Finalizada em: 14/01/2022

Capítulo Único



Tudo que eu mais queria era fechar a porta na cara de .
Só queria que ele sumisse, que eu tivesse coragem de pedir que ele fosse embora, exigir que ele fosse embora.
E ele só conseguiu ficar olhando para minha cara, buscando em meu olhar palavras que eu nunca disse, como se tivesse esperança de ter escutado errado minha última frase.
Ele pigarreou, saindo do transe, me olhando com seus olhos tristes.
— Hm... é, nossa. – Falou. – Não esperava isso.
Revirei os olhos.
— E o que você esperava? Umas boas vindas? Um abraço caloroso? Um jantar? – Respondi com sarcasmo. – O que você esperava depois de fazer o que fez?
ficou na defensiva.
— Eu não fiz nada de errado, . – A voz era sofrida, e me arrependi um pouco por magoá-lo de propósito, principalmente porque eu não me considerava uma pessoa maldosa. Mas, como Sarah iria dizer, qual é, ele merecia isso. – Eu só não...
Ele não soube como terminar e eu cruzei os braços, pensando que podia muito bem fazer o serviço completo agora. Era um ponto final. Uma conclusão, depois dos nossos três anos de idas e vindas. Eu precisava dar um alívio para o meu coração, e meu coração só ficaria aliviado sem na minha vida para conturba-lo.
— É melhor você ir embora. – Falei, baixinho.
, me deixa entrar, vamos conversar.
— Não temos mais nada para conversar. Acabou. Acabou, . – Repeti, assistindo seus olhos ficarem escuros de decepção.
Mesmo assim ele deu um passo em direção a porta do apartamento, talvez esperando que eu mudasse de ideia se ficasse perto o bastante, mas coloquei a palma da mão aberta em seu peito, o impedindo.
, por favor.
— Sarah vai chegar logo. – Informei, tirando a mão de seu peito. Mesmo por debaixo da camiseta pude sentir seus músculos rijos e me odiei por ainda responder a ele dessa maneira. – É melhor ela não te ver aqui.
— Sua irmã não iria ficar brava se me visse. – Afirmou, coçando a cabeça. – Ia?
Sorri, triste.
— É, bem, muita coisa mudou nos últimos dois meses.
A menção do tempo pareceu deixa-lo envergonhado, pelo menos.
— Eu não tinha intenção de te ignorar. – Começou. – Eu só fiquei muito ocupado.
— Ocupado? Pulando na cama das minhas amigas? – Acusei.
A boca dele se entreabriu.
— Como... como você...?
— Adivinha? As mulheres falam.
Tudo bem que as mulheres que tinham ido parar na cama com ele não eram lá minhas amigas, mas fiquei sabendo assim mesmo.
Não que eu as culpasse. era lindo, mas sabia disso, então tirar proveito era seu esporte preferido. E, mesmo que não soubesse ou que não fosse bonito, eu ainda não podia culpa-las: nunca namoramos. Pelo menos não monogamicamente, porque o namoro era aberto.
E todo mundo sabia disso.
— Está tudo bem, . Não é por isso que estamos terminando. – Prometi. – Eu só acho que um namoro aberto não é desculpa para ignorar uma namorada. Por dois meses.
Ele parecia arrependido de verdade, mas eu não ia dar desculpas para suas atitudes como vinha fazendo desde o início. Não mais.
— Eu sinto muito.
Sarah tinha me dito desde o começo que namoro aberto não era uma boa ideia, mas funcionava com a gente. Nossa química sempre foi boa e mesmo que esteja sofrendo agora não posso dizer que ele nunca tinha me feito feliz, porque tinha. Em algum momento do nosso longo e conturbado relacionamento, eu tinha sido a mulher mais feliz do mundo. E sempre foi difícil explicar para Sarah e as outras pessoas porque eu o amava tanto, porque sempre aceitava suas desculpas e porque sempre deixava ele voltar. era como um imã para mim.
Depois que nos separamos na França, no hotel em que nos conhecemos, tendo passado juntos cinco dos seis dias em que estive lá, não queria dizer tchau a ele. Além de lindo era educado, gentil e espontâneo, tinha um alto astral contagiante e um bom humor que sempre me animava. Ele pareceu sentir a mesma coisa, mas nada daria certo entre nós e sabíamos disso quando o quinto dia chegou ao fim. Não daria certo porque morava há mais de duas mil milhas de mim e não faria sentido nos vermos tão pouco. Era para ser um adeus no verão de 2015, uma aventura europeia que nós dois levaríamos para a vida, mas só isso.
Então imaginem minha surpresa quando, seis meses depois, precisei ir para a Argentina a trabalho e identifiquei facilmente suas costas no meio da multidão de Buenos Aires. se lembrou de mim e ficou surpreso como eu com a coincidência. Diferente de mim, ele estava ali a lazer, mas entre as folgas do trabalho que eu tinha nos vimos todos os dias por uma semana. E ali, no meio do espanhol, tango, rosas e vinhos, descobri que estava apaixonada por ele, e sabia que não seria tão fácil quanto da primeira vez dizer adeus.
Dessa vez trocamos números de telefone e prometemos nos encontrarmos novamente. Conversamos por mensagens todos os dias depois da minha partida, e o encontro aconteceu dois meses depois, em Seattle, onde eu morava. Ele precisava resolver negócios em Port Angeles e não era assim tão longe, então resolveu me encontrar.
A ideia de um relacionamento aberto foi minha, e fiquei com medo logo que dei a sugestão. Era melhor que ficar sem ele, no meu ponto de vista. Mas concordou e em pouco tempo estabelecemos regras, limites e rotina que funcionavam para nós. Eu fiquei com outras pessoas, mas não me apaixonei por nenhuma delas. estava longe e apenas dessa maneira poderia tê-lo.
Mas depois do primeiro ano as coisas começaram a desandar. Ele começou a me tratar mais como uma ficante do que como uma namorada, sumia por dias e depois aparecia na minha casa como se nada tivesse acontecido, afirmando que me amava e que queria ficar comigo.
Para provar, ele se mudou para Seattle, cinco meses depois dessa conversa. Pela primeira vez desde a França fiquei animada de verdade com a possibilidade de que fôssemos um casal normal, que ele iria sugerir que tivéssemos apenas um ao outro e que agora que morávamos na mesma cidade tudo poderia ser ordinário.
Ele não fez isso. E, quando não fez isso, nada mais no modo como a gente se relacionava fez sentido. Porque a gente se via toda semana, qual a desculpa para o relacionamento aberto agora? Todos os desejos que eu nem sabia que tinha foram esmurrados um por um: um pedido de casamento, adotar um cachorro, casar, comprar uma casa na praia, ter filhos com ele. Tudo foi embora.
Quando parou de me responder, dois meses atrás, achei que tinha voltado para Chicago. Na primeira semana fiquei péssima, Sarah me consolou e me protegeu. Passamos pelo menos uma noite inteira xingando mesmo que ele não pudesse nos ouvir e no dia seguinte ela assumiu a pose de irmã mais velha dizendo que era melhor eu desistir dele, dessa vez para sempre. Que eu deveria reconhecer que ele tinha sido bom para mim enquanto nosso relacionamento fazia sentido, mas que agora ele só me trazia mágoa.
Ela estava certa, mas só levei a sério na outra semana, quando descobri que não somente estava na cidade, como tinha se envolvido com várias pessoas do meu círculo social. A tristeza levou à raiva, e a raiva levou à indiferença.
E era por isso que ele não tinha nem passado da soleira da porta, onde eu o mantinha. Sabia que uma pequena parte de mim, ainda que bem escondida, o amava descontroladamente, mas eu já não era mais apaixonada por ele e acho que ele precisava saber disso, por mais difícil que fosse.
Relembrar todo nosso relacionamento me deu uma estranha sensação de nostalgia, que apertou minha garganta, e lágrimas não solicitadas preencheram meus olhos, mas eu os fechei e respirei fundo, impedindo que elas se derramassem.
, nada disso faz sentido. – Falei, gentilmente. – Eu amo você. Eu sempre vou amar você.
Ele sorriu.
— E eu te amo! Qual é o problema aqui?
Suspirei.
— O problema é você. Você não consegue me assumir e isso me assusta.
— Mas a ideia foi sua. – Lembrou, um pouco irritado.
— Sim! Há três anos atrás! Quando morávamos a milhas de distância um do outro. – Apontei para o elevador. – Estamos a menos de dois bairros de distância agora, qual é a desculpa?
— Achei que gostava disso.
— Eu gostava. No começo. – Suspirei de novo. – Mas a culpa também foi minha por ousar ter esperança.
Seus olhos ficaram tristes de novo e eu sabia o quanto ele odiava mudanças. Já estava tão acostumado comigo que não queria perder isso, mas não me amava o bastante para dizer as palavras que provavelmente me fariam ficar.
— Não fala desse jeito! Eu só...
, está tudo bem. – Assegurei. – Ciclos começam e terminam e, infelizmente, o nosso chegou ao fim.
— Parece que refletiu sobre isso.
— Tive dois meses para isso. E eu superei. Você vai ficar bem. – Olhei em seus olhos de novo. – Adeus, .
Mas ele segurou a porta com os pés, em um sinal desesperado para fazer eu mudar de ideia, porém sem saber o que dizer.
— Mas a gente era bom nisso. – Tentou de novo, o vinco na testa.
Sorri.
— É, a gente era. Só que isso não vai mais dar certo. – Enfatizei, apontando para ele e para mim. – Ou a gente briga, ou a gente transa. Não podemos mais fazer os dois.
Ele deu uma risada consternada.
— Parece um ultimato, só que você já tomou a decisão por mim.
— E eu acho que fiquei com a pior parte. – Alfinetei. – Pelo menos você sabia onde eu estava.
— Isso não é justo.
— Injusto é você desaparecer por dois meses e voltar achando que está tudo bem. – Olhei para baixo, para o carpete. – Não me sinto mais apaixonada por você, . E acho que você também não está apaixonado por mim. Sei qual é seu problema e não tem nada a ver com o amor que acha que sente por mim.
— E qual é? – Ele não pareceu debochado, na verdade estava ansioso, como se essa fosse a resposta que vinha procurando a muito tempo.
— Você não me quer porque me ama, você precisa de mim porque... – Busquei seus olhos com os meus. – porque tem medo de ficar sozinho. E agora vai ficar sozinho e você odeia isso.
Ele ponderou minha resposta.
— Eu amo você. – Eu não sabia se ele estava falando isso para mim ou tentando convencer a si mesmo, mas decidi que tinha perdido a paciência.
— Acabou, . Vá para casa. – Dessa vez ele me deixou fechar a porta e seus olhos tristes foi a última coisa que eu vi.
As lágrimas que não foram derrubadas finalmente caíram e justo quando achei que tinha superado nossa história, superado , a vida veio mostrar que eu estava errada.
Eu estava me enganando. Não tinha superado nada. Talvez nunca superasse, tinha pouca certeza de que o próprio superaria.
E uma voz baixinha e embargada atravessou a porta, confirmando minhas suspeitas:
— Não tenho medo de ficar sozinho. Tenho medo de ficar sem você.




Fim!



Nota da autora: Espero que tenham gostado!




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