Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Julho de 2019. São Paulo.
já havia lido pelo menos dez artigos na internet sobre a desistência do São Paulo Futebol Clube em relação à sua contratação. Ele estava frustrado, chateado e nervoso. Queria sair dali o mais rápido possível, queria respirar novos ares, defender um novo escudo. Estava cansado do seu clube atual, estava cansado da torcida pegando no seu pé, estava farto de ser ignorado até mesmo pela sua namorada. O tornozelo latejando de dor apenas piorava sua situação, deixando-o ainda mais tenso. Ainda estava desacreditado que aquela lesão o tiraria dos gramados por tantos meses, tudo o que ele mais temia.
Ele fechou a aba do navegador e discou o número de Anna mais uma vez, já tinha até decorado, mas tudo o que conseguiu foi ser ignorado de novo, deixado na caixa postal. Ele não entendia o motivo de Anna estar tratando-o assim, alegando que ele deveria ter se esforçado mais para fazer a negociação dar certo, como se ele tivesse algum poder de decidir alguma coisa. O máximo que ele poderia escolher era o número da camisa, mas ele tinha certeza que Alexandre Pato não iria ceder o número 7 pra ele. Teria que se conformar com um número que ninguém se importava. Isto, é claro, se ele realmente tivesse mudado de clube, coisa que não aconteceu.
não podia colocar em palavras como se sentia amargurado e deprimido, a última vez que se sentiu assim foi justamente sete meses antes quando viu seu clube anterior sendo rebaixado para a segunda divisão e ele sendo apontado como um dos vilões da temporada. Achava injusta a acusação, mas não podia fazer muita coisa, agora em um novo clube só pensava que talvez a torcida tivesse razão e ele estava se mostrando um vilão novamente.
Ele evitava pensar naquilo e em tudo o que viveu naquele 2 de dezembro, mas quando se deu conta já estava imerso em pensamentos. Era injusto e frustrante, ele apenas queria que as coisas dessem certo para ele como costumavam dar certo aos seus colegas com quem já jogou.
Ele apenas esperava a sua vez.

...

Se o medo e a cobrança, tiram minha esperança
Tento me lembrar, de tudo que vivi
E o que tem por dentro, ninguém pode roubar.

Porto Alegre. 1 de dezembro de 2018. CT Luíz Carvalho.
- Você está preparado?
- a voz de Arthur, seu melhor amigo, parecia um eco do outro lado da linha, trazendo de volta para a realidade.
- Estou com medo, Arthur - confessou, quase sussurrando como se outra pessoa estivesse no quarto com ele. - Eu... todo mundo está contando comigo, mas eu tenho medo de decepcionar a todos. Ou melhor, eu já decepcionei, amanhã servirá apenas para terminar de cavar a nossa cova.
- Ei, não fala assim, vocês ainda podem escapar! Você jura que está mesmo dizendo isso pra mim? Vai entrar como um derrotado em campo amanhã?
- Não é isso, só é um pouco mais complicado do que parece... Arthur, eu não consigo. - a voz de soou mais amedrontada do que ele queria, mas sabia que o amigo não o julgaria por se sentir daquela forma.
- Consegue sim, você vai conseguir. Cara, fomos campeões de tudo! Você foi muito importante em todos os nossos títulos recentes e eu tenho certeza que amanhã você também vai ser importante. Não estou mais aí, mas faria de tudo pra poder jogar com vocês amanhã e dar o meu sangue pelo time.
- Você está melhor do que nós, acredite. - ele soltou um longo suspiro, de fato Arthur estava bem melhor do que ele por ter sido vendido ao Barcelona na metade do ano, quando as coisas ainda estavam mais ou menos bem.
- Mesmo que caiam, , não será sem lutar. É uma fase ruim como tantas outras que já tiveram antes. Por favor, dê o seu melhor, eu acredito em você. Não desistam sem lutar.
- Não se preocupe, nós vamos lutar. - tentou transparecer firmeza na voz, mas sabia que no seu íntimo não era bem assim.

...

2 de dezembro de 2018. Arena do Grêmio.
A bola cabeceada para dentro do gol fez com que o estádio explodisse em festa. Torcedores se abraçavam e choravam e a torcida organizada acendia sinalizadores enquanto cantavam a plenos pulmões enquanto o time do Grêmio comemorava no gramado. , o autor do gol, desabou no campo, em prantos, enquanto um amontoado de atletas caía em cima dele, mas tudo o que ele podia pensar era na gratidão por ser ele o responsável por aquele momento de glória. O Grêmio só dependia dele mesmo para se manter na elite do futebol nacional, uma vitória de 1x0 era o suficiente para que a equipe se livrasse do rebaixamento.
Com o estádio sendo tomado por fumaça, o jogo precisou ser paralisado, este foi o tempo necessário para que se acalmasse enquanto esperava pacientemente em sua posição o reinicio da partida. Era contagiante e muito animador aquele resultado e eles com certeza iriam buscar mais.
- O próximo vai ser meu! - Cebolinha gritou para ele do meio do campo e ele concordou rindo, tendo certeza de que o amigo iria cumprir o prometido.
Levou mais alguns minutos até que a fumaça deixasse o campo, mas logo a bola já estava rolando novamente para Grêmio x Internacional e não faltaram chances de gol. Fosse através do chute de Cebolinha na trave, da cabeçada de que o goleiro espalmou ou a cobrança de falta de Luan que passou muito perto, mas também foi para fora; não podiam negar que os gremistas realmente estavam se esforçando. Infelizmente, os esforços foram por água abaixo quando D'Alessandro empatou o jogo para os colorados, colocando o Grêmio no Z-4 novamente. A partir daí o time rival começou a crescer no jogo, embora os gremistas se defendessem como podiam, tentando puxar um contra-ataque em uma brecha do adversário. Em uma dessas arrancadas, Everton foi derrubado perto da grande área, o que resultou em uma cobrança de falta para o time da casa. Enquanto o goleiro ajustava a barreira, Luan se preparava para fazer a cobrança, ignorando completamente o fato de estar perto dele.
- Posso bater? - perguntou, esperançoso, embora o olhar do jogador em sua direção fosse cruel.
- Não - foi tudo o que Luan respondeu, mas não podia negar que estava com um leve desconforto na perna, o que poderia lhe prejudicar ao chutar.
- Por favor - usou da educação pela primeira vez. Luan e ele nunca se deram bem, mas naquele momento não era momento para brigas. - Você pode agravar uma lesão.
Luan gostaria de rebater da forma mais grosseira possível, mas todos os olhos estavam sobre eles, inclusive o do árbitro que se aproximava deles. estava certo, ele poderia se lesionar com um simples chute, já que a coxa doía na parte de trás. Deixou a rivalidade entre eles de lado e concordou, sem dizer nada, mas foi o suficiente para que entendesse.
A barreira estava formada. Os jogadores do Internacional estavam alinhados na entrada da grande área e hora ou outra o árbitro precisava separar o início de confusão entre os atletas dos dois times. 1x1 em plena Arena do Grêmio aos 44 minutos do segundo tempo.
O camisa 7 do Grêmio respirava ofegante, visivelmente cansado. Seu olhar revezava entre a bola e o goleiro bem atrás da barreira. respirou fundo, pegou impulso e chutou de pé esquerdo, a bola bateu na cabeça de um dos zagueiros do Colorado e foi direto para a linha de fundo. Escanteio. não podia acreditar que havia perdido aquela chance. Luan, inconformado, foi até a bandeirinha do lado esquerdo do campo. Sem delongas cobrou o escanteio que foi direto para a pequena área, mas o goleiro Marcelo Lomba foi mais rápido e pegou a bola com as mãos passando a adiante para que o Internacional armasse um contra ataque.
recuou, tentando ajudar o time como podia, mas quando viu o atacante adversário, Paolo Guerrero, sozinho e em posição legal, sabia o que aconteceria depois.
Guerrero deixou o arqueiro gremista pra trás e um simples toque na bola foi o suficiente para que ela entrasse no gol antes que qualquer zagueiro chegasse para cortar.
Diante de um estádio silencioso, viu seu time rebaixado pela segunda vez na história do clube. Junto com o apito final, ele desabou em campo. Preferia a morte do que ter que enfrentar aquilo em pleno estádio gremista na frente de uma torcida apaixonada, mas que naquele momento estava sendo contida pela polícia.
se levantou e caminhou para sair de campo. Não ouviu seus colegas de clube, não ouviu seu treinador e nem comissão técnica, apenas correu em direção ao vestiário.
Torcia para que fosse apenas um pesadelo ruim e que tudo fosse ficar bem.

...

chorava compulsivamente no seu acento do vestiário, devastado e inconsolável. É claro, todo mundo estava triste também, todo mundo chorou um pouquinho, mas ninguém chorou como ele. soluçava de tanto chorar, as lágrimas pingavam sem parar, molhando o chão, os ombros subiam e desciam rapidamente e ele mal podia respirar. Tinha certeza de que nunca tinha se sentido tão triste durante toda a sua vida, jamais chorou daquela forma, nem mesmo quando se lesionou e ficou afastado por quase um ano. Não, aquilo era mil vezes pior, ele se sentia o mais culpado ali, tendo certeza de que não deu o seu melhor como prometeu para Arthur, como prometeu para a torcida. Toda a cobrança nas suas costas tinha um motivo e sentia que simplesmente havia falhado e nada e nem ninguém poderia mudar aquilo.
- Ei, garoto - Renato, seu treinador, se aproximou e se sentou ao lado dele, dando tapinhas nas costas dele. - Levanta daí, enxuga essas lágrimas.
- Me perdoa - foi tudo o que conseguiu dizer, incapaz de parar de chorar.
- Perdoar pelo quê? Sei que você está se culpando, mas você é o último dos culpados pra mim, eu vi todo o seu esforço em campo hoje. Por favor, , olha pra mim - ele assim fez e encarou os olhos marejados de seu treinador. - Estou orgulho do meu time, da entrega de todos vocês hoje, vocês honraram a camisa, jogando com uma raça que não se vê todos os dias. Não sei se estarei aqui amanhã com vocês, mas tenho orgulho de ser seu treinador.
- Não é justo - tentou secar as lágrimas que insistiam em saltar dos seus olhos. - Você não pode sair.
- Eu acho muito difícil eu continuar para a próxima temporada; só estou sendo realista, mas não importa. Estou falando de você, , não quero que você se culpe por algo que não é sua culpa. Você tem que se lembrar de tudo o que você viveu para chegar aqui, conquistar o que você conquistou não foi fácil, eu sei que não. Você tem raça e força de vontade, garoto, isso vale mais do que a técnica que você tem de sobra. O que você tem aí dentro ninguém pode roubar. Descansa agora, tá? Todos vocês - ele olhou para o restante do vestiário, vendo que o time todo prestava atenção no monólogo dele. - Descansem, amanhã é um novo dia.
- Obrigado, professor - respirou fundo, procurando se acalmar, mas a voz ainda soava como um gemido de dor.

...
O suor e o cansaço fazem parte dos meus passos
O que nunca esqueci é de onde vim
E o que tem por dentro, ninguém pode roubar.

passou o dia seguinte na casa de sua mãe. Estava desolado e só queria descansar a mente um pouco; se quer tinha levado seu celular justamente para fugir das críticas e ameaças que estava recebendo. Passar aquele momento difícil em família era o que ele precisava. Sua mãe, seus irmãos e suas sobrinhas eram as pessoas ideais para lhe fazerem companhia naquele momento. Belinda, sua sobrinha mais nova, se aninhou a ele no sofá da sala enquanto assistam uma animação infantil, mas estava com a cabeça longe.
Não queria chorar toda hora, mas não conseguia, estava desolado e hora ou outra, lágrimas escorriam pelo seu rosto. Belinda, vendo que ele estava chorando, passou suas mãozinhas pelo rosto dele para secar as lágrimas. sorriu para ela, mesmo que Belinda não entendesse, estava ali com ele e era o suficiente. Nada como estar com a família.
- Não chora, tio, é só um jogo - ela disse de forma inocente e ele riu enquanto deitava a cabeça nas pernas dela.
- Você tem razão, é só um jogo - deixou que ela o abraçasse.
E ele teria muitos outros pela frente, talvez não no Grêmio, já que tinha propostas e era provável que iria sair, mas o show tinha que continuar, ele precisava continuar se esforçando para dar o seu melhor sempre. Tudo o que fazia era pela sua família e desistir não era uma opção, embora ele quisesse muito.
sentia seus olhos tão pesados de tanto chorar que acabou adormecendo ali mesmo. Sonhou com aquele maldito jogo, hora ganhando e hora perdendo, mas sempre o mesmo jogo no qual ele era o vilão; nunca mudava. Sabia que estava sonhando, mas não conseguia acordar por conta própria, apenas quando Ronald, seu irmão, lhe deu um chacoalho, conseguiu acordar um pouco desnorteado e Belinda já não estava mais ali.
- Ei, ei, ei. Calma, você está em casa - Rony tentou o acalmar quando ele se assustou.
- Rony, eu não consigo descansar. Eu não aguento mais! – disse aborrecido e cansado.
- , já acabou. Está tudo bem.
- Não, não está tudo bem! Caímos, já era, tô ferrado!
Rony respirou fundo e se sentou ao lado do irmão mais velho. Sabia que não conseguiria fazer mudar de ideia por nada, mas ao menos podia tentar fazer o irmão se acalmar. Não sabia como era ser um jogador de futebol, não sabia como era sentir na pele a pressão que sofria para entregar bons resultados, mas ele também tinha seus problemas e dias ruins como qualquer pessoa.
- Caíram, já era, como você mesmo disse... Se você for pra outro lugar ou ficar aqui, tanto faz, vamos apoiar você, isso tem que valer de alguma coisa, não é?
- É claro que vale, Rony.
- Então melhora essa cara de enterro, você não está morto. Estamos aqui com você, é só uma fase, nada do que você fez foi em vão.
- Será?
- Lembra de onde você veio e tudo o que passou para chegar onde está hoje, foi um caminho longo, não é?
- Foi... - sorriu fraco, no final tudo tinha valido a pena.
- Você é grande, , não se esquece disso... De qualquer forma, só vim te chamar para jantar, o arroz carreteiro tá do jeito que você gosta.
- Dona Regina vai me deixar gordo - os dois riram enquanto se levantavam. Era a hora do jantar.

...

E eu não to aqui pra dizer o que é certo e errado
Ninguém ta aqui pra viver em vão.
Então é bom valer a pena, então é pra valer a pena, ou melhor não.
Os dias ruins todo mundo tem
Já jurei pra mim, não desanimar
E não ter mais pressa, pois sei que o mundo vai girar
O mundo vai girar, e eu espero a minha vez.

- Eu sinto muito - Dantas disse com sinceridade - Eu fiz o que pude, mas a diretoria não quer mais.
- Como assim "não quer mais"? O que eles pensam que sou? Um amador? - o rapaz perguntou indignado.
- , você perdeu a chance de ouro de salvar o time. O Renato e eu tentamos, ele gosta de você, mas não conseguimos nada. A torcida quer, literalmente, matar você e o resto do elenco. Deixar Porto Alegre é o melhor pra você.
- Mas eu... eu cresci no Grêmio - ele baixou a voz, estava sem ar.
- O Grêmio não te quer, , e acho que você não tem mais espaço aqui.
- Mas pra onde eu vou?
Dantas colocou alguns documentos em cima da mesa.
- Esses três ainda têm interesse em você. Eu não deveria, mas vou deixar você escolher pra qual quer ir.
leu o primeiro. Um gigante carioca, mas que não conquistava um título notório há muito tempo, com um salário inferior ao seu atual.
- É ridículo. Não vou jogar no Botafogo. Nada contra, mas não quero morar no Rio de Janeiro nunca. - entregou o papel para Dantas que rasgou como se fosse um bilhetinho.
- Certo, tudo bem. Nada de Botafogo.
O segundo era o clube mexicano Chívas. não conteve um riso, conhecia muito bem o histórico negativo daquele clube.
- Não foi por causa do Chívas que a Conmebol baniu os clubes mexicanos da Libertadores?
- Supera, , isso já faz tempo.
- Claro, tanto é que nunca mais jogaram o campeonato. Não, esquece. - devolveu o documento para o empresário.
- Parece que temos um campeão.
pegou o último papel e uma leve careta se formou no seu rosto. Era um dos quatro grandes paulistas, muitos jogadores prestigiados já haviam demonstrado algum interesse em jogar lá algum dia, mas não .
- Não.
- Dá uma chance, !
- Eu não vou jogar no...
- Você queria que fosse o Barcelona? Mas deixa eu te dizer: o Barcelona não contrata jogador que erra uma falta importante aos quarenta e quatro do segundo tempo e termina de afundar o time! olhou incrédulo para o homem. Sentia vontade de chorar, mas não ia demonstrar de forma alguma.
- Quer jogar com o Messi, Suarez e Coutinho? Tá com saudade do seu amiguinho Arthur? Primeiro você precisa ser trinta vezes melhor. Indo jogar em São Paulo você vai conseguir isso, . Esse clube tem uma das melhores estruturas do país.
- O salário é menor. Vamos sair no prejuízo.
- Só se o Barcelona não te contratar depois.
não conteve o sorriso.
- Não se preocupa, eu não te mandaria pra um lugar que pudessem te matar. Então, posso fazer a ligação?
- Pode.
- Que bom, o Emerson vai ficar feliz em te receber. Bem-vindo ao Sport Club Corinthians Paulista, .


Fim



Nota da autora: Oii! Como vocês estão? Essa ficou bem curtinha, mas sinceramente foi muito difícil de escrever, porque essa música significou muito pra mim durante épocas muito ruins da minha vida, então a carga emocional foi grande não só pro PP, mas pra mim também. Peço mil desculpas, mas agora sabemos o que aconteceu antes do prólogo de ONG, né? E que dó do bichinho ahahahah mas o mundo deu muitas voltas e agora ele está ótimo, obrigada!
Espero muito que tenham gostado, e caso não tenham lido a original, Onde Nascem os Grandes, o link está bem aqui embaixo. Gratidão <3





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- 07. Essa eu fiz pra esquecer (Spin-off de ONG)
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- Love and blood

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