Prólogo
Provence, França
O dia tinha amanhecido ensolarado e estava mais quente do que parecia quando Voitenko saiu do prédio principal do resort onde estava hospedada. Tinha decidido tirar alguns dias de folga, depois da semana de moda em Paris e achou que o interior da França era o lugar ideal para relaxar e descansar dos dias tão corridos e tumultuados que teve. Apesar de amar, e muito, o que fazia, ela gostava de passar algum tempo sozinha depois daqueles grandes eventos. Precisava de um tempo para respirar, ficar longe de toda a exposição, fofocas, de todos os rumores e do assédio constante da mídia e das pessoas que a cercavam. Era muito grata a todos eles por fazerem o nome dela, em todos aqueles anos, ecoar pelo mundo, mas, igualmente, sentia-se sempre desgastada por ter que parecer constantemente feliz, simpática e solícita em público.
sempre foi muito reservada. Tinha uma família que valorizava muito a discrição, que não gostava de se expor de modo algum e sempre esteve cercada, desde criança, por um seleto grupo de amigos, que compartilhava o estilo de vida que ela tinha. Seu pai, Pavlo, um grande empresário do ramo de petróleo, que herdou jazidas de seus avós, vivia incansavelmente pela e para sua família e não havia nada que não fizesse por suas meninas. Quando nasceu, o homem sentiu-se completamente realizado, como se tivesse ganho, naquele dia, o seu bem mais valioso. era a menina dos olhos do pai e, por isso, sempre tinha sido muito mimada pelo casal. Cresceu envolta e imersa por tudo aquilo que o mundo tinha de melhor a oferecer: as melhores escolas, as melhores roupas, os melhores restaurantes, as melhores bebidas, os procedimentos mais tecnológicos, os melhores destinos pelo mundo, pessoas cobiçadas e oportunidades sem limites.
Não havia nada que não pudesse ter em sua vida e aquela era, sem dúvidas, uma das melhores partes de ser quem era. Contudo, apesar disso, de todo luxo e da falta de limites, das infinitas possibilidades e oportunidades que tinha na vida, a família de nunca fez o estilo ostentação. Eram conscientes do que tinham e de como se aproveitar disso, sempre elegantes, refinados, contidos. Usufruíam do mundo sem que, de fato, o mundo percebesse e tinham em seu círculo de convívio pouquíssimas pessoas em quem confiavam compartilhar suas vidas e intimidades, quem verdadeiramente eram.
Por isso, quando decidiu, ainda na adolescência, seguir a carreira de modelo, seus pais pareceram surpresos e demoraram algum tempo em sentir confiança na profissão, em apoiar a filha. Toda a exposição que trataria a si mesma e a sua família, partes de sua vida que seriam abertas e públicas, preocupavam seus pais, mas não tardou em ser um tema superado por eles. sabia separar as esferas de sua vida, sabia manter no privado o que lhe era pessoal e sabia lidar com tudo o que era público - ao menos, era o que ela achava. Cuidava, e se mantinha no controle de tudo, para não se envolver em escândalos, em rumores polêmicos, em não estar em meio a confusões e mal entendidos e fazia um mistério, necessário, sobre quem realmente era e com quem se relacionava. Achava que, assim, conseguia manter um relacionamento saudável com a mídia, consigo mesma e, principalmente, com seus pais.
Nenhum de seus relacionamentos amorosos chegou a ser público e o máximo que podiam ver de sua vida pessoal eram fotos e vídeos com seus amigos mais próximos e membros da família, geralmente em eventos formais - sempre as mesmas pessoas, os poucos e os únicos em quem ela confiava. Talvez tenha herdado aquele traço de seus pais e, não podia mentir, às vezes, achava intenso demais, restrito demais. Mas era mais seguro assim. sempre teve dificuldades em confiar nas pessoas, sempre foi desconfiada demais, fechada demais. Não se permitia conhecer ou ser conhecida tão fácil, não se sentia confortável em abrir-se para qualquer pessoa, exceto quando tinha certeza absoluta de que não tiraram dela nada senão o que ela tinha a oferecer: si mesma. De interesseiros, golpistas e traidores, aquele mundo estava cheio.
riu sozinha dos próprios pensamentos e seguiu caminhando sentido o lado de fora do resort. Há quase cinco dias hospedada ali, um lugar que já era bastante conhecido por ela, já não sabia mais o que fazer. Saia todos os dias pela manhã para correr pelos campos do local, tomava seu café da manhã com tranquilidade, aproveitava às piscinas com vistas excepcionalmente bonitas, almoçava, ia para a academia, tirava os cochilos que quase nunca tinha tempo de tirar no dia a dia, ia ao spa e, a noite, tomava alguns drinks no bar ou pedia algo para comer em seu quarto, enquanto lia um livro ou assistia a alguma série. Tudo perfeitamente relaxante, como ela gostava, mas, no final do quinto dia, já estava começando a ficar entediante.
Por isso, naquela manhã, sem planos para o dia que começava, resolveu aproveitar os campos de golfe que havia no local. Desde muito nova adquiriu aquele hobbie com seu pai, que lhe ensinou a arte e maestria do esporte, tornando-se um dos momentos mais importantes, de pai e filha, que compartilhavam. Gostavam de colocar o golfe em seus roteiros de viagens, sempre se perdiam nas horas jogando juntos e faziam questão de conhecer campos novos. tinha boas lembranças com seu pai no golfe e ponderou por um momento se realmente jogaria sozinha e se aquilo não o deixaria chateado. Após tomar o café da manhã, pensativa, na varanda de seu quarto, decidiu que jogaria sim. Trocou-se rapidamente, colocando uma mini saia rosa, uma camisa polo branca, o tênis da mesma cor, prendeu o cabelo em um coque alto e, depois de finalizar uma maquiagem básica, colocou a viseira, já saindo de seu quarto em direção ao local.
chegou do lado de fora do prédio e já se encaminhava para um dos mini carros, que a poderia levar até o campo de golfe, quando algo pareceu lhe soar estranho. E ela não demorou mais do que alguns segundos para perceber o que era: não tinha sequer cogitado a ideia de ir buscar os equipamentos. Se ia mesmo jogar golfe, precisava, no mínimo, de alguns tacos e bolinhas. Com a cabeça na lua, a modelo desviou seu caminho até um dos bares no exterior do resort, onde poderia solicitar os equipamentos e fazer o empréstimo. Assim que entrou no local, foi diretamente para o balcão onde sentou-se, chamando um funcionário e lhe pedindo o que precisava. Ao seu lado, duas outras garotas se aproximaram, se sentando ali e, sem querer, a modelo não pôde deixar de ouvir a conversa delas.
— Nove buracos, , é ridículo — Uma delas riu baixo, chamando a atenção de . Ela usava uma mini saia preta e uma blusa sem mangas, preta e branca, com tênis pretos nos pés. Tinha os cabelos escuros presos em um rabo de cavalo e trazia um taco consigo.
— Se eu acertar um, já estou feliz — A outra mulher com ela respondeu, igualmente risonha. Estava com um vestido curto, branco, que combinava com o tênis que usava e ajustava a luva em sua mão direita.
— Por favor, você está treinando com a melhor do mundo — A primeira rebateu, claramente fingindo arrogância.
— Estou competindo com a melhor do mundo, isso sim — A outra deu de ombros, vendo a amiga rir fofa.
Bastou a colocar os olhos em uma das mulheres que estava ali, para imediatamente reconhecê-la: Hermann, conhecida no mundo da moda por ser dona de uma das maiores marcas de grife e promotora dos melhores desfiles da atualidade. não havia desfilado para a grife da empresária mas, por ser uma figura influente nas redes sociais, a modelo havia recebido recentemente, talvez um mês atrás, um press kit da marca, com algumas peças exclusivas da nova coleção, as quais fez questão de divulgar organicamente, porque eram absurdamente lindas.
Ainda não tinha se encontrado com ela também, pessoalmente. Se seguiam nas redes sociais e, eventualmente, trocavam algumas interações, mas não passava daquilo. parecia ter mais ou menos a mesma idade de e, a tirar pelas peças de roupa que fazia, era criativa e tinha muito bom gosto. não se surpreendeu ao encontrá-la ali, pelo contrário, pareceu bastante comum. Assim como ela, vinha de uma família rica e influente, sua mãe tinha herdado redes de hotéis pelo mundo e seu pai, não mais vivo, foi um estilista renomado. A família Hermann tinha um peso importante na alta sociedade europeia há gerações e se perguntou, por um momento, por que é que não se encontrou com ela antes. O amor à moda, o estilo de vida, os lugares que frequentavam e, agora, o golfe pareciam só algumas das coisas que tinham em comum.
— Se a competição fosse no look do dia, você certamente ganharia — intrometeu-se tímida na conversa, atraindo a atenção das duas outras mulheres — Sem ofensas — ela riu para a primeira, que concordou com a cabeça:
— Vou ser obrigada a concordar.
— Ah meu Deus! Voitenko! — sorriu contente para , surpresa em vê-la ali, e estendeu-lhe a mão — É um prazer.
— O prazer é todo meu — A modelo levantou-se sorrindo de volta e apertou a mão da outra mulher — Finalmente nos encontramos.
— Pois é! — concordou e riu breve — E no lugar mais inesperado possível. Esperava te ver nas semanas de moda ou em algum editorial para a Hermann.
— Seria um sonho — colocou uma mão no coração, rindo tímida.
— Para mim também — a empresária sorriu com ternura — Lily, essa é a . E , essa é a Lily.
Estendendo a mão para a outra mulher com , a cumprimentou, simpática. Muni He, ou Lily como gostava de ser chamada, não lhe parecia um rosto incomum mas, igualmente, não lhe era familiar. Tinha a sensação de já tê-la visto em algum lugar, embora não se lembrasse exatamente de onde. Lily era uma jogadora renomada de golfe, jogava profissionalmente há alguns anos e já possuía um campeonato mundial em sua conta. Nasceu na China mas, ainda pequena, mudou-se com a família para os Estados Unidos, onde cresceu e se formou na Universidade da Califórnia. Desde então, dividia sua vida entre o país, onde sua família ainda estava, e a Europa, onde se sentia mais confortável e onde tinha a maioria de seus amigos.
Como um clique em sua mente, se ligou sobre quem era ela, de alguns campeonatos que assistiu com seu pai. Estava pronta para perguntar algo, mas não teve muito tempo para isso, contudo, porque o atendente que estava tratando do pedido dela voltou às interrompeu delicada e educadamente.
— Com licença, senhorita, — ele chamou, atraindo a atenção das três — neste momento todos nossos equipamentos estão alugados, eu sinto muito pelo transtorno. Teremos um kit disponível daqui exatamente 45 minutos. Aceita uma bebida de cortesia da casa enquanto espera?
— Claro, obrigada — A modelo concordou sorrindo, pedindo uma bebida qualquer enquanto o atendente prontamente se afastava delas para ir buscá-la.
— Estamos com um kit completo aqui, dá para até cinco pessoas jogarem e, dessa vez, somos só eu e . Por que você não joga conosco? — Lily perguntou animadamente, de repente, e concordou com a cabeça, sorrindo eufórica pela ideia, para a modelo.
— Não quero incomodar o jogo de vocês — negou brevemente com a cabeça.
— Não é incomodo algum! Somos só nós duas mesmo, vem com a gente — ainda sorria — Jogar sozinha não é tão legal.
— Não sei, meninas, não quero atrapalhar os planos de vocês — A modelo parecia incerta.
— Pare com isso — Lily insistiu, gesticulando — Vai ser super legal.
— Super legal ver a Lily humilhando a gente — brincou, recebendo uma careta da amiga — Vem com a gente sim, , fazemos questão. Estava contando para Lily sobre as fofocas da semana de moda e tenho certeza que você vai amar também, se é que não sabe já.
— Bom, nesse caso, vou te fazer companhia na fofoca e perdendo para ela — aceitou o convite animada, feliz por ter encontrado com elas e garantido sua única diversão do dia.
Elas esperaram até que o atendente trouxesse a bebida de e, se alongando levemente enquanto conversavam sobre os acontecido em Paris na semana anterior, terminaram de se aprontar para ir ao jogo. O carrinho de golfe as esperava com o equipamento que tinham alugado e, não muito tempo depois, foram, enfim, até o campo. Com 1.300 metros, o campo de golfe Tour d’Opio era famoso na região por ser um ótimo campo para iniciantes. Tinha apenas 9 buracos relativamente curtos e, apesar dos obstáculos serem progressivos, seu nível de dificuldade era bastante baixo, o que deixava Lily bastante frustrada.
As meninas pararam o pequeno veículo próximo a uma rampa onde teriam uma visão privilegiada de todo o local, examinaram os buracos para criarem suas estratégias de jogo e depois de retirarem os equipamentos do carrinho, se prepararam para, enfim, começar a partida. Lily, como jogadora profissional, sempre tinha seu próprio taco personalizado na mala e pegou o equipamento já se preparando para a primeira tacada. Ela aproveitou o momento para dar algumas dicas a , que, apesar de já ter jogado e estar familiarizada com as regras, não possuía muita prática com o esporte e, assim que deu a primeira tacada, a bola caiu próxima ao primeiro buraco, mais ou menos cinco metros de onde estavam.
Lily deu um pulo, animada, e as meninas sorriram, batendo palmas. Seguindo a ordem do jogo, preparou a bolinha e olhou ao redor. Parecia nervosa e, depois de seguir algumas instruções da amiga, preparou-se para tacar. A empresária, contudo, não havia colocado muita força e, com isso, a bolinha rolou apenas alguns metros, ficando distante da bolinha da chinesa. sorriu fraco, enquanto as duas mulheres bateram palma pela determinação e Lily acalmou a amiga. , por sua vez, não teve grandes dificuldades. Já estava acostumada com o esporte e, com isso, ao dar a tacada, não se surpreendeu quando a bola parou muito próxima do buraco, deixando a modelo na frente das duas colegas. Ambas sorriram, batendo palmas impressionadas, pegaram o equipamento e, depois de entrarem novamente no pequeno carro, desceram em direção ao buraco seguinte, para continuar o jogo.
Todas elas já tinham jogado golfe naquele campo algumas vezes, ao longo da vida, e gostavam mais dele pela vista amena e provençal das colinas ao redor, do que pelo tipo de jogo que podiam fazer ali. O dia estava claro, o céu bastante azul e o clima favorável, com pouquíssimo vento, o que deixaria o jogo um pouco menos interessante não fosse pelas competidoras serem um pouco competitivas demais e pelas conversas divertidas, que pareciam aproximá-las entre uma tacada e outra.
O jogo continuou por mais algumas horas, enquanto o papo entre as meninas fluía naturalmente e , a mais reservada entre elas, estava gostando daquela amizade improvável. Estavam se divertindo e a competição estava acirrada entre Lily e , enquanto , que tinha até conseguido encaçapar algumas bolas, estava se saindo bem e relaxada durante a partida agradável. No oitavo buraco, o penúltimo, quando se preparava para tacar mais uma bola, quando o celular de Lily tocou, atraindo a atenção das três. A jogadora correu até a bolsa, no carrinho, pegando o telefone e pedindo desculpas às amigas, pela interrupção da conversa e do jogo.
— Oi amor, tudo bem? — A mulher sorria para o telefone, enquanto dava alguns passos mais longe dali, para ter mais privacidade em conversar com o namorado. Ficaram alguns minutos conversando e, como era a vez da chinesa no jogo, e ficaram aguardando sentadas no carrinho, comentando sobre suas famílias, até Lily finalmente voltar — Desculpem meninas, era o Alex.
— Alexander sempre atrapalhando nosso golfe — brincou, gesticulando para a amiga entrar no carrinho. Estava sentada no banco do piloto, com ao lado. Lily deu-lhe a língua.
— Foi por uma boa causa dessa vez — Lily a encarou significativamente — Queria saber como eu estava e dizer que já decidiu o local para o aniversário dele.
— Finalmente — celebrou. Já estava quase em cima do dia e Alex, enrolado como sempre, ainda não tinha decidido onde comemorar naquele ano.
— Quem é Alex? — perguntou curiosa, sorrindo sugestiva para Lily que entrava no carro com elas, no banco de trás.
— Ai desculpa! É meu namorado — Lily encolheu os ombros, fofa, colocando-se no meio das duas.
— Você deve conhecer, Alex Albon, ele é piloto de Fórmula 1 — explicou para , dirigindo o carrinho em direção às bolinhas.
— Na verdade, não estou muito familiarizada com a Fórmula 1 — olhou para as duas amigas, pensativa.
— Não brinca! Como assim você não curte automobilismo?— Tirando uma risada das amigas, brincou.
— Meu pai é um grande apreciador, mas confesso que não conheço muito e nem estou por dentro de quem são os pilotos das últimas temporadas — confessou, se escondendo levemente nas mãos.
— Não vai se arrepender — Lily riu — E não tem problema em não conhecer muito, eu mesma só comecei a acompanhar depois que conheci o Alex.
— Também não sabia absolutamente nada até meus pais se mudarem para Espanha, virarem vizinhos dos pais de um dos pilotos e eu ser arrastada para os rolês com esse pessoal todo — concordou com a cabeça, dando de ombros.
— Bom, acho que podem me incluir nos próximos rolês, então — balançou seu taco de um lado a outro, sorrindo.
— Com certeza, sim — logo concordou, parando o carrinho — Preciso de companhia para parar de ficar de vela de Lily e Alex.
— Fica de vela não por falta de opção, — A jogadora levantou as sobrancelhas para a amiga — mas porque escolheu o gato errado.
— Eu não escolhi ninguém! Somos amigos e ele namora, fim. — revirou os olhos, sem graça — Agora conta para sobre o Albon.
— Está bem, está bem… — Lily se deu por vencida — Estamos juntos há três anos e, antes disso, nunca acompanhei absolutamente nada de Fórmula 1. Mas desde que conheci Alex, acho que me apaixonei por ele e pelo esporte, sabe?
E, emendando uma história na outra, animada, Lily contou a elas sobre como havia conhecido Alex, como faziam para que o relacionamento desse certo, mesmo com a distância, os fãs e a saudade. já tinha ouvido aquelas histórias milhares de vezes e sabia da paixão da amiga pelo piloto. Conhecia Lily há pouco mais de dois anos, desde quando se juntou ao grupo oficialmente por Alex e, nesse tempo, conseguiu acompanhar de perto o desenrolar do relacionamento entre os dois. Lily sempre falava com amor sobre Alex e era encantador de se ouvir, os amava.
Ela e Lily tinham feito amizade por conta do golfe, quando se encontraram casualmente em uma corrida e, sem mais ninguém para lhes fazer companhia, enquanto esperavam o evento começar, assistiram a uma partida de golfe que era transmitida na televisão do bar e passaram horas falando mal dos competidores. era uma pessoa fácil de lidar, era expansiva, muito falante e sociável, enquanto Lily, com seu jeito amigável e meigo, sorridente, conquistava qualquer um à primeira vista. Desde então, elas duas se encontravam quando estavam nas mesmas cidades, saiam juntas e davam um jeito de manter o contato que, como acontecia ali com , tinha sido tão natural e casual. conhecia Alex pessoalmente, há mais tempo do que conhecia Lily, por ter sido inserida naquele mundo desde que seu amigo de muito tempo, Carlos Sainz, ingressou na Fórmula 1. Além de Alex, conhecia alguns outros de seus amigos de trabalho também. Estava incluída naquele círculo social e, desde que Lily e outras meninas se juntaram a eles, passou a gostar ainda mais do tempo que podiam, todos, passar juntos.
Ouvindo as histórias, espalhadas pelo campo de golfe depois de terminar a partida que deu vitória a Lily, sentiu que a chinesa tinha sorte em ter encontrado Alexander. Viu algumas fotos deles, que as amigas mostraram, e pareciam ser um casal e tanto. Combinavam em muitos sentidos, se respeitavam, se amavam. Tinham seus tempos, seus espaços, sabiam conviver com as complexidades de serem quem eram e mantinham o amor acima de tudo. ainda não tinha tido aquela sorte. Não tinha encontrado o amor daquela forma e, no fundo, apesar de ser uma pessoa difícil de se ter a confiança, sonhava em um dia encontrar.
— Inclusive, — Lily falou em certo momento — na próxima semana será aniversário do Alex e faremos uma pequena festa, só para os amigos...
— Sei a pequena festa que você vai fazer com ele — provocou a amiga, tomando um gole de água da garrafinha que segurava.
— Para! — Lily apontou seu taco para a amiga, rindo tímida — É sério.
— Vocês são muito fofos juntos, vai ser incrível, tenho certeza — estava encantada, devolvendo o celular que via uma fotos deles juntos, para Lily.
— Vai ser na terça-feira, na terra da , em Barcelona, já que o GP vai ser lá no final de semana. Você gostaria de ir, ? — Lily virou-se para ela, empolgada. Tinha realmente gostado da tarde que passou com as meninas, havia muito em comum entre elas e seria perfeito ter mais alguém na festa, mais uma mulher no grupo — Se não tiver nada para fazer, claro.
— Seria incrível — celebrou a possibilidade, empolgada.
— Poderíamos passar a semana juntas lá, dar prejuízo para a , assaltando a loja da Hermann de Barcelona que, sem querer ofender, é a melhor — Lily olhou de para , que parecia pensativa com o convite.
— Foi a primeira, não foi? — Rindo do comentário de Lily, virou-se para .
— Sim, meu pai achou que seria uma homenagem para minha mãe, decidimos abrir na cidade natal dela — deu de ombros, sem querer muito falar de seu pai e notou aquilo — É a maior loja que temos, a que recebe peças exclusivas que você não não encontra em outras lojas da marca e é a favorita da Lily, que sempre pega tudo o que vê pela frente.
— Eu escolho muito bem minhas amizades — A chinesa riu, sem vergonha.
— Você tem carta verde para pegar o que quiser — lançou-lhe um beijo e, então, apontou para — e você tem mais um motivo para aceitar o convite e ir com a gente para Barcelona. Vai ser incrível te levar na nossa primeira loja.
— Apesar de querer muito visitar a Hermann com a verdadeira Hermann, não sei, meninas... — resistiu, incerta.
— Você não se arrependeu de ter aceitado o convite para jogar com a gente hoje — Lily insistiu, fazendo um biquinho — E podemos assistir a corrida no final de semana também. Com certeza o Alex ou o Sainz conseguem um acesso extra. O que me diz? Vamos?
~ ❤ ~
O dia tinha amanhecido ensolarado e estava mais quente do que parecia quando Voitenko saiu do prédio principal do resort onde estava hospedada. Tinha decidido tirar alguns dias de folga, depois da semana de moda em Paris e achou que o interior da França era o lugar ideal para relaxar e descansar dos dias tão corridos e tumultuados que teve. Apesar de amar, e muito, o que fazia, ela gostava de passar algum tempo sozinha depois daqueles grandes eventos. Precisava de um tempo para respirar, ficar longe de toda a exposição, fofocas, de todos os rumores e do assédio constante da mídia e das pessoas que a cercavam. Era muito grata a todos eles por fazerem o nome dela, em todos aqueles anos, ecoar pelo mundo, mas, igualmente, sentia-se sempre desgastada por ter que parecer constantemente feliz, simpática e solícita em público.
sempre foi muito reservada. Tinha uma família que valorizava muito a discrição, que não gostava de se expor de modo algum e sempre esteve cercada, desde criança, por um seleto grupo de amigos, que compartilhava o estilo de vida que ela tinha. Seu pai, Pavlo, um grande empresário do ramo de petróleo, que herdou jazidas de seus avós, vivia incansavelmente pela e para sua família e não havia nada que não fizesse por suas meninas. Quando nasceu, o homem sentiu-se completamente realizado, como se tivesse ganho, naquele dia, o seu bem mais valioso. era a menina dos olhos do pai e, por isso, sempre tinha sido muito mimada pelo casal. Cresceu envolta e imersa por tudo aquilo que o mundo tinha de melhor a oferecer: as melhores escolas, as melhores roupas, os melhores restaurantes, as melhores bebidas, os procedimentos mais tecnológicos, os melhores destinos pelo mundo, pessoas cobiçadas e oportunidades sem limites.
Não havia nada que não pudesse ter em sua vida e aquela era, sem dúvidas, uma das melhores partes de ser quem era. Contudo, apesar disso, de todo luxo e da falta de limites, das infinitas possibilidades e oportunidades que tinha na vida, a família de nunca fez o estilo ostentação. Eram conscientes do que tinham e de como se aproveitar disso, sempre elegantes, refinados, contidos. Usufruíam do mundo sem que, de fato, o mundo percebesse e tinham em seu círculo de convívio pouquíssimas pessoas em quem confiavam compartilhar suas vidas e intimidades, quem verdadeiramente eram.
Por isso, quando decidiu, ainda na adolescência, seguir a carreira de modelo, seus pais pareceram surpresos e demoraram algum tempo em sentir confiança na profissão, em apoiar a filha. Toda a exposição que trataria a si mesma e a sua família, partes de sua vida que seriam abertas e públicas, preocupavam seus pais, mas não tardou em ser um tema superado por eles. sabia separar as esferas de sua vida, sabia manter no privado o que lhe era pessoal e sabia lidar com tudo o que era público - ao menos, era o que ela achava. Cuidava, e se mantinha no controle de tudo, para não se envolver em escândalos, em rumores polêmicos, em não estar em meio a confusões e mal entendidos e fazia um mistério, necessário, sobre quem realmente era e com quem se relacionava. Achava que, assim, conseguia manter um relacionamento saudável com a mídia, consigo mesma e, principalmente, com seus pais.
Nenhum de seus relacionamentos amorosos chegou a ser público e o máximo que podiam ver de sua vida pessoal eram fotos e vídeos com seus amigos mais próximos e membros da família, geralmente em eventos formais - sempre as mesmas pessoas, os poucos e os únicos em quem ela confiava. Talvez tenha herdado aquele traço de seus pais e, não podia mentir, às vezes, achava intenso demais, restrito demais. Mas era mais seguro assim. sempre teve dificuldades em confiar nas pessoas, sempre foi desconfiada demais, fechada demais. Não se permitia conhecer ou ser conhecida tão fácil, não se sentia confortável em abrir-se para qualquer pessoa, exceto quando tinha certeza absoluta de que não tiraram dela nada senão o que ela tinha a oferecer: si mesma. De interesseiros, golpistas e traidores, aquele mundo estava cheio.
riu sozinha dos próprios pensamentos e seguiu caminhando sentido o lado de fora do resort. Há quase cinco dias hospedada ali, um lugar que já era bastante conhecido por ela, já não sabia mais o que fazer. Saia todos os dias pela manhã para correr pelos campos do local, tomava seu café da manhã com tranquilidade, aproveitava às piscinas com vistas excepcionalmente bonitas, almoçava, ia para a academia, tirava os cochilos que quase nunca tinha tempo de tirar no dia a dia, ia ao spa e, a noite, tomava alguns drinks no bar ou pedia algo para comer em seu quarto, enquanto lia um livro ou assistia a alguma série. Tudo perfeitamente relaxante, como ela gostava, mas, no final do quinto dia, já estava começando a ficar entediante.
Por isso, naquela manhã, sem planos para o dia que começava, resolveu aproveitar os campos de golfe que havia no local. Desde muito nova adquiriu aquele hobbie com seu pai, que lhe ensinou a arte e maestria do esporte, tornando-se um dos momentos mais importantes, de pai e filha, que compartilhavam. Gostavam de colocar o golfe em seus roteiros de viagens, sempre se perdiam nas horas jogando juntos e faziam questão de conhecer campos novos. tinha boas lembranças com seu pai no golfe e ponderou por um momento se realmente jogaria sozinha e se aquilo não o deixaria chateado. Após tomar o café da manhã, pensativa, na varanda de seu quarto, decidiu que jogaria sim. Trocou-se rapidamente, colocando uma mini saia rosa, uma camisa polo branca, o tênis da mesma cor, prendeu o cabelo em um coque alto e, depois de finalizar uma maquiagem básica, colocou a viseira, já saindo de seu quarto em direção ao local.
chegou do lado de fora do prédio e já se encaminhava para um dos mini carros, que a poderia levar até o campo de golfe, quando algo pareceu lhe soar estranho. E ela não demorou mais do que alguns segundos para perceber o que era: não tinha sequer cogitado a ideia de ir buscar os equipamentos. Se ia mesmo jogar golfe, precisava, no mínimo, de alguns tacos e bolinhas. Com a cabeça na lua, a modelo desviou seu caminho até um dos bares no exterior do resort, onde poderia solicitar os equipamentos e fazer o empréstimo. Assim que entrou no local, foi diretamente para o balcão onde sentou-se, chamando um funcionário e lhe pedindo o que precisava. Ao seu lado, duas outras garotas se aproximaram, se sentando ali e, sem querer, a modelo não pôde deixar de ouvir a conversa delas.
— Nove buracos, , é ridículo — Uma delas riu baixo, chamando a atenção de . Ela usava uma mini saia preta e uma blusa sem mangas, preta e branca, com tênis pretos nos pés. Tinha os cabelos escuros presos em um rabo de cavalo e trazia um taco consigo.
— Se eu acertar um, já estou feliz — A outra mulher com ela respondeu, igualmente risonha. Estava com um vestido curto, branco, que combinava com o tênis que usava e ajustava a luva em sua mão direita.
— Por favor, você está treinando com a melhor do mundo — A primeira rebateu, claramente fingindo arrogância.
— Estou competindo com a melhor do mundo, isso sim — A outra deu de ombros, vendo a amiga rir fofa.
Bastou a colocar os olhos em uma das mulheres que estava ali, para imediatamente reconhecê-la: Hermann, conhecida no mundo da moda por ser dona de uma das maiores marcas de grife e promotora dos melhores desfiles da atualidade. não havia desfilado para a grife da empresária mas, por ser uma figura influente nas redes sociais, a modelo havia recebido recentemente, talvez um mês atrás, um press kit da marca, com algumas peças exclusivas da nova coleção, as quais fez questão de divulgar organicamente, porque eram absurdamente lindas.
Ainda não tinha se encontrado com ela também, pessoalmente. Se seguiam nas redes sociais e, eventualmente, trocavam algumas interações, mas não passava daquilo. parecia ter mais ou menos a mesma idade de e, a tirar pelas peças de roupa que fazia, era criativa e tinha muito bom gosto. não se surpreendeu ao encontrá-la ali, pelo contrário, pareceu bastante comum. Assim como ela, vinha de uma família rica e influente, sua mãe tinha herdado redes de hotéis pelo mundo e seu pai, não mais vivo, foi um estilista renomado. A família Hermann tinha um peso importante na alta sociedade europeia há gerações e se perguntou, por um momento, por que é que não se encontrou com ela antes. O amor à moda, o estilo de vida, os lugares que frequentavam e, agora, o golfe pareciam só algumas das coisas que tinham em comum.
— Se a competição fosse no look do dia, você certamente ganharia — intrometeu-se tímida na conversa, atraindo a atenção das duas outras mulheres — Sem ofensas — ela riu para a primeira, que concordou com a cabeça:
— Vou ser obrigada a concordar.
— Ah meu Deus! Voitenko! — sorriu contente para , surpresa em vê-la ali, e estendeu-lhe a mão — É um prazer.
— O prazer é todo meu — A modelo levantou-se sorrindo de volta e apertou a mão da outra mulher — Finalmente nos encontramos.
— Pois é! — concordou e riu breve — E no lugar mais inesperado possível. Esperava te ver nas semanas de moda ou em algum editorial para a Hermann.
— Seria um sonho — colocou uma mão no coração, rindo tímida.
— Para mim também — a empresária sorriu com ternura — Lily, essa é a . E , essa é a Lily.
Estendendo a mão para a outra mulher com , a cumprimentou, simpática. Muni He, ou Lily como gostava de ser chamada, não lhe parecia um rosto incomum mas, igualmente, não lhe era familiar. Tinha a sensação de já tê-la visto em algum lugar, embora não se lembrasse exatamente de onde. Lily era uma jogadora renomada de golfe, jogava profissionalmente há alguns anos e já possuía um campeonato mundial em sua conta. Nasceu na China mas, ainda pequena, mudou-se com a família para os Estados Unidos, onde cresceu e se formou na Universidade da Califórnia. Desde então, dividia sua vida entre o país, onde sua família ainda estava, e a Europa, onde se sentia mais confortável e onde tinha a maioria de seus amigos.
Como um clique em sua mente, se ligou sobre quem era ela, de alguns campeonatos que assistiu com seu pai. Estava pronta para perguntar algo, mas não teve muito tempo para isso, contudo, porque o atendente que estava tratando do pedido dela voltou às interrompeu delicada e educadamente.
— Com licença, senhorita, — ele chamou, atraindo a atenção das três — neste momento todos nossos equipamentos estão alugados, eu sinto muito pelo transtorno. Teremos um kit disponível daqui exatamente 45 minutos. Aceita uma bebida de cortesia da casa enquanto espera?
— Claro, obrigada — A modelo concordou sorrindo, pedindo uma bebida qualquer enquanto o atendente prontamente se afastava delas para ir buscá-la.
— Estamos com um kit completo aqui, dá para até cinco pessoas jogarem e, dessa vez, somos só eu e . Por que você não joga conosco? — Lily perguntou animadamente, de repente, e concordou com a cabeça, sorrindo eufórica pela ideia, para a modelo.
— Não quero incomodar o jogo de vocês — negou brevemente com a cabeça.
— Não é incomodo algum! Somos só nós duas mesmo, vem com a gente — ainda sorria — Jogar sozinha não é tão legal.
— Não sei, meninas, não quero atrapalhar os planos de vocês — A modelo parecia incerta.
— Pare com isso — Lily insistiu, gesticulando — Vai ser super legal.
— Super legal ver a Lily humilhando a gente — brincou, recebendo uma careta da amiga — Vem com a gente sim, , fazemos questão. Estava contando para Lily sobre as fofocas da semana de moda e tenho certeza que você vai amar também, se é que não sabe já.
— Bom, nesse caso, vou te fazer companhia na fofoca e perdendo para ela — aceitou o convite animada, feliz por ter encontrado com elas e garantido sua única diversão do dia.
Elas esperaram até que o atendente trouxesse a bebida de e, se alongando levemente enquanto conversavam sobre os acontecido em Paris na semana anterior, terminaram de se aprontar para ir ao jogo. O carrinho de golfe as esperava com o equipamento que tinham alugado e, não muito tempo depois, foram, enfim, até o campo. Com 1.300 metros, o campo de golfe Tour d’Opio era famoso na região por ser um ótimo campo para iniciantes. Tinha apenas 9 buracos relativamente curtos e, apesar dos obstáculos serem progressivos, seu nível de dificuldade era bastante baixo, o que deixava Lily bastante frustrada.
As meninas pararam o pequeno veículo próximo a uma rampa onde teriam uma visão privilegiada de todo o local, examinaram os buracos para criarem suas estratégias de jogo e depois de retirarem os equipamentos do carrinho, se prepararam para, enfim, começar a partida. Lily, como jogadora profissional, sempre tinha seu próprio taco personalizado na mala e pegou o equipamento já se preparando para a primeira tacada. Ela aproveitou o momento para dar algumas dicas a , que, apesar de já ter jogado e estar familiarizada com as regras, não possuía muita prática com o esporte e, assim que deu a primeira tacada, a bola caiu próxima ao primeiro buraco, mais ou menos cinco metros de onde estavam.
Lily deu um pulo, animada, e as meninas sorriram, batendo palmas. Seguindo a ordem do jogo, preparou a bolinha e olhou ao redor. Parecia nervosa e, depois de seguir algumas instruções da amiga, preparou-se para tacar. A empresária, contudo, não havia colocado muita força e, com isso, a bolinha rolou apenas alguns metros, ficando distante da bolinha da chinesa. sorriu fraco, enquanto as duas mulheres bateram palma pela determinação e Lily acalmou a amiga. , por sua vez, não teve grandes dificuldades. Já estava acostumada com o esporte e, com isso, ao dar a tacada, não se surpreendeu quando a bola parou muito próxima do buraco, deixando a modelo na frente das duas colegas. Ambas sorriram, batendo palmas impressionadas, pegaram o equipamento e, depois de entrarem novamente no pequeno carro, desceram em direção ao buraco seguinte, para continuar o jogo.
Todas elas já tinham jogado golfe naquele campo algumas vezes, ao longo da vida, e gostavam mais dele pela vista amena e provençal das colinas ao redor, do que pelo tipo de jogo que podiam fazer ali. O dia estava claro, o céu bastante azul e o clima favorável, com pouquíssimo vento, o que deixaria o jogo um pouco menos interessante não fosse pelas competidoras serem um pouco competitivas demais e pelas conversas divertidas, que pareciam aproximá-las entre uma tacada e outra.
O jogo continuou por mais algumas horas, enquanto o papo entre as meninas fluía naturalmente e , a mais reservada entre elas, estava gostando daquela amizade improvável. Estavam se divertindo e a competição estava acirrada entre Lily e , enquanto , que tinha até conseguido encaçapar algumas bolas, estava se saindo bem e relaxada durante a partida agradável. No oitavo buraco, o penúltimo, quando se preparava para tacar mais uma bola, quando o celular de Lily tocou, atraindo a atenção das três. A jogadora correu até a bolsa, no carrinho, pegando o telefone e pedindo desculpas às amigas, pela interrupção da conversa e do jogo.
— Oi amor, tudo bem? — A mulher sorria para o telefone, enquanto dava alguns passos mais longe dali, para ter mais privacidade em conversar com o namorado. Ficaram alguns minutos conversando e, como era a vez da chinesa no jogo, e ficaram aguardando sentadas no carrinho, comentando sobre suas famílias, até Lily finalmente voltar — Desculpem meninas, era o Alex.
— Alexander sempre atrapalhando nosso golfe — brincou, gesticulando para a amiga entrar no carrinho. Estava sentada no banco do piloto, com ao lado. Lily deu-lhe a língua.
— Foi por uma boa causa dessa vez — Lily a encarou significativamente — Queria saber como eu estava e dizer que já decidiu o local para o aniversário dele.
— Finalmente — celebrou. Já estava quase em cima do dia e Alex, enrolado como sempre, ainda não tinha decidido onde comemorar naquele ano.
— Quem é Alex? — perguntou curiosa, sorrindo sugestiva para Lily que entrava no carro com elas, no banco de trás.
— Ai desculpa! É meu namorado — Lily encolheu os ombros, fofa, colocando-se no meio das duas.
— Você deve conhecer, Alex Albon, ele é piloto de Fórmula 1 — explicou para , dirigindo o carrinho em direção às bolinhas.
— Na verdade, não estou muito familiarizada com a Fórmula 1 — olhou para as duas amigas, pensativa.
— Não brinca! Como assim você não curte automobilismo?— Tirando uma risada das amigas, brincou.
— Meu pai é um grande apreciador, mas confesso que não conheço muito e nem estou por dentro de quem são os pilotos das últimas temporadas — confessou, se escondendo levemente nas mãos.
— Não vai se arrepender — Lily riu — E não tem problema em não conhecer muito, eu mesma só comecei a acompanhar depois que conheci o Alex.
— Também não sabia absolutamente nada até meus pais se mudarem para Espanha, virarem vizinhos dos pais de um dos pilotos e eu ser arrastada para os rolês com esse pessoal todo — concordou com a cabeça, dando de ombros.
— Bom, acho que podem me incluir nos próximos rolês, então — balançou seu taco de um lado a outro, sorrindo.
— Com certeza, sim — logo concordou, parando o carrinho — Preciso de companhia para parar de ficar de vela de Lily e Alex.
— Fica de vela não por falta de opção, — A jogadora levantou as sobrancelhas para a amiga — mas porque escolheu o gato errado.
— Eu não escolhi ninguém! Somos amigos e ele namora, fim. — revirou os olhos, sem graça — Agora conta para sobre o Albon.
— Está bem, está bem… — Lily se deu por vencida — Estamos juntos há três anos e, antes disso, nunca acompanhei absolutamente nada de Fórmula 1. Mas desde que conheci Alex, acho que me apaixonei por ele e pelo esporte, sabe?
E, emendando uma história na outra, animada, Lily contou a elas sobre como havia conhecido Alex, como faziam para que o relacionamento desse certo, mesmo com a distância, os fãs e a saudade. já tinha ouvido aquelas histórias milhares de vezes e sabia da paixão da amiga pelo piloto. Conhecia Lily há pouco mais de dois anos, desde quando se juntou ao grupo oficialmente por Alex e, nesse tempo, conseguiu acompanhar de perto o desenrolar do relacionamento entre os dois. Lily sempre falava com amor sobre Alex e era encantador de se ouvir, os amava.
Ela e Lily tinham feito amizade por conta do golfe, quando se encontraram casualmente em uma corrida e, sem mais ninguém para lhes fazer companhia, enquanto esperavam o evento começar, assistiram a uma partida de golfe que era transmitida na televisão do bar e passaram horas falando mal dos competidores. era uma pessoa fácil de lidar, era expansiva, muito falante e sociável, enquanto Lily, com seu jeito amigável e meigo, sorridente, conquistava qualquer um à primeira vista. Desde então, elas duas se encontravam quando estavam nas mesmas cidades, saiam juntas e davam um jeito de manter o contato que, como acontecia ali com , tinha sido tão natural e casual. conhecia Alex pessoalmente, há mais tempo do que conhecia Lily, por ter sido inserida naquele mundo desde que seu amigo de muito tempo, Carlos Sainz, ingressou na Fórmula 1. Além de Alex, conhecia alguns outros de seus amigos de trabalho também. Estava incluída naquele círculo social e, desde que Lily e outras meninas se juntaram a eles, passou a gostar ainda mais do tempo que podiam, todos, passar juntos.
Ouvindo as histórias, espalhadas pelo campo de golfe depois de terminar a partida que deu vitória a Lily, sentiu que a chinesa tinha sorte em ter encontrado Alexander. Viu algumas fotos deles, que as amigas mostraram, e pareciam ser um casal e tanto. Combinavam em muitos sentidos, se respeitavam, se amavam. Tinham seus tempos, seus espaços, sabiam conviver com as complexidades de serem quem eram e mantinham o amor acima de tudo. ainda não tinha tido aquela sorte. Não tinha encontrado o amor daquela forma e, no fundo, apesar de ser uma pessoa difícil de se ter a confiança, sonhava em um dia encontrar.
— Inclusive, — Lily falou em certo momento — na próxima semana será aniversário do Alex e faremos uma pequena festa, só para os amigos...
— Sei a pequena festa que você vai fazer com ele — provocou a amiga, tomando um gole de água da garrafinha que segurava.
— Para! — Lily apontou seu taco para a amiga, rindo tímida — É sério.
— Vocês são muito fofos juntos, vai ser incrível, tenho certeza — estava encantada, devolvendo o celular que via uma fotos deles juntos, para Lily.
— Vai ser na terça-feira, na terra da , em Barcelona, já que o GP vai ser lá no final de semana. Você gostaria de ir, ? — Lily virou-se para ela, empolgada. Tinha realmente gostado da tarde que passou com as meninas, havia muito em comum entre elas e seria perfeito ter mais alguém na festa, mais uma mulher no grupo — Se não tiver nada para fazer, claro.
— Seria incrível — celebrou a possibilidade, empolgada.
— Poderíamos passar a semana juntas lá, dar prejuízo para a , assaltando a loja da Hermann de Barcelona que, sem querer ofender, é a melhor — Lily olhou de para , que parecia pensativa com o convite.
— Foi a primeira, não foi? — Rindo do comentário de Lily, virou-se para .
— Sim, meu pai achou que seria uma homenagem para minha mãe, decidimos abrir na cidade natal dela — deu de ombros, sem querer muito falar de seu pai e notou aquilo — É a maior loja que temos, a que recebe peças exclusivas que você não não encontra em outras lojas da marca e é a favorita da Lily, que sempre pega tudo o que vê pela frente.
— Eu escolho muito bem minhas amizades — A chinesa riu, sem vergonha.
— Você tem carta verde para pegar o que quiser — lançou-lhe um beijo e, então, apontou para — e você tem mais um motivo para aceitar o convite e ir com a gente para Barcelona. Vai ser incrível te levar na nossa primeira loja.
— Apesar de querer muito visitar a Hermann com a verdadeira Hermann, não sei, meninas... — resistiu, incerta.
— Você não se arrependeu de ter aceitado o convite para jogar com a gente hoje — Lily insistiu, fazendo um biquinho — E podemos assistir a corrida no final de semana também. Com certeza o Alex ou o Sainz conseguem um acesso extra. O que me diz? Vamos?
Capítulo Um
Barcelona, Espanha
não tinha certeza do porquê aceitou aquele convite, mas só se deu conta do que tinha feito quando, uma semana depois, estava pronta para ir na festa de aniversário de Alex. Tirando Lily e , ela não conhecia mais ninguém e aquilo a deixava ligeiramente nervosa. Ainda no campo de golfe, na França, as meninas insistiram absurdamente para que ela fosse e, sob o pretexto de que seria legal para descansar, fazer coisas diferentes, se aproximarem ainda mais, conhecer gente nova e de que, apesar de conhecer bastante gente que estaria na festa, precisaria de uma companhia para quando a verdadeira festa começasse para Lily e Alex, decidiu aceitar.
Não poderia ser tão ruim assim.
As meninas também ficaram mais alguns dias no resort, porque tinham tirado uma semana “das garotas” entre elas e, nesse tempo, passaram a ser uma companhia constante para . Marcavam de tomar café da manhã juntas, iam para a academia juntas, dividiam os drinks no bar a noite. O que antes estava fazendo em sua própria solidão, de repente, foi preenchido pela companhia de duas pessoas que nunca imaginou se aproximar daquela forma. E, apesar de não ter o costume de fazer coisas por impulso ou de se deixar levar pelos momentos, que mal teria em aceitar aquele convite? Lily parecia muito responsável e transmitia uma segurança diferente de outras pessoas que conheceu. , por sua vez, era muito comprometida com as pessoas ao seu redor e tinha um nome de peso a zelar. Eram boas companhias para e poderiam se tornar boas amigas também, se a modelo se permitisse viver tudo aquilo. Seus pais certamente gostariam delas e isso se confirmou em uma vídeo chamada, quando lhes contou sobre as novas amigas e quando se sentiu mais confiante em acompanhá-las.
Apesar de Lily ter marcado o início da festa para às 19h30, querendo aproveitar o máximo da noite, decidiu se atrasar de propósito, com receio de ser a primeira a chegar. Tinham feito um grupo com as três em um aplicativo de mensagens e comentou que também se atrasaria alguns minutos, pois tinha aproveitado para tomar um café com sua mãe, que estava de passagem na cidade, e chegou mais tarde do que o previsto no hotel. Por isso, esperou até às 20h15 para sair de onde estava hospedada, chamou um táxi e, menos de vinte minutos depois, estava batendo na porta da cobertura que Lily tinha alugado para a festa de aniversário do namorado.
— Você veio! — Lily gritou contente, assim que abriu a porta e, surpresa, ligeiramente alta pelo álcool que já deveria estar bebendo há algumas horas, ela cambaleou para o lado levemente, rindo em seguida. não conseguiu não rir da cena.
— Eu vim — Ela respondeu no mesmo tom de voz empolgado, apesar de ter avisado às meninas, pelo grupo, que estava na cidade e que iria a festa — Não ia perder a chance de encher a cara com você e com a .
— Alguém me chamou? — apareceu no campo de visão de , de volta do cabideiro onde deixou sua bolsa. Aparentemente tinha acabado de chegar também e, como sempre, estava tão bem vestida que parecia ter acabado de sair de um desfile.
— Nós! — Lily falou eufórica, puxando pelo braço e pelo outro, as abraçando calorosamente ao mesmo tempo — Estamos reunidas de novo, isso é perfeito.
— Ela é sempre assim? — perguntou baixo para , que riu.
— Quando bebe, sim — a empresária concordou, soltando-se do abraço da amiga.
— Obrigada por vir, amigas, o Alex vai ficar TÃO feliz — Lily bateu a porta do apartamento, sem qualquer cuidado, e riu levemente para as amigas.
— Tenho certeza que sim — riu, imaginando o cara super feliz em receber alguém que ele nem conhecia. Ela logo se soltou da amiga e, indo alguns passos para o lado, deixou sua bolsa no cabide perto da porta.
Apesar de já ter bebido um pouco e estar meio aérea, Lily estava realmente contente em vê-las ali. já fazia parte da turma e não perderia um evento daqueles, mas Lily sabia o quão difícil poderia ser para conciliar sua agenda de trabalho com aqueles eventos particulares e, mesmo sem conhecer Alex e, apesar disso, tinha dado um jeito de ir até lá, passar mais um tempo com elas. Ao que parecia, estava realmente afim de fazer amizade com elas e Lily se sentiu muito animada com esse pensamento, enquanto seguia caminhando e dançando sozinha, ao som da música alta que tocava pelo ambiente. e se entreolharam risonhas e logo seguiram Lily festa adentro. Estavam contentes em ver Lily tão animada com a presença delas.
O apartamento era bastante espaçoso, muito luxuoso, bem ambientado e podiam reparar aquilo a cada passo que davam dentro dele. Estava com poucas luzes acesas e baixas, criando um ambiente festivo ameno e misterioso, inundado pelo barulho da música animada que um DJ tocava. A parte interna da cobertura tinha uma sala gigantesca, onde as pessoas se espalharam, cheia de sofás, pufes e banquetas. Mais ao canto estava a cozinha, onde um buffet servia os petiscos da noite e, antes de chegar nela, havia um pequeno bar. No andar de cima provavelmente eram os quartos e os banheiros e, do outro lado da ampla sala, estava uma área externa elegante e muito refinada. Com uma piscina de borda infinita em um dos cantos, alguns vasos de plantas e um pergolado decorando, o resto da área tinha lugares para se sentar e uma mesa redonda enorme, onde algumas pessoas estavam sentadas, conversando, bebendo e rindo alto.
Lily estava puxando as meninas naquela direção, animada e, pelo caminho, serviu a si mesma e às meninas com drinks que puxou do bar, sem sequer parar de andar. aceitou o drink e riu tímida, pegando o outro que Lily lhe estendia para passar para , que vinha ao seu lado, alguns passos atrás, mas a modelo logo parou por um momento. Sem sequer ver de onde ele veio, assistiu um cara absolutamente lindo, com os cabelos escuros, um pouco mais alto do que elas, chegar em , a abraçando de surpresa. Parecia muito feliz em vê-la ali e se perguntou, por um segundo, se não era sobre ele a quem Lily se referia nas brincadeiras, em quem supostamente estava interessada.
Hermann se virou para ele igualmente empolgada, retribuiu o abraço forte e, pelo momento seguinte, sequer entendeu o que disseram. Conversaram bastante emocionados em espanhol, com sorrisos que não deixavam seus rostos e os braços que, vez ou outra, se tocavam carinhosamente. Sem saber direito o que fazer, com receio de ficar ali e atrapalhar algo entre eles, deu de ombros e decidiu voltar a seguir Lily.
— Muito bonita sua amiga nova — O rapaz comentou separando-se da amiga. Contudo, no exato momento em que ele pareceu querer incluí-la na conversa, se virou de costas, sem ouvi-lo, e os deixou ali — e bem mal educada também. Ela me desprezou?
— Ela não deve ter ouvido — deu de ombros, dando uma olhada ao redor, como se procurasse discretamente por alguém.
— Impossível, eu estava falando com ela — Ele revirou os olhos, bufando, mas logo desistiu daquele assunto, reparando nos olhos curiosos da amiga passar ao redor — Sim, ele veio, está lá fora.
— Ele quem?— Ela se fez de desentendida, o encarando de volta.
— Esse papel de sonsa não faz nenhum pouco o seu tipo, Hermann — O homem riu, negando com a cabeça — Ele já perguntou por você, trinta vezes.
— Esse papel de fofoqueiro não faz nenhum pouco o seu tipo, Sainz — rebateu, sorrindo irônica — Mas, nesse caso, acho que vou precisar de uma bebida. Forte.
— Estava te esperando para começar os trabalhos — O homem logo apontou para o bar e lhe estendeu o braço.
deu alguns passos mais rápido sentido Lily, com receio de perdê-la de vista, observando tudo ao redor enquanto tomava, em um gole só, uma das bebidas que segurava. Estava deixando-se levar pelo clima animador do ambiente, mas, apesar disso, sentia-se nervosa e nem sabia o porquê. Estava acostumada a estar rodeada de desconhecidos, a chamar atenção como estava chamando por onde passava, mas parecia diferente ali. A festa estava incrível e cheia de pessoas que, muito embora a olhassem, não pareciam realmente se preocupar com quem ela era. Talvez todos ali tivessem algo grande a oferecer e era aquilo que a assustava ligeiramente. desejou que aproveitasse tudo aquilo do melhor jeito possível e, se não conseguisse sozinha, ao menos tinha o álcool a seu favor.
Assim que e Lily pisaram para fora, na área externa da cobertura, alguns olhares do grupo que estava ao redor da mesa recaíram sobre elas. Alguns curiosos, outros um tanto surpresos, olhares felizes e direcionados. O clima estava relativamente quente lá fora e a vista da cobertura era deslumbrante, abrindo-se aos olhos a noite iluminada de uma das áreas mais ricas de Barcelona. Tudo pareceu grande, bonito e excepcionalmente diferente para naquela noite, uma sensação boa tomando conta de si, até, enfim, se aproximar o suficiente da mesa a ponto de os ouvir falar por cima da música.
— Olha quem voltou! — Um dos homens que estava na mesa falou alto, sorridente, chamando a atenção dos demais para onde ele olhava.
Lily parou de andar por um único segundo e fez uma pose, enquanto Alex, o único que conseguiu reconhecer prontamente ali, se levantou, risonho, assistindo a namorada caminhar para perto dele, puxando a nova amiga consigo, pela mão. Por sorte, tinha feito sua lição de casa, com medo de passar vergonha e, fora ele, podia dizer, não com certeza, que George Russell, Lando Norris, Charles Leclerc, Daniel Ricciardo e Pierre Gasly também estavam ali, naquela mesa. Entre Russell e Norris havia também uma outra mulher, de cabelos escuros e um sorriso contagiante, que não reconheceu.
— Fui buscar minha convidada de honra dessa noite — A chinesa apontou exageradamente para , que riu tímida.
— Achei que eu era o convidado de honra — Daniel se virou para Lily, parecendo chateado.
— Por favor, cara, se eu estou aqui, certamente você não é o convidado de honra — Lando apontou seu copo para o outro piloto.
— Eu sou o aniversariante, se liguem — Alex gritou em protesto — Hoje, a noite é toda minha.
— Se comportem, ogros — Charles pediu, sorrindo para .
— Vão assustar ela — A outra mulher na mesa comentou, risonha.
— Pessoal, essa é a minha amiga, linda e talentosíssima, — Lily chamou a atenção de todos eles — ou só para os íntimos, que, no caso aqui, somos só eu e a , tirem os olhos.
— Oi, pessoal — A modelo acenou gentil, com todos os olhares em cima de si, sorrindo para eles.
— , esses são o Charles, Lando, George e a namorada mais linda que ele já teve na vida, Carmen. Ali estão Daniel, Pierre e o Alex — Lily os apresentou rapidamente, apontando para cada um deles, respectivamente, até parar em seu namorado. os cumprimentou um a um, com breves abraços, desejando a Alex um feliz aniversário.
— É um prazer, finalmente, conhecer vocês — A modelo comentou, sentando-se ao lado de Lily, entre Alex e George.
— Temos mais uma mulher no grupo — Carmen celebrou, pegando seu drink — Estamos quase equilibrando o número.
— O prazer é todo nosso — Daniel sorriu abertamente para a modelo.
— Lily não para de contar histórias com vocês, estava curiosa em saber quem eram os amigos dela — comentou simpática, aceitando a dose de vodca pura que George a oferecia, com a garrafa em mãos.
— Ela é apaixonada por todos nós — O piloto encheu tranquilamente a taça dela e voltou-se para os amigos à frente, enchendo seus copos também.
— Mas, infelizmente, tem um gosto terrível e escolheu o pior de nós para namorar — Pierre zoou Alex, que lhe deu o dedo do meio.
— Você se acostuma com a auto confiança exagerada do grupo, fique tranquila — Carmen falou baixo, tirando uma risada fraca de .
— Acho que eu já te vi em algum lugar, não sei onde — A encarando, pensativo, Charles sorriu para .
— Talvez — Ela sorriu gentil, não gostava muito de falar sobre si mesma, mas não havia jeito. Era uma pessoa nova e diferente ali, em um grupo que já se conhecia há bastante tempo, e certamente despertaria a curiosidade e atenção deles.
— Ela é modelo — Lily deu de ombros, orgulhosa de conhecer a outra mulher — Vocês já devem, pelo menos, ter ouvido falar dela.
— E onde vocês se conheceram? — Pierre perguntou interessado, virando seu shot de vodca. Em geral, tinham círculos de amizade restritos ao grupo social que mais conviviam e modelos não era, definitivamente, o círculo de Lily.
— Adivinha? — Daniel tumultuou a conversa, apoiando-se na mesa a sua frente, para olhar Pierre ao seu lado — Só vou te dar uma chance de acertar onde Lily geralmente conhece pessoas.
— No golfe — Charles e Alex disseram ao mesmo tempo e riram em seguida.
— Me deixem em paz! Qual é o problema? — A jogadora encolheu os ombros, terminando de beber seu drink — E, sim, nos conhecemos jogando golfe. é ótima em campo.
— Vamos marcar de jogar juntos, então — Alex virou-se para a modelo, que concordou prontamente, animada.
— Estou fora — Lando virou um novo shot de vodca com Charles e Carmen, e apoiou o pequeno copo na mesa — Depois da última humilhação, não jogo mais nada com a Lily.
— Chorão — A jogadora mostrou a língua para ele.
— Lando e , os dois a 80km/h, qual dos dois é o pior no golfe? — Daniel zoou, tirando risadas dos amigos.
— — Lando respondeu no mesmo segundo, sem sequer pensar, o que tirou gargalhadas dos amigos.
— Lando não sabe perder mesmo, hein — George cutucou o amigo, pedindo para Daniel ir buscar mais cerveja para eles. O australiano se levantou rapidamente e foi até o bar, mexendo com algumas pessoas pelo caminho — Falando em , cadê ela? Ela nunca chega tarde nos rolês, não vem hoje?
— Não vem hoje? — Charles repetiu a pergunta, levemente chateado com a ideia. Pierre e Lando trocaram um olhar risonho.
— Ela já chegou, mas se perdeu no caminho, eu acho — Lily respondeu confusa, não tinha notado até aquele momento que a outra amiga não estava com eles.
— Encontrou um cara, perto do bar — deu de ombros e, como se houvessem combinado, os olhares dos amigos caíram sobre Charles, ao mesmo tempo.
— Um cara? — Carmen perguntou curiosa, tomando um gole de sua bebida.
— O que está fazendo na cidade, ? — Lando desconversou, simpático, assim que viu a cara confusa e um pouco desesperada de Charles. Era melhor mudar o foco da conversa. Por sorte, a modelo logo respondeu:
— Na verdade, só vim para o aniversário do Alex mesmo.
— Que honra! — Alex sorriu — Muito obrigado por isso.
— Lily não me deixaria perder esse momento por nada — gesticulou, recebendo um abraço lateral da jogadora.
— Veio para o aniversário do cara mais lindo do mundo — Lily falou espontânea e fofa, dando um beijinho rápido no namorado, tirando gritos de “aw” em uníssono.
— Alex ser o “mais lindo do mundo” é bastante controverso — brincou, aparecendo pela porta por onde e Lily há pouco tinham chegado.
— Falando nela… — George brincou, vendo a amiga se aproximar deles.
— Para você, , com certeza não é o Alex o mais lindo do mundo aqui — Pierre olhou sugestivo da amiga para Charles, que revirou os olhos, sem conseguir conter o sorriso. Por um segundo, sentiu seu coração se aliviar.
— Fica na sua, Pipi — apontou para ele, mas não teve tempo de dizer mais nada.
Animado, e bastante aliviado por vê-la chegar e sozinha, Charles, que estava de costas para , se levantou prontamente, com um sorriso imenso aberto no rosto e abriu os braços na direção dela. não soube exatamente o que acontecia ali e, apesar de poder ter uma ideia, ficou bastante confusa. Lily vivia zoando por um dos caras do grupo que, aparentemente, tinha namorada, mas ela era afim. Era o cara de antes ou era aquele? se perdeu e anotou mentalmente aquela dúvida para tirar mais tarde. O grupo de amigos na mesa pareceu ficar levemente mais agitado com a chegada dela, e encaravam e Charles em uma ordem quase frenética, assistindo ao que acontecia ali.
Tão empolgada quanto o homem, pareceu surpresa em vê-lo ali, mas boa parte deles sabia que ela estava sendo modesta. Já tinham consciência de que se encontrariam, só estavam fingindo certa casualidade. Dando pulinhos felizes em sua direção, seguiu até ele, sem segurar o sorriso.
— Agora a festa começou! — Charles comentou alto, ainda de braços abertos.
— De novo com essa camisa horrorosa, Charles? — o abraçou fortemente. Lily e Alex trocaram um olhar sugestivo, que não passou despercebido por , e riram em seguida.
— Eu disse que era feia para caralho — Lando se levantou também, esperando para cumprimentar a amiga. Charles estava com uma camisa colorida, em tons pastéis, que insistia em vestir sempre que podia.
— Seis meses sem me ver e essa é a primeira coisa que você me diz, ? — Charles fez um biquinho, tirando uma risada baixa de .
— E o que você queria que eu dissesse?
— Que você estava com saudades — Ele deu de ombros, quebrando levemente o abraço, a olhando.
— Saudades de você, posso pensar. — o olhou de volta, charmosa — Saudades de você com essa camisa, de jeito nenhum.
— Eu gosto de usar ela — Charles riu, finalmente soltando a mulher.
— Meu Deus, Charles — Gasly murmurou, negando com a cabeça. Não podia acreditar no quanto o amigo era lento.
— Por que? É horrível! — tentou o encarar séria, mas não conseguia.
— Porque, pelo menos, chama sua atenção — Ele respondeu simplesmente, ouvindo os amigos na mesa gargalharem.
— Chama mesmo, mas de um jeito muito ruim, cara, você precisa saber disso — Russell comentou alto, rindo da expressão falsamente frustrada que ele fazia.
— Alguém tinha que impedir o Charles de sair de casa vestido desse jeito — Daniel gritou, juntando-se aos amigos com algumas latas de cerveja em mãos — É um insulto para os olhos ser visto assim por Hermann, cara, se liga.
— O que você acha, ? Dê sua opinião de modelo sobre essa camisa — virou-se para a amiga, puxando a manga curta da camisa de Charles como se fosse tóxica até de tocar.
No tempo em que aquela conversa aconteceu, nos brevíssimos minutos entre o momento que chegaram ali e que começou a cumprimentar os amigos com abraços animados, acompanhou a dinâmica com os olhos, se sentindo confortável em estar ali. Suas amigas pareciam bastante à vontade com as pessoas ao redor e todos pareciam leves e divertidos, estavam sendo acolhedores e informais com ela. Pensou por um segundo que tinha sido absurda a ideia de não ir na festa e mais algumas taças de qualquer coisa alcoólica a fariam se soltar e se sentir ainda mais parte daquele caos todo.
— O look não é dos melhores mesmo, me desculpa, amigo — A modelo sorriu triste para Charles, que fez um novo biquinho. Seguindo a sequência em que estavam sentados ao redor da mesa, cumprimentou, respectivamente, Alex, Lando, Pierre, Daniel e George.
— Ainda dá tempo de fugir, — Lando olhou por sobre os ombros, vendo a amiga apoiar-se nele enquanto se sentava entre ele e Charles.
— Fugir do que?
— Disso aí que vocês têm — Ele apontou para ela e Charles e levou um tapinha leve dela em resposta.
— Começaram cedo hoje, né? — virou-se para Charles, que concordou, vendo os amigos entrarem em uma breve discussão sobre o tema.
Desde que se conheceram, há cerca de dois anos atrás, num almoço do grupo em Budapeste, e Charles carregavam alguma coisa estranha no ar. Algo velado, incerto, não claro entre eles mesmos. Um carinho levemente fora do habitual para uma simples amizade, algumas brincadeiras um tanto sugestivas, apesar do respeito com o espaço e o limite um do outro. Alex e Lily tinham começado a reparar naquilo desde a terceira ou quarta vez que eles se encontraram e a fofoca foi crescendo dentro do grupo de amigos, a ponto de sempre, sempre, serem alvo daquelas brincadeiras com muitos fundos de verdade. Pareciam sempre muito felizes quando se encontravam, o tipo de felicidade que transparecia pelos olhos, como estava acontecendo naquele momento. Sempre passavam horas conversando, achavam graça das mesmas piadas, gostavam das mesmas músicas e dos mesmos lugares. Tinham planos parecidos para o futuro e carregavam dores similares sobre a ausência de seus pais, as pressões da mídia e as canseiras da vida pública.
Charles sempre falava dela com carinho, sempre queria saber sobre ela por Carlos, Lily ou Carmen, sempre pareceu interessado demais em ver o que saía sobre ela na mídia, em mandar flores e chocolates quando tinham desfiles da marca dela, em ligar para conversar sem motivo algum ou ir em suas festas de aniversário. acompanhava as corridas quando podia, fingia casualidade assistindo tudo ao vivo quando todos viam que ela se preocupava em algo acontecer com ele e não deixava de torcer por Charles, mesmo quando não podia estar fisicamente presente. Sempre falava sobre ele com delicadeza, fazia questão de estar por perto e, apesar de entrar nas provocações que faziam um ao outro, no final das contas, ela sempre o defendia.
Alex e Lily, como Lando, George, Carmen, Carlos, Daniel e Pierre, amigos que conviviam diretamente com eles, tinham certeza de que havia alguma coisa a mais entre Charles e , mas, igualmente, sabiam que aquele era um tema complexo, porque havia o impeditivo. Nenhum dos dois jamais insinuou ou cogitou qualquer coisa senão a amizade porque Charles namorava. Engatou um relacionamento no outro e não seria motivo algum para criar problemas para ele e sua namorada. Por isso, desconversava das brincadeiras e insinuações que os amigos faziam, ignorava as fotos e vídeos que os fãs montavam shippando eles e seguia sua vida bem, censurando o tormento de, de repente, se dar conta de que gostava mais de Charles do que deveria, sem saber que, do outro lado, ele também carregava as mesmas dúvidas.
— Cedo demais — Charles concordou.
— AI MEU DEUS! Feliz aniversário, Alex — virou-se de repente para o homem ao lado de Charles e estendeu sua mão para ele, por cima da mesa — Por um segundo esqueci que era seu aniversário e esqueci de comprar seu presente também, me desculpe.
— O efeito Charles Leclerc — Com a garrafa de cerveja na boca, Russell a provocou, mas foi completamente ignorado pela amiga, que seguiu dizendo para Alex:
— Escolha o que quiser da Hermann que eu mando te entregar.
— É esse tipo de amizade que eu gosto de ter — Alex pegou a mão dela, risonho — Obrigado, , estou feliz que conseguiu vir.
— Eu disse — Lily levantou a mão, prontamente, pegando uma das cervejas que Ricciardo a estendia.
— Não ia perder por nada — A empresária sorriu sincera, e antes que pudesse dizer qualquer coisa mais, uma mão atravessou seu campo de visão, deixando um drink levemente vermelho em uma taça refinada em sua frente.
Como se tudo estivesse em câmera lenta, , desligou-se por um segundo, olhando da taça da amiga para ela e, dela, enfim, para quem havia se juntado ao grupo. Em pé atrás de e Charles, a modelo viu o homem alto, de olhos e cabelos escuros falar aos amigos algo que ela não pode exatamente ouvir, pelo barulho da música no ambiente, ignorando tudo o que havia ao seu redor. Sua barba estava rala, por fazer, e os cabelos levemente compridos pareciam brilhosos, macios. Ele os jogava para trás, rindo de algo que Charles o dizia e sequer parecia ter notado que havia alguém novo no grupo, que ela estava ali.
Apesar de todos os homens que dividiam aquela mesa com serem bonitos e muito atraentes, aquele, em especial, parecia ter alguma coisa a mais que chamou sua atenção naturalmente. Talvez fosse a camiseta branca que vestia e que desenhava seu peito, talvez fosse o jeito que mexia em seus cabelos, talvez fosse o sorriso contido e a expressão mais fechada, um tanto misteriosa. Algo nele parecia estranho e, por algum motivo, soava como um problema, que se pegou mentalmente curiosa em resolver.
A modelo o encarou casualmente por alguns poucos segundos, até enfim perceber ser ele o cara que parou mais cedo, quando chegaram na festa. Sem querer parecer indelicada, , então, desviou sua atenção novamente para Lily, concentrando-se em algo que Alex contava para elas. achou aquilo tudo ridículo e segurou uma risada solitária, disfarçando-a com um novo gole de sua bebida. Fazia algum tempo que não ia a festas e algum tempo que não conhecia pessoas novas, homens novos. Estava tão acostumada em ter sempre as mesmas pessoas por perto que, conviver com pessoas novas parecia diferente, algo estranho. O cara recém chegado era bonito ou, ao menos, tinha uma presença notável, marcante e agradou os olhos de .
Apesar de tentar prestar atenção em outra coisa, simpática, não conseguiu se concentrar por muito tempo, até ouvir o cara novo perguntar, bastante indelicadamente, para :
— Sua amiga nova vai continuar me ignorando até quando? — Ele tinha um sotaque diferente, carregado. Falava com calma, como se estivesse escolhendo as palavras e seu rosto se fechou por completo quando, enfim, os olhos dele pareceram focar-se em .
Do outro lado da mesa, a modelo sentiu seu rosto queimar, mas não se deu ao trabalho de se virar para encará-lo de volta. Estava concentrada no que Lily e Alex diziam, ou, ao menos, fingindo estar. Levantou seu queixo um pouco mais, sorrindo para a amiga e concordou com o que ela dizia, sem dar o gosto de mostrar que, antes mesmo que ele reparasse nela, ela já o tinha visto. E que história era aquela de ela tê-lo ignorado? Estava mesmo falando sobre ela? Não importava. Mas aquela encenação ridícula não durou muito tempo, até Daniel gritar animado:
— CARLITOS! Onde você estava?
— No bar — desviou seu olhar até ele, junto com todos os demais amigos da mesa, mas ele parecia virar-se ao outro piloto, sentando-se de frente para ele, do outro lado da mesa onde a modelo estava.
— Já conheceu a ? — George perguntou amigável, apontando para a mulher ao seu lado.
— Ia perguntar isso agora mesmo também — Carmen riu para o namorado que, levemente alto pela bebida, brindou com ela.
— Combinamos até nisso — Russell falou manhoso, dando um selinho nela.
Carlos olhou relativamente sério para , com uma expressão que a modelo julgou ser pouco amigável, e tentou forçar um sorriso.
— Carlos Sainz — Ele apontou para si mesmo e acenou brevemente com a cabeça para ela.
esperou um segundo para responder aquele cumprimento, se é que poderia chamá-lo daquela forma. Carlos Sainz. Um nome e um sobrenome, nada mais. Como se aquilo fosse tudo o que ele tinha de importante, o cartão de visitas, a carteirada que ele provavelmente costumava dar nas pessoas. O que Carlos Sainz queria dizer, não tinha ideia. Era um piloto, ela sabia. E nada mais do que aquilo. Um contraste em relação aos demais, sem dúvidas. Tudo o que os outros tinham de acolhedores, amigáveis e simpáticos, Carlos parecia não ter, parecia ser o exato inverso. Um ego que pareceu bastante cheio, pomposo. O famoso cara cheio de si mesmo a ponto de dizer aquilo, e nada mais.
Carlos Sainz.
Dois segundos atrás, Carlos parecia bastante confortável e sorridente com os amigos e, de repente, quando reparou que ela também estava ali sua expressão tinha se fechado. A modelo pensou, por um momento, o que é que poderia ter acontecido para ele parecer tão sério e a única justificativa breve que encontrou foi não ter parado para cumprimentá-lo antes, quando parou, assim que chegaram. Talvez ele a tenha achado esnobe. Talvez ele só fosse meio arrogante mesmo. não sabia, mas não se importava com aquilo.
— — Ela respondeu da mesma forma, forçando um sorriso e logo desviou seu olhar do dele.
Carlos não podia dizer que achou ela simpática, naquele momento, porque definitivamente não a achou. Estava mais para uma mulher bonita, gostosa e que provavelmente, com sorte, terminaria a noite junto, do que alguém com quem faria amizade ou teria uma conversa amigável. Ela não parecia amigável. Definitivamente não. Ao menos, não com ele e não naquele momento. Dez segundos de convívio e ela já o estava desprezando. Deveria ser só mais uma daquelas mulheres bonitas e arrogantes, cheias de si, que despencavam aos montes em cima deles.
— Por que demorou tanto tempo no bar? — Lando perguntou de repente, batendo seu copo na mesa para que Daniel o enchesse novamente.
— Estava tentando me livrar da Laura e dos problemas que ela me traz — Sainz bufou, servindo-se com uísque.
— Laura está aqui? — revirou os olhos, vendo o amigo espanhol concordar com a cabeça, silencioso — Cruzes, quem convidou?
— Ela precisa de convite? — Lando olhou a amiga ao lado, de relance — Onde Carlos está, ela dá um jeito de se enfiar.
— Achou que seria fácil se livrar dela, meu amigo? — Daniel brincou, encarando o espanhol rir sem graça alguma.
— Queria uma noite e ganhei uma mulher histérica — Carlos deu de ombros — Mas, também, é aquilo… Sabem como são as modelos...
tentava engatar uma conversa animada com George, mas sua atenção foi totalmente cortada por aquele comentário infeliz. Estava acostumada a conviver com falas como aquela, acostumada com o desprezo por meninas que, assim como ela, haviam escolhido aquela carreira. Estava acostumada a lidar com pessoas a rebaixando, desmerecendo a profissão, seus corpos e seus talentos. Estava habituada aos estereótipos que carregava, mas nunca, em hipótese alguma, aceitou qualquer um deles. Quem era aquele cara para enfiar todas elas no mesmo pacote? Para rotular pessoas com base em uma experiência pessoal ruim? Rídiculo. E, aparentemente, o que tinha de bonito, tinha de babaca.
— Na verdade, eu não sei — se fez de desentendida — Como são as modelos?
— Em sua maioria? Interesseiras, pegajosas, fúteis, irritantes — Carlos deu de ombros, brincando com seu copo. Estava exausto de Laura. olhou incrédula para ele, sem conseguir dizer nada.
— E você diz isso baseado no que exatamente? — A modelo voltou a perguntar. O tom de voz ligeiramente afrontoso chamou atenção do piloto, enquanto os demais ficavam em silêncio, acompanhando a conversa tensa que começava, de repente, entre eles. não queria fazer uma cena. Mas foi mais forte do que ela.
— Na minha opinião — Carlos recostou-se no encosto da cadeira. Além de mal educada, ela ainda era intrometida, pelo jeito.
— Um pouco enviesada, não? — apoiou seus cotovelos na mesa.
— Você acha? — Ele soltou uma risada cínica.
— Não acho — sorriu da mesma forma — Tenho certeza.
— E como pode estar certa de que eu estou errado? — O piloto passou a língua entre os lábios, apoiando-se sobre a mesa, como ela, a encarando — É uma delas?
— Sou — levantou as sobrancelhas — Sou modelo. Interesseira e pegajosa, fútil e irritante também, de acordo com a sua opinião.
O silêncio que pairou no ar só não foi mais incômodo porque a música animada que começou a tocar ao fundo quebrou qualquer constrangimento. e Carlos se encaravam fixamente, como se estivessem seguindo aquela conversa com os olhos, sem saber exatamente o que mais deveriam dizer. Sequer se conheciam, tinham tido poucos minutos de convivência, o que estavam fazendo? Talvez estivessem consumindo mais álcool do que estavam acostumados no dia a dia. Carlos estava claramente estressado com tudo o que tinha acabado de acontecer com Laura e era nova na turma. Não podiam pedir demais de si mesmos mas, ao mesmo tempo, como completos desconhecidos, não precisavam agradar um ao outro.
Ao redor deles, os amigos se entreolhavam confusos, um tanto envergonhados. Alguns pareciam risonhos e outros relativamente tensos, até Daniel pigarrear e tentar quebrar o silêncio, virando-se amigavelmente para Charles.
— Onde está Charlotte? — Ela perguntou simpática, levando sua taça à boca. Não a tinha visto por ali, mas, dificilmente Charles saia para uma festa sem ela — Ainda não a vi por aqui hoje.
e Carlos ainda estavam se fulminando com o olhar e não repararam quando Lando olhou para Pierre, que olhou para George, que olhou para Daniel, que olhou para Lily, que olhou para Carmen, que olhou para Alex, que olhou para Charles, que respirou fundo. Ainda não tinha decidido exatamente como contar aquilo para e, fazia tanto tempo que não se viam, que não queria estragar o momento falando sobre seu relacionamento fracassado - ou, talvez, bem sucedido, não fosse o fato de ele ter se apaixonado por outra pessoa no meio do caminho e sequer saber como lidar com tudo aquilo.
— Nós terminamos — Charles disse simplesmente. Seus olhos verdes, um tanto incertos, encontrando os dela. cortou seu contato visual intenso com Carlos e encarou o casal que conversava, prestando atenção. Curiosa com aquilo, os amigos não disseram nada.
— Como? — arregalou os olhos, preocupada.
— Não estava feliz com ela há bastante tempo e eu… — Ele fez uma pausa, desviando o olhar para a mesa — acho que foi melhor assim, para nós dois.
— Eu sinto muito — sorriu triste para ele, realmente sentida em saber que ele passou por tudo aquilo.
Talvez, aquele fosse o motivo pelo qual Charles pareceu distante naqueles meses, por não terem se falado muito, nem se visto. Apesar disso, algo pareceu revirar dentro dela com aquela informação. Como se uma ansiedade repentina tivesse tomado conta de si. Charles estava solteiro agora. Carmen pressionou os lábios, segurando a risada em presenciar aquele momento tão fofo.
— Obrigado, mas não sinta — Charles sorriu levemente para ela — Me sinto mais leve agora, na verdade.
— Se está melhor assim, então, fico feliz por você — sorriu timidamente — Quando isso aconteceu?
— Alguns meses… atrás — Charles pareceu um tanto nervoso em responder aquilo, mas conteve-se em dizer somente o necessário. Parte dele queria gritar que foi seis meses atrás, depois da última vez que se encontrou com em uma corrida e ficou tão atormentado em tê-la novamente por perto e não poder fazer nada do que gostaria, que chegou em seu limite. Mas não diria aquilo ali, naquele momento, e nem daquela forma.
— Podia ter me contado antes, Charlie.
— Me desculpe — Ele voltou a olhá-la e, então, sorriu charmoso — A verdade é que esse tempo todo eu acho que me apaixonei por outra pessoa, estava confuso e não quis envolver o motivo da minha confusão nisso tudo.
se engasgou com a própria bebida no segundo seguinte em que entendeu, de fato, aquela informação. Segurando a risada, Lando deu alguns tapinhas leves nas costas da amiga e esperou que ela reagisse, mas simplesmente não conseguiu dizer nada. O que Charles tinha acabado de dizer ali? Ela era o motivo da sua confusão? Ela dela que ele falava quando dizia que se apaixonou por outra pessoa? estava tão surpresa com aquela fala quanto , Lily e Carmen pareciam estar. E, por um minuto, a modelo desejou sair dali com a amiga para ouvir dela aquela história toda. se lembraria de perguntar no dia seguinte.
— De repente, deu uma vontade de dançar — Pierre comentou alto, quebrando o clima esquisito e desejando deixar e Charles a sós. Pegou sua garrafa de cerveja e se levantou, mas os outros não o acompanharam.
— Ou de jogar alguma coisa — Daniel sugeriu, puxando o francês para se sentar novamente.
— Cara, você é muito inconveniente — Russell murmurou, negando com a cabeça.
— Vamos jogar! O que temos aqui? — Lily perguntou olhando Alex, que pensou por um segundo e logo soltou:
— Pôquer?
— Parece ótimo — Ela celebrou, feliz.
— Topo — Daniel deu de ombros.
— Eu quero — Carmen dançou sentada.
— Estou dentro — Russell concordou.
— Eu também — Charles consentiu com a cabeça.
— Também quero — Lando falou alto, ainda ajudando , que tossia, e fazia um joia dizendo que também jogaria.
— Vamos! — Pierre esfregou as mãos, animado — Você joga, ?
— Eu jogo — Carlos se intrometeu, voltando seu olhar cínico para a modelo que, sem pensar duas vezes, o encarou de volta, tombando a cabeça levemente para o lado, dizendo:
— Com certeza, sim.
~ ❤ ~
não sabia dizer exatamente o que mais a incomodou naquelas poucas horas que passaram jogando pôquer. Não sabia se era o jeito irritante de Carlos, se era a forma como ele sorria com superioridade, se eram os olhares diretos e descarados que lançava a ela de tempos em tempos ou se era o fato de, a cada nova gota de álcool, ele parecer ficar ainda mais atraente. Descobriu ao longo do jogo que Carlos era espanhol e, enfim, daí o seu jeito de falar inglês tão fofo e cada vez mais embaralhado com o álcool. Descobriu que ele tinha só dois anos a mais do que ela, que era a dupla do Charles na temporada, que era amigo de há muitos anos, desde adolescentes, e que ele odiava perder.
Talvez, o único ponto em comum entre eles.
Carlos mantinha seus olhos presos nas cartas em suas mãos, fazendo o que era possível para manter seu foco no jogo, mas era irresistível não voltar-se para a modelo. Apesar de não querer assumir aquilo nem para si mesmo, tendo em vista que já começou terrivelmente mal com ela naquela noite, chamava sua atenção mais do que ele gostaria. Tinha uma beleza diferente, estonteante, e estava usando um vestido roxo justo ao corpo que Carlos desejou tirar em alguns momentos durante o jogo.
Não fosse tão insuportável quanto era linda, ele talvez se esforçasse em tentar consertar a merda que havia dito mais cedo, mas não tinha certeza se ela merecia aquilo. O estava cutucando, provocando propositalmente ao longo do jogo, implicando com ele, fazendo tudo o que podia para vencê-lo e, para Carlos, aquilo era tão irritante quanto era sexy. O jogo que ele, verdadeiramente, gostava de jogar. Finalmente, com uma competidora à altura.
— Passa o colar para cá, cielo — Carlos zoou , mostrando as cartas em quadra em suas mãos.
Já tinham perdido as contas de quantas rodadas tinham feito naquela noite, mas estavam se divertindo tanto que mal viram a hora passar. O jogo começou com as tradicionais fichas de pôquer sobre a mesa, mas elas logo pareceram desinteressantes. Querendo aumentar a competição entre eles, logo começaram a apostar os euros que tinham em suas carteiras e quando não mais os tinham para apostar, começaram a colocar as joias e relógios, objetos de valor que tinham nos bolsos e no corpo, sobre a mesa. A regra era clara: o vencedor levava tudo o que foi acumulado e os perdedores tinham que tomar um shot de tequila.
— Que merda — fez um biquinho, ignorando o apelido que ele costumava a chamar há anos, e jogando suas cartas na mesa, sem qualquer combinação. Charles olhou a sequência do amigo e, frustrado, também abriu seu jogo na mesa, sendo seguido por Carmen, Lily, Lando e Pierre.
— Até pediria os anéis, mas pode ficar, são horríveis — Carlos riu para Charles.
— Tiraram o dia para me infernizar hoje mesmo, hein — Charles revirou os olhos. tirou o colar de ouro que usava e o entregou para Carlos, vendo Lily deixar uma pulseira, Carmen o lenço da Dior que usava no pescoço, Lando um relógio e Pierre o seu celular.
— Eu detesto esse jogo — Lily resmungou, assistindo Daniel servir os copinhos com novos shots de tequila para todos eles.
— A ideia foi sua! — George protestou. Já tinha parado aquela partida há alguns minutos, tinha pego uma combinação horrível de cartas, certamente não venceria e, se saísse da partida, também não perderia nada. Daniel e Alex tinham feito o mesmo, depois dele.
— Não foi, foi do Alex — A jogadora apontou para o namorado, que riu aéreo, prestando atenção na música que tocava.
— , o que vai me dar dessa vez? — Carlos virou-se para ela, confiante. Já era a quinta ou sexta partida que ele vencia.
— Na verdade, — a voz suave de atraiu sua atenção — acho que a pergunta certa é o que você vai me dar, Sainz.
apenas virou as cartas que tinha em mãos para ele, tranquilamente. Um ar de superioridade pairava sobre ela, ao tempo que seu jogo abria-se pelos olhos do espanhol. Assim como ele, ela também tinha feito uma quadra, contudo, mais alta do que a dele. Sainz sentiu seu sorriso murchar em seu rosto e subiu lentamente o olhar das cartas para a modelo, irritado por ter perdido.
— Acho que o colar é meu, — Ela sorriu vitoriosa — o relógio, o lenço e a pulseira também. Charles pode ficar com os anéis e não quero seu celular, Pierre, te poupo dessa.
— Sempre bom perder para você — Gasly brincou, puxando seu celular de volta para mais perto.
— Não posso dizer o mesmo — Lando murmurou, chateado em perder.
— Quanto a você, — encarou Carlos novamente — vou pensar no que eu quero.
— Não pense demais — Carlos rebateu, jogando suas cartas na mesa — ou vai ficar sem nada.
Daniel terminou o que estava fazendo, de servir os copos, e encarou e Carlos por um instante, surpreso pela conversa. Já tinha se perdido durante a noite, não sabia exatamente se definiria eles como duas pessoas que se conheceram e não se gostaram muito ou duas pessoas que se conheceram e estavam passivamente flertando uma com a outra. Não se meteria naquilo, mas estava achando tudo muito esquisito. Ric os encarou por alguns segundos, mas logo voltou a se distrair com a música que tocava.
empurrou lentamente o seu copo, cheio por Daniel, assim que Carlos cantou a vitória antes do tempo, para o piloto espanhol, concentrada em sentir aquele gostinho de vitória. Não sabia porque estava tão animada em ter ganhado dele, mas, certamente, até ali, tinha sido o seu ponto alto da noite. Apesar de não querer dar o braço a torcer, transbordando orgulho e raiva por ter perdido, Carlos pegou o shot e, junto com os demais amigos, sem tirar seus olhos dos de , o virou de uma vez.
— Mais uma rodada? — Alex sugeriu empolgado, puxando as cartas de cima da mesa, enquanto os amigos, com exceção de , terminavam de tomar seus shots de tequila.
— Não tenho mais nada para apostar — Charles negou rapidamente — A não ser que queiram minha camisa.
— Pode ser uma boa — Carmen riu — Assim algum de nós ganha ela e a joga no lixo.
— Melhor não — Lando gritou — Vai que ele perde e precisa ficar sem camisa.
— O show de horrores que vai ser — Daniel sorriu para o amigo.
— Melhor sem do que com ela, convenhamos — Carlos zoou — O que você prefere, ?
— Me abster dessa conversa — Ela riu para Carlos, que ainda tentou insistir em cutucar ela, mas logo desistiu — Preciso comer algo, estou zonza já.
— Eu também preciso — Lily se levantou prontamente, meio cambaleando e rindo, e foi até a amiga.
A batida de Mi Gente, do J Balvin, começava a tocar alta, como uma explosão no ambiente. Sem muita coordenação, Lily ajudou a se levantar de seu lugar. Rindo alto, solta pelo álcool e, abraçando a amiga, foi dançando com ela sentido a cozinha do apartamento, onde poderiam encontrar alguma comida. Alex olhou bastante sugestivo para Charles por um segundo e, tirando uma gargalhada do amigo, que havia entendido o recado, se levantou junto com ele e foram atrás das duas mulheres.
Animado com o clima da festa, e já bêbado pela quantidade de shots de tequila que tomou porque simplesmente perdeu todas as partidas de pôquer da turma, Pierre se levantou em um movimento rápido e decidiu se juntar às pessoas que estavam na sala da cobertura, dançando animadas. Rindo da reação dele, Lando se levantou também e, fazendo uma dancinha que tirou de algumas gargalhadas, foi logo puxado por Carmen, George e Daniel, em busca de novas cervejas. Os quatro, contudo, se deparam com algumas pessoas que conheciam no bar e, empolgados, ficaram lá dentro, bebendo e conversando sobre qualquer coisa que podiam gritar por cima da música.
se distraiu por um segundo com uma mensagem que recebeu em seu celular e, no instante seguinte, quando se deu conta, estava sozinha na mesa com Sainz. Apesar de ter percebido que ele a olhou rapidamente, ela logo voltou seu olhar para a tela do celular, tentando ignorar o homem sentado bem à sua frente. Carlos soltou uma risada contida, baixa, negando brevemente com a cabeça. Pensou em sair dali e se juntar aos amigos, mas as opções não estavam favoráveis.
Podia escolher entre atrapalhar a dinâmica de casal de Lily e Alex, que se pegavam em um canto qualquer perto da cozinha, ficar de vela de e Charles, que conversavam mais perto do que o normal um do outro, enquanto comiam algo e bebiam mais ou podia ir até os amigos, que pareciam se espalhar pela sala assim que Montero, de Lil Nas X, começou a tocar, e dançar a música junto com Pierre e algumas meninas, mas os olhos de Carlos logo se cruzaram com os de Laura, longe dali, e ele desistiu de se mover.
Sabia que Laura não seria invasiva a ponto de chegar nele enquanto estivesse, teoricamente, acompanhado por outra pessoa, então decidiu ficar - mesmo não sendo exatamente o que queria fazer. Não estava na melhor das companhias, afinal. Contudo, talvez, pudesse tentar reverter aquele cenário. Nenhuma mulher com quem teve a chance de ficar a sós tinha se arrependido de passar um tempo com ele e, certamente, com aquela, com , não seria diferente. E se ele tivesse que dar o primeiro passo, por ele, tudo bem.
— Nunca perdi no pôquer para ninguém — A voz segura de Carlos cortou o breve silêncio da mesa, que se instalou assim que os amigos os deixaram sozinhos ali.
— Que bom que sempre tem uma primeira vez para tudo — sequer tirou seus olhos do celular, fingindo descaso. Carlos semicerrou os olhos, sem tirar os seus dela.
— Você é muito desagradável, sabia? — Ele não sabia exatamente por que tinha dito aquilo em voz alta mas, quando se deu conta, já era tarde demais. Apesar de a intenção não ser aquela, lá estava ele começando mal com ela. Outra vez.
— Engraçado você dizer isso, — bloqueou o celular e, finalmente, levantou seu olhar até ele — porque eu achei exatamente a mesma coisa de você.
— Que coincidência — Carlos forçou uma risada.
— Pois é — Ela concordou.
— Pelo jeito, você não abaixa a guarda nunca, não é? — Sainz mexeu em seus cabelos por um instante, fazendo desviar a atenção dele para um canto qualquer ao lado.
— Deveria abaixar? — Ela perguntou cínica.
— Talvez — Carlos sorriu de lado para ela — Ficaria mais bonita assim.
— Sorte a minha que sua opinião não me importa.
A modelo voltou seu olhar para ele, o sorriso cínico não parecia deixar os lábios do homem e se segurou para não descer os olhos até a boca dele. Talvez devesse ter bebido menos. Seria mais educada e refinada a ponto de não corresponder aquelas falas idiotas dele. Ou, talvez, devesse beber um pouco mais, para aguentar aquilo. No fundo, naquela altura, não sabia mais porque estava reagindo daquela forma e por que não simplesmente saia dali de uma vez por todas.
— Jura? — Ele levantou as sobrancelhas — Porque irritadinha assim não é o que me parece.
negou com a cabeça e desviou seu olhar do dele novamente, tentando respirar fundo para não socar aquele cara. Ela não estava irritadinha. Estava… não sabia o que exatamente, só estava. E Carlos parecia estar conseguindo o que ele queria, a tirar pela expressão vitoriosa que ele parecia ter. Estava conseguindo tirar ela do sério, estragar ligeiramente a noite dela. ponderou por um momento se deveria continuar tendo aquela conversa, mas não era do tipo que daria o braço a torcer, era muito orgulhosa para isso e, pelo pouco que havia analisado do homem à sua frente, ele também parecia assim.
Carlos cortou seu olhar e o desviou para os movimentos que aconteciam dentro do apartamento. De onde estava pode assistir puxar Charles pela mão até a sala, cantando alto e dançando o refrão de Mamacita (Black Eyed Peas) com Lando, assim que o encontrou pelo caminho. Alex e Lily continuavam no exato mesmo lugar, aos amassos. Daniel já estava sentado em um dos sofás conversando com uma mulher morena muito bonita, sorrindo mais do que o habitual, enquanto George tentava gravar alguns vídeos com Pierre e Carmen bêbados, que vestiam óculos de sol roubados de alguém da festa. A energia caótica daquele grupo parecia boa e, por um momento, Carlos se sentiu encorajado a ir até eles, mas a voz carregada de arrogância de o impediu.
— Não estou irritadinha, querido — Apesar da breve pausa, parecia não querer deixar aquele assunto morrer — Só acho que não preciso “abaixar a guarda” com o cara que mal me conheceu e já me julgou nos primeiros dez segundos de contato.
— E você fez diferente? Não estava falando sobre você, não deveria tomar as dores de outra pessoa — Carlos fechou a expressão, negando com a cabeça. Ela se levantou em um movimento rápido, rindo incrédula.
— Era só pedir desculpas, não é tão difícil assim.
— Deveria me desculpar pelo o que exatamente? — Carlos também se levantou , apoiando as duas mãos em cima da mesa entre eles, inclinando seu corpo para frente, na direção dela.
— Por ser um babaca, talvez? — Ela respondeu simplesmente, fazendo o mesmo movimento que ele, sem se dar conta disso, inclinando seu corpo por cima da mesa.
Os olhos de Carlos travaram nos de e tudo nele pareceu focar-se totalmente nela. Não sabia se o calor que sentiu naquele instante vinha do clima quente lá fora, do álcool que fazia efeito em seu corpo ou da proximidade com o corpo da modelo. O vestido roxo, agora visto, enfim, de corpo inteiro parecia saltar aos olhos do piloto espanhol e ele tinha certeza de que não se esqueceria dele tão cedo. Por ser alguns centímetros mais alto do que ela, tinha uma visão privilegiada da mulher inclinada em sua direção e o cheiro de seu perfume oriental, forte, marcante, o inundou tanto quanto a nova música que começava a tocar.
Ironicamente, Headlights (Alok ft. Alan Walker). Parecia que tinham escolhido a dedo para Carlos naquele momento. Havia muitas mulheres que poderiam chamar sua atenção naquela noite. Muitas com as quais poderia se divertir, ter uma noite agradável, leve e tranquila. Muitas que o tratariam como ele estava acostumado a ser tratado, muitas que fariam tudo por ele. Mas Carlos pareceu cego por um momento. Cego como quem olha diretamente para o farol de um carro, cego pelas luzes que o iluminavam naquela noite. E alguma coisa o deixava preso naquela sensação, naquela cegueira; alguma coisa o fazia querer correr naquela direção. Como se fosse o farol, o estava iluminando e o puxando em sua direção desde que ele colocou os olhos nela naquela noite.
E aquilo irritava Carlos de um jeito absurdo.
— É o que você acha de mim? — Falando baixo, mais perto dela, ele deixou seus olhos recaírem até os lábios de .
— Talvez, se pedisse desculpas, eu poderia mudar de ideia — ela sustentava o olhar dele, falando mais baixo, segura de si — Estou te dando uma chance de resolvermos isso aqui, agora.
— Eu costumo resolver as coisas de outra forma com as modelos — De propósito, o piloto rebateu calmo e um tanto sensual.
deixou uma risada surpresa escapar, totalmente incrédula em ouvir aquilo. Sem perder a postura, contudo, ela levou suas mãos até os ombros dele e fingiu arrumar a camisa do homem lentamente até aproximar um pouco mais seu rosto do dele e dizer, em claro e bom espanhol, a última palavra que trocaria com Carlos Sainz naquela noite:
— Despreciable.
Talvez, agora ele entendesse o que ela achava dele.
Carlos pareceu levemente chocado, surpreso, sem dúvidas, com o toque, com a proximidade, com o espanhol pausado e um tanto sexy que saiu dos lábios da mulher a sua frente, dos lábios que ele não conseguia deixar de olhar. Mas ele não teve tempo de retribuir aquela provocação porque os gritos altos dos amigos misturaram-se rapidamente com o refrão da música que ainda tocava e cortou a atenção de e de Carlos. Se afastando rapidamente e voltando seus olhares para onde os gritos saíam, eles puderam ver os amigos celebrando animados o que parecia ser o acontecimento da noite: e Charles estavam, finalmente, se beijando.
Naquela altura da noite, perto das três horas da manhã, nenhum deles podia se dizer sóbrio. Já tinham bebido tanto que podiam sentir os sentidos bagunçados, as línguas formigando e o corpo parecer transcender, de um jeito tão bom que os fazia se sentir imparáveis, grandes. De fato, estavam bêbados, o que deve ter contribuído muito para a coragem de Charles, enfim, chegar nela. Mas tinham se dado tantas indiretas naquela noite, como sempre acontecia quando se encontravam, e tinham, oficialmente, a barreira que os impedia de fazer aquilo derrubada, de uma vez por todas. Tinham conversado a sós algum tempo, tinham dançado juntos, tinham se tocado, se sentido ao longo da noite. Não era surpresa para nenhum deles aquilo acontecer, mas estavam, todos, muito felizes por, finalmente, terem se permitido.
Carlos viu Charles empurrar com o corpo para um cantinho mais tranquilo da festa, longe da euforia dos amigos e, quando voltou seu olhar para o seu redor, já não estava mais por perto. Pelo contrário, recebia um novo drink de Pierre, enquanto ia dançar com ele e se enturmar com as outras pessoas. Carlos foi, literalmente, deixado para trás por ela naquela noite e, com Charles e sua melhor amiga, , ocupados demais e o aniversariante sumido da festa com a namorada, ele decidiu ir embora.
, por sua vez, sequer se deu conta da ausência dele. Pelo contrário, aproveitou a festa para comer com George, dançou com Pierre e com Carmen, ajudou a colocar Lando num táxi para o hotel, que não parava de rir e mal conseguia andar, e acudiu Ricciardo, depois que ele levou um fora da mulher em quem investiu naquela noite. Foi embora quase cinco horas da manhã exausta, mas feliz. Feliz em ter ido aquela festa, feliz em ter conhecido aquelas pessoas.
Feliz de ter feito novos amigos e desejando rever quase todos eles, o quanto antes.
~ ❤ ~
não tinha certeza do porquê aceitou aquele convite, mas só se deu conta do que tinha feito quando, uma semana depois, estava pronta para ir na festa de aniversário de Alex. Tirando Lily e , ela não conhecia mais ninguém e aquilo a deixava ligeiramente nervosa. Ainda no campo de golfe, na França, as meninas insistiram absurdamente para que ela fosse e, sob o pretexto de que seria legal para descansar, fazer coisas diferentes, se aproximarem ainda mais, conhecer gente nova e de que, apesar de conhecer bastante gente que estaria na festa, precisaria de uma companhia para quando a verdadeira festa começasse para Lily e Alex, decidiu aceitar.
Não poderia ser tão ruim assim.
As meninas também ficaram mais alguns dias no resort, porque tinham tirado uma semana “das garotas” entre elas e, nesse tempo, passaram a ser uma companhia constante para . Marcavam de tomar café da manhã juntas, iam para a academia juntas, dividiam os drinks no bar a noite. O que antes estava fazendo em sua própria solidão, de repente, foi preenchido pela companhia de duas pessoas que nunca imaginou se aproximar daquela forma. E, apesar de não ter o costume de fazer coisas por impulso ou de se deixar levar pelos momentos, que mal teria em aceitar aquele convite? Lily parecia muito responsável e transmitia uma segurança diferente de outras pessoas que conheceu. , por sua vez, era muito comprometida com as pessoas ao seu redor e tinha um nome de peso a zelar. Eram boas companhias para e poderiam se tornar boas amigas também, se a modelo se permitisse viver tudo aquilo. Seus pais certamente gostariam delas e isso se confirmou em uma vídeo chamada, quando lhes contou sobre as novas amigas e quando se sentiu mais confiante em acompanhá-las.
Apesar de Lily ter marcado o início da festa para às 19h30, querendo aproveitar o máximo da noite, decidiu se atrasar de propósito, com receio de ser a primeira a chegar. Tinham feito um grupo com as três em um aplicativo de mensagens e comentou que também se atrasaria alguns minutos, pois tinha aproveitado para tomar um café com sua mãe, que estava de passagem na cidade, e chegou mais tarde do que o previsto no hotel. Por isso, esperou até às 20h15 para sair de onde estava hospedada, chamou um táxi e, menos de vinte minutos depois, estava batendo na porta da cobertura que Lily tinha alugado para a festa de aniversário do namorado.
— Você veio! — Lily gritou contente, assim que abriu a porta e, surpresa, ligeiramente alta pelo álcool que já deveria estar bebendo há algumas horas, ela cambaleou para o lado levemente, rindo em seguida. não conseguiu não rir da cena.
— Eu vim — Ela respondeu no mesmo tom de voz empolgado, apesar de ter avisado às meninas, pelo grupo, que estava na cidade e que iria a festa — Não ia perder a chance de encher a cara com você e com a .
— Alguém me chamou? — apareceu no campo de visão de , de volta do cabideiro onde deixou sua bolsa. Aparentemente tinha acabado de chegar também e, como sempre, estava tão bem vestida que parecia ter acabado de sair de um desfile.
— Nós! — Lily falou eufórica, puxando pelo braço e pelo outro, as abraçando calorosamente ao mesmo tempo — Estamos reunidas de novo, isso é perfeito.
— Ela é sempre assim? — perguntou baixo para , que riu.
— Quando bebe, sim — a empresária concordou, soltando-se do abraço da amiga.
— Obrigada por vir, amigas, o Alex vai ficar TÃO feliz — Lily bateu a porta do apartamento, sem qualquer cuidado, e riu levemente para as amigas.
— Tenho certeza que sim — riu, imaginando o cara super feliz em receber alguém que ele nem conhecia. Ela logo se soltou da amiga e, indo alguns passos para o lado, deixou sua bolsa no cabide perto da porta.
Apesar de já ter bebido um pouco e estar meio aérea, Lily estava realmente contente em vê-las ali. já fazia parte da turma e não perderia um evento daqueles, mas Lily sabia o quão difícil poderia ser para conciliar sua agenda de trabalho com aqueles eventos particulares e, mesmo sem conhecer Alex e, apesar disso, tinha dado um jeito de ir até lá, passar mais um tempo com elas. Ao que parecia, estava realmente afim de fazer amizade com elas e Lily se sentiu muito animada com esse pensamento, enquanto seguia caminhando e dançando sozinha, ao som da música alta que tocava pelo ambiente. e se entreolharam risonhas e logo seguiram Lily festa adentro. Estavam contentes em ver Lily tão animada com a presença delas.
O apartamento era bastante espaçoso, muito luxuoso, bem ambientado e podiam reparar aquilo a cada passo que davam dentro dele. Estava com poucas luzes acesas e baixas, criando um ambiente festivo ameno e misterioso, inundado pelo barulho da música animada que um DJ tocava. A parte interna da cobertura tinha uma sala gigantesca, onde as pessoas se espalharam, cheia de sofás, pufes e banquetas. Mais ao canto estava a cozinha, onde um buffet servia os petiscos da noite e, antes de chegar nela, havia um pequeno bar. No andar de cima provavelmente eram os quartos e os banheiros e, do outro lado da ampla sala, estava uma área externa elegante e muito refinada. Com uma piscina de borda infinita em um dos cantos, alguns vasos de plantas e um pergolado decorando, o resto da área tinha lugares para se sentar e uma mesa redonda enorme, onde algumas pessoas estavam sentadas, conversando, bebendo e rindo alto.
Lily estava puxando as meninas naquela direção, animada e, pelo caminho, serviu a si mesma e às meninas com drinks que puxou do bar, sem sequer parar de andar. aceitou o drink e riu tímida, pegando o outro que Lily lhe estendia para passar para , que vinha ao seu lado, alguns passos atrás, mas a modelo logo parou por um momento. Sem sequer ver de onde ele veio, assistiu um cara absolutamente lindo, com os cabelos escuros, um pouco mais alto do que elas, chegar em , a abraçando de surpresa. Parecia muito feliz em vê-la ali e se perguntou, por um segundo, se não era sobre ele a quem Lily se referia nas brincadeiras, em quem supostamente estava interessada.
Hermann se virou para ele igualmente empolgada, retribuiu o abraço forte e, pelo momento seguinte, sequer entendeu o que disseram. Conversaram bastante emocionados em espanhol, com sorrisos que não deixavam seus rostos e os braços que, vez ou outra, se tocavam carinhosamente. Sem saber direito o que fazer, com receio de ficar ali e atrapalhar algo entre eles, deu de ombros e decidiu voltar a seguir Lily.
— Muito bonita sua amiga nova — O rapaz comentou separando-se da amiga. Contudo, no exato momento em que ele pareceu querer incluí-la na conversa, se virou de costas, sem ouvi-lo, e os deixou ali — e bem mal educada também. Ela me desprezou?
— Ela não deve ter ouvido — deu de ombros, dando uma olhada ao redor, como se procurasse discretamente por alguém.
— Impossível, eu estava falando com ela — Ele revirou os olhos, bufando, mas logo desistiu daquele assunto, reparando nos olhos curiosos da amiga passar ao redor — Sim, ele veio, está lá fora.
— Ele quem?— Ela se fez de desentendida, o encarando de volta.
— Esse papel de sonsa não faz nenhum pouco o seu tipo, Hermann — O homem riu, negando com a cabeça — Ele já perguntou por você, trinta vezes.
— Esse papel de fofoqueiro não faz nenhum pouco o seu tipo, Sainz — rebateu, sorrindo irônica — Mas, nesse caso, acho que vou precisar de uma bebida. Forte.
— Estava te esperando para começar os trabalhos — O homem logo apontou para o bar e lhe estendeu o braço.
deu alguns passos mais rápido sentido Lily, com receio de perdê-la de vista, observando tudo ao redor enquanto tomava, em um gole só, uma das bebidas que segurava. Estava deixando-se levar pelo clima animador do ambiente, mas, apesar disso, sentia-se nervosa e nem sabia o porquê. Estava acostumada a estar rodeada de desconhecidos, a chamar atenção como estava chamando por onde passava, mas parecia diferente ali. A festa estava incrível e cheia de pessoas que, muito embora a olhassem, não pareciam realmente se preocupar com quem ela era. Talvez todos ali tivessem algo grande a oferecer e era aquilo que a assustava ligeiramente. desejou que aproveitasse tudo aquilo do melhor jeito possível e, se não conseguisse sozinha, ao menos tinha o álcool a seu favor.
Assim que e Lily pisaram para fora, na área externa da cobertura, alguns olhares do grupo que estava ao redor da mesa recaíram sobre elas. Alguns curiosos, outros um tanto surpresos, olhares felizes e direcionados. O clima estava relativamente quente lá fora e a vista da cobertura era deslumbrante, abrindo-se aos olhos a noite iluminada de uma das áreas mais ricas de Barcelona. Tudo pareceu grande, bonito e excepcionalmente diferente para naquela noite, uma sensação boa tomando conta de si, até, enfim, se aproximar o suficiente da mesa a ponto de os ouvir falar por cima da música.
— Olha quem voltou! — Um dos homens que estava na mesa falou alto, sorridente, chamando a atenção dos demais para onde ele olhava.
Lily parou de andar por um único segundo e fez uma pose, enquanto Alex, o único que conseguiu reconhecer prontamente ali, se levantou, risonho, assistindo a namorada caminhar para perto dele, puxando a nova amiga consigo, pela mão. Por sorte, tinha feito sua lição de casa, com medo de passar vergonha e, fora ele, podia dizer, não com certeza, que George Russell, Lando Norris, Charles Leclerc, Daniel Ricciardo e Pierre Gasly também estavam ali, naquela mesa. Entre Russell e Norris havia também uma outra mulher, de cabelos escuros e um sorriso contagiante, que não reconheceu.
— Fui buscar minha convidada de honra dessa noite — A chinesa apontou exageradamente para , que riu tímida.
— Achei que eu era o convidado de honra — Daniel se virou para Lily, parecendo chateado.
— Por favor, cara, se eu estou aqui, certamente você não é o convidado de honra — Lando apontou seu copo para o outro piloto.
— Eu sou o aniversariante, se liguem — Alex gritou em protesto — Hoje, a noite é toda minha.
— Se comportem, ogros — Charles pediu, sorrindo para .
— Vão assustar ela — A outra mulher na mesa comentou, risonha.
— Pessoal, essa é a minha amiga, linda e talentosíssima, — Lily chamou a atenção de todos eles — ou só para os íntimos, que, no caso aqui, somos só eu e a , tirem os olhos.
— Oi, pessoal — A modelo acenou gentil, com todos os olhares em cima de si, sorrindo para eles.
— , esses são o Charles, Lando, George e a namorada mais linda que ele já teve na vida, Carmen. Ali estão Daniel, Pierre e o Alex — Lily os apresentou rapidamente, apontando para cada um deles, respectivamente, até parar em seu namorado. os cumprimentou um a um, com breves abraços, desejando a Alex um feliz aniversário.
— É um prazer, finalmente, conhecer vocês — A modelo comentou, sentando-se ao lado de Lily, entre Alex e George.
— Temos mais uma mulher no grupo — Carmen celebrou, pegando seu drink — Estamos quase equilibrando o número.
— O prazer é todo nosso — Daniel sorriu abertamente para a modelo.
— Lily não para de contar histórias com vocês, estava curiosa em saber quem eram os amigos dela — comentou simpática, aceitando a dose de vodca pura que George a oferecia, com a garrafa em mãos.
— Ela é apaixonada por todos nós — O piloto encheu tranquilamente a taça dela e voltou-se para os amigos à frente, enchendo seus copos também.
— Mas, infelizmente, tem um gosto terrível e escolheu o pior de nós para namorar — Pierre zoou Alex, que lhe deu o dedo do meio.
— Você se acostuma com a auto confiança exagerada do grupo, fique tranquila — Carmen falou baixo, tirando uma risada fraca de .
— Acho que eu já te vi em algum lugar, não sei onde — A encarando, pensativo, Charles sorriu para .
— Talvez — Ela sorriu gentil, não gostava muito de falar sobre si mesma, mas não havia jeito. Era uma pessoa nova e diferente ali, em um grupo que já se conhecia há bastante tempo, e certamente despertaria a curiosidade e atenção deles.
— Ela é modelo — Lily deu de ombros, orgulhosa de conhecer a outra mulher — Vocês já devem, pelo menos, ter ouvido falar dela.
— E onde vocês se conheceram? — Pierre perguntou interessado, virando seu shot de vodca. Em geral, tinham círculos de amizade restritos ao grupo social que mais conviviam e modelos não era, definitivamente, o círculo de Lily.
— Adivinha? — Daniel tumultuou a conversa, apoiando-se na mesa a sua frente, para olhar Pierre ao seu lado — Só vou te dar uma chance de acertar onde Lily geralmente conhece pessoas.
— No golfe — Charles e Alex disseram ao mesmo tempo e riram em seguida.
— Me deixem em paz! Qual é o problema? — A jogadora encolheu os ombros, terminando de beber seu drink — E, sim, nos conhecemos jogando golfe. é ótima em campo.
— Vamos marcar de jogar juntos, então — Alex virou-se para a modelo, que concordou prontamente, animada.
— Estou fora — Lando virou um novo shot de vodca com Charles e Carmen, e apoiou o pequeno copo na mesa — Depois da última humilhação, não jogo mais nada com a Lily.
— Chorão — A jogadora mostrou a língua para ele.
— Lando e , os dois a 80km/h, qual dos dois é o pior no golfe? — Daniel zoou, tirando risadas dos amigos.
— — Lando respondeu no mesmo segundo, sem sequer pensar, o que tirou gargalhadas dos amigos.
— Lando não sabe perder mesmo, hein — George cutucou o amigo, pedindo para Daniel ir buscar mais cerveja para eles. O australiano se levantou rapidamente e foi até o bar, mexendo com algumas pessoas pelo caminho — Falando em , cadê ela? Ela nunca chega tarde nos rolês, não vem hoje?
— Não vem hoje? — Charles repetiu a pergunta, levemente chateado com a ideia. Pierre e Lando trocaram um olhar risonho.
— Ela já chegou, mas se perdeu no caminho, eu acho — Lily respondeu confusa, não tinha notado até aquele momento que a outra amiga não estava com eles.
— Encontrou um cara, perto do bar — deu de ombros e, como se houvessem combinado, os olhares dos amigos caíram sobre Charles, ao mesmo tempo.
— Um cara? — Carmen perguntou curiosa, tomando um gole de sua bebida.
— O que está fazendo na cidade, ? — Lando desconversou, simpático, assim que viu a cara confusa e um pouco desesperada de Charles. Era melhor mudar o foco da conversa. Por sorte, a modelo logo respondeu:
— Na verdade, só vim para o aniversário do Alex mesmo.
— Que honra! — Alex sorriu — Muito obrigado por isso.
— Lily não me deixaria perder esse momento por nada — gesticulou, recebendo um abraço lateral da jogadora.
— Veio para o aniversário do cara mais lindo do mundo — Lily falou espontânea e fofa, dando um beijinho rápido no namorado, tirando gritos de “aw” em uníssono.
— Alex ser o “mais lindo do mundo” é bastante controverso — brincou, aparecendo pela porta por onde e Lily há pouco tinham chegado.
— Falando nela… — George brincou, vendo a amiga se aproximar deles.
— Para você, , com certeza não é o Alex o mais lindo do mundo aqui — Pierre olhou sugestivo da amiga para Charles, que revirou os olhos, sem conseguir conter o sorriso. Por um segundo, sentiu seu coração se aliviar.
— Fica na sua, Pipi — apontou para ele, mas não teve tempo de dizer mais nada.
Animado, e bastante aliviado por vê-la chegar e sozinha, Charles, que estava de costas para , se levantou prontamente, com um sorriso imenso aberto no rosto e abriu os braços na direção dela. não soube exatamente o que acontecia ali e, apesar de poder ter uma ideia, ficou bastante confusa. Lily vivia zoando por um dos caras do grupo que, aparentemente, tinha namorada, mas ela era afim. Era o cara de antes ou era aquele? se perdeu e anotou mentalmente aquela dúvida para tirar mais tarde. O grupo de amigos na mesa pareceu ficar levemente mais agitado com a chegada dela, e encaravam e Charles em uma ordem quase frenética, assistindo ao que acontecia ali.
Tão empolgada quanto o homem, pareceu surpresa em vê-lo ali, mas boa parte deles sabia que ela estava sendo modesta. Já tinham consciência de que se encontrariam, só estavam fingindo certa casualidade. Dando pulinhos felizes em sua direção, seguiu até ele, sem segurar o sorriso.
— Agora a festa começou! — Charles comentou alto, ainda de braços abertos.
— De novo com essa camisa horrorosa, Charles? — o abraçou fortemente. Lily e Alex trocaram um olhar sugestivo, que não passou despercebido por , e riram em seguida.
— Eu disse que era feia para caralho — Lando se levantou também, esperando para cumprimentar a amiga. Charles estava com uma camisa colorida, em tons pastéis, que insistia em vestir sempre que podia.
— Seis meses sem me ver e essa é a primeira coisa que você me diz, ? — Charles fez um biquinho, tirando uma risada baixa de .
— E o que você queria que eu dissesse?
— Que você estava com saudades — Ele deu de ombros, quebrando levemente o abraço, a olhando.
— Saudades de você, posso pensar. — o olhou de volta, charmosa — Saudades de você com essa camisa, de jeito nenhum.
— Eu gosto de usar ela — Charles riu, finalmente soltando a mulher.
— Meu Deus, Charles — Gasly murmurou, negando com a cabeça. Não podia acreditar no quanto o amigo era lento.
— Por que? É horrível! — tentou o encarar séria, mas não conseguia.
— Porque, pelo menos, chama sua atenção — Ele respondeu simplesmente, ouvindo os amigos na mesa gargalharem.
— Chama mesmo, mas de um jeito muito ruim, cara, você precisa saber disso — Russell comentou alto, rindo da expressão falsamente frustrada que ele fazia.
— Alguém tinha que impedir o Charles de sair de casa vestido desse jeito — Daniel gritou, juntando-se aos amigos com algumas latas de cerveja em mãos — É um insulto para os olhos ser visto assim por Hermann, cara, se liga.
— O que você acha, ? Dê sua opinião de modelo sobre essa camisa — virou-se para a amiga, puxando a manga curta da camisa de Charles como se fosse tóxica até de tocar.
No tempo em que aquela conversa aconteceu, nos brevíssimos minutos entre o momento que chegaram ali e que começou a cumprimentar os amigos com abraços animados, acompanhou a dinâmica com os olhos, se sentindo confortável em estar ali. Suas amigas pareciam bastante à vontade com as pessoas ao redor e todos pareciam leves e divertidos, estavam sendo acolhedores e informais com ela. Pensou por um segundo que tinha sido absurda a ideia de não ir na festa e mais algumas taças de qualquer coisa alcoólica a fariam se soltar e se sentir ainda mais parte daquele caos todo.
— O look não é dos melhores mesmo, me desculpa, amigo — A modelo sorriu triste para Charles, que fez um novo biquinho. Seguindo a sequência em que estavam sentados ao redor da mesa, cumprimentou, respectivamente, Alex, Lando, Pierre, Daniel e George.
— Ainda dá tempo de fugir, — Lando olhou por sobre os ombros, vendo a amiga apoiar-se nele enquanto se sentava entre ele e Charles.
— Fugir do que?
— Disso aí que vocês têm — Ele apontou para ela e Charles e levou um tapinha leve dela em resposta.
— Começaram cedo hoje, né? — virou-se para Charles, que concordou, vendo os amigos entrarem em uma breve discussão sobre o tema.
Desde que se conheceram, há cerca de dois anos atrás, num almoço do grupo em Budapeste, e Charles carregavam alguma coisa estranha no ar. Algo velado, incerto, não claro entre eles mesmos. Um carinho levemente fora do habitual para uma simples amizade, algumas brincadeiras um tanto sugestivas, apesar do respeito com o espaço e o limite um do outro. Alex e Lily tinham começado a reparar naquilo desde a terceira ou quarta vez que eles se encontraram e a fofoca foi crescendo dentro do grupo de amigos, a ponto de sempre, sempre, serem alvo daquelas brincadeiras com muitos fundos de verdade. Pareciam sempre muito felizes quando se encontravam, o tipo de felicidade que transparecia pelos olhos, como estava acontecendo naquele momento. Sempre passavam horas conversando, achavam graça das mesmas piadas, gostavam das mesmas músicas e dos mesmos lugares. Tinham planos parecidos para o futuro e carregavam dores similares sobre a ausência de seus pais, as pressões da mídia e as canseiras da vida pública.
Charles sempre falava dela com carinho, sempre queria saber sobre ela por Carlos, Lily ou Carmen, sempre pareceu interessado demais em ver o que saía sobre ela na mídia, em mandar flores e chocolates quando tinham desfiles da marca dela, em ligar para conversar sem motivo algum ou ir em suas festas de aniversário. acompanhava as corridas quando podia, fingia casualidade assistindo tudo ao vivo quando todos viam que ela se preocupava em algo acontecer com ele e não deixava de torcer por Charles, mesmo quando não podia estar fisicamente presente. Sempre falava sobre ele com delicadeza, fazia questão de estar por perto e, apesar de entrar nas provocações que faziam um ao outro, no final das contas, ela sempre o defendia.
Alex e Lily, como Lando, George, Carmen, Carlos, Daniel e Pierre, amigos que conviviam diretamente com eles, tinham certeza de que havia alguma coisa a mais entre Charles e , mas, igualmente, sabiam que aquele era um tema complexo, porque havia o impeditivo. Nenhum dos dois jamais insinuou ou cogitou qualquer coisa senão a amizade porque Charles namorava. Engatou um relacionamento no outro e não seria motivo algum para criar problemas para ele e sua namorada. Por isso, desconversava das brincadeiras e insinuações que os amigos faziam, ignorava as fotos e vídeos que os fãs montavam shippando eles e seguia sua vida bem, censurando o tormento de, de repente, se dar conta de que gostava mais de Charles do que deveria, sem saber que, do outro lado, ele também carregava as mesmas dúvidas.
— Cedo demais — Charles concordou.
— AI MEU DEUS! Feliz aniversário, Alex — virou-se de repente para o homem ao lado de Charles e estendeu sua mão para ele, por cima da mesa — Por um segundo esqueci que era seu aniversário e esqueci de comprar seu presente também, me desculpe.
— O efeito Charles Leclerc — Com a garrafa de cerveja na boca, Russell a provocou, mas foi completamente ignorado pela amiga, que seguiu dizendo para Alex:
— Escolha o que quiser da Hermann que eu mando te entregar.
— É esse tipo de amizade que eu gosto de ter — Alex pegou a mão dela, risonho — Obrigado, , estou feliz que conseguiu vir.
— Eu disse — Lily levantou a mão, prontamente, pegando uma das cervejas que Ricciardo a estendia.
— Não ia perder por nada — A empresária sorriu sincera, e antes que pudesse dizer qualquer coisa mais, uma mão atravessou seu campo de visão, deixando um drink levemente vermelho em uma taça refinada em sua frente.
Como se tudo estivesse em câmera lenta, , desligou-se por um segundo, olhando da taça da amiga para ela e, dela, enfim, para quem havia se juntado ao grupo. Em pé atrás de e Charles, a modelo viu o homem alto, de olhos e cabelos escuros falar aos amigos algo que ela não pode exatamente ouvir, pelo barulho da música no ambiente, ignorando tudo o que havia ao seu redor. Sua barba estava rala, por fazer, e os cabelos levemente compridos pareciam brilhosos, macios. Ele os jogava para trás, rindo de algo que Charles o dizia e sequer parecia ter notado que havia alguém novo no grupo, que ela estava ali.
Apesar de todos os homens que dividiam aquela mesa com serem bonitos e muito atraentes, aquele, em especial, parecia ter alguma coisa a mais que chamou sua atenção naturalmente. Talvez fosse a camiseta branca que vestia e que desenhava seu peito, talvez fosse o jeito que mexia em seus cabelos, talvez fosse o sorriso contido e a expressão mais fechada, um tanto misteriosa. Algo nele parecia estranho e, por algum motivo, soava como um problema, que se pegou mentalmente curiosa em resolver.
A modelo o encarou casualmente por alguns poucos segundos, até enfim perceber ser ele o cara que parou mais cedo, quando chegaram na festa. Sem querer parecer indelicada, , então, desviou sua atenção novamente para Lily, concentrando-se em algo que Alex contava para elas. achou aquilo tudo ridículo e segurou uma risada solitária, disfarçando-a com um novo gole de sua bebida. Fazia algum tempo que não ia a festas e algum tempo que não conhecia pessoas novas, homens novos. Estava tão acostumada em ter sempre as mesmas pessoas por perto que, conviver com pessoas novas parecia diferente, algo estranho. O cara recém chegado era bonito ou, ao menos, tinha uma presença notável, marcante e agradou os olhos de .
Apesar de tentar prestar atenção em outra coisa, simpática, não conseguiu se concentrar por muito tempo, até ouvir o cara novo perguntar, bastante indelicadamente, para :
— Sua amiga nova vai continuar me ignorando até quando? — Ele tinha um sotaque diferente, carregado. Falava com calma, como se estivesse escolhendo as palavras e seu rosto se fechou por completo quando, enfim, os olhos dele pareceram focar-se em .
Do outro lado da mesa, a modelo sentiu seu rosto queimar, mas não se deu ao trabalho de se virar para encará-lo de volta. Estava concentrada no que Lily e Alex diziam, ou, ao menos, fingindo estar. Levantou seu queixo um pouco mais, sorrindo para a amiga e concordou com o que ela dizia, sem dar o gosto de mostrar que, antes mesmo que ele reparasse nela, ela já o tinha visto. E que história era aquela de ela tê-lo ignorado? Estava mesmo falando sobre ela? Não importava. Mas aquela encenação ridícula não durou muito tempo, até Daniel gritar animado:
— CARLITOS! Onde você estava?
— No bar — desviou seu olhar até ele, junto com todos os demais amigos da mesa, mas ele parecia virar-se ao outro piloto, sentando-se de frente para ele, do outro lado da mesa onde a modelo estava.
— Já conheceu a ? — George perguntou amigável, apontando para a mulher ao seu lado.
— Ia perguntar isso agora mesmo também — Carmen riu para o namorado que, levemente alto pela bebida, brindou com ela.
— Combinamos até nisso — Russell falou manhoso, dando um selinho nela.
Carlos olhou relativamente sério para , com uma expressão que a modelo julgou ser pouco amigável, e tentou forçar um sorriso.
— Carlos Sainz — Ele apontou para si mesmo e acenou brevemente com a cabeça para ela.
esperou um segundo para responder aquele cumprimento, se é que poderia chamá-lo daquela forma. Carlos Sainz. Um nome e um sobrenome, nada mais. Como se aquilo fosse tudo o que ele tinha de importante, o cartão de visitas, a carteirada que ele provavelmente costumava dar nas pessoas. O que Carlos Sainz queria dizer, não tinha ideia. Era um piloto, ela sabia. E nada mais do que aquilo. Um contraste em relação aos demais, sem dúvidas. Tudo o que os outros tinham de acolhedores, amigáveis e simpáticos, Carlos parecia não ter, parecia ser o exato inverso. Um ego que pareceu bastante cheio, pomposo. O famoso cara cheio de si mesmo a ponto de dizer aquilo, e nada mais.
Carlos Sainz.
Dois segundos atrás, Carlos parecia bastante confortável e sorridente com os amigos e, de repente, quando reparou que ela também estava ali sua expressão tinha se fechado. A modelo pensou, por um momento, o que é que poderia ter acontecido para ele parecer tão sério e a única justificativa breve que encontrou foi não ter parado para cumprimentá-lo antes, quando parou, assim que chegaram. Talvez ele a tenha achado esnobe. Talvez ele só fosse meio arrogante mesmo. não sabia, mas não se importava com aquilo.
— — Ela respondeu da mesma forma, forçando um sorriso e logo desviou seu olhar do dele.
Carlos não podia dizer que achou ela simpática, naquele momento, porque definitivamente não a achou. Estava mais para uma mulher bonita, gostosa e que provavelmente, com sorte, terminaria a noite junto, do que alguém com quem faria amizade ou teria uma conversa amigável. Ela não parecia amigável. Definitivamente não. Ao menos, não com ele e não naquele momento. Dez segundos de convívio e ela já o estava desprezando. Deveria ser só mais uma daquelas mulheres bonitas e arrogantes, cheias de si, que despencavam aos montes em cima deles.
— Por que demorou tanto tempo no bar? — Lando perguntou de repente, batendo seu copo na mesa para que Daniel o enchesse novamente.
— Estava tentando me livrar da Laura e dos problemas que ela me traz — Sainz bufou, servindo-se com uísque.
— Laura está aqui? — revirou os olhos, vendo o amigo espanhol concordar com a cabeça, silencioso — Cruzes, quem convidou?
— Ela precisa de convite? — Lando olhou a amiga ao lado, de relance — Onde Carlos está, ela dá um jeito de se enfiar.
— Achou que seria fácil se livrar dela, meu amigo? — Daniel brincou, encarando o espanhol rir sem graça alguma.
— Queria uma noite e ganhei uma mulher histérica — Carlos deu de ombros — Mas, também, é aquilo… Sabem como são as modelos...
tentava engatar uma conversa animada com George, mas sua atenção foi totalmente cortada por aquele comentário infeliz. Estava acostumada a conviver com falas como aquela, acostumada com o desprezo por meninas que, assim como ela, haviam escolhido aquela carreira. Estava acostumada a lidar com pessoas a rebaixando, desmerecendo a profissão, seus corpos e seus talentos. Estava habituada aos estereótipos que carregava, mas nunca, em hipótese alguma, aceitou qualquer um deles. Quem era aquele cara para enfiar todas elas no mesmo pacote? Para rotular pessoas com base em uma experiência pessoal ruim? Rídiculo. E, aparentemente, o que tinha de bonito, tinha de babaca.
— Na verdade, eu não sei — se fez de desentendida — Como são as modelos?
— Em sua maioria? Interesseiras, pegajosas, fúteis, irritantes — Carlos deu de ombros, brincando com seu copo. Estava exausto de Laura. olhou incrédula para ele, sem conseguir dizer nada.
— E você diz isso baseado no que exatamente? — A modelo voltou a perguntar. O tom de voz ligeiramente afrontoso chamou atenção do piloto, enquanto os demais ficavam em silêncio, acompanhando a conversa tensa que começava, de repente, entre eles. não queria fazer uma cena. Mas foi mais forte do que ela.
— Na minha opinião — Carlos recostou-se no encosto da cadeira. Além de mal educada, ela ainda era intrometida, pelo jeito.
— Um pouco enviesada, não? — apoiou seus cotovelos na mesa.
— Você acha? — Ele soltou uma risada cínica.
— Não acho — sorriu da mesma forma — Tenho certeza.
— E como pode estar certa de que eu estou errado? — O piloto passou a língua entre os lábios, apoiando-se sobre a mesa, como ela, a encarando — É uma delas?
— Sou — levantou as sobrancelhas — Sou modelo. Interesseira e pegajosa, fútil e irritante também, de acordo com a sua opinião.
O silêncio que pairou no ar só não foi mais incômodo porque a música animada que começou a tocar ao fundo quebrou qualquer constrangimento. e Carlos se encaravam fixamente, como se estivessem seguindo aquela conversa com os olhos, sem saber exatamente o que mais deveriam dizer. Sequer se conheciam, tinham tido poucos minutos de convivência, o que estavam fazendo? Talvez estivessem consumindo mais álcool do que estavam acostumados no dia a dia. Carlos estava claramente estressado com tudo o que tinha acabado de acontecer com Laura e era nova na turma. Não podiam pedir demais de si mesmos mas, ao mesmo tempo, como completos desconhecidos, não precisavam agradar um ao outro.
Ao redor deles, os amigos se entreolhavam confusos, um tanto envergonhados. Alguns pareciam risonhos e outros relativamente tensos, até Daniel pigarrear e tentar quebrar o silêncio, virando-se amigavelmente para Charles.
— Onde está Charlotte? — Ela perguntou simpática, levando sua taça à boca. Não a tinha visto por ali, mas, dificilmente Charles saia para uma festa sem ela — Ainda não a vi por aqui hoje.
e Carlos ainda estavam se fulminando com o olhar e não repararam quando Lando olhou para Pierre, que olhou para George, que olhou para Daniel, que olhou para Lily, que olhou para Carmen, que olhou para Alex, que olhou para Charles, que respirou fundo. Ainda não tinha decidido exatamente como contar aquilo para e, fazia tanto tempo que não se viam, que não queria estragar o momento falando sobre seu relacionamento fracassado - ou, talvez, bem sucedido, não fosse o fato de ele ter se apaixonado por outra pessoa no meio do caminho e sequer saber como lidar com tudo aquilo.
— Nós terminamos — Charles disse simplesmente. Seus olhos verdes, um tanto incertos, encontrando os dela. cortou seu contato visual intenso com Carlos e encarou o casal que conversava, prestando atenção. Curiosa com aquilo, os amigos não disseram nada.
— Como? — arregalou os olhos, preocupada.
— Não estava feliz com ela há bastante tempo e eu… — Ele fez uma pausa, desviando o olhar para a mesa — acho que foi melhor assim, para nós dois.
— Eu sinto muito — sorriu triste para ele, realmente sentida em saber que ele passou por tudo aquilo.
Talvez, aquele fosse o motivo pelo qual Charles pareceu distante naqueles meses, por não terem se falado muito, nem se visto. Apesar disso, algo pareceu revirar dentro dela com aquela informação. Como se uma ansiedade repentina tivesse tomado conta de si. Charles estava solteiro agora. Carmen pressionou os lábios, segurando a risada em presenciar aquele momento tão fofo.
— Obrigado, mas não sinta — Charles sorriu levemente para ela — Me sinto mais leve agora, na verdade.
— Se está melhor assim, então, fico feliz por você — sorriu timidamente — Quando isso aconteceu?
— Alguns meses… atrás — Charles pareceu um tanto nervoso em responder aquilo, mas conteve-se em dizer somente o necessário. Parte dele queria gritar que foi seis meses atrás, depois da última vez que se encontrou com em uma corrida e ficou tão atormentado em tê-la novamente por perto e não poder fazer nada do que gostaria, que chegou em seu limite. Mas não diria aquilo ali, naquele momento, e nem daquela forma.
— Podia ter me contado antes, Charlie.
— Me desculpe — Ele voltou a olhá-la e, então, sorriu charmoso — A verdade é que esse tempo todo eu acho que me apaixonei por outra pessoa, estava confuso e não quis envolver o motivo da minha confusão nisso tudo.
se engasgou com a própria bebida no segundo seguinte em que entendeu, de fato, aquela informação. Segurando a risada, Lando deu alguns tapinhas leves nas costas da amiga e esperou que ela reagisse, mas simplesmente não conseguiu dizer nada. O que Charles tinha acabado de dizer ali? Ela era o motivo da sua confusão? Ela dela que ele falava quando dizia que se apaixonou por outra pessoa? estava tão surpresa com aquela fala quanto , Lily e Carmen pareciam estar. E, por um minuto, a modelo desejou sair dali com a amiga para ouvir dela aquela história toda. se lembraria de perguntar no dia seguinte.
— De repente, deu uma vontade de dançar — Pierre comentou alto, quebrando o clima esquisito e desejando deixar e Charles a sós. Pegou sua garrafa de cerveja e se levantou, mas os outros não o acompanharam.
— Ou de jogar alguma coisa — Daniel sugeriu, puxando o francês para se sentar novamente.
— Cara, você é muito inconveniente — Russell murmurou, negando com a cabeça.
— Vamos jogar! O que temos aqui? — Lily perguntou olhando Alex, que pensou por um segundo e logo soltou:
— Pôquer?
— Parece ótimo — Ela celebrou, feliz.
— Topo — Daniel deu de ombros.
— Eu quero — Carmen dançou sentada.
— Estou dentro — Russell concordou.
— Eu também — Charles consentiu com a cabeça.
— Também quero — Lando falou alto, ainda ajudando , que tossia, e fazia um joia dizendo que também jogaria.
— Vamos! — Pierre esfregou as mãos, animado — Você joga, ?
— Eu jogo — Carlos se intrometeu, voltando seu olhar cínico para a modelo que, sem pensar duas vezes, o encarou de volta, tombando a cabeça levemente para o lado, dizendo:
— Com certeza, sim.
não sabia dizer exatamente o que mais a incomodou naquelas poucas horas que passaram jogando pôquer. Não sabia se era o jeito irritante de Carlos, se era a forma como ele sorria com superioridade, se eram os olhares diretos e descarados que lançava a ela de tempos em tempos ou se era o fato de, a cada nova gota de álcool, ele parecer ficar ainda mais atraente. Descobriu ao longo do jogo que Carlos era espanhol e, enfim, daí o seu jeito de falar inglês tão fofo e cada vez mais embaralhado com o álcool. Descobriu que ele tinha só dois anos a mais do que ela, que era a dupla do Charles na temporada, que era amigo de há muitos anos, desde adolescentes, e que ele odiava perder.
Talvez, o único ponto em comum entre eles.
Carlos mantinha seus olhos presos nas cartas em suas mãos, fazendo o que era possível para manter seu foco no jogo, mas era irresistível não voltar-se para a modelo. Apesar de não querer assumir aquilo nem para si mesmo, tendo em vista que já começou terrivelmente mal com ela naquela noite, chamava sua atenção mais do que ele gostaria. Tinha uma beleza diferente, estonteante, e estava usando um vestido roxo justo ao corpo que Carlos desejou tirar em alguns momentos durante o jogo.
Não fosse tão insuportável quanto era linda, ele talvez se esforçasse em tentar consertar a merda que havia dito mais cedo, mas não tinha certeza se ela merecia aquilo. O estava cutucando, provocando propositalmente ao longo do jogo, implicando com ele, fazendo tudo o que podia para vencê-lo e, para Carlos, aquilo era tão irritante quanto era sexy. O jogo que ele, verdadeiramente, gostava de jogar. Finalmente, com uma competidora à altura.
— Passa o colar para cá, cielo — Carlos zoou , mostrando as cartas em quadra em suas mãos.
Já tinham perdido as contas de quantas rodadas tinham feito naquela noite, mas estavam se divertindo tanto que mal viram a hora passar. O jogo começou com as tradicionais fichas de pôquer sobre a mesa, mas elas logo pareceram desinteressantes. Querendo aumentar a competição entre eles, logo começaram a apostar os euros que tinham em suas carteiras e quando não mais os tinham para apostar, começaram a colocar as joias e relógios, objetos de valor que tinham nos bolsos e no corpo, sobre a mesa. A regra era clara: o vencedor levava tudo o que foi acumulado e os perdedores tinham que tomar um shot de tequila.
— Que merda — fez um biquinho, ignorando o apelido que ele costumava a chamar há anos, e jogando suas cartas na mesa, sem qualquer combinação. Charles olhou a sequência do amigo e, frustrado, também abriu seu jogo na mesa, sendo seguido por Carmen, Lily, Lando e Pierre.
— Até pediria os anéis, mas pode ficar, são horríveis — Carlos riu para Charles.
— Tiraram o dia para me infernizar hoje mesmo, hein — Charles revirou os olhos. tirou o colar de ouro que usava e o entregou para Carlos, vendo Lily deixar uma pulseira, Carmen o lenço da Dior que usava no pescoço, Lando um relógio e Pierre o seu celular.
— Eu detesto esse jogo — Lily resmungou, assistindo Daniel servir os copinhos com novos shots de tequila para todos eles.
— A ideia foi sua! — George protestou. Já tinha parado aquela partida há alguns minutos, tinha pego uma combinação horrível de cartas, certamente não venceria e, se saísse da partida, também não perderia nada. Daniel e Alex tinham feito o mesmo, depois dele.
— Não foi, foi do Alex — A jogadora apontou para o namorado, que riu aéreo, prestando atenção na música que tocava.
— , o que vai me dar dessa vez? — Carlos virou-se para ela, confiante. Já era a quinta ou sexta partida que ele vencia.
— Na verdade, — a voz suave de atraiu sua atenção — acho que a pergunta certa é o que você vai me dar, Sainz.
apenas virou as cartas que tinha em mãos para ele, tranquilamente. Um ar de superioridade pairava sobre ela, ao tempo que seu jogo abria-se pelos olhos do espanhol. Assim como ele, ela também tinha feito uma quadra, contudo, mais alta do que a dele. Sainz sentiu seu sorriso murchar em seu rosto e subiu lentamente o olhar das cartas para a modelo, irritado por ter perdido.
— Acho que o colar é meu, — Ela sorriu vitoriosa — o relógio, o lenço e a pulseira também. Charles pode ficar com os anéis e não quero seu celular, Pierre, te poupo dessa.
— Sempre bom perder para você — Gasly brincou, puxando seu celular de volta para mais perto.
— Não posso dizer o mesmo — Lando murmurou, chateado em perder.
— Quanto a você, — encarou Carlos novamente — vou pensar no que eu quero.
— Não pense demais — Carlos rebateu, jogando suas cartas na mesa — ou vai ficar sem nada.
Daniel terminou o que estava fazendo, de servir os copos, e encarou e Carlos por um instante, surpreso pela conversa. Já tinha se perdido durante a noite, não sabia exatamente se definiria eles como duas pessoas que se conheceram e não se gostaram muito ou duas pessoas que se conheceram e estavam passivamente flertando uma com a outra. Não se meteria naquilo, mas estava achando tudo muito esquisito. Ric os encarou por alguns segundos, mas logo voltou a se distrair com a música que tocava.
empurrou lentamente o seu copo, cheio por Daniel, assim que Carlos cantou a vitória antes do tempo, para o piloto espanhol, concentrada em sentir aquele gostinho de vitória. Não sabia porque estava tão animada em ter ganhado dele, mas, certamente, até ali, tinha sido o seu ponto alto da noite. Apesar de não querer dar o braço a torcer, transbordando orgulho e raiva por ter perdido, Carlos pegou o shot e, junto com os demais amigos, sem tirar seus olhos dos de , o virou de uma vez.
— Mais uma rodada? — Alex sugeriu empolgado, puxando as cartas de cima da mesa, enquanto os amigos, com exceção de , terminavam de tomar seus shots de tequila.
— Não tenho mais nada para apostar — Charles negou rapidamente — A não ser que queiram minha camisa.
— Pode ser uma boa — Carmen riu — Assim algum de nós ganha ela e a joga no lixo.
— Melhor não — Lando gritou — Vai que ele perde e precisa ficar sem camisa.
— O show de horrores que vai ser — Daniel sorriu para o amigo.
— Melhor sem do que com ela, convenhamos — Carlos zoou — O que você prefere, ?
— Me abster dessa conversa — Ela riu para Carlos, que ainda tentou insistir em cutucar ela, mas logo desistiu — Preciso comer algo, estou zonza já.
— Eu também preciso — Lily se levantou prontamente, meio cambaleando e rindo, e foi até a amiga.
A batida de Mi Gente, do J Balvin, começava a tocar alta, como uma explosão no ambiente. Sem muita coordenação, Lily ajudou a se levantar de seu lugar. Rindo alto, solta pelo álcool e, abraçando a amiga, foi dançando com ela sentido a cozinha do apartamento, onde poderiam encontrar alguma comida. Alex olhou bastante sugestivo para Charles por um segundo e, tirando uma gargalhada do amigo, que havia entendido o recado, se levantou junto com ele e foram atrás das duas mulheres.
Animado com o clima da festa, e já bêbado pela quantidade de shots de tequila que tomou porque simplesmente perdeu todas as partidas de pôquer da turma, Pierre se levantou em um movimento rápido e decidiu se juntar às pessoas que estavam na sala da cobertura, dançando animadas. Rindo da reação dele, Lando se levantou também e, fazendo uma dancinha que tirou de algumas gargalhadas, foi logo puxado por Carmen, George e Daniel, em busca de novas cervejas. Os quatro, contudo, se deparam com algumas pessoas que conheciam no bar e, empolgados, ficaram lá dentro, bebendo e conversando sobre qualquer coisa que podiam gritar por cima da música.
se distraiu por um segundo com uma mensagem que recebeu em seu celular e, no instante seguinte, quando se deu conta, estava sozinha na mesa com Sainz. Apesar de ter percebido que ele a olhou rapidamente, ela logo voltou seu olhar para a tela do celular, tentando ignorar o homem sentado bem à sua frente. Carlos soltou uma risada contida, baixa, negando brevemente com a cabeça. Pensou em sair dali e se juntar aos amigos, mas as opções não estavam favoráveis.
Podia escolher entre atrapalhar a dinâmica de casal de Lily e Alex, que se pegavam em um canto qualquer perto da cozinha, ficar de vela de e Charles, que conversavam mais perto do que o normal um do outro, enquanto comiam algo e bebiam mais ou podia ir até os amigos, que pareciam se espalhar pela sala assim que Montero, de Lil Nas X, começou a tocar, e dançar a música junto com Pierre e algumas meninas, mas os olhos de Carlos logo se cruzaram com os de Laura, longe dali, e ele desistiu de se mover.
Sabia que Laura não seria invasiva a ponto de chegar nele enquanto estivesse, teoricamente, acompanhado por outra pessoa, então decidiu ficar - mesmo não sendo exatamente o que queria fazer. Não estava na melhor das companhias, afinal. Contudo, talvez, pudesse tentar reverter aquele cenário. Nenhuma mulher com quem teve a chance de ficar a sós tinha se arrependido de passar um tempo com ele e, certamente, com aquela, com , não seria diferente. E se ele tivesse que dar o primeiro passo, por ele, tudo bem.
— Nunca perdi no pôquer para ninguém — A voz segura de Carlos cortou o breve silêncio da mesa, que se instalou assim que os amigos os deixaram sozinhos ali.
— Que bom que sempre tem uma primeira vez para tudo — sequer tirou seus olhos do celular, fingindo descaso. Carlos semicerrou os olhos, sem tirar os seus dela.
— Você é muito desagradável, sabia? — Ele não sabia exatamente por que tinha dito aquilo em voz alta mas, quando se deu conta, já era tarde demais. Apesar de a intenção não ser aquela, lá estava ele começando mal com ela. Outra vez.
— Engraçado você dizer isso, — bloqueou o celular e, finalmente, levantou seu olhar até ele — porque eu achei exatamente a mesma coisa de você.
— Que coincidência — Carlos forçou uma risada.
— Pois é — Ela concordou.
— Pelo jeito, você não abaixa a guarda nunca, não é? — Sainz mexeu em seus cabelos por um instante, fazendo desviar a atenção dele para um canto qualquer ao lado.
— Deveria abaixar? — Ela perguntou cínica.
— Talvez — Carlos sorriu de lado para ela — Ficaria mais bonita assim.
— Sorte a minha que sua opinião não me importa.
A modelo voltou seu olhar para ele, o sorriso cínico não parecia deixar os lábios do homem e se segurou para não descer os olhos até a boca dele. Talvez devesse ter bebido menos. Seria mais educada e refinada a ponto de não corresponder aquelas falas idiotas dele. Ou, talvez, devesse beber um pouco mais, para aguentar aquilo. No fundo, naquela altura, não sabia mais porque estava reagindo daquela forma e por que não simplesmente saia dali de uma vez por todas.
— Jura? — Ele levantou as sobrancelhas — Porque irritadinha assim não é o que me parece.
negou com a cabeça e desviou seu olhar do dele novamente, tentando respirar fundo para não socar aquele cara. Ela não estava irritadinha. Estava… não sabia o que exatamente, só estava. E Carlos parecia estar conseguindo o que ele queria, a tirar pela expressão vitoriosa que ele parecia ter. Estava conseguindo tirar ela do sério, estragar ligeiramente a noite dela. ponderou por um momento se deveria continuar tendo aquela conversa, mas não era do tipo que daria o braço a torcer, era muito orgulhosa para isso e, pelo pouco que havia analisado do homem à sua frente, ele também parecia assim.
Carlos cortou seu olhar e o desviou para os movimentos que aconteciam dentro do apartamento. De onde estava pode assistir puxar Charles pela mão até a sala, cantando alto e dançando o refrão de Mamacita (Black Eyed Peas) com Lando, assim que o encontrou pelo caminho. Alex e Lily continuavam no exato mesmo lugar, aos amassos. Daniel já estava sentado em um dos sofás conversando com uma mulher morena muito bonita, sorrindo mais do que o habitual, enquanto George tentava gravar alguns vídeos com Pierre e Carmen bêbados, que vestiam óculos de sol roubados de alguém da festa. A energia caótica daquele grupo parecia boa e, por um momento, Carlos se sentiu encorajado a ir até eles, mas a voz carregada de arrogância de o impediu.
— Não estou irritadinha, querido — Apesar da breve pausa, parecia não querer deixar aquele assunto morrer — Só acho que não preciso “abaixar a guarda” com o cara que mal me conheceu e já me julgou nos primeiros dez segundos de contato.
— E você fez diferente? Não estava falando sobre você, não deveria tomar as dores de outra pessoa — Carlos fechou a expressão, negando com a cabeça. Ela se levantou em um movimento rápido, rindo incrédula.
— Era só pedir desculpas, não é tão difícil assim.
— Deveria me desculpar pelo o que exatamente? — Carlos também se levantou , apoiando as duas mãos em cima da mesa entre eles, inclinando seu corpo para frente, na direção dela.
— Por ser um babaca, talvez? — Ela respondeu simplesmente, fazendo o mesmo movimento que ele, sem se dar conta disso, inclinando seu corpo por cima da mesa.
Os olhos de Carlos travaram nos de e tudo nele pareceu focar-se totalmente nela. Não sabia se o calor que sentiu naquele instante vinha do clima quente lá fora, do álcool que fazia efeito em seu corpo ou da proximidade com o corpo da modelo. O vestido roxo, agora visto, enfim, de corpo inteiro parecia saltar aos olhos do piloto espanhol e ele tinha certeza de que não se esqueceria dele tão cedo. Por ser alguns centímetros mais alto do que ela, tinha uma visão privilegiada da mulher inclinada em sua direção e o cheiro de seu perfume oriental, forte, marcante, o inundou tanto quanto a nova música que começava a tocar.
Ironicamente, Headlights (Alok ft. Alan Walker). Parecia que tinham escolhido a dedo para Carlos naquele momento. Havia muitas mulheres que poderiam chamar sua atenção naquela noite. Muitas com as quais poderia se divertir, ter uma noite agradável, leve e tranquila. Muitas que o tratariam como ele estava acostumado a ser tratado, muitas que fariam tudo por ele. Mas Carlos pareceu cego por um momento. Cego como quem olha diretamente para o farol de um carro, cego pelas luzes que o iluminavam naquela noite. E alguma coisa o deixava preso naquela sensação, naquela cegueira; alguma coisa o fazia querer correr naquela direção. Como se fosse o farol, o estava iluminando e o puxando em sua direção desde que ele colocou os olhos nela naquela noite.
E aquilo irritava Carlos de um jeito absurdo.
— É o que você acha de mim? — Falando baixo, mais perto dela, ele deixou seus olhos recaírem até os lábios de .
— Talvez, se pedisse desculpas, eu poderia mudar de ideia — ela sustentava o olhar dele, falando mais baixo, segura de si — Estou te dando uma chance de resolvermos isso aqui, agora.
— Eu costumo resolver as coisas de outra forma com as modelos — De propósito, o piloto rebateu calmo e um tanto sensual.
deixou uma risada surpresa escapar, totalmente incrédula em ouvir aquilo. Sem perder a postura, contudo, ela levou suas mãos até os ombros dele e fingiu arrumar a camisa do homem lentamente até aproximar um pouco mais seu rosto do dele e dizer, em claro e bom espanhol, a última palavra que trocaria com Carlos Sainz naquela noite:
— Despreciable.
Talvez, agora ele entendesse o que ela achava dele.
Carlos pareceu levemente chocado, surpreso, sem dúvidas, com o toque, com a proximidade, com o espanhol pausado e um tanto sexy que saiu dos lábios da mulher a sua frente, dos lábios que ele não conseguia deixar de olhar. Mas ele não teve tempo de retribuir aquela provocação porque os gritos altos dos amigos misturaram-se rapidamente com o refrão da música que ainda tocava e cortou a atenção de e de Carlos. Se afastando rapidamente e voltando seus olhares para onde os gritos saíam, eles puderam ver os amigos celebrando animados o que parecia ser o acontecimento da noite: e Charles estavam, finalmente, se beijando.
Naquela altura da noite, perto das três horas da manhã, nenhum deles podia se dizer sóbrio. Já tinham bebido tanto que podiam sentir os sentidos bagunçados, as línguas formigando e o corpo parecer transcender, de um jeito tão bom que os fazia se sentir imparáveis, grandes. De fato, estavam bêbados, o que deve ter contribuído muito para a coragem de Charles, enfim, chegar nela. Mas tinham se dado tantas indiretas naquela noite, como sempre acontecia quando se encontravam, e tinham, oficialmente, a barreira que os impedia de fazer aquilo derrubada, de uma vez por todas. Tinham conversado a sós algum tempo, tinham dançado juntos, tinham se tocado, se sentido ao longo da noite. Não era surpresa para nenhum deles aquilo acontecer, mas estavam, todos, muito felizes por, finalmente, terem se permitido.
Carlos viu Charles empurrar com o corpo para um cantinho mais tranquilo da festa, longe da euforia dos amigos e, quando voltou seu olhar para o seu redor, já não estava mais por perto. Pelo contrário, recebia um novo drink de Pierre, enquanto ia dançar com ele e se enturmar com as outras pessoas. Carlos foi, literalmente, deixado para trás por ela naquela noite e, com Charles e sua melhor amiga, , ocupados demais e o aniversariante sumido da festa com a namorada, ele decidiu ir embora.
, por sua vez, sequer se deu conta da ausência dele. Pelo contrário, aproveitou a festa para comer com George, dançou com Pierre e com Carmen, ajudou a colocar Lando num táxi para o hotel, que não parava de rir e mal conseguia andar, e acudiu Ricciardo, depois que ele levou um fora da mulher em quem investiu naquela noite. Foi embora quase cinco horas da manhã exausta, mas feliz. Feliz em ter ido aquela festa, feliz em ter conhecido aquelas pessoas.
Feliz de ter feito novos amigos e desejando rever quase todos eles, o quanto antes.
Capítulo 2
Montmeló, Espanha
O domingo amanheceu ensolarado naquele final de semana. Na verdade, a semana toda estava calorosa em Barcelona, o que facilitou, e muito, os dias que passaram ali terem sido bonitos e bastante longos. Com os rapazes cumprindo as agendas prévias à corrida e se preparando para o final de semana ocupado à frente, as meninas aproveitaram o tempo livre para curtir a cidade e o tempo que tinham juntas. Fazia alguns meses que não visitava Barcelona e ter aceitado ficar durante a semana na cidade tinha sido uma escolha muito sábia.
Lily e estavam empolgadas com a corrida no final de semana e não precisaram de muito para conseguir os acessos vips para a amiga nova as acompanharem no domingo. Lily não concorreria a temporada do golfe naquele ano, por isso, estava com bastante tempo sobrando para acompanhar Alex e seguir seus treinos. , por sua vez, tinha alguns bons dias de férias após a semana de moda e seu próximo trabalho realmente inadiável era só alguns meses para frente. Já levava a vida dividida entre aproveitar o quanto podia e resolver coisas muito pontuais de sua marca. Tinha funcionários o suficiente para gerenciar a empresa, mas gostava de estar por perto, quando podia, e, estando na Espanha, estava literalmente em casa. Por isso, para as três, mudar de planos em cima da hora e topar aquelas maluquices que Lily propunha não era exatamente um problema.
A jogadora profissional preencheu os dias delas com programas que amava fazer na cidade: foram jogar novas partidas de golfe em campos locais, fizeram quase todas as refeições juntas, em restaurantes diferentes, reviram pontos turísticos para tirar novas fotos, fizeram compras e aproveitaram tudo o que Barcelona tinha de melhor a oferecer com sendo a guia turística da vez. Conseguiram tempo para se conhecer melhor, para contar a algumas de suas histórias, de seus passados e para ouvir dela a mesma coisa. A cada dia que passava, se sentia mais próxima e mais confiante em relação às meninas. Ouviu de Lily as frustrações que carregava em relação a sua família, ouviu de o rolo todo com Charles e permitiu-se contar sobre a relação que tinha com seus pais, toda a proteção e sua dificuldade em se integrar com as pessoas ao redor.
estava bastante satisfeita em ter conhecido pessoas que pareciam verdadeiramente interessadas em quem ela era, e não no que tinha a oferecer. Estava feliz em poder ser ouvida, em poder ouvir partes tão íntimas delas, em poder compartilhar suas opiniões sem julgamentos e receber conselhos de volta. Feliz em ter se deixado levar e em ter topado aquela loucura de as acompanhar inesperadamente. As horas que passava com elas, naquelas quase duas semanas, eram divertidas, leves e pareciam sempre insuficientes, como se quisessem alongar o tempo, não ir embora.
E quando perceberam, o domingo já havia chegado.
Lily mal tinha conseguido dormir de sábado para domingo, ansiosa com a corrida no dia seguinte. Quando se encontraram no café da manhã, em uma cafeteria no meio caminho entre os hotéis onde estavam hospedadas, a jogadora contou que, apesar de confiar no trabalho e no talento de Alex, sempre morria de preocupação com o que poderia acontecer. A incerteza de como as coisas correriam, ao longo de cada uma das voltas da pista, era um sentimento que também carregava em relação a Carlos e Charles e que, especialmente naquele dia, depois do que aconteceu na festa, parecia estar evidente nela.
Ela e Charles ainda não tinham exatamente conversado sobre o que tinha acontecido entre eles e , no dia seguinte à festa de Alex, não sabia se estava feliz ou assustada por ter, enfim, ficado com ele. Gostava dele há tempos, ela havia assumido. E Lily assegurou que ele também gostava dela, contando o que Alex havia dito a ela sobre seu término com Charlotte. Mas vivia aquela confusão gostosa de quando se começa a sair com alguém. Aquele sentimento estranho, de não saber o que esperar, como se comportar, o que exatamente sentir, ou o que dizer. Charles, contudo, parecia realmente confiante em relação a ela. E, apesar de estar bastante ocupado com os compromissos da corrida, não havia um dia que não encontrava um motivo para mandar uma mensagem, fotos de algo que estava acontecendo e os áudios mais fofos do universo - que faziam ser totalmente a favor dele para a amiga.
A modelo, contudo, estava vivendo tudo aquilo tão de perto pela primeira vez. E, por isso, estava ansiosa em participar de um GP como convidada, em ver o que acontecia nos bastidores mais exclusivos da temporada e mais ansiosa ainda em ser vista naquele lugar. Certamente seria reconhecida e esperava, torcia, para que ninguém a fizesse perguntas difíceis ou ela achava que poderia chorar de vergonha por não saber muita coisa sobre Fórmula 1. Lily, contudo, tentou explicar o que tinha de mais geral e importante na competição, durante o café da manhã, mas não tinha certeza se estava mesmo entendendo alguma coisa. E entre uma zueira e outra, entre os comentários aflitos e ansiosos das amigas, suas preocupações, um assunto em especial veio à tona.
Carlos Sainz.
Relembrando da festa, e do encontro um tanto catastrófico deles dois, Lily perguntou curiosa o que havia, de fato, acontecido naquela noite. não sabia como opinar sobre o assunto e repassou, sem grandes detalhes, o que as meninas já sabiam que tinha acontecido entre eles: desentendimentos atrás de desentendimentos. Contou o que rolou quando ela ficou sozinha com ele na mesa e Lily parecia boquiaberta, apesar do olhar um tanto sugestivo. Mesmo sabendo que ele era mais fechado e carrancudo do que os demais, achou estranho o comportamento do piloto. Sempre tinha sido gentil com ela e Lily e não havia absolutamente nada de errado em , que poderia ter tirado dele aquela reação.
contou sobre sua relação com Carlos. E descobriu que a amiga havia nascido em Viena, assim como seu falecido pai, mas que, no começo da adolescência, seus pais decidiram se mudar para algum lugar mais calmo e mais quente. Como sua mãe era espanhola, não foi difícil escolher a melhor região no país e a família Hermann se mudou, então, para Marbella e coincidentemente para a casa ao lado dos Sainz. e Carlos, com a mesma idade, se aproximaram na mesma velocidade que suas famílias e não demoraram a se tornar os melhores amigos que a Espanha já tinha visto. Desde então eram inseparáveis. E aquilo fez algum sentido para , pelo jeito que ele havia chegado nela na festa, os dois conversando em espanhol, o carinho que pareciam ter. comentou por cima que ele sempre tinha sido meio teimoso e cabeça dura, que era mais sério do que os outros meninos do grupo e que, à primeira vista, parecia um pouco arrogante, mas no fundo não era.
ouviu tudo atentamente, curiosa em descobrir aquela parte da vida da amiga, mas não pareceu se convencer muito sobre o que ela dizia de Sainz. Já tinha tido as próprias impressões sobre ele, já estava feito. E apesar de logo o assunto ser desviado para o fato de ela ter recebido uma mensagem de Ricciardo, para comentar sua aproximação com ele depois que o ajudou na festa, alguma coisa dentro dela pareceu gatilhar um pouco mais sua ansiedade. Contudo, ela jamais, em hipótese alguma, assumiria que, talvez, no fundo, não estivesse só ansiosa por estarem indo assistir a Fórmula 1 com todos aqueles acessos VIPs. Estava ansiosa porque sabia que Carlos também estaria lá. Ansiosa porque tinha certeza que, inevitavelmente, o veria outra vez.
Depois do café da manhã, as três ainda voltaram para seus respectivos hotéis, se arrumaram e, pontualmente no horário combinado, se reencontraram no ponto de encontro. , e Lily combinaram de chegar juntas ao paddock, para conseguirem entrar com sem problemas. Naquela temporada, Alex Albon estava correndo pela Williams, uma equipe de grande renome no passado mas que vinha enfrentando dificuldades atualmente, sobretudo pelos investimentos feitos, sendo assim, a última equipe do grid. Entre os passes, portanto, Lily tinha um para entrar nos boxes e no motorhome da Williams, para ver Alex, enquanto carregava o da Ferrari no pescoço, por conta de Carlos. tinha acesso livre pelo paddock e se estivesse acompanhada de uma delas, certamente poderia acessar onde mais ela quisesse.
O GP da Espanha acontecia anualmente na cidade catalã de Montmeló, cerca de 35 minutos de distância de Barcelona, onde as mulheres estavam hospedadas. , por morar no sul do país, tinha ido até Barcelona de carro e ficou encarregada de dirigir o veículo até o circuito, enquanto Lily, ao seu lado, cuidava do som e , no banco de trás, apenas curtia a viagem. Conversando animadamente sobre os acontecimentos da semana, fazendo alguns vídeos do caminho e cantando as músicas do rádio, entre risadas altas e gritos animados, o caminho todo até o autódromo foi mais rápido do que pareceram notar.
Quando chegaram ao circuito, não tiveram dificuldades em estacionar o carro, uma vez que, mesmo indo depois, chegaram mais cedo e tiveram a oportunidade de escolher a vaga. Saíram do veículo e tiveram que lidar com alguns paparazzis e fãs do esporte, que inevitavelmente cercaram o pequeno e bastante chamativo grupo, até a entrada do paddock. nunca gostou daquela invasão, por isso fechou a expressão e abaixou a cabeça, caminhando mais rápido do que o normal, incomodada pela abordagem. Elas não demoraram a passar pelas catracas, e se livrar dos fotógrafos que, até então, não paravam de gritar e de chamá-las.
Poucos metros para dentro do paddock, Lily logo avistou Alex, de longe, que aguardava a namorada próximo a uma das lanchonetes do local. Ao seu lado estava Charles, que ganhara certo brilho ao reparar na chegada de ao local, seguido por Lando Norris, que conversava animadamente com alguém no telefone e, enfim, Carlos, que estava com uma cara de tédio, olhando para o celular. As meninas logo se aproximaram dos pilotos, cumprimentando cada um deles animadamente, com um pequeno abraço e um beijo na bochecha. Não demorou mais do que poucos segundos para que e Charles entrassem em uma bolha própria, assim como Alex e Lily, deixando olhando entediada para Carlos, que parecia ignorar completamente a presença da modelo. “Tão previsível”, ela pensou.
Lando puxou todos para uma mesa vazia mais ao canto, onde sentaram-se e, tão rápido quanto chegou, uma atendente sorridente logo saiu com os pedidos de todos eles anotados.
— Vai parecer uma pergunta clichê, mas: estão ansiosos para a corrida de hoje? — olhou diretamente para Charles, que vinha dominando o campeonato naquela temporada e tendo excelentes resultados. não deixou de reparar na química do casal, que estavam sentados lado a lado e de frente para ela, e tentavam disfarçar os olhares apaixonados, sem muito sucesso.
— Se eu dissesse que não, estaria mentindo — Lando riu deixando seu celular de lado, voltando sua atenção aos amigos na mesa, que balançaram a cabeça em sinal de concordância.
— Acho que vou explodir, na verdade — Charles soltou a respiração pela boca.
— Eu já estou fodido mesmo — Alex parecia frustrado, recebendo um beijinho no rosto, de Lily.
— Que isso, cara, ainda dá tempo de reverter, não chegamos nem no meio da temporada ainda — Lando tentou apoiar o amigo, mas não havia nada muito racionalmente positivo a dizer. O carro de Albon estava, de fato, uma merda.
— Vamos tentar nos manter confiantes — Carlos falou pela primeira vez, olhando os amigos e ainda ignorando a modelo na mesa.
O grupo engatou em uma conversa sobre os acontecimentos da semana enquanto apreciavam os pedidos recém servidos pela atendente e observavam o movimento das equipes pelos longos corredores do paddock, ao redor de onde estavam. Trocavam algumas fofocas que rolaram após a festa de Albon, alguns dias atrás, e até , que sempre fora mais observadora, comentava sobre alguns acontecimentos que havia visto na ocasião. Bebericando lentamente seu café, sem querer dar o braço a torcer, Carlos lançava olhares pontuais para a modelo, sentada à sua frente, que ria e gesticulava animada as amigas, deixando a mulher ainda mais deslumbrante.
Seria mais fácil ignorar ela se não fosse tão bonita. E, pela clara frieza com que ela parecia o estar tratando ali, desde que chegou, ainda não tinha superado o que aconteceu na festa. Não seria ele a engolir o orgulho e correr atrás. De jeito nenhum. Se quisesse deixar o passado no passado, poderia simplesmente se esforçar em ser simpática com ele, afinal, fora ele a tentar conversar com ela da última vez, antes de ir embora da festa. Mas, se não quisesse, por ele também estava bom. Jogaria o jogo e, com certeza, seria o vencedor.
estava distraída tomando outro gole de seu latte quando sentiu uma presença atrás de si. Sem tempo de se virar e questionar quem era, os braços, do que notou ser um homem, repousaram sobre seu pescoço em um abraço e, logo depois, a modelo sentiu um beijo em sua bochecha.
— Olha só quem veio nos abençoar com toda sua beleza e charme nesta tarde — Daniel Ricciardo disse após beijá-la e logo foi pegar uma cadeira para se sentar ao seu lado. Parecia um furacão: em três segundos chamou a garçonete, fez seu pedido tradicional, cumprimentou e Lily, e logo depois o restante dos amigos.
Daniel e se aproximaram rapidamente desde a festa de Alex. Passaram a conversar constantemente por mensagens e ela tinha chegado até a almoçar com o piloto alguns dias atrás, quando o encontrou no restaurante do hotel onde estava hospedada. Ricciardo havia reparado desde o primeiro momento nos olhares de Carlos em cima da mulher, mas não havia comentado nada. Estivera observando atentamente a interação entre o casal, esperando que o tempo passasse para que ele pudesse, antes de dizer qualquer coisa, confirmar suas novas teorias.
— Vejo que nunca perde seu charme, Honey Badger — riu do apelido do australiano, que havia descoberto no dia anterior, por acaso, em uma conversa com Lily.
— Você sabe, é um charme de família — Respondeu piscando para ela, que gargalhou. Eles receberam alguns olhares das pessoas ao redor, incluindo de Carlos, que mexeu-se inconscientemente incomodado na cadeira, tomando um longo gole de seu café, enquanto revirava os olhos discretamente.
— Está precisando se esforçar mais, meu amigo — brincou.
— , por que você me magoa tanto? Eu sou sensível — Daniel fez um bico, dramatizando a situação.
— Ela só está dizendo a verdade — Lily brincou, recebendo uma careta do australiano.
— A gente sabe que você é sensível, cara. Sabemos que chora assistindo Frozen — Lando apontou o café que segurava, lembrando-se do dia em que o flagrou assistindo o filme no motorhome da equipe e o viu fungando.
— Eu já disse, cara, eu estava gripado — Ric defendeu-se, causando mais risadas no grupo.
— E, convenhamos, Ric ser o charme da família é quase uma piada — Charles educamente brincou, vendo o restante do grupo concordar, entrando na brincadeira.
— Nem dessa mesa ele é o mais charmoso — que, disfarçadamente, brincava com os anéis na mão de Charles, logo a soltou, reparando em uma jornalista aproximando-se do grupo.
— Qual é? — Dani a encarou incrédulo — Não estou valendo nada mesmo.
— Precisa pegar umas dicas com quem entende do assunto — deu um leve tapa em seu ombro.
— Tudo bem, vamos perguntar ao mais charmoso da mesa, então: Carlos, como é ser charmoso sem se esforçar? — Virando-se para o amigo, o piloto australiano perguntou sério, colocando a mão sobre o queixo. De repente, todos da mesa voltaram sua atenção ao espanhol, que, quieto o tempo todo, apenas levantou seu olhar até ele.
— Ah, qual é, precisamos de alguém a altura nessa competição — riu debochada, não dando chance de resposta ao piloto espanhol, que bufou forçando uma risada — Vamos chamar o Russell, ele tem propriedade para dizer.
— Hum, o Russell? — Lando a encarou sugestivo, um tanto confuso pela resposta da mulher.
— Me diz, , como é me odiar e não poder admitir que eu sou charmoso? — Sainz perguntou sério — Ou melhor, gostoso?
— A auto estima masculina deveria ser vendida. Por favor, ninguém nunca te disse a verdade? — perguntou no mesmo tom de voz, irônico, desencostando da cadeira e se aproximando da mesa, com as mãos sobre ela enquanto falava: — Sinto muito ser eu quem vai te dizer isso, mas o mundo não gira ao seu redor, sabia?
— Você ainda não me respondeu… — Carlos sorria presunçoso enquanto via a mulher voltar a encostar na cadeira e pegar seu café.
— As mulheres que você fica se interessam mesmo por todo esse seu ego? — arregalou os olhos, descrente — Tenho pena delas.
— Não, só as modelos, interesseiras, pegajosas, fúteis e irritantes.
Carlos não queria dizer aquilo. De jeito nenhum repetiria aquela merda em voz alta. Sabia que isso só piorava a relação dos dois, mas foi inevitável. parecia despertar o pior dele, atiçava seu senso já aguçado de competitividade e ele tinha que confessar para si mesmo: adorava a forma que ela se irritava com ele. , por sua vez, sentiu seu corpo ser consumido por uma raiva incomum ao ouvir aquilo. Não tinha ideia de como alguém poderia tirá-la do sério daquela forma, como o espanhol estava fazendo, e por muito pouco não perdeu completamente a linha com ele.
— Isso é sério? Você não…
— Ele não… está falando sério — se meteu no meio da conversa, interrompendo a amiga antes que a briguinha piorasse e olhando séria para Carlos, o repreendendo por ter dito aquilo, de novo.
— Coitada da Laura, não fala assim dela — Ricciardo logo completou a amiga, a ajudando a tentar amenizar a situação.
— Não fala o nome dela muito alto, porque é capaz de ela aparecer — Lando sussurrou, como se a mulher fosse aparecer a qualquer momento.
— Ela já está aqui — Charles deu de ombros, vendo e Carlos o encararem horrorizados, ao mesmo tempo — Vi ela passando pela entrada da Ferrari, mas não a deixaram entrar.
— ¡Que mierda! — bufou, vendo Carlos passar as mãos pelo rosto, exausto daquela situação — Como ela consegue entrar aqui? Está falsificando os passes?
— Eu não duvidaria disso — Lily deu de ombros, refletindo alto.
— E como está o Arthur nessa temporada, Charles? — Alex aproveitou o momento em que e Lily começaram a falar de Laura entre si para engatar outro assunto com os amigos, sem dar abertura para que e Carlos começassem a se desentender de novo.
Charles entrou na ideia de Alex e puxou uma conversa sobre seu irmão e a Fórmula 3 com os amigos, deixando todos ali entretidos por mais algum tempo. , que ainda fervia de raiva, apenas observava a conversa, sem qualquer interação. De um lado, não conhecia o irmão de Charles e sabia muito pouco sobre a categoria que ele corria, então, achou melhor não opinar. De outro, não conhecia Laura e não podia julgá-la com base no pouco que havia ouvido sobre ela. Os presentes na mesa, concentrados nas conversas, não perceberam a intensa troca de olhares, carregadas de farpas, que e Carlos sustentaram por quase um minuto até a modelo bufar e se virar completamente para as amigas.
A conversa entre eles fluiu bem por mais alguns minutos, até as equipes dos meninos irem buscá-los, para que fossem se aprontar de fato para a corrida. Eles se despediram brevemente das três mulheres e foram, ansiosos, sentido às suas respectivas equipes. Quando os pilotos se levantaram para começar os trabalhos, Lily puxou as amigas para conhecer as locações da equipe do namorado, onde tinha acesso livre para circular. Caminharam tranquilamente, cumprimentaram as pessoas pelo caminho e até posaram para fotos oficiais, se divertindo e aproveitando o momento. pode entender mais daquele mundo, como funcionava toda a administração de uma corrida dos bastidores e estava simplesmente impressionada com tanto trabalho e empenho de todos os funcionários. Conseguiu se distrair por algum tempo, tirar da mente tudo o que tinha acontecido com Carlos e dar espaço para a sensação de estar encantada por tudo aquilo.
A corrida começaria com Charles Leclerc na pole position. O piloto da Ferrari havia feito o melhor tempo no dia anterior, classificando-se à frente do sete vezes campeão mundial Lewis Hamilton e, logo atrás, seu companheiro de equipe Carlos Sainz. Max Verstappen, campeão da última temporada, parecia não se adaptar ao veículo. Havia ficado quase dez décimos atrás do primeiro colocado e conquistado a quinta posição de largada. e as amigas já aguardavam o início da corrida na área VIP do paddock, separada para familiares e convidados dos pilotos.
Desfrutavam de uma taça de champanhe enquanto conversavam animadamente com alguns convidados que estavam por ali. já estava acostumada com aquele tipo de ambiente e sentia-se animada por estar ali. Lembrava das vezes que acompanhou os pais em uma ou outra corrida, geralmente em Mônaco e assistindo de algum dos iates, mas nunca se pegou torcendo por algum piloto especificamente, como estava naquele momento por Charles Leclerc. Ignorou os pensamentos que surgiam de repente, sobre torcer para um certo piloto espanhol, sorrindo brevemente e dando um gole em sua bebida. Não daria aquele gosto a ele. Tudo que queria, no fundo, era que o rapaz fosse mal e que nem chegasse ao pódio.
— Nunca fiquei tão ansiosa com Fórmula 1 como eu estou hoje, amigas — riu, bebericando sua taça. sorriu entendendo o que a amiga queria dizer: estava ansiosa pela possível, e esperada, vitória de Charles naquele dia.
— Meu Deus, eu estou tão nervosa! — Lily concordou, seus olhos pairando na pista metros abaixo de onde estavam, na varanda, de onde podiam ver os pilotos entrarem em seus carros — Alex já estava chateado, desconfiado, do carro dele, não sei como vai ser.
— Vai dar tudo certo, amiga — balançou o ombro de Lily, em sinal de apoio.
— Faltam poucos minutos para a largada agora — se abanou com uma das credenciais da área VIP, que usava pendurada em seu pescoço.
— Confesso que estou sentindo meu coração na boca — riu — Se eu soubesse que quase iria infartar vendo isso, não teria aceitado o convite.
— Isso que você não tem um namorado lá — Lily olhou preocupada para a amiga.
— Ainda — olhou sugestiva para , que revirou os olhos.
— Olha quem fala! Você está há um passo de ser a próxima wag cobiçada da temporada — brincou, rindo em conseguir usar o vocabulário que havia aprendido com Lily mais cedo — Já pensou no que vai dar de presente caso Charles ganhe hoje?
— É muito cedo para dizer isso — A empresária murmurou, com sua taça de champanhe na boca, tirando gargalhadas das amigas e de uma senhora próximo a elas, que, inevitavelmente, ouvia a conversa.
— Tenho certeza que se o monegato vencer essa corrida, a comemoração vai ser muy caliente… se é que vocês me entendem — Lily piscou marota e riu alto do trocadilho da amiga, concordando com a cabeça.
— Vocês não prestam, sabia? — riu apontando para as mulheres, que deram de ombros enquanto voltavam a observar as equipes se organizarem e fazer os ajustes finais na largada.
— Tudo o que eu sei é que Carlos poderia perder o controle do carro e ficar fora dessa corrida — disse séria, tirando olhares horrorizados das amigas. No breve silêncio do momento, ela deu de ombros e perguntou: — O quê?
— Que horror, amiga, vira essa boca para lá — disse séria.
— Eu não disse sofrer um acidente grave nem nada, mas só parar nas britas ali e ficar fora da corrida, já seria o suficiente — virou-se para as amigas, explicando seu ponto.
— Não fala isso, minha querida, ele merece subir no pódio hoje — A senhora próxima a elas resolveu falar, enquanto observava o olhar de discordância da modelo.
— Ele é um idiota metido, não merece nada — rebateu séria. Se tratando de Carlos, a modelo não poupava reclamações.
— Vejo que meu filho não te agradou muito — A senhora riu levemente, sendo acompanhada pelo marido. levou apenas um segundo para entender o que acontecia ali e, assim que a ficha caiu, ela ficou pálida.
— Que ele não é um cara fácil de lidar, eu já sabia, mas não achava que era tanto a ponto de ter torcida contra — O homem com ela comentou risonho.
— Oh meu Deus, me desculpe! Eu não quis dizer isso, quer dizer… eu não sabia que ele era filho de vocês — gesticulava sem jeito, enquanto as amigas riam baixo. O pai de Carlos abraçava contente em vê-la, puxando uma conversa breve com ela, enquanto Lily se dividia em prestar atenção no que eles conversavam e em tentando consertar o que havia dito.
— Tudo bem, querida, sabemos que ele é um tanto… genioso — A senhora disse, segurando a mão da modelo — Eu sou a Reyes e esse é meu marido Carlos, nós somos os pais do Junior.
— É um prazer, senhor e senhora Sainz — seguiu simpática, apesar de estar vermelha de vergonha — Sou .
— Esse grupo fica cada dia mais lindo — Reyes falou agradável, cumprimentando Lily e, então, abraçando carinhosamente completou: — Se soubessem que você viria, meu amor, Ana e Blanca também teriam vindo.
— Eu avisei elas ontem, mas me disseram que não chegariam a tempo — fez um biquinho frustrado, lembrando-se de ter avisado às irmãs de Sainz pelo grupo de tinham.
— São duas enroladas mesmo — Carlos senior riu, negando com a cabeça — Noelle também está aqui?
— Não, foi para o Canadá já no meio da semana, resolver algumas coisas da inauguração do hotel novo em Quebec — explicou a agenda da sua mãe, sorrindo.
— Que pena, faz tempo que não nos vemos nos GPs — Carlos lamentou. assistia a curta interação deles curiosa. De fato, parecia fazer parte da família deles, como alguém que cuidavam e que se importavam e aquilo chamou atenção da modelo.
— Saudades de vocês, minhas queridas — Reyes pegou uma mão de e outra de Lily, empolgada — Não foram mais lá em casa com a gangue toda de vocês, o que aconteceu?
— Carlos não nos convidou — Lily deu de ombros, tirando risadas leves do casal.
— Ele realmente não faz esforços para ser agradável — murmurou, mas logo engoliu as palavras, sem querer ser desagradável.
— Como se vocês precisassem de convite para aparecer — O pai de Carlos comentou agradável, sorrindo — Venham quando quiserem.
— E tragam para conhecer nossa casa, quem sabe ela não conhece um lado mais amigável do Junior — Reyes piscou feliz, olhando sorrir envergonhada.
Os cinco conversaram por mais alguns minutos, sobre coisas genéricas da vida e o que acontecia ao redor deles, até que o casal ser chamado para assistir a corrida dos boxes. Eles abraçaram as meninas outra vez e a modelo fez questão de pedir desculpas novamente. O simpático casal se afastou, enfim, rindo, comentando sobre a educação que deram ao filho, deixando a modelo totalmente sem graça para trás.
O movimento pela área VIP começou a aumentar gradativamente a cada momento mais próximo do horário oficial da largada. aproveitou para ir até a varanda, gravar alguns stories, postou algumas fotos que fez com as amigas mais cedo naquele dia e logo depois puderam observar os pilotos saírem dos boxes em direção aos carros. A euforia crescente deixava o ambiente ainda mais animado e ansioso. Um frio na barriga generalizado tomava conta de todos os presentes, ao tempo que os sorrisos e gritos saíam naturalmente empolgados, prontos para começar a competição do dia.
O primeiro a aparecer foi Lewis Hamilton, junto com seu companheiro de equipe, George Russell e Valtteri Bottas. Os três pilotos conversavam animadamente, trocando provocações e frases motivacionais. Albon passou sozinho logo em seguida, concentrado, dando apenas um pequeno aceno para a namorada, que sorriu e desejou boa sorte alto, empolgada, para ele. Charles, Pierre e Carlos passaram juntos alguns minutos depois, conversando entre si, caminhando tão confiantes que era bonito de ver. O olhar do monegasco logo encontrou o de , que sorriu disfarçadamente para ele ao tempo que o piloto deu-lhe uma piscada rápida e sorriu de volta. Vendo a cena, Gasly não deixou de zoar o amigo, falando algo que só Charles pode ouvir, e bateu em seu ombro, enquanto riam.
Sainz, por sua vez, parecia o mais concentrado deles três. Tinha a expressão carregada como sempre, mais sério, os olhos escuros intensos, brilhando de uma forma diferente. Ele acompanhou o olhar de Charles até o local acima de onde passavam e, inevitavelmente, não pôde deixar de ver a modelo, ao lado das amigas. Reparando que era observada, deu de ombros, tentando demonstrar total apatia pelo espanhol, que sorriu contido e balançou a cabeça.
Carlos estava determinado a vencer aquela corrida. Tinha que ser o melhor que poderia ser naquele dia e o fato de estar ali, presente, o fazia se sentir ainda mais desafiado. Queria mostrar para ela quem ele era, queria dar a ela o gostinho da raiva em vê-lo subir no pódio, em ser bajulado por todo mundo, porque ele era bom no que fazia, como se, com aquilo, pudesse afirmar para ela que ela estava errada sobre ele. Com assistindo a corrida naquele dia, tudo parecia um pouco mais nervoso dentro dele. Conseguia sentir em suas veias uma raiva tremenda, um alerta de problema e uma vontade de provar para ela que, talvez, ele estivesse não apenas a sua altura: mas, certamente, um pouco acima dela.
Estar perto da modelo despertava sentimentos que Carlos não era capaz de explicar e isso estava começando a incomodá-lo. Não de um jeito ruim, contudo. De um jeito enlouquecedor, sem dúvidas.
Pegou-se pesquisando sobre ela na internet e, mais vezes do que o normal, pensando na mulher durante a semana. E, apesar de boicotar seu cérebro todas as vezes que isso acontecia, já que estava óbvio que eles não se gostavam e que a modelo era só mais uma filhinha de papai mimada, Carlos não conseguia tirar ela de sua mente.
, que se desconcentrou de tudo o que acontecia ao redor por um momento, depois de ver Carlos passar por elas, se pegou pensando no por que ele seria daquele jeito, sendo que seus pais pareciam tão simpáticos e amigáveis. A modelo se recusava a dar qualquer adjetivo ao piloto, ainda mais depois que acabou falando demais perto dos pais dele. Parecia que nenhuma palavra faria jus ao homem e nada seria ruim o suficiente para descrever o quanto ele a tirava do sério de tantas formas possíveis. Carlos era insuportavelmente insuportável. E, no fundo, estava canalizando suas energias mais em torcer contra ele, naquele dia, do que a favor de qualquer um dos seus novos amigos.
Tentando afastar aqueles pensamentos, a modelo pegou uma nova taça de champanhe em um balcão próximo e pode ouvir a conversa animada de algumas pessoas que compartilhavam o ambiente com elas, fazendo apostas e tentativas de análises sobre o que aconteceria naquela corrida. Ela não demorou mais do que alguns minutos ali, até ouvir Lily a chamar animada:
— Vem , a corrida já vai começar — Lily puxou a modelo pela mão, correndo alegremente para fora do lugar, com e mais algumas pessoas, que se acumulavam por ali para acompanhar a largada.
— Meu Deus, achei que vocês estavam escondidas — A voz estridente de Carmen chamou a atenção das três, que se viraram animadas.
— Carmen!!! — celebrou feliz, abraçando a amiga.
— Achei que você não vinha mais — Seguindo a ordem, Lily a cumprimentou animada.
Depois da festa de Albon, Carmen precisou voltar para Londres e não conseguiu ficar com as meninas, apesar da insistência delas. Tinha alguns compromissos de trabalho para resolver ao longo da semana e, no sábado, teve um casamento de um primo para ir. Por isso, sem muito tempo, pegou o primeiro vôo para Espanha que conseguiu no domingo cedo e, literalmente, foi correndo até o autódromo, torcendo em chegar a tempo da largada.
— Meu vôo atrasou horrores, vim correndo do aeroporto, deixei minhas coisas no motorhome da Mercedes e sorte que encontrei os pais do Sainz no caminho, aí já vim para cá — Carmen contou, enquanto abraçava — George já passou?
— Já, amiga — concordou com a cabeça, vendo Lily pegar um champanhe para a amiga recém chegada.
— Droga, eu amo ver ele indo para o box com aquele macacão — Carmen lamentou, tirando risadas das amigas — Mas hoje eu estou apostando em Lewis, certeza que o Hamilton ganha.
— Deixa o Russell ouvir isso — brincou, atraindo a atenção de algumas pessoas perto delas, que pareciam curiosas com o grupo de amigas ali.
— Eu apostei com ele mesmo — Carmen riu junto com as meninas — Ele estava tão confiante, que eu tive que apostar contra para abaixar o ego dele.
— Deveria ter apostado no Leclerc, então. Eu acho que ele vai ganhar, a briga vai ser acirrada, mas o garoto é muito bom — Um homem perto das meninas comentou, enquanto bebericava sua garrafa de cerveja. riu concordando e logo engatou uma conversa animada com ele.
Às quatorze horas em ponto, no horário local, os carros foram liberados para uma volta de apresentação e aquecimento. Um por um, saíram dando uma volta completa no circuito até retornarem para suas posições iniciais no grid. nunca havia ficado tão nervosa com um início de corrida como estava naquele momento, torcendo junto com suas mais novas amigas para pilotos mundialmente famosos e que, de uma hora a outra, haviam se tornado seus amigos também. Nunca se imaginou naquela posição, mas estaria mentindo se dissesse que não estava amando cada segundo.
O GP da Espanha tinha 66 voltas e era um dos mais longos do campeonato. Seu circuito de 6,675km era modificado a cada ano, dando mais emoção e competitividade. Assim, atualmente, contava com 16 curvas e algumas zonas de ultrapassagens de DRS, tornando a competição no local uma das grandes favoritas do público. Quando todos os veículos se alinharam na largada e o último carro, do piloto canadense Nicholas Latifi, chegou a sua posição, o bandeira autorizou o início da corrida. Todos esperaram ansiosamente pelas luzes no painel serem contadas e, assim que a última luz vermelha se apagou, Charles acelerou, conseguindo fechar Lewis e não dando sequer chance ao inglês que, por pouco, não saiu da pista.
A corrida foi passando, ao tempo em que as emoções cresciam dentro e fora dos carros. Na volta vinte e cinco, Lewis foi para os boxes para a primeira troca de pneus, dando folga a Charles, que ganhou alguns segundos de diferença. Depois que Carlos entrou para os boxes, o piloto neerlandês Max Verstappen conseguiu se aproximar, tirando o terceiro lugar do espanhol - para total alegria de . Assim que Charles entrou nos boxes, Lewis conseguiu ultrapassar o piloto, que voltou apenas um segundo atrás do inglês. Quando chegaram à curva nove, o piloto da Ferrari fez uma espetacular manobra e tentou ultrapassar o campeão mundial, que não o deu chances, empurrando o carro do rapaz para fora. , que estava sentada assistindo, se levantou em um pulo, preocupada, com Lily, Carmen e ao lado, tão concentradas que mal piscavam.
Por sorte, Charles conseguiu controlar o veículo, voltando rapidamente para a pista, fazendo as amigas na plateia celebrarem animadas. No pelotão de trás, Albon lutava para ultrapassar Stroll e conquistar o décimo segundo lugar, mas foi quando o piloto canadense entrou para os boxes que o rapaz conseguiu ultrapassá-lo e, de quebra, o piloto Valtteri Bottas, ficando em décimo lugar. Lily estava tão feliz que aplaudiu animada, celebrando com o maior sorriso que poderia dar.
Pensando em uma nova estratégia, a Ferrari chamou Charles para os boxes novamente e, logo depois, o áudio da equipe rival chamando Lewis para a troca de pneus foi disponibilizado ao público. Coincidentemente, os dois pilotos acabaram indo juntos para os boxes, tornando-se absurdamente emocionante a saída que dava vantagem ao monegasco. Lewis, irritado, reclamou no rádio pela estratégia da equipe, que deu o primeiro lugar ao rival, mas, quando estavam novamente na reta dos boxes, algumas voltas depois, o inglês conseguiu uma nova chance. Abrindo a asa e tentando ultrapassar Leclerc, ele seguiu na briga por alguns segundos, mas, novamente, não teve muito sucesso, perdendo a posição para o inglês.
Charles não desanimou. Pelo contrário, aproveitou o erro de pilotagem de Hamilton, próximo a curva nove, e conseguiu o ultrapassar, ficando novamente em primeiro lugar. Sainz, por sua vez, que estava a menos de um segundo atrás, aproveitou o momento também e conseguiu ficar na segunda posição. O circuito ia a loucura com a briga limpa entre os pilotos, exacerbando as emoções de quem assistia e pressionando aqueles que viviam tudo aquilo de dentro dos carros.
Na última volta, não tinha mais o que ser feito. Quando a bandeira quadriculada balançou, o mundo já sabia quem era o campeão do dia. Charles Leclerc gritou animado no rádio, enquanto recebia felicitações dos engenheiros e chefes. Carlos Sainz veio logo atrás do amigo, gritando igualmente animado no rádio e os fãs ferraristas comemoravam eufóricos por todo o circuito. Alex Albon, que havia feito uma corrida espetacular, conseguiu chegar em décimo lugar, dando os primeiros pontos do campeonato para a equipe Williams, que comemorava o excelente resultado do jovem piloto.
e Carmen assistiam e Lily se abraçarem empolgadas, gritando e rindo alto, depois de cumprimentar as amigas. Estavam absurdamente felizes pelos resultados do dia e muito satisfeitas com as posições e pontos que os amigos tinham conseguido naquela corrida. Algumas pessoas ao redor delas filmavam as duas amigas celebrando animadas, assim como , que não conseguia parar de sorrir e aproveitou o momento para registrar as comemorações delas. O sol brilhava no céu e já tinham tomado champanhe o suficiente para sentir o calor emanar de seus corpos. Tirando o fato de Carlos, infelizmente, ter feito seu lugar ao pódio, tudo estava perfeito para naquela tarde. Estava orgulhosa de Alex, feliz por Charles e muito animada por Ric, George, Pierre e Lando.
Os três primeiros pilotos do dia estacionaram seus carros sobre suas respectivas placas e, logo depois que saíram dos veículos, correram em direção às suas respectivas equipes, na grade do local, comemorando a vitória. Carlos e Charles se abraçaram fortemente, alegres, enquanto retiravam seus equipamentos e recebiam os parabéns de Lewis Hamilton, que os abraçou enquanto aguardava o início das entrevistas oficiais. Todos os olhos estavam voltados para os três rapazes no pódio. Eles cumprimentaram as lideranças do GP, pousaram para breves fotografias e, depois de cantar o hino nacional e receberem os respectivos prêmios, se divertiram com a chuva de champanhe entre eles. viu os pais de Carlos lá embaixo, orgulhosos e muito contentes pelo filho e, sem querer, se permitiu sorrir pela cena que assistia.
~ ❤ ~
Ao fim da tarde, o grupo de amigos decidiu se reunir no bar do hotel onde a maior parte deles estava hospedado, para comemorar as vitórias do dia e se divertir depois de um final de semana longo e estressante. já estava pronta desde às 18h30 e esperava pelo horário para ir até o local marcado. Vestia um conjunto de duas peças, composto por uma saia curta e um top, um sapato de salto alto e levava um batom vermelho bem aberto nos lábios. Demorou algum tempo se decidindo com qual bolsa deveria ir, até o barulho de notificações de seu celular chamar sua atenção.
estava perguntando se ela estava livre e se a poderia ajudar, com uma questão urgente, tirando de uma gargalhada alta ao perceber qual era o problema. Charles a tinha convidado para jantar e ela não conseguia decidir o que vestir. Só Charles Leclerc poderia causar em Hermann, a dona de uma das maiores marcas de roupa da atualidade, a incerteza sobre como se vestir.
Como tinha algum tempo livre até o horário de sair, decidiu ir até a amiga. estava hospedada em um dos hotéis de sua família, não muito longe dali, e decidiu ir a pé até lá. O começo da noite estava bastante agradável e não demorou mais do que cinco minutos para chegar e sequer precisou se anunciar na recepção do hotel. Já tinha ido tantos dias ali naquela semana, se encontrar com ela e com Lily, que seguia direto aos elevadores, rumo ao quarto da amiga, na cobertura.
Aliviada em vê-la, deu um rápido e apertado abraço na amiga e a puxou para dentro de seu quarto. Estava com os cabelos soltos e vestindo um roupão branco, felpudo, do hotel. se jogou na cama, enquanto via a empresária andar de um lado para o outro, impaciente.
— Amiga, você precisa se acalmar — disse levantando uma peça de roupa, que estava jogado ao seu lado na cama — Vamos por partes. Onde ele vai te levar?
— Eu não sei exatamente — a olhou pensativa.
— Nenhuma dica? — A modelo se apoiou em seus cotovelos — Ele não disse nada?
— Ele disse que era um jantar e nada mais — A empresária se sentou na cama, frustrada, lembrando-se de mais cedo, quando o monegasco a chamou para sair.
Assim que a corrida terminou e que as coisas se acalmaram ligeiramente para os pilotos, tinha ido ao encontro de Carlos, próximo ao motorhome da equipe dele, para parabenizá-lo pela posição do dia. Sainz, contudo, estava com seus pais em algum outro lugar e não o encontrou por ali, mas trombou com Charles pelo caminho e parou para falar com ele, para dar-lhe os parabéns pela vitória.
Feliz, e muito empolgado com o momento, Charles a puxou para um abraço, intenso e demorado. Não tinha nada mais a ser perfeito naquele dia, para ele, e parecia verdadeiramente feliz. Com a vitória, com ela ali. Tudo o que mais queria naquele momento era se jogar nos braços do piloto e beijá-lo ali mesmo, mas conteve-se, reparando nas câmeras que seguiam Charles por onde ele ia, os filmando, e os fotógrafos que passavam pelo local, que tiravam fotos deles dois juntos.
Sob as lentes curiosas das câmeras, eles conversaram ali por alguns minutos, mas logo Charles teve que seguir seu caminho para dar algumas entrevistas. Sem querer deixá-la, ele a abraçou novamente e a convidou, em um sussurro baixo, para jantar com ele naquela noite, com a desculpa de celebrar sua vitória. A empresária prontamente aceitou e, desde então, estava em surto.
— E sendo quem ele é, podemos assumir que será em algum restaurante cinco estrelas — seguiu pensando alto, vendo a amiga concordar com a cabeça.
— Provavelmente.
— Certo, então você precisa estar elegante e um pouco sexy, na minha opinião — brincou, sentindo a amiga a acertar com um travesseiro e logo se levantou, já indo até o closet do quarto.
tinha espalhado tudo o que trouxe em sua mala, e tudo o que havia comprado na cidade naqueles dias, pelo closet de seu quarto e estava uma verdadeira bagunça. buscou por algo que fosse caro e marcante e só demorou alguns segundos para encontrá-lo, afinal, não era absolutamente nada difícil encontrar peças com aquele perfil no guarda-roupas da Hermann. Puxando a peça de Vera Wang em mãos, ela logo a entregou para a amiga que, feliz, a pegou e foi até o banheiro se vestir, de frente com o enorme espelho.
não demorou dez minutos lá dentro, até, enfim, sair trocada. O vestido escolhido por era vermelho, de cetim, curto e tinha um caimento levemente justo, realçando todas as curvas da mulher. Tinha alças tão finas que mal podiam ser vistas e um decote semi-coração caidinho, despojado. No tempo em que a amiga passou se trocando, havia separado um par de sandálias Jimmy Choo que encontrou na bagunça da amiga, pretas e de tiras finas, que combinavam com a bolsinha pequena e elegante da YSL.
— O que acha? — perguntou assim que saiu do banheiro, deixando boquiaberta. Tinha ficado perfeita. Charles morreria quando a visse.
— Lindo, elegante, em um tecido refinado, — enumerava, entregando as sandálias para a amiga, que ria dos comentários — com um toque de sensualidade e, claro, na cor da Ferrari.
— Na cor da Ferrari? — gargalhou, só se dando conta daquilo naquele momento.
— Essa parte foi só uma coincidência, eu juro — confessou — Está linda, amiga, simplesmente perfeita! Charles é maluco se não tirar esse vestido de você no final desta noite.
parou por um instante, encarando séria a amiga, como se não tivesse pensado naquilo e, sem conseguir segurar, riu junto com ela. ficou por ali, jogando conversa fora, até ela terminar de se arrumar e se maquiar e, cerca de trinta minutos depois, recebeu uma mensagem do piloto, avisando que já estava a aguardando no saguão do hotel. pegou sua bolsa, deu uma última olhada no espelho e, junto com , desceram juntas no elevador. A modelo iria direto dali para o bar onde os amigos já, possivelmente, deveriam estar a aguardando. No térreo, ela cumprimentou Charles e, rapidamente se despedindo do casal, saiu em direção ao bar.
Charles havia chegado quarenta minutos antes do combinado. Deixou seu carro na entrada do hotel de luxo onde estava hospedada, e do qual ela era herdeira, indicou ao manobrista que a chave estava no contato e foi rumo ao saguão, atraindo olhares curiosos e nem um pouco discretos pelo caminho. Já tinha feito aquilo centenas de outras vezes em sua vida, mas tudo, de repente, lhe pareceu tão diferente. Seu estômago parecia revirar e seu coração batia tão acelerado, como se estivesse a 300 km/h. A adrenalina que subia em seu corpo o causava a mesma vontade de gritar que tinha quando sentava em seu carro, prestes a largar. Charles estava nervoso. O nervosismo de ansiedade, o medo de algo sair fora do perfeito, de cometer qualquer erro naquela noite.
E, talvez, já tivesse cometido o primeiro deles ao chegar tão cedo no hotel. Ele ponderou por alguns minutos se deveria mesmo avisá-la de que já estava ali ou se pareceria um tanto desesperado e, por isso, achou melhor esperar. ainda deveria estar terminando de se arrumar e não queria apressar ela, apesar de querer vê-la logo e sentir que tudo aquilo estava, de fato, em realidade, acontecendo. Desde que a conheceu, algo em Charles havia despertado e ele passou a contestar muitas coisas que sentia. Estava acostumado a engatar um relacionamento no outro, com pessoas que mais traziam a ele conforto e rotina, que buscavam nele segurança e estabilidade, do que os sentimentos que ele verdadeiramente descobriu querer sentir. E só descobriu isso, quando descobriu .
o deu, natural e espontaneamente, uma visão diferente de tudo aquilo e foi tão fácil se apaixonar por ela, que Charles ficou confuso por muito tempo. Foi rápido como a velocidade que estava acostumado nas pista, foi passional como um pecado, foi intenso como uma onda feroz e mexia com ele de um jeito que ninguém nunca o fez. Por tempos não soube exatamente como deveria reagir àquilo, porque não achava que era recíproco. Estavam se conhecendo, eram bons amigos, compartilhavam tantas coisas em comum que tudo se misturava. Se divertiam juntos e não queriam se despedir, deixavam um no outro vazios que doíam, solidões que não pareciam passar, mas tudo não foi claro o suficiente no começo até, enfim, começar a ser nos últimos tempos, até Charles perceber que não queria nada senão ela. Se lembraria de agradecer Carlos por tê-la trazido ao grupo, por tê-los apresentado naquele almoço e se lembraria de agradecer os seus amigos que, há tempos, começaram a ver o que eles estavam sentindo um pelo outro.
O piloto ficou sentado em um dos sofás mais ao canto do saguão do hotel. Podia sentir as palmas das mãos suarem, sua perna direita balançando ao chão pelo nervosismo e a respiração ser soltada pela boca de tempos em tempos, discretamente. Por sorte, estava acostumado a lidar com a adrenalina e, parecer calmo por fora, um dom que ele estava usando naquele momento. Às 20h30, exatamente, Charles, enfim, enviou uma mensagem para , avisando que estava por lá. E menos de dez minutos depois ela apareceu, tão linda e tão leve, com o sorriso mais feliz do mundo. Charles se levantou assim que seus olhos recaíram nos dela e, cumprimentando , que a acompanhava e logo foi embora, abraçou a sua nova garota.
— Você está… uau — Charles tentou dizer, assim que quebrou o breve abraço, suas mãos parando na cintura dela, os olhos revezando entre os seus olhos, sua boca e seu corpo. Palavra alguma podia descrever o quão bonita ela estava e, por um momento, ele sentiu como se aquele fosse, de fato, o dia mais feliz de sua vida, o dia em que teve sorte para caralho.
— Obrigada — riu tímida, colocando reparo na roupa do piloto. Estava com uma calça social e um blazer, cinza grafite, com uma camisa azul acinzentada mais clara por baixo. Os cabelos estavam um pouco bagunçados e as covinhas ressaltadas, pelo sorriso que não deixava seu rosto. Ela o encarou por alguns segundos, fazendo um silêncio dramático e, enfim, respondeu: — Acho que prefiro você com o macacão da corrida.
— Errei na roupa de novo? — Ele fez uma cara de frustração ligeiramente desesperada tão fofa, que tirou de uma nova risada — Não é possível!
— Está apresentável hoje, Charles, não se preocupe — Ela seguiu dizendo, tentando parecer séria.
— Ainda dá tempo de me trocar? — Ele perguntou sincero, a olhando.
— Estou brincando — se segurou no impulso de querer beijá-lo, mantendo-se levemente abraçada de frente com ele — Você sabe que fica lindo de azul.
— Ah, você não deveria ter dito isso, que erro! — Charles negou com a cabeça, aliviado — Vou me achar o resto da noite por isso.
— Só ser o campeão do dia não é o suficiente para se achar o rosto da noite? — Ela perguntou charmosa, lembrando do porquê de estarem ali. Charles sorriu orgulhoso de si mesmo.
— Não — Ele comentou baixo, a olhando — Ainda preciso levar a mulher mais linda do mundo para comemorar esse fato comigo.
— E está esperando o que? — Ela riu tímida pelas palavras dele.
— Na verdade, acho que falta uma coisa ainda, um detalhe — Charles comentou ligeiramente nervoso, desviando seu olhar dos olhos curiosos e confusos da mulher até o próprio blazer. Sem muita cerimônia, ele tirou no bolso interno uma pequena caixa vermelha, com as letras finas e refinadas da Cartier em sua tampa — Achei que você fosse gostar, que ficaria… lindo em você.
Ele falava tão baixo, levemente envergonhado, que quase não podia ser ouvido. Não era exatamente o cara com o melhor gosto do mundo e seus amigos estavam ali para confirmar. Queria dar algo de presente para naquela noite, o primeiro encontro oficial deles depois de dois anos, mas não conseguiu pensar em nada senão na jóia que tinha visto alguns dias atrás e se lembrado dela. Comprou, torcendo para ter um momento em dá-la de presente, torcendo para que ela gostasse. Surpresa, sem saber exatamente como reagir, assistiu os olhos dele voltaram-se aos dela, enquanto estendia a caixa. A mulher a pegou delicadamente e, abrindo com cuidado, sorriu para o colar.
Em ouro rosa 18k, o preferido de e que Charles descobriu por Carlos, o colar era como uma gargantilha, mais curto e muito elegante. Estava engastado com pequenos diamantes por todo ele, lapidados com brilhantes e reluzia como os olhos da mulher ao ver o presente. Charles sorriu sozinho, com suas mãos nos bolsos da calça, satisfeito por, aparentemente, ter feito uma boa escolha.
— Charles, é… lindo — Ela o encarou delicada, carinhosa, tirando a peça com cuidado de sua caixa.
— Como você — Ele riu baixo, a vendo desviar o olhar tímida e se virar de costas para ele. , então, afastou os cabelos para deixar seu pescoço à vista e deu o colar para que ele colocasse nela.
— Eu amei, muito obrigada — agradeceu suavemente.
— Têm dezesseis diamantes cravejados — Charles comentou perto do ouvido dela, se permitindo sentir o cheiro marcante do perfume oriental dela, enquanto terminava de fechar o colar em seu pescoço. riu levemente da coincidência em ter o exato número dele na Fórmula 1, e dia de seu aniversário, no número de diamantes do colar.
— Algum motivo especial para ser exatamente dezesseis? — Ela perguntou inocente, virando levemente o rosto para olhá-lo de lado. Charles sorriu charmoso, o calor originalmente tinha apenas dez diamantes, mas ele havia pedido à joalheria que completasse com seis outros de propósito. Voltando o cabelo dela delicadamente em suas costas, ele, então, sussurrou em seu ouvido:
— Para você sempre se lembrar de mim.
abriu um novo sorriso, sentindo seu coração bater acelerado por aquele momento, e se virou novamente de frente para ele, com uma mão no colar recém colocado.
— E tem como te esquecer, Charles Leclerc?
Charles sentiu seu estômago revirar ao ouvir aquilo. Como uma música para seus ouvidos, como o amor que alimentava seu coração, foi bom, era viciante. Ele observou a beleza da peça ser ofuscada pela beleza da mulher a sua frente e, feliz por ter agradado, se sentia pronto em seguir os planos para aquela noite.
— Bom, acho que agora sim: pronta? — Charles estendeu o braço para ela, cavalheiro, se colocando ao lado dela em um passo.
— Você está? — Ela o olhou de lado, sorridente, aceitando o braço dele e caminhando calma sentido a saída.
— Perfeitamente — Charles fez um sinal para o manobrista, indicando que precisaria de seu carro.
— Você sabe o que vai acontecer quando passarmos por essa porta juntos, não sabe? — hesitou por um segundo, olhando dele para a porta de entrada do hotel, onde certamente haveria fotógrafos e curiosos.
Ser uma pessoa conhecida nunca tinha particularmente incomodado , mas ela sempre teve ressalvas sobre as pessoas com quem se relacionava. Muita coisa podia mudar e, agora, para eles dois, era diferente. Nem todo mundo sabia do término de Charles e, com ele sendo o favorito da temporada de Fórmula 1, havia muitos olhos em cima dele, muita expectativa, muita gente opinando e um padrão alto demais a ser alcançado. não queria ser um motivo a mais de pressão ou de rumores, não queria que a vida particular dele fosse ainda mais exposta e nem que ele se afetasse com a mudança que, o fato de ser visto com ela, romanticamente, ela poderia trazer em sua vida. Sair, juntos, por aquela porta mudaria tudo dali em diante.
— Se isso te incomodar, nós podemos… — Charles a olhou preocupado, mas ela logo o cortou.
— Não me incomoda de jeito nenhum — sorriu o acalmando — Eu só quero… ter certeza de que está tudo bem por você.
— Eu não poderia querer absolutamente mais nada nesse momento — Charles sorriu confiante, falando calmamente — Ganhei a corrida hoje, ganhei essa noite com você. Eu estou exatamente no momento e no lugar onde sonhei estar, com a pessoa que eu quero estar — Os olhos claros dele pareciam brilhar e, intensos, encaravam os de , enquanto ele levava uma mão até o rosto dela, fazendo um carinho delicado ali — Então, tenha certeza, , de que eu tenho certeza sobre você.
deixou um sorriso apaixonado escapar e, sem mais conseguir se segurar, juntou seus lábios aos dele em um beijo rápido. Charles sorriu de volta para ela, ignorando as pessoas ao redor os olhando e, assim que o manobrista trouxe sua Ferrari preta até a porta do hotel, ele entrelaçou seus dedos aos dela e caminhou tranquilamente com para fora do hotel. Os seguranças na porta conseguiram segurar os fãs e paparazzis de plantão, enquanto Charles abriu a porta do carro para entrar, a esperou se acomodar e, entrando no lado do piloto, partiu com ela rumo ao centro da cidade.
Tinha feito reservas em um restaurante francês local, pedido o vinho mais antigo, e consequentemente mais caro, da carta. E passaram boas horas, naquela noite, conversando, rindo, tirando fotos um do outro, comendo, bebendo a garrafa toda e vinho e se aproveitando, em carinhos, beijos e em companhia, assistindo nas luzes de Barcelona tudo começar outra vez para eles dois. Do jeito certo, talvez. Com a pessoa certa, sem dúvidas.
Charles levou de volta para o hotel perto da uma hora da manhã. Desceu com ela para a acompanhar até seu quarto, entre beijos fervorosos e a sensação de não querer deixá-la mais, e não saiu de lá, do quarto dela, até a manhã seguinte.
~ ❤ ~
Mais cedo naquela noite, depois de deixar o casal de amigos para trás, chamou um táxi e, por ser não muito distante dali, chegou logo ao bar em estilo rooftop, um dos mais luxuosos de Barcelona. Assim que a modelo entrou no bar, atraindo a atenção de algumas pessoas pelo caminho, ela tentou localizar os amigos e chegou a pegar seu celular, para ligar para Lily. Contudo, não foi difícil descobrir onde estavam: as risadas altas e a gritaria podiam ser ouvidas já na porta e pareciam chamar atenção das outras pessoas no local. Como a noite estava agradável, quente, a turma resolveu sentar-se ao lado de fora, onde havia um pequeno jardim, buscando um mínimo de privacidade no local. Diversas mesas foram postas uma ao lado da outra para que todos se sentassem juntos, rodeadas por cadeiras de vinil com assentos fofos e coloridos e iluminadas por pequenas velas em recipientes de vidro.
, que acreditou ser a última a chegar, foi recebida com muita animação pelos amigos e os cumprimentou um por um, até se sentar ao lado de Daniel, que estava mais no centro da mesa. Na ponta, de frente para o australiano, estavam Yuki Tsunoda, Gasly, George Russell, Carmen, Lily e Albon. Já na ponta e ao lado de Daniel estavam Lando, Lance Stroll, , Sandra e, o seu namorado, Nicholas Latifi. Havia uma cadeira vaga ao lado da modelo, que aproveitou para apoiar sua bolsa enquanto recebia uma bebida de Lily e embalava em uma conversa animada com as namoradas dos rapazes.
Além de Lily e Carmen, Sandra, a outra garota na mesa com elas, já era uma conhecida antiga de . Tinham trabalhado juntas em uma campanha alguns anos atrás e foi emocionante ter se reencontrado com ela ali. Não foi difícil criar uma amizade com ela e passar mais tempo com as meninas. Lily seguia super animada e Carmen, a elegância em pessoa, estava especialmente engraçada naquela noite - talvez o equilíbrio perfeito com a calmaria de George. Pouco tempo depois, estavam contando suas vidas e as fofocas daquele mundo que dividiam, entre drinks e risadas altas.
Feel So Close, do Calvin Harris, tocava ao fundo do ambiente e as meninas tiveram a conversa interrompida por um momento, assim que Lando e Daniel começaram a cantar alto. Com seus copos cheios em mãos, enquanto faziam dancinhas ridículas sentados, na batida da música, eles pareciam se divertir feito dois adolescentes. Sem perder o momento, confortável o suficiente com a turma, se juntou a eles na dança coreografada na hora, sentada, enquanto Sandra filmava o momento com seu celular. Os demais logo se juntaram à cantoria, fazendo graça para o vídeo, um a um, quando percebiam que Carmen focava neles. Talvez um dos momentos mais inesperadamente divertidos da semana e que rendeu boas gargalhadas ao assistirem o resultado do vídeo.
Alguns minutos depois, os garçons deixaram petiscos e mais bebidas na mesa, enquanto todos voltaram a conversar animadamente, um por cima do outro, por cima da música, em um caos que parecia não ter sentido, mas que se entendiam. Por serem, todos, bastante conhecidos, estavam chamando bastante a atenção para eles, de todos no local. , mais observadora, admirava o grupo, feliz por ter se aproximado tão rapidamente de todos eles ali, por ser tratada como parte de um todo que ela sequer sabia existir. Não se arrependia de ter aceitado o convite das meninas para o golfe, não se arrependia do aniversário do Alex, da semana que se dispôs a ficar no país com as amigas e de ter se permitido conhecer algo novo, o mundo da Fórmula 1.
Estava em seu segundo drink com gin, vagando mentalmente naqueles pensamentos, enquanto sorria e olhava os amigos, quando sentiu uma voz muito próxima de seu ouvido sussurrar. Uma voz que a atormentava, uma voz que ela não queria realmente ouvir e que, inevitavelmente, pela grossura do tom e a intensidade baixa, a fez se arrepiar.
— Então, ela veio celebrar a minha vitória hoje?
Carlos observava a mulher desde o momento em que chegou ao local e, sem sequer hesitar, resolveu provocá-la. A modelo parecia aérea com a bagunça de todos na mesa, ao redor de si, e mal tinha notado quando ele se aproximou dela. balançou a cabeça, bufando, e antes que ele tivesse a oportunidade de dizer qualquer coisa mais, ela rebateu:
— Vai sonhando, lindo — Ela murmurou, mas ele a ignorou completamente.
— Não posso acreditar nisso, estou encantado.
— Por mim? Já percebi mesmo — finalmente virou-se para ele, olhando para o homem que, por estar em pé, estava bem mais alto do que ela. Não pode deixar de reparar na roupa do piloto, que parecia especialmente bonito naquela noite. Ela logo balançou a cabeça, dispersando aqueles pensamentos e, sem esperar pela resposta dele, virou-se novamente para frente. Carlos sorriu de lado.
— Se fosse você, eu não teria essa autoconfiança toda.
— Obrigada pelo conselho, — sorriu falsa — mas não te pedi.
— Sempre tão amável — Carlos riu sem graça alguma.
— Sempre tão previsível — rebateu na mesma moeda, mas ele apenas riu mais alto.
— A sua bolsa tem pernas ou… — Ele apontou para a cadeira vazia ao lado dela, fazendo bufar — você poderia fazer a gentileza de tirar para que eu possa me sentar?
— Por que não pega outra cadeira e se senta lá na ponta? — apontou para a direção oposta, mais longe dela.
— Por que essa cadeira está vazia e não vou ficar lá na ponta, longe do grupo — Ele respondeu já puxando a cadeira, colocando a bolsa da mulher na mesa, sem se preocupar com a falta de delicadeza.
— EI! Dá para ser mais delicado? — Ela pegou a bolsa, a colocando delicadamente sobre o encosto de sua cadeira, nas costas dela e, então, se virou para ele — Têm itens frágeis aí dentro.
— Me desculpe, — O espanhol ironizou, falsamente sentido, enquanto acenava para um garçom pedindo uma cerveja — eu me esqueci da maquiagem e dos cremes caros que, com certeza, você carrega para todo lado.
— Vem cá, você não consegue ser agradável nem por cinco segundos? — virou-se completamente para o rapaz, ficando de frente para ele. Seu olhar era sério, o queixo levantado, enquanto Carlos dava de ombros debochado, virando seu rosto para Stroll, que perto deles, não entendia bem o que estava acontecendo ali.
acabou falando um pouco alto demais, quando a música que tocava acabou e a próxima ainda não tinha começado. De repente, o casal virou a atração de todos na mesa e, pelo instante que Fuego (DJ Snake) começava a tocar, eles assistiram os dois se encararem, furiosos, mas com algo a mais carregado em seus olhos. Como se a letra da música saísse de um para o outro, aquele momento deixou os amigos vidrados, esperando pelo o que aconteceria.
Não reconheciam Carlos quando estava perto de e, pelo pouco que conheciam de , podiam dizer o mesmo dela. Não sabiam se não estavam, de fato, se dando bem ou se, por algum motivo, só não queriam dar o braço a torcer um para o outro. Pelo olhar desafiador que trocavam, que sustentava sem conseguir desviar e que os tirava do sério sem precisar dizer uma única palavra, era fácil ter uma teoria sobre o que acontecia entre eles.
Carlos passou a língua pelos lábios, pensativo, deixando-se levar pela música e pelo olhar intenso da modelo em si, enquanto o garçom o servia a cerveja que havia pedido. detestava quando ele fazia aquilo. Detestava o quanto aquilo a fazia querer… ela não sabia exatamente o que queria. Só tinha certeza de que detestava absolutamente tudo nele e, a cada novo encontro que tinha com ele, aquilo parecia mais forte, mais odiável. Um desperdício, na opinião de . Não fosse um idiota, certamente podiam fazer naquela noite coisas muito mais interessantes do que brigar.
O piloto tomou um gole de sua cerveja e inclinou seu corpo em direção a mulher, sem cortar o contato visual entre eles. ignorou completamente o perfume viciante que ele usava, não deixando transparecer nada senão a afronta em seus olhos. Carlos não poderia explicar o por que daquilo, mas, quando percebeu, ele estava afastando levemente as pontas do cabelo dela de seus ombros, os deixando cair para trás, em suas costas, e disse baixo, perto dela:
— Quando você começar a ser agradável comigo, talvez eu comece a ser com você também.
Daniel soltou um assovio alto, imitando uma bomba caindo, e segurou a mão de , por baixo da mesa, como se quisesse a acalmar. Carlos não deu tempo para aquela discussão continuar e simplesmente se virou para os amigos, com sua cerveja em mãos, desviando o olhar para o lado oposto da mesa, conversar com quem queria, de fato, conversar com ele. Não deixaria aquela mulher gastar seu tempo e nem estragar um dia tão feliz para ele. Estava ali para celebrar o pódio com seus amigos. Estava ali para curtir, descansar, comemorar e nada mais além daquilo. o acompanhou, com os olhos, sair de perto dela e o silêncio da mesa logo foi preenchido por novas conversas.
— Charles finalmente chamou a para sair, então? — Latifi voltou ao assunto que antes ouvia Carmen, Lily e Sandra fofocar.
— Não sei o que ela vê nele — Gasly se intrometeu na conversa, brincando — Eu, por exemplo, sou bem mais gostoso.
— Gostoso, não sei. Mas pelo menos não assassina a moda — George comentou, tomando sua bebida, tirando risadas dos amigos.
— Charles é exótico — Lando tentou dizer sério, mas gargalhou da cara que Daniel fez para ele — Isso que chama atenção da .
— Deixem eles serem felizes, gente, finalmente estão se resolvendo! — Carmen celebrou feliz, roubando a bebida do namorado, já que a sua tinha acabado.
— Duas vitórias para ele no mesmo dia, quem diria — Daniel riu.
— Um milagre, isso sim! Vocês tinham que ver no aniversário do Alex… — Lily começou a contar a fofoca para Lance, Latifi e Sandra, que não chegaram no país a tempo da festa de aniversário de Alex, enquanto em outro ponto da mesa novas conversas paralelas começavam e Pierre perguntava curioso:
— E aí, Sainz, onde a madame se escondeu para ter chegado só a essa hora?
— Estava jantando com meus pais. Inclusive, eles mandaram um abraço a todos vocês — O espanhol comentou simpático, mas logo olhou novamente para que, prestava atenção na conversa deles — menos para você, cariño — usando o apelido que Daniel tinha usado mais cedo no paddock, cheio de ironia e carregando em seu sotaque em espanhol, ele mentiu na cara dura a mulher.
— Não foi o que pareceu hoje mais cedo, quando me encontrei com eles — tomou um gole longo de sua bebida.
— Já está cercando minha família, ? — Ele provocou, virando seu corpo outra vez na direção dela — Nem me beijou e já se apresentou pros meus pais?
— Claro, estou fazendo meu trabalho bem feito, como a boa modelo pegajosa que sou — Ela entrou no joguinho dele. Carlos podia sentir seu corpo esquentar.
— Não sei se foi exatamente um trabalho bem feito… falar mal de mim para os meus pais — Carlos comentou despretensiosamente. Pierre olhava de um para outro, sem entender nada e achou melhor se enfiar em outra conversa, deixá-los resolver aquilo tudo a sós.
— Não precisei dizer nada, eles sabem o tipo de pessoa que você é — A modelo deu de ombros, mas o piloto logo rebateu:
— Não foi bem o que minha mãe disse.
— Ah, é? E o que ela disse então? — apoiou sua mão no queixo, o apoiando sobre a mesa, como se estivesse realmente interessada na conversa.
— Que você deveria tratar melhor o filhinho dela, porque, — ele, então, soltou uma risada provocativa — como sua futura sogra, não gostou daqueles modos.
— Então, quer dizer que vocês falaram de mim? — A modelo se virou ainda mais para o rapaz, que sorria o tempo todo — Quem diria, Sainz. Aposto que você disse que estava caidinho por mim e que não via a hora de me beijar.
— Bem que você queria, não é mesmo? — Ele a encarava, descendo seu olhar levemente até os lábios dela, de propósito. se aproximou dele e, já sentindo a respiração pesada do piloto, falou séria:
— Não sou eu quem está implorando por atenção aqui.
Carlos sentiu sua espinha arrepiar com a proximidade, inebriado pelo cheiro doce e floral que saia dela. Em qualquer outro cenário, ele a beijaria ali. Sem ressalva alguma, sem impedimentos. Naquele, contudo, levaria um soco se o fizesse. , por sua vez, manteve-se parada ali. Sua respiração parecia começar a falhar e ela sentiu uma vontade enorme de colocar suas mãos nele, de sentir as mãos dele nela. Seus olhos fizeram o caminho lento até os lábios dele e o viram sorrir charmoso, sem dizer qualquer coisa. Carlos veio alguns milímetros a mais em direção dela, mas antes mesmo que pudesse pensar em como reagir a , desejando que ela não saísse de tão perto dele como estava naquele momento, um barulho alto o fez se afastar rapidamente. Todos eles desviaram a atenção, vendo que Lando havia caído da cadeira e riram alto, zoando o amigo.
Dali em diante, Carlos e não trocaram mais nenhuma palavra.
Evitaram se olhar o resto da noite e ficaram de costas o tempo todo para o outro, se ignorando. E, assim, o restante da noite passou rapidamente. Os amigos ficaram conversando, bebendo, arriscaram um karaokê com o som que estava saindo das caixas, ocupando o tempo e a atenção de todos eles, arrancando risadas de quem estava no local. Carlos assistiu, de longe, em dado momento, dançar com Daniel e tentou se focar em qualquer coisa que Gasly e Lily o diziam. Seus olhos, contudo, não puderam deixar de ver quando eles dois se despediram dos amigos que estavam mais perto e, juntos, foram embora do bar.
Carlos sentiu uma raiva ferver dentro de si e se esforçou em não transparece-la. Não tinha nada com e sequer gostava dela, afinal. Ricciardo era seu amigo e merecia aproveitar o que quisesse aproveitar, com quem gostaria de aproveitar. Ele não deveria se incomodar com o apelido, com a proximidade, com o jeito que dançavam juntos naquela noite, com os sorrisos que trocavam, com as palavras ditas perto demais um do outro, com o fato de irem embora juntos. Fosse o que fosse, não era alguém boa o suficiente para ele. Era uma página a ser virada e que, facilmente seria esquecida em breve, assim que eles fossem embora do país.
Já era madrugada quando resolveram ir embora e Daniel, com alguma insistência, decidiu acompanhar , simplesmente para não deixá-la ir embora sozinha. A modelo estava cansada e o sono já começava a ser um impeditivo para curtir a festa, quando ela comentou com Dani, perto o suficiente para que ele a ouvisse por cima da música, que iria embora. O piloto usou da moeda de troca para que ela aceitasse a companhia, dizendo que da última vez foi ela quem o levou embora, e , enfim, aceitou. Ele a deixou em seu hotel, a acompanhou até os elevadores, despediu-se dela com um abraço forte e longo, um beijo no rosto, e foi embora para o hotel onde estava hospedado. Não se veriam tão cedo, provavelmente. Ricciardo seguiria sua agenda pelas corridas e ainda não tinha planos futuros, senão ir direto para sua cama naquela noite e dormir.
~ ❤ ~
O domingo amanheceu ensolarado naquele final de semana. Na verdade, a semana toda estava calorosa em Barcelona, o que facilitou, e muito, os dias que passaram ali terem sido bonitos e bastante longos. Com os rapazes cumprindo as agendas prévias à corrida e se preparando para o final de semana ocupado à frente, as meninas aproveitaram o tempo livre para curtir a cidade e o tempo que tinham juntas. Fazia alguns meses que não visitava Barcelona e ter aceitado ficar durante a semana na cidade tinha sido uma escolha muito sábia.
Lily e estavam empolgadas com a corrida no final de semana e não precisaram de muito para conseguir os acessos vips para a amiga nova as acompanharem no domingo. Lily não concorreria a temporada do golfe naquele ano, por isso, estava com bastante tempo sobrando para acompanhar Alex e seguir seus treinos. , por sua vez, tinha alguns bons dias de férias após a semana de moda e seu próximo trabalho realmente inadiável era só alguns meses para frente. Já levava a vida dividida entre aproveitar o quanto podia e resolver coisas muito pontuais de sua marca. Tinha funcionários o suficiente para gerenciar a empresa, mas gostava de estar por perto, quando podia, e, estando na Espanha, estava literalmente em casa. Por isso, para as três, mudar de planos em cima da hora e topar aquelas maluquices que Lily propunha não era exatamente um problema.
A jogadora profissional preencheu os dias delas com programas que amava fazer na cidade: foram jogar novas partidas de golfe em campos locais, fizeram quase todas as refeições juntas, em restaurantes diferentes, reviram pontos turísticos para tirar novas fotos, fizeram compras e aproveitaram tudo o que Barcelona tinha de melhor a oferecer com sendo a guia turística da vez. Conseguiram tempo para se conhecer melhor, para contar a algumas de suas histórias, de seus passados e para ouvir dela a mesma coisa. A cada dia que passava, se sentia mais próxima e mais confiante em relação às meninas. Ouviu de Lily as frustrações que carregava em relação a sua família, ouviu de o rolo todo com Charles e permitiu-se contar sobre a relação que tinha com seus pais, toda a proteção e sua dificuldade em se integrar com as pessoas ao redor.
estava bastante satisfeita em ter conhecido pessoas que pareciam verdadeiramente interessadas em quem ela era, e não no que tinha a oferecer. Estava feliz em poder ser ouvida, em poder ouvir partes tão íntimas delas, em poder compartilhar suas opiniões sem julgamentos e receber conselhos de volta. Feliz em ter se deixado levar e em ter topado aquela loucura de as acompanhar inesperadamente. As horas que passava com elas, naquelas quase duas semanas, eram divertidas, leves e pareciam sempre insuficientes, como se quisessem alongar o tempo, não ir embora.
E quando perceberam, o domingo já havia chegado.
Lily mal tinha conseguido dormir de sábado para domingo, ansiosa com a corrida no dia seguinte. Quando se encontraram no café da manhã, em uma cafeteria no meio caminho entre os hotéis onde estavam hospedadas, a jogadora contou que, apesar de confiar no trabalho e no talento de Alex, sempre morria de preocupação com o que poderia acontecer. A incerteza de como as coisas correriam, ao longo de cada uma das voltas da pista, era um sentimento que também carregava em relação a Carlos e Charles e que, especialmente naquele dia, depois do que aconteceu na festa, parecia estar evidente nela.
Ela e Charles ainda não tinham exatamente conversado sobre o que tinha acontecido entre eles e , no dia seguinte à festa de Alex, não sabia se estava feliz ou assustada por ter, enfim, ficado com ele. Gostava dele há tempos, ela havia assumido. E Lily assegurou que ele também gostava dela, contando o que Alex havia dito a ela sobre seu término com Charlotte. Mas vivia aquela confusão gostosa de quando se começa a sair com alguém. Aquele sentimento estranho, de não saber o que esperar, como se comportar, o que exatamente sentir, ou o que dizer. Charles, contudo, parecia realmente confiante em relação a ela. E, apesar de estar bastante ocupado com os compromissos da corrida, não havia um dia que não encontrava um motivo para mandar uma mensagem, fotos de algo que estava acontecendo e os áudios mais fofos do universo - que faziam ser totalmente a favor dele para a amiga.
A modelo, contudo, estava vivendo tudo aquilo tão de perto pela primeira vez. E, por isso, estava ansiosa em participar de um GP como convidada, em ver o que acontecia nos bastidores mais exclusivos da temporada e mais ansiosa ainda em ser vista naquele lugar. Certamente seria reconhecida e esperava, torcia, para que ninguém a fizesse perguntas difíceis ou ela achava que poderia chorar de vergonha por não saber muita coisa sobre Fórmula 1. Lily, contudo, tentou explicar o que tinha de mais geral e importante na competição, durante o café da manhã, mas não tinha certeza se estava mesmo entendendo alguma coisa. E entre uma zueira e outra, entre os comentários aflitos e ansiosos das amigas, suas preocupações, um assunto em especial veio à tona.
Carlos Sainz.
Relembrando da festa, e do encontro um tanto catastrófico deles dois, Lily perguntou curiosa o que havia, de fato, acontecido naquela noite. não sabia como opinar sobre o assunto e repassou, sem grandes detalhes, o que as meninas já sabiam que tinha acontecido entre eles: desentendimentos atrás de desentendimentos. Contou o que rolou quando ela ficou sozinha com ele na mesa e Lily parecia boquiaberta, apesar do olhar um tanto sugestivo. Mesmo sabendo que ele era mais fechado e carrancudo do que os demais, achou estranho o comportamento do piloto. Sempre tinha sido gentil com ela e Lily e não havia absolutamente nada de errado em , que poderia ter tirado dele aquela reação.
contou sobre sua relação com Carlos. E descobriu que a amiga havia nascido em Viena, assim como seu falecido pai, mas que, no começo da adolescência, seus pais decidiram se mudar para algum lugar mais calmo e mais quente. Como sua mãe era espanhola, não foi difícil escolher a melhor região no país e a família Hermann se mudou, então, para Marbella e coincidentemente para a casa ao lado dos Sainz. e Carlos, com a mesma idade, se aproximaram na mesma velocidade que suas famílias e não demoraram a se tornar os melhores amigos que a Espanha já tinha visto. Desde então eram inseparáveis. E aquilo fez algum sentido para , pelo jeito que ele havia chegado nela na festa, os dois conversando em espanhol, o carinho que pareciam ter. comentou por cima que ele sempre tinha sido meio teimoso e cabeça dura, que era mais sério do que os outros meninos do grupo e que, à primeira vista, parecia um pouco arrogante, mas no fundo não era.
ouviu tudo atentamente, curiosa em descobrir aquela parte da vida da amiga, mas não pareceu se convencer muito sobre o que ela dizia de Sainz. Já tinha tido as próprias impressões sobre ele, já estava feito. E apesar de logo o assunto ser desviado para o fato de ela ter recebido uma mensagem de Ricciardo, para comentar sua aproximação com ele depois que o ajudou na festa, alguma coisa dentro dela pareceu gatilhar um pouco mais sua ansiedade. Contudo, ela jamais, em hipótese alguma, assumiria que, talvez, no fundo, não estivesse só ansiosa por estarem indo assistir a Fórmula 1 com todos aqueles acessos VIPs. Estava ansiosa porque sabia que Carlos também estaria lá. Ansiosa porque tinha certeza que, inevitavelmente, o veria outra vez.
Depois do café da manhã, as três ainda voltaram para seus respectivos hotéis, se arrumaram e, pontualmente no horário combinado, se reencontraram no ponto de encontro. , e Lily combinaram de chegar juntas ao paddock, para conseguirem entrar com sem problemas. Naquela temporada, Alex Albon estava correndo pela Williams, uma equipe de grande renome no passado mas que vinha enfrentando dificuldades atualmente, sobretudo pelos investimentos feitos, sendo assim, a última equipe do grid. Entre os passes, portanto, Lily tinha um para entrar nos boxes e no motorhome da Williams, para ver Alex, enquanto carregava o da Ferrari no pescoço, por conta de Carlos. tinha acesso livre pelo paddock e se estivesse acompanhada de uma delas, certamente poderia acessar onde mais ela quisesse.
O GP da Espanha acontecia anualmente na cidade catalã de Montmeló, cerca de 35 minutos de distância de Barcelona, onde as mulheres estavam hospedadas. , por morar no sul do país, tinha ido até Barcelona de carro e ficou encarregada de dirigir o veículo até o circuito, enquanto Lily, ao seu lado, cuidava do som e , no banco de trás, apenas curtia a viagem. Conversando animadamente sobre os acontecimentos da semana, fazendo alguns vídeos do caminho e cantando as músicas do rádio, entre risadas altas e gritos animados, o caminho todo até o autódromo foi mais rápido do que pareceram notar.
Quando chegaram ao circuito, não tiveram dificuldades em estacionar o carro, uma vez que, mesmo indo depois, chegaram mais cedo e tiveram a oportunidade de escolher a vaga. Saíram do veículo e tiveram que lidar com alguns paparazzis e fãs do esporte, que inevitavelmente cercaram o pequeno e bastante chamativo grupo, até a entrada do paddock. nunca gostou daquela invasão, por isso fechou a expressão e abaixou a cabeça, caminhando mais rápido do que o normal, incomodada pela abordagem. Elas não demoraram a passar pelas catracas, e se livrar dos fotógrafos que, até então, não paravam de gritar e de chamá-las.
Poucos metros para dentro do paddock, Lily logo avistou Alex, de longe, que aguardava a namorada próximo a uma das lanchonetes do local. Ao seu lado estava Charles, que ganhara certo brilho ao reparar na chegada de ao local, seguido por Lando Norris, que conversava animadamente com alguém no telefone e, enfim, Carlos, que estava com uma cara de tédio, olhando para o celular. As meninas logo se aproximaram dos pilotos, cumprimentando cada um deles animadamente, com um pequeno abraço e um beijo na bochecha. Não demorou mais do que poucos segundos para que e Charles entrassem em uma bolha própria, assim como Alex e Lily, deixando olhando entediada para Carlos, que parecia ignorar completamente a presença da modelo. “Tão previsível”, ela pensou.
Lando puxou todos para uma mesa vazia mais ao canto, onde sentaram-se e, tão rápido quanto chegou, uma atendente sorridente logo saiu com os pedidos de todos eles anotados.
— Vai parecer uma pergunta clichê, mas: estão ansiosos para a corrida de hoje? — olhou diretamente para Charles, que vinha dominando o campeonato naquela temporada e tendo excelentes resultados. não deixou de reparar na química do casal, que estavam sentados lado a lado e de frente para ela, e tentavam disfarçar os olhares apaixonados, sem muito sucesso.
— Se eu dissesse que não, estaria mentindo — Lando riu deixando seu celular de lado, voltando sua atenção aos amigos na mesa, que balançaram a cabeça em sinal de concordância.
— Acho que vou explodir, na verdade — Charles soltou a respiração pela boca.
— Eu já estou fodido mesmo — Alex parecia frustrado, recebendo um beijinho no rosto, de Lily.
— Que isso, cara, ainda dá tempo de reverter, não chegamos nem no meio da temporada ainda — Lando tentou apoiar o amigo, mas não havia nada muito racionalmente positivo a dizer. O carro de Albon estava, de fato, uma merda.
— Vamos tentar nos manter confiantes — Carlos falou pela primeira vez, olhando os amigos e ainda ignorando a modelo na mesa.
O grupo engatou em uma conversa sobre os acontecimentos da semana enquanto apreciavam os pedidos recém servidos pela atendente e observavam o movimento das equipes pelos longos corredores do paddock, ao redor de onde estavam. Trocavam algumas fofocas que rolaram após a festa de Albon, alguns dias atrás, e até , que sempre fora mais observadora, comentava sobre alguns acontecimentos que havia visto na ocasião. Bebericando lentamente seu café, sem querer dar o braço a torcer, Carlos lançava olhares pontuais para a modelo, sentada à sua frente, que ria e gesticulava animada as amigas, deixando a mulher ainda mais deslumbrante.
Seria mais fácil ignorar ela se não fosse tão bonita. E, pela clara frieza com que ela parecia o estar tratando ali, desde que chegou, ainda não tinha superado o que aconteceu na festa. Não seria ele a engolir o orgulho e correr atrás. De jeito nenhum. Se quisesse deixar o passado no passado, poderia simplesmente se esforçar em ser simpática com ele, afinal, fora ele a tentar conversar com ela da última vez, antes de ir embora da festa. Mas, se não quisesse, por ele também estava bom. Jogaria o jogo e, com certeza, seria o vencedor.
estava distraída tomando outro gole de seu latte quando sentiu uma presença atrás de si. Sem tempo de se virar e questionar quem era, os braços, do que notou ser um homem, repousaram sobre seu pescoço em um abraço e, logo depois, a modelo sentiu um beijo em sua bochecha.
— Olha só quem veio nos abençoar com toda sua beleza e charme nesta tarde — Daniel Ricciardo disse após beijá-la e logo foi pegar uma cadeira para se sentar ao seu lado. Parecia um furacão: em três segundos chamou a garçonete, fez seu pedido tradicional, cumprimentou e Lily, e logo depois o restante dos amigos.
Daniel e se aproximaram rapidamente desde a festa de Alex. Passaram a conversar constantemente por mensagens e ela tinha chegado até a almoçar com o piloto alguns dias atrás, quando o encontrou no restaurante do hotel onde estava hospedada. Ricciardo havia reparado desde o primeiro momento nos olhares de Carlos em cima da mulher, mas não havia comentado nada. Estivera observando atentamente a interação entre o casal, esperando que o tempo passasse para que ele pudesse, antes de dizer qualquer coisa, confirmar suas novas teorias.
— Vejo que nunca perde seu charme, Honey Badger — riu do apelido do australiano, que havia descoberto no dia anterior, por acaso, em uma conversa com Lily.
— Você sabe, é um charme de família — Respondeu piscando para ela, que gargalhou. Eles receberam alguns olhares das pessoas ao redor, incluindo de Carlos, que mexeu-se inconscientemente incomodado na cadeira, tomando um longo gole de seu café, enquanto revirava os olhos discretamente.
— Está precisando se esforçar mais, meu amigo — brincou.
— , por que você me magoa tanto? Eu sou sensível — Daniel fez um bico, dramatizando a situação.
— Ela só está dizendo a verdade — Lily brincou, recebendo uma careta do australiano.
— A gente sabe que você é sensível, cara. Sabemos que chora assistindo Frozen — Lando apontou o café que segurava, lembrando-se do dia em que o flagrou assistindo o filme no motorhome da equipe e o viu fungando.
— Eu já disse, cara, eu estava gripado — Ric defendeu-se, causando mais risadas no grupo.
— E, convenhamos, Ric ser o charme da família é quase uma piada — Charles educamente brincou, vendo o restante do grupo concordar, entrando na brincadeira.
— Nem dessa mesa ele é o mais charmoso — que, disfarçadamente, brincava com os anéis na mão de Charles, logo a soltou, reparando em uma jornalista aproximando-se do grupo.
— Qual é? — Dani a encarou incrédulo — Não estou valendo nada mesmo.
— Precisa pegar umas dicas com quem entende do assunto — deu um leve tapa em seu ombro.
— Tudo bem, vamos perguntar ao mais charmoso da mesa, então: Carlos, como é ser charmoso sem se esforçar? — Virando-se para o amigo, o piloto australiano perguntou sério, colocando a mão sobre o queixo. De repente, todos da mesa voltaram sua atenção ao espanhol, que, quieto o tempo todo, apenas levantou seu olhar até ele.
— Ah, qual é, precisamos de alguém a altura nessa competição — riu debochada, não dando chance de resposta ao piloto espanhol, que bufou forçando uma risada — Vamos chamar o Russell, ele tem propriedade para dizer.
— Hum, o Russell? — Lando a encarou sugestivo, um tanto confuso pela resposta da mulher.
— Me diz, , como é me odiar e não poder admitir que eu sou charmoso? — Sainz perguntou sério — Ou melhor, gostoso?
— A auto estima masculina deveria ser vendida. Por favor, ninguém nunca te disse a verdade? — perguntou no mesmo tom de voz, irônico, desencostando da cadeira e se aproximando da mesa, com as mãos sobre ela enquanto falava: — Sinto muito ser eu quem vai te dizer isso, mas o mundo não gira ao seu redor, sabia?
— Você ainda não me respondeu… — Carlos sorria presunçoso enquanto via a mulher voltar a encostar na cadeira e pegar seu café.
— As mulheres que você fica se interessam mesmo por todo esse seu ego? — arregalou os olhos, descrente — Tenho pena delas.
— Não, só as modelos, interesseiras, pegajosas, fúteis e irritantes.
Carlos não queria dizer aquilo. De jeito nenhum repetiria aquela merda em voz alta. Sabia que isso só piorava a relação dos dois, mas foi inevitável. parecia despertar o pior dele, atiçava seu senso já aguçado de competitividade e ele tinha que confessar para si mesmo: adorava a forma que ela se irritava com ele. , por sua vez, sentiu seu corpo ser consumido por uma raiva incomum ao ouvir aquilo. Não tinha ideia de como alguém poderia tirá-la do sério daquela forma, como o espanhol estava fazendo, e por muito pouco não perdeu completamente a linha com ele.
— Isso é sério? Você não…
— Ele não… está falando sério — se meteu no meio da conversa, interrompendo a amiga antes que a briguinha piorasse e olhando séria para Carlos, o repreendendo por ter dito aquilo, de novo.
— Coitada da Laura, não fala assim dela — Ricciardo logo completou a amiga, a ajudando a tentar amenizar a situação.
— Não fala o nome dela muito alto, porque é capaz de ela aparecer — Lando sussurrou, como se a mulher fosse aparecer a qualquer momento.
— Ela já está aqui — Charles deu de ombros, vendo e Carlos o encararem horrorizados, ao mesmo tempo — Vi ela passando pela entrada da Ferrari, mas não a deixaram entrar.
— ¡Que mierda! — bufou, vendo Carlos passar as mãos pelo rosto, exausto daquela situação — Como ela consegue entrar aqui? Está falsificando os passes?
— Eu não duvidaria disso — Lily deu de ombros, refletindo alto.
— E como está o Arthur nessa temporada, Charles? — Alex aproveitou o momento em que e Lily começaram a falar de Laura entre si para engatar outro assunto com os amigos, sem dar abertura para que e Carlos começassem a se desentender de novo.
Charles entrou na ideia de Alex e puxou uma conversa sobre seu irmão e a Fórmula 3 com os amigos, deixando todos ali entretidos por mais algum tempo. , que ainda fervia de raiva, apenas observava a conversa, sem qualquer interação. De um lado, não conhecia o irmão de Charles e sabia muito pouco sobre a categoria que ele corria, então, achou melhor não opinar. De outro, não conhecia Laura e não podia julgá-la com base no pouco que havia ouvido sobre ela. Os presentes na mesa, concentrados nas conversas, não perceberam a intensa troca de olhares, carregadas de farpas, que e Carlos sustentaram por quase um minuto até a modelo bufar e se virar completamente para as amigas.
A conversa entre eles fluiu bem por mais alguns minutos, até as equipes dos meninos irem buscá-los, para que fossem se aprontar de fato para a corrida. Eles se despediram brevemente das três mulheres e foram, ansiosos, sentido às suas respectivas equipes. Quando os pilotos se levantaram para começar os trabalhos, Lily puxou as amigas para conhecer as locações da equipe do namorado, onde tinha acesso livre para circular. Caminharam tranquilamente, cumprimentaram as pessoas pelo caminho e até posaram para fotos oficiais, se divertindo e aproveitando o momento. pode entender mais daquele mundo, como funcionava toda a administração de uma corrida dos bastidores e estava simplesmente impressionada com tanto trabalho e empenho de todos os funcionários. Conseguiu se distrair por algum tempo, tirar da mente tudo o que tinha acontecido com Carlos e dar espaço para a sensação de estar encantada por tudo aquilo.
A corrida começaria com Charles Leclerc na pole position. O piloto da Ferrari havia feito o melhor tempo no dia anterior, classificando-se à frente do sete vezes campeão mundial Lewis Hamilton e, logo atrás, seu companheiro de equipe Carlos Sainz. Max Verstappen, campeão da última temporada, parecia não se adaptar ao veículo. Havia ficado quase dez décimos atrás do primeiro colocado e conquistado a quinta posição de largada. e as amigas já aguardavam o início da corrida na área VIP do paddock, separada para familiares e convidados dos pilotos.
Desfrutavam de uma taça de champanhe enquanto conversavam animadamente com alguns convidados que estavam por ali. já estava acostumada com aquele tipo de ambiente e sentia-se animada por estar ali. Lembrava das vezes que acompanhou os pais em uma ou outra corrida, geralmente em Mônaco e assistindo de algum dos iates, mas nunca se pegou torcendo por algum piloto especificamente, como estava naquele momento por Charles Leclerc. Ignorou os pensamentos que surgiam de repente, sobre torcer para um certo piloto espanhol, sorrindo brevemente e dando um gole em sua bebida. Não daria aquele gosto a ele. Tudo que queria, no fundo, era que o rapaz fosse mal e que nem chegasse ao pódio.
— Nunca fiquei tão ansiosa com Fórmula 1 como eu estou hoje, amigas — riu, bebericando sua taça. sorriu entendendo o que a amiga queria dizer: estava ansiosa pela possível, e esperada, vitória de Charles naquele dia.
— Meu Deus, eu estou tão nervosa! — Lily concordou, seus olhos pairando na pista metros abaixo de onde estavam, na varanda, de onde podiam ver os pilotos entrarem em seus carros — Alex já estava chateado, desconfiado, do carro dele, não sei como vai ser.
— Vai dar tudo certo, amiga — balançou o ombro de Lily, em sinal de apoio.
— Faltam poucos minutos para a largada agora — se abanou com uma das credenciais da área VIP, que usava pendurada em seu pescoço.
— Confesso que estou sentindo meu coração na boca — riu — Se eu soubesse que quase iria infartar vendo isso, não teria aceitado o convite.
— Isso que você não tem um namorado lá — Lily olhou preocupada para a amiga.
— Ainda — olhou sugestiva para , que revirou os olhos.
— Olha quem fala! Você está há um passo de ser a próxima wag cobiçada da temporada — brincou, rindo em conseguir usar o vocabulário que havia aprendido com Lily mais cedo — Já pensou no que vai dar de presente caso Charles ganhe hoje?
— É muito cedo para dizer isso — A empresária murmurou, com sua taça de champanhe na boca, tirando gargalhadas das amigas e de uma senhora próximo a elas, que, inevitavelmente, ouvia a conversa.
— Tenho certeza que se o monegato vencer essa corrida, a comemoração vai ser muy caliente… se é que vocês me entendem — Lily piscou marota e riu alto do trocadilho da amiga, concordando com a cabeça.
— Vocês não prestam, sabia? — riu apontando para as mulheres, que deram de ombros enquanto voltavam a observar as equipes se organizarem e fazer os ajustes finais na largada.
— Tudo o que eu sei é que Carlos poderia perder o controle do carro e ficar fora dessa corrida — disse séria, tirando olhares horrorizados das amigas. No breve silêncio do momento, ela deu de ombros e perguntou: — O quê?
— Que horror, amiga, vira essa boca para lá — disse séria.
— Eu não disse sofrer um acidente grave nem nada, mas só parar nas britas ali e ficar fora da corrida, já seria o suficiente — virou-se para as amigas, explicando seu ponto.
— Não fala isso, minha querida, ele merece subir no pódio hoje — A senhora próxima a elas resolveu falar, enquanto observava o olhar de discordância da modelo.
— Ele é um idiota metido, não merece nada — rebateu séria. Se tratando de Carlos, a modelo não poupava reclamações.
— Vejo que meu filho não te agradou muito — A senhora riu levemente, sendo acompanhada pelo marido. levou apenas um segundo para entender o que acontecia ali e, assim que a ficha caiu, ela ficou pálida.
— Que ele não é um cara fácil de lidar, eu já sabia, mas não achava que era tanto a ponto de ter torcida contra — O homem com ela comentou risonho.
— Oh meu Deus, me desculpe! Eu não quis dizer isso, quer dizer… eu não sabia que ele era filho de vocês — gesticulava sem jeito, enquanto as amigas riam baixo. O pai de Carlos abraçava contente em vê-la, puxando uma conversa breve com ela, enquanto Lily se dividia em prestar atenção no que eles conversavam e em tentando consertar o que havia dito.
— Tudo bem, querida, sabemos que ele é um tanto… genioso — A senhora disse, segurando a mão da modelo — Eu sou a Reyes e esse é meu marido Carlos, nós somos os pais do Junior.
— É um prazer, senhor e senhora Sainz — seguiu simpática, apesar de estar vermelha de vergonha — Sou .
— Esse grupo fica cada dia mais lindo — Reyes falou agradável, cumprimentando Lily e, então, abraçando carinhosamente completou: — Se soubessem que você viria, meu amor, Ana e Blanca também teriam vindo.
— Eu avisei elas ontem, mas me disseram que não chegariam a tempo — fez um biquinho frustrado, lembrando-se de ter avisado às irmãs de Sainz pelo grupo de tinham.
— São duas enroladas mesmo — Carlos senior riu, negando com a cabeça — Noelle também está aqui?
— Não, foi para o Canadá já no meio da semana, resolver algumas coisas da inauguração do hotel novo em Quebec — explicou a agenda da sua mãe, sorrindo.
— Que pena, faz tempo que não nos vemos nos GPs — Carlos lamentou. assistia a curta interação deles curiosa. De fato, parecia fazer parte da família deles, como alguém que cuidavam e que se importavam e aquilo chamou atenção da modelo.
— Saudades de vocês, minhas queridas — Reyes pegou uma mão de e outra de Lily, empolgada — Não foram mais lá em casa com a gangue toda de vocês, o que aconteceu?
— Carlos não nos convidou — Lily deu de ombros, tirando risadas leves do casal.
— Ele realmente não faz esforços para ser agradável — murmurou, mas logo engoliu as palavras, sem querer ser desagradável.
— Como se vocês precisassem de convite para aparecer — O pai de Carlos comentou agradável, sorrindo — Venham quando quiserem.
— E tragam para conhecer nossa casa, quem sabe ela não conhece um lado mais amigável do Junior — Reyes piscou feliz, olhando sorrir envergonhada.
Os cinco conversaram por mais alguns minutos, sobre coisas genéricas da vida e o que acontecia ao redor deles, até que o casal ser chamado para assistir a corrida dos boxes. Eles abraçaram as meninas outra vez e a modelo fez questão de pedir desculpas novamente. O simpático casal se afastou, enfim, rindo, comentando sobre a educação que deram ao filho, deixando a modelo totalmente sem graça para trás.
O movimento pela área VIP começou a aumentar gradativamente a cada momento mais próximo do horário oficial da largada. aproveitou para ir até a varanda, gravar alguns stories, postou algumas fotos que fez com as amigas mais cedo naquele dia e logo depois puderam observar os pilotos saírem dos boxes em direção aos carros. A euforia crescente deixava o ambiente ainda mais animado e ansioso. Um frio na barriga generalizado tomava conta de todos os presentes, ao tempo que os sorrisos e gritos saíam naturalmente empolgados, prontos para começar a competição do dia.
O primeiro a aparecer foi Lewis Hamilton, junto com seu companheiro de equipe, George Russell e Valtteri Bottas. Os três pilotos conversavam animadamente, trocando provocações e frases motivacionais. Albon passou sozinho logo em seguida, concentrado, dando apenas um pequeno aceno para a namorada, que sorriu e desejou boa sorte alto, empolgada, para ele. Charles, Pierre e Carlos passaram juntos alguns minutos depois, conversando entre si, caminhando tão confiantes que era bonito de ver. O olhar do monegasco logo encontrou o de , que sorriu disfarçadamente para ele ao tempo que o piloto deu-lhe uma piscada rápida e sorriu de volta. Vendo a cena, Gasly não deixou de zoar o amigo, falando algo que só Charles pode ouvir, e bateu em seu ombro, enquanto riam.
Sainz, por sua vez, parecia o mais concentrado deles três. Tinha a expressão carregada como sempre, mais sério, os olhos escuros intensos, brilhando de uma forma diferente. Ele acompanhou o olhar de Charles até o local acima de onde passavam e, inevitavelmente, não pôde deixar de ver a modelo, ao lado das amigas. Reparando que era observada, deu de ombros, tentando demonstrar total apatia pelo espanhol, que sorriu contido e balançou a cabeça.
Carlos estava determinado a vencer aquela corrida. Tinha que ser o melhor que poderia ser naquele dia e o fato de estar ali, presente, o fazia se sentir ainda mais desafiado. Queria mostrar para ela quem ele era, queria dar a ela o gostinho da raiva em vê-lo subir no pódio, em ser bajulado por todo mundo, porque ele era bom no que fazia, como se, com aquilo, pudesse afirmar para ela que ela estava errada sobre ele. Com assistindo a corrida naquele dia, tudo parecia um pouco mais nervoso dentro dele. Conseguia sentir em suas veias uma raiva tremenda, um alerta de problema e uma vontade de provar para ela que, talvez, ele estivesse não apenas a sua altura: mas, certamente, um pouco acima dela.
Estar perto da modelo despertava sentimentos que Carlos não era capaz de explicar e isso estava começando a incomodá-lo. Não de um jeito ruim, contudo. De um jeito enlouquecedor, sem dúvidas.
Pegou-se pesquisando sobre ela na internet e, mais vezes do que o normal, pensando na mulher durante a semana. E, apesar de boicotar seu cérebro todas as vezes que isso acontecia, já que estava óbvio que eles não se gostavam e que a modelo era só mais uma filhinha de papai mimada, Carlos não conseguia tirar ela de sua mente.
, que se desconcentrou de tudo o que acontecia ao redor por um momento, depois de ver Carlos passar por elas, se pegou pensando no por que ele seria daquele jeito, sendo que seus pais pareciam tão simpáticos e amigáveis. A modelo se recusava a dar qualquer adjetivo ao piloto, ainda mais depois que acabou falando demais perto dos pais dele. Parecia que nenhuma palavra faria jus ao homem e nada seria ruim o suficiente para descrever o quanto ele a tirava do sério de tantas formas possíveis. Carlos era insuportavelmente insuportável. E, no fundo, estava canalizando suas energias mais em torcer contra ele, naquele dia, do que a favor de qualquer um dos seus novos amigos.
Tentando afastar aqueles pensamentos, a modelo pegou uma nova taça de champanhe em um balcão próximo e pode ouvir a conversa animada de algumas pessoas que compartilhavam o ambiente com elas, fazendo apostas e tentativas de análises sobre o que aconteceria naquela corrida. Ela não demorou mais do que alguns minutos ali, até ouvir Lily a chamar animada:
— Vem , a corrida já vai começar — Lily puxou a modelo pela mão, correndo alegremente para fora do lugar, com e mais algumas pessoas, que se acumulavam por ali para acompanhar a largada.
— Meu Deus, achei que vocês estavam escondidas — A voz estridente de Carmen chamou a atenção das três, que se viraram animadas.
— Carmen!!! — celebrou feliz, abraçando a amiga.
— Achei que você não vinha mais — Seguindo a ordem, Lily a cumprimentou animada.
Depois da festa de Albon, Carmen precisou voltar para Londres e não conseguiu ficar com as meninas, apesar da insistência delas. Tinha alguns compromissos de trabalho para resolver ao longo da semana e, no sábado, teve um casamento de um primo para ir. Por isso, sem muito tempo, pegou o primeiro vôo para Espanha que conseguiu no domingo cedo e, literalmente, foi correndo até o autódromo, torcendo em chegar a tempo da largada.
— Meu vôo atrasou horrores, vim correndo do aeroporto, deixei minhas coisas no motorhome da Mercedes e sorte que encontrei os pais do Sainz no caminho, aí já vim para cá — Carmen contou, enquanto abraçava — George já passou?
— Já, amiga — concordou com a cabeça, vendo Lily pegar um champanhe para a amiga recém chegada.
— Droga, eu amo ver ele indo para o box com aquele macacão — Carmen lamentou, tirando risadas das amigas — Mas hoje eu estou apostando em Lewis, certeza que o Hamilton ganha.
— Deixa o Russell ouvir isso — brincou, atraindo a atenção de algumas pessoas perto delas, que pareciam curiosas com o grupo de amigas ali.
— Eu apostei com ele mesmo — Carmen riu junto com as meninas — Ele estava tão confiante, que eu tive que apostar contra para abaixar o ego dele.
— Deveria ter apostado no Leclerc, então. Eu acho que ele vai ganhar, a briga vai ser acirrada, mas o garoto é muito bom — Um homem perto das meninas comentou, enquanto bebericava sua garrafa de cerveja. riu concordando e logo engatou uma conversa animada com ele.
Às quatorze horas em ponto, no horário local, os carros foram liberados para uma volta de apresentação e aquecimento. Um por um, saíram dando uma volta completa no circuito até retornarem para suas posições iniciais no grid. nunca havia ficado tão nervosa com um início de corrida como estava naquele momento, torcendo junto com suas mais novas amigas para pilotos mundialmente famosos e que, de uma hora a outra, haviam se tornado seus amigos também. Nunca se imaginou naquela posição, mas estaria mentindo se dissesse que não estava amando cada segundo.
O GP da Espanha tinha 66 voltas e era um dos mais longos do campeonato. Seu circuito de 6,675km era modificado a cada ano, dando mais emoção e competitividade. Assim, atualmente, contava com 16 curvas e algumas zonas de ultrapassagens de DRS, tornando a competição no local uma das grandes favoritas do público. Quando todos os veículos se alinharam na largada e o último carro, do piloto canadense Nicholas Latifi, chegou a sua posição, o bandeira autorizou o início da corrida. Todos esperaram ansiosamente pelas luzes no painel serem contadas e, assim que a última luz vermelha se apagou, Charles acelerou, conseguindo fechar Lewis e não dando sequer chance ao inglês que, por pouco, não saiu da pista.
A corrida foi passando, ao tempo em que as emoções cresciam dentro e fora dos carros. Na volta vinte e cinco, Lewis foi para os boxes para a primeira troca de pneus, dando folga a Charles, que ganhou alguns segundos de diferença. Depois que Carlos entrou para os boxes, o piloto neerlandês Max Verstappen conseguiu se aproximar, tirando o terceiro lugar do espanhol - para total alegria de . Assim que Charles entrou nos boxes, Lewis conseguiu ultrapassar o piloto, que voltou apenas um segundo atrás do inglês. Quando chegaram à curva nove, o piloto da Ferrari fez uma espetacular manobra e tentou ultrapassar o campeão mundial, que não o deu chances, empurrando o carro do rapaz para fora. , que estava sentada assistindo, se levantou em um pulo, preocupada, com Lily, Carmen e ao lado, tão concentradas que mal piscavam.
Por sorte, Charles conseguiu controlar o veículo, voltando rapidamente para a pista, fazendo as amigas na plateia celebrarem animadas. No pelotão de trás, Albon lutava para ultrapassar Stroll e conquistar o décimo segundo lugar, mas foi quando o piloto canadense entrou para os boxes que o rapaz conseguiu ultrapassá-lo e, de quebra, o piloto Valtteri Bottas, ficando em décimo lugar. Lily estava tão feliz que aplaudiu animada, celebrando com o maior sorriso que poderia dar.
Pensando em uma nova estratégia, a Ferrari chamou Charles para os boxes novamente e, logo depois, o áudio da equipe rival chamando Lewis para a troca de pneus foi disponibilizado ao público. Coincidentemente, os dois pilotos acabaram indo juntos para os boxes, tornando-se absurdamente emocionante a saída que dava vantagem ao monegasco. Lewis, irritado, reclamou no rádio pela estratégia da equipe, que deu o primeiro lugar ao rival, mas, quando estavam novamente na reta dos boxes, algumas voltas depois, o inglês conseguiu uma nova chance. Abrindo a asa e tentando ultrapassar Leclerc, ele seguiu na briga por alguns segundos, mas, novamente, não teve muito sucesso, perdendo a posição para o inglês.
Charles não desanimou. Pelo contrário, aproveitou o erro de pilotagem de Hamilton, próximo a curva nove, e conseguiu o ultrapassar, ficando novamente em primeiro lugar. Sainz, por sua vez, que estava a menos de um segundo atrás, aproveitou o momento também e conseguiu ficar na segunda posição. O circuito ia a loucura com a briga limpa entre os pilotos, exacerbando as emoções de quem assistia e pressionando aqueles que viviam tudo aquilo de dentro dos carros.
Na última volta, não tinha mais o que ser feito. Quando a bandeira quadriculada balançou, o mundo já sabia quem era o campeão do dia. Charles Leclerc gritou animado no rádio, enquanto recebia felicitações dos engenheiros e chefes. Carlos Sainz veio logo atrás do amigo, gritando igualmente animado no rádio e os fãs ferraristas comemoravam eufóricos por todo o circuito. Alex Albon, que havia feito uma corrida espetacular, conseguiu chegar em décimo lugar, dando os primeiros pontos do campeonato para a equipe Williams, que comemorava o excelente resultado do jovem piloto.
e Carmen assistiam e Lily se abraçarem empolgadas, gritando e rindo alto, depois de cumprimentar as amigas. Estavam absurdamente felizes pelos resultados do dia e muito satisfeitas com as posições e pontos que os amigos tinham conseguido naquela corrida. Algumas pessoas ao redor delas filmavam as duas amigas celebrando animadas, assim como , que não conseguia parar de sorrir e aproveitou o momento para registrar as comemorações delas. O sol brilhava no céu e já tinham tomado champanhe o suficiente para sentir o calor emanar de seus corpos. Tirando o fato de Carlos, infelizmente, ter feito seu lugar ao pódio, tudo estava perfeito para naquela tarde. Estava orgulhosa de Alex, feliz por Charles e muito animada por Ric, George, Pierre e Lando.
Os três primeiros pilotos do dia estacionaram seus carros sobre suas respectivas placas e, logo depois que saíram dos veículos, correram em direção às suas respectivas equipes, na grade do local, comemorando a vitória. Carlos e Charles se abraçaram fortemente, alegres, enquanto retiravam seus equipamentos e recebiam os parabéns de Lewis Hamilton, que os abraçou enquanto aguardava o início das entrevistas oficiais. Todos os olhos estavam voltados para os três rapazes no pódio. Eles cumprimentaram as lideranças do GP, pousaram para breves fotografias e, depois de cantar o hino nacional e receberem os respectivos prêmios, se divertiram com a chuva de champanhe entre eles. viu os pais de Carlos lá embaixo, orgulhosos e muito contentes pelo filho e, sem querer, se permitiu sorrir pela cena que assistia.
Ao fim da tarde, o grupo de amigos decidiu se reunir no bar do hotel onde a maior parte deles estava hospedado, para comemorar as vitórias do dia e se divertir depois de um final de semana longo e estressante. já estava pronta desde às 18h30 e esperava pelo horário para ir até o local marcado. Vestia um conjunto de duas peças, composto por uma saia curta e um top, um sapato de salto alto e levava um batom vermelho bem aberto nos lábios. Demorou algum tempo se decidindo com qual bolsa deveria ir, até o barulho de notificações de seu celular chamar sua atenção.
estava perguntando se ela estava livre e se a poderia ajudar, com uma questão urgente, tirando de uma gargalhada alta ao perceber qual era o problema. Charles a tinha convidado para jantar e ela não conseguia decidir o que vestir. Só Charles Leclerc poderia causar em Hermann, a dona de uma das maiores marcas de roupa da atualidade, a incerteza sobre como se vestir.
Como tinha algum tempo livre até o horário de sair, decidiu ir até a amiga. estava hospedada em um dos hotéis de sua família, não muito longe dali, e decidiu ir a pé até lá. O começo da noite estava bastante agradável e não demorou mais do que cinco minutos para chegar e sequer precisou se anunciar na recepção do hotel. Já tinha ido tantos dias ali naquela semana, se encontrar com ela e com Lily, que seguia direto aos elevadores, rumo ao quarto da amiga, na cobertura.
Aliviada em vê-la, deu um rápido e apertado abraço na amiga e a puxou para dentro de seu quarto. Estava com os cabelos soltos e vestindo um roupão branco, felpudo, do hotel. se jogou na cama, enquanto via a empresária andar de um lado para o outro, impaciente.
— Amiga, você precisa se acalmar — disse levantando uma peça de roupa, que estava jogado ao seu lado na cama — Vamos por partes. Onde ele vai te levar?
— Eu não sei exatamente — a olhou pensativa.
— Nenhuma dica? — A modelo se apoiou em seus cotovelos — Ele não disse nada?
— Ele disse que era um jantar e nada mais — A empresária se sentou na cama, frustrada, lembrando-se de mais cedo, quando o monegasco a chamou para sair.
Assim que a corrida terminou e que as coisas se acalmaram ligeiramente para os pilotos, tinha ido ao encontro de Carlos, próximo ao motorhome da equipe dele, para parabenizá-lo pela posição do dia. Sainz, contudo, estava com seus pais em algum outro lugar e não o encontrou por ali, mas trombou com Charles pelo caminho e parou para falar com ele, para dar-lhe os parabéns pela vitória.
Feliz, e muito empolgado com o momento, Charles a puxou para um abraço, intenso e demorado. Não tinha nada mais a ser perfeito naquele dia, para ele, e parecia verdadeiramente feliz. Com a vitória, com ela ali. Tudo o que mais queria naquele momento era se jogar nos braços do piloto e beijá-lo ali mesmo, mas conteve-se, reparando nas câmeras que seguiam Charles por onde ele ia, os filmando, e os fotógrafos que passavam pelo local, que tiravam fotos deles dois juntos.
Sob as lentes curiosas das câmeras, eles conversaram ali por alguns minutos, mas logo Charles teve que seguir seu caminho para dar algumas entrevistas. Sem querer deixá-la, ele a abraçou novamente e a convidou, em um sussurro baixo, para jantar com ele naquela noite, com a desculpa de celebrar sua vitória. A empresária prontamente aceitou e, desde então, estava em surto.
— E sendo quem ele é, podemos assumir que será em algum restaurante cinco estrelas — seguiu pensando alto, vendo a amiga concordar com a cabeça.
— Provavelmente.
— Certo, então você precisa estar elegante e um pouco sexy, na minha opinião — brincou, sentindo a amiga a acertar com um travesseiro e logo se levantou, já indo até o closet do quarto.
tinha espalhado tudo o que trouxe em sua mala, e tudo o que havia comprado na cidade naqueles dias, pelo closet de seu quarto e estava uma verdadeira bagunça. buscou por algo que fosse caro e marcante e só demorou alguns segundos para encontrá-lo, afinal, não era absolutamente nada difícil encontrar peças com aquele perfil no guarda-roupas da Hermann. Puxando a peça de Vera Wang em mãos, ela logo a entregou para a amiga que, feliz, a pegou e foi até o banheiro se vestir, de frente com o enorme espelho.
não demorou dez minutos lá dentro, até, enfim, sair trocada. O vestido escolhido por era vermelho, de cetim, curto e tinha um caimento levemente justo, realçando todas as curvas da mulher. Tinha alças tão finas que mal podiam ser vistas e um decote semi-coração caidinho, despojado. No tempo em que a amiga passou se trocando, havia separado um par de sandálias Jimmy Choo que encontrou na bagunça da amiga, pretas e de tiras finas, que combinavam com a bolsinha pequena e elegante da YSL.
— O que acha? — perguntou assim que saiu do banheiro, deixando boquiaberta. Tinha ficado perfeita. Charles morreria quando a visse.
— Lindo, elegante, em um tecido refinado, — enumerava, entregando as sandálias para a amiga, que ria dos comentários — com um toque de sensualidade e, claro, na cor da Ferrari.
— Na cor da Ferrari? — gargalhou, só se dando conta daquilo naquele momento.
— Essa parte foi só uma coincidência, eu juro — confessou — Está linda, amiga, simplesmente perfeita! Charles é maluco se não tirar esse vestido de você no final desta noite.
parou por um instante, encarando séria a amiga, como se não tivesse pensado naquilo e, sem conseguir segurar, riu junto com ela. ficou por ali, jogando conversa fora, até ela terminar de se arrumar e se maquiar e, cerca de trinta minutos depois, recebeu uma mensagem do piloto, avisando que já estava a aguardando no saguão do hotel. pegou sua bolsa, deu uma última olhada no espelho e, junto com , desceram juntas no elevador. A modelo iria direto dali para o bar onde os amigos já, possivelmente, deveriam estar a aguardando. No térreo, ela cumprimentou Charles e, rapidamente se despedindo do casal, saiu em direção ao bar.
Charles havia chegado quarenta minutos antes do combinado. Deixou seu carro na entrada do hotel de luxo onde estava hospedada, e do qual ela era herdeira, indicou ao manobrista que a chave estava no contato e foi rumo ao saguão, atraindo olhares curiosos e nem um pouco discretos pelo caminho. Já tinha feito aquilo centenas de outras vezes em sua vida, mas tudo, de repente, lhe pareceu tão diferente. Seu estômago parecia revirar e seu coração batia tão acelerado, como se estivesse a 300 km/h. A adrenalina que subia em seu corpo o causava a mesma vontade de gritar que tinha quando sentava em seu carro, prestes a largar. Charles estava nervoso. O nervosismo de ansiedade, o medo de algo sair fora do perfeito, de cometer qualquer erro naquela noite.
E, talvez, já tivesse cometido o primeiro deles ao chegar tão cedo no hotel. Ele ponderou por alguns minutos se deveria mesmo avisá-la de que já estava ali ou se pareceria um tanto desesperado e, por isso, achou melhor esperar. ainda deveria estar terminando de se arrumar e não queria apressar ela, apesar de querer vê-la logo e sentir que tudo aquilo estava, de fato, em realidade, acontecendo. Desde que a conheceu, algo em Charles havia despertado e ele passou a contestar muitas coisas que sentia. Estava acostumado a engatar um relacionamento no outro, com pessoas que mais traziam a ele conforto e rotina, que buscavam nele segurança e estabilidade, do que os sentimentos que ele verdadeiramente descobriu querer sentir. E só descobriu isso, quando descobriu .
o deu, natural e espontaneamente, uma visão diferente de tudo aquilo e foi tão fácil se apaixonar por ela, que Charles ficou confuso por muito tempo. Foi rápido como a velocidade que estava acostumado nas pista, foi passional como um pecado, foi intenso como uma onda feroz e mexia com ele de um jeito que ninguém nunca o fez. Por tempos não soube exatamente como deveria reagir àquilo, porque não achava que era recíproco. Estavam se conhecendo, eram bons amigos, compartilhavam tantas coisas em comum que tudo se misturava. Se divertiam juntos e não queriam se despedir, deixavam um no outro vazios que doíam, solidões que não pareciam passar, mas tudo não foi claro o suficiente no começo até, enfim, começar a ser nos últimos tempos, até Charles perceber que não queria nada senão ela. Se lembraria de agradecer Carlos por tê-la trazido ao grupo, por tê-los apresentado naquele almoço e se lembraria de agradecer os seus amigos que, há tempos, começaram a ver o que eles estavam sentindo um pelo outro.
O piloto ficou sentado em um dos sofás mais ao canto do saguão do hotel. Podia sentir as palmas das mãos suarem, sua perna direita balançando ao chão pelo nervosismo e a respiração ser soltada pela boca de tempos em tempos, discretamente. Por sorte, estava acostumado a lidar com a adrenalina e, parecer calmo por fora, um dom que ele estava usando naquele momento. Às 20h30, exatamente, Charles, enfim, enviou uma mensagem para , avisando que estava por lá. E menos de dez minutos depois ela apareceu, tão linda e tão leve, com o sorriso mais feliz do mundo. Charles se levantou assim que seus olhos recaíram nos dela e, cumprimentando , que a acompanhava e logo foi embora, abraçou a sua nova garota.
— Você está… uau — Charles tentou dizer, assim que quebrou o breve abraço, suas mãos parando na cintura dela, os olhos revezando entre os seus olhos, sua boca e seu corpo. Palavra alguma podia descrever o quão bonita ela estava e, por um momento, ele sentiu como se aquele fosse, de fato, o dia mais feliz de sua vida, o dia em que teve sorte para caralho.
— Obrigada — riu tímida, colocando reparo na roupa do piloto. Estava com uma calça social e um blazer, cinza grafite, com uma camisa azul acinzentada mais clara por baixo. Os cabelos estavam um pouco bagunçados e as covinhas ressaltadas, pelo sorriso que não deixava seu rosto. Ela o encarou por alguns segundos, fazendo um silêncio dramático e, enfim, respondeu: — Acho que prefiro você com o macacão da corrida.
— Errei na roupa de novo? — Ele fez uma cara de frustração ligeiramente desesperada tão fofa, que tirou de uma nova risada — Não é possível!
— Está apresentável hoje, Charles, não se preocupe — Ela seguiu dizendo, tentando parecer séria.
— Ainda dá tempo de me trocar? — Ele perguntou sincero, a olhando.
— Estou brincando — se segurou no impulso de querer beijá-lo, mantendo-se levemente abraçada de frente com ele — Você sabe que fica lindo de azul.
— Ah, você não deveria ter dito isso, que erro! — Charles negou com a cabeça, aliviado — Vou me achar o resto da noite por isso.
— Só ser o campeão do dia não é o suficiente para se achar o rosto da noite? — Ela perguntou charmosa, lembrando do porquê de estarem ali. Charles sorriu orgulhoso de si mesmo.
— Não — Ele comentou baixo, a olhando — Ainda preciso levar a mulher mais linda do mundo para comemorar esse fato comigo.
— E está esperando o que? — Ela riu tímida pelas palavras dele.
— Na verdade, acho que falta uma coisa ainda, um detalhe — Charles comentou ligeiramente nervoso, desviando seu olhar dos olhos curiosos e confusos da mulher até o próprio blazer. Sem muita cerimônia, ele tirou no bolso interno uma pequena caixa vermelha, com as letras finas e refinadas da Cartier em sua tampa — Achei que você fosse gostar, que ficaria… lindo em você.
Ele falava tão baixo, levemente envergonhado, que quase não podia ser ouvido. Não era exatamente o cara com o melhor gosto do mundo e seus amigos estavam ali para confirmar. Queria dar algo de presente para naquela noite, o primeiro encontro oficial deles depois de dois anos, mas não conseguiu pensar em nada senão na jóia que tinha visto alguns dias atrás e se lembrado dela. Comprou, torcendo para ter um momento em dá-la de presente, torcendo para que ela gostasse. Surpresa, sem saber exatamente como reagir, assistiu os olhos dele voltaram-se aos dela, enquanto estendia a caixa. A mulher a pegou delicadamente e, abrindo com cuidado, sorriu para o colar.
Em ouro rosa 18k, o preferido de e que Charles descobriu por Carlos, o colar era como uma gargantilha, mais curto e muito elegante. Estava engastado com pequenos diamantes por todo ele, lapidados com brilhantes e reluzia como os olhos da mulher ao ver o presente. Charles sorriu sozinho, com suas mãos nos bolsos da calça, satisfeito por, aparentemente, ter feito uma boa escolha.
— Charles, é… lindo — Ela o encarou delicada, carinhosa, tirando a peça com cuidado de sua caixa.
— Como você — Ele riu baixo, a vendo desviar o olhar tímida e se virar de costas para ele. , então, afastou os cabelos para deixar seu pescoço à vista e deu o colar para que ele colocasse nela.
— Eu amei, muito obrigada — agradeceu suavemente.
— Têm dezesseis diamantes cravejados — Charles comentou perto do ouvido dela, se permitindo sentir o cheiro marcante do perfume oriental dela, enquanto terminava de fechar o colar em seu pescoço. riu levemente da coincidência em ter o exato número dele na Fórmula 1, e dia de seu aniversário, no número de diamantes do colar.
— Algum motivo especial para ser exatamente dezesseis? — Ela perguntou inocente, virando levemente o rosto para olhá-lo de lado. Charles sorriu charmoso, o calor originalmente tinha apenas dez diamantes, mas ele havia pedido à joalheria que completasse com seis outros de propósito. Voltando o cabelo dela delicadamente em suas costas, ele, então, sussurrou em seu ouvido:
— Para você sempre se lembrar de mim.
abriu um novo sorriso, sentindo seu coração bater acelerado por aquele momento, e se virou novamente de frente para ele, com uma mão no colar recém colocado.
— E tem como te esquecer, Charles Leclerc?
Charles sentiu seu estômago revirar ao ouvir aquilo. Como uma música para seus ouvidos, como o amor que alimentava seu coração, foi bom, era viciante. Ele observou a beleza da peça ser ofuscada pela beleza da mulher a sua frente e, feliz por ter agradado, se sentia pronto em seguir os planos para aquela noite.
— Bom, acho que agora sim: pronta? — Charles estendeu o braço para ela, cavalheiro, se colocando ao lado dela em um passo.
— Você está? — Ela o olhou de lado, sorridente, aceitando o braço dele e caminhando calma sentido a saída.
— Perfeitamente — Charles fez um sinal para o manobrista, indicando que precisaria de seu carro.
— Você sabe o que vai acontecer quando passarmos por essa porta juntos, não sabe? — hesitou por um segundo, olhando dele para a porta de entrada do hotel, onde certamente haveria fotógrafos e curiosos.
Ser uma pessoa conhecida nunca tinha particularmente incomodado , mas ela sempre teve ressalvas sobre as pessoas com quem se relacionava. Muita coisa podia mudar e, agora, para eles dois, era diferente. Nem todo mundo sabia do término de Charles e, com ele sendo o favorito da temporada de Fórmula 1, havia muitos olhos em cima dele, muita expectativa, muita gente opinando e um padrão alto demais a ser alcançado. não queria ser um motivo a mais de pressão ou de rumores, não queria que a vida particular dele fosse ainda mais exposta e nem que ele se afetasse com a mudança que, o fato de ser visto com ela, romanticamente, ela poderia trazer em sua vida. Sair, juntos, por aquela porta mudaria tudo dali em diante.
— Se isso te incomodar, nós podemos… — Charles a olhou preocupado, mas ela logo o cortou.
— Não me incomoda de jeito nenhum — sorriu o acalmando — Eu só quero… ter certeza de que está tudo bem por você.
— Eu não poderia querer absolutamente mais nada nesse momento — Charles sorriu confiante, falando calmamente — Ganhei a corrida hoje, ganhei essa noite com você. Eu estou exatamente no momento e no lugar onde sonhei estar, com a pessoa que eu quero estar — Os olhos claros dele pareciam brilhar e, intensos, encaravam os de , enquanto ele levava uma mão até o rosto dela, fazendo um carinho delicado ali — Então, tenha certeza, , de que eu tenho certeza sobre você.
deixou um sorriso apaixonado escapar e, sem mais conseguir se segurar, juntou seus lábios aos dele em um beijo rápido. Charles sorriu de volta para ela, ignorando as pessoas ao redor os olhando e, assim que o manobrista trouxe sua Ferrari preta até a porta do hotel, ele entrelaçou seus dedos aos dela e caminhou tranquilamente com para fora do hotel. Os seguranças na porta conseguiram segurar os fãs e paparazzis de plantão, enquanto Charles abriu a porta do carro para entrar, a esperou se acomodar e, entrando no lado do piloto, partiu com ela rumo ao centro da cidade.
Tinha feito reservas em um restaurante francês local, pedido o vinho mais antigo, e consequentemente mais caro, da carta. E passaram boas horas, naquela noite, conversando, rindo, tirando fotos um do outro, comendo, bebendo a garrafa toda e vinho e se aproveitando, em carinhos, beijos e em companhia, assistindo nas luzes de Barcelona tudo começar outra vez para eles dois. Do jeito certo, talvez. Com a pessoa certa, sem dúvidas.
Charles levou de volta para o hotel perto da uma hora da manhã. Desceu com ela para a acompanhar até seu quarto, entre beijos fervorosos e a sensação de não querer deixá-la mais, e não saiu de lá, do quarto dela, até a manhã seguinte.
Mais cedo naquela noite, depois de deixar o casal de amigos para trás, chamou um táxi e, por ser não muito distante dali, chegou logo ao bar em estilo rooftop, um dos mais luxuosos de Barcelona. Assim que a modelo entrou no bar, atraindo a atenção de algumas pessoas pelo caminho, ela tentou localizar os amigos e chegou a pegar seu celular, para ligar para Lily. Contudo, não foi difícil descobrir onde estavam: as risadas altas e a gritaria podiam ser ouvidas já na porta e pareciam chamar atenção das outras pessoas no local. Como a noite estava agradável, quente, a turma resolveu sentar-se ao lado de fora, onde havia um pequeno jardim, buscando um mínimo de privacidade no local. Diversas mesas foram postas uma ao lado da outra para que todos se sentassem juntos, rodeadas por cadeiras de vinil com assentos fofos e coloridos e iluminadas por pequenas velas em recipientes de vidro.
, que acreditou ser a última a chegar, foi recebida com muita animação pelos amigos e os cumprimentou um por um, até se sentar ao lado de Daniel, que estava mais no centro da mesa. Na ponta, de frente para o australiano, estavam Yuki Tsunoda, Gasly, George Russell, Carmen, Lily e Albon. Já na ponta e ao lado de Daniel estavam Lando, Lance Stroll, , Sandra e, o seu namorado, Nicholas Latifi. Havia uma cadeira vaga ao lado da modelo, que aproveitou para apoiar sua bolsa enquanto recebia uma bebida de Lily e embalava em uma conversa animada com as namoradas dos rapazes.
Além de Lily e Carmen, Sandra, a outra garota na mesa com elas, já era uma conhecida antiga de . Tinham trabalhado juntas em uma campanha alguns anos atrás e foi emocionante ter se reencontrado com ela ali. Não foi difícil criar uma amizade com ela e passar mais tempo com as meninas. Lily seguia super animada e Carmen, a elegância em pessoa, estava especialmente engraçada naquela noite - talvez o equilíbrio perfeito com a calmaria de George. Pouco tempo depois, estavam contando suas vidas e as fofocas daquele mundo que dividiam, entre drinks e risadas altas.
Feel So Close, do Calvin Harris, tocava ao fundo do ambiente e as meninas tiveram a conversa interrompida por um momento, assim que Lando e Daniel começaram a cantar alto. Com seus copos cheios em mãos, enquanto faziam dancinhas ridículas sentados, na batida da música, eles pareciam se divertir feito dois adolescentes. Sem perder o momento, confortável o suficiente com a turma, se juntou a eles na dança coreografada na hora, sentada, enquanto Sandra filmava o momento com seu celular. Os demais logo se juntaram à cantoria, fazendo graça para o vídeo, um a um, quando percebiam que Carmen focava neles. Talvez um dos momentos mais inesperadamente divertidos da semana e que rendeu boas gargalhadas ao assistirem o resultado do vídeo.
Alguns minutos depois, os garçons deixaram petiscos e mais bebidas na mesa, enquanto todos voltaram a conversar animadamente, um por cima do outro, por cima da música, em um caos que parecia não ter sentido, mas que se entendiam. Por serem, todos, bastante conhecidos, estavam chamando bastante a atenção para eles, de todos no local. , mais observadora, admirava o grupo, feliz por ter se aproximado tão rapidamente de todos eles ali, por ser tratada como parte de um todo que ela sequer sabia existir. Não se arrependia de ter aceitado o convite das meninas para o golfe, não se arrependia do aniversário do Alex, da semana que se dispôs a ficar no país com as amigas e de ter se permitido conhecer algo novo, o mundo da Fórmula 1.
Estava em seu segundo drink com gin, vagando mentalmente naqueles pensamentos, enquanto sorria e olhava os amigos, quando sentiu uma voz muito próxima de seu ouvido sussurrar. Uma voz que a atormentava, uma voz que ela não queria realmente ouvir e que, inevitavelmente, pela grossura do tom e a intensidade baixa, a fez se arrepiar.
— Então, ela veio celebrar a minha vitória hoje?
Carlos observava a mulher desde o momento em que chegou ao local e, sem sequer hesitar, resolveu provocá-la. A modelo parecia aérea com a bagunça de todos na mesa, ao redor de si, e mal tinha notado quando ele se aproximou dela. balançou a cabeça, bufando, e antes que ele tivesse a oportunidade de dizer qualquer coisa mais, ela rebateu:
— Vai sonhando, lindo — Ela murmurou, mas ele a ignorou completamente.
— Não posso acreditar nisso, estou encantado.
— Por mim? Já percebi mesmo — finalmente virou-se para ele, olhando para o homem que, por estar em pé, estava bem mais alto do que ela. Não pode deixar de reparar na roupa do piloto, que parecia especialmente bonito naquela noite. Ela logo balançou a cabeça, dispersando aqueles pensamentos e, sem esperar pela resposta dele, virou-se novamente para frente. Carlos sorriu de lado.
— Se fosse você, eu não teria essa autoconfiança toda.
— Obrigada pelo conselho, — sorriu falsa — mas não te pedi.
— Sempre tão amável — Carlos riu sem graça alguma.
— Sempre tão previsível — rebateu na mesma moeda, mas ele apenas riu mais alto.
— A sua bolsa tem pernas ou… — Ele apontou para a cadeira vazia ao lado dela, fazendo bufar — você poderia fazer a gentileza de tirar para que eu possa me sentar?
— Por que não pega outra cadeira e se senta lá na ponta? — apontou para a direção oposta, mais longe dela.
— Por que essa cadeira está vazia e não vou ficar lá na ponta, longe do grupo — Ele respondeu já puxando a cadeira, colocando a bolsa da mulher na mesa, sem se preocupar com a falta de delicadeza.
— EI! Dá para ser mais delicado? — Ela pegou a bolsa, a colocando delicadamente sobre o encosto de sua cadeira, nas costas dela e, então, se virou para ele — Têm itens frágeis aí dentro.
— Me desculpe, — O espanhol ironizou, falsamente sentido, enquanto acenava para um garçom pedindo uma cerveja — eu me esqueci da maquiagem e dos cremes caros que, com certeza, você carrega para todo lado.
— Vem cá, você não consegue ser agradável nem por cinco segundos? — virou-se completamente para o rapaz, ficando de frente para ele. Seu olhar era sério, o queixo levantado, enquanto Carlos dava de ombros debochado, virando seu rosto para Stroll, que perto deles, não entendia bem o que estava acontecendo ali.
acabou falando um pouco alto demais, quando a música que tocava acabou e a próxima ainda não tinha começado. De repente, o casal virou a atração de todos na mesa e, pelo instante que Fuego (DJ Snake) começava a tocar, eles assistiram os dois se encararem, furiosos, mas com algo a mais carregado em seus olhos. Como se a letra da música saísse de um para o outro, aquele momento deixou os amigos vidrados, esperando pelo o que aconteceria.
Não reconheciam Carlos quando estava perto de e, pelo pouco que conheciam de , podiam dizer o mesmo dela. Não sabiam se não estavam, de fato, se dando bem ou se, por algum motivo, só não queriam dar o braço a torcer um para o outro. Pelo olhar desafiador que trocavam, que sustentava sem conseguir desviar e que os tirava do sério sem precisar dizer uma única palavra, era fácil ter uma teoria sobre o que acontecia entre eles.
Carlos passou a língua pelos lábios, pensativo, deixando-se levar pela música e pelo olhar intenso da modelo em si, enquanto o garçom o servia a cerveja que havia pedido. detestava quando ele fazia aquilo. Detestava o quanto aquilo a fazia querer… ela não sabia exatamente o que queria. Só tinha certeza de que detestava absolutamente tudo nele e, a cada novo encontro que tinha com ele, aquilo parecia mais forte, mais odiável. Um desperdício, na opinião de . Não fosse um idiota, certamente podiam fazer naquela noite coisas muito mais interessantes do que brigar.
O piloto tomou um gole de sua cerveja e inclinou seu corpo em direção a mulher, sem cortar o contato visual entre eles. ignorou completamente o perfume viciante que ele usava, não deixando transparecer nada senão a afronta em seus olhos. Carlos não poderia explicar o por que daquilo, mas, quando percebeu, ele estava afastando levemente as pontas do cabelo dela de seus ombros, os deixando cair para trás, em suas costas, e disse baixo, perto dela:
— Quando você começar a ser agradável comigo, talvez eu comece a ser com você também.
Daniel soltou um assovio alto, imitando uma bomba caindo, e segurou a mão de , por baixo da mesa, como se quisesse a acalmar. Carlos não deu tempo para aquela discussão continuar e simplesmente se virou para os amigos, com sua cerveja em mãos, desviando o olhar para o lado oposto da mesa, conversar com quem queria, de fato, conversar com ele. Não deixaria aquela mulher gastar seu tempo e nem estragar um dia tão feliz para ele. Estava ali para celebrar o pódio com seus amigos. Estava ali para curtir, descansar, comemorar e nada mais além daquilo. o acompanhou, com os olhos, sair de perto dela e o silêncio da mesa logo foi preenchido por novas conversas.
— Charles finalmente chamou a para sair, então? — Latifi voltou ao assunto que antes ouvia Carmen, Lily e Sandra fofocar.
— Não sei o que ela vê nele — Gasly se intrometeu na conversa, brincando — Eu, por exemplo, sou bem mais gostoso.
— Gostoso, não sei. Mas pelo menos não assassina a moda — George comentou, tomando sua bebida, tirando risadas dos amigos.
— Charles é exótico — Lando tentou dizer sério, mas gargalhou da cara que Daniel fez para ele — Isso que chama atenção da .
— Deixem eles serem felizes, gente, finalmente estão se resolvendo! — Carmen celebrou feliz, roubando a bebida do namorado, já que a sua tinha acabado.
— Duas vitórias para ele no mesmo dia, quem diria — Daniel riu.
— Um milagre, isso sim! Vocês tinham que ver no aniversário do Alex… — Lily começou a contar a fofoca para Lance, Latifi e Sandra, que não chegaram no país a tempo da festa de aniversário de Alex, enquanto em outro ponto da mesa novas conversas paralelas começavam e Pierre perguntava curioso:
— E aí, Sainz, onde a madame se escondeu para ter chegado só a essa hora?
— Estava jantando com meus pais. Inclusive, eles mandaram um abraço a todos vocês — O espanhol comentou simpático, mas logo olhou novamente para que, prestava atenção na conversa deles — menos para você, cariño — usando o apelido que Daniel tinha usado mais cedo no paddock, cheio de ironia e carregando em seu sotaque em espanhol, ele mentiu na cara dura a mulher.
— Não foi o que pareceu hoje mais cedo, quando me encontrei com eles — tomou um gole longo de sua bebida.
— Já está cercando minha família, ? — Ele provocou, virando seu corpo outra vez na direção dela — Nem me beijou e já se apresentou pros meus pais?
— Claro, estou fazendo meu trabalho bem feito, como a boa modelo pegajosa que sou — Ela entrou no joguinho dele. Carlos podia sentir seu corpo esquentar.
— Não sei se foi exatamente um trabalho bem feito… falar mal de mim para os meus pais — Carlos comentou despretensiosamente. Pierre olhava de um para outro, sem entender nada e achou melhor se enfiar em outra conversa, deixá-los resolver aquilo tudo a sós.
— Não precisei dizer nada, eles sabem o tipo de pessoa que você é — A modelo deu de ombros, mas o piloto logo rebateu:
— Não foi bem o que minha mãe disse.
— Ah, é? E o que ela disse então? — apoiou sua mão no queixo, o apoiando sobre a mesa, como se estivesse realmente interessada na conversa.
— Que você deveria tratar melhor o filhinho dela, porque, — ele, então, soltou uma risada provocativa — como sua futura sogra, não gostou daqueles modos.
— Então, quer dizer que vocês falaram de mim? — A modelo se virou ainda mais para o rapaz, que sorria o tempo todo — Quem diria, Sainz. Aposto que você disse que estava caidinho por mim e que não via a hora de me beijar.
— Bem que você queria, não é mesmo? — Ele a encarava, descendo seu olhar levemente até os lábios dela, de propósito. se aproximou dele e, já sentindo a respiração pesada do piloto, falou séria:
— Não sou eu quem está implorando por atenção aqui.
Carlos sentiu sua espinha arrepiar com a proximidade, inebriado pelo cheiro doce e floral que saia dela. Em qualquer outro cenário, ele a beijaria ali. Sem ressalva alguma, sem impedimentos. Naquele, contudo, levaria um soco se o fizesse. , por sua vez, manteve-se parada ali. Sua respiração parecia começar a falhar e ela sentiu uma vontade enorme de colocar suas mãos nele, de sentir as mãos dele nela. Seus olhos fizeram o caminho lento até os lábios dele e o viram sorrir charmoso, sem dizer qualquer coisa. Carlos veio alguns milímetros a mais em direção dela, mas antes mesmo que pudesse pensar em como reagir a , desejando que ela não saísse de tão perto dele como estava naquele momento, um barulho alto o fez se afastar rapidamente. Todos eles desviaram a atenção, vendo que Lando havia caído da cadeira e riram alto, zoando o amigo.
Dali em diante, Carlos e não trocaram mais nenhuma palavra.
Evitaram se olhar o resto da noite e ficaram de costas o tempo todo para o outro, se ignorando. E, assim, o restante da noite passou rapidamente. Os amigos ficaram conversando, bebendo, arriscaram um karaokê com o som que estava saindo das caixas, ocupando o tempo e a atenção de todos eles, arrancando risadas de quem estava no local. Carlos assistiu, de longe, em dado momento, dançar com Daniel e tentou se focar em qualquer coisa que Gasly e Lily o diziam. Seus olhos, contudo, não puderam deixar de ver quando eles dois se despediram dos amigos que estavam mais perto e, juntos, foram embora do bar.
Carlos sentiu uma raiva ferver dentro de si e se esforçou em não transparece-la. Não tinha nada com e sequer gostava dela, afinal. Ricciardo era seu amigo e merecia aproveitar o que quisesse aproveitar, com quem gostaria de aproveitar. Ele não deveria se incomodar com o apelido, com a proximidade, com o jeito que dançavam juntos naquela noite, com os sorrisos que trocavam, com as palavras ditas perto demais um do outro, com o fato de irem embora juntos. Fosse o que fosse, não era alguém boa o suficiente para ele. Era uma página a ser virada e que, facilmente seria esquecida em breve, assim que eles fossem embora do país.
Já era madrugada quando resolveram ir embora e Daniel, com alguma insistência, decidiu acompanhar , simplesmente para não deixá-la ir embora sozinha. A modelo estava cansada e o sono já começava a ser um impeditivo para curtir a festa, quando ela comentou com Dani, perto o suficiente para que ele a ouvisse por cima da música, que iria embora. O piloto usou da moeda de troca para que ela aceitasse a companhia, dizendo que da última vez foi ela quem o levou embora, e , enfim, aceitou. Ele a deixou em seu hotel, a acompanhou até os elevadores, despediu-se dela com um abraço forte e longo, um beijo no rosto, e foi embora para o hotel onde estava hospedado. Não se veriam tão cedo, provavelmente. Ricciardo seguiria sua agenda pelas corridas e ainda não tinha planos futuros, senão ir direto para sua cama naquela noite e dormir.
Capítulo 3
Barcelona, Espanha
— Olha a cara de alegria do garoto — Carlos comentou alto, vendo Charles se aproximar, sorridente.
Meio-dia em ponto e Charles tinha sido o último a chegar, cinco minutos depois de Carlos que, aparentemente, estava sempre atrasado para os encontros que marcavam. Alex sugeriu que aproveitassem aquele dia juntos, tendo em vista que iriam embora entre aquela noite e o dia seguinte e que só se veriam, com sorte, na semana seguinte, no GP do Canadá. Era bastante difícil conseguir conciliar as agendas do grupo todo e, embora os pilotos se encontrassem bastante ao longo do ano, suas namoradas e outros amigos nem sempre conseguiam estar presentes. Por isso, no bar na noite anterior, combinaram de almoçar juntos.
Pierre tinha ido embora do país naquela manhã, se encontrar com Katerine, sua namorada, nos Alpes Suíços. As coisas não estavam exatamente bem entre eles e Pierre queria conversar com ela, passar um tempo a sós, antes de ter que voltar aos seus compromissos. Ricciardo, por sua vez, decidiu voltar para a casa, na Austrália, ficar um tempo com sua família e descansar na praia. Alex e Lily tirariam um tempo em Bali, enquanto George iria com Carmen para o interior do Reino Unido. e Charles não tinham conversado sobre o que seria dali em diante, mas sabiam que a empresária precisava voltar para Marbella, onde morava, para finalizar os trabalhos de lançamento de sua próxima coleção. Charles ponderou se deveria ir com ela, mas estava tendendo a voltar para Mônaco. Queria descansar, se concentrar na próxima corrida e não atrapalhar .
Lando passaria mais algum tempo em Barcelona, tendo em vista que sua namorada, Luisa, chegaria na cidade naquela tarde. Como estava ocupada com compromissos de trabalho, ela não pode chegar a tempo da festa de Alex e nem da corrida, mas não deixaria de ir se encontrar com ele. Tinham feito planos para ficar alguns dias por ali e, mais para o final da semana, iriam curtir Ibiza.
Carlos, enfim, já estava em casa e, por isso, não tinha feito muitos planos senão ficar com seus pais e fugir de Laura. Diferente dele, iria embora naquela noite, de volta para Milão, onde vivia, para se preparar para assistir aos desfiles da temporada no local e, quem sabe, fechar alguns novos contratos, para campanhas e comerciais. Os tempos de diversão e de festas iriam acabar em breve para ela, por isso, ainda estava decidida a aproveitar aquele último dia com as novas amigas.
Sabendo que os homens se reuniriam para almoçar naquele dia, elas decidiram aproveitar o dia em um clube não muito longe dali, onde poderiam curtir o sol nas piscinas, tomar um bom drink tropical e passar o dia relaxando, descansando o quanto podiam, antes de voltar às suas rotinas. Charles deixou direto no local marcado com as meninas e, voltando de lá, foi direto se encontrar com os amigos. Lando, George, Carlos e Alex já estavam ocupando uma mesa redonda, próxima a cozinha do restaurante. Sainz fez questão de levar os amigos a um dos seus lugares favoritos na cidade, cujo menu era tipicamente mediterrâneo.
— Boa tarde, meus amigos, buenas tardes a todos — Charles abraçou Carlos com vontade, que riu do ânimo dele.
— Em espanhol? Que isso, hein… — Carlos fingia-se estar impressionado.
— Veio até bem vestido hoje — Albon zoou o amigo, o cumprimentando brevemente.
— Devemos agradecer ao fenômeno Hermann? — Lando abraçou o amigo de lado, risonho.
— E coloca fenômeno nisso, Norris — Charles brincou e, juntando os dedos da mão em um montinho, dando um beijo na ponta deles como um gesto tipicamente italiano, falou: — Mamma mia.
— Pelo jeito, a sobremesa ontem estava ótima — George se levantou para cumprimentar o amigo, tirando uma gargalhada alta dos demais.
— Estava, mas eu não vou comentar sobre ontem — Charles puxou uma cadeira, entre Carlos e Alex, e se sentou.
— Vai sim! — Carlos o provocou — é um patrimônio cultural na minha vida e eu quero saber o que rolou para avaliar se você é mesmo bom para ela.
— Sem contar que você é o maior fofoqueiro desse grupo, dúvido que vai se segurar — Alex riu da postura “irmão protetor” de Sainz, que não colocou nem uma faísca de medo em Charles.
— Podemos, pelo menos, comer a entrada antes? — Charles riu um tanto tímido, tirando risadas dos amigos.
Os garçons não demoraram mais do que quinze minutos para servir um bom vinho seco e água em suas taças, junto com tapas españolas de entrada. Os amigos se divertiam em ver Carlos interagir com os garçons, zoando seu sotaque e tentando imitar ele, até o assunto voltar à tona. Charles comentou como tinha sido a noite anterior com , poupando certos detalhes que não cabiam a mais ninguém saber. Estava visivelmente feliz pelo momento que vivia, apesar de parecer um tanto nervoso em não saber o que seria dali em diante. Animados pelo novo casal do grupo, os amigos o deram conselhos e o felicitaram. Propuseram um brinde, que terminou com Lando virando vinho em sua roupa - por sorte, registrado por Carlos que postava em seu stories - e, logo depois disso, o assunto da mesa passou a ser outro.
— E como foi a noite de vocês ontem? — O monegasco olhou os amigos, enquanto trazia mais uma tapa até seu prato.
— Foi legal, cara, engraçado como sempre — George começou a dizer, tomando um gole de água — Conseguimos curtir bastante, reunir todo mundo, as meninas foram… e o Landinho até arriscou um karaokê.
— Ainda bem que eu não fui — Charles zoou o amigo, que mandou o dedo do meio para ele.
— Bati o Ric no karaokê, irmão, isso que é vitória — Lando deu de ombros.
— Não precisa de muito para vencer o Daniel… — Carlos respondeu meio irônico e, abaixando a voz, completou: — Em qualquer competição, no caso.
— Ih, olha o cara — Alex falou com o guardanapo na boca, mastigando.
— O que aconteceu? — Charles arregalou os olhos, sorrindo.
— Tudo isso porque ele passou a maior parte da noite com a ou…? — Lando olhou sugestivo para Carlos que, na mesma hora, fechou a cara.
— Era esse tipo de coisa que eu queria saber quando perguntei sobre ontem — Charles bateu uma palma, animado.
— Lá vai o fofoqueiro — George negou com a cabeça, vendo Charles roubar a meia tapa que tinha em seu prato e a enfiar direto na boca — E esfomeado também. Fez muita força física ontem a noite?
— Hoje cedo também — Charles rebateu no mesmo tom, tirando risadas altas dos outros.
— Não dá pra brincar com você — Russell resmungou, rindo.
— Ele não está para brincadeira mesmo não — Alex concordou.
— Mas me contem isso direito, porra — Leclerc pediu, virando-se para Carlos — O que rolou ontem… com a , Carlitos?
— Não rolou, por isso ele está com essa cara de bunda — Lando respondeu pelo amigo, que revirou os olhos.
— A cara de bunda já é típica dele — Alex zoou — mas, hoje, realmente está demais.
— E tinha que rolar alguma coisa com ela? — Carlos rebateu irônico.
— Não sei, fala você — George apoiou os cotovelos na ponta da mesa.
— Não tenho o que falar, vocês estão me infernizando à toa — Bufando, Sainz negou com a cabeça.
— Igual você anda infernizando ela? — Lando levantou as sobrancelhas, rindo levemente em seguida.
— Caralho, vocês são muito chatos — Carlos arregalou os olhos, gesticulando para que o garçom o servisse com mais vinho.
— Você que é insuportável, irmão — George revirou os olhos — Tão chato que a menina nem quis ficar perto de você ontem, de novo.
— Mas, mesmo assim, parece que a noite foi boa para ela. Se divertiu com Daniel, dançaram juntos — Alex contou para Charles, reparando Carlos bufar, lembrando-se da cena. Parecia patética aquela aproximação, porque, aos olhos do piloto, eles mal se conheciam.
— E eu perdi isso? — Charles riu, vendo careta do colega de equipe — é muito divertida, não é atoa que se deu bem com o Dani.
— É sério isso? — Carlos perguntou depois de tomar outro gole de seu vinho — Só eu vejo quem ela realmente é? Uma garotinha mimada e que se acha?
— Isso é implicância sua, cara, ela parece uma pessoa incrível — George rapidamente defendeu a amiga — Do contrário, não teria se dado bem com as meninas. Carmen e ela passam horas conversando pelo grupo lá que elas criaram, estão realmente se identificando…
— Eu concordo com o Russell. é uma pessoa fácil de lidar, além de ser muito linda — Lando riu descarado com os amigos, que concordaram com a cabeça.
— Você não namora, Muppet? — Carlos perguntou sério, chamando o amigo pelo apelido que inventaram quando ainda estavam juntos na McLaren.
— Sim, mas isso não me torna cego. Ela é gata, não vou negar esse fato — Ele resolveu provocar o amigo, que o olhava horrorizado. Carlos tomou em um gole todo o restante de sua taça de vinho, já acenando ao garçom pedindo uma nova, agradecendo em seguida.
— Estou contigo, Lando — Charles trocou um hi-five com ele.
— Fora que, além de linda, ainda é filha de milionários — Alex deu de ombros. Se lembrava de Lily comentando algumas coisas sobre depois que a havia conhecido no golfe, na França. Eram muito seletos com os amigos e, por isso, fizeram muita questão de conhecer alguns detalhes da mulher que, despretensiosamente, havia se aproximado tão rápido de sua namorada — Rica, linda, talentosa... Será que ela tem algum defeito?
— Tem sim: ser uma grande mimada e andar com o Ricciardo — Carlos rebateu ao amigo, que sorriu baixo.
— Qual é o problema com o Ric? — Lando perguntou. Carlos logo respondeu irritado:
— Ele é uma péssima influência para qualquer um e todos vocês sabem disso.
— Isso é ciúmes? — Charles apontou para o piloto com o queixo, olhando os outros três amigos que, ao mesmo tempo, concordaram com a cabeça.
— Está maluco? Só acho que o Daniel não é uma boa influência para ela. A gente o conhece bem… — Carlos respondeu rapidamente, lembrando-se do piloto nas festas que frequentavam juntos e como o australiano tinha uma postura despreocupada — Vocês deixariam Carmen, Lily, Luisa e com ele? — apontando cada um dos amigos, enquanto se referia às suas respectivas namoradas, ele questionou.
— Sim — Charles deu de ombros — Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
— Como não? Você sabe as coisas que o cara faz — Carlos lançou-lhe um olhar incrédulo — e é sua namorada.
— Tecnicamente, ainda não — O monegasco o corrigiu.
— E é aí que está, meu amigo — George apontou risonho para Carlos — Você acabou de colocar no mesmo patamar do que Carmen é para mim, Lu para Lando, Lily para Alex e para o Charles. São nossas namoradas, ou quase, no caso do Leclerc, mas, ainda assim…
— Está conscientemente considerando sua… — Lando completou, fazendo uma breve pausa para tentar achar a palavra correta, mas, na falta dela, concluiu: — sua.
— Não foi isso que eu quis dizer — Sainz negou com a cabeça, nervoso.
— Mas foi o que você disse — Alex reforçou — E está de boas você estar afim dela, cara, só… assume isso.
— Assumiria, sem problema algum, se eu estivesse, — Ele bufou — mas não estou. Ela me irrita e eu gosto de irritar ela, é isso. Fim. Sem mais nada.
— Então, por que se incomoda com o Dani? — Charles cutucou — Ela é solteira, chegou no grupo agora, está conhecendo pessoas novas…
— E acredito que saiba se cuidar muito bem — Lando completou a provocação, vendo o amigo revirar os olhos.
Carlos não queria continuar aquela conversa, porque simplesmente não tinha argumentos racionais para justificar o que sentia. E, por sorte, não precisou mais pensar muito no assunto. George que, de repente, ficou alheio a conversa, logo interrompeu o assunto dizendo:
— Não sei se vocês têm planos para agora de tarde, mas, aparentemente, nossas primeiras damas querem jogar golfe — Ele olhava o celular, lendo em voz alta a mensagem de Carmen — e estão nos convidando.
— Lily é uma péssima influência para elas — Charles se encostou na cadeira, satisfeito por ter comido demais.
— Já já seremos um grupo de pilotos namorando jogadoras de golfe — Alex riu, tirando seu guardanapo do colo e o colocando na mesa — Vai ser no clube mesmo?
— Aham — Russell concordou sem desviar os olhos do telefone, enquanto respondia a namorada — Conseguiram agendar para às 16h, querem saber se vamos, para alugar os equipamentos.
— Por mim, beleza — Alex concordou animado, dando uma olhada em seu relógio. Tinham pouco menos de duas horas ainda até o horário agendado, daria tempo.
— Só vou buscar a Lu no aeroporto e vamos para lá, então — Lando fez um joia para os amigos, que concordaram.
— Estou dentro também — Foi a vez de Charles aceitar e, usando todo seu conhecimento em espanhol, virou-se para Carlos: — Y a ti, que te parece, Carlitos?
— Seu espanhol é horrível, cara — Carlos riu — Já combinei com meus pais de chegar para o jantar hoje, infelizmente vou deixar para a próxima.
— Hummm, que filhinho da mamãe — com os braços cruzados sobre a mesa, Norris provocou o amigo, tirando uma gargalhada de Charles.
— Vai mesmo perder o Lando levar uma surra de todo mundo no golfe? — George subiu seu olhar até Carlos.
— Por essa, estou indo embora agora mesmo e você paga minha parte da conta, falou — Lando deu dois tapinhas no ombros de Russell e, sem dar tempo dele dizer qualquer coisa, literalmente correu para fora do restaurante.
— Quem chama esse cara pras coisas? — George riu, sem realmente se importar em ter que pagar a conta dele.
— Lando Norris é um erro da humanidade — Charles brincou, tirando seu celular do bolso.
— Vamos aí, Sainz, vai ser legal — Alex insistiu, cutucando o amigo — Se vamos começar às 16h, com certeza vamos terminar a partida até às 19h, você pode ir ser o filhinho da mamãe depois.
— Você já vai ver muito seus pais nos próximos dias, não vai ver a gente — Charles fez um biquinho exagerado sem olhar para ele, rolando pelo seu Instagram.
— Graças a Deus não vou ver vocês por algum tempo — Carlos riu pelo nariz.
— Se o problema é , nem sabemos se ela… — Russell tentou dizer, mas logo foi cortado por Charles lhes mostrando uma foto em seu celular. Postada há poucos minutos no feed, por , a imagem mostrava ela, Lily, Carmen e , todas de biquíni, na beira de uma piscina gigantesca, com a legenda marcando o clube e os agradecendo por tê-las recebido — Ok, ela está lá.
— Deixa eu ver? — Carlos tomou o celular da mão de Charles, sem qualquer cuidado, e puxou a imagem com os dedos, dando um zoom em .
Sainz não sabia dizer se eram as taças de vinho que havia tomado ou se estava ficando louco, mas, de repente, sentiu um calor anormal naquele restaurante. A foto parecia simples, trazia, nessa ordem, Lily, Carmen, e abraçadas lado a lado, sorrindo para a foto. Lily fazia um sinal de paz e amor com a mão, Carmen e pareciam rir, quase como uma imagem com som e , no canto à direita, tinha o braço levantado, empinando levemente a bunda. O que chamou a atenção do piloto, talvez, tenha sido o biquíni que a modelo usava. Uma peça pequena, roxa, que Carlos deduziu ser um cortininha invertida e traçada. Na parte de baixo, estava com uma pequena calcinha de laços dos lados, delicada mas muito sensual, fácil de tirar e, de repente, ao se pegar pensando naquilo, os lábios do piloto secaram, imaginando a cena.
Não podia negar para si mesmo que aquela mulher mexia com ele.
E mexia de um jeito afrontoso, de um jeito inalcançável, como alguém que ele jamais seria bom o suficiente em conseguir, alguém que o desprezava e que não o queria. Como se tivesse que jogar um jogo, como se fosse uma corrida em que estava lutando pelo pódio, despertava nele sentimentos, vontades, que ele não tinha tido ainda com outras pessoas. Era novo, era intenso, era estranho e era quase impossível. O que o fazia querer ainda mais.
Carlos ponderou por um momento, observando a foto, se deveria mesmo recusar o convite para o golfe. Estava com seus amigos, não tinha realmente um compromisso formal com seus pais e não parecia nada mal ter uma nova chance de ver , de provocá-la. Dani não estaria lá para ser a pedra no sapato do dia e, bom, ele tinha uma teoria a comprovar. Se seus amigos estavam insinuando que havia algo a mais entre eles, Carlos ficou curioso em descobrir. Tinha certeza sobre o nada que sentia por , ao menos, era o que achava. Mas, talvez poderia testar a paciência dela um pouco mais para ver até onde ela iria com ele.
Um novo dia, uma nova oportunidade, uma nova competição. Com sorte, provaria seu ponto de que ela era, de fato, uma mimadinha fútil, ou, ao menos, teria aquela visão do paraíso que via na foto, bem em sua frente, ao vivo.
— Tudo bem, tudo bem, vocês venceram — Carlos devolveu o telefone a Charles e sorriu de lado — Vamos jogar golfe.
~ ❤ ~
— Eles vem! — Carmen comentou alto, feliz em ler a resposta do namorado e logo deixou seu celular de lado, em cima da bolsa. Estava sentada em uma espreguiçadeira, com seus óculos de sol e uma água de coco ao lado.
— Todos? — Lily perguntou sorridente, apoiada na borda da piscina perto da amiga.
— Sim — Carmen puxou seu copo.
— Viu? Eu disse que ninguém resiste a uma partida de golfe — Lily riu.
— E por “todos” entendemos…? — se aproximou delas com o protetor solar na mão e se sentou na cadeira ao lado de Carmen. Tentou ser o mais casual possível em sua pergunta, sem transparecer o interesse particular em saber se ele também iria.
— George, Alex, Charles — Carmen enumerou, tentando se lembrar da mensagem de Russell, com o canudo de sua bebida na boca.
— Lando não topou? — Deitada de bruços em uma toalha no chão, perto de Lily, perguntou risonha — Não acredito!
— Ah sim, ele vem também, mas foi buscar a Lu — Carmen corrigiu.
— Ela está em Barcelona? — perguntou animada, colocando seu óculos de sol na cabeça — Saudades dela.
— Lando namora? — pareceu surpresa. Não tinha ouvido nada sobre a namorada dele ainda.
— Por que? Estava interessada? — brincando, Carmen se virou para ela.
— Não é exatamente no Lando que ela está interessada — Lily olhou sugestiva para a modelo, por baixo de seus óculos.
— O que quer dizer? — riu e negou com a cabeça.
— Australiano, alto, queimado de sol… — Lily começou, gesticulando.
— Super simpático, tatuagens bonitas, fica bem gostoso de laranja — Carmen pontuou e logo foi completada pela outra amiga:
— E não sabemos o que é maior: o nariz, o sorriso ou o…
— ! — Lily gritou histérica, rindo alto junto com as amigas.
— É brincadeira, gente — A empresária gargalhou e olhou para — Ou não. Mas já fiquei sabendo que foram embora juntos ontem.
— Quem foi a fofoqueira? — A modelo apontou para Carmen e Lily, que deram de ombros, desentendidas.
— Alguém no Twitter. Vi por acaso hoje no caminho para cá — contou — Tiraram umas fotos de vocês no bar ontem.
— Que merda — fez um biquinho — Mas, não rolou nada, meninas, e nem vai.
— Será? — Lily sugeriu.
— Não estou interessada nele — deu de ombros, sincera — Só nos damos bem, não sei… como Lily e Pierre, e Lando ou Carmen e Nicholas. Vocês têm mais amizade com alguns deles do que com outros, por afinidade, não sei, é o que… acho que está acontecendo comigo e com o Daniel.
— E você tem certeza disso? — Carmen perguntou mais séria.
— Sim! — concordou rapidamente com a cabeça — Na festa de Alex ficamos bastante tempo conversando, depois que ele levou um fora da menina que estava dando em cima — ela riu levemente — e eu ajudei ele ir embora para o hotel. Desde então, estamos nos falando sempre, trocando mensagens, conversando mesmo. E no bar ontem, aproveitamos bastante tempo juntos, porque ele iria embora de Barcelona hoje cedo já, e quando eu quis ir embora do bar, ele fez questão de me acompanhar, por segurança.
— Segurança… — repetiu.
— É sério — sorriu tímida para a amiga, que riu da cara fofa que ela fez — Ele é gentil, engraçado e muito carinhoso comigo. É um bom amigo.
— E você acha que, para ele, tudo isso é só amizade mesmo? — Lily perguntou pensativa.
não tinha pensado naquilo ainda. Havia se aproximado muito rápido do homem e tudo parecia tão natural e leve, que ela simplesmente não enxergou nada com segundas intenções. Acreditava que ele também nunca a tinha olhado de outra forma, senão com gentileza e educação, com a mesma simpatia que tinha pelas outras meninas do grupo. Não podia negar que Daniel era um homem bonito, carregava um sorriso lindo e suas tatuagens haviam chamado a atenção da modelo, incluindo a que o rapaz disse ter na coxa e que ela não pode deixar de ficar curiosa. Não havia parado para pensar no australiano de outra forma até as suposições das amigas, e, de repente, se pegou lembrando de cada momento com o amigo naquela semana. Será que todas as risadas, conversas e encontros tinham um duplo sentido para ele? De todo modo, não poderia responder aquilo. Chacoalhou a cabeça quando percebeu que divagava nessa história e voltou-se a focar novamente nas amigas ao seu redor.
— Eu acho que sim — A modelo finalmente respondeu — Para ele também somos só amigos, eu acho.
— Charles também era só amigo de até terça-feira passada — Carmen comentou, cutucando a modelo.
— Ainda somos amigos — protestou, apontando para ela — Com algumas coisas a mais agora. E é diferente.
— Concordo! — Lily encarou a amiga, se ajeitando na borda da piscina para não afundar — Charles sempre esteve namorando, desde que conheceu ele. Não podia acontecer nada. Terem se tornado amigos foi justificável, porque era tudo o que podiam ter um do outro naquele momento.
— Que lindo, amiga — zoou ela, recebendo uma pequena enxurrada de água de Lily, enquanto a jogadora continuava a falar:
— É sério isso! e Ric são solteiros, é outra história.
— Vocês estão ficando doidas, não é possível — riu — Não tem nada demais, meninas, é sério.
— Se você diz, amiga, tudo bem — ajeitou seus óculos de sol — Mas fique de olho no que acontece antes de tirar conclusões. Faz pouco tempo que se conhecem e não tem nada demais nisso, seriam um casal lindo.
— Demais! — Lily apoiou.
— Bom, se não rola nada com o Dani, eu vou ser obrigada a perguntar, então — Carmen gesticulou, ouvindo as meninas rirem baixo — E o Carlos?
Carmen jogou na roda, completamente do nada, vendo a expressão de mudar. Seu rosto fechou-se rapidamente e seu olhar de desprezo ficou evidente às amigas. Que o clima entre os dois era estranho, todas elas já tinham percebido. Mas, por algum motivo, parecia ter algo a mais entre eles. Algo que elas não conseguiam identificar, mas que já chamava atenção, algo que não queria assumir para ninguém, porque sequer assumia para si mesma.
— O que tem ele?
— Não sei — Carmen se fez de desentendida — Essa coisa toda de vocês viverem em pé de guerra me soa… como se tivesse algo a mais.
— Não tem nada a mais, na verdade — deu de ombros, tentando parecer normal — Ele é um babaca e confesso que fico admirada de vocês serem amigas dele.
— Não é para tanto, amiga — Tentando defender o amigo, sussurrou.
— Não entendi nada da briga de vocês ontem — Carmen comentou sincera.
— Eu também não — Lily falou alto — Estava tudo bem e, do nada, estavam discutindo de novo.
— Ai, não! Brigaram outra vez? — sorriu tensa para , que fez um biquinho frustrado, concordando com a cabeça enquanto dizia:
— Ele fala e faz as coisas de propósito para me irritar, não é possível.
— Eu conheço Carlos há algum tempo e eu nunca o vi falar assim com ninguém — Lily virou-se para a amiga, apoiando a cabeça no braço — Pelo contrário, ele sempre foi um perfeito cavalheiro com todo mundo.
— Isso é verdade, claro que a ex dele não conta, porque ela era bastante… estranha, mas Carlos nunca foi assim — continuou, pensando nas atitudes do piloto — Nunca foi implicante ou saiu brigando com alguém que mal conhece.
— Pois bem, meninas, parece que é um lado dele que estamos todas descobrindo agora, então — disse séria, dando de ombros — Ele é claramente arrogante! Não tentou ser simpático ou educado desde o primeiro momento em que nos conhecemos, parece que faz tudo de caso pensado comigo.
— Ele estava de cabeça cheia naquele dia e eu acho que vocês realmente precisam conversar sobre tudo o que aconteceu naquela festa — Mesmo que nada justificasse a atitude do piloto, tentou defender o amigo mais uma vez, porque sabia como Laura o deixava transtornado sempre que aparecia por perto. Era um assunto muito delicado para ele e não tinha como saber daquilo, era nova no grupo, sequer conhecia Laura.
— Você estava naquela mesa? Você ouviu como ele falou sobre minha profissão? — respondeu indignada apontando para ela. Lembrar das palavras do piloto ainda a deixava furiosa.
— Nós sabemos, amiga, eu também não gostei — suspirou — E não estou defendendo ele, quero que ele se desculpe e seja melhor com você, mas Laura é um ponto sensível para ele. Eles tiveram um relacionamento muito conturbado e quando a viu na festa, ficou furioso.
— Para você ter uma ideia, nem sequer convidamos ela para o aniversário — Lily interferiu, concordando com a amiga.
as encarava pensativa, refletindo sobre tudo o que as amigas estavam lhe dizendo. Podia, de fato, entender o lado dele se ele quisesse que ela o entendesse, se não fosse um brucutu que estava passando por cima dela, como se ela fosse Laura. Uma coisa não tinha nada a ver com a outra e, se Carlos não sabia separá-las, não seria a fazê-lo.
— Você deveria dar uma nova chance para ele, tenho certeza que ele pode te surpreender — disse empolgada, já imaginando como poderia aproximar o casal para que pudessem conversar.
— Eu não farei isso de jeito nenhum! Quem errou foi ele, então, é ele quem tem que me pedir desculpas — tomou um gole de seu suco, enquanto dava de ombros.
— Pelo jeito vocês dois são cabeça dura igual, por isso que combinam — Carmen riu sendo, enquanto a olhava com cara de indignação.
— Isso é verdade! Já imaginaram os dois como casal? Que lindo seria? — Lily entrou na brincadeira, deixando a amiga ainda mais furiosa.
— Com certeza Carlos a acompanharia em todos os desfiles, — refletiu, risonha — ia ficar compartilhando suas campanhas, cheio de orgulho…
— E eu seria o que dele? A namorada troféu? — revirou os olhos.
— Carlos tem cara de dominador — Lily ignorou o comentário da amiga, mas não pode continuar a conversa, porque rapidamente Carmen a interrompeu:
— E falando nele… — Carmen comentou baixo, olhando discretamente para
deixou seus olhos caírem sobre o ponto de entrada da área da piscina, por onde os homens chegavam, conversando. Com o comentário da amiga pairando em sua mente, sobre o piloto espanhol ser dominador, mordeu os lábios enquanto o observava se aproximando. Parecia distraído, conversando com os amigos como se nada mais estivesse acontecendo, cheio de si, confiante. Vestia uma camisa pólo azul clara, uma calça cáqui, tênis branco e mexia no cabelo, tentando deixá-lo no lugar certo, apesar do vento. Seu jeito despojado contrastava com a postura tensa que normalmente carregava, ao tempo que os amigos riam de algo que Russell havia dito.
— Achei que ele não viria, você não disse… — tentou dizer baixo para Carmen, mas sua fala ficou no ar, interrompida, assim que reparou no que acontecia ali.
Entrando na brincadeira de Alex, que apostava com Carlos que ele não entraria na piscina, assistiu o piloto espanhol tirar a camisa polo que vestia, sem qualquer ressalva e, em seguida, tirar sua calça. Sem conseguir se mover e nem desviar os olhos, ignorando os gritos dos amigos e das amigas ao seu redor, ela o encarava correndo em direção a piscina, só de cueca, até se jogar nela. Sainz tinha um corpo absolutamente perfeito. Um corpo que a fez esquecer de tudo por um momento, apagar as memórias que tinha com ele, as discussões. O peito malhado, o abdômen travado, as coxas bem definidas. Ele era forte, era atraente, era gostoso. E não podia negar aquilo. Definitivamente, não podia.
Aplaudindo a performance do amigo, os outros três logo se juntaram às meninas. As cumprimentaram brevemente e, fugindo dos ataques de água de Sainz, tentaram se sentar ali, se livrando das camisas e dos sapatos, mantendo-se de bermudas apenas. George se sentou na mesma espreguiçadeira onde Carmen estava, com ela sentada de costas para ele, entre suas pernas. Charles, que deitou em cima de ainda de bruços, para fazer graça, logo se deitou no chão ao lado dela, de barriga para cima, enquanto Alex tentou se sentar na borda da piscina para ficar perto de Lily, mas logo foi puxado para dentro dela por Carlos, e ficou abraçado à namorada ali, boiando pela borda.
— Acho que preciso de uma respiração boca a boca — A voz irritante de Carlos soou como uma bomba aos ouvidos de , que o olhou com desprezo. Com os casais se fechando momentaneamente em suas bolhas, não restou ninguém senão aquele folgado.
— Que pena que vai morrer, então — respondeu inexpressiva.
— Volto para te assombrar — Como um aviso, ele riu, arrumando os cabelos molhados para trás.
— Eu não duvido — Ela desviou seu olhar do dele no mesmo momento. Ele reparou e riu satisfeito.
— Por isso, então, você precisa me salvar — Carlos fez um bico, irritante — Vem.
— Vai sonhando, Sainz — A modelo revirou os olhos.
— Por que? Não pode se molhar? — Ele insistiu, provocativo — Faz mal para o cabelo? Para a pele?
— Deveria fazer mal para a sua língua, isso sim — Impaciente, se levantou.
— Eu sei o que faria bem para ela — O piloto rebateu, tirando da modelo uma risada alta, incrédula — Quer saber?
— Obrigada, mas, não quero.
— Está perdendo a chance da sua vida, — Ele deu de ombros, espirrando um pouco de água nela.
— Alguém já te disse que você é muito cheio de si? — A modelo sorriu cínica.
— Você, toda vez que me encontra — Ele respondeu simplesmente, jogando uma quantidade maior de água nela.
— Para! — Ela pediu, séria, mas ele apenas riu e continuou jogando água da piscina nela.
— Por que?
— Para, Sainz, que inferno — pediu novamente, em um tom de voz ainda mais alto e mais sério, como se pedisse a uma criança que parasse de fazer algo.
— Não quero — Ele deu de ombros, com um meio sorriso nos lábios.
— PARA! — Ela gritou, assim que sentiu ainda mais água acertar suas pernas.
— De jeito nenhum — Em um impulso rápido, ele, enfim, saiu da piscina.
E, apesar de ficar hipnotizada pela cena, por alguns instantes, ao ver aquele homem tão perto, tão gostoso, todo molhado, há um passo de distância dela, a única coisa que conseguiu fazer foi correr. E foi a melhor decisão possível. Porque no segundo seguinte, rindo, Carlos saiu correndo atrás dela, desviando dos obstáculos da área. não queria engolir seu orgulho e dar risada do momento, mas tudo parecia tão ridículo que ela não aguentou. Corria de um lado a outro rindo levemente, olhando por sob os ombros, até sentir os braços fortes e molhados, gelados, do homem a abraçar pelas costas.
Apesar de tudo não ter durado muito tempo, talvez dois ou três minutos, o calor do corpo dela no de Carlos, o fez se arrepiar por inteiro. O cheiro delicioso que emanava da nuca dela o fez fechar os olhos por um segundo e as risadas altas dela, enquanto tentava se soltar dele, tão frágil e tão delicada, o fizeram rir junto. Os sons que ele queria ter ouvido dela desde quando se conheceram, a sensação que sentia e que desejava que ela também estivesse sentindo por ele naquele momento.
Os amigos no local pararam de conversar por um segundo e se entreolharam sugestivos, como se conversassem pelos olhos. Sainz não deu tempo da modelo reagir ou dizer nada além de “me solta”, entre risadas, e meio minuto depois, correndo ela em seu colo, a abraçando por trás, se jogou dentro da piscina com ela em seus braços. Fazendo uma onda que molhou , Charles, Carmen e George, do lado de fora da piscina, eles dois logo voltaram para a superfície, rindo, respirando pesadamente.
Sem se dar conta daquilo, Carlos manteve as duas mãos na cintura de , quando se encararam de volta, enquanto ela segurava carinhosamente em seus braços. Trocaram um olhar intenso por alguns segundos, enquanto riram e recuperavam o fôlego. As gotas de água escorrendo pelos cabelos dele o deixavam ainda mais sensual naquele momento, reparou. As mesmas gotas de água que estavam paradas nos lábios dela e que chamaram a atenção de Carlos. Estavam mais uma vez próximos um ao outro, confusos com o momento, mas, pela primeira vez, em uma certa harmonia que não durou muito tempo.
— Eu te odeio, sabia? — comentou baixo, se esforçando em manter os olhos nos dele, sem muito sucesso. Sainz sorriu de lado, absolutamente charmoso e, descendo seu olhar até a boca dela mais uma vez, comentou baixo:
— Sabia.
O clima que pairou entre eles, naquele momento, foi absurdamente carregado e os seis amigos, ao redor, assistiam com ansiedade e expectativa, em um silêncio profundo. Tinham conversado com Carlos sobre naquele dia. E tinham conversado com sobre Carlos. Se, de fato, não tinham nada entre eles, o que era tudo aquilo? O casal seguiu próximo, se encarando, até, no segundo seguinte, uma voz alta e estridente os interromper, os forçando a voltar para a realidade e se afastar tão rapidamente que, quando se deram conta, já estavam fora da piscina.
— HORA DO GOLFE, GALERA!
— Tinha que ser — George murmurou risonho, vendo Lando se aproximar deles empolgado, de mãos dadas com a namorada.
~ ❤ ~
O clima tinha se dissipado totalmente depois daquele momento, assim que Lando chegou com sua namorada, fazendo um escândalo, sem perceber o que interrompia ali. saiu rapidamente da piscina e, disfarçando o constrangimento do momento, foi cumprimentar o casal, se apresentando à namorada do piloto. Apesar de Luísa também ser modelo, nunca tinha tido a oportunidade de conhecer pessoalmente. A namorada do piloto da McLaren era uma grande fã de e sempre a acompanhou nas redes sociais, além de conhecer todos os trabalhos da mais velha. Por isso, quando se deu conta de quem se aproximava deles, se sentiu ligeiramente nervosa.
— É um grande prazer te conhecer, , sou uma grande fã do seu trabalho — Luísa comentou empolgada, soltando-se da mão do namorado e, em um gesto rápido, abraçou a outra modelo.
— Fico muito feliz por isso! Pode me chamar de — respondeu feliz, gostava de saber que era reconhecida, que tinham garotas que se inspiravam no seu trabalho — Eu já ouvi falar muito bem de você por aqui.
— Bom saber… — Brincando, a garota riu tímida e logo foi puxada pelo namorado para perto do restante do grupo, cumprimentando um por um com abraços, sentando-se próximo a Carmen e George.
Luísa estava ficando conhecida no mundo da moda e, sobretudo em Portugal, fazendo sucesso há algum tempo. Seu foco era em modelar para catálogos e tinha recentemente conseguido ser agenciada por uma das maiores empresas de modelos do mundo, por isso não era uma figura totalmente estranha para . Já tinha estampado capas de revistas e estava ganhando destaque no ramo, sendo disputada por algumas marcas, por ser muito talentosa e com um rosto único. estava feliz em conhecê-la. Feliz em poder fazer mais um contato importante naquele grupo e animada em ver que tinha mais uma delas para somar ao squad das meninas.
— Legal, agora que estamos todos aqui, quando vamos começar a jogar? — Lando chamou a atenção do grupo, depois de cumprimentar as meninas que ainda não tinha visto naquele dia.
— Por que essa pressa toda, Lando? Você não é nem bom jogando — Alex brincou com o amigo, tirando risadas de todos. Lando fez uma careta para o rapaz.
— Isso tudo é pressa para perder — George continuou provocando o amigo, que virava a piada do grupo e recebia um beijo rápido, de consolo, da namorada.
— Estou sentindo que hoje é meu dia de sorte — Lando esfregou as mãos, recebendo vaias dos amigos, que logo riram.
— Essa eu quero ver — Lily riu, saindo rapidamente da piscina, com Alex em seu encalço — Vamos começar logo essa partida.
Como as meninas já conheciam o local, esperavam que entrariam na piscina naquela tarde e já imaginavam que, em algum momento, seriam arrastadas por Lily para o golfe, tinham levado bolsas de mão com os itens que precisariam para passar o dia no clube, sem terem surpresas. Os meninos do grupo já estavam prontos e tinham apenas que vestir novamente suas camisas e tênis, com exceção de Carlos e Alex, que acabaram entrando na piscina - e, ao menos, precisariam de um banho rápido.
Lando e Luísa, recém chegados há pouquíssimo tempo, decidiram ficar na área da piscina, esperando pelos amigos, enquanto o restante do grupo saiu animado em direção aos vestiários, não muito longe dali. Com cabines individuais onde poderiam tomar banho e se trocar, cada casal acabou ocupando uma, em sequência: Alex e Lily na primeira, Carmen e George na segunda e e Charles na terceira. No caminho, combinaram de se encontrar na entrada do campo de golfe em, no máximo, 20 minutos, para não perderem a reserva, e seguiram o que tinham que fazer.
Como estava com sua mala no carro, já que deixaria Barcelona naquela noite para ir até a casa dos pais, no sul do país, Carlos decidiu ir buscar uma nova troca de roupas em seu carro, antes de ir para o banho. Tinha entrado na piscina de cueca e ela, certamente, não se secaria sozinha nos cinco minutos que ele levaria para tomar banho. seguiu andando, enrolada em uma toalha, até a última cabine que, coincidentemente, acabou sobrando. Estava distraída, respondendo algumas mensagens em seu celular, por isso, não notou que Carlos não tinha ido com o grupo até, menos de dez minutos depois, alguém simplesmente entrar no mesmo vestiário onde ela estava, se preparando para tomar banho.
— O que você pensa que está fazendo? — perguntou séria, parando repentinamente e levantando seu olhar até ele. Carlos parou logo em seguida, encostando na parede do outro lado do vestiário, de frente para ela.
— Vindo me trocar, ué — Ele respondeu no mesmo tom, enquanto segurava suas roupas em uma mão.
— Mas essa é a minha cabine — disse com obviedade.
— Eu percebi, mas acontece que essa é a única que sobrou também — Carlos já estava cansado daquela conversa — Olha, eu não vou ficar segurando vela para eles, então, como só sobra a sua cabine e você está sozinha, é aqui que vou me trocar — Sem cerimônia alguma, ele simplesmente fechou a porta, já colocando suas roupas sobre o banco que havia no centro do local. o acompanhou com o olhar, boquiaberta.
— Você só pode estar brincando… — A modelo riu sem reação, se perguntando qual pecado havia cometido para que Deus estivesse lhe castigando daquela maneira.
— Fica tranquila, não é como se eu fosse querer ver alguma coisa aí — Carlos deu de ombros rindo, pegando uma das toalhas do local e já se direcionando ao banheiro — Estou indo tomar banho, caso queira participar, a porta estará aberta.
não soube dizer se estava com mais raiva pelo teor da brincadeira, debochada, ou por ele achar que poderia, simplesmente, entrar ali e tomar banho antes dela. Ela ficou chocada com o comportamento dele e, quando se deu conta, Carlos já entrava rapidamente no box do banheiro que, por sorte, ou por azar, era fechado e não permitia ver quase nada lá dentro. Ele logo se livrou da única peça de roupa que vestia e a jogou propositalmente em , do lado de fora, querendo atingi-la. A modelo bufou, vendo a peça de roupa cair na frente dela, no chão.
— Seja rápido, Sainz, ou eu vou te matar. Não estou brincando — saiu do banheiro desgostosa e se sentou no banco que havia ali, enquanto organizava suas roupas na bolsa.
— Seria mais rápido, e ainda economizaríamos água, caso você entrasse aqui — Ele disse rindo, enquanto ouvia alguns palavrões serem do lado de fora do cômodo.
Sem ter mais o que fazer senão esperar pela princesa terminar seu banho, se distraiu com seu celular, respondendo alguns e-mails e mensagens de amigos, até, enfim, ouvir a porta do box ser, finalmente, aberta. O piloto saiu distraidamente, tirando o excesso de água dos cabelos com as mãos, envolto por uma toalha na cintura. Instintivamente, levantou seu olhar do celular para o homem, não deixando de reparar, novamente, no corpo perfeitamente esculpido do espanhol. Se perdeu ali mais do que gostaria de assumir, se distraindo com uma pequena gota que descia do abdômen do rapaz, indo em direção ao…
— Gostou da vista? — A voz cínica de Carlos cortou a atenção dela.
Ele tinha percebido o olhar nada discreto da modelo em seu corpo, mas não se surpreendeu. Sabia o que ele causava nas mulheres, já estava acostumado, mas apesar disso, ali, sobre o olhar observador e um pouco obsceno de , o rapaz não pode deixar de se sentir poderoso, mas também inseguro. Nunca havia sentido aquilo, algo em seu estômago pareceu reclamar, se contorcer, e ele se viu tentado a provocá-la novamente.
— Já vi melhores — respondeu na lata, se levantando e pegando a outra toalha. Abriu um sorriso irônico para ele e foi em direção ao banheiro, deixando o piloto bufando para trás.
— Aposto que sim… — Carlos debochou assim que a modelo passou por ele e entrou no banheiro, ouvindo o click da porta ser trancada atrás dela.
Achando a situação toda interessante, Sainz soltou uma risada baixa e foi se vestir. Não levou mais do que cinco minutos para estar pronto e sentou-se em um pequeno sofá perto da porta, pegando seu celular da bolsa assim que reparou no toque incessante que saia dele. Foi a vez de Carlos se distrair com o celular, vendo as diversas notificações que se acumulavam na tela de bloqueio e, assim que o piloto espanhol o destravou, o nome de Laura piscando na tela o fez bufar irritado.
Estava para conhecer uma garota mais insistente do que ela. Já tinham terminado, há meses, já não tinham mais nada e Carlos estava se esforçando, e muito, em ficar longe dela. Mas Laura parecia uma assombração. Irritado pela insistência da mulher, ele recusou a ligação e mandou uma mensagem para , com um print de tela da ligação, dizendo que “Laura não o deixava em paz” e pedindo ajuda para ela, para se livrar daquele tormento. Carlos sabia que a amiga não o responderia naquele momento mas, ao menos, se lembraria de falar pessoalmente com ela sobre o assunto mais tarde. E sem mais o que fazer, enquanto esperava, ele logo acabou se distraindo com o Instagram.
— Nós temos cinco minutos para estarmos lá fora, , dá para se apressar? — Carlos gritou impaciente, já pronto.
— Pode ir você, tchau — gritou de dentro do banheiro.
— E ficar de vela dos outros? — Carlos riu — Obrigado, corazón. Prefiro te aguentar enrolando para ser a última a chegar e se sentir a última bolacha do pacote.
— Claro — Ela bufou — Novamente: você não consegue ser agradável nem por um instante?
abriu a porta do banheiro, já saindo devidamente vestida e arrumada. Estava com uma camiseta preta simples, colada ao corpo, uma mini saia da mesma cor, tênis brancos e uma meia comprida, até abaixo do joelho. Trazia uma viseira preta com listras brancas na mão e logo a colocou, completando o look. Carlos, que estava sentado olhando o celular, se distraiu com as pernas da modelo, expostas pela roupa curta e delicada, bem na sua frente. Seu olhar foi subindo por ela, lentamente, captando cada detalhe da mulher que já organizava a bolsa e se virava de costas para o piloto, deixando-o com uma visão privilegiada.
— Gostou da visão? — Ela perguntou da mesma forma que ele, reparando no silêncio do homem e sentindo os olhos dele atrás dela. Desconcertado, Carlos se levantou rapidamente, ajeitando a roupa, sentindo um pequeno rubor no rosto.
— Já vi melhores — Ele rebateu do mesmo modo, sério.
— Jura? — virou-se novamente de frente para ele, sorrindo charmosa — Não é o que está parecendo, pela sua cara.
— O que te parece, então? — Carlos passou a língua pelos lábios, cruzando os braços.
— Que você gostou da minha roupa — o encarava nos olhos, levantando levemente o queixo.
— Gostaria mais dela se estivesse no chão agora — Carlos provocou, falando em um tom de voz mais baixo, sedutor.
— Ah, Sainz, você e seus contos de fadas comigo — riu alto — Mas preciso dizer que fico feliz que gostou da minha roupa e que ela vai te distrair durante o jogo. Pronto para perder em mais alguma coisa para mim?
— Se quiser mentir para si mesma, por mim tudo bem, não vou impedir suas fantasias comigo — Ele sorriu intenso para ela, pegando a carteira e o celular, os colocando no bolso — Mas, saiba que, você não conseguiria me vencer de qualquer forma, usando essa roupa ou qualquer outra. Ou nenhuma.
— Você quer apostar? — propôs séria, vendo o piloto pegar sua bolsa e se virar novamente em sua direção, finalmente, reparando na pose autoritária e confiante dela.
— Com você? — Ele riu debochado — Não. Não quero te humilhar.
— Vamos deixar as coisas mais interessantes, Sainz — insistiu, semicerrando os olhos.
— Tornar as coisas mais interessantes… — Carlos ponderou, tentado em aceitar a proposta — O que você quer apostar? — Ele sorriu molhando os lábios com a língua, observando a boca da modelo, que parecia tão convidativa.
— Certo, vou pensar em algo realmente interessante, tendo em vista que você ainda me deve algo que perdeu no pôquer.
pensou sobre o que gostaria de ter do piloto.
Dinheiro já tinha aos montes, jóias fazia coleção e seu pai sempre lhe presenteava, não usava relógios e, na verdade, já tinha tudo o que queria e tudo o que poderia imaginar. Não podia pedir nada singelo, nem simples ou fácil demais para Carlos. Precisava ser algo desafiador, algo que mexia com o piloto, que abalaria suas estruturas, que o irritaria profundamente em perder para ela. reparou nos lábios do homem, que possuía um sorriso presunçoso, enquanto ela pensava. Podia pedir ele? Não, era melhor não. Ter ele só daria a chance para que fosse mais uma de sua lista, e isso ela não queria de jeito nenhum.
— Se eu ganhar, vou querer… — pensou por mais um segundo, até uma ideia estalar em sua mente — Eu vou querer o seu carro.
— Tudo bem, fácil — Carlos deu de ombros — E, se eu ganhar, você terá que sair comigo para um encontro.
Apesar da voz e da postura confiantes, Carlos tentou não deixar transparecer seu nervosismo ao ouvir o que ela havia pedido. Nunca teve uma grande coleção de carros, como os amigos. Até pouco tempo, dirigia o Golf que havia ganhado de seu pai, aos 18 anos, e só quando começou a correr pela Scuderia Ferrari resolveu aposentar o melhor amigo, adquirindo um modelo da marca italiana - um 812 superfast, com motor V12 de 800 cavalos na cor vermelha, um veículo potente, charmoso e elegante, assim como o dono.
Por isso não hesitou na contraproposta. tinha mexido em algo que era verdadeiramente significativo e importante para ele, que se perdesse o deixaria mal. E ele sabia que o fato de terem um encontro a irritaria pelo resto de sua vida, porque ela teria que passar por cima do orgulho, teria que engolir as palavras e a postura, a rejeição que tinha por ele. E, no fundo, não seria nada mal para ele: a faria perder o jogo, a aposta, e de quebra, ainda poderia ter um jantar com a mulher, que usaria para provocá-la pelo resto dos dias que se encontrassem. Com sorte, a levaria em seu carro, para piorar um pouco mais o cenário.
— Combinado! — respondeu alguns segundos depois, subindo sua mão até a altura do piloto para selar o acordo.
— Isso vai ser divertido — Carlos segurou a mão da mulher, a apertando — Será um grande prazer te vencer, cariño.
Ignorando as sensações que ambos sentiram naquele momento, a modelo rapidamente separou-se do rapaz, já soltando sua mão e dando as costas para ele, enquanto abria a porta do vestiário e saia em direção ao corredor. Carlos riu, dissipando o misto de sensações que sua mente e seu corpo sentiram naquele momento, fechando a porta atrás de si e correndo para alcançá-la. Sem dizer nenhuma palavra mais, levaram cerca de três minutos até chegarem à entrada do campo de golfe, onde os amigos os aguardavam, ansiosos. Assim que repararam que os dois estavam juntos e atrasados, um nítido burburinho de fofocas surgiu entre eles, mas logo foi dissipado, assim que eles se aproximaram.
— Ah, finalmente! Achei que tinha te matado e escondido o corpo, cara — Alex brincou. Para cara deles, ambos pareciam irritados e Albon se perguntou o que infernos tinha acontecido.
— Foi por pouco — brincou de volta, com um pequeno fundo de verdade.
— Espera, vocês estavam juntos? — Charles franziu a testa — Tipo, no mesmo… vestiário?
— Ih, o que rolou? — Carmen perguntou curiosa.
— Aí, você é a nova namorada do Sainz? Nem tinha me ligado disso, que legal — Luisa bateu uma mão em sua testa, rindo da própria confusão.
— Não somos namorados — tentou responder educadamente, mas sua voz saiu mais ríspida do que ela gostaria. Luisa trocou um olhar confuso com Lando, que gesticulava que depois explicaria para ela. De fato, ela ainda não estava por dentro dos últimos acontecimentos.
— E nem temos nada — Carlos bufou, negando com a cabeça.
— Não têm nada mas estavam tomando banho… juntos? — Alex parecia confuso e logo levou uma tapa leve na cabeça, de Lando, que respondeu:
— É, cara, já ouviu falar de sexo casual?
— Desde quando você curte sexo casual, Carlos? — Olhando o melhor amigo, riu. Carlos abriu a boca para protestar, mas George foi mais rápido do que ele.
— Sainz não curte sexo casual? Desde quando? — George encarou , levantando as sobrancelhas.
— Teve ou não teve banho juntos, afinal? — Foi a vez de Lily perguntar.
— Não teve nada, se querem tanto saber. E agora, por que não vão todos procurar o que fazer? — olhou irritada para eles.
— Vamos nos concentrar no golfe, ok? — Tentando amenizar a rispidez da mulher ao seu lado, Carlos sorriu simpático para os amigos, que deram de ombros. Aquele assunto estava estranho, para todos eles, mas certamente não seria resolvido ali e, muito menos, com aquela enxurrada de perguntas.
— Vamos eu, , Lando, Lu e Carlos — Charles apontou para o grupo e, em seguida, para o carrinho de golfe estacionado próximo a eles.
— Eu dirijo — Lando se apressou em ir em direção ao carrinho.
— Nem ferrando — Charles logo correu atrás dele. Deixadas para trás, e Luisa trocaram um olhar, revirando os olhos, e riram.
— Bom, galera que sobrou: vamonos — Alex chamou George, Carmen e , puxando Lily pela mão, sentido ao outro carrinho.
O grupo começou a partida alguns minutos depois e, um por um, iam se enfileirando, enquanto começavam a dar as primeiras tacadas, celebrando aqueles que conseguiam jogar a bola mais longe ou mais próxima do buraco, zoando aqueles que não tinham muito sucesso. O golfe era um esporte tranquilo e silencioso, mas, naquele momento, os cinco casais falavam alto, se provocavam e riam. Tiravam fotos uns dos outros e gravavam os péssimos desempenhos de Lando e em campo, que mal pareciam saber jogar e causavam risadas, não só no grupo, mas nas pessoas que tentavam jogar próximas a eles e observavam os jovens, ricos e do seleto grupo se divertirem.
Os únicos que pareciam jogar sérios e concentrados eram Lily, Alex, Carlos e , sendo os dois últimos meramente pela batalha feroz e silenciosa, para saber quem era o melhor. Os amigos não sabiam da aposta, por isso, achavam que toda aquela provocação, competitividade e os olhares sérios eram apenas mais dos momentos que o casal já parecia compartilhar fora do campo.
Cerca de vinte minutos depois, perdendo para a namorada, Alex saiu do jogo e, na sequência, devido a uma distração do grupo, Lily acabou desistindo, se juntando aos amigos. Todos pareciam meio cansados e, espalhados pelo quilométrico gramado, estavam sentados, assistindo ao final da partida e comentando os movimentos dos amigos em jogo. Inevitavelmente, e Carlos haviam sobrado e, agora, disputavam a tacada final. Deveriam encaçapar a última bolinha no buraco, há alguns metros de onde estavam, considerando as dificuldades de curvatura do terreno um pouco acentuado e com o vento não muito a favor deles.
— Quem vocês acham que vence? — George observava a movimentação dos amigos e como deveriam jogar — Estou apostando na .
— Minha aposta é no Sainz — Lando tomava uma água e deitava-se nas pernas da namorada, que estava sentada no gramado — Não posso trair meu amigo.
— Como eu já joguei com ela, minha aposta é na — Lily comentou, sentando-se no chão, ao lado de onde e Charles estavam.
— Carlos é bom no golfe também, mas eu não sei se voto nele — No meio das pernas de Charles e deitada no peito dele, pensou alto.
— Qual é? Vocês precisam dar uma moral para o cara, imagina perder em outro jogo para ela — Alex riu, lembrando-se da festa em que o espanhol perdeu no pôquer para a modelo.
— Aí a gente deixa ele só pilotando mesmo, é o melhor… isso se ela não souber pilotar também — Assim que Russell comentou, o grupo riu alto, chamando a atenção do casal que estava um pouco mais a frente, estudando, rapidamente, a melhor estratégia para não errar suas tacadas finais.
— Está preparada para jantar comigo? — Carlos sorriu enquanto se levantava, já preparada para jogar.
— Nunca ouviu dizer que “quem ri por último, ri melhor”? — se abaixou levemente outra vez, a bolinha sobre o pino enfiado na grama — Cuidado para não se vangloriar antes da hora, cariño.
Carlos não pode deixar de reparar no apelido que a mulher usara para se referir a ele. Havia saído calmo e sensual e, de repente, ele se pegou repetindo novamente em sua mente. aproveitou a distração do homem para se concentrar e, alguns segundos depois, deu uma tacada forte e precisa. Todos ficaram em silêncio, observando o caminho da bola até que, sem surpreender metade dos presentes ali, ela entrou no buraco. arregalou os olhos e gritou animada, já dando pulos de vitória enquanto o espanhol observava impassivel, sem qualquer reação.
Ele não podia errar.
Precisava vencer aquela partida, a qualquer custo. Sainz respirou profundamente, arrumou sua bolinha na posição e, então, desligou-se de tudo por um único minuto. Quando abriu os olhos, sua visão focou no objetivo que tinha em mente e, em uma tacada tão firme e precisa quanto a de , ele bateu seu taco, arremessando a bolinha na mesma direção da dela. O que aconteceu, contudo, por uma pequena ironia do destino, é que a bolinha parou há alguns centímetros do buraco, não tendo forças o suficiente para entrar, dando, enfim, a vitória a modelo.
— Eu venci? — perguntou em um sussurro, tinha os olhos arregalados e um sorriso que ia crescendo em seu rosto a cada segundo, conforme ia se dando conta de que, de fato, tinha vencido — EU VENCI!
Em um movimento rápido, logo se virou de frente para onde os amigos estavam, ouvindo os aplausos animados deles. Celebrando a vitória, feliz, ela correu em direção a e Lily que, animadas, se levantaram e abraçaram a amiga, ao mesmo tempo. Carlos, por sua vez, manteve-se parado onde estava, estático, inconformado. Seus olhos iam da modelo celebrando com os amigos até o buraco no campo, como se ele quisesse garantir que aquilo tinha mesmo acontecido, que sua bolinha não tinha, de fato, alcançado o buraco. Não era possível.
Carlos tentou manter sua postura firme, controlando conscientemente a respiração, tentando não se abalar, nem se irritar em ter perdido. Sua mente, contudo, jogava milhares de informações e seu coração parecia acelerar, seu corpo esquentava, e Carlos sabia que não demoraria muito para perder a paciência. Tinha deixado seu taco cair ao chão e, assim que viu o olhar presunçoso da modelo sobre si, sentiu que poderia explodir de vez. A modelo emanava uma alegria radiante e, se não estivesse tão irritantemente se achando por aquilo, estaria linda.
— Eu venci Carlos Sainz… de novo — Ela cantarolava, dando alguns passos na direção dele, se achando — Como se sente perdendo para mim outra vez?
— Outra vez? — Carlos riu debochado. Podia sentir a fúria crescer dentro de si, odiava perder. Por apenas alguns centímetros a modelo havia não só ganhado aquela partida, mas também a aposta.
— Você parece irritadinho, Sainz, o que aconteceu? — queria ouvir dele que tinha perdido para ela, mas Carlos não a daria aquele gostinho.
— Quer saber? — Carlos negou com a cabeça, sem querer deixar-se consumir pelo momento — Foda-se, não vou discutir com você.
— Não precisa discutir — riu — Só precisa cumprir com a sua palavra.
— Eu não vou te dar o meu carro — Colocando as mãos na cintura, Carlos negou com a cabeça, a olhando nos olhos. O grupo de amigos que, até então, observava a cena em silêncio, de repente, pareceu não entender nada.
— Que história é essa? — Confuso, Charles olhou de para Carlos.
— Dar o seu carro? — Russell franziu o cenho.
— Nós apostamos — Carlos explicou irritado — Se eu perdesse a corrida, teria que dar o meu carro para ela.
— Você apostou o seu carro? — perguntou pausadamente, chocada.
— Sim — Foi tudo o que Carlos conseguiu responder, se amargurando pelo maldito momento em que topou aquilo. O olhar nitidamente surpreso e meio bravo de podia dizer muita coisa para ele naquele momento, mas Carlos o interpretou de uma única forma: tinha feito merda e tinha se fodido.
— E ? O que te daria? — Lily logo perguntou, curiosa.
— Caso ele vencesse, o que, vamos ressaltar, não aconteceu, eu teria que sair com ele — riu debochada, dando de ombros — Então, como eu venci, vou embora daqui hoje de Ferrari.
— Eu não acredito que você fez isso, Carlos — Charles dizia indignado. Sabia como ele amava aquele carro, era seu grande amor e se ele havia apostado aquilo, ele realmente achava que poderia ganhar. Pobre garoto.
— Você não pode aceitar o carro, — tentou convencer a amiga, mas negou com a cabeça, a olhando. Não estava entendendo o drama todo dos amigos.
— É só um carro, .
— Não para ele — Hermann insistiu, olhando de para Carlos, preocupada com aquela aposta. George e Alex concordavam com a cabeça.
— Por isso mesmo, não vou entregar meu carro — Carlos reforçou.
— Deveria ter pensado nisso antes de apostar ele, Sainz — cruzou os braços. Estava decidida a ter o que tinha ganhado naquele dia — Precisa cumprir sua palavra agora. Ou nem isso você consegue fazer?
— Pega leve, — Alex murmurou.
— Gente, isso passou muito dos limites — Carmen parecia perplexa.
— Eu não apostaria meus carros nem fodendo — Lando deu de ombros e se virou para a namorada — Nem com você, amorzinho.
— Você não me deixa nem dirigir eles direito, — Luísa revirou os olhos, rindo da cara que o namorado fazia — muito menos correria o risco de perder um deles para mim.
— Claro, porque isso é loucura — Lando arregalou os olhos, vendo Alex concordar com a cabeça ao seu lado.
— Vocês dois são loucos, onde já se viu… — Lily disse séria, como se os repreendesse.
— Ninguém vai levar nada de ninguém hoje — concordou com a amiga, tentando delicadamente resolver a situação.
— E vocês dois precisam parar com isso — Alex cruzou os braços, preocupado — Sem mais jogos ou apostas.
— Antes que dê alguma merda — Charles os olhou, abraçando de costas, pela cintura — É sério.
— Vocês só podem estar de brincadeira, quanto drama — riu, revirando os olhos — Se bem me lembro, todo mundo participou quando apostamos no pôquer e ninguém se importou em perder nada.
— Era diferente — Lando pensou alto.
— Não, não era. Aposta é aposta, no pôquer ou no golfe, e eu ganhei — olhou para o grupo e, voltando-se para Carlos, à sua frente, respondeu triunfante: — E, então, qual vai ser?
Carlos parecia quieto, aflito. Ficou alguns segundos ponderando o que deveria fazer, pensando se, de fato, aquela aposta era real ou não passou de um dos surtos de provocações deles dois. Apesar dos amigos falarem sério ali, e de parecerem mais preocupados com a conduta dele e de do que deveriam, Carlos não viu sequer um único traço de hesitação na mulher à sua frente. Pelo contrário, o olhava de cima, sorria com poder e com um certo cinismo, aproveitando o máximo que podia da sensação de, outra vez, tê-lo vencido. Ele já estava devendo algo a ela desde o dia em que perdeu no pôquer, não deveria mais nada, não dessa vez também.
Era um homem de palavra e, mesmo custando acreditar que perderia uma das coisas mais importantes que tinha na vida para a mulher a sua frente, ele manteria sua integridade. O que era um carro para ele, afinal? Poderia ter outros, quantos e quais quisesse. Não deveria se mostrar abalado por aquilo. Por que estava? Estava certo que, quando os amigos falaram mais cedo que ela sabia jogar golfe, pensou que fosse como Lando, algo casual e sem muito conhecimento. Não se imaginou jogando com alguém mais próximo de Lily, de jeito nenhum. O que foi que aconteceu ali? Carlos não sabia explicar. Só tinha certeza de que estava tão irritado que não queria mais pensar naquele assunto, que não queria mais ficar ali, se sentindo humilhado na frente de todos os seus amigos e que, definitivamente, naquele dia, não queria mais ver aquela mulher na sua frente.
Sainz bufou impaciente e, tirando a chave de seu carro de seu bolso, a entregou sem qualquer cuidado para a mulher, que permanecia com as mãos esticadas, esperando pelo prêmio. sorriu satisfeita, vitoriosa, mas sentiu seu coração apertar assim que Carlos passou por ela, furioso e um tanto magoado, e murmurou áspero:
— Parabéns, , aproveite o que não é seu — Ele sequer a olhou — E não precisa mais falar comigo.
~ ❤ ~
— Olha a cara de alegria do garoto — Carlos comentou alto, vendo Charles se aproximar, sorridente.
Meio-dia em ponto e Charles tinha sido o último a chegar, cinco minutos depois de Carlos que, aparentemente, estava sempre atrasado para os encontros que marcavam. Alex sugeriu que aproveitassem aquele dia juntos, tendo em vista que iriam embora entre aquela noite e o dia seguinte e que só se veriam, com sorte, na semana seguinte, no GP do Canadá. Era bastante difícil conseguir conciliar as agendas do grupo todo e, embora os pilotos se encontrassem bastante ao longo do ano, suas namoradas e outros amigos nem sempre conseguiam estar presentes. Por isso, no bar na noite anterior, combinaram de almoçar juntos.
Pierre tinha ido embora do país naquela manhã, se encontrar com Katerine, sua namorada, nos Alpes Suíços. As coisas não estavam exatamente bem entre eles e Pierre queria conversar com ela, passar um tempo a sós, antes de ter que voltar aos seus compromissos. Ricciardo, por sua vez, decidiu voltar para a casa, na Austrália, ficar um tempo com sua família e descansar na praia. Alex e Lily tirariam um tempo em Bali, enquanto George iria com Carmen para o interior do Reino Unido. e Charles não tinham conversado sobre o que seria dali em diante, mas sabiam que a empresária precisava voltar para Marbella, onde morava, para finalizar os trabalhos de lançamento de sua próxima coleção. Charles ponderou se deveria ir com ela, mas estava tendendo a voltar para Mônaco. Queria descansar, se concentrar na próxima corrida e não atrapalhar .
Lando passaria mais algum tempo em Barcelona, tendo em vista que sua namorada, Luisa, chegaria na cidade naquela tarde. Como estava ocupada com compromissos de trabalho, ela não pode chegar a tempo da festa de Alex e nem da corrida, mas não deixaria de ir se encontrar com ele. Tinham feito planos para ficar alguns dias por ali e, mais para o final da semana, iriam curtir Ibiza.
Carlos, enfim, já estava em casa e, por isso, não tinha feito muitos planos senão ficar com seus pais e fugir de Laura. Diferente dele, iria embora naquela noite, de volta para Milão, onde vivia, para se preparar para assistir aos desfiles da temporada no local e, quem sabe, fechar alguns novos contratos, para campanhas e comerciais. Os tempos de diversão e de festas iriam acabar em breve para ela, por isso, ainda estava decidida a aproveitar aquele último dia com as novas amigas.
Sabendo que os homens se reuniriam para almoçar naquele dia, elas decidiram aproveitar o dia em um clube não muito longe dali, onde poderiam curtir o sol nas piscinas, tomar um bom drink tropical e passar o dia relaxando, descansando o quanto podiam, antes de voltar às suas rotinas. Charles deixou direto no local marcado com as meninas e, voltando de lá, foi direto se encontrar com os amigos. Lando, George, Carlos e Alex já estavam ocupando uma mesa redonda, próxima a cozinha do restaurante. Sainz fez questão de levar os amigos a um dos seus lugares favoritos na cidade, cujo menu era tipicamente mediterrâneo.
— Boa tarde, meus amigos, buenas tardes a todos — Charles abraçou Carlos com vontade, que riu do ânimo dele.
— Em espanhol? Que isso, hein… — Carlos fingia-se estar impressionado.
— Veio até bem vestido hoje — Albon zoou o amigo, o cumprimentando brevemente.
— Devemos agradecer ao fenômeno Hermann? — Lando abraçou o amigo de lado, risonho.
— E coloca fenômeno nisso, Norris — Charles brincou e, juntando os dedos da mão em um montinho, dando um beijo na ponta deles como um gesto tipicamente italiano, falou: — Mamma mia.
— Pelo jeito, a sobremesa ontem estava ótima — George se levantou para cumprimentar o amigo, tirando uma gargalhada alta dos demais.
— Estava, mas eu não vou comentar sobre ontem — Charles puxou uma cadeira, entre Carlos e Alex, e se sentou.
— Vai sim! — Carlos o provocou — é um patrimônio cultural na minha vida e eu quero saber o que rolou para avaliar se você é mesmo bom para ela.
— Sem contar que você é o maior fofoqueiro desse grupo, dúvido que vai se segurar — Alex riu da postura “irmão protetor” de Sainz, que não colocou nem uma faísca de medo em Charles.
— Podemos, pelo menos, comer a entrada antes? — Charles riu um tanto tímido, tirando risadas dos amigos.
Os garçons não demoraram mais do que quinze minutos para servir um bom vinho seco e água em suas taças, junto com tapas españolas de entrada. Os amigos se divertiam em ver Carlos interagir com os garçons, zoando seu sotaque e tentando imitar ele, até o assunto voltar à tona. Charles comentou como tinha sido a noite anterior com , poupando certos detalhes que não cabiam a mais ninguém saber. Estava visivelmente feliz pelo momento que vivia, apesar de parecer um tanto nervoso em não saber o que seria dali em diante. Animados pelo novo casal do grupo, os amigos o deram conselhos e o felicitaram. Propuseram um brinde, que terminou com Lando virando vinho em sua roupa - por sorte, registrado por Carlos que postava em seu stories - e, logo depois disso, o assunto da mesa passou a ser outro.
— E como foi a noite de vocês ontem? — O monegasco olhou os amigos, enquanto trazia mais uma tapa até seu prato.
— Foi legal, cara, engraçado como sempre — George começou a dizer, tomando um gole de água — Conseguimos curtir bastante, reunir todo mundo, as meninas foram… e o Landinho até arriscou um karaokê.
— Ainda bem que eu não fui — Charles zoou o amigo, que mandou o dedo do meio para ele.
— Bati o Ric no karaokê, irmão, isso que é vitória — Lando deu de ombros.
— Não precisa de muito para vencer o Daniel… — Carlos respondeu meio irônico e, abaixando a voz, completou: — Em qualquer competição, no caso.
— Ih, olha o cara — Alex falou com o guardanapo na boca, mastigando.
— O que aconteceu? — Charles arregalou os olhos, sorrindo.
— Tudo isso porque ele passou a maior parte da noite com a ou…? — Lando olhou sugestivo para Carlos que, na mesma hora, fechou a cara.
— Era esse tipo de coisa que eu queria saber quando perguntei sobre ontem — Charles bateu uma palma, animado.
— Lá vai o fofoqueiro — George negou com a cabeça, vendo Charles roubar a meia tapa que tinha em seu prato e a enfiar direto na boca — E esfomeado também. Fez muita força física ontem a noite?
— Hoje cedo também — Charles rebateu no mesmo tom, tirando risadas altas dos outros.
— Não dá pra brincar com você — Russell resmungou, rindo.
— Ele não está para brincadeira mesmo não — Alex concordou.
— Mas me contem isso direito, porra — Leclerc pediu, virando-se para Carlos — O que rolou ontem… com a , Carlitos?
— Não rolou, por isso ele está com essa cara de bunda — Lando respondeu pelo amigo, que revirou os olhos.
— A cara de bunda já é típica dele — Alex zoou — mas, hoje, realmente está demais.
— E tinha que rolar alguma coisa com ela? — Carlos rebateu irônico.
— Não sei, fala você — George apoiou os cotovelos na ponta da mesa.
— Não tenho o que falar, vocês estão me infernizando à toa — Bufando, Sainz negou com a cabeça.
— Igual você anda infernizando ela? — Lando levantou as sobrancelhas, rindo levemente em seguida.
— Caralho, vocês são muito chatos — Carlos arregalou os olhos, gesticulando para que o garçom o servisse com mais vinho.
— Você que é insuportável, irmão — George revirou os olhos — Tão chato que a menina nem quis ficar perto de você ontem, de novo.
— Mas, mesmo assim, parece que a noite foi boa para ela. Se divertiu com Daniel, dançaram juntos — Alex contou para Charles, reparando Carlos bufar, lembrando-se da cena. Parecia patética aquela aproximação, porque, aos olhos do piloto, eles mal se conheciam.
— E eu perdi isso? — Charles riu, vendo careta do colega de equipe — é muito divertida, não é atoa que se deu bem com o Dani.
— É sério isso? — Carlos perguntou depois de tomar outro gole de seu vinho — Só eu vejo quem ela realmente é? Uma garotinha mimada e que se acha?
— Isso é implicância sua, cara, ela parece uma pessoa incrível — George rapidamente defendeu a amiga — Do contrário, não teria se dado bem com as meninas. Carmen e ela passam horas conversando pelo grupo lá que elas criaram, estão realmente se identificando…
— Eu concordo com o Russell. é uma pessoa fácil de lidar, além de ser muito linda — Lando riu descarado com os amigos, que concordaram com a cabeça.
— Você não namora, Muppet? — Carlos perguntou sério, chamando o amigo pelo apelido que inventaram quando ainda estavam juntos na McLaren.
— Sim, mas isso não me torna cego. Ela é gata, não vou negar esse fato — Ele resolveu provocar o amigo, que o olhava horrorizado. Carlos tomou em um gole todo o restante de sua taça de vinho, já acenando ao garçom pedindo uma nova, agradecendo em seguida.
— Estou contigo, Lando — Charles trocou um hi-five com ele.
— Fora que, além de linda, ainda é filha de milionários — Alex deu de ombros. Se lembrava de Lily comentando algumas coisas sobre depois que a havia conhecido no golfe, na França. Eram muito seletos com os amigos e, por isso, fizeram muita questão de conhecer alguns detalhes da mulher que, despretensiosamente, havia se aproximado tão rápido de sua namorada — Rica, linda, talentosa... Será que ela tem algum defeito?
— Tem sim: ser uma grande mimada e andar com o Ricciardo — Carlos rebateu ao amigo, que sorriu baixo.
— Qual é o problema com o Ric? — Lando perguntou. Carlos logo respondeu irritado:
— Ele é uma péssima influência para qualquer um e todos vocês sabem disso.
— Isso é ciúmes? — Charles apontou para o piloto com o queixo, olhando os outros três amigos que, ao mesmo tempo, concordaram com a cabeça.
— Está maluco? Só acho que o Daniel não é uma boa influência para ela. A gente o conhece bem… — Carlos respondeu rapidamente, lembrando-se do piloto nas festas que frequentavam juntos e como o australiano tinha uma postura despreocupada — Vocês deixariam Carmen, Lily, Luisa e com ele? — apontando cada um dos amigos, enquanto se referia às suas respectivas namoradas, ele questionou.
— Sim — Charles deu de ombros — Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
— Como não? Você sabe as coisas que o cara faz — Carlos lançou-lhe um olhar incrédulo — e é sua namorada.
— Tecnicamente, ainda não — O monegasco o corrigiu.
— E é aí que está, meu amigo — George apontou risonho para Carlos — Você acabou de colocar no mesmo patamar do que Carmen é para mim, Lu para Lando, Lily para Alex e para o Charles. São nossas namoradas, ou quase, no caso do Leclerc, mas, ainda assim…
— Está conscientemente considerando sua… — Lando completou, fazendo uma breve pausa para tentar achar a palavra correta, mas, na falta dela, concluiu: — sua.
— Não foi isso que eu quis dizer — Sainz negou com a cabeça, nervoso.
— Mas foi o que você disse — Alex reforçou — E está de boas você estar afim dela, cara, só… assume isso.
— Assumiria, sem problema algum, se eu estivesse, — Ele bufou — mas não estou. Ela me irrita e eu gosto de irritar ela, é isso. Fim. Sem mais nada.
— Então, por que se incomoda com o Dani? — Charles cutucou — Ela é solteira, chegou no grupo agora, está conhecendo pessoas novas…
— E acredito que saiba se cuidar muito bem — Lando completou a provocação, vendo o amigo revirar os olhos.
Carlos não queria continuar aquela conversa, porque simplesmente não tinha argumentos racionais para justificar o que sentia. E, por sorte, não precisou mais pensar muito no assunto. George que, de repente, ficou alheio a conversa, logo interrompeu o assunto dizendo:
— Não sei se vocês têm planos para agora de tarde, mas, aparentemente, nossas primeiras damas querem jogar golfe — Ele olhava o celular, lendo em voz alta a mensagem de Carmen — e estão nos convidando.
— Lily é uma péssima influência para elas — Charles se encostou na cadeira, satisfeito por ter comido demais.
— Já já seremos um grupo de pilotos namorando jogadoras de golfe — Alex riu, tirando seu guardanapo do colo e o colocando na mesa — Vai ser no clube mesmo?
— Aham — Russell concordou sem desviar os olhos do telefone, enquanto respondia a namorada — Conseguiram agendar para às 16h, querem saber se vamos, para alugar os equipamentos.
— Por mim, beleza — Alex concordou animado, dando uma olhada em seu relógio. Tinham pouco menos de duas horas ainda até o horário agendado, daria tempo.
— Só vou buscar a Lu no aeroporto e vamos para lá, então — Lando fez um joia para os amigos, que concordaram.
— Estou dentro também — Foi a vez de Charles aceitar e, usando todo seu conhecimento em espanhol, virou-se para Carlos: — Y a ti, que te parece, Carlitos?
— Seu espanhol é horrível, cara — Carlos riu — Já combinei com meus pais de chegar para o jantar hoje, infelizmente vou deixar para a próxima.
— Hummm, que filhinho da mamãe — com os braços cruzados sobre a mesa, Norris provocou o amigo, tirando uma gargalhada de Charles.
— Vai mesmo perder o Lando levar uma surra de todo mundo no golfe? — George subiu seu olhar até Carlos.
— Por essa, estou indo embora agora mesmo e você paga minha parte da conta, falou — Lando deu dois tapinhas no ombros de Russell e, sem dar tempo dele dizer qualquer coisa, literalmente correu para fora do restaurante.
— Quem chama esse cara pras coisas? — George riu, sem realmente se importar em ter que pagar a conta dele.
— Lando Norris é um erro da humanidade — Charles brincou, tirando seu celular do bolso.
— Vamos aí, Sainz, vai ser legal — Alex insistiu, cutucando o amigo — Se vamos começar às 16h, com certeza vamos terminar a partida até às 19h, você pode ir ser o filhinho da mamãe depois.
— Você já vai ver muito seus pais nos próximos dias, não vai ver a gente — Charles fez um biquinho exagerado sem olhar para ele, rolando pelo seu Instagram.
— Graças a Deus não vou ver vocês por algum tempo — Carlos riu pelo nariz.
— Se o problema é , nem sabemos se ela… — Russell tentou dizer, mas logo foi cortado por Charles lhes mostrando uma foto em seu celular. Postada há poucos minutos no feed, por , a imagem mostrava ela, Lily, Carmen e , todas de biquíni, na beira de uma piscina gigantesca, com a legenda marcando o clube e os agradecendo por tê-las recebido — Ok, ela está lá.
— Deixa eu ver? — Carlos tomou o celular da mão de Charles, sem qualquer cuidado, e puxou a imagem com os dedos, dando um zoom em .
Sainz não sabia dizer se eram as taças de vinho que havia tomado ou se estava ficando louco, mas, de repente, sentiu um calor anormal naquele restaurante. A foto parecia simples, trazia, nessa ordem, Lily, Carmen, e abraçadas lado a lado, sorrindo para a foto. Lily fazia um sinal de paz e amor com a mão, Carmen e pareciam rir, quase como uma imagem com som e , no canto à direita, tinha o braço levantado, empinando levemente a bunda. O que chamou a atenção do piloto, talvez, tenha sido o biquíni que a modelo usava. Uma peça pequena, roxa, que Carlos deduziu ser um cortininha invertida e traçada. Na parte de baixo, estava com uma pequena calcinha de laços dos lados, delicada mas muito sensual, fácil de tirar e, de repente, ao se pegar pensando naquilo, os lábios do piloto secaram, imaginando a cena.
Não podia negar para si mesmo que aquela mulher mexia com ele.
E mexia de um jeito afrontoso, de um jeito inalcançável, como alguém que ele jamais seria bom o suficiente em conseguir, alguém que o desprezava e que não o queria. Como se tivesse que jogar um jogo, como se fosse uma corrida em que estava lutando pelo pódio, despertava nele sentimentos, vontades, que ele não tinha tido ainda com outras pessoas. Era novo, era intenso, era estranho e era quase impossível. O que o fazia querer ainda mais.
Carlos ponderou por um momento, observando a foto, se deveria mesmo recusar o convite para o golfe. Estava com seus amigos, não tinha realmente um compromisso formal com seus pais e não parecia nada mal ter uma nova chance de ver , de provocá-la. Dani não estaria lá para ser a pedra no sapato do dia e, bom, ele tinha uma teoria a comprovar. Se seus amigos estavam insinuando que havia algo a mais entre eles, Carlos ficou curioso em descobrir. Tinha certeza sobre o nada que sentia por , ao menos, era o que achava. Mas, talvez poderia testar a paciência dela um pouco mais para ver até onde ela iria com ele.
Um novo dia, uma nova oportunidade, uma nova competição. Com sorte, provaria seu ponto de que ela era, de fato, uma mimadinha fútil, ou, ao menos, teria aquela visão do paraíso que via na foto, bem em sua frente, ao vivo.
— Tudo bem, tudo bem, vocês venceram — Carlos devolveu o telefone a Charles e sorriu de lado — Vamos jogar golfe.
— Eles vem! — Carmen comentou alto, feliz em ler a resposta do namorado e logo deixou seu celular de lado, em cima da bolsa. Estava sentada em uma espreguiçadeira, com seus óculos de sol e uma água de coco ao lado.
— Todos? — Lily perguntou sorridente, apoiada na borda da piscina perto da amiga.
— Sim — Carmen puxou seu copo.
— Viu? Eu disse que ninguém resiste a uma partida de golfe — Lily riu.
— E por “todos” entendemos…? — se aproximou delas com o protetor solar na mão e se sentou na cadeira ao lado de Carmen. Tentou ser o mais casual possível em sua pergunta, sem transparecer o interesse particular em saber se ele também iria.
— George, Alex, Charles — Carmen enumerou, tentando se lembrar da mensagem de Russell, com o canudo de sua bebida na boca.
— Lando não topou? — Deitada de bruços em uma toalha no chão, perto de Lily, perguntou risonha — Não acredito!
— Ah sim, ele vem também, mas foi buscar a Lu — Carmen corrigiu.
— Ela está em Barcelona? — perguntou animada, colocando seu óculos de sol na cabeça — Saudades dela.
— Lando namora? — pareceu surpresa. Não tinha ouvido nada sobre a namorada dele ainda.
— Por que? Estava interessada? — brincando, Carmen se virou para ela.
— Não é exatamente no Lando que ela está interessada — Lily olhou sugestiva para a modelo, por baixo de seus óculos.
— O que quer dizer? — riu e negou com a cabeça.
— Australiano, alto, queimado de sol… — Lily começou, gesticulando.
— Super simpático, tatuagens bonitas, fica bem gostoso de laranja — Carmen pontuou e logo foi completada pela outra amiga:
— E não sabemos o que é maior: o nariz, o sorriso ou o…
— ! — Lily gritou histérica, rindo alto junto com as amigas.
— É brincadeira, gente — A empresária gargalhou e olhou para — Ou não. Mas já fiquei sabendo que foram embora juntos ontem.
— Quem foi a fofoqueira? — A modelo apontou para Carmen e Lily, que deram de ombros, desentendidas.
— Alguém no Twitter. Vi por acaso hoje no caminho para cá — contou — Tiraram umas fotos de vocês no bar ontem.
— Que merda — fez um biquinho — Mas, não rolou nada, meninas, e nem vai.
— Será? — Lily sugeriu.
— Não estou interessada nele — deu de ombros, sincera — Só nos damos bem, não sei… como Lily e Pierre, e Lando ou Carmen e Nicholas. Vocês têm mais amizade com alguns deles do que com outros, por afinidade, não sei, é o que… acho que está acontecendo comigo e com o Daniel.
— E você tem certeza disso? — Carmen perguntou mais séria.
— Sim! — concordou rapidamente com a cabeça — Na festa de Alex ficamos bastante tempo conversando, depois que ele levou um fora da menina que estava dando em cima — ela riu levemente — e eu ajudei ele ir embora para o hotel. Desde então, estamos nos falando sempre, trocando mensagens, conversando mesmo. E no bar ontem, aproveitamos bastante tempo juntos, porque ele iria embora de Barcelona hoje cedo já, e quando eu quis ir embora do bar, ele fez questão de me acompanhar, por segurança.
— Segurança… — repetiu.
— É sério — sorriu tímida para a amiga, que riu da cara fofa que ela fez — Ele é gentil, engraçado e muito carinhoso comigo. É um bom amigo.
— E você acha que, para ele, tudo isso é só amizade mesmo? — Lily perguntou pensativa.
não tinha pensado naquilo ainda. Havia se aproximado muito rápido do homem e tudo parecia tão natural e leve, que ela simplesmente não enxergou nada com segundas intenções. Acreditava que ele também nunca a tinha olhado de outra forma, senão com gentileza e educação, com a mesma simpatia que tinha pelas outras meninas do grupo. Não podia negar que Daniel era um homem bonito, carregava um sorriso lindo e suas tatuagens haviam chamado a atenção da modelo, incluindo a que o rapaz disse ter na coxa e que ela não pode deixar de ficar curiosa. Não havia parado para pensar no australiano de outra forma até as suposições das amigas, e, de repente, se pegou lembrando de cada momento com o amigo naquela semana. Será que todas as risadas, conversas e encontros tinham um duplo sentido para ele? De todo modo, não poderia responder aquilo. Chacoalhou a cabeça quando percebeu que divagava nessa história e voltou-se a focar novamente nas amigas ao seu redor.
— Eu acho que sim — A modelo finalmente respondeu — Para ele também somos só amigos, eu acho.
— Charles também era só amigo de até terça-feira passada — Carmen comentou, cutucando a modelo.
— Ainda somos amigos — protestou, apontando para ela — Com algumas coisas a mais agora. E é diferente.
— Concordo! — Lily encarou a amiga, se ajeitando na borda da piscina para não afundar — Charles sempre esteve namorando, desde que conheceu ele. Não podia acontecer nada. Terem se tornado amigos foi justificável, porque era tudo o que podiam ter um do outro naquele momento.
— Que lindo, amiga — zoou ela, recebendo uma pequena enxurrada de água de Lily, enquanto a jogadora continuava a falar:
— É sério isso! e Ric são solteiros, é outra história.
— Vocês estão ficando doidas, não é possível — riu — Não tem nada demais, meninas, é sério.
— Se você diz, amiga, tudo bem — ajeitou seus óculos de sol — Mas fique de olho no que acontece antes de tirar conclusões. Faz pouco tempo que se conhecem e não tem nada demais nisso, seriam um casal lindo.
— Demais! — Lily apoiou.
— Bom, se não rola nada com o Dani, eu vou ser obrigada a perguntar, então — Carmen gesticulou, ouvindo as meninas rirem baixo — E o Carlos?
Carmen jogou na roda, completamente do nada, vendo a expressão de mudar. Seu rosto fechou-se rapidamente e seu olhar de desprezo ficou evidente às amigas. Que o clima entre os dois era estranho, todas elas já tinham percebido. Mas, por algum motivo, parecia ter algo a mais entre eles. Algo que elas não conseguiam identificar, mas que já chamava atenção, algo que não queria assumir para ninguém, porque sequer assumia para si mesma.
— O que tem ele?
— Não sei — Carmen se fez de desentendida — Essa coisa toda de vocês viverem em pé de guerra me soa… como se tivesse algo a mais.
— Não tem nada a mais, na verdade — deu de ombros, tentando parecer normal — Ele é um babaca e confesso que fico admirada de vocês serem amigas dele.
— Não é para tanto, amiga — Tentando defender o amigo, sussurrou.
— Não entendi nada da briga de vocês ontem — Carmen comentou sincera.
— Eu também não — Lily falou alto — Estava tudo bem e, do nada, estavam discutindo de novo.
— Ai, não! Brigaram outra vez? — sorriu tensa para , que fez um biquinho frustrado, concordando com a cabeça enquanto dizia:
— Ele fala e faz as coisas de propósito para me irritar, não é possível.
— Eu conheço Carlos há algum tempo e eu nunca o vi falar assim com ninguém — Lily virou-se para a amiga, apoiando a cabeça no braço — Pelo contrário, ele sempre foi um perfeito cavalheiro com todo mundo.
— Isso é verdade, claro que a ex dele não conta, porque ela era bastante… estranha, mas Carlos nunca foi assim — continuou, pensando nas atitudes do piloto — Nunca foi implicante ou saiu brigando com alguém que mal conhece.
— Pois bem, meninas, parece que é um lado dele que estamos todas descobrindo agora, então — disse séria, dando de ombros — Ele é claramente arrogante! Não tentou ser simpático ou educado desde o primeiro momento em que nos conhecemos, parece que faz tudo de caso pensado comigo.
— Ele estava de cabeça cheia naquele dia e eu acho que vocês realmente precisam conversar sobre tudo o que aconteceu naquela festa — Mesmo que nada justificasse a atitude do piloto, tentou defender o amigo mais uma vez, porque sabia como Laura o deixava transtornado sempre que aparecia por perto. Era um assunto muito delicado para ele e não tinha como saber daquilo, era nova no grupo, sequer conhecia Laura.
— Você estava naquela mesa? Você ouviu como ele falou sobre minha profissão? — respondeu indignada apontando para ela. Lembrar das palavras do piloto ainda a deixava furiosa.
— Nós sabemos, amiga, eu também não gostei — suspirou — E não estou defendendo ele, quero que ele se desculpe e seja melhor com você, mas Laura é um ponto sensível para ele. Eles tiveram um relacionamento muito conturbado e quando a viu na festa, ficou furioso.
— Para você ter uma ideia, nem sequer convidamos ela para o aniversário — Lily interferiu, concordando com a amiga.
as encarava pensativa, refletindo sobre tudo o que as amigas estavam lhe dizendo. Podia, de fato, entender o lado dele se ele quisesse que ela o entendesse, se não fosse um brucutu que estava passando por cima dela, como se ela fosse Laura. Uma coisa não tinha nada a ver com a outra e, se Carlos não sabia separá-las, não seria a fazê-lo.
— Você deveria dar uma nova chance para ele, tenho certeza que ele pode te surpreender — disse empolgada, já imaginando como poderia aproximar o casal para que pudessem conversar.
— Eu não farei isso de jeito nenhum! Quem errou foi ele, então, é ele quem tem que me pedir desculpas — tomou um gole de seu suco, enquanto dava de ombros.
— Pelo jeito vocês dois são cabeça dura igual, por isso que combinam — Carmen riu sendo, enquanto a olhava com cara de indignação.
— Isso é verdade! Já imaginaram os dois como casal? Que lindo seria? — Lily entrou na brincadeira, deixando a amiga ainda mais furiosa.
— Com certeza Carlos a acompanharia em todos os desfiles, — refletiu, risonha — ia ficar compartilhando suas campanhas, cheio de orgulho…
— E eu seria o que dele? A namorada troféu? — revirou os olhos.
— Carlos tem cara de dominador — Lily ignorou o comentário da amiga, mas não pode continuar a conversa, porque rapidamente Carmen a interrompeu:
— E falando nele… — Carmen comentou baixo, olhando discretamente para
deixou seus olhos caírem sobre o ponto de entrada da área da piscina, por onde os homens chegavam, conversando. Com o comentário da amiga pairando em sua mente, sobre o piloto espanhol ser dominador, mordeu os lábios enquanto o observava se aproximando. Parecia distraído, conversando com os amigos como se nada mais estivesse acontecendo, cheio de si, confiante. Vestia uma camisa pólo azul clara, uma calça cáqui, tênis branco e mexia no cabelo, tentando deixá-lo no lugar certo, apesar do vento. Seu jeito despojado contrastava com a postura tensa que normalmente carregava, ao tempo que os amigos riam de algo que Russell havia dito.
— Achei que ele não viria, você não disse… — tentou dizer baixo para Carmen, mas sua fala ficou no ar, interrompida, assim que reparou no que acontecia ali.
Entrando na brincadeira de Alex, que apostava com Carlos que ele não entraria na piscina, assistiu o piloto espanhol tirar a camisa polo que vestia, sem qualquer ressalva e, em seguida, tirar sua calça. Sem conseguir se mover e nem desviar os olhos, ignorando os gritos dos amigos e das amigas ao seu redor, ela o encarava correndo em direção a piscina, só de cueca, até se jogar nela. Sainz tinha um corpo absolutamente perfeito. Um corpo que a fez esquecer de tudo por um momento, apagar as memórias que tinha com ele, as discussões. O peito malhado, o abdômen travado, as coxas bem definidas. Ele era forte, era atraente, era gostoso. E não podia negar aquilo. Definitivamente, não podia.
Aplaudindo a performance do amigo, os outros três logo se juntaram às meninas. As cumprimentaram brevemente e, fugindo dos ataques de água de Sainz, tentaram se sentar ali, se livrando das camisas e dos sapatos, mantendo-se de bermudas apenas. George se sentou na mesma espreguiçadeira onde Carmen estava, com ela sentada de costas para ele, entre suas pernas. Charles, que deitou em cima de ainda de bruços, para fazer graça, logo se deitou no chão ao lado dela, de barriga para cima, enquanto Alex tentou se sentar na borda da piscina para ficar perto de Lily, mas logo foi puxado para dentro dela por Carlos, e ficou abraçado à namorada ali, boiando pela borda.
— Acho que preciso de uma respiração boca a boca — A voz irritante de Carlos soou como uma bomba aos ouvidos de , que o olhou com desprezo. Com os casais se fechando momentaneamente em suas bolhas, não restou ninguém senão aquele folgado.
— Que pena que vai morrer, então — respondeu inexpressiva.
— Volto para te assombrar — Como um aviso, ele riu, arrumando os cabelos molhados para trás.
— Eu não duvido — Ela desviou seu olhar do dele no mesmo momento. Ele reparou e riu satisfeito.
— Por isso, então, você precisa me salvar — Carlos fez um bico, irritante — Vem.
— Vai sonhando, Sainz — A modelo revirou os olhos.
— Por que? Não pode se molhar? — Ele insistiu, provocativo — Faz mal para o cabelo? Para a pele?
— Deveria fazer mal para a sua língua, isso sim — Impaciente, se levantou.
— Eu sei o que faria bem para ela — O piloto rebateu, tirando da modelo uma risada alta, incrédula — Quer saber?
— Obrigada, mas, não quero.
— Está perdendo a chance da sua vida, — Ele deu de ombros, espirrando um pouco de água nela.
— Alguém já te disse que você é muito cheio de si? — A modelo sorriu cínica.
— Você, toda vez que me encontra — Ele respondeu simplesmente, jogando uma quantidade maior de água nela.
— Para! — Ela pediu, séria, mas ele apenas riu e continuou jogando água da piscina nela.
— Por que?
— Para, Sainz, que inferno — pediu novamente, em um tom de voz ainda mais alto e mais sério, como se pedisse a uma criança que parasse de fazer algo.
— Não quero — Ele deu de ombros, com um meio sorriso nos lábios.
— PARA! — Ela gritou, assim que sentiu ainda mais água acertar suas pernas.
— De jeito nenhum — Em um impulso rápido, ele, enfim, saiu da piscina.
E, apesar de ficar hipnotizada pela cena, por alguns instantes, ao ver aquele homem tão perto, tão gostoso, todo molhado, há um passo de distância dela, a única coisa que conseguiu fazer foi correr. E foi a melhor decisão possível. Porque no segundo seguinte, rindo, Carlos saiu correndo atrás dela, desviando dos obstáculos da área. não queria engolir seu orgulho e dar risada do momento, mas tudo parecia tão ridículo que ela não aguentou. Corria de um lado a outro rindo levemente, olhando por sob os ombros, até sentir os braços fortes e molhados, gelados, do homem a abraçar pelas costas.
Apesar de tudo não ter durado muito tempo, talvez dois ou três minutos, o calor do corpo dela no de Carlos, o fez se arrepiar por inteiro. O cheiro delicioso que emanava da nuca dela o fez fechar os olhos por um segundo e as risadas altas dela, enquanto tentava se soltar dele, tão frágil e tão delicada, o fizeram rir junto. Os sons que ele queria ter ouvido dela desde quando se conheceram, a sensação que sentia e que desejava que ela também estivesse sentindo por ele naquele momento.
Os amigos no local pararam de conversar por um segundo e se entreolharam sugestivos, como se conversassem pelos olhos. Sainz não deu tempo da modelo reagir ou dizer nada além de “me solta”, entre risadas, e meio minuto depois, correndo ela em seu colo, a abraçando por trás, se jogou dentro da piscina com ela em seus braços. Fazendo uma onda que molhou , Charles, Carmen e George, do lado de fora da piscina, eles dois logo voltaram para a superfície, rindo, respirando pesadamente.
Sem se dar conta daquilo, Carlos manteve as duas mãos na cintura de , quando se encararam de volta, enquanto ela segurava carinhosamente em seus braços. Trocaram um olhar intenso por alguns segundos, enquanto riram e recuperavam o fôlego. As gotas de água escorrendo pelos cabelos dele o deixavam ainda mais sensual naquele momento, reparou. As mesmas gotas de água que estavam paradas nos lábios dela e que chamaram a atenção de Carlos. Estavam mais uma vez próximos um ao outro, confusos com o momento, mas, pela primeira vez, em uma certa harmonia que não durou muito tempo.
— Eu te odeio, sabia? — comentou baixo, se esforçando em manter os olhos nos dele, sem muito sucesso. Sainz sorriu de lado, absolutamente charmoso e, descendo seu olhar até a boca dela mais uma vez, comentou baixo:
— Sabia.
O clima que pairou entre eles, naquele momento, foi absurdamente carregado e os seis amigos, ao redor, assistiam com ansiedade e expectativa, em um silêncio profundo. Tinham conversado com Carlos sobre naquele dia. E tinham conversado com sobre Carlos. Se, de fato, não tinham nada entre eles, o que era tudo aquilo? O casal seguiu próximo, se encarando, até, no segundo seguinte, uma voz alta e estridente os interromper, os forçando a voltar para a realidade e se afastar tão rapidamente que, quando se deram conta, já estavam fora da piscina.
— HORA DO GOLFE, GALERA!
— Tinha que ser — George murmurou risonho, vendo Lando se aproximar deles empolgado, de mãos dadas com a namorada.
O clima tinha se dissipado totalmente depois daquele momento, assim que Lando chegou com sua namorada, fazendo um escândalo, sem perceber o que interrompia ali. saiu rapidamente da piscina e, disfarçando o constrangimento do momento, foi cumprimentar o casal, se apresentando à namorada do piloto. Apesar de Luísa também ser modelo, nunca tinha tido a oportunidade de conhecer pessoalmente. A namorada do piloto da McLaren era uma grande fã de e sempre a acompanhou nas redes sociais, além de conhecer todos os trabalhos da mais velha. Por isso, quando se deu conta de quem se aproximava deles, se sentiu ligeiramente nervosa.
— É um grande prazer te conhecer, , sou uma grande fã do seu trabalho — Luísa comentou empolgada, soltando-se da mão do namorado e, em um gesto rápido, abraçou a outra modelo.
— Fico muito feliz por isso! Pode me chamar de — respondeu feliz, gostava de saber que era reconhecida, que tinham garotas que se inspiravam no seu trabalho — Eu já ouvi falar muito bem de você por aqui.
— Bom saber… — Brincando, a garota riu tímida e logo foi puxada pelo namorado para perto do restante do grupo, cumprimentando um por um com abraços, sentando-se próximo a Carmen e George.
Luísa estava ficando conhecida no mundo da moda e, sobretudo em Portugal, fazendo sucesso há algum tempo. Seu foco era em modelar para catálogos e tinha recentemente conseguido ser agenciada por uma das maiores empresas de modelos do mundo, por isso não era uma figura totalmente estranha para . Já tinha estampado capas de revistas e estava ganhando destaque no ramo, sendo disputada por algumas marcas, por ser muito talentosa e com um rosto único. estava feliz em conhecê-la. Feliz em poder fazer mais um contato importante naquele grupo e animada em ver que tinha mais uma delas para somar ao squad das meninas.
— Legal, agora que estamos todos aqui, quando vamos começar a jogar? — Lando chamou a atenção do grupo, depois de cumprimentar as meninas que ainda não tinha visto naquele dia.
— Por que essa pressa toda, Lando? Você não é nem bom jogando — Alex brincou com o amigo, tirando risadas de todos. Lando fez uma careta para o rapaz.
— Isso tudo é pressa para perder — George continuou provocando o amigo, que virava a piada do grupo e recebia um beijo rápido, de consolo, da namorada.
— Estou sentindo que hoje é meu dia de sorte — Lando esfregou as mãos, recebendo vaias dos amigos, que logo riram.
— Essa eu quero ver — Lily riu, saindo rapidamente da piscina, com Alex em seu encalço — Vamos começar logo essa partida.
Como as meninas já conheciam o local, esperavam que entrariam na piscina naquela tarde e já imaginavam que, em algum momento, seriam arrastadas por Lily para o golfe, tinham levado bolsas de mão com os itens que precisariam para passar o dia no clube, sem terem surpresas. Os meninos do grupo já estavam prontos e tinham apenas que vestir novamente suas camisas e tênis, com exceção de Carlos e Alex, que acabaram entrando na piscina - e, ao menos, precisariam de um banho rápido.
Lando e Luísa, recém chegados há pouquíssimo tempo, decidiram ficar na área da piscina, esperando pelos amigos, enquanto o restante do grupo saiu animado em direção aos vestiários, não muito longe dali. Com cabines individuais onde poderiam tomar banho e se trocar, cada casal acabou ocupando uma, em sequência: Alex e Lily na primeira, Carmen e George na segunda e e Charles na terceira. No caminho, combinaram de se encontrar na entrada do campo de golfe em, no máximo, 20 minutos, para não perderem a reserva, e seguiram o que tinham que fazer.
Como estava com sua mala no carro, já que deixaria Barcelona naquela noite para ir até a casa dos pais, no sul do país, Carlos decidiu ir buscar uma nova troca de roupas em seu carro, antes de ir para o banho. Tinha entrado na piscina de cueca e ela, certamente, não se secaria sozinha nos cinco minutos que ele levaria para tomar banho. seguiu andando, enrolada em uma toalha, até a última cabine que, coincidentemente, acabou sobrando. Estava distraída, respondendo algumas mensagens em seu celular, por isso, não notou que Carlos não tinha ido com o grupo até, menos de dez minutos depois, alguém simplesmente entrar no mesmo vestiário onde ela estava, se preparando para tomar banho.
— O que você pensa que está fazendo? — perguntou séria, parando repentinamente e levantando seu olhar até ele. Carlos parou logo em seguida, encostando na parede do outro lado do vestiário, de frente para ela.
— Vindo me trocar, ué — Ele respondeu no mesmo tom, enquanto segurava suas roupas em uma mão.
— Mas essa é a minha cabine — disse com obviedade.
— Eu percebi, mas acontece que essa é a única que sobrou também — Carlos já estava cansado daquela conversa — Olha, eu não vou ficar segurando vela para eles, então, como só sobra a sua cabine e você está sozinha, é aqui que vou me trocar — Sem cerimônia alguma, ele simplesmente fechou a porta, já colocando suas roupas sobre o banco que havia no centro do local. o acompanhou com o olhar, boquiaberta.
— Você só pode estar brincando… — A modelo riu sem reação, se perguntando qual pecado havia cometido para que Deus estivesse lhe castigando daquela maneira.
— Fica tranquila, não é como se eu fosse querer ver alguma coisa aí — Carlos deu de ombros rindo, pegando uma das toalhas do local e já se direcionando ao banheiro — Estou indo tomar banho, caso queira participar, a porta estará aberta.
não soube dizer se estava com mais raiva pelo teor da brincadeira, debochada, ou por ele achar que poderia, simplesmente, entrar ali e tomar banho antes dela. Ela ficou chocada com o comportamento dele e, quando se deu conta, Carlos já entrava rapidamente no box do banheiro que, por sorte, ou por azar, era fechado e não permitia ver quase nada lá dentro. Ele logo se livrou da única peça de roupa que vestia e a jogou propositalmente em , do lado de fora, querendo atingi-la. A modelo bufou, vendo a peça de roupa cair na frente dela, no chão.
— Seja rápido, Sainz, ou eu vou te matar. Não estou brincando — saiu do banheiro desgostosa e se sentou no banco que havia ali, enquanto organizava suas roupas na bolsa.
— Seria mais rápido, e ainda economizaríamos água, caso você entrasse aqui — Ele disse rindo, enquanto ouvia alguns palavrões serem do lado de fora do cômodo.
Sem ter mais o que fazer senão esperar pela princesa terminar seu banho, se distraiu com seu celular, respondendo alguns e-mails e mensagens de amigos, até, enfim, ouvir a porta do box ser, finalmente, aberta. O piloto saiu distraidamente, tirando o excesso de água dos cabelos com as mãos, envolto por uma toalha na cintura. Instintivamente, levantou seu olhar do celular para o homem, não deixando de reparar, novamente, no corpo perfeitamente esculpido do espanhol. Se perdeu ali mais do que gostaria de assumir, se distraindo com uma pequena gota que descia do abdômen do rapaz, indo em direção ao…
— Gostou da vista? — A voz cínica de Carlos cortou a atenção dela.
Ele tinha percebido o olhar nada discreto da modelo em seu corpo, mas não se surpreendeu. Sabia o que ele causava nas mulheres, já estava acostumado, mas apesar disso, ali, sobre o olhar observador e um pouco obsceno de , o rapaz não pode deixar de se sentir poderoso, mas também inseguro. Nunca havia sentido aquilo, algo em seu estômago pareceu reclamar, se contorcer, e ele se viu tentado a provocá-la novamente.
— Já vi melhores — respondeu na lata, se levantando e pegando a outra toalha. Abriu um sorriso irônico para ele e foi em direção ao banheiro, deixando o piloto bufando para trás.
— Aposto que sim… — Carlos debochou assim que a modelo passou por ele e entrou no banheiro, ouvindo o click da porta ser trancada atrás dela.
Achando a situação toda interessante, Sainz soltou uma risada baixa e foi se vestir. Não levou mais do que cinco minutos para estar pronto e sentou-se em um pequeno sofá perto da porta, pegando seu celular da bolsa assim que reparou no toque incessante que saia dele. Foi a vez de Carlos se distrair com o celular, vendo as diversas notificações que se acumulavam na tela de bloqueio e, assim que o piloto espanhol o destravou, o nome de Laura piscando na tela o fez bufar irritado.
Estava para conhecer uma garota mais insistente do que ela. Já tinham terminado, há meses, já não tinham mais nada e Carlos estava se esforçando, e muito, em ficar longe dela. Mas Laura parecia uma assombração. Irritado pela insistência da mulher, ele recusou a ligação e mandou uma mensagem para , com um print de tela da ligação, dizendo que “Laura não o deixava em paz” e pedindo ajuda para ela, para se livrar daquele tormento. Carlos sabia que a amiga não o responderia naquele momento mas, ao menos, se lembraria de falar pessoalmente com ela sobre o assunto mais tarde. E sem mais o que fazer, enquanto esperava, ele logo acabou se distraindo com o Instagram.
— Nós temos cinco minutos para estarmos lá fora, , dá para se apressar? — Carlos gritou impaciente, já pronto.
— Pode ir você, tchau — gritou de dentro do banheiro.
— E ficar de vela dos outros? — Carlos riu — Obrigado, corazón. Prefiro te aguentar enrolando para ser a última a chegar e se sentir a última bolacha do pacote.
— Claro — Ela bufou — Novamente: você não consegue ser agradável nem por um instante?
abriu a porta do banheiro, já saindo devidamente vestida e arrumada. Estava com uma camiseta preta simples, colada ao corpo, uma mini saia da mesma cor, tênis brancos e uma meia comprida, até abaixo do joelho. Trazia uma viseira preta com listras brancas na mão e logo a colocou, completando o look. Carlos, que estava sentado olhando o celular, se distraiu com as pernas da modelo, expostas pela roupa curta e delicada, bem na sua frente. Seu olhar foi subindo por ela, lentamente, captando cada detalhe da mulher que já organizava a bolsa e se virava de costas para o piloto, deixando-o com uma visão privilegiada.
— Gostou da visão? — Ela perguntou da mesma forma que ele, reparando no silêncio do homem e sentindo os olhos dele atrás dela. Desconcertado, Carlos se levantou rapidamente, ajeitando a roupa, sentindo um pequeno rubor no rosto.
— Já vi melhores — Ele rebateu do mesmo modo, sério.
— Jura? — virou-se novamente de frente para ele, sorrindo charmosa — Não é o que está parecendo, pela sua cara.
— O que te parece, então? — Carlos passou a língua pelos lábios, cruzando os braços.
— Que você gostou da minha roupa — o encarava nos olhos, levantando levemente o queixo.
— Gostaria mais dela se estivesse no chão agora — Carlos provocou, falando em um tom de voz mais baixo, sedutor.
— Ah, Sainz, você e seus contos de fadas comigo — riu alto — Mas preciso dizer que fico feliz que gostou da minha roupa e que ela vai te distrair durante o jogo. Pronto para perder em mais alguma coisa para mim?
— Se quiser mentir para si mesma, por mim tudo bem, não vou impedir suas fantasias comigo — Ele sorriu intenso para ela, pegando a carteira e o celular, os colocando no bolso — Mas, saiba que, você não conseguiria me vencer de qualquer forma, usando essa roupa ou qualquer outra. Ou nenhuma.
— Você quer apostar? — propôs séria, vendo o piloto pegar sua bolsa e se virar novamente em sua direção, finalmente, reparando na pose autoritária e confiante dela.
— Com você? — Ele riu debochado — Não. Não quero te humilhar.
— Vamos deixar as coisas mais interessantes, Sainz — insistiu, semicerrando os olhos.
— Tornar as coisas mais interessantes… — Carlos ponderou, tentado em aceitar a proposta — O que você quer apostar? — Ele sorriu molhando os lábios com a língua, observando a boca da modelo, que parecia tão convidativa.
— Certo, vou pensar em algo realmente interessante, tendo em vista que você ainda me deve algo que perdeu no pôquer.
pensou sobre o que gostaria de ter do piloto.
Dinheiro já tinha aos montes, jóias fazia coleção e seu pai sempre lhe presenteava, não usava relógios e, na verdade, já tinha tudo o que queria e tudo o que poderia imaginar. Não podia pedir nada singelo, nem simples ou fácil demais para Carlos. Precisava ser algo desafiador, algo que mexia com o piloto, que abalaria suas estruturas, que o irritaria profundamente em perder para ela. reparou nos lábios do homem, que possuía um sorriso presunçoso, enquanto ela pensava. Podia pedir ele? Não, era melhor não. Ter ele só daria a chance para que fosse mais uma de sua lista, e isso ela não queria de jeito nenhum.
— Se eu ganhar, vou querer… — pensou por mais um segundo, até uma ideia estalar em sua mente — Eu vou querer o seu carro.
— Tudo bem, fácil — Carlos deu de ombros — E, se eu ganhar, você terá que sair comigo para um encontro.
Apesar da voz e da postura confiantes, Carlos tentou não deixar transparecer seu nervosismo ao ouvir o que ela havia pedido. Nunca teve uma grande coleção de carros, como os amigos. Até pouco tempo, dirigia o Golf que havia ganhado de seu pai, aos 18 anos, e só quando começou a correr pela Scuderia Ferrari resolveu aposentar o melhor amigo, adquirindo um modelo da marca italiana - um 812 superfast, com motor V12 de 800 cavalos na cor vermelha, um veículo potente, charmoso e elegante, assim como o dono.
Por isso não hesitou na contraproposta. tinha mexido em algo que era verdadeiramente significativo e importante para ele, que se perdesse o deixaria mal. E ele sabia que o fato de terem um encontro a irritaria pelo resto de sua vida, porque ela teria que passar por cima do orgulho, teria que engolir as palavras e a postura, a rejeição que tinha por ele. E, no fundo, não seria nada mal para ele: a faria perder o jogo, a aposta, e de quebra, ainda poderia ter um jantar com a mulher, que usaria para provocá-la pelo resto dos dias que se encontrassem. Com sorte, a levaria em seu carro, para piorar um pouco mais o cenário.
— Combinado! — respondeu alguns segundos depois, subindo sua mão até a altura do piloto para selar o acordo.
— Isso vai ser divertido — Carlos segurou a mão da mulher, a apertando — Será um grande prazer te vencer, cariño.
Ignorando as sensações que ambos sentiram naquele momento, a modelo rapidamente separou-se do rapaz, já soltando sua mão e dando as costas para ele, enquanto abria a porta do vestiário e saia em direção ao corredor. Carlos riu, dissipando o misto de sensações que sua mente e seu corpo sentiram naquele momento, fechando a porta atrás de si e correndo para alcançá-la. Sem dizer nenhuma palavra mais, levaram cerca de três minutos até chegarem à entrada do campo de golfe, onde os amigos os aguardavam, ansiosos. Assim que repararam que os dois estavam juntos e atrasados, um nítido burburinho de fofocas surgiu entre eles, mas logo foi dissipado, assim que eles se aproximaram.
— Ah, finalmente! Achei que tinha te matado e escondido o corpo, cara — Alex brincou. Para cara deles, ambos pareciam irritados e Albon se perguntou o que infernos tinha acontecido.
— Foi por pouco — brincou de volta, com um pequeno fundo de verdade.
— Espera, vocês estavam juntos? — Charles franziu a testa — Tipo, no mesmo… vestiário?
— Ih, o que rolou? — Carmen perguntou curiosa.
— Aí, você é a nova namorada do Sainz? Nem tinha me ligado disso, que legal — Luisa bateu uma mão em sua testa, rindo da própria confusão.
— Não somos namorados — tentou responder educadamente, mas sua voz saiu mais ríspida do que ela gostaria. Luisa trocou um olhar confuso com Lando, que gesticulava que depois explicaria para ela. De fato, ela ainda não estava por dentro dos últimos acontecimentos.
— E nem temos nada — Carlos bufou, negando com a cabeça.
— Não têm nada mas estavam tomando banho… juntos? — Alex parecia confuso e logo levou uma tapa leve na cabeça, de Lando, que respondeu:
— É, cara, já ouviu falar de sexo casual?
— Desde quando você curte sexo casual, Carlos? — Olhando o melhor amigo, riu. Carlos abriu a boca para protestar, mas George foi mais rápido do que ele.
— Sainz não curte sexo casual? Desde quando? — George encarou , levantando as sobrancelhas.
— Teve ou não teve banho juntos, afinal? — Foi a vez de Lily perguntar.
— Não teve nada, se querem tanto saber. E agora, por que não vão todos procurar o que fazer? — olhou irritada para eles.
— Vamos nos concentrar no golfe, ok? — Tentando amenizar a rispidez da mulher ao seu lado, Carlos sorriu simpático para os amigos, que deram de ombros. Aquele assunto estava estranho, para todos eles, mas certamente não seria resolvido ali e, muito menos, com aquela enxurrada de perguntas.
— Vamos eu, , Lando, Lu e Carlos — Charles apontou para o grupo e, em seguida, para o carrinho de golfe estacionado próximo a eles.
— Eu dirijo — Lando se apressou em ir em direção ao carrinho.
— Nem ferrando — Charles logo correu atrás dele. Deixadas para trás, e Luisa trocaram um olhar, revirando os olhos, e riram.
— Bom, galera que sobrou: vamonos — Alex chamou George, Carmen e , puxando Lily pela mão, sentido ao outro carrinho.
O grupo começou a partida alguns minutos depois e, um por um, iam se enfileirando, enquanto começavam a dar as primeiras tacadas, celebrando aqueles que conseguiam jogar a bola mais longe ou mais próxima do buraco, zoando aqueles que não tinham muito sucesso. O golfe era um esporte tranquilo e silencioso, mas, naquele momento, os cinco casais falavam alto, se provocavam e riam. Tiravam fotos uns dos outros e gravavam os péssimos desempenhos de Lando e em campo, que mal pareciam saber jogar e causavam risadas, não só no grupo, mas nas pessoas que tentavam jogar próximas a eles e observavam os jovens, ricos e do seleto grupo se divertirem.
Os únicos que pareciam jogar sérios e concentrados eram Lily, Alex, Carlos e , sendo os dois últimos meramente pela batalha feroz e silenciosa, para saber quem era o melhor. Os amigos não sabiam da aposta, por isso, achavam que toda aquela provocação, competitividade e os olhares sérios eram apenas mais dos momentos que o casal já parecia compartilhar fora do campo.
Cerca de vinte minutos depois, perdendo para a namorada, Alex saiu do jogo e, na sequência, devido a uma distração do grupo, Lily acabou desistindo, se juntando aos amigos. Todos pareciam meio cansados e, espalhados pelo quilométrico gramado, estavam sentados, assistindo ao final da partida e comentando os movimentos dos amigos em jogo. Inevitavelmente, e Carlos haviam sobrado e, agora, disputavam a tacada final. Deveriam encaçapar a última bolinha no buraco, há alguns metros de onde estavam, considerando as dificuldades de curvatura do terreno um pouco acentuado e com o vento não muito a favor deles.
— Quem vocês acham que vence? — George observava a movimentação dos amigos e como deveriam jogar — Estou apostando na .
— Minha aposta é no Sainz — Lando tomava uma água e deitava-se nas pernas da namorada, que estava sentada no gramado — Não posso trair meu amigo.
— Como eu já joguei com ela, minha aposta é na — Lily comentou, sentando-se no chão, ao lado de onde e Charles estavam.
— Carlos é bom no golfe também, mas eu não sei se voto nele — No meio das pernas de Charles e deitada no peito dele, pensou alto.
— Qual é? Vocês precisam dar uma moral para o cara, imagina perder em outro jogo para ela — Alex riu, lembrando-se da festa em que o espanhol perdeu no pôquer para a modelo.
— Aí a gente deixa ele só pilotando mesmo, é o melhor… isso se ela não souber pilotar também — Assim que Russell comentou, o grupo riu alto, chamando a atenção do casal que estava um pouco mais a frente, estudando, rapidamente, a melhor estratégia para não errar suas tacadas finais.
— Está preparada para jantar comigo? — Carlos sorriu enquanto se levantava, já preparada para jogar.
— Nunca ouviu dizer que “quem ri por último, ri melhor”? — se abaixou levemente outra vez, a bolinha sobre o pino enfiado na grama — Cuidado para não se vangloriar antes da hora, cariño.
Carlos não pode deixar de reparar no apelido que a mulher usara para se referir a ele. Havia saído calmo e sensual e, de repente, ele se pegou repetindo novamente em sua mente. aproveitou a distração do homem para se concentrar e, alguns segundos depois, deu uma tacada forte e precisa. Todos ficaram em silêncio, observando o caminho da bola até que, sem surpreender metade dos presentes ali, ela entrou no buraco. arregalou os olhos e gritou animada, já dando pulos de vitória enquanto o espanhol observava impassivel, sem qualquer reação.
Ele não podia errar.
Precisava vencer aquela partida, a qualquer custo. Sainz respirou profundamente, arrumou sua bolinha na posição e, então, desligou-se de tudo por um único minuto. Quando abriu os olhos, sua visão focou no objetivo que tinha em mente e, em uma tacada tão firme e precisa quanto a de , ele bateu seu taco, arremessando a bolinha na mesma direção da dela. O que aconteceu, contudo, por uma pequena ironia do destino, é que a bolinha parou há alguns centímetros do buraco, não tendo forças o suficiente para entrar, dando, enfim, a vitória a modelo.
— Eu venci? — perguntou em um sussurro, tinha os olhos arregalados e um sorriso que ia crescendo em seu rosto a cada segundo, conforme ia se dando conta de que, de fato, tinha vencido — EU VENCI!
Em um movimento rápido, logo se virou de frente para onde os amigos estavam, ouvindo os aplausos animados deles. Celebrando a vitória, feliz, ela correu em direção a e Lily que, animadas, se levantaram e abraçaram a amiga, ao mesmo tempo. Carlos, por sua vez, manteve-se parado onde estava, estático, inconformado. Seus olhos iam da modelo celebrando com os amigos até o buraco no campo, como se ele quisesse garantir que aquilo tinha mesmo acontecido, que sua bolinha não tinha, de fato, alcançado o buraco. Não era possível.
Carlos tentou manter sua postura firme, controlando conscientemente a respiração, tentando não se abalar, nem se irritar em ter perdido. Sua mente, contudo, jogava milhares de informações e seu coração parecia acelerar, seu corpo esquentava, e Carlos sabia que não demoraria muito para perder a paciência. Tinha deixado seu taco cair ao chão e, assim que viu o olhar presunçoso da modelo sobre si, sentiu que poderia explodir de vez. A modelo emanava uma alegria radiante e, se não estivesse tão irritantemente se achando por aquilo, estaria linda.
— Eu venci Carlos Sainz… de novo — Ela cantarolava, dando alguns passos na direção dele, se achando — Como se sente perdendo para mim outra vez?
— Outra vez? — Carlos riu debochado. Podia sentir a fúria crescer dentro de si, odiava perder. Por apenas alguns centímetros a modelo havia não só ganhado aquela partida, mas também a aposta.
— Você parece irritadinho, Sainz, o que aconteceu? — queria ouvir dele que tinha perdido para ela, mas Carlos não a daria aquele gostinho.
— Quer saber? — Carlos negou com a cabeça, sem querer deixar-se consumir pelo momento — Foda-se, não vou discutir com você.
— Não precisa discutir — riu — Só precisa cumprir com a sua palavra.
— Eu não vou te dar o meu carro — Colocando as mãos na cintura, Carlos negou com a cabeça, a olhando nos olhos. O grupo de amigos que, até então, observava a cena em silêncio, de repente, pareceu não entender nada.
— Que história é essa? — Confuso, Charles olhou de para Carlos.
— Dar o seu carro? — Russell franziu o cenho.
— Nós apostamos — Carlos explicou irritado — Se eu perdesse a corrida, teria que dar o meu carro para ela.
— Você apostou o seu carro? — perguntou pausadamente, chocada.
— Sim — Foi tudo o que Carlos conseguiu responder, se amargurando pelo maldito momento em que topou aquilo. O olhar nitidamente surpreso e meio bravo de podia dizer muita coisa para ele naquele momento, mas Carlos o interpretou de uma única forma: tinha feito merda e tinha se fodido.
— E ? O que te daria? — Lily logo perguntou, curiosa.
— Caso ele vencesse, o que, vamos ressaltar, não aconteceu, eu teria que sair com ele — riu debochada, dando de ombros — Então, como eu venci, vou embora daqui hoje de Ferrari.
— Eu não acredito que você fez isso, Carlos — Charles dizia indignado. Sabia como ele amava aquele carro, era seu grande amor e se ele havia apostado aquilo, ele realmente achava que poderia ganhar. Pobre garoto.
— Você não pode aceitar o carro, — tentou convencer a amiga, mas negou com a cabeça, a olhando. Não estava entendendo o drama todo dos amigos.
— É só um carro, .
— Não para ele — Hermann insistiu, olhando de para Carlos, preocupada com aquela aposta. George e Alex concordavam com a cabeça.
— Por isso mesmo, não vou entregar meu carro — Carlos reforçou.
— Deveria ter pensado nisso antes de apostar ele, Sainz — cruzou os braços. Estava decidida a ter o que tinha ganhado naquele dia — Precisa cumprir sua palavra agora. Ou nem isso você consegue fazer?
— Pega leve, — Alex murmurou.
— Gente, isso passou muito dos limites — Carmen parecia perplexa.
— Eu não apostaria meus carros nem fodendo — Lando deu de ombros e se virou para a namorada — Nem com você, amorzinho.
— Você não me deixa nem dirigir eles direito, — Luísa revirou os olhos, rindo da cara que o namorado fazia — muito menos correria o risco de perder um deles para mim.
— Claro, porque isso é loucura — Lando arregalou os olhos, vendo Alex concordar com a cabeça ao seu lado.
— Vocês dois são loucos, onde já se viu… — Lily disse séria, como se os repreendesse.
— Ninguém vai levar nada de ninguém hoje — concordou com a amiga, tentando delicadamente resolver a situação.
— E vocês dois precisam parar com isso — Alex cruzou os braços, preocupado — Sem mais jogos ou apostas.
— Antes que dê alguma merda — Charles os olhou, abraçando de costas, pela cintura — É sério.
— Vocês só podem estar de brincadeira, quanto drama — riu, revirando os olhos — Se bem me lembro, todo mundo participou quando apostamos no pôquer e ninguém se importou em perder nada.
— Era diferente — Lando pensou alto.
— Não, não era. Aposta é aposta, no pôquer ou no golfe, e eu ganhei — olhou para o grupo e, voltando-se para Carlos, à sua frente, respondeu triunfante: — E, então, qual vai ser?
Carlos parecia quieto, aflito. Ficou alguns segundos ponderando o que deveria fazer, pensando se, de fato, aquela aposta era real ou não passou de um dos surtos de provocações deles dois. Apesar dos amigos falarem sério ali, e de parecerem mais preocupados com a conduta dele e de do que deveriam, Carlos não viu sequer um único traço de hesitação na mulher à sua frente. Pelo contrário, o olhava de cima, sorria com poder e com um certo cinismo, aproveitando o máximo que podia da sensação de, outra vez, tê-lo vencido. Ele já estava devendo algo a ela desde o dia em que perdeu no pôquer, não deveria mais nada, não dessa vez também.
Era um homem de palavra e, mesmo custando acreditar que perderia uma das coisas mais importantes que tinha na vida para a mulher a sua frente, ele manteria sua integridade. O que era um carro para ele, afinal? Poderia ter outros, quantos e quais quisesse. Não deveria se mostrar abalado por aquilo. Por que estava? Estava certo que, quando os amigos falaram mais cedo que ela sabia jogar golfe, pensou que fosse como Lando, algo casual e sem muito conhecimento. Não se imaginou jogando com alguém mais próximo de Lily, de jeito nenhum. O que foi que aconteceu ali? Carlos não sabia explicar. Só tinha certeza de que estava tão irritado que não queria mais pensar naquele assunto, que não queria mais ficar ali, se sentindo humilhado na frente de todos os seus amigos e que, definitivamente, naquele dia, não queria mais ver aquela mulher na sua frente.
Sainz bufou impaciente e, tirando a chave de seu carro de seu bolso, a entregou sem qualquer cuidado para a mulher, que permanecia com as mãos esticadas, esperando pelo prêmio. sorriu satisfeita, vitoriosa, mas sentiu seu coração apertar assim que Carlos passou por ela, furioso e um tanto magoado, e murmurou áspero:
— Parabéns, , aproveite o que não é seu — Ele sequer a olhou — E não precisa mais falar comigo.
Capítulo 4
Milão, Itália
Dois meses depois
Após dias inesquecíveis ao lado dos novos amigos, precisou retornar a Milão, onde morava sozinha em um belíssimo apartamento. Decidiu cancelar a passagem aérea que tinha agendada e, querendo mais um tempo tranquilo para si mesma, para colocar tudo o que sentia de volta em seu lugar, voltaria para a cidade italiana com seu novo carro - não exatamente novo e nem exatamente seu, mas adquirido naquela tarde, depois de vencer a aposta contra o piloto espanhol. não se esqueceria daquilo. Ao menos, não tão cedo. Carlos saiu bufando do campo, a ignorando de um jeito diferente, magoado, talvez. As palavras duras, que a parabenizaram com tanta ironia e que a avisaram de que ela não precisava mais falar com ele, rodavam em sua mente ao longo do caminho, incansáveis, reflexivas, até ela finalmente chegar no hotel.
não sabia exatamente o porquê de Carlos ter reagido daquela forma. Para quem vivia em competições, não parecia ter um espírito muito esportivo para elas, não sabia perder. Apesar disso, contudo, aquela situação a incomodou. E a acompanhou de volta para casa, apesar de seus esforços em levar tudo aquilo com naturalidade. Talvez não devesse ter levado a aposta tão a sério. Talvez devesse ter sido mais inflexível. Mas se fosse ela quem tivesse perdido, Carlos teria sido inflexível com seu prêmio? Não importava, de todo modo. Já estava feito.
Sainz, por sua vez, precisou voltar de carona com até a casa dos pais, no sul do país, onde ela também vivia. Nunca havia sentido tanta raiva por alguém como sentiu naquela tarde e passou o caminho todo em silêncio, remoendo, observando a paisagem correr pelo vidro da janela, irritado. Sua cabeça doía enquanto ele estudava o porquê tinha perdido aquela partida e simplesmente não podia se conformar. Em ter pedido, em ter apostado seu carro, em ter conhecido . Um pesadelo e um sonho que se misturavam, que o estavam enlouquecendo até, finalmente, chegar na casa de seus pais. Tinha que pensar. Tinha que dar um jeito de sair daquela situação, de se sentir melhor. Tinha que entender como se vingaria da modelo ou, ao menos, como conseguiria seu carro de volta.
estava exausta e, pelo horário, achou melhor voltar para o hotel, arrumar suas coisas, descansar e sair no dia seguinte. Mas ficou tão ansiosa para ir embora logo da Espanha que deixou o hotel quando começou a anoitecer. Com a ajuda de um funcionário, conseguiu colocar as malas no veículo, se sentou no banco do motorista e aproveitou para se acomodar, já que teria uma longa viagem pela frente. Deixou sua garrafa de água jogada no banco do passageiro e achou melhor se livrar de tudo o que havia de Sainz dentro do veículo, como se aquilo fosse ser o suficiente para limpar ele de seus pensamentos. reparou que o carro estava relativamente limpo e organizado, como se tivesse sido lavado há alguns dias e virou-se, procurando qualquer coisa no banco de trás, chão, se certificando de que não encontraria nada dele. Encostando-se no banco e fechando os olhos por um segundo, ela respirou fundo e, enfim, deu partida no carro.
O caminho até Milão seria longo, aproximadamente nove horas e meia de viagem a esperavam, mas, com uma Ferrari e rodovias sem limite de velocidade, ela imaginava conseguir chegar em menos tempo. Estava preparada para amanhecer já na Itália, de volta a sua casa e a sua tranquilidade, onde poderia aproveitar os últimos dias de férias em paz e longe dos caóticos e divertidos dias de Barcelona. Algumas horas depois que partiu, contudo, ela resolveu parar na estrada para abastecer e comer alguma coisa, esticar as pernas e usar o banheiro. Pagou por um snack qualquer e um refrigerante sem açúcar, que se arrependeria de tomar no futuro próximo, e voltou ao carro para comer no conforto e na solidão.
Enquanto comia seu lanche, em silêncio, pegou-se observando o painel do veículo, ligou o rádio e decidiu deixá-lo ligado, assim que ouviu os primeiros acordes dos violinos de Heartbreak Anthem (Galantis, David Guetta ft. Little Mix) preencherem o ambiente, tão confortável, triste e festiva - talvez um pouco de tudo o que ela estava sentindo naquele momento. respirou fundo e seguiu mexendo nos botões do painel, até, sem querer, acabar abrindo o porta luvas. Curiosa, entediada e querendo afastar os pensamentos que aquela música a faziam ter, sobre tudo o que tinha acontecido naqueles dias, sobre Carlos, ela fuçou o repartimento.
E não podia ter feito pior escolha.
Encontrou ali alguns documentos de Sainz, um par de óculos de grau, uma caneta Montblanc, alguns papéis com coisas anotadas que não faziam sentido e uma porção de camisinhas, que a fez revirar os olhos. “Típico”, ela pensou. , contudo, seguiu mexendo no porta-luvas e, então, parou sobre um objeto que estava no canto e ao lado direito, embaixo de alguns papéis. Pelo tato, parecia um chaveiro e ela não demorou muito a confirmar sua teoria, ao tirá-lo lá de dentro.
Em formato de círculo, o chaveiro pequeno e delicado, prateado, estava junto com o que parecia ser uma chave de carro antiga. deu uma olhada com cuidado naquilo, curiosa, reparando no discreto feixe do chaveiro que, ao ser aberto, revelava um pequeno e delicado relicário. se perdeu encarando aquilo, sem saber quanto tempo ficou em silêncio, apenas deixando a música a invadir enquanto seus olhos se emocionavam com o que via.
Em sua mão, no relicário, tinha uma pequena foto de Carlos com seus pais, quando ele ainda era pequeno. O piloto sorria feliz enquanto abraçava o casal, um de cada lado, que estavam agachados, para ficar na altura da criança. não pode deixar de sorrir. Carlos parecia ter um carinho muito grande pelos pais e ela se pegou lembrando da forma que o casal falou sobre ele. Tinham muito orgulho do filho que tinham, admiração pelo homem que parecia ter se tornado nos anos. E, de repente, aquilo a atingiu. E se pegou imaginando Carlos pequeno, correndo pela casa enquanto os pais ficavam malucos; ficou imaginando como o piloto tinha crescido, a vida no kart, a admiração pelo próprio pai nas pistas, a paixão que cresceu em seu peito por aquele mundo, que o transformou no que era hoje, como foi com ela mesma pelas passarelas.
sorriu sozinha pela cena que recriou em sua mente, enquanto delicadamente guardava o chaveiro de volta no porta-luvas. Aquele era o mundo de Carlos. E talvez aquela fosse uma parte do verdadeiro ele. O cara organizado, que levava uma chave velha com uma foto de sua família por onde ia, que valorizava suas raízes, seu papel no núcleo familiar. O cara que estava lindo na foto do documento que esqueceu ali, que tinha um gosto excepcional por perfumes a tirar pelo que ficou feito um rastro no cinto de segurança do carro. Talvez aquele fosse Carlos Sainz. Não só o piloto de Fórmula 1. Mas alguém que se orgulhava de suas raízes, de sua família, de quem era e de onde estava.
O cara que queria ter conhecido.
O cara que , talvez, um dia, pudesse conhecer e, quem sabe, devolver o chaveiro.
Dois meses haviam se passado desde então e trabalhava em um ritmo frenético. Havia feito algumas viagens pela Europa e Estados Unidos, cumprindo agendas com desfiles atrás de desfiles, capas de revistas, entrevistas, eventos e assinando mais e mais contratos para aquele ano e para o próximo, incluindo com empresas que sempre sonhou trabalhar. Teve alguns eventos de amigos próximos, visitou seus pais por alguns dias e seguia dia após dia em uma agenda quase que caótica. Sua vida estava cheia, seu trabalho a mantinha ocupada e bastante satisfeita e, ainda sim, conseguia manter contato com as meninas. No grupo que fizeram, onde ela, Lily, , Carmen e Luisa participavam, elas conversavam diariamente, faziam chamadas de vídeos para atualizar umas às outras de suas vidas e até conseguiam sair juntas eventualmente, quando estavam coincidentemente no mesmo país. A amizade entre elas só se fortalecia e pareciam a cada dia mais conectadas umas às outras.
estava prestes a lançar uma nova coleção de outono/inverno da Hermann e, depois de alguns estudos de casting, convidou para ser uma das modelos. Como estavam bastante próximas, seria uma ótima oportunidade para as duas, finalmente, começarem a trabalhar juntas. Apesar da agenda lotada, aceitou o convite no mesmo momento em que o recebeu, honrada pelo reconhecimento e realizada em poder trabalhar para uma das marcas mais cobiçadas do momento.
Por isso, dois meses depois de Barcelona, estavam as duas em Milão, no atelier de na cidade, se preparando para o desfile da Hermann que aconteceria no final de semana seguinte. Entre as atividades preparatórias que corriam em fazer na segunda e terça, a quarta-feira chegou rápida e as duas mulheres estavam, naquela tarde, reunidas junto com o restante do elenco de modelos para as provas finais de roupas, maquiagem e cabelo. Cada detalhe era crucial e estavam repassando todos eles exaustivamente, se certificando de que absolutamente nada fosse sair do planejado.
Como aquele era um momento muito importante para a carreira de , por ser a primeira coleção cem por cento desenhada por ela mesma, e muito especial para a carreira de , por representar uma das maiores marcas do mundo, as outras meninas do grupo fizeram questão de encontrar espaço em suas agendas para participar. Tinham lugares reservados na primeira fila do desfile e combinaram uma noite das garotas para a sexta feira, véspera do evento, já que Lily, Carmen e Luisa chegariam mais cedo naquele dia. Naquele final de semana, em especial e por coincidência, não haveria corrida, por isso, Charles também havia confirmado sua presença, avisando que chegaria apenas algumas horas antes do desfile, devido a uma reunião na sede da scuderia.
— Daniel me disse que o Charles vai vir para o desfile, por que não me contou? — perguntou empolgada, enquanto a amiga confirmava algumas de suas medidas, observando sua assistente se afastar delas.
— Não sabia se ele viria mesmo — Falando baixo, levantou o olhar até a modelo, que concordou sorrindo.
— Você acha mesmo que ele perderia esse momento? — levantou as sobrancelhas, encarando a amiga — E que perderia uma chance de te ver?
— Estamos tentando ir devagar. Não quero apressar as coisas com ele, então, não quis criar muita expectativa de que ele viria e nem contar para ninguém, até porque nem eu sabia direito se ele conseguiria chegar a tempo, só confirmou hoje de manhã — riu tímida, encolhendo os ombros levemente — Já tinha até outra pessoa cogitada para sentar no lugar dele.
— Como assim tinha outra pessoa para sentar no lugar dele? — riu incrédula — Qual é o seu problema, ?
— Não sei — A amiga riu, dando de ombros — Acho que, no fundo, eu não esperava que ele viesse mesmo, sabe?
— Não, não sei! Acho que vocês têm ressalvas demais ainda, um com o outro. E entendo que estejam indo devagar, porque não querem tornar tudo muito público, mas vocês merecem ser felizes e não deveriam esconder algo tão lindo e genuíno dessa forma, a ponto de, às vezes, esconder até de vocês mesmos — sorriu para a amiga, que a ouvia com atenção. Depois de ouvir cada detalhe da história do casal, tudo o que a modelo sabia era que eles pareciam perfeitos um para o outro, mas ainda pareciam meio inseguros com o que o outro sentia — Vocês tem mais é que viver tudo o que sentem um pelo outro mesmo, .
— Eu sei, mas ainda é cedo para ir fundo assim, eu acho — terminou de anotar no croquis onde teriam que fazer ajustes finais na roupa de , desviando o olhar da amiga — Charles já é conhecido por ficar pulando de uma namorada para outra, não quero ser só mais uma na lista de namoradas e, bom, se eu não for a namorada, nunca terei a decepção de ser só mais uma.
confessou baixo, indo se sentar no sofá que estava ali próximo a elas, no atelier. Conhecia a história dos relacionamentos passados de Charles, o caos envolvendo as amigas, as indecisões que ele tinha, o quanto se permitia envolver com outras pessoas, como se deixou com ela própria. Apesar de ser perdidamente apaixonada por ele, ainda tinha certas ressalvas se, de fato, ele estava no mesmo momento em que ela, se queria mesmo entrar naquilo que começavam a ter com a mesma intensidade que ela queria.
Charles a dava confiança, sim. Passava segurança quando dizia o que sentia por ela e não se esforçava em esconder nada. Pelo contrário, estava lidando naturalmente bem com todos os rumores que a mídia fazia sobre eles dois e sequer se importava em responder perguntas sobre ela ou falar abertamente que sim, se conheciam e sim, saiam juntos. Talvez estivesse pensando demais e se permitindo viver de menos. O fato era que ela não sabia exatamente o que estava fazendo.
— Você nunca será só mais uma para ele, ! Já viu a forma que ele sorri quando te olha? — virou-se para a empresária, sem se preocupar em estar apenas de lingerie — Você viu como ele fala sobre você quando perguntam? Ele te manda presentinhos, ele te liga por vídeo chamada quase todos os dias! Pelo amor de Deus, ! O que mais falta?
— É só que... tenho medo de apressar as coisas, as pessoas e a mídia caírem em cima da gente e acabar estragando tudo. Tivemos dois anos estranhos e, agora que tudo parece começar a dar certo, não sei, tenho medo de dar errado, eu acho — riu baixo, estava sendo sincera, suspirando enquanto deixava uma agulha que encontrou em cima do sofá sobre o pequeno e delicado agulheiro na mesinha ao lado.
— Não vai estragar nada, amiga, nem nada vai dar errado. Só não deixe de ser feliz por algo tão fútil como a opinião dos outros ou da mídia — abraçou a amiga, que a agradeceu baixinho, e logo foram dissipando aqueles pensamentos — Vamos, você tem o maior desfile do ano para organizar.
— E você precisa me contar que história é essa do Daniel estar fofocando coisas para você — a olhou sugestiva, rindo da cara da amiga.
— Não tem história nenhuma. Ele só disse que Charles não para de falar de você e comentou no grupo deles que estaria em Milão, para o desfile, se algum deles quisesse vir também — A modelo riu junto, dando de ombros — Foi só isso.
— Só isso mesmo ou Dani já está indo para próxima etapa com você? — A empresária seguiu cutucando, mas sequer se abalou.
— Não tem próxima etapa, — A modelo revirou os olhos, sorrindo — Somos amigos e nos falamos sempre. Continua sendo só isso — fez uma breve pausa, pensativa, e antes que a amiga pudesse continuar aquele assunto, ela emendou: — E algum deles vem junto com o Charles?
— Acho que não, porque ele confirmou apenas o nome dele — pensou, sem notar o interesse em especial da amiga — Lando me ligou por vídeo outro dia, disse que queria vir, mas precisava ficar em Londres para alguma coisa que ele falou por horas e eu não me lembro mais. George não está muito bem com Carmen e decidiu acompanhar Hamilton numa viagem para surfar — A empresária contava nos dedos, tentando se lembrar de cada um dos amigos — Dani está na Austrália, zero chances de vir. Pierre ligou ontem a noite para dar os parabéns pelo desfile e disse que se chegasse a tempo em casa, tentaria vir. E Alex está num retiro espiritual essa semana.
não se atreveu a perguntar sobre quem ela queria saber. Se não havia dito nada sobre Carlos era porque ele certamente não estava na lista de convidados confirmados e, por sorte, não apareceria em Milão. achou melhor não dizer nada à amiga, mas, no fundo, achou a situação estranha. e Carlos eram bastante próximos e parecia bem inusitado ele não estar em um evento dela, em não participar de um momento tão importante como aquele. Talvez tivesse outro compromisso, talvez estivesse viajando, do outro lado do mundo ou realmente ocupado demais. Mas havia compromissos importantes o suficiente para que Carlos perdesse algo da Hermann? duvidava um pouco.
O restante do dia passou tão rápido, com as mulheres trabalhando mais do que o usual, que elas sequer perceberam. Toda a organização do evento foi meticulosamente escolhida e preparada por , que tinha esse desfile como um divisor de águas do seu trabalho, sendo apresentada, pela primeira vez, não apenas como a dona da empresa, mas também como a estilista principal da marca. A lista de convidados havia sido escolhida a dedo, assim como cada modelo, maquiador, fotógrafo, cabeleireiro e até equipe da limpeza e segurança. Tudo com o toque refinado e com o bom gosto de Hermann. Tudo do jeito que seu pai se orgulharia em ver, se ainda estivesse ali, com ela.
A sexta-feira chegou ensolarada em Milão e acordou cedo, super empolgada. Faria o teste final de sua roupa em algumas horas, além do ensaio na passarela, e encontraria as amigas no final da tarde em sua casa para a “noite das garotas”. Havia feito compras no dia anterior para esse grande dia, que seria regado a bebidas alcoólicas, comidas saudáveis - e outras nem tanto -, máscaras para skincare e cosméticos e bons filmes de comédia romântica, que amavam assistir. se sentia de novo como uma adolescente e seu grupo de amigas parecia compartilhar daquele sentimento, a tirar pela empolgação das mensagens que amanheceram mandando no grupo.
Buscando por Party in the USA, da Miley Cyrus, no aplicativo de músicas sincronizado ao rádio do carro, riu de algumas mensagens de Lily que apareciam na notificação em seu celular, e o deixou de lado, voltando a dirigir sua Ferrari pelas badaladas ruas de Milão, assim que o farol abriu. Tinha combinado de ir buscar no hotel onde ela estava hospedada, para irem juntas ao local do desfile, onde fariam as provas e confeririam a organização dos toques finais.
— Uau, que carro mais lindo — ironizou enquanto entrava no lado do passageiro, dando um beijo no rosto da amiga e deixando sua bolsa no banco de trás — Nem parece que conseguiu ele de um jeito tão infantil.
— Nem começa com esse papo de novo ou eu te largo na rua e você vai a pé — abraçou a amiga.
— Primeiro: você não faria isso comigo, tenho certeza. Segundo: vou começar esse papo sempre, porque não consigo me conformar com o fato de você ter ficado mesmo com o carro dele — soltou uma risada incrédula, ajeitando seus óculos de sol no rosto.
— Nós dois apostamos e ninguém mandou ele ser ruim no golfe — deu de ombros, sem um pingo de remorso.
— Você sabe que não deveria ter aceitado, não é? — virou-se de lado no banco, para ficar levemente de frente para a amiga.
— Por que não? — a olhou rapidamente de lado — Ele escolheu apostar e podia muito bem ter negado quando eu sugeri querer o carro.
— Porque isso aqui não é um carro qualquer! É uma Ferrari, de um piloto de Fórmula 1 da Ferrari — gesticulava com obviedade — Para eles, isso tem um valor emocional infinitamente maior do que o valor material. E acho que especialmente para o Carlos.
— Você está sendo dramática, amiga. — negou levemente com a cabeça.
— Não, é sério. — insistiu, tirando seu celular da bolsa e, dando uma olhada em seu Instagram, seguiu comentando: — Carlos tem uma conexão muito grande com esse carro, em especial. É como se fosse o sonho dele materializado, como se… ele pudesse afirmar para si mesmo que conseguiu chegar onde queria, que é quem ele é e que faz as coisas que ele faz, sozinho, por ele mesmo. Lembro que quando Carlos recebeu esse carro, o pai dele ficou tão orgulhoso de perceber quem de fato era o filho que ele tinha, que fez uma festa na casa deles, para celebrar o Sainz. Foi uma festa boa, eu passei mal de tanto tomar sangria.
— Por que está me contando isso? — perguntou silenciosa, pensando no que tinha acabado de ouvir.
— Para você ter consciência do que está realmente acontecendo — disse séria, enquanto a amiga dirigia — Isso aqui não é só um carro. É um símbolo do que ele vive, é uma conquista pessoal dele e carrega tantas histórias boas que você nem tem ideia, amiga — sorriu sozinha, lembrando-se de meia dúzia de histórias que participou com o amigo, que envolviam aquele carro — Eu conversei com ele depois que tudo isso aconteceu, Carlos está bem chateado.
— E por que ele simplesmente não veio conversar comigo? — A modelo viu, pelo rabo de olho, a amiga dar de ombros, sem desviar sua atenção do celular.
— Porque vocês não sabem conversar, talvez? — riu baixo — E não é exatamente ele quem precisa ir conversar com você, , é o contrário. Você levou o carro dele embora…
— Não levei embora, foi uma aposta, … — Ela resmungou. Parecia mais tentar convencer a si mesma do que a amiga que, a ignorando, seguiu dizendo:
— Qualquer tentativa dele de falar contigo ia resultar em uma nova briga de vocês ou, pior: uma nova aposta — riu, vendo a amiga bufar — Vocês dois passaram dos limites e acho que você precisa devolver o carro. É importante para ele, só isso que eu queria que você soubesse. E não bastasse ter pedido o carro, ainda perdeu a chave do primeiro carro que ele teve, ele estava devastado.
— É sério? — parou no farol e encarou a amiga, surpresa.
— Aham, procuramos pela casa inteira dele, na casa dos pais e nada. Tinha um chaveiro com um relicário e uma foto que tiraram dele com os pais quando ele venceu a primeira vez no kart — curtia algumas fotos que via pelo celular, sem realmente ver a expressão levemente culpada da amiga — Era uma foto única, não tem uma cópia nem nada, tem um grande valor sentimental. Carlos ganhou aquele carro do pai aos dezoito anos, antes desse, e o pai dele colocou a foto no chaveiro, para ele sempre se lembrar de onde começou, por onde fosse.
— Ai meu Deus, não acredito nisso — Parada no farol, encostou a testa no volante, se sentindo péssima em ouvir aquilo.
— O que foi? — , enfim, levantou seu olhar até a amiga.
— Eu acho que encontrei o chaveiro no dia do golfe e guardei aí… — Apontando para o porta-luvas, falando mais baixo do que o normal, assumiu.
— Como? — seguiu seu olhar até onde ela apontava. Curiosa, a empresária logo abriu o compartimento, encontrando o chaveiro do amigo guardado ali.
— Eu não sabia disso… tudo — desviou seu olhar para a janela, encostando a cabeça no banco — Só achei que não deveria jogar fora e sim tentar devolver algum dia.
— Você, definitivamente, precisa falar para ele que está com isso, amiga — a olhou séria, devolvendo o chaveiro no porta-luvas e o fechando — É sério.
— Você não pode levar para ele? Já está aí, o encontrou, pode pegar e entregar para ele… — Com certo desdém, gesticulou para a amiga, que logo negou com a cabeça:
— Não posso.
— Por que não? — levantou as sobrancelhas.
— Porque esse é um problema que você precisa resolver — respondeu simplesmente — Precisa falar com ele e tem um ótimo jeito de começar — Ela, então, apontou para o porta-luvas — Falando que encontrou o chaveiro.
— Você não vai entregar mesmo, não é? — revirou os olhos, vendo a amiga negar com a cabeça — Eu te odeio, sabia?
— Não me odeia nada — mandou um beijo no ar — Só quero que meus dois amigos se resolvam, de uma vez por todas.
— Eu vou pensar no que fazer.
— Pense em devolver tudo, até o carro — voltou a prestar atenção em seu celular — e num pedido de desculpas, cai bem. Ou, pelo menos, mande uma mensagem dizendo que achou o cheveiro e mande uma caixinha pelo FedEx e… AI MEU DEUS!
— O que foi? — arregalou os olhos pelo grito da amiga, quase freando o carro.
— Charles chegou na partida de tênis que ele vai assistir com Lorenzo, o irmão dele hoje!
— E o que tem demais nisso para você quase me fazer bater o carro? — gritou de volta, ouvindo a amiga rir e desculpar-se.
— Ele está usando a camisa azul da Hermann que eu dei de aniversário para ele, no primeiro ano que nos conhecemos — falou gritante, com os olhos felizes cravados na foto que via pelo celular.
— E o que isso tem de mais? — riu.
— Ele não usa essa camisa sempre, nem em qualquer lugar, longa história… — fez um biquinho, se lembrando de quando desenhou aquela camisa para ele — Ai, amiga ele está tão lindo, tão gostoso, socorro, , SOCORRO!
— PELO AMOR DE DEUS, ! — berrou, rindo da empolgação da amiga — Ele está vestido de você por livre e espontânea vontade, PARA TE AGRADAR, para chamar a SUA atenção e você ainda quer manter ele em segredo? Eu vou te socar.
Rindo do comentário da amiga, seguiu o resto do caminho comentando sobre o assunto, enquanto a acompanhava na conversa, mas com a mente longe dali. Talvez se soubesse antes sobre tudo o que descobriu naquele dia, não tivesse realmente aceitado o carro, tivesse pedido outra coisa, menos importante, menos impactante para Carlos. Talvez tudo isso justificasse a postura magoada dele quando foram embora do golfe, o jeito que pediu para ela não falar com ele. se sentiu ligeiramente ansiosa, desejando que a segunda-feira chegasse logo para que ela descobrisse o endereço dele e, ao menos, enviasse o chaveiro de volta. Não precisavam verdadeiramente conversar, afinal, ela sequer sabia se ele a responderia. Mas tinha que tentar ser minimamente empática com ele e, se não fizesse aquilo por Carlos, faria por si mesma e pelas sensações ruins de manter consigo uma parte da vida dele, que aparentemente o estava fazendo falta e que, definitivamente não a pertencia.
Assim que chegaram ao local do desfile, e já foram direto fazer as atividades que tinham planejadas para o dia. Não tiveram muito tempo para conversar, almoçaram rapidamente em horários diferentes e às oito horas da noite, quando quase todos os funcionários já tinham ido embora, encontrou sentada na ponta da passarela, olhando para o nada. Ela estava esgotada com toda a preparação, mas nitidamente feliz em realizar aquele sonho. conversou com ela alguns minutos, por ali, tirou algumas fotos da amiga que, segundo ela, eram para se lembrar depois de “como tudo foi incrível e valeu a pena” e saíram juntas do local, indo até a casa da modelo, onde as outras amigas já as aguardavam.
havia deixado a chave reserva embaixo do pequeno vaso ao lado da porta, para que pudessem entrar e descansar nesse período, até que os trabalhos tivessem sido finalizados no local do desfile. Assim que as amigas passaram pela porta de entrada da casa de , Carmen, Luisa e Lily vieram correndo, empolgadas, com suas taças de vinho roubadas dos armários da cozinha da modelo. Estavam descalças, descabeladas, usando moletom e, pelos gritos eufóricos, já tinham bebido um pouco mais do que apenas aquela taça de vinho. Perto o suficiente das amigas recém chegadas, as cinco deram um grande e divertido abraço em grupo, rindo alto.
— Eu não acredito que estamos todas reunidas novamente — Lily disse animada, desfazendo o abraço enquanto voltava para a sala de jantar, para entregar novas taças de vinhos à e .
— Eu estou tão empolgada! — Carmen disse no mesmo tom de voz.
— Estar aqui é super legal, mas eu estou ansiosa mesmo é para o desfile — Luísa fez uma dancinha animada.
— Eu também! E só quero que acabe logo, não aguento mais tanto estresse — confessou, jogando-se no grande e confortável sofá da sala da amiga, aceitando a taça que Lily a entregava. Ainda não havia feito uma refeição decente naquele dia e estava tão cansada que dormiria naquele instante se deixassem.
— Tudo que eu posso dizer é que vai estar perfeito e que o mundo da moda será outro depois de amanhã a noite — sorriu confiante para ela, com sua taça de vinho na mão, ouvindo as outras meninas soltarem gritinhos animados — Vejo que já se instalaram, espero que tudo esteja ao agrado de vocês, girls.
— Tudo mais do que perfeito — Piscando para ela, Carmen concordou.
— Inclusive fuçamos em tudo, porque somos curiosas — Luisa brincou, se sentando no sofá ao lado de .
— Eu não fucei em nada — Lily deu de ombros.
— Ah não? E esse pijama que está usando é meu ou você coincidentemente tem um igual? — arqueou as sobrancelhas para a amiga, que riu alto.
— Meros detalhes — Lily gesticulou para ela.
— Amigas, continuem fuçando então, porque preciso tomar um bom banho quente e já me junto a vocês, ok? — tomou um longo gole de seu vinho e, sendo acompanhada por que a mostrava onde ficava o banheiro, se levantou do sofá.
Depois que e saíram do local, as outras três amigas ficaram por ali, sentadas no sofá, conversando e tomando suas taças de vinho. Carmen comentava sobre uma briga que teve com George, alguns dias antes, pedindo conselhos às amigas, que a ouviam atentamente e não pareciam acreditar que um casal tão perfeito como eles estava passando por aquele momento. voltou à sala primeiro, servindo-se da refeição decente e muito saborosa que Lily cozinhou mais cedo, antes delas chegarem, e sentou-se ao lado de Carmen, ouvindo atentamente a conversa. apareceu cerca de dez minutos depois e também sentou-se no sofá, com o prato em mãos para jantar, enquanto palpitava sobre outros assuntos que surgiam durante a conversa.
— Soube que está dirigindo o carro do Carlos por aí, quando você vai devolver? — Lily perguntou de repente, olhando .
— Por que eu devolveria? Eu ganhei a aposta — respondeu a exata mesma coisa que disse a mais cedo, dando de ombros. Não era possível que nenhuma delas entendesse seu lado na história.
— É sério mesmo que você vai ficar com o carro? — Incrédula, Luisa deixou a taça vazia sobre a mesa no centro da sala.
— Até onde eu sei, a aposta foi legítima, então, sim — bebericou seu vinho — vou mesmo ficar com o carro.
— Eu não ficaria nem a pau, me sentiria muito mal com isso — Carmen comentou sincera, observando desviar o olhar.
— Eu também não teria aceitado — concordou com a amiga — Já disse a para devolver, mas ela não quer…
— Se soubesse que vocês eram todas team Sainz, eu teria procurado amigas melhores — brincou, deixando seu prato vazio em cima da mesa de centro. As amigas protestaram todas ao mesmo tempo, rindo.
— Nós somos team , mas você precisa entender que isso tudo foi um pouco… demais — Carmen gesticulou, vendo Lu concordar com a cabeça.
— Soube que Carlos ainda não comprou outro carro e que está usando motorista de aplicativo, coitado — Lily fofocou, tirando risadas baixas e murmúrios das amigas.
— É verdade isso, ? — Carmen virou-se para a austríaca, rindo.
— Não, é drama da Lily — riu — Ele não comprou outro carro ainda, é verdade, mas não está usando motorista de aplicativo, qual é?
— Carlos Sainz chamando um Uber, seria cômico — Luisa gargalhou da possibilidade.
— E como está fazendo sem carro, então? — Confusa com a informação, Lily encarou a amiga.
— Pegou um dos meus, emprestado — deu de ombros.
— É por isso que você quer que eu devolva o carro dele, então? — praticamente gritou — Agora entendi tudo, Hermann.
— Não é por isso, amiga — revirou os olhos — Não me importo que ele fique com um dos meus carros, eu juro, mas se importo com como ele está se sentindo sem o que é dele, o que foi conquistado por ele, enfim, já te disse isso — suspirou, exausta daquele assunto. De fato, não fazia a menor diferença para ela dar a Carlos um de seus carros, mas sabia o que toda aquela situação estava gerando no amigo e podia dizer, com certeza, que não era bom — É uma pena que você não consiga ver o lado dele.
— É uma pena mesmo… — rebateu um tanto irônica, lembrando-se do olhar do piloto sobre si quando entregou a chave do carro a ela. Sem querer mais pensar naquilo, ela balançou a cabeça rapidamente e voltou sua atenção à nova conversa que já surgia no grupo, com Luisa falando alguma coisa sobre Lando.
O restante da noite passou rápido e tranquilamente. As amigas ficaram por ali conversando, fofocando, fizeram algumas máscaras faciais enquanto assistiam filmes de comédia romântica de qualidade duvidosa e bebiam vinho, com exceção de e , que beberam apenas uma taça, pois trabalhariam no dia seguinte. Contudo, de repente, a conversa eufórica foi interrompida pelo barulho alto do celular de Luisa, que apitava conforme as notificações chegavam. Curiosa, a menina o puxou para mais perto de si, se deparando com várias mensagens de Lando, parecendo um tanto eufórico com alguma coisa. Preocupada com o que poderia ser, Luisa abriu a conversa com ele rapidamente, se deparando com um monte de links do twitter e comentários alvoroçados do namorado. Ela rapidamente leu as mensagens e não demorou muito em entender o que acontecia.
— Tudo bem, Lu? — perguntou curiosa, assistindo às expressões da amiga mudarem enquanto via algo no celular em mãos.
— Acho que vocês deveriam olhar o twitter, principalmente você, — Luisa levantou seus olhos para as amigas e apontou para a outra modelo com a mão em que estava com a taça.
— Por que? — Curiosa, pegou seu celular.
— Acho que você não vai gostar muito — Deixando a frase no ar, Luísa voltou sua atenção para o celular, enquanto as amigas faziam o mesmo.
rapidamente desbloqueou seu celular e foi o segundo suficiente para ver o caos que estava acontecendo. Além de várias mensagens chegando sem parar, centenas de marcações no Instagram e Twitter brotavam em sua faixa de notificações e bastou a ela clicar em uma delas para entender tudo. Diversas fotos do fatídico dia do golfe, dois meses atrás, tinham se tornado públicas. Pelo jeito que tinham sido tiradas, haviam paparazzis no local e deviam ter demorado todo aquele tempo para soltá-las querendo confirmar informações antes de assumir alguma matéria tendenciosa. A mídia estava compartilhando aquilo com alegria, enquanto fãs opinavam nas fotos e criavam teorias que não pareciam agradar .
Apesar de tudo o que viam acontecer bem diante dos seus olhos - os cinco pilotos da F1 jogando golfe juntos, todos acompanhados, Luisa e Lando juntos em uma rara aparição em público, Carmen e George sendo absolutamente fofos, e Charles tendenciosamente mais uma vez aparecendo como um casal enquanto Lily e Alex pareciam se divertir muito -, o que chamava a atenção do público, em especial, foram as fotos de Carlos e . Fotos que o piloto corria em direção a modelo, que a jogava na água, em que jogavam golfe e o espanhol olhava profunda e diretamente para ela. E por conta dessas fotos, especificamente, diversas matérias pareciam surgir. Notícias tendenciosas que tinham feito se desligar de tudo por um momento, enquanto as lia por cima.
“Estariam namorando? Piloto de Fórmula 1, Carlos Sainz, e a modelo Voitenko são vistos juntos em clima de romance, em tarde entre amigos”.
“Novo affair: Conheça Voitenko, a nova namorada do piloto espanhol Carlos Sainz”.
“Nessa temporada o cupido é ferrarista: depois de Charles Leclerc aparecer em clima de romance com nova pretendente, seu parceiro de equipe Carlos Sainz é visto com modelo em clube de golfe na Espanha”.
“A amiga de uma amiga: teria Luisa Oliveira, namorada de Lando Norris, apresentado Voitenko, também modelo, para Carlos Sainz?”.
sentia seu rosto queimar de raiva a cada mentira que lia. Não era a nova namorada de Carlos Sainz. Não podiam estar usando fotos fora de contexto para criar um cenário irreal, aquilo não era verdade. tentou ignorar as fotos que estavam junto com as notícias, desconcertada pelo o que lia. Mas não demorou muito tempo até ver as notificações de mensagens do seu pai, lhe perguntando o que estava acontecendo e o porquê de ela não ter contado nada daquilo para eles. fechou os olhos por um segundo, respirando fundo, desejando que tudo aquilo não passasse de um infeliz pesadelo. As amigas ao redor dela viam os mesmos conteúdos em seus celulares, em silêncio. Não tinham o que dizer, afinal. Já tinham sido bem claras quanto ao fato de acharem que e Carlos tinham algo mais do que um simples ódio irracional pelo outro e agora aquilo era público.
A modelo decidiu ignorar as mensagens do pai, sem saber exatamente como deveria justificar tudo aquilo. Instintivamente, voltou a olhar suas redes sociais e se arrependeu amargamente por essa decisão, assim que abriu o Instagram. Marcando ela na legenda, Hola.com, um site espanhol conceituado de notícias de famosos tinha acabado de compartilhar um vídeo vazado de Sainz, que parecia bem recente, em que ele comentava sobre aquelas fotos com alguns amigos. A voz do piloto podia ser ouvida com clareza, enquanto desprezível e rindo debochado ele dizia: “Eu jamais teria qualquer coisa com alguém como a , por favor. Isso é ridículo, quase uma ofensa. Ela é só mais uma modelo que eu conheci”.
sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, deixando a raiva em ter ouvido aquilo tomar conta de si. Carlos conseguia ser a cada segundo de sua existência ainda mais babaca, não era possível. Ela se sentia furiosa, chateada e tão presa nos próprios pensamentos que sequer ouviu as amigas comentarem aquilo, ao seu redor. desejou por um segundo nunca ter conhecido Carlos. Desejou conseguir voltar no tempo e sequer ter aceitado jogar golfe com as meninas, não ter ido a festa de aniversário de Alex. Era sobre aquele tipo de merda que ela vinha se protegendo todos aqueles anos. Sobre aquele tipo de gente desprezível que ela temia se envolver e, por isso, se mantinha tão fechada em si mesma.
Por pessoas como Carlos Sainz, Voitenko se mantinha desconfiada, na defensiva, distante e um tanto solitária.
Pedindo licença para as amigas, dizendo que estava indisposta e que precisava de um tempo sozinha, para descansar, deixou a sala e foi correndo para seu quarto. Se não tivesse um dia seguinte cheio e tão importante ela certamente sumiria pelo mundo, longe de qualquer tentativa de ter que lidar com aquelas fofocas. Nada daquilo era real, nada era verdadeiro. Não deveria dar mais burburinhos para os fofoqueiros de plantão e estava furiosa. Com as fotos, com aquilo tudo ter vindo a tona naquele momento, com a porra do vídeo de Sainz, com tudo o que sentia vendo cada uma das imagens. Pareciam tão felizes e tão leves, pareciam mesmo que se gostavam, que eram um casal. E aquilo a deixava ainda mais irritada.
Sem sequer pensar direito no que fazia, assim que se deitou em sua cama. decidiu se posicionar. Não sabia se era o melhor a ser feito, mas Carlos já tinha dado a opinião dele, por que ela não deveria? Compartilhando uma das notícias em seu stories, ela ateve-se em escrever: “Carlos e eu não estamos juntos. Temos apenas alguns amigos em comum. Só isso.”
Faltavam apenas algumas horas para o começo do desfile e corria de um lado para o outro enquanto terminava os últimos detalhes, dava algumas entrevistas, verificava cada modelo e recebia alguns convidados especiais, dedicando um tempo para conversar com eles e tirar fotos. , por sua vez, passou o dia trancada dentro do camarim, ocupada com cabeleireiros, maquiadores e fotógrafos. Conversou com seus pais por vídeo chamada, tentando justificar os acontecimentos e recebeu mensagens de alguns amigos próximos, querendo saber se “o romance” era verdade. não estava exatamente de bom humor naquele dia, mas estava se esforçando em dar o seu melhor e em ser a melhor pessoa que podia, para não decepcionar ninguém.
Apesar de ter feito a contragosto, ela recebeu em seu camarim alguns jornalistas que cobririam o evento, dando-lhes breves entrevistas, exclusivamente focadas no que acontecia ali: a estreia dela em uma passarela da Hermann, a nova coleção, os preparativos para o desfile, sua amizade e o trabalho com . Respondia somente o que lhe era perguntado sobre aqueles temas e, sem margem para qualquer outro assunto, já encerrava a visita dos jornalistas. Em nenhum momento, de nenhuma entrevista, o nome do piloto foi citado, por uma exigência da equipe da Hermann, que, vendo o possível escândalo acontecer no dia do desfile, tentava abafar toda a situação.
Tirando a responsável pelas relações públicas da marca, que precisava entender exatamente o que tinha acontecido para contornar todos os possíveis desgastes dali em diante, ainda não havia conversado com ninguém sobre o ocorrido, nem mesmo com as amigas. Depois que recebeu aquele mar de informações, se fechou em seu próprio mundo e estava se dando tempo para digerir tudo antes de fazer qualquer coisa.
As meninas estavam sendo incríveis com ela e dando todo suporte que poderia precisar. Certamente tiraria um tempo para conversar com elas, assim que tudo se esfriasse dentro dela. agradeceu a jornalista pela última entrevista que daria naquele dia, antes do desfile, e assim que a viu sair com o câmera do camarim, pegou seu celular novamente. Os comentários e marcações nas fotos dela com Sainz não paravam de chegar e, mesmo sem querer ver aquilo, vez ou outra ela se deparava com as imagens. E naquele momento não foi diferente.
Se pegou reparando detalhadamente em um vídeo que compilava todas as fotos deles dois, daquele dia, sorrindo, lembrando dos momentos, sentindo que havia gostado mais do que devia daquelas fotos. , então, começou a ler os comentários dos fãs, bufando com diversas mentiras que contavam ali, respondendo mentalmente alguns muito maldosos, mas feliz em ver que, em sua grande maioria, eram de apoio ao mais “novo casal” do paddock.
E não fosse pelo vídeo do piloto dizendo que jamais ficaria com ela e que era “só mais uma modelo”, sugerido para ela assim que o vídeo com as fotos terminou, teria tudo sobre controle em seu coração. Mas como uma onda furiosa, ver aquele vídeo de Carlos a trazia, novamente, a mágoa e a fúria daquela declaração. Como se estivesse vivendo em ciclo vicioso com Carlos, ele estava sendo, mais uma vez, rude, arrogante e falando mal dela, da profissão dela, para pessoas que sequer a conheciam. Parecia não medir palavras quando se tratava de magoar e, agora, fazia isso em público também.
— Amiga, está tudo certo? — se aproximou dela, delicada. Tinha entrado no camarim de e a chamado, mas a modelo sequer a tinha ouvido chegar ali.
A equipe já tinha saído e deixando a modelo sozinha, descansando antes do grande momento. estava vestida já, com um conjunto de duas peças cor-de-rosa em alfaiataria, composto pelo blazer e a calça, com um sutiã de tricô bordado, com pequenas flores coloridas por baixo. Tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo alto e uma maquiagem pesada, que destacava bem seus olhos. Assim como ela, também já estava pronta. Estava com um vestido único e exclusivo, feito por ela e para ela, preto e dourado, curto, com estampa de pequenas flores e uma manga apenas. Usava uma sandália de salto alto, tinha um bracelete de ouro no braço sem manga e os cabelos soltos, com uma maquiagem mais leve mas bastante bonita, em tons de vermelho.
— Está sim, me desculpe, não te vi chegar. Eu estava só… pensando — respondeu virando-se para a mulher, que estava apoiada na porta e sorria segurando a maçaneta.
— Você quer conversar? — fechou a porta atrás de si e caminhou até a amiga — Porque eu prometi que não ia falar nada, mas simplesmente não consigo te ver assim para baixo.
— É que… — suspirou triste, vendo a amiga se sentar ao lado dela, no sofá — Eu sei que deveria estar furiosa com tudo isso, mas tudo que consigo sentir é tristeza…Você viu o vídeo? O que ele falou?
— Eu vi, amiga — disse triste, enquanto pegava o celular e rejeitava outra ligação. Estava tentando se esconder de sua assessoria que não lhe dava descanso em nenhum momento — Soube que ele estava super bêbado ontem. Charles estava com ele e parece que Carlos ficou furioso com as fotos, começou a beber feito louco e alguém da mesa ao lado gravou e postou.
— Não acho que justifique. Parece que ele sempre perde a linha e diz o que não deveria quando está entre amigos — deu de ombros, pensando demais no piloto e em seu sorriso desde que as fotos da piscina foram divulgadas. Uma sensação estranha entre odiar ele do fundo de seu coração e pensar que, pelas fotos que via, tudo podia ser diferente entre eles.
— Ele estava fora de si — tentou amenizar, mas sabia que a situação era delicada.
— Não duvido que ele teria dito as mesmas merdas se não tivesse bêbado — suspirou triste — Ele não gosta de mim, .
— Isso não é verdade — Negando com a cabeça, a encarou séria — E eu sou a pessoa que pode te afirmar isso, com certeza.
— Sei que está tentando amenizar a situação e não deixar as coisas piorarem, mas isso é um fato, — a encarou de volta, chateada — Carlos não gosta de mim.
— E por que ele se incomodou tanto quando viu as fotos a ponto de beber desse jeito? — A amiga rebateu — Seja racional, . Ele viu alguma coisa nessas fotos que ele tinha que desesperadamente esquecer. Eu conheço ele mais do que devia, vai por mim. E Charles também acha isso.
— Mas não… — A modelo tentou protestar, mas logo foi cortada pela amiga.
— E você também está chateada demais por alguém que diz desprezar tanto. Está se importando demais com o que ele disse, com o que ele acha sobre você. Por que? E não me responda isso, responda para si mesma.
— Não tenho o que responder, — negou com a cabeça, desviando seu olhar da amiga.
— Tem sim, eu sei que tem. Olha só, uma amiga me disse esses dias para eu não esconder meus sentimentos e nem me abalar com o que a mídia pode dizer sobre eles — curvou-se mais perto dela, tirando um sorriso da amiga — Acho que você deveria fazer o mesmo.
— Muito sábia essa sua amiga — riu, vendo entender-lhe a mão.
— Também acho, — apertou levemente a mão dela — mas ela é meio cabeça dura quando se trata dela mesma.
— Não posso julgar — abraçou levemente a mão da amiga, agradecida, e a soltou.
— Você já sabe quem divulgou as fotos daquele dia? — perguntou serena.
— Não, e nem há muito o que fazer, já está em toda a internet mesmo — levantou-se, sendo acompanhada pela austríaca — Só não queria ficar tão afetada como eu fiquei com tudo isso, sei que não deveria, mas é… impossível.
— Eu acharia muito estranho se tudo isso não te afetasse, isso sim — sorriu.
As amigas ficaram ali conversando por mais alguns minutos, rindo de algumas besteiras que diziam, ansiosas pelo sucesso daquele desfile, até a assessora de a encontrar. Brava, a mulher bateu na porta e, sem esperar que a respondessem, a abriu de qualquer jeito e levou dali, para que desse mais algumas entrevistas. saiu do camarim pedindo socorro para , que riu, enquanto o stylist da marca entrava para fazer a checagem final da modelo e lhe entregar os sapatos que usaria.
Minutos antes do desfile começar, com tudo devidamente pronto, os convidados em seus lugares conversando animados e postando conteúdos sobre o evento, Charles chegou acompanhado de Carlos. O espanhol tinha curtindo muito a festa no dia anterior, passou a noite com uma mulher “muito gostosa”, segundo suas próprias palavras e, quando chegou à sede da Ferrari, para a reunião, foi obrigado pelo amigo a entrar no jato e ir até Milão, prestigiar o desfile da amiga e futura namorada do monegasco. Carlos sabia por que estaria no desfile e porque nos últimos tempos o grupo de amigas só falava daquele evento, mas não tinha exatamente se preparado para encontrar a modelo. Ainda remoía o último encontro que tiveram, o que tinha acontecido, o golfe, a aposta. Esperava pelo pior quando a visse novamente mas, no fundo, algo nele parecia querer vê-la.
— Está tudo simplesmente perfeito, — a voz suave e feliz de Charles chamou atenção de , que, conversando com sua assessora, se virou de frente para ele, sorrindo abertamente ao vê-lo — incluindo você.
— Você veio mesmo — riu baixo, tímida. O piloto a abraçou por um momento, matando um pouco da saudade que sentia dela, do cheiro único de seu perfume.
— Não perderia por nada — Charles se afastou levemente dela, segurando o impulso de beijá-la. riu, parecendo perceber quando ele travou o tronco no meio do caminho de encostar sua boca na dela e deu um passo atrás. Muitas pessoas ao redor, nos bastidores, os assistiam curiosas.
— Obrigada, Charles, que bom que você veio, estou muito feliz em te ver — Cordial, fingindo casualidade em vê-lo ali, ela respondeu saindo do abraço e se virou para Carlos, ao lado dele.
— Tudo está lindo, mi vida, a sua cara. Estou muito feliz por você, muito orgulhoso de tudo isso, quer dizer, UAU… olha tudo isso — Carlos a cumprimentou com um abraço forte, sinceramente emocionado de estar ali — Você conseguiu mesmo.
— Eu te disse que ia levar o legado do meu pai adiante, não disse?
— Chorando no chão do seu atelier em Marbella, depois de surtar dizendo que nunca ia conseguir — Carlos riu lembrando-se daquele dia — e o que eu te disse?
— Que eu sou sua pessoa favorita no mundo? — sugeriu, desviando o assunto, rindo tímida pela lembrança que mal sabia o amigo ter. Charles acompanhava a conversa deles sorrindo, admirando a amizade que tinham.
— Isso também, mas o Charles vai ficar com ciúmes em descobrir — Sainz abaixou o tom de voz, fingindo contar um segredo.
— Se não conhecesse vocês há um século, talvez ficasse mesmo — Ele deu de ombros, brincando.
— Mas não foi isso que eu disse — Carlos voltou ao assunto, olhando sério para a amiga — Disse que você ia conseguir, porque você é filha de Anton Hermann e tem aqui — Carlos deu duas cutucadinhas no coração dela — tudo o que o maior estilista do mundo te ensinou. Te disse que você ia chegar longe, como ele chegou, te disse que você ia brilhar, como ele brilhou. E olha onde você está hoje.
— Querendo chorar no chão do desfile — Engolindo as lágrimas, riu baixo, junto com os dois, abraçando novamente Carlos, em agradecimento — Parte disso tudo é seu, você sabe disso. Pelo apoio todos esses anos, por não me deixar desistir… obrigada.
— Vou estar sempre onde você estiver — Carlos sorriu retribuindo o abraço.
— E eu simplesmente amo isso — quebrou o abraço e segurou os braços do amigo, o olhando nos olhos — Você sabe que eu te amo e que é muito importante para mim ter você nesses momentos da minha vida, mas acho que, especialmente hoje, você não deveria… estar aqui.
O silêncio se instalou momentaneamente entre eles três, que se entreolharam sugestivos. Não precisavam realmente dizer mais nada para entender exatamente sobre o que se referia ao dizer aquilo e Carlos não ficou incomodado pela fala da amiga. Pelo contrário, sabia que ela estava se esforçando em proteger ele e proteger . Ela estava lá, afinal? Onde? Carlos respirou fundo, sentindo seu coração se acelerar levemente em adrenalina, em ansiedade. Fazia dois meses que não via . Dois meses que passou tentou esquecer ela e o pouco que viveram juntos. Meses em que falhou naquela missão. No fundo, ele queria vê-la. Mas não tinha certeza de como seria depois daqueles meses, depois de tê-la dito para não mais falar com ele, depois das fotos vazadas no dia anterior.
Não tinha ideia de como ela poderia reagir a ele, mas certamente não seria como em seus sonhos. E ele não podia esquecer que ela havia roubado seu carro, sumido com ele do mapa e nunca mais dado sequer uma satisfação. Estava rodando pela Europa com a Ferrari dele, como se fosse dela, naturalmente se apoderando de algo que não lhe pertencia. A verdadeira folgada e mimada Voitenko estava ali, em algum lugar, e não tardaria em aparecer, certamente linda e irritante como ele se lembrava dos meses atrás.
— Ela está mesmo aqui? — Carlos perguntou meio apreensivo, com um pingo de esperança em algo ter acontecido e não ter ido ao desfile. apenas concordou com a cabeça, sorrindo tensa — Eu disse para o seu namorado, mas ele não me ouviu.
— Não somos namorados — e Charles o corrigiram ao mesmo tempo, rindo em seguida.
— Eu sabia que não era uma boa Carlos vir, — Charles levantou as mãos, como se se rendesse e fez uma carinha fofa — mas acho que eles deveriam conversar, .
— Também acho, mas não sei se é uma boa ideia, pelo menos, não aqui — falou mais baixo, olhando Charles.
— Eu entendo, mon coeur, — Charles falou carinhoso, a encarando de volta e se aproximando dela — mas eles precisam resolver isso de uma vez por todas. Vamos esperar o desfile acabar.
— não vai querer conversar. — seguia conversando com Charles, próxima a ele, ignorando as pessoas curiosas os encarando ao redor — Carlos foi um completo idiota com ela, como tem sido nos últimos tempos.
— Ei, eu ainda estou aqui, sabia? — Carlos levantou a mão, chamando atenção do casal de amigos — E o que eu fiz dessa vez para ser um completo idiota?
— Você não entrou nas suas redes sociais? — o olhou com obviedade.
— Não, meu celular acabou a bateria e Charles é chatão com celular, estava ansioso para te ver, e não deixou eu pegar nada, nem meu carregador, dizendo que estávamos atrasados — Carlos respondeu simplesmente, ouvindo um “ei” em protesto do amigo.
— Então deveria ver, Sainz, porque se não estivéssemos na frente de tantas câmeras agora, eu poderia te esganar — sussurrou, arrumando a camisa do amigo enquanto sorria, para não levantar nenhuma suspeita dos jornalistas e câmeras que os fotografavam juntos naquele momento.
— O que eu fiz? — Carlos arregalou os olhos e se virou para Charles — Por que não me disse nada?
— Porque você já foi babaca o suficiente ontem, quando viu as fotos, podia ser ainda pior quando visse o vídeo — Charles justificou, revirando os olhos. Mas antes que aquela conversa pudesse continuar, a assessora de se aproximou deles:
— Hora de trabalhar — Ela olhou com desprezo para Charles e Carlos, que a cumprimentaram com falsos sorrisos — Alan já está pronto para entrar, tudo certo, mas pediu para te ver antes.
— Estou indo — concordou com a cabeça e a assistiu se afastar.
— Quem é Alan? — Charles perguntou curioso, tirando uma risada de Sainz.
— Walker. DJ, somos amigos há séculos, a trilha sonora oficial da coleção é dele — explicou rapidamente — Enfim, preciso voltar, o desfile vai começar em alguns minutos. Vocês vão se sentar agora e, por favor, não estrague tudo, Carlos.
— O quê? Como eu poderia estragar seu dia? — Carlos olhou indignado a amiga, que mandou beijos no ar para eles e correu em seus saltos para longe dali.
Assim que os pilotos se sentaram em seus lugares, eles encontraram as meninas, que já estavam por ali, na primeira fila, conversando. Animados, eles as cumprimentaram e logo se juntaram à conversa e fotos que elas tiravam de tudo, cheias de expectativas para o dia. Não demorou muito tempo até, de repente, todas as luzes do ambiente serem apagadas e uma voz fina, infantil, tomar o ambiente dizendo em espanhol: “Eu vou fazer roupa. Vou fazer roupa como o meu pai” e, em seguida, os primeiros acordes de Sing Me to Sleep, do Alan Walker, começarem a tocar ao vivo. Nas paredes do lugar, ao exato tempo em que a música começou, imagens começaram a ser projetadas. Vídeos que pareciam antigos mostravam quando criança com seu falecido pai, brincando, rindo, conversando. Imagens dela correndo pelo atelier do pai, dele usando ela como modelo, deles dois comprando tecidos juntos. Mostravam recortes de desfiles que o pai dela assinou, nos bastidores deles, eles dois trabalhando juntos, dançando pelo estúdio, visitando lojas enquanto a música suplicava o pedido para que ele cantasse algo para ela dormir, do jeito que ele costumava fazer quando ela era pequena.
Na batida alegre da melodia, morava a saudade que tinha acabado de transformar em arte. E os vídeos, enquanto passavam, traziam recortes da voz do pai dela descrevendo o que era a moda para ele e o que representava para sua família. Eram misturados pela voz de explicando que havia feito aquela coleção inspirada nas memórias que tinha com o pai, nas lembranças que carregava dele e de tudo que haviam feito juntos. Uma coleção de outono-inverno com os tecidos que seu pai mais gostava de trabalhar, nas cores preferidas deles dois, para a primeira estação em que ele estreou uma coleção de roupas, no começo de sua carreira, para a estação em que ele faleceu.
Um conforto para ela, arte em sua forma mais pura para quem assistia.
Surpresos em descobrir aquilo só naquele momento, os amigos pareciam emocionados, junto com os demais convidados. Alguns sorriam, outros estavam chocados com a beleza do que viam nos vídeos e outros, talvez aqueles que, como Carlos, sabiam do quanto aquilo significava para , deixavam as lágrimas finas escorrerem. Alan Walker tocaria uma sequência de músicas dele próprio pensadas em cada memória que tinha com seu pai e que dialogava com as roupas que viriam a público. Nos bastidores, assistiu a amiga emocionada abraçar sua mãe, que assistia tudo aos prantos. E quando a música chegou ao segundo refrão, as primeiras modelos apareceram na passarela, recebendo aplausos fervorosos da plateia.
amava aquela sensação. Aquele exato momento em que um desfile começava, a energia que o caminho que teria que percorrer em breve transmitia. Amava ouvir as pessoas lá fora sem realmente conseguir vê-las e amava encarar os estilistas, como fazia com naquele momento, assistindo a emoção de verem a sua arte, os seus sentimentos, serem expostos para o mundo. foi tomada por uma alegria imensa e tinha certeza que aquela noite seria perfeita, que absolutamente nada a poderia parar. O desfile seguiu com Alan Walker mandando Diamond Heart, Lily, Sweet Dreams, All Falls Down, Alone, Sorry, On My Way, enquanto os modelos desfilavam deslumbrantes pelo extenso corredor, ao tempo que os telões se iluminavam com flores e luzes coloridas e os diversos fotógrafos os acompanhavam tirando fotos de diversos ângulos.
Pessoas famosas, blogueiros, representantes de revistas, influenciadores e estilistas, que ocupavam as filas impressionados comentavam cada detalhe que reparavam, registrando o que podiam. O último bloco da coleção começou a ser apresentado assim que uma nova música tomou o ambiente, com peças exclusivas que seriam feitas apenas sob encomenda. entrou no primeiro refrão de Headlights, confiante e séria. Desfilava com a maestria de poucas modelos no mundo e passava um ar superior, de quem havia nascido para aquilo. Diversos flashes foram disparados em sua direção e, mesmo assim, de cabeça erguida e com o olhar fixo a frente, ela seguiu o caminho da passarela, sem se desestabilizar.
Da plateia, Carlos sentiu um arrepio percorrer sua espinha assim que a viu aparecer. Achava que fosse o rosto fotográfico da coleção, pela conversa que teve com semanas atrás, e que ela estivesse nos bastidores, não que fosse aparecer ali, naquela passarela, deslumbrante, elegante, linda e esbanjando confiança, coincidentemente ao som da música que tocava quando ele a viu pela primeira vez. A exata mesma sensação, a exata mesma vontade de ser para ela o que ele queria que ela fosse para ele. Carlos não conseguia desviar seus olhos dela e a acompanhou, impressionado, até ela atingir a ponta da passarela, fazer uma pausa breve e virar-se de volta para retornar de onde saiu.
E foi aí que tudo aconteceu.
sentiu seus joelhos estremecerem, suas pernas fraquejarem, no exato segundo em que seu olhar cruzou com o de Carlos. O que caralhos ele fazia ali? parou de andar por alguns segundos, tão surpresa, desconcertada em vê-lo, justamente ele, ali. Lily, Carmen e Luisa arregalaram os olhos, olhando de um para outro e tentaram gesticular para que continuasse a caminhar e finalizasse sua saída da passarela, mas ela só percebeu que estava, literalmente, parada no meio do desfile quando a modelo seguinte, que vinha atrás dela, passou por ela, ignorando o que acontecia.
sentiu seu coração parar de bater por um momento e sua boca secar, em nervosismo, e quando deu um passo à frente, para voltar aos bastidores, por pouco não tropeçou em seu salto. Precisou de um novo minuto parada, no meio da passarela, para se recompor da quase queda até, enfim, voltar a caminhar. Mais rápido do que deveria, ela sumiu da passarela enquanto Carlos a assistia assustado, desconcertado. Algumas pessoas ficaram surpresas, comentando o ocorrido em sussurros.
— O que houve ali? — perguntou assustada, enquanto passava por ela, já nos bastidores. não era conhecida pelos erros que cometia na passarela, pelo contrário, era sempre impecável e nunca parecia se abalar.
— O que o Sainz está fazendo aqui? — perguntou séria, nervosa, vendo a amiga bufar ao entender o que tinha acontecido. E não achou aquilo motivo o suficiente para que ela se abalasse daquela forma, para que ela, justamente ela, a aposta do evento e da coleção, não cumprisse seu trabalho bem feito.
— Veio com o Charles — comentou baixo, rapidamente, vendo rir irônica.
— Ah, claro que veio com o Charles — Ela repetiu as palavras da amiga, debochada — Não tinha nada melhor para fazer, pelo visto, veio até aqui se vingar porque eu fiquei com o carrinho bosta dele.
— … — tentou dizer, mas a amiga a ignorou completamente:
— Ele veio até aqui me encher o saco, veio atrapalhar meu trabalho — Nervosa, ela passou as mãos pelos cabelos — O que eu fiz para ele? Que caralhos eu fiz para ele querer me atrapalhar até no meu trabalho? E claro que Charles tinha que trazer ele, QUE INFERNO!
— , para, chega! — Controlando o tom de voz, tentando manter a amiga a sua frente calma, logo rebateu — A culpa não é do Charles, seja racional. Carlos veio porque é meu melhor amigo, veio porque ele sempre vem aos meus desfiles e não perderia esse — pontuava rápido, abaixando sutilmente a bola da modelo — e veio porque vocês precisam conversar.
— Eu não tenho nada para conversar com ele, , e quero mais é que ele se exploda — respondeu furiosa, vendo que um maquiador já se aproximava para o retoque do batom vermelho que ela usava.
— É mesmo? — Impaciente, perguntou no mesmo tom irônico. Aquela briguinha deles dois já tinha ido longe demais e estava atingindo pessoas que, como , não tinham a nada a ver com seus egos inflados e jeitos mimados de ser — Porque não foi o que pareceu dois segundos atrás, quando você ficou parada no meio da passarela sem saber o que fazer.
— Eu não… — Ele gaguejou.
— , você quase colocou tudo a perder ali — suspirou frustrada — Erros acontecem, mas se está deixando toda essa situação com Carlos te atingir dessa forma, quer dizer que você precisa conversar com ele e resolver essa merda toda, antes que você continue fazendo merdas e te prejudicando.
— Me desculpe, eu quase estraguei tudo, eu sei, eu… — tentou dizer, vendo a amiga ser puxada pelo diretor do desfile enquanto ele gritava:
— Na fila, pessoal, na fila.
logo foi puxada para a fila onde todos os modelos entrariam em sequência, uma última vez, com ao final, para terminar o evento. Um a um, os modelos foram entrando de volta na passarela, ao som de Legends Never Die e dos aplausos em pé dos convidados. foi a última das modelos a entrar, pisando confiante na passarela, iniciando novamente o caminho que já havia decorado durante toda aquela semana, passo por passo, tentando se concentrar no que tinha que fazer e não no que tinha dado errado. Era boa no que fazia, talvez uma das melhores. E não tinha Carlos Sainz que tiraria aquilo dela.
A modelo fez seu caminho até a ponta e, ao voltar, assim que passou na frente de onde Carlos estava sentado na plateia, em um puro sinal de deboche, virou-se levemente para ele e mandou-lhe um beijo no ar, indo de volta confiante até o lugar onde tinha que parar na passarela, parecendo dez vezes mais segura do que da primeira vez em que entrou. Nunca tinha errado um único passo em todos seus anos de carreira e aquele deslize poderia prejudicá-la no futuro, mas tentou não pensar nisso, ao menos não naquele momento. Estava de cabeça quente, quase colocou toda a confiança de e da marca dela em seu trabalho a prova e, ainda, quase tinha descontado seu momento ruim na amiga. Iria pensar em como consertar aquilo mais tarde.
Formando um corredor na passarela, junto com todos os outros modelos, assistiu aparecer dos bastidores e caminhar feliz pela passarela, pelo meio onde ela e os modelos estavam, enquanto as pessoas aplaudiam eufóricas, a parabenizando de seus lugares. estava radiante, andando calmamente enquanto também aplaudia, cumprimentando os modelos conforme passava por eles, até chegar na ponta da passarela. Com todas as câmeras e olhares nela, ao tempo que a música ainda era tocada ao vivo e novos recortes de vídeos com seu pai passavam pelas paredes, olhou para o céu, com os olhos cheios de lágrimas e deu dois tapinhas leves em seu coração, voltando em seguida pelo mesmo caminho.
Hermann tinha feito história para a moda naquela noite. E onde quer que seu pai estivesse, sabia, ele estava muito orgulhoso dela.
Ela viu a amiga passar empolgada pelas amigas na plateia, mexendo com elas rapidamente, que gritaram animadas. Trocou um olhar feliz com Charles, que parecia orgulhoso e lhe lançou uma piscada discreta, e mandou um beijo para Carlos, que assoviava para a amiga, aplaudindo fervorosamente. Assim que passou por , a abraçou de lado e, juntas, voltaram aos bastidores, puxando a filha de modelos de volta para dentro. Noelle, a mãe de a esperava chorosa, segurando um grande buquê de flores e viu a amiga correr até a senhora, a abraçando fortemente, permitindo-se chorar também.
A equipe se acumulava ao redor de , sorrindo e aplaudindo o desfile que havia sido um grande sucesso. A empresária não poderia estar mais feliz. Alan Walker continuou tocando mais uma ou duas músicas, até os convidados começarem a deixar o local do desfile, satisfeitos, com boas impressões e muitos comentários eufóricos sobre a coleção. E pelas duas horas seguintes a loucura ainda continuou nos bastidores.
e estavam emendando uma entrevista na outra, uma sessão de fotos na outra, paravam para conversar com pessoas que as queriam cumprimentar e mal conseguiam respirar direito. Lily chegou com Carmen, Luisa, Charles e Carlos quando fazia um discurso, emocionada, a todos os participantes, os agradecendo pelo trabalho duro e pelo empenho, dedicando tudo o que vinha daquela noite a eles. Os amigos pegaram bebidas que estavam sendo servidas ali e juntaram-se ao brinde e aos aplausos que ressoavam ao final do discurso. Lily viu conversando com o maquiador, mais afastada deles, e correu para falar com a amiga.
— Ai meu Deus, vocês estavam incríveis! — Lily abraçou a amiga por trás, enquanto ela sorria e pedia licença ao colega de trabalho. O restante do grupo logo aproximou-se também, assim que viram Lily com ela, e a abraçaram, parabenizando a mulher pelo excelente trabalho. Carlos, contudo, ficou para trás de propósito, sem querer se juntar ao grupo e, para disfarçar, aproveitou para puxar assunto com uma outra modelo.
— Eu estou tão feliz, estava tudo simplesmente perfeito! arrasou demais! — sorriu, vendo a amiga se aproximar.
— Nós arrasamos! Eu estou em êxtase, parece que todos amaram o desfile e, até o momento, só recebi elogios — comentou empolgada, abraçando as amigas — Vamos ver as críticas amanhã.
— É claro que vão ser as melhores possíveis, deu para ver o quanto você se empenhou nessa coleção e cada detalhe está incrível — Charles aproximou-se dela, abraçando-a pela cintura enquanto beijava sua têmpora rápida e discretamente. Lily e Luisa se entreolharam, fazendo biquinhos fofos para o casal.
— Eu já vou aproveitar o pre-order para pedir umas peças, inclusive — Carmen comentou empolgada.
— Eu vou esperar me dar algumas de presente — Luisa lançou um olhar charmoso para a amiga, tirando risadas de todos.
— Obrigada, pessoal, estou muito feliz que puderam estar aqui — respondeu, sem se importar em se manter abraçada por Charles, pegando outra taça de champanhe do garçom que passava por perto — E onde está o Carlos?
— Estou aqui, minha deusa — Carlos aproximou-se rindo, abraçando a amiga — Estava tudo incrível, , como eu achei que estaria, e impecável, como te disse que ia ser. Você nunca decepciona no que coloca o seu coração, sabe disso.
Apesar de ter desviado o olhar dele desde o segundo que ele se aproximou do grupo, se segurou para não sorrir ouvindo aquilo. Carlos parecia delicado e atencioso, amoroso, acolhedor. Um Carlos bem diferente da versão que parecia aflorar nele quando estava perto dela. O que tinha que parecia não conseguir despertar aquele lado fofo dele? Ela não sabia. A modelo suspirou discretamente, o ouvindo continuar a dizer para :
— Parabéns por mais uma conquista. Estou tão feliz por você que parece que eu acabei de ganhar uma corrida.
— Gracias, cielo! — sorriu sincera para ele — E posso saber por que estava conversando com a Nadine?
— Então, esse é o nome dela? — Sainz perguntou retórico, sorrindo sugestivamente — Bom saber…
— Você é ridículo, sabia? — não conseguiu segurar e, quando percebeu, já tinha feito o comentário alto demais.
— Por um momento até me esqueci de que você estava aqui — Carlos finalmente olhou para ela.
— E tudo o que eu queria era que você não estivesse — sorriu debochada para ele e revirou os olhos.
— Ainda não me superou, amorzinho? — Carlos tomou um gole de sua bebida.
— Desculpa? Pode repetir? Acho que não consegui te ouvir, o alarme da minha Ferrari deve ter tocado, acho que preciso ir lá verificar — Cínica, passou por ele sem se preocupar em trombar em seu ombro e saiu rapidamente de perto do grupo, indo conversar com outras pessoas.
Como se tivesse caído uma bomba em si, Carlos a olhou irritado, se lembrando daquele pequeno detalhe. ainda estava com o seu carro, fingindo a maior casualidade do mundo, sem parecer ter intenção alguma de devolvê-lo ou de se desculpar. Ele bufou exausto, enquanto tomava um grande gole de sua bebida e a assistia ir cada passo mais longe dele. Estava já ficando cansado de tudo aquilo.
Os amigos, que assistiam quietos à nova pequena discussão deles, não acreditavam na insistência implicante dos dois. Estavam prontos para separar a briga a qualquer momento, mas tudo que observavam eram dois grandes idiotas, que, no fundo, tinham muito em comum e não conseguiam nem se permitir notar aquilo. E talvez houvesse um pouco de tesão reprimido também, que se acumulava desde que se viram pela primeira vez.
— O que foi? — Carlos perguntou reparando que todos os amigos o encaravam.
— Não seja um idiota e vá conversar com ela — Lily o empurrou levemente, tirando a taça do rapaz.
— Por que eu deveria? Estava me mantendo longe dela até agora, ela quem começou — Carlos resistiu, tentando pegar a bebida de volta, mas Carmen logo a puxou para si e tomou todo o conteúdo de uma vez, sorrindo para ele. Carlos revirou os olhos. Odiava aquele complô.
— Não, Sainz, foi você quem começou quando resolveu dizer aquele monte de merda sobre ela — Luísa falou com obviedade.
— Naquele vídeo infeliz e que foi a público — Carmen completou a amiga, vendo Carlos fechar sua expressão em claro sinal de confusão. Não tinha ideia do que ela estava falando. Vídeo? Que vídeo?
— Não sei do que estão falando — O piloto negou com a cabeça, olhando cada um dos amigos à sua frente.
— Não mostrou pra ele ainda? — se virou apreensiva para Charles que, ao seu lado, negou com a cabeça sem dizer nada.
Não tinha tido tempo de mostrar o vídeo e Charles não queria fazer aquilo no meio do evento e nem em público. Só o fato de estarem ali já estava chamando atenção suficiente e, certamente, já daria material o bastante para novas fofocas sobre todos eles surgirem no dia seguinte.
Impaciente, contudo, Carmen tirou o celular do bolso, abriu o Instagram e, pesquisando pelo nome de Sainz, encontrou rapidamente o vídeo. Sem tanta discrição, ela se aproximou dele mostrando-lhe o tal vídeo, indigesta por vê-lo novamente. Carlos, por sua vez, assistiu em silêncio, horrorizado consigo mesmo. Tentava pensar em qual momento aquilo havia acontecido e parecia não encontrar resposta. Ficou muito bêbado depois que viu as fotos dele com no clube de golfe. Desesperou-se em tentar não pensar nas coisas que pensou quando viu aquelas fotos, nos sentimentos confusos e incertos que parecia ter por ela, na vontade de fazer qualquer coisa para chamar sua atenção, para tê-la.
Imerso naqueles sentimentos caóticos, novos, e no álcool que ingeriu sem parar, Carlos acabou assumindo mais do que deveria, sobre o que sentia por ela, para Charles e, envergonhado, tentando apagar tudo aquilo de sua mente e de seu coração, ele seguiu bebendo fervorosamente. Saiu com uma mulher qualquer da festa, eles dormiram juntos e o piloto fugiu para seu quarto logo cedo, na manhã seguinte. Aquilo era tudo o que ele se lembrava. Sem vídeos, sem declarações, sem ser um idiota com outras pessoas senão consigo mesmo e com o que ele sentia.
Era só isso que ele se lembrava.
Aquilo deveria ser uma piada de mal gosto ou uma montagem, não era possível. Era?
— Agora tudo ficou mais claro? — perguntou séria, observando Carlos reassistir ao vídeo, confuso.
— Eu não… me lembro de dizer isso — Sincero, Carlos levantou seu olhar até ela. Parecia assustado.
— Claro que não, estava tão bêbado que me surpreenderia se lembrasse — Charles riu sem graça.
— Por que você não me disse nada? — Carlos parecia magoado, encarando Charles — Por que não disse que tinham me filmado?
— Porque eu também não vi, cara, foi mal — Charles rebateu honesto, encarando o amigo de volta — Você falou um monte de merdas nessa noite, tinha muita gente lá, eu não vi que estavam nos filmando. Tentei te levar embora, mas você não quis ir, fez um show e eu fui embora sozinho. E te disse mais cedo: se só de ver as fotos você já ficou nesse estado deplorável, — Charles apontou para o celular nas mãos do amigo — não sabia o que esperar de você quando visse o vídeo. Achei melhor chegarmos aqui primeiro, antes de te mostrar. Até porque, caso visse antes, com certeza você não ia querer mais vir e você não poderia deixar de estar aqui, com a .
Carlos ficou em silêncio por um instante, absorvendo tudo aquilo. Não se lembrava de ter dito nada, não se lembrava das outras merdas que falou e, no fundo, agradeceu mentalmente pelo vídeo vazado só ter aquela frase. Ele sequer se lembrava de Charles tentar levá-lo embora e não tinha memória do amigo o deixando sozinho na festa. Possivelmente tinha falado merda para Charles também, a ponto de ele ter ido embora. Carlos estava se sentindo mal. Péssimo, na verdade. Como se estivesse sendo colocado contra a parede por todos os seus amigos e ele sabia que tinham razão. Tinha passado do limite do aceitável e não tinha certeza se conseguiria consertar aquilo. Talvez não com .
— Me desculpe — Carlos pediu baixo para o amigo.
— Não é a primeira, e nem será a última vez, que vou aturar a versão bêbada de Carlos Sainz — Charles deu um soco no ombro do outro piloto, que riu.
— E não é que ele sabe pedir desculpas? — Lily brincou irônica, tirando uma bufada de Carlos.
— Só precisa aprender a se desculpar com as pessoas certas agora — Luisa concordou, virando-se para a amiga.
— Eu ainda estou aqui — Carlos cruzou os braços, encarando as duas amigas.
— Mas não deveria — falou estridente — Precisa começar a fazer algo para lidar com essa merda toda.
— Por que ninguém está fazendo nada para retirar esse vídeo do ar? — Carlos chacoalhou o celular de Carmen, levemente desesperado.
— Por que agora já era. O vídeo original foi retirado, mas não tem mais o que ser feito agora que tem milhares de compartilhamentos — Lily explicou, enquanto o piloto ainda segurava o celular da amiga e lia, agora, a declaração da modelo.
— E a gente não pode fazer nada quanto a isso? Isso é ridículo — Carlos continuava indignado, pensativo. Não sabia se estava mais bravo com a situação como um todo, consigo mesmo por ser tão idiota ou com por, alguns passos dali, parecer fingir que nada estava acontecendo.
— Só se você quiser processar pessoa por pessoa que está compartilhando o vídeo — Carmen olhou para o piloto super debochada — E até onde eu vi, já está com milhares de compartilhamentos.
— A questão aqui não é essa, gente, está feito — Luisa voltou a atenção para si mesma, séria, enquanto todos a olhavam — Carlos, você precisa ir conversar com ela. Imagina como ela deve estar se sentindo!
— Eu concordo com a Lu — disse baixo, olhando ao redor, com cuidado para que ninguém os ouvisse — Você errou feio e agora vai precisar consertar o que fez.
— Vá lá conversar com ela — Lily foi empurrando o rapaz para fora do grupo — Não seja um bundão e haja como um cavalheiro, por favor.
— Te trouxe aqui para isso, afinal — Charles concordou rindo — Boa sorte, bundão.
Sem ter qualquer chance de protestar, Carlos foi jogado sentido ao amontoado de pessoas próximas ao grupo, a fim de procurar pela modelo. Sabia que seus amigos tinham razão, ele tinha perdido a linha e precisava se desculpar com . De fato era impulsivo em certos momentos, mas nunca daquela forma, por isso, estava surpreso com o que aconteceu na outra noite e chocado em ter sido o último a saber daquela merda toda. Precisava dizer a ela que, apesar das provocações e das briguinhas que tiveram, de não serem exatamente as pessoas mais compreensivas e amigáveis um com o outro, ele jamais teria dito aquilo sóbrio. Foi além das besteiras que estavam acostumados a dizer um para o outro, além da raiva gratuita que ainda os deixava, ao menos, suportáveis.
Não que justificasse, ou talvez explicasse, ao menos, mas ele estava furioso pelo vazamento de fotos e não soube como reagir. Odiava quando situações como aquela aconteciam, toda a exposição, as mentiras sobre sua vida, e justamente com alguém que naturalmente o tirava do sério, o desprezava. Ele precisava dizer que nunca pensou em nada daquilo que efetivamente disse. Pelo contrário, negou algo por puro impulso, talvez por ser algo que, no fundo, ele pensava justamente o contrário. Não diria aquilo a , claro que não. Mas tinha que se desculpar com ela. Não seria babaca a ponto de saber que a tinha magoado e seguir a vida.
Carlos estava se sentindo mal. Mal por ser quem era, talvez, mal por ter feito aquela merda. Ele seguiu caminhando pelo lugar, sorrindo contido e cumprimentando pessoas que eventualmente paravam para falar com ele, mas sem realmente dar muita atenção a elas. Seus olhos corriam ansiosos pelo lugar, em busca de até, alguns minutos depois, a encontrar sozinha em um canto. Ele respirou fundo e seguiu até ela, assim que uma das mulheres que a acompanhavam, conversando animada, pediu licença e foi conversar com outra pessoa. Claramente sem saber o que fazer, para onde ir, olhou ao redor, observando seu entorno por um instante, até perceber quem se aproximava.
— Será que podemos conversar? — Carlos perguntou quando se aproximou da modelo, a vendo revirar os olhos.
— Eu não tenho nada para conversar com você — negou com a cabeça.
— Acho que temos sim — Com as mãos nos bolsos da calça, o piloto insistiu, sério.
— O que você quer, Sainz? — perguntou, se certificando de que ninguém os ouvia.
— Acho que te devo um pedido de desculpas e… — Carlos ia continuar, mas foi interrompido.
— Pelo o quê? — A voz estridente dela misturava-se com a ironia, uma postura soberba — Por ser um idiota quando nos conhecemos? Por me tratar mal desde o primeiro momento? Por ter objetificado minha profissão…? Ah, não, espera! Por ter debochado e, mais uma vez, desmerecido não só a mim, mas ao meu emprego?
— Dá para parar de ser injusta? — Carlos falou sério, contido — Eu estava bêbado, não quis dizer aquelas coisas.
— Estava bêbado das outras vezes também? — A modelo cruzou os braços.
— Eu vim te pedir desculpas! Por que você tem que transformar tudo em briga, ? — Sainz a encarava nos olhos, impaciente em ver que o assunto, mais uma vez, seguia por outros lados. Não entendia porque ela sempre tinha que trazer aquilo à tona, porque não podia simplesmente sair da defensiva e tentar fazer qualquer coisa entre eles dar, minimamente, certo.
— Eu? Você é quem sempre tem uma desculpa para ser um idiota comigo — engrossou a voz no final, tentando imitar a voz e o sotaque carregado do piloto.
— Qual é a sua? Não consegue dar uma folga nem quando estou tentando conversar sério com você? — Carlos negou com a cabeça, incrédulo.
— Essa é sua forma de tentar? — A modelo debochou.
— Sabe qual é o seu problema? Você se acha superior a todo mundo, não é? Não consegue nem ouvir o que as pessoas têm a dizer para você, não suporta se mostrar nem minimamente vulnerável a elas — Carlos aumentou o tom de voz e chamando a atenção de algumas pessoas ao redor — Mas aqui vai a novidade: você não é superior a nada, lindinha, é só mais uma garotinha mimada que tem tudo fácil, nunca precisou conquistar nada e ainda é cheia de si, como se o mundo girasse ao seu redor.
— E você se acha melhor do que isso? Por que me parece que acabou de descrever a si mesmo, Sainz — gritou de volta, mais alto do que ele, enfurecida. Não queria demonstrar como as palavras do piloto mexiam com ela. Aquela era a vida que ela tinha, era quem ela era e ele não tinha lugar algum de fala. estava se sentindo tão irritada que mal conseguia formular uma frase racional, cuspiria qualquer palavra que viesse a sua mente, e foi o que ela fez — Ou vai me dizer que estaria onde está hoje se não fosse pelo seu papai ter comprado absolutamente tudo para você?
— Não seja ridícula, . Você também não estaria onde está se não tivesse tudo, a vida inteira, sendo feito por você — Carlos bufou, a olhando com raiva. Mas não pareciam ter palavras que poderiam contê-la naquele momento, tamanho o caos que ela parecia estar envolvida em si mesma.
— A diferença entre nós dois é que eu, pelo menos, faço o que faço bem feito — Ela gritou, nervosa.
— Tem certeza disso? Porque não foi o que pareceu meia hora atrás — Ele apontou para trás, se referindo ao momento em que simplesmente travou na passarela. Ela semicerrou os olhos, irada.
— Você não tem talento nem para ser piloto, Sainz, o que está falando? Não tem talento para esporte algum, na verdade. Brinca disso porque não deve ter mais nada para fazer da vida e precisa de gente constantemente enchendo a sua bola.
— Que porra você acha que sabe sobre a minha vida para falar esse monte de merdas? — Ele franziu a testa, totalmente incrédulo em ouvir aquilo.
Imersos no que sentiam naquele momento, eles sequer repararam quando as pessoas ao redor passaram a prestar atenção neles. Estavam nervosos, falando alto o suficiente, aos gritos, para que chamassem atenção das pessoas próximas e, aos poucos, foram se silenciando, extremamente curiosas. As fofocas de que eles estavam juntos, como um casal, já estavam espalhadas, junto com vídeo de Carlos negando tudo, apesar de ele ter ido ao desfile, em teoria, vê-la e do beijo que ela lhe lançou ao ar enquanto desfilava mostrarem o contrário. E lá estavam eles, gritando em público. Não era possível entender o que se passava. Estavam juntos ou não? Estavam se negando um ao outro e fazendo cena em público para espantar as fofocas? Ou para esconder o caso que estavam tendo? As pessoas não entendiam direito o que acontecia entre eles mas, pelos olhares curiosos, estavam atentas e querendo entender.
Vendo o circo se armar, de repente, os amigos se aproximaram de e Carlos rapidamente, exaustos daquela situação e confusos em saber o que acontecia entre eles dois para causar tanto rebuliço dessa vez. Lily, Carmen e Luisinha vieram na frente, e se posicionaram mais ao lado de , enquanto Charles e seguiram alguns passos atrás, indo para o lado de Carlos, abrindo caminho entre as pessoas. Eles se entreolhavam tensos, nervosos. Era possível ver que os olhos da modelo estavam cheios de lágrimas e Carlos, apesar da expressão travada e o maxilar enrijecido, parecia bastante magoado em ouvir aquilo tudo.
Nenhum dos dois se importou com a chegada dos amigos.
— O mesmo tanto que você sabe sobre a minha — bateu uma palma irônica e riu sem graça — e mesmo assim gosta de opinar sobre ela. Não é ótimo isso?
— Não, não é. Eu nunca opinei sobre sua vida, eu nunca disse nada sobre você e você saberia disso se, desde o primeiro segundo em que colocou os olhos em mim, não tivesse sido um pé no saco, reagindo ao que eu dizia como se fosse para você — Ele negou com a cabeça e passou as mãos pelos cabelos — e como poderia ser, ?
— Patético, Sainz — Ela cuspiu as palavras, alto. No fundo, não sabia exatamente como rebater aquilo, porque sabia que, ao menos naquele ponto, ele tinha razão. Talvez tudo pudesse ter sido diferente se ela tivesse entendido o que acontecia com ele para dizer o que tinha dito quando se conheceram. Era reativa, era um fato. Mas era, igualmente, orgulhosa. E nunca, jamais, assumiria aquilo naquele momento.
— Patético é esse show que você está dando — Os olhos escuros dele pareciam decepcionados e um pouco tristes, mas sua voz se mantinha alta, como a dela — Isso é ridículo! Eu só vim conversar com você, te pedir desculpas!
— Então, acho que já pode ir embora — gesticulou para ele sair dali, em um tom de voz acusatório, rude — Por que não pega seu carrinho de segundo piloto, se concentra em, pelo menos, tentar vencer uma única corrida em sua vida e me esquece de uma vez por todas?
estava magoada com ele. Carlos já tinha entendido aquilo. Podia se colocar no lugar dela e podia imaginar como se sentiria na situação contrária, se ela tivesse dito às coisas que ele disse sobre ela. Ele tinha errado, ele assumia aquilo. E estava decidido a assumir aquilo para ela também, não fosse por parecer querer ofendê-lo de todas as formas possíveis. E estava conseguindo. Sainz já não mais pelo o que estava triste. Se por tentar conversar sério com ela e ser ignorado, se por ver que suas desculpas não valiam de nada, se pelas coisas que ela gritou na cara dele sobre sua vida, seu pai e sua profissão. Se sentia exposto, mal, chateado. Se sentia mais magoado do que irritado naquele momento, incrédulo em ouvir aquilo, em se dar conta de que havia muita gente ao redor ouvindo também. Era demais. Talvez não merecesse suas desculpas, afinal.
— Por que você não vai se fod… — Com a voz mais baixa, sem desviar seus olhos dos dela, Carlos chegou a dizer, mas logo foi interrompido pelo grito de .
— JÁ CHEGA!
A amiga se enfiou no meio dos dois, os encarando magoada. E foi só naquele instante, quebrando o olhar entre eles e olhando que Carlos e perceberam, de fato, o que aconteceu ali. Tinham acabado de destruir a noite dela. Tinham destruído toda a festa que faziam pelo sucesso do desfile, tinham conseguido chamar mais atenção para si, com aquele show de horrores, do que com todos os feitos daquela noite, com os meses que passou trabalhando.
Eles seriam, certamente, o destaque das notícias da manhã seguinte, quando, na verdade, deveria ser , sua marca e sua coleção ou, no máximo, o fato de Charles ter atendido ao evento dela, com os rumores de serem um casal. O momento, o evento, a celebração de uma conquista da amiga foram substituídos por uma discussão sem cabimento e infantil daquelas. E viam nos olhos tristes de que ela estava chateada com eles. Não só pela nova briga e pelo lugar inapropriado que escolheram ocupar com ofensas, mas por, uma vez mais, não conseguirem se acertar.
— Acabou a discussão pessoal — Irritada, desviou o olhar para as pessoas ao redor, fazendo um sinal para que saíssem — E o evento também. Obrigada por terem vindo.
— Voltem a circular, boa noite a todos — A agente de aproveitou a deixa, indicando às pessoas onde era a saída, às puxando consigo.
Os amigos esperaram os poucos minutos que demoraram para que as pessoas efetivamente deixassem o local, em um silêncio tão profundo que estava constrangedor. Carlos não conseguia mais olhar para , embora sentisse, às vezes, o olhar dela recair sobre ele. foi tomada por uma sensação tão ruim que sentia seu corpo tremer ligeiramente. Não devesse um pedido de desculpas para , ela já teria ido embora dali junto com todo o resto das pessoas.
Meio consolador, Charles passava a mão carinhosamente nas costas de , sem saber exatamente o que dizer, enquanto, ao seu lado, Lily olhava de um para outro, sem realmente acreditar no que tinha acontecido. Carmen e Luisinha se entreolhavam receosas, esperando que, a qualquer momento, a briga recomeçasse. Mas isso não aconteceu.
— Eu achei que a aposta seria o auge de vocês dois, mas essa briga patética extrapolou tudo — Lily quebrou o silêncio, assim que reparou estarem, enfim, sozinhos. A única exceção era a mãe de e sua agente, que recolhiam as coisas da estilista em silêncio, esperando por ela para irem embora.
— Eu sinto muito, — Carlos olhou sentido para a amiga. Sua voz estava baixa e a expressão séria, chateada — Não queria ter acabado com a sua festa.
— Mas acabou — Charles rebateu simplesmente, olhando o amigo — Achei que tivesse te trazido aqui, Carlos, para dar apoio para e conversar como um adulto com , e não acabar com tudo de uma vez.
— Foi a pior coisa que você poderia ter feito, Charles — olhou magoada para o monegasco.
— Não começa — Carmen se intrometeu, séria. Sabia que estavam os dois de cabeça quente e qualquer coisa já parecia o suficiente para continuarem aquela briga.
— Achei que seria importante vocês dois conversarem e parar com essa merda toda de uma vez — Charles estava sério — Mas, claramente, vocês conseguiram piorar tudo.
— É impossível conversar com ele, porque ele não sabe ser uma pessoa agradável — riu sem graça alguma, cruzando os braços.
— Como se você soubesse — Carlos negou com a cabeça, sem sequer olhar para ela — Eu tentei te pedir desculpas. Mas você não sabe ouvir, só quer falar, não é? A dona da razão.
— Já chega, gente — Luisinha pediu, gesticulando — Já deu.
— Olha quem fala… — tentou retrucar, mas foi interrompida.
— JÁ CHEGA! — gritou brava, totalmente impaciente — A gente tentou fazer isso dar certo, mas não temos a obrigação de ficar aguentando isso.
— Se não querem se resolver, ótimo, só se deem ao trabalho de serem minimamente adultos na nossa frente e de outras pessoas — Lily completou.
— Principalmente na frente de outras pessoas — Carmen concordou, séria — Pensem melhor da próxima vez que forem perder a linha em público.
— Me desculpe por hoje, — pediu baixo, segurando-se para não voltar a ser acusatória com Carlos que, naquele momento, subiu seu olhar surpreso até ela, como se tivesse chocado com o fato dela saber pedir desculpas.
— Acho melhor a gente ir embora, já deu por hoje, estamos todos cansados — Vendo a reação propositalmente exagerada do amigo, Charles propôs, antes que pudesse rebater aquilo.
— Quer saber, eu acho melhor mesmo — concordou e, sem sequer se despedir deles, virou-se rapidamente, voltando para dentro da sala onde poderia pegar sua bolsa e ir embora.
Os amigos em torno do piloto espanhol se entreolharam por um instante, até ouvi-lo bufar enquanto saia de perto deles, indo em direção a mãe de :
— Uma grande perda de tempo — Carlos resmungou, sacando o celular do bolso para ligar ao piloto de seu jato particular.
Capítulo 5
Milão, Itália
Carlos não se lembrava de ter tido alguma discussão como aquela em sua vida. Com absolutamente ninguém. Sempre teve uma personalidade mais forte, mas fechada, menos simpática e expansiva do que seus amigos, por exemplo, mas não tinha se dado ao desgosto de alguém como parecia acontecer com . E ele simplesmente não conseguia entender o que exatamente acontecia e o que os levou a chegar até aquele ponto caótico. Não tinham tido um bom começo, era fato. Carlos estava absolutamente normal no dia em que a conheceu e teve uma fala isolada mal interpretada pela modelo que, sem sequer dar a chance de conhecê-lo, já tomou as dores para si mesma e se intrometeu em um assunto que não lhe cabia. E a partir disso, qualquer coisa parecia ser motivo o suficiente para o detestar. Parecia que a simples presença de Carlos na frente dela já ultrapassava um limite que ela mesma tinha se imposto, a ponto de incomodá-la tanto, que explodia.
Como havia explodido naquele dia.
tinha ficado visivelmente desconcertada em vê-lo no desfile. Certamente pelos acontecimentos recentes, pelas fotos compartilhadas pelo mundo inteiro, pelo vídeo vazado. Carlos podia entender o ponto de vista dela na história, ele mesmo se sentiria da mesma forma, se fosse o contrário. Mas o que o incomodava era a confusão que sentia em tudo o que aconteceu depois daquilo. As palavras de soavam em sua mente como murros que ele não conseguia parar de sentir. O tom acusatório, os gritos, o olhar magoado nele. A impossibilidade de deixá-lo ao menos se desculpar com ela, a visão que ela tinha dele. Carlos não entendia de onde vinha tudo aquilo. Não sabia o por que o negava tanto, por que parecia que só via o lado ruim que ele aparentemente tinha, por que não baixava sua guarda por um único dia e, pelo menos, tentava entender o lado dele.
Estava ofendido por cada palavra que ela havia dito, estava se sentindo mal por ter dito coisas que não gostaria, pelo vídeo, pelo jeito que deixou toda a relação deles ser construída. Não gostou de ser chamado de segundo piloto, odiava quando jogavam isso em sua cara. Batalhou muito para chegar onde estava, sempre se destacou no que fazia e, por anos, vinha calando a boca de todos que diziam que era apenas um “piloto pagante”. sequer o conhecia. Não tinha o direito de avaliar sua vida e seu trabalho daquela forma, não tinha direito de expor ele em público, como ele, sem querer, havia feito com ela dois dias antes. Carlos estava ridiculamente confuso. Cansado de toda aquela situação, do jogo de dois pesos e duas medidas que estava jogando sozinho, desde que se sentou no banco do jato e decolou de volta para sua casa. Tentava colocar tudo o que fizeram um ao outro em uma balança para entender qual lado estava pesando mais, torcendo para que não fosse o dele.
Por mais que não tenha gostado muito do jeito que Charles construiu toda aquela cena para que ele fosse até Milão falar com ela, por um momento, enquanto procurava por no final do desfile, Carlos realmente acreditou que, daquele dia em diante, pedindo desculpas, se deixando ser verdadeiro e se mostrando quem ele realmente era, tudo pudesse ser diferente entre eles. Mas não poderia. Nada podia mudar entre eles, porque aquela era . Uma mulher absolutamente linda, forte, responsável, dedicada ao que se propunha fazer, mas reativa, teimosa e injusta também. Alguém que não se permitia errar, que não permitia erros também. Alguém que não daria uma chance em conhecer Carlos, mesmo que ele tentasse. E, depois daquele dia, ele já achava que não mais valia a pena tentar.
A fúria e todo o nervosismo do momento foi se acalmando pelo caminho, dando espaço para a confusão, conforme Carlos refletia em silêncio sobre tudo o que tinha acontecido. E só realmente reparou que ficou imerso em todos os seus sentimentos e pensamentos quando, enfim, pousou em Madrid. Estava ignorando as mensagens que Charles insistentemente lhe mandava, querendo saber onde ele estava e se estava bem e preferiu ater-se em responder , apenas, pedindo desculpa mais uma vez por ter causado o tumulto em seu desfile de estreia como estilista e dizendo que passaria um tempo longe, em casa, até tudo ser abafado.
, por sua vez, depois da briga patética com Carlos, foi rapidamente embora para sua casa, sozinha. Não deu a chance aos amigos de sequer conversarem com ela sobre o que tinha acontecido, evitando criar ainda mais problemas do que ela tinha criado naquele dia. Chegou em seu apartamento, foi direto tomar um bom e relaxante banho em sua banheira e por ali ficou quase uma hora, repassando tudo que havia acontecido mais cedo. Sabia que não tinha sido justa com o piloto, que tinha perdido a cabeça, dito coisas que jamais diria sobre ele, que o tinha julgado errado. Pegava-se pensando em cada palavra que deixou sair de sua boca naquela noite, se perguntando porque tinha se afetado tanto a ponto de sequer perceber o que fazia.
Estava magoada com Sainz, pelo vídeo. Magoada em saber que ele a parecia resumir a só um rostinho bonito e filha de milionários, como a grande maioria das pessoas que nem a conheciam achava dela. Carlos a conhecia, afinal. Ao menos, mais do que tantas outras pessoas no mundo. E, mesmo assim, não se deu a chance de ver a mulher que ela era, suas dores, suas alegrias, seus traumas e sua história. Ele não estava realmente interessado naquilo, estava? sempre disse que nunca seria a sombra de seus pais e batalhava muito para não ser, quem Sainz achava que era para dizer o contrário daquilo? estava tão irritada, tão triste e se sentindo tão mal pelas coisas que disse para ele que deixou-se chorar sozinha naquela noite. Parte dela carregava a bagunça de como se sentia em relação a ele, outra parte a lembrava constantemente sobre o vídeo e uma nova parte dela se arrependia tremendamente por ter sido tão dura naquela noite.
Ao fim e ao cabo, Sainz só queria se desculpar com ela. Foi até Milão ver o desfile, esperou que o evento terminasse para não atrapalhar ela, ela achava, e foi racionalmente conversar com ela. Pareceu sincero, verdadeiro em suas palavras, ao tentar se desculpar, mas tinha estragado tudo. Não tinha dado a chance de ouvir o que ele tinha a dizer, não tinha dado espaço para ele falar, colocar seu ponto de vista. Despejou um monte de porcarias sem pensar em cima dele e, ainda, acabou com o evento de sua amiga. A amiga que deu a ela a oportunidade de estar ali, que a destacou naquela noite, que confiou nela não só a amizade, mas também o seu trabalho e a carreira. sentia que poderia explodir naquela noite.
Mas como toda noite ruim que passa, o dia seguinte sempre amanhece.
E, com ele, decidiu fazer alguma coisa para não mais carregar aquela culpa. As férias de verão começariam oficialmente naquela semana e, com elas, os pilotos podiam aproveitar um mês inteiro livre, para viajar, festejar e descansar, antes de retornar para a segunda parte do campeonato mundial. Por isso, sabia que não teria muito tempo até as meninas se separarem, provavelmente com agendas cheias de viagens, sexo e muita diversão com seus respectivos namorados. Assim, aproveitando que todas ainda estavam na cidade, e uma parte delas em seu apartamento, a modelo as convidou para um almoço digno dos deuses, em um dos seus restaurantes preferidos, com vista para a Duomo di Milano.
Entre taças de champanhe bancadas pela modelo e a melhor massa do país, se desculpou com elas pela noite anterior. A vulnerabilidade em sua voz e em sua postura eram tão atípicas em , incomuns, que as amigas estavam sem saber exatamente como reagir. Apenas a ouviram dizer tudo o que ela gostaria, acolhendo e tentando entender o seu lado da história.
— Não deveria ter dito as coisas que disse e muito menos ali, naquele momento — A modelo comentou sincera, com sua taça de champanhe pela metade em mãos — Me desculpe por isso, meninas, eu fui impulsiva, estava irritada pela surpresa de ver o Sainz lá depois de tudo, chateada com o que ele disse no vídeo, mais do que eu gostaria de assumir, e não queria vê-lo na minha frente.
— Está tudo bem, , nós entendemos — Luisa apertou levemente o braço da amiga, por sobre a mesa.
— Sei disso, amigas, e agradeço vocês por isso, mas me sinto frustrada em não entender o que acontece — confessou — Não sei porque o Sainz me incomoda dessa forma! Eu não deveria nem estar me importando com ele, mas quando percebo, já estou reagindo a absolutamente tudo que vem dele.
— Você sabe qual é a nossa teoria — Lily apontou para ela, vendo o garçom servir sua salada de frutas vermelhas.
— Sem fundamentos — rebateu, tomando um gole de sua bebida.
— Vocês parecem dois adolescentes na escola, que queriam muito se pegar, mas ficam de birrinha — Luisinha fez um biquinho, provocando a amiga.
— A mais próxima da adolescência aqui é você, Lu — revirou os olhos.
— Por isso mesmo eu tenho propriedade para falar — A outra modelo riu, junto com as amigas — e te digo, , você está reprimindo os seus sentimentos por ele, porque gostou do que viu no Carlos, quando o conheceu, mas a personalidade que você esperava dele não é a que é real. E isso te frustra.
— Ui, essa foi profunda — Carmen a olhou surpresa. parecia pensativa.
— Eu sei disso porque passei por isso com o Lando também — Luisinha seguiu contando, um pouco mais séria do que antes — Não dessa forma, claro, a gente não brigava nem nada, só demoramos bastante tempo para nos conectarmos de fato. O que eu esperava dele, no começo, não era o que ele podia me oferecer. E vice-versa. É bem normal isso, vocês só estão canalizando de um jeito… errado.
— Certo, vamos assumir que seja isso o que está acontecendo, — pensou alto, tentando entender a lógica das amigas — então, porque a gente deveria ter algo a mais, sendo que não conseguimos oferecer um ao outro o que buscamos em… outras pessoas?
— Porque tem alguma coisa aí, nesse meio, que faz vocês se conectarem de alguma forma — Carmen respondeu prontamente.
— E meu palpite é o fato de serem tão parecidos, em tantos aspectos, que acabam se vendo demais um no outro — Pegando uma nova colherada de sua salada de frutas, Lily comentou — E isso chega em um ponto que vocês dois conseguem enxergar até as falhas um do outro, sem nem se conhecer direito.
— E, geralmente, do jeito tradicional que a coisa acontece, no começo não conseguimos ver os defeitos das pessoas por quem nos interessamos — concluiu, tomando seu gelato, e logo brincou: — O Charles, por exemplo, não tem um defeito.
— Lá vem a apaixonada — Lily gargalhou junto com a amiga.
— Tem defeito sim! — Sentada ao lado dela, Luisinha se virou para ficar de frente para ela e estridente, brincando, gritou: — Se veste mal para caralho.
— Tudo bem, você tem um ponto — levantou as mãos, se rendendo e voltou-se para , sentada à sua frente: — Mas pense nisso, amiga. Sério. Talvez por baixo de todo o caos que vocês criaram, tenha alguma coisa que ainda está nascendo e que não é claro para vocês.
— Mas, para gente, já está na cara — Carmen concordou, dando uma olhadinha no gelato de . Parecia bonito.
— E, por isso, insistimos que vocês se resolvam… e logo — Como se pedisse aos céus, Lily gesticulou exageradamente, tirando uma risada de . Aquela conversa estava estranha mas, no fundo, parecia fazer algum sentido.
— Achamos que seria legal vocês dois conversarem, se entenderem, perceberem o quanto combinam, ainda mais depois de tudo — Carmen deu de ombros, vendo as amigas concordarem com a cabeça e ignorando o olhar reativo de em ouvir aquilo — Mas não deveríamos ter insistido para ser no desfile.
— Fomos emocionadas — Luísa riu, tomando um gole de seu champanhe.
— Não foi culpa de vocês — A modelo negou com a cabeça, olhando a torta que pediu de sobremesa meio comida no pratinho — Eu deveria ter me… comportado melhor. Sinto muito mesmo, … de novo.
— Está tudo bem, amiga, não se preocupe mais com isso, já foi. O que é a moda sem um pouco de drama, não é mesmo? — brincou, puxando a taça com água para perto de si, fazendo as amigas rirem — No final das contas, o desfile foi um sucesso, a mídia está comentando mais do que esperávamos e você e Sainz abafaram o fato de Charles ter ido também.
tinha visto as notícias naquela manhã. Tinha lido as dezenas de críticas positivas sobre a coleção, sobre o trabalho de , sobre o desfile de apresentação da marca e sobre o evento. Leu os comentários sobre a participação dela, que foi muito bem recebida pelos jornalistas de moda mundo afora, apesar de sua falha, e tinha visto as fotos dela na passarela. Mas não bastasse aquilo, também tinha se deparado com as imagens dela e de Carlos. O jeito que Carlos a olhava enquanto ela desfilava, intenso, surpreso, atento. O sorriso ligeiro, charmoso, que ele lhe deu no final. Ela perdeu algum tempo naquelas fotos e assistiu, mais vezes do que assumiria para si mesma, o vídeo do momento em que ela passava por ele, no final do desfile, e lhe soprou um beijo no ar. Os rumores de que estavam juntos tinham acabado de ganhar um novo capítulo e a mídia estava enlouquecida, tentando entender algo que nem mesmo eles dois podiam explicar.
Depois das fotos vazadas do clube de golfe, a fagulha que acendeu o interesse público neles dois enquanto casal, e a polêmica do vídeo de Carlos dizendo que não teria nada com , o mundo parecia verdadeiramente confuso com eles. Se Carlos negou o que tinham e encheu a boca para desprezar , por que a olhou daquela forma no desfile? E se havia ido pessoalmente em sua rede social desmentir a polêmica, por que no dia seguinte ela parecia brincar em público com ele? O caos que emanava deles parecia interessar, e muito, a mídia e todos aqueles que os assistiam de fora.
A briga, contudo, conseguiu ser contida pelo time de relações públicas da Hermann. Tinham virado a noite varrendo todos os comentários possíveis sobre o evento, no intuito de abafar qualquer que fosse a informação sobre a briga entre e Carlos. Como não tinham sido filmados ou fotografados naquele momento, nos bastidores do desfile, nenhum material que comprovasse ter tido qualquer tipo de conflito no evento poderia ser publicado e, por isso, na manhã seguinte, já não falavam mais daquilo. O evento da Hermann foi consolidado, um sucesso e seus segredos ficariam apenas dentro dos bastidores mais VIPs da marca. E, assim, estava bom.
pareceu mais preocupada no momento da briga do que depois dela. O tempo em que demorou para e Carlos irem embora foi o tempo que o time da Hermann demorou para ter um plano estratégico em abafar aquilo. Estavam no ramo há anos e polêmicas eram passíveis de acontecer a qualquer segundo, por isso, estavam preparados para enfrentar aquilo. Apesar de ter ficado brava com o show armado pelos amigos, assim que tudo se acalmou, passou a ficar mais preocupada com o que diriam deles no dia seguinte, do que com qualquer associação idiota que poderiam fazer com sua marca. vinha uma família muito tradicional e estava aparecendo mais na mídia nas últimas semanas, depois da aparição de Sainz em sua vida, do que em todos os últimos anos. Não sabia exatamente como sua família lidaria com aquilo, mas, pelo o que lhes contava sobre eles, não parecia ser algo fácil de enfrentar.
E Carlos, assim como ela, nunca teve seu nome envolvido em problemas. Aquele era o primeiro vídeo bêbado dele que saia em público, a primeira aparição do piloto dizendo uma merda como aquela e sabia o quanto aquilo poderia impactar sua carreira. Tinham que manter seus nomes limpos, tinham que agradar a mídia, o público, para agradar os investidores e patrocinadores e conseguir se manter ativos nas temporadas, renovar seus contratos. Tinham que se mostrar responsáveis e maduros o suficiente e era tudo o que Carlos não estava parecendo ser naqueles últimos meses.
Por isso, era essencial que nada do que aconteceu entre eles naquela noite saísse para fora dos bastidores do evento. Um fato isolado, que foi brilhantemente trabalhado pela marca de e que, no final das contas, conseguiu manter-se em sigilo. Lily, Luisinha e Carmen ficaram algum tempo com a amiga, assim que todos foram embora, mas não demoraram a ir também. Estavam cansadas do dia extenso que tiveram e, chamando um táxi, foram de volta para o apartamento de , onde estavam hospedadas. A modelo estava trancada em seu quarto, em um silêncio assustador que, mesmo colocando os ouvidos na porta, nenhuma das três conseguiu quebrar. Como acharam que a amiga já estava dormindo, decidiram deixá-la em paz e ir dormir também. , por sua vez, foi embora com Charles, até o hotel onde o monegasco estava hospedado, terminar aquela noite com toda a alegria que o dia lhe trouxe, já sabendo que, na manhã seguinte, ele iria embora.
Mas ele não foi.
— Ainda tentando esconder o Monegato do mundo, ? — Luisinha virou-se para a amiga, que revirou os olhos por baixo dos óculos de sol que usava.
— Olha quem fala! A gente te via no paddock torcendo pelo Lando e se fazendo de desentendida — respondeu sorrindo, vendo a amiga ao lado ficar vermelha — Não é a hora do mundo saber sobre eu e o Charles ainda.
— O mundo já sabe, . HÁ MESES — Lily inclinou-se para frente, falando pausadamente, fazendo Carmen rir.
— Mas não oficialmente, por nós dois — deu uma colherada no gelato.
— Não oficialmente por você — Foi a vez de provocar a amiga, risonha — Charles postou uns stories seus ontem, não tem mais o que esconder.
— E você sabe que eles só fazem isso quando, enfim, oficializam algo — Carmen roubou um pouco do gelato da amiga.
— “Tão orgulhoso”, coração, coração, coração — Com uma voz fina, Lily fez referência ao que estava escrito na foto que Charles postou de , fazendo as amigas gargalharem.
— Não sei do que estão falando — A empresária se fez de desentendida, recebendo gritos em resposta das amigas e logo desviou o assunto — Mas o que ele te disse, ? O Sainz… Antes da gente chegar…
— Ele foi… fofo, eu acho. Tentou pedir desculpas, — assumiu, desviando seu olhar até a catedral de Milão ao lado delas. Como comiam da varanda, aberta, do restaurante, tinham uma vista privilegiada do lugar lá fora — mas eu não deixei ele nem terminar de falar.
— Pelo menos ele reconheceu que errou — Luisa refletiu alto, olhando a vista também.
— Mas acho que, agora, é a sua vez de reconhecer isso também, — Carmen sorriu serena para a amiga, que nada mais respondeu.
Tinha consciência de que Carmen estava certa. Tinha cometido o maior dos erros da noite e, ter chorado seu coração para fora na noite anterior tinha sido bastante libertador para ela, mas não o suficiente. Sempre resolveu seus problemas com maturidade e com determinação, sempre foi responsável pelas suas ações e, mesmo Sainz tirando dela seu lado mais irracional, ela ainda assim sabia que tinha feito merda com ele. só não tinha ideia, ainda, de como consertar aquilo. Ou, ao menos, do que poderia fazer para minimizar a situação. Passariam algum tempo longe um do outro, sem se ver ou se falar, mas, eventualmente, tudo voltaria à tona. E, a tirar pelo fato de estarem todos de férias e com bastante tempo livre, certamente aquele dia, de reencontrar Sainz, não estaria muito longe.
tentou não pensar muito mais naquilo. Ocupou-se em ouvir Luisinha fofocar sobre o vídeo de Gasly com outra menina que não era Kate, enquanto terminavam de comer a sobremesa, e engataram em uma conversa sobre Carmen e George, que já tinham viagem marcada e a mulher não sabia exatamente o que esperar. O clima entre eles ainda estava meio estranho, apesar de, segundo Carmen, Russell estar com “o rabo entre as pernas”, correndo atrás dela naqueles dias todos. O resto da tarde foi bastante tranquilo. se sentiu livre e muito feliz em ter conseguido conversar com as meninas e, entre fazer compras na Galeria Vittorio Emanuele II, e fofocar sobre os últimos acontecimentos do grupo, o dia passou e nenhuma delas sequer percebeu.
Lily foi embora na madrugada, encontrar Albon na Indonésia, onde passariam quase o mês inteiro descansando. Luisa foi embora no dia seguinte, direto para Portugal, onde se encontraria com Lando, enquanto Carmen pegou o trem para Londres, tentando ir pelo caminho mais longo e demorado possível sentido a Russell. Disse que queria colocar tudo em seu lugar primeiro, antes de conversar com ele e, um tempo sozinha, observando o mundo passar pela primeira classe do trem e seus fones de ouvido certamente a ajudariam. Tímido em fazer o convite, mas com a viagem inteira planejada no dia em que passou com as meninas, Charles a convidou para passar as férias com ele na Grécia. A primeira vez que viajariam só os dois juntos, a primeira vez em que passariam tanto tempo a sós, como um casal.
ficou sozinha em Milão. Decidiu tirar um tempo para si mesma na cidade em que vivia, há tempos não fazia aquilo. Nos últimos anos, usava a cidade como residência e quase nunca aproveitava o que ela tinha de melhor. Seria diferente e legal ficar onde era confortável e o clima quente daquela época do ano a animava ainda mais. Encontrou os pais para um final de semana em família, teve tempo para explicar-lhes o que acontecia em relação a Sainz e desmentir todos os boatos que eles ficaram sabendo sobre eles dois. Apesar de achar que seus pais não gostariam nada das polêmicas que ela tinha se metido, eles pareceram reagir bem. Sua mãe se lembrou da época em que começou a sair com seu pai, das notícias que circularam na mídia sobre eles e suas famílias e achava bastante comum alguém como ela, conhecer pessoas como Sainz, se relacionar e ter isso exposto de alguma forma. Passou o final de semana todo insistindo no tema e dizendo o quanto achava o piloto “uma gracinha para ela”.
Nem tão acolhedor quanto a esposa, o pai de a aconselhou a evitar aquele tipo de situação. E apesar do sermão que levou dele, o homem pareceu bastante interessado em saber mais detalhes sobre Carlos e sua família. não tinha muito o que dizer e também não se esforçou em inventar coisas. Apenas reforçou que pareciam boas pessoas, que tinham ótimas qualidades e que não teve muito mais tempo para conhecê-los a fundo. Não deixaria sua opinião sobre Carlos contaminar seus pais. Ao menos, não enquanto nem ela mesma sabia o que dizer sobre ele.
Naqueles dias, ainda, reencontrou alguns amigos, chegou a ir a uma festa de um DJ famoso da região, foi revisitar pontos turísticos da cidade, ficou uma semana no litoral da Croácia, país vizinho, sozinha, descansando. Mas, apesar de estar se esforçando em se manter ocupada, sua mente não conseguia parar de pensar em Carlos. Nas brigas que tiveram, no jeito que ele a olhava. No perfume dele, no jeito que passava as mãos pelos cabelos, o som da risada, a voz grave, o sorriso provocador, o sotaque fofo.
Não conseguia deixar de pensar nas conversas sobre ele que teve com as amigas, em como elas pareciam ver coisas que ainda não eram claras para , no que lhe disse sobre devolver o carro, sobre ele estar chateado porque perdeu o relicário que estava com ela. E, vez ou outra, se pegava olhando as fotos que tinham juntos. Lembrando dos momentos, das provocações, do jeito que ele falava perto dela, dos olhos que desciam para os lábios dele toda vez. Talvez as meninas tivessem razão. Talvez ela não conhecesse a verdade sobre ele, talvez não tivesse se dado a chance de limpar o que tinham vivido até ali e começar de novo, sendo quem realmente eram e não insuportáveis como se faziam ser, de propósito, para atingir o outro.
Talvez estivesse reagindo mal até a si mesma, se recusando a aceitar o que estava bem diante de seus olhos. Carlos Sainz mexia com ela. De um jeito único, que ninguém mais, algum dia, a fez se sentir.
não sabia explicar, ela só queria… queria. Começar de novo, talvez. Conhecer o Sainz que todo mundo ao seu redor conhecia, se deixar ser quem ela era. Mas, para isso, ela precisava fazer alguma coisa, ela sabia. E foi pensando naquilo que, quase vinte dias depois das férias de verão começarem, se lembrou da aposta que haviam feito. As palavras de ecoavam em sua mente como um alerta e ela sabia o que era certo a se fazer - ao menos, alguma coisa dentro dela dizia que tinha que fazer algo. Não podia deixar as coisas como estavam. Não mais. Se Carlos tinha tentado se desculpar, talvez fosse a hora de ela engolir o orgulho e tentar também.
Por isso, como um estalo, naquela sexta-feira ainda de madrugada, saiu de sua casa com apenas uma mala de mão e sua bolsa de documentos e dirigiu em direção a Marbella, a pequena cidade no litoral sul da Espanha. Não pensou muito no que estava realmente fazendo quando saiu de casa, para não desistir. Agiu por puro impulso, sabendo que todas aquelas questões a estavam incomodando e que precisava fazer algo para resolvê-las.
Boas horas de viagem depois, dirigindo pelas estradas mais lindas que ela já havia tido a oportunidade de passar, chegou na cidade espanhola, ao anoitecer. Não conhecia muito bem a cidade, mas sabia que era um paraíso naquela época do ano, onde parte importante da elite europeia se encontrava para curtir o verão nas belas praias, boas festas e muita ostentação. Não foi muito difícil conseguir o endereço que precisava, bastou a ela enviar uma mensagem a Charles, no dia anterior, perguntando pelo endereço de . Suspeitando do pedido de em ter o endereço da amiga, principalmente por ela estar na Grécia com ele, e sem receber nenhuma resposta da modelo sobre aquilo, Charles passou a localização para ela, pedindo apenas que a modelo “não fizesse nada de que pudesse se arrepender depois”.
Lembrando das palavras carinhosas do amigo, suspirou e riu sozinha, aproximando-se da residência em que o mapa apontava ser o seu destino. Tinha localizado a casa de sem grandes problemas e, sabendo que Carlos vivia na mesma vizinhança que ela, não demorou mais do que algumas voltas pelas ruas do suntuoso bairro até localizar a discreta placa com o sobrenome dele, provavelmente indicando a residência de sua família. achou fofo o fato de todas as casas do bairro terem as placas com os sobrenomes e agradeceu mentalmente pelos espanhóis terem aquela cultura, do contrário teria que sair perguntando na rua ou recorrer novamente a Charles.
Sem muito tempo a perder, sentindo seu coração bater tão forte que poderia sair pela boca, ela desligou o rádio e aproximou o veículo da entrada lentamente, surpresa pela elegância e sofisticação do lugar. Ao menos bom gosto a família de Sainz parecia ter. E dinheiro também. estacionou o carro diante do grande portão vitoriano da casa e apertou um botão do lado de fora, identificou-se rapidamente. Ela aguardou ali cerca de dois minutos, até sua entrada ser liberada, agradeceu a pessoa do outro lado e dirigiu-se em direção a entrada da residência. O extenso caminho, cercado por pinheiros altos, formava uma espécie de corredor e dava para uma rotatória, onde, ao meio, havia um belo jardim com um pequeno lago artificial.
Pela quantidade de carros estacionados no local, reparou que a casa parecia cheia e só se deu conta de que, talvez, ela tivesse escolhido o dia errado para estar ali, quando viu um casal muito elegante subir as escadas de entrada da casa. Talvez fosse aniversário de alguém, e ela sequer tinha levado um presente. Talvez estivessem dando um jantar, ou uma festa. E ela certamente não tinha sido convidada. Pensou por um momento o que seus pais diriam se soubessem que ela estava, de sopetão, na casa de alguém e achou melhor não se apegar a isso. Não ficaria ali por muito tempo, o plano era simples: devolver, pedir desculpas pela discussão, ir embora.
Respirando fundo, deixou o carro em frente a entrada e saiu, pisando firme até a porta. Se sentia levemente ansiosa, repassando mentalmente o que deveria dizer quando visse Carlos, mas não teve muito tempo para pensar naquilo porque, assim que pisou no último degrau da escada de entrada, a porta se abriu e, com ela, o pesadelo, e o sonho, de apareceu por ela.
— O que você está fazendo aqui?
Carlos perguntou assim que colocou seus olhos nela. Pelo tom de voz fechado, baixo, ele parecia surpreso, um pouco chocado, em vê-la bem ali, na sua casa. o encarou por um momento, tentando encontrar algum racional que justificasse sua ida até lá, sem parecer totalmente vulnerável a ele. Tinha prometido a si mesma que não levaria nada do que ele lhe dissesse para o pessoal e que se esforçaria em não brigar, de novo, com ele.
Carlos seguia a encarando de volta, com uma mão no bolso da calça cinza, enquanto a outra segurava a porta aberta atrás de si. Estava com uma camiseta social preta, dobrada até o cotovelo e um tênis casual branco. Seu olhar estava intrigado. Não conseguia pensar em nenhum motivo para ela estar ali, desde o segundo que o porteiro de sua casa o informou que ela havia chegado, e se perguntava como foi que ela havia conseguido o seu endereço.
— Olá, Sainz, como vai? — perguntou, um pingo de ironia em sua voz — Eu vou bem, também, obrigada.
— Acho que você não viajou de Milão até aqui para saber como eu estava — Carlos respondeu sério, observando a mulher se aproximar dele com algo em sua mão.
— Não mesmo, vim apenas lhe entregar isto — a modelo abriu rapidamente a mão, estendendo a chave da Ferrari para o piloto, que naturalmente a pegou — e já estou indo embora.
— Você veio até aqui para isso? — Ele perguntou boquiaberto. Não sabia bem como reagir ao fato de que ela havia viajado de Milão até sua casa, até ali, só para devolver seu carro, mesmo o tendo ganhado em uma aposta. Uma viagem de mais de dez horas, para entregar apenas uma chave. Só podia ser algum tipo de brincadeira. — Por que?
— Por que o carro é seu — respondeu com obviedade — Ele não me pertence, Sainz, e nem nunca vai pertencer. Fomos longe demais apostando isso — Continuou dizendo enquanto o rapaz ainda a observava quieto — e longe demais nas coisas que… dissemos.
— O que quer dizer com isso? — Carlos apertou os olhos levemente, desconfiado daquela conversa. Tudo parecia diferente. engoliu seco e respirou fundo, torcendo para não se arrepender de dizer aquilo alguma hora.
— Que eu sinto muito, Sainz — Ela desviou seu olhar do dele — Sinto muito pelas coisas que eu te disse no desfile, não foi certo. Estava… acho que ainda estou, não sei, — soltou uma risada leve, nervosa — chateada pelo o seu vídeo. Não justifica ter agido daquela forma, mas só queria que soubesse que… bom, me desculpa.
Carlos sentiu como se tudo ao seu redor tivesse desaparecido por um instante. estava mesmo se desculpando? Com ele? Estava com a consciência pesada por ter dito tudo o que disse ou alguma coisa havia mudado? O que poderia ter mudado? Carlos não podia acreditar naquilo e, por isso, por não esperar, estava sem reação. Apesar da surpresa e da ligeira incredulidade, contudo, aquilo tinha lhe soado bem. Como se, no fundo, ele esperasse por aquilo, talvez uma mensagem ou uma ligação, ou na próxima eventualidade que se encontrassem por aí, tinha acabado de lhe dar um novo motivo para que ele ficasse, ainda mais, confuso.
Estava com cinco mil respostas prontas e mal educadas para dar a ela, desde que o porteiro disse o nome dela. Esperava mais do mesmo, ou qualquer nova ofensa, motivo para brigar, qualquer coisa, mas não uma guarda abaixada, um orgulho engolido, como acontecia. estava assumindo o seu erro. E não apenas aquilo, estava também voltando atrás em outras merdas que tinham feito. Tinha viajado até lá para lhe devolver o carro, pessoal. Tinha ido porque precisava falar com ele, pessoalmente. E, no fundo, Carlos torcia para que ela também estivesse ali porque queria vê-lo tanto quanto ele queria, pessoalmente.
Sem saber daquilo, mas do mesmo modo que ele, esperava por uma resposta ácida, uma piada de mal gosto, uma risada irônica, uma postura cínica. Não o silêncio do piloto, o olhar intenso e brilhante que não deixavam ela nem por um segundo, a postura calma, serena. Carlos não só parecia absorver o que acontecia ali como procurava um jeito de responder. estava totalmente sem graça e sem saber como agir. Ficou brincando com os dedos e seus anéis, enquanto subia seu olhar para encarar, novamente os olhos perdidos do homem à sua frente. Parte dela, talvez consumida pela ansiedade, torcia para que ele não tivesse desistido de vez dela e a mandasse ir embora dali.
Contudo, no instante seguinte em que pensou naquilo, como se pudesse ouvir o que ela estava pensando, Carlos, finalmente, quebrou o silêncio entre eles, respondendo simplesmente:
— Tudo bem.
— Tudo bem? — repetiu confusa.
— Tentei te dizer isso no dia do desfile, mas não… — Ele cortou o que diria, não querendo ser acusatório — não deveria ter dito nada do que disse também. Me desculpe pelo vídeo, eu nem sei porque disse aquelas coisas, foi… — Tentando se expressar sem parecer confuso, Carlos aproximou-se da mulher, que permanecia parada no mesmo lugar — não posso nem dizer que foi por impulso, porque eu não queria dizer aquilo, não é o que eu… penso de verdade.
piscou algumas vezes, em silêncio, como se quisesse ter certeza de que tinha entendido o que ouviu. Estava surpresa, não pelo pedido de desculpas do piloto, o que era de se esperar, tendo em vista que foi ele o primeiro a dar aquele passo, mas sim pela sinceridade em dizer que, na verdade, ele não teria dito o que disse se não estivesse bêbado. se perguntou o que, então, ele diria, mas conteve-se em perguntar aquilo. Talvez fosse invasiva demais. Talvez estivesse imaginando coisas em sua cabeça.
O olhar intrigado dela deu a Carlos a resposta que ele precisava. Sua fala tinha atingido ela, pela primeira vez desde que se conheceram, de um jeito bom. De um jeito que a tinha deixado sem palavras. De um jeito novo para eles dois. Diferente do que ele imaginava, estava bem ali, na sua frente, parecendo aberta com ele naquele momento, parecendo verdadeira no que tinha ido fazer. No silêncio, sem que soubessem daquilo, os dois estavam felizes por terem se desculpado e, apesar de não saber exatamente o que dizer ou como reagir, se sentiam mais leves só de terem tido aquela conversa simples e estranha.
abriu um sorriso tímido para o piloto, em pé a poucos passos dela, e, enfim, decidiu cortar o silêncio. Não queria tomar mais do tempo dele, imaginava que estava atrapalhando o evento em sua casa, e já tinha cumprido sua missão. Podia voltar para casa com um peso a menos nas costas, com a sensação de que tinha feito a coisa certa e de que, talvez, quem sabe, dali em diante, alguma coisa pudesse ser diferente entre eles dois.
— Vou só pegar as minhas coisas no porta malas e já vou indo — apontou para onde o carro estava estacionado e, vendo o piloto concordar silenciosamente com a cabeça, pensativo, virou-se. Contudo, antes mesmo que pudesse começar a descer os primeiros degraus, uma voz conhecida chamou sua atenção, a fazendo se virar novamente de frente para a porta da casa.
— , certo? — Reyes, a mãe do piloto apareceu sorrindo para a modelo — Que surpresa ótima! Não sabia que vinha jantar conosco.
— Ah, não… — Carlos tentou dizer, de modo que não ficasse constrangida com a intromissão da mãe, ao mesmo tempo em que a modelo falou:
— É um prazer revê-la, Senhora Sainz — sorriu para ela, a cumprimentando com um breve abraço. Carlos segurou a risada ao ver a postura da modelo mudar drasticamente, ficando mais formal, educada e delicada, chamando sua mãe de “senhora”.
— Me chame de Reyes, querida, por favor. Sem formalidades — A mulher riu carinhosa — Venha, vamos entrar. As entradas devem ser servidas em breve.
— Eu agradeço, mas, na verdade, não vim para o jantar — Delicada, sorriu para ela.
— Como não? — Reyes a olhou surpresa.
— Vim só devolver algo que seu filho… esqueceu comigo — trocou um olhar cúmplice com Carlos, que conteve o sorriso.
Tinha dito aos seus pais que seu carro estava na sede da empresa, na Itália, porque precisava de reparos específicos, e evitava qualquer pergunta deles sobre o assunto desde então. Tinha que policiar para não dar com a língua nos dentes para suas irmãs ou nos encontros dela com sua família e tentava manter tudo abafado. Não podia sequer imaginar qual seria a reação de seu pai quando ele descobrisse que Carlos não só colocou sua Ferrari em uma aposta, como a tinha perdido. Imaginava que, em algum momento, a fosse conseguir de volta. Talvez por uma nova aposta, era o mais provável. Mas ali estava ela. E , com seu bom senso apurado, mesmo sem conhecer muito dele e de sua família, como ele achava, tinha parecido perceber que era melhor não ser totalmente verdadeira sobre o que tinha acontecido. Não ali. E não com seus pais.
— Carlos Jr. é muito relapso mesmo, vive esquecendo tudo, desde pequeno — A mulher pareceu ignorar a presença do filho ali, que a olhava sugestivo — Veio devolver porque estava de passagem?
— Mais ou menos isso — riu sem graça.
— E veio com a gangue das meninas mais bonitas da temporada? — Reyes deu uma olhada ao redor, em busca das outras, mas não encontrou ninguém e voltou-se para seu filho — está aqui também? Achei que ela estava na Grécia com o Charles…
— Ela está e só deve voltar no final do mês — Carlos concordou e logo brincou — Graças a Deus me deu férias.
— Graças a Deus ela tirou férias de você, meu amor — Reyes riu com , vendo a cara indignada do piloto — Mas as outras meninas estão aqui?
— Eu vim sozinha mesmo — A modelo sorriu, atraindo a atenção da mais velha novamente — Todas as meninas estão meio ocupadas com os namorados.
— Ah, claro, férias de verão, meio da temporada! Me lembro bem da minha época de namorada de piloto, se é que me entende — Reyes riu feliz com a lembrança. Carlos não sabia se sua mãe estava insinuando alguma coisa entre eles dois, mas sua mente, inoportunamente, o levou direto a imagem de com Ricciardo. Não soube entender, naquele momento, o por que pensou neles dois, mas,quando se deu por conta, já estava negando aquilo em voz alta.
— Ela não entende não, mãe — Sainz negou com a cabeça, tentando afastar a imagem de sua mente — Nem eu, na verdade.
— Carlos Jr. costumava convidar seus amigos para vir nos nossos eventos, por isso achei que você tinha vindo — A mulher ajeitou a echarpe que vestia. Estava bem vestida, muito elegante — e que tinha trazido os terroristas junto.
— Convidava, até o Lando beber demais e estragar um quadro milenar da família — Ainda com as mãos nos bolsos da calça, Sainz se curvou para frente, mais perto de , como se contasse uma fofoca. A modelo riu, incrédula.
— Como? — Ela arregalou os olhos.
— Não queira saber — Carlos negou com a cabeça, rindo levemente também.
— Acho que vou esperar o convite para o próximo evento, então — comentou educada — Mas já estou indo embora mesmo.
— A pé? — Carlos perguntou sério, preocupado.
— Como veio até aqui, querida? — Estranhando a pergunta do filho, Reyes franziu a testa. parecia ter tanta classe e, a tirar pelo vestido que usava, não deveria ter ido até lá a pé.
— Vim de táxi — Ela mentiu educadamente — e vou chamar um táxi de novo, até o aeroporto, comprar uma passagem para casa no caminho.
— De jeito nenhum — Reyes negou com a cabeça, decidida, e pegou a mão de — Você fica para jantar conosco, já está tarde para pegar a estrada até o aeroporto.
— Eu agradeço, senhora Sainz, mas não posso ficar, é um jantar em família, não quero incomodar — respondeu sem graça.
— Você não incomoda, de forma alguma! — Reyes a olhou, deixando a modelo ainda mais sem graça — É um jantar beneficente que fazemos todo verão para ajudar algumas famílias mais carentes da região. Nossa família e amigos mais próximos estão aqui. Você é bem-vinda.
— Mãe, você está deixando ela constrangida — Carlos olhou sério para a mãe que lhe fez uma cara tão fofa, que não sabia como ele aguentava brigar com ela — deve ter outros compromissos.
— E nós temos um lugar para ela na mesa — Teimosa, Reyes insistiu — Vamos, querida, você precisa ver a decoração, foi toda feita por Tory Burch, tenho certeza de que vai amar.
Sem perceber a troca de olhares entre e Carlos, Reyes passou o braço da mulher no seu e já foi entrando com ela para dentro da casa. Como se ela avaliasse se estava mesmo tudo bem por ele, ela ficar, sustentou o olhar no do piloto, até vê-lo sorrir levemente para ela e apontar com a cabeça para dentro da casa, sem dizer uma só palavra. Carlos sentia seu coração bater mais forte do que o normal. Ela ficaria mesmo para jantar? Na casa dele? Com a família dele? Tinha aceitado o convite de sua mãe por educação ou porque realmente queria ficar? Ela queria ficar mais tempo com ele?
— Tudo bem, acho que posso ficar, mas só se eu puder fazer uma doação ao final da noite — brincou com a mulher, que riu generosa enquanto entrava para dentro da residência com a modelo.
Sem saber o que fazer, o piloto fechou a porta atrás de si e seguiu atrás de onde sua mãe caminhava com . Sua atenção, pelo resto da noite, estaria focada na mulher que vinha perturbando seus pensamentos constantemente e que, sem qualquer formalidade ou hesitação, tinha acabado de mergulhar em sua vida de uma vez por todas. Carlos manteve-se alguns passos de distância dela, dando espaço para que ela conhecesse o ambiente com sua mãe e que se aproximasse de outros convidados. Alguns deles a mulher já conhecia do círculo social de seus pais, alguns pode ter a chance de conhecer naquele momento, sendo apresentada por Reyes e outros não se aproximavam muito, pois conheciam a família Voitenko e tinham certo receio.
Sainz se entreteu com Blanca, sua irmã mais velha, por alguns bons minutos, que, curiosa, veio querendo saber quem era a mulher com sua mãe. O piloto, que sempre teve um relacionamento bastante próximo e aberto com suas irmãs, não mediu detalhes em contar-lhe tudo o que tinha acontecido entre ele e a modelo. Entre as taças de champanhe que o cocktail de boas-vindas servia e os olhares atentos do irmão que recaiam, vez ou outra, sobre , Blanca ouviu tudo atentamente, fazendo mais perguntas e insinuações do que Carlos gostaria de responder naquela noite.
Em certo momento, contudo, não muito depois de sua chegada ao jantar, conversava educadamente com um grupo de mulheres que conheciam sua mãe, quando Carlos e Blanca viram uma outra mulher, em especial, por volta dos setenta anos, se aproximar dela. O piloto e a irmã trocaram um olhar cúmplice, exausto e um pouco impaciente.
— Aposto cem euros que ela vai assustar a ponto de ela querer ir embora daqui — Blanca olhou do irmão ao seu lado para a mulher se aproximando sorrateira da modelo, alguns passos à frente de onde assistiam.
— Duzentos euros que, dessa vez, ela não vai conseguir, porque é a quem vai assustar ela — Carlos apostou as fichas na modelo que, conhecendo bem, não ia perder a pose ou se acuar com ninguém.
— Anda logo, antes que o despejo de comentários desnecessários comece — Blanca puxou uma nova taça cheia de champanhe do garçom que passava por perto e, a dando para Carlos, o empurrou na direção do grupo de mulheres. Com uma taça em cada mão, o piloto respirou fundo e deu alguns passos a frente, se aproximando o suficiente para ouvir sua tia dizer:
— Acho que faz realmente muito tempo que não nos encontramos, você está muito diferente. O que fez? Harmonização facial, Laura?
Carlos parou de andar por um momento, assustado com a fala da tia. não tinha absolutamente nada a ver com Laura, em nenhum sentido. Não era possível que ela estivesse realmente confundindo. Talvez só estivesse sendo desnecessária, como sempre.
— Na verdade, eu não sou a Laura — Educada, conteve a gargalhada.
— E também não é a Isabel, presumo? — A mulher a olhou de cima a baixo. simplesmente negou com a cabeça, meio confusa pelo teor da conversa.
— Não.
— Então, neste caso, Carlos Jr. trouxe uma namorada nova? — Em um tom de deboche, a mulher seguiu perguntando. sentiu uma vontade enorme de revirar os olhos, mas se conteve. Estava na casa dele, com a família dele, tinha que ser o mais cordial possível.
— Ah, não, eu não… — Ela tentou negar, simpática, mas logo foi interrompida:
— Não é de se admirar.
— Mas eu não… — franziu a testa, tentando negar mais uma vez, sem sucesso.
— Não precisa negar, meu amor, sabemos que só acompanham Carlos Jr. nesses eventos as namoradas do momento — Frisando a última palavra, como se quisesse atingi-la, a senhora desdenhou.
E só naquele momento percebeu o que estava acontecendo ali. E teve que se segurar, bastante, para não ser deselegante. A senhora, que parecia incomodada com a presença dela no evento, não era muito amigável a Carlos e isso ficou nítido em três frases que trocaram. Estava tentando assustar , talvez afastar ela dali, insinuando que Carlos era um… mulherengo? Precisaria de mais do que aquilo para fazer se sentir constrangida. A modelo soltou uma risada baixa, mantendo sua educação.
— Bom, ele é jovem, bonito, bem apessoado e com uma família como a da senhora, estranho seria se não tivesse sempre uma namorada para apresentar, não é? — sorria abertamente para a mulher e, se inclinando ligeiramente para frente, continuou em um tom de voz mais baixo, como se contasse um segredo: — E convenhamos, quem resiste ao calor espanhol dele?
As outras mulheres com elas na roda soltaram risadas elegantes, comentando a fala simpática da mais nova e logo se dispersaram pelo evento, deixando as duas a sós. A tia de Carlos, contudo, a encarou desconcertada, como se não esperasse por aquela resposta. E não bastasse ela, alguns passos dali, o piloto não sabia onde enfiar a cara. Ponderou por um momento se deveria sumir ou se deveria agarrar ali mesmo.
Pela primeira vez na história da família Sainz, alguém, recém chegada, e que nem de fato estava entrando na família, deixou a tia Mirabel em silêncio. Carlos estava surpreso por aquilo. Mas, ainda mais, em ter ouvido o que a modelo havia dito sobre ele. “Jovem, bonito, bem apessoado”. E qual era o “calor espanhol” que ela não resistia, afinal? E tinha mesmo engolido a história de ser a namorada dele? O que estava acontecendo?
Alguns passos atrás dele, Blanca assistiu ao irmão, de olhos arregalados, ficar levemente vermelho e bebericar seu champanhe. Parecia meio confuso, sem saber direito o que fazer. No instante seguinte, contudo, ele voltou a se aproximar, de fato, do grupo de mulheres que cercava a modelo e se meteu no meio delas.
— Vejo que teve a alegria de conhecer minha tia Mirabel — Carlos apareceu ao lado de , entregando-lhe a taça de champanhe que carregava para ela. Seu olhar irônico, já bem conhecido pela modelo, entregava tudo o que ele achava daquele momento.
— Adorável — sorriu cúmplice para ele, aceitando a bebida.
— Se você não me apresenta para ela, Carlos Jr., eu mesma o faço — Mirabel sorriu cínica para ele.
— estava ocupada — Mais paciente do que achava que ele seria, ouviu Carlos responder. Sem tempo para dizer qualquer coisa mais, a senhora emendou:
— O que houve com Laura?
— Terminamos há um ano, tia, já te disse algumas vezes — Sainz tomou um novo gole de sua bebida.
— Ao menos uma notícia boa você nos trás hoje, querido — Mirabel sorriu verdadeiramente contente e, então, voltou-se novamente para — E o que você faz da vida, meu amor?
— Sou modelo — Ela respondeu simplesmente e, antes mesmo que a senhora pudesse ter a chance de pensar no que responder, Carlos completou:
— Ela tem um contrato vitalício com a Michael Kors, estrelou as últimas campanhas da Calvin Klain e é embaixadora da Miss Dior — O piloto sorriu levemente para que, surpresa em ouvi-lo pontuar aquilo, sorriu de volta. Desde quando ele sabia de tudo aquilo? — E você deve ter ouvido falar, tia, mas é o rosto da nova coleção da Hermann.
— Ah, claro. — Mirabel mudou ligeiramente seu tom de voz ao ouvir aquilo. Carlos sabia que ela valorizava muito os Hermann e que não se atreveria a desqualificá-los em público — Os Hermann sempre tiveram muito bom gosto, aquela menina sabe o que faz — Ela voltou a comentar feliz e, por um segundo, Carlos se perguntou se aquilo tinha sido um elogio a — Ela está por aqui?
— Não, está em férias com o namorado novo — Carlos frisou — Ela está namorando o Charles Leclerc, tia.
— Por Dios, que surpresa esplêndida! Uma união de duas famílias impecáveis, os Sainz tem precisado reaprender sobre tradições com os Hermann — Carlos viu os olhos da tia brilharem em admiração e sentiu uma vontade enorme de bufar — Assumo que se conheceram pela Hermann, então?
— Quase isso — Carlos sorriu sem graça para a tia. Lá ia ela insinuar, de novo, que estavam juntos. Mas o que mais ela poderia pensar? Tirando suas irmãs, só havia ali da mesma idade que ele, era bonita e estava sendo bajulada por Reyes. O pensamento mais lógico que poderiam ter era, exatamente, o mais errado deles.
— E como começaram a namorar, então? — A senhora insistiu, curiosa.
— Nós não… — Carlos olhou meio tenso para que, achando graça do constrangimento dele, o completou logo:
— Não tivemos um encontro convencional, você sabe, Carlos não gosta do convencional — Segundo a vontade de rir da cara assustada dele, o olhou sugestiva.
— Acho que notei — Mirabel olhou novamente a modelo de cima a baixo, com desdém — Ele tem um gosto bastante desonrado, na maioria das vezes.
— A senhora acha? — A modelo se fez de inocente.
— Não, meu amor, eu tenho certeza. Não me impressiono mais com os erros que ele comete na vida. Nem nas pistas ele tem acertado ultimamente.
fechou a cara no mesmo segundo que ouviu aquilo, vendo Carlos, ao seu lado, abaixar o olhar e beber um novo gole de seu champanhe, tentando disfarçar o sentimento ruim que ouvir aquilo o fez sentir. Ela sempre tinha que falar sobre sua performance nas corridas, sempre tinha que encontrar algum erro, algum defeito. Sempre tinha padrões altos demais para serem alcançados e sempre fazia questão de reafirmar o quanto Carlos não chegava nem perto deles. Chato, habitual e sempre muito ruim de ouvir. Não fosse de sua profissão, ela sempre dizia também sobre seus relacionamentos.
Infelizmente tinha tido relacionamentos passados um pouco conturbados, ele sabia disso. A estabilidade que encontrava em sua família era espelhada totalmente pelo inverso em sua vida fora dela e ele já tinha se acostumado, em maior ou menor grau, com as escolhas ruins que tinha feito. Mas sua tia, em especial, parecia não superar aquilo nunca e sempre pegava em seu pé. Vivia sobre tradições que ela mesma havia imposto para si e acreditava que toda a família as deveriam seguir. Se nem mesmo seu pai ou seu tio, casado com ela, criados na rigidez e nas regras de ser um Sainz, impunham aquela ordem toda sobre seus filhos, quem era ela para tentar fazê-lo? E o que ela sabia sobre a vida dele, sobre seus sentimentos, para sempre querer julgá-lo, pressioná-lo, daquela forma?
percebeu que a postura dele mudou de repente. Percebeu que ele tinha internalizado o comentário de um jeito ruim, que, talvez, não o quisesse ter ouvido, ao menos não na frente dela. Ela mesma o tinha julgado errado e estava ali justamente para se desculpar por aquilo. E se sentiu ainda mais culpada quando se deu conta de que ele passava por isso dentro da sua própria família. Não sabia o que tinha acontecido, não conhecia Mirabel, sua história ou sua relação com Carlos. Mas sabia que estava sendo errada e muito injusta com ele. Sainz tinha uma vida fora da família. Tinha direito a escolhas quaisquer que quisesse fazer, a errar se quisesse. E sabia exatamente como era carregar a pressão de um sobrenome e suas tradições nas costas: um horror que nenhum dinheiro poderia compensar.
— Estranho, porque para mim me parece que ele é um homem muito honrado. É respeitável, íntegro e responsável com as escolhas que faz, teve uma criação excepcional e isso já diz muito sobre honra, não acha? — falava serena, com firmeza, claramente irritando a senhora por ser afrontada daquela forma. Carlos levantou seu olhar até ela, assustado — E acho que estamos vendo corridas diferentes, porque Sainz é um nome importante da temporada. Ocupa um espaço que pouquíssimas pessoas na história da humanidade um dia vão ocupar e, bom, se não fosse um bom piloto não seria o responsável por boa parte desse evento e de tudo isso ao nosso redor, não é? — olhou a casa ao redor deles, sorrindo abertamente, até voltar seu olhar para Mirabel — É uma pena que a senhora meça ele pelas namoradas que trás ou por pontos que marca em uma corrida. Está perdendo a oportunidade de conhecer o homem que ele é. E quer meu conselho?
— Na verdade, eu não… — Mirabel tentou negar, mas, como ela mesma havia feito com antes, a modelo a interrompeu:
— Tome cuidado para não ser tarde demais para isso — tomou um gole despretensioso de sua bebida — Eu mesma perdi algum tempo, eu acho.
Carlos ficou tão chocado ao ouvir aquilo tudo, apertando sua taça de champanhe em mãos, que achou que poderia estourá-la ali, a qualquer instante. Seu olhar tinha subido de volta até a modelo e ele podia sentir seu coração bater acelerado e sua respiração sair pelos lábios ligeiramente abertos, descompassada. Não tinha certeza do quão verdade foi tudo aquilo que ouviu dizer sobre ele, mas, no fundo, tinha gostado. Muito. Não se importava se aquilo tinha sido para afastar sua tia, para colocá-la de volta em seu lugar, para defender ele ou se tinha saído com a naturalidade de alguém que verdadeiramente pensava naquilo. Não importava.
tinha dito.
Mentindo, brincando, inventando ou não, ela tinha dito coisas sobre ele que ele jamais imaginaria ouvir dela e Carlos, por um momento que desejou ser a eternidade, se sentiu no céu. estava mesmo assumindo que errou com ele. E talvez aquele tinha sido seu jeito de tentar recomeçar. O silêncio na pequena roda se instalou por alguns segundos, até a modelo voltar a dizer, já menos paciente e serena do que antes.
— E se quer saber como nos conhecemos, foi no…
— Golfe — Carlos logo entrou na encenação toda dela, vendo a expressão confusa da tia parecer ainda mais desgostosa. Ele não podia negar, estava adorando enfrentar Mirabel naquela noite.
— Golfe? — A tia desprezou, vendo o sobrinho concordar com a cabeça. E como se não tivesse tocado o terror o suficiente com a senhora naquela noite, ele completou, audacioso:
— sabe como manusear um taco como ninguém, se me permite dizer.
— Só porque você tem o melhor taco de todos, Sainz — Pensando rápido, pressionando os lábios para não gargalhar, respondeu naturalmente. Os olhos da tia se arregalaram no mesmo instante e chocada, ela se afastou deles, falando alto:
— Por Deus, quanta deselegância, que horror.
e Carlos trocaram um olhar por um momento, até caírem na gargalhada. A primeira vez que verdadeiramente riam um para o outro, um com o outro, e os dois tinham consciência daquilo. Eram uma dupla melhor do que podiam imaginar e, pelo momento em que passaram rindo da situação, se permitindo ser sinceros com o que sentiam, tudo pareceu fazer um sentido absurdo para eles. sentia que tinha mesmo perdido tempo em não tê-lo dado uma chance de se fazer conhecer verdadeiramente antes. E Carlos se arrependeu de ter sido um babaca. Podiam ter só sido quem eles eram desde o começo, só se permitido mostrar os lados que tinham de bom e não caído nas brigas idiotas que tinham protagonizado.
— Ela vai me odiar para sempre, não vai? — Limpando discretamente uma lágrima que se formava, de tanto rir, perguntou. Sainz fingiu pensar por um segundo, até responder:
— Talvez.
— Eu sabia — riu novamente.
— Eu vim até aqui para tentar te tirar dessa situação, — Carlos comentou depois de um tempo, recuperando-se das risadas — mas acho que não cheguei a tempo. Sinto muito pelas coisas que ela disse.
— Tudo bem, pelo menos trouxe champanhe — A modelo deu de ombros.
— Indispensável para noites como essa, — Carlos brincou — quando minha casa se enche de pessoas com o dobro da nossa idade, falando sem parar sobre suas tradições. Ainda dá tempo de ir embora.
— Está me expulsando, Sainz? — levantou as sobrancelhas.
— Estou te dando a chance de fugir da fera — O piloto gesticulou com a cabeça em direção a sua tia, que importunava Ana, a outra irmã de Carlos.
— Acho que ela quem vai fugir de mim o resto da noite — falou baixo, risonha — E você me deve uma por isso, por ter te salvado dela.
— Vou me lembrar disso, pode deixar — Tomando o último gole de seu champanhe, ele riu levemente — Obrigado, eu acho.
— Ela merecia — A modelo encolheu os ombros e, desviando seu olhar do dele, tímida, completou mais baixo — e você também.
— Acho que gosto mesmo, um pouco, do que não é convencional — Carlos sorriu charmoso e colocou uma mão no bolso de sua calça. Sem entender exatamente o teor daquela frase, e mais tímida do que gostaria de ter ficado, sorriu.
Mas ela não teve tempo de dizer mais nada, porque um dos convidados logo pediu licença a eles e puxou Sainz para uma conversa animada. estava bastante satisfeita com o clima entre eles naquela noite e, mais satisfeita ainda por estar se sentindo tão confortável a ponto de não terem tido nenhum desentendimento. Nenhuma provocação, nenhuma mágoa remoída, nenhuma briga ou discussão. Nada. Estavam convivendo como dois adultos educados que eram e, no fundo, dando espaço para experimentar aquele outro lado, estavam gostando do que viam acontecer entre eles ali.
logo se juntou a Reyes novamente que, animada, lhe contava algumas histórias e ficou ali quase uma hora, conversando, bebendo, interessada em ouvir o que ela tinha a contar. E só deixou o lugar que ocupou com a mulher quando, cansada pelo horário e pelas horas que passou na estrada, pediu licença, pegando seu celular e se afastando para um canto mais tranquilo da enorme casa. Tinha que comprar uma passagem de volta para Milão, não podia dormir ali e precisava voltar para casa logo, seguir com os compromissos que tinha agendado para os próximos dias.
A modelo caminhou tranquilamente, focada em seu celular, sem saber ao certo para onde ia, até encontrar um sofá vazio dentro da residência. Deixou a taça sobre a mesa ao lado e seguiu fechando a compra da passagem para o começo daquela madrugada. Estava distraída, colocando seus dados para a compra, quando sentiu uma pequena pessoa ao seu lado.
— Hola — O pequeno garotinho que sentou ao seu lado sorria em sua direção. Estava vestindo um terninho azul fofo, tinha os olhos castanhos e um cabelo bem preto e liso.
— Hola — Ela retornou no mesmo tom, em espanhol, mas sem vocabulário suficiente para seguir a conversa, emendou em inglês: — Tudo bem?
— Estou bem, com fome — Ele deu de ombros, sem parecer se importar com a mudança de idioma. riu sozinha achando fofo o sotaque dele — Por que está aqui sozinha?
— Estou descansando e você? — reparou que ele parecia uma versão em miniatura do piloto espanhol e se pegou sorrindo por aquela ideia.
— Estou me escondendo. Toda hora as pessoas querem ficar passando a mão pelo meu cabelo e apertando a minha bochecha… — Ele dizia sério, com um bico fofo, gesticulando. Vez ou outra soltava algumas palavras sem muito contexto, deveria ainda estar aprendendo o novo idioma — Ficam dizendo “você cresceu”, mas eu ainda sou o mesmo, ué.
não pode deixar de rir, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.
— Então, vamos ficar escondidos aqui, se quiser — ofereceu, vendo o menino se esticar para pegar seu refrigerante, que estava sobre a mesa do centro.
— Obrigado! Você é muito legal, sabia? — Disse empolgado, voltando a se sentar, depois de tomar um gole de seu refrigerante, a olhando.
— Você também é muito legal! — riu novamente, deixando o garoto sem graça e com as bochechas coradas, não tinha como não achar fofo — Como você se chama?
— Miguel e você? — Curioso, o garoto estendeu a mão. Era tão simpático e expansivo, que nem parecia ser tão novo.
— Muito prazer, Miguel, eu sou a — Cumprimentando o pequeno e retribuindo o aperto de mão educado dele, ela continuou: — Mas pode me chamar só de .
— Você é muito bonita, — Miguel respondeu sincero, tirando uma risada da mulher — Meu tio sempre diz que quando a gente conhece uma pessoa bonita, a gente tem que dizer a ela, mas sem sermos desrespeitosos.
— Seu tio está certo, nunca podemos ser desrespeitosos com ninguém — disse tocando na ponta do nariz dele, tirando uma risada do garoto.
— Acho que você e meu tio podiam ser amigos… — O menino parecia pensar alto e ia continuar a falar, mas foi interrompido por uma mulher.
— ¡Dios mío! Miguel! Eu fico longe por cinco minutos e você foge — A mulher aproximou-se do garoto, abaixando para ficar na mesma altura dele sentado no sofá. Ele parecia confuso com a reação dela — Não pode fazer isso, mi amor.
— Eu estava conversando com a minha nova amiga, madrinha — Miguel apontou para ao seu lado, que sorria com a cena em sua frente.
— Me desculpe, às vezes ele é um pouco atrevido — A mulher sorriu sem graça e se levantou, enquanto encarava a modelo
— Não tem problema, seu filho é uma graça e muito educado — se levantou também, sorrindo sincera para a mulher.
— Ah, não, ele é meu afilhado — Blanca riu, negando com a cabeça — Ganhei esse grude de presente de uma amiga próxima, sempre que estou por aqui ele vem passar o final de semana comigo.
— Jura? Achei ele bem parecido com vocês — olhou impressionado de Miguel para Blanca, rindo sem graça.
— Isso é um pouco assustador mesmo — Blanca arregalou os olhos, brincando, mas logo mudou de assunto — Eu sou a Blanca Sainz.
— Sou Voitenko, mas pode me chamar só de .
— Você é a ! — Blanca repetiu sorrindo, animada em finalmente ter a chance de conhecer ela. A modelo pareceu não entender nada, mas o momento foi logo interrompido, novamente, por uma outra pessoa chegando ao cômodo. Miguel se levantou como um furacão, eufórico, e correu em direção à porta.
— Tio Cailos, vem conhecer a minha nova amiga — Miguel segurou a mão do piloto e o puxou para mais próximo das duas mulheres, que se entreolharam e riram.
— Olha, Carlos, é a — A irmã mais velha do piloto o cutucou.
— Quanta euforia por causa da — Carlos brincou tentando ser sério.
— É porque ela é minha amiga — Miguel respondeu cheio de si, tirando uma risada do homem.
— Vejo que já conheceu minha querida e agradável irmã e o mini furacão que a amiga dela colocou no mundo — Carlos disse debochado.
— Não seja chato — Blanca revirou os olhos para o irmão e logo voltou-se para outra vez: — Carlos me falou tanto sobre você que sinto que já te conheço há anos.
— É uma pena ele nunca ter me falado sobre você — disse honesta. Sabia que ambos nunca tiveram um tempo saudável para conversar sobre suas vidas e suas famílias e a modelo sequer sabia que o piloto tinha irmãs.
— Por que será? — Carlos perguntou retórico, se sentando em uma poltrona, enquanto o garotinho subia em seu colo, querendo brincar. Para foi impossível não seguir o olhar naquela cena.
— Não seja desagradável, Carlos, ela é nossa convidada — Blanca disse séria, se sentando com a modelo onde antes estava com Miguel.
Blanca emendou uma conversa bastante animada com , querendo saber tudo sobre a vida e a profissão dela. Apesar de ser mais eufórica e mais extrovertida do que Carlos, e bastante diferente do jeito mais reservado de , a modelo simplesmente amou ter aquele momento. Blanca era só um ano mais velha do que Carlos e parecia ter muitas coisas em comum com ela: tinham cantores e lugares favoritos em comum, estavam coincidentemente lendo o mesmo livro no momento, se posicionavam com independência e bastante assertividade e resmungavam alguma coisa sobre aqueles eventos de família e o quanto eram bizarramente exaustivos para elas.
não soube dizer ao certo quanto tempo passou sentada ali, conversando e rindo alto com Blanca, com seus olhos caindo vez ou outra, discretamente e quando ele não estava olhando, em Carlos. O piloto estava tão concentrado em brincar com Miguel em seu colo que não prestava atenção na conversa delas. se perguntou por um momento o que foi que tinha acontecido com Sainz naqueles dias em que passaram juntos e por que ele não parecia absolutamente nada com o homem que ela via ali, em sua intimidade familiar.
Aquele Carlos, o que brincava com o pequeno Miguel, rindo à toa, sereno, elegante, educado e intenso era ainda mais atraente e bonito aos olhos dela. E, pela primeira vez desde que o conheceu, reconheceu para si mesma que, talvez, aquela versão dele, fosse, de fato, muito parecida com ela. Suas amigas tinham alguma razão.
Em certo momento, Miguel pareceu notar que ela olhava para eles enquanto conversava com Blanca e, sem perder tempo, virou-se no colo de Carlos, para ficar de frente para ela.
— Tia , brinca com a gente? — Miguel pediu fofo, surpreendendo a todos. Apesar de ser uma criança extrovertida, não costumava se aproximar tão rápido de pessoas que acabara de conhecer.
— Ela está ocupada agora, conversando com a madrinha — Sainz tentou explicar, em espanhol, mas o garotinho não pareceu convencido.
— Só um pouquinho? — Ele fez um biquinho e um gesto de pouquinho com a mão, que derreteram o coração da modelo.
— Claro, do que você quer brincar? — olhou para Blanca, que assentiu como se dissesse tudo bem, conversariam mais depois.
— De dinos — Miguel respondeu animado, dando um pulo para fora do colo de Sainz — Vou buscar eles. Vem madrinha.
— Vou, se me dão licença — Blanca pediu educada, pegando na mão de Miguel, que a estendia para ela — Vamos buscar os dinos e você não saia de perto deles, ok?
— Tá bom, madrinha — O garotinho respondeu prontamente, seguindo saltitante com ela. e Carlos riram levemente da cena.
— Cinco minutos de descanso — Sainz comentou com ela, chamando o garçom mais próximo para lhe servir uma nova taça de champanhe.
— Ele parece bem enérgico — riu, vendo o garçom se aproximar — e também parece gostar muito de vocês.
— Está conosco em todos os cinco anos de vida dele, mimamos ele como podemos, é a criança da família — Sainz deu de ombros, pegando duas taças de champanhe, servidas pelo garçom e estendeu uma para a mulher sentada à sua frente.
— Estou admirada em ver que Carlos Sainz se dá bem com crianças — o provocou, aceitando a taça.
— Poderia dizer o mesmo sobre você — Ele rebateu, sorridente.
— Tirando você, me dou bem com o resto da humanidade — A modelo brincou, tirando uma risada baixa dele.
— Você se dá bem comigo também — Ele a encarou nos olhos — Só não sabe disso ainda.
— Talvez eu saiba agora — inclinou levemente o corpo para frente, sustentando o olhar do piloto nela — Não brigamos hoje, soubemos pedir desculpas e estamos convivendo minimamente bem, considero isso um avanço e tanto.
— E olha que você até foi chamada de Laura — Sainz a cutucou, tirando dela uma revirada de olhos — Seus limites foram testados.
— Ainda não sei o que exatamente significa ser chamada de Laura — falou sincera e, aproveitando a deixa, curiosa, perguntou: — O que rolou com ela?
— Se eu te contar, você vai me julgar de novo? — Carlos perguntou, sorrindo de lado.
— Talvez — deu de ombros, sincera.
— Por isso acho melhor não contar — Ele negou com a cabeça, rindo levemente.
— Se estou sendo comparada com ela, o mínimo que posso saber é o que aconteceu — Com obviedade, ela argumentou. Carlos a olhou sugestivo, com uma sobrancelha erguida:
— Essa é a justificativa para espionar minha vida agora?
— Posso ir perguntar para sua tia, se preferir — Rindo da cara que ele fez ao ouvir aquilo, a modelo continuou: — Tenho certeza de que ela terá uma versão ótima.
— Jogo baixo — Carlos murmurou, indignado.
— Vou me esforçar em entender o seu lado, eu prometo — Brincando com um tom de voz de quem estava fazendo algo contra sua vontade, se deu por vencida.
— Tudo bem — Ele respirou fundo, apoiando os cotovelos nos joelhos, jogando seu corpo levemente para frente. Seus olhos desceram até a taça de champanhe em suas mãos, tentando ordenar por onde e como dizer aquilo — Apesar da minha tia fazer parecer que não, eu tive uma única namorada séria na vida, Isabel. Ficamos juntos alguns anos, eu realmente… amei ela, sabe? Amei de verdade. Tinha planos com ela para o futuro, era jovem, você sabe…
— Não fale como se tivesse cinquenta anos, Sainz — bufou, brincando — O que aconteceu?
— Ela conheceu outra pessoa — Com os olhos cravados na taça e a voz baixa, ele seguiu contando — alguém que não passava mais da metade do ano viajando para lugares diferentes, que podia acompanhar a vida dela de perto, alguém que tinha ambições mais… parecidas.
— Eu sinto muito — Sentida em vê-lo parecer chateado com o assunto, sussurrou.
— Fiquei devastado, — Carlos soltou uma risada amargura e, enfim, levantou seu olhar até ela — no fundo do poço mesmo. Ia a qualquer festa que pudesse, comecei a beber mais do que o aceitável, não queria ficar muito tempo na Espanha, me desfiz de todas as coisas que eram dela e que ficaram comigo, foi… ruim.
— Eu imagino — Ela concordou brevemente com a cabeça.
— E nesse meio tempo eu fui tentando buscar em outras pessoas o que tinha perdido quando perdi ela — Carlos sorriu sem graça alguma — Fui me relacionando com qualquer pessoa que me dava o mínimo de atenção, de carinho, até conhecer Laura. Ela me dava o que eu queria…
— Tudo certo, vamos pular essa parte — Tentando descontrair o momento, brincou, tirando uma risada do piloto.
— Não foi isso que quis dizer, mas sim para isso também — Ele brincou de volta, tomando um gole de sua bebida — Nós nos dávamos bem no começo, mas com o tempo a pressão toda começou. Laura queria estar presente em cem por cento da minha vida, foi ocupando espaços que eu não tinha certeza se queria que ela ocupasse, foi me cobrando de ser para ela o que eu não podia ser.
— E por que continuo com ela quando viu que isso estava acontecendo? — Séria, perguntou.
— Porque eu não sabia, naquela época, se eu estava vendo coisas onde não tinha — Carlos deu de ombros — Não era claro para mim se eu estava me cercando porque Laura foi a primeira pessoa pela qual me interessei depois de Isabel, se eu ainda a amava e estava me recusando a seguir em frente ou se Laura só era meio problemática mesmo. E quando eu fui perceber era tarde demais.
— O que ela fez? — Meio confusa, voltou a perguntar, tomando o champanhe.
— Contou para a mídia que estávamos juntos — Sainz negou com a cabeça, indignado só de lembrar. soltou uma risada, que foi abafada pela mão na boca, surpresa — e fui obrigado a trazer ela em um evento da família, para apresentá-la. Ela não perdia uma corrida, surtava quando via que eu estava com , odiava que eu saísse sem ela. Ela me cobrava de ser, de falar, de fazer coisas que eu não queria, que eu não podia porque não seria eu mesmo, minha vontade. E, quando me dei conta de onde tinha me enfiado, e terminei com ela, ela começou a me seguir.
— Sainz, que HORROR! — estava realmente assustada em ouvir aquilo.
— Eu disse, você não me deu credibilidade — Ele brincou, passando a língua entre os lábios, fazendo olhar rapidamente e logo desviar — e, mesmo quase um ano depois, ela ainda aparece, eventualmente, em alguns eventos e lugares que estou, como aconteceu no aniversário do Alex.
Apesar de conhecer apenas o lado dele naquela história, podia imaginar como foi terrível. Sainz não deu muitos detalhes e também não tinha aberto espaço o suficiente para que ela perguntasse mais, mas já havia entendido o contexto. Clássico, mais comum do que deveria ser. Ele teve um relacionamento bom e muito saudável, até ser trocado por outra pessoa. Uma decepção amorosa que havia quebrado seu coração de vez, que mexeu em sua auto-estima e que o tornou tão vulnerável a ponto de cair em um relacionamento ruim. Péssimo, talvez. Se submeteu a regras de outra pessoa que nem sequer conseguiu se interessar de verdade. Laura foi caótica para Carlos. E mesmo tendo seus motivos para fazer tudo o que fez, genuínos ou só interesseiros mesmo, ela não foi uma pessoa boa para ele.
Fazia algum sentido para agora. O por que ele estava fechado e tão sério no dia em que se conheceram, porque praguejou aquelas coisas sobre a Laura para os amigos, porque os amigos também pareciam não gostar dela. Fazia sentido Sainz parecer mais na dele, menos aberto a pessoas novas. Talvez um jeito de se proteger de que o fenômeno Laura acontecesse outra vez em sua vida. E fazia algum sentido sua tia ter trazido a ex dele à tona naquela noite. Aparentemente, Laura tinha se enfiado goela abaixo da família dele, parecia oferecida e um pouquinho interesseira demais. ficou presa naqueles pensamentos por alguns segundos, até a voz grave de Sainz cortar o breve silêncio novamente:
— É sempre uma merda quando ela aparece, porque sempre consegue me tirar do sério.
— Percebi — Cruzando as pernas, riu.
— Não estava falando sobre você naquela noite — Sainz tocou no assunto, a olhando — Sinto muito ter generalizado sua profissão. Laura também é modelo, fotográfica como a Luisinha, uma coisa não tinha nada a ver com a outra, mas…
— Você sempre fala merdas sem pensar direito quando está nervoso? — Ela sugeriu, o encarando. Carlos riu e negou levemente com a cabeça. Mas antes que pudesse responder, uma voz fina e baixa chamou a atenção deles:
— Você sempre fala merdas — Abraçado com uma dúzia de dinossauros de pelúcia, Miguel repetiu. Elanor gargalhou com a fofura da cena, sendo acompanhada pelo piloto.
— Não pode dizer isso, Miguel, é feio — Carlos pediu para ele, levantando-se.
— Você sempre fala merdas, tio? — O pequeno perguntou curioso. Carlos o pegou no colo, com todos os dinossauros junto, em um movimento rápido e, virando-se levemente para onde estava se levantando, riu, dizendo:
— Vou te matar por isso.
— Até ele já percebeu, Sainz, pode assumir — A modelo cutucou, seguindo os dois até a varanda da casa, onde o tapete colorido estava montado para que brincassem.
O garotinho foi com os dois para a área externa, onde havia uma sala cheia de brinquedos e algumas crianças que tocavam o terror por ali. sorriu, sentando-se no chão ao lado de Sainz e pegando os vários brinquedos que o pequeno lhe entregava para brincar. Um tempo depois, contudo, Sainz deixou com o afilhado por alguns minutos quando precisou recepcionar um casal de amigos da família que havia acabado de chegar. Ficou conversando animadamente com eles, por algum tempo, até se pegar observando a área externa, onde ela brincava com a criança.
Miguel era muito esperto, desde pequeno já haviam percebido que o pequeno garoto seria a frente de seu tempo e um pouco atentado também. Tinha uma personalidade forte, nunca fora de ir com qualquer adulto, sempre resistia um pouco a eles até se sentir confortável daquela forma. Mas parecia que, com a modelo, foi diferente. Ele rapidamente se aproximou e o garotinho parecia ter gostado dela mesmo. Carlos sorriu para a cena que se encontrava ali, assistindo a rir, ao tempo que o pequeno garoto corria em sua direção com o avião, imitando um pequeno voo.
passou um bom tempo brincando com Miguel e as outras crianças. Pode conhecer algumas de suas babás e conversar um pouco com o grupo. E ali ficou entretida por algum tempo, até o pai de Sainz, enfim, avisar que o jantar seria servido. As crianças comiam em uma mesa separada, junto com suas respectivas babás e os adultos aproveitavam a fartura de um jantar espetacular, enquanto conversavam e riam grande parte da noite. O jantar corria tranquilamente, com sentada de frente para Sainz e ao lado de Blanca e Anna, esta última, com quem ficou um tempão conversando sobre o mundo da moda. Todos eles haviam crescido participando de jantares e comemorações como aquele, estavam acostumados com as etiquetas e modos sociais, por isso, tudo foi absolutamente natural e confortável.
Depois de algumas horas tranquilas e bastante amigáveis à mesa, o pai dos Sainz engatou algumas histórias sobre a infância de seus filhos. apreciava a sobremesa, ouvindo e conversando animadamente com a família, rindo de algumas histórias, comentando outras, como se já fizesse parte daquele núcleo há séculos. Todos, com exceção da tia Mirabel, que não dirigiu mais a palavra a naquela noite, pareciam muito simpáticos com a modelo e a acolhiam em cada palavra que diziam, fazendo questão que explicar o que ela possivelmente não sabia, incluindo ela nos assuntos e temas, com interesse e bastante carinho.
— E seus pais, querida, — Carlos Sainz, o mais velho, perguntou interessado — onde eles residem atualmente?
— Meus pais moram em Los Angeles, mas sempre que podem estão em Paris, é a cidade favorita da minha mãe — sorriu com as lembranças da cidade onde esteve dezenas de vezes, em viagens com a família.
— E só por isso já sei que seremos ótimas amigas — Reyes comentou simpática, tirando uma risada baixa das pessoas ao redor próximo deles.
— Tenho certeza que sim — concordou.
— E seu pai, é fã de corridas? — O homem mais velho voltou a perguntar, curioso.
— Ele é um entusiasta, — tomou um gole leve de seu vinho, vendo o senhor Sainz rir — mas ainda tem muito a aprender desse mundo.
— Deixe comigo! Anton também não era um fã do esporte, depois de alguns meses me acompanhando com Carlos Jr. se apaixonou e nunca mais perdeu uma corrida sequer — O senhor relembrou saudoso do pai de , seu grande amigo, sorridente, tomando um gole de sua bebida.
— Acompanhado de um especialista no tema, tenho certeza de que meu pai também se apaixonará — respondeu sináptica, sorrindo para o homem.
— Vamos marcar de nos encontrar em um GP que Carlos participará, então — O homem sugeriu, muito impressionado com a educação, classe e charme de , vendo sua esposa concordar com a cabeça e logo emendar:
— Da próxima vez, convide-os para vir jantar conosco. Vai ser uma honra conhecê-los e recebê-los em nossa casa.
— Obrigada, senhor e senhora Sainz. Vou transmitir o convite, com certeza — respondeu prontamente. Estava distraída com sua taça de vinho, quando Miguel apareceu repentinamente ao seu lado, puxando o tecido de sua roupa.
— Tia , brinca comigo — Ele pediu em um sussurro, sem notar que as pessoas na mesa o ouviram.
— Miguel, agora não — Carlos Jr. lançou-lhe um olhar sério — O tio vai lá brincar com você depois.
— Mas eu quero a tia — Miguel fez um biquinho triste, encarando o tio. pegou seu celular para poder sair da mesa e brincar com o pequeno novamente, mas assustou-se com a hora. Seu voo sairia dali duas horas e a modelo ainda precisava chamar um táxi até o aeroporto. Se não se espertasse logo, perderia o voo de volta para casa.
— Miguel, a tia vai precisar ir embora agora, tudo bem? — falou delicada, fazendo um biquinho para ele. Apesar de estar visivelmente cansado, o garoto pulou onde estava sentado, não concordando com ela.
— Ah não, tia, você não pode ir embora, fica mais, por favorzinho… — Suplicou, enquanto fazia um bico manhoso e unia as mãos.
— Eu não posso, meu avião vai sair daqui a pouco e eu preciso ir para o aeroporto — explicou paciente — Mas nós podemos brincar outro dia, tudo bem?
— Você promete? — O garoto olhava sério para ela.
— Prometo sim, podemos passar a tarde toda brincando na piscina — sorriu para ele. Sabia que não podia fazer aquelas promessas ao garoto, mas foi impossível quando viu aquele olhar.
— Tudo bem, então. Tchau, tia — Educado e bastante carinhoso, o garoto desceu de onde estava sentado à mesa e se aproximou da modelo, a abraçando em seguida. sorriu, retribuindo o gesto e, pedindo licença, se levantou da mesa.
Cordiais, as pessoas mais próximas a ela também se levantaram, a acompanhando até a porta. A casa já estava relativamente vazia, algumas famílias tinham jantado rapidamente e ido embora, outras tinham outros compromissos e saíram logo após a sobremesa. Aquelas que se encontravam ainda por lá conversavam espalhadas pelo cômodo, sentadas nos sofás, enquanto a mesa estava ocupada pela família direta dos anfitriões. Antes de se despedir da família Sainz, pediu um táxi em seu celular, que retornou avisando que chegaria em alguns minutos, e, enfim, virou-se para se despedir de todos.
— Bom, eu já vou indo, meu táxi já está chegando — disse, olhando de Sainz para sua mãe, ao seu lado.
— Mas já, querida? — Reyes perguntou levemente frustrada.
— Meu voo sai daqui a pouco, preciso correr para o aeroporto — respondeu, enquanto se despedia de todos com breves abraços e nem reparou quando Sainz foi para a porta, a aguardando — Eu agradeço o convite, estava tudo incrível.
— Ah, querida, obrigada por ter ficado conosco para jantar e, por favor, volte mais vezes — Reyes sorriu sinceramente para ela, reparando no olhar perdido de seu filho sobre a modelo. Tinha acompanhado, discretamente, a interação entre eles durante toda a noite e conhecia seu filho o suficiente para saber o que aquele olhar carregava: a vontade de que aquela noite não terminasse nunca.
— Pode deixar, volto sim. Fiz uma promessa para meu novo amigo, acho que vou precisar cumprir — brincou, tirando uma risada satisfeita de Reyes.
— Nem precisa pedir ao chato do meu irmão, é só me mandar uma mensagem — Blanca riu com o grupo, entregando o número de seu celular à modelo. o anotou rapidamente, vendo a mensagem do taxista avisando que já lhe esperava do lado de fora — Até porque tenho certeza que o Miguel não vai me deixar em paz enquanto não te ver novamente.
— Miguel é um garoto incrível, eu amei conhecê-lo — comentou honesta e, depois de receber um abraço de Blanca e de se despedir de Reyes, Ana e o pai de Carlos, saiu em direção a porta, acenando novamente a todos, de longe.
, enfim, encarou Carlos. Ele estava mais sério do que pareceu naquela noite inteira, os olhos um pouco tristes, a postura mais fechada, tensa. Suas mãos estavam nos bolsos da calça e, assim que a viu aproximar-se dele, o rapaz abriu a porta, saindo para fora da casa com ela, em silêncio. não sabia o por que dele estar daquela forma, do motivo pelo qual seu humor pareceu ter mudado tão de repente, e seguiu quieta até se aproximarem do veículo que a esperava na entrada.
Carlos não sabia o que dizer. Estava bastante confuso com tudo o que tinha acontecido naquela noite, confuso com o que pensar, com o que sentir e, principalmente, com o que esperar dali em diante. estava indo embora. E Sainz não sabia quando a veria outra vez e se, quando o fizesse, seria tão bom quanto foi naquela noite. A verdade era que Carlos não queria que ela fosse embora. Mas não ousaria pedir a ela que ficasse.
— Espero que minha família não tenha te incomodado — Ele comentou baixo, tentando quebrar o gelo.
— Eles são incríveis, Sainz, não incomodaram em momento algum — sorriu em resposta, abrindo a porta e colocando sua bolsa sobre o banco, cumprimentando brevemente o motorista. Algum funcionário da casa já tinha feito o favor, a pedido de Carlos, de tirar as coisas dela de seu carro e os colocado no porta-malas do táxi.
— Espera, , eu… — Por impulso, Carlos segurou a mão da modelo antes que ela entrasse no carro — Eu, eu não… — Sem saber direito o que dizer, ele suspirou frustrado, sustentando o olhar confuso de , sua mão na dela — eu só queria… te pedir desculpas novamente pelas coisas que te falei aquele dia, não fui justo.
— Está tudo bem, Sainz. Eu também não fui justa com você — Ela apertou levemente a mão dele, sorrindo breve, e, então, a soltou — Vamos ficar bem.
— Vamos? — Ele perguntou sério, mostrando a ela, pela primeira vez, que queria mesmo saber o que seria deles dali em diante.
— Desde que você não seja mais um babaca, vamos — Confiante, sorriu, tirando uma risada de Carlos, pela sinceridade.
— Desde que você não seja mais tão defensiva e reativa, para mim parece ótimo — Ele concordou, sorrindo de volta.
— Acho que temos um acordo — Ela riu brevemente com ele, concordando com a cabeça e fez menção para entrar no carro, mas logo voltou-se para ele: — Ah, e antes que eu me esqueça, deixei algo para você, no porta luvas do seu carro.
— O que? — Carlos pareceu surpreso, a encarando.
— Eu preciso mesmo ir agora — Foi tudo que ela respondeu. E deixando um sorriso brincalhão, que escondia uma certa frustração por ter que ir embora, ela sussurrou: — Nos vemos por aí, Sainz.
Sem ter tempo para despedir-se direito da modelo, que entrou rapidamente no veículo, o piloto ficou para trás observando a mulher se distanciar, o deixando completamente pensativo. provavelmente sempre seria uma grande incógnita para o rapaz. A mulher havia viajado mais de oito horas para entregar seu carro, havia conhecido toda sua família e havia sido gentil e educada, mesmo ele sabendo que não merecia aquele tratamento. Tinha sido muito duro com ela algumas semanas atrás e, mesmo assim, lá estava ela, retribuindo com gentileza.
Sainz saiu de seu devaneio quando lembrou-se do que ela havia dito antes de sair, sobre ter um presente no porta luvas de sua Ferrari. Não podia mentir, estava feliz em ter o carro de volta, já estava pensando em comprar um novo, mas era bom saber que tinha seu “bebê” de volta. Caminhou em direção a garagem, onde o motorista da família havia estacionado o veículo, destravou o carro e meticulosamente olhou cada canto do carro para ver se estava tudo no lugar. Observou que a modelo o conservou da mesma forma, não havia mexido em nada.
Sentou-se no banco de passageiro e abriu o porta luvas. Carlos reparou que tudo que havia deixado estava ali, seus óculos, documentos, a caneta. Mas, apesar disso, o que chamou sua atenção foi a pequena caixa de madeira envelhecida sobre os papéis que, certamente, não lhe pertencia. Era de tamanho mediano e parecia muito delicada, como se tivesse sido feita a mão por algum artesão. Provavelmente a modelo tinha comprado, sabia que ela não se degastaria para fazer algo assim e a simples ideia de ver suja de tinta e pó passando pela sua mente, tirou dele um sorriso breve.
Carlos logo balançou a cabeça, rindo ao imaginar, enquanto, curioso, abria a pequena caixa. E bastou a ele um segundo em ver o tinha dentro, para seu sorriso murchar rapidamente. O chaveiro que havia ganhado de seu pai quando fez dezoito anos e que ele jurava ter perdido, estava ali, de volta para ele. O tinha ganhado junto com seu primeiro carro, seu golf, e ainda podia se lembrar claramente daquela memória. Foi um dos melhores dias da sua vida e chegou a comentar com sobre como ficou triste quando percebeu que perdeu o chaveiro, alguns meses atrás. estava com ele aquele tempo todo e Carlos imaginou que ela o havia guardado, e talvez devolvido, porque soube o que ele significava.
Na caixa, ainda, havia um segundo conteúdo desconhecido pelo piloto. Carlos deixou o chaveiro sobre seu colo e pegou o pequeno papel que logo descobriu ser uma foto. Como estava virada, Carlos reparou, primeiramente, no recado que havia escrito ali, a mão e foi impossível não rir:
“Lembrete: você ainda me deve alguma coisa por aquela partida de pôquer”.
Feliz com a delicadeza do presente, Carlos, enfim, virou o papel. A fotografia, em tamanho e formato de polaroid, trazia eles dois no dia da partida de pôquer. Não se lembrava em qual momento havia sido tirada, mas certamente algum de seus amigos capturou o segundo em que trocavam um olhar desafiador um com o outro, com suas cartas na mão e toda a competitividade do mundo em seus sorrisos. Sainz ficou olhando a foto por alguns instantes, sorrindo, relembrando das sensações que sentiu ao ver pela primeira vez, ao reencontrar ela, em ter o corpo da mulher sobre seus braços no clube de golfe, de seu cheiro marcante e da paz de tê-la tão próxima dele naquela noite. E ficou tão imerso naquilo que nem percebeu quando sua irmã se aproximou do veículo.
— O que faz aqui sozinho? — Blanca perguntou de repente, assustando Carlos.
— Está querendo me matar de susto? — Ele arregalou os olhos, perguntando sério. Risonha, os olhos da irmã foram dele até a foto que ele segurava.
— Ela é muito bonita e bem simpática. Agora entendi porque ela mexe tanto com você — Blanca pegou a foto das mãos dele e leu brevemente o recado atrás — Você é realmente ruim nos esportes ou ela é boa demais?
— Ah, não me enche — Carlos bufou, tirando a foto da mão dela outra vez, voltava a olhá-la.
— Sabe, Miguel parece ter gostado muito dela… o que é raro, você sabe — Blanca riu, lembrando de minutos atrás quando o afilhado perguntou quando poderia ver a nova amiga novamente — E você sabe que crianças são sempre sinceras, então, acho que você deveria dar uma chance ao que sente por ela. Se tem aprovação do meu afilhadinho, tem a minha.
— Aprovação para o que? — Carlos a encarou sério, desentendido — Nós nos odiamos, eu acho, você só não percebeu.
— Você acha mesmo que uma pessoa que viaja mais de dois mil quilômetros para devolver um carro que ganhou em uma aposta tem ódio no coração? — Blanca rebateu igualmente séria — Eu acho que não. Você está negando para si mesmo porque tem medo que aconteça de novo o que aconteceu com a Laura.
— Não tem nada a ver — Sainz negou com a cabeça.
— Jura? Está sendo um completo babaca com ela porque você quer mesmo ou porque está com medo de que ela veja quem você verdadeiramente é? — Insistiu Blanca, encostando-se na porta aberta do carro. Carlos não respondeu nada — Se ainda não percebeu, hoje ela viu, Carlos. Ela viu quem você é. E se não tivesse gostado do que descobriu não teria ficado, não teria dito às coisas que disse sobre você, não teria te dado uma nova chance e nem ido embora com aquela cara de quem, no fundo, queria ter ficado.
Blanca apontou com o queixo para a foto nas mãos do irmão. E pareceu que ele só tinha entendido, de fato, o que a mensagem deixada atrás dela queria dizer naquele momento. Se ainda devia algo a ela, era porque ainda esperava por algo dele. Nada tinha acabado naquela noite. Talvez, só estava recomeçando.
— Mesmo assim, eu fui um idiota completo, — Carlos suspirou — não sei se só me desculpar foi o suficiente para me redimir
— Até onde eu entendi, ambos foram impulsivos e agiram como idiotas, não foi culpa só sua ou só dela. Ela te ouviu hoje e vai te ouvir de novo — Blanca apertou carinhosamente o ombro do irmão — E, na hora certa, quando entender o que sente, você saberá o que dizer. Mas agora, se puder te dar uma dica: vai atrás dela, ainda dá tempo.
Carlos olhou sério para a irmã, sem realmente ter considerado aquela ideia. Podia ter sugerido que ficasse em sua casa, podia ter dado um jeito, inventado uma desculpa para ela ficar ali, mais tempo com ele. Podia ter oferecido de levar ela de volta a Milão no dia seguinte e, com sorte, se saísse logo, ainda daria tempo de oferecer aquilo. Pensando em tudo o que sua irmã havia dito, Carlos saiu do carro em um impulso, abraçou a mulher, dando-lhe um beijo na têmpora e corria para o lado do motorista de seu carro.
Sem dizer absolutamente nada, ultrapassando a velocidade que era permitida, com os olhos atentos à estrada à sua frente, Sainz só se deu conta do que realmente fazia quando, quase quarenta minutos depois, já estava estacionado no aeroporto. Assim que chegou ao local, deixou o veículo com o manobrista e saiu correndo em direção a área de embarque. Desesperado, com o coração querendo sair pela boca e as mãos suando a cada segundo, Carlos olhava para todo lado tentando encontrar a modelo, sem sucesso. Algumas pessoas que o reconheciam o olhavam curiosas, mas o piloto seguia confuso, correndo, procurando por .
Ele parou por um único instante para checar o painel de voos, procurando rapidamente pelo próximo que fosse sair para Milão e, decorando mentalmente o número do voo, correu até o balcão de atendimento da companhia aérea. Se fosse preciso, compraria uma passagem de última hora para conseguir encontrar ela, contudo, assim que perguntou à funcionária sobre o voo até Milão, sentiu o destino mostrar-lhe que, talvez, não era mesmo para aquilo tudo dar certo. Talvez não fosse mesmo para eles dois darem certo.
— Eu sinto muito, senhor, mas o avião já está se preparando para decolar, é impossível entrar agora.
~ ❤ ~
Carlos não se lembrava de ter tido alguma discussão como aquela em sua vida. Com absolutamente ninguém. Sempre teve uma personalidade mais forte, mas fechada, menos simpática e expansiva do que seus amigos, por exemplo, mas não tinha se dado ao desgosto de alguém como parecia acontecer com . E ele simplesmente não conseguia entender o que exatamente acontecia e o que os levou a chegar até aquele ponto caótico. Não tinham tido um bom começo, era fato. Carlos estava absolutamente normal no dia em que a conheceu e teve uma fala isolada mal interpretada pela modelo que, sem sequer dar a chance de conhecê-lo, já tomou as dores para si mesma e se intrometeu em um assunto que não lhe cabia. E a partir disso, qualquer coisa parecia ser motivo o suficiente para o detestar. Parecia que a simples presença de Carlos na frente dela já ultrapassava um limite que ela mesma tinha se imposto, a ponto de incomodá-la tanto, que explodia.
Como havia explodido naquele dia.
tinha ficado visivelmente desconcertada em vê-lo no desfile. Certamente pelos acontecimentos recentes, pelas fotos compartilhadas pelo mundo inteiro, pelo vídeo vazado. Carlos podia entender o ponto de vista dela na história, ele mesmo se sentiria da mesma forma, se fosse o contrário. Mas o que o incomodava era a confusão que sentia em tudo o que aconteceu depois daquilo. As palavras de soavam em sua mente como murros que ele não conseguia parar de sentir. O tom acusatório, os gritos, o olhar magoado nele. A impossibilidade de deixá-lo ao menos se desculpar com ela, a visão que ela tinha dele. Carlos não entendia de onde vinha tudo aquilo. Não sabia o por que o negava tanto, por que parecia que só via o lado ruim que ele aparentemente tinha, por que não baixava sua guarda por um único dia e, pelo menos, tentava entender o lado dele.
Estava ofendido por cada palavra que ela havia dito, estava se sentindo mal por ter dito coisas que não gostaria, pelo vídeo, pelo jeito que deixou toda a relação deles ser construída. Não gostou de ser chamado de segundo piloto, odiava quando jogavam isso em sua cara. Batalhou muito para chegar onde estava, sempre se destacou no que fazia e, por anos, vinha calando a boca de todos que diziam que era apenas um “piloto pagante”. sequer o conhecia. Não tinha o direito de avaliar sua vida e seu trabalho daquela forma, não tinha direito de expor ele em público, como ele, sem querer, havia feito com ela dois dias antes. Carlos estava ridiculamente confuso. Cansado de toda aquela situação, do jogo de dois pesos e duas medidas que estava jogando sozinho, desde que se sentou no banco do jato e decolou de volta para sua casa. Tentava colocar tudo o que fizeram um ao outro em uma balança para entender qual lado estava pesando mais, torcendo para que não fosse o dele.
Por mais que não tenha gostado muito do jeito que Charles construiu toda aquela cena para que ele fosse até Milão falar com ela, por um momento, enquanto procurava por no final do desfile, Carlos realmente acreditou que, daquele dia em diante, pedindo desculpas, se deixando ser verdadeiro e se mostrando quem ele realmente era, tudo pudesse ser diferente entre eles. Mas não poderia. Nada podia mudar entre eles, porque aquela era . Uma mulher absolutamente linda, forte, responsável, dedicada ao que se propunha fazer, mas reativa, teimosa e injusta também. Alguém que não se permitia errar, que não permitia erros também. Alguém que não daria uma chance em conhecer Carlos, mesmo que ele tentasse. E, depois daquele dia, ele já achava que não mais valia a pena tentar.
A fúria e todo o nervosismo do momento foi se acalmando pelo caminho, dando espaço para a confusão, conforme Carlos refletia em silêncio sobre tudo o que tinha acontecido. E só realmente reparou que ficou imerso em todos os seus sentimentos e pensamentos quando, enfim, pousou em Madrid. Estava ignorando as mensagens que Charles insistentemente lhe mandava, querendo saber onde ele estava e se estava bem e preferiu ater-se em responder , apenas, pedindo desculpa mais uma vez por ter causado o tumulto em seu desfile de estreia como estilista e dizendo que passaria um tempo longe, em casa, até tudo ser abafado.
, por sua vez, depois da briga patética com Carlos, foi rapidamente embora para sua casa, sozinha. Não deu a chance aos amigos de sequer conversarem com ela sobre o que tinha acontecido, evitando criar ainda mais problemas do que ela tinha criado naquele dia. Chegou em seu apartamento, foi direto tomar um bom e relaxante banho em sua banheira e por ali ficou quase uma hora, repassando tudo que havia acontecido mais cedo. Sabia que não tinha sido justa com o piloto, que tinha perdido a cabeça, dito coisas que jamais diria sobre ele, que o tinha julgado errado. Pegava-se pensando em cada palavra que deixou sair de sua boca naquela noite, se perguntando porque tinha se afetado tanto a ponto de sequer perceber o que fazia.
Estava magoada com Sainz, pelo vídeo. Magoada em saber que ele a parecia resumir a só um rostinho bonito e filha de milionários, como a grande maioria das pessoas que nem a conheciam achava dela. Carlos a conhecia, afinal. Ao menos, mais do que tantas outras pessoas no mundo. E, mesmo assim, não se deu a chance de ver a mulher que ela era, suas dores, suas alegrias, seus traumas e sua história. Ele não estava realmente interessado naquilo, estava? sempre disse que nunca seria a sombra de seus pais e batalhava muito para não ser, quem Sainz achava que era para dizer o contrário daquilo? estava tão irritada, tão triste e se sentindo tão mal pelas coisas que disse para ele que deixou-se chorar sozinha naquela noite. Parte dela carregava a bagunça de como se sentia em relação a ele, outra parte a lembrava constantemente sobre o vídeo e uma nova parte dela se arrependia tremendamente por ter sido tão dura naquela noite.
Ao fim e ao cabo, Sainz só queria se desculpar com ela. Foi até Milão ver o desfile, esperou que o evento terminasse para não atrapalhar ela, ela achava, e foi racionalmente conversar com ela. Pareceu sincero, verdadeiro em suas palavras, ao tentar se desculpar, mas tinha estragado tudo. Não tinha dado a chance de ouvir o que ele tinha a dizer, não tinha dado espaço para ele falar, colocar seu ponto de vista. Despejou um monte de porcarias sem pensar em cima dele e, ainda, acabou com o evento de sua amiga. A amiga que deu a ela a oportunidade de estar ali, que a destacou naquela noite, que confiou nela não só a amizade, mas também o seu trabalho e a carreira. sentia que poderia explodir naquela noite.
Mas como toda noite ruim que passa, o dia seguinte sempre amanhece.
E, com ele, decidiu fazer alguma coisa para não mais carregar aquela culpa. As férias de verão começariam oficialmente naquela semana e, com elas, os pilotos podiam aproveitar um mês inteiro livre, para viajar, festejar e descansar, antes de retornar para a segunda parte do campeonato mundial. Por isso, sabia que não teria muito tempo até as meninas se separarem, provavelmente com agendas cheias de viagens, sexo e muita diversão com seus respectivos namorados. Assim, aproveitando que todas ainda estavam na cidade, e uma parte delas em seu apartamento, a modelo as convidou para um almoço digno dos deuses, em um dos seus restaurantes preferidos, com vista para a Duomo di Milano.
Entre taças de champanhe bancadas pela modelo e a melhor massa do país, se desculpou com elas pela noite anterior. A vulnerabilidade em sua voz e em sua postura eram tão atípicas em , incomuns, que as amigas estavam sem saber exatamente como reagir. Apenas a ouviram dizer tudo o que ela gostaria, acolhendo e tentando entender o seu lado da história.
— Não deveria ter dito as coisas que disse e muito menos ali, naquele momento — A modelo comentou sincera, com sua taça de champanhe pela metade em mãos — Me desculpe por isso, meninas, eu fui impulsiva, estava irritada pela surpresa de ver o Sainz lá depois de tudo, chateada com o que ele disse no vídeo, mais do que eu gostaria de assumir, e não queria vê-lo na minha frente.
— Está tudo bem, , nós entendemos — Luisa apertou levemente o braço da amiga, por sobre a mesa.
— Sei disso, amigas, e agradeço vocês por isso, mas me sinto frustrada em não entender o que acontece — confessou — Não sei porque o Sainz me incomoda dessa forma! Eu não deveria nem estar me importando com ele, mas quando percebo, já estou reagindo a absolutamente tudo que vem dele.
— Você sabe qual é a nossa teoria — Lily apontou para ela, vendo o garçom servir sua salada de frutas vermelhas.
— Sem fundamentos — rebateu, tomando um gole de sua bebida.
— Vocês parecem dois adolescentes na escola, que queriam muito se pegar, mas ficam de birrinha — Luisinha fez um biquinho, provocando a amiga.
— A mais próxima da adolescência aqui é você, Lu — revirou os olhos.
— Por isso mesmo eu tenho propriedade para falar — A outra modelo riu, junto com as amigas — e te digo, , você está reprimindo os seus sentimentos por ele, porque gostou do que viu no Carlos, quando o conheceu, mas a personalidade que você esperava dele não é a que é real. E isso te frustra.
— Ui, essa foi profunda — Carmen a olhou surpresa. parecia pensativa.
— Eu sei disso porque passei por isso com o Lando também — Luisinha seguiu contando, um pouco mais séria do que antes — Não dessa forma, claro, a gente não brigava nem nada, só demoramos bastante tempo para nos conectarmos de fato. O que eu esperava dele, no começo, não era o que ele podia me oferecer. E vice-versa. É bem normal isso, vocês só estão canalizando de um jeito… errado.
— Certo, vamos assumir que seja isso o que está acontecendo, — pensou alto, tentando entender a lógica das amigas — então, porque a gente deveria ter algo a mais, sendo que não conseguimos oferecer um ao outro o que buscamos em… outras pessoas?
— Porque tem alguma coisa aí, nesse meio, que faz vocês se conectarem de alguma forma — Carmen respondeu prontamente.
— E meu palpite é o fato de serem tão parecidos, em tantos aspectos, que acabam se vendo demais um no outro — Pegando uma nova colherada de sua salada de frutas, Lily comentou — E isso chega em um ponto que vocês dois conseguem enxergar até as falhas um do outro, sem nem se conhecer direito.
— E, geralmente, do jeito tradicional que a coisa acontece, no começo não conseguimos ver os defeitos das pessoas por quem nos interessamos — concluiu, tomando seu gelato, e logo brincou: — O Charles, por exemplo, não tem um defeito.
— Lá vem a apaixonada — Lily gargalhou junto com a amiga.
— Tem defeito sim! — Sentada ao lado dela, Luisinha se virou para ficar de frente para ela e estridente, brincando, gritou: — Se veste mal para caralho.
— Tudo bem, você tem um ponto — levantou as mãos, se rendendo e voltou-se para , sentada à sua frente: — Mas pense nisso, amiga. Sério. Talvez por baixo de todo o caos que vocês criaram, tenha alguma coisa que ainda está nascendo e que não é claro para vocês.
— Mas, para gente, já está na cara — Carmen concordou, dando uma olhadinha no gelato de . Parecia bonito.
— E, por isso, insistimos que vocês se resolvam… e logo — Como se pedisse aos céus, Lily gesticulou exageradamente, tirando uma risada de . Aquela conversa estava estranha mas, no fundo, parecia fazer algum sentido.
— Achamos que seria legal vocês dois conversarem, se entenderem, perceberem o quanto combinam, ainda mais depois de tudo — Carmen deu de ombros, vendo as amigas concordarem com a cabeça e ignorando o olhar reativo de em ouvir aquilo — Mas não deveríamos ter insistido para ser no desfile.
— Fomos emocionadas — Luísa riu, tomando um gole de seu champanhe.
— Não foi culpa de vocês — A modelo negou com a cabeça, olhando a torta que pediu de sobremesa meio comida no pratinho — Eu deveria ter me… comportado melhor. Sinto muito mesmo, … de novo.
— Está tudo bem, amiga, não se preocupe mais com isso, já foi. O que é a moda sem um pouco de drama, não é mesmo? — brincou, puxando a taça com água para perto de si, fazendo as amigas rirem — No final das contas, o desfile foi um sucesso, a mídia está comentando mais do que esperávamos e você e Sainz abafaram o fato de Charles ter ido também.
tinha visto as notícias naquela manhã. Tinha lido as dezenas de críticas positivas sobre a coleção, sobre o trabalho de , sobre o desfile de apresentação da marca e sobre o evento. Leu os comentários sobre a participação dela, que foi muito bem recebida pelos jornalistas de moda mundo afora, apesar de sua falha, e tinha visto as fotos dela na passarela. Mas não bastasse aquilo, também tinha se deparado com as imagens dela e de Carlos. O jeito que Carlos a olhava enquanto ela desfilava, intenso, surpreso, atento. O sorriso ligeiro, charmoso, que ele lhe deu no final. Ela perdeu algum tempo naquelas fotos e assistiu, mais vezes do que assumiria para si mesma, o vídeo do momento em que ela passava por ele, no final do desfile, e lhe soprou um beijo no ar. Os rumores de que estavam juntos tinham acabado de ganhar um novo capítulo e a mídia estava enlouquecida, tentando entender algo que nem mesmo eles dois podiam explicar.
Depois das fotos vazadas do clube de golfe, a fagulha que acendeu o interesse público neles dois enquanto casal, e a polêmica do vídeo de Carlos dizendo que não teria nada com , o mundo parecia verdadeiramente confuso com eles. Se Carlos negou o que tinham e encheu a boca para desprezar , por que a olhou daquela forma no desfile? E se havia ido pessoalmente em sua rede social desmentir a polêmica, por que no dia seguinte ela parecia brincar em público com ele? O caos que emanava deles parecia interessar, e muito, a mídia e todos aqueles que os assistiam de fora.
A briga, contudo, conseguiu ser contida pelo time de relações públicas da Hermann. Tinham virado a noite varrendo todos os comentários possíveis sobre o evento, no intuito de abafar qualquer que fosse a informação sobre a briga entre e Carlos. Como não tinham sido filmados ou fotografados naquele momento, nos bastidores do desfile, nenhum material que comprovasse ter tido qualquer tipo de conflito no evento poderia ser publicado e, por isso, na manhã seguinte, já não falavam mais daquilo. O evento da Hermann foi consolidado, um sucesso e seus segredos ficariam apenas dentro dos bastidores mais VIPs da marca. E, assim, estava bom.
pareceu mais preocupada no momento da briga do que depois dela. O tempo em que demorou para e Carlos irem embora foi o tempo que o time da Hermann demorou para ter um plano estratégico em abafar aquilo. Estavam no ramo há anos e polêmicas eram passíveis de acontecer a qualquer segundo, por isso, estavam preparados para enfrentar aquilo. Apesar de ter ficado brava com o show armado pelos amigos, assim que tudo se acalmou, passou a ficar mais preocupada com o que diriam deles no dia seguinte, do que com qualquer associação idiota que poderiam fazer com sua marca. vinha uma família muito tradicional e estava aparecendo mais na mídia nas últimas semanas, depois da aparição de Sainz em sua vida, do que em todos os últimos anos. Não sabia exatamente como sua família lidaria com aquilo, mas, pelo o que lhes contava sobre eles, não parecia ser algo fácil de enfrentar.
E Carlos, assim como ela, nunca teve seu nome envolvido em problemas. Aquele era o primeiro vídeo bêbado dele que saia em público, a primeira aparição do piloto dizendo uma merda como aquela e sabia o quanto aquilo poderia impactar sua carreira. Tinham que manter seus nomes limpos, tinham que agradar a mídia, o público, para agradar os investidores e patrocinadores e conseguir se manter ativos nas temporadas, renovar seus contratos. Tinham que se mostrar responsáveis e maduros o suficiente e era tudo o que Carlos não estava parecendo ser naqueles últimos meses.
Por isso, era essencial que nada do que aconteceu entre eles naquela noite saísse para fora dos bastidores do evento. Um fato isolado, que foi brilhantemente trabalhado pela marca de e que, no final das contas, conseguiu manter-se em sigilo. Lily, Luisinha e Carmen ficaram algum tempo com a amiga, assim que todos foram embora, mas não demoraram a ir também. Estavam cansadas do dia extenso que tiveram e, chamando um táxi, foram de volta para o apartamento de , onde estavam hospedadas. A modelo estava trancada em seu quarto, em um silêncio assustador que, mesmo colocando os ouvidos na porta, nenhuma das três conseguiu quebrar. Como acharam que a amiga já estava dormindo, decidiram deixá-la em paz e ir dormir também. , por sua vez, foi embora com Charles, até o hotel onde o monegasco estava hospedado, terminar aquela noite com toda a alegria que o dia lhe trouxe, já sabendo que, na manhã seguinte, ele iria embora.
Mas ele não foi.
— Ainda tentando esconder o Monegato do mundo, ? — Luisinha virou-se para a amiga, que revirou os olhos por baixo dos óculos de sol que usava.
— Olha quem fala! A gente te via no paddock torcendo pelo Lando e se fazendo de desentendida — respondeu sorrindo, vendo a amiga ao lado ficar vermelha — Não é a hora do mundo saber sobre eu e o Charles ainda.
— O mundo já sabe, . HÁ MESES — Lily inclinou-se para frente, falando pausadamente, fazendo Carmen rir.
— Mas não oficialmente, por nós dois — deu uma colherada no gelato.
— Não oficialmente por você — Foi a vez de provocar a amiga, risonha — Charles postou uns stories seus ontem, não tem mais o que esconder.
— E você sabe que eles só fazem isso quando, enfim, oficializam algo — Carmen roubou um pouco do gelato da amiga.
— “Tão orgulhoso”, coração, coração, coração — Com uma voz fina, Lily fez referência ao que estava escrito na foto que Charles postou de , fazendo as amigas gargalharem.
— Não sei do que estão falando — A empresária se fez de desentendida, recebendo gritos em resposta das amigas e logo desviou o assunto — Mas o que ele te disse, ? O Sainz… Antes da gente chegar…
— Ele foi… fofo, eu acho. Tentou pedir desculpas, — assumiu, desviando seu olhar até a catedral de Milão ao lado delas. Como comiam da varanda, aberta, do restaurante, tinham uma vista privilegiada do lugar lá fora — mas eu não deixei ele nem terminar de falar.
— Pelo menos ele reconheceu que errou — Luisa refletiu alto, olhando a vista também.
— Mas acho que, agora, é a sua vez de reconhecer isso também, — Carmen sorriu serena para a amiga, que nada mais respondeu.
Tinha consciência de que Carmen estava certa. Tinha cometido o maior dos erros da noite e, ter chorado seu coração para fora na noite anterior tinha sido bastante libertador para ela, mas não o suficiente. Sempre resolveu seus problemas com maturidade e com determinação, sempre foi responsável pelas suas ações e, mesmo Sainz tirando dela seu lado mais irracional, ela ainda assim sabia que tinha feito merda com ele. só não tinha ideia, ainda, de como consertar aquilo. Ou, ao menos, do que poderia fazer para minimizar a situação. Passariam algum tempo longe um do outro, sem se ver ou se falar, mas, eventualmente, tudo voltaria à tona. E, a tirar pelo fato de estarem todos de férias e com bastante tempo livre, certamente aquele dia, de reencontrar Sainz, não estaria muito longe.
tentou não pensar muito mais naquilo. Ocupou-se em ouvir Luisinha fofocar sobre o vídeo de Gasly com outra menina que não era Kate, enquanto terminavam de comer a sobremesa, e engataram em uma conversa sobre Carmen e George, que já tinham viagem marcada e a mulher não sabia exatamente o que esperar. O clima entre eles ainda estava meio estranho, apesar de, segundo Carmen, Russell estar com “o rabo entre as pernas”, correndo atrás dela naqueles dias todos. O resto da tarde foi bastante tranquilo. se sentiu livre e muito feliz em ter conseguido conversar com as meninas e, entre fazer compras na Galeria Vittorio Emanuele II, e fofocar sobre os últimos acontecimentos do grupo, o dia passou e nenhuma delas sequer percebeu.
Lily foi embora na madrugada, encontrar Albon na Indonésia, onde passariam quase o mês inteiro descansando. Luisa foi embora no dia seguinte, direto para Portugal, onde se encontraria com Lando, enquanto Carmen pegou o trem para Londres, tentando ir pelo caminho mais longo e demorado possível sentido a Russell. Disse que queria colocar tudo em seu lugar primeiro, antes de conversar com ele e, um tempo sozinha, observando o mundo passar pela primeira classe do trem e seus fones de ouvido certamente a ajudariam. Tímido em fazer o convite, mas com a viagem inteira planejada no dia em que passou com as meninas, Charles a convidou para passar as férias com ele na Grécia. A primeira vez que viajariam só os dois juntos, a primeira vez em que passariam tanto tempo a sós, como um casal.
ficou sozinha em Milão. Decidiu tirar um tempo para si mesma na cidade em que vivia, há tempos não fazia aquilo. Nos últimos anos, usava a cidade como residência e quase nunca aproveitava o que ela tinha de melhor. Seria diferente e legal ficar onde era confortável e o clima quente daquela época do ano a animava ainda mais. Encontrou os pais para um final de semana em família, teve tempo para explicar-lhes o que acontecia em relação a Sainz e desmentir todos os boatos que eles ficaram sabendo sobre eles dois. Apesar de achar que seus pais não gostariam nada das polêmicas que ela tinha se metido, eles pareceram reagir bem. Sua mãe se lembrou da época em que começou a sair com seu pai, das notícias que circularam na mídia sobre eles e suas famílias e achava bastante comum alguém como ela, conhecer pessoas como Sainz, se relacionar e ter isso exposto de alguma forma. Passou o final de semana todo insistindo no tema e dizendo o quanto achava o piloto “uma gracinha para ela”.
Nem tão acolhedor quanto a esposa, o pai de a aconselhou a evitar aquele tipo de situação. E apesar do sermão que levou dele, o homem pareceu bastante interessado em saber mais detalhes sobre Carlos e sua família. não tinha muito o que dizer e também não se esforçou em inventar coisas. Apenas reforçou que pareciam boas pessoas, que tinham ótimas qualidades e que não teve muito mais tempo para conhecê-los a fundo. Não deixaria sua opinião sobre Carlos contaminar seus pais. Ao menos, não enquanto nem ela mesma sabia o que dizer sobre ele.
Naqueles dias, ainda, reencontrou alguns amigos, chegou a ir a uma festa de um DJ famoso da região, foi revisitar pontos turísticos da cidade, ficou uma semana no litoral da Croácia, país vizinho, sozinha, descansando. Mas, apesar de estar se esforçando em se manter ocupada, sua mente não conseguia parar de pensar em Carlos. Nas brigas que tiveram, no jeito que ele a olhava. No perfume dele, no jeito que passava as mãos pelos cabelos, o som da risada, a voz grave, o sorriso provocador, o sotaque fofo.
Não conseguia deixar de pensar nas conversas sobre ele que teve com as amigas, em como elas pareciam ver coisas que ainda não eram claras para , no que lhe disse sobre devolver o carro, sobre ele estar chateado porque perdeu o relicário que estava com ela. E, vez ou outra, se pegava olhando as fotos que tinham juntos. Lembrando dos momentos, das provocações, do jeito que ele falava perto dela, dos olhos que desciam para os lábios dele toda vez. Talvez as meninas tivessem razão. Talvez ela não conhecesse a verdade sobre ele, talvez não tivesse se dado a chance de limpar o que tinham vivido até ali e começar de novo, sendo quem realmente eram e não insuportáveis como se faziam ser, de propósito, para atingir o outro.
Talvez estivesse reagindo mal até a si mesma, se recusando a aceitar o que estava bem diante de seus olhos. Carlos Sainz mexia com ela. De um jeito único, que ninguém mais, algum dia, a fez se sentir.
não sabia explicar, ela só queria… queria. Começar de novo, talvez. Conhecer o Sainz que todo mundo ao seu redor conhecia, se deixar ser quem ela era. Mas, para isso, ela precisava fazer alguma coisa, ela sabia. E foi pensando naquilo que, quase vinte dias depois das férias de verão começarem, se lembrou da aposta que haviam feito. As palavras de ecoavam em sua mente como um alerta e ela sabia o que era certo a se fazer - ao menos, alguma coisa dentro dela dizia que tinha que fazer algo. Não podia deixar as coisas como estavam. Não mais. Se Carlos tinha tentado se desculpar, talvez fosse a hora de ela engolir o orgulho e tentar também.
Por isso, como um estalo, naquela sexta-feira ainda de madrugada, saiu de sua casa com apenas uma mala de mão e sua bolsa de documentos e dirigiu em direção a Marbella, a pequena cidade no litoral sul da Espanha. Não pensou muito no que estava realmente fazendo quando saiu de casa, para não desistir. Agiu por puro impulso, sabendo que todas aquelas questões a estavam incomodando e que precisava fazer algo para resolvê-las.
Boas horas de viagem depois, dirigindo pelas estradas mais lindas que ela já havia tido a oportunidade de passar, chegou na cidade espanhola, ao anoitecer. Não conhecia muito bem a cidade, mas sabia que era um paraíso naquela época do ano, onde parte importante da elite europeia se encontrava para curtir o verão nas belas praias, boas festas e muita ostentação. Não foi muito difícil conseguir o endereço que precisava, bastou a ela enviar uma mensagem a Charles, no dia anterior, perguntando pelo endereço de . Suspeitando do pedido de em ter o endereço da amiga, principalmente por ela estar na Grécia com ele, e sem receber nenhuma resposta da modelo sobre aquilo, Charles passou a localização para ela, pedindo apenas que a modelo “não fizesse nada de que pudesse se arrepender depois”.
Lembrando das palavras carinhosas do amigo, suspirou e riu sozinha, aproximando-se da residência em que o mapa apontava ser o seu destino. Tinha localizado a casa de sem grandes problemas e, sabendo que Carlos vivia na mesma vizinhança que ela, não demorou mais do que algumas voltas pelas ruas do suntuoso bairro até localizar a discreta placa com o sobrenome dele, provavelmente indicando a residência de sua família. achou fofo o fato de todas as casas do bairro terem as placas com os sobrenomes e agradeceu mentalmente pelos espanhóis terem aquela cultura, do contrário teria que sair perguntando na rua ou recorrer novamente a Charles.
Sem muito tempo a perder, sentindo seu coração bater tão forte que poderia sair pela boca, ela desligou o rádio e aproximou o veículo da entrada lentamente, surpresa pela elegância e sofisticação do lugar. Ao menos bom gosto a família de Sainz parecia ter. E dinheiro também. estacionou o carro diante do grande portão vitoriano da casa e apertou um botão do lado de fora, identificou-se rapidamente. Ela aguardou ali cerca de dois minutos, até sua entrada ser liberada, agradeceu a pessoa do outro lado e dirigiu-se em direção a entrada da residência. O extenso caminho, cercado por pinheiros altos, formava uma espécie de corredor e dava para uma rotatória, onde, ao meio, havia um belo jardim com um pequeno lago artificial.
Pela quantidade de carros estacionados no local, reparou que a casa parecia cheia e só se deu conta de que, talvez, ela tivesse escolhido o dia errado para estar ali, quando viu um casal muito elegante subir as escadas de entrada da casa. Talvez fosse aniversário de alguém, e ela sequer tinha levado um presente. Talvez estivessem dando um jantar, ou uma festa. E ela certamente não tinha sido convidada. Pensou por um momento o que seus pais diriam se soubessem que ela estava, de sopetão, na casa de alguém e achou melhor não se apegar a isso. Não ficaria ali por muito tempo, o plano era simples: devolver, pedir desculpas pela discussão, ir embora.
Respirando fundo, deixou o carro em frente a entrada e saiu, pisando firme até a porta. Se sentia levemente ansiosa, repassando mentalmente o que deveria dizer quando visse Carlos, mas não teve muito tempo para pensar naquilo porque, assim que pisou no último degrau da escada de entrada, a porta se abriu e, com ela, o pesadelo, e o sonho, de apareceu por ela.
— O que você está fazendo aqui?
Carlos perguntou assim que colocou seus olhos nela. Pelo tom de voz fechado, baixo, ele parecia surpreso, um pouco chocado, em vê-la bem ali, na sua casa. o encarou por um momento, tentando encontrar algum racional que justificasse sua ida até lá, sem parecer totalmente vulnerável a ele. Tinha prometido a si mesma que não levaria nada do que ele lhe dissesse para o pessoal e que se esforçaria em não brigar, de novo, com ele.
Carlos seguia a encarando de volta, com uma mão no bolso da calça cinza, enquanto a outra segurava a porta aberta atrás de si. Estava com uma camiseta social preta, dobrada até o cotovelo e um tênis casual branco. Seu olhar estava intrigado. Não conseguia pensar em nenhum motivo para ela estar ali, desde o segundo que o porteiro de sua casa o informou que ela havia chegado, e se perguntava como foi que ela havia conseguido o seu endereço.
— Olá, Sainz, como vai? — perguntou, um pingo de ironia em sua voz — Eu vou bem, também, obrigada.
— Acho que você não viajou de Milão até aqui para saber como eu estava — Carlos respondeu sério, observando a mulher se aproximar dele com algo em sua mão.
— Não mesmo, vim apenas lhe entregar isto — a modelo abriu rapidamente a mão, estendendo a chave da Ferrari para o piloto, que naturalmente a pegou — e já estou indo embora.
— Você veio até aqui para isso? — Ele perguntou boquiaberto. Não sabia bem como reagir ao fato de que ela havia viajado de Milão até sua casa, até ali, só para devolver seu carro, mesmo o tendo ganhado em uma aposta. Uma viagem de mais de dez horas, para entregar apenas uma chave. Só podia ser algum tipo de brincadeira. — Por que?
— Por que o carro é seu — respondeu com obviedade — Ele não me pertence, Sainz, e nem nunca vai pertencer. Fomos longe demais apostando isso — Continuou dizendo enquanto o rapaz ainda a observava quieto — e longe demais nas coisas que… dissemos.
— O que quer dizer com isso? — Carlos apertou os olhos levemente, desconfiado daquela conversa. Tudo parecia diferente. engoliu seco e respirou fundo, torcendo para não se arrepender de dizer aquilo alguma hora.
— Que eu sinto muito, Sainz — Ela desviou seu olhar do dele — Sinto muito pelas coisas que eu te disse no desfile, não foi certo. Estava… acho que ainda estou, não sei, — soltou uma risada leve, nervosa — chateada pelo o seu vídeo. Não justifica ter agido daquela forma, mas só queria que soubesse que… bom, me desculpa.
Carlos sentiu como se tudo ao seu redor tivesse desaparecido por um instante. estava mesmo se desculpando? Com ele? Estava com a consciência pesada por ter dito tudo o que disse ou alguma coisa havia mudado? O que poderia ter mudado? Carlos não podia acreditar naquilo e, por isso, por não esperar, estava sem reação. Apesar da surpresa e da ligeira incredulidade, contudo, aquilo tinha lhe soado bem. Como se, no fundo, ele esperasse por aquilo, talvez uma mensagem ou uma ligação, ou na próxima eventualidade que se encontrassem por aí, tinha acabado de lhe dar um novo motivo para que ele ficasse, ainda mais, confuso.
Estava com cinco mil respostas prontas e mal educadas para dar a ela, desde que o porteiro disse o nome dela. Esperava mais do mesmo, ou qualquer nova ofensa, motivo para brigar, qualquer coisa, mas não uma guarda abaixada, um orgulho engolido, como acontecia. estava assumindo o seu erro. E não apenas aquilo, estava também voltando atrás em outras merdas que tinham feito. Tinha viajado até lá para lhe devolver o carro, pessoal. Tinha ido porque precisava falar com ele, pessoalmente. E, no fundo, Carlos torcia para que ela também estivesse ali porque queria vê-lo tanto quanto ele queria, pessoalmente.
Sem saber daquilo, mas do mesmo modo que ele, esperava por uma resposta ácida, uma piada de mal gosto, uma risada irônica, uma postura cínica. Não o silêncio do piloto, o olhar intenso e brilhante que não deixavam ela nem por um segundo, a postura calma, serena. Carlos não só parecia absorver o que acontecia ali como procurava um jeito de responder. estava totalmente sem graça e sem saber como agir. Ficou brincando com os dedos e seus anéis, enquanto subia seu olhar para encarar, novamente os olhos perdidos do homem à sua frente. Parte dela, talvez consumida pela ansiedade, torcia para que ele não tivesse desistido de vez dela e a mandasse ir embora dali.
Contudo, no instante seguinte em que pensou naquilo, como se pudesse ouvir o que ela estava pensando, Carlos, finalmente, quebrou o silêncio entre eles, respondendo simplesmente:
— Tudo bem.
— Tudo bem? — repetiu confusa.
— Tentei te dizer isso no dia do desfile, mas não… — Ele cortou o que diria, não querendo ser acusatório — não deveria ter dito nada do que disse também. Me desculpe pelo vídeo, eu nem sei porque disse aquelas coisas, foi… — Tentando se expressar sem parecer confuso, Carlos aproximou-se da mulher, que permanecia parada no mesmo lugar — não posso nem dizer que foi por impulso, porque eu não queria dizer aquilo, não é o que eu… penso de verdade.
piscou algumas vezes, em silêncio, como se quisesse ter certeza de que tinha entendido o que ouviu. Estava surpresa, não pelo pedido de desculpas do piloto, o que era de se esperar, tendo em vista que foi ele o primeiro a dar aquele passo, mas sim pela sinceridade em dizer que, na verdade, ele não teria dito o que disse se não estivesse bêbado. se perguntou o que, então, ele diria, mas conteve-se em perguntar aquilo. Talvez fosse invasiva demais. Talvez estivesse imaginando coisas em sua cabeça.
O olhar intrigado dela deu a Carlos a resposta que ele precisava. Sua fala tinha atingido ela, pela primeira vez desde que se conheceram, de um jeito bom. De um jeito que a tinha deixado sem palavras. De um jeito novo para eles dois. Diferente do que ele imaginava, estava bem ali, na sua frente, parecendo aberta com ele naquele momento, parecendo verdadeira no que tinha ido fazer. No silêncio, sem que soubessem daquilo, os dois estavam felizes por terem se desculpado e, apesar de não saber exatamente o que dizer ou como reagir, se sentiam mais leves só de terem tido aquela conversa simples e estranha.
abriu um sorriso tímido para o piloto, em pé a poucos passos dela, e, enfim, decidiu cortar o silêncio. Não queria tomar mais do tempo dele, imaginava que estava atrapalhando o evento em sua casa, e já tinha cumprido sua missão. Podia voltar para casa com um peso a menos nas costas, com a sensação de que tinha feito a coisa certa e de que, talvez, quem sabe, dali em diante, alguma coisa pudesse ser diferente entre eles dois.
— Vou só pegar as minhas coisas no porta malas e já vou indo — apontou para onde o carro estava estacionado e, vendo o piloto concordar silenciosamente com a cabeça, pensativo, virou-se. Contudo, antes mesmo que pudesse começar a descer os primeiros degraus, uma voz conhecida chamou sua atenção, a fazendo se virar novamente de frente para a porta da casa.
— , certo? — Reyes, a mãe do piloto apareceu sorrindo para a modelo — Que surpresa ótima! Não sabia que vinha jantar conosco.
— Ah, não… — Carlos tentou dizer, de modo que não ficasse constrangida com a intromissão da mãe, ao mesmo tempo em que a modelo falou:
— É um prazer revê-la, Senhora Sainz — sorriu para ela, a cumprimentando com um breve abraço. Carlos segurou a risada ao ver a postura da modelo mudar drasticamente, ficando mais formal, educada e delicada, chamando sua mãe de “senhora”.
— Me chame de Reyes, querida, por favor. Sem formalidades — A mulher riu carinhosa — Venha, vamos entrar. As entradas devem ser servidas em breve.
— Eu agradeço, mas, na verdade, não vim para o jantar — Delicada, sorriu para ela.
— Como não? — Reyes a olhou surpresa.
— Vim só devolver algo que seu filho… esqueceu comigo — trocou um olhar cúmplice com Carlos, que conteve o sorriso.
Tinha dito aos seus pais que seu carro estava na sede da empresa, na Itália, porque precisava de reparos específicos, e evitava qualquer pergunta deles sobre o assunto desde então. Tinha que policiar para não dar com a língua nos dentes para suas irmãs ou nos encontros dela com sua família e tentava manter tudo abafado. Não podia sequer imaginar qual seria a reação de seu pai quando ele descobrisse que Carlos não só colocou sua Ferrari em uma aposta, como a tinha perdido. Imaginava que, em algum momento, a fosse conseguir de volta. Talvez por uma nova aposta, era o mais provável. Mas ali estava ela. E , com seu bom senso apurado, mesmo sem conhecer muito dele e de sua família, como ele achava, tinha parecido perceber que era melhor não ser totalmente verdadeira sobre o que tinha acontecido. Não ali. E não com seus pais.
— Carlos Jr. é muito relapso mesmo, vive esquecendo tudo, desde pequeno — A mulher pareceu ignorar a presença do filho ali, que a olhava sugestivo — Veio devolver porque estava de passagem?
— Mais ou menos isso — riu sem graça.
— E veio com a gangue das meninas mais bonitas da temporada? — Reyes deu uma olhada ao redor, em busca das outras, mas não encontrou ninguém e voltou-se para seu filho — está aqui também? Achei que ela estava na Grécia com o Charles…
— Ela está e só deve voltar no final do mês — Carlos concordou e logo brincou — Graças a Deus me deu férias.
— Graças a Deus ela tirou férias de você, meu amor — Reyes riu com , vendo a cara indignada do piloto — Mas as outras meninas estão aqui?
— Eu vim sozinha mesmo — A modelo sorriu, atraindo a atenção da mais velha novamente — Todas as meninas estão meio ocupadas com os namorados.
— Ah, claro, férias de verão, meio da temporada! Me lembro bem da minha época de namorada de piloto, se é que me entende — Reyes riu feliz com a lembrança. Carlos não sabia se sua mãe estava insinuando alguma coisa entre eles dois, mas sua mente, inoportunamente, o levou direto a imagem de com Ricciardo. Não soube entender, naquele momento, o por que pensou neles dois, mas,quando se deu por conta, já estava negando aquilo em voz alta.
— Ela não entende não, mãe — Sainz negou com a cabeça, tentando afastar a imagem de sua mente — Nem eu, na verdade.
— Carlos Jr. costumava convidar seus amigos para vir nos nossos eventos, por isso achei que você tinha vindo — A mulher ajeitou a echarpe que vestia. Estava bem vestida, muito elegante — e que tinha trazido os terroristas junto.
— Convidava, até o Lando beber demais e estragar um quadro milenar da família — Ainda com as mãos nos bolsos da calça, Sainz se curvou para frente, mais perto de , como se contasse uma fofoca. A modelo riu, incrédula.
— Como? — Ela arregalou os olhos.
— Não queira saber — Carlos negou com a cabeça, rindo levemente também.
— Acho que vou esperar o convite para o próximo evento, então — comentou educada — Mas já estou indo embora mesmo.
— A pé? — Carlos perguntou sério, preocupado.
— Como veio até aqui, querida? — Estranhando a pergunta do filho, Reyes franziu a testa. parecia ter tanta classe e, a tirar pelo vestido que usava, não deveria ter ido até lá a pé.
— Vim de táxi — Ela mentiu educadamente — e vou chamar um táxi de novo, até o aeroporto, comprar uma passagem para casa no caminho.
— De jeito nenhum — Reyes negou com a cabeça, decidida, e pegou a mão de — Você fica para jantar conosco, já está tarde para pegar a estrada até o aeroporto.
— Eu agradeço, senhora Sainz, mas não posso ficar, é um jantar em família, não quero incomodar — respondeu sem graça.
— Você não incomoda, de forma alguma! — Reyes a olhou, deixando a modelo ainda mais sem graça — É um jantar beneficente que fazemos todo verão para ajudar algumas famílias mais carentes da região. Nossa família e amigos mais próximos estão aqui. Você é bem-vinda.
— Mãe, você está deixando ela constrangida — Carlos olhou sério para a mãe que lhe fez uma cara tão fofa, que não sabia como ele aguentava brigar com ela — deve ter outros compromissos.
— E nós temos um lugar para ela na mesa — Teimosa, Reyes insistiu — Vamos, querida, você precisa ver a decoração, foi toda feita por Tory Burch, tenho certeza de que vai amar.
Sem perceber a troca de olhares entre e Carlos, Reyes passou o braço da mulher no seu e já foi entrando com ela para dentro da casa. Como se ela avaliasse se estava mesmo tudo bem por ele, ela ficar, sustentou o olhar no do piloto, até vê-lo sorrir levemente para ela e apontar com a cabeça para dentro da casa, sem dizer uma só palavra. Carlos sentia seu coração bater mais forte do que o normal. Ela ficaria mesmo para jantar? Na casa dele? Com a família dele? Tinha aceitado o convite de sua mãe por educação ou porque realmente queria ficar? Ela queria ficar mais tempo com ele?
— Tudo bem, acho que posso ficar, mas só se eu puder fazer uma doação ao final da noite — brincou com a mulher, que riu generosa enquanto entrava para dentro da residência com a modelo.
Sem saber o que fazer, o piloto fechou a porta atrás de si e seguiu atrás de onde sua mãe caminhava com . Sua atenção, pelo resto da noite, estaria focada na mulher que vinha perturbando seus pensamentos constantemente e que, sem qualquer formalidade ou hesitação, tinha acabado de mergulhar em sua vida de uma vez por todas. Carlos manteve-se alguns passos de distância dela, dando espaço para que ela conhecesse o ambiente com sua mãe e que se aproximasse de outros convidados. Alguns deles a mulher já conhecia do círculo social de seus pais, alguns pode ter a chance de conhecer naquele momento, sendo apresentada por Reyes e outros não se aproximavam muito, pois conheciam a família Voitenko e tinham certo receio.
Sainz se entreteu com Blanca, sua irmã mais velha, por alguns bons minutos, que, curiosa, veio querendo saber quem era a mulher com sua mãe. O piloto, que sempre teve um relacionamento bastante próximo e aberto com suas irmãs, não mediu detalhes em contar-lhe tudo o que tinha acontecido entre ele e a modelo. Entre as taças de champanhe que o cocktail de boas-vindas servia e os olhares atentos do irmão que recaiam, vez ou outra, sobre , Blanca ouviu tudo atentamente, fazendo mais perguntas e insinuações do que Carlos gostaria de responder naquela noite.
Em certo momento, contudo, não muito depois de sua chegada ao jantar, conversava educadamente com um grupo de mulheres que conheciam sua mãe, quando Carlos e Blanca viram uma outra mulher, em especial, por volta dos setenta anos, se aproximar dela. O piloto e a irmã trocaram um olhar cúmplice, exausto e um pouco impaciente.
— Aposto cem euros que ela vai assustar a ponto de ela querer ir embora daqui — Blanca olhou do irmão ao seu lado para a mulher se aproximando sorrateira da modelo, alguns passos à frente de onde assistiam.
— Duzentos euros que, dessa vez, ela não vai conseguir, porque é a quem vai assustar ela — Carlos apostou as fichas na modelo que, conhecendo bem, não ia perder a pose ou se acuar com ninguém.
— Anda logo, antes que o despejo de comentários desnecessários comece — Blanca puxou uma nova taça cheia de champanhe do garçom que passava por perto e, a dando para Carlos, o empurrou na direção do grupo de mulheres. Com uma taça em cada mão, o piloto respirou fundo e deu alguns passos a frente, se aproximando o suficiente para ouvir sua tia dizer:
— Acho que faz realmente muito tempo que não nos encontramos, você está muito diferente. O que fez? Harmonização facial, Laura?
Carlos parou de andar por um momento, assustado com a fala da tia. não tinha absolutamente nada a ver com Laura, em nenhum sentido. Não era possível que ela estivesse realmente confundindo. Talvez só estivesse sendo desnecessária, como sempre.
— Na verdade, eu não sou a Laura — Educada, conteve a gargalhada.
— E também não é a Isabel, presumo? — A mulher a olhou de cima a baixo. simplesmente negou com a cabeça, meio confusa pelo teor da conversa.
— Não.
— Então, neste caso, Carlos Jr. trouxe uma namorada nova? — Em um tom de deboche, a mulher seguiu perguntando. sentiu uma vontade enorme de revirar os olhos, mas se conteve. Estava na casa dele, com a família dele, tinha que ser o mais cordial possível.
— Ah, não, eu não… — Ela tentou negar, simpática, mas logo foi interrompida:
— Não é de se admirar.
— Mas eu não… — franziu a testa, tentando negar mais uma vez, sem sucesso.
— Não precisa negar, meu amor, sabemos que só acompanham Carlos Jr. nesses eventos as namoradas do momento — Frisando a última palavra, como se quisesse atingi-la, a senhora desdenhou.
E só naquele momento percebeu o que estava acontecendo ali. E teve que se segurar, bastante, para não ser deselegante. A senhora, que parecia incomodada com a presença dela no evento, não era muito amigável a Carlos e isso ficou nítido em três frases que trocaram. Estava tentando assustar , talvez afastar ela dali, insinuando que Carlos era um… mulherengo? Precisaria de mais do que aquilo para fazer se sentir constrangida. A modelo soltou uma risada baixa, mantendo sua educação.
— Bom, ele é jovem, bonito, bem apessoado e com uma família como a da senhora, estranho seria se não tivesse sempre uma namorada para apresentar, não é? — sorria abertamente para a mulher e, se inclinando ligeiramente para frente, continuou em um tom de voz mais baixo, como se contasse um segredo: — E convenhamos, quem resiste ao calor espanhol dele?
As outras mulheres com elas na roda soltaram risadas elegantes, comentando a fala simpática da mais nova e logo se dispersaram pelo evento, deixando as duas a sós. A tia de Carlos, contudo, a encarou desconcertada, como se não esperasse por aquela resposta. E não bastasse ela, alguns passos dali, o piloto não sabia onde enfiar a cara. Ponderou por um momento se deveria sumir ou se deveria agarrar ali mesmo.
Pela primeira vez na história da família Sainz, alguém, recém chegada, e que nem de fato estava entrando na família, deixou a tia Mirabel em silêncio. Carlos estava surpreso por aquilo. Mas, ainda mais, em ter ouvido o que a modelo havia dito sobre ele. “Jovem, bonito, bem apessoado”. E qual era o “calor espanhol” que ela não resistia, afinal? E tinha mesmo engolido a história de ser a namorada dele? O que estava acontecendo?
Alguns passos atrás dele, Blanca assistiu ao irmão, de olhos arregalados, ficar levemente vermelho e bebericar seu champanhe. Parecia meio confuso, sem saber direito o que fazer. No instante seguinte, contudo, ele voltou a se aproximar, de fato, do grupo de mulheres que cercava a modelo e se meteu no meio delas.
— Vejo que teve a alegria de conhecer minha tia Mirabel — Carlos apareceu ao lado de , entregando-lhe a taça de champanhe que carregava para ela. Seu olhar irônico, já bem conhecido pela modelo, entregava tudo o que ele achava daquele momento.
— Adorável — sorriu cúmplice para ele, aceitando a bebida.
— Se você não me apresenta para ela, Carlos Jr., eu mesma o faço — Mirabel sorriu cínica para ele.
— estava ocupada — Mais paciente do que achava que ele seria, ouviu Carlos responder. Sem tempo para dizer qualquer coisa mais, a senhora emendou:
— O que houve com Laura?
— Terminamos há um ano, tia, já te disse algumas vezes — Sainz tomou um novo gole de sua bebida.
— Ao menos uma notícia boa você nos trás hoje, querido — Mirabel sorriu verdadeiramente contente e, então, voltou-se novamente para — E o que você faz da vida, meu amor?
— Sou modelo — Ela respondeu simplesmente e, antes mesmo que a senhora pudesse ter a chance de pensar no que responder, Carlos completou:
— Ela tem um contrato vitalício com a Michael Kors, estrelou as últimas campanhas da Calvin Klain e é embaixadora da Miss Dior — O piloto sorriu levemente para que, surpresa em ouvi-lo pontuar aquilo, sorriu de volta. Desde quando ele sabia de tudo aquilo? — E você deve ter ouvido falar, tia, mas é o rosto da nova coleção da Hermann.
— Ah, claro. — Mirabel mudou ligeiramente seu tom de voz ao ouvir aquilo. Carlos sabia que ela valorizava muito os Hermann e que não se atreveria a desqualificá-los em público — Os Hermann sempre tiveram muito bom gosto, aquela menina sabe o que faz — Ela voltou a comentar feliz e, por um segundo, Carlos se perguntou se aquilo tinha sido um elogio a — Ela está por aqui?
— Não, está em férias com o namorado novo — Carlos frisou — Ela está namorando o Charles Leclerc, tia.
— Por Dios, que surpresa esplêndida! Uma união de duas famílias impecáveis, os Sainz tem precisado reaprender sobre tradições com os Hermann — Carlos viu os olhos da tia brilharem em admiração e sentiu uma vontade enorme de bufar — Assumo que se conheceram pela Hermann, então?
— Quase isso — Carlos sorriu sem graça para a tia. Lá ia ela insinuar, de novo, que estavam juntos. Mas o que mais ela poderia pensar? Tirando suas irmãs, só havia ali da mesma idade que ele, era bonita e estava sendo bajulada por Reyes. O pensamento mais lógico que poderiam ter era, exatamente, o mais errado deles.
— E como começaram a namorar, então? — A senhora insistiu, curiosa.
— Nós não… — Carlos olhou meio tenso para que, achando graça do constrangimento dele, o completou logo:
— Não tivemos um encontro convencional, você sabe, Carlos não gosta do convencional — Segundo a vontade de rir da cara assustada dele, o olhou sugestiva.
— Acho que notei — Mirabel olhou novamente a modelo de cima a baixo, com desdém — Ele tem um gosto bastante desonrado, na maioria das vezes.
— A senhora acha? — A modelo se fez de inocente.
— Não, meu amor, eu tenho certeza. Não me impressiono mais com os erros que ele comete na vida. Nem nas pistas ele tem acertado ultimamente.
fechou a cara no mesmo segundo que ouviu aquilo, vendo Carlos, ao seu lado, abaixar o olhar e beber um novo gole de seu champanhe, tentando disfarçar o sentimento ruim que ouvir aquilo o fez sentir. Ela sempre tinha que falar sobre sua performance nas corridas, sempre tinha que encontrar algum erro, algum defeito. Sempre tinha padrões altos demais para serem alcançados e sempre fazia questão de reafirmar o quanto Carlos não chegava nem perto deles. Chato, habitual e sempre muito ruim de ouvir. Não fosse de sua profissão, ela sempre dizia também sobre seus relacionamentos.
Infelizmente tinha tido relacionamentos passados um pouco conturbados, ele sabia disso. A estabilidade que encontrava em sua família era espelhada totalmente pelo inverso em sua vida fora dela e ele já tinha se acostumado, em maior ou menor grau, com as escolhas ruins que tinha feito. Mas sua tia, em especial, parecia não superar aquilo nunca e sempre pegava em seu pé. Vivia sobre tradições que ela mesma havia imposto para si e acreditava que toda a família as deveriam seguir. Se nem mesmo seu pai ou seu tio, casado com ela, criados na rigidez e nas regras de ser um Sainz, impunham aquela ordem toda sobre seus filhos, quem era ela para tentar fazê-lo? E o que ela sabia sobre a vida dele, sobre seus sentimentos, para sempre querer julgá-lo, pressioná-lo, daquela forma?
percebeu que a postura dele mudou de repente. Percebeu que ele tinha internalizado o comentário de um jeito ruim, que, talvez, não o quisesse ter ouvido, ao menos não na frente dela. Ela mesma o tinha julgado errado e estava ali justamente para se desculpar por aquilo. E se sentiu ainda mais culpada quando se deu conta de que ele passava por isso dentro da sua própria família. Não sabia o que tinha acontecido, não conhecia Mirabel, sua história ou sua relação com Carlos. Mas sabia que estava sendo errada e muito injusta com ele. Sainz tinha uma vida fora da família. Tinha direito a escolhas quaisquer que quisesse fazer, a errar se quisesse. E sabia exatamente como era carregar a pressão de um sobrenome e suas tradições nas costas: um horror que nenhum dinheiro poderia compensar.
— Estranho, porque para mim me parece que ele é um homem muito honrado. É respeitável, íntegro e responsável com as escolhas que faz, teve uma criação excepcional e isso já diz muito sobre honra, não acha? — falava serena, com firmeza, claramente irritando a senhora por ser afrontada daquela forma. Carlos levantou seu olhar até ela, assustado — E acho que estamos vendo corridas diferentes, porque Sainz é um nome importante da temporada. Ocupa um espaço que pouquíssimas pessoas na história da humanidade um dia vão ocupar e, bom, se não fosse um bom piloto não seria o responsável por boa parte desse evento e de tudo isso ao nosso redor, não é? — olhou a casa ao redor deles, sorrindo abertamente, até voltar seu olhar para Mirabel — É uma pena que a senhora meça ele pelas namoradas que trás ou por pontos que marca em uma corrida. Está perdendo a oportunidade de conhecer o homem que ele é. E quer meu conselho?
— Na verdade, eu não… — Mirabel tentou negar, mas, como ela mesma havia feito com antes, a modelo a interrompeu:
— Tome cuidado para não ser tarde demais para isso — tomou um gole despretensioso de sua bebida — Eu mesma perdi algum tempo, eu acho.
Carlos ficou tão chocado ao ouvir aquilo tudo, apertando sua taça de champanhe em mãos, que achou que poderia estourá-la ali, a qualquer instante. Seu olhar tinha subido de volta até a modelo e ele podia sentir seu coração bater acelerado e sua respiração sair pelos lábios ligeiramente abertos, descompassada. Não tinha certeza do quão verdade foi tudo aquilo que ouviu dizer sobre ele, mas, no fundo, tinha gostado. Muito. Não se importava se aquilo tinha sido para afastar sua tia, para colocá-la de volta em seu lugar, para defender ele ou se tinha saído com a naturalidade de alguém que verdadeiramente pensava naquilo. Não importava.
tinha dito.
Mentindo, brincando, inventando ou não, ela tinha dito coisas sobre ele que ele jamais imaginaria ouvir dela e Carlos, por um momento que desejou ser a eternidade, se sentiu no céu. estava mesmo assumindo que errou com ele. E talvez aquele tinha sido seu jeito de tentar recomeçar. O silêncio na pequena roda se instalou por alguns segundos, até a modelo voltar a dizer, já menos paciente e serena do que antes.
— E se quer saber como nos conhecemos, foi no…
— Golfe — Carlos logo entrou na encenação toda dela, vendo a expressão confusa da tia parecer ainda mais desgostosa. Ele não podia negar, estava adorando enfrentar Mirabel naquela noite.
— Golfe? — A tia desprezou, vendo o sobrinho concordar com a cabeça. E como se não tivesse tocado o terror o suficiente com a senhora naquela noite, ele completou, audacioso:
— sabe como manusear um taco como ninguém, se me permite dizer.
— Só porque você tem o melhor taco de todos, Sainz — Pensando rápido, pressionando os lábios para não gargalhar, respondeu naturalmente. Os olhos da tia se arregalaram no mesmo instante e chocada, ela se afastou deles, falando alto:
— Por Deus, quanta deselegância, que horror.
e Carlos trocaram um olhar por um momento, até caírem na gargalhada. A primeira vez que verdadeiramente riam um para o outro, um com o outro, e os dois tinham consciência daquilo. Eram uma dupla melhor do que podiam imaginar e, pelo momento em que passaram rindo da situação, se permitindo ser sinceros com o que sentiam, tudo pareceu fazer um sentido absurdo para eles. sentia que tinha mesmo perdido tempo em não tê-lo dado uma chance de se fazer conhecer verdadeiramente antes. E Carlos se arrependeu de ter sido um babaca. Podiam ter só sido quem eles eram desde o começo, só se permitido mostrar os lados que tinham de bom e não caído nas brigas idiotas que tinham protagonizado.
— Ela vai me odiar para sempre, não vai? — Limpando discretamente uma lágrima que se formava, de tanto rir, perguntou. Sainz fingiu pensar por um segundo, até responder:
— Talvez.
— Eu sabia — riu novamente.
— Eu vim até aqui para tentar te tirar dessa situação, — Carlos comentou depois de um tempo, recuperando-se das risadas — mas acho que não cheguei a tempo. Sinto muito pelas coisas que ela disse.
— Tudo bem, pelo menos trouxe champanhe — A modelo deu de ombros.
— Indispensável para noites como essa, — Carlos brincou — quando minha casa se enche de pessoas com o dobro da nossa idade, falando sem parar sobre suas tradições. Ainda dá tempo de ir embora.
— Está me expulsando, Sainz? — levantou as sobrancelhas.
— Estou te dando a chance de fugir da fera — O piloto gesticulou com a cabeça em direção a sua tia, que importunava Ana, a outra irmã de Carlos.
— Acho que ela quem vai fugir de mim o resto da noite — falou baixo, risonha — E você me deve uma por isso, por ter te salvado dela.
— Vou me lembrar disso, pode deixar — Tomando o último gole de seu champanhe, ele riu levemente — Obrigado, eu acho.
— Ela merecia — A modelo encolheu os ombros e, desviando seu olhar do dele, tímida, completou mais baixo — e você também.
— Acho que gosto mesmo, um pouco, do que não é convencional — Carlos sorriu charmoso e colocou uma mão no bolso de sua calça. Sem entender exatamente o teor daquela frase, e mais tímida do que gostaria de ter ficado, sorriu.
Mas ela não teve tempo de dizer mais nada, porque um dos convidados logo pediu licença a eles e puxou Sainz para uma conversa animada. estava bastante satisfeita com o clima entre eles naquela noite e, mais satisfeita ainda por estar se sentindo tão confortável a ponto de não terem tido nenhum desentendimento. Nenhuma provocação, nenhuma mágoa remoída, nenhuma briga ou discussão. Nada. Estavam convivendo como dois adultos educados que eram e, no fundo, dando espaço para experimentar aquele outro lado, estavam gostando do que viam acontecer entre eles ali.
logo se juntou a Reyes novamente que, animada, lhe contava algumas histórias e ficou ali quase uma hora, conversando, bebendo, interessada em ouvir o que ela tinha a contar. E só deixou o lugar que ocupou com a mulher quando, cansada pelo horário e pelas horas que passou na estrada, pediu licença, pegando seu celular e se afastando para um canto mais tranquilo da enorme casa. Tinha que comprar uma passagem de volta para Milão, não podia dormir ali e precisava voltar para casa logo, seguir com os compromissos que tinha agendado para os próximos dias.
A modelo caminhou tranquilamente, focada em seu celular, sem saber ao certo para onde ia, até encontrar um sofá vazio dentro da residência. Deixou a taça sobre a mesa ao lado e seguiu fechando a compra da passagem para o começo daquela madrugada. Estava distraída, colocando seus dados para a compra, quando sentiu uma pequena pessoa ao seu lado.
— Hola — O pequeno garotinho que sentou ao seu lado sorria em sua direção. Estava vestindo um terninho azul fofo, tinha os olhos castanhos e um cabelo bem preto e liso.
— Hola — Ela retornou no mesmo tom, em espanhol, mas sem vocabulário suficiente para seguir a conversa, emendou em inglês: — Tudo bem?
— Estou bem, com fome — Ele deu de ombros, sem parecer se importar com a mudança de idioma. riu sozinha achando fofo o sotaque dele — Por que está aqui sozinha?
— Estou descansando e você? — reparou que ele parecia uma versão em miniatura do piloto espanhol e se pegou sorrindo por aquela ideia.
— Estou me escondendo. Toda hora as pessoas querem ficar passando a mão pelo meu cabelo e apertando a minha bochecha… — Ele dizia sério, com um bico fofo, gesticulando. Vez ou outra soltava algumas palavras sem muito contexto, deveria ainda estar aprendendo o novo idioma — Ficam dizendo “você cresceu”, mas eu ainda sou o mesmo, ué.
não pode deixar de rir, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.
— Então, vamos ficar escondidos aqui, se quiser — ofereceu, vendo o menino se esticar para pegar seu refrigerante, que estava sobre a mesa do centro.
— Obrigado! Você é muito legal, sabia? — Disse empolgado, voltando a se sentar, depois de tomar um gole de seu refrigerante, a olhando.
— Você também é muito legal! — riu novamente, deixando o garoto sem graça e com as bochechas coradas, não tinha como não achar fofo — Como você se chama?
— Miguel e você? — Curioso, o garoto estendeu a mão. Era tão simpático e expansivo, que nem parecia ser tão novo.
— Muito prazer, Miguel, eu sou a — Cumprimentando o pequeno e retribuindo o aperto de mão educado dele, ela continuou: — Mas pode me chamar só de .
— Você é muito bonita, — Miguel respondeu sincero, tirando uma risada da mulher — Meu tio sempre diz que quando a gente conhece uma pessoa bonita, a gente tem que dizer a ela, mas sem sermos desrespeitosos.
— Seu tio está certo, nunca podemos ser desrespeitosos com ninguém — disse tocando na ponta do nariz dele, tirando uma risada do garoto.
— Acho que você e meu tio podiam ser amigos… — O menino parecia pensar alto e ia continuar a falar, mas foi interrompido por uma mulher.
— ¡Dios mío! Miguel! Eu fico longe por cinco minutos e você foge — A mulher aproximou-se do garoto, abaixando para ficar na mesma altura dele sentado no sofá. Ele parecia confuso com a reação dela — Não pode fazer isso, mi amor.
— Eu estava conversando com a minha nova amiga, madrinha — Miguel apontou para ao seu lado, que sorria com a cena em sua frente.
— Me desculpe, às vezes ele é um pouco atrevido — A mulher sorriu sem graça e se levantou, enquanto encarava a modelo
— Não tem problema, seu filho é uma graça e muito educado — se levantou também, sorrindo sincera para a mulher.
— Ah, não, ele é meu afilhado — Blanca riu, negando com a cabeça — Ganhei esse grude de presente de uma amiga próxima, sempre que estou por aqui ele vem passar o final de semana comigo.
— Jura? Achei ele bem parecido com vocês — olhou impressionado de Miguel para Blanca, rindo sem graça.
— Isso é um pouco assustador mesmo — Blanca arregalou os olhos, brincando, mas logo mudou de assunto — Eu sou a Blanca Sainz.
— Sou Voitenko, mas pode me chamar só de .
— Você é a ! — Blanca repetiu sorrindo, animada em finalmente ter a chance de conhecer ela. A modelo pareceu não entender nada, mas o momento foi logo interrompido, novamente, por uma outra pessoa chegando ao cômodo. Miguel se levantou como um furacão, eufórico, e correu em direção à porta.
— Tio Cailos, vem conhecer a minha nova amiga — Miguel segurou a mão do piloto e o puxou para mais próximo das duas mulheres, que se entreolharam e riram.
— Olha, Carlos, é a — A irmã mais velha do piloto o cutucou.
— Quanta euforia por causa da — Carlos brincou tentando ser sério.
— É porque ela é minha amiga — Miguel respondeu cheio de si, tirando uma risada do homem.
— Vejo que já conheceu minha querida e agradável irmã e o mini furacão que a amiga dela colocou no mundo — Carlos disse debochado.
— Não seja chato — Blanca revirou os olhos para o irmão e logo voltou-se para outra vez: — Carlos me falou tanto sobre você que sinto que já te conheço há anos.
— É uma pena ele nunca ter me falado sobre você — disse honesta. Sabia que ambos nunca tiveram um tempo saudável para conversar sobre suas vidas e suas famílias e a modelo sequer sabia que o piloto tinha irmãs.
— Por que será? — Carlos perguntou retórico, se sentando em uma poltrona, enquanto o garotinho subia em seu colo, querendo brincar. Para foi impossível não seguir o olhar naquela cena.
— Não seja desagradável, Carlos, ela é nossa convidada — Blanca disse séria, se sentando com a modelo onde antes estava com Miguel.
Blanca emendou uma conversa bastante animada com , querendo saber tudo sobre a vida e a profissão dela. Apesar de ser mais eufórica e mais extrovertida do que Carlos, e bastante diferente do jeito mais reservado de , a modelo simplesmente amou ter aquele momento. Blanca era só um ano mais velha do que Carlos e parecia ter muitas coisas em comum com ela: tinham cantores e lugares favoritos em comum, estavam coincidentemente lendo o mesmo livro no momento, se posicionavam com independência e bastante assertividade e resmungavam alguma coisa sobre aqueles eventos de família e o quanto eram bizarramente exaustivos para elas.
não soube dizer ao certo quanto tempo passou sentada ali, conversando e rindo alto com Blanca, com seus olhos caindo vez ou outra, discretamente e quando ele não estava olhando, em Carlos. O piloto estava tão concentrado em brincar com Miguel em seu colo que não prestava atenção na conversa delas. se perguntou por um momento o que foi que tinha acontecido com Sainz naqueles dias em que passaram juntos e por que ele não parecia absolutamente nada com o homem que ela via ali, em sua intimidade familiar.
Aquele Carlos, o que brincava com o pequeno Miguel, rindo à toa, sereno, elegante, educado e intenso era ainda mais atraente e bonito aos olhos dela. E, pela primeira vez desde que o conheceu, reconheceu para si mesma que, talvez, aquela versão dele, fosse, de fato, muito parecida com ela. Suas amigas tinham alguma razão.
Em certo momento, Miguel pareceu notar que ela olhava para eles enquanto conversava com Blanca e, sem perder tempo, virou-se no colo de Carlos, para ficar de frente para ela.
— Tia , brinca com a gente? — Miguel pediu fofo, surpreendendo a todos. Apesar de ser uma criança extrovertida, não costumava se aproximar tão rápido de pessoas que acabara de conhecer.
— Ela está ocupada agora, conversando com a madrinha — Sainz tentou explicar, em espanhol, mas o garotinho não pareceu convencido.
— Só um pouquinho? — Ele fez um biquinho e um gesto de pouquinho com a mão, que derreteram o coração da modelo.
— Claro, do que você quer brincar? — olhou para Blanca, que assentiu como se dissesse tudo bem, conversariam mais depois.
— De dinos — Miguel respondeu animado, dando um pulo para fora do colo de Sainz — Vou buscar eles. Vem madrinha.
— Vou, se me dão licença — Blanca pediu educada, pegando na mão de Miguel, que a estendia para ela — Vamos buscar os dinos e você não saia de perto deles, ok?
— Tá bom, madrinha — O garotinho respondeu prontamente, seguindo saltitante com ela. e Carlos riram levemente da cena.
— Cinco minutos de descanso — Sainz comentou com ela, chamando o garçom mais próximo para lhe servir uma nova taça de champanhe.
— Ele parece bem enérgico — riu, vendo o garçom se aproximar — e também parece gostar muito de vocês.
— Está conosco em todos os cinco anos de vida dele, mimamos ele como podemos, é a criança da família — Sainz deu de ombros, pegando duas taças de champanhe, servidas pelo garçom e estendeu uma para a mulher sentada à sua frente.
— Estou admirada em ver que Carlos Sainz se dá bem com crianças — o provocou, aceitando a taça.
— Poderia dizer o mesmo sobre você — Ele rebateu, sorridente.
— Tirando você, me dou bem com o resto da humanidade — A modelo brincou, tirando uma risada baixa dele.
— Você se dá bem comigo também — Ele a encarou nos olhos — Só não sabe disso ainda.
— Talvez eu saiba agora — inclinou levemente o corpo para frente, sustentando o olhar do piloto nela — Não brigamos hoje, soubemos pedir desculpas e estamos convivendo minimamente bem, considero isso um avanço e tanto.
— E olha que você até foi chamada de Laura — Sainz a cutucou, tirando dela uma revirada de olhos — Seus limites foram testados.
— Ainda não sei o que exatamente significa ser chamada de Laura — falou sincera e, aproveitando a deixa, curiosa, perguntou: — O que rolou com ela?
— Se eu te contar, você vai me julgar de novo? — Carlos perguntou, sorrindo de lado.
— Talvez — deu de ombros, sincera.
— Por isso acho melhor não contar — Ele negou com a cabeça, rindo levemente.
— Se estou sendo comparada com ela, o mínimo que posso saber é o que aconteceu — Com obviedade, ela argumentou. Carlos a olhou sugestivo, com uma sobrancelha erguida:
— Essa é a justificativa para espionar minha vida agora?
— Posso ir perguntar para sua tia, se preferir — Rindo da cara que ele fez ao ouvir aquilo, a modelo continuou: — Tenho certeza de que ela terá uma versão ótima.
— Jogo baixo — Carlos murmurou, indignado.
— Vou me esforçar em entender o seu lado, eu prometo — Brincando com um tom de voz de quem estava fazendo algo contra sua vontade, se deu por vencida.
— Tudo bem — Ele respirou fundo, apoiando os cotovelos nos joelhos, jogando seu corpo levemente para frente. Seus olhos desceram até a taça de champanhe em suas mãos, tentando ordenar por onde e como dizer aquilo — Apesar da minha tia fazer parecer que não, eu tive uma única namorada séria na vida, Isabel. Ficamos juntos alguns anos, eu realmente… amei ela, sabe? Amei de verdade. Tinha planos com ela para o futuro, era jovem, você sabe…
— Não fale como se tivesse cinquenta anos, Sainz — bufou, brincando — O que aconteceu?
— Ela conheceu outra pessoa — Com os olhos cravados na taça e a voz baixa, ele seguiu contando — alguém que não passava mais da metade do ano viajando para lugares diferentes, que podia acompanhar a vida dela de perto, alguém que tinha ambições mais… parecidas.
— Eu sinto muito — Sentida em vê-lo parecer chateado com o assunto, sussurrou.
— Fiquei devastado, — Carlos soltou uma risada amargura e, enfim, levantou seu olhar até ela — no fundo do poço mesmo. Ia a qualquer festa que pudesse, comecei a beber mais do que o aceitável, não queria ficar muito tempo na Espanha, me desfiz de todas as coisas que eram dela e que ficaram comigo, foi… ruim.
— Eu imagino — Ela concordou brevemente com a cabeça.
— E nesse meio tempo eu fui tentando buscar em outras pessoas o que tinha perdido quando perdi ela — Carlos sorriu sem graça alguma — Fui me relacionando com qualquer pessoa que me dava o mínimo de atenção, de carinho, até conhecer Laura. Ela me dava o que eu queria…
— Tudo certo, vamos pular essa parte — Tentando descontrair o momento, brincou, tirando uma risada do piloto.
— Não foi isso que quis dizer, mas sim para isso também — Ele brincou de volta, tomando um gole de sua bebida — Nós nos dávamos bem no começo, mas com o tempo a pressão toda começou. Laura queria estar presente em cem por cento da minha vida, foi ocupando espaços que eu não tinha certeza se queria que ela ocupasse, foi me cobrando de ser para ela o que eu não podia ser.
— E por que continuo com ela quando viu que isso estava acontecendo? — Séria, perguntou.
— Porque eu não sabia, naquela época, se eu estava vendo coisas onde não tinha — Carlos deu de ombros — Não era claro para mim se eu estava me cercando porque Laura foi a primeira pessoa pela qual me interessei depois de Isabel, se eu ainda a amava e estava me recusando a seguir em frente ou se Laura só era meio problemática mesmo. E quando eu fui perceber era tarde demais.
— O que ela fez? — Meio confusa, voltou a perguntar, tomando o champanhe.
— Contou para a mídia que estávamos juntos — Sainz negou com a cabeça, indignado só de lembrar. soltou uma risada, que foi abafada pela mão na boca, surpresa — e fui obrigado a trazer ela em um evento da família, para apresentá-la. Ela não perdia uma corrida, surtava quando via que eu estava com , odiava que eu saísse sem ela. Ela me cobrava de ser, de falar, de fazer coisas que eu não queria, que eu não podia porque não seria eu mesmo, minha vontade. E, quando me dei conta de onde tinha me enfiado, e terminei com ela, ela começou a me seguir.
— Sainz, que HORROR! — estava realmente assustada em ouvir aquilo.
— Eu disse, você não me deu credibilidade — Ele brincou, passando a língua entre os lábios, fazendo olhar rapidamente e logo desviar — e, mesmo quase um ano depois, ela ainda aparece, eventualmente, em alguns eventos e lugares que estou, como aconteceu no aniversário do Alex.
Apesar de conhecer apenas o lado dele naquela história, podia imaginar como foi terrível. Sainz não deu muitos detalhes e também não tinha aberto espaço o suficiente para que ela perguntasse mais, mas já havia entendido o contexto. Clássico, mais comum do que deveria ser. Ele teve um relacionamento bom e muito saudável, até ser trocado por outra pessoa. Uma decepção amorosa que havia quebrado seu coração de vez, que mexeu em sua auto-estima e que o tornou tão vulnerável a ponto de cair em um relacionamento ruim. Péssimo, talvez. Se submeteu a regras de outra pessoa que nem sequer conseguiu se interessar de verdade. Laura foi caótica para Carlos. E mesmo tendo seus motivos para fazer tudo o que fez, genuínos ou só interesseiros mesmo, ela não foi uma pessoa boa para ele.
Fazia algum sentido para agora. O por que ele estava fechado e tão sério no dia em que se conheceram, porque praguejou aquelas coisas sobre a Laura para os amigos, porque os amigos também pareciam não gostar dela. Fazia sentido Sainz parecer mais na dele, menos aberto a pessoas novas. Talvez um jeito de se proteger de que o fenômeno Laura acontecesse outra vez em sua vida. E fazia algum sentido sua tia ter trazido a ex dele à tona naquela noite. Aparentemente, Laura tinha se enfiado goela abaixo da família dele, parecia oferecida e um pouquinho interesseira demais. ficou presa naqueles pensamentos por alguns segundos, até a voz grave de Sainz cortar o breve silêncio novamente:
— É sempre uma merda quando ela aparece, porque sempre consegue me tirar do sério.
— Percebi — Cruzando as pernas, riu.
— Não estava falando sobre você naquela noite — Sainz tocou no assunto, a olhando — Sinto muito ter generalizado sua profissão. Laura também é modelo, fotográfica como a Luisinha, uma coisa não tinha nada a ver com a outra, mas…
— Você sempre fala merdas sem pensar direito quando está nervoso? — Ela sugeriu, o encarando. Carlos riu e negou levemente com a cabeça. Mas antes que pudesse responder, uma voz fina e baixa chamou a atenção deles:
— Você sempre fala merdas — Abraçado com uma dúzia de dinossauros de pelúcia, Miguel repetiu. Elanor gargalhou com a fofura da cena, sendo acompanhada pelo piloto.
— Não pode dizer isso, Miguel, é feio — Carlos pediu para ele, levantando-se.
— Você sempre fala merdas, tio? — O pequeno perguntou curioso. Carlos o pegou no colo, com todos os dinossauros junto, em um movimento rápido e, virando-se levemente para onde estava se levantando, riu, dizendo:
— Vou te matar por isso.
— Até ele já percebeu, Sainz, pode assumir — A modelo cutucou, seguindo os dois até a varanda da casa, onde o tapete colorido estava montado para que brincassem.
O garotinho foi com os dois para a área externa, onde havia uma sala cheia de brinquedos e algumas crianças que tocavam o terror por ali. sorriu, sentando-se no chão ao lado de Sainz e pegando os vários brinquedos que o pequeno lhe entregava para brincar. Um tempo depois, contudo, Sainz deixou com o afilhado por alguns minutos quando precisou recepcionar um casal de amigos da família que havia acabado de chegar. Ficou conversando animadamente com eles, por algum tempo, até se pegar observando a área externa, onde ela brincava com a criança.
Miguel era muito esperto, desde pequeno já haviam percebido que o pequeno garoto seria a frente de seu tempo e um pouco atentado também. Tinha uma personalidade forte, nunca fora de ir com qualquer adulto, sempre resistia um pouco a eles até se sentir confortável daquela forma. Mas parecia que, com a modelo, foi diferente. Ele rapidamente se aproximou e o garotinho parecia ter gostado dela mesmo. Carlos sorriu para a cena que se encontrava ali, assistindo a rir, ao tempo que o pequeno garoto corria em sua direção com o avião, imitando um pequeno voo.
passou um bom tempo brincando com Miguel e as outras crianças. Pode conhecer algumas de suas babás e conversar um pouco com o grupo. E ali ficou entretida por algum tempo, até o pai de Sainz, enfim, avisar que o jantar seria servido. As crianças comiam em uma mesa separada, junto com suas respectivas babás e os adultos aproveitavam a fartura de um jantar espetacular, enquanto conversavam e riam grande parte da noite. O jantar corria tranquilamente, com sentada de frente para Sainz e ao lado de Blanca e Anna, esta última, com quem ficou um tempão conversando sobre o mundo da moda. Todos eles haviam crescido participando de jantares e comemorações como aquele, estavam acostumados com as etiquetas e modos sociais, por isso, tudo foi absolutamente natural e confortável.
Depois de algumas horas tranquilas e bastante amigáveis à mesa, o pai dos Sainz engatou algumas histórias sobre a infância de seus filhos. apreciava a sobremesa, ouvindo e conversando animadamente com a família, rindo de algumas histórias, comentando outras, como se já fizesse parte daquele núcleo há séculos. Todos, com exceção da tia Mirabel, que não dirigiu mais a palavra a naquela noite, pareciam muito simpáticos com a modelo e a acolhiam em cada palavra que diziam, fazendo questão que explicar o que ela possivelmente não sabia, incluindo ela nos assuntos e temas, com interesse e bastante carinho.
— E seus pais, querida, — Carlos Sainz, o mais velho, perguntou interessado — onde eles residem atualmente?
— Meus pais moram em Los Angeles, mas sempre que podem estão em Paris, é a cidade favorita da minha mãe — sorriu com as lembranças da cidade onde esteve dezenas de vezes, em viagens com a família.
— E só por isso já sei que seremos ótimas amigas — Reyes comentou simpática, tirando uma risada baixa das pessoas ao redor próximo deles.
— Tenho certeza que sim — concordou.
— E seu pai, é fã de corridas? — O homem mais velho voltou a perguntar, curioso.
— Ele é um entusiasta, — tomou um gole leve de seu vinho, vendo o senhor Sainz rir — mas ainda tem muito a aprender desse mundo.
— Deixe comigo! Anton também não era um fã do esporte, depois de alguns meses me acompanhando com Carlos Jr. se apaixonou e nunca mais perdeu uma corrida sequer — O senhor relembrou saudoso do pai de , seu grande amigo, sorridente, tomando um gole de sua bebida.
— Acompanhado de um especialista no tema, tenho certeza de que meu pai também se apaixonará — respondeu sináptica, sorrindo para o homem.
— Vamos marcar de nos encontrar em um GP que Carlos participará, então — O homem sugeriu, muito impressionado com a educação, classe e charme de , vendo sua esposa concordar com a cabeça e logo emendar:
— Da próxima vez, convide-os para vir jantar conosco. Vai ser uma honra conhecê-los e recebê-los em nossa casa.
— Obrigada, senhor e senhora Sainz. Vou transmitir o convite, com certeza — respondeu prontamente. Estava distraída com sua taça de vinho, quando Miguel apareceu repentinamente ao seu lado, puxando o tecido de sua roupa.
— Tia , brinca comigo — Ele pediu em um sussurro, sem notar que as pessoas na mesa o ouviram.
— Miguel, agora não — Carlos Jr. lançou-lhe um olhar sério — O tio vai lá brincar com você depois.
— Mas eu quero a tia — Miguel fez um biquinho triste, encarando o tio. pegou seu celular para poder sair da mesa e brincar com o pequeno novamente, mas assustou-se com a hora. Seu voo sairia dali duas horas e a modelo ainda precisava chamar um táxi até o aeroporto. Se não se espertasse logo, perderia o voo de volta para casa.
— Miguel, a tia vai precisar ir embora agora, tudo bem? — falou delicada, fazendo um biquinho para ele. Apesar de estar visivelmente cansado, o garoto pulou onde estava sentado, não concordando com ela.
— Ah não, tia, você não pode ir embora, fica mais, por favorzinho… — Suplicou, enquanto fazia um bico manhoso e unia as mãos.
— Eu não posso, meu avião vai sair daqui a pouco e eu preciso ir para o aeroporto — explicou paciente — Mas nós podemos brincar outro dia, tudo bem?
— Você promete? — O garoto olhava sério para ela.
— Prometo sim, podemos passar a tarde toda brincando na piscina — sorriu para ele. Sabia que não podia fazer aquelas promessas ao garoto, mas foi impossível quando viu aquele olhar.
— Tudo bem, então. Tchau, tia — Educado e bastante carinhoso, o garoto desceu de onde estava sentado à mesa e se aproximou da modelo, a abraçando em seguida. sorriu, retribuindo o gesto e, pedindo licença, se levantou da mesa.
Cordiais, as pessoas mais próximas a ela também se levantaram, a acompanhando até a porta. A casa já estava relativamente vazia, algumas famílias tinham jantado rapidamente e ido embora, outras tinham outros compromissos e saíram logo após a sobremesa. Aquelas que se encontravam ainda por lá conversavam espalhadas pelo cômodo, sentadas nos sofás, enquanto a mesa estava ocupada pela família direta dos anfitriões. Antes de se despedir da família Sainz, pediu um táxi em seu celular, que retornou avisando que chegaria em alguns minutos, e, enfim, virou-se para se despedir de todos.
— Bom, eu já vou indo, meu táxi já está chegando — disse, olhando de Sainz para sua mãe, ao seu lado.
— Mas já, querida? — Reyes perguntou levemente frustrada.
— Meu voo sai daqui a pouco, preciso correr para o aeroporto — respondeu, enquanto se despedia de todos com breves abraços e nem reparou quando Sainz foi para a porta, a aguardando — Eu agradeço o convite, estava tudo incrível.
— Ah, querida, obrigada por ter ficado conosco para jantar e, por favor, volte mais vezes — Reyes sorriu sinceramente para ela, reparando no olhar perdido de seu filho sobre a modelo. Tinha acompanhado, discretamente, a interação entre eles durante toda a noite e conhecia seu filho o suficiente para saber o que aquele olhar carregava: a vontade de que aquela noite não terminasse nunca.
— Pode deixar, volto sim. Fiz uma promessa para meu novo amigo, acho que vou precisar cumprir — brincou, tirando uma risada satisfeita de Reyes.
— Nem precisa pedir ao chato do meu irmão, é só me mandar uma mensagem — Blanca riu com o grupo, entregando o número de seu celular à modelo. o anotou rapidamente, vendo a mensagem do taxista avisando que já lhe esperava do lado de fora — Até porque tenho certeza que o Miguel não vai me deixar em paz enquanto não te ver novamente.
— Miguel é um garoto incrível, eu amei conhecê-lo — comentou honesta e, depois de receber um abraço de Blanca e de se despedir de Reyes, Ana e o pai de Carlos, saiu em direção a porta, acenando novamente a todos, de longe.
, enfim, encarou Carlos. Ele estava mais sério do que pareceu naquela noite inteira, os olhos um pouco tristes, a postura mais fechada, tensa. Suas mãos estavam nos bolsos da calça e, assim que a viu aproximar-se dele, o rapaz abriu a porta, saindo para fora da casa com ela, em silêncio. não sabia o por que dele estar daquela forma, do motivo pelo qual seu humor pareceu ter mudado tão de repente, e seguiu quieta até se aproximarem do veículo que a esperava na entrada.
Carlos não sabia o que dizer. Estava bastante confuso com tudo o que tinha acontecido naquela noite, confuso com o que pensar, com o que sentir e, principalmente, com o que esperar dali em diante. estava indo embora. E Sainz não sabia quando a veria outra vez e se, quando o fizesse, seria tão bom quanto foi naquela noite. A verdade era que Carlos não queria que ela fosse embora. Mas não ousaria pedir a ela que ficasse.
— Espero que minha família não tenha te incomodado — Ele comentou baixo, tentando quebrar o gelo.
— Eles são incríveis, Sainz, não incomodaram em momento algum — sorriu em resposta, abrindo a porta e colocando sua bolsa sobre o banco, cumprimentando brevemente o motorista. Algum funcionário da casa já tinha feito o favor, a pedido de Carlos, de tirar as coisas dela de seu carro e os colocado no porta-malas do táxi.
— Espera, , eu… — Por impulso, Carlos segurou a mão da modelo antes que ela entrasse no carro — Eu, eu não… — Sem saber direito o que dizer, ele suspirou frustrado, sustentando o olhar confuso de , sua mão na dela — eu só queria… te pedir desculpas novamente pelas coisas que te falei aquele dia, não fui justo.
— Está tudo bem, Sainz. Eu também não fui justa com você — Ela apertou levemente a mão dele, sorrindo breve, e, então, a soltou — Vamos ficar bem.
— Vamos? — Ele perguntou sério, mostrando a ela, pela primeira vez, que queria mesmo saber o que seria deles dali em diante.
— Desde que você não seja mais um babaca, vamos — Confiante, sorriu, tirando uma risada de Carlos, pela sinceridade.
— Desde que você não seja mais tão defensiva e reativa, para mim parece ótimo — Ele concordou, sorrindo de volta.
— Acho que temos um acordo — Ela riu brevemente com ele, concordando com a cabeça e fez menção para entrar no carro, mas logo voltou-se para ele: — Ah, e antes que eu me esqueça, deixei algo para você, no porta luvas do seu carro.
— O que? — Carlos pareceu surpreso, a encarando.
— Eu preciso mesmo ir agora — Foi tudo que ela respondeu. E deixando um sorriso brincalhão, que escondia uma certa frustração por ter que ir embora, ela sussurrou: — Nos vemos por aí, Sainz.
Sem ter tempo para despedir-se direito da modelo, que entrou rapidamente no veículo, o piloto ficou para trás observando a mulher se distanciar, o deixando completamente pensativo. provavelmente sempre seria uma grande incógnita para o rapaz. A mulher havia viajado mais de oito horas para entregar seu carro, havia conhecido toda sua família e havia sido gentil e educada, mesmo ele sabendo que não merecia aquele tratamento. Tinha sido muito duro com ela algumas semanas atrás e, mesmo assim, lá estava ela, retribuindo com gentileza.
Sainz saiu de seu devaneio quando lembrou-se do que ela havia dito antes de sair, sobre ter um presente no porta luvas de sua Ferrari. Não podia mentir, estava feliz em ter o carro de volta, já estava pensando em comprar um novo, mas era bom saber que tinha seu “bebê” de volta. Caminhou em direção a garagem, onde o motorista da família havia estacionado o veículo, destravou o carro e meticulosamente olhou cada canto do carro para ver se estava tudo no lugar. Observou que a modelo o conservou da mesma forma, não havia mexido em nada.
Sentou-se no banco de passageiro e abriu o porta luvas. Carlos reparou que tudo que havia deixado estava ali, seus óculos, documentos, a caneta. Mas, apesar disso, o que chamou sua atenção foi a pequena caixa de madeira envelhecida sobre os papéis que, certamente, não lhe pertencia. Era de tamanho mediano e parecia muito delicada, como se tivesse sido feita a mão por algum artesão. Provavelmente a modelo tinha comprado, sabia que ela não se degastaria para fazer algo assim e a simples ideia de ver suja de tinta e pó passando pela sua mente, tirou dele um sorriso breve.
Carlos logo balançou a cabeça, rindo ao imaginar, enquanto, curioso, abria a pequena caixa. E bastou a ele um segundo em ver o tinha dentro, para seu sorriso murchar rapidamente. O chaveiro que havia ganhado de seu pai quando fez dezoito anos e que ele jurava ter perdido, estava ali, de volta para ele. O tinha ganhado junto com seu primeiro carro, seu golf, e ainda podia se lembrar claramente daquela memória. Foi um dos melhores dias da sua vida e chegou a comentar com sobre como ficou triste quando percebeu que perdeu o chaveiro, alguns meses atrás. estava com ele aquele tempo todo e Carlos imaginou que ela o havia guardado, e talvez devolvido, porque soube o que ele significava.
Na caixa, ainda, havia um segundo conteúdo desconhecido pelo piloto. Carlos deixou o chaveiro sobre seu colo e pegou o pequeno papel que logo descobriu ser uma foto. Como estava virada, Carlos reparou, primeiramente, no recado que havia escrito ali, a mão e foi impossível não rir:
“Lembrete: você ainda me deve alguma coisa por aquela partida de pôquer”.
Feliz com a delicadeza do presente, Carlos, enfim, virou o papel. A fotografia, em tamanho e formato de polaroid, trazia eles dois no dia da partida de pôquer. Não se lembrava em qual momento havia sido tirada, mas certamente algum de seus amigos capturou o segundo em que trocavam um olhar desafiador um com o outro, com suas cartas na mão e toda a competitividade do mundo em seus sorrisos. Sainz ficou olhando a foto por alguns instantes, sorrindo, relembrando das sensações que sentiu ao ver pela primeira vez, ao reencontrar ela, em ter o corpo da mulher sobre seus braços no clube de golfe, de seu cheiro marcante e da paz de tê-la tão próxima dele naquela noite. E ficou tão imerso naquilo que nem percebeu quando sua irmã se aproximou do veículo.
— O que faz aqui sozinho? — Blanca perguntou de repente, assustando Carlos.
— Está querendo me matar de susto? — Ele arregalou os olhos, perguntando sério. Risonha, os olhos da irmã foram dele até a foto que ele segurava.
— Ela é muito bonita e bem simpática. Agora entendi porque ela mexe tanto com você — Blanca pegou a foto das mãos dele e leu brevemente o recado atrás — Você é realmente ruim nos esportes ou ela é boa demais?
— Ah, não me enche — Carlos bufou, tirando a foto da mão dela outra vez, voltava a olhá-la.
— Sabe, Miguel parece ter gostado muito dela… o que é raro, você sabe — Blanca riu, lembrando de minutos atrás quando o afilhado perguntou quando poderia ver a nova amiga novamente — E você sabe que crianças são sempre sinceras, então, acho que você deveria dar uma chance ao que sente por ela. Se tem aprovação do meu afilhadinho, tem a minha.
— Aprovação para o que? — Carlos a encarou sério, desentendido — Nós nos odiamos, eu acho, você só não percebeu.
— Você acha mesmo que uma pessoa que viaja mais de dois mil quilômetros para devolver um carro que ganhou em uma aposta tem ódio no coração? — Blanca rebateu igualmente séria — Eu acho que não. Você está negando para si mesmo porque tem medo que aconteça de novo o que aconteceu com a Laura.
— Não tem nada a ver — Sainz negou com a cabeça.
— Jura? Está sendo um completo babaca com ela porque você quer mesmo ou porque está com medo de que ela veja quem você verdadeiramente é? — Insistiu Blanca, encostando-se na porta aberta do carro. Carlos não respondeu nada — Se ainda não percebeu, hoje ela viu, Carlos. Ela viu quem você é. E se não tivesse gostado do que descobriu não teria ficado, não teria dito às coisas que disse sobre você, não teria te dado uma nova chance e nem ido embora com aquela cara de quem, no fundo, queria ter ficado.
Blanca apontou com o queixo para a foto nas mãos do irmão. E pareceu que ele só tinha entendido, de fato, o que a mensagem deixada atrás dela queria dizer naquele momento. Se ainda devia algo a ela, era porque ainda esperava por algo dele. Nada tinha acabado naquela noite. Talvez, só estava recomeçando.
— Mesmo assim, eu fui um idiota completo, — Carlos suspirou — não sei se só me desculpar foi o suficiente para me redimir
— Até onde eu entendi, ambos foram impulsivos e agiram como idiotas, não foi culpa só sua ou só dela. Ela te ouviu hoje e vai te ouvir de novo — Blanca apertou carinhosamente o ombro do irmão — E, na hora certa, quando entender o que sente, você saberá o que dizer. Mas agora, se puder te dar uma dica: vai atrás dela, ainda dá tempo.
Carlos olhou sério para a irmã, sem realmente ter considerado aquela ideia. Podia ter sugerido que ficasse em sua casa, podia ter dado um jeito, inventado uma desculpa para ela ficar ali, mais tempo com ele. Podia ter oferecido de levar ela de volta a Milão no dia seguinte e, com sorte, se saísse logo, ainda daria tempo de oferecer aquilo. Pensando em tudo o que sua irmã havia dito, Carlos saiu do carro em um impulso, abraçou a mulher, dando-lhe um beijo na têmpora e corria para o lado do motorista de seu carro.
Sem dizer absolutamente nada, ultrapassando a velocidade que era permitida, com os olhos atentos à estrada à sua frente, Sainz só se deu conta do que realmente fazia quando, quase quarenta minutos depois, já estava estacionado no aeroporto. Assim que chegou ao local, deixou o veículo com o manobrista e saiu correndo em direção a área de embarque. Desesperado, com o coração querendo sair pela boca e as mãos suando a cada segundo, Carlos olhava para todo lado tentando encontrar a modelo, sem sucesso. Algumas pessoas que o reconheciam o olhavam curiosas, mas o piloto seguia confuso, correndo, procurando por .
Ele parou por um único instante para checar o painel de voos, procurando rapidamente pelo próximo que fosse sair para Milão e, decorando mentalmente o número do voo, correu até o balcão de atendimento da companhia aérea. Se fosse preciso, compraria uma passagem de última hora para conseguir encontrar ela, contudo, assim que perguntou à funcionária sobre o voo até Milão, sentiu o destino mostrar-lhe que, talvez, não era mesmo para aquilo tudo dar certo. Talvez não fosse mesmo para eles dois darem certo.
— Eu sinto muito, senhor, mas o avião já está se preparando para decolar, é impossível entrar agora.
Capítulo 06
Monte Carlo, Mônaco
Voltar para a realidade não foi uma tarefa fácil para .
O caos que se instalou em sua mente depois daquela noite a fazia se sentir ansiosa, só de ouvir ou ler o nome de Sainz. Uma ansiedade que, de longe, não era nada ruim. Aquele nervosismo estranho, o frio na barriga que surgia do nada, as mãos que pareciam soar, a respiração que ficava falha. A versão que conheceu de Carlos naquela noite parecia a atormentar de um jeito que ela não imaginava sentir. O sorriso contido, a gargalhada que trocaram, o jeito que ele a olhava. A vulnerabilidade que se permitiu mostrar na frente dele, o carinho com Miguel, a delicadeza nas palavras que se desculpava com ela por tudo o que tinha feito. O jeito que mexia no cabelo, que passava a língua entre os lábios, que colocava as mãos nos bolsos da calça que lhe caíra tão bem. Aquele, talvez, fosse o Carlos que queria ter conhecido. A versão educada, paciente, humana, acolhedora e tão charmosa de um Sainz que, por dias, ficou na cabeça dela.
Desde que saiu da casa de Carlos, naquela noite, sentiu um vazio em seu coração, como se tivesse deixado algo importante para trás, mas não sabia dizer exatamente o que era. Um vazio diferente, estranho, e que, depois de dias, ela passou a atribuir ao fato de ter sido muito bem recebida pela família dele, com medo de assumir para si mesma que não era bem aquilo. Mas havia algum sentido racional naquela ideia. A família de Sainz foi muito amorosa e gentil, era grande e animada, a fez se sentir bem naquele lugar. vinha de uma família bastante diferente, o contraste era nítido. Sua família era pequena, ela era filha única e seus pais não possuíam muito contato com os irmãos, tios e primos, já que os avós, a base de toda a família, faleceram alguns anos atrás. Eram mais sérios, talvez um pouco mais fechados e muito discretos.
Apesar disso, as diferenças que encontrou entre a família dele e a sua a agradaram mais do que deveria e, pelos dias que se seguiram, pareceu viver presa nas lembranças recentes daquela noite. Nas gentilezas de Reyes com ela, na empolgação de Blanca, na animação de Miguel, na simpatia de Anna, na ternura do pai de Sainz e no encanto de seu filho. Tudo tinha sido bom, orgânico, entre eles, e, pela primeira vez desde que se conheceram, gostou do que viu no piloto. Mas não podia se apegar às memórias e tão pouco seguir vivendo nelas.
Tentando manter-se firme na realidade, ela preencheu o restante dos dias com muito trabalho, reuniões e sessões de fotos. Não chegou a contar para nenhuma das meninas que tinha ido até a Espanha, devolver o carro, porque estava esperando o momento em que pudessem se reencontrar pessoalmente novamente para continuar a conversa que tiveram depois do desfile e porque, no fundo, não estava preparada para ouvir delas que tinham razão. Seguia vendo as amigas pelas fotos que postavam nas redes sociais e pelas chamadas que faziam, ao menos uma vez por semana, para fofocar e contar o que estava acontecendo. Carmen tinha conseguido se acertar com George, para a felicidade do grupo inteiro; Luisa estava sempre online nos streamings de Lando, seguia cada dia mais apaixonada por Charles e Lily enchia o grupo delas de vídeos da viagem com Alex.
Carlos, por sua vez, preferiu manter-se mais recluso, sem tantos contatos com o grupo. Depois de sair do aeroporto, frustrado por não ter encontrado , voltou para sua casa, pensando em tudo o que aconteceu naquela noite e como poderia entender o que sentia por ela. Não tinha sequer certeza se sentia algo, ou se sentia tudo, estava confuso. Pensou que conquistá-la seria uma tarefa difícil e não sabia se era realmente o que ele queria, e o que ela queria, porque ainda não sabia se era amor. Sentia uma atração por ela e nunca negou o fato de ser absurdamente linda, ter um sorriso estonteante e chamar a atenção por onde passava. O que não ajudava era o fato de sua família ter adorado a mulher e perguntar sobre ela todos os dias que se viam. Carlos desconversava, arrumava uma desculpa, mas já estava ficando perigoso demais. Por sorte, não muito tempo depois do ocorrido, surgiu um motivo para, enfim, deixar a casa dos pais.
Com o recesso de verão da Fórmula 1 chegando ao fim, Daniel decidiu voltar para sua casa em Mônaco, após uma longa viagem de descanso no Texas, nos Estados Unidos, com toda sua família. Já estava lá há quase uma semana, sozinho, e não aguentava mais descansar. Apesar do ano passar rápido e ser cheio de viagens e eventos e cumprir, Daniel não fazia exatamente o tipo exausto. Estava sempre disposto e querendo fazer alguma coisa, sempre animado em participar, sempre tendo ideias. E não foi diferente daquela vez. Entediado, com os dias contados para voltar a temporada e, consequentemente, os compromissos e regras, ele resolveu fazer uma de suas grandes festas.
Como boa parte de seus amigos vivia também em Mônaco, ou ao menos tinha casa por lá, e estaria de volta para o fim do recesso, nada melhor do que uma festa para se despedir dos melhores dias do ano. Daniel convidou todos que conhecia e que podiam, de alguma forma, estar na cidade. A lista de convidados passava de duzentas pessoas e só ia aumentando, a cada dia que ele se lembrava de alguém. O piloto havia fechado o espaço de uma balada para festejar com os amigos e não poupou glamour e dinheiro para que tudo ficasse perfeito e que fosse memorável. Famoso pelas festas que gostava de dar, Daniel estava empolgado, contando com a presença de pessoas conhecidas de todas as categorias e de todos os lugares do mundo.
foi uma das primeiras pessoas a receber o convite e, topando de imediato, empolgada, se esforçou em adiantar grande parte do trabalho que tinha a fazer, para que pudesse ter alguns dias a mais de descanso com os amigos. chegou na capital monegasca na sexta-feira de manhã e, por insistência de Daniel, ficou hospedada na casa do australiano. , que já estava hospedada na casa de Charles, recém chegada da Grécia na quarta-feira, a convidou para ficar com ela, mas não quis atrapalhar a privacidade do casal do momento.
Ela imaginava, e no fundo esperava, que Carlos também estaria presente, já que Daniel havia convidado todo o grid, mas, tentando ser o mais casual possível, não quis saber onde ele ficaria e se chegaria apenas para a festa. Era melhor deixar o assunto Sainz quieto, não cutucar a onça. Por isso, fugiu de qualquer interação ou notícia do piloto espanhol com as amigas durante os dias que antecederam a viagem, apesar de notar que elas perceberam que ele andava curtindo as fotos de no Instagram com certa frequência inesperada. Tinha que contar às amigas sobre o que tinha acontecido entre eles e, certamente, não iria embora de Monte Carlo sem que isso acontecesse.
— , finalmente você chegou! — Daniel falou alto e animado, assim que abriu a porta de seu apartamento — Porque demorou tanto?
— Porque você não foi me buscar no aeroporto, traste — A modelo revirou os olhos, brincando.
— Mandei te buscarem, não está bom? — Daniel a abraçou, a cumprimentando.
— Não! Queria uma recepção de rainha, a mídia falando que casamos escondidos e que estou grávida de seis meses — brincou pomposa, retribuindo o abraço forte no amigo, que gargalhou. Apesar de querer ter ido buscá-la no aeroporto, ambos acharam mais conveniente que não. Descobririam eventualmente que ela ficaria hospedada na casa dele e os rumores, que já não estavam bons para ela, piorariam muito. Era melhor que fossem cuidadosos.
— Não podia correr o risco de tirar o posto de “suposto namorado de Voitenko” do Sainz — Ele provocou, puxando a mala da amiga para dentro do apartamento, sendo seguido por ela.
— São dez horas da manhã, Daniel, muito cedo para começar com esse papinho — Ela bufou, fechando a porta atrás de si.
— Nunca é cedo demais para dizer verdades.
— Tinha trazido um pacote de brutti ma buoni para você — Ela chacoalhou a sacola fina que segurava — Mas vou dar para o George agora, porque ele não me enche o saco.
— Deveria dar para o Sainz, minha linda — Daniel a encarou, rindo da cara que ela fazia — e não estou falando só do doce.
— DANIEL! — Ela gritou, tirando uma nova gargalhada dele, que sumia por um dos corredores para deixar a mala no quarto que havia preparado para a modelo. ficou por ali, rindo e negando com a cabeça, só, enfim, reparando no local.
Com vista para o mar, o apartamento do piloto era elegante e moderno, enorme, talvez maior do que o de em Milão. A sala luxuosa era interligada com a sala de jantar e a cozinha, tinha um corredor do outro lado que levava aos quartos e banheiros. Tudo estava decorado em tons de azul, amarelo e branco, um trabalho de muito bom gosto e que transmitia a energia feliz e festiva de Daniel. O lugar era espaçoso, bem arejado, passava ser paz e tinha a vista mais linda possível do mar banhando a cidade. A varanda era igualmente enorme e dividida entre um espaço com alguns equipamentos de academia espalhados e sofás grandes e uma piscina de borda infinita.
— Sinta-se em casa, — Daniel apareceu novamente, sorrindo para ela. Estava vestindo um shorts curto da Louis Vuitton, rosa claro, e uma camiseta branca, descalço, os cabelos levemente cacheados meio bagunçados como se não tivesse acordado há muito tempo.
— Obrigada, Dani, acho que vou me sentir melhor aqui do que em casa — fez um biquinho impressionado para ele — Sua casa é linda.
— Igual ao dono — O piloto piscou para ela, que negou com a cabeça — Toma um café?
— Não me faça me arrepender de ter aceitado o convite — concordou com a cabeça, o acompanhando até a bancada da cozinha, onde o café estava.
— Era ficar aqui ou na lua de mel do casal da temporada, você escolhe — Ricciardo levantou as sobrancelhas para ela, servindo o café em uma xícara de porcelana, pintada a mão.
— Nesse caso, vou ficar. Obrigada pelo convite, Deus me livre de empatar a vida do casalzinho — riu, se referindo a Charles e , e aceitou a xícara com o café que Dani a oferecia.
— Vamos deixar eles serem felizes, finalmente! Só quem viveu os últimos dois anos sabe o sufoco que foi. Todo mundo sabia que eles estavam afim um do outro e o Charles sem saber o que fazer, se mantendo com a outra lá — Ele fofocou, vendo prestar atenção curiosa, tomando um gole do café — De mais rápido, só nas curvas mesmo, porque na vida real… lento para caralho.
— esperou tempo demais pela indecisão dele. Eu acho que não teria esperado tanto…
— Nem eu, nem fodendo! Ela gosta mesmo dele, tipo, MESMO — Daniel riu, arregalando os olhos, e logo apontou para a sala, indicando para irem até lá — Mas falando da nossa querida , conversei com Charles essa semana, para falar da festa, e ele me contou o que rolou no desfile.
— Charles segue sendo o maior fofoqueiro do mundo mesmo — A modelo negou com a cabeça, se sentando ao lado do amigo no sofá, com seus cafés na mão.
— Mas ele conta tudo pela metade e eu quero ouvir de você o que aconteceu — Se ajeitando no sofá, no maior estilo tia fofoqueira, Dani a olhou curioso. soltou uma risada alta e, sem qualquer ressalva em dizer a verdade a ele, contou o que tinha acontecido.
Não muito longe dali, em um apartamento bonito, jovem e nem tão grande quanto o de Daniel, e Charles curtiam o dia e a presença um do outro. Sem ter o que fazer naquela manhã, estavam jogando Just Dance no vídeo game do monegasco, enquanto Sainz, discretamente, filmava eles. Charles era um desastre dançando e não conseguia fazer muita coisa senão gargalhar. Carlos competiu com eles em algumas danças que podiam jogar em grupo, mas conseguia ser pior do que os dois juntos e achou melhor desistir. Foi para a cozinha, pensando em pegar água e, enquanto a tomava, assistiu o casal de amigos se divertir, reparando neles por um instante.
Como se todas as coisas estivessem, enfim, encontrando o seu lugar, Carlos estava verdadeiramente feliz em vê-los juntos, rindo um do outro ali, sendo quem eram, vivendo o momento que, por algum tempo longo, juravam que jamais seria possível para eles. Carlos apresentou para Charles em um almoço qualquer que os amigos tiveram, poucos anos atrás. Estavam na Áustria, era aniversário de morte do pai de e ela estava no país para a ocasião, passando por um momento terrivelmente complicado. Carlos encontrou com ela em Viena e ficou junto, por perto o quanto podia, no que foi a semana mais triste que viveu naquele ano.
A fim de animar a amiga, distraí-la de todo o momento, ele a convenceu de se encontrar com seus amigos em Budapeste, em uma tarde qualquer. Pegaram um trem de última hora para o país vizinho e, definitivamente, dali em diante, tudo mudou para ela. Charles estava no almoço e, sensível como sempre era, depois de toda conversa casual jogada fora, descobriu o que ela fazia naquela região do mundo. Compartilhando da mesma dor e sem saber o quanto a tinha ajudado naquele dia, Carlos se lembrava de ter ido embora satisfeito em tê-los apresentado, em ver que, de uma forma ou de outra, tinham se identificado.
E ali estavam eles, afinal. Depois de dois anos limitados, educados e elegantes como eram. Sendo carinhosos demais, atenciosos demais, presentes demais na vida um do outro, mas com um limite bem respeitado, com uma paciência preciosa. Eles tinham que curtir agora. E tinha que ser como estava sendo, talvez até mais do que aquilo. Mereciam a intensidade, a urgência, a pressa. Carlos perguntou, por um momento, como ele se sentiria se tivesse vivido tudo o que eles viveram e certamente achou que não teria tido tanta paciência.
Mas, no fundo, sabia que a disposição em esperar era proporcional ao amor que se permitia sentir por alguém, e ali estavam Charles e para provar aquilo. Carlos sorriu sozinho do próprio pensamento, observando Charles resmungar e abraçar pela cintura, a tirando do chão levemente, enquanto a pontuação do jogo premiava ela, mais uma vez. Tinha aproveitado o momento de distração dos amigos para filmá-los juntos, a prova de que estavam mais felizes um com o outro do que jamais estiveram quando estavam com outras pessoas. A prova que serviria de zoeira mais tarde, quando ele enviasse o vídeo de Charles dançando, no grupo.
Carlos se sentia realmente em casa com eles. Como se fossem parte de sua família, não se importava em dividir a intimidade ou deixar-se ser quem verdadeiramente era na frente deles, porque simplesmente se sentia confortável ali. Sem amarras, sem falsidades, sem barreiras. Era quem era e era aceito pelos amigos, como aceitava eles em sua vida porque, no fundo, e apesar de nem sempre assumir isso, amava eles. Apesar de Charles ser um parceiro de trabalho, e seu concorrente em muitos momentos, parecia se tornar, a cada ano, ainda mais parte de sua vida. Era mais quieto, mais discreto, mais contido, mais sorridente e bem menos disposto do que ele. Tinha o lado caseiro, família e um sossego que davam certa segurança e paz em Carlos. Era um cara positivo, que sabia ouvir e que entendia suas dores, talvez, por isso, se davam tão bem juntos. E, agora que estava, oficialmente, com , Carlos tinha certeza de que se tornariam ainda mais próximos.
Charles o havia convidado para ficar em sua casa e Sainz, pensando duas vezes, aceitou o convite, depois de alguma insistência do amigo, afirmando não ter problema, mesmo com a presença de por ali. Sainz havia chegado no dia anterior e, quando viu que a empresária estava na casa do amigo, chegou a pensar que, talvez, também poderia estar ali, com ela. Não sabia se a modelo ficaria com eles e, no fundo, apesar de não saber exatamente como seria encontrá-la de novo, estava torcendo para que ela estivesse ali, mas logo foi frustrado, ao se dar conta de que estava sozinha.
Não ousou perguntar nada. Ainda não tinha contado a ninguém, tirando sua irmã, sobre a presença de em sua casa, sobre ter seu carro de volta, sobre ter ido atrás dela no aeroporto. Imaginava que seus amigos ainda estivessem chateados com ele por conta do vexame no desfile de e achou melhor esperar até algum momento em que se sentisse mais confortável para contar. E talvez fosse melhor não começar contando para Charles - a não ser que ele quisesse que, duas horas depois, todo o resto do grupo soubesse.
Carlos desistiu de assistir os amigos assim que viu a pseudo mini briga dos dois começar, com Charles pedindo uma nova partida, inconformado em perder. Já era quase hora do almoço e, conhecendo bem os dois e toda sua competitividade, não terminariam aquilo tão cedo, até, ao menos, empatar seus pontos no jogo. Sem qualquer permissão ou pedido, Carlos simplesmente decidiu fazer o almoço naquele dia. Cozinhar sempre tinha sido um hobby, um momento em que podia se conectar consigo mesmo, desestressar, focar no que fazia e em seus pensamentos. Lhe pareceu uma ótima ideia naquele momento e, abrindo os armários do amigo, em busca do que poderia cozinhar para eles, decidiu fazer um de seus pratos favoritos, risoto de alcachofra com brie.
Entre o preparo do prato, que não demorou mais do que quarenta minutos para ficar pronto, Carlos deixou-se pensar em tudo o que tinha acontecido nos últimos dias, tentando entender o que exatamente estava sentindo naquele momento e por que, de repente, estava pensando em . Parte dele realmente queria que ela estivesse ali, com eles, mas outra parte dele parecia um tanto apavorada com a ideia de revê-la. Não tinha ideia se ela havia visto ele no aeroporto, talvez por alguma foto ou vídeo, não tinha se ela havia dito algo a sobre o acontecido, não tinha do que deveria dizer, ou fazer, quando se deparasse com ela novamente. Tudo aquilo parecia ridículo para Carlos. Nunca foi tão inseguro daquela forma, nunca foi incerto sobre nada em nenhum de seus interesses amorosos. Mas, naquele momento, ele não tinha nem certeza, clareza, de se era, realmente, um interesse ou só alguém que mexia com ele de um jeito barulhento, bagunçado, mas muito bom.
— Você roubou, foi isso o que aconteceu — A voz incrédula de Charles cortou os pensamentos de Carlos, longos minutos depois.
— Eu roubei? — gargalhou — Você é um péssimo perdedor, Charles.
— Você me empurrou no final, não valeu — Charles rebateu. Carlos levantou seu olhar da panela até o casal de amigos, que se aproximava dele, na cozinha.
— Fazia parte da dança, você que não presta atenção no jogo — Ela deu de ombros, rindo da cara frustrada de Charles, que logo mudou, como se tivesse tido uma ideia genial.
— Tudo bem, da próxima vez seremos eu e você, em alguma pista, quero ver quem ganha.
— Cuidado, porque eu sou ótima dirigindo
— Dirigir não é pilotar, ma petite — Provocativo, ele a encarou com um sorriso cínico. Carlos revirou os olhos, rindo sozinho.
— Assim como mexer o corpo não é dançar, mon amour — deu-lhe um beijo na bochecha e sorriu com superioridade — Aceita que você perdeu dessa vez.
— Tudo bem, mas só porque perdi para você — Ele piscou para ela e logo voltou seu olhar para Carlos, reparando no amigo usando seu avental, atento a algo que mexia no fogão — Achei que íamos sair para almoçar.
— Não quis atrapalhar a temporada da dança dos bombonzinhos — Sainz os encarou, tirando uma gargalhada de .
— É isso ou você queria mostrar que sabe cozinhar? — se aproximou do amigo, dando uma olhada no que ele fazia, por cima de seu ombro.
— Não preciso mostrar o que vocês já sabem, com certeza, que faço muito bem — Ele a olhou de lado. revirou os olhos no exato mesmo momento que Charles bufou.
— Eu não sei como aguento o ego de vocês, juro — Arregalando os olhos, saiu de perto de Carlos, indo até a geladeira, em busca de algo para beber.
— Porque o seu também não fica muito longe disso — Sainz a provocou, recebendo um dedo do meio dela, de trás da porta da geladeira aberta.
— E isso aí já está pronto, cara? Estou com fome, o cheiro está indo longe… — Charles passou a mão da própria barriga, reparando que a mesa já estava montada.
— Apesar de não querer assumir, o cheiro está realmente incrível — disse animada, voltando para perto deles com uma garrafa de vinho branco.
Carlos não gostava muito de elogios, na verdade sentia-se tímido e muitas vezes não sabia bem como reagir a eles. Ficava feliz pelos comentários positivos sobre si mesmo e bastante orgulhoso de ser bom em algumas coisas, mas definitivamente não conseguia sequer agradecer direito. Por isso, resumiu-se em sorrir para os amigos e seguiu colocando a comida na mesa, enquanto Charles abria a garrafa de vinho e se sentava. Gostava de cozinhar, era um fato. Desde quando era mais novo pegou o gosto pela coisa, gostava de testar receitas novas e de assistir programas de culinária na televisão. Sempre tinha sido paciente e organizado, cozinhar era definitivamente uma atividade para ele. Talvez, de todos os seus amigos, Carlos fosse o que melhor cozinhava e se orgulhava disso.
Não demoraram muito tempo para se sentar na mesa e começarem a se servir. e Charles comentavam coisas aleatórias sobre a comida, enquanto a provavam, e aproveitando o gancho do momento, desviando o assunto com toda incerteza e hesitação do mundo, Charles começou a propor que ela fosse almoçar na casa de sua mãe no dia seguinte, com seus irmãos. Carlos se desligou por um momento da conversa dos amigos, sequer notando que, para convencê-la a aceitar o convite e ir, tentando ser o mais casual possível e afastar a ideia de que, no fundo, ele queria apresentá-la para sua família, Charles tinha dito que Carlos também iria.
Silencioso, imerso em seus próprios pensamentos, entre uma taça e outra de vinho e uma garfada e outra do risoto, de repente, Carlos pegou-se pensando em como seria se estivesse ali com eles. Queria saber se ela daria o braço a torcer e o elogiaria na frente dos amigos, se gostaria de sua comida, o que diria quando descobrisse que ele sabia cozinhar. Pensou no que ela estaria vestindo, se daria um de seus comentários ácidos e provocativos, que o piloto nunca admitiria em voz alta, mas adorava ouvir e, até mesmo, se trocariam olhares durante todo o almoço. Era inevitável pensar em quando ela chegaria, se realmente viria para Mônaco, se estaria na festa do amigo e uma pequena parte de si acreditava, torcia, para que ela já estivesse a caminho e, com sorte, que ficaria também ali, hospedada na casa do monegasco - não fosse ali, com , onde mais poderia ficar?
— E se eu pedir para o Arthur levar a namorada dele? — Charles perguntou exasperado, de boca cheia, recebendo um olhar feroz da mulher ao seu lado, pela falta de educação — Desculpa, amor.
— Pior ainda, Charles! É mais pressão, — desviou seu olhar até seu prato, cutucando a comida. Não tinha certeza se era mesmo o melhor momento para dar aquele passo. Conhecer a família de Charles parecia muito — porque é mais alguém para eu ter que agradar.
— É com isso que você está preocupada, então? — Como se desse um estalo em sua mente, tudo fazia sentido agora para Charles. Ele sorriu com ternura, a olhando de lado — Todos eles já meio que… sabem… o que a gente… — Ele tentou parecer confiante, mas claramente não conseguiu e, foi limpando a garganta naquele momento que cortou os devaneios de Carlos — quem você é… para mim.
— Isso não fez o menor sentido, cara — Sainz negou com a cabeça, mastigando.
— Ah, você ainda está na mesa? Por um momento achei que tinha morrido e estava empalhado aí — Charles o encarou.
— Vocês não me incluem na conversa — Carlos fez um bico, vendo os amigos revirarem os olhos ao mesmo tempo.
— Você dormiu no meio do nada e não respondeu nenhuma tentativa de contato — gesticulou com sua taça, pedindo mais vinho para o amigo, que a serviu brevemente.
— Em resumo, minha mãe convidou a gente para almoçar amanhã e a também vai — Charles voltou ao assunto, tomando um gole de seu vinho, ignorando a cara sugestivamente exagerada de Sainz para ela.
— ¿De verdad? — Carlos riu da cara dela — ¡No me lo puedo creer! Que momento.
— E estava dizendo que ela não tinha que se preocupar, porque eles vão te amar, — Charles continuou dizendo, sem dar espaço para que ela respondesse o amigo. Carlos, contudo, parecia realmente surpreso com o convite.
— Há controvérsias.
— Me ajuda, porra — Charles bateu levemente na mesa, encarando Sainz rir dele e voltou-se para , que seguir pensativa — Carlos vai estar lá para distrair minha mãe, ela adora ele, vai dar tudo certo.
— Eu vou estar lá? Que história é essa? — Carlos parou por um momento, confuso, sentando-se de volta em seu lugar, depois de servir todos eles com mais vinho.
Charles comentou por cima sobre como seria o dia seguinte, enquanto se distraiu de volta com sua comida, ponderando se realmente era uma boa ideia aceitar o convite ou se deveria surfar na onda de Sainz e reforçar que, por ele também estar na cidade, tinham que fazer companhia para ele e não atrapalhar o momento da família. tinha contado sobre Charles para sua mãe, na última vez que a viu pessoalmente e imaginava que ele também tinha feito o mesmo com a dele e com seus irmãos. , contudo, não quis apresentá-lo formalmente para sua mãe no desfile, não se sentia exatamente segura sobre o que eles tinham ainda e não quis colocar uma pressão extra nele em formalizar seja lá o que era aquilo tudo. Charles, por sua vez, parecia ansioso em dar o próximo passo e, claramente, não sabia como fazer aquilo.
Ela se pegou pensando naquilo por mais tempo do que deveria, comendo, enquanto os meninos conversavam entre si. Mas não demorou muito tempo para ter seus pensamentos cortados pelo toque repentino de seu celular, avisando que algumas novas mensagens haviam chegado. Curiosa, ela rapidamente pegou o aparelho para verificar, ao tempo que Carlos e Charles ficaram em silêncio, como se esperassem que ela dissesse algo. Rindo da curiosidade deles, logo leu o que acontecia e comentou naturalmente:
— É a , avisando que chegou faz pouco tempo — subiu seu olhar para Carlos, que deu de ombros. Apesar de não querer transparecer nada, sentiu um frio estranho na barriga, seu coração acelerando levemente. Contudo, antes mesmo que pudesse pensar em algo, o tempo exato que demorou para uma nova mensagem dela chegar para , a amiga emendou: — E ela está na casa do… Ric?
pareceu confusa por um segundo, lendo novamente a mensagem em seu celular para se certificar de que tinha entendido certo. Charles tomou um novo gole de seu vinho, tentando disfarçar o silêncio que subitamente tomou conta do lugar, enquanto Sainz franziu a testa, pensativo. focou-se em responder rapidamente a mensagem e, se seu olhar subisse mais um pouco, teria visto a cara de poucos amigos que o espanhol a sua frente fez, absorvendo a informação.
— Eu não sabia que ela ficaria com o Ricciardo — Carlos comentou como se não quisesse saber de nada, mas em seu estômago sentiu uma leve inquietação.
— Ele a convidou alguns dias atrás, depois que ela recusou meu convite — Charles deu de ombros. Não tinha entendido bem a recusa da modelo, mas podia imaginar que era por causa do espanhol.
— Desde quando você sabia disso? — o olhou surpresa. não tinha dito nem a ela que ficaria lá, como Charles poderia saber?
— Encontrei o Ric no mercado na quinta-feira, ele comentou por cima. — O monegasco respondeu casualmente, olhando Sainz em seguida — Acho que ela não aceitou ficar aqui em casa por saber que você ficaria aqui, cara.
— Como ela saberia disso? — Carlos perguntou sério.
— Pela , ué — Charles respondeu honesto, bebendo um gole de água enquanto via o olhar indignado dela em sua direção — O que?
— Por que eu contaria? Eu não disse nada para ela. Na verdade, nem tinha certeza de que Carlos viria mesmo… — cruzou os braços e levantou as sobrancelhas para ele, não segurando o sorriso pela expressão confusa e fofa que ele fez. Carlos ficou ali, olhando atento os dois.
— Então, se não foi você, alguém contou — Sainz apontou para eles, fingindo indiferença.
— Ou ela só imaginou o óbvio: que você estaria onde também estivesse — Charles pensou alto, comendo.
— Tanto faz quem contou, gente. O fato é que talvez seja melhor mesmo ela ficar por lá, dadas as circunstâncias do último encontro de vocês dois — olhou séria para ele.
Dando o assunto por encerrado, quando Carlos tentou retrucar aquilo, deu-lhe um olhar que daria medo em qualquer um e se levantou da mesa, recolhendo os pratos. Charles deu de ombros para o amigo e se levantou também, indo ajudá-la com a louça, deixando o espanhol ali, sentado, enchendo novamente sua taça de vinho enquanto olhava o dia lá fora pela ampla parede de vidro da sala do apartamento. Talvez tudo não passasse de uma confusão dele, afinal. Talvez estivesse resolvendo as coisas com ele por educação e por respeito a uma amizade que podiam fazer, tendo em vista que compartilhavam o mesmo grupo de amigos e consequentemente teriam que conviver mais tempo do que gostariam. Era melhor manter tudo bem, do que do jeito que estava.
E talvez ela só estivesse fazendo tudo aquilo, porque estava realmente interessada em Daniel. E, por isso, queria manter-se bem no grupo, não queria ser motivo de briga e de discussões. Mas aquela ideia incomodava Sainz. Verdadeiramente o incomodava. Não podia ser verdade, não tinha nada a ver com Daniel, em nenhum sentido. Aquilo só podia ser um absurdo, um mal entendido enorme. E Carlos, bem no fundo, não queria realmente descobrir a verdade. Era melhor se contentar com o que sua mente o dizia: não era verdade.
Aquela ideia, contudo, rondou sua mente pelo resto do dia. Carlos foi para seu quarto por um momento e tentou de todas as formas possíveis não pensar em com Daniel, em por que ela escolheu ficar na casa do australiano, por que estava lhe afastando depois do jantar na casa de seus pais, mas parecia falhar miseravelmente a cada minuto. Tudo parecia tão caótico dentro dele que Carlos se sentiu perdido. E pouco menos de uma hora depois, decidiu voltar para a sala da casa do amigo, em busca de qualquer distração, mas tudo o que encontrou foi Charles e cochilando abraçados no sofá, enquanto um filme qualquer começava na televisão. Sem querer incomodá-los, Carlos voltou para seu quarto e decidiu fazer o mesmo.
Dormiu por quase duas horas seguidas e levantou-se tão disposto, tão descansado, que resolveu convidar o casal, já acordado, para passar o resto da tarde na praia, tomando sol, bebendo e curtindo um pouco o mar tranquilo da região. No começo da noite, quando voltaram, resolveram pedir uma pizza, passar o tempo jogando UNO e o que deveria ser uma partida, tornou-se duas, três e se estendeu para tarde da noite.
O sábado amanheceu incrivelmente ensolarado em Mônaco.
, que já vestia seu biquíni, terminava de colocar uma mini saia e uma blusa soltinha, não demorando muito tempo até deixar seu quarto, naquela manhã, e ir até a cozinha, onde encontrou Ricciardo sentado, já tomando seu café. O piloto conversava algo com Betty, a empregada da residência, e sorria abertamente para ela, animado e educado como sempre. o observou por um momento, em silêncio, e logo se juntou a ele, sentou-se à mesa. Betty prontamente lhe entregou uma xícara de café com leite, magicamente sabendo que era exatamente o que ela gostava de tomar de manhã e, na realidade, cumprindo o pedido que Ric a havia feito, antes de chegar até ali - tinha deixado com Betty a relação de refeições que a modelo costumava fazer no dia a dia, com intuito de deixá-la o mais confortável e acolhida possível em sua casa.
— Bom dia, senhorita Voitenko — Betty sorriu simpática para ela — Dormiu bem esta noite?
— Bom dia, Betty — sorriu serena para a mulher — Dormi como um anjo, estava tudo perfeito, obrigada pelo cuidado.
— Se me permite um comentário, a senhorita é realmente muito bonita — Betty ajeitou um prato com waffles e frutas vermelhas na frente dela. soltou uma risada baixa, enquanto Daniel encarava Betty boquiaberto pelo comentário, brincando.
— Fico feliz em saber, obrigada. Mas, me pareceu que alguém te disse isso, quem foi? — se fez se desentendida, olhando de Betty para Daniel, desconfiada.
— Confidencial. Não posso comprometer meu emprego — Betty brincou.
— Está cada dia mais complicado te contar as coisas, Bets — Daniel a encarou, brincando.
— Está cada dia mais complicado ver mulheres bonitas nesta casa — Betty deu de ombros, quase que puxando a orelha do piloto. Estava já tantos anos trabalhando com a família dele que se sentia confortável em ser totalmente sincera — Os critérios estão ruins demais ultimamente. O que te salva são as amigas, que infelizmente namoram seus amigos, a senhorita e, claro, a australiana que você não superou nos últimos dez anos, devo pontuar.
— Betty, estamos com visitas — Daniel falou em um sussurro, tirando uma risada das duas mulheres.
— Australiana? Não superou? Me conta isso agora — perguntou curiosa, tomando um gole de café com leite. Claramente envergonhado, Daniel apontou para Betty, enfiando um pedaço de sua panqueca na boca.
— Você começou a fofoca, agora explica tudo, Bets.
— Se me dão licença, tenho muito trabalho a fazer — Betty pediu educada, saindo rapidamente de perto, risonha, deixando Ric incrédulo para trás.
— Bom dia, , lindo dia, não? — O piloto tentou desconversar.
— Lindo dia, sim, perfeito para me contar sobre o que está rolando com a australiana — Sem deixar o assunto morrer, insistiu.
— Não está rolando nada, a Betty está exagerando — Daniel não parecia realmente confortável com aquele assunto e ponderou se deveria insistir mais um pouco, e matar toda a curiosidade que tomava conta dela, ou deixar o assunto morrer e esperar por outro momento, em que ele estivesse mais certo sobre o que dizer. Achou a última, a melhor opção.
— Tudo bem, vou deixar passar só porque está cedo demais.
— E porque temos que guardar as energias para a noite — Um Ricciardo animado sorriu em sua direção.
— Vejo que alguém acordou empolgado — sorriu de volta, jogando um pouco de geleia no waffle.
— Vai ser uma grande festa, mal vejo a hora de começar — Ele disse dando pulinhos empolgados na cadeira. Ricciardo tinha essa aura animada e envolvente, era impossível estar perto dele sem sorrir e sentir-se leve.
— Quais os planos para hoje? — Já que a festa seria apenas a noite e a modelo não havia combinado nada com as amigas, ficou curiosa quanto aos planos do amigo.
— Sem planos — Ricciardo respondeu, dando de ombros — Pensei em ficarmos por aqui mesmo, aproveitar a piscina na cobertura. Tentei ver com Charles de fazermos algo com o grupo, mas ele me avisou que iria almoçar com a família dele, para que a pudesse conhecê-los
— ESPERA! O Charles vai apresentar a família dele para a ? UAU — praticamente gritou, pegando seu celular no mesmo instante e mandando uma mensagem a amiga. Sabia que ela deveria estar nervosa e que possivelmente precisava de alguém para conversar naquele momento.
— Vai sim, ele acha que já está na hora — Ele respondeu, comendo.
— Caramba, eu fico feliz por eles, mas é um grande passo — refletiu sobre o assunto, vendo a amiga responder suas mensagens com um monte de figurinhas, claramente surtando.
— Pois é! E falando em grandes passos… Soube que Sainz já está em Mônaco — Ele virou-se na direção da modelo, olhando sério a ela.
— Não entendi a relação de uma coisa com a outra — Tomando um novo gole de seu café com leite, desviou seu olhar. Daniel, contudo, não se deu por vencido.
— Entendeu sim.
— O que eu tenho a ver com o fato de ele ter chegado em Mônaco? — Apesar de querer demonstrar indiferença, sentiu seu estômago revirar com aquela notícia.
— Sei lá, achei que você ia gostar de saber, vi no Instagram ele postando uns vídeos da e do Charles ontem — Ele deu de ombros. Sabia que estava evitando entrar em suas redes sociais, com a desculpa de que estava de férias de tudo mas, na verdade, parecia querer evitar o piloto espanhol até em vias online — Talvez vocês possam, sei lá… conversar?
— O que você espera que eu faça, Ric? Vá correndo até ele? — negou com a cabeça. Ricciardo ainda não sabia daquilo, mas ela já tinha feito sua parte. Já tinha conversado com ele e era isso. Fim. Sem mais nada a dizer, sem mais nada a fazer. Tinha só que pensar em conviver com ele naqueles poucos dias e seguir sua vida.
— Me pareceu uma boa ideia — Ric a olhou sorridente — Ele ia gostar, eu acho.
— Ia amar, na verdade — respondeu irônica, bufando.
— É sério, , minha paixão… — Ele seguiu tentando, carinhoso, embora um pouco mais sério — O que acontece entre vocês dois?
— Ah, eu já nem sei mais, é só que… É irritante estar na presença dele — respondeu brevemente, no automático, ignorando tudo o que havia acontecido há algumas semanas atrás, na casa dele.
— Irritante? Eu chamaria isso de: tensão sexual — Ricciardo brincou, dando uma de suas risadas escandalosas e recebendo um guardanapo na cara em resposta.
— Não começa, Daniel. Tudo que eu quero dele é distância e nada mais além disso — Ela respondeu imediatamente.
— Será mesmo? — Ricciardo questionou, colocando a mão sobre o queixo e levantando uma sobrancelha.
— O que quer dizer com isso? — Sentindo um pequeno comichão sobre seu estômago, perguntou séria, deixando o café de lado naquele momento.
— Que talvez vocês se odeiem porque, no fundo, são extremamente parecidos — Daniel respondeu facilmente, como um mais um era igual a dois.
— Você só pode estar de brincadeira, né? Eu não me pareço em nada com aquele infeliz.
De repente, sem saber dizer ao certo o por que daquilo, se viu levantando brava da cadeira onde estava sentada e, dando as costas ao piloto, saiu dali. Daniel ficou rindo sozinho pela ação da mulher, vitorioso em ter conseguido provocar ela daquela forma. Era bastante claro para ele que ali havia muito mais do que ódio, havia algo sendo censurado, sendo forçado a se manter dentro deles, calado, renegado. Era claro para Ric tanto quanto era para todos os amigos, que se perguntavam quando finalmente aquilo, seja lá o que tinham um pelo outro, iria de fato começar a acontecer.
Depois de deixar Daniel rindo sozinho na sala, voltou para o quarto e, sem saber o que fazer, jogou-se na cama, irritada com o assunto. A simples menção do nome de Sainz a tirava da realidade de uma forma que achava que poderia explodir. O que estava diferente, contudo, era a sensação nova que parecia crescer dentro dela. Estava irritada não exatamente pelo fato de Carlos a irritar, mas por não conseguir entender o que sentia. Os dias que passaram depois do último encontro que teve com ele foram tão conturbados, cheios de dúvidas e de vontades que mal podia organizar dentro de si todos os pensamentos que, jamais, compartilharia com alguém - ao menos, não até ter certeza sobre o quanto podia acreditar neles.
E justamente por toda essa confusão ser cutucada novamente, como se acendesse um fósforo em uma palheiro, ela se sentia nervosa, irritada. O que poderia responder para Daniel, afinal? E se fosse realmente sincera com ele, o que ele diria? Conhecia Sainz há mais tempo do que ela, sabia do jeito do amigo e sabia interpretá-lo melhor do que ela estava interpretando. E se estivesse vendo coisas não havia nada? Se estivesse totalmente errada em se sentir daquela forma, inocente em se deixar levar pelo charme do piloto espanhol? achava mais seguro guardar tudo aquilo para si mesma do que quebrar a cara com uma possível realidade deslocada do que ela sentia em seu coração.
Desde o jantar na casa da família Sainz, a cabeça de estava perdida naquele momento e parecia que algo havia verdadeiramente mudado todas às regras do jogo. Cansada daquilo, a modelo bufou prendendo os cabelos, entrando no banheiro para completar sua higiene e se trocar para, enfim, passar o dia na piscina. Não resistiu em ir ver as publicações que Daniel havia comentado que Sainz fez em seu Instagram e se pegou pensando se ele não havia se hospedado na casa de Charles porque achava que ela também estaria por lá. Fazia algum sentido e se arrependeu, por um instante, em não ter aceitado o convite do amigo para ficar lá também.
Trinta minutos depois, deixando seu quarto, ela encontrou Ricciardo a esperando na porta da sala, para irem juntos à área da piscina, alguns andares acima. O piloto não tocou mais no assunto Carlos Sainz e a modelo agradeceu mentalmente por aquilo. Foram conversando sobre alguns pontos da festa e Daniel foi contando mais sobre os amigos que havia convidado para aquela noite. parecia ficar cada vez mais animada pela festa, conforme ouvia o amigo lhe contar detalhes, com empolgação e muita energia. Quando chegaram à área da piscina, o lugar estava vazio e celebrou aquele feito. Gostava da privacidade e podiam aproveitar melhor o espaço se estivessem só os dois ali. Graças às riquezas de Mônaco, os vizinhos de Daniel preferiam as tranquilidades do mar aberto em seus iates ou estavam fora do país, aproveitando o verão, em viagens em países vizinhos.
— O que vai fazer depois daqui? — Ricciardo tirou a camisa e se sentou na espreguiçadeira ao lado da amiga, que deixou a bolsa sobre a mesinha, enquanto o olhava.
— Vou me arrumar para sua festa — respondeu com obviedade, recebendo um olhar tedioso do amigo. Depois que ficou apenas de biquíni pediu para que o amigo lhe ajudasse a passar o protetor solar em suas costas, virando-se para facilitar o acesso.
— Não, engraçadona, quis dizer depois do final de semana — Ele perguntou já apertando o frasco e passando o conteúdo sobre as costas da modelo. A intimidade que estavam criando não correspondia a nada além de amizade e cumplicidade. Estavam aprendendo a confiar um no outro, gostando do que estavam construindo, do espaço de trocas e de verdades que tinham um com o outro. e Ricciardo perceberam que o que nutriam era um sentimento fraternal e único, um espelho um do outro, uma amizade natural e genuína, como se tivessem se encontrado no mundo para serem parceiros no crime.
— Sinceramente, não tenho ideia — deu de ombros, pegando o creme e passando sobre o restante do corpo — Adiantei boa parte do meu trabalho para estar aqui e, depois, só tenho novos trabalhos daqui um mês e meio, por aí.
— Como todos nós estamos nos dias finais de férias, por que não fica por aqui e a gente aproveita com o grupo, esse tempo juntos? — Daniel deu a ideia, terminando de passar o protetor na amiga e já passando o que sobrou em seus braços, recebendo um olhar rápido da mulher a sua frente.
— Não é uma má ideia, posso ver com as meninas se elas também vão ficar — realmente não tinha planos, então, não seria ruim aproveitar para descansar em Mônaco. Fazia bastante tempo desde a última vez que esteve ali e certamente teria dias incríveis com aquele bando de doidos.
— Eu nunca dou ideias ruins, minha querida — Daniel riu, sendo acompanhado por ela, já se levantando para ir à piscina.
— Teremos que discordar disso — brincou, logo depois pulando na piscina e dando algumas voltas. Daniel acompanhou a amiga alguns minutos depois e o casal passou grande parte do dia por ali, se divertindo, conversando, rindo e aproveitando o raro tempo livre.
Do outro lado da cidade, Sainz descia impaciente do carro que os levou até a casa da mãe de Charles. Odiava que o levassem para os lugares, gostava mesmo, e sempre, de estar na direção, mas não teve jeito naquele dia. Seu carro estava em Marbella e Charles achou melhor chamarem um táxi, assim poderiam beber tranquilamente, já imaginando que sua mãe abriria uma boa garrafa de vinho para a ocasião. O táxi não demorou mais de vinte minutos para chegar, depois de um caminho inteiro em silêncio. Carlos estava irritado em não poder dirigir, estava surtando silenciosamente, mandando cem mensagens por segundo paras as meninas e Charles sentia que poderia enfartar a qualquer segundo.
O dia ensolarado iluminava a casa gigantesca dos Leclerc e Sainz se pegou, por um momento, comparando a suntuosidade da casa deles com a de seus pais. Moravam em Mônaco, afinal, não podia esperar nada diferente daquilo. Se tinha algo que tinham de sobra ali, além do dinheiro, era o bom gosto e a elegância. A casa era rodeada por amplos jardins, clara, trazia bastante serenidade e calmaria. O silêncio do lugar era quebrado apenas pelo piar dos pássaros nas árvores e pela grande fonte central na entrada, que cascateava a água.
A casa em si tinha muitos vidros, pilastras, tijolos europeus espalhados em tons de marrom e um pé direito alto o suficiente para se perder de vista. Carlos já tinha estado ali algumas vezes, a convite de Charles. Já conhecia seus irmãos e sua mãe, nada era novidade. E toda aquela riqueza, que se abria aos olhos na casa maravilhosamente bonita à frente, poderia assustar ou impressionar qualquer pessoa, mas não a Hermann. Descendo do carro, cuja porta estava sendo aberta por Charles, a mulher deu uma rápida olhada ao redor, com casualidade. O lugar era, de fato, lindo, mas vivia naquele luxo desde que nasceu, dividindo sua vida entre a mansão de Viena de seu pai, a mansão vizinha aos Sainz em Marbella, onde sua mãe ainda vivia, e sua casa belíssima a oeste da mesma cidade espanhola, em La Milla de Oro, onde vivia sozinha há alguns anos - e onde Carlos gostava de se refugiar, quando queria sumir do mapa.
Apesar de ter reparado no lugar, não estava realmente surpresa por ele. Estava nervosa pelo momento como um todo e Carlos sabia disso. Charles não tinha tido uma conversa esclarecedora com ela sobre aquele tema e, na confusão do momento, ela não sabia com clareza o motivo de tudo aquilo. Estava se esforçando em ser o mais casual possível, mas estava nervosa, com o sorriso trêmulo, apertando o celular em suas mãos como se pudesse aliviar a tensão. Charles pagou o motorista rapidamente e apontou para a entrada da casa, indicando que seguissem por ali. estava com um vestido curto, branco, de linho, e sandálias estilo gladiador bege. Levava uma bolsa trançada que lembrava palha para Carlos, mas ele não ousou “desrespeitar a moda para uma Hermann”. Ela colocou seus óculos de sol na cabeça e, sorrindo levemente para Charles, o seguiu pelo caminho.
— Você já tem experiência com isso, , fica calma — Sainz abraçou a amiga de lado, andando com ela.
— Tenho? — Ela o encarou apavorada.
— Tem! Lembra de quando Blanca contou para minha família inteira que a gente estava namorando? — Carlos resgatou aquela memória do nada, sem sequer saber de onde tinha tirado aquilo.
— Meu Deus, sim — gargalhou com a lembrança repentina — Num almoço das nossas famílias, não foi?
— Foi, lembra? — Ele gargalhou com a amiga, olhando para ela — Pode ficar tranquila porque vai ser igual aquele dia.
— De jeito nenhum pode ser igual aquele dia, nem brinca com isso.
Trocando um olhar cúmplice, e Carlos caíram na risada mais uma vez. Se lembravam daquele dia com clareza, como se tivesse acontecido ontem. Na época, tinham 14 ou 15 anos e Carlos estava interessado em uma menina da escola. Como seus pais sempre tinham sido muito cuidadosos com ele, não deixavam que saísse sozinho e com pessoas cujas famílias eles não conheciam, por isso, sempre que Carlos ia ver a menina ele dizia a seus pais que estava indo se encontrar com . Os Sainz sempre tiveram uma relação próxima e muito carinhosa com os Hermann e não achavam ruim que seus filhos também tivessem amizade, por isso, nunca negavam os pedidos deles de irem visitar uns aos outros. Blanca, contudo, começou a desconfiar daquilo.
Carlos dizia que ia estudar na casa dela e nem era semana de provas, dizia que iria ao cinema com , que a levaria para almoçar, pedia dinheiro para alugar filmes ou comprar as flores preferidas dela. Blanca foi entendendo aquilo de um jeito muito errado e soltou, no meio de um almoço que os Sainz convidaram os Hermann, que e Carlos estavam namorando escondidos. O momento icônico do desentendimento das famílias, em que o pai de , Anton, se levantou da mesa com uma cara assassina e começou a falar um monte de coisas em alemão, enquanto o pai de Carlos tentava acalmá-lo, em espanhol. Reyes e Noelle, a mãe de , se abraçaram felizes, enquanto e Carlos tentavam explicar o mal entendido ao mesmo tempo, um por cima do outro. O cachorro de Sainz latia alto, tia Mirabel aplaudia contente a união de seus sonhos, Blanca gritava e gesticulava tentando explicar seu ponto de vista ao tempo que Ana, aproveitando o momento, roubava sobremesa dos pratos dos outros.
O caos que sempre se lembravam nos natais que compartilhavam. O caos que, definitivamente, não queria que acontecesse naquele dia.
Ela pensou, por um momento, como seu pai reagiria a Charles, se ainda estivesse vivo e pudesse conhecê-lo. Pela educação, classe e ternura de Charles, ela tinha certeza que ele iria amá-lo de primeira. Perguntaria milhares de coisas sobre a Fórmula 1, investigaria quais lugares ele gostava de frequentar, o questionaria sobre vinhos, o convidaria para jogar golfe com ele e, certamente, reclamaria das roupas que ele usava. E pensando naquilo, rindo levemente do que Carlos a disse e dos próprios pensamentos, com saudades de seu pai, ela encarou o amigo a seu lado, ainda abraçado com ela, sorrindo silenciosamente em agradecimento. Por sorte ele também estava ali, por sorte dividindo mais um dos momentos importantes da vida dela.
Alguns passos à frente deles, Charles soltou a respiração pela boca e passou as mãos pela lateral do corpo, ajeitando a camisa que vestia. Já tinha falado milhões de vezes sobre para sua mãe, para seus irmãos, mesmo antes de ficarem juntos, mas parecia tudo muito diferente agora. Estava com receio do jeito sério de Lorenzo, das piadas de Arthur e do que sua mãe, Pascale, diria sobre ele para ela. E, mais do que isso, estava ansioso pelo momento em que descobrisse. Mas não teve muito tempo para pensar porque, já perto o suficiente da porta, a figura doce de sua mãe apareceu por ela, sorrindo encantada.
— Meu amor, você veio — Pascale abriu os braços na direção dele, dando alguns passos à frente. Charles sorriu abertamente para ela e foi em sua direção mas, antes mesmo que pudesse abraçá-la, sua mãe passou direto por ele, abraçando com firmeza. Arthur e Lorenzo, que vinham mais atrás dela, na porta, riram alto da cara de Charles.
— É um prazer conhecer a senhora — comentou tímida, a abraçando de volta.
— Pascale, por favor — A mulher se afastou levemente da mais nova, a olhando com carinho — Finalmente Charles te trouxe aqui, estava ansiosa para te conhecer.
— Estava mesmo — Lorenzo comentou — Não sei qual deles fala mais sobre você por aqui: Charles ou maman, que não para de perguntar.
— Espero que isso seja um bom sinal — riu tímida, segurando as mãos de Pascale, que parecia encantada, respondendo:
— Com certeza é, querida.
— Eu estava quase me apresentando para você já — Arthur se aproximou dela, depois de cumprimentar o irmão, dando um abraço rápido em .
— Você fez isso — Charles lembrou — Um ano atrás, em Budapeste.
— A ideia foi do Lorenzo — Arthur levantou os braços, se defendendo.
— Não fui eu quem eduquei eles assim — Pascale brincou e logo abraçou Sainz, o cumprimentando.
— Você não nos apresentava nunca para ela — Lorenzo deu de ombros, tirando uma risada leve da mulher. já conhecia ele e Arthur, de fato. Sempre encontrava com eles pelo paddock e chegou a assistir algumas corridas da F3 com a turma, algumas vezes.
— Bom ver vocês, meninos — Ela cumprimentou Arthur de volta e, então, virou-se para Lorenzo, que a abraçava.
— Bom te ver aqui também, , finalmente — Arthur sorriu carinhoso para ela, abaixando o tom de voz ao dizer a última palavra.
— Ninguém aguentava mais a enrolação do Charles — Lorenzo sorriu para ela.
— Meninos, se comportem, vão assustar minha nora nova — Pascale gesticulou para eles, brava. A língua de chegou a coçar para corrigi-la, dizer que, na verdade, não era bem namorada de Charles, mas conteve-se, trocando um olhar com ele. Apenas sorriu com o comentário e se deixou levar pela mulher — Vamos, querida, temos muito o que conversar. Arthur leva sua bolsa.
E, no mesmo segundo que disse aquilo, Pascale simplesmente tirou a bolsa da mão dela e a deu para Arthur, puxando delicadamente para dentro de casa. O almoço seria servido em breve, pelos funcionários da casa e, enquanto isso, Pascale sentou-se com no sofá da sala, emendando um assunto no outro, empolgada, realmente feliz em conhecê-la. Vinha ouvindo Charles falar sobre ela desde que a conheceu poucos anos atrás e, desde então, sabia que seu filho nutria um carinho especial por ela. Disfarçado de amizade, no começo, mas que nunca realmente enganou Pascale. Conhecia os filhos que tinha. Conhecia o jeito que Charles falava sobre ela, o jeito que ele sorria, os olhares que ela viu eles trocarem no paddock, nas vezes que acompanhou o filho. Era nítida a paixão de seu filho por ela, a admiração que ele tinha e a felicidade que Pascale viu nele naquela tarde era tudo que importava.
contou-lhe sobre sua família, seu trabalho, se pegou mostrando algumas das peças de sua última coleção, falando mal de algumas marcas que não pensavam em mulheres mais velhas e perguntou tudo o que tinha curiosidade em saber sobre Pascale e sua família. Tinham uma conversa fácil, natural, trocavam risadas refinadas entre taças de champanhe e pareciam como amigas há tempos. No sofá de frente com elas, Arthur jogava video-game sozinho, enquanto Lorenzo travava uma conversa animada com Sainz sobre squash e condicionamento físico.
Charles, por sua vez, se pegou observando sua mãe prestar atenção cuidadosamente em algo que lhe contava, de pernas cruzadas no sofá, gesticulando com uma mão enquanto segurava sua taça na outra. Não notou quanto tempo ficou ali, encarando as duas, mas parecia uma cena surreal. Estava feliz em vê-las se dando bem, feliz em ver que sua mãe parecia ter realmente aceito em sua casa, feliz no interesse de uma com a outra, em ter aceitado o convite. Não costumava abrir aquela parte de sua vida para muitas pessoas, era especialmente importante para ele o que acontecia ali e, pela primeira vez em sua vida, soava natural, confortável, mas parecia um sonho. reparou que ele as encarava por um segundo e, desviando seu olhar de Pascale até ele, sorriu discretamente, recebendo uma piscada de Charles.
Estava sendo muito melhor do que ela imaginava. Sem tempo para se preocupar com qualquer coisa, sem pressão de ser quem ela não era. Mais uma peça que parecia perfeitamente se encaixar ali, neles dois.
O almoço foi tão agradável quanto a entrada. Carlos, que estava sem compromissos naquela tarde, até tentou fugir do almoço da família Leclerc, assim que foram convidados a se sentar à mesa, mas Pascale insistiu para que o espanhol os acompanhasse, já que eram não só colegas de equipe, mas amigos pessoais. A conversa fluía naturalmente, as graças de Arthur preencheram o ambiente, os papos sérios sobre trabalho e academia de Lorenzo ocuparam bastante tempo e, na sobremesa, Charles contava a eles como foi o tempo que passou na Grécia com , na semana anterior. Vez ou outra, Carlos contava alguma coisa constrangedora sobre ele e e ela parecia confortável em chorar de rir e pedir mais uma fatia da torta de maracujá. Os Leclerc haviam oficialmente conhecido naquela tarde e simplesmente se encantaram pela empresária.
— E você, querido, como anda o coração? — Pascale perguntou, assim que deixou seu guardanapo sobre a mesa, satisfeita com o almoço.
— Batendo, Sra. Leclerc — Sainz brincou, arrancando risadas de todos da mesa, tentando desvencilhar daquele assunto.
— Não vai dizer que seu coração anda batendo mais forte por alguém ultimamente? — Ela continuou perguntando. O rapaz não falava muito sobre aquele assunto desde que terminou com Laura, pouco se via o piloto com outras mulheres e mal sabia ela que seus encontros não passavam de uma noite. Imaginava que, sendo jovem, bonito e tão rico como era, como seus filhos eram, ele não deveria ficar muito tempo sem alguém.
— Está batendo de ódio por alguém, maman — Charles comentou, reparando , sentada ao seu lado, rindo, bebericando sua taça de vinho branco, dando um tapa leve no braço dele. Carlos, do outro lado da mesa, o encarava sério.
— Como assim? — Pascale parecia curiosa.
— História mal contada… — Lorenzo brincou.
— De novo se metendo em enrascada, Carlos? Não bastou a Laura? — Arthur provocou, vendo o espanhol bufar.
— Como sabe sobre ela? — O espanhol levantou as sobrancelhas, surpreso.
— Adivinha? — Arthur olhou pausadamente de Carlos para Charles, a sua frente na mesa, tirando uma risada de todos.
— Em minha defesa, estava usando o seu caso para alertar ele a tomar cuidado com quem se relaciona — Charles levantou as mãos no ar, levando um tapinha de Carlos, ao seu lado, e tirando um sorriso fofo de e de Pascale.
— Virei estudo de caso agora — Sainz negou com a cabeça, tirando uma nova risada do grupo à mesa.
— Mas conte a coisa toda agora — Lorenzo insistiu — Carlos está com raiva de quem? O que está acontecendo?
— Ser fofoqueiro é um traço de personalidade dos Leclerc, pelo visto — Sainz bufou, brincando — Sem ofensas, Pascale.
— Ofendida estou por você estar enrolando o assunto e não nos contar a história completa — A mulher riu, puxando sua taça de vinho.
— Digamos que o Carlos se encantou por uma mulher tão parecida com ele que sempre que se veem os dois entram em ebulição, Sra. Leclerc — respondeu assim que viu Charles abrir a boca, tentando brincar com a situação e não deixando que ele falasse demais. Sabia que levar a vida pessoal de Carlos para um almoço de família não era exatamente o que o piloto espanhol queria.
— Sabe, o amor e o ódio sempre andam lado a lado — Pascale deixou sua taça de vinho e a trocou pela de água, em sequência, tomando um gole — No fundo, tudo isso não passa de amor enrustido.
— É claro que não! — Carlos exasperou sério, aumentando ligeiramente a voz, mas, assim que viu o olhar severo de Lorenzo sobre ele, pediu desculpas rapidamente — Eu não a amo, ela me estressa demais e é muito mimada.
— Qual de vocês não é muito mimado, querido? — Pascale riu, sinalizando gentilmente para que os funcionários pudessem retirar a mesa — Fizemos o melhor que podíamos em dar tudo o que o mundo poderia oferecer para vocês.
— Está vendo? São parecidos até nisso — Charles olhou o amigo de lado.
— Foi o que eu disse — olhou sugestiva para Sainz, que negou com a cabeça, sem realmente querer continuar aquele assunto. E antes mesmo que mais alguém pudesse dizer algo, Arthur prontamente se levantou na mesa.
— Pessoal, o almoço foi ótimo, mas eu preciso ir encontrar a minha dama. Muito bom te ter com a gente, , volte sempre — Arthur lançou uma piscada carinhosa para ela que, lançou-lhe um beijo no ar — Não posso dizer o mesmo de Carlos.
— Engraçadão — O espanhol lançou lhe um olhar mortal.
— Vai passar pelo píer? — Lorenzo encarou o irmão mais novo, interessado, vendo-o concordar com a cabeça — Me dá uma carona?
— Não sei, da última vez que te dei uma carona, você passou mal dentro do meu carro — Arthur deu um beijo na cabeça de sua mãe, um tapa na de Charles e um abraço na de .
— Claro, você quis fazer a curva mais rápida no centro de Mônaco, imbecil — Impaciente, Lorenzo revirou os olhos, levantando-se também.
— Essa família tem alguma coisa com a curva mais rápida, não é? — Sainz brincou, tirando risadas de todos eles — Se não se incomodar, também queria a carona.
— Me incomodo — Arthur deu de ombros, trocando um toque com Charles, dando um beijo na cabeça de sua mãe, já saindo para pegar sua carteira e celular.
— Vai para onde? — Charles perguntou curioso, vendo Carlos dar de ombros, enquanto Lorenzo abraçava e já ia atrás de Arthur.
— Lando me chamou para tomar uma cerveja na praia, não posso negar.
— E a Lu? — Foi a vez de perguntar, voltando sua atenção para eles.
— Está com a Carmen, fazendo compras para a festa de hoje a noite, algo assim… — Carlos respondeu meio incerto, mas a informação era verdadeira. Carmen tinha mandado mensagem no grupo, dizendo que George dormiria a tarde toda para aguentar a festa a noite e ela queria sair em busca de uma roupa para usar. estava ocupada com Daniel, tinha o compromisso com Charles e Lily nem deu sinal de vida.
— Vamos, Sainz, não temos o dia inteiro — Arthur o apressou, vendo o outro piloto pular da cadeira, dar um beijo em Pascale, agradecendo o almoço, e correr com ele e Lorenzo para fora dali, gritando "adiós, bombonzinhos" para Charles e . A mulher ficou ainda alguns minutos na mesa, conversando sobre qualquer assunto com e Charles, mas logo levantou-se também.
— Meu amor, sabe que pode ficar à vontade, a casa é sua — Pascale comentou delicada com — Se me der licença, preciso me aprontar para a ioga.
— Claro — se levantou com ela, dando-lhe um abraço carinhoso — Obrigada pela recepção, foi tudo maravilhoso.
— Foi maravilhoso ter você com a gente. O mínimo que poderia fazer por quem faz meu filho tão feliz — A mulher respondeu sincera, tirando um sorriso tímido da mais nova — Volte sempre que quiser e não demore muito para isso! Será um prazer ter você conosco por mais tempo.
— Claro! Vamos marcar de visitar a Hermann juntas, não vou me esquecer — se lembrou do convite que havia feito a ela, tirando uma risada breve para mulher. Pascale passou pelo filho já em pé e, colocando a mão em seu rosto, amorosamente, comentou baixo:
— Muito bom gosto, parabéns. Acho que acertou em cheio dessa vez.
Charles riu para a mãe, despedindo-se rapidamente dela e, colocando as mãos nos bolsos da bermuda, virou-se de frente para , gesticulando com a cabeça para que fossem até a sala.
— Não foi tão ruim assim, foi?
— Eles são ótimos, eu amei — Ela sorriu sincera, caminhando ao lado dele até adentrar o outro cômodo da casa.
— Eles também te amaram, pode ter certeza disso — Charles comentou baixo — Minha mãe vai ficar eternamente falando sobre você agora, até Lorenzo e Arthur sentirem ciúmes porque ela não fala desse jeito das namoradas deles.
— Até parece — Encolhendo os ombros, tímida, riu, mas logo ficou em silêncio assim que, sem querer, seus olhos passaram por uma fotografia em especial.
Em cima de uma mesa de canto da ampla sala, a imagem mostrava Charles abraçado com seu pai. Era bem mais novo, vestia um macacão de kart e seu pai, cujos traços lembravam muito os de Charles, sorria orgulhoso na fotografia. E, por um momento, tudo se perdeu ali. Charles acompanhou o olhar dela até a foto e sorriu triste, silencioso. Não havia sequer um único dia de sua vida que não sentisse falta dele, que não desejasse que ele estivesse ali, que visse o quão longe ele estava chegando, as coisas que estava alcançando na vida.
— Ele teria gostado muito de você também — Charles quebrou o breve silêncio, encarando a foto de longe — Queria que ele estivesse aqui.
— Pensei exatamente nisso quando chegamos aqui, sabia? — Em um tom de voz sereno, comentou, voltando a olhá-lo — Meu pai teria te amado.
— Será? — Charles a encarou de volta, tentando afastar de sua mente os pensamentos em seu pai, focando-se nela.
— Não tem como não te amar, Charles — suspirou, vendo o sorriso dele abrir-se um pouco mais com a confissão, as covinhas em seu rosto aparecendo, os olhos tímidos brilhando levemente.
— Curioso, estava pensando exatamente a mesma coisa sobre você.
— Acho que depois de hoje, preciso te levar para conhecer a minha mãe — Tentando disfarçar a timidez em ouvir aquilo dele, brincou — Será que você está preparado?
— Na verdade… — Charles deixou o sorriso apaixonado transformar-se em um sorriso um tanto ansioso, pensando em como dizer o que tinha que dizer.
A hora era aquela, apesar de não sentir que aquele fosse o lugar ideal para aquilo. Mas ele não aguentava mais esperar. Não aguentava mais guardar tudo para si mesmo, não dizer nada para ela. Charles nunca tinha gostado muito de surpresas. Estava se esforçando em manter aquela, esperando até que atingisse o seu limite, que sentisse a certeza de que estava mesmo pronto, de que fosse aceitar. Deixando a frase morrer no ar, sob o olhar curioso e confuso de , Charles pensou por um momento. Na falta de ideias em como florear naquele momento, ele decidiu só ser sincero. Se conseguisse dizer tudo o que sentia já seria o suficiente para fazê-la entender o que todo aquele dia tinha significado para ele.
— Fui tomar café com ela, um mês atrás, mais ou menos — Ele comentou baixo, coçando o cabelo.
— Com a minha mãe? — franziu a testa, surpresa.
— Sim, Noelle Hermann — Charles deu de ombros, sorrindo levemente — Muito fofa, bastante expansiva, gosta de cappuccino descafeinado, estava usando um lenço da marca da filha que ela orgulhosamente fez questão de comentar que foi desenhado para ela e tem os olhos parecidos com os seus.
— Como…? — Ainda sem entender o que acontecia ali, perguntou — Por que você encontrou ela sem que eu soubesse?
— Bom, eu…
Charles não tinha ideia de como fazer aquilo. Estava acostumado a dizer tudo de uma vez ou a não dizer nada e o meio termo, que parecia razoável, não soou suficiente para ele. Na falta de palavras, sentindo seu rosto aquecer pela timidez e seu coração acelerar em nervosismo, ele simplesmente tirou a pequena e delicada caixinha do bolso de sua bermuda e a estendeu em direção a ela. levou alguns segundos para entender o que acontecia ali, até sua ficha cair de vez, e esperou que ele abrisse a caixa com cuidado, revelando o pequeno anel prateado com pequenos diamantes cravejados em cima.
— Meu pai sempre dizia que tradições são muito importantes, que a família e o respeito vinham em primeiro lugar, eu quis saber se sua mãe achava ok a gente… juntos, namorando — Charles comentou sem jeito, tirando o anel de dentro da caixinha — Não sabia se deveria comprar um anel, é meio cafona… Carlos me passou o número dela e fui até Madrid, para conversar com ela e ela me ajudou a escolher um anel.
— Charles… — Encantada, estarrecida por tudo aquilo, sussurrou, sem encontrar palavras para dizer algo.
Podia sentir seu coração bater forte em seu peito, o ar começar a faltar-lhe nos pulmões. Não podia acreditar que Charles realmente foi até sua mãe, que tinha comprado mais uma joia para ela, que se importou em falar com sua mãe antes de dar o próximo passo, em saber a opinião dela. Tradicional, delicado e romântico como Charles Leclerc podia ser. Aquele homem não existia, só podia ser um sonho.
— Me apresentei para ela, conversamos bastante no café e depois saímos para comprar o anel — Charles continuou contando o que por um mês estava escondendo — É uma pessoa ótima, estamos nos falando por mensagens, às vezes.
— Eu não acredito que ela não me disse nada — riu, incrédula.
— Pedi que ela não dissesse — Ele sorria.
— E no desfile, vocês se viram… como…? — Constatando aquilo, pensou alto.
— Fingimos que não — Charles riu sem jeito — Não daria para te explicar de onde nos conhecíamos sem contar sobre o anel e eu não sabia se você realmente queria tornar tudo oficial, como manda a regra.
— Não sei nem o que dizer…
— Eu só… — Ele pegou levemente a mão dela — queria deixar claro de todas forma possíveis que eu quero você, que eu te amo. E se você também me quiser, oficialmente… — Charles riu de novo, sem jeito, colocando o anel no dedo anelar direito de , que o encarava atônita — podemos…
— Eu aceito, Charles — o cortou rindo com ternura, olhando do anel em sua mão até os olhos dele que, como uma bomba, aliviaram-se no instante em que ouviu aquilo — Aceito ser oficialmente sua namorada, dois anos depois.
Charles a abraçou pela cintura e, distribuindo vários beijos seguidos nos lábios dela, sorrindo, enquanto a ouvia rir e o abraçar de volta, pelas costas, pensou que enfim tinha o que desejou, por anos, de Hermann. A sua namorada.
Finalmente, sua namorada.
A festa já havia começado há, pelo menos, duas horas quando apareceu acompanhada de Daniel e alguns outros amigos do piloto. Segundo o australiano, como a festa era sua, ele não seria o primeiro a chegar e, assim, poderia fazer uma entrada triunfal. Dito e feito, quando o homem passou pela porta, luzes foram acessas, faíscas de fogos saiam e todos gritaram, o aplaudindo animados. não entendia o por que daquele show todo, mas como seu amigo era extravagante e muito popular, não se importou muito, e, pelo contrário, achou aquilo ridiculamente engraçado.
A modelo havia falado mais cedo com as amigas por chamada de vídeo, por algumas horas, enquanto se arrumavam para a festa e pediam dicas umas para as outras. Apesar de já estarem acostumadas com eventos como aquele e, especialmente, dados por Ricciardo, estavam absurdamente animadas para a noite. Tudo soava meio diferente, como se o clima estivesse extremamente eufórico, cheio de disposição, como se todos eles estivessem realmente afim de sair, dançar, zoar, se divertir. Como se aquele fosse um reencontro do grupo e como se não quisessem muito se lembrar do que aconteceu, no dia seguinte.
atrasou um pouco mais do que o previsto. Não sabia exatamente o que esperar daquela festa mas, pela empolgação das amigas e pela ansiedade de Daniel, podia imaginar que seria algo grande e meio louco. Só conhecia as festas do amigo pelas fofocas das meninas, pelos comentários que faziam e pelas brincadeiras que escondiam as verdades do que já tinham acontecido. Estava cheia de expectativas para a noite e, igualmente, incerta sobre como deveria se vestir para ela. Por isso, precisou da ajuda não só das amigas como também de Ricciardo que, pronto para sair, ia palpitando sobre cada look que ela sugeria usar até encontrar o melhor deles. No final, depois de alguns bons minutos vendo a amiga trocar incansáveis vezes de roupa, ela havia ficado linda e “muito gostosa”, nas próprias palavras dele.
A modelo escolheu um vestido brilhoso, parecido com cetim, na cor prata, mas com um toque holográfico, que caia perfeitamente sobre cada curva de seu corpo, como se a desenhasse, e o decote em v bem aberto, moldava seus seios tornando a visão ainda mais sexy. Era curto, com alças finas e foi combinado com uma sandália de salto igualmente prata que deixava ainda mais estonteante naquela noite, depois dos cumprimentos de algumas pessoas que sequer sabia direito quem eram, foi procurar pelas amigas, deixando Ricciardo para trás.
Sem conseguir encontrá-las de primeira, pela multidão de pessoas que havia no espaço, foi direto para o bar e pediu uma bebida. Ricciardo tinha escolhido aquele lugar a dedo. O espaço todo aberto tinha sido uma escolha perfeita para o calor que fazia naquela noite e tinha uma vista belíssima para o mar que, provavelmente, em algumas horas e depois de um pouco de álcool, seria visitado por alguns convidados empolgados da festa. Tinha uma decoração colorida espalhada por todos os cantos, que remetia a um clima caribenho. Todos os funcionários do bar usavam roupas coloridas, florais e pareciam sorrir tanto quanto o próprio Ricciardo. O lugar estava lotado, com pessoas espalhadas por todos os cantos, conversando, bebendo, rindo, dançando. A iluminação baixa trocava de cor de acordo com as batidas das músicas que tocavam e pareciam estar preparando a mesa onde o DJ convidado por Dani tocaria em breve.
procurou por algum rosto conhecido, mas não conseguiu reconhecer ninguém por perto, até seus olhos passarem de relance por alguém, do outro lado do bar. O rapaz de cabelos escuros pegava sua bebida e saia de perto, conversando animadamente com alguém que ela não pode identificar e precisou encará-lo por um segundo até ter certeza de que não era quem ela achava. Precisaria beber. Urgentemente. Apesar de parecido mas de não ser ele, pegou-se pensando se Sainz já estaria por lá e se estaria acompanhado. Por um momento aquela ideia soou tão ridícula e tão assustadora que chacoalhou sua cabeça, tentando afastá-la.
Dissipando aqueles pensamentos assim que o barman se aproximou e rapidamente deixou sobre a bancada o seu pedido, um Dry Martini, junto com uma piscada direcionada e descarada para ela, pegou sua taça e tomou um gole longo. Decidiu, então, sair rapidamente do local, não dando atenção àquele gesto do barman, que parecia mais novo do que ela. andou tranquilamente pelo lugar, sorrindo e cumprimentando com a cabeça algumas pessoas que a encaravam, enquanto tomava seu drink até ir em direção à grande piscina, onde vários pergolados em madeira e pufes brancos ficavam. E não demorou mais do que cinco minutos ali para encontrar alguns dos amigos. Carmen, Russell, Lily e Alex estavam sentados juntos, conversando animadamente.
— Ai, finalmente encontrei vocês! — gritou feliz, abraçando cada um deles ali e sentando-se de frente para os dois casais, em uma poltrona.
— Uau, você está belíssima! — Carmen comentou sorridente, tomando um gole de seu drink.
— Todas estamos, fala sério — mandou um beijo para ela. Carmen estava com um vestido rosa claro, em linho, bastante elegante e praiano, enquanto Lily usava um conjunto de top e saia azul piscina e branco, mais agarrado ao corpo e que combinava com a camisa de Albon. simplesmente não aguentava a fofura dos dois juntos.
— Se eu não namorasse, pode ter certeza que já estaríamos juntas, meu amor — Lily piscou para a amiga, brincando, ouvindo as risadas dos demais.
— Ei, eu ainda estou aqui — Albon disse gesticulando com as mãos, tomando um gole de sua cerveja, sendo ignorado pela namorada — Estou sem moral.
— Foi mal, amigo, mas se sua mulher quiser, eu também quero — entrou na brincadeira.
— Vixi, acho que sobramos, hein, amor — Russell pegou na mão de Carmen, fingindo se levantar, mas ela logo o segurou, fazendo-o se sentar novamente.
— Espera aí! Eu quero entrar nesse trisal — Carmen soltou a mão do piloto e olhou para as duas amigas, que não aguentaram e riram alto, chamando a atenção das pessoas ao redor.
— Acho que nós dois sobramos mesmo, amigo — Albon pegou a mão do piloto inglês e fingia chorar.
— Vem Albonzinho, vamos viver nosso bromance em paz e deixar essas ridículas para trás — George brincou se apoiando nos ombros do amigo, fingindo jogar o cabelo para trás. Pelo visto, reparou, já deveriam estar bebendo há tempo suficiente para terem aquela conversa.
— Isso, deixa elas para lá. Você é o único que eu amo, Russelzinho — Albon beijou a bochecha do amigo, enquanto o resto do grupo se acabava de rir de toda aquela encenação.
— Mas, o que está acontecendo aqui? — apareceu do nada, rindo, com Charles ao seu lado. Estava com um vestido curto em verde escuro, cuja parte de cima parecia o top de um biquíni, deixando a lateral de seu corpo e a região da costela à vista. O top fazia um caminho de tecido fino até se ligar à saia de cintura alta e com uma pequena fenda na perna esquerda. Mais uma pro time delas, o squad que, talvez, estava chamando mais atenção naquela noite do que a festa faraônica em si.
cumprimentou animadamente e deu um abraço carinhoso em Charles que, pelo jeitinho, não estava realmente confortável em ter ido a festa. Pelo o que ouviu de , Leclerc sempre tinha feito o estilo mais caseiro, em suas horas livres e de descanso não se sentia exatamente confortável no meio de um tumulto de gente, de muito barulho e muita atenção em cima de si. Gostava mais de sair para jantar, de fazer coisas entre os poucos amigos, na privacidade, do que de enlouquecer em festas como aquela. Mas ainda assim participava porque gostava das companhias e porque não podia perder as histórias que dali saiam.
os viu dar a volta no pergolado, indo abraçar o restante dos amigos, e instintivamente, discreta, deixou seus olhos passarem pelo redor, pelo caminho de onde o recém chegado casal havia vindo, procurando por Sainz. Feliz ou infelizmente, o espanhol não estava com eles e ela tomou um novo gole de sua bebida, assim que notou aquilo. Provavelmente estava se pegando com alguma mulher por aí, ela pensou, soltando o ar pelo nariz frustrada, tentando se concentrar na conversa que começava no grupo.
— Decidimos que somos um trisal e terminamos com os meninos — Já meio alta pela bebida, Lily abraçou , que se sentava ao seu lado, contando o que acontecia ali ao mesmo tempo que pegava outra bebida do garçom que passava por perto, servindo a amiga.
— E vocês não me chamaram? Que traição! — as encarou boquiaberta, aceitando a bebida. Charles acabou ficando em pé ao seu lado, rindo de toda a situação, comentando com os amigos.
A conversa foi mudando de um tema para outro tão rápido, que estava ficando até difícil acompanhar. Ora estavam todos focados no mesmo assunto, ora dividiam-se em grupos menores ou duplas, comentando sobre a festa, sobre a semana que passou, sobre as férias que tiveram. Entre taças e copos de bebida, garrafas de cerveja, os sete foram se deixando levar pela música, falando cada vez mais alto, rindo cada vez mais à toa.
Ficaram ali por quase duas horas até repararem em uma figura conhecida, no meio de tantos estranhos, cambaleando pelo local. Gasly vestia uma camiseta listrada clara, calça branca e um sapatênis, segurava um copo de uísque pela metade e cantava animado por cima da música que tocava, ao lado de um outro homem bastante charmoso, que não demorou em ser reconhecido pelo grupo como sendo Martin Garrix, o DJ, e que parecia tão bêbado quanto Gasly. Os dois chamavam a atenção por onde passavam e atraiam olhares nada discretos de algumas mulheres, mas pareciam pouco se importar com aquele detalhe no momento.
— Achei que não tivesse vindo, cara — Charles olhou relativamente sério para ele, preocupado com o estado aparente do amigo — Onde você estava?
— Pelo mundo — Pierre gesticulou, como se mostrasse o horizonte. Alex e George reviraram os olhos, enquanto Lily riu levemente — Eu sou um homem do mundo.
— O que está acontecendo? — Rindo das caras de vergonha alheia dos amigos, perguntou, mas se arrependendo no exato mesmo segundo em que os olhos de Gasly caíram sobre ela. Como tivesse reparado só naquele momento que ela estava ali, o piloto francês sorriu charmoso e se aproximou dela.
— Sem ofensas amigas, — Pierre olhou Lily, Carmen e respectivamente, e logo voltou-se de frente para — mas a mulher mais gostosa dessa festa está entre nós.
— Não começa, cara, dá um tempo — George tentou afastar ele, mas Pierre se desvencilhou, se aproximando ainda mais de .
— Eres una niña muy hermosa — Ele achou que havia sussurrado para ela, mas o grupo todo pode ouvir.
— O quanto você bebeu, Gasly? — riu, dando um beijo em sua bochecha para cumprimentá-lo. Martin cumprimentava brevemente o grupo já conhecido, sem realmente se importar com o que acontecia ali.
— Un poquito — Ele riu, gesticulando com a mão e dando outro gole de sua bebida.
— E qual é a do espanhol? — perguntou curiosa.
— Ele passou um tempo conversando com o Sainz, acho que é por isso — Martin respondeu rindo, enquanto tomava um gole de sua cerveja.
— Carlos? — Charles perguntou, entreolhando os amigos. Martin concordou com a cabeça.
— Sainz veio? — Foi a vez de Lily perguntar curiosa, olhando sugestivamente para que revirou os olhos.
— Agradeço o elogio, Pierre, mas acho que você devia tentar com aquelas garotas ali — apontou para um grupo de três garotas, que dançavam próximas do grupo e pareciam tentar chamar a atenção de qualquer um dos homens que estavam no grupo.
— A que eu quero para hoje está nesse grupo aqui. Quiero la más caliente de todas, com respeito ou sem ele, depende do que você gostar — Pierre tentou passar um braço nos ombros de , mas Carmen a puxou gentilmente, ficando no meio dos dois.
— Gasly… — George o alertou, sério, mas foi logo cortado:
— Ella no es para ti — sorriu irônica para ele, olhando do amigo para Charles, preocupada com o quão bêbado ele parecia estar.
A verdade era que Pierre estava passando por um momento bastante complicado. Veio de um relacionamento longo com sua ex, tinha se desentendido com ela e, dando um tempo no relacionamento, a havia traído com outra. Kate, a ex, simplesmente desapareceu da vida dele, não quis ter mais contato com as meninas e se fechou em seu mundo. Pierre, por sua vez, parecia ter internalizado o término de um jeito bastante diferente. Não perdia uma festa, estava bebendo mais do que o habitual, passando noite atrás de noite com qualquer mulher que lhe desse o mínimo de atenção e não se importava mais com o que sentia, desde que tivesse transando com alguém, parecia bom para ele.
Charles, Sainz, George e Alex já tinham tentado conversar com ele, mas nada parecia ser eficiente o suficiente para tirar Pierre daquela fossa. O que ele não podia fazer era levar qualquer dos amigos juntos e se atirar para cima de , por ser a única solteira ali, não estava sendo muito legal.
— Bla bla bla, Hermann, não entendo sua língua — Fazendo uma boquinha com a mãe, ele deu de ombros para — e nem preciso, não sou o Charles. Preciso entender a língua da .
— Você realmente deveria se esforçar em entender a língua de uma delas ali — Levando tudo aquilo na brincadeira, insistiu no grupo de meninas, que, trocando um olhar rápido com o francês, riram para ele. Pierre deu de ombros novamente.
— Acontece, minha linda, que eu não quero nenhuma delas, porque nenhuma delas é você — Ele apontou para a modelo, sendo tão direto que impressionou os amigos.
— Acontece, meu lindo, que eu não te quero — Segurando a risada, respondeu curta e objetiva, tirando gargalhadas das amigas e gritos eufóricos dos amigos, que zoavam.
— Ai, acabei de levar um fora — Ele voltou a falar em inglês, colocando a mão no peito e gesticulando como se estivesse sofrendo.
— E muito bem merecido — Lily apontou sua taça para ele.
— Tentei te dizer de formas mais amigáveis, mas você insistiu… — o encarou, virando o conteúdo de sua taça na boca.
— É que você não é moreno, espanhol e tem um sotaque carregado — Tentando aliviar o momento, Alex comentou rindo junto com o grupo, chamando a atenção.
— O que quer dizer com isso, Albon? — o olhou séria.
— Nada, deixa para lá — Ele deu de ombros, percebendo que ela não havia gostado muito da brincadeira, já que era a única que não ria.
— Acho que me perdi aqui — Pierre levantou a mão, olhando para todos do grupo e se perguntando de quem o amigo falava, sem pegar a referência.
— Continua perdido, querido — deu alguns tapinhas leves em seu ombro.
— Só se eu me perder com você — Pierre atirou-se novamente, tirando resmungos coletivos do grupo e uma risada alta de .
— Pelo amor de Deus — Lily negou com a cabeça, impaciente.
— Ninguém merece — Martin, que até então estava quieto, riu.
— Uma aguinha vai te fazer bem, Gasly — Em um movimento rápido, Carmen puxou o uísque da mão de Pierre, o entregando rapidamente a Alex que, ainda mais rápido, tomou todo o conteúdo em um gole só, o encarando com superioridade.
— Filho da puta — Pierre riu, imerso no álcool.
— Xinga ele de novo e eu te soco, Pierre — Lily, com todo seu tamanho mini, fingindo-se de brava, apontou para o francês. Alex a abraçou pelas costas, a puxando em um abraço caloroso.
— Eu pagaria para ver isso — Charles se virou para George, rindo.
— Apostaria na Lily — O inglês respondeu pensativo, vendo Lily mandar-lhe um beijo no ar.
— Ela venceria, com certeza — Alex deu um beijo rápido nos lábios dela.
— É a força do amor — Pierre comentou aleatoriamente, aplaudindo, tirando uma nova gargalhada do grupo.
— Não fiquem com inveja, amigos — Lily apontou para eles, brincando — Carmen também te defenderia, Russell, e, Charles, — A golfista apontou com as duas mãos para o monegasco, rindo — talvez você mereça isso quando parar de enrolar e finalmente assumir essa mulher como sua namorada.
— Na verdade, estamos namorando — contou a novidade empolgada, mostrando o belíssimo anel prata com um lindo diamante cravejado, que, se bobeasse, brilhava até mesmo no escuro. Como se tivessem combinado, todas as meninas soltaram gritos animados, enquanto os amigos voltaram seus olhares sorridentes para Charles, que pareceu tímido por um momento, tomando seu uísque.
— MEU DEUS!? — Carmen gritou, se aproximando da amiga.
— Eu não acredito! — celebrou empolgada, enquanto abraçava a amiga, parabenizando o mais novo casal. Carmen segurava a mão da amiga, olhando o anel, sorrindo feliz, enquanto Lily batia palmas.
— Finalmente, meu Deus — Lily levantou as duas mãos para o céu, como se agradecesse, e Albon ao seu lado riu, imitando a namorada.
— Eu disse que não demoraria para eles namorarem, eu avisei — Com um ar de superioridade, Russell deu de ombros. Estava certo sobre eles dois o tempo todo e orgulhoso de si mesmo por isso.
— Tudo bem, lindo, tudo bem — Carmen fez um sinal como se tentasse abaixar a bola dele, recebendo um beijinho rápido dele — Acalme esse ego, está cedo ainda.
— Agora você é um homem domado, meu amigo — Gasly dizia se jogando no casal de amigos, os cumprimentando, animado. revirou os olhos pelo comentário e Charles riu educado, sem graça, abraçando o amigo de volta.
— Vai poder responder as perguntas sobre ela nas entrevistas agora, sem medo de falar demais — Russell apontou para Charles com seu copo, rindo.
— Ele sempre fala demais — Lily pontuou, pegando uma nova bebida.
— E você vai poder finalmente celebrar no paddock, quando Charles ganha uma corrida, sem ter que fingir que não se importa porque está em público — Carmen completou o namorado, tirando uma nova risada tímida de Charles e uma careta de .
— Mal posso esperar por isso — Charles comentou sincero, rindo — Nunca estive tão feliz, depois de tanto tempo — Ele deu um beijinho no topo da cabeça de , enquanto os amigos gritavam “aw” em uníssono — Obrigado, amigos, por não desistirem da gente nesse tempo.
— Eu confesso que já tinha desistido — Pierre deu de ombros, recebendo um tapa de Albon.
— Ai, para, vocês são fofos demais juntos — se abanou, emocionada, trocando sua taça vazia por uma nova, cheia.
— Excesso de doçura por aqui, acho que minha glicose aumentou — Juntando-se ao grupo, Lando gritou, abraçando e Charles por trás.
— O meu casal — Luisa imitou o namorado, chegando junto com ele, juntando-se também ao abraço, que tirou risadas do grupo.
— Onde vocês estavam? — Curiosa, perguntou se levantando, abraçando eles de volta.
— Melhor não perguntar isso não, — Russell olhou falsamente tenso para ela, abrindo uma nova garrafa de cerveja.
— Se liga, George — Luisa revirou os olhos, indo cumprimentar ele e Carmen — Lando estava com fome e vocês sabem o que acontece quando ele bebe sem comer.
— O quadro da casa do Sainz lembra bem disso — Albon comentou zoando, tirando uma gargalhada do grupo. se pegou lembrando, por um segundo, de Carlos comentando sobre aquela história com ela, quando esteve na casa dele.
— Sem comentários — Lando negou com a cabeça, terminando de cumprimentar os amigos na roda.
Luísa logo se enfiou no meio das meninas, contando o que estava acontecendo do outro lado da festa, onde puderam comer, enquanto Lando se juntava aos caras, bebendo e querendo saber sobre o estado deplorável de Gasly. O francês e Martin, que estavam dispersos no grupo, sem conseguir se enturmar muito ali, saíram rapidamente em direção ao grupo de mulheres que havia se referido mais cedo. Já que não conseguiria nada com ela, Pierre apostaria sua fichas em outras pessoas e não demorou muito para encontrar uma que chamasse sua atenção. Martin deixou o amigo sozinho com elas e foi rumo à pista de dança, onde em breve deveria começar a tocar.
Quase quarenta minutos depois, o grupo já estava novamente redividido, misturado, pelo pergolado. A noite seguia caindo, o calor do Mônaco subindo junto com o álcool que tomavam e a música cessou por algum tempo breve, indicando a troca de DJ. observou Luisa, Lando, Lily e Alex, que dançavam juntos, pararem junto com a música e engataram uma conversa animada, rindo alto de algum vídeo que Lily fez de Lando dançando. Sentados em um dos sofás, de costas para a piscina do local, George contava como foi ter conhecido a família de Carmen, alguns anos atrás, depois de ter ouvido sobre o dia de com a mãe de Charles.
Tomando um drink que já nem sentia mais o sabor direito, ficou alguns minutos sozinha, observando a dinâmica dos dois grupos de casais até decidir deixá-los a sós por um momento. Seria legal dar uma volta, ver como estava a festa, talvez comer algo, checar de longe se Gasly estava bem ou encontrar com Daniel que, naquela altura, já deveria estar no telhado da casa. riu sozinha da ideia e levantou-se, aproximando-se do grupo que antes dançava, para avisar-lhes que já voltava.
— Eu estou sobrando demais aqui, estou fora, vou procurar o Daniel — disse já caminhando para longe deles, mas logo foi puxada por Luisa, recebendo um olhar risonho do namorado dela.
— Acho melhor não atrapalhar ele agora — Ela comentou alto, sorrindo e a olhou curiosa.
— Por que?
— Digamos que ele está… ocupado no momento — Apontando com o queixo para o outro lado da festa, Luísa sorriu sugestiva.
acompanhou o olhar da amiga, ao mesmo tempo que Lily, Albon e Lando o fizeram. Daniel estava de lado e no exato oposto de onde o grupo de amigos o observava. Parecia meio nervoso, desconcertado, comentando algo fervorosamente com um de seus amigos, enquanto gesticulava e apontava para seu celular nas mãos do amigo, como se quisesse mostrar algo para ele. Alguma coisa parecia errada com ele, estava nitidamente nervoso. Um de seus braços apoiava seu corpo na parede ao lado dele e o outro abraçava uma mulher pela cintura. Alguns centímetros mais baixa do que ele, ela parecia ter a mesma idade do grupo de amigos, um pouco mais nova do que Ric. Tinha os cabelos escuros, brincava com a gola da camisa do australiano e ria de algo que ele a dizia, fazendo um certo charme, desviando das tentativas claras dele de beijá-la.
Ela era bastante bonita olhando dali e parecia tirar de Ricciardo um sorriso ainda maior do que estavam acostumados a ver nele. A única pessoa que, talvez, fosse boa o suficiente para distrair ele por tanto tempo, a ponto de sequer ter ido falar com os amigos ainda, desde que chegou na festa. ficou atônita por alguns segundos, encarando os dois. Se perguntava se aquela era a mulher de quem Betty havia falado e por que Ric não tinha dito nada sobre ela estar na festa, ou sobre ela em geral. Talvez quisesse ir com calma. Talvez não soubesse direito como falar sobre o que acontecia. Ou talvez estivesse tão confuso quanto estava em relação a… era melhor não pensar naquilo.
— O que será que aconteceu? — Tentando afastar seus pensamentos, perguntou curiosa, voltando seu olhar até Luisa.
— Daniel não parece estar curtindo muito a festa — Lando disse sugestivamente, recebendo uma risada de Lily e Albon — Alguma coisa deve estar fora de ordem, sei lá.
— Eu vi ele falando com outro cara, assim que chegamos — Luisa comentou puxando uma bebida de um garçom que passava perto — Parece que ele estava cheio de expectativa de que uma menina que ele havia chamado viria para a festa, mas ela está ignorando completamente ele, eu acho, algo assim.
— Parece que ele está realmente incomodado com algo — Alex comentou, tomando um gole de sua cerveja. Do outro lado da festa, Daniel seguia falando impaciente, gesticulando nervoso.
— E não vamos estragar o momento — Lily completou, pedindo com o olhar para que a modelo não atrapalhasse o melhor amigo.
— Pode deixar, já entendi tudo — piscou para a amiga e antes mesmo que pudesse pensar no que dizer, ou no que fazer, as luzes do lugar se apagaram completamente.
Os gritos eufóricos dos convidados tomaram conta do lugar, ao tempo que seus olhares buscavam o motivo do blackout total. E não demorou um minuto até a voz de Martin Garrix preencher o ambiente, perguntando se estavam prontos para, oficialmente, começar a festa. Rindo abertamente enquanto as pessoas da festa gritavam em afirmação, animadas com o DJ, sentiu sua espinha arrepiar assim que as luzes prateadas começaram a ser disparadas por todo o ambiente, enquanto a introdução de uma música eletrônica começava a tocar, sem letra alguma. As luzes criavam um frenesi, sincronizadas com a batida da música que ela logo identificou ser Tremor (ft. Dimitri Vegas & Like Mike) e não demorou para cessarem totalmente, enquanto Quantum começava a ser tocada.
O madley perfeito criava no ambiente uma sensação pesada de inquietação, de infinito e só se deu conta de que estava totalmente tomada pela música quando se viu dançando em seu lugar, rindo à toa, sozinha. Como se absolutamente nada no mundo lhe faltasse, como se estivesse onde deveria estar, no momento, no lugar, com as pessoas certas, tudo feito para ela, tudo feito para todos eles ali e para mais ninguém. sentia que tinha o mundo para si. E que nada, absolutamente nada, a podia parar mais. Tomando sua bebida até o final, ela dançou até a música terminar e quando os acordes mais suaves e bem conhecidos de uma nova começaram, ela parou por um segundo.
olhou ao seu redor, em busca de um novo drink, assim que reconheceu a música como In The Name of Love, imersa na sensação que aquele momento a transportava, no álcool fazendo efeito em seu corpo, na letra da música entrando em sua mente. Ao seu lado, sem querer, viu Luisa gravando um vídeo dela mesma cantando o começo da música, quando Lando a abraçou pelas costas, distribuindo beijinhos pelo rosto e pescoço dela. Alguns passos ao lado deles, Albon tirava Lily para dançar, no primeiro refrão da música, como se estivessem em algum tipo de baile da escola, roubando uma flor de plástico que enfeitava uma mesa próxima, colocando no cabelo dela. riu da ternura dos dois casais de amigos e seguiu virando-se, em busca de sua bebida.
Seus olhos passaram rapidamente pelo local, até pararem, mais uma vez, por alguns segundos, no outro casal de amigos. Charles estava sentado em uma das espreguiçadeiras, de frente para , que tinha as pernas encaixadas nas dele. Uma mão dele segurava um copo cheio, a outra apoiava-se na coxa dela e seus olhos estavam presos no dela, enquanto cantava a segunda parte da música para ele, sem emitir som algum, tão perto, que seus lábios, eventualmente, se tocavam. encolheu os ombros, rindo sozinha da cena, como se pudesse explodir de alegria em vê-los ali, daquela forma. E se para eles o clima parecia perfeito, quando o refrão da música tocou pela segunda vez e os olhos de foram mais para o lado, para o casal seguinte parecia que nada mais importava.
Carmen e George estavam presos em si mesmos, ignorando qualquer coisa que acontecia ao redor deles, se beijando lenta e intensamente. Sentados em um canto perto dali, Carmen tinha suas mãos no peito do namorado, enquanto George dividia as suas mãos entre os cabelos dela e a parte de trás de sua coxa. deixou um suspiro pesado sair, feliz em ver que todos os amigos pareciam realmente ter encontrado alguém com quem dividir os tormentos e as belezas do amor. E aquele pensamento pareceu tão aleatório, que a fez rir sozinha por um momento. Checando para ver se já podia se aproximar de Daniel, ela reparou que ele estava com outra mulher, no mesmo lugar de antes e que, ela parecia não resistir às investidas dele. Não demorou para que eles começassem a se beijar um pouco mais fervorosamente do que Carmen e Russell e levantou as sobrancelhas assim que viu Ric prensar a menina na parede, rindo junto com ela, sem quebrar o beijo.
Com uma ideia que cortou-lhe os pensamentos feito um raio, a modelo resolveu, então, deixar os amigos por um tempo, curtindo a presença uns dos outros, sem ter interrupções. Talvez aquela fosse a melhor parte da festa, afinal, e ela não queria incomodá-los, ser o motivo para que se separassem, para dar-lhe atenção, não queria sobrar no meio dos amigos. Naquela noite, estava apenas procurando por diversão e uma distração boa o suficiente que não tivesse um metro e setenta e oito, cabelos sedosos e um sotaque carregado. Assim, indo em busca de uma nova bebida, assim que There For You começou a tocar, deixou o grupo.
Enquanto caminhava em direção ao bar, cantava a música sozinha, acenando para eventuais pessoas que mexiam com ela pelo caminho, mandou um beijo no ar de volta para Martin, assim que passou por ele e o viu a cumprimentar, e se enfiou no meio das pessoas no bar, sem querer esperar por sua vez para ser atendida. Um novo garçom, diferente do primeiro que a atendeu quando chegou mais cedo ali, se aproximou dela rapidamente, com um sorriso fácil e uma cantada barata, mas a modelo pouco se preocupou. Pediu uma bebida qualquer, esperou os poucos minutos que demorou para que fosse preparada, a pegou e saiu em direção a pista de dança.
ficou dançando sozinha por algum tempo até reconhecer alguns colegas, artistas, que se juntaram a ela e por ali ficaram, conversando, se divertindo e bebendo um pouco mais. A modelo já tinha perdido as contas de quantos drinks e shots havia tomado até ali, mas se sentia bem o suficiente para ter segurança no que fazia, para saber o que acontecia a seu redor. O grupo de pessoas com ela logo pediu licença, indo fumar do lado de fora, deixando uma vez mais sozinha na pista de dança, aproveitando a festa. Os primeiros acordes de Like I Do (ft. David Guetta) soaram alto pelo lugar, fazendo fechar os olhos e balançar o corpo no ritmo da música, sem se preocupar com os olhares que lhe eram direcionados. Não se importava com quem se aproximava, não se importava com mais nada senão com a liberdade em ser quem era, em poder fazer o que quisesse fazer naquele momento.
Do outro lado da pista, Carlos havia acabado de dispensar outra mulher. Tomava um gole de sua cerveja, enquanto seu olhar se direcionava para todos os cantos daquele lugar, em busca de alguém em especial, que estava se esforçando em evitar desde que havia chegado ali mais cedo, com Lando e Luisa. Chegou a se aproximar do grupo de amigos, para cumprimentá-los e passar a noite com eles, mas desistiu no meio do caminho, assim que seus olhos caíram sobre ela. parecia ter saído diretamente de seus mais secretos sonhos naquela noite. Estava deslumbrante, tão linda que a imagem dela rindo com as meninas, com uma taça de martini na mão, estava presa na mente dele desde então; tão gostosa, que o jeito que ela jogava seus cabelos para trás e limpava discretamente o batom no canto da boca o faziam querer chegar nela, naquela noite, de qualquer forma.
Mas Carlos achou melhor sequer se aproximar. Aquilo era uma festa. Uma festa de Daniel. Havia muito em jogo naquela noite. Não tinha certeza se Daniel e estavam juntos, se estavam tendo alguma coisa e não arriscaria nada sem ter certeza do que acontecia, sem ter certeza do que sentia. Não era lugar para continuar de onde pararam quando ele foi atrás dela no aeroporto, na Espanha, e não a encontrou a tempo. E não era lugar para se desentenderem, para voltar à etapa zero e estragar mais um evento, por não conseguirem conviver juntos, no mesmo lugar. Ela parecia tão leve, tão livre e tão verdadeiramente feliz ali que Sainz achou melhor se afastar, deixá-la aproveitar a noite do melhor jeito possível: longe dele.
Sainz tinha acabado de despedir-se de Russell e Carmen, que estavam indo embora às pressas, claramente querendo continuar a sós o que começaram na festa, e viu, de longe, Lando puxar para a pista de dança do lado externo, assim que Scared to Be Lonely começou a tocar, enquanto Luisa seguia com Albon para o bar, em busca de novos drinks, ao tempo que Charles e Lily conversavam eufóricos, sentados ali perto. Carlos sabia que seu olhar estava buscando alguém especificamente, só não queria admitir isso nem sequer para si mesmo. E estava cumprindo bem seu papel de manter-se longe, quieto, mas parecia que, como um imã, algo sempre o puxava de volta para ela.
Sem perceber, seus olhos se encontraram com o corpo da modelo não muito longe de onde ele estava sentado. Naquele momento, ela dançava sensualmente na pista de dança, sozinha, no ritmo perfeito da música, chamando atenção de alguns caras ao seu lado que, indiscretamente, se perguntavam quem ela era e como poderiam chegar nela. Contudo, nenhum deles teve sequer tempo de se mover dali, porque, rapidamente, Daniel se aproximou da amiga, dançando com ela enquanto riam e se divertiam em uma bolha só deles dois.
Carlos observou, entre goles longos e desmedidos de sua bebida, o australiano perguntar algo em seu ouvido, recebendo um animado aceno de cabeça da modelo, que levantava os braços e dançava sem se importar muito com o amigo à sua frente. Assistindo tudo de longe, Sainz engoliu junto com o gosto amargo da cerveja a irritação de vê-los tão próximos, segurando a garrafa com mais força do que o normal em sua mão, enquanto a outra formava um punho, dissipando toda a raiva que sequer entendia de onde vinha. Por sorte, não demorou até seus olhos captarem o exato momento em que alguém se aproximou repentinamente de Daniel, sussurrando algo no ouvido do australiano, que apenas concordou com a cabeça e, sussurrando para , saiu acompanhado de um rapaz, deixando ela sozinha outra vez.
, que pouco se importava com Daniel lhe deixando sozinha, continuou dançando, animada, e parou por um momento, aplaudindo fervorosamente Martin, que agradecia a todos por terem acompanhado seu show particular na festa e soltava a última música de seu repertório da noite. Rindo para ninguém, reconhecendo a música como Now That I’ve Found You, seguiu dançando até sentir um olhar sobre si e, observando a sua volta, encontrou o olhar de Sainz sobre ela. Era a primeira vez que o estava vendo na festa, naquela noite. A primeira vez que o via depois que foi até a casa dele e tudo não podia não podia parecer mais estranho como pareceu naquele momento. Ele vestia uma calça escura, uma camiseta preta que deixava o peito dele bastante em evidência. Tinha uma jaqueta de couro jogada de lado e os cabelos seguiam arrumados, jogados para o lado. o encarou por mais tempo do que gostaria, parada, no meio da pista de dança, ignorando todo o mais a seu redor. Carlos sustentou o olhar dela, sério, pelo tempo que aguentou, até semicerrar levemente os olhos e sorrir de lado para ela.
O suficiente para sentir que não sabia mais como se manter de pé. E não fosse pela música ter terminado e pela voz animada de Martin Garrix soar pelo ambiente, cortando-lhe a atenção, ela jurava que aquele sorriso, tão desejoso, tão charmoso, gostoso de Sainz, a teria feito fraquejar completamente.
— Obrigado, galera, agora que cumpri minha obrigação, vou chapar até amanhecer com o dono da festa — Martin brincou pelo microfone, tirando gritos e aplausos dos convidados — Pelo horário, já podemos deixar as coisas mais sensuais por aqui, então, aí vai.
Já era perto das duas horas da manhã e Martin sabia em que ponto a festa estava. Como se quisesse realmente apimentar o clima quente que fazia, ele soltou uma seleção de reggaeton que havia programado para aquele momento, deixando a mesa em que tocava e indo sentido a Daniel, assim que a batida sensual de No Me Conoces (Jhay Cortez, J Balvin & Bad Bunny) começou a tocar. Nem nem Sainz viram a movimentação, contudo. Seguiram se encarando profundamente, em silêncio, pensativos, sem saber exatamente como deveriam reagir, o que deveriam fazer. Como se a queimasse, naquele momento, sentiu-se desejada pelo piloto e aquilo, de alguma forma, sem nem saber o porquê, a incentivou a lhe provocar. A modelo, então, voltou a dançar, para ele, no ritmo da música que preenchia o ambiente e batia alta, sedutora, como o coração de Sainz enquanto a assistia, sem realmente acreditar no que via acontecer.
rebolava debochada, sem se importar se estava de frente ou de costas para ele, fazendo o show particular que outras pessoas também já começavam a assistir. Cada movimento dela deixava o piloto completamente desconcentrado, umedecendo os lábios com sua língua, com a cerveja que não parecia aliviar em nada o calor que ele sentia. Carlos encostou-se na poltrona onde estava sentado, assistindo vidrado, sem conseguir desviar sua atenção nem por uma fração de segundo. A letra obscena da música em espanhol, tão clara para ele, parecia casar com os pensamentos que ele tinha naquele momento e parecia ser bem aproveitada por ela, que se divertia dançando, lançando olhares eventuais para Carlos, com um ar de superioridade que o faziam querer mais dela.
Ela sabia o que estava fazendo, sabia o que queria dele. Ele. E ele sabia o que ela estava tentando fazer, sabia que estava o provocando, o levando até seu limite, o fazendo dar o primeiro passo, o braço a torcer em toda a briga de orgulho deles dois. Havia algo no olhar e no sorriso dela que já dizia tudo, sem nem precisar de uma só palavra. dançava por si mesma, para Sainz, e estava centrada em divertir-se naquele momento até sentir alguém se aproximar dela, pelas costas. Por um segundo, chegou a pensar que poderia ser Sainz, que, finalmente, havia tomado alguma atitude, mas deixou o sorriso murchar assim que virou-se de frente, se deparando com um cara que nunca tinha visto na vida e sua voz nojenta vindo em seu ouvido:
— Uma mulher tão gostosa como você dançando sozinha? Não é possível.
não conhecia aquele cara, não sabia quem era, nem o que queria com ela, mas sabia que não havia gostado da aproximação tão repentina e da fala nojenta dele. Desejou por um segundo que, ao menos, fosse Gasly e que ela pudesse lidar com o amigo bêbado novamente, mas sequer teve muito tempo para pensar naquilo. A mão do homem, sem que ela deixasse ou respondesse qualquer coisa, foi direto segurar firme sua cintura, enquanto ele abria um sorriso safado, tentando se aproximar ainda mais dela.
— Não te conheço, não te dei a liberdade de falar comigo e muito menos de me tocar, então, por favor, me dê licença — pediu irritada, empurrando de qualquer jeito o homem para longe de si, que, pela força desmedida que ela fez, acabou tropeçando em si mesmo e foi segurado por uma pessoa atrás de si.
— Qual é, gata? Você estava aí, dançando sozinha, querendo chamar a atenção — O homem riu, se recompondo e colocando novamente uma mão na cintura da modelo — E conseguiu chamar a minha. Sei que está interessada em algo a mais.
— Estou, sim — riu com ironia — interessada em você bem longe de mim.
— Pensa no que podemos fazer juntos nessa noite, gata — Ele insistiu, desnecessário. bufou e revirou os olhos, totalmente impaciente.
— Se não ficou claro, quero só dançar sozinha e não estou a fim de ficar com você.
— Por que não? Podemos nos divertir muito essa noite… — Ele disse sugestivo, colocando a outra mão na nuca da modelo e, a trazendo para perto de si, sussurrando em seu ouvido.
Contudo, assim que empurrou o infeliz novamente, criando um espaço entre eles, a modelo sentiu alguém se colocando em sua frente, no meio deles dois e, rapidamente, lhe abraçou com cuidado e carinho. Levou a ela uma única fração de segundo em ver quem era e, no instante seguinte, trocando um olhar cúmplice com ele, sentiu os lábios dele sobre os seus. Sem pensar duas vezes, movido em querer livrá-la daquela situação que assistia acontecer de longe, com a lembrança de quando fora ela quem lhe salvou de sua tia, da última vez, Carlos Sainz lhe beijou. Um beijo relativamente falso, armado, mas o suficiente para ele naquele momento. O suficiente para ela também. E tudo o que pode fazer, porque era o que queria fazer, foi retribuir.
suspirou sobre os lábios do piloto e quando sua língua pediu passagem, sem ter a necessidade daquilo, mas movida pela vontade de ter mais, ele não se recusou, se deixou levar pelo momento. Apesar de parte dele temer que o socasse por aquilo, sabendo que ela não precisava dele para defendê-la, Carlos agiu pelo impulso mais protetivo que poderia ter. Aquilo era uma festa. deveria fazer o que quisesse fazer, sozinha, sem ser interrompida por babacas como aquele que, infelizmente, estavam aos montes naquele lugar. Duas vezes o tamanho dela, Carlos estaria ali para sair no murro com ele, se fosse preciso. E estaria ali para continuar o teatro de namorados que haviam começado, semanas antes, quando ela apareceu em sua casa, no jantar de sua família. Por que não, afinal?
— Está tudo bem por aqui, amor? — Carlos perguntou sério assim que quebrou o beijo, respirando fundo. Suas mãos seguravam o rosto dela, carinhosamente, a olhando nos olhos, como se estivesse preocupado em saber se ela estava bem. Se aquilo fosse uma atuação, ela pensou, estava sendo muito bem feita. decidiu entrar no jogo.
— Acho que esse cara não entendeu que eu estava dançando e me divertindo sozinha, enquanto te esperava, querido — Aquelas palavras soaram um pouco ácidas quando saíram da boca da modelo que olhou irritada para o homem a frente deles. O cara parecia confuso e seus olhos se arregalaram consideravelmente quando ele percebeu que Carlos era o Carlos Sainz. segurou a risada.
— Não devia deixar sua mulher por aí sozinha, meu companheiro — O cara apontou para , mas focava-se apenas em Sainz agora, como se ele sequer estivesse ali. A modelo revirou os olhos. Se pudesse, teria socado ele.
— Vamos sair daqui — O ignorando completamente, Carlos abraçou levemente pelas costas e a tirou de perto dele, indo na direção oposta da festa. Deram alguns passos largos, se afastando o mais rápido que podiam e, no momento em que pararam e se viraram de frente um para o outro, se encarando totalmente sem graça, confusos, eles riram alto.
— Me desculpe ter chegado dessa forma — Carlos pediu risonho, totalmente envergonhado, pegando uma garrafa de água de um dos cantos com milhares delas espalhadas.
— Você está aprendendo mesmo a se desculpar agora, estou impressionada — o provocou, rindo, enquanto ele dava de ombros e, como ele, pegava uma água para si — Não foi tão ruim assim, foi?
— Não sei, foi? — Carlos lhe lançou um olhar convencido, como sempre
— Eu não vou ser a primeira a dizer nada — negou com a cabeça, rindo.
— Você acabou de dizer que não foi ruim — Sainz sorriu de lado, tomando um gole da água.
— Não foi tão ruim — Ela o corrigiu séria, mas logo voltou a sorrir, tímida — Agradeço por ter me tirado de perto dele. No próximo passo eu teria o agredido e estaria sendo expulsa da festa nesse momento.
— Eu amaria ver isso — Sainz fingiu pensar alto, mas logo se deu conta de algo — Daniel que não gostaria, eu acho.
— Ele está ocupado demais para reparar — rebateu prontamente, sorrindo sugestiva, enquanto bebia a água. Sainz, contudo, pareceu não entender aquilo, mas não teve a chance de perguntar, porque ela logo emendou: — Tia Mirabel estaria muito orgulhosa de ver o casal que somos.
— Vou me lembrar de agradecer ela por ter juntado a gente — Sainz riu do comentário dela, colocando as mãos nos bolsos de sua calça.
Confusos com o que acabara de acontecer, e Carlos deixaram às risadas fracas morrerem no ar, sem saber o que deveriam dizer a seguir. Apesar do álcool e da euforia do momento, nada parecia o suficiente para tirá-los daquela realidade, para afastar o coração acelerado, o cheiro dos perfumes que se misturavam em suas peles, o gosto dos lábios de um no outro. Não sabiam exatamente mais o que falar, como explicar e o que aconteceria dali para frente. Não sabiam o que fazer, nem como se livrar da situação que nenhum deles dois queria realmente se livrar. As gracinhas morreram no ar, o assunto pareceu ir embora e, de repente, a festa havia acabado para eles dois.
pensou em perguntar onde ele estava durante toda a festa, porque estava sozinho quando ela o viu, finalmente, mas engoliu as palavras. Tinha um certo receio das respostas, um certo medo de suas ideias estarem corretas, dele ter outra companhia ali. Mas se a tivesse, teria mesmo a beijado? E aquilo foi um beijo? Uma encenação, nada mais. , então, cogitou a ideia de convidá-lo para se juntarem aos amigos mas, não longe dali, podia ver Charles e Lando tentando segurar Albon de se jogar na piscina, enquanto Lily dançava com Ricciardo. Mais afastado dali, dava água para Gasly enquanto o confortava, passando a mão carinhosamente em suas costas, dizendo algo que podia imaginar ser delicado e reconfortante como era. Pierre estava tão bêbado que parecia ter passado mal e chorava para a amiga. Luisa conversava eufórica com a garota que Daniel antes beijava, um pouco mais longe da turma e Martin cumprimentava Lewis Hamilton, que havia acabado de chegar com o produtor e amigo Spinz Forrest.
Estavam tão entretidos entre si que se sentiu incomodada de os atrapalhar e não queria chamar atenção deles para ela e Sainz juntos. Ainda não tinha contado para ninguém sobre a visita a ele, sobre o fato de ter devolvido o carro e de terem, minimamente, se acertado. Não estava realmente pronta para aquilo e, definitivamente, não queria ter aquela conversa, naquela noite, ainda mais depois do que havia acabado de acontecer. Carlos, por sua vez, seguia em silêncio pensando no que deveria dizer. Queria ter a certeza de que se falasse como estava se sentindo seria retribuído por ela, mas os olhos da modelo correndo pelo lugar atrás dele, sem mais se fixar nos dele não lhe davam certeza alguma.
— Acho que estou cansada, vou indo embora — comentou depois de algum tempo em silêncio, sem realmente saber o que dizer.
— Daniel vai com você? — Curioso e preocupado, Sainz a olhou. Ela não parecia cansada, pelo contrário, estava bem disposta dançando há poucos minutos e, não fosse pelo babaca que a incomodou, ela tinha certeza que ela não pararia tão cedo. O que havia mudado?
— Ele não deve ir embora antes do último convidado sair — Ela deu de ombros.
— Posso te acompanhar se quiser, Charles não mora longe, é caminho e eu já estou de saco cheio de tanta gente no mesmo lugar — Sainz tentou sorrir simpático, mas pareceu tenso por um momento. achou fofo.
— Não vou acabar com a sua festa, Sainz, fique.
— Não acho que vou ter mais motivos para ficar na festa depois que você for embora, — Ele respondeu sincero, baixo, a encarando nos olhos. sentiu um calor diferente em seu peito ao ouvir aquilo, algo havia soado diferente no tom de voz deles, no jeito que a olhou, mas, notando aquilo também, ele logo completou, limpando a garganta sem graça, aliviando o : — meu amor.
— Nesse caso, — sorriu para ele, pensando o que deveria dizer, só reparando que disse, quando já havia, de fato, dito em voz alta: — acho que quero a companhia.
Depois de se apresentar ao manobrista, que saiu rapidamente atrás do veículo que Carlos havia alugado para passar a semana em Mônaco, o casal ficou alguns minutos por ali, apenas olhando para o nada em total silêncio, com mil questões pairando sobre suas mentes. Algumas pessoas, que passavam por eles despedindo-se, tinham olhares curiosos pelo fato de estarem ali fora, aparentemente indo embora juntos, mas não comentavam absolutamente nada. O manobrista não demorou a chegar com a Maserati alugada do piloto, desceu dela em um pulo, assim que a estacionou de frente para eles e abriu a porta para , que sorriu agradecendo-lhe. Carlos já entrava no veículo, deixando a garrafa de água vazia, que antes tomava, no console e se preparava para dar partida.
Nenhuma palavra havia sido dita até então. E assim que o carro saiu em direção às ruas pouco movimentadas de Mônaco, pelo horário, deixou um suspiro baixo escapar, olhando pela janela ao seu lado o mundo abrir-se novamente diante dela. O perfume de Sainz parecia tomar o veículo e tudo que podia ouvir, além da respiração pesada dele, era o barulho do motor do carro. Carlos prestava toda a atenção que podia no caminho a sua frente, pegando a rota mais demorada possível até a casa de Daniel, onde deixaria a modelo. Não queria que aquela noite terminasse daquela forma, estranha, silenciosa. Não queria que aquela noite terminasse. De forma alguma. Mas ele não diria nada, se ela também não dissesse.
Desconfortável com a quietude do momento, se desencostou do banco alguns minutos depois e, jogando os cabelos para trás, ligou o rádio do carro. Carlos desviou seus olhos rapidamente para o lado, assim que ela se moveu e, sem querer, encontrando com o olhar dela, desviou de volta para a estrada à sua frente. pressionou os lábios, segurando o sorriso que queria dar pelo jeito sem graça e fofo de Sainz, um Carlos que, definitivamente, ela não reconhecia. O rádio passou a tocar Girls Like You (Maroon 5 ft. Cardi B) e, pelos quase quatro minutos que a música durou, nada mais pareceu fazer tanto sentido para eles dois quanto aquele momento silencioso que compartilhavam, nas belezas da madrugada de Monte Carlo.
Sainz seguiu dirigindo, tranquilo, paciente, vez ou outra lançando olhares discretos em . Ela, por sua vez, tentava pensar em alguma coisa que pudesse dizer, mas sua mente a todo momento a trazia de volta para o beijo e temia dizer algo que estragasse todo o momento. Como na casa dele, semanas antes, estavam vivendo mais um dia bom, confuso e ameno. Ela não queria correr o risco de recomeçar as discussões, mas não teve muito mais tempo para pensar naquilo. Sainz pigarreou levemente e, quebrando o silêncio que os acompanhava desde que saíram da festa, comentou baixo:
— Esqueci minha jaqueta na festa.
— E agora? — virou-se levemente na direção dele, olhando-o.
— Você me dá outra, está tudo bem — Sainz sorriu para ela, sem desviar os olhos do caminho.
— Por que eu te daria uma jaqueta nova? — Ela franziu a testa, confusa.
— Porque só esqueci a minha na festa porque fui te salvar — Ele respondeu com obviedade. soltou uma risada alta.
— Eu não pedi para ir me salvar.
— Ainda assim fui e, portanto, você me deve uma jaqueta — Sainz insistiu, rindo junto com ela. Apesar da brincadeira, ele realmente gostava daquela jaqueta, custaria em encontrar uma nova, igual.
— Pede para uma nova, ela com certeza consegue resolver esse problema rapidinho — Sorrindo cínica para ele, ela rebateu.
— Mas é você quem me deve — Carlos apontou para ela, sorridente.
— Sinto muito. É o preço que pagou por ter se metido onde não foi chamado, querido — Tentando falar sério, respondeu, mas logo riu da cara falsamente ofendida dele
— Eu te salvo e é assim que você me agradece? — Ele a olhou rapidamente, assim que parou o carro em um semáforo. deu de ombros.
— Como queria que eu te agradecesse, Sainz? — Com a voz mais baixa do que gostaria, perguntou o encarando.
Sabia que a frase saiu em um sentido ambíguo e realmente não se importou com aquilo. Carlos soltou uma risada baixa, passando a mão em seus cabelos, surpreso e meio desconcertado pela pergunta que não esperava ouvir dela, mas nada respondeu. Pelo contrário, forçou a afastar de sua mente os pensamentos que teve, engoliu as palavras que formavam uma resposta a altura e, pensando rápido, desviou o assunto:
— Eu não me lembro de ter autorizado que você ligasse o rádio.
— Para de ser chato, Sainz — deu de ombros, sorrindo, retirando os saltos que vestia e colocando os pés sobre o banco. Pelo movimento, recebeu um olhar mortal do piloto, mas, mesmo assim, continuou sem se preocupar com ele — Se me lembro bem, ainda tenho cinquenta por cento dos direitos de seus carros.
— Era só daquele meu carro, não dos que eu alugo, e você já me devolveu, querida, então, não tem mais direito algum — Voltando a dirigir assim que o farol abriu, ele sorriu.
— Eu posso pegar de volta, é só apostarmos em uma nova partida de golfe — o olhou sugestivamente, mas ele logo negou com a cabeça.
— Nem sonhando! Eu achei que estava competindo com alguém como o Lando de saia curta, não com uma profissional, quase como a Lily — Carlos brincou, lembrando-se daquele dia.
— Isso por que você me subestimou, Sainz — dizia animada, abrindo o vidro e fechando os olhos sobre o vento que recebia no rosto.
Se sentia leve e feliz naquele momento, confortável com a presença do homem a seu lado, se deixando dizer, pensar e sentir o que queria sentir com e por ele. Se permitindo viver o que, até então, ainda não havia se permitido: ser quem era, com a guarda abaixada, na frente dele. E Carlos parecia da mesma forma. Talvez fosse a luz sobre a pele dela, ou o vento em seus cabelos, ou a beleza radiante da mulher, ele não sabia, mas se sentiu atraído pela cena. Ele a olhava encantado, algo em seu estômago se revirava e sua mente parecia parecia entrar, rapidamente, em uma nova ebulição.
— Sabe que pode me chamar de Carlos, né? Esse é meu nome — Desde que se conheceram, a modelo sempre insistia em chamá-lo pelo sobrenome. Não se importava, mas gostava de como seu nome soava na voz dela.
— Eu gosto de Sainz, soa melhor — deu de ombros.
— Mas eu prefiro Carlos — Ele respondeu.
— E eu prefiro Sainz — Ela continuou, o provocando, abrindo um sorriso lateral tão lindo que desconcentrou o piloto por um segundo.
— Quer saber… deixa para lá — Carlos não queria brigar com a modelo, resolveu esquecer aquele assunto. , contudo, voltou seu olhar ao piloto e, de repente, aproximou-se um pouco mais dele, quase sussurrando em seu ouvido:
— O que foi? Não gosta de Sainz? — sorria sedutoramente, reparando que os pelos da nuca do piloto se arrepiaram rapidamente — Eu gosto de como soa, Carlos Sainz Vázquez de Castro.
Sainz agradeceu a todos os santos por, no momento seguinte, avistar o prédio onde Daniel morava. Uma vez mais, não esperava ouvir aquilo dela e não sabia o que responderia, terem chegado, enfim, ao destino veio em hora boa. Enhorabuena! Desconcertado pelas palavras dela, ele rapidamente parou em frente ao prédio, enquanto sorria, voltando-se para sua posição, retirando o cinto e colocando os sapatos de saltos de volta. Carlos desceu sem dizer nada e, dando a volta no veículo, ao tempo que ela se arrumava para descer, abriu a porta do carro para ela, estendendo-lhe a mão, para que ela se apoiasse. agradeceu sorrindo, com um aceno de cabeça, aceitando a mão do homem que a ajudou a descer do carro, carinhosa e firmemente.
— Bom, acho que é isso, então — Carlos sorriu para ela, soltando sua mão.
— Já quer ir dormir, Sainz? — perguntou debochada, o olhando nos olhos.
— Você quem quis vir embora da festa porque estava cansada — Carlos respondeu do mesmo modo, cruzando os braços.
— Na verdade, não queria servir de vela para os trezentos casais que temos no grupo — Ela deu de ombros, rindo sincera.
— Pensa o lado bom: pelo menos um deles já tinha ido embora — Carlos riu sozinho e, vendo a cara confusa de , completou: — Russell e Carmen.
— Ah claro, foram terminar o que começaram na festa mesmo? — bateu a mão na testa, rindo assim que o viu concordar com a cabeça — Quem diria…
— Sorte a deles — Carlos passou a língua pelos lábios rapidamente, risonho. se segurou nos olhos dele, para não descer seu olhar até a boca do homem — Você podia ter saído da festa com alguém também.
Apesar do pingo de verdade em sua voz, perceptível para , Sainz tentou brincar. Para ela, ele estava se referindo ao cara babaca que tentou algo mais cedo. Para ele, estava claramente falando de Daniel.
— Mas eu saí da festa com alguém — Ela apontou para ele.
— Não desse jeito, você sabe… — Ele negou com a cabeça, sugestivo. Com a voz mais baixa, os cabelos balançando levemente com o vento, encarou Sainz de volta, sem realmente perceber o que respondia, o que confessava, até, enfim, ouvir a si mesma dizer:
— O que importa é que eu saí de lá com quem eu queria sair — Carlos chegou a abrir a boca para responder aquilo, mas antes mesmo que pudesse dizer algo, emendou, ligeiramente nervosa em ter dito aquilo: — E você também podia. Deve ter ficado bastante ocupado durante a festa, com alguém, talvez, para não ter ido aproveitar nem cinco minutos com a gente.
— Está querendo saber o que eu fiz na festa, ? — Sainz desviou seus olhos dos dela até seus lábios por uma fração de segundo, e logo voltou.
— E se eu disser que sim? — Ela deu um passo mais perto dele, o tom de voz ficando cada vez mais ameno, baixo, um pouco manhoso.
— Ficaria surpreso, na verdade — Sainz riu charmoso, arrumando os cabelos para trás. acompanhou os movimentos dele, atenciosa, sem pressa.
— E o que me diria?
— Que passei a festa inteira sozinho — Sincero em suas palavras, ele deu de ombros.
— Quer mesmo que eu acredite nisso? Conta outra — Ela riu irônica — Carlos Sainz, sem um rabo de saia em uma festa? Você não me engana.
— Mas é a verdade, não estou te enganando — Ele respondeu honesto, sério, vendo o sorriso cínico da modelo murchar aos poucos, conforme percebia que ele estava, de fato, falando a real — Estava no meu canto, vendo o movimento acontecer.
parou por um segundo, surpresa pela resposta que, certamente, não esperava receber. Não queria ter sido o motivo dele ter se isolado naquela noite, mas era inevitável não pensar naquilo. Alguma coisa dentro dela a alertava de que Sainz tinha se auto isolado porque, no fundo, talvez, não quisesse conviver no mesmo espaço que ela estava, com receio de que, uma vez mais, eles dois estragassem tudo. E, talvez, aquele fosse também o real motivo pelo qual, observando os amigos mais cedo, havia decidido ir embora da festa. Tinha encontrado Sainz, estava com ele. E os dois juntos eram uma bomba-relógio prestes a explodir. Seus amigos pareciam tão felizes e se divertindo bem sem eles por perto. Quanto tempo demorariam para estragar aquilo, caso se juntassem a eles? não queria aquilo.
— Por que isso? — Ela perguntou curiosa, sem quebrar o contato visual intenso com ele.
Carlos ponderou por um instante, se deveria realmente dizer o motivo ou, melhor, como deveria contá-lo a ela. De certo, não queria ter aquela conversa no meio da rua, na madrugada, depois de uma festa inteira que evitou ficar por perto de porque simplesmente não conseguia entender como se sentia, como deveria reagir quando a visse, quando ela o visse. Mas ali estava ele, afinal. Já tinha perdido uma chance de ter aquela conversa com ela, antes, quando a perdeu de vista no aeroporto, queria mesmo perder uma nova chance agora? Sainz não tinha ideia.
— Porque eu não sei o que está realmente acontecendo, o que estou… sentindo — Carlos resumiu, cortando brevemente o contato visual com ela, olhando para um lugar qualquer, atrás dela, enquanto suas mãos desciam direto para os bolsos de sua calça. franziu a testa, confusa com a resposta inconclusiva dele — Precisava de tempo para… pensar, eu acho.
— Pensar? No meio de uma festa, Sainz? — Ela riu, chamando atenção dele novamente para si.
— Não tenho culpa se o motivo da minha confusão estava nela — Mais sério do que gostaria, ele respondeu prontamente, a olhando. sentiu seu estômago revirar por um segundo. Podia jurar que arregalou os olhos, mas manteve-se estática, se perguntando o que, de fato, ele quis dizer com aquilo.
— Laura estava na festa? — Se fazendo de desentendida, perguntou. Tentava manter sua respiração controlada, a postura exatamente a mesma, sem que ele notasse o quanto aquilo tinha mexido com ela.
— Não — O piloto soltou uma risada frustrada, a vendo dar um novo passo em direção a ele — Não é o tipo de confusão Laura que me refiro.
— Então, o que é? — levantou levemente o queixo, o olhando. Estavam tão perto um do outro que podiam sentir o calor de seus corpos emanar.
— Um tipo de confusão.. diferente, boa, eu acho — Com um mistério charmoso, a voz grave baixa, o sotaque carregado, Carlos respondeu, soltando um suspiro pesado — Um tipo de confusão que só você sabe me causar, .
Como se tivesse explodido uma bomba dentro de si, sentiu suas pernas fraquejarem, o coração bater mais acelerado. Não estava conseguindo ordenar dentro de si tudo o que estava acontecendo entre eles dois naquela noite mas parecia que, de repente, tudo havia mudado bruscamente. Tinham se beijado e, como se aquilo fosse o que lhes faltava para liberar toda aquela tensão, todo o tesão que parecia os rondar desde quando se viram pela primeira vez, tudo ficou ainda mais intenso, um pouco mais sincero, profundamente mais confuso. Estavam dizendo coisas naquela noite que não diriam em nenhum dia, que não assumiriam nem para si mesmos direito.
não soube o que responder, porque não soube como interpretar aquela informação. Tinha certeza de que Carlos estava sendo sincero, mas parte dela a alertava de que aquilo era uma peça sendo pregada, como se ela tivesse que se proteger de alguma forma, apesar de, pelo contrário, querer se entregar de uma vez por todas. Não imaginava que Carlos estava tão confuso quanto ela, estava surpresa em ouvir aquilo, surpresa em saber que ele estava, como ela, se cercando com receio, com insegurança de tudo que acontecia entre eles.
Mas estava cansada de se sentir daquela forma. Queria respostas às suas perguntas, queria ouvir dele o que estava sentindo, o que estava rolando entre eles e queria voltar há minutos atrás, quando Carlos a beijou. Queria mais daquilo, menos da confusão. Queria mais da sensação de ter ele nela, como se, daquela forma, pudesse, enfim, encontrar as respostas para todas as perguntas, encontrar o pingo de segurança, de calmaria, em todo o caos que eles criaram entre si mesmos.
— Carlos, eu não… — Ela tentou dizer algo, mas suas palavras morreram no meio do caminho.
— Tudo bem — O piloto sorriu frustrado mais uma vez — Acho melhor eu ir.
— Não — Levemente desesperada, ela rebateu rápido, mas logo consertou: — Você não quer… subir?
— Eu não sei se deveria — Apesar de querer aceitar o convite, que lhe pareceu bastante tentador, Carlos não tinha certeza se deveria mesmo ou se ela se arrependeria amargamente daquilo no dia seguinte.
— É o mínimo que posso oferecer depois de ter te tirado da festa para me trazer embora — insistiu, sem realmente querer que ele fosse embora, sem querer que a noite terminasse ali, daquele jeito — A casa não é minha, mas duvido muito que Ric volte hoje. Podemos… conversar melhor, lá dentro.
o encarava com certa expectativa, um brilho diferente no olhar, uma vulnerabilidade que ele ainda não tinha visto nela. Carlos permaneceu em silêncio por alguns segundos, pensando em tudo o que poderia tirar daquele convite, sem realmente conseguir concluir nada. fez um sinal com o rosto sentido ao prédio, insistindo levemente enquanto acenava para o porteiro que, vendo uma movimentação próxima, apareceu para conferir. Podia entrar, ficar um pouco, ir embora quando quisesse, quando ela o pedisse. Não faria mal algum, faria?
— Tudo bem — Silencioso, Carlos concordou com a cabeça e a acompanhou prédio adentro, travando o carro pelo chaveiro que segurava.
O silêncio consumiu o casal ao tempo em que entravam no elevador, sem trocar sequer uma única palavra. Estavam absortos em seus pensamentos, nas sensações que remexiam dentro de si, no que estavam sentindo. pensava se tinha feito certo em sair mais cedo da festa com Sainz, ter chamado ele para subir e não entendia bem o que estava fazendo, mas, naquela noite, depois de tudo o que aconteceu e de tudo o que ouviu dele, sentia uma necessidade absurda de tocá-lo, de tê-lo.
Já Carlos, por sua vez, se perguntava por que Daniel a tinha deixado sozinha na festa, onde ele estava quando aquele idiota havia chegado nela e o que ele pensaria se soubesse que Sainz estava ali, a acompanhando para dentro de seu apartamento - e aquela ideia só o atingiu naquele instante, mas não teve muito mais tempo de refletir sobre. Assim que as portas se abriram, no pequeno hall do apartamento, saiu silenciosamente e Carlos a acompanhou, logo atrás. Tinha ainda as duas mãos no bolso, parecia nervoso, procurando coragem para, finalmente, libertar aquilo que vinha lhe incomodando.
— Por que você ficou hospedada com o Daniel? — Carlos perguntou de repente, a vendo procurar o papel com a senha da entrada, que Daniel havia anotado para ela mais cedo, antes de saírem para a festa.
— Por que eu não quis atrapalhar a lua de mel da e do Charles — Ela respondeu simplesmente.
— É só por isso mesmo? — Carlos continuou questionamento, um tanto inseguro.
— Por qual outro motivo seria? — voltou seu olhar ao homem ao seu lado, assim que encontrou o papel.
— Não sei… talvez, você e o Ricciardo estejam juntos? — Honesto com o que pensava e com o que sentia, ele gesticulou com as mãos — Ou por saber que eu estaria hospedado no Charles também?
— Não seja ridículo, Sainz — riu, fugindo da segunda pergunta, enquanto colocava a senha para abrir a porta — Daniel e eu somos apenas amigos.
— Não é o que parece, sinceramente. Não que eu tenha algo a ver com isso, é só que… — parou o que fazia por um instante, voltando seu olhar novamente até ele. Carlos parecia atropelar as próprias palavras, como se estivesse ficando nervoso em dizer aquilo. Ela o viu, então, respirar fundo — eu vi como vocês dançaram hoje e a forma como…
Carlos não queria ficar lembrando daquele momento. Sentiu uma pontada de inveja do amigo, pelo fato de estar com ela, tão próximo, tão feliz, por estar dançando daquela forma com ela, quando era o que, no fundo, ele mais queria ter feito naquela festa, naquela noite. Não queria ter se isolado, não queria ter ficado longe de seus amigos e nem de . Pelo contrário, queria poder ter aproveitado a festa com ela, como Russell e Carmen aproveitaram, por exemplo. Com as palavras dele perdidas no ar, em uma frase que precisou completar para si mesma, em sua mente, ela não o deixou dizer mais nada.
Sainz estava levando toda a história para um lado completamente errado e ela sequer sabia de onde ele havia tirado tudo aquilo. De fato, às meninas já a haviam questionado sobre Daniel, naquele exato mesmo sentido, e até poderia ter um racional coerente no começo, afinal, estavam se conhecendo ainda, eram solteiros e desimpedidos de qualquer coisa. Contudo, com o tempo passando e absolutamente nada mais senão a amizade se consolidando entre eles, aquela ideia ficava cada dia mais absurda. não sabia de onde Carlos estava alimentando aquela história mas, certamente, queria que ele parasse. Ele tinha que saber o que era real, tinha que entender o que acontecia.
— Eu posso te provar que eu não tenho e nem quero nada com o Daniel.
Sem saber direito de onde tinha vindo aquela ideia e sem dar tempo de Sainz responder qualquer coisa, se aproximou do piloto. Carlos a sentiu o empurrar para a parede mais próxima, com o próprio corpo, e, no segundo seguinte, assim que as costas dele encostaram na parede, ela pressionou os lábios contra os seus, em um novo beijo, mais urgente do que o que trocaram na festa. Carlos não a questionou. Pelo contrário, sentindo seu corpo pedir por aquilo, puxou a modelo pela cintura com a mão direita, enquanto com a outra a segurava pela nuca, entrelaçando seus dedos nos cabelos dela. Dessa vez, foi a modelo quem pediu permissão para aprofundar o beijo e, rapidamente, o piloto concedeu.
Os longos minutos que se passaram se perderam de vista enquanto eles se beijavam ali, no hall de entrada no apartamento, sem se importar com qualquer câmera de segurança ou eventuais vizinhos que pudessem aparecer. Carlos desceu a mão que estava na cintura da mulher para sua bunda, levantando levemente a perna dela, pela parte de trás de sua coxa, para que se encaixasse em sua cintura. dividia o beijo com leves mordidas nos lábios dele até se sentir sem ar o suficiente para, enfim, quebrá-lo.
— Eu não estou com o Daniel, entendeu agora? — Ela sussurrou séria, com lábios encostados nos dele, enquanto sua respiração ofegante tentava voltar ao normal — Não é sobre ele. É sobre você, Sainz.
Sainz nada respondeu. Não teria palavras suficientes para descrever o que sentia naquele momento e não queria realmente perder tempo conversando. Ele apenas concordou com a cabeça e, sem dar tempo para que mais nada fosse dito, voltou a beijá-la com intensidade. não sabia o por que de estar fazendo aquilo, mas sentiu uma vontade, uma necessidade enorme de tê-lo novamente, de sentir seus lábios sobre o seu e, de alguma forma, tentar mostrar que era dele que ela estava realmente afim, há tempos.
Como se quisessem continuar exatamente do exato momento em que pararam, o beijo foi muito mais intenso, muito mais urgente. A segurando recostada na parede, trocando de lugar com ela em um movimento rápido, Carlos desceu os beijos para o pescoço de , enquanto uma mão do piloto a puxava para mais perto de si, como se ainda fosse possível se aproximar mais.
, assim como ele, se deixava levar pelas sensações maravilhosamente boas que sentia naquele momento, pelo cheiro do piloto, pelo calor de seu corpo, pelo jeito que ele a beijava, que passava suas mãos pelo corpo dela. Cada toque, cada respiração falha, cada gosto, tudo a encantava, a viciava e não queria parar, pelo contrário, queria mais. Queria saber até onde Sainz iria, o que mais ele poderia fazê-la sentir, queria ir até o final de fosse o que ele também quisesse.
Perdida nos beijos dele que, propositalmente deixava mais lento, mais torturante, em suas mãos que passavam por suas coxas e quadril enquanto as dela brincavam com os cabelos de sua nuca, sentiu a fricção da ereção do piloto sobre o fino tecido de seu vestido. Carlos estava ficando louco. Sua mente já não mais acompanhava o que seu corpo pedia, o tempo todo preenchia-se com a consciência do que, de fato, acontecia ali. não só havia lhe beijado, como também estava sedenta por mais, como ele estava. Uma sintonia perfeita, duas peças de um quebra-cabeças que finalmente se encaixava.
Carlos foi empurrando levemente para dentro do apartamento, enquanto a modelo descia os beijos pelo maxilar e pescoço dele, levantando sua camisa pela barra, colocando uma das mãos no abdômen dele. Estavam tão envoltos por aquele momento, contudo, que nem se ligaram no pequeno barulho, como um apito de alerta, saindo de dentro da residência. O barulho baixo aumentava gradativamente a cada passo deles para dentro do apartamento até, enfim, disparar. O alarme da casa tinha programação de alguns minutos para disparar, assim que a porta fosse aberta e que algum movimento começasse a ser feito dentro dele.
Assustados pelo barulho inesperado, os dois se soltaram em um pulo, respirando fundo, os fazendo acordar do transe que compartilhavam até então.
— Caralho, como desliga essa merda? — Carlos resmungou ligando a lanterna do celular, procurando por alguma central de controle perto da porta.
rapidamente foi para o local, próximo a porta e, depois de procurar pelo papel que havia caído durante a pegação, no hall do andar, voltou para dentro colocando a senha e desligando o alarme. Sem saber exatamente o que dizer, ou o que fazer, ela acendeu as luzes e fechou a porta atrás de si, encontrando o olhar de Sainz sobre ela, alguns poucos passos de distância dela.
Pela primeira vez desde que o havia conhecido, não conseguiu distinguir seu olhar. Um misto de mistério, de luxúria, os olhos que se tornavam tons mais claros no sol estavam escuros, carregados de desejo, de vontade, em cima dela. Pareciam meio confusos, meio incertos, mas bastante seguros sobre o que ele estava pensando, o que estava sentindo e o que queria.
sustentou seu olhar em silêncio, tentando recuperar seu fôlego, enquanto o piloto a olhava com a boca vermelha e a roupa amassada, levemente descabelado, sem saber o que exatamente deveria fazer naquele momento. Queria continuar. Mas pelas perguntas silenciosas que fazia pelos olhos, ele não tinha tanta certeza se deveria dar aquele passo novamente. Era como se, de repente, uma bomba os tivesse atingido. Como uma virada de chave, como se só tivessem se dado conta do que acontecia naquele momento. A pergunta que faziam para si mesmos foi externalizada por , em um sussurro incerto:
— O que… estávamos fazendo? — colocou a mão sobre a cabeça, refletindo sobre tudo o que havia acontecido ali, tentando voltar sua respiração ao normal.
Carlos não disse nada. Seguiu encarando a mulher à sua frente, tão linda, tão sensual, sério, desejoso. Seu peito subia e descia conforme respirava fundo e os lábios entreabertos, em busca de ar, fizeram descer os olhos até eles por alguns minutos. Reparando que os encarava, tomada por uma sensação crescente de querer senti-los novamente, ela logo negou com a cabeça, completando sua última fala com um novo sussurro:
— Acho melhor você… ir…
— É isso mesmo o que você quer? — Carlos perguntou baixo, se aproximando dela.
ficou estática por um momento, sem saber responder aquela pergunta. Não, não era o que ela queria. Queria que ele ficasse, que ele passasse o resto da noite ali, com ela. Queria terminar o que tinham começado, queria beijar ele, queria transar com ele. Era o que ela verdadeiramente queria. Mas não sabia como dizer aquilo e não sabia se deveria mesmo dizer aquilo.
Confusa com o que sentia, com o que pensava, ela assistiu Carlos se aproximar ainda mais dela e, já perto o suficiente, sem cortar o olhar intenso que trocavam, negou uma única vez com a cabeça, em silêncio. Tinha acabado de responder a pergunta tão ligeira e discretamente que Sainz se perguntou se havia mesmo visto aquilo. Ela queria mesmo que ele ficasse?
Carlos, então, colocou as duas mãos sobre a cintura dela novamente, com carinho e com cuidado. Cada milésimo movimento dele sendo observado por ela, assistido como um filme que ela via pela primeira vez em sua vida e que, de longe, se tornaria o seu preferido. O piloto aproximou seu rosto do dela e passou a pontinha de seu nariz no dela, amorosamente, e seguiu calmo, lento, passando o nariz, o queixo, os lábios, pela lateral do rosto dela até seu pescoço.
O carinho gostoso, calmo, deu a uma sensação diferente, a consciência de que ele estava dando-lhe tempo para que ela realmente pensasse se queria aquilo, se queria continuar, se queria ele. No fundo, naquela intimidade que crescia a cada segundo mais entre eles, Carlos parecia atencioso, carinhoso e muito mais paciente do que ela imaginava que ele poderia ser.
A cada movimento, cada toque leve que dava nela, Carlos a ouvia suspirar e a via levemente tombar a cabeça para o lado, para que ele fosse mais fundo em seu pescoço, para que descesse cada vez mais os toques. Sem querer esperar mais pelo ritmo dele, decidiu entrar no jogo, mostrar mais o que queria dele, já que as palavras pareciam faltar-lhe. Rapidamente, então, ela colocou suas mãos sobre a camisa do piloto, abrindo cada botão em sequência, enquanto sentia os beijos dele voltarem sobre seu pescoço.
Assim que abriu todos os botões da camisa, ela passou as unhas levemente pelo peitoral definido do rapaz que, com um arrepio percorrendo todo o seu corpo, soltou um gemido rouco, baixo. Sem esperar por aquilo, sentindo cada pelinho de seu corpo levantar, fechou os olhos, tomada pelo tesão que a consumia naquele momento. Carlos entrelaçou seus dados nos cabelos da nuca dela e subiu seus lábios, enfim, até o ouvido da mulher. Podia sentir seu corpo pulsando, queria aliviar toda a vontade que reprimia, mas queria ouvir dela, em alto e bom som, que ela o queria tanto quanto ele queria ela naquele momento.
— Me diga, , é isso mesmo o que você quer?
A mulher não sabia o que responder, aquele jogo de provocação e sensações a estava enlouquecendo e a voz calma, grave, dele em seu ouvido não a ajudavam muito a ter controle sobre o que sentia. Ela assentiu rapidamente com a cabeça e, sem ter tempo de fazer ou de dizer mais nada, sentiu novamente os lábios do piloto nos seus. retribuía o beijo com a mesma intensidade que ele demandava e deixou-se ser levada para mais perto do sofá e logo foi deitada nele.
Carlos veio por cima dela, sem quebrar o beijo e, pelos minutos que se passaram, seguiu acariciando o corpo dela, descobrindo-o em seu vestido, por baixo dele, enquanto a beijava sem parar, sem pressa para acabar. arranhava levemente a barriga dele e já descia sua mão até sua calça que, naquela altura, já parecia incomodá-lo. Sua mão tentou abrir o botão da calça, mas desistiu momentaneamente por não ter conseguido e desceu lentamente até chegar em sua ereção. Sainz soltou uma arfada pesada com o toque e, como se pudesse juntar ainda mais seu corpo ao dela, pressionou-se contra no sofá.
Estavam absortos naquelas sensações, tão completamente entregues um ao outro que, se o mundo acabasse ali, já estariam satisfeitos de terem provado, conhecido, aquele lado deles. Como se tivessem no paraíso, ficaram perdidos entre beijos e carícias carinhosas, um tanto sem vergonha, em um ponto limite para dar o próximo passo. O vestido de já estava levantado até acima de seu quadril e Sainz, com a camisa aberta, já pensava em se livrar também de sua calça, mas não teve tempo para isso, porque, uma vez mais, um novo barulho os interrompeu.
O telefone da residência começou a tocar alto, tirando totalmente a atenção do casal. No susto, cortou o beijo deles empurrando levemente Sainz de cima dela que pulou para trás, caindo sentado no sofá ao seu lado. Demorou dois segundos para que eles entendessem o que acontecia ali e, se deparando com a situação, começaram a rir alto, um tanto envergonhados. Nenhum deles sabia o que deveriam fazer. Apenas se entreolharam, rindo, até o telefone parar de tocar e cair na caixa de recados. Três bipes seguidos e logo a voz escandalosa e rinhosa de Daniel soou alto pelo aparelho:
— ! Se você estiver em casa, saiba que eu estou chegando em cinco minutos — Daniel claramente tentou abaixar a voz, como se não quisesse que mais ninguém o ouvisse, mas logo gargalhou — e acompanhado. Beijos.
A modelo olhou do telefone, que indicava com um novo beep encerrar a mensagem, para o homem à sua frente e, desconcertada, soltou uma nova gargalhada alta. Daniel estava chegando em casa em poucos minutos e ali estava ela, quase nua, com um Sainz quase nu, no sofá da casa que nem era deles. se pegou pensando no que Daniel falaria se chegasse de repente e os visse daquele jeito e se pegou, mentalmente, tentando inventar uma desculpa para justificar o que faziam ali. Mas não havia o que justificar. Estavam fazendo o que queriam fazer e fim. E aquela ideia parecia mais assustadora do que qualquer mentira que pudesse contar ao amigo.
Ao lado dela no sofá, Carlos refletia sobre a exata mesma coisa. Apesar de parecer bem claro para ele, agora, que e Daniel não tinham nada mais senão amizade, ele não sabia o que diria no momento em que seu amigo cruzasse a porta de entrada do apartamento. Era melhor não dizer nada. A visão que teria deles dois ali já era o suficiente e bastante auto explicativa. Ainda havia cinco minutos, contudo. Havia o tempo que Daniel informou que chegaria em casa e Carlos se perguntava se deveria aproveitar o mísero tempo restante para continuar o que estavam fazendo, se deveria sugerir que fossem para o quarto dela ou se deveria ir embora. E bastou a ele ver discretamente abaixando a saia de seu vestido de volta no lugar para ele entender qual das opções deveria seguir.
— Acho melhor eu ir embora — Carlos comentou baixo, depois de alguns segundos em silêncio, engolindo a frustração que sentia naquele momento.
Sobre o olhar atento da modelo, Carlos abotoou de novo sua camisa e tentou arrumar os cabelos de volta no lugar. não queria que ele fosse embora, de jeito nenhum. Mas dadas as circunstâncias, de que Daniel estava chegando em casa, de que não estava em sua casa e de que não conseguiria esconder Sainz dele, ela achou melhor que ele fosse embora. Sem dizer nada, ela apenas suspirou concordando. A verdade era que nenhum dos dois queria acabar com aquele momento, mas, talvez, tivessem escolhido um momento bastante ruim para terem se deixado levar daquela forma.
Carlos sorriu fracamente para ela e se levantou, a vendo fazer o mesmo, enquanto ajeitava sua roupa. O silêncio que tomava conta do ambiente parecia criar um novo abismo entre eles e não fosse por seus sapatos batendo no assoalho do chão, não poderiam ouvir absolutamente nada ali. pressionou os lábios, confusa, meio irritada por ter que se despedir, enquanto abria a porta.
— Obrigada por… ter me trazido, em segurança — disse sincera, baixo, pausadamente. Carlos a viu se apoiar no batente da porta enquanto ele, sem saber direito como deveria se despedir dela, passou direto, indo chamar o elevador.
— Não tem problema — Sainz se virou novamente para olhá-la e sorriu em sua direção.
Com as mãos nos bolsos da calça, como ele sempre fazia quando parecia estar confuso ou tímido, sorriu de volta para ele, silenciosamente. Pela primeira vez desde que o conheceu, se viu verdadeiramente encantada e completamente entregue ao homem. Sem querer se despedir, sem querer dizer um adeus com medo de como seria o dia seguinte, com receio de que não houvesse um dia seguinte como foi aquela noite para eles dois. Como um despertar, em sua mente, em seu coração, se pegou imaginando sobre o futuro próximo e se perguntou se não havia mesmo nenhuma chance de que Carlos estivesse nele, como ela, para si mesma, assumia querer que ele estivesse.
teve seus pensamentos cortados pelo barulho do elevador avisando que chegou no andar e, assim que viu suas portas se abrirem, sentiu seu coração quebrar em milhões que pequenos pedaços.
— Então, é isso — Sainz riu sem graça, baixo e, a vendo concordar com a cabeça, com um sorriso triste no rosto, entrou no elevador — Boa noite, .
— Boa noite, Carlos.
Continua...
Nota da autora Gabe: Olá queridas leitoras, estou muito feliz que vocês estão curtindo tanto Headlights como eu e a Ju amamos escrever ela. Cada comentário, indicação e mensagens são importantes para nós e essa fic é uma surpresa muito gostosa que tivemos o prazer de escrever e compartilhar com vocês, espero que estejam preparados pra muito mais bagunça desse grupo.
Beijos e até a próxima!
Nota da autora Ju: Amar e odiar Carlos Sainz? Acontece em todo capítulo dessa história.
Mais uma das meninas do grupo apareceu (apaixonada por Luisinha, sim), chegamos na primeira partida de golfe da galera e o gato Sainz segue perdendo tudo para a Ellie.
Não sei o que gosto mais de HL: desse climão entre eles, dessa galera toda junta (que é simplesmente perfeita) ou do Charles – e a resposta é: do Charles, rs.
Conta ai para gente o que está achando da história, se você é team Carlos ou team Ellie, vamos amar saber – e é bem importante para nós, continuarmos com a história.
Temos um grupo no zapzap também, vem dar um oi 😊
Seguimos vibrando a vitória do Sainz em Silverstone e, até que venha outra, ficamos por aqui! Beijos e até já. x
Ju S.: Universo Marvel
➺ Care Bears
➺ Project Neriine
➺ Vingt-Cinq
Ju S. & Milene L.: Universo Taste The Feeling
➺ 11:11 (Ben Barnes)
Gabe Dickmann: Fórmula Um
➺ Flying Lap
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijos e até a próxima!
Nota da autora Ju: Amar e odiar Carlos Sainz? Acontece em todo capítulo dessa história.
Mais uma das meninas do grupo apareceu (apaixonada por Luisinha, sim), chegamos na primeira partida de golfe da galera e o gato Sainz segue perdendo tudo para a Ellie.
Não sei o que gosto mais de HL: desse climão entre eles, dessa galera toda junta (que é simplesmente perfeita) ou do Charles – e a resposta é: do Charles, rs.
Conta ai para gente o que está achando da história, se você é team Carlos ou team Ellie, vamos amar saber – e é bem importante para nós, continuarmos com a história.
Temos um grupo no zapzap também, vem dar um oi 😊
Seguimos vibrando a vitória do Sainz em Silverstone e, até que venha outra, ficamos por aqui! Beijos e até já. x
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