FFOBS - St. Patrick's Day, por Jamile Galtério


St. Patrick's Day

Fanfic finalizada.

Capítulo 1 – St. Patrick's Day

Um pequeno grupo de garotas que riam alto passaram por mim no corredor estreito que dava aos banheiros e se misturaram com a multidão de pessoas enquanto esbarravam umas nas outras, aparentemente bastante alcoolizadas. Me espremi por entre as pessoas até conseguir chegar na minha mesa e não pude deixar de notar meu amigo Robbie sussurrando no ouvido de uma garota baixinha de cabelos negros. Eu não fazia a menor ideia do que podia ser a conversa, mas a garota deu risada do que ele disse e os dois logo saíram juntos.
– Eu venero vocês dois. – Michael disse rindo e já sabia que ele se referia a Robbie e eu.
– Porque? – peguei minha cerveja já meio quente na mesa e a bebi de uma vez.
– Vocês dois ficam usando esse charme irlandês para pegar mulheres no dia mais irlandês da América. – ele balançou a cabeça.
– Fazer o que se as mulheres preferem os irlandeses charmosos do que os americanos. – dei de ombros.
– Quantas já foram até agora?
– Eu não estou contando. – falei convencido.
– Pois deveria, assim nós comparávamos com um dia normal no bar.
– Não fica assim, Michael, quem sabe no Quatro de Julho você consegue. – dei um tapinha em seu ombro – Quer mais uma cerveja? – falei com o tom de voz mais alto quando aumentaram o volume da música.
– Sim. – ele gritou.
Peguei as garrafas e copos vazios na mesa e fui me esgueirando por entre as pessoas até chegar no balcão. Coloquei as coisas na madeira extremamente molhada e acenei para o barman que fez um movimento de cabeça. Olhei para as pessoas debruçadas sobre o balcão esperando para serem atendidas, a maioria delas homens com caras emburradas pela demora.
O barman finalmente veio até mim e indiquei duas com a mão e ele colocou duas garrafas verdes no balcão e as abriu. Tirei uma nota de dez dólares do bolso e entreguei para ele, saindo dali o mais rápido possível.
– Ele ainda não voltou? – entreguei a garrafa para Michael.
– Talvez ele nem volte mais. – ele disse antes de beber.
Ficamos sentados à mesa bebendo e conversando sobre como Robbie conseguia ser o mais sortudo de nós três em qualquer época do ano. Olhei para o lado apenas para ver como o bar estava enchendo mais a cada instante e vi uma garota vir praticamente correndo em minha direção. Tentei pensar se eu a conhecia de algum lugar e se tinha feito algo para ela, mas antes que pudesse concluir meus pensamentos, a garota me segurou pelos ombros e me beijou.
Permaneci de olhos abertos por alguns segundos tentando entender o que estava acontecendo, mas era dia de São Patrício e a garota beijava tão bem que apenas fechei os olhos e aproveitei minha sorte de irlandês.
Ela subiu uma mão pelo meu braço até chegar em meus cabelos e embrenhou seus dedos pelos fios. Segurei sua cintura com força e quando comecei a descer minha mão, ela se afastou e olhou para trás.
– Finalmente. – ela disse aliviada.
Ela não parecia ter mais do que vinte e cinco e tinha os cabelos castanhos enormes quase até a cintura. O batom vermelho estava um pouco borrado e ela passou o polegar ao redor dos lábios para arrumar. Por baixo da jaqueta jeans ela vestia uma camiseta surrada do Metallica e logo de cara me apaixonei.
Continuei olhando-a atentamente, ainda um pouco confuso, e pelo canto do olho vi Michael com a boca entreaberta e uma expressão de surpresa estampada em seu rosto. Dei de ombros para ele e olhei para a garota que tirou um celular do bolso traseiro da calça toda desfiada e digitou algo, guardando-o novamente.
. – ela estendeu a mão para mim com um sorriso no rosto e a cumprimentei.
. – sorri.
– Foi mal. – ela colocou as mãos no bolso da jaqueta e se balançou para frente e para trás – Tinha um idiota me perseguindo desde lá de fora e eu disse que ia encontrar meu namorado aqui.
– Sem problemas. – encolhi os ombros – Estarei aqui se precisar. – sorri largamente.
– Eu odeio muito essa coisa de precisar ter um homem para que outro homem me respeite, mas eu estava começando a ficar com medo daquele babaca.
– Posso ser seu namorado a noite toda se você quiser. – falei convencido e ela sorriu de lado.
– Não precisa, obrigada. Minhas amigas já estão chegando... eu acho. – ela olhou ao redor.
– Você pode ficar aqui com a gente enquanto espera suas amigas e nos apresentar para elas quando chegarem. – Michael disse.
– Tudo bem. – ela deu de ombros e se sentou ao meu lado – Sou a . – ela estendeu a mão para Michael e ele a cumprimentou.
– Michael, melhor amigo do seu namorado. – ele disse rindo.
– Infelizmente. – falei rindo.
– Esse é o primeiro sotaque irlandês real que eu ouço hoje. – ela me olhou surpresa – Está todo mundo hoje fingindo ser irlandês e você é o primeiro que eu encontro que é realmente irlandês... eu acho.
– Apaixonado por cerveja, é ruivo... O é o pacote completo e você pode levá-lo pela bagatela de uma cerveja. – Michael disse igual às mulheres dos comerciais vendendo coisas inúteis.
– Tenho interesse. – ela gargalhou – Você é de onde? – ela me olhou curiosa.
– Cork.
– Não faço ideia de onde fique. – ela riu – E o que um irlandês de Cork... – ela tentou imitar meu sotaque ao falar – ... faz em Los Angeles?
– Nada de útil pra ser sincero. – dei de ombros.
– Não veio procurar a carreira de ator no maior estilo La La Land?
– Não. – neguei com a cabeça – Sou apenas um barman que deu sorte de não trabalhar no dia em que os bares mais enche e fatura.
– Realmente esperava que você dissesse que queria ser ator, assim quando você aparecesse em algum filme eu poderia dizer às pessoas que tinha te beijado.
– Você ainda pode dizer isso, afinal, beijar um irlandês no dia de São Patrício significa sorte o ano todo. – Michael disse sério.
– Por isso que tem tanta gente fingindo sotaque hoje. – ela disse rindo e pegou o celular no bolso – Merda. – ela rosnou – Minhas amigas estão presas no trânsito. Idiotas. – ela guardou o celular – Elas nunca usam o carro, justamente quando vai ficar impossível dirigir, elas decidem que é uma boa hora.
– Vou pegar uma cerveja para você relaxar enquanto elas não chegam. – Michael se levantou e ficou indicando ela com a cabeça disfarçadamente.
Terminei de beber minha cerveja e me virei para ela que estava olhando para um grupo de homens próximo da saída. Um deles em especial a olhava diretamente enquanto falava com os outros e fiquei pensando se era ele o cara que a estava perseguindo ou se era apenas uma pessoa qualquer.
– É ele? – perguntei e ela me olhou confusa – O de topete... – apontei com o queixo – É ele que estava te perseguindo?
– Sim. – ela suspirou – É só mais um idiota.
– Já te disse... não me importo de ser seu namorado por hoje. – falei rindo e ela mordeu o lábio.
– Essa história de que beijar um irlandês no dia de São Patrício dá sorte é verídica ou as pessoas só falam isso para se darem bem?
– Não sei. – dei de ombros – Eu sou sortudo o ano inteiro, mas você pode me beijar de novo para as chances aumentarem. – coloquei um braço na mesa e virei o corpo de frente para ela.
deu uma risadinha fraca e se aproximou de mim. Suas mãos se entrelaçaram em minha nuca e ela ficou em pé com o corpo entre minhas pernas. Nós estávamos olhando fundo no olho um do outro e ela chupou meu lábio inferior enquanto fazia uma expressão sensual que foi aos poucos me deixando excitado.
Toquei suas coxas e fui subindo minhas mãos até a cintura, passando os polegares pela pele macia da sua barriga. Puxei ela para mais perto e pressionei meus lábios nos dela, beijando-a com vontade. Com o passar dos anos, fui aprendendo a me controlar quando beijava uma garota e a não ficar mais excitado apenas com um beijo, mas estava me fazendo regredir.
– Acho que agora vou ter bastante sorte. – ela sussurrou contra meus lábios e olhou em meus olhos.
– É melhor mais um, sabe... só pra garantir. – sorri de lado e a beijei novamente.
Eu não estava me importando com as pessoas ao nosso redor, esse era o dia em que muitos ficavam desinibidos e praticamente transavam nas mesas dos bares, então obviamente ninguém iria se importar com a gente.
Subi minha mão pelas suas costas por baixo da blusa e ela se arrepiou, rindo fraco sem parar o beijo. Eu queria muito sair daquele lugar e levá-la para onde nós dois pudéssemos ter um pouco mais de privacidade, mas fomos logo interrompidos.
– Cadê o Michael? – ouvi Robbie dizer bem próximo do meu ouvido e se afastou ofegante.
– Que? – olhei-o confuso e ele tinha um sorriso orgulhoso no rosto.
– Michael. Cadê ele?
– Foi pegar mais cerveja. – passei a mão pela barba e olhei para ela pelo canto do olho que estava arrumando o batom – Essa é a . – falei para Robbie que acenou para ela com a cabeça – Esse é o Robbie...
– Outro irlandês. – ela sorriu e ele assentiu – Mas não tem o pacote completo.
– Pacote completo? – ele perguntou rindo.
– Cabelo ruivo e essas coisas que qualquer pessoa que não seja irlandesa diz que é típico de lá.
– Não caia nos estereótipos. Nem todo irlandês de pacote completo que você encontrar vai ser um homem maravilhoso igual ao .
– Isso é verdade. – falei convencido.
– Pelo visto tirei a sorte grande hoje. – ela mordeu o lábio e pegou o celular no bolso – Elas chegaram. – ela guardou o aparelho e ficou em pé no apoio que tinha nas pernas do banco e olhou ao redor.
Olhei para Robbie que apontou para com a cabeça e ergueu os dois polegares para mim com um sorriso orgulhoso no rosto. Revirei os olhos para ele e voltei minha atenção para ela que estava acenando para alguém na multidão.
Duas garotas de braços dados se aproximaram da nossa mesa e foi até elas. As três começaram a conversar sobre algo que não consegui entender e a loira olhou para mim e depois disse algo para . Elas continuaram conversando e logo Michael apareceu com três garrafas de cerveja e me entregou uma. Ficamos os três olhando para as garotas conversando e puxou as duas até nós.
– Michael, Robbie e . – ela apontou nós três para as amigas – e Lauren. – ela indicou primeiro a loira com a pele branca quase pálida e depois a outra de pele escura e cabelos pretos trançados.
– Você trabalha naquele bar que tem um letreiro de neon enorme e está sempre passando o jogo, não é? – Lauren disse toda simpática e assenti – Eu adoro aquele lugar.
– Não se esqueça de deixar boas gorjetas na próxima vez. – Robbie disse rindo e ela sorriu para ele – Eu vou pegar uma cerveja para vocês.
– Eu não bebo. – sorriu forçado e ele deu de ombros.
– Você não, mas eu sim. – Lauren disse simpática.
– Obrigada por ter ajudado minha irmã com aquele idiota... – ela disse um pouco envergonhada.
– Vocês são irmãs? – Michael disse surpreso e ela revirou os olhos, mas assentiu com um sorriso enorme e bem orgulhoso
– Sim, apesar de não nos parecermos em nada. – riu.
Os dois entraram em uma conversa sobre irmãos que eram o oposto um do outro e enquanto Lauren parecia bastante confortável, por outro lado parecia querer sumir dali. Ela estava em pé ao lado da irmã com os braços cruzados e vez ou outra olhava para mim pelo canto dos olhos. Tentei não ficar desconfortável com aquilo e simplesmente ignorar seus olhares atentos, mas era um pouco difícil.
Robbie logo apareceu com três cervejas em cada mão e as colocou na mesa. Levantei-me do meu lugar para que Lauren se sentasse e Robbie fez o mesmo para que simplesmente negou com a cabeça e olhou ao redor.
– Vou lá fora fumar. – falei para eles e sai andando.
Senti uma mão segurar na minha e olhei para trás vendo com o lábio entre os dentes e um sorriso no rosto. Apertei sua mão na minha e passei pelas pessoas até chegarmos na porta. O cara que a estava perseguindo mais cedo ainda estava lá e ficou nos olhando sair.
Já estava bastante escuro do lado de fora e muito frio, enquanto do lado de dentro estava calor até demais. Apertei-me na jaqueta e me encostei na parede, tirando o maço de cigarros e isqueiro do bolso. Acendi um e apontei o maço para que negou com a cabeça e esfregou os braços.
– Sua irmã não parece em nada com você. – falei soltando a fumaça pelo nariz.
– Todo mundo fala isso. – ela riu fraco – Ela é uma boa pessoa, só é superprotetora para cima de mim e aí acaba ficando com aquela cara de que é melhor que todo mundo.
– Então ela é a irmã mais velha.
– Eu sou. – ela deu de ombros – Temos diferença de um ano, mas é claro que ela acha que é a mais velha e que precisa ficar de olho em mim sempre.
– Meu irmão também achava isso.
– Você tem irmão? – ela me olhou surpresa e assenti – E vocês se parecem?
– Personalidade e aparência? – arqueei uma sobrancelha e ela assentiu – Mais ou menos.
– E ele também é igual a que se acha o mais velho?
– Ele é o mais velho. – ri fraco – Dez anos a mais, só que ele gostava de me tratar como se fosse trinta anos a mais do que eu.
– Porque isso?
– Ele não queria que eu fizesse as mesmas idiotices que ele. – dei de ombros – Quase foi preso por uma briga de bar, se tornou pai aos dezoito anos, aí tinha medo que eu tomasse tudo aquilo como exemplo e fizesse igual.
– Uau. – ela disse surpresa – Tenho certeza que seu currículo é bem mais leve que o dele.
– Muito mais leve. – falei rindo.
Terminei de fumar e joguei o resto no cinzeiro alto ao lado da porta. estava abraçada a si mesma e me aproximei dela. Toquei sua bochecha com a ponta dos dedos até chegar em seu queixo e o levantei um pouco.
Passei meus lábios pelo dela e a beijei de um jeito carinhoso. Ela me abraçou pelo tronco por baixo da jaqueta e segurei sua cintura, colando nossos corpos. Suas mãos passeavam pelas minhas costas e a empurrei para a parede, encostando minha pélvis na dela. Eu odiava me sentir daquele jeito, de regredir alguns anos e voltar a ser um adolescente que ficava de pau duro enquanto beijava, mas era difícil me controlar quando o beijo era tão bom igual ao dela.
– Quer sair daqui? – falei ofegante – A gente pode ir para minha casa...
– Não posso deixar minha irmã sozinha. – ela gemeu – Ela vai querer me matar depois.
Algumas pessoas passaram gritando por nós e a puxei para o corredor entre um prédio e outro. Encostei-a na parede e beijei seu pescoço fervorosamente, sentindo um cheiro incrível de limão que emanava dela. Suas mãos se enfiaram embaixo da minha camiseta e ela ficou acariciando minha barriga.
Eu queria sair dali e levá-la para um outro lugar onde tivéssemos mais privacidade, mas ela não queria deixar a irmã sozinha então teria que me contentar em dar uns amassos como um adolescente.
Coloquei a mão por baixo de sua camisa e fui subindo até chegar em seus seios totalmente livres sem nada os segurando. Segurei ele todo na palma da minha mão e o massageei carinhosamente, acariciando o bico rijo com o indicador e o polegar.
– Vamos sair... – ela gemeu fraco mas logo seu celular começou a tocar.
Não nos afastamos nem por um milímetro sequer, ficamos até mais próximos ainda enquanto ela pegava o celular no bolso e o atendia.
– Já estou indo, . – ela disse com a voz falha – Não começa a me encher o saco, eu estou bem... Que inferno, , estou indo. – ela guardou o celular e me beijou.
Ela passou aos mãos pelo meu pescoço e pressionou seu sexo contra a minha ereção, deixando-me mais excitado do que já estava.
– É melhor eu entrar antes que a minha irmã venha atrás de mim. – ela disse ofegante, mas não se afastou nem um pouco.
– Sim. – assenti e a beijei novamente.
– Vamos então. – ela riu fraco e se afastou um pouco
– Tudo bem. – ajeitei meu pênis dentro da calça e ela mordeu o lábio.
– Que desperdício. – ela molhou os lábios maliciosa e arrumou a blusa.
– Infelizmente. – dei de ombros.
Entramos novamente no bar que parecia ter esvaziado nos poucos minutos em que ficamos para fora e procuramos pela nossa mesa. pareceu relaxar quando viu , mas não deixou de me olhar feio. Eu costumava ser o queridinho da família das garotas, mas pelo visto ali não ia conseguir nada.
– Quantos cigarros você fumou, ? – Robbie perguntou com os olhos semicerrados e dei de ombros.
– Já está ficando tarde... – disse preocupada – É melhor nós irmos.
– A gente dirigiu um tempão para chegar aqui, ficar cinco minutos e ir embora? – Lauren choramingou e fez bico para a irmã.
– Só mais um pouco, .
– Tudo bem. – ela resmungou.
Acabou que o 'só mais um pouco' não rolou e ficamos lá até a saideira. Acompanhamos as três até o carro e percebi Robbie dando em cima de , e obviamente não conseguindo nada.
– A gente se vê por aí. – disse ao abrir a porta do acompanhante – Qualquer dia vou no bar que você trabalha, quem sabe eu ganho algo por conta da casa.
– Vou ficar esperando. – sorri de lado.
Trocamos um beijo rápido e ficamos parados na calçada olhando o carro ir sumindo aos poucos. Quando me virei para eles, os dois estavam me olhando orgulhosos e me deram tapinhas nas costas.
– Parabéns, . – Robbie disse orgulhoso – Você finalmente se deixou levar.
– Parece que sim. – dei de ombros.
– Agora é só fazer isso todos os dias. – Michael disse – Ela é muito gostosa... você deu sorte.
– Teria dado muito mais sorte se a irmã dela não estivesse junto.
– Você pegou o telefone dela, é só marcar uma foda rápida e pronto.
– Sim... – assenti e como um clique na cabeça, me dei conta de que não tinha pego o telefone dela – Merda. – passei a mão pelo rosto.
– O que foi?
– Eu não peguei o número dela. – rosnei – Que idiota.
– Sim, que idiota. – Robbie resmungou – Não estou mais orgulhoso de você, . – ele me deu um tapinha no ombro.
Eles continuaram me provocando por causa disso até chegarmos a avenida principal e eu sabia que merecia aquilo. Tive várias chances de pedir o número dela durante a noite toda, mas fiquei tão focado no que estava acontecendo entre nós dois que me esqueci.


Capítulo 2 – Texas Tea

Meus pés já estavam doloridos de ficar andando de um lado e o calo na minha mão já estava começando a me incomodar bastante, tudo isso antes da metade do expediente. Era dia de jogo de futebol americano e por causa disso muitas pessoas saiam do trabalho e iam direto para o assistir. A única coisa que eu gostava dos dias de jogo eram as gorjetas altas, porque do resto era tudo horrível.
Uns caras começaram a gritar para serem atendidos e olhei irritado para Tom, o outro barman que estava ali fazia poucos meses, e ele apenas deu de ombros. Ele tinha a estúpida mania de dar preferência para as mulheres bonitas, quando eu já tinha falado várias vezes que se ele atendesse as pessoas por ordem de chegada elas deixariam gorjetas e não ficariam irritadas, consequentemente, não nos irritando.
O pote que ficava do meu lado do balcão já estava quase na metade, enquanto o que ficava do lado do Tom tinha apenas algumas notas e dois ou três guardanapos de papel com telefone. Os números de telefones das garotas no fim da noite eram uma boa recompensa, mas não valia tanto a pena levando em conta os xingamentos que ouvíamos por conta da preferência de um certo barman.
– Duas Heineken. – ouvi Robbie gritar e deixei as cervejas dele no balcão.
Praticamente todos os dias, ele e Michael iam ao bar tomar algo pelo simples prazer de me ter atendendo-os. Na cabeça deles, ter um amigo barman resultaria em bebidas por conta da casa, mas isso só acontecia em ocasiões especiais como quando eu conseguia um bom número de gorjetas, o que não estava acontecendo agora que Tom tinha sido contrato e ficava analisando quem atender primeiro.
Soltei o barril vazio e o ergui no ombro, gritando para Tom prestar atenção no movimento enquanto eu ia para os fundos pegar outro. Coloquei ele ao lado dos outros dois que deveriam ser levados embora no dia seguinte e peguei um novo barril. Levei ele para dentro e conectei na mangueira de chope. Quando me levantei para tirar o primeiro copo da válvula, vi e Lauren encostadas no balcão conversando.
Olhei para elas atentamente apenas para confirmar que era realmente as duas e não outras pessoas totalmente desconhecidas que apenas se pareciam com elas. Lauren olhou para mim pelo canto do olho e cutucou que se virou para mim.
– Não tinha certeza se ia realmente te encontrar aqui. – ela se apoiou no balcão e sorriu de lado.
– Você andou me procurando pelos bares? – falei convencido e ela deu de ombros.
– Não. – ela riu fraco e negou com a cabeça – Só não sabia se você ia estar trabalhando hoje.
– Você vai me encontrar todos os dias aqui, exceto de segunda, porque nós não abrimos. – coloquei um copo na frente da torneira do barril e o enchi de chope, jogando-a na pia em seguida.
– E dia de São Patrício? – ela mordeu o lábio e dei uma risada nasalada.
– Folga. – joguei o pano no ombro.
– Para de ficar dando em cima das clientes e trabalha, . – Amy colocou a bandeja em cima do balcão e me encarou – Cinco canecas de chope e cinco doses de tequila com limão e sal.
Peguei as canecas na prateleira embaixo do balcão e as enchi rapidamente em um gesto automático. Qualquer coisa referente a bares e álcool já tinha se tornado algo normal para mim, como se eu tivesse sido programado para aquilo. Coloquei as canecas na bandeja dela junto com os cinco copos pequenos com o sal já na borda e o potinho com os pedaços de limão. Virei-me para trás para pegar a tequila e Amy bufou irritada para mim.
– Não precisa ficar com ciúmes, gatinha. – falei enquanto derramava a tequila nos copos – Sou todo seu. – bati a garrafa na mesa e ela pegou a bandeja.
– Vai se foder. – ela sorriu cínica e saiu.
– O que vocês vão querer? – perguntei para e Lauren.
– Duas cervejas Guinness. – pegou uma nota do bolso da jaqueta e colocou no pote de gorjetas.
– Sua namorada? – Lauren perguntou e a olhou indignada, mas ela apenas deu de ombros.
– Ex. – falei enquanto abria as garrafas – Mais alguma coisa? – me apoiei no balcão e sorri de lado para .
– Só isso... por enquanto. – ela sorriu maliciosa.
– Não vai para o outro lado.
– Porque?
– Porque o barman não é tão eficiente e bonito como eu. – falei convencido e saí.
O jogo já estava quase acabando e o pessoal parecia estar odiando o resultado, porque a gritaria e urros começaram a ficar intensos, já deixando Tom e eu alerta para qualquer sinal de que eles fossem começar a brigar e quebrar as coisas.
Todas as vezes em que eu ia atender e Lauren, ou Robbie e Michael, Amy aparecia. Lauren nos olhava um pouco desconfiada enquanto não parecia nem um pouco abalada, mas meus amigos simplesmente não se aguentavam e faziam alguma provocação como se tentassem tirar Amy do sério, mas ela era impenetrável e apenas os ignorava.
As pessoas sumiram do bar assim que o jogo acabou e quando me virei para trás vi Michael e Robbie sentados perto das duas no balcão.
– Qual a coisa mais forte que você sabe fazer? – Michael perguntou e dei de ombros.
– Sei lá, eu posso misturar um monte de bebida em um copo se você quiser.
– Se esforce um pouco mais, . – Robbie choramingou.
– Texas Tea. – disse empolgada e me mostrou o celular que estava com uma receita aberta na tela – É só um monte de bebida misturada, mas nesse site está falando que é bem forte.
– Eu não vou carregar ninguém. – falei rindo.
Fui olhando a receita no celular dela enquanto fazia a bebida e pude ver que uma mensagem tinha chegado. Era um tal de Steve dizendo que estava cansado de ser feito de idiota e que eles precisavam conversar para resolver as coisas. Continuei fazendo as coisas como se não visto nada e coloquei os quatro copos na frente deles.
– Eu quero muito que vocês dois entrem em coma alcoólico com isso. – falei para Robbie e Michael que deram de ombros e viraram a bebida de uma vez.
– Puta merda. – Michael disse fazendo careta – Isso é forte pra cassete. – ele chacoalhou a cabeça.
– Vocês. – olhei para e Lauren.
bebeu praticamente todo o dela sem pensar duas vezes, mas Lauren ficou olhando para o copo um pouco receosa. Amy apareceu um pouco irritada e olhou para mim confusa.
– O que vocês estão fazendo? – ela olhou para o copo na frente de Lauren.
– Texas Tea. – falei.
– Que? – ela fez uma cara confusa e lhe empurrei o copo – Eu não vou beber durante o trabalho. – ela resmungou – Duas marguerita.
Revirei os olhos para ela e fui fazer as bebidas. Robbie e Michael começaram a mexer com ela perguntando se ela estava na tpm para estar daquele jeito, mas ela simplesmente os ignorou como sempre.
– Pronto. – coloquei as duas taças na bandeja dela.
– Obrigada. – ela sorriu forçado e saiu.
– Sua ex é bem brava, né? – Lauren olhou para trás rapidamente e depois para mim.
Robbie me olhou perplexo e Michael apenas remexeu a cabeça rindo fraco. parecia totalmente normal ao lado da amiga que me olhava como se esperasse uma resposta.
– É. – dei de ombros.
– Você é um imbecil. – Robbie disse rindo.
– O que eu fiz?
– Você não fala para uma garota quem é sua ex-namorada e quem não é.
– Qual o problema nisso?
– Todo.
– Eu não vejo problema algum nisso. – Lauren disse – Talvez vocês tenham medo de falar porque a ex pode contar coisas sobre vocês que as atuais vão levar tempo para descobrir.
– Mais ou menos. – Michael deu de ombros – Você também contou todo o resto?
– Porque você não cala a sua boca? – suspirei.
Deixei eles dois falando merda e avisei para Tom que ia fazer uma pausa para fumar. Fiquei sentado em umas caixas de madeira no corredor entre os prédios e acendi um cigarro. Minhas pausas para fumar eram de geralmente quinze minutos para fazer algo que eu levava apenas cinco, tudo isso para me livrar um pouco do trabalho e deixar Tom aprendendo a como se virar sozinho no bar.
Fiquei olhando a ponta do cigarro queimar formando cinzas e bati o polegar nela para derrubá-las. A porta se abriu e Amy apareceu usando uma jaqueta grossa e esfregando as mãos umas nas outras. Levantei para ela o cigarro já na metade e ela negou com a cabeça.
– Estou tentando parar.
– Então o que você está fazendo aqui na área de fumantes?
– Tom e o Malone não precisam saber que eu estou tentando parar com esse hábito. – ela riu fraco.
– Uou, finalmente um sorrisinho nesse rosto emburrado. – falei rindo e ela revirou os olhos.
– Por favor, não se torne um idiota igual aos seus amigos.
– Qual é, Amy, você me conhece, eu não vou virar um idiota. – traguei o cigarro e soltei a fumaça lentamente.
– Será que o Tom está nadando lá dentro? – ela olhou para trás por cima do ombro.
– Eu espero que sim. – olhei para ela que estava tremendo um pouco – Vem aqui. – abri a perna e ela se abraçou encostando-se contra o meu peito.
– Não sei quanto tempo mais vou aguentar servindo mesas e sendo chamada de gostosa. – ela suspirou.
– Você está tentando outros lugares?
– Minha única alternativa no momento é trabalhar de vendedora na Abercrombie. – ela fez uma cara de nojo.
– Você pode arrumar algum velho rico enquanto trabalha aqui e aí nunca mais vai precisar trabalhar. – falei rindo e ela deu um soco no meu peito.
– Para vocês homens é fácil falar. – ela resmungou – Eu vou entrar antes que o Tom morra sozinho lá dentro. – ela se afastou – Ela é bonita.
– Quem?
– A garota de cabelo trançado.
– Lauren? – perguntei rindo e ela assentiu – Ela é bonita, mas não... – dei de ombros.
– Não quer tentar nada com ela? Ainda está nessa de dar um tempo nas mulheres? – ela arqueou uma sobrancelha e pulei das caixas indo até ela.
– Eu fiquei com a amiga dela. A do cabelo castanho. .
... – ela disse lentamente – Faz mais seu tipo do que a outra que não para de fazer perguntas. – ela abriu a porta com força e o ar quente veio para cima de nós.
– Meu tipo? – perguntei rindo e ela assentiu – E qual é o meu tipo?
– Garotas que vão partir seu coração e te fazer sofrer lentamente. – ela sorriu triste e entrou.
– Obrigado pelo apoio, Amy. – resmunguei e a segui.
Só tinham quatro mesas cheias no salão e no balcão apenas os idiotas, Lauren e bebendo cerveja e conversando. Eu queria muito que todo mundo fosse embora logo para que eu terminasse ali mais cedo do que nunca, mas o pessoal das meses não parava de beber.
– Ele atendeu vocês bem? – toquei no ombro de Tom e ele me olhou assustado.
– Sim. – Lauren sorriu meio bêbada.
– Hora de irmos, senhorita. – se levantou e foi até o outro lado do balcão no caixa.
– Você nem bebeu tanto. – falei rindo.
– Acho que não... sei lá. – ela deu de ombros.
– Vocês dois embebedaram ela? – olhei para Robbie e Michael que negaram com a cabeça.
– Óbvio que não. – Michael se levantou – Você vai demorar por aqui?
– Pelo visto sim. – olhei para as mesas e vi Amy anotando algo no bloquinho.
– Nós já vamos indo então. – Robbie deu um tapinha no balcão e foi até o caixa.
– Ei. – Lauren sussurrou baixinho e me chamou com o indicador.
– O que? – me aproximei e segurei a vontade de rir. Michael estava ao lado dela e conseguia ouvir tudo.
– Porque vocês dois terminaram?
– Oi?
– Você e a menina que trabalha aqui... porque terminaram?
– Não estava mais dando certo. – dei de ombros.
– Hum... – ela mordeu o lábio – Eu tenho que te fazer essas perguntas que a não vai fazer de jeito nenhum.
– Sem problemas. – ri fraco.
Limpei o balcão e fiquei encostado na parede esperando que alguém me tirasse do meu momento de descanso. segurou Lauren para que ela não caísse enquanto se levantava e colocou uma nota de vinte dólares no pote de gorjetas, se despedindo de mim rapidamente.
– Nós já vamos indo. – Robbie vestiu a jaqueta e colocou um guardanapo de papel na minha frente – Sua gorjeta.
Peguei o papel e vi o nome de e o número dela escrito com batom. Olhei-o surpreso e ele deu de ombros com um sorriso orgulhoso no rosto.
– Você esqueceu de novo de pedir, mas o papai aqui não. – ele estufou o peito.
– De nada. – Michael disse rindo – Não nos decepcione.
– O que você está falando? – Robbie o olhou indignado – Você é uma decepção diária pra mim, Michael.
– Ouch. – ele colocou a mão no peito dramaticamente.
– Vamos logo ou você vai ficar sem carona.
– A gente se vê, . – Michael acenou com a cabeça.
– Liga para ela. – Robbie gritou enquanto caminhava até a porta.
Guardei o guardanapo dentro da minha carteira na esperança de não me esquecê-lo dele e fiquei lá limpando o bar enquanto Tom jogava no celular.
Amy estava indo de um lado para o outro levando copos sujos e pegando garrafas cheias de cerveja atrás do balcão. Ela tinha uma expressão irritada no rosto e foi só piorando com o passar do tempo. Comecei a prestar atenção nela e notei que os caras de uma das mesas que ainda não tinham ido embora estavam mexendo com ela.
Ela depositou na mesa as garrafas de cerveja vazia e quando se virou para ir até outra mesa um cara tentou dar uma tapa em sua bunda, mas ela desviou. Seu rosto ficou bastante vermelho e mordeu os lábios com força. Eu queria ir até lá e intervir, mas ela odiava quando eu fazia aquilo.
Deixei Tom sozinho no bar e subi para o segundo andar até o escritório do Malone. Bati na porta duas vezes e ele rosnou algo de lá de dentro. O cheiro de charuto quando entrei foi como um tapa na cara e encontrei ele sentado na sua poltrona de frente para a televisão que passava um filme em preto e branco.
. – ele me olhou por cima do ombro rapidamente e se voltou para a televisão.
– Eu vou fechar mais cedo, tudo bem? – cocei a nuca e ele me encarou curioso – Tem uns caras lá embaixo mexendo com a Amy, aí você sabe...
– Ou é fechar e colocar eles para fora, ou ter o namorado dela metendo porrada em todo mundo. – ele gargalhou alto com seu peito chiando.
– E então?
– Tudo bem, garoto. – ele se voltou para a televisão – Peça para ela me trazer um copo de uísque aqui depois.
– Vou anotar na sua conta. – falei rindo.
– Anota lá. – ele riu alto.
Enquanto descia as escadas, pude ouvir Amy cochichar algo com Tom de um jeito irritado e ele deu a volta no balcão para ir até as mesas.
– Eu vou. – falei e ele me entregou a bandeja com as doses de tequila.
– É aquela mesa. – ele apontou para os idiotas que estavam mexendo com Amy.
? – Amy me chamou preocupada e a olhei por cima do ombro – Não vai aprontar nada.
– Eu não vou... mas tenho autorização do seu padrasto. – sorri diabólico.
Andei calmamente até eles e o que tentou dar um tapa na bunda de Amy ficou olhando-me aproximar da mesa. Coloquei as coisas em cima da mesa e a bandeja embaixo do braço.
– Última rodada da noite. – falei rígido.
– Qual é, cara, está cedo e ainda tem gente aqui. – ele indicou para as outras mesas.
– É a última rodada de vocês, eles podem ficar o quanto quiserem.
– Você tem algum problema comigo? – ele se levantou e veio para cima de mim.
– Você quer realmente ficar provocando a garota quando ela está apenas fazendo o trabalho dela? – falei entediado – Só tomem suas bebidas, fechem suas contas e se mandem, ok?
– Foi mal, cara. – um amigo dele disse.
– Babaca. – ele falou para mim e pegou a dose na mesa virando-a de uma vez.
– Não esqueça da gorjeta. – falei antes de dar as costas para ele.
Amy estava encolhida atrás do balcão abraçada ao próprio corpo e pisquei para ela quando fui para as outras mesas.
O idiota ficou me encarando o tempo todo até ir embora e um dos caras que estava na mesa com ele foi até Amy e lhe pediu desculpa pelo incomodo. Ela não respondeu nada, apenas continuou na mesma posição com uma expressão neutra no rosto.
As pessoas das outras mesas logo foram embora e nós três começamos a limpar a sujeira. Avisei Amy sobre o uísque de Malone e ela foi rapidamente levar, descendo minutos depois rindo sozinha.
– Ele perguntou se você quebrou alguns copos dele pra me defender. – ela disse rindo.
– Se ele quisesse que eu quebrasse algo era só falar. – virei a última cadeira em cima da mesa e fui até ela.
– Você já terminou? – ela colocou as mãos no bolso da jaqueta.
– Sim, só vou pegar minhas coisas.
– Espera aí que eu pego.
Sentei-me de frente para o balcão enquanto Tom contava as gorjetas e ele me empurrou minha parte.
– Só do seu pote conseguimos trezentos dólares. – ele disse rindo.
– E do seu, senhor exigente? – enrolei as notas e coloquei no bolso da calça.
– Cento e cinquenta... e três números de telefone.
– Que tal eu ficar com o dinheiro e você os telefones? – falei rindo e ele riu falso.
– Engraçadinho.
Me debrucei sobre o balcão para esperar Amy e ela apareceu alguns minutos depois mais agasalhada ainda e com a minha mochila e jaqueta no ombro. Vesti ela e peguei a mochila para guardar o dinheiro lá dentro enquanto Amy esfregava os braços uns nos outros.
– Amy. – Tom a chamou e levantou um bolinho de dinheiro com as gorjetas.
Ela saltitou até ele toda contente como se a situação desconfortável com os clientes mais cedo nunca tivesse acontecido. Nos despedimos de Tom e abracei ela de lado quando saímos do bar e o vento cortante jogou os cabelos dela para o lado. Fomos caminhando em silêncio até o prédio dela, assim como em todos os outros dias em que saíamos do trabalho e eu a levava para casa.
– Obrigada. – ela disse quando chegamos em frente ao prédio.
– Não foi nada. – cocei a nuca.
Esperei ela subir as escadas e ela se virou para trás quando abriu a porta. Fiquei esperando que ela dissesse algo, mas ela apenas ficou me olhando um pouco esperançosa com o lábio entre os dentes.
– Tem umas coisas suas lá em cima... – ela suspirou – Eu estava fazendo uma faxina e encontrei.
– Você estava fazendo uma faxina de mim na sua casa. – falei rindo e ela revirou os olhos – Que tipo de coisas?
– Roupas e algumas outras coisas. – notei seu tom de voz um pouco tenso.
– Eu espero você trazer. – encostei-me no corrimão de cimento e ela assentiu.
Acendi um cigarro enquanto esperava e fiquei pensando no que eu tinha deixado na casa depois de ter me mudado. Eu tinha levado todas as minhas coisas, ela tinha me garantido que tudo o que era meu já estava comigo ou no lixo.
Ela voltou dez minutos depois com uma caixa de papelão com meu nome escrito e um olhar preocupado. Eu sabia que ela não queria que eu abrisse a caixa ali na frente dela, mas abri do mesmo jeito.
Tudo o que tinha ali não me pertencia. Tudo aquilo tinham sido presentes meus para ela de quando namorávamos. Remexi por entre as coisas e fiquei feliz por não ter encontrado as fotos.
– Isso é seu. – fechei a caixa e a olhei sério.
... eu quero seguir em frente, sabe? – ela ajeitou os cabelos – Eu preciso seguir em frente e você também.
– Eu segui. – falei ofendido – O que te fez pensar que eu não segui em frente?
– Nada, só estou falando. – ela suspirou – Eu não quero discutir, ok? Nós dois funcionamos melhor como amigos. Foi preciso nós ficarmos três anos juntos nos magoando para que percebêssemos isso.
– Tá. – dei de ombros – Até amanhã. – ajeitei a mochila nas costas e comecei a andar.
– Você vai ficar bravo comigo? – ela gritou.
– Eu estou numa boa, Amy. – falei calmo.
Assim que passei por uma lixeira na rua dela meu primeiro instinto foi jogar a caixa fora, mas eu corria o risco dela ainda estar na escada me olhando ir embora então levei a infeliz para casa. Deixei ela num canto quando cheguei e peguei o guardanapo com o número do celular de . Anotei ele no meu celular e fiquei pensando se mandava algo para ela ou não, mas acabei cochilando antes de me decidir.


Capítulo 3 – Frozen Yogurt

– Você ligou para ela? – Robbie perguntou enquanto eu limpava o balcão.
– Ainda não. – neguei com a cabeça.
– Uma mensagem?
– Também não. – suspirei.
– Já fazem quatro dias, . Que tipo de cara ela vai pensar que eu sou se você não ligar? – ele disse exasperado – Eu peguei o telefone dela para você e nada de você falar com ela...
– Eu vou ligar.
– Quando? – ele deu um soco no balcão – Você não pode falar que ainda não ligou porque está com vergonha. Vocês só se viram duas vezes e na primeira ela te beijou desprevenido.
– Não liguei ainda porque estou cheio de coisas para fazer.
– Você não faz nada, . – ele bufou – Você fica o dia todo em casa jogando videogame e a noite vêm trabalhar. Só isso.
– E é isso que está ocupando meu tempo. – joguei o pano no ombro – Porque você está tão empenhado em me arrumar alguém?
– Eu não quero te arrumar ninguém. – ele colocou a mão no peito ofendido – Eu só quero que você comece a sair com outras garotas para... se divertir. – ele encolheu os ombros e olhou para os lados.
– Hum. – cruzei os braços e fiquei encarando-o.
– Três Guinness, dois chopes e um uísque duplo. – Amy colocou a bandeja no balcão e ficou olhando para as próprias unhas.
Coloquei na bandeja as garrafas e enchi as canecas de chope, indo até a prateleira atrás de mim pegar o uísque.
– Pronto. – coloquei o copo na bandeja e Amy saiu sem falar nada.
– O que ela tem? – ele olhou para trás por cima do ombro.
– Sei lá. – cocei a nuca.
– TPM?
– Ela nunca fica de TPM...
– Pode ir parando por aí. – ele estirou a mão na minha frente – O que eu já te disse sobre falar coisas que só um namorado ou ex-namorado saberia?
– Você nunca disse nada. – arqueei uma sobrancelha.
– Então estou dizendo agora. – ele bebeu um gole da cerveja – Você não fala esse tipo de coisas, guarda tudo pra si mesmo, ok?
– Você é um idiota, sabia? – falei rindo.
– Claro que sabia. – ele sorriu orgulhoso – E por falar em idiota, eu vou pra casa no mês que vêm... vamos?
– Não. – suspirei.
– Porque?
– Não estou muito afim. – cocei o olho – E também não faz muito tempo desde a última vez que fui para casa.
– Isso tem a ver com a.... – ele indicou para trás com a cabeça e respirei fundo.
– Também.
– Tudo bem. – ele terminou a garrafa e colocou algumas notas no balcão – Use a gorjeta para comprar alguma coisinha pra você, bonitinha. – ele deu um tapinha em meu peito e saiu andando quase esbarrando em Amy.
Ela colocou a bandeja no balcão e se sentou de costas para mim olhando para o salão meio vazio na quarta à noite. Fiquei encarando-a tentando me decidir se perguntava a ela o que ela tinha para estar estranha hoje, mas eu estava com um pouco de medo dela.
– Eu consigo sentir você me olhar. – ela virou o banco para frente.
– Aconteceu alguma coisa?
– Não. Porquê?
– Você está um pouco estranha hoje... – falei cuidadosamente e ela arqueou a sobrancelha.
– Estou normal, .
... – cocei o queixo e ela suspirou.
– Você me irrita as vezes, . – ela rosnou meu apelido e se levantou.
– O que eu fiz? – perguntei inocente e ela me mostrou o dedo do meio antes de sair batendo o pé.
Ela já estava toda estranha comigo tinha alguns dias e eu não fazia ideia do que poderia ter feito. No início achei que fosse com qualquer outra coisa, mas ela estava normal com todo mundo, exceto comigo.
Malone desceu de seu escritório, algo que ele raramente fazia, e se sentou no meu lado do bar para beber uísque. Ele ficou olhando Tom trabalhar e depois de Amy vir duas vezes pegar coisas e me ignorar, ele passou a observar ela.
– O que você fez? – ele terminou a bebida e bateu o copo na madeira.
– Porque você acha que eu fiz alguma coisa?
– Você é o namorado dela, as mulheres estão sempre irritadas por causa dos namorados.
– Nós não namoramos mais. – suspirei – Você sabe disso, já fazem seis meses.
– Tinha me esquecido. – ele riu fraco – Mas o problema ainda é você.
– É sempre eu. – resmunguei.
– Sim.
Ele continuou sentado lá bebendo do próprio uísque até fecharmos o bar e terminarmos de limpar. Ajudei Tom a contar as gorjetas e separei nossas partes, guardando a minha. Encostei-me na porta de entrada esperando por Amy para irmos embora e ela apareceu vinte minutos depois com uma expressão preocupada. Por alguns segundos me passou pela cabeça perguntar o que estava acontecendo, mas apenas ignorei.
Ela se despediu de Tom e Malone e caminhou apressada para porta. Assim que saímos, vi um carro todo preto parado na frente e um cara descer dele com um sorriso no rosto. Amy caminhou até ele e o beijou rapidamente, virando-se para mim.
Senti uma pontada no estômago ao ver aquilo, mas tão rápido quanto veio, ela se foi. Enfiei as mãos no bolso e tentei encontrar algo para dizer, mas não consegui.
– Eu não vou com você hoje, . – ela disse com a voz meio trêmula e assenti.
– Então você é o famoso ? – ele se afastou um pouco dela e me estendeu a mão.
– Acho que sim. – cumprimentei-o e vi Amy nos encarar tensa.
– Amy fala muito bem de você.
– Tenho certeza que sim. – falei irônico – Vou indo... a gente se vê amanhã. Prazer em conhecê-lo.... – eu não ia perguntar o nome dele e também não ia deixá-lo falar.
Comecei a seguir meu caminho sem olhar para trás uma vez sequer. Ela realmente tinha seguido em frente. Tentei sentir alguma coisa sobre ver minha ex-namorada beijando outro cara, mas não consegui.
Tomei um longo banho quando cheguei em casa e me enfiei embaixo das cobertas pensando no que fazer. Na minha cabeça Amy não tinha seguido em frente e só falava aquilo para que eu fizesse isso, mas pelo visto ela tinha seguido em frente muito mais rápido que eu e com alguém mil vezes melhor que podia levá-la para casa de carro.
Peguei meu celular na mesa de cabeceira e digitei uma mensagem para sem saber muito bem se queria aquilo ou não.


online

Quer sair amanhã depois do almoço?

Antes que eu pudesse guardar o aparelho ele vibrou com a chegada de uma notificação e abri a nova mensagem.

online

Quem é?

Você demorou

Foi mal

Onde a gente se encontra?

Tem um foodtruck de comida mexicana perto do centro, que tal?

Te encontro lá à uma

Mandei uma mensagem rápida para Robbie avisando-o que tinha convidado para sair, mas ele não respondeu nada. Fiz o mesmo para Michael que me deu um 'parabéns, idiota' e me pediu para não estragar as coisas.
Acabei chegando no local combinado dez minutos antes e me surpreendi por encontrar lá cedo também. Ela estava muito diferente das outras duas vezes em que a tinha visto. A maquiagem no rosto era bem leve e os cabelos estavam arrumados em ondas perfeitas. Os jeans não-rasgados iam até metade da canela e estava calçando um par de All-Star preto. A camisa de botões dobrada até os cotovelos cheia de desenhos de gatinho a deixava totalmente diferente da do dia de São Patrício.
– Oi. – ela disse empolgada e veio até mim me cumprimentando com um beijo no rosto – Fiquei pensando se já te beijava ou se fazia a linha recatada. – ela disse rindo.
– Eu não ia me importar nem um pouco. – sorri de lado.
– Achei que você nunca fosse ligar. – ela colocou o cabelo atrás da orelha – Não que eu tivesse esperando... – ela revirou os olhos – É só que seu amigo me garantiu que você ligaria minutos depois de te entregar meu número.
– Se eu te disser que ele só entregou ontem você vai acreditar?
– Nem um pouco. – ela riu fraco – Mas tudo bem, você deu sorte que eu não tenho muita coisa hoje.
– Uau, que ocupada.
– Muito. – ela jogou os cabelos para trás.
Pedimos tacos de frango e suco, e nos sentamos na praça para comer. Ela me contou sobre o quão brava a irmã dela tinha ficado quando ela disse que ia sair comigo, mas que não se importava com isso.
– Eu ainda tenho... – ela pegou o celular no bolso – Vinte minutos antes de voltar para o trabalho. – ela me olhou com um sorriso.
– Que bom que só preciso trabalhar a noite. – falei convencido.
– O seu ainda é muito mais fácil do que ser vendedora da Forever 21.
– Sério?
– Os clientes são de boa, mas a minha gerente é um saco. – ela fez careta.
– Talvez eu vá dar uma voltinha lá algum dia desses.
– Vou ficar super feliz em te atender. – ela riu fraco.
– Acho que você precisa passar lá no bar hoje à noite para dar uma relaxada.
– Talvez eu vá. – ela se levantou e estendeu a mão para mim – Vou te pagar o melhor frozen iogurte que você já comeu na sua vida.
Andamos dois quarteirões até uma lojinha bem pequena e ela pediu um frozen enorme com morangos e calda de chocolate. Nos sentamos nas mesinhas do lado de dentro e ela me empurrou o potinho.
– Prova primeiro. – ela me entregou a colher e peguei um pouco.
Fiquei fazendo caretas tentando engana-la e ela revirou os olhos com uma expressão entediada no rosto.
– E aí?
– Bom. – dei de ombros.
– Bom?
– Sim. – assenti – É só frozen iogurte. – ela me olhou em choque e pegou o potinho.
– Não é só um frozen iogurte, . – ela balançou a cabeça em negação – Mas tudo bem, vou te perdoar... dessa vez. – ela colocou um pouco do frozen na boca e me empurrou o potinho – Agora me conta que estou curiosa... – ela me olhou com um sorrisinho no rosto – Como você veio parar da Irlanda aqui e porquê?
– Avião. – falei indo e ela riu junto – Eu tinha deixado a faculdade e vim viajar para cá com uns amigos e.... – fiquei ponderando se deveria contar o resto ou simplesmente excluir aquela parte.
– E...?
– Ai eu conheci uma garota e a gente ficou se falando por uns meses... antes que você pense que eu vim por causa dela, não foi por isso. Ela foi só um...
– Um adicional. – ela completou e eu assenti.
– Eu não queria mais ficar lá e o Robbie ia se mudar para cá a trabalho e eu vim junto. – dei de ombros.
– Então você deixou a faculdade... – ela semicerrou os olhos – Para ser barman.
– Mais ou menos isso.
– Você estava estudando direito e se conformando em ser um advogado infeliz com a profissão?
– Estudava biologia marinha. – falei rindo e ela me olhou surpresa – O que?
– Nunca ia imaginar isso.
– E você? Sempre sonhou em ser vendedora da Forever 21?
– Não. – ela negou com a cabeça – Eu queria ser estilista ou trabalhar com moda, mas o máximo que consegui foi ser vendedora de lojas de departamento. – ela disse rindo – Pelo menos a minha irmã conseguiu ser alguém na vida e meus pais não se decepcionaram tanto assim com as filhas.
– Deve ser o máximo trabalhar como vendedora.
– Cala a boca. – ela riu alto – É horrível, mas por enquanto é o suficiente para sobreviver sem a ajuda dos meus pais.
Terminamos de comer o frozen enquanto reclamávamos dos nossos trabalhos e a acompanhei até o trabalho depois.
– Chegamos ao meu purgatório. – ela suspirou – Obrigada pelo almoço e por ter desdenhado do frozen. – ela fungou alto e passou o dedo abaixo do olho.
– Quem sabe algum outro dia eu te leve para comer as melhores coisas que você já comeu na sua vida.
– Só espero que você não demore tanto para me levar igual demorou para me ligar.
– Algum dia eu vou me redimir por isso. – coloquei a mão no peito e ela riu fraco.
– Vou esperar. – ela deu um passo para frente – Eu não vou fazer a recatada de novo. – ela disse baixinho e passei o braço pela sua cintura, trazendo-a para mais perto.
– Eu agradeço. – segurei seu rosto com a mão livre e a beijei.
Suas mãos foram para meus cabelos e ela ficou acariciando-os enquanto nos beijávamos. Eu queria muito levá-la dali para algum lugar e me odiei por ter escolhido um péssimo horário para sairmos.
– Eu infelizmente... – ela sussurrou contra os meus lábios – ... preciso entrar, mas eu te vejo hoje à noite.
– Hoje?
– Sim. – ela assentiu – A Lauren achou o outro barman super bonitinho e quer voltar lá hoje.
– Bonitinho... – ri fraco.
– Fazer o que se eu dei em cima do melhor barman primeiro. – ela deu de ombros.
– Então a gente se vê hoje à noite. – beijei-a rapidamente.
– Não quero entrar. – ela choramingou – Mas eu preciso de dinheiro. – ela respirou fundo – Ok, até a noite. – ela me deu um selinho e correu para dentro.
Continuei parado olhando para a entrada da loja sem saber muito bem o que fazer. Eu não tinha planos para o resto do dia e não queria ir para casa jogar videogame igual no dia anterior, então apenas dei uma volta pelo centro até ficar cansado e quando cheguei em casa fiz exatamente o que não queria: jogar videogame o dia todo.


Capítulo 4 – Amores Passados

Amy já estava limpando o bar sozinha quando cheguei e me cumprimentou rapidamente. Fui para os fundos guardar minhas coisas e a ajudei terminar de limpar. Eu sentia que a todo momento ela parecia querer falar algo comigo, mas se segurava.
Malone desceu quando estávamos quase para abrir para avisar que Tom chegaria um pouco mais tarde e ficou encarando nós dois como se esperasse que disséssemos algo a ele e depois subiu.
Liguei o letreiro de 'aberto' do bar e fui para trás do balcão arrumar as garrafas. Amy se sentou ao balcão e ficou batucando as unhas na mesa.
– Você está bem? – ela disse com a voz mansa.
– Uhum. – murmurei.
– Me desculpa pela caixa, ...
– Está tudo bem. – olhei-a por cima do ombro rapidamente.
– Eu não conseguia mais ter aquelas coisas em casa. – ela suspirou – O tempo que ficamos juntos foi maravilhoso, mas... eu precisava me afastar daquelas memórias.
Senti uma súbita vontade de perguntar se ela não se lembrava de nada do que vivemos juntos ao me ver a noite por várias horas e todos os dias, mas guardei aquilo para mim. Esse tinha sido um dos motivos pelo qual terminamos, nós dois brigando por qualquer coisa, e uma coisinha mínima que eu falava a irritava e depois acabava explodindo porque ela tinha ficado brava.
– Eu devia ter te avisado, assim você não teria que me esperar.
– Sem problemas.
– Não queria que a situação ficasse desconfortável daquele jeito.
– Não ficou nada desconfortável para mim. – virei-me para ela – Estava tudo bem. Você está saindo com outra pessoa e ele veio te buscar no trabalho. Só isso.
– Eu estou namorando com ele. – ela mordeu o lábio.
– Meus parabéns. – falei sincero.
– Não precisa ser um idiota, sabia?
– Apenas te dei os parabéns pelo namoro.
– Aham. – ela revirou os olhos.
– Você quer que eu fique com ciúmes?
– Óbvio que não. – ela disse exasperara.
– Ótimo, porque eu não vou ficar.
– Quando que você se tornou um imbecil mesmo? – ela deu um tapa na mesa.
– Eu não vou discutir com você, ok? – esfreguei o rosto – Achei que a gente tinha acabado com essas merdas.
– A gente acabou com tudo, mas eu queria manter nossa amizade...
– Então não vem falar para mim sobre como você seguiu em frente e agora namora com um cara que tem carro maneiro e um emprego melhor que o meu e pode dar tudo o que você quer, ok? – aproximei-me dela irritado – Não temos mais nada, então não precisa ficar se preocupando se eu ainda te amo ou se estou seguindo em frente ou não.
– Seu arrogante. – ela rosnou e ficou em pé no banco apoiada no balcão – Eu só quero que você seja feliz, ok? Eu ainda me importo com você e não estou nem aí se ele tem um carro ou trabalho que pague bem, o que importa é que ele me ama e eu amo ele.
– Até porque eu saí do meu país pra ser barman em outro continente por causa de uma garota que eu não amava. Que grande idiota. – falei rindo e caminhei até a saída dos fundos.
– Eu te odeio. – ela gritou.
– Estou cagando para isso. – abri a porta e sai, fechando-a o mais forte possível.
Sentei-me nas caixas de madeira e acendi um cigarro para tentar me acalmar. Era claro que ela não queria esfregar nada na minha cara e só queria que eu ficasse bem, mas eu não conseguia ver daquela forma na hora certa.
As coisas sempre tinham sido assim. A discussão começava pequena e ia se tornando uma bola de neve gigante onde eu acabava explodindo e depois me arrependia porque finalmente acabava me dando conta de que não precisava de tudo aquilo. Eu não estava com ciúmes, apenas estava irritado com todo mundo me pedindo para seguir em frente quando eu na verdade estava fazendo isso, mas as pessoas simplesmente escolhiam não perceber.
Tinha fumado já metade do maço quando Amy apareceu com os olhos vermelhos e um pouco inchados. Senti uma pontada forte no peito ao vê-la daquele jeito por minha culpa. Até mesmo depois de termos terminado eu ainda a fazia chorar.
– Me desculpa. – sussurrei e ela ficou me encarando com os braços cruzados em frente ao corpo – Eu não queria ter sido um idiota, só que... tem horas que eu não consigo me segurar.
– Eu sei. – ela disse com a voz embargada – Você deve achar que não, mas eu me preocupo com você e só quero seu bem.
– Eu sinto muito. – joguei o cigarro no chão e caminhei até ela – Eu sempre falava que ia melhorar e aí não dava em nada.
– Não quero que as coisas fiquem estranhas entre a gente, ...
– Também não quero isso. – acariciei sua bochecha.
– Você não veio da Irlanda para cá por minha causa, né? – ela perguntou preocupada e neguei com a cabeça.
– Só falei aquilo no momento da raiva. – encostei minha testa na dela e ela prendeu a respiração.
– Por favor... – ela sussurrou – Não faz isso que você está prestes a fazer... eu realmente amo ele...
– Eu não ia te beijar. – afastei-me dela.
– Obrigada. – ela sorriu aliviada.
– Melhor eu entrar. – cocei a nuca e a deixei lá sozinha sem falar mais nada.
Tom já estava lá dentro debruçado no balcão quase cochilando. Diferente de mim, o trabalho de garçom para ele era só para juntar uma grana extra além do que ele recebia no trabalho diário dele após a faculdade nos dias de semana, o que fazia com que ele praticamente dormisse no bar sempre que ficava mais de dez minutos sem fazer nada.
– Acorda. – dei-lhe um tapinha no ombro e ele me olhou assustado.
– E aí? – ele bocejou – Cheguei aqui e ela estava chorando.
– É. – baguncei os cabelos – Não fala nada para o Malone sobre isso.
– Porque?
– A gente brigou. Eu briguei na verdade.
– Tudo bem. – ele assentiu.
– Tem uma garota que vai vir aqui hoje por sua causa, então faça um bom trabalho.
– Sério?
– Aham.
– O que você fez?
– Nada. – dei de ombros – Ela vai voltar aqui por causa do seu charme.
– Você podia ter me avisado antes.
– Aja naturalmente. – falei rindo.
Alguns clientes apareceram e fui atendê-los na mesa enquanto Amy não aparecia. Quando ela entrou, foi direto para o escritório de Malone e voltou cinco minutos depois. Ela estava agindo como se nada tivesse acontecido e a parte egoísta minha agradeceu aquilo. Seria horrível trabalhar com ela jogando na minha cara que estava magoada com o que falei.
Michael mandou uma mensagem falando que iria passar lá com Robbie e um pessoal do trabalho para tomar uma cerveja e que era para guardar o lugar deles no balcão, mas nem seria precisa já que era um dia de pouco movimento e dias assim eram como uma faca de dois gumes. Bom porque era pouco trabalho, porém ruim por causa das poucas gorjetas.
apareceu de braços dados com sua irmã que assim que me viu fechou a cara. Eu precisava descobrir qual era o problema dela comigo ou se ela era assim com todos os homens.
– Cadê a Lauren? – perguntei baixinho quando elas se sentaram ao balcão.
– Ela já vem. Porquê?
– Eu disse ao Tom que tinha uma garota interessada nele, mas não falei quem era. Ele deve estar surtando por dentro. – sorri largamente.
– Tadinho. – ela disse rindo – Mas daqui a pouco ela chega.
– Tudo bem. Ele precisa sofrer um pouco para virar gente. – dei de ombros – O que vocês vão querer?
– Cerveja e.... – ela olhou para a irmã e depois para mim.
– Posso te fazer algo sem álcool se quiser.
– Obrigada. – sorriu e fiquei feliz em finalmente ter conseguido um sorriso vindo dela.
olhou um pouco surpresa para a irmã e deu de ombros com um sorrisinho no rosto. Fiz um coquetel com zero de álcool para ela que mais parecia um suco de frutas e ela sorriu agradecida. Coloquei a garrafa de cerveja de na frente dela e a abri.
Nós dois ficamos conversando enquanto mexia no celular e Lauren logo apareceu um pouco afobada. Ela disse algo no ouvido de que fez uma cara de espanto e virou para trás meio que procurando alguém.
– Aconteceu alguma coisa? – perguntei enquanto enxugava os copos e ela negou com a cabeça.
Amy veio até nós pegar quatro canecas de chope e depois saiu. Segui ela com o olhar e vi que na mesa em que ela estava servindo, estava sentado o cara que perseguiu no dia de São Patrício. As três garotas na minha frente pareciam estar apreensivas e preocupadas com a presença dele, e começou a passar pela minha cabeça que talvez ele tenha feito à ela algo mais do que só perseguir.
– Seu amigo Tom... – Lauren se aproximou de mim pelo balcão – Ele namora?
– Não. – neguei com a cabeça tentando esconder um sorriso – Ele é todo seu. – ela olhou para Tom e depois para mim.
– Acho que se eu quiser falar com ele tenho que sentar do outro lado, não é mesmo?
– Posso sair para fumar se você quiser.
– Pode ir então. – ela sorriu largamente.
– Ei, Tom, vou sair para fumar. – gritei para ele que assentiu.
Olhei para e fiz sinal para ela com a cabeça indicando a porta que dava para os fundos e ela assentiu. Andei até Tom e dei um tapinha em seu ombro.
– A garota é aquela. – apontei Lauren com o queixo enquanto ela falava algo com .
– A que está a noite toda bebendo coisas sem álcool?
– Não, idiota, a que está falando com ela.
– Ah. – ele assentiu – Tudo bem.
Sai pelos fundos e veio junto esfregando os braços. Sentei-me nas caixas e peguei um cigarro, oferecendo o maço para ela que apenas negou com a cabeça.
– Eu não fumo. – ela deu uma risadinha.
– É só um hábito. – falei rindo e coloquei o cigarro na boca e acendi.
– Isso vai te dar um câncer no futuro, sabia?
– Obrigado pelo aviso, doutora. – falei rindo – Minha mãe é cardiologista então esse sermão de câncer de pulmão não cola mais.
– Sério? – ela me olhou surpresa e assenti – Meu deus, isso é uma revelação. Sua mãe deve se sentir tão decepcionada pelo filho dela fumar.
– Infelizmente. – dei de ombros e soltei a fumaça.
– E seu pai? Ele também é um médico que dá sermões sobre os tipos de câncer que uma pessoa pode ter? – ela enfiou as mãos no bolso da jaqueta e neguei com a cabeça.
– Ele é pediatra então ele não está nem aí para você se tiver mais de doze anos.
– Sua família deve ser maravilhosa. Todo mundo falando de doenças no almoço em família.
– É exatamente desse jeito. – dei risada – Você e seu irmão obviamente não quiseram seguir a carreira de médicos.
– Ele é gerente de um bar.
– E você trabalha no bar dele quando vai para lá? – ela arqueou uma sobrancelha e me olhou curiosa.
– Isso mesmo. – dei uma última tragada e joguei a bituca no chão – Eu e minha sobrinha.
– Nossa, tinha até esquecido disso. Ela tem quantos anos?
– Dezessete... eu acho, não me lembro ao certo.
– Que tio maravilhoso.
– Eu sou o tio favorito dela. – falei convencido e a puxei pela cintura – Acho que ela ia adorar você.
– Sério? – ela me olhou surpresa.
– Sim. Toda independente, espírito livre e essas coisas. O sonho dela é esse, mas nunca será realizado enquanto ela ainda morar com meu irmão.
– Minha vida não é tão assim. – ela me empurrou de leve com um sorriso tímido no rosto e a puxei para mais perto.
Segurei seu rosto delicadamente e a beijei. enfiou a mão por baixo da minha camisa e arranhou meu peito. Desci a mão pela sua bunda e a apertei levemente e ela deu uma risadinha fraca.
. – uma voz masculina e grossa a chamou e ela se apertou contra mim.
Abracei ela com força e ela cravou suas unhas em meu braço. Olhei para o lado e o cara que a perseguiu veio até nós dois.
– A gente precisa conversar. – ele a olhou sério.
– Vamos entrar, . – ela disse com a voz trêmula.
– Tudo bem. – sussurrei e começamos a caminhar para dentro.
, você não pode me ignorar para sempre.
– Posso sim. – ela disse com a voz esganiçada – Você não entende que eu não quero mais falar com você, Steve? Acabou, já era. – ela gritou.
Então ele não era tão desconhecido assim e era o mesmo cara que mandou mensagem para ela alguns dias atrás pedindo para conversar. Era praticamente óbvio para mim que eles tinham ou tiveram alguma coisa.
– Você nem deu chances de eu me explicar, porra. – ele gritou e tentou se aproximar dela, mas entrei na frente.
– Você não entendeu que ela não quer falar com você?
– Quem você pensa que é? – ele veio para cima de mim e abriu a porta e segurou minha mão.
– É meu namorado. Eu te disse para você que estava com outra pessoa.
– Não, , você não está com ninguém. Eu não sou tão idiota assim.
– Estou sim e estou muito mais feliz agora do que quando estava com você, então por favor... Para de ficar atrás de mim, Steve, segue a sua vida e me deixa em paz. – ela disse chorando e me puxou para dentro.
Tranquei a porta quando entrei e me encostei na parede olhando para ela que estava com as mãos na frente do rosto. Eu não sabia o que fazer ou como agir nessas situações.
– Você... você está bem? – perguntei preocupado e ela assentiu.
– Estou ótima. – ela enxugou o olhos e olhou para mim com um sorriso como se nada tivesse acontecido.
– É uma boa hora para te perguntar quem ele é?
– Não. – ela negou com a cabeça – Quem sabe mais tarde eu te conte... ou outro dia. – ela deu de ombros.
– Tudo bem. – assenti – Vamos, vou te preparar algo forte para você ficar tão bêbada que nem vai lembrar seu nome.
– Vou ficar muito feliz com isso. – ela me deu um beijo rápido.
Coloquei a mão em suas costas e a guiei para dentro do bar. estava olhando Lauren e Tom conversar e se sentou ao lado da irmã que a olhou calma, mas depois sua expressão ficou de preocupação.
Tentei refazer o tal do Texas Tea que tinha feito para eles, mas não conseguia me lembrar de todas as bebidas então fui colocando apenas o que lembrava.
– Prontinho. – coloquei o copo na frente dela e ela sorriu para mim – Por conta da casa.
– Obrigada.
olhou para mim com uma expressão séria e a encarei da mesma forma esperando que ela ficasse desconfortável e parasse, mas ela era impenetrável e apenas continuou. Acabou que eu fiquei desconfortável e me voltei para as prateleiras para organizar as garrafas.
Olhei rapidamente para trás e Lauren e Tom ainda conversavam animado e eu realmente esperava que as coisas dessem certo entre eles. Tom precisava de algo na sua vida que não fosse apenas a faculdade e seus dois trabalhos.
. – ouvi Amy me chamar e me virei para ela – Um uísque duplo e duas marguerita.
Peguei as duas taças embaixo do balcão e comecei a preparar o drinque, colocando-os em seguida na bandeja junto do uísque. Ela sorriu fraco para mim e logo em seguida saiu. Lauren olhou para nós dois rapidamente e voltou sua atenção para Tom.
Tinha me esquecido completamente do tal Steve até que ele passou pelo balcão no caminho para o banheiro. Ele praticamente me fuzilou com os olhos quando me viu e fiz o mesmo com ele. Eu não era o namorado dela e só a conhecia a pouco tempo, não precisava me meter no meio daquilo, mas eu sabia o quão chato podia ser ter um cara correndo atrás de alguém que não quer nada, e foi exatamente por isso que não tentei discutir uma segunda vez com Amy quando ela quis terminar.
– Boa noite, moças. – ouvi a voz animada de Robbie e me virei para o lado.
Ele estava com Michael e dois caras usando terno igual a eles. Peguei quatro garrafas de cerveja e coloquei no balcão e eles sorriram agradecidos.
– Como estão as coisas? – Michael perguntou e dei de ombros.
– Bem.
– Sua garota voltou. – ele disse baixo e olhei para que estava conversando com Robbie.
– Ela não é minha garota. – falei rindo.
– Pode ser se você quiser.
– Mas eu não quero.
– Desse jeito ela vai te ouvir. – ele cantarolou.
– Eu não quero namorar ninguém.
– Não é para você namorar, é só para ter um contatinho para quando quiser transar e pronto.
– Uhum. – murmurei.
Amy apareceu e deu a volta no balcão para deixar os copos sujos e fiquei olhando para ela andar de um lado para o outro. Quando ela saiu, Michael ficou me encarando com uma sobrancelha levantada e os braços cruzados.
– Essa não é mais sua garota. – ele disse um pouco triste – Mas aquela pode ser. – ele indicou com a cabeça e revirei os olhos.
– Ela está namorando.
? – ele falou exasperado e olhou para nós dois.
– O que? – ela perguntou e neguei com a cabeça.
– Nada. – respondi e ela voltou a atenção para Robbie.
– Amy? – ele sussurrou.
– Claro que é a Amy.
– Ela te contou?
– Sim, e eu vi eles dois ontem quando estávamos indo embora.
– E aí?
– O que?
– Você ficou puto? – ele bebeu um gole da cerveja – Não vou te julgar se você ficou.
– Não fiquei. – suspirei.
– Vocês namoraram por quanto tempo? Quatro anos.
– Três. – corrigi – E eu não estou bravo nem nada. Estou feliz por ela.
– Mentiroso. – ele riu fraco – Você até pode estar feliz, mas não pode negar que está com um pouquinho que seja de raiva por ela já estar com outro enquanto você... – ele encolheu os ombros.
– Sei lá, Michael, eu não parei para pensar nisso e nem quero. Faz sete meses, eu segui em frente.
– Você amava ela e agora...
– Não amo mais. – dei de ombros – Eu não quero falar sobre isso.
– Você quem sabe.
Steve veio até o balcão quando saiu do banheiro para pagar sua conta e ficou o tempo todo olhando para que nem tinha percebido ele. Fiz questão de ir atendê-lo e ele revirou os olhos quando percebeu que era eu quem fecharia sua conta.
– Trinta dólares. – olhei-o sério.
Ele tirou três notas de dez e me entregou. Seu maxilar estava travado exatamente como o meu quando estava com ódio de algo ou alguém.
– Vocês não vão durar.
– Tudo bem. – dei de ombros.
– Ela te contou porque terminamos? – ele me olhava irado, mas seu tom de voz o fazia parecer preocupado se ela tinha contado ou não.
– Tudinho. – cruzei os braços – Do começo ao fim. – olhei-o desafiador.
Esperei que ele falasse alguma coisa, mas ele simplesmente saiu sem nem olhar para ela uma última vez. Obviamente que uma curiosidade cresceu dentro de mim para saber porque eles tinham terminado, mas eu não ia perguntar, pelo menos não agora.
Quando voltei para perto deles, vi Robbie novamente dando em cima de enquanto Lauren ainda conversava com Tom, e falava animada com Michael e os dois caras que estavam com ele.
Nenhum deles percebeu que tinha me aproximado e fiquei olhando para tentando achar nela o porquê deles terem terminado. Ela acabou me vendo e sorri rapidamente, voltando sua atenção para eles novamente.
As possibilidades eram infinitas e eu não conseguia imaginar eles dois juntos. Steve tinha um ar sério, tanto nas roupas quanto no rosto, enquanto estava sorrindo na maior parte do tempo e com roupas rasgadas e informais, sem contar que ele parecia bem mais velho que eu.
O sino da porta chamou minha atenção e olhei para quem entrava, vendo o novo namorado de Amy entrar. Ele olhou ao redor e acenou com a mão para ela quando a encontrou e depois veio até o balcão, sentando-se ao lado de Michael. Olhei para Tom esperando que ele fosse atender, mas ele estava muito ocupado fazendo nada.
– Cerveja? – perguntei sem saber muito bem o que falar com o atual da minha ex.
– Sim. Guinness, por favor. – ele sorriu e soltou um pouco a gravata.
Peguei uma garrafa de cerveja e coloquei na frente dele que acenou a cabeça para mim. Passei o pano pelo balcão e Michael olhou para mim rapidamente, e tentei, o mais discretamente possível, indicar o cara ao lado dele, mas ele me olhou sem entender muito.
– Ei. – Amy apareceu toda sorridente e lhe deu um beijo na bochecha – O que você veio fazer aqui, Dave? – ela colocou a bandeja no balcão e finalmente Michael percebeu o que quis dizer e a olhou surpreso.
– Saí mais cedo do trabalho e pensei em vir te ver. – ele deu de ombros.
– Espero que você deixe uma boa gorjeta para gente. – ela deu um risadinha e ela acariciou a bochecha dela.
– Pode deixar. – ele disse com uma voz apaixonada e encarei o balcão vazio.
– Cinco chopes. – ela disse com a voz trêmula.
Como se estivesse no piloto automático, peguei as canecas de chope e as coloquei rapidamente na bandeja. Ela sorriu agradecida para mim e saiu sem falar nada. Dave, o namorado que agora tinha um nome, ficou olhando passar por entre as mesas e depois se virou para frente.
– Espero que isso não seja estranho para você. – ele disse calmo e balancei a cabeça.
– Nem um pouco. – sorri forçado e fui para perto de – Querem mais alguma coisa?
– Três marguerita. – Robbie disse – Você realmente não bebe? – ele perguntou para que negou com a cabeça – Vocês vendem refrigerante? – ele perguntou rindo e ri fraco. Quase ninguém que frequentava o bar pedia coisas sem álcool.
– Nós temos refrigerante. Qual você quer?
– Coca-Cola.
Fiz as três marguerita que Robbie pediu e entreguei a lata de refrigerante para que me agradeceu tão baixo que mal pude ouvir.
Eles ficaram a noite toda por lá e os dois caras que vieram com ele precisaram ir embora mais cedo. Quase pedi para que eles levassem Dave para que eu não tivesse que atendê-lo. Eu queria que ele fosse um completo imbecil, mas ele era bastante educado e comecei a me sentir um idiota por estar levemente com ciúmes da minha ex-namorada que eu tinha plena certeza de que não amava mais.
O movimento do bar foi diminuindo e Malone, que raramente saia do escritório quando ainda estávamos abertos, resolveu aparecer e ficar atrás do balcão olhando Tom e eu trabalhar. Ele elogiou a camiseta do AC/DC que estava usando e os dois entraram em uma conversa animada sobre bandas de rock dos anos setenta.
Aproveitei para sair pra fumar sem eles perceberem e fiquei lá fora no frio por uns vinte minutos fumando até que Malone veio atrás de mim.
– Eu já ia entrar. – falei sem nem me mover um milímetro.
– Sei. – ele riu – Você viu o namorado da Amy?
– Aham. – murmurei – Acho que agora você pode esquecer de nós dois.
– Eu gostava de vocês dois juntos. – ele deu de ombros – Vocês faziam um casal bonito, mas você também combina com a garota lá dentro.
– Qual delas?
... é esse o nome dela, né?
– Hum.
– Vocês estão saindo?
– A gente se viu umas três vezes. – dei de ombros – Porque você está interessado nisso?
– Você e a Amy são como filhos para mim e eu... eu só quero que vocês sejam felizes, só isso.
– Eu estou feliz sozinho, não preciso ter alguém para me fazer feliz.
– Sabe... você pode demonstrar seus sentimentos às vezes. Não é possível que você não sinta nada em ver ela com o namorado novo.
– Só é estranho. – suspirei – Ela era minha namorada e agora... agora é de outro e tudo isso por minha culpa.
– Não foi só culpa sua, .
– Tanto faz. – resmunguei – Agora já foi, não tem mais volta. – joguei o cigarro no chão.
– Nisso você tem razão. – ele respirou fundo e coçou a cabeça – Vocês brigaram hoje, não foi?
– Mais ou menos.
– Eu gosto de vocês dois e não quero que vocês fiquem brigando por causa de coisa do passado.
– Não vamos mais brigar. – falei cansado e caminhei até a porta.
– A Debbie acha que a Amy foi uma tola em ter terminado. – ele riu fraco – Ela ainda pergunta por você sempre que chego em casa e também sente muito sua falta.
– Não tenho culpa que sou adorável... – falei convencido – E que sua enteada quis meter o pé na minha bunda... – abri a porta – E agora eu tenho que servir o novo namorado dela. – sorri largamente.
Quando voltei o bar estava totalmente vazio exceto por eles sentados ao balcão conversando. Amy estava sentada ao lado do namorado rindo de algo que ele falava e não percebeu que eu tinha voltado.
– Você vai nos expulsar? – Michael perguntou meio bêbado e neguei com a cabeça.
– Não enquanto você continuar aumentando meu salário no final do dia. – apoiei-me no balcão e encarei com um sorriso de lado.
Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e apoiou os cotovelos no balcão e ficou me encarando com o lábio entre os dentes de um jeito sensual. Procurei por uma caneta em algum lugar por perto e peguei um guardanapo para escrever.
"Vamos para minha casa!" rabisquei no papel fino e o dobrei, empurrando para ela que leu e sorriu largamente. Ela assentiu para mim e colocou o papel no bolso.
, é melhor nós irmos para casa. Está ficando tarde. – disse cansada e bocejou em seguida.
– Pode ir, eu vou mais tarde de Uber. A Lauren vai com você. – Lauren olhou indignada para a amiga que me indicou com a cabeça e sorri de lado para ela que rapidamente entendeu a mensagem.
– Deixa ela aí, , vamos nós duas. Estou super cansada. – ela fingiu um bocejo e olhou para Tom – Eu te ligo.
– Vou esperar. – ele sorriu um pouco tímido para ela.
– Vamos? – ela se levantou e olhou para que estava intercalando entre e eu.
– Tem certeza que é uma boa você ir embora.... sozinha? – ela perguntou preocupada.
– Eu vou ficar bem. – ela disse confiante e a irmã suspirou.
Tom fechou a conta delas duas e me virei para Michael e Robbie que estavam praticamente deitados no balcão.
– Vocês têm dois minutos para sumir da minha frente. – falei sério e eles me olharam indignados.
– Qual é, , nem está na hora de fechar.
– Vocês podem ficar aí, eu vou embora. – sorri e Amy se virou para mim.
– Você já vai?
– Aham. – assenti – Eu tenho que acordar cedo amanhã...
– Para que? – ela cruzou os braços – Jogar videogame?
– É. – sorri forçado e olhei para Tom – Você dá conta?
– Se a Amy não decidir fugir também...
– Valeu. – dei um tapinha em seu ombro – Fico te devendo.
– Nós estamos indo... – veio até – Tem certeza?
– Sim. Eles ainda vão ficar aqui mais um tempo. – ela olhou para Robbie e Michael que assentiram com sorrisos enormes no rosto já entendendo o que estava acontecendo.
– Tudo bem, . – ela suspirou – Qualquer coisa você me liga, ok?
– Pode deixar, irmãzinha, não precisa se preocupar. – ela abraçou a irmã que depois olhou para mim sem dizer nada.
Ficamos os quatro em silêncio entretidos esperando que elas fossem embora que tomamos um susto quando Malone entrou e fechou a porta dos fundos com força.
– Você queria fazer a gente ter um ataque cardíaco? – Amy disse com a mão no peito e ele gargalhou alto.
– Não quis assustá-los. – ele disse rindo.
– Mas assustou.
– Desculpinha.
– Eu já vou indo. – falei.
– Já? – ele cruzou os braços e assenti.
– Sim, eu vou levar a embora...
– E a Amy? – ele olhou para ela que revirou os olhos.
– O namorado dela pode levá-la. – sorri para os dois.
Sai praticamente correndo para pegar minhas coisas antes que ela falasse algo e já estava na porta me esperando quando voltei. Nós caminhamos até minha casa com ela falando sobre como tinha adorado Malone e Amy. Aparentemente as duas tinham ficado bem amiguinhas, pois conversaram bastante quando saí para fumar. Não consegui me segurar e perguntei a ela se tinham conversado sobre mim, mas ela disse que não. Eu deveria aproveitar aquele momento e perguntar sobre Steve, mas ainda era muito cedo para aquilo.
– Chegamos. – falei quando abri a porta e dei passagem para ela.
Joguei minha mochila no mesmo canto em que a caixa com os presentes de Amy estava e andou pela sala olhando para todos os lados.
– Por que você não tem nenhum tipo de decoração? – ela perguntou num tom de voz infantil e veio até mim.
– Esse apartamento era para ser provisório... – cocei a nuca.
– Provisório porquê?
– Eu ia ficar só mais algumas semanas por aqui e ia voltar para a Irlanda quando Amy terminou comigo, mas eu nunca voltei. – dei de ombros.
– Então vocês moravam juntos. – ela se sentou no sofá e me olhou com um sorrisinho.
– Sim. – sentei-me ao lado dela – Eu vim da Irlanda direto para a casa dela.
– Ela me pareceu ser bem simpática. – ela se ajoelhou no sofá e segurou meu queixo – Acho que o problema do relacionamento foi você.
– Eu sou um grande problema. – sorri de lado.
– Já percebi. – ela se sentou em meu colo e beijou meu pescoço – Mas talvez eu seja um problema maior que você...
– Será? – puxei sua blusa para cima e acariciei seus seios.
– Eu vou te mostrar.
Enrolei uma mecha dos cabelos dela em meu indicador enquanto ela passava a ponta das unhas pelo meu peito. Nossos corpos estavam suados e cansados em cima da cama e ainda estava um pouquinho ofegante de minutos atrás. Parecia que eu finalmente tinha uma explicação para ficar excitado apenas com um beijo dela: ela sabia exatamente o que estava fazendo e fazia aquilo com uma maestria descomunal.
– Minha irmã vai me matar. – ela deu uma risadinha.
– Ela me odeia.
– Só um pouquinho. – ela se apoiou nos cotovelos e me olhou – Ela só quer me proteger de outros caras que me... que me façam mal. – ela franziu o lábio.
– Posso te perguntar uma coisa? Você não precisa responder se não quiser.
– Você vai me pedir em namoro? Eu acho que é cedo demais... – ela disse rindo.
– Não. – neguei com a cabeça – Eu só fiquei um pouco... curioso em saber porque você e o cara lá terminaram.
– Ele não me via mais como namorada e eu passei a ser sua propriedade.
– Ele disse que nós não íamos durar.
– Vocês conversaram? – ela arregalou os olhos e eu assenti.
– Mas foi bem rápido na hora que ele foi pagar a conta.
– Foi só isso que ele disse?
– Ele perguntou se eu sabia porque vocês terminaram e eu disse que sabia tudo, aí ele ficou um pouco assustado.
– Ele me bateu. – ela mordeu o lábio e abaixou o olhar.
Não escondi a cara de espanto ou ouvir aquelas três palavras juntas saindo da boca dela. Segurei seu queixo e ergui seu rosto para que ela me olhasse. Seus olhos estavam pouco marejados o que significava que aquilo era um assunto muito mais delicado do que parecia.
...
– Foi por isso que a gente terminou. Ele tinha um ciúmes excessivo e começou a me agredir. Na primeira vez eu desculpei porque ele se mostrou realmente arrependido e me fez acreditar que ia mudar. – ela disse com a voz embargada – A segunda ele... fez parecer que eu estava apanhando por minha própria culpa e eu novamente o desculpei porque achei que era a culpada...
– Você não precisa falar sobre isso se não quiser. – enxuguei a lágrima que escorreu pela sua bochecha.
– Eu não me importo. – ela sorriu triste – E a terceira... ele quebrou meu braço e quase me matou porque ele ouviu eu e minha irmã conversando sobre homens que agrediam mulheres e ele achou que estávamos falando dele.
– Ele fez isso na frente dela?
– Não. – ela negou com a cabeça – Foi minutos depois dela ter saído, mas ela esqueceu o celular e voltou buscar e aí me encontrou.
– Por isso que ela te protege desse jeito.
– Sim, é chato, mas eu não a culpo. Ela só tem medo que isso se repita novamente.
– Eu sinto muito.
– Está tudo bem agora. – ela enxugou o olho – Faz um ano que ele me persegue desse jeito. Ele quer conversar e tentar resolver as coisas entre nós, talvez por medo de eu tomar alguma providência ou contar aos meus pais.
– Você não contou para eles?
– Só para minha mãe, mas meu pai é meio louco e ficamos todas com medo dele tentar matar o Steve, e com razão.
– Uau. – falei surpreso.
– Eu estou muito mais feliz agora. – ela sorriu – Posso fazer tudo o que eu quiser sem chegar em casa e ter que me explicar para um cara ciumento que me quer trancada.
– Sabe... se você quiser eu posso dar uma surra nele quando o ver.
– Seria ótimo. – ela disse rindo – E diga que mandou lembranças. – ela subiu em cima de mim e me beijou.


Capítulo 5 – Dia Ruim

Pela primeira vez em muito tempo, os dias tinham se passado muito rápido. Um mês se passou desde que comecei a sair com e nós nos víamos pelo menos umas três vezes por semana. Não precisamos chegar em um acordo para saber que não éramos exclusivos e ela até tinha me arrumado uma garota quando fomos à um bar com nossos amigos.
Michael e Robbie adoravam ela, Lauren parecia ser uma das minhas maiores fã e pareceu estar perdendo um pouco do seu ódio por mim quando viu que o que eu e a irmã dela tínhamos não era sério. Obvio que também fazia o máximo para deixar claro que o que aconteceu com a irmã dela e Steve não se repetiria comigo.
O celular de vibrando em cima de mesa de cabeceira nos acordou e ela o desligou, jogando-o no carpete. Abri os olhos lentamente quase ficando cego com a luz atravessando as cortinas brancas do quarto dela.
– Eu não quero ir trabalhar. – ela choramingou – Mas eu preciso.
– Levanta essa bunda daí. – dei um tapinha na bunda dela e me levantei.
Vesti minha cueca e bermuda que estavam no chão e caminhei bem lentamente até a cozinha. Parei no meio do caminho quando vi sentada no balcão comendo cereal. Ela levantou o olhar para mim e revirou os olhos.
– Bom dia. – cocei a nuca.
– Você passou a noite aqui? – ela cruzou os braços.
– Mais ou menos.
– Aí Deus. – ela suspirou e voltou a comer.
– Bom dia. – disse toda alegre e foi até a irmã – Bom dia, .
– Ele passou a noite aqui?
olhou para mim com um sorriso divertido no rosto e dei de ombros. Nós sempre íamos para minha casa para não incomodar , mas na noite passada estávamos tão bêbados e a casa dela era tão mais perto que viemos para cá.
– Sim. – ela sorriu – Vou tomar um café rápido e ir trabalhar.
– Quer carona?
– Óbvio que eu quero. – ela puxou a porta da geladeira com força e pegou uma garrafinha de suco – Toma. – ela jogou para mim e segurei.
– Valeu.
, sabe o Robbie, amigo do ?
– Hum?
– Ele está afim de você. – ela se apoiou no balcão em frente à irmã.
– Tá.
– Só isso? – ela disse num tom de voz indignado e deu de ombros – Você poderia dar uma chance, o que você acha?
– Não. – ela pegou a tigela e se levantou – Avisa seu amigo que eu não quero. – ela disse séria para mim e assenti.
Bebi o suco todo de uma vez e fiquei em silêncio com na dançando de um lado para o outro na cozinha comendo iogurte. Joguei a garrafa vazia no lixo e ela me empurrou até seu quarto.
– Eu não entendo ela. – resmungou – Ela é muito fechada em certas coisas.
– Acho que ela não quis dizer nada porque eu estava perto. – calcei meu tênis e vesti a camiseta.
– Claro que não. – gritou do banheiro e logo saiu usando um vestido preto com mangas e uma gola branca – Nós duas conversamos sobre praticamente tudo, mas quando se trata de relacionamento ela se fecha totalmente. – ela enfiou o All-Star no pé sem meias.
– E você fica bravinha porque você fala para ela e ela não fala para você. – provoquei-a e ela me mostrou a língua.
– Sim. – ela me olhou enquanto penteávamos os cabelos – Irmãs deveriam ser melhores amigas. Você é melhor amigo do seu irmão.
– Porque ele é mais velho do que eu, porque se tivéssemos um ano de diferença igual vocês duas as coisas iam ser diferentes.
– Defendê-la não vai fazer com que ela goste de você. – ela disse rindo.
Nos sentamos na sala para esperar e ela logo apareceu. Ela dirigiu até o trabalho de e mesmo eu dizendo que ficaria por ali por ser perto de casa, ela insistiu em me levar sem se importar em chegar atrasada na faculdade.
– Eu ouvi vocês dois conversando sobre mim. – ela disse olhando atenta para a rua.
– Não quero me meter entre vocês duas...
– Você não vai. – ela me olhou rapidamente – Só queria que você colocasse na cabeça dela que nem todo mundo é como ela... super aberto para tudo, que sabe aceitar e se aceitar de uma hora para outra.
– Sim. – respondi um pouco confuso.
– Ela quer que todo mundo seja social igual ela.
– E vocês são diferentes.
– Exatamente. – ela suspirou – Se você pudesse pedir para o seu amigo não... não me incomodar mais, eu agradeceria.
– Sem problemas. – dei de ombros.
– Me desculpa se sou um pouco grossa com você às vezes.
– Você só quer proteger sua irmã. Eu faria o mesmo no seu lugar.
Nós ficamos em silêncio pelo restante do caminho e não vimos motivo em continuar a conversa se tudo tinha sido dito. Era óbvio que ela não ia me falar o motivo de cuidar da irmã e provavelmente ela nem imaginava que tinha me contado sobre Steve.
– Chegamos. – ela estacionou em frente ao meu prédio.
– Obrigado pela carona. – falei enquanto tirava o cinto.
– Disponha. – ela sorriu fraco.
Quando cheguei em casa fui direto para o banho e sai de lá correndo quando meu celular começou a tocar. Peguei ele com a mão molhada sem nem ver quem estava ligando e atendi.
...
– Fala, Owen.
– A mãe quer saber se você vem para cá no dia dos pais.
– Eu estou bem, obrigado por perguntar, e você? – ajeitei a toalha na cintura e fui para o quarto
– Quanta frescura. – ele resmungou – Só responde.
– Não sei.
– Calma, mãe, você não ouviu que ele disse que não sabe.
– Está no viva-voz?
– Sim.
– Eu não sei, estou meio sem grana, talvez no outro mês.
– Diz para ele que eu mando dinheiro se precisar. – minha mãe gritou – Não, mãe, ele não vai vir e pronto. Tchau, .
– Owen...
Meu irmão desligou antes que eu pudesse falar qualquer coisa e joguei o celular na cama para poder me trocar. Assim que terminei de me vestir, o celular tocou e era Owen novamente.
– O que foi? – falei irritado.
– Ela quer que você venha.
– Eu sei que ela quer...
– Mas ela tem que acreditar que você não vem.
– Mas eu não vou. Eu estou guardando dinheiro, Owen.
– Coloquei o valor certinho da passagem na sua conta...
– Porque?
– Para gente fazer uma surpresa para ela, caramba.
– Eu não vou te devolver o dinheiro, fique sabendo disso.
– Te conheço desde que você nasceu, , eu sei que você não vai devolver. – ele disse rindo.
– Ótimo.
– Como estão as coisas aí?
– Bem. E aí?
– Também. A mãe pergunta de você todos os dias.
– Imagino. – suspirei – Oona está na escola?
– Espero que sim, foi lá que eu deixei ela hoje de manhã.
– Ela está bem?
– Sim. Não vê a hora de você vir para cá.
– Vocês planejaram toda a minha viagem sem nem me contar?
– Assim você não tem desculpas.
– Porcaria. – resmunguei – Eu não vou ficar muito tempo, preciso trabalhar.
– Tudo bem, você quem sabe, só vêm para casa, estamos com saudades.
– Fui aí no Natal.
– Você não está com saudades da sua família, ?
– Vai se ferrar, Owen. – falei rindo – É claro que estou.
– Aham. – ele riu – Preciso ir abrir o bar, a mãe veio para cá me ajudar hoje.
– Ok, a gente se fala. Tchau.
– Tchau, .
Aproveitei aquela manhã para finalmente ser uma pessoa produtiva e fazer uma faxina na casa toda, finalmente me livrando da caixa de presentes de Amy. Ela não ia ficar magoada em saber que as coisas dela tinham sido jogadas no lixo, afinal, ela tinha terminado comigo e não podia esperar que eu ficasse com aquelas coisas na minha casa me remoendo pelo que aconteceu.
Acompanhei Amy até o prédio dela e nós dois nos surpreendemos ao virar a esquina e encontrar Dave sentado na escada vestido casualmente e com um buquê de flores na mão. Queria gritar para ele que ela não gostava de flores, mas me segurei.
– Dave... uau. – ela disse surpresa – Para que essas flores?
– Para você. – ele disse em um tom de obviedade – E aí, .
– Oi. – acenei para ele com a cabeça – Está entregue. Já vou indo. – falei para Amy que tirou os olhos do buquê e se virou para mim.
– Obrigada. – ela me deu um beijo na bochecha– Boa noite.
– Boa noite. – falei sem ânimo.
Fui andando lentamente e olhando para trás a todo o momento, vendo Amy toda encantada com o enorme buquê que seu novo namorado tinha lhe dado. Era difícil acreditar que ela estava feliz em ter ganhado flores dele e nem se deu ao trabalho de fingir que gostou quando eu fiz o mesmo para ela no nosso primeiro aniversário de namoro.
Uma coisa incomoda foi crescendo dentro de mim ao passar pela minha cabeça que ela tinha fingido para Dave que gostava de flores apenas para agradá-lo. Quando eu lhe presenteei com um buquê, ela apenas agradeceu e disse que não gostava desse tipo de presente. Fiquei pensando para qual dos dois ela tinha mentido e obviamente era para ele, já que até mesmo Malone e a mãe dela diziam que ela odiava. Me senti um idiota por estar esquentando a cabeça com a minha ex-namorada gostar ou não de flores quando eu tinha coisas mais importantes para pensar.
Assim que abri a porta do meu apartamento, peguei o celular no bolso para ligar para e quando fui procurar o número dela na agenda, ele começou a tocar e a foto dela apareceu.
– Eu ia te ligar agora. – falei rindo.
– Posso ir aí? – ela disse chorosa.
– Aconteceu alguma coisa?
– Não quero falar por telefone...
– Claro que pode vir. Vou ficar te esperando.
– Daqui a pouco chego aí... obrigada, . – ela desligou quando fui falar.
Peguei uma cerveja na geladeira e fiquei sentado no sofá esperando por ela que chegou quase uma hora depois quando eu já estava cochilando.
– Você está bem? – perguntei quando abri a porta e ela assentiu.
Seus olhos estavam vermelhos e meu primeiro pensamento foi que Steve tivesse feito algo. Levei ela para o meu quarto e ficamos sentados na cama, ela encarando o chão e olhando-a sem saber o que dizer.
, o que aconteceu?
– O dia hoje foi uma merda. – ela disse irritada – Uma merda.
– Porque?
– Eu discuti com a minha irmã hoje de manhã e aí fui para o trabalho achando que estava tudo bem, mas não. – ela se levantou – Estava tudo péssimo. – ela gritou – Eu e mais várias vendedoras fomos demitidas e não sei mais o que fazer, aí cheguei em casa e briguei com a de novo.
– Ela te colocou para fora? – arqueei uma sobrancelha e ela revirou os olhos.
– Claro que não. – ela disse brava – Ela só pediu para ficar sozinha porque durante nossa briga, eu falei para ela que queria que ela fosse mais aberta e sincera comigo e sabe o que aconteceu? – ela colocou as mãos na cintura e neguei com a cabeça – Ela me disse que é lésbica.
– A ? – perguntei surpreso – Ela é....?
– Sim. – ela se jogou na cama – Não dá para acreditar nisso.
– Porque não? Eu nunca desconfiei, mas você não pode negar que tinham vários sinais no ar.
– E você acha que eu nunca percebi. – ela gritou – O meu problema é que nós somos irmãs e ela nunca me contou isso, . – ela começou a chorar – Ela finalmente desabafou comigo e disse que não sabia o que fazer.
– Como assim?
– Ela não consegue assumir para ela mesma. – ela se sentou ao meu lado – É por isso que ela nunca falou sobre garotos comigo quando éramos mais novas... se ela ao menos tivesse dito isso para mim... eu... eu poderia ajudá-la.
– Você precisa dar um tempo para ela absorver tudo isso.
– Eu sei que sim, mas... depois de tudo o que aconteceu, eu ainda encontro o Steve na rua. – ela respirou fundo – O dia não poderia ficar pior.
– Ele fez alguma coisa para você? – perguntei preocupado e ela negou com a cabeça.
– Do nada ele apareceu, foi como se tivesse se materializado na minha frente.
– O que ele disse?
– Ele pediu desculpas pela milésima vez, disse que não queria que as coisas tivessem terminado assim entre nós e me pediu mais uma chance. – ela suspirou – Porque tudo isso tinha que ter acontecido tudo em um dia só? – ela choramingou – Por favor, me diz que o seu dia foi muito melhor que o meu. – ela se ajoelhou ao meu lado.
– Consegui duzentas pratas em gorjeta porque o Tom não foi trabalhar e depois descobri que Amy está mentindo para o atual namorado... ou sempre mentiu para mim. – suspirei.
– Nossas vidas são tão fodidas. – ela me abraçou – Porque eu nunca falei sobre isso com a minha irmã?
– Não é como se ela andasse com um letreiro de neon na testa escrito 'eu sou homossexual'. – falei rindo e ela me deu um soco no peito – Amanhã mesmo vocês já vão estar conversando numa boa. – dei um beijo estalado em sua testa.
– Ela nem sabe que eu vim para cá.
– Não acha melhor avisá-la?
– Sem chances. – ela disse manhosa – Ela nunca me conta nada de importante então não merece saber onde eu estou.
– Você não acha que está sendo um pouquinho egoísta... e infantil? – falei tenso – Ela não se assume nem para si mesmo, imagina como é ter que se assumir para outra pessoa antes de conseguir se aceitar... ainda mais pra irmã caçula que ela quer proteger e ser exemplo.
– Para com isso, você não vai fazer com que eu me sinta culpada. – ela cruzou os braços – Eu sei que estou sendo egoísta e tenho plena consciência disso, só estou magoada porque ela me afastou e aí comecei a andar sem rumo e encontro aquele infeliz.
– Vamos para a Irlanda comigo na semana que vem.
– Que? – ela me olhou surpresa.
– Você não tem mais emprego...
– Obrigada por me lembrar disso. – ela sorriu cínica.
– Vai ser uma boa viajar, conhecer um lugar novo e esquecer um pouco do que está acontecendo aqui, esquecer do Steve e dar alguns dias para a pensar melhor.
– E se ela se matar?
– Ela não vai se matar. – revirei os olhos – Se ela se matar, quem vai se preocupar com você mais do que seus pais?
– Ninguém.
– Por isso que ela não vai. Ela vai querer ficar viva para garantir que eu ou qualquer outra pessoa jamais toque em um fio de cabelo seu. – dei de ombros – O que você acha?
– Não sei, , vai ser dia dos pais lá, não quero atrapalhar o feriado de vocês...
– Você não vai atrapalhar, . – segurei seu rosto e lhe dei um selinho – Você vai adorar a Irlanda, nós temos muitos pubs, sabia?
– Imagino. – ela deu uma risadinha – Eu posso pensar?
– Você tem até quinta à tarde para me dar uma resposta. – beijei seu pescoço e ela suspirou.
– Quando você vai? – ela disse gemendo.
– Sexta de manhã. – enfiei a mão por baixo de sua blusa.
– O que você vai falar para os seus pais caso eu vá?
– Que você é só uma amiga. – fui descendo os beijos pelo seu peito.
– Você sabe que estaremos na casa dos seus pais e não vamos poder...
– Então você vai? – ergui sua blusa.
– Estou pensando ainda, só estou avaliando certas coisas.
– Tem bastante espaço na casa para a gente... – abri o fecho frontal do sutiã.
– Ainda preciso pensar melhor sobre isso. – ela sorriu maliciosa.
– Até quinta à tarde. – sussurrei – Mas vou te mostrar como eu sei ser bastante persuasivo quando quero. – abocanhei seu seio esquerdo e ela gemeu.


Capítulo 6 – As Mulheres Amadurecem Primeiro

Olhei no celular quantos minutos faziam desde quando meu irmão disse que estava indo me buscar no aeroporto e não acreditei que já tinham se passado quase uma hora. Tentei ligar para ele, mas foi direto para caixa postal e naquele momento me arrependi de não ter baixado nenhum jogo ou filme para passar o tempo.
Passei o dedo na tela rapidamente procurando pelo nome de na lista de contatos e liguei para ela. O telefone tocou até o final e depois foi para a caixa postal. Estava prestes a guardar o aparelho no bolso quando ela retornou à ligação.
– Quem fala?
. – falei rindo.
– Uau, que número diferente.
– Troquei o chip enquanto estava no avião.
– Desculpa a demora, eu estava tomando banho, tenho uma entrevista hoje. Como estão as coisas aí? Está se divertindo?
– Ainda estou no aeroporto esperando meu irmão. – suspirei – Falta pouco para eu ligar para os meus pais virem me buscar.
– Você parece uma criancinha falando desse jeito.
– Você deveria ter vindo...
– E perder a entrevista?
– Sim. O que é um emprego perto de viajar comigo?
– Muita coisa. – ela disse rindo – Quem sabe alguma outra vez quando eu tiver dinheiro suficiente com meu novo emprego que vou conseguir hoje à tarde.
– Você está muito confiante. Isso é bom.
– Estou mesmo. O dia hoje parece que vai ser bom. conversou comigo numa boa, aí depois recebi a ligação sobre a entrevista e agora uma sua para choramingar que está no aeroporto esperando seu irmão mais velho.
– Muito engraçada. – resmunguei – Cansei de esperar. – levantei-me e coloquei a mala no ombro – Vou de taxi.
– Ele está bravinho. – ela provocou.
– Estou morrendo de sono. – bocejei e assim que sai pela porta vi Owen descer do carro – E meu irmão idiota acabou de chegar.
– Tudo bem, a gente se fala mais tarde. Quero saber tudo.
– Eu te ligo e boa sorte na entrevista.
– Obrigada. Tchau.
Guardei o celular no bolso e Owen veio até mim com passos largos. Ele me abraçou com força quase quebrando minhas costelas e mal consegui fazer o mesmo.
– Andou malhando? – ele pegou a bolsa do meu ombro e neguei com a cabeça – Está forte. Pelo visto fazer bebidas dá uma ajudinha nos bíceps, não é mesmo? – ele falou com seu sotaque mais carregado que o meu.
– Você deveria treinar isso no seu próprio bar no tempo que manda outras pessoas. – empurrei-o com o ombro.
– Quem sabe. – ele riu – A mãe não desconfiou de nada e a Oona quase contou para ela.
– E o pai?
– Você sabe que eles três não sabem guardar segredo.
– Sim. – ri fraco – Você não falou para ninguém que eu estava vindo, né? Não quero ter que ficar encontrando parentes e falando sobre... você sabe.
– Não, só o pai e a Oona.
– Ótimo. – respirei aliviado.
Owen foi me atualizando sobre como estavam as coisas por lá no longo caminho até nossa casa e assim que entramos na nossa rua pude ver minha mãe em pé em frente ao jardim regando as flores enquanto Oona estava sentada na calçada. Paramos o carro na garagem e minha mãe nem se deu o trabalho de olhar para nós. Oona se levantou rapidamente e fiz sinal para que ela ficasse no mesmo lugar e ela segurou o riso. Caminhei lentamente até minha mãe e quando estava prestes a assustá-la, ela se virou para mim e deu um grito.
Ela me abraçou forte e começou a chorar enquanto falava coisas que eu não conseguia entender. Segurei-a pelos ombros e ela ficou me olhando como se não acreditasse que eu realmente estava ali.
– Vocês planejaram isso? – ela olhou para Oona e Owen.
– Feliz? – perguntei e ela assentiu chorosa.
– Muito. – ela me abraçou novamente.
Foi difícil que ela me soltasse para respirar um pouco e quando ela o fez, minha sobrinha correu até mim e me abraçou com força.
– Ela ia ter um ataque do coração se você não viesse. – ela disse rindo.
– Você está bem? – segurei-a pelos ombros e ela assentiu – O que você anda tomando? Tem só seis meses que a gente não se vê e você está enorme.
– Para cima ou para os lados? – ela cruzou os braços.
– Os dois. – dei de ombros e ela me empurrou.
– Idiota. – ela riu.
– Vamos entrar, seu tio deve estar faminto. – minha mãe me abraçou pela cintura e foi me guiando para dentro.
– Motorista, traga minha bagagem por favor. – gritei para Owen que apenas mostrou o dedo do meio.
O café da tarde já estava todo posto na mesa igual todos os dias de semana para quando Oona chegasse da escola. Nos sentamos os quatro na mesa enquanto minha mãe dizia que eu não estava me alimentando bem e todas aquelas coisas que mães diziam quando o filho saía de casa.
– E a Amy? Como ela está? – minha mãe perguntou inocentemente e Owen olhou-a sério.
– Mãe... – ele resmungou.
– O que? – ela o olhou indignada – Vocês ainda trabalham juntos, não é? – assenti e ela se voltou para meu irmão – Só quero saber como ela está, que mal há nisso?
– Eles não namoram mais e você não precisa mais perguntar sobre ela.
– Eu gosto dela. – ela cruzou os braços – Sempre gostei e sempre vou gostar. – ela disse emburrada.
– Ela está bem. – suspirei.
– Ah, que bom. E os pais dela?
– Estão bem. Ela está namorando, sabe... se isso ajuda em algo na saudade que você sente mais da minha ex do que do seu próprio filho. – fingi uma expressão triste.
Ela ficou em silêncio me olhando surpresa e fiquei um pouco feliz por conseguir acabar com o assunto Amy mais rápido do que o previsto.
– E a escola? – olhei para Oona que roía as unhas – Está indo bem?
– Melhor do que você ia. – ela riu fraco – Eu não preciso ir trabalho hoje, né, pai?
– Hoje não, mas amanhã sim.
– Poxa, mas o tio está aqui. – ela choramingou e depois olhou para mim – Fala para ele. – ela fez bico.
– Você não vai amanhã. – falei.
– Você não manda. – ele disse rindo.
– Você não manda. – imitei-o.
– Não comecem. – minha mãe ralhou – Vocês todos fizeram essa graça de esconder de mim que ele vinha e agora não temos nada de especial para o jantar.
– Não precisa disso, mãe.
– Claro que precisa. – ela se levantou – O que você come naquele lugar todos os dias? Macarrão instantâneo e salgadinhos?
– Às vezes eu como pão. – falei rindo e ela revirou os olhos.
– Você precisa comer comida de verdade. Algo com sustância.
– Mãe...
– Dá a chave para ele e a Oona irem ao mercado, Owen. – ela colocou as mãos na cintura e ele jogou as chaves para mim.
– Eu nem sei mais como dirige. – menti.
– Você pode morrer sozinho, só deixe minha filha intacta. – Owen se levantou – Toma. – ele entregou o cartão para Oona que sorriu contente para mim – Nada de gastar com coisas desnecessárias.
– Bláaaa. – ela resmungou – Vou pegar um casaco e já venho.
Fui para a porta com Owen e ele olhou para as escadas preocupado.
– Não deixa ela dirigir. – ele esfregou o rosto.
– Porque?
– O pai inventou de ensiná-la a dirigir e.... ela é péssima, mas ninguém além de mim consegue falar a verdade para ela.
– Você é um péssimo pai, sabia? – falei rindo e ele deu de ombros.
Peguei um caminho mais rápido para o supermercado e que tinha bastante movimento assim ela não me pediria para dirigir, pelo menos foi isso que eu achava, mas ela ficou insistindo até chegarmos.
Fui empurrando o carrinho para Oona que foi jogando um monte de coisa desnecessária dentro, contrariando seu pai como sempre. Encontrei alguns conhecidos dos meus pais que tentaram me fazer parar para conversar, mas minha sobrinha foi mais rápida e os dispensou educadamente.
? – uma voz feminina me chamou e virei-me para trás.
Eu não consegui, mesmo tentando, esconder a expressão de espanto e surpresa ao ver Holland na minha frente depois de dezessete anos. Sua aparência permanecia a mesma, apesar de parecer um pouco mais velha.
Fingi não estar nem um pouco nervoso com a presença, mas minhas mãos começaram a suar e fiquei olhando para os lados a todo o momento com medo de minha sobrinha aparecer. Eu queria que aquilo fosse coisa da minha cabeça e aquela na minha frente fosse apenas uma pessoa parecida com Holland e que sabia meu nome, não a própria Holland, ex-namorada do meu irmão e mãe da minha sobrinha.
Ela tinha sido namorada do meu irmão por um mês ou dois, até engravidar dele e depois o deixou. Ela veio até nossa casa e disse aos meus pais e Owen que ela não tinha intenção alguma de ficar com a criança e que se ele quisesse, seria toda dele dali nove meses, do contrário ela abortaria, simples assim.
Ela obviamente foi expulsa da casa dos pais dela e morou com a gente durante toda a gravidez, simplesmente sumindo das nossas vidas assim que recebeu alta do hospital. Eu me lembrava daquele tempo perfeitamente, porque Owen teve que dormir no meu quarto durante nove meses e eu odiava aquilo, o que fez com que eu odiasse um pouquinho Oona quando ela nasceu, afinal, era por culpa dela que eu não tinha mais meu quarto e minha privacidade.
– Quanto tempo. – ela sorriu – Você está um homem adulto agora, a última vez que te vi você tinha uns nove anos.
– É... – cocei a nuca e olhei para trás procurando pela minha sobrinha.
– Como você está? Fiquei sabendo que está morando nos Estados Unidos com aquele seu amiguinho de infância, Robbie o nome dele, né?
– Sim, sim... – murmurei – Eu estou bem.
– E seus pais?
– Ótimos. – sorri falso.
– Faz muito tempo que não os vejo. – ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha – Como está o Owen? E a.... a bebê?
– Estão todos ótimos. – falei trêmulo.
– Ela deve estar enorme. – ela sorriu tensa – Dezessete anos.
– Aham... – olhei para trás e Oona veio andando até mim com um pacote de salgadinhos na mão.
– Olha, aqui diz que é importado dos Estados Unidos... você já comeu isso lá? – ela enfiou o pacote na minha frente.
– Só leva. – peguei da mão dela e joguei no carrinho.
– Oi. – ela estendeu a mão para Holland que a cumprimentou – Prazer, Oona. – ela sorriu orgulhosa e quis jogá-la no carrinho e fugir dali.
– Sua namorada? – ela olhou para mim atrás de uma resposta, mas estava estampado no rosto de Oona que se não minha irmã gêmea, talvez uma parente.
Eu estava prestes a dizer que sim quando Oona abriu a boca e falou o que seria motivo da discussão do fim de semana em casa.
– Sobrinha. – ela sorriu e o rosto de Holland se tornou em um misto de surpresa e espanto.
– Sobrinha? – ela me olhou e apenas encolhi os ombros.
– Sim. – ela assentiu – Já peguei tudo. Vamos? – ela me olhou.
– Ok, vamos... vamos indo. – gaguejei.
– Tudo bem. – ela cantarolou – Eu vou indo pegar a fila no caixa. Foi um prazer te conhecer. – ela disse para Holland e sumiu pelo corredor.
Nós dois ficamos nos encarando em um silêncio extremamente desconfortável e eu realmente esperava que aquilo tivesse acontecido com qualquer outra pessoa da família do que comigo, qualquer pessoa que soubesse lidar com aquilo melhor do que eu.
– Ela é linda. – Holland disse com lágrimas nos olhos.
– Sim. É uma garota incrível.
– É claro que é. – ela sorriu triste – Tenho certeza que vocês a criaram da melhor forma possível, melhor do que eu teria conseguido na época...
– Você voltou para a cidade porquê? – perguntei grosso.
– Meu marido foi transferido do serviço para cá.
– Então você se casou. – falei surpreso e ela assentiu.
– Tenho dois meninos... eles estão por aí com o pai. Um de cinco e outro de três.
– Você não vai se meter na vida dela agora, né? Depois de todo esse tempo.
– Não. – ela negou com a cabeça – Mas se um dia ela me procurar, eu não vou mentir sobre quem eu sou e o que aconteceu.
– Ela não vai te procurar. – falei confiante – Nós nunca mentimos para ela sobre você, ela sabe de tudo, então é quase certeza que ela não vai te procurar, e se cometer essa idiotice, nós já contamos a verdade.
– Tudo bem. – ela suspirou – Mas eu fico feliz em saber que ela está bem.
– Seu marido sabe?
– Sim. – ela assentiu – Ele acha que eu deveria procurá-la, mas eu disse a ele que não ia me intrometer na vida dela depois de tantos anos, apenas se ela viesse até mim.
– Ótimo. – murmurei.
– Você vai falar para ela quem eu sou.
– Eu vou falar para o Owen, depois ele decide o que fazer. – falei sério e ela pareceu preocupada.
Deixei ela sozinha no meio do corredor e fui procurar por Oona nos caixas e a encontrei conversando com um garoto. Aproximei-me deles e ele me olhou um pouco assustado.
– Achei que você não ia vir mais. – ela disse calma – Esse é o Tobey. – ela sorriu para o garoto que estendeu a mão trêmula para mim – Esse é meu tio .
– Prazer. – falei com a voz mais grossa que o normal e Oona deu uma risadinha.
– A gente se vê amanhã na escola. – ela disse para ele que assentiu e saiu praticamente correndo.
– Quem é ele?
– Um garoto que eu estou... meio que namorando. – ela deu de ombros.
– Você não tem idade para isso. – falei rindo.
– Tenho quase dezoito. – ela cruzou os braços – Quem era aquela moça? Alguma ex-namorada? – ela semicerrou as sobrancelhas.
– Só uma conhecida. – dei de ombros.
– Sei. – ela deu uma risadinha.
– Seu pai sabe de você e do... Tobey? – levantei uma sobrancelha e ela revirou os olhos.
– Você vai contar para ele? – ela cruzou os braços e me olhou séria.
– Não, mas eu devia.
– Devia nada. – ela me deu um soquinho no braço – E só para você não falar que estou escondendo, a vovó sabe.
– Isso é bem a cara dela. – falei rindo.
– E você? Já está namorando? A Amy está e você também devia.
– Eu não devia falar da minha vida amorosa com a minha sobrinha de dezessete anos, sabia? – arqueei as sobrancelhas – Eu quem tenho que te dar conselhos e não o contrário.
– Tio, nós só temos oito anos de diferença, grande coisa. E eu estou prestes a fazer dezoito...
– Daqui vários meses. – completei.
– Não deixa de ser dezoito. – ela deu de ombros – E quer saber o que eu acho? Acho não, tenho certeza... você está com alguém e está escondendo da gente. Alguma namoradinha americana que você não quer que a gente saiba.
– Não estou namorando ninguém. – falei rindo – É também nem quero, só estou saindo com uma garota.
– Então vocês logo vai começar a namorar se você gosta dela.
– Nós dois estamos saindo com outras pessoas nesse meio tempo, então não, nós não vamos namorar. É também a gente não se gosta... isso está além do que a sua idade me permite falar.
– Eu sei sobre sexo, ok? – ela disse baixinho – Eu tenho dezessete, não cinco.
– Muita informação. – coloquei as mãos nos ouvidos – Eu não quero que você fale mais nada sobre isso pra mim nunca mais.
– Eu não disse que faço... – ela disse rindo.
– Isso deveria melhorar as coisas? – falei exasperado – Essa fila não anda logo. – resmunguei.
– Tem tantos tios e sobrinhas por aí que conversam sobre isso sem que um deles pareça um bebezão que não quer ouvir que a sobrinha faz sexo.
– A gente não é esse tipo. Eu não quero que você fique por aí fazendo coisas de adultos com um pirralho chamado Tobey. Quem diabos se chama Tobey além do Tobey Maguire?
– Então você não quer que eu cresça? – ela sorriu de lado.
– Claro que não. Por mim você deveria ter continuado com cinco anos para sempre.
– Porque cinco?
– Porque você era insuportável antes disso.
– Eu não fazia por mal. – ela deu um risadinha.
– Você tinha um sorriso diabólico sempre que eu levava xingo por sua causa. É claro que você fazia por mal.
– Você percebeu como você mudou de assunto para evitar...
– Para evitar que você fale sobre coisas que eu gostaria de imaginar que você não soubesse? Sim, eu percebi. – empurrei o carrinho quando a fila andou e umas crianças atrás de Oona derrubaram algumas coisas das gôndolas.
Ela se virou para trás e ajudou dois garotinhos pequenos a colocar as coisas de volta. O pai deles agradeceu ela e em seguida ele ralhou baixo com os dois para que eles se comportassem. Por cima do ombro do homem pude ver Holland vir se aproximando com algumas coisas no braço e depois jogar no carrinho dele.
– Se comportem. – ela disse calma para as crianças.
– Não fizemos nada. – o mais novo disse inocente.
– Eu conheço vocês melhor do que qualquer um no mundo, eu sei que vocês estão aprontando. – ela afagou a cabeça deles.
– Desculpa, mamãe.
– Seus filhos são uma graça. – Oona disse e Holland nos olhou um pouco assustada sem perceber que estávamos ao lado dela.
– M-muito obrigada. – ela disse nervosa e segurou a mão do marido.
– Você só tem eles? – ela perguntou inocente e olhei Holland com uma expressão séria.
– Sim. – ela disse olhando para mim.
– Eles são muito lindos. – Oona sorriu para os garotos.
O caixa finalmente ficou livre e Oona colocou as coisas nele e foi para o final empacotar tudo. Olhei para Holland por cima do ombro e ela estava falando algo para o marido que olhava surpreso para Oona e eu. Minhas mãos começaram a suar com a possibilidade dele falar alguma coisa para minha sobrinha ali, mas ele ficou quieto, apenas nos olhando.
Terminamos de passar nossas compras e levei ela para fora do mercado o mais rápido possível, ficando quieto no caminho todo para casa.
– O que foi? – ela perguntou enquanto pegávamos às compras no carro.
– Nada. – neguei com a cabeça.
– Você ficou quieto do nada. – ela me olhou curiosa – Foi porque sua ex estava com o marido e os filhos? – ela deu um risadinha.
– Olha, o vovô chegou. – apontei para o carro do meu pai tentando mudar de assunto.
Ela ficou quieta, mas me analisando o tempo todo enquanto levávamos as compras para dentro da casa. Eu queria que aquelas compras malditas acabassem logo e eu pudesse falar com Owen o mais rápido possível, mas aparentemente minha sobrinha tinha trazido para casa todo o mercado.
– O que você está fazendo na minha casa? – meu pai disse rindo enquanto descia as escadas.
– Oi, pai. – fechei a porta da sala com o pé e fui até a cozinha.
– Como você está, filho? – ele me deu um tapinha no ombro.
– Estou bem. – coloquei as sacolas na mesa e o abracei.
– Como foi o voo?
– Bem. – dei de ombros – Dormi a maior parte dele.
– Melhor que ficar acordado ouvindo bebês chorando. – Owen disse rindo.
– Oona, porque você não sobe no meu quarto pegar umas coisas que eu te trouxe? Estão na mala.
– Tem todos os doces que eu pedi? – ela perguntou empolgada e assenti.
– Tem umas roupas também, acho que vão servir porque você e a usam o mesmo tamanho, eu acho.
– Quem é ? – ela disse num tom de voz malicioso e todos olharam para mim.
– Só vai fazer o que mandei. – falei grosso e ela ergueu as mãos para cima.
– Tudo bem, nervosinho. – ela disse rindo e subiu.
Sentei-me na mesa e esfreguei os olhos tentando desacelerar meus batimentos cardíacos. Eu sentia o olhar dos meus pais e Owen em cima de mim, mas eu estava com medo da reação que meu irmão teria quando eu contasse.
– Antes de mais nada... eu não tenho culpa. – olhei para ele que me olhou confuso.
– O que vocês aprontaram?
– Nada. – neguei com a cabeça – Nós estávamos no mercado e aí... foi mal, Owen, não tinha como eu impedir...
– Fala logo, . – ele suspirou alto.
– A Holland estava lá... ela apareceu do nada e.... e aí ela viu a Oona.
– O que? – ele gritou – Como assim?
– Ela apareceu do nada na minha frente e logo depois a Oona, ela perguntou quem ela era e eu ia mentir, mas aí a Oona disse que era minha sobrinha... – falei nervoso – Ela não falou nada, ok? Ela agiu naturalmente.
– Você falou para ela? – ele apontou para cima e neguei com a cabeça.
– Ela deve estar achando que é alguma ex minha. – passei a mão pelos cabelos – Ela estava lá com.... com o marido... e dois filhos pequenos.
– Como? – ele perguntou exasperado.
– Nós conversamos rapidamente e ela disse que se casou e tem dois meninos pequenos, e ela voltou para a cidade por causa do emprego do marido.
– Dois meninos. – ele suspirou.
– Ela perguntou de você e da Oona antes dela aparecer, aí depois ela saiu e a Holland disse que o marido sabe que ela tem outra filha...
– Eu deveria ficar feliz com isso? – ele me olhou bravo.
– Owen, seu irmão não tem culpa. – meu pai disse rígido.
– Ele quer que ela procure a Oona...
– Não. – ele gritou.
– Mas ela não vai. – falei exasperado – Ela disse que não vai se meter na vida dela, a não ser que ela a procure.
– Ela não vai procurar. – ele se levantou.
– Como você pode ter tanta certeza assim? – minha mãe perguntou triste.
– Porque a Oona sabe que a mãe não quis ela e nós nunca escondemos isso dela. Não ia falar para minha filha que a mãe queria ter ela quando foi o oposto disso. – ele deu um soco na mesa – Ela não vai procurar a Holland.
– Quem vai procurar quem? – Oona apareceu com as sacolas que trouxe para ela na mão.
– Deixa eu ver o que seu tio trouxe, querida.
Minha mãe foi até ela mas minha sobrinha não deu muita importância, ela parecia bem mais interessada na nossa conversa do que nos presentes.
– Vocês não são as pessoas mais silenciosas do mundo, sabia? – ela sorriu triste – Eu sei que vocês estão falando de mim.
– Não é nada, querida. – minha mãe acariciou os ombros dela – Vamos lá experimentar as roupas.
– Você não vai me falar? – ela olhou seria para Owen que abriu e fechou a boca várias vezes.
– Filha, não é nada... – ele veio até ela que o empurrou.
– Não vai ter dia dos pais para você até vocês pararem de graça. Eu não sou mais criança, ok? – ela disse irritada e saiu batendo os pés.
– Fala logo para ela, filho. – meu pai suspirou – Esse tipo de coisa não dá para esconder e só vai fazer com que ela fique com raiva de você.
Ele olhou para mim por cima do ombro com uma expressão desesperada e senti um aperto no peito. Eu não fazia ideia de como meu irmão estava se sentindo e também não sabia em como ajudá-lo.
Oona olhou para mim e depois para Owen com uma expressão magoada no rosto. Minha sobrinha não era nenhuma idiota, ela sabia do que e de quem estávamos falando, ela só queria ter certeza de que não tinha ouvido coisa errada.
– Você não vai mentir para mim, vai? – ela disse manhosa, sabendo certinho como convencer meu irmão a fazer o que ela queria.
– A mulher que estava falando com seu tio no mercado é a sua mãe. – ele disse com a voz embargada – Ou quem deveria ser sua mãe e não foi.
– Matou você ter me dito? – ela disse emburrada e depois foi para a sala.
Todos nós fomos atrás dela que estava sentada no sofá tirando as coisas da sacola. Owen se sentou na mesa de centro frente à ela e segurou seu rosto.
– Desculpa, tudo bem? – ele disse com os olhos cheios de lágrimas – Eu só fiquei com medo de perder você.
– Porque você acha que me perderia, pai?
– Porque... porque ela é sua mãe, você me teve por todos esses anos e eu sempre achei que se um dia você a encontrasse... que você ia acabar indo com ela.
– E porque eu faria isso? Ou é isso que vocês querem? – ela cruzou os braços – Você é meu pai e vocês são minha família. – ela olhou para gente – Eu sabia quem era ela. – ela abaixou a cabeça.
– Sabia?
– Sim, eu sabia. – ela suspirou – Eu criei um perfil falso no Facebook para poder achar ela, mas sem que ela pudesse saber que era eu.
– Desde quando isso? – ele perguntou surpreso.
– Tem uns dois anos. – ela deu de ombros – Eu não contei porque não queria te magoar.
– Você entrou em contato com ela?
– Não. – ela negou com a cabeça – Se ela quisesse saber de mim ela entraria em contato comigo, não é mesmo?
– O tempo todo você sabia que ela era sua mãe. – ele disse surpreso.
– Por isso que eu perguntei se ela tinha mais filhos.... Para saber se ela ao menos me considera como filha dela um pouquinho que seja. – ela suspirou – Se ela quiser falar comigo, ok, eu não vou ignora-la, mas eu também não vou correr atrás de uma pessoa que me abandonou.
– Ela disse para o seu tio que não vai entrar na sua vida se você não quiser...
– Então nós nunca vamos falar sobre isso, porque eu não vou bater na porta dela e dizer 'oi, eu sou a sua filha que você abandonou há dezessete anos, quer ser minha mãe?'.
Nós quatro não conseguíamos esconder os olhares surpresos com a maturidade dela perante aquilo. Eu também não conseguia esconder o fato de quão boa atriz ela tinha sido no mercado, agindo como se não soubesse de nada e ainda perguntando se ela era minha namorada mesmo sabendo exatamente que a mulher na nossa frente era sua mãe.
– Quem é ? – ela olhou para mim por cima do ombro mas ainda estávamos todos embasbacados com o que tinha acontecido – Foi ela quem escolheu?
– Foi. – assenti.
– São legais. Obrigada. – ela sorriu de lado – Olha, vovó, é aquela jaqueta militar que nós vimos na internet. – ela levantou a jaqueta para minha mãe que estava olhando-a com os olhos marejados.
– Tem mais coisas que ficaram em casa porque ia precisar de uma mala maior.
– Tudo bem, meu pai e eu vamos passar uns dias lá de qualquer jeito por causa da faculdade. – ela deu de ombros.
– Você está bem? – Owen perguntou preocupado e ela assentiu com um sorriso no rosto.
– Você não respondeu minha pergunta. – ela olhou para mim – é a garota que você está saindo?
– Você está saindo novamente? – minha mãe me olhou surpresa e Oona sorriu diabolicamente igual fazia para mim quando criança.
– Sim, mas não é nada sério. – cocei a nuca – O que vocês vão fazer em Los Angeles? – perguntei para Owen tentando mudar de assunto.
– Oona tem algumas entrevistas de faculdades. – ele deu de ombros – Bom saber que você está saindo com outras garotas novamente.
– E pelo visto são várias. – Oona disse rindo.
– Uau. – meu pai disse surpreso – Melhor do que ficar em casa se lamuriando por causa da Amy, não é mesmo?
– Vovô, a gente não fala mais dela. – ela disse rindo – Amy está namorando outro.
– Não faz nem vinte e quatro horas que cheguei e já foi um dia cheio de emoções, não é mesmo? – falei emburrado já imaginando que o assunto e Amy seria o da vez já que Oona matou o assunto 'mãe desnaturada'.
Subi correndo para o meu quarto e tomei um banho bem rápido. Deitei-me na cama e digitei uma mensagem para perguntando como tinha sido a entrevista e ela me ligou poucos minutos depois.
– Consegui o emprego. – ela disse empolgada.
– Sério? – falei surpreso.
– Sim. É para ser vendedora em uma loja de maquiagens e o salário de lá é mil vezes melhor que meu emprego anterior.
– Isso é ótimo. Mais dinheiro para me dar de gorjeta.
– Sim. – ela disse rindo – Como estão as coisas ai?
– Faz pouco tempo que cheguei e já aconteceram várias coisas.
– Me conta tudo. Eu vou ficar em casa essa noite e preciso de algo para preencher a cabeça.
– Eu fui no mercado com a minha sobrinha e nos encontramos a mãe dela lá, aí meu irmão ficou preocupado que ela fosse atrás da mãe, mas ela se mostrou mais adulta do que esperávamos.
– Como assim? Ela não conhece a mãe? Você nunca me contou isso.
– Você nunca perguntou. – falei rindo– E aparentemente ela conhece a mãe porque tem stalkeado ela faz uns anos.
– Ela é muito mais esperta do que eu era com a idade dela.
– Falando nisso, ela adorou as roupas.
– Eu tenho muito bom gosto. – ela disse convencida – Sabia que ela ia gostar. Queria poder ter conhecido ela, tenho certeza que ela tem muitas coisas guardadas sobre o pequeno .
– Você vai conhecê-la mês que vem. Ela tem entrevistas da faculdade e meu irmão vai levá-la.
– Tomara que ela não deixe a faculdade igual você.
– Tenho certeza que é esse o pensamento de todos na família sobre isso.
– O que você vai fazer hoje? Sair para curtir uma noite irlandesa?
– Acho que vou ficar em casa mesmo.
– Quando você volta?
– Quarta. De manhã aqui e de madrugada aí.
– Vou esperar ansiosamente pela sua chegada. – ela disse maliciosa.
– Não vejo a hora de chegar então.


Capítulo 7 – Ex-namoradas e Cervejas

Owen estacionou o carro em frente ao bar e nós dois descemos esfregando os braços por cima do moletom por conta do vento extremamente gelado. O interior estava exatamente igual desde a última vez que apareci por lá e principalmente com uma temperatura melhor que do lado de fora.
Arrumamos e limpamos todo o salão e logo alguns clientes foram chegando. Ele começou a reclamar que Oona tinha enganado ele sobre ir trabalhar naquela noite, mas ela logo apareceu com algumas amigas.
– Que cara de mau humor é essa? – ela disse em tom de provocação para Owen.
– Você está atrasada.
– Mas pelo menos eu cheguei.
– Ainda bem, porque ele estava quase indo te buscar. – falei rindo e ele me mostrou o dedo do meio.
O movimento lá era bem diferente do que eu estava acostumado e eu sem dúvida alguma preferia trabalhar em Los Angeles por conta das gorjetas mais altas. As pessoas que frequentavam o bar do meu irmão eram mais velhas e bem mais calmas, nada de exaltação por causa do jogo de futebol e dar cinquenta dólares de gorjeta porque o time tinha feito um touchdown não existia lá.
– Ora, ora, se não é . – uma voz feminina de sotaque forte disse e me virei para trás.
Pelo visto aquela viagem seria mais animada do que eu tinha planejado. Primeiro a mãe de Oona e agora Colleen Neeson, minha ex-namorada do ensino médio.
Nós tínhamos namorado por quase um ano, ano esse em que praticamente todos os meses nós achávamos que ela estava grávida por sermos irresponsáveis demais para usar camisinha. Terminamos o namoro dois dias depois da nossa formatura porque ela ia estudar em Londres e vi naquilo a oportunidade perfeita de voltar com a vida de solteiro.
– Quanto tempo. – falei surpreso e ela sorriu de lado.
– Sua mãe disse para minha mãe que você estava na cidade e fui praticamente forçada a vir aqui hoje para te ver. – ela deu uma risadinha.
– Vou fazer sua vinda até aqui valer a pena. – pisquei para ela.
Colleen e Amy eram muito parecidas, tanto na personalidade quanto na aparência e talvez tenha sido por isso que todas as vezes que vim para a Irlanda depois do nosso término, Colleen e eu transávamos. Meus amigos sempre diziam que era a minha forma de ter uma recaída, mas eu tinha negado aquilo até aquele momento em que finalmente me dei conta de que eles estavam completamente certos.
Nós dois passamos a noite toda flertando um com o outro entre uma bebida e outra, mesmo sabendo que aquilo não era necessário, pois assim que o bar fechasse, estaríamos juntos em algum lugar.
O movimento do bar diminuiu e insisti para que Owen e Oona fossem embora mais cedo garantindo que iria fechar tudo direitinho.
– Às vezes eu queria ter a sua vida. – Owen disse rindo e me entregou a chave do carro – Porque você não casa logo com ela de uma vez? Ia poupar muito dinheiro dela em vir aqui beber para depois vocês ficarem juntos.
– Ela me dá ótimas gorjetas. Eu vivo disso.
– Isso é prostituição, . – ele disse rindo – Tenho quase certeza que é prostituição.
– Então devo estar cobrando muito barato por um ótimo serviço. – falei convencido.
– Isso é o que você diz. – ele me deu um tapinha no ombro.
Fechei o bar quando o último cliente saiu e minutos depois Colleen e eu estávamos deitados no sofá dos fundos com os corpos suados grudados um no outro. Sempre que a olhava era como se fosse Amy que estivesse embaixo de mim gemendo meu nome, mas nós não tínhamos a mesma química, na verdade não tinha química alguma, era apenas sexo com uma mulher extremamente parecida com a minha ex-namorada que eu nem amava mais.
No início pensava se não estava usando Colleen, mas ela também fazia aquilo para ficar perto de alguém porque todas as vezes ela gemia quase inaudível o nome Bobby, então era basicamente uma troca de favores. Ela podia transar com uma pessoa que não se importava em ser chamado pelo nome de outro e eu com uma pessoa que parecia com Amy.
Quando comecei a sair com até pensei naquela possibilidade, mas elas eram completamente diferentes em tudo, principalmente no sexo, pois tinha um jeito mais dominadora enquanto Amy era mais neutra com relação a isso.
Olhei para Colleen deitada em meu ombro um pouco assustado por ter lembrado de naquele momento e me senti um pouco estranho com aquilo. Eu sabia que aquilo não era errado, nós não namorávamos e ela também dormia com outras pessoas, só era estranho porque pela primeira vez eu desejei que fosse ali comigo e não mais a Amy.
– Desistiu de vir embora? – Colleen beijou meu peito e depois me olhou.
– Acho que sim. – passei a mão pelas suas costas.
– Você está feliz lá, trabalhando lado a lado com a sua ex-namorada?
– Um pouco. Ela tem outro agora, então...
– E você... não tem ninguém?
– Mais ou menos. – encolhi os ombros – É algo como um relacionamento aberto.
– E por um acaso o nome dela é ? – ela arqueou uma sobrancelha e a olhei curioso – Você disse o nome dela. – ela sorriu maliciosa.
– Nem percebi.
Acompanhei ela até seu carro e fui para casa me preparando para dormir até tarde. Quando parei o carro na garagem vi a luz do quarto de Oona acessa e alguém entrando pela janela. Comecei a rir sozinho ao lembrar que meu irmão também fazia a mesma coisa quando namorava e agora era um garoto que fazia aquilo com a filha dele. Eu queria muito contar aquilo para ele, mas minha sobrinha ficaria de castigo então ia deixar aquilo para um futuro onde fosse seguro tirar sarro do meu irmão por conta daquilo.
Subi as escadas lentamente e bati duas vezes na porta de Oona que apareceu assustada e bocejando falsamente.
– O que foi? – ela fingiu um bocejo.
– Nada, só checando para ver se está tudo bem. – olhei para dentro do quarto – Sua janela está aberta, é melhor você fechar, vai que alguém entra por ela quando seu tio está chegando em casa. – falei tentando parecer sério e ela me olhou assustada.
– Você não vai falar nada, né? – ela disse sem fingir estar com sono.
– Não, mas seu pai vai ficar muito bravo se descobrir que ele vem aqui escondido.
– É a primeira vez.
– Ele subiu bem rápido para ser a primeira vez. – cruzei os braços.
– A gente... é.... Tio . – ela gaguejou.
– Relaxa, eu não vou falar nada. Só conta para o seu pai que você está namorando e talvez ele deixe o garoto vir aqui e quem sabe entrar pela porta da frente.
– Tudo bem. – ela assentiu.
– Vê se não vai dormir tarde. – falei antes de ir para o quarto.
Eu tinha deixado meu celular em casa, porque iria trabalhar e a única emergência, se tivesse, seria dos meus pais e eles poderiam ligar para o bar ou para o meu irmão, e quando peguei o na gaveta, vi várias mensagens de e duas ligações em horários diferentes.

visto por último hoje às 22:35

Estou no seu bar. É estranho vir aqui sem você estar.

contou para os meus pais e eles ficaram orgulhosos por ela ter tido coragem de se assumir. Queria que todos os pais fossem assim.

Tom e Lauren tiveram outro encontro hoje. Eu acho que eles estão quase namorando.

Meu primeiro dia de trabalho foi maravilhoso falando nisso. Sua sobrinha gosta de maquiagens? Tenho quase cinquenta por cento de desconto na loja.

Robbie e Michael estão aqui me enchendo o saco dizendo que estou triste porque meu barman favorito não está.

Tom não faz ideia de como preparar um Texas Tea. Porque você não está aqui para fazer? Te odeio!

Um cara começou a dar em cima de mim e eu disse que tinha namorado. Ele perguntou quem era e Robbie disse que era você, aí ele saiu meio assustado. Acho que você tem uma reputação.

Você é oficialmente meu namorado falso para se livrar de macho chato.

Tom preparou uma bebida muito forte para nós e acho que estou muito bêbada.

Amy colocou Beyonce para mim e quero muito dançar.

Queria que você estivesse aqui para ver. Eu tenho a melhor coreografia de Drunk In Love.

Oficial: estou muito bêbada :D.

Me ligue assim que puder, estou bêbada demais e essa música me deixou excitada, preciso ouvir sua voz para ter algo com o que imaginar mais tarde.

Você já fez sexo por mensagem de texto alguma vez?

Fiquei rindo sozinho com as mensagens dela e de como ela conseguia ser ainda mais desinibida bêbada via mensagens de texto. Liguei para ela que atendeu no primeiro toque e pude ouvir o barulho de música no fundo.
– Boa noite, , o Irlandês. – ela disse rindo – Como você está?
– Estou bem, e você?
– Nunca estive tão bem assim na minha vida inteira. Eu acho que o Tom colocou Ecstasy na minha bebida.
– Esse é o nosso ingrediente secreto para todas as bebidas, você não sabia?
– Robbie perguntou como está a Colleen. O que é uma Colleen, Robbie? – ela disse com um jeito inocente.
– Manda ele ir se foder.
– Ele mandou você ir se foder. – ela gritou – O que você está fazendo?
– Acabei de chegar, estava deitado na cama lendo suas mensagens.
– Você viu sobre o sexting? – ela perguntou rindo.
– Sexting?
– Foi a última mensagem que mandei. Sobre... aquilo, sabe?
– Ah, sim... e não, nunca fiz. – falei rindo.
– É bem legal. Mas nós também podemos fazer pelo telefone. – ela disse maliciosa – Vocês vão fazer sexo pelo telefone? – ouvi Michael gritar e ela começou a rir – Quando eu chegar te ligo... ou vai ser muito tarde? Robbie, de quantas horas é o fuso? Oito? Ok. Eu te ligo quando eu acordar, pode ser?
– Tudo bem.
– Boa noite.
– Boa noite.
– Sonhe comigo. – ela disse rindo – A está me matando com os olhos. Socorro.
– Eu vou ligar para o Tom e falar para ele não te dar mais nenhuma bebida.
– Ele é um ótimo barman, sabia? Você também é e tem outras qualidades, tipo na cama.
– Você vai ter uma ressaca tão grande amanhã.
– Eu sei. – ela riu – Agora vai dormir. Boa noite, , o Irlandês.
– Boa noite, , a Americana. – falei rindo.
Naquela noite dormi feito uma pedra e tive um sonho meio estranho onde precisava decidir entre Amy e , mas acordei quando estava prestes a dar minha resposta.


Capítulo 8 – Tinder e Catfish

Estava contando para Robbie e Michael como tinha sido a viagem, mas tudo o que eles queriam saber era sobre Colleen, pois ambos tinham um estranho fascínio por ela e comecei a pensar se isso não se estendia à Amy por motivos óbvios.
O movimento de quinta à noite estava bem mais calmo do que o comum e fiquei feliz com a possibilidade de poder ir para casa mais cedo.
Quando o sino na porta fez barulho, olhei por cima do ombro de Michael e vi entrar de braços dados com Lauren, as duas rindo alto. subiu no encosto de pés do banco do balcão e segurou-me pelo queixo, puxando-me para um beijo rápido. O barulho da bandeja batendo na madeira me chamou atenção e olhei para o lado. Amy estava em pé a poucos centímetros de mim com um sorrisinho orgulhoso no rosto e fiquei tentando entender o que estava se passando pela cabeça daquelas mulheres.
– Senti sua falta. – ela se sentou no banco e me encarou com um sorriso de lado – Tom, você pode me fazer aquela bebida daquele dia? – ela fez bico e ele assentiu – Como foi a viagem?
– Normal. – dei de ombros – Sem nenhum outro grande acontecimento além da minha sobrinha sendo mais adulta que o pai dela.
– Nós mulheres amadurecemos primeiro, você não sabia? – ela se apoiou em um cotovelo.
– Percebi isso agora. – falei rindo – Fiquei sabendo que você está saindo com um barman... – falei para Lauren e ela revirou os olhos.
– Você é uma boca aberta, sabia? – ela resmungou para que fez uma cara de inocente – Vou falar para todo mundo que você tem um encontro hoje com um cara do Tinder, que tal?
– Sério? – perguntei surpreso e as duas assentiram – Você está num bar, quer lugar melhor que esse para conhecer pessoas novas?
– Você está com ciúmes. – Michael disse rindo.
– Claro que não. – falei exasperado – É só que um cara que se esconde atrás de um aplicativo não deve ser muito dos confiáveis. Já ouviu falar de catfish? É uma febre agora.
– É só um experimento. – ela deu uma risadinha – E os caras de bar também não são. – ela deu de ombros.
– Você me conheceu num bar...
– Às vezes a vida faz umas exceções. – ela mordeu o lábio – E eu não vou sair daqui com ele...
– A não ser que ele seja extremamente bonito. – Lauren disse.
– Exatamente. – ela concordou com a cabeça.
– Você vai partir o coraçãozinho dele. – Robbie disse com uma voz infantil.
– Cala a boca. – revirei os olhos.
– Talvez eu comece a usar esse tipo de aplicativo se seu experimento der certo. – Michael deu de ombros.
– Não é um experimento. – Lauren riu alto – Ela só quis usar o Tinder por livre e espontânea vontade porque o cara parecia muito lindo nas fotos.
– Culpada. – ela mordeu o lábio.
– Espero que ele seja tudo isso que vocês duas esperam. – encolhi os ombros e Robbie começou a gargalhar – Porque se não for.... eu vou rir muito.
Ela ficou no balcão conversando conosco e quase meia hora depois o cara do Tinder apareceu e lá se foi toda empolgada se sentar com ele. Sem que eu pedisse, Amy trazia informações sobre eles toda hora e aparentemente as coisas estavam indo muito bem porque ela ria de tudo o que ele falava e segundo Amy, ela já estava um pouquinho bêbada por causa das bebidas que Tom fazia especialmente para ela. Eu estava mais magoado que ela estava trocando de barman do que por ela estar saindo com um cara que ela conheceu em um aplicativo.
Fiquei observando a mesa deles o mais disfarçadamente que consegui e ela realmente parecia estar rindo de qualquer coisa que ele falava. Repeti para mim mesmo durante a noite toda que eu não me importava com aquilo e era só preocupação, mas os olhares de Robbie e Michael para cima de mim me tiravam do sério.
Tirei uma pausa rápida para fumar e quando abri a porta para entrar novamente, tomei um susto com Amy saindo com o celular nas mãos. Dei passagem para ela que continuou parada no meio do caminho me encarando com um sorrisinho no rosto.
– O que foi?
– Você e a ... estão... namorando? – ela arqueou uma sobrancelha e soltei uma risada nasalada.
– Ela não estaria saindo com caras de um aplicativo de nós estivéssemos namorando.
– Mas você está com ciúmes.
– Claro que não. – falei exasperado – Só estou preocupado. Ela não conhece o cara, e se ele for um maníaco ou coisa assim?
– Eu também não te conhecia na primeira vez que te vi e mesmo assim fiquei com você naquela noite.
– Vocês mulheres deveriam tomar cuidado. Nem todo cara é bonzinho.
– Ela é bem legal.
– Eu sei. – franzi o lábio e a encarei.
– Você está um pouco diferente depois que conheceu ela.
– Diferente bom ou ruim?
– Bom, porque se fosse ruim eu teria falado a muito tempo. – ela sorriu de lado.
– Você está feliz?
– Como?
– Com seu namorado. – dei de ombros – Você está feliz com ele? Ele te faz feliz?
– Mas é claro que sim, , eu não ficaria com alguém que me fizesse infeliz.
– Eu fui um bom namorado para você?
– O que deu em você? – ela perguntou rindo.
– É que eu tive um sonho muito estranho esses dias e.... você não entenderia. – esfreguei o rosto.
– Você foi um bom namorado. – ela segurou meu queixo – As coisas entre nós só deixaram de ser como antes, você sabe disso. Nós não terminamos simplesmente porque eu acordei em uma manhã de mau humor e pensei 'ei, vou terminar com ele'.
– Eu sei. – suspirei – Às vezes eu me arrependo.
– Do que?
– De não ter insistido. – falei triste – De não ter corrido atrás de você enquanto era tempo. Eu simplesmente deixei você terminar comigo sem nem tentar argumentar ou te mostrar que as coisas podiam voltar a ser como antes.
– Você não correu atrás de mim, mas pode correr atrás de outra pessoa. – ela indicou para dentro com a cabeça.
– Eu não vou correr atrás dela.
– E porque não?
– Porque... – lembrei do meu sonho onde precisava escolher entre uma das duas e fui acordado quando estava prestes a responder.
– Porque...?
– Esquece. – neguei com a cabeça.
– Eu sei de tudo. – ela sorriu triste – Eu ouvi o Robbie e o Michael conversando quando você estava falando com a durante a sua viagem.
– Ouviu o que exatamente?
– Sobre uma tal de Colleen. – ela mordeu os lábios – Tem horas que eu me sinto culpada por você estar assim, mas eu não podia continuar com você quando eu não estava mais feliz ao seu lado.
– Estou assim como? Eu estou normal. – falei exasperado – Colleen é só uma ex-namorada minha...
– Que é idêntica a mim. – ela cruzou os braços – Você à está usando...
– Ela também faz o mesmo comigo...
– É doentio isso, .
– O que você quer que eu faça, Amy? – segurei-a pelos ombros – Você quer que eu entre lá e tire a da mesa e a peça em namoro? Que eu te beije agora e fale que eu te quero de volta mesmo não sendo verdade? Quer que eu vá embora da sua vida de uma vez por todas?
– Eu só quero sua felicidade.
– Eu estou feliz. – falei exasperado – Porque toda vez que a gente toca nesse assunto nós discutimos? – esfreguei os cabelos freneticamente – Nós brigávamos quando estávamos juntos e brigamos separados, continua quase a mesma coisa, só que em casas separadas e sem sexo.
– Me desculpa, ok? Me desculpa se eu tento te ajudar e só pioro as coisas. – ela esbarrou o ombro no meu e saiu.
Entrei novamente no bar e encostei-me na parede do corredor escorregando até o chão. Encarei a tinta descascando da parede e tentei organizar meus pensamentos sem surtar de alguma forma. Eu estava confuso demais com tudo aquilo. Eu não amava mais Amy, mas não podia negar que ela mexia comigo as vezes e eu também gostava de e eu podia tê-la, era só eu decidir o que eu queria e agir.
Quando voltei para trás do balcão veio até nós e pude ver o cara que estava com ela ir até Tom para pagar a conta. Ela ficou em silêncio até que ele fosse embora e depois olhou para mim com os olhos semicerrados e um sorrisinho no canto do lábio.
– Eu estou um pouco alcoolizada... – ela passou a ponta da língua pelos lábios – E eu preciso falar com você.
– Comigo?
– Sim. – ela assentiu.
– Agora?
– Não é tão urgente assim. – ela deu um risadinha.
– Como foi seu encontro? – peguei uma cerveja e coloquei na frente dela.
– Olha ele com ciúmes. – Robbie disse em um tom infantil e lhe mostrei o dedo do meio – Não vai partir o coração dele, , ele é bem frágil.
– Só me diz uma coisa... – cocei o queixo – Você conseguiu algo com a depois de jogar todo seu charme irlandês nela?
– Vai se foder. – ele revirou os olhos.
– Ótimo. Só queria refrescar sua memória porque eu estou conseguindo algo com a irmã dela enquanto você ficou chupando dedo. – falei convencido e começou a rir.
– Ele acabou com você. – ela deu um tapa na mesa – Vai continuar rindo dele?
– Vocês são perfeitos um para o outro. – Robbie resmungou e virou o copo de chope.
– Me conta como foi. – Lauren perguntou empolgada.
– Ele é legal... – ela deu de ombros – Só não rolou química ou coisa assim.
– Era para ser só uma noite, , não precisa sair borboletas do seu estômago ou coisa do tipo.
– Não é isso, é só que... foi uma conversa legal e tal, mas eu não quis levar aquilo para frente. – ela deu de ombros e me olhou.
Tentei esquecer pelo resto da noite que ela queria conversar comigo e pela primeira vez fiquei extremamente feliz por Dave ter ido buscar Amy assim eu poderia conversar com antes dela ir embora. Lauren ficou dentro do bar esperando por Tom enquanto se sentou do lado de fora nos bancos embaixo da janela. Sentei-me ao seu lado e fiquei encarando-a esperando que ela começasse a falar.
– Porque você está me olhando assim? – ela perguntou rindo.
– Você disse que precisava conversar comigo.
– Ah... sim... eu disse... – ela encarou os próprios pés.
– Pode falar então. Estou aqui agora e estamos sozinhos.
– Esses dias que você ficou fora... eu saí com vários caras diferentes e foi estranho.
– Estranho porque?
– Não sei, eu me senti estranha porque eles não eram você. Não era a mesma coisa que conversar com você... ou te beijar. Foi como se não se encaixasse e fosse tudo... foi muito estranho. – ela balançou a cabeça.
– Sabe a Colleen que eles falaram? – ela assentiu – Ela foi minha namorada no ensino médio.... Eu não amava ela nem nada, mas a gente ficou juntos por um ano e.... ela parece muito com a Amy de várias formas e depois que a gente terminou eu... eu e ela transamos porquê...
– Porque você pode imaginar que é ela ali.
– Sim. – suspirei – E eu não consigo fazer isso com você. Até tentei, mas vocês são muito diferentes uma da outra e em todas as vezes que Colleen e eu ficamos juntos eu imagino que é a Amy ali, mas dessa vez eu... eu não sei, mas queria que fosse você e depois eu tive um sonho estranho em que precisava escolher entre uma de vocês duas. – esfreguei o rosto várias vezes.
– Isso é muito confuso. – ela deitou a cabeça em meu ombro – Eu não te amo, sabe? – ela disse rindo – Eu gosto de você, gosto de estar com você, mas eu não te amo.
– Eu também não.
– Eu sei que você gosta da Amy ainda, todo mundo sabe. Você pode não a amar mais, mas ainda gosta dela de um jeito diferente. – ela segurou minha mão e passou o polegar pela minha palma – Quem você decidiu? No seu sonho.
– Nenhuma. Eu acordei. – falei rindo e ela me empurrou com o ombro.
– Poxa, eu queria saber quem você escolheu.
– Foi mal. Eu também queria. – passei o braço por cima de seu ombro e a abracei de lado.
– Eu queria conseguir entender o que se passa na minha cabeça sobre você.
– Também queria. Tanto na minha quanto na sua.
– Eu tenho uma proposta louca para te fazer. – ela se afastou e ficou de frente para mim – O que você acha de... ser meu namorado, mas dessa vez de verdade.
– Eu achei que a gente já namorasse. – falei rindo – Você disse para vários caras tantas vezes que a gente namorava que eu estava começando a acreditar.
– Babaca. – ela me deu um soquinho no ombro – E então? O que você acha? Se não der certo, no final pelo menos eu tive um namorado decente.
– Não me parece uma ideia tão ruim assim. – segurei seu queixo e lhe beijei lentamente.
Ficamos nos beijando na frente do bar por um tempo até Tom sair com Lauren e irmos embora a pé junto com eles, minha mão entrelaçada na de enquanto tinha o braço ao redor de seu pescoço com seu corpo próximo ao meu.
– Para onde vamos? – sussurrei em seu ouvido.
– Pra sua casa, óbvio. – ela sorriu maliciosa.
foi saltitando como uma criança bêbada durante todo o caminho, sempre me puxando para ir mais rápido e cantando extremamente alto músicas aleatórias do Queen.
– How do you think I'm going to get along without you when you're gone. – ela segurou meu rosto e beijou-me rapidamente – You took me for everything that I had and kicked me out on my own.
– As pessoas estão dormindo. – falei rindo e ela mostrou-me a língua.
– Another one bites the dust and another one gone, and another one gone. Another one bites the dust, yeah. Hey, I'm gonna get you too. Another one bites the dust. – ela cantou mais alto e depois me abraçou pela cintura com força.
– Você está bem animadinha, não acha? – beijei o topo de sua cabeça e ela assentiu.
– Estou feliz. – ela sorriu largamente para mim – Eu não me sentia tão feliz assim fazia um tempo.
– E qual seria o motivo disso?
– Não se faça de desentendido, . – ela cutucou minha barriga – Você sabe o que é.
– Sim. – sorri de lado – E eu fico feliz em te ver feliz.
– Talvez essa tenha sido uma das decisões mais inteligentes que tive nos últimos tempos.
– Levando em conta o pretendente... tenho certeza que foi mesmo. – falei convencido e ela gargalhou alto.
Chegamos no meu apartamento em menos de cinco minutos e estava tão elétrica que preferiu subir as escadas ao invés de irmos pelo elevador. Ela foi logo tirando minha roupa assim que entramos e não tivemos nem tempo de irmos para o quarto, fizemos tudo no chão da sala.
– Você nunca me deixa forças para um segundo round. – ela se aninhou em meu peito.
– Isso significa que eu fiz um bom trabalho.... Eu acho.
– Você vai ficar convencido demais se eu falar que fez um bom trabalho. – ela acariciou minha barba e olhou fundo em meus olhos – É idiotice dizer que eu me sinto muito sortuda desde a primeira vez que te beijei?
– Não. – me apoiei em um cotovelo e acariciei sua bochecha – Eu também me sinto.
– Bom saber que não é só eu que se sente assim. – ela se levantou e estendeu a mão para mim – Agora vamos para o quarto, quem sabe eu me recupero para um segundo round.
– Sério? – sorri malicioso e a peguei no colo.
– Uhum. – ela disse num gemido.
– Se eu soubesse que seria assim, tinha tomado partido e te pedido em namoro primeiro.
– Fui mais rápida. – ela embrenhou as mãos em meus cabelos e me deite sobre ela na cama – A gente não se precipitou, né?
– Não sei. – beijei sua bochecha – Mas se não der certo não deu.
– Eu não quero que você se magoe.
– E eu não quero o mesmo para você, então não vai dar errado. – sorri confiante e ela me beijou.
– Você não existe, irlandês.
Nós não tivemos folego para um segundo round, então ficamos apenas deitados na cama relembrando coisas bobas de nossa infância e de como ela e a irmã brigavam bem mais do que eu e minha sobrinha.
acabou dormindo em meu peito e fiquei por um bom tempo deitado apenas observando-a dormir. Percebi que ela se remexia bastante e as vezes acabava falando sozinha coisas como 'por favor' e 'não faz isso', o que me doeu o peito ao imaginar que ela talvez estivesse sonhando com o idiota que quase acabou com a vida dela.
Eu sentia um ódio tremendo todas as vezes que me lembrava do que ele tinha feito com e tudo o que eu mais queria no mundo era dar uma surra nele, fazê-lo sofrer e agonizar de dor. Podia ser meio doentio, mas eu jamais conseguia tirar da minha cabeça o tão merda era um homem que levantava um dedo para uma mulher, e diferente de muitas, conseguiu sair viva disso tudo, talvez com alguns traumas.


Capítulo 9 – Cicatrizes do Passado

tinha me chamado para ir ao cinema com e uma possível ficante dela, e como ainda tinha um tempo até ela sair do trabalho, resolvi chamar meus amigos para tomarmos uma cerveja e informá-los da novidade.
– Sabe em filmes quando a pessoa transa depois de anos sem, e aí acorda radiante no dia seguinte? – Robbie disse rindo e já imaginei que ele iria falar alguma merda.
– Hum, o que tem? – falei antes de tomar praticamente metade do meu copo de chope em apenas um gole.
– É você.
– Que?
– Você está todo sorridente, parece que ficou na seca por anos e aí ontem conseguiu se dar bem.
– Como você é idiota, Robbie. – Michael disse rindo – Mas não deixa de ser verdade, você está mesmo todo sorridente. – ele me analisou.
– Eu tenho uma coisa para contar pra vocês. – pigarreei e os dois ficaram me olhando atentos.
– Fala logo, , pra que ficar enrolando?
– Ok, ok. – ergui as mãos – Eu estou namorando... com a .
Terminei de beber minha cerveja e olhei para Robbie e Michael que estavam me encarando perplexos com o que tinha acabado de lhes contar. Eu já estava me preparando para reações totalmente negativas da parte deles, mas os dois começaram a rir e deram tapinhas nas minhas costas me parabenizando.
– Vocês dois combinam. – Robbie deu de ombros – Mais do que com a Amy pra falar a verdade.
– Então vocês subitamente decidiram não ser mais fãs da Amy, é isso? – cruzei os braços.
– A gente precisa ser fã da ex até você arrumar uma atual. É assim que funciona. – Michael deu de ombros – Mas e aí, como foi? Vocês conversaram sobre isso ontem e....?
– Nós fomos para minha casa e ela saiu hoje cedo para trabalhar. – dei de ombros – Está tudo como antes.
– E vocês não vão sair hoje? – Robbie perguntou – Se viam praticamente todos os dias quando só transavam e agora que namoram não vão se ver.
– Só estou aqui com vocês hoje até ela sair do trabalho. – falei rindo.
– Você está nos usando, ?
– Só um pouco. – dei de ombros e peguei meu celular vibrando no bolso da calça – Oi.
– Eu já saí. Você quer que eu vá até aí?
– Não. A gente se encontra lá, pode ser?
– Tudo bem. – ela disse empolgada – Vou te esperar lá frente.
– Ok. Eu já estou indo. – falei rápido e desliguei a ligação.
– Onde os pombinhos vão sem nos convidar? – Robbie cruzou os braços e me encarou.
– Coisa de casal. – falei tentando não rir da cara deles.
– Nem namorando direito está e já trocou os amigos. – Michael colocou a mão no peito e choramingou – Tudo bem, , a gente te perdoa dessa vez.
– E das outras também. – peguei uma nota de vinte e coloquei na mesa – Vê se deixam uma boa gorjeta para o barman.
– Não, só se fosse você.
Fui andando para o cinema sem parecer um idiota com o sorriso enorme que tinha no rosto e que não saía de jeito nenhum. Aquilo não era nada demais, só estava indo ao cinema com a minha namorada, a irmã dela e a alguém que e eu considerávamos como futura namorada de .
Pude ver as três paradas em frente à bilheteria conversando e estava de mãos dadas com uma garota de cabelos loiros com mechas azuis.
– Ele chegou. – disse sorrindo quando me viu.
– Lori, esse é o , namorado da . – disse tentando não rir – , essa é a Lori, minha...
– Futura namorada talvez. – Lori disse rindo e estendeu a mão para mim – É um prazer te conhecer.
– O prazer é todo meu. – cumprimentei-a.
– Porque vocês não vão pegar os ingressos e nós vamos pegar a pipoca? – disse e elas assentiram.
Passei meu braço por cima de seu ombro e andamos juntos até a bomboniére. Pegamos quatro refrigerantes e dois baldes de pipoca, e ficou fazendo cara de cachorrinho para que eu pegasse um alcaçuz colorido.
– E aí? – entreguei para ela o saquinho e me encostei na parede.
– O que? – ela disse tentando abrir a embalagem com os dentes e peguei de sua mão.
– As duas. – rasguei o plástico com força e a entreguei.
– Sei o mesmo que você. – ela deu uma risadinha.
– Nada.
– Exatamente. – ela disse com a boca cheia.
– Onde elas se conheceram?
– Elas estudam juntas. Eu conhecia ela porque elas faziam alguns trabalhos juntas lá em casa, mas ela também não me falou nada de novo.
– Você acha que elas tem algo?
– Possivelmente. – ela deu de ombros – As duas estão saindo tem alguns dias. Lori está meio que ajudando ela a se assumir para si mesmo antes de tudo.
– Você contou para ela pelo visto... – peguei a tira de doce que ela levava a boca e comi.
– Sim... e para de roubar meus doces. – ela me deu um selinho e a puxei para beijo mais intenso.
– Faz parte. – dei de ombros.
– Pegar meus doces? – ela cruzou os braços.
– Sim. – passei a ponta do nariz pela sua bochecha.
– Quer conhecer meus pais também? Ter o pacote completo? – ela disse rindo.
– Se você quiser que eu conheça.
– Estou brincando. – ela disse assustada.
– Os pais sempre gostam de mim... – beijei seu pescoço – Porque eles não fazem ideia do que faço com suas filhinhas.... – suguei sua pele de leve e ela gemeu fraco.
– Eu me sinto uma adolescente inexperiente com você. – ela me empurrou de leve.
– Porque? – perguntei rindo.
– Porque você me deixa excitada muito fácil.
– Você também faz isso comigo. – deu-lhe um selinho.
– Vamos? – disse e nos afastamos rapidamente.
Levei os dois baldes de pipocas e as bandejas de refrigerante, andando atrás de e Lori que estavam com os corpos colados uma na outra. Nós nos sentamos nas últimas poltronas e eu não fazia ideia de que filme iríamos assistir, apenas que a sessão estava mais vazia do que deveria.
Quando os trailers terminaram, e eu já tínhamos comido toda a nossa pipoca enquanto Lori e estavam apenas beliscando.
– Nós somos dois ogros. – sussurrou em meu ouvido.
– Você é. – entrelacei nossos dedos e fiquei passando o polegar pelas costas da sua mão.
O filme começou e até consegui prestar atenção nos primeiros trinta minutos, mas depois deitei a cabeça no ombro de e ela ficou narrando o filme para mim com comentários que eram bem melhores que o assistir ao filme em si.
– Não acredito que ela está chorando por esse idiota. – ela resmungou – Que cara babaca. Homens são idiotas.
– Ei. – sussurrei – Estou aqui.
– Sei disso. – ela riu fraco e deitou a cabeça em cima da minha – Por isso mesmo que falei.
Minhas pálpebras começaram a ficar pesadas e nós dois acordamos assustados quando nos balançou pelos ombros.
– Gostaram do filme? – ela perguntou com um sorriso no rosto.
– Muito. – esfregou os olhos e se levantou – E você?
– Nós nem assistimos muito na verdade. – Lori disse rindo e ficou um pouco corada.
As duas foram andando até a saída na nossa frente e entrelacei minha mão na de automaticamente. Era bom ficar com ela desse jeito, de mãos dadas, abraçados e conversando, fazia com que me sentisse muito bem.
– Temos quantas horas até você ir trabalhar?
– Duas. – abracei-a de lado.
– Onde você quer ir?
– Qualquer lugar que você quiser.
– Frozen...
– Não. – neguei com a cabeça – Você vai ficar frustrada de novo.
– Tudo bem. – ela resmungou.
– Eu posso abrir o bar mais cedo só para você.
– Que fofo. – ela apertou minha bochecha – , eu não vou para casa. – ela disse olhando para um com um sorriso no rosto.
– Tudo bem, mas vê se não chega tarde em casa.
– Sim, mãe. – disse rindo.
Esperamos que elas fossem embora e fomos caminhando lentamente até o bar com se equilibrando na beirada da calçada enquanto eu a segurava.
– Como você conheceu a Amy?
– No bar.
– Malone's? – ela me olhou rapidamente.
– Uhum. – murmurei e a segurei com força quando ela quase caiu – Opa. – falei rindo.
– Mas ela trabalha lá... você deu em cima dela enquanto ela trabalhava? – ela perguntou rindo.
– Mais ou menos. – falei desconfortável – Eu achei ela bonita e aí...
– Você ficou flertando com ela.
– Sim. Eu não fiz igual alguns idiotas fazem.
– Diferentão. – ela engrossou a voz – Aí depois você foi embora e voltou?
– Nós ficamos conversando por mensagens e vim para cá umas duas vezes ver ela, ela foi para lá e aí nós começamos a namorar.
– E você veio por causa dela?
– Não. – neguei com a cabeça – Antes mesmo disso eu já queria vir para os Estados Unidos, não especificamente Los Angeles, aí o Robbie conseguiu um emprego aqui e eu vim com ele.
– Ela foi só um... adicional nisso tudo. – ela me olhou e assenti – Você alguma vez se arrependeu? Chegou a pensar que perdeu três anos da sua vida com uma pessoa que deixou você depois?
– Não. Eu amava ela, foi a primeira mulher que eu amei na minha vida, obviamente fiquei triste, mas nunca pensei isso.
– Eu penso isso todos os dias. – ela disse triste – Eu perdi tanto tempo da minha vida com ele pra no final acabar do jeito que acabou. Preferia mil vezes que tivesse acabado como você e a Amy do que pelo ciúme excessivo e a agressão.
– Sempre que você toca nesse assunto eu sinto uma raiva enorme dele.
– Eu sinto pena da próxima pessoa que ele namorar, ou da futura esposa dele. – ela saiu da beirada e começou a andar de costas – Uma garota me avisou uma vez.
– Ex dele?
– Não. – ela negou com a cabeça – Não sei, na verdade. Ela disse que era amiga de uma amiga da ex-namorada dele, por isso eu não acreditei.
– O que ela disse?
– Que ele era agressivo e outros coisas, exatamente tudo o que ele é. Eu não acreditei nela, mas fiquei por muito tempo meio que alerta para isso... acabou que quando eu esqueci dela...
– Ele foi lá e fez. – falei baixo e ela assentiu.
– Me sinto idiota por ter acreditado quando ele disse que mudaria. – ela suspirou – Mas o importante é que acabou.
– Talvez fosse uma boa ideia deixar seu pai matar ele. – falei sério e ela começou a gargalhar.
– Talvez. – ela parou na minha frente e ficou me encarando – Se você algum dia encostar um dedo em mim eu te mato. – ela disse tentando esconder o riso.
– Eu estou mais para vítima do que agressor.
– Sério? – ela disse rindo e assenti.
– Posso ser muito persuasivo na hora de tirar alguém do sério. – dei de ombros – Eu fazia muito isso com a Amy e ela revidava do jeito dela.
– De deixar marcas?
– Só uma vez que ela me mordeu, mas foi porque eu estava fazendo cócegas nela. – segurei sua cintura e comecei a cutucar suas costelas e ela saiu correndo.
Corri atrás dela por entre as pessoas e a segurei quando ela tentou atravessar a rua junto com um grupo de pessoas. Tirei os cabelos do seu rosto e a beijei com vontade. Senti uma sensação estranha no peito que já não sentia há muito tempo, uma sensação muito boa e eu sabia que era por causa de , sabia que era ela quem me fazia sentir aquilo.


Capítulo 10 – Brunch

Acordei assustado ao ouvir a voz de Owen, Oona e e olhei ao redor sem entender o que estava acontecendo. Vesti a boxer e a bermuda que estavam no chão rapidamente e corri para sala, encontrando os dois no sofá e na cozinha.
– O que vocês estão fazendo aqui?
– Eu te avisei. Avisei um mês atrás quando você estava em casa, avisei semana passada e avisei ontem.
– Eu esqueci. – cocei a nuca – Vocês não iam vir a tarde?
– Tarde lá, manhã aqui. – Owen disse rindo.
– Esqueci disso também. – suspirei – Do que vocês vieram até aqui?
– Uber, né. – Oona revirou os olhos – Então você está namorando, senhor ?
– Sim. – falei firme e me olhou surpresa – Vocês querem tomar café em algum lugar aqui perto?
– Por favor. – Oona disse empolgada.
– Só vou me trocar e a gente vai. – olhei para e indiquei o quarto com a cabeça.
Entrei primeiro e trancou a porta assim que entrou. Sentei-me na cama e ela ficou em pé entre minhas pernas. Passei a ponta do dedo pelas suas coxas um pouco cobertas pela minha camiseta da noite passada e senti sua pele se arrepiar com meu toque. Levantei um pouco a blusa e beijei sua cintura levemente e ela contraiu a barriga. Tracei beijos pela sua barriga sem deixar de olhá-la por um segundo e ela sorriu carinhosa.
– Você vai com a gente? – sussurrei contra ela.
– Você quer que eu vá? – ela disse manhosa.
– Uhum. – murmurei – Fica tranquila, meu irmão não é tão idiota quanto Michael e Robbie.
– Ele pareceu bastante surpreso quando eu atendi a porta.
– Acho que ele estava esperando que eu ainda estivesse no fundo do poço. – dei de ombros e me levantei passando as mãos por toda a lateral do seu corpo e levantando a blusa junto.
– Vamos se arrumar. – ela me afastou.
se vestiu mais rápido que eu e ficou batendo o pé freneticamente enquanto eu escovava os dentes. Olhei para ela pelo espelho que estava ajeitando a barra desfiada da saia jeans e assobiei para chamar sua atenção.
– Onde você pensa que vai assim? – fingi estar sério e ela me olhou inocentemente.
– Assim como?
– Não acha que essa saia está muito comprida? – coloquei a escova no armário e andei até ela – Não tem algo menor para usar?
– Como meu namorado, você deveria estar dizendo o contrário. – ela deu de ombros.
– Você está linda. – segurei seu rosto e a beijei rápido.
Os dois se levantaram assim que saímos do quarto e minha sobrinha me olhou indignada.
– Você não tem internet aqui ainda? – ela perguntou e neguei com a cabeça – Como você faz para usar internet?
– Vou em qualquer lugar com internet. – dei de ombros – Onde vocês querem ir?
– Eles não moram aqui para saber os lugares com café da manhã, . – resmungou.
– Obrigada. – Oona disse rindo.
– Tem um lugar aqui perto que serve brunch, dá para irmos a pé.
– Pode ser. – Owen deu de ombros.
Na curta caminhada de dez minutos, Oona foi contando sobre como minha mãe tinha ficado muito triste com a ida dela para uma faculdade longe. Pedimos uma mesa na área aberta e minha sobrinha ficou lendo o cardápio com uma cara estranha. O garçom logo apareceu para pegar nossos pedidos e os trouxe rapidamente.
– Você já decidiu o que vai querer estudar? – perguntou para Oona.
– Ainda não, mas vou pegar aulas variadas e ver o que vai dar.
– Alguém da família precisa começar e terminar a faculdade. – Owen disse rindo e me olhou com um sorriso – Vocês se conheceram onde?
– Em um bar no dia de São Patrício.
– Beije um irlandês no dia de São Patrício e você vai ter sorte no ano todo. – meu irmão disse rindo.
– Aqui todo mundo gosta de fingir que é irlandês nesse dia. – ela riu.
– Ela ficou até surpresa em descobrir dois irlandeses no bar. – falei convencido – Ainda bem que eu estava lá e não Robbie....
– Aí você teria azar para sempre. – Oona disse rindo.
fez perguntas para o meu irmão sobre minha infância, coisas que ela poderia ter perguntado para mim, mas sabia que eu não iria responder. Ela parecia estar se divertindo bastante em saber que eu não me importava em brigar com Oona quando éramos crianças porque estava com ciúmes e não queria dividir ninguém com ela.
Ela saiu de lá e foi para casa se trocar para ir trabalhar e quando chegamos em casa, Oona foi para o quarto de hóspedes arrumar as coisas dela e meu irmão se sentou no sofá comigo.
– Gostei dela. – Owen se jogou no sofá – Bastante simpática.
– Ela é mesmo. – sentei-me ao seu lado e deitei a cabeça no encosto.
– Você não estava namorando quando foi para casa. Ou estava e não contou nada?
– Nós não estávamos namorando. Foi logo depois que voltei.
– E você gosta dela ou é só...
– Eu gosto dela. – falei convicto – Gosto mesmo dela. É estranho ficar sozinho em casa depois que ela vai embora, parece que tem alguma coisa faltando e eu sei que o que falta é ela.
– Meu irmãozinho está apaixonado. – ele bagunçou meus cabelos.
– Talvez eu esteja. – falei rindo.
– E ela? Será que ela está apaixonada por você também?
– Não sei. – dei de ombros – Mas também não vou perguntar.
– Porque não?
– Porque a gente está namorando tem um mês, mais ou menos, e é muito cedo.
– Você veio pra cá cheio de certeza de que amava a Amy.
– Mas a gente já estava namorando tinha alguns meses, mas com a é recente e eu não quero assustá-la.
– Você está apaixonado. – ele disse com um sorriso orgulhoso – Eu estou feliz por você, , você merece isso depois de ter ficado no fundo do posso pôr dias.
– Não me lembra disso. – esfreguei o rosto – Lembrar disso só faz com que eu me arrependa de ter aceitado tudo numa boa.
– Porque?
– Não sei. – suspirei – Talvez se eu tivesse brigado e discutido, eu teria sofrido menos porque estaria com raiva dela o tempo todo e não de mim.
– Pelo menos você já adquiriu experiência para um próximo relacionamento. – ele apertou meus ombros.
– Pra ser sincero, Owen, eu não quero que isso se repita, não com a .
– Porque você fica tão apreensivo assim?
– Aconteceu umas merdas com ela em um outro relacionamento, o cara foi um escroto e.... – respirei fundo tentando não me irritar ao lembrar daquilo – Ele machucou ela e eu não quero que isso aconteça de novo.
– Acho que consigo imaginar o que aconteceu. – ele me olhou compreensivo – A mamãe te contou da Oona?
– As paredes aqui são bem finas, sabia? – minha sobrinha gritou do quarto.
– O que?
– Ela está namorando. – ele suspirou – Faz um tempão.
– Sério? – fingi estar surpreso e ele ficou me analisando.
– Você já sabia, né? – ele revirou os olhos.
– Do que você está falando?
– Está estampado na sua cara, , você pode mentir pra quem quiser, mas eu te conheço melhor do que você imagina. – ele disse rindo – Você sabia que ela estava namorando.
– Eu desconfiava. – menti.
– Cala a boca. – ele me deu um soquinho no ombro – Você já sabia, está óbvio que sabia.
– Tá, eu sabia, mas eu não falei nada porque quem tinha que fazer isso era ela, não eu.
– Todo mundo sabia disso menos eu? – ele me olhou indignado.
– O vovô também não sabia. – Oona gritou – Agora parem de falar de mim.
– Ele parece ser um bom garoto... – Owen disse baixinho – Mas é minha filha. – ele bagunçou os cabelos – Eu fico louco só de imaginar isso.
– Você aprontava demais, talvez tenha sido carma você ser pai de uma garota.
– Só pode. – ele riu fraco – Às vezes eu acordo a noite e fico olhando ela dormir por um tempo sem acreditar que aquele bebezinho cresceu e está até namorando.
– Ela podia ficar pequena para sempre.
– Vocês dois podem por favor parar de falar de mim. – Oona se sentou entre nós dois e apoiou a cabeça no ombro do meu irmão – Isso é mal de velhice, sabia? Você precisa de uma namorada.
– Boa. – falei empolgado – Há quanto tempo você não namora?
– Deve ter um século. – minha sobrinha disse rindo – Você precisa de alguém, pai. Quem vai cuidar de você quando eu for embora?
– Você simplesmente mudou o rumo da conversa, Oona .
– Mudei para um assunto muito mais interessante do que meu pai ficando de cabelos brancos porque eu cresci e não fiquei para sempre seu bebezinho chorão. – ela beijou suas bochechas – Olha o tio como está muito mais feliz agora que arrumou alguém.
– Hum. – ele arqueou uma sobrancelha.
– Oona está certa, Owen.
– Eu sou o mais velho, ok? – ele se levantou – Vocês dois podem parar com essa história de tentar me arrumar alguém.
– Tem a Colleen. – falei rindo.
– O que? – ele me olhou surpreso – Cala a boca, .
Owen foi todo rabugento para o quarto enquanto Oona começou a me falar das diversas opções de mulheres solteiras em Cork que seriam um par perfeito para seu pai. Ela se mostrou realmente empenhada em arrumar alguém para o meu irmão antes que ela pudesse ir embora de casa.
Tinha passado o dia todo contando os minutos para poder ir trabalhar e quando cheguei, fiquei contando quanto tempo até que aparecesse por lá, o que demorou mais do que o esperado. A conversa com meu irmão quando chegamos do brunch não tinha saído da minha cabeça por um minuto sequer e fiquei pensando se eu estava realmente apaixonado por .
Ela entrou usando um vestido amarelo por baixo da jaqueta jeans surradas e o cabelo preso no alto com vários fios soltos. Suas bochechas estavam um pouco coradas e percebi que ela estava um pouco ofegante quando se apoiou no balcão. Fiquei automaticamente preocupado pensando que Steve tinha surgido do nada mais uma vez, mas ela parecia bastante feliz.
– Oi. – ela sorriu para mim.
– Vai querer o que hoje? – apoiei-me no balcão e ela mordeu o lábio.
– O barman. – ela disse rindo e me beijou – Só uma cerveja.
Abri a garrafa para ela e coloquei na sua frente. Ela olhou para trás e quando um grupo de garotas entrou, ela acenou para elas que indicaram uma das mesas vazias.
– Amigas novas? – arqueei uma sobrancelha e ela negou com a cabeça.
– São do trabalho. É aniversário de uma delas e aí viemos comemorar. – ela bebeu um gole da cerveja – Não é o melhor bar da cidade em questão de atendimento, mas o barman é gato então acho que compensa. – ela deu de ombros – Eu vou me sentar, vê se manda umas bebidinhas por conta da casa, mas só para mim.
– Vou pensar no seu caso. – ri fraco.
– Vêm aqui. O que é isso no seu queixo? – ela ficou em pé no banco e se apoiou no balcão.
Aproximei-me um pouco mais dela e ela me beijou apaixonadamente sem se importar nem um pouco com as pessoas ao redor. Ela se afastou de mim com um sorrisinho no rosto e os lábios um pouco vermelhos e pegou a garrafa na mesa, indo se juntar às amigas.
Robbie apareceu por lá com Michael e os dois ficaram me perguntando se estava tudo bem entre e eu para que ela estivesse sentada em uma mesa à metros de distância de mim.
– Está tudo bem. – dei de ombros.
– Que sorrisinho é esse? – Michael perguntou rindo e tentei ficar sério – O que aconteceu que você está feliz?
– Nada, estou normal.
– Você está todo sorridente. – Robbie provocou – É legal que você esteja assim, cara.
Amy parou ao lado de Michael e colocou a bandeja na mesa fazendo os pedidos. Preparei as bebidas para ela e a encarei sem nem tentar esconder o sorriso. Ela ficou me olhando confusa e não senti completamente nada. Era como se estivesse apenas olhando para uma amiga e não minha ex-namorada que eu costumava amar com todo o meu ser.
Fiz o Texas Tea mais rápido que consegui e coloquei em um copo com um limão na borda e canudo de guarda-chuva.
– É para a bonitinha daquela mesa. – apontei.
Encostei-me no balcão e nós três ficamos olhando Amy ir até lá. Ela colocou o copo na frente de e disse algo em seu ouvido que fez com que ela olhasse curiosa para onde Amy estava apontando. Dei uma piscadela quando ela olhou para mim com um sorriso divertido no rosto e ergueu seu copo, tomando um gole em seguida.
– O que a gente tem que fazer para ganhar uma bebida assim sem mais nem menos? – Robbie perguntou rindo.
– Pagar. – dei de ombros – Ou ser minha namorada.
– Você é uma pessoa amarga e sem coração, . – ele colocou a mão no peito e empinou o nariz.
Deixei os dois de lado e fui atender os outros clientes. Três garotas que pareciam muito ser menores de idades bêbadas começaram a dar em cima de Tom e eu, mas diferente dele que ficava envergonhado com aquilo, eu simplesmente as ignorei.
Preparei três Sex on the Beach e coloquei na frente de cada uma. Elas sorriram maliciosa e apontei Michael e Robbie do outro lado do balcão.
– Eles quem mandaram. – falei e depois caminhei até os dois – Vocês acabaram de pagar três Sex on the Beach para aquelas garotas. – apontei elas – Então é bom ir lá e mostrar que não fiz esse esforço todo por vocês à toa.
– Você é meu herói. – Michael disse rindo e se levantou.
Fui para os fundos fumar e fiquei encarando o céu todo estrelado enquanto soltava a fumaça para cima. Ouvi o barulho da porta se abrir lentamente e abaixei a cabeça, vendo tentando sair despercebida e rindo alto quando notou que eu a tinha visto.
Ela caminhou até mim com as mãos na cintura e tentando fazer uma cara de brava e segurei o cigarro com a boca no maior estilo Clint Eastwood que consegui. suspirou alto e me segurou pela camisa.
– Tentando ir embora sem pagar? – passei os braços pela sua cintura e ergui a cabeça para soltar a fumaça longe dela.
– Você me descobriu. – ela deu uma risadinha maliciosa – Um cara muito gato me pagou uma bebida essa noite... – ela colocou as duas mãos em meu peito – Acho que vou para casa com ele, foi mal.
– Tudo bem. Eu fiz três bebidas grátis para umas garotas na intenção de levar elas para minha casa, então estamos quites. – peguei o cigarro da boca e o apertei contra a parede.
– Espero que elas sejam bonitas. – ela entrelaçou as mãos em meu pescoço.
– Muito. – desci as mãos até sua bunda e a apertei levemente – Você é linda demais. – sussurrei em seu ouvido.
, você quer namorar comigo?
Toquei seus lábios com os meus lentamente e ela o sugou fraco, beijando-me em seguida. Meus batimentos se aceleraram e parecia que tinha algo flutuando em meu estômago durante o beijo. Eu me sentia bem com aquilo, me sentia bem em ter ela em meus braços e queria mais do que tudo no universo fazê-la feliz. Encostei minha testa na dela e olhei fundo em seus olhos.
– Eu já tenho namorada e o nome dela é e ela me faz o homem mais feliz do mundo. – sussurrei contra seus lábios.
– Eu só não consigo acreditar que isso é verdade. – ela suspirou – Eu pensei que nunca mais ia conseguir ser feliz e do nada você apareceu na minha vida justamente por causa de quem mais me fez infeliz.
, eu jamais na minha vida vou fazer com você o que ele fez. Nem com você, nem com ninguém. Eu te prometo.
– Vamos entrar. – ela passou a mão pelo rosto e uma lágrima escorreu pela sua bochecha – Se alguém perguntar porque estou chorando você diz que a gente terminou. – ela disse rindo.
– Não quero que você chore, ok? – falei sério – Não por causa dele. Ele te fez infeliz várias vezes e tudo o que eu quero é te fazer ser feliz.
– Beije um irlandês e tenha sorte o ano todo. É assim? – ela colocou o cabelo atrás da orelha e assenti.
– Namore um irlandês e tenha sorte a vida inteira. – encolhi os ombros.
– Eu já me sinto sortuda só de ter você por perto, meu irlandês.


Capítulo 11 – Cork, Irlanda pt. 1

tinha ficado calma durante todo o voo, mas foi só pousarmos na Irlanda e descermos do avião que ela se mostrou bastante apreensiva e ansiosa. Era a formatura de Oona e minha sobrinha tinha feito questão de convidar e garantir que a mesma estaria lá quando ela se formasse, mas isso resultaria em ela ser obrigada a conhecer meus pais enquanto ela estava evitando ao máximo que eu conhecesse os seus.
Ela não tinha falado nada, mas em uma breve conversa, das poucas, que tive com antes da viagem, ela contou que a irmã estava com medo de que meus pais não gostassem dela ou coisa do tipo, mesmo eu tendo dito que eles nunca mais iam querer que ela fosse embora de Cork.
Ninguém de casa poderia vir nos buscar por conta de trabalho, e a única que poderia fazer isso era Oona que estava estritamente proibida de dirigir depois de ter pego o carro escondida para ir em uma festa com algumas amigas, então e eu pegamos um Uber até a casa dos meus pais.
Durante todo o caminho ela ficou quieta olhando atentamente a paisagem do lado de fora da janela, fazendo um comentário ou outro sobre as casas e as paisagens. Quando o motorista parou em frente à casa, falei 'obrigado' para ele em Irlandês e ficou me olhando maravilhada e um pouco surpresa.
– Que foi? – ajeitei nossas bolsas nas costas e segurei sua mão.
– Eu já amava seu sotaque falando inglês, mas acho que amo mais quando você fala irlandês. – ela me deu um selinho rápido e todo o nervosismo sumiu de seu corpo – E desde quando você fala irlandês fluente?
– Desde sempre. – encolhi os ombros – A maior parte do pessoal aqui fala irlandês, então é bom se acostumar.
– Até mesmo seus pais?
– Sim. – assenti – Mas eles já estão sabendo que só está permitido falar inglês na casa enquanto você estiver.
. – ela ralhou.
– Fica tranquila, ok? Vai dar tudo certo. – beijei sua testa – E antes que eu me esqueça... você precisa ter um pouquinho de paciência.
– Com o que? Porque? – ela perguntou nervosa.
– Nós temos um sotaque muito pesado e as vezes pode ficar difícil de você entender algumas coisas.
– Tipo o do seu irmão?
– Sim. – assenti – Só que pior. – sorri largamente e ela respirou fundo.
Dei um beijo em sua testa e sussurrei em seu ouvido que ia ficar tudo bem, mas resolveu continuar na paranoia de que ia dar tudo errado.
Caminhamos lado a lado pelo gramado e toquei a campainha repetidas vezes até que Oona atendeu. Ela praticamente pulou em cima de e falou várias e várias vezes que não acreditava que ela realmente estava lá.
– Oi, seu tio tá aqui. O familiar. – falei quando as duas finalmente se soltaram e minha sobrinha me abraçou com força.
– A gente já está grandinho pra você ficar com ciúmes, não acha? – ela beijou minha bochecha – Dá aqui que eu te ajudo. – ela pegou a mala de rodinhas e puxou para dentro.
– Cadê todo mundo? Ninguém chegou ainda?
– A vovó está vindo, ela ia passar em algum lugar comprar alguma coisa. – Oona deu de ombros – A vai dormir no meu quarto.
– O que? – perguntei exasperado e ela começou a gargalhar.
– Estou te zoando. – ela disse em irlandês e nos olhou confusa – Esqueci, é força do hábito. – ela deu uma risadinha.
Ajeitei nossas coisas em meu antigo quarto e ficou andando de um lado para o outro olhando os pôsteres antigos colados na parede e até mesmo os porta-retratos nas prateleiras.
– Isso tudo me lembrou de uma coisa. – ela se sentou ao meu lado na cama.
– O que?
– Você ainda não tem uma decoração decente no seu apartamento.
– É. – cocei a nuca.
– Nós vamos dar um jeito nisso quando voltarmos.
– E quando você terminar comigo serei obrigado a ter você por todo canto?
– Eu não vou terminar com você. – ela me olhou séria.
– Nem eu.
– Isso significa que vamos ficar junto pra sempre. – ela me beijou lentamente.
As coisas foram começando a esquentar aos poucos e quando já estava por cima dela quase tirando sua blusa, pude ouvir minha mãe gritar no andar debaixo perguntando pela gente. Respirei fundo antes de criar forças para me levantar e desceu as escadas atrás de mim, segurando minha mão com bastante força.
– Ah, meu amor. – ela disse em irlandês e revirei os olhos já imaginando quantas vezes iria ter que alertá-los até eles se lembrarem.
– Oi, mãe. – abracei-a com força – Esqueceu do que eu disse? – falei no nosso idioma nativo em seu ouvido e ela me olhou confusa – Inglês, mãe, inglês.
– Ah, sim. – ela sorriu – Cadê a famosa que minha neta não para de falar?
– Oi. – saiu de trás de mim com um sorriso tímido no rosto e minha mãe a abraçou com força.
– Nós estávamos tão ansiosos para te conhecer. – minha mãe acariciou seu rosto – A Oona fala tão bem de você que estávamos começando a achar que você era coisa da cabeça dela.
– Sou real. – ela sorriu – De carne e osso.
– Ela é tão bonita, . – ela disse em irlandês e rosnei baixinho.
– Eu nem vou mais te responder a cada vez que você não falar em inglês. – suspirei.
também é estressadinho lá desse jeito? – ela perguntou rindo e me olhou com um sorrisinho diabólico.
– Às vezes, mas só quando está no videogame.
– Ele ainda está nessa? – minha mãe me olhou indignado – Já está na hora de deixar esse negócio de crianças e começar a me dar netos.
– Pelo amor de Deus. – gritei.
– Bom saber que só eu não é mais suficiente para a senhora, vovó. – Oona cruzou os braços e fez uma cara de emburrada.
– Você já sabe de quem ela puxou o temperamento. – minha mãe disse para que parecia mais relaxada – Vocês estão com fome? Eu assei algumas mince pies de manhã.
– Ainda nem é natal. – falei.
– Eu sei, mas é um dos seus doces favoritos e como não sabia se vocês viriam para cá no fim do ano para sua namorada provar, resolvi fazer antes. – ela disse empolgada e foi para a cozinha.
– Eu vou subir, tenho que ajudar meu pai. – Oona revirou os olhos – E ele disse para você ir no turno da noite.
– Sério? – resmunguei.
– Sim. – ela suspirou alto – Ele precisa logo de alguém pra sair do meu pé. – ela disse emburrada e subiu.
– Tinha me esquecido disso. – puxei para o sofá e deitei a cabeça em seu ombro.
– Que você tem que trabalhar?
– Uhum.
– Não tem problema nenhum. – ela beijou minha bochecha – Eu te vejo trabalhar praticamente todas as noites.
– Você vai odiar.
– Porque? – ela arqueou uma sobrancelha.
– Não é igual ao Malone's e as pessoas vão estar o tempo todo falando uma língua que você não vai entender.
– Vai ser ótimo para eu aprender a como te xingar em irlandês. – ela sorriu maliciosa.
– Tem certeza que não quer ficar e descansar? Eu não vou voltar muito tarde.
– Certeza absoluta. – ela beijou a ponta do meu nariz.
Minha mãe logo voltou com uma bandeja cheia de mince pies que dava para comer até o fim do ano e pareceu adorá-las logo na primeira mordida. Com o tempo, enquanto minha mãe ia perguntando sobre algumas coisas da vida de , minha namorada foi ficando mais relaxada, mas logo surgiu meu pai, que a deixou tensa novamente.
– Você é a ? – meu pai disse assim que entrou e veio até nós – Tem certeza que você é namorada dele de verdade? Pode falar pra gente se ele te pagou para vir até aqui.
– Sou sim. – sorriu um pouco tímida e sorri para ela tentando mostrar que ia ficar tudo bem.
– Ela é muito bonita. – meu pai me deu um tapinha no ombro – Os homens tem bom gosto. – ele gargalhou – Pode se sentir em casa, . – ele disse para ela que relaxou um pouquinho ao meu lado – Eu vou tomar um banho, estou exausto de trabalhar. Queria ser um vagal igual aos meus dois filhos.
– Muito engraçado. – revirei os olhos.
– Vocês vão jantar em casa ou vão comer algo fora antes de você ir para o bar?
– Não sei. – olhei para que apenas deu de ombros – Acho que vamos comer em algum lugar pelo centro, mas não precisa se preocupar, mãe.
– Sei. Se eu não te alimentar aqui, você vai ficar vivendo a base de nada lá.
– Pode deixar, senhora , vou alimentá-lo direitinho. – acariciou minha barriga com um sorriso divertido no rosto.
Fiquei procrastinando durante um bom tempo até decidir ir tomar banho para irmos e foi suficiente para perder toda a vergonha e nervosismo, sentindo-se mais confortável.
Resolvi ir a pé para o bar e aproveitei para ir mostrando algumas coisas para , como o atalho que pegava quando ia matar aula e a casa da garota com quem dei meu primeiro beijo, o que ela achou fofo da minha parte por ainda me lembrar onde ela morava.
– Achei que você não fosse vir. – Owen disse assim que passamos pela porta e veio até nós – Como você está? – ele abraçou .
– Uma nova mulher depois das tortinhas da sua mãe.
– Ela está tentando te pegar pelo estômago, não caia nessa. – ele disse rindo – Você pode ir lá para trás. – ele deu um tapinha no meu ombro.
– Você tem que parar de dar folga para os seus funcionários quando venho. – falei emburrado.
– Eu gosto de dar trabalho para o meu irmãozinho. Mente vazia é oficina do diabo, . – ele fez uma expressão séria e apenas o ignorei.
Fui contrariado para o outro lado do balcão e cumprimentei com um aceno William, um senhor de quase oitenta anos que era cliente do bar antes mesmo de eu fazer dezoito anos e meu irmão se tornar gerente, era como se ele fizesse parte do lugar.
Surpreendentemente aquela noite foi um pouco mais movimentada que o normal por conta de um jogo de futebol que iria passar e até mesmo Oona foi obrigada a me ajudar do outro lado enquanto meu irmão ficou sentado em uma mesa com , os dois gargalhando alto com o que ele falava, provavelmente sobre mim.
Aproveitei ensinar algumas coisas a minha sobrinha para que ela pudesse servir mais pessoas mais rápido e assim que o jogo acabou, as pessoas deveriam começar a irem embora, mas permaneceram todos em seus lugares bebendo e falando alto.
Em um gesto automático que já tinha se tornado uma mania, me virei para trás quando o sino da porta anunciou a chegada de alguém e vi Colleen entrar com sua melhor amiga da época da escola. As duas acenaram para mim e Oona me olhou do outro lado do balcão com um sorriso debochado no rosto.
– Boa noite, garotas. – limpei o balcão na frente delas e joguei o pano no ombro – O que vão querer?
– O de sempre. – Colleen sorriu e tentei não ver um duplo sentido naquilo.
– Pode deixar. – dei uma piscadinha e peguei duas garrafas de cerveja embaixo do balcão.
Continuei atendendo elas durante toda a noite e quando o movimento diminuiu, Owen e se sentaram na minha frente e minha namorada ficou me olhando maliciosa como se estivesse me despindo com o olhar.
– Oi, Colleen. Nem tinha te visto. – meu irmão cumprimentou minha ex-namorada em inglês e logo entendi o que ele estava fazendo.
Olhei para eles pelo canto do olho e tinha um sorrisinho malicioso para mim, como se tivesse acabado de descobrir algum segredo meu.
– E aí, Owen. Como está as coisas? – ela respondeu no mesmo idioma.
– Bem. Só rançando o couro do meu irmãozinho como sempre.
– Você precisa dar um descanso para ele. – ela eu uma risadinha.
– Se eu não deixo ele parado quando está sozinho quem dirá quando ele resolve trazer a namorada. – Owen abraçou e ela abriu um sorriso largo.
Colleen me olhou um pouco surpresa, assim como sua amiga, e percebi que aquele 'o de sempre' tinha um duplo sentido. Meu irmão apresentou as duas e fiquei chocado com a simpatia de e em como ela conseguia facilmente se tornar amiga das minhas ex-namoradas.
Sempre que ia até lá, Colleen ficava até fecharmos, e aquele dia não foi diferente. Ela ficou sentado no balcão conversando animada com sobre Los Angeles e quando ela se deu conta, Oona e Owen já estavam virando as cadeiras em cima das mesas.
– A gente já vai... mas foi ótimo te conhecer, . – ela disse extremamente simpática – Espero que ele te traga mais vezes.
– Sim. – disse animada.
Fui fechar a conta delas e ela ficou me olhando com um sorrisinho engraçado no rosto como se quisesse dizer algo.
– Fico feliz em saber que deu tudo certo. – ela disse baixinho.
– Hum?
– Desde a última vez que você veio, sabe? E aí você disse o nome dela e tal... – ela encolheu os ombros.
– Ah, sim. – assenti – E você?
– Estou bem. – ela sorriu – Um dia de cada vez, não é mesmo?
– Exatamente.
Acompanhei ela é a amiga até a porta e abracei por trás, dando um beijo estalado em sua bochecha.
– Vou só terminar aqui e já vamos. – sussurrei em seu ouvido.
– Sem pressa. – ela sorriu.
Meu irmão finalmente resolveu levantar da cadeira para nos ajudar e logo estávamos do lado de fora com Oona discutindo com meu irmão e implorando para que ele a deixasse dirigir. Foi preciso ficarmos um dez minutos no vento gelado e minha sobrinha quase chorar para que ele cedesse e a deixasse dirigir.
Assim que nós viramos a esquina me dei conta do porque ele não deixava ela dirigir. Oona era meio desatenta e não sabia tirar o pé do acelerador.
– E aí? – ela perguntou assim que descemos do carro.
– Pode melhorar. – disse rindo.
– Vou me abster disso. – suspirei.
– Não foi tão ruim assim. – ela me provocou.
– Eu vi minha vida passar inteirinha na minha frente de lá até aqui.
– E ai você se tocou que não fez nada de interessante, né?
– Isso mesmo. – abracei .
– Não foi tão ruim assim.
– Você não precisa defender ela, . A Oona vai ter muito tempo para aprender dirigir quando ela finalmente começar a ter aulas de direção com alguém que tenha paciência e que não sejam seus avós. – meu irmão disse rindo.
– Não vejo a hora de ir embora de casa pra você se arrepender de tudo isso é começar a sentir minha falta. – ela disse manhosa e abriu a porta – Aí, filha, vem pra casa me ver. – ela imitou meu irmão.
– Sobe pro seu quarto, vai. – ele a chacoalhou pelos ombros – Vê se não fica acordado até tarde. – ele olhou para nós dois.
Subimos para o meu quarto na ponta dos pés e trancou a porta assim que entramos, empurrando-me para a cama com um sorriso malicioso no rosto.
– Tem alguma coisa em você quando está trabalhando que me deixa muito excitada. – ela se deitou por cima de mim e tirou a jaqueta – Eu não sei o que é. Talvez seja o jeito que você faz as coisas, sempre atencioso ou... – ela tirou minha blusa – Deve ser o jeito que você parece flertar com todas as mulheres que você atende. – foi beijando meu peito até chegar na minha cintura.
– Está com ciúmes, ? – apoiei-me nos cotovelos e a encarei com um sorriso malicioso nos olhos.
– Não. – ela negou com a cabeça – É engraçado ver como elas se derretem com todo seu charme irlandês. – ela desabotoou minha calça e a puxou para baixo, subindo em cima de mim e beijando meu pescoço – Foi isso o que me conquistou. – ela sussurrou em meu ouvido.
– Preciso fazer com que elas comprem mais, não é mesmo?
– Uhum. – ela gemeu – Adorei conhecer sua amiga... – mordiscou minha orelha e todos os pelos do meu corpo se arrepiaram – Todas as suas ex são legais, então acho que o problema é você.
– Talvez seja eu mesmo, mas você vai ter que esperar para ver. – virei-a para baixo e me deitei por cima dela – E aí, o que está achando daqui?
– Ótimo. – ela sorriu largamente – É realmente difícil entender o que falam por conta do sotaque, mas fora isso as pessoas são bem simpáticas. – ela acariciou minha barba – Agora chega de conversa. – ela segurou meu queixo e me beijou.


Capítulo 12 – Cork, Irlanda pt. 2

Parei no carro no estacionamento da minha antiga escola e abri a porta traseira para descer. Ela sorriu agradecida e ajeitou a saia do vestido, abraçando o próprio corpo em seguida por conta do frio. Abracei ela de lado, colocando-a dentro da minha jaqueta e fomos andando atrás dos meus pais até o ginásio.
Assim que entramos vi Owen na arquibancada acenando para gente e fomos até ele que parecia mais ansioso que minha sobrinha.
– Cadê ela?
– Está lá com os amigos dela. – ele disse tenso.
Tivemos que esperar por quase quarenta minutos até todas as pessoas chegarem e logo a cerimônia começou. A diretora ficou um tempão falando sobre como tinha sido ter os alunos na escola por todos esses anos e logo depois começou a chamar um por um para pegarem seus diplomas.
Quando o nome de Oona foi chamado, meu irmão parecia uma líder de torcida assobiando e gritando de empolgação junto da minha mãe que mais tremia do que tirava fotos.
Depois que minha sobrinha saiu do palco, sai um pouco para fumar e fiquei encostado no carro olhando os atrasados entrarem correndo. Acabei perdendo noção do tempo entre um cigarro e outro porque logo eles começaram a sair e Oona simplesmente se materializou na minha frente chacoalhando o canudo de um lado para o outro.
– Finalmente. – ela disse empolgada – Liberdade.
– Vai com calma aí, Oona, liberdade nada, você ainda mora debaixo do nosso teto. – Owen disse rindo e ela revirou os olhos.
Meu irmão tinha decidido que iríamos em um restaurante no centro da cidade e fui seguindo o carro dele com o dos meus pais. Logo que chegamos a atendente nos levou até uma mesa reservado do lado de fora e minha sobrinha ficou toda empolgada quando meu irmão disse que ela estava livre para pedir qualquer coisa do cardápio.
– Vovó e eu temos um presente para você. – meu pai disse logo depois que o garçom tirou nossos pratos de comida.
– Sério? – Oona perguntou empolgada e eles assentiram.
Como ele tinha aparecido com aquilo eu não sabia, mas meu pai puxou debaixo da mesa uma caixa grande embalada em papel pardo, bem de qualquer jeito e imaginava que os dois quem tivessem embrulhado. Ele colocou a caixa na frente da minha sobrinha que foi rasgando o papel com os olhos já marejados.
Oona nos olhou de boca aberta quando viu a caixa branca de um iPad Pro e olhou para os meus pais sem acreditar. Ela ficou intercalando entre todos nós na mesa e correu até meus pais para abraçá-los.
– Não precisava, gente. – ela disse chorando.
– Assim fica mais fácil para você estudar em qualquer lugar e fazer as suas coisinhas. – minha mãe disse chorosa.
– Obrigada, gente. – ela limpou as lágrimas e olhou para meu irmão com as mãos na cintura – E você? Não vai me dar nada? – ela disse rindo.
– Eu te dei a vida, quer mais o que? – ele cruzou os braços e ela revirou os olhos.
– Para de graça, Owen. – meu pai ralhou.
– O que? Eu não tenho nada pra ela. Não adianta ficar me olhando desse jeitinho manhoso querendo algo.
– Vocês dois parecem crianças. – minha mãe resmungou.
Uma das coisas que meu irmão mais gostava no mundo era poder provocar Oona e eu sabia que ele estava fazendo aquilo apenas para aproveitar os últimos dias dela embaixo da asa dele.
Logo que minha sobrinha entrou no seu último ano do ensino médio, houve uma enorme discussão em casa em que na primeira vez que ela manifestou interesse de estudar nos Estados Unidos, meu irmão simplesmente disse que ela não iria para lá de jeito nenhum. Foi preciso meses de conversa até ele aceitar que ela fizesse aplicação para faculdades americanas e tive que prometer diversas vezes, quando Oona decidiu que estudaria em Los Angeles, que iria cuidar bem dela.
Quando chegamos em casa depois do almoço, Oona e subiram para o quarto configurar o brinquedo novo e fiquei sentado na sala tomando cerveja com meu pai e meu irmão.
– Eu gostei muito dela. – meu pai falou.
– De quem? – perguntei confuso.
– Da sua namorada, oras bolas. De quem mais eu estaria falando? – ele deu uma gargalhada alta.
– Bestão. – meu irmão me deu um tapa na cabeça – Você nunca contou como conheceu ela... – ele me olhou curioso.
– Sério isso? – resmunguei e os dois assentiram – Ai que saco.
– Vai logo. Quero saber como uma garota legal igual ela foi cair na sua lábia, se é que você tem alguma.
– Eu estava em um bar na minha folga no dia de São Patrício e aí ela estava fugindo de um idiota... – meus punhos automaticamente se cerraram ao me lembrar de Steve atrás de – E aí ela me beijou. – sorri orgulhoso e os dois começaram a rir alto – Que foi?
– Agora você conta a história verdadeira. A que aconteceu mesmo, não a dos seus sonhos. – meu irmão provocou.
– Parem de mexer com meu bebê. – minha mãe me abraçou e beijou minha bochecha – E que história é essa, ?
– Eles perguntaram como eu conheci a e aí contei. – dei de ombros – Vai de vocês acreditarem.
– Eu não vou cair nessa. – Owen se levantou e foi até a escada – , desce aqui um pouco. – ele gritou.
– Para de ser idiota, Owen. – falei irritado – Porque eu ia mentir?
– Porque isso aí está muito mal contado. – meu pai disse rindo.
– O que foi? – desceu as escadas com Oona em seu encalço.
– Meu irmãozinho aqui está contando umas mentiras sobre como vocês se conheceram e nós precisamos da verdade.
– Ai, querida, não liga para eles. São duas crianças em corpo de adultos. – minha mãe bufou alto e voltou para a cozinha.
– O que ele disse para vocês? – se sentou no braço do sofá ao meu lado e me abraçou.
– Que você beijou ele do nada.
– Que mentira, . – ela disse rindo – A verdade é que a gente se conheceu em um bar e depois disso ele ficou dando em cima de mim igual um louco. Não saía do meu pé, até que um dia eu cansei de falar 'não' e resolvi dar um chance porque fiquei com dó. – ela apertou minhas bochechas e a olhei indignado.
– Cinco dias aqui e já está mancomunada com eles. – meneei a cabeça.
– Eu sabia. – meu irmão falou empolgado – Essa história sua era boa demais pra ser verdade.
– Mas acredite se quiser. Foi real. – ela sorriu diabolicamente e minha mãe começou a gargalhar na cozinha.
– Bem feito para vocês.
– Qual é, pai. Tio pega todas, só você que não pega ninguém. – Oona provocou.
– Você mereceu essa. – meu pai deu um tapinha em suas costas – Então é verdade essa história dele?
– Sim. – me olhou apaixonada – Eu ia encontrar minha irmã e uma amiga no bar que ele estava com os amigos dele, e aí um... um cara surgiu do nada querendo me forçar a ficar com ele... – ela falou tensa e segurei sua mão olhando fundo em seus olhos, o que a fez sorrir de leve – E aí eu entrei e a primeira coisa que me chama atenção naquele monte de gente usando roupas verdes foi uma cabeleira ruiva, a única pessoa lá que não estava de verde. – ela deu uma risadinha – O cara ainda estava atrás de mim e eu só fui até o e o beijei. – ela deu uma piscadela para mim.
– Que fofo. – Oona disse – Você realmente é um zé mané, tio.
– Eu estou realmente sem moral alguma nessa casa. – revirei os olhos.
– Eu não estou acreditando nisso. – meu irmão gargalhou – Isso é muito coisa de comédia romântica.
– Sim. – fez careta.
– Mas e aí? O que aconteceu depois disso? – Oona nos olhou curiosa.
– Depois disso nós nos víamos quase todo dia no bar que ele trabalha...
– E o resto não é dá sua conta. – apontei o dedo para ela que abriu um sorriso malicioso já entendendo o que eu queria dizer com aquilo.
– E pensar que a gente achou que você nunca fosse superar a.... – meu irmão começou a dizer e logo parou quando percebeu do que estava falando.
– Amy? – perguntou e ele assentiu – Ela é bem legal pra você. – ela sorriu infantil para mim e dei de ombros – Todas as suas ex-namoradas são legais demais para você.
– Você conhece a Amy? – meu pai perguntou curioso e assentiu.
– A gente meio que virou amigas...
– E aí você virou amiga da Colleen também.
– Sério? – meu pai me olhou surpreso.
– Sim. – disse rindo – Ela meio que me incentivou várias vezes.
– Como? – olhei-a surpreso e ela apenas deu de ombros.
– Esse papo já ficou chato, vocês não acham? – Oona reclamou – Pai, o Tobey vai vir aqui, ok?
– Você está me avisando ou pedindo autorização? – ele cruzou os braços.
– Na verdade eu já pedi pra vovó e o vovô, então só estou te avisando mesmo. – ela disse debochada e ele olhou indignado para o meu pai.
– Cadê minha autoridade aqui nessa casa?
– Deixa a garota aproveitar a vida dela. A Oona é muito inteligente para cometer as suas burrices. Nisso não podemos negar que ela puxou a avó. – meu pai disse orgulhoso.
– Achei que você fosse falar de mim. – fingi estar magoado.
– Você largou a faculdade e agora é barman. Não é lá um dos melhores exemplos, não acha?
– Ouch. – coloquei a mão no peito dramaticamente – Vou me lembrar disso na próxima vez que eu tiver que pedir folga para vir pra cá.
– Deixa de ser chorão. – meu irmão disse rindo – Você sempre volta. Se não por mim e pelo papai, pela mamãe e Oona.
– Eu só tenho um motivo para vir, então é bom começarem a me tratar com o devido respeito. – levantei-me do sofá e puxei .
– Blá, blá, blá. – Owen resmungou.
Levei para o quarto e a peguei no colo antes de entrarmos, colocando-a na cama delicadamente e me deitando por cima de seu corpo.
– Estou curioso.
– Com o que? – ela se apoiou nos cotovelos e ficou me encarando com um sorrisinho bobo nos lábios.
– Que história é essa de Amy te incentivar? – semicerrei os olhos e ela deu uma gargalhada alta e gostosa.
– Sabia que você ia tocar nesse assunto cedo ou tarde.
– Melhor cedo antes que eu me esqueça, você não acha? – beijei a ponta do seu nariz.
– Um tempo depois que começamos a ficar ela fez a maior campanha sua, até achei que ela ainda gostasse de você e tal, mas depois eu percebi que ela realmente queria que você ficasse com alguém que fosse legal e gostasse de quem você é.... – ela disse com um sorrisinho apaixonado e senti borboletas no estômago – E aí que ela percebeu que eu era essa pessoa.
– Que tipo de campanha foi feita pela líder do meu fã-clube?
– Na verdade, os líderes do se fã-clube são seus dois melhores amigos, ela está mais pra membro, mas enfim... – ela deu uma risadinha – Ela dizia que você era muito gentil, respeitoso, carinhoso e que a pessoa que tivesse seu coração ia ser a mais sortuda do universo.
– Para de mentir pra mim. – fiz cócegas em sua barriga e ela começou a rir.
– Não estou mentindo. – ela disse entre risos – É verdade. – ela virou por cima de mim na cama – Aí depois que ela me falou isso eu comecei a reparar mais nessas coisas porque pensei 'se esse cara tem todas essas qualidades e mesmo assim ela largou dele, um dos dois deve ser o problema e eu preciso encontrar'. – ela segurou meu rosto.
– E então? Você encontrou o problema?
– Sim. – ela assentiu.
– Então me diga qual é.
– Você.
– Eu? – falei indignado – Como eu sou o problema?
– Você é bonzinho demais, irlandês, e as suas namoradas são todas meio bad girls cheias de atitude e independentes. – ela mordeu o lábio tentando não rir e a virei na cama.
– Você não disse isso, .
– O que?
– Eu vou deixar de ser bonzinho. – olhei-a sério.
– Vai é? Como?
– Eu vou te deixar super excitada a ponto de você implorar por mim. – beijei seu pescoço.
– Hum, sexo selvagem. Meu favorito. – ela disse rindo – Eu gosto disso, gosto do seu jeito bonzinho.
– E você falou para ela que eu era o problema dos relacionamentos por ser muito bonzinho?
– Não, né, vai que ela resolvesse voltar para comprovar minha teoria. – ela mordiscou meu lábio – Mas não é isso. Eu não sei, você não tem nenhum problema pra ser sincera.
– Está querendo voltar atrás para não ser castigada?
– Talvez. – ela deu uma risadinha – Mas eu gosto de você com todas as suas qualidades e defeitos.
– Essa conversa não está seguindo por um bom caminho, sabia? – arqueei uma sobrancelha – Qual seria um dos meus defeitos?
– Deixa eu escolher um, porque assim, sabe, são milhares.
– São é? – comecei a fazer cocegas na sua barriga e ela ficou se remexendo.
– Por favor, para.
– Fala um defeito. – provoquei.
– Você não sabe perder. – ela gritou rindo e a encarei desacreditado – Você se irrita muito fácil quando perde no videogame, principalmente quando perde para mim.
– Você não disse isso. – sai de cima dela.
– É verdade.
– Você acha mesmo que eu vou admitir perder pra você logo depois de eu ter acabado de te ensinar a jogar? Isso é um afronte, . – cruzei os braços.
– Você também não gosta de ouvir verdades.
– Não quando ela dói desse jeito. – falei dramaticamente – Quando nós voltarmos eu vou querer uma revanche de todos os jogos. Todos.
– E o que o vencedor leva? – ela engatinhou até mim com o lábio entre os dentes e tentei manter a expressão séria.
– Preciso pensar mas você está tirando minha concentração com essa cara.
– Que cara? – ela ronronou e os pelos da minha nuca se arrepiaram.
– Não faz isso comigo, . – segurei seu queixo e a beijei.
– Essa é uma qualidade sua. – ela disse com sua boca colada na minha – Você beija muito bem.
– Para de tentar me comprar, sua tratante.
– Vai se fazer de difícil agora, ? – ela sorriu maliciosa e deitou por cima de mim.
segurou minhas mãos acima da minha cabeça e colocou nossos lábios, beijando-me fervorosamente. Eu adorava o toque delicado de suas mãos em mim, o jeito em que ela tomava o controle da situação e como me deixava caidinho por ela com um simples olhar e um beijo.


Capítulo 13 – Sangue nos Olhos

Mesmo tempo passado apenas uma semana na Irlanda, eu conseguia me acostumar muito fácil com o fuso horário dos lugares, então quando meu celular tocou as três da tarde, eu ainda estava morrendo de sono mesmo tendo ido dormir as oito. Me segurei ao máximo para não jogar o aparelho do outro lado do quarto quando vi que era apenas mais uma maldita ligação da operadora.
Olhei para os lados procurando por e logo imaginei onde ela estava quando ouvi o barulho da televisão. Peguei minha boxer e bermuda jogadas no chão e fui sonolento até a sala, encontrando minha namorada enrolada em um cobertor com um pacote de salgadinhos no colo enquanto assistia a uma série.
– Bom dia. – dei um beijo na sua testa e me sentei ao seu lado.
– Boa tarde, né, . – ela deu uma risadinha – Comprei burritos para o almoço, o seu está no micro-ondas.
– Não estou com um pingo de fome pra falar a verdade. – bocejei alto e ela me olhou com um sorrisinho engraçado – Que foi?
– Parece aqueles filhotinhos de bicho preguiça. – ela me deu um selinho – Porque acordou agora? Achei que você só fosse levantar quando desse a hora de ir trabalhar.
– Queria não ir trabalhar hoje. – resmunguei – Eu queria ser milionário e não precisar nunca mais servir ninguém, apenas ficar em casa o dia todo jogando videogame. – falei sonhador e ela cruzou os braços e levantou uma sobrancelha – E ficar com você, é claro. – dei um beijo na ponta de seu nariz.
– Aham, sei. – ela disse debochada – Você não me engana, mas seria ótimo mesmo não precisar mais trabalhar todos os dias.
– Por falar em trabalhar, cadê a ?
– Foi fazer um trabalho de manhã na casa de uns amigos mas já está voltando, ela me ligou logo que saiu de lá.
– Então a gente tempo para uma partida rápida Street Fighter? – olhei-a esperanço e ela deu uma risada nasalada.
– Achei que você ia falar outra coisa. Que quebra clima que você é.
– Eu? Que eu fiz? – falei inocente e ela revirou os olhos.
Ela ajeitou espaço para que eu deitasse ao seu e no mesmo instante em que puxei a coberta, o celular dela começou a tocar em cima da mesa de centro.
– Atende pra mim. – ela disse manhosa.
– Não, deve ser aquele pessoal chato de telemarketing. Eles acabaram de me ligar.
– E se não for? Pode ser a Lauren, minha irmã... até mesmo meus pais. – ela deu ênfase nisso e meu coração parou por alguns minutos.
– Saco. – resmunguei e ela sorriu vitoriosa.
Peguei o celular pronto para me mostrar o homem mais educado do mundo caso fossem seus pais, ou mandar tomar no cu em caso de telemarketing, mas o nome que aparecia na tela me surpreendeu. Apertei o celular com força e quando fui atender, ele parou de tocar. A chamada perdida ficou na central de notificações e vi diversas mensagens dele.
– Quem era? – se sentou no sofá mas apenas a ignorei.
Digitei a senha do seu celular e abri o aplicativo de mensagens tendo quase vinte mensagens não lidas dele. Abri a conversa e as mais novas eram apenas ele implorando para ela o atender, e fui subindo para cima com o celular tremendo em minhas mãos.
Em algumas ele pedia perdão e insistia para que ela aceitasse conversar com ele para resolverem as coisas, em outras ele dizia que ela jamais seria feliz com alguém que não fosse ele e que quando me encontrasse ele ia acabar comigo e depois com ela. Em uma delas ele chegou até a dizer que tinha certeza que tinha traído-o comigo e mais um monte de caras, sem contar das diversas vezes em que ele a chamava de vadia e coisas piores.
– Que porra é essa, ? – joguei seu celular no sofá e ela me olhou assustado.
Meu corpo todo tremia de ódio e cravei minhas unhas na palma da mão quando a fechei em punhos. Comecei a andar de um lado para o outro, sempre de olhos nela esperando que dissesse algo, mas ela ficou apenas me olhando boquiaberta.
– Desde quando ele está te mandando mensagens desse tipo? – rosnei – Te xingando, te ameaçando, até fazendo chantagem emocional com você.
– Tem um tempo. – ela disse com a voz trêmula.
– E porque você não me disse nada?
– Eu não queria que você ficasse bravo comigo.... – ela veio até mim e me afastei.
– Com você? Porque diabos eu ficaria bravo com você, ? Você tem algo com ele?
, não...
– Então pronto, não tinha porque eu ficar bravo com você, porra. – gritei alto e ergui as mãos para o ar de frustração.
– Por favor, não me bate.... – choramingou.
Meu coração parou quando vi minha namorada abraçada ao próprio corpo, encolhida e com medo de mim. Eu queria sumir dali quando bateu um sentimento ruim ao vê-la daquele jeito indefesa e pedindo para que eu não encostasse nela.
... – abracei-a com força – Eu não vou fazer isso, eu nunca... – falei tentando controlar o ódio que estava tomando conta de mim cada vez mais – Eu jamais encostaria um dedo em você desse jeito, entendeu? – segurei seu rosto e ela assentiu.
– Você está bravo... – ela disse chorando – Está tremendo de raiva.
– Dele, meu amor, do Steve, não de você. – apertei-a contra mim – Não acredito que você achou que eu fosse fazer isso.
– Me desculpa, . – ela escondeu o rosto em meu peito e começou a soluçar – Eu sei que não, mas é que nunca te vi assim e eu... eu fiquei assustada e com medo.
– Porque você não me contou?
– Não queria que você ficasse bravo desse jeito.
– Eu estou assim porque ele está te importunando, . – segurei seu rosto – Olha o que ele fez com você, olha o jeito que você fica por causa dele.... por um simples levantar de braços.
– Desculpa por isso...
– Para de me pedir desculpas, ok? – falei sério – Eu que tenho que te pedir desculpas. Não devia ter agido assim, mas eu fiquei... cara, eu estou com tanto ódio desse imbecil.
– Eu não atendo ele, sequer leio todas as mensagens...
– Então porque você não bloqueou ele?
– Porque enquanto ele continuar vendo que as mensagens que ele mandou foram recebidas e lidas, ele não vai vir atrás de mim.
– Eu não vou deixar ele nunca mais chegar perto de você, meu amor. – dei um beijo na sua testa e olhei fundo em seus olhos – Eu vou te proteger, ok? Vou cuidar de você.
– Não quero que seja assim, . – ela me afastou – Eu não quero que seja preciso um homem do meu lado para me defender, me proteger...
– Sei que não. Foi uma das primeiras coisas que você me disse quando nos conhecemos, mas o mundo é assim por enquanto.
– Eu odeio o jeito que ele me faz ficar, como ele mesmo longe consegue estragar a minha vida. – ela voltou a chorar.
– Você não tem noção do quanto eu quero matar ele. – falei irritado – Eu quero fazer com ele mil vezes pior do que ele fez com você.
, não. Por favor, não se estressa com isso. O Steve é passado na minha vida. – ela segurou meu queixo com força.
– Mas parece que ele ainda não entendeu isso. – suspirei – Eu vou me estressar com esse tipo de coisa enquanto isso te afetar, . Não é normal você reagir assim ou qualquer outra mulher.
– Eu prometo que...
– Não. – coloquei o indicador em seus lábios – Para de pedir desculpas e de prometer coisas, ok?
– Tudo bem. – ela assentiu.
– Está mais calma?
– Não. – ela negou com a cabeça – E você?
– Só vou ficar calmo quando eu quebrar um ou dois dentes da boca dele. Aí sim vou ficar calmo.
– Não faz isso, ok? Ele não merece que você perca seu tempo com ele...
– Você merece. – falei firme – Ele se safou de muita coisa, . Ele agrediu outras mulheres, te bateu, quebrou seu braço e ainda corre atrás de você sem sofrer nenhuma consequência. Ele precisa aprender.
– Promete que não vai fazer nada? – ela me olhou brava.
– Não vou te prometer isso. – cruzei os braços e a porta se abriu num rompante.
– O que aconteceu? – disse preocupada quando viu a irmã com o rosto vermelho e lágrimas pelas suas bochechas.
– Nada. – meneou a cabeça.
– Nada o caramba. – ela veio até nós – O que você fez pra ela? – enfiou o dedo na minha cara e foi me empurrando para longe de .
– Ele não fez nada, para com isso, . – ela puxou o braço da irmã.
– Se não fez nada porque você está chorando com essa cara triste? – ela ralhou.
– Foi o imbecil do Steve, não eu.
– Steve? – ela me olhou confusa – A gente não vê ele há meses, o que ele...
– Ele está mandando mensagens e ligando pra enchendo o saco dela.
– Porque você não me falou nada disso?
– Porque eu sei que você ia ficar brava, do mesmo jeito que ele ficou. – ela gritou exasperada – Ninguém consegue entender o meu lado? Eu não contei, ok? Guardei isso para mim e sofri calada porque não queria que vocês se irritassem. – ela foi berrando até o quarto e fechou a porta com força.
Joguei-me no sofá e enfiei a cabeça entre as pernas, respirando fundo algumas vezes enquanto rosnava como um animal raivoso ao meu lado.
– Meu Deus, como eu odeio esse cara. – ela bufou alto.
– Ela achou que eu fosse bater nela. – falei com pesar.
– O que?
– A gente começou a discutir e eu ergui os braços pra cima, mas era porque eu estava frustrado com ela por ter escondido isso e aí ela... ela parecia uma criança abraçada ao próprio corpo com medo que eu fizesse algo.
– Que inferno. – se levantou.
– Eu vou acabar com ele. – esfreguei o rosto – Nunca senti tanto ódio de alguém na minha vida igual sinto desse otário.
– Não vale a pena, .
Apenas ignorei e peguei o celular de no sofá, as mensagens de Steve surgindo na tela aumentando minha ira. Digitei uma mensagem como se fosse e pedi que ele fosse até o Malone's para conversar.
– O que você está fazendo? – se sentou ao meu lado e pegou o celular da minha mão – Não faça nada estupido, . – ela disse séria.
– Já fiz. – rosnei.
– Você precisa esfriar a cabeça, ok? Se ficarmos com raiva não vamos ter como ajudá-la.
– Eu não sei o que fazer pra que ela não se sinta assim, . – falei frustrado – Não tem como eu me colocar no lugar dela. Eu não sei como ela se sentiu ou se sente com relação a isso.
– Também não sei, mas nós precisamos tentar. – ela segurou minhas mãos com força – Eu amo a minha irmã mais do que tudo nesse mundo e a última coisa que eu quero é um idiota encostando um dedo sequer nela.
– E eu te prometo que jamais vou fazer isso. – suspirei – Pode parecer egoísmo, mas eu tenho uma sobrinha e antes de fazer qualquer coisa para uma mulher a primeira pessoa que me vem na cabeça é ela, e aí penso 'será que isso é algo que eu gostaria que fizessem pra ela?'.
– Talvez seja um pouquinho egoísta... – ela sorriu de lado – Mas a gente precisa ficar calmo e pensar no que fazer. – ela passou a mão pelos cabelos nervosa – Eu vou falar para o meus pais. Vou contar para o meu pai tudo o que aconteceu, desde o início até agora e depois... depois a gente vê o que podemos fazer.
– Tudo bem. – assenti.
– E o que você vai fazer hoje à noite com ele? – ela sussurrou.
– Apenas conversar. – dei de ombros – Só isso.
me olhou desconfiada, provavelmente sabendo o que eu tinha em mente, mas ela não tentou tirar essa ideia da minha cabeça, apenas me deixou sozinho e foi atrás de . Eu podia ouvir ela chorar no quarto enquanto a irmã tentava consolá-la inutilmente.
Queria que tivesse algo que eu pudesse fazer além de ser obrigado a partir pra cima dele, mas se ela dizendo que não queria nada não bastava, então eu era obrigado a partir para a violência. Talvez falando a mesma língua que ele isso entrava na cabeça dele. Nós podíamos ir até a polícia e tomar alguma providência, mas já tinha se passado tanto tempo que eles provavelmente não se importariam com isso agora.
As duas ficaram trancadas no quarto a tarde toda e quando avisei que precisa ir embora, saiu para se despedir e disse que estava envergonhada de não ter me contado antes. Não tinha o que dizer então apenas fui para minha casa tomar um banho antes de ir trabalhar.
Quando cheguei no bar, a primeira coisa que fiz foi ir até o escritório de Malone para conversarmos. Eu não esperava nenhum conselho, apenas de alguém para contar tudo o que estava acontecendo e quem sabe autorização para uma ou duas idiotices no horário de trabalho.
– Que cara é essa? – ele disse assim que entrei – Está tudo bem?
– Sim. – sentei-me na poltrona vazia próxima da dele.
– Aconteceu alguma coisa? Você não parece nada bem.
– Tem um idiota importunando . – falei irritado.
– Que tipo de idiota?
– Um ex-namorado imbecil que... que era... – gaguejei tentando encontrar as palavras certas – Ele batia nela. – falei num suspiro – Bateu várias vezes e agora ele está mandando mensagens pra ela, algumas até mesmo a ameaçando.
– Você só pode estar brincando. – ele se ajeitou na poltrona e me olhou sério – Quem é esse idiota?
– Não importa muito agora, o negócio é que... eu mandei uma mensagem para ele como se fosse a e pedi que viesse aqui para conversar. – cocei a nuca já esperando pelo olhar dele de reprovação.
– Tudo bem. – ele coçou o queixo – Eu fico lá embaixo hoje, só preciso saber quem é ele.
– Não precisa... sei lá...
– Quem vai servir meus clientes enquanto meu melhor barman está nos fundos enfiando a porrada em um agressor de mulheres? – ele cruzou os braços.
Apenas assenti pra Malone e voltei para o bar. Eu realmente não queria que fosse obrigado a chegar nesse ponto, mas se sendo educada e dizendo que não queria nada mais com ele ainda não entrava na mente dele, então seria preciso usar outros métodos.
Não consegui esconder a ansiedade durante a noite toda e Amy ficou me olhando desconfiada sempre que ia até o balcão pegar algo.
– O que foi? – ela se apoiou na madeira e ficou me olhando séria.
– Nada. – dei de ombros e coloquei duas garrafas de cerveja em sua bandeja.
– Eu te conheço, . Tem algo te incomodando.
– Não é nada. – neguei com a cabeça – Só não dormi bem, foi isso.
– Mentiroso. – ela pegou a bandeja do balcão e saiu.
Malone ficou nos ajudando durante toda a noite, sempre atento a qualquer pessoa que entrava no bar. Já estava começando a achar que Steve não iria aparecer, mas no momento em que o movimento diminuiu, ele entrou com um sorriso enorme no rosto. Ele caminhou a passos largos e confiantes até o balcão e foi até Malone.
– Boa noite. – meu chefe falou educado – O que vai ser?
– Estou procurando pela minha namorada. – ele olhou para mim com um sorriso malicioso e depois se voltou para Malone – . Cabelos longos castanhos, meio baixinha.
– Ah, sei de quem você está falando. – Malone sorriu largamente – Ela está nos fundos, disse que não queria que vissem vocês dois.
– Certo. – ele deu um tapinha no balcão – Como você está? – ele perguntou para mim quando passou na minha frente – Você não pode dizer que não te avisei sobre vocês não durarem.
Ignorei-o mesmo morrendo de vontade de pular o balcão e acabar com ele ali na frente de todo mundo, mas me mantive calmo e esperei que ele entrasse no corredor. No momento em que joguei o pano para ir atrás de Steve, a porta se abriu e entrou junto de Lauren e . Olhei assustado para as três e depois para Malone sem saber muito bem o que fazer.
Sem falar nada, apesar refiz o mesmo caminho de Steve e quando abri a porta que dava para o corredor, vi ele encostado na parede mexendo no celular, a testa franzida é uma expressão brava no rosto. Eu não podia negar que o idiota tinha um rosto muito irritante, daqueles que só de ver te fazia sentir ódio. As sobrancelhas sempre arqueadas como se ele fosse superior a qualquer pessoa no universo.
– Essa vai ser a última vez que eu vou te falar. – peguei um cigarro no bolso e acendi.
Ele levantou o olhar para mim e abriu um enorme sorriso debochado.
– Fica longe dela. Esquece que a existe. – traguei com força e soltei a fumaça lentamente, os olhos dele em cima de mim sempre me analisando.
– Isso é sério? – ele disse rindo – Não sei se você sabe, mas foi a vagabunda da sua ex que me mandou mensagem pedindo pra eu encontrar ela para conversarmos. Talvez seja você quem precisa ficar longe de alguém aqui.
– Então cadê ela? – dei mais um trago e o sorrisinho sumiu de seu rosto – Eu sei do que você fez. Sei de tudo. Você é um imbecil, sabia? Acha mesmo que ela vai voltar com você depois de tudo o que você aprontou? Ou sequer perder o tempo dela para ouvir suas baboseiras?
– Ela me ama. – ele abriu os braços e sorriu confiante – Acha mesmo que ela vai ficar com um gringo de sotaque idiota igual você?
– Pra ser sincero, ela não precisa ficar comigo se não quiser. – traguei uma última vez e joguei o cigarro fora pela metade – E se um dia ela quiser voltar com você e ser saco de pancadas, isso é a decisão dela, mas eu duvido muito. Duvido que qualquer mulher voltaria com um imbecil como você que no primeiro sinal de raiva vai lá e enfia a mão na cara, não depois de ficar com alguém que é o completo oposto de você, alguém que sequer pensaria em fazer o que você fez para ela e para outras. – dei um passo em sua direção e ele veio até mim.
– Você é só mais um pra ela igual eu fui. Igual todos os caras que passaram pela vida dela.
– Eu não me importo. – dei de ombros – Se ela aparecer aqui agora e falar que quer terminar comigo, eu vou conversar, e se ela realmente quiser isso, então pronto. Nem todo mundo é um troglodita igual você.
– Então você realmente é mais idiota do que eu pensava, garoto. – ele deu uma gargalhada alta e ficou cara a cara comigo – A é uma vadia, entendeu? Ela tem esse rostinho bonitinho, esse jeito meio selvagem que encanta qualquer um, mas no fundo bem no fundo, ela não passa de mais uma vadia.
– Cala a boca. – rosnei.
– É ruim ouvir a verdade, né? Mas é isso mesmo o que ela é e você tem que aceitar que nós dois fomos feitos um para o outro, então porque você não volta para o seu país e arruma alguma caipira, porque essa vadia é minha.
Cada uma das vezes em que ele chamou de vadia ou qualquer nome desse tipo foi fazendo que meu ódio aumentasse cada vez mais. Respirar fundo e cravar as unhas na palma da mão não foram suficientes para que eu conseguisse manter a compostura.
Já estava cego de ódio daquele imbecil na minha frente, então sequer pensei em me controlar, apenas fechei a mão em punhos com força e dei um soco certeiro em seu queixo, jogando-o na parede. Ele começou a rir descontroladamente e tentou me acertar, mas me desviei e acertei outro em seu rosto.
Eu nunca tinha sido muito de brigar quando mais novo e só comecei a fazer isso quando mudei para os Estados Unidos e precisei defender Amy de idiotas no bar que achavam normal ficar passando a mão na atendente. Era errado aquilo, mas aproveitei o momento para descontar nele todo o ódio que permaneceu guardado de mim nos últimos meses, ódio de saber que ele tinha saído impune de tudo o que fez com e provavelmente outras mulheres também.
. – ouvi um grito feminino e depois senti alguém tentando me puxar de cima dele enquanto rolávamos os dois no chão trocando socos.
A pessoa pareceu ter desistido e continuei jogado no chão me defendendo quando Steve tentava, e as vezes conseguia, me acertar. Assim que consegui ficar por cima, apertei seu pescoço com força usando apenas uma mão enquanto dava socos em seu rosto com a outra. Quando ele acertou meu maxilar, senti várias mãos me segurando e me puxando para trás enquanto gritavam para que parássemos.
Fiquei me debatendo igual uma criancinha tentando me soltar e vi Robbie e Michael segurando Steve enquanto ele fazia o mesmo. Eu queria saber de onde os dois tinham surgido, mas estava mais empenhando em acabar com a vida do imbecil na minha frente.
– Para, . – a voz rouca de Malone gritou atrás de mim e me jogou na parede.
Tentei me levantar, mas Tom me empurrou e me segurou enquanto Malone ia até Steve, segurando-o pelo pescoço e o levantando no ar.
– Você nunca mais apareça no meu bar, entendeu? – ele rosnou – Você esquece que aquela garota existe, se você a ver na rua, finja que é uma estranha, do contrário, garoto... ah, garoto, eu te mato, entendeu? – ele apertou mais a mão e Steve assentiu com o rosto vermelho.
Meus amigos o soltaram e Steve saiu correndo como um garotinho indefeso. Fiquei sentado no chão respirando fundo e finalmente senti o sangue escorrer pelo meu rosto como uma cachoeira.
– Você ficou louco? – Robbie gritou em irlandês e o olhei confuso. Fazia muito tempo que não o ouvia falar na nossa língua – Como você faz uma idiotice dessa e não avisa a gente? – ele continuou – Esse idiota podia ter te matado, . Olha a sua cara.
– Não me arrependo de nada. – levantei-me com dificuldade e cuspi um monte de sangue.
– Eu não estou acreditando que você fez isso. – ele me empurrou – Você simplesmente acordou e pensou 'vou meter a porrada no ex da minha namorada'?
– Ela está lá dentro? – perguntei em inglês para Malone e ele assentiu.
– A Amy entrou desesperada e aí ela também ficou... agora estão as duas lá dentro preocupadas. – ele massageou as têmporas e sorriu largamente – Você fez um belo de um estrago na cara dele?
– Nem percebi. – ri fraco.
– Mas ele também fez em você, então estão quites. – Michael apertou meu ombro – Nunca mais faça uma idiotice dessa sem avisar a gente antes.
– Se esse imbecil mexer com a de novo eu vou fazer bem mais do que isso.
– Coitado do cara que um dia resolver mexer com a sua filha. – Tom disse rindo.
– Ainda que foi pouco. – dei mais uma cuspida de sangue e ergui a cabeça quando começou a escorrer mais sangue do meu nariz.
– Vamos entrar, você parece uma cachoeira de sangue. – Malone me deu um tapinha nas costas e abriu a porta.
Entrei com a cabeça e a mão no nariz tentando parar o sangue, e quando me viu seu rosto se tornou uma mistura de preocupação e raiva. Amy, e Lauren ficaram me olhando assustadas e sorri para as três, os dentes provavelmente muito vermelhos. Caminhei até que permaneceu sentada imóvel, quase sem piscar e me apoiei no balcão ao lado dela.
– E aí, estou bonito? – coloquei uma mecha de cabelo atrás de sua orelha e seus olhos ficaram marejados enquanto ela analisava todo meu rosto.
– Não. – ela me abraçou com força e começou a chorar – Você ficou louco?
– Acho que sim. – falei rindo e ela me deu um soco no peito.
– Não tem graça, . – ela fungou – Você pensa que é algum tipo de boxeador irlandês igual ao Conor McGregor pra fazer uma idiotice dessas?
– Claro que não. – neguei com a cabeça – Eu sou melhor que ele...
– Para de fazer piadinhas, ok? Não tem graça. – ela falou chorando.
– Eu não quero que você chore. – enxuguei seu rosto com as costas da mão e acabei deixando um rastro de sangue em sua bochecha – Estou bem. – abri os braços – Talvez com o nariz quebrado, mas isso não é nada.
– Vamos subir. – Amy disse chorosa e olhei para ela que estava com o rosto vermelho e os olhos marejados.
– Você não vai começar a chorar também, né?
– Não. – ela passou a mão nos olhos – Mas é melhor subir pra eu ver o estrago.
– Tudo bem. – assenti.
– E ele? – finalmente disse – Ele ainda vai... continuar?
– Espero que não. – neguei com a cabeça – Mas se ele vier atrás dela de novo...
– Você não vai fazer nada. – gritou – A gente... eu vou dar um jeito nisso. Vamos subir logo. – ela se levantou.
Ela e Amy subiram lado a lado em silêncio mas seus corpos tremendo denunciavam que elas estavam chorando. Me joguei na poltrona com a cabeça erguida e Amy colocou a caixinha de primeiros socorros perto de mim enquanto ficou do outro lado do escritório me olhando.
Permaneci quieto a todo momento enquanto Amy gastava um punhado de algodão para limpar meu rosto de todo o sangue e segurei a vontade de gritar de dor quando entrava algo em meu supercílio. Ela fez uma careta quando terminou e ficou encarando meu nariz com uma expressão engraçada.
– Eu acho que você quebrou o nariz. – ela disse com pesar – Tem um corte enorme no seu supercílio que provavelmente vai precisar de uns pontos. – ela colou um curativo próximo do meu olho e se levantou – Acho que dá pro gasto por enquanto.
Amy saiu do escritório sem falar nada e ficamos apenas e eu em silêncio incômodo com ela me encarando furiosa, os olhos cheios de lágrimas prestes a escaparem. Fui com passos largos até ela e passei as mãos pela sua cintura trazendo-a para perto de mim.
– Eu estou bem, ok? – sussurrei e ela assentiu – O que você veio fazer aqui?
– Ele mandou uma mensagem confirmando o encontrinho de vocês. – ela cruzou os braços – Você não devia ter feito isso. Foi por esse o motivo de eu ter escondido as mensagens. Não queria que você fizesse nenhuma idiotice, mas você foi lá e fez.
– Qual é, , você não podia esperar que eu fosse ficar sentando sem fazer nada enquanto ele falava coisas absurdas para você.
– Não importa. – ela passou a ponta dos dedos pela minha bochecha – Olha como você está agora... por minha causa.
– Pode parar de se achar, senhorita . – segurei seu rosto – Eu agi errado? Talvez. – dei de ombros – Mas agora ele sabe que se mexer com você mais uma vez, seu guarda-costas vai acabar com ele.
– Você é meu namorado, , não meu assassino de aluguel. – ela ralhou – Pode parar com essa historinha de meter o cacete nas pessoas.
– Tudo bem. – suspirei – Mas não vou negar que foi muito bom. – sorri de lado e ela revirou os olhos – Você acha que eu tenho um sotaque idiota?
– O que? – ela me olhou confusa – Ele disse isso?
– Uhum. – fiz bico e ela abriu um sorrisinho tímido.
– Não, você não tem um sotaque idiota. – ela passou os braços pelo meu pescoço – Só é um idiota as vezes.
– Ufa. – sorri aliviado e beijei a ponta do seu nariz.
– Nunca mais faça isso, ok?
– Ok, mãe.
– Estou falando sério, .
– Tudo bem. – assenti.
– É melhor a gente ir pro hospital, você está começando a sangrar novamente. – ela passou a ponta do dedo embaixo do meu nariz e mostrou a mancha vermelha.
Quando descemos, o bar estava vazio e Malone estava apoiado no balcão contando alguma piada para eles, pois Lauren e gargalhavam enquanto Amy olhava para o padrasto sem acreditar no que ele estava dizendo.
– Chegou nosso campeão de peso médio. – Michael disse rindo – Você está realmente acabado.
– Tá na hora de procurar outro irlandês, . – Robbie disse galanteador e ela me abraçou de lado com força.
– Acho que vou ficar com o McGregor aqui. – ela sorriu para mim – É melhor a gente ir, meninas, tem alguém que vai precisar levar uns pontos.
– Tudo bem. – disse cansada – Só vê se não suja meu carro.
– Pode deixar. – assenti.
– Eu acho que vai precisar fazer uma plástica depois. – Michael provocou e lhe mostrei o dedo do meio.
– Quero você aqui amanhã inteiro. Tom não é bonito suficiente para atrair mulheres. – Malone disse rindo – Se cuida, garoto. – ele me deu um tapinha no ombro.
nos deixou no hospital e de lá disse que ia levar Lauren e ia para casa de uma amiga em seguida, mas e eu sabíamos que essa amiga era provavelmente mais do que isso.
Ficamos uns vinte minutos esperando até que alguém viesse nos atender e começou a chorar baixinho quando o médico colocou meu nariz no lugar fazendo um 'crack' alto.
– Você entrou numa bela de uma briga, senhor . – ele disse enquanto dava pontos no meu supercílio.
– Você devia ter visto o outro cara. – falei convencido e ele deu uma risadinha.
– Prontinho. – ele parou na minha frente e ficou analisando os pontos – Em alguns dias seu namorado já estará bonito e pronto para outra. – ele falou divertido para que sorriu fraco.
– Viu, amor? Já estarei pronto pra dar uma nova surra em alguém. – sorri de lado e ela revirou os olhos.
– Para com essa história. – ela disse brava – Estamos liberados?
– Sim, sim. – o médico anotou algo em um papel e entregou para ela – Só vai ser preciso tomar um analgésico quando começar a sentir dor, mas fora isso, está tudo bem.
– Ótimo. – estralei os dedos das mãos e fui até ela e beijei sua testa – Vamos?
chamou um Uber até meu apartamento e durante todo o caminho pude perceber seus olhares preocupados para cima de mim como se a qualquer momento eu pudesse começar a jorrar sangue pelas orelhas.
Nós tomamos juntos um banho rápido logo que chegamos e ficamos os dois deitados no sofá embaixo das cobertas, ela em meu peito acariciando os nós machucados de meus dedos.
– O que ele te disse? – ela sussurrou – Ou você simplesmente chegou enfiando a mão na cara dele.
– Ele não disse nada.
– Não mente para mim. – ela se virou de frente e me olhou séria – Eu sei que ele falou algo, consigo até imaginar o que seja.
– Então não precisa eu te dizer. – acariciei sua bochecha – Esquece isso, ok? Ele é passado na sua vida. Eu sei disso, você sabe disso, todo mundo sabe disso, só falta entrar na cabeça dele.
– Você não é real, . – ela segurou meu rosto e passou levemente o seu nariz no meu – Não queria que você se machucasse por minha causa.
– Fica tranquila, meu amor. – beijei seu queixo – Eu não me importo de tomar uns socos se for por você.
– Deixa de ser bobo. – ela sorriu de lado – Você ainda continua bonito. – ajeitou meus cabelos e ficou me olhando – Meu irlandês marrento.
– Seu? – arqueei a sobrancelha – Que possessiva você, . – dei-lhe um selinho e ela embrenhou as mãos em meus cabelos, aprofundando o beijo.


Capítulo 14 – Dia de São Patrício

Eu nunca imaginei que acabaria pegando fila para poder entrar em um bar simplesmente para tomar algumas cervejas com meus amigos e jogar conversa fora, mas era dia de São Patrício e todos os bares e ruas da cidade estavam cheios, então decidimos ir ao Malone's onde eu simplesmente pulava o balcão em caso de demora e pegava uma bebida sem que fosse obrigado a esperar.
Assim que entramos duas garotas vieram até nós e ficaram encantadas com nosso sotaque irlandês. Robbie como sempre aproveitava aquela data comemorativa ao último, beijando qualquer mulher que aparecesse na sua frente como o grande galinha que ele era.
– O que você veio fazer aqui hoje? É seu dia de folga. – Malone falou quando fui até o balcão.
– Todos os bares estão cheios. – fiz careta – Esse foi o único lugar que sobrou apesar do atendimento não estar sendo tão bom já que o melhor barman não pode comparecer.
– Deixa de ser convencido, garoto. – ele disse rindo – O que vão querer?
– Três Guinness, é lógico.
– Aqui. – ele colocou as garrafas na mesa – A primeira rodada é por conta da casa.
– Podia ser todas, né.
– Sai daqui logo ou eu te coloco para trabalhar.
Um pessoal passou esbarrando em mim para ir até o banheiro e ergui as garrafas para que ninguém as derrubasse. Assim que cheguei na mesa, e Lauren apareceram e as olhei confuso por não estarem com .
– E aí. – cumprimentei-as – Cadê a....
– Ela ainda não saiu do trabalho. – Lauren revirou os olhos – Quem diabos vai fazer compras hoje? Hoje é dia de ficar bêbado, só isso.
– Exatamente. – lhe entreguei uma garrafa de cerveja – Como a não bebe, essa é minha. Vocês otários terão que ir lá buscar.
– Você não deu uma dessa, . – Michael falou indignado e apenas encolhi os ombros – Arrombado. – ele me deu um soquinho no braço e foi até o bar.
– Cadê sua namorada? – perguntei para que bufou alto.
– A gente discutiu hoje mais cedo e ela ainda está brava.
– Estou aqui se precisar de um ombro para chorar. – Robbie fingiu uma expressão séria e revirou os olhos.
– Se toca, Robbie. – ela espalmou a mão na frente dele que me olhou indignado – Como é aquele ditado mesmo... Da fruta que você gosta eu chupo até o caroço?
– É assim mesmo. – falei orgulhoso.
– Chupo até melhor se duvidar. – ela disse com um tom superior e Lauren e eu caímos no riso.
– Tem horas que você pede por umas tiradas dessa, Robbie. Só fica aí no seu canto.
– Você não sabe o que está perdendo. – ele insistiu.
– Já vi a embalagem e acho que não é lá muita coisa o produto, então prefiro perder mesmo. – ela sorriu cínica e nem mesmo ele conseguiu ficar sem rir.
Era muito bom ficar vendo Robbie dar em cima de inutilmente mesmo sabendo que ela era lésbica, mas eu e ela tínhamos uma teoria de que ele fazia aquilo pelo simples prazer de ser humilhado por ela, como aquelas pessoas que gostavam de apanhar ou ser xingada durante o sexo.
Quando Michael finalmente voltou trazendo diversas garrafas de cerveja, Amy veio em seu encalço com quatro doses de tequila e uma lata de refrigerante na bandeja.
– Oi. – ela me cumprimentou com um beijo no rosto.
Há um ano atrás um simples beijo como aquele vindo dela era como ganhar na loteria, mas atualmente eu não sentia nada. Nós tínhamos nos tornado muito amigos e as vezes até saíamos em casal com ela e seu namorado Dave, que agora era noivo.
– Cadê a ?
– Trabalhando. – bufei.
– Alguém dos dois precisa trabalhar, você não acha? – ela provocou e lhe mostrei o dedo do meio.
– Você não ia estar de folga hoje?
– Eu preciso de dinheiro para o casamento, esqueceu?
– Como esquecer se é só disso que você fala?
– Onde vocês vão para a lua de mel? – Lauren perguntou empolgada.
– Ainda não sabemos. – ela fez um carinha triste – Ele disse que é surpresa, mas tenho quase certeza de que iremos para o Canadá ou coisa assim.
– Quem passa a lua de mel no Canadá? – Robbie disse indignado.
– Quem sai da Irlanda, país conhecido por suas cervejas, pra vir beber nos Estados Unidos, país da obesidade e fast food?
– Você deveria passar o resto da noite calado. – Lauren disse rindo.
– Super apoio. – Amy piscou para ele antes de sair.
– Olha como sua ex-namorada me trata com falta de respeito. – ele disse dramaticamente – Logo eu que sempre incentivei esse namoro.
– Cala a boca que quando estávamos em casa você sempre me mandava terminar com ela para sairmos para as festas.
– Eu? – ele me olhou indignado – Jamais cometi tal atrocidade quanto a sua vida amorosa... ok, talvez uma ou duas vezes.
– E não era só lá. Aqui também. – Michael completou.
– Você que ouse falar para ele terminar com a minha irmã que eu corto sua língua. – o olhou séria.
– Deveria cortar o pau dele.
– Como cortar o que não existe? – ela encolheu os ombros e começamos a rir dele que apenas remexia a cabeça com uma expressão incrédula.
Deixei eles acabando com a vida de Robbie e fui para o lado de fora fumar. Encostei-me na parede e acendi um cigarro enquanto olhava as pessoas irem pulando de um lado para o outro, todo mundo usando roupas verdes e quase caindo de tão bêbados. Resolvi ligar para e ver se ela realmente iria aparecer ou ia me deixar tomar todas e ficar bêbado sozinho.
– Oi, amor. – ela disse empolgada.
– Cadê você?
– Estou indo à pé com a Oona.
– Porque?
– Está péssimo para ir de Uber, o preço dinâmico está quase todo o meu salário do mês.
– Pode chamar que eu pago.
– Não precisa. Estamos quase chegando.
– Venha logo. Várias garotas já deram em cima de mim, todas elas querendo um pouquinho de sorte.
– Está tentando me deixar com ciúmes, ?
– Estou tentando te acelerar. Você já é meio devagar, aí se junta com a Oona que é mais lenta que uma lesma para andar.
– Só porque você falou isso nós vamos enrolar em outro bar.
– Vem logo. Estou com saudades.
– Pode ir se agarrando com alguma americana qualquer até eu chegar.
– Posso mesmo?
– Não vou nem te responder. – ela deu risada – Uns vinte minutos e já estamos aí, ok?
– Vou esperar.
– Vai mesmo, ou você achou que pudesse decidir ir embora antes que eu chegasse aí?
– Para de falar e anda, . – falei antes de desligar.
Terminei de fumar meu cigarro e entrei quase que empurrado por um grupo de homens que chegaram cantando o hino nacional irlandês o mais alto que conseguiam. Quando voltei para a mesa, Amy já estava trazendo mais uma rodada de cerveja e tequila para Michael, Robbie e Lauren que já estavam falando embolados e rindo de qualquer coisa.
Acabei entrando na onda deles que apostaram cinquenta dólares cada um de que eu não conseguiria virar três doses duplas de vodca pura, mas eu sabia que a real intenção era que eu ficasse mais louco do que eles já estavam. Obviamente que eles perderam e me senti um idiota por ter feito aquilo quando minha garganta começou a arder como se eu tivesse engolido fogo.
Nós continuamos bebendo como loucos e recebendo olhares de reprovação de que ficava quieta em seu canto com seu refrigerante, sempre pronta para socorrer caso um de nós quatro resolvesse colocar tudo para fora a qualquer momento.
Já devia ser nossa décima rodada de tequila pura, sem sal e limão, quando senti alguém me virar no banco e me beijar com vontade. Meu coração disparou com o susto, mas fiquei aliviado quando vi na minha frente.
– Foi mal. – ela passou o dedão ao redor dos lábios – Tinha um idiota me perseguindo desde lá de fora e eu disse que ia encontrar meu namorado aqui.
– Exceto que dessa vez o namorado é de verdade. – passei o braço pela sua cintura e a trouxe para perto.
– E dessa vez não tinha ninguém me perseguindo. – ela sorriu largamente.
– Nossa, acho que já vi isso acontecer uma vez. – Michael disse com a voz embolada – Ou eu sonhei... – ele semicerrou os olhos – Não, eu tenho certeza de que alguma vez alguém surgiu do nada em um bar e te beijou. – ele me apontou – Parecia com você a garota, .
– Sério? – ela fingiu surpresa – Como você nunca me contou dessa história? – ela me olhou rindo.
– Não acredito que estou ouvindo isso. – revirou os olhos.
– Tem certeza de que parecia mesmo com a ? – Oona se sentou ao lado dele e o olhou atenta – Acho que você sonhou com isso, Michael.
– Claro que não. Aconteceu, só não lembro quando.
– Talvez tenha sido há um anos atrás com essas mesmas duas pessoas. – Robbie disse rindo.
– Não. – ele nos olhou incrédulo – Não pode ser.
– Surpresa. – gritou – O que vocês estão bebendo?
– Qualquer coisa que coloquem na nossa frente. – sorri largamente – E você, garotinha. Nada de bebidas alcoólicas. – apontei para minha sobrinha que me olhou indignada.
– Como assim nada de bebidas alcoólicas? Eu já tenho idade para...
– Não aqui, espertinha.
– Para de graça. – apertou minha barriga – É o seu bar... quantas vezes você já não serviu bebida para adolescentes?
– É diferente. – resmunguei.
– Qual é, tio .
– Não me chama de tio. Vai espantar as garotas que querem um pouquinho de sorte hoje. – dei um beijo na testa de que me olhou indignada.
– Idiota. – ela mordeu meu ombro – Se o seu 'tio' não deixa, a tia legal deixa você beber. – ela disse toda orgulhosa.
– Por isso que eu gosto mais das suas namoradas do que de você.
Era como se as duas fossem mais irmãs do que a própria irmã de . Minha sobrinha tinha passado a infância inteira rodeada de figuras masculinas tendo apenas minha mãe como mulher em sua vida, sem contar que eu acabava sem querer fazendo ela passar por uns maus bocados quando criança.
Eu gostava muito de ver as duas se dando bem juntas onde minha namorada servia como uma figura não só fraterna como também materna, sempre a ajudando quando preciso, ainda mais quando Oona terminou com o namorado porque ele não estava conseguindo lidar com a distância dela estudando longe.
– Ei. – sussurrei no ouvido de que deu um pulinho assustada.
– Que?
– Como foi seu ano? Você teve sorte?
– Foi o melhor ano da minha vida. – ela me deu um selinho – E sorte eu dei foi de encontrar você e por isso agradeço Steve e sua perseguição que finalmente acabou.
– Pode parecer que estou falando isso porque estou bêbado, e talvez seja... – falei todo embolado – Mas eu ia adorar enfiar a mão na fuça dele mais uma vez.
– Se controla, lutador.
– Você acha que eu devia investir nessa ideia de luta?
– Acho que você deveria continuar como barman se formos levar em conta que dá última vez você saiu com um nariz quebrado e três pontos na sobrancelha.
– Você vai torcer por mim dá próxima? Segurar pompons verde e laranja enquanto grita meu nome?
– Ai, , você não tem mesmo noção de quão alto está o nível alcoólico do seu corpo, né? – ela acariciou minha bochecha.
– Não, e também não faço questão.
– Seus olhos estão super vermelhos e suas bochechas também. Sem contar o cheiro de vodca que está emanando do seu corpo.
– Esqueci de te contar. – falei empolgado – Ganhei cem pratas. – sorri orgulhoso de mim mesmo – O que você acha de usarmos esse dinheiro para fazer algo legal depois daqui?
– Tipo o que? – ela sorriu maliciosa – Ir ao motel?
– Eu estava pensando em gastarmos isso em comida, mas a sua ideia me pareceu bem melhor.
– Dá para ouvir vocês dois à quilômetros de distância. – Michael disse com um careta e joguei nele um pedaço de limão.
– Tapa o ouvido então.
– Eu sou criança para beber mas não para ouvir esse tipo de coisa. – Oona disse indignada – Vai entender.
Nós ficamos por lá enchendo a cara até as pessoas irem embora e Malone praticamente nos expulsar dizendo que eu faria o mesmo se estivesse no lugar dele aquela noite depois de trabalhar o dia todo.
se ofereceu para levar Oona até seu dormitório da faculdade e Michael acompanhou Lauren até a casa dela junto com Robbie, enquanto minha namorada e eu fomos para o meu apartamento, os dois cambaleando pelas ruas e Los Angeles sem se importar com os olhares feios das pessoas.
City of stars, are you shining just for me? – cantarolei e começou a gargalhar descontroladamente – Lembra que nesse mesmo dia há um ano atrás você me perguntou se eu não tinha vindo procurar carreira de ator igual em La La Land?
– Sim. – ela me abraçou – E agora, um ano depois, você está cantando essa música besta para mim.
– Qual é, não é besta. É legal. – segurei sua mão e girei ela – City of stars, there's so much that I can't see.
– Pode parar. – ela tapou minha boca – Esse filme é péssimo! Que tipo de romance o casal principal...
– Quieta. – beijei-a – É uma obra prima do cinema.
– Você só gosta de filme ruim, por isso. – ela me provocou.
– Meu gosto para filmes pode até ser ruim, já meu gosto para mulheres...
– Seu gosto para mulheres? – me olhou dos pés à cabeça – Meu amor, quem entrou naquele bar e deu em você o melhor beijo da sua vida foi eu e não o contrário. – ela falou toda convencida.
Prensei ela contra a parede de uma sorveteria e comecei a lhe fazer cócegas, mas ela logo se desvencilhou de mim e começou a correr pelas ruas enquanto gritava que eu não iria alcançá-la.


Capítulo 15 – Ano Um

Acendi as velas em cima da mesa arrumada e dei uma última olhada na casa antes de abrir a porta. As rosas estavam jogadas no chão indo estrategicamente até a mesa de jantar e de lá para o meu quarto, todas as velas do apartamento estavam acessas e a caixa com o presente estava posicionada certinho no sofá. Ajeitei a gola da camisa que ela tinha me dado de aniversário, um presente que ela considerou extremamente engraçado e talvez um pouco ofensivo, segundo ela, pois a estampa era repleta de gnomos e garrafas de cerveja.
Peguei o buquê enorme de girassóis, as flores favoritas dela, e o escondi atrás de mim para finalmente abrir a porta, dando de cara com a minha namorada impaciente e com o celular na mão, provavelmente prestes a me ligar.
– Boa noite, senhorita . – falei cordialmente e ela começou a rir.
– Não acredito que você tá usando essa camisa ridícula. – ela disse rindo – Eu estava brincando, falei que você podia trocá-la.
– Eu gostei. – falei sincero – É engraçada, se a pessoa me conhecer e souber que sou irlandês, e também um pouquinho só ofensiva e estereotipada.
– Exatamente por isso que não é pra você usar. – ela passou os braços pelo meu pescoço e me beijou – Acabou a força? – ela olhou por cima do meu ombro e neguei com a cabeça.
– Vamos entrando. – dei passagem para ela que ficou olhando para o apartamento com uma expressão de surpresa no rosto.
– O que é tudo isso? – ela me olhou em choque.
– Isso é para você. – lhe entreguei o buquê de girassóis e seus olhos encheram de lágrimas.
– Não estou acreditando que você fez tudo isso para comemorarmos um ano de namoro. – ela me beijou – Eu nem te comprei nada. – ela fez bico.
– O buquê? Isso não é presente, só faz parte dessa experiência imersiva que teremos essa noite. – falei empolgado – O que você quer primeiro: jantar ou seu presente?
– Então temos um presente para uma namorada que não vai te presentear?
– Sim. – assenti – Só para dar ênfase que você não me comprou nada.
– Para com isso que vou me sentir mal. – ela fez biquinho e beijei-a rapidamente.
– É essa a intenção. – dei uma piscadela – Vamos lá, eu decido por você. Presente. – sorri largamente e a guiei até o sofá.
Me sentei na mesa de centro com a caixa em meu colo e ficou me olhando impaciente.
– Você tem duas chances de adivinhar o que é. Se você não acertar, eu vou nomear algo.
– Nomear o que? – ela me olhou confusa.
– Você vai saber. – dei de ombros – Agora vamos lá. O que você acha que é?
– Hum. – ela mordeu o lábio e semicerrou os olhos – Um sapato?
– O que? Porque diabos você acha que eu ia te dar mais um par de sapatos quando você já tem milhares?
– Eu não tenho milhares. – ela revirou os olhos – Talvez o suficiente para usar um sapato diferente por mês, mas enfim... É algo que eu pedi?
– Não.
– É um gnomo feito de porcelana segurando um copo enorme de cerveja e usando uma cartola e roupinha verde. – ela disse empolgada e comecei a rir.
– Como você foi específica, meu Deus.
– Vai logo, o que é, estou curiosa.
Coloquei a caixa em seu colo e ela puxou o laço lentamente, dando um grito de surpresa quando abriu a caixa e uma cabecinha bem pequena se levantou. olhou para mim e depois para o cachorrinho sem acreditar naquilo.
– Não. – ela disse chorando – Você não fez isso, .
– Você disse uma vez que sempre quis ter um cachorrinho, mas seus pais não deixavam e nem sua irmã.
– Você não é desse mundo, . – ela pegou o cachorrinho e beijou a cabeça dele – Eu vou te chamar de...
– Não. – falei rapidamente – Você errou o presente então eu vou dar o nome.
– O que? – ela me olhou indignada – É meu presente. – ela o abraçou – Você é meu, eu dou seu nome.
– Nós tínhamos um acordo.
– Não tinha nada. – ela disse infantil – Então diga o seu nome e deu vejo se aprovo. – ela passou a patinha do cãozinho no meu nariz.
– Max.
– Nós não vamos dar nome de gente pra cachorro, .
– Como não? – falei indignado – Seus pais deram nome de gente quando a gatinha da filha mais nova deles nasceu. – falei malicioso e ela começou a rir.
– Isso era para ser uma cantada.
– Mais ou menos. – cocei a nuca.
– Batata.
– Batata?
– Sim. – ela assentiu – Seu nome é Batata.
– Porque?
– É uma das comidas favoritas de vocês irlandeses, não é?
– Tem como eu achar uma namorada mais preconceituosa que você? – puxei-a para meu colo e cocei a cabeça do cachorro.
– É para me lembrar de você sempre. – ela beijou minha bochecha.
– Tudo bem, eu aceito esse nome. – suspirei – Não é mesmo, Max? – afaguei as costas dele que começou a balançar o rabo descontroladamente.
– A gente resolve isso do nome em outro momento. – ela disse rindo – O que temos para o jantar?
– Surpresa. – peguei o cachorro dela e coloquei ele no chão que saiu correndo e começou a andar em círculos em cima das rosas no chão.
– Você sabe que ele não vai poder morar comigo, né? A não gosta de cachorros...
– Era sobre isso mesmo que eu queria falar. – olhei-a sério – Sabe, o Max....
– Batata. – ela corrigiu.
– O Max Batata não precisa ser o único animalzinho a morar aqui. – falei meio sem jeito e ela me olhou confusa – Eu sei que cães e gatos não se dão bem, mas seria legal se a minha gatinha viesse morar comigo.
– Isso é sério? – ela sorriu largamente e assenti.
– São vários os motivos pelos quais eu quero que você venha morar aqui. Um deles é que seu apartamento é mais longe daqui e do meu trabalho... – ela começou a rir e me abraçou com força.
– Que mais?
– Eu também estou cansado de querer usar uma roupa e no final ela estar na sua casa porque eu deixei lá ou porque você pegou. – falei sério e ela riu baixinho.
– Só isso?
– Não. Tem o motivo principal. – segurei seu rosto – Eu quero você por perto todos os dias. Quero acordar e dormir ao seu lado. Quero discutir com você por ter louça suja na pia quando era a sua vez de lavar... quero que a fatura do seu cartão de crédito chegue aqui para eu ficar quebrando a cabeça querendo saber quanto você gastou com besteiras no mês... – os olhos de se encheram de lágrimas e ela sorriu apaixonada para mim, fazendo borboletas voarem na minha barriga.
– Eu prometo que vou parar de gastar com besteiras.
– Quero que esse lugar tenha finalmente uma decoração feita por nós dois com coisas que a gente goste. Quero chegar de madrugada do trabalho e entrar na ponta dos pés para não te acordar. Eu quero que você venha pra cá porque eu te amo e quero ficar com você até que você decida que não quer mais ficar comigo e aí nós tenhamos que ter guarda compartilhada do nosso cachorro.
– Você me ama? – ela me olhou surpresa e assenti.
– Eu sei que nesse um ano a gente nunca disse isso um para o outro, mas dado as circunstancias desse nosso namoro meio estranho onde você me compra roupas preconceituosas e eu encho a casa de flores por você, achei que estava meio óbvio o que eu sentia por você.
– Eu tenho um segredo para te contar sobre isso. – ela encostou sua testa na minha e olhou fundo em meus olhos – Eu também te amo. – ela sorriu de lado – Acho que eu te amei desde a primeira vez que vi esses cabelos ruivos numa multidão de pessoas em um bar e tasquei um beijo em você. Na verdade foi o nosso primeiro beijo que me fez amar você. O jeito como você se deixou levar e disse rindo que não se importaria de ser meu namorado pela noite toda. – ela deu uma risadinha – Quem diria que meu namorado de mentirinha seria meu namorado de verdade.
– Acho que eu diria. – dei de ombros – Eu sei ser muito persuasivo quando preciso.
– Mas não se esqueça que foi eu quem te pediu em namoro e não você.
– Nós realmente não somos um casal comum.
Segurei delicadamente seu rosto e toquei seus lábios com os meus, beijando-a apaixonadamente. Meus batimentos se aceleraram à medida que nos beijávamos e nosso cachorro começou a arranhar minha perna implorando por atenção ou apenas que eu parasse de roubar sua mãe.
Eu não conseguia mais me imaginar sem e era como se minha vida fosse resumida em Antes de e Depois de . Nós dois tínhamos mudado nesse um ano, aprendendo coisas um com o outro, descobrindo novas coisas e lugares, fazendo novos amigos e até mesmo um único inimigo.
Era como se nós dois tivéssemos sido feitos um para o outro e fomos tendo outros relacionamentos até nos encontrarmos, até ela entrar em um bar e me beijar porque estava fugindo do seu ex-namorado abusivo. E quem diria que graças aquele idiota, a mulher da minha vida ia aparecer.
– Já ouviu falar daquela história que beijar um irlandês no dia de São Patrício dá sorte o ano todo? – ela me olhou com um sorrisinho no rosto e assenti – Então, eu acho que amar um irlandês significa sorte para vida toda.
– Ter você por perto é sorte para a vida toda.
– Eu te amo, .


FIM!



Nota da autora: Depois de muito tempo sem escrever e até mesmo postar, resolvi voltar. Espero que tenham gostado de acompanhar a história desse casal que eu simplesmente amei escrever.
Atualmente estou postando uma história mais longa no Wattpad que em breve estarei postando aqui também e de forma interativa, então se quiserem acompanhar, só me seguirem no Wattpad.



Outras Fanfics:
The Getaway [Originais – Shortfics]
Graciously [Originais – Shortfics]
Sound & Color [Originais – Shortfics]
Where I Leave You [Originais – Shortfics]
22 (Vingt Deux) [McFLY – Finalizadas]
Can I Have Your Number [Restritas – Originais – Shortfics]
01. Ruin [Ficstape #043 – Shawn Mendes: Iluminate]


Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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