foram liberados para a pista, para a volta de apresentação e, de maneira tranquila e amigável, deslizavam em ziguezague para o aquecimento dos pneus. Quando o último carro, de Nicholas Latifi, parou em sua marcação no grid, ao tempo em que o comissário passou hasteando a bandeira e a última luz vermelha se desligou, a corrida, finalmente, teve seu início. Com uma largada emocionante e tranquila por parte dos pilotos, com a sorte de, daquela vez, ninguém ter rodado na primeira curva do circuito, apenas perderam posições: George Russell, que foi de sexto para sétimo lugar, e Bottas, que perdeu três posições.
A corrida fluía tranquila aos olhos que quem a assistia e emocionante para aqueles que estavam na pista. O primeiro a entrar nos boxes foi Carlos, que havia feito um bom tempo na troca de pneus e ficado na mesma posição. Charles foi logo depois, perdendo a posição para o sete vezes campeão mundial, Lewis Hamilton. Max Verstappen acabou perdendo sua posição para o espanhol, quando entrou nos boxes, deixando-o furioso. Passada um pouco mais da metade da corrida, quando Lewis foi fazer uma nova troca de pneus, o jogo todo mudou. Um de seus mecânicos enfrentou dificuldades para remover o pneu traseiro esquerdo e, com isso, o inglês perdeu novamente sua posição para o monegasco, por segundos, que voltou a ocupar a primeira posição do dia.
Dados os dois primeiros, Carlos e Max brigavam fervorosamente pela terceira posição, logo atrás. O espanhol era constantemente fechado pelo neerlandês, arrancando gritos de toda a arquibancada, que assistia animadamente. Daniel, logo atrás deles dois, evitava se meter no conflito, acreditando que algo mais grave poderia acontecer, caso continuasse daquela forma. E não podia estar mais certo: logo que se aproximaram da curva sete e entraram na reta, na zona de DRS, Carlos, que estava muito próximo do piloto da RBR, tentou fazer uma ultrapassagem por dentro, acreditando que conseguiria, mas não teve sequer tempo de ver que o colega havia feito o mesmo, no mesmo sentido, para a entrada da curva oito. Em questão de milésimos de segundos, ambos os carros foram parar na barreira de proteção. Tudo aconteceu tão rápido que demorou aos espectadores conseguirem entender o que foi que tinha acontecido, de fato. O barulho dos dois carros colidindo forte e batendo, em seguida, na barreira de proteção, era um som que nem , nem suas amigas, se esqueceriam tão cedo.
Todos estavam apreensivos e, inusitadamente, o silêncio se fez presente em todas as arquibancadas. Como protocolo, as câmeras desviaram do acidente e voltaram a focar apenas na corrida, enquanto a bandeira amarela foi rapidamente acionada e o safety car entrou na pista, diminuindo a diferença de tempo e distância entre os pilotos. Os carros andavam enfileirados por todo o circuito e alguns áudios de outros pilotos, perguntando se Carlos e Max estavam bem foram disponibilizados pela FIA. E aquele cenário se manteve por cerca de cinco minutos, até, finalmente, a câmera focar nos dos pilotos e na batida. Ambos os carros estavam muito destruídos, mas o de Carlos, em especial, chamava bastante a atenção. Ele estava dividido em duas partes, a frente presa a barreira e a traseira há alguns metros de distância dali, destruída.
Max conseguiu sair andando e, apesar de meio desnorteado, talvez pelo choque e pelo susto da batida, parecia relativamente bem. Foi logo liberado pelo médico e voltou para os boxes, claramente assustado e chateado por ter que deixar a corrida, tão repentinamente. Carlos, contudo, parecia mais ferido e sequer tinha conseguido sair do carro. Uma ambulância já estava no local e não demorou mais do que novos cinco minutos para tirar o piloto de dentro do carro, com cuidado e delicadeza. Carlos apareceu nas imagens sendo levado rapidamente para dentro, em uma maca e, com as sirenes ligadas, o veículo disparou em direção ao centro médico do local.
Na área VIP o clima de apreensão parecia exatamente o mesmo das arquibancadas lá fora. Todos pareciam com medo, receosos, sem saber exatamente o que dizer ou o que pensar. Se perguntavam em sussurros se estava tudo bem com Carlos e, inevitavelmente, lançavam olhares sobre e o grupo de amigas, esperando qualquer que fosse a reação de alguma delas. As cinco estavam em pé, paradas próximas a uma tela que mostrava maiores detalhes do que tinha acontecido. Pareciam chocadas, preocupadas e silenciosas, assistindo tudo sem sequer piscar. estava completamente estática, séria, tinha os olhos arregalados e a expressão corporal travada. Se perguntava o que realmente havia acontecido ali e estranhava Carlos, justamente Carlos, ter se metido em um acidente como aquele.
Lily, Carmen e Luisa conversavam baixo entre si, tentando prever o que deveria acontecer a seguir, tentando entender o que houve, enquanto atendia a ligação dos pais de Carlos. Eles estavam viajando, mas, como de costume, assistiam a corrida e pareciam extremamente preocupados com o filho. Imaginavam que estaria por lá, com ele, e não pensaram duas vezes em ligar para ela, em busca de qualquer que fosse a notícia mais detalhada que, naquela altura do dia, nenhuma emissora de televisão parecia ter. sabia tão pouco quanto eles, mas tentava acalmá-los enquanto observava ao seu redor, em busca de descobrir mais notícias do ocorrido.

, você está bem? — Carmen virou-se da amiga de repente, reparando que ela continuava parada no mesmo lugar, em silêncio, encarando a tela à sua frente. Tinha as duas mãos cruzadas e apoiando seu queixo, parecia apreensiva, preocupada.
— Eu não… o que… — não sabia o que dizer, estava com medo, preocupada e se sentindo culpada.

Não sabia em qual grau teve culpa pela desatenção de Carlos, por tê-lo estressado ou seja lá o que causou nele, discutindo antes de uma corrida. sabia que estava no lugar dele ali. Sabia que era seu trabalho e sabia o quão sério tudo o que acontecia ali era para Carlos, para sua carreira, para sua família e para sua vida. Ela se sentia mal ter, direta ou indiretamente, o afetado de tal forma que o desconcentrou. Ela sabia disso, porque simplesmente sentia isso. Aquilo não deveria ter acontecido e não aconteceria se ela não tivesse ido à corrida naquele dia. O que ela foi fazer lá, afinal? O que achou que aconteceria? se sentia mal, frustrada, culpada e dentro dela seu coração implorava por poder ver Carlos, por saber se ele estava bem, por se desculpar, por conversar com ele.

— Ei, vem cá — Na falta de resposta da amiga e a vendo terrivelmente assustada, Lily abraçou carinhosamente e a levou em direção aos sofás onde antes da corrida sentavam, vendo o restante do grupo a acompanhar. Luisa pegou algumas garrafas de água pelo caminho e entregou a cada uma delas — Está tudo bem, tudo bem. Ele está bem.
— Sim, Sra. Sainz, não temos mais notícias a não ser que ele está no centro médico…Aham, pode deixar…aviso, sim. Sim, ela está aqui comigo — respondia a mulher ao telefone, sentando-se ao lado de Carmen no sofá e elas entenderam que as duas falavam sobre a — Ela vai ficar bem… eu sei… não é a primeira vez que isso acontece, vou dizer a ela… sim, ela está igual a senhora, estamos acalmando ela…
— Amiga, você está tremendo, ai meu Deus — Luisa, segurou a mão da modelo, preocupada.
, você precisa se acalmar, ele deve estar bem — Lily tentava dizer palavras de aconchego à amiga.
— Então por que não estão mostrando isso? — Aflita, ela olhou Lily.
— Porque é parte do protocolo da FIA — Foi Carmen quem respondeu — É assim mesmo, está tudo sob controle.
— Mas, então, por que o Max saiu do carro andando, sozinho, bem, e ele não? — fungou, sem nem saber quando havia começado a chorar.
— Amiga, o Carlos deve estar bem — Carmen a abraçou de lado, aconchegando a modelo sobre seu colo — Já está com os médicos agora, está tudo certo.
— Não está tudo certo, isso não teria acontecido se eu não tivesse vindo, se eu não… — soluçou, cansada — se eu não tivesse discutido com ele antes da corrida começar.
— Não tinha como prever que algo assim aconteceria — Luisa comentou serena, tentando acalmar a amiga.
— A culpa não é sua, não pense nisso — Lily negou com a cabeça, mais séria do que antes. Era um absurdo achar que aquilo tinha sido culpa dela.
— Eu não sei, eu… eu preciso ir vê-lo — Sem sequer raciocinar o que fazia, se levantou abruptamente, chamando a atenção do grupo de amiga e de , que ainda conversava com a mãe do piloto ao telefone e não prestava atenção no que acontecia ali.
— Você não pode ir lá — Luisa tentava segurar a amiga, sabendo que seria impossível manter ela ali.
— Eu preciso tentar — suspirou, se desvencilhando dela.
— Não vão te deixar entrar — Lily insistiu, falando um pouco mais alto, mas parecia determinada.
, você não pode entrar lá — , que havia acabado de terminar a ligação, tentou literalmente correr até a amiga, que já descia as escadas correndo em direção ao centro médico.

Ignorando a todos e enxugando as lágrimas, não desistiu até que chegasse próximo ao centro médico. O local já estava lotado de jornalistas, fãs e alguns funcionários da própria equipe, que tentavam saber mais sobre o estado de saúde do piloto espanhol, conseguir uma entrevista com ele ou com um dos médicos ou ter qualquer informação que lhes parecesse útil naquele momento. não sabia como entraria ali e imaginava que, mesmo com a meia dúzia de passes VIPs que carregava consigo, só familiares ou membros da equipe de Carlos poderiam entrar no centro médico. Mas não levou mais do que poucos segundos para ela ter, enfim, uma ideia brilhante.
Os rumores estavam dados e não havia uma única pessoa naquele GP, ela imaginava, que não tinha sabido ou ao menos ouvido falar sobre o caso dela com Sainz. Uma vez mais, usaria do benefício da história inventada em Marbella, para enganar a tia Mirabel, a seu favor e torcia para que aquilo desse certo - ou apelaria para o plano de Luisa, de fingir estar passando mal, dizer que havia tomado bebida demais ou que tinha problemas de pressão.
Como o lugar estava relativamente cheio, e com a sorte de algumas pessoas a reconhecerem e jornalistas tentarem se aproximar dela, logo foi puxada para dentro do centro médico por um enfermeiro, enquanto se identificava para ele como sendo namorada do piloto. Ele pediu educadamente que ela esperasse na sala principal e checou se estava tudo bem com ela, se não queria um médico, pois parecia pálida, preocupada. logo negou a sugestão carinhosa do enfermeiro, aceitando um copo de água e nada mais. Disse-lhe que estava, de fato, preocupada mas que não precisava ser atendida e esperou.
ficou cerca de dez minutos na sala, sozinha, vendo a movimentação acontecer ao tempo que a gritaria lá fora parecia aumentar. Esperou ali até que uma grande confusão de profissionais saíssem da sala onde Carlos estava, indo em direção à recepção, possivelmente para falar em público o que estava acontecendo. não queria esperar para ouvi-los, não queria saber pelos outros. Sem pensar muito, a modelo se levantou e correu em direção ao local, abrindo rapidamente a porta. Se pudesse descrever como se sentiu naquele momento diria que não havia mais nada nela senão o silêncio, a culpa e o coração que batia tão acelerado, que talvez pudesse ser ouvido por qualquer pessoa que passasse por perto. sentiu seu coração quebrar em milhares de pedaços só de vê-lo ali, sozinho, machucado, parecendo triste.
Ela encontrou ali uma versão de Carlos Sainz que ainda não tinha conhecido e que, talvez, no fundo, não quisesse conhecer nunca. Ele estava deitado sobre a maca, ainda vestindo o macacão da scuderia, porém, estava todo aberto, por onde era possível ver o braço esquerdo sangrar, mesmo por cima do curativo que há pouco tinham feito nele. Os pequenos cortes no macacão mostravam o que provavelmente tinha acontecido dentro do carro, onde os pedaços da lataria tinham o perfurado e ficou espantada com aquela ideia. Com a simples ideia de Carlos estar bem, mas de não poder ter estado. Em uma batida a 300 km/h, o que o tinha salvo, talvez, foi a mais pura e verdadeira sorte. A sorte com a qual ela não queria jamais ter que contar novamente. Carlos poderia simplesmente não estar mais ali naquele momento. E se perguntava o que ela faria se aquilo fosse realidade, se perguntava porque tinha perdido tanto tempo com besteiras com ele, se perguntava porque tudo não era simplesmente diferente do que tinha sido.
não queria chorar na frente dele. Engoliu as lágrimas junto com as ideias terríveis que rondavam sua mente. Não queria se deixar levar por aqueles pensamentos desesperadores, ela não queria nada senão a certeza, o alívio, de que ele estava ali e estava bem. E, por isso, ela respirou fundo antes de se aproximar.
Carlos estava com os olhos fechados e com o braço direito tampando sua visão. Ainda não conseguia acreditar em tudo o que tinha acabado de acontecer, foi tudo muito rápido e ele sequer conseguia se lembrar bem do momento, de como se perdeu, de como bateu, do que houve com ele. Saiu sem dificuldades do carro, mas foi quando pisou no chão que sentiu o sangue escorrer do braço, sua cabeça rodar em tontura, que ele teve a real proporção do quão grave tinha sido o acidente. O braço cortado, ele imaginava, tinha sido devido a uma das peças do carro de Max, que entrou dentro do cockpit e o atingiu. Mas, tirando isso e a pancada em si, que certamente o deixaria dolorido e aéreo por alguns dias, devia ter apenas alguns arranhões e pequenos roxos pelo corpo, protegido de algo mais grave pelo macacão e pelo capacete.
Ele não queria pensar que tudo foi causado por estar tão distraído, por estar tão imerso em seus sentimentos, pela consciência tão clara de que Voitenko estava lá, o assistindo, apaixonada por ele. Ele estava concentrado. Não havia discussão. Ele sabia o que estava fazendo, só não esperava que Max estivesse pensando o mesmo, que fosse ter a exata mesma saída estratégica do que ele. Ao seu ver, nenhum dos dois realmente teve culpa e muito menos , mesmo presente em seus pensamentos durante todo aquele dia.
Carlos estava tão distraído com seus próprios pensamentos que não ouviu quando a porta se abriu e se fechou novamente, delicadamente, e alguém se aproximou em silêncio. Só percebeu que, de fato, não estava sozinho na sala médica quando sentiu os braços quentes na lateral de seu corpo e o corpo leve, macio, de alguém deitando em seu peito. Carlos sequer precisou abrir os olhos para saber quem era. O toque, o cheiro do perfume que não saia de sua mente, o fizeram sorrir sozinho, levemente, ainda de olhos fechados, deixando-se ser abraçado por ela, pelo tempo que ela quisesse.
Estava surpreso, não podia mentir. E sabia que seu coração batia mais acelerado e que ela, levemente deitada sobre ele, o abraçando, podia ouvi-lo. Descompassado, agitado, confuso e caótico, como ele se sentia naquele momento. Mas tão vivo e tão aliviado, como ela precisava sentir dele naquele momento. não sabia explicar o por que de tê-lo abraçado, só percebeu o que fazia quando já estava feito e não se preocupou com aquilo. Já tinha dito o que precisava dizer naquele dia, já tinha assumido para ele o que sentia por ele, não havia mais motivos para se segurar ou para esconder. Fosse o que fosse, na canseira de quase ter colocado tudo a perder, para sempre, daquela vez, já tinha desistido, ao menos por um momento, de ser qualquer coisa senão ela mesma. Queria vê-lo, e tinha ido até lá. Queria sentí-lo, e o abraçou.
Carlos abriu os olhos lentamente e, receoso, sem saber o que deveria fazer, abaixou seu braço direito, que antes cobria os olhos, até as costas dela. Não sabia se poderia retribuir aquele gesto, mas tinha a certeza gritante de que queria fazê-lo. E pelos minutos que lhe pareceram tão rápidos, ele ficou ali. Brincando com as pontas dos cabelos dela, soltos e espalhados em suas costas, retribuindo o abraço leve e carinhoso, tão cheio de palavras e de sentimentos silenciosos, sem saber o que deveria dizer, sem saber, na verdade, por onde começar.

— Como você está? — Quebrando o silêncio entre eles, sussurrou, se afastando levemente do abraço.
"Muito melhor agora", era o que ele queria verdadeiramente responder, mas achou que soaria idiota demais. E na falta de palavras, resumiu-se em dizer:
— Estou bem — Carlos respondeu no mesmo sussurro que ela, a encarando nos olhos.

Podia ver os olhos dela marejados, a expressão tensa, preocupada. Ela parecia preocupada com ele. De um jeito que Carlos ainda não havia visto nela, de um jeito protetivo, cuidadoso. Um jeito que só se sente quando se tem medo de perder, um jeito que Carlos gostou de ver nela, de sentir vindo dela. Contudo, apesar daquilo, parte dele não soube como digerir a parte da informação que o dizia ser ele o motivo de toda aquela preocupação, de toda aquela angústia. Não queria que ela sentisse nada mais senão tudo o que tinha de melhor naquele mundo e Carlos, no fundo, sabia que enquanto estivesse por perto dela, havia fortes chances de ele estragar tudo outra vez, de trazer novas preocupações, novas angústias para ela.
E aquela ideia pareceu o atingir com tanta força quanto a batida que sofreu minutos antes, na pista. Carlos não se sentia suficiente e não sentia que poderia fazer alguém como ela, como , feliz como ela merecia ser. E no meio daquela incerteza, daquela insegurança, morava a frustração que o fazia constantemente afastar ela de si, como, sem querer e sem perceber, ele começou a fazer de novo.

— O que está fazendo aqui? — Carlos perguntou curioso, sereno, mas sério. Seus olhos assistiram dar dois passos para trás, se afastando levemente da maca.
— Estávamos preocupadas com você — respondeu simplesmente, honesta.
— É melhor você… ir embora, — Claramente contrariado, Carlos comentou baixo, incerto. Parte dele queria que ela ficasse, que eles conversassem. Mas parte dele não queria que ela o visse daquela forma, machucado e perdido, tão vulnerável, consciente de que ele era o causador das lágrimas que ela parecia ter derramado naquele dia.
— Carlos, eu não quero… — fungou, deixando uma lágrima cair e rapidamente a limpando em seu rosto — eu não quero ir embora. Eu… eu fiquei preocupada. Com você, com…
, por favor — Carlos praticamente suplicou, a impedindo de dizer o que ele achava que ela diria, que estava preocupada com eles dois.
— Por que está fazendo isso? Por que sempre faz isso, Carlos? — o olhou magoada, engolindo as novas lágrimas que se formavam em seus olhos.
— Isso o que? — Tentando se sentar na maca, Carlos perguntou assustado. negou com a cabeça, como se dissesse para ele não se mover e Carlos, sentindo seu corpo doer, parou no meio do caminho, apoiando-se no cotovelo do braço não machucado.
— Por que está me afastando? — perguntou novamente, mais claro dessa vez. Sua voz delicada parecia sair a cada segundo mais baixa, mais sentida. Carlos sentia seu coração espremer-se, um gosto terrível de desespero tomar conta de si conforme se dava conta do que estava fazendo, do que estava acontecendo.
— Por que eu não sou bom para você, , e você já deixou isso bem claro para mim. E se eu não posso tê-la, por que sou um completo idiota que sempre estraga tudo, é melhor que você fique longe — Sincero, deixando seus sentimentos saírem em palavras pela primeira vez desde que a conheceu, Carlos comentou cansado, a olhando — Eu não suporto a ideia de te ver assim por minha causa. Eu não quero te fazer sofrer, , não quero te encher de preocupações, não quero brigar nem discutir mais, eu não quero…
— O que você quer, Carlos? — Em êxtase por ouvir aquilo, enxugou novas lágrimas que insistiam em cair em seu rosto.

Podia sentir seu corpo tremer e sua respiração falhar, ao tempo que ouvia, enfim, Carlos começar a lhe dizer algo que fazia um sentido imenso para ela. Algo que ela gostaria de ouvir dele, que estava esperando ouvir há algum tempo já. E bastava aquela resposta, bastava Carlos dizer claramente o que ele queria para ela ser dele. o encarava com expectativa, ansiando qualquer que fosse a palavra que Carlos fosse escolher para responder a pergunta tão sincera e tão complexa que ela havia lhe feito. O que ele queria, afinal?
Mas Carlos não disse nada. E diferente do que ela queria dele, do que ela esperava dele naquele momento, do que ela precisava ter dele, assistiu Carlos desviar seu olhar dela para a porta da sala médica onde estavam. Triste, quieto, sem dizer nada, o recado pareceu bem claro para ela. Carlos queria que ela fosse embora, como já havia pedido alguns poucos minutos antes.
Carlos não queria ela. E agora sabia claramente daquilo.

— Tudo bem, se é assim que você quer… — concordou baixo com a cabeça, deixando as lágrimas tomarem conta de si, enquanto ia em direção a porta. Não deu tempo de Carlos dizer mais nada e ela sequer viu que ele chegou a se levantar da maca, apesar das dores e dos machucados, e dar alguns passos atrás dela. não viu e nem ouviu mais nada de Carlos Sainz naquele dia, exceto pelas últimas palavras que ecoaram pelo ambulatório, enquanto ela o deixava para trás, sozinho:
, por favor, não…

~ ❤ ~


Capítulo 09

Monza, Itália
Alguns dias depois


Após a pequena confusão no campo de golfe em Mônaco, Carlos foi, na manhã seguinte, direto para Monza, onde seria a primeira corrida após as férias de verão. O piloto resolveu focar na corrida e dividiu seus dias em treinos na academia, simulador, corridas matinais e passava a maior parte do tempo sozinho, tentando colocar em ordem tudo o que havia acontecido nos últimos dias, seus pensamentos e seus sentimentos. Estava evitando até mesmo sua equipe, que já havia percebido a mudança de humor do piloto, sempre bufando, mal humorado e bravo durante aqueles dias. Carlos Oñoro, seu primo e empresário, soube um pouco do que havia acontecido, acompanhando as movimentações de seu primo através da mídia e até tentou conversar com o espanhol, durante um almoço, mas, rapidamente, foi cortado pelo piloto, indisposto em falar sobre aquilo.
Mesmo que Carlos se esforçasse e, apesar de querer esquecer de tudo, deixar para trás, era impossível não se lembrar do olhar gélido da modelo sobre si, quando soltou aquela maldita frase, que o fazia se arrepender amargamente desde então. Sua válvula de escape estava sendo aqueles dias, sem ter que ver a modelo ou pensar em como reagir a ela, sem esperar por novas brigas e discussões. Apesar de também não estar muito próximo de seus amigos, envergonhado da discussão que causou com eles, e entre eles, no clube de golfe, Carlos tinha visto algumas trocas de mensagens nos grupos e, por eles, soube que, por sorte, não estaria em Monza naquele final de semana. Ele poderia correr tranquilamente.
Para , por sua vez, também não teve dias nada fáceis. Depois do clube de golfe, voltou para a casa de Daniel e, no primeiro horário possível do dia seguinte, estava em um avião, fugindo para casa, em Milão. A modelo resolveu se isolar das redes sociais por algum tempo, evitando qualquer contato com a mídia, fugindo de jornalistas, das teorias dos fãs e dos questionamentos dos pais. Aproveitou sua própria companhia, visitou alguns dos lugares que mais amava pela cidade, fez compras e desfrutou de seus dias tentando relaxar e tirar alguma coisa positiva de toda aquela situação.
Conversou rapidamente com as amigas ao longo dos dias, sempre evitando qualquer menção ao piloto espanhol e, pelo que soube, parecia que nem tinha notícias dele. estava tão furiosa que havia simplesmente o excluído de sua vida e estava se esforçando em ignorar qualquer interação com ele, por menos que pudesse ser. Sentia-se usada, de certa forma, desprezada e, principalmente, decepcionada. sentia como se não tivesse passado de mais uma em sua lista de modelos, interesseiras, fúteis e irritantes.
Os planos da modelo, contudo, foram inesperadamente interrompidos quando, sem avisar, e Luisa bateram em sua porta, no sábado à tarde. Naqueles últimos dias, a empresária havia convidado a modelo portuguesa para umas fotos de teste, pensando em contratar Luisa como o novo rosto de sua nova linha de moda praia. Tinha uma beleza bastante natural, limpa, leve e com um ar que combinava perfeitamente com as novas peças que estava desenvolvendo para o verão seguinte. Como tinha um ateliê em Milão, e Luisa usaram a costa da Croácia, país vizinho, para fazer as fotos de teste, já com as primeiras versões das peças da Hermann e, em seguida, voltaram para a Itália, para um shooting.
e Luisa passaram a semana inteira juntas, trabalhando, e no final daquela sexta-feira decidiram visitar para, quem sabe, tirá-la de casa um pouco e se divertir. As duas sabiam que a modelo tinha se enfiado em uma espécie de fossa naqueles dias, estava mal e evitando contatos com o grupo, sobretudo com os meninos. Por isso, elas decidiram que aquela noite seria a noite delas e fariam de tudo para que pudesse se divertir um pouco, sem preocupações, tirar o peso dos acontecimento de suas costas. E, no dia seguinte, o plano era tentar, enfim, arrastar ela para a corrida. Como Milão era muito próxima de Monza e a corrida seria no período da tarde, poderiam ir tranquilamente para o circuito, encontrar o restante do grupo, e assistir o recomeço da temporada.

— SURPRESA! — As duas amigas gritaram juntas, assim que abriu a porta do apartamento, estranhando ter alguém batendo em sua porta, aquelas horas do dia.
— MEU DEUS!? O que estão fazendo aqui? — perguntou curiosa, sentindo as amigas a abraçarem juntas, rindo em seguida.
— A gente vem até aqui te tirar dessa fossa e é assim que somos recebidas? — Entrando no apartamento da amiga, com uma mochila nas costas, resmungou.
— É, amiga, mais ânimo porque hoje à noite é nossa! — Dando pequenos pulinhos para dentro, atrás de , Luisa dizia animada.
— Desculpe, meninas. Eu amei que vieram de surpresa assim, do nada, — fechou a porta e voltou-se para dentro, jogando-se novamente no sofá, onde assistia a terceira comédia romântica clichê do dia, no Netflix — mas eu ainda não entendi.
— Qual parte? A que suas melhores amigas vieram te visitar e te tirar do fundo do poço ou a que nós vamos sair hoje à noite ? — riu e se jogou no sofá, junto com Luisa, uma de cada lado de .
— As duas…? — Receosa, a olhou, rindo.
— Ai amiga, estávamos preocupadas com você. — Luisa confessou, enquanto deitava a cabeça no ombro da modelo e pegava a pipoca que estava em cima da mesinha de centro da sala — Viemos te animar e te levar para uma balada.
— Ah, não, hoje não meninas — suspirou cansada — Se quiserem ficar aqui e assistir outros filmes comigo, são muito bem-vindas, mas eu não vou sair hoje e, muito menos, ir para uma balada.
— Desculpe te frustrar, mas você vai sim — respondeu, puxando a pipoca do colo de Luisa que, protestando, puxou o pote de volta para si:
— Ei, sua folgada!
— Ah, , por favor — tentava apelar para a amiga, fazendo um biquinho e se afundando no sofá.
— Sem essa, , hoje nós três vamos sair e não tem conversa — respondia assertiva, vendo Luisa concordar com a cabeça enquanto mastigava — Por isso, pode se levantar e começar a se arrumar, porque vamos sair em uma hora. Eu e Lu vamos nos arrumar aqui também.
— Isso mesmo, eu ganhei um vestido ma-ra-vi-lho-so da e eu quero usar ele hoje mesmo — Luisa fez uma dancinha animada, lembrando-se da amiga a deixando escolher o que ela quisesse da loja de Milão.
— Ela está te usando para promover a marca dela — Brincando, riu para Luisa.
— Se for para ser usada assim, eu não me importo — Luisa deu de ombros, tirando risadas das amigas — Pode até me usar mais.
— Tudo bem, então, não use o vestido que eu te trouxe de presente hoje, — Fazendo manha, fingiu nem ligar, abrindo sua mochila. De dentro dela, ela tirou uma sacola verde escura de tecido, com o nome de sua marca estampada nela.
— Você está me comprando, Hermann? — a olhou boquiaberta e, no segundo seguinte, pegou a sacola das mãos da amiga, a abrindo rapidamente — Porque se sim, eu me vendo para você.
— Eu disse que ia funcionar — olhou Luisa, que riu concordando.

tirou o vestido de dentro da sacola, delicadamente, sorrindo feliz para a peça. a tinha dado um vestido preto clássico, de sua coleção atual. Ele não tinha alças e era tomara que caia, mas tinha mangas longas, bem moderno e diferente. Em um tecido fino e com caimento mais agarrado ao corpo, tinha um decote amplo, que começava no busto. rapidamente combinou ele, em sua mente, com uma sandália que tinha comprado naquela semana e, por um segundo, se sentiu animada em sair para usá-lo.

— É lindo, , obrigada — sorriu para ela, abraçando o vestido.
— Tudo pelas minhas amigas — respondeu carinhosa, sendo abraçada pelas duas, enquanto riam.
— Vai, vamos se arrumar, então — Luisa se levantou em um pulo, puxando as duas amigas consigo.
— Eu não acredito que vocês vão me arrastar para essa festa — negou com a cabeça, acompanhando as meninas até o seu quarto — E o namorado de vocês? Por que não estão com eles?
— Porque, como eu te disse, a noite é nossa — a encarou, colocando sua mochila em cima da cama da amiga.
— E nós não nascemos grudadas com eles, amiga. Eles estão cheios de compromissos com o retorno da temporada e aguentam as saudades, até porque amanhã nós três estaremos lá, com eles — Luisa completou e a olhou séria.
— Como é que é? — Olhando curiosa para as duas, meio desconfiada, perguntou.
— Bom, a gente não ia falar agora, mas sim, amanhã nós três iremos para Monza, assistir a corrida — deu de ombros, se levantando e, com seu vestido em mãos, foi para o closet da amiga, se trocar em frente ao espelho.
— Ah, mas eu não vou mesmo cortou o assunto, seca.
— Vai sim e não tem desculpa — respondeu de dentro do cômodo.
— Por que, ? Eu não estou a fim de ver o Sainz — respondeu honesta, suspirando.
— Porque vocês dois precisam conversar, precisam se ver e tentar resolver isso de uma vez por todas — respondeu, se apoiando no batente da porta. Já estava usando o seu vestido branco, com uma pequena faixa da mesma cor, cruzando o pescoço e passando por baixo de seu braço direito, enquanto o vestido colava em seu corpo e ia até a metade da coxa, muito elegante e poderoso, assim como a mulher.
— Não tem mais nada para resolver, acho que a resposta dele na saída do golfe já respondeu tudo o que precisávamos saber — deu de ombros e Luisa riu fraco.
— Olha, eu também fiquei muito irritada com ele naquele dia — comentou, sentando-se na cama — Mas, no final, agora que tudo ficou mais calmo, eu até entendo um pouco o lado dele.
— Eu ainda estou tentando digerir, mas não posso culpá-lo — Luisa concordou, deitando na cama.
— Mas eu não consigo entender. Vocês ouviram o que ele falou? — perguntou, irritada.
— Vocês são tão teimosos — Pegando seu celular em mãos e prestando atenção na mensagem que seu namorado havia lhe mandando, Luisa murmurou.
— Você acha que o Carlos queria mesmo dizer aquilo? — a perguntou, curiosa.
— Se queria ou não, eu não sei, mas ele disse — respondeu, sentando-se novamente na cama e pegando seu aparelho celular para disfarçar o incômodo sobre aquele assunto.
— E se arrepende amargamente desde então — A empresária a respondeu, a encarando — Dá uma chance para ele, amiga.
— Por quê? Para ele agir como um babaca novamente? — desabafou.
— Não, para que você possa ouvir o que ele tem a dizer, e também falar o que você sente. Para que ele possa se desculpar e vocês, finalmente, se resolverem — Ela segurou em sua mão e Luisa a acompanhou.
— Você sabe que nossas conversas nunca acabam bem — negou com a cabeça, falando baixo, se lembrando de algumas delas — Então, por que insistir? É tudo muito intenso, cansativo e inútil no final das contas.
— É tudo muy caliente, chica, isso sim — Luisa respondeu rindo, se levantando em seguida, para se trocar.
— Vamos fazer assim: vamos nos divertir hoje e amanhã nós resolvemos qualquer coisa, pode ser? — propôs e Luisa, caminhando para o closet com seu vestido em mãos, concordava fazendo um joia no ar.
— Tudo bem, certo — Meio contrariada, sabendo que não adiantaria falar nada para elas porque não as convenceria do contrário, respondeu, depois de alguns segundos em silêncio.
— Eba, vamos começar os trabalhos, então — Luisa gritou animada de dentro do closet, colocando uma música em seu celular. O vestido da Hermann que havia ganhado era de tom marrom claro, brilhoso e curto, com um grande decote em v, uma amarra abaixo do busto e duas alças diferentes sobre o ombro, era fino, sexy e simples, assim como ela.
— Isso aí, hoje é dia de festa, baby — puxou pela mão para que se levantassem e, animadamente dançando com ela, a empurrou para ir, enfim, se arrumar.

Enquanto cada uma terminava de escolher os detalhes de seu look, fazer as maquiagens e os cabelos, a conversa fluía naturalmente sobre os últimos dias de cada uma. Como estava ausente do grupo, pode finalmente saber mais sobre a viagem de Carmen com sua família, sobre os dias de Lily na Califórnia para uma campanha da Nike, pela qual a jogadora era patrocinada e das fotos que a portuguesa fez para a nova campanha da Hermann. sentia-se feliz naquele momento, sentia falta das meninas e até dos rapazes, que haviam completado praticamente todos seus dias nos últimos meses da vida dela. Ao final, prontas, tiraram algumas fotos juntas e esperaram apenas a confirmação de que seus nomes estavam na lista de convidados, para poder sair.
Já era por volta das onze horas quando o grupo saiu da casa de . Já haviam bebido algumas taças de vinho e tentavam chamar um Uber que as levasse até o local da festa. , que era figura conhecida por ali, havia sido convidada pelo dono de uma das baladas mais famosas e luxuosas da cidade, a Gattopardo, por isso, não foi difícil para a estilista conseguir colocar os nomes das amigas na lista para aquela noite. O lugar era uma antiga igreja da região e era conhecido por ser frequentado pela elite da cidade, além de famosos e figuras públicas.
Assim que o Uber estacionou na frente do local, as três amigas saíram rapidamente do veículo, agradecendo e ignorando a atenção que chamavam, das pessoas que estavam na fila para entrar e suas câmeras de celular e de alguns fotógrafos gritavam por elas. Como convidadas, foram rapidamente direcionadas pelos seguranças para a porta de entrada, passando direto pela fila e, em menos de cinco minutos, as três amigas já se encontravam de frente para o bar, onde um barman preparava suas bebidas.

— Uau, pelo jeito isso aqui vai lotar — Luisa comentou empolgada, enquanto sentava-se com as meninas de frente para o balcão do bar.
— Eu nunca me canso desse lugar — comentou rindo, observando algumas figuras conhecidas e outras nem tanto, circulando pelo local.
— Eu adoro também — concordou sorrindo. Como era moradora local, estava sempre que podia ali, uma das baladas favoritas dela.
— Ok, a partir de agora, vocês duas serão obrigadas a me trazer aqui sempre que eu estiver na cidade — Agradecendo ao barman assim que ele entregou sua bebida, Luisa comentou.
— Combinado! — As duas responderam juntas, pegando suas bebidas.
— Nós não viemos para cá para ficar no bar, vamos para a pista meninas — Luisa se levantou em um pulo, puxando as duas amigas juntas para o centro do local.
— Vamos lá! — falou alto, devido ao som que tocava no local, seguindo atrás delas enquanto provava sua bebida.

A festa parecia não ter começado há muito tempo e o DJ iniciou uma playlist eletrônica, agitando o ambiente escuro e aconchegante. O grupo de amigas se aproximou da pista para começar a se divertir, ao tempo que as primeiras batidas de Love Tonight (Shouse ft. David Guetta) começaram a tocar e as meninas dançavam animadamente, jogando o corpo no ritmo da música. Pelos trinta minutos seguintes, o grupo ficou por ali, dançando e se divertindo enquanto Luisa, que havia deixado o copo de qualquer jeito por ali, sacou o celular para gravar e tirar fotos delas. A batida sexy e ritmada do remix de Sun Came Up (Sofi Tukker ft. John Summit & Claptone) começou a tocar quando Luisa resolveu gravar.
dançava com , as amigas rebolavam e se insinuavam para a câmera enquanto Luisa gritava empolgada, postando rapidamente em seu Instagram. Ali, na batida da música, com as luzes baixas e com o álcool agindo em suas veias, as meninas não se importavam com a fama, o status ou os olhares que recebiam das pessoas ao redor, que eventualmente a reconheciam. Só queriam se divertir juntas e, o mais importante da noite: levantar o ânimo de .
Já estavam há algumas horas no local quando e as meninas desfrutavam da terceira ou quarta dose de tequila, finalmente sentadas em um dos sofás do local, para descansar depois de algumas horas na pista de dança. mandava mensagem para Charles, que perguntava se estava tudo bem com elas, ao tempo que Luisa assistia os seus próprios stories, respondendo os comentários que o namorado fazia deles, via DM. Ao lado delas, observava o local, vendo as pessoas se divertindo até que um rosto familiar brotou em seus olhos. Ela não demorou sequer dois minutos para reconhecer Richard, um modelo e amigo de longa data.
e Richard se conheceram em uma das campanhas da Hugo Boss, que fizeram juntos e que, inclusive na ocasião, terminaram a noite dividindo a cama. Apesar de Richard ser um cara lindo e muito interessante, nada entre eles nunca passou de sexo casual e já fazia quase seis meses que não se viam, devido a agenda conturbada de ambos. Assim que o olhar da modelo encontrou o dele, o homem sorriu, vindo em sua direção.

? Que surpresa! — Richard a abraçou, assim que a modelo se levantou sorrindo, retribuindo rapidamente.
— Richard, eu não acredito que te encontrei aqui — sorriu, dando um beijo rápido em sua bochecha. Luisa e levantaram seus olhares curiosos até eles, assistindo a cena em silêncio.
— Como você está? Faz tanto tempo que não nos vemos — Ele perguntou simpático abraçando a modelo pelo ombro e, finalmente, olhando para as outras duas com ela no local.
— Estou bem, — Ela respondeu, puxando o rapaz até as outras meninas — Rich, essas são minhas amigas, e Luisa, meninas, esse é o Richard, um colega de trabalho.
— Muito prazer — Elas responderam uníssono, observando a interação esquisita do casal.
— Muito bom conhecer vocês — Ele sorriu, cumprimentando com as mãos cada uma delas e logo voltou-se para a amiga — Um colega de trabalho? Só isso? Essa doeu.
— Não começa, Richard — Dando um tapa leve no braço do rapaz, riu. e Lu se entreolharam, estranhando a conversa.
— Agora, vem cá, me conta mais sobre os últimos meses… te vi mais na mídia nesses seis meses do que em todos os anos sendo modelo — Ele brincou sentando-se ao lado dela.
— Nossa, eu tenho tanta coisa para te contar — disse empolgada e, então, ali, embalaram uma conversa animada, criando uma bolha entre eles.

e Luisa assistiam intrigadas aquela interação em silêncio. Pelo teor da conversa e pelos toques mais íntimos, pareciam ser um pouco mais do que colegas de trabalho. Aquilo estava atiçando a curiosidade das duas, mas resolveram deixar o casal conversando a sós e voltaram para o bar. Conversando animadamente sobre os namorados, elas pediram outra bebida e logo voltaram para a pista de dança. parecia feliz e segura com aquele rapaz, por isso, as duas acharam razoável não atrapalhar o casal - apesar daquela ideia, de serem um casal, incomodar as duas.
No sofá, contava mais sobre os últimos meses, como havia se aproximado do grupo de pilotos da Fórmula 1, sobre o grupo de amigas, os últimos trabalhos, o desfile com a Hermann e os outros contratos que havia fechado para os próximos meses. Em nenhum momento contou sobre Sainz, evitou tocar no nome do espanhol, mas foi impossível não se lembrar dele quando o assunto parecia mudar para seus últimos relacionamentos. Impossível não lembrar de seu toque, de seu beijo, do sorriso, do jeito que pressionava os lábios ou mexia no cabelo, das carícias que trocaram algumas semanas atrás.
Richard contava sobre seus últimos trabalhos, alguns lugares que conheceu e, então, passou a falar sobre algumas mulheres que havia ficado. ouvia tudo com atenção e interesse, vez ou outra checando com os olhos onde estavam as amigas que, ainda dançando, cantavam as músicas juntas, gargalhavam, bebiam e eventualmente dispensavam os caras que chegavam nelas.

— E você? Namorando alguém? — Richard perguntou curioso, tomando o último gole em sua cerveja.
— Não, estou livre — sabia que era o álcool agindo e o jeito rápido que respondeu aquilo deixou bem claro. Não estava mentindo, afinal. Mas, naquele momento, só tinha uma pessoa que ela queria e ele que estava há milhares de quilômetros de distância, provavelmente odiando ela.
— Então, quer dizer que eu tenho chances hoje à noite — Richard sussurrou no ouvido da modelo, que riu charmosa. O clima ali já era outro, estava ainda mais íntimo, muito próximos e sorrindo um para o outro.
— Você sabe que entre nós dois só rola amizade agora — Honesta, mexendo na camisa dele, respondeu.
— Eu sei, somos melhores assim, não é? — Richard sorriu, se lembrando daquilo como a última coisa que ela o havia dito, meses atrás. concordou com a cabeça, o encarando — Mas éramos muito bons na cama — Ele seguiu dizendo, sorrindo maroto e piscando, arrancando uma risada alta da modelo.
— Não posso negar… — passou a mão pelo rosto desenhado do modelo, pela barba rala, arrancando um suspiro dele.
— Você ama me provocar, — Richard aproximou ainda mais seu rosto do dela, sobre a mão da modelo, sentindo seu toque.
— Você me conhece tão bem — Ela sorriu e, finalmente, se levantou, olhando as duas amigas na pista — Vem, vamos dançar.
— Eu sou todo seu essa noite, gatinha — Com certa dificuldade para se levantar, já meio bêbado, Richard se deixou ser levado pela amiga até a pista de dança, onde as outras duas garotas dançavam juntas.
Girls, chamei o Richard para dançar com a gente — comentou alto, assim que se aproximou das duas e, dançando com o homem, o deixou segurar levemente sua cintura.
— Sou o homem mais sortudo dessa balada — Se achando por estar no meio das três, ele riu.
— Não se empolga não, bonitão, nós duas temos namorados — logo o cortou, lembrando-se do monegasco que, naquele horário, já estava dormindo para a corrida no dia seguinte.
— Isso aí — Luisa respondeu arrastada devido ao álcool em seu sangue, tentando ficar séria, arrancando risadas de todos.
— Isso é álcool? — perguntou assim que viu o copo quase cheio da portuguesa que, concordou com a cabeça e assistiu a amiga o puxar de sua mão, tomando o conteúdo rapidamente.
— Calma, , vai devagar — Risonho, Richard comentou, reparando em uma gota escapar e cair sobre o colo descoberto dela. Richard engoliu em seco.
— Nem vem, você não é o meu pai — Secando a boca com cuidado para não tirar o batom, deu de ombros.

Sem dizer mais nada, acompanhou as amigas pelos próximos minutos, sobre a batida da Do It To It (ACRAZE ft. Cherish). As meninas improvisaram uma dança, enquanto arrancavam risadas não só do grupo, mas das pessoas ao redor que as observavam. logo puxou o celular e, animada, sem saber bem o que estava fazendo, começou a gravar a si mesma na câmera do aplicativo, sobre a luz branca do flash que a captava dançando com as amigas e, logo depois, focava nela com Richard.
No vídeo, eles riam enquanto o homem a abraçava pela cintura e dava um cheiro em seu pescoço, seguido de um beijo. sorria charmosa e, alguns segundos depois, o vídeo finalizou. Rapidamente, ela postou. Sem legenda ou qualquer menção, apenas compartilhou o vídeo e deixou novamente o aparelho na bolsa, voltando-se para o grupo de amigos.
Já eram cinco horas da manhã quando o grupo finalmente decidiu ir embora. Despediram-se rapidamente de Richard, que prometeu visitar futuramente a amiga em sua residência e educado, antes de ir embora, ele esperou até que o grupo de mulheres estivesse seguro dentro do automóvel. Assim que as três chegaram no apartamento de , rindo e cambaleando, recebendo uma bronca do porteiro. Foram para dentro da casa, pegaram alguns salgadinhos para comer e ficaram os próximos minutos, sentadas no sofá em total silêncio, apenas apreciando a comida e se deixando ser levadas pela canseira. Perto das seis horas da manhã, já quase dormia sentada no sofá, enquanto Luisa respondia o bom dia de Lando, em seu celular, quando a voz segura de chamou a atenção delas:

— Eu vou com vocês para Monza.

~ ❤ ~


Depois de quatro semanas de férias, os pilotos já estavam de volta ao trabalho, no interior da Itália, em Monza, onde aconteceria a primeira corrida após o recesso. O circuito, que era um templo do automobilismo, todos os anos apresentava uma das corridas mais interessantes do campeonato, graças às suas retas muito longas e que permitiam aos pilotos acelerarem o máximo que podiam, criando disputas e protagonizando as ultrapassagens mais incríveis de toda a temporada. Monza ficou conhecida, nos últimos anos, como o circuito que muda a perspectiva de campeão, já que a cada ano, um piloto diferente foi o vencedor ali, criando certa expectativa e apostas sobre o novo campeão do circuito.
Aquele domingo havia amanhecido ensolarado na cidade de Monza. Carlos acordou mais cedo do que o normal e manteve-se deitado em sua cama, sem realmente querer se levantar, preguiçoso. Apesar de estar feliz com o retorno da temporada, já estava sentindo falta dos dias de férias, de não ter muita rotina. Revirando na cama por alguns minutos, Carlos decidiu pegar seu celular e, enfim, depois de alguns dias, finalmente olhar suas redes sociais. Às estava evitando totalmente, para não se deparar com mais fotos de e nem ter muito contato com os amigos mas, daquele dia em diante, ele sabia que não os conseguiria mais evitar.
Inevitavelmente os encontraria ali e inevitavelmente tinha que se desculpar com eles. Carlos teve tempo o suficiente para repensar sua postura e as coisas que havia dito, tempo sozinho em que sentiu a falta de sua turma e que entendeu que se afastar deles não era exatamente a melhor decisão. Respirando fundo, ele então abriu o Instagram. Curtiu algumas fotos dos amigos mais distantes e de sua família, respondeu algumas mensagens que havia recebido, ignorou todas as centenas de marcações de fãs e, finalmente, começou a abrir os stories dos amigos mais próximos.
O primeiro foi o de Lewis, que postava sobre sua corrida e seu treino. Depois se deparou com uma publicação no feed do colega de equipe, que, finalmente, havia assumido o namoro com , postando uma foto dos dois, do passeio de barco em Mônaco, com uma legenda fofa. Carlos sorriu sozinho e comentou, zuando o casal, como se fosse algo do destino serem o casal fofo que eram e se vangloriando por ter sido ele a apresentá-los, mil anos atrás. Ele, então, abriu os stories da melhor amiga, reparando ter alguns ali.
havia postado um vídeo de Luisa, no backstage das fotos da Hermann no dia anterior e, em seguida, horas depois, uma foto dela com Luisa e com , em uma balada. As três estavam abraçadas e riam distraidamente, mas os olhos de Carlos cravaram em apenas uma delas, apertando o dedo na tela de seu celular para que o Storie não sumisse. Foi impossível não reparar na beleza da modelo. estava simplesmente deslumbrante, parecia feliz e se divertindo. Deixando a foto ir, logo depois, havia um vídeo do local, que mostrava os drinks e, no final, e Luisa fazendo caretas.
Carlos reagiu aos stories da melhor amiga os curtindo e, querendo saber se estava tudo bem entre eles, depois do recorde de uma semana sem se falar, ele mandou uma mensagem, perguntando: "Ainda está brava comigo?" e, depois de uns corações quebrados, "me diz que você vem para Monza". Aquela ideia, contudo, acendeu algo em Carlos. Não havia nenhuma localização nos stories de e sabia que ela não estava em Monza, porque ele e Charles passaram a semana toda ali e ela não estava com ele. Mas a balada, contudo, não pareceu diferente para Carlos. E se ela estava com horas antes, em uma festa, será que iria com para Monza?
Instantaneamente, querendo responder aquela pergunta, ele foi até os stories de Luisa. Encontrou lá várias fotos do dia anterior dela, de seu almoço e alguns cenários que ele não podia concluir onde eram e, enfim, mais vídeos delas três dançando na festa, mas sem nenhum indício de onde no mundo elas estavam. Soltando o ar pesadamente, frustrado, Carlos decidiu dar o último passo possível. E, por último, criando coragem, o piloto finalmente abriu o Instagram da garota que estava afim.
No primeiro vídeo postado, gravava e Luisa tentando criar uma coreografia para uma música que Sainz não deu muita atenção, no que imaginou ser o quarto de Luisa ou de , ou de algum hotel. No próximo, as três já estavam prontas para a tal festa, com uma legenda simples: “Girl’s night out 💜” . E, no stories seguinte, apareceu algo que fez Sainz bufar, extremamente irritado.
sorria, lindamente, enquanto uma música eletrônica tocava ao fundo, porém o que havia chamado a atenção do espanhol era o tal cara atrás dela, beijando seu pescoço e dançando muito próximo dela. Assim que terminou o vídeo, ele jogou o aparelho de qualquer jeito na cama e, bufando, levantou-se rapidamente. Pelo tempo que passou, entre tomar seu café da manhã e ir treinar, Carlos ficou irritado, furioso, pensando quem caralhos era aquele cara? E por que estava tão próximo de ? Eles estavam juntos? Desde quando? Ela o estava enganando o tempo todo?
Eram muitas perguntas, que ele simplesmente não sabia responder. Carlos estava tão bravo que nem percebeu como descontava tudo no treino, colocando tanta intensidade nos movimentos que fazia, o tempo todo em silêncio e de cara fechada, que assustou até seu treinador. Seu primo chegou na academia do hotel em que estavam hospedados não muito tempo depois e até tentou algum contato com ele, mas foi totalmente ignorado.
Carlos logo subiu de volta para o seu quarto, para tomar um banho gelado e se arrumar para, enfim, sair em direção ao circuito. No fundo, Carlos sabia que estava irritado porque se sentiu usado por . Se ela já tinha outra pessoa em vista, a ponto de estar lá, em uma festa, tão íntima e tão próxima, compartilhando conteúdo com ele em suas redes sociais, por que se envolveu com ele? Estava levando dois casos ao mesmo tempo? Duas pessoas ao mesmo tempo? O que estava acontecendo? Carlos estava, uma vez mais, confuso, totalmente perdido naquela sensação tão familiar a ele de estar sendo deixado de lado, de não ser bom o suficiente para alguém. E estava com um pouco de ciúmes, não podia negar. Não gostou muito do que viu, da aproximação daquele rapaz, do jeito que ele encostava nela e se perguntava, a todo momento, o por que teria postado aquilo, se não fosse real.
Do outro lado do corredor no mesmo andar do hotel, Charles acordava animado. Sempre tinha gostado de correr em Monza e, como se estivesse em casa, estava confortável e confiante com o dia pela frente. Ele se esticou preguiçosamente na cama e levantou-se, pegando seu celular enquanto caminhava para a janela, abrindo as cortinas. Aparentemente teriam um dia lindo, ensolarado e, por um momento, observando a paisagem de sua janela, sentiu-se ansioso, energizado. Charles esperou os segundos que levou para que seu celular ligasse e, bastou a ele desbloqueá-lo, para às centenas de notificações começarem a brotar na tela.
Curtindo, comentando, mandando mensagens, mencionando ele em compartilhamentos e o respondendo, Charles assistiu a reação das pessoas ao stories que postou na noite anterior, a foto que compartilhou dele com , na semana que passaram na Grécia. Apesar de a internet estar cheia de conteúdos deles dois juntos, aquela era a primeira vez que um deles verdadeiramente publicava algo sobre o outro, como um casal, em sua rede social. Desde que se tornaram amigos, alguns poucos anos antes, as pessoas costumavam fazer comentários sobre eles, analisando fotos e vídeos que eventualmente apareciam deles juntos, interagindo em eventos, participando das mesmas festas, das mesmas viagens, andando ou se cumprimentando pelos paddocks.
E com o começo do relacionamento, aquilo pareceu se intensificar, apesar de nenhum deles responder perguntas sobre o outro e de nenhuma foto ou vídeo deles verdadeiramente juntos, como um casal, ter vazado até então. A coisa toda havia gerado um rumor maior quando ele postou um storie de no desfile da Hermann, com um coraçãozinho e nada mais, mas nada foi oficializado. Além de serem cuidadosos com o tema por tudo o que tinham passado até ali, Charles tinha sua vida pública bastante controlada pela Ferrari e tinha uma imagem de marca atrelada a sua imagem pessoal, portanto tinham que tomar cuidado com o que comunicavam, sobretudo sobre relacionamentos porque, a partir do momento que se tornasse público, tudo aquilo se misturaria.
Charles, contudo, já não aguentava mais aquele silêncio e queria, enfim, assumir o que tinham para que não houvesse mais rumores e nem dúvidas. Conversou com sua assessoria de relações públicas naquela semana e, com a aprovação deles, pôde passar a comunicar pontualmente sobre seu relacionamento com a Hermann. Por isso, na noite anterior, postou uma selfie que tiraram em Santorini, com ele a abraçando por cima dos ombros e dando um beijinho em sua têmpora enquanto ela ria. As reações positivas de boa parte das pessoas, que pareciam celebrar eufóricas, comentando e repostando a foto, deixou Charles bastante feliz e mexendo em seu perfil, se deparou com os stories da namorada na balada com as amigas, na noite anterior.
Estava com saudades dela, sem tê-la visto naquela semana, e vendo suas fotos, teve uma nova ideia brilhante. Já que as pessoas os estavam apoiando e pareciam verdadeiramente animadas com o novo, nem tão novo assim, casal, Charles se sentiu confiante em postar, finalmente, uma foto deles em seu feed. Escolheu uma foto que Luisa tirou deles, no iate de Daniel, em que estava deitada em seu colo enquanto eles se beijavam, e finalmente a compartilhou com seus fãs. A novidade, que talvez não fosse tão novidade assim, de que estavam mesmo namorando veio acompanhada por uma legenda carinhosa e cheia de significados, “À la maison, mon cœur et mon grand amour”, mas que jamais demonstraria o tamanho do que verdadeiramente sentiam um pelo outro.

~ ❤ ~


Três horas depois, Charles e Carlos se encontraram no saguão do hotel para saírem juntos em direção ao circuito. Charles, muito feliz e sorridente naquele dia, se surpreendeu com a cara fechada do amigo e não entendeu exatamente de onde vinha todo aquele mal humor. Ao longo da semana, se encontrando em Monza, puderam conversar minimamente sobre o que tinha acontecido e Carlos se desculpou com ele por ter agido daquela forma no clube de golfe. Tudo parecia bem entre eles e tudo parecia melhorar para Sainz, conforme os dias passavam, mas lá estava ele, outra vez com aquele humor péssimo, como se tivesse voltado à etapa zero, a uma semana atrás.
Sainz cumprimentou rapidamente o amigo e ficou em silêncio total até chegarem ao paddock. Assim que chegaram ao motorhome, contudo, querendo evitar falatórios ou perguntas sobre seu estado de espírito, o espanhol estampou um belo sorriso e, junto com Charles, começaram os trabalhos por ali. Gravações, entrevistas, conhecer alguns fãs, tirar fotos e dar autógrafos, breves treinamentos. O monegasco até tentou conversar com ele, puxando o assunto em alguns momentos que puderam ficar mais isolados, a sós, mas foi totalmente ignorado ou viu o assunto morrer, ao menos por enquanto.
Alguns quilômetros de distância dali, em Milão, e as amigas haviam acabado de acordar e decidiam se realmente iam para a corrida ou não. A ressaca, a dor de cabeça e o enjôo estavam matando cada uma delas e ficar em casa, descansando, parecia a melhor das opções. Quando finalmente se levantaram, puxando umas às outras para terem forças, elas tomaram banho, café da manhã e, depois de alguma discussão, decidiram enfim se arrumar para pegar estrada em direção ao Monza. A viagem, com cerca de trinta e cinco minutos até o circuito, foi feita por um motorista de aplicativo, já que nenhuma das três estavam em condição de dirigir no momento. Foram conversando sobre alguns acontecimentos da noite anterior, rindo e cantando a música da rádio até, finalmente, chegarem ao circuito.
Retiraram seus passes de dentro das bolsas e, com certa dificuldade, devido a aglomeração de pessoas e jornalistas no local, vindo para cima delas, finalmente conseguiram entrar no paddock. e Luisa cumprimentavam alguns conhecidos que caminhavam pelo local e foi ao encontro de Hamilton, que acenava animado para a modelo, junto com a namorada, surpresos em vê-la ali. Se cumprimentaram rapidamente e, depois de uma conversa breve, se juntou ao grupo de amigas, que estavam próximas dos boxes da Mercedes, onde Carmen e Lily estavam, conversando em uma roda.

, eu não acredito que você veio, ai que saudades! — Lily abraçou a amiga e, logo depois, Carmen fez o mesmo.
— Você não pode sumir desse jeito, sabia? — Carmen sorriu para ela, dando um tapinha leve no ombro da amiga.
— Confesso que não iria vir, se não fossem essas duas… — sorriu, apontando para e Luisa, que riram, balançando a cabeça.
— Fiquei sabendo da festinha de vocês, suas traidoras! Nem nos chamaram — Lily fez um biquinho, enquanto as três amigas a olhavam, sem graça.
— A culpa é da , que inventou de sair de última hora — Luisa apontou para a amiga, que deu de ombros, respondendo:
— Eu não tenho culpa se vocês já estavam aqui em Monza, foi pura falta de coincidência.
— Da próxima vez, vamos todas juntas, então, e sem namorados — Carmen propôs ao grupo.
— Isso aí! Eu topo — Luisa respondeu animada, sorrindo abertamente.
— Ela tem a maior animação, não é ? — comentou rindo, ajeitando seus óculos de sol.

Cercando elas, próximo de onde estavam, algumas pessoas registravam a interação do grupo, curiosas. Já esperando por aquilo, pela atenção que receberiam, , e Luisa cobriam-se em seus óculos de sol, tentando disfarçar a ressaca ainda presente. Estavam com pouca maquiagem e tentavam se esconder do sol e da gritaria, poupando suas cabeças de explodir de dor e se mantendo firmes em seus jeitos, para não transparecer nada senão a normalidade de estarem ali, em mais um dia de corrida como qualquer outro. parecia mais séria do que o normal, com os olhos correndo pelo lugar em busca de quem ela não sabia exatamente se queria ou não encontrar. parecia feliz e simpática, apesar de esconder os bocejos constantes e Luisa estava empolgada e sorridente, mesmo com as poucas horas de sono.

— Não sei como ela consegue ter esse ânimo todo, minha cabeça está ao ponto de entrar em ebulição — Massageando as têmporas enquanto era observada pelo grupo, riu.
— Vocês são muito fracas, eu aguentaria mais uma festa e outra ressaca — Luisa tomava um gole da água que Carmen lhe entregou.
— Isso se chama idade, minha amiga — respondeu, arrancando uma gargalhada do grupo de mulheres, chamando a atenção de outras pessoas ao redor.
— Tudo bem, amigas, vejo vocês mais tarde no paddock? — perguntou fofa, ajeitando o shorts do conjunto que vestia — Vou atrás do Charles.
— Ai, como esquecemos de comentar isso? — Lily puxou a amiga pela mão, a impedindo de sair de perto delas — Finalmente vocês dois se assumiram!
— Nem me fale, não estava esperando por isso — Abraçando a amiga de lado, riu tímida — Já recebi milhares de perguntas, pedidos de fotos e até de autógrafos ali na entrada, hoje.
— Bem-vinda ao mundo oficial da wag — Carmen brincou com ela, abrindo sua garrafinha de água — Nenhum GP nunca mais será o mesmo a partir de hoje.
— Aquela declaração do Charles foi tão fofa, amiga — Luisa juntou as mãos, apaixonada pelo casal de amigos. Ao lado dela, concordou com a cabeça.
— Nós nem conversamos sobre isso, na verdade, e ele divulgou, do nada — contou, surpresa, mexendo na meia dúzia de cartões de acessos pendurados em seu pescoço — Não sei se dou um beijo ou se bato nele.
— Ah, para com isso, já estava na hora — Lily deu de ombros, soltando a amiga — Vocês não acham, meninas?
— Sim, agora, oficialmente a Sra. Leclerc — Carmen riu com as amigas.
— Está louca? Espero que esse passo demore um pouco para acontecer — A empresária riu com elas.
— Anda logo, vai lá ver ele antes que seja tarde e vocês não tenham tempo antes da corrida — empurrou levemente a amiga, mas logo foi puxada por ela, pelo braço.
— Você não escapa, não. Você vem comigo — Mandando beijos de longe para o grupo, saiu rapidamente com , obrigada, em direção ao motorhome da Ferrari.

não enfrentou dificuldade alguma para entrar no local. Antes já tinha a circulação livres pelas áreas da Ferrari, por quase ser parte da família de Sainz mas, agora, oficialmente namorada do piloto monegasco, sua entrada era mais do que autorizada e bem-vinda ao recinto. Por onde passava as pessoas a olhavam, sorriam e a cumprimentavam, reparando que ela não estava sozinha. , por sua vez, recebia alguns olhares curiosos por parte dos funcionários, que cochichavam discretamente e se atreviam, vez ou outra, a gravar a passagem delas por perto deles. Não era novidade para ninguém ali, de acordo com os rumores, que ela e Carlos tinham algo. Todos estavam por dentro das fofocas do momento.
O que era novidade, contudo, era o fato de ela estar ali depois da última declaração pública dele. Tinham terminado e tinham voltado? O que tinha acontecido? As pessoas, em geral, acreditavam que eles dois nem estavam mais juntos ou sequer se falavam mais depois do ocorrido, mas a surpresa foi real quando ela passou pelas portas, ao lado da empresária. As amigas foram guiadas para o andar de cima, onde Charles descansava em seu quarto, antes do começo da corrida.
Como parte de um ritual pessoal dele, o piloto gostava de aproveitar aqueles momentos para ficar em silêncio total, apenas focando-se em si mesmo, repensando as estratégias, tentando conter suas emoções. Eventualmente conversava com a família, mas, daquela vez, nenhum deles pode estar ali - sua mãe estava com Arthur em outro GP e Lorenzo tinha algumas questões pendentes do trabalho para resolver, não chegaria a tempo. As duas amigas caminharam tranquilas até o pequeno cômodo e, chegando nele, apressou-se em passar na frente da amiga, dando duas batidas na porta, a abrindo logo em seguida, assim que ouviu Charles murmurar que podiam entrar, lá de dentro.

— Presente para você — comentou animada, entrando no quarto do piloto.

Charles estava sentado em uma poltrona, usando o uniforme da Ferrari e subiu seu olhar surpreso e meio confuso para a amiga, até reparar em quem saia de trás dela, rindo. estava com um shorts de linho, creme, um top branco, e levava uma camisa por cima, de tecido leve e da exata mesma cor do shorts. Entre os colares que vestia, estava o que ele havia dado de presente e ela colocava o seu óculos de sol na cabeça, puxando levemente os cabelos para cima. Charles abriu o maior sorriso que já havia visto no mundo, enquanto a amiga colocava a pequena bolsa que levava no corpo em cima do sofá mais próximo e caminhou animada até ele.
assistiu eles se abraçarem com vontade, com força, trocarem alguns beijos rápidos e, dando passos para trás, discretamente, ela deixou a amiga ali. Sem querer atrapalhá-los, querendo deixá-los a sós, ao menos alguns minutos, ela mandou beijos no ar para Charles e saiu apressada do quarto. Sempre achava muito fofo o jeito que eles se olhavam e que se cumprimentavam quando se encontravam assim, alguns dias ou semanas sem se ver. E, pensando naquilo, foi andando pelo lugar, em busca de um local onde pudesse esperar pela amiga.

— Achei que você não vinha — Com um olhar ansioso sobre a namorada, Charles colocou as duas mãos carinhosamente sobre o rosto dela, enquanto ela o abraçava pela cintura.
— Não perderia Monza por nada — Ela sorriu carinhosa para ele — Fiz uma promessa para o Sainz, uns 10 anos atrás…
— Veio pelo Carlos, então? — Ele brincou, a olhando.
— Vim por você, mas não conta para ele — Dando de ombros, recebeu um beijinho dele em resposta — Fiquei com saudades.
— Senti sua falta também — Charles sussurrou e, deixando um pouco de sua ansiedade transparecer, seguiu dizendo: — Por um momento, realmente achei que você não ia querer vir.
— Por conta do ano passado? — levantou as sobrancelhas, apertando um pouco mais o abraço nele.
— Por conta do ano passado — Ele respondeu da mesma forma que ela, rindo baixo. negou com a cabeça e, encostando a pontinha de seu nariz no dele, comentou sincera, o acalmando:
— Não aconteceu nada ano passado, Charles.
— E esse foi o problema — Ele riu triste, se lembrando — Você se lembra de como foi?
— Uma das maiores decepções da minha vida, como eu não lembraria? — Em um tom divertido, ela brincou, deixando um beijo na bochecha dele.

Não tinha como esquecer Monza, porque foi o gatilho final deles dois.
No começo de setembro de 2021, o grupo de amigos havia se encontrado para celebrar o aniversário de Sainz, em Ibiza. Passado o período mais agressivo da pandemia e com todo mundo devidamente vacinado, aquele era um dos primeiros grandes eventos que reuniria o grupo inteiro e a festa estava prometendo lembranças das quais pouquíssimos deles se lembraram no dia seguinte. Na época, e Charles já eram bastante próximos e estavam no momento em que tinham consciência do que sentiam um pelo outro, um pouco mais do que a amizade que insistiam dizer para todos ao redor, mas não podiam fazer muita coisa porque simplesmente não tinham clareza do que o outro sentia, porque resistia a aceitar o fato de ter se apaixonado por ele e porque Charles namorava.
A festa foi em um Beach Club de Ibiza, fechado exclusivamente para o aniversário de Carlos e, apesar de ser o dia dele, quando todas as atenções deveriam ser voltadas para ele e quando tudo o que ele deveria fazer era nada além de se divertir, beber o quanto quisesse e virar a noite imerso na sensação de que ele era o maior e o único no mundo, Laura conseguiu estragar tudo. Ela não gostou do fato de ter a quantidade de meninas que tinha na festa, não gostou de Carlos dançando com suas amigas e não gostou do quanto ele estava bebendo. Brigou com ele no meio da festa e sobrou para e Carmen impedirem Carlos de ir embora, enquanto Laura fazia um escândalo porque queria que ele fosse com ela. Lando, e seu jeito único de ser intrometido, conseguiu espantar Laura da festa e Carlos, irritado, resolveu descontar a ira no álcool.
Naquela altura da noite, já tinha passado uma parte da festa com Charles e com os outros amigos. Tinham bebido juntos, tirado fotos juntos, dançado juntos e a conversa foi fluindo até a confusão toda com a Laura começar e eles dois se dispersarem. Assim que ela foi embora, contudo, Lando arrastou Sainz de volta para o meio da bagunça da festa e seguiu para o píer, um pouco mais afastado, onde tinha combinado de encontrar Lily, Carmen e Luisa, recém chegada no grupo e ainda não namorada oficial de Lando. estava aérea e não reparou que as meninas ainda não estavam lá, até ver quem, na verdade, ocupava o espaço.
Charles estava sentado em um dos sofás do píer, com as duas mãos na cabeça, olhando para o mar. Tinha o celular em uma das mãos e parecia angustiado, triste, tão solitário como se não estivesse em uma festa. parou de andar no exato segundo em que o viu e, ponderando se deveria mesmo ir até ele, pensou que não faria mal algum. Ele não parecia bem.

— Parece que alguém se perdeu da festa… — comentou baixo, abraçando a si mesma para evitar que o vento subisse o vestido curto e laranja soltinho que usava.
— E que outra pessoa se perdeu junto — Charles respondeu no mesmo tom de voz, levantando seu olhar e sorrindo triste para ela, enquanto abaixava as mãos para seu colo.
— As meninas disseram que estavam vindo para cá, mas elas não… — Como um estalo em sua mente, entendendo tudo, fechou os olhos.
— Ah, claro, — Charles riu envergonhado, se dando conta de que as amigas provavelmente o viram sozinho ali e, enganando , a mandaram até ele — elas fizeram isso de novo.
— Temos amigos péssimos — riu tímida, vendo ele apontar para o lado onde estava sentado, como se a chamasse para ir até ele. caminhou até lá.
— Depende do ponto de vista — Charles riu com ela, a vendo se sentar ao seu lado.

Os amigos sempre davam um jeito de insinuar que tinha alguma coisa a mais entre eles dois e, sempre que podiam, criavam aquele tipo de situação: os deixavam a sós em festas, reservavam assentos juntos em aviões quando viajavam, os colocavam como dupla no golfe, faziam eles se sentar frente a frente na mesa, quando iam jantar ou em barzinhos. Era sempre a mesma história. E sempre o mesmo sentimento frustrante, de não poder, de fato, acontecer nada, para eles dois.

— Pelo menos não nos deixaram sem carona dessa vez — deu de ombros, se lembrando da vez que deixaram eles dois para trás de propósito, para que pudessem ir embora de uma festa juntos.
— Eles não cansam nunca, não é? — Charles olhou para frente, ignorando o perfume que emanava dela.
— No dia que cansarem, eu vou até achar esquisito — Ela colocou às mãos aos lados das pernas, desviando seu olhar para onde ele olhava. Charles estava quieto, retraído, bem diferente do jeito animado que passou metade da festa — Aconteceu alguma coisa?
— Charlotte — Foi tudo o que ele respondeu, balançando o celular e o deixando de lado, em cima de onde estavam sentados.
— Você está bem? — Delicada, voltou a olhá-lo, de lado. Charles suspirou fundo, sem saber exatamente como responder aquilo.

Não estava bem. Há meses não estava bem, na verdade.
E sabia daquilo. Aquela não era a primeira festa que Charlotte não estava com ele, não era o primeiro evento que eles brigavam, como ela imaginou ter acontecido naquela noite, outra vez. Não era a primeira vez que via Charles daquele jeito, frustrado, triste, meio angustiado com alguma coisa que, apesar de sempre conversar com ele, não parecia claro para ela. Charles estava exausto de sempre discutir as mesmas coisas, de sempre ser mal interpretado, de esperar por algo que ele sabia, no fundo, que Charlotte não podia lhe dar.
Estava cansado de perder momentos bons, como perdia naquela noite, por problemas que ela colocava nele, por pressões que ele não tinha que ter. Estava confuso sobre o que sentia, confuso sobre seguir em um relacionamento que já não o fazia bem há algum tempo ou permanecer nele pela culpa que carregava de ter cometido o erro, no passado recente, de ter achado que tinha se apaixonado por Charlotte. Calhou que, no final das contas, ele não sentia por ela o que achava que sentia e não sabia exatamente como sair daquela situação, porque não sabia o que era real e o que era sua mente, seu coração, mais uma vez o empurrando a cometer um novo erro.
Um erro que, naquele momento, estava sentado exatamente do seu lado, parecendo preocupada e esperando por uma resposta dele à pergunta que, no fundo, ela já sabia a resposta.

— Eu não sei — Charles suspirou cabisbaixo — Estou cansado desse ciclo, sabe? Cansado de ter que justificar tudo, cansado de me sentir usado, não sei. Parece que ela está comigo porque precisa de mim para alguma coisa, não porque gosta de mim. Não sei o que acontece… — Sincero, descarregando o que estava pensando, ele seguiu dizendo baixo, olhando para frente — É como se hoje ela fosse uma pessoa totalmente diferente da que eu conheci e eu não sei mais remediar isso.
— Você sabe que não precisa sempre remediar a situação, não é? — Sentindo seu coração vibrar com a batida animada de Sad Boy, tocada por R3HAB, o DJ da noite, sorriu para ele, totalmente embalada pela letra da música — Precisa começar a dizer as coisas que sente, Charles. Não pode continuar em um relacionamento se censurando dessa forma.
— O problema é que eu não sei se eu quero que… — Charles engoliu seco, voltando seu olhar para , de lado — ela saiba o que eu realmente estou sentindo.
— Bom, esse já é um outro problema, então — Soltando uma risada baixa, desviou seu olhar do dele.
— A gente não consegue se entender mais, por mais que eu tente falar, mostrar o que eu sinto — Ele negou com a cabeça, brincando com os anéis que usava nas mãos — e cada vez que essa merda toda acontece, que a gente briga por nada, pelos mesmo motivos, isso fica mais claro para mim.
— Vocês precisam pensar no sentido que tudo isso tem. Precisam entender o que ainda faz sentido em vocês, que faz valer a pena ficarem juntos e precisam conversar. Tipo, honestamente. Cartas na mesa — refletiu alto, engolindo a tristeza em dizer aquilo. Apesar de ser apaixonada por Charles, não interferiria no relacionamento dele, de forma alguma.
— Com a Charlotte? — Ele riu amargurado, frustrado — Ela pega as minhas cartas, rasga e joga no lixo, sem eu nem terminar de colocar todas elas na mesa.

No fundo, não era aquilo que queria ouvir de , não queria que o incentivasse a consertar nada, por outro lado, queria que ela jogasse a merda toda no ventilador de uma vez por todas, que o ajudasse a terminar com aquilo de uma vez por todas. Charles queria ter dela as certezas que ele precisava ter para tomar uma decisão definitiva, corajosa. Mas ela estava ali, o incentivando a continuar com sua namorada, a entender o que acontecia e conversar.

— Essa foi uma metáfora muito ruim, você sabe, não é? — Brincando, riu com ele.
— O que eu sei é que estou, outra vez, estragando a sua festa com esse assunto que não se resolve nunca — Charles negou com a cabeça, abaixando o olhar para o chão, sem graça.

tinha sido um porto seguro para ele sobre o assunto nos últimos meses, desde que a situação toda começou a pesar. E apesar de saber que, ao menos parcialmente, a confusão toda que sentia vinha dela, sempre parecia entender o que ele sentia e sempre tinha bons conselhos para dar. Era leve e confortável conversar com ela, era seguro e tudo parecia natural. não o deixava ficar quieto ou triste por muito tempo, não conseguia não ser carinhosa e não conseguia não mudar o ânimo dele em, pelo menos, cem por cento.

— Por isso mesmo você precisa resolver isso logo, — Tentando animá-lo, sendo o mais falsamente positiva que conseguia, encostou o seu ombro no dele, brincando — para a gente parar de perder as festas e conseguir só aproveitar o tempo que temos.
— Me desculpe por descarregar isso em você — Sincero, ele olhou para ela.
— Sinto muito que você esteja passando por isso — Ela respondeu, abaixando a voz — Não era para ser dessa forma e você precisa saber disso. Merecia ser feliz, Charles, merecia sentir coisas melhores.
— Acho que posso te dar esse mesmo conselho — Fixando seu olhar no dela, ele riu tímido, a vendo rir baixo enquanto movimentava o corpo levemente no ritmo da música — Ainda está com o Vicenzo?
— Nunca estive com ele, na verdade — encolheu os ombros, se lembrando do último cara com quem teve um relacionamento mínimo, de poucos meses — Acho que estava só tentando me… — "forçar a te esquecer", era a verdade que ela queria ter dito, mas engoliu as palavras — enganar. Não estamos mais juntos, faz um tempo já.
— Fico feliz em ouvir isso, não vou mentir — Ele sorriu, desviando o olhar para o mar à frente deles, outra vez — Você deveria estar com alguém melhor, alguém tipo… — “eu”, Charles queria dizer, mas, como ela, também engoliu em seco e logo completou: — o Carlos.
— Sainz? — gargalhou alto, sendo acompanhada por ele. Charles amava quando conseguia tirar aquelas risadas dela — É sério isso?
— Na verdade, não — Ele riu junto, a olhando.

Tendo uma ideia que pareceu brilhante para ela, meio alta pelo álcool naquele momento, apontou para trás de si, onde a festa acontecia há alguns metros. De onde estavam sentados, no pier, podiam ver Carlos dançar desajeitadamente com alguns amigos, claramente bêbado. Estava com um óculos de sol, um copo cheio na mão e um sorriso feliz no rosto, como se mais nada no mundo o pudesse parar naquela noite.

— Bom, falando nele, olha só… — começou dizendo — Carlos brigou com a Laura hoje e está descontando a frustração dele daquele jeito ali. Acho que devemos fazer o mesmo e deixar os problemas para amanhã.
— Fazer o mesmo? Dançar? — Charles perguntou, surpreso, rindo em seguida.
— Sim, vamos — Se levantando em um pulo, estendeu as duas mãos para ele.
— Eu não sou bom dançando, — Manhoso, ele negou com a cabeça.
— Então sorte a nossa que ninguém está vendo — Dando de ombros e olhando ao redor, como se procurasse por alguém, ela rebateu.
— Você está vendo — Charles cruzou os braços, rindo do jeito fofo dela.
— Quem disse? — Virando-se de costas para ele, falou um pouco mais alto, para ser ouvida, dando alguns passos para frente, dançando no ritmo do final de Sad Boy. Charles soltou uma risada e, incrédulo por ela realmente estar fazendo aquilo, a encarou de costas para si por alguns segundos, tentando o encorajar a se juntar a ela.

R3HAB começava a tocar One More Dance, tirando gritos animados das pessoas a alguns bons metros ao lado do pier, na festa. Charles suspirou fundo e se levantou. Sentia a letra simples e um tanto dramática da música animada entrar dentro de sua mente, bagunçando o que já estava um caos dentro dele. E, no momento seguinte, sem saber exatamente de onde veio aquela ideia, ele se viu se aproximando de , a abraçando levemente ainda de costas, dançando com ela no ritmo animado do refrão da música.
Os dois minutos e vinte e cinco segundos mais intensos que Charles tinha vivido em anos, os dois minutos e vinte e cinco segundos que ele não queria que terminassem nunca, que ele queria gravar em sua mente para sempre. Charles acompanhava os movimentos dela, contendo seus toques, sem encostar totalmente seu corpo no dela, resistindo, segurando-se, fazendo o contrário do que sua mente e seu corpo queriam fazer naquele momento. E conforme a música passava, sua letra parecia ficar ainda mais intensa, ainda mais real e Charles só desejava que pudesse ter uma nova dança com ela naquela noite, uma nova dança que não deixasse aquele momento terminar.
Com a letra na ponta da língua, tirando de seu coração cada palavra como se fossem escritas dela para ele, se virou de frente para ele no meio da música, cantando sem sair som algum. You're in my head, you're in my head, you're in my head, I can't forget, I can't forget, just can't forget, want your romance, want your romance, want your romance, just one more dance, just one more dance, just one more dance. E conforme a música passava, e seus corpos seguiram dançando, eles foram se aproximando lentamente, sem perceber, até que tudo ao redor foi esquecido, até que se prenderam nos olhos um do outro, enquanto suas respirações se misturavam.
Charles deixou suas duas mãos caírem na cintura dela, enquanto colocava as suas em seu peito, delicadamente. Seus rostos foram se aproximando ao tempo que a música finalizava e eles seguiam dançando no ritmo, vez ou outra, descendo seus olhos para os lábios um do outro, receosos, calmos, lentos em seus movimentos. E não fosse a troca repentina de música, talvez, naquela noite, eles tivessem cometido um erro tremendo.
Seus narizes já estavam se encostando e suas respirações pareciam uma só naquele momento, se misturando, junto com a confusão do que sentiam, com os corações que estavam acelerados. Era um movimento milimétrico e a vontade que os consumia, um do outro, seria sanada, os quase dois anos que passaram se apaixonando, se deixando levar pelo o que crescia dentro deles aconteceria ali, naquele segundo. Era um movimento milimétrico, e nada mais.

— Charles, a gente não… — sussurrou a um milímetro de distância da boca dele, sem realmente saber o que fazer, sem querer acabar com o que foi o único momento que teve, daquela forma, com ele em dois anos.

Charles, contudo, parecia sequer ter ouvido o que ela havia dito. Estava completamente entregue ao momento, rendido ao cheiro doce que saia dela, a música que tocava, ao calor que emanava de seus corpos. Estava se deixando levar pelo momento que, por meses, pensou em viver e de repente, ali, daquela forma, tudo parecia ainda melhor. O barulho das ondas do mar quebrando próximas a eles, a brisa leve e quente do oceano. Aquilo era perfeito, aquele era o momento, e Charles simplesmente não pode se segurar, não quis mais se segurar.
E quando se deu conta, já estava com seus lábios grudados aos dela, em um beijo que começava, suave, calmo e que não durou mais do que um minuto.
Como se tomasse consciência do que estava fazendo, quebrou o beijo de repente e deu um passo atrás, surpresa, olhando dos lábios dele de volta para os olhos de Charles. Que porra ela estava fazendo? Aquilo estava errado em tantos sentidos, que sentiu o ar parar de entrar em seus pulmões. Charles não disse nada, parecia meio assustado. Seus olhos tomavam um novo tom e sua expressão fechou-se em claro sinal de frustração e de tristeza. fechou os olhos por um segundo, incerta, insegura e, engolindo a vontade de chorar, o olhou pela última vez naquela noite.

, eu… — Charles tentou dizer algo, mas engoliu as palavras, assim que reparou nos olhos marejados dela.
— Acho melhor a gente… — Júlia tentou sorrir e apontou para a festa, desconcertada. E sem conseguir dizer mais nada, apenas virou-se e saiu de perto dele.

E como se a merda já não tivesse sido grande o suficiente, se deparou com Pierre, na outra ponta do píer, próximo a aglomeração da festa. Ele os olhava tão confuso e surpreso quanto eles mesmos estavam e aquilo foi o suficiente para ela não se segurar mais. Deixando as lágrimas caírem em seu rosto, passou por Pierre sem sequer o encarar e saiu apressada festa adentro, tentando inutilmente segurar o choro de raiva e de culpa por ter beijado Charles, de desespero em não entender o que estava sentindo, de frustração por não poder ter feito o que gostaria, e muito, de ter feito.
Aquilo era errado e muito injusto com ela, com ele, com Charlotte. Era um absurdo.
Ela não podia ter deixado aquilo acontecer, de jeito nenhum. E, por sorte, conseguiu parar antes que o beijo pudesse virar algo mais. estava tão imersa nos próprios pensamentos que só parou de andar quando Lando se colocou na frente dela, em seu caminho.

, , , — Lando sorria e gritava o nome dela no ritmo da música. Certamente a puxaria para dançar com ele, mas só queria sair dali.
— Desculpa, Lando — Séria, ela roubou o shot de tequila que ele segurava e o tomou de uma única vez — Não deixe o Carlos fazer nenhuma merda pelo resto da noite e, se alguém perguntar, fala que ele eu fui embora porque passei mal.
— Você está passando mal? — Lando perguntou preocupado, percebendo que ela não estava bem, mas rapidamente se afastou dele — ? ! Eu posso ir embora com você…

Lando não entendeu muita coisa e ficou para trás, confuso, preocupado, chamando pela amiga, e chateado de ter perdido seu shot de tequila. Mas, alguma coisa fez sentido para ele quando, meio segundo depois dela, ele viu Charles passar por perto, indo na direção do bar. Parecia tão transtornado, cabisbaixo e frustrado quanto ela e mal encostou na bancada do bar, já pediu duas bebidas diferentes. Lando procurou algum dos amigos com os olhos e logo encontrou o olhar de Gasly, indo atrás de Charles, fazendo um sinal de "deu merda" para ele, de longe.
Se aquela noite tinha sido ridiculamente confusa para e Charles, a semana que se seguiu foi um inferno. Charles brigou com Charlotte quase todos os dias, pelos mesmos motivos de sempre, e havia sumido. Não apareceu nos eventos dos dias seguintes à festa, não celebrou mais o aniversário do melhor amigo e Charles descobriu, por acaso, que ela tinha voltado para Marbella na manhã seguinte à festa, “por motivos familiares”, de acordo com Carlos. Charles se sentia mal. Por ter beijado ela, por ter traído a namorada. Se sentia mal pelas escolhas erradas que parecia sempre fazer quando se tratava de relacionamentos e se sentia mal por não saber nem o que dizer a , apesar de querer, de precisar, vê-la ou, ao menos, conversar com ela.
E, então, Monza aconteceu.
Onze dias depois do aniversário de Carlos, e da festa que deixou Charles e desconcertados, em um limite extremo que não conseguiam sequer ver ou falar um do outro, o GP de Monza aconteceu. Por insistência de Carlos, e por tê-lo feito a promessa de que, desde 2010 quando ela não pode ir a uma corrida importante dele naquele circuito, ela nunca mais perderia uma corrida em Monza, foi assistir a corrida e fez o máximo que pode para se esconder pelo paddock, em lugares que ela tinha certeza absoluta de que não encontraria Charles de jeito algum.
Tinha cruzado com Charlotte, que parecia bastante irritada de estar ali, assim que chegou no circuito e, conversando brevemente com ela, ficou com a sensação de que ela sabia o que aconteceu, que sabia que era apaixonada pelo namorado dela e que tinha sido a pessoa com quem ele a havia traído onze dias atrás.
aproveitou a deixa de Carlos Onorio, o primo de Sainz, ter passado por perto delas e deu um jeito de se desvencilhar logo, se escondendo dentro do box de Sainz, até a corrida começar. Sabia que, mais cedo ou mais tarde naquele dia, ela encontraria com Charles, mas não estava realmente certa de como deveria reagir ao ver ele ou o que deveria fazer, falar, ainda mais se estivesse com Charlotte junto. Não tinha o que dizer. Ficou tudo tão explícito naquela noite, tão claro, sem precisar de palavra alguma.
Ela queria só ver a corrida e ir embora, e era sobre aquele plano que ela pensava, enquanto via a competição montar o pódio com Daniel, Lando e Bottas, respectivamente, e quando Lily e Carmen a puxaram para fora do box de Sainz, para o meio da multidão que se formava ali, assim que a corrida terminou.
Charles desceu do carro frustrado, se pesou e, depois de cumprimentar algumas pessoas da equipe, que se desculpavam e sentiam muito por ele ter perdido o pódio por tão pouco, ele seguiu caminhando apressado, em direção ao motorhome. Estava feliz pelos amigos, feliz em ter um pódio cheio deles e o quarto lugar, afinal, não era tão ruim assim. Mas, no fundo, ele queria estar entre os três melhores do dia, celebrando, orgulhando sua equipe, sua família e seus fãs.
Charles seguia distribuindo sorrisos tristes, caminhando pelo local, até encontrar-se com Charlotte, pelo caminho. Silenciosa, a namorada o abraçou apertado, tentando consolá-lo de alguma forma, mas Charles sequer se lembrava de sentir o que acontecia ali. Seus olhos caíram sobre a mulher alguns bons passos atrás da namorada, em meio a multidão de pessoas, rindo animada com as amigas, até que, enfim, ela o encarou de volta.
Pelo minuto que se passou, como se mais nada estivesse acontecendo ao redor deles, Charles viu sorrir triste para ele e concordar com a cabeça, levemente. Como se dissesse que sentia muito pela corrida, que estava tudo bem, que nada era para ser daquela forma. Nada. Como se pudesse sentir a dor que ela sentia em seu coração, em ver ele com outra pessoa, não com ela.
E, por um momento, enquanto se deixava ser abraçado, nos braços da pessoa que não queria, ele podia ver em o que ele queria ver, quem ele queria sentir, quem deveria estar com ele naquele segundo. Charles sorriu de volta para ela, igualmente triste e logo a viu ter sua atenção desviada dele para Carlos, que se aproximava animado dela, a tirando do chão em um abraço apertado.
Charles terminou com Charlotte no dia seguinte.
E pelos seis meses que se passaram, não viu mais , convicto de que ele a havia magoado em Monza, aparecendo com Charlotte depois de tê-la beijado no aniversário de Carlos. Não a viu mais até o aniversário de Alex acontecer.

— Lembro do jeito que você me olhou — quebrou o longo silêncio entre eles, cruzando os dedos nas costas de Charles, ainda o abraçando pela cintura — Fiquei seis meses atormentada pela cena.
— Eu nem dormi naquelas noites, na semana depois do aniversário do Carlos — Rindo do comentário dela, Charles confessou também — Foi horrível. Horrível a sensação de estar com uma pessoa e ser apaixonado por outra. Tudo tão errado.
— Mas esse ano vamos fazer o certo — Sorrindo, ela comentou.
— Já estamos fazendo o certo — Ele concordou com a cabeça — Estamos no lugar onde tudo começou e eu vou ganhar hoje, — Ele sorriu feliz, os olhos brilhando em confiança, em empolgação, enquanto suas mãos carinhosamente afagavam o rosto dela — vou descer daquele carro e fazer o que eu queria ter feito um ano atrás.
— Que é…? — Rindo do jeitinho fofo dele em dizer aquilo, levantou levemente o queixo, aproximando seu rosto do dele.
— Te beijar — Charles sussurrou, aproximando suas bocas — e fazer o mundo inteiro assistir.

riu levemente, deixando-se ser beijada pelo namorado, deixando a sensação boa da certeza de que estava no lugar certo, dessa vez, tomar conta de si. Não podia estar mais feliz, afinal. E como se cada dia angustiante esperando por aquele dia glorioso chegar tivesse valido a espera, a pena, retribuiu o beijo, sentindo-se a pessoa mais sortuda do mundo.
Logo após deixar com Charles, acabou indo em direção a varanda, onde podia ter uma visão privilegiada de todo o Paddock. Como faltavam poucas horas para o início da corrida, o local ainda estava relativamente vazio e não imaginava encontrar ninguém por ali, senão os funcionários. Não sabia exatamente como aquela área era organizada e nem se Carlos também ficava por ali, como Charles estava, mas, no fundo, ela torcia para que não. Se estava, por outro lado, imaginava que ele também estaria preso em seu ritual de concentração, como o amigo, e ela preferiu não procurá-lo.
Por isso, ficou sentada na pequena mesa que havia ali, esperando pela amiga, e logo se serviu com um café, pedindo para um dos funcionários. estava tão distraída, ora no celular, ora com o movimento do local, que nem percebeu uma movimentação ligeira bem a sua frente.

— O que está fazendo aqui? — Carlos perguntou, com seu sotaque carregado, assustando , que deu um pulinho, colocando a mão no peito.
— Que susto! — o encarou, sorrindo cínica, reparando, enfim, em quem estava a encarando, em pé, na sua frente — Você poderia ter sido mais delicado ao chegar aqui.
— Você não respondeu a minha pergunta — Sem se importar muito com a frase da modelo, ele continuou questionando, olhando atentamente para ela.
veio atrás do Charles e me arrastou para cá — Ela resumiu, dando de ombros e tomando um gole de seu café.

Carlos engoliu as palavras, sem saber o que deveria dizer. Era claro que a tinha trazido até ali, por que ele ainda se surpreendia? Não deveria. Mas ficou assustado quando viu a modelo ali, tão surpreso que, quando percebeu o que fazia, já estava perto dela, a questionando. De todas as pessoas que ele esperava encontrar naquele dia, , definitivamente, não era uma delas, não podia ser uma delas. Por um momento, enquanto passou a manhã fuçando as redes sociais das amigas, achou que ela estava bem longe de Monza, o que diabos ela fazia ali? Mesmo que estivesse acompanhando , não fazia sentido ela ter ido, fazia?
Carlos fechou os olhos por um segundo exato, tentando afastar de sua mente a ideia, talvez o desejo, de que ela só insistia em ir às corridas para vê-lo. Depois do que ele viu, da publicação dela na noite anterior, aquela ideia parecia um grande absurdo. era a última pessoa que Carlos precisava ver naquele dia, bem no reinício da temporada, porque ele sabia que, com ela ali, na sua frente, tudo mudaria, o jogo recomeçaria. Ele sequer conseguiria raciocinar direito e, daquele segundo em diante, tudo passaria a ser um caos em sua mente, em seu coração. Não estava pronto para vê-la, não queria que ela estivesse ali.
E não bastasse tudo o que sentia, ele ainda estava furioso. Irritado porque simplesmente não conseguia esquecer aquele vídeo, dela sorrindo, daquele homem a abraçando por trás e a beijando no pescoço. O que tinha acontecido entre eles? Tinha levado o cara junto com ela? Era só o que lhe faltava. Carlos desejou por um segundo que ela fosse embora, que nunca mais a visse e esquecesse que um dia conheceu Voitenko. Mas ela estava ali, linda, sorrindo fraco, distraída e tudo o que ele queria era beijá-la, mostrar que era um cara muito melhor para ela do que aquele otário do vídeo, a fazer implorar por ele do mesmo jeito que ele implorava, silenciosamente, por ela.
Para , por sua vez, que sustentava o olhar sério e duro sobre o homem em pé, a encarando, encontrar Carlos ali foi muito diferente do que ela imaginava. O caos de sua mente pareceu ter sido bloqueado e bastava sentir que ele estava ali, por perto, com ela, para que ela fosse tomada por uma sensação estranha de paz. Carlos estava ali, afinal. Depois de tudo, ele ainda estava ali. Podia ter se aproveitado do fato de ela não tê-lo visto e passar longe, não falar com ela, mas ele estava ali. Fazendo questão de ser visto, fazendo questão de que ela respondesse ao desespero de suas perguntas.
Estava bravo, de fato. Mas estava igualmente bonito e sexy, usando o uniforme da Scuderia, e ela não conseguia se concentrar em mais nada senão no vermelho vibrante de sua roupa, a exata mesmo cor do desejo que sentia por ele. sentia falta dele. Desde o último final de semana em Mônaco, esperava que ele a procurasse, que pedisse desculpas ou que conversassem sobre o que tinha acontecido, mas não foi isso que aconteceu e estava confusa. O que mais havia acontecido para ele chegar nela daquela forma? O que mais poderia ter feito para magoá-lo? Por que não podiam se resolver, de uma vez por todas?

— Você não deveria estar aqui, , é melhor você ir para o paddock club — Carlos disse seco, quebrando o breve silêncio. Seu olhar, mesmo que direcionado para a modelo, estava perdido, gélido e parecia não estar realmente a vendo ali.
— Você não é o dono daqui, Sainz — o respondeu, séria. Pareciam duas crianças disputando quem ganharia aquela queda de braço — Ou comprou isso também?
— Eu sou um dos pilotos e posso dizer quem deve ou não estar aqui — Carlos cruzou os braços, tentando não se abalar com a pergunta cínica que ela lhe fez.
— Não pode não — se levantou e, dando um passo na direção dele, também cruzou os braços.
— Por que você tem que complicar tudo? — Carlos a olhou sério.
— Eu? É sério? — riu debochada — Foi você que chegou aqui feito um ogro e que, na verdade, vem agindo como um completo idiota desde quando nos conhecemos, que me usou o tempo todo e eu cai como burra.
— Do que você está falando? — Carlos franziu a testa, sem realmente entender o que ela quis dizer com aquilo.
— Do seu plano ridículo de ficar comigo só para ter mais uma modelo, fútil, mimada e pegajosa na sua lista — apontou para ele, acusatória — E depois me descartou, como o playboy metido a besta que você é.
— É isso mesmo o que você acha? — Sem entender o rumo daquela conversa, Carlos riu incrédulo.
— Acho que já ficou bem claro — abaixou o tom de voz, enfim, suspirando ao final. Alguns funcionários que passavam pelo local os encaravam, tentando entender o que acontecia. E lá estavam eles, outra vez, fodendo tudo em público.
— Não se faça de inocente, , se acha que eu te usei, você não ficou muito atrás, não é? — Carlos a questionou baixo, dando um passo mais perto dela, e a olhou curiosa — Achou legal ter um piloto na sua listinha e como não fomos para frente, você fugiu por aí atrás de outro idiota qualquer só para te satisfazer.
— Do que você está falando? — Estridente, perguntou chocada.
— Da sua infantilidade, para chamar minha atenção ou para me magoar e, quer saber a verdade? — Carlos respondeu, dando de ombros. Sua voz parecia mais grave, sentida, seus olhos brilhavam — Conseguiu. Você conseguiu, .
— Ah meu Deus, agora eu entendi — passou a mão direita na testa e riu sozinha — Você acha mesmo que eu ter postado um vídeo com um amigo ontem foi para chamar a sua atenção? Você é patético, Sainz.
— Você não se parece nada com aquela mulher que passou horas maravilhosas comigo em Marbella — Carlos confessou sincero, negando com a cabeça.
— Tem razão! E nem você se parece com o homem pelo qual eu me apaixonei.

só percebeu o que havia dito quando as palavras ecoaram em alto e bom som pelo local. Carlos arregalou os olhos e, sustentando seu olhar no dela, a vendo respirar fundo por um instante, ele logo a assistiu pegar sua bolsa e sair correndo em direção a saída do local. parecia desconcertada, seus olhos estavam confusos e cheios de lágrimas, mas ela sequer deu tempo de o piloto fazer ou falar qualquer coisa.
Carlos sentiu-se o pior homem do mundo naquele momento. Depois que ela saiu, ele bufou irritado, enquanto mexia freneticamente no cabelo, sem saber o que fazer ou como agir depois da confissão da modelo. estava mesmo apaixonada por ele? Ela havia acabado de confessar aquilo para ele? Com sua mente o sabotando, Carlos sentia-se confuso, perdido, solitário. Ficou alguns minutos parado ali, completamente imerso no que sentia e sem saber o que fazer. Deveria ir atrás de ? E diria o que? Que também estava apaixonado por ela e só não estava sabendo lidar com o sentimento? O quão babaca aquilo poderia soar? Ela acreditaria nele, depois de tudo? E se…

— O que aconteceu? — A voz baixa e carinhosa de despertou a atenção de Carlos, que, enfim, cortou seu olhar de onde tinha ido embora para a amiga.

Apesar de tê-lo respondido mais cedo, dizendo que não estava mais brava com ele, e de terem trocado meia dúzia de mensagens desde então, aquela era a primeira vez que viam desde Mónaco, depois da semana silenciosa e estranha que passaram distantes. Aquilo não era comum para eles dois. E sabia que tinha alguma coisa errada com Carlos, sabia que ele estava se isolando de propósito com medo de enfrentar o que estava sentindo. Ela sabia.
não tinha visto o que tinha acontecido. Saiu casualmente do quarto do namorado e logo deu de cara com Carlos parado ali, olhando impassível e sério para o nada, silencioso, magoado com alguma coisa. Carlos deixou seus olhos caírem na amiga e, como se sentisse um peso sair de suas costas, como se estivesse acabado de chegar em casa, onde não tinha que se segurar ou esconder qualquer coisa, ele deixou-se ser abraçado por ela, em um rápido silêncio.

— Eu estraguei tudo — Carlos murmurou para , que o abraçava pelos ombros.
— Estragou o que, mi vida? — Ela perguntou amorosamente, preocupada.
— Foi tudo o que ele respondeu, quebrando o abraço. Seus olhos pareciam preocupados, tristes. Mas sequer teve a chance de continuar aquela conversa, porque uma das assistentes da Ferrari logo os cortaram:
— Com licença, Carlos? Vamos lá? — Ela sugeriu delicada e, sem dizer mais nada, Sainz apenas fechou o punho e saiu atrás dela, em direção aos boxes para o início da corrida.
— Carlos, espera… — tentou ir atrás do rapaz, mas o espanhol foi mais rápido e se enfiou no meio das pessoas, perdendo-se vista, sem dar a chance para que ela se aproximasse. Não havia tempo para conversas mais. Ele tinha que se concentrar e tinha que deixar tudo aquilo para mais tarde. Era aquilo, fim.
Alguns passos atrás dela, Charles se aproximou da namorada, a abraçando pelas costas e beijando sua têmpora, enquanto reparava no olhar sério da namorada.

— O que houve? — Ele perguntou, puxando ela pela mão em direção a saída do motorhome.
— Acho que o Carlos e a brigaram — o respondeu, pensando no que poderia ter acontecido. Fez questão que a amiga fosse até lá para que eles pudessem conversar e parecia ser justamente o contrário o que havia acontecido. De novo.
— Agora me conte uma novidade, ma petite — Charles brincou rindo, enquanto os dois caminhavam em direção aos boxes. No caminho, Charles tirava os anéis e as pulseiras que vestia e os dava para ela, que colocava em si mesma, para não perder.
— Dessa vez é diferente, estou sentindo — fez um biquinho pensativo e logo negou com a cabeça, tentando afastar os pensamentos de si e logo parou de andar, virando-se rapidamente de frente para Charles — Mas não se preocupe com isso, temos uma corrida para vencer agora.
— Te vejo do pódio — Charles afirmou sorrindo, confiante, puxando a namorada para um beijo rápido, que era capturado pelas câmeras que acompanhavam Charles por onde ele caminhava.
Bonne chance, ma vie. E tome cuidado, por favor! — O beijando rapidamente de volta, desejou e, trocando um último olhar com ele, correu de volta para o paddock club.

subiu em direção a área VIP e encontrou as amigas em um canto, sentadas nos sofás do local. Nenhuma delas parecia estar com uma cara muito boa, estavam silenciosas, em volta de , que tomava uma água e parecia perdida. O local estava lotado. Diversos convidados, familiares, famosos e pessoas influentes caminhavam, riam e bebiam, enquanto a corrida ainda não havia começado.
Ainda sim, apesar disso, ninguém se preocupou com o grupo que estava ali, mais isolado, parecendo fechado a qualquer contato de fora, senão elas mesmas. Lily estava sentada sobre a mesinha do centro, de frente para , ao tempo que Luisa e Carmen estavam cada uma de um lado da modelo, a abraçando de lado, enquanto a modelo suspirava e tomava outro gole de sua água.

— O que houve? — perguntou séria assim que se aproximou delas, sentando-se ao lado da Lily.
— Ela ainda não nos contou — Lily olhou para a empresária.
— Foi o Carlos, não foi? — perguntou diretamente para , impassível e bem direta, pois sabia que algo havia acontecido no motorhome.
— Eu sabia que eu não deveria ter vindo, maldita hora em que eu deixei que vocês me convencessem — suspirou triste, arrependida.

Estava cansada de todo aquele drama e sua mente insistia em repassar a nova briga que teve com o piloto. Carlos tinha mesmo dito que ela o havia magoado? Se estava se sentindo daquela forma e usado por ela, era porque sentia algo a mais por ela? Porque esperava algo diferente dela? O que ela tinha feito? queria explodir, queria cavar um buraco ali mesmo e de enfiar dentro, queria voltar no tempo e fazer tudo diferente, queria… tanta coisa e nada, ao mesmo tempo.

— O que ele fez? — Luisa perguntou, curiosa.
— Nasceu, não está bom para você? — perguntou sarcástica, mas logo voltou atrás, ao ver o olhar assustado da amiga — Me desculpe, não quis descontar em você.
— Tudo bem, amiga — Luisa apoiou a cabeça sobre a dela, rindo baixinho.
— Nós discutimos, de novo, e eu disse que estava apaixonada por ele — contou baixo e suspirou, observando os olhares das amigas, que pareciam chocados.
— Você disse o que? — Lily perguntou em um sussurro, vendo apenas concordar com a cabeça em resposta, sem coragem de dizer aquilo em voz alta outra vez. Ao seu lado, parecia encaixar as peças do quebra-cabeça, Carlos disse que havia estragado tudo… o que ele havia respondido para ela?
— Eu não acredito! — Carmen murmurou surpresa.
— Pois acreditem, meninas — arrumou os cabelos, frustrada — Mas foi no final da briga e eu saí correndo logo depois.
— O que ele te disse? — Preocupada, perguntou baixo. Lily dava uma olhada discreta ao redor, para garantir que ninguém as estava ouvindo ou gravando.
— Ele foi um idiota! Falou que eu postei aquele vídeo com o Richard ontem só para chamar a atenção dele, que eu nem deveria estar ali no motorhome, tentou me expulsar — contou irritada, se lembrando das palavras dele.
— Meu Deus, o que está acontecendo com o Sainz? — Brava, Carmen perguntou retórica. Carlos sempre foi meio nervosinho mesmo, não era novidade, mas estava passando dos limites nos últimos tempos.
— Ele está com ciúmes, eu acho. E está magoado com tudo isso, falou delicada, atraindo o olhar da amiga à sua frente — Charles disse que ele ficou sério o dia todo, que pegou mais pesado do que o normal na academia, não conversou com quase ninguém hoje.
— Você sabe que ele também está apaixonado por você, não sabe? — Lily questionou , pausadamente, como se escolhesse bem as palavras.
— Jeito estranho de confessar isso, não acha? — riu debochada.
— Jeito de quem deu com a cara na parede da última vez que confessou estar apaixonado por alguém — Defendendo o ponto de vista do amigo, comentou sorrindo, colocando uma mão no joelho de que, revirando os olhos, chegou a abrir a boca para dizer algo, mas logo foi cortada pela amiga, que seguiu dizendo: — Não estou defendendo ele, eu só acho que as coisas estão ficando mais intensas agora, e mais difíceis, porque tudo está ficando mais claro para vocês dois.
— E está se misturando no monte de merdas mentirosas que vocês contaram um pro outro para se proteger da verdade — Lily completou a amiga.
— E o Carlos está vendo acontecer de novo o que ele viu no passado e que ele jurou para si mesmo que nunca mais aconteceria com ele — Sem citar nomes, discreta, emendou.
— Carlos está com medo de entrar nisso de uma vez por todas, é nítido — Carmen concordou com as amigas — Parece que quer criar cena todas as vezes para se impedir de sentir o que todo mundo já sabe que ele sente. Ele precisa se entregar, de uma vez por todas.
— As vezes, eu tenho vontade de esganar o Sainz — Luisa confessou, rindo com Carmen, que concordava com a cabeça — Como pode ser tão idiota? Parece que gosta de complicar as coisas.
— Obrigada, amiga! — sorriu, segurando a mão da outra modelo — Mas eu realmente não sei o que fazer, meninas… agora eu já disse o que disse, ele sabe da verdade. E não sei mais como agir daqui para frente…
— Você não precisa agir ou fazer qualquer coisa agora, porque a corrida já vai começar — sorriu segurando a mão da modelo, reparando na movimentação do local diminuir consideravel e rapidamente em um único sentido — Você quer ficar para assistir?
— Senão, podemos ir embora — Carmen sugeriu, vendo as outras três amigas concordarem prontamente com a cabeça.
— Já estamos aqui, não é? — deu de ombros, tentando se animar — E vai ser bom ver o Ricciardo no final, estou com saudades daquele idiota.
— Você tem razão, amiga. Agora coloca um sorriso nesse rosto, porque já já alguma câmera vem dar zoom em você e vamos assistir essa corrida, porque hoje ela promete e o meu Lando também — Luisa respondeu empolgada, se levantando e dando um pulinho de alegria.
— Nunca vou entender como ela consegue ter tanta energia — Se levantando também, Carmen confessou, rindo com as amigas.
— Sortudo é o Lando — se levantou com Lily e , vendo Luisa gargalhar.
— Ele sabe a sorte que tem — Ela piscou para as meninas, enquanto puxava pela mão em direção a varanda, de onde assistiriam juntas a largada. Carmen, Lily e vinham logo atrás, comentando animadas sobre as possibilidades da corrida, relembrando o ano anterior, quando também puderam ver Monza acontecer presencialmente.

O circuito estava lotado e milhares de fãs gritavam animadamente para o início da largada. Charles havia feito a pole, Lewis ficou em segundo, Max em terceiro e Carlos na quarta posição, seguido por Daniel, em quinto, que no último segundo do Q3 havia feito um tempo extraordinário, saindo da décima posição para a quinta. Como todos os anos, o clima estava ótimo no Circuito de Monza e a energia daquele lugar parecia, uma vez mais, memorável. O calor que emergia na multidão de pessoas, em sua grande maioria ferraristas, combinava-se com os cantos e os gritos da multidão pelos pilotos, que já estavam entrando em seus veículos, se preparando para o início da largada.
Carlos entrou nos boxes pensativo. Estava irritado, frustrado e não conseguia parar de pensar nas palavras de , no quanto gostaria de ter tido tempo e a chance de conversar com ela, de se desculpar, de dizer que sabia que estava claramente fazendo tudo errado daquela vez. Ele caminhava em direção ao seu carro, completamente perdido em seus próprios pensamentos e, distraído, chegou a trombar com um ou outro colega pelo caminho, sem se importar muito com o que diziam conforme ele passava, ignorando tudo ao seu redor. Tentou procurar , olhando em direção a área VIP, mas não encontrou nada senão rostos desconhecidos. Carlos, enfim, entrou no cockpit, frustrado, chateado com tudo e tentou se concentrar minimamente na corrida, se esforçando em não parecer nem tão silencioso e nem tão perdido para o restante da equipe.
Às três horas em ponto do horário local, os carros foram liberados para a pista, para a volta de apresentação e, de maneira tranquila e amigável, deslizavam em ziguezague para o aquecimento dos pneus. Quando o último carro, de Nicholas Latifi, parou em sua marcação no grid, ao tempo em que o comissário passou hasteando a bandeira e a última luz vermelha se desligou, a corrida, finalmente, teve seu início. Com uma largada emocionante e tranquila por parte dos pilotos, com a sorte de, daquela vez, ninguém ter rodado na primeira curva do circuito, apenas perderam posições: George Russell, que foi de sexto para sétimo lugar, e Bottas, que perdeu três posições.
A corrida fluía tranquila aos olhos que quem a assistia e emocionante para aqueles que estavam na pista. O primeiro a entrar nos boxes foi Carlos, que havia feito um bom tempo na troca de pneus e ficado na mesma posição. Charles foi logo depois, perdendo a posição para o sete vezes campeão mundial, Lewis Hamilton. Max Verstappen acabou perdendo sua posição para o espanhol, quando entrou nos boxes, deixando-o furioso. Passada um pouco mais da metade da corrida, quando Lewis foi fazer uma nova troca de pneus, o jogo todo mudou. Um de seus mecânicos enfrentou dificuldades para remover o pneu traseiro esquerdo e, com isso, o inglês perdeu novamente sua posição para o monegasco, por segundos, que voltou a ocupar a primeira posição do dia.
Dados os dois primeiros, Carlos e Max brigavam fervorosamente pela terceira posição, logo atrás. O espanhol era constantemente fechado pelo neerlandês, arrancando gritos de toda a arquibancada, que assistia animadamente. Daniel, logo atrás deles dois, evitava se meter no conflito, acreditando que algo mais grave poderia acontecer, caso continuasse daquela forma. E não podia estar mais certo: logo que se aproximaram da curva sete e entraram na reta, na zona de DRS, Carlos, que estava muito próximo do piloto da RBR, tentou fazer uma ultrapassagem por dentro, acreditando que conseguiria, mas não teve sequer tempo de ver que o colega havia feito o mesmo, no mesmo sentido, para a entrada da curva oito. Em questão de milésimos de segundos, ambos os carros foram parar na barreira de proteção. Tudo aconteceu tão rápido que demorou aos espectadores conseguirem entender o que foi que tinha acontecido, de fato. O barulho dos dois carros colidindo forte e batendo, em seguida, na barreira de proteção, era um som que nem , nem suas amigas, se esqueceriam tão cedo.
Todos estavam apreensivos e, inusitadamente, o silêncio se fez presente em todas as arquibancadas. Como protocolo, as câmeras desviaram do acidente e voltaram a focar apenas na corrida, enquanto a bandeira amarela foi rapidamente acionada e o safety car entrou na pista, diminuindo a diferença de tempo e distância entre os pilotos. Os carros andavam enfileirados por todo o circuito e alguns áudios de outros pilotos, perguntando se Carlos e Max estavam bem foram disponibilizados pela FIA. E aquele cenário se manteve por cerca de cinco minutos, até, finalmente, a câmera focar nos dos pilotos e na batida. Ambos os carros estavam muito destruídos, mas o de Carlos, em especial, chamava bastante a atenção. Ele estava dividido em duas partes, a frente presa a barreira e a traseira há alguns metros de distância dali, destruída.
Max conseguiu sair andando e, apesar de meio desnorteado, talvez pelo choque e pelo susto da batida, parecia relativamente bem. Foi logo liberado pelo médico e voltou para os boxes, claramente assustado e chateado por ter que deixar a corrida, tão repentinamente. Carlos, contudo, parecia mais ferido e sequer tinha conseguido sair do carro. Uma ambulância já estava no local e não demorou mais do que novos cinco minutos para tirar o piloto de dentro do carro, com cuidado e delicadeza. Carlos apareceu nas imagens sendo levado rapidamente para dentro, em uma maca e, com as sirenes ligadas, o veículo disparou em direção ao centro médico do local.
Na área VIP o clima de apreensão parecia exatamente o mesmo das arquibancadas lá fora. Todos pareciam com medo, receosos, sem saber exatamente o que dizer ou o que pensar. Se perguntavam em sussurros se estava tudo bem com Carlos e, inevitavelmente, lançavam olhares sobre e o grupo de amigas, esperando qualquer que fosse a reação de alguma delas. As cinco estavam em pé, paradas próximas a uma tela que mostrava maiores detalhes do que tinha acontecido. Pareciam chocadas, preocupadas e silenciosas, assistindo tudo sem sequer piscar. estava completamente estática, séria, tinha os olhos arregalados e a expressão corporal travada. Se perguntava o que realmente havia acontecido ali e estranhava Carlos, justamente Carlos, ter se metido em um acidente como aquele.
Lily, Carmen e Luisa conversavam baixo entre si, tentando prever o que deveria acontecer a seguir, tentando entender o que houve, enquanto atendia a ligação dos pais de Carlos. Eles estavam viajando, mas, como de costume, assistiam a corrida e pareciam extremamente preocupados com o filho. Imaginavam que estaria por lá, com ele, e não pensaram duas vezes em ligar para ela, em busca de qualquer que fosse a notícia mais detalhada que, naquela altura do dia, nenhuma emissora de televisão parecia ter. sabia tão pouco quanto eles, mas tentava acalmá-los enquanto observava ao seu redor, em busca de descobrir mais notícias do ocorrido.

, você está bem? — Carmen virou-se da amiga de repente, reparando que ela continuava parada no mesmo lugar, em silêncio, encarando a tela à sua frente. Tinha as duas mãos cruzadas e apoiando seu queixo, parecia apreensiva, preocupada.
— Eu não… o que… — não sabia o que dizer, estava com medo, preocupada e se sentindo culpada.

Não sabia em qual grau teve culpa pela desatenção de Carlos, por tê-lo estressado ou seja lá o que causou nele, discutindo antes de uma corrida. sabia que estava no lugar dele ali. Sabia que era seu trabalho e sabia o quão sério tudo o que acontecia ali era para Carlos, para sua carreira, para sua família e para sua vida. Ela se sentia mal ter, direta ou indiretamente, o afetado de tal forma que o desconcentrou. Ela sabia disso, porque simplesmente sentia isso. Aquilo não deveria ter acontecido e não aconteceria se ela não tivesse ido à corrida naquele dia. O que ela foi fazer lá, afinal? O que achou que aconteceria? se sentia mal, frustrada, culpada e dentro dela seu coração implorava por poder ver Carlos, por saber se ele estava bem, por se desculpar, por conversar com ele.

— Ei, vem cá — Na falta de resposta da amiga e a vendo terrivelmente assustada, Lily abraçou carinhosamente e a levou em direção aos sofás onde antes da corrida sentavam, vendo o restante do grupo a acompanhar. Luisa pegou algumas garrafas de água pelo caminho e entregou a cada uma delas — Está tudo bem, tudo bem. Ele está bem.
— Sim, Sra. Sainz, não temos mais notícias a não ser que ele está no centro médico…Aham, pode deixar…aviso, sim. Sim, ela está aqui comigo — respondia a mulher ao telefone, sentando-se ao lado de Carmen no sofá e elas entenderam que as duas falavam sobre a — Ela vai ficar bem… eu sei… não é a primeira vez que isso acontece, vou dizer a ela… sim, ela está igual a senhora, estamos acalmando ela…
— Amiga, você está tremendo, ai meu Deus — Luisa, segurou a mão da modelo, preocupada.
, você precisa se acalmar, ele deve estar bem — Lily tentava dizer palavras de aconchego à amiga.
— Então por que não estão mostrando isso? — Aflita, ela olhou Lily.
— Porque é parte do protocolo da FIA — Foi Carmen quem respondeu — É assim mesmo, está tudo sob controle.
— Mas, então, por que o Max saiu do carro andando, sozinho, bem, e ele não? — fungou, sem nem saber quando havia começado a chorar.
— Amiga, o Carlos deve estar bem — Carmen a abraçou de lado, aconchegando a modelo sobre seu colo — Já está com os médicos agora, está tudo certo.
— Não está tudo certo, isso não teria acontecido se eu não tivesse vindo, se eu não… — soluçou, cansada — se eu não tivesse discutido com ele antes da corrida começar.
— Não tinha como prever que algo assim aconteceria — Luisa comentou serena, tentando acalmar a amiga.
— A culpa não é sua, não pense nisso — Lily negou com a cabeça, mais séria do que antes. Era um absurdo achar que aquilo tinha sido culpa dela.
— Eu não sei, eu… eu preciso ir vê-lo — Sem sequer raciocinar o que fazia, se levantou abruptamente, chamando a atenção do grupo de amiga e de , que ainda conversava com a mãe do piloto ao telefone e não prestava atenção no que acontecia ali.
— Você não pode ir lá — Luisa tentava segurar a amiga, sabendo que seria impossível manter ela ali.
— Eu preciso tentar — suspirou, se desvencilhando dela.
— Não vão te deixar entrar — Lily insistiu, falando um pouco mais alto, mas parecia determinada.
, você não pode entrar lá — , que havia acabado de terminar a ligação, tentou literalmente correr até a amiga, que já descia as escadas correndo em direção ao centro médico.

Ignorando a todos e enxugando as lágrimas, não desistiu até que chegasse próximo ao centro médico. O local já estava lotado de jornalistas, fãs e alguns funcionários da própria equipe, que tentavam saber mais sobre o estado de saúde do piloto espanhol, conseguir uma entrevista com ele ou com um dos médicos ou ter qualquer informação que lhes parecesse útil naquele momento. não sabia como entraria ali e imaginava que, mesmo com a meia dúzia de passes VIPs que carregava consigo, só familiares ou membros da equipe de Carlos poderiam entrar no centro médico. Mas não levou mais do que poucos segundos para ela ter, enfim, uma ideia brilhante.
Os rumores estavam dados e não havia uma única pessoa naquele GP, ela imaginava, que não tinha sabido ou ao menos ouvido falar sobre o caso dela com Sainz. Uma vez mais, usaria do benefício da história inventada em Marbella, para enganar a tia Mirabel, a seu favor e torcia para que aquilo desse certo - ou apelaria para o plano de Luisa, de fingir estar passando mal, dizer que havia tomado bebida demais ou que tinha problemas de pressão.
Como o lugar estava relativamente cheio, e com a sorte de algumas pessoas a reconhecerem e jornalistas tentarem se aproximar dela, logo foi puxada para dentro do centro médico por um enfermeiro, enquanto se identificava para ele como sendo namorada do piloto. Ele pediu educadamente que ela esperasse na sala principal e checou se estava tudo bem com ela, se não queria um médico, pois parecia pálida, preocupada. logo negou a sugestão carinhosa do enfermeiro, aceitando um copo de água e nada mais. Disse-lhe que estava, de fato, preocupada mas que não precisava ser atendida e esperou.
ficou cerca de dez minutos na sala, sozinha, vendo a movimentação acontecer ao tempo que a gritaria lá fora parecia aumentar. Esperou ali até que uma grande confusão de profissionais saíssem da sala onde Carlos estava, indo em direção à recepção, possivelmente para falar em público o que estava acontecendo. não queria esperar para ouvi-los, não queria saber pelos outros. Sem pensar muito, a modelo se levantou e correu em direção ao local, abrindo rapidamente a porta. Se pudesse descrever como se sentiu naquele momento diria que não havia mais nada nela senão o silêncio, a culpa e o coração que batia tão acelerado, que talvez pudesse ser ouvido por qualquer pessoa que passasse por perto. sentiu seu coração quebrar em milhares de pedaços só de vê-lo ali, sozinho, machucado, parecendo triste.
Ela encontrou ali uma versão de Carlos Sainz que ainda não tinha conhecido e que, talvez, no fundo, não quisesse conhecer nunca. Ele estava deitado sobre a maca, ainda vestindo o macacão da scuderia, porém, estava todo aberto, por onde era possível ver o braço esquerdo sangrar, mesmo por cima do curativo que há pouco tinham feito nele. Os pequenos cortes no macacão mostravam o que provavelmente tinha acontecido dentro do carro, onde os pedaços da lataria tinham o perfurado e ficou espantada com aquela ideia. Com a simples ideia de Carlos estar bem, mas de não poder ter estado. Em uma batida a 300 km/h, o que o tinha salvo, talvez, foi a mais pura e verdadeira sorte. A sorte com a qual ela não queria jamais ter que contar novamente. Carlos poderia simplesmente não estar mais ali naquele momento. E se perguntava o que ela faria se aquilo fosse realidade, se perguntava porque tinha perdido tanto tempo com besteiras com ele, se perguntava porque tudo não era simplesmente diferente do que tinha sido.
não queria chorar na frente dele. Engoliu as lágrimas junto com as ideias terríveis que rondavam sua mente. Não queria se deixar levar por aqueles pensamentos desesperadores, ela não queria nada senão a certeza, o alívio, de que ele estava ali e estava bem. E, por isso, ela respirou fundo antes de se aproximar.
Carlos estava com os olhos fechados e com o braço direito tampando sua visão. Ainda não conseguia acreditar em tudo o que tinha acabado de acontecer, foi tudo muito rápido e ele sequer conseguia se lembrar bem do momento, de como se perdeu, de como bateu, do que houve com ele. Saiu sem dificuldades do carro, mas foi quando pisou no chão que sentiu o sangue escorrer do braço, sua cabeça rodar em tontura, que ele teve a real proporção do quão grave tinha sido o acidente. O braço cortado, ele imaginava, tinha sido devido a uma das peças do carro de Max, que entrou dentro do cockpit e o atingiu. Mas, tirando isso e a pancada em si, que certamente o deixaria dolorido e aéreo por alguns dias, devia ter apenas alguns arranhões e pequenos roxos pelo corpo, protegido de algo mais grave pelo macacão e pelo capacete.
Ele não queria pensar que tudo foi causado por estar tão distraído, por estar tão imerso em seus sentimentos, pela consciência tão clara de que Voitenko estava lá, o assistindo, apaixonada por ele. Ele estava concentrado. Não havia discussão. Ele sabia o que estava fazendo, só não esperava que Max estivesse pensando o mesmo, que fosse ter a exata mesma saída estratégica do que ele. Ao seu ver, nenhum dos dois realmente teve culpa e muito menos , mesmo presente em seus pensamentos durante todo aquele dia.
Carlos estava tão distraído com seus próprios pensamentos que não ouviu quando a porta se abriu e se fechou novamente, delicadamente, e alguém se aproximou em silêncio. Só percebeu que, de fato, não estava sozinho na sala médica quando sentiu os braços quentes na lateral de seu corpo e o corpo leve, macio, de alguém deitando em seu peito. Carlos sequer precisou abrir os olhos para saber quem era. O toque, o cheiro do perfume que não saia de sua mente, o fizeram sorrir sozinho, levemente, ainda de olhos fechados, deixando-se ser abraçado por ela, pelo tempo que ela quisesse.
Estava surpreso, não podia mentir. E sabia que seu coração batia mais acelerado e que ela, levemente deitada sobre ele, o abraçando, podia ouvi-lo. Descompassado, agitado, confuso e caótico, como ele se sentia naquele momento. Mas tão vivo e tão aliviado, como ela precisava sentir dele naquele momento. não sabia explicar o por que de tê-lo abraçado, só percebeu o que fazia quando já estava feito e não se preocupou com aquilo. Já tinha dito o que precisava dizer naquele dia, já tinha assumido para ele o que sentia por ele, não havia mais motivos para se segurar ou para esconder. Fosse o que fosse, na canseira de quase ter colocado tudo a perder, para sempre, daquela vez, já tinha desistido, ao menos por um momento, de ser qualquer coisa senão ela mesma. Queria vê-lo, e tinha ido até lá. Queria sentí-lo, e o abraçou.
Carlos abriu os olhos lentamente e, receoso, sem saber o que deveria fazer, abaixou seu braço direito, que antes cobria os olhos, até as costas dela. Não sabia se poderia retribuir aquele gesto, mas tinha a certeza gritante de que queria fazê-lo. E pelos minutos que lhe pareceram tão rápidos, ele ficou ali. Brincando com as pontas dos cabelos dela, soltos e espalhados em suas costas, retribuindo o abraço leve e carinhoso, tão cheio de palavras e de sentimentos silenciosos, sem saber o que deveria dizer, sem saber, na verdade, por onde começar.

— Como você está? — Quebrando o silêncio entre eles, sussurrou, se afastando levemente do abraço.
"Muito melhor agora", era o que ele queria verdadeiramente responder, mas achou que soaria idiota demais. E na falta de palavras, resumiu-se em dizer:
— Estou bem — Carlos respondeu no mesmo sussurro que ela, a encarando nos olhos.

Podia ver os olhos dela marejados, a expressão tensa, preocupada. Ela parecia preocupada com ele. De um jeito que Carlos ainda não havia visto nela, de um jeito protetivo, cuidadoso. Um jeito que só se sente quando se tem medo de perder, um jeito que Carlos gostou de ver nela, de sentir vindo dela. Contudo, apesar daquilo, parte dele não soube como digerir a parte da informação que o dizia ser ele o motivo de toda aquela preocupação, de toda aquela angústia. Não queria que ela sentisse nada mais senão tudo o que tinha de melhor naquele mundo e Carlos, no fundo, sabia que enquanto estivesse por perto dela, havia fortes chances de ele estragar tudo outra vez, de trazer novas preocupações, novas angústias para ela.
E aquela ideia pareceu o atingir com tanta força quanto a batida que sofreu minutos antes, na pista. Carlos não se sentia suficiente e não sentia que poderia fazer alguém como ela, como , feliz como ela merecia ser. E no meio daquela incerteza, daquela insegurança, morava a frustração que o fazia constantemente afastar ela de si, como, sem querer e sem perceber, ele começou a fazer de novo.

— O que está fazendo aqui? — Carlos perguntou curioso, sereno, mas sério. Seus olhos assistiram dar dois passos para trás, se afastando levemente da maca.
— Estávamos preocupadas com você — respondeu simplesmente, honesta.
— É melhor você… ir embora, — Claramente contrariado, Carlos comentou baixo, incerto. Parte dele queria que ela ficasse, que eles conversassem. Mas parte dele não queria que ela o visse daquela forma, machucado e perdido, tão vulnerável, consciente de que ele era o causador das lágrimas que ela parecia ter derramado naquele dia.
— Carlos, eu não quero… — fungou, deixando uma lágrima cair e rapidamente a limpando em seu rosto — eu não quero ir embora. Eu… eu fiquei preocupada. Com você, com…
, por favor — Carlos praticamente suplicou, a impedindo de dizer o que ele achava que ela diria, que estava preocupada com eles dois.
— Por que está fazendo isso? Por que sempre faz isso, Carlos? — o olhou magoada, engolindo as novas lágrimas que se formavam em seus olhos.
— Isso o que? — Tentando se sentar na maca, Carlos perguntou assustado. negou com a cabeça, como se dissesse para ele não se mover e Carlos, sentindo seu corpo doer, parou no meio do caminho, apoiando-se no cotovelo do braço não machucado.
— Por que está me afastando? — perguntou novamente, mais claro dessa vez. Sua voz delicada parecia sair a cada segundo mais baixa, mais sentida. Carlos sentia seu coração espremer-se, um gosto terrível de desespero tomar conta de si conforme se dava conta do que estava fazendo, do que estava acontecendo.
— Por que eu não sou bom para você, , e você já deixou isso bem claro para mim. E se eu não posso tê-la, por que sou um completo idiota que sempre estraga tudo, é melhor que você fique longe — Sincero, deixando seus sentimentos saírem em palavras pela primeira vez desde que a conheceu, Carlos comentou cansado, a olhando — Eu não suporto a ideia de te ver assim por minha causa. Eu não quero te fazer sofrer, , não quero te encher de preocupações, não quero brigar nem discutir mais, eu não quero…
— O que você quer, Carlos? — Em êxtase por ouvir aquilo, enxugou novas lágrimas que insistiam em cair em seu rosto.

Podia sentir seu corpo tremer e sua respiração falhar, ao tempo que ouvia, enfim, Carlos começar a lhe dizer algo que fazia um sentido imenso para ela. Algo que ela gostaria de ouvir dele, que estava esperando ouvir há algum tempo já. E bastava aquela resposta, bastava Carlos dizer claramente o que ele queria para ela ser dele. o encarava com expectativa, ansiando qualquer que fosse a palavra que Carlos fosse escolher para responder a pergunta tão sincera e tão complexa que ela havia lhe feito. O que ele queria, afinal?
Mas Carlos não disse nada. E diferente do que ela queria dele, do que ela esperava dele naquele momento, do que ela precisava ter dele, assistiu Carlos desviar seu olhar dela para a porta da sala médica onde estavam. Triste, quieto, sem dizer nada, o recado pareceu bem claro para ela. Carlos queria que ela fosse embora, como já havia pedido alguns poucos minutos antes.
Carlos não queria ela. E agora sabia claramente daquilo.

— Tudo bem, se é assim que você quer… — concordou baixo com a cabeça, deixando as lágrimas tomarem conta de si, enquanto ia em direção a porta. Não deu tempo de Carlos dizer mais nada e ela sequer viu que ele chegou a se levantar da maca, apesar das dores e dos machucados, e dar alguns passos atrás dela. não viu e nem ouviu mais nada de Carlos Sainz naquele dia, exceto pelas últimas palavras que ecoaram pelo ambulatório, enquanto ela o deixava para trás, sozinho:
, por favor, não…

~ ❤ ~




Continua...



Nota da autora Gabe: Olá queridas leitoras, estou muito feliz que vocês estão curtindo tanto Headlights como eu e a Ju amamos escrever ela. Cada comentário, indicação e mensagens são importantes para nós e essa fic é uma surpresa muito gostosa que tivemos o prazer de escrever e compartilhar com vocês, espero que estejam preparados pra muito mais bagunça desse grupo.
Beijos e até a próxima!

Nota da autora Ju: Amar e odiar Carlos Sainz? Acontece em todo capítulo dessa história.
Mais uma das meninas do grupo apareceu (apaixonada por Luisinha, sim), chegamos na primeira partida de golfe da galera e o gato Sainz segue perdendo tudo para a Ellie.
Não sei o que gosto mais de HL: desse climão entre eles, dessa galera toda junta (que é simplesmente perfeita) ou do Charles – e a resposta é: do Charles, rs.
Conta ai para gente o que está achando da história, se você é team Carlos ou team Ellie, vamos amar saber – e é bem importante para nós, continuarmos com a história.
Temos um grupo no zapzap também, vem dar um oi 😊
Seguimos vibrando a vitória do Sainz em Silverstone e, até que venha outra, ficamos por aqui! Beijos e até já. x




Ju S.: Universo Marvel
Care Bears
Project Neriine
Vingt-Cinq

Ju S. & Milene L.: Universo Taste The Feeling
11:11 (Ben Barnes)

Gabe Dickmann: Fórmula Um
Flying Lap


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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