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Capítulo 23 - O Retorno

A quarta posição na tabela do Campeonato Brasileiro não era nem um pouco animadora para a torcida corinthiana. O líder Flamengo estava disparado na frente do segundo e terceiro colocado, Palmeiras e Santos respectivamente, e o Corinthians vinha logo atrás sem empolgar ninguém com o futebol apresentado em campo. Faltando apenas treze rodadas para o fim do campeonato, jogadores e treinador estavam sendo pressionados pela torcida afim de ter um time mais ofensivo para a próxima temporada.
Apesar da virada heroica contra o Indepediente Del Valle na altitude do Equador pela semifinal da Sul-americana, a cobrança era grande em cima do título que ainda não havia sido conquistado pelos paulistas. O time sabia que perder não era uma opção. O adversário seria o Atlético Mineiro em final única e brasileira no Paraguai dentro de duas semanas e, apesar de quererem manter a boa colocação no Campeonato Brasileiro, vencer o continental era uma obrigação para todo mundo.
Enquanto a final não chegava, o time continuou a cumprir tabela pelo Campeonato Brasileiro. O jogo em questão seria contra o Goiás no estádio Serra Dourada. Aquele não era qualquer jogo e sim o retorno de que voltou a ser relacionado pela primeira vez após a Copa América e também seu primeiro jogo oficial em seis meses. Ele estava chateado por ter perdido vinte e cinco rodadas do campeonato, mas estava disposto a fazer as treze restantes valerem a pena. O estádio da partida não poderia ser outro se não o que ele se machucou meses antes, sua volta por cima seria exatamente ali.
Dentro do ônibus, a caminho do estádio, ele recebeu uma mensagem de e sorriu ao ver que ela enviou uma foto na qual usava uma camisa com o número e o nome dele, lhe desejando toda sorte do mundo. Ele estava feliz por ver que ela estava voltando ao normal aos poucos e, com o tempo, voltaria a ser a sua alegre e corajosa.

"O seu apoio me motiva todos os dias, eu amo você demais 😍" - ele digitava a mensagem com um sorriso bobo estampado no seu rosto. - "Se eu fizer um gol, ele já tem dedicatória."

Ele continuou a conversar com ela até chegar no estádio. A partir dali foi concentração total para a partida que iria começar em pouco mais de uma hora. queria canalizar toda a sua energia para atrair coisas boas e fazer um bom jogo, mesmo sabendo que não aguentaria jogar os noventa minutos, ainda sim faria o possível para ajudar o time durante o tempo em que estivesse em campo.

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Aos trinta minutos do segundo tempo, a placa de substituição anunciou a saída do número 25 para a entrada do número 7. cumprimentou seu colega de time na beira do gramado e correu para a ponta esquerda, se sentindo a pessoa mais leve e feliz do mundo naquele momento. Estava finalmente de volta após longos meses lesionados, estava disputando o campeonato novamente depois de seis meses. Nada iria estragar aquele momento.
Apesar de ter entrado bem no jogo, não podia resolver sozinho e passar pela zaga do time goiano. O meio campo do Corinthians tinha dificuldades em criar jogadas para que a bola chegasse até ele, assim como ele não conseguia tocar para Boselli, o último jogador do ataque. Ele podia ver que o argentino estava irritado por não ter posse de bola, vendo o meio campo fazendo confusão. estava disposto a mudar isso.
Após receber uma bola interceptada por Gabriel, avançou pela ponta esquerda, vendo Sornoza livre pelo meio. Ele cruzou para o equatoriano e se infiltrou dentro da grande área. Sornoza olhou para os lados e viu quando pediu a bola novamente, e assim fez. ficou livre e cruzou para Boselli antes de ser marcado, o camisa 17 soube aproveitar a oportunidade, chutando a bola de perna esquerda para dentro do gol. Goiás 0x1 Corinthians.
Na comemoração, o time se reuniu em um abraço coletivo e Boselli agradeceu pelo cruzamento. queria muito marcar o seu gol, mas não queria ser egoísta e prejudicar o time. Ajudar Boselli também era como marcar um gol e ele estava feliz por estar trabalhando no coletivo ao invés do individual como vinha fazendo antes.
O jogo recomeçou e, aos quarenta e cinco minutos, Pedrinho sofreu uma falta violenta pelo lado direito na entrada da grande área. Apesar da pancada na canela, o jogador se levantou e continuou na partida, mas Sornoza e , os dois homens da bola parada, foram juntos enquanto o goleiro organizava a barreira.

- Você bate melhor por esse lado, pode bater - disse ao colega.
- Não, eu vi o quanto você treinou falta, ameaça chutar pra direita, ele não vai estar esperando.

Ao ouvir o som do apito, Sornoza passou direto pela bola enquanto tomou distância para chutar. Não conseguiu mirar o lado direito como planejou, a bola foi direto para o lado esquerdo, e quando todo mundo achou que iria pra fora, inclusive o próprio goleiro, a bola fez uma curva incrível e bateu na trave antes de entrar no gol. teve a reação imediata de rir, depois ergueu os braços em comemoração. Antes que o time todo viesse na sua direção, ele correu em direção a câmera mais próxima, fazendo um coração com as mãos, dedicando aquele gol para que estava em casa assistindo e comemorando junto.
estava se sentindo mais abençoado do que nunca. Quinze minutos em campo e ele sentia como se tivesse feito o melhor jogo da carreira, mesmo sabendo que era um pensamento ridículo. Sim, ele já tinha feito partidas infinitamente superiores, mas aqueles minutos tinham um gostinho especial.
Seu retorno, o seu grande e inesquecível retorno.

⚽🖤📱

Semanas depois

- Meu Deus, meu Deus! Ele vai anunciar agora! - se jogou no sofá entre seu pai e sua mãe, sentindo o coração bater descontrolado no peito.

estava em pé ao lado do sofá, completamente apreensivo. Tite iria anunciar os vinte e três convocados para amistosos contra Argentina e Coreia do Sul para o próximo mês, uma semana após a final da Sul-americana e já desconfiava que seria convocado. Ele estava tremendo da cabeça aos pés, sentindo um nervosismo incomum tomando conta de todo o seu corpo. Seis gols em quatro jogos disputados desde que voltou foram o suficiente para convencer Tite de que ele merecia uma vaga na Seleção novamente.

- Meias: Casemiro, Real Madrid. Fabinho, Liverpool. Arthur, Barcelona. , Corinthians. Paquetá, Milan. Philippe Coutinho, Bayern Munique.

abriu um largo sorriso enquanto saltou do sofá em comemoração. Ela se jogou nos braços dele, o abraçando apertado e retribuiu, não se contendo de felicidade, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas. Não podia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, estava começando a colher os frutos do seu trabalho.

- Você merece tanto, tanto, ! - dizia ainda abraçada a ele, estava com a voz embargada. - Ninguém merece essa vaga mais do que você. Eu tenho tanto orgulho de você!
- Obrigado - respondeu em um sussurro, apertando os olhos para não chorar.

Eles se separaram e viu que ele estava quase chorando, mas tinha um sorriso nos lábios. Deixou que seus pais o cumprimentassem também enquanto via que no celular dele, no braço do sofá, começava a chegar mensagem atrás de mensagem. Todas felicitações pela nova convocação.

- Olha só quem vai jogar contra o Messi! - ela disse empolgada, dando um soquinho no ombro dele.
- Meu Deus, não me lembra disso agora ou eu vou terminar de enfartar, - disse rindo, tentando se acalmar.
- Você vai ter tempo pra pensar sobre isso, . Vou pegar umas cerveja pra gente comemorar - o pai de foi até a cozinha e depois voltou com cervejas artesanais, entregando uma para cada pessoa ali.

Eles brindaram a convocação juntos e ainda passaram mais algum tempo conversando, até alegar que precisava voltar para sua casa, pois teria treino no dia seguinte, o último antes do jogo contra o Flamengo pelo Campeonato Brasileiro. Ele se despediu dos sogros e decidiu voltar com ele. Ela sabia que estava praticamente morando na casa dele, mas não se importava com isso, significava que o relacionamento deles estava ficando cada dia mais sério e ela estava gostando disso.

- Eu acho que tô sonhando, - disse enquanto dirigia após algum tempo que estavam em silêncio. - Me diz que isso não é um sonho.
- Não, , não é um sonho - sorriu. - Sim, você está totalmente recuperado, marcou seis gols em quatro jogos, foi convocado para a Seleção de novo e vai jogar contra o seu ídolo. Sei que você evita ler o que sai na mídia, mas a imprensa esportiva é só elogios pra você.
- É sério?
- Sim, parece que você caiu no gosto deles de novo. Só não liga muito pra isso, o próximo jogo é contra o Flamengo e você sabe que vai ser difícil.
- Eu sei, todo mundo sabe que o Flamengo vai levar esse título...
- Isso não quer dizer que vocês vão entrar derrotados no campo, ok? Quero raça.
- Não se preocupa, eu vou dar o meu melhor.
- Eu sei que vai, acredito no meu camisa 7, sei que ele é o melhor ponta do Brasil.
- Que puxa saco.
- , se você não acredita em si próprio, saiba que eu acredito.

era inseguro desde que conseguia se lembrar. Em todos os clubes em que jogou, a insegurança caminhava lado a lado com ele. Foi assim quando ainda era do juvenil do Grêmio na infância, foi assim quando jogava nas categorias de base do Santos e também no time principal, participando da mesma equipe que Neymar e companhia. Na Argentina, se sentia inseguro por ser o único brasileiro, algo quase impossível de acontecer, já no Grêmio, teve seus altos e baixos, mas sua maior insegurança era consigo mesmo e superar os próprios limites. Infelizmente, acabou levando isso para o Corinthians e também para a Seleção Brasileira. Ele precisava acreditar em si próprio antes de qualquer pessoa.

- Quer saber? Vou deixar o Gabigol no chinelo.
- É assim que se fala! - disse rindo. - Quer saber? Vou fazer uma placa: hoje não vai ter gol do Gabigol.
- Vai, conta vitória antes da hora. Achei que corinthiano não fazia isso.
- Quando um dos atletas do time namora com você, é meio inevitável. Se eu ainda jogasse, você me entenderia.
- Então sou que inflamo o seu ego?
- É por aí.
- Você é péssima, garota.

Eles continuaram conversando até chegarem no apartamento do jogador. ajudou a terminar de preparar a mala que ele levaria para o Rio de Janeiro dentro de dois dias. A parte ruim da volta dele aos gramados era, sem dúvida, as concentrações. havia passado mais tempo em concentrações do que em casa nas últimas semanas e percebeu o quanto odiava aquilo de tamanha saudades que sentia dele.

- Odeio, odeio, odeio quando você vai para as concentrações ou viaja - ela disse após ele fechar a mala, se sentando na cama. - Eu fico totalmente sozinha quando o Junior e o Tobias vão viajar também.
- Não pensa que eu amo ficar dias na concentração, é muito solitário. Li todos os livros de Harry Potter só em concentrações, sabia?
- Ora, ora, temos um Potterhead aqui - ela sorriu enquanto se deitava. - Eu sabia que você você tinha perfil de Lufa-Lufa.
- E você é da Grifinória - disse rindo enquanto tirava a sua camiseta, jogando no cesto de roupas sujas do banheiro e voltou para o quarto.
- Não - levou as mãos ao rosto, cobrindo os olhos. - Não posso ver isso.
- Não é nada que você nunca tenha visto.
- Não é isso. Estou tendo pensamentos impuros, deixa eu me acalmar - ela ouviu a gargalhada de e foi impossível não rir junto com ele.

O jogador se jogou na cama, indo até , ficando com o tronco despido sobre ela. Ele a segurou pelos braços, a forçando a tirar as mãos do rosto.

- Você é um pedaço de mal caminho, sabia? Não deveria ficar tirando a camisa por aí, sou ciumenta.
- Sou, é? Mas não é pra qualquer pessoa que eu mostro, é pra minha namorada. Tem que valer alguma coisa.
- Vale até demais pra mim - ela admitiu rindo, pronta para cobrir o rosto de novo, mas não deixou. - !
- Toma banho comigo?
- Isso é um convite pra sexo?
- Com toda a certeza.
- Que indecente. Eu adorei.
- Então levanta daí e tira essa roupa - deu um beijo estalado na boca dela e se levantou em um pulo, indo em direção ao banheiro.

ainda levou alguns segundos para processar, mas então se levantou também quando ouviu o chuveiro sendo ligado. Ela foi até o banheiro e viu que já estava tomando banho, então ela se livrou das suas roupas e entrou no chuveiro também, indo direto ao ponto. Sabia que passariam dias sem se ver, possivelmente uma semana inteira se ele optasse por ficar concentrado até a final do campeonato antes de viajar para Assunção, então achava que deveria valer a pena.

- Você vai pro CT depois do jogo? - ela perguntou entre os beijos e concordou, sem dar muita importância para a pergunta. - Ah...
- O que foi? – ele se afastou um pouco para olhar pra ela.
- Nada, só vou sentir a sua falta. No mínimo, faz um golzinho pra mim.
- Meu amor, eu vou trazer a taça pra você, isso sim - disse rindo, deixando um beijo na ponta do nariz dela. - Vai valer a pena.
- Eu sei que sim - disse por fim, voltando ao beijo.

Entre beijos e carícias ousadas trocadas, eles queriam poder sentir um ao outro mais uma vez antes de voltarem para suas rotinas loucas, especialmente a dele que era ainda mais intensa e corrida. Então após os beijos não serem suficientes para suprir o desejo mútuo dos dois, , fazendo uma trilha de beijos começando pela boca dele, desceu para o pescoço e descendo pelo peitoral e abdômen até ela se ajoelhar. baixou o olhar, entendo perfeitamente do que se tratava.

- É só pra garantir que você vai bem tranquilo para o Rio - ela disse por fim antes de jogar seu cabelo molhado pra trás e fazer o que tinha de fazer.

⚽🖤📱

Assunção, Paraguai.

No jogo contra o Flamengo deu a lógica, o líder do campeonato foi superior durante a partida inteira, jogando um futebol de padrão europeu, vencendo o time alvinegro por 4x1. Talvez o único momento bom dos corinthianos no jogo foi justamente o gol de , mas nada além disso. Foi um jogo marcante, pois foi o encontro entre o artilheiro do Brasil naquele ano e a surpresa da reta final do campeonato. Cinco gols em cinco jogos, algo raro vindo de um jogador do Corinthians, mas não queria nenhum rótulo para si, apenas fazer o seu trabalho da melhor forma possível.
Mas após o jogo contra o Flamengo, o foco mudou totalmente para a final do campeonato, o jogo mais importante do ano. O time conseguiu uma virada histórica na semifinal, precisava fazer bonito na final também. O Atlético Mineiro também veio de virada para cima do Cólon da Argentina, então ambos os times estavam embalados para a final mais alvinegra já disputada no torneio. Corinthians e Atlético, São Paulo e Minas Gerais, tinha tudo para ser uma final histórica.
O estádio General Pablo Rojas estava lotado. Mesmo sendo uma final em outro país, as torcidas dos dois times se locomoveram para apoiar as equipes. Não era nada surpreendente, afinal, o Corinthians levou mais de vinte mil torcedores ao Japão em dois mil e doze para a final do Mundial de Clubes contra o Chelsea, enquanto o Atlético Mineiro levou seis mil torcedores para a semifinal contra o Raja Casablanca em dois mil e treze. Eram duas torcidas apaixonadas que estavam fazendo uma linda festa para receber os dois times que entravam em campo.
estava na arquibancada junto com os familiares de e também os seus próprios pais que não pensaram duas vezes antes de irem apoiar e torcer também. Ela estava entre sua mãe e Rony, completamente apreensiva e tensa, como se já estivesse um a zero para o outro time. Ela não se lembrava quando foi a última vez que ficou tão nervosa em uma final e não sabia o motivo, mas logo no primeiro minuto de jogo quando uma jogada do Atlético parou nas mãos de Cássio, entendeu o por quê. Seria uma final sofrida.

- Eu não vou aguentar, eu não vou aguentar! - ela encostou a testa no ombro de Rony, que riu do desespero dela.
- Calma, cunhadinha, ainda tem o resto do jogo inteiro. Olha pro campo, ou você não vai ver o .

voltou a atenção para o gramado, procurando por . Ele estava na posição dele, esperando uma bola em sua direção, o que aconteceu instantes depois. O camisa 7 recebeu a bola do meio de campo e tentou atacar, mas foi marcado e a bola foi para a lateral, então Danilo Avelar foi para a cobrança. Ela se escorou no parapeito de vidro, observando a jogada. Olhou para o lado e viu Cida tão concentrada quanto ela, rezando sem parar.
O primeiro tempo foi muito equilibrado, com chances reais de gols para os dois lados. estava surpresa com o time montado por Fabio Carille, um time muito mais ofensivo do que se via anteriormente e ela estava gostando disso, gostava mais ainda de ver que era peça fundamental na equipe e o lado esquerdo funcionava muito bem com ele ali.
Infelizmente para o lado corinthiano, o Atlético abriu o placar nos acréscimos com Ricardo Oliveira, encerrando o primeiro tempo ali mesmo. Os times voltaram para o vestiário sobre aplausos da torcida do Galo e o canto ensurdecedor da torcida do Corinthians, que começou a cantar como se o gol fosse da própria equipe. entrou no clima, canalizando boas energias para si naquele momento. O coração estava acelerado e ela sentia que ia desmaiar a qualquer instante.

- Não se preocupa, eles vão virar esse jogo - Rony disse otimista. - O dá conta.
- Não sei, ele está sendo muito bem marcado... - Cida passou as mãos pelo rosto, visivelmente nervosa.
- Gente, não adianta ficar supondo as coisas, só vamos descobrir daqui quarenta e cinco minutos - disse por fim, dando a discussão como encerrada.
- Você tem que se acalmar, - sua mãe disse passando as mãos pelos ombros da filha.
- Esse jogo é muito importante pro , mãe, vai ser um divisor pra ele. O time tem que ganhar esse título.
- Vai dar tudo certo, filha, fica calma - seu pai disse a abraçando de lado e se sentiu melhor.
- Espero que sim, pai.

Os quinze minutos de intervalo pareceram uma eternidade, mas pior do que isso, era os quarenta e cinco minutos que ainda vieram depois. Não foi muito diferente do primeiro tempo, apenas mais lento porque os jogadores estavam cansados. procurou manter a calma, tentando analisar o desempenho individual de na partida e ficou satisfeita com o que estava vendo. Ele estava jogando com a frieza necessária e criando boas jogadas pelo lado esquerdo, além de ter deixado Gustavo na cara do gol pelo menos duas vezes, isso sem contar quando ele próprio atacava.
Na metade do segundo tempo, após uma bola interceptada na defesa do Corinthians, o time paulista armou um contra-ataque com Pedrinho pelo lado direito. O jogador arrancou em uma velocidade incrível, saindo da direita e indo pelo meio, tendo a opção de tocar para ou Gustavo. Vendo que o último estava impedido, ele tocou para que chutou de esquerda para o gol, empatando a partida.
O estádio explodiu em gritos e festa da torcida enquanto os jogadores se abraçavam em comemoração, mas isso durou segundos, pois o árbitro da partida iria consultar o VAR, quando ouviu da equipe de arbitragem que talvez o gol não tivesse sido legal.

- Só pode ser brincadeira! - se virou, incapaz de olhar para o campo.

Sobre protestos dos jogadores corinthianos, o árbitro foi até o VAR para analisar a jogada a partir do momento em que Pedrinho deu o passe para e chegou a sua conclusão final minutos depois que pareceu uma eternidade. Ele voltou para o campo e, fazendo sinal com as mãos, anulou o gol. Enquanto o time protestava e o rival comemorava, se limitou a dar as costas e voltar para a sua posição. Não podia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.
O restante do jogo foi dramático, com um Corinthians menos técnico e mais raçudo indo pra cima do Atlético que passou a jogar recuado, segurando o resultado do título. Na arquibancada, a torcida corinthiana incentivava o time a não parar enquanto os atleticanos entoavam o seu famoso grito de eu acredito.
estava ao lado da sua sogra, as duas seguravam as mãos uma da outra apertado. A garota tinha lágrimas nos olhos, desejando aquele título mais do que nunca, mas conforme o jogo se aproximava do final, parecia ser ainda mais impossível.
Ela fechou os olhos quando foi até a bandeirinha cobrar um escanteio pelo lado esquerdo. Ela não viu nada, e só abriu os olhos quando a bola já estava dentro do gol e o time todo correndo atrás do autor do gol, Bruno. queria que o gol tivesse sido de , mas ficou mais do que feliz por Bruno que merecia o reconhecimento da mesma forma. Quando se deu conta, estava chorando enquanto comemorava e abraçava as pessoas que estavam com ela.
Os minutos finais da partida foram emocionantes, com as duas torcidas enlouquecidas, mas quando o apito soou e a disputa de pênaltis começou, a tensão tomou conta de cada pessoa presente ali.
O Atlético Mineiro saiu na frente, mas não demorou nada até o Corinthians empatar. A segunda cobrança de cada equipe também ficou na mesma, mas a terceira do Atlético foi bem sucedida enquanto a do Corinthians foi para fora. A quarta cobrança do Atlético foi defendida por Cássio e em seguida foi para a cobrança.
Ele posicionou a bola e tomou distância, olhou para o goleiro adversário e depois pra bola, tomando impulso e chutando com força. A bola bateu no travessão esquerdo, mas entrou, deixando a partida empatada de novo. voltou para o seu lugar ao lado dos companheiros e se ajoelhou no meio de campo, encostando a testa no gramado para não ver a próxima cobrança. Quando viu que o seu time comemorou, olhou para o gol e viu Cássio comemorando mais uma defesa. Caberia à Boselli a última cobrança do time do Corinthians.
O argentino respirou fundo e tomou distância, chutando com frieza para dentro da rede, trazendo o título inédito do clube paulista. Os jogadores correram em direção à ele, assim como os reservas e comissão técnica no banco, invadindo o gramado enquanto a torcida enlouquecia na arquibancada.
se sentou no momento em que a bola entrou no gol, caindo no choro por ver seu time campeão. Ronald se sentou ao lado dela, passando a mão pelas costas da cunhada, procurando ter certeza de que estava tudo bem.

- Eu disse que ia ficar tudo bem. Ele conseguiu.
- Rony, isso é ainda maior do que o - ela disse secando as lágrimas. - Eu tô feliz por ele, mas esse título é muito importante pro time.
- Eu não sou corinthiano, você sabe, mas eu posso imaginar o que você tá sentindo agora. Se eu já tô feliz só pelo meu irmão, imagina você, não é? Levanta daí, vai apoiar o seu time.

se levantou e acompanhou a torcida nos gritos de é campeão, embalado por um grito de torcida do time logo em seguida. A estrutura para a entrega da taça estava sendo montada enquanto o time ainda comemorava com uma enorme roda no grande círculo. Após a entrega das medalhas do segundo colocado, o time corinthiano também recebeu suas medalhas, então os jogadores se aglomeraram para receberem a taça, erguida pelo capitão Cássio enquanto fogos de artifício tomavam conta do céu em Assunção como se fosse Itaquera.
Só depois disso eles tiveram permissão de entrar no gramado. foi na frente, olhando para os lados e procurando por . Quando o encontrou, correu na direção dele para um abraço apertado, erguendo os pés dela do chão e a girando no ar. Quando a viu, ele sorriu e abriu os braços, esperando por aquele abraço sem se importar se estava todo suado e, aparentemente, também não se importava com isso.

- Você conseguiu - ela disse ao se afastarem, passando as mãos pelo rosto dele.
- Nós conseguimos. Esse título é seu também, - falou sorrindo. - Eu não teria conseguido sem o seu apoio e o seu cuidado, obrigado.

sorriu quando ele a beijou. Se lembrou da conquista do Campeonato Paulista quando ele a obrigou a entrar no campo e lhe roubou um beijo, mas agora era totalmente diferente. Era uma conquista maior e ela estava ali porque queria, isso sem contar que agora eram um casal oficialmente e não tinham que se esconder de ninguém.

- Essa é a foto mais linda que eu já tirei na vida!

Eles interromperam o beijo quando viram Junior se aproximando por um lado e a família de pelo outro. Junior mostrou a foto para eles em sua câmera, recebendo a aprovação do casal.

- Junior, tira de todo mundo junto - pediu enquanto pegava sua sobrinha no colo.
- Você que manda, artilheiro.

A família dele e os pais de se aglomeraram para uma foto de todos eles juntos. Para e , era gratificante poderem juntar suas famílias em um momento tão importante e esperavam que isso acontecesse mais vezes na próxima temporada.

- Tio! Cadê a taça? - Maia perguntou enquanto colocava Belinda no chão.
- A taça? Nossa, agora você me pegou... Não se preocupa, eu vou pegar ela pra gente, mas só depois de matar a saudade de todo mundo.

abraçou cada um dos seus parentes que não via desde o seu aniversário, meses antes. Estava morrendo de saudades da sua família e por isso não se sentia envergonhado em chorar quando abraçava a cada um deles, especialmente suas sobrinhas que estavam crescendo rápido demais na opinião dele.
Após abraçar todo mundo, começou a procura pela taça e a encontraram com Bruno, o homem do gol. Além da família, o zagueiro também estava acompanhado por Gabriela, sinal de que as coisas estavam realmente sérias entre eles, embora não tivessem assumido um relacionamento sério ainda.

- Olha só se não é o melhor zagueiro da América do Sul, o homem da partida! - disse após dar um abraço no amigo. - Parabéns pelo gol, Bruno, se não fosse por você, não estaríamos comemorando agora.
- , você cobrou o escanteio, esqueceu? - Bruno riu, não queria ter todo o mérito só pra ele. - Fizemos um bom jogo, cara.

Entre felicitações e muitas fotos com a taça para postar durante muitos dias, a comemoração no campo foi longa, mas ainda tinha muito mais no vestiário. Para a entrevista coletiva junto com o treinador, Bruno e foram escolhidos por terem sido eleitos os melhores em campo, pegando os dois desprevenidos. Eles se sentaram um de cada lado de Carille e iam respondendo perguntas quando lhes dirigidas.

- , como é a sensação de ganhar um título tão importante depois de tanto tempo parado? - um jornalista perguntou em espanhol e respondeu prontamente no mesmo idioma.
- Gratificante, sou abençoado e sei disso. Passei boa parte da temporada fora, perdi jogos importantes em todas as competições, mas estou feliz de ajudar o time. O mérito não é só meu, somos uma equipe e meus companheiros merecem muito mais reconhecimento do que eu por terem disputado todos os jogos, eu joguei uns três e olhe lá - o camisa 7 respondeu rindo. - Mas respondendo a sua pergunta, me sinto abençoado.
- O espanhol dele é perfeito, eu estou morrendo de inveja - Bruno disse no seu microfone, causando risadas em todos na sala de imprensa.
- Bruno, como foi a sua adaptação ao futebol brasileiro? Você já ganhou dois títulos nessa temporada e é importante para o time, imagino que tenha sido um trabalho árduo - um outro jornalista brasileiro perguntou ao erguer a mão.
- Foi bem difícil, eu não falava nada de português, então não sabia conversar muito bem, mas acho que o trabalho é mais importante do que o idioma e eu dei o meu melhor para a equipe. Eu fico feliz de poder ajudar o time também. O futebol no Brasil e no Uruguai são muito diferentes, não no estilo de jogo, mas em estrutura. Sou grato por jogar em um clube como o Corinthians.
A pergunta seguinte foi dirigida ao treinador, que elogiou muito seus atletas e o trabalho em grupo. Enquanto ele falava, viu alguns dos seus colegas atrás do painel, fazendo sinal para que ele e Bruno se afastassem porque iriam entrar com um balde de água gelada. fez sinal para Bruno que entendeu o recado, e então os jogadores interromperam a entrevista, jogando água em Carille. O treinador quase conseguiu puxar para se molhar também, mas o atacante foi mais rápido e se desvencilhou antes de sair dali encharcado também, rindo sem parar e entrando no meio da bagunça e cantoria.

Com aquele título alcançado, o Corinthians se classificou para a Libertadores da próxima temporada, para além de se livrar de qualquer pressão ou crise eminente no clube após resultados ruins anteriormente. A conquista inédita da Sul-americana serviu como um divisor de águas para o clube alvinegro e, se o Campeonato Brasileiro já era do Flamengo, então eles mal podiam esperar pelo próximo ano e tudo o que os aguardava.

⚽🖤📱

Granja Comary. Teresópolis, Rio de Janeiro.

se quer teve tempo de descansar no conforto da sua casa e embarcou para o Rio de Janeiro horas depois de voltar para São Paulo. Estava exausto, mas era incapaz de parar por ali, ainda tinha mais um desafio antes do final da temporada e ele iria cumprir com orgulho, vestindo novamente a amarelinha e servindo ao seu país diante do maior rival, a Argentina, e também contra a Coréia do Sul, ambos os jogos na Arábia Saudita dentro de alguns dias.

- Atenção, atenção! O campeão da América chegou! - Arthur anunciou na sala de convivência quando entrou no ambiente, completamente distraído com o seu celular.

Aos gritos de o campeão voltou, ele recebeu as felicitações dos seus colegas de Seleção e percebeu que estava morrendo de saudades daquilo. De todas as camisas que já defendeu, a Seleção era a sua preferida sem sombra de dúvidas.

- Gente, nem foi tudo isso. Todo mundo diz que Sul-americana é a série B da Libertadores - disse após cumprimentar Firmino. - Ou uma Nations League da América do Sul.
- Foi tudo isso sim, cala a boca - ele recebeu um pedala de Everton. - Trouxe a medalha, né? Eu quero ver.
- Trouxe, Cebolinha. Agora me erra, eu ainda nem dormi direito, tô pilhado.

estava realmente cansado, não havia dormido quase nada nas últimas quarenta e oito horas. Seu corpo implorava pela cama grande e confortável da sua suíte na Granja Comary, mas dessa vez ele ficaria em um quarto duplo e ainda não sabia quem era a sua dupla.
Então após passar algum tempo com os amigos, ele decidiu voltar para o seu quarto e tirar ao menos um cochilo antes do jantar. Quando entrou no cômodo, mirou direto na sua cama, mas também viu que o outro jogador havia acabado de chegar. Ele conteve a vontade de rir quando viu que iria dividir o quarto com Gabriel Barbosa do Flamengo, o artilheiro do Brasil naquela temporada.

- Eu não divido o quarto com corinthiano - Gabriel disse friamente e franziu o cenho, mas logo o jogador do Flamengo começou a rir. - É brincadeira, cara! Parabéns pelo título, jogou demais. Também deu trabalho pra gente lá no Maracanã.
- Perdemos de 4x1 - resmungou, mas acabou rindo também. - Então parece que vamos dividir o quarto nos próximos dias.
- Parece que sim, se não tiver problema pra você. Eu juro que eu não ronco.
- Não, tudo bem, eu também não, vai ser legal - ele se sentou na cama, tirou o par de tênis e se deitou em seguida. - Se não se importar, eu vou dormir um pouco, ainda não dormi direito desde o jogo.
- Mas já faz dois dias.
- Eu sei, mas eu não consegui dormir...
- Tudo bem, eu vou dar um salve pros caras lá fora. Foi um prazer finalmente te conhecer, - Gabriel disse caminhando em direção à porta.
- Igualmente - bocejou. - Gabriel?
- Sim? - o atleta se virou pra ele na entrada do quarto.
- Ainda dá tempo de te passar na artilharia?
- Não - Gabriel respondeu após soltar uma gargalhada alta. - Mas ano que vem a disputa vai ser boa.

concordou e então Gabriel apagou a luz e fechou a porta, deixando o ambiente completamente escuro. Não demorou cinco minutos para que adormecesse, de tão exausto que estava. Ainda teve tempo de sonhar que estava jogando a partida novamente, incapaz de descansar a mente, quando Arthur o acordou, horas depois, alegando que era a hora do jantar, então os dois seguiram para o refeitório.

- Você está horrível, cara.
- Eu tô com sono, Arthur! - esfregou os olhos. - Ganhar um título é bom, a ressaca que vem depois que é foda.
- É verdade, fiquei assim depois que ganhamos a LaLiga, mas acho que vale a pena.
- Com certeza vale, foi único. Parece que estou vivendo em um mundo paralelo.
- Não é um mundo paralelo, , você merece tudo isso. Eu sei que você tá arrebentando, continua assim e você já sabe onde vai parar.
- Sei sim, no departamento médico.
- Imbecil - o jogador do Barcelona disse rindo enquanto entravam no refeitório.

Levou instantes até Arthur vendo um braço erguido na direção deles, era Neymar os convidando para se sentarem ao lado dele na enorme mesa montada para todos os atletas se sentarem juntos. Enquanto Arthur foi tranquilamente, cumprimentando todos à sua frente, foi logo atrás ainda processando aquilo. Conhecia Neymar dos tempos de Santos, mas agora parecia outra pessoa, o craque do PSG estava o convidando para jantar com ele.
Após cumprimentar Arthur, o jogador se virou para , franzindo levemente o cenho e não entendeu qual era a intenção dele.

- Eu não te vejo desde...
- Dois mil e onze - respondeu quando percebeu que Neymar não iria se lembrar nunca. - Já faz oito anos.
- Vocês se conhecem? - Arthur perguntou completamente surpreso, se esquecendo completamente que era um dos meninos da Vila.
- Tá brincando? Ele destruía no sub-15 e no sub-17, ainda jogamos pelo profissional. Eu me lembro dele muito bem.
- Não tive muito espaço no profissional, fui pra Argentina cedo - pontuou.
- É verdade, mas o que importa é que você jogava demais. Tá aonde agora, parceiro? Senta aí.
- Corinthians - ele respondeu enquanto os três se sentavam.
- Corinthians, é? Bacana - Neymar parecia ligeiramente desapontado com a resposta de .
- Ele acabou de ganhar uma Sula, literalmente, nem dormiu ainda. Tá arrebentando lá no Brasil desde que voltou de lesão - Arthur saiu em defesa do amigo. - Te cuida, menino Ney, esse aqui vai fazer um estrago.
- Sul-americana? Isso é muito legal - o camisa 10 da Seleção sorriu. - Está melhor do que eu, então.
- Isso não é verdade. Eu não tenho uma Champions... Ainda - disse divertido, provocando risos nos outros dois.
- Disse bem, ainda. Se o Arthur diz que você vai fazer um estrago, então eu acredito. Vou ficar de olho em você, quem sabe Paris não seja a sua próxima parada?

Por mais que uma proposta vinda de Neymar soasse tentadora, Paris Saint-Germain era o último clube europeu no qual se imaginava vestindo a camisa. Diferente de , ele não era um grande fã do futebol francês e torcia para não receber nenhuma proposta daquela região, mas caso um dia chegasse, ele não iria recusar.

- Vou tomar a sua vaga - disse por fim, evitando o olhar desconfiado de Arthur que sabia muito bem o desejo dele de jogar na Catalunha.

O problema de ter um melhor amigo de anos era que Arthur sabia tudo sobre , o conhecia como poucas pessoas. Um ano antes, quando recebeu proposta do Barcelona, Arthur achava que ele não merecia defender as cores blaugrana, mas sim que nunca escondeu o seu clube do coração de ninguém. Depois de muita conversa, convenceu Arthur de que estava tudo bem e que ele não poderia recusar aquela proposta nunca, enquanto ele continuaria seu trabalho no Grêmio até que a próxima oferta surgisse. Foi um pouco decepcionante para Arthur quando soube que iria passar mais um ano no Brasil, agora defendendo o Corinthians, clube que nunca lhe agradou. Ele gostaria que o amigo tivesse o mesmo reconhecimento algum dia.
não estava mais preocupado com o seu próximo clube, não sentia aquele desespero em deixar São Paulo o mais rápido possível. Talvez fosse o seu bom momento, talvez fosse o seu relacionamento... Ele não sabia muito bem, mas estava feliz em estar ali.
tinha tudo o que realmente importava.

⚽🖤📱

Arábia Saudita

A sensação de vestir a amarelinha pela segunda vez era tão maravilhosa quanto vestir a primeira, foi isso que pensou ao vestir o uniforme novamente. Melhor do que isso era saber que jogaria contra a Argentina, time que passou a torcer desde que Lionel Messi vestiu aquela camisa pela primeira vez. pensou no passado e imaginou que o garotinho de onze anos, encantado com o futebol de Messi em 2005 e querendo ser como ele um dia, estaria orgulhoso de sua versão adulta, quatorze anos depois disputando uma partida contra o seu ídolo do futebol. Mesmo do banco de reservas, se sentia abençoado por estar ali.
O primeiro tempo do jogo terminou empatado em 1x1 com gols de Dybala e Neymar, o que foi satisfatório para ambas as equipes, mas Tite queria um time mais leve para a segunda etapa, então optou por duas substituições. Gabriel Jesus no lugar de Richarlison e no lugar de Philippe Coutinho, alteração que deu certo meses antes. O jogador estava mais do que feliz pela oportunidade, embora achasse que Coutinho fosse infinitamente melhor do que ele.

- Como está se sentindo? - Arthur perguntou para ele enquanto entravam no gramado.
- Realizando um sonho... Mas não se preocupa, a responsabilidade vem primeiro.
- Fica perto de mim no final no jogo - o camisa 8 disse por fim, indo para a sua posição, enquanto fez o mesmo.

Quando o apito do árbitro soou, indicando o início do segundo tempo, constatou que aquele jogo havia entrado no seu top 5 dos jogos mais memoráveis da sua carreira. O primeiro, sem sombra de dúvidas, foi o da conquista da Libertadores, seguido pelo dia em que enfrentou o Real Madrid em sua melhor fase. A conquista da Sul-americana e a estreia pela Seleção vinham logo atrás, aquele jogo fechava a lista e ele faria de tudo para ser uma de suas melhores atuações também. Não queria se intimidar por quem estava do outro lado, pois era um profissional antes de ser torcedor e iria fazer o seu papel.
Lionel Messi recebeu uma bola interceptada no meio de campo e deixou Arthur para trás com um drible que deixou o meia desconcertado. Casemiro fez o que podia, mas o argentino conhecia muito bem o rival e passou sem dificuldades. Tite gritava para os pontas voltarem para ajudar na marcação e foi exatamente isso o que fez. Ele avançou em direção ao camisa 10, esticando a perna e mirando na bola. Messi, sabendo exatamente o que o brasileiro iria fazer, conseguiu pular antes de cair, mas a bola ficou com o camisa 17, que devolveu para o meio de campo brasileiro e voltou para a sua posição. O segundo tempo foi equilibrado em sua maioria, até o próprio Messi virar o jogo para os argentinos aos vinte e cinco minutos. A felicidade azul e branca não durou muito porque Arthur empatou dez minutos depois com um chute de fora da área, muito parecido com suas pinturas no Barcelona e que estavam virando sua marca registrada.
Aos quarenta minutos, Neymar tentou um chute de voleio que acabou indo para fora e coube à Daniel Alves cobrar o escanteio. O jogador do São Paulo mandou uma bola longa para a grande área que passou pela cabeça de Gabriel Jesus. O goleiro argentino defendeu, mas não conseguiu segurar e o rebote parou nos pés de . O corinthiano não pensou duas vezes antes de mandar para o fundo do gol.
pensou em correr para comemorar, mas tudo o que conseguiu fazer foi se jogar no gramado, quase sendo esmagado pelos seus colegas de time que foram comemorar com ele. Ele não podia acreditar que havia marcado o seu primeiro gol com a camisa da Seleção justamente contra a Argentina, o gol da virada brasileira. Se levantar dali parecia impossível naquele momento, de tão extasiado que ele estava. Ele não sabia que naquele momento, do outro lado do mundo e em diferentes estados do Brasil, sua namorada, amigos e família comemoravam junto com ele, tendo certeza de que seria apenas o primeiro de muitos.
Ele só se levantou quando foi obrigado, voltando à sua posição para os minutos finais do jogo. O time argentino bem que tentou pressionar, quase empatando com Higuaín, mas os brasileiros estavam em uma noite inspirada e mais nada passou até o apito afinal. Brasil 3x2 Argentina.
Arthur fez sinal para se apressar e o atacante correu em direção ao amigo, cumprimentando alguns argentinos pelo caminho, gravando cada rosto em sua mente.

- Por favor, não surta - o meia disse enquanto tirava a camisa. - Olha quem tá vindo aí.

O argentino se aproximou para cumprimentar Arthur e o parabenizar pelo gol e o brasileiro fez o mesmo, estendendo a conversa para quem estava ao lado. estufou o peito, abrindo o seu melhor sorriso quando Messi lhe estendeu a mão.

- Parabéns pelo gol - ele disse educadamente, reconhecendo a superioridade verde e amarela durante a partida.
- Gracías - foi tudo o que conseguiu dizer, torcendo para que Arthur não começasse a rir dele . - Parabéns pelo gol também.
- O Arthur fala tanto de você que é como se você estivesse lá - o culé tirou a camisa também. - Vamos trocar?

concordou imediatamente, tirando a sua camisa e trocando com o outro. Agora tinha três camisas do seu ídolo e jurou para si mesmo que não iria se desfazer delas nem mesmo depois de morrer.

- Acha que com esse gol, o Bartomeu vai prestar atenção nele a partir de agora, Leo?
- Espero que sim - Messi riu bem humorado. - Foi um prazer jogar contra vocês. Arthur, te vejo em alguns dias. , foi um prazer finalmente te conhecer, espero te ver por lá também.

Messi se afastou dos dois para cumprimentar Neymar e Daniel Alves enquanto se virou para Arthur, apertando a camisa em suas mãos, processando o que acabou de acontecer.

- Tá bom, Arthur, você já pode rir - disse ao notar que Arthur estava prendendo o riso.
- Eu não vou fazer isso! Você foi bem. Ouviu ele, né? É melhor continuar assim.
- Pode ter certeza de que vou fazer de tudo pra isso.

ainda teve tempo de cumprimentar outros craques argentinos, fossem titulares ou reservas, como Icardi (mesmo que não fosse o maior fã do jogador do PSG) Agüero e Kannemann, seu colega de Grêmio, no qual cumprimentou com um abraço apertado. Saindo do gramado, também cumprimentou Paulo Dybala, agradecendo pela camisa entregue meses antes.

- Então foi pra sua namorada? Que mundo pequeno! - o jogador da Juventus riu humorado. - E ela gostou?
- Adorou. Ela gosta mais de você do que de mim, é sério.
- Acho que ela precisa se atualizar. Você é o cara! Parabéns pela partida.
- Obrigado, você também.

Eles seguiram por direções opostas e acompanhou o seu time em direção ao vestiário, repassando os últimos minutos em sua mente inúmeras vezes. Nunca imaginou que aquilo fosse acontecer e ele até duvidou, mas quando viu a camisa 10 nas suas mãos, teve certeza de que era realidade e ele nunca iria esquecer daquilo.
Se pudesse pôr em um papel tudo de bom que lhe aconteceu em apenas quarenta e cinco minutos, então ele precisaria de um caderno inteiro para escrever.

⚽🖤📱

- Então foi isso, pessoal, eu espero que vocês tenham gostado e se divertido. Quero ver todos vocês em uma próxima vez - disse ao chegarem no ponto do final do passeio, sorrindo para os visitantes.

Ela se despediu dos visitantes com um sorriso simpático e dispersou o grupo bem a tempo de encontrar com uma das suas colegas, Taís, indo em direção ao vestiário.

- Ei, você tá sabendo? Parece que a diretoria tá interessada no Luan.
- Que Luan? - perguntou distraidamente enquanto via se tinha alguma mensagem de no seu celular.
- O do Grêmio!
- Ah... É sério isso? Tem alguma coisa confirmada?
- Não sei, é só o que estão comentando. Acho que querem abrir uma filial do Grêmio aqui em São Paulo, pelo visto.
- Às vezes eu até esqueço que o jogava lá - ela riu do próprio comentário. - Eu acho que pode ser uma boa, o Luan é craque, eu até que gosto dele.
- Mas você sabe que o Luan e o são brigados, né? Desde que jogavam juntos, ao menos é o que dizem por aí.
- Mas de qualquer jeito, não dá pra acreditar em tudo o que a mídia diz, né? No máximo eles devem ter trocado umas farpas no jogo, o que é normal, é a imprensa já aumentou tudo.
- Talvez, mas seria curioso ver os dois jogando juntos de novo.
- Porque não é você que aguenta o senhor esquentadinho depois - riu humorada enquanto entravam juntas no vestiário.

Taís foi até o seu armário enquanto foi em direção ao banheiro. O comentário de Taís a deixou intrigada e curiosa, então ela se trancou em uma das cabines e começou a procurar por conteúdo ligado aos dois, encontrando várias coisas na internet, muitas páginas que diziam que os jogadores tinham rivalidade e por isso o vestiário gremista estava rachado. Tinha alguns vídeos deles trocando farpas no campo após alguma jogada que deu errado, assim como trechos de respostas atravessadas em entrevistas. percebeu que a situação poderia ser mais séria do que ela imaginou.

"Amor, pode me ligar quando estiver com um tempinho livre? Preciso muito falar com você sobre uma coisa... Bjs 😘"

Ela enviou a mensagem para e voltou para o seu trabalho, guiando a última turma do dia, então só depois foi pra casa. Tomou um banho relaxante e preparou um jantar visto que estava com fome. Só quando já estava deitada no sofá assistindo um filme, o celular começou a tocar e ela viu que estava ligando para ela.

- Pensei que não ia me ligar mais - ela disse ao atender, sorrindo quando ouviu a risada dele do outro lado da linha.
- Desculpa, vida, é o fuso horário, aqui é de manhã e eu estou indo para o treino... Mas e então? O que eu fiz de errado dessa vez?
- Eu só queria te contar uma coisa que eu descobri... Não sei se é verdade, mas está circulando pelo clube que a diretoria vai tentar contratar o Luan para a próxima temporada, mas nada certo ainda... Aparentemente você é mais briguento do que eu pensava, mocinho.
- É uma longa história... - soltou um longo suspiro. - Mas eu vou te contar pra você entender que estou mais surpreso do que estou demonstrando... Bom, eu cheguei no Grêmio um ano depois do Luan, percebi que ele já era o craque do time naquela época, tentei ficar na minha, mas você me conhece, né? Gosto de demonstrar serviço em campo, aparentemente o Luan não curtiu muito o meu trabalho, mas também ficou na dele, não fez nada. Minha temporada de 2015 foi realmente boa, muito boa mesmo, por isso eu pude escolher o número da camisa que eu queria, e eu escolhi a camisa 7, era o meu sonho. Eu sabia que era dele, mas não me importei... Acabei ficando com a camisa, mas foi prometido ao Luan que se ele fizesse uma boa temporada, voltaria pra ele... Bom, nesse ano ganhamos a Copa do Brasil, eu fui bem, mas ele foi melhor, então o número voltou pra ele e eu voltei pra camisa 19. Não preciso nem dizer o que aconteceu em 2017, né? Ele foi só o melhor jogador das Américas naquele ano, e eu admito que fiquei com um pouquinho de inveja dele porque eu achava que eu também fui muito bem, fiz muitos gols, foi a minha melhor temporada sem dúvidas... No ano passado, ficou decidido que os jogadores não escolheriam o número das camisas, então a sete voltou pra mim e o Luan ficou indignado com isso, acho que aí as coisa só pioraram entre a gente, já não fazíamos questão de manter as aparências pra ninguém. O problema foi que as coisas desandaram como você sabe, os nervos de todos estavam aflorados, eu falei e ouvi muitas coisas, brigamos muito naquele ano e deu no que deu... Eu culpei ele, ele me culpou, mas a gente sabe que a culpa foi de todo mundo... Não sei se você sabe, mas ele é torcedor do Corinthians desde a infância, então ele ficou bem surpreso quando soube que eu fechei com o time, ao menos foi isso o que me disseram... Isso acabou quando visitei o CT do Grêmio no começo do ano, ele me pediu desculpas e eu aceitei, nos entendemos. Não que nos tornamos melhores amigos, mas achei que ele estava sendo sincero quando pediu desculpas.
- Nossa, , que coisa de louco - procurava as palavras para responder ao que acabou de ouvir. - Não sei como vocês sustentaram isso por tantos anos sem prejudicar o time... Vi aqui que o vestiário estava rachado, é verdade?
- Boatos, acho que a única coisa em comum entre a gente era que os dois concordavam em não meter o time nisso, principalmente o Renato, ele era bem casca dura com a gente. Sempre que a gente se desentendia, ele se metia no meio, só faltava bater. Apesar de tudo, o clima no vestiário sempre foi ótimo... Mas então ele vem mesmo?
- Não sei de nada, não estou mais lá dentro, mas achei que você deveria saber, só isso... Ainda ouvi a maior fanfic de brinde, adorei! Mas você realmente precisa se acalmar, .
- Eu sei! Estou tentando melhorar isso, sei que não sou ético às vezes... De qualquer forma, prometo ficar na minha e não dar bola pra imprensa, sei que vão fazer de tudo pra me derrubar de novo. - Acho bom, odeio quando você arruma briga sem o menor motivo. - Não se preocupa, meu amor, agora eu tenho um objetivo e vou fazer de tudo pra chegar lá.

Eles continuaram conversando mais um pouco até alegar que precisava desligar, então prosseguiu com o seu jantar e seguiu para o treino com os demais jogadores. Estava surpreso com a possibilidade, era fato, mas não iria se deixar abalar por isso, principalmente por serem apenas rumores bobos. Estava orgulhoso do seu amadurecimento desde que chegara em São Paulo e faria de tudo para melhorar ainda mais.
Sua carreira não dependeria de mais ninguém além dele.

Capítulo 24 - Irreparável

Barcelona, Espanha.

- Eu não acredito realmente que estou aqui - Bruno murmurava enquanto os quatro se sentava, em seus lugares em um restaurante reservado por eles, ele estava tremendo de frio. - Só você pra me fazer trocar o calor do Uruguai nessa época do ano por esse frio do caralho.
- Eu não obriguei ninguém a vir - respondeu naturalmente.
- O que eu não faço por você, hum? Até troquei minha escala do trabalho só pra vir também - disse bem humorada, fazendo rir também.
- É, eu sei. Você é incrível.

O Campeonato Brasileiro se encerrou dias antes com o Flamengo campeão e o Corinthians encerrou sua participação em quarto lugar com uma vaga direta na Libertadores do ano seguinte, o que foi satisfatório de modo geral. Quanto a disputa da artilharia do time, que antes estava acirrada entre os três principais atacantes, foi vencida pelo próprio que alcançou uma média impressionante de 0.5 gols por partida em todo o ano, com dez gols marcados entre outubro e dezembro, deixando os colegas para trás. encerrou sua primeira temporada no Corinthians com vinte e dois gols marcados no ano entre todas as competições disputadas, se tornando o artilheiro da equipe no ano vigente. Como prêmio, ele recebeu uma placa de felicitação do clube e que agora estava na estante da sua sala em São Paulo.
Agora, todo o time estava liberado para suas merecidas férias e cumpriu a tradição de todos os anos, indo para uma Barcelona decorada para o Natal e assistir a um jogo do seu time do coração. Desta vez era ainda melhor, pois estava acompanhado por , Bruno e Gabriela como agregada, que topou viajar com o trio também. Os quatro haviam chegado em Barcelona pela manhã e, após colocar o sono em dia, a temporada de férias estava oficialmente aberta, com direito a um jantar no melhor restaurante da cidade.

- A gente poderia dar uma passada em Madrid antes de ir embora, conheço um restaurante ótimo por lá também - Gabriela disse distraidamente enquanto olhava o cardápio, sendo ajudada pelo namorado a entender o que estava escrito, mas apenas recebeu olhares tortos na sua direção. - O que é?
- O é um clubista emocionado, Gabi. Ele prefere morrer do que pisar em território inimigo - tomou a palavra antes que mandasse a garota ir pastar e o jogador rolou os olhos, mas acabou rindo.
- Se for realmente bom, eu vou - disse por fim. - Eu adoro Madrid.
- Imagina se a moda pega em São Paulo. Nunca mais iríamos para a praia - Bruno riu do próprio comentário e logo todos os olhares estavam voltados para ele como se ele fosse um gênio. - O que foi?
- É isso! Tá ok, pessoal, é o seguinte. Barcelona, Madrid, depois cada um vai para o seu canto, então depois do ano novo vamos para a praia. O que vocês acham? - sugeriu empolgado, recebendo a aprovação das garotas.
- Ubatuba! Não, não. Arraial do Cabo! - Gabriela mal podia se conter de empolgação e aprovou a ideia.
- Eu voto em Arraial - ela ergueu uma mão. - Meninos?
- Arraial - se deu por vencido. - Méndez?
- Isso é sério mesmo?
- Por favor, amor, vai ser legal - Gabriela se virou para Bruno, disposta a convencer ele de qualquer maneira. - E não adianta reclamar de que você não vai ter tempo de ir pra Montevidéu, porque vamos ficar lá até o ano novo.

Bruno não era o fã número um de praia, queria passar as férias inteiras no Uruguai, mas ao ver aqueles rostos pidões diante dele, era incapaz de dizer não. Especialmente Gabi, a quem ele não sabia dirigir uma palavra negativa.

- Tudo bem, Arraial do cabo. Vocês me pagam por isso.
- Não se preocupa, Bruninho, você vai amar Arraial, é tão bonito quanto Ipanema - deu uma piscadinha pra ele. - Além disso, você está precisando pegar uma corzinha, está pálido já.
- , diz para a sua namorada parar de implicar com a minha cor.
- O que a diz é ordem, meu amigo. Eu só obedeço - disse por fim quando um garçom chegou para anotar os pedidos.

O jantar foi agradável e descontraído. Os quatro planejavam a segunda parte das férias para depois do ano novo antes de e Bruno se apresentarem para a pré-temporada que seria feita nos Estados Unidos, disputando a Florida Cup em Orlando. Os dois jogadores queriam, mais do que nunca, deixar o assunto futebol de lado e aproveitar as férias da melhor maneira possível. Para isso, as meninas ajudariam bastante.
Então após o jantar e dar uma volta pelo centro da cidade, fazendo algumas comprinhas de Natal, os casais se separaram. Bruno e Gabriela ainda quiseram andar mais um pouco enquanto e voltaram para o hotel, os dois estavam cansados o suficiente para apenas se deitarem e passarem o resto da noite assistindo filmes, embora estivesse frustrada o suficiente por não entender o conteúdo da novela em espanhol enquanto parecia estar se divertindo bastante.

- Droga. Eu realmente preciso aprender outro idioma - ela disse após algum tempo assistindo em silêncio.
- Espanhol é bem simples, é muito parecido com o português, apesar de que achei que aqui a programação era toda em catalão - ainda olhava para a televisão. - Sabe que vou te apoiar independente do que você for fazer, né? Quer cursar qual idioma?
- Eu sei - esboçou um sorrisinho discreto. - Eu não sei qual... Quero dizer, eu sei um pouco de inglês por causa do meu trabalho com o marketing, talvez fosse uma boa continuar, não é?
- Com certeza, inglês é importante. Eu sei muito pouco, deveria estudar também.
- Acho que meu próximo idioma vai depender do seu próximo time.

E só então percebeu o que disse, tirando o sorriso dos lábios. A janela para a Europa estava aberta e poderia sim receber uma proposta, então eles teriam que tomar uma importante decisão sobre o relacionamento deles.

- Você iria comigo? - olhou para ela, mas encarava o teto, ainda pensando no que disse.

Essa foi a pergunta mais difícil que alguma vez ela recebeu. não tinha uma resposta para aquilo porque não queria abrir mão da sua vida e de tudo o que conquistou. Não queria deixar os seus pais e nem seu emprego dos sonhos no seu time do coração. Por outro lado, não queria ficar longe de , visto que o relacionamento deles estava melhor do que ela poderia imaginar. Ela estava completamente dividida, mas não queria ter aquela conversa justamente agora.

- Eu não sei - ela respondeu com sinceridade, então olhou para ele. - Eu não sei se estou pronta pra deixar tudo pra trás. Você pode entender, não pode?
- Posso... Não é fácil pra mim pensar nisso, . Se eu for algum dia, não vou mais ver a minha família, não vou ver as minhas sobrinhas crescer... Isso também é difícil pra mim.

Nenhum dos dois acreditavam que realmente estavam tendo aquela conversa em um quarto de hotel na Espanha ao invés de estarem curtindo as férias dele.

- Eu acho que é cedo pra pensar nisso ainda, nem sabemos o dia de amanhã, estamos sofrendo por antecedência - concluiu após alguns instantes. - Se chegar uma proposta oficial, vamos conversar e decidir o que for melhor para nós dois, tudo bem? E eu não quero que você coloque a gente em primeiro lugar.
- ...
- Eu tô falando sério, . A sua carreira vem primeiro, o seu sonho. Eu não pensei duas vezes antes de escolher entre a minha carreira e um relacionamento anos atrás, não quero que você tome decisões pessoais baseadas em mim.
- Você não é uma segunda opção na minha vida.
- Mas nesse caso, eu vou ser. Me promete que, independente se for uma proposta do exterior ou até mesmo nacional, você vai pensar como um profissional do esporte. Eu fui muito imatura durante a negociação com o São Paulo, exigindo um posicionamento seu, mas as coisas mudam, e se um dia você voltar pro Grêmio ou for para qualquer outro time, tudo bem, porque não sou só uma torcedora, sou sua parceira. Quero que pense nos seus planos primeiro. Eu não quero influenciar eles.
- Isso quer dizer que você não iria comigo? - ele questionou receoso e suspirou.
- Isso quer dizer que eu não sei e conversaríamos sobre isso. Ah, ... Eu não quero pensar nesse assunto, isso me mata. Tem tanta coisa envolvida, por que vamos nos preocupar agora se não tem nada no momento?
- Você tem razão. Vamos dar um jeito nisso se acontecer.
- Quando acontecer. A gente sabe que vai. Vamos dar um jeito.

sabia que tinha razão, realmente iria acontecer se ele continuasse jogando em bom nível na próxima temporada, mas ele não queria pensar naquilo. Não naquele momento. Queria curtir suas férias, queria assistir a um jogo do seu time, queria estar com , apenas eles dois e mais ninguém. Que momento melhor do que aquele?
Ele foi até ela, colocando uma das mãos no rosto da namorada e admirando os detalhes dela por um instante de beijá-la de forma lenta. retribuiu, sendo incapaz de acelerar o momento, queria apenas esquecer que realmente tiveram aquela conversa precipitada, mas sempre que seus lábios se juntavam com os dele, ela sentia uma coragem insana de largar tudo e ir com ele aonde quer que ele fosse e naquela vez não foi diferente, gostaria de ter outras noites com em Barcelona no futuro, ou em qualquer outra cidade famosa pelo mundo, assim como foi em Paris.
O beijo que começou lento e despretensioso, se intensificou até virar algo mais quente e urgente. Talvez fosse a melhor forma de se esquecerem um pouco de que um futuro incerto os aguardava e, bem ali, naquele quarto de hotel, sentir um ao outro era o que realmente importava.

⚽🖤📱

Camp Nou.

- Nossa - parou por um instante para contemplar o estádio ao seu redor. - É lindo.
- É o meu favorito - olhou para ela, feliz por ela ter gostado. - Não perde a magia nunca.
- Eu sei como você se sente - olhou para ele e riu anasalado.
- Você trabalha em um estádio.
- Eu sei, mas todo dia a sensação é a mesma. Se eu, indo todos os dias me sinto assim, posso imaginar como você se sente vindo uma vez por ano.
- Sabe por que eu gosto daqui? Porque aqui não sou um jogador de futebol de um time grande, não tenho nenhuma obrigação, sou só um torcedor como qualquer outro. Eu posso me sentar nessa arquibancada no meio desse monte de gente e tá tudo bem, ninguém sabe quem eu sou e eu posso ser eu de verdade, só um cara normal como qualquer outro - ele sorriu, sentindo como se tivesse tirado um peso das costas no qual ele carregava durante todo o ano para esconder esse seu lado.
- Isso é bom, . Eu fico feliz por você estar feliz também, até visto a camisa de outro time - ela admitiu rindo, exibindo o escudo blaugrana estampado no peito por debaixo da jaqueta pesada.
- Obrigado, , significa demais pra mim você estar aqui hoje comigo.
- Meu amor, eu não perderia um El Clássico por nada nessa vida! Amo tanto esse esporte quanto você!
- Então você veio só pelo El Clássico? - perguntou divertido enquanto arqueava a sobrancelha. - E aquele papo de eu prefiro um derby?
- É verdade, eu prefiro um derby, mas não é todo dia que eu tenho a chance de ver o Barça do Messi e o Real Madrid do Zidane, né? Prefiro aproveitar o momento.

concordou com o ponto de vista dela e os dois continuaram conversando enquanto o estádio se enchia de torcedores do Barcelona para o jogo. Pouco depois, Bruno e Gabriela voltaram para junto deles com pipocas e refrigerante, mas estava ansioso o suficiente para quase não comer nada. Quem o visse ali, com seu cachecol do Barcelona, jamais diria que ele é um jogador prestigiado em um dos maiores clubes do Brasil. Ele gostava da sensação de se sentir um cara normal assistindo ao jogo do seu time, porque era exatamente isso que ele era, um cara normal e fã de futebol.

- Ei, Bruno! Pra que time você torce? - esticou o pescoço para perguntar ao amigo quando o assunto virou times do coração.
- Corinthians - Bruno respondeu naturalmente, vendo revirar os olhos. - O que foi?
- É sério! Pra qual time você torce?
- Eu torço para o Corinthians, sua louca! - Bruno se defendeu, rindo da expressão confusa dela. - Desde sempre.
- Bruno, você não engana a gente com esse papo. Pode confessar.
- É verdade! No Uruguai é diferente, é normal torcer para uns três clubes. Um local, Argentina, Brasil... Eu torcia pelo Nacional quando criança, mas comecei a jogar pelo Montevideo Wanderes e troquei, mas sempre foi o Corinthians.
- Você é o cara mais cagado que eu conheço! Jogou para os dois times que torce! Você zerou a vida, Bruno.
- Eu sei, - Bruno admitiu, ainda estava rindo porque os amigos não acreditavam nele.
- E você, Gabi? - perguntou para a garota do outro lado, que apenas prestava atenção na conversa.
- Eu não sou fanática que nem vocês três, eu digo que tenho um só por dizer mesmo, vocês podem não acreditar, mas eu sou palmeirense.
- Bruno, cancela! Cancela esse namoro, não vai pra frente nunca. É cilada, corre - disse causando risadas em todo mundo. - Meu Deus, Gabi! Olha aonde você foi se enfiar!
- Eu sei, nem eu acreditei - a garota riu enquanto passava a mão pelos cabelos cumpridos. - Pra falar a verdade, eu vou passar a torcer pro time em que o Bruno jogar, ele é mais importante do que qualquer time.
- Viu, ? Primeiro o namorado, depois o time - olhou para a namorada que revirou os olhos.
- Você chegou depois na minha vida, meu amor - esboçou o seu melhor sorriso sarcástico. - Eu já te disse, pode ir jogar em um rival, não tem problema, eu sempre vou te apoiar, mas eu me recuso a vestir a camisa de qualquer um deles.
- O que eu fiz pra arrumar uma namorada clubista? - o jogador passou as mãos pelo rosto, rindo das suas próprias escolhas.

Eles continuaram conversando até Barcelona e Real Madrid entrarem em campo para o início da partida.

⚽🖤📱

- Tenho que admitir, hoje foi muito divertido - disse ao abrir a porta do quarto de hotel em que estavam hospedados. - Não imaginei que seria tão emocionante assim.
- Você ainda não viu nada, vida, é o melhor clássico do mundo - fechou a porta e viu se virar pra ele, cruzando os braços. Ele não conteve uma risada. - Depois do derby paulista, é claro.
- Acho ótimo. Bom, vamos deixar o futebol um pouquinho de lado e aproveitar que estamos no país mais quente da Europa e aproveitar! - ela se livrou primeiramente da jaqueta pesada e depois tirou a camisa do clube, atirando em direção à cama.
- Assim? Sem um jantar antes? - questionou confuso, mas apenas riu.
- Eu não estava falando disso, , mas já que você deu a ideia... Vou tomar um banho, você vem?
- Tá bom, vai na frente que eu já estou indo.

pegou seu pijama na mala e foi em direção ao banheiro enquanto também se livrava das roupas de frio. Desenrolou o cachecol do pescoço, tirou luvas e touca, depois a jaqueta e a camisa do time, colocando tudo na mala. O chuveiro já estava ligado quando ele se distraiu com o celular por um instante no qual ele pôde jurar que leu errado.
Logo de cara, uma publicação do Grêmio informando que Luan não pertencia mais ao clube de Porto Alegre e sim ao Corinthians. O jogador havia assinado um contrato de quatro temporadas com o time paulista e todos os rumores se confirmaram naquele momento. procurou ter certeza de que estava lendo bem o que estava escrito, por ser uma nota oficial, assim como foi com ele um ano antes, não tinha dúvidas de que era verídico.

- O que é isso? - o jogador se sentou na cama e começou a procurar por mais informações.

Não precisou ir a fundo para encontrar algo que lhe prendeu a atenção. Odiava artigos sensacionalistas, mas se sentiu na obrigação de ler quando viu o seu nome envolvido no meio.

" A CAMISA 7,

Aparentemente o Corinthians está bem interessado em, se nos permitem dizer, se tornar uma filial do Grêmio em São Paulo. Interessante, não é?
Acaba de ser anunciado oficialmente o novo reforço dos alvinegros para a temporada de 2020. Sim, ele, o Rei da América em 2017, Luan Guilherme chega no Corinthians e choca um total de zero pessoas. As negociações já estavam em andamento há algumas semanas, mas só agora as diretorias chegaram em comum acordo pelo atleta que assinou contrato de quatro anos com os paulistas.

Luan não é o primeiro gremista a se transferir para o Corinthians nos últimos tempos. No início do ano , também desembarcou em Itaquera após dispensa gremista devido ao rebaixamento da equipe tricolor. O atual camisa 7 do Corinthians chegou de graça em janeiro, gerando certa desconfiança na torcida, mas encantou a todos nos primeiros meses do ano com a conquista do Campeonato Paulista, sendo um dos destaques do time. Como nem tudo são flores, após um desentendimento com o antigo rival, Paolo Guerrero, em uma partida contra o Internacional, perdeu espaço no time de Fabio Carille e, quando as coisas pareciam estar se resolvendo, o jogador sofreu uma lesão no tornozelo e ficou três meses afastado dos campos, retornando em outubro e salvando o final de temporada do Corinthians quando o time conquistou o inédito título da Sulamericana em cima do Atlético Mineiro.

Não é novidade para ninguém os supostos desentendimentos entre Luan e nos tempos de Grêmio. Embora nunca confirmado, internos afirmam que os dois jogadores nunca se deram bem, nem mesmo durante a conquista da Libertadores em 2017, onde Luan foi o destaque, mas não ficou para trás, o que dividiu opiniões sobre quem deveria ter sido coroado o Rei da América naquele ano. A rivalidade entre os dois muitas vezes custou o ambiente amistoso no vestiário gremista. Uma vez questionado, Luan disse "Não tem essa, o Grêmio é maior do que a gente, estamos aqui para darmos o nosso melhor. O que importa é o grupo.". Já , conhecido pelo seu temperamento dentro de campo, deixou escapar um pouco mais do que o companheiro de equipe: "O que acontece fora do gramado, acho que não é do interesse de ninguém, somos profissionais. É normal algum desentendimento entre pessoas que convivem juntas por muito tempo, mas o que realmente importa é o time, fazer a torcida feliz. Como falei, somos profissionais e agimos como profissionais."

O motivo da rivalidade entre os dois é pífio: a camisa 7 que Luan perdeu para em 2016 e depois recuperou, mas perdeu novamente em 2018 quando o time acabou sendo rebaixado, o que agravou os nervos dos jogadores ainda mais.
É inquestionável o fato de que honrou a pesada camisa 7 do Corinthians na temporada, a mesma que Marcelinho Carioca defendeu no passado. Fez boas atuações e muitos gols, é justamente por isso acreditamos que ele continuará com o mesmo número na próxima temporada, mas o que será que Luan acha disso? O novo contratado estaria disposto a relembrar os tempos de Grêmio e fazer por merecer? Será que a rivalidade entre os dois terá novos capítulos?
Não sabemos como será daqui pra frente, mas sabemos que vai ser uma disputa bem interessante."

- Que filhos da puta - murmurou enquanto ria do artigo. - Patético!

respirou fundo algumas vezes, procurando manter a calma e o profissionalismo. Aceitou as desculpas sinceras de Luan, mas estava receoso em trabalhar novamente com o jogador, temendo pelo seu próprio temperamento dentro de campo e também o dele. Só porque se desculparam, não significava que se tornaram melhores amigos. chegou à conclusão de que não estava preparado para tal.

- , vem logo! - berrou do banheiro, fazendo com que acordasse do seu devaneio. - Morreu aí por acaso?
- Estou indo!

deixou o celular em cima da cama e se livrou da calça também, indo em direção ao banheiro. Tirou sua última peça de roupa e deu espaço para que ele se molhasse também. Ele deixou escapar um longo suspiro após molhar o cabelo e olhou para , percebendo que ela parecia um pouco preocupada.

- Aconteceu alguma coisa?
- Sim, o Luan vem mesmo.
- É sério?
- Foi anunciado hoje... Ai, Cristo, estou muito, muito ferrado.
- Deixa isso pra lá, , você já é bem evoluído pra se estressar com isso.
- Só estou preocupado. Você sabe da história, eu te contei, talvez eu não saberia lidar se... Bom, ele é melhor do que eu, talvez eu não saiba lidar com maturidade em relação a isso.
- Olha, eu discordo. Quero dizer, ele é incrível, mas isso não te anula. De qualquer jeito, não vamos estragar as nossas férias pensando nisso, né?
- Mas...
- , está tudo bem, ele não é seu inimigo, você não tem o que temer. Vamos só curtir essa viagem e quando você se reapresentar no clube, aí sim vamos sentar e conversar, ok? Por enquanto, só relaxa, eu não quero ter que ficar falando do Luan enquanto estou tomando banho.
- Você tá certa - riu, se sentindo um pouco mais confortável com as palavras dela. - Vou deixar isso pra lá por enquanto.

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encarou o zagueiro parado na sua frente, pronto para tomar a bola dos seus pés, mas ela não se intimidou com a postura imponente que Bruno passava. Ela não tinha medo de jogador nenhum.

- Está com medo, chica? - Bruno perguntou em tom de provocação, apoiando o peso dos braços sobre as coxas.
- De você? Piada - ela sorriu, então avançou com a bola pra cima dele.

Bruno tentou marcar sem usar a força, mas ele não sabia o tamanho da habilidade de com a bola nos pés.

- É só não abusar da velocidade, eu não consigo acompanhar, mas pelo visto você é bem fraquinho. O Gil teria me quebrado - ela parou atrás dele.
- Ok, vou jogar sério agora.

O convite de Arthur para uma noite de pizza em sua casa acabou virando um rachão sério. Bruno desafiou para um mano a mano sem saber de tudo o que a ex jogadora do Corinthians poderia fazer. , por sua vez, jamais recusaria um desafio que envolvesse uma bola. Arthur, Gabriela e observavam da beira da quadra do jogador a disputa entre os dois que parecia ser bem acirrada. Nem Bruno e nem gostavam de perder.

- Ele vai tomar um sapeco. Deus tenha misericórdia - disse enquanto observava Bruno tentando tomar a bola de de todas as formas possíveis.
- Ela é boa - Arthur disse admirado. - Ela já jogou?
- Cara, ela é ex jogadora do Corinthians, já foi campeã da Libertadores feminina- riu das caras impressionadas de Arthur e Gabriela. - Ela é realmente boa.
- Percebi.

Eles continuaram observando a disputa. Bruno conseguiu tomar a bola e começou a proteger com o corpo enquanto tentava recuperar insistentemente, o que demorou um pouco pra acontecer. Terminava quando um deles conseguisse marcar um gol, o que demorou pelo menos dez minutos pra acontecer, pois pôde sentir na pele o que os atacantes adversários sofriam com Bruno, enquanto ele achava que ela era muito mais habilidosa do que muitos jogadores profissionais. ergueu os braços em comemoração ao seu gol e correu para a galera. abriu os braços pra ela e a girou no ar em comemoração.

- Você é incrível! - ele falou enquanto a colocava no chão, deixando um selinho nos lábios da namorada.
- Eu fui bem?
- Deixou ele no chinelo - Arthur disse enquanto observava Bruno se aproximando dos quatro.
- Bom jogo, - Bruno estava visivelmente ofegante, foi pego de surpresa. - Eu não sabia que você era tão boa assim.
- Se o melhor zagueiro do Brasil está me dizendo isso, tenho que acreditar - deu uma piscadinha para o amigo e ele riu sem graça pelo elogio. - Então, quem é o próximo?
- Vem, eu quero ver se você é tudo isso - Arthur pegou a bola nas mãos e começou a caminhar em direção ao meio da quadra.

parou por um instante, hesitando se deveria aceitar ao desafio ou não. Uma coisa era disputar um rachão com um amigo, outra era disputar com um jogador titular do Barcelona. Ela olhou para e ele entendeu, apenas com o olhar dela, que ela estava hesitante.

- Vai, mostra pra ele o que você sabe - sorriu.
- Eu não sei... Ele é... Bom, ele joga no time do melhor jogador do mundo, né?
- É só uma brincadeira, - Bruno disse otimista.
- É, , mostra pra ele que mulher sabe jogar bola também - Gabriela completou, dando o gás que faltava para a garota.

se deu por vencida e foi em direção ao centro da quadra, onde Arthur a esperava pacientemente. Eles tiraram a sorte e o jogador sairia com a bola.

- Três acaba? - ele sugeriu e ela concordou, sabendo que não tinha chances.
- Pega leve comigo, Arthur, pelo amor de Deus - se posicionou na frente dele, se curvando sobre os seus joelhos.
- Tá com medinho?

Foi o suficiente para que mudasse sua postura, passando de uma garota assustada para uma atleta confiante em segundos.

- Não tenho medo de culé folgado. Pode vir.

Arthur aceitou o desafio e logo os dois estavam em uma disputa intensa pela bola. Era tão rápido que os de fora precisavam prestar muita atenção para não perderem o foco. olhava admirado, ainda sem acreditar que ela estava fora do futebol por um diagnóstico ruim. Era muita habilidade desperdiçada, ele pensava consigo mesmo.

- Meu Deus - ele levou a mão ao rosto após dar uma caneta em Arthur e empatar em 2x2. - Vocês viram isso?
- Por que ela parou de jogar? - Gabriela perguntou sem tirar os olhos da disputa.
- Quebrou a perna e teve um diagnóstico ruim. Na minha opinião, ela poderia ter voltado. Já estaria no Lyon há muito tempo.
- Ela é jovem, ainda dá tempo. Por que ela não tenta voltar? - Bruno sugeriu, mas não tinha a resposta para aquilo.
- Acham que eu já não tentei conversar com ela? Não sei o que disseram, mas acho que foi o suficiente pra desistir de vez. Pelo menos ela é feliz trabalhando no clube...

Eles continuaram prestando atenção na disputa que ficava cada vez mais acirrada, mas era nítido ver que estava se entregando ao cansaço físico, pois ela não tinha metade da velocidade, força e resistência de Arthur, que treinava com a mais alta tecnologia esportiva ao seu favor. Em um momento de descuido, perdeu a bola e Arthur marcou o terceiro, comemorando a sua vitória enquanto se curvou sobre os seus joelhos, visivelmente cansada. Ela sentia um pouco de tontura e uma ânsia de vômito subindo pelo esôfago. percebeu que tinha algo de errado e foi até eles, se curvando para poder ver .

- O que você tem, ?- ele perguntou preocupado, notando uma certa palidez no rosto da namorada.
- Eu só... Exagerei - se sentou no chão sobre o olhar apreensivo dos jogadores. - É burrice minha tentar competir de igual pra igual com vocês, não tenho condicionamento físico pra isso há anos.
- Mas tem habilidade - Arthur se agachou na frente dela. - Tá tudo bem? Estava de barriga vazia, não é?
- Acho que eu vou vomitar.
- Vem, - estendeu a mão pra ela.

segurou a mão do namorado para se levantar e Arthur mostrou o banheiro mais próximo dali. De fato, ela exagerou ao tentar superar os próprios limites e agora precisava colocar pra fora.

- Isso é tão familiar - disse enquanto segurava os cabelos dela, não contendo uma risada.
- , eu juro que vou vomitar em cima de você se continuar fazendo piada. É sério - disse ao dar descarga e foi em direção à pia.
- Você tá melhor?
- Acho que sim.
- Não faz mais isso. Jogar comigo é uma coisa, eu sei o seu limite, mas eles não sabem.
- Vou tomar cuidado na próxima.

prendeu o cabelo em um coque e jogou água no rosto, depois fez um gargarejo com água e pasta de dente para não ficar com gosto amargo na boca. Estava se sentindo melhor, mas seu estômago estava roncando.

- Meu Deus, que fome - ela disse enquanto secava o rosto com a toalha de mão.
- Não se preocupa, eles já devem ter pedido as pizzas. Vamos voltar, ainda falta a minha vez - abriu a porta e deixou ela passar primeiro.
- Vou ficar te devendo dessa vez, amor. Estou vendo estrelas.
- Tudo bem, eu vou cobrar depois.

Eles deixaram o banheiro e voltaram para a sala de estar de Arthur onde o vídeo game estava ligado e eles disputavam uma partida no FIFA. Gabriela estava sentada em outro sofá apenas observando, então se juntou a ela enquanto foi para junto dos rapazes.

- Você tá melhor, ?
- Sim, eu só forcei demais. Competir com dois jogadores de alto nível, só eu mesmo... - riu de si próprio. - Tô meio enjoada ainda, mas vou ficar bem.
- , você não acha que... Deixa.
- O que é? Fala - ela olhou preocupada para a amiga e Gabi mordeu os lábios, visivelmente constrangida.
- Você e o se protegem todas as vezes, né?
- Pra falar a verdade, nem sempre - abaixou o tom de voz para um sussurro. - Por que a pergunta?
- ... - Gabi baixou o olhar, procurando as palavras certas para usar. - Não dá pra falar aqui, vem.

As duas se levantaram e deixaram a sala sem os rapazes perceberem porque estavam entretidos no jogo e foram até o corredor que dava acesso ao cômodo. Gabriela olhou para os lados, tendo certeza que eles não iriam ouvir e só então voltou a falar, porém bem baixinho só para ouvir.

- Eu sei que é meio precipitado da minha parte, mas... Será que você não está grávida?

arregalou os olhos, sem se dar conta de que seu queixo foi no chão. Gravidez nunca tinha lhe passado pela cabeça, mas sabia que ela e já haviam deslizado varias vezes e por isso ela tomava anticoncepcional. Ela não tinha a menor vontade de ser mãe e, por mais que soubesse que gostaria de ser pai um dia, ela não estava disposta à ceder tão cedo.

- Impossível - foi tudo o que ela conseguiu dizer. - Eu só tô assim porque é normal passar mal depois de muito esforço físico. Só pode ser.
- Também pensei isso, , mas tive que perguntar. Agora você me diz que vocês não usam camisinha, você sabe que a pílula não é totalmente eficaz... Desculpa causar alarde, mas eu fiquei preocupada. E a menstruação?
- Está normal, é sério, foi há duas semanas. Eu não tô grávida, Gabi - disse com convicção, mas não precisou de muito para fraquejar. - Será?
- Quando a gente voltar para o Brasil, vamos descobrir, ok?
- Gabi, eu não quero ter filhos - se escorou na parede, cruzando os braços e deixando o medo transparecer na voz. - Eu tenho horror só de pensar sobre isso.
- Mas e o ?
- É o sonho dele ser pai um dia... - ela esticou o pescoço para ver o namorado e ter certeza de que ele não estava ouvindo. - Eu amo ele, mas não sei se faria isso por ele. É o meu corpo e eu não quero.
- É delicado, , eu sei, mas não vamos agir no desespero. Vai ficar tudo bem.

soltou um longo suspiro, mas acabou concordando, dando aquela conversa como por encerrada ali. Elas voltaram para a sala e continuaram observando os meninos jogando até as pizzas chegarem. Ela tentou manter o seu melhor humor para que não desconfiasse de nada, pois ela só contaria para ele se realmente fosse verdade. Sabia o quanto ele ficaria feliz com aquilo, mas também sabia que custaria a sua própria felicidade.
Pouco depois, quando os meninos convidaram as meninas para uma partida, dispostos a ajudar, Bruno ficou encarregado de mediar as garotas, o que lhe custou algumas reclamações. se defendeu dizendo que sabia muito bem e não precisava de ajuda, mas Gabriela aceitou de bom grado, visto que não sabia como controlar os seus jogadores. Enquanto isso, acompanhou Arthur até a cozinha para ajudar o amigo a pegar algumas cervejas na geladeira e dividir com os outros.

- Então quer dizer que o seu melhor amigo agora é seu companheiro de time também? - Arthur perguntou de repente enquanto procurava pelas bebidas dentro da geladeira. - Ah, aqui estão vocês.
- Tenho dois melhores amigos, os dois estão aqui - grunhiu, chateado. - Não sei o que você quer dizer com isso.
- Você sabe muito bem, eu vi que o Luan vai jogar no Corinthians ano que vem. - Arthur entregou duas garrafas pra ele e depois fechou a geladeira com o pé. - Como você está com isso?
- Tô ok.
- Mentira.
- Arthur, olha, a gente se entendeu quando eu visitei o CT há um tempo atrás, está tudo bem. Eu temo mais por mim do que por ele, me conheço muito bem, talvez eu perca a cabeça em algum momento.
- Você quer isso?
- Não, eu não quero causar problemas nem pra ele e nem pra mim.
- Acho que ele pensa o mesmo. Você não tem que esquentar com isso, , passado é passado, vocês dois mudaram, eu posso ver o quanto você amadureceu desde que trocou de time. O Luan é um cara legal, apesar de tudo, um amigo, se você der uma chance pra ele, vai ver que eu estou certo.
- Nossa, que profundo... Você virou terapeuta?
- Desisto de tentar te ajudar - Arthur riu, negando com a cabeça. - Vamos voltar, eu nem sei porque ainda insisto em você.

⚽🖤📱

Porto Alegre. Rio Grande do Sul, Brasil.

Foi difícil para manter segredo nos dias que se seguiram até o Natal no qual passou com a família de em Porto Alegre. Por mais que amasse os parentes dele, ela trocaria tudo aquilo para estar em São Paulo com os seus pais e ouvindo os melhores conselhos deles. Ela ainda não tinha feito o teste de gravidez, estava tão apreensiva que mal conseguia se concentrar nas coisas que fazia, mas o fato de que Gabriela estava com Bruno em Montevidéu facilitou as coisas pra ela. Só precisava se preocupar em manter as aparências diante de que hora ou outra percebia que tinha algo errado, mas sempre tinha uma desculpa na ponta da língua. Fosse cansaço, sono ou uma dor de cabeça, ele parecia se dar por vencido.
A casa da mãe de estava cheia naquela noite do dia vinte e quatro de dezembro. finalmente conheceu boa parte da família de , como a avó materna, tias e primos e se surpreendeu em perceber como era uma família grande, diferente da dela que podia contar nos dedos as pessoas mais próximas. era filha única e tinha apenas duas tias por parte de mãe e um tio e uma tia por parte de pai, totalizando oito primos de primeiro grau. Os avós já eram falecidos e ela não se lembrava quando foi a última vez em que esteve em uma casa tão cheia de gente. Em partes estava feliz por isso, em outras desejava que sua família fosse assim, embora soubesse que tinha os melhores pais do mundo enquanto se quer falava com o pai dele.

- Eu já disse o quanto você está linda hoje? - perguntou ao pé do ouvido de enquanto envolvia um braço ao redor da cintura dela. sorriu, pois tinha comprado um vestido novo para aquela ocasião e ficou feliz por ele ter gostado.
- Você também está - ela disse ao virar o rosto pra ele.
- Não muda de assunto, mocinha! O foco aqui é você.
- Sendo assim, obrigada - ela riu enquanto ele dava um gole generoso no seu champanhe. - Vê se não exagera na bebida.
- Tarde demais! Tô de férias, amor, agora eu posso.
- É, mas está em família. E se as suas sobrinhas ou primos quiserem brincar com você? - ela perguntou enquanto eles iam em direção ao sofá livre na sala, se sentando em seguida.
- Então vamos brincar - ele disse naturalmente e riu ao perceber que não ia adiantar e ele já estava um pouco mais alegre do que o normal. - Deixa eu perguntar, te achei meio... Deslocada quando a gente chegou. Fica de boa, tá? A minha família é a mais tranquila que existe, tipo os seus pais.
- É que eu nunca passei um Natal longe dos meus pais - encolheu os ombros, sentindo uma saudade repentina de casa. - Na verdade, eu acho que nunca passei tanto tempo longe deles como ultimamente.

terminou de beber o seu champanhe em um gole só e colocou a taça sobre a mesa de centro, então se virou para . Ele não entendeu se aquilo era bom ou ruim, se ela estava triste ou jogando alguma indireta. Não sabia exatamente o que perguntar sobre o relacionamento deles sem parecer indiferente à vida dela antes de se conhecerem.

- Você é adulta, , os seus pais já não devem ter tanta influência sobre você... Mas se você não quiser mais dormir na minha casa, eu super entendo. Eu sei que parece que moramos juntos, talvez a gente realmente more, eu não sei... Mas eu entendo se você quiser voltar pra sua casa, é sério.

pensava a mesma coisa, era como se estivesse morando com desde que assumiram um relacionamento sério. Podia contar nos dedos às vezes em que dormiu em casa, exceto quando ele voltou à jogar e passar dias em concentração. Fora isso, era como se realmente estivessem morando juntos, mas ela não sabia se isso era bom ou ruim. De qualquer forma, gostava de passar tempo com ele.

- Eu amo morar entre as aspas com você, é sério - ela sorriu na tentava de não o deixar preocupado com isso. - É só hoje em específico, minha família é pequena, mas ainda sim é a minha família. Eu queria ter uma família enorme como a sua, mas eu amo a minha mesmo assim.
- Eu amo eles, mas... Queria que meus pais fossem como os seus. É um saco ter pais separados, é um saco não ter um pai presente - admitiu, pegando de surpresa. - O seu pai é mais pai pra mim do que o meu próprio pai. O seu pai comemorou comigo a minha convocação pra Seleção e o meu pai nunca me levou ao treino quando eu era criança. É ótimo ter uma família grande, sério, mas talvez a ausência do meu pai tenha feito diferença na minha vida mais do que eu gostaria.

não esperava por nada daquilo. Estava tão imersa nos seus próprios problemas que se esqueceu de que também tinha os dele para lidar. Nunca tocaram no assunto, exceto a vez em que ela própria arriscou enquanto voltavam da festa de encerramento do Campeonato Paulista. não sabia nada sobre o pai de e menos ainda se deveria perguntar ou não, mas achou que se ele estava se abrindo, talvez devesse perguntar.

- E se... - mordeu os lábios, estava com medo de ir a fundo no assunto e se irritar com ela, estragando o feriado deles. - E se você falasse com ele?
- Como assim?
- Sabe? Almoçar um dia com ele, eu não sei... Eu não quero me intrometer nisso, , sei que não é da minha conta, mas... O tempo muda as pessoas. Já que vamos passar o resto das férias no Rio de Janeiro, talvez não fosse uma má ideia...
- Você tem toda a razão, vou fazer isso - disse quase que imediatamente, deixando ainda mais atordoada com a reação dele. - Mas antes, vou falar com os meus irmãos, acho que eles devem saber.
- Como você achar melhor.
- Obrigado - sorriu, esticando seu braço para que sua mão se encontrasse com a dela. - Sabe, ? Eu não tenho a mínima ideia de como é ser pai, mas espero que eu seja mil vezes melhor do que ele algum dia.

sorriu de volta afim de conter a sua surpresa. Era como se desconfiasse de algo, mas ela se quer tocou em algum assunto relacionado à crianças ou filhos nos últimos dias, então ela não via motivo para tal. Talvez fosse coisa da sua cabeça ou era apenas parte do desabafo dele, ela ainda não sabia como iria contar pra ele.

- Você vai ser um pai maravilhoso - ela disse por fim, o confortando. - Eu tenho certeza disso.
- Bom, se um dia minha namorada mudar de ideia, quem sabe, não é?

Por mais que tivesse soado bem humorado e despretensioso, soube que não ia escapar disso para sempre e, se ainda estivessem juntos nos próximos cinco ou dez anos, o assunto voltaria à tona. Ela tinha que se preparar quando acontecesse para lidar da forma mais madura possível.
Felizmente, ela não precisou responder nada, pois Maya passou por eles no mesmo instante, sendo agarrada por que a abraçou, tomando a afilhada nos braços.

- Eu não sei como é possível eu amar tanto uma pessoa igual eu amo você! - ele disse enquanto apertava a garotinha nos seus braços.
- Tá me apertando, tio! - Maya disse entre risadas, tentando se desvencilhar.
- Não, senhora, vai ficar aqui comigo pra sempre. Vou te levar pra São Paulo comigo, tudo bem?
- Mas a minha mãe não deixa.
- É claro que deixa, você já é crescida. É dona do próprio nariz.
- Cuidado, , vai estragar ela - disse rindo, se divertindo com a cena. - Ela ainda é criança.
- Tá certa, é a minha bebezinha ainda - deixou um beijo na bochecha da sobrinha, fazendo cócegas nela em seguida.
- Não sou bebezinha, tio, para! - Maya ria sem parar e sua risada era contagiante.
- Só se você disser quem é o melhor tio do mundo.
- Você! Você!
- Melhor assim - ele a soltou, mas continuaram juntos.
- Tio, a gente pode jogar futebol?
- Claro! Vai lá pegar uma bola pra gente. Estou esperando bem aqui.

Maya saltou do colo dele e sumiu no corredor. A última das coisas que queria era se envolver com futebol em suas férias, mas era incapaz de dizer não para Maya. Achava que já passava tempo o suficiente longe da família para se privar de momentos com as suas sobrinhas.

- Meu único arrependimento em ter aceitado jogar em outro estado... Eu mal vejo elas.
- Eu acho que as meninas já entendem que o tio delas está longe, mas isso não muda o carinho dele. Você passou quatro anos aqui, , acho que é normal sentir isso. Foi sorte jogar no Grêmio, mas o futebol é assim mesmo, né?
- Você tem razão, só é mais difícil do que eu pensei.
- Vai ficar tudo bem, elas sempre vão te apoiar - sorriu e foi o suficiente para que se sentisse melhor. - Além disso, ela deve estar mais do que feliz por você estar aqui hoje.
- É verdade... A gente realmente leva o Natal a sério aqui, eu não poderia deixar de vir ou elas iriam atrás de mim.
- Então seria uma visita bem agradável.

Maya voltou para a sala com uma bola de futebol e os três foram para o jardim. Foi tempo o suficiente para que pelo menos mais cinco crianças se juntassem à brincadeira. se limitou a observar sendo atacado por todas aquelas crianças, rindo sem parar da facilidade dele para se livrar delas.

- Deixa de ser ruim, garoto!
- Eu não fiz nada! - se defendeu, gesticulando freneticamente. - Tá bom, quem pegar primeiro, ganha.

apenas prendia a bola nos pés, girando o corpo hora ou outra para se desvencilhar. desceu dos saltos e decidiu ajudar, tomando a bola dele e tocando para um dos primos.

- Ei! Isso não vale! - ele disse ao tentar passar por ela, mas aparentemente também tinha habilidades de zagueira.
- Vamos, você consegue! Chuta! - ela disse para o garotinho que marcou um gol. - Isso!
- Você tá roubando! Não vale, .
- Você que estava sendo desleal com eles - se virou para o namorado, sendo abraçada por ele.
- Ainda não esqueci daquele rachão em Barcelona, ok? Vou cobrar.
- Eu tô de vestido, ! Se enxerga - disse rindo e logo foram cercados pelas crianças. - É, acho que o jogo recomeçou. Boa sorte pra você aí.

Ela se soltou dele e se afastou, deixando com que as crianças se divertissem ao tentar tomar a bola dele e foi assim até se cansar, alegando que estava ficando suado, então a brincadeira foi dada como encerrada e eles voltaram pra dentro. foi até o banheiro do quarto para lavar o rosto e o acompanhou, segurando a camisa branca que ele tirou para depois jogar água no rosto e cabelo.

- Falta muito pra acabar e a gente ir embora? - fechou a porta atrás de si e se escorou não mesma.
- Sua pervertida, cadê o espírito natalino? - ele riu enquanto pegava a toalha de mão para secar o rosto.
- Eu é quem te pergunto. Custa me dar esse presente, vai morrer por causa disso? Me comportei direitinho esse ano.
- Sou a prova de que isso não é verdade - pegou a camisa de volta e vestiu, depois começou a abotoar. - Não sou Papai Noel, mas posso pensar no seu caso.
- Ho ho ho! - ela se quer o deixou terminar de abotoar a camisa quando o puxou pelo colarinho, o beijando.

retribuiu imediatamente, envolvendo os braços ao redor dela, a trazendo para mais perto. O que começou como um beijo intenso e um tanto desesperado, foi ficando lento e calmo, algo que realmente não combinava com eles, mas que gostaram mesmo assim. Só interromperam o beijo quando precisaram respirar, mas os sorrisos estampados nos lábios dos dois denunciou o quanto foi bom.

- Tá bom, me diz o que foi isso - disse enquanto abotoava os últimos botões da camisa.
- Não tenho a mínima ideia, isso não é muito do meu perfil - riu e foi obrigado a concordar.

Os dois saíram do banheiro e em seguida do quarto, mas quando percebeu que tinha um visco acima deles na porta, ele não resistiu e puxou pelo braço. Ela voltou bem a tempo dos seus lábios se encontrar com os dele em um selinho demorado.

- Agora eu que pergunto o que foi isso.
- Tem um visco em cima da gente, eu só quis aproveitar a oportunidade.
- Ah... - olhou pra cima e viu o enfeite. - Por que não tocou a música do Justin Bieber de fundo? Sabe, para entrar no clima de Natal mesmo.
- Puta merda, , era pra ser romântico - ele riu, negando com a cabeça a atitude dela.
- Desculpa, desculpa. Pensando bem, , a música do Justin pode cair bem agora pra gente, mas pra mim a da Mariah seria melhor ainda - deu uma piscadinha pra ele e girou nos calcanhares, indo na frente e foi logo atrás rindo, tendo certeza de que passaria o próximo ano inteirinho com All I Want For Christmas Is You na cabeça.

Eles voltaram para a sala e avistou Rony e Cida através da porta de vidro. Os irmãos conversavam entre si, animados, então ele pensou que aquele seria um bom momento para contar aos dois seus planos para sua viagem ao Rio de Janeiro. Ele pediu licença para durante um instante e foi até o jardim, se intrometendo na conversa de repente.

- É mentira! O Ronald sempre mente!
- Quem te convidou, ? - Rony deu um gole do seu champanhe.
- Rony, não fala assim com ele! O nunca vem aqui e quando vem, você fala assim? - Cida o advertiu como se o caçula ainda tivesse cinco anos de idade.
- Toma essa, distraído - disse satisfeito, embora soubesse que fosse brincadeira.
- E você, senhor , pode tratar de vir visitar sua família mais vezes ou você vai ver! - ela puxou a orelha do irmão, o fazendo dar um passo pra trás, rindo.
- Acho que você se esqueceu que sou um adulto de vinte e cinco anos.
- Esqueci, pra mim vocês ainda são dois pestinhas.
- Tá, tá! Falando em infância, me intrometi aqui porque tomei uma decisão, mas acho que vocês devem saber antes - mudou repentinamente o tom da conversa, prendendo a atenção dos irmãos. - Eu estava conversando com a sobre o nosso pai e...
- Seu pai, eu não tenho nenhum - Rony prontamente o corrigiu e bufou em reprovação.
- Escuta, Rony, a gente pode até não considerar ele como nosso pai, mas se tem uma coisa que a gente não pode mudar, é a genética. Então sim, ele é biologicamente o nosso pai, e como eu estava falando, eu estive conversando com a e eu acho que está na hora de resolver isso. Vou visitar ele durante minha viagem ao Rio de Janeiro.
- , não me leve a mal, eu adoro a , mas acho que isso não é um assunto do interesse dela - Cida disse com cautela, mas se arrependeu no momento em que viu o maxilar do irmão ficando tenso.
- Foi ideia minha, tá? Eu quis contar pra ela, uma hora ou outra ela saberia - saiu em defesa da namorada, sabia que seria uma conversa difícil. - E eu não aguento mais viver com essa incerteza toda, sem saber se eu perdoei ele ou não. Se eu for, vou descobrir.
- Se você tem essa dúvida, então já sabe a resposta... , deixa esse cara pra lá, ele nunca se importou com a gente - Rony disse quase suplicando. - Te pediu perdão em um momento muito oportuno, você não acha? Ele só queria desfrutar do seu status e do seu dinheiro, ele não se importa com a gente, ele não se importou com a nossa mãe quando deixava ela sozinha para encontrar com as amantes dele por aí...
- , eu acho que o Rony tem razão - Cida mantinha o mesmo tom cauteloso porque parecia bem tenso, ao ponto de se irritar. - Lembra quando você disse pra gente que seria ser jogador de futebol? Lembra que ele desdenhou? Lembra das vezes em que você implorou pra ele te levar ao treino e ele não foi? Lembra quando você ia se mudar pra Santos e foi atrás dele, mas ele achou loucura sua? Lembra do dia do penta, daquilo que você viu no meio da rua?
- Eu lembro de tudo isso, Cida, mas eu quero acreditar que o tempo muda as pessoas - sentiu sua voz falhar, pois todas aquelas lembranças faziam seus olhos lacrimejar. - E se ele mudou?
- Você tem um coração bom, , e sempre vê o lado bom das pessoas, isso é lindo - Cida sorriu docilmente para o irmão. - Mas... Ele não merece o filho que tem, foi uma escolha dele ir embora, ele não pensou nas consequências... Eu sou tão grata por ter um marido como o Léo, ver que as meninas têm um pai amoroso e presente, eu não preciso de mais nada além dele e de vocês, os homens da minha vida. Eu sei que você sente a falta de uma figura paterna na sua vida, mas eu não acho que ele seja uma pessoa que valha a pena lutar. Ele não lutou por nós.
- Se você quer ir, então vai, mas a Cida está certa... Poxa, , sempre foi só a gente, sempre cuidamos um do outro, e a mãe foi mãe e pai ao mesmo tempo, nós temos um ao outro e vai ser assim pra sempre, eu não acho que tenha espaço pra mais alguém na nossa família.

se sentiu desencorajado com as palavras dos irmãos. Cida e Rony estavam certos, não eram uma família tradicional, mas mesmo assim eram uma família. Dos três, era o mais aberto em relação ao pai e sabia disso, uma parte dele queria muito ouvir outro ponto de vista. Ele não se preocupava em ouvir o outro lado da história quando tinha dezessete anos, mas já era um homem crescido, com barba no rosto e bem sucedido. se considerava adulto o suficiente para ir mais a fundo nessa história.

- Eu... Eu só queria que vocês soubessem... Respeito a opinião dos dois e concordo com tudo, mas acho que preciso saber o outro lado da história também, independente de como vai terminar. Sei que se eu me machucar, ainda terei vocês e nossa mãe.
- Sim, você vai ter, mas eu vou dizer que eu te avisei - Rony tentou descontrair, fazendo rir, mas logo o clima caiu sobre os três de novo. - Se é o que você realmente quer, então vai e faz.
- Vocês não tem vontade de ouvir o que ele tem pra dizer?
- Não - os outros dois responderam juntos e prontamente para a surpresa de .
- , só vai, ok? Depois diz pra gente como foi, mas caso você acredite nele, por favor, não tenta convencer a gente e eu juro que vou respeitar a sua opinião, tá? Rony e eu não temos tanta bondade e empatia no coração quanto você.
- Desculpa decepcionar vocês com isso, mas eu acho que está na hora de eu mudar isso.
- Você não está decepcionando a gente, , só ficamos surpresos. É melhor você ir logo antes que a gente te prenda aqui, ok?
- Só mais uma coisa, , promete pra gente que isso é uma decisão sua e não tem dedo da nisso.
- Cida, não fala assim dela... - disse em tom de chateação, não queria insistir naquilo. - A só quer o melhor pra mim assim como vocês, ela não deu palpite em nada, só ouviu o que eu tinha pra dizer. Ela tem um ponto de vista diferente que eu precisava ouvir, mas só isso, não quero que vocês pensem que ela está se intrometendo na nossa família ou algo assim. Por favor, não pensem isso dela porque não é verdade. Além disso, eu fui muito bem recebido na família dela, e não vou aceitar menos do que isso de vocês. Sejam legais com ela.
- Nós vamos, , a gente só queria ter certeza - Rony tentou se explicar, mas tinha achado por um instante que tinha influenciado na sua decisão.
- Já sei tomar minhas decisões sozinho, fiquem tranquilos.

⚽🖤📱

Quando passou da meia noite e já era oficialmente Natal, chamou para que eles fossem até o quarto em que estavam hospedados no andar de cima. não entendeu bem quando ele disse que tinha uma surpresa pra ela, pois eles já haviam trocado presentes naquele dia.

- O que você está aprontando, ? - ela perguntou curiosa enquanto ele abria a mochila, procurando por algo.
- Por favor, não me mata. Você vai gostar, é sério. Demorou muito porque eu não tinha certeza se você gostaria ou não, na verdade ainda não sei, mas acho que sete meses juntos já é tempo suficiente, certo? Então...

tirou as mãos da mochila e mostrou uma caixinha preta de veludo, deixando estática. Ela sentiu o estômago se revirar de ansiedade, sem saber o que diria se fosse exatamente o que ela estava pensando. Não sabia se estava preparada ou não para aquilo.

- ...
- Antes de pensar o que eu tenho certeza que você está pensando, só abre, ok? - ele colocou a caixinha na mão dela enquanto ria sem parar da expressão de choque no rosto dela.

engoliu a seco e criou coragem para abrir. Quando ela viu os anéis de prata, sentiu um alívio indescritível percorrendo todo o seu corpo, agradecendo mentalmente inúmeras vezes por aquilo não ser um pedido de casamento.

- Graças a Deus! - ela não se conteve. - Nossa, eu achei que ia morrer agora. Eu pensei que...
- Que eu ia te pedir em casamento? E vou, mas não sou burro o suficiente pra fazer isso agora. Cada coisa no seu tempo, , gosto do nosso relacionamento assim. Eu só achei que seria legal ter algo pra olhar durante o dia quando eu estivesse longe de você e vice-versa.
- São lindas, - ela sorriu, finalmente reparando melhor nos anéis de espessura fina e cor reluzente. - Nunca usei aliança.
- É sério? Então vai ter que se acostumar. Coloca aí.
- Quem tem que fazer isso é você.
- Não sou seu empregado.
- Não acredito nisso...

pegou o anel menor e colocou sobre o seu anelar direito, percebendo que nunca tinha se imaginado de aliança, mas que ela gostou. Entregou a caixinha para e ele também colocou seu anel em seu dedo, exibindo a mão pra ela. Foi então que percebeu que poderia passar o resto da sua vida com ele. Estava pronta pra isso.

- Eu amei - ela sorriu timidamente, encolhendo os ombros. - Obrigada.
- Não vem se fazer de santa, eu sei que não é - riu divertido, colocando as mãos na cintura dela. - Quando vi que o Bruno e a Gabi já tinham com bem menos tempo, pensei que deveríamos também. Agi no impulso, mas não me arrependo. Ficou linda em você.
- E como você descobriu o número do meu dedo?
- Não descobri, foi sorte - ele riu de si próprio, feliz por ter dado certo. - Feliz Natal.
- Feliz Natal - disse por fim, rompendo qualquer distância entre eles com um beijo.

⚽🖤📱

Quando a agitação da viagem à Barcelona e o Natal passaram e se iniciou a última semana do ano, e acharam que o melhor a fazer fosse descansar antes de viajarem novamente durante a virada com Bruno e Gabriela. Então enquanto o atleta almoçava com o seu empresário, buscando números e parâmetros para a próxima temporada, passou parte do dia estudando táticas para melhorar ainda mais o seu trabalho. Por ser fim de ano, o clube estava em recesso, então ela queria tirar aqueles dias livres para poder estudar e voltar com novidades. Iria aproveitar que estava fora para fazer isso.
Mas apesar de tentar se concentrar, algo incomodava de uma forma que ela não conseguia explicar. O teste de gravidez estava guardado na sua mochila há dias e ela não tinha coragem de fazer, mas agora a curiosidade falava mais alto. E se realmente estivesse? Como diria para ? Como diria aos seus pais? Como poderia seguir a sua vida? não sentia o desejo maternal aflorando como na maioria das mulheres e, embora soubesse que talvez pudesse mudar de ideia com o passar dos anos, a ideia ainda a assustava e ela tinha muito medo de que Gabriela estivesse certa. O fato de sua menstruação estar há dias atrasada a deixava preocupada.
Tomada pela curiosidade, ela deixou o notebook de lado e foi até a mochila pegar o teste, indo ao banheiro logo em seguida. Ela se sentou e tentou relaxar, mas estava tão preocupada que isso demorou para acontecer. Ela tremia e seus olhos estavam cheios de lágrimas, mentalmente ela torcia muito para que não estivesse grávida. Simplesmente não saberia como lidar e nem todo o apoio do mundo, vindo de ou da sua família, não a faria se sentir melhor.
Quando ela viu a risca solitária no teste, um alívio inexplicável tomou conta de todo o seu corpo. Negativo, não estava grávida.
Ela jogou o teste no lixo e não podia conter a sua felicidade pelo resultado. Estava apavorada, mas agora só conseguia sentir alívio. Embora estivesse satisfeita, tomou consciência de que ela e deveriam tomar mais cuidado nas próximas vezes, ou uma hora iria acontecer.
jogou uma água sobre o rosto e voltou para o quarto, mas acabou optando por tomar um banho longo e relaxante, afim de se livrar de qualquer sinal de tensão, visto que estava tudo bem e sua vida continuaria exatamente do jeito que estava e ela estava mais do que feliz por isso. Nem sua vida e nem o seu relacionamento seriam afetados.
Bem, foi isso o que ela pensou até o momento em que saiu do banheiro e se deparou com , que havia acabado de chegar e estava com a embalagem do teste na mão que ela havia esquecido jogado sobre a cama. engoliu a seco, se esquecendo completamente de ter deixado ali. mantinha uma feição de surpresa com estranhamento no rosto, revezando entre o teste em suas mãos e bem na sua frente.

- O que é isso, ? Você...
- Não - interrompeu antes que terminasse, encolhendo os ombros por estar em uma situação tão constrangedora na opinião dela. - Eu não tô grávida, .
- Me explica, , por favor - perguntou calmamente, estava curioso e um pouco ansioso também.
- Eu achei que estava, mas felizmente não estou. Foi isso, não tem segredo.
- Há quanto tempo você achava isso?
- Desde Barcelona... - desviou o olhar quando percebeu que ele estava se irritando. - Depois do rachão com o Arthur, a Gabi me chamou pra conversar e acabou ficando no ar porque realmente parecia. A minha menstruação atrasou, fiquei preocupada, e às vezes deixamos de nos cuidar.
- Você ia me contar? Mesmo negativo?
- , eu não sabia o que fazer, eu estava com medo - cruzou os braços, se encolhendo. - Eu sei que você quer um dia, mas eu não queria criar expectativas em você.
- , acho que eu já deveria saber disso desde o primeiro dia... Independente do resultado, eu iria ficar do seu lado, você sabe disso... Eu sou louco pra ser pai, nunca escondi de ninguém, e justamente por isso eu merecia saber, mas não é uma coisa que eu te obrigaria a fazer por mim - disse calmamente, mas estava chateado por ela ter escondido aquilo dele.
- ...
- Se a gente quiser ter um relacionamento longo saudável, precisamos manter a comunicação, e gravidez não é uma coisa a ser tratada assim. Eu respeito a sua vontade de não querer ter filhos, mas e se tivesse acontecido? Eu só saberia depois? Isso é irreparável, ...

Ela ponderou por um instante e constatou que tinha razão. Ela deveria ter contado, ele ficaria do seu lado. Mesmo com um resultado negativo, nada iria mudar entre eles e sentiu como se realmente tivesse fracassado.

- Sinto muito.
- Eu também - ele deixou a embalagem sobre a cama e saiu do quarto sem se virar para trás.
- ...

não obteve nenhuma resposta, apenas uma porta batida com força instantes depois. Ela respirou fundo, tentando conter o nó que se formava na sua garganta. Ela estava se sentindo péssima, não tinha o direito de ter excluído daquele momento que poderia ter sido o mais marcante do relacionamento dos dois. Se sentiu um pouco egoísta por pensar apenas no próprio alívio e bem-estar quando, na verdade, tinha que pensar no que seria melhor para os dois e no que o futuro estava guardando para eles.
Ela achou melhor não ir atrás de , ele estava chateado e não iria querer ouvir o seu pedido de desculpas, então achou melhor voltar para sua casa, sua verdadeira casa. Estar em família e ouvir um conselho dos seus pais parecia a melhor coisa a se fazer no momento. Não sabia o que esperar deles, mas preferia levar uma bronca por ser imprudente do que ver o olhar de decepção estampado no rosto de outra vez, era cortante demais e jurou para si mesma que nunca mais iria decepcioná-lo outra vez.

Capítulo 25 - Passado


30 de junho de 2002. Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

A rua estava tomada por pessoas vestidas de verde e amarelo, bandeiras desfilavam em mastros altos e a música estava alta. Não era um feriado oficial, mas aquele dia foi histórico, afinal, a Seleção Brasileira de Futebol havia acabado de conquistar a sua quinta Copa do Mundo, se tornando o time que mais venceu o torneio mundial na história. Por conta disso, o país inteiro estava em festa.
Apesar do clima de euforia, Maria Aparecida corria pelo meio da multidão, dando braçadas em quem atrapalhasse o seu caminho. A menina de apenas treze anos, mas com responsabilidades de adulto, jamais se perdoaria se algo acontecesse aos seus irmãos menores, e Ronald, que haviam se perdido dela. Por um descuido, ela perdeu de vista os meninos de sete e quatro anos de idade enquanto conversava com uma amiga e agora corria desesperada atrás dos irmãos.

- Licença, sai da frente... ! Rony! Meu Deus, por favor...

Ela parou um instante para respirar e tomar fôlego antes de continuar a busca pelos garotos. Recebeu instruções claras da sua mãe sobre não deixar os meninos sozinhos, ou se entenderiam depois. Ela concordou, afinal, só iriam andar um pouco pela rua e voltar pra casa logo em seguida.
Quando viu e Ronald, há poucos metros dela, sentados na beira da calçada, um alívio imensurável tomou conta da menina, que correu até os irmãos imediatamente, os abraçando.

- Graças a Deus! O que deu em vocês dois? Qual era o combinado? Não era pra se afastar de mim!
- Desculpa, Cida - Ronald encolheu os ombros, se abraçando aos próprios joelhos.
- Tá tudo bem, Rony. Não faz mais isso, por favor - ela sorriu pra ele e se virou para , que estava na mesma posição, mas escondia o rosto porque estava chorando. - Ei, não precisa chorar, eu não tô brava com vocês, só fiquei preocupada.

, por sua vez, não respondeu à irmã. Estava desolado com o que viu. Ronald era pequeno demais para entender, mas , apesar de ter apenas sete anos, já era capaz de distinguir o certo do errado e sabia que o que viu não era nem um pouco certo.

- , o que foi? Conta pra mim o que aconteceu - Cida se sentou entre ao lado do irmão, procurando ter certeza de que ele não tinha nenhum machucado pelo corpo que estivesse doendo ou sangrando. - Você caiu? Diz pra mim.
- Eu não caí - olhou para ela, criando coragem para contar à irmã o que presenciou. - Eu vi o papai com outra mulher.

Cida arregalou os olhos, levando uma mão ao rosto. Aquilo não era novidade pra ela, sabia muito bem o tipo de homem que seu pai era, mas seus irmãos ainda não tinham idade o suficiente para saber daquilo. Ela sabia que era esperto demais para pouca idade, ele provavelmente sabia muito bem o que viu, então ela não poderia mentir pra ele sobre a situação.

- Você tem certeza?
- Tenho, eu vi! Ele beijou outra mulher, não era a mãe!
- Calma, meu amor - ela o abraçou de lado quando viu que o irmão estava inconsolável. - Olha, eu sei o que você viu, mas não conta pra ninguém, ok? Não se preocupa, eu vou contar pra mamãe, mas você tem que guardar segredo. Pode fazer isso?
- Mas Cida...
- Promete pra mim, . Não pode falar isso pra ninguém.
- Prometo.
- Ótimo. Não se preocupa, vai ficar tudo bem. Rony, dá um abraço no também. Vamos ficar juntos.

Ronald, sem entender muita coisa, obedeceu à irmã mais velha e os dois abraçaram o irmão do meio até que ele se acalmasse.
É claro que Cida não sabia como aquilo iria afetar a vida de com o passar dos anos. Foi o suficiente para que ele fosse se afastando do seu pai conforme crescia e entendia melhor a realidade da sua família. Quando seu pai foi embora de casa, estava disposto a nunca mais vê-lo novamente. Tinha apenas doze anos na época, mas tomou as dores para si e estava determinado a usar o futebol para fazer com que sua mãe e seus irmãos esquecessem aquilo. Ele passaria a ser o homem da casa e não deixaria algo parecido acontecer nunca mais.

⚽🖤📱

- E então? O que você acha? - perguntou enquanto encarava o teto da sua sala de estar, fazendo coisas aleatórias que se faz quando está no telefone. Deitar no chão parecia uma boa ideia.
- Acho que a errou em não te contar, mas você precisa entender o lado dela também. Ela estava com medo de estar grávida, é um choque até pra mulher mais maternal do mundo. Eu sei como ela se sentiu - Cida disse ao telefone, ainda um pouco perplexa com o que lhe contou.
- Então eu errei?
- Você se precipitou um pouco, sabe? Sim, ela tinha que ter te contado, mas a gente não pensa direito nessas horas... Eu não entendo a cabeça de uma mulher que não quer ter filhos, mas não cabe a mim julgar a por isso, ela te faz feliz e é isso o que importa pra mim... Você sabe que em algum momento, esse assunto vai voltar, não é? E você tem que estar preparado pra isso.
- Eu sei, mas ainda é muito cedo pra isso, a gente não quer pensar muito longe porque temos planos diferentes... Mas não sei, eu acho que eu gostaria que tivesse dado positivo... Eu acho que eu me sinto preparado pra ser pai, Cida.
- Mas a não pensa assim, , por isso ela escondeu de você. Acho que tem os dois lados da história, não dá pra eu ficar só do seu lado ou do lado dela porque os dois erraram em alguma coisa.
- Você acha que é melhor eu falar com ela? Eu não sei o que eu faço.
- Bom, é melhor do que passar a virada de ano brigados, não é? Eu falaria se fosse você.
- Tem razão, vou falar com ela, não vale a pena.

Eles continuaram conversando durante mais algum tempo até precisar desligar. Tinha que pensar nas palavras certas para usar com , pois entendeu que era um assunto muito delicado para se abordar e ele entendeu que não foi uma decisão fácil pra ela. Estava disposto a dar o apoio necessário.

⚽🖤📱

- Licença. Desculpa, foi mal. Com licença - passava pelo espacinho entre as pernas de desconhecidos e a fileira de cadeiras da frente enquanto equilibrava os dois sacos de pipoca nos braços. - Odeio essa fileirinha, não dá pra nada! - ela disse ao se sentar ao lado do seu pai e entregar um dos sacos de pipoca para a sua mãe.
- Você que é atrapalhada, .
- Valeu pela consideração, mãe. Amo o seu apoio moral, nota dez. E aí? Vai demorar pra começar esse filme?
- Céus, você não muda nunca - seu pai disse rindo, se lembrando que sempre foi impaciente no cinema. - Calma, daqui a pouco vai começar.
- Ótimo.

esticou os pés sobre a cadeira livre da frente enquanto começava a exibição dos trailers. Aquela véspera de ano novo parecia ser bem atrativa de se passar com os pais em uma tarde agradável no cinema. reconhecia que não estava sendo a filha mais presente no momento e estava disposta a passar mais tempo com os seus pais que sentiam notoriamente sua falta pelo tempo que ela passava com , mas durante aqueles dias em que estavam brigados, ela não trocaria agitação nenhuma pelo conforto do seu lar.
E foi só ela pensar em que o seu celular, preso por entre suas pernas, acendeu quando uma mensagem dele chegou. Ela apenas viu pela barra de notificação quando ele pediu para que pudessem conversar, mas bloqueou a tela de novo e deixou para responder depois. Iria curtir o cinema com os seus pais e se esquecer um pouco que todo o resto da sua vida era uma verdadeira bagunça.
Quando acabou o filme, ela e os pais ainda tiveram tempo de jantar em um restaurante antes de voltarem pra casa. já estava terminando a sua sobremesa enquanto os pais começavam. Ela não os culpava, afinal, qualquer coisa doce era o suficiente para melhorar o dia dela e aquele mousse de chocolate era o melhor que já experimentou alguma vez na vida.

- Vai devagar, . A sobremesa não vai fugir.
- Esse é o melhor mousse que já comi na vida, pai. Tenho que aproveitar - ela disse enquanto dava uma garfada generosa no doce. - Além disso, é minha despedida. Quero perder uns quilinhos, saudades de quando eu era jogadora e tinha a barriga chapada.
- Comendo desse jeito, vai ser difícil voltar a ter, filha - sua mãe disse bem humorada, fazendo a garota rir também.
- A senhora tem razão, mas é minha despedida, como falei antes. Minha promessa de ano novo é ser uma pessoa mais saudável.

Embora os pais não tivessem realmente acreditado na promessa de ano novo da filha, a conversa se deu por encerrada ali e logo o assunto mudou. valorizava o tempo que passava com os pais, eram pessoas divertidas e de mente aberta, ela era extremamente grata por isso. Sabia que tinha herdado muito deles, então se poderia se considerar uma pessoa boa e aberta ao diálogo, era por causa dos seus pais.
Após terminarem a refeição, eles decidiram voltar pra casa. foi no banco de trás como sempre, se sentindo uma criancinha no corpo de uma adulta de vinte e quatro anos. Ela estava olhando a mensagem de pela barra de notificação e pensando se deveria responder ou não. Estava surpresa por ser ele a pessoa que tomou a iniciativa e foi atrás quando deveria ter sido ela, mas não sabia como reagir diante da situação. Tinha medo do que ele poderia dizer e do rumo que as coisas poderiam tomar, mas teria que encarar o problema uma hora ou outra.

- Deixa eu perguntar uma coisa pra vocês - se intrometeu na conversa dos pais, chamando a atenção deles. - me chamou pra conversar. Eu devo ir?
- Depende. Você quer continuar com esse relacionamento?
- Quero, pai.
- Então vai. não tinha nenhuma obrigação em ir atrás de você e foi mesmo assim, ele quer ouvir o que você tem pra falar. , você errou em não contar pra ele, é totalmente compreensível ele ter ficado chateado. Eu sei que você estava com medo, mas poderia ter contado... Se ele está disposto a te ouvir, deve ir atrás dele.
- Seu pai tem razão, filha. Quer saber como estamos juntos há quase trinta anos? Abrimos mão de muita coisa, teve muita conversa e perdão, principalmente. Eu perdoei o seu pai por muitas coisas, assim como ele me perdoou também. Abri mão de coisas que achei que era impossível, ele também. Nós construímos a nossa vida na base do respeito, carinho e perdão. Como você quer que seu relacionamento com dure se no primeiro sinal de discussão, os dois agem com imaturidade e simplesmente param de se falar? Não é assim que funciona, meu amor, tem que perdoar muito, viu? E ele quer te perdoar, pelo visto, mas você tem que passar por cima do seu orgulho e admitir que errou com ele, e se ele fez alguma coisa de errado, também vai ter que te pedir desculpas.
- Nossa... Eu nem sei o que dizer, vocês têm razão, toda a razão. Eu quero ter um relacionamento com o como o de vocês.
- Então tenha consciência que você ainda vai ter que perdoar e abrir mão de muita coisa, , ainda mais por ele ser uma pessoa pública, um atleta. Se não der certo, estaremos aqui pra você, mas se quer se inspirar em nós para fazer dar certo, ouça os seus pais e diz tudo o que ele quer ouvir.
- Eu vou, pai... Obrigada, vocês são demais, é sério.

nunca realmente parou para pensar em como o relacionamento dos seus pais havia durado tantos anos e ainda sim era saudável e tinha amor no meio. Imaginou que não foi fácil, mas não tinha ideia de como fizeram dar certo, até aquele momento. Ela entendeu que precisaria abrir mão de muitas coisas e também teria que perdoar muito se quisesse que as coisas dessem certo com também.
O anel no seu anelar direito nunca pareceu tão reluzente como naquele momento, então ela se deu por vencida ao admitir que estava errada. Iria pedir desculpas e acabar com aquilo logo. Ao enviar mensagem confirmando que poderiam conversar, não esperava chegar em casa e encontrar o carro do jogador estacionado na frente do seu portão.

- Não faz besteira, viu? Amamos você - seu pai disse por fim após cumprimentar e entrou acompanhado por sua esposa.

se virou para , sentindo um frio incomum no estômago porque não sabia o que esperar dele. Embora o jogador mantivesse uma expressão passiva no rosto, ela sabia que ele se irritava fácil demais e aquela conversa poderia não acabar bem.

- , eu...
- Entra - ele interrompeu a garota e abriu a porta do passageiro pra ela. - Não quero conversar aqui fora.

concordou e entrou no carro. Esperou dar a volta até o banco do motorista e entrou também. Ele acendeu a luz interna do veículo para que pudesse vê-la melhor. Apesar da pouca luminosidade, ela ainda podia ver que ele realmente esperava por um pedido de desculpas.

- Hoje eu conversei com os meus pais e perguntei pra eles qual era o segredo para um relacionamento durar trinta anos - ela começou a falar, encarando as próprias mãos repousadas sobre suas pernas. - Eles disseram que teve muita conversa, sacrifício e perdão... Disseram também que, se quisermos que dure, vamos ter que perdoar e abrir mão de muita coisa um pelo outro. Eu já tinha pensado nisso, em que eu teria de abrir mão e posso imaginar, e não é fácil pensar ou admitir isso pra mim mesma... Eu sei que você não vai jogar no Corinthians o resto da carreira, nem no estado ou talvez no país, e eu tenho me preparado muito pra quando isso acontecer, ponderando como vou agir nesse caso, e acho que, da minha parte, esse é o maior sacrifício. Que bom que eu entendi essa parte, mas ainda não tinha entendido direito o perdão e o diálogo. Eu sempre fui o tipo de pessoa que resolvia as coisas parando de falar com os outros, conversa parecia besteira. Guardar pra mim e esquecer sempre pareceu a melhor opção... Mas não dessa vez.
- , você tinha que ter me contado... Eu entendo que sempre foi você por você mesma, e tá tudo bem, mas agora você não tá sozinha. Eu não mando em você ou na sua vida, mas sou parte dela, e você não pode me excluir de coisas relacionadas a mim também, entende? Uma coisa é você não me dizer sobre as coisas que você fez no passado, eu não ligo pra com quem você já namorou ou quando deu o primeiro beijo porque são coisas que já aconteceram, mas uma suposta gravidez é outra coisa completamente diferente. Positivo ou negativo, eu como o pai, deveria saber.
- Eu estava com medo, , sei que agi mal, mas eu não sabia o que fazer. Ninguém sabia disso além da Gabi, nem mesmo os meus pais, ninguém. Eu queria contar, mas não sabia como... Me desculpa, eu sei que errei feio com você e mesmo assim foi você que veio atrás de mim, mais um motivo pra eu me desculpar... Me perdoa, eu não vou mais esconder as coisas de você.
- Vamos deixar isso pra trás... Me desculpa também por ter reagido daquela forma, eu deveria ter sido mais compreensivo, não posso nem imaginar como você se sentiu.
- Tudo bem, isso não importa mais.
- Ótimo - ele sorriu de canto, vendo abrir um sorriso também. - Me diz uma coisa, sua mala pra Arraial já está pronta?
- Pra falar a verdade, eu nem sabia que iríamos ainda - admitiu rindo, embora a mala já estivesse pronta desde o Natal. - Brincadeira, está sim.
- Ótimo, pega ela. Vamos agora, vamos pro Rio de Janeiro de carro.
- O que? Isso é sério?
- É só umas nove horas. Quero ver a queima de fogos em Copacabana.
- ! Você enlouqueceu? Onde vamos passar o dia? Onde vamos dormir depois? E as nossas famílias?
- Minha família já sabia que eu não ia passar o ano novo com eles... E você meio que não pode dizer não porque eu já peguei as chaves da casa, então se você quiser deixar pra amanhã, vamos bem cedo, mas estaremos em Arraial do Cabo em dois dias. Você decide se vamos agora ou depois. Além disso, vou almoçar com o meu pai antes de viajarmos para Arraial e eu não quero ir sozinho, então você não tem outra escolha.
- E o papo de não esconder as coisas um do outro?
- Eu não escondi, eu fiz surpresa. E aí?

queria passar o ano novo em família, mas ver a queima de fogos em Copacabana parecia ser bem tentadora, algo que ela nunca fez antes e nem pretendia, mas amava como despertava o espírito aventureiro dentro dela.

- Tá, eu vou falar com os meus pais e vamos de manhã, mas com uma condição.
- Qual?
- Eu não vou pra Copacabana sem comprar uma roupa nova, então eu vou comprar um vestido primeiro, e depois nós pegamos a estrada.
- Você que manda, gata. Então vamos lá pedir permissão pra mamãe e pro papai.

Eles desceram do carro sobre xingamentos de e entraram na casa dela. pegou a mala já preparada enquanto avisava aos pais que os planos mudaram. Achou que ficariam decepcionados, mas eles pareciam bem tranquilos com o informado, dizendo que não era mais nenhuma criança para eles proibirem de ir viajar.
Dado o aval dos pais, eles foram para o apartamento do jogador, e só então a reconciliação começou e duraria à noite inteira.

⚽🖤📱

A viagem até o Rio de Janeiro foi tranquila. Levou o dia inteiro e eles chegaram em Copacabana beirando às onze horas da noite porque fizeram muitas paradas ao longo do percurso. Foi muita sorte conseguir um quarto de hotel, mesmo que afastado da praia, mas isso não foi motivo para desanimar e eles conseguiram chegar na praia lotada de gente bem em tempo de ver o céu de Copacabana coberto por fogos de artifício.
não se conteve e puxou para um beijo apaixonado, começando o ano muito bem. Ele queria que fosse apenas os dois naquele momento, pensando que a família e os amigos poderiam esperar um pouco, pois passariam juntos muitas viradas ao longo dos anos, mas a primeira deveria ser especial, deveria ser apenas os dois. Foi loucura dirigir mais de nove horas até outro estado, improvisando o tempo inteiro, mas ele não estava arrependido e esperava que não estivesse também.

- Feliz ano novo - ele disse após o beijo, ainda segurando nos braços da mesma forma.
- Feliz ano novo - sorriu, estava radiante. - Sabe? Acho que vai ser um ano incrível para nós dois.
- Você acha mesmo? - sorriu também, se deixando levar pela empolgação dela.
- Acho. Eu aposto que vai ser a melhor temporada da sua carreira, e eu fico feliz quando o meu time ganha. É simples.
- Entendi agora - ele riu, disposto a fazer daquele um ano inesquecível. - Me diz um título, qualquer um.
- Hum... Libertadores?

mordeu os lábios, criando uma coragem e disposição incomum dentro de si. Sim, uma Libertadores, o seu Campeonato continental favorito. Ele sabia muito bem o que era levantar o caneco da maior competição do continente. Sim, uma Libertadores da América, era o que ele queria.

- Não conta pra ninguém, mas já é nossa - ele se aproximou, falando no ouvido dela. - Eu vou fazer isso por nós.
- Você não pode ganhar um campeonato sozinho, - disse rindo, mas sabia que ele estava falando sério.
- Eu sei, mas jogo num time muito foda. Eu prometo trazer essa taça pro clube, pode me cobrar depois.
- Quero os outros de brinde.
- Aí já é demais, meu bem, mas eu vou tentar.
- Que bom que eu não sou a única pessoa que você vai fazer muito feliz - ela disse por fim, rompendo qualquer distância com outro beijo.

Seria um ano longo, mas valeria a pena no final se cumprisse a sua promessa.
E ele faria de tudo para isso.

⚽🖤📱

respirou fundo quando viu o homem entrando no restaurante acompanhado por sua esposa. olhou também, impressionada com a semelhança física entre os dois. Poderia imaginar que era uma versão mais jovem do seu pai, porém sem os problemas extraconjugais. Apesar disso, achou melhor não comentar quando sentiu ele apertando a sua mão por debaixo da mesa, mudando o semblante de tranquilidade para tensão.

- Vai ficar tudo bem - ela sorriu e acariciou a mão dele na tentativa de o deixar calmo.
- Não sei o que vai acontecer aqui, eu não vejo ele há anos.
- Só se lembra de que você é melhor do que ele. É o seu pai, mas vocês não são a mesma pessoa.
- Se eu surtar, me tira daqui o mais rápido possível, por favor.
- ...
- É sério, .
- Tá bom.

Eles se levantaram quando os dois chegaram. os cumprimentou com um aperto de mão e depois apresentou para o pai e a madrasta. Apesar de tudo, ele não tinha qualquer problema com a mulher chamada Sandra, ela não teve qualquer envolvimento com o pai dele enquanto era um homem casado até onde sabia. Apesar de não se falarem muito, achava Sandra uma boa pessoa.
Após fazerem os pedidos, e Sandra tentaram puxar assunto para que o clima ficasse agradável. tentava parecer tranquilo, tentando socializar também, mas dava pra perceber que ele estava incomodado por estar ali. "Perdoou" seu pai apenas porque sua mãe insistiu, mas se dependesse dele isso jamais teria acontecido.

- É uma pena que não deu pra você visitar a gente quando veio jogar aqui, , mas ficamos felizes com esse almoço - Sandra disse com sinceridade e se perguntou como alguém como ela poderia ter um gosto tão ruim para homens.
- Quando a sugeriu, achei que seria uma boa. Você sabe, passar um tempo em família - olhou para o homem na sua frente. - Certo, pai?
- Certo - ele deu um gole na sua água. - Espero que possamos nos ver mais vezes esse ano.
- É, eu também. Vai ser bom se isso acontecer...
- E como estão o Ronald e a Maria Aparecida?
- Ótimos - disse simplesmente, não querendo envolver os irmãos na conversa, mas achou rude o suficiente para completar a frase do namorado.
- Eles estão bem, o Rony continua com a música e melhor a cada dia, e a Cida é a melhor pessoa que eu conheço. O senhor tem três filhos incríveis, Rogério.
- Eu sei... - Rogério disse com uma voz distante, sentindo o peso nas costas ficando ainda mais pesado, mas não queria demonstrar aquilo para o filho. - Mas e você, ? e eu nos falamos pouco, não sei muito sobre você. Me diz, você tem irmãos? Como vocês se conheceram?
- Não, não. Sou filha única. Conheci o porque eu sou funcionária do Corinthians, na época eu cuidava das mídias do clube, mas hoje em dia eu trabalho dentro do estádio, eu guio os torcedores por uma visita.
- É sério? Isso é bem legal. Se formos para São Paulo um dia, com certeza vamos visitar o estádio.
- Claro, podem ir. Vocês vão gostar bastante - sorriu simpática, mas não deixou de notar o quanto estava incomodado com aquilo.

A conversa ainda continuou após os pedidos chegarem. contava um pouco mais sobre si e o seu trabalho, tentando manter um clima amigável, porque só abria a boca quando necessário. Ele estava realmente incomodado por estar ali, profundamente arrependido por ter aceitado a ideia de . Quando estava longe, se lembrava apenas que seu pai fez coisas ruins, mas estar ali era como reviver o passado e ele não queria isso. Por ele e por sua família. não parava de pensar na conversa com seus irmãos no Natal e sabia que eles tinham razão, ele não deveria estar ali.

- O é o melhor jogador do time - disse divertida, encostando o seu ombro no dele, fazendo rir um pouco.
- Exagerada... Agora você acha?
- É que a gente não se entendeu muito bem no começo - ela se justificou ao ver a cara confusa deles.
- Não foi bem isso...
- Tá bom, tá bom... Eu não gostava dele, foi isso, mas até que a gente se entendeu bem depois. Não é, amor?
- Ah, é. Muito bem - ergueu a mão direita, mostrando a aliança e depois cruzou os braços de novo.
- Que bom que deu tudo certo no final, vocês combinam tanto - Sandra disse após dar um gole do seu suco e se virou para o marido. - Você não acha?
- Acho, acho sim, eu fico feliz que o tenha encontrado alguém como você, .
- Obrigada - sorriu, encolhendo os ombros. O homem que estava na frente dela não parecia em nada com o que descrevia.
- Espero que vocês tenham um relacionamento longo e saudável.
- Obrigado, pai, eu sei como tratar uma mulher como ela merece - esboçou um sorriso sarcástico, dando um gole no seu refrigerante logo em seguida.
- Ele sabe mesmo - se virou para , segurando a mão dele por debaixo da mesa, mas era para que o namorado se controlasse.
- Ok, , já entendi que você está incomodado. Não precisava vir se não quisesse, e não adianta negar, eu te conheço muito bem.
- Claro que conhece. Eu não sei porquê ainda insisto nisso, sabe? Não vai mudar nunca.
- Você nunca vai saber porque não me dá uma chance, .
- E por que eu te daria uma chance? Eu sei quem você é, eu sei o que você fez.

e Sandra se entreolharam preocupadas com a tensão entre pai e filho que surgiu de repente. As duas sabiam que a chance de um desentendimento acontecer entre os dois eram altíssimas, mas não souberam como reagir quando realmente aconteceu.

- , isso foi há vinte e muita coisa aconteceu. Se todos vocês me ouvissem, saberiam do que estou falando.
- Por que? Você por acaso teve outros filhos e resolveu apoiar eles? Não se preocupa, isso não afetou nossas vidas. Eu continuei com o futebol, o Rony continuou com a música e a Cida continuou com o salão dela, e advinha? Nós três conseguimos. Você estava lá? Não. Acredite, pai, seu apoio ou falta dele não tem nenhuma diferença.
- Eu não queria isso! Tá ok pra você? Eu sei as coisas que fiz, eu não me orgulho de nada. Vocês não mereciam isso, sua mãe não merecia isso, mas...
- Não fala da minha mãe! Eu nunca vou te perdoar pelo que você fez com ela! - ergueu o tom de voz, apontando o dedo para o seu pai. - Ninguém precisou me contar, eu vi... No dia do penta, naquela festa na rua... Eu e o Rony fomos atrás de você, eu vi você com outra mulher... Sabe o que é engraçado? É que a Cida me fez guardar esse segredo por quase vinte anos, é a primeira vez que tô falando sobre isso... Depois eu descobri que ela já sabia de você há muito tempo, ou seja, durou muito, né? Mais do que posso contar.
- Por que trazer isso de volta agora, ? O que isso acrescenta pra você?
- Quer mesmo saber? Tá bom, vou te contar.
- , já chega - se intrometeu, colocando a mão sobre o ombro dele, mas a afastou.
- Não. Ele quer saber e eu quero contar - olhou para o pai, sentindo uma raiva incomum dentro de si. - Sabe no que isso me acrescenta hoje em dia? Tanta coisa aconteceu, pai! Eu joguei em quatro times, eu quis ser o melhor em todos eles para dar o melhor pra minha mãe. O fato de você não dar a mínima pro meu futebol, não fez diferença pra mim, eu venci, mas o Rony é tão inseguro com a música só porque você não ligava pra ele... E não me faça falar da Cida, ela é a mãe mais carinhosa e presente de todas, ela disse que queria ser o seu oposto... Todos nós queríamos, então não pensa que isso não faz diferença hoje em dia porque faz, faz muita. Eu jurei pra mim mesmo que nunca seria como você, e estou conseguindo por enquanto. Temos uma semelhança, sabia? É, nós dois nos relacionamos com mulheres incríveis, a gente tem bom gosto para mulheres, mas a diferença é que eu sei valorizar a minha namorada e você nunca valorizou sua esposa ou os seus filhos, né? Tá ok, eu não precisei de você pra me ensinar isso e não vou precisar nunca.
- ...
- Agora não, .
- , vai pro carro.
- Não vou pro carro, ele vai me ouvir.
- Vai pro carro agora - disse com toda a seriedade que podia, percebendo que aquilo poderia piorar. - Vai.

olhou para e entendeu que ela apenas estava fazendo o que ele pediu, o tirando de lá caso ele surtasse, o que era exatamente o que estava acontecendo.

- Por favor, , vai...

Ele se deu por vencido e se levantou abruptamente, saindo dali sem olhar para trás ou se despedir. olhou para o casal sem saber o que dizer, aquilo era demais até mesmo pra ela.

- Eu sinto muito - ela disse com sinceridade. - Eu vou falar com ele.
- Não precisa, , o é assim mesmo, sempre foi - ele riu sem humor. - Ele diz que eu não faço diferença pra ele, mas esse temperamento todo ele puxou de mim, a Regina não é assim. O Ronald é mais parecido com ela.
- O é bem...
- Temperamental. É, eu sei, eu conheço o meu filho e, entre os três, o sempre foi o que teve a personalidade mais forte. Ele se parece comigo mais do que gostaria. Tentei me aproximar dele, mas eu sabia que não seria fácil. Eu não sou mais quem eu era vinte anos atrás, , e estou pagando por isso.
- Eu acredito em você - ela sorriu de canto, sem humor. - Espero que você possa ser perdoado pelos três algum dia.
- Eu também...
- Obrigada por ter vindo, . Espero que a gente possa se ver mais vezes.
- Também espero, Sandra - se levantou, pegando sua bolsa na outra cadeira. - É melhor eu ir agora, preciso falar com o e a viagem vai ser longa. Foi um prazer conhecer vocês.

se despediu, pagou a conta e voltou para o carro onde a esperava. Ela foi para o banco do motorista e pensava no que dizer, mas nada parecia ser bom o suficiente.

- Não fala. Por favor, não agora - ele disse enquanto ela ligava o carro e deixavam o estacionamento.
- Eu não vou - falou por fim, ponderando que era melhor deixar ele esfriar a cabeça antes de qualquer coisa.
- Será que a gente pode comprar umas bebidas quando chegarmos lá? Tô precisando encher a cara um pouco.
- Tá bom.

A viagem até Arraial do Cabo durou aproximadamente duas horas sem trânsito, afinal, as pessoas estavam voltando ao invés de irem como eles. Foi uma viagem silenciosa, exceto pela música no rádio. pensava em coisas úteis a se dizer, mas nada parecia ser bom e não estava em seu melhor humor para ouvir conselhos no momento, então ela deixou pra lá. Quando chegaram na cidade, passaram em um mercado para abastecer a geladeira para os próximos dias, além de levar toda a cerveja que podia carregar nos braços. Não achava certo descontar a sua frustração na bebida, mas não se importava mais com o que era certo ou errado.

⚽🖤📱

saiu do banheiro enrolada na sua toalha. Estava muito calor e ela não tinha certeza se o banho resolveu alguma coisa, mas esperava que sim. Apesar de já ser por volta das dez horas da noite, ela vestiu a parte de cima do biquíni e procurou pelo seu short mais curto e confortável. Estava calor o suficiente para ela não querer usar roupa, mas infelizmente isso ainda não era permitido.
Após se vestir, foi até a geladeira e pegou uma cerveja para ela, então procurou por , o encontrando à beira da piscina, bebendo também. O quintal da casa tinha vista para o mar e pensou nunca ter estado em um lugar tão bonito quanto aquele, desejando colocar os pés naquela areia mais do que tudo, mas ainda tinha que esperar até o dia seguinte, então ela se aproximou de , se sentando a uma distância considerável dele, esperando a permissão do namorado para que ela se aproximasse.

- Você tá melhor?
- Não - respondeu naturalmente e deu um gole generoso da sua bebida, com o olhar perdido na direção da praia.
- Você quer conversar?
- , na boa, eu quero fingir que hoje não aconteceu, tá? Deixa ele pra lá, quero que ele se foda, eu não me importo. Deixa esse assunto pra lá.
- Para de falar comigo como se a culpa fosse minha! - começou a se alterar, mas baixou o tom de voz quando ele se virou para ela, surpreso. - Ok, eu não deveria ter sugerido um almoço, mas você aceitou, né? Se você falar que é culpa minha, eu juro que vou embora.
- Eu não vou falar isso, não é culpa sua. É culpa dele. Ele foi um péssimo pai e um péssimo marido, levou anos pra minha família se erguer das merdas que ele fez, até hoje é difícil. Eu não tenho pai e as minhas sobrinhas não conhecem o próprio avô. Ele é inconsequente e egoísta e eu nunca vou aceitar ele de volta na minha vida. Nunca vou ser como ele, nunca. Eu posso ter um monte de defeitos, eu sei, eu me irrito muito fácil, sou teimoso e cabeça dura às vezes, mas diferente dele, eu sou homem de verdade.
- Para de se comparar com ele, . Vocês não são a mesma pessoa, você passou mais da metade da vida longe dele. Não tô defendendo ele, mas talvez as coisas sejam diferentes agora... - ela percebeu que ele a olhou diferente, um tanto curioso com o comentário dela, mas não queria ter que se explicar e se complicar nas próprias palavras. - De qualquer jeito, você é uma boa pessoa e se esforça pra melhorar sempre, por isso gosto de você. A sua necessidade de querer se comparar com o seu pai não faz sentido porque as únicas semelhanças entre vocês são físicas, além de os dois serem bem temperamentais como eu percebi, mas você pode usar isso ao seu favor. Por favor, para de se comparar com ele, isso só vai acabar com você ainda mais.
- É que... - abaixou a cabeça, rindo por puro nervosismo. - Ele me irrita tanto, eu o odeio tanto pelo que ele fez! Eu vi com os meus próprios olhos e nunca vou esquecer da cena, mas agora ele fica tentando se reaproximar, não faz sentido... Te contei da vez em que ele me pediu perdão? Eu tinha marcado o meu primeiro gol como profissional no Santos, eu tinha uns dezesseis e não falava com ele há anos. Só aceitei porque minha mãe insistiu, mas nunca realmente o perdoei e não sei se vou algum dia.
- Meu amor, você não tem que se obrigar a fazer isso agora. Cada um tem o seu tempo... Talvez você mude de ideia algum dia, mas você não tem que se torturar por causa disso... Ninguém é igual a ninguém. Eu fico feliz que você tenha tentado pela sua mãe, mas agora tem que ser por você. Quando você estiver pronto, ele vai te ouvir também.

não sabia o que responder, não sabia como continuar aquela conversa. Amava como sabia o aconselhar como poucos, ela sabia exatamente como o guiar pelo melhor caminho. Embora suas ideias estivessem bagunçadas, ele sabia que ir pelo caminho do ódio e rancor não era o melhor jeito e esperava que mudasse de ideia algum dia, sendo capaz de perdoar o seu pai por definitivo. Aquela conversa fez se sentir melhor em partes, mas ainda levaria muito tempo para superar totalmente.

- Obrigado - ele falou por fim após dar mais um gole. - Acho que eu precisava desabafar um pouco.
- Você pode falar comigo sempre, . Se você não se sente confortável em falar com a sua família sobre isso, tudo bem, eu vou ouvir você.
- Eu sei... Não é que eu não queira falar com eles, mas seria muito fácil, sabe? Meus irmãos concordariam com tudo de ruim que eu falasse porque eles são tão ressentidos quanto eu... É bom falar com você porque você me mostra outros pontos de vista e eu gosto disso.
- Só quero que você fique bem.
- Eu vou ficar, vou passar mais quatro dias nesse lugar lindo com a minha namorada linda. Vai ser impossível eu não ficar bem.
- Vai mesmo, eu vou fazer questão disso - sorriu e se esticou um pouco para dar um selinho nele. - Te amo.
- Também amo você. Muito, é sério, amo pra caralho, e não é porque estou meio bêbado.
- Eu entendi - ela riu enquanto deitava a cabeça sobre o ombro dele enquanto passava um braço ao redor dela.
- É que você me deixa de bom humor.
- Quem diria, hum?
- Pois é, quem diria... Agora, se quiser me deixar mais feliz ainda, a gente pode aproveitar que essa casa enorme é só nossa até amanhã, eu ficaria bem feliz. O que você acha?
- Acho que você muda de humor muito rápido, isso sim - ela riu novamente. - Mas vai tomar um banho primeiro, tá cheirando a cerveja.
- Mas...
- Anda, vai logo.

⚽🖤📱

Bruno e Gabriela chegaram no dia seguinte logo pela manhã, mas não estavam nem um pouco cansados da viagem e queriam logo curtir a praia naquele sol fora do comum. , como boa paulista que era, poderia comparar o sol do Rio de Janeiro com o inferno sem preocupações. Imaginou que, se pra ela estava difícil, não gostaria de imaginar como estava sendo para , que até neve já viu na sua terra natal, mas o jogador parecia estar bem tranquilo quanto ao calor.

- Eu acho que vou morrer a qualquer minuto. É sério - ela dizia enquanto passava protetor solar no rosto em frente ao espelho enquanto Gabriela colocava o biquíni logo atrás dela.
- Tá uma delícia, gosto assim. E então? Como foi o ano novo de vocês? Vi que postaram stories em Copacabana.
- Foi bem coisa de filme - riu ao se lembrar daquela loucura. - A gente tinha acabado de se entender depois de uma briga feia e o simplesmente disse que estávamos indo ver a queima de fogos em Copacabana e eu fiquei sem entender nada, mas acabei indo. Ele conseguiu um hotel pra gente na sorte e foi isso, deve ter sido a coisa mais louca que a gente fez até agora.
- Posso imaginar a correria que foi, achei um máximo... Bruno e eu passamos a virada em Montevidéu com a família dele.
- E como foi?
- Foi bom, eles são muito legais. Os pais, o irmão mais novo dele... São pessoas bem simples, mas a comunicação foi muito difícil. Eu não sei quase nada de espanhol, vou ter que estudar um pouco se quiser conversar com eles. O Bruno não tem muita paciência pra bancar o Google tradutor.
- Eu posso imaginar isso - as duas riram ao imaginar um Bruno irritado por ter que traduzir tudo.

Elas ouviram duas batidas na porta e Gabi terminou de se vestir rapidamente para dar permissão para que entrasse. Era Bruno, espreitando a cabeça para dentro do quarto.

- Podemos ir? Estamos esperando vocês.
- Claro, claro - foi até a porta e abriu. - Brunito, o disse que vai trazer a Libertadores pra gente esse ano, tá bom? É a promessa de ano novo dele, mas acho que você deveria saber.
- Não se preocupa, é a minha também - Bruno respondeu bem humorado, mesmo sabendo que aquilo não era possível com o elenco atual. - Aqui é proibido relaxar, .
- Gosto assim, xerife - ela bateu continência enquanto saía do quarto acompanhada por Gabriela, fazendo o jovem casal rir. - Zagueirão raiz esse Méndez.
- Não sei o que é isso, mas acho que é bom.
- Quer dizer que você é tipo aqueles caras de antigamente. A Fiel te ama, Bruno, você precisa entender isso.

foi até a sala onde os esperava no sofá. Ele se levantou quando viu a namorada e os amigos, então os quatro começaram a dividir os itens que levariam para a praia. Os meninos levariam coisas mais pesadas, como a caixa com cervejas e água, para além do guarda-sol, enquanto as meninas levariam as cadeiras e itens de uso pessoal caso necessário, pois pretendiam passar a tarde inteira por ali apenas curtindo os últimos dias de férias.
Após abrirem guarda-sol e cadeiras, e Gabi optaram por ficar um pouco na sombra enquanto Bruno e pegaram a bola de futebol e não pensaram duas vezes antes de apostarem um rachão entre si, divertindo as garotas que apenas observavam tudo rindo sem parar.

- São como crianças, vivem para o futebol - Gabi riu após Bruno escorregar e perder a bola para que começou a fazer embaixadinhas e malabarismos. - Uau, ele é bom.
- Ele é um exibido, isso sim - riu também, pegando o celular para gravar a brincadeira deles. - Nem nas férias esses dois param de treinar.
- Assim dá até vontade de trocar de time.
- Isso, faz isso mesmo, Gabi. Melhor decisão da sua vida - disse divertida, deixando o celular sobre a sua toalha após postar no Instagram. - Ai meu Deus, o tá vindo, vai me chamar pra jogar.
- Ele não...
- Oi, mocinhas - ele parou na frente de , estendendo a mão pra ela segurar. - Vem, vamos jogar.
- Não, a vista daqui é boa - ela riu com a própria piada, pois não se continha sempre que o via desfilando o abdômen por aí.
- Sua tarada, vem logo.
- Tá bom, tá bom - se segurou para levantar, então se virou para Gabriela. - E você, Gabi?
- Vou tomar um sol agora, pegar uma corzinha. Podem ir.

e concordaram e foram até Bruno que fazia embaixadinhas com a bola. pediu para que ele passasse a bola pra ela sem derrubar e ele concordou. dominou de peito e fez alguns malabarismos também, passando uma perna por cima da bola.

- Minha vez - pediu. - Quero de letra, vê se consegue. Bruno, fica esperto.

deu um chute pro alto e conseguiu dominar de letra, passando a bola para Bruno que cabeceou de volta para e ela devolveu para em um reflexo rápido. Ele até tentou dominar de peito, mas a bola não pegou altura o suficiente e acabou caindo na areia.

- Ruim demais! - disse o provocando, pegando a bola nas mãos.
- Vamos ver no resto do ano, meu amor.
- Eu pago pra ver, querido.
- Vocês podem parar com essa putaria e voltar a jogar bola, por favor?
apenas riu e chutou a bola com força em direção ao zagueiro, o acertando em cheio na coxa, deixando uma marca significativa ali.
- Nossa, ela deixa mais marcas em você do que em mim. Me ensina o segredo - começou a rir e arregalou os olhos, se esticando para dar um tapa no braço dele. - Ai!
- Que é isso, garoto? Me respeita.
- Foi mal.
- Eu sou uma deusa, segundo você. Deixo mais que umas marquinhas.
- Por favor, me poupem dos detalhes - Bruno fez cara de nojo, fazendo de tudo para não imaginar os amigos entre as quatro paredes.

Eles voltaram a jogar e continuaram assim até se cansarem da bola, optando por ir até o mar, e agora Gabi iria junto, completando o esquadrão.
Foi apenas o primeiro dia de quarto memoráveis. Entre praia, passeio de barco e churrascos, o fim das férias foi tão bom quanto todo o resto. É claro que a viagem para Barcelona foi divertida e memorável, mas estava frio demais, então desfrutar do verão brasileiro parecia ser ainda melhor e, apesar de a volta ao trabalho estar chegando, os quatro poderiam concordar que ao menos voltariam com bronzeados incriáveis.

⚽🖤📱

6 de janeiro.
CT Joaquim Grava, São Paulo.

caminhava tranquilamente na chegada ao CT em direção aos vestiários enquanto cumprimentava todos os funcionários pelo caminho. Era muito bom estar de volta ao trabalho depois de um mês muito bem aproveitado de férias e ele mal via a hora de viajar para os Estados Unidos afim de disputar a Flórida Cup. O torneio da pré-temporada era bem visto pelo clube e poderia preparar os atletas para os campeonatos ao longo do ano. estava ansioso por isso, louco para finalmente demonstrar serviço.
No meio do caminho, ele mudou de ideia e foi em direção ao banheiro antes de encontrar com os colegas de elenco, agora reformulado. Ele fez o que tinha de fazer e foi até a pia lavar as mãos. É claro que em um momento desses, o que ele menos esperava era se reunir com o time antes do previsto, especialmente com um novato no time, porém um velho conhecido seu.
Luan também não esperava encontrar por ali. Se surpreendeu, mas tentou não demonstrar nitidamente, apenas cumprimentou com um aceno de cabeça antes de caminhar em direção à uma das cabines, mas o chamou, fechou a torneira e se virou para ele.

- Eu sei que começamos com o pé esquerdo lá no Grêmio, mas eu espero que as coisas possam melhorar por aqui - disse com sinceridade. - Eu sei que a imprensa e até mesmo alguns torcedores vão fazer de tudo para nos jogar um contra o outro, mas eu estou disposto a ignorar isso tudo.
- Que bom, eu também. Eu estava preocupado com isso, não sabia como falar com você, mas que bom que você pensa como eu.
- É... Eu não tô dizendo que vamos virar amigos do dia pra noite, ainda mais depois de tantos anos sendo rivais no mesmo time, mas da minha parte está tudo bem.
- Da minha também. Valeu, .

Luan entrou em uma cabine e saiu de lá, indo em direção ao vestiário. Estava se sentindo aliviado, de consciência limpa.
Não fez uma lista de promessas para o ano novo, não acreditava nessas coisas, mas provavelmente seu objetivo pessoal para o ano era liberar perdão e se entender com pessoas que ele se desentendeu no passado, embora soubesse que a lista era longa e Luan era apenas um deles. Ainda tinha pessoas como Camila, o rival Paolo Guerrero e também o seu pai, provavelmente o mais difícil da lista. decidiu que iria se esforçar para ser melhor e esperava conseguir chegar lá, desapegando do passado e pensando apenas no seu futuro.
Futuro no qual ele esperava ser muito promissor.
O vestiário, tomado por conversas e risadas altas, tinha rostos conhecidos e também caras novas. Além de Luan, outra contratação do clube foi o colombiano Victor Cantillo, para além dos retornos do zagueiro Pedro Henrique e Guilherme Camacho, ambos emprestados ao Athletico Paranaense na temporada anterior. estava feliz porque faria novos amigos.

- Já estou avisando com antecedência que tô inspirado nessa temporada - disse em tom de brincadeira enquanto vestia o uniforme de treino.
- Sorte sua que o Pedrinho está com a Seleção disputando o Pré-Olímpico, ou você teria que ouvir um discurso de uma hora sobre você não ser o novo camisa 10 - Vital pontuou e concordou.
- Ah meu Deus, ele conseguiu mesmo a 10? Deus tenha misericórdia da gente - riu bem-humorado.

Aquela temporada tinha tudo pra dar certo.

Capítulo 26 - Amigos e Rivais

Março

O fato de o time ser o líder geral do Campeonato Paulista, ter a melhor defesa e o segundo melhor ataque (perdendo apenas para o imbatível ataque palmeirense), não diminuía em nada o nervosismo dos jogadores por finalmente estrear na Libertadores após uma temporada longe da competição e outros anos em que o desempenho não foi tão bom. procurava manter a calma e a concentração o tempo todo, mas era o seu campeonato preferido de jogar e ele estava muito feliz por poder jogar novamente a competição.
O estádio Campeón del Siglo estava lotado de torcedores do Atlético Peñarol, o que pressionava os alvinegros ainda mais, sabendo do histórico do clube uruguaio para com os brasileiros. A recepção não foi nem um pouco amistosa, especialmente pela parte dos torcedores, mas eles não iriam se intimidar por isso e nem por time nenhum.
Após a execução dos hinos brasileiro e uruguaio, a disputa entre Peñarol e Corinthians começou já dando trabalho para o time brasileiro, que colocou os zagueiros para trabalharem logo no primeiro lance ofensivo do Peñarol. Eles não sabiam, mas quase o jogo inteiro seria assim, com um time muito ofensivo enquanto os corinthianos teriam que se defender como podiam para evitar uma tragédia logo no primeiro jogo. Kevin Dawson, o goleiro do Peñarol, não precisou trabalhar muito na primeira etapa, pois o meio campo da equipe não deixava os jogadores do Corinthians avançarem ao ataque, desarmando com eficiência.
Nos acréscimos, o atacante Viatri abriu o placar para a equipe da casa em uma falha da zaga, mas apesar do resultado negativo, o time de São Paulo não se deixou abater e voltou para a segunda etapa mais ofensivo do que nunca, atacando e pressionando o adversário sem piedade.
estava cansado, não se lembrava quando foi a última vez em que se teve um jogo tão difícil. Talvez fosse o jogo contra o Atlético Mineiro na final da Sul-americana meses antes, mas aquela partida estava igualmente difícil. Ele estava sendo muito bem marcado, não conseguia avançar pelo lado esquerdo e nem por lado nenhum, isso sem contar as faltas duras que sofreu ao longo do jogo, mas o camisa 7 alvinegro não queria desistir sem lutar e iria tentar até o último minuto.
Após uma dividida com o lateral direito, caiu no chão com uma dor estonteante no estômago, não conseguindo respirar ar nenhum. O árbitro exibiu um cartão amarelo para o jogador do Peñarol e foi o suficiente para se armar uma confusão, afinal, em plenos quarenta minutos do segundo tempo, o que menos queriam era uma cobrança de falta perigosa como aquela, perto da entrada da grande área. continuou caído, totalmente alheio a confusão instaurada, tentando puxar todo o ar que podia para dentro dos pulmões. Ele ficou sentado no gramado até que os nervos de todos fossem acalmados e só então se levantou, garantindo ao árbitro que estava bem para continuar no jogo.
O goleiro adversário começou a montar a barreira na linha estipulada pelo juiz enquanto o time decidia quem seria o batedor. , é claro, foi a primeira opção, mas acabou trocando com Luan. Era estranho pra ele mesmo depois de quase dois meses, mas estava tentando ser o mais neutro possível.

- Joga no meio, eu vou estar ali - apontou para o meio da área e o jogador concordou, então foi até o aglomerado de jogadores.

Luan tomou distância e impulso, então fez como pediu e mandou para o centro da pequena área. Kevin Dawson pulou mais alto, espalmando para cima, Camacho cabeceou, mas ele pegou de novo, não conseguindo evitar um rebote. A bola parou nos pés de e ele, livre, mandou para o fundo do gol, enlouquecendo a torcida visitante do estádio, e também o time. correu para o banco de reservas e então titulares e reservas comemoraram juntos o gol heroico do jogador ao final do jogo. Ele se quer podia dar conta de quantos parabéns recebeu, mas sabia que havia feito a diferença. Um empate não era tão ruim quanto uma derrota e ele sabia disso.
Infelizmente após o gol, se rendeu ao cansaço, fazendo sinal para o banco de que ainda sentia dor da última falta que sofreu, então foi substituído por Piton, lateral improvisado como ponta. O camisa 7 se sentou no banco e respirou fundo varias vezes, sentindo um alívio imensurável se misturando com o cansaço. Estava mais do que satisfeito por ter ajudado o time a conseguir um bom resultado dentro das possibilidades.

- Você tá um nojo esse ano, moleque - Gabriel, que não havia entrado no jogo, disse ao amigo que riu alto do seu comentário.
- Se não levantarmos pelo menos uma taça durante o ano, eu me aposento no final da temporada. É uma promessa.
- Meu Deus, vamos fazer de tudo pra isso não acontecer.

Devido à confusão, o jogo se estendeu por mais cinco minutos de acréscimo no qual o Corinthians pressionou muito, mas a partida terminou em 1x1, resultado satisfatório para buscar uma recuperação nos próximos jogos da equipe. Na semana seguinte já teriam um jogo contra o Nacional do Paraguai e seria uma boa oportunidade para se recuperar na tabela.

⚽🖤📱

mal podia se conter de felicidade. Ela e Gabriela assistiram ao jogo juntas na casa da namorada de Bruno, ficando cada vez mais nervosas a cada minuto passado. O gol de foi o suficiente para que as duas fossem dormir tranquilas.

- Eu tô impressionada com o desde o final da temporada passada... Ele simplesmente enlouqueceu desde que voltou da lesão, parece uma besta enjaulada com ódio - dizia enquanto elas dividiam um pote de sorvete e procuravam um filme para assistir após o jogo. - Certeza que ele vai ser convocado de novo.
- É, também acho... Bruno estava falando sobre ser convocado também. Parece que as chances dele são altas dessa vez.

As duas se entreolharam e riram juntas, pois Brasil e Uruguai se enfrentariam dentro de algumas semanas e elas acharam que seria interessante ver os rapazes, melhores amigos, se enfrentando por times diferentes.

- Vai ser divertido se acontecer - admitiu ainda rindo. - Coitado do , o Bruno não vai ter piedade dele.
- Já eu penso o contrário.
- Vamos ver no que vai dar, né? Tomara que seja um empate. Bom, primeiro eles precisam ser convocados.

Gabi parou de zapear os canais quando encontraram uma comédia romântica passando em um canal fechado e decidiram assistir aquele filme mesmo. Era algo novo para , pois nunca foi do tipo que tinha muitas amigas. Por conta do futebol, ela pulou parte da adolescência se dedicando aos treinos e não se arrependia de nada, mas era bom ter uma amiga só pra variar de vez em quando. Apesar de Gabriela ser bem mais nova do que ela, as duas se davam muito bem, talvez fosse porque seus namorados eram melhores amigos com uma diferença significativa de idade também, afinal, tinha vinte e cinco anos e Bruno apenas vinte, mas além dos meninos, elas descobriram terem muitas coisas em comum e achava que a diferença de cinco anos entre elas não era um empecilho para uma boa amizade surgir.
Durante o filme, recebeu uma mensagem de dizendo que estava a caminho do hotel e ela respondeu o parabenizando pelo gol. Estava com saudades dele, mas não queria deixar transparecer isso toda vez que ele viajava, afinal, com o time na Libertadores isso iria acontecer o ano inteiro e ela teria que se acostumar.

- Gabi... Como você lida quando sente falta do Bruno? - ela perguntou de repente, lendo a mensagem dele mais uma vez.
- Sinceramente? Não sei, acho que não tenho outra opção. Você está nisso há mais tempo do que eu, , acho que sou eu que tenho que te pedir conselho - Gabi disse rindo e riu também, concordando com ela.
- É verdade... Mas é que o ficou meses parado, então foi fácil, mas esse ano vai ser mais difícil porque ele tá voando... Sei que é meio bobo, mas eu sinto falta dele. Sinto falta dos meus amigos também, o Junior e o Tobias, eles são como irmãos pra mim, às vezes me sinto meio solitária quando os três vão viajar.
- Bom, a parte boa é que pelo menos tem eu agora, né? A gente pode sair um dia desses, ir pra uma balada ou algo assim, posso te apresentar uns amigos da faculdade se você quiser... Talvez isso amenize um pouco a falta que você sente dele. Acredite, também sinto saudades do Bruno o tempo inteiro.
- Mãezinha! Por que me tiraste de teu ventre para namorar com jogador de futebol? - dramatizou, se deitando na cama da amiga, fazendo Gabriela gargalhar.

No mesmo instante, o celular dela começou a tocar e deu um pulo da cama quando viu que era , pediu licença para a amiga e saiu do quarto para atender.

- O homem do jogo - ela disse ao atender, não contendo um sorriso enorme que se formou nos seus lábios. - Você foi incrível hoje.
- Obrigado - respondeu rindo do outro lado da linha. - Só fiz minha parte. Doeu um pouco, mas valeu a pena .
- Você tá bem? Tá sentindo alguma coisa? Que agonia ver e não poder fazer nada, você tava muito bem marcado.
- Eu sei, mas não se preocupa. O baço do estômago tá doendo um pouco, mas não é nada demais. Estou pronto pra outra.
- Não diz isso, eu sofro a cada vez que você beija o chão.
- Quem me dera se você fosse o chão - disse divertido, tentando fazer a preocupação de passar e ela acabou rindo.
- Eu só liguei porque queria conversar um pouco antes de dormir, se você não estiver ocupada.
- Não, tá tudo bem, eu estava mesmo falando de você. Estou com a Gabi na casa dela.
- Falando de mim, é? Você não vive sem mim.
- Convencido! Você é ridículo, - os dois começaram a rir e trocou o celular de lado. - Eu e a Gabi achamos que você e o Bruno vão ser convocados para o amistoso, eu acho que o Bruno vai meter a tesoura em você e ela acha que você vai deixar ele no chinelo.
- Minha própria namorada não acredita no meu potencial, muito obrigado! Mas não se preocupa, se formos convocados, eu vou amassar aquele filhote de Cavani só pra mostrar que você está errada.
- Tá bom, Claudia. Senta lá - riu, mas quando se deu conta, já estava mordendo os lábios, se segurando para não dizer o que estava na ponta da língua. - Tô com saudade...

Ela se xingou mentalmente por ter dito aquilo, mas quando viu já tinha saído. Não queria bancar a namorada grudenta, nunca foi assim com homem nenhum, mas simplesmente não conseguia esconder de o que estava sentindo no momento. Entendia perfeitamente o trabalho dele, afinal, já foi o dela também, e justamente por isso ela sabia o quanto a distância podia afetar um relacionamento. Não só um namoro, mas relacionamentos no geral, afinal, perdeu muitos amigos e amores ao longo da sua breve carreira, mal via os pais na época, por isso voltou pra casa quando acabou. Ela tinha medo de que acontecesse o mesmo com , mas estava disposta a fazer de tudo para dar certo com ele.

- Eu também tô com saudade... - respondeu após alguns segundos em silêncio. - Mas eu vou direto para a concentração quando chegar, tem jogo importante no sábado... Desculpa .
- Tá tudo bem, eu entendo - disse com sinceridade. - Pelo menos tem o domingo livre.
- Exatamente. A gente poderia sair, o que você acha? Que tal um bate volta?
- Da praia? Acabamos de voltar de Arraial do Cabo.
- Eu sei, mas você decide, vamos fazer o que você quiser no domingo, ok? Se quiser reunir o pessoal para um churrasco, você que sabe. Junior e Tobias estão morrendo de saudades de você também.
- Eu gostei da ideia - sorriu, realmente interessada. - Já liga pro síndico e separa o salão do prédio. A gente aproveita e comemora a sua convocação.
- Tá bom, vou fazer isso, mas sem a parte da comemoração. Nada de cantar vitória antes da hora, mocinha. - Só estou sendo otimista, querido.

Eles continuaram conversando mais um pouco até dizer que estava chegando no hotel e o Wi-Fi do ônibus não era dos melhores para sustentar uma ligação longa de WhatsApp, então eles desligaram e voltou para o quarto, vendo que Gabi havia acabado de encerrar uma ligação também.

- Era o Bruno. Ele vai direto para a concentração.
- disse a mesma coisa - falou enquanto se sentava de novo. - Mas tudo bem, eu vou sobreviver. Acho que vou no jogo sábado, assim eu mato a saudade, vamos também.
- Ótima ideia. Nós com certeza vamos.

⚽🖤📱

Como o esperado, e Bruno foram convocados para suas respectivas seleções no dia seguinte e fariam um amistoso em Londres dentro de duas semanas. Depois, os canarinhos seguiriam para Los Angeles para um amistoso contra Portugal e os celestes visitariam Perth para um amistoso contra a Austrália.
Apesar de todos os combinados, e desistiram de tudo e resolveram passar o dia apenas os dois, curtindo um ao outro e matando a saudade. Era tentador receber a visita dos amigos, mas quase uma semana sem se verem era o suficiente para que o jovem casal quisesse passar um dia inteiro juntos sem se preocupar se alguém estava os observando ou não. Isso realmente não importava.
Para o azar de , ela namorava com o cara mais atlético que conhecia, e estava mais ativo do que nunca, querendo manter a boa forma a todo custo. Então depois de assistir ele malhando por uma hora na academia do condomínio pela manhã, ela ainda aceitou o observar jogando basquete na quadra com rapazes moradores do condomínio. Ela não era muito fã de basquete e também não entendia tanto quanto futebol, mas se impressionou com a habilidade de na modalidade. Sua mira na cesta era tão certeira quanto a pontaria no gol e ele tinha mãos e pés bem calibrados.

- Nossa - ela disse admirada após ele girar e saltar alto, cravando a bola na cesta.

Ela tentou um assobio com os dedos na boca, fazendo com que ele olhasse na direção dela. o aplaudiu, mandando beijos e agradeceu rindo, voltando para o meio da quadra para recomeçar o jogo.
Após o fim da brincadeira e muitas cestas e jogadas boas de , o grupo se dispersou e ele foi até , se sentando ao lado dela em seguida. Estava cansado e com calor, então tirou a sua camisa. Era um modelo comemorativo do PSG com o Jordan, de cor preta, edição limitada. Apesar de não ser o fã número um da equipe francesa, fez questão de garantir a sua, como o bom fã de basquete que era.

- Como eu odeio quando você faz isso! - disse rindo, olhando pra cima.
- Isso o quê?
- Fica exibindo a barriguinha sarada por aí. Eu não tenho coração pra aguentar isso, tá?
- Você poderia me acompanhar - riu também, deitando a cabeça nas pernas dela enquanto esticava as pernas para relaxar.
- Acho que a sociedade ainda é um pouquinho resistente quanto a isso.
- Tem razão... E então? O que você achou?
- Ainda bem que você joga futebol, você é horrível - ela voltou a rir, se desvencilhando quando esticou o braço para acertar o seu rosto enquanto ele ria também. - É brincadeira. Você joga muito, se daria bem no basquete.
- Eu já te disse, eu queria ter sido jogador de basquete também... Às vezes eu penso que teria sido melhor, mas aí eu lembro que não tenho altura o suficiente pra jogar basquete. Baixo demais pra ser pivô no basquete e pivô no futebol... Essa é a minha vida, então virei um quebra galho nos times que eu jogo.

era relativamente alto perto da maioria dos jogadores de futebol, mas pequeno em relação aos astros do basquete mundial. Tinha uma ótima altura para jogar futebol, mas seria bem difícil tentar a outra modalidade. agradeceu por ele ter escolhido os pés ao invés das mãos.

- Olha o lado bom, você é o melhor jogador de um time de futebol.
- Nah! Esse negócio de ser o melhor não é pra mim, não ligo pra isso. Quero ser fundamental, mas o melhor é muita prepotência. Eu não aguentaria toda essa responsabilidade.
- Nossa, que lição de moral, adorei. Pena que o Papai Cris não vai pensar assim antes de amassar vocês no jogo.
- Eu não tenho medo dele, vai ser um jogão, vou jogar contra o segundo melhor do mundo.
- Primeiro.
- Não, eu não vou jogar contra o Messi, meu amor.
- É sério que vamos discutir pra ver quem é melhor entre os dois?
- Não, é você que tá falando merda, eu amo os dois, são meus ídolos. Agora dá uma abaixadinha aqui pra eu calar a sua boca, por favor.

gargalhou, mas acabou se curvando para dar um beijo nele, sem se importar se estava pingando de suor por uma manhã agitada praticando esportes. Estava feliz por estar com ele depois de tantos dias longe.

- Tô morrendo de fome - ela disse após o beijo, se erguendo de novo.
- Vamos almoçar na casa dos meus pais porque eu quero. Anda, levanta daí e vai tomar um banho pra gente ir.

se levantou e vestiu a camisa, mas ainda estava um pouco surpreso com o que acabou de ouvir, sentindo a necessidade de perguntar.

- Casa dos seus pais?
- É - deu de ombros, mas acabou rindo. - Não é minha, eu não comprei.
- Ah, pensei que ia dizer que tinha se mudado - ele disse enquanto saiam da quadra e foram em direção ao elevador.
- Pra onde eu iria, ? Que besteira.
- Não sei... Meu apartamento é grande demais pra eu morar sozinho, sabe? Além disso, você meio que passa mais tempo aqui do que na sua casa.
- Tá me chamando pra morar com você? - sorriu, tendo certeza de que estava ouvindo certo.
- Bom, estamos namorando há quase um ano, e eu lembro que você disse que queria sair da casa dos seus pais... Tudo bem se você não quiser morar comigo, mas quando quiser, eu vou querer também. É só uma sugestão.

hesitou por um instante. Sim, todos os dias em que estava em São Paulo e fora da concentração, ela passava com ele, se sentia em casa no apartamento dele. Dormia em casa apenas quando ele estava viajando ou em concentração para não ficar sozinha, mas queria muito sair da casa dos pais. Planejava ter seu próprio espaço, mas dividir com também parecia ser uma boa ideia.

- É, eu meio que já moro aqui mesmo... É só oficializar agora, né? - ela riu e não conteve um sorriso singelo enquanto as portas do elevador se abriam para entrarem.
- Então isso é um sim?
- É. Tem espaço para as minhas medalhas na sua prateleira?
- Pode ter certeza que sim. Ou melhor, se ficar apertado, colocamos mais uma.
- Obrigada. Eu só não vou dar um abraço em você agora porque você está suado, mas sinta-se abraçado, tá?
- Nem pense nisso - abriu os braços e deu um passo para trás, se escorando na parede do elevador.
- Você não vai fazer isso.

Ele riu e deu um passo pra frente, prendendo contra os seus braços enquanto a garota fazia uma careta, como se ele não visse um chuveiro há séculos, mas acabou se rendendo, afinal, aquilo iria acontecer com frequência agora que estavam morando juntos oficialmente.

⚽🖤📱

O almoço na casa dos pais de ocorreu tranquilamente, como em um típico domingo em família. Ela deu a notícia aos pais de que iria se mudar, e embora tivesse notado uma leve tristeza no olhar dos dois, eles a apoiaram mesmo assim, o que fez se sentir um pouco melhor e mais confiante quanto a nova fase da sua vida. Amava os dois mais do que a qualquer um na sua vida, mas tinha noção de que estava prestes a completar vinte e cinco anos em pouco mais de um mês e precisava de algumas mudanças radicais na sua vida, como sair de casa e comprar um carro, ter novas responsabilidades dali em diante. Finalmente estava pronta para crescer.
A parte da tarde foi resumida em encaixotar uma parte das suas coisas, como os troféus e parte das suas roupas. Sabia que não iria conseguir fazer tudo de uma vez, então ir levando as coisas aos poucos parecia ser uma boa ideia.
Ao chegar na sua não tão nova casa, ela achou melhor deixar as coisas em outro quarto para arrumar no seu próximo dia de folga, pois ela e estavam cansados o suficiente para evitar qualquer trabalho braçal. Apesar disso, ainda tinham a noite livre, e convidar Junior e Tobias para tomar uma cerveja e contar as novidades lhes pareceu bom. sentia falta de passar tempo com eles, estavam juntos desde a época em que ela era jogadora e por isso passavam mais tempo juntos do que com as próprias famílias. Os dois, é claro, aceitaram o convite e pediram lanches ao invés de pizza quando chegaram.

- Então quer dizer que agora é sério mesmo? Nossa, eu me sinto como um cupido - Junior disse com um ar nostálgico, se lembrando do dia em que obrigou a pedir desculpas para . - Viu como pedir desculpas não é tão ruim assim, ?
- Vão se lascar vocês dois, ok? Eu estava muito bem - disse divertida, rindo e concordando que Junior tinha razão. - Mas obrigada mesmo assim.
- Tem que nos agradecer mesmo, olha o tipo de cara que arrumamos pra você - Tobias apontou para com o queixo e o jogador riu sem graça. - Não é pouca coisa.
- Parem vocês dois, eu só estou com ele por pena. Viu como ele é ruim de bola e feio?
- Saudades dessa azeda - esboçou um sorriso sarcástico e riu também, sentindo falta de quando costumava o provocar.

O interfone tocou informando que o pedido havia acabado de chegar, então o próprio se ofereceu para ir buscar enquanto continuou conversando com Junior e Tobias, mas agora abria o coração, quase que agradecendo aos amigos por terem insistido que ela deveria ser mais amigável com o jogador. Ela não tinha noção de que aquilo mudaria a sua vida.

- Vai, , abre o coração. Vai ficar entre a gente, eu prometo - Tobias disse apoiando os cotovelos sobre a mesa como uma garota.
- Eu não sei como é possível amar tanto uma pessoa igual eu amo ele - escondeu o rosto nas mãos, mas depois olhou para os amigos de novo . - Ele é incrível, Tobias! Um ano atrás eu estava chorando no carro do meu pai porque ele estava me ignorando, mas olha só agora, usamos alianças! - ela fez uma breve pausa, procurando as palavras certas para o que ia dizer. - Eu achei que eu nunca mais ia amar alguém, mas acho que amo o mil vezes mais do que amei o Daniel.
- Dá pra entender, o cara era um idiota e o é legal.
- É, mas eu gostava dele de verdade, Tobias. Não foi fácil escolher entre ele e o futebol.
- Você tomou a decisão certa, . O Daniel nunca te apoiou enquanto o acha que você deveria voltar a jogar, não tem nem o que comparar entre eles. , eu te amo como se você fosse minha filha, quero o melhor pra você sempre e desde que o chegou, dá pra ver o quanto você mudou e está feliz. Gosto dele como atleta, mas gosto mais ainda porque ele é uma boa pessoa e te faz bem.
- Ai, Junior, não me faça chorar agora, você é como o meu segundo pai, sabe disso.
- E eu sou o que? O tio do pavê?
- É, Tobias, você é o tio do pavê - disse rindo, achando que Tobias se encaixava perfeitamente no rótulo. - Ai, meninos, eu tô amando tudo isso, é sério. Sei que pareço meio distante agora, mas ainda somos uma família. Vocês me acolheram no clube e eu sou eternamente grata por isso.
- Que distância, ? O virou parte da nossa família, ele é como meu filho também. Ok, não sou tão velho assim, mas vocês são como a Célia e eu quando éramos mais novos, a diferença é que já tínhamos a Bel, mas mesmo assim... Torço muito pela felicidade de vocês - Junior ergueu sua garrafa de cerveja. - Ao meu casal favorito. Vida longa.

Eles brindaram o relacionamento e voltou pouco depois cheio de lanches, quase não conseguindo carregar todos. Apesar de seguir a sua dieta rigorosamente, ele se permitiu experimentar o maior lanche do cardápio sem se preocupar com as consequências, afinal, estava orgulhoso do seu condicionamento físico no momento e iria continuar se esforçando para melhorar cada dia mais, mas não via problemas em dar uma escapadinha de vez em quando.
Para , era gratificante estar entre amigos, e mais ainda por ter se permitido fazer novas amizades no último ano. Sempre foi reservada, até um pouco antipática para quem via de fora, mas estava orgulhosa de si mesma por ter adquirido tanta maturidade. Era grata por ter feito amizades como Bruno, Gabriela e até mesmo Arthur, por manter Junior e Tobias e também por , que era seu melhor amigo antes de ser seu namorado e ela achava isso muito importante. Se antes se sentia sozinha pela falta de amigos, agora ela achava que tinha companhias o suficiente.
Estava verdadeiramente feliz.

⚽🖤📱

Londres, Inglaterra. Wembley Stadium.

O vestiário de Wembley estava verde e amarelo, tomado por um clima muito agradável e amistoso. Os jogadores da Seleção Brasileira se preparavam para mais um amistoso, agora contra o Uruguai. Eles conversavam e riam enquanto se vestiam, trocando experiências ou simplesmente jogando conversa fora como bons amigos que eram.
estava sentado no seu lugar, já vestido com o uniforme e olhando o celular. Recebeu uma foto de Bruno na qual o zagueiro mostrava o vestiário do time adversário que também estava em clima de amistoso. Ele riu, reforçando mais uma vez o quanto achava divertido o fato de estarem jogando por times diferentes, mas que não iria facilitar para o amigo só por conta disso. conhecia bem o estilo de jogo de Bruno e sabia como passar pelo uruguaio, ou ao menos poderia tentar, já que o amigo não era pouca coisa, prova disso era vestir a camisa celeste com apenas vinte anos de idade.

- Larga esse celular, garoto - Marquinhos passou por , dando um pedala no amigo distraído. - Tá querendo tomar uma porrada do Tite?
- Cara, o zagueiro deles é meu amigo, é inevitável - respondeu com bom humor, fazendo Marquinhos rir também.
- O Cavani também é meu amigo, o Suárez é amigo do Arthur, mas hoje você vai fingir que odeia esse cara, tá? Ou a gente te quebra em dois.
- Você é sempre agressivo assim?
- Eu tô brincando, cara, é bom ter umas amizades com rivais pra variar.

Marquinhos se afastou e achou melhor deixar o seu celular de canto e se concentrar. Ele iria começar a partida como titular justamente por conhecer as habilidades futebolísticas do zagueiro uruguaio, podendo criar melhores chances de gol. não queria perder aquela oportunidade.

- A gente pode chamar o Bruno pra tomar uma cerveja depois do jogo, o que você acha? - Arthur sugeriu quando já estavam na fila do túnel de acesso apenas esperando o time adversário, o culé na frente do alvinegro.
- Somos tipo os três mosqueteiros ou algo do tipo?
- Talvez, eu fico feliz em saber que você não morreu de saudades de mim - o jogador do Barcelona começou a rir e revirou os olhos, mas acabou rindo também, mordendo os lábios para não soltar um palavrão na frente da criança que segurava a sua mão.

O time uruguaio chegou enfileirado, mal tendo tempo de cumprimentar a equipe brasileira, pois estavam atrasados e tinham que entrar logo no gramado. Só após os Hinos Nacionais de ambas as equipes, os times se cumprimentaram. era um dos últimos do lado brasileiro e Bruno era o primeiro do lado uruguaio, então não pensou duas vezes antes de dar um abraço apertado no amigo.

- Vou te amassar hoje, cara, sem piedade - disse divertido, ainda apertando a mão de Bruno e o zagueiro riu.
- Não, eu vou te amassar hoje, e por favor, não tenha um infarto quando cumprimentar o Suárez.
- Anotado.

Bruno foi para o próximo jogador e também cumprimentou o seguinte. Se manteve neutro ao cumprimentar o jogador do Barcelona com um breve aperto de mão, embora estivesse extravasando o lado torcedor mentalmente. Ele olhou para Arthur, tendo certeza de que o amigo estava rindo dele, como sempre, mas o camisa 8 estava distraído cumprimentando jogadores também. agradeceu mentalmente, pois odiava como Arthur poderia ser debochado e cruel com ele às vezes.
Quando a bola começou a rolar para o clássico sul-americano, a Seleção do Uruguai começou pressionando e atacando logo no primeiro lance, o que fez os brasileiros recuarem até o homem mais avançado, Neymar. Foi assim nos primeiros minutos de jogo, mas a situação foi ficando equilibrada conforme a Seleção Brasileira conseguia chegar no ataque. O time estava rendendo bem pelo lado direito e pelo meio, mas o esquerdo não estava tão bem assim.
Isso por quê Bruno conhecia muito bem e todos os seus movimentos, o que travava o ponta esquerda em suas jogadas. pensava em estratégias para passar pela zaga, mas percebia que seu lado estava rendendo cada vez menos, ele precisava agir e estava esperando a oportunidade perfeita.
Quando a bola estava no meio de campo com Arthur, sinalizou para o amigo pedindo a inversão de bola e ele concordou, chutando para o lado esquerdo do campo. pulou junto com o meia uruguaio, mas conseguiu sair em vantagem, tomando velocidade até conseguir chegar perto da entrada da grande área, quando sentiu o adversário puxando a sua camisa. Ele usou dos seus dotes de ator, exagerando na hora da queda e tentando parecer realista, o que aparentemente convenceu o árbitro que paralisou o jogo e marcou falta para o time brasileiro, mostrando um cartão amarelo para o meia por puxão de camisa.
O time celeste começou a protestar, cercando o árbitro, falando em um espanhol acelerado, mas o mesmo parecia firme em sua decisão. estava sentado no chão, olhando a confusão, quando Bruno lhe estendeu a mão para ajudar o amigo a se levantar.

- Valeu, cara.
- Para, você não é desleal assim, isso foi errado.
- Bruno...
- Estou avisando.

Bruno foi para a grande área deixando um perplexo para trás. Deveria ter imaginado que Bruno sabia que ele exagerou na queda, mas o zagueiro não poderia provar nada, prova disso que não se envolveu na discussão como os seus colegas.
Passada a confusão, o goleiro uruguaio, Martín Campaña, começou a organizar sua barreira com apenas dois jogadores enquanto os demais se posicionaram dentro da grande área. percorreu o olhar pela movimentação, procurando falhas adversárias para se aproveitar. Ao sinal do apito, o camisa 17 optou por não mandar direto para o gol, mandou para a grande área e entrou na mesma, procurando pela bola que estava no meio daquele monte de jogadores que brigavam entre si pela posse, mas apenas viu quando Neymar foi mais esperto e chutou para o gol, abrindo o placar para os brasileiros. O camisa 10 correu em direção à bandeirinha de escanteio, sendo acompanhado pelos colegas de time, inclusive que foi parabenizado pela boa cobrança de falta executada. Ele ainda teve tempo de passar por Bruno enquanto voltava para a sua posição e viu o amigo com as mãos na cintura, negando com a cabeça, visivelmente insatisfeito.
Em partes, se sentia mal por ter forçado uma falta, ele poderia ter continuado mesmo com a camisa sendo puxada, mas ele precisava agir. Só não se sentia totalmente culpado porque estava cansado de saber que aquilo era absolutamente normal no futebol e muitos jogadores se aproveitavam de situações assim. não se considerava parte desses jogadores, a não ser que fosse necessário como neste caso, pois a partir daí ele ganhou mais confiança e o lado esquerdo do campo passou a ser mais utilizado.
Com isso, passou a ser mais utilizado pela equipe brasileira, mas também passou a ser mais marcado e com entradas mais duras, para além de Bruno estar dificultando para ele. Era nítido ver que o zagueiro adversário estava nervoso, mas achava exagero da parte do amigo, afinal, o futebol era feito de momentos e ele estava se deixando levar, tentando não ir na onda de Bruno ou as coisas se complicariam para o seu lado.
Após receber um passe de Filipe Luís, procurava espaço para entrar na grande área enquanto o lateral esquerdo já se infiltrava. O ponta esquerda estava no mano a mano com Bruno que estava disposto a não deixar passar por nada e ele sabia muito bem disso, pois não sabia para onde ir. tentou ser mais esperto, fingindo ir pelo lado esquerdo e acabar indo para o direito, mas Bruno foi mais esperto ainda, colocando a perna na frente e foi ao chão enquanto os dois sentiam o choque de joelho no joelho.
Apesar da dor e da falta marcada à favor do seu time, se levantou imediatamente em um pulo, visivelmente nervoso.

- Qual é o seu problema?! - ele berrou para Bruno.
- Eu não fiz nada! - Bruno gesticulou se defendendo enquanto os jogadores dos dois times discutiam com o árbitro porque os brasileiros queriam pênalti, alheios aos dois atletas discutindo.
- É só um jogo, Bruno, para com isso!
- Não é só um jogo, você não vale nada!

Os dois começaram a se peitar no mesmo instante, prontos para brigar. inclusive se esqueceu de que era um amistoso e de que estava procurando melhorar sua conduta em campo por ser muito explosivo, mas nada daquilo importava naquele momento.

- Vai fazer o que? Me bater? Aqui mesmo? - ele disse em tom de provocação, vendo que Bruno procurava controlar a sua raiva.
- Não me falta vontade. Pode vir, não tenho medo de você.

Antes que uma briga feia se iniciasse, os dois foram separamos por seus colegas de equipe. Arthur se colocou no meio, empurrando Bruno para um lado e para o outro e Casemiro o ajudou a afastar que ainda berrava com Bruno e vice-versa.

- Para, para, para! Ele é seu amigo! Tá louco? - Arthur berrou de volta, dando um empurrão para tomar distância.
- Ele tá de birra, vocês estão vendo! Ele veio na maldade pra me machucar!
- Deixa pra lá, , é um amistoso - Casemiro disse tentando acalmar que procurava por Bruno no meio dos jogadores de azul.

Cebolinha e Gabriel Jesus se aproximaram, ajudando a afastar dali. O jogador sabia que não poderia passar por quatro que o seguravam, assim como Bruno que estava cercado de jogadores uruguaios, então ele se convenceu de que brigar não era o melhor caminho, embora ele quisesse muito.
O juiz, tomando o controle da partida, decidiu que seria realmente falta para o Brasil e depois tirou o cartão amarelo do bolso, mostrando para Bruno primeiramente, pela falta, e depois para que riu indignado, achando que ele não merecia o cartão por ter sofrido a falta e não ter começado o desentendimento na opinião dele.
O primeiro tempo acabou logo depois e os jogadores saiam do campo se cumprimentando. Arthur foi cumprimentar Suárez e os dois saíram juntos conversando, deixando para trás. O jogador foi um pouco atrás, cabisbaixo, sabendo que iria ouvir horrores de Tite depois, mas não se importava mais, ele merecia. Bruno passou por ele rapidamente e decidiu chamá-lo.

- Ei!
- O que você quer? - Bruno se virou para ele logo após entrar no túnel de acesso.
- Por que você fez aquilo? Por que colocou a perna na frente daquele jeito? Poderia ter sido pênalti e eu poderia ter me machucado feio!
- Você não é o único que sabe jogar sujo, .

Neste momento, Arthur parou de caminhar, olhando para trás por cima dos seus ombros ao notar algo diferente acontecendo. Suárez parou junto, olhando para trás e não entendendo uma palavra que fosse dita em português. Jogadores passavam por eles, evitando olhar para não gerar mais confusão.

- E por isso você acha que vale a pena me machucar? Quem você pensa que é?
- Quem você pensa que é. Acha que só por que é a estrelinha no Corinthians, pode ser aqui também?
- Tá falando besteira, Bruno, eu não me acho melhor do que ninguém.
- Para com essa conversa fiada, , você está se sentindo o poderoso! Aquela falta foi ridícula, você fingiu tudo e ainda ajudou no gol! Coloquei a perna na frente e colocaria mil vezes se fosse necessário, seu filho da...

Arthur entrou na frente quando viu cerrando o punho, pronto para ir pra cima. Não podia acreditar no que estava vendo.

- É sério que vocês dois vão brigar aqui? Desde quando vocês se odeiam, hein?
- Não, não vale a pena. A culpa não é minha se ele não sabe perder - cuspiu as palavras, vendo Bruno tentar se desvencilhar de Arthur, mas Suárez o segurou.

Os dois começaram a falar em um espanhol acelerado, mas entendeu quando o jogador do Barcelona disse para Bruno que não valia a pena e ele precisava se acalmar. O jogador concordou e baixou a guarda, acompanhando o camisa 9 em direção ao vestiário. Vendo que a tensão passou, Arthur soltou a camisa de e o olhou nos olhos.

- Qual é o seu problema? Ia brigar com o Bruno aqui mesmo?
- Ele merece.
- Cala a boca! Anda logo! Vai pro vestiário antes que eu mesmo resolva brigar com você.

Sobre um empurrão de Arthur, foi na frente em direção ao vestiário brasileiro que, apesar da vitória, estava um pouco tenso porque todos viram o desentendimento entre os jogadores tanto no campo quanto no túnel de acesso.
Apesar de tudo, Tite ignorou a situação e disse que conversaria com depois, mas o substituiu por Philippe Coutinho para a segunda etapa, visto que estava nervoso, amarelado e jogando mal. acatou sem reclamar porque sabia que o treinador tinha razão e tudo o que menos queria era tomar um cartão vermelho vestindo a camisa da Seleção Brasileira.
Na volta para o campo e já com o agasalho amarelo, ele pôde contar ao menos cinco jogadores o rodeando para ter certeza de que ele não iria brigar. Arthur, é claro, Coutinho, Firmino, Thiago Silva e Alisson. já estava mais calmo e não iria brigar caso visse Bruno, então achava desnecessária toda aquela escolta ao seu redor. Ele apenas se sentou ao lado dos seus colegas de Corinthians, Cássio e Fagner, mas não disse nada. Os olhares dos dois sobre ele já foram o suficiente para saber que estava ferrado.

- Vou conversar com o Tiago quando voltar, não se preocupem - ele disse por fim, encerrando qualquer indício de conversa a três.

⚽🖤📱

e Gabriela se entreolharam, engolindo a seco e visivelmente preocupadas. Acabaram de ver e Bruno brigando em campo e discutindo na entrada do túnel de acesso, completamente alheios aos olhos de quem estava vendo. Era ruim para elas, para o Corinthians e, principalmente, para eles dois, melhores amigos. Não sabiam o que esperar depois dali e nem como agir, mas sabiam que teriam que fazer alguma coisa.

- Eu conheço o o suficiente para saber que ele é rancoroso e não vai ceder tão fácil - disse preocupada, ainda prestando atenção no jogo que havia acabado de recomeçar.
- Bruno também não... O que a gente vai fazer, ?
- Por enquanto nada, vamos ver se eles vão se acertar até voltarem, caso contrário vamos ter que agir. Eles não podem brigar assim, especialmente porque são colegas de trabalho. Se não for a gente, o Tiago vai resolver isso, mas eles não vão gostar - passou as mãos pelo rosto, esfregando. - Eu nunca vi alguém que gosta tanto de brigar em campo que nem o ! Ele é muito explosivo, precisa de ajuda.
- Que o é briguento, a gente já sabe, mas o Bruno? , o Bruno não faz mal à uma formiga, você sabe.
- Eu sei, ele foi na onda do , só não sei o motivo... Não sei mesmo o que fazer agora. Qualquer coisa que eu tentar falar com o , vai sobrar pra mim também, ele não pensa direito quando está com raiva.

já estava namorando a tempo o suficiente com para saber que, apesar das inúmeras qualidades dele, a paciência não era uma delas, principalmente em campo. Ela não entendia como ele não era capaz de mudar seu comportamento mesmo após ter passado quase três meses sem jogar justamente por ter brigado em campo com Paolo Guerreiro quase um ano antes. se deu conta de que teria que agir com muito cuidado e usar sabedoria nas palavras.

- Eu só não entendi ainda porque o Bruno ficou tão nervoso com o do nada, e tenho medo de perguntar - Gabi encolheu os ombros porque também conhecia o namorado muito bem.
- Eu acho melhor a gente esperar eles voltarem, vai ser o melhor pra todo mundo. Se meter nisso agora não vai resolver nada. - É, você tem razão.

⚽🖤📱

Apesar do dia longo e cansativo de trabalho, estava disposta a se manter acordada a todo custo. Era perto da meia noite e ainda não tinha chegado, mas avisou que já estava a caminho, então ela não via motivos para não o esperar acordada. Procurava prestar atenção no filme passando na televisão, mas não tinha certeza se estava conseguindo ou não.
Quando ouviu o barulho da maçaneta da porta girando, ela se levantou do sofá em um pulo ao ver depois de duas semanas. Ele soltou a mala e deixou a mochila cair no chão, então abriu os braços para dar um abraço apertado em que não pensou duas vezes antes de retribuir. Para os dois, era como estar em casa além de algo físico. Sim, era mais do que isso.

- Senti sua falta - disse após o beijo que pareceu durar uma vida, incapaz de se desvencilhar dos braços dele.
- Também senti sua falta - admitiu, abrindo um largo sorriso nos lábios. - Eu só conseguia pensar que você iria adorar visitar Wembley. - Está na minha lista, pode ter certeza - riu de si mesma, pois realmente gostaria de conhecer o estádio. - Você tá com fome? Posso pedir uma pizza pra gente.
- Tá bom, vou tomar um banho enquanto isso.

levou suas malas para o quarto enquanto fazia o pedido de uma pizza pra eles. Ela voltou para o sofá enquanto esperava pelo namorado que se juntou a ela para esperarem juntos pela pizza. procurava não demonstrar, mas só ela sabia como o apartamento ficava vazio sem ele e o quanto ela se sentia sozinha ali. Passou anos da sua vida achando que era melhor estar só do que mal acompanhada, mas simplesmente não conseguia mais se imaginar vivendo como antes. Estava orgulhosa do seu amadurecimento e feliz por ter sido a pessoa que mudou sua forma de pensar.
Quando a pizza chegou, cada um pegou seu pedaço e eles continuaram a assistir o filme, mas sentia necessidade de esclarecer suas dúvidas e entender melhor o motivo do desentendimento de e Bruno. Sabia que tinha uma possibilidade de o jogador se irritar com isso, mas ela não achava certo ver melhores amigos brigados dessa forma.

- , eu jurei pra mim mesma que não ia me intrometer, mas eu preciso perguntar - ela colocou o prato sobre a mesa de centro e se virou para ele. - O que aconteceu entre você e o Bruno?
- É complicado - soltou um longo suspiro, perdendo o apetite de repente. - Nós dois erramos.
- É que vendo pela TV, parecia que o Bruno simplesmente surtou depois da falta, foi bem confuso e eu não queria saber por outras pessoas, prefiro saber de você.
- Bruno é o melhor, isso é incontestável, e ele conhece muito bem o meu estilo de jogo, sabe como me parar... Era isso que estava acontecendo, ele estava me parando com muita facilidade e eu não conseguia fazer render o lado esquerdo, mesmo com o Filipe Luís jogando comigo. No lance da falta, eu poderia ter continuado mesmo com o puxão de camisa, mas eu me joguei, eu simulei aquela falta.
- Não acredito, ...
- Calma, tem mais. Bruno percebeu o que eu fiz e falou para eu não fazer de novo. Quando saiu o gol, ele ficou indignado, e isso provavelmente afetou o rendimento dele no jogo porque eu comecei a jogar melhor. No lance da falta, eu ameacei ir para um lado, mas acabei indo para outro e ele me acompanhou, só que ele colocou a perna de propósito para me derrubar ao invés de interromper a jogada, meu joelho tá um pouco dolorido até agora por causa do choque. Ali eu perdi a cabeça, , esqueci que ele era meu amigo, só fui... A gente começou a gritar e mandar ofensas um pro outro e, se o Arthur não tivesse se colocado no meio de nós, eu teria perdido a cabeça. Tite me substituiu pra eu não ser expulso, mas no fim do jogo eu encontrei o Bruno de novo e nós começamos a discutir outra vez, sobrou de novo para o Arthur separar... Tentei falar com o Bruno quando eu já estava em Los Angeles, mas ele não quis falar comigo, acho que ainda está chateado.
- Tite falou alguma coisa pra você?
- Sim, sim, ele é muito bom nisso. Ele não brigou comigo, ele conversou. Explicou que, por sermos colegas de clube, não poderíamos brigar assim... Provavelmente o lado torcedor dele falou mais alto porque ele disse que teríamos que deixar as diferenças de lado porque o Corinthians não tem elenco rachado e que a instituição é muito maior do que nós dois. Se não quisermos nos resolve por conta própria, teria de ser pelo clube. Ele me convenceu, mas eu gostaria que o Bruno concordasse também.
- Meu Deus, o Tite é incrível - ela sorriu admirada. - Eu quero socar a sua cara por ter simulado aquela falta, mas acho que o Bruno não precisava ter agido com maldade.
- Você acha? - riu, exalando sarcasmo. - ele disse que colocaria a perna mil vezes se fosse necessário. Nem parecia o Méndez.
- Ele tá nervoso, , deixa ele se acalmar e então vocês conversam. Não é certo vocês brigarem assim, são melhores amigos.
- Acredite, já ouvi isso um milhão de vezes. Só do Arthur, foi metade, ele realmente gritou muito comigo naquele dia.
- Então é melhor você ouvir porque deve ter sido difícil pra ele admitir que foi trocado pelo Bruno - começou a rir e recebeu um empurrão de , que havia acabado de colocar seu prato sobre a mesa de centro também.
- Sai pra lá! Ele que me trocou quando arrumou namorada! Sobrou só eu e o Cebolinha, foi bem triste.
- E você se vingou arrumando outro amigo ao invés de uma namorada? Ai, , sinceramente...
- Vou resolver isso agora - disse por fim, puxando para o seu colo e começou a beijar a namorada com vontade.

não pensou duas vezes em retribuir ao beijo, se dando conta de que sentia falta dele muito mais do que imaginava, mas sempre que seus lábios se encontravam com os dele era como se ele nunca realmente tivesse ido.
Ela tirou a sua camiseta do pijama com pressa, ficando com os seios despidos, e praticamente ordenou para tirar sua camisa também. Ele concordou e fez imediatamente, mas a sua vista era boa demais para não se aproveitar e não conteve um gemido quando ele começou a chupá-los com vontade. Ela jogou a cabeça para trás e deixou ele fazer o que bem quisesse, mas logo trocaram de posição, se deitando no sofá, e ela ficou por cima, começando a distribuir chupões pelo pescoço dele enquanto as mãos dele percorriam o seu corpo.

- Sabe qual é a pior parte de quando você vai viajar? - ela perguntou ao apoiar as mãos no sofá para poder o olhar nos olhos.
- Acho que eu nem preciso perguntar, eu penso o mesmo - respondeu enquanto a segurava para poderem trocar de posição, então ele ficou por cima. - É bom voltar pra casa.
- Eu também acho - disse por fim, rindo, e tornou a beijá-lá.

Capítulo 27 - Lar é onde o coração está

Abril

já tinha perdido as contas de quantos canecos de chope havia tomado apenas naquela noite, estava bêbado o suficiente para não dirigir no caminho de volta pra casa, mas pouco se importava, afinal, ser campeão Paulista novamente e em cima do maior rival era bom, porém ser campeão e ser considerado o melhor jogador do campeonato e artilheiro era melhor ainda, motivo de celebrar. Ele fez um bom campeonato desde o primeiro jogo e achava que merecia extravasar ao menos por uma noite.

- Devagar, amigo, sua mulher está te esperando em casa - Tobias deu tapinhas nas costas de que derrubou chope na própria roupa, rindo sem parar.
- Eu tenho a mulher mais linda e compreensiva do mundo, Tobias - disse transbordando orgulho na voz, se referir à como sua mulher tinha o mesmo gosto de bala de iogurte em sua boca. Era doce.
- Ela não vai ser tão compreensiva quando você chegar caindo de bêbado pela manhã - ele riu enquanto se sentava na cadeira ao lado - Insisti para ela vir, mas você sabe como é a , ela é muito comprometida com o trabalho.
- Eu sei - se virou para Tobias, o encarando seriamente. - Tô com saudade dela.
- Não, , agora não. Não quero ouvir você resmungando que não vê sua namorada há dias, por favor - Tobias começou a rir. - Cara, vocês se viram há algumas horas no campo, se acalma.
- Acho que quero ir pra casa, Tobias.
- Tudo bem, eu te dou uma carona. Levanta, vamos procurar o Junior.

concordou e seguiu Tobias aos tropeços por entre as pessoas. Ele adorava festas de celebrações de fim de campeonato, mas trocaria toda aquela agitação do momento para estar em casa com . Se ela não pôde comparecer por motivos de trabalho, então não fazia sentido continuar ali.

- Achei você! - Tobias colocou sua mão sobre o ombro de Junior para que ele os notasse no meio daquele monte de gente.
- Vocês estão aí! Pelo visto, o aproveitou bastante - Junior se virou para e o jogador concordou, embora não estivesse racionando muito bem à altura.
- É, mas ele também foi picado pelo bicho da esposa em casa, quer ir embora.
- A não é minha esposa, Tobias - se apoiou no amigo, procurando se manter em pé sozinho. - Ainda.
- E o que você quer dizer com isso, cara? Vai mesmo desposar a nossa amiga? - Junior perguntou divertido, rindo ao ver a cara de espanto de .
- Ela me mataria se eu fizesse isso, mas quem sabe um dia? Eu tenho que dizer, aquela mulher é um absurdo, eu não dou conta às vezes, é sério.
- Tá bom, tá bom, não precisa dar detalhes pra gente, já entendemos, cara.
- Eu vou pra casa e dou uma carona pra ele, vai ficar?
- Isso aqui não tem hora pra acabar, Tobias, você sabe disso - Junior riu, dando um gole do seu chope. - Se certifique de que o nosso menino vai chegar bem em casa, precisamos dele para o Brasileirão.
- Brasileirão uma porra, a gente vai ganhar a Libertadores esse ano! - olhou para Junior com cara de bravo, fazendo os amigos rirem ainda mais.
- Tá bom, tá bom, a gente acredita em você, meu amigo. Vamos embora, já bebeu demais por hoje.

Os três se despediram, então e Tobias começaram a caminhar em direção à saída do salão. se apoiava em Tobias, pois o teor alcoólico no sangue não lhe permitia andar sozinho e felizmente Tobias poderia lhe ajudar com isso.

- Quem diria, hein? Um ano atrás, você fez o mesmo com a , mas o mundão girou e capotou.
- Se não fosse por isso, eu não teria ficado com a menina mais linda que eu já beijei. Tobias, acho que me apaixonei.
- Deu pra perceber, você só falou da até agora.
- É que eu amo a minha... Nossa, olha quem está ali! Peraí, peraí, tenho que resolver uma coisa antes.

se soltou de Tobias e foi aos tropeços na direção de Bruno e Gabriela. Tobias o seguiu, pois sabia que o amigo iria se meter em confusão caso Bruno se irritasse.

- Méndez! Gabi!
- Oi, - Gabriela disse educadamente, sorrindo para o amigo. - Você tá bem? Parece meio...
- Bêbado! É, um pouquinho.
- O que você quer? - Bruno perguntou abruptamente, cruzando os braços.
- Cara, você precisa entender que você é o meu melhor amigo, entende? E eu não gosto de brigar com os meus amigos, o Guerrero não é meu amigo e por isso eu briguei com ele, mas você é legal, Bruno, e foi meu primeiro amigo aqui. Não deixa o Arthur ouvir isso, mas somos parças um do outro.

Bruno mordeu os lábios, prendendo a risada. Sim, ainda estava sem falar com e continuaria assim para sempre se dependesse dele, mas achou a situação divertida, pois achava que era um bêbado divertido.

- Você tá bêbado, cara, a gente se fala depois.
- Eu queria que você fosse brasileiro pra gente jogar na Seleção também. Imagina só você na zaga, o Arthur no meio-campo e eu no ataque. Puta que pariu, que timaço! O hexa estaria garantido, você não acha?
- Vai pra casa, , depois a gente conversa, você não está falando coisa com coisa.
- Por que você não se naturaliza?
- !
- Tá, tá. Tô indo embora, tchau pra vocês. Bora , Tobby.

se apoiou em Tobias e eles foram embora enquanto Bruno e Gabriela observavam a cena, e só quando os perderam de vista, Gabriela se virou para Bruno, achando que ele finalmente iria ceder.

- Esse foi o melhor pedido de desculpas que eu já ouvi, e nem foi pra mim.
- É, o é bem... Alegre às vezes.
- Amor, ele tá sendo sincero, vocês precisam conversar. Por favor, fala com ele - Gabriela colocou as mãos sobre os ombros de Bruno e ele envolveu seus braços ao redor da cintura dela.
- Eu queria que fosse fácil.
- E é, é só você ouvir o que ele tem pra falar.
- Gabi, eu quis machucar ele com a falta, ele sabe disso. Agora me sinto culpado, mas fiz de propósito.
- Então diz pra ele que você sente muito.
- Você sabe mesmo o que dizer, não é? - ele se aproximou para beijá-la, mas Gabi virou o rosto. - O que foi?
- Me promete que você vai falar com o .
- Amor...
- Me promete.
- Mas...
- Bruno Méndez Cittadini! Vai mesmo perder o seu amigo por uma besteira dessas?
- Tá bom. No aniversário da , pode ser?
- Pode, agora sim pode me beijar.
- Que bom - Bruno disse por fim, rompendo qualquer distância entre eles com um beijo.

Enquanto isso, no carro, Tobias era obrigado a aguentar falando sem parar sobre a sua amizade com Bruno. O que ele menos queria era estar dirigindo para a casa do seu amigo bêbado às quatro da madrugada ao invés de estar curtindo a festa de comemoração do título paulista, mas até que estava se divertindo com a história que estava contando.

- Ele paga de durão, mas é uma manteiga derretida, eu sei disso - dizia se referindo a Bruno. - Ele vai me desculpar, eu não fiz por maldade. Você acredita em mim, não é?
- É claro que sim, . Que atire a primeira pedra o jogador que nunca simulou uma falta.
- Foi isso que eu tentei falar pra ele! Mas ele é um cabeça dura e teimoso que não me escuta!
- Então vocês são iguaizinhos, pelo visto, por isso são tão amigos. - Isso não é verdade!
- Ah, é? Então me diz se você já se desculpou com o Guerrero.
- Hum... Não. Mas ele não conta, ele é meu rival.
- Pelo amor de Deus! Esquece isso!
- Eu não vou pedir desculpas pra ele nunca.
- Viu só? Iguaizinhos...

Tobias se limitou a ouvir o resto do caminho que não iria perdoar o rival nunca e também de que gostaria de encerrar a carreira no Grêmio, alegando que gostava muito do clube apesar de tudo. Não fazia sentido para Tobias, afinal, nunca se interessou pelo futebol do Sul. Imaginou que bêbado era uma fonte inesgotável de fatos inúteis, mas ele tinha que ouvir mesmo assim.

- Eu vou ligar pra e ela que lute com você a partir daqui - Tobias pegou seu celular e procurou pelo número da amiga que atendeu depois de alguns toques. - Oi, , desculpa te acordar, mas será que você pode fazer a gentileza de descer e receber seu namorado muito bêbado? É, estamos na portaria. Tá bom, valeu, estamos te esperando.

Não demorou muito para descer, porém ela estava com sono o suficiente para não estender a conversa, então se limitou à agradecer ao amigo e deixar com que se apoiasse nela enquanto pegavam o elevador para o penúltimo andar. Mesmo que estivesse bêbado, falando coisas sem sentido e exalando cheiro de álcool, ela achava que os braços dele ainda pareciam o melhor lugar para se estar.

- Amo você - ele disse repentinamente, deixando um beijo na bochecha dela. - Cadê a minha medalha?
- Na prateleira. Acho que hoje você se divertiu bastante.
- É verdade, mas eu vi o Bruno, sabia? Eu tentei pedir desculpa pra ele, mas ele não quis me ouvir.
- Ele tá chateado, , deixa ele pra lá.
- Mas ele é meu amigo, amor.
- Eu juro que se você for insistente assim comigo também, eu me caso com você. É uma promessa.
- Por você, eu faço mais - pôs seu outro abraço ao redor dela, se debruçando sobre ela. - É que eu amo você demais.
- Meu Deus, a gente vai cair! - riu, tentando manter o equilíbrio sobre o peso dele. - !
- Não se preocupa, eu seguro você.

As portas do elevador se abriram e eles seguiram pelo corredor até a porta do apartamento. Foi difícil para conseguir abrir a porta e se desvencilhar das tentativas de em beijá-la. Por mais que quisesse, ela sabia que não era uma boa ideia por três motivos: Ele estava bêbado, ela estava com sono e era quase cinco horas da manhã.

- Não, ! - ela foi pega de surpresa quando a prendeu nos braços. - Você tá cheirando a chope!
- E desde quando isso é um problema ?
- Eu tô falando sério, garoto. Para de me provocar - ela se soltou dele por um descuido. - Vai tomar banho agora!
- Tá - revirou os olhos, mas acabou cedendo. - Eu só vou pegar uma roupa, faz café?
- Ok, agora vai.

foi em direção ao seu quarto enquanto foi fazer o café mesmo que a contragosto. Ela estava com sono e tinha que estar em pé dentro de uma hora e meia, mas sabia que dificilmente iria conseguir aproveitar as horas restantes, pois imaginou que não iria deixar. Ele estava parecendo uma criança bagunceira ao invés de um adulto responsável.
Quando ela terminou, foi até o quarto verificar se estava tudo bem, mas tudo o que encontrou foi ele debruçado na cama, dormindo tranquilamente. Por mais que quisesse jogar todo o café em cima dele, se limitou a rir, imaginando a dor de cabeça que ele iria sentir no dia seguinte. Vencida pelo sono, ela se deitou ao lado dele e não demorou nada para adormecer novamente, desfrutando do tempo que lhe restava.

⚽🖤📱

A estreia contra o Flamengo pelo Campeonato Brasileiro foi bem empolgante para o time alvinegro. Em Itaquera, receberam o atual campeão e ambos fizeram uma partida digna de times grandes, com gols para os dois lados. Apesar do empate em 3x3, ainda era a primeira rodada do campeonato e o time podia se recuperar tranquilamente. O que realmente importava era a postura adotada pelo treinador, com um time muito mais ofensivo do que na temporada anterior.
Apesar de toda a festa, o real motivo da comemoração era outro e já estava mais do que atrasado para a festa de aniversário de . Ele prometeu que estaria presente, mesmo que chegasse no último minuto e estava fazendo de tudo para chegar no salão a tempo junto com Junior e Tobias. Saiu direto do estádio e procurava atalhos para desviar do trânsito e chegar o mais cedo possível.
Enquanto isso, aguardava pelos que ainda estavam pra chegar comemorando com quem já estava. Ela e Gabriela dançavam juntas na pista de dança, incentivando as pessoas a dançarem também, embora Gabriela fosse uma dançarina muito melhor do que ela quando se tratava de Reggaeton. Com a bebida na mão e tomando cuidado para a saia não subir, ela tentava acompanhar os passos da amiga e estava se divertindo com isso.
Quando a música latina deu espaço para o funk carioca, ela deixou seu drink de lado para se jogar pra valer. Já que era pra fazer vinte e cinco anos, então que fosse com estilo. Agora era ela quem ditava os passos, sabia como dançar e impressionar quem visse.
Ela não viu a hora que chegou junto com Tobias e Junior e também não se deu conta de que ele a olhava boquiaberto, completamente hipnotizado pela garota dançando sem pudor, chamando a atenção na pista de dança. se quer notou que Gabriela dançava junto com , ele só tinha olhos para a sua garota e ela estava incrível.

- Nossa - falou admirado, sem saber se continuava ali observando ou ia até ela.
- Planeta terra chamando ! - Tobias acenou para ele, fazendo o amigo dispersar. - Cara, você tá babando. Vai lá, não é como se vocês fossem desconhecidos.
- Tá ótimo aqui, ela... Está incrível, radiante.
- Já vi que vou ter que fazer isso por você. Espera aí.

Tobias passou pelo meio das pessoas, indo até e dando um abraço na amiga antes de apontar para . procurou por ele no meio daquele monte de gente, indo na direção dele quando o avistou. abriu os braços e a recebeu com um abraço também, beijando-a e girando a namorada no ar.

- Feliz aniversário, amor.
- Não acredito que você veio mesmo - sorriu, ainda com os braços ao redor do pescoço dele.
- Eu disse que viria - sorriu de volta pra ela, dando-lhe um beijo estalado na boca. - Alguém já te disse que você parece uma deusa dançando? Eu não fui lá porque eu fiquei aqui hipnotizado com tanta beleza.
- Bobo, só quero comemorar meu aniversário com estilo - ela riu, sentindo as bochechas ganhando cor. - Vem dançar comigo.
- Funk? Nem pensar, eu vou pegar uma bebida pra mim. Vai lá, se diverte, você merece.
- Você não vai escapar de dançar comigo hoje, esteja avisado - se afastou, voltando para a pista.

foi até o bar pegar uma bebida para entrar no clima, mas acabou por ficar ali mesmo observando a movimentação, cumprimentando os sogros e quem mais passasse por ali. Estava cansado o suficiente para não dançar também e sabia que iria entender.

- Melhor se esconder, não vai demorar para a vir atrás de você - Gabriela disse ao se aproximar, fazendo sinal para o garçom lhe trazer uma bebida.
- Eu tô cansado, Gabi, o jogo foi duro hoje. Ela vai entender... Você por acaso viu o Bruno? Ele disse que queria falar comigo, mas até agora nada.
- Ele ainda não chegou, mas eu aviso pra ele te procurar. Já posso imaginar o que é. Não se preocupa, ele está de bom humor hoje - a garota disse sorrindo e deu um gole generoso da bebida logo em seguida. - Delicia!
- Você já tem idade pra beber? - perguntou franzindo o cenho.
- Não tanta quanto você - Gabriela disse divertida, lhe dando uma piscadinha e se afastou, voltando para a pista de dança.

voltou sua atenção para a bebida no copo e o celular onde falava brevemente com a sua irmã quando sentiu uma cutucada no seu ombro esquerdo. Quando se virou, estava parada na frente dele com os braços cruzados, batendo o pé no chão nervosamente. Ele sorriu quando soube exatamente o que era.

- O que foi?
- Vai ficar aí o resto da festa?
- Tô cansado, amor, não é fácil jogar contra o Flamengo.
- Não acredito que o Flamengo recebe mais atenção do que eu, não posso acreditar! Ok, vai lá com o Gabigol e com o Arrascaeta, deve ser aniversário deles também.
- Que garotinha mais ciumenta - gargalhou, puxando pela cintura para o meio de suas pernas.
- Não é ciúmes, só acho que eu merecia um pouquinho mais de atenção.
- Você tem toda a minha atenção agora. Vamos, aproveita - ele aproximou seu rosto do dela, fazendo desviar o olhar e rir.
- Que droga, . Eu vim brigar com você - ela envolveu os braços ao redor do pescoço dele, cedendo.
- Não se preocupa, o Flamengo não sabe dançar funk como você - ele disse por fim, esticando o rosto para beijá-la.

O que era pra ser um pressionar de lábios acabou se tornando um beijão, e nem e nem se importavam com isso. E daí se alguém poderia ver? Para eles era o de menos, pois não se viam há alguns dias e estavam com saudades um do outro.

- A gente já pode ir embora? - perguntou entre os beijos e gargalhou, afastando o rosto. - Qual é?!
- Até parece que vou embora da minha própria festa de aniversário!
- Mas eu quero ficar com você, porra!
- Vem - ela o puxou pela mão, o obrigando a se levantar.
- Onde vamos?
- Fingir que somos desconhecidos se pegando.

Sem entender, porém ansioso, seguiu até o banheiro. Não era um banheiro coletivo, e sim individual, um pouco pequeno demais para duas pessoas dividirem o espaço. trancou a porta e se virou para com um olhar confiante e um sorriso travesso nos lábios.

- Parabéns pelo gol.
- Foi pra você.
- É sério?
- Você não viu eu fazendo um coração na comemoração? Foi pra você, , pelo seu aniversário!
- Obrigada, foi um belo gol - ela se aproximou dele, colocando suas mãos nos ombros dele e massageando. - Nossa, você tá rígido.
- Você sabe que é normal depois do jogo.
- Então relaxa, já acabou o expediente. Vamos ser rapidinhos, tá? Não posso sumir da minha própria festa.

apenas concordou e puxou para um beijo quente, cheio de desejo. não pensou duas vezes em retribuir, estava sedenta pelos beijos que não recebia havia dias. Ele a prensou contra a parede e envolveu uma das pernas ao redor da cintura dele, pegando impulso para colocar a outra também enquanto a segurava pelas coxas, lhe dando apoio. Ele mudou o rumo e começou a dar beijinhos no pescoço dela que logo viraram chupões.
Embora tentasse ser discreto para não deixar marcas ali, era difícil de controlar o desejo ao vê-la com roupas tão diferentes das quais costumava usar. A garota de tênis, calça jeans e camiseta no dia-a-dia deu espaço para uma mulher confiante em uma saia preta, um cropped branco e saltos agulha e gostava das duas versões, sem uma preferida.
Quando aquela posição se tornou cansativa, se sentou sobre a pia, ainda entrelaçando as pernas ao redor da cintura dele, o puxando com força e erguendo um pouco a sua saia involuntariamente. viu e não se envergonhou por olhar, desejou mais do que nunca estarem em casa.

- Preciso dizer, você está a maior gata. Sou mesmo um cara de sorte - ele disse após mais um beijo.
- Aproveita então - respondeu naturalmente, se deliciando com os lábios dele contra o seu pescoço.

Ela abriu os botões de cima da camisa dele, querendo poder abrir os outros também, mas sabia que não era a hora certa para tal.

- Que droga! Por que você tem que ser assim, ?
- Assim como? - perguntou confuso.
- Gostoso desse jeito! Puta merda, hein? Não podia ser um pouquinho feio? Desdentado, peludo, qualquer coisa!
- Não tenho culpa se você se apaixona por qualquer coisa - ele tentou contornar a situação, tentando também não demonstrar que ficou sem graça com o elogio. - Falta muito pra acabar aqui?
- Você é péssimo - riu divertida, concordando que também queria poder prolongar o momento. - Prometo recompensar quando chegarmos em casa.
- O aniversário é seu, mas quem ganha o presente sou eu. Gostei disso - ele sorriu, recebendo um empurrão de leve da namorada.
- Isso mesmo, agora a gente vai voltar, eu nem fiquei bêbada ainda - desceu da pia, arrumando a saia e os cabelos na frente do espelho.

Logo depois eles saíram do banheiro e voltaram para o salão. Permaneceram juntos um pouco até Bruno chegar. Primeiramente o zagueiro parabenizou , mas antes mesmo que pudesse dar um beijo em sua namorada, ele chamou para conversar e os dois se afastaram da pista de dança, indo para uma das mesas vazias.

- Acho que está na hora de resolver isso - Bruno começou a falar quando percebeu que o esperava.
- Também acho.
- Eu ainda não concordo com o que você fez, mas...
- Desculpa interromper, mas você está a tempo o suficiente no futebol pra saber que isso é absolutamente normal. Provavelmente já aconteceu de um atacante tentar forçar um pênalti em cima de você ou algo assim, você sabe do que tô falando, Bruno. Foi desnecessário você se irritar comigo por causa disso.
- Como eu estava falando, era isso o que eu ia dizer. Eu não concordo, mas sei que é comum. O que me deixou nervoso foi saber que você não é assim e foi desleal. Acho que os dois estão errados, você por forçar uma falta e eu por me irritar com isso.
- Cara, eu estava desesperado. Você já tem muito mais experiência do que eu na Seleção, sabe como as coisas funcionam e eu não quero perder essa vaga, não agora que eu finalmente consegui, Bruno. Eu não fiz por maldade ou pra prejudicar o seu time, eu só fiz por mim, para que todo o meu esforço de anos não fosse pro ralo em quarenta e cinco minutos. E mais uma coisa, eu não estava conseguindo passar por você, agora sei o que os nossos adversários sentem na pele - riu, fazendo Bruno rir também. - Quando eu vi que não iria passar por você tão fácil, eu apelei.
- , não foi nem um pouco fácil marcar você. Por sermos amigos e também porque você é um jogador acima da média, você é muito rápido e esperto e eu tive que estudar muito o seu jogo para saber o que fazer.
- Entendi... E qual é a minha fraqueza então?
- Você perde a paciência fácil - Bruno sorriu e abaixou a cabeça, prendendo o riso e concordando com ele. - E acaba não pensando muito bem, precisa melhorar isso... Me desculpa pela falta, eu confesso que fui na maldade em um segundo de raiva, queria te parar, mas nunca quis machucar você. Desculpa, , eu exagerei.
- Tudo bem, vamos deixar isso pra lá. Eu não quero mais brigar, cara, você foi o meu primeiro amigo aqui e... - neste instante, Bruno voltou a rir e olhou confuso para o amigo. - O que é?
- Você... Na festa do Paulista... - o jogador respirou fundo, procurando se acalmar, mas era incapaz de parar de rir. - Cara, só faltou você me pedir em namoro, disse isso e mais um pouco, se declarou pra mim.
- Meu Deus - cobriu o rosto com uma das mãos, imaginando a cena. - Eu não me lembro disso.
- Ainda bem, mas eu sim. Essa merda vai ficar na minha cabeça pra sempre! Foi hilário, .
- Que vergonha, meu Deus do céu... Mas deixa eu te refrescar a memória, você fez a mesma coisa no seu aniversário, ok? Abriu as asas, não pode falar nada de mim. Senti sua falta, corno do caralho. Na próxima, eu que vou por a perna frente se começar com putaria de novo.
- Experimenta fazer corpo mole na minha frente de novo, , experimenta - Bruno se levantou. - Agora que somos amigos de novo, dá licença que eu nem vi a minha namorada ainda.
- Espera, vou procurar a minha também.

Os dois se levantaram e começaram a andar pelo salão à procura de e Gabriela, as encontrando conversando com os pais de .

- Mudou de ideia? Vai dançar comigo agora? - olhou para por cima do ombro quando ele a abraçou por trás.

Neste instante, foi como se uma lâmpada se acendesse em cima da cabeça de e ele decidiu que iria dançar com ela, mas não seria nenhuma das músicas tocadas até o momento e ele tinha a canção perfeita.

- Vou, vai pra pista, eu vou pedir uma música. Pode ir todo mundo, vai ser ainda melhor. Licença.

se afastou e procurou pelo DJ da festa, o que não foi difícil de se fazer. Quando o avistou, pediu educadamente se poderia colocar a canção In My Life dos Beatles para tocar e ele concordou, procurando pela música na internet enquanto voltava correndo para a pista de dança, tomando nos braços para uma dança a dois, os guiando no ritmo lento da música.

- Que música é essa? - ela perguntou quando o primeiro acorde da música ecoou pelo salão.
- In My Life dos Beatles. Você não conhece? - perguntou surpreso e ela negou. - Então é melhor conhecer porque ela vai ser a nossa música a partir de agora.

There are places I remember
(Há lugares que eu me lembro)
All my life though some have changed
(Por toda a minha vida, embora alguns tenham mudado)
Some forever not for better
(Alguns para sempre, e não para melhor)
Some have gone and some remain
(Alguns se foram e alguns permaneceram)

All these places have their moments
(Todos estes lugares têm seus momentos)
With lovers and friends I still can recall
(Com amores e amigos que ainda me lembro)
Some are dead and some are living
(Alguns estão mortos e alguns ainda vivem)
In my life I've loved them all
(Em minha vida, eu amei todos eles)

sorriu ao prestar atenção na letra. Ela sabia que ele queria dizer algo pra ela e estava curiosa para ouvir o resto.

But of all these friends and lovers
(Mas todos estes amigos e amores)
There is no one compared with you
(Não há nenhum comparado a você)
And these memories lose their meaning
(Todas estas memórias perdem seus significados)
When I think of love as something new
(Quando penso no amor como uma coisa nova)

Though I know I'll never lose affection
(Apesar de saber que nunca vou perder a afeição)
For people and things that went before
(Pelas pessoas e coisas que vieram antes)
I know I'll often stop and think about them
(Eu sei que sempre vou parar e pensar nelas)
In my life I love you more
(Na minha vida eu te amo mais)

- É uma música muito bonita - disse durante o solo de guitarra, sorrindo sem parar. - E é a cara do Rony ouvir esse tipo de música.
- Eu conheço por causa dele - admitiu rindo. - E eu só consigo me lembrar de você quando eu a ouço, .
- Eu amei. É sério, é linda.
- Eu te amo.
- Também amo você.

Ela rompeu qualquer distância entre os dois quando o beijou durante a repetição do refrão, parando de dançar, mas ainda com a melodia ecoando pelos seus ouvidos. Certamente ela ainda ouviria aquela música muitas vezes, mas tinha certeza de que aquela era especial em um momento também especial. Era algo simples, porém perfeito e considerou seus vinte e cinco anos como o melhor aniversário que já teve.
E esperava poder passar muitos outros ainda ao lado dele.

In my life I love you more
(Na minha vida eu te amo mais)

⚽🖤📱

- Bora, bora, bora!

Sob o incentivo do treinador, os pontas, meias e atacantes treinavam passes rápidos entre si afim de aperfeiçoar o entrosamento. Os titulares disputavam contra os reservas, sendo os de colete os que dificultavam a marcação enquanto zagueiros, laterais e volantes faziam outro tipo de exercício defensivo do outro lado do campo com o auxiliar.
procurava seguir fielmente o que era passado, recebendo a bola e tocando para o jogador mais próximo o mais rápido possível. Ele tinha bons reflexos, estava satisfeito com o próprio trabalho e torcia para que o treinador pensasse assim também. Desde que Pedrinho passou a jogar pelo meio ao invés de ponta direita, o entrosamento entre os dois mais o outro ponta, na maioria das vezes representado por Vital era satisfatório no geral, fazendo gols e também sendo bons garçons para o centroavante.
recebeu um passe de Gabriel e tocou para Pedrinho antes que pudesse ser marcado. O meia tocou para Gustavo e ele chutou, um pouco desengonçado, em direção ao gol, mas Caíque fez uma boa defesa ao espalmar para fora. O atacante levou a mão à coxa, se sentando no chão, estava sentindo dor na parte de trás do músculo. O treinador foi até ele, procurando se certificar de que seu jogador estava bem, mas Gustavo negou, fazendo feição de dor. Tiago fez sinal para o fisioterapeuta se aproximar, então ajudaram o atleta a se levantar e ir até o banco para que pudesse ser examinado enquanto o técnico bolava rapidamente uma nova estratégia em sua mente sobre os olhares preocupados dos jogadores.

- Ótimo, estou sem meus três atacantes - ele bufou frustrado, colocando as mãos na cintura. Com Boselli suspenso e Gustavo e Vagner machucados, o treinador estava sem um centroavante para o jogo de volta contra o Nacional pela Libertadores.

Ele percorreu o olhar pelos pontas e meias, se lembrando também dos jogadores reservas. Teria que improvisar, sabia disso, mas quem poderia ser ofensivo o suficiente para tal função? Tiago pensou em Pedrinho primeiramente, mas sabia que o meia era melhor criando jogadas do que finalizando. Para sua sorte, o lado esquerdo era bem ofensivo e estava bem ali com as mãos na cintura e respiração ofegante, esperando ordens do treinador.

- , vem pra frente, quero te testar como centroavante.
- Eu? - foi tudo o que conseguiu dizer, visivelmente surpreso. Apesar de ser a sua posição de origem, podia dizer que não jogava como centroavante há, pelo menos, cinco anos.
- Sim, você, vem aqui porque sei que você já jogou nessa posição. É só um teste, pessoal, acho que vai dar certo. Preciso de vocês mais do que nunca agora, vamos conseguir, ok?

foi para a posição de centroavante sem contrariar o treinador, mas na sua cabeça só conseguia pensar que chegou no Corinthians como meia, uma espécie de segundo volante, lá atrás, mas já estava como centroavante. Não poderia imaginar que mais surpresas a vida tinha pra ele.
Voltando ao treino na nova posição, ele teve um pouco de dificuldade para se adaptar de primeira, mas foi tomando confiança conforme ia tentando. Estava recebendo bons passes e conseguia finalizar, o que agradou Tiago de certa forma, fazendo o treinador se perguntar por qual motivo não jogava como atacante. Quando passaram a treinar apenas finalizações, a dúvida passou a martelar ainda mais na cabeça dele, precisava conhecer o seu atleta um pouco melhor, então ao final do dia decidiu chamar o jogador para uma conversa rápida.

- Sabe, ? Enquanto eu fazia o meu planejamento para a temporada, eu fiquei impressionado em ver como você consegue ser tão eficaz mesmo jogando de ponta. Quero dizer, você faz a sua função de ponta muito bem, você marca e corre atrás da bola, vai pra cima sem medo, tem um bom cruzamento também, mas você finaliza como um onze... É uma coisa que me deixou bem intrigado, pra ser sincero. Eu estava em dúvida entre você e o Pedrinho para substituir o Gustavo, mas enquanto ele cria muito bem, você finaliza muito bem. Se não estou enganado, você já foi atacante.
- É a minha posição de origem, professor - riu ao se lembrar da escolinha de futebol do Grêmio. - Joguei só como atacante no Santos e no Rosário, por isso não me destaquei. Não é fácil se destacar em um time que tinha um Neymar em começo de carreira, não é? Virei segundo volante no Grêmio com o Renato, ele gostava de mim e queria me aproveitar de alguma forma, achou que o meio-campo seria bom e foi mesmo, mas eu gosto de atacar, de fazer gols e o Carille percebeu isso quando estava aqui, me colocou de ponta no ano passado e eu gostei.
- Eu também gosto, não pretendo mudar porque já tenho três atacantes, mas preciso que você volte para a sua posição de origem pelo menos durante um jogo. Precisamos vencer o Nacional, temos o fator casa ao nosso favor e eu acredito que você possa dar conta do recado. Com base no que eu estudei sobre o Nacional, em como estamos jogando nessa temporada e em todo o seu rendimento desde que chegou no clube... Tem que ser você, , não são todos os pontas que conseguem se tornar o artilheiro do time na temporada por dois anos seguidos. Eu sei que é uma responsabilidade enorme, mas eu confio totalmente em você pra isso.
- Obrigado pela confiança, eu vou dar o meu melhor... Eu posso ir agora?
- Pode, pode. Se não se importar, gostaria que ficasse amanhã mais um pouco para treinar finalizações, se estiver tudo bem pra você.
- Claro, como você preferir, eu fico... Então até amanhã, professor.
- Até amanhã.

girou nos calcanhares para deixar o campo, mas foi chamado novamente por Tiago. Ele se virou, espremendo os olhos um pouco para poder vê-lo melhor.

- À propósito, eu acho que pode dar certo.
- Eu espero que sim, eu vou tentar - respondeu prontamente e Tiago assentiu.

seguiu seu caminho, rindo consigo mesmo da conversa de minutos antes. Estava tão acostumado a exigir muito de si mesmo que nem pensava que outra pessoa pudesse admirar o seu futebol, não pensava que o treinador prestasse tanta atenção nele especificamente. Isso era algo que aumentava a autoestima dele como atleta e o incentivava a melhorar a cada dia.
Ele só pensava em ir pra casa contar a novidade para , pois sabia que ela ficaria tão feliz quanto ele e foi exatamente isso que ele fez após tomar banho e voltar rapidamente pra casa, se esquecendo totalmente de que ainda estava trabalhando e tinha, pelo menos, mais uma hora até chegar em casa. Ele iria esperar pacientemente por isso, gostaria que ela fosse a primeira pessoa a saber da novidade.

"Vou passar na casa dos meus pais antes de voltar. Vou levar um lanchinho pra gente. Te amo ❤️"

leu a mensagem de e se deu por vencido, iria passar as próximas horas sozinho e entendiado. Afim de distrair a cabeça, pegou a bola de basquete e desceu para a quadra do condomínio onde alguns garotos jogavam futebol, mas quando viram se aproximar, não pensaram duas vezes antes de se juntarem a ele no outro esporte. Ele gostava de passar tempo com os garotos, se sentia um cara normal que gostava de praticar esportes. Se considerava razoavelmente bom no basquete, desejando às vezes ter sido jogador da modalidade. Gostava de jogar como ala e pivô, mas naquele jogo em específico estava como pivô, uma espécie de centroavante.
Não tinha altura o suficiente, mas recebeu uma bola de um contra-ataque e pulou o mais alto que podia, cravando a bola na cesta e se pendurando na mesma logo em seguida, para então colocar os pés no chão. Foi aplaudido pelo seu time, mas agradeceu enquanto corria para recuperar o rebote que ficou com os adversários.
Após o fim do jogo, ele estava cansado e resolveu voltar pra casa. Para sua surpresa, já havia chegado e não estava sozinha, Dantas estava ali para o visitar.

- O que eu aprontei dessa vez? - ele perguntou ao deixar a bola rolar pelo corredor enquanto Dantas bebericava o café servido por .
- Só assim pra eu te ver, né ? Às vezes você simplesmente esquece que tem gente que trabalha pra você e trabalha duro.
- Não diga isso como se eu fosse um ingrato, acontece que estou muito ocupado, ok?
- Fazendo o quê?
- Sendo o craque do time e um homem casado - deu de ombros, se aproximando de para lhe dar um selinho.
- Que convencido, - riu, mas o termo homem casado estava martelando na sua cabeça. - Quando foi que nos casamos?
- Poderia ter sido no primeiro dia se você não tivesse sido uma cavala.
- E você por acaso me notou naquele dia? - cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas.
- Eu reconheço uma mulher bonita e marrenta de longe, minha vida, eu com certeza teria te notado sim.
- Ai que nojo, acho que vou vomitar. Me poupe vocês dois - Dantas fez cara de nojo e o casal riu. - , é mentira dele, ele falou mal de você pra mim nesse dia. Eu me lembro.
- Valeu, Dantas. Valeu mesmo.
- Tudo bem, eu não fui uma lady, mas as pessoas mudam, não é? Eu mudei, não poderia desperdiçar um boy desses.
- Oh, meu Deus, me dê forças, por favor. Eu não aguento esses dois - Dantas juntou as mãos em oração, quase suplicando aos céus.
- Vou fazer o seguinte: vou tomar um banho bem relaxante e então vou assistir um filme enquanto vocês conversam, ok? Tenho a impressão de que o Dantas não veio aqui pra tomar meu café.
- Estava uma delícia por sinal, .
- Obrigada. Qualquer coisa, estou no quarto.

se despediu de com um selinho e foi tomar seu precioso banho enquanto o jogador se serviu de café também e se assentou à mesa com Dantas.

- É sério, aconteceu alguma coisa?
- Não, eu só queria conversar umas coisas com você. Olha isso - Dantas pegou seu celular e mostrou o bloco de notas para .
- E o que seria?
- Seus números na temporada, bobinho. Não parece, mas eu anoto tudo.
- Dez gols, cinco assistências, oitenta por cento na precisão de passes, setenta e cinco por cento de dribles corretos, três cartões amarelos, nenhum vermelho... - lia em voz alta, surpreso com os próprios números que ele não estava acompanhando. - Nossa, muito bom. Eu espero melhorar a porcentagem de dribles, mas é que eu driblo muito mal, não sei fazer gracinha.
- Drible é o de menos, , seu forte é a bola parada, se aproveita disso. Você foi bem com o Carille no ano passado apesar de tudo, mas esse ano você vai voar com o Tiago, o cara valoriza os atacantes. É agora, , você sabe.
- Falando em ataque e Tiago... Bem, estamos sem um centroavante para o jogo da Libertadores, com os outros machucados e suspensos, a vaga é minha. Vou ser o centroavante nesse jogo.
- Meu Deus do céu, , isso é incrível! Não sei que infernos você foi jogar de segundo volante no Grêmio, você é nitidamente um atacante. Isso é demais, é sério, é a sua chance de ouro.
- Eu sei. O Tiago já deixou bem claro que vai ser só nesse jogo, ele não vai me mudar de posição, mas foi algo que me pegou de surpresa mesmo assim, é muita responsabilidade, Dantas, eu vou ser atacante em um jogo de Libertadores, tenho medo de falhar.
- Pior ainda vai ser se você não tentar, não é? Relaxa, você vai se sair bem, eu sei que vai. Você é incrível, , acima da média. Agora só depende de você.
- Sua confiança me assusta, sabia?
- Sua insegurança me irrita, sabia? Vou te mandar umas entrevistas do Ibrahimovic pra você se inspirar. , eu preciso que você foque, ok? Jogue cada jogo como se fosse o último, e logo mais realmente vai ser.
- Eu não quero sair na próxima janela, Dantas - olhou em direção ao corredor, soltando um longo suspiro e Dantas entendeu na hora.
- Por ela, né?
- Eu não posso ir agora, ela não iria comigo assim de última hora e eu não quero deixar ela aqui.
- ...
- Dantas, eu não quero ir pra lugar nenhum se a não for comigo. Eu joguei nos maiores times do Brasil, é tão significativo quanto jogar na Europa, né? Eu tô tão feliz aqui que eu tenho medo de estragar tudo.
- Tá... Ok, eu entendo como você está se sentindo, mas nada vai ser de última hora, ok? Você vai ter todo o tempo do mundo de tomar uma decisão com a , ela vai te apoiar. Eu particularmente acho que tem clubes maiores por aqui, mas se você diz... Mesmo assim, você prefere ou jogar em um grande do Brasil ou em um gigante da Europa? Imagina se a camisa 7 do PSG fosse sua, por exemplo. Isso não importa pra você?
- Importa, mas só quero deixar claro que ir ou não já não é meu objetivo de vida, estou muito feliz aqui. Dantas, eu sou muito grato por tudo o que você já fez e vai fazer por mim. Não foi fácil me tirar do Santos e me botar em um time argentino, nem me fazer voltar a um grande brasileiro mesmo depois de um ano parado por lesão e mais difícil ainda ir pra outro gigante mesmo depois de um rebaixamento... Sou sortudo, eu sei, mas se hoje eu decidisse parar, eu estaria satisfeito comigo mesmo. Estou começando a entender que não vou ganhar tudo, não é isso que me tornaria grande. A glória é boa, mas melhor ainda é me sentir bem comigo mesmo, aprendi isso e estou me sentindo bem agora. O que vier no futuro vai ser lucro pra mim.
- Ok... - Dantas colocou a xícara sobre a mesa, tentando memorizar o que achou mais importante do discurso de . - Estou surpreso, tenho que admitir, achei que sua grande meta de vida fosse jogar no Barcelona, eu admito que eu tinha medo de você enlouquecer se não conseguisse, mas bendita seja a hora que a entrou na sua vida. Olha só pra você, é mais um louco no bando.
- Não sou corinthiano - riu, adorava o clube, mas não se considerava um torcedor. - Nem gremista, nem santista... Só estou feliz. Claro que meu sonho é jogar lá, mas está tudo ok se isso não acontecer. Eu entendo isso numa boa.
- , fica tranquilo. O lar é onde o coração está, não é?
- Exatamente! - sorriu, encontrando a frase perfeita que descrevesse a fase que estava vivendo.

A cidade de São Paulo. O seu trabalho. .
Era onde o coração de estava, ele finalmente podia dizer que estava em casa.

⚽🖤📱

nunca foi do tipo de torcedora que comprava a camisa do time com um nome de jogador, não tinha uma do Ronaldo Fenômeno, não tinha do Sócrates, tão pouco a sete de Marcelinho, mas ela abriu uma exceção daquela vez. Estava orgulhosa de exibir na parte de trás da camisa o número sete com o nome de . Ele havia marcado os dois gols na vitória parcial do Corinthians sobre o Nacional por 2x1 pela Libertadores e ainda tinha todo o segundo tempo pela frente.
estava adorando ver jogando como centroavante, a mesma posição que ela, estava ainda mais impressionada com o talento escondido dele, um finalizador nato, um matador. Ela adoraria vê-lo mais vezes como o último homem, mas sabia que isso não iria acontecer. De qualquer forma, o gol de pênalti e o de cabeça foram o suficiente para ela sentir ainda mais orgulho dele.

- Ai meu Deus - Gabriela disse atordoada ao ver que a amiga estava com lágrimas nos olhos enquanto o time entrava em campo para a segunda etapa. - Isso é sério mesmo, ?
- Ele está jogando tão bem, Gabi, olha pra ele. Está radiante - apontou para o telão no exato momento em que apareceu nele.
- Eu só tô mais do que orgulhosa, não consigo me controlar. Além disso, sou torcedora, não é? Estou sonhando, Gabi.
- Não é sonho, é realidade - Gabi esboçou o seu melhor sorriso. - Não pense que não estou orgulhosa, nunca vi o Bruno tão confiante e seguro de si mesmo desse jeito, acho que todos eles estão assim agora.
- Mas o é diferente, ele... Bom, ele tem os defeitos dele, sabe? Era muito estourado em campo, se prejudicou por isso e ficou quase três meses amargando o banco, não foi legal o que o Carille fez com ele, mesmo que tenha sido com a intenção de dar uma lição nele, e depois ele se machucou e a lesão foi grave. Quando ele voltou, foi um alívio, eu sei o que ele passou... me disse que não jogava como atacante há cinco anos, mas olha ele aí... Meu coração vai explodir de tanto orgulho dele.
- O merece... Espero que seja recompensado por isso.
- Eu também espero...

e Gabriela voltaram a atenção para o campo quando a partida recomeçou. Como era de se esperar, o clube uruguaio voltou com mais fome de bola e atacou mais nos primeiros quinze minutos até o clube paulista crescer e a partida passou a ficar bem equilibrada. A diferença era que os alvinegros tinham algo muito importante ao seu favor: uma torcida que cantava e apoiava durante os noventa minutos inteiros.
Claro que nem tudo foram flores, pois o Nacional empatou o jogo aos trinta minutos quando Bruno cometeu uma falta dentro da grande área, mesmo que não intencional. Com um jogador a menos e um placar de 2x2 , as coisas estavam começando a se complicar.

- Não precisava de tudo isso, pra que um cartão vermelho? - Gabriela esbravejou quando a partida recomeçou, viu Bruno indo direto para o vestiário.
- É a regra - murmurou com amargura, não tinha argumentos para defender o amigo. - Não dá pra defender dessa vez.

Gabriela se sentou na poltrona com braços cruzados e cara de poucos amigos, pois aquele jogo tinha acabado ali mesmo pra ela e o que viesse seria lucro. , em contra partida, continuou prestando atenção no jogo e em como lutava por cada bola como se fosse a última do jogo. Apesar de ser o último homem, estava voltando pra ajudar na marcação e puxar um contra-ataque, a nova estratégia do treinador.
E isso aconteceu, de fato, já nos acréscimos quando Pedrinho deu uma arrancada do meio de campo, driblando os marcadores uruguaios e avistando bem marcado, mas mesmo assim o camisa sete pediu a bola e Pedrinho tocou para ele. girou o corpo para se desvencilhar e tentou uma cobertura por cima do goleiro, resultando no terceiro gol do time.
Hat-trick.
A torcida foi ao delírio enquanto o time inteiro comemorava junto ao banco de reservas, um enorme abraço em grupo. se sentou e cobriu o rosto com as mãos porque a vontade de chorar foi maior e ela não conseguiu se conter. Não dava pra acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.
Para , era gratificante poder ver que a pessoa que acordava ao seu lado todos os dias tinha a sua parcela de responsabilidade nisso. era um jogador acima da média e extremamente habilidoso na opinião dela, além de ser esforçado. Se ela já estava feliz, mal podia imaginar como ele estava se sentindo.
Com o resultado, o time estava automaticamente classificado para as oitavas de final, cabia apenas descobrir se seria em primeiro ou segundo lugar do grupo. Não importava, estavam classificados e isso era motivo de comemoração.
Apesar de tudo, notou que Gabriela não estava no clima de jogo e era totalmente compreensível, afinal, viu o namorado sendo expulso justo em uma partida importante. Gabriela se quer era torcedora do time e entendia perfeitamente que a garota não tinha qualquer obrigação de estar feliz naquele momento, mas também achava que se alegrar não mataria ninguém.

- Ei, sei que você está chateada por causa do Bruno, mas ele deve estar mais calmo agora, feliz com o gol. É verdade que ele vai perder o último jogo da fase de grupos, mas ainda tem um campeonato todo pela frente - ela disse na tentativa de fazer a amiga se sentir melhor, mas sabia que não era muito boa nisso.
- Você tem razão - Gabi esboçou um sorrisinho de canto, ainda estava chateada. - Agora entendo o nervoso que você passa com o .
- Não, o é um pouquinho mais complicado do que o Bruno - as duas riram quando Gabriela concordou.

Antes de dizerem mais alguma coisa, o apito do árbitro ecoou pelo estádio anunciando o fim da partida. A torcida começou a cantar o hino do clube em forma de comemoração e os jogadores foram no embalo, felizes com a classificação. Apesar disso, viu claramente quando se dispersou dos companheiros e foi em direção ao camarote onde ela estava enquanto ela se curvava no parapeito de vidro para tentar ver melhor. Claro que não dava para ouvir o que ele estava falando, mas ela pôde ler nos lábios dele claramente quando ele disse "foi pra você" e fez o número três com a mão, indicando que os três gols fora dedicados pra ela.
sorriu de orelha à orelha e tentou, da forma mais clara possível, fazer com que ele entendesse que ela estava dizendo que o amava, falando isso e fazendo um coração com as mãos. aparentemente entendeu, pois deu risada e imitou o gesto, dando tchau e voltando para junto do grupo enquanto se sentou de novo, agora com um sorriso bobo nos lábios enquanto Gabriela ria da cara dela.

- Se contar pra alguém que eu estou sorrindo assim, eu mato você.
- Por que? Está tão bonitinha, tão meiga.
- Por isso mesmo, o tem que ver isso.

Gabriela pegou o celular no bolso e apontou na direção de que chegou a esconder o rosto, mas acabou rindo e a amiga tirou uma foto no momento de descuido, enviando para imediatamente. sabia que seria zoada pelo resto da vida por conta disso, mas era o preço a se pagar por ter se apaixonado.
O que ela poderia fazer?


Capítulo 28 - Existe Amor em São Paulo

Ganhar um jogo comum é bom, não é? Mas aqui vai uma pequena lista de coisas que tornam a situação ainda melhor:

- Copa Libertadores da América.
- Ganhar do Peñarol que por 6x0 em casa.
- Marcar dois gols na partida, um seguido do outro.

estava em êxtase após o jogo, completamente feliz pela goleada, se sentindo imbatível. O vestiário era só cantoria e o time se sentia pronto para as oitavas de final contra o Emelec do Equador. Seria um grande jogo e o time teria dois meses para se preparar e fazer bonito, não poderiam vacilar de forma alguma.
Apesar de toda a farra no vestiário, o que ele gostaria mesmo era de ir pra casa e descansar, afinal, teria treino normal no dia seguinte e ele queria estar bem descansado. Além disso, mal poderia esperar para estar com e comemorar com ela também.

- Ei, - Bruno se sentou ao lado do amigo no ônibus para voltar. - A Gabi sugeriu uma pizza, o que você acha?
- Não sei, tô cansado... - bocejou, estava com um pouco de sono depois que a adrenalina do jogo passou.
- A vai também.
- O quê?
- Elas vão esperar a gente no CT - Bruno riu ao ver a expressão de confusão no rosto de . - Vamos, vai ser legal.
- Acho que não tenho outra opção, né? Tá ok, eu vou.

Ele não estava realmente afim de ir, mas não conseguia dizer não para Bruno, e muito menos para que estaria lá também. Gostaria de passar o resto da quarta-feira assistindo a um filme com sua namorada antes de pegar no sono, mas tentou parecer educado e animado para uma pizza com amigos.

- Arrebentou hoje, mano - Gabriel se sentou no banco da frente e se virou para os jogadores.
- Valeu, cara - esboçou um sorriso de canto, achando que o mérito era do time inteiro. - Todos nós fomos, você me ajudou muito com a sua saída de bola, foi tudo muito rápido.
- Eu adoro ganhar de uruguaio - o camisa cinco deu ênfase em uruguaio, fazendo Bruno revirar os olhos. - Qual é? Eles já têm várias Libertadores, a gente só tem uma e eu nem estava aqui.
- Nem eu - concordou, reconhecendo que dois mil e doze foi realmente inesquecível para todo mundo.
- E eu que tinha treze anos de idade. Ou melhor, doze.
- Esqueci que você é criança ainda.
- Me erra, - Bruno resmungou, mas os outros dois apenas riram.
- Bom, eu tinha dezoito e jogava na Argentina, o que é pior ainda, eu espero que esse ano a taça volte pra cá, o Flamengo já se divertiu bastante. Eu prometi trazer essa taça, é o que vou fazer.
- Gostei, vou aderir. Ok, , vou ajudar você nessa.
- Valeu, Gab.

⚽🖤📱

- Eu senti tanto a sua falta esses dias - disse quando finalmente se encontraram e deram um abraço apertado um no outro.
- Eu também senti a sua - disse com sinceridade, se afastando um pouco para a olhar nos olhos e fazer um carinho no rosto dela. - Você fica linda com essa camisa do time, sabia?
- Você diz isso toda vez - ela riu envergonhada, sentindo as bochechas esquentarem.
- É porque é muito sério.

se inclinou para deixar um beijo suave nos lábios dela. Sentiu falta todos os dias enquanto esteve em concentração, mas era bom poder estar de volta e se sentir em casa novamente.

- Eu acho que a gente precisa ir - disse entre os beijos, resistente com as próprias palavras.
- Eu não quero ir - sorriu e deu mais um selinho nela antes de afastar o rosto. - Só aceitei o convite por educação mesmo.
- Ah, deixa disso! Temos que comemorar a vitória, seus dois gols, a próxima fase... - ela se aproximou do ouvido dele e baixou o tom de voz. - E depois matar a saudade.
- Promete?
- Eu juro juradinho - se afastou e deu uma piscadinha para que gargalhou.
- Ok, não vou me esquecer disso.

foi um cavalheiro e abriu a porta do carro para , mesmo que ela própria fosse dirigindo até a casa de Bruno. No caminho de volta a conversa não poderia ter sido outra para além do jogo. estava muito orgulhoso do seu desempenho individual, jogou sem ceder às provocações dos adversários e estava feliz com isso. Sentia que estava desenvolvendo disciplina aos poucos, além de estar muito bem entrosado com o grupo.

- Vocês são incríveis, a base de tudo é a união. Tenho certeza de que vai dar tudo certo - disse por fim quando chegaram na casa de Bruno e estacionou o carro.
- Não posso garantir nada, mas vou tentar de tudo, , eu prometo.
- Eu sei que vai - ela sorriu e saiu do carro ao mesmo tempo que ele.

Após tocar a campainha, Bruno recebeu os amigos no portão e então eles entraram juntos. Chegaram em comum acordo em relação aos sabores de pizza e então Gabi fez os pedidos. Não demorou nada até que tivessem assunto de sobra enquanto a pizza não chegava.

- Não, não, vocês precisavam ver, meu segundo gol foi cagado. Eu escorreguei e chutei pro gol, simplesmente sorte - comentava sobre um jogo antigo pelo Grêmio. - o Arthur riu horrores de mim, aquele... - o celular dele vibrou no bolso neste instante e pegou para ver o que era. - Falando nele...

abriu a primeira mensagem que era apenas o amigo o chamando pelo nome com letras maiúsculas. Antes que ele pudesse responder, as mensagens seguintes começaram a chegar de uma vez e leu uma por uma, até chegar na última.

"Eu acabei de descobrir que o Tite vai te convocar pra Copa América."

Felizmente o visualizado do WhatsApp dele não era visível, então teria tempo para processar o que acabou de ler. Aquilo realmente estava acontecendo? Ele estava entre os escolhidos de Tite para a Copa América na Argentina? não podia acreditar.
Ele respirou fundo e digitou de volta para Arthur perguntando se era uma pegadinha, mas o jogador do Barcelona negou veemente, afirmando que um interno da Seleção o contou sobre a lista de convocados. Não tinha nenhuma pegadinha por trás.
bloqueou a tela do celular e respirou fundo novamente, procurando manter a calma. , Bruno e Gabriela conversavam distraidamente enquanto ele tentava se manter impassível, mas de repente ele se lembrou de tudo o que passou para chegar ali, foi completamente tomado por nostalgia. A infância huilde no sul, o seu início de carreira apagado tanto no Santos quanto no Rosário, os momentos em que ele achava que não merecia vestir a camisa do Grêmio, o rebaixamento e a desconfiança da sua transferência para o Corinthians. Ele teve bons momentos, mas foram as dificuldades que o fizeram forte.
Que o fizeram grande.
abaixou a cabeça e espremeu os olhos, tentando não chamar a atenção, queria chorar ali mesmo. Ele não era de ferro, se considerava um cara sensível e sentimental. Estava realizando um grande sonho e a ficha estava caindo.

- , o que aconteceu? - se virou para ele preocupada ao ver que ele estava chorando.

Ele tentou tomar fôlego, mas era difícil de respirar. Se não estivesse feliz, diria que estava morrendo.

- Cara, é alguma dor do jogo? Fala pra gente - Bruno disse no mesmo tom de preocupação, então ergueu a cabeça.
- Fui convocado - ele falou rapidamente. - Eu vou jogar a Copa América com a Seleção.
- Mas a convocação não é só na semana que vem?
- Sim, mas o Arthur descobriu e disse que meu nome tá na lista... Eu... Eu nem sei o que dizer.
- , isso é incrível - se levantou e o puxou para um abraço. - Você merece tudo isso, você é incrível.

Enquanto dizia palavras bonitas de incentivo, absorvia tudo, mas procurava se manter calmo. Estava tremendo e com o coração acelerado, mas queria se acalmar para entender melhor. Após , também foi cumprimentado por Bruno e Gabriela e pouco depois as pizzas chegaram. Agora tinham dois motivos para comemorar.

- Eu não ia fazer isso, mas acho que vale a pena - Bruno foi até sua adega e tirou um vinho de lá. - Vamos comemorar.
- É de qual safra? - Gabriela perguntou enquanto se levantava para pegar as taças no armário.
- Mil novecentos e noventa e nove.
- Cara, não faz isso... - se sentiu envergonhado, não achava que merecia um vinho de vinte anos aberto só por causa dele.
- Eu quero, . Château Lafite Rothschild – 1999. Bordeaux, França - Bruno leu o rótulo com um francês horrível, causando risadas em todo mundo.

Gabi voltou com as taças e Bruno abriu o vinho, servindo uma taça de cada vez. Em seguida, pegou sua taça e ergueu.

- , você fala.
- Por que eu?
- Porque você é corinthiana e namorada do .
- Tá bom. Um brinde à goleada de hoje, a esse time incrível e super unido e à essa pessoinha que eu tive a sorte de encontrar - ela olhou para e sorriu ao ver que ele estava com os olhos brilhando. - , você merece o mundo, como torcedora eu nem sei como agradecer, mas como sua namorada eu quero que você conquiste muito mais, seja aqui ou lá fora. Nós te amamos e estamos muito orgulhosos.
- Eu não fiz nada sozinho, todo mundo tem mérito... Mas muito obrigado, eu tive muita sorte em encontrar pessoas como vocês aqui em São Paulo e eu sou muito grato por isso.
- Ao - Gabi ergueu mais a sua taça e foi acompanhada por Bruno e . ergueu também, mas timidamente, então eles brindaram.

estava genuinamente feliz, se sentindo amado. Estava cercado de boas pessoas que realmente se importavam com ele. Tinha feito um novo melhor amigo e se apaixonado por uma mulher incrível. Se lembrava de quando chegou na capital e achou que ficaria sozinho pra sempre, mas estava aliviado por perceber que estava muito, muito errado.
Podia dizer que existe amor em São Paulo.

⚽🖤📱


Era muita informação para uma pessoa só processar. tinha que dividir sua atenção sobre todas as pessoas que queriam lhe parabenizar, desde torcedores nas redes sociais até sua família. Claro que a prioridade era a família que ele faria questão de levar junto caso a Seleção chegasse à final. Ele estava muito ansioso por isso.

- Sua sorte é que é por uma boa causa, caso contrário eu diria que está me traindo - disse enquanto preparava o seu lado da cama para dormir e mantinha a atenção no celular.
- Desculpa, estava falando com o meu irmão, é muita gente falando comigo de uma vez e eu estou meio perdido - riu e então deixou o celular de lado para carregar.
- Tudo bem. A propósito, meus pais também mandaram os parabéns, estão orgulhosos.
- Temos que ir visitar eles antes de eu ir.
- E quando você vai?
- Daqui uns dez dias, mais ou menos, não sei. Preciso esperar a lista oficial... Estou em choque, .
- Não deveria, você está colhendo os frutos do seu trabalho - se sentou e foi até ele, ficando próxima. - Lembra que um ano atrás você estava amargando o banco de reservas, vendo o time sendo eliminado da Copa do Brasil pelo Flamengo e agora tudo mudou completamente. Você tem parte nisso também.
- Acho que morri e fui pro céu, é sério - se jogou para trás, erguendo os braços. - Eu vou pra Argentinaaaaa!!!
- Nunca te vi tão empolgado assim.
- Me sinto como um garoto de novo - ele olhou pra ela, os olhos brilhavam. - É por isso que eu sou apaixonado por futebol, a gente nunca sabe o que vai acontecer.
- Eu concordo com você, mas admito que vou me sentir meio sozinha enquanto você estiver na Granja - ela deu uma risadinha descontraída, mas tinha um tom de verdade por trás.

fez sinal para que se deitasse ao lado dele e ela assim fez, repousando a cabeça sobre o peito dele enquanto ele envolvia os braços ao redor dela, aninhando. Não gostava da ideia de ir e deixá-la sozinha por quase dois meses, mas não tinha outra escolha.

- Por mim, eu te levaria comigo.
- Por mim, eu iria com você - os dois riram e então começou a acariciar o cabelo dela.
- Eu preferia passar meu tempo livre com você ao invés de ter que olhar pra cara do Arthur, mas tudo bem.
- Deixa de ser ruim, , ele é o seu melhor amigo! - riu da forma como os amigos implicavam um com o outro. - Além disso, ele não pensou duas vezes antes de te contar o que descobriu.
- Eu sei, é brincadeira. Tô ansioso pra ver todo mundo, são bem legais. Você ia gostar deles.
- Ok, vou na mala com você, agora é sério. Quero conhecer o Alisson.
- Claro, sempre o Alisson - rolou os olhos, mas acabou rindo. - Eu sou mais bonito do que ele, sabia?
- Sabia - disse por fim, esticando o rosto para beijá-lo.

O que começou como um beijo despretensioso se tornou algo mais quente, intenso. Eles sabiam que tinham apenas mais alguns dias juntos antes que ele viajasse para o Rio de Janeiro e sabe-se lá quando iria voltar.
não perdeu tempo e se colocou por cima dele, uma perna de cada lado. Não tinha pressa em acelerar o beijo, mas tinha pressa em sentir as mãos dele explorando o seu corpo como se fosse algo novo. Ela jamais havia sentido tamanha euforia com outras pessoas, mas tinha essa habilidade extra e por isso ela deixou que trocassem de posição, então ele ficou por cima, ditando o ritmo a partir daí. Ele fez uma trilha de beijos até o pescoço dela e em seguida começou a distribuir chupões leves na região, não queria que ela fosse trabalhar com o pescoço marcado no dia seguinte.

- Eu não me importaria se você tirasse essa camiseta agora - disse entre os beijos, um pouco ofegante e riu, se afastando dela para tirar sua camiseta.
- Sua vez - ele atirou a camiseta em direção ao chão e esperou que tirasse a dela também .

assim fez e logo retomaram os beijos com mais intensidade. Por mais que quisesse tomar o controle da situação, sentir os lábios dele explorando seus seios era algo prazeroso demais para ser interrompido imediatamente. Todo o seu corpo se arrepiou quando a ponta da língua dele passou pelo seu mamilo, a estimulando, e ela desejava cada vez mais.
Eles trocaram de posição novamente, se livrando das partes de baixo também. começou a fazer uma trilha de beijos, começando pela boca, descendo pelo peito, barriga até encontrar com o tecido. Ela olhou para ele com um olhar desafiador e assentiu, sabendo exatamente do que se tratava e estava pulsando por isso. Ele se livrou da sua última peça de roupa para que fizesse o seu trabalho e depois seria a vez dele.
A noite estava apenas começando.

⚽🖤📱

- Eu sei descongelar um frango, mãe - dizia enquanto caminhava pelo estacionamento para deixar o estádio. Estava falando com sua mãe ao celular. - Não se preocupa, tá? Não vou matar o por intoxicação alimentar, você não deixaria eu fazer isso com o seu queridinho. Relaxa, dona Rose, ele vai voltar vivo e com a taça.

seguiu debatendo com a mãe sobre como deveria preparar o frango do jantar quando ela viu, bem ao longe, uma figura familiar. O que Dantas estava fazendo ali no estacionamento do estádio àquela hora? Ele acenou pra ela, a chamando, e percebeu que algo estava acontecendo.

- Mãe, preciso desligar, vou pegar o metrô. Beijo, tchau - ela desligou e se aproximou do empresário. - Dantas?
- Oi, pequenininha. Entra aí, preciso falar com você, vou te levar pra casa.
- Eu devo me preocupar?
- De jeito nenhum, é sobre o . Já que ele vai embora amanhã, vou passar lá pra me despedir dele também, se vocês não se importarem.
- Não, imagina! Tudo bem. Então vamos.

Dantas abriu a porta do carro para e depois foi para o lado do motorista. Deixou o estacionamento do estádio e seguiu pela Radial Leste, só então começou a falar.

- , preciso ser sincero com você, acho que você merece saber antes de todo mundo. Tenho noventa e nova por cento de certeza de que o vai ser vendido no fim da temporada.

engoliu a seco, sentindo o coração disparar no peito. Ela sabia que existia a possibilidade, mas ouvir do próprio Dantas era algo que a assustava.

- Eu acho que eu já imaginava isso...
- Mas eu tô falando sério... Olha, o não sabe disso, mas eu tô ralando pra fazer os clubes de fora olharem pra ele. Estou mirando em clubes médios primeiro, você sabe, clubes como Watford, PSV, Zenit... Mas meu objetivo é chegar nos grandes. Se ele continuar assim, acho que isso vai acontecer.
- Eu sei... - soltou um longo suspiro, desviando o olhar para a janela. - Acho que ele também sabe.
- Sabe. Por causa do desmanche do Grêmio, ele chegou aqui de graça, o Corinthians não pagou um centavo por ele, e ele vai sair daqui super valorizado se o time ganhar mais algum título até o fim do ano, o clube não vai segurar ele... Você entende o quanto vai ser bom pro clube, né?
- Entendo, eu já joguei também - ela sorriu de canto, mas não podia negar que estava incomodada com aquela conversa. - Ele e eu já conversamos sobre isso... Em Barcelona. A gente não queria se precipitar naquela época, mas acho que agora as coisas estão realmente acontecendo.
- Estão. Se ele for bem na Copa América, pode ser que seja antes do previsto... Preciso saber de você, . Você iria com ele?
- Sim - ela disse prontamente, mas se quer precisou de um olhar intimidador do empresário para fraquejar. - Não sei... Tenho a minha vida aqui, sei que eu não teria a mesma oportunidade fora do país, eu se quer sei falar outro idioma além de um inglês bem merda... Eu acho que eu teria que me preparar muito pra isso se realmente fosse.
- Eu só quero saber porque é uma mudança muito grande, tanto pra ele quanto pra você. Talvez mais pra você, eu sei que não é fácil pra você decidir uma coisa tão importante, deixar tudo pra trás...
- O que me prende aqui é a minha família. Eu não quero deixar os meus pais, Dantas - sentiu os olhos se encherem de lágrimas e a voz embargou. - Eu amo o , mas eu não sei se só isso seria o suficiente pra eu deixar tudo pra trás, entende? A minha família significa tudo pra mim.
- Eu entendo, , eu entendo... Não posso te dizer pra simplesmente ir, eu só prefiro te deixar por dentro do que está acontecendo com o , já que envolve você... Quero que esteja preparada.
- Não se preocupa, eu vou tomar a minha melhor decisão.

Eles seguiram o restante do caminho conversando sobre o assunto de uma forma mais detalhada até chegarem ao apartamento do casal. Quando entraram, se depararam com cozinhando, algo extremamente raro.

- Oh, meu Deus, o mundo vai acabar! Você cozinhando? - se aproximou, dando um beijo na bochecha dele. - Está com um cheiro ótimo, o que é isso?
- Molho branco, o macarrão já está pronto.
- Uau! Eu ia morrer sem saber que você sabe cozinhar. Você não cansa de me surpreender, não é?
- Bom, eu cheguei cedo do treino hoje, me despedi do pessoal e pensei que seria legal preparar o jantar.
- Sendo assim, eu faço um suco pra gente.

foi até a fruteira pegar o abacaxi que comprara dias antes para fazer o suco enquanto Dantas cumprimentava .

- Ao que devo a honra da sua visita, Dantas? - perguntou sem tirar os olhos do molho fervendo na panela.
- Vim me despedir, né? Você esquece que eu existo.
- Seu drama me irrita, mas obrigado por vir. Por favor, fica pra jantar com a gente.
- E morrer com essa sua comida? Não, muito obrigado!
- Não fala assim, está com uma cara ótima, não vejo a hora de experimentar - dizia enquanto cortava a casca dura do abacaxi distraidamente.
- Amor, cuidado! Vai acabar se cortando - viu o momento em que a faca passou muito perto do dedo dela. - Troca comigo, deixa que eu corto isso.
- Que lindos, parecem um casal de velhos - Dantas disse enquanto eles trocavam de lugar, estava se divertindo com a cena.
- Você veio aqui só pra me encher o saco?
- Credo, , pelo amor de Deus! Que bom que você vai pra outro país, assim não preciso aguentar suas patadas.
- Meninos! - gargalhou. - Esqueceram a maturidade aonde, hein?

e continuaram preparando o jantar e depois os três jantaram juntos. dizia o quanto estava empolgado com a competição, mas estava preocupado porque a maioria dos jogos da Seleção seriam disputados na Colômbia ao invés da Argentina. Apesar disso, estava ansioso para o que o aguardava, principalmente porque herdou a camisa sete canarinho, um sonho de garoto que estava se realizando.
Após o jantar, e Dantas ainda acertaram mais alguns detalhes da partida do jogador no dia seguinte e só então o empresário foi embora. A visita foi mais para conversar com durante o caminho do que realmente ver e a própria sabia disso, pois a conversa não lhe saía da cabeça e ela só podia imaginar indo embora de várias formas, mas em todas ela hesitava e preferia ficar. realmente não sabia o que fazer.

- O jantar estava realmente bom, eu adorei - ela dizia enquanto colocava a louça suja na pia.
- Não me diz que vai lavar a louça.
- Deixa eu ser uma pessoa normal, , só um pouco - riu enquanto colocava as luvas para se proteger da água gelada. - Mas mudando de assunto, como você está se sentindo?
- Tô ansioso, mas não quero demonstrar na frente dos outros - se apoiou no balcão, cruzando os braços para a observar.
- Você nunca jogou pelas Seleções de base?
- Não, eu não consegui me destacar o suficiente pra isso. Fiquei bem chateado na época, eu queria ter jogado a Copa do Mundo Sub-17, mas isso não importa mais, eu vou ter uma chance agora.
- É justo... Eu também queria ter jogado pela Seleção - soltou um longo suspiro, confessando de repente. - Você é a primeira pessoa pra quem eu conto isso, mas eu realmente queria poder ter jogado uma vez na vida junto com as mulheres que me inspiraram, teria sido legal.

só se deu conta de que se aproximou quando ele envolveu os braços ao redor dela, repousando o queixo sobre seu ombro e deixando um beijo na sua bochecha. Ele não sabia o que dizer, queria apenas poder a confortar de alguma forma.

- Por que você não tenta voltar?
- Tô parada há cinco anos, , isso é muito tempo.
- Hum... Jogadores como o Zico e o Dida ficaram anos parados também, e mesmo assim voltaram depois... Isso sem contar as jogadoras que se afastam quando ficam grávidas.
- Só que ninguém dessa lista se machucou feio... Eu adoraria voltar, jogar futebol é o que eu mais amo fazer, mas eu sei que não dá mais e tá tudo bem, minha carreira foi curta, mas eu me diverti muito.
- Isso é tão injusto...
- Você não precisa tomar as minhas dores pra você, eu já superei e estou bem. Me formei, trabalhei... Tive um pouco de uma vida normal e tá ok. O passado não importa mais pra mim.
- Mas se tivesse como, se existisse uma oportunidade, mesmo que muito pequena, você voltaria?
- Acho que sim, eu não sei... Acho que apostar um rachão com você já está de bom tamanho, eu gosto.
- Então termina aí logo pra gente poder jogar, anda - se afastou e se encostou no balcão de novo.
- Você já jogou bola o dia inteiro e ainda quer jogar mais?
- Acredite, eu prefiro jogar com você do que com aquele monte de marmanjo barbado.
- Você é péssimo - disse por fim, gargalhando e acelerando o ritmo para terminar logo.

⚽🖤📱



"Acabei de chegar na Granja, tudo correu bem. Já estou com saudades
❤️🥺"

leu a mensagem de e não pôde evitar que algumas lágrimas escorressem pelo seu rosto. Fosse por felicidade ou por saber que não iriam se ver durante um bom tempo, ou talvez porquê a conversa com Dantas ainda martelava na sua mente.
Ela estava na praça de alimentação do shopping junto com Tobias, jogando conversa fora enquanto comiam um lanche gorduroso, mas hora ou outra ela olhava para o celular esperando por uma resposta do namorado. Quando chegou, não foi o suficiente para que ela se sentisse completa.

- O que foi, ? - Tobias perguntou enquanto dava um gole do seu milkshake.
- Nada, é só o avisando que chegou na Granja. Está tudo bem.
- Tem certeza? Porque até parece que aconteceu alguma coisa séria.
- Não conta pra ninguém, mas eu conversei com o Dantas ontem, e ele me disse que tem quase certeza de que o não fica pro ano que vem.
- Isso eu já sabia, , mas qual é o problema?
- Acho que não tô preparada, Tobias, eu não sei - tentou conter as lágrimas que insistiam em escorrer pelo rosto, mas totalmente em vão. - Eu não sei se eu vou com ele ou se eu fico, eu não tenho a mínima ideia do que fazer.
- Ei, calma, ainda estamos em maio, olha o tanto de tempo que ainda tem... Vamos pensar com calma e em partes, tá? Me diz os motivos que te fariam ir.
- Ele, o nosso relacionamento...
- E o que te faria ficar?
- Meus pais, meu emprego, a vida que eu estou tentando construir... Eu não planejava nada disso, Tobias, não estava nos meus planos conhecer alguém e mudar tudo... Eu não sei mesmo o que eu vou fazer.
- , eu acho que ainda é muito cedo pra você pensar assim. Sei que é um assunto delicado, mas essa é uma decisão que vocês vão tomar juntos, isso se ele realmente for, a gente ainda não sabe.
- Mas vai acontecer, Tobias, uma hora ou outra. Eu tô dividida... Eu amo tanto ele, de uma forma que eu não sabia que era possível amar alguém, mas eu não sei se conseguiria deixar tudo pra trás por causa dele... E se não der certo? Vou perder tudo?
- Você nunca vai saber se não tentar. Não estou dizendo pra você fazer as malas e correr pra seja lá o país que ele for jogar, mas você precisa ter certeza de que não vai se arrepender depois, seja qual for a decisão que você tomar.
- Acho que já me arrependi...
- Então você já tomou uma decisão...

⚽🖤📱


Granja Comary. Rio de Janeiro.

"Também já tô com saudade, mas sei que você vai voltar pra casa com mais uma medalha pra colocar na prateleira. Nós te amamos, canarinho 💛"

viu a mensagem de e o anexo que ela enviou, uma selfie dela com Tobias fazendo um coração para a câmera, o que lhe causou alguma risada, mas ele não deixou de notar que ela estava com os olhos vermelhos na foto. Ela estaria chorando? Ele não sabia, mas iria perguntar depois.
Após desfazer as malas, ele deixou a suíte e seguiu pelo corredor, indo em direção à sala de convivência dos atletas. A maioria dos jogadores ainda estavam pra chegar, então era compreensível que o CT ainda estivesse um pouco deserto, mas ficou feliz por encontrar um amigo ali. Cebolinha estava jogando vídeo game, mas não se importou em pausar o jogo para cumprimentar o amigo com um abraço.

- Sei que tá tudo meio corrido e não nos falamos muito, mas nada mudou pra mim - disse se sentando ao lado dele no sofá, observando o jogador voltar a atenção para a televisão.
- Pra mim também não. Eu não te acho um metido por ser o artilheiro do Brasil na temporada e líder do campeonato, nem um pouco metido - os dois riram juntos, mas se sentia envergonhado em falar dos seus feitos para as pessoas.
- Acho que finalmente fiz as pazes comigo mesmo, Cebolinha.
- Isso é bom, mas imagino que sua vida não seja somente futebol.
- Você tem razão - não conteve um sorriso, se sentindo bobo por isso. - Sempre que eu vejo ela lá torcendo por mim de todas as formas... Isso me motiva demais, cara.
- Bem que dizem que por trás de um grande homem, há uma grande mulher... Mas enfim, pega um controle aí, joga comigo. Serei sua companhia no próximo mês, sua esposa que lute.
- Everton, se eu tivesse casado, você provavelmente teria sido meu padrinho - respondeu divertido, indo até o console e reiniciando enquanto pegava o segundo controle. - Mas vontade não me falta, por mim eu já teria pedido a mão dela há tempos.
- Então pede, .
- Não é tão simples assim, eu não estaria preparado para ouvir um não, o que é provável que a diria. Ela não é o típico clássico de mulher que sonha com essas coisas, a é... A . E eu gosto dela mesmo assim - voltou para o sofá e se sentou ao lado dele.
- Que romântico, não parece o mesmo de dois anos atrás, hum? O que houve com o garanhão pegador?
- Morreu, Cebola, morreu. É oficial, eu sosseguei.
- Eu só vou acreditar quando te ver no altar.
- Ah, cala a boca e escolhe um time aí, meu pato!
- Você vai ver quem é o pato...

⚽🖤📱

- Garota! Como você consegue andar sem mostrar a bunda? - puxou a barra do vestido pra baixo, se sentindo um pouco desconfortável.
- Até parece que nunca usou um vestido curto, - Gabriela parou de passar seu batom nos lábios para rir da expressão no rosto da amiga. - Tá com um shortinho por baixo, ninguém vai ver nada.
- Só é meio estranho, eu não saio pra balada nenhuma desde a faculdade, ainda mais depois que conheci o ... Talvez eu seja uma tia de cinquenta anos no corpo de uma adulta de vinte e cinco.
- Realmente, que bobeira, ! Você é jovem, então aproveita! Só porque estamos namorando, não significa que não possamos nos divertir sozinhas. Eu sinto falta do Bruno e só consigo me distrair assim, isso quando eu não bebo! Se quiser lidar com a saudade, hoje é a sua oportunidade e eu prometo que vamos ser as mocinhas comprometidas e comportadas que nós somos, ok?
- Comprometida sim, comportada nem tanto - riu e foi até a cama para se sentar e pegar os saltos para calçar. - Desculpa, mas está pra nascer o homem que vai me fazer sossegar.
- Não sei, você e o parecem um casal de velhos às vezes.
- Eu só preciso de uma pinga e um jogo de futebol para não responder mais pelos meus atos, Gabi, nada de homem - se levantou e foi até o espelho mais uma vez garantir que estava pronta.
- É, você tem razão nisso.

pegou seu celular jogado na cama e se posicionou na frente do espelho para tirar uma foto do seu visual afim de postar nas redes sociais, mas cravou um pouco mais um decote na hora de tirar uma para enviar para que provavelmente já estava dormindo ou prestes a dormir por conta do horário.

- Acho que você deve fazer o mesmo, assim deixa o Bruno motivado pra voltar logo - ela disse ao perceber que Gabriela observava, então as duas deram risada.
- Não, o Bruno é mais... Comportadinho. Nenhum santo, mas acho que ele se preocuparia se algum colega de time pegasse o celular dele ou algo do tipo... - Gabriela deu de ombros, conhecia bem o namorado. - Mas deixando isso de lado, melhor irmos logo para não perder a noite toda falando deles.

Capítulo 29 - De maneira clara e direta

Estádio Pascual Guerrero. Cali, Colômbia.

Aquele não era exatamente o dia dos namorados que gostaria de ter, estando em outro país e longe da sua namorada que provavelmente estava sentada no sofá assistindo ao jogo naquele momento. Era o segundo dia dos namorados que ele passava com , ou melhor, o segundo que passava longe dela, pois se lembrava de que no ano anterior teve um jogo importante contra o Santos e por isso perdeu a data. Por mais que entendesse, parecia ser frustrante para ele.
Mais frustrante ainda era estar pensando nisso enquanto o hino nacional ecoava pelo estádio na estreia da Seleção Brasileira contra a Venezuela pelo torneio. No banco de reservas, o jogador mantinha uma feição impassível no rosto caso alguma câmera passasse em sua frente, mas simplesmente não conseguia pensar em outra coisa que não fosse isso e gostaria de recompensar de alguma forma.
Quando os hinos dos dois países foram apresentados, ele se sentou no banco ao lado de Firmino enquanto observava a movimentação no campo para o início da partida. O jogador do Liverpool olhou de relance para o amigo quando percebeu que ele parecia um pouco impaciente.

- O que foi, cara?
- Nada não, tô tranquilo, só pensando.
- Você não engana ninguém, , é tão transparente quanto água.
- Estou pensando no seu gol na final do Mundial contra o Flamengo, nada demais - cruzou os braços, ainda olhando para o campo e Firmino gargalhou. - Foi bonito.
- Se você está dizendo...
- Só sinto falta da minha família, queria passar o dia de hoje com a minha namorada. Só isso.
- Melhor ir se acostumando, meu amigo, principalmente se seu relacionamento for além, e também... - ele parou de falar quando Neymar sofreu uma falta na entrada da grande área e quase todo mundo se levantou em protesto, incluindo Firmino que se sentou logo em seguida. - Até esqueci o que estava falando, mas você entendeu, né?
- Claro, claro. Paciência... - se afundou no banco, entediado, dando a conversa como encerrada por ali.

Foi um bom primeiro tempo da Seleção Brasileira, com um gol de Philippe Coutinho e outro de Neymar, mas contra um time relativamente inferior, não era um resultado empolgante e se esperava mais na volta do segundo tempo.
No intervalo da segunda etapa, Cebolinha pediu substituição alegando estar com um incômodo na coxa e seu pedido foi atendido, então entraria no lugar dele como meia de criação. Ele abraçou o desafio, pois nunca poderia jogar nessa posição no seu time, mas queria mostrar que sabia jogar em várias posições e que era um jogador flexível. se sentia preparado para mostrar tudo o que sabia.
Ele adentrou no gramado com uma postura imponente, até séria demais para alguém como ele. Quem o conhecia bem, sabia que era pura marra, mas tinha o olhar de quem estava ali para decidir. Queria ajudar o time a ampliar o resultado e ganhar a partida.
Com o decorrer do segundo tempo, também se mostrou imponente com a bola no pé, criando jogadas como de aquela fosse a sua posição de origem. Uma linha de três com ele no meio, Coutinho pela esquerda e Gabriel Jesus pela direita estava rendendo muito bem e desconcertava a marcação dos venezuelanos.
Após Thiago Silva interceptar uma bola na defesa, o zagueiro tocou para Casemiro que tabelou com Arthur até o camisa 8 que mandou a bola para em um passe longo. estava bem marcado, mas viu Neymar livre, então se desvencilhou como podia, aplicando um lençol no adversário e tocando para Neymar que se infiltrou pelos zagueiros e chutou para o gol, ampliando o placar para os brasileiros.

- Valeu, pivete! - ele deu um pedala em na comemoração e depois voltou para a sua posição, gargalhando.

Ele já tinha se esquecido de que estava chateado pelo dia dos namorados um pouco antes, estava totalmente focado no jogo e feliz com o próprio desempenho.
Mas ele não parou por aí, ainda queria poder contribuir mais. O gol seguinte, marcado por Gabriel, foi iniciado em uma jogada do próprio quando interceptou uma bola no meio, mas o ápice ainda estava por vir.
Já no final do jogo, após uma inversão de jogada do lado direito para o esquerdo, Coutinho se infiltrou na grande área e viu livre, ele tocou para o camisa 7 e até pensou em tocar para Firmino, que substituiu Neymar, mas decidiu arriscar e chutou um pouco sem ângulo. A bola passou pelos dedos do goleiro venezuelano, mas acabou entrando no gol, para o delírio da torcida brasileira no estádio e também do time. correu desenfreado, procurando pela câmera mais próxima, fazendo um coração com as mãos, queria dedicar à aquele gol como um presente de dia dos namorados.
Após os acréscimos, o árbitro encerrou a partida e os jogadores começaram a se dispersar. ainda trocou a camisa com o venezuelano Soteldo, jogador do Santos, antes de ser parado na beira do campo para uma entrevista. Pelo espanhol acelerado, ele pensou que a repórter não era brasileira.

- Foi sorte, eu arrisquei e deu certo - respondeu em espanhol sobre a pergunta direcionada ao seu gol, secando o suor da testa com a camisa. - Pero lo que importa es el equipo y estoy muy feliz de haber ayudado y marcado un gol.
- Podemos esperar por essas arriscadas mais vezes durante o torneio?
- Vou tentar, eu prometo.
- E o coração para a câmera?
- É que hoje é dia dos namorados no Brasil - riu sem graça, coçando a nuca. - E minha namorada não pôde vir ao jogo, está lá, então eu dediquei pra ela. , mi vida, te quiero - ele mandou um beijo para a câmera e se despediu, indo em direção ao vestiário.

O vestiário estava tomado de euforia, assim como o ônibus no caminho de volta para o hotel. entrou no clima dos amigos, eufórico e feliz com a goleada, mas quando já estava no seu quarto, deitado na confortável cama, sentiu o cansaço tomando lhe vencendo e aos poucos toda a empolgação foi passando até que ele desejasse apenas cair no sono o mais rápido possível, mas ler um pouquinho sobre si no Twitter não lhe permitia fazer isso.

"Puta merda! O que o jogou hoje foi digno de Seleção, que jogo do caralho! Eu não vejo a hora de ele voltar para o Corinthians e espero que volte no mesmo ritmo!"

"ALÔ TITE, o não pode ser banco nunca! Titular já."

" é jogador de nível Europa. Olha o seu novo 7, @realmadrid."

"Não sei o que vocês tanto vêm nesse . Ganhar da poderosa Venezuela é mais do que obrigação da Seleção."

"Se tiver uma fila para pedir desculpas ao , sou o primeiro. Chegou do Grêmio contestado, mas se mostrou um grande jogador apesar daquele episódio tosco com o Carille."

ignorou a crítica e focou nas mensagens positivas, algo que normalmente não fazia, mas estava tentando absorver apenas coisas boas para si naquele momento. Estava feliz em ver que as torcidas tanto brasileira quanto corinthiana gostavam dele e do seu futebol apresentado. Ele esperava poder retribuir ainda mais ao longo da temporada, trazendo alegrias para ambas as partes.

"Que saudade do deitando em cima do Inter. Volta pra casa, monstro :("

"Pode até ser verdade que fez bem ao se redescobrir em outro time, mas que puta falta ele faz nesse time do Grêmio, Luan e Arthur também. Já podem voltar."

"O Grêmio tem sede em São Paulo agora? Vai tomar no cu, quero o e o Luan de volta!"

"Podem discordar, mas o foi um dos nossos pilares, honrou demais o manto enquanto esteve aqui, nunca faltou raça. Merecia o título de Rei da América tanto quanto o Luan. Quem criticou será cobrado!!!"

Ele não conteve um sorriso ao se lembrar do seu querido Grêmio. Estava feliz em ver que ainda era amado pela torcida. Sentia saudades da melhor fase da sua carreira e, embora a torcida e a imprensa ainda insistissem em lhe comparar com o Luan mesmo depois de terem deixado qualquer rivalidade de lado, ele ainda se sentia fortemente ligado ao clube e não sabia como iria bater de frente quando os dois times se enfrentassem, mas seria o mais profissional possível.
até pensou em continuar lendo a seu respeito, mas até se esqueceu disso quando a tela do WhatsApp subiu e ele viu que estava ligando pra ele. Sem pensar duas vezes, atendeu a ligação já com um sorriso bobo estampado na cara, mesmo que ela não o visse. Ele nem fazia ideia de que estava da mesma forma do outro lado da linha.

- Eu estava mesmo esperando você ligar - ele disse ao atender.
- Não sabia se já podia ou não - deu uma risadinha abafada. - Você arrebentou hoje.
- Acha mesmo?
- Uma assistência e um gol? Claro que sim!
- Espero que saiba que o gol teve dedicatória.
- Eu sei, eu adorei. Obrigada... Nossa, preciso dizer, esse foi o melhor jogo da Seleção em muito tempo. As interceptações, os passes, as...
- Amor, eu não quero ficar falando de futebol depois de ficar inserido no futebol o dia inteiro - riu, trocando o telefone de lado.
- Não está mais aqui quem falou... E sobre o que você quer falar exatamente?
- Não sei... Quero saber como você está.
- Eu tô bem, passando uns dias com os meus pais, é um pouco solitário lá no apartamento...
- Nem me fale em solidão, nem toda a companhia do mundo me animaria agora. Que maldita saudade eu estou de você e da minha família.
- Eu também tô com saudade, especialmente hoje... Mas tudo bem, eu já passei pelo mesmo e sei que é o seu trabalho, eu como jogadora entendo perfeitamente.
- Que bom que você entende, não é fácil pra mim deixar tudo pra trás tão simples assim... Mas você vai vir em caso de final, né?
- Semi também - riu, despertando uma ansiedade repentina em . - Eu vou fazer de tudo pra ir, , eu prometo. Só que vai ter que marcar outro gol pra mim, é a minha condição.
- Todos que você quiser, minha vida, é o mínimo que eu posso fazer pra compensar a minha ausência. Prometo que vamos passar um tempo juntos quando eu voltar pra casa.
- Traga felicidade para o seu país e toda a ausência vai ter valido a pena.
- Para de falar sobre futebol! - ele gargalhou e ela também não conteve a risada do outro lado. - Desliga o modo torcedora e ativa o modo namorada, ok? Estou falando de nós.
- Eu sei, só estou desconversando pra encobrir que eu estou mortinha de saudades de você. Passar o dia dos namorados longe é quase a mesma coisa de estar solteira, espero mesmo compensar quando você voltar.

Por alguns segundos, tudo o que se ouviu na linha foram os longos suspiros que os dois soltaram ao mesmo tempo, procurando alguma graça no meio daquilo tudo. Nem toda a goleada do mundo mudava o fato de que estavam longe um do outro em um dia importante para eles, além de não se verem há quase um mês.

- Eu só queria voltar agora mesmo - confessou de repente, um pouco chateado.
- ...
- É sério, , eu acho injusto com você. Eu deveria estar acostumado, mas não estou, eu não consigo.
- Não temos outra opção, não é? É claro que eu também não estou acostumada, mas você deveria ficar aliviado por eu entender completamente todo o motivo por trás. Deus me livre eu ser o motivo de um jogo ruim seu! Só continua focado aí, vou continuar te apoiando por aqui sempre.
- Eu sei, você é incrível, por isso eu me apaixonei por você - não obteve resposta, mas pela risadinha do outro lado da linha, soube que estava sem graça. - Não se faça de tímida, , eu sei que você não é.
- Odeio a forma com que você faz eu me sentir uma adolescente, eu se quer tive essa fase antes - disse ainda contendo o riso, quase se debatendo no sofá da casa dos pais de tanta euforia.
- Não tenho culpa se você esperava um James Dean quando eu cheguei, estou tentando ser melhor do que ele.
- E está conseguindo.

Eles continuaram conversando pelas duas horas seguinte e assunto não faltou em momento nenhum, só desligaram quando o próprio forçou a si mesmo a ir dormir, pois tinha treino regenerativo no dia seguinte, então enquanto ele finalmente pôde descansar as pálpebras pesadas e todo o resto do seu corpo, continuou acordada, atirada no sofá e se sentindo uma adolescente de novo, rindo feito uma boba.

- Esse sorriso... Eu nunca vi ele antes - Rose entrou no cômodo, já trajada para dormir, mas não deixou de notar o bom humor da filha. - Mas sei exatamente o motivo.
- Mãe, por que eu não conheci ele antes? Tipo uns dez anos atrás? - olhou para sua mãe, radiante, mas ela lhe sorriu de volta em resposta.
- Seu pai provavelmente não deixaria você namorar com ele naquela época, filha, mas eu fico mais do que feliz por te ver assim.
- Eu sei que eu não deveria me empolgar tanto, mas eu não consigo me controlar!
- , você poderia enganar todo mundo com a sua pose de durona, mas eu te conheço muito bem e não tem problema nenhum em se sentir assim. Dá pra ver o quanto vocês dois se gostam, o é o genro que eu pedi pra Deus um dia, eu sabia que você não ia resistir por muito tempo e está tudo bem, ele é uma boa pessoa.
- Lá se vai toda a minha imagem de bandida que deu um trabalhão para eu construir. Agora todos sabem que sou uma manteiga derretida e a culpa é toda do .
- Graças a Deus por isso, né? Ninguém é feito de gelo.
- Eu sei, descobri da melhor forma - se levantou do sofá e acompanhou a mãe escada acima em direção aos quartos. - Também se sentiu assim com o meu pai?
- É claro que sim, o fato de estudarmos na mesma faculdade facilitou muito, a gente se via todos os dias. Me apaixonei aos poucos, é claro, mas sei que escolhi bem, olha só a filha que nós temos.
- Eu espero pensar assim um dia também.
- Sobre filhos? Achei que não queria nenhum.
- E não quero, estou falando sobre relacionamento mesmo, lá na frente quero olhar para trás e não me arrepender. Sei que não vou me arrepender se a pessoa for o , mas ainda é cedo pra pensar nisso, né? Hora de dormir, boa noite, mãe.
- Boa noite, , vê se não sonha acordada com o seu príncipe encantado.
- Aquele lá está mais pra sapo! - entrou no quarto gargalhando e ainda riu mais um pouco quando fechou a porta.

não costumava ter essas conversas com sua mãe, pois não estava nos seus planos conhecer alguém, mas sua mãe tinha ótimas histórias e conselhos para dar, o que parecia ser bem interessante de se dar ouvidos e absorver, pois ela se lembraria nos momentos de necessidade. ainda tomou um banho relaxante e só então se deitou para dormir, ainda com um sorrisinho no rosto, mas com a plena convicção de que logo mais estaria de volta e tudo aquilo teria valido a pena.

⚽🖤📱

analisava com atenção as cartas em sua mão. Na falta de saber jogar truco, UNO parecia ser uma forma bem divertida de passar a noite, melhor ainda na companhia de seus velhos amigos. Tobias e Junior também estavam concentrados, espreitando por cima das cartas se os outros estavam tentando espionar, mesmo que estivessem espalhados pela mesa redonda da casa de Tobias.
Tobias jogou um oito azul e disse UNO quando percebeu que era sua última carta, Junior trocou a cor jogando um oito vermelho e os olhos de brilharam de felicidade quando ela, sem qualquer piedade, jogou um +2 vermelho para Tobias que esperneou debaixo da mesa, completamente chateado com a jogada.

- Traidora! Por que fez isso? - ele pegou mais duas cartas no monte à contragosto.
- Porque eu que vou ganhar, Tobias, aceita que dói menos.
- Só por cima do meu cadáver! Vai, Junior, mostra pra essa pirralha quem manda aqui.
- Desculpa, meu amigo, estou de mãos atadas - Junior jogou um seis vermelho. - Sua vez, .
- Já pode se considerar um homem morto - colocou sobre a mesa um +4, cantarolando. - A-ma-re-loooo!
- Não! Não! Por que você fez isso? Eu te odeio, , muito!
- Também te amo, meu amor - mandou um beijo no ar para ele enquanto ria.
- Você complicou todo mundo - Junior disse ao ver que não tinha nenhuma carta amarela dentre suas três cartas, então comprou mais uma e viu que veio uma carta verde. - Droga.
- Comprem um caixão, o Tobias morreu! - colocou suas duas cartas iguais, dois setes amarelos, sobre a mesa, encerrando o jogo ali. - Talvez sete seja o meu número da sorte.
- Não dá pra brincar com a , ela é muito injusta - Tobias jogou suas sete cartas sobre a mesa, desapontado.
- Você só está dizendo isso porque não pode me acusar de trapacear. Ganhei honestamente.
- Tobias, você tem que aprender a perder, cara. Você sabe que a é boa.
- Eu sei - ele murmurou com amargura.
- Não fica assim, meu lindo, eu não deixei de amar você por causa disso - se levantou do seu lugar e foi até Tobias, o abraçando e dando um beijo na bochecha do seu amigo.
- Sai, sai! Deixa essa melação toda pro seu namorado bonitão. Eu não quero saber de você.
- Eu vim aqui para não pensar no e o que você faz? Fala do ! Muito obrigada - ela voltou para o seu lugar. - Quero fingir que eu não vejo ele há quase um mês e que não estou com saudades.
- Ah, quem diria! Nossa garotinha apaixonada! - Junior se esticou para bagunçar os cabelos dela e riu enquanto se desvencilhava. - Te entendo, . Célia foi visitar a Bel em BH, mesmo depois de vinte e dois anos de casados, ainda sinto falta se ela estiver longe.
- Que nojo, vocês dois - Tobias revirou os olhos, enojado. - Eles estão ótimos, Célia vai voltar ainda mais maternal e o vai voltar com uma medalha no pescoço. Fim de papo.
- Eu nem discuto mais com você, Tobias, nem queria dizer isso, mas talvez falte uma mulher na sua vida.

Antes que Tobias pudesse retrucar ou Junior concordar, o celular de tocou e ela o pegou na bolsa para quem estava ligando. Viu que era Gabriela e decidiu atender, pedindo licença aos amigos.

- Oi, Gabi.
- Oi, ! Deixa eu te falar uma coisa, vou sair com uns amigos da faculdade, vamos em um barzinho com música ao vivo. Quer ir com a gente? Vai ser bem legal.
- Barzinho? É que eu... - olhou para os amigos ao longe e pensou que talvez a conversa com Tobias poderia tomar um rumo desagradável porque ele poderia se irritar. - Eu vou, mas preciso passar em casa pra me arrumar primeiro, tem problema?
- Não, não, eu também vou, podemos fazer isso juntas então, pode ser?
- Claro, estou indo pra casa agora, passa lá.
- Tá bom, estou indo, até daqui a pouco.
- Tchau, Gabi.

desligou a ligação e voltou para a mesa, chamando a atenção dos amigos.

- Deu minha hora, meninos. Tchauzinho.
- Mas já? - Junior perguntou surpreso.
- A noite não acabou pra mim ainda - ela disse divertida, tentando não parecer insensível ao deixar os dois lá.

se despediu dos amigos, pegou sua bolsa e deixou o apartamento de Tobias. Entrou no carro de e seguiu em direção ao apartamento deles.
Era um pouco incômodo para estar dirigindo o carro de outra pessoa e morar em uma casa que não era dela, mesmo com dizendo sempre que tudo pertencia aos dois. É claro que ela gostava de levar uma vida a dois com ele, mas preferia estar dirigindo o próprio carro, que definitivamente, não seria uma BMW de última geração e também queria ter o próprio espaço, mesmo que não fosse grande e luxuoso. Àquela altura, não podia dizer para que estava de mudança para um lugar próprio, mas não via problema nenhum em conquistar suas próprias coisas. Finalmente se decidiu em que iria gastar suas economias.
Ela chegou em casa ao mesmo tempo que Gabriela, então as duas subiram juntas. Enquanto optou por tomar um banho, Gabriela começou a fazer a própria maquiagem. prendeu o cabelo em um coque e tirou a aliança do dedo, deixando sobre a janelinha do banheiro enquanto tomava um banho rápido para não se atrasar. Depois se enrolou na toalha e saiu, indo até o closet do casal e procurando algo para vestir.

- Ai que inveja, eu queria ter um closet assim - Gabi disse enquanto procurava por um pincel na sua maleta.
- Aqui só tem coisas do , parece uma garota - abriu a porta inteira, revelando uma das partes em que as roupas do jogador ocupavam mais espaço que as dela. - Sapatos, bonés, tudo tem prateleira, ele também ama camisas sociais, aquela parte só tem camisas dele - ela apontou para uma porta única na direção de Gabriela. - Se quiser um closet desse, não divida com o seu namorado.
- Não, o Bruno é extremamente fresco com as coisas dele. Tenho uma gavetinha e já é muito.
- Eu também comecei com uma gaveta só - riu e voltou a atenção para o closet.

Ela viu o vestido branco que usou na noite de ano novo e pegou, decidindo que iria vestir aquele mesmo. Procurou por um conjunto de lingerie que gostasse e não demorou muito para estar vestida, então começou a se maquiar também.

- Vai bastante gente? É que faz tempo que eu não saio assim.
- Não, não. Só mais uma amiga e dois meninos também. A Júlia, o Samuel e o João, eles são bem legais e amigáveis, você vai gostar deles. E relaxa que os meninos são mais velhos, se você está pensando que vai se enturmar com um pessoal de vinte anos.
- Que bom. Não me leve a mal, você é super legal, mas não dá pra dizer o mesmo da maioria. Não dá pra fingir que com vinte e cinco é a mesma coisa - riu ao ver que Gabriela concordou.
- Veja pelo lado bom, você não tem cara de vinte e cinco.

aceitou o elogio e as duas continuaram a se maquiar. Quando já estavam prontas, arrumaram a bagunça que deixaram sobre a cama e então saíram no carro de Gabriela.
O barzinho ficava em uma área mais badalada de São Paulo e demorou um pouco para chegarem, mas quando chegaram, se encontraram com os amigos de Gabriela que já estavam lá apenas esperando por elas, então Gabi os apresentou.

- , essa é a Júlia e estes são o João e o Samuel, e sim, eles são gêmeos. Pessoal, essa é a minha amiga .
- Prazer em conhecer vocês - cumprimentou a cada um com um beijo na bochecha.
- O prazer é nosso, - Samuel, o último, disse por fim. - E então? Podemos entrar ou vamos fazer os pedidos aqui fora mesmo?

Os cinco entraram e procuraram uma mesa para se sentar próximo do palco onde uma banda cover dos Beatles iria se apresentar. pensou que se soubesse da temática de Rock, teria colocado outra roupa, mas acabou deixando pra lá quando foram atendidos e fizeram um pedido de duas porções de batatas fritas e bebidas. deixou com que Gabriela pedisse bebida alcoólica e pediu para si um refrigerante para que voltasse dirigindo no lugar da amiga.

- Vocês são todos da mesma faculdade? - perguntou na tentativa de puxar assunto. - Digo, do mesmo curso.
- Eu faço fisio com a Gabi, o bonitinho aí - Júlia apontou para João. - Fazia também, mas trocou para administração porque diz que não quer mais ser fisioterapeuta. O Samuca é o diferentão e faz Educação Física.
- Estou muito feliz em ADM, obrigado, Ju - João esboçou um sorriso sarcástico para a amiga que apenas revirou o olhos. - E você, ? Estuda?
- Não, não, eu já me formei. Sou formada em Marketing - encolheu os ombros, mas percebeu que todos pareciam bem interessados. - Bom, na verdade eu era jogadora de futebol e parei por lesão, então decidi que queria estudar para continuar no meio. Fiz Marketing e alguns cursos na área do esporte, é bem legal.
- Ela trabalha no Corinthians - Gabriela disse se vangloriando pela amiga e percebeu que os outros ficaram admirados.
- Mais ou menos. Eu já trabalhei lá dentro, cuidava das mídias do clube, mas era muito maçante pra mim porque eu basicamente não tinha vida, então quando surgiu a oportunidade de trabalhar no estádio como guia de visitas, eu abracei a oportunidade. Eu trabalho menos e não estou na escala de fim de semana, posso descansar agora tranquilamente.
- Ainda estou impressionado com o fato de você ter jogado futebol - Samuel sorriu para , revelando as covinhas no seu sorriso charmoso. - Aposto que era boa.
- Ainda é - Gabriela disse antes de falar algo, pois a mesma esboçou um sorrisinho sem graça ao elogio. - O Bruno tomou um pau dela quando jogaram de igual pra igual.
- É verdade - riu, passando uma mecha de cabelo para trás da orelha. - Mas o Brunito é ótimo também, meu zagueirão preferido.
- Depois vamos ver se você é boa mesmo, quero ver com meus próprios olhos.
- Samuel, você ser professor de Educação Física não quer dizer que você saiba jogar futebol. Supera, por favor - Júlia disse divertida, causando risadas na mesa.
- Não sou tão ruim assim, tenho as minhas habilidades de jogador também, até já fui goleiro.
- Eu vou no seu lugar pra você não passar vergonha - João colocou uma mão no ombro do gêmeo. - Ela nem vai notar.
- Você não tem barba e ele tem - apontou primeiro para João e depois para Samuel. - Já decorei vocês dois.

Antes que um dos gêmeos pudessem responder, a banda cover entrou no palco sobre aplausos das pessoas presentes enquanto o pedido chegava na mesa de e Gabriela. A banda começou com a animada Twist & Shout e não hesitou em cantar junto, amava os Beatles e todas as suas músicas.

- Qual é a sua favorita? - Samuel perguntou para ela, se virando.
- All My Loving! Espero que toquem ela - respondeu, recebendo um aceno de cabeça do rapaz. - E a sua?
- Yellow Submarine .
- Também é muito boa.

bebericou o seu refrigerante e mordiscou uma batata com cheddar e bacon enquanto seu pé batia no ritmo da música e ela prestava atenção na banda no palco, os achando incrivelmente bons e divertidos. A música seguinte foi Love Me Do , seguida por Penny Lane e então All My Loving . deu um gritinho, cantando a música junto com o vocalista que era a cara do Paul McCartney jovem.

- Close your eyes and I'll kiss you, tomorrow I'll miss you, remember I'll always be truuuueeee! - ela cantarolou divertida, sem sentir vergonha. - Meu Deus, eu amo essa música!
- A gente percebeu, - Gabriela riu quando a amiga quase derrubou seu refrigerante.
- I'll pretend that I'm kissing the lips I am missing and holp that my dreams will come true, and then while I'm away, I'll write home everyday and I'll send all my loving to yoooou - ela sentiu uma repentina saudade de por se lembrar que a música contava sobre um relacionamento à distância, mas tentou não demonstrar e nem iria comentar nada.

Após o fim da música, a seguinte foi justamente Yellow Submarine na qual foi a vez de Samuel cantar alegremente, e todos cantaram juntos Help! , o que foi bem divertido. Quando Across The Universe começou, algumas pessoas se aglomeraram no palco, incluindo Júlia que puxou João para que ele pudesse ir junto.

- Eles se pegam às vezes - Samuel justificou quando viu que seguiu com o olhar as mãos entrelaçadas dos dois e bebericou sua cerveja.
- Nem queira entender - Gabriela completou e concordou com um aceno de cabeça.

Os três acompanharam a música juntos e, ao fim, Gabi pediu licença para ir ao banheiro, restando apenas e Samuel na mesa enquanto a banda começava a tocar Something, provavelmente a mais romântica da noite. Um silêncio pairou entre eles enquanto Samuel bebia a sua cerveja e se deliciava com a batata-frita.
Ela nunca, jamais se interessaria por outro homem estando comprometida, se quer estava olhando para Samuel com outras intenções, mas a maneira que ele olhava pra ela a deixava curiosa. Talvez fosse apenas o jeito dele, pensou, mas mesmo assim não deixou de notar.

- E então, , em que time você jogava? - Samuel perguntou de repente, se ajeitando na sua cadeira.
- Corinthians, só joguei por três anos, então não rodei por outros clubes - se justificou.
- Que pena, acho que você iria se dar bem no Santos, as minas jogam demais.
- É verdade, mas já passou, eu tento não pensar muito nisso.
- Você disse que parou por lesão... Qual foi?
- Fraturei o fêmur em um impacto muito forte durante uma jogada.
- Mas o fêmur é o osso mais difícil de se quebrar.
- Eu sei, mas quebrou. Os médicos que acompanharam a minha recuperação me disseram que eu dificilmente conseguiria voltar a jogar futebol, eu até tentei, mas sentia muitas dores. O resultado foi que me aposentei aos vinte anos - esboçou um sorriso triste nos lábios. - Mas está tudo bem, eu segui minha vida. Estudei, trabalhei, não tenho do que reclamar.
- Que pena, , imagino que tenha sido bem difícil. Já tive um incidente grave com um aluno, ele também quebrou um osso durante a minha aula e ainda não retornou, mas eu estou acompanhando para ter certeza de que ele está bem.
- É muito gentil da sua parte. Espero que ele se recupere logo.
- Garotos! Você sabe, sempre dão um jeito.
- Eu sei sim.
- Mas mudando de assunto da água pro vinho, você até que está bem em forma para alguém que se aposentou. Com todo o respeito, é claro - Samuel se arrumou na cadeira, corrigindo a postura torta.
- Ah, obrigada... - tentou agradecer gentilmente, mas não gostava de receber elogios assim. - Eu tentei me cuidar, hoje em dia nem tanto, relaxei, mas quero voltar a treinar logo.
- Bom, sou professor, posso te passar um treino se você quiser, posso pensar em algo que não te cause dor.
- Valeu, seria ótimo, meu sonho é ter os gominhos na barriga de novo - disse divertida e os dois riram juntos.
- Posso te ajudar com isso também. Aliás, posso te ajudar em muitas coisas... Quero fazer uma coisa, mas não me mata, tá legal?
- O que é que você...

se quer teve tempo de terminar sua pergunta quando foi surpreendida com os lábios dele se chocando com os dela. Ela arregalou os olhos, assustada, levando um segundo a mais para se recuperar do choque e o afastar abruptamente quando sentiu a língua dele pedindo espaço.

- Mas o que é isso??? – disse rispidamente quando se afastou.
- Eu achei que você quisesse, - Samuel se justificou, completamente constrangido pela situação.
- Você tá maluco? Eu tenho namorado! - ergueu a mão direita para mostrar a aliança, mas se lembrou que a esqueceu na janela do banheiro na hora do banho. - Mas que droga! Eu esqueci a porra da aliança em casa!
- Estávamos nos dando bem, te achei linda e não vi nenhuma aliança, achei que...
- Que enfiar a língua na minha boca seria uma boa ideia? Eu só estava conversando com você!
- ...
- Não chega perto de mim - ela se levantou quando ele se aproximou um pouco.

, se sentindo mais irritada do que nunca, saiu em direção ao banheiro sem perceber que esbarrou com Gabriela no caminho. A garota voltou para a mesa e se sentou, percebendo que Samuel também parecia bem frustrado.

- O que aconteceu aqui?
- Por que você não disse que sua amiga namora?
- Samuel, o que você fez? - Gabriela cruzou os braços, impaciente.
- Dei a maior mancada, Gabi, achei que ela fosse solteira, estava sem aliança, eu... Eu beijei ela.
- Você o que? - Gabi arregalou os olhos, surpresa. - Samuel! Ela não só namora, o namorado dela inclusive, é o melhor amigo do Bruno. Sinceramente, eu não sei nem o que falar!
- Gabi, eu não sabia que ela namorava! Ela me empurrou, eu tentei me desculpar, mas ela saiu, deve pensar que sou algum pervertido ou algo assim...
- Ai, Samuel, logo a - ela bateu com a palma da mão na sua testa. - Eu vou atrás dela tentar resolver isso, e você fica aqui.

Gabriela se levantou e começou a procurar por , mas imaginou que ela estaria no banheiro, então foi para lá. Não tinha ninguém na pia, mas uma das cabines estava fechada.

- , você tá aí?
- Estou - respondeu de dentro da cabine.
- Sai dai, eu sei o que aconteceu, o Samuel me contou.

No mesmo instante, abriu a porta da cabine e saiu. Gabriela notou que a amiga estava com os olhos vermelhos, assim como o nariz e as bochechas.

- Não precisa chorar, , está tudo bem. O Samuel não sabia que você namora, eu já falei com ele, tá? Ele não fez por maldade.
- Eu sei, Gabi, eu esqueci a aliança em casa, mas... Eu tô me sentindo tão mal, é como se eu tivesse traído o ou algo assim.
- Você não traiu ninguém, foi burrice do Samuel, você fez certo em empurrar ele, outras pessoas não teriam feito isso... Deixa pra lá, , já passou, vamos voltar.
- Eu... Eu só quero ir pra casa, não quero ficar lá. Por favor, me leva pra casa.
- Tá bom, eu vou avisar o pessoal e nós vamos embora.

⚽🖤📱

Por mais que já fosse de madrugada, pegou seu celular e ligou para . Pelo fuso horário, era mais cedo na Colômbia e ela pensou que talvez ele estivesse acordado para que pudessem conversar. Chamou algumas vezes até ele atender um pouco sonolento.

- Oi, amor - disse com voz de sono e apertou os olhos a fim de controlar a vontade de chorar, mas sua voz falha a dedurou.
- Oi, ... Eu... Eu preciso te contar uma coisa... Desculpa ligar agora, mas é importante.
- O que aconteceu ? - ele perguntou preocupado ao perceber a alteração na voz da namorada.
- É que aconteceu uma situação chata e eu queria te contar. Eu... - ela respirou fundo antes de continuar. - Eu saí com a Gabi, ela me chamou pra ir em um barzinho de música com os amigos dela e eu fui, e ela tinha um amigo que conversou bastante comigo, mas eu só estava conversando mesmo, sem qualquer intenção.
- E...? - sentiu um repentino frio no estômago, com medo do que poderia vir a seguir, poderia imaginar.
- Ele me beijou, ... Assim, do nada... Mas eu juro que eu não queria, eu empurrei ele imediatamente pra longe de mim, fui pega de surpresa com isso.

Apesar da surpresa, procurou se manter calmo porque percebeu que estava muito agitada. Ele confiava totalmente nela, não iria se exaltar, mas foi algo que o pegou de surpresa.

- Calma, , não precisa ficar nervosa.
- Eu nunca trairia você, eu não queria nada disso. Tirei a aliança na hora de tomar banho e esqueci de colocar de novo, só percebi quando fui esfregar na cara dele e não estava lá... Me perdoa, eu juro que não fiz de propósito. Eu preferi te dizer eu mesma do que isso chegar em você de alguma forma, mas eu nunca, nunca, nunca, trairia você.
- Eu sei, meu amor, se acalma. Olha, não vou dizer que estou feliz com isso, mas eu confio em você cegamente, eu acredito em você, ok?
- Foi horrível, estou me sentindo péssima. Sei que não deveria fazer um alarde por causa disso, mas eu precisava contar pra você.
- , fica calma, já passou. Obrigado por me contar, só faz eu confiar mais ainda você. Está tudo bem, você agiu certo.
- Está tudo bem mesmo? - tentou secar as lágrimas que insistiam em escorrer pelo seu rosto abruptamente, se sentia como uma criminosa.
- Sim, amor, tá tudo bem, eu acredito em você. Por favor, para de chorar e se acalma, tudo bem? Eu amo você e você acabou de me dar uma prova de que me ama também.
- De uma forma que eu nem sabia que eu poderia amar - ela respirou fundo mais uma vez, tentando se acalmar. - Me desculpa, eu te amo.
- Eu também te amo, , e está tudo bem, eu prometo que está .
- Obrigada... - ela esboçou um sorrisinho em meio às lágrimas, se sentindo um pouco melhor, mas não muito.
- Vai dormir, tá? Relaxa, descansa, amanhã eu te ligo depois do treino, a gente conversa mais um pouco, mas eu te garanto que está tudo bem.

Eles conversaram mais um pouco até que conseguisse acalmar , mesmo que estivesse caindo de sono. Teve um dia longo de treinos e estava cansado o suficiente para dormir logo após desligar, achando melhor pensar nisso apenas no dia seguinte para ter uma opinião. , por sua vez, continuou acordada, ainda se perguntando se estava tudo bem mesmo e com a sensação horrível de ter beijado outra boca, mesmo que não tivesse realmente beijado. Queria que estivesse ali mais do que nunca, lhe assegurando de que tudo estava bem.
É claro que, durante os seus vinte e cinco anos, jamais se imaginou ligando no meio da noite para um cara, lhe pedindo desculpas, até julgava em sua mente quem fazia isso, mas sentindo a situação na própria pele, entendeu que seu julgamento estava errado. E, apesar de saber que estava exagerando, ela sentia a necessidade de fazer aquilo. Não porque se considerava submissa ou algo assim, estava longe disso, mas aprendeu com os seus pais a respeitar o parceiro e a ser respeitada também. Talvez estivesse chorando porque ainda estava assustada, uma reação natural ao choque, mas sabia que, de qualquer forma, se fosse ao contrário diria para ela também, talvez de uma forma menos dramática, mas diria.
só queria dormir e esquecer que aquele dia realmente aconteceu.

⚽🖤📱

- Nossa, hoje foi treino para ninguém botar defeito - Coutinho secou o suor da testa enquanto ele e deixavam o gramado após o encerramento das atividades do dia.
- Nem me fale, estou moído - estava mancando um pouco devido a uma dividida em que caiu de mal jeito, mas estava bem apesar disso. - Só quero jantar e cair na cama o mais rápido possível.
- Que coisa de velho, - o camisa 11 respondeu bem-humorado, fazendo concordar. - E eu aqui contando as horas pra poder ligar pra minha esposa e as meninas e você querendo jantar.
- É uma questão de prioridades, cada um tem a sua - defendeu seu ponto, mas acho já resposta do amigo bem satisfatória. - Você gosta de ser casado?
- Cara, é a melhor decisão que eu tomei na vida. Não é um mar de rosas, é claro, mas é bom saber que quando eu chegar em casa, vou encontrar três pessoas que me amam muito me esperando. Não tem sensação melhor do que ver a Maria correndo na minha direção feliz da vida porque eu finalmente voltei pra casa... Por que a pergunta? Está pensando no assunto?
- Não exatamente, é muito cedo pra pensar em casamento, tenho certeza de que a não gostaria, mas é que... Bom, ontem aconteceu algo com a e ela ligou desesperada pra contar, um cara beijou ela na cara dura em um bar, ela entrou em choque... Eu não estou bravo com isso, eu confio nela, mas acho que poderia ter sido evitado se ela estivesse de aliança, sabe? Ela disse que esqueceu a aliança, sei que é verdade, mas às vezes eu penso que ela meio que se sente forçada a fazer algumas coisas como usar aliança ou a concordar com coisas que eu penso... Não sei se é isso mesmo ou não.
- , acho que se ela realmente se sentisse forçada, não teria feito o que fez. Vocês parecem um casal feliz, acha que ela iria irradiar felicidade se fosse forçada a fazer alguma coisa?
- Eu não sei, não perguntei pra ela se ela queria usar alianças ou não, só cheguei com o par... Eu cedi em coisas por ela, mas acho que ela cedeu muito mais por mim e eu não quero ser o tipo de cara mandão e chato porque eu definitivamente não mando em nada na vida dela e nem quero. Só fiquei meio chateado por ela não estar de aliança quando aconteceu, mas não sei se devo dizer à ela ou não.
- Acho que tem dois lados, o primeiro é que, se ela estivesse de aliança, então o tal cara teria respeitado você e não ela, o que é errado. E segundo, um relacionamento precisa ter diálogo, se algo te chateou, você deveria dizer se realmente sentir a necessidade disso. Estou com a Ainê há quase quinze anos, sei do que estou falando.
- Acho que vou dizer pra ela, só preciso pensar um pouco nas palavras antes... Mas valeu pela dica, eu espero um dia chegar nos quinze também.
- Se continuar querendo melhorar, vai sim, vai longe.
- Ah, que lindo! Tô emocionado!

Os dois pararam de andar e se viraram para trás quando ouviram a voz de Arthur que os aplaudiu enquanto se aproximava dos amigos.

- Desde quando você está aqui? - perguntou confuso.
- Desde que vocês viraram melhores amigos e eu fiquei de fora.
- Não fica assim, Tutu, amamos você - Coutinho fez coração com as mãos e o imitou, fazendo com que Arthur rolasse os olhos e os dois dessem risada.
- Sei, sei. E então, qual é o papo? - ele se colocou no meio dos amigos e os três voltaram a caminhar juntos. - Não ouvi direito.
- está tendo uma crise existencial NO relacionamento e eu virei o coach dele.
- Aconteceu algo entre você e a ?
- Nada sério, não estamos brigados, só estou me questionando algumas coisas - deu de ombros para soar despreocupado. - Ela é muita areia pro meu caminhãozinho.
- Eu odeio o seu pessimismo, sabia? Deixa de ser otário, , se a está com você é porque gosta de verdade de você, ela não parece ser como outras garotas que forçam aproximação. Para de ficar se rebaixando.
- Arthur e sua mania de animar as pessoas colocando elas pra baixo... Mas obrigado, eu entendi o recado.

⚽🖤📱

encarava o celular com a tela ligada apenas esperando a ligação. O papel de parede, que era uma foto dela com no Camp Nou durante sua viagem para Barcelona, era uma de suas fotos preferidas e ela pensou que depois deveria agradecer à Gabriela e Bruno pela fotografia. Ela aguardava pela ligação do namorado que prometeu ligar ao final do dia, mas já passava da meia-noite no Brasil e ainda não havia ligado. estava se questionando se realmente estava tudo bem entre eles e, por isso, não conseguia dormir.
E ela já estava quase desistindo de esperar quando ele, enfim, ligou. Ela atendeu antes de terminar o primeiro toque, ansiosa para falar com ele finalmente.

- Pensei que não fosse mais ligar! - tentou parecer brincalhona, mas não tinha certeza se havia conseguido ou não.
- Me desculpa, amor, a resenha com os caras estava boa e eu acabei me esquecendo - respondeu com sinceridade o real motivo.
- Entendi - foi tudo o que ela disse, forçando uma naturalidade, tentando não pensar que era uma segunda opção.
- Não precisa ficar chateada, , isso não vai mais acontecer - ele a conhecia muito bem e sabia que não estava sendo transparente com ele. - Mas enfim, você tá bem? Está melhor? Como foi no trabalho hoje?
- Tô bem, eu trabalhei bastante, mas nada fora do normal... Ou o dia estava entediante, ou eu que estava nervosa sem motivo, não sei direito. Como foi o treino?
- A mesma coisa de sempre, mas eu fiquei preocupado com você, pensando nisso o dia inteiro.
- Tá tudo bem, , eu exagerei, só fiquei assustada por ter outra boca encostada na minha que não fosse a sua. Eu exagerei.
- Não acho, mas estive pensando em duas coisas, só não sabia como perguntar. Por favor, não leve como uma ofensa ou algo assim, eu não quero brigar com você.
- Pode falar - mordeu os lábios, sentindo-se ainda mais ansiosa.
- É que... - estava hesitante, não queria soar como um machista babaca. - Talvez se você estivesse de aliança, ele não teria feito isso... Desculpa, eu não quero parecer machista, não quero mandar em você, . Eu sei que é errado e ele respeitaria a mim e não você, mas já seria alguma coisa, não seria assim...
- Pra falar a verdade, acho meio machista sim, mas você tem razão, ele não teria feito isso... Me desculpa, eu não vou mais tirar essa aliança do dedo.
- Não, amor, você não entendeu. Não quero que um anel seja o seu RG, foi só uma situação à parte e acontece mesmo, tá tudo bem.
- Certo. E qual é a outra coisa?
- Bom... Estive pensando no nosso relacionamento e em quanto cada um cedeu, acho que você cedeu mais por mim do que eu por você, achei injusto e quero que você seja honesta comigo. Você se sente forçada à alguma coisa no nosso namoro?
- Como assim forçada?
- É que eu não te perguntei se você queria usar uma aliança, não perguntei se você queria ir para Barcelona comigo, eu simplesmente fiz o que eu queria e, essa história da aliança, me fez pensar que talvez eu estivesse tomando decisões sozinho, o que vai totalmente contra os meus princípios. Se eu fiz algo que você não gostou, é só me falar e eu vou entender completamente .
- , eu não me sinto forçada à nada com você, muito pelo contrário... É verdade que eu não esperava ganhar um anel, mas não quer dizer que eu não tenha gostado. Graças a você, eu conheci Paris e vi a Copa do Mundo feminina, eu conheci Barcelona e vi times que eu sempre admirei, isso sem contar o quanto eu mudei como pessoa, mas pra melhor, você me ajudou com isso... E mais uma coisa, acha que eu ia ficar caladinha e deixando você mandar em mim como se fosse o meu pai? Relacionamento é respeito mútuo, respeitar não quer dizer que sou submissa ou algo assim - ela deu uma risadinha na tentativa de melhorar o rumo que a conversa tomaria.
- Você tem toda a razão, essa é a que eu conheço - riu também, satisfeito por ouvir aquilo.
- , acredite, eu vacilei muito mais com você do que você comigo. Se tem alguém que deve se chatear, é você. Eu te julguei, falei horrores, comecei discussões, escondi de você que achava que estava grávida, aquele tapa que eu dei sem querer no aniversário do Bruno porque eu me assustei... É sério, eu devo mais pra você do que você pra mim, aliança é fichinha.
- Também não é assim... Mas enfim, eu fico feliz que a gente conversou sobre isso, eu fiquei com medo de perguntar e dar em briga, não quero jogar um jogo importante estando brigado com você. E também não queria que você se sentisse mal.
- Eu estou muito melhor depois dessa conversa, acho que a gente precisava mesmo falar sobre algumas coisas que parecem ser delicadas demais e eu acho muito fofo o jeito que você se preocupa comigo assim. É novo pra mim, mas estou adorando.
- É claro que eu me preocupo com você, , você é a minha namorada, eu seria um idiota se não me preocupasse. E outra coisa, quando eu voltar, prometo tirar esse gosto horrível que você deve ter na boca agora - disse em tom de brincadeira e até afastou um pouco o celular para poder rir.
- Nem me fale, é horrível! Ainda sinto o gosto do álcool, isso sem contar que ele poderia se parecer com o Brad Pitt e eu não olharia pra ele, não ia ceder nem um pouquinho... Mas quando eu for pra Colômbia, vamos mudar isso.
- Com toda a certeza, amor.

A próxima hora foi resumida em conversas leves e risadas, estavam verdadeiramente bem um com o outro, o que era ótimo. se sentia muito melhor sabendo que estava tudo bem, toda aquela ansiedade e nervosismo passou durante o tempo em que esteve em ligação com ele. sabia como a acalmar, sempre tinha a resposta que ela precisava ouvir na ponta da língua e isso a fazia gostar ainda mais dele, tendo certeza de que não encontraria outro como ele dando sopa por aí, certamente ninguém cuidaria dela tão bem assim e ela esperava poder retribuir à altura.

Já que era sério mesmo, então que fosse pra valer.

Capítulo 30 - Parte 1 - Tempo de festejar

Estádio Atanásio Girardot - Medellín, Colômbia.

- Sinceramente, eu não poderia simplesmente namorar com um brasileiro? - Gabriela questionou chateada por estar usando uma camisa da seleção do Uruguai com o número e nome de Bruno atrás.
- Gabi, pra quem veste a camisa do rival por causa do namorado, vestir a de outro país não é nada - riu, estava orgulhosa de usar a canarinho com o nome de e o número 17 atrás.
- Mas eu queria a do Brasil.
- Tenho outra na mala se você quiser, só que não tem o nome do Bruno nela.
- Vá se lascar, - Gabriela deu um empurrão de leve no ombro da amiga e as duas riram juntas.

O estádio de Medellín já estava cheio para a semifinal da Copa América entre Uruguai x Brasil. A maioria da torcida presente era colombiana, mas também se podiam notar muitos brasileiros e uruguaios torcendo por seus respectivos países que lutaram muito em todos os jogos para chegarem ali.

- Que saudades eu estava dele - voltou a sua atenção para as equipes se aquecendo no gramado e não tirou os olhos de por um instante, estava mais do que feliz por ver ele mais de um mês depois, mesmo que de longe, já que ela estava atrás do banco de reservas e ele sabia disso.
- Olha só, que coisa mais linda - Gabriela deitou a cabeça no ombro da amiga e teve que olhar pra mesma direção da amiga para só então se tocar de que ela estava falando de Bruno que também aquecia com o seu time.
- O lado bom é que uma de nós duas vai poder matar a saudade provavelmente ainda hoje.
- Tomara que seja você, quero ver o Bruno ganhando uma medalha.
- Nem pensar! Eu aguento mais uns dias, quero ver o ganhando um título com a Seleção, você que lute.

Após o aquecimento dos dois times, as equipes voltaram para o vestiário e subiram de novo, um pouco depois, trajadas com seus respectivos e clássicos uniformes canarinho e azul celeste para a execução dos hinos nacionais, sendo o primeiro do Uruguai. Após o hino uruguaio, foi a vez do hino brasileiro. não estava entre os titulares que começariam, mas sabia que ele estava bem próximo dela no banco e tinha chances de entrar na partida. Ela torcia para que ele realmente entrasse.
Quando a partida começou e os minutos foram avançando, foi possível notar que seria um jogo muito equilibrado porque as duas equipes atacavam e pressionavam uma na falha da outra, embora a Seleção Brasileira fosse um pouco melhor durante toda a primeira etapa, até abrir o placar aos quarenta e quatro minutos com um gol de Neymar, o que fez com que o time voltasse satisfeito para o vestiário no intervalo do jogo.
Para a volta da segunda etapa, Tite fez apenas uma alteração pontual, trocando Coutinho por , pois o camisa 11 alegava estar sentindo um incômodo na panturrilha, sendo assim precisava ser substituído. deixou sua jaqueta no vestiário e seguiu com os titulares em direção ao campo, se sentindo um pouco ansioso para entrar, mas totalmente concentrado para poder dar o seu melhor. Foi inevitável para conter um sorriso quando o viu indo para a sua posição no campo, estava mais do que feliz por vê-lo conquistando o seu espaço no time, mesmo que aos poucos, já era um começo e ela sabia que ele também estava feliz com isso.

- Espero que não tenham brigas dessa vez - Gabriela pontuou quando a bola começou a rolar outra vez e concordou.
- Você, eu e toda a torcida do Corinthians, Gabi.

Elas não sabiam que os jogadores estavam pensando a mesma coisa no campo, cada um queria apenas fazer sua parte e, mesmo que Bruno fosse o responsável por marcar o lado de , eles saberiam separar as coisas dessa vez com profissionalismo e sem envolver a amizade dos dois no meio.
Quando recebeu uma bola esticada de Casemiro, ele arrancou em velocidade pela ponta esquerda, se livrando do lateral direito que o marcava. foi em direção à grande área e o único na sua frente era Bruno. Ele hesitou um pouco, pedalando e pensando para qual lado ir. Escolheu mal quando optou pelo lado direito, pois Bruno interceptou a bola que foi para a lateral e foi ao chão quando tropeçou, mas como não houve contato físico, o juiz deixou seguir e Bruno voltou para ajudar a se levantar.

- Obrigado por não quebrar minha perna - segurou a mão do amigo pra ficar de pé.
- Só dessa vez - Bruno se posicionou para o marcar quando percebeu que Marcelo já estava na lateral.

Marcelo procurava opções para jogar a bola, mas todos os jogadores brasileiros estavam bem marcados. Apesar disso, tentou a sorte e jogou para que se livrou da marcação de Bruno. O jogador entrou na grande área e cruzou para Neymar que cabeceou para o gol, mas Kevin Dawson defendeu. A bola recuou nos pés de Gabriel Jesus, mas o atacante pegou mal e chutou por cima do gol, sendo apenas um tiro de meta para o Uruguai.

- Vai ser 2x0 fácil - disse em tom de provocação, fazendo Gabriela revirar os olhos.
- Sonha, sonha, ainda tem jogo pela frente, minha filha. Se toca!

De fato, ainda tinha jogo e Gabriela tinha razão. Os celestes empataram aos trinta e cinco minutos com gol de Suárez, o que animou mais o jogo, pois a equipe passou a buscar mais o gol, o que não quer dizer que os brasileiros não faziam o mesmo. Se tornou um jogo mais intenso e rápido, mesmo com o desgaste dos jogadores.
Aos quarenta minutos, Thiago Silva interceptou uma bola na área brasileira e deu um chutão para frente no qual Casemiro recebeu, ele tocou para Arthur que avançou um pouco, tocando para Everton. O jogador do Grêmio não pensou muito ao decidir tocar para Gabriel, que, lá na ponta, cruzou para dentro da área do Uruguai. Firmino, que substituiu Neymar um pouco antes, tentou cabecear para o gol, mas não conseguiu, pegou o rebote e chutou para o gol, mas novamente o goleiro defendeu. teve um ótimo reflexo e pegou o rebote de novo, não desperdiçando dessa vez e marcando o gol que faltava para a Seleção Brasileira. Ele correu em direção ao banco de reservas e o time comemorou inteiro o gol que praticamente deu a classificação para eles.
estava eufórica na arquibancada, comemorando o gol e podia ver de perto o time, mesmo que tivesse uma rampa longa entre a arquibancada e o campo, isso não queria dizer que não a viu. Ele viu a namorada sim e não pensou duas vezes antes de ir, em passos apressados, na direção dela.

- Não, ele não tá vindo pra cá - ela disse incrédula, se recusando a acreditar. - Não pode ser.

pulou pelos painéis de patrocínios e foi rápido em direção à , já que sabia que iria tomar um cartão amarelo de qualquer forma. Ele se aproximou dela e não disse nada, apenas colocou as mãos no rosto da mulher e a beijou, pegando de surpresa.

- Foi pra você, minha vida. Obrigado por acreditar em mim - ele disse por fim, antes de dar mais um selinho nela e se afastar, indo em direção ao campo novamente e recebendo de bom grado o cartão amarelo.
- Nossa, por essa ninguém esperava - Gabriela se admirou, olhando pra amiga e percebendo que ainda estava em choque.
- Não acredito ainda - bateu com a palma da mão na testa, rindo. - Meu Deus, o enlouqueceu de vez!
- Foi fofo, , a América toda viu vocês e, de sobra, você ainda matou a saudade primeiro.
- Não era bem isso que eu queria dizer, mas tá bom, vou considerar também - ela disse divertida e as duas riram, voltando a atenção para o jogo que tinha acabado de recomeçar.

Como o esperado, a Seleção Brasileira venceu o jogo e se classificou para a final que seria dentro de alguns dias. O adversário sairia do jogo entre Argentina x Peru no dia seguinte e agora era só esperar e torcer. Os jogadores se cumprimentaram amistosamente, mesmo que os uruguaios estivessem chateados com o resultado. foi até Bruno dar um abraço no amigo que parecia bem chateado com a eliminação.

- Já te disseram que você é o melhor? É só o começo, cara - disse enquanto tirava a sua camisa.
- Gracías , eu sei - Bruno esboçou um sorriso entristecido enquanto os dois começaram a caminhar em direção à saída do gramado. - Parabéns pelo gol.
- Valeu, mas ainda tô esperando a gente trocar as camisas, caso não tenha notado.

Bruno concordou e parou para tirar a sua camisa, trocando com e deixando a camisa brasileira repousando sobre o seu ombro despido.

- Por que você não vai lá? - apontou para trás perto do banco de reservas brasileiro, onde as meninas estavam. - Alguém ali quer te ver.
- Eu vou, obrigado, , a gente se vê em São Paulo - os dois se despediram com um aperto de mão e então se afastou, indo com Arthur para o vestiário enquanto Bruno pulou a barreira de proteção e caminhou pela rampa na direção das garotas.
- Parece que o mundo deu voltas, hum? - disse para Gabriela que também ficou surpresa ao ver Bruno indo na direção delas.

O zagueiro se aproximou e cumprimentou primeiro e ela não poupou elogios ao amigo que os agradeceu com sinceridade, então se virou para a namorada. Gabriela sorriu e abriu os braços para o receber. Bruno, apesar de jurar para si mesmo não chorar nunca, sentiu os olhos se encherem de lágrimas por ela estar ali e vestindo a camisa dele. Ele entregou a camisa de para e abraçou a namorada, se permitindo ser consolado por Gabriela.
não queria atrapalhar o momento, então deu um passo para o lado e segurou a camisa de como se ele mesmo estivesse ali. Estava triste pela eliminação, mas sabia que ao menos Bruno tinha alguém para se consolar.

- Eu vou pedir liberação depois do jogo de terceiro lugar e vamos para São Paulo juntos, tudo bem? - Bruno disse ao se afastar, mas ainda segurava as mãos de Gabriela. - Ou você quer ficar para a final?

Gabriela olhou para , questionando a amiga se deveria ou não, mas apenas ergueu as mãos como se não tivesse nada a ver com aquilo, e de fato não tinha.

- Você que sabe, amiga, a família do vem pra final, eu vou ficar bem. Vai pra São Paulo depois do jogo, vão matar a saudade logo, é uma ordem.
- Você ouviu, né? Precisamos respeitar os mais velhos - Gabi se virou para Bruno e os dois riram quando mandou o dedo do meio pra eles.
- É claro que sim, está combinado então. Preciso ir agora.

Bruno se despediu de Gabriela com um beijo e então se virou para afim de pegar a camisa de volta, mas se aninhou à peça, como se estivesse ali.

- Ai, Bruno, isso aqui é o mais perto que estou dele agora - ela disse divertida, mas devolveu a camisa ao amigo. - Cuida direitinho.
- Eu vou, não se preocupa. Tchau, a gente se vê em São Paulo.

Bruno deu meia volta e saiu também, deixando o gramado logo em seguida e então Gabriela e acharam que era a hora de ir embora.

- Você vai comigo ver o jogo do terceiro lugar, não é? - Gabriela perguntou quando as duas entraram no quarto em que estavam dividindo.
- É claro, o ingresso está pago - disse divertida e tirou o par de tênis para enfim se jogar na confortável cama. - Estou morta! Que dia doido foi esse? Foi real mesmo? Tipo, o marcou um gol e foi comemorar comigo? É real ou delírio da minha imaginação?
- Deixa eu ver - Gabriela pegou o celular e se sentou ao lado de . - É, é real. Olha aqui.

pegou o celular da amiga e viu, em um perfil qualquer de Instagram, a foto do momento em que a beijou, estando os dois marcados nela. Não podia negar que era uma foto bonita e ela com certeza iria postar logo em seguida.

- Ai meu Deus, é real mesmo - ela devolveu o celular para Gabriela e pegou o próprio para ver todas as marcações que ela tinha no perfil. - Achei que fosse minha mente me enganando pra amenizar a ausência.
- Não, não, eu sou a prova viva de que é real. Ainda me custa acreditar que o Bruno foi lá também, aí sim pode ser coisa da minha cabeça, mas de qualquer forma, acho que somos duas abençoadas.
- Também acho!
- E a abençoada aqui está fedendo e quer tomar um banho. Se importa se eu for primeiro?
- Não, vai lá, fica à vontade.

Gabriela pegou seu pijama e toalha na mala e foi em direção ao banheiro. continuou deitada e pensou se deveria ligar para ou não, mas imaginou que ele ainda não estivesse livre para falar, então apenas postou a foto nas suas redes sociais e esperou. Estava tão feliz que ainda não podia acreditar que aquilo realmente aconteceu.
Embora soubesse que foi muito, muito real.

⚽🖤📱

Estádio Metropolitano. Barranquilla, Colômbia.

- Tia - Maya cutucou a cintura de e a mesma se virou para a garotinha. - Posso te perguntar uma coisa?
- É claro - se sentou em seu lugar. Sorriu boba por ser chamada de tia por ela.
- Você e o tio vão se casar?

A pergunta pegou de surpresa, mas ela procurou não demonstrar. Não tinha uma resposta certa para a pergunta, mas uma criança de sete anos não entenderia, nem mesmo entendia sua forma de pensar sobre casamentos.

- Eu não sei, Maya, não sei mesmo, ele não pediu.
- Mas e se ele pedir?
- E eu posso saber o motivo dessa curiosidade toda? - cruzou os braços, mas Maya apenas deu uma risadinha.
- Nada, eu só perguntei. Quero que você seja minha tia pra sempre - Maya abraçou a cintura de e ela sorriu, feliz por receber o carinho da garotinha.
- E esse chamego todo, dona Maya? Eu que sou seu tio de verdade - Ronald vinha na direção delas, pedindo licença às pessoas em um espanhol péssimo, segurando dois saquinhos de pipoca.
- Mas ela é minha tia também, tio.
- Eu sou seu tio há mais tempo - ele se sentou ao lado da sobrinha e entregou pipoca pra ela, fazendo com que soltasse Maya.
- Comprando ela com pipoca, Rony? É sério?
- Fica na sua, cunhadinha, eu conheço essas gurias desde o dia em que nasceram.
- Me desculpa se o me enfiou no meio da família de vocês.
- Fazer o que, né? Eu disse pra ele, não arrume qualquer uma, , mas ele me ouviu? Não, não ouviu.
- Que horror, Ronald! Muito bom saber que você gosta de mim dessa forma, obrigada! Cadê a Cida? Ela é a única que gosta de mim nessa família.
- Eu também gosto de você, tia.
- É verdade, você e a sua mãe, seu tio Rony é um chato.
- A Cida ainda está no banheiro com a Belinda, fiquei com preguiça de esperar. Já estão vindo aí.

Não demorou muito pra que Cida voltasse acompanhada por Belinda, seu marido Léo e sua mãe. Ela se sentou entre Léo e .

- E então? O que eu perdi?
- Tio Rony e a tia estão brigando, mãe.
- Quantos anos vocês tem mesmo? - Cida se virou para a cunhada e o irmão.
- Não tenho culpa se você tem um irmão insuportável, Cida.
- Um não, dois. O outro também não é flor que se cheire.
- Maria Aparecida!
- Ronald, não estou errada, ok? Deus sabe o que eu passei com você e com o . Tenho pena da e mais ainda da sua futura namorada.
- Não fala assim do , ele é um amor de pessoa - saiu em defesa do namorado. - Meio nervosinho, mas um doce.
- Céus, por que não tive duas irmãs? - Cida ajeitou Belinda no seu colo.
- Mamãe, o tio vai jogar? - Belinda perguntou se referindo ao segundo tempo, já que ainda não havia entrado em campo.
- Não sei, amor, vamos torcer para que sim.
- Já passou da hora do entrar, o Coutinho é um morto dentro de campo, não segura uma bola direito - Léo comentou. Por mais que gostasse da pessoa de Philippe, concordava com ele. deveria entrar para a segunda etapa, já que o jogo estava empatado em 2x2.
- Sogra, dá um grito pro Tite colocar o seu filho, ele vai te ouvir - se virou para Regina que apenas deu uma risada contagiosa.
- Eu acho que nesse caso, a opinião do treinador vale mais do que a minha.

O time brasileiro voltou para o campo pouco depois e os argentinos logo em seguida. olhou para o telão do estádio e viu Coutinho passando pelo túnel de acesso e constatou que, ao menos por enquanto, não iria entrar porque ele passou perto da família vestindo o seu colete de reserva, mas parecia bem tranquilo quanto a isso.

- Se tomar o terceiro gol, eu vou dar risada. Eu avisei - Léo disse com tom de irritação na voz. - Hoje vai ter hat trick do Messi.
- Não sei se sou privilegiado ou azarado por causa disso - Rony se afundou na cadeira e pegou pipoca para comer.
- Ou pode ter hat trick do Neymar - Cida se manteve otimista. - Sei que todo mundo aqui está ansioso pra ver o , mas mesmo que ele não entre, vai ganhar da mesma forma, ele não vai deixar de estar muito feliz.
- Mas não são vocês que vão aguentar ele resmungando porque não jogou a final, eu sim - ponderou, aborrecida só de imaginar o namorado dando um chilique desnecessário.

Quando a bola voltou a rolar para as duas equipes, a tensão tomou conta da torcida e também dos atletas que se estranhavam hora ou outra a cada falta que pensavam ser maldosa, as coisas pareciam até ter ficado mais intensas quando entrou aos vinte e cinco minutos. Para , o auge da tensão foi quando se desentendeu com Mauro Icardi por conta de uma entrada dura do brasileiro no argentino, algo que pra ela era totalmente fora da realidade.

- Não acredito que o está realmente brigando com o Icardi. Não, não pode ser - ela bateu com a palma da mão na testa, incrédula. - Essa é a coisa mais aleatória que eu já vi na minha vida.
- Cuidado, , ou ele pode ativar o modo talarico, hum? - Rony deu um empurrãozinho no ombro de , brincando com ela.
- Sai pra lá, Rony! E eu, por um acaso, quero saber de argentino talarico? Credo! - deu um chega pra lá no cunhado. - Ah lá! Vai tomar cartão amarelo por besteira! Eu sabia, eu sabia! O não muda nunca! - ela esbravejou quando viu os dois jogadores sendo advertidos pelo árbitro.
- Mas de quem esse menino puxou esse temperamento todo? De mim que não foi - Cida cruzou os braços, rindo. - Nem seu. Não é, mãe?
- Com certeza, eu não tenho culpa nisso.
- Ronald, a culpa é sua - concluiu, em tom de brincadeira.
- Eu? Não tenho nada a ver com essa história, a culpa é daquele senhor que eu não gosto de falar o nome. é esquentadinho que nem ele.
- Quem, tio? - Maya se virou para Rony e ele percebeu que se exaltou.
- Ninguém, gatinha, ninguém importante, agora vamos prestar atenção no jogo, tá?

se limitou a ver o jogo, pois achava que era um assunto de família no qual ela não deveria se meter, já tinha visto coisa demais. Gostaria de dizer para Cida e Rony que o pai deles parecia ser uma pessoa diferente do que eles se lembravam, mas ela pensava que seria muito indelicado de sua parte tocar em um assunto no qual ela nunca foi convidada a opinar. O jogo parecia ser mais interessante do que falar sobre isso.
E o jogo ficou ainda mais interessante quando Lionel Messi fez o seu terceiro gol na partida, já beirando os quarenta minutos, ampliando a vantagem Argentina para 3x2. A torcida brasileira ficou tensa e preocupada, pois não sabia o que era pior: tomar três gols de Messi em uma noite só ou perder um título importante para o maior rival. Ninguém ali queria isso.

- Vamos, , por favor - murmurava, juntando as mãos como se fizesse uma reza, se sentia tão tensa quanto qualquer um ali.

Ela não sabia que, no campo, procurava manter a sua concentração e não deixar o lado pessoal se sobressair ao profissional e estava conseguindo. E daí que seu ídolo no futebol marcou três gols bem na sua frente? Ele queria sair dali campeão, independente de quem estivesse do outro lado. Ele estava orgulhoso por deixar o seu fanatismo de lado ao menos uma vez na vida, mas estava concentrado demais para pensar naquilo naquele momento.
Quando Firmino sofreu uma falta na entrada da grande área, a confusão foi montada, pois os argentinos achavam que o brasileiro forçou a falta, embora não fosse verdade. Os jogadores começaram a discutir com o árbitro e entre si, mas se limitou apenas à afastar Firmino dali, que estava trocando farpas com um argentino e deixou com que o capitão e camisa 10 deles explicasse ao árbitro sua opinião.

- Calma, calma, o jogo ainda não acabou - ele disse ao afastar bem o amigo, olhando para trás para ver se estava melhor a situação. - Ainda podemos virar.
- Com quarenta minutos? Dá o título que aquele cara quer, eu não ligo - Firmino deu de ombros e se afastou, indo para a pequena área ajudar na barreira.

Os argumentos do time não foram suficientes para fazer o árbitro mudar de ideia, então ele confirmou a falta marcada e orientou a barreira com spray. Na ausência de Coutinho, poderia ser um batedor, pois Tite sabia do histórico do atleta em seu clube e o tanto de gols que marcou apenas com bola parada.

- Quem vai? - Neymar perguntou ao se posicionar também.
- Eu posso? - perguntou despretensioso e o camisa 10 concordou.

canalizou toda a concentração possível, tentando manter a calma para que ao menos conseguisse mandar para dentro da área para que alguém pudesse cabecear para o gol. Ao som do apito, os dois jogadores tomaram distância e Neymar passou reto, enquanto depositou toda a sua técnica, chutando a bola no ângulo do gol.

Argentina 3x3 Brasil.

levou um segundo para acreditar quando a torcida explodiu em festa e o time foi comemorar com ele. Ele foi rápido e correu em direção ao banco de reservas, assim poderia comemorar com todos. Ajoelhou no gramado, erguendo as mãos pra cima e agradecendo, quase chorando de felicidade, então depois voltou para a sua posição, quase não se contendo. Ele mal sabia que toda a sua família ali comemorou tanto quanto ele, entre abraços e até algumas lágrimas - que o diga, ela estava com a cara vermelha. O jogo não seguiu por muito tempo, pois já estava no finalzinho. Quando o juiz apitou o fim da partida, deu alguns minutos para que começasse a prorrogação de dois tempos de quinze minutos e, caso o empate persistisse, pênaltis.

- Se tiver pênalti, eu vou desmaiar, eu juro - se sentou no seu lugar e Belinda foi para o colo dela.
- Tia, já acabou o jogo? - Belinda perguntou inocentemente e sorriu pra ela.
- Não, ainda não. Está empatado graças ao tio , vai ter mais uns minutinhos ainda pra gente ganhar.
- está inspirado, faz mais um fácil. O Andrada nem é tudo isso - Rony disse se referindo ao goleiro adversário e foi apoiado por Léo.
- Não me surpreende o cara ainda não ter saído da Argentina, tomou três.
- O Alisson também tomou três e é só o goleiro do Liverpool - saiu em defesa do goleiro e percebeu que tinha toda a razão. - Qual é o argumento de vocês agora?
- Não gostamos de argentinos, cunhada, não quando o meu irmão está jogando contra eles.
- Será que o está bem? Ele deve estar tão cansado, coitado! - Regina murmurou preocupada, procurando pelo filho no aglomerado de jogadores, chamando a atenção para ela.
- Mães - Cida riu, pois pensava da mesma forma. - Mãe, ele tá bem, só jogou vinte minutos, está novinho. Relaxa.
- Bah, mãezinha! A senhora sabe que aquele ali é carne de pescoço - Rony passou um braço ao redor dos ombros de sua mãe, a animando.
- Não sei como vocês conseguem manter a calma num momento como esse, estou surtando já - exibiu as mãos trêmulas, pois realmente estava ansiosa.
- Querida! - Cida exibiu as mãos igualmente trêmulas. - Está bom pra você? Estou uma pilha de nervos, só quero que acabe logo!

Pouco depois começou a prorrogação e optou por não se levantar, fazendo companhia para as meninas. O corpo todo tremia de ansiedade e ela não sabia se poderia se manter em pé ou não, então optou por sentar.
Os dois tempos da prorrogação passaram rápido e chances não faltaram para nenhum dos dois lados. Dybala quase fez o quarto gol argentino enquanto Arthur quase marcou, mas o goleiro espalmou pra fora. também teve outra oportunidade, ficando cara a cara com o goleiro, mas perdeu também e, ao que tudo indicava, o título seria decidido nos pênaltis. Isso foi confirmado quando o árbitro apitou, encerrando a prorrogação e, naquele momento, cada um botou a sua crença em prática. Até que não era religiosa estava rezando também, torcendo para que tudo desse certo no final. Achava que merecia aquele título tanto quanto qualquer um que estava ali.
Os jogadores se posicionaram no meio do campo em linha e os goleiros foram em direção ao gol. O primeiro pênalti seria da Seleção Argentina, então Icardi foi com a bola em direção ao gol enquanto Alisson pulava de um lado a outro se preparando. Ao som do apito, o jogador do PSG correu e chutou, mas Alisson foi mais rápido e espalmou pra fora, vibrando muito com a defesa e deixando o adversário completamente frustrado.

- Chupa, seu talarico de merda! - Ronald berrou, se escorando na grade de proteção. - Aqui não!
- Rony, olha a boca! - Cida apontou para as filhas sentadas com .
- Desculpa - Rony se sentou também, esperando que a euforia baixasse um pouco.

O primeiro brasileiro a tentar converter uma cobrança seria Arthur. O camisa 8 da seleção deixou um beijinho de boa sorte na bola e a colocou na marca, tomando distância. Quando ouviu o apito, correu e chutou para o lado esquerdo, mais pra cima, enquanto Andrada foi para o lado direito, dando vantagem aos brasileiros.

- Eu vou morrer, é sério - choramingou, vendo Dybala indo pegar a bola na sua vez.
- Não morre, tia - Belinda a abraçou e retribuiu, mas aquilo não diminuiu em nada o seu nervosismo.

O jogador da Juventus era um bom batedor e não desperdiçou a sua chance, mas logo depois veio Paquetá para a cobrança e, infelizmente, ele errou, chutando a bola por cima do gol. À essa altura, a família toda de já estava sentada e muito nervosa.
A cobrança seguinte foi convertida pelos argentinos e a próxima por Casemiro também. Em seguida, o jogador argentino errou a sua cobrança, o que animou os brasileiros, então o próximo do time brasileiro seria .

- Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus... - mal podia se conter, o coração parecia que ia explodir dentro do peito.

posicionou a bola na marca devagar e tomou distância. Encarou o goleiro com frieza e respirou fundo várias vezes, procurando manter a calma. Quando o juiz apitou, ele não hesitou e correu, chutando a bola que bateu no travessão esquerdo antes de entrar. Ele vibrou, erguendo o punho no ar, mas o coração batia acelerado ao pensar que quase errou a cobrança, estava tão concentrado que só percebeu que o próximo era Messi quando o jogador já estava posicionado, apenas esperando.
Ao som do apito, o argentino tomou distância e chutou, mas Alisson defendeu mais um, comemorando ainda mais aquela defesa, deixando a decisão do título nos pés de Neymar. Messi mordeu a camisa desolado e voltou para o seu lugar na fila sendo apoiado pelos seus companheiros enquanto Neymar se preparava para a sua vez.
O brasileiro manteve a concentração e chutou após o apito, não dando chances para o goleiro Andrada defender. Em segundos, time e comissão técnica corriam para comemorarem juntos. O Brasil se sagrava mais uma vez campeão da Copa América.
estava em transe, comemorando com os companheiros sem parar enquanto começava a preparação de entrega da taça e a sua família toda se abraçava e comemoravam na arquibancada. Naquele instante, se considerou a pessoa mais chorona do mundo, pois foi às lágrimas novamente pela conquista, sentindo como se o coração não coubesse mais no peito de tanta felicidade e orgulho.
Após darem uma volta ao redor do estádio afim de comemorar com a torcida, os jogadores se dividiram em duas filas para que os jogadores argentinos, desolados, pudessem receber suas medalhas. Foram muito aplaudidos pelos jogadores e pela torcida Argentina presente, até mesmo alguns brasileiros.

- Parece que alguém vai ganhar um prêmio junto com o ídolo, hum? - Arthur disse em tom de provocação para , afinal, um brasileiro e um argentino dividiam a artilharia da competição.
- Não deixa eu esquecer desse dia nunca, por favor - disse aplaudindo, se sentindo mais feliz do que nunca.

Após as medalhas entregues aos argentinos, foi a vez das premiações individuais para os atletas. O prêmio de melhor goleiro foi para o Alisson, como o esperado, o melhor jogador da competição foi Neymar, o que não era nenhuma novidade também, mas o ápice para foi quando ele, um desconhecido até então, ganhou o prêmio de artilheiro da competição com cinco gols e foi chamado para se juntar aos brasileiros. Sobre muitos aplausos, ele se juntou aos colegas e recebeu o troféu, provavelmente um dos mais importantes que com certeza teria um espaço grande na sua estante.

- Ei, , olha quem está vindo ali - Alisson apontou discretamente para Messi recebendo o mesmo troféu e sorriu, feliz demais com o seu próprio feito.
- Me lembre todos os dias que isso é real, por favor.

O jogador argentino se juntou aos brasileiros, sendo cumprimentado pelos três e então os quatro posaram para uma foto juntos. não tinha a mínima ideia se era seu lado profissional ou torcedor se sobressaindo, não sabia mesmo, mas imaginava que as duas partes estavam felizes pela conquista.
Após os prêmios individuais, os brasileiros fizeram fila para receberem as medalhas, e então, finalmente, a taça de campeões da América. O capitão ergueu a taça ao mesmo tempo em que houve chuva de papel picado, aumentando a comemoração enquanto a torcida participava aos gritos de é campeão.
Só depois de uma volta olímpica com a taça e muitas fotos individuais com ela, as famílias dos atletas tiveram acesso ao gramado e se ajoelhou no campo e deixou seu troféu ao seu lado quando viu as duas sobrinhas correndo na sua direção. Ele abriu os braços e abraçou as duas de uma vez, quase caindo no chão e se sentindo o homem mais completo do mundo. Não era pai, mas as amava como se fossem suas filhas, se lembrava perfeitamente do dia em que sua irmã o convidou para ser o padrinho de Maya e ali estavam as duas comemorando com ele. Tudo o que fazia era por elas e sempre seria assim.

- Que bom que vocês vieram, estou tão feliz por isso - ele disse após dar um beijinho no topo da cabeça de cada uma. - Eu trouxe mais uma medalha pra gente.
- É grande, tio! - Belinda disse admirada, pegando a medalha na sua mãozinha e riu, se derretia sempre com elas.
- É pesada?
- Não, amor, nem um pouco - tirou a medalha do seu pescoço e colocou no de Maya, então se levantou. - Deixa a sua irmã colocar também.
- Tá bom, tio.

se virou para a sua família que finalmente havia chegado. Abraçou primeiramente a mãe que estava emocionada, irradiando felicidade. Ele sentia que todos os anos de dificuldades foram compensados naquele momento.

- Tudo o que eu sempre fiz e ainda vou fazer, sempre será por vocês, especialmente pela senhora - ele ainda a abraçava de lado. - Obrigado por não desistir de mim, mãe, e por ter sonhado comigo.
- É pouco por tudo o que você merece, filho, estou mais do que orgulhosa de você.
- Obrigado, mãe.

Após sua mãe, também abraçou o seu cunhado e a sua irmã. Cida poderia fazer a linha dura com todos, mas era uma manteiga derretida quando se tratava dos seus dois irmãos menores nos quais ela praticamente criou junto com sua mãe quando a mesma se encontrava no pior momento da vida. tinha a plena consciência disso e era eternamente grato à irmã por isso.

- Está chorando, Maria Aparecida? - ele perguntou em tom de provocação após o abraço quando viu que a irmã secava suas lágrimas com a manga da blusa.
- Vai catar coquinho, ! Não posso mais chorar?
- Já faz uns quinze anos que eu não te via chorando, estou surpreso.
- Você não sabe de nada! - Cida se afastou para Rony poder abraçar o irmão também.
- Ah! Quem diria? O campeão da América.
- Odeio que me chame assim, Ronald. Sou o único que tem um nome normal nessa família.
- Eu estou te elogiando e você vem mudando de assunto do nada?
- Irmão, o seu jeito de me elogiar é muito, muito estranho, mas eu te amo mesmo assim.
- Tá, tá, eu finjo que acredito. Vou dar licença para a chorona ali que está chorando desde que saiu do hotel.

Ronald se afastou e então voltou a sua atenção para . Era uma felicidade sem explicação ver ela ali, torcendo por ele, vestindo uma camisa com o seu nome, imaginou o quanto ela se esforçou para estar ali, faltando ao trabalho e o que mais tivesse que fazer. Não que sua família fosse menos importante, pelo contrário, todos estavam no mesmo nível, mas durante o último ano, foi a pessoa que esteve com ele quase todos os dias, quem comemorou e chorou com ele, quem lhe deu broncas, mas também quem fez de tudo para o animar quando ele se lesionou e, por conta disso, ele sentiu os olhos se enchendo de lágrimas ao vê-la ali parada, timidamente esperando a sua vez.

- Por favor, só vem aqui e não me faz chorar.

concordou e se aproximou, sendo envolvida pelos braços dele no abraço mais apertado que já recebeu. não se conteve e chorou um pouquinho, e por conta disso, fez a mesma coisa. Não foi ela a pessoa que o recebeu em São Paulo, mas foi o mais perto que ele chegou de ter uma família na capital paulista, sendo somente os dois todos os dias. Para , era mais do que gratificante ter alguém o esperando em casa todos os dias, perguntando como foi no trabalho e se preocupando quando algo sério acontecia. Ele não tinha a mínima ideia se um dia se casaria com ou não, embora quisesse muito, mas não podia negar que ela era a pessoa que marcou a sua vida e sempre seria. Mesmo que não desse certo no futuro, ela não seria uma pessoa fácil de esquecer.
Após o abraço, a beijou, não da forma como gostaria, já que sua família toda estava ali, mas pressionou seus lábios contra os dela, lhe dando um selinho demorado, e depois vários, sorrindo entre os beijos. Dois meses sem tê-la por perto todos os dias era como estar em abstinência, então gostaria de poder continuar ali por um bom tempo.

- Eu não tenho nenhuma piadinha pra soltar agora - disse ainda abraçada ao namorado, fazendo gargalhar.
- Não precisa, você não pode me chamar de caneludo agora, hum?
- E nem nunca mais, calou a minha boca. Estou mais do que orgulhosa, amo você.
- É um momento muito fofo, eu admito, mas cadê a taça, ? Queremos a taça!
- Ronald, no dia em que você tiver uma namorada e ficar meses sem ver ela, talvez você me entenda, mas é capaz de eu morrer primeiro do que você aparecer com alguém - disse por fim, se afastando para pegar a taça, deixando o irmão indignado pra trás sobre as risadas da família.

⚽🖤📱

São Paulo

- Ainda não acredito que você sabe furar uma parede, - dizia enquanto varria a sujeira de pó feita por ele um pouco antes.
- Bom, como eu era o homem da casa, aprendi umas coisas, que homem eu seria se não tivesse uma caixa de ferramentas em casa? E também eu tinha que sobreviver morando sozinho - respondeu sem perder a concentração, conferindo se os furos estavam alinhados para que ele colocasse a prateleira. - Me ajuda aqui, estou quase acabando.

deixou a vassoura de lado e segurou a prateleira sobre os furos para que pudesse terminar de prender na parede com os pregos. Todos os troféus e medalhas dele e os dela também estavam sobre a cama, pois eles estavam arrumando o cômodo e colocando mais prateleiras, transformando o quarto em uma espécie de santuário particular de futebol.

- Vamos começar pela prateleira de baixo com os mais antigos - analisava a melhor forma de organizar tudo.

Ele próprio começou a separar as medalhas e troféus de quando ainda era criança e do começo da adolescência, colocando na prateleira mais baixa, depois os dos primeiros anos como profissional na segunda, deixando os títulos mais importantes na terceira, pendurando as medalhas que ia entregando nos ganchos com cuidado.

- Estaduais, Copa do Brasil, Libertadores, Recopa, vice mundial, Sul-americana e... Copa América - colocou a última medalha por ele. - Isso sim é uma carreira de respeito.
- Falta só mais um, espero que venha ainda esse ano - passou um braço ao redor dos ombros dela, a abraçando.
- Se for o que estou pensando, acho provável. Líder isolado, o octa brasileiro já é realidade.
- Mas o Flamengo e o Palmeiras estão na cola, vai ser difícil.
- Amor, eu não tô nem aí. Será que aqui posso ser a clubista desgraçada que eu era antes de te conhecer?
- Claro, claro, eu não vejo problema nenhum - ele se afastou. - Ainda falta mais uma prateleira, vamos colocar os seus ali.
- Por que tem que ficar na prateleira mais alta? Eu nem consigo pegar! Além disso, tinha que ser os seus aí, tenho poucos.
- Uma libertadores é pouca coisa, né ? Vai me dando que eu vou colocando na prateleira.
- Não era isso que eu queria dar - pegou primeiro os troféus e foi entregar para ele que estava rindo do seu comentário.
- Calma, daqui a pouco, vamos terminar isso aqui primeiro.
- Mas vai logo. Toma, coloca tudo aí, tô com pressa.
- , não estou gostando desse seu caráter - colocou um troféu no topo e uma medalha no gancho.
- Eu emprestei o meu namorado pra Seleção por dois meses inteiros, é o mínimo que eu mereço.
- Vendo por esse lado, você tem razão. Também não foi fácil pra mim, acredite.
- Não sei, você parecia feliz da vida lá... - cruzou os braços, fingindo estar o provocando.
- É claro que eu estava, você sabe o quanto eu gosto de jogar pela Seleção, - deixou a última medalha pendurada no gancho e se aproximou de , colocando as mãos na cintura dela e a puxando pra perto. - Foram dois meses maravilhosos, nunca vou esquecer disso, mas infelizmente não tinha você lá, o que me manteve são foi saber que você e a minha família estavam torcendo por mim. Isso deu um puta gás quando batia o desânimo.
- Eu fico feliz por isso, mas... Sinceramente? Não quero falar da Seleção e nem de futebol, só quero aproveitar que finalmente estamos juntos - ela deixou um beijo no queixo dele e depois um selinho nos lábios.
- Sinceramente? Eu também - disse por fim, rompendo qualquer distância entre eles quando a beijou.

retribuiu ao beijo sem hesitar, percebendo o quanto realmente sentiu falta dele, mas estava disposta a compensar naquele momento quando ele a guiou até a cama.

- Aqui mesmo? - ela perguntou ao interromper o beijo por um instante e olhou para ela confuso. - Como assim? Qual é o problema?
- Ah, você sabe, aqui não é o nosso lugar... É só um quarto cheio de troféus e camisas onde eu dormi quando estava muito bêbada e a gente deu uns beijos, mas... Essas camisas emolduradas na parede tiram todo o tesão.
- Entendi, você tem razão - se levantou e estendeu a mão para a ajudar a se levantar também. - Vem, vamos para o nosso quarto.

Eles deixaram o cômodo e foram para o quarto principal da casa. achou que tinha razão, pois estar no quarto deles parecia ser muito mais acolhedor e privativo. trancou a porta com dificuldades, pois ele não a soltou um instante, depositando beijos no seu pescoço, a fazendo perder a concentração até no ato mais simples que era passar a chave pelo trinco.

- Mas quem entraria aqui? É a nossa casa, amor, relaxa - disse ao pé do ouvido dela, beijando a região em seguida e sorriu, se virando pra ele.
- Privacidade, , privacidade.
- Sei. Dane-se a privacidade.

a puxou para a cama e eles continuaram de onde pararam. Ele se colocou por cima, sem jogar todo o peso do seu corpo em cima dela, se apoiando em seus braços, enquanto as mãos de entravam por debaixo da sua camiseta, arranhando de leve as suas costas, pedindo permissão para tirar. Ele interrompeu o beijo por um instante para fazer isso, atirando a camiseta no chão sem se importar onde cairia.

- Ave Maria, que visão do céu - ela riu enquanto trocavam de posição, agora ela ficando por cima, colocando uma perna de cada lado.
- Você não vê o que eu vejo - sorriu abobado. - E não estou falando só de aparência.

sorriu de volta, tirou a sua regata e também jogou para longe, se curvando novamente em seguida para retomar o beijo, abafando os gemidos quando as mãos firmes dele deslizaram da cintura pela sua barriga, parando nos seus seios cobertos pelo sutiã, acariciando-os por um instante até as mãos dele subirem até suas costas e ela sentir o fecho da peça se abrindo, então ela o tirou e jogou em qualquer lugar rapidamente apenas para continuar sentindo a sensação incrível que sentia todas as vezes em que seus lábios estavam colados nos dele. Decidiram trocar de posição novamente, mas não sem antes ela se livrar do short jeans que vestia e ele se livrar da sua calça. Eles se deitaram novamente e prendeu a respiração quando ele a tocou por cima do tecido da calcinha, a estimulando do jeito que ele sabia que ela gostava, deslizando os dedos de forma lenta e provocativa, fazendo com que o puxasse pela nuca para o beijar, afim de conter os gemidos altos que gostaria de soltar naquele momento, especialmente quando ele ousou, não se contendo apenas em tocar por cima do tecido, mas também por dentro e gemeu quando sentiu os dedos dele penetrando devagar, começando a se movimentar lentamente afim de a provocar.

- Nem pensa nisso! - ela disse quando viu o sorriso malicioso no rosto dele. - Não me provoca assim.
- Se quiser, eu paro - ele aumentou um pouco o movimento que fazia, percebendo o quanto ela estava adorando.
- Faça isso e você vai ver - o segurou novamente na nuca com mais força do que gostaria e fechou os olhos para se permitir desfrutar do momento. - Só continua, por favor.

apenas concordou, obedecendo, pois ter totalmente entregue a ele daquela forma, gemendo o seu nome, o deixava excitado. Claro que, à essa altura, achava que sua última peça de roupa estava apertada o suficiente para ele tirar o mais rápido possível, o que ele fez quando se satisfez e ela viu que estava duro quando começou a masturba-lo também e ele nem sentia a necessidade de colocar a sua mão por cima da dela afim de a estimular. sabia mesmo como o satisfazer sem que ele dissesse uma única palavra que fosse, e ele nem poderia fazer isso porque sua boca se encontrava com a dela quando ele queria gemer, mas sabia que tinham que ser cautelosos por morarem em um apartamento. Ele até se esqueceu disso um pouco.

- Cadê a camisinha? - perguntou entre os beijos que agora pareciam mais urgentes e desesperados, mas não estava realmente preocupado com isso, quase não lhe dando ouvidos. - , é sério!

apenas se afastou dela e se virou para abrir a gaveta do criado-mudo ao lado da cama, torcendo para que tivesse alguma camisinha ali, e, felizmente havia uma remanescente. Ele abriu a embalagem e colocou a proteção sobre o membro já ereto enquanto prendia o cabelo em um coque, de tamanho calor que sentia, e também se livrava da calcinha que achava que deveria já ter tirado há tempos.

- Protegido - ele disse com bom-humor enquanto a tomava nos braços e ela sorriu, se deitando logo em seguida.
- Só vem logo.

concordou e se colocou por cima enquanto envolvia suas pernas ao redor dele ao mesmo tempo em que a penetração ocorria devagar como ele sempre fazia nas primeiras vezes até ir adicionando velocidade e um pouco de força ao movimento. Ele segurou as coxas dela enquanto ela ergueu o quadril, tamanho era o seu prazer e queria mais. A cama balançava no ritmo deles enquanto os gemidos, mesmo que baixos, eram audíveis, mas eles não se importavam com mais nada, apenas em estarem juntos finalmente e, após algum tempo, sugeriu que trocassem de posição e concordou, agora por cima, sentando sobre ele e rebolando sobre o membro dele com força, o fazendo gemer enquanto ela se movimentava, arranhando as unhas um pouquinho cumpridas sobre o peito dele.

- Porra, ! - ele gemeu quando ela diminuiu a intensidade, mas ainda usava da força, apertando-o.
- Você nem tem ideia do quanto fica sexy xingando, sabia? Isso me excita - disse em um tom de voz rouco demais de quem estava realmente se deliciando com aquilo. - Parece estar bravo e eu gosto disso.
- É porque eu vou ficar mesmo se não aumentar essa porra - ele conteve um gemido quando ela fez o que ele mandou, o pegando de surpresa. - Puta que pariu, isso!

Por mais que estivesse extremamente prazeroso, logo em seguida eles trocaram as posições e tomou o comando para si novamente, indo rápido e com força porque já estava chegando ao seu limite assim como , e não iria demorar nada até que chegassem lá. Corpos suados e respirações ofegantes denunciavam isso.

- Estou quase lá - sussurrou quase inaudível.
- Eu também - respirou fundo.

E então, em poucos segundos, eles alcançaram o ápice juntos. rapidamente se livrou do preservativo, o jogando no lixo do banheiro do quarto e voltando rapidamente para a cama, envolvendo em seus braços e depositando um beijo no topo da testa dela, mesmo suada, enquanto ela repousava a cabeça sobre o seu peito que subia e descia sem parar porque ele ainda estava ofegante.

- Nossa - foi tudo o que foi capaz de dizer, pois ainda se sentia no céu.
- Senti sua falta - confessou de repente, se aninhando mais a ele, embolando sua perna nas dele.
- Também senti a sua. Que bom que eu voltei pra casa logo.
- É, que bom - olhou pra ele e esticou um pouco o rosto para alcançar os lábios dele, deixando um beijo suave e sem pressa contra os lábios dele e que não fez questão de interromper.

Na verdade, o que interrompeu o momento, foi o celular de tocando no outro criado-mudo. Ela fez menção de atender, mas a segurou nos braços, não querendo que ela saísse dali.

- Não, deixa pra lá, fica aqui - ele pediu de forma manhosa demais, o que fez rir, mas mesmo assim ela se afastou para pegar o aparelho.
- É a minha mãe, - se sentou na cama e atendeu a ligação. - Oi, mãe...

Com o clima quebrado, optou por se levantar e se vestir para que pudessem preparar o jantar ou ao menos pedirem algo para comer, pois ele se sentia morto de fome e achava que também.

- É claro que sim, mãe! Nós vamos sim, agora... O não decide nada, sou eu - ela riu ao olhar pra ele e ver que ele fez uma careta. - Tá bom, só vamos tomar um banho e já estamos indo, obrigada mãe. Beijo, tchau - ela desligou e colocou o celular de volta onde estava antes. - Minha mãe convidou a gente pra jantar.
- Eu estava mesmo morrendo de fome. Comidinha da sogra? Eu que não vou negar, só vamos.
- Não sem antes outro banho, eu que não vou assim pra casa dos meus pais, né? - ela se levantou e começou a juntar as roupas espalhadas pelo chão.
- Amor, os seus pais sabem que você transa comigo, não seria nenhuma surpresa - disse em tom de piada, fazendo rir.
- Eles sabem sim, mas isso não tem nada a ver com tomar banho. Anda logo, porquinho, tô com fome! - ela o empurrou para dentro do banheiro para que juntos tomassem banho antes de sair.

⚽🖤📱

- Pai! - deu um abraço em seu pai após cumprimentar sua mãe também. - Como o senhor está?
- Cansado, cansado como sempre! Você sabe, o trabalho estressa.
- Cansado uma vírgula, é a pressão alta de novo! Ele que não se cuide - Rose disse em tom de advertência e olhou preocupada para o pai.
- Pai, pressão não é brincadeira, toma cuidado.
- Não se preocupa, , estou bem.

não sabia se deveria dizer algo ou não a respeito, então apenas cumprimentou os sogros e então o casal foi convidado a se dirigir para a cozinha e se servirem, pois o jantar já estava pronto. Frango cozido, acompanhado por salada de alface e um suco de laranja pareciam ser bem convidativos.

- , eu ia fritar o frango, mas imaginei que talvez frango frito não fizesse parte da sua dieta, então eu cozinhei.
- O meu estômago prefere o frango frito, sogra, mas se eu sair um pouquinho da linha, eu já sou advertido, especialmente pelo nutricionista - disse bem-humorado enquanto se servia. - Além disso, parece que alguém não pode comer frituras além de mim, certo?
- Poxa, , até você?
- Pai, ele tem razão, nada de frituras para o senhor. Vou vir aqui todos os dias conferir se está tomando o remédio da pressão direitinho.
- Eu faço questão de acompanhar.
- Sinceramente, vocês dois...

O jantar seguiu tranquilo quando o assunto morreu, é claro, estava cheio de assuntos pra dizer e os pais de pareciam bem interessados em ouvir, até mesmo a própria que, mesmo tendo acompanhado os dois últimos jogos da Seleção, ainda sim gostava de ouvir contando tudo do próprio ponto de vista, ficava toda boba ouvindo ele contar sobre as resenhas.

- Gostei bastante da sua cobrança de pênalti, , foi bem frio... Confesso que eu fiquei bem nervoso, mas você parecia tranquilo - Elias comentou quando o assunto era a final.
- Nem frio e nem tranquilo... Concentrado, eu diria... Eu estava nervoso sim, mas eu sabia que não poderia errar.
- Estava concentrado mesmo, você nem viu o Messi passando por você para a cobrança dele - pontuou, rindo, e concordou.
- Por mais que eu seja o fã número um dele e morreria pra jogar uma partida que fosse com esse homem, eu tentei deixar isso pra lá só naquele jogo, tentei ser o mais profissional que eu poderia ser. Fiquei só um pouquinho triste por ele perder o pênalti dele, mas acontece, né? Eu ganhei um título pela minha Seleção antes que ele ganhasse pela dele.
- Uau, nem parece o fanboy que eu conheci há uns tempos atrás. Posso dizer agora que acho o CR7 melhor?
- Se quiser ficar solteira, vá em frente.
- Eu devo me preocupar com o rumo dessa conversa? - Rose perguntou, mas o casal apenas riu.
- Não se preocupa, mãe, eu só gosto de ver a cara que o faz quando eu falo isso, nunca perde a graça - olhou para , sorrindo para ele que revirou os olhos em resposta.
- Vocês criaram uma monstrinha, espero que saibam disso. Quero dizer, não literalmente, né? Olha que coisa bonita, mas digo quanto ao futebol, é uma monstrinha clubista.
- Vou considerar só o olha que coisa bonita. Papai e mamãe capricharam, né? - se virou para os pais, que riram em resposta, mas era nítido ver que ficaram envergonhados com o comentário da filha. - Não se façam de tímidos, sei que não são.
- Não é o tipo de comentário que eu faria na frente do meu genro, mas tudo bem - Rose pegou o guardanapo para limpar a boca que já esteva limpa, apenas para disfarçar, enquanto Elias deu um gole generoso do seu suco.
- Mas sim, caprichamos. Será que podemos mudar de assunto? Não soubemos como colocar uma trava na língua da , não quero ter que dar mais detalhes.
- Valeu, pai, eu nem queria saber mesmo! Vai que eu me empolgo e queira um também, né?

deixou o garfo cair da sua mão, fazendo barulho quando se chocou contra o prato, Rose olhou para a filha sem esconder o espanto nos olhos arregalados enquanto Elias tossiu descaradamente, ninguém realmente esperava aquele comentário vindo dela.

- O que foi? Por que a surpresa de vocês? - perguntou inocentemente, bebericando seu suco em seguida.
- Desde quando você quer ter filhos? - perguntou para ela, surpreso.
- Vocês querem ter filhos? - Rose perguntou e recebeu um sim e um não em resposta ao mesmo tempo vindo do jovem casal.
- Bom, eu sim, ela não - prontamente se justificou. - Não é algo que planejamos, são só nossos pontos de vista, o mais perto que chegamos disso foi bem estressante, eu só não entendi o que ela quis dizer com se empolgar e querer também.
- Gente, eu não quero filhos, ok? Foi só uma brincadeira, não levem a sério tudo o que eu falar, tá? Vocês sabem, eu faço piadinhas o tempo todo.
- Eu só não acho graça - murmurou baixo, mas se foi possível ouvir por todos ali.

Imediatamente, Rose se levantou, pegando o seu prato já vazio e o copo, em seguida o do marido, alegando que ia lavar a louça. se levantou também, pegando o seu e o de , dizendo que iria ajudar a mãe, mas queria apenas evitar qualquer briga na frente dos pais. cruzou os braços, soltando um longo suspiro em desaprovação, pois realmente não tinha achado graça nenhuma no comentário de . Seu sogro percebeu isso e, discretamente, o chamou para conversar no quintal e concordou, o seguindo para fora da casa.

- Está tudo bem, ?
- Sim, eu só... Não gosto quando ela diz essas coisas - tentou agir o mais natural possível, afim de não preocupar e nem irritar ele.
- Eu percebi... Mas por que exatamente? Não se preocupa, não vou dizer nada pra , é uma conversa entre homens.
- Está bem - se sentou na rede, torcendo para não cair dali. - Nunca escondi dela que eu quero ser pai um dia, que quero casar, essas coisas que todo mundo quer... Mas eu sei que ela não quer e eu respeito isso, nunca forçaria a a fazer o que eu quero, acredito que com o tempo, ela vá pensar diferente, acho inclusive que ela já mudou muito desde que começamos a namorar, o que é ótimo.
- Mas você não acha que está um pouco cedo pra isso, ? Não quero me intrometer no namoro de vocês, mas acho que vocês ainda tem muita coisa pra viver antes de ter algo ainda mais sério.
- Eu também acho, não disse que quero pra já, eu respeito a totalmente, mas... Bom, é meio frustrante ver a maioria dos meus amigos, alguns até mais novos do que eu, e já têm uma família formada. Eu também quero ter uma família e, conforme eu vou chegando mais perto dos trinta, isso vai aumentando, sabe? Daqui alguns dias eu faço vinte e seis anos e eu queria muito, muito mesmo, estar resolvido quanto a isso dentro de quatro ou cinco anos, me sinto totalmente preparado, não quero me lamentar no futuro porque não tive tempo o suficiente com o meu filho.
- Deixa eu te contar uma coisa, filho - Elias se sentou no banquinho que havia acabado de puxar para si. - Conheci a Rose na faculdade, ela estava no último ano de Matemática e eu no último de Direito, foi quase amor à primeira vista se eu acreditasse nisso... Namoramos, obviamente, nos casamos com um ano e meio de namoro, e eu também queria ser pai, mas só tivemos a já beirando os trinta. Coincidência, talvez? Levou muito tempo, , mas agora ela está aí, cresceu, tomou o caminho dela, é uma mulher forte, inteligente e bonita, puxou a mãe dela em tudo e eu fico muito feliz de ter acompanhado tudo, vinte e cinco anos se passaram em um piscar de olhos. Parece que foi ontem que aquela garotinha caiu de bicicleta e ralou os dois joelhos, veio chorando até mim e eu disse que ia ficar tudo bem, e agora eu estou aqui conversando com o namorado dela. Não, mais do que isso, você é o homem que mudou a vida da , ela está ótima como nunca esteve antes com ninguém e isso me remete à todas as vezes em que me peguei pensando quando isso acontecesse, como eu iria reagir... Demorou um pouco, é verdade, mas estou aqui pra ver e estou feliz porque ela está feliz. Eu penso que sim, poderíamos ter tido a mais cedo, mas foi tudo no tempo certo, passamos por muita coisa antes de termos uma filha. Dificuldades financeiras, um quase divórcio... chegou e mudou tudo, , acredito que quando for a sua vez, você vai pensar da mesma forma. Talvez daqui alguns anos a gente tenha a mesma conversa e você diga que eu tinha razão.
- Espero muito que isso aconteça - disse com sinceridade. - Não sei se o senhor sabe, mas eu não falo com o meu pai, é uma história bem longa, eu já não me dava bem com ele desde garoto, então eu procuro ser melhor do que ele foi pra mim e para os meus irmãos, espero ser um pai diferente do que ele foi porque eu sinto que nunca tive realmente um pai, não sei o que é um amor paterno, talvez por isso eu tenha isso dentro de mim e... Não sei porque estou falando isso agora, de repente, mas às vezes tocar nesse assunto me deixa chateado, eu realmente detesto quando a faz esse tipo de piada.
- Não precisa mudar de assunto, , está tudo bem, você pode desabafar, eu não vou julgar você. Eu fico muito aliviado em saber que você quer algo sério com a minha filha, cuida dela e quer ter um futuro ao lado dela... Está tudo bem, não precisa guardar tudo pra você.
- Obrigado, acho que eu precisava falar e ouvir também... Você sabe, ouvir a opinião de um homem mais experiente, já que meu pai não é flor que se cheire e meu irmão é mais novo do que eu, então estou feliz de poder falar sobre isso com o senhor.
- Claro que pode falar comigo, eu vou te aconselhar como se fosse meu filho porque eu realmente queria ter um garoto também - ele disse bem humorado e riu, pois também gostaria de ter um menino um dia. - Mas não é só pra mim que você deve dizer tudo isso, tem alguém lá dentro que também precisa falar e ouvir.
- O senhor tem razão, muito obrigado - se levantou. - Eu vou falar com ela.

Eles conversaram mais um pouco até que decidiram entrar. A louça já estava lavada e devidamente guardada e e sua mãe conversavam sobre o último filme que viram juntas quando ela avistou entrando. cruzou os braços, se sentindo um pouco nervosa por saber que poderiam brigar, mesmo que ele aparentasse estar tranquilo. foi até ela, passando um braço ao redor dos ombros da namorada, deixando ainda mais confusa.

- Acho que está na hora de irmos embora, mas foi um jantar maravilhoso, não deixem minha mãe ouvir isso, estava incrível, Rose.
- Que bom que você gostou, - Rose sorriu para o genro, contente com o elogio dele. - Fiquem mais um pouco, ainda está cedo!
- Acho melhor a gente ir, mãe, eu vou trabalhar amanhã - se justificou porque entendeu que era a brecha para poderem conversar no caminho de volta. - Mas prometo voltar logo.

se despediu dos pais com um abraço apertado em cada um, então finalmente foram embora.

- Posso dirigir? - perguntou quando iam entrar no carro e concordou, entregando as chaves para ela e indo para o banco do carona.

Ela foi para o banco do motorista e deu partida no carro sobre um silêncio gritante entre os dois.

- Desculpa - ela disse de repente. - Eu falei aquilo sem pensar, eu não quis ofender você. Me desculpa.
- Desculpa por ter sido grosso, me exaltei sem motivo - se sentiu na obrigação de se desculpar também. - Eu sei que é um assunto delicado, eu quero ser pai mais do que tudo, mas eu respeito sua opinião e o seu tempo, tá? Por favor, não vamos mais falar sobre isso, sempre dá briga e eu detesto quando acontece.
- Você tem razão, só vamos deixar isso pra lá, está tudo bem - batia com o dedo indicador contra o volante repetidas vezes, sinal de que estava ansiosa. - Mas estou tentando, , juro que estou tentando...
- Tentando o quê? - olhou para ela, arqueando as sobrancelhas.
- Mudar de ideia.
- , não precisa, é sério, é cedo pra isso.
- Eu sei que é! Mas eu já mudei em tantas coisas, é que quanto a isso é muito mais difícil pra mim. Minha vida, meu corpo... É algo que ainda estou aprendendo a negociar.
- Tá tudo bem, deixa pra lá, eu não vou ficar pressionando você a ceder.
- Eu morro de medo de engravidar, é simplesmente o meu maior medo, prova disso foi que escondi de você quando suspeitei, não tenho o menor instinto materno e nem conjugal ao ponto de casamento, eu tenho medo de acontecer alguma coisa comigo no parto, ou até mesmo com o bebê, eu não me perdoaria se eu tivesse um filho que não sobrevivesse porque eu não fui forte o suficiente... Estou tentando, , desde o primeiro dia em que assumimos um relacionamento sério naquele estádio, mas não garanto que vou conseguir.
- Tudo bem, eu entendo. Sou homem e nunca vou saber o que é gerar ou estar em uma mesa de parto sentindo dor, mas o seu medo é compreensível e eu juro que nunca vou insistir em nada. Antes eu já tinha certeza disso, conversar com o seu pai só reforçou. Está tudo bem, , eu garanto, não vamos mais deixar isso atrapalhar a gente. Esquece isso, você não tem que se forçar à nada, principalmente por um assunto tão delicado.
- Por favor, não pense que eu não ame você e não queira passar o resto da minha vida ao seu lado por causa disso...
- Eu não penso assim, pode ficar tranquila. Eu juro, , quero deixar isso pra trás.
- Eu também, eu também... Mas pelo menos a conversa com o meu pai foi boa? - ela tentou mudar o tom da conversa quando percebeu que ele não queria mais falar sobre aquilo.
- Ótima, acabei falando um pouco demais, mas foi bom, ele disse o que eu precisava ouvir. Acabei falando um pouco sobre o meu pai e ele entendeu, mas o que mais gostei foi a forma como ele falou sobre você.
- Como ele falou?
- Como pai. Amor, eu posso até ser o cara com quem você passa a maior parte do seu tempo, mas o homem da sua vida é ele, como deve ser. Ele falou sobre você com tanto orgulho e admiração que eu só conseguia pensar se um dia vou ter uma filha e falar assim dela também. Ele realmente tem orgulho de você e aprova totalmente o nosso relacionamento.
- Não sei se é porque ele é advogado, mas meu pai é muito bom com as palavras, sempre soube a coisa certa a se dizer, não tenho do que reclamar. Sei que sempre vou ser a garotinha dele e estou totalmente ok com isso, ele me apoia e é o que importa.
- É... - pareceu distante por um minuto, pensando que não podia dizer o mesmo sobre o seu próprio pai.
- O tempo muda as pessoas, - disse quando percebeu do que se tratava. - Eu mudei, você mudou, ele mudou... Juro, sei o que vi naquele restaurante aquele dia... Não sou ninguém pra me intrometer na sua vida e na da sua família, eu só torço pra que um dia todos vocês olhem para trás e riam disso tudo, não como se nada tivesse acontecido, é claro, mas apenas que todos vocês sejam muito felizes.
- Eu já sou feliz, amor.
- Você me entendeu.
- Eu sei... - respirou fundo, expirando em seguida. - Eu espero perdoar ele um dia, perdoar de verdade.
- E eu espero que você consiga... Também espero estar lá pra te apoiar.
- Mesmo que não esteja, vou me lembrar dessa conversa... Obrigado, .
- Você não tem que me agradecer.
- Tenho sim, se não fosse você eu já teria acertado a cara dele - ele admitiu rindo, embora soubesse que fosse trágico. - Pode se intrometer um pouco às vezes, eu não me importo...
- Então... Estamos bem depois desse papo super esquisito?
- Melhor do que nunca!

Capítulo 30 - Parte 2 - Tempo de festejar

CT Dr. Joaquim Grava

- Já escolheu sua fantasia pra minha festa? - perguntou para Bruno enquanto os dois caminhavam em direção ao hotel.
- Sim, mas não vou dizer.
- E por que não? Como vou saber se não é igual a minha?
- Eu gosto de surpresas. Foi a Gabi que escolheu, pergunta pra ela.
- Não deve ser tão ruim quanto a do meu irmão. Eu vou amar ver ele usando uma peruca ruiva e empunhando uma varinha quebrada - Bruno olhou para como se não tivesse entendendo muita coisa, então ele percebeu que talvez o amigo não fosse tão fã de Harry Potter quanto ele. - Ele achou que seria inteligente se fantasiar de Rony Weasley só porque ele se chama Rony também. Achei meio idiota, mas vai ser divertido.
- Achei inteligente... Não se preocupa, eu não sou tão criativo assim.
- Bruno, você indo já está de bom tamanho, não me importa como.

Os dois se separaram e foram para seus respectivos quartos. não perdeu tempo e se livrou do uniforme para roupas mais confortáveis. Estava exausto depois de um dia longo de treino às vésperas de um jogo importante na Libertadores contra o Emelec e por isso ele, por vontade própria, estava optando por passar alguns dias a mais concentrado junto com alguns jogadores do time, como Bruno, que também buscava a concentração máxima.
estava pronto para deixar o quarto e ir para a área de convivência quando recebeu uma mensagem de na qual ela enviou uma foto de si mesma na sala de imprensa do estádio, ao lado de uma réplica da taça da Libertadores conquistada pelo clube oito anos antes.

"Abraçando a taça, mas queria mesmo era estar abraçada com você 🤪 lado bom de trabalhar aqui é ver essa belezinha todos os dias."

Ele riu com a legenda e percebeu que, de fato, ela abraçava a taça como se fosse uma pessoa. Queria que fosse ele, de preferência.

"Tomara que essa mesa aguente o peso de duas taças 😜 agora faça a gentileza de voltar ao trabalho, meu amor, ou vou ser obrigado a fazer uma visita e monitorar tudo."

E não demorou dez segundos para que respondesse, aparentemente bem empolgada.

"SERIA O MEU SONHO??? VEMMM!!!" "Vou providenciar isso pra JÁ!"

Eles ainda trocaram mais algumas mensagens antes de alegar que estava na hora de ir embora enquanto deixou o celular de lado e deixou o quarto para ir até a sala de convívio. Não precisou se quer sentar a bunda no sofá porque foi intimado pelos amigos a participar de uma partida de pebolim. Por mais que estivesse cansado, acabou aceitando, afinal, o convite veio de Pedrinho e ele sabia que o amigo estava cumprindo seus últimos dias no clube, já que foi vendido ao Benfica de Portugal e estava de saída.

- Por que estamos em quatro se o jogo é pra dois? - ele olhou para Mateus ao seu lado, e depois para Pedrinho e Piton do outro lado, questionando.
- Estratégia, . Confio mais no Piton do que em você pra jogar isso.
- Você vai sentir falta de mim, Pedro, isso é um fato. Depois não reclama se perder.
- Eu vou sentir falta do Vital, de você eu só sinto pena mesmo.
- Não me mete nisso, meu parceiro de jogo hoje é o . Podemos começar?

Os jogadores começaram a partida de pebolim em um alto nível de competitividade, a bolinha ia tão rápido de um lado a outro que quem estivesse de fora não seria capaz de acompanhar. Mateus acabou perdendo a primeira partida, por um mero descuido e passou a vez para . Ele não sabia que o amigo era realmente bom no pebolim.

- Vai ser um prazer ganhar de você, .
- Você acha que eu não sei jogar? Eu sou imbatível.
- Você joga aqui há quase dois anos e eu nunca te vi chegando perto da mesa. É impossível.
- Você quer apostar?
- Quero. Se eu ganhar, você vai ter que usar alguma fantasia ridícula no seu próprio aniversário, ainda vou pensar.
- Cara, já comprei fantasia de casal com a minha namorada, isso não é justo!
- Mas você não disse que é imbatível? - Piton perguntou para , confuso.
- Sim, mas vai que tem uma zebra, não é? Ok, vai me matar por isso... Mas se eu ganhar, você vai se virar para arrumar uma fantasia de hambúrguer. Eu quero você fantasiado de hambúrguer pro meu aniversário.
- Tá bom, , vou torcer por você. Vai ser lindo ver isso. Esperem, a gente precisa de uma torcida - Mateus foi até o centro da sala, pedindo a atenção dos colegas por um instante. - Caras, é o seguinte: e Pedrinho vão apostar no pebolim porque o disse que é imbatível. Quem perder vai usar uma fantasia ridícula no aniversário do , ele já decidiu que o Pedrinho será um hambúrguer. Torçam pelo , queremos muito ver isso.
- Eu quero muito, muito ver isso. Conte comigo, - Gabriel foi o primeiro a se aproximar.

não esperava por uma torcida toda ao seu lado, até mesmo Luan, que pouco trocava palavras com ele fora do campo, se aproximou para observar, mesmo que mais reservado do que os colegas.

- Muito obrigado pela torcida, meus amigos, vocês ainda vão lamentar a minha partida - Pedrinho disse com amargura e então voltou a atenção para a mesa para que pudessem começar logo.

O camisa 10 tentou, mas estava desconcentrado o suficiente para deixar abrir o placar primeiro, sendo que terminava em cinco como combinaram. estava confiante de que podia se garantir no jogo tranquilamente se dependesse da torcida dos amigos e do nervosismo do seu oponente e a situação pareceu ser ainda mais favorável quando os jogadores, levando o espírito de torcida para um nível elevado, se juntaram para imitar os próprios torcedores em algo que a torcida corinthiana chamava de porópopó, algo que deixou Pedrinho ainda mais apreensivo e pressionado.

- Agora sei o que os outros times passam no nosso estádio - ele disse instantes antes de tomar o quinto gol. - NÃO!

ergueu os braços em comemoração, tirando sarro de Pedrinho, assim como todos os outros jogadores que comemoraram com ele como se fosse algo realmente grande. Tentaram, inclusive, erguer no ar, mas o camisa 7 não deixou, alegando que tinha medo de cair, mas isso não impediu um pouco mais de comemoração.

- Quem é o próximo? Piton? - ele olhou para o lateral que ergueu as mãos em redenção, dando um passo pra trás.
- Não, não sou digno - o jovem garoto prontamente negou, um tanto amedrontado. - Ninguém aqui pode te vencer, eu acho.
- Só tem uma pessoa nessa sala que pode fazer isso, só uma pessoa aqui deixa o puto da vida - Pedrinho olhou ao redor, procurando por alguém em específico.

não tinha certeza se Pedrinho sabia ou não da sua desavença no passado com Luan, então sentiu o estômago revirar de ansiedade com medo de que o amigo dissesse justamente aquele nome. Ele não tinha ideia de que Luan pensava exatamente a mesma coisa, pois achava que o camisa 10 se referia a ele, e por isso, procurou passar batido, quase que se encolhendo atrás de Pedro Henrique, se aproveitando dos mais de um metro e noventa do zagueiro.

- Bruno - Pedrinho disse por fim ao avistar o camisa 14 na ponta. - Você é o único que bota ordem aqui, Méndez, faz o favor e ganha essa porcaria.

Bruno, que viu a cara de alívio que fez involuntariamente, tomou a atenção pra si ao se justificar dizendo que não sabia jogar muito bem, mas que mesmo assim iria tentar. Ele sabia porque contou, então involuntariamente olhou para Luan também, que apenas sussurrou um "valeu" inaudível, então Bruno foi até o outro lado da mesa. Ele até tentou, mas parecia estar em uma noite inspirada demais para ser batido por qualquer um. Camacho também tentou, assim como Gabriel, mas ninguém conseguiu vencer .

- Luan, é sua vez - Gabriel disse ao se afastar. - Dá uma surra nesse frango.

levou um milésimo de segundo a mais para processar. Não que fosse um problema, apenas não imaginava se o outro aceitaria o desafio ou não, visto que apenas observava de longe a partida sem se intrometer ao fazer brincadeiras e objeções. Ele olhou para Luan e percebeu que o jogador parecia bem hesitante se deveria aceitar não.

- Deixa pra lá - Luan murmurou timidamente, evitando olhar para . - Ele já ganhou de todo mundo.
- Ah, cara! Mostra o que você sabe, acaba com ele - Piton incentivou, mas Luan ainda não parecia decidido.

Enquanto Luan era convencido pelos colegas a aceitar, apenas olhou para Bruno, mas o zagueiro lhe retribuiu com um olhar que dizia que ele não poderia fazer nada e entendeu. Realmente Bruno não poderia ajudar dessa vez.

- Eu posso tentar de novo - Bruno arriscou, mas em partes foi ignorado e outra parte o vaiou.
- Não, você já foi, deixa o Luan agora - Vital fez sinal com a mão para que Bruno não saísse do seu lugar.
- Tá bom, eu vou - Luan se deu por vencido e foi até a mesa, olhou para que apenas assentiu com a cabeça. - Quem começa com a bola?
- Quem está ganhando - respondeu naturalmente, evitando ao máximo qualquer tom que lembrasse ironia ou sarcasmo. - Eu.

Ele posicionou a bolinha no centro e deu o chute inicial. Diferente das outras partidas, essa começou mais lenta, embora todos estivessem calados. Era concentração máxima dos dois lados porque estava disposto a atacar enquanto Luan se defendia bem, e se aproveitando da necessidade do seu adversário em estar sempre na ofensiva, ele acabou vencendo por 3x2 se aproveitando apenas das falhas de . O jogador foi ovacionado pelos colegas, que comemoraram como se realmente fosse algo sério.

- Parece que ganhar de mim é mais importante do que vencer um campeonato, né? - disse quando a euforia começou a diminuir, mas não muito. - Quero essa raça toda em campo também.
- Ah, , eu não podia ir embora sem ver você derrotado. Acho que já posso partir em paz - Pedrinho se apoiou no ombro de , rindo. - Vou sentir sua falta, amigo.
- Sinta mesmo, não posso ser visto torcendo para um time verde e branco - respondeu com bom-humor ao fazer alusão ao clube português e Pedrinho concordou.
- Tá certo, tá certo... Então era isso que você tinha pra dizer. Agora é a vez do Luan dar a palavra do campeão. Cara, como você se sente em vencer esse frango e vingar todos nós?

Luan pareceu desconcertado por um instante, assim como , embora o último demonstrasse serenidade. Era estranho para eles estarem em outro ambiente onde tudo estava muito bem e eles não tinham a necessidade de brigar um com outro. Ambos sabiam que tinham visões errôneas sobre o outro, mas esperavam que estar ali pudesse continuar a melhorar isso.

- Me sinto adorável - Luan respondeu por fim, causando gargalhadas escandalosas no ambiente, dando a brincadeira como encerrada por ali.

se afastou sem chamar a atenção, mas ele não sabia que estava sendo seguido. Luan foi logo atrás, apenas esperando o momento certo para chamar o companheiro de equipe.

- Espera, .
- Sim? - se virou imediatamente quando percebeu que não estava sozinho no corredor, tentando esconder a surpresa.
- Eu não fiz aquilo por maldade.
- Eu sei, não estou chateado por perder. Relaxa...
- É que...
- É estranho eu estar numa boa com você ao invés de brigar, não é? Sim, eu também acho estranho, mas acho que estou me acostumando. Eu acho que se eu tivesse a oportunidade de voltar no tempo e vestir a camisa do Grêmio por mais um dia, eu mudaria isso.
- Eu também.
- Fui imaturo o tempo inteiro, eu não deveria ter tomado a sete de você. Acho que nunca pedi desculpas de verdade para além daquele dia que visitei o CT, então estou pedindo agora pelo bem do nosso time e da minha paz de espírito. Me desculpe por isso.
- Tudo bem - Luan respondeu um pouco desconcertado porque foi pego de surpresa. - Eu também peço desculpa por provocar sem motivo. Foi estranho chegar aqui e ver que você era ídolo, mas eu me acostumei com isso.
- Não sou ídolo - rebateu prontamente quase que num tom de ofensa.
- Claro que é, a torcida te adora, você é o artilheiro do time na temporada, tem a confiança do treinador e honra a camisa.
- Quando cheguei no Grêmio, vi a mesma coisa.
- Não importa o que aconteceu naquela época, tô falando de agora. Você é ídolo, , talvez sempre tenha sido, por mais estranho que seja dizer isso em voz alta.

prendeu a vontade de rir, mas falhou. Nunca se imaginou como ídolo em lugar nenhum, por isso ouvir aquilo parecia um pouco estranho, mas concordava com Luan no fato de que ele honrava a camisa. Ele sempre honrou e sempre iria honrar.

- Cadê o Renato pra ver isso? Ele ficaria feliz... Mas enfim... Está tudo bem, não estou ofendido por ter perdido, faz parte. Pode dormir em paz hoje a noite porque eu não odeio você.
- Valeu, cara, a gente se vê por aí.

Luan deu meia volta e voltou para onde estava antes junto com os colegas jogadores enquanto seguiu seu caminho, mas novamente foi parado, e agora ele tinha certeza de que era Bruno.

- Você ouviu, né? - ele se virou para o amigo que concordou.
- Fui trocado, que pena!
- Deixa de ser idiota, Bruno, esqueceu a maturidade no campo? - os dois riram juntos, achando graça de tudo aquilo.
- Só achei bom ver que vocês não se odeiam mais.
- Ah... É... É meio complicado, ele não é meu amigo, mas é melhor assim do que brigar depois de todos os jogos, né? Não sei como aguentei isso por tantos anos - coçou a nuca, um pouco constrangido por dizer para Bruno sobre o seu passado. - Eu não era tão bonzinho como costumo dizer, também fui cruel com ele.
- Eu imagino que sim, mas que bom que vocês deixaram essas coisas supérfluas e pifeis pra trás.
- Supérfluas e pifeis? Você comeu um dicionário? Estou gostando de ver.
- More com uma brasileira e fique fluente em um ano.
- Eu moro com uma, ela diz nós vai e assassina plurais e conjugações - respondeu bem-humorado e os dois seguiram em direção às suítes.

⚽🖤📱

- Ai, , eu não acredito que você está me obrigando a fazer isso - terminava de ajeitar a gravata vermelha no pescoço, mas sabia que não era boa com nós.
- É uma festa fantasia, amor, temos que estar fantasiados - foi até ela ao perceber que ela tinha dificuldades, então desfez o nó para fazer da sua maneira.
- Mas tinha que ser de Rebelde? Fala sério, você tem quase trinta anos!
- Você disse que toparia qualquer fantasia de casal. Eu tenho certeza de que mais ninguém vai aparecer de Miguel ou Mia. Ainda não acredito que você não gostava de Rebelde.
- Não é isso, eu gostava, mas eu cresci, né?
- Ótimo, agora tem idade pra usar a saia igual as meninas - foi até a cama e pegou o blazer vermelho para ela vestir e a ajudou também. - Olha só pra você, está uma rebeldinha.
- Meu Deus, que mico - se virou para o espelho de novo.
- Não está esquecendo de nada?
- Eu não vou colocar uma estrela na testa! - Vai sim. Anda, , eu não posso me atrasar para a minha própria festa de aniversário.
- Ain - pegou o adesivo de estrela e deixou com que colocasse no meio da testa dela. - Estou ridícula.
- Já está falando como a Mia - sorriu, mas o sorriso virou uma gargalhada quando grunhiu em lamento, encostando a testa no ombro dele. - Amor, se te serve de consolo, ouvi dizer que a fantasia do Arthur é ridícula, parece que ele vai estar de He-Man, vai ser o auge da vergonha. Confia em mim, vai ser a melhor festa da sua vida.
- Seria se você não me fizesse passar vergonha - riu e logo em seguida foi abraçada pelo namorado, deixou um beijo na bochecha dela e ela riu.
- Você está uma gata, eu não vejo a hora de voltar pra tirar essa saia logo - ele disse no ouvido dela, como se estivessem em local cheio, mas riu novamente e virou o rosto para poder olhar pra ele.
- E se a gente não for?
- Na minha própria festa de aniversário?
- A gente pode comemorar aqui mesmo - ela apontou para a cama por cima dos ombros dele e gargalhou.
- Adorei a ideia, mas até o Rony vai, diz ele que vai tocar uma música pra gente, até pedi pra montar um palco só pra ele, não podemos decepcionar o Ronald, né? Ele ficaria puto.
- Eu não queria ver o Ronald, ele é a sua cara e eu já vejo você todos os dias, eu queria ver as meninas. Se elas não vão, então não tenho motivo pra ir, certo?
- Certo uma porra, é o meu aniversário e você vai - se afastou, mas continuava segurando a mão de , então ele a puxou. - Vamos logo, eu não quero chegar atrasado

⚽🖤📱

- Não acredito que ele é o Capitão América! Você me enganou! - deu um empurrão em quando viu Arthur chegando com uma fantasia fiel ao uniforme do herói. - Olha isso, o próprio Chris Evans! , você me paga!
- Mas ele disse que seria o He-Man! - se justificou, pois também foi pego de surpresa. - Eu juro que vou deitar esse loiro aguado na porrada.
- Oi, gente! - Arthur cumprimentou o casal alegremente quando se aproximou. - Feliz aniversário, .
- Arthur, você disse que seria o He-Man!
- E você acreditou? Achei um ateliê que fez esse traje pra mim. Show, você não acha? Tem até o escudo - ele exibiu o escudo empunhado no braço e riu da cara incrédula de . - Você sabe que eu gosto de te sacanear, não me olha assim.
- Parabéns, , os convidados têm fantasias melhores do que as nossas - aplaudiu, irônica.
- Não fala assim, adorei a fantasia de vocês, rebeldinhos. , você está linda de Mia Colucci.
- Não elogie ela, estou puto com você.
- , faz um favor pra humanidade: vai até o topo do Terraço Itália e pula, tá? Talvez eu jogue o meu escudo e te salve da queda.
- Achei alguém mais estressado do que eu - riu. - Na próxima, Arthur, avisa o ou ele vai ter um troço bem na frente de todo mundo.
- Pode deixar, agora vou ver se meu grande amigo, muito amigo mesmo, o Bruno, está por aí. Licença.
- É o Bruno que estou pensando? - perguntou quando Arthur se afastou.
- É, acho que eles se uniram contra você, meu amor.
- Ao menos, ainda tenho você.
- Não se eles me convencerem do contrário - disse divertida e riu quando se lamentou, chateado.



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Nota permanente:
Desde já, peço desculpas se em algum momento você possa ter se sentindo ofendido (a) com algo relacionado ao seu time caso ele tenha sido mencionado em algum momento da narração. Apesar de a fic se passar no Corinthians, eu tento ser o mais imparcial possível para não ofender ninguém, afinal, o que importa mesmo é o nosso amor pelo futebol. Lembre-se: rivais sim, inimigos nunca. ☺

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Nota da Scripter: Essa fanfic é de total responsabilidade da autora, apenas faço o script. Qualquer erro, somente no e-mail


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