Capítulo Único
― Unnie! E essa, como se chama? ― a criança questionava empolgada, puxando a barra da saia da garota levemente enquanto apontava para a flor de tom lilás que se juntava em outra e em outra, todas se embrenhando pelo caule verde com as as pétalas arredondadas e de cor viva.
― Lavanda. ― a prima mais velha respondeu com um sorriso calmo, se agachando para pegar a pequenininha no colo e aproximá-la do vidro que impedia de tocar a flor. ― Você sabe a história da lavanda, ?
― N-Não, Unnie! Qual a história da lavanda? ― os olhos grandes e castanhos da criança brilharam intensamente ao ouvir a pergunta da adolescente, curiosa como sempre era e como toda criança havia de ser.
― Há muitos e muitos anos atrás, quando nós ainda não tínhamos nascido, existia uma moça chamada Lavanda. Lavanda se apaixonou por um belo jovem, e ela queria muito se confessar para ele, mas como era uma garota bastante tímida, ficou esperando o momento certo. Porém, o momento certo para Lavanda nunca chegava… Ela demorou dias, meses, anos. até que acabou virando uma flor. Uma flor tão bela quanto seu amor era, o amor que ela sempre guardou para si mesma e nunca expressou, ele se materializou nesta flor. Então, a mãe de Lavanda deu a flor ao amado dela pois sabia que a filha iria ficar feliz com isso. O rapaz plantou a flor e a fez se multiplicar, regando e cuidando com o amor que tinha pela garota, porque também amava a Lavanda, mas era muito tímido e sempre ficou à espera que ela lhe desse uma chance.
Não pôde resistir se não a olhar por cima do ombro de sua prima, observando-o no final do corredor, conversando com uma colega de trabalho gentilmente e animado como sempre fazia. Não suspirou mesmo que quisesse, perceberia se fizesse isso. Porém não era capaz de não pensar em quando contava aquela história, a única diferença é que ele não lhe amava de volta.
― Unnie… Isso é triste… ― fez um bico nos lábios quando terminou de ouvir a história, as sobrancelhas se juntando lentamente em uma expressão chateada. ― É como a sua história…
― A minha história…?
― Sim, a sua história com o Oppa! Mas você não virou flor ainda e ele sempre está no meio das flores… Ele está montando a sua casa? ― a criancinha começou a se desesperar ao pensar demais, seus olhinhos enchendo d’água. ― Unnie, você precisa se declarar! Eu não quero que você vire uma flor, quero você sempre sendo minha prima! ― agarrou o pescoço da mais velha que arregalou os olhos com aquela reação da criancinha.
― , , calma! ― levou uma das mãos até os cabelos da menina, fazendo um carinho delicado ali para que ela parasse de chorar. ― Está tudo bem, eu não sou uma personagem da história!
― M-Mas, Unnie…
― ! Você veio mesmo, estava preocupado se não ia conseguir por causa do colégio. ― a voz masculina fez com que a situação se acalmasse no momento, largando rapidamente a prima e olhando para frente, onde ele estava. ― E trouxe sua uma amiguinha, isso é ótimo!
― Eu disse que viria! ― um sorriso enorme tomou os lábios da ao vê-lo se aproximando, deixando a priminha novamente no chão e pegando em sua mão para ter certeza que ela não sairia correndo por ai. ― Consegui terminar tudo ontem, então tive algum tempo livre. é minha prima, e quando eu falei das flores ela ficou tão empolgada que eu não pude deixar de trazê-la.
― ah, você gosta de flores? ― se abaixou para conversar com a menininha. Não era novidade que ele era apaixonado por crianças, então apenas se deixou observar a cena com um pequeno sorriso.
― Siiim, eu amo! Mas eu não quero que a Unnie vire uma… ― a expressão da criança se fechou assim que disse isso, voltando a fixar os olhos no chão e fazendo toda a fofura que enxergava no momento desaparecer rapidamente.
― Por que a viraria uma flor?
― É-é só uma história que eu contei pra ela e ela ficou com isso na cabeça, não precisa se preocupar… ― o choque e o medo da prima acabar soltando a realidade encheram o coração da que interrompeu a conversa com as bochechas vermelhas.
― Ooh, eu adoro histórias! ― meu Deus, não… ― Mas infelizmente não posso ouvir agora. ― ÓTIMO! ― eu preciso voltar ao trabalho. Mas algum dia vou passar na casa da sua prima e ela vai me contar, certo? ― piscou um dos olhos na direção da menininha, pousando sua mão levemente em cima da cabeça dela.
― Certo! ― abriu um largo sorriso para o rapaz, assentindo com a cabeça também ao mesmo tempo que o via levantar.
― Antes… ― puxou sua própria mão que estava nas costas, mostrando a flor que segurava entre os dedos. ― Essa flor me faz pensar em você. ― ele se aproximou um passo, erguendo a mão e encaixando a flor entre os fios de cabelo e a orelha da menina. ― Ficou ótimo!
― …
― Até depois, .
❥❥❥❥❥
Aquela flor era conhecida como rosa louca. Ela era graciosa e gentil, mas tinha algo que intrigava que sentada ao pé da pessegueira que ficava no jardim de sua casa. Segurava a flor entre seus dedos delicadamente, observando as pétalas e todas as linhas que as formavam. A rosa louca florescia toda manhã e murchava toda noite, isso podia ser relacionado consigo? Por que aquilo fazia pensar em si? Tinha alguma explicação ou estava só pensando demais sobre um gesto tão simples?
― A-Ai! ― alguma coisa caiu em sua cabeça enquanto estava tão compenetrada na flor, meio dura e que a fez latejar fortemente, rolando para o chão ao seu lado logo depois.
Um pêssego maduro, claro… Bufou com aquilo, um pouco irritada até pegar a fruta na mão e se preparar para jogá-la longe. Foi então que aos poucos o pêssego começou a mudar de cor, ficando prateado, assim como começou a pesar mais e a casca macia e aveludada ficou lisa e reluzente, fazendo arregalar mais os olhos a cada segundo.
A dimensão ao redor de si começou a mudar. A imagem da entrada da sua casa, os muros que a cercavam e até mesmo o chão debaixo de seus pés, tudo se distorceu de uma forma que a deixou completamente tonta, fazendo com que desmaiasse no processo. Acordou com os sentidos totalmente confusos, tudo o que via era dobrado e precisou de diversos minutos para conseguir retomar a normalidade.
Porém, mesmo assim esfregou as costas das mãos nos olhos, não acreditando no que estava vendo a sua frente. Estava deitada em uma grama verde fofinha e cercada de lavandas lilases que subiam por todo aquele pequeno jardim ao qual estava no meio e formavam um corredor, mas se embrenhavam subindo e subindo, com seus caules se mesclando até formarem uma espécie de árvore.
No meio dessa árvore e na ponta de duas lavandas que se encontravam, estava o pêssego que outrora repousava em sua mão. Prateado, ele brilhava em meio as flores e não pode controlar seu instinto de se levantar e querer pegá-lo. Foi aí que ouviu os barulhos de cascos de cavalo no chão e as vozes masculinas gritando, algo que se tornava cada vez mais próximo.
O choque de perceber que eles estavam gritando algo sobre si e vinham em sua direção com espadas fez com que perdesse novamente a consciência, as pernas perdendo a força para manter seu corpo em pé e a garota caindo novamente contra as flores antes de ser resgatada pelos desconhecidos.
❥❥❥❥❥
O local que acordou era tão deslumbrante que ficou abismada e totalmente sem reação enquanto encarava toda atmosfera azulada que estava ao seu redor. Tons claros e escuros se misturavam naquele céu que era uma pintura divina, a lua tão próxima a si que era assustadoramente impressionante.
Enquanto erguia seu tronco, suas mãos se apoiavam aonde estava deitada, a superfície um tanto irregular também chamou a sua atenção e lhe fez olhar para baixo, dando de cara com uma enorme pedra em vermelho vinho trabalhada pela natureza seja em sua mancha esbranquiçada na parte de cima ou os relevos em sua extensão.
― Senhor, ela acordou!
Um grito masculino que anunciava afastado de si ecoou e fez sua cabeça latejar com o barulho que a pegou desprevenida. Mas não tão desprevenida quanto alguns segundos depois disso um homem começou a se materializar em sua frente, andando de uma forma tão leve e elegante que parecia flutuar pela água…
A pedra onde estava sentada estava sob uma camada fina de água que refletia o azul do céu e a fez ficar completamente arrepiada com a paisagem. O que era aquele lugar? Quem era aquele homem? Aquilo era mesmo real ou estava em um sonho ou algum tipo de delírio? O pêssego tinha batido assim tão forte em sua cabeça?
― Você deve estar assustada, é completamente compreensível. ― ergueu o olhar para o rosto do homem, vendo como ele lhe olhava de cima em uma postura altiva e com uma beleza ímpar que a deixou completamente fascinada, apenas observando seus lábios cheios e rosados se moverem formando as sílabas. ― Nós também estamos confusos, não sabemos o que aconteceu para que você viesse parar aqui.
― Onde eu estou…? ― se atreveu a questionar, passando a mão levemente pelos cabelos para tirar os fios do rosto e jogá-los para trás.
― Você está em Shangri La, o meu reino. ― ele apresentou com um pequeno sorriso de canto de lábios, evidenciando seu orgulho e felicidade em citar essas palavras.
― Shangri La…?
conhecia e estudara sobre a obra de James Hilton, Lost Horizon, que descrevia um paradisíaco situado nas montanhas do Himalaia, sede de panoramas maravilhosos e onde o tempo parece deter-se em ambiente de felicidade e saúde, com a convivência harmoniosa entre pessoas das mais diversas procedências. Mas como diabos aquilo tinha haver com tudo o que estava acontecendo?
― Ah, vocês cidadãos da Terra conhecem uma história sobre Shangri La, não é? Ela é em partes verdadeira, mas o Shangri La na realidade não é muito mais que uma dimensão paralela a de vocês. ― ele ergueu uma das mãos em direção a toda aquela imensidão azul estava em sua frente, fazendo uma espécie de projeção começar ali. Todo o cenário mudou de azul para vermelho e preto, escurecendo tudo o que estava a sua frente como uma lua de sangue.
praticamente sentiu seus sentidos se perderem de novo, mas seguiu firme fechando seus punhos e buscando forças para não se admirar demais. Haviam dois planetas em uma espécie de sala de paredes brancas e piso vinho que giravam e giravam incansavelmente em sua própria órbita, sendo um consideravelmente menor do que o outro e nuances de cinza e preto, enquanto o maior era pintado em tons de roxo, bege, vermelho e laranja mesclados de uma forma exuberante.
― Imagine que a Terra é o planeta maior e Shangri La é o menor. Caminhamos lado a lado em harmonia, coexistimos e dividimos de um mundo maior do que conseguimos mentalizar, porém em linhas paralelas. ― o homem explicou calmamente, vendo toda a admiração dela em observar a ilustração.
― Mas se estamos em linhas paralelas, como eu vim parar aqui? ― e como voltaria para sua casa? A mente de começou a rodar com essa insegurança.
― Isso… Foi um erro de percurso… ― o homem ofereceu um sorriso nervoso ao pensar na situação. ― Eu tenho um irmão, preso na eternidade. Ele infelizmente não é uma pessoa confiável, então tive que tomar decisões drásticas.
Ele suspirou desanimado, andando alguns passos com a capa de seda se arrastando atrás de si e atravessando a imagem dos planetas que continuou intacta. Não se importando se caminhar por ali fosse molhar sua roupa, o Rei se abaixou e moveu sua mão sob a água, afundando levemente seus dedos entre as pétalas rosas e então uma nova espécie de dimensão se formou, como um portal para que visse algo dentro de um círculo na água.
― Ele está preso nesse lugar, mas não aceita isso. Eu não sabia que ele carregava o pêssego com ele. ― uma respiração pesada escapou de seus lábios, sinalizando seu descontentamento, enquanto analisava a imagem atentamente. Um garoto que não parecia ter muito mais da sua idade sentado em uma espécie de janela sem vidros redonda em uma parede, onde podia ver o céu. Em sua frente, uma árvore de galhos brancos e secos, com um pavão pousado nelas, sua única companhia. Ele segurava algo em suas mãos, algo que escorregava entre seus dedos e caia no infinito.
― Onde ele está, é acima da Terra e de Shangri La. Quando ele jogou o pêssego, que para nós é sagrado capaz de atravessar qualquer obstáculo em seu caminho, ele abriu uma fenda no espaço tempo e essa fenda permitiu que a pessoa a qual tocou no objeto mágico viajasse entre as duas dimensões. Ele as juntou por segundos. ― apontou novamente para os planetas que em uma fração de segundo começaram a se movimentar em direção um ao outro, colidindo e se misturando em um só, o que acabou com toda a sala ao seu redor e a tornou um céu obscurecido.
estava completamente aterrorizada e encantada com tudo o que via acontecer ao seu redor. Os planetas, o garoto em outra dimensão e o homem em sua frente, tudo isso fazia seu cérebro entrar em estado de choque e não querer funcionar direito. Ela não conseguia formar frase alguma que explicasse tudo o que estava sentindo naquele momento.
― Eu sei que isso deve ser uma coisa difícil de digerir, mas você não precisa se preocupar. ― o Rei se levantou, e quando ele fez isso tudo desapareceu, fazendo com que o ambiente voltasse ao tom de azul inicial. Se aproximou alguns passos da pedra a qual ainda estava sentada, segurando sua mão delicadamente. ― Eu já chamei os magos para levá-la de volta a sua casa. Porém eles apenas irão chegar amanhã, peço desculpas pelo inconveniente que causei em atrapalhar sua rotina.
― T-tudo bem, a culpa não foi sua… ― agora além de atônita estava completamente abobalhada com o homem segurando sua mão daquela forma e se aproximando de um jeito que seus rostos estavam perigosamente próximos. ― Não é você quem deve se desculpar comigo.
Podia observar com propriedade aqueles traços delicados e perfeitos, além de sua pele que parecia ser de puro veludo. Os lábios esculpidos e o formato dos olhos angulados com um brilho incomum, tudo naquele homem não parecia ser real, principalmente quando ele abriu um sorriso que praticamente a deixou cega.
― Me desculpe, eu não me apresentei formalmente, fiquei distraído com a situação. ― então ainda segurando sua mão, ele ajoelhou em meio a água e de frente para a pedra, abaixando a cabeça. ― Sou , o Rei de Shangri La. Mesmo com meu posto, por favor não se sinta acanhada. Sou eu quem lhe devo aqui. ― e então ele roçou levemente os lábios contra as costas da mão dela.
E novamente, sem permissão alguma sentiu sua pressão abaixar e caiu entre os braços do homem que precisou levantar para segurá-la.
❥❥❥❥❥
Tudo o que não desmaiou em dezoito anos estava desmaiando no período de um dia. Ou talvez mais de um dia…? Não tinha mais noção alguma do tempo, lembrava-se apenas do céu azul escuro de mais cedo, mas aquilo queria dizer que estava de noite, ou simplesmente não havia essa divisão em Shangri La? Sentia sua cabeça doer como se tivesse passado anos dormindo, deitada naquela… Cama…?
Não estava mais sob a pedra, agora na verdade estava em uma cama confortável e grande. Os lençóis eram tão macios que não tinha vontade alguma de se levantar dali e nem mesmo se mexer, mas permitiu seu corpo se virar para o outro lado, encontrando um cenário que roubou seu ar.
Deu de cara com a varanda do último andar do Palácio. Estavam no ápice do pôr do sol, a paisagem dourada era completamente estonteante em conjunto com o pouco verde de uma árvore que subia pelos balaustres de madeira trabalhada que formavam o parapeito do local, e a decoração em panos de cetim jogados por cima de diversas estruturas de retângulos desde baixos até altos era linda.
Também haviam pétalas douradas que caiam do céu para completar todo o encanto da cena, principalmente porque ao centro dela estava ele. observava a chuva de pétalas que caía sobre o centro da cidade. Como queria estar com seu celular e tirar uma foto daquilo! Parecia uma pintura do mais talentoso artista que podia ter conhecimento na Terra.
Deixou-se continuar observando a cena por tanto tempo que não percebeu passar, mas quando o tom do céu mudava para o azul aos poucos, virou-se lentamente, chocando seu olhar com o da garota deitada. Ele sorriu de canto, as mãos juntas em suas costas, e então andou calmamente até a cama, sentando em sua ponta esquerda.
― Se sente melhor agora? Seu corpo devia estar cansado por conta da viagem dimensional. ― ele explicou, apesar de preocupado ainda controlado por saber os motivos daquela fraqueza.
― Eu estou bem, senhor. ― confirmou com o tom de voz ainda sonolento e os olhos meio fechadinhos.
― Senhor não. ― o tom de voz do homem por alguns segundos se tornou tão autoritário que a deixou chocada. ― Você ainda lembra meu nome, não é? ― ou talvez ela houvesse desmaiado antes de ouvi-lo…?
― Perdão, eu… ― a garota forçou a memória, tentando recordar de quando ele se apresentou para si, porém parecia haver um enorme rombo em sua memória que lhe impedia de lembrar.
― , esse é meu nome. Não me chame de outra forma, certo? ― voltou a suspirar após vê-la concordar com a cabeça, deixando suas costas baterem suavemente contra a cabeceira de madeira com pedras cravadas em toda sua extensão. ― Nós temos outra coisa a qual precisamos conversar.
― Sim…?
― Amanhã ao entardecer os magos irão chegar e você poderá voltar a sua rotina, mas preciso te pedir o favor de não falar sobre o que aconteceu. ― o homem mexeu levemente nos cabelos bem penteados, fechando os olhos pelo cansaço do dia. ― Mais pessoas buscando formas de encontrar à Shangri La podem afetar a harmonia da nossa rotina.
― Não se preocupe, ninguém acreditaria em mim mesmo se eu falasse. ― a garota acabou rindo um pouco ao pensar nisso. ― Mas eu não vou.
― Muito obrigado. ― abriu um daqueles sorrisos capaz de tirar o ar de qualquer um. ― Vou pedir para te trazerem algo para comer, por favor, espere aqui.
E então ele se levantou, abrindo a porta de folha dupla de madeira e saindo do quarto. Foi quando teve tempo de digerir tudo o que estava acontecendo consigo e aos poucos se convencia de que estava apenas sonhando. Não havia outra explicação senão que era um sonho louco inspirado por tantas lendas que estava vendo em suas aulas de artes, não é?
Era apenas um sonho muito real por conta de todo o cansaço acumulado pela semanas de provas e peso psicológico que estava lidando por conta da pressão, então estava dormindo tão profundamente para se desligar de tudo aquilo que seu cérebro resolvera lhe presentear com belas imagens e um belo amigo imaginário que era . Então, se estava sonhando, aproveitaria o sonho.
― Sabe o que eu percebi? Ainda não sei como devo te chamar. ― a voz do rei novamente soou no mesmo ambiente que si e levantou os olhos para analisá-lo sem pudor algum.
O colar que pegava de seu pescoço até seu peitoral carregava a capa que o homem arrastava em suas costas, e os braços definidos estavam expostos assim como parte do peitoral. As roupas de seda não escondiam com eficiência o físico que para a garota devia ser proveniente dos deuses, e as pernas longas eram as únicas características bem cobertas pela calça. O rei carregava uma pequena bandeja de frutas e duas taças de ouro em sua mão, deixando tudo em cima da mesa que ficava em um dos cantos do local.
― … Meu nome é .
― … A senhorita dormiu durante o dia inteiro, pretende fazer o que durante a noite? ― talvez o tom de voz do homem tenha sido muito insinuativo e ela fosse lerda. Ou talvez ele apenas tenha mascarado bem suas intenções atrás de um timbre cortês e a garota não entendeu o que ele queria dizer com aquilo.
― Me desculpe, eu não tive controle… Não sei o que posso fazer agora. Na verdade, eu nem sei onde eu estou. Que lugar é esse? ― finalmente começou a olhar para outros lados que não fossem a varanda, observando o teto alto abobadado com diversas decorações em sua extensão.
Por dentro, não parecia que a construção era constituída por um teto horizontal de arremate como flor de lótus subindo tão alto que era difícil de enxergar seu final. Ele aparentava ser arredondado, caindo em paredes cobertas por tecidos de cetim e de castiçais altos de ouro. Era tudo tão luxuoso e completamente fora de sua realidade…
― Você está no meu quarto. Nos aposentos do Rei. ― então deixou o sorriso de canto voltar a aparecer nas feições angelicais, pegando uma das duas taças e a guiando até sua boca. O conteúdo não era muito mais que o seu vinho favorito.
― S-Seus aposentos…?
― Sabe que… ― ele limpou a garganta da rouquidão, deixando o objeto em cima da mesa novamente e iniciando passos calmos na direção da cama. Ergueu o braço, passando lentamente os lábios pelo pulso e arrastando-os até passarem por sua mão, para eliminar qualquer gota da bebida que tenha ficado por ali. Chegou até a frente da cama onde estava parcialmente deitada, com as costas contra a cabeceira do móvel. ― Eu sempre fui curioso por sua raça… ― sua voz agora não passava de um sussurro, enquanto o homem com movimentos pausados subia na cama, engatinhando lentamente e encaixando seu corpo por cima do de .
Quando seus rostos ficaram frente a frente, ele apoiou-se apenas com uma mão e levou a outra até os cabelos que caiam na lateral do rosto feminino, os retirando dali e observando todos os seus traços. A era uma humana comum, assim como os que viviam em sua vila. Sua aparência não era nada fora de órbita como ela era, mas ao mesmo tempo era uma das coisas mais bonitas que havia visto. O fascínio que exercia não podia ser comparado a nenhum que sentira em toda sua vida e nem a algum que alguma mulher o despertara.
Era como um magnetismo. A atração pelo desconhecido, pelo diferente e por aquilo que sabia que não poderia ser seu no outro dia.
― M-minha raça…?
― Ssshh… ― levou o dedo indicador até os lábios macios da menina, ao mesmo tempo que os fitava concentradamente e sua outra mão abusadamente subia pela coxa desnuda da menor. ― Não esqueça qual nome chamar hoje a noite, . Não esqueça, porque eu vou fazê-la se lembrar dele pelo resto da sua vida, mesmo que o resto de sua vida seja em outra dimensão.
❥❥❥❥❥
Como seu corpo podia estar tão dolorido se era apenas um sonho? Tinha consciência do que fizera na noite anterior, mas sinceramente nunca pensou que poderia parecer tão real, nunca pensou que as sensações podiam ser tão intensas. Começara a acreditar que era mais um delírio do que um sonho, o que havia acontecido para estar assim tão fora de realidade?
suspirou, abrindo os olhos e sentindo seu corpo aninhado confortavelmente nos braços fortes de que lhe seguravam possessivamente. O sol já os iluminava sem nenhum pudor e sentiu seu rosto queimar em vergonha em ver suas roupas espalhadas por todo o quarto, além das do próprio Rei. Se aquilo fosse real ela provavelmente nem estaria respirando no momento…
Sentiu uma respiração mais pesada em seu pescoço, seguida de um beijo demorado que lhe arrancou um sorriso.
― … ― chamou baixinho, envergonhada pela carícia.
― Não fique assim, fizemos pior ontem a noite. ― o homem riu maldoso, apenas fazendo a situação da garota piorar e pôde perceber as orelhas dela se avermelhando também, o que apenas o incentivou a arrastar os lábios até seu lóbulo, passando levemente a língua por ali. ― Pelo menos você decorou bem meu nome.
― E-ei! ― girou o corpo dentro do abraço, acertando soquinhos no peitoral largo e definido de que riu ao não sentir nada mais além de cócegas. ― Você é terrível.
― E olha que você sabe o quanto… ― ele sussurrou em um tom maldoso cheio de segundas intenções, rindo mais ainda ao poder observar a expressão envergonhada dela. ― Sei que seria um prazer para você passar mais um dia na cama, principalmente se for comigo, mas planejei um passeio para nós hoje antes de sua partida. Você merece conhecer mais um pouco de Shangri La antes de ir,
― Aonde vamos?! ― a empolgação pareceu encher completamente a garota que se esqueceu até mesmo das dores.
― Para as florestas. Tome um banho e se vista no harém, vamos nos encontrar logo.
depositou um beijo demorado entre a raiz de seus fios antes de se levantar e afastar. obedeceu o que ele havia dito, ansiosa para ver logo as maravilhas que deviam existia naquela floresta. Se tudo naquele lugar era tão mais bonito do que na Terra, não conseguia segurar a expectativa de ver todas as paisagens que Shangri La poderia lhe oferecer.
Atravessou os jardim do Palácio e teve a primeira oportunidade de vê-lo por fora. Estava agora vestindo roupas típicas que lhe deixavam totalmente abobalhada, a seda em tom avermelhado era confortável tocando sua pele delicadamente a cada passo ou vestígio de vento que passeava pelo local proporcionava uma sensação de liberdade, mas sua atenção foi para a construção do Palácio.
Tudo era tão bem esculpido e maravilhosamente cuidado que teve de parar por alguns minutos para observar a paisagem por inteiro, querendo gravar tudo que o seu cérebro era capaz de criar. Se fosse uma boa pintora com certeza tentaria recriar aquele mundo em suas telas, pena que era horrorosa.
― Com a mais bela criação a sua espera, você perde tempo olhando para construções que não podem te tocar? ― ouviu a voz manhosa de logo ao pé de seu ouvido, aquele drama lhe arrancando risadas enquanto a mão do homem ousava segurar seus quadris discretamente.
― Não é perda de tempo, preciso apreciar tudo o que eu posso enquanto estou aqui. ― explicou também com um nuance infantil na voz, cruzando os braços a frente dos seios.
― Me aprecie, só eu que importo! ― ele passou um dos braços por seu pescoço para lhe trazer para mais perto.
― Já te apreciei, agora eu quero apreciar as paisagens! ― virou o pescoço para encarar , apenas para perceber que ele estava muito mais perto do que pensara.
― Você me usa e depois joga fora, é? ― o homem se ofendeu, apertando um pouco mais tanto a mão em sua cintura tanto o braço e fazendo seus corpos se chocarem. ― Tudo bem então, que a sua vontade seja feita.
― Quase isso. ― não pôde deixar de rir com todo o teatro de orgulho ferido de que lhe deixou livre de seus braços possessivos logo após terminar aquela frase.
Ele começou com passos lentos em direção aos fundos do jardim e o seguiu ainda rindo, agarrando em sua mão e o fazendo vacilar na expressão brava para um quase sorriso que quis sair. entrelaçou os dedos dela, a guiando para a passagem que ficava atrás de alguns arbustos. Entre algumas prensadas em árvores e espécies de animais as quais nunca havia visto, chegaram até a beirada do rio.
Fascinada era uma palavra muito leve para descrever tudo o que a garota estava sentindo com aquela experiência. Fingia que não sabia, mas haviam seguranças os seguindo durante todo o trajeto, porém estava mais concentrada em admirar as águas límpidas do rio corriam entre as pedras e árvores, a vegetação abundante em total harmonia com as decorações feitas pelas mãos de homens que encontravam em alguns pontos específicos.
gostava de explicar a história de tudo o que estava ali, o que era e o que significavam. Sempre após alguns passos ele apontava para alguma coisa no horizonte e contava a história de como ela foi parar ali, ou de sua criação. Agora, na beira do rio, ele parara para apontar para uma flor azul turquesa de pétalas pequenininhas que rodeavam o miolo amarelado.
― Ela se chama Forget Me Not e seu nome veio de uma lenda que falava sobre um casal que andava na beira de um rio. Ao encontrar uma bela flor, o rapaz desceu o barranco… ― ao dizer isso, soltou a mão da garota e então se afastou alguns passos, descendo com cuidado a pequena inclinação que levava até onde a flor estava e tirando uma de entre suas irmãs. ― Porém ele escorregou e acabou sendo arrastado pelo rio. ― contou enquanto voltava a se aproximar, fazendo o coração da menina palpitar.
― V-você! Tá querendo cair também?! ― deu um tapa no braço do maior, o olhando feio. Ele apenas riu, balançando a cabeça negativamente.
― As últimas palavras do rapaz foram “Não se esqueça de mim”. ― então, ele delicadamente levou uma das mãos até a orelha da garota, encaixando o pequeno caule da flor ali. ― … Não se esqueça de mim.
― Você fez questão de dizer ontem, . Eu não esqueceria nem tentando. ― tocou levemente o peitoral do rapaz, esbarrando no colar de safiras que ele usava no processo. Aproximava seu rosto do dele, já podia até mesmo sentir a respiração do rapaz batendo contra seus lábios e seus olhos se fechavam automaticamente quando ele mesmo lhe afastou, segurando em sua bochecha.
― Não vá… ― pediu em um sussurro, a fazendo novamente olhá-lo e ver como os olhos dele procuravam algum vestígio dessa vontade nos seus. ― Nós nunca dissemos que você precisava mesmo ir. Você pode ficar aqui comigo.
― …
― SENHOR! ― o grito fez com que os dois quebrassem o contato inconscientemente, mas as palavras do Rei ecoaram em seu cérebro de uma forma que a garota mal pode se mover.
― Sim?!
― Os magos chegaram mais cedo e já estão prontos para enviá-la de volta a Terra!
❥❥❥❥❥
Enquanto era levada até o templo do palácio, o único local onde os magos tinham permissão para exercer sua magia, principalmente em uma situação tão delicada quanto aquela. Apesar de estar andando livremente pelo palácio, os membros do exército e nobres que a viram no local não estavam aceitando tão calmamente assim sua presença, achando que se outros terráqueos conseguissem atravessar o espaço tempo poderia ser perigoso para Shangri La.
Com medo de que aquela tensão também se espalhasse pelas ruas do reino, ordenou que a presença da mulher fosse segredo e quem quebrasse o sigilo poderia ser punido com a morte. Por isso todo mundo agia normalmente como se nada estivesse acontecendo, andando para os fundos do palácio onde havia a saída em grandes portas e logo a frente o templo que entraram após atravessar um Torii vermelho.
Apesar de andar lado a lado com , estava com a mente ligada no automático, ainda rodando e rodando ao redor das palavras que o rapaz falara mais cedo. “Você não precisa ir se não quiser”. Essa opção realmente existia? Será que realmente não precisava ir se não quisesse? Mas será que não queria…?
― Você tem algum grande amor na Terra? ― um dos feiticeiros questionou, pegando uma pequena caixinha de madeira com fios de ouro talhados formando diversos símbolos.
― O-Oi…?
― Há apenas um jeito de te mandar de volta pra casa. ― o homem que cobria o rosto com uma máscara negra triangular disse, destrancando a caixinha apenas de colocar sua mão acima dela, então ele chamou com os dedos. ― A pérola, a “lágrima dos deuses”. Essa pedra tem o poder de guiar as pessoas até sua alma gêmea. Se você tem um grande amor na Terra, é bem provável que ela esteja lá, então a pedra te guiará até ele. Por isso eu pergunto, você tem um amor em seu mundo?
― Eu… ― voltou a ficar paralisada após subir os degraus que levavam até um pequeno púlpito no centro do local. Não queria responder isso com lhe olhando de perto, o que ele pensaria de si? Mesmo assim, seu coração pulsava ao se lembrar de , mesmo que sua mente estivesse tomada pelo Rei e suas provocações.
― Se você não sabe, sinceramente isso se torna um jogo de sorte. ― o homem pegou a pérola entre suas duas mãos e ela brilhou num tom avermelhado que incomodou sua visão. ― Pode ser que ele esteja aqui, pode ser que ele esteja lá. Mas saiba que onde você ficar, é onde você tem de estar.
― E o que eu tenho que fazer? ― algumas gotas de suor começavam a se formar em sua testa, a dúvida corroendo seu ser. Ao menos não teria de escolher, o destino escolheria para si.
― Engula a pérola. E aquele que estiver diante dos seus olhos quando você acordar, vai ser quem você irá passar a vida inteira ao lado. ― e então ele deixou a pedra em sua mão, esperando que cumprisse a ordem.
Antes que tivesse vontade de mais uma vez olhar para trás para , não pensou e levou a pérola até os lábios, a engolindo rapidamente e sentindo toda a força de seu corpo desaparecer em menos de um segundo. Tudo se tornou o mais profundo preto mesmo quando abriu seus olhos, a imensidão negra parecia ter engolido tudo…
Até que após algum tempo passar, o cenário começou a se preencher com as flores que caiam ao seu redor. Alguém começava a se aproximar de si, uma sombra borrada que aos poucos começava a tomar forma e fazia um sorriso tomar seus lábios de completa felicidade. Era ele, e se sentia plena e completa de vê-lo ali. Era com ele que passaria o resto de sua vida, e estava feliz com isso.
― Lavanda. ― a prima mais velha respondeu com um sorriso calmo, se agachando para pegar a pequenininha no colo e aproximá-la do vidro que impedia de tocar a flor. ― Você sabe a história da lavanda, ?
― N-Não, Unnie! Qual a história da lavanda? ― os olhos grandes e castanhos da criança brilharam intensamente ao ouvir a pergunta da adolescente, curiosa como sempre era e como toda criança havia de ser.
― Há muitos e muitos anos atrás, quando nós ainda não tínhamos nascido, existia uma moça chamada Lavanda. Lavanda se apaixonou por um belo jovem, e ela queria muito se confessar para ele, mas como era uma garota bastante tímida, ficou esperando o momento certo. Porém, o momento certo para Lavanda nunca chegava… Ela demorou dias, meses, anos. até que acabou virando uma flor. Uma flor tão bela quanto seu amor era, o amor que ela sempre guardou para si mesma e nunca expressou, ele se materializou nesta flor. Então, a mãe de Lavanda deu a flor ao amado dela pois sabia que a filha iria ficar feliz com isso. O rapaz plantou a flor e a fez se multiplicar, regando e cuidando com o amor que tinha pela garota, porque também amava a Lavanda, mas era muito tímido e sempre ficou à espera que ela lhe desse uma chance.
Não pôde resistir se não a olhar por cima do ombro de sua prima, observando-o no final do corredor, conversando com uma colega de trabalho gentilmente e animado como sempre fazia. Não suspirou mesmo que quisesse, perceberia se fizesse isso. Porém não era capaz de não pensar em quando contava aquela história, a única diferença é que ele não lhe amava de volta.
― Unnie… Isso é triste… ― fez um bico nos lábios quando terminou de ouvir a história, as sobrancelhas se juntando lentamente em uma expressão chateada. ― É como a sua história…
― A minha história…?
― Sim, a sua história com o Oppa! Mas você não virou flor ainda e ele sempre está no meio das flores… Ele está montando a sua casa? ― a criancinha começou a se desesperar ao pensar demais, seus olhinhos enchendo d’água. ― Unnie, você precisa se declarar! Eu não quero que você vire uma flor, quero você sempre sendo minha prima! ― agarrou o pescoço da mais velha que arregalou os olhos com aquela reação da criancinha.
― , , calma! ― levou uma das mãos até os cabelos da menina, fazendo um carinho delicado ali para que ela parasse de chorar. ― Está tudo bem, eu não sou uma personagem da história!
― M-Mas, Unnie…
― ! Você veio mesmo, estava preocupado se não ia conseguir por causa do colégio. ― a voz masculina fez com que a situação se acalmasse no momento, largando rapidamente a prima e olhando para frente, onde ele estava. ― E trouxe sua uma amiguinha, isso é ótimo!
― Eu disse que viria! ― um sorriso enorme tomou os lábios da ao vê-lo se aproximando, deixando a priminha novamente no chão e pegando em sua mão para ter certeza que ela não sairia correndo por ai. ― Consegui terminar tudo ontem, então tive algum tempo livre. é minha prima, e quando eu falei das flores ela ficou tão empolgada que eu não pude deixar de trazê-la.
― ah, você gosta de flores? ― se abaixou para conversar com a menininha. Não era novidade que ele era apaixonado por crianças, então apenas se deixou observar a cena com um pequeno sorriso.
― Siiim, eu amo! Mas eu não quero que a Unnie vire uma… ― a expressão da criança se fechou assim que disse isso, voltando a fixar os olhos no chão e fazendo toda a fofura que enxergava no momento desaparecer rapidamente.
― Por que a viraria uma flor?
― É-é só uma história que eu contei pra ela e ela ficou com isso na cabeça, não precisa se preocupar… ― o choque e o medo da prima acabar soltando a realidade encheram o coração da que interrompeu a conversa com as bochechas vermelhas.
― Ooh, eu adoro histórias! ― meu Deus, não… ― Mas infelizmente não posso ouvir agora. ― ÓTIMO! ― eu preciso voltar ao trabalho. Mas algum dia vou passar na casa da sua prima e ela vai me contar, certo? ― piscou um dos olhos na direção da menininha, pousando sua mão levemente em cima da cabeça dela.
― Certo! ― abriu um largo sorriso para o rapaz, assentindo com a cabeça também ao mesmo tempo que o via levantar.
― Antes… ― puxou sua própria mão que estava nas costas, mostrando a flor que segurava entre os dedos. ― Essa flor me faz pensar em você. ― ele se aproximou um passo, erguendo a mão e encaixando a flor entre os fios de cabelo e a orelha da menina. ― Ficou ótimo!
― …
― Até depois, .
Aquela flor era conhecida como rosa louca. Ela era graciosa e gentil, mas tinha algo que intrigava que sentada ao pé da pessegueira que ficava no jardim de sua casa. Segurava a flor entre seus dedos delicadamente, observando as pétalas e todas as linhas que as formavam. A rosa louca florescia toda manhã e murchava toda noite, isso podia ser relacionado consigo? Por que aquilo fazia pensar em si? Tinha alguma explicação ou estava só pensando demais sobre um gesto tão simples?
― A-Ai! ― alguma coisa caiu em sua cabeça enquanto estava tão compenetrada na flor, meio dura e que a fez latejar fortemente, rolando para o chão ao seu lado logo depois.
Um pêssego maduro, claro… Bufou com aquilo, um pouco irritada até pegar a fruta na mão e se preparar para jogá-la longe. Foi então que aos poucos o pêssego começou a mudar de cor, ficando prateado, assim como começou a pesar mais e a casca macia e aveludada ficou lisa e reluzente, fazendo arregalar mais os olhos a cada segundo.
A dimensão ao redor de si começou a mudar. A imagem da entrada da sua casa, os muros que a cercavam e até mesmo o chão debaixo de seus pés, tudo se distorceu de uma forma que a deixou completamente tonta, fazendo com que desmaiasse no processo. Acordou com os sentidos totalmente confusos, tudo o que via era dobrado e precisou de diversos minutos para conseguir retomar a normalidade.
Porém, mesmo assim esfregou as costas das mãos nos olhos, não acreditando no que estava vendo a sua frente. Estava deitada em uma grama verde fofinha e cercada de lavandas lilases que subiam por todo aquele pequeno jardim ao qual estava no meio e formavam um corredor, mas se embrenhavam subindo e subindo, com seus caules se mesclando até formarem uma espécie de árvore.
No meio dessa árvore e na ponta de duas lavandas que se encontravam, estava o pêssego que outrora repousava em sua mão. Prateado, ele brilhava em meio as flores e não pode controlar seu instinto de se levantar e querer pegá-lo. Foi aí que ouviu os barulhos de cascos de cavalo no chão e as vozes masculinas gritando, algo que se tornava cada vez mais próximo.
O choque de perceber que eles estavam gritando algo sobre si e vinham em sua direção com espadas fez com que perdesse novamente a consciência, as pernas perdendo a força para manter seu corpo em pé e a garota caindo novamente contra as flores antes de ser resgatada pelos desconhecidos.
O local que acordou era tão deslumbrante que ficou abismada e totalmente sem reação enquanto encarava toda atmosfera azulada que estava ao seu redor. Tons claros e escuros se misturavam naquele céu que era uma pintura divina, a lua tão próxima a si que era assustadoramente impressionante.
Enquanto erguia seu tronco, suas mãos se apoiavam aonde estava deitada, a superfície um tanto irregular também chamou a sua atenção e lhe fez olhar para baixo, dando de cara com uma enorme pedra em vermelho vinho trabalhada pela natureza seja em sua mancha esbranquiçada na parte de cima ou os relevos em sua extensão.
― Senhor, ela acordou!
Um grito masculino que anunciava afastado de si ecoou e fez sua cabeça latejar com o barulho que a pegou desprevenida. Mas não tão desprevenida quanto alguns segundos depois disso um homem começou a se materializar em sua frente, andando de uma forma tão leve e elegante que parecia flutuar pela água…
A pedra onde estava sentada estava sob uma camada fina de água que refletia o azul do céu e a fez ficar completamente arrepiada com a paisagem. O que era aquele lugar? Quem era aquele homem? Aquilo era mesmo real ou estava em um sonho ou algum tipo de delírio? O pêssego tinha batido assim tão forte em sua cabeça?
― Você deve estar assustada, é completamente compreensível. ― ergueu o olhar para o rosto do homem, vendo como ele lhe olhava de cima em uma postura altiva e com uma beleza ímpar que a deixou completamente fascinada, apenas observando seus lábios cheios e rosados se moverem formando as sílabas. ― Nós também estamos confusos, não sabemos o que aconteceu para que você viesse parar aqui.
― Onde eu estou…? ― se atreveu a questionar, passando a mão levemente pelos cabelos para tirar os fios do rosto e jogá-los para trás.
― Você está em Shangri La, o meu reino. ― ele apresentou com um pequeno sorriso de canto de lábios, evidenciando seu orgulho e felicidade em citar essas palavras.
― Shangri La…?
conhecia e estudara sobre a obra de James Hilton, Lost Horizon, que descrevia um paradisíaco situado nas montanhas do Himalaia, sede de panoramas maravilhosos e onde o tempo parece deter-se em ambiente de felicidade e saúde, com a convivência harmoniosa entre pessoas das mais diversas procedências. Mas como diabos aquilo tinha haver com tudo o que estava acontecendo?
― Ah, vocês cidadãos da Terra conhecem uma história sobre Shangri La, não é? Ela é em partes verdadeira, mas o Shangri La na realidade não é muito mais que uma dimensão paralela a de vocês. ― ele ergueu uma das mãos em direção a toda aquela imensidão azul estava em sua frente, fazendo uma espécie de projeção começar ali. Todo o cenário mudou de azul para vermelho e preto, escurecendo tudo o que estava a sua frente como uma lua de sangue.
praticamente sentiu seus sentidos se perderem de novo, mas seguiu firme fechando seus punhos e buscando forças para não se admirar demais. Haviam dois planetas em uma espécie de sala de paredes brancas e piso vinho que giravam e giravam incansavelmente em sua própria órbita, sendo um consideravelmente menor do que o outro e nuances de cinza e preto, enquanto o maior era pintado em tons de roxo, bege, vermelho e laranja mesclados de uma forma exuberante.
― Imagine que a Terra é o planeta maior e Shangri La é o menor. Caminhamos lado a lado em harmonia, coexistimos e dividimos de um mundo maior do que conseguimos mentalizar, porém em linhas paralelas. ― o homem explicou calmamente, vendo toda a admiração dela em observar a ilustração.
― Mas se estamos em linhas paralelas, como eu vim parar aqui? ― e como voltaria para sua casa? A mente de começou a rodar com essa insegurança.
― Isso… Foi um erro de percurso… ― o homem ofereceu um sorriso nervoso ao pensar na situação. ― Eu tenho um irmão, preso na eternidade. Ele infelizmente não é uma pessoa confiável, então tive que tomar decisões drásticas.
Ele suspirou desanimado, andando alguns passos com a capa de seda se arrastando atrás de si e atravessando a imagem dos planetas que continuou intacta. Não se importando se caminhar por ali fosse molhar sua roupa, o Rei se abaixou e moveu sua mão sob a água, afundando levemente seus dedos entre as pétalas rosas e então uma nova espécie de dimensão se formou, como um portal para que visse algo dentro de um círculo na água.
― Ele está preso nesse lugar, mas não aceita isso. Eu não sabia que ele carregava o pêssego com ele. ― uma respiração pesada escapou de seus lábios, sinalizando seu descontentamento, enquanto analisava a imagem atentamente. Um garoto que não parecia ter muito mais da sua idade sentado em uma espécie de janela sem vidros redonda em uma parede, onde podia ver o céu. Em sua frente, uma árvore de galhos brancos e secos, com um pavão pousado nelas, sua única companhia. Ele segurava algo em suas mãos, algo que escorregava entre seus dedos e caia no infinito.
― Onde ele está, é acima da Terra e de Shangri La. Quando ele jogou o pêssego, que para nós é sagrado capaz de atravessar qualquer obstáculo em seu caminho, ele abriu uma fenda no espaço tempo e essa fenda permitiu que a pessoa a qual tocou no objeto mágico viajasse entre as duas dimensões. Ele as juntou por segundos. ― apontou novamente para os planetas que em uma fração de segundo começaram a se movimentar em direção um ao outro, colidindo e se misturando em um só, o que acabou com toda a sala ao seu redor e a tornou um céu obscurecido.
estava completamente aterrorizada e encantada com tudo o que via acontecer ao seu redor. Os planetas, o garoto em outra dimensão e o homem em sua frente, tudo isso fazia seu cérebro entrar em estado de choque e não querer funcionar direito. Ela não conseguia formar frase alguma que explicasse tudo o que estava sentindo naquele momento.
― Eu sei que isso deve ser uma coisa difícil de digerir, mas você não precisa se preocupar. ― o Rei se levantou, e quando ele fez isso tudo desapareceu, fazendo com que o ambiente voltasse ao tom de azul inicial. Se aproximou alguns passos da pedra a qual ainda estava sentada, segurando sua mão delicadamente. ― Eu já chamei os magos para levá-la de volta a sua casa. Porém eles apenas irão chegar amanhã, peço desculpas pelo inconveniente que causei em atrapalhar sua rotina.
― T-tudo bem, a culpa não foi sua… ― agora além de atônita estava completamente abobalhada com o homem segurando sua mão daquela forma e se aproximando de um jeito que seus rostos estavam perigosamente próximos. ― Não é você quem deve se desculpar comigo.
Podia observar com propriedade aqueles traços delicados e perfeitos, além de sua pele que parecia ser de puro veludo. Os lábios esculpidos e o formato dos olhos angulados com um brilho incomum, tudo naquele homem não parecia ser real, principalmente quando ele abriu um sorriso que praticamente a deixou cega.
― Me desculpe, eu não me apresentei formalmente, fiquei distraído com a situação. ― então ainda segurando sua mão, ele ajoelhou em meio a água e de frente para a pedra, abaixando a cabeça. ― Sou , o Rei de Shangri La. Mesmo com meu posto, por favor não se sinta acanhada. Sou eu quem lhe devo aqui. ― e então ele roçou levemente os lábios contra as costas da mão dela.
E novamente, sem permissão alguma sentiu sua pressão abaixar e caiu entre os braços do homem que precisou levantar para segurá-la.
Tudo o que não desmaiou em dezoito anos estava desmaiando no período de um dia. Ou talvez mais de um dia…? Não tinha mais noção alguma do tempo, lembrava-se apenas do céu azul escuro de mais cedo, mas aquilo queria dizer que estava de noite, ou simplesmente não havia essa divisão em Shangri La? Sentia sua cabeça doer como se tivesse passado anos dormindo, deitada naquela… Cama…?
Não estava mais sob a pedra, agora na verdade estava em uma cama confortável e grande. Os lençóis eram tão macios que não tinha vontade alguma de se levantar dali e nem mesmo se mexer, mas permitiu seu corpo se virar para o outro lado, encontrando um cenário que roubou seu ar.
Deu de cara com a varanda do último andar do Palácio. Estavam no ápice do pôr do sol, a paisagem dourada era completamente estonteante em conjunto com o pouco verde de uma árvore que subia pelos balaustres de madeira trabalhada que formavam o parapeito do local, e a decoração em panos de cetim jogados por cima de diversas estruturas de retângulos desde baixos até altos era linda.
Também haviam pétalas douradas que caiam do céu para completar todo o encanto da cena, principalmente porque ao centro dela estava ele. observava a chuva de pétalas que caía sobre o centro da cidade. Como queria estar com seu celular e tirar uma foto daquilo! Parecia uma pintura do mais talentoso artista que podia ter conhecimento na Terra.
Deixou-se continuar observando a cena por tanto tempo que não percebeu passar, mas quando o tom do céu mudava para o azul aos poucos, virou-se lentamente, chocando seu olhar com o da garota deitada. Ele sorriu de canto, as mãos juntas em suas costas, e então andou calmamente até a cama, sentando em sua ponta esquerda.
― Se sente melhor agora? Seu corpo devia estar cansado por conta da viagem dimensional. ― ele explicou, apesar de preocupado ainda controlado por saber os motivos daquela fraqueza.
― Eu estou bem, senhor. ― confirmou com o tom de voz ainda sonolento e os olhos meio fechadinhos.
― Senhor não. ― o tom de voz do homem por alguns segundos se tornou tão autoritário que a deixou chocada. ― Você ainda lembra meu nome, não é? ― ou talvez ela houvesse desmaiado antes de ouvi-lo…?
― Perdão, eu… ― a garota forçou a memória, tentando recordar de quando ele se apresentou para si, porém parecia haver um enorme rombo em sua memória que lhe impedia de lembrar.
― , esse é meu nome. Não me chame de outra forma, certo? ― voltou a suspirar após vê-la concordar com a cabeça, deixando suas costas baterem suavemente contra a cabeceira de madeira com pedras cravadas em toda sua extensão. ― Nós temos outra coisa a qual precisamos conversar.
― Sim…?
― Amanhã ao entardecer os magos irão chegar e você poderá voltar a sua rotina, mas preciso te pedir o favor de não falar sobre o que aconteceu. ― o homem mexeu levemente nos cabelos bem penteados, fechando os olhos pelo cansaço do dia. ― Mais pessoas buscando formas de encontrar à Shangri La podem afetar a harmonia da nossa rotina.
― Não se preocupe, ninguém acreditaria em mim mesmo se eu falasse. ― a garota acabou rindo um pouco ao pensar nisso. ― Mas eu não vou.
― Muito obrigado. ― abriu um daqueles sorrisos capaz de tirar o ar de qualquer um. ― Vou pedir para te trazerem algo para comer, por favor, espere aqui.
E então ele se levantou, abrindo a porta de folha dupla de madeira e saindo do quarto. Foi quando teve tempo de digerir tudo o que estava acontecendo consigo e aos poucos se convencia de que estava apenas sonhando. Não havia outra explicação senão que era um sonho louco inspirado por tantas lendas que estava vendo em suas aulas de artes, não é?
Era apenas um sonho muito real por conta de todo o cansaço acumulado pela semanas de provas e peso psicológico que estava lidando por conta da pressão, então estava dormindo tão profundamente para se desligar de tudo aquilo que seu cérebro resolvera lhe presentear com belas imagens e um belo amigo imaginário que era . Então, se estava sonhando, aproveitaria o sonho.
― Sabe o que eu percebi? Ainda não sei como devo te chamar. ― a voz do rei novamente soou no mesmo ambiente que si e levantou os olhos para analisá-lo sem pudor algum.
O colar que pegava de seu pescoço até seu peitoral carregava a capa que o homem arrastava em suas costas, e os braços definidos estavam expostos assim como parte do peitoral. As roupas de seda não escondiam com eficiência o físico que para a garota devia ser proveniente dos deuses, e as pernas longas eram as únicas características bem cobertas pela calça. O rei carregava uma pequena bandeja de frutas e duas taças de ouro em sua mão, deixando tudo em cima da mesa que ficava em um dos cantos do local.
― … Meu nome é .
― … A senhorita dormiu durante o dia inteiro, pretende fazer o que durante a noite? ― talvez o tom de voz do homem tenha sido muito insinuativo e ela fosse lerda. Ou talvez ele apenas tenha mascarado bem suas intenções atrás de um timbre cortês e a garota não entendeu o que ele queria dizer com aquilo.
― Me desculpe, eu não tive controle… Não sei o que posso fazer agora. Na verdade, eu nem sei onde eu estou. Que lugar é esse? ― finalmente começou a olhar para outros lados que não fossem a varanda, observando o teto alto abobadado com diversas decorações em sua extensão.
Por dentro, não parecia que a construção era constituída por um teto horizontal de arremate como flor de lótus subindo tão alto que era difícil de enxergar seu final. Ele aparentava ser arredondado, caindo em paredes cobertas por tecidos de cetim e de castiçais altos de ouro. Era tudo tão luxuoso e completamente fora de sua realidade…
― Você está no meu quarto. Nos aposentos do Rei. ― então deixou o sorriso de canto voltar a aparecer nas feições angelicais, pegando uma das duas taças e a guiando até sua boca. O conteúdo não era muito mais que o seu vinho favorito.
― S-Seus aposentos…?
― Sabe que… ― ele limpou a garganta da rouquidão, deixando o objeto em cima da mesa novamente e iniciando passos calmos na direção da cama. Ergueu o braço, passando lentamente os lábios pelo pulso e arrastando-os até passarem por sua mão, para eliminar qualquer gota da bebida que tenha ficado por ali. Chegou até a frente da cama onde estava parcialmente deitada, com as costas contra a cabeceira do móvel. ― Eu sempre fui curioso por sua raça… ― sua voz agora não passava de um sussurro, enquanto o homem com movimentos pausados subia na cama, engatinhando lentamente e encaixando seu corpo por cima do de .
Quando seus rostos ficaram frente a frente, ele apoiou-se apenas com uma mão e levou a outra até os cabelos que caiam na lateral do rosto feminino, os retirando dali e observando todos os seus traços. A era uma humana comum, assim como os que viviam em sua vila. Sua aparência não era nada fora de órbita como ela era, mas ao mesmo tempo era uma das coisas mais bonitas que havia visto. O fascínio que exercia não podia ser comparado a nenhum que sentira em toda sua vida e nem a algum que alguma mulher o despertara.
Era como um magnetismo. A atração pelo desconhecido, pelo diferente e por aquilo que sabia que não poderia ser seu no outro dia.
― M-minha raça…?
― Ssshh… ― levou o dedo indicador até os lábios macios da menina, ao mesmo tempo que os fitava concentradamente e sua outra mão abusadamente subia pela coxa desnuda da menor. ― Não esqueça qual nome chamar hoje a noite, . Não esqueça, porque eu vou fazê-la se lembrar dele pelo resto da sua vida, mesmo que o resto de sua vida seja em outra dimensão.
Como seu corpo podia estar tão dolorido se era apenas um sonho? Tinha consciência do que fizera na noite anterior, mas sinceramente nunca pensou que poderia parecer tão real, nunca pensou que as sensações podiam ser tão intensas. Começara a acreditar que era mais um delírio do que um sonho, o que havia acontecido para estar assim tão fora de realidade?
suspirou, abrindo os olhos e sentindo seu corpo aninhado confortavelmente nos braços fortes de que lhe seguravam possessivamente. O sol já os iluminava sem nenhum pudor e sentiu seu rosto queimar em vergonha em ver suas roupas espalhadas por todo o quarto, além das do próprio Rei. Se aquilo fosse real ela provavelmente nem estaria respirando no momento…
Sentiu uma respiração mais pesada em seu pescoço, seguida de um beijo demorado que lhe arrancou um sorriso.
― … ― chamou baixinho, envergonhada pela carícia.
― Não fique assim, fizemos pior ontem a noite. ― o homem riu maldoso, apenas fazendo a situação da garota piorar e pôde perceber as orelhas dela se avermelhando também, o que apenas o incentivou a arrastar os lábios até seu lóbulo, passando levemente a língua por ali. ― Pelo menos você decorou bem meu nome.
― E-ei! ― girou o corpo dentro do abraço, acertando soquinhos no peitoral largo e definido de que riu ao não sentir nada mais além de cócegas. ― Você é terrível.
― E olha que você sabe o quanto… ― ele sussurrou em um tom maldoso cheio de segundas intenções, rindo mais ainda ao poder observar a expressão envergonhada dela. ― Sei que seria um prazer para você passar mais um dia na cama, principalmente se for comigo, mas planejei um passeio para nós hoje antes de sua partida. Você merece conhecer mais um pouco de Shangri La antes de ir,
― Aonde vamos?! ― a empolgação pareceu encher completamente a garota que se esqueceu até mesmo das dores.
― Para as florestas. Tome um banho e se vista no harém, vamos nos encontrar logo.
depositou um beijo demorado entre a raiz de seus fios antes de se levantar e afastar. obedeceu o que ele havia dito, ansiosa para ver logo as maravilhas que deviam existia naquela floresta. Se tudo naquele lugar era tão mais bonito do que na Terra, não conseguia segurar a expectativa de ver todas as paisagens que Shangri La poderia lhe oferecer.
Atravessou os jardim do Palácio e teve a primeira oportunidade de vê-lo por fora. Estava agora vestindo roupas típicas que lhe deixavam totalmente abobalhada, a seda em tom avermelhado era confortável tocando sua pele delicadamente a cada passo ou vestígio de vento que passeava pelo local proporcionava uma sensação de liberdade, mas sua atenção foi para a construção do Palácio.
Tudo era tão bem esculpido e maravilhosamente cuidado que teve de parar por alguns minutos para observar a paisagem por inteiro, querendo gravar tudo que o seu cérebro era capaz de criar. Se fosse uma boa pintora com certeza tentaria recriar aquele mundo em suas telas, pena que era horrorosa.
― Com a mais bela criação a sua espera, você perde tempo olhando para construções que não podem te tocar? ― ouviu a voz manhosa de logo ao pé de seu ouvido, aquele drama lhe arrancando risadas enquanto a mão do homem ousava segurar seus quadris discretamente.
― Não é perda de tempo, preciso apreciar tudo o que eu posso enquanto estou aqui. ― explicou também com um nuance infantil na voz, cruzando os braços a frente dos seios.
― Me aprecie, só eu que importo! ― ele passou um dos braços por seu pescoço para lhe trazer para mais perto.
― Já te apreciei, agora eu quero apreciar as paisagens! ― virou o pescoço para encarar , apenas para perceber que ele estava muito mais perto do que pensara.
― Você me usa e depois joga fora, é? ― o homem se ofendeu, apertando um pouco mais tanto a mão em sua cintura tanto o braço e fazendo seus corpos se chocarem. ― Tudo bem então, que a sua vontade seja feita.
― Quase isso. ― não pôde deixar de rir com todo o teatro de orgulho ferido de que lhe deixou livre de seus braços possessivos logo após terminar aquela frase.
Ele começou com passos lentos em direção aos fundos do jardim e o seguiu ainda rindo, agarrando em sua mão e o fazendo vacilar na expressão brava para um quase sorriso que quis sair. entrelaçou os dedos dela, a guiando para a passagem que ficava atrás de alguns arbustos. Entre algumas prensadas em árvores e espécies de animais as quais nunca havia visto, chegaram até a beirada do rio.
Fascinada era uma palavra muito leve para descrever tudo o que a garota estava sentindo com aquela experiência. Fingia que não sabia, mas haviam seguranças os seguindo durante todo o trajeto, porém estava mais concentrada em admirar as águas límpidas do rio corriam entre as pedras e árvores, a vegetação abundante em total harmonia com as decorações feitas pelas mãos de homens que encontravam em alguns pontos específicos.
gostava de explicar a história de tudo o que estava ali, o que era e o que significavam. Sempre após alguns passos ele apontava para alguma coisa no horizonte e contava a história de como ela foi parar ali, ou de sua criação. Agora, na beira do rio, ele parara para apontar para uma flor azul turquesa de pétalas pequenininhas que rodeavam o miolo amarelado.
― Ela se chama Forget Me Not e seu nome veio de uma lenda que falava sobre um casal que andava na beira de um rio. Ao encontrar uma bela flor, o rapaz desceu o barranco… ― ao dizer isso, soltou a mão da garota e então se afastou alguns passos, descendo com cuidado a pequena inclinação que levava até onde a flor estava e tirando uma de entre suas irmãs. ― Porém ele escorregou e acabou sendo arrastado pelo rio. ― contou enquanto voltava a se aproximar, fazendo o coração da menina palpitar.
― V-você! Tá querendo cair também?! ― deu um tapa no braço do maior, o olhando feio. Ele apenas riu, balançando a cabeça negativamente.
― As últimas palavras do rapaz foram “Não se esqueça de mim”. ― então, ele delicadamente levou uma das mãos até a orelha da garota, encaixando o pequeno caule da flor ali. ― … Não se esqueça de mim.
― Você fez questão de dizer ontem, . Eu não esqueceria nem tentando. ― tocou levemente o peitoral do rapaz, esbarrando no colar de safiras que ele usava no processo. Aproximava seu rosto do dele, já podia até mesmo sentir a respiração do rapaz batendo contra seus lábios e seus olhos se fechavam automaticamente quando ele mesmo lhe afastou, segurando em sua bochecha.
― Não vá… ― pediu em um sussurro, a fazendo novamente olhá-lo e ver como os olhos dele procuravam algum vestígio dessa vontade nos seus. ― Nós nunca dissemos que você precisava mesmo ir. Você pode ficar aqui comigo.
― …
― SENHOR! ― o grito fez com que os dois quebrassem o contato inconscientemente, mas as palavras do Rei ecoaram em seu cérebro de uma forma que a garota mal pode se mover.
― Sim?!
― Os magos chegaram mais cedo e já estão prontos para enviá-la de volta a Terra!
Enquanto era levada até o templo do palácio, o único local onde os magos tinham permissão para exercer sua magia, principalmente em uma situação tão delicada quanto aquela. Apesar de estar andando livremente pelo palácio, os membros do exército e nobres que a viram no local não estavam aceitando tão calmamente assim sua presença, achando que se outros terráqueos conseguissem atravessar o espaço tempo poderia ser perigoso para Shangri La.
Com medo de que aquela tensão também se espalhasse pelas ruas do reino, ordenou que a presença da mulher fosse segredo e quem quebrasse o sigilo poderia ser punido com a morte. Por isso todo mundo agia normalmente como se nada estivesse acontecendo, andando para os fundos do palácio onde havia a saída em grandes portas e logo a frente o templo que entraram após atravessar um Torii vermelho.
Apesar de andar lado a lado com , estava com a mente ligada no automático, ainda rodando e rodando ao redor das palavras que o rapaz falara mais cedo. “Você não precisa ir se não quiser”. Essa opção realmente existia? Será que realmente não precisava ir se não quisesse? Mas será que não queria…?
― Você tem algum grande amor na Terra? ― um dos feiticeiros questionou, pegando uma pequena caixinha de madeira com fios de ouro talhados formando diversos símbolos.
― O-Oi…?
― Há apenas um jeito de te mandar de volta pra casa. ― o homem que cobria o rosto com uma máscara negra triangular disse, destrancando a caixinha apenas de colocar sua mão acima dela, então ele chamou com os dedos. ― A pérola, a “lágrima dos deuses”. Essa pedra tem o poder de guiar as pessoas até sua alma gêmea. Se você tem um grande amor na Terra, é bem provável que ela esteja lá, então a pedra te guiará até ele. Por isso eu pergunto, você tem um amor em seu mundo?
― Eu… ― voltou a ficar paralisada após subir os degraus que levavam até um pequeno púlpito no centro do local. Não queria responder isso com lhe olhando de perto, o que ele pensaria de si? Mesmo assim, seu coração pulsava ao se lembrar de , mesmo que sua mente estivesse tomada pelo Rei e suas provocações.
― Se você não sabe, sinceramente isso se torna um jogo de sorte. ― o homem pegou a pérola entre suas duas mãos e ela brilhou num tom avermelhado que incomodou sua visão. ― Pode ser que ele esteja aqui, pode ser que ele esteja lá. Mas saiba que onde você ficar, é onde você tem de estar.
― E o que eu tenho que fazer? ― algumas gotas de suor começavam a se formar em sua testa, a dúvida corroendo seu ser. Ao menos não teria de escolher, o destino escolheria para si.
― Engula a pérola. E aquele que estiver diante dos seus olhos quando você acordar, vai ser quem você irá passar a vida inteira ao lado. ― e então ele deixou a pedra em sua mão, esperando que cumprisse a ordem.
Antes que tivesse vontade de mais uma vez olhar para trás para , não pensou e levou a pérola até os lábios, a engolindo rapidamente e sentindo toda a força de seu corpo desaparecer em menos de um segundo. Tudo se tornou o mais profundo preto mesmo quando abriu seus olhos, a imensidão negra parecia ter engolido tudo…
Até que após algum tempo passar, o cenário começou a se preencher com as flores que caiam ao seu redor. Alguém começava a se aproximar de si, uma sombra borrada que aos poucos começava a tomar forma e fazia um sorriso tomar seus lábios de completa felicidade. Era ele, e se sentia plena e completa de vê-lo ali. Era com ele que passaria o resto de sua vida, e estava feliz com isso.
Fim.
Nota da autora: ME DESCULPEM PELO FINAL ABERTO, mas eu tenho que admitir: eu não sei qual dos dois escolher! Eu fiquei tão em dúvida no final que eu não consegui decidir de jeito nenhum @_@ Qual vocês escolheriam? Eu tenho a leve impressão de que é o Reizinho AUHAUHAUH
Então, eu preciso dar os créditos, boa parte do que está escrito aqui é teoria que a fanbase ALL FOR VIXX fez durante os teasers do comeback de Shangri La do VIXX, se você gosta de VIXX, sigam eles que eles são muito amorzinho e me autorizaram a usar a teoria deles ♥ Algumas partes também são só licença literal porque precisei depois de estar muito cansada de pesquisa de campo AUHAUHAUHA e outras foram caçando nos confins do google mesmo!
Pra quem não gosta de finais abertos, tem um jeitinho de saber com qual pp a pp ficou no final! Na teoria do MV, o pp2, que eu usei de base o Hongbin é representado pela pedra preociosa safira e o pp1, que eu usei o N, é representado pela pérola, então quando ela engole a pérola significa que a alma gêmea dela é o N, porque é aquilo que entra dentro dela. Mesmo que a gente saiba que o outro pp também entrou AUHAUHAUHA COF COF, oi, então, eu espero que você tenha gostado e se sim, por favor me deixe saber ai embaixo nos comentários! Obrigada por ter lido até aqui ♥
Se quiser falar comigo, é só me procurar no Twitter! E tem o twitter dos fofíssimos da ALL FOR VIXX também!
E caso tenha gostado e queira ler alguma outra coisa minha, eu estou com uma long fic em andamento sobre romance e distopia, originalmente escrita com o Monsta X!
Outras Fanfics:
Trespass
MV: Gashina
Don’t Wanna Cry
Hyde
Please Don’t…
Trauma
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Então, eu preciso dar os créditos, boa parte do que está escrito aqui é teoria que a fanbase ALL FOR VIXX fez durante os teasers do comeback de Shangri La do VIXX, se você gosta de VIXX, sigam eles que eles são muito amorzinho e me autorizaram a usar a teoria deles ♥ Algumas partes também são só licença literal porque precisei depois de estar muito cansada de pesquisa de campo AUHAUHAUHA e outras foram caçando nos confins do google mesmo!
Pra quem não gosta de finais abertos, tem um jeitinho de saber com qual pp a pp ficou no final! Na teoria do MV, o pp2, que eu usei de base o Hongbin é representado pela pedra preociosa safira e o pp1, que eu usei o N, é representado pela pérola, então quando ela engole a pérola significa que a alma gêmea dela é o N, porque é aquilo que entra dentro dela. Mesmo que a gente saiba que o outro pp também entrou AUHAUHAUHA COF COF, oi, então, eu espero que você tenha gostado e se sim, por favor me deixe saber ai embaixo nos comentários! Obrigada por ter lido até aqui ♥
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E caso tenha gostado e queira ler alguma outra coisa minha, eu estou com uma long fic em andamento sobre romance e distopia, originalmente escrita com o Monsta X!
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