Última atualização: 17/04/2022

Capítulo Único




O corredor estava tão vazio quanto deveria estar às duas da manhã de um sábado chuvoso. Porém, quando pisei do lado de fora, o sensor de presença não fez a luz acender, resultado da queda de energia. Quase metade de Boston tinha sido afetada por um raio que caiu em algum lugar da central de energia. Eu havia lido por cima a mensagem que Willow me mandou explicando isso.
Mas eu estava com a minha lanterna e a apontava furtivamente para os lados, me precavendo caso alguém – ou alguma coisa – estivesse a espreita no escuro. Bati novamente na porta diante de mim e dessa vez continuei a bater como se minha vida dependesse disso.
Eu me recusava a aceitar que ele já estava dormindo, mas a julgar pelas mensagens não respondidas e eu estar socando a porta do seu apartamento há pelo menos cinco minutos, era bem provável que ele estivesse dormindo. Antes que meu punho acertasse a madeira novamente, a porta abriu.
Eu apontei a lanterna diretamente para o meu vizinho e ri com o xingamento que ele soltou. Seu cabelo estava bagunçado e a bochecha direita tinha marcas que indicavam que ele estava dormindo.
- Que porra é essa? – foi como ele me cumprimentou, tirando a lanterna da minha mão.
A luz se voltou para mim, mas eu fechei os olhos bem a tempo de não ser cegada pelo brilho.
- Olá! – ofereci um sorriso enorme. – Que bom que você não está dormindo!
- Com o barulho de alguém tentando quebrar a porta, realmente é difícil continuar dormindo. – resmungou, frisando a parte do “continuar”.
- Você não respondeu minhas mensagens! – me defendi.
- E isso por si só já devia ser uma resposta, né?
- Não me contento assim tão fácil – roubei minha lanterna de volta e apontei para ele, mas dessa vez não diretamente para seus olhos. – Preciso de ajuda.
- Você matou alguém dessa vez? – havia um leve alarme em seu de voz que me deixou ofendida.
- Se eu fosse matar alguém, seria você – passei a língua pelo lábio inferior, o provocando. – Você é o único que me dá motivos.
Seus lábios apertaram como se ele estivesse lutando demais para não sorrir.
- Eu tenho sérios problemas por ter achado essa ameaça sexy.
Ri da resposta e se deixou sorrir também, mostrando as covinhas que afundaram suas bochechas.
- Você tem sérios problemas – concordei imediatamente.
- O que você quer, hein?
- Eu estou pintando a parede do meu quarto e preciso que você faça um desenho.
- Tá sem luz, – ele apontou para nossos lados, indicando a escuridão.
- Eu espalhei um milhão de velas, tenho vários pisca-piscas de pilha também ligados e essa lanterna aqui – contornei a situação, como era boa em fazer. – Você terá bastante luz.
Meu olhar decidido fixou no olhar sofrido dele e nos encaramos sem piscar no jogo que chamávamos de Jogo do Poder. Começamos com isso na primeira semana que eu me mudei para cá. Eu percebi que ele gostava de me olhar no elevador, então comecei a olhar de volta. Fizemos isso por uns dois dias até ele me chamar para tomar uma bebida. Depois do encontro, continuamos o jogo no elevador de volta para casa e quando fomos nos despedir, o Jogo do Poder resultou em e eu embolados no chão do meu apartamento a noite toda porque minha cama ainda não tinha chegado e eu estava dormindo no sofá.
Eu costumava vencer o Jogo do Poder e dessa vez não foi diferente. Depois de algum tempo com a lanterna entre nós, suspirou em derrota.
- Eu vou pegar minhas coisas.
- Vou te esperar lá!
Triunfante, voltei com minha lanterna para o meu apartamento e deixei a porta encostada. Diferente do corredor, o loft que eu chamava de casa estava bem iluminado. Havia velas acesas na mesa de centro, em cima da estante de livros, na pia da cozinha e em todos os lugares altos. Algumas das velas eram aromáticas e o cheiro de baunilha, morango com champanhe e cereja tinham se misturado em algo muito doce, mas estranhamente bom.
Minha cama estava no meio do apartamento e eu havia instaurado um pequeno caos para conseguir pintar a única parede que dava para ser pintada. Eu morava em um loft industrial e todas as outras paredes do lugar eram de tijolos queimados e janelas de vidro do chão ao teto. O loft de pé-direito alto tinha uma escada de aço que levava até a parte de cima onde era o quarto.
A única parede diferente era a do quarto que ficava de frente para minha cama. Eu havia decidido pintar ela há meses e a tinta estava apenas esperando por isso, mas só hoje o tédio da queda de energia me deu coragem para fazer. Eu não era boa com pintura, mas era uma parede pequena e eu consegui terminar em meia-hora. Foi quando surgiu a ideia de acordar pra me ajudar.
A camisa velha que eu tinha colocado especialmente para a ocasião estava tão suja quanto eu previ que ficaria. Algumas manchas de tinta preta caíram no chão, mas eu me preocuparia com elas depois. Subi até o quarto e afastei ainda mais a cama para o lado agora que dois ocupariam o espaço.
- Eu acho que eu nunca vou te perdoar por isso.
Me debrucei no parapeito e olhei para baixo, encontrando desolado no meio da sala.
- Eu tenho certeza de que vou encontrar um bom jeito de te compensar – um sorriso arteiro cruzou meus lábios.
- Ah, eu vou me certificar que sim – ele sorriu de volta, me lançando aquele olhar sacana que era sua especialidade.
Meu sorriso aumentou ainda mais e de um jeito estúpido eu fiquei muito feliz por ele estar aqui. No meu apartamento ou no dele, nos revezamos todas as noites nas últimas semanas em qual casa dormíamos. Não escolhíamos onde e não era uma coisa que a gente verbalizava, mas uma noite ele me chamou pra comer pizza na casa dele, na outra noite eu o chamei pra assistir filme aqui. No outro dia eu estava estressada e só queria transar até um bom orgasmo me fazer esquecer o porquê de estar estressada.
Mas assim acabamos passando a semana toda dormindo juntos e hoje mais cedo eu saí com minhas amigas, então ficou em casa. E quando eu cheguei e pensei em dormir sozinha... Pareceu muito errado, então eu rolei na cama sem conseguir dormir até a hora que faltou luz e depois ficou impossível pregar os olhos. Eu não queria admitir, mas aparentemente tinha ficado viciada em dormir ao lado de Coleman.
- Sobe logo! – ordenei, me desviando de pensamentos inoportunos.
bufou, mas me obedeceu e em poucos passos chegou aqui em cima. Ele colocou a caixa na minha cama e olhou ao redor do pequeno espaço que eu chamava de quarto.
- Tava mesmo sem sono, né? – seu olhar parou em mim.
- Digamos que eu estava inspirada – corrigi. – Podemos começar?
- O que você pensou? – perguntou, apontando para a parede.
- Quero o mapa do mundo – informei. Alcancei a lanterna na cômoda e apontei para a parede. – Marquei os pontos pra o tamanho que eu quero. Você acha que fica proporcional?
- Deixa eu ver. – tirou a lanterna da minha mão e foi até a parede. – O ideal seria a gente usar um projetor para servir como base, sabia? E a tinta ainda nem secou direito.
- Eu confio no seu potencial pra desenhar sem o projetor, ! – cheguei perto dele, oferecendo meu sorriso persuasivo. – Vou te ajudar. Quanto a ter secado, claro que secou. Olha só!
Com mais vontade de me provar do que confiança de que realmente tinha secado, espalmei a mão na parede preta e encarei com toda confiança do mundo.
- Agora tira a mão – ele pediu.
Ainda sem me deixar abalar, estendi a mão para a sua avaliação e segurei um sorriso vitorioso quando ele apontou a luz para a minha palma e não havia uma manchinha de tinta fresca.
- Tá bom para você? – perguntei suavemente.
- Eu fui acordado no meio da noite para pintar uma parede no escuro, – ele suspirou tristemente. – Nada tá bom pra mim há quinze minutos.
- Você tá me ofendendo – chutei o tornozelo dele. – Estou te preparando para a vida, ok? A vida de arquiteto não é fácil.
- Ai! – ele recuou para o lado, se afastando de mim. – Acho que você tá me confundindo com um cirurgião. Não conheço nenhum arquiteto que é covardemente acordado no meio de uma noite chuvosa para trabalhar de graça.
estava usando aquele mesmo tom de voz que exagerado e fingido de quando ele estava fazendo drama de propósito e mesmo que seu rosto corroborasse com a ideia de estar realmente chateado, eu sabia que era puro teatro. Mesmo assim, ainda me senti obrigada me defender.
- Considere que você está retribuindo o favor de quando eu te ajudei com seu portfólio – arqueei as sobrancelhas. – Aí ficamos quites.
abriu um sorriso tão largo que as covinhas abriram duas crateras em suas bochechas. Era absurdamente fofo e eu odiava me derreter por isso sempre que ele sorria.
- Touché, Srta. – ele piscou, satisfeito. – Mas pensei que tínhamos ficado quites com a pizza que eu te paguei depois.
Eu considerei a ideia por um minuto antes de cair na risada de tão absurda que soou.
- Oh, – me apoiei no parapeito do quarto, controlando a crise de risos. – Eu te ajudei a criar seu site e arrumei suas redes sociais. Se você soubesse o quanto a agência onde eu trabalho cobra pra fazer isso, você seria obrigado a desenhar em cada canto desse apartamento e ainda me pagar um jantar bem decente. Quer saber?
piscou, parecendo realmente desconcertado.
- Você me disse que não era nada demais.
Encolhi os ombros, pega no flagra. Tinha dado mais trabalho do que eu o deixei acreditar que levaria, mas foi divertido. Passamos o fim de semana trancados no meu apartamento e jogados no chão da sala alternando entre transar e trabalhar na construção do site. E, quando ele pegava no sono, eu continuava a mexer no que demandava mais atenção. Não foi tão complexo quanto criar do zero, mas precisei pedir ajuda de uns amigos programadores para conseguir incluir alguns códigos.
- E eu menti. Então para de reclamar e começa a trabalhar! – exigi, apontando para a parede. – E depois, quem sabe, eu ainda te deixo fazer meu café da manhã para você terminar de me compensar.
- Você fez compras por acaso? – debochou. – Porque eu tentei fazer café para gente hoje de manhã e na sua geladeira só tinha umas três frutas, um monte de vinho e aquele leite de amêndoas terrível.
- Você tem que me compensar e ainda quer preparar o café da manhã com a minha comida? – abri a boca, inconformada. – Seu apartamento é logo na frente e eu te vi chegando com as sacolas do supermercado mais cedo, então meus armários estarem vazios não será problema.
- Anda me observando, ? – provocou.
- Eu não assisto a série You só porque o Penn Badgley e a Victoria Pedretti são lindos, – entrei na onda dele. – Você acha mesmo que eu me mudei para cá por acaso?!
Passei a língua lentamente pelo lábio inferior, provocando.
- Eu te observo há muito, muito tempo – sussurrei, arrastando minha voz e erguendo meus lábios em um leve sorriso malicioso. – É tudo parte de um jogo muito maior do que você pensa, . Tudo que eu fiz até agora foi para chegarmos até este momento.
Como se para colaborar com a encenação, um trovão estourou na noite lá fora junto com um relâmpago tão intenso que clareou o loft inteiro. A expressão de se tornou maliciosa e seu olhar, viperino. Lentamente ele veio até mim e me encurralou contra o parapeito, se apoiando nas grades. Sendo alguns centímetros mais alto que eu, se curvou um pouco para nivelar com a minha altura, enquanto eu precisei erguer o rosto.
- Então você está jogando este jogo da forma errada, – ele disse, tão baixo que sua respiração roçou no meu ouvido.
- Por quê? – inquiri.
Sabendo exatamente o tipo de reação que toques na cintura tinham em mim, colocou a mão no meu quadril, subindo a camiseta para poder tocar a minha pele. Seus dedos estavam gelados e meu estômago se contraiu quando a mão dele parou na minha cintura. Seu polegar começou a acariciar minha barriga levemente, mas eu podia ver no fundo daqueles olhos que ele sabia exatamente como eu me distraía com isso.
- Porque o Joe queria que Beck e Love se apaixonassem por ele. Queria que elas precisassem dele, porque, da forma distorcida dele, Joe estava apaixonado.
Seu sorriso pareceu forçado, como se agora ele estivesse lutando para se manter na brincadeira.
- Mas você não quer que eu me apaixone por você, e você não está apaixonada por mim. Então, ... – continuou. – Você está jogando errado ou eu que não entendi o objetivo do jogo?
A luz das velas e os pisca-piscas estavam fazendo sombra no rosto de agora que ele estava tão perto, então ler sua expressão e distinguir até onde isso era parte da encenação era um trabalho difícil agora. Eu tinha ficado muito boa em reconhecer suas emoções nos últimos meses, então sabia bem identificar quando ele estava ou não sendo sério. Diferente de mim, não era tão bom em esconder seus sentimentos quanto gostava de achar que era.
Aprender a reconhecer isso, tinha me ajudado a saber quando fugir do assunto também. E mesmo que agora eu não conseguisse identificar o quão séria essa pergunta era, eu não estava disposta a arriscar.
- Esse é meu segredo para guardar – sorri como se ainda estivesse brincando. – E o que você tem que descobrir.
Quando outro raio iluminou o apartamento, os poucos segundos que o brilho prateado durou foi o suficiente para que eu tivesse minha resposta. Frustração e mágoa brilharam nos olhos de , mas quando voltamos para a penumbra amarelada das velas, esses sentimentos tinham sumido de seu rosto também.
- Eu sou bom em arrancar confissões – ele sorriu, roçando a boca na minha. – Seu segredo não está a salvo por muito tempo.
Eu o beijei antes que ele pudesse falar mais alguma coisa ou antes que eu começasse a pensar demais no que isso significava. Minhas mãos agarraram seus braços e seu corpo pressionou o meu com tanta força contra as grades do parapeito que seria doloroso se eu não estivesse tão concentrada nele.
mordiscou minha boca, sua outra mão se embrenhou entre meus cabelos e ele puxou as mechas perto da raiz, exatamente como me fazia gemer. Arfei contra seus lábios e cravei as unhas em seus braços, projetando meu quadril pra frente contra o dele só para provocá-lo.
- Assim a gente não vai terminar a sua parede – ele murmurou, a voz tão rouca e grave que enviou uma nova onda de desejo por meu corpo.
- Então se afasta – sussurrei, meio que um desafio, meio que um pedido. Deus sabe que eu não conseguiria me afastar.
Mas ele soltou um gemido sofrido que me fez sorrir contra sua boca antes de ser capturada novamente pelo misto de sensações que me causava. Desde a maneira que suas mãos me seguravam, roçando os calos na minha pele, até como sua boca parecia conhecer a minha tão bem. Era desconcertante como todos os pequenos detalhes transformavam meus sentimentos em puro caos quando se juntavam. E eu odiava isso.
diminuiu o ritmo do beijo, me abraçando com mais delicadeza, deixando sua boca roçar a minha de leve enquanto nós dois recuperávamos o fôlego. Ele permaneceu com os olhos fechados por mais alguns segundos e eu me deixei apreciar a expressão de sofrimento em seu rosto. Lutei muito para não rir.
- Ok, vamos terminar logo isso – ele suspirou.
Ele relutou em me soltar, mas recuou e foi até a caixa de pincéis. era estudante de arquiteto, mas um desenhista incrível também. Ele fazia artes em paredes com giz e tinta e era muito bom nisso, então seu kit era bem extenso.
- Você vai ter que me ajudar – ele avisou.
- Eu estava contando com isso! – meu sorriso foi tão largo que bufou.
Não foi tão fácil fazer isso, mas eu fiquei ao lado dele segurando uma lanterna e mostrando o desenho enquanto desenhava. Demorou mais tempo que o normal segundo os resmungos dele, mas foi divertido e apesar de tentar manter a pose carrancuda, ele estava claramente se divertindo e me ensinando. Ajudei a pintar e ele até segurou minha mão com o pincel para me ensinar a força, o ângulo e a maneira certa de manusear com precisão.
A luz voltou perto das quatro da manhã e a chuva parou um pouco depois disso, mas quando acabamos de pintar, o sol já estava quase nascendo. Minha cama estava cheia demais para podermos desfrutar do conforto dela e o sofá longe demais das nossas almas cansadas, então despencamos no chão do meu quarto. cruzou as mãos atrás da cabeça para servir de apoio e eu amarrotei um casaco sujo para servir de travesseiro.
- Ficou incrível – elogiei.
A parede preta tinha recebido uma grande dose de cor com o nosso desenho. teve a ideia de fazer uma pintura meio aquarela, então abusamos no rosa, azul, roxo, verde e amarelo. Para fazer uma graça, ele ainda sugeriu pintar meu teto com a tinta que brilha no escuro, mas agora eu estava exausta demais para isso.
- Claro que ficou.
Revirei os olhos.
- Convencido.
riu roucamente, soando tão cansado e sonolento quanto eu.
- Posso dormir agora? – ele perguntou.
- No chão? – virei o rosto para encará-lo.
- Você pode arrumar sua cama – sugeriu, virando o rosto para me olhar.
Só para me certificar de que eu realmente não ousaria tocar naquela cama, olhei para a bagunça amontoada lá. Minhas dezenas de livros estavam espalhados pelo colchão e a ideia de tirá-los daquele lugar era absurda. Na verdade, eu provavelmente dormiria no sofá até a próxima vez que um surto me fizesse querer arrumar o meu quarto.
- O sofá parece a mulher opção – contrapus.
- Não sei se consigo descer – fechou os olhos, soltando um gemido de dor. – Não resta energia no meu corpo para isso.
- Então vamos ficar no chão – decidi. Estava cansada demais para me incomodar com a dureza do piso de madeira. O aquecedor estava ligado e o chão estava quentinho. – Podemos dormir aqui.
- Você tá com tinta na bochecha – ele abriu um sorriso lento, estendendo a mão para tocar meu rosto.
Minha bochecha formigou com o toque dele como se eu tivesse levado um pequeno choque. Seus dedos deslizaram um pouco mais para baixo até o meu pescoço, onde ele apontou outra mancha de tinta.
- E aqui.
Seu percurso continuou pelo meu braço e pegou minha mão, puxando meu braço até seu dedo roçar a mancha verde no interior do meu pulso. Ele puxou meu braço até seus lábios e beijou o lugar um pouco acima da tinta. Outro choque percorreu meu corpo e fiz um tremendo esforço para não suspirar.
Seus olhos estavam nos meus, um pouco mais alertas que antes, mas ainda semicerrados como se as pálpebras estivessem cada vez mais pesadas. Ele soltou meu braço e percorreu o caminho até minha coxa, roçando as pontas dos dedos na pele nua que ficou descoberta pela camiseta que eu estava usando.
- E mais algumas aqui – murmurou.
Engoli em seco, sentindo minha pele quente como se esse contato fosse suficiente para me queimar.
E bem podia ser.
fazia todos os meus alarmes de perigo dispararem. Fosse com aquele sorriso diabólico, com o sexo alucinante ou com o quanto só estar rindo com ele me fazia bem. Eu tinha me apaixonado perdidamente uma vez, mas não acabou muito bem, então eu vinha fugindo disso com sucesso há anos. foi o único que representou uma verdadeira ameaça para os muros que eu construí e eu sabia que logo, logo, eu teria que acabar com isso antes que o que eu estava começando a sentir por ele acabasse comigo.
- Você também – retruquei, fingindo não ter sido afetada. – Tá mais colorido que o nosso mapa.
- De quem será que é a culpa? – arqueou uma sobrancelha.
- Toda sua! – retruquei, fazendo de conta de que não tinha começado uma guerrinha de tinta no meio do trabalho.
- Mentirosa – ele beliscou minha coxa.
- Ai! – bati na mão dele, a empurrando para longe.
ignorou meu olhar furioso e seus olhos brilharam de diversão quando ele envolveu minha cintura, me puxando para perto dele. Seu calor emanou para o meu corpo e eu me rendi na mesma hora. Ele puxou o cobertor que estava em cima da cama e quase derrubou uma pilha de livros com isso, mas conseguiu se libertar sem muitos estragos. O calor do edredom caiu sobre nós e eu me aconcheguei perto dele, apoiando a cabeça em seu peito.
- Aliás, você tá com minha camisa – ele acusou. – Me deve uma nova.
- Pode descontar no que você me deve pelo site – impliquei de volta.
- Abusada – resmungou.
- Encrenqueiro – reclamei.
Apesar de já estar de olhos fechados, eu sabia que estava sorrindo. Não demorou para o sono vir e não sei exatamente quando aconteceu, mas meu sono foi levemente perturbado quando senti braços me levantarem. Resmunguei alguma coisa, mas só ouvi um murmúrio incompreensível em resposta. Segundos depois, eu estava deitada em uma superfície muito confortável, mas não tão confortável quanto o corpo que envolveu o meu.
- Boa noite, .
O beijo na minha têmpora foi suave e quente. Eu acho que quase sorri.
💔

- Me diz de novo o porquê de você estar aqui miserável e bebendo vodka pura.
Ashley fez uma careta ao me devolver meu copo depois de cheirar e constatar que eu realmente estava bebendo vodka pura.
- Não estou miserável – rebati, abrindo um sorriso enorme. – Estou observando a festa.
- Ah, por favor – ela revirou os olhos.
Mas eu estava miserável e agindo como uma idiota porque depois de uma semana de silêncio, eu finalmente encontrei novamente. Se antes eu encontrava com ele em todo lugar do prédio, esta semana simplesmente desapareceu. Ele parecia estar me evitando, o que, sinceramente, parecia uma boa ideia.
- É porque o está conversando com a garota de cabelo rosa – Ashton pontuou.
Eu o fuzilei com o olhar, mas ele sorriu condescendente.
- Nem notei – disse, mas meu olhar foi automaticamente para o casal que Ashton mencionou.
Era aniversário de uma garota do prédio e ela resolveu fazer a festa no terraço, então era óbvio que eu podia esperar que estivesse aqui. Foi por isso que convidei os gêmeos Winstead para me servirem de apoio moral, mas estava claro que meus amigos eram péssimos nisso.
- É tudo culpa sua, – Ashley falou. – Então você pode beber o quanto quiser, mas não pode ficar de cara feia pela situação que você mesma causou.
Meu estômago embrulhou ao lembrar da mensagem que mandei para na manhã seguinte a noite que pintamos minha parede. Me deixando levar por os pensamentos caóticos e os sentimentos bagunçados, acabei enviando uma mensagem falando que devíamos dar um tempo no que estávamos tendo. A mensagem não teve resposta por horas, mas visualizou. Sua resposta veio muito tempo depois e dizia apenas:
Tem certeza?

Eu não tinha, mas mesmo assim respondi que sim. A resposta dele foi instantânea com um “ok”, então acabamos. Mas isso estava me consumindo desde então.
- Vocês não são bons amigos! – reclamei, fuzilando os dois.
- Eu não seria um bom amigo se não te alertasse sobre as merdas que você faz – Ashton esclareceu, o que me deixou mais brava ainda. – Então, , eu vou jogar sal na sua ferida, sim.
Resisti ao impulso de socar o nariz perfeito dele, porque, no fundo, eu sabia que Ash tinha razão. Contra minha vontade, meu olhar voltou para onde estava com a garota de cabelo rosa no canto da festa. Ela estava sorrindo, se inclinando pra ele e tocando seu braço em uma óbvia tentativa de flerte. Precisei engolir a vodka no meu copo em um gole só para me livrar do gosto amargo que a cena tinha deixado em mim.
- Vamos dançar – avisei.
Mas dançar não foi suficiente e com o passar das horas, mais bêbada eu ficava. Meu olhar sempre procurava e mesmo agora que tudo estivesse meio borrado e nublado depois de tanto álcool, eu ainda estava rodando pela festa a procura dele. Precisei esbarrar em algumas pessoas para abrir caminho, mas finalmente o encontrei.
Meu estômago revirou com fúria e ciúmes com o quão próximos os dois estavam. Sem pensar muito, apressei o passo até onde parecia prestes a beijar a garota de cabelos rosas e me enfiei entre os dois, empurrando-o na parede, enquanto a garota quase tropeçou.
- Oi – falei.
me encarou com confusão e descrença, seus olhos lentamente escrutinando meu rosto como se ele estivesse com dificuldade de entender o que estava acontecendo. Para ser sincera, eu também não estava entendendo.
- Que porra foi essa? – a garota perguntou.
- Desculpa – abri um sorriso por cima do ombro. – Você pode ir buscar uma bebida, por favor?
A garota de cabelos rosas me encarou em choque quando eu tive a cara de pau de entregar meu copo para ela. pareceu ficar ainda mais confuso e lentamente se voltou para a garota, lançando um olhar de desculpas.
- Nora, eu realmente sinto muito, mas você pode me dar 1 minuto? – ele pediu, como o cavalheiro que era.
Nora revirou os olhos, mas se afastou sem dar um piu. Eu sorri satisfeita, mas não pareceu muito feliz.
- O que você acha que está fazendo aqui, ? – ele perguntou.
- Me divertindo – respondi. – Você não está?
Ele umedeceu os lábios, impaciente.
- Não – respondeu.
- Pois devia – meu sorriso alargou. – Mas não com ela. O Jackson não veio? Eu gosto dele. Pode ficar com ele.
- Não com ela? – ele soltou um riso nasalado, mas nada divertido.
Mesmo com a pouca luz da festa, estava lindo. Ele era o tipo de cara que continuava perfeito em um moletom simples porque a beleza dele não precisava de complemento para se destacar.
- Não com ela – repeti, feliz por ele ter pegado a ideia. – Você ia beijar ela, não ia?
Um brilho de malícia despontou nos olhos dele e se empertigou todo, parecendo ainda mais perto de mim.
- Ia – confirmou. Meu estômago revirou em desconforto. – Eu estava prestes a puxar ela pela cintura, entrelaçar os dedos no cabelo dela e beijá-la. E eu ia gostar muito.
Ergui o queixo para segurar seu olhar desafiador, mas meus punhos cerraram ao lado do meu corpo com força. Eu não tinha direito de estar brava, sabia disso, mas mesmo assim cada célula do meu corpo ignorava a razão.
- Então, respondendo a sua pergunta, eu estava me divertindo, – o sorriso dele se tornou quase cruel. – E eu planejava continuar me divertindo com ela no meu apartamento mais tarde. Na minha cama, como você bem conhece.
Meu cérebro rejeitou a imagem que se formou de Nora e na minha cabeça e meu coração apertou. Eu conhecia ciúmes, eu sabia que eu estava com ciúmes, mas a dor de imaginar amando outra pessoa era muito pior do que imaginá-lo transando com ela.
- Então é melhor você ir encontrá-la – murmurei, forçando um sorriso nos meus lábios.
Virei as costas e saí em disparada para fora dali. Ouvi gritar meu nome, mas ignorei. Eu estava sendo uma bela idiota com essa cena e tinha consciência disso, mas eu estava bêbada demais para ser coerente e meus sentimentos estavam bagunçados demais para eu conseguir compreendê-los.
Com esforço, consegui chegar até a saída de emergência, mas antes que a porta batesse, entrou atrás de mim.
- Ei, você não pode simplesmente ir embora como se não tivesse feito nada!
Eu estava no meio da escada quando a mão dele envolveu meu cotovelo, me fazendo parar. não apertou, mas me fez voltar um degrau e parar de frente para ele. Seu olhar emanava tanta raiva que eu não lembrava de já tê-lo visto tão irritado antes. Mas eu estava bêbada demais para me importar.
- Que porra foi aquela, ? – ele exigiu saber.
Mas eu também não sabia o que tinha sido aquilo.
Em um momento eu estava bebendo, mas no outro eu estava atravessando a festa em direção a eles sem nem saber o que iria fazer quando chegasse lá. Minha mente estava terrivelmente nublada, as pontas dos meus dedos estavam tão dormentes que eu sabia que já tinha passado muito do estado de bêbada para muito bêbada.
- Eu não sei. Eu estou bêbada demais para entender – admiti. – Então é melhor você voltar para festa.
Ele suspirou, parecendo tão perdido quanto eu. ainda parecia irritado, mas seu olhar suavizou quando eu finalmente consegui encará-lo. Havia tanta mágoa no fundo daqueles olhos lindos que eu me senti a pior pessoa do mundo por saber que eu era a causa disso.
- Eu não te entendo, – ele confessou. – Foi você que terminou comigo!
Me apoiei no corrimão da escada, ficando de frente para ele.
- Então eu quero entender o que diabos passou pela sua cabeça, fechou os olhos e encostou a cabeça contra a parede. – Porque foi você que me mandou uma mensagem de merda falando que aquilo entre nós não estava dando certo. Você! Então, quando eu resolvo tentar me distrair com uma garota linda e legal, você aparece como se tivesse o direito de se sentir magoada por eu sentir em frente.
Ele tinha razão e eu sabia disso. O pior é que eu sabia! Eu não podia ter ido lá, eu não podia ficar magoada, eu não tinha o direito de me sentir traída. Mas eu não estava sendo lógica. Eu estava arrasada e com raiva, então fiz o que pareceu certo no momento.
- Eu sei! – explodi. – Eu sei que não tenho o direito de sentir o que eu estou sentindo, . Eu sei que eu não devia ter feito o que eu fiz, mas...
Não achei que fosse magoar tanto ver você com alguém que não seja eu, foi o que eu quase disse, mas a frase morreu na ponta da minha língua.
- Eu estou fodidamente apaixonado por você, . – murmurou, a voz arrastada como se estivesse cansado. – E eu sei que um filho da puta partiu seu coração, mas eu não sou ele. E eu estou pronto para ser o cara que você merece e te amar como uma mulher deve ser amada, mas você não deixa! Você me afasta, você se esconde, você termina comigo! Porra. Eu estou te dando tudo que eu posso.
A cada palavra, eu senti meu coração encolher e quebrar porque eu sabia disso. Eu soube disso no momento em que começamos o nosso caso que não devia ter se tornado tão complicado assim. não era Duncan, mas era difícil imaginar que alguém pudesse me amar e mais difícil ainda imaginar que eu pudesse amar alguém que não fosse me quebrar. Já fazia três anos, mas eu ainda não conseguia confiar em mim para me apaixonar novamente por alguém. Eu estava quebrada e não merecia alguém assim.
- Eu sei, eu sei... – o nó na minha garganta se tornou insuportável. – Mas eu não consigo, .
Quando ele abriu os olhos de novo, seu olhar estava escurecido com decepção.
- E eu não consigo fazer isso. Você não pode terminar comigo e depois fazer isso, . Não é justo – ele apertou os lábios, tão magoado que eu senti a dor nos meus ossos. – Não ter você não é fácil, mas eu não posso lidar com ter só metade sua. Porque você me tem por completo. Eu passei os últimos meses esperando você parar de fingir que não me quer, que não sente nada por mim, mas não consigo mais fazer isso. Eu te dei tempo, eu te espaço, eu tentei... Mas você precisa tentar também.
Meus olhos embaçaram com as lágrimas mal contidas, mas respirei fundo e controlei o nó na garganta para conseguir falar sem chorar.
- O que aconteceu hoje não vai acontecer de novo – minha voz soou mais firme do que eu esperava.
não falou nada antes de sair.
Quando a porta bateu, eu desabei. Meus joelhos cederam e eu caí no degrau, me permitindo chorando tudo que eu havia engolido nos últimos minutos. Eu odiei Duncan por ter me quebrado assim, me odiei por ter permitido que ele me quebrasse e odiei por me fazer querer amá-lo.
Eu não tinha tentado, isso era verdade. Parecia impossível que eu pudesse amar alguém de novo depois de anos em um relacionamento que me destruiu de dentro para fora. Mas eu sabia que se tentasse, eu podia. Porque, no fundo, eu já o amava. E tornava muito fácil a ideia de deixar alguém me amar de novo.
Mas eu não sabia se podia tentar isso de novo.
⛈️



1 semana depois...

- Eu odeio Boston – minha avó resmungou. – Estou aqui há 3 semanas e choveu quase todos os dias.
- Tenho certeza que não é nada contra você, Vovó – sorri, parando um segundo para esperar ela descer o degrau. – O clima está assim há semanas.
- Humpf – ela bufou, apertando meu braço. – Por isso seu avô e eu nos mudamos para a Flórida. Você e sua irmã são teimosos, deviam ter ido para lá há tempos!
- Eu me acostumei com o tempo chuvoso – admiti. – Não sei se aguentaria o calor da Flórida.
- Você diz isso porque nunca tentou – ela resmungou.
Era difícil discutir com Leah , então eu não tentaria argumentar que eu abominava o clima da Flórida e preferia passar o resto da vida presto no clima instável de Boston no inverno.
- Talvez – disse, esperando que a resposta fosse boa o suficiente.
- Bom, foi uma pena seu avô ter pedido o casamento – lamentou, olhando tristemente através das janelas altas do salão de festa. – Daisy estava linda!
Minha irmã tinha escolhido o dia mais chuvoso do ano para casar, mas mesmo assim a festa foi linda e ela também estava linda. Meu avô ficou em casa com uma perna quebrada e com uma babá, pois, segundo minha avó, “ele merecia ficar miserável para aprender a não tentar fazer peripécias que sua idade não permitia mais”.
- Tenho certeza que o Kaden fez uma chamada de vídeo para ele assistir à cerimônia – comentei, lembrando que meu primo estava filmando a entrada da minha irmã.
- Mas e você? – ela me encarou seríssima. – Onde está a garota que fugiu do seu apartamento quando eu fui de surpresa no seu apartamento quando cheguei em Boston?
Minha família não conhecia , mas Daisy, John e Kaden já tinham ouvido falar muito sobre ela. Minha avó a conheceu por 5 minutos quando chegou de surpresa no meu apartamento e conseguiu arrancar muitas informações de antes que ela fugisse como estivesse sendo submetida a uma tortura. Daisy e John não fizeram perguntas quando avisei que não traria mais uma acompanhante para o casamento e acho que no fundo eles esperavam por este desfecho mais do que eu.
- Não tinha nada demais entre nós – dei de ombros.
- Não tinha? – o sorriso condescendente quase me fez suspirar por saber que ela não ia se contentar com a resposta. – Você me deixou conversar com ela, . Você não faria isso se você qualquer uma. Ela ficou nervosa, você estava se divertindo com a situação e eu vi duas escovas de dentes no seu banheiro, além de produtos de cabelo de boa qualidade, que eu duvido que sejam seus.
Pisquei, levemente surpreso em como minha avó era detalhista. Ela pareceu muito satisfeita com minha expressão chocada.
- Eu sou observadora – ela pontou.
- Percebi – resmunguei, desviando o olhar para a entrada do salão. – Existia algo entre nós, mas é complicado.
- Os melhores amores não são? – sua voz se tornou mais suave.
- Não deviam ser – murmurei.
Eu estava ignorando a mágoa e a saudade nas últimas semanas e tinha, inclusive, começado a fugir de . Era fácil já que eu conhecia a rotina dela, então eu evitava sair de casa quando sabia que ela estava chegando do trabalho ou saindo para academia. Quando começamos a sair, eu não sabia de toda sua história, mas também não estava procurando nada sério e foi conveniente. Ela era divertida, sexy e era simplesmente fácil estar com ela. Mas em algum momento eu me apaixonei. Eu não sabia que a aversão dela por se entregar a um relacionamento era por conta do ex-namorado, mas ela acabou confessando isso uma noite quando chegou bêbada e foi bater na minha porta.
Eu estava ignorando a mágoa e a saudade nas últimas semanas e tinha, inclusive, começado a fugir de . Era fácil já que eu conhecia a rotina dela, então eu evitava sair de casa quando sabia que ela estava chegando do trabalho ou saindo para academia. Quando começamos a sair, eu não sabia de toda sua história, mas também não estava procurando nada sério e foi conveniente. Ela era divertida, sexy e era simplesmente fácil estar com ela. Mas em algum momento eu me apaixonei. Eu não sabia que a aversão dela em se entregar a um novo relacionamento era por conta do ex-namorado, mas ela acabou confessando isso uma noite quando chegamos bêbados de uma festa.
Foi quando ela também disse que me amava.
Mas também foi quando eu soube que estávamos fadados a este fim.
💔

- Você tá quente.
apertou o corpo contra o meu, afundando o nariz no meu braço para esquentar. Ela sempre reclamava que seu nariz era a parte do seu corpo que mais sentia frio, depois os pés e as orelhas.
- Eu sou quente – retruquei.
Ela riu, e eu não precisei olhar para saber que estava revirando os olhos.
- E presunçoso – acrescentou.
- E gostoso – acrescentei também.
- E convencido – murmurou, erguendo o olhar para mim.
- E lindo – abri um sorriso malicioso.
Os olhos dela estavam vermelhos, meio por conta do sono, meio por conta da noite regada a álcool que tivemos. Eu tinha bebido bem menos, mas estava definitivamente me sentindo mais leve. , por outro lado, estava muito bêbada, tanto que foi ela que sugeriu subirmos para admirar o nascer do sol no terraço do prédio. Estava quase menos 1 grau, mas ela tinha insistido e estávamos prestes a virar picolé aqui.
- E perfeito – ela bufou. – Eu odeio o quanto você é perfeito, !
Eu ri, apertando os braços ao redor dela.
- Mas você devia adorar – me defendi. – Eu sou tão perfeito que bebi menos só para você poder beber mais e ainda comprei baguetes para fazer torrada francesa no café. Você implorou por isso a semana toda!
Eu esperava por uma resposta sarcástica ou mais um revirar de olhos, mas me surpreendeu. Seus olhos encontraram os meus com tanta vulnerabilidade que eu fiquei surpreso por nunca ter visto isso nela antes. Seus dedos gelados tocaram minha bochecha que já estava levemente dormente, mas seu carinho fez minha pele aquecer como se ela estivesse em chamas.
- É por isso que eu odeio – murmurou. – Porque isso torna muito mais difícil eu não me apaixonar por você.
- E seria tão ruim se apaixonar por mim?
Ela pareceu tão arrasada que eu senti meu estômago revirar. Uma nuvem sombria pairou sobre seu rosto, cobrindo cada traço de diversão de segundos atrás. Eu não conhecia esse lado dela, mas odiei ver essa expressão de dor em seu rosto.
- Eu me apaixonei uma vez, – ela falou, seu olhar perdido em algum lugar muito distante. – E eu amei estar apaixonada. Mas ele me destruiu. Ele me manipulou, me enganou e transformou meu amor em algo sombrio e terrível. Eu me tornei outra pessoa e só percebi tarde demais. Eu estava tão apaixonada que me tornei cega e deixei minha vida se tornar um inferno. Era tarde demais quando percebi. Eu estou quebrada, .
- Eu tenho medo de me apaixonar de novo dessa forma.
- Eu nunca, nunca, faria isso com você – falei.
- E eu sei – ela sorriu, se aconchegando contra meu braço. – E é por isso que eu te amo.
Meu peito explodiu, meu corpo ficou tenso e eu quase parei de respirar. Meu olhar arregalado disparou para o rosto dela, mas estava de olhos fechados, alheia demais ao que tinha acabado de falar.
- É irônico, né? – ela riu, sonolenta. – Eu te amo.
Meu coração errou a batida.
- É por isso que eu finjo que ainda não me apaixonei... Porque admitir isso seria a nossa ruína.
💔

Balancei a cabeça para afastar a lembrança, mas minha avó ainda me olhava com curiosidade.
- não está pronta para admitir o que ela sente, vó – expliquei, esperando que isso pusesse fim ao assunto. – E eu não consigo fingir que não sinto.
Ela apertou os lábios como se quisesse falar algo, mas se segurou e assentiu.
- Vamos achar o seu táxi agora? – sinalizei para a entrada.
- Por favor – ela sorriu, me acompanhando. – Já tomei muito o seu tempo.
- Ainda me sentiria melhor se eu pudesse te acompanhar até o hotel – resmunguei, lançando um olhar repreensivo para ela.
Teimosa como era, minha avó ignorou.
- Sou bem grandinha para pegar um táxi sozinha, – balançou a cabeça. – Não quero te tirar da festa.
A festa estava incrível e provavelmente seguiria até a madrugada, mas eu agradeceria uma desculpa para fugir um pouco. Para a nossa sorte, o salão ficava em uma das avenidas mais movimentadas da cidade e mesmo que achar um táxi em uma noite de chuva não fosse fácil, com certeza seria mais simples do que se Daisy e John tivessem escolhido o salão de festas no campo como ele queria.
- Vou tentar parar algum táxi – avisei.
Peguei um guarda-chuva na chapelaria quando minha avó parou para pegar o casaco e fui recebido por uma rajada congelante de vento e chuva ao sair para a calçada.
- E você ainda diz gostar do clima de Boston – minha avó resmungou da entrada.
Olhei por cima do ombro para ela que estava na entrada, agora encolhida no sobretudo, mas me limitei a rir. Beirei a calçada e estendi a mão para chamar um táxi, mas nenhum parou. Comecei a gritar junto, mas os táxis amarelos não paravam. Eu já estava cansando e muito mais molhado do que seco quando um táxi finalmente parou, quase espirrando água em mim.
- Graças a D... – a frase morreu nos meus lábios quando a porta do táxi abriu.
Minha mente demorou alguns segundos para absorver a imagem da pessoa que acabou de sair do táxi.
estava com um vestido amarelo enorme que quase ficou preso no táxi quando ela fechou a porta. Seu cabelo estava em um coque e as luvas amarelas completavam sua fantasia de Bela e a Fera. Precisei piscar algumas vezes para assimilar, mas não era miragem.
- ?
Ela parecia insegura quando se aproximou de mim, a saia do vestido esvoaçando atrás dela. Eu estava tão atordoado que ignorei que um táxi tinha acabado de vagar para a minha avó.
- Eu estava no aniversário da sobrinha da Heather – ela riu, apontando para si mesma. – Combinamos de cada uma ser uma princesa da Disney e eu obviamente escolhi a Bela.
Assenti, ainda um pouco atordoado.
- E você deve estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui, né? – ela soltou um riso nervoso. – Eu estaria.
- Isso com certeza passou pela minha cabeça.
- Eu te amo – ela disse como se estivesse falando boa noite.
Meu coração deu um pulo no meu peito, mas eu estava simplesmente atordoado demais para esboçar alguma reação ainda. Há uma semana ela estava me dizendo que não conseguia lidar com isso e agora estava na minha frente dizendo que me ama? Era confuso.
- E eu amo há muito tempo – continuou, seu queixo tremendo, provavelmente por conta do frio. – Eu tenho traumas, . E lidar com eles não é fácil, mas eu estou tentando. Eu estou colando os pedaços que outra pessoa quebrou e eu sinto muito que eu te magoei enquanto tentava me consertar. Eu achei que não merecia ser feliz e que certamente não merecia você, mas eu estava na terapia ontem e depois de um bom tempo chorando na sessão, eu finalmente consegui aceitar que eu mereço, sim. Que eu posso ser feliz e que você não é ele. Eu sinto muito por ter demorado tanto pra entender isso, . E eu vou entender se você não estiver mais disposto a tentar, mas eu estou.
Os lábios dela se ergueram em um sorriso hesitante.
- E hoje eu estava no aniversário da sobrinha da Heather e eu só conseguia pensar que eu precisava falar isso pra vocês antes que fosse tarde. Então eu chamei um táxi e corri para cá assim mesmo. Claramente não pensei muito bem, mas... – ela riu de novo, piscando para espantas as gotas de chuva nos cílios. - Eu quero lutar por mim e por nós se você também quiser.
Eu não sabia o quanto tinha esperado para ouvir aquilo até ser consumido pela onda de alívio e felicidade que tomou conta do meu corpo. Desarmei a sombrinha e joguei no chão, me deixando ser igualmente encharcado pela chuva que não dava trégua. As gotas grossas e geladas pareciam lâminas na minha pele, mas ignorei a sensação quando me aproximei de , parando apenas quando as pontas dos meus sapatos encostaram nos dela.
- Você não faz ideia do quanto eu quero – respondi, abaixando meu rosto contra o dela. – Eu te amo, . Eu quero lutar por você e por nós.
A boca dela estava congelando quando se inclinou para me beijar, mas um calor inexplicável tomou conta do meu peito e se espalhou pelo meu corpo quando eu a puxei pela cintura para mais perto de mim. Ela suspirou, apertando os braços ao redor do meu pescoço e eu me esforcei muito para não sair girando com ela nos braços como uma maldita comédia romântica. Isso era tão certo que parecia absurda ideia de quase ter a perdido.
- Ora, quem diria que um dia eu ia agradecer o clima de Boston! – ouvi a minha avó rir. – Eu teria perdido toda emoção se não fosse por esta chuva.
, que não tinha notada a presença da minha avó até agora, se fastou como se um raio tivesse a atingido. Suas bochechas mudaram para um tom de rosa adorável e eu me controlei para não rir.
- Oi, Sra. a cumprimentou.
- Olá, querida – minha avó respondeu, com certeza se deleitando com a situação. – É bom vê-la de novo.
sorriu para minha avó, enquanto eu sorri para ela.
Era realmente muito bom vê-la de novo.


Fim



Nota da autora: Eu sou tão apaixonada por essa musica, então espero que vocês se apaixonem por esse casal comigo. Eu preciso agradecer MUITO a Aurora por ter organizado esse ficstape a pedido meu e ter tido muita paciência com a minha pessoa. Você é incrível, amiga! <3
Então espero que vocês gostem e não deixem de falar o que acharam. Beijos!

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