Última atualização: 02/11/2020

Capítulo Único

Eu era apenas uma típica garota americana antes de alguém entrar na minha vida e mudar tudo. Nasci e fui criada em São Francisco e sou totalmente apaixonada pela minha cidade natal. Tenho duas melhores amigas, a e a , que eu conheço desde o primário. Fazem parte também da nossa turma, meu irmão caçula, Jeremy, e o irmão caçula da , Owen.
Eu e as meninas fomos para a faculdade na mesma época, a fez gastronomia e eu e a fizemos faculdade de música. A sempre quis ser DJ, daí os pais dela disseram que tudo bem, desde que ela estudasse para isso. Já eu, queria dar aulas de músicas, e a sonhava em abrir uma confeitaria. Quando terminamos a faculdade, decidimos morar juntas em uma típica casa de São Francisco, a abriu a confeitaria dela no centro da cidade, a começou a tocar em festas, eventos e danceterias, e eu comecei a dar aulas de músicas para adolescentes na City Arts and Tech High School. Meu irmão e o irmão da foram para faculdade juntos também, alguns anos depois, e quando se formaram, decidiram que seria uma boa ideia morarem juntos e mais especificamente do nosso lado.
Eles alugaram a casa do lado e foi aí que algumas coisas começaram a mudar, de repente a e a começaram a reparar que os meninos tinham crescido e não deu outra, a começou a namorar o Owen e a começou a namorar meu irmãozinho, Jeremy. Mas no fim, acabou sendo legal, porque nós estamos todos juntos novamente. Nossas casas tinham garagens nos fundos, a da nossa casa estava ocupada com três carros, um meu, um da e outro que os meninos dividiam, a era a única que não gostava de dirigir.
O carro deles deveria estar na garagem deles, só que a garagem deles estava ocupada com um monte de tranqueiras e vários instrumentos da época em que eles tinham uma banda, tinha sido na época do colégio, os outros dois integrantes foram para faculdades distantes e a banda terminou. Eu achava que eles se livrariam daquilo tudo, mas foi então que eles vieram com uma conversa que mudaria ainda mais nossas vidas.

- Boa noite, meninas do nosso coração. - Jeremy disse, entrando com Owen na nossa casa.
- Vocês sentem o cheiro da comida, é? - perguntou.
- Mais ou menos isso, amor. - Owen disse, beijando .
- O que tem de bom hoje, minha pequena? - Jeremy disse, abraçando a pela cintura.
- Meu Deus, vocês estão a cada dia mais abusados. Vai, me deixa terminar de cozinhar, se não ninguém janta hoje.
- A tem razão, não tem comida na casa de vocês não? – falei, pegando os pratos para colocar na mesa.
- Tem sim, maninha, mas o problema é que a gente não sabe cozinhar mesmo.
- Pelo menos a gente trouxe a sobremesa. - Owen disse, mostrando uma sacola com um pote de sorvete dentro. Eu revirei os olhos e ri da cara de pau que aqueles meninos tinham.
Assim que o jantar ficou pronto, nós sentamos para comer, e foi aí que eles vieram com a tal conversa.
- A gente tem uma coisa para contar para vocês. - Owen disse.
- Tenho medo quando vocês falam isso. - disse, olhando séria para o irmão.
- Não é nada demais, só estamos pensando em retomar a nossa banda. - Jeremy disse.
- Vocês estão pensando em reviver a Skyline? Sério mesmo, Jer? – falei, surpresa. - Pensei que isso tinha ficado para trás quando vocês foram para a faculdade.
- Ficou, mas agora queremos retomar. Poxa, , a gente gosta mesmo é de tocar, é o que fazemos de melhor na vida.
- Mas vocês perderam os outros dois integrantes. Vocês não podem ter uma banda só com um baterista e um baixista. - disse .
- Mas podemos arrumar outros, estamos pensando em colocar um anúncio no jornal da cidade para fazermos testes na garagem de casa. - Owen disse.
- Até que não é uma ideia ruim. - disse.
- Bom, nós vamos apoiar vocês como sempre, vocês sabem disso. E eu posso voltar a compor as músicas para banda, sem problemas. – falei, dando de ombros.
- Era isso que eu queria ouvir, maninha.
- E eu prometo tentar arrumar lugares para a banda tocar. - disse . - Agora tem um detalhe, enquanto a banda não dá certo, vocês precisam de um trabalho, porque a vida de adulto é assim, todo mês chega conta.
- Eu sei, amor, nós estamos procurando alguma coisa que pague nossas contas.
- Eu tenho uma sugestão, vocês podiam me ajudar na confeitaria. Eu só tenho uma funcionária lá comigo, ter uma ajuda de vocês dois seria ótimo. A gente divide os lucros, vocês pagam as contas e todo mundo fica feliz.
- Sério mesmo, minha pequena? A gente não cozinha bem que nem você não.
- Não é para cozinhar, né, Jer, é para ajudar a atender os clientes, fechar caixa, essas coisas.
- Não sei se quero ter a minha irmã como chefe.
- Owen, para de graça que a ideia da é ótima. - disse, dando um tapinha no ombro do namorado.
- Ok, ok, a gente topa então. - Owen disse e Jeremy também concordou.
- Ótimo, tudo resolvido, vamos à sobremesa. Espero que seja sorvete de chocolate, Jer.
- Claro que sim, maninha, você acha que viríamos falar algo sério com vocês se não fosse com sorvete de chocolate para acalmar os ânimos?
- Idiota. – falei, rindo e tacando um guardanapo no meu irmão.

No dia seguinte, os meninos providenciaram o anúncio sobre a banda e colocaram no jornal. Eles marcaram para sábado o primeiro teste, eles estariam na garagem esperando os candidatos das 15h00 às 17h00 da tarde.

Quando sábado chegou, nós nos reunimos com eles na garagem, a até fechou a confeitaria mais cedo, porque eles queriam nosso apoio e opinião sobre os candidatos. Vieram cerca de dez candidatos naquele dia e, sinceramente, nem um era bom o suficiente ou não tinha a cara da Skyline. Já eram 17h00 da tarde quando o último candidato saiu e os meninos pareciam um pouco desanimados.
- Relaxem, hoje foi só o primeiro dia, ainda tem tempo para vocês encontrarem alguém legal. - disse, abraçando Jeremy.
- Pois é, não precisa toda essa sangria desatada. - disse, tirando as baquetas da mão de Owen.
Nós ainda estávamos conversando quando um garoto entrou pela porta da garagem.
- Com licença, é aqui que estão fazendo testes para guitarrista e vocalista para uma banda?
Eu olhei na direção do estranho e não tinha outra palavra para descrevê-lo senão lindo. Na verdade, absolutamente lindo, os cabelos castanhos um pouco compridos estavam bagunçados, os olhos claros, encantadores, os dentes brancos e a boca carnuda chamavam atenção. Ele vestia uma calça jeans preta com alguns rasgos e uma camiseta dos Eagles. No ombro, trazia pendurada uma guitarra.
- Poxa, cara, desculpa, mas nós já encerramos por hoje. - disse Owen.
- Sério? Que pena, eu tentei chegar mais cedo, mas não consegui. Eu estou na cidade só há três dias, vi o anúncio hoje e meio que me perdi para chegar aqui.
- Ah, gente, já que ele está aqui, não custa nada ouvi-lo.
- A tem razão, vamos dar uma chance. - Jeremy disse, pegando seu baixo.
Os meninos arrumaram seus instrumentos e se prepararam para tocar.
- Eu o colocaria na banda só porque ele é gato. - sussurrou para mim e para a .
- Tenho que concordar com você, .
- Ei, vocês duas, vou contar para os namorados de vocês, viu.
- Ah, , qual é, a gente namora, mas ainda não estamos cegas, né? - disse e eu não pude deixar de rir.
Mas a verdade é que o garoto não era só bonito, ele tocava guitarra muito bem, e tinha uma voz linda.
- Caramba, isso foi incrível! - Jeremy disse quando a música terminou.
- Eu também gostei muito. - disse Owen. - O que vocês acharam, meninas?
- Eu acho que vocês encontraram um novo integrante para a banda de vocês. - falei e as meninas concordaram.
- Eu sou o Jeremy, e esse é o Owen. Como você se chama?
- Desculpa, nem me apresentei. Sou Charlie Gillespie.
- Charlie, bem-vindo à Skyline.
Owen saiu da bateria e veio até nós.
- Deixa eu te apresentar as meninas, porque elas são parte fundamental dessa banda, mesmo que não toquem nela.
- Bom, tecnicamente eu componho para a banda.
- Você compõe? Que legal, eu também gosto de compor.
- Ih, Charlie, não fala isso não, ela é ciumenta com as músicas dela.
- Nada a ver, Jer, é sempre bom ter mais alguém compondo além de mim.
- Bem, essa aqui é a , minha namorada. E a baixinha ali é minha irmã, , namorada do Jeremy.
- A baixinha que sempre mandou em você, né, Owen.
- Verdade, agora ela manda em mim e a manda em você, Owen.
- Mando mesmo, e ‘aí do Owen de não obedecer. - disse e nós rimos.
- E você, quem é? - Charlie disse, me olhando.
- Essa é a minha irmãzinha, .
- Sua irmãzinha mais velha que também sempre mandou em você.
- É isso, aqui gostamos de ser mandados por elas. - Jeremy disse, divertido.
- Enfim, agora que você já está na banda, começamos a ensaiar durante a semana. Vamos trocar telefones para podermos combinar tudo certinho. - disse Owen.
- Charlie, por que você não fica para jantar? Assim podemos te conhecer melhor e você e os meninos podem combinar sobre os ensaios. - disse .
- Se não for incomodar, eu aceito.
Olhei para de canto, porque eu sabia exatamente o que ela estava fazendo, como sempre, tentando arrumar um crush para mim. Mas todo mundo achou uma ótima ideia, então Charlie ficou para jantar.

Os meninos ficaram conversando na sala até a hora do jantar. Mais tarde, eu e as meninas preparamos a comida enquanto os meninos arrumavam a mesa e logo nós nos sentamos para comer.
- Então, Charlie, você disse que está na cidade somente há três dias? - perguntou.
- Sim, eu sou do Canadá, na verdade. Aí vim para os Estados Unidos para fazer faculdade, em Los Angeles, mas depois que eu me formei, ficou um pouco caro viver em L.A. Então eu achei que São Francisco seria uma alternativa mais dentro das minhas possibilidades.
- Você não pretende voltar para o Canadá? - Owen perguntou.
- Não, eu me acostumei com a Califórnia, gosto daqui. Além disso, acho que aqui tenho mais chances de realizar meu sonho de ser músico. Mas e vocês, são daqui mesmo?
- Todos americanos, nascidos e crescidos em São Francisco. – falei, me servindo de um copo de suco.
- E você está morando onde? - perguntou.
- Por enquanto estou hospedado em um albergue. Mas estou procurando um lugar legal e não muito caro para alugar.
- Olha, cara, eu e o Owen moramos na casa do lado, onde tem a garagem que tocamos. Tem três quartos na casa, se você quiser, poderia vir morar conosco, ficaria até melhor para a banda. Daí a gente divide o aluguel e as contas.
- É sério isso?
- Por que não? - Owen disse, dando de ombros.
- Caramba, eu super topo.
- Legal, então você pode trazer suas coisas amanhã mesmo, se quiser. - disse Jeremy.
- Combinado, eu venho amanhã então. Agora eu só preciso arrumar um emprego.
- Nisso a gente não vai poder te ajudar. Estamos dando uma força para minha irmã na confeitaria dela, porque também precisávamos de um emprego para pagar as contas.
- Talvez eu possa ajudar. Tem uma danceteria que eu toco às vezes, o barman de lá está procurando um assistente, e pelo que ele me disse, não precisa de experiência não, se te interessar. - disse .
- Eu topo qualquer coisa, só preciso trabalhar.
- Então tá, eu te levo lá na segunda.
- Tá bom, valeu mesmo, .
- É, cara, parece que você entrou para a banda certa. - Jeremy disse, dando um tapinha nas costas de Charlie.
- Acho mesmo que vim parar no lugar certo. - Charlie disse, sorrindo. E, meu Deus, o que era aquele sorriso.
- Bom, eu acho que vou pegar a sobremesa. – falei, me levantando antes que eu entrasse em transe por causa daquele sorriso.
- Eu trouxe torta da confeitaria hoje.
- Deixa eu te ajudar. - Charlie disse, se levantando.
- Não precisa, você é visita.
- Que visita, , ele vai morar com a gente, não pode mais ser considerado visita.
- Jer, eu queria que você e o Owen fossem visitas na nossa casa, mas vocês não saem daqui. - falei e todo mundo caiu na risada enquanto Jeremy fazia cara de ofendido.
- Falando sério, eu vou te ajudar sim, vocês já fizeram muito por mim hoje. - Charlie disse, me seguindo até a cozinha.
- Ok, então.
Eu peguei os pratos e talheres de sobremesa e entreguei para Charlie, depois fui até a geladeira e peguei a torta de morango que a havia trazido. Voltamos para a copa e mal coloquei a torta na mesa e os meninos já começaram a se servir.
- Já que não temos nada para brindar, vamos aproveitar essa torta deliciosa para comemorar o novo integrante da banda, e novo amigo. - disse .
- Isso aí, seja muito bem-vindo à nossa turma, Charlie. - Jeremy falou com a boca cheia de torta.
- Obrigado, gente, por tudo.
Charlie sorriu e dessa vez ele estava olhando diretamente para mim. Senti minhas bochechas quentes, deviam estar vermelhas, e o sangue de repente pulsou nas minhas orelhas. Eu não sabia qual seria o destino da banda, o que aconteceria com essa nova parceria, mas de uma coisa eu tinha certeza, eu teria que me acostumar a ter mais um garoto em nosso grupo, que não era nem meu irmão, nem meu melhor amigo, mas era bonito demais para que eu ficasse indiferente a ele.

Depois que Charlie foi embora e todo mundo foi dormir, menos a , que foi trabalhar em um evento, eu me tranquei no meu quarto e fiquei pensando o que o futuro da banda nos reservava. Acabei pegando no sono e sonhando com aquele sorriso tão cheio de vida do novato.
No dia seguinte, acordei e olhei no relógio, eram dez da manhã. Senti o cheiro de café vindo da cozinha e resolvi levantar de uma vez, tomei um banho e desci. A com certeza ainda devia estar dormindo, só iria acordar lá pela hora do almoço, então com certeza devia ser a que estava na cozinha. Como eu previa, encontrei minha amiga preparando o café da manhã.
- Bom dia, amiga. – falei, me sentando à mesa.
- Bom dia. Vai querer leite?
- Quero, por favor. Cadê os meninos? Ainda estão dormindo?
- Eu dormi lá com o Jer ontem, e assim que acordei joguei ele para fora da cama.
- Adoro como você educa meu irmão, amiga.
- De nada. - disse, piscando para mim. - Ele ficou meio bravo, mas levantou e foi acordar o Owen só para ter com quem reclamar de levantar antes do meio dia em pleno domingo.
- E onde eles estão agora?
- Mandei os dois fazerem algo útil, ir ao mercado comprar comida para gente fazer um bom almoço.
Foi então que eu ouvi alguém tocando a campainha da casa ao lado.
- É a campainha da casa dos meninos. - disse .
- Deixa que eu vou ver quem é.
Fui até a entrada e assim que abri a porta de casa, vi Charlie parado em frente à casa dos meninos, a guitarra pendurada no ombro junto com uma mochila e uma mala que ele carregava na mão.
- Bom dia, novo vizinho. – falei, descendo as escadas da frente de casa e indo até ele.
- Bom dia. Tô chegando de mudança.
- Percebi. Os meninos não estão, foram no mercado, mas não se preocupe, porque a porta deles sempre fica aberta. É uma combinação nossa, a porta deles fica aberta e a nossa também, para facilitar a circulação de uma casa para outra, embora eles invadam mais nossa casa do que nós a deles. - falei e Charlie riu. - Vem, eu te levo lá dentro e te mostro seu quarto.
Segui com Charlie para dentro da casa dos meninos. Passamos pela sala bagunçada, como sempre, e subimos para o andar de cima.
- Bem-vindo ao seu novo lar. – falei, abrindo a porta do quarto.
O quarto era simples e tinha uma cama box no centro, um guarda-roupas pequeno e uma cômoda próxima da janela. Charlie entrou e colocou suas coisas na cama enquanto eu o observava da porta.
- Gostou?
- Claro que sim, tá mais do que ótimo.
- Você pode deixar o quarto com a sua cara com o tempo.
- Farei isso. Aliás, deixa eu tirar umas coisas da mochila que não podem quebrar.
Charlie abriu a mochila e começou a tirar algumas coisas de lá de dentro.
- Caramba, isso é uma câmera polaróide? – perguntei, finalmente entrando no quarto e me aproximando da cama.
- É sim, eu gosto muito de tirar fotos. Mas não só fotos digitais para ficar no celular, sabe? Gosto de ter em mãos para espalhar pelo quarto, daí achei que ter uma câmera instantânea seria a melhor solução.
- Que legal, é um ótimo hobbie, tirar fotos.
- Eu gosto. - Charlie falou, pegando a câmera da minha mão e tirando uma foto minha.
- Ah, não, não faz isso!
- Por que não? Eu gosto de fotografar coisas bonitas.
Eu senti minhas bochechas esquentarem no mesmo instante, mas antes que a situação ficasse mais constrangedora, eu voltei minha atenção para um pacote que Charlie havia colocado em cima da cama.
- Aquilo são fitas cassete?
- São sim, tenho uma coleção delas.
- Posso? – falei, pegando o pacote e sentando na cama.
- Fica à vontade. - Charlie disse, sentando de frente para mim.
Abri o pacote com cuidado e dentro havia várias fitas cassete de bandas das antigas.
- Olha só, Bobby Dylan, Aerosmith, Eagles. Você não é muito jovem para gostar desses artistas?
- Música boa não tem idade.
- Nisso você tem razão. Eu amo músicas antigas, tenho uma playlist só dos anos 80 e 90. Eu sou mais do pop, mas gosto de rock também, Aerosmith, por exemplo, eu adoro, se for um rock mais leve, eu curto muito.
- Rock é muito bom, que o diga o rei do rock, Elvis Presley. Acho que se eu pudesse ressuscitar algum artista, seria ele.
- Sério que você gosta de Elvis? Eu também gosto, o cara foi um artista sensacional.
- Não tem nem o que contestar de um artista como ele, talento puro.
- Você também é talentoso, toca guitarra, canta, compõe. Você toca mais alguma coisa?
- Além da guitarra, toco violão. Na escola eu tocava vários instrumentos, baixo, trombone, tuba, violino, um pouco de saxofone e piano.
- Caraca, você é praticamente uma banda completa. - falei e Charlie riu.
- Não é bem assim, eu toco de tudo um pouco, mas eu sou melhor mesmo com instrumentos de corda.
- E como se não bastasse você ainda canta.
- Eu tento.
- Não, você canta muito, sua voz é linda.
- Se você diz. Mas e você? O Jeremy comentou que você dá aulas de música.
- Sim, eu fiz faculdade de música e hoje dou aula de música em uma escola de High School.
- Então você deve tocar algo também, até porque você compõe.
- Eu toco violão, guitarra, piano e um pouquinho de bateria.
- Olha aí, e estava falando de mim, você também domina vários instrumentos.
- Não tantos quanto você.
- E você canta?
- Quem? Eu? Não, quer dizer, eu fazia parte do coral na época da escola, mas eu não sou do tipo que sobe no palco para cantar.
- Mas você canta bem?
- Sei lá, minha família e meus amigos sempre disseram que sim, mas eles são suspeitos.
- Se você canta, porque você nunca entrou para banda do seu irmão?
- Nem pensar, eu prefiro continuar só compondo para ele.
- Mas eles estão procurando um vocalista principal.
- Eles já acharam, você. O próximo integrante não precisa necessariamente cantar, porque você já faz isso.
- Eu queria te ouvir cantar, para dar a minha opinião.
- Isso não vai acontecer.
Nós ficamos por alguns segundos naquele silêncio constrangedor quando percebi que tinha alguém na porta.
- Ah, desculpa interromper, mas é que você estava demorando, . - disse, meio sem graça.
- Sem problemas, eu já estava indo. – falei, levantando da cama e seguindo para a porta. - Você não quer vir tomar um café com a gente, Charlie? Depois você arruma tudo.
- Claro, vamos lá.
Voltamos para nossa casa com Charlie, a havia preparado uma mesa completa de café da manhã. Nós havíamos acabado de começar a comer, quando os meninos chegaram.
- Hei, se não é nosso novo companheiro de banda e de casa. - Jeremy disse, cumprimentando Charlie.
- Eu vim conforme a gente combinou, inclusive, já invadi a casa de vocês, sua irmã me levou lá, deixei minhas coisas no quarto.
- Agora é sua casa também, cara. - disse Owen. - Cadê a ?
- Dormindo, né, ela trabalhou ontem à noite. - disse, tirando da mão do irmão o pote de bolachas.
- Estou tentado a ir acordá-la.
- Owen, se você fizer isso, ela vai te matar, você sabe. Deixa ela quieta e não chega perto daquele quarto antes da uma da tarde. - falei enquanto pegava mais leite.
- Tá bom, não tá mais aqui quem falou.

Nós passamos o domingo em casa, se juntou a nós assim que acordou e no final da tarde os meninos até ensaiaram um pouco. No dia seguinte, retomamos nossa rotina de trabalho, levou o Charlie na danceteria e ele conseguiu o emprego de assistente de barman, então teríamos mais alguém no grupo trocando o dia pela noite. A semana passou sem maiores acontecimentos, e no domingo, aproveitamos que todo mundo estava de folga e invadimos a casa dos meninos, só para variar um pouco.
- O que é isso, gente? - Jeremy perguntou, vendo eu e as meninas entrando na casa deles com várias sacolas.
- Nós vamos fazer o almoço aqui hoje, para justificar vocês terem uma cozinha, sabe? - disse, irônica.
- E o que vai ter de bom, amor? - Owen perguntou.
- Eu vou fazer uma lasanha. A sobremesa vai ser por conta da e da .
- Vai colocar a mão na massa, maninha?
- Jer, eu sei cozinhar muito bem, ok?
- Eu e a vamos fazer torta de maçã.
- Yes! - Owen e Jeremy disseram em uníssono.
- Peraí, tá faltando um integrante desse grupo. Cadê o Charlie?
- Você tá muito preocupada com ele, hein, maninha.
- Mais uma gracinha e eu cancelo a torta, Jer. Agora fala, cadê o Charlie?
- Tá lá na garagem arrumando umas coisas.
- Não tô acreditando que vocês colocaram o menino para arrumar a bagunça de vocês. - disse .
- Não colocamos nada, foi ele que quis arrumar. - disse Owen.
- Deixa que eu vou lá resgatar o coitado. – falei, jogando o guardanapo em cima da pia.
Segui até a garagem, e quando cheguei lá, Charlie estava arrumando os instrumentos da banda. Eu parei na entrada da garagem e fiquei olhando, ele vestia um macacão jeans, mas por baixo do macacão estava sem camisa, a barra estava dobrada, e para completar, ele calçava um par de tênis preto surrados e um boné virado para trás. Vestido daquele jeito, ele parecia um garotinho, mas ainda assim, um garoto cheio de músculos.
- Oi, , nem vi que você estava aí. - Charlie disse, se virando para mim e me tirando do transe.
- Pois é, eu e as meninas invadimos a casa de vocês hoje, viemos preparar o almoço. E eu vim te resgatar dessa furada. – falei, apontando para bagunça.
- Ah, imagina, eu estava de bobeira e resolvi dar uma organizada aqui.
- Mesmo assim, deixa isso para depois e vem comigo. Vai ter comida boa e um bom papo.
Charlie sorriu, acho que ele era uma das pessoas mais sorridentes que já conheci, até falando ele sorria o tempo todo, e com um sorriso daquele, era difícil manter a concentração. Nós voltamos para dentro da casa e ele se juntou aos meninos na copa, enquanto eu voltei para a cozinha para ajudar as meninas com o almoço. Eu estava separando os ingredientes da torta, peguei uma xícara para medir o leite, quando olhei para frente e vi Charlie de costas para mim. Eu realmente não queria, mas não pude deixar de notar o tamanho daquela bunda marcada no macacão.
- ! - falou e eu dei um pulo. - Você vai derramar todo o leite.
Olhei para a xícara na minha mão e o leite estava quase transbordando dela.
- Nossa, amiga, estava um pouco distraída. - disse e ela e a riram.
- Aí que engraçadinhas vocês, né?
- Não se preocupe, , a gente entende. É uma bela bunda mesmo. - disse, abaixando o tom de voz.
- É, né? – falei, sem conseguir negar. - Grande, redonda, bem perfeita.
- Amiga, vai fundo. - disse, dando um tapinha no meu ombro.
- Vai fundo no quê? Não, gente, foi só um comentário, que coisa.
- Aham, a gente finge que acredita. - disse .
- Hei, o que vocês estão cochichando aí? - Owen perguntou.
- Nada que interesse a vocês. – falei, voltando minha atenção para a cozinha.
- , eu terminei de arrumar meu quarto, se você quiser ver depois.
- Cara, você tá chamando a minha irmã para ir no seu quarto na minha frente?
- Tecnicamente, Jer, eu já fui ao quarto do Charlie, afinal, fui eu que levei ele lá quando ele se mudou.
- Desculpa, cara, eu só tava chamando ela para ver a decoração do quarto, nada demais. É porque conversamos sobre isso no dia que eu cheguei.
- A vai sim ver seu quarto, Charlie, e se o Jeremy falar mais uma besteira, deixa que eu cuido dele. - disse .
- Eita que vocês têm uma mania de falar por mim, hein. Mas tudo bem, só porque o Jer deu uma de palhaço, depois do almoço eu vou lá ver como seu quarto ficou, Charlie.
- Enquanto a gente cozinha, vamos falar de assuntos mais tranquilos. E a banda? Vocês ainda vão procurar mais um integrante? - perguntou.
- Acho que sim, a ideia sempre foi ter quatro integrantes na banda. - disse Owen.
- Vocês podem muito bem ficar com três integrantes, tipo os Jonas Brothers.
- Ah, , não, eles são uma boyband! Nós somos mais pop rock, é diferente. - Jeremy disse.
- Mas que preconceito é esse com boybands? Como se não gostassem, né, eu sei muito bem que é você que some com meus cds do One Direction, senhor Owen.
- Gosto mesmo, e daí? O que não significa que nossa intenção seja montar uma boyband.
- Eu acho que vocês têm o quarto integrante da banda bem aqui e não perceberam. - disse Charlie.
- Do que você está falando, cara?
- Sua irmã, Jer, ela me disse outro dia que canta.
- Eu disse que eu canto, mas não em cima de um palco.
- Eu sempre disse que a devia fazer parte da banda. - disse , e concordou com ela.
- Gente, nem começa com esse assunto de novo, ok? Fiquem vocês três na banda e pronto, se pintar um quarto integrante, ótimo, se não, tenho certeza que vocês dão conta do recado.
Peguei as maçãs para picar para colocar na torta e vi que Charlie estava me olhando com aquele sorriso de canto. Sinceramente, eu não sabia como era humanamente possível me manter concentrada perto daquele garoto.

Depois do almoço, conforme prometi, fui até o quarto do Charlie ver como havia ficado a decoração. E não é que ele tinha deixado o lugar com a cara dele? A guitarra estava em um suporte junto com um violão, na cômoda havia uma pilha de livros ao lado da pilha de fitas cassetes. Em cima dos livros, repousava um pequeno violino e dois bonequinhos. Havia também um notebook e uma fileira de fotos tiradas com a polaróide dele. A maioria das fotos devia ser da família dele no Canadá, mas havia também uma foto dele com os meninos no sofá da sala, e para a minha surpresa, a foto que ele havia tirado de mim no dia em que se mudou.
- O que essa foto está fazendo aqui?
- Sério que de toda a decoração, você foi reparar justo na sua foto?
- Claro, afinal, é uma foto da minha pessoa.
- Eu gostei da foto e resolvi deixar aí. - Charlie disse, dando de ombros.
- Essa foto está horrível, Charlie! Eu tô com cara de assustada.
- Você está linda.
- Se o Jer vir essa foto aqui, ele te joga pela janela.
- Você não parece ser do tipo que se preocupa com o que seu irmão vai pensar.
- Tem razão, como ele disse aquele dia, quem manda aqui somos nós.
- Então não tem problema.
- Tem sim, eu estou horrível! - falei e Charlie revirou os olhos. - Certo, já que você quer uma foto minha no seu quarto, vamos tirar uma foto decente, cadê a câmera?
Charlie foi até o guarda-roupas e pegou a câmera, me entregando em seguida.
- Vamos tirar uma foto juntos. – falei, posicionando a câmera de frente para nós. - Não vou pedir para você sorrir, porque você já faz isso o tempo todo, então faz uma careta, para variar.
- Sim, senhorita.
Charlie então se aproximou de mim e me puxou pela cintura para ficarmos mais perto. Eu fingi que não percebi esse detalhe, olhei para câmera, fiz uma careta também e apertei o botão. Peguei a foto que saiu da câmera em seguida, nós dois com a língua para fora, fazendo careta.
- Pronto, essa está bem melhor. Agora você já pode colocar essa na sua cômoda e sumir com a outra.
- Eu vou tirar a sua foto da minha cômoda e substituir por essa, mas não vou dar um fim nela. Vou guardar em algum lugar que só eu possa ver.
- Ok. Mas então, Charlie, você disse que compõe, mas até agora não me mostrou. – falei, devolvendo a câmera para ele e tentando mudar de assunto.
- Não seja por isso.
Charlie foi até a cômoda e tirou do meio da pilha de livros um caderno.
- Meu caderno de composições.
Eu abri o caderno e folheei, parando para ler algumas letras.
- Caramba, Charlie, tem muita coisa boa aqui.
- Você acha mesmo?
- Claro que sim, e muito coisa que é a cara da Skyline. Você tem que mostrar para os meninos.
- Você não se importa realmente que eu também componha para a banda?
- Eu já disse que não me importo, acho ótimo ter outro compositor na banda.
- A gente podia compor juntos, né? Já que você não vai me dar o prazer de dividir o palco com você, pelo menos poderíamos compor música boa juntos.
- Olha, eu nunca compus com ninguém, eu sempre escrevo minhas letras sozinha e depois me junto aos meninos para colocar a melodia. Mas quem sabe, pode ser uma experiência legal compor do zero uma música com alguém.
- Então vamos fazer isso, combinado? - Charlie disse, estendendo a mão para mim.
- Combinado. – falei, pegando a mão dele e sacudindo.
- Mas que demora para ver uma decoração, hein, maninha? - Jeremy disse, entrando no quarto, e eu automaticamente me afastei de Charlie.
- Jer, fazia tempo que você não era chato assim, sabia?
- Só estou cuidando de você.
- Não precisa, eu sei me cuidar.
- Certo, mas na verdade eu vim chamar o Charlie para ensaiar.
- É mesmo, nós combinamos de ensaiar agora à tarde. Vamos lá, cara.
Os meninos foram para a garagem ensaiar, e eu e as meninas fomos junto para assistir. Era incrível como em apenas uma semana, eles já haviam adquirido uma sintonia incrível.

Passei a semana toda pensando sobre o que o Charlie falou sobre compormos juntos, se realmente seria uma boa ideia, porque a música era algo muito especial para mim, e compor com alguém para mim era como me conectar com essa pessoa de um jeito mágico. Eu não sei se era uma boa ideia me conectar daquela forma com Charlie, eu já estava mexida demais com a presença dele. No sábado enquanto a ainda dormia e a estava na confeitaria, resolvi dar um jeito na casa. Eu coloquei meus fones de ouvido, pus minha playlist para rodar e comecei a arrumar a sala. Então começou a tocar A Whole New World, a versão original do desenho Aladdin, porque sim, eu era do tipo que amava os clássicos da Disney ao ponto que colocar as músicas todas no celular. Aquela era uma das minhas músicas favoritas de um desenho, eu obviamente comecei a cantar junto em alto e bom som. Eu já estava me sentindo praticamente a própria Jasmine num tapete mágico, mas quando a música já estava no seu último verso, eu me virei de frente para a porta de entrada e dei de cara com Charlie parado, me olhando, o que me fez dar um pulo e gritar de susto.
- Há quanto tempo você está parado aí? – falei, tirando os fones e desligando a música no celular.
- Tempo o suficiente para fazer o dueto completo com você.
- Aí meu Deus, que vergonha.
- Vergonha, por quê? Você tem uma voz linda, , é uma das vozes mais bonitas que já ouvi na vida. - Charlie disse, se aproximando de mim.
- Você não deveria estar dormindo não? Achei que você estava hibernando que nem a .
- Eu acordei agora pouco e vim logo para cá porque queria falar a respeito daquela história da gente compor juntos.
- Ah sim, aquela história.
- Eu andei tendo várias ideias, acho que devemos começar a fazer isso logo. Mas depois do que eu vi hoje, acho mais do que nunca que além de compor, você deveria cantar na banda.
- Charlie, já conversamos sobre isso, e se você insistir, eu realmente vou desistir de compor com você.
- Pera aí, você estava pensando em não compor mais comigo?
Olhei para Charlie e ele estava me olhando com aqueles olhos absolutamente lindos, que até agora eu não sabia definir se eram mais azuis ou mais verdes, só sabia que eram os mais bonitos que eu já vira.
- Não é isso, eu só estive pensando. Para mim, compor com alguém é me conectar com essa pessoa de uma forma única e definitiva.
- E qual o problema? Você está com medo de se conectar comigo? É por isso que você não quer cantar comigo também?
Charlie se aproximou ainda mais de mim, ficou tão próximo que eu pude sentir sua respiração acelerada.
- Cacete, acordei na hora errada. - disse do alto da escada.
- Oi, , bom dia para você também. – falei, me afastando de Charlie.
- Bom dia, .
- Bom dia, gente, e me desculpem, porque eu sei que interrompi alguma coisa.
- Não interrompeu nada não. Charlie, depois a gente fala sobre as composições, ok?
- Tudo bem, eu vou voltar para casa. Vejo vocês mais tarde.
- O que foi isso? - perguntou assim que Charlie saiu pela porta.
- Isso o quê?
- Qual é, , vocês estavam quase se beijando, se eu não tivesse aparecido, nossa sala seria palco de uns amassos de vocês.
- Não é nada disso, ! Nós só estávamos falando sobre compor juntos.
- Não era só isso não, eu sei. Vamos ter uma conversa de garotas hoje quando a chegar. - disse, seguindo para cozinha.

Mais tarde, quando a chegou do trabalho, preparou três canecas de café com leite, levou para o meu quarto e demos início à assembleia para cuidar da minha vida. Eu contei toda a história para elas, porque não adiantava mentir mesmo.
- Espera um pouco, o gatinho tá querendo compor com você e até cantar com você e tu tá fugindo porque tá com medo de sentir coisas? Viada, você já foi mais corajosa, sabe? - disse, tomando um gole de sua xícara.
- Gente eu não sei explicar, ok? Só que vocês sabem da minha paixão pela música e eu nunca compartilhei isso com ninguém além do meu irmão e do Owen, que é meu melhor amigo.
- Talvez essa seja sua chance, . - disse . - Ele ama a música tanto quanto você, se essa conexão for além, qual o problema?
- O problema é que se nossa parceria na música for boa, não quero arriscar que acabe por causa de sentimentos, entendem?
- , calma, menina, não coloque o carro na frente dos bois. Começa a compor com ele, deixa rolar, se acontecer algo a mais, daí você pensa nisso, ok? - disse.
- Tá certo, eu vou compor com o Charlie.
- Isso aí, menina, é assim que se fala. - disse, me dando um abraço.
- Muito bem, e qualquer coisa, se der vontade de fazer algo além de compor, vai em frente, música, amor e sexo combinam muito bem.
- Ah, cala a boca, ! – falei, tacando uma almofada na minha amiga e nós três rimos.
Eu não sabia se estava tomando a decisão certa, mas a verdade é que eu não conseguia parar de pensar como seria compor com o Charlie, então eu decidi arriscar.

Charlie ficou bem feliz quando eu disse que iria compor com ele, afinal. Nós começamos a rascunhar algumas coisas, mas foi na sexta que realmente sentamos para organizar nossas ideias, Charlie estava de folga e nós passamos o dia todo compondo juntos.
Fomos para a garagem da banda, eu abri o velho piano de cauda e me sentei com Charlie ao meu lado, ele estava acompanhando do seu violão. Começamos a juntar as ideias que havíamos tido na semana, escrevendo tudo em um caderno. Conforme nós íamos criando, uma música começou a tomar forma.
- O que foi? - Charlie perguntou, vendo minha cara enquanto analisava a letra.
- Isso está parecendo um dueto.
- E qual o problema?
- O problema é que eu não vou cantar com você, Charlie.
- Não tem problema, eu canto o dueto sozinho, canto a minha parte e a sua.
- Haha, muito engraçado.
- Tô falando sério, se você não quiser cantar, eu canto a música toda.
- Então tá, você que sabe, vai ter que fazer uma voz feminina. – falei, rindo.
- Agora é você que tá sendo engraçadinha.
- Eu sou um amor. Mas tudo bem, vamos compor esse dueto, eu já tenho uma sugestão para o nome da música.
- E qual seria?
- Two hearts. Você colocou aqui no refrão “two hearts become one”, achei que ficaria bem como título da música.
- Eu adorei, é perfeito.
Charlie estava de novo me olhando com aqueles olhos lindos, era incrível como meu coração disparava quando ele estava por perto. Eu parei de fazer contato visual antes que eu me perdesse de vez e peguei o lápis para anotar o nome da música no caderno. A tarde passou e nós nem vimos de tão entretidos que estávamos. Se não fosse meu irmão ir até a garagem nos chamar, provavelmente teríamos ficado lá até de madrugada.
- Vocês não comem não? Tão vivendo de música agora?
- Jeremy, você está interrompendo duas mentes criativas. - falei.
- Desculpem, mentes criativas, acontece que já é de noite e a gente tinha combinado de fazer noite da pizza, lembra, maninha?
- Caramba, verdade! - eu disse e levantei em um pulo do piano.
- Até as mentes criativas precisam de descanso, . Além disso, nosso dueto já está pronto.
- Dueto? Pensei que você tinha dito que não ia cantar, .
- E não vou, Jer, não é porque a gente compôs um dueto, que eu preciso necessariamente cantar.
- Se você diz, quem sou eu para discutir.
Charlie e eu pegamos nossas coisas e seguimos com Jeremy para a cozinha. Nós havíamos combinado de preparar pizzas caseiras, as meninas e o Owen já estavam por lá.
- Caramba, até que enfim o Jer conseguiu arrancar vocês daquela garagem, eu tô com fome. - disse Owen.
- Quando você não tá com fome, né, amor. Mas nem julgo, porque sou igual, por isso a gente combina.
- Na verdade, todo mundo nesse grupo come muito, inclusive a . Mas parece que hoje ela perdeu a fome. - disse, divertida.
- Quem disse que eu perdi a fome? Eu só esqueci que eu estava com fome. Agora vamos logo preparar essas pizzas.
Dessa vez todo mundo foi para cozinha, os meninos cortavam e separavam os ingredientes enquanto eu e as meninas fazíamos a massa da pizza. Eu estava colocando uma massa na forma quando Charlie me trouxe os ingredientes para recheá-la.
- Capricha no queijo. - Charlie disse, fazendo cara de criança.
- Temos um ratinho aqui, louco por queijo, então?
- Uma boa pizza precisa ter muito queijo para ficar derretido e a gente puxar com a boca quando for comer.
- Tem razão, eu também amo queijo, na verdade.
Eu coloquei uma boa quantia de queijo mussarela.
- Agora só falta o orégano.
- Tá aqui, oh. - Charlie disse, pegando o potinho de orégano que estava do meu lado direito na bancada.
Acontece que para fazer isso, ele quase que passou por cima de mim, nossos braços se tocando e fazendo toda a corrente nervosa do meu corpo pulsar.
- Deixa que eu coloco. - Charlie disse, abrindo o potinho, e ainda bem que ele fez isso, porque eu simplesmente não conseguia me mexer.
- Será que a gente pode colocar essa pizza no forno ou tá difícil? - Jeremy perguntou.
- Caramba, Jer, deixa eles em paz! - disse, repreendendo o namorado.
- Pode colocar no forno sim. – falei, pegando a pizza e entregando para Owen, que estava com o forno aberto.
Eu então fui até a pia, abri a torneira, molhei a mão e passei na nuca. Depois peguei um guardanapo e comecei a me abanar, de repente aquela cozinha parecia estar pegando fogo.
- Tá tudo bem, amiga? - perguntou, se aproximando com .
- Tá sim, só tá um pouco quente aqui, né?
- Acho que é você que está com fogo subindo pelas pernas, . - disse e as duas riram.
- Parou a palhaçada, tá? Ridículas. – falei, mostrando a língua para elas.
Quando as primeiras pizzas saíram do forno, nós nos sentamos na copa para comer.
- Gente, amanhã eu vou tocar lá na danceteria que o Charlie tá trabalhando. Eu tava pensando, por que vocês não vão lá me ver tocar?
- Eu acho uma ótima ideia, porque toda vez que você trabalha à noite, eu fico abandonado aqui. - Owen disse, fazendo cara de cachorro que caiu da mudança.
- Mas é muito bobo mesmo, viu? Deve ser por isso que eu gosto de você. - disse, apertando o bico de Owen.
- Apesar de o Owen ser a vergonha da família fazendo uma cena dessas, eu também acho uma boa ideia te ver tocar, . - disse .
- Fora que, além de ver a tocar, eu também vou estar trabalhando, já aprendi a fazer drinks incríveis, faço questão de preparar alguns para vocês.
- Bom, então estamos todos de acordo, danceteria amanhã? - Jeremy perguntou enquanto todo mundo concordava. – , você não se manifestou.
- Eu concordo, claro, não vou ser a única a ficar trancada em casa, né.
- Vou preparar um drink especial para você, .
- Eita que eu tô quase indo comer minha pizza em outro lugar. - disse.
- , enche essa boca de pizza e fica quietinha vai. – falei, colocando um pedaço de pizza na boca da minha amiga.
A noite seguiu entre muita comida e risadas. Quando terminamos, demos um jeito na cozinha e eu e as meninas fomos para casa. Tomei um banho e coloquei meu pijama, me enfiando debaixo das minhas cobertas em seguida. Peguei meu celular e havia uma mensagem de Charlie. Ele dizia: “Só queria dizer que compor com você é uma das melhores sensações que já senti. Sua paixão pela música é tão grande quanto a minha e nossa conexão é perfeita.” Eu sorri que nem boba, depois desbloqueei o celular e respondi: “Eu também adorei e tenho que confessar que nunca senti essa conexão com ninguém. Nós formamos uma ótima dupla.” Depois de responder, eu coloquei o celular no móvel ao lado da cama e me ajeitei para dormir. Em questão de minutos eu já havia adormecido, pensando naquele sorriso perfeito.

No dia seguinte, eu dormi até um pouco mais tarde, fiquei na cama até o último segundo possível. O dia passou sem maiores acontecimentos e quando a noite chegou, lembrei que todos nós iríamos até a danceteria naquela noite, foi aí que me bateu aquele desespero básico de não saber o que vestir.
- Nada parece bom o suficiente. - falei enquanto as meninas estavam paradas na porta do meu quarto.
- Não sei para que se preocupar com o que vestir, se na verdade você quer mesmo é tirar a roupa. - disse e ela e a caíram na risada.
- Olha, eu vou te dizer uma coisa, eu tô bem arranjada com amigas como vocês.
No fim, acabei de decidindo por um vestido azul escuro de frente única, ele era curto e colado no corpo. Coloquei uma sandália prata com um pequeno salto, fiz uma maquiagem bem marcada, passei um batom malva e fiz um topete alto no cabelo, deixando o restante solto e ondulado.
- Mas até que enfim, hein? - disse Jeremy assim que descemos, eles estavam nos esperando na sala.
- Cadê o Charlie?
- Já foi, né, , ele trabalha na danceteria, tem que chegar bem antes. - disse Owen.

Nós seguimos para a danceteria em dois carros. Chegando lá, já havia uma fila para entrar, mas como a era a DJ da noite, ela tinha preferência para entrar e nós entramos junto.
Assim que entramos, vi Charlie no bar, ele vestia uma calça preta social e uma camisa branca, as mangas estavam dobradas até o cotovelo, o cabelo que costumava sempre ficar solto, estava penteado para trás. Foi só eu olhar para ele e aquele calor todo começou a subir pelas minhas bochechas.
- , você está vermelha, tá tudo bem? - perguntou.
- Tá sim, é só que de repente ficou quente. Não tem ar-condicionado aqui não, ?
- Claro que tem, e tá ligado. Você que está aí, toda de fogo porque viu o Charlie todo sexy de barman.
- Por que vocês estão paradas aí? - Owen perguntou logo atrás de nós.
- Olha lá o Charlie, gente, vamos falar com ele. - disse Jeremy.
Nós seguimos até o bar e assim que Charlie nos avistou, ele abriu um sorriso de tirar o fôlego.
- E aí, cara! - Owen disse, cumprimentando Charlie com um high five.
- Viemos atrás dos drinks prometidos. - Jeremy disse, divertido.
- Muito bom ver todos vocês aqui. - disse Charlie. - Você está linda, .
- Obrigada.
Charlie me olhou de um jeito que parecia estar me despindo com os olhos.
- Se vocês me dão licença, eu vou arrumar o som. - disse, dando um beijo em Owen e seguindo para a mesa de som em seguida.

Em pouco tempo, a danceteria já estava lotada, e assim que anunciaram como a DJ daquela noite, minha amiga assumiu as picapes e começou a tocar. Depois de provarem os drinks preparados pelo Charlie, Owen, Jeremy e a foram para pista de dança. Enquanto o Jeremy e a dançavam juntos, Owen estava perto deles, dançando sozinho. havia me pedido para ficar de olho caso alguma piriguete se aproximasse dele, se isso acontecesse, eu deveria eliminar a criatura no mesmo instante. Eles até insistiram para que fosse para pista com eles, mas eu preferi ficar no bar, conversando com Charlie.
- Esse aqui eu preparei especialmente para você. - Charlie disse, colocando um drink colorido na minha frente.
- Você não pretende me deixar bêbada não, né?
- Claro que não, por que eu faria isso?
Eu provei o drink, era doce, quase não tinha gosto de álcool.
- Esse tipo de drink é o mais perigoso, a gente acha que é suco e vai tomando, quando vê, está caindo pelos cantos.
- Se você cair pelos cantos, eu te carrego. - Charlie disse, segurando minha mão que estava repousada em cima do balcão.
Nós continuamos nossa conversa noite a fora. Quando teve um intervalo, ela veio falar conosco.
- Eu te peço para cuidar do meu namorado e é assim que você cuida dele?
- Eu estou vendo-o daqui, , se houver algum perigo, eu vou até lá.
- Se houver algum perigo, você nem vai ver de tão distraída que você tá. - disse e eu revirei os olhos.
Minha amiga então chamou os outros três que estavam na pista.
- Amor, você está arrasando essa noite.
- Eu sempre arraso, Owen. Mas agora, falando sério, aproveitei meu intervalo para vir aqui porque preciso falar com vocês.
- O que aconteceu? - Jeremy perguntou.
- Estão vendo aquele cara ali? - disse, apontando para um homem de meia idade, grisalho, que estava próximo da mesa de som. - Ele organiza várias festas e eventos pela cidade, ele me chamou para tocar em um festival sábado que vem, no Mission Dolores Park.
- Caramba, , isso é o máximo. - disse.
- Pois é, mas o melhor de tudo é que eu perguntei se por acaso ele não teria espaço para uma banda nova e ele topou.
- Espera aí, você quer dizer que a Skyline vai tocar nesse festival? - Jeremy perguntou, empolgado.
- Exatamente.
Os meninos começaram a pular e comemorar.
- Só tem uma coisa, eu preciso saber se vocês vão tocar só os três mesmo ou vão correr atrás de um quarto integrante. Eu preciso passar as informações sobre a banda para ele.
- Eu acho que não dá tempo de encontrar ninguém em uma semana, né? Vamos ter que ensaiar duro a semana toda, não dá para arriscar colocar alguém que não conhece nossa banda. - disse Owen.
- Eu tenho uma ideia melhor do que procurar um quarto integrante. - Charlie disse, me olhando.
- Charlie, não me olha assim, não adianta, eu não vou cantar.
- , por favor, você conhece a Skyline como a palma da sua mão, sabe todas as músicas.
- Olha, maninha, eu sempre disse que seria legal você tocar com a gente.
- Jer, não, essa coisa de banda sempre foi a sua praia.
- Escuta, , por que você não faz o seguinte? Canta com banda só até eles arrumarem um quarto integrante. - disse .
- A ideia da é ótima, esse festival é uma grande chance para banda e você pode ajudá-los por enquanto. Se depois você quiser sair, você sai. - disse .
- Eu não sei, gente, tenho medo de que os ensaios possam atrapalhar minhas aulas na escola.
- Não acho que isso vai acontecer, seus horários são bem flexíveis, não é todo dia que você precisa ficar o dia todo na escola, às vezes você só tem aula de manhã. - disse .
Eu olhei para os meus amigos, todos me encarando com expectativa.
- Tá bom, tudo bem, eu canto com a banda por enquanto. Mas não é nada definitivo, ok? - falei e todos fizeram a maior festa.
- Já que você vai cantar com a banda, nós podemos muito bem cantar nosso dueto.
- É, Charlie, parece que você vai finalmente conseguir cantar comigo.
- Nosso primeiro show oficial, será que eu posso usar uma roupa bem colorida e cheia de glitter? - Owen disse.
- Amor, eu sei que você queria muito ser o Harry Styles, eu também adoraria que você fosse, mas você não é.
- Não se pode nem brincar. Aliás, me senti ofendido com você claramente preferindo o Harry a mim.
- É muito sensível essa criança mesmo, viu. - disse, abraçando e beijando Owen enquanto a gente ria.
Nós aproveitamos o restante da noite, mas eu só conseguia pensar na tal apresentação que aconteceria dali uma semana.

Nós ensaiamos muito a semana toda, acertando acordes, encaixando minha voz em todas as músicas e inserindo teclado nas canções, que era o que eu ia tocar.
Quando o dia do festival finalmente chegou, eu estava uma pilha de nervos. Eu nunca havia cantado para uma plateia tão grande, o mais próximo que eu havia chegado de cantar para um público eram as festas da escola quando eu era adolescente, para pais, alunos e funcionários. Eu me arrumei para o festival, queria pelo menos estar vestindo algo legal e descolado para me sentir mais segura.
Coloquei um shorts preto de cintura alta, uma regata branca, uma meia arrastão preta e uma jaqueta de couro preta. Calcei meus coturnos pretos, fiz um rabo de cavalo alto e uma maquiagem com muito delineador e batom vermelho. Eu estava no camarim dando os últimos retoques na minha maquiagem quando as meninas vieram falar comigo.
- Uau, você tá gata, amiga! - disse.
- Obrigada, mas o que quero mesmo é me sair bem.
- Você vai arrasar, acredita em você, menina. - disse .
- Cadê os três patetas? Digo, meus três companheiros de banda?
- No camarim do lado. Eu achei que você merecia um camarim só seu, afinal, você é a estrela da banda, mas não deixa o Jeremy saber disso. - disse e nós rimos.
Então alguém bateu na porta.
- Posso entrar? - Charlie disse, abrindo uma fresta da porta.
- Bom, nós vamos te deixar em paz, boa sorte. - falou, me dando um abraço.
- Eu vejo vocês daqui a pouco em cima do palco, vai dar tudo certo. - disse, me abraçando também.
Elas saíram em seguida e Charlie entrou, vindo até mim.
- Tá nervosa?
- Bastante.
- Respira, , você vai quebrar tudo lá em cima, tenho certeza.
- E se eles não gostarem de mim?
- Isso é impossível, não tem como não gostar de você, da sua voz, você parece um anjo cantando.
- O que você achou do meu look?
- Você está extremamente sexy, mais linda do que qualquer coisa que eu já vi na vida.
Charlie então se aproximou mais e pegou minhas mãos, depois ele encostou sua testa na minha.
- É só você subir naquele palco e fazer o que você faz de melhor, cantar e tocar.
- Você vai estar lá cantando comigo para me apoiar, né?
- O tempo todo.
Charlie abriu seu melhor sorriso para mim e eu sorri junto, eu já não sabia se meu coração estava disparado pelo nervosismo ou por causa dele. Antes que pudéssemos dizer mais alguma coisa, alguém bateu na porta e gritou que faltavam cinco minutos para subirmos no palco. Eu então abracei Charlie apertado e depois me afastei para podermos seguir para o palco.
Nós encontramos Owen e Jeremy e ficamos na coxia aguardando. A já estava no palco e havia tocado umas duas músicas para aquecer o público.
- Atenção, galera, agora eu quero dar espaço aqui para uma banda nova que eu tenho certeza que vai dar muito o que falar. Façam muito barulho para melhor banda de São Francisco: Skyline!
Nós subimos no palco em meio aos gritos e palmas do público. Já entramos tocando uma música bem agitada para levantar o público e deu certo, a galera embarcou de imediato no nosso som. Nós tocamos mais duas músicas e então chegou a hora de tocar o dueto que eu e Charlie havíamos composto. Eu me sentei, ajustei meu microfone próximo ao teclado e me preparei para tocar.
- Essa música é nova, se chama Two Hearts, espero que vocês gostem. - falei e dei os primeiros acordes da música em seguida.
Eu cantei a primeira parte da música e no refrão Charlie se juntou a mim. Quando Charlie começou a cantar a segunda parte da música, eu levantei, peguei meu microfone e andei até ele. Charlie então saiu do seu microfone e veio dividir o microfone comigo no segundo refrão.
Eu nunca havia sentido o que estava sentindo naquele momento, não era só a energia do público, não era só a música pulsando nas minhas veias, era Charlie, cantar com ele era a melhor coisa que eu já sentira na vida. Depois do dueto, nós cantamos mais uma música e encerramos nossa apresentação, o público aplaudindo freneticamente. Quando o festival acabou, nós saímos pra jantar e comemorar.
- Vocês viram como o público gritava? Foi insano! - Jeremy disse ainda sem acreditar.
- Eles nem conheciam as músicas, mas logo estavam cantando os refrões. - disse Owen.
- Eu estava assistindo lá de baixo e posso dizer que todo mundo amou. - disse .
- E você, hein, maninha? Você estava incrível.
- Eu estava tão nervosa, mas no fim deu tudo certo.
- Depois desse festival tenho certeza que outros convites virão. - disse .
- Vamos fazer um brinde então, à Skyline! - Charlie disse, levantando seu copo, e todos brindamos.
Nós voltamos para casa ainda em estado de êxtase. Os meninos foram entrando na casa deles, mas Charlie veio falar comigo antes de entrar. Olhei para trás e a e a já haviam entrado, nos deixando a sós.
- Eu disse que você podia fazer isso.
- É, parece que eu posso mesmo. Mas você me ajudou muito, me deu confiança.
- Você é uma estrela, , tem talento e brilha mais que tudo.
Charlie se aproximou de mim, me segurando pela cintura e encostando seu nariz no meu, eu podia sentir sua respiração batendo no meu rosto.
- Você sabe o quanto eu gosto de você, ?
- Se for da mesma forma que eu gosto de você, eu posso ter uma ideia.
Eu tinha certeza que Charlie ia me beijar, mas antes que ele pudesse fazer isso, meu querido irmão apareceu na porta.
- Hei, Charlie, você não vem?
Charlie e eu nos afastamos automaticamente.
- Jeremy, se você não fosse meu irmão, eu ia te matar nesse exato momento.
- O que eu fiz?
- Nada não, cabeção! Eu vou entrar, boa noite para vocês. – falei, apertando a mão de Charlie, que parecia tão frustrado quanto eu.
Eu entrei em casa e minhas amigas estavam de plantão me esperando.
- E aí, vocês se beijaram? - perguntou.
- Não, porque meu adorado irmão apareceu.
- Eu vou matar o Jeremy! - disse .
- Eu também tive vontade de matá-lo. Mas do jeito que as coisas andam, não vai adiantar o Jer ficar de cão de guarda por muito tempo, mais cedo ou mais tarde a gente vai terminar o que começou hoje.
- Agora sim, essa é a que eu conheço. - disse .
Nós subimos para o quarto, já era tarde e a essa altura o que me restava era minha cama. Depois de tomar um banho, eu deitei e dormi agarrada com um travesseiro, quando na verdade eu queria mesmo era estar agarrando Charlie.

O nosso show no festival deu o que falar, até meus alunos ficaram sabendo e comentaram comigo na escola e o jornal local era só elogios para a banda, inclusive, falavam sobre mim, coisas muito boas, e eu confesso que fiquei bem feliz. Nós pensamos que talvez pudéssemos tocar na danceteria que Charlie trabalhava, mas ele foi trabalhar no outro dia e voltou com a notícia de que a danceteria ficaria fechada por uma semana. Houve um problema na fiação da casa e eles teriam que trocar tudo e arrumar. Foi então que a teve a brilhante ideia de que poderíamos nos organizar para fazer uma viagem no próximo final de semana. Eu só teria aula na parte da manhã na sexta-feira, no máximo às dez da manhã estaria liberada. adiantou suas encomendas e deixou doces o suficiente para sexta e sábado, sua funcionária ficaria na loja sozinha esses dois dias, e não marcou nenhum evento para o final de semana todo. Nós decidimos ir para o Northstar Ski Resort, uma estação de ski aqui da Califórnia. Reservamos quartos no Northstar Califórnia Resort, um hotel que ficava ao pé da estação de ski, na Vila de Northstar.

Na sexta, saí da escola e corri para casa, minhas malas já estavam todas arrumadas. Carregamos os três carros e seguimos rumo ao nosso final de semana de diversão e descanso.
Depois de quase 03h40 de viagem, chegamos ao nosso destino, estacionamos os carros e seguimos para o hotel. Fizemos o check-in, deixamos nossas malas no quarto e fomos almoçar, todo mundo estava verde de forme. Assim que ficamos de estômago bem cheio, descansamos por meia hora e depois fomos para a pista de patinação, achamos melhor deixar as atividades de ski para o dia seguinte.
- Quem aí está preparado para cair de bunda no meio da pista de patinação? - perguntou, divertida.
- Eu, com certeza, atrapalhada do jeito que eu sou, não preciso estar no gelo para cair.
- Qualquer coisa eu te seguro, .
- Charlie, você não está muito abusado não? - Jeremy disse e a deu um beliscão nele. – Aí, isso dói!
- É para doer mesmo. E se concentra na missão de me segurar na pista para eu não cair de bunda no gelo.
Nós alugamos os patins e logo estávamos deslizando pela pista de patinação. No meu caso, literalmente deslizando né, não se pode colocar uma pessoa desastrada como eu no meio de um lago de gelo.
Olhei e vi Jeremy e patinando, ele a puxava pela mão. Um pouco mais adiante, estavam Owen e , um tentando derrubar o outro no chão porque isso era bem a cara deles.
- E aí, , vai ou não soltar esse corrimão e vir para o meio da pista? - Charlie disse, me olhando.
- Nem pensar, vou ficar grudada aqui, é mais seguro.
Charlie então veio até mim e me pegou pela mão.
- Você não pode ser tão desastrada assim.
- Você ficaria surpreso com as diferentes formas com as quais já me machuquei.
- Eu te ajudo, você não confia em mim? - Charlie abriu aquele meu sorriso favorito.
- Confio sim.
Então ele foi me puxando devagar para o meio da pista. Nós começamos andando bem devagar e aos poucos eu fui me soltando e consegui patinar, Charlie segurava minha mão o tempo todo. Eu estava distraída olhando para ele quando um menino passou do meu lado patinando em alta velocidade esbarrando em mim. Eu me desequilibrei e acabei caindo, como Charlie ainda me segurava, eu acabei puxando ele junto e ele caiu em cima de mim. Eu explodi em gargalhadas e Charlie também não conseguia parar de rir.
- Você está bem?
- Eu estou, meu orgulho está um pouco ferido, mas nada que eu já não esteja acostumada.
- Vocês estão bem? - Owen disse, parando com do nosso lado.
- Machucou, maninha? - Jeremy disse, também vindo até nós com a .
- Estamos, eu só cai, gente, isso não é nenhuma novidade. O coitado do Charlie acabou indo junto, mas está tudo bem.
- Realmente, a cair, se machucar, quase se matar, já faz parte da rotina dela. Se não quebrou algum osso, tá tudo certo. - disse .
Charlie levantou e me deu a mão, me ajudando a ficar de pé. Nós continuamos nos divertindo na pista de patinação por um tempo e sem novos acidentes. Pela noite, nós saímos para jantar, fomos a um restaurante que serviam massas deliciosas. Depois do jantar, ainda demos uma volta pela Vila antes de irmos dormir, o que estávamos precisando, pois todo mundo estava cansado da viagem. Eu peguei no sono assim que deitei, toda enrolada no cobertor.

No dia seguinte, levantamos cedo e nos encontramos para tomar café antes de começarmos as atividades do dia.
- O que é isso que você está comendo? - perguntei para Charlie, que mordia um sanduíche igual criança.
- Hei, uma coisa que vocês não sabem sobre o Charlie, ele gosta de comer coisas esquisitas e nojentas. - Owen disse.
- Não é nojento, é muito bom. Fui eu mesmo que inventei esse sanduíche, eggos waffles, blueberries e manteiga de amendoim.
- Meu Deus, garoto, em que mundo você achou que isso combinava? - perguntou.
- Espera, gente, antes de criticar, tem que provar. – falei, olhando o estranho sanduíche. - Me dá um pedaço, Charlie.
Charlie então virou o sanduíche para mim e eu dei uma mordida.
- Olha, isso é estranhamente gostoso. – falei, ainda mastigando.
- Ah não, maninha, pelo amor de Deus, você só pode estar louca mesmo.
- A tem estômago de dragão tanto quanto o Charlie, não me surpreende ela ter gostado. - disse .
- Que lindo como vocês dois combinam, hein. - disse divertida e eu mostrei a língua para ela.

Assim que terminamos de comer, fomos para a pista de ski. Colocamos todo o equipamento e subimos de teleférico até o topo da montanha. Jeremy e foram os primeiros a descer, seguidos de e Owen.
- Isso não vai dar certo. – falei, olhando para Charlie.
- Relaxa, pegamos uma pista para iniciantes.
Eu respirei fundo e tentei seguir as instruções que o instrutor havia nos dados.
- Te vejo lá embaixo. - Charlie disse, colocando os óculos.
Eu também coloquei o meu e segui atrás dele. Eu consegui deslizar pela neve sem bater em nada, só fui cair já no final da pista.
- Charlie! - gritei porque ele estava parado bem na minha frente.
Eu bati em Charlie e acabamos caindo um do lado do outro. Eu, claro, comecei a ter um ataque de riso.
- Você está bem, ? - Charlie disse, tirando meus óculos.
- Melhor do que nunca. – falei, olhando para ele e tirando seus óculos também.
Charlie limpou um pouco de neve que estava no meu rosto.
- Gente, vamos descer de trenó? - Jeremy gritou um pouco mais adiante.
Eu sorri para Charlie e ele me ajudou a levantar, fomos atrás dos outro para subir a montanha de novo. Dessa vez nós descemos todos juntos de trenó, o que foi motivo de muita risada. Depois de algumas horas esquiando, minhas bochechas já estavam vermelhas por causa do frio.
- Acho que você está precisando de um chocolate quente. - Charlie disse.
- Também acho, estou com frio.
- Vamos então, eu te pago um chocolate.
- Gente, o Charlie e eu vamos tomar chocolate quente. Vocês vêm?
- É uma ótima ideia. - Jeremy disse.
- Sim, mas vão indo na frente, a gente alcança vocês. - disse, piscando para mim.

Segui com Charlie para o café mais próximo, e assim que entramos, eu já me senti melhor com o calor do local. Eu tirei o casaco e me sentei em uma das poltronas enquanto Charlie foi pegar os chocolates quentes. Ele voltou pouco tempo depois com duas canecas fumegantes, cheias de chantilly e canela por cima. Eu tomei um gole e senti o calor da bebida preencher todo meu peito. Olhei para Charlie e ele estava com um bigodinho do chantilly.
- Por que você está rindo?
- O chantilly sujou tudo. – falei, limpando a boca dele e só depois me dei conta do que eu havia feito.
Charlie segurou minha mão que ainda estava em seu rosto e beijou a palma da dela. Aquele gesto me aqueceu mais que qualquer chocolate quente.
- Vocês não pediram chocolate para gente, não? - Jeremy disse, chegando com o restante do grupo.
- Jer, é só ir lá no balcão e pegar, ok. – falei, soltando minha mão da de Charlie.
- Amiga, juro que tentei segurá-lo mais tempo, mas seu irmão é impossível. - sussurrou no meu ouvido.
- Tá tudo bem, .
- Deixa que eu e a vamos buscar os chocolates. - falou, puxando a pela mão enquanto meu irmão e Owen se sentavam na nossa frente.
Eu estava começando a pensar que talvez fosse uma boa ideia jogar meu irmão montanha abaixo para ver se ele largava do meu pé.

’s POV On

Ok, o tanto que o Jeremy estava empatando a de pegar o Charlie já estava me dando nos nervos, então eu decidi tomar uma atitude drástica. Não, eu não ia eliminar o Jeremy, isso daria muito trabalho, mas eu tinha um plano.
- , eu tive uma ideia e preciso da sua ajuda. - falei enquanto esperávamos no balcão pelos chocolates quentes.
- Eu sabia que você estava planejando algo. Seja o que for, eu topo, nossa amiga tá doida para pegar o Charlie e o Jer não dá um tempo.
- Certo, então escuta o que vamos fazer. Hoje à noite vamos marcar de sair para jantar, vamos falar para e para o Charlie nos encontrarem no hall do hotel às oito, só que nós quatro vamos sair para jantar meia hora antes. Então quando eles descerem para nos procurar, já teremos ido.
- E como a gente convence o Owen e o Jer de se juntar a essa ideia?
- Eles não vão saber, vamos falar o horário somente para e para o Charlie, e quando der 19h30, a gente arranca eles do quarto e vamos jantar.
- Já estou até vendo o Jer falando que não podemos deixar os dois pra trás.
- Eu conto com você nisso, usa sua autoridade de namorada.
- Pode deixar comigo.
Tudo combinado, nosso plano era perfeito. De hoje não passava, a e o Charlie iam ficar sozinhos.

’s POV Off

Nós continuamos nosso dia de atividades, parando apenas pra almoçar. No final do dia, subimos para os quartos para tomar banho e descansar. mandou uma mensagem dizendo: “Jantar às oito, nos encontramos no hall do hotel”. Quando estava próximo do horário, eu me arrumei e desci para encontrar o pessoal. Charlie já estava no hall, mas não havia mais ninguém além dele.
- Cadê os outros?
- Não sei, cheguei aqui e não tinha ninguém.
- Você também recebeu uma mensagem da falando para nos encontrarmos às oito?
- Recebi sim.
- Espera, vou mandar mensagem para ela.
Peguei o celular e mandei uma mensagem para minha amiga: “Cadê vocês?”. Um minuto depois a resposta chegou: “Já estamos longe, saímos pra jantar meia hora antes e arrastamos seu irmão que só empata sua vida junto. Aproveita a noite! Ah sim, de nada.”
- Não acredito que ela fez isso.
- O que foi?
- Eles já foram jantar, os quatro, e nos largaram para trás.
- Pera aí, você está me dizendo que levaram o Jer para longe?
- Sim, exatamente.
- Obrigado, senhor. - Charlie disse e eu ri. - Bom, já que eles já foram, só nos resta jantar nós dois né?
- Parece que sim.
- O que você quer comer?
- Será que tem algum lugar aqui que tenha pizza?
- Vamos procurar.
Charlie e eu seguimos pela Vila até achar um pequeno restaurante que vendia pizza. Nós pedimos e nos sentamos em uma mesa próximo à janela. Quando a pizza chegou, eu logo ataquei.
- Por que você está me olhando assim? – falei, com um pedaço de pizza a caminho da boca.
- Nunca vi ninguém comer com tanta vontade.
- Já viu sim, você mesmo.
- Verdade, eu sou meio dragão para comer também.
- Não me julgue, pizza é minha comida favorita. Se eu tivesse que comer alguma coisa para o resto da vida, seria pizza.
- Eu escolheria donuts.
- Nossa, donuts, eu adoro! Será que a gente acha para comer de sobremesa? - falei e Charlie riu.
Depois da pizza, nós procuramos por algum café que tivesse donuts e dividimos um de chocolate. Nós resolvemos dar uma volta pela Vila para queimar todas essas calorias, estava frio, então eu enlacei meu braço no de Charlie. Nós avistamos a pista de patinação, estava toda iluminada e decidimos sentar em um dos bancos que ficavam na beira da pista.
- Eu estou adorando essa viagem.
- Tanto quanto você adorou cantar comigo?
- Não, cantar com você, , foi melhor do que qualquer coisa.
Eu agarrei novamente o braço de Charlie e recostei minha cabeça em seu ombro.
- , tem uma coisa que eu venho querendo te dizer faz tempo. Eu já teria dito se o seu irmão não ficasse feito um cão de guarda atrás de você. - eu não pude deixar de rir.
- Então diz agora, não tem meu irmão, nem ninguém para nos atrapalhar. – falei, levantando a cabeça e olhando nos olhos de Charlie.
- Desde a primeira vez em que eu te vi, eu senti algo diferente, e quanto mais a gente convive, mais eu gosto de estar com você, de conversar com você. E naquele dia que nós cantamos juntos, eu tive certeza absoluta do que eu sinto.
- E o que é que você sente?
- Acho que estou apaixonado por você.
Dessa vez fui eu que abri um sorriso do tamanho do mundo.
- Que coincidência, eu também desconfio que esteja apaixonada por você.
Charlie então se aproximou mais de mim, encostando seu nariz no meu, nossos narizes estavam gelados do frio. Eu fechei meus olhos, sentindo nossas respirações se cruzarem, até que Charlie finalmente me beijou. Um beijo tão delicado, tão perfeito, que aqueceu minha alma. Nós ficamos mais algum tempo nos beijando, até que o frio aumentou e fomos obrigados a voltar para o hotel. Charlie me levou até a porta do meu quarto e me deu mais um beijo.
- Melhor eu ir para o meu quarto, tenho medo do Jer aparecer no meio do corredor a qualquer momento.
- Não vai, fica comigo. - falei em um sussurro.
Charlie sorriu e voltou a me beijar, entrando no quarto comigo e fechando a porta em seguida. Jogamos nossos casacos de lado e de repente os beijos calmos se tornaram mais urgentes.
Eu puxei o suéter que Charlie vestia junto com a camisa e joguei longe, admirando seu tanquinho por um momento, então voltei a beijá-lo, mordendo seu lábio inferior enquanto ele tirava o meu suéter. Não demorou muito até estarmos quase sem roupas, eu só de lingerie e ele só de cueca boxer. Charlie me deitou na cama e tirou meu sutiã delicadamente, beijando meu pescoço e meu ombro. Ele beijou toda minha barriga até tirar minha última peça de roupa. Eu também não perdi tempo e me livrei de sua cueca, apertando-o contra mim em seguida.
Quando finalmente senti Charlie dentro de mim, arranhei suas costas e gemi baixo. Meu corpo inteiro estava em chamas, eu seria capaz de derreter toda a neve de Northstar naquele momento. Quando chegamos ao clímax, Charlie descansou sua cabeça em meu peito. Depois ele rolou para o lado ficando de frente para mim, e eu comecei a mexer em seus cabelos.
- O que você está pensando?
- Estou pensando onde você aprendeu tudo isso, garoto. - falei e Charlie gargalhou alto.
- Tem algumas outras coisas que eu posso te mostrar, se você quiser.
- Eu adoraria.
Charlie voltou a me beijar e nós recomeçamos. A noite estava silenciosa, os únicos sons no quarto eram dos nossos beijos e de nós nos amando a noite toda.

Acordei no dia seguinte com o barulho do crepitar da lareira que Charlie havia acendido em algum momento da madrugada. Eu estava abraçada com Charlie, minha cabeça repousando em seu peito. Conforme eu me mexi, Charlie acabou acordando também.
- Bom dia. – falei, sorrindo.
- Bom dia, minha linda.
- Acho que precisamos levantar e descer para tomar café, se não os outros vão estranhar.
- Tem certeza que precisamos ir? Tudo que eu quero está bem aqui. - Charlie disse, beijando a ponta do meu nariz.
- Olha, até podemos ficar por aqui, mas corre o risco do meu irmão entrar nesse quarto para saber o que está acontecendo.
- Pensando bem, vamos descer para tomar café. - Charlie disse e eu ri. - Vou para o meu quarto, vou precisar de outra roupa para vestir depois do banho.
Charlie levantou e começou a recolher suas roupas pelo quarto, eu sentei na cama e fiquei observando.
- O que você está olhando?
- Nada, é só que você tem uma bunda tão linda.
- Quer dizer que a senhorita está reparando na minha bunda?
- Eu já tinha reparado há muito tempo, só que vendo ela assim, sem roupa, dá para ter uma visão melhor.
- Deve ser por isso que você não parava de apertá-la ontem, né?
- Olha só quem fala, se eu procurar, aposto que vou achar vários roxos pelo meu corpo.
- Não tenho culpa que você é gostosa.
Charlie veio até a cama e me beijou, e nós não teríamos parado se eu não tivesse lembrado ele novamente que tínhamos que descer para o café. Eu então levantei e fui tomar meu banho enquanto Charlie foi para o quarto dele se arrumar também. Quando já estávamos prontos, descemos para tomar café e ficou claro que éramos os últimos a chegar, nossos amigos já estavam sentados à mesa.
- Bom dia. - Charlie e eu dissemos, nos sentando.
- Eu perdi alguma coisa? - Jeremy perguntou.
- Só se você for muito burro né, eles chegaram de mãos dadas. - Owen disse.
- Pera aí, é isso mesmo, Charlie? Eu te dei um lugar na banda, abri minha casa para você e você está pegando a minha irmãzinha debaixo do meu nariz?
- Jer, primeiro que pegando não, que coisa horrível de se dizer. Segundo que eu sou a irmã mais velha aqui, sou maior de idade e vacinada e não preciso da sua permissão para nada.
- Mas, ...
- Mas nada, pode parar de ter ataque de pelanca.
- Tudo bem, mas eu quero saber, Charlie, quais são suas intenções com a minha irmã?
- As melhores possíveis.
- Quando você diz as melhores, você quer dizer namorar sério?
- Claro que sim, seremos três casais a partir de agora. - Charlie disse, me olhando, e eu sorri.
- Ok, eu vou tentar me acostumar com isso.
- Pode se acostumar mesmo, porque você querendo ou não, eu vou namorar o Charlie.
- Isso é demais para minha cabeça, meu amigo e a minha irmã se pegando.
- Para você ver como eu me senti quando você decidiu namorar a minha irmã, Jer.
- Pronto, sobrou para mim. - disse , revirando os olhos.
- É diferente, cara, a gente se conhece desde criança.
- Diferente nada, acho que é até pior. Você costumava puxar as tranças da minha irmã e agora você vive agarrado nela.
- Ué, e você costumava apanhar da e agora... Agora você continua apanhando dela, mas vocês também se pegam. - Jeremy disse e não conseguimos conter o riso.
- Esse papo está muito pesado para essa hora da manhã. Eu vou pegar café. - Charlie disse, se levantando.
- Eu vou com você, tenho mais algumas coisinhas para acertarmos. - Jeremy disse.
- Eu vou junto para evitar uma briga.
Assim que os meninos saíram da mesa, as meninas se aproximaram de mim.
- E aí, amiga, conta tudo. - disse.
- Tudo mesmo? Até os detalhes sórdidos?
- Não, credo! A gente só quer saber se foi legal. - disse . - Fala aí, o moleque é bom?
- Bom? Ele é fantástico, o que eu menos fiz essa noite foi dormir. - eu disse e as meninas ficaram eufóricas.
Depois que tomamos café, aproveitamos para passar a manhã com passeios mais tranquilos pela Vila. Nós fizemos o check-out meio dia, paramos em um restaurante para almoçar e depois seguimos nosso caminho de volta para casa. Meu irmão já parecia mais conformado, mas ele e o Owen deixaram claro que caso o Charlie me fizesse sofrer ou chorar, eles seriam obrigados a eliminá-lo.
Quando chegamos em casa ficamos o resto do domingo de boa, descansando, afinal, o dia seguinte já era segunda-feira. Eu, é claro, aproveitei para namorar o Charlie mais um pouco.

Na noite seguinte Charlie finalmente pôde voltar a trabalhar na danceteria, as instalações já haviam sido consertadas e a casa reabriu. Ele voltou do trabalho com uma ótima notícia para todos nós, os donos da danceteria haviam ouvido falar sobre o nosso show do festival e queriam que nós cantássemos no final de semana de reabertura.
- Isso é muito bom, as pessoas já estão falando sobre nós. - disse Owen.
- Eu disse que o festival abriria portas. - disse.
- Bom, então temos que ensaiar muito essa semana para fazer um grande show no sábado.
- Caramba, maninha, isso porque você nem queria cantar com a gente.
- As coisas mudam, né. – falei, olhando para Charlie e piscando.
Nós engatamos uma rotina intensa de ensaios durante a semana toda. Charlie e eu também começamos a compor novas músicas, sempre que eu voltava da escola nós nos reuníamos para compor antes de ensaiar com os meninos.
- Acho que precisamos deixar essa frase mais curta. – falei, rascunhando no caderno.
Nós estávamos no quarto de Charlie em mais um dia, compondo juntos. Charlie estava com o violão no colo e a palheta na boca, testando algumas notas.
- Por mim tudo bem.
- Charlie tira essa palheta da boca, que mania. – falei, puxando a palheta.
- Colocar a palheta na boca me ajuda a pensar.
- Que jeito estranho de pensar.
- Me devolve, vai. - Charlie disse, soltando o violão e me fazendo cócegas. Eu comecei a rir descontroladamente até ficar sem fôlego.
- Tá bom, tá bom, eu me rendo, toma sua palheta.
- Pensando bem, não quero mais ela. - Charlie disse, me olhando com aqueles olhos cheios de vontade. - Você sempre fala do meu sorriso, mas você já reparou no seu? Você sorrindo, , é a coisa mais linda do mundo, eu sabia que não tinha volta desde o primeiro sorriso que você deu.
- Acho que eu senti o mesmo, não tinha para onde correr.
Charlie então se aproximou mais de mim e me beijou. Eu deixei cair o caderno no chão e agarrei Charlie pelo pescoço, meus dedos se perdendo entre seus cabelos. Charlie continuou me beijando enquanto colocava a mão por dentro da minha blusa, eu passei minhas pernas ao redor da cintura dele, o prendendo bem perto de mim.
- Puta que pariu, essa cena nunca mais vai sair da minha cabeça! - Jeremy gritou da porta do quarto enquanto eu e Charlie nos separávamos, assustados.
- Cacete, Jer, você não sabe bater na porta, não? – falei, tentando ajeitar minha roupa.
- Eu não estou acostumado a ter um amigo namorando minha irmã, ok? Ainda mais um amigo que mora comigo!
- Então aprenda que a partir de agora, você tem que bater na porta em qualquer hipótese.
- Acho melhor eu começar a trancar a porta mesmo, . - Charlie disse, arrumando os cabelos.
- Vocês não estavam compondo não?
- Estávamos, Jer, mas isso não te interessa, querido irmão. O que você quer?
- Só vim chamar o casal vinte para ensaiar.
- Certo, nós já vamos. – falei, indo até a porta e empurrando meu irmão para fora. – Tchau, Jer!
Eu fechei a porta, me encostando nela em seguida. Olhei para Charlie e nós começamos a rir.
- Onde nós paramos mesmo? – falei, trancando a porta e voltando para junto de Charlie.

Toda aquela nossa química refletia de forma super positiva quando cantávamos junto. Quando o dia do show na danceteria chegou, nós estávamos afiados e animados para subir ao palco. Eu mais uma vez caprichei no visual, coloquei uma calça legging de couro preta de cintura alta, uma camisa jeans de manga comprida que eu amarrei com um nó acima da altura da calça. Calcei meu Keds com estampa jeans, deixei os cabelos soltos dessa vez e fiz aquela maquiagem caprichada.
- Amor? - Charlie disse, entrando no camarim.
- Oi, baby, já está na hora?
- Dez minutos para gente subir no palco.
- Já estou pronta. O que acha?
- Linda como sempre.
Charlie me puxou pela cintura, me dando um beijo longo e delicado.
- Só um beijo de boa sorte.
- Legal, agora vou ter que retocar meu batom.
- Cadê a estrela da noite? - disse, entrando no camarim com .
- Estou aqui, como sempre, nervosa, mas muito mais confiante.
- O amor faz maravilhas, hein. - disse. - Mas a gente só veio desejar boa sorte mesmo.
- Isso aí, quebrem tudo lá em cima. - disse.
Quando chegou a hora, anunciaram nossa banda e nós subimos no palco. Dessa vez a platéia cantou as músicas todas com a gente, um sinal de que nosso som já estava circulando pela internet. Charlie e eu mais uma vez cantamos nosso dueto e outras músicas juntos, dividindo o microfone às vezes e trocando olhares de cumplicidade. Eu estava começando a me sentir muito a vontade em cima do palco, e estar do lado de Charlie me trazia paz e segurança.

Nosso segundo show foi um sucesso e a havia filmado algumas músicas para colocar no YouTube. Ela subiu o vídeo de Two Hearts na madrugada quando chegamos em casa, e no dia seguinte já havia milhares de visualizações.
- Vocês estão bombando na internet. - disse, nós estávamos as três largadas no sofá de casa.
- É incrível como a internet facilita na divulgação hoje em dia. - disse .
- Espero que as visualizações continuem subindo e logo chamem a gente pra fazer outro show.
- Chegou quem estava faltando. - Owen disse, entrando pela porta com Jeremy e Charlie.
- Acabou a nossa paz. - disse, divertida.
- Maninha, adivinha quem acabou de ligar. - Jeremy falou para mim.
- Não faço ideia.
- A mamãe, ela e o papai vem almoçar aqui no sábado que vem.
- Aí, que maravilha, almoço em família.
- E não são só eles, nossos pais também vem, .
- Sério? Que bom, hein, a reunião de família vai ser completa.
- Completa não, meus pais não vão estar aqui. - disse, pegando seu celular que havia acabado de apitar. - Esquece o que eu falei, minha mãe acabou de mandar mensagem dizendo que falou com as mães de vocês e vem semana que vem também.
- Lá vem eles nos fiscalizar para saber se estamos dando conta da vida de adulto. - disse Owen.
- A mamãe quer conhecer seu novo namorado, .
- Jer, você falou para ela?
- Falei, ué, qual o problema?
- O problema é que eu que deveria contar, né?
- Você acha um problema seus pais me conhecerem, ?
- Claro que não, pelo contrário, acho que ele vão te adorar.
- Só vão faltar seus pais nesse almoço, Charlie. - disse .
- Se eles não estivessem lá no Canadá, até podia chamá-los. Mas assim que possível, vou levar a para conhecer eles e meus irmãos também.
- E eu vou adorar conhecer todos, amor.

Nós passamos a semana toda planejando um cardápio de almoço para receber nossos pais, e obrigamos os meninos a darem um jeito na casa deles, arrumar aquela bagunça de sempre.
Na quinta, Charlie foi me buscar na escola, nós saímos para tomar um sorvete.
- O que você acha de dividirmos uma banana split? - Charlie disse com cara de criança.
- Eu acho uma ótima escolha.
Nós fizemos o pedido e ficamos aguardando, Charlie parecia um pouco nervoso.
- Você está bem, amor?
- Estou sim, quer dizer, mais ou menos.
- O que aconteceu?
- Você acha que seus pais vão gostar de mim?
- E por que não gostariam?
- Sei lá, eu só estou um pouco nervoso. Eu quero que eles gostem de mim, porque você é muito especial para mim.
- Se você demonstrar para eles que gosta de mim de verdade, então eles vão te adorar.
Nossa banana split chegou logo em seguida.
- Olha só para essa perfeição, tem tudo de bom nessa sobremesa. Três bolas de sorvete, chocolate, creme e morango, duas bananas, caramelo e mais um monte de coisas em cima. É bom demais! - Charlie disse, dando uma colherada generosa no sorvete.
Eu só observava ele falar, o sorriso lindo, os olhos brilhando, só de olhar para ele, eu suspirava como uma adolescente.
- Por que você está me olhando assim?
- Estou te olhando e pensando como você pode ser tão lindo.
- Eu? Lindo? Não, a linda aqui é você.
- É, lindo sim, e fofo. E gostoso, e engraçado, e talentoso.
- Tá bom, já pode parar, estou ficando vermelho. - Charlie disse, divertido.
- Aí que me dá mais vontade de te morder.
- Menina, você anda muito carnívora.
Eu explodi em uma gargalhada e Charlie me puxou pelo pescoço em seguida, me dando um beijo.
- Nossa, que beijo gelado de sorvete.
- Sabor banana split.
Eu mordi de leve a bochecha de Charlie e depois voltei a beijá-lo, o sorvete e qualquer outra coisa podiam esperar.

Quando o sábado finalmente chegou, nossos pais vieram almoçar. Foi um tal de abraços e beijos, aquela olhada básica nas casas, e, claro, queriam saber se estávamos conseguindo pagar as contas.
- Então quer dizer que você é do Canadá, Charlie? - minha mãe perguntou.
- Isso mesmo, Sra. Shada, vim para os Estados Unidos para fazer faculdade em Los Angeles e agora que me formei resolvi me mudar para São Francisco.
- Ah, Sra. Shada não, por favor, me chame de Megan.
- E no que você trabalha? - meu pai quis saber.
- No momento estou trabalhando como barman em uma danceteria, pelo menos até a banda dar certo.
- De novo essa história de banda, sinceramente, Jeremy, pensei que você já tivesse desistido.
- Mãe, eu e o Owen nunca desistimos, só demos um tempo.
- Mas isso não paga as contas. - o pai de e Owen disse.
- Ainda não, pai, mas vai pagar.
- Por isso que quando a veio com essa história de ser DJ, nós dissemos que tudo bem se ela fizesse uma faculdade. - a mãe da disse, séria.
- Eu sabia que ia sobrar para mim. Queiram saber, queridos pais, que estou ganhando um bom dinheiro como DJ.
- A também sempre teve essa história de música, mas pelo menos virou professora de música, é uma profissão e paga as contas.
- Pois é, mãe, mas agora minha querida irmã é a vocalista principal da nossa banda.
- Jer!
- Por que você não nos contou isso, ?
- Aí, mãe, eu ia falar, os meninos precisavam de mais um integrante e como eu já conhecia a banda e já componho as músicas deles, achei que podia ajudar.
- Olha, eu sei que todos vocês se preocupam, mas acreditem, dessa vez as coisas estão mesmo acontecendo. - disse . - Eles já fizeram dois shows remunerados, as músicas estão bombando na internet e até o jornal local já falou sobre eles.
- É isso mesmo, além disso, olha só para nós, estamos bem. - Owen disse.
- Com as meninas a gente não se preocupa não, já com vocês... - disse a mãe da e do Owen.
- Foi exatamente por isso que viemos morar do lado delas, elas são muito mais maduras e responsáveis que nós, não se preocupem, qualquer coisa elas puxam nossa orelha.
- Ainda bem que você sabe né, Jer. - falei e as meninas riram.
Depois que almoçamos, eu e as meninas estávamos dando um jeito na cozinha quando minha mãe veio falar comigo.
- , vamos lá na sala levar um café para o pessoal? - disse quando viu minha mãe entrando na cozinha.
- Claro, vamos sim.
Minha mãe veio até mim enquanto eu colocava o último prato no escorredor e enxugava minha mão no pano de prato.
- O que foi, mãe?
- Nada, só queria dar mais uma olhada em você.
- Aham, como se eu não te conhecesse. O que você quer saber sobre o Charlie?
- Quero saber se você está apaixonada.
- Eu estou total e completamente apaixonada por ele. Toda vez que ele chega perto meu coração da um salto de 360 graus, quando ele me toca meu corpo inteiro se arrepia e quando a gente canta juntos, parece que o universo inteiro para e somos só nós dois.
- Caramba, é amor mesmo, de verdade.
- É sim, mãe, daqueles fulminantes.
- Bom gosto você tem, ele é lindo. - minha mãe disse e eu ri.
- Ele não é lindo só por fora não, por dentro também, tem um coração do tamanho do mundo.
- Eu só quero você e seu irmão felizes.
- Eu sei e nós estamos, pode ficar sossegada.
Minha mãe me deu um abraço apertado antes de sairmos da cozinha.
No fim, o almoço terminou tudo bem e nossos pais, apesar de ainda implicarem um pouco com a história da banda, foram embora satisfeitos. Charlie ficou muito aliviado quando eu disse que meus pais haviam gostado dele e eu confesso que eu também, eu já amava tanto o Charlie que não podia nem pensar em ter qualquer coisa contra o nosso namoro.

O domingo amanheceu frio e chuvoso, um dia perfeito para não sair da cama. Eu havia dormido no quarto de Charlie, esperando ele chegar do trabalho, ele me acordou quando chegou e nós ficamos namorando até sermos vencidos pelo sono. Eu olhei no relógio, era pouco mais de onze horas da manhã, Charlie dormia pesado do meu lado. Me levantei com cuidado, peguei a camisa xadrez azul de Charlie que estava no chão e vesti por cima da minha lingerie. Fui até a janela, estava uma garoa fina, as gotas batendo contra o vidro.
- Amor, volta para cama, está frio. - Charlie disse com a voz rouca.
- Pensei que você estava dormindo, mocinho.
- Eu estava, aí senti falta do seu calor e acordei.
Eu saí de perto da janela e voltei para cama, me enfiando debaixo das cobertas em seguida.
- Volta a dormir então, já estou aqui.
Charlie encostou seu nariz no meu e abriu os olhos, hoje eles estavam com um tom de azul. Nós estávamos tão próximos um do outro que eu podia contar cada pinta que Charlie tinha no rosto.
- Para que dormir se a realidade com você do meu lado é bem melhor do que qualquer sonho. - Charlie disse, me abraçando pela cintura.
- Eu sempre achei que o amor da minha vida era a música, mas aí você apareceu e eu descobri que eu podia amar alguém tanto quanto eu amo a música.
- Sei exatamente o que você quer dizer. Eu te amo, .
- Também te amo, Charlie.
Charlie então me beijou apaixonadamente e eu tive certeza que não sairemos daquele quarto tão cedo.

A semana passou tranquila, estava tentando encaixar nossa banda para mais um show em algum dos eventos que ela iria participar e nós estávamos muito promissores, mas nem de longe podíamos imaginar o que iria acontecer.
- Meninas, eu tava pensando, a gente podia dar um jeito naquele porão, né? Tem umas coisas lá que podíamos doar ou fazer um bazar, sei lá. - disse enquanto arrumávamos a sala de casa.
- Eu acho uma ótima ideia, as coisas só ficam pegando pó. - disse .
- Seria bom a gente fazer isso no porão dos meninos também, aposto que tem coisas lá mais antigas que eles. – falei, tirando o aspirador da caixa.
Os meninos então entraram pela porta, parecia que eles tinham visto um fantasma pelas caras assustadas.
- Gente o que aconteceu com vocês? Estão brancos feitos cera! - disse.
- Vocês não sabem o que acabou de acontecer. - Owen disse.
- Se vocês contarem, a gente vai saber. - disse .
- Acabamos de receber uma ligação que vai mudar nossas vidas. - disse Jeremy. - A Skyline foi convidada para abrir o show do 5 Seconds Of Summer daqui a duas semanas no Dolby Theatre em Los Angeles!
- Aí, meu Deus! – falei, gritando e pulando junto com as meninas.
Eu corri e pulei nos braços de Charlie, que me abraçou apertado.
- Nós temos duas semanas, vamos ensaiar todos os dias, temos que estar perfeitos no dia do show.
- É, maninha, quem te viu e quem te vê. Já vi que não vamos mesmo precisar procurar um quarto integrante.
- Sei lá, de repente eu descobri que gosto do palco e ele gosta de mim.
- Efeito Charlie que chama isso aí. - disse, divertida.
- Efeito amor pela música e por mim também. - Charlie disse.
- Nós temos que avisar nossos pais, eles precisam ir nesse show, assim vão ver que estamos no caminho certo. - disse Owen.
- Ótima ideia, Owen, vamos convidá-los. - disse .
- Gente vocês têm noção que esse show é a porta definitiva para gente bombar? Quem sabe até conseguir um contrato com alguma gravadora! - Jeremy disse.
- Exatamente, por isso que temos que dar nosso máximo, esse show tem que ser perfeito. – falei, animada demais com a ideia de subir em um palco em Los Angeles.
O Jeremy estava certo, essa era nossa chance de ouro. Nossas músicas estavam bombando na internet e por isso recebemos esse convite, não podíamos desperdiçá-la. Essa era a oportunidade da Skyline decolar de vez e nada podia dar errado.

Foram duas semanas intensas de ensaios, escolhendo as músicas que iríamos cantar, ajustando os tons, deixando tudo perfeito. Quando o dia finalmente chegou, eu estava uma pilha de nervos e os meninos também, era o primeiro show realmente grandioso que faríamos, se tudo desse certo o próximo passo era gravar um cd e fazer um grande show só nosso. Nós voamos para Los Angeles e fomos direto para o Dolby Theatre, na fachada do local estava o nome do 5 Seconds of Summer em cima e embaixo o nome da nossa banda, indicando que éramos a banda de abertura.
- Tenho certeza que muito em breve só vai haver o nome da Skyline e com um sold out escrito ao lado. - Charlie me disse e eu sorri.
Eu fui direto para o camarim me trocar, havia separado uma roupa para apresentação com quase uma semana de antecedência. Coloquei um vestido creme de manga curta, rodado, um cinto preto fino logo abaixo do busto e minha bota preta de cano curto com spikes. Fiz uma trança embutida no cabelo e finalizei a maquiagem com um batom rouge. Quando vieram nos chamar para subir ao palco, eu respeitei fundo e segui com os meninos.
Assim que subi no palco e vi todas aquelas pessoas, incluindo meus pais e os pais do Owen e da na primeira fila, meu coração disparou. Mas Charlie estava do meu lado, ele apertou minha mão e eu logo me acalmei e comecei a cantar. O público adorou, cantaram conosco o tempo todo e nos aplaudiram freneticamente quando encerramos nossa apresentação. Quando descemos do palco, encontramos nossos pais, os rostos orgulhosos.
- É, parece que vocês levam mesmo jeito para coisa. - disse o pai da e do Owen.
- Vocês dois estavam tão lindos lá em cima. - minha mãe disse, abraçando eu e o meu irmão. – , você canta tão lindamente.
- Obrigada, mãe.
- Com licença, desculpem interromper a conversa de família. - disse um senhor alto, os cabelos negros penteados para trás. - Meu nome é Paul White, sou representante da Columbia Records.
Eu e os meninos congelamos.
- Eu gostaria muito de conversar com vocês sobre uma proposta.
- Que tipo de proposta? - Owen perguntou.
- Bom, eu gostei muito do que vi hoje a noite, e se vocês quiserem, posso oferecer um contrato com a Columbia para gravar um CD.
- Isso é sério? - Jeremy disse, sem acreditar.
- Claro que sim, vocês têm muito potencial e vi que já dominaram a internet. O próximo passo é gravarem, assim, serão uma banda realmente profissional.
- Nós adoraríamos ouvir sua proposta, Sr. White. – falei, empolgada.
- Certo, fiquem com meu cartão, vamos agendar uma reunião para resolver tudo.
Assim que o homem saiu, eu e meus amigos começamos a surtar.
- Nós vamos gravar, meu Deus, nós vamos gravar! – falei, abraçando o Charlie.
- O mundo que se prepare, porque a Skyline vem aí. - disse.

No dia seguinte, falamos com o Sr. White e ele foi até São Francisco para uma reunião conosco. Depois de ler o contrato e concordar com as condições, assinamos para gravar nosso primeiro álbum.
Na semana seguinte, voamos para Nova York para iniciar as gravações, eu tive que pedir uma licença na escola para poder me ausentar.
- Já estou vendo que vou ter que sair da escola em breve, com o CD sendo lançado, e futuros shows à vista, não terei tempo para mais nada. - falei enquanto esperávamos para entrar no estúdio.
- É, maninha, você sabia que se escolhesse ficar na banda, isso ia acontecer.
- A banda vai ser seu novo emprego, . Vai pagar suas contas muito mais que as aulas de música. - Owen disse.
- Espero que eu tenha feito a escolha certa.
- Você fez sim, meu amor, você nasceu para música e o mundo merece ouvir sua voz. - Charlie disse, entrelaçando sua mão na minha.

Nós ficamos duas semanas em Nova York, gravando todos os dias, sem parar. Quando voltamos para casa, estávamos exaustos e com muita saudade das meninas.
- Minha pequena! - Jeremy disse, agarrando e tirando-a do chão.
- Eu também estava morrendo de saudades, Jer.
- E eu, amor, não mereço abraço? - Owen disse, olhando para .
- Se eu disser que não, você vai chorar por dias. - disse, abraçando e beijando Owen.
- Você não sentiu minha falta não?
- Senti, Owen, claro que sim, eu posso não ser de demonstrar, mas eu tenho sentimentos.
- Ainda bem que eu estava com meu boy magia do lado. – falei, me jogando no sofá.
- E das amigas não sentiu falta não, sua ridícula?
- E depois diz que não demonstra sentimentos. Eu estava morrendo de saudades, sua viada!
Eu levantei do sofá e agarrei .
- Ok, já chega, me larga ou vou dar na sua cara, .
- A gente também sentiu sua falta, amiga. - disse, vindo me abraçar.
A e a haviam preparado um almoço de boas-vindas para nós, era muito bom comer uma comida caseira para variar.

Nosso CD entrou em processo de pós-produção e quando o demo ficou pronto, a gravadora nos enviou. Estava tudo perfeito com a prévia do cd e a gravadora seguiu com a etapa final para que o cd fosse finalmente lançado. Mas enquanto esperávamos o lançamento, a gravadora já estava tratando de agendar shows. E a notícia do primeiro grande show só nosso veio logo, iríamos nos apresentar no Hollywood Bowl.
- Meu Deus, tem noção que cabem 17.500 pessoas naquele lugar? - Jeremy disse.
- Vai ser nosso primeiro grande público, o lugar cheio só para nos ver. - Owen disse.
- O Paul disse que já deu sold out, e o show é só no final do mês! – falei, ainda sem acreditar.
- Eu só sei que nós estaremos na área vip. - disse, dando um high five com a . - Aliás, eu arrumei alguns eventos para tocar em Los Angeles também.
- Isso é ótimo, amor.
- Será que eu vou ter que abrir uma filial da minha confeitaria em Los Angeles também? - disse e nós rimos.

Nós retomamos nossa rotina de ensaios intensos para nos preparar para o show e eu sentia que havia chegado a hora de dizer adeus à escola e aos meus queridos alunos. Eu conversei com a diretora e expliquei que precisava sair, pois não tinha mais como me dedicar às aulas. No meu último dia na escola, os alunos prepararam uma festa surpresa linda, que me fez chorar horrores.
- Tá tudo bem, amor? - Charlie disse quando foi me buscar na escola.
- Tá sim, só estou emocionada. Não gosto de despedidas e meus alunos fizeram uma homenagem para mim que acabou comigo.
- É porque você é muito amada. E agora você vai ser amada pelo mundo todo.
Nós seguimos para um restaurante, havíamos combinado de almoçar fora. O garçom nos colocou em uma mesa próxima à janela, mas naquele dia não tinha muito o que ver, estava uma chuva forte desde cedo. Nós fizemos o pedido e ficamos conversando enquanto aguardávamos.
- Amor, você tá com o nariz e os olhos vermelhos, tá tão linda assim.
- Tô nada, mentiroso. Eu sou uma pessoa muito sensível, ok?!
- Eu sei, você é meu pequeno pote de açúcar.
Charlie apoiou o queixo nas mãos e ficou me olhando.
- Por que você tá me olhando assim?
- Só estou te admirando. Sabia que eu me sinto um adolescente quando estou com você?
- Aí, pelo amor de Deus, Charlie, como se você fosse muito velho, né, você ainda é praticamente um adolescente.
- Eu não estou falando da idade, . É que quando a gente é adolescente, naquela da época do colégio e tudo mais, tudo é tão intenso e permanente, a gente ama como se nunca mais fosse amar de novo. E é exatamente assim que eu me sinto com você.
- Acho que você tem razão, eu também me sinto assim com você.
Eu olhei para o lado e vi que duas garotas não paravam de olhar para nossa mesa.
- Falando em adolescentes, aquelas duas não param de olhar para gente.
Charlie olhou na direção das duas garotas.
- Você acha que elas nos reconheceram?
- É possível, elas estão vindo para cá.
- Com licença. - disse a garota ruiva. - Vocês por acaso são da banda Skyline?
- Somos nós sim, sou Charlie, o guitarrista, e ela é a , vocalista principal.
- Aí, meu Deus, a gente adora as músicas de vocês! - disse a garota loira, empolgada. - Podemos, por favor, tirar uma foto?
- Claro, sem problemas. - falei enquanto uma das garotas pegava o celular. - nós tiramos uma selfie com elas.
- Muito obrigada! - a ruiva agradeceu.
- Vocês vão ao nosso show no Hollywood Bowl? - Charlie perguntou.
- Vamos sim, nossos pais vão nos levar! E mal podemos esperar pelo lançamento do cd. - disse a loira.
- Que ótimo, nos vemos no show então. - eu disse.
- Vocês vão bombar, as músicas de vocês são muito boas. - a ruiva falou, chegando mais perto de Charlie. - Além disso, você e os outros são muito gatos.
- Eu sou apaixonada pelo baixista. - a loira completou.
- É mesmo? O baixista é meu irmão e namorado da minha melhor amiga. O baterista é meu amigo e namorado da minha outra melhor amiga. E o Charlie aqui presente, é meu namorado.
As garotas me olharam com cara de frustração.
- Que bom para você, né. Mas sabe como é, vocês estão começando na carreira, não sei se é uma boa ideia sair por aí falando que ninguém na banda é solteiro, tem que deixar os fãs sonharem, né? - a ruiva disse, trocando risadinhas com a amiga.
- De qualquer forma, obrigada mais uma vez. - a loira disse e elas saíram em seguida. Eu respirei fundo, tentando me lembrar que elas eram apenas meninas.
- Será que elas têm razão? - Charlie perguntou, me tirando dos meus pensamentos.
- Razão sobre o quê?
- Sobre termos que deixar os fãs sonharem? Tipo, a gente sabe que a indústria da música é feita de fachada e marketing, ainda mais quando os artistas estão em começo de carreira. Você acha que a gravadora pode pedir para gente manter nossos relacionamentos em segredo por enquanto?
- Por que você está perguntando isso, Charlie? Você pretende mentir sobre nós?
- Eu não disse isso, , só estou falando que eles podem nos pedir isso, né?
- E você vai fazer o quê? Porque eu pretendo não concordar com um absurdo desses e tenho certeza que nem o Jer, nem o Owen vão concordar também, não se eles quiserem continuar tendo a e a como namoradas.
- , não precisa ficar nervosa, eu só estou pensando sobre a possibilidade de isso acontecer.
- E se acontecer, você vai concordar?
- Eu não sei, nunca tinha pensado sobre isso. Mas talvez não tenha problema sermos discretos no início.
- Discretos? Você só pode estar brincando.
- , essa é nossa chance, nada pode dar errado. - eu senti a raiva subir por todo meu corpo.
- Eu não vou mentir, Charlie, por nada nesse mundo! Se você não está pronto para dizer ao mundo que eu sou sua namorada e que você me ama, então talvez seja melhor eu não ser mais nada sua.
- , não faz assim!
- Se o sucesso da banda é mais importante, tudo bem, mas aguente as consequências de ficar sem mim para sempre.
Eu levantei da mesa, peguei minha bolsa e sai do restaurante.
- aonde você vai? Está chovendo! - escutei Charlie gritar da porta do restaurante, mas eu não parei.
Saí no meio da chuva e fui para casa a pé, minhas lágrimas se misturando com as gotas pesadas da chuva. Cheguei em casa toda encharcada, as meninas me olharam assustadas quando viram meu estado.
- , o que aconteceu? - disse .
- Meu Deus você está ensopada, vai ficar doente desse jeito. - disse .
Eu desabei a chorar e subi correndo para o meu quarto, deixando minhas amigas sem entender nada. Entrei no meu quarto e tranquei a porta, sentando no chão em seguida e chorando compulsivamente. Eu só queria sumir dali, eu não conseguia pensar em mais nada, nem banda, nem CD, nem show, a única coisa que eu conseguia pensar era no buraco que havia se aberto no meu peito.

Charlie’s POV On

Eu fiquei na porta do restaurante olhando-a sumir na chuva, tentando processar o que havia acontecido. Quando ela já parecia estar longe demais para que eu pudesse enxergá-la, eu voltei para dentro do restaurante, suspendi os pedidos e fui embora em seguida. Voltei dirigindo para casa, de baixo daquele temporal, o meu humor mais nublado do que o céu. Estacionei o carro da na garagem e fiquei um tempo dentro do carro, tentando tomar coragem de sair. Eu sabia que não podia ficar ali a vida toda, então respirei fundo, sai do carro e entrei na casa pela entrada dos fundos. Encontrei um comitê de recepção na sala formado por todos meus amigos.
- O que é que você fez com a minha irmãzinha?
- Jer, eu posso explicar.
- Ah, vai ter que explicar mesmo.
- Como é que todo mundo já tá sabendo? – falei, sentando no sofá.
- Na verdade, não estamos sabendo de nada, Charlie, a única coisa que sabemos é que a chegou em casa encharcada, correu para cima e se trancou no quarto dela. - disse.
- E aí a gente chamou os meninos, porque já batemos que nem doidas no quarto dela e ela não abre de jeito nenhum, nem responde. - disse .
- Vocês brigaram, Charlie? - Owen perguntou.
- Eu vou contar tudo que aconteceu.
Contei para os meus amigos o fatídico episódio daquela tarde e como a foi embora dizendo que estava tudo terminado entre nós.
- Você é um completo imbecil.
- Eu sei, Jer, obrigado por me lembrar.
- Cara, a é uma garota forte, independente, mas ao mesmo tempo ela é muito sensível. - Owen disse.
- Acho que nada magoaria mais a do que amar intensamente como ela te ama e não ser amada. - disse .
- Mas eu amo a ! Mais que tudo nesse mundo.
- E por que você disse uma besteira dessas pra ela? - perguntou.
- Eu não sei, foi idiotice da minha parte, como vocês disseram. Só que ela terminou comigo e agora eu não sei o que fazer para consertar as coisas.
- Então é bom você colocar a cabeça para funcionar. Além disso, vocês têm um grande show em breve, pensa no clima que vai ficar em cima do palco. - disse.
- Meninos, é melhor vocês irem para casa e levarem o Charlie, ninguém vai resolver nada hoje, e de cabeça quente. - disse .
Eu e os meninos fomos para casa, realmente não adiantava nada tentar resolver a situação naquele momento.
- Cara, eu disse que se você fizesse a minha irmã sofrer e chorar, eu e o Owen seríamos obrigados a eliminar você. Agora eu to aqui pensando em como te eliminar e fazer parecer um acidente.
- Jer, agora não é hora de gracinhas, né. - Owen disse.
- Só queria descontrair um pouco.
- Jer, eu amo sua irmã, acredite em mim. Eu sei que eu errei, mas eu vou consertar as coisas, ainda não sei como, mas eu vou encontrar uma solução.

Eu mandei milhares de mensagem para , todas foram ignoradas. Também tentei ligar, mas foi em vão, é claro que ela não atendeu. À noite passei o tempo todo rolando na cama, pensando o que eu poderia fazer para me redimir com a mulher que eu amava.

Charlie’s POV Off

As meninas bateram na minha porta por longos minutos, até finalmente desistirem. Quando elas pararam de bater, eu finalmente me mexi, arranquei a roupa molhada e joguei no chão, vestindo meu roupão em seguida. Deitei na cama e continuei chorando, até escutar vozes no andar de baixo, primeiro as vozes do meu irmão e do Owen e depois a voz do Charlie. Não consegui ouvir o que eles falaram, mas tive certeza quando foram embora, pois tudo ficou silencioso. Eu aproveitei que as meninas ainda estavam lá em baixo e fui para o banheiro tomar banho, fiquei um bom tempo deixando a água quente cair no ombro enquanto as lágrimas não paravam de descer pelo meu rosto. Quando voltei para o meu quarto, as meninas estavam lá.
- A gente já sabe o que aconteceu, . - disse .
Eu entrei no quarto e comecei a me trocar enquanto elas me olhavam.
- O Jer e o Owen ficaram muito preocupados com você. - disse .
- , a gente sabe que o Charlie pisou na bola, mas será que não dá...
- Para , para! Eu não quero falar sobre ele! - eu disse e voltei a chorar.
- Tá bom, , a gente não precisa falar sobre isso agora. - disse enquanto eu me sentava entre ela e a na cama.
- Nem agora, nem nunca mais. Acabou, eu não quero mais saber dele.
- Mas, , e a banda? - perguntou.
- É por isso que eu não queria me envolver com ele e nem ser a vocalista permanente da banda. Mas não se preocupem, eu sou profissional, vou continuar cantando e trabalhando pela banda.
Minhas amigas se olharam e depois me abraçaram apertado. Passei o dia recebendo mensagens e ligações do Charlie, as quais eu ignorei todas. Eu não consegui dormir naquela noite, eu só conseguia pensar no Charlie. Eu queria correr pra casa do lado e esquecer tudo, mas meu orgulho era maior e eu não ia ceder, mesmo que isso acabasse comigo aos poucos.

Charlie’s POV On

No dia seguinte, quando finalmente arrumei coragem para levantar da cama, percebi que eu estava sozinho e imaginei que os meninos tivessem ido tomar café com as meninas. Tomei um banho e me arrumei, depois segui para lá também, eu tinha que tentar falar com a . Assim que entrei na cozinha, meus amigos me olharam, estavam todos lá, inclusive a .
- Bom dia. – falei, indo até a mesa na copa e me sentando.
- Bom dia. - todo mundo respondeu, menos a .
- Meninos, por que vocês não pegam essa bandeja de cookies e suas canecas de café e vamos lá para sala comer? - disse.
- Mas por quê? - Jeremy disse e levou um tapinha na cabeça, de Owen. – Aí, isso doeu.
- É para doer mesmo, mané. - Owen disse, apontando para mim.
- Ah, sim, entendi. Vamos para sala então.
- Deixa que eu levo os cookies. - disse, pegando a bandeja.
- Ninguém sai dessa cozinha! - disse, se manifestando pela primeira vez.
Ela segurava uma caneca na mão e estava apertando a mesma com mais força do que o necessário.
- Eu não tenho nada para conversar com ninguém aqui, portanto não preciso que ninguém saia.
- Mas, ... - tentou dizer.
- Mas nada, eu não quero e não vou conversar com ninguém. E me deixem em paz, todos vocês!
então saiu da cozinha em seguida com sua caneca na mão, batendo a porta.
- Desculpa, Charlie, nós tentamos. - disse.
- Tá tudo bem, gente.

continuou me ignorando dia após dia, evitando ficar perto de mim sempre que possível. Quando tínhamos que ensaiar com a banda, ela se concentrava em cantar e tocar, e mal olhava pra mim. Eu passei algum tempo tentando pensar o que eu poderia fazer para mudar essa situação, até finalmente ter uma luz. Eu não ia desistir da , jamais, eu amava aquela garota mais do que qualquer coisa e eu sabia que a música nos unia de uma forma única, então talvez fosse exatamente à música que pudesse me trazer ela de volta.

Charlie’s POV Off

Ignorar o Charlie me doía muito, era uma dor que atingia meu coração e minha alma, tamanho era o amor que eu sentia por ele. Mas eu estava firme na minha decisão, a única coisa que importava agora era o show que iríamos fazer.
E o dia do show finalmente chegou, nós voamos para Los Angeles, prontos para tocar no Hollywood Bowl. Eu havia preparado uma roupa especial para aquele dia, embora eu estivesse me sentindo sem vida por dentro. Coloquei uma saia vermelha xadrez de cintura alta rodada, uma cropped preta de alça e um tênis preto. Fiz a melhor maquiagem que pude, assim como no nosso primeiro show, caprichei no delineador e no batom vermelho, e deixei meu cabelo ondulado penteado de lado. Eu estava terminando de me arrumar quando as meninas vieram falar comigo.
- E aí, tá pronta, amiga? - perguntou.
- Tô sim, tudo certo.
- O lugar tá lotado. Nossos pais estão todos aí também. - disse.
- Até os pais do Charlie e os irmãos dele vieram do Canadá. - disse, sem pensar. – Aí, desculpa, .
- Sem problemas, você não falou nada demais.
- , tem certeza que você consegue fazer esse show? - perguntou.
- Claro que sim, não tem nada mais importante que a música e eu jamais deixaria de subir naquele palco hoje.
- Então só nos resta te desejar boa sorte. - disse.
- Você é uma estrela, , vai brilhar como sempre. - disse.
- Obrigada, meninas, não sei o que seria de mim sem vocês.
Minhas amigas me deram um abraço apertado antes de saírem do camarim. Faltavam cinco minutos para o show começar, eu respirei fundo e segui para o palco. Os meninos já estavam lá, aguardando, mas eu não olhei para eles, apenas esperei nos anunciarem para subir e cantar.
Assim que entramos no palco, a multidão foi à loucura, meu coração disparou ao ver aquele lugar lotado. Não tinha ninguém naquele momento para apertar minha mão e me dar coragem, então eu só peguei o microfone e comecei a cantar. Depois da música de abertura, eu me sentei ao teclado para tocar a próxima canção.
- Um momento, por favor. - Charlie disse, pegando o microfone.
Olhei para ele, tentando entender o que é que ele estava fazendo.
- Antes de seguirmos com o show, eu preciso dizer algumas palavras.
Olhei para o Jeremy e para o Owen, que não pareciam nada surpresos com a atitude de Charlie, o que me fez ter certeza que eles sabiam o que iria acontecer.
- Esse é nosso primeiro grande show e nosso CD está prestes a ser lançado, então parece que está dando tudo certo para Skyline. Mas nada disso importa realmente se não estivermos felizes.
A multidão aos poucos foi silenciando, cada vez mais interessados no que Charlie dizia.
- Eu sei que nossa banda está apenas começando, mas nós queremos começar sem mentiras, porque vocês fãs merecem isso. Como vocês podem ver, temos três caras nessa banda e todos já encontraram seu amor verdadeiro. As namoradas do Jeremy e do Owen estão bem ali embaixo, na área vip, dêem um olá para galera, e . - Charlie disse, acenando para as meninas.
Eu vi minhas amigas acenando, sem graça, de volta.
- Agora, quanto a mim, apesar de ter encontrado a mulher da minha vida, eu fui burro o suficiente para magoá-la. Então, eu quero aproveitar esse momento para pedir desculpas.
Charlie tirou o microfone do pedestal e veio até mim.
- , eu sei que fui um idiota, mas acredite eu estou pronto sim para dizer ao mundo que eu te amo. E mais do que isso, estou pronto para cantar para o mundo o meu amor por você.
Eu finalmente olhei para Charlie, e por um momento parecia que toda a multidão havia desaparecido e só havia nós dois ali.
- Eu fiz essa música para você, espero que goste. Se chama That Smile.
Charlie então colocou o microfone de volta no pedestal e começou a tocar as primeiras notas da música na guitarra, acompanhado pelo baixo do meu irmão e pela bateria do Owen. Eu nem podia imaginar que ele havia escrito uma música para mim, mas aquela era com certeza a música mais linda que eu já havia ouvido na vida.

“In fact, I don’t know how to explain what I feel
Imagine, I can’t believe you’re real
I just look in your eyes and my heart melts
It’s crazy because this happened so fast
Love came and I had no chance to escape

Baby, all the stars don’t shine like you
Not even the sky and its magical blue
I just see the beauty when you open your mouth and sing aloud

And that smile always in your face
makes me sigh and I get back to be a teenager
So just smile to me until the end of the day
I want to feel you here, please stay
This feeling is something worthwhile
I knew that I was lost since the first time I saw that smile

You know, I have scars inside of me
It hurts, deep in my soul and no one can see
You came and now I’m not feeling bad
Darling, you’re the reason I don’t go mad
You make my life better like a rainbow after the storm

Baby, all the stars don’t shine like you
Not even the sky and it’s magical blue
I just see the beauty when you open your mouth and sing aloud

And that smile always in your face
makes me sigh and I get back to be a teenager
So just smile to me until the end of the day
I want to feel you here, please stay
This feeling is something worthwhile
I knew that I was lost since the first time I saw that smile

I dream every night with your angel face
I need your arms around me for not to break

And that smile always in your face
makes me sigh and I get back to be a teenager
So just smile to me until the end of the day
I want to feel you here, please stay
This feeling is something worthwhile
I knew that I was lost since the first time I saw that smile”


Quando Charlie terminou de cantar, eu estava em prantos. Eu levantei e fui até ele, que me olhava, ansioso.
- Então, será que você pode me perdoar?
Eu abracei Charlie e a multidão gritou, enlouquecida.
- Eu te amo, .
- Também te amo, Charlie. - falei e beijei ele em seguida, o que só fez o barulho da multidão aumentar.
Eu levei alguns segundos para me recompor, mas depois disso o show foi melhor que nunca. Eu finalmente tinha meu amor e parceiro de palco de volta, e dividir o microfone com ele era a melhor coisa do mundo. Quando o show acabou, nós fomos encontrar nossos pais e saímos todos para jantar.
- Vocês não sabiam mesmo? - perguntei para as meninas.
- Claro que não, esses três fizeram tudo pelas nossas costas. - disse .
- O Charlie nos contou que estava escrevendo a música e pediu a nossa ajuda, ensaiamos tudo escondido de vocês. - disse Owen.
- Vocês nem desconfiaram. - disse Jeremy.
- Parabéns, Jer, você finalmente aprendeu a guardar segredo. - falei e todos riram.
Nossos pais estavam morrendo de orgulho da gente e eu finalmente conheci a família do Charlie. Foi meio no susto, mas os pais dele gostaram de mim e a mãe dele disse que eu estava intimada a ir visitá-los no Canadá com o Charlie.

No dia seguinte, nós voltamos para São Francisco, e com nossos pais voltando para suas casas, inclusive a família do Charlie voltando para o Canadá, eu poderia finalmente ficar a sós com Charlie. A e a foram dormir na casa dos meninos e a nossa casa ficou só para nós dois.
- Enfim, sós. - Charlie disse quando chegamos até meu quarto.
Ele veio até mim, passando as mãos pelos meus braços e depois beijando meu pescoço. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram instantaneamente ao toque dele, eu estava morrendo de saudades das mãos dele passeando pelo meu corpo. Charlie então me beijou, aquele beijo quente do qual eu também sentia muita falta. Nós logo nos livramos de cada peça de roupa até só haver nossas peles coladas uma na outra, nossos corpos entrando em combustão. Depois de tudo, nós apenas ficamos deitados na cama de frente um para o outro, meus dedos se prendendo naquele cabelo lindo dele enquanto ele fazia um carinho gostoso nas minhas costas.
- Eu senti tanta falta de você, do seu cheiro, da sua boca, de tudo. - Charlie disse.
- Eu também, mas meu orgulho não me deixava admitir o quanto ficar longe de você estava me matando.
- Eu seria capaz de desistir até da música se fosse preciso, só para ter você de volta.
- Não diga isso, a música nos uniu e nos juntou de novo. Daqui por diante, é só música e amor na nossa vida.
Charlie abriu aquele sorriso perfeito para mim, aquele sorriso que derretia meu coração por completo.
- Eu te amo tanto, mas tanto, .
- Eu também te amo, Charlie, mais do que sou capaz de expressar.
Na verdade, nós sabíamos expressar nosso amor através da música, nossa história ainda renderia muitas letras de sucesso.

Quando nosso cd finalmente foi lançado, alcançou o topo das paradas e logo vieram mais shows e uma turnê mundial. Eu sempre amei a música, mas agora eu finalmente havia encontrado meu lugar, era em cima do palco com o amor da minha vida do meu lado, a união perfeita de ritmo e sentimentos.



Fim!



Nota da autora: Não costumo colocar nota da autora nas minhas fics, mas nessa fic realmente achei necessário. Vocês devem ter visto a letra de música presente na história, uma música que ninguém conhece. Bom, eu, além de escrever fics e livros, também componho músicas, e eu compus essa música para o Charlie, pensando em usar nessa fic. Talvez o Charlie nunca veja ou saiba dessa música, mas eu achei que era uma letra muito bonita que merecia ser compartilhada com mais pessoas, no caso, vocês, queridos leitores. Espero que gostem!

Outras Fanfics:

Lights, Camera, Action! - [Atores - Finalizadas]
Don't Forget To Like It - [Atores - Shortfics]
Dance With Me? - [Atores - Shortfics]
Hungry Eyes - [Atores - Shortfics]
She’s Like The Wind - [Originais - Shortfic]
Ready To Run - [One Direction - Finalizada]


Nota da beta: Receber uma fic com o Charlie foi motivo para iluminar o meu dia! hahahaha Eu adorei essa história, May, de verdade, que fofura! Adorei o jeito que eles se conectaram e eu adorei essa personagem principal! Amei demais os amigos tentando ajudar, e esse irmão todo bobo, ele é bem fofo, me lembrou demais o Jer hahahah O Charlie é maravilhoso demais, tô muito feliz de ter betado essa fic, você é incrível! <3

Qualquer erro nessa fanfic, ou reclamações somente no e-mail.


comments powered by Disqus