Última atualização:29/04/2021

Prólogo

As tardes em Al-Kharj geralmente eram frescas, mas naquele dia em especial achava que iria derreter a qualquer momento. A piscina na enorme casa onde morava estava interditada e a garota de quinze anos não tinha nenhuma outra maneira de se refrescar além da água gelada do copo que, pouco a pouco, se aquecia em sua mão.
Desviou o olhar para o lado oposto da propriedade, onde Nassin treinava com com tacos de madeira. Nassin, por ser militar em uma posição muito elevada no reino, poderia treinar com quem bem entendesse, mas uma das muitas qualidades que adorava no irmão mais velho era sua lealdade. poderia pertencer a junta militar também, mas, por conta da sua classe social, jamais chegaria ao nível de Nassin.
E, mesmo assim, eles treinavam juntos, como iguais.
Pensando que a ideia de se refrescar já estava passada, se levantou indo até onde os mais velhos estavam para treinar também. A sociedade machista de Al-Kharj jamais deixaria uma mulher ter treinamento militar, muito menos habilidade com facas, que era algo que já dominava, mas contando que o pai não ficasse sabendo, Nassin gostava de instruir a irmã mais nova.
— Posso participar também? – Perguntou, quando os homens fizeram uma pausa. sorriu para a garota, estendendo seu próprio bastão de madeira.
Nassin semicerrou os olhos para a caçula, exibindo um alerta com o olhar.
— Você já era. – Decretou, partindo para cima dela.
Por ter sido treinada por Nassin, já conhecia todas as suas técnicas. Porém isso servia apenas para que o próprio Nassin soubesse de cor e salteado cada movimento contra ele. O som dos bastões de madeira ecoava na propriedade, e os braços de , já doloridos dos golpes cada vez mais fortes que precisava investir, começaram a se cansar.
A garota não se daria por vencida, não podia desistir e nem se render. A primeira lição de Nassin como seu instrutor havia sido exatamente essa: não existe rendição. Apesar de não existir mulheres na guarda e saber que seu triste destino era ser um rosto sem voz como sua mãe, nada disso importava na hora de treinar.
Nassin a havia treinado para ser uma lutadora, e era isso que ela estava se tornando.
Assim que, por um descuido, o bastão de Nassin bateu forte demais no dela, ficou indefesa por alguns segundos, o que possibilitou que o irmão a empurrasse de encontro ao chão, declarando vitória. Nassin e riram da ira de quando percebeu que tinha falhado.
— Eu quero uma revanche. – Protestou, pingando de suor e esquecendo completamente do calor moroso que a assolava há poucos minutos.
— É claro que quer. – Respondeu , pegando o bastão do chão. – Algumas lutas são perdidas, . Vai entender isso quando ficar mais velha.
Os dois homens não deviam ter nem dez anos a mais que essa, mas a lembrança de ser tratada como criança não deixou a garota mais alegre.
— As vezes vocês são tão...
— Shii. – Silenciou Nassin, o semblante sério de repente. – Silêncio.
e obedeceram, mesmo confusos. Os sons de lutas os alcançavam e não estava entendendo de onde estavam vindo. Quando o som começou a ficar mais forte, conseguiram descobrir que alguém tinha invadido a propriedade. O som vinha de dentro da casa.
— Ali! Prendam o traidor! – Gritou um homem uniformizado com a insígnia da guarda real, apontando diretamente para... Nassin.
— Nassin? O que está acontecendo? – Perguntou , mais assustada ainda quando, atrás dos homens vinha seu pai, a fúria exalando em sua face.
— A desonra a família, Nassin! Como pode fazer isso com a sua família? – Bradou seu pai, algemado, sendo seguido por sua mãe, que chorava copiosamente, a mágoa maior que qualquer coisa.
— O que está acontecendo, Nassin? – Perguntou novamente, mas tarde demais notou os guardas os cercando, tirando de perto do irmão. – Nassin! Me ajuda!
tentou lutar com o guarda, que deu um tapa em sua cabeça forte o bastante para que a garota ficasse atordoada.
O guarda que a carregava seguia sem nenhuma dificuldade para a frente da grande casa onde moravam, jogando na rua, ao lado de seus pais. A vergonha da traição, fosse qual fosse, percorria os olhos de todos, e a humilhação de serem arrancados do próprio lar foi ainda pior.
— Atenção. – Gritou o homem que tinha prendido seu pai. – Por traição à Coroa, a família e todos os seus descendentes estão banidas do Reino. Perdem, nesse dia, sua posição social e todos os privilégios dados pelo grande monarca. Perdem, nesse dia, todas as suas posses. São designados como párias. Declaro falência a família .
controlava o choro profusamente, sem acreditar que foi arrancada da sua casa sem poder pegar nada de que realmente gostava, sem se despedir de seu irmão, que não estava em lugar nenhum, sem nem mesmo terminar o treinamento do dia.
A garota não fazia a menor ideia do que Nassin tinha feito para a família ter perdido o status social, mas sentiu tanta raiva dele como nunca sentiu de ninguém.
Ele ia pagar por essa humilhação. Nassin pagaria.


/

Parte Um
feita para honrar a família

cinco anos depois

— Para onde estamos indo? – Questionou , encarando as roupas que estava usando.
Caras demais, roupas demais. No passado poderia ser um vestuário normal do dia a dia, mas desde a falência passou a se vestir com trajes mais simples. Ficou se perguntando quando o pai conseguiu dinheiro para trajá-la com aquelas roupas.
— Onde estamos indo, papa? – Perguntou de novo.
O velho Assir suspirou, tentando não demonstrar sua irritação.
— Não interessa onde estamos indo. Só fique quieta e pare de questionar.
— Mas...
– Grunhiu o mais velho em tom de censura e a jovem entendeu que não deveria falar mais nada.
Do lado de dentro da carruagem, a mãe se mantinha em silêncio, passando as mãos nervosamente sobre as vestes de , a deixando impecável. Fosse qual fosse o segredo de seu destino, sua mãe certamente sabia – e não estava muito feliz com isso.
— Mama...
— Faça o que seu pai disso e fique quieta, . – Retrucou Samira. – E saiba, antes de qualquer coisa, que seu destino sempre foi honrar a família.
— Chegamos. – Disse Assir, antes que pudesse contestar.
Estavam na propriedade do Sheik. não fazia ideia do que estava acontecendo, principalmente porque, até onde sabia, estavam banidos do Reino.
Sem fazer perguntas, a jovem seguiu seus pais para dentro da imponente construção, passando por alguns cômodos até chegarem a uma grande sala de jantar, onde o Sheik em pessoa estava aguardando.
— Meus amigos, sejam bem-vindos. – Disse o velho Sheik, caloroso. não deixou passar despercebido seus desejosos olhos sobre ela.
Aparentemente estavam sendo aguardados para um jantar. O Sheik se sentou na cabeceira da mesa, enquanto a família , mantendo sua posição como convidados, sentava-se ao redor dele. O Sheik e Assir conversavam sobre negócios e muito embora gostasse de estar por dentro do assunto, não conseguiu se entreter com a falação dos homens.
Só queria saber o que estava acontecendo e ir para casa. O jantar estava quase no fim, e a jovem chegou a conclusão que era uma tentativa desesperada do seu pai conseguiu o perdão pelos erros de Nassin, quando o Sheik limpou a garganta, chamando a atenção dela.
— Suponho que sua filha mais nova chegará aos vinte anos em três dias? – Começou o Sheik, analisando atentamente cada centímetro de Kahn.
— Sim, conforme o combinado. – Respondeu Assir.
— O que? – Falou .
O Sheik, surpreso pelo fato de ter interrompido uma reunião, sorriu, nervoso.
— Vocês não contaram a ela? – Questionou, tirando os olhos da moça e passando para os pais, que negaram com a cabeça. – Não tiveram coragem, suponho.
— Contaram o que? – Falou , ainda mais alto.
Samira deu um beliscão por debaixo da mesa que deixaria uma marca e seu pai só pode olhar feio por estar do outro lado da mesa.
O Sheik riu, deliciado.
— Ficarei contente em corrigir cada erro rebelde. – Ele se virou para a garota, que sem perceber, segurava a faca com toda a força. – Seus pais te venderam, .
O talher fez um barulho horrível quando caiu no chão, não mais horrível do que o grito gutural que saiu de sua garganta no momento que a notícia fez sentido.
— Nassin... – Murmurou.
— Seus pais tinham até seu aniversário de vinte anos para pagar a dívida de Nassin ou trazer ele até mim com vida. – O Sheik explicou, com uma paciência calculada demais. – Seus pais falharam e você é minha noiva.
Nem Assir e nem Samira conseguiam encarar a filha, que já sentia tanto desprezo pela família em que nasceu. Traída pelo irmão que amava, pelo pai que admirava e pela mãe que respeitava.
Não estava nada certo. sabia o que significava ser a esposa de um Sheik. Ela não podia esperar ser adorada para sempre, o Sheik sempre teria uma esposa preferida. E como ela já tinha dado uma amostra de seus comportamentos rebeldes, com certeza estaria longe de alegrar o Sheik de alguma maneira, com sorte passaria despercebida.
Mas não seria ela. Não nasceu para ser um rosto bonito e calado. Nasceu para lutar, para ser uma guerreira. Precisava pensar em uma estratégia para escapar dessa com vida, de preferência com a vida que sempre quisera para si: uma vida de liberdade.
— Papa, por favor, não faz isso. – Implorou a jovem, saindo de sua cadeira e se ajoelhando perante Assir.
— Eu não tenho escolha.
— Você sempre tem escolha! – Gritou . — Escolha o banimento! Estava difícil, mas pelo menos estávamos juntos.
— Não é assim que funciona.
— É sim! Não posso acreditar que você vai escolher seu título de volta entregando sua filha!
Assir desferiu um tapa na face de , pela primeira vez exprimindo seu desprezo.
— Você é uma mulher. Foi concebida única e exclusivamente para honrar a família. E não existe honra maior do que ser esposa do Sheik. – Falou, imponente enquanto a filha se recuperava do choque do tapa. – Estou te fazendo um favor.
— Você me vendeu para um velho nojento quarenta anos mais velho que eu!
— Basta! – Exigiu o Sheik, pela primeira vez tentando arrumar a confusão causada por Assir. – Salem, abrigue em um dos quartos de hóspedes.
Uma tímida moça veio de cabeça baixa tomar pelos braços, mas a garota se manteve irredutível.
— Vai ser mais fácil se você cooperar. – Sussurrou Salem, de modo que somente pudesse ouvir.
— Você voltará a ver seus pais daqui três dias, no dia do casamento. – O velho veio até ela, acariciando sua bochecha com as costas das mãos. – Te vejo em três dias, minha noiva.
Com nojo de todos que estavam ali, seguiu Salem pela casa enorme, subindo alguns muitos lances de escada até chegaram a um grande quarto que, por si só, deveria ser maior do que sua casa.
A moça fechou a porta para que ninguém as ouvisse e se virou na direção de da jovem raptada, que ainda estava espantada com o tamanho da construção.
— Você quer se casar? – Questionou Salem.
balançou a cabeça.
— Não. Não quero.
Salem assentiu, como já esperasse essa resposta.
— Posso te ajudar a fugir.
— Por que faria isso?
A jovem suspirou.
— Sou amante do Sheik. Ele só pode ter mais uma esposa, mas tinham te prometido para ele e por esse motivo não posso ser uma das esposas. – Explicou.
— Por que você iria querer isso? Casar com ele?
— Não tenho nada. Nenhuma família, nenhum lar. Minha única esperança de honra é me casar com ele. E se você não estiver aqui, se você se perder, ele com certeza vai me tomar como esposa. Eu também sou a única opção dele.
ficou se perguntando se era algum tipo de teste, mas a moça parecia tão desesperada que acreditou nela.
— Eu quero fugir.
— Então ajudarei. Do que precisa?
ponderou sobre armas. Não poderia ter uma espada nem nada que fosse grande demais, teria que ser uma arma pequena, mas que a livrasse no caso de algum problema.
— Uma faca afiada. E uma distração.
Salem inclinou a cabeça, talvez se perguntou sobre a faca, mas no fim concordou.
— Irei providenciar isso. – Estava quase se afastando quando se virou para a mais nova, se encolhendo. – Ele pediu para trancar sua porta. Peço desculpas por isso, mas aqui no quarto tem tudo que precisa. E sempre terá alguém para trocar sua água e te trazer comida.
A jovem já sabia que provavelmente seria prisioneira ali, então não demonstrou muita surpresa quando a porta finalmente foi fechada.
finalmente sentou-se na enorme e confortável cama. Agora que tinha uma aliada para fuga, precisava pensar em um plano. Precisava pensar no que faria quando finalmente saísse dali.

Depois de três dias particularmente difíceis para , que envolveram testes de virgindade, provas de vestido, provas de lingerie para noite de núpcias e pessoas rompendo sua privacidade o tempo todo, estava finalmente sendo vestida para seu casamento com o Sheik. Uma empregada fazia seus cabelos com maestria, enquanto outra estava delineando seus grandes olhos, fazendo parecer mais velha do que realmente era. Provada a virgindade, pode colocar um vestido do mais puro branco, com pedrarias que descobriu serem joias preciosas de verdade, como safira e diamante adornando seu vestido. Por mais linda que estivesse, não tinha se esquecido por um segundo da visita de Salem mais cedo, que tinha se oferecido para vesti-la, deixando, como combinado, uma faca pontiaguda entre os tecidos do vestido que a cobria.
Declarada pronta, Asyha seguiu o guarda que viera busca-la, aguardando ansiosamente pela distração que Salem havia prometido. Não precisou esperar muito. Assim que chegou ao átrio, Salem e mais duas mulheres que reconheceu como as outras duas esposas do Sheika desmaiaram, ou fingiram desmaiar, próximo ao guarda que a levava. Movido pela lealdade, o guarda soltou o braço de para acudir as três mulheres.
Quando percebeu que o guarda não voltaria, não pensou duas vezes antes de sair correndo.
só tinha uma direção: para frente. Para o deserto. Foi para lá que ela correu, sem olhar para trás a fim de verificar se alguém a seguia. Só saiu correndo pensando em seu novo objetivo.
Precisava salvar a si mesma e para isso só existia uma coisa que podia fazer. Ela precisava encontrar Nassin .


/

Parte Dois
uma ajuda inesperada

O Sheik ficou furioso quando descobriu sobre a fuja da bela e jovem . Tão furioso que acabou estapeando o mensageiro da notícia, que nada tinha a ver com o assunto. As esposas a sua esquerda arfaram em uníssono quando descobriram sobre a fuga da última noiva, e o Sheik nunca esteve tão furioso.
Queria a jovem , queria toma-la para ele, queria corrigi-la de todos os seus erros para que se comportasse como suas outras esposas.
O Sheik nunca resistia a um bom desafio e colocar na linha era a melhor coisa que tinha acontecido em anos.
—¬ Encontrem essa garota. – Proferiu o Sheik. – Eu a quero viva, não importa o que aconteça, não importa que o mundo acabe, me tragam e eu darei a você que a trouxer uma recompensa milionária. Encontrem-na!
Houve uma comoção entre os soldados, que não sabiam onde ela estava e nem como fariam a captura, mas passado o choque os interessados na recompensa saíram para o resgate, talvez com a esperança de que fosse uma captura rápida e cara.
Eles não estavam contando com o treinamento militar da jovem , é claro. Mas alguém ali sabia: .
Com a notícia de que a irmã de seu velho amigo Nassir poderia pagar o tratamento de sua mãe doente, precisava garantir que chegaria até ela antes dos outros. Precisava pensar como a garota, pensar no que ela faria.
Para ganhar tempo, o militar pegou um dos camelos do Sheik e tomou uma série de provisões: água fresca, comida, coberta e frutas. Antes de decidir a direção pensou que ela não tinha levado nada consigo e por isso não arriscaria o deserto. Mas então sorriu, era exatamente esse tipo de lógica que o faria encontra-la e pegar seu tão merecido prêmio. Lembrou também que a jovem estaria sem nenhum meio de locomoção e se cansaria fácil, isso se o frio do deserto durante a noite não a cansasse primeiro.
Montou no camelo com todas as coisas que precisava e foi calmamente em direção ao deserto. Tinha pego o suficiente para cinco dias, mas só iriam durar se ele não bebesse água e nem comesse o tempo todo. Seu treinamento foi rígido e ele foi treinado para sobreviver a muitas horas com sede e fome, até no frio.
Já tinham se passado quase um dia inteiro desde quando havia partido quando notou o primeiro sinal: um guarda morto na areia agora fria do deserto. O sangue ao redor do homem indicava que não estava há mais de duas horas de distância. Mas foi parado pelo sinal número dois, quando encontrou mais quatro corpos pela areia, todos com o símbolo do Reino.
precisou pensar em uma abordagem diferente. Ela não era mais uma criança, e muito observou que o fato de Nassin estar longe não deixaria de fazer dela uma guerreira. Para matar com o que parecia ser uma ferida de faca, não um, mas quatro militares, a garota deveria estar lutando realmente bem.
Não, sabia que tinha que pensar em um jeito de fazer confiar nele e voltar para o palácio, mas é claro que não tinha um jeito mais fácil de fazer isso.
Voltou a montar no camelo depois de pegar mais algumas provisões dos soldados mortos, caminhando devagar pelo deserto enquanto pensava no que fazer.
Capturar daria muito mais trabalho do que ele imaginou.

Não muito longe dali, limpava a faca de sangue no vestido branco, imaginando como estaria sua aparência nesse momento. Definitivamente medonha. Quando não viu ninguém por perto, decidiu cortar algumas partes do vestido para que ficasse mais leve. A parte de dentro não era tão transparente, uma vez que os tecidos do Sheik realmente ostentavam boa qualidade, por isso usou a faca ainda afiada para cortar as partes superiores do vestido.
Utilizou uma parte do vestido mais ensanguentada virada para dentro, e amarrando uma outra parte com um nó, usou para fazer uma bolsa. Destacou todas as pequenas contas do vestido caríssimo que estava usando, os diamantes e as safiras, e os colocou na bolsinha improvisada. Rasgou mais uma tira da barra do vestido para que ficasse mais curto e melhor de se movimentar. Com a tira descartada, manipulou o tecido descartado a fim de amarrar ao redor da cintura, como um suporte seguro para sua faca. Os outros retalhos dos quais não precisaria decidiu enterrar na areia. Não tinha certeza de que os corpos dos militares continuavam enterrados devido ao vento que se movimentava pelas dunas, mesmo assim não queria dar pistas sobre o seu destino.
Ela estava horrenda, com os retalhos do que havia sido seu vestido de casamento completamente danificado, e aproveitando que já estava a imagem do caos, resolveu também tirar todos os grampos do penteado que adornava sua cabeça, guardando todos os acessórios que saiam de seu cabelo na bolsa feita de retalhos. Os longos cabelos caíram por suas costas, livres, a deixando com uma aparência mais animalesca do que de provavelmente pretendia. Queria que os homens pensassem duas vezes antes de atacá-la, o que não tinha sido o caso daqueles militares.
nunca tinha matado ninguém antes, mas não hesitou em fazê-lo em nome da liberdade. E mataria quantos fossem necessários, ela só voltaria para a casa do Sheik acompanhada de Nassin, o traidor.
Depois de horas andando pelo deserto, carecia de encontrar um vilarejo depressa, ou um lugar onde pudesse vender as contas para conseguir comida. Também precisava de vestes novas e discretas, já que, principalmente a noite uma figura trajando branco chamaria atenção no deserto.
Sem ter nenhum problema por um tempo, a jovem encontrou uma pedra grande que poderia servir de esconderijo e a utilizou para repousar. Primeiro verificou se não tinha animais peçonhentos, e quando o local lhe pareceu seguro, recostou a cabeça na pedra, segurando a faca na mão para tentar descansar. Sem água caminhando quase o dia todo e presenciando o frio que assolava o local durante a noite, ela pensou que pudesse morrer desidratada a qualquer momento. Seus lábios estavam rachados pelo calor do dia, e agora seus pés e mãos se mantinham congelados de frio. Arrependeu-se dos retalhos de roupa que havia abandonado: poderia ter improvisado uma capa.
Acordou com um barulho próximo a pedra. Em um movimento ágil, apesar da fraqueza, rolou pela areia até encostar a ponta da faca na garganta do inimigo.
— Quem é você? – Perguntou, antes de dar o golpe final.
. – Respondeu o homem, mostrando que não portava nenhuma arma. – Não me mate, , não vim capturar você.
A mulher arqueou a sobrancelha, pensando que a última vez que tinha visto havia sido no dia que o traidor Nassin fugira de casa.
— Por que está aqui? – Questionou , ainda com a faca no pescoço dele.
— Para te ajudar.
— E por que eu acreditaria em você?
, esperto, mostrou o que mais queria. Levantou a mão devagar, para que a moça pudesse ver o cantil verde de aparência militar que tinha pelo menos um litro de água. E ele ainda tinha mais quatro guardadas.
— É água. – Esclareceu, fazendo abaixar a faca, por mais que a mantivesse em posição de ataque.
— Como vou saber se não é veneno? – Questionou. – Beba você, se continuar vivo eu também beberei e poderemos conversar.
não questionou pois ele mesmo, junto com Nassin, que havia condicionado a pensar dessa forma.
— Aqui. – Falou, depois de dar um grande gole. – Pode beber, você está precisando.
Sem pensar duas vezes, a moça tirou a garrafa da mão de , bebendo quase metade sozinha. Era verdade que a sede só aumentava, mas se controlou para entregar a garrafa ao mais velho antes que bebesse tudo. jogou a ela uma coberta e uma fruta, que já estava um pouco mole, mas ainda não estragada.
— O que é tudo isso?
suspirou, categórico.
— Eu disse que vim ajudar. Vem, sobe no camelo, eu vou andando um pouco.
Ainda desconfiada, permitiu que o velho conhecido a ajudasse. Colocou a coberta ao redor de si e mordiscou a fruta que explodiu doce em sua boca.
— Obrigada. – Agradeceu.
— Não me agradeça ainda. Diga-me, para onde vamos?
riu, um som raro.
— Não espera que eu entregue meu destino de bandeja, não é? – Murmurou. – Apenas siga em frente. Saberei a hora de parar.
O homem realmente sabia que não seria fácil de arrancar a verdade da moça, por isso não insistiu. Puxou o camelo na direção que ela tinha apontado, sem reclamar.
Ele iria descobrir para onde estava indo. Precisava descobrir para enfim poder impedi-la, devolvê-la para o Sheik e pagar o tratamento de sua mãe.
Mas manteria aquele segredo pelo tempo que fosse necessário.


Parte Três
eu posso pagar o preço!

Vagaram pelo deserto a noite toda e boa parte da manhã, e , apesar disso não reclamou de cansaço, calor ou sede. Depois de percorrerem uma distância considerável, avistou um pequeno vilarejo em uma curva um pouco mais afastada do deserto.
desconsiderou a opinião dela sobre os diamantes, alegando que aquele povo era pobre demais para comprar aquelas pedras, ao que contestou dizendo que só precisavam comprar comida e roupas limpas, o que eles certamente queriam. A bem da verdade só queria levar para o Sheik, além da noiva perdida, parte de suas riquezas de volta. Mas é claro que ele não disse isso a ela, e nem poderia.
Dando-se por vencido, os dois se dirigiram para a pequena aldeia, onde um único diamante rendeu-lhes roupas novas e discretas, um cobertor, um camelo, comida e seis cantis de água. Perspicaz, ainda negociou uma bússola e um mapa, e não teve escolha a não ser expor seu plano para , que já aguardava extasiado.
— Estou caçando meu irmão Nassin. – Explicou a moça com um suspiro, apontando para o Iraque no mapa. – Eu soube que ele estava em Bagdá há dois anos, acredito que ele ainda esteja lá.
O mais velho tentou disfarçar porque sabia exatamente onde em Bagdá Nassin estava. O amigo nunca deixou de contatá-lo, confiando-lhe cegamente a sua localização. Perplexo, havia acabado de perceber qual era o plano da mais jovem membro da família : encontrar o traidor Nassin para entregá-lo ao Sheik em troca da sua liberdade.
Ele precisava impedir que isso acontecesse, uma vez que Nassin havia confiado nele, mas o homem nunca havia descoberto o que de fato havia transformado seu mais antigo amigo em um traidor do Reino. Nassin nunca havia lhe contado. Pensando nisso, achou estranho que uma confissão não tivesse saído por parte do amigo. O que ele estava escondendo? Deveria ele então ajudar a trair seu irmão? Ela sabia de algo que ele não sabia?
O militar então decidiu dar a o benefício da dúvida. Convenceu a moça a negociar por mais um diamante, e com ele conseguiram mais água e frutas, sendo que ele sabia o caminho e que provavelmente demorariam quatro dias para atravessar o deserto e chegar a Bagdá.
Á viagem ficou mais rápida, já que cada um tinha sua própria montaria, e com a quantidade de água que carregavam não passariam sede pelo menos até encontrar o próximo vilarejo, o que achava que não seria necessário.
Não encontraram mais militares dispostos a capturar e a levar para o Sheik. A moça agora estava irreconhecível; usava roupas simples, havia conseguido tirar a pesada maquiagem e os cabelos estavam escondidos, bem diferente de quando fugira de Al-Kharj.

O traidor Nassin havia desviado especiarias para tráficos menores, lucrando com eles mais do que o pai recebia pelo título. Ninguém sabia desse feitio, nem mesmo , e Nassin, covardemente, fugira do país ao invés de se retratar com a lei e pagar o preço pelos crimes cometidos. Ao fazer isso, fora considerado que a família toda estava envolvida, e como e Samira, por serem mulheres, não detinham direitos patrimoniais, foram expulsas juntamente com Assir, que estava irado e envergonhado.
Nassin, finalmente se rendendo a aceitar seu destino, olhava para a irmã que treinou e para o amigo que confiou com o olhar de um detento; afinal era isso que ele era. agora era leal a Coroa, precisava ajudar a entregar o irmão foragido mesmo que isso custasse sua honra e amizade.
Muito especulou se por fim havia comprado sua liberdade, e as pedras de diamantes tiniam em seus bolsos como lembrança. Mas tirou essa ideia de sua cabeça. era uma boa pessoa e gostava de ajudar, no fundo entregou as pedras para ele para que sua mãe se curasse. Não tinha nada a ver com escolher um lado. Ele havia decidido ajudar simplesmente porque era a coisa certa a se fazer.
A viagem da volta foi mais longa porque e ficavam revezando em cima dos camelos, que já estavam cansados da longa viagem e não aguentariam mais de uma pessoa por vez. Nassin permanecia quieto do seu lugar no camelo, talvez planejando uma fuga iminente, que jamais aconteceria com aqueles dois o flanqueando. Passaram pela mesma aldeia de antes a fim de se abastecerem para os dias que estava faltando, e renunciou a um de seus diamantes para pagar pela providência, ao que assentiu, agradecendo.
Sete dias depois, quando finalmente chegaram nos limites da propriedade do Sheik em Al-Kharj, ninguém ousou desviar os olhos de Nassin.
— Ora, vejam, é o traidor ! – Gritou alguém. – Chamem o Sheik!
— A noiva também voltou! – Gritou outra pessoa.
Mais pessoas começaram a convergir na direção deles, mas deixaram os três passarem. , ainda segurando o irmão mais velho, o empurrou até o átrio do palácio, onde uma pessoa de ar importante os aguardava. Foram encaminhados até uma sala gigante e espaçosa, mas se levada em comparação com os outros cômodos era tristemente simples.
. – Pronunciou-se o Sheik. – Peço para encontrar minha noiva perdida e você volta com o traidor também. Como poderei compensá-lo?
assente, mas nada diz, indo para trás. toma a palavra.
— Com todo o perdão. – Começa a garota, obtusa. – Eu capturei meu irmão em Bagdá com o intuito de entregá-lo a você em troca da minha liberdade. Algo que meus pais não conseguiram fazer.
O Sheik olhou para como quem olha para um animal de estimação muito querido.
— Doce . Creio que o prazo se encerrou há duas semanas. Infelizmente você já completou vinte anos antes de me entregarem o traidor do seu irmão.
não se abalou, fazendo Nassin ficar de joelhos.
— Sei que o senhor demonstrará misericórdia nesse caso. – Proferiu. – Eu posso pagar o preço da minha liberdade e tenho certeza de que você o aceitará. E quando finalmente estiver livre desse compromisso, eu contarei a todos sobre a misericórdia do Sheik de Al-Kharj.
O Sheik não tinha interesse em dispensar , mas precisava considerar que era uma moeda preciosa a que ela tinha em mãos. E com tantas testemunhas que ali havia, o homem só tinha duas opções: dispensar , mulher formosa, mas que nada tinha a ver com a confusão em que se meteu, ou dispensar Nissan , traidor e pessoa em quem tinha que fazer ser o exemplo.
— A considero preciosa demais para deixar ir de repente, jovem . – Disse o Sheik, fazendo com que temesse se casar com ele de qualquer forma. Mas em seguida o homem lhe deu um sorriso, que para sua surpresa era até confortante. – Considero digno seu trabalho caçando e capturando o traidor. Apesar de não ter atingido a idade, te ofereço um posto na junta militar.
arregalou os olhos, e achou que não estava entendendo direito.
— Um posto? Eu? – Perguntou ao Sheik.
— Acredito que será um acréscimo valioso. – Ponderou. – Mas se nem assim o quiser, que vá então, jovem , que seja livre desse compromisso.
Um peso enorme saiu dos ombros da jovem, que soltou mais uma de suas raras risadas, fazendo com que risse junto com ela.
Não estava acostumada em ter escolhas e nem a fazer suas próprias decisões. Longe do pai que a reprimia e tratava como um rosto calado, pode pela primeira vez decidir seu destino.
E ela sabia exatamente o que iria escolher. Sabia exatamente qual escolha lhe daria tudo que um dia sonhara. Sabia que ia ser difícil, que passaria por inúmeras provações e talvez seu pai até a deserdasse de vez, mas nada disso importava porque ela, , havia sido perdoada. Somente por isso se permitiu fazer uma mesura diante do Sheik, com a mão direita sobre o coração, repetindo a jura de lealdade que vira seu irmão e fazendo muitos anos antes.
— Eu aceito o posto.


/

Fim!



Nota da autora: Alguns pontos: não tem uma época espefícica para essa short, pode ser muito antiga ou se passar em um tempo atual; os nomes foram adaptados para a localização onde a história se passa; valores geográficos são frutos da minha imaginação porque é muito difícil vagar pelo deserto atraves do google; valores sociais também são frutos da minha imaginação e todos os personagens citados são fictícios!
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