Capítulo Único
Havia uma certa tradição em Hogwarts, a do baile de inverno. Todos os alunos preparavam suas vestimentas, se enchiam de expectativa e a certo ponto do ano, uma grande confusão se formava nos corredores. Pedidos sutis, tímidos, engraçados, cartas, confissões... Era quase obrigatório conseguir um par, dançar e se divertir.
É claro, também existia uma porção de alunos que simplesmente não se simpatizavam com festividades, com músicas, danças e aglomerações. Uns por timidez, outros por desânimo. Dentro das masmorras, naquele fatídico dia uma semana antes do baile, Draco tentava enumerar motivos pelos quais Blásio não devia deixar de ir ao baile. Dizia que seria mal aproveitamento de uma tradição, vergonhoso e ridículo. Harry Potter iria ao baile, seu amigo ruivo e incômodo iria ao baile – até mesmo, segundo Draco, a sangue ruim havia conseguido um par.
Para Blásio, a tradição era antiquada e medíocre. Sua única amiga era Pansy, e ela já havia sido convidada – pelo próprio Draco – além dali, não acreditava que nenhuma outra garota daquele colégio fosse minimamente decente para tê-lo como acompanhante.
- E aquela garota? Aquela asiática da corvinal? Ela me parece ter um bom sangue... – Draco comentou, mordendo uma parte de sua maçã.
- Por que não leva a Weasley, hm, Blásio? Todos nós sabemos que você tem uma quedinha por necessitados... – Pansy debochou, causando uma leve risada no amigo loiro ao lado.
A expressão do garoto, por outro lado, sequer se mudou. Seus olhos continuavam os encarando friamente, com pouca seriedade. Estava sentado em uma das mesas espalhadas por ali, cruzava as pernas na frente do corpo e seus braços estavam apoiados na mesa.
- Minha presença é assim tão importante pra vocês dois? – ele deu um sorriso cínico de pouca importância.
- Acha que ligo pra você ir ou não? – Draco se ergueu, jogando a maçã de uma das mãos para a outra. – Pouco me importa. Só não quero ser amigo de um dos fracassados que vão passar a noite sozinhos. Qual é, até mesmo o santo Potter se deu bem!
- Cala a boca, Draco. – ele ouviu o garoto resmungar, aparentemente cansado de sua ladainha. Blásio passou a mão pelo nariz e se ergueu, ignorando os olhares alheios. – Vou encontrar alguém. Isso vai te fazer minimamente mais feliz e menos inconveniente?
- Absolutamente, senhor Zabini. – Draco piscou para o amigo.
Blásio, claramente cansado daquela conversa, se levantou e foi diretamente para seu quarto. Não sabia que tipo de ideia era aquela. Não gostava de nenhuma das garotas da sonserina, embora elas fossem as mais propícias a terem o sangue bom para dançar com ele no baile, e não se interessava por nenhuma garota de outra casa também. Essa situação era ainda mais inconveniente, já que ele acreditava em um conceito que generalizava todas as garotas de Hogwarts: eram chatas e inconvenientes, assim como Draco.
Se deitou em sua cama e esticou os braços, apoiando sua cabeça nas mãos. Encarava o teto de sua cama com uma expressão neutra. Tinha alguém em mente, sim. Ela era chata e um calo em seu pé. Competia pau a pau com ele em toda aula de poção, e embora fosse uma lufana, carregava pleno orgulho por parte do professor Snape – o que era extremamente difícil de se adquirir.
Cabelos ruivos até pouco abaixo dos ombros, olhos completamente irritantes e muitas sardas distribuídas pelo rosto. parecia um pequeno raio de sol que irradiava luz demais pra ser bom. Era bom pra alguns, de fato. Mas não pra ele.
Blásio gostava do escuro, das sombras. Gostava da arte sutil das poções, o melhor de sua classe – gostava do silêncio, poucas palavras. , até onde sabia, tendia a falar demais quando em uma conversa. Já havia se irritado com ela antes, mas isso fora há anos atrás, e agora existia um motivo para querer ir atrás dela: embora fosse incrivelmente petulante, ela era a garota mais bonita daquele colégio. E, obviamente, a única que ele acreditava ser decente para estar ao seu lado em um baile.
Era uma boa ideia. Acreditava que sim: ela certamente seria convidada por outros garotos, mas não acreditava que aceitaria qualquer pedido. Precisaria ser o pedido, em um estilo que somente ele sabia fazer.
Sorriu de canto. Era um desafio interessante, e havia um prêmio bom. Poderia esfregar na cara dela por todos os próximos anos, quando viesse incomodá-lo na aula de poções novamente, que havia conseguido leva-la ao baile. Era, sim, um bom prêmio.
O dia seguinte raiou rápido, passar a noite em claro elaborando um convite perfeito era o mínimo para o Zabini. Pensou em diversas coisas, mas conhecendo como conhecia, optou pelo menos detalhado. Talvez uma carta fosse uma ideia interessante, mas como lhe restava pouco tempo, não conseguiu bolar o soneto perfeito para convidar sua garota.
Agora, já era fim de tarde e o sol quase terminava de fugir o horizonte dos domínios de Hogwarts. Os fios de luz que entravam pelos aros dos corredores faziam com que parecesse verão em pleno inverno. Blásio ajeitou seu smoking preto e passou a mão pela cabeça mais uma vez, o anel com o selo imponente de seu sobrenome reluzia por toda parte. Entrou
para sua aula de poções.
- Você sabe como estourar esses olhos direito? – Ana Abbott perguntou, folheando seu livro. estava distraída, olhava para as instruções em seu pergaminho atentamente. A loira desviou o olhar para ela e revirou os olhos. – !
- Desculpa! – ela exclamou, imediatamente. Deu uma risada junto com a amiga quando a mesma pareceu instantaneamente assustada pela reação rápida. – Hm, os olhos? Acho que com a agulha é melhor. Vai fazer menos bagunça.
estava focada na poção das duas. Desde seu primeiro ano, havia sido uma luta intensa estar na lista de alunos preferidos do professor Snape. Ele era pouco ou nada tolerante com alunos que não fossem de sua própria casa, parecia privilegiar alunos que embora bons não valiam metade de sua nota e como lufana, ela não teria uma posição boa enquanto não fosse extremamente boa. Ainda mais sendo uma nascida trouxa.
Já havia se acostumado com dias duros, sermões arrogantes e noites em claro terminando a lição semanas antes do tempo previsto. Queria ser uma alquimista quando saísse do colégio, precisava de bons resultados em suas provas finais. Não tinha tempo para permitir que o professor a odiasse pela não pureza de seu sangue ou por sua casa, não.
- Você já aceitou algum convite pro baile? Só por curiosidade. – Ana perguntou, depois de algum tempo em silêncio. As duas eram grandes amigas.
- Não. – riu de leve. – Não recebi nenhum convite legal ainda.
- Qual é, . Todo mundo da lufa-lufa tá brigando pra levar você, o único cara que tem um par é o Diggory! – ela colocou as mãos na cintura. olhou para ela por alguns segundos e então jogou amêndoas dentro do caldeirão, que borbulhava. Mordeu o lábio.
Ana franziu o cenho e encarou a expressão no rosto da amiga, que parecia indicar algo. Sim, havia um pequeno sorrisinho ali. sabia exatamente porquê recusara todos os convites que recebera.
- Quer saber de uma coisa? Parei contigo. – Ana concluiu, se focando em sua folha por poucos segundos antes de retornar a fala: - Parei, viu? Você só me tomba, , é impressionante! Aquele cara?!
- Shhh! – a ruiva gargalhava, passando a mão pelo rosto da amiga.
- Silêncio! – O professor Snape pediu de sua mesa. As duas assentiram cabisbaixas.
No momento em que desviou seus olhos para o professor, pôde ver um par de olhos afiados fitando-a. Não se tratava do professor, se tratava de seu aluno favorito: Blásio. Seus olhos castanhos reluziam uma tonalidade mel pelos míseros raios de sol que vinham em sua direção pela janela, ele tinha sua expressão habitual. Blásio sempre parecia estar entediado, cansado de algo ou de alguém. Sua cabeça sempre estava levemente tombada para trás, o cenho levemente franzido e os olhos mantinham um tom analítico e desafiador. Nenhum traço de expressão dele era grande o suficiente para revelar algo sobre seus reais sentimentos; ele era difícil de ler, e aquilo era o que fazia cair por ele. Se sua matéria preferida era a alquimia, com toda certeza o motivo eram as regras, os detalhes. Haviam ingredientes, receitas. Ela podia prever como cada poção terminaria, saberia como iria parecer e assim saberia se estava boa. Blásio era o extremo oposto disso. Ela nunca poderia prever o que ele diria, e em boa parte dos casos, talvez ele sequer dissesse algo.
Era silencioso, sorrateiro. Não conseguia pensar em alguém que tivesse melhor um perfil da casa das cobras do que ele. Draco era orgulhoso de seu sangue, mas devia ser ciente de que a sonserina tinha um príncipe e esse não era ele. O príncipe sonserino era e sempre seria Zabini.
desviou o olhar rapidamente de volta para sua poção e respirou fundo. Ana podia ver a reação da amiga, mas escolheu não dizer nada. Se levassem mais um sermão do professor, seriam expulsas da sala.
Elas se focaram em sua tarefa e terminaram a poção que mais tarde viria a ser considerada “brevemente satisfatória” pelo professor. Snape torceu o nariz para as duas quando escrevia a nota máxima em seus nomes e se afastou rapidamente. Ana bufou, dando um assobio chocado.
- E não é que a gente conseguiu?
- Eu achei que ele ia matar a gente. – sussurrou, e a loira concordou. As duas andavam em direção a porta da sala. Era a última aula do dia, o próximo destino era a sala da lufa-lufa. Passaram pela porta.
- . – A atenção dela foi totalmente direcionada ao rapaz encostado próximo à porta. As mãos nos bolsos, a cabeça encostada na parede e as pernas levemente cruzadas por ali.
- Zabini. – Respondeu no mesmo tom, e parou. Os alunos ainda passavam dentre eles, saíam da sala. desceu o olhar para a mão do garoto parado, que se estendia a ela como uma oferta. Ela olhou para o lado de Ana, mas a amiga não estava mais ali.
Segurou a mão dele e foi guiada até um pouco distante dali, em um dos corredores adjacentes que estava vazio. Blásio soltou a mão dela e se encostou de um dos lados do corredor, enquanto a ruiva se encostava do outro. Estavam frente a frente, e seus olhos se cruzavam diretamente agora.
Na mente dele, nunca havia percebido o quão bonita ela realmente era. Se seu sangue era sujo ele não poderia dizer, mas tinha certeza de ter pensado por um vacilo de segundo que mesmo que fosse, tê-la em suas mãos valeria à pena por toda a sujeira trouxa do mundo. Ele deixou escapar um sorriso minúsculo.
Na mente dela, não conseguia imaginar o que ele queria com ela ali. Não era nenhum segredo que os dois realmente não se bicavam. Desde os primeiros anos em Hogwarts, dividir as aulas de poções com um garoto como ele era uma luta. Embora soubesse que em seu interior queria que ele a convidasse, queria ter uma chance para conhece-lo melhor, para tirar mais dele do que um breve sorriso – ela sabia perfeitamente que as chances de isso realmente acontecer eram remotas.
Blásio passou o polegar pelo lábio.
- Eu suponho que tenha recebido milhares de convites para o baile. – ele sorriu, dando de ombros.
- Alguns. – respondeu, esquiva.
- E você aceitou algum?
- Que tipo de pedido é esse, Zabini? – ela sorriu de leve. O garoto ergueu suas sobrancelhas um pouco surpreso pela reação. Sua expressão era mínima, talvez pouco positiva. Ela podia jurar que o havia deixado bravo quando desafiou sua astúcia, mas o rapaz na verdade gostara bastante da resposta que recebeu.
- Eu não disse que era um pedido, disse? – ele sorriu de canto.
mordeu o lábio.
- Estou supondo que seja, já que eu não vejo nenhum outro motivo pra você ter tanto interesse assim na minha vida. – deu de ombros.
Blásio riu abafado e respirou fundo.
- Ia dizer pra não se achar tanto, mas eu imagino que seja um grande prazer receber meu convite. – ele brincou, uma expressão exibida. revirou os olhos e riu.
Houve um instante silencioso entre os dois. ergueu seus olhos de novo para o garoto, que agora a encarava com uma expressão neutra de novo. A mesma de sempre, os olhos difíceis de ler. Tamanha arrogância que ela mal poderia imaginar quanto dinheiro havia em seu cofre de Gringotes. Alguém esnobe como ele não podia ser pobre, podia?
Ele desceu seus olhos para os lábios dela por um vacilo de segundo.
- Você quer ir ao baile comigo?
A pergunta ecoou em sua cabeça, e então o silêncio do corredor se findou novamente. Não havia mais nenhum aluno fora de seu dormitório a não ser os dois. Todos tinham tarefas a terminar antes do baile, que por coincidência era dali a dois dias. Ela respirou fundo e tombou a cabeça na parede e antes que ele pudesse concluir que sua resposta fosse sim, ela disse:
- Não, Zabini. Mas muito obrigada pelo convite. – sorriu sutilmente e se desprendeu da parede. O garoto franziu o cenho, sua expressão se tornou incredulidade e surpresa em poucos segundos. Ela jurou tê-lo visto gaguejar. Queria dizer que recusara pela simples vontade de não ir com ele, mas seria uma grande mentira. A verdade era que o achava muitíssimo atraente, e claramente caía por ele desde que o vira pela primeira vez na sala de poções. Embora tivesse vontade de aceitar o convite, ela sabia que alimentar o ego de um sonserino puro não era a melhor coisa a se fazer no momento.
Era melhor rejeitá-lo, então.
- Como assim?!
- Eu disse que não, mas obrigada pelo convite. – deu de ombros enquanto saía dali e dava as costas para o rapaz, em direção a escadaria que levava à cozinha e também aos dormitórios da lufa-lufa. O garoto piscou mais uma vez tentando encarar o que realmente acontecia ali.
Não era possível, era? Ele realmente havia sido rejeitado pela insuportável , pela lufana falante. Linda, de fato, mas ainda assim insuportável e falante. E ela acabava de sair de sua frente saltitante em direção a sua sala comunal irritantemente amarelada e florestal.
Ele estava irritado. Se sentia traído pela humanidade, furioso por Draco tê-lo feito passar pela humilhação de tentar convidar alguém ao baile e, principalmente, ferido por ter falhado. É claro que seria questão de honra levar qualquer outra garota em seu lugar – e ele sabia que qualquer outra garota aceitaria seu convite – mas aquilo era muito maior do que ele. Não iria ao baile, não veria o rosto cínico de do outro lado da pista. Ele sequer queria ir.
O fato caiu a sua cabeça e ele respirou fundo. Realmente não queria ir. Era apenas um baile, um daqueles chatos e que ele achava muitíssimo inconvenientes. Não havia um sequer motivo para tentar convidar outra garota e ir a uma festa chata por ter sido rejeitado por , havia?
Não. Não para ele.
O garoto ajeitou seu smoking e se dirigiu de volta às masmorras. Ignorou os comentários peçonhentos de Draco e Pansy e agradeceu por as notícias não correrem tão rápido assim por Hogwarts. Nenhum dos amigos sabia de sua recente rejeição.
Se deitou em sua cama e imaginou mil jeitos de se vingar da lufana antes de dormir. Talvez assim seu ego se inflasse um pouco de novo, já que agora, havia sido reduzido a pó.
- Você não vai mesmo me dizer com quem vai? – Ana perguntou, vendo terminando de passar seu batom avermelhado. Trajava um vestido mid rosa bebê que acompanhava bordados de flores desde o início até o fim de sua saia; seus cabelos fogo estavam presos em um penteado alvoroçado, havia glitter descendo pelo mesmo e acompanhando a coloração do vestido. Sua maquiagem suave destacava sua boca.
- Eu já disse, você vai saber! – ela batia uma esponja com um pouco de pó em sua bochecha.
- Tem certeza de que posso deixar você aqui? Ernie já deve estar me esperando. – a loira comentou, segurando sua bolsa. Ainda colocava alguns itens de uso pessoal ali dentro e tentava ajeitar tudo de forma que coubesse.
assentiu e se virou para ela, como se pedisse a opinião da amiga.
- O que você acha?
- Espera. – Ana se aproximou e lambeu um dos dedos, limpou um pouco de glitter da bochecha da amiga. – Acho que caiu do seu cabelo. Você tá perfeita, como sempre!
As duas se abraçaram carinhosamente e deixou um beijo amigável na bochecha da amiga antes de observá-la abrir a porta do quarto.
- Te vejo lá embaixo, então?
- Sim, até. – ela acenou brevemente. Esperou que Ana fechasse a porta e por fim andou até seu armário; tirou de lá seus saltos pequenos e encaixou nos pés. Não levaria bolsa alguma, ela sequer se lembrava de ter uma – e então saiu de seu quarto, por fim. O dormitório da lufa-lufa já estava vazio, exceto por alguns garotos que não pareciam gostar de festas e jogavam xadrez perto da lareira. se despediu deles com um aceno não correspondido e saiu dali.
Seguiu as escadarias até o corredor do andar de baixo, onde a bagunça era severa. Haviam alunos por toda parte, garotas com seus pares, garotos que iam sozinhos ao baile e os pares do torneio que liderariam a dança se uniam na frente da porta do grande salão.
Em seu quarto, infeliz e recluso, Blásio observava o véu da noite descer pelo céu. O azul escuro já terminava de rasgar o céu claro do dia e poucos sons eram ouvidos dali. Ele pouco podia ver os céus exceto pela visão quase turva da água do lado negro, que fazia divisa com as masmorras da sonserina.
Ele podia ouvir Draco resmungar algo fora de seu quarto mas optou por ignorar. Todos os seus colegas de casa estavam curiosos para saber quem era a sortuda que o acompanharia ao baile, e ele não sabia de onde tirar coragem para dizer que nenhuma. Preferia ignorar aquele bando de inúteis.
Se sentou em sua cama e procurou dentre seus livros o de poções. Gostava de observá-las em seu tempo livre, talvez até pudesse tentar produzir algo ainda em seu quarto. Não seria uma má ideia de passatempo para aquele momento.
- Acha mesmo que foi a Weasley? – Pansy perguntou de cara torcida para Goyle. O garoto deu de ombros.
- Você mesma disse que ele tem uma quedinha por ruivas num geral. É provável, não?
- Aquela rata tem uns dez anos, imbecis. – Draco retrucou, inconformado. – Se ela for mesmo par do Blásio, não precisamos convidá-lo para mais nada. Meu pai ia odiar saber que meu amigo compactua com esses necessitados.
- Com licença? – a voz extra fez todos eles virarem seus rostos para a porta principal. Era a primeira imagem celeste em meio à tantos ternos e vestidos escuros por ali. Pansy ergueu as sobrancelhas um pouco surpresa e ela e Draco se entreolharam, pouco entendendo o que acontecia ali.
- Você perdeu suas plantas aqui, ? – Draco se exaltou em perguntar, causando algumas risadinhas em seus colegas de casa. Virou o rosto para Goyle como quem perguntava se tinha gostado.
- Na verdade – começou calmamente, ainda com um sorriso pequeno no rosto. – Eu vim perguntar se vocês viram o Blásio em algum lugar.
Todos ficaram em silêncio por alguns minutos, se entreolharam. Agora fazia sentido: era ela o par de Blásio. Pansy pareceu surpresa. Embora aquele fosse Blásio, ela não pensou que pudesse conseguir uma garota tão bonita assim para levar ao baile; como não tinha pensado naquilo antes? Uma queda por ruivas, obviamente era uma escolha viável. Dividiam a aula de poções, já haviam se falado antes. Uma escolha óbvia.
- Vá chamar ele, Draco. – ela empurrou o garoto, que ainda parecia chocado. Ele foi na direção dos dormitórios e bateu na porta do amigo sem muita paciência.
- Blásio? Sua garota tá esperando, trouxa!
Blásio franziu o cenho estranhando aquilo. Ainda estava em suas roupas normais, uma camisa lisa e calça jeans. Abriu a porta e encarou Draco de cima a baixo, achando muita graça no traje fino dele.
- Você vai assim pro baile? – O loiro enfatizou a palavra “assim”, como se achasse um absurdo que seu amigo se vestisse tão mal para um evento formal. Blásio olhou ao redor tentando entender o que estava acontecendo.
- Ah, você tá aí! – sorriu, dando um passo na direção da porta dele. – Por que é que você sempre se atrasa?
Blásio não sabia se entendia direito o que estava acontecendo ali, mas sua irritação por ela aumentou um pouco depois de vê-la completamente arrumada. Como ela ousava ser tão bonita assim?
Ele olhou para Draco mais uma vez e fechou a porta na cara do garoto. Foi até seu armário e tirou seu smoking galante, vestiu em tempo recorde. Já haviam perdido tempo demais, pensou. Saiu de seu quarto completamente arrumado, todos os olhos focados nele.
- Foi mal, . Não sou tão fã de chegar na hora. – piscou para ela, erguendo um dos braços. A garota fez uma expressão satisfeita e ignorou o braço dele. Segurou sua mão, o que surpreendeu o rapaz também. Ela sorriu de leve acenando para os amigos dele que ficavam para trás, enquanto os dois saíam das masmorras.
- Pode ser que não seja muito fã dela, Draco, mas precisa admitir que eles formam um casal bonito. – Pansy disse, cruzando os braços e encarando as costas dos dois.
- O que te garantiu que eu não convidei outra garota no seu lugar, ? – o garoto perguntou baixo, sem tirar seus olhos do corredor a sua frente. olhou para ele.
- Na verdade, eu não tinha garantia alguma. Mas se chegasse aqui e você não fosse comigo, eu dormiria tranquila com a ideia de ter ido sozinha ao baile. – deu de ombros. – Mas e você? Dormiria tranquilo com a ideia de ter sido rejeitado?
- Você é insuportável. – Ele respondeu, dentre uma risada realmente satisfeita. Ela acabou rindo também, enquanto os dois andavam em direção ao grande salão onde o baile finalmente começaria para eles.
- x –
- Polissuco? – o garoto segurava a cintura dela, os dois bailavam pelo salão com calma. A música lenta havia puxado alguns casais para a pista de dança, e os dois não quiseram perder a chance de conversar mais um pouco embora os amigos de Blásio insistissem que se juntasse a eles. havia lhe feito uma pergunta sobre uma poção difícil, a polissuco.
- Ouvi dizer que não é tão difícil quanto o Snape diz. – ela apoiou suas mãos no pescoço dele. – Já ousou tentar algo fora da aula dele?
- É, algumas vezes. Não sei sobre a poção polissuco, mas uma vez me livrei das chatices do Draco com algumas gotinhas de poção do morto vivo. Ele dormiu por horas. – riu de leve, a garota gargalhou.
- Não teve medo de... Sei lá, matar o garoto?
- Eu confio nas minhas mãos, . Nenhuma poção que eu fizer vai matar alguém, a menos que esse seja o objetivo. – ele deu de ombros convencido e piscou para ela. A garota respirou fundo.
- Você é mesmo muito convencido, né? Eu não consegui tombar nem um pouquinho disso quando rejeitei seu pedido?
- Você veio comigo, não é? – Blásio sorriu, apertando a cintura dela. A diferença de altura entre os dois era grande, ela precisava manter suas mãos um pouco acima do corpo para alcançar o pescoço do rapaz. Os olhos dela encontraram os dele, e então se desceram levemente para sua boca. Ela sorriu e abaixou a cabeça.
Não era mentira nenhuma que se encatara por ele há muito tempo atrás. Os dois poderiam dizer aquilo. era totalmente o tipo dele, e ele o dela. Sua atitude, por mais que muito esnobe às vezes, era a de um garoto acima de seu tempo. Blásio não era estúpido como um Malfoy, por exemplo; ele tinha seu charme, agia como ele queria. Era um rebelde sem futuro, segundo a amiga de , Ana. não pensava assim. Ela tinha o péssimo hábito de tentar encontrar a beleza nas piores facetas do mundo, mesmo nas piores pessoas que conhecia. Havia muita coisa que faria qualquer um querer se afastar do Zabini; seu convencimento pela beleza de sua família, sua arrogância pela pureza do sangue e o dinheiro que tinham e talvez sua opinião preconceituosa sobre nascidos trouxas. acreditava que aquilo poderia mudar.
Ela não pensava como os outros. Ela achava que melhor do que acabar com todos aqueles que seguiam ao Lorde das Trevas, era convertê-los ao lado da luz. O lado da justiça. Um mundo justo seria para todos, não apenas para ela e seus irmãos de sangue; e quanto mais gente trouxesse para seu lado, melhor seria para ela na hora de uma eventual batalha. Estavam em seu quarto ano em Hogwarts e nada havia mudado ainda: muitos alunos pareciam acreditar na teoria da pureza do sangue, pareciam ser capazes de qualquer coisa para afastar nascidos trouxa da sociedade bruxa. Ela não acreditava em nada daquilo.
- Você é mais legal do que eu me lembrava, Blásio. – comentou, baixo, entre um sorriso. O garoto olhou para ela com sua feição enigmática, olhos que escondiam a profundeza de sua alma.
- Eu era uma criança. Me dá um desconto. – riu. Uma de suas mãos subiu de sua cintura para seu rosto, o ar parecia ter ficado mais rarefeito por ali. Ele sentiu o fogo do cabelo dela chamar por aquele fogo rebelde em seu interior, aquele que ele não conseguia evitar. Embora tentasse mostrar-se frio e neutro, não havia nada em si que pudesse evita-la. A atração que sentia por ela desde que eram apenas crianças que se detestavam, que eram rivais. Ela era a melhor rival que poderia ter.
Ela brigava com ele, batalhava com suas mãos ágeis na aula de poções. Levantava seu tom de voz, se alterava. Ela ia para a detenção e seus cabelos pareciam se tornar o verdadeiro fogo, ela parecia se tornar a verdadeira leoa. Bateria os pés até não conseguir mais, jamais o deixaria sair com plena razão em uma discussão. Outras garotas podiam ter aquelas características, Blásio não diria que não. Ele sabia que existiam milhares como ela, que não era uma exceção a seu sexo. Ela era, sim, uma garota como várias outras.
Mas havia algo nela que não em outras. Algo que só ele poderia ver, só ele poderia dizer. Naquele momento, aquilo aparecia. Quase como um cheiro diferente no ar, ou como um olhar diferente que ela poderia ter lhe dado. O garoto sabia que era questão de tempo até se apaixonar completamente pela garota irritantemente lufana à sua frente. Seu sangue borbulhava, ele sentia a excitação de suas células o impulsionarem para a frente, para mais perto dela. Devorar seu perfume, cheirar sua alma. Fechou seus olhos quando seus lábios se selaram por fim.
As mãos de se envolveram ao redor da nuca do garoto, o trazendo para perto; haviam casais por ali, mas aquele salão parecia ser somente deles. Blásio podia ser o rei sonserino que desejava, ela seria sua rainha. A alma dela desejava liberdade assim como a sua.
Ele segurou o rosto dela, iterrompendo a dança. Ela olhou para ele confusa, e ele fez um sinal com a cabeça como quem pedia que lhe acompanhasse. Ela assentiu.
seguiu Blásio até o lado de fora do salão, para uma das varandas do campus onde poucos alunos se reuniam. Haviam alguns poucos casais se beijando, outros conversando e uma garota que bebia algo longe de todos eles. Seguiram até um dos murinhos que dividiam o corredor, onde Blásio a ergueu em seu colo e então sobre o murinho, dando espaço para que ela se sentasse.
A garota tinha um sorriso tímido no rosto, mas ele parecia satisfeito. Ela sentada no muro acima do nível do chão conseguia atingir o tamanho dele com perfeição, e agora os dois tinham os rostos alinhados.
- Olhe só. Escorpião está visível hoje. – Blásio apontou para o céu, e os olhos curiosos de seguiram sua mão. Ela observou a constelação sem entender muito bem.
- Eu não sou muito boa em astronomia. – ela fez uma careta engraçada.
- Ali. – Blásio se apoiou ao lado dela, sua mão segurava sua cintura. A outra apontava para o céu de forma didática. – Você vê o final? É a cauda do escorpião. Descemos um pouco e...
- Parece uma borboleta! – ela comentou, tombando o rosto e tentando enxergar direito o que parecia ser a constelação em questão.
- É, aquele lado é o Aglomerado da Borboleta. Acho que ela é a testemunha desse casal improvável. – deu de ombros, abrindo um sorriso de canto. se virou para ele com uma expressão fofa de satisfação.
Os dois conversavam sobre diversos fatos, dessa vez. Não só sobre as aulas de poções ou sobre seus interesses para o futuro, falavam também sobre si. Blásio explicou um pouco sobre o último marido de sua mãe, e sobre estar solteira agora; ele era filho de uma bruxa considerada uma das mais lindas que existiam, e os boatos sobre a família Zabini era que ela já havia se casado mais de cinco vezes. O garoto foi sucinto sobre o assunto, mas explicou que não gostava de nenhum de seus padrastos. Todos eram egocêntricos demais, e se tornavam exibidos demais depois de terem sua mãe ao lado.
contou uma história antiga sobre ela e seu avô. Gostavam de colecionar borboletas azuis, mas sabiam perfeitamente que viviam por pouquíssimo tempo – então eles as coletavam, faziam rascunhos em um pequeno caderno e então as libertavam novamente. Afinal, o mundo era grande demais para os poucos dias de vida de uma borboleta. Conversaram sobre a imensidão do universo e sobre o fato de estar se expandindo a cada instante, sobre o poder de mandrágoras contra petrificações e até mesmo sobre eventos antigos sobre aquele colégio. Discutiram quem venceria em um enigma: Salazar Sonserina ou Helga Lufa-Lufa. Chegaram a conclusão de que os dois brigariam por horas, Salazar extremamente irritado e Helga plenamente calma – brigariam até chegar à conclusão juntos, e então Helga aceitaria a vitória de Salazar mesmo sabendo que venceu também.
Os dois riram sobre o primeiro ano e sobre o fato de terem se odiado por tanto tempo, até que um pequeno silêncio se instaurou por ali. Blásio tirou algumas flores que cresciam por fora do muro, as depositou sobre a coxa de . Ele as ajeitava dentre os fios avermelhados dela com carinho. Algo nascia ali, dentre os dois. Algo que já existia agora era desperto.
Haviam se conhecido como crianças, e como crianças, se odiado. Se encontravam agora um pouco mais maduros, e tinham idade o suficiente para entender que talvez realmente se gostassem. Talvez as adversidades entre os dois fossem só um motivo para se gostarem ainda mais.
- Acha que venceremos o torneio? – ela perguntou, cortando um pouco do silêncio que se instaurava ali. O garoto mordeu o lábio pensativo.
- Não sei. Estamos dependendo do Diggory, o que me diz?
- Ou do Potter. – ela comentou. – Hm, eu não sei. Cedrico é muito bom em tudo o que ele faz, eu não duvidaria da capacidade dele, mas... Do outro lado temos o Krum.
- Se formos comparar o sangue, eu imagino que não tenhamos a menor chance. Krum é puro. – deu de ombros.
ficou em silêncio. Algo parecia ter se quebrado quase que instantaneamente, sua expressão suave se desfez em uma decepção abundante. Ela respirou fundo.
- Você realmente precisa mencionar isso? Por que Krum venceria Diggory apenas pelo sangue?
- Achei que fosse óbvio. – ele franziu o cenho, parando o que estava fazendo. Os dois ficaram em silêncio, se empurrou para frente e desceu do muro. Parecia incrédula, decepcionada. – !
- Não existe supremacia de sangue, Blásio. Eles estão te enganando ensinando sobre isso. – ela argumentou, incomodada.
- Não sei se é prudente nós dois discutirmos isso. As opiniões são bem diferentes, você precisa respeitar a minha.
- Sua opinião fere pessoas todos os dias! – ela aumentou um pouco seu tom de voz, seu rosto parecia decepcionado e triste. Ele não gostou do tom daqueles olhos. Não gostou de vê-la triste. Não achava justo que ela tentasse convencê-lo do contrário, desvalorizar sua opinião. Era óbvio que o sangue interferia naquele fator. Krum era um bruxo melhor do que Diggory, e também tinha um sangue mais puro.
- É por isso que sangues ruim não deveriam viver com bruxos! Eu também não acho justo que Diggory perca por uma questão meramente biológica!
- Não existe questão biológica, Blásio! Diggory não é pior do que Krum, ninguém é pior do que ninguém!
- Você sabe que sim, ! – ele argumentou, aumentando seu tom de voz e se exaltando um pouco. Se aproximou dela, gesticulava nervoso. – Não pode estar falando sério. Acha que Diggory conseguiria ser um bruxo melhor do que eu?!
pensou em argumentar. Aquilo não era sobre Cedrico ou sobre qualquer outro mestiço ou nascido trouxa. Aquilo era sobre uma mentalidade, sobre Voldemort. Aquilo era sobre compartilhar do mesmo pensamento que o bruxo das trevas, o mais terrível que já existiu. Cruel, narcisista. Ela fechou os olhos, Blásio parecia um seguidor dele. Falava como um, agia como um.
- Acha que é melhor do que ele?
- Eu sei que sou. – deu de ombros.
- Acha que é melhor do que eu também, Blásio? – ela olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas. Blásio deu um passo para trás como se esperasse que ela justificasse, como se tivesse sido atingido. Ele a havia ofendido. Quando pensou que tudo finalmente dava certo, ele a machucou.
O silêncio retornou. A garota tirou as flores do cabelo e as deixou pelo chão. O símbolo de que queria tirar tudo o que adquirira dele de si. Tudo o que nascia entre os dois deveria ser cortado por ali.
- Eu me enganei sobre você. – ela disse, balançando a cabeça negativamente. – Você realmente continua o mesmo que antes, Blásio. Você continua o mesmo de sempre. Por favor, fique longe de mim.
Ela se afastou imediatamente, foi embora dali. Não houve nada que ele pudesse fazer a respeito. Não poderia ir atrás dela e jurar que mudaria sua opinião, pois não imaginava que fosse válido. Não mudaria. Ele não conseguiria ainda que quisesse.
Se apoiou no muro e olhou para o céu, encarando outra constelação que se estendia por ali. Uma imagem escura rasgou o céu e se aproximou dele, pousando próximo do lugar onde estava; formato triangular, filha da noite: uma mariposa. Alguns diziam que simbolizavam a morte.
A borboleta que era testemunha do nascimento do amor dos dois no céu se escondeu dentre nuvens chuvosas, dando espaço à mariposa negra que testemunhou a separação dos dois. Eram jovens, duas almas jovens que se mereciam, que se gostavam.
Ele fechou seus olhos, pensando no que poderia fazer para tê-la de volta. Sem conclusões naquele momento. Por ora, aceitou que o bater de asas da borboleta no céu foi capaz de mudar os dois, a anos luz dela na terra.
Fim.
Nota da autora: Olá, garoutas! Passando pra avisar que essa é a parte um de uma trilogia com o Blásio, então logo logo devo aparecer com a segunda parte pra vocês por aqui hihi! Um beijo, espero que tenham gostado!
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