Finalizada em: 08/05/2021

Capítulo Único

Doía. Não deveria, mas doía. Eu nunca havia sentido uma dor tão forte na minha vida, mesmo depois de três ossos quebrados, dois cálculos renais e uma série de enxaquecas. Mesmo sabendo que isso iria acontecer, eu não estava preparada.
— Você não está sendo sincero. — Eu olhei para ele. Ou pelo menos tentei, as lágrimas borrando a sua imagem para mim.
não era um homem bonito. Seu cabelo castanho, os olhos cor de mel, o dente torto. Mas por algum motivo, era aquele homem que meu coração tinha escolhido amar. Era aquele ser de um metro e noventa que tinha toda a minha vida em suas mãos.
— Eu não tenho escolha.
— A gente sempre tem escolha, .
Levantei-me do sofá e prendi meu cabelo em coque, andando até a janela.
Era tarde. O silêncio da rua e o brilho do luar mostrava que estávamos ali por pelo menos quarto horas. Era esse o tempo que tínhamos ficado em silêncio, apenas lágrimas caindo e sem saber lidar com o que estava acontecendo.
não era meu namorado. Não era meu amigo. Eu nunca soube dizer o que nós dois éramos um para o outro, tudo que eu sabia era que quando eu tinha um problema, era para ele que eu ligava. E, quando ele queria desabafar, era para mim que ele mandava mensagens.
Havíamos passado incontáveis madrugadas dentro e fora da cama nos últimos cinco anos. Ele tinha tido algumas namoradas, eu tinha tentando conhecer outro cara. Mas sempre acabávamos voltando um para outro.
Eu sempre achei que, de alguma forma, nós dois fossemos encontrar um caminho de volta para o outro. Sempre achei que ele fosse o cara certo para mim. Meus amigos tinham me alertado, mas ninguém sabia a verdade. Ninguém sabia que ele era o único que me conhecia sem o personagem que eu criei para sobreviver à faculdade. Ninguém sabia que eu era a única que sabia de como sua relação com seu pai era conturbada.
Ele era um livro fechado que eu havia aprendido a ler todas as páginas. Nunca soube por que ele me escolheu, mas alguma coisa sobre o dia que a gente se conheceu tinha chamado sua atenção. Eu o odiava. E agora ele havia me ensinado o que era amor.
— Me desculpa, . — Senti seus lábios no meu pescoço, suas mãos na minha cintura.
Toda vez que ele fazia merda era a mesma coisa. Ele vinha de chamego, pedia desculpa e a gente seguia em frente. Esse deveria ter sido um dos sinais pelos quais a gente não ficaria junto. Porém, nunca dei desculpas para . Sempre foi um relacionamento mútuo de carinho, companhia e compreensão. Eu também havia errado repetidas vezes.
E, de alguma forma, aquilo também era culpa minha.
— Você escolheu pedi-la em casamento, . Você tinha escolha.
, olha nos meus olhos e me diga que eu fiz a escolha errada?
Virei-me para encontrar seus olhos cheios de lágrimas, tanto quanto os meus.
— Ela está grávida. Essa criança não tem culpa de nada.
— E então você resolve pedir em casamento uma mulher com quem você dormiu uma vez? Nós estamos no século XXI, . Ninguém se casa, porque engravidou.
Ele fechou os olhos. Suas palavras diziam que ele queria ir embora, mas suas mãos se agarravam a mim como se eu fosse a única coisa certa em sua vida. Mais uma vez éramos a única constante uma do outro e ele estava pedindo para deixá-lo ir embora.
— Eu te amo. — Ele falou quase como um sussurro.
Abri a boca surpresa. Eu sabia que ele me amava tanto quanto eu o amava, mas, em todos esses anos, nenhum dos dois teve coragem de dizer aquelas palavras tão abertamente.
— E ainda assim você a escolheu.
, não faz isso.
— O que você que eu faça? Honestamente, , o que você espera que eu diga? — Soltei-me de seus braços e andei até o outro lado do cômodo.
Se não tivéssemos um espaço entre nós, eu não iria resistir. Por anos, eu esperei que ele admitisse que me amava como todos os nossos amigos sabiam que ele amava. Por anos, eu sonhei com aquele momento. Porém, nos meus sonhos, ele não estava me dizendo que estava indo embora.
— Você quer que eu diga "parabéns, você vai ser papai"? Quer que eu diga que você está fazendo a escolha certa, quando nós três sabemos que não é? Você não precisa se casar com ela para cuidar dessa criança. Para ser pai dessa criança.
— Se eu não me casar, ela nunca vai me deixar vê-lo.
— E você acreditou?
, você sabe como a família dela é influente.
— Ela é irmã do seu melhor amigo, acha mesmo que ele vai impedir você de ver o seu filho?
Ele se sentou no sofá e voltou a chorar.
estava agindo totalmente diferente do cara que eu tinha conhecido e tinha aprendido a amar. Ele sempre foi o tipo de pessoa que escutava seus desejos e só fazia o que ele queria. Nunca escutou ordens de ninguém que não fosse obrigado. E, de uma hora para outra, aquele homem enorme parecia pequeno sentado no sofá da minha casa.
— Eu não quero me casar com ela. Eu não quero ter uma família com ela. Eu não quero ninguém que não seja você.
— Então fica. Tudo que você precisa fazer é ficar.
— Você não quer uma família, . Você sempre foi contra tudo que envolvia casamento. Você não quer ter filho, eu quero um molequinho correndo pela casa, fazendo bagunça em um domingo de manhã. Isso nunca fez parte dos seus planos de vida. Você sempre falou sobre os lugares que quer visitar, sobre as experiências que ainda quer viver. Nenhuma delas tem uma família inclusa.
Foi a minha vez de voltar a chorar. Escutar aquelas palavras tão verdadeiras vindo dele e saber que eu jamais poderia mentir para . Ele sabia ler cada centímetro do meu corpo, cada traço no meu rosto e cada palavra que eu usava. Porém, ele não sabia de uma coisa.
— E eu desistiria de tudo isso para ficar com você.
Ele se levantou e veio até mim, segurando meu rosto entre suas mãos.
— E é por isso que eu preciso ir. Eu amo você demais para lhe pedir para desistir dos seus sonhos por mim.
— Você é meu sonho, . Quando imagino meu futuro, ele só é possível por ter você ao meu lado. Eu ainda posso viajar com você e um moleque a tira colo.
— Você não vai ser feliz de verdade, . — Ele encostou a testa na minha e fechou os olhos.
Fechei os meus e segurei seus punhos, preparando-me para o que ele ia dizer.
— Nós dois sempre soubemos, lá no fundo, que esse dia chegaria. Nossos sonhos nunca foram compatíveis e esse sempre foi o motivo das nossas brigas quando conversamos sobre oficializar isso que temos. Nunca foi falta de amor. Falta de química, falta de sexo. Eu te amo e é por isso que eu preciso ir.
Ele encostou seus lábios nos meus. Entrelacei meus dedos nos cabelos dele como havia feito um milhão de vezes, levantando a ponta dos pés para nos aproximar. Ele me segurou com uma firmeza que ele nunca tinha feito antes.
Então eu entendi: aquele era um adeus.
Quando saísse por aquela porta, eu nunca mais o veria. Quando ele descesse o elevador e entrasse no seu carro, seria a última vez que eu ouviria falar dele. No dia seguinte, ele já teria me bloqueado de todas as redes sociais e na sem que vem ele estaria de mudança para São Paulo com a noiva.
E tudo que eu podia fazer era desejar que ele fosse muito feliz, assim como um dia eu aprenderia a ser.



FIM!



Nota da autora: Sem nota.



Outras Fanfics:

Longs em andamento:
Illicit Affairs (Restrita/ Livros - Harry Potter);
Malfeito Refeito (Livros - Harry Potter);
Where the Demons Hide (Restrita/Livros - Harry Potter);
From the Dust (Restrita/Original).

Outras Fics:
I Found Peace in your violence (Shortfic/Harry Potter);
The Last Malfoy's Christmas (Shortfic/Harry Potter);
Perfeita Simetria (Restrita/Original - Finalizada).



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