Última atualização: 26/12/2020

Capítulo Único

When you call to say hello
Are you alone


– Ei! – Ela cumprimentou do outro lado da linha depois de ouvir o “alô” derrotado do homem. – Como você está?
– Bem e você?
– Bem também. – Um ou dois segundos de silêncio se seguiram antes de ela falar logo o que tinha em mente. – Eu estive pensando…
– Quer sair?
– Você leu a minha mente!
– Você só me liga nesses casos, .
– Você está exagerando, eu sempre te ligo.
– Eu não vou nem discutir sobre isso.
– Então, quer ir naquele bar que abriu faz pouco tempo na sexta?
– Parece bom.
– Te encontro lá as 21h?
– Sim.
Depois de trocarem despedidas, Nathan encarava o amigo com um olhar de desaprovação. encolheu os ombros, já sabendo o motivo da expressão do outro. O assunto era complicado, e já havia desistido de argumentar no mesmo tanto que Nathan já tinha cansado de dar conselhos que nunca eram seguidos pelo amigo.
– Não adianta me olhar com essa cara.
– Você é um caso perdido.
– Eu não sei qual o problema comigo, eu sei lá… Acho que gosto dela.
– Você sabe que ela só te usa quando está carente, não sabe?
– Sei.
– E por que diabos você deixa?
– Eu não sei.
– Você merece ser feito de otário às vezes, cara. Como pode? Essa garota liga e você vai como um cachorrinho.
– O que eu posso fazer?
– Se dar valor.
Ambos se encararam em silêncio por alguns instantes antes que caíssem na risada. Não tinha razão alguma para levar aquilo adiante e tinham ciência disso. Na melhor das hipóteses, Nathan torcia para que ela cancelasse de última hora. Na pior delas, teria de lidar com o amigo frustrado de novo.
Mas a sexta-feira chegou e os planos ainda estavam de pé.

We go dancing in the dark
But you give me nothing


já esperava no balcão com uma long neck e o corpo seguindo sutilmente o ritmo da música que tocava por baixo das vozes dos outros clientes. Assim que os olhos dela alcançaram a silhueta esguia de , um sorriso animado abriu em seus lábios e ela saiu da banqueta que ocupava num pulo. Algumas pessoas dançavam pelo recinto e ela precisou desviar de um copo ou outro até chegar ao rapaz.
– Você sumiu! – Ela cumprimentou com um abraço apertado.
– Você não me procurou.
– E você só lembra de mim se eu te procuro?
– Exatamente.
– Você é um péssimo amigo.
Talvez porque eu não quero ser seu amigo, foi a resposta que ele pensou.
– Nathan sempre me diz isso.
– E ele está certíssimo! Falando nele, como ele está? Já chegou no TCC?
– Sim, e está cada dia mais nerd.
– Ele é outro sumido também, por isso que vocês são tão amigos.
– Talvez seja mesmo.
– Vem! Eu fiz amizade com o bartender, ele estava me contando sobre um cliente que vem sozinho todas as noites.
– Faz quanto tempo que você chegou?
– Uns quinze minutos.
– E já fez amizade? Batemos algum recorde hoje.
A dupla voltou para a bancada e pediu uma cerveja para si enquanto começavam a colocar o assunto em dia, fazia semanas que e não trocavam uma palavra sequer e aquilo era comum entre os dois. Tempos e tempos sem notícias um do outro e, então, eles se viam, como se não pudessem ser mais próximos.

Sleep under the stars
Still I don't get nothing at all


– Aos bons e velhos tempos. – sugeriu o brinde.
– Só se esses tempos forem ontem.
– Funciona pra mim. – Ele deu de ombros e fizeram as garrafas tilintar juntas.
– Essa é a minha última. Preciso estar viva e bem amanhã. Meus pais estão fazendo 25 anos de casados e vai rolar uma comemoração.
– Você consegue se ver fazendo bodas de prata com alguém?
– Só a ideia me dá calafrios.
– Nunca vou entender essa sua alergia de compromissos.
– Relacionamentos são uma conveniência que não me apetece.
– Às vezes, torna as coisas mais fáceis.
– E eu lá gosto de fácil?
A conversa amena ainda continuou até que as cervejas já não mais ocupassem as garrafas. A conta foi fechada e tinha um braço ao redor da cintura de enquanto o celular na outra mão procurava por um carro que poderia levá-los para sua casa.
A mente da mulher vasculhava por entre as memórias sobre que filme eles ainda não tinham assistido juntos e qual seria a indicação da noite, mas nada parecia bom o suficiente.
Já estavam destrancando a porta quando soltou um palavrão e virou para a janela perto da porta, procurando por baixo das plantas no beiral.
– O que aconteceu?
– A chave quebrou.
– Como você conseguiu quebrar a chave?
– Eu não sei! E também não consigo achar a chave reserva.
– Sua roommate não costuma deixar a porta da cozinha destrancada?
– Ela foi passar o fim de semana com a namorada. Eu tranquei as portas antes de sair.
– E a porta da cozinha só abre por dentro. – Ele completou, já sabendo da situação. – Um chaveiro nesse horário vai sair um absurdo. Quer ir pro meu apartamento?
– Só se você fizer muita questão. Se não, podemos ficar na estufa essa noite.
– Parece um bom plano.

I wanna talk
But you don't say nothing


Assim que a dupla se deixou cair no sofá velho que antes ocupava o lugar do sofá da sala, pareceu sentir todo o álcool que tinha bebido naquela noite pesar sobre si como um acidente de trânsito. percebeu que a fala dela parecia ainda mais arrastada enquanto ela falava sobre os planos que tinha para o dia seguinte, sem deixar de lado o quanto queria que ele fosse, coisa que tinha pedido quando ainda estavam no bar, que fosse sua companhia na cerimônia de renovação de votos dos pais dela.
– Certo, eu vou. – Finalmente deu sua confirmação e ela o abraçou empolgada.
– Você é absolutamente tudo. – Deu um beijo na bochecha do rapaz e deixou sua cabeça pesar no ombro dele. – Agora vamos dormir.
E assim, sem mais nem menos, a respiração da mulher se tornou pesada e mais lenta. Era humanamente impossível que alguém dormisse rápido daquela forma, mas ele sabia que ela era assim. O álcool passava a correr pelo sangue dela e o sono vinha.
Ajeitou-se no sofá, arrumando-a em seu colo e deixando a mente vagar pelo teto de vidro da estufa. Enquanto o sono ainda não vinha, suas mãos passavam pelo cabelo da mulher. Ela dormia em paz e ele se sentia satisfeito pela confiança que ela tinha em si.
Não era muito, nem o que ele realmente queria. Mas era suficiente.

I can't, can't love you like I'm supposed to


Fim.



Nota da autora: "Oi, tudo bom?
Eu nem sei o que falar aqui então não direi nada. Espero que tenham gostado.
BRB."



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