01. We Rock

Última atualização: 23/12/2020

Capítulo Único

Não podia acreditar que Leroy tinha feito isso comigo e me feito trabalhar justo no dia da minha folga. Pior que isso, sabendo que minha ex banda iria tocar no bar essa noite. Minha única esperança era fazer tudo o mais depressa que eu conseguisse e antes que eles me vissem eu poderia dizer a Leroy que estava com dor de cabeça e precisava sair mais cedo. Era meu melhor plano até o momento, eu já não usava essa desculpa há muito tempo.
Já não via os membros da Danger’s Of Night, apelidada de DON, há três meses, quando ficou bravo por ser contrariado e me expulsou da banda. Obviamente eu terminei com ele por isso, mesmo não querendo, mas não voltar atrás agora, mesmo que eu quisesse muito. Não estávamos namorando de verdade, foi um grande mal-entendido. Em todo caso ele não era alguém fácil de lidar.
A banda até popular por perto de onde a gente morava, e tinha uma página no Instagram que estava em constantes atualizações. Apenas por esse motivo eu sabia que tinham uma vocalista nova, Frankie Moslan, e não estava preparada para assistir ao vivo e a cores uma pessoa no meu lugar. Muito menos preparada para encontrar o babaca do de novo.
Olha, eu podia explicar meu crush por ele. Era tão óbvio. era guitarrista. Não era sarado, mas tinha os músculos nos lugares certos e um belo par de nádegas. Não que eu gostasse de ficar olhando – ok, talvez um pouco – mas realmente não dava para ignorar. Tinha aquele estilo rockeiro meio gótico, então usava calças pretas apertadinhas com uma certa constância, tinha um piercing em seu lábio e em sua sobrancelha que dava a ele um ar muito sexy e eu precisava parar de pensar no idiota do antes que fizesse uma besteira.
Enquanto limpava as mesas do bar, vinte minutos antes da abertura, escutei vozes vindas de trás do palco e imediatamente reconheci Charles e Luke, baterista e baixista respectivamente, e precisei me segurar para não ir até eles. Sentia falta dos meninos, mas eu não sabia se estava por ali e eu realmente não queria vê-lo.
— Preciso que vá aos fundos ajudar a banda. – Disse Leroy, crespo, vindo em minha direção. Ele por acaso tinha lido minha mente e entendido tudo errado?
— Outra pessoa não pode fazer isso? Dani, Leo? – Questionei, arregalando os olhos.
Leroy suspirou, parecendo entender.
— Desculpa, garota, só sobrou você.
Revirei os olhos para o meu chefe, derrotada.
— O que eu preciso fazer?
— Ajustar o som, arrumar os instrumentos e veja do que mais eles estão precisando. – Leroy bufou. – Leo não chegou ainda, preciso que veja isso.
Concordei com Leroy, mesmo não querendo, dando adeus ao único bom plano que eu tinha para ir embora mais cedo e evitar a DON. Eu não sabia mexer nos equipamentos como Leo, mas ele tinha me preparado o mínimo para quando acontecesse algo do tipo. Só não sabia que iria acontecer isso justamente no dia da única banda que eu não queria ver se apresentar.
A vida, meus amigos, ela me odeia.
Depois que terminei de limpar as mesas e o bar abriu, fui para os fundos procurar os meninos. Para o meu azar, ou sorte dependendo do ponto de vista, as costas de foi a primeira coisa que encontrei. Fiquei encarando suas costas de um jeito totalmente impróprio, provavelmente mais tempo do que deveria, até perceber sobre o que estava. Aliás, sobre quem.
— Ai meu Deus. – Murmurei, olhando para o outro lado, sentindo minhas bochechas arderem. Sério, , sério que você já conseguiu comer alguém aqui?
Não conferi se eles realmente estavam fazendo mais do que o permitido pela lei de atentado ao pudor, e nem queria, mas Bea, a garçonete, saiu de trás dele bem rápido, tão constrangida quanto eu.
. – Disse em um tom de voz tão devastador que fez minha calcinha se arrastar para o lado por conta própria.
Não que ele fosse saber disso.
. – Cumprimentei, com toda a dignidade que me restava. – O que pensa que está fazendo?
Ele sorriu, colocando um cigarro entre os dentes.
— Gostou de assistir? – Murmurou. – Eu sabia que você curtia essas paradas.
Olhei para ele incrédula.
— Você está louco. – Gritei, indo procurar os outros membros da banda. – Louco!
Saí batendo o pé, indo em direção as risadas de Charles e Luke, que não estavam infringindo nenhuma lei ao que parecia, então foi seguro me aproximar deles. Estavam em um camarim rudimentar, que na verdade era a sala que Leroy usava para descansar entre os turnos e acabou liberando para os músicos em dia de show.
! – Gritou Charles, erguendo suas baquetas e vindo ao meu encontro. Me redopiou no ar umas três vezes antes de me soltar, tonta, me jogando diretamente nos braços de Luke, que me recebeu com um passo de valsa, quase me derrubando no chão.
— Senti saudades de vocês! – Falei, rindo.
Luke me colocou em pé de novo, jogando a franja loira para o lado.
— Se não fosse aquele grande idiota... – Começou Charles, arregalando seus lindos olhos azuis.
— O que tem eu? – Perguntou , pegando sua guitarra que estava no canto da sala. – Onde está Frankie?
Charles e Luke se entreolharam.
— Ah, bom, eu ainda não a vi. – Respondeu Charles.
— E você não vai ajudar? – Perguntou, olhando para mim. – O velho disse que você estava aqui para ajudar.
não tinha como ser menos idiota, não tinha mesmo.
— Até esqueci da Frankie com a aqui. – Disse Luke, fazendo graça.
, obviamente, não gostou da piada.
— É, mas a foi expulsa, não foi? – Falou. – E agora trabalha aqui nesse barzinho mequetrefe.
— É no mesmo barzinho mequetrefe que você vai tocar hoje, meu anjo. – Devolvi, indo em direção aos equipamentos. Charles não disse nada, mas me seguiu.
Ajustamos o que precisava ser ajustado e quase fiz procedimentos incorretos, mas por sorte Leo chegou bem na hora. Pude ver, entre uma fresta e outra, que já tinham várias pessoas espalhadas pelo local. Parecem que a DON estava realmente fazendo sucesso nesses últimos meses, e tentei não ficar com inveja e nem me sentir chateada.
Tudo bem que minha expulsão foi totalmente injusta. Tudo bem que se autodenominou o líder da banda e as opiniões de Charles e Luke não contaram. Mas tocávamos juntos há quatro anos, tempo demais para ser desperdiçado.
Eu e não éramos namorados, mas eu achava que sim. É de se esperar que um homem daqueles deixe de assumir um relacionamento e eu não sei porque fui tão burra de acreditar que ele realmente se importava comigo. A gente tinha ido em um show, só nós dois, e disse que precisava ir no banheiro. Quando voltei, encontrei literalmente se agarrando a outra garota e eu fiquei total sem reação. Gritei com ele, mas isso foi pior. Ele me humilhou de todas as formas, disse que não tínhamos nada um com o outro, que nunca decidimos ter um relacionamento sério, e tudo isso na frente de todo mundo que estava ali. Descobri que não foi a primeira vez que ele ficou com outra menina quando estava comigo, o que me deixou pior. Os ensaios acabavam em briga e confusão, não rendia mais como antes o que levou, por fim, a decisão de de me expulsar, porque aparentemente “não nos encaixávamos mais”.
Mas isso significava outra coisa: meu sonho.
Eu não fui para a faculdade. Precisei ficar na cidade para ajudar a cuidar da minha mãe doente e não tinha nenhuma outra pessoa que pudesse fazer isso por mim. Cantar me acalmava e vi na música a oportunidade perfeita de me destacar. Eu já conhecia Charles no colégio, e pouco tempo depois ele me apresentou para e Luke, que eram de sua banda. Gostaram da minha voz e no começo nossa química como banda era sensacional.
Eu sentia que estava exatamente onde queria: vivendo de música e cuidando da minha mãe, sem precisar deixar de ser eu mesma, em nenhum momento. Gostava da sensação de estar no palco, de cantar com todo meu coração, e nesses três meses banida, essa sensação nunca mais voltou, mesmo quando eu cantava sozinha.
Suspirei, indo até uma pequena copa para funcionários, que estava vazia. Procurei meu sanduíche de queijo e um suco de caixinha que tinha levado para o caso de sentir fome e comi o mais depressa que pude. Lavei as coisas que tinha sujado e limpei a mesa, mas bem quando eu ia sair, entrou. Quando viu que eu estava lá, deu um sorriso quente.
— Aí está você. – Falou, indo até a geladeira pegar uma garrafa de água gelada. Ele se encostou na geladeira, me olhando. – Você está diferente.
Revirei os olhos, cruzando os braços.
— Diferente para melhor, espero.
sorriu, um sorriso cheio de segundas intenções que me deixou com as pernas bambas.
— Definitivamente para melhor.
Comecei a me sentir com calor, e não sei se era, de fato, por causa da temperatura.
E ainda achava um idiota, mas apesar de tudo que aconteceu meses atrás, ainda éramos amigos e eu tinha muita consideração por ele. E tesão. Mas principalmente consideração.
, o que aconteceu... Eu queria...
A expressão dele mudou, do sorriso sarcástico para uma face cheia de culpa. Até esqueci o que eu ia falar quando vi ele me olhando daquele jeito, sem piadinhas nem nada.
— Olha, , eu só vou falar uma vez, então ouve direito, tá? – Orientou, me fazendo dar uma risadinha por conta da sua falta de jeito. A barba rala não escondeu o rubor das suas bochechas, o que achei sensacional.
— Claro.
— Não foi exatamente culpa de ninguém, mas mesmo assim eu não tinha o direito de ter falado aquelas coisas. – Falou.
— E?
— E foi muito idiota da minha parte. Deveria ter esclarecido as coisas com você desde o início.
— Ok, e?
ergueu os braços, exasperado.
— E você está muito gostosa e não estou falando isso só para te comer de novo.
Sorri para ele.
— Obrigada. E?
sorriu de volta, saindo de perto da geladeira e vindo até mim.
— E me desculpa.
Me fiz de desentendida.
— Oi? me pedindo desculpa? Pode repetir?
— Não. – Respondeu, balançando a cabeça negativamente. – Não repito.
Ele se aproximou de mim conforme eu ia para trás, até que senti a porta. Não tinha para onde eu ir. Se me pressionasse eu juro que abriria as pernas para ele na copa mesmo e eu não estava a fim de ser demitida. Ele me prendeu com as duas mãos na porta, seu perfume misturado com suor me deixando tão tonta que eu quase não consegui respirar direito. Quando eu achei que ia acabar cedendo, abriu a porta atrás de mim, rindo.
— É, senti falta disso. – Falou na minha orelha. Eu estava tão mole que ele facilmente me colocou para o lado para passar pela porta, me deixando estática no lugar. Ficar me provocando não ia levar ele para absolutamente lugar nenhum.
Bufando com o quão fraca eu era quando se tratava dele, o segui até a sala onde estava os outros. Faltavam quinze minutos para o início do show e Frankie ainda não havia chegado. Fiquei de prontidão para dar apoio, a pedido de Leroy, e os meninos estavam cada vez mais nervosos. Leroy estava histérico, o bar nunca tinha ficado tão cheio antes; tinham vindo fãs de vários cantos da cidade assistir ao Danger’s Of Night e seria uma pena se não tivessem o que vieram assistir.
— Vamos, Frankie, atende. – Murmurou Luke, com o celular na orelha a fim de tentar contado com a garota, pela vigésima vez.
— Ela vai chegar. – Disse Charles, como se estivesse tentando convencer a si mesmo.
Mas o horário do show chegou e nada da Frankie chegar. Luke estava nervoso porque teria que cantar no lugar dela, o que parecia ser uma boa solução. Então uma lâmpada acendeu na cabeça genial de Charles.
podia cantar. Ela conhece as músicas. – Sugeriu o garoto, colocando o olhar de todos sob mim.
— Não. – Vetou . – Não ensaiamos com ela.
— Também não ensaiaram com Luke. – Me meti. – , tocamos juntos por quatro anos. O que poderia dar errado?
não disse nada, mas aparentemente deu-se por vencido. Luke, aliviado, colocou o microfone na minha mão e finalmente parecia que tudo estava completo. A noite estava cheia e era a oportunidade perfeita para que todos me vissem. A esperança de voltar para banda, agora que e eu tínhamos chegado a um acordo, voltou com tudo. Tinha que fazer dar certo.
Mas Frankie chegou bem na hora, fazendo a vida marcar o segundo gol em seu placar só hoje.
— O que ela está fazendo com meu microfone? – Guinchou a garota, arfando. Aparentemente tinha corrido para chegar até ali.
Sem graça, devolvi o microfone para ela, sentindo que todos os meus sonhos tinham virado pós de novo. A garota sorriu para mi, vitoriosa.
— Não. – Murmurou , fazendo todos olharem para ele. – Frankie, devolve o microfone para .
estava me defendendo. Por que ele estava me defendendo?
— Mas eu sou a vocalista, .
— E eu decido quem é a vocalista. Além disso – Falou mais baixo, para que Frankie o ouvisse. – você chegou atrasada.
Não estava acreditando que ele tivesse feito algo para me colocar no palco, mas eu não ia brincar com a minha sorte. Naquele momento, eu era parte da banda.
— Espero ser recompensado mais tarde. – Murmurou no meu ouvido enquanto subíamos a escada. – Arrasa.
Corei, chegando ao palco e encarando aquele mar de pessoas. Devia ter mais de cento e cinquenta pessoas ali, e normalmente o bar não chegava a sua capacidade máxima, que era de oitenta pessoas. Apostava que a DON seria convidada para tocar ali mais vezes depois dessa apresentação.
Luke cochichou rapidamente qual era a música de abertura e minutos depois eu já estava fazendo o que fazia de melhor. Sentia a melodia passar por mim e reverberar nas paredes do estabelecimento, a música tão boa e a química entre nós quatro era imensurável.
Não tinha dúvidas que estava de volta para a banda, não teria feito o que fez se não fosse para eu voltar. E dessa vez eu faria tudo certo. A banda voaria voos cada vez mais altos e seguiríamos em frente, superando os desafios e sendo fiéis aos nossos sonhos.
Nós iríamos arrasar.





Fim!



Nota da autora: Sem nota.

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