Capítulo 10
Miami, Flórida.
Uma semana antes da corrida.
Uma semana antes da corrida.
estava magoada, frustrada e mentiria se dissesse que não estava preocupada com tudo o que havia acontecido com Carlos. Do jeito que saiu da área médica naquela tarde, depois de ver Carlos, pegou o primeiro táxi que encontrou pelo caminho e foi embora para Milão, para sua casa. Estava transtornada com tudo o que sentia e não havia mais clima algum para ela naquela tarde. Não queria terminar de ver a corrida e não queria se meter em nenhuma outra situação em que fosse obrigada a se encontrar com Carlos novamente. Precisava respirar, precisava de tempo e precisava ficar longe o máximo que pudesse, até tudo aquilo se acalmar.
Mandou uma mensagem no grupo das meninas, que pareciam aflitas atrás de notícias dela desde o momento em que ela deixou o grupo e saiu correndo sentido a ala médica. Pediu desculpas por não querer voltar e disse que mandaria notícias em breve, mas que, naquele momento, precisava ficar sozinha. Apesar de preocupadas, as meninas acataram o pedido. Não demoraram a ver os vídeos de passando aflita pelas pessoas e entrando no ambulatório, conversando com o enfermeiro, podiam imaginar o momento tenso que a amiga passou e podiam imaginar que o desfecho dele não tinha sido o melhor possível. Se tratando de e Carlos, sozinhos e mal resolvidos, provavelmente tinham tido um novo episódio de desentendimento para a conta.
Carmen, Luisa, Lily e ficaram por ali até o final da corrida. Viram Charles vencer e celebraram juntas. Viram uma assistente da Ferrari ir buscar às pressas para que ela fosse até perto dos boxes e, contente, toda orgulhosa do namorado, ela arrastou as meninas consigo. Elas assistiram Charles descer do carro empolgado, cumprimentar sua equipe, que o esperava eufórica, e, com os olhos brilhando em empolgação e orgulhoso, ele encontrou os de .
E como se quisesse dizer ao tempo que ele o havia vencido, como se quisesse dizer a vida que tudo agora estava em seu devido lugar e como se quisesse compensar, talvez apagar de suas memórias o que foi Monza no ano anterior, Charles correu até , espremida no meio do tumulto que celebrava a vitória dele, e a beijou. Atrás dela, Lily e Carmen gritavam animadas, reparando nas imagens dos dois se beijando passando nos telões do local enquanto Luisa tentava filmar com seu celular. A primeira vez em que o mundo assistia com quem aquela vitória dele era celebrada, que o mundo via quem era ela. As meninas sabiam o quão especial aquele momento era e, por dentro da história tão arrastada de e Charles, aquilo significava muito.
As meninas ficaram por ali acompanhando enquanto seus namorados desciam de seus carros, conversavam com as equipes, se pesavam, davam entrevista e se trocavam. Assistiram ao vivo o pódio acontecer, levaram o banho de champanhe que Charles jogou nelas e, não muito tempo depois, foram separadas pelas assistentes de seus namorados, que as conduziram respectivamente para os motorhomes de cada um deles, para que pudessem se limpar e, enfim, se encontrar com eles.
Esperando Lando terminar de se arrumar, Luisa conseguiu conversar com Daniel e contar o que tinha acontecido com . O australiano parecia bastante preocupado e comentou que tinha recebido uma mensagem dela, desculpando-se por ter ido embora sem ao menos ter falado com ele naquele dia. Daniel não tinha entendido direito o que aconteceu e, como não tinha mais compromissos na cidade depois da corrida, naquela noite e, imaginando que qualquer evento previsto pela turma fosse ser cancelado pelo acidente de Carlos, ele decidiu que visitaria . Passar um tempo em Milão, com ela, seria uma ótima oportunidade de conversar sobre o que estava acontecendo e de matar as saudades da amiga.
Não longe dali, Carlos já tinha sido liberado pelos médicos e foi acompanhado até o motorhome da Ferrari, onde poderia recolher suas coisas, falar com sua equipe, entender o que havia acontecido e dar algumas entrevistas, caso quisesse. Mas ele não quis. Estava com a cabeça cheia e bem longe dali, não quis falar muito e levou cerca de meia hora até se enfiar novamente dentro de seu quarto, tentando ao máximo se esconder de quem quer que fosse. Arrumou suas coisas o mais rápido que conseguiu e decidiu, enfim, ir embora.
Queria tomar um banho quente, demorado, repassar tudo o que tinha acontecido naquela tarde e dormir até seu corpo não aguentar mais. Certamente encontraria com os amigos mais tarde, naquela noite, ou no dia seguinte, e lidaria melhor com as perguntas, preocupações e insinuações que eles fariam, se tivesse tempo para pensar e descansar. Carlos queria ficar sozinho e a verdade era que, no fundo, ele queria ir para casa. O médico o pediu para repousar naquele dia e evitar viagens de avião por, ao menos, uma semana, mas ele só queria voltar à Espanha. E já arquitetava planos de como poderia ir embora naquela noite, de trem talvez, quando, caminhando até a saída do motorhome, algo chamou sua atenção.
estava de costas para ele, dentro do quarto de Charles com a porta aberta. Estava secando o cabelo com o pequeno secador acoplado à parede e sorria sozinha, se olhando no espelho. Ainda vestia o shorts e o top que usava mais cedo, mas estava, por cima deles, com uma camisa diferente, uma camisa da Ferrari, de Charles, com os botões abertos. Carlos parou por um segundo, observando a amiga, deixando aquela cena bater em si mesmo como uma onda feliz, talvez a primeira daquele dia todo. Charles tinha vencido a corrida, ele tinha visto. Estavam em Monza e finalmente tinha celebrado o que por dois anos inteiros ela reprimiu dentro de si. Aquele era o momento dela, o momento deles dois.
A felicidade genuína de ver quem se ama feliz atingiu Carlos naquele momento e ele se perguntou, por um segundo, como seria ver ali, daquele jeito. Feliz daquela forma, orgulhosa dele como parecia estar de Charles. Como ela o olharia subindo no pódio, como seria se ele pudesse descer de seu carro e correr até ela, para ela. Carlos deixou o sorriso murchar com aqueles pensamentos, suspirando frustrado. Se sentia insuficiente. Se sentia perdido. Um completo idiota. Tinha perdido tanto tempo com suas inseguranças, com suas cicatrizes do passado, que parecia cego para o que lhe acontecia agora, bem diante de seus olhos.
E uma vez mais colocou tudo a perder, dizendo coisas que não queria realmente dizer, agindo o exato oposto que queria agir. Ele não era um cara para , apesar de querer ser. E não saber o que fazer com aquela ambiguidade o estava matando todos aqueles dias a ponto de ter se envolvido em um acidente na corrida. Estava cansado daquilo. Sentia seu braço latejar de dor por baixo do curativo e sua cabeça pesada, exausta. Carlos ponderou por um segundo se só deveria ir embora, como planejou fazer, ou se deveria pedir ajuda para a única pessoa que poderia minimamente o ajudar naquele momento e que, alguns passos dali, desligava o secador de cabelo.
Não sabia se ela estava sozinha ali. Não podia ver muito mais a não ser a porta aberta e terminando de arrumar seu cabelo. Com Charles certamente ela não estava. Carlos sabia que ele teria uma agenda cheia pelo final da tarde, dando entrevistas, tirando fotos e gravando vídeos para as redes sociais da Ferrari, após sua vitória. Não tinha ideia de se as meninas estavam com ela e, especialmente, se encontraria ali. E se a encontrasse, o que ele diria? O que faria? Estava disposto a continuar de onde pararam? Ou deveria usar a nova oportunidade para tentar resolver aquele dia caótico, aquele dia bosta que teve?
Segurando sua mala de mão firmemente, Carlos não soube o que fazer. tinha chegado no GP com , deveria estar lá com ela. Mas, se estivesse mesmo, porque parecia estar sozinha? Por que estava em silêncio, terminando de se arrumar? Parecia estar só esperando Charles, mas Carlos só descobriria mesmo se tivesse coragem o suficiente para descobrir.
— Olhando assim de costas, por um segundo, achei que fosse o Charles de cabelo comprido — Carlos comentou baixo, parando no batente da porta do quarto do amigo, no motorhome. Seus olhos varreram o lugar por um segundo, tempo suficiente para reparar que, de fato, estava sozinha ali.
— Só falta a bandana — Rindo do comentário, se virou de frente para o amigo, mostrando os anéis e as pulseiras do namorado, que ainda usava.
— Graças a Deus você não aderiu a bandana — Carlos riu fraco, a vendo se aproximar dele em um pulo e o abraçar delicadamente, com calma. Carlos deixou a mala de mão que segurava cair no chão e enterrou seu rosto no pescoço da amiga por um momento, deixando-se ser abraçado carinhosamente, em um silêncio confortável.
— Você está bem? — perguntou baixo, sentindo o amigo concordar com a cabeça em seu pescoço — Achei que já tinha ido embora, te mandei mensagem...
— Estava indo agora, na verdade — Ele murmurou, se separando dela — Você está cheirando champanhe.
— É o cheiro da vitória, meu amigo — Ela brincou feliz, tirando uma risada baixa dele.
— Em muitos sentidos, não é? — Ele levantou as sobrancelhas, sugestivo e logo sorriu carinhosamente — Fico muito feliz em te ver vivendo isso. Como foi?
— Especial, eu acho, e meio difícil de acreditar… quer dizer, isso tudo acontecer logo aqui, sabe? Justamente em Monza — Ela sorriu emocionada — É louco pensar que um ano atrás eu saí daqui totalmente destruída, pelas portas dos fundos para ninguém reparar que eu estava chorando, que foi a última vez que eu vi o Charles antes de tudo… mudar e começar a acontecer entre a gente.
Carlos se lembrava daquele dia. Se lembrava de ter abraçado ela logo depois da corrida ter terminado, de ter olhado nos olhos dela assim que quebrou o abraço e ver cada pedacinho de estraçalhado. Ela tinha os olhos cheios de lágrimas, apesar de sorrir e parabenizar ele, tentando manter-se focada ali. Carlos não precisou perguntar o que aconteceu, porque alguns passos dali, na multidão de pessoas ele viu Charles do mesmo jeito que ela, parecendo em pedaços, com Charlotte ao seu lado.
Sabia que e Charles estavam em um limite insuportável e ele sabia o que tinha acontecido entre eles duas semanas antes, em sua festa de aniversário. As dúvidas que tinham um sobre o outro foram inesperadamente respondidas naquela noite, quando se permitiram se beijar, e tudo estava tão errado, tão censurado, reprimido, que incomodava, machucava eles dois. Carlos viu deixar uma lágrima escorrer por baixo do óculos de sol que vestia rapidamente e, sem pensar duas vezes, tentando disfarçar em frente as dezenas de câmeras e pessoas que os cercavam, ele colocou o boné que usava nela.
sorriu em agradecimento e aquele exato momento, de Carlos tirando seu boné e o vestindo nela tinha sido registrado por alguns fotógrafos no local, em uma imagem bonita e verdadeiramente cuidadosa, que havia postado mais tarde naquele dia em seu Instagram e que, até hoje, era absurdamente compartilhada pela internet. se despediu dele, no momento seguinte e, sem pensar duas vezes, tentando livrar-se da multidão e de qualquer curioso, saiu do GP pelo fundo, sozinha, limpando as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
— Hoje você está onde sempre deveria ter estado, desde o começo: — Carlos comentou sincero, mas logo mudou o tom, brincando: — limpando o champanhe do cabelo.
— Obrigada por sempre estar comigo — Rindo do comentário dele, ela agradeceu carinhosa — Se quer saber, tentei lavar meu cabelo na pia, mas o mais perto de um shampoo que o Charles tem aqui é um sabonete líquido de marca duvidosa e achei melhor não.
— Eu só não acredito que perdi esse momento — Carlos encolheu os ombros, chateado. Não tivesse estragado seu dia inteiro sendo um completo babaca com , não teria perdido aquele momento. Até com aquilo ele conseguiu foder naquele dia.
— Eu não acredito que você perdeu esse momento — Repetindo a fala dele, riu tímida — Só não foi melhor, porque você não estava lá. E a propósito… — Dando alguns passos até o sofá mais próximo, pegou uma almofada e jogou levemente nele — Nunca mais faça isso, Carlos Sainz. Você quis o que? Matar a gente de susto? De preocupação? Porque conseguiu, que ódio.
— Me desculpe — Ele segurou a almofada no ar, rindo do jeito meio bravo meio impaciente dela — Não é como se eu quisesse ter causado um acidente, eu só… estava distraído, eu acho.
— Distraído? Você acha que eu te conheço há o que? 12 dias? — riu debochada, ironizando a quantidade exata de anos que eles se conheciam — Sua mãe ficou 25 minutos comigo no telefone, me fazendo descrever tudo o que acontecia ao redor. Ela queria pegar um voo para cá, você tem noção disso?
— Tenho — A vendo andar de um lado para outro a sua frente, Carlos deu de ombros — E você não fez um bom trabalho em acalmar ela, porque ela me ligou agora há pouco e ficou mais 25 minutos gritando no telefone.
— É sua mãe, óbvio que ela surtaria — respondeu com obviedade, recebendo a almofada de volta, jogada nela por ele — Não sei quem estava mais preocupada com você, ela ou a…
engoliu o nome de antes mesmo que pudesse dizê-lo, pensando rápido. A expressão levemente descontraída de Carlos fechou-se novamente, em tristeza, e seus olhos pareceram perder o brilho, seu maxilar travou e podia jurar que ele havia soltado um suspiro frustrado. Por um segundo, vendo a postura do amigo mudar drasticamente, ela se sentiu mal em puxar aquele assunto. Mas o que poderia dizer, senão a verdade? ficou tão preocupada com ele a ponto de ter engolido o próprio orgulho e ter se enfiado na ala médica. E o que aconteceu depois disso deveria ter sido desgastante o suficiente para Carlos estar daquela forma, tão solitário e perdido.
Sainz não culparia a amiga por ser sincera. Jamais. Aquele era o fato, ele gostando ou não, ele querendo lidar ou não. tinha dito, naquele dia, ter se apaixonado por ele e tinha ficado preocupada a ponto de chorar, de se desesperar, de ir atrás dele, de tentar dar uma nova chance para o que quer que eles tinham. E apesar de não conseguir digerir toda aquela informação, todos os sentimentos que derivavam dela, ele tinha que encarar os fatos.
Precisava ver .
Precisava falar com ela. Precisava se desculpar, dizer que não era nada daquilo, dizer que ele precisava dela. Carlos precisava daquilo. Precisava da chance, de só mais um encontro com ela, de alguns poucos minutos porque, talvez, enquanto ainda houvesse tempo, ainda houvesse a chance de consertar minimamente o estrago que fez.
— Onde ela… — Quebrando o breve silêncio, Carlos limpou a garganta, encarando a amiga a sua frente — Onde ela está, ?
— Ela foi… embora — respondeu baixo, receosa.
— Embora? — Ele parecia surpreso, atônito. assentiu com a cabeça e seguiu contando, em um tom de voz baixo:
— Ela saiu atrás de você assim que vimos que você chegou no ambulatório e, depois disso, não a vimos mais. Ela só mandou uma mensagem dizendo que estava voltando para Milão.
— Caralho, o que eu fiz? — Passando as mãos pelo rosto, claramente cansado, Carlos perguntou a si mesmo em um sussurro baixo.
— O que aconteceu, Carlos? — Delicada, pegando sua bolsa de cima do sofá e passando pelo corpo, perguntou, mas totalmente ignorada.
— Ela foi embora sozinha? — Ele estava um tanto aflito, preocupado, inquieto, não sabia exatamente como descrever.
— Foi, mas Luisa comentou no grupo que o Dani vai para Milão hoje ainda, à noite — A mulher respondeu tudo o que sabia, pegando sua bolsa de cima do sofá — O que aconteceu?
— Eu não… — Carlos negou com a cabeça — Eu não quero conversar sobre isso, eu… preciso…
— Carlos! — Falando mais alto, chamando atenção dele para ela, o olhou séria, dura — O que aconteceu?
— Eu não sei, ela… entendeu tudo errado — Ele resumiu, um pingo de desespero em sua voz — Eu não sei, , preciso de um tempo disso tudo, preciso pensar. Eu preciso ir embora.
— Para o hotel? — passou a alça da bolsa em seu corpo, rapidamente.
— Para casa — Carlos a corrigiu, pegando a mala de mão do chão. pareceu refletir por alguns minutos, em silêncio, e, tirando seu celular de dentro da bolsa, passou por ele dizendo:
— Tudo bem, vamos.
— Nem fodendo, — Surpreso pela resposta da amiga, Carlos a segurou pelo braço, delicadamente, a impedindo de seguir andando. subiu seu olhar confuso do celular em sua mão até ele — Você fica. Fica aqui com o Charles. É importante para você e é importante para ele, precisam aproveitar esse momento e eu não vou estragar isso também.
— Carlos, você não está estragando nada, você… — Ela tentou dizer, mas conhecia bem a teimosia dele.
— , não! — Ele a cortou, sério — Eu vou embora, para casa, e você fica. Vim só me despedir e dizer que estou bem.
— Você está qualquer coisa, mi vida, menos bem — Ela revirou os olhos, o vendo bufar.
— Eu vou ficar bem — Ele assentiu com a cabeça — Só preciso de um tempo, para colocar tudo em ordem.
— Eu posso ir com vo… — tentou insistir, preocupada com o estado dele, mas, novamente, foi cortada pelo amigo:
— Pode, mas não vai.
— Você é insuportável — Procurando algo com a mão dentro de sua bolsa, bufou irritada — Precisa deixar as pessoas te ajudarem, Sainz.
— Agradeço, mas hoje não — Sem dar muito tempo para que ela argumentasse, ele passou rápido por dela, deu-lhe um beijo na cabeça e seguiu em direção a porta, dizendo: — Hoje você vai ficar aqui, vai ir embora com o Charles daqui a pouco e vai fazer o que não fez um ano atrás e não quero nem saber o que é… — Carlos arregalou os olhos, tirando uma gargalhada alta da amiga.
tirou a chave de sua casa de dentro da bolsa e a chacoalhou no ar. Apesar de ele e de sua família terem casa em Marbella, Carlos sempre gostou de ficar na , especialmente em tempos turbulentos como aquele, e não precisava dizer uma só palavra sobre aquilo ou sequer pedir. Ela sabia. A casa dela era maior, de frente para o mar e trazia uma calmaria que ele não encontrava em outro lugar. Como um refúgio, já estava acostumado a ficar lá há tantos anos, desde que ela comprou o imóvel, que tinha alguns pertences e roupas no que deveria ser o quarto de hóspedes mas que, no final das contas, tinha virado dele - especialmente depois da última reforma, que Carlos fez questão de participar para decorar como ele queria.
— Dois dias — atirou o maço de chaves para ele, que a pegou no ar, sorrindo sincero — e eu chego lá.
— Obrigado, . Acho que Monza nunca foi mesmo o nosso lugar — Ele murmurou triste, por um momento, sentindo como se tivesse trocado de lugar com a amiga, como se tivessem revezando. Ano passado havia sido a sofrer naquele lugar e naquele ano, era Carlos. Quase como uma tradição.
— Bom, nesse caso… — Como um estalo, ela olhou ao redor rapidamente, procurando por algo, até localizar. Carlos a viu correr até um dos cabideiros do quarto, pegar um boné e voltar até perto dele. E exatamente como ele havia feito há um ano atrás, com ela, colocou o boné delicada e cuidadosamente na cabeça do amigo, sorrindo com ternura. Carlos sentiu seus olhos marejarem pelo carinho e pela lembrança e a ouviu dizer em um sussurro — Vai pelas portas do fundo.
Desde que saiu do circuito de Monza, naquela tarde, não havia mais visto ou falado com Carlos, dando o espaço que ele precisava, que ele havia pedido. Não tinha clareza sobre o que aconteceu dentro da sala médica naquela tarde, tudo parecia tão irreal e tão mal interpretado que se perguntava se não tinha sido impulsiva, se não tinha colocado ações onde não deveria ou se só tinha, de fato, feito o que Carlos esperava dela. Tudo estava caótico dentro dela. Uma confusão absurda.
Daniel apareceu de surpresa na porta do apartamento dela, no meio da noite, e fez questão de ficar com ela pelos três dias que se seguiram. não se sentia pronta e confiante para conversar sobre tudo o que tinha acontecido com Carlos e Daniel pareceu entender aquilo. Era um bom amigo, um bom ouvinte e carinhoso o suficiente para ocupar o tempo livre dela fazendo palhaçada, falando besteira e a tirando de casa para que pudesse se divertir, viver e esquecer um pouco daquela tristeza toda. Quase uma semana depois, contudo, ele foi embora, "resolver algumas questões pessoais" que sabia ter nome, sobrenome e uma beleza deslumbrante.
E os dias que se seguiram depois da partida de Ricciardo foram incertos e um pouco ansiosos para ela. Por sorte, teria semanas bastante cheias pela frente, com a nova coleção de verão da Hermann sendo lançada em Miami, em poucos dias. Entre as provas das peças de roupa, fotos, gravação de vídeos promocionais, testes de cabelo e maquiagem, ensaios e eventos que deveria cobrir, os dias foram passando, sua mente foi sendo ocupada com o que, de fato, ela deveria se focar, e tudo foi se amenizando dentro dela.
Exceto pelas palavras de Carlos.
“Eu não sou bom para você, . E eu não posso tê-la, por que sou um completo idiota que sempre estraga tudo e que não suporta a ideia de te ver assim, por minha causa. Eu não quero te fazer sofrer, , não quero te encher de preocupações, não quero brigar nem discutir mais, eu não quero…”.
Como um disco emperrado, que tocava sem parar a mesma música, aquelas palavras ficaram em sua mente e doíam de ser lembradas. Doíam porque doía nela saber que aquele era o ponto de vista de Carlos na história; doía porque foram ditas com sinceridade, em um momento em que ele estava tão cansado, tão vulnerável. Talvez aquele tivesse sido o jeito de Carlos dizer que gostava dela. Que também estava apaixonado por ela, mas já se antecipava na impossibilidade de ficarem juntos. Não podiam. Não podiam porque talvez ele não quisesse, porque talvez ele não se sentisse preparado ou bom o suficiente. E o que podia fazer com aquela informação toda era exatamente tudo o que ela não sabia.
Estava a caminho de Miami pensando que, talvez, dali em diante, tudo entre ela e Carlos fosse mudar novamente. Apesar de estar empolgada e absurdamente feliz em poder pisar novamente em uma passarela da Hermann, estava incerta. Não sabia o que poderia esperar daquela viagem e podia imaginar que, cedo ou tarde, encontraria Carlos. Era um evento de , afinal. A chance de vê-lo era gigantesca e quase tão certa quanto a ansiedade que batia dentro dela. Tinha que se acostumar com a ideia de rever Carlos, de falar e conviver com ele, ao menos nos dias próximos ao desfile, ou tinha que fazer uma oração forte o suficiente para que seus médicos ainda não o deixassem viajar de avião. Quem sabe.
Apesar de lutar contra a curiosidade e contra a vontade de sondar aquela situação, de saber como Carlos estava, se ele havia dito algo sobre o que aconteceu no circuito, passou a perguntar eventualmente sobre o seu estado de saúde aos amigos e se ele estava bem. Tentando ser o mais casual e natural possível, falava com quase todos os dias e sempre tentava tirar informações dela. Compreensivamente, a amiga contava mais detalhes sobre Carlos, sobre os dias que estavam compartilhando em Marbella, mas não mencionava o fato de ele estar bastante triste e quase sempre de cara fechada. Sainz se recuperava bem do acidente, fisicamente. Sua mente, contudo, parecia ter ficado presa naquele dia e ele simplesmente não sabia o que fazer ou como resolver aquela situação toda com .
Entre os analgésicos que foi obrigado a tomar e o repouso que foi recomendado fazer por seus médicos, Carlos passou os dias na casa de , descansando e aproveitando o tempo para pensar, comendo o que tinha de melhor e, eventualmente, vendo sua família e a dela. A amiga demorou, de fato, dois dias até voltar para casa e, desde então, estava tão concentrada em terminar os preparativos para o desfile que ele mal tinha tempo de vê-la.
estava sempre ocupada, terminando de organizar sua viagem para Miami, dar os retoques finais na nova coleção, atender reuniões e dar entrevistas para revistas e canais de moda do mundo todo. Charles não tinha ido com ela para Marbella, já sabendo que os dias de seriam ridiculamente pesados e corridos. Era a vez dela trabalhar, a hora dela se concentrar e ele respeitava aquilo.
Apesar disso, contudo, sempre fazia questão de fazer suas refeições com o amigo, vez ou outra tirava intervalos para conversar com ele e checar se estava tudo bem. Tiveram dias calmos, bastante tranquilos, na verdade, em que Carlos pode, enfim, tirar o tempo que precisava tirar, sozinho, e conversar com sobre o que tinha acontecido no GP de Monza.
Sabia que tentava ser o mais imparcial possível, tendo em vista que também era amiga de , mas ela sempre tinha bons conselhos a dar. E Carlos sabia, porque ouvia sua amiga reforçar aquilo em alto e bom som, que teve muita culpa no que aconteceu naquele dia e que já tinha passado da hora de, finalmente, resolver as coisas com .
Era o que ele verdadeiramente queria. Era o que ele tinha que fazer.
Ao menos, precisava se desculpar com ela, por tudo. Precisava ter um tempo em que ela sentasse e o ouvisse, de coração e de cabeça aberta, um tempo que ele pudesse dizer que também estava apaixonado por ela e que também a queria, como ela pareceu querer ele em Monza. Tinha que dizer que ele estava confuso, todas aquelas semanas, que seu passado o atormentava com a insegurança que Isa deixou nele, com a sensação de insuficiente, com o medo de ser rejeitado outra vez. Dizer que Laura ainda era presente em sua vida, que ainda insistia nele quando o encontrava e que ele não queria magoar mais ninguém. Carlos precisava falar o que sentia. Precisava que o ouvisse. E havia uma chance a mais, talvez a última, disso tudo poder acontecer.
Ir para Miami era inevitável para o piloto. A cidade receberia a segunda corrida do campeonato, depois do recesso, duas semanas para frente e Carlos já estava liberado por seus médicos e pela sua equipe para correr, mesmo seus pais insistindo que não fizesse. Tinha que ir para Miami para atender ao GP e tinha que ir para Miami porque foi a cidade onde escolheu estrear sua nova coleção.
Todos os anos, a marca Hermann escolhia um país diferente para sediar o desfile de verão da coleção nova, e como uma estratégia de marketing da marca, Miami havia sido escolhida pela visibilidade e por dialogar com o lifestyle de consumo que a Hermann queria passar com seus novos biquínis e maiôs. Era jovem, quente, noturna, badalada e palco de boas memórias para todos aqueles que podiam viver a cidade em toda sua intensidade e beleza.
Quando souberam que a data do desfile coincidia com o final de semana anterior ao GP de Miami, alguns diretores da marca ficaram preocupados e tentaram mudar o local. , de fato, já tinha grande associação com a Fórmula 1, por ter crescido com um dos pilotos, por conviver quase diariamente com alguns outros e por, agora, ser namorada de um dos favoritos da temporada. Era bastante comum ver os pilotos e suas namoradas usando a marca Hermann em público, em situações cotidianas e em eventos, já havia um apelo e uma forte relação entre a marca e o esporte, uma penetração de mercado grande naquele grupo seleto e em seus fãs. Apesar de ser luxuosa, a marca não tinha um apelo esportivo e não queriam que a nova coleção fosse inteiramente associada ao mundo da Fórmula 1, pois seu público alvo consumidor precisava ser um pouco diferente agora.
Tarde demais para mover um evento daquele porte de lugar e com uma lista de convidados cheia de pessoas relacionadas ao esporte, decidiram manter o que era inevitável. Aquela era uma parte importante e grande da vida de Hermann, uma parte essencial para ela e nunca quis se dissociar ou esconder. A marca sempre fez jus a quem Hermann era e não podia ser diferente naquele momento. Seguiria com o desfile em Miami e, com sucesso, poderiam organicamente usar o espaço da corrida para promover um pouco mais da marca.
Na sexta-feira, quase uma semana depois do GP de Monza, , Luisa, Carmen e Lily já estavam em Miami e desfrutavam da piscina da mansão de na cidade. Não fazia muito tempo que a empresária havia comprado aquele imóvel e, como quase nunca estava nele, a casa parecia nova como se tivesse sido comprada no dia anterior. Era imensa, em tons de branco e creme, tinha uma piscina nos fundos digna de cinema e cômodos largos, suntuosos.
A luxuosa residência, ainda, tinha sete quartos, oito banheiros, um bar na área externa, uma sala de cinema, uma sala de jantar próxima a linda e enorme cozinha, uma pequena sala de jogos mais ao fundo e uma vista espetacular para o mar, com uma saída pequena e intimista para um trilha de poucos metros, que dava direto na praia.
chegaria só no dia seguinte, sábado, talvez direto para o desfile e, sem querer deixar os amigos desamparados, já que estavam indo mais cedo para a cidade só para prestigiar seu evento, cedeu sua casa e todas as mordomias luxuosas que podia oferecer à eles. Pediu que abrissem a casa um dia antes de chegarem, que a deixassem com as compras de mercado feitas, que abastecessem o bar e limpassem a piscina e, claro, que deixassem opções de looks da Hermann para que seus amigos e amigas pudessem vestir durante sua estadia em Miami e nos eventos das duas semanas. Tudo impecavelmente pensado, organizado e preparado pela pessoa, sem dúvidas, mais detalhista do grupo.
Lily e Carmen foram juntas de Monza direto para os Estados Unidos, logo na segunda-feira cedo. Lily tinha alguns treinos na cidade e Carmen aproveitou a deixa do verão para curtir uma de suas cidades preferidas do mundo. Luisa chegou na quarta-feira, com e, assim como ela, estava com a agenda cheia de compromissos, testes e ensaios para o desfile. Era a cara da coleção nova da Hermann e aquela seria sua primeira vez em uma passarela tão grande e tão importante. Luisa estava uma pilha de ansiedade e ter a acompanhando em cada passo, em cada segundo, estava fazendo uma diferença expressiva para melhorar sua confiança.
Na sexta, um dia antes do evento, as meninas puderam ter um dia de folga para curtirem juntas. Acordaram cedo para correr na praia, andaram de bicicleta, almoçaram juntas no deck de um píer e, pela tarde, voltaram para a casa para descansar e curtir o resto do dia. Passaram as horas conversando e tomando sol quando Lando, George, Albon e Charles chegaram na casa. Estacionaram seus carros esportivos, emprestados pelas respectivas escuderias pelo tempo que passaria no país, que juntos talvez chegassem perto do valor daquela casa, de qualquer jeito, na entrada da mansão. Não demoraram a jogar suas malas na porta de entrada e caminhar casa adentro, admirando a beleza e o tamanho do lugar e logo encontrarem as meninas.
Entre gritos animados em reencontrar os amigos e risadas altas, elas os assistiram tirar os sapatos rapidamente, deixar os pertences de seus bolsos em qualquer lugar pelo caminho e tirar as camisas, se jogando juntos na piscina. A tarde já estava chegando ao final e o calor insuportável de Miami conseguiu ser levemente refrescado pela água morna da piscina.
Para , depois de cumprimentar cada um dos amigos e vê-los com suas respectivas namoradas por um instante, tudo pareceu novamente bom. Como se tivesse voltado à etapa inicial, como se tudo tivesse encaixado em seu devido lugar novamente. Exceto pelo fato de, naquele mesmo segundo, ela ter sentido falta dele.
— Charles, o que faz aqui sem a ? — A voz estridente de Lily cortou os pensamentos de , que olhou o grupo ao redor.
Do jeito que estavam dispostos, estava sentada na beira da piscina, com as pernas para dentro da água. Ao lado dela, dentro da piscina, Alex abraçava Lily por trás, enquanto Luisa estava nas costas de Lando, que a segurava pelas coxas, dentro da água. Carmen já tinha saído da piscina e estava esticada em uma espreguiçadeira próxima, tomando sol, com George deitado ao seu lado e Charles estava deitado em cima de uma bóia, flutuando pela piscina com seus óculos de sol.
— Namorado folgado que chama — Lando zoou o amigo, que espirrou água nele — Ele acha que a casa é dele já.
— Já está nessa fase, Charles? Que rápido! O que é dela também é seu? — Carmen entrou na brincadeira, vendo ele negar com a cabeça, rindo.
— Vocês não deixam a gente em paz nem quando estamos dando certo, não é? — Charles resmungou rindo, negando com a cabeça.
— E qual seria a graça de deixar vocês em paz? — Lily mandou um beijo no ar para ele.
— Pensa o lado bom disso, cara, você se deu bem para caramba — Alex pontuou risonho, exagerando nas palavras de propósito enquanto gesticulava ao redor — Olha isso aqui! É o paraíso. Fiquei sabendo que a casa dela de Viena foi vendida pelo dobro do preço dessa, você está feito o resto da vida, meu amigo.
— Que conversa é essa, Albon? — George levantou as sobrancelhas.
— Você dá conselhos de golpista desde quando? — Charles zoou o amigo.
— Só para constar, o dinheiro da casa dela de Viena foi cem por cento revertido em caridade — Carmen comentou, dando de ombros — Saiu em todo lugar.
— Cem por cento? — Alex parecia impressionado com a informação — Que isso…
— Fica esperta, Lily — Lando riu para a amiga.
— Deixem meu amor em paz, o foco da conversa nem é esse — Ela deu de ombros, recebendo um beijinho de Alex — Achei que vinha com a , Charles.
— Ela chega mais tarde, acho que de madrugada, com o Sainz — Charles comentou casualmente, sem reparar na postura séria e rígida de , ao ouvir aquele nome.
— Então, o Carlos vem? — Luisa arqueou as sobrancelhas assim que percebeu o silêncio da amiga, que olhava para o nada — Achei que ele não podia viajar ainda…
— Ele já foi liberado pelos médicos até para correr, então viajar é o menor dos problemas. E Carlos não deixaria de prestigiar a , mesmo ela insistindo para que ele viesse somente na próxima semana, para a corrida — Charles explicou, sentando-se na bóia.
— Ele não deixaria de estar aqui mesmo, nesse momento — Albon comentou, abraçando a namorada — Acho que ele nunca perdeu um desfile dela, não é?
— Desde que Anton faleceu, ele participa de tudo da Hermann — Concordando com a cabeça, Charles comentou — É importante para ela.
— Liguei para ele ontem, me disse que está bem descansado e insistiu em vir — Massageando uma perna da namorada, George comentou, se lembrando das palavras do amigo.
— E por que você não veio com a ? — perguntou de repente, tentando desviar a atenção daquele assunto, uma tentativa claramente percebida pelo grupo.
— Ela precisou de alguns dias para trabalhar. Ficamos juntos em Monza, até terça-feira de manhã e depois ela foi para Marbella. O Sainz já estava lá, na casa dela, desde a corrida, eu fui para Londres e combinamos de nos encontrar aqui — Charles saiu da piscina e foi logo pegar uma cerveja, no bar da área externa. Trouxe consigo uma para Carmen e outra para George.
— Ele foi embora domingo já? — Engolindo a curiosidade de modo que sua voz pareceu até falhar, perguntou para Charles. O amigo sorriu fraco, compreensivo, para ela.
— Sim, falou que ele estava… precisando ir embora para casa urgentemente — Charles tentou ser delicado, mas tirou uma risada dos amigos em volta.
— E eu posso saber o que vocês estavam aprontando em Londres? — Desviando o assunto assim que viu a expressão de fechar-se levemente, em clara tristeza ao saber daquilo, Luisa perguntou.
— Charles, Lando e Alex em Londres juntos, o que esperar disso? — Carmen riu, tomando um gole de sua cerveja.
— O Albon inventou de ir em um novo campo de golfe da cidade e adivinha? O Lando perdeu — Charles gargalhou, ouvindo os amigos gritarem e rirem juntos.
— Agora me conte uma novidade? — Lily juntou as mãos em sinal de obviedade.
— Ah, qual é? O lugar era péssimo e ridiculamente pequeno — Lando tentou se defender, enquanto todos riam — Eu só sei jogar em campos maiores.
— Não, você não joga bem em nenhum campo, meu amigo — George riu.
— Sacanagem, vai? — Charles pareceu que ia defender Lando, que logo apontou para ele, como se indicasse que ele tinha razão no que dizer, mas gargalhou em seguida, quando ouviu o monegasco completar a frase: — Em um campo infantil ele deve ter uma chance.
— Só se os jogadores forem crianças também — Gargalhando, Carmen completou. Lando mandou o dedo do meio para eles dois.
— Vocês todos me pagam, escuta só — Lando apontou para eles — Eu ainda vou ganhar uma partida contra vocês, todos.
— Essa eu duvido — Albon gritou, rindo.
— É só a Lily não participar — Lando começou a justificar, tirando novas risadas do grupo do redor — E a também. Essas são as regras. Deus me livre de perder minha McLaren para ela.
— É só você não apostar — piscou para ele, debochada.
— Não conseguiria nos vencer — Com um olhar vitorioso, Lily concordou com a amiga.
— Por isso mesmo disse que se um dia vocês não jogarem, eu ganho — Lando deu de ombros e todos riram.
— Tudo bem, amor, já entendemos que você é ótimo no golfe, mas são os campos que não te compreendem — Luisa o consolou, encostando seu queixo na cabeça dele, dando ali um beijinho.
— Pode ir me zuando, você vai ver, minha querida — Lando soltou as pernas dela, a fazendo escorregar em sua costas para um pouco mais dentro da água, tirando um gritinho dela.
— Sonhar é de graça, cara — George se levantava para pegar cervejas para Alex, que ajudava Lily a se sentar ao lado de , na borda da piscina.
— E quando vai começar a festa? — Albon perguntou animado, apontando sugestivamente para a caixa de som. Carmen logo pegou seu celular, buscando alguma playlist que pudessem ouvir. A noite cairia em breve e estavam todos juntos ali, sem ter o que fazer, uma festinha não poderia ser nada mal.
— Baixou o espírito do Pierre Gasly? — perguntou curiosa, assistindo George passar a cerveja para Alex e estender outra para Lily.
— Eu também estou tentando entender, amiga — Lily a olhou de lado, tomando um gole de sua bebida.
— Fala esse nome três vezes e ele brota aqui com alguma sugestão de festa para irmos agora, nesse segundo — Charles brincou, tirando gargalhadas do grupo.
Entre as músicas animadas que ouviam, e aquelas um tanto duvidosas que Lando sugeria, as bebidas que dividiam, os petiscos pedidos por delivery e a gritaria que faziam pela área externa da casa, o grupo sequer viu a tarde passar. Por volta das sete horas da noite decidiram, enfim, tomar banho e se arrumar para jantar em um restaurante, no centro da cidade, onde Carmen conseguiu uma reserva de última hora.
havia ficado com o quarto mais na ponta do corredor, próximo a escada, Luisa e Lando no quarto imediatamente ao lado, com Lily e Alex no da frente a direita. Ao lado deles, George e Carmen ocupavam o cômodo seguinte, de frente para o quarto de , onde Charles bagunçava suas coisas. Havia apenas dois outros quartos vazios, disponíveis, e aquilo poderia ser um problema se a turma inteira, de fato, decidisse aparecer para o desfile. Mas aquela era uma situação para o futuro.
entrou em seu quarto com a mente longe, tomou banho rapidamente, secou seu cabelo e, pouco mais de trinta minutos depois, já estava pronta, sentada em sua cama, organizando as roupas que havia jogado para fora da mala, enquanto aguardava o grupo. Se bem conhecia aquela galera, sabia que chegariam super tarde no restaurante e que, provavelmente, se atrasariam tanto que perderiam a reserva. estava distraída, organizando as peças por cores, quando a porta de seu quarto se abriu abruptamente, revelando uma feliz e afobada.
— Adivinha só quem chegou? — fez uma pose e logo entrou no quarto, rindo à toa.
— A melhor estilista do mundo? — Animada em vê-la ali, antes do esperado, se levantou da cama em um pulo.
— Assim eu fico mal acostumada — A amiga brincou, correndo para abraçá-la — Ai meu Deus, que saudades das minhas amigas.
— Eu também morri de saudades, — riu, retribuindo o abraço — Achei que você só chegasse amanhã, para o desfile.
— Consegui um vôo antecipado — deu de ombros — Estava morrendo de ansiedade em vir e preciso ter uma boa noite de sono antes do grande dia.
— Boa noite de sono? Com o Charles aqui? Sei… — Provocando a amiga, comentou sugestiva — Vai relaxar de outro jeito…
— Você que está dizendo… — A outra gargalhou, sentando-se na cama junto com a amiga — Me conta tudo, como foram os dias aqui?
— Bem tranquilos, na verdade. Passamos grande parte dos dias na piscina, andando pela cidade, ganhando e torrando nosso dinheiro na Hermann — respondeu, rindo e gargalhou.
— Bom saber que pelo menos vocês deram uma passada na Herrmann, ou eu mataria vocês — comentou, sorrindo — E os ensaios, foram bons? Recebi um monte de vídeos, você e a Lu estavam lindas.
— Foram ótimos, o clima de bastidores da Hermann é muito bom — brincava com as pontas de seus cabelos — Sendo bem honesta, é difícil encontrar lugares assim, fazia bastante tempo que não me sentia tão confortável e em casa como me sinto trabalhando para Hermann.
— Está dizendo isso só porque é minha amiga? — Levantando as sobrancelhas, a encarou.
— Talvez — riu com a amiga, mas logo negou com a cabeça: — Sabe que sou honesta com meu trabalho. Não aceitaria ter fechado um contrato com você, com a sua marca, se fosse só porque somos amigas. A Hermann faz sentido para mim, para quem eu sou profissionalmente e eu sei que posso entregar muito para você. Têm sido dias muito bons, , obrigada por me dar essa oportunidade.
— Assim eu choro, — abanou os próprios olhos, rindo tímida — Foi muito difícil manter a marca depois da partida do meu pai e não fossem por movimentos como esse, como a sua chegada, acho que não seria tão incrível como está sendo.
— Ai, bendito dia que nos encontramos no golfe — riu junto com ela, trocando um novo abraço com a amiga — E você? Como passou esses últimos dias? Me conta.
— Foi bem corrido, muito cheio de trabalho e de coisas para fazer até o desfile, mas foram dias ótimos. Consegui ver minha mãe e bom, tive um tempo com você-sabe-quem — deu-lhe uma piscada marota.
— Sabe que pode dizer o nome dele, não sabe? — negou com a cabeça, tentando manter-se casual, mas não podia esconder as emoções da amiga — Como ele está?
— Bem, conseguiu recarregar as energias e, sim, ele está aqui — Falando mais baixo, sorriu para ela. Sabia que aquele era um tema delicado para , como era para Carlos, mas tinham que conversar sobre isso.
— Que bom para ele, porque eu pretendo manter toda a distância possível, como ele pediu — Descarregando de uma vez, deu de ombros.
Imaginava que, naquela altura do campeonato, já soubesse de tudo o que tinha acontecido com eles dois, no GP de Monza. Se não havia nada a esconder, também não havia mais sentimentos a reprimir. Não queria conviver com Carlos. Não quando ele sabia assumidamente que ela estava apaixonada por ele, não quando ele tinha, sem dizer nada, pedido para que ela ficasse longe.
— Amiga… — tentou começar a dizer, mas logo foi cortada por uma impaciente, se levantando da cama:
— Não, , eu sei que ele é seu melhor amigo e que deve ter te dito estar arrependido, mas eu cansei — suspirou, negando com a cabeça — Não tenho mais paciência para isso, não quero me magoar mais. Vou respeitar o pedido dele.
— Você deveria ouvi-lo, — tentava intermediar a situação, mas sabia o quão difícil era lidar com eles dois.
— Não, eu não preciso e nem quero — tentava convencer a amiga do contrário — Eu tive muito tempo para pensar, nesses últimos dias, e não podemos mais ficar nisso. Olha nosso último encontro, ele poderia ter morrido!
— , aquilo não foi sua culpa, não foi culpa de ninguém — segurou a mão da amiga — Acidentes acontecem, não é o primeiro e nem vai ser o último que o Carlos se envolve. Ele está bem e é isso que importa…
— , eu entendo, — suspirou — só que, não dá mais, eu cansei.
— Tudo bem, eu não vou insistir mais nesse assunto — respondeu, baixo, triste pelo casal de amigos — Vocês sabem o que fazem e eu só quero que fiquem bem com as escolhas que fizerem.
— Obrigada por entender e por ficar do meu lado — abraçou e sorriu, enquanto a amiga concordava com a cabeça.
— Eu sempre estarei do seu lado — riu já se levantando — Agora, se me der licença, vou procurar meu namorado, porque ele ainda não sabe que cheguei.
— Ele vai ficar feliz em te ver — Sorrindo com ternura para a amiga, comentou fofa — Ele parecia meio ansioso, estava achando que você só chegaria de madrugada ou amanhã.
— Acho que ele vai ficar surpreso, isso sim. Me disseram que o folgado já se espalhou pelo meu quarto inteiro… — revirou os olhos.
— Homens… — bufou, risonha.
— Eu diria, Charles… — gesticulou, corrigindo a amiga na brincadeira — A desorganização em pessoa. E, ah, falando em homens… o Carlos está no quarto à frente — A austríaca piscou e saiu rindo, enquanto balançava a cabeça, negativamente.
Pouco mais das nove horas da noite, exatamente uma hora atrasados, como imaginou, o grupo se reuniu novamente na sala de estar da residência. estava sentada na ponta do sofá, ao lado de Lily e Albon, conversando animadamente com o casal. Alguns passos deles, abraçava Lando, Luisa, George e Carmen, os cumprimentando, pois ainda não os tinha visto, enquanto Charles vinha alguns passos atrás, conversando com Carlos.
Como se tivesse algo nele cuja simples presença chamasse atenção de , os olhos dela se levantaram casualmente de Lily e Alex até ele. Carlos estava de calça jeans azul clara, uma camisa polo branca e tênis, tinha um brilho nos cabelos levemente penteados para trás e era possível ver o curativo, já menor e bem limpo, em seu braço machucado. Ele conversava animadamente com Charles enquanto se aproximava do grupo de amigos e assistiu a alegria deles em vê-lo chegar, celebrando o fato do espanhol estar bem e ali.
Carlos cumprimentou um por um deles e, sentindo-se observado, encontrou seu olhar no dela. Distante dele, o encarava de um jeito estranho, um jeito diferente. Como se estivesse ponderando, hesitando sobre o que deveria fazer. Como se estivesse feliz em vê-lo ali, mas contendo seus sentimentos. Ela queria cumprimentá-lo, queria abraçar ele como viu os amigos fazerem, queria conversar com ele, perguntar como estava, saber sobre os dias que se passaram, mas outra parte dela só queria que ele fosse embora.
E era aquela ambiguidade que transparecia em seu olhar, no silêncio breve, enquanto o encarava bem ali. Carlos tentou sorrir levemente para ela, em busca de qualquer migalha de atenção que poderia ter mas, exatamente como ele imaginava, ela desviou seu olhar de volta para Lily e Alex. No fundo, ele imaginava como aquele reencontro seria, tinha uma ideia do que podia esperar e estava pronto para enfrentar o ignorando como se ele sequer existisse.
Sainz assistiu Lily e Alex se aproximando dele, o abraçando rapidamente em cumprimento, enquanto levantou-se do sofá e manteve-se em pé ali, a alguns passos de distância. O máximo que fez foi assentir brevemente com a cabeça e logo desviar os olhos para seu celular, parecendo totalmente desinteressada nele. Carlos trocou um olhar breve com que, sorrindo, negou discretamente com a cabeça, como se o dissesse para deixar quieto, pois estava tudo bem. E enquanto se aprontavam para, finalmente, sair, com as meninas pegando suas bolsas e os rapazes certificando-se de que tinham tudo o que precisavam - carteiras, celulares e chaves dos carros, Carlos não pode deixar de reparar em como estava linda. Tinha a pele levemente queimada pelo sol e estava vestida com um vestido curto, de alças finas, que ressaltava seu colo e a marca do biquíni.
Para , estava sendo uma missão quase impossível ignorar o piloto. Parecia conseguir sentir apenas o perfume dele no ambiente, parecia que só sua voz grave e sua risada baixa, contida, soavam em seus ouvidos e que seus olhos estavam viciados em qualquer movimento que ele fazia. Carlos estava lindo naquela noite. Transmitia a certeza e a segurança de sempre em sua postura impecável, mas tinha um misto de serenidade e de controle da situação que o deixavam ainda mais charmoso.
afastou seus pensamentos absurdos assim que ouviu a porta da frente ser aberta por George e, caminhando até lá, passou por Carlos resistindo a olhá-lo. Tinha que manter o foco em sua decisão, estava tomada. Tinha que se lembrar da conversa que teve mais cedo com e de toda sua disposição para realmente esquecer tudo o que viveu com ele, dos sentimentos que desenvolveu e da saudade que sentia. Seria melhor daquela forma.
Apesar de parecerem interessados em outras coisas, os amigos com eles estavam um pouco apreensivos quanto à interação dos dois. Esperavam pedidos de desculpas, gritarias, brigas e discussões, mas não o silêncio e a falta total de contato. Não forçariam a barra para que as coisas entre eles ficassem bem, não mais. Já tinham tentado demais e já tinham visto o suficiente para saberem que não valia a pena o esforço, que, no final, podiam sair mais magoados do que já estavam. Por isso, estavam lidando com a presença fantasma deles dois como podiam lidar: fingindo estar tudo bem. parecia fingir que Carlos não existia e ele, por outro lado, claramente procurava seu olhar insistentemente, meio triste, sem qualquer sucesso.
— Vamonos — falou alto, animada. Estava usando um conjunto de tricô vermelho, com a saia midi justa ao corpo e uma fenda lateral na perna e um top-sutiã de alças médias, torcido no meio dos seios.
— Vamonos — George imitou a amiga e logo completou — Só precisamos nos dividir, podemos ir em poucos carros.
— A Ferrari que me cederam aqui, de novo, tem só dois lugares — Charles comentou pensativo, olhando para a namorada.
— Vamos no meu, então — Alex propôs e segurou a mão da namorada enquanto, no mesmo movimento, pegou a mão de também — Vamos eu, Lily, , e Charles.
— Eu e o Lando vamos com George e a Carmen, então — Luisa deu a mão para o namorado, vendo o outro casal concordar com a cabeça.
— Vou dar caroninha pro Sainz — Cutucando o amigo com a chave de seu carro, Lando o irritou, recebendo um empurrão leve dele em resposta.
— Perfeito, nos vemos lá — Charles respondeu saindo pela porta, pegando a mão da namorada.
— Lando versus Alex, quem chegar por último paga a conta? — George sugeriu, vendo os amigos concordarem enquanto riam.
Depois de mais alguma gritaria e apostas entre eles, o grupo saiu em direção ao centro da cidade, onde o restaurante estava localizado. Era um lugar luxuoso, intimista, muito conhecido na região, que servia comida italiana com abordagens pouco tradicionais e com ingredientes locais. Carmen havia recebido a recomendação do local de alguns amigos e fez a reserva para o grupo. Em menos de vinte minutos, os dois carros chegaram, foram deixados com os manobristas logo na porta do local e o grupo, enfim, entrou. Foram prontamente recepcionados por funcionários do local e rapidamente guiados para o segundo andar, onde poderiam desfrutar da noite com tranquilidade, sem incômodos de fãs ou curiosos.
Na mesa grande e redonda, com apenas eles ocupando aquele andar, todos se sentaram rapidamente, se distribuindo. Júlia e Charles ficaram mais próximos à janela, com ao lado do amigo, sendo seguida por Lily e Albon. Seguindo a roda, George e Carmen vinham, de frente para o primeiro casal, enquanto Luisa e Lando davam a sequência. A mesa fechava-se, enfim, com Carlos, entre Lando e , com uma boa visão para a modelo, que continuava o ignorando, interessada demais na carta de vinhos.
Alguns garçons andavam pelo local, entregando os cardápios, organizando a mesa e anotando os pedidos de bebidas de todos eles. Enquanto se decidiam sobre o que beber, o chefe de cozinha do tradicional restaurante foi se apresentar ao seleto e exclusivo grupo de clientes e, por ser de origem italiana e um ferrarista de carteirinha, teve uma breve conversa animada com Charles e Carlos, tirou uma selfie com eles, e logo voltou ao seu posto de trabalho.
— Onde está o Daniel e o Gasly? Por que eles não estão aqui? — Luisa perguntou de repente, assim que os garçons deixaram a mesa. Estava curiosa por não estarem ali com eles, sentia como se o grupo não estivesse completo.
— O Gasly eu não sei, mas estive com o Daniel antes de vir pra cá e ele disse que precisava resolver alguma coisa em Mônaco, foi embora às pressas de Milão… — deu de ombros, lembrando-se.
— Achei que ele viria com você — Alex comentou despretensiosamente, colocando o guardanapo no colo.
— “Resolver alguma coisa em Mônaco” — Repetindo as palavras da amiga, Lando fazia aspas com as mãos, tirando risadas do grupo — Essa alguma coisa tem nome e sobrenome.
— A aesthetic do Daniel misterioso está durando tempo demais — Lily brincou.
— Acho que só não está durando tanto quanto a fase cachorro do Pipi — revirou os olhos, vendo os garçons começarem a servir seus drinks pela mesa.
— E ele? Não veio por que? — Carlos arriscou perguntar, curioso, já imaginando que a resposta envolveria alguns de seus rolos amorosos.
— Na terça, quando deixamos Monza, Pierre me disse que iria para Saint Tropez, se encontrar com alguém — Charles riu, pegando sua taça de vinho.
— É uma mulher por cidade mesmo, eu hein — George negou com a cabeça.
— Eu não dou conta nem de uma direito, imagina de várias — Risonho, Albon comentou, vendo a careta da namorada ao seu lado, que debochou:
— É por que eu já sou completa, meu bem — Ela segurou a bochecha do rapaz com um pouco mais de força, tirando risadas de todos — Você não precisa de mais uma, não é?
— Claro que não, meu amor — Fingindo estar sem graça, Albon respondeu.
— Ótimo, bom mesmo — Semicerrando os olhos para ele, Lily respondeu e logo sorriu satisfeita.
— Mas, o Dani me disse que viria para o desfile — voltou à questão inicial, informando o grupo — Ele ficou chateado de não ter conseguido ir no último, disse que não perderia esse por nada.
— Ele vem é atrás das roupas grátis da Hermann, não ia dizer nada… — Lando zoou, vendo negar com a cabeça, tomando seu vinho.
— Já o Gasly, eu não contaria muito com a presença — Charles comentou reflexivo.
— Para ficar uma semana à toa e em Miami, curtindo com a gente? Ele vem sim — Carmen se debruçou levemente sobre a mesa, comentando baixo, como se contasse um segredo.
— Eu repassei a lista de confirmados do desfile durante o voo para cá e ele estava nela — comentou, se lembrando de ter visto o nome do amigo.
— Gasly num evento decente? Essa é nova — George brincou, tomando um gole do vinho.
— Tive que barganhar a presença dele, na verdade — assumiu, sem segurar as risadas enquanto contava — Ele me ligou na época que eu estava mandando os convites do desfile, pedindo para eu mandar umas camisas para ele vestir em um encontro, algo assim, e eu disse que só mandaria se ele viesse ao desfile. Ele jurou que viria.
— O que Pierre Gasly não faz por mulheres… — Luisa murmurou, rindo.
— Muito menos do que eu faço — Lando deu de ombros, convencido de si mesmo, tirando gritos debochados dos amigos — Eu já até estou aqui, só para prestigiar o meu amorzinho — Ele seguiu dizendo, o apelido final em português.
— Se não estivesse, eu cortaria seu amiguinho fora, meu benzinho — Falando do mesmo modo que ele, Luisa apontou sugestivamente para baixo, fazendo todos gargalharem.
— Que relacionamento mais saudável — George juntou às mãos, encarando o casal.
— Quietinho aí, inglês, ou vai sobrar para você e seu amiguinho também — Luisa apontou para ele, gargalhando da cara que Carmen fez.
— Ai a Carmen larga ele — Lily brincou, vendo Russell arregalar os olhos exageradamente, enquanto levantava as mãos, se rendendo:
— Não está mais aqui quem falou.
— Estão animadas para o desfile? — Carlos olhou para , Luisa e , respectivamente, buscando qualquer que fosse a chance de ela falar com ele. A modelo, contudo, fingiu não ouvir a pergunta, enquanto tomava seu vinho.
— Já é amanhã, ai caramba — Sem querer deixar o amigo sem graça, respondeu apreensiva — Fiquei tantos meses trabalhando nessa coleção, agora o tempo parece estar voando.
— Confesso que estou ansiosa — Luisa encolheu os ombros, sentindo o namorado passar um braço pelo encosto de sua cadeira, a abraçando levemente de lado — É meu primeiro desfile de passarela para uma marca tão gigante quanto a Hermann, e agora que está tão próximo, eu estou ainda mais nervosa.
— Você vai estar incrível amanhã, meu amorzinho — Lando a apoiou, recebendo sorrisos em resposta.
— Você nunca errou, amiga — Lily concordava com a cabeça, sorrindo.
— Vai se sair bem, Lu, não se preocupe! Não subiria naquela passarela se não fosse a pessoa certa para estar ali — a confortou e concordou com a cabeça.
— Vai arrasar, igual arrasou em todos os ensaios — deu uma piscada para ela, que mandava beijos nos ar para as amigas.
— E a coleção está incrível, vai ser perfeito — Carmen, que já tinha visto um sneak peak com algumas peças da coleção nova de , seguiu incentivando as amigas. Amava estar com elas, amava os trabalhos delas e amava poder participar daqueles eventos. Estava verdadeiramente animada.
— Está mesmo, será um desfile memorável — completou a amiga.
— Outro desfile memorável, você quer dizer — Charles a corrigiu, dando um beijo rápido na bochecha da namorada, que sorriu tímida.
— Não me façam chorar aqui, por favor — se abanava com a mão enquanto fingia chorar e o grupo riu.
— Por que você só chama as meninas para trabalhar com você? — Alex perguntou para , sério, mas ela sabia que ele estava brincando — O que eu tenho que fazer para ser o modelo da sua próxima coleção?
— Nascer de novo — Lando debochou, tirando novas gargalhadas do grupo.
O grupo ficou por ali por algumas horas. Entre as entradas, os pratos principais e as sobremesas, diversas taças de vinho foram servidas, enquanto conversas e risadas eram trocadas, fofocas eram compartilhadas e, naquela noite, ao menos no tempo que passaram ali, todos pareciam estar se divertindo. Até mesmo Carlos e , que seguiam no jogo de ignorar-e-ser-ignorado, evitando a todo custo a presença um do outro, se divertiram com os amigos, conversavam animados, brincavam e faziam piadas com todos.
Já tinham finalizado as sobremesas há cerca de meia hora quando resolveram ir embora. Lando pediu a conta e, como havia chegado meio segundo depois de Alex e perdeu a aposta que fizeram, arcou com o jantar do grupo inteiro. Com a conta paga e, finalmente, todos em pé, eles agradeceram pelo serviço e tiraram uma foto em grupo com os funcionários, que pediram para colocar no amplo mural de fotos de celebridades que já haviam passado por ali, no primeiro andar.
Os motoristas não demoraram a trazer os carros de volta e aquele foi o único e exato segundo que Carlos conseguiu ter algum contato direto com naquela noite. Lando e Luisa tomavam seus respectivos lugares na frente do veículo quando Carlos abriu a porta para que Carmen entrasse, vendo George dar a volta para entrar no banco de trás com ela, no lado oposto do veículo. Carmen agradeceu ele, sorrindo, e entrou rapidamente. Junto com ela, alguns passos atrás, fez menção de entrar no carro também quando reparou que estava no carro errado. Tinha ido com Alex, não com Lando, estava tão distraída conversando com Carmen que foi por impulso.
— Ai não! — parou um segundo antes de começar a agachar para entrar no carro, voltando sua postura ao normal. E só se deparou que tinha falado alto quando ouviu a resposta da única pessoa que não queria, definitivamente, conversar.
— O que foi? — Carlos perguntou preocupado, a encarando.
E só naquele segundo notou o quão próximos eles estavam. Os olhos castanhos dele sobre ela fizeram as pernas de fraquejarem por um segundo e, não estivesse segurando levemente no carro, ela jurava que poderia desmontar-se. Carlos seguiu a olhando por alguns segundos, totalmente imerso no fato de aquele ser, talvez, o único momento que parecia realmente ter visto ele ali, com dela, tentando se aproximar dela de alguma forma, tentando ter sua atenção. Mas aquilo tudo, infelizmente, não durou muito mais tempo.
— Estou no carro errado — Ela falou baixo, rindo envergonhada.
Carlos, contudo, não aguentou e gargalhou. E ouvi-lo ali, tão livre e tão natural, rir da situação como se absolutamente nada tivesse acontecido entre eles fez sentir seu coração quebrar em mil pedaços diferentes. Por que tinha se apaixonado por ele? Por que se permitiu chegar naquele ponto? E como faria agora, para se livrar daquela sensação sufocante de querer tê-lo e não poder? De querer mais daquele Carlos, o que ria confortável, feliz e lindo a sua frente.
— Desculpe, pelo jeito que falou, achei que tinha acontecido alguma coisa — Ele explicou calmamente, colocando uma mão no bolso de sua calça.
— Quase roubei sua carona — riu com ele, sem saber como deveria reagir.
— Tudo bem, pode ir com eles — Ele gesticulou para dentro do carro, segurando a porta ainda aberta, para ela — Vou com o Alex, apesar de isso soar um pouco inseguro.
— Você vai sobreviver — sorriu levemente para ele e, enfim, sentou-se no banco traseiro, ao lado de Carmen, vendo Carlos fechar a porta do carro no instante seguinte, com um suspiro.
Os poucos minutos de volta para a casa de foram ocupados com as músicas da rádio sendo cantadas em conjunto, vídeos que gravavam do momento nos respectivos carros, gargalhadas e provocações que faziam uns aos outros quando os dois carros paravam nos faróis. Chegaram quase vinte minutos depois e, alguns cansados e outros fechando-se em suas bolhas, foram logo se dispersando, desejando boa noite, pegando água na cozinha, começando seus rituais antes de dormir. Carmen e George foram diretamente para o quarto descansar, enquanto Lily, Albon, Lando e Luisa se trocaram em minutos e, com seus pijamas e cobertores, se encontraram na sala de cinema, para assistir o filme que tinham comprado mais cedo, durante o jantar.
Querendo evitar Carlos, que poderia estar na sessão de cinema dos amigos, recusou o convite e desejou boa noite a todos eles, indo direto para seu quarto. Teria um longo e importante dia pela frente e nada poderia dar errado. Era melhor descansar e focar em seu trabalho. Sainz, por sua vez, estava sem clima algum e pouco afim de ficar de vela para os casais. Depois de ser ignorado a noite inteira pela modelo, ele se sentia frustrado e consumido pela ansiedade. Pegou um copo de água na cozinha, já que teria que tomar alguns remédios para dormir por conta de seu braço, e foi direto para seu quarto. Se isolar por algumas horas o faria bem e era tudo o que ele queria. Carlos deitou-se logo em sua casa e, exausto pela viagem, dormiu sem nem mesmo ter tempo de tomar os remédios.
No quarto próximo ao dele, Charles esperava a namorada sair do banho enquanto assistia aos vídeos que Luisa tinha compartilhado deles, naquele dia, se divertindo na piscina mais cedo, durante o jantar e pouco minutos antes, gritando uns com os outros em um farol qualquer que pararam no caminho de volta. gostava de tomar banho antes de dormir, especialmente quando estava exausta como naquele dia. Tinha enfrentado um voo de dez horas e, apesar da primeira classe ser bastante confortável, o voo tinha sido diurno e ela certamente não havia conseguido descansar, com tantas atividades para se inteirar para o desfile no dia seguinte. demorou mais tempo do que o previsto no banho e, meia hora depois que entrou, saiu com seus pijamas cor-de-rosa, piscando pesadamente pelo quarto.
— Achei que tivesse dormido no chuveiro — Charles comentou jogado na cama. Estava só de samba-canção e com uma preguiça absurda de se levantar e procurar qualquer roupa para dormir — Já ia entrar lá para saber se estava tudo bem.
— Estava quase dormindo mesmo, estava tão quentinho — Ela fez um biquinho saudoso, indo em direção a sua bolsa de mão, enquanto o olhava sugestiva — Mas se você tivesse entrado lá, talvez eu acordaria...
— Que merda, deveria ter pensado nisso antes — Charles balbuciou frustrado.
— Perdeu a oportunidade — Ela riu e voltou-se para ele, com um envelope em mãos, caminhando até a cama, onde se jogou sentada.
— Vai trabalhar ainda, ma petite? — Um tanto manhoso, querendo atenção dela para si, Charles perguntou sério — Está tarde já, vamos descansar.
— Não, não é trabalho… — negou com a cabeça, sorrindo, arrumando-se para ficar sentada de frente para ele — Bom, na verdade é, mais ou menos. Eu só quero… te mostrar uma coisa.
— Me mostrar? — Curioso, ele se ajeitou na cama, sentando-se mais perto dela.
— Isso chegou lá em casa ontem e acho que você vai gostar de ver — Ela riu tímida, entregando o envelope que segurava para ele.
— O que é isso? — Charles chacoalhou o envelope, tentando adivinhar o que tinha dentro, mas era impossível. Não tinha nem ideia.
— Um presentinho. Ia esperar até seu aniversário, mas fiquei ansiosa demais — respondeu animada, gesticulando para que ele o abrisse logo.
E bastou a Charles virar o envelope para o outro lado, onde poderia enfim abri-lo, para ter uma ideia bastante clara do que acontecia ali, do que tinha ganhado de presente. Todo branco com apenas as bordas em preto, o envelope em tamanho quadrado, mediano, tinha o nome da empresa que o havia enviado para no dia anterior: Pantone. Charles subiu seu olhar surpreso, do conteúdo em suas mãos até a namorada, que abriu ainda mais o sorriso, emocionada pelo silêncio dele que, para ela, dizia muito naquele momento.
— Você não… Você não fez isso, — Ele tentou dizer algo, mas nada parecia bom o suficiente para expressar a alegria que sentia naquele momento.
— Só vai descobrir se abrir para ver — Rindo feliz, ela apontou para o envelope, mas Charles não parecia ter pressa alguma. Em um movimento rápido, ele jogou seu corpo contra o dela, deitando-se por cima dela na cama e dando-lhe vários beijos seguidos, rápidos, tirando uma gargalhada alta da mulher.
— Eu não acredito nas coisas que você faz, Hermann — Ele sussurrou com a pontinha do nariz encostada na dele, sorrindo levemente.
— Por você? Até o impossível, se quiser — No mesmo tom de voz baixo, ela sorriu, recebendo um beijo calmo dele, em resposta.
— Eu te amo tanto, sabia? — Charles comentou sereno, assim que quebrou o beijo.
— E eu amaria tanto que você abrisse o envelope — Passando as mãos carinhosamente nas costas dele, ela rebateu do mesmo jeito, tirando uma risada de Charles.
— Tudo bem, ansiosa, vamos ver o que tem nele… — Charles deixou seu corpo cair ao lado do dela, na cama, virando-se para ficar de bruços e conseguir manusear o envelope. apoiou-se em seus cotovelos, atrás do corpo, elevando seu tronco para conseguir ver melhor o que acontecia. De fato, estava ansiosa por aquele momento, desde o segundo que viu a correspondência chegar em sua casa, em Marbella.
Com cuidado, Charles não demorou muito mais tempo para abrir o envelope e, sem cerimônias, tirou de dentro dele um pequeno retângulo em papel brilhante, de gramatura mais espessa. Em um lado da forma geométrica havia um quadrado azul escuro e nada mais. Tinha uma borda ao seu entorno, que lembrava o formato de uma polaroid e dependendo do movimento que fazia, o tom de azul ficava mais opaco, mais intenso. Charles sorriu sozinho vendo a forma e sua cor, o que já foi suficiente para sentir seu coração bater mais forte e que se intensificou quando ele, enfim, o virou, e viu o que estava escrito bem ali, na parte de trás:
"Um azul escuro que gosto… me lembro de quando meu pai me levava para passear de barco na praia, em Mônaco, e quando a gente chegava em alto mar, no final de uma tarde de sol, é dessa cor que a água fica, sabe? Um azul sóbrio, mas vibrante, é um tom de petróleo, mas tem uma nuance iluminada. É esse azul escuro".
E logo abaixo, em letras um pouco maiores, vinha algo que fez Charles verdadeiramente se emocionar. Duas palavras simples, duas palavras que inundaram sua mente com a memória que ele achava que não tinha mais ou que não havia feito tanto sentido para ela quanto pareceu fazer naquele dia, para ele. As duas palavras que tiraram dele um sorriso enorme. Azul Leclerc.
Quase três anos atrás, Charles estava em Budapeste com o mesmo grupo de amigos daquela noite. Tinham agendas bastante cheias na cidade, ao longo da semana do GP local, e, entre eles, a FIA tinha promovido um almoço de confraternização, para celebrar a renovação de boa parte dos contratos de patrocinadores para a temporada seguinte. Era um evento fechado, elitizado, para poucos convidados selecionados e cada piloto podia levar um único acompanhante, caso desejassem. Sozinho na cidade e sabendo que encontraria os amigos por lá, Charles não quis levar ninguém. E tudo corria bem, entediante e meio chato como sempre, cheio de conversas de elevador, sorrisos meio falsos e pessoas que ele nunca se lembrava o nome, até Carlos chegar.
Naquele ano, Carlos era parceiro de Lando na temporada e Charles, apesar de ter bastante contato com ele, ainda não era o amigo que se tornou dali alguns anos e, portanto, não sabia de muitos detalhes, tão íntimos, da vida dele. Sabia que Carlos estava na capital do país vizinho, Viena, por motivos pessoais e, por isso, não havia chegado no mesmo dia que os demais e não estava cumprindo a agenda da semana. Sabia que ele tinha levado um fora de Isabel não muito tempo antes e, definitivamente, não sabia que ele estava saindo com alguém - o que Charles pensou assim que o viu chegar no almoço, acompanhado por uma mulher. Um pensamento que, pelos olhares curiosos de alguns dos presentes, era compartilhado por outras pessoas.
A mulher com Carlos parecia ter a mesma idade que ele, era sorridente, atenciosa, parecia simpática, a tirar pelo fato de reagir a todo mundo que parava para conversar com eles dois como se já conhecesse aquelas pessoas há anos e Charles não podia mentir, ela era linda. Estava com um vestido longo, solto no corpo, com estampa de flores em tons de rosa e verde, tinha os cabelos meio presos e um dos braços cruzados no de Carlos, que a conduzia delicadamente por onde andavam, parando para cumprimentar pessoas pelo caminho.
Ela parecia familiar e Charles notou que algumas pessoas também estavam familiarizadas com ela, indo seguramente a cumprimentar como se já a conhecessem, passando direto por Carlos muitas vezes, mas ele não conseguiu resgatar em sua mente em que outro momento já a tinha visto. Sequer sabia que Carlos tinha alguém novo em vista e, a tirar pelo fato de tê-la levado em um evento como aquele e de estar sendo tão delicado e carinhoso com ela, parecia algo realmente sério. Charles se perdeu naqueles pensamentos, observando discretamente o novo casal ocupando o salão do evento como se fossem eles próprios a atração do dia, até, enfim e sem querer, descobrir quem ela era.
— Achei que Carlos não vinha — Lando comentou baixo, cortando a atenção de Charles — Estava em Viena com ela, declinou todos os compromissos da McLaren dessa semana.
— Ele está saindo com ela? Achei que ainda estava na fossa pela Isabel — Pierre perguntou curioso, tomando um gole de seu uísque — Se bem que essa daí é gata, é fácil sair da fossa assim…
— Não, animal, ele não está saindo com ela. Ela é a Hermann — Lando o encarou com obviedade, como se aquilo fizesse algum sentido para eles. Charles parecia confuso. O nome não era incomum a ele, mas não conseguia se lembrar exatamente de onde a conhecia.
— ELA? — Pierre quase cuspiu a bebida, vendo Norris concordar com a cabeça — Ela é a que o Carlos vive falando?
— Sim, é ela — Lando respondeu assertivo — Achei que você já tinha visto eles juntos nos GPs…
— Nunca reparei, para ser honesto, tem sempre uma multidão de gente nos GPs, é foda… — Pierre deu de ombros, mas logo arregalou os olhos, como se algo tivesse feito muito sentido para ele e gritou: — ESPERA! Você disse Hermann? Da marca de roupas? — Charles soltou uma risada do jeito do amigo enquanto Lando bufava:
— Não é mais lento porque é um só.
— Estou usando uma calça dela, que loucura, irmãos — Gasly pareceu feliz em perceber aquilo — Que mundo pequeno. A criadora e sua criação no mesmo lugar.
Charles e Lando olharam ao mesmo tempo para a calça social, bege clara, que ele usava e gargalharam em seguida, do jeito dramático meio filosófico dele em dizer aquilo.
— Duvido você chegar nela e falar isso — Lando riu sugestivo.
— Quer apostar? Cem euros? — Pierre estendeu a mão para ele, como se esperasse fechar a aposta.
— Não pode dizer mais nada! É chegar nela e dizer que "criadora e criação se encontraram" e mostrar que está usando uma calça dela — Lando deu as regras e, vendo Gasly concordar, apertou a mão do amigo. Pierre deu um novo gole em seus uísque e, confiante, saiu na direção dela. Charles negou com a cabeça e, observando ela e Carlos, comentou:
— Eles parecem um casal. Ficariam bonitos juntos.
— Todo mundo acha isso, mas são só melhores amigos, na real — Lando riu, lembrando-se de pensar aquilo também quando a conheceu — Pelo o que sei, que o Carlos comentou, eles cresceram juntos, as famílias são amigas e eles sempre se acompanham. Essa semana mesmo, foi o aniversário de morte do pai dela, por isso o Carlos estava com ela em Viena. Ela é de lá.
— Que barra, que merda — Charles lamentou, vendo Pierre, enfim, chegar nela, alguns passos de onde estavam — Você já conhece ela?
— Sim, ela está aparecendo sempre pelos espaços da McLaren nos GPs, acho que o Carlos está trazendo mais ela pro nosso lado do jogo agora. Ela é muito gentil, bem animada com tudo, você vai gostar dela — Lando comentou sincero, vendo a mulher gargalhando de algo que Pierre havia lhe dito, enquanto dava um passo para trás, olhando a calça dele. Gasly, então, pareceu se apresentar para ela e Lando negou com a cabeça — Perdi cem euros, me fodi.
Charles riu do amigo e, o vendo pedir licença, o assistiu se aproximando deles dois, abraçando a mulher animadamente, que pareceu realmente feliz em vê-lo ali. E pelos poucos minutos que se passaram, os observando, Charles ficou com aquela informação em sua mente. Sabia exatamente como ela deveria estar se sentindo, atendendo um evento no meio de uma semana tão solitária e triste como aquela. Charles achou curiosa a forma como ela parecia lidar com aquilo. Carlos com certeza a tinha arrastado para outro país, para um evento, para um lugar onde pudesse ocupar a mente com outra coisa senão seu pai e a falta brutal que ele deveria fazer, como Charles sentia do seu.
Não demorou muito para que a eventualidade da vida os colocasse, enfim, em contato. Carlos apresentou para ele em um momento casual do evento e, entre um cocktail e outro, se perderam no tempo conversando, rindo, se conhecendo, interagindo um com o outro. Charles pareceu a mais quieto e mais tímido do que os outros caras que conhecia no evento. Era atencioso e bastante simpático, falava baixo, tinha o sorriso fácil e os olhos intensos que a intimidavam um pouco. Era muito bonito, apesar da escolha ruim na cor do terno para um almoço, cinza grafite, e tinha despertado o interesse dela mais do que qualquer outra pessoa ali. Um interesse que logo foi engolido junto uma taça de martini, quando o ouviu falar de sua namorada.
O almoço correu bem, entre as formalidades do evento, novos drinks, comidas refinadas e conversas baixas, mas bastante animadas entre eles. Charles sempre deixava seu olhar recair sobre ele sem saber o porquê daquilo, como se ela fosse um filme que ele estava gostando de ver pela primeira vez. Viu passar algum tempo conversando com Albon e descobriu que eles já se conheciam, porque ela tinha feito amizade com Lily em um dos GPs. Viu ela desconversar sempre que alguém se aproximava para dizer-lhe que sentia muito pelo seu pai e ouviu as pessoas comentarem o falecimento dele, no evento. E Charles assistiu quando The Lumineers subiu no pequeno palco do evento e começou a tocar ao vivo. Se lembrava de ter trocado um olhar sem querer com ela quando Cleopatra começou a ser tocada e reparando que os dois cantavam a música animados, eles riram um para o outro. Em lados opostos do grande círculo que se formou em volta do pequeno show, de frente um para o outro, eles seguiram cantando, balançando os corpos no ritmo da música, mexendo um com o outro de longe.
E quando Hey Ho começou a ser tocada, Charles se lembrava de vê-la ser puxada para o centro da roda por Carlos, que a tirava para dançar com ele. Ela parecia envergonhada com a exposição, apesar de se divertir. Com Carlos a abraçando pela cintura, enquanto dançavam no ritmo da música, ela ora cantava, ora conversava com ele, ora ria de alguma coisa, ora era girada por ele. Outras pessoas logo se juntaram a eles na dança, poucos segundos depois de terem inaugurado a roda, e aquelas que se mantiveram ao redor, assistindo, como Charles, batiam palmas no ritmo da música. Como um baile antigo, talvez pela idade média dos convidados do evento ser quase jurássica, conforme a música corria as pessoas iam trocando seus pares na dança.
Charles sentiu uma vontade enorme de entrar na brincadeira, quando viu ser roubada de Carlos por Daniel. Mas ele se conteve. Não seria legal se vazassem fotos ou vídeos dele dançando com outra garota, ele não podia, apesar de não ter maldade alguma no que acontecia ali. Para evitar problemas, achou melhor engolir a vontade que parecia acentuada pelo álcool que já tinha tomado naquele dia e apenas assistir a farra, não se intrometer nela. Charles se pegou pensando se Charlotte também se permitiria curtir aquele momento, se tivesse ali, e se sentiu levemente frustrado com a resposta que veio em sua mente. Certamente não se juntaria aos amigos, certamente não interagiram muito com eles e certamente não deixaria Charles participar também.
No final da tarde, quando o show terminou, Charles se viu perdido pelo local do evento, atrás de uma garrafa de água. O bar do primeiro andar, onde o almoço oficialmente aconteceu, estava lotado e Charles tinha ouvido de alguém que podiam servir-se também no segundo andar. Carlos conversava com Lando em um canto, enquanto Gasly tirava algumas fotos na varanda. Charles passou por Albon e por George, que conversavam com Perez, viu Lewis entrar no banheiro e Daniel mostrar algo no celular para Max, que ria, até finalmente chegar no segundo andar.
Seus olhos correram o local e logo caíram sobre a única figura conhecida no ambiente, tirando um suspiro dele. De fato havia um bar no local e estava bastante vazio. Sentada em uma das banquetas de lado para onde ele estava, com as pernas cruzadas, cantava baixo a música que tocava relativamente no ambiente, Promises (Calvin Harris ft. Sam Smith). Tinha uma taça de dry martini próxima a si, mas seus olhos estavam cravados em algo à sua frente, na bancada. Com uma caneta azul, que provavelmente pediu emprestada ao barman, ela parecia desenhar em um pedaço de papel, vez ou outra jogando seus cabelos para trás.
Charles só notou que ia até ela quando já estava perto demais para desviar. Não sabia se era o fato de ter achado ela simpática, se foi a conversa legal que tiveram mais cedo, se era o perfume marcante e intenso, o jeito que ela sorria para todo mundo ou os olhos que pareciam interessados e curiosos enquanto ouvia. Havia algo nela que fazia Charles querer um pouco mais, querer ficar por perto, querer ser visto. Ela estava sozinha e tão concentrada que sequer viu ele se aproximar - ao menos, era o que achava.
— Estou começando a achar que você está me seguindo — comentou sem desviar seus olhos do que fazia. Já perto o suficiente dela, apoiando-se na bancada ao lado de onde ela estava, Charles pode ver que ela, de fato, desenhava. Um croquis perfeito em traços desordenados, com uma silhueta masculina. Ela estava desenhando alguma roupa, aparentemente.
— Droga, você notou! Eu achei que estava sendo discreto — Brincando, Charles sorriu, levantando seu olhar curioso do desenho até ela que, no mesmo segundo, o olhou.
— Não tem como não te notar — comentou com a sinceridade que só o álcool poderia lhe dar e logo voltou a olhar o desenho. Charles sentiu seu rosto queimar, pelo comentário, e logo perguntou:
— Trabalhando no meio do evento?
— Acho que minha bateria social acabou, para ser honesta — Fazendo uma careta, ela seguia desenhando — E você?
— Vim atrás de água, o bar lá embaixo está lotado — Ele suspirou, apontando para a geladeira próxima, assim que reparou no barman o olhar — Pelo visto a coisa vai longe por aqui hoje.
— Pelo visto, vou ter que arrastar o Carlos embora hoje, então — Ela brincou, desviando o olhar por um segundo assim que o barman colocou uma garrafinha de água na frente de Charles, junto com um copo com gelo.
— Me avise se precisar de ajuda — Charles riu leve e, então, apontou para o desenho — Está muito bom, a propósito.
— Obrigada — Ela sorriu tímida e contou: — Não tinha nada para fazer, vi a folha e pensei: por que não? As melhores peças que desenhei na vida foram em momentos assim. Quem sabe não sai outra calça para o Pierre...
— Não diga isso em voz alta — Charles riu com ela e logo entrou na brincadeira, abrindo a garrafinha de água — Ele já está se achando por estar usando uma calça sua, contou para todo mundo.
— Eu amei saber que ele é fã da minha marca, mas não aguento mais ele me pedindo outras calças — riu, brincando — Você também usa Hermann?
— Posso ser honesto? — Charles encolheu os ombros. o olhou e concordou com a cabeça, sorrindo — Não. Nunca tive uma peça sua.
— Tudo bem, acho que posso te fazer se apaixonar pela Hermann, então — Ela falou convencida. Charles tomou um gole de sua água, ignorando os pensamentos que teve ao levar aquela frase para outro sentido — Me diz, você gosta de camisas?
— Manga curta, preferencialmente — Ele concordou, encostando os cotovelos na bancada do bar, ao lado dela. voltou sua atenção para o croquis, rabiscando algumas coisas nele.
— Certo. E me diz agora uma cor que você gosta… — Charles não demorou a ver os traços que ela fazia virarem um desenho de uma camisa, de mangas curtas, e sorriu.
— Azul.
— Azul parece ficar bem em você, — soltou uma nova risada, puxando sua taça de dry Martini, tomando um gole pequeno. Tinha que parar de falar coisas ambíguas, ele tinha namorada — mas tem, pelo menos, um milhão de tipos de azul por aí, seja mais específico, Charles.
— Azul escuro — Charles tentou outra vez, brincando com a garrafinha de água em suas mãos.
— Você consegue melhor do que isso — insistiu, deixando a taça de lado e dando alguns retoques no desenho.
— Descrever uma cor, isso é difícil… — Charles pensou por um momento até, enfim, tentar descrever qual era o seu azul preferido — Um azul escuro que gosto… me lembro de quando meu pai me levava para passear de barco na praia, em Mônaco, e quando a gente chegava em alto mar, no final de uma tarde de sol, é dessa cor que a água fica, sabe? Um azul sóbrio, mas vibrante, é um tom de petróleo, mas tem uma nuance iluminada. É esse azul escuro.
o encarou intensamente por um momento, absorta naquelas palavras que, daquele dia em diante, nunca mais saíram de sua mente. Carlos contou para ela o que havia acontecido com o pai de Charles, em uma tentativa falha de consolar ela, como se quisesse dizer que ela não estava sozinha. Ela sabia daquilo. E sabia que Charles também não estava. carregava a mesma dor que ele e sabia que não havia absolutamente nada a ser dito. Ela, então, sorriu com carinho para ele e voltou sua atenção para a caneta que segurava.
Charles a viu rosquear a parte superior da caneta com delicadeza até abri-la e, assim que encontrou o fino tubo de tinta azul do objetivo, ela o removeu. Com cuidado, virou o tubo de tinta dentro de sua taça de martini e esperou pacientemente até que tudo se misturasse. A bebida antes transparente tomou uma coloração de azul escuro impressionantemente intensa, viscosa e bonita. Próxima ao azul que ele havia tentado descrever. Interessante e bonito para Charles, como aquela mulher era.
, então, molhou seu dedo anelar no líquido e, com cuidado, pintou o croquis, exatamente em cima de onde tinha desenhado a camisa, na silueta masculina do desenho. Charles assistiu aquilo tudo atônito, curioso, um tanto surpreso. E só reparou que sorria sozinho quando suas bochechas pareceram começar a doer. O que era Hermann e por que não tinha aparecido antes em sua vida? Charles, contudo, não teve muito mais tempo de pensar naquilo, porque assim que ela limpou sua mão em um guardanapo, com o desenho pintado e pronto, ele a viu assinar o croquis e se virar na direção dele, saltando do banco onde estava sentada, enquanto dizia:
— O azul Leclerc — Ela sorriu o olhando e, passando por ele em direção a Carlos, que parecia tê-la encontrado e a chamava de longe — Vou me lembrar dele.
se lembrou.
E meses depois, com uma convivência e uma amizade que foram se intensificando no tempo, no aniversário seguinte de Charles, ela mandou entregar em sua casa a exata mesma camisa que ela desenhou casualmente para ele naquele final de tarde. Uma peça única, exclusiva, feita por ela e especialmente para ele. Uma peça que o pegou de surpresa quando abriu a luxuosa caixa da marca, que não tinha valor monetário algum, que ele só usava em momentos muito importantes, que o fez começar a ver a amiga nova de um jeito diferente, que deu ao coração dele uma inquietação estranha. Uma peça em um tom de azul escuro que significava mais do que qualquer outra cor.
O tom de azul escuro que flutuava nele entre a dor, a saudade e o amor. O azul escuro que dois anos depois, havia patenteado e comprado os direitos na Pantone, a maior autoridade de cores do mundo. O azul escuro que, naquela noite, em Miami, ela dava de presente para ele.
O azul dele. O azul Leclerc.
Capítulo onze
Miami, Flórida.
Uma semana antes da corrida.
, e Luisa acordaram mais cedo do que os demais na manhã seguinte, ansiosas e cheias de coisas para finalizar para a preparação do desfile, que aconteceria no final daquela tarde de sábado. Tomaram um café da manhã corrido, se arrumaram às pressas e saíram por volta das 7h da manhã, deixando os amigos dormindo tranquilamente no silêncio incomum da casa. Com o carro de Lando emprestado, sem que ele soubesse, dirigia tranquilamente pelas ruas vazias de Miami, enquanto as amigas conversavam sobre alguns detalhes do desfile e repassavam a agenda do dia. aproveitou o caminho para relembrar algumas dicas que havia trocado com Luisa durante a semana, comentava sobre alguns erros comuns na passarela e ouvia atentamente, dando palpites pelos anos de experiência, de vez em quando.
Quando a empresária estacionou o carro, as três saíram em direção a entrada do local, sendo acompanhadas por alguns paparazzis de plantão desde cedo, que captavam o momento do grupo, gritando por elas, tentando perguntar algumas coisas, se empurrando para conseguir o melhor ângulo. Alguns seguranças do evento a ajudaram a passar por eles e tão logo entraram no local, já foi puxada por sua assistente, que a informava furtivamente sobre alguns imprevistos que aconteciam na organização. e Luisa foram conduzidas por outro assistente direito para os camarins, onde puderam deixar os seus pertences e, logo após, irem direito ao último ensaio do dia. Passaram algumas boas horas ali, se divertindo, focando em seus trabalhos, conversando e se enturmando com outros modelos, encantadas com o tamanho do evento que se desenhava diante de seus olhos, vivendo a importância daquele momento em suas carreiras. Tudo parecia um sonho.
ficou o dia inteiro ocupada com os retoques finais de toda a organização. Gravou dezenas de vídeos de divulgação da coleção nova, deu entrevistas para jornalistas e revistas de modas conceituadas que acompanhariam a estreia das peças novas e, depois de ser arrumada por sua equipe, cerca de uma hora e meia antes do evento começar, dedicou-se a receber os convidados. Não conseguiu encontrar ou dar atenção às amigas, mas, vez ou outra, dava uma checada geral para saber se estavam bem. O assistente responsável pela dupla, deu suporte e as ajudou em tudo o que precisaram ao longo do dia - de almoço a litros de energéticos, de buscar o carregador de celular a fazer alongamentos eventuais.
Por volta das 15h, Luisa e já estavam no camarim principal, junto com as dezenas de outros modelos, se preparando para o grande momento. Já vestiam os primeiros biquínis que apresentariam no desfile e estavam sentadas lado a lado, esperando que os cabeleireiros e maquiadores fizessem seus trabalhos. Alguns fotógrafos oficiais da Hermann registravam os bastidores, enquanto a Social Media da marca corria de um lado a outro, produzindo conteúdos orgânicos para divulgar o dia nas redes sociais. O mundo, ao menos o da moda, parecia atento a toda e qualquer movimentação da Hermann naquela tarde e as expectativas pareciam grandes, a tirar pelos milhares de comentários, hashtags e compartilhamentos sobre a marca espalhadas pela internet.
Os modelos pareciam se divertir nos bastidores e, sempre que podiam, orgulhosos de si mesmos por trabalhar para uma marca como aquela, faziam vídeos e postavam fotos do que acontecia ali. Os convidados, por sua vez, não pareciam ficar atrás. E a cada dúzia de fotos que tiravam, oficiais ou com seus celulares, uma nova onda coletiva de surtos virtuais acontecia, comentando quem eram as pessoas que estavam no evento e o que acontecia entre as quatro paredes mais quentes do momento. Uma dessas pessoas, a postar alguns stories do evento, no painel de entrada da Hermann, com seus amigos e usando um conjunto esportivo feito especialmente para ele, para aquele dia, era Lando Norris.
havia feito um modelo especial para presentear cada um de seus amigos e, quem sabe, os incentivar a usar no desfile. Tinha deixado as sacolas com os nomes de cada um deles na sala de sua casa, antes de sair para trabalhar naquela manhã e acompanhou o entusiasmo deles pelo grupo, postando fotos e mandando áudios celebrando o fato de terem peças exclusivas da Hermann. Tinha trazido tecidos, costuras, estampas e cortes de sua última coleção apresentada ao mundo, a de verão, e tinha se importado o suficiente em considerar as cores preferidas de cada um deles. Cada peça de roupa tinha uma etiqueta interna, delicadamente costurada, com o nome e sobrenome de seu dono ou dona, o que dava ainda mais a sensação de exclusividade e aguçava ainda mais a ideia de pertencerem a um grupo muito seleto de pessoas.
Todos eles haviam postado fotos de suas etiquetas, das sacolas, feito vídeos da sala cheia de peças da Hermann enquanto comparavam o que haviam ganhado uns com os outros, como se aquela manhã fosse 25 de dezembro. Estavam empolgados pelo evento, orgulhosos das amigas e mal podiam esperar para, enfim, sair por aí desfilando suas novas peças de roupas favoritas.
Faltando menos de uma hora para o início do desfile, Lando entrou no camarim empolgado, cumprimentando algumas pessoas pelo caminho que, curiosas em reconhecê-lo, observavam por onde ele passava até, enfim, encontrar a namorada. Luisa estava sentada e usando um roupão preto, com a marca da amiga bordado nas costas. Em sua cadeira, havia escrito “L. Oliveira” e, sem que ela percebesse, concentrada demais em ajustar o gloss que o maquiador havia recém passado nela, Lando tirou uma foto da namorada. E pelo segundo que se passou, observando ela ali como se observasse uma obra de arte, Lando de sentiu o cara mais sortudo do mundo.
— Ali, bem no cantinho, acho que tem uma coisa, não sei… parece uma… baba — A voz delicada e brincalhona de cortou a atenção dele, que riu alto.
— Olha ela… e me diz se tem como não babar naquela mulher? — Apaixonado, ele encarou a amiga. Assim como Luisa, ela também vestia um roupão preto e tinha os cabelos ondulados, caindo em seus ombros.
— Vocês são simplesmente perfeitos juntos e alguém precisava dizer isso — gesticulou empolgada, rindo junto com ele. Ouvindo uma risada familiar, não muito longe dali, Luisa virou-se, abrindo o maior sorriso do mundo quando viu o namorado.
— O que faz aqui, amorzinho? — Ela se aproximou dele, sorrindo encantada ao notar que, além de lindo, e muito bem vestido, ele estava segurando dois lindos buquês de flores.
— Vim desejar boa sorte — Lando comentou, esticando um dos buquês para ela. Costumava mandar flores para ela sempre que sabia que ela teria algo importante ou sempre que sentia falta dela. Luisa gostava de flores e Lando não poupava esforços em enchê-la delas, como ela enchia os dias dele de alegria e amor.
— São lindas, muito obrigada — Luisa abraçou o buquê sorrindo e logo deu um beijo rápido no namorado.
— Acho que a está lá fora, cumprimentando os convidados… — comentou naturalmente, olhando o outro buquê de flores na mão dele. já tinha recebido uma tonelada de flores naquele dia, de familiares, amigos próximos, outras marcas e pessoas queridas que queriam parabenizá-la pelo sucesso de mais uma coleção feita. achou que Lando tinha trazido flores para ela também.
— Na verdade, não são para . Dessa vez nós montamos um kit de presente para ela, hoje cedo — Lando deu de ombros, vendo as duas mulheres rirem.
— Um kit? Eu tenho até medo do que veio nele — riu e arregalou os olhos. E logo Lando começou a contar o que havia acontecido.
A ideia tinha sido de George, para retribuir o carinho da amiga em ter feito tudo aquilo por eles, e tinham organizado às pressas, para que chegasse a tempo do desfile. Não havia nada que Hermann, ou que qualquer um deles, já não tivesse naquela vida, então, focaram-se em buscar coisas que fizessem sentido para ela e para aquele momento tão único de sua carreira. Assim, sem muito o que fazer naquele dia até a hora do desfile, a regra foi encontrar alguma coisa para dar de presente para a amiga em, no máximo, 2 horas. Animados com a competição que criaram, de quem encontrava o melhor presente, e mais rápido, os amigos se dividiram pelo centro da cidade, em uma correria intensa pelas lojas, que gerou boas horas de risadas e de zueiras.
No final das contas, duas horas exatas depois, no horário e no restaurante combinado onde almoçariam, todos eles se encontraram. Lily havia comprado velas aromáticas com as fragrâncias preferidas dela, Alex comprou uma garrafa de vinho do ano que a Hermann foi inaugurada pelo pai da , e deixou uma carta junto, explicando. Carlos havia mandado fazer uma tonelada dos donuts favoritos dela na cidade e, cada um deles, tinha um formato ou decoração que fazia sentido para a história deles dois. Lando, por sua vez, escolheu uma pulseira com um pingente de taco de golfe que, escaneado pelo aplicativo de celular, dava a localização do primeiro campo que fizeram uma dupla juntos em jogo.
Brava porque também queria comprar um pingente com aquela tecnologia, e teve sua ideia roubada, Carmen escolheu uma caneta Montblanc com o sobrenome dela gravado, para que pudesse fazer mais de seus desenhos e croquis, e um notepad personalizado. George, por sua vez, montou uma caixa lotada de fotos de Charles, para zoar com a amiga. No fundo dela, contudo, tinha deixado fotos dos melhores momentos que compartilharam juntos naqueles anos, do grupo todo de amigos com ela, e algumas fotos em branco, como se esperassem para serem preenchidas por novos momentos no futuro. Charles fez drama e não quis contar o que mandou para ela, enquanto Daniel e Gasly, incluídos na brincadeira por mensagem, pois ainda não haviam chegado em Miami, pediram ajuda de Lando.
Sabiam que a amiga estava ansiosa com o desfile, porque ela sempre ficava, e, querendo ajudá-la a relaxar, puramente pensando no bem-estar, felicidade e saúde de , de acordo com eles dois, decidiram mandar algumas coisas bem específicas e que, bom, seriam mais úteis mais tarde, naquela noite, ou nos dias em que ela sentisse falta de Charles, que não tivesse ele por perto para… relaxar.
— MENTIRA QUE ELES COMPRARAM ISSO PARA ELA? Queria ter visto a cara dela quando viu o que tinha na caixa — Luisa perguntou alto, assim que o namorado terminou de falar, tapando a boca enquanto ria.
— Eu não acredito que ficamos de fora disso — gargalhava, negando com a cabeça — Dani e Pierre chegaram?
— Acho que sim, mas ainda não os vi aqui. Eu tive que ir atrás das coisas que eles pediram para comprar, acredita? — Abraçando a namorada pela cintura, com um braço, ele riu.
— Imagina se alguém te pega saindo de um sex shop… — pensou alto, ajustando a faixa do roupão.
— E as flores, então, se não são para , são para…? — Luisa o encarou curiosa, dando um beijo na bochecha dele.
— Você — Sorrindo, Lando esticou o buquê que segurava para . Ela pareceu verdadeiramente surpresa, meio tensa, mas pegou as flores, sem entender quem teria mandado para ela.
— Quem mandou? — Ainda mais curiosa do que antes, Luisa olhou das flores para a amiga e, dela para o namorado.
— Adivinha? — Lando riu, olhando sugestivo para .
— Nesse caso… agradeço, mas, não — Elanor bufou, estendendo o buquê de volta para Lando, que negou com a cabeça.
— Eu sei que você não quer ver ou falar com ele, mas pelo menos aceita as flores com carinho, — Lando comentou abraçado com a namorada, percebendo o olhar perdido da amiga — Se puder dizer algo: ele estava muito empolgado em te fazer essa surpresa.
Naquela manhã, quando acordou, Carlos estava disposto a deixar tudo o que tinha feito, o que tinha acontecido, para trás e, quem sabe, ter uma chance nova de conquistar o coração de . Acordou empolgado, seguro de sua decisão e pensando no que deveria fazer para, talvez, chamar a atenção dela como chamou minimamente na noite anterior, quando ela confundiu os carros. Carlos tentou procurá-la por toda a residência, assim que deixou seu quarto, mas as amigas logo o informaram de que ela já tinha ido para o desfile.
Frustrado com aquilo, Carlos passou a manhã toda pensando no que poderia fazer e engolindo a ideia pessimista de que parecia que não era mesmo para ele ter , quando viu Lando dentro de uma floricultura, mais cedo naquele dia quando estavam atrás de presentes para . Ele estava comprando flores para Luisa e aquilo deu a Carlos a brilhante ideia de também mandar flores para . Seria delicado da parte dele e, certamente, poderia ser uma forma de fazê-la conversar com ele.
Carlos, então, começou a colocar seu plano em ação, tentando conseguir um pedido de desculpas. Nada melhor do que começar daquela forma e respeitando o espaço dela. Comprou as flores mais bonitas que havia na floricultura e, sabendo que Lando iria aos bastidores encontrar-se com a namorada, pediu que ele também levasse as flores para .
Sem saber de nada daquilo, um pouco confusa com a situação e com o que sentiu diante dela, olhava surpresa para o buquê e deixou-se sentar-se no sofá próximo. Entre as flores, havia um pequeno cartão que não sabia se queria realmente ter visto e, muito menos, se queria ver o que tinha dentro.
— Que fofo, amiga — Luisa caminhou com o namorado até o outro sofá e os dois sentaram-se, observando ela.
— Ele ficou te procurando desde a hora que acordou e você precisava ver a cara de desânimo quando ele soube que você já tinha vindo para cá — Lando comentou, colocando as pernas da namorada sobre as suas, enquanto fazia um leve carinho pelo local. As duas já estavam prontas e aguardavam apenas o assistente chamá-las, para irem em direção a passarela.
— Eu, sinceramente, não sei o que ele está querendo… — começou a dizer mas logo foi cortada por Lando:
— Você.
— É sério… — Ela revirou os olhos — Ele pediu espaço e é isso o que eu estou fazendo.
— Sabe que não é bem isso o que ele quis dizer, não é? — Lando a olhou.
— O que eu sei é o que ele me pediu e eu estou respeitando o pedido dele — respondeu dura, dando de ombros.
— Se acha melhor assim, tudo bem, — Insistindo no tema, Lando suspirou e, então, apontou para as flores — Mas, pelo menos, dê a chance de ele se desculpar.
olhou do amigo para as flores, outra vez. Não faria mal algum, ao menos, aceitar o presente e ler o que ele havia escrito para ela. Já estava ali, Lando já o tinha entregue e Carlos nem estava por perto, por que ela deveria resistir? pensou por alguns segundos, sequer vendo Luisa dar um tapa leve no braço do namorado, querendo que mudassem de assunto. Aquele era um tema delicado demais para , sobretudo para ser tratado em um momento como aquele. Era assunto para outra hora e Lando pareceu se tocar daquilo só naquele segundo.
Se dando por vencida, enfim, decidiu pegar o cartão. Apesar de ainda não ter coragem em abri-lo, sua curiosidade parecia consumi-la. Lando e Luisa observaram fechar-se em seus próprios pensamentos, encarando o cartão em suas mãos e, sem querer pressioná-la, ingressaram uma conversa baixa entre os dois. Luisa contava sobre o dia dela, como estavam sendo as preparações para o evento, enquanto Lando contava sobre a bagunça que o grupo fez na casa e como estavam todos empolgados, do lado de fora, aguardando o início do desfile.
ignorava os dois completamente, absorta em suas lembranças com o espanhol. Cheirou disfarçadamente o buquê, sorrindo sozinha com a ideia de ter recebido flores dele e decidida, de uma vez por todas, abriu o envelope, se deparando com a letra pequena e arrastada do piloto:
,
Palavras não podem transcrever o meu arrependimento pelo o que houve entre nós, nas últimas semanas. Eu realmente sinto muito por tudo o que te causei. Sei que flores são pedidos de desculpas universais, muito clichês e que não apagam o que aconteceu no passado. Mas também sei que, como elas, podemos deixar que todas as pétalas caiam e recomeçar de novo, do zero.
Hoje, suba nessa passarela e faça o que você mais ama fazer, por que você é a melhor no que faz e eu sempre soube disso, desde o dia em que te vi pela primeira vez. Saiba que disse muitas coisas da boca para fora, coisas que não eram verdadeiras e que não expressam o que eu realmente penso e sinto sobre você.
Saiba também que estarei na primeira fila hoje, te assistindo, vibrando pelo seu sucesso e torcendo para que, no final desse dia, você aceite ser a minha pétala e que possamos, finalmente, conversar.
De seu grande admirador (não mais secreto),
Carlos Sainz
Assim que terminou de ler, sorriu verdadeiramente para as flores. Estava feliz pelo presente e pelas palavras do piloto, satisfeita em receber um pedido de desculpas tão delicado, e inesperado, como aquele. Foi impossível não se alegrar e, ao menos naquele segundo, sentir-se segura para o desfile, apesar de saber que ele estaria ali. sentiu uma vontade enorme de correr até ele, abraçá-lo e dizer que estavam bem, que podiam sim recomeçar, porque ela também queria aquilo, mas ela sabia que não era assim que as coisas funcionavam.
Ela ainda precisava pensar, precisava organizar dentro de si como estava se sentindo e entender o que deveria ser feito. Precisavam conversar, esclarecer as coisas e, quem sabe, pensar em um futuro minimamente juntos, convivendo bem. sabia que dizer que o daria espaço e que não o procuraria mais foi uma forma de autoproteção, uma reação imediata ao que ela achou que ele sentia, sem deixá-lo, nem mesmo, dizer uma palavra sobre o que ele queria.
Era mais seguro reagir do que esperar por ele e sabia que, talvez, no fundo, estivesse agindo errado também. Desde o começo, errado. Estava focada em esconder seus sentimentos, fingir que nunca havia dito aquelas benditas palavras a ele e, talvez, estivesse perdendo o pouco tempo e as chances que tinham de tentar se resolver. Carlos parecia arrependido. Verdadeiramente arrependido. E se estava pedindo desculpar, se estava claramente dizendo a ela, só para ela, que gostaria de uma nova chance, ela não o deveria dar?
— As flores são lindas — Uma voz calma e bastante serena cortou a atenção de por um momento. Uma mulher muito elegante, de meia idade e cabelos escuros a encarava sorrindo, ajeitando sua echarpe. Tinha um rosto bastante familiar e se pudesse palpitar, diria já ter conhecido a versão mais nova dela — Tão lindas quanto você.
— Muito obrigada — A modelo sorriu em resposta, devolvendo o cartão ao buquê em suas mãos — É um prazer imenso conhecer a senhora.
— O prazer é todo meu. Fico feliz em finalmente conhecer a nova amiga de quem tanto fala — Noelle, a mãe de , a cumprimentou com um abraço rápido.
— Espero que ela tenha falado só as partes boas — brincou, tirando uma risada baixa da mulher.
— Tenha certeza que sim, querida, ela gosta muito de você e todo esse grupo que vocês têm — Noelle comentou risonha — Me enche de alegria saber que ela tem bons amigos.
— A senhora tem uma filha incrível, não poderia ser diferente — sorria educadamente — Tive muita sorte de encontrar com ela.
— Obrigada, minha querida — Noelle ajeitou seu lanço outra vez — Não quis ser intrometida, mas vi a forma como olhou para as flores, me trouxe… boas lembranças. Meu marido costumava trazer flores sempre que passava algum tempo fora de casa a trabalho. A sensação de recebê-las é… incrível, não é?
— Como se fôssemos as pessoas mais importantes do mundo — Soltando um suspiro, abaixou seu olhar até o buquê.
— Talvez você seja, para quem te mandou elas — Sugestiva, Noelle comentou.
— Eu não sei, ele é meio… confuso — comentou sincera, meio frustrada.
— Sempre foi, desde adolescente — Noelle contou despreconceituosamente, vendo subir seu olhar confuso até ela. Não tinha falado que as flores tinham vindo de Carlos, como ela sabia? Tinha visto no cartão?
— Como…?
— Não é só minha filha que fala muito sobre você — Noelle riu, a vendo ficar nitidamente tímida com o comentário — Carlos faz parte da nossa família há anos, têm semanas que mais vive com a gente do que com a própria família dele e posso te dizer seguramente, querida, que você tem sido assunto dos últimos almoços.
— Aposto que ele vive falando mal de mim, não é? — Encolhendo os ombros, brincou incerta, tirando uma risada da outra mulher, que prontamente negou com a cabeça:
— Diria que ele está confuso do mesmo jeito que você está agora.
— Isso é tão difícil, senhora Hermann — soltou o ar exausta — Ele é tão difícil, não tinha que ser assim. Eu queria que tudo fosse diferente…
— Não tem que ser diferente, minha querida — A mais velha emendou — Tem que ser como é, porque é assim que tudo é especial na vida, é assim que tudo é único. Algum tempo atrás ouvi aquela figurinha ali chorar por estar apaixonada por alguém que não deveria, que não correspondia, dizendo que era um erro e olha só… — Noelle apontou para a própria filha, alguns bons metros dali, dentro de seu camarim. comia um donut que Carlos havia mandado de presente para ela e gargalhava alto de algo que Charles a dizia, a abraçando carinhosamente pela cintura, de frente para ele — O erro virou o genro mais gentil e amoroso que eu já tive.
— Isso é diferente, Charles é diferente — pensou alto, observando o casal de amigos — É mais carinhoso com ela, mais paciente, mais educado, nunca foi implicante ou falou coisas que magoaram ela…
— Mas fez coisas que a magoaram na época e foi tão mal resolvido para quanto Carlos parece ser para você agora — Noelle completou. Sua voz mantinha-se serena, educada e paciente, a elegância e a classe em pessoa — As coisas vão se ajeitar entre vocês, minha querida, no tempo em que você permitir que elas se ajeitem. E se puder te dar um conselho: não perca muito tempo com dramas que acha insuperáveis. Não sabemos o que vai ser do dia de amanhã e não queremos sentir o gostinho do “tarde demais”, não é?
concordou levemente com a cabeça, descendo seu olhar da mulher até as flores em seus braços. Sabia o fundo de verdade na fala dela, sabia o que ela carregava dentro de si e sabia que ela própria já tinha sentido a amargura do tarde demais, quando perdeu seu marido. Noelle tinha razão. Não se podia perder o tempo de amar e de ser amada com coisas que, no fundo, eram tão pequenas. Não se podia perder o tempo de perdoar, de recomeçar, com o que era remediável, curável. A vida passava a cada segundo e, da mesma forma que as pessoas cruzavam os caminhos, podiam descruzar.
Disposição em recomeçar ela tinha. Vontade em tentar outra vez, também. Tinha sentimentos por Carlos. Sentimentos dos quais não se livraria tão facilmente, sentimentos que nasceram nos detalhes, nos olhares, nos sorrisos, nos gestos simples de cuidado e de carinho, nos gostos que tinham em comum, no futuro que podiam planejar em suas mentes e desejar que se tornasse realidade. tinha disposição e tinha vontade de dar uma nova chance a Carlos. E se ele também estivesse disposto, talvez aquele fosse o tempo de recomeçar. Como uma flor que murcha, morre e renasce, o que tinham juntos, talvez, pudesse seguir a regra do cultivo.
— Carlos é um garoto bom. Sempre foi muito responsável e dedicado com as pessoas que ama, sempre levou o que sentia a sério, sempre teve espaço para as pessoas em sua vida e nunca teve medo de errar, de consertar. Ele foi essencial para a recuperação da quando Anton partiu, tem o jeito dele de ser carinhoso, de ser atencioso, de se importar… e eu sei que ele se importa com você, querida, do contrário não teriam flores nos seus braços agora — Noelle quebrou o breve silêncio entre elas e, rindo levemente, deu um passo mais perto da modelo.
— Eu queria ver tudo isso, dessa forma que a senhora vê — sorriu sincera para ela.
— Acho que talvez você só precise se permitir ver ele de um ângulo diferente — Noelle apontou com o queixo para onde Carlos estava, junto com as pessoas lá fora. Ele conversava com Carmen e, cordialmente, puxava uma das cadeiras para ela se sentar — E, convenhamos, a seriedade e a confusão dão um toque de charme nele, não acha?
riu alto do comentário da mais velha. Mas, antes mesmo que pudesse concordar ou dizer qualquer coisa, Lando se aproximou delas, dizendo feliz:
— Charme? Estão falando de mim?
— Com certeza, meu amor — Noelle piscou para e virou-se para ele contente, o abraçando fortemente em seguida — Estava dizendo a que você fica mais lindo a cada dia.
— Eu falo, mas ele não acredita, senhora Hermann — Luisa brincou, sendo igualmente abraçada pela mulher.
— É porque você é uma opinião enviesada — Dando um beijo rápido na bochecha dela, Lando rebateu.
— Ei! Está dizendo que minha opinião não conta? — Semicerrando os olhos, Luisa o encarou.
— As únicas opiniões que devemos considerar nessa vida são daqueles que amamos, querido, de resto: joga fora — Noelle comentou feliz, segurando uma mão de Luisa e outra de Lando.
— Estava com saudades de ouvir seus conselhos, Noelle — Rindo, Lando a olhava carinhosamente.
— Ninguém manda só ir para Marbella uma vez por ano — Dando uma bronca nele, Noelle o encarou, tirando risadas dos três.
Lando engatou um longo discurso sobre como nunca o chamava para ir para Marbella, depois do incidente na casa dos Sainz, enquanto Noelle ria e rebatia qualquer um dos argumentos dele. Luisa, por sua vez, reparando que a amiga parecia estar pensativa e mais calada, passou a conversar baixinho com ela, tentando a animar e tornar o clima mais leve e divertido. Faltando exatos dez minutos para o começo do desfile, os assistentes começaram a organizar os bastidores, praticamente expulsando Charles do camarim de e tirando Lando lá de dentro. Luisa e se despediram dele e o viram ir, com Noelle, até seus lugares no local do evento, na primeira fila.
deixou suas flores perto de suas coisas pessoais e tomou seu lugar na fila de modelos, deixando-se levar pelo clima absurdamente animado e cheio de expectativas nos bastidores. As pessoas lá fora eram convidadas a tomar seus lugares, enquanto fotógrafos colocavam-se em suas posições e a iluminação do ambiente descia, criando um clima ameno e muito confortável. havia escolhido um local aberto para o evento, por isso, não havia tanta necessidade de cenário quanto em eventos noturnos e fechados. O final da tarde e o pôr do sol criavam o clima perfeito para uma coleção de roupas de praia e o calor era amenizado por vaporizadores, que jogavam minúsculas gotículas de água nos participantes ao mesmo tempo em que soltava a fragrância refrescante da bergamota e do morango, por todo o ambiente.
A passarela era longa, fazia um caminho circular e estava na altura do chão. As cadeiras coloridas foram organizadas de modo que, mesmo da quinta e última fileira, era possível ter uma boa visão do que acontecia. Todo o lugar estava decorado com estampas desenhadas por , em cores vibrantes e alegres, que lembravam o calor e a festividade de um final de tarde de verão. No centro do círculo que a passarela fazia havia água e areia, alguns guarda-sóis e figurantes que, usando roupas da Hermann da coleção de verão, passeavam pelo amplo local, curtindo como se curtissem uma praia.
O grupo de amigos, em meio às quase 500 pessoas convidadas para o evento, tomavam a primeira fileira do lado esquerdo da passarela. Sentados em poltronas confortáveis e bem espaçosas, tiravam fotos e faziam breves vídeos do momento, se divertindo juntos e esperando para prestigiar as amigas. Nos bastidores, já estava no meio dos modelos, indo de um lado a outro, rindo, falando alto, incentivando e elogiando cada um deles, como sempre fazia antes de seus desfiles começarem. Estava feliz e ridiculamente animada, ao tempo que e Luisa tinham suas maquiagens retocadas e deixavam os roupões que vestiam com seus assistentes. Falou rapidamente com Luisa que, tão nervosa com o momento, mal estava conseguindo formular frases completas e, depois de zoar e abraçar ela, enfim, chegou em .
observou o olhar ambíguo de , que transmitia um pouco de tristeza e um pouco de ânimo, e perguntou o que houve, mas não teve tempo de saber a resposta, porque as poucas luzes do ambiente lá fora se apagaram, indicando que o desfile já começaria. comentou que depois falava com ela e, abraçando a amiga, a viu ir para o começo da fila, enquanto desejava-lhe boa sorte. O silêncio profundo do ambiente logo foi cortado pelos primeiros acordes de Dust Clears e quando as primeiras palavras começaram a ser cantadas, os convidados aplaudiram fervorosamente a presença ao vivo de Clean Bandit, vendo cada membro do grupo aparecer no ponto oposto a passarela, em um pequeno e discreto palco, cercados por uma dúzia de violinistas.
Os desfiles da Hermann eram famosos pelo refinamento, pelo luxo e por sempre ter trilhas sonoras impecáveis, com músicos, DJs e convidados musicais que deixavam suas marcas nos designs da marca. A música suave criava um clima gostoso no ambiente e ficou animada assim que chegou em seu refrão. O foco estava totalmente no grupo e na música até então, mas bastou o refrão passar para que a primeira modelo fosse liberada a entrar na passarela.
Sentindo seu coração acelerado e uma onda de adrenalina tomar conta de seu corpo, Luisa esperou a música começar, como tinha ensaiado. Primeira da fila por ser o rosto da coleção, ela estava de mãos dadas com , que esperava ansiosamente pelo momento de seu grande evento, enfim, começar. De onde estavam, nos bastidores, podiam ver algumas pessoas sentadas na primeira fileira, sorrindo satisfeitas e atentas, e a grande passarela à frente, nada mais. Estavam sendo guiadas pela música e pelos assistentes, que contavam o tempo exato para que tudo acontecesse.
E quando os acordes dos violinos preencheram o ambiente, assim que o primeiro refrão da música foi cantado, Luisa pisou na passarela. Usando um biquíni preto e branco em linho, ela entrou séria, concentrada, contando mentalmente cada passo que dava enquanto o som alto dos violinos seguia o ritmo da música. Estava impecavelmente linda e não conseguiu segurar o sorriso ao passar por Lando, que a filmava, a aplaudindo junto com os demais presentes.
Luisa teve alguns segundos de destaque, sozinha na passarela e abrindo o desfile, mas logo foi seguida por . Vindo atrás dela, com a postura impecável e o olhar tão sério e focado quanto o da amiga, reparou no grupo de amigos, que sorriam e gritavam animados. Ela seguiu seu caminho com firmeza, em um biquíni vermelho com ilhós, dando a volta na passarela e parando brevemente na ponta para algumas fotos. Como o formato da passarela fazia quase um círculo completo, os modelos estavam saindo pelo lado direito e voltando pelo lado esquerdo, por isso, só passou pelo grupo de amigos na volta.
E foi impossível não ver ele.
viu Carlos levantar-se de onde estava sentado, com seus olhos escuros sobre ela. Ele sorria maravilhado e a aplaudia orgulhosamente, a assistindo da primeira fila como ele havia escrito que faria, no cartão junto com as flores que mandou a ela mais cedo. sentiu seu coração parar de bater por um segundo, se dando conta do que verdadeiramente ele fazia, em um lapso de segundo. Carlos estava em pé sozinho. Estava em pé sozinho no meio de 500 pessoas, a aplaudindo, a encarando. Estava mostrando ao mundo o que ele verdadeiramente pensava, achava, sobre ela.
Estava dando sua cara a tapa, expondo seus sentimentos, ignorando as câmeras que focavam nele, as expressões surpresas dos amigos e a curiosidade nos olhares de outros convidados. Carlos levantou por ela, para ela. Como se dissesse para o que ele queria dizer, mas sem precisar de nenhuma palavra. Como se dissesse a ela que não importava o quanto ela o ignorasse, se ela não o permitisse falar, ele demonstraria. E lá estava ele.
deixou seu olhar cruzar com o dele, assim que passou pelo grupo de amigos, e, pela primeira vez naquelas semanas todas, ela sorriu. Um sorriso verdadeiro, um sorriso que trocou com Carlos, um sorriso que deu a ele a resposta que ele precisava ter naquele dia. Satisfeito, Carlos a assistiu passar rapidamente por ele e seguir seu caminho de volta aos bastidores.
Um a um, seguindo a ordem, os outros modelos desfilavam enquanto Clean Bandit emendava um sucesso atrás do outro. Com Solo, Tick Tock, Rather Be, Symphony, Mama, Rockaby, o clima praiano de um final de tarde ensolarado em Miami foi sendo colorido pelas estampas dos biquínis, shorts, maiôs, saídas de praias e sungas da Hermann. Cada modelo entrou quatro vezes na passarela, em grupos de designs diferentes, que contavam a relação de com o verão espanhol peça por peça. A seriedade do primeiro bloco apresentado foi se amenizando e, com ela, os modelos foram ficando à vontade e mais sorridentes para combinar com as cores e estampas das peças que traziam nos blocos seguintes.
Os sons dos violinos davam elegância e emoção para o desfile, ao tempo que e Luisa entraram pela quarta e última vez na passarela, usando maiôs em laranja e cor-de-rosa, respectivamente, que combinavam entre si. Entraram juntas naquela parte do desfile, de mãos dadas, sorrindo abertamente por onde passavam e logo entraram de volta aos bastidores. A correria intensa lá dentro foi amenizando conforme tudo corria de acordo com o planejado e todos os modelos encheram a passarela uma última vez, em uma fila rápida e próxima, quando Come Over foi tocada. Como de costume, formaram um corredor por toda a passarela e deram espaço para que a estilista da coleção, finalmente, aparecesse.
entrou na passarela com seu vestido branco curto, sorrindo enormemente e acenando para as pessoas, que, em pé, a aplaudiram fervorosamente. Pareciam, uma vez mais, impressionados com o que assistiram naquela tarde. Jornalistas tomavam notas e comentavam entre si suas impressões, alguns convidados tiravam fotos ou a filmavam e os modelos ao redor dela pareciam verdadeiramente orgulhosos dos trabalhos que tinham realizado ali. Sentada ao lado de Charles, Noelle estava emocionada em ver mais uma conquista tão grande e importante de sua filha e mandou beijos no ar para ela, enquanto Charles a aplaudia sorridente e orgulhoso, assim que a viu passar por eles.
e Luisa foram abraçadas pela amiga assim que ela aproximou-se delas, puxando a fila de modelos de volta para os bastidores. Mais um desfile de sucesso da herdeira Hermann se concluía ali e, bastou a elas pisarem de volta na área restrita do backstage para os assistentes estourarem garrafa de champanhe, gritando e celebrando o sucesso do dia, enquanto molhavam todo mundo que encontravam pelo caminho, por ali - modelos, fotógrafos, maquiadores, assistentes, produtores, cabeleireiros, costureiros, a própria e até sua mãe.
Os convidados despediam-se entre si e do evento e deixavam o local, ao tempo em que as meninas faziam algumas fotos, davam entrevistas, tomavam banho e se arrumavam novamente. Cerca de duas horas depois do final do desfile, , e Luisa deixaram o local juntas, rumo à comemoração. havia decidido fazer um evento mais íntimo para celebrar a coleção nova e, dessa forma, reservou um enorme casarão. As mesas redondas e suntuosas tinham toalhas coloridas e estampadas pela Hermann, assim como a decoração tropical e praiana do local. Cada lugar foi devidamente reservado para um convidado em específico e foram deixadas pequenas sacolas da marca, uma para cada pessoa, com uma peça da coleção nova no tamanho do respectivo convidado.
Além da equipe e dos modelos, apenas familiares, amigos íntimos e alguns jornalistas renomados foram convidados a participar. A celebração aconteceria com um cocktail de boas-vindas, seguido por um jantar e terminaria com uma festa intimista e elegante pelo final da noite. O grupo de amigos foi direcionado até o local, assim que o desfile terminou e já se espalhavam pelo evento. Charles conversava com Pierre e George, ao tempo que Carmen e Lily tiravam fotos oficiais em um dos painéis com o nome da marca. Daniel procurava seu nome nas mesas, junto com Alex e Lando, enquanto Carlos estava com Noelle e cumprimentava alguns primos de , que não via há séculos.
Luisa, e chegaram juntas, algum tempo depois. E a presença delas causou um tumulto na entrada do evento, com os paparazzis tentando captar a melhor foto do grupo de amigas, enquanto elas sorriam e acenavam, sendo praticamente empurradas pelos seguranças local adentro. logo se perdeu das amigas, parando a cada dois segundos para cumprimentar as pessoas no evento e agradecer a presença delas, falar com jornalistas e tirar fotos. e Luisa, por sua vez, pararam para conversar com algumas colegas que estavam no local, parabenizando e comentando sobre a impecável performance da portuguesa. As meninas se despediram das colegas brevemente e, enfim, foram se encontrar com os amigos, que já estavam sentados na mesa reservada a eles.
— As estrelas da noite finalmente chegaram — Daniel se levantou para cumprimentá-las, abraçando e, em seguida, Luisa.
— Achei que tinham ficado ainda mais famosas e esquecido dos amigos desconhecidos — Seguindo o amigo, Pierre também as cumprimentou.
— Estavam lindas, meninas, parabéns — Alex comentou sorridente, aplaudindo elas.
— Foi incrível ver vocês, um trabalho impecável — Amável, Charles cumprimentou elas com breves abraços.
— Estou tão orgulhosa de vocês — Lily sorriu animada, puxando as duas para um abraço conjunto — São minhas amigas!
— Eu estava tão nervosa, meu Deus — Luisa riu, soltando a amiga e indo em direção ao namorado.
— Você estava impecável, meu amor, nada além disso — Lando se levantou, a abraçando e dando um beijo rápido.
— Achei que o Lando fosse chorar de tanta emoção — Ricciardo zoou o amigo, tirando risadas do grupo.
— Um dia você também vai ter essa sensação, meu amigo — Dando dois tapinhas no ombro dele, enquanto ainda abraçava a namorada pela cintura, Lando respondeu.
— Atenção todos: a voz da experiência falando agora — Foi a vez de Gasly zoar ele, recebendo um dedo do meio do amigo.
— Sei que esse é um evento que não estão acostumados a participar, então, se comportem, animais — Com uma expressão séria, de repreensão, Alex os encarou.
— Vocês duas estavam incríveis, meninas — George se levantou e educadamente puxou a cadeira para que pudesse se sentar ao lado da namorada e do outro lado onde estavam Lily com Albon e Carlos logo à frente.
— A hora que vocês duas entraram juntas, caramba, vocês arrasaram — Carmen comentou empolgada, sorrindo abertamente.
— Foram as mais radiantes do desfile todo — Carlos comentou simpático, olhando diretamente para , que sorriu brevemente para ele.
— Nossa, meu corpo todo tremia da cabeça aos pés — Luisa desabafava, aceitando o champanhe que Lando estendia para ela.
— Essa sensação é insana, mas é tão boa, não é? — virou-se para ela, rindo.
— Muito, estou tão empolgada, ainda com o corpo todo enérgico — Luisa deu um pulinho na cadeira, rindo animada.
— Precisa liberar essa energia toda de alguma forma — Daniel comentou sugestivo, tirando gritos animado da galera.
— Pelo visto o Lando se deu bem hoje — Charles brincou, tomando um gole de seu champanhe. Estava esperando pela namorada, a observando ainda caminhar de um lado a outro, conversando e tirando fotos com as pessoas.
— A verdade é que eu sempre me dou bem, meu amigo — Lando piscou maroto.
— Eu quem quero me dar bem essa noite, então, se me dão licença… — Gasly tomou um gole rápido de seu champanhe e, apontando com a cabeça para onde um grupo de modelos estavam, foi em direção a elas.
— Meu Deus, ele não se cansa disso, não? — Carmen riu.
— Sem contar a cara de pau — Alex concordou com ela, observando o amigo chegar totalmente do nada nas meninas, as cumprimentando como se já as conhecesse há anos.
— Se alguma delas der moral para ele, pelo menos ele vai se divertir um pouco — Daniel deu de ombros, fazendo alguns gestos sugestivos com as mãos.
— Que isso? Que safadeza é essa aqui? — se aproximou bem na hora, parando atrás de Charles e colocando as mãos nos ombros dele. O homem levantou seu olhar até ela e abriu um sorriso que não passou despercebido pelos amigos.
— É o que seu namorado vai fazer comigo essa noite — Lando respondeu sério enquanto se levantava para cumprimentá-la, tirando gargalhadas do grupo — Ele disse que vai dormir comigo hoje.
— Gente? Que isso? É isso mesmo, Charles? — ria o abraçando brevemente, seguindo até Carmen.
— Relaxa, amiga, eu durmo com você — Luisa brincou, a olhando sugestiva.
— Bom, nesse caso, eu topo — Mandando um beijo no ar para ela, enquanto cumprimentava George, deu de ombros.
— Ui, que safadeza — Carmen riu, bebericando sua taça.
— De safadeza a entende — Ricciardo se levantou para abraçar a amiga, a vendo gargalhar — Gostou dos presentinhos?
— Eu não vou comentar sobre isso — Ela negou com a cabeça, indo até Lily e Alex.
— Não precisa comentar, , só precisa experimentar — Daniel se sentou outra vez, rindo da cara da amiga.
— Acho que quem se deu bem, na verdade, não fui eu não, foi o Charles — Lando provocou.
— Do que vocês estão falando? — Confuso, sem ter visto os presentes que Daniel e Gasly haviam mandado para ela, Charles olhou de Daniel para , que, terminando de cumprimentar todos os amigos que ainda não tinha visto naquele dia, voltava para perto de Charles.
— De nada, meu amor — Ela desconversou, sentando-se entre ele e Carlos.
— O que eles te deram de presente? — Charles tentou insistir, rindo levemente, mas a namorada apenas negou com a cabeça, tímida.
— Se você não contar, , eu conto — Carlos encarou a amiga, recebendo um tapa leve dela, enquanto puxava o champanhe do namorado para si.
— Vocês não prestam — riu.
— E o Gasly? Onde está? — Tentando mudar de assunto e reparando que faltava ele na mesa, perguntou curiosa.
— Buscando mais problemas para a vida dele — Lily revirou os olhos, enquanto Lando apontava discretamente na direção onde o amigo estava, caminhando até o bar do evento com uma das modelos.
— Sinceramente, não vou dizer mais nada — suspirou.
— Deixem ele aproveitar a vida de solteiro, falar com ele não vai adiantar nada — Ricciardo tentou defender o amigo.
— E você, garanhão? — George apontou para ele — Onde está a namorada?
— Que pergunta de tio é essa, Russell? — riu, pegando um dos canapés no centro da mesa.
— Quero saber porque a respectiva não veio — George deu de ombros, curioso.
— Eu mandei o convite para ele com acompanhante — defendeu-se.
— Não sei do que estão falando… — Ricciardo desconversou, dando um gole em sua bebida e olhando para todos os lados, menos para os amigos.
— Você chamou ela para vir? — Lily perguntou, curiosa.
— Não, se vocês querem tanto saber — Ricciardo respondeu entediado.
— Deixem o cara em paz, gente — Passando um braço atrás da cadeira da namorada, Charles comentou rindo — Ele está todo apaixonadinho e pelo visto na fase da negação, logo ele vai apresentar ela para a gente.
— Vocês são ridículos — Daniel parecia irritado com as brincadeiras dos amigos, vendo todos gargalharem.
— Mudando de assunto… — Albon começou, dando um gole em sua bebida — Que desfile brilhante, .
— Aí, vocês gostaram? — Ela sorriu abertamente, feliz com o comentário do amigo.
— AMAMOS — Lily praticamente gritou — Estou completamente apaixonada.
— A coleção está incrível, muito refinada — Carmen comentou sorrindo, vendo os amigos concordarem.
— Tem a sua cara — George concordou com a namorada.
— Ana está na fila de espera para comprar as peças — Lembrando-se de sua irmã, Carlos falou.
— Uma pena elas não terem conseguido vir — fez um biquinho, o olhando de volta — Vou mandar as provas para ela.
— Vão amar — Carlos riu levemente — Tudo estava perfeito, como sempre, cielo. Parabéns por mais um sucesso.
— Esse grupo é foda — Daniel celebrou — Só sucessos nessa mesa e o Lando.
— Vai se fo… — Lando tentou rebater, entre às risadas dos amigos, mas logo foi interrompido por Alex:
— Olha a boca.
— Muito obrigada por terem vindo, pessoal — falou carinhosa, olhando cada um deles — É muito importante para mim ter vocês por perto nesses momentos, então, obrigada por terem encontrado um tempo e vindo até Miami para isso.
— Não perderíamos por nada no mundo — Charles deu um beijo na bochecha, tirando gritinhos fofos dos amigos.
— Foi incrível, , obrigado você por nos incluir nessa parte da sua vida — Daniel sorriu enormemente para ela.
— Bom, e agora que cumprimos essa etapa do ano… — Alex voltou a mudar de assunto, enquanto os garçons se aproximavam da mesa deles, com os pratos para servir o jantar — Vocês todas irão ficar para a corrida na próxima semana, não é?
— Com toda a certeza, meu querido — Carmen deu-lhe uma piscadinha — Você acha mesmo que não vamos continuar aproveitando aquela casa da ?
— Eu me sinto em um hotel — Luisa completou sorrindo — Não vou a lugar algum.
— Isso aí — Lily colocava o guardanapo em seu colo.
— Eu tenho as próximas duas semanas de férias, — desviou seu olhar até o prato colocado à sua frente pelo garçom, abaixando o tom de voz, incerta — e como estou por aqui, estou pensando em passar um tempo na casa dos meus pais, em Los Angeles.
Não era novidade para ninguém que estava evitando Carlos e o clima ficou bastante desconfortável na mesa. Na cabeça dela, estava respeitando o espaço que ele pediu e fugir de qualquer tentativa de aproximação, ou evitar novos encontros com ele, tornaria tudo mais fácil de lidar. Mas tinha as palavras de Lando e de Noelle em sua mente. Tinha o fato de Carlos tê-la mandado flores, tinha cada palavra que ele havia escrito no cartão repassando infinitamente em sua mente, influenciando seu coração. E tudo, de repente, pareceu tão errado. Como se estivesse presa no mesmo erro há meses, desde o dia em que o conheceu, como a confusão dentro de si oscilasse por um momento e ela conseguisse enxergar o que queria, o que talvez ele queria dela.
E certamente não era espaço. Nem tempo.
Fugir para Los Angeles não era o que ela queria, no fundo. Apesar de estar com saudades de seus pais e querer passar algum tempo com eles, queria ficar em Miami, queria passar a semana com o grupo de amigos, queria participar da corrida. Queria continuar vendo o esforço de Carlos em tentar chamar a atenção dela, queria seguir sentindo os olhos intensos dele sobre ela, queria saber se, talvez, naqueles dias alguma coisa diferente entre eles pudesse acontecer. não queria perder tempo, não queria dar a vida a incerteza de mostrar a ela que, de repente, foi tarde demais. O dono de seus pensamentos, de seus sonhos, de seus tormentos, de suas inquietações e de suas vontades mais íntimas estava bem ali, sentado à frente dela, parecendo desconcertado com o assunto, inseguro, sem conseguir reagir a possibilidade de não ter mais ela por perto nos próximos dias, esperando pelo novo fora que levaria.
encontrou seu olhar ao dele por um momento silencioso, sem saber exatamente o que deveria responder. Sainz estava visivelmente frustrado, meio triste e um tanto irritado consigo mesmo, pensando no por que tinha estragado tudo com , se perguntando se tinha errada novamente em mandar as flores e escrito o que escreveu naquele cartão. Não entendia porque ela não lhe dava a chance de conversarem e de se resolverem, como ele havia imaginado que aconteceria ali, e, no fundo, tinha certo receio de estar feito uma merda tão grande com ela que já não era possível de resolver. Carlos achou que ela gostaria das flores, achou que ela ficaria para a próxima corrida, que estariam juntos e que ele poderia, finalmente, ser o homem que a modelo queria, ser quem ela se apaixonou.
Disfarçando o constrangimento pelo silêncio repentino que tomou a mesa, os amigos comiam, tentando minimamente aproveitar o jantar. Ricciardo observou e Carlos, sorrindo enquanto pensava em uma forma de tentar ajudá-los a, enfim, ter um tempo para conversar naquela noite. Ele sabia como a amiga estava magoada com o piloto, mas sabia, igualmente, que, lá no fundo, ela queria que Carlos se desculpasse e que não fosse nada além do que se mostrou para ela em sua casa, quando ela foi até Marbella. Daniel pode conversar muito com ela no tempo que passaram juntos em Milão e, no final de tudo, ele sabia que a amiga estava apaixonada e que o cabeça dura e idiota do Carlos Sainz também estava por ela. Se estavam querendo deixar seus medos e as inseguranças do passado os bloquearem de viver o que eles mereciam, Daniel daria um empurrãozinho.
— Por que não fica por aqui e assiste a corrida dos boxes da McLaren, ? Conseguimos um acesso VIP para você com uma mensagem — Ele sugeriu olhando para Lando que, concentrado em seu macarrão, concordou com a cabeça.
— Seria perfeito! Podemos assistir juntas, amiga — Luisa sorriu, pedindo com o olhar que ela aceitasse.
— Ou assiste com a , na Ferrari, se preferir — Charles sugeriu também, vendo Carlos quebrar o contato visual com a modelo e desviar até a comida à sua frente. Era exatamente aquilo que ele queria. Que assistisse a corrida dentro da Ferrari, pertencendo onde ele pertencia, que estivesse na primeira fila por ele como ele esteve por ela naquele dia.
— Ou com a Lily, na Williams — Alex entrou na brincadeira, tirando uma risada baixa de , enquanto comia sua salada.
— Ou com a Carmen, na Mercedes — Foi a vez de George emendar.
— Opção é o que não falta — Carmen concordou com o namorado, terminando de comer.
— Como se fôssemos assistir à corrida separadas… — Lily revirou os olhos, vendo as amigas concordarem com ela — Vai faltar você, , não pode nos abandonar.
— Eu agradeço, mas não sei, gente — respondia incerta, sem encarar Carlos.
— Vai ser legal e você pode ir ver seus pais depois da corrida — Ricciardo insistiu, bebendo sua taça de champanhe. o olhava séria, como se pedisse para ele parar de ser insistente, ao tempo que implorava para ele continuar.
— Nós temos uma semana até a corrida — sugeria, casualmente entrando na ideia de Daniel, que sorria disfarçadamente para ela, enquanto mastigava — Podemos ir à praia, na balada, torrar nossos dinheiros nas melhores lojas da cidade e passar mais tempo juntas, antes dos nossos amados serem sugados pela loucura do campeonato e nós pelos nossos trabalhos e compromissos, e ficarmos um bom tempo sem nos reunirmos.
tinha o ponto de vista de Carlos daquela história e não queria que fosse embora, porque sabia que aquilo acabaria com ele. Carlos estava se esforçando em tentar consertar as coisas e, por mais que fosse fechado e sério, estava disposto a fazer o que fosse preciso para que entendesse, de uma vez por todas, que tudo o que sentia por ele era, sim, correspondido. Da mesma forma, com a mesma intensidade. E acreditava que ela e Sainz poderiam se resolver nos próximos dias. Viu o jeito que ele olhou para ela no jantar da noite anterior, viu as flores que ele havia lhe mandado, viu como ele se levantou e se expôs no desfile, como pareceu feliz em assisti-la e estava o vendo ali, desconcertado com a presença dela, sufocado com as palavras que queria dizer, pelo grito que queria dar dizendo para não ir embora de Miami.
— Tudo bem, pessoal. Até amanhã eu decido isso, pode ser? — suspirou e tomou um novo longo gole em sua taça de champanhe. Por um segundo, Carlos pareceu iluminar-se por dentro, subindo seu olhar do prato a frente até ela, que sorriu brevemente em resposta.
— Ótimo, então, nós podemos… — tentou dizer, mas sua assistente apareceu em seu campo de visão, como um furacão.
— Você, Luisa e . Comigo. Agora. — Ela falou simplesmente e deu as costas para a mesa, saindo de perto.
— Como você aguenta ela? — Charles arregalou os olhos para a namorada, que deu de ombros, se levantando.
— Onde vocês vão? — Lily as encarou curiosa, vendo dar um beijinho rápido em Charles, enquanto Luisa fazia o mesmo com Lando. Carlos suspirou frustrado, ignorando a vontade que sentiu de também receber um beijo, de .
— Acho que temos que tirar algumas fotos e dar mais entrevistas — respondeu, mandando beijos para todos — Voltamos depois.
— O glamour das passarelas, ai ai… — Daniel falou alto, dando um tchauzinho para as três, que saíram rindo enquanto o grupo observava as amigas de longe.
Poucos segundos depois o grupo embalou em uma conversa animada sobre o desfile e sobre o que acontecia no evento ao redor. Todos já riam alto pelo champanhe e, inevitavelmente, chamavam a atenção das pessoas ao redor, que pareciam curiosas ao fato de vê-los ali, contemplando o mundo da moda. Carmen e Lily engatavam uma conversa empolgada sobre moda e os rapazes logo passaram a comentar sobre os jogos da Liga dos Campeões - principalmente Sainz, que defendia seu time do coração, Real Madrid, dos comentários dos amigos. Havia um DJ no local, lançando algumas das músicas ambientes e mais animadas do momento e quando About Damn Time, da Lizzo, começou a tocar, Daniel pareceu acender uma chama em si mesmo. Estava entediado com a conversa sobre quem era o melhor time da atualidade e, sem pensar duas vezes, logo se levantou, puxando Carmen e Lily da mesa, em direção a pista de dança.
— O que é isso? — George franziu a testa para o amigo, apontando para Carmen.
— Qual é? Se vocês vão ficar nesse papo chato e sem cabeça a noite toda, eu vou com as garotas — Daniel pegou as mãos das duas, que se deixaram ser levadas pelo amigo — Vamos dançar e deixar esses bobocas para trás.
— Finalmente um homem com atitudes nessa mesa — Se fingindo de brava, Lily comentou, mas logo riu da cara indignada do namorado.
— Você pode até levar a minha garota, cara, mas não vai dançar com ela não — George se levantou rapidamente e, acelerando o passo para se aproximar do rapaz que começava a arriscar os primeiros passos de dança com as duas, logo se juntou a eles.
— Ei, a minha garota também não, Daniel — Albon se levantou atrás, indo até a namorada.
Na mesa, Charles, Lando e Carlos se entreolharam por um segundo, rindo do momento dos amigos e, com um aceno breve de cabeça, decidiram se juntar a eles. No centro da pista, eles fizeram uma rodinha improvisada, enquanto cantavam e dançavam uns com os outros, se divertindo e aproveitando o começo da noite. Gasly logo se juntou a eles e, junto com Daniel, tentavam criar passinhos coordenados, chamando funcionários da Hermann para se juntar a eles, rindo e puxando os mais tímidos para o centro da pista de dança. Pelo tempo que passaram ali, nenhum deles pareceu se importar com nada mais senão uns com os outros e com a felicidade de, juntos, compartilhar aquele momento.
Não longe deles, em um dos cantos do local, , Luisa, , junto com outros modelos, gravavam alguns conteúdos para as mídias sociais da marca. Passaram quase uma hora em fotos e vídeos e não aguentava mais sorrir ou ficar em pé. Estava tentando fugir há algum tempo, mas a assistente de era esperta e conseguia puxá-la de volta. Luisa ria da careta da amiga, enquanto gravava alguns stories e tirava foto de tudo, para que não se esquecesse de nada do sonho que estava vivendo. Em uma última tentativa, com ajuda de , a modelo conseguiu escapar pela fresta da porta, esbarrando em um garçom, que carregava algumas taças de champanhe, pegou uma, agradecendo, enquanto caminhava rapidamente em direção a varanda. fechou os olhos assim que chegou lá, reparando estar sozinha e suspirou. Precisava de um segundo de ar livre antes de se juntar aos amigos na pista de dança e ficou por ali, sentindo o vento em seu rosto, observando o jardim.
Carlos, por sua vez, sentia-se cansado. Estava há um bom tempo dançando com os amigos e podia sentir seu corpo começar a suar. Apesar do ar condicionado estar refrescando o ambiente, o calor que fazia ainda podia ser sentido e ele achou melhor parar alguns minutos, antes que virasse uma poça. Carlos pegou uma garrafa de cerveja com um garçom pelo caminho e parou alguns passos longe, observando os amigos, rindo com alguns passos que Daniel tentava ensinar para duas senhoras, negando com a cabeça ao ver a reação exagerada de Gasly cumprimentando as amigas, quando e Luisa se juntaram ao grupo.
Enquanto tomava outro gole de sua cerveja, Carlos começou a observar o salão, procurando por . As garotas com ela já estavam de volta com o grupo, mas não estava com elas e, olhando ao redor próximo, também não parecia estar. Carlos queria falar com ela. Tentar se desculpar, talvez pedir que ela ficasse para a ver a corrida ou, ao menos, dizer a ela o quanto estava deslumbrante no desfile, o quanto estava linda naquele vestido, naquela noite.
Sainz cumprimentava alguns conhecidos que passavam por ele, sorria para os outros e fugia dos que achava irritantes. E pelos minutos que ficou ali, degustando sua cerveja em sua própria companhia, não encontrou em lugar algum do salão. Frustrado, torcendo para que ela não tivesse simplesmente ido embora, Carlos observou os amigos dançando mais alguns minutos, até o DJ anunciar a troca da noite. E sem que deixasse a música terminar, emendando uma na outra, R3hab subiu no espaço do DJ, levando as pessoas à euforia. Vestindo Hermann, o DJ, já conhecido de há algum tempo, deu boa noite no microfone e dizendo que alguém especial havia pedido para dedicar a primeira música a ela, soltou os primeiros acordes de One Last Time.
Carlos riu da reação surpresa de ao ver eles ali, e mais surpresa ainda por ouvir a dedicatória, verdadeiramente feliz e emocionada. E tudo fez sentido quando ele observou o grupo de amigos, gritando alto e empolgados, virarem-se em direção a Charles, que sorria tímido. Aquele tinha sido o presente de Charles para ela naquele dia. Sem fotos, donuts, velas aromáticas ou vibradores. Charles tinha dado um jeito de encontrar o DJ cuja música tocava no aniversário de Sainz, quando eles se beijaram pela primeira vez. Um erro, que virou um acerto. Um novo jeito de contar aquela história.
O espanhol sorriu brevemente para o momento, assistindo Charles a tirar para dançar com ele, completamente rendido e apaixonado, como ele mesmo se sentia naquele momento. Viu George puxar Carmen também, ao tempo que Lando abraçava Luisa pela cintura e balançava seus corpos no ritmo ameno e gostoso da música. Alex veio logo em seguida, de mãos dadas com Lily, e Daniel gesticulava para Pierre, como se o convencesse de ser seu par. Talvez aquele fosse o momento perfeito para Carlos também fazer sua parte. O clima estava ótimo na pista de dança, a música era boa e os amigos estavam distraídos uns com os outros, fechados em si mesmos, em seus amores e sentimentos. Se ele chamasse para dançar, ela recusaria?
— Charles sabe como fazer ela feliz, não é? — A voz suave de Noelle cortou os pensamentos de Carlos, o fazendo olhar dela para onde ela encarava. Charles rodava , brincando, enquanto dançavam, e ela deu-lhe um beijo rápido no final.
— Como nenhum outro a fez, eu acho — Ele concordou — Charles também tem sorte de ter encontrado ela.
— Fico muito satisfeita de ver minha filha assim, tão feliz, — Noelle comentou, bebericando o champanhe que segurava — mas acho ainda falta uma coisa para que eu fique completamente realizada…
— O que? — Carlos soltou uma risada leve do jeitinho dela, a olhando curioso.
— Que o filho que ganhei de presente, quando me mudei para Marbella, também experimente o gosto dessa felicidade toda — o abraçando de lado, Noelle respondeu carinhosa.
— Não tenho essa sorte toda. Acho que isso é para poucos, Nono… — Carlos soltou uma risada baixa, negando com a cabeça.
— Não, meu amor, isso é para quem tem coragem de experimentar — Noelle completou, rindo assim que viu Daniel a avistar e, feliz, a convidar com as mãos para ir dançar com ele.
— Já é tarde demais para mim, para isso — Carlos comentou triste, olhando para a mulher ao seu lado — Acho que ela já até foi embora hoje.
— Por que não vai tomar um ar na varanda? Pode te fazer bem, meu amor — Noelle sorriu com ternura para ele e, apertando levemente seu braço, o deixou para trás, indo até Daniel.
Carlos não entendeu exatamente o conselho que ganhou dela, mas, conhecendo Noelle como conhecia, sabia que deveria ouvi-la. Dando alguns passos pelo salão, em uma busca discreta pela varanda, Carlos foi se misturando entre as pessoas até, enfim, encontrar o local. E bastou poucos segundos para que ele entendesse o por que da dica de Noelle. estava lá, sozinha. Seu vestido verde e a silhueta de seu corpo eram inconfundíveis para ele. Sainz ponderou por um segundo, se deveria mesmo ir até lá, interromper a solidão e o devaneio que ela parecia ter na varanda e, suspirando, caminhou devagar. Passava em sua mente o que deveria dizer a ela, não querendo que ela fugisse dele, e parou no batente que dividia a varanda da parte interna do local, apenas a observando. parecia distraída, olhando para o jardim e sequer notou a presença dele.
— Está tudo bem? — Com a voz suave, grave, Carlos perguntou, a assustando ligeiramente. virou-se rapidamente até ele, subindo seu olhar até os olhos dele — Me desculpe, não quis te assustar…
— Tudo bem, eu estava distraída — sorriu, voltando seu olhar para frente. Carlos estava lindo naquela noite. Parecia meio cansado e meio suado, o cabelo desgrenhado e fora do lugar dando um toque sensual.
— O que está fazendo aqui sozinha? — Carlos deu alguns passos mais perto dela, parando ao seu lado. Deixou uma mão cair sobre o bolso de sua calça e o olhar ir na mesma direção, no jardim, para onde ela olhava.
— Estou fugindo da assistente da , ela está me empurrando para milhares de vídeos e fotos — suspirou risonha — Eu não aguento mais, já estava cansada.
— Eu consigo imaginar — Carlos riu, tomando outro gole de sua cerveja.
— E você? — virou-se, se encostando na beira da sacada e bebericando um gole de seu champanhe, enquanto observava Sainz.
— Estou fugindo do Daniel — Ele mentiu parcialmente e riu — Ele fez todo mundo dançar várias músicas e até ensinou alguns passos para algumas senhoras.
— Eu consigo imaginar — Repetindo as palavras do homem, sorriu com a taça na boca, observando o olhar intenso dele.
O silêncio um tanto constrangedor reinou sobre eles por um momento. não sabia mais o que dizer e Carlos não sabia por onde começar. No salão próximo, uma nova música começava a tocar, fazendo engolir em seco, respirando fundo. Não sabia interpretar a aproximação de Carlos naquele momento, mas, igualmente, não queria que ele fosse a lugar algum. E se não quisesse espantá-lo tinha que, ao menos, dizer algo. Contudo, ele pareceu mais rápido:
— Está só fugindo da assistente de mesmo? — Ele voltou a perguntar.
— Deveria estar fugindo de mais alguém? — voltou seu olhar para ele, um tanto surpresa pela pergunta descarada. Ele queria mesmo conversar com ela? Ali?
— Não sei… acho que não — Com a guarda baixa, ele respondeu cansado — Só me parece que você está fugindo de mim. Por que?
— Não estou fugindo de você — deu de ombros, virando-se de costas para a varanda, deixando seu olhar cair nos amigos se divertindo dentro do salão — Estou apenas respeitando seu espaço, como você pediu.
— Eu não te pedi isso — Carlos negou com a cabeça, visivelmente surpreso pela fala dela.
Em momento algum havia pedido aquilo para ela, não explicitamente como ela estava fazendo parecer ali. tinha se declarado para ele no último GP, em Monza. Tinha dito claramente que estava apaixonada por ele, tinha se preocupado e ido atrás dele depois do acidente e Carlos só não conseguiu responder, corresponder. Estava tão confuso, tão cansado, tão frustrado, que não conseguiu responder nada. Estava tão assustado com a ideia de saber, enfim, que ele era correspondido, que também tinha se apaixonado por ele, que ele não soube o que fazer com aquela informação. Ele devia ter dito algo. Devia ter encerrado aquele assunto de uma vez por todas, mas ele não conseguiu.
E ela tinha entendido tudo errado, de novo.
Entendeu que ele não estava afim dela, que não era correspondida. Tinha entendido no silêncio, na ausência de resposta, uma covardia dele, um recado bem dado de que ele precisava de tempo e de espaço, que queria se afastar dela. E nada daquilo, absolutamente nada, era verdade. Carlos negou com a cabeça novamente, deixando os pensamentos inundarem seu coração, enquanto sua mente o afogava em arrependimento, em clareza, enfim, do que acontecia ali.
— Não foi o que me pediu? — Ela o olhou magoada, negando com a cabeça. — O que foi, então, Carlos? O que quis dizer?
— … por favor — Carlos suspirou, passando a mão no cabelo, deixando a garrafinha de cerveja já quase vazia em cima do parapeito da varanda.
— O que você quer, Sainz? — Ela perguntou impaciente — Eu não consigo mais lidar com a sua confusão. Você precisa ser claro.
— Você sabe que não foi aquilo que eu queria dizer, eu não… — Ele ficou de frente para ela.
— Mas foi o que você disse. Disse que não era bom para mim e que não queria me magoar, então, por que continua me magoando? Por que pediu que eu me afastasse? — Ela levantou seu olhar até o dele, com uma postura séria. Por ser um pouco mais baixa do que ele, mesmo de salto, ela levantou o queixo — Por que me fez parecer uma idiota naquele dia? Eu praticamente me declarei para você.
— Eu sei e eu estou aqui para me desculpar, — Carlos tinha um olhar um tanto angustiado — Eu agi completamente errado com você naquele dia, em vários dias, e você precisa saber como me arrependo amargamente desde então.
— O que quer dizer? — Franzindo a testa, seguiu o encarando. Não estava realmente esperando por aquilo.
— Que eu nunca quis dizer aquilo, em Monza. Pelo contrário, tudo que eu queria era dizer que sabia como você estava se sentindo, porque eu também sinto. Da exata mesma forma. Queria te pedir que ficasse comigo, que não fosse embora, eu só… — Carlos respondeu tão rápido que parecia desesperado em tirar aquilo de seu peito.
o encarava atônita. Podia sentir sua respiração se descompassar a cada nova palavra que ouvia dele. Não conseguia entender Carlos. E talvez, de fato, ele fosse realmente tão confuso quanto Noelle havia dito a ela mais cedo naquele dia. Ele queria que ela tivesse ficado com ele, em Monza? Ele queria que ela não tivesse ido embora? O que aquilo queria dizer? se sentia cega pelo próprio esforço que precisou fazer naqueles dias em esquecer dele, em se apegar ao fato, que ela criou em sua mente, de que ele a queria longe. O mais longe possível. não soube o que responder.
— Carlos…
— Não, . Eu preciso dizer… Eu já comecei, agora, eu preciso… — Confuso, sentindo seu coração acelerar, Carlos a interrompeu — te dizer.
— Você sabe que…— até tentou o interromper outra vez, mas Carlos rapidamente colocou as duas mãos no rosto dela, a olhando intensamente.
— Deixa eu falar, por favor… — Ele suplicou — Só dessa vez, eu falo e você escuta.
— Tud…. tudo bem — Sem saber o que dizer, um pouco impressionada pela ação do piloto e deixando-se levar pela proximidade com ele, calou-se. Talvez pela proximidade de seus corpos ou pelo contato de sua mão gelada com sua pele quente dela, não conseguiu dizer mais nada, não conseguiu reagir.
— Antes de qualquer coisa, eu quero me desculpar com você — Carlos começou dizendo baixo, suas mãos firmes e carinhosas no rosto dela, mantendo seus olhares presos, enquanto seu polegar esquerdo fazia um leve carinho em sua bochecha — Me desculpe por ser um pé no saco desde que nos conhecemos, por não facilitar nossa relação e por dizer tudo que eu te disse, da forma que te disse. Eu sei que não sou o melhor cara do mundo e que, provavelmente, você já pensou, durante esse período que nos conhecemos, em milhares de formas de como me matar.
riu genuinamente, fazendo um gesto de “mais ou menos” com a cabeça. Apesar de não querer se mostrar vulnerável a toda aquela situação, ela estava emocionada com as palavras de Sainz. Estava feliz por estarem, finalmente, tendo uma conversa franca, adulta e séria. Estava feliz por ele ter ido atrás dela, feliz por ser ele quem havia tomado a atitude. E se sentia massacrada pela música ao fundo, como se Carlos tivesse escolhido aquele momento em especial para ter aquela conversa com ela. se sentia daquela forma. Sentia como se fossem duas crianças com os corações pegando fogo, se perguntando quem os salvaria naquele momento, torcendo para que não se deixassem se queimar. Sentia como se fossem estranhos se conhecendo pela primeira vez, como se cada palavra que ele lhe dizia fosse nova, desconhecia, como se o passado tivesse ficado onde ele deveria ficar, para trás, longe deles.
E Carlos tinha tanto o que dizer, tinha tantas perguntas. Queria saber por que, apesar de tudo, ainda insista nele, porque ainda estava por perto, porque ainda fazia questão. Queria perguntar que ele era alguém que ela não podia mais viver sem, porque ele não queria mais viver sem ela. Como a música, queria saber o que ela faria pelo resto da vida, porque ele sequer tinha planos para aquela noite e Carlos precisava que ela soubesse que ele não se arrependia de nada. Que se precisasse passar por tudo o que passaram de novo, para chamar de sua, ele passaria.
estava com os olhos brilhantes, cheios de lágrimas reprimidas e Carlos pegou-se pensando por um segundo se havia ido longe demais. Sabia que precisava continuar falando, que precisava se resolver com ela, que não podia mais lidar com os sentimentos que os consumiam, com os pensamentos que o atormentavam. Carlos precisava que ela entendesse, de uma vez por todas, que ele queria ela.
— Eu não me arrependo de nada do que vivemos, porque cada momento que tivemos fizeram eu me apaixonar por você, — Por um segundo, Carlos levantou seu olhar para o alto, criando coragem em dizer aquelas palavras. E quando seus olhos voltaram a encontrar o da mulher, ele viu o sorriso dela, um sorriso lindo, sereno. Um sorriso novo para ele, que ainda não conhecia e que, a partir daquele momento, ele faria de tudo para poder ver outras vezes — Eu sou apaixonado por você. E deveria ter dito em Monza, quando você me disse tudo que sentia. Mas eu não soube o que fazer com a reciprocidade, não soube como… lidar com o fato de ter conseguido me apaixonar outra vez, de um jeito tão diferente, tão… bom.
— Carlos… — tentou responder algo, mas ele parecia decidido em dizer absolutamente tudo o que sentia:
— E se quer a verdade, : eu me apaixonei por você desde o dia em que te vi naquele vestido roxo, na sala daquele apartamento na Espanha e, porra, como eu quis te beijar quando me respondeu toda irritada, quando me olhou daquela forma…
— Confesso que estou surpresa por suas palavras, eu não… eu não sabia que conseguiria ser romântico, Sainz — Ela brincou, arrancando uma gargalhada do espanhol — Me desculpe também por tudo o que falei nesse tempo a você. Acho que esse é um círculo vicioso, no qual nos acostumamos a participar.
— Somos muito bons nisso… em competir, em… implicar — Carlos brincou, sorrindo e a puxando para mais próximo dele, como se ainda fosse possível.
— É, nós realmente somos — suspirou, deixando um sorriso escapar — Eu não sei mais o que responder depois da sua declaração, mas também sou completamente apaixonada por você, Carlos Sainz. Desde o momento em que o vi pela primeira vez, entregando aquele drink para a na varanda daquele apartamento, com seu sorriso presunçoso e que me tirou tanto do sério nesses meses todos — Ela riu tímida, deixando Carlos colocar uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Os olhos dele não deixavam os dela nem por um segundo, atentos, curiosos, cheios de expectativas em ouvir aquilo — E eu sei que, no fundo, amo cada momento que tivemos juntos, porque eles são parte essencial de quem nós somos e de como acabamos aqui, nessa varanda, hoje…
— Então, acho que temos algo em comum — Carlos sorriu feliz.
— Fora os amigos, o amor pelo golfe, a personalidade forte, o gosto para carros e a terrível inclinação para tornar tudo uma competição? — sugeriu, tirando uma nova risada dele.
— Por que não vimos tudo isso antes? — Negando brevemente com a cabeça, Carlos perguntou retórico.
— Porque é assim que tudo se torna especial e único na vida — Sorrindo sozinha e se lembrando das palavras que Noelle a havia dito mais cedo, comentou baixo.
Carlos fechou brevemente os olhos, sentindo o vento gélido sobre seu rosto, enquanto sorria sozinho. Sentia como se estivesse, enfim, vivendo um sonho. Como se mais nada tivesse importância naquele momento, como se, pela primeira vez em anos, pudesse, enfim, sentir o gosto da felicidade. Da exata mesma felicidade que Noelle havia conversado com ele há pouco. o observou por alguns minutos, em silêncio. Tão livre e tão natural, tão quem ele era, tão por quem ela se apaixonou. Delicadamente, ela tirou as mãos dele do rosto dela e colocou as suas, no rosto dele. Carlos abriu os olhos calmamente, sorrindo, deixando suas mãos caírem sobre a cintura dela enquanto sentia os carinhos delicados de por sua barba rala.
— Se bem me recordo, eu ainda tenho um prêmio para receber — Quebrando o breve silêncio entre eles, o olhou sugestivamente, lembrando da partida de pôquer meses atrás. O primeiro jogo que haviam jogado juntos, quando ela havia ganhado, na festa de Alex.
— E o que você vai querer? — Carlos riu, lembrando-se daquela noite.
— Você, Carlos Sainz.
respondeu em um sussurro e não precisou de mais do que poucos segundos para a boca do piloto encontrar a dela, em um beijo que começou tímido, mas, rapidamente, intensificou-se. A mão esquerda de Carlos logo segurou a nuca dela, enquanto o abraçava pelo pescoço. O beijo era carinhoso e urgente, como se estivessem se conhecendo pela primeira vez, bastante diferente da noite em Mônaco, quando o álcool ditava as regras do jogo entre os dois. Tudo ali parecia diferente. Parecia novo, especial, inesperado. Tinha o gosto da paixão que sentiam, tinha o gosto do amor que não imaginavam experimentar.
Não havia pressa alguma, não havia pressão ou questões a serem resolvidas. Não mais. Havia só eles dois e o alívio ridiculamente gigantesco em colocar cada pedacinho de seus corações para fora. Havia o futuro, havia a expectativa, havia a vontade de que aquele fosse só o primeiro de muitos beijos, de muitos toques, de muitas noites como aquela. Carlos e seguiram se beijando sem sequer notar quando a música seguinte começou a ser tocada.
— Essa foi a melhor aposta que eu já paguei — Sainz comentou assim que quebrou o beijo longo, se separando levemente dela para que pudesse respirar.
— É sempre bom ganhar de você, Carlos — fazia um carinho leve na nuca do espanhol, que estava com as mãos em sua cintura, encostando seus corpos — Mas acho que ainda não foi o suficiente…
— Bom, nesse caso, talvez eu possa continuar pagando a aposta em outro lugar — Sainz sugeriu, tirando uma risada leve dela.
— Quem sabe mais tarde — deu uma piscada para ele, risonha — Acho que deveríamos voltar para nossos amigos e curtir o final do desfile, pela .
— É eu também acho — Concordando com a cabeça, sabendo que ela tinha razão, Carlos sorriu — Devemos isso a ela, depois do último desfile.
— Então, vamos lá!
saiu na frente dele e puxou o espanhol pela mão, caminhando juntos pelo local, em direção ao grupo de amigos. Ali, naquele momento, era impossível definir quem parecia estar mais feliz ou mais apaixonado. O casal sorriu e cumprimentou algumas pessoas, que pareciam curiosas com aquela cena, dos dois juntos caminhando pelo evento, mas pelo fato de estarem há alguns meses naquele jogo de gato e rato, não era muita surpresa para ninguém - sobretudo para aqueles que não sabiam o que verdadeiramente aconteceu entre eles.
Quando ela chegou próximo dos amigos, Daniel puxou a amiga pela mão, sem perceber que ela estava com Carlos, a puxando para dançar, rapidamente. Ela sorriu para Sainz, que deu de ombros, risonho, e a incentivou a ir dançar com o amigo, enquanto ele foi até George, Alex e Charles, não longe dali. Os amigos estavam apoiados no balcão do bar, tomando suas cervejas e conversando. Pareciam entretidos com alguma fofoca e mal notaram quando Sainz se aproximou deles, pedindo uma cerveja e ficando de costas para o inglês, ouvindo a conversa de propósito, sem eles saberem.
— É sério, eu vi eles juntos, bem ali na varanda — George comentou, dando um pequeno tapa no braço do monegasco.
— Se você está falando… — Charles deu de ombros, tomando um gole de sua bebida.
— Quantas bebidas você já tomou? — Alex riu, apontando para a garrafa de cerveja na mão de Russell.
— Vai se ferrar — George riu impaciente — Eu vi eles se beijando na varanda, eu sei o que eu vi, eram e Carlos.
— Você deveria usar óculos, então, cara — Carlos resolveu se intrometer na conversa e, como não sabia se abordaria o assunto com as meninas e por não saber ainda o que estava acontecendo com ela, resolveu desconversar — Com certeza não era eu, eu estava no banheiro.
— Viu? Eu disse — Charles devolveu o tapa no braço do amigo — Você viu outra pessoa e está confundindo tudo, cara.
— Mas… como? — George o olhou intrigado.
— Não era eu, você está bêbado, amigo — Carlos continuou mentindo, zuando o amigo.
— Então, onde a estava? — George tentava investigar.
— E eu vou lá saber? Nós mal estamos nos falando — Carlos deu de ombros.
— Podia ser outro cara com ela na varanda, já pensou nisso? — Alex sugeriu, olhando para todos os amigos e parando o olhar sobre Carlos, que desviou, tomando um gole de sua bebida.
— Será que ela já está seguindo em frente? — Charles pensou alto, curioso — Resolveu virar a página e esquecer o Sainz… depois de tudo…
— Por que vocês não vão arrumar o que fazer, ahn? — Carlos bufou, saindo para encontrar o restante do grupo, enquanto os rapazes ficaram por ali, rindo dele.
Carlos saiu daquela conversa com os amigos negando com a cabeça e logo encontrou Lily, Carmen, Luisa e dançando juntas, com Pierre e Daniel. Sainz resolveu não atrapalhar, pareciam felizes, leves e ele sabia que depois de todo aquele dia cheio era exatamente aquilo que as meninas precisavam. Um pouco mais distante, do outro lado do salão, Carlos avistou e sua mãe, Noelle, sentadas em uma mesa. Estavam absortas, pareciam emocionadas e conversavam animadas entre elas, enquanto despediam-se de algumas pessoas que já estavam indo embora e as parabenizavam pelo desfile.
Ele resolveu se aproximar das mulheres da segunda família que ganhou de presente ainda quando era um adolescente, das pessoas que o acolheram desde o primeiro momento, como um filho e como um irmão, e que nunca o viram de outra forma senão daquela. Carlos riu sozinho daqueles pensamentos, caminhando calmamente até elas.
— E aí, como estão as mulheres mais elegantes desse evento? — Ele as abraçou pelas costas, se colocando ao meio delas.
— Ah, querido, eu sempre me esqueço sobre o quanto você é galanteador — Noelle riu, dando um tapinha de leve na bochecha dele.
— Não enche a bola dele não, mama — revirou os olhos e logo sorriu para ele — O que veio fazer aqui? Cansou de ser humilhado na pista de dança? — brincou, tirando uma gargalhada da mãe.
— Está vendo como ela me trata Nonô? Você precisa saber que eu sou esculhambado pela sua filha — Carlos dramatizou, brincando com as duas.
— Deixa de graça, Sainz, você faz pior — riu e a mãe acenou negativamente com a cabeça, pela brincadeira dos dois ali na sua frente.
— Para você estar tão felizinho desse jeito, você deve ter ouvido o meu conselho — Noelle olhou curiosa para o rapaz, reparando no sorriso dele.
— Que conselho? — olhava para os dois, sem entender o que estava acontecendo.
— Quando não ouço seus conselhos, Nonô? — Carlos sorriu carinhosamente para ela — Digamos que o passeio ao ar livre foi … muito refrescante.
— Eu não acredito? Enbuenahora! Que notícia ótima, meu amor! — Noelle parecia verdadeiramente feliz, sorrindo e batendo palmas de leve.
— Oi? Alô? Alguém vai me dizer do que estão falando — parecia ainda mais curiosa — Eu ainda estou aqui!
— Outra hora, , outra hora — Carlos deu um beijo em sua cabeça e, deixando a amiga propositalmente curiosa, saiu dali para pegar outra bebida.
— Ah, qual é, mama? — olhou para Noelle, que deu de ombros e fez um sinal de zíper na boca, como se dissesse que não contaria nada até que Carlos a contasse.
e a mãe ficaram por mais algum tempo ali, conversando entre si e curtindo a presença uma da outra, até a senhora se cansar e se despedir da filha. Com um abraço demorado e um beijo forte em sua menina, Noelle foi acompanhada por ela até a porta do evento, despediu-se carinhosamente de Charles pelo caminho e foi embora, rumo ao hotel. Já tinha comprado passagens para voltar a Marbella na manhã seguinte e, sem querer enfrentar horas a fio de voo naquela canseira, decidiu se recolher. e Charles esperaram o motorista sair com Noelle e, conversando sobre qualquer coisa ali, logo voltaram ao encontro dos amigos. Estavam próximos à mesa, rindo e conversando, descansando depois de horas dançando e bebendo mais alguns drinks. os observou por um instante e sorriu. Sentia-se feliz naquela noite, extremamente realizada e ver tantas pessoas que amava a amando de volta, como faziam ali, a deixava verdadeira preenchida, satisfeita.
Ela se aproximou animada, se sentando ao lado do namorado que lhe sorriu, colocando sua mão sobre a perna dela e a dando um beijo breve nos lábios. Apesar de já ter bebido mais do que normalmente naquela noite, aceitou outra bebida, oferecida por Pierre, e se distraiu por mais um tempo com os amigos. Combinavam sobre quando fariam uma nova festa como a de Daniel, em Monte Carlo, comentavam sobre as próximas partidas de golfe e como eles não entendiam o por que o Lando era tão ruim. Entre os planos para o futuro próximo e as gargalhadas altas de um grupo que já estava, nitidamente, alterado pelo álcool, a dona da festa parecia se realizar. Agradecia pela sorte que tinha na vida, torcendo para que aquela noite durasse a eternidade da felicidade que ela sentia.
Perto das seis horas da manhã, o grupo, finalmente, decidiu ir embora. Não havia mais ninguém no evento senão eles e os poucos funcionários do local, que ficariam para organizar a bagunça do salão. Eles logo se despediram e, se dividindo nos carros que os aguardavam, com motoristas, voltaram para casa de . Meia hora depois, ou talvez nem isso, os amigos se reencontraram na porta da residência, alguns mais bêbados do que os outros, alguns dando mais trabalho do que os outros, todos rindo e falando alto, chamando a atenção de algumas pessoas que circulavam pelas ruas do condomínio naquela hora.
— O que você fez com a garrafa de vinho que o Albon te deu? — Praticamente gritando, Pierre apontou para , que destravava a porta da entrada com sua digital.
— Você bebeu ela, Pipi — A mulher revirou os olhos, falando mole pelo álcool em seu sangue — quase inteira.
— Ninguém mandou me convidar — A abraçando pelos ombros, Pierre sorriu.
— Alex, me dê uma nova garrafa de vinho — o abraçou de volta, de lado, pela cintura — Pierre engoliu a minha.
— Manda ele te comprar uma nova, então — Alex rebateu sem maldade alguma, distraído com algo que via em seu celular. Lando e George logo gritaram.
— EITA PORRA, está cedo para ter trocado as ferraduras, Alex — Lando riu sozinho.
— Não fala assim com ela — Charles apontou para Alex, que deu de ombros.
— Lily, espero que você goste de hipismo, porque eu vou te contar: você namora um cavalo — Foi a vez de George gritar, tirando risadas do grupo. Naquela altura, não dava para saber qual deles estava mais bêbado. Mas, certamente, Russell e Lando eram os mais escandalosos.
— Nossa, essa foi ruim para caralho, cara — Daniel negou com a cabeça, recebendo um tapa de George.
— Achei que você gostasse de cavalos, Dani — Ofendido pelo comentário, Russell encarou o australiano.
— Quem deixou eles beberem tanto? — Carlos ria, ao lado de que, sem entender nada naquela conversa, gargalhava.
— CARLOS! Você ainda está aqui com a gente? — Indo na direção dele e o abraçando calorosamente, Lando berrou — Que bom te ver, meu amigo.
— Eu vim embora no mesmo carro que você… — Sainz riu.
— Nem reparei, meu irmão, só tinha olhos para a mulher mais linda do mundo sentada ao meu lado — Lando soltou Carlos e, correndo em direção a namorada, deu-lhe um beijo exagerado.
— Ele fica bem pegajoso quando bebe, não? — comentou ao lado de Carmen, que riu concordando.
— Se liga nisso, Lando — George o chamou, vendo algo no celular de Alex — Vamos tentar? VAMOS TENTAR, LANDO!
— Calem a boca e entrem logo — tentava colocar ordem em Alex, George e Lando que estavam prestes a tentar fazer uma dança que assistiam no TikTok, causando risadas em todo o grupo.
— Se liga, — Albon apontava para eles, que tentavam sincronizar um dos passos — Vai ser uma dança em sua homenagem, não reclama!
— VEM, CHARLES — Lando tentou puxar o amigo, mas ele logo se desvencilhou, entrando dentro da casa.
— Estou fora de passar essa vergonha com vocês.
— Que vergonha? Está louco? — George o encarou sério — Estamos fazendo progressos aqui.
— Pelo amor de Deus, não estão não — Carmen ria alto, se jogando no sofá com Luisa e Lily, que gravavam e riam alto da performance do grupo.
— Coloca o som DJ — Dançando os passinhos entre Lando e Alex, George gritava para ninguém específico.
— Não tem nenhum DJ, cara, vai dormir — Daniel gargalhava, entretido com a cena.
— Vem, Dani, vem dançar com a gente — Lando tentou puxar o parceiro de equipe que resistia, sentado no braço do sofá, segurando-se em .
— Nem fodendo, vocês são péssimos — Daniel gargalhou se levantando em um pulo, indo corredor a dentro correndo de Lando — Eu vou dormir, que eu ganho mais. Boa noite, grupo.
— Bom dia, porque são quase sete horas da manhã — Lily logo o corrigiu, com a fala alterada, rindo.
— Espera aí, eu vou com você — Pierre gritou e já acompanhando o amigo, emendou: — Só para deixar claro, eu vou para o meu quarto.
— Ninguém disse nada, meu amigo — Charles riu junto com o grupo.
— E o que foi aquela noite de ontem? Você me usou e me jogou fora? — Daniel perguntou afetado do topo da escada que levava ao andar de cima, brincando com o amigo que ria, dando-lhe o dedo do meio — Eu não esperava isso de você, você disse que me amava.
— Eu não me apaixono, amigo, você deveria saber disso — Gasly parou ao lado dele, na escada, e segurou o rosto de Daniel, que fingia chorar.
— Você é um cachorro, Pierre Gaslyyyyyyyyyy — Falando sério, Daniel logo virou-se de costas e saiu fingidamente nervoso dali, deixando Gasly para trás e tirando uma risada alta do grupo.
— QUAL É, CADÊ A MÚSICA? — George gritou, dissipando o momento e assustando todo mundo.
— Eu vou te matar, George — Com uma mão no coração, pelo susto, Luisa o encarou.
— O dia em que Daniel Ricciardo e Pierre Gasly foram dormir antes do George? Tempos estranhos… — Charles observou o fato, trocando um olhar risonho com Carlos, que concordava com a cabeça.
— Eles só foram dormir porque falta música aqui — Russel insistiu, dançando sozinho, sem som algum — CADÊ O DJ, ?
— Carmen, por favor, leva esse garoto para dormir — pediu rindo.
— To pensando em deixar ele dormindo aqui na sala — Carmen riu para a amiga e se levantou, puxando o namorado — Vamos dormir, George, já deu por hoje. Anda.
— Ainda está cedo — Ele resmungou, mantendo-se firme ao chão e, percebendo a piada infame, completou: — Literalmente cedo.
— Ninguém mais está te aguentando, meu amor — Carmen revirou os olhos, paciente, o puxando com toda a força que tinha — Vamos logo.
— Lando, Alex, me ajudem — Ele estendia o braço oposto ao que Carmen puxava, pedindo ajuda aos amigos para o segurarem. E meio segundo depois, estavam praticamente fazendo um cabo de guerra com George.
— Deixa ele curtir, Carmenzinha — Lando fez um biquinho para ela e Alex logo emendou:
— Você não confia na gente? É só uma noite.
— Se vocês dois não soltarem o braço dele em um segundo, eu vou jogar os três na piscina e deixar vocês dormirem lá — Carmen os ameaçou, séria. Alex e Lando riram para ela, mas pareceram não levar a sério — Eu vou contar até três… Um, dois… — Carmen contava séria, resistindo em rir pelas caras que eles faziam. E antes mesmo que pudesse dizer o “três”, os dois soltaram George rapidamente.
— Quem tem, tem medo — comentou, rindo da cara inconformada de Russell para os dois amigos.
— Eu não vou dormir na piscina — Lando murmurou para Alex, que concordou.
— Foi mal, George — Alex deu dois tapinhas no ombro do amigo e logo foi para perto de Lily, que ria.
— Ótimo, vamos — Carmen bateu o pé e se despediu rapidamente dos amigos, indo para o quarto, no andar de cima, sem mais puxar o namorado. George olhou dela para os amigos e, meio segundo depois, foi atrás dela, dizendo:
— Eu amo essa mulher.
— Vamos aproveitar o momento e ir também? — Bocejando, Luisa olhou para Lando, que sorriu.
— Vou onde você quiser, meu amor — Ele a abraçou pela cintura — Vou até o fim do mundo com você.
— Só dormir já é suficiente — Luisa riu da cara frustrada dele.
— Só dormir?
— Só dormir, Lando. Anda logo — Luisa puxou o namorado e, se despedindo dos amigos, saiu para o quarto.
— Bom, eu vou levar esse aqui para um banho gelado e dar um remédio para a ressaca — Lily empurrou Alex antes que ele pudesse se manifestar. Ele estava quase dormindo em pé e levou um pequeno susto com o gesto dela, rindo e se deixando ser levado.
— Até já já, meus amigos do coração — Alex se despediu deles, vendo , Carlos, e Charles lhes mandarem acenos e beijos no ar. A última coisa que os amigos puderam ouvir foi Alex perguntando baixo para Lily, no caminho: — Você vai mesmo me dar banho?
— Temos um segundo de paz — Carlos celebrou, rindo.
— Fazia tempo que não via eles assim — Charles comentou, olhando os amigos. estava sentada em um dos sofás, Carlos em uma poltrona perto dela, enquanto tirava as sandálias que vestia, jogada no sofá de frente para eles, ao lado de Charles.
— A noite foi ótima — comentou, mexendo nos cabelos — Em muitos sentidos. E eles podem provar isso.
— No final, eu preciso agradecer — comentou pensativa, de repente. Seus olhos iam felizes de para Carlos, muito satisfeitos, um olhar que não passou despercebido pelo amigo.
— Agradecer pelo o quê? — Carlos levantou a sobrancelha.
— Por tudo — Ela respondeu fofa, olhando cada um dos três ali — Por terem vindo, pelos presentes, por estarem aqui nesses momentos tão importantes para mim… aí, eu amo tanto vocês. Tenho tanta sorte nessa vida…
— Ela sempre se declara quando está bêbada, você se acostuma com o tempo — Carlos sussurrou para , brincando.
— É sério — jogou uma das almofadas do sofá nele — Tenho mesmo que agradecer a todos vocês.
— Faríamos tudo de novo por você, ma petite — Charles sorriu de lado para ela, a puxando em um abraço fofo, sentados no sofá.
— Às vezes nem acredito que vocês dois estão juntos mesmo, sabia? — Carlos confessou, risonho — Parece uma miragem.
— Miragem foi ver vocês dois terem conseguido agir civilizadamente hoje e terem ficado até o final do desfile, sem gritarias, discussões ou brigas — rebateu, encarando Carlos e .
Charles concordava com a cabeça, reparando no casal a frente sorrir sem graça um para o outro e, de repente, a fofoca de George ter visto eles se beijando na varanda veio a sua mente. Tudo aquilo estava estranho. Mas Charles não sabia mais, naquela altura do dia, o que era verdade e o que sua mente bêbada estava inventando. Tinha uma forte tendência a exagerar um pouco as coisas quando bebia e, possivelmente, estava fazendo aquilo naquele momento.
— É, acho que estávamos te devendo isso — desviou o assunto, olhando a amiga com casualidade.
— Tudo para ver você feliz, mi amor — Carlos sorriu amorosamente para ela.
— Gracias por todo! Te quiero muchísimo — Ela respondeu, mandando-lhe um beijo.
— Ficou tudo incrível, foi um dia perfeito! Você merece isso, — sorria e os rapazes concordaram.
— O papa estaria muito orgulhoso de você — Usando o jeito que chamava seu pai, Carlos a olhou, sério, sorrindo meio triste para ela.
sentiu seu coração quebrar por um segundo, não só por ouvir aquilo, imaginando como a amiga deveria de sentir naqueles momentos mas por Carlos ter soado tão protetor e carinhoso naquele momento. Gostava de ver a relação que tinham, a cumplicidade, como irmãos, se cuidando, se defendendo, dando o que podiam um pelo outro. Gostava de sentir em Carlos aquela firmeza de que era um homem responsável com quem amava e sempre se surpreendia com as raízes, que pareciam tão importantes para ele quanto para ela mesma.
Carlos tinha seu lado jovem, inconsequente, impulsivo e cheio de si. Tinha o lado da confiança, da popularidade, o lado de quem sempre teve tudo na vida, de quem conhecia o mundo porque o mundo sempre esteve aos seus pés. Mas ele também tinha um lado familiar, um lado tradicional, um lado que o mantinha com os pés no chão e que sempre o trazia de volta para onde ele pertencia. Um lado de origem, de amor, um lado que via nele quando ele estava com , que viu nele quando o visitou em Marbella, que ouviu Noelle e Reyes lhe dizerem.
Um lado que Carlos não abria a tantas pessoas mas que, pouco a pouco, e sem querer, mostrou a , como um convite para que ela, enfim, pudesse vê-lo, pudesse entendê-lo. Aquele era Carlos Sainz. Era sobre aquilo. Era exatamente aquilo o que havia por trás do nome e do sobrenome que, tão rispidamente, ele tinha dito quando a conheceu na festa de Alex, meses atrás. E estava feliz em, finalmente, ter visto aquilo, naquela noite.
— Eu tenho certeza que ele está — Charles beijou a têmpora dela, quebrando o breve silêncio.
— Eu espero que sim — Ela sorriu emocionada, nostálgica — Bom, o papo está bom, mas eu estou exausta.
— Vamos dormir? — Bocejando, Charles a viu concordar com a cabeça.
— Dormir? Aham, sei… — Carlos provocou os amigos, assistindo Charles levantar-se do sofá e estender a mão para , a ajudando a se levantar também.
— Quem vocês querem enganar? — entrou na brincadeira, olhando para os dois.
— Ninguém! Temos 2 anos de atraso para tirar — deu de ombros e logo gargalhou da cara de Charles, com os olhos arregalados para ela.
— Vamos, então — Ele a puxou gentilmente e logo apontou para e Carlos, já subindo a escada para o andar de cima — Se cuidem, casal.
— Não façam nada que não faríamos — mandou um beijo no ar, rindo.
— Então, está liberado tudo — Carlos piscou para a sua frente que gargalhou, negando com a cabeça.
— Eu ouvi isso, Sainz — gritou do andar de cima.
— Eu sei, mi vida — Carlos respondeu alto, para que ela pudesse ouvir.
— Calem a boca, tem gente tentando dormir — A voz irritada de Gasly soou pela casa, tirando gritos de dentro de outros quartos e risadas altas.
e Carlos mantiveram-se jogados na sala, acompanhando silenciosamente o movimento do andar de cima. Algumas portas foram abertas, algumas risadas, palavras isoladas ditas mais altas ou sons esquisitos que eles não queriam realmente descobrir o que eram podiam ser ouvidos. Tiveram a sensação de terem ouvido George sair do quarto e ir acordar Pierre, para o irritar de propósito, enquanto Carmen corria atrás dele pelo corredor, rindo e tentando convencê-lo do contrário. Ouviram um chuveiro ser aberto e, vez ou outra, alguns passos para lá e para cá até, enfim, alguns minutos depois, tudo parecer verdadeiramente quieto.
Nenhum deles queria sair dali e, apesar de sentirem o sono bater, não queriam terminar aquela noite sozinhos, não queriam que aquela noite terminasse. temia que tudo o que tinha acontecido entre eles no jantar não tivesse passado de um sonho e não queria acordar dele, de forma alguma. Carlos, por sua vez, não sabia como dizer aquilo, ou o que deveria fazer, mas queria pedir que ela passasse a noite com ele. Fosse como fosse, fazendo qualquer coisa que podia fazer juntos, ele só queria poder ficar com ela, sentir sua pele na dele outra vez, o beijos, o sussurro, o calor, o cheiro. Queria mais do que ele havia tido mais cedo e que, para Carlos, não seria suficiente nunca.
Ele a encarou por alguns instantes, em silêncio, e sorrindo para ele, viu quebrar o breve silêncio da sala, falando tão baixo que era difícil ouvi-la:
— É tão bom ver assim, feliz, realizada — divagou, deixando seu olhar ir de Carlos até o porta-retratos em cima de um dos móveis da sala, cuja foto mostrava a amiga ainda criança, no colo de seu pai.
— Ah, você não tem noção — Acompanhando o olhar dela até a foto, Carlos sorriu, soltando um suspiro — Não sabe o quanto desejei que ela voltasse a ser feliz, depois de tempos tão… difíceis.
— Eu imagino — voltou a olhá-lo, encontrando os olhos escuros de Carlos — Acho lindo seu jeito com ela, sabia? — Carlos sorriu tímido, negando com a cabeça e logo continuou: — O cuidado, o carinho, a proteção… é nítido o quanto vocês são importantes um para o outro, o quanto estão presentes na vida um do outro, é só… difícil ter amigos assim, é bonito de ver.
— É como precisamos agir com quem amamos, não é? Cuidar e proteger, estar presente… — Carlos comentou sincero, sem desviar os olhos dela — Ela é parte da minha família. Ela e Noelle são muito importantes para mim, eu não sei se estaria aqui hoje, se seria… quem sou, sem elas.
— Viu o que disse? — riu levemente, verdadeiramente admirada com aquele lado dele — Isso é incrível. E a Noelle é um amor, a conheci hoje! Infelizmente não tive a chance de conhecer o pai da , mas dá para ver de onde a puxou toda a gentileza e elegância.
— Noelle é incrível e Anton também era — Carlos divagava em memórias — puxou todo o lado animado e negociador do pai, tem o exato mesmo jeito dele em se focar no trabalho, em dar tudo de si pelo o que ama. E ela puxou a gentileza e delicadeza da mãe.
— Deu para perceber — sorriu para ele, concordando com a cabeça, e logo deixou um bocejo leve escapar.
— Pois é… Está com sono já? — Carlos se arrumou na poltrona, reparando no novo bocejo dela.
— Estou cansada, mas acho que sem muito sono por enquanto — o respondeu, cruzando as pernas em movimento manhoso que não passou despercebido por ele — Por que? O que tem em mente?
— Quer mesmo saber? — Carlos lançou um olhar sugestivo para ela que, tombando a cabeça levemente para o lado, sorriu charmosa de lado.
— Não me deixe curiosa, Sainz. O que tem em mente?
— Você — Carlos respondeu baixo, assertivo, objetivamente. abriu um pouco mais o sorriso e manteve seu olhar sob o dele, intenso e desejoso.
— E o que está pensando sobre mim?
Carlos amava aquele jeito desentendido, manhoso, dela. Não podia pôr em palavras o que lhe causava, as coisas que pensava, o que sentia, porque simplesmente não seria apropriado a momento algum. já tinha entendido que ele gostava de jogar. Já tinha entendido que ele gostava de ser posto na parede, que ser questionado, desafiado, que gostava de ter as cartas em suas mãos, de dar as respostas. E sabia muito bem como usar aquilo a seu favor.
— Você é muito curiosa, sabia? — Sorrindo charmoso, Carlos se levantou calmamente e foi até onde estava sentada, jogando-se ao lado dela.
— Nem sempre — Ela virou seu tronco para ficar de frente com ele, aproximando um pouco mais seus corpos no sofá — Só quando o cara que eu gosto tem algo em mente comigo e não quer me dizer o que é — Mexendo levemente no botão mais próximo a gola da camisa dele, fez um biquinho.
— Eu sou o cara que você gosta? — Em um tom de voz mais baixo, Carlos perguntou.
— Achei que tivesse ficado claro hoje, mais cedo — fez um caminho lento e carinhoso com a mão pelo pescoço dele, até chegar em sua nuca e, ali, brincava com os cabelos do rapaz.
— Ficou, só não queria perder a chance de ouvir isso de novo — Carlos comentou mais sincero do que gostaria, tirando uma risada de fofura de que, no impulso, deu-lhe um beijo rápido nos lábios.
— Eu gosto de você, Carlos Sainz, gosto de você — seguia o caminho calmo em seus cabelos, sentindo os olhos dele presos nos seus, a proximidade de seus corpos reduzir em milésimos, a cada segundo mais — E posso dizer isso quantas vezes você quiser ouvir.
— Cuidado com as promessas — Carlos riu baixo, feliz em ouvir aquilo mas sem perder a postura, o jogo que faziam ali — Posso cobrar por elas depois.
— Se for igual eu cobrei o que você me devia pela aposta hoje, não vou me importar — aproximou sua boca da dele outra vez, mas parou ali, um centímetro antes de se encostarem.
— Inclusive, acho que não terminamos aquela conversa de mais cedo — Em um sussurro, Carlos sugeriu charmoso.
— Ah sim, e você lembra onde paramos? — perguntou no mesmo tom de voz, sentindo a mão dele passar levemente em sua perna cruzada, parando em sua coxa. Estava quente, pesada, carinhosa. Estava mexendo com de um jeito que ela não conseguiria controlar por muito tempo, não conseguiria se manter no jogo se ele não fosse, e logo, para outros patamares.
— Eu ainda não tinha terminado de pagar a aposta — Carlos passou a pontinha do nariz sobre a bochecha dela, fazendo um caminho provocativo até sua boca parar novamente na dela. Deixando o ar escapar por um segundo, seus olhos cravados nos dela, Carlos deixou um sorriso satisfeito abrir em seus lábios até, finalmente, a beijar outra vez.
O beijo lento e carinhoso não demorou a se intensificar e, pouco a pouco, Carlos empurrava delicadamente para se deitar no sofá, enquanto ele ficava por cima, deitando-se sobre ela. Sua mão esquerda explorava cada cantinho do corpo da mulher, ao tempo que a mão direita segurava o peso de seu corpo no sofá abaixo deles. Espaçoso, largo e muito confortável, nenhum dos dois pareceu de fato se importar com o fato de estarem esparramando-se no sofá da sala de estar e não souberam contar o tempo que ficariam ali, só eles dois, no silêncio, na luz baixa e no sabor dos lábios um do outro.
Carlos repartia seus beijos entre os lábios e o rosto da mulher, descendo o caminho sedutor e quente pelo pescoço dela, calmo, intenso, curtindo o momento que o atormentou pela vontade por tantos meses, em tantas noites. arfava a cada toque dele, sentindo sua mão apertar levemente sua coxa, passear pela lateral de sua bunda, levantar a saia do vestido que vestia pouco a pouco, em uma tortura gostosa que não tardaria em virar urgência. Ela levantava delicadamente a camisa dele, passando às mãos por seu abdômen, que se contraia com o toque, que o faziam respirar mais fundo, pesadamente.
Longos minutos depois, no silêncio, pela falta de ar o beijo foi quebrado por alguns segundos. segurou o rosto de Carlos levemente, encarando os olhos escuros que a olhavam de volta, do exato jeito como ela queria ser encarada por eles. Parte de parecia, enfim, tomar plena consciência do que acontecia ali e aquilo tirou dela um sorriso satisfeito. Deixando seus dedos passarem levemente pelos lábios do rapaz, sentindo a respiração pesada dela sobre ela, não podia realmente acreditar que estavam, enfim, ali. Só eles dois e mais nada, só eles e o silêncio, sem brigas, discussões ou questões mal resolvidas. Não podia acreditar em como se beijavam, em como estavam se tocando, em como tudo parecia, segundo a segundo, mais quente, mais próximo. A estranha sensação de estar, finalmente, familiarizada com aquele Sainz. Aquele que estava deitando em cima dela, que a encarava cheio de desejo, que passava suas mãos quentes no corpo dela, que a desejava do exato mesmo jeito que ele desejava ela.
Carlos deixou um sorriso lateral, charmoso, sensual, abrir em seus lábios, em retribuição ao jeito delicado que ela sorria para ele. E como uma onda, certeira e feroz, sentiu naquele momento, em meio aos carinhos que seguia fazendo em seu rosto, o que, por anos, achou que não mais sentiria verdadeiramente por ninguém. Paixão. Sentiu-se genuinamente apaixonado, desejado, a desejando de uma forma que, talvez, não havia desejado ninguém mais, nunca antes.
E nada do que tinham feito ou falado até ali lhe pareceu suficiente, Carlos queria mais dela, queria ouvir mais, queria sentir mais, queria fazê-la ter mais dele. Como se tivesse uma dívida a ser paga, como se, de fato, aquela fosse uma aposta que ele havia perdido para ela, estava pagando, estava rendendo-se a ser quem ela quisesse que ele fosse, a fazer o que quer que ela quisesse que ele fizesse.
Naquela noite, e ele esperava que em muitas outras também, Carlos era de . Era dela e, dali em diante, sempre seria. Dela.
Ajeitando-se levemente embaixo dele, deitada no sofá macio e confortável, aproximou ligeiramente mais seus corpos e passou a desabotoar a camisa que ele vestia, sem pressa alguma. Botão a botão, deixando seu corpo arquear-se levemente para encostar no dele, tirou a camisa que ele vestia e, sem cuidado algum, a deixou cair no chão. Carlos sentiu um arrepio percorrer sua espinha, talvez pelo contraste com o frio ambiente em sua pele quente, talvez pelo jeito que encarava o seu corpo. Sem mais pensar, Carlos voltou a beijar o pescoço dela, enquanto se livrava dos tênis, sem que ela sequer notasse o movimento.
parecia focada nos beijos que recebia e em sentir as reações do corpo de Carlos sobre o fino tecido de seu vestido. Sainz arfou levemente com seus lábios voltando a encostar os dela e, sem que tivessem mais tempo a perder, voltou a beijá-la. Diferente de minutos antes, contudo, o beijo pareceu um pouco mais urgente, mais apressado e ainda mais intenso. Suas pernas se entrelaçavam umas nas outras e Carlos, enfim, permitiu-se deitar completamente sobre , usando, agora, as duas mãos para levantar o vestido dela de uma vez por todas.
Sem desencostar os lábios dos dele, mas quebrando novamente o beijo por um instante, para respirar, podia sentir as mãos de Carlos explorarem a parte de dentro de suas coxas, traçando um caminho gostoso e, talvez, mais lento do que ela gostaria naquele momento. Carlos foi subindo seus dedos até, enfim, parar no elástico da pequena e fina calcinha que ela vestia. Deixando uma das mãos pressionada sobre uma das coxas dela, enquanto a outra brincava provocativamente com a pequena peça íntima, Carlos voltou seu olhar para os olhos de , transbordando desejo e anseio pelo o que viria a seguir.
Dominada pelo tesão que sentia aumentar a cada toque dele em seu corpo, fazia movimentos lentos em direção ao corpo dele, buscando quase que desesperadamente, apesar de parecer calma e contida, por aumentar o quanto podia o contato de seus corpos. Carlos seguiu manhoso contornando a calcinha dela com os dedos, mas não demorou a passar a acariciar sua parte íntima por cima do fino tecido. E ele parecia estar amando aquilo. Amando a assistir querer mais dele, estar no centro daquele jogo, ditar as regras. Estava amando vê-la se render a ele daquela forma, amando conhecer cada pedacinho do corpo dela, entender como ela reagia a cada movimento que ele fazia. E podia ver o quanto Carlos estava gostando daquilo pelo ar de dominância que exalava, pela luxúria em seus olhos.
A sala de estar parecia ficar mais quente a cada instante. E ao tempo em que Carlos passou a roçar seu corpo no dela, enquanto seguia os movimentos com a mão, aumentando o contato e a proximidade entre eles, criando uma fricção lenta, torturante, o silêncio do ambiente começou a ser, pouco a pouco, quebrado. As arfadas baixas de Carlos misturaram-se com os suspiros pesados de e, assim que ela sentiu os dedos dele afastarem sua calcinha para o lado e, de uma vez por todas, encontrar a pele sensível dela, soltou um gemido. Abafando ele com os lábios presos aos dela, Sainz deixou-se sorrir levemente e seguiu os movimentos, intensificando-os, sentia-a em seus dedos, vendo-a olhar em seus olhos, enquanto a ouvia, entre os gemidos abafados, pedir que ele continuasse.
Excitada pelos movimentos, abriu levemente suas pernas por baixo dele e suas mãos, antes apoiadas no sofá, passaram a acarinhar as costas e a nuca de Carlos. se segurava para não deixar-se levar de uma única vez por todas as sensações que sentia naquele momento e Carlos pareceu perceber aquilo quando parou. Desejando que o jogo não terminasse ali, daquela forma, ele levou a mão que antes acariciava até sua boca e limpou os dedos ali, a encarando. soltou uma risada baixa, assistindo a cena um tanto pervertida, entendendo a provocação que ele lhe fazia. De muitas coisas que havia descoberto em Carlos Sainz naquele tempo, que ele gostava de ser um pouco baixo, um pouco sujo, na cama, era uma das mais surpreendentes delas.
— Acho que você ainda está vestida demais — Com a voz grave, extremamente baixa, Carlos sussurrou.
— Eu tiro, se você tirar — respondeu no mesmo tom, sorrindo sensualmente.
— É uma competição? — Carlos a olhou sugestivo.
— Se você quiser, sim — brincava com as unhas nos braços dele — Podemos apostar também…
— Por que sempre temos que fazer apostas? — Carlos levantou uma sobrancelha.
— Porque fica mais gostoso, não acha? — Fazendo um biquinho, ela respondeu.
— O que você quer apostar? — Sugestivo, Carlos mordeu levemente o lábio inferior dela.
abriu um sorriso provocativo e, sem responder àquilo, puxou-lhe para um novo beijo. Aproveitando a distração de Carlos, em um movimento rápido, a modelo trocou de posição com ele no sofá, ficando, agora, por cima. sequer deu tempo de Carlos pensar o que fazer e, cortando o beijo, sentou-se no colo dele. Com uma perna a cada lado do corpo do piloto, ela se sentou lenta e pesadamente sobre o quadril dele, tirando um gemido baixo de Sainz. Com o vestido levantado até o meio das coxas, Carlos assistiu o tirar por cima e, como fez com a camisa dele minutos antes, o jogou no chão.
Carlos levou suas mãos até a cintura da modelo, umedecendo os lábios com a língua, encarando cada centímetro do corpo dela. era uma mulher linda, em muitos sentidos. Era forte, centrada, responsável, respeitosa. Era inteligente, esportiva, ousada, marcante. Era como um diamante, era rara, cara, refinada. Tinha uma mística que o fazia querer desvendar, tinha uma melodia que o fazia querer ouvir, um cheiro que ele lutava por sempre se lembrar. sempre tinha sido linda aos olhos de Carlos. Mas vê-la ali, sentada em seu colo, só de calcinha, na meia luz de um dia que amanheceria em breve, com o corpo exposto, os cabelos caindo em suas costas, os seios mostrando sua excitação por ele, foi como uma pintura rara, como um quadro único, foi como ele nunca antes a havia visto e como ele jamais queria esquecer.
Ele a encarou por alguns segundos, a admirando, a consumindo com os olhos, até puxar seu tronco para cima, na direção dela, sentando-se também. Encostando seu peito nos seios dela, a abraçando, Carlos puxou levemente os cabelos dela para trás, brincando com as pontas dele em suas costas, a olhando. fechou suas pernas ao redor dele, ajeitando-se em seu colo e, sentindo ele passar a pontinha de seu nariz no dela, o ouviu dizer em um sussurro:
— Você é a mulher mais linda do mundo, Voitenko.
sentiu como se estivesse em um sonho que, em hipótese alguma, poderia acordar. Não naquele momento, nunca naquele momento. E se pudesse pedir algo à vida, naquele instante, pediria que jamais se esquecesse do que tinha acontecido ali. Que jamais se esquecesse daquelas palavras, de como foram ditas, e, sobretudo, de quem as disse. juntou seus lábios nos dele, mas não teve tempo de dizer ou fazer nada mais. Porque, no segundo seguinte, um barulho alto no andar de cima da casa os interrompeu. Assustado com o que parecia ser uma porta sendo rudemente aberta, Carlos a puxou de volta para deitar-se em cima dele e os recolheu para o encosto do sofá o quanto pode, como se quisesse os esconder ali. Deitada em cima dele, riu da situação e, com um dedo em frente aos lábios, fez sinal para que ficassem em silêncio.
— Eu juro por Deus, George Russell, que se você não tomar esse copo de água e dormir logo, eu vou te colocar pra fora dessa casa — Carmen descia brava pela escada, passando por trás do sofá, sem reparar no casal deitado ali.
— EU SÓ PRECISO DE ÁGUA, MINHA LINDEZA — George gritou do quarto, tirando risadas de e Carlos, que logo taparam a boca com a mão.
— VAI DORMIR, GEORGE, PORRA — A voz irritada de Pierre soou pela casa.
— PARA DE GRITAR, GASLY, QUE INFERNO — Foi a vez de gritar de seu quarto, ao tempo que uma nova porta se abriu.
— Se vocês acordarem o Alex, eu mato vocês — Lily alertou da porta de seu quarto, fechando-a em seguida.
— AMO VOCÊS, AMIGOS — Russell gritou outra vez.
— Um dia eu mato esse garoto — Carmen resmungava, voltando para o andar de cima com um copo de água na mão.
— Acho que a noite deles está sendo péssima — Carlos comentou, rindo baixo com a modelo.
— Nunca vi ele tão bêbado assim — Ela comentou rindo.
— Ele nos viu na varanda e contou para o Charles e o Albon, mas eu inverti a situação e disse que eu estava no banheiro e que não estive lá em nenhum momento.
— É melhor, imagina os fofoqueiros contando para o resto do grupo todo… — riu, negando com a cabeça.
— Uma hora eles vão descobrir, você sabe, não é? — Carlos colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.
— Eu sei, mas não precisa ser agora — o respondeu, dando-lhe um selinho — Acho melhor nós irmos para outro lugar.
— Não gosta da adrenalina de poder ser pega a qualquer momento? — Carlos passava as mãos pelas costas nuas da modelo.
— Adrenalina vai ser amanhã se a dona da casa descobrir que transamos no sofá da sala dela — riu baixo, apoiando as mãos no peito dele.
— Ela não precisa saber — Carlos roçou seus lábios nos dela — Se você não contar, eu não conto.
— Temos um acordo — riu baixinho — Mas, sabe o que eu acho?
— O que? — Carlos brincava com suas mãos na pele dela, a mantendo abraçada em seu peito, confortável.
— Que você está vestido demais — Do mesmo jeito baixo e um tanto manhoso que ele, respondeu o que há pouco ele a havia dito.
Carlos soltou uma risada baixa, tão charmosa que fez suspirar. E no segundo seguinte, voltou seus lábios aos dela, em um novo beijo calmo, lento, que descia de sua boca até seu pescoço, seus seios. seguiu deitada sobre ele por poucos minutos, ao tempo que segundo a segundo, sem quebrar o beijo, Carlos a empurrava levemente para se sentar outra vez no sofá. A mulher se separou brevemente dele, assim que se sentou, abrindo um sorriso cheio de ternura enquanto o assistia, em um pulo, levantar-se.
O piloto deu alguns passos rápidos até a porta de entrada e apagou as luzes do cômodo, para que ficasse tudo ainda ameno, baixo. O amanhecer do dia iluminava a casa no tom de laranja que só às manhãs do verão de Miami poderiam ter e pensou por um segundo que jamais se esqueceria daquele momento. Carlos estava deslumbrante. Iluminado pelo sol fraco que ainda nascia lá fora, e vestindo apenas a bermuda, ele se livrou das meias, voltando até ela com um sorriso quente como o que acontecia entre eles. E sem dizer uma só palavra até que se aproximasse novamente dela, ele desabotoou sua bermuda e a tirou em um movimento rápido.
Seus olhos seguiam cravados aos de e ela podia ver nele a felicidade, a confiança, a segurança que ainda não tinha visto. Podia ver em seus olhos, no sorriso, no jeito que ajeitava seu cabelo e em como caminhava, nas reações de seu corpo aos toques e beijos que ela havia dado a ele até então, podia ver o quanto Carlos transbordava desejo, euforia. O quanto estava excitado, o quanto parecia aproveitar cada segundo do contato entre eles como se, ao amanhecer, não fossem mais ter aquela intimidade.
Vestindo apenas a cueca boxer, branca, Carlos voltou para perto do sofá, parando em pé ali, próximo onde o esperava e estendeu a mão para ela. Sorrindo carinhosamente, sem cortar o contato visual entre eles, aceitou a mão e, deixando-se ser ajudado por ele, ajoelhou-se no sofá. De frente para Carlos, alguns poucos centímetros mais baixa do que ele, ela sentiu a mão direita do espanhol subir calma, pesadamente, pelo seu pescoço até sua nuca, enroscando seus dedos nos cabelos dela, ali. E a puxando delicadamente para mais perto dele, Carlos abaixou-se levemente, a tomando em seus lábios em um beijo intenso, um tanto furioso.
Carlos a puxava para mais próximo de si, explorando o corpo nu dela com a mão esquerda, enquanto a mão direita mantinha-se atrás de seu pescoço, em sua nuca, brincando com os cabelos longos. correspondia ao beijo com o mesmo tom urgente que Carlos demandava, passando as mãos por seu abdômen até, enfim, chegar na borda de sua cueca. Querendo fazê-lo sentir a mesma tortura gostosa que ele fez com ela alguns minutos mais cedo, passou a mão pela cueca dele, apalpando charmosa, lenta, o volume dentro dela, sem pressa alguma. Carlos mantinha sua boca na dele, arfando dependendo do movimento que ela fazia com as mãos, segurando o suplício para que ela se livrasse logo na última peça de roupa que ele vestia.
E aquilo não demorou a acontecer.
Livrando-se da cueca dele, seguiu os movimentos que fazia, ainda de joelhos no sofá, assistindo Carlos virar um caos a cada segundo, sussurrando palavras em espanhol que ela não sabia o significado, mas que tiravam dela arrepios. Carlos segurou-se o quanto podia e, no limite, sentiu tirar a mão dele e jogar-se sentada para trás, de volta no sofá. O olhar dela era sensual, carregava um toque de desafio e outro de certeza do que faria a seguir. E antes mesmo que Carlos pudesse dizer ou fazer algo, ele a assistiu ajeitar seu corpo para frente, sentada, até aproximar-se novamente dele.
Firme em pé, com os olhos escuros parecendo tomar um tom ainda mais intenso, profundo, Carlos assistiu pegar seu membro novamente com as mãos e, sem qualquer ressalva ou hesitação, o colocar em sua boca. Com movimentos precisos, intercalados entre ser mais lenta e brincar com a necessidade dele em ir depressa, o ouvia gemer o nome dela. Carlos sentia um calor insuportável queimar dentro de si, sua pele parecia pegar fogo a cada segundo e, levando as mãos até o rosto dela, puxando os cabelos de para trás, ele passou a conduzir os movimentos dela, a ajudando a ir mais rápido e mais fundo nele.
soltava sorrisos provocantes enquanto seguia seu trabalho, vez ou outra cortava o contato, limpando os lábios com a própria língua, mas logo recomeçava, e assistia Carlos se deliciar com ela do mesmo modo que ele mantinha seus olhos cravados nela, se deliciando com ele. Jogaram aquele jogo pelo tempo que Carlos aguentou e, às vésperas de explodir de uma vez por todas, ela tirou a boca dela de seu membro, delicadamente a puxando pelos cabelos.
Carlos assistiu limpar os cantos da boca com o dedo e, no segundo depois, deitou-se sobre ela, de volta no sofá. Entre os novos beijos, ajeitando-se por cima dela, Sainz tirou, enfim, a calcinha da modelo e aproveitou o momento para pegar o preservativo em sua carteira, no bolso da bermuda jogado no chão, diante deles. o ajudou a testá-lo e pelo tempo que a manhã começava lá fora, fizeram-se, finalmente, um do outro.
Nos beijos, nos toques, nas mãos incansáveis que exploravam seus corpos, nos gemidos e nas arfadas, nas palavras um tanto sujas murmuradas enquanto os movimentos de seus corpos encaixavam-se em um único, Carlos e viram acontecer o que, em meses, desejaram. O tesão reprimido aliviando-se, as discussões virando palavras que não conseguiriam dizer em voz alta no dia seguinte, a afronta virando prazer e as brigas, enfim, transformando-se em uma cumplicidade íntima, que não seria de ninguém mais senão deles dois.
Naquela noite que já virava-se a manhã seguinte, Carlos, enfim, pagou a aposta que devia a . E, dali em diante, não seria mais o pôquer ou o golfe. Jogariam o jogo cujas regras definiam ali, na intimidade que conheciam, no amor que recomeçava.
Continua...
Nota da autora: Sem nota.
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