Prólogo
Você já teve encontros inesperados, não é? Sabe aqueles em que você encontra velhos colegas de turma, da época da escola, que praticamente não se lembrava mais de ter memórias ou que se esforçou muito para esquecê-las. Aqueles encontros casuais nos corredores do mercado, que você finge não ver de propósito a pessoa porque não quer conversar ou aquele antigo amigo, talvez um ex-namorado, que você encontrou no seu restaurante preferido que costumava ir com ele antes. Há também aqueles encontros de supetão, em que ficamos absurdamente chocados e felizes de rever à pessoa ou então aqueles outros em que ainda não a conhecemos, a surpresa do encontro inesperado é, justamente, a chegada de alguém novo na sua vida.
Doze de novembro de 2021 foi o dia em que o maior dos encontros inesperados aconteceu. Para dez pessoas diferentes cujas histórias se conectam de alguma forma, uma cidade nunca foi tão pequena e um Natal nunca foi tão doce.
O Primeiro Grande Encontro
O dia em que encontrou com Dylan O’Brien pela primeira vez em sua vida se encaixa perfeitamente na categoria dos felizes encontros inesperados.
Era a primeira vez que iria ao The Tonight Show, o programa de Jimmy Fallon, e estava a caminho do estúdio onde seria gravado com sua assessora e relações públicas, Lindsay Gauthier. O silêncio reinava dentro do carro, exceto pela voz de Miley Cyrus saindo do rádio, e, embora fosse um dia quente, podia sentir seu corpo inteiro arrepiado, de ansiedade e de um certo nervosismo pelo programa que participaria. Naquela semana, seu último livro tinha chegado ao topo das paradas de vendas internacionais e entrava, oficialmente, para a lista dos dez maiores escritores da década. A nova adaptação em filme de um de seus livros acabava de ser anunciada oficialmente, produzida pela Warner, e o time de atores e atrizes contratados havia saído naquela manhã, feito por um comunicado oficial da produção. Era um dia atípico, uma semana atípica, cheia de informações e conquistas, tudo parecia um sonho como se, finalmente, começasse a correr bem depois de tantos anos de esforços.
nunca se imaginou conquistando os espaços que ocupava nos últimos quatro anos. De eventos famosos ao centro das vitrines e prateleiras das mais conceituadas livrarias, ela simplesmente não esperava pertencer àquela parcela tão incrivelmente afortunada do mundo. Começou a escrever quando ainda era uma adolescente, quando seus pais se mudaram para os Estados Unidos e a escrita era a válvula de escape do processo de integração ao novo país, a nova escola, as novas pessoas. Algumas de suas histórias contavam o sonho de poder um dia ser prestigiada, de conhecer pessoas famosas e frequentar lugares luxuosos, confortáveis, que a destacavam, que se interessavam por ela e por tudo que ela tinha a contar. E olha onde ela estava agora.
Ela sorriu sozinha, orgulhosa de si mesma e um tanto saudosa sobre o passado que a fez chegar até aquele exato lugar. Muita coisa havia acontecido, muito havia mudado. Talvez devesse começar a escrever uma autobiografia, ela pensou. Sentada ao lado dela, no banco de trás do carro, Lindsay desviou sua atenção de seu celular até a amiga, notando o sorriso bobo perdendo-se junto com seu olhar fora da janela do carro, estava longe. Fisicamente longe de casa e mentalmente longe da Terra. Lind fez um sinal para que o motorista desligasse o rádio, o que chamou atenção da amiga. Já estavam perto de onde desceriam.
— Como está se sentindo, ?
Ajeitando seus longos cabelos ruivos, ela tinha os olhos cheios de expectativa na escritora, já imaginando exatamente como ela estava se sentindo. Apesar de saber que ela também estava animada e um tanto eufórica por acompanhá-la na gravação do programa, sua voz estava calma, como sempre. Lindsay tinha uma segurança de outro mundo, parecia estar sempre pronta para absolutamente tudo. Nenhuma câmera, programa ao vivo, gravações, personalidades famosas ou qualquer coisa parecia intimidá-la. suspirou pesadamente, tentando controlar sua respiração. Às vezes, em momentos como aquele, desejava ser um pouquinho mais como Lind.
— Não sei — ela respondeu sorridente, tentando manter-se calma — Acho que estou em choque.
Lind apenas assentiu com a cabeça e desviou seu olhar para a rua afora, pela janela, reparando que o carro já entrava no estacionamento do programa. À porta do prédio, dezenas de pessoas pareciam esperar por , fãs que nenhuma delas sabia como conseguiram tão rápido a localização da escritora. Junto com eles, alguns paparazzis faziam hora, esperando qualquer que fosse a movimentação, mas pareceram não reparar no carro preto, todo insufilmado, passando casualmente por eles até dar a volta no prédio e ingressar na garagem.
— Já repassamos as possíveis perguntas, vai dar tudo certo — Lind sorriu carinhosa — Só seja você mesma e divirta-se, ok?
— Está bem, mãe — a escritora sorriu, vendo a outra mulher revirar os olhos — Vou tentar não ter um surto, mas por dentro estou berrando sem parar: "aí caralho, eu estou no Tonight Show".
tapou a própria boca, como se quisesse segurar um grito interno de emoção. Lindsay deu uma risada fraca e negou com a cabeça, descendo do carro assim que sua porta foi aberta por algum funcionário do edifício. O jeito mais sério e introvertido dela equilibrava-se com o jeito divertido e descontraído de , faziam uma boa dupla. Assim como sua assessora, a autora também desceu do carro e sorriu agradecida, dando passos rápidos em direção à entrada do prédio. Estava tão absurdamente feliz e satisfeita de estar naquele lugar que podia mesmo gritar seus pulmões afora. A cada passo que dava para dentro do edifício, a cada pessoa que sorria, a cumprimentava ou vinha falar com ela, a mulher sentia seu coração bater mais forte, suas pernas tremerem, seu sorriso aumentar em seu rosto como se nada no mundo a pudesse fazer ainda mais feliz.
Não era novidade para ninguém que a escritora tinha um carisma de outro mundo. Estava sempre animada, rindo, fazendo piadas nas entrevistas, com seus fãs. era a graça em pessoa, se não conquistava pelas palavras e pelos mundos que criava em suas histórias, certamente conquistava as pessoas pelo sorriso e pela disposição em divertir todo mundo a sua volta.
E naquela noite, não foi diferente. Apesar de cansada e ansiosa, conseguiu manter-se calma e focada no que precisava gravar no programa. Passou pelos retoques de maquiagem e figurino e, exatamente uma hora e meia depois que chegou, estava sentada no sofá cinza-azulado confortável em frente a Jimmy Fallon, conversando, rindo e entrando nas graças do apresentador. Respondeu às perguntas sobre seus livros, sobre como andava sua carreira, projetos do passado que fizeram sucesso e projetos do futuro que ela ainda pensava em lançar. Falou do recente término, poucos meses atrás, do relacionamento de dois anos com o ator Barry Keoghan, justificando pelo fato de terem tido tempo para conviver intensamente durante a quarentena e os “desacordos terem sido expressivos”, além de toda dinâmica de dividir a vida entre os Estados Unidos e a Irlanda não ter funcionado bem para eles. Apesar do término, contudo, seguiam se dando bem e com muito respeito e carinho um pelo outro.
Brincando sobre sua queda por britânicos, ela comentou sobre sua amizade com Ben Barnes, que surgiu no set de filmagem da primeira adaptação de um livro seu para o cinema, dois anos atrás, quando o ator topou fazer o vilão. Com os mesmos gostos para literatura, cinema e para eventos em que podiam só ficar em casa usando pijamas, os dois tinham muito em comum e passaram a conversar mais tempo do que tinham planejado. e Ben tinham uma amizade formal e pública, não era novidade para ninguém no mundo. Fato também que ele era o responsável por sempre apresentá-la para amigos ingleses. Nesse ponto da conversa, desmentiu os rumores de que estaria tendo um caso com Freddy Carter, apesar de sim tê-lo conhecido por intermédio de Ben e sim ter saído com ele algumas vezes. A conversa leve e casual foi tomando um rumo divertido, Jimmy estava bastante interessado e sabia conduzir as perguntas até o lugar exato de resposta que queria ouvir.
E era boa de conversa. Respondia tudo com um toque cômico, provocava Jimmy em certas horas e sempre que podia interagia com a plateia. De trás das câmeras, Lindsay acompanhou a entrevista orgulhosa e muito satisfeita pelo grande sucesso de sua amiga. Estava se saindo muito melhor do que podiam imaginar, parecia uma amiga próxima, de anos, de Jimmy Fallon, como se sentasse naquela poltrona pelo menos uma vez por mês para conversar. Vestindo um conjunto três peças, monocromático vermelho em veludo escovado, com calça de cós alto, um top e um blazer por cima, tinha as pernas cruzadas e estava encostada no sofá, confortável e casual, seu scarpin de salto alto preto destoando das cores da roupa, os brincos compridos igualmente vermelhos balançando de um lado a outro conforme ela gesticulava. Ela estava segura de si, do que tinha a contar e de quem era, e, para Lindsay, aquilo era absolutamente lindo de assistir.
— Bom, e falando em atores, relacionamentos, seus livros — o apresentador bebericou um pouco de sua água, na caneca com o logo do programa — Eu queria te perguntar uma outra coisa.
— Lá vem — ela arregalou os olhos falsamente tensa, tirando uma risada leve da plateia.
— Eu li em algum lugar, sem querer, que você começou sua carreira na escrita com uma inspiração em especial — ele segurou a risada, vendo a mulher rir também, incrédula.
— Ah não — se ajeitou no sofá, negando com a cabeça — Eu não vou falar sobre isso.
— Acho que já se entregou o suficiente com essa negação,
— Eu sabia que me arrependeria de vir nesse programa hoje, eu sabia — a escritora tentou disfarçar, pegando sua caneca e tomando um gole da água.
— Eu tenho certeza absoluta de que não irá se arrepender! Mas, então, é verdade? — Jimmy insistiu, estava curioso para saber aquela informação e, mais do que isso, precisava dela para o que vinha a seguir.
— O que é verdade? — ela se fez de desentendida.
— Que há uma pessoa em especial que inspirava suas histórias no começo? — tentando manter-se sério, Jimmy olhava da mulher a sua frente para a folha em cima da sua mesa.
— Eu não sei — ela seguiu séria, falsamente desentendida, tirando risos baixos da plateia — Talvez um amigo imaginário.
— E se ele tivesse um nome assim, qual seria? — Jimmy deixou um riso escapar vendo lançar-lhe um olhar significativo, mas logo voltou a ficar sério. Ela já estava entendendo onde ele queria chegar.
— Vozes da minha cabeça — tentou explicar séria, mas estava claramente se segurando para não rir — Minha inspiração sempre veio do meu eu interior.
— Eu sei que isso é mentira — ele riu — Mas vamos fazer assim, para facilitar sua confissão: posso tentar adivinhar?
— Manda ver — a escritora estava convicta de que ele não acertaria e ela poderia aproveitar alguma deixa para desviar daquele assunto. Mas foi só ele dar o primeiro palpite para aquele plano ir por água abaixo.
— Ok, ok — ele segurava a risada — Talvez, um pouco de inspiração veio de Teen Wolf?
riu boquiaberta, ouvindo a plateia gritar eufórica.
— Eu te odeio.
— Eu acertei? — ele bateu palma comemorando, enquanto a encarava.
— Não sei — parecia ficar envergonhada.
— Ok, vou continuar — Jimmy pensou por um único segundo, sem esperar pela resposta dela, até continuar: — De Maze Runner, então?
— Já chega! — ela negou com a cabeça, rindo junto com Jimmy e a plateia.
— Bumblebee? — Jimmy ia para frente, apontando para ela empolgado — E… e Amor e Monstros?
— Tudo bem, tudo bem, eu vou contar — fez um sinal para ele parar, com as mãos. Tinha certeza de que Lindsay tinha jogado aquela informação constrangedora para Jimmy e agora o resto do mundo saberia. Mas o que mais sobre já não sabiam? Ela engoliu a vergonha — E vou me arrepender depois, certeza. Mas eu sempre fui muito fã do trabalho do Dylan O'Brien, desde adolescente, e, bom, quando comecei a escrever… — ela passou às mãos do rosto, envergonhada e sorridente — Eu não acredito que vou dizer isso, mas quando comecei a escrever, ele sempre era meu personagem principal. Em tudo. Tipo, em T-U-D-O.
— Tipo uma fanfic? — ele a cutucou um pouco mais.
— Exatamente uma fanfic! — a escritora concordou com a cabeça.
— Ah meu Deus, eu amei saber disso — o apresentador olhou para as pessoas da plateia, animado — E agora, que você tem a chance de fazer adaptações dos seus livros e personagens para o cinema, Dylan ainda está cogitado?
— Definitivamente sim — sorriu, sem nem pensar duas vezes e sem perder a oportunidade de dizer: — Se ele quiser, eu sempre o quero.
Eufóricas, as pessoas da plateia gritaram com a confissão, assistindo Jimmy ir para trás com a cabeça, boquiaberto, enquanto ria alto.
— Bom, vamos perguntar a ele então — Jimmy deu tapa na mesa a sua frente e se virou para uma das câmeras laterais e apontou para o ponto de entrada dos convidados — Senhoras e senhores, Dylan O'Brien.
arregalou os olhos e, no choque, se levantou da poltrona que estava sentada, gritando “o quê?”, rindo, enquanto as pessoas aplaudiam animadas. Pela entrada dos convidados, Dylan vinha feliz, acenando para a plateia que pareceu aumentar ligeiramente sua euforia em vê-lo ali também. Jimmy ria alto da cara de assustada da escritora, os olhos dela vidrados no ator, suas mãos involuntariamente tapando seu rosto vermelho. Usando uma calça preta e um suéter cinza, em linho, ele abriu os braços para assim que a viu de pé, sorrindo abertamente, caminhando na direção dela. A escritora não sabia exatamente como estava se sentindo diante daquilo, mas por um momento se sentiu bem para caralho. Aquele era, definitivamente, o seu momento.
Dylan a abraçou apertado assim que chegou perto o suficiente, a cumprimentando tão animado quanto ela própria estava. O cheiro frutado que emanava dos cabelos dela chamou atenção dele, a risada sutil e um tanto envergonhada em seus ouvidos parecia uma música feliz e reconfortante. Dylan não se lembrava da última vez em que ficou tão animado em conhecer alguém, mas desde aquela manhã quando soube que estava no casting do novo filme baseado em um dos livros de , no livro dela que ele mais amava, seu coração ficou ansioso. Pelo trabalho, com certeza. Por conhecer a autora, definitivamente. E bastou a produção do Tonight Show ligar para saber se ele tinha disponibilidade de fazer uma aparição surpresa para aquele dia ser, em muito tempo, um dos mais incríveis para ele.
— Ainda me odeia? — o apresentador perguntou assim que todos se acalmaram, vendo sentar-se mais perto da mesa dele, dando espaço para que Dylan se sentasse ao lado dela.
— Eu não sei — ela respondeu confusa, tirando risadas dos presentes — Eu não sei mais o que está acontecendo aqui.
— Surpresa — Jimmy abriu os braços — Nós ficamos sabendo hoje cedo que o Dylan está na adaptação de “Nenhuma Nova Linha” (NNL) e quisemos te fazer uma surpresa.
— Espera, você está na adaptação? — se virou para o homem sentado ao seu lado. Dylan sorriu e concordou com a cabeça.
— Você não sabia?
— Não me deixaram ver o casting final — a escritora falou dramática — Eu não acredito, agora tudo fez sentido!
Lindsay havia segurado a lista de atores que fariam parte do novo filme de propósito. De trás das câmeras, a viu mandar beijos no ar para ela, rindo animada por ter conseguido guardar aquele segredo da amiga. A autora não pode participar das audiências para o filme, estava com a agenda comprometida em outros trabalhos nos dias e só ficou sabendo sobre quem havia de aplicado por meio da agente que, claramente, não comentou nada sobre Dylan O’Brien ser uma das pessoas. jurava que poderia morrer de felicidade naquela noite.
— Eu nem sabia que Dylan tinha se aplicado para o papel — sorridente, ela virou-se do ator para o apresentador — Isso foi realmente uma ótima surpresa.
— Acredite, saber que você escreve fanfics comigo também foi — o ator respondeu no mesmo tom de voz animado e surpreso, tirando gritos das pessoas.
— Ai meu Deus, alguém me tira daqui — pediu alto, afundando-se no sofá — Para deixar claro: eu escrevia, no passado, agora não mais.
— Por favor escreva — falsamente desesperado, ele segurou no braço dela — Você é minha melhor oportunidade de ter um emprego pelos próximos anos — riu suavemente junto a plateia, observando o homem virar-se então para olhar o apresentador — Obrigada, Jimmy, por esse presente.
— Eu fico feliz de ser seu presente essa noite — tirando da plateia pequenos surtos, sorriu para ele, o encarando.
— Se me permite dizer o que achei do presente — com o braço apoiado no encosto do sofá atrás de onde a mulher estava encostada, Dylan encarou galanteador, descaradamente de cima a baixo, sorrindo de lado, a vendo assentir com a cabeça para ir em frente. Se bem conhecia ele, sabia que o que estava prestes a vir: — Acho que veio embrulhado demais.
— APAGUEM AS LUZES — Jimmy gritou animado, aplaudindo o momento enquanto os dois riram.
Brincadeiras à parte, e apesar de todo o momento descontraído, a entrevista seguiu com os dois contando mais sobre o filme que viria aí. contou a parte mais geral da história, suas inspirações e os detalhes que podia dar para divulgar o projeto, enquanto Dylan falou de seu personagem e da preparação que teria que enfrentar para fazê-lo nas telas de cinema. No final, como já tinha passado algum tempo conversando com , o apresentador focou-se brevemente nos trabalhos mais recentes de Dylan e os convidou para participar da segunda parte do programa, jogando Musical Beers.
Levados até um anexo do estúdio, ao lado de onde a entrevista do programa foi gravada, e Dylan foram posicionados ao redor de uma grande mesa redonda. Sobre ela, estavam distribuídos quatro copos vermelhos com cerveja dentro, um em cada lado. Ao fundo do local, apenas há alguns passos de distância da mesa, em uma cabine elevada, um DJ esperava pelo jogo começar enquanto Jimmy chamava outras pessoas para completar o jogo: , que também tinha sido confirmada no elenco de “Nenhuma Nova Linha” e a atração musical daquela noite, a cantora , quem tinha acabado de lançar um novo single com videoclipe.
Os quatro participantes se cumprimentaram animados e ouviram o apresentador explicar-lhes como o jogo funcionaria. Enquanto o DJ tocava a música, os cinco deveriam caminhar ao redor da mesa e, assim que a música parasse, todos deveriam pegar um copo e tomar a cerveja dele. Como havia um copo a menos do que o número de participantes, alguém ficaria sem e seria desclassificado do jogo. A cada rodada, uma pessoa saía e, com ela, um copo de cerveja era retirado da mesa. O jogo não demorou mais do que dez minutos para acabar, mas foi o suficiente para que eles se divertissem e tirassem novas risadas da plateia. foi a primeira eliminada, seguida por Jimmy, e, enfim, , dando a vitória no jogo para Dylan.
O apresentador agradeceu a presença deles, os cumprimentando com abraços calorosos e entrou, enfim, com a atração musical da noite, , que cantou ao vivo uma das músicas de seu novo álbum. Animado em trabalhar pela primeira vez junto com a escritora e, uma vez mais, com uma de suas amigas, Dylan as convidou para jantar em um restaurante ali perto, tentando carregar seus agentes junto. tinha acabado de chegar de viagem, direto para o programa, e indisposta, não conseguiu acompanhá-los. também não pode ir, porque estava de viagem para o México naquela mesma noite, e, os agentes, Lindsay e Brandon, percebendo que cada vez menos pessoas se juntariam a eles no jantar, também deram desculpas e não foram. e Dylan jantaram juntos, sozinhos, pela primeira vez naquela noite.
Tudo tinha sido incrivelmente casual, natural e bastante informal. Dylan e tinham jeitos muito parecidos de conduzir conversas e pareciam bastante confortáveis na presença um do outro, embora aquela fosse a primeira vez que estivessem juntos. Tudo fluiu tão bem que algumas partes do programa rodaram em vídeos pela internet durante semanas e o público parecia cada vez mais animado em ter qualquer outra oportunidade de vê-los juntos outra vez. Dylan passou a seguir nas redes sociais no dia seguinte ao programa, horas depois que a deixou em casa de volta do jantar. Sem querer dar mais falatório do que as fotos deles saindo juntos do restaurante já estavam dando, a escritora esperou alguns dias até o seguir de volta.
Seis meses se passaram desde então.
E o encontro inesperado dos dois se tornou proposital com o tempo. Dylan estava entrando na fase preparatória para o papel na adaptação do livro de e, com isso, tinha sempre uma boa desculpa para vê-la. De entender melhor a essência do personagem até treinar algumas falas com ela, em cafés casuais e entre taças de vinho em dias chuvosos, na casa dele ou na casa dela, eles foram se aproximando, se conhecendo e se conectando cada vez mais. Foram abrindo suas vidas como quem abre uma porta com receio, lenta, cuidadosamente, sem grandes pretensões no começo e com um mundo de possibilidades no final. A verdade era que, apesar do tempo que passavam juntos, nenhum dos dois tinha visto o outro como um amigo em potencial. Desde o começo tinham certos interesses em comum, só não tinham coragem de assumir um para o outro, porque nunca achavam que era a hora certa.
Entre flertes que mais pareciam brincadeiras e carinhos disfarçados de amizade, nem nem Dylan sabiam exatamente o que acontecia entre eles. Não conseguiam ver com clareza o que o outro estava fazendo, não conseguiam decidir se havia um próximo passo a ser tomado ou se só estavam inventando coisas em suas cabeças. Aquela confusão toda de sentimentos gerava tanta insegurança neles que mal conseguiam conversar sobre o assunto, não fosse com amigos próximos de um e de outro, isoladamente.
Como um bom idealista e um romântico de carteirinha, Ben achava que deveria dar uma chance a si mesma e a Dylan, e se permitir sentir o que quer que ela estivesse sentindo por ele, sem amarras. Mas Lindsay achava arriscado. Primeiro porque tinha saído há pouco menos de um ano de um relacionamento de longa data que, por mais amigável que tenha terminado, ainda assim a tinha deixado mal. Depois porque Dylan era, justamente, alguém que ela teria que trabalhar, e por isso conviver, pelos próximos meses e não seria fácil lidar com essa proximidade caso fosse um tiro em falso. Entre os conselhos que ouvia de Ben Barnes, alguém que vivia chorando e escrevendo músicas para a ex-namorada mesmo dois anos depois do término, e Lindsay, uma mulher forte e racional, era melhor seguir a amiga.
Não era incomum ver manifestações públicas de carinho entre eles. Haviam dezenas de fotos dos dois andando juntos, indo comer, correr ou mesmo a caminho de reuniões referentes ao filme. Sempre sorrindo, brincando um com o outro, dividindo a mesma bebida ou o mesmo sorvete, sempre amáveis com os fãs e até arriscando postar fotos e vídeos tirando sarro ou mostrando um pouco mais do dia a dia que compartilhavam. Mas a internet começou a ir abaixo mesmo, nas últimas semanas quando descobriram, por uma foto que postou em seu Instagram, que ela estava vestindo um moletom de Dylan e dias depois, quando ele postou em seu Twitter um vídeo dela dormindo no sofá de sua casa, abraçada com o cachorro dele, Tony. E tudo começou a parecer para os fãs, de repente, íntimo demais para serem só dois amigos.
Nenhum dos dois, contudo, comentou qualquer coisa sobre aquilo um com o outro. Fingiam que não viam as marcações e fotos, ignoravam fãs que eventualmente os encontravam nas ruas e perguntavam sobre eles. Se faziam, literalmente, de sonsos a ponto de fingirem surpresa quando viram uma hashtag com um nome de casal, de shipper deles, entrar nos trending topics do Twitter - e trocarem tuítes usando a tag e emojis de coração, marcando um ao outro, sem dizer nada mais. Apesar disso, Dylan lia em segredo o máximo de comentários e análises dos fãs que conseguia, na internet, tentando se apegar a qualquer sinal mínimo de que, se quisesse ser mais do um amigo de , ela também corresponderia.
Tinha que ser paciente, mas talvez, só talvez, tivesse que criar mais oportunidades de entender o que realmente acontecia entre eles. E na trigésima semana depois que se conheceram inesperadamente, deitado na cama de um quarto espaçoso e luxuoso do hotel que tinha acabado de entrar em Londres, cheio de insônia pelo jet lag, ele decidiu dar o primeiro passo.
Dylan O’Brien
@dylanobrien
@dylanobrien
Boa noite, .
Acho que já queria te ver...
😞😞😞
Foi a mensagem que ele enviou, depois de tê-la apagado três vezes, incerto se deveria mesmo ser tão direto. Fazia pouco mais de três semanas que a tinha visto pessoalmente e, desde então, estavam se falando todos os dias apenas por mensagens e vídeo chamadas. Cada um deles teve que cumprir agenda em um lugar diferente e, pelas próximas cinco semanas, ainda se desencontrariam - deveria estar em um programa de culinária na Louisiana, provavelmente para fazer pratos inspirados em seus livros como parte da divulgação de seu trabalho, e Dylan participaria de um reality show da Netflix, a ser gravado em Londres.
Ao vivo, em tom de brincadeira, ele já tinha dado indiretas de que estava com saudades dela, mas as respostas de no mesmo tom o faziam ficar confuso se ela também estava ou se só estava brincando. Dizer assim, por mensagem, parecia mais sério, um tom que talvez nenhum deles dois ainda estivesse confortável em usar. E se ela entendesse errado? Mas o que tinha de errado naquilo? Dylan bufou. Se sentia um pré-adolescente apaixonado por uma garota pela primeira vez na sua vida, inseguro e vulnerável, era ridículo. Ele parou por um instante pensando naquilo. Apaixonado? Será?
Afastando os pensamentos antes que eles se formassem de vez, Dylan esperou alguns minutos, encarando a tela do celular com a conversa aberta, até se tocar de que estava em outro fuso-horário. estava seis horas antes do que ele, talvez estivesse ocupada demais, possivelmente jantando, enquanto ele deveria estar dormindo. No dia seguinte teria que se apresentar na gravação inaugural de um reality show, era melhor estar descansado. Dylan deu uma última olhada na conversa, mas, antes mesmo que pudesse bloquear o telefone para novamente tentar dormir, ele leu a mensagem com um sorriso aberto no rosto:
Dylan O’Brien
@dylanobrien
@dylanobrien
Boa noite, .
Acho que já queria te ver...
😞😞😞
Chego em Londres em 7 horas.
Amanhã te conto a confusão que a Lind fez, mas basicamente o programa que vou participar não é na Louisiana, mas sim em Londres - quem confunde isso?
Boa noite, por aí.
Saudades de você :) x
A Amiga de Um Amigo
A noite em que fez uma breve participação especial no Tonight Show também foi, para , um momento de grande mudança em sua vida. Ainda não seria ali seu marco do feliz encontro inesperado, mas, de certa forma, se não tivesse ido naquela noite, naquele programa, talvez tudo fosse diferente.
nunca foi de acreditar na linha vermelha da vida, que, supostamente, conectava todas as pessoas do mundo e as faziam se encontrar quando fosse a hora certa de seus encontros ou as afastavam quando assim fosse o momento. Achava o discurso bonito, sim, mas não parecia real para ela. O destino era só uma ideia, não se concretizava na maior parte das vezes, não era tangível. Mas em alguns momentos de sua vida, diante de alguns fatos e acontecimentos, ela se questionava se não estava realmente no momento exato, no local exato, diante das pessoas exatas. E olhando em retrospecto, parecia fazer algum sentido - ao menos naquela manhã, depois de ver aquela notícia.
As gravações de Nenhuma Nova Linha, ou só NNL, começaram poucas semanas após a participação de Dylan, e no programa de Jimmy Fallon. O prazo para filmagens era curto e todos os detalhes já tinham sido estipulados pela equipe de roteirização, direção e produção, uma vez que alguns atores já estavam cotados para outros trabalhos e, como se tratava de uma adaptação, pouco deveria ser mudado da obra original. Todo o elenco precisou se reunir algumas vezes para apresentação do roteiro, dos personagens, para saber mais sobre o livro e quais detalhes realmente seriam mantidos na adaptação para o cinema e isso os tinha dado um tempo bom para se conhecerem melhor e se conectarem uns com os outros.
A história do livro a ser adaptada para o cinema foi escrita por dois anos antes e, desde sua publicação, era um dos best-sellers internacionais mais cobiçados, que não saia das vitrines das livrarias mundo afora. Refletindo sobre as diferentes perspectivas do amor, a obra era simples, intensa e muito verdadeira. Exigiria dos atores muita conexão emocional e um preparo intenso para mergulhar em longas cenas de reflexões, aprendizados e sentimentalismo, em takes individuais, leves e um tanto dramáticos. estava animada em fazer parte daquele projeto. Tinha lido o livro e se apaixonado por ele, seria ótimo dar vida a uma das personagens mais seguras e complexas da história. Ela já tinha um nome sólido na Academia como uma atriz referência em drama e romances profundos, teve passagens recentes em séries de ação e de ficção e até se aventurou em um musical que lhe rendeu um Globo de Ouro, mas adaptar um livro ao cinema ainda era novo e muito, muito, animador.
A obra contava a história de uma escritora em ascensão, Nelle, que precisava desenvolver um livro de romance, mas colecionava inúmeras decepções amorosas em sua jornada, o que dificultava o processo de escrita. Pressionada por sua editora, que ameaçava quebrar o contrato de anos com ela, Nelle encontra a solução quando sua amiga e assessora, interpretada no filme por , propõe que ela vá ao encontro de seus ex-namorados para reviver a trajetória que a fez apaixonar-se por eles e entender como o amor se dava para ela.
Revivendo cada um dos três antigos amores, ela embarca em uma jornada individual sobre suas percepções de vida e de amor-próprio, até se ver sozinha viajando pela Europa, onde conhece um casal de senhores em sua segunda lua de mel, com quem aprende mais sobre relacionamentos, companheirismo e sobre se apaixonar diariamente pela mesma pessoa, por tantos anos. O casal estava indo em encontro ao filho primogênito, William, interpretado por Dylan no cinema, que vivia na Itália. Nelle se apaixonou perdidamente pelo seu jeito carinhoso, gentil e sedutor, dando luz ao clichê do amor à primeira vista, que nunca era velho demais para se querer repetir a dose. Entre confusões e muito autoconhecimento, Nenhuma Nova Linha reforçava a importância do amor na vida de qualquer ser humano e, mais do que isso, traçava paralelos entre reconhecer esse sentimento com a trajetória de uma vida inteira de diferentes emoções.
tinha participação em boa parte do filme, já que era fiel escudeira da personagem principal, enquanto Dylan aparecia mais para o final da obra. Apesar disso, focado e responsável com os papéis que assumia, o ator decidiu que ficaria presente no set de filmagens durante todas as gravações, com a desculpa de que queria entender melhor o contexto completo para que pudesse entregar seu personagem o mais fiel possível ao descrito pelo livro. Sem entender exatamente a real intenção por trás daquilo - se era para realmente acompanhar a produção, fazer conexões mais naturais com os outros atores ou simplesmente ficar próximo de , cuja proximidade havia aumentado nitidamente depois que se encontraram no Tonight Show -, a produção do filme permitiu a participação recorrente de Dylan no set, o que também agradou, e muito, .
A amizade entre e Dylan aconteceu de forma natural e até comicamente. Alguns bons anos atrás, antes de todo sucesso e da fama, conseguiu uma bolsa para estudar na Divisão de Drama da Juilliard School, em Nova York e, como parte de sua matriz curricular obrigatória, tinha que acompanhar o andamento de alguns projetos cinematográficos e, especialmente, o trabalho de algum ator ou atriz. Como uma espécie de estágio, ela foi designada para as gravações de Teen Wolf e acompanhou por um quadrimestre a dramaturgia, justamente, de Dylan O’Brien. Na época, o ator recém-descoberto começava a ganhar popularidade e a chamar atenção da Academia e, no sorteio feito pelo professor, acabou tendo que o acompanhar.
De início, a relação deles era puramente profissional. Não tinham muitos contatos pessoais e, ironicamente fechada como só ela, a estudante de artes cênicas, pela primeira vez em um set de filmagens, tinha receio de como poderia ser tratada por um jovem ator em ascensão. No final do quarto mês, contudo, muito diferente de quando tudo começou, e Dylan já estavam bastante confortáveis um com o outro. Os meses que passaram juntos, apesar de poucos, foram intensos. A estudante acompanhava o ator quase todo o dia e, para além do amor pela profissão que ambos começavam, foram descobrindo um no outro que tinham muito em comum.
Dylan foi o responsável por conseguir a ela a primeira audiência, que deu a a primeira oportunidade de atuar em um filme assim que saiu da faculdade. A partir daí, tomando caminhos diferentes, em estados diferentes e com trabalhos diferentes, se encontravam muito eventualmente e quase não mantinham contato, exceto pelas ligações e mensagens eventuais que trocavam. Eram, um para o outro, pessoas que se conheciam, que se davam bem, que se gostavam muito, que pareciam se ver sempre quando se encontravam quase nunca. Mas o cenário mudou, definitivamente, quando foram, os dois, aceitos para trabalhar em NNL, a primeira vez que atuariam juntos. E desde que haviam se reencontrado no Tonight Show, a amizade que nunca teve espaço suficiente para acontecer até ali, feliz e finalmente, encontrou um jeito de florescer.
O ator era o mais palhaço possível e estava sempre fazendo brincadeiras, pregando peças, dando sustos ou performando músicas que cantava pelos corredores. Entre uma filmagem e outra, como duas crianças extremamente animadas por estarem ali, os dois compartilhavam memes, tomavam café, estudavam juntos os roteiros, gravavam vídeos performando coisas aleatórias e, às vezes, se provocavam tanto na brincadeira, que era insuportável ficar perto.
Juntos, enchiam o set de gargalhadas altas e tumultuavam tanto o ambiente que nenhum dia pareciam que estavam trabalhando. Entre a performance de Wannabe (Spice Girls), que viralizou na internet, as histórias que contavam e as piadas que trocavam, a amizade deles foi organicamente se consolidando mais e mais. Tudo acabava se tornando muito engraçado, tudo era leve, natural e muito sincero.
Para a atriz, aquele projeto não apenas a tinha dado novamente, de presente, um amigo como nenhum outro, mas a tinha feito conhecer uma das melhores pessoas que poderia encontrar no mundo. , a escritora, passava muitas horas do dia com , a instruindo como seguir com a personalidade de sua personagem no filme, contando sobre suas histórias e ouvindo dela sobre as histórias que ela tinha a contar. Não demorou muito para que conseguissem se identificar e se aproximar. Saiam juntas eventualmente e, a tempo de divulgar o filme, quando não estava com Dylan nas entrevistas, amava ser selecionada para fazer dupla com . Era um trio. E tanto.
Apesar de ser muito expansiva, animada e amável com todos ao seu redor, se abrir para novas amizades era algo recente para , que demorava para confiar verdadeiramente nas pessoas e considerá-las suas amigas. Talvez pelo meio em que estava acostumada a viver, imersa em uma multidão de pessoas que tinham interesses fúteis e muito superficiais nela, relacionamentos em geral eram um desafio para a atriz. , contudo, a transmitia segurança, companheirismo e carinho, ainda que da forma dela, uma forma bem parecida com a de Dylan, cheia de informalidades e muitas piadinhas. O ambiente naturalmente tóxico parecia ficar ligeiramente mais agradável com eles por perto e, no tempo em que passaram juntos, ia aprendendo a confiar, ia se permitindo ser quem era e a se abrir como fez com poucas pessoas em sua vida. NNL foi um presente para ela, em muitos sentidos.
Quatro meses depois do Tonight Show, do marco zero de nossa história, era uma sexta-feira. Como qualquer manhã de sol, corria pelo Upper East Side, bairro em que morava há pouco mais de cinco anos. Seus fones de ouvido no volume mais alto tocavam músicas eletrônicas altas e os óculos de sol preto combinando com o boné da Nike tinham a função de fazê-la passar despercebida por onde corria, como se aquilo fosse o suficiente. Ao redor dela, metros de distância e sem sequer se aproximar de fato, meia dúzia de paparazzis a acompanhavam, sedentos por qualquer que fosse a foto que poderiam vender mais tarde. Imagens da atriz correndo, contudo, não eram novidade, um exercício constante somado às horas de treinamentos físicos diários que fazia desde que foi escalada para viver a Kristen Ortega de Altered Carbon, a série gravada e estreada entre 2017 e 2018. Desde então, os filmes de ação se tornaram um convite constante e manter a força era “essencial para se encaixar nos papéis", como sempre reforçava Noah, seu agente, quando ela reclamava dos exercícios.
Além disso, e apesar de não ser a maior fã do mundo fitness, correr era um exercício de conexão com seu mundo interior. gostava de passar um tempo sozinha, todos os dias, longe da histeria e das multidões que pareciam ir aonde quer que ela estivesse. Um ponto importante e essencial para sua carreira, sim. Ela sabia que a partir do momento que escolheu fazer o que fazia, estar sempre rodeada de pessoas era uma consequência imediata. Mas, apesar de se divertir e ser a pessoa mais fofa do mundo com seus fãs, cumprimentar os paparazzis e amar os eventos para os quais era convidada a participar, a atriz sempre foi do tipo mais reservado, que gostava de preservar certos espaços pessoais e não se deixar levar pela vida absurdamente pública.
não gostava de se expor. Sua vida pessoal era um mistério, o que vinha a público sobre ela, para além dos trabalhos que fazia e dos eventos que participava, eram informações pescadas por paparazzis e especulações de fãs nas redes sociais. A famosa artista low profile, com fotos de viagens, indo para a academia, carregando seu café por aí ou aparecendo despretensiosamente em fotos que outros artistas postavam em suas redes. Em todos aqueles anos de fama, desde quando saiu da Julliard, o maior escândalo da atriz, talvez, foi ter aparecido em fotos beijando Liam Hemsworth em uma praia na Austrália algumas semanas depois dele ter se divorciado. era a discrição em pessoa. Reservada, sabia separar sua vida particular de sua vida pública, mantinha tudo sobre si mesma em sigilo, sob seu controle. O único traço dela que, apesar de respeitar, Noah ainda queria ligeiramente mudar.
Quase uma hora e meia de corrida depois, exausta, ela seguia imersa em seus pensamentos, tentando organizar o que tinha para fazer naquele final de semana e repassando mentalmente algumas falas que tinha decorado na noite anterior para NNL. E como se soubesse que ela estava, justamente, pensando naquilo, seus fones de ouvido interromperam a música animada que tocava, sinalizando em seguida que uma ligação entrava. olhou de relance para a tela de seu celular, preso em um suporte esportivo na parte interna de seu braço esquerdo e sorriu ao ler o nome que aparecia.
— Oi, Maluma — ela disse animada, ouvindo Dylan bufar do outro lado da linha.
— Você não esquece isso, que inferno — ele respondeu prontamente, desejando que ela o pudesse ver revirar os olhos. Desde que precisou pintar o cabelo de loiro, a amiga vivia dizendo que ele tinha ficado parecido com o Maluma.
— Ninguém mandou você pintar o cabelo de loiro.
— Eu te odeio, .
— Se me odiasse não estaria me ligando nessa hora — ela reduziu o ritmo da corrida, arfando, vendo no relógio de pulso ser perto das dez e meia da manhã — Vai me dizer que está ligando porque já está de volta em Nova York?
— Precisamente na porta do seu apartamento, cheguei agora há pouco de Londres. Onde você está? — Dylan saia do elevador, vendo a enorme porta do apartamento luxuoso da amiga à frente.
— Correndo — ela acenou sorrindo para um casal próximo, que acenavam contentes em vê-la passar por eles.
— Corra de volta para casa, então, seu cachorro está destruindo o sofá — a voz de Dylan pareceu distante, os latidos do cachorro sendo ouvidos no fundo.
— Isso é uma grande mentira! Ollie não faria isso, ele é instruído, diferente de você — Dylan pareceu nem sequer ouvi-la.
— Olivier, desce daí — segurando o celular no ouvido, Dylan puxava o Pug gordinho de com a outra mão, o impedindo de morder uma das almofadas do sofá.
— Espera — ela parou de correr por um minuto — Como conseguiu entrar na minha casa? — sem ter uma resposta breve, ela gritou — DYLAN!
— Estou aqui, salvando seu sofá, garota, espera — puxando o cachorro para seu colo, ele então se jogou sentado no sofá da amiga e apoiou os pés na mesa de centro — Cadastrei minha digital na sua fechadura da última vez que você bebeu demais e tive que te trazer embora.
— Você é muito folgado — voltou a caminhar, sentido sua casa.
— Eu te salvo e ainda sou folgado — Dylan a repreendeu falsamente, encarando o cachorro aconchegado em seu colo — Sua mãe é muito mal-agradecida, Ollie, ainda bem que você puxou o pai.
— Ele não tem um pai.
— Ah, nossa, que bom que puxou esse assunto porque, falando nisso, vamos sair hoje — completamente do nada, propositalmente induzindo a conversa para aquele assunto, Dylan comentou casual. respirou fundo, conhecia o jeito do amigo, lá vinha bomba.
— O que uma coisa tem a ver com a outra? — voltando a correr calmamente, de volta para casa, ela não demoraria mais do que alguns minutos para chegar.
— Você está cheia de perguntas hoje, né? — questionou o ator e, então, fez uma pausa dramática, mas como não obteve resposta de , continuou — Vamos sair, porque caso você não saiba, o que acho difícil, pois sou super popular e meu nome está em todo lugar agora — a atriz, do outro lado da linha, não pode deixar de rir — sou o novo ex da Taylor Swift e preciso comemorar.
— Desde quando você e Taylor Swift estão saindo? — ela parecia realmente surpresa.
— Desde o dia em que ela deixou o cachecol na casa da minha irmã — cantarolou Dylan uma parte da música All Too Well da cantora, mas não obteve nenhuma resposta da amiga — Não sei se devia me sentir magoado, por você não acompanhar meu trabalho, ou dar risada da sua cara por acreditar que eu teria mesmo uma chance com a Taylor Swift.
— Eu acredito nas coisas que você me fala — revirou os olhos — E esse é o meu maior erro.
— Fico feliz por te passar tanta credibilidade — ele riu.
— Dylan, foco! Eu não consigo acompanhar essas referências de fanboy — bebeu um pouco de água da garrafa que carregava e dobrou a esquina da rua de sua casa.
— Pelo visto, temos muita coisa para conversar mesmo, mas vou te adiantar: — o ator emitiu um som como se fosse fazer um grande anúncio — vou ser o protagonista do novo clipe da Taylor Swift.
— É SÉRIO? — ela gritou animada. Apesar de bonito e muito carismático, Dylan estava tendo certa dificuldade de conseguir papéis nos últimos anos, mas aquele cenário parecia estar mudando, finalmente. Merecia ser mais reconhecido — Isso é incrível, Dy.
— Sem brincadeira alguma dessa vez — Dylan parecia orgulhoso de si mesmo.
— Você tem noção de que estará num clipe de uma das maiores artistas do século? Se prepare para chover trabalhos e, bom, fãs te assediando.
— Me sinto pronto — ele respondeu seguro, fazendo rir — Você já pode dizer que é amigo de uma estrela, .
— Juro que queria entender como você consegue ter um ego tão grande para alguém com apenas 1,78 de altura. Favor controlá-lo para não encher toda a minha casa, já estou chegando — Dylan se ajeitou ainda mais no sofá com Ollie deitado ao lado de seu peito quando ouvir a trava na porta abrir-se.
— SURPRESA!!!! — assim que viu a amiga entrar, tirando os óculos de sol e o boné, enquanto deixava os tênis do lado de fora, na porta, totalmente acabada pela corrida, o ator gritou levantando os braços, no sofá, assustando ligeiramente o cachorro e fazendo revirar os olhos.
— Seria uma surpresa se você não tivesse literalmente invadido meu apartamento, Dylan — jogou as coisas que carregava sobre a mesa e, fazendo um hi-five com o amigo assim que passou por ele, colocou os pés de Dylan para o chão, se sentando ao lado do amigo. — Agora, por gentileza, será que o Maluma poderia me contar o real motivo de termos que sair?
— Vamos comemorar meu novo trabalho, é isso — ele deu de ombros.
— E você precisou mesmo invadir minha casa para me convidar para sair por esse motivo? — levantou as sobrancelhas. Dylan odiava o fato dela ser esperta. Ele respirou fundo.
— me chamou para sair hoje.
— É por isso que você está se escondendo no meu sofá? — ela o olhou divertida — Tudo fez sentido agora.
— Primeiro, não estou me escondendo, ainda — ele abaixou o tom de voz na última palavra — Segundo, você também vai.
— Nem fudendo! — a atriz respondeu alto demais — Segurar a vela de vocês? Estou fora, obrigada.
— É aí que você está errada, minha amiga, não tem vela nenhuma, porque somos amigos. A-M-I-G-O-S, e também porque ela vai levar um amigo próximo que está na cidade trabalhando por algumas semanas.
— Nananina não, sem essa — a atriz disse levantando-se e indo para cozinha, Dylan continuou na mesma posição, apenas colocou os pés de volta na mesa de centro — Você e , amigos? Depois do vídeo no Twitter essa desculpinha não cola mais, meu querido. E que história é essa de levar um amigo? Está querendo me arranjar alguém assim do nada?
— Muitas perguntas, , muitas perguntas. Você virou jornalista agora para ficar fazendo tantos questionamentos?
— Se você está fugindo de todos eles é porque tem alguma coisa errada aí.
— Tem sim, um amigo que quer juntar suas duas melhores amigas para conversar e jantar. Isso é um crime agora? — Dylan fez drama e olhou com as sobrancelhas arqueadas para que estava escorada no batente da porta da cozinha, segurando um copo com água.
— Meu Deus! Quando você vai parar de ser dramático desse jeito? — ela revirou os olhos.
— Quem faz drama aqui, e muito bem-feito, é você — ele a provocou de volta — Tem até um Oscar por isso, inclusive.
— Que vou usar para te agredir já, já, se não falar sério — ela apontou para o ator.
— Credo, violenta — Dylan pareceu falsamente amedrontado, tirando da amiga uma risada baixa.
— E esse tal amigo que vai com ? Que papo é esse? — perguntou falsamente casual, tomando um gole de sua água. Estava curiosa.
— O homem que a vai levar é meramente um enfeite — o ator explicou rápido — Ele está hospedado na casa dela e não pode deixá-lo sozinho, seria falta de educação deixar um convidado em casa enquanto sai com os melhores, mais talentosos, lindos e gostosos amigos que ela tem na vida.
— Dylan… — o repreendeu, parecendo não gostar muito da ideia.
— Acabei de te fazer um elogio e você me trata assim, ? — Dylan colocou a mão no peito como se tivesse ofendido. — Está cada dia mais difícil manter essa amizade.
— Já pode parar de atuar, Maluma, não tem nenhuma câmera aqui — o ator revirou os olhos não aguentava mais o apelido — Eu não sei, não, está soando uma roubada e tanto. Não vou ficar de vela de vocês.
— Não tem vela, porque não temos nada, — Dylan suspirou, negando com a cabeça.
— Não têm, porque você não tem coragem de assumir que é a fim dela — cirúrgica, o encarou — E pode usar o jantar de hoje para isso. Estou fora.
— Sem chances! — ele desesperou-se, falando tudo muito rápido — Não tem contexto e eu não estou certo do que ela sente por mim. Não é o momento e eu estou implorando sua ajuda para não me deixar sozinho nessa situação. É isso — ele fez um biquinho fofo, quase convencendo a amiga que o olhava sorrindo.
— Essa parte entendi — pensou — Mas me dê um bom motivo para ir ao tal jantar.
— Vamos ir comer num lugar diferente, eu e vamos estar lá e vai ter uma pessoa nova para você conhecer — ele listava os motivos nos dedos, olhando a amiga — Qual é, , vai ser legal. E você precisa conhecer pessoas novas, está encalhada.
— Eu juro que não ouvi isso — bufando, ela virou-se de costas para ele e foi para a cozinha.
Dylan riu sozinho, baixo, sabendo que tinha jogado sujo, porque aquele era um tema sensível. não saiu muito bem do último relacionamento. O cara ficou com ela por um ano, vivendo o sonho e o romance que tanto queria, para, no final das contas, chegar um belo dia e dizer que achava ser melhor serem só amigos, pegado suas coisas e ido embora. Literalmente foi embora, mudou-se de país e nunca mais a procurou para nada. A mulher sempre teve dificuldades de confiar nas pessoas e, depois disso, pareceu ter se fechado completamente para relacionamentos sérios. Se fosse para sofrer o que sofreu, se fosse para terminar sendo só a amiga no final das contas, que ela só pegasse quem tivesse interesse de pegar e não criasse ali raízes muito profundas.
E era o que vinha tentando fazer desde então. Mas aquele não era, definitivamente, o seu jeito. E apesar de ter saído com outros homens, como aconteceu com Liam Hemsworth e, mais recentemente, com Richard Madden, algo parecia a segurar depois de algum tempo que já os estava vendo e, sem querer, talvez, se afastava deles antes que pudesse de fato se envolver. Não cairia mais no conto de fadas de um amor ideal, porque sempre, em alguma medida, alguém magoava e alguém saía magoado da história. Não queria mais passar por aquilo.
— Ouviu sim — Dylan continuou falando, mais alto para que ela pudesse ouvir, indo em direção a cozinha — Precisa conhecer alguém decente com quem possa ficar mais de um mês.
— E o que te faz pensar que esse amigo de é essa pessoa? — perguntou virando-se para ele assim Dylan apareceu no batente da porta.
— Acredite quando te digo: ele é essa pessoa — ele parou por um momento e deu de ombros — Pelo menos, passou no meu teste de qualidade para você.
— Bendita hora que fui encontrar você nessa vida — ela olhou para o céu, como se pedisse forças.
— Por favor!
— Você não tinha que me meter nisso só porque quer ver a , Dylan.
— É só um jantar.
— É um encontro arranjado.
— Se quiser chamar assim, tudo bem — ele deu de ombros outra vez — Mas eu não disse que seria.
— Mas é o que é.
— Não é, — se aproximando dela, ele segurou seus ombros — É só você pensar que vamos sair para celebrar meu novo trabalho, fim.
— O que é uma mentira, porque você está claramente usando isso como desculpa só para ver — ela falou pausadamente.
— Talvez — ele assumiu baixo, chacoalhando a amiga pelos ombros — Mas isso não quer dizer que você vai estar de vela, porque vai ter uma outra pessoa lá. E é bem bonitão.
— Bonitão? — ela repetiu na mesma entonação dele. Sem aguentar a cara que ela fez, Dylan riu alto — Meu Deus, que desastre.
— Desastre é você perder essa oportunidade, vai por mim, .
— Não vai me deixar em paz até eu aceitar, não é?
— Não.
— Que horas vai ser?
— Isso quer dizer que você vai? — Dylan levantou a voz, como uma criança animada, uma vez mais acordando Ollie na sala.
— Não sabia que você queria tanto assim sair comigo — a atriz disse pegando seu celular — Mas, sim, ok, eu vou.
— Sabia que dizer que ele era bonitão iria te convencer — ele abraçou a amiga animado, tirando ela uma risada.
— Se for terrível, eu vou reclamar o resto da vida e você vai ter que ouvir — o abraçou de volta, logo o vendo voltar para a sala, cheio de entusiasmo.
— Posso lidar com isso. Esteja pronta às 20h, passo aqui para te pegar — Dylan pegou as chaves de seu carro que haviam caído no sofá e foi quase que correndo em direção a porta para que não desse tempo para a amiga desistir — Por favor, não me faça passar vergonha, seja instruída que nem o seu doce Ollie — antes de sair completamente da casa, o ator viu colocar o dedo do meio para ele e gritar:
— Você que vai pagar, estou avisando.
Ben Barnes estava em Nova York há poucos dias. Como embaixador da marca, tinha ido para a cidade para fazer uma sessão de fotos para o lançamento de Uomo, o novo perfume de Salvatore Ferragamo e, aproveitando a deixa, decidiu visitar . Eram amigos fazia anos, desde quando ele atuou em uma das adaptações de um dos livros dela. Os dois eram opostos complementares, o que o ator tinha de introspectivo, reservado e discreto, a escritora tinha de expansiva, era mais falante e gostava de manter sua vida pública. Apesar disso, se davam absurdamente bem, de uma forma leve e natural, e se tratavam feito irmãos, já que a diferença de idade entre eles fortalecia esse sentimento. Mantinham contato diariamente por mensagens, atualizando um ao outro sobre seus novos projetos e o que mais estavam trabalhando, fazendo fofocas ou só checando como as coisas estavam indo e, sempre que os dois estavam nos EUA ou na Inglaterra, davam um jeito de se encontrarem. O ator tinha ficado muito animado em saber sobre a nova adaptação do livro de , o novo filme, pois sabia da importância da obra para a amiga e havia a lido em primeira mão assim que ela terminou de escrevê-la.
Ben não ficaria muito tempo na Big Apple. Precisava voltar para Londres rapidamente porque estava empenhado em finalizar o desenvolvimento de seu primeiro projeto musical, que contava com singles inéditos, e dois videoclipes. Aquele era o seu primeiro passo para uma carreira também de cantor e Ben estava absurdamente animado e dedicado em dar o melhor de si. Dava atenção a outros trabalhos e cumpria as agendas que estava comprometido, mas, sempre que podia, priorizava a realização daquele sonho.
O apartamento de em Nova Iorque era bastante diferente da casa gigantesca que ela tinha em Los Angeles. Dividindo a vida lá e cá, a escritora passava alguns meses do ano em um lugar e outros no outro, tinha se acostumado a ter dois lares. E para Ben, aquele era o melhor cenário possível, pois sempre que tinha trabalhos nos Estados Unidos, e geralmente em Nova Iorque ou em Los Angeles, já tinha onde ficar hospedado. As casas de eram como se fossem dele, se sentia confortável e pertencente, assim como ela quando precisava de um abrigo em Londres.
Durante os dias, como a escritora estava quase sempre dentro de sua biblioteca escrevendo, dando entrevistas ou em reuniões, assim como Ben, que sempre tinha agendas absurdamente lotadas quando estava de passagem pelo país, eles aproveitavam das noites para conversar sobre o dia que tiveram, bebendo vinho, ouvindo música, rindo das besteiras que contavam. Ainda, Ben gostava de tocar algo no piano que tinha próximo a sala de seu apartamento, de onde podia ver o Central Park, e que, segundo ela, tinha vindo junto com parte da mobília do local - uma explicação razoável para o fato de ter um instrumento daqueles, já que música não era uma área que ela dominava, a não ser por toda a discografia de Frozen, uma trilha sonora que ela conhecia muito bem.
— Se alguém mais me falar qualquer coisa com a palavra "prazo" hoje, eu juro que vou ser obrigada a beber! — afirmou abrindo as duas grandes portas que faziam divisão entre a biblioteca e a sala principal de seu apartamento. Ben estava sentado em um dos grandes sofás dispostos na sala, enquanto mexia desinteressado em seu celular, com Sirius, o gato de estimação da amiga, no colo.
— Tenho que entregar algumas coisas com prazos essa semana, sabia? — querendo dar-lhe um motivo para beber, o amigo riu e dirigiu seu olhar para uma cansada que se sentava ao lado dele.
— Tá bom, você me convenceu! — ligeira e repentinamente disposta, a escritora pegou seu celular e digitou algo rapidamente com um sorriso no rosto — E nem precisamos pensar no que fazer: acho que temos um jantar marcado.
— Jantar? Achei que fossemos passar mais uma noite bebendo até você virar vinho no sofá branco de novo — a escritora revirou os olhos. Sabia que quando bebiam em casa ela ultrapassava um pouquinho dos limites, já que estavam apenas entre amigos e podia confiar em Ben. O dia a dia era estressante, além de todos os compromissos que tinha no dia, ainda, depois das gravações, tinha que ficar horas revisando as cenas gravadas para ver se nenhum detalhe essencial para história se perdeu. Amava as adaptações de seus livros para o cinema. Mas até que fossem lançados, era trabalho atrás de estresse.
— Olha só quem está engraçadinho hoje — uma notificação apitou no celular de , que gargalhou com a mensagem — É, nós realmente temos um jantar — olhou novamente para o aparelho — E precisamos sair de casa, Ben. Estamos parecendo dois solteirões de meia idade, não que você não seja um desses.
— Estou solteiro por opção, ok? — ele levantou as sobrancelhas.
— Por opção das mulheres que você já saiu, né? — ela o provocou, risonha.
— Achei que você fosse escritora, não comediante.
— Sou um pouco dos dois — a escritora deu de ombros, fazendo Ben rir
— Não encontrei ninguém que valha a pena abrir minha vida — sincero, ele encolheu os ombros — E você não venha com esse papo de solteirona para cima de mim — o ator apontou para a amiga — Porque você tem o Dylan e eu sei disso
— Quantas vezes vou ter que te dizer que eu e Dylan somos amigos. — revirou os olhos.
— Eu sou seu amigo e nem por isso te dou uma foto do meu cachorro para você colocar no seu escritório.
— Você não me deu porque não tem um cachorro, Benjamin — ela o olhou com obviedade — Se tivesse um e me desse uma foto, colocaria também na minha escrivaninha.
— Nem você cai na sua própria desculpa, , não seja ingênua — Ben sorriu de lado, cutucando Sirius para que ele acordasse.
— Vamos falar do que interessa?
— Desviar do assunto é a sua nova forma de responder às minhas perguntas? — ele riu, vendo a cara de poucos amigos de . Era fácil irritar ela.
— Você não me perguntou nada, apenas saiu afirmando um monte de bobagens — o ator seguiu rindo da forma que a amiga rebateu. Sempre tinha resposta para qualquer que fossem suas perguntas — Vou tomar um banho de princesa da Inglaterra agora, porque estou precisando, e nós saímos às 20h — a escritora estava se levantando e indo em direção ao corredor dos quartos — Nem mais nem menos. Seja pontual feito o britânico que é.
— Vamos só nós dois? — o ator perguntou e a amiga se virou, dando alguns passos de costas.
— É — a escritora fez uma pausa, juntando as mãos no centro do corpo — Quase isso — e simplesmente saiu, deixando um Ben confuso com Sirius em seu colo na sala.
Por volta das 7h40 da noite, o som animado de Sweet Dreams de Alan Walker enchia o apartamento de , enquanto ela terminava de se arrumar. Se sentia festiva, empolgada em sair naquela sexta e, tendo e Dylan por perto, tinha certeza de que seria ótimo e, ao menos, divertido. Pela praticidade e pela ocasião misteriosa, sem saber exatamente o que esperar no ambiente que iam, ela vestia um look todo preto. Composto por uma calça de alfaiataria, reta e mais justa ao corpo, um top cropped parecido com um corset, de alças médias e decote coração, e com detalhes em transparência discreta, ela decidiu usar os scarpins que tinha recebido de presente de Jimmy Choo recentemente. A maquiagem que a atriz fez, antes de se trocar, ressaltava seus traços naturais, e as joias que escolheu eram discretas para não pesar muito, já que estavam indo jantar e sua roupa mais escura já carregava o suficiente.
— Isso aqui virou uma rave? — Dylan disse adentrando o apartamento de .
— Já não bastava invadir meu apartamento uma vez, você foi lá e fez isso duas vezes… e no mesmo dia — a atriz gritou do banheiro, onde passava um batom mais avermelhado. Já estava esperando que ele aparecesse de surpresa, de novo, a qualquer momento.
— Se eu tenho a chave de acesso, não é invasão, certo? Certo — o ator foi em direção ao banheiro performando uma coreografia própria, no ritmo da música. começou a gargalhar e se juntou a ele na dança, brevemente, enquanto passava seu perfume em abundância.
— Alguém já te disse que você está muito bonita? — ele perguntou reparando na amiga, sem parar de dançar. riu e agradeceu fazendo uma pose forçada, sendo imitada por Dylan.
— Alguém já te disse que você é muito estranho? — risonha, dando uma última olhada no espelho e ajeitando seus cabelos soltos, ela se virou para sair do cômodo. Estava pronta.
— Várias vezes, mas não me importo muito — ele disse enquanto sacudia os braços parecendo um boneco de posto — Gosto de ser autêntico.
— Vamos embora logo, mister autenticidade, antes que eu mude de ideia.
Depois de tirar meia dúzia de fotos juntos, que certamente parariam nas redes sociais mais tarde, os dois deixaram a casa de e se dirigiram ao suposto local onde Dylan a levaria para jantar com e o amigo misterioso. A atriz só esperava que realmente não ficasse de vela a noite inteira e tivesse que beber uma garrafa inteira de vinho sozinha ou que o amigo de fosse, pelo menos, simpático o suficiente para que ela pudesse, ao menos, conversar com ele. As luzes da Time Square brilhavam fora do carro junto com as estrelas no céu aberto, quase sem nuvens, enquanto Closer tocava na rádio. Não muito tempo depois, o ator estacionou o carro próximo a uma rua que era desconhecida pela amiga e, logo depois, pegou o celular.
— Oi, fanfiqueira! Acabamos de chegar, vocês já estão aí dentro? — o ator falou assim que sua ligação foi atendida, dando a entender, pelo apelido, que ele estava falando com . Logo depois, Dylan respondeu uma sequência tripla de “aham” e desligou o telefone contente.
— E aí?
— , você sabe que te amo e não faria nenhum mal para você, não sabe? — Dylan se virou para amiga e, antes que desse tempo dela responder, continuou — Do jeito que eu falei parece que vou te matar, mas não é isso — ele fez uma pausa — Não dessa vez! — a amiga sinalizou como se dissesse obrigada, rindo de nervoso — Preciso que você se permita aproveitar a noite.
— Sério, isso foi muito assustador — a atriz disse tirando o cinto — Você podia ser um pouquinho mais normal às vezes — e os dois riram — Mas nunca disse que não iria aproveitar. O que está acontecendo?
— Então está ótimo — ignorando a última pergunta, o ator disse saindo do carro, sendo acompanhado pela amiga — Depois não diz que eu não avisei.
e Ben haviam deixado o apartamento dela no mesmo horário e chamado um Uber. Depois de deixar o amigo curioso no sofá, a escritora realmente tomou um banho de princesa, demorado e cheio de pétalas de rosas, tentando se concentrar no jantar que teriam e no que podia vestir. Ben ficou mais um momento na sala, esperando que ela voltasse com mais alguma informação, porém isso não aconteceu, o que fez com ele entendesse que precisava se mexer para se arrumar também. Sirius o acompanhava pela casa, como se Ben fosse seu dono e morasse com eles há muito tempo.
— Não entendo por que você não compra um carro — Ben disse assim que desceram do veículo.
— Primeiro porque é mais fácil despistar os paparazzis — um fato, pois nunca sabiam se ela tinha saído de casa até algum deles a encontrar sem querer em algum lugar — Depois, porque tem muito trânsito na cidade, é um caos. E fora isso, você sabe que eu não conseguiria focar em um ponto só com tanta coisa acontecendo à minha volta — ela deu de ombros, os dois estavam à frente de um restaurante que nunca tinham ido. Normalmente costumam frequentar bares baratos ou redes de fast food, não se importavam muito. Bastava ter comida e bebida que, para eles, estava ótimo — Gostou do lugar? — perguntou feliz, notando Ben apreciar curioso e levemente impressionado a fachada do local.
— Parece muito bonito, por fora pelo menos. O que te fez escolher um restaurante de verdade dessa vez? — o ator abriu um sorriso.
— A experiência — a escritora disse despreocupadamente — Os garçons são cegos.
— Você está brincando com a minha cara de novo, não é? — Ben disse abrindo a porta para que conseguisse passar, a escritora apenas riu, entrando no local.
— Boa noite, vocês têm reserva? — a recepcionista do local perguntou cordial, sorridente, logo que e Ben passaram pela porta. O ator reparou que realmente havia homens de óculos escuros no hall de entrada do restaurante. Não, ela não estava de brincadeira.
— Sim, elas estão no nome de Dylan O’Brien — respondeu casualmente ao recepcionista. Se Ben já estava confuso antes, agora, ouvindo o nome de Dylan, ele não estava entendendo mais nada.
— 4 lugares? — a escritora confirmou com um gesto de balanço de cabeça — O Omar vai levar vocês até a mesa — a recepcionista então apontou para um dos supostos garçons de óculos escuros.
Ben pareceu paralisar por um segundo, sem saber direito o que estava acontecendo. Procurando por uma resposta rápida, ele então se deparou com um letreiro que explicava resumidamente como o jantar funcionava. Com o intuito de ampliar espaços de inclusão, o restaurante foi criado e, com exceção do recepcionista, apenas contratava pessoas cegas. Lá dentro, a partir do momento que entrassem no salão principal, onde poderiam se sentar e jantar, não haveria luz alguma. Nenhum tipo de luz ou sinalização, seria tudo escuro. Um verdadeiro jantar às cegas. O ator já tinha lido algo sobre restaurantes assim espalhados pelo mundo, mas nunca tinha ido a algum deles. Parecia uma experiência interessante, no mínimo diferente, e certamente a cara de e Dylan.
Aproveitando que o amigo estava distraído, lendo a elegante placa que contava um pouco da história e do funcionamento do local, curvou-se para a recepcionista e abaixou a voz, pedindo-lhe discretamente:
— Por favor, quando nossos dois convidados chegarem, peça para que a mulher vá na frente e se sente primeiro à mesa.
— Certo, pode deixar — a recepcionista concordou, sorrindo cordial para a escritora.
— Coloque sua mão direita no meu ombro direito e seu amigo coloque a mão no seu ombro — Omar, quem os guiariam salão adentro, disse a que obedeceu prontamente indo de encontro ao homem. Ben, por sua vez, a seguiu colocando a mão no ombro da amiga — Muito obrigado — o garçom agradeceu quando a escritora fez o que foi pedido — Cuidado com os degraus da escada! — avisou — O próximo ambiente é completamente escuro, não podem ligar o telefone, nem o iluminar de forma alguma, ok?
Por um momento, Ben pensou que seria brincadeira do garçom, mas ao descer as escadas, o ambiente ficou totalmente escuro, um breu, não havia sequer uma luz de lanterna para guiá-los até as mesas. A única pessoa em que tinham que confiar era em Omar para serem colocados no espaço que reservaram. Esperava surpresas vindo de , mas ela parecia animada, como se aquilo já estivesse em seus planos. Planos. Por um momento Ben se perguntou se tinha caído em um plano armado pela amiga e pelo suposto amigo da amiga. De todo modo, fosse o que fosse, o ator não estava entendendo mais nada, a confusão parecia ficar cada vez maior e só restava a ele entrar no momento e curtir o máximo que podia.
— Sua mesa se encontra à direita — Omar afirmou virando-se para o lado que havia indicado — Peço, por gentileza, que vocês se sentem do mesmo lado da mesa, para que quando os dois outros convidados chegarem possam se acomodar no espaço vago, à sua frente.
— Pode deixar! — a escritora respondeu ao garçom, feliz — Ben, você pode ir na frente! — dirigiu-se ao amigo, o ator movimentou-se, contornando a amiga que estava mais a frente e se sentou do lado direito da mesa, ao canto, próximo a parede.
— Você realmente é uma caixinha de surpresas, não é? — o ator dirigiu-se a amiga que já estava acomodada próxima a ele.
— Sou, não sou? — disse convencida — Estou sempre te proporcionando experiências inesquecíveis — os dois riram.
Passaram-se cerca de cinco minutos em que Ben e estavam no restaurante, conversando sobre assuntos casuais do trabalho e também da vida pessoal de ambos. O ator, ainda que curioso, evitou fazer mais perguntas sobre aquele encontro porque sabia que não conseguiria arrancar nenhuma resposta concreta da amiga, tudo que receberia seria sarcasmo e mais enigmas. No restaurante, cada pessoa tinha um garçom exclusivo para atendimento, para que dessa forma o pedido não acabasse sendo confundido, uma vez que os profissionais apenas diferenciavam os clientes pela voz.
— Sua mesa se encontra à direita — Ouviram novamente Omar falar e, surpresos, pararam de conversar um instante. sabia que agora as coisas ficariam interessantes. Ben, por sua vez, se remexeu na cadeira, sem saber se deveria levantar-se, como estava acostumado, para receber outras pessoas em sua mesa. Como não os podia ver, contudo, permaneceu sentado, curioso para saber o que aconteceria a seguir e o porquê de tanto mistério. Pelas risadas leves e baixas, podia reconhecer que Dylan havia chegado, mas a mulher com ele era um mistério. Um mistério proposital que Ben só entendeu naquele instante. Estava em um encontro arranjado e mataria por isso mais tarde. Naquele momento, contudo, ao menos a mulher parecia estar se divertindo com a situação, a tirar pelas risadas leves que dava — Seus convidados já estão os esperando, por favor dirijam-se ao lado esquerdo da mesa.
— Pode ir na frente — Dylan disse soltando sua mão do ombro de , a apoiando delicadamente nas costas da amiga, como se a quisesse conduzir até onde ela deveria se sentar, no local exato solicitado por . Dessa maneira, a disposição da mesa ficou com Ben na frente de e na frente de Dylan. — Hoje estou cavalheiro, aproveite.
— Sempre cheio das piadinhas, Dylan! — A escritora disse ao perceber os dois atores se acomodarem à sua frente — Oi , conseguiu sentar?
— Você gosta fanfiqueira, eu sei que gosta — Dylan respondeu convencido para a escritora, que revirava os olhos.
— Acho que sim, sentei em algo, pelo menos — a atriz riu divertida, respondendo à pergunta da amiga — Te daria um abraço, no seu amigo também, se soubesse onde vocês estão.
— O abraço é recíproco — Ben sorriu.
— Ótimo, começamos bem — Dylan celebrou animado, fazendo rir de nervoso pelo comentário e Ben logo voltar a falar, ignorando qualquer possível constrangimento:
— Teen Wolf, que bom te encontrar — brincalhão, já conhecendo Dylan o suficiente para quantidade de vezes que falava sobre ele, Ben falou feliz, tirando uma risada baixa da mulher a sua frente e ganhando um leve tapa de , como se pedisse para ele controlar a boca.
— Mais um apelido não dá, eu desisto — Dylan comentou falsamente irritado, logo mudando o tom — Que bom que a parou de te esconder. Já estava achando que você era fake, um amigo imaginário.
— É por isso que eu não apresento as pessoas para você — a escritora o cutucou com o pé, por baixo da mesa.
— Eu sou real, eu juro — Ben moveu-se levemente para frente. só então percebeu que o amigo da estava sentado à sua frente, podia sentir o perfume delicioso e marcante que usava — Cara, estou tentando te dar a mão, onde você está? — passando a mão cuidadosamente por cima da mesa, ele perguntou rindo, até alcançar algo — Achei!
— É a minha mão — respondeu risonha, virando sua mão para para cima, como se o cumprimentasse, a apertando levemente.
— Realmente estranhei a mão de Dylan ser macia assim — Ben respondeu gentil, soltando delicadamente a mão dela depois de apertá-la.
— Todos contra Dylan nesse jantar? Vou ir embora — ele se fingiu afetado — Adeus, me lembrarei de vocês todos na terapia.
— Ele é sempre dramático assim? — Bem perguntou sereno, divertido.
— Muito pior que isso, espere para ver — sussurrou, tirando risadas de todos.
— Ok, alguma das duas crianças pode nos explicar o que é essa brincadeira toda? — a atriz perguntou alegre, cruzando suas pernas.
— Chamar nosso jantar entre amigos de “brincadeira” é quase uma ofensa, senhorita — respondeu a atriz com as típicas piadinhas que sempre estavam presentes entre elas, falando seu nome de propósito para que seu amigo soubesse exatamente quem estava bem ali, diante dele. Ben sentiu seu coração parar por um instante, uma onda de animação percorrendo seu corpo. . . A atriz? Não era possível — E a ideia foi do Dylan, ele disse que você estava muito triste em casa, depois que Ollie destruiu o sofá — O ator deu uma risadinha culpada.
— Meu Deus, que mentira — falou estridente — Ollie nem destruiu meu sofá.
— Ih, fudeu — Dylan comentou baixo, tirando novas risadas de todos.
— Quer se explicar, Dylan? — perguntou.
— Talvez você também possa explicar, dona — virou-se para onde achava que ela estaria — Porque Dylan me disse que foi você quem o convidou e até sabia que estava com um amigo.
— Um amigo bonitão, eu disse — Dylan a corrigiu — Não era um amigo qualquer assim.
— Obrigado — Ben riu. Já não estava entendendo mais nada.
— Meu Deus, ele acabou de entregar todo o meu segredo — bateu uma mão em sua testa.
— Espera — Ben virou-se para a amiga — Você quem armou tudo isso e estava se fazendo de “convidada casual”?
— Tipo isso — Dylan concordou.
— Não foi nada disso — o corrigiu — Nós dois só queríamos sair e ter uma noite diferente, uma experiência nova e misteriosa.
— Ok , essa é a hora que saímos daqui — Ben brincou, levando a fala de sua amiga para outro sentido. Tirando risadas de todos, respondeu no mesmo tom:
— Você gosta de comida japonesa? Tem um restaurante ótimo aqui perto.
— Vocês têm que ficar, porque vocês fazem parte da experiência — insistiu.
— Está piorando, socorro — murmurou, gargalhando com os demais.
— Acho que sou do tipo mais clássico — Ben murmurou de volta, tentando manter-se sério, segurando a risada que escapava às vezes — Se é que me entendem, duas pessoas é o suficiente.
— Eu odeio vocês, eu juro — ria alto, enquanto Dylan tapava os próprios olhos envergonhado, sem conseguir parar de rir — Mas é sério. A gente só queria sair um pouco, celebrar o novo papel do Dylan em All Too Well, queríamos que fosse diferente e, por último, mas não menos importante, Ben, meu amigo aqui, ator, cantor e tudo no que vem no pacote para um homem britânico completo, precisava ver a noite Nova Iorquina para além das grades do meu apartamento.
claramente tinha inflado um pouco aquela fala para que coubesse a breve apresentação de seu amigo. parou para pensar rapidamente, raciocinando todos os “Bens” que conhecia e qual deles seria possível estar diante dela, até que uma lembrança de comentando algo sobre um Ben em especial, dias atrás no set de gravações, passou em sua mente.
— Se tem uma coisa que eu não estou fazendo nesse momento é ver, você sabe, né? — Ben falou e arrancou novas gargalhadas dos outros três que estavam à mesa.
— Mas, espera, me diz uma coisa importante agora: Ben de Ben Barnes? — a pergunta delicada tinha um pingo de surpresa. Ben sorriu, sua mente dizendo “isso, isso, isso” mil vezes sem parar enquanto sorria também, sem que ninguém pudesse ver a expressão animada dela. Bonitão era um eufemismo extremo de Dylan. Se fosse ele mesmo, estava diante de um cara que ela… bom, melhor não descrever o que faria.
— O próprio! — respondeu tão feliz que, naquele momento, tudo ficou oficialmente claro: estavam mesmo, mesmo, em um encontro. e Dylan estavam atingindo seu objetivo, um ponto para os cupidos.
— A surpresa é boa ou ruim? — Ben perguntou risonho. Sua voz apesar de grave, era baixa, serena, muito doce.
— É ótima, eu acho — a atriz respondeu calma, soltando uma risada tímida na sequência. Não conseguir ver nada e nem ninguém tinha lá suas vantagens.
— Ben também trabalhou comigo em uma das minhas adaptações, mas, diferente de certas pessoas, — a escritora fingiu uma tosse — ele sempre foi comprometido com o trabalho e as piadinhas ficaram fora do set. Depois viramos amigos e sou obrigada a abrigar ele na minha casa e aguentar o humor britânico que, cá entre nós, não é dos melhores.
— UOU, eu não deixava — Dylan começou uma vaia.
— Ela fez uma crítica a você, não percebeu? — Ben provocou de volta.
— Não — Dylan deu de ombros.
— Dylan, é sério, quantos anos você tem? — a fala de fez com que todos rissem.
, ainda que achasse que o jantar seria um total fracasso, por não conseguir ver ninguém, e especialmente o homem sentado próximo a ela, estava gostando bastante do início da noite. Ela reparou que, no começo, Ben interagiu pouco, uma reação normal ao fato dela, e Dylan estarem convivendo juntos agora e terem mais o que falar. Contudo, nem por isso o britânico se intimidou e sempre que tinha algo para acrescentar ou uma piadinha para soltar, ele aparecia. Era extremamente educado, atencioso, gentil e quando se referia a era sempre com muito carinho, os dois demonstravam muito o quanto se importavam um com o outro, assim como e Dylan - o britânico notou.
Conforme a noite passava e a conversa fluía, e Ben pareciam ficar mais confortáveis com a situação. Em alguns momentos em que a conversa se deslocava, trocavam algumas frases só entre eles, dando certo espaço para que Dylan e também pudessem fazer o mesmo e compartilhavam algumas bebidas. O perfume dela parecia dançar pelo corpo dele, a fragrância marcante que ele podia sentir para sempre, enquanto a voz suave dele soava como uma música tranquila e viciante. Ao meio da noite, já estavam, ambos, satisfeitos por terem aceitado ir àquele jantar.
bebeu algumas taças de champagne, porque segundo ela, a rotina a estava matando. A recente adaptação precisava de muitas revisões, era cansativo e repetitivo fazer aquilo diariamente. Dylan estava bebendo também, porém, no caso, muita água, já que estava dirigindo - o que achou estranho, pois parecia que o homem estava desidratado há 40 dias. Ben pediu vinho e dividia a garrafa com ele, para acompanhar seus pratos. Tudo parecia ótimo até que, em certo momento da noite, as coisas começaram a ficar um tanto estranhas outra vez.
— Vou ao banheiro — a escritora disse, pressionando o botão que tinha na mesa para chamar os garçons, para a levar ao lugar — Acho que bebi demais.
— Vou com você — Dylan respondeu prontamente.
— Comigo? — ela questionou confusa. e Ben riram baixo.
— Não literalmente junto com você, mas também preciso ir tirar a água do joelho — o ator empurrou sua cadeira para trás, para poder se levantar.
— Dylan, você precisa definir se é uma criança ou um velho de 78 anos — disse, fazendo Ben e rirem — Quem fala “tirar água do joelho”?
— Tanto faz, — Dylan deu de ombros — o que importa é que também preciso me retirar para… ir ao banheiro. — O ator gaguejou — isso, ir ao banheiro.
— Vi que fui solicitado, em que posso ajudá-los? — a voz do garçom ecoou de onde eles estavam.
— Eu e meu amigo à minha frente precisamos ir ao banheiro. Você pode nos guiar, por gentileza? — a escritora pediu gentilmente.
— Sem problemas — o garçom disse, se levantou primeiro que Dylan — Peço apenas que repitam o gesto que fizeram ao ingressar no restaurante, um atrás do outro, em fila, com as mãos apoiadas no ombro da pessoa à frente.
Tentando acompanhar minimamente a movimentação de e Dylan ao redor, sem conseguirem ver nada e, estranhamente, sem os ouvir dizer mais nada, o casal que restou na mesa esperou alguns minutos, sem saber exatamente o que estava acontecendo e o que deveriam fazer. O silêncio se instalou na mesa em que e Ben estavam, o movimento leve de pegar suas taças, tomar goles e devolvê-la na mesa era o único que podiam sentir acontecer ali.
— Você tem um cachorro? — Ben quebrou o silêncio entre eles, achava que se ficassem naquele silêncio constrangedor até os amigos voltarem podia achar que ele era arrogante ou que não queria falar com ela, e não queria passar essa ideia para ninguém, muito menos para a mulher que o fazia se sentir nervoso só de estar por perto dele. Era . . Por Deus.
— Tenho — ela riu e desembestou falar animada — Ele se chama Ollie, juro que ele não é o monstro que esses dois pintaram. Ele é fofo, gosta de dormir e, bom, é muito companheiro, tendo em vista que somos só eu e ele desde que me mudei para Nova York. Você também tem algum animal de estimação?
— A serve? — o ator disse e os dois riram em seguida — Tirando as brincadeiras, não tenho. Minha agenda está conturbada entre a Inglaterra e os Estados Unidos, com isso não consigo manter uma residência fixa, fico alguns dias aqui e outros lá.
— Entendo! Fico morrendo de saudades dele quando preciso viajar, uma das partes ruins da nossa profissão, não é? — ela suspirou, tomando um novo gole do vinho.
— De cachorros a relacionamentos amorosos, tudo é meio complexo demais para gente, eu acho — a voz dele pareceu um tanto triste — Complexo de manter.
— Sim, super, eu acho que… Ai meu Deus, alguém encostou no meu cotovelo — a atriz riu levemente assustada — Dylan e ainda não voltaram, não é?
— Se voltaram estão como fantasmas — Ben passou as mãos sobre a cadeira da amiga para ver se ela realmente não estava ali — Tenho 100% de certeza que pelo menos ela não está aqui — fez o mesmo com a cadeira de Dylan.
— Então é pior ainda! — ela disse entre risos — Esse lugar me dá arrepios, parece que a qualquer momento alguém vai me tocar ou puxar o meu pé — eles riram — Se não foram eles, quem foi?
— Bom, não fui eu, porque estou tocando outra coisa — o ator levou sua taça de vinho à boca, tirando da mulher uma gargalhada alta pela ousadia inesperada.
— Pode parar com isso, Barnes, — fez uma pausa, pegando também a taça de vinho — imediatamente, por favor — os dois riram. Dessa vez, foi ela quem puxou assunto — disse que você também é cantor, achei muito legal, quer dizer... — espontânea, ela soltou — Você é um ótimo ator, eu acho pelo menos, sou viciada em Justiceiro pelo seu personagem, Deus, não deveria ter dito isso — ela riu envergonhada, tirando dele um sorriso absurdamente charmoso que ela não pode ver — O que eu quero dizer é que se atua bem, deve ser um ótimo cantor também. Como está sendo viver a vida dupla?
— Obrigado, ouvir isso de você é… não sei descrever porque, uau, é… bem, você — ele riu tímido, sincero — Na verdade é bem curioso, porque a música sempre foi a minha verdadeira paixão, não que eu não goste de atuar, longe disso. Mas vejo, ali, naquelas poucas linhas de cada estrofe uma forma de expressar tudo que está passando na minha cabeça, no meu coração. Como se… — ele parou para pensar um instante — Como se fosse uma união de poesia e melodia que, para mim, pessoalmente, carrega mais significado do que grandes gestos — Ben passou a mão pelos cabelos — Vou lançar um EP em breve, é um frio na barriga diferente porque é algo novo depois de tantos anos fazendo mais do mesmo — outra vez, o ator ficou brevemente em silêncio — Desculpa, você me fez uma pergunta simples e eu acabei falando demais — ela riu. Mal sabia ele que, sentada de frente para ele, curvada para frente pelo interesse em ouvi-lo, sorria enquanto tomava seu vinho tranquilamente. Amava ouvir as pessoas falando das coisas que mais gostavam — Não gostei deste restaurante, não consigo olhar para o seu rosto e ver se estou apenas te entediando com muitas informações que talvez você não queira saber.
— Nesse caso, vou te contar um segredo, Ben. — A atriz fingiu um tom de seriedade — Mas você tem que jurar que fica só entre nós.
— Claro! Sou um ótimo guardador de segredos — não conseguia enxergar, pela falta de luminosidade, porém Ben fez um xis sobre os lábios como se fizesse uma promessa e tomou mais de seu vinho em seguida.
— Não estou nem um pouco entediada essa noite e acho que, parte da culpa é sua, na verdade — ele riu, um sorriso sincero, como se estivesse aliviado por não ter sido, até então, uma companhia ruim para ela. Contudo, antes que ele pudesse responder, passos foram ouvidos próximo a eles. Ben se arrumou na cadeira, assim como .
— Obrigada, Omar — Dylan agradeceu ao garçom.
— Disponha senhor — Novos passos foram ouvidos, o que indicava que o garçom estava se deslocando.
— voltou? — Dylan questionou a e Ben, assim que se sentou de volta.
— Não — Ben e responderam em uníssono.
— Será que aconteceu alguma coisa? Ela tá bem? Por que vocês não perguntaram ao garçom sobre ela? — Dylan começou a balbuciar muitas perguntas em sequência.
— Ei, fanfiqueiro, estou viva! — chegando acompanhada por outro garçom, eles puderem ouvir, mais longe, a voz de responder, até logo sentar-se ao lado de Ben — Só não conseguia enxergar a saída do banheiro e sou míope, tenha um pouco de paciência comigo — os quatro riram.
Decidindo por pedir a sobremesa, na sequência, a conversa dos quatro passou então a girar em torno da nova adaptação do livro de ao cinema. De fato, Dylan gostava sempre de elogiar o trabalho de , orgulhosamente contando que fez parte do início da carreira dela e que gostava de dividir as cenas com ela. Mas naquela noite, contudo, não sabia se aquilo não passava de uma mera tentativa de fazer propaganda dela para Ben ou se os elogios eram verdadeiros.
, por sua vez, também dirigiu muitos elogios à atuação da atriz como Peyton e disse que nunca imaginou que a personagem ficaria tão fiel ao que tinha imaginado quando escreveu a história. Ben comentou sobre alguns filmes que gostava que sabia que ela fazia parte, como Mamma Mia e o Grande Gatsby, e elogiou a última atuação em um filme de Scorsese que lhe rendeu um novo Oscar.
Tímida, a atriz tentava mudar de assunto discretamente para tirar de si o foco, mas ficaram bons minutos na maior das propagandas sobre que ela mesma já tinha vivido. E, então, passaram a falar sobre Ben. De Nárnia a Sombra e Ossos, foram comentando sobre os trabalhos dele, fazendo perguntas e, claro, piadas sobre seus personagens e sobre o que ele contava das experiências de vivê-los.
Os quatro estavam em harmonia, fazendo com que a conversa fluísse normalmente sem que houvesse algum silêncio constrangedor. Dylan escolheu as sobremesas para todos eles, afirmando que o restaurante tinha os melhores doces do mundo, incluindo o seu favorito. Não demorou muito para que quatro garçons aparecessem com os deliciosos pedaços de bolo de morango com sorvete sem açúcar de chocolate belga meio amargo. No final, não sabiam se pela sobremesa ou por todo o contexto, aquela noite tinha sido, definitivamente, doce.
Para realizar a saída dos quatro, o garçom pediu para que saíssem de dois a dois, mas que fossem na ordem de quem estava na frente de quem. Dessa forma, saiu com Dylan e, na sequência, com Ben. Enquanto esperava para que todos se reunissem novamente na recepção, local iluminado e que poderiam, finalmente, se ver pela primeira vez naquela noite, , como uma boa escritora, ficou conversando com a recepcionista, pensando que seria uma ótima ideia desenvolver alguma história baseada nos encontros que aconteceram no local, enquanto Dylan acertava a conta.
Ben respirou fundo, os traços da mulher a sua frente sendo iluminados levemente, passo a passo, até que pudessem, enfim, aparecer no claro, no canto da recepção iluminada onde o garçom os deixou. Curiosa, virou-se de frente para ele, se deparando com o homem mais charmoso que ela já tinha conhecido na vida. Vestindo uma roupa social cinza escura perfeitamente alinhada, ele tinha gel nos cabelos penteados para trás, uma mão no bolso da calça e um sorriso lateral que pareceu se abrir ainda mais quando seus olhos encontraram os dela. Não só o ambiente ao seu redor, Ben sentiu também, naquele momento, que algo nela o iluminou por dentro.
— Agora que pode me ver, ainda está de pé aquele abraço do começo? — foi o que Ben perguntou no segundo seguinte, reparando nos traços finos e graciosos dela. Ela abriu o sorriso mais lindo que ele já tinha visto.
— Estava esperando por isso — ela riu abrindo os braços, logo sendo tomada por um abraço breve, confortável e delicado, tão doce quanto o perfume dele. Risonha, ela logo se separou do homem, seus olhos não deixando os dele nem por um instante — Isso é muito estranho.
— Ah não — ele encolheu os ombros, fingindo frustração, apontando para si mesmo enquanto dizia: — Me achou estranho. Não gostou do que viu? Está decepcionada?
— Quer a verdade? — ela perguntou ficando mais séria, o fazendo olhá-la novamente.
— Não sei — ele riu nervoso, suas bochechas levemente vermelhas, talvez por reparar no quanto ela era bonita e em como o encarava atenciosa e interessada, talvez por ter bebido vinho demais, não podia cogitar uma mulher como aquela verdadeiramente interessada nele, podia? Talvez fosse melhor saber a verdade — Ok, manda.
— É bem melhor, na realidade — ele sorriu tímida — Bem melhor do que nos filmes e bem melhor do eu estava imaginando.
O rosto de Ben pareceu tomar uma cor ligeiramente vermelha, pela timidez, mas ele não conseguiu responder nada. Dylan logo se aproximou deles, chamando para irem embora. Carinhoso e cavalheiro, reparando que ela estava com uma roupa sem mangas e que a rua, possivelmente estaria fria, Ben jogou seu blazer nos ombros de antes que pudessem efetivamente sair do restaurante, alguns passos atrás de e Dylan que caminhavam abraçados, conversando baixo sobre algo. Barnes olhava discretamente para a atriz que caminhava ao seu lado na saída, e não pôde deixar de reparar o quanto ela era linda, observando como o tom escuro de seus cabelos destacava seus olhos, o quanto aquela roupa parecia perfeita para ela. De fato, não precisava de muito para se destacar na multidão, ele sabia, o mundo inteiro sabia. Mas ali na calçada de um restaurante às cegas, caminhando sem pressa abraçada ao blazer dele, enquanto procurava algo em sua bolsa, com um sorriso no rosto e os cabelos levemente esvoaçados, Ben viu brilhar nela toda a beleza de uma noite inesperada de um recomeço. Como se todas as luzes possíveis tivessem se tornado, de repente, lamparinas e ele desejou que nunca mais se apagassem.
— Droga, não consigo achar meu celular — a atriz disse mexendo em sua bolsa — Dylan liga para ele, por favor.
— Até poderia fazer isso, — Alguns passos à frente, Dylan virou-se para ela e sacudiu o celular dele — mas minha bateria morreu.
— Posso ligar, se você quiser — Ben comentou, tirando seu celular do bolso.
— Se não for incômodo, eu agradeceria — com um arrepio percorrendo as mãos de ambos quando seus dedos se tocaram minimamente, Ben passou o celular para ela.
— É ótimo — ele sorriu a olhando — Assim já fico com seu número.
Daquela noite em diante, não conseguiu mais esquecer Ben. Ficou com cada palavra dele durante o jantar presa em sua mente, com o jeito gentil que ele a olhou quando a viu pela primeira vez, na luz, com o sorriso tímido e charmoso que abriu, preso em seus sonhos. A barba bem-feita, o sotaque britânico acentuado, a voz baixa, a postura elegante, ela não esquecia dos detalhes dele. Ele parecia tímido, bastante reservado, muito paciente e cavalheiro. Apesar do contexto ter sido diferente do que ela estava pensando, terminou muito melhor do que ela podia imaginar. A feliz noite atípica em que o inesperado aconteceu para ela.
E para ele também.
Aproveitando a deixa de ter conseguido o número dela, Ben o salvou em seu celular e foi embora naquela noite pensando que, de repente, poderia aproveitar mais do que esperava da sua estadia nos Estados Unidos. Deixou seu blazer com ela de propósito para que tivesse um motivo para vê-la, pelo menos, mais uma vez e pelos dias que se seguiram, ele trocou algumas mensagens com ela - sem coragem de iniciar o papo, foi quem mandou um ‘oi’ para ela pelo telefone dele, pela primeira vez - e, dois dias depois do primeiro encontro, lá estavam eles em um dos bares que costumava ir com a amiga quando estava de passagem pelo país. No dia seguinte ao bar, almoçaram juntos no restaurante preferido de e, mais alguns dias depois, foram visitar uma exposição nova no MET e tomaram um café na sequência. Encontros marcados por mensagens animadas e ansiosas, registrados em fotos e vídeos um do outro em seus celulares e que sempre pareciam terminar mais rápido do que os dois gostariam.
tinha um gosto ótimo para música, para livros, gostava de poesias, de ir em cafés e tomar vinho, de andar em museus, de correr pela manhã. Ben a ouviu contar sobre algumas coisas pessoais, sobre seu cachorro, sua história até chegar ali e comentaram sobre alguns trabalhos que eles tinham feito. Ele a viu parar o que estava fazendo e falar com pessoas que eram fãs dela, a viu rir e brincar com eles, tirar quantas fotos quiseram. Viu os olhos interessados dela nos dele, ouvindo o que falava sobre sua família e sobre o time que torcia, sobre seus trabalhos futuros e tudo fluía. Fluía como nunca fluiu para ele. Tinham gostos em comum, amigos em comum, tinham a mesma profissão, planos para o futuro, reclamações e incertezas parecidas.
Descobriram que foram aos mesmos eventos algumas vezes, mas que nunca tinham se encontrado e a cada bebida que tomavam, cada risada que compartilhavam e cada história que contavam um ao outro, tudo parecia ficar magicamente mais interessante, mais conectados. Eram o número exato um do outro. Doze anos mais velho do que ela, 1,85m de altura, cabelos e olhos escuros como a noite, Ben Barnes chegou de uma vez, como uma tempestade, na vida de . E na semana seguinte em que foram ao jantar arranjado por e Dylan, o casal de atores foi oficialmente um casal pela primeira vez.
Se despedindo dela depois de terem saído para tomar algo, Ben beijou apaixonadamente pela primeira vez e, não suficientes com o beijo, foram para o apartamento dela, terminar o que tinham começado, matar o desejo, a vontade, que os consumia. Tudo tão calmo e intenso, que a sensação, o toque, o perfume dela, perduraram dias nele. Ben perdeu o voo para casa no dia seguinte. A melancolia de ter que voltar para Londres o consumiu, uma vontade esquisita e nova de querer ficar nos Estados Unidos pela primeira vez em toda sua vida. Mas Ben voltou para casa depois da semana que passou em NY, sentindo um vislumbre de felicidade inesperada passar por ele. seguiu seus trabalhos, desejando que, no fundo, aqueles dias tivessem perdurado mais tempo, talvez para sempre.
E nunca mais devolveu o blazer dele. Chegou a levá-lo nos primeiros encontros, mas Ben nunca o aceitava de volta, dava um jeito de mantê-lo com ela, como se aquilo fosse a garantia de que se veriam de novo, de novo e outra vez.
Os dois passaram, então, a conversar todos os dias. Trocavam mensagens, faziam videochamadas, começaram a se seguir nas redes sociais e interagir em público, se falavam com naturalidade, deixando crescer neles uma amizade divertida e leve. Seguiram assim por algumas semanas, tentando eventualmente entender se poderiam se encontrar novamente alguma hora, até Ben, carregado de saudades e querendo muito vê-la, a convidar para participar de seu primeiro videoclipe. Já conhecia o trabalho de desde antes de conhecê-la pessoalmente e, com a aproximação deles, aquela ideia brotou em sua mente como uma flor. Seria a oportunidade perfeita de estrear sua primeira música com a participação de uma das atrizes mais reconhecidas do momento e uma oportunidade melhor ainda, uma desculpa, de poder vê-la, senti-la outra vez.
Sem pensar muito e já sabendo que talvez aquele fosse um passo que a amiga recusaria a dar, por medo de acontecer o que lhe aconteceu no último relacionamento, Dylan aceitou o convite por . Na casa dela no dia em que recebeu o áudio de Ben a convidando a pegar o papel e falando melhor sobre como seria o videoclipe, Dylan a esperou ir tomar banho e respondeu a mensagem. Quinze dias depois, estava de novo nos braços de Ben, fazendo a namorada que ele perdia em seu primeiro clipe, 11:11, e a mulher que ele ganhava cada dia mais na vida real. As saídas, os encontros, os beijos, o sexo foram ficando mais constantes e mais urgentes, embora fossem discretos e sempre cuidadosos para não gerar rumores errados e superexposição. Estavam aproveitando o máximo de tempo juntos, gostando de trabalhar um com o outro ao longo dos dias, de virar as madrugadas juntos ao longo das noites.
Seus fãs tomaram conhecimento de que estavam trabalhando juntos, porque o casal anunciou a participação dela no videoclipe de Ben nas redes sociais. A mídia, atenta aos movimentos deles, justificou o fato de terem começado a se seguir por este trabalho e não davam muita atenção a eles, senão como duas pessoas que tinham, agora, um projeto em comum. Nem nem Ben gostavam da exposição. Boa parte de suas vidas já era pública demais, não tinham por que tornar o que tinham, seja lá o que aquilo era, um fato público. Tudo já era complicado demais por serem quem eram, não precisavam de mais pressão, rumores e fofocas os sondando. Por isso, concordaram em manter o que tinham apenas entre eles e diante apenas de pessoas muito íntimas que conviviam.
Mas, apesar das semanas perfeitas que passou com ele em Londres, ela teve que ir embora. tinha uma vida em outro continente e, uma vez que as gravações do clipe terminaram, já tinha novos compromissos a cumprir de volta aos EUA. NNL estava chegando ao fim das gravações e alguns retrabalhos precisavam ser feitos. Fora isso, a continuação de A Bailarina, filme que deu a ela um Oscar naquele ano, começaria em breve e outros projetos menores começavam a aparecer - eventos a ir, programas a participar, reuniões a comparecer. Ben, por sua vez, estaria ocupado com o lançamento de seu EP, com participação confirmada em uma dúzia de Comic Cons mundo afora, para divulgar Sombra & Ossos, e com novos projetos vindo aí. Apesar dos esforços que estavam dispostos a fazer, seria difícil se encontrarem dali em diante.
Com a dificuldade da comunicação entre os dois, por conta dos trabalhos e do fuso horário, e Ben acabaram se distanciando ainda mais, o que não era vontade de nenhuma das partes. Naquele momento era necessário que ambos se focassem em seus próprios projetos, pois seriam experiências importantes para suas carreiras, que trariam boa visibilidade para os seus trabalhos e muitas possibilidades futuras. O tempo e a distância foram fatores que começaram a pesar, mas o diálogo, ou talvez a falta dele, foi um dos principais motivos que afetou a relação que haviam iniciado.
Ben acreditava que não podia ser invasivo com o espaço dela, nem a forçar para que estivesse presente ou disponível para ele, afinal, não tinham definido nada sério, não eram namorados ou algo do tipo. Ele sabia que não poderia cobrar dela que fosse para ele algo que ele gostaria, e muito, de ter. Apesar disso, Ben sempre pensava nela. Se lembrava do que tinham vivido constantemente, via as fotos que tinham juntos em seu celular. Algumas vezes, chegava a digitar mensagens para ela, mas as apagava na sequência, não querendo forçar a barra. Talvez tivesse se apaixonado cedo demais. E quando seu videoclipe ficou pronto e ele o assistiu pela primeira vez, pareceu como se tivesse feito aquela música para ela. Cada cena, cada detalhe de naquela gravação, seria tudo que ele teria dela pelos próximos tempos.
foi como a última noite do verão para Ben: intensa, calorosa, feliz e tão marcante que estava deixando nele uma porrada de saudades, de vontades. Mas era , afinal. Talvez areia demais para o caminhão dele, talvez alguém que tivesse percebido que o esforço, por ele, não valeria a pena. Talvez Ben não devesse ter se apaixonado por ela, de jeito algum.
, por outro lado, acreditou que com este afastamento espontâneo dos dois, Ben tivesse perdido o interesse nela e estava a evitando, a distanciando cada vez mais das coisas que ele estava vivendo, se afastando do mundo dela. Apesar de ter consciência de que tinha se apaixonado perdidamente por ele e do que tinham construído até ali, sabia que não tinham nada mais do que um caso. Um rolo e era isso. Mas sempre que sentia saudades, digitava uma mensagem e a apagava na sequência, sempre que se entristecia levemente por não se falar mais direito ou quando se pegou chorando ao assistir a versão final do clipe de 11:11, algo nela a dizia que só estava tentando se convencer daquilo. Era mais do que um caso, não era? Mas se fosse, talvez tivessem sido sinceros um com o outro e conversado sobre o que tinham. Não houve conversa. E por mais que ela desejasse que tudo fosse diferente, não tinha um próximo passo, foi um caso e ela tinha que se convencer de que sim.
Talvez tivesse sido ligeiramente ingênua ao cogitar a chance de que poderiam dar certo se quisessem dar certo. Talvez ela tivesse que guardar as lembranças boas dele e seguir sua vida ignorando tudo o que sentia por Ben Barnes. E, assim, ela decidiu não o procurar tanto mais quanto antes e vice-versa.
O sol adentrava as janelas da sala de quando ela se mexeu no sofá, com o Ollie deitado no chão ao seu lado. A atriz virou a noite estudando roteiros até o cansaço a consumir e, sem perceber, pegou no sono ali mesmo. Os dias só iniciavam para ela após um bom café forte e essa foi a motivação para ela se levantar. Sonolenta, enquanto o café passava na cafeteira, pegou seu celular e, sem procurar nada especial, ignorando as mensagens desesperadas de Noah a avisando de que ela tinha que fazer as malas pois iriam em breve para Londres, apenas rolou o feed do Instagram, como tinha costume, antes de realmente pensar em fazer algo útil.
Estava pensando se deveria ou não enviar uma mensagem para Ben, casualmente comentando que estaria em Londres nas próximas cinco semanas e, quem sabe, vê-lo. Queria vê-lo. Sentia saudades dele. Não tinham se falado nos últimos dias, na verdade, pareciam meio afastados, engolidos pelos milhares de compromissos que tinham a cumprir. Apesar disso, das últimas vezes que ele esteve em NY ou que ela foi para o UK, se falaram, se organizaram, se encontraram todos os dias e tudo foi naturalmente incrível. Talvez fosse a chance de quebrar aquele afastamento e se aproximarem novamente.
Mas antes que pudesse pensar em abrir o aplicativo de mensagens, algo absurdamente estranho chamou sua atenção. Sem querer, uma foto junto com uma manchete em especial, postada por um site confiável de novidades sobre famosos no Instagram, pareceu não só impedi-la de enviar a mensagem a Ben como acabou com seu dia e colocou o ponto final definitivo que faltava na história deles dois:
@justjared: “Para além das telas: os atores Ben Barnes e Jessie Mei Li são vistos em clima de romance durante as gravações de Sombra e Ossos. No começo desta semana, já pudemos vê-los almoçar juntos em Londres. Estamos torcendo pelo novo casal. Veja as fotos.
#shadowandbone #benbarnes #jessiemeili
Photos: Getty”.
O Vestido
— Viu que o tal do Ben Barnes está namorando a própria colega de elenco? — olhando um site de fofocas em seu celular, em busca de qualquer notícia sobre a ida de para Londres, Lizzie comentou com desdém.
— Ele é bem gostoso, se eu fosse ela faria o mesmo — respondeu alto, de dentro do provador de roupas que estava.
— Achei eles fofos em Sombra e Ossos, mas não era para tanto.
— São atores, sempre previsíveis — gritou de volta.
— Você é cantora e faz isso também — Lizzie a provocou rindo baixo — Não tem uma música em parceria que você fez que não ficou com o feat.
— Por isso mesmo disse que se fosse ela, faria o mesmo. Não sou de desperdiçar oportunidades — sem muita emoção, abriu a cortina do provador, vendo a amiga desviar sua atenção até ela e rir leve — O que achou desse?
— Você parece, definitivamente, uma rena.
Sentada na poltrona redonda, grande, confortável e de veludo preto, em dos cantos mais discretos e restritos da loja, Elizabeth comentou assim que viu a amiga sair do provador em que estava. Em algumas semanas, começaria um novo projeto e, para ele, tinham recebido uma lista enorme de restrições de vestimenta, para que se encaixasse nos padrões esperados do programa. Tinham que seguir uma paleta de cores natalinas, deveriam evitar certos tipos de tecidos e, mais do que isso, tinham de dar espaço para que os outros participantes também aparecessem - o que significava que nenhuma roupa poderia ser extravagante demais.
riu enquanto puxava o vestido para baixo e deu uma rápida olhada no grande espelho próximo à onde estavam. O vestido era marrom, tinha mangas bufantes e alguns bordados em vermelho. Haviam combinado com um colar em rubis vermelhos tão vivos que conseguiam se destacar mesmo, e apesar, das mangas fofas e grandes. Pelo espelho, ela viu Lizzie fazer uma careta e jogar seu corpo para trás no sofá, exausta. Estavam há horas rodando pelas melhores lojas de Londres, em busca de uma roupa que pudesse ser perfeita para a estreia do programa e, embora Elizabeth, personal stylist de há anos, tivesse reservado algumas peças para irem mais rápido, nada parecia dar naquele dia.
Com um sorriso aberto no rosto, o vendedor da Balmain se aproximou delas com mais algumas peças na mão, às deixando penduradas do cabideiro próximo e, pedindo licença, se afastou novamente. Lizzie levantou-se preguiçosamente e caminhou até lá, para dar uma olhada nas novas possibilidades, enquanto pegou foi encher novamente sua taça com o champagne que as tinham servido.
— Acho que qualquer look desse programa vai me fazer parecer um enfeite de Natal — deu de ombros, focada em sua taça.
— Vamos achar alguma coisa boa.
— Você é a melhor para isso — levantou a taça no sentido dela, como se chamasse um brinde, vendo Lizzie sorrir — Confio em você.
— Vem cá: por que mesmo você vai fazer parte disso? — olhando as novas opções, uma a uma, detalhe a detalhes, Elizabeth perguntou. Fazer parte de reality show não era muito a praia de , ainda mais daqueles com jogos e com tema de Natal.
— Disseram alguma coisa sobre ingleses amarem reality shows e eu preciso entrar com meu novo CD no mercado local — ela tomou um gole de sua bebida — Let me Go acabou de sair, provavelmente terão momentos do programa em que poderei divulgar a música e vai ser ótimo para apresentá-la ao mercado britânico.
— Alesso também vem? — fingindo casualidade, Lizzie perguntou sobre o parceiro de naquele single, tirando uma risada da amiga, que negou com a cabeça.
— Pegou e casou, Lizzie?
— Se ele quisesse — ela deu de ombros — Mas é o que diz aquele ditado: não confie em DJs.
— Que ditado é esse?
— Um que inventei para me convencer de que é melhor ficar longe dele — desviando seu olhar de um vestido até a cantora, ela bufou.
— Você é muito sentimental — a cantora a cutucou, risonha — Devia só aproveitar todos os gostosos que tem a chance de conhecer nessa vida.
— Eu vou te deixar ir vestida de rena, não estou brincando — Lizzie voltou a encará-la, um tanto ameaçadora — Que tal esse?
Segundo o cabide em suas mãos, Lizzie estendia à um vestido curto e que parecia ficar mais justo no corpo. Dourado, liso, metalizado e brilhante, ele tinha alças tão finas que mal podiam ser vistas e um decote lindo, bem aberto, até o meio dos seios. A parte da saia parecia ficar levemente franzida, o único movimento que a peça fazia. Era elegante, suntuoso, sexy e, bom, na cor de uma estrela de Natal. Devia dar conta. A cantora achou razoável no cabide e decidiu ir prová-lo.
era a sensação do momento, a diva da música pop que estava arrastando multidões de fãs mundo afora, que lotava estádios de futebol e derrubava plataformas de streamings musicais em seus lançamentos. Tinha acabado de romper um contrato longo com sua antiga gravadora e, abrindo a sua própria, parecia alcançar mais sucesso e fama do que nunca antes em sua vida. Todos os olhares do mundo estavam sobre ela e, por isso, não havia espaços para erros. Ela sabia, Lizzie sabia e todas as cinquenta e sete pessoas que trabalhavam para ela também. Do que vestia aos lugares que frequentava, com quem saia e com quem se relacionava, tudo era motivo para que a mídia comentasse. E quando se tratava da sua imagem, da sua marca, do produto que vendia, era exigente, muito exigente.
Gostava de participar de todo o processo de ponta a ponta. Frequentava as reuniões de marketing para saber por onde seguiria, participava das definições das coreografias, ia pessoalmente fazer testes de som e provas de roupa, escolhia as maquiagens e penteados, dava palpites em sequências de músicas de seus shows e até inspecionar rapidamente a montagem de palco ela chegou a fazer. Tudo tinha que ser perfeito. Porque só chegou até onde chegou, porque entendia o processo como ele era de ponta a ponta. Longe de ser uma estrela, só era uma pessoa que trabalhava duro. Por si mesma, pelos seus e por todos aqueles que a estavam ajudando há tantos anos a firmar sua marca no mundo.
— O que achou? — abrindo as cortinas do provador, ela perguntou, enquanto desfilava pelo carpete fofo da sala ampla.
— Perfeito! — Lizzie bateu palma, rindo leve das poses que a amiga fazia. Estava linda, mas, alguma coisa pareceu estranha por um momento.
— O que foi? — notando a expressão da outra mulher ficar confusa por um momento, a cantora perguntou, virando-se de frente para ela — A rena de novo?
— Não, não, está linda assim — dando alguns passos mais próximos de , a personal pensou por um instante, encarando o vestido — Não sei, algo é familiar.
virou-se levemente de lado, para ficar de frente com o espelho novamente. Encarando o vestido dourado reluzente, que lhe caia perfeitamente no corpo como uma luva, como se tivesse sido especialmente feito para ela, algo se passou em sua memória feito um flash. O clima abafado, a música alta e animada vindo ao fundo, o calor em seu corpo, a sensação do toque das mãos passando em si. Os murmúrios baixos e sensuais, às frases curtas e ditas baixas aos pés do seu ouvido, palavras que não poderiam ser ditas na luz do dia. A iluminação baixa do elevador, do corredor em seguida. O vestido que usava caindo ao chão, rasgado feito um pedaço de pano qualquer. O vestido.
— Ah. Meu. Deus — em um grito pausado, que assustou ligeiramente Lizzie, arregalou os olhos, risonha — Esse é aquele vestido.
— MENTIRA? — rindo alto, sabendo exatamente do que se tratava, Elizabeth acompanhou a amiga na surpresa. Tinha realmente algo de familiar nele — Sabia que conhecia ele de algum lugar. É que...
— NÃO! — apontou para ela, virando-se de frente, risonha — Não comente nada.
— Bom, da última vez que o vi, era só um pedaço de pano destruído, não ia reconhecer um assim, inteiro, mesmo — a provocando, Lizzie ignorou o pedido da amiga que, naquela altura, ficou levemente vermelha.
— Você é a pior — a cantora frisou a última palavra.
— Não, eu sou a melhor, meu amor — se achando, ela piscou para — Não só te vesti para aquela noite, como ainda recolhi a roupa para salvar seu… nariz.
Rindo alto, jogou nela a primeira coisa que viu pela frente, uma das roupas que estava aleatoriamente em um cabide próximo. Lizzie conseguiu desviar da roupa, mas a pegou no ar em um movimento rápido, rindo da cara envergonhada da amiga por se lembrar daquele dia. O dia em que todas as borboletas do estômago de se reviraram de uma única vez. O dia em que perdeu um dos vestidos exclusivos que mais gostava.
Seis meses atrás, na mesma semana em que seu último CD foi lançado, conseguiu participar do programa de Jimmy Fallon. Tinha conseguido agenda no programa para ser a atração musical da noite e pode cantar duas de suas músicas novas, que se tornaram, desde então, as favoritas do público. Naquele mesmo programa, estavam presentes a escritora , que foi a entrevistada da noite, e os atores Dylan O’Brien e , que fizeram participações especiais para ajudar a divulgar o novo filme de uma das obras de . Feitas suas participações no programa e depois de se conversarem rapidamente nos bastidores, Dylan as convidou para um jantar, mas não pode ir, pois estava de passagem, rumo ao México.
Tinha uma semana de shows agendada no país e, com sorte, conseguiria estender sua estadia para uma folga. Entre turnês, programas de televisão, especiais e gravações no estúdio, não tinha parado há quase dois anos, precisava de um descanso, de um tempo para curtir e relaxar antes que os novos trabalhos começassem. Assim que sua agenda de compromissos terminou, enfim, a cantora tirou duas semanas para descansar no litoral sul do México.
Naquela ocasião, hospedado em um hotel próximo, Lewis Hamilton estava de férias. E, ocasionalmente, o encontrou em uma festa. Lotada de pessoas famosas, influentes ou só milionárias, que não se importavam com quem dividiam o espaço, a cantora aproveitou a noite como há tempos não aproveitava, curtindo o breve anonimato e a liberdade de se fazer tudo que tinha vontade. Lizzie estava com ela e, as acompanhando, um outro amigo de longa data de , Brandon, que havia chegado no dia anterior especialmente para encontrá-la.
A festa fluiu tranquila, sem grandes novidades e emoções, até, mais ou menos perto das onze da noite. Com sua terceira margarita em mãos, dançando com Lizzie na pista de dança, Lewis se aproximou dela, charmoso, despretensioso, como alguém que, aparentemente, só queria dançar. Já estava de olho nela desde que a tinha visto chegar na festa, com aquele vestido dourado, brilhante, desenhando seu corpo como uma escultura, os cabelos soltos balançando livres de um lado a outro, os olhos que sorriam junto com os lábios mais sensuais que ele havia visto. Ele conhecia o histórico de , era alguém que chamava sua atenção, que despertava certo interesse nele e, por isso, ele decidiu se aproximar. Com o sorriso que ela o deu assim que reparou quem estava por perto, Hamilton achou que tinha morrido e ido para o céu. Ele se apresentou, como se precisasse se apresentar, e, cuidadoso, atencioso, depois de dançar aquela música com ela, a chamou para conversar em um canto mais reservado e menos tumultuado do local.
Sem sequer tentar disfarçar, Lizzie abriu a boca e fez um joia para a amiga, enquanto Brandon gritou um “uhul, vai com tudo cachorra” tão alto que pode ser ouvido por cima da música ensurdecedora que tocava. tinha que se lembrar de não deixar eles beberem nunca mais na vida. Apesar disso, ela apenas riu e seguiu sendo guiada por Lewis, até se sentarem nas poltronas na ala que estava reservada para ele. Talvez pelo álcool que já tinha bebido naquela noite, talvez pela embriaguez da emoção que sentiu de, finalmente, conhecer um dos pilotos por quem mais que se interessava, se sentia genuinamente feliz, como se estivesse nas nuvens.
Sempre, desde muito jovem, foi fã de Fórmula 1. Costumava assistir às corridas em casa e, quando podia, quando tinha dinheiro para comprar os ingressos, ia presencialmente. Quando ficou famosa, contudo, quando o mundo se abriu aos seus pés e pode ter a chance de chegar aos lugares que sempre sonhou, sem preocupações ou restrições, passou a assistir as corridas pessoalmente sempre que sua agenda a permitia. E, nessa brincadeira, tinha conhecido Daniel Ricciardo, com quem mantinha um contato e uma amizade mais próximos, George Russell e também, mais recente, Carlos Sainz, com quem apareceu indo em algumas festas. Mas Hamilton, quem ela realmente gostaria de conhecer, nunca tinha tido a chance. Ao menos não até aquele momento.
— Peço desculpas por eles, a bebida entra e o filtro dos dois sai do corpo — riu, apontando os dois amigos com a cabeça, enquanto aceitava a taça com uma bebida vermelha que Lewis lhe dava.
— Confesso que achei eles engraçados — sorrindo, Lewis respondeu sincero. Estava já de olho nela há algum tempo e era impossível não reparar nos amigos expansivos e chamativos que ela tinha. Formavam um trio bonito e, por sinal, pareciam divertidos.
— Isso é só porque você não convive com os dois diariamente, se não aposto que sua opinião iria mudar rapidinho — deu de ombros vendo Lewis, charmoso, passar a língua entre os lábios.
— Sou um homem de opiniões fortes e gosto de as manter, — se acomodando ao lado dela na poltrona em que se sentaram, o piloto lançou lhe um olhar intenso, frisando o nome dela em sua fala.
— Tenho certeza que sim, Hamilton — do mesmo modo, o sobrenome dele dançava em seus lábios, ao tempo que a mulher o encarava de volta, sorridente, charmosa — Sei que não é temporada de corridas por aqui, então, o que te traz ao México? — curiosa, bebeu um gole da sua bebida.
— Então os boatos de que você é mesmo interessado na Fórmula 1 são verdadeiros? — chegando mais perto para que ela pudesse ouvi-lo, ele a provocou.
— Por que não me diz você até o final da noite? — riu o encarando, sendo acompanhada por ele. Lewis sentiu um calor percorrer sua espinha, sem entender exatamente o significado daquela sugestão, mas decidiu seguir o jogo.
— Vou adorar.
— E vai me contar por que está no México? — ela voltou a pergunta inicial, cruzando suas pernas e virando-se levemente para ficar mais de frente para ele.
— Basicamente, além das bebidas fortes e da comida apimentada, estou procurando um pouco de descanso e que seja o mais longe possível da Europa, preciso de calor — Lewis respondeu honesto e fez com que ela risse — Estou falando sério, os últimos gp’s ficaram em datas muito próximas e sequer tive tempo para dormir direito. Com isso, tivemos que aumentar os treinos e as maravilhosas — ele revirou os olhos, irônico — sessões de fotos.
— Eu nem consigo imaginar como deve ser intenso todo este processo de preparação — refletiu, tomando um novo gole de sua bebida — Mas você arrasou nas duas últimas corridas. Seu tempo nas curvas diminui bastante.
— Parece que alguém realmente assiste às minhas corridas — Lewis a provocou outra vez, sem conseguir esconder o sorriso — Estou começando a tirar minhas conclusões.
— Digamos que eu sou uma grande fã… — a cantora fez uma pausa, para tomar um gole da bebida — das corridas, é claro.
— Só das corridas? — levantando as sobrancelhas enquanto a acompanhava na bebida, o piloto questionou interessado. O tom da conversa estava muito melhor do que ele poderia imaginar, Lewis sabia que, sem dúvidas, era sua noite de sorte.
— Talvez sim ou talvez não, isso você vai precisar descobrir — charmosa, sem se preocupar em flertar o quanto queria, respondeu — Mas, vou te dar uma dica para facilitar o processo: — ela curvou-se levemente para mais perto dele — ter 100 vitórias seguidas não é para qualquer um.
— Assim como estar 14 vezes seguidas no topo da Billboard, também não é para qualquer uma — Lewis rebateu no mesmo tom, tirando uma nova risada de . Aparentemente, ele também tinha feito a lição de casa. Interessante, pensou. — Mas o que você está fazendo no México?
— Quase a mesma coisa que você, mas minha forma de relaxar é outra — gesticulou — Gosto bastante de conhecer lugares que nunca tive tempo de conhecer e de fazer coisas novas — ela sorriu — Mas, mais do que isso, eu vim para me divertir.
— Não queria dizer nada, mas acho que poderíamos nos divertir muito juntos. — Lewis aproximou ainda mais seu corpo do dela e, levantando seu copo como se propusesse um brinde, a observou encostar seu copo no dele e dizer, um tanto sedutora, um tanto desentendida:
— Você acha? Eu tenho certeza de que podemos nos divertir muito juntos.
O piloto e a cantora se conheceram naquela noite mais do que gostariam de dizer. Passaram horas conversando, rindo, se permitindo dizer e perguntar coisas um do outros, bebendo as bebidas mais caras do lugar, dançando juntos até, sem cerimônia alguma, se beijarem. sonhava com o gosto fresco de menta dos lábios dele, o toque quente e preciso, firme, no corpo dela. Se beijaram naquela noite como não haviam beijado outra pessoa em um bom tempo, com vontade, com intensidade, sem qualquer amarra ou dúvida.
Por sugestão dela, saíram juntos da festa para o hotel em que estava hospedada e, na pressa e na sensualidade do momento, entre beijos e todos os amassos que se davam no caminho até o quarto dela, no elevador, nos corredores, sem se importar quem os poderia ver, Hamilton simplesmente rasgou o vestido que ela usava. Inebriado pelo cheiro viciante que ela tinha e pela sensação dos lábios dela beijando seu corpo, Lewis não se esquecia do exato momento em que deixou o vestido cair no chão - e da manhã seguinte, quando, desesperados e risonhos, fizeram Elizabeth ir procurar a peça de roupa até encontrá-la e descartá-la. Ele não se esquecia de como se sentiu, de como pareceu que o México era a melhor viagem que já tinha feito na vida, de como percebeu estar absolutamente errado quando achou que não poderia ficar ainda mais bonita do que estava com aquele vestido. Sem ele, ela era, certamente, como o dia mais lindo do verão.
Desde aquela noite, muito havia mudado para eles dois. E, boa parte dessa mudança, era culpa da mídia, que caía em cima deles como um meteoro.
Fizeram um escândalo e praticamente uma cobertura completa das férias de Hamilton e dezenas de artigos em revistas e jornais reportaram a presença de , embora curta e rápida, nesses dias de descanso do piloto. ficou uma semana a mais no país depois da primeira noite que teve com Lewis. Ocasionalmente se encontrava com ele em outras festas, praias e jantares, sem se importar com as dezenas de paparazzi os seguindo por onde quer que fossem. A cantora não tinha qualquer problema com publicizar sua vida pessoal, inclusive, fazia questão de contar certos detalhes em suas músicas, principalmente quando se tratavam de relacionamentos que não deram muito certo.
Hamilton, por sua vez, parecia se importar menos ainda com a exposição toda. Pelo contrário, fazia questão de ser visto com ela. era uma mulher glamourosa, independente e imponente. Tinha um toque extremamente charmoso de ousadia, uma segurança que remetia à liberdade, que dava a ele a sensação de que com ela nem o céu era mais o limite. Era alguém que chamava atenção por onde passava, pela beleza e pela simpatia, e que encantava qualquer um que a conhecia. Sabia o que queria para si mesma e, diferente de outros relacionamentos que ele já tinha tido na vida, não o aprisionava nem o pressionava para apressar nada que pudessem ter. Hamilton se sentia verdadeiramente humano com . Um piloto para quem o visse por fora, um homem preenchido pelos melhores sentimentos do mundo por dentro.
O tempo passou. Um ano inteiro desde as férias em que inesperadamente se encontraram e se conheceram. E desde então, vinham se encontrando casualmente. Ele sempre enviava convites VIP para que ela acompanhasse suas corridas, sempre dava a ele passes para os bastidores de seus shows. Criavam oportunidades para se ver, para se encontrar, e não muito tempo depois, começavam a criar contextos para que pudessem se sentir outra vez. Se Hamilton pudesse dizer que tinha um vício nessa vida, ele certamente tinha nome, sobrenome e uma das vozes mais lindas que ele já tinha ouvido.
Contudo, apesar do sexo ocasional e dos encontros marcados, das vezes em que interagiam um com o outro nas redes sociais, de como ele falava abertamente sobre ela em entrevistas ou a dedicava certas vitórias em corridas importantes, não conseguiam passar disso. não sentia nele a firmeza de alguém com quem poderia dar um passo a mais, alguém com quem poderia firmar um compromisso mais sério ou compartilhar outras partes da vida que, até ali, não conseguiam. Lewis era um verdadeiro garanhão. Todo o mundo, literalmente, tinha consciência daquilo e ver eventuais fotos deles saindo de festas e noitadas com outras mulheres sempre a deixavam decepcionada. A cantora não sabia exatamente como deveria reagir, afinal, ela mesma havia concordado com todo aquele caos, ela mesma não queria engatar um relacionamento sufocante e cheio de regras. Gostava de viver um dia de cada vez e gostava da liberdade que tinha de escolher com quem poderia ficar.
Mas, às vezes, nos dias em que tinham que se despedir, quando se desencontravam ou quando simplesmente não conseguiam armar qualquer encontro “inesperado”, ela se perguntava o que de fato sentia por ele. Sentia saudades dos dias em que ficavam juntos, de ouvir a risada, do carinho que fazia nela com o nariz para a acordar de manhã, do jeito descontraído e brincalhão. Sentia falta de poder acompanhá-lo nas competições, de vê-lo fazer o que sabia fazer melhor, de ver ele cantando suas músicas nas áreas restritas de seus shows. Ela gostava dele. Gostava de verdade. De quem ele era, da companhia, de como reagiam um ao outro, das provocações. Gostava das noites que passavam juntos, dos dias que amanheciam. Lewis era alguém por quem ela doaria parte da tão prezada liberdade da vida de solteiro. tinha clareza de como se sentia e, conforme o tempo foi passando, foi ficando cada vez mais nítido para ela. Só não sabia, contudo, se era apenas mais um nome no topo da lista de cantoras dele ou se, de fato, havia algo diferente ali.
A relação casual que tinham era natural, amigável, respeitosa e muito vantajosa para ambos lados, porque, acima de tudo, só tinham as partes boas de um casal e de um relacionamento. Evitavam discussões banais que poderiam ter, evitam certas responsabilidades, não tinham que justificar parte de suas vidas, os conflitos de interesse e de agenda não existiam e a pressão das famílias e dos fãs não os atingiam. Estava sendo bom daquela forma. Bom para os dois e para os momentos de vida que estavam, mas com o tempo, várias perguntas foram se formando na cabeça dos dois.
queria se sentir segura, queria ter certas certezas e estava disposta a arcar com as consequências disso. Não que não gostasse da vida louca que vivia, pelo contrário, amava toda liberdade e todas as possibilidades da vida solteira, mas queria ter a sensação de um porto seguro. Seria bom ter alguém, seria bom para saber que sempre teria para onde voltar e com quem contar. Amar alguém inteiramente, unicamente, faria com que ela também se permitisse ser amada e compartilhar algo real e simples, ficar longe de todos os holofotes e sites de fofoca, se afastar dos rumores e dos casos rápidos e superficiais. E quando pensava naquilo, automaticamente pensava em Lewis. Se tinha uma pessoa com quem ela queria, muito, compartilhar aquela parte da vida, era, certamente, com ele.
Pensou diversas vezes em conversar sobre a possível relação que poderiam ter, se evoluíssem da causalidade para algo mais sério e responsável com seus sentimentos, mas ela simplesmente não conseguia. Tinha receio de estar confundindo tudo, receio de estar interpretando errado os próprios sentimentos e receio de perder algo tão genuíno e gostoso que tinham. sempre achava que era o momento errado e que se esperasse um pouco mais, certamente tudo iria se encaminhar para eles. E ela esperava. No silêncio e na dúvida, a única certeza que ela tinha é que não podia mais viver sem a presença de Lewis Hamilton em sua vida.
Hamilton, por sua vez, carregava as consequências de um relacionamento conturbado em sua história de vida. Na última vez em que se comprometeu com alguém, foi pressionando a fazer tantas coisas que não queria, coisas absurdas e muitas vezes tornadas públicas, e, no final das contas, ainda se saiu como um vilão da história. Foi praticamente forçado a pedi-la em casamento, não costumava ser ouvido ou considerado, quase abriu mão de coisas que eram importantes para si mesmo para que pudesse simplesmente agradar outra pessoa. Se não tivesse sido corajoso o suficiente para dizer o que realmente sentia, ainda estaria sufocado em uma relação que nunca soube respeitar seu espaço.
Ele não gostava da fama que o faziam ter. Não gostava porque, no fundo, não era exatamente verdade. Era um homem bonito, cobiçado, milionário e solteiro, claro que tinha com quem sair sempre que quisesse sair. Mas não era o tipo que diziam ser. Carregando as marcas de um passado recente, só não se sentia preparado para arriscar tudo em um novo relacionamento. Ao menos não até um ano atrás, até ver o raio de sol mais bonito em um verão mexicano.
Com , Lewis não precisava manter um personagem. Ele podia ser simplesmente quem era, com suas piadas ruins, seus trejeitos excêntricos e um longo histórico de histórias sobre as corridas que participou. Nos olhos dela, ele visualizava um futuro, fosse em uma ilha no México ou em qualquer outro lugar. Se estivessem juntos, ele estaria completo e os dois compartilhariam a felicidade um do outro. Contudo, falar para ela tudo o que se passava em sua cabeça era difícil, tormentoso. Como se feridas do passado ainda se mantivessem abertas, o fazendo manter os pés presos ao chão quando seu coração queria voar, Lewis simplesmente não conseguia conversar sobre o que realmente sentia. Um passo a mais parecia ser demais e ele ainda não tinha pensado em um jeito de seguir em frente.
— Tudo bem, não vamos repetir a roupa, Raio de sol — se lembrando de como Lewis a chamava algumas vezes, propositalmente se referindo aquele vestido e para deixá-la tímida, Lizzie provocou, a jogando de volta a roupa que, há pouco, atirou contra ela — Gostei desse, prove.
O novo vestido tinha alças finas e um tecido de seda, era transpassado na frente, formando dois lados distintos: um totalmente na cor preta, brilhante, e outro com paetês vermelhos. Era perfeito para um evento natalino e destacava as curvas da cantora. O contraste entre as cores trazia ao look um tom de sofisticação, juntamente com seu corte desconexo na direção das pernas. Revirando os olhos, mas sem conseguir esconder o sorriso pelas lembranças que acabou de ter, olhou da peça de roupa até sua personal stylist e, uma vez mais, entrou no provador. Minutos depois, ela saiu ajeitando-se e deixando o vestido dourado em cima do sofá de qualquer jeito. Pelo olhar impressionado e feliz da amiga, aquela roupa que vestia seria, finalmente, o look escolhido para o primeiro episódio do programa. suspirou aliviada.
— Agora sim! — aproximando-se com uma taça cheia de champagne, que havia pegado enquanto a amiga se trocava pela décima vez, Lizzie celebrou — Parece um lindo cupcake glamouroso, pronto para vencer uma competição de Natal.
— Finalmente! — a cantora comemorou, caminhando de volta para o provador, para tirar a roupa.
Lizzie aproveitou o momento de distração dela, certificando-se de que as cortinas estavam fechadas, e fez um sinal para que o vendedor se aproximasse. Seguindo prontamente a instrução, ela o entregou o vestido dourado que provou antes, o vestido do México, pedindo para que ele embalasse separado, para presente, e o enviasse para um endereço anotado em um pedaço de papel. Ágil, Lizzie pegou seu celular em sua bolsa, em cima do sofá, e encontrando a conversa em um segundo, digitou: “Encontrei e ela ficou muito feliz. Pedi para entregar na sua casa”.
Dois minutos depois, assim que abriu as cortinas do provador, Elizabeth viu a tela de seu celular acender, notificando a resposta à sua mensagem:
Lewis C. Hamilton
On-line
On-line
Ah, que sorte!
Muito obrigado, Lizzie! Você é demais.
O Contrato
— Lizzie conseguiu achar o vestido — abrindo uma garrafa de champagne, Lewis comentou com a amiga.
— Eu te disse que tinha visto em Londres, é a melhor loja da Balmain — respondeu — Essa é a coisa mais boiola que você já fez por alguém nessa vida, precisa saber disso.
— Não sei como eu posso demonstrar exatamente o que eu sinto por ela, não sou bom com palavras, espero que ela entenda o gesto.
— Se ela não entender, pelo menos vai andar com um vestido lindo por aí, — a cineasta disse estendendo duas taças, uma para ela e outra para o amigo, enquanto o piloto as enchia — já que você rasgou o primeiro — e o amigo riram, estendendo a taça para Lewis que estava sentado em uma poltrona ao lado da dela.
— Mas e você? — Lewis questionou — Pelo jeito o projeto hipersecreto anda dando bons frutos. Nenhuma polêmica ou crítica pública, nunca mais te vi ser cancelada, o que tá rolando?
— Me reuni com a assessoria essa semana, parece que a estratégia Tom Hiddleston está funcionando, e minha imagem com mídia está efetivamente mais “limpa” — gesticulou com as mãos.
— Isso é ótimo! E, o processo? — Lewis bebeu um gole de sua bebida.
— Óbvio que não deu em nada, são homens poderosos, Lewis — a cineasta bebericou o champagne — São capazes de comprar qualquer decisão a ponto de termos que usar outros homens influentes para atacá-los de alguma forma — fez uma pausa e desviou o olhar para a janela de seu apartamento — Por isso me enfiaram nessa coisa toda de relacionamento arranjado — a última palavra saiu quase inaudível.
— Como? — o amigo indagou com as sobrancelhas arqueadas.
— Relacionamento — disse ainda em tom baixo — arranjado.
— Relacionamento arranjado?
— Relacionamento arranjado, caralho — quase gritou, vendo o amigo rir alto.
— Só queria te ouvir assumindo isso pela primeira vez em voz alta — ela deu-lhe o dedo do meio — Deveria ter filmado. , a , em um relacionamento arranjado — ele gargalhou — Que porra é essa?
— Exatamente, namorando de fachada, pelo menos com um ator gostoso — se encolheu na poltrona. Não que aquele fosse um super sacrifício, ela até que tinha gostado da ideia desde que soube quem seria seu parceiro no crime. Mas parecia a maior das loucuras que já tinha se enfiado na vida e sabia disso a ponto de só ter contado a Hamilton, um dos únicos amigos em que podia confiar.
— E como está sendo isso? Tipo, de verdade — o amigo questionou mais sério. era uma pessoa inesperada, fato. Mas a postura mais acuada dela ao falar daquele assunto não estava parecendo muito boa.
— Tom Hiddleston é ótimo, sabe? — calma, como se tivesse tudo sob controle, ela tomou um novo gole de sua bebida. Mas, apesar da postura casual, Lewis a conhecia bem o suficiente para saber que algo naquela história a estava incomodando.
— Só ótimo? — Lewis se posicionou mais próximo da amiga, projetando o corpo para frente.
— Ele é incrível, Lewis — ela suspirou — Muito atencioso e responsável comigo, é divertido e cheio de carinhos, eu nunca estive com alguém que fosse sequer perto do que ele é.
— Mas…? — Lewis completou a frase dela.
— Eu não sei até onde realmente estamos juntos — pensou alto, fazendo uma pausa, até continuar: — Não sei mais onde estamos, nem o que temos. Não sei o que é real e o que é contratual, é confuso.
— É isso o que realmente está te incomodando nessa história toda de relacionamento por contrato?
— É difícil dizer uma coisa só, em específico — a cineasta respirou fundo — não aguento mais o que a mídia fez comigo, eu estou certa em relação ao processo, você sabe disso. Sei que homens que têm dinheiro decidem as coisas. Hollywood é uma farsa e, para piorar, vou ter que começar a agir como a indústria quer — voltou seu olhar para Lewis — ou seja, me tornar uma mentirosa, participar de um circo armado para que outro homem me “salve” das notícias inventadas para alimentar um público que só quer ver a desgraça alheia.
A cineasta veio de um contexto muito turbulento nos últimos anos. havia aceitado uma proposta de trabalho com um diretor renomado, uma trilogia de filmes que daria a ela espaço para criação e tempo de experimentação como diretora oficial de uma megaprodução em sequência, algo que ela não havia ainda trabalhado. O que aconteceu, em suma, foi que foi jogada para fora de última hora e quando o filme saiu, sequer consideraram sua participação na direção. Já não estava tendo bons relacionamentos com o diretor. O homem era impaciente, arrogante e muito bruto, destratava e invalidava suas ideias até o momento em que ela se impôs de verdade. E depois da discussão acalorada que tiveram, ele decidiu por conta própria seguir o filme sem ela.
entrou na justiça para conseguir a validação de sua participação e o retorno da quebra de contrato repentina, mas a cada dia que se passava e a cada passo que ela avançava em direção a proteger a si mesma e seus direitos, o vespeiro parecia ficar ainda maior. Descontente em ter que enfrentar a justiça, o diretor passou a inventar histórias sobre , pagava testemunhas falsas e a acusava vexatoriamente de dezenas de coisas que ela sequer pensou em fazer algum dia. Sem saber mais qual era o lado certo e o qual era o lado errado daquela história, a mídia passou a persegui-la por onde ia e qualquer que fosse o motivo para polemizar , seu nome já aparecia estampado nas capas de revistas e jornais.
“Impaciente, diretora e roteirista responde com brutalidade entrevistador em Cannes”.
“ exibe joia de 1.4 milhões de dólares, após vencer processo contra diretor de Hollywood e pegar dele uma indenização polpuda".
“Para quem se diz tão afetada com os últimos acontecimentos, parecia bem confortável curtindo férias em Bali”.
“O silêncio de no MET Gala: em sua grande estreia como atriz, e depois de um tempo longe dos eventos sociais, aparece no maior evento de moda do mundo e se recusa a falar com qualquer jornalista”.
“Verdade ou mentira? Quem está contando a história real sobre o envolvimento de na direção da trilogia de filmes?”
“Street Style ou fundo do poço? Cineasta e atriz usa roupas desleixadas para passear em LA”.
“Longe das polêmicas, mas distante também dos holofotes. Saiba em quais projetos - e processos - está envolvida em 2021”.
O fato era que, parecia que não importava o que fizesse, os holofotes sempre se voltariam contra ela da pior maneira possível. Hollywood ainda era um ambiente extremamente machista. De disparidades salariais a oportunidades preferenciais a homens, os diretores sempre conseguiam mandar e desmandar o quanto queriam. Mas tinha a fúria de uma tempestade e não se deixaria abafar ou ser prejudicada pelo ego inflado de um homem mal resolvido. Ela seguia, desde então, o enfrentando na justiça e evitando se meter em qualquer situação que a pudesse causar ainda mais problemas.
A mudança de representação legal foi uma das estratégias para finalizar de vez aquele processo e virar o jogo a seu favor era ter uma modificação repentina de imagem. Enfrentar a mídia nunca foi um bom negócio, tinha que se deixar levar por eles e abafar o máximo que conseguisse de toda a situação. Seu novo relações públicas, então, junto a uma equipe de advogados e publicitários, traçou um novo plano de ataque e o estava seguindo à risca. Participava de eventos beneficentes, parou de usar joias extravagantes, fechou sua vida íntima o máximo que podia e não deixava mais de responder a qualquer entrevista. Ela chegou a contar abertamente seu ponto de vista da história no programa da Oprah e, pela primeira vez sendo ouvida, começou a parecer confortável em falar outras vezes sobre o tema e atrair para si outro tipo de imagem.
O ápice da estratégia, contudo, era o envolvimento arranjado com alguém que pudesse fortalecer a ideia de que estava mesmo querendo tempos de paz e de mudanças positivas para sua vida. E foi nesse exato momento, então, que Tom Hiddleston apareceu na jogada. Extremamente cavalheiro, doce e gentil, não costumava falar muito e era absurdamente privado nos aspectos íntimos de sua vida. Tom nunca tinha se envolvido em polêmica alguma, seguia sua vida como se ser um dos atores mais bonitos e bem pagos do mundo não fosse absolutamente nada. O mais perto que o ator chegou de polemizar opiniões sobre si mesmo, foi com Loki. O personagem era um dos mais queridinhos da Marvel, mas dividia opiniões entre o público, a linha tênue entre o amor e o ódio. Nas entrevistas, Tom era paciente, atencioso e solícito com os jornalistas, e estava sempre disposto a responder a todos os questionamentos dirigidos a ele, ainda que alguns se repetissem.
O acaso é que combinavam em ser tão diferentes um do outro, por terem personalidades e envolvimentos completamente distintos. A estratégia passou pela avaliação de vários profissionais, não podiam simplesmente colocar a carreira de seus clientes em dúvida, tinham certeza que aquilo funcionaria, afinal quem não ama um casal apaixonado? Como um produto planejado e muito bem estruturado, vendia. A negociação com a equipe do ator durou pouco mais de um mês e envolveu diversas equipes especializadas em marketing, relações públicas e jornalismo, para que, desta forma, todos os profissionais conseguissem alinhar um discurso que o casal seguiria a seguir, com padrões de encontros, roupas e, até mesmo, toques.
O contrato entre os dois era a perfeita desculpa para que pudesse ressurgir como uma Fênix para a mídia, deixar a antiga imagem polêmica para trás e focar nos novos trabalhos. Tom seria a via mais fácil e rápida para que aquilo acontecesse e, bom, não seria nada mal passar um ano com ele, afinal, não podia negar que ele esbanjava o charme britânico de que tanto gostava.
Para Tom, por outro lado, aquele era o momento de sua exposição. Loki tinha estreado recentemente como umas das produções da Marvel com mais apostas para estourar e lucrar. A hashtag do lançamento do primeiro episódio foi a mais utilizada desde o início das produções de séries da Disney, seu personagem era amado pelo público. Se tinha um momento que precisava aparecer era agora, ele sabia disso, toda essa exposição o auxiliaria na divulgação da produção e negociação para futuros contratos.
Dali em diante, seriam atores da vida real e precisavam encarar aquilo tudo como uma grande comédia romântica que teria uma duração maior do que duas horas.
A primeira vez que a cineasta e o ator se viram também foi a primeira vez que a mídia os viu juntos. O encontro já havia sido “vazado” pela equipe que fez com que os dois se seguissem nas redes sociais e curtissem as fotos um do outro. Bastava um simples movimento de algumas das partes para os fãs começarem a comentar e especular mais o que estaria acontecendo, supostamente, entre eles. Como Tom não era uma pessoa ativa na internet, os passos tinham que ser dados aos poucos para não parecer ações de desespero ou de superexposição e gerar uma publicidade errada. Tudo era calculado para parecer o mais casual possível.
O início do “romance” entre e Tom se deu em uma tarde típica de outono em Londres, levemente fria e ensolarada, no Regent's Park. Cada um dos dois foi em seu próprio carro, a cineasta acabou alugando um quando chegou na cidade, para não ficar exposta aos transportes de aplicativo. O ator, como bom britânico, chegou pontualmente no horário marcado pela equipe, junto a ele estava uma cesta de piquenique com uma toalha amarrada na alça. Quando chegou no parque escolhido, Tom se sentou em um dos bancos espalhados pelo local e esperou. Estava ansioso, podia sentir seu coração bater acelerado e, em um ápice de nervosismo interno, que jamais foi transparecido por ele, pensou em ir embora e não participar daquela loucura toda.
O parque era um local bastante movimentado da cidade, havia pessoas se exercitando, passeando com seus animais, assistindo ou participando de apresentações públicas, que aconteciam diariamente, ou só passando o tempo. Apesar de ser confiante, estava nervosa, aquela era uma situação nova para ela. A cineasta colecionava nomes importantes em sua lista de relacionamentos com famosos, como Chris Evans, Danny Jones, Joaquin Phoenix, Madison Beer e até Michael B. Jordan. Contudo, as relações não duravam muito tempo, seja pelos comentários fofoqueiros da mídia, seja pelos cancelamentos que levava dos fãs de quem se relacionava ou porque ela simplesmente se sentia presa demais a cada uma delas. tentou por algum tempo se aproveitar dessa visibilidade para alavancar ainda mais sua carreira, porém ao longo do tempo as notícias começaram a girar apenas em torno de quem ela estava beijando ou transando. As entrevistas se tornaram extremamente repetitivas para saber mais sobre seus affairs do que sobre ela própria e o que tinha a oferecer.
Aquela exposição negativa toda também dificultava que encontrasse alguém com quem realmente gostaria de se relacionar ou passar mais de apenas uma única noite. E, após as polêmicas envolvendo sua carreira, tudo se tornou ainda pior no quesito amoroso da cineasta. Os caras com quem se envolvia queriam deixar a relação em segredo, para que os nomes deles não fossem vinculados ao dela em nenhuma ocasião. Um caos de se viver e, pior ainda, um caos de se sentir. já estava cansada de parecer ter um alvo nas costas e não queria mais nada daquilo. Muitos dos dias, desejava voltar no tempo e ter feito algumas coisas diferentes.
Tom, por sua vez, mantinha seus relacionamentos mais discretos, com aparições públicas leves e esperadas, sem grandes emoções a serem comentadas. Talvez o único momento em que sua vida pessoal se tornou ligeiramente mais conturbada foi quando namorou a cantora Taylor Swift, pois namoraram por um curto tempo, iam a eventos juntos, eram sempre perseguidos e fotografados em viagens e tudo, por ter ela envolvida, parecia de interesse geral do mundo - inclusive, após o término, longos meses se passaram com a mídia especulando o motivo do final entre eles. Ter topado aquele contrato e estar ali esperando pela chegada de era, sem dúvidas, algo muito inusitado para ele.
chegou ao parque não muito tempo depois de Tom, usando uma calça xadrez, all star e uma jaqueta de couro. Assim que viu, Tom se levantou e caminhou ao seu encontro com um sorriso maravilhoso no rosto, vendo a cineasta retribuir o gesto assim que o reconheceu. Próximos o suficiente, o ator a abraçou com a mão livre, passando o braço por sua cintura, um misto de ansiedade e alegria por tê-la encontrado, justamente ela, passando em sua mente, enquanto o cumprimentava feliz, deixando-se levar pelo perfume cítrico que emanava dele. Apesar dos olhares curiosos e discretos enquanto caminhavam, como o local era enorme, não tiveram problema em encontrar um espaço distante das outras pessoas para se sentarem. Precisavam de certa privacidade para poderem conversar tranquilos, se conhecer e também repassar o contrato.
— É um prazer conhecer você pessoalmente — Tom falou sentando na toalha que havia esticado na grama para os dois e sobre a qual já estava sentada.
— O prazer é todo meu — a cineasta respondeu e arqueou as sobrancelhas com um sorriso sacana no rosto — Na verdade, é engraçado e muito empolgante pensar que estou saindo com o Loki.
— Posso te garantir que entre mim e Loki são poucas as semelhanças — os dois riram, mas a mulher logo completou:
— Não acharia ruim se tivesse algo parecido — ela sorriu — Mas compartilho do sentimento. Entre mim e a que você já deve ter ouvido falar são poucas as semelhanças.
— Eu imagino que sim — falando baixo e sem desviar seus olhos dela, Tom respondeu sereno. Estava por dentro do que estava acontecendo com ela, afinal, parte do contrato era justamente para redesenhar aquilo.
— A mídia consegue ser cruel quando quer — comentou com um sorriso triste, vendo o homem à sua frente concordar.
— Estamos aqui para mudar isso e vai dar tudo certo — positivo, o ator respondeu, abrindo a cesta para finalmente começarem o piquenique. só então reparou em que ele havia se preocupado em trazer algo para comer, na toalha para se sentarem. Aqueles detalhes não faziam parte do acordo, Tom certamente era um homem atencioso — Aceita algo para beber?
— Sim, por gentileza — ela o viu tirar dois copos de dentro da cesta e uma garrafa de cidra de maçã — Obrigada por ter aceitado, inclusive — desviou seu olhar do dele, até a grama próxima — Significa muito para mim.
— Acho que não vai ser esforço algum — gentil e muito charmoso, Tom estendeu-lhe um dos copos com a bebida.
— Aos novos começos? — levantou levemente seu copo na direção dele, risonha. Sorridente, ele bateu seu copo no dela.
— Aos mais inesperados deles.
Ainda que fosse armado e que houvessem paparazzis escondidos pelas árvores do parque, e Tom conseguiram aproveitar o momento entre eles. A conversa ligeiramente tímida foi dando espaço para que pudessem se conhecer e saber mais dos projetos um do outro, fazer piadas e rir, pareciam até amigos de longa data. Para ela, o encontro foi essencial para conseguir perceber e filtrar o que ele achava das polêmicas em que estava envolvida. Para ele, era a oportunidade de conhecer a verdade de , longe dos holofotes e da imagem que a mídia acabou inventando dela. A cineasta sempre tinha assunto, simpática e divertida, era uma pessoa cuja sinceridade era notável. Autêntica, não tinha medo de expressar suas opiniões e parecia forte o suficiente para ser autossuficiente em todos os aspectos de sua vida. Tom gostou do que conheceu em . Gostou da liberdade e da segurança que ela transmitia, gostou do sorriso e das brincadeiras, gostou de como ela fazia tudo parecer natural e confortável e gostou dos olhos dela.
— No início tive medo do que as pessoas próximas a mim pensariam sobre o nosso relacionamento arranjado — confessou a cineasta, depois que algumas horas que estavam conversando, pegando um dos morangos dispostos sobre a toalha do piquenique. Tom seguia agora deitado de frente para ela, de lado ao chão — É complicado pensar que mesmo depois de tentar me defender tantas vezes dos ataques, preciso que um homem me ajuda a me livrar disso — fez uma pausa — com todo respeito — ela riu, Tom não tinha parado para pensar ainda por este lado. Para , o ator serviria como uma forma de redenção, até mesmo como meio de retornar aos holofotes — Você é charmoso e cavalheiro, aposto que teriam outras várias mulheres muito felizes de estar no meu lugar, mas pensar que preciso fazer isso para voltar a aparecer de novo me causa náusea.
— Eu realmente sinto muito por isso — o homem respondeu sincero — Não imagino como foram esses meses e nem como deve se sentir diante dessa situação. Mas se posso dizer algo é que, talvez, no fundo, tenha sido bom, porque...
— Sem males que vem para o bem, Thomas — ela o interrompeu séria, mas logo o acompanhou na risada breve.
— Tudo bem, vou te poupar dessa vez — ele gesticulou — Mas eu realmente acredito nisso e acho bom você se acostumar, já que estamos terrivelmente apaixonados — ela riu.
— Vou elogiar esse seu lado otimista nas entrevistas — comentou pensativa.
— Não espero menos que isso — o homem brincou e deu uma rápida olhada para o céu já escuro, pela noite que começava a cair — Mas não vou ser tão otimista agora — ele voltou seu olhar para ela, sentando-se no chão — O encontro foi ótimo, mas sinto anunciar que o vento espalha as folhas pelo chão e o tempo do verão é bem pequeno — poético, ele se colocou em pé em um instante e entendeu as mãos para ela.
— Shakespeare? — ela fez uma expressão impressionada, aceitando às mãos dele e levantando-se também.
— Temos duas coisas em comum: amamos poesia e somos William de algum modo — recolhendo a toalha e o pouco de coisas que sobrou espalhadas pela grama, Tom comentou divertido.
— Achei um jeito elegante de terminar um encontro — o ajudou a recolher os objetos, os guardando de volta no cesto.
— Fiquei receoso de que você não pegaria a referência e só me acharia um cara velho e entediante — com a cesta em mãos e tudo recolhido, ele olhou para ela. estava apenas dois passos de distância dele, a noite caindo no céu contrastava o verão que começava dentro dos dois — Mas estou feliz de saber que, além de linda e interessante, também gosta de poesias. não costumava ser tímida. Pelo contrário, em boa parte das vezes partia dela aquele tipo de comentário. Mas ouvir aquilo de Tom, daquele jeito tão doce e sereno, soou como um sino dos céus, algo que ela não estava esperando. Uma vez mais, Tom Hiddleston estava sendo uma amável surpresa.
— Mais alguma coisa em você que se parece tanto comigo, William — ela sorriu sincera, sendo retribuída da mesma forma — Queria perguntar uma coisa, mas não sei como pode soar.
— Sem ressalvas um com o outro, lembra? — Tom reforçou um dos combinados que haviam feito um com o outro mais cedo naquela tarde. Para terem um convívio minimamente bom e respeitoso, era importante que aprendessem a confiar um no outro e a compartilhar o que estavam sentindo sobre o contrato e sobre o que estavam fazendo. Tudo era novo para os dois. Se passassem juntos por aquilo, passariam mais fácil.
— Tudo bem — ela respirou fundo, apontando para a saída do parque, para onde começaram a caminhar — Quando vou te ver de novo?
Tom não conseguiu segurar o sorriso. Não estava seguro sobre o que exatamente ela tinha achado dele e de todo aquele encontro e, ter ouvido aquilo dela, pareceu reconfortante. Talvez tivesse se interessado por ele, enquanto pessoa, para além das obrigações contratuais, do mesmo jeito que ele tinha se interessado por ela naquela tarde. Feliz, ligeiramente tímido, ele respondeu a olhando de lado:
— Quando você quiser, .
E, literalmente, foi o que aconteceu. Depois do primeiro encontro perfeito no parque, e Tom passaram a conversar oficialmente e a se encontrar em outros lugares. Às vezes seguindo as agendas públicas do contrato, às vezes só porque queriam se ver mesmo, conversar, trocar ideias ou reclamar da canseira e dos absurdos contratuais. Dia após dia, mensagem após mensagem, Tom e passaram a reconhecer um no outro a única pessoa do mundo que estava realmente entendendo o que acontecia naquele momento de suas vidas. Iam se conhecendo e se doando àquele projeto. E não demorou mais do que dois ou três encontros para que a mídia começasse a reagir exatamente do jeito esperado: especulando sobre o casal em um tom tão ameno e leve, que já nem se lembrava de ler sobre ela.
“Ex de Taylor Swift está com novo affair. Fontes confirmam ser a cineasta e atriz ”.
“ é elogiada pelo affair, Tom Hiddleston: ótima companhia e senso de humor”.
“Tom Hiddleston e estão juntos? Qual o shipp do novo casal de celebridades?".
“Tom Hiddleston e são fotografados em jantar romântico em um dos restaurantes mais famosos de Londres”.
“ é cotada como possível diretora para nova produção dos Estúdios Sony”.
“Casal perfeito! Tom Hiddleston e combinam looks em evento da Marvel".
Apesar de terem estranhado no começo, os dois compraram a ideia tão fácil que bastou alguns encontros armados para que se sentissem confortáveis com a situação. E aos poucos, se tornaram um casal em equilíbrio perfeito, vistos pela mídia e pelo público como uma das apostas do momento, quase que um exemplo a ser seguido. Tudo era claro para eles, estavam apenas sendo profissionais. Era como se tivessem um contrato longo de atuação, como se se transformassem em personagens e estavam dispostos a tirar o máximo que podiam daquela situação. precisava que aquilo desse certo e Tom poderia aproveitar a onda de fama dela para conseguir, finalmente, firmar seu nome no mundo. Tudo era combinado. Tinham agendas para viagens juntos, dias marcados para jantar ou almoçar, horas específicas para postar fotos ou vídeos um do outro. Tinham frases decoradas que deveriam dizer sobre o relacionamento deles em programas de televisão e tudo era tão bem controlado que, no final do dia, só restava ao casal ser o casal.
E, apesar de toda pressão de se seguir à risca o contrato, tinham que assumir que estavam, sim, se divertindo um com o outro. Tom via em uma companhia que nunca teve na vida e estava se permitindo ter os tempos de calmaria que, para ela, só ele a estava conseguindo dar. De parceiros em um trabalho secreto a amigos, o tempo foi passando e as manifestações de carinho e amor em público foram misturando-se com as esferas privadas de suas vidas. Se nos primeiros meses tinham que se esforçar em beijar-se com a naturalidade de um casal de verdade, meses depois já não se sentiam mais obrigados a nada - e Tom faziam tudo o que faziam, do jeito que faziam, porque simplesmente queriam fazer.
Contudo, nessa brincadeira, o estritamente profissional e o pessoal começaram a se misturar entre os dois. Inúmeras noites perguntou sobre o que verdadeiramente sentia por Tom e vice-versa. O contrato, com o tempo, passou não apenas a enganar a mídia, mas também a confundir a cabeça e os sentimentos dos dois. Já não era mais possível distinguir até que ponto estavam realmente atuando para serem um novo casal apreciado pelos holofotes ou criando laços reais.
— Ok, mas isso já é um ponto vencido, — Lewis seguiu a conversa, preocupado, olhando a amiga na poltrona ao lado — Sei que te incomoda o fato de não ter conseguido sair dessa sozinha, sem precisar envolver Tom para te salvar, mas não é sobre isso que estamos falando hoje.
— Eu gosto dele, eu acho — soltando o ar pela boca e a informação numa velocidade quase que incompreensível, assumiu, voltando seu olhar até o amigo ao lado — Eu gosto de quem eu sou com ele, gosto da confiança que temos, gosto do tempo que passamos juntos e cada dia que passa sinto que isso é muito mais do que só o contrato.
— E já disse isso a ele?
— Claro que não — quase gritou, assustada com a possibilidade — Você já disse a que pensa nela todos os dias antes de dormir? E que nem sempre os pensamentos são muito adequados?
— É diferente — ele riu sem vergonha, tomando um novo gole da sua bebida.
— É a mesma coisa — a cineasta o acompanhou na bebida — Não consigo enxergar o limite dele nessa situação. Não consigo entender com clareza se ele é o que é porque é obrigado a ser ou porque corresponde, entende? Não sei até onde o contrato vai e até onde somos só nós dois indo.
— Vocês transam, — Lewis bufou — Não tem uma cláusula no contrato sobre isso.
— Mas tem sobre os encontros, sobre os eventos, sobre as coisas que temos que dizer sobre um e sobre outro — ela apoiou sua taça na mesa próxima — É confuso para mim.
— E deve ser para ele também — o piloto recostou-se na poltrona outra vez, seus olhos ainda na amiga, vendo-a concordar com a cabeça — Olha, que vocês têm mais do que o contrato espera de vocês é um fato. Mas precisam realmente entender o que acontece e conversar sobre isso — ele pensou alto — Talvez esse tempo que passaram separados pelo trabalho os tenha dado espaço para pensar no que sentem, mas já vão se encontrar de novo.
— O contrato termina agora, com o final do Sugar Rush — afirmou, suspirando — Esse vai ser o último programa que vamos participar juntos.
Alcançado os resultados esperados, o contrato, como qualquer outro, tinha data de validade e o prazo final para o término do namoro tão entusiasmado e cobiçado do momento era também o final da participação do casal no Sugar Rush. Iriam ao reality, deixaram o público os conhecer um pouco mais, fortaleceriam suas imagens e, tão logo ele terminasse, começariam a apostar no marketing do término. O único ponto nisso tudo era que talvez, só talvez, nenhum dos dois realmente quisesse que aquilo tudo terminasse.
— Mais um motivo que os força a conversar sobre o assunto — Lewis entendeu a mão para ela por sobre as poltronas — Às vezes nessa vida temos que dar o primeiro passo para conseguir manter aqueles que amamos.
— Ah meu Deus, isso é uma das frases que você usa nas fotos que posta quando vai na academia? — a mulher brincou rindo alto, o vendo revirando os olhos, exausto. Sabia que ele tinha razão no que disse, mas não perderia a chance de tirar uma onda com ele.
— É simplesmente impossível ser legal com você — tomando todo o conteúdo da taça, ele a deixou em cima da mesa — Eu não te aguento mais.
— Aguenta sim — finalmente aceitou a mão dele, segurando-a carinhosamente — Ainda mais depois de ter conseguido te enfiar no Sugar Rush, é sua obrigação me aguentar! Vai ficar me devendo essa para sempre.
— A lista de dívidas já está tão alta, que nem conto mais — ele brincou, rindo levemente acompanhado por ela.
Aquilo era um fato e não poderia ser diferente, afinal, a amizade deles havia se iniciado, anos atrás, com um troca de favores. Em 2013, recebeu um convite para participar de um evento em Berlim, lugar onde a arena da Mercedes-Benz seria reinaugurada, depois de uma reforma. Na época, a marca de carros estava expandindo seus negócios internacionais e entrava no mundo da cinematografia com força, patrocinando produções milionárias, enviando automóveis para gravações de filmes de ação e financiando estreias e eventos de gala, tão chamativos e caros quanto seus carros. tinha sido cotada para dirigir o novo filme da saga Jurassic Park, cujo patrocinador principal era, justamente, a Mercedes-Benz e, por isso, estava sendo incluída em todo e qualquer evento da marca como uma convidada de honra.
Além de , outros convidados de honra integravam o time de celebridades que estariam presentes no evento. Empresários, atores, diretores, produtores, influenciadores em ascensão. Haviam modelos, pilotos, fotógrafos renomados, cantores e estrelas de programas de televisão, os mais cobiçados e comentados do momento. Entre eles, a modelo .
era a modelo que seria o rosto regente da nova edição do mais recente investimento e projeto da marca, a Mercedes-Benz Fashion Week. A semana de moda foi criada como uma tentativa de expansão da marca sentido a uma área ainda não explorada pela companhia e visava ser um evento em que estilistas ainda pouco firmados no mercado conseguissem exibir suas coleções mais novas para as próximas estações. A modelo foi cotada como estrela da campanha desta versão da ação, justamente por ser nova no mercado e ter uma performance audaciosa e marcante nas passarelas, sendo exatamente o que era esperado pelos empresários como representação da ideia central da proposta. Desta forma, conseguiriam, com ela em seu time, transmitir a energia principal da comemoração. Por isso, foi uma das estrelas da noite, que atendeu ao evento e que mais chamou atenção.
Como o evento celebrava a reinauguração da arena, um espaço ridiculamente imenso onde shows e eventos como aquele passariam a acontecer, a ideia da marca de carros foi trazer um mini festival de música, onde cantores e bandas do topo das listas da Billboard daquele ano se apresentaram. Em uma festa animada, luxuosa e regada a todas as vaidades que aquele mundo poderia ter, os convidados puderam curtir os shows de Rihanna, Bruno Mars, Macklemore, Katy Perry, Justin Timberlake, Calvin Harris e, da então recém-descoberta e queridinha pelo mundo, .
O nome mais cotado como presença especial do evento era, sem dúvida alguma, o do novo piloto que representava o time da marca. Lewis Hamilton começou sua carreira nas pistas em 2007, pela McLaren, ficando no time da empresa até o presente momento. Contudo fez sua estreia na Mercedes-AWG, no Grande Prêmio da Austrália, em 2013, terminando a prova na quinta colocação. Na etapa seguinte, na Malásia, conquistou seu primeiro pódio pela equipe ao chegar em terceiro lugar. E, posteriormente, na competição na China, conseguiu sua primeira pole position. Colecionando avanços nas pistas e nos resultados, o nome de Lewis estampava diversas manchetes pelo mundo, se tornando um dos recentes queridinhos da mídia. Assim, estar na comemoração era quase um dever para ele, que, naquela altura de sua carreira, já atraia diversos olhares curiosos e interessados.
Para deixar o evento ainda mais completo, alguns painéis foram organizados pela marca para aproximar o público, que estaria presente na comemoração, das novidades que viriam a seguir na Mercedes. Como e Lewis eram recentes investimentos da equipe, ela pelo seu trabalho cinematográfico e ele nas pistas, foram reunidos para conversar sobre suas carreiras em um debate sobre “As apostas Mercedes de 2013”. De certo já tinham ouvido falar um sobre o outro, mas aquela era a primeira vez em que os dois se encontravam pessoalmente.
Lewis não conseguiu deixar de notar a beleza estonteante e chamativa da mulher que caminhava em sua direção, a sua frente, no grande palco em que estavam, enquanto dezenas de fotógrafos registravam o momento. estava com uma roupa que valorizava, e muito, o seu corpo, tinha os cabelos soltos e um sorriso que, certamente, fazia metade das pessoas naquela sala a desejar. Vestia uma saia curta de couro, preta, com botões na frente e uma camisa de mangas compridas, vermelha, azul e branca, com parte dos botões abertos, criando um decote. Nos pés, usava uma bota de cano curto e salto alto, igualmente em couro preto. Um visual perfeito para um evento como aquele. Um visual perfeito para ela.
Acenando para os fotógrafos e jornalistas no ambiente, caminhou sem pressa e sorridente em direção ao piloto, verdadeiramente feliz em vê-lo ali e poder, finalmente, conhecê-lo. Lewis parecia mais bonito, e gostoso, ao vivo do que nas corridas que ela tinha visto pela televisão ou ao vivo nos anos anteriores. Como um bom vinho, parecia que a cada ano que se passava ele ficava ainda melhor - no que fazia e no visual. Ela não era a maior fã de painéis como aquele, mas, daquela vez em especial, se sentiu interessada em participar. Seria, ao menos, inusitado e muito espontâneo dividir aquele momento com ele.
— Não esperava te encontrar por aqui, que surpresa boa — o piloto comentou, assim que a viu chegar perto o suficiente para ouvi-lo.
— É muito bom, finalmente, te conhecer — respondeu assim que chegou perto o suficiente dele, o cumprimentando com um abraço breve e um beijo no rosto
— Fiquei sabendo que estava na última corrida da Austrália, mas não te vi na festa, acho que nos desencontramos — Lewis a cumprimentou de volta, a abraçando, mantendo um braço nas costas dela, amigável.
— Estava na correria do final das gravações de Uma Longa Viagem, foi o tempo de ir ver à corrida e voltar a trabalhar — ela riu casualmente, sendo acompanhada por ele — Preciso dizer, você é mais alto do que eu pensava
— O carro pode confundir um pouco, a maioria das pessoas que me conhece também se surpreende com a minha altura — o piloto brincou de volta — Mas, aposto que não é muito difícil alguém ser mais alto que você.
— Me senti pessoalmente ofendida com esse comentário, Lewis — a cineasta riu, sendo acompanhada por ele. De fato, e apesar do salto enganar um pouco, era uns bons centímetros mais baixa do que ele.
— Apenas constatando fatos, — o piloto respondeu sorridente — O que achou de toda a estrutura do evento?
— Incrível, estou mais acostumada com os grandes eventos e premiações norte-americanas, confesso que está sendo uma experiência maravilhosa conhecer o que as terras europeias têm de melhor — chacoalhou os ombros.
— Ah, não — ele negou com a cabeça, tirando um olhar curioso da mulher — Isso, definitivamente, não é o que temos de melhor na Europa e eu posso provar.
— Como? — ela arqueou as sobrancelhas.
— Te convidando para passar o próximo final de semana em Ibiza — Lewis sugeriu sorridente, vendo uma assistente de palco os convidar para se sentarem nas duas poltronas ao centro do palco, perto de onde conversavam.
— Acho que posso aceitar, tendo em vista que amanhã preciso estar em Barcelona, talvez consiga esticar um pouco a viagem — riu, vendo o piloto fazer um sinal para que ela fosse na frente em direção às poltronas.
A entrevista passou mais rápido do que os dois puderam perceber. Entre perguntas sobre seus projetos pessoais e outras que tinham relação direta com o evento da Mercedes, e Lewis puderam conhecer um pouco mais um do outro e conversaram como se já estivessem confortáveis com suas presenças há anos. Puderam se divertir, fazer piadas e tirar uma dezena de fotos que, anos depois, ainda tinham em porta-retratos em suas casas, como a lembrança do dia em que tudo mudou para os dois.
Sem muitas outras referências no evento, por ser uma festa fechada e VIP, sozinhos, acabaram passando a festa inteira juntos, curtindo os shows enquanto dançavam, cantavam alto, bebiam o quanto podiam e conversavam sobre si mesmos e sobre o que acontecia ao redor. Naquele evento, naquela noite, mais do que conhecer um ao outro, Lewis e se reconheceram. Se viram nas ambições, no jeito excêntrico de ser, nas músicas que animados diziam ao mesmo tempo que amavam, na solidão que o caos da fama os trazia. E no final do evento, na manhã do dia seguinte, quando Lewis realmente a levou em seu jato particular para a Espanha, desviando seu caminho de Ibiza para deixá-la em Barcelona, o primeiro dos favores, que por anos eles iriam trocar, aconteceu.
realmente aceitou o convite dele e passou o final de semana em Ibiza. Precisava de um tempo para se desconectar, depois de tantos meses seguidos focada em seus trabalhos. Precisava descansar e precisava se distrair. E nada melhor do que Ibiza com uma pessoa nova em sua vida. Quarenta e oito horas das festas mais loucas que já tinham ido, recheadas de pessoas que eles sequer se lembravam de ter visto por lá, regados a um luxo que só a vida de um piloto milionário e de uma cineasta reconhecida pode ter. e Lewis viveram juntos o que em um ano não tinham vivido. Entre uma festa e outra, entre uma bebedeira e outra, eles acabaram se beijando e uma foto tirada por outra pessoa no evento foi o suficiente para balançar o mundo. A fofoca que se espalhou, de que estavam juntos desde que ela foi vista entrando no jato dele, não demorou mais do que um ou dois meses para ser desmentida.
Se divertindo com a fofoca e saudosos pelas lembranças de toda diversão que compartilharam, eles mantiveram contato. tinha pagado a conta do hotel de Lewis que, golpista ou só esquecido mesmo, não tinha levado seu cartão de crédito. E um de um favor a outro, foram se aproximando, foram se conectando. Nada amoroso, pelo contrário, a cada dia que eles passavam falando sobre um e outro em entrevistas, trocando mensagens, se ligando ou se encontrando nos lugares para curtir a vida, se apoiar e passar mais tempo juntos, mais a amizade entre eles se firmava. E sem que percebessem, os anos passaram. Tão leves e divertidos como só eles poderiam fazê-los passar. Tão apressados e tão turbulentos, como eles gostavam que fosse. A essencialidade da presença de um e de outro virou pertença com o tempo, a ponto de e Lewis serem, ao fim, a segurança, a confiança e a família que, muitas vezes, lhes faltavam.
Os dois acompanharam vários dos relacionamentos amorosos conturbados um do outro. Não sabiam qual deles tinha o dedo mais podre para escolher os parceiros e a mídia ajudava a dificultar um pouco. Ambos compartilhavam o descontentamento sobre o quanto era complicado se relacionar com alguém daquele meio, as inseguranças juntavam-se com as desconfianças de o parceiro estar com eles por mero interesse e tudo ficava sempre tão confuso e caótico que era melhor ir parando por ali. Mas as coisas pareciam ter mudado para eles, ao menos, recentemente.
Lewis conheceu , em uma de suas viagens ao México e contou para sobre a cantora que estava balançando seu coração. A cineasta se surpreendeu, fazia bastante tempo que o amigo não conseguia se abrir para envolvimento com outra pessoa, principalmente depois de seu último término. Em todas as conversas que tiveram, nas falas do amigo, podia perceber o quanto ele estava apaixonado pela mulher, ainda que tivesse certa dificuldade de admitir para si mesmo.
Por sua vez, Lewis, de início, não tinha gostado muito de saber sobre o contrato de . Tinha medo de que a amiga caísse, novamente, nas garras das mentiras da mídia e que acabasse saindo daquilo tudo ainda pior do que havia entrado. Ele havia vivenciado com ela uma das piores fases da carreira da cineasta, havia acompanhado o quanto tudo aquilo acarretou problemas pessoais para . Mas, no fundo, o piloto sentia que podia confiar em Tom, afinal o ator nunca esteve envolvido em nenhuma fofoca, parecia um homem íntegro, educado e cavalheiro, o pacote completo britânico que, pelas falas de , parecia fazer muito bem para ela. Se estava certa do que fazia e estava feliz, então Lewis também estava.
— Mas olha só, aproveita isso para seguir o exemplo de seu amigo aqui, — ele apontou para si mesmo, orgulhoso — que vai fazer bolos de Natal em um reality show com distribuição internacional só para conseguir passar cinco semanas com quem ele gosta.
— Aí, eu sabia que você estava indo por mim — o provocou de propósito, fazendo cena — Que lindo, Lewis.
— A não ser que você seja a cantora mais linda que esse mundo já viu, — ele disparou sincero, sorrindo — infelizmente não, não estou indo por você.
O fim. O novo recomeço.
De onde estavam, nada além de uma porta branca, iluminada, podia ser vista à frente. O chão com um carpete azul escuro e as paredes com isolante acústico abafavam qualquer que fosse o ruído nas salas ao lado e não havia luz no ambiente não fosse pela iluminação que refletia do outro lado da porta branca. Como espécies de antessalas, pequenas e bastante confortáveis, dentro de cada uma delas, das dez, tinham algumas poltronas verdes espalhadas e uma pequena televisão pela qual era possível ver o que acontecia do outro lado da porta à frente. Agendados para horários diferentes para que não se encontrassem, os dez participantes do programa tiveram que ir até o estúdio já prontos e, tão logo tinham chegado até o prédio, já foram encaminhados, um a um, para uma daquelas salas.
O clima lá dentro estava bom, apesar do dia lá fora estar tipicamente londrino: frio, chuvoso e cinzento. Algumas pessoas da produção passavam de tempos em tempos para saber se estava tudo bem, fazer fotografias oficiais do programa, retocar maquiagem ou mesmo dar um oi curioso. Os dez participantes tinham consciência de que os demais também estavam ali, mas ainda não sabiam quem eram. Era parte importante do primeiro episódio, o que geraria expectativa no público e muita audiência ao saber que assistiriam a reação real dos dez famosos ao verem uns aos outros pela primeira vez. E não fosse apenas a expectativa do público, os dez participantes, seguramente, se sentiam animados e ansiosos por aquele exato momento.
Da pequena televisão dentro das salas já era possível ver o estúdio cem por cento decorado com enfeites de Natal. No ambiente, havia cinco cozinhas montadas, cada uma contando com um espaço organizado com uma bancada em L de metal, que os deixaria frente a frente com os demais participantes, outra bancada em madeira escura mais ao fundo onde estavam o fogão, forno e a pia e, ao lado, uma grande geladeira de duas portas. Além disso, cada cozinha levava seus próprios utensílios, mobiliários e equipamentos necessários para as provas, não teriam que dividir ou compartilhar absolutamente nada. Os ingredientes ficariam já separados e dispostos em cada uma das cozinhas, conforme os desafios e, assim, por segurança em tempos em que não se podia aglomerar na dispensa do estúdio, aquela edição não contaria com a etapa da busca de ingredientes.
Cada bancada tinha um letreiro, em sua frente, onde os primeiros nomes de cada dupla se iluminariam conforme fossem chamados e ficariam acesos ao longo de toda a gravação. Para deixar tudo ainda mais temático e aconchegante, a decoração natalina espalhava-se pelo estúdio, o enchendo de pinheiros carregados de bolinhas coloridas e com dezenas de presentes embalados em seu pé, luzes brilhantes por toda parte, guirlandas, bolas, festões, tudo em vermelho, verde e dourado, com neve falsa feita em feltro branco cobrindo partes do chão e um lareira com meias natalinas e cheia de bengalas de doces. Os utensílios de cada cozinha seguiam as cores da decoração de Natal e cada participante teria o seu avental temático, vermelho, com figuras típicas da festa bordados, como renas, cookies, bonecos de neve e papai Noel, e, no bolso central do avental, seu nome.
Um pouco mais distante de onde as cozinhas estavam, de modo que pudessem ver todas elas, uma bancada com quatro lugares estava montada, igualmente decorada com festões coloridos e guirlandas, onde os jurados de cada prova ficariam. Confeiteiros renomados, estudiosos da culinária, donos de grandes franquias e pessoas famosas interessadas no tema e na exposição do reality eram convidados a participar como jurados, provando os doces feitos pelos dez participantes e escolhendo os melhores em ordem decrescente. Como um bom programa gravado, tinham um roteiro a seguir, seriam sempre divertidos e simpáticos, não havia um julgamento real porque não estariam lidando com confeiteiros reais. E fora isso, todas as provas seriam revistas, recortadas e editadas, de modo que pudessem compor episódios dinâmicos e em acordo com os propósitos do programa.
Sem que soubessem quem eram, os dez participantes tinham gravado tomadas individuais, dando pequenos depoimentos diante de uma câmera na sala em que estavam esperando ser chamados para iniciar a gravação. A ideia era que eles se apresentassem e contassem mais sobre seus trabalhos, sobre o que gostavam de fazer e o que o Natal e a confeitaria significavam para eles. Cada apresentação seria distribuída no vídeo entre a chamada de anúncio de cada um deles, de modo que o telespectador pudesse conhecer melhor os participantes.
Sentada em uma das poltronas enquanto mexia em seu celular, podia sentir seu coração acelerado, mas estava disfarçando bem. Já estava acostumada com a exposição e em estar diante das câmeras, aquilo não era um problema, amava o que fazia. Mas tudo parecia tão misterioso, não soube de detalhe algum de como aquele programa funcionaria até chegar ali, no prédio luxuoso em que o gravariam pelas próximas semanas. Seu agente havia recebido a proposta dois meses atrás, convencido a assinar o contrato mais vago que já tinha visto na vida e ali estava ela, esperando pacientemente pelo momento em que a chamasse para entrar em uma gravação que nem sequer tinha um roteiro. O que ela podia esperar?
— Me lembra uma coisa: por que aceitamos fazer um reality show de culinária mesmo?
Bloqueando o celular e o deixando sobre uma pequena mesa ao lado da poltrona em que estava sentada, perguntou olhando para seu agente, sentado à frente dela. Se lembrava vagamente da lista de motivos que ele tinha usado para convencê-la, talvez porque a tivesse apresentado enquanto estavam a caminho da premier de um filme, na maior das correrias. Seu agente desde o começo de sua carreira, Justin era um visionário e um aventureiro. Estava sempre atento às novidades e gostava de fazer a modelo aparecer em contextos inesperados. Confiava nele, nos projetos que ele a apresentava e, até então, nunca tinha se arrependido de ter topado fazer algo que fez. Mas participar de um programa de culinária sendo alguém que não tinha a menor aptidão para cozinhar era, no mínimo, contraditório.
— Em primeiro lugar, é um programa de confeitaria, não de culinária e, em segundo, eles estão te pagando o suficiente para comprar uma pequena ilha, foi por isso que te enfiei nisso — Justin respondeu no mesmo tom de voz, caminhando ao lado dela enquanto ajeitava a camisa.
— Eu não quero comprar uma ilha — a mulher sorriu para o amigo, que deu de ombros.
— Pois deveria — ele deu de ombros — Eu mereço ter onde descansar sem ter uma multidão de gente atrás.
— É sério, o máximo que eu vou fazer é passar vergonha, Justin — insistiu levantando-se, ajeitando o vestido verde musgo todo feito em tecido de tela brilhante, curto e com mangas de frio, com apenas metade do corpo sendo coberto. Pela transparência conferida pelas telas, ela vestia um sutiã da mesma cor e sapatos de salto alto.
— O programa é todo roteirizado, fique tranquila, vão deixar todos os ingredientes disponíveis e é só seguir as receitas — o homem respondeu sereno, voltando seu olhar até ela e sorrindo positivo.
— Como sabe disso? — ela perguntou curiosa.
— Você nunca assistiu Sugar Rush? — ele gritou boquiaberto, observando a amiga negar com a cabeça.
— Eu deveria assistir Sugar Rush?
— Se tivesse assistido, ao menos saberia como funciona — ele rebateu irônico, fazendo a amiga revirar os olhos. Ela sabia que ele tinha um ponto. E talvez não tivessem enviado diretrizes sobre como funcionaria o programa porque bastava assistir às edições anteriores. suspirou descontente consigo mesma por ter percebido aquilo tarde demais.
— Era sua obrigação ter me feito assistir ao programa antes de estar nele, Justin — ela bufou, vendo-o dar de ombros.
— Eu não sou pago para isso.
— É pago para o quê, então? — levantou as sobrancelhas, pronta para enfrentar o drama que sabia que ele estava prestes a fazer.
— Te ajudar a escolher roupas, eventos, filmes e boys — listando com os dedos, Justin respondeu rapidamente a fazendo rir.
— Está deixando a desejar nos quesitos eventos e boys — ela sorriu provocativa, mas o homem demorou só um segundo para rebater:
— Qual é? Quem te apresentou para o Kylian Mbappé? — ele estufou o peito, orgulhoso de si mesmo. Gostava de ser um homem de muitos e bons contatos.
— O Paris Saint-Germain? — riu alto assim que o amigo a encarou apático, mostrando-lhe o dedo do meio. Aquilo era meio verdade, ela sabia.
havia sido convidada para apresentar uma das maiores categorias do The Best da Federação Internacional de Futebol, a de Melhor Jogador. O evento acontece anualmente e busca premiar os melhores jogadores, goleiros e treinadores da última temporada, tanto do futebol masculino quanto feminino, tendo sido criado em 2016 para substituir o prêmio de Melhor do Mundo. Na premiação, um comitê com nomes notáveis do esporte mundial selecionava os dez finalistas ao prêmio que, então, passavam a competir pela honraria por meio de votações. O vencedor era eleito a partir do voto dos torcedores, que escolhem seu top 3 no site da Fifa.
Por conta da pandemia de Covid-19, a grande maioria das premiações, como aquela, estava sendo realizada de forma virtual, remotamente. Com isso, apenas os apresentadores, depois de passarem por uma testagem prévia, se reuniam em um estúdio para realizarem a transmissão do evento e os candidatos às condecorações estariam presentes somente em conferência de vídeo. Além de , o ex-jogador Ruud Gullit, foi convidado para ministrar integralmente a cerimônia. A modelo ficaria responsável por apresentar uma única categoria, a de maior destaque. Grandes nomes estavam na lista de jogadores indicados como o de Robert Lewandowski, Lionel Messi, Neymar e Kylian Mbappé.
Por ser a de maior destaque, a categoria que apresentaria foi deixada por último no evento da premiação e, por isso, cheios de expectativas, cada vez mais o número de telespectadores aumentava na transmissão. Todos enlouquecidos para saber qual seria o grande nome do esporte daquele ano. Quando entrou no palco, com um vestido longo e brilhante, feito exclusivamente para ela, contornando seu corpo, os comentários eufóricos quase derrubaram a transmissão ao vivo do evento. Ruud a esperava na base escada para ajudá-la a subir os degraus e a modelo sorriu agradecida para ele, entrelaçando seu braço ao do homem, que caminhou com ela até o centro do palco. tinha em sua mão livre o envelope com o nome do vencedor e cada movimento que fazia era comentado ao vivo pela mídia e pelas pessoas que assistiam.
Antes que abrisse o envelope para informar quem ganharia o prêmio, ela introduziu brevemente a categoria e assistiu elegantemente aos vídeos que foram passados no telão, logo atrás dela, com os grandes momentos dos indicados na competição. Com todas as apresentações dos jogadores devidamente feitas, anunciava para as câmeras do estúdio o nome de Robert Lewandowski como Melhor Jogador daquele Ano. sorridente e aplaudindo o vencedor, a modelo continuou dividindo o palco com Ruud enquanto o telão foi preenchido pelo vídeo de agradecimento do vencedor, até o encerramento da cerimônia.
Com as todas as câmeras já desligadas, Ruud foi em direção a e agradeceu pela presença na cerimônia, não poupando elogios para a sua apresentação no evento. Depois de conversar e trocar contatos com boa parte da organização do evento e jogadores presentes, finalmente, a modelo conseguiu se dirigir ao camarim que havia sido preparado para ela. Extasiada, como se tivesse acabado de viver um sonho, teve de parar por alguns segundos para poder absorver tudo que tinha acontecido com ela. Era surreal onde seu trabalho estava a fazendo chegar e surreal pensar que estava conseguindo alcançar tudo aquilo sozinha, por seu esforço e por sua luta pessoal. Não precisava se alavancar em ninguém, não precisava de favores ou ser o rosto bonito que acompanhava algum homem importante, a namorada de um famoso. Era só ela. Ela e o trabalho brilhante que estava fazendo todos aqueles anos. Se sentindo realizada e um tanto poderosa por aquele momento, abriu a porta do camarim a tempo de ver Justin a receber com um grande sorriso nos lábios e os braços abertos.
— Você estava simplesmente MA-RA-VI-LHOSA — Justin disse a abraçando apertado. Tinha tanto orgulho da amiga e de onde estavam chegando juntos, que ele podia explodir.
— Justin, não me ilude — brincou o abraçando de volta, mas logo se separou ligeiramente dele, o encarando meio tensa — Você achou mesmo?
— , quando foi que eu menti para você? Se situa, mulher! — Justin estalou os dedos na frente dos olhos dela, como se quisesse que ela acordasse — Todos os palcos foram feitos para você. Todos. Sem exceção.
— Vou confessar que amei estar no palco de uma forma diferente — juntou as mãos, animada — Eu amo ser modelo, mas apresentar um evento desse porte foi incrível.
— E, boatos que não são só os palcos que foram feitos para você — Justin comentou desentendido, pegando seu celular de cima do sofá do camarim, onde antes ele estava jogado, esperando por ela, acompanhando os comentários que o público fazia sobre a participação de no evento.
— Vish, lá vem — o olhou novamente tensa — O que você está insinuando, Justin?
— O Kylian Mbappé acabou de seguir você no Instagram, mon amour — Justin caminhou de um lado a outro como se desfilasse, gesticulando para a amiga, que riu.
— E o que tem demais nisso? Sou uma mulher comprometida — revirou os olhos.
— Eu sei, eu sei, e eu amo o seu namorado e os olhos azuis dele, inclusive — o agente comentou sincero e um tanto sério, vendo a amiga rir novamente — Mas parece que o francês ficou interessado no verdadeiro ouro da noite. E não estou falando daquela taça horrorosa.
— Vamos ser sinceros, Justin: e quem não fica? — mexeu nos cabelos, falsamente arrogante.
— Deus, manda um pouco de autoconfiança para cá também, por favor — Justin olhou para o céu, fazendo gargalhar e abraçá-lo mais uma vez, indo em direção ao provador do camarim, onde poderia, finalmente, se trocar.
O envolvimento entre e Kylian somente aconteceu meses depois do jogador segui-la nas redes sociais. A modelo havia recém terminado um longo relacionamento, um tanto turbulento, e estava, fazia pouco tempo, residindo na capital francesa. Com moradia no mesmo lugar e tão solteiro quanto ela, o jogador começou a mostrar um interesse claro na modelo. Entre comentários públicos em fotos que postavam em suas redes sociais e mensagens diretas que trocavam vez ou outra, Mbappé começou a ganhar um voto de confiança dela. E os encontros entre os dois começaram a acontecer entre um jogo e outro, entre um desfile e outro. Era fácil e muito cômodo para se encontrar com o jogador e tudo fluiu com mais casualidade do que eles mesmos esperavam. Ao fim, sabiam que havia entre eles pouco envolvimento emocional - era muito mais diversão e sexo, muito mais sobre ter alguém com quem passar o tempo, do que alguém com quem se envolver de verdade.
Apesar disso, ele era um homem bom, em muitos sentidos e ela tinha gostado dele. Mas tinha uma coisa estranha que a fazia se relacionar com jogadores de futebol e aquilo sempre, absolutamente sempre, causava-lhe problemas. Embora ainda se falassem, e ter enviado uma mensagem para Mbappé no dia anterior, assim que chegou a Europa, comentando sobre sua estadia de algumas semanas em Londres e sondando o que possivelmente ele estaria fazendo naqueles dias, não teria como sair nada realmente sério e relevante deles. O jogador tinha uma agenda cheia por conta dos treinos e dos campeonatos, por isso um relacionamento mais próximo era algo quase impossível para ele e a modelo não sabia se queria se relacionar com alguém, pelo menos agora. E não daria certo, principalmente, porque estava focada demais em sua carreira naquele momento de sua vida. Ao menos, era a desculpa que ela dava a si mesma, depois do término de seu último namoro.
— Eu só não te bato, , porque dependo da sua imagem para sobreviver.
— Mas, fala sério, você só me apresentou para ele porque estava de olho nos companheiros de time dele — ele sorriu sem graça, arrumando os cabelos loiros encaracolados com as mãos — Então esse nem conta, porque nem deu certo no final.
— Você transou com ele, amiga, mais de uma vez — Justin repetiu pausadamente as exatas palavras que se lembrava de contando ter ouvido de Mbappé, na manhã que se despediram porque ele teria de voltar a Paris — Deu mais do que certo. Eu sei que deu.
Justin parecia estar sempre inspirado em ser cirúrgico e aquele jeitinho totalmente direto e sincero dele era uma das partes que mais gostava. Com os anos de convívio e com a intensidade da companhia, o agente tinha passado a ser o melhor amigo, aquele quase irmão, da modelo. Sabia absolutamente tudo sobre ela e tinha nela a única pessoa de sua vida que confiava o suficiente para saber tudo sobre ele. Amava aquela garota com todas as suas forças e, justamente por amá-la tanto, fazia questão de sacaneá-la sempre que podia.
fechou os olhos e respirou fundo, negando com a cabeça, sem conseguir segurar a risada do comentário assim que ouviu o amigo rir também. Ela sempre contava a ele como eram seus encontros e não foi diferente daquela vez. Com uma boa taça de vinho, entre os gritos animados e as reações exageradas de Justin, ela tinha contado tudo, desde quando começou a conversar com o jogador de futebol até a última vez que se viram, no iate dele em Ibiza.
— Justin! — ela o repreendeu rindo, olhando ao redor ligeiramente assustada — Controla essa boca, tudo aqui está sendo gravado.
— Me desculpe! — ele tapou a boca rindo junto — Mas só disse verdades.
— Ele tem uma agenda lotada, assim como eu, como isso daria certo? — deu de ombros.
— E se ele comprasse um jatinho? — Justin levantou as sobrancelhas, uma vez mais provocando a amiga.
— Não tinha pensado nisso — fingiu não se importar — Mas acho que não quero outro homem na minha cola agora e têm boatos de que ele está de rolo com outra modelo também.
— Me perdi, eu acho — ele colocou a mão na cabeça, como se estivesse passando mal — Esse mundo precisa de mais famosos, vocês todos já pegaram vocês todos, está muito limitado.
— A gente esbarra sempre nas mesmas pessoas, a vida é assim.
— Sem filosofias, ! Mas voltando, sério agora, eu não estou errando no quesito boy e nem no quesito eventos, eu amo esse programa e você vai gostar também. — o agente olhou para a amiga — E tirando o fato que fecharmos a parceria para os participantes usarem sua coleção com a Moschino no final da temporada foi, modéstia parte, uma tacada de mestre.
— Nisso, vou ser obrigada a te dar os créditos — ela piscou para Justin — Você realmente não sabe o nome de nenhum dos outros participantes?
— A organização do programa consegue ser pior que a Gossip Girl escondendo sua identidade — os dois riram — Nenhum nome vazou até agora e não teve drama ou ameaça que os fizeram soltar para para mim.
— Só espero que o final desse reality não seja igual ao da série — a modelo colocou as pernas sobre a poltrona à sua frente — Entediante e previsível — e voltou a mexer em seu celular.
— É um reality e da Netflix, com mais 9 artistas, acho que tédio é o que você vai menos sentir — Justin rebateu firme, seguro daquela decisão — Estão reunindo pessoas prestigiadas e famosas no auge de suas carreiras, não será nenhum tipo de avacalhação. Vai ser divertido, clima Natalino, leve e familiar, com festas e você vai amar — ele a viu voltar seu olhar novamente até ele — Tirando o fato que é uma ótima oportunidade para a sua coleção e para a sua imagem como marca. Quem sabe em breve deixa se der apenas uma colaboração e você vira dona de uma linha só sua.
Justin tinha razão, ela sabia. Já tinham tido aquela conversa outras vezes. Talvez usufruir um pouco da fama não fosse tão ruim assim. O mundo da moda já acabava não dando oportunidade para novos nomes entrarem facilmente na indústria, ainda que muitos avanços tenham sido dados, elitismo e as conexões por indicação diziam muito sobre aquele mercado. O programa proporcionaria portas que nunca tinha pensado em abrir. Isso porque, provavelmente, as outras nove personalidades famosas que dividiram o reality com ela não eram ligadas diretamente ao mundo da moda e, a partir do momento que vestissem sua coleção, novos ambientes se expandiriam para . Com eles, viria toda a atenção da mídia e uma exposição ridiculamente grande de seu trabalho, novos contatos e pessoas, e, com certeza, uma chance real de preparar o terreno para, quem sabe no futuro, a marca que tanto sonhava colocar nos palcos se tornasse realidade. Ainda, por ser ambientado em tempos de Natal, certamente traria boa audiência de público em geral e em dimensão global.
— Bom, tudo bem — ela se deu por vencida, soltando um suspiro. — Foi convincente. Pelo menos gostei que vão fazer uma festa de boas-vindas. Que horas vai começar?
— Depois que gravarmos a entrada do primeiro episódio, eu acho — ele deu uma olhada no relógio em seu pulso esquerdo.
— E como vai ser isso? Já sabemos de algo? — apontou para a televisão, incerta se Justin tinha qualquer instrução. De acordo com alguns dos produtores que passaram pela sala em que eles estavam, mais cedo, não havia nada com o que se preocupar, não haveriam surpresas.
— Vão apresentar o programa e vocês serão chamados um a um, como se estivessem sendo revelados e vão fazer o sorteio das duplas, ou algo assim — Justin respondeu o que se lembrava de terem lhe dito.
— Quanto mistério — ela riu debochada — Algum palpite de quem será minha dupla?
— Richard Madden — Justin juntou as mãos em claro sinal de felicidade em dizer aquilo. levantou as sobrancelhas, surpresa pela convicção do amigo.
— Como?
— Bom, pode ser que eu tenha dado em cima de um dos produtores do programa para descobrir — ele riu sem vergonha — E ele me disse que viu, de relance assim, algumas das fotos dos participantes finais e das duplas, e Richard Madden era definitivamente o seu par.
— Ok, parece bom pra mim — a mulher concordou sem grandes emoções.
— Querida, é o Richard Madden! Bom é um insulto — ele a encarou com obviedade.
— Você é insuportavelmente exagerado, Justin — revirou os olhos — Eu não sei se gostei muito de ser ele, porque, você sabe, ele me lembra você-sabe-quem.
Justin foi obrigado a concordar. Nos últimos meses, inclusive, com a aparição do ator em Eternos, o novo filme da Marvel, sua semelhança física com Sebastian Stan foi um dos pontos que mais chamaram atenção dos fãs e da mídia. Apesar disso, era um cara bonito, com boa presença e com uma imagem muito boa consolidada mundo afora, sem escândalos e polêmicas. Tanto em termos pessoais quanto profissionais, seria bom para .
Para a modelo, contudo, apesar de parecer não se importar por fora, por dentro estava levemente incomodada. Estava em um processo de aceitação do que aconteceu e de aprender a lidar com as memórias que tinha de Sebastian. Na verdade, se esforçava em tentar esquecê-lo e ver alguém tão parecido com ele certamente traria certas lembranças, ou mesmo comparativos inconscientes, que ela não queria ter.
Sebastian e se viram pela primeira vez em um desfile da Hugo Boss, em Paris. O ator era um dos embaixadores da marca e sempre que podia participava dos eventos nas primeiras fileiras dos desfiles. A modelo, por sua vez, estava desfilando para a marca como convidada especial, sendo a primeira vez que representava a Boss em sua carreira - um prestígio que alcançou depois de anos sendo a embaixadora da semana de moda da Mercedes-Benz. Na ocasião, despretensiosos e sem realmente esperar que se encontrariam por lá, trocaram uma conversa rápida e casual, saíram em algumas fotos juntos e nada mais além disso. Algum tempo depois, passou a reparar que Sebastian estava sempre presente nos eventos de moda, enquanto o ator notava a estranha coincidência de ver a modelo escalada para os desfiles que ele assistia ou era convidada para as festas e lançamentos que ele também estava.
Assim, casualmente, os dois passaram a se esbarrar em Nova Iorque, depois em Londres, em Paris, em Milão. Sempre se cumprimentavam, tiravam um tempo para conversar e tomar algo juntos, mas nada mais além daquilo - eventos profissionais para , eventos sociais para Sebastian. Contudo, conforme o tempo foi passando, eles foram se conhecendo aos poucos e os encontros casuais foram se tornando mais constantes e esperados, Sebastian passou a usar seu charme a seu favor. Além da nítida beleza de ser uma das mulheres mais desejadas do mundo, esbanjava carisma e modernidade. Parecia estar sempre pronta para conversar, era atenciosa, inteligente, segura de si mesma e do que queria para seu futuro. Parecia que a cada vez que se encontravam e a cada novo detalhe que via em , que aprendia sobre ela, Sebastian tinha vontade de ter mais, de querer mais.
Por isso, discreto e bem seletivo, o ator passou a jogar todo seu charme para cima da modelo. Sabia o que causava às mulheres ao seu redor e, no fundo, desde quando tomou a decisão de que queria investir na modelo, torcia para que aquele impacto também surtisse efeito nela. Mas já estava acostumada com esse tipo de situação e demorou para mostrar interesse no ator. Apesar de fingir que não entendia as investidas ou que não se abalava com elas, Sebastian sempre dava um jeito de reaparecer e tentar novamente.
A mandava DMs no Instagram, a chamava por mensagem, sempre dava um jeito de falar com ela nos eventos que se encontravam, a aplaudia de pé quando ela passava na passarela nos desfiles que ele assistia. Tinha recentemente elogiado o trabalho dela em uma entrevista e postado uma foto usando um look da Versace assinado por ela. Como um jogo, parecia que quanto mais difícil era conquistá-la, maior era o interesse do ator em ter qualquer coisa com ela.
Contudo, toda aquela situação discreta e um tanto velada mudou na cidade da Moda algum tempo depois e Milão passou a ter um espaço especial no coração e na memória de Sebastian. A cidade e a noite ficavam ainda mais bonitas, passavam, de repente, a carregar uma atmosfera mágica entre as luzes das lojas, a tradição das ruas, as vitrines minimalistas e o charme das perfumarias e padarias, tudo regado com as melhores marcas do mundo, tudo sendo iluminado pelo sorriso mais bonito que Sebastian já tinha visto. Um ano atrás, depois de mais um dos desfiles em que os dois se encontraram, , finalmente, aceitou o convite para sair com ele, mas, desta vez, consciente de que tinha propriamente marcado um encontro - o date do ano, segundo Justin.
O ator não teve muito tempo para pensar no que fariam, pois acostumado com as recusas da mulher, não acreditava que ela aceitaria, novamente, o seu pedido. Para não desperdiçar a chance preciosa que teve e para que os dois pudessem aproveitar a noite, ele recorreu à opção mais viável no momento: estava hospedado em um dos hotéis mais caros e luxuosos de Milão, financiado pela marca que patrocinou sua presença ao desfile, o local possuía uma área exclusiva para os hóspedes com bares, restaurantes e spa. Sebastian não sabia de onde vinha tanta sorte, pois, para sua surpresa, aceitou ir para o hotel com ele. Talvez a Itália fosse mesmo uma terra dos amores e dos amantes, mas Sebastian não tinha ideia, naquela altura, de que a aura de sorte tinha um nome e não era bem italiano.
Justin, o agente de , em uma conversa com a modelo dias antes de irem para a Itália, brincou com ela que achava que sua amiga precisava aproveitar as oportunidades que a vida lhe dava para beijar homens gostosos e que a desejavam. Não que aquilo fosse um problema para ela, mas não era todo dia que se tinha a chance de beijar um super-herói - muito menos um como aquele em especial. ficou com aquilo na cabeça pelos dias seguintes e, assim que viu Sebastian se levantar para aplaudi-la, os olhos brilhantes dele em cima dela enquanto desfilava séria e focada, pensou que, talvez, Justin tivesse razão.
— Só para você saber isso aqui não significa nada, ok? — a modelo disse abrindo a porta do carro que os esperava do lado de fora do local do desfile.
— Pode não significar nada agora, — fechando a porta do carro, Sebastian notou que ali, mesmo que com pouca luz, ela continuava linda e o seu sorriso poderia iluminar ainda mais a cidade da moda.
não respondeu nada, apenas sorriu com o comentário dele. Mudando de assunto, os dois conversaram todo o caminho até a chegada no hotel e, tão logo estacionaram, Sebastian desceu correndo do carro para que conseguisse abrir a porta para . Quando ela desceu, o ator estendeu o braço para que a modelo o segurasse. Um verdadeiro cavalheiro, atento aos detalhes, querendo dar o melhor que ele podia oferecer. O casal adentrou o local, animados, e foram direto para o bar. Enquanto o via pedir para uma mesa para os dois, não pode deixar de notar como o terno que Sebastian vestia realçava a cor de sua pele e como caia perfeitamente bem nele. Em qualquer ângulo, aquele homem era absolutamente bonito.
— O que foi? — Sebastian falou para ela se virando de frente. estava com o olhar fixo nele, mas sua mente estava bem longe dali focada em como ele estava bonito e como o terno o deixava ainda mais gostoso, não podia mentir para si mesma o ator era atraente.
— Oi? — ela disse avulsa — Meu pensamento foi longe, — passou a mão pelos cabelos — bem longe mesmo.
— Ofereço uma moeda pelos seus pensamentos — Sebastian respondeu a ela com um sorriso de canto.
— Só uma moeda? — a modelo levantou as sobrancelhas — Você vai precisar mais do que isso, Sebastian.
— E se o pagamento for de outra forma? — ele colocou a mão sobre as costas dela, a direcionando carinhosamente para onde o recepcionista os indicava, sentido a mesa.
— De que tipo de pagamento estamos falando? — a modelo sorriu de lado, charmosa, caminhando com ele um passo atrás dela — Só faço negócios se for em euro, o dólar não está tão valorizado.
— Acho que o que posso te dar, vale bem mais do que isso — Sebastian disse se sentando, vendo a mulher fazer o mesmo à sua frente enquanto gargalhava. Literalmente, ela estava rindo da cara dele.
— Por acaso seu sobrenome é convencido? — a modelo não notou que o corpo do ator estava tão próximo ao dela — Mas acho que gosto de um homem que sabe reconhecer suas qualidades.
— Acho que posso te oferecer isso também — ele riu leve com ela, vendo o garçom deixar suas taças com Gin às suas frente.
— Podemos brindar à sua vitória, depois de tanto tempo insistindo — pegando uma das taças, ela a levantou brevemente no ar. Sebastian sorriu lindamente, batendo leve sua taça na dela.
— Vou aproveitar a deixa para trazer um tópico sensível a essa conversa — umedecendo os lábios com a língua, ele se aproximou ainda mais dela, olhando fixamente em seus olhos. De perto, a modelo pode notar que os olhos azuis dele eram ainda mais intensos — Por que você me ignorou todo esse tempo?
— Eu não te ignorei — ela riu, tomando um gole de sua bebida — Só estava vendo até onde você aguentava sem desistir, sou uma grande apreciadora de esforços — os dois estavam perto demais, ele conseguia sentir a respiração quente dela próximo dele e não sabia quanto tempo conseguiria ficar ali sem poder tocá-la — E, parabéns, você quase tirou a nota máxima.
— Quase?— foi a vez dele arquear as sobrancelhas.
— Ganhar um vídeo de declaração da sua paixonite por mim nas redes sociais não seria nada mal — ela fez menção a um vídeo que Sebastian havia feito a uma ex-namorada no dia de seu aniversário, no qual o ator mostrava como era seu dia a dia longe da atriz que estava se relacionando durante o período que passaram separados — Com certeza, depois disso, você não pode tirar nota máxima — os dois riram, ele se sentia um bobo por ela citar esse fato. Sua antiga relação não terminou da melhor forma, a antiga namorada usava muito da imagem de Sebastian para se autopromover, enquanto o ator não conseguia sair para nenhum lugar sem que os paparazzi, comprados por ela, fossem atrás dos dois. O relacionamento desgastou e terminou porque ele estava simplesmente exausto de ter que justificar tudo relacionado a ela publicamente, de ficar vivendo em constante exposição.
— Erro meu, confesso — o ator colocou a mão em seu peito — Mas o que posso fazer para me redimir? — fez uma pausa, passando a língua entre seus lábios — Gosto de ser um aluno aplicado — e chegou ainda mais próximo de .
— Me beije — como se fosse uma ordem o ator sedutoramente e quebrou a pouca proximidade que havia entre os dois e a beijou. Sebastian não pensou duas vezes, queria muito beijar aquela mulher, sentir a maciez de sua pele encostando na dele. O beijo entre os dois começou calmo, nenhum deles pareceu ter pressa para que aquilo acabasse. Apesar de não saber exatamente o que iriam fazer naquela noite, queria se permitir a aproveitar, sem ter que se cobrar sobre o amanhã. Queria, pelo menos uma vez em sua vida, colocar seu desejo acima da razão.
Os beijos começaram a ficar intensos e constantes, entre uma ou duas novas taças de Gin, entre conversas baixas e provocações discretas. O anseio por mais aumentava nos dois conforme o tempo passava, até ser insuportável o suficiente para se manterem naquele cenário. Receoso, sem saber exatamente como reagiria a aquele passo, Sebastian fez menção para que eles subissem até o seu quarto, onde poderiam ficar mais à vontade e aproveitar melhor a companhia um do outro, sem os olhares que estavam atraindo no bar do hotel.
Deixando escapar um sorriso provocante ao ouvir o convite ser feito baixo, em seu ouvido, seguido de alguns beijos leves em seu pescoço, aceitou sem cerimônias. Se sentia confortável com ele, pronta para dar um próximo passo e segura o suficiente em se relacionar com alguém que se mostrou íntegro e confiável, que soube entender o tempo dela e não que havia desistido ou à exposto sempre que levava, apesar da coleção de gelos que deu nele e que, facilmente, montariam um iceberg. Sebastian era diferente de outros caras com quem já tinha saído. Além de ridiculamente lindos, tinha uma conversa interessante, gostava dos mesmo filmes que gostava, se interessava por moda, era atencioso e muito cuidadoso com as palavras e com o espaço dela. Ele era um diferente bom. Um diferente que a fez, naquela noite, querer descobrir um pouco mais.
Milão ficou marcada na história dos dois. Como a cidade onde saíram pela primeira vez, a cidade onde a primeira noite em que se conheceram intimamente aconteceu. Sem pressa, se deixaram apreciar cada milímetro um do outro e experimentaram o prazer juntos. O vestido que ela usava não durou muitos minutos em seu corpo, Sebastian queria estudá-la, tocá-la e principalmente, prová-la. aproveitou cada instante daquele momento dos dois, entregando-se ao desejo e aos sentimentos que teve. Se tinha uma certeza naquela noite, era a de que o ator sabia exatamente o que estava fazendo: ele a estava deixando louca.
Os encontros entre Sebastian e passaram de casuais nos desfiles, para frequentes nos apartamentos dos dois em Los Angeles e Nova Iorque, preferindo, em um primeiro momento, deixar o relacionamento fora da mídia. A modelo tinha certo receio de, no final das contas, ser só mais um troféu na prateleira de mais um cara famoso, exatamente como seus outros interesses a fizeram se sentir. Ela era , não queria resumir-se em ser apenas a namorada de alguém. Tinha muito mais a oferecer, não seria abafada pela fama de nenhum cara, queria e merecia ser reconhecida pelo seu trabalho, pela sua competência e pela sua beleza.
Mas sendo quem eram e se tratando do lugar em que viviam, a mídia parecia estar sempre atenta aos sinais e aos movimentos. O segredo deles não ficou guardado por muito tempo. Os paparazzi amavam suas aparições públicas separados e, profundamente ligados aos sinais mínimos que deixavam escapar um ao outro, foram juntando as peças de um enorme quebra-cabeças. Sebastian, na época, estava gravando Falcão e Soldado Invernal, nova produção dele com sua dupla da Marvel, Anthony Mackie e, imagens dele se encontrando com a modelo na cidade, fãs que o ouviram falar com ela por telefone e a simples menção dela em uma entrevista dada por Mackie foram o suficiente. O relacionamento entre o ator e a modelo estava firme, já haviam se passado pouco mais de seis meses desde a primeira vez que tinham ficado juntos, ele sentia que não podia esperar mais para chamá-la de namorada e estava confiante em se manter entregue ao sentimento que tanto negou que sentia por ele.
Em um dos dias em que estava saindo cedo do apartamento de Sebastian, uma movimentação suspeita chamou sua atenção. Como estava atrasada demais para ficar prestando atenção no que acontecia, ela simplesmente ignorou o assédio dos paparazzis e seguiu correndo até o local onde faria algumas fotos para uma campanha nova da Moschino. As botas da modelo ecoavam pelo estúdio em que faria um ensaio enquanto ela caminhava apressada, com seu café descafeinado e sem açúcar em mãos. Justin já a estava esperando, ansioso, e algo nele estava diferente naquela manhã.
— Bom dia, flor do dia — chegou animada, deixando sua bolsa de lado e indo abraçar o amigo.
— Bom dia — ele respondeu levantando-se para abraçar a amiga, sua expressão estava séria, levemente preocupado.
— Que cara de defunto é essa? — ela perguntou estranhando, separando-se dele.
— Tenho uma notícia que talvez você não vá gostar muito — Justin fez menção para pegar seu telefone que estava na poltrona, mas o celular da modelo foi mais rápido, emitindo um som alto de notificação. Curiosa em ver o resumo da mensagem na tela, logo a abriu.
Sebastian: Princesa, eles já sabem.
https://www.justjared.com/2019/09/13/sebastian-stan-new-romance-with-international-model/
A modelo abriu o link da matéria enviada por Sebastian, se deparando de cara com uma foto dela na capa, com a manchete gritante: “Sebastian Stan está em novo relacionamento? Modelo foi vista saindo do apartamento do ator hoje pela manhã”. precisou se sentar, tentando absorver o que tinha lido. O que ela mais temia aconteceu. Não que namorar Sebastian fosse algo ruim para a imagem dela, longe disso. Mas ela não queria ser resumida ao cargo apenas de namorada, o enfeite do ator famoso e sequer terem colocado o nome dele na manchete já dizia muito sobre isso. Ela era só a modelo. A pessoa com quem Sebastian saía e era assim que passariam a vê-la dali em diante.
Às lembranças de comentários e perguntas que teve que ouvir em relacionamentos passados tomaram sua mente como uma onda feroz. A mídia maldosa afirmando que só tinha conseguido chegar porque se relacionou com os homens certos, os eventos que teve que deixar de ir e às campanhas que precisou recusar fazer para não interferir nas imagens deles. tinha lutado muito para chegar até ali, sozinha. Tinha trabalhado duro e continuava trabalhando para se livrar daquele tipo de ideia e de comentários. De uma hora para outra, contudo, pareceu que nada valeu a pena. Tudo voltou, tudo estava prestes a recomeçar da exata mesma forma que antes.
Pelos seis meses que conseguiram esconder o que estavam tendo da mídia, tudo foi estável e perfeito para ela. Os dois chegaram a conversar sobre o assunto algumas vezes, mas sabia que, ainda que Sebastian a entendesse, parte dele não saberia nunca como exatamente ela se sentia. O incômodo, o problema, ele simplesmente não poderia saber por que nunca passou e nunca passaria por aquilo. Apesar de como passou a se sentir desde aquele dia, não queria fazer daquilo uma questão entre ela e Sebastian. A situação a incomodava individualmente e não interferia, de certa forma, na relação dos dois. Ela tinha que aprender a lidar com suas questões pessoais se quisesse mesmo ficar com ele.
Mas quase nada em um relacionamento pode ser tão individualizado e aquela questão ficou latente no tempo. Sem conseguir encontrar formas de fazê-lo entender como ela se sentia e com o aumento expressivo de manchetes, comentários e situações em que se sentia daquela forma, foi se sentindo sufocada. Parecia que sempre que estava com ele seu trabalho simplesmente não existia, sua personalidade desaparecia e ela deixava de ser quem era para ser uma objeto de glamour e de atenção que ele carregava. Sebastian fazia o que podia para minimizar a situação, mas o que mais ele poderia fazer, afinal? Não dependia dele, não era culpa dele.
Justin, vendo a amiga se abater com o que estava acontecendo, passou a direcioná-la sempre que podia para trabalhos e contratos fora dos Estados Unidos. Com outra cultura, mais reservados e com menos espaço para deixar a mídia engolir seus famosos, começou a ganhar fama e prestígio na Europa, exatamente como sempre sonhou, e cada vez mais trabalhos apareciam para ela no continente, o que lhe ocupava muito tempo de viagem e ausência. Ela passou a ficar meses fora, indo em desfiles, em eventos de moda, participando de videoclipes e programas de televisão, aceitando todo o qualquer trabalho que lhe surgia e que lhe fosse bom, que a mantivesse focada no que sabia fazer de melhor e afirmando suas capacidades ao mundo. Inebriada pela sensação boa de chegar aonde tanto queria, de ter conseguido sozinha.
Enquanto isso, o nome Sebastian Stan crescia e ganhava visibilidade no mercado norte-americano. Não fosse ela viajando, era ele, e no começo tentaram se adaptar como podiam, era esperado por eles que, em algum momento, suas carreiras e projetos os fizessem interromper o sonho que viviam juntos. Era normal e esperado, estava nos planos dos dois. Mas os desencontros cresciam, ao tempo em que eles se desconectavam um do outro, se perdiam, já nem mais sabiam o que estava acontecendo. Tudo simplesmente foi se perdendo e ficando confuso. As oportunidades profissionais foram misturando-se às suas vidas privadas e, de uma hora para outra, o que faziam para viver acabou abocanhando suas próprias vidas. E o primeiro passo para o fim, talvez o momento exato em que tudo começou a ruir de vez, foi quando as brigas começaram a ficar recorrentes. Parecia que os dois falavam em línguas totalmente diferentes um do outro. Sebastian ainda não conseguia entender que mesmo sendo reconhecida pelo seu trabalho, a mídia norte-americana ainda estava insistindo em a colocar como enfeite ao lado dele. Ela estava cansada de ser apenas a namorada de Sebastian.
As discussões começavam, na maioria das vezes, por motivos bobos e o tempo que tinham para se rever e aproveitar juntos estava ficando cada vez mais caótico. se esforçava em esconder a raiva que sentia toda vez que pisava nos Estados Unidos. Chegou a vender suas propriedades no país e comprar uma casa em Paris, onde realmente se sentia confortável em viver, mas aquele também era um ponto de desacordo com Sebastian. O ator, por sua vez, estava com a agenda muito cheia e, por isso, sempre sem tempo para tomar uma decisão sobre o que poderiam ou não fazer, sempre sem tempo para descansar ou aproveitar a namorada.
E no dia em que tudo terminou de vez, no dia em que deixou Sebastian para trás, paralisado e em choque, foi mais um desses dias em que discutiram por nada. Em que o mundo dos dois pareceu entrar em colapso, de uma forma, contudo, não conseguiram mais se segurar.
— Temos a première de WandaVision para participar online esse final de semana, mais um evento de casa — Sebastian disse dividindo uma poltrona com em seu apartamento. A produção era a nova aposta da Marvel e antecederia a estreia de Falcão e Soldado Invernal. Era importante que ele aparecesse pelo menos um pouco.
— Não vou conseguir participar — desinteressada, a modelo falou sem tirar os olhos de seu celular.
— Você tem algo marcado já? — ele perguntou curioso. A conhecia o suficiente para saber que aquele tom de voz gritava um incômodo que ela estava segurando para si mesma.
— Na verdade, não tenho nada agendado — ela respondeu sincera, desviando seu olhar até ele — Só estou cansada.
— Ué, ficamos em casa o final de semana todo, está se sentindo bem? — preocupado, ele passou a mão pelos cabelos dela, carinhoso.
— Estou — suspirou — Não é um cansaço físico, são esses eventos — o homem parou de acarinhá-la discretamente, sabendo onde o assunto os levaria.
— Fazem parte dos nossos trabalhos, não é?
— Neste caso, do seu trabalho — ela o olhou — Não sou obrigada a participar e é online ainda, nem tem sentido eu aparecer no vídeo.
— É importante para mim, — Sebastian insistiu — E eu confirmei seu nome.
— Ah, que ótimo! Confirmou meu nome sem falar comigo antes? — ela ironizou, fazendo o homem revirar os olhos. Nem ela mesma sabia por que estava tão na defensiva daquela forma, só estava exausta de tudo.
— É só um evento, , pelo amor de Deus — impaciente, ele negou com a cabeça e se levantou.
— Para você, sim, para mim não — ele deu de ombros — O que eu vou fazer nele? Ficar na sua sombra?
— Achei que já tínhamos passado dessa fase — Sebastian se dirigiu a ela.
— Bom, se passamos, você passou dela sozinho — a modelo se levantou da poltrona — Não estou te impedindo de participar, fique à vontade. Só não quero aparecer.
— O que tem de errado com o evento, ? A gente não se vê há semanas e o pouco tempo que temos juntos…
— Você quer continuar trabalhando? — o interrompeu, já esperando que ele começasse a reclamar que ela não queria fazer mais nada com ele.
— Sim, é o meu trabalho — ele rebateu rápido, sério — Mas podemos aproveitar juntos, como sempre fizemos, antes de você achar que ninguém fala o suficiente sobre você.
parou por um momento. Seus olhos recaíram nos dele com certa mágoa, não merecia ter ouvido aquilo. Sebastian sabia qual era o ponto de vista dela e dizer daquela forma estava sendo sujo, insensível. Ele, por outro lado, não teve qualquer intenção de magoá-la, só queria que ela entendesse que era importante para ele tê-la ao seu lado em momentos como aquele. Sempre tinha sido incrível, sempre tinham feito coisas juntos, ido a esses eventos e aproveitado o máximo deles. Sebastian não conseguia ter clareza sobre o que tinha mudado, sobre o porquê dela estar sempre tão irritada com ele e com os ambientes que ele frequentava a ponto de estar, cada dia mais, distante deles.
— Você sabe que não é isso, Sebastian — a modelo tentou manter-se calma, o encarando séria nos olhos.
— Mas é exatamente isso que está parecendo — ele suspirou cansado — Que você não suporta estar em qualquer lugar que não seja sobre você.
— Ah não, não não não. Só pode ser brincadeira — ela riu irônica, aumentando ligeiramente o tom de voz — Você está se ouvindo, Sebastian?
— Estou! E estou sendo honesto contigo. Você está nessa há meses, não consegue passar por cima de uma questão sua para estar minimamente comigo e agora que os eventos estão voltando a acontecer, estamos começando tudo da etapa zero de novo, mais do mesmo drama — sem saber de onde veio toda aquela chateação, Sebastian dizia rápido, podia sentir seu coração acelerando.
— Drama? — o encarava incrédula.
— Parece que só nossa relação já não é o bastante para você, — ele continuou colocando para fora o que nem ele mesmo sabia que guardava — está colocando outras coisas na frente.
— Você diz isso porque nada dessa merda nunca incomodou você — a mulher apontou para ele, chateada — É lindo me ver de enfeite nos eventos que são sobre você, ninguém mais faz isso, mas você faz questão de me carregar onde eu me sinto deslocada — ela riu cínica — É cômodo para você me ter sempre ao seu lado.
— Cômodo? — ele soltou uma risada cínica — A última coisa que estar com você tem sido é cômodo — ele aumentou ligeiramente o tom de voz, triste — Está insuportável, .
Insuportável. não esperava ouvir aquilo dele, uma palavra tão forte em um contexto tão ríspido. Foi dolorido no dia e indigesto por meses. Deixando os ombros caírem exaustos e as mãos cobrirem seu rosto, Sebastian simplesmente se calou e se deixou tomar pela sensação desesperadora que sentia no peito. manteve-se bem ali, em pé, o encarando de frente, abatida. Talvez aquele o sinal de que precisava para tomar uma decisão de uma vez por todas. Se Sebastian estava achando insuportável ficar com ela, se não conseguia se colocar em seu lugar e entender o que acontecia, não havia mais qualquer motivo para que ela ficasse ali.
Sem dizer uma só palavra, o silêncio mais violento que Sebastian tinha vivido em toda sua vida tomou conta de seu apartamento. Triste, magoada, apenas assentiu com a cabeça, pegou sua bolsa no móvel próximo e foi sentido a porta.
— Não foi isso que eu quis dizer, você sabe disso — tentando reverter o que tinha dito, ligeiramente desesperado, Sebastian falou baixo tentando segurá-la, mas ela se afastou.
— É exatamente isso que você quis dizer, Sebastian — ela o olhou uma última vez antes de, finalmente, sair dali — Exatamente isso.
piscou forte algumas vezes, saindo do pequeno e breve transe que sua mente a havia levado, encarando um ponto fixo do chão da sala. Um ano havia se passado desde que tudo aconteceu, desde o dia em que saiu do apartamento de Sebastian e nunca mais sequer falou com ele, não fosse dias depois em que, mais calmos, se juntaram e colocaram um fim de vez no namoro. Não havia mais o porquê se lembrar daquilo ou se apegar naquelas memórias. Tinha que focar em outras coisas agora. Observando brevemente, como se entendesse onde a mente da amiga a tinha levado, Justin sorriu com tristeza. Sabia que pelas próximas semanas tudo seria estranhamente complicado.
— Vocês terão quatro desafios de confeitaria para desenvolver em uma hora cada, tudo será feito aqui dentro mesmo e cada episódio exibirá um desafio, disponibilizado uma vez por semana — o agente pensou alto — Vai passar rápido, você sobrevive.
— Isso quer dizer que teremos cinco semanas de gravação? — a voz da mulher saiu mais estridente do que ela queria. A pontada de desespero em ter que ficar cinco semanas se lembrando dele transparecendo nas palavras.
— Sim, vamos poder aproveitar Londres — tentando ser otimista, Justin sorria — Vão tentar fazer tomadas únicas, com todos os participantes, um desafio a cada dois dias e nos outros vão gravar aqueles depoimentos de como foram as provas e seguir nos eventos do programa. Vamos ter bastante tempo para aproveitar a cidade.
— E qual é o seu plano de sobrevivência em Londres? Porque é o mínimo que você pode me oferecer depois de me enfiar nisso — perguntou verdadeiramente curiosa, divertida.
— Achei que não ia perguntar — Justin riu e deu alguns passos mais próximos dela, a abraçando pelos ombros — Ficamos bêbados hoje na festa, e o máximo de dias que conseguirmos, gravamos e voltamos pra casa. Fim.
— Parece um plano razoável — Deixando um suspiro escapar, a mulher comentou depois de um tempo pensativa.
— Amiga, é um plano ótimo e vai te ajudar a não ficar aí mirabolando Sebastian Stan o tempo todo, feito uma doida.
— Eu não fico mirabolando nada, ok? Mas não vou falar sobre isso — desviou seu olhar novamente, dessa vez para o chão. A simples lembrança de tudo aquilo que havia acontecido mexia com ela de um jeito que não queria que mexesse. Um período da sua vida que ela lutava, muito, em tentar ignorar, talvez esquecer.
— Não mesmo, olha — Ele apontou para o televisor, se aproximando alguns passos dele com a amiga em seu encalço — Vão começar.
Do centro do estúdio, Hunter March, o apresentador do Sugar Rush se preparava, junto aos jurados Candace Nelson, a famosa rainha dos cupcakes, o australiano Adriano Zumbo, mestre confeiteiro, e um outro jurado convidado, que nem nem Justin sabiam dizer quem era e que mudaria todo episódio. Estavam sendo posicionados em suas marcas, enquanto a iluminação do local era ajustada para o formato ideal de gravação. e Justin trocaram um olhar rápido. A mulher sorriu ansiosa, sentindo seu coração acelerar novamente enquanto o homem esfregava as mãos animado, verdadeiramente feliz por estar nos bastidores de um de seus reality shows preferidos nos últimos tempos.
Com duas batidas discretas na porta, uma das assistentes de palco entrou na sala em que estava acompanhada por um fotógrafo, que fez algumas fotos individuais de cada um dos participantes e gravou alguns vídeos curtos para compor a vinheta do programa. A assistente, então, logo tratou de colocar na marca exata em que deveria estar, aprontando-a para o início da gravação. Repassando a mesma instrução que Justin havia recebido anteriormente, ela deveria caminhar adiante assim que as portas brancas à sua frente se abrissem e entrar no estúdio, enquanto todos os demais participantes fariam o mesmo. No chão à frente haveria um x vermelho indicando o local exato onde ela deveria parar de andar, assim que estivesse já dentro do estúdio. A interação com os participantes era livre e deveria ser espontânea, estariam gravando tudo e depois faria a edição do vídeo.
recebeu um microfone na gola do seu vestido e soube que, uma vez que estivessem todos dentro do estúdio, os apresentadores fariam breves apresentações sobre cada participante e anunciariam as duplas. não deveria demorar mais do que dez minutos e, enfim, estariam livres para aproveitar o cocktail de boas-vindas, parte que não mais seria gravada. Justin deveria ficar dentro da sala, acompanhando a gravação pelo televisor e, tão logo terminasse, poderia se juntar aos demais na pequena festa. Conferindo se estava segura com as instruções, a assistente de palco a deixou novamente sozinha dentro da sala e, dois minutos depois, a gravação finalmente começou. Estavam prontos para fazer tudo em uma única tomada.
Conheça os participantes.
— Esse é o Sugar Rush de Natal!
Hunter, o apresentador do reality, andava animado pelo estúdio em seu terno azul marinho enquanto falava, olhando de uma câmera para outra a sua frente. Ele não deveria ter mais do que 1,75 de altura, olhos e cabelos castanhos claros e uma presença que era notável. A passos lentos, ele parou exatamente no centro do local, de modo que todas as cinco cozinhas poderiam ficar ao seu redor. Sua voz era absurdamente animada e em seu rosto abria o sorriso mais largo que ele poderia dar em toda sua vida. Os dez participantes mantinham-se atentos, ainda separados e dentro de suas salas de espera, aguardando o momento exato da recém iniciada gravação em que poderiam, finalmente, aparecer.
— A competição de confeitaria em que o tempo é o ingrediente mais importante. Cinco equipes compostas pelas personalidades mais famosas dos últimos tempos, que se tornarão, aqui, confeiteiros, disputam, entre si e contra o relógio, pelo sucesso em uma competição de quatro rodadas. Quanto mais rápido eles forem, melhor, porque o tempo poupado nas três primeiras rodadas, cupcakes, doces e biscoitos, respectivamente, será acumulado e somado na quarta e última rodada, a dos bolos. Eu sou o seu apresentador, Hunter March, e estamos todos na cozinha do Sugar Rush de natal, onde vamos poder conhecer, finalmente, quem são os nossos participantes da vez.
De dentro da sala, observou a porta branca à sua frente piscar, acendendo uma luz dourada, o sinal de que estava prestes a entrar na gravação. Ela olhou para Justin e sorriu firme, deixando-se levar pela música baixa que tocava no ambiente, dançando levemente, por baixo de onde podia ouvir Hunter continuar falando. Sentia uma animação repentina tomar conta de si, feliz por, afinal, poder participar de mais um programa de televisão. Seu agente fez um sinal de joia para ela e afastou-se, de modo que não pudesse aparecer na porta e, consequentemente, na gravação.
— Convidamos dez personalidades famosas que estão em alta neste ano para fazer a maior e mais doce das saladas de frutas. Elas serão divididas em duplas e cada equipe competirá com as demais pelo prêmio de 1 milhão de dólares e pelo título de confeiteiros mestres de Natal. É isso aí, curiosos para conhecer nossos convidados? — ele fez uma pausa e virou-se para outra câmera, para trocar o ângulo — Nós também estamos! Então, vamos lá.
Ao mesmo tempo, as portas das dez salas de espera se abriram, enquanto uma fumaça esbranquiçada preencheu o espaço e o instrumental de Jingle Bell Rock aumentou ligeiramente. De acordo com as instruções passadas pelas assistentes de palco mais cedo, deveriam esperar até que Hunter os chamassem, um a um, para passar por sua respectiva porta e adentrar de fato o estúdio onde a gravação acontecia. Tudo corria perfeitamente bem e, apesar da ansiedade que rondava os ares dentro de todas as salas, um misto de animação e felicidade tomava conta do ambiente.
— Vamos começar com ela! Atriz recém descoberta pelo mundo das artes, mas com o coração rendido e um histórico longo de direção e ótimos roteiros. Acumula publicamente uma coleção de prêmios, de jóias e, bom, algumas polêmicas. O boato novo é que ela veio apimentar o Sugar Rush nessa edição. Vamos dar boas-vindas a nossa primeira participante: .
Enquanto entrava acenando e dançando ao som da música que tocava, esbanjando felicidade e segurança, se perguntou mentalmente quem tinha escrito aquele resumo sobre ela e por que infernos, até ali, tinham que comentar sobre suas polêmicas. Estava participando daquilo tudo justamente para tentar se livrar da imagem negativa e pesada que a fizeram ter, não era possível. Mas como Marc, seu assessor, havia dito antes do programa começar, estava ali para sua última tentativa de superação. Tinha que ignorar o máximo possível de seu instinto em ser reativa, sorrir e acenar o quanto podia. E era exatamente aquilo que ela fez, assim que entrou no estúdio.
— Como se sente, ? — o apresentador a cumprimentou sorridente, dando-lhe um breve abraço.
— Nunca estive mais pronta — a cineasta respondeu no mesmo tom.
— Que ótimo, porque já vamos aproveitar para conhecer a sua dupla. Está preparada para isso também?
— Acho que sim, Hunter — ela riu leve, escondendo o fato de saber exatamente quem faria dupla com ela, e encolheu os ombros — Mas estou ansiosa também.
— Então vamos matar essa ansiedade de uma vez por todas! Nosso próximo participante é um ator britânico, prestigiado pela beleza e pelo papel emblemático na Marvel, vencedor do Globo de Ouro e em busca do seu glorioso propósito — Hunter abaixou um pouco o tom de voz, assim que a câmera se aproximou dele — e quem sabe não o encontre na confeitaria — ele, então, voltou sua postura ao normal e elevou a voz — Vem com tudo: Tom Hiddleston.
Tom entrou no ar tão feliz quanto e, apertando a mão do apresentador, se aproximou dela, rindo pela falsa expressão de surpresa, boquiaberta, que ela fazia o encarando. Para , tudo aquilo era uma patifaria, mais um circo que começava a se armar, um caos necessário para que pudesse, enfim, organizar a sua vida. Tom a cumprimentou com um beijo apaixonado e a abraçou apertado, realmente animado em participar daquele programa e muito feliz em saber que ela seria sua parceira, agora também no crime confeiteiro. Sua namorada no último ano, estavam fisicamente separados nas últimas semanas, cumprindo compromissos diferentes, então aquele estava sendo, literalmente, um reencontro para eles - e, como sempre, tudo que faziam juntos, aberto ao público.
— Temos um casal esse ano no programa — Hunter comentou cheio de entusiasmo, aproximando-se deles — Que surpresa boa, logo de cara!
— Vir aqui vai ser melhor do que fazer terapia em casal — Tom brincou, abraçando pela cintura.
— Se a gente não se matar até o final, podemos ficar juntos para sempre — ela completou, concordando com a cabeça, mas logo olhou para Tom — Viemos para vencer. Já estou avisando.
— Não aceito menos do que isso — o ator comentou alto, competitivo.
— Acho que a competição já começou por aqui. Podem ir para sua cozinha, por gentileza, e, enquanto isso, vou só avisando, Tom: aqui, a arte não pode ser aplicada na vida real, então, sem trapaças, ok? — Hunter riu, vendo Tom com um sorriso de canto nos lábios pegando a referência a uma das marcas de seu personagem Loki.
— Não posso prometer nada — ele gesticulou, dando passagem para ir na frente e, em seguida, seguiu com ela para trás da bancada de uma das cozinhas do estúdio. Assim que se posicionaram atrás dela, o letreiro com os nomes deles, & Tom, se acendeu, na parte da frente da bancada.
— Estamos de olho em você! Mas agora, vamos começar a conhecer os concorrentes. E falando em atores, lá vem ele: Dylan O’Brien!
Dylan saiu da terceira porta desfilando, literalmente, fazendo a graça que sempre fazia quando tinha oportunidade. Ele estava usando um suéter na cor verde musgo, combinado com calça jeans e botas pretas. Tom e aplaudiam a entrada do novo participante e deram rápidos abraços nele, por cima da bancada da cozinha onde estavam, assim que o homem passou por perto. Dylan logo se colocou atrás de uma outra bancada, na segunda cozinha, e, depois de fazer um hi-five com Hunter, esfregou as mãos empolgado.
— Direto de Teen Wolf para o caderno de receitas da sua casa — Hunter continuou o apresentando, caminhando de volta ao centro do estúdio — Ator, músico e dublador, prometeu fazer receitas tão divertidas quanto os vídeos que ele faz. É verdade isso, Dylan?
— Vou tentar, mas preciso de uma boa dupla.
— Se esse é o problema, já vamos resolvê-lo — Hunter se virou para outra câmera — , seja bem-vinda! — como se tivesse caído em uma pegadinha, Dylan arregalou os olhos para Hunter, surpreso, e, em seguida, olhou para a quarta porta — Emendando uma história mais viciante do que a outra, foi ganhando as prateleiras das livrarias mundo afora, os prêmios mais consagrados da literatura mundial e os corações de jovens adultos que amontoam-se aos milhares para conseguir um livro autografado ou uma foto com ela. Pena que nenhum de seus livros é sobre confeitaria.
Dylan estava parado, ainda de olhos arregalados, observando a amiga entrar feliz e entusiasmada, mexendo com e com Tom no caminho. vestia um macacão da coleção de primavera de Elie Saab, na cor azul serenity, combinado com uma capa com plumas nas mangas e detalhes em pedrarias bordadas por toda a extensão do tecido que acabava próximo à barra da peça base. Os olhares dos dois se cruzaram por um instante e, lembrando-se de como ele chegou até ela, meses antes quando se encontraram pela primeira vez na vida, no Tonight Show, abriu os braços e praticamente correu até ele, jogando-se em um abraço apertado e cheio de carinho. Um abraço surpreso, que era regido por uma risada alta e feliz. Nenhum deles tinha ideia de que o outro estaria ali. Estavam verdadeiramente boquiabertos em notar que não só trabalhariam juntos mais uma vez, como fariam uma dupla no jogo.
e Tom, pouco mais ao lado deles, assistiam a dupla rival com um sorriso no rosto, passavam uma energia tão boa que era impossível não notar. Como não tinham muito tempo para conversar, pois estavam no meio de uma gravação, a escritora e o ator se soltaram do abraço, encantados, ao tempo que seus nomes eram iluminados no letreiro a frente de sua cozinha, Dylan & . Um novo ponto positivo para os encontros inesperados. Definitivamente parecia que a vida os trazia de volta um ao outro, nas ocasiões mais inusitadas possíveis.
— Querem desistir? — Dylan apontou para que se segurou para não lançar-lhe o dedo do meio — Ainda dá tempo.
— Uau, nós estamos muito animados por aqui! — Hunter comentou.
— Estamos — Dylan respondeu no exato mesmo momento que . Os dois se entreolharam e riram.
— Meu Deus, somos a melhor dupla, é um fato — comentou, rindo para Tom e que lançavam-lhe um sinal de “‘tô de olho” com as mãos.
— A melhor não sei, mas a mais sincronizada eu acho que sim — Hunter brincou, voltando-se novamente para a outra câmera — É hora de conhecer a terceira dupla e, com ela, já vamos dar boas-vindas à Serra!
Como se estivesse em um musical, apareceu na porta sorridente, cantando Jingle Bell Rock que ainda tocava ao fundo no ambiente, acompanhando a entrada de cada um deles, e parou um segundo como se parasse para uma foto. Tirando palmas e gritos animados dos demais participantes, ela passou por eles fazendo um hi-five com cada um e, assim que cumprimentou o apresentador com um leve abraço, dirigiu-se até a terceira cozinha do estúdio. Estava realmente animada naquela noite, nunca tinha participado de nada parecido e, absolutamente surpresa apenas de ver que e Dylan também compartilhariam daquela palhaçada toda com ela. Já estava sendo uma experiência e tanto.
— A vencedora do Oscar de melhor atriz deste ano, que acumula superproduções internacionais e uma lista de prêmios. Uma das artistas mais cobiçadas e disputadas pela cinematografia, que ganhou, recentemente, uma estrela na Calçada da Fama. Será que também vai conseguir ganhar a nossa estrela de Natal da confeitaria?
— Eu vim para isso, Hunter — respondeu feliz.
— E vai voltar para casa sem, depois que descobrirem que nem esquentar o leite você sabe — Dylan provocou a amiga, tirando uma risada alta dos demais.
— Falou o cara que queimou a última pipoca de microondas — a atriz rebateu, tirando uma nova risada dos participantes.
— Alguma coisa me diz que já vencemos — comentou competitiva.
— Tudo ainda pode mudar — olhou para , sorridente — Porque Hunter vai dar uma boa dupla, não vai?
— Você aceita uma co-participação nesse desafio? — Hunter perguntou para , que concordou com a cabeça, segurando o sorriso aberto e feliz em seu rosto.
— Com certeza, — a atriz afirmou — manda ver.
— Então, vamos conhecer a sua dupla. Mais um artista britânico para a nossa competição, cujas produções cinematográficas ficcionais têm feito sucesso há anos e que agora está se destacando também pelas músicas. Direto do topo dos rankings de galã internacional para nosso reality, pode entrar, Ben Barnes!
Diferente da reação de , contudo, pareceu ficar confusa por alguns instantes, fechando ligeiramente o sorriso, tão disfarçadamente que mal poderia ser notada na gravação, mas logo o abrindo novamente. Não podia se abalar, mas porra, só podia ser brincadeira, ela pensou. Ben entrou amável como sempre, brincando, ajeitando o suéter de tons de azul e com nós trançados em tricô fino que vestia junto com uma calça preta e botas. Era possível ver a gola da camisa clara que usava por baixo, o toque de classe e de fofura que só ele tinha. Com um sorriso tão grande que parecia querer escapar de seu rosto desde o momento em que ouviu o apresentador dizer o nome de , Ben seguiu caminhando a passos calmos. Apesar de parecer estranho vê-la depois de algum tempo em que mal se falaram e da sensação de nem saber por que simplesmente se separaram do nada, Ben estava feliz, muito feliz, de ver ali.
Entrando na provocação que Dylan puxava, os demais o vaiaram entre risadas, vendo o ator rir junto e acenar para eles, um a um, até se aproximar de Hunter e o cumprimentar com um toque. acompanhou cada movimento de Ben com os olhos, segurando o máximo que podia o sorriso aberto em seu rosto, sem querer transparecer nada do que sentia, um tanto incrédula em vê-lo, justamente ele, ali. O ator se aproximou dela com um sorriso sedutor, as mãos nos bolsos da calça e o olhar preso na atriz como sempre fazia quando ela estava por perto.
Bastou a eles se olharem um único segundo para que suas mentes os levassem para os últimos acontecimentos, repassando detalhe a detalhe, do jantar às cegas ao último dia em que se viram, quando Ben a deixou no aeroporto de Londres semanas depois de terem gravado 11:11 juntos e, desde então, mal se falaram por mensagem. Tudo havia simplesmente se perdido entre eles. sabia que não podia cobrá-lo de nada, não tinham nada realmente oficial e sério na época, mas a sensação de ter sido trocada inesperadamente por outra mulher foi triste, dolorosa demais para ela. E, desde que as notícias diziam sobre Ben e Jessie, já não o procurava mais. Achando que ela havia perdido completamente o interesse nele, quando se encorajava o suficiente para falar com ela, Ben não era respondido mais do que com poucas palavras educadas.
Deixando um suspiro sair, Ben a cumprimentou com um abraço carinhoso e rápido, que foi retribuído com certo desconforto, e, então, os dois se colocaram de frente para Hunter, sorrindo.
— Espero que tenha trazido uma canção de natal para nós — Hunter brincou, dando alguns passos em direção a nova dupla, assim que o letreiro da cozinha deles acendeu, indicando que o espaço agora pertencia a & Ben.
— Estou trabalhando nisso — Ben respondeu sereno, sorridente.
— Como está se sentindo, Ben? — simpático, Hunter virou-se para ele.
— Eu amo o natal, é minha época do ano favorita, é inspirador e confortável, então, estou em casa e, bom, pronto para vencer — de trás da bancada da mesma cozinha que estava, o ator respondeu prontamente, tirando uma nova vaiada de e Dylan.
— Veio para o programa errado, então — o provocou, fazendo uma pose vencedora com Dylan. Estavam profundamente animados em ver que e Ben eram uma dupla no reality também, não poderia ser melhor.
— Nós ainda temos alguma chance, sua dupla é péssima, eu sinto muito, — negou com a cabeça, como se estivesse triste por ela. A escritora riu.
— Quem convidou ela para vir? — brincando, Dylan perguntou sério olhando para algum lugar atrás das câmeras enquanto apontava .
— Quem convidou eu não sei, mas sei que tem mais vindo por aí — seguindo o roteiro da gravação, antes que perdesse o controle total do que acontecia ao seu redor, Hunter puxou novamente a atenção para ele — As vagas estão acabando e para a quarta dupla, queremos dar as boas-vindas a Lewis Hamilton.
Da mesma forma que fizeram com a atriz, os seis participantes já anunciados vibraram animados com a aparição de Hamilton, pela sétima porta aberta. Usando um terno preto e prata que combinada com o estilo totalmente excêntrico dele, tênis nos pés e com os cabelos trançados presos para trás, ele cumprimentou cada um dos presentes com abraços rápidos ou apertos de mão. O piloto, enfim, seguiu caminhando cheio de estilo e presença até a quarta pequena cozinha do estúdio, ao lado daquela onde Ben e estavam.
— Lewis veio equilibrar um pouco esse programa, cheio de atores e pessoas das artes — o piloto riu observando Hunter aproximar-se dele — Veio trazer um pouco mais de automobilismo para a confeitaria. Será que consegue ser tão rápido na cozinha quanto nas pistas?
— Velocidade, não sei — ele passou a mão pelo próprio peito — Mas a adrenalina está quase igual, acho que vou enfartar.
— Beleza, menos um na competição — Dylan olhou de Lewis para que, competitiva como era, concordou com a cabeça, dizendo:
— Próximo!
— Que horror — gritou de seu lugar, rindo alto.
— Se liga, Maze Runner, a corrida aqui é outra — brincando, Hamilton apontou para Dylan, tirando risadas dos demais — Não canta vitória ainda não, porque minha dupla nem chegou.
— E falando nela… — Hunter puxou o fio do assunto, antes que Dylan pudesse responder — Para te ajudar a equilibrar o programa, a diferenciar o desafio, aí vem a vencedora de quatorze grammys, com seu novo single há três semanas seguidas no topo da Billboard, a cantora, compositora e dançarina .
entrou sorrindo enormemente, dançando animada ao ritmo de Jingle Bell Rock, que já tocava em um looping infinito. Como os demais, ela fez questão de mexer e cumprimentar cada um dos participantes concorrentes e parou para dar um leve abraço no apresentador. Hunter, então, a conduziu gentilmente até onde Hamilton estava. O piloto parou por um momento, encarando a mulher vir até ele tranquila, fingindo casualidade e surpresa em terem sido colocados como dupla no programa. Apesar do sorriso aberto, ele achou que não teria estruturas para segurar sua reação ao que estava acontecendo ali, mas ele segurou.
Uma feliz coincidência para em ser a dupla dele. Uma feliz armação para Hamilton em ter conseguido o que queria depois de um empurrãozinho de uma amiga em particular. De onde estava, deu uma risada alta assim que viu Hamilton a encarar negando com a cabeça e rindo de volta. Em meio a todo o alvoroço que faziam pela chegada de , ninguém sequer notou a troca de risadas e rápidos olhares significativos dos dois amigos. A cantora deu um abraço breve em Lewis, o perfume que ela tanto amava emanando dele, enquanto ele sussurrava em seu ouvido “que sorte a nossa”.
— Bem-vinda, , está pronta para cantar um jingle de natal? — o apresentador perguntou assim que ela se separou do abraço com o piloto. Os nomes deles piscando algumas vezes na frente da bancada, até acender de vez, indicando aquela ser a cozinha, agora, de & Lewis.
— Só se for agora — ela rebateu contente, animada — E em dueto com o Ben.
— Por mim está fechado — o outro cantor respondeu animado.
— Isso está bom demais, mas já estamos chegando ao fim — Hunter falou a tempo de ouvir os demais gritarem um longo “ah” triste em alto e bom som — Mas, calma, porque ainda temos uma última dupla! Por último, mas não menos importante, para fechar com chave de ouro esse primeiro episódio, vamos conhecer a dupla que vai completar nosso time de super estrelas e super confeiteiros. Seja bem-vindo, Sebastian Stan.
De trás da porta em que esperava ser chamada para, finalmente, entrar, congelou. Sentiu seu sorriso se desfazer completamente e, junto com ele, todo ânimo, empolgação ou qualquer reação feliz que estava tendo até ali, ouvindo e assistindo cada um dos participantes ser anunciado. Tudo tinha simplesmente desaparecido ao ouvir o último nome. Aquele nome. O único nome possível em todo o universo que não podia ser dito, que ela não queria mais ouvir, não queria mais saber. pensou por alguns instantes, tão imersa em si mesma que sequer ouviu a apresentação de Hunter sobre Sebastian. Não era para ser daquele jeito, havia algum tipo de engano, um terrível engano. Seu contrato dizia que ela faria dupla com Richard Madden, não era?
“Ele me disse que viu, de relance assim, algumas das fotos dos participantes finais e das duplas, e Richard Madden era definitivamente o seu par”. A voz de Justin dizendo aquilo para ela passava em sua mente incansáveis vezes, enquanto ela mantinha-se em estado de choque. Não era a porra do Richard Madden, afinal. Ela deveria ter pelo menos levantado a possibilidade do cara que viu de relance realmente ter visto de relance a ponto de confundir as fotos dos dois. O que faria agora?
— E lá vem ela, .
Desesperada, olhou para seu agente ao seu lado, tão paralisado, em choque, quanto ela. Os dois se encararam por um segundo, enquanto a voz de Hunter a apresentava animado, os barulhos de palmas e gritos eufóricos dos outros participantes a chamando para entrar, exceto por um deles, que manteve-se em silêncio. Sebastian sentiu que o chão abaixo de si havia aberto e o engolido de uma vez só, seu coração tinha acabado de ser apunhalado. Como seis meses atrás, no dia em que voltou à casa dela depois de brigarem e a encontrou completamente vazia, ele se sentiu absurdamente ansioso, perdido e solitário. Todas as demais duplas pareciam felizes e animadas com seus pares, por que com ele tinha que ser diferente? O mundo inteiro sabia da relação que tiveram e o mundo inteiro ficou sabendo quando eles terminaram. Que tipo de sacanagem era aquela, afinal?
A modelo sentia seu coração bater acelerado, descompassadamente rápido, suas mãos suavam e suas pernas tremiam, como nunca antes havia se sentido. Queria ir embora. Tinha que ir embora. Mas ela não podia. Não podia porque tinha um contrato, porque estava ali para engajar mais pessoas em sua marca nova e porque tinha que divulgar seu trabalho. Muitas outras coisas estavam em jogo para ela e tinha que tratar Sebastian apenas como um mero detalhe. Queria pelo menos ali, no programa, ser apenas , a modelo e empresária, a pessoa que havia chegado até ali por si só, pelo seu trabalho. Não queria ter que reviver todo o drama do relacionamento com o ator, os dois já tinham, pelo menos em tese, finalizado aquele capítulo. Não queria voltar aos erros do passado, às mágoas que ainda estavam vivas nelas e nem ver o que a mídia diria sobre terem feito dupla novamente, depois que ela saiu como a errada da término.
Mas não havia outras alternativas para ela, senão ir em frente.
De onde estava, Sebastian assistiu a ex-namorada sair pela última porta que se abriu no estúdio. Radiante, tão linda quanto ele se lembrava dela ao vivo, com um sorriso enorme no rosto e a pisando tão firme no chão, em seus saltos de 10 centímetros, quanto havia pisado no coração dele. acenou para o apresentador e, em seguida, abraçou cada um dos participantes, risonha, tão animada em vê-los ali quanto eles pareciam estar em vê-la, até finalmente virar-se de frente para sua dupla.
O ator segurou seu sorriso em seu rosto o máximo que pôde, tentando transparecer calma, alegria e um pouco de surpresa. Estavam sendo gravados, aquilo iria para um programa de televisão, ele não podia demonstrar nada do que verdadeiramente sentia, exceto a falsa felicidade e animação por fazer dupla com ela. Era um ator, afinal. Tinha que encarar aquilo como um set de filmagens convencional e, mais do que isso, tinha que se forçar a atuar ali também.
Embora sorrisse e caminhasse até perto dele, ocupando já a quinta e última cozinha do estúdio e esperando por ela atrás da bancada, não o olhava diretamente nos olhos. Ela sabia que não aguentaria, era demais para ela. Estava sendo demais para ele também.
Alguns passos dali, os demais participantes olhavam ligeiramente constrangidos com o que acontecia, mas disfarçavam bem. Sabiam que e Sebastian eram ex-namorados, porque eram pessoas públicas e, como tal, qualquer passo que davam era noticiado mundo afora como se fosse um evento. Quem pensou em colocar os dois juntos certamente tinha cometido um erro brutal, e as expressões falsamente alegres dos dois demonstrava nitidamente aquilo. Dos oito outros participantes do reality, contudo, as únicas pessoas que sabiam maiores detalhes por trás do término, Tom e por tabela, assistiram seu amigo engolir em seco enquanto abraçava a ex-namorada sem jeito, por um momento tão breve que foi estranho. Transpareceram certo desconforto e, pelo abraço desajeitado, demonstraram minimamente que, talvez, de todas as duplas formadas, eles fossem a pior das opções.
Ignorando qualquer possível constrangimento, tentando lidar bem com a situação delicada, Hunter esperou que o letreiro deles se acendesse na bancada da cozinha que ocupavam e, assim que leu Sebastian & , seguiu perguntando:
— Seb, , que bom vê-los no Sugar Rush. Estão animados em trabalhar juntos?
— Super — ela mentiu.
— Vai ser ótimo — tão mentiroso quanto ela, ele completou.
— Eu tenho certeza que sim! — Hunter, então, virou-se uma última vez para uma das câmeras e caminhou de volta até o exato centro do estúdio, de onde podiam capturar a imagem dele com cada dupla de convidados ocupando sua respectiva cozinha — Doces incríveis, dez participantes famosos e uma nova temporada de desafios deliciosamente temáticos no reality show de Natal mais assistido dos últimos anos. Sejam bem-vindos ao Sugar Rush.
A festa.
— E, corta.
Como se houvessem combinado, os dez participantes se calaram, todos ao mesmo tempo, imediatamente ao ouvir aquelas duas palavras. O silêncio absurdo que tomou o estúdio contrastou com o barulho alto e animado que faziam segundos antes, quando as câmeras estavam ligadas. e Dylan se entreolharam risonhos, enquanto se virou para Tom, pensando no que deveriam fazer. estava claramente tentando disfarçar a surpresa, mas só perdia para que não sabia se olhava Sebastian ou não. Hamilton tentou fazer um contato visual com , mas a amiga estava imersa demais em sua própria dupla. De onde estava, Sebastian olhou Tom, uma das pessoas com quem já tinha trabalhado, ao mesmo tempo em que virou-se para Dylan, mas não obteve sucesso - tanto Tom quanto Dylan pareciam felizes demais com suas duplas. Ben, por sua vez, tentou disfarçar o incômodo do silêncio repentino, mas não conseguiu mais do que prestar uma atenção intensa desnecessária nos utensílios da cozinha que tinha por perto de onde estava.
O constrangimento durou um instante. Um único instante. Mas o suficiente para que Hunter percebesse que ali havia uma conexão inesperada entre todos os participantes. O sentimento generalizado era de surpresa, de todos eles, por não esperar se encontrar ali e, ao mesmo tempo, de estranhamento por já se conhecer antes, de alguma forma. Hunter pensou que a produção do reality escolheu tanto quem deveria ser convidado a participar que, no final das contas, talvez, não tenham escolhido as melhores pessoas. Mas já não era mais hora de pensar naquilo. Estava feito, afinal.
— Hora da festa!
Sem dar mais tempo para qualquer movimentação deles, o mesmo diretor que mandou “cortar” a gravação quebrou o brevíssimo silêncio, gritando alto e animado, dando permissão para que o evento começasse. Com ele, produtores, fotógrafos, maquiadores, figurinistas e assistentes do reality entraram como furacões no estúdio, aplaudindo e dando parabéns pelo início de mais um projeto que, em teoria, seria um grande sucesso de audiência. Junto com eles, os assessores e agentes dos dez participantes tomaram o lugar, ao tempo em que parte da produção reorganizava o cenário do estúdio para que pudessem, enfim, começar com a festa de boas-vindas.
Não demorou mais do que um minuto para que o barulho alto voltasse a tomar o lugar. Espalhando-se pelo estúdio, as pessoas começaram a conversar entre si e, menos de dez minutos depois, Sugar, de Robin Schulz, começou a tocar alto no ambiente, enquanto as bebidas carregadas de álcool eram servidas. , Hamilton, Dylan e logo se juntaram e conversavam animados, enquanto e Tom foram conduzidos até um canto para tirar algumas fotos oficiais para os cartazes do reality com e Ben. Lindsay, a agente de , reencontrou Noah, o agente de , e, felizes por se verem, engatavam uma conversa engraçada em outro canto, enquanto Hunter ia cumprimentar direito os jurados do programa, que, apesar de não terem aparecido na gravação inicial, estavam no estúdio justamente para assistir a inauguração do programa.
Ainda atrás da bancada da pequena cozinha que gravaram, e Sebastian estavam presos em uma conversa desconfortável com um dos diretores do programa, que fez algumas fotos com eles, lhes contava alguns detalhes de como seriam os episódios e dizia o quanto estava animado por tê-los naquela edição. Sem que pudessem escapar, o mais educados e cordiais que podiam ser, eles correspondiam a conversa, sorrindo e falando entre si, como se absolutamente nada entre eles tivesse acontecido, como se aquele fosse, de fato, o primeiro contato que estavam tendo na vida.
O diretor ficou bons minutos ali e, quando pediu licença para falar com Tom e , que já tinham passado pela sessão de fotos e tentavam ir atrás de algo para comer, alguns produtores executivos do reality aproximaram-se deles, felizes. Naquela altura, para conseguir aguentar aquela conversa sem ser indelicados ou criar uma situação chata justamente com quem estava pagando pela presença deles no reality, Seb e bebiam taças atrás de taças de qualquer bebida que era oferecida perto deles. Quanto mais forte, melhor e tudo parecia ficar mais simples de lidar conforme o nível do álcool aumentava em seus sangues. Ficaram quase uma hora naquela situação, enquanto a festa acontecia ao redor de onde estavam e as pessoas bebiam, riram, se misturavam umas com as outras, até os produtores, finalmente, pedirem licença e irem pegar algo para comer.
Sebastian soltou a respiração pela boca, discretamente. Os cabelos levemente presos e perfeitamente arrumados davam a o ar de elegância e sofisticação de sempre e o conjunto prata, composto por uma mini saia e uma jaqueta cropped, por cima de um top branco que vestia, junto com as botas de salto de alto, traziam o toque de modernidade ousado que era sua marca registrada. Quase nada nela havia mudado naquele tempo em que passaram separados, exceto pelo sorriso que não se abria mais quando o via e pelos olhos que não se prendiam nos dele.
Apesar de parecer que o tempo tinha sido ainda mais generoso com Sebastian, não foi a beleza dele que chamou a atenção de . Sebastian sempre foi um homem charmoso, absurdamente bonito e de presença marcante. Alguns bons centímetros mais alto do que ela, os mesmos olhos azuis de sempre continuavam a encará-la, com certa expectativa, enquanto suas mãos iam direto para os bolsos da calça social, o claro sinal de que ele estava ficando tímido, mas que esperava algo dela. O que mais chamou atenção de , contudo, foi vê-lo usando a bendita camisa azul marinho que ela o havia dado de aniversário da última vez. Não foi proposital, afinal, ele sequer tinha ideia de que ela estaria no reality. Mas ele ainda mantinha coisas dela com ele? O que aquilo poderia significar?
— Você ainda tem essa camisa — quebrando o breve silêncio constrangedor, ela apontou para a camisa dele.
— Você ainda se lembra dela — Sebastian sorriu fraco. Não esperava por aquilo.
— Precisa renovar o guarda-roupas, Sebastian — tímida, ela cruzou os braços, desviando seu olhar dele assim que o viu aumentar o sorriso.
— Não tenho mais ninguém com bom gosto para me ajudar com isso — o ator só percebeu que tinha dito aquilo quando ouviu as próprias palavras saírem de sua boca. engoliu o sorriso que quase deu e, por obra do destino, sequer teve tempo de responder aquilo, porque uma voz extremamente animada e gritante se aproximou deles.
— Eu não aguento mais me encontrar com você.
Tom apareceu atrás de , cortando totalmente o momento e tirando a atenção dela de Sebastian até ele. Como bons amigos há bastante tempo, os dois atores se abraçaram verdadeiramente carinhosos e, apesar da brincadeira, estavam alegres em ver um ao outro ali, compartilhando mais aquele trabalho. cumprimentou Tom assim que ele se virou para ela, educado e muito atencioso, mas sem esperar que a incluíssem em qualquer conversa, foi logo dizendo simpática:
— Acho que vou aproveitar a festa — ela sorriu e pegou uma nova bebida de um garçom que passou por perto — Com licença.
Alguns passos dali, assim que terminaram de tirar algumas fotos e gravar pequenos vídeos para as vinhetas de propaganda do programa, sem saber exatamente o que fazer, e Ben se encararam quietos por um segundo. Ela estava com um vestido midi azul Royal, justo ao corpo até a cintura, de alças finas e decote coração. A partir da cintura, o vestido se abria em uma saia levemente mais rodada, era todo cheio de brilho, com certa transparência e estava sendo combinado com um scarpin de salto alto champagne. tinha os cabelos soltos levemente ondulados e usava um batom vermelho clássico, aberto, chamativo, deixando no copo em que tomava um Martini, as marcas que Ben gostaria que estivessem nele.
sorriu simpática para ele, se recusando a deixar sua atenção recair mais do que o necessário no homem a sua frente. Como sempre, estava tremendamente bonito, com um suéter de Salvatore Ferragamo que, coincidentemente, era azul, combinando com a cor do vestido dela. A barba bem feita, o cabelo escuro arrumado para trás, as sensações de gentileza e de segurança que ele passava. E, afinal, quem ela queria enganar com aqueles pensamentos? Ele estava tremendamente gostoso, como sempre.
— Que surpresa boa — Ben comentou sorrindo, charmoso. Estava realmente feliz em vê-la ali, mas talvez devesse ter sido um pouco mais claro. Sem entender exatamente que ele se referia a ela, respondeu:
— Demais, eu amei — Ben chegou a abrir um pouco mais o sorriso, mas conteve-se ao ouvi-la completar: — Não achei que e Dylan estariam aqui — ela riu com ternura — Não me disseram nada.
— Sabe como eles são — o homem tentou manter-se casual, levemente frustrado por ter achado que ela tinha amado vê-lo ali, e não e Dylan — Acho que era para causar esse efeito mesmo.
— Pode ser — ela voltou seu olhar até ele e, educada, comentou: — Bom, acho vou falar um pouco com os outros, se me der licença — sorriu para Ben uma vez mais que, do mesmo modo, respondeu:
— Claro, nos vemos mais tarde.
Tentando disfarçar o constrangimento, a atriz tomou um novo gole de seu martini e, avistando sem querer , sozinha ali perto, a cumprimentando com um sorriso, aproveitou a deixa para sair de perto de Ben. Ao som de Break My Heart de Dua Lipa, ele a assistiu se afastar e ir até a modelo, a cumprimentando feliz e se apresentando. Ben deixou um suspiro triste sair. Queria entender o que foi que tinha acontecido para que chegassem até aquele ponto, qual foi o descuido e por que tinha sido tão bruto a ponto de estar no mesmo ambiente ser… esquisito. Se perguntou se ela estava mesmo apenas seguindo sua vida, ou se a presença dele estava mexendo com ela do mesmo jeito que a simples presença dela mexia com ele.
— E lá vem o disco novo, “como ela me ignorou no reality show” — trazendo dois copos de bebida, o tirou do devaneio que estava, entendendo-lhe um dos copos.
— Desistiu de cadelar o Teen wolf? — devolvendo na mesma moeda, o homem aceitou a bebida da amiga e tomou um gole longo.
— BENJAMIN! — ela o repreendeu, olhando para os lados assustada, tentando ver se alguém mais tinha ouvido aquilo. — Desistir é uma palavra muito forte, no mínimo estou dando um tempo. — deu um gole em sua bebida enquanto via, de longe, Dylan tentar pegar a coreografia da música de para o Tiktok — Mas tudo com finalidade profissional, afinal trabalho é meu sobrenome depois de .
— Aham, todo esse envolvimento de vocês e as menções ambíguas que vivem se fazendo nas redes sociais são extremamente profissionais — Ben fez uma pausa, olhou para a escritora a sua frente que passava a mão pelo seu macacão azul para deixar tudo no lugar, depois levou seu copo a boca e falou — Vocês chegaram a conversar sobre o que é essa relação que vocês dois têm? — O ator prezava muito pela amizade que tinha com a escritora e não queria que algo de ruim acontecesse com ela em nenhuma esfera de sua vida, principalmente na amorosa.
— Somos amigos, Ben. A “relação” — fez aspas com as mãos, segurando ainda o copo em uma delas. — sequer existe — A escritora disse aquilo mais para convencer a si mesma do que ao amigo. As coisas com Dylan eram fáceis, gostava da companhia dele, amava tê-lo por perto e tinha medo que rotular o envolvimento deles fosse, justamente, estragar o que sentiam.
— Quanto tempo mais você vai ficar nessa, ?
— Não tem “essa”, Ben — ela tomou um role de sua bebida — Somos amigos, já disse.
— Nós somos amigos, já disse — a imitando, ele apontou para si próprio e então para a mulher — Vocês já passaram alguns limites do conceito de amizade e todo o mundo está vendo isso. O que falta para vocês assumirem?
— Assumirem o quê? — bebericou o líquido de seu copo outra vez.
— Eu odeio quando você se faz de sonsa — ele revirou os olhos — Sabe disso.
— Como você espera que eu chegue nele e diga “oi, estou apaixonada por você”?
— Então você está apaixonada por ele? — o ator levantou as sobrancelhas, sorrindo.
— Foi um exemplo, hipoteticamente falando, Barnes — tomando um novo gole de sua bebida, bufou.
— Negue o quanto quiser — ao lado dela, ele a empurrou levemente pelo ombro, com seu ombro — Mas pense comigo: pelas próximas semanas vocês vão conviver aqui e você tem uma chance de finalmente sair dessa lama.
— O único que está na lama aqui é você, meu amigo — ela o cutucou. — Como você está se sentindo ao ver ela aqui depois desses tempos só se marcando nas redes sociais para divulgar 11:11? — apontou discretamente para do outro lado do estúdio, conversando animada com e com o recém chegado Lewis, que parecia contar algo engraçado, enquanto bebiam.
— É meio confuso, sabe? — Ben olhou para a amiga e conseguia ver verdade naquelas palavras, tinha visto o quanto ele tinha ficado surpreso quando Hunter anunciou o nome de na apresentação. — Ela continua linda e o perfume que usa continua o mesmo, doce e intenso, como ela…
— Claro, Ben, fazem semanas que vocês não se veem pessoalmente, nada mudou — o cortou bufando, rindo da cara dele em seguida — Não fale como se não a visse há um século.
— Para mim é quase isso, ok? — ele deu de ombros, ignorando o “aw” fofo que a amiga fazia — Alguma coisa claramente está diferente, não sei. É estranho. Parece que não nos conhecemos mais, o tempo colocou uma barreira silenciosa entre nós que parece não consigo quebrar mais, como se fosse impenetrável.
— Vi que tentou falar com ela. O que ela disse?
— Que está feliz por ver você e Dylan aqui e que ia falar com os outros — Ben deu um novo gole de sua bebida.
— Eu sabia que entre você e eu, eu sempre fui a favorita dela.
— Estou tentando falar sério aqui, — Ben a encarou com os olhos arregalados, tirando nada mais do que uma nova risada da amiga.
— Olha, pelo que conheço da , ela não é muito de se calar e guardar as coisas que a estão incomodando. Você tentou falar com ela, depois que a fofoca toda com Jessie Mei Li saiu? — a escritora fez uma careta — Aquilo deu uma balançada na internet, imagine o que fez com ela.
— O que isso tem a ver? — ele pareceu realmente confuso, tomando um novo gole de seu uísque.
— Qual é, Ben, não é claro? Não percebeu que ela se afastou de você depois que começaram a afirmar publicamente que está saindo com a Jessie?
— Isso nem tem sentido. Eu e Jessie realmente somos só amigos, — o ator fez uma pausa olhando de longe, que ria de algo que Hamilton dizia para ela e — mas não o tipo de amigos que nem você e Dylan — bebericou sua bebida — Não sinto nada por ela, somos colegas de trabalho. A mídia adora inflar as coisas, inventar informações — ele revirou os olhos.
— Eu já sei disso, mas acho que você devia deixar as coisas transparentes para ela, tentar conversar. O que vocês tiveram foi bem mais que um lance de uma noite — a escritora se virou e olhou para o amigo — Você estava começando a ter sentimentos por ela, eu sei disso.
— Assim como você tem pelo Dylan? — ele arqueou as sobrancelhas.
— Cala a boca, Barnes. O foco aqui é você e , vocês dois — sinalizou com os dedos de para Ben — Como você se sente em relação a ela, Ben?
— Sinto que precisamos conversar, o que vivemos ainda está vivo em mim, foi intenso e ela conseguiu ocupar um lugar que há muito tempo estava vazio — ele respirou fundo — Mas tenho medo que ela já tenha seguido em frente.
— Acha mesmo que se ela tivesse seguido em frente estaria se importando em te ignorar aqui? E ainda que isso tenha acontecido, Ben. Foram meses juntos, ela não se esqueceu de você — comentou com obviedade. Sabia que aquele era um tema sensível para o amigo, mas, às vezes, tinha que ser a voz da razão dele — Ela só deve estar magoada com o que aconteceu, receosa com você por supostamente ter engatado um namoro com outra mulher enquanto saia com ela.
— Isso não é verdade — ele pareceu assustado com aquela ideia. Não tinha pensado daquela forma até aquele momento, era um ponto de vista da história que ele não tinha entendido, mas que, ouvindo de , parecia fazer algum sentido.
— Sim, mas ela não sabe disso porque você não desmentiu os rumores com a Jessie — a escritora respondeu rápido — Tenho certeza de que, assim como você, ela também se pergunta o que foi que deu errado — o viu levantar o olhar até que, coincidentemente, de onde estava, o olhou discretamente na mesma hora e, assim que reparou que ele a encarava, desviou — Mas, como já disse, talvez vocês devessem perguntar isso um ao outro. Pense nisso.
Sem saber exatamente como responder, carinhoso, Ben deu um meio abraço na amiga e no instante seguinte brindaram e viraram suas bebidas de uma vez, ao mesmo tempo. Se tinham que passar por aquilo, ao menos que passassem juntos. A conversa entre os dois parou porque foi pegar mais uma bebida, próximo de onde estava também, as duas conversaram sobre as novidades do cinema, direção da nova adaptação da escritora e os próximos trabalhos da cineasta.
Ben caminhou até um canto com poltronas para se sentar, com o uísque em suas mãos, ficando mais perto de onde havia comida, passando por onde Dylan e tentavam a todo custo ensaiar a nova dança do Tiktok, entre um drink e outro. Já tinham se encontrado no programa do Jimmy Fallon meses atrás e, seguindo um ao outro no Twitter, eventualmente interagiam e conversavam sobre coisas aleatórias. Assim, para não ficar na sombra de a festa inteira, embora não quisesse mesmo se separar dela, Dylan achou melhor se entreter com os outros participantes.
— , qual é a necessidade de colocar tantos passos difíceis nessa coreografia? Não é o Super Bowl, é só para o Tiktok, mulher! — Dylan admitiu para a cantora que riu da piada do ator — E eu, claramente, não tenho coordenação suficiente para dançar.
— Isso que dá ator de série adolescente tentar dar uma de dançarino — fazendo cair na gargalhada outra vez, Hamilton respondeu já próximo a eles. Tinha acabado de deixar e , que engatavam uma nova conversa com Justin e Lindsay.
— Realmente, estava parecendo um boneco de posto — a cantora concordou.
— Só não vou responder a essa provocação a altura, porque no momento estou com muita vontade de ir ao banheiro e não consigo pensar em nada quando estou de bexiga cheia. — O comentário do ator fez com que a cantora e o piloto rissem ainda mais. Esse era o efeito Dylan, nenhum ambiente conseguia ficar quieto e sério por muito tempo. O ator saiu, literalmente, correndo atravessando o enorme espaço que todos estavam para ir ao banheiro, deixando e Lewis sozinhos pela primeira vez naquela noite.
notou o olhar de Hamilton passear pelo seu corpo e sorriu charmosa para ele. Ela gostava daquilo, de ser admirada e desejada por ele. Lewis já tinha deixado o blazer que vestia em cima de um sofá qualquer e, com os primeiros botões da camisa social preta abertos, com parte de suas tatuagens aparentes, reparou o quanto ele estava gostoso naquela noite. Por um momento, ela desejou estar ainda mais sozinha com ele, sem todas aquelas pessoas em sua volta, queria poder reviver os momentos que tinham compartilhado no México, onde não havia mais nada nem ninguém exceto os dois. Mas não podia deixar o ligeiro desejo que correu dentro de si transparecer para ele. Não era momento e nem lugar. Não ainda. E ela conhecia o piloto como a palma de sua mão, bastava um simples elogio para Lewis se sentir a última bolacha do pacote o resto do ano.
Lewis, por sua vez, reparava em como ela continuava, e parecia cada dia mais, linda e dona de si. E, isso era o que ele mais gostava nela. Não podia negar que ele fazia sucesso entre as mulheres, principalmente as que trabalhavam no ramo musical, mas era diferente. Sempre foi. Vivia para si mesma e para sua carreira, pelas coisas que acreditava e pelos sonhos que tinha, assim como ele. Teve que batalhar muito para estar onde havia conseguido chegar e, apesar de curtir o que a vida tinha de melhor a oferecer, não se deslumbrava com nada daquilo. Gostava de passar um tempo com sua família, de conhecer coisas que ainda não conhecia e de estar cercada por pessoas que verdadeiramente a amavam. era autêntica, fiel a seus valores e verdadeira - alguém cujo perfil era extremamente raro naquele meio superficial e interesseiro que viviam.
Apesar de sempre ter tido a certeza daquilo, de que ela era diferente de qualquer outra, Lewis não achava que teriam um relacionamento de verdade. Não que relacionamentos amorosos não fossem importantes para os dois, só não era uma prioridade naquele momento de suas vidas. Contrariando seu próprios pensamentos, contudo, ele passou a língua entre os lábios, discreto e sedutor, pensando por um momento em como queria poder passear as mãos pelo corpo dela, como já havia feito em outros momentos, em como queria poder senti-la outra vez.
— Que surpresa te ver em Londres! — Hamilton comentou casualmente, dando um gole na bebida que trazia consigo — Ouvi seu novo single, está demais! — O piloto adorava acompanhar o trabalho da cantora.
— Aposto que você colocou minha música como toque do seu celular, Lewis! — A cantora riu. Tinham aquele jogo de provocações internas desde quando se conheceram — Não é muito o meu estilo de produção, você sabe, mas fui solicitada para compor essa para um filme que vão lançar em breve. Não podia perder a oportunidade. Mas o fato engraçado é encontrar você em Londres nessa época do ano, e não em Mônaco.
— Aproveitei o tempo entre os grandes prêmios para descansar em casa e passar um tempo com a minha família — Apesar do piloto ter se mudado para Mônaco devido aos seus treinos e corridas, Hamilton mantinha sua casa em Londres e sempre que podia visitava a cidade para passar algum tempo com sua mãe e seus sobrinhos. — Mas confesso que já estava pensando em ir embora, simplesmente desacostumei com o frio londrino.
— Que você gosta de calor, disso nós dois sabemos! — disse com um sorriso carregado de sarcasmo — Mas agora vamos ser francos, porque estou curiosa, aqui entre nós dois: esse programa não faz muito a sua praia. O que realmente te fez participar? Os cookies ou os doces?
— Quer que eu seja sincero? — O piloto viu a cantora assentir com a cabeça enquanto bloqueava seu celular. — Você. Você me fez querer participar do programa — Hamilton notou rir baixo, um tanto tímida pela resposta.
— Tá bom, Hamilton, conta outra. Você já foi melhor com cantadas — levantou o queixo o encarando, o vendo imitá-la no segundo seguinte.
A verdade era que nem nem Hamilton estavam muito preocupados com qualquer outra pessoa do local que pudesse estar assistindo os dois flertarem. Era sempre assim quando se encontravam, não havia novidade naquilo. E os dois gostavam, muito, das brincadeiras e provocações que se faziam. Trocando suas taças por novas cheias de alguma bebida que já não conseguiam identificar, o casal se entreolhou e riu. As lembranças claras do que já tinham vivido juntos tomando suas mentes como ondas de saudosismo e desejo, enquanto conversavam casualmente.
— Ah é? — ele passou a língua pelos lábios — Quando?
— Se bem me lembro, no México você não deixou a desejar — ela comentou discretamente manhosa, ajeitando o colarinho da caminha dele.
— Acho que estava inspirado — ele a encarou novamente nos olhos — Você me inspira.
— Olha a cantada barata, hein — passou por eles no exato momento em que Lewis disse aquilo, puxando Justin consigo — Uma mulher dessas merece mais e, por sorte, cheguei para te salvar disso — com a outra mão a modelo puxou também para a pista de dança.
Justin mandou um beijo no ar para Hamilton, sendo puxado por uma dançante que passou em direção ao centro do estúdio. Levemente alcoolizado, o piloto riu da cena, vendo dar de ombros para ele, sorridente, enquanto se deixava levar por . O remix de Save Your Tears, de The Weeknd ft. Ariana Grande, começava a ficar mais alto na pista de dança, mas poucas eram as pessoas que estavam aproveitando aquele momento para realmente deixar de confraternizar e ir aproveitar a pista. Pareciam focadas demais em conversar e beber, a ponto de, algumas delas, naquela altura, já estarem dando certo trabalho aos seus amigos e conhecidos. Noah e passaram boa parte da festa juntos. O agente de era absurdamente fã do trabalho de e, na primeira oportunidade que teve de se aproximar dela, assim que viu Hamilton se afastar da modelo para ir até e ir encher o saco de Dylan depois de vê-lo voltar do banheiro, a pegou para uma conversa longa sobre o mundo da moda, comentando coleções recentes e trocando algumas experiências que tiveram. Ficaram tempos conversando e bebendo, até Noah se juntar a e Dylan e ir para a pista de dança, incentivada por Justin.
estava achando ótimo ter tantas outras pessoas com quem conversar. Assim podia disfarçadamente manter-se focada em outra coisa e evitar as lembranças e os olhares contínuos de Sebastian. De todas as pessoas do mundo que esperou encontrar ali, seu ex-namorado com certeza não era uma delas. Aquela era uma versão de De Férias com o Ex natalina que a modelo não gostaria de assistir. Ainda que tudo entre os dois tivesse acabado de forma estranha e confusa, ela não seria a primeira a dar o braço a torcer. Se realmente quisesse que os dois tivessem uma convivência mais doce nas próximas cinco semanas, era, mais uma vez, a hora de Sebastian correr atrás dela. E tinha o fato de serem uma bendita dupla em um reality show extenso a seu favor.
estava conseguindo se reerguer agora. Estava conseguindo se firmar depois de todas as insinuações e diretas que atrelaram a carreira dela a Sebastian, depois de tanto insistirem que ela só se tornou o fenômeno que havia se tornado, principalmente nos últimos dois anos, porque namorou com ele. Estava deixando aquele boato no passado e estava se sentindo forte e segura outra vez, começando a organizar sua vida novamente. A última coisa que queria era deixar que ele entrasse nela e bagunçasse tudo de novo.
Celebrando os primeiros acordes da música que tanto gostava, levantando seu copo para o ar e vendo Justin e fazerem o mesmo, decidiu não pensar naquilo. Ao menos não naquele momento. Estava se divertindo, conhecendo pessoas novas e, querendo ou não, era a dupla de Sebastian. Teria que conviver com as dúvidas que tinha em relação à antiga relação deles por mais algum tempo ou, finalmente, aproveitar aquela deixa para acabar com elas de uma vez por todas.
De onde estava, bebendo sem parar e conversando ainda com Tom e sua namorada, , depois de terem enchido o saco de Mackie pelo telefone, Sebastian, de longe, observou Justin e performaram um dueto tal qual The Weekend e Ariana Grande na música. A modelo enchia o espaço, ainda que houvesse poucas pessoas dançando, parecendo o sol, pelo menos naquele momento, com tudo girando em torno dela.
I kept my distance 'cause I know that you
Mantive minha distância pois sei que você
Don't like when I'm with nobody else
Não gosta quando estou com outra pessoa
I couldn't help it, I put you through hell
Não pude evitar, te fiz passar pelo inferno
I don't know why I run away (oh, oh, oh, oh, oh)
Eu não sei porque eu fujo (oh, oh, oh, oh, oh)
Depois de ser puxada por para a pista de dança, Hamilton viu que Ben e Dylan estavam sentados nas poltronas próximas a mesa de comidas. O piloto conhecia alguns dos trabalhos dos atores, já que suas produções eram mundialmente famosas e absurdamente populares, e para não ficar sozinho decidiu ir ao encontro dos dois. Das pessoas que conviveria ali, conhecia apenas , e Tom, pelas vezes que a cineasta o levou em eventos que Lewis deu e pelas histórias que contava sobre ele. Teria que dividir aquele espaço por longas semanas com outras seis pessoas que não conhecia pessoalmente. Seria legal conhecê-las, fazer contatos e se aproximar de mundos que ele não se sentia exatamente parte. Ainda que tímido, ele já tinha conseguido se apresentar e conversar com e com , naquela noite. Seria uma boa falar com os dois atores também.
— Cara de quem foi a ideia de te deixar parecendo uma branquela com aquele cabelo loiro? — Ben riu para Dylan, observando Lewis se sentar na poltrona vaga entre os dois atores.
— Isso é inveja, Barnes? — Dylan arqueou as sobrancelhas — Só porque fico bem com qualquer cor de cabelo e, ao contrário do que você queria com esse comentário, o levei como um elogio, porque sempre quis parecer com uma das branquelas.
— Acabei de sentir uma tensão entre os queridinhos de Hollywood — Lewis provocou.
— Dylan se acha engraçadinho — Ben disse e Dylan revirou os olhos — Um aviso, Lewis: não dê intimidade para esse cara, é a sua pior escolha — Barnes e Hamilton riram enquanto Dylan se remexia na poltrona — E já que toquei no assunto intimidade: quando você vai se mexer, Teen Wolf?
— Me mexer para que? — Dylan questionou, tomando um gole de sua bebida — Estou bem sentado, confortável e conversando com dois caras que admiro.
— Esse é o seu problema, ficar confortável demais em algumas situações — Ben sinalizou com a cabeça até , que estava mais próxima a porta falando com alguém no celular.
— Acho que eu deveria voltar depois, esses enigmas entre vocês dois estão muito confusos, parecem um casal discutindo a relação — Hamilton disse debochando das cara dos atores, puxando um novo copo de uísque da mesa próxima. — Mas se forem fazer fofoca, por favor continuem. Sempre quis saber o que rola por trás dos bastidores cinematográficos.
— Vou ser bem rápido para te manter a par da situação Hamilton: esse cara aí — Ben sinalizou para Dylan — está sendo muito amigo da minha amiga, se é que você me entende, e agora ele é dupla dela no reality.
— Pera aí — Hamilton sinalizou para que os dois não falassem — É por isso que você ficou todo cheio de sorrisinhos com ela?
— Exatamente! — Ben disse no exato momento que Dylan falava:
— Não! — a diferença nas falas dos atores fez com que Hamilton gargalhasse.
— Assume logo que você está a fim dela, Dylan — Ben falou mexendo nos cabelos, enquanto bebia — É tão difícil conversar com ela sobre o que vocês sentem um pelo outro?
— As coisas não são tão simples assim, você sabe disso — Dylan balançava as pernas — Tem o filme que estamos rodando agora, nossa relação profissional e, além do mais, não sei se ela sente algo por mim.
— Olha só, não querendo me meter, mas já falando — foi a vez de Lewis falar, apoiando seus cotovelos nos joelhos, para chegar mais perto dos parceiros — Você nunca vai saber disso se ficar arrumando desculpas — Ben apontou seu copo para Hamilton, mostrando que aquilo era o que devia ser feito.
— Vocês não entendem a complexidade dessa história toda, nós já nos beijamos algumas vezes, flertamos sempre, trocamos mensagens carinhosas, mas no outro dia ela nem sequer toca no assunto — Dylan falava olhando para que tinha ido até e a arrastava com ela até onde e estavam, na pista de dança improvisada do estúdio.
— Talvez ela esteja esperando que você fale algo primeiro — Ben rebateu — Ela saiu de um relacionamento longo não tem tanto tempo assim, está carregando o que aprendeu com ele e é normal se sentir confusa. Além disso, você é um ator que ela admira há anos e que está trabalhando na adaptação que ela estava mais ansiosa em produzir. não tem medo de entrar em relações, mas dessa vez é diferente, porque é você, cara — Ben virou a bebida do copo que tomava, trocando por novo em seguida, enquanto o garçom o servia. Sempre que bebia costumava fazer reflexões imensas sobre as situações e falava um pouco mais do que deveria falar — Ela é uma das profissionais mais competentes que eu conheço, leva o trabalho a sério e você é parte dele, querendo ou não. Mas vou te dizer, como amigo, que essa não é uma chance que você deveria perder. Você conhece ela, sabe que, como pessoa, ela consegue ser ainda melhor em todos quesitos. Está sempre disposta a ajudar alguém, sempre pronta para ouvir e dar conselhos ou só para fazer piada da situação e te fazer rir. É criativa, inteligente e a melhor parceira que você vai ter na vida.
— E ainda é gostosa — Lewis completou olhando de para Dylan, ouvindo Ben rir da cara de desgosto que Dylan fez, mas logo parou quando ouviu o piloto comentar: — O que foi? As outras com ela também são — ele voltou seu olhar para e dançando, mas parou especialmente em — Isso aqui é o paraíso — assentindo tímidos com a cabeça, os outros dois tinham que concordar.
— Eu sei de tudo isso, caras — Dylan confirmou ao ator — E como sei — As memórias invadiam a mente do ator, passando por todos os momentos que os dois compartilharam juntos e parando no fato de nunca terem avançado o sinal. Os beijos que trocaram na festa para comemorar o final das gravações do filme nunca saíram da cabeça dele — Mas eu sou um medroso, isso é o que sou, não acho que mereço aquela mulher.
— Pelo amor de Deus, cara, você não confia no seu próprio taco? — Incrédulo, Hamilton questionou Dylan voltando seu olhar até ele, fazendo Ben rir enquanto bebia.
— No meu taco confio, agora na minha capacidade de me declarar para — Dylan fez uma pausa — nem um pouco.
— O pior de tudo isso é que — Ben disse colocando seu copo no chão — não faço ideia de como te ajudar, porque aquela mulher merece a melhor declaração do mundo.
— E, cá entre nós — Hamilton falou, pegando uma nova bebida com o garçom — minha opinião, tá? Ela é realmente muita areia para o seu caminhãozinho — os três riram.
— Agora que já falamos de como sou um banana — Dylan bufou — Como bons ingleses que vocês são e se entendem com esse sotaque galanteador, por favor, Hamilton, diga para Ben conversar com a também.
— Espera aí, tem mais um casal? — Hamilton questionou confuso, praticamente gritando e gargalhando em seguida — Que porra é essa? Estamos no Sense8?
— Edição especial de Natal — Dylan completou assentindo, bebendo sua bebida.
Do outro lado de onde Ben atualizava resumidamente o caso que teve com para um Hamilton curioso e que não parava de beber e palpitar, Sebastian, Tom e estavam sentados, jogados em poltronas confortáveis e, assim como os outros dois homens, bebendo tudo que passava em suas frentes. Na pista de dança, Dylan se juntava a , , e , que acompanhadas por Justin, Lindsay, Noah e Lizzie dançavam animados ao som de Please Me (Cardi B. ft. Bruno Mars).
— A baba está escorrendo, Seb — Tom comentou desviando seu olhar da pista até o amigo, havia chegado com copos de bebidas, uma para ela e outra para o namorado, logo depois sentou em seu colo.
— HA HA HA, você tá cheio de piadinhas hoje, né? — Sebastian deu um gole em sua bebida, enquanto tinha os olhos fixos à frente.
— Pelo visto alguém está com o humor azedo — bebendo a bebida que trazia consigo
— Azedo é pouco, querida! Nem com todo doce desse programa ele ficaria mais suave — O casal riu
— Virei o alvo de vocês hoje, pelo visto — Sebastian arqueou as sobrancelhas.
— Como adivinhou? — a cineasta fez uma expressão de surpresa — Mas eu entendo, Seb. é de fazer qualquer um babar, você já tentou falar com ela depois do término?
— Não tive tempo — o ator mentiu, olhando a seu lado e dando de ombros.
— Essa foi a desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi vindo de você — Tom exasperou, fazendo Sebastian revirar os olhos — Conviver com Mackie te deixou assim? — Sebastian se segurou para não confirmar, não queria admitir para os amigos que o que lhe faltou foi coragem. Não queria estragar a vida de de novo. Não era justo com nenhum dos dois.
— Vocês falando assim, parece que não superei o término — Sebastian resmungou, seus olhos descendo até o copo que segurava.
— Mas você não superou, meu amigo — foi a vez de Tom provocar Sebastian — No fundo, você sabe disso. — fez uma pausa analisando o rosto amargurado de Sebastian — Brincadeiras à parte, Seb, só não vê quem não quer. Não dá para ficar fugindo.
Sebastian e Tom costumavam conversar muito nos sets de filmagem. Se identificavam bastante um com o outro, sobretudo no jeito introspectivo de ser e, com isso, acabavam compartilhando as histórias e interesses que possuíam. As discussões aconteciam entre uma gravação e outra ou sempre que podiam saiam para beber a noite. Tom colecionava um histórico de namoros, até Taylor Swift estava em sua lista, então sempre tinha conselhos para dar e vender para o amigo. Vendo que só faltava ela junto com as meninas do reality na pista de dança, foi dançando animada em direção a e, sem cerimônia alguma, a puxou de onde estava sentada. Gargalhando, a cineasta puxou uma taça de mojito no caminho e se juntou aos demais no centro do estúdio, que gritaram animados pela chegada dela.
— O problema é que não sou eu quem fujo — Sebastian admitiu, suspirando — Ela construiu um castelo em volta dela e eu sou um mero soldadinho com uma arma de madeira. Como vou conseguir derrubar os muros que envolvem ela?
— Hoje foi o primeiro contato, cara, seja paciente, temos tempo ainda — Tom tentou dar um apoio.
— Se o primeiro contato já está sendo desse jeito, imagina os demais — Seb riu irônico, tomando um novo gole de sua bebida.
— Talvez você não precise tentar invadir o castelo, tem que deixar as portas se abrirem sozinhas — Tom refletiu, colocando uma mão no ombro do amigo — Pelo o que você já me falou, os passos já foram dados por você, agora ela também tem que se mexer para acontecer.
— Você não conhece a — Sebastian negou com a cabeça — Ela é a mulher mais decidida do mundo, quando coloca algo na cabeça não tem ninguém que a faça tirar. Na minha opinião, ela já terminou totalmente o capítulo do nosso relacionamento e virou a página, me tirou de sua vida.
— Bom, nesse caso, se você ainda tiver interesse nela, devia tentar mais uma vez, nem que essa seja a última, para não ficar com meias certezas — Tom disse, tomando um gole de sua bebida enquanto reparava em dançar — Mas pense se isso vale mesmo a pena para você agora ou se só está no calor do momento de ter reencontrado ela bem aqui.
A música invadia a cabeça de Sebastian com a mesma intensidade em que ele avistava dançar na pista e a bebida começar a agir em seu cérebro. Ela ainda valia a pena para ele, sempre valeria e não havia o que pensar em relação aquilo. Como se Tom fosse um diabinho o incentivando a dar mais um passo, ele se sentiu confiante, mas o ator não queria quebrar a cara mais uma vez, a cota de tocos que havia levado da modelo já estava para lá de suficiente e o término, como foi por si só, já era motivo para desistir. Porém, se ficasse naquela melancolia talvez nunca chegassem em nenhum lugar e teriam que conviver por mais cinco semanas, no mínimo, não dava para ficarem naquela situação constrangedora até o término do programa. Pensando no pior dos cenários, a única coisa que podia ocorrer era ela desistir de participar, o que ele achava inviável, uma vez que a mulher prezava demais pela sua imagem e aquela era uma oportunidade de alavancar ainda mais a sua carreira.
Confuso, Seb fez menção de ir pegar uma nova bebida e se afastou do amigo com as palavras dele latejando em sua mente. Talvez pudesse ter razão sobre . Ele deveria mesmo sair da sua zona de conforto e tentar uma última vez. Que mal faria, afinal, já estavam ali mesmo? Ou talvez estivesse só o encorajando porque não era com ele, porque ficaria lá sentado e bebendo tranquilo, sem ter que correr risco algum naquela noite. Tom estava já há quase um ano com . Uma relação que parecia segura, estável e forte o suficiente para nem conflitos de agenda, mídia ou distância alguma os incomodarem. Eram responsáveis um com o outro, entendiam seus limites e tinham no respeito a base de tudo. Talvez ele devesse ouvir Tom. Se estava dando certo para ele e , por que não daria para Sebastian e ?
Quase duas horas se passaram desde então. Assim que Downtown (Anitta ft. J Balvin) começou a tocar alto e Sebastian saiu, Tom decidiu se juntar à namorada na pista de dança, observando que, do outro lado do ambiente, puxava Lewis para fazer o mesmo, o tirando a conversa de horas que estava tendo com Ben. Naquela altura da festa, já era possível afirmar que não tinha restado uma única pessoa sóbria. Entre risadas altas, performances das músicas que tocavam, selfies e vídeos que faziam uns com os outros, novas taças e copos de bebidas e conversas que, a cada hora faziam menos sentido ainda, os nove participantes se divertiam como se aquela fosse a última festa de suas vidas. Para todos eles juntos, ao menos, aquela era a primeira. E estava sendo boa até ali.
— Gostei desse vestido, — Lewis disse sussurrando ao ouvido de , enquanto dançavam, ele apertou seu corpo ao dela, passando a mão pelo tecido da peça que envolvia o corpo da cantora — você fica ainda mais gostosa nele.
— Você e a sua obsessão pelos meus vestidos — ela passou a mão pela nuca descoberta do piloto, fazendo-o se arrepiar — Este você não pode rasgar, a peça é exclusiva.
— Se eu não posso rasgar, você poderia, pelo menos, me deixar tirá-lo — o piloto dançava com ela no ritmo sensual da música.
— Não sei se você está merecendo, cariño — disse sedutora com os olhos fixados nos do piloto.
— Você sabe que eu amo quando você me chama assim, não sabe? — a voz dele era baixa, aveludada.
— Sei.
— E você sabe também que nós dois saímos ganhando, se você aceitar ir embora daqui comigo — Lewis passeou as mãos entre as costas e o cabelo de — No México, e todos os outros lugares que nos encontramos, você não se arrependeu.
— O que acontece no México fica no México, Lewis — ela chegou a boca próxima ao ouvido dele depositando um beijo no local — Mas nós podemos mudar um pouco essa história — falou calmamente — e fazer Londres também ficar marcada como uma das cidades em que aproveitamos a noite e o dia, até não aguentarmos mais.
Ele sabia que não precisava de mais nenhuma palavra dela. Naquela noite eles certamente aproveitariam as melhores sensações do mundo juntos e explorariam, novamente, um o corpo e o coração do outro, se completando como se fossem uma música perfeita. Hamilton rapidamente acabou com a distância entre os dois e a beijou. Não se importou com o que os outros participantes ou até mesmo a produção fossem pensar deles. Eles que viessem o que fazia com ele, o que ela significava para ele. E ele a queria, ainda mais do que as outras vezes em que se encontraram, em que transaram. era como um doce que ele tinha se viciado, que ele precisava saborear pedaço a pedaço. Na empolgação e com os corpos sedentos por mais, eles saíram juntos do estúdio, sem nem olhar para atrás, ignorando os gritos e provocações dos demais para eles.
Em algum momento perto das três da manhã, se jogou sentada em uma das poltronas mais afastada, exausta. Suas pernas e pés estavam latejando de dor pelas horas que passou dançando e em pé, e ela considerou por algum tempo tirar os sapatos de salto e ficar descalça. Pegando uma garrafinha de água que lhe foi servida, a atriz respirou fundo, olhando ao seu redor. No final das contas, tinha sido muito melhor do que ela esperava. Não sabia se pela quantidade absurda de álcool que tinha bebido ou por ser verdadeiramente o que sentia, estava feliz. Por ter aceitado participar do reality, por ter ido até Londres, por ter conhecido todas aquelas pessoas. Se as cinco semanas que viriam fossem como aquela noite, talvez nada seria ruim ou desconfortável. Ao menos não para ela.
De onde estava sentada, pode ver o exato momento em que Noah partiu para cima de Justin e o beijou intensamente, em um canto lateral da pista de dança improvisada. Celebrando sozinha, feito uma maluca, ela riu da cena, pensando que seu agente sabia mesmo viver a vida como nenhuma outra pessoa. Ela então assistiu e Lewis saírem juntos, entre beijos pontuais, de vista e, mais ao canto, e Dylan pararem de dançar para ir tomar água também. seguia na pista de dança com Lindsay e Elizabeth, mas pelo ritmo mais lento em que dançavam, logo deveriam parar para descansar também. A atriz seguiu ali, sentada e sozinha, até um casal aproximar-se dela.
— Sebastian foi embora? — perguntou incrédula, rindo alto.
— Foi, acredite — Tom se sentou na poltrona ao lado de onde estava, ignorando os poucos metros de distância dela, e colocou sentada em seu colo.
— Não aguentou fazer dupla com a ex e ficar na mesma festa que ela, essa é boa para um homem de quase 40 anos — aconchegando-se no colo do namorado, comentou risonha. Disfarçando ter ouvido aquilo, tomou um gole de sua água, sem fazer contato visual com o casal.
— Homens de 40 anos podem surpreender, ok? — Tom disse passando as mãos pelas costas de . — Em todos os sentidos — os dois riram.
— Disso eu não tenho nenhuma dúvida — respondeu sensual e colocou os braços em volta do pescoço do ator — E bem que você podia me mostrar mais das suas surpresas hoje a noite.
— Seu pedido é uma ordem, Srta. — o ator respondeu roçando os lábios sobre o pescoço da mulher, fazendo-a tremer de prazer com aquele simples toque. — Mas você não pode me pedir para parar, sem ver a surpresa completa.
— Pode ter certeza que “parar” é uma das palavras que não estão no meu vocabulário hoje — disse massageando os cabelos de Tom e o beijou.
quase cuspiu a água que bebia e se desligou minimamente assim que ouviu aquilo, reparando que Tom e começaram a se beijar fervorosamente. Ela buscou com os olhos qualquer que fosse o refúgio para onde poderia correr de ficar de vela do casal, mas nada parecia ajudá-la. Noah ainda pegava Justin em um canto, e Hamilton desapareceram. e Dylan pareciam focados e entretidos demais um com o outro, Sebastian tinha ido embora e já não estava mais no ambiente. sentiu uma vontade enorme de rir da situação, mas bastou ela se colocar em pé, para alguém chegar por trás dela, a abraçando com firmeza enquanto empurrava seus corpos para frente. Pelo perfume e pelo calor que sentiu subir em seu corpo, ela soube exatamente quem era.
— Vim te salvar — Ben comentou baixo e risonho, fazendo um arrepio subir na espinha da mulher. Ele caminhava com ela para frente sem um rumo exato, enquanto a abraçava por trás e pela cintura, com os dois braços. Certamente se ele estivesse totalmente sóbrio, não teria chegado nela daquela forma. E certamente se ela estivesse totalmente sóbria, não teria aceitado aquele abraço.
— Estou admirada de ver que você ainda está em uma festa, a essas horas — ela fechou os olhos por um momento, rindo, passando seus braços por cima dos dele.
— Confesso que estou com muito sono, só queria minha cama — falando baixo no ouvido dela, Ben respondeu sincero, tirando uma nova risada de . O perfume que saia dela o embriagava tanto quanto o álcool que corria em suas veias naquele momento.
— Eu imaginei — ela o olhou levemente de lado, por sob os ombros — Ah, obrigada por me tirar de lá. Já estava constrangida, eles estão quase se comendo na poltrona.
— Quem não está? — o ator perguntou risonho.
Noah e Justin. Tom e . e Hamilton. e Dylan quase lá. Hunter dando em cima de Lindsay. Ele tinha um ponto, pensou. Ben seguiu com ela naquela posição até pararem em um canto oposto de onde e Tom estavam, perto de uma das cozinhas montadas. Apesar de não querer soltá-la, delicado, ele quebrou o abraço e se colocou de frente para ela. soltou um suspiro discreto, frustrado, enquanto se sentava em cima de uma das bancadas de metal da cozinha. Com uma mão apoiada na bancada a milímetros de distância da perna dela descoberta pelo vestido que subiu minimamente, o homem estava em pé, de frente, sua cintura quase encostando nas pernas dela.
— A gente — ousada, ela brincou de volta, tirando dele um sorriso tímido.
— Hamilton e Dylan deram uma ótima definição do reality, tenta adivinhar — tentando manter seu foco nos olhos dela, e não no jeito sensual em que ela estava sentada, o ator a viu ficar confusa enquanto pensava.
— De férias com o ex? — disse risonha, encarando um Ben surpreso.
— De férias com o ex? — ele riu leve.
— É, por que não? — ela respondeu sincera — Você sabia que e Sebastian são ex-namorados, certo?
— Ah claro! Todo mundo, literalmente, sabe, mas acho que não me toquei até agora. — ele riu — Então, foi por isso que ele desapareceu do nada? — o ator tentou encaixar as peças.
— Pelo que andei ouvindo, sim — discretamente, olhou para e Tom que continuavam a se beijar como se mais ninguém estivesse ali — Mas parece não estar ligando para o fato dele estar aqui — ela deu de ombros — Ou pelo menos finge muito bem.
— Isso é definitivamente uma novidade — o ator riu — A teoria dos meninos consegue se encaixar ainda melhor, agora que eu sei deste fato — o olhava curiosa, sem saber do que ele estava falando — Nós somos, que rufem os tambores, o Sense8 edição especial de Natal — ele disse como se tivesse falado algo sério e a atriz não conseguia parar de rir.
— Tinha que ser coisa daqueles dois.
Ela reparou ainda mais no sorriso dele e na forma em como alguns fios de cabelo tinham caído em sua testa. Sem saber direito de onde tinha tirado coragem ou intimidade para aquilo, levou a mão até o rosto deles para tirar os fios de cabelo de lá, os arrumando de volta para trás. Ela sentia falta dele. Sentia falta de absolutamente tudo nele e não podia negar. Charmoso, Ben sorriu de lado com o toque carinhoso e inesperado.
— Você consegue ficar mais linda cada vez que nos vemos, sabia? — ele disse baixo, involuntariamente colocando uma das mãos na cintura dela, a vendo sorrir tímida com o comentário — E, o seu cheiro, meu Deus, como eu sinto falta dele.
O que queria dizer, na verdade, não saiu naquele momento. Sentia falta dela, sentia a mais pura e genuína saudade dela. Dos dias que passavam juntos, das conversas, dos livros que liam, dos museus que iam, da alegria que sentia quando se encontravam. Dos beijos, dos toques, das risadas, de acordarem juntos. Sentia saudades das madrugadas adentro, da sensação de poder vê-la depois de semanas separados. E ali, daquele jeito, tão próximos, livres, intensos, ele só queria poder matar a falta que sentia dela todos os dias. , por sua vez, não sabia como reagir a ele. Ao menos daquele jeito e nem ao momento que estavam tendo. Apesar de clara e levemente alcoolizado, as palavras pareciam sinceras, sim. O olhar preso no dela, o toque carinhoso, tudo parecia verdadeiro. Mas a mídia havia noticiado há pouco o suposto relacionamento dele com Jessie, sua colega de trabalho, o que estavam fazendo, afinal?
— Se sente falta dele, por que simplesmente não veio atrás? — a atriz perguntou baixo, descendo suas mãos dos cabelos para os ombros dele — Por que só não... me mandou uma mensagem?
— Eu tentei, mas você sempre está ocupada demais — ele deu de ombros, cabisbaixo. Seu olhar indo ao chão um instante — e não queria ser mais algo para encher a sua cabeça.
— Isso tudo é verdade ou você só me distanciou porque está se relacionando com outra pessoa? — engolindo em seco, sem conseguir dizer o nome da outra atriz que sempre aparecia com ele, soltou. Os dois se olharam fixamente por um momento, silenciosos.
— Você também viu isso? — ele perguntou depois de alguns minutos, sem saber exatamente o que responder. Não estava esperando aquela pergunta.
— Quem não viu, Ben? — ela confirmou — Está em todo lugar — ela sorriu triste, olhando para um canto qualquer — E eu sei que não tenho que te cobrar de nada, não temos nada, afinal. Mas queria que você fosse sincero comigo.
"Não temos nada, afinal". Aquilo martelava em sua mente do mesmo jeito que atingiu seu coração. Talvez fosse por isso que ela tinha se afastado. Todo aquele tempo, só não estava na mesma sintonia que ele, não tinha as mesmas expectativas e nem as mesmas vontades de tê-lo a todo tempo, como ele tinha dela. Fazia sentido, afinal. Mas Ben não entendia por que é que ela correspondia a tudo, demonstrando justamente o contrário daquilo. Era confuso para ele. Confuso e, depois de ouvir aquilo, um tanto doloroso.
— Eu estou sendo sincero — Ben respondeu, finalmente, a olhando fixamente nos olhos — Eu sinto sua falta.
respirou fundo. Aquela não era a resposta que queria ouvir dele, mas não iria insistir no assunto. Deu a deixa, ele teve a oportunidade e simplesmente não desmentiu o fato de estar envolvido, ou ao menos se envolvendo, com outra pessoa. Talvez não quisesse magoá-la ou só talvez aquele não fosse o melhor momento e lugar para conversarem sobre aquilo. Ela deixaria de lado enquanto ainda conseguisse deixar, porque, afinal, não podia cobrar nada dele. Dando um novo sorriso fraco, tirou suas mãos delicadamente dos ombros dele e voltou seu olhar para o estúdio ao redor.
Na falta de resposta dela morava a dúvida de Ben. Tinha acabado de dizer que sentia falta dela, tinha acabado de mostrar, uma vez mais, o que estava sentindo e ela só não correspondeu. Talvez não quisesse magoá-lo ou só talvez aquele não fosse o melhor momento e lugar para conversarem sobre aquilo. Ben não sabia se deveria dizer algo ou se tinha sido apressado e invasivo a ponto de tê-la, inclusive, se retraído, fisicamente desencostado dele. Mas o que ele soube naquele momento, o que teve certeza absoluta, é que estava totalmente confuso. Se ela não o queria mais, porque tinha sido tão delicada e carinhosa com ele há pouco? Porque estava perguntando sobre os boatos da mídia e porque pareceu chateada de repente?
Ele chegou a abrir a boca para dizer algo, qualquer coisa, que a pudesse trazer minimamente de volta para ele naquele momento, no único momento que conseguiu ter a sós com ela na festa, mas foi mais rápida.
— Ben, Ben — a atriz o chamou o mais disfarçadamente que conseguiu, sem na verdade disfarçar nada. Virando-se levemente, o homem acompanhou o olhar dela para o outro lado do estúdio, até onde Dylan e estavam — Você também está vendo aquilo?
— Estou! Definitivamente, estou — ele comemorou alto, a fazendo rir e tapar a boca.
O primeiro desafio: Cupcakes
— Boa tarde, turma — Dylan entrou gritando na sala onde , Lewis, e Tom estavam conversando animados — Quem está pronto para perder hoje?
— Maze Runner, se tem uma coisa que eu aprendi nas pistas é que não se conta vitória até a última volta — segurando um copo de café e sentado ao lado , que mostrava o seu último clipe para e Tom, Lewis o cumprimentou no mesmo tom de voz — E, se tem uma coisa que eu sei fazer é ganhar.
— Sem querer dizer nada, mas já dizendo: isso aí está me cheirando a conversa de perdedor — Dylan se sentava em uma das poltronas dispostas na sala, ao lado de Tom, depois de cumprimentar todos os presentes. O ator se virou para prestar a atenção na conversa dos dois, deixando e falando sobre os looks que a cantora usou no clipe — E falando em perdedores, cadê o resto do pessoal?
— Alguns deles devem estar de ressaca ainda — Tom bebericou seu café.
— Três dias depois? — Hamilton perguntou, aproximando-se dos outros dois homens. Tom deu de ombros.
— Ressaca moral mesmo — o ator e o piloto riram, mas Dylan, por um momento, foi levado para longe, por seus pensamentos.
A festa de inauguração do reality havia acontecido há três dias e Dylan, assim como os demais, a tinha aproveitado bastante. Dançou, bebeu, comeu, gravou vídeos, tirou fotos, conheceu pessoas novas, reviu algumas que já conhecia e conseguiu interagir bem com os convidados em geral. Tudo parecia correr bem demais até uma simples reviravolta mudar tudo. O único ponto que poderia tê-lo deixado com a ressaca moral foi, justamente, quando se dirigiu ao encontro de . Tinham conversado um pouco assim que a festa começou, absortos no fato de terem se encontrado ali sem que nenhum deles dois soubesse. No auge da divulgação de seus livros, havia sido convidada a fazer parte de um reality show de cozinha e Lindsay achou que era uma oportunidade diferente e divertida de expor seu trabalho. A agente, contudo, achou que seria gravado nos EUA mesmo, em Louisiana e, de última hora, ao receber uma mensagem pedindo a confirmação da passagem para Londres, descobriu que tinha feito confusão.
já sabia que Dylan estaria na cidade, porque ele tinha comentado que faria parte de uma gravação de um programa de Natal para a Netflix, mas não deu tantos detalhes no dia. Na correria de chegar até o país, se hospedar, se aprontar e ir para a gravação, a autora sequer teve tempo de comentar com ele muito mais do que a mensagem que enviou antes de entrar no avião e, enfim, lá estavam eles, se vendo repentinamente no programa. E mais do que isso, eram oficialmente uma dupla. A surpresa os deixou tão felizes e empolgados que, pelos primeiros momentos da festa, ficaram conversando entre si, bebendo e se atualizando das novidades das últimas semanas. Dylan queria dizer que estava morrendo de saudades, mas achou ousado demais.
Em certo momento, contudo, o ator tentou dar espaço para que a amiga também pudesse interagir com os outros e aproveitar o momento um tanto atípico, de ter tantas pessoas famosas diferentes reunidas em um lugar intimista. Teriam bastante tempo juntos a ser compartilhado nas próximas semanas e tinham ali pessoas que eles não viam há algum tempo, outras que eram fãs e que queriam conhecer. Dylan não queria sufocá-la ou parecer chato. Mas, igualmente, não tinha a menor vontade de sair de perto dela. Algo em o prendia de uma forma tão boa que nunca parecia ser o suficiente, ele sempre queria mais.
Mesmo separados na festa, aproveitando outros momentos e pessoas, Dylan não conseguia tirar os olhos da escritora. Conforme o tempo foi passando, ele foi reparando que estava mais engraçada e solta do que o normal, talvez fosse a bebida, mas o jeito com que ria com as outras meninas fazia com que ele quisesse sorrir junto. Das piadas que ela contava para as pessoas ou do quanto se sentia encantado por ela, ele não sabia o motivo ao certo. Mas o sorriso, o sorriso, brotava nele sempre a via, como uma flor brotava em um jardim.
A certo ponto, contudo, quando achou que já tinham tido tempo demais separados e que não parecia que estava perseguindo sua amiga, Dylan se aproximou dela outra vez. Dançando com as outras no centro do estúdio, viu o outro ator chegar mais perto, no ritmo da música mas meio receoso, como se avaliasse se deveria mesmo se juntar à ela naquele momento ou se deveria tentar novamente mais tarde.
O que veio a seguir, contudo, aconteceu mais rápido do que o cérebro de Dylan conseguiu raciocinar. Não tinha bebido uma quantidade de álcool que o deixaria sem entender das coisas e certamente a visão de dançando para ele não sairia tão cedo de sua mente. Ao som de Juice, de Lizzo, a escritora dançava despretensiosamente, cantando a letra da música para ela mesma, mas olhando em direção à Dylan. Rindo, um tanto nervoso com a cena, ele se aproximou dela sem demorar muito e inebriado pelo álcool que ainda bebia e pelos movimentos um tanto sensuais de , passou a dançar com ela. Perto o suficiente para colocar as mãos nos ombros dele, a mulher sentiu as mãos de Dylan passarem pelas suas costas até enfim pararam pouco abaixo da cintura dela, quase em seu quadril.
E assim ficaram por mais tempo do que perceberam: dançando, cantando, aproveitando a sutileza e a casualidade do momento para se sentirem, mesmo que minimamente. Os olhos nos olhos, as mãos que não paravam, tímidas e firmes, um no outro. Vez ou outra conversavam alguma coisa entre si, mas estavam tão focados na delícia do momento que parecia não haver mais nada nem ninguém ao redor deles.
— O que você acha da gente parar um pouco? — com a voz grave no ouvido dela, Dylan apontou com o queixo para uma das salas vazias do estúdio, de onde saíram quando o programa começou a ser gravado.
— Quer me levar para o canto mais escuro da festa? — ela brincou charmosa — Eu sei o que isso significa.
— E o que é? — divertido, ele a olhou. Por aquela pergunta não esperava. Mas não demorou mais do que um segundo para responder, seus olhos descendo propositalmente dos dele até seus lábios:
— Você pode me levar lá e descobrir.
Surpreso pela resposta direta, Dylan não conseguiu conter o sorriso sedutor que brotou em seus lábios. Estava acostumado a ouvir certas provocações e a flertar com , vez ou outra descaradamente daquela forma, mas tudo sempre tinha o tom de brincadeira que o confundia. Daquela vez, contudo, soou diferente. Soou direto, sincero e absurdamente charmoso. Um convite tão objetivo e sensual que pôde sentir seu corpo esquentar de uma vez. Os olhos de pareciam mais escuros, eram intensos e carregavam certa expectativa. Talvez o jeito de demonstrar o que ela estava sentindo, o que ela queria dele. A hora exata de ele corresponder.
Assistindo Dylan, a um milímetro de distância de , entrelaçando seus dedos aos dela e a puxando delicadamente para dentro de uma das salas, com certa urgência, cutucou Ben ao seu lado e apontou para eles. Depois da festa de finalização das gravações de NNL, e Dylan se beijaram pela primeira vez, depois de meses que frequentavam um a vida do outro. Tudo aconteceu no íntimo entre os dois, pois ele quem foi levá-la em casa e o clima estava tão propício, tão favorável, que se deixaram levar. Por medo ou vergonha de parecer invasivo demais, Dylan não quis avançar nenhum sinal, mas queria mais dela e, desde então, só pensava que precisava repetir a dose.
Se o universo tinha mandado a chance, ele quem não perderia. Ao entrar na sala, pararam por um momento, de mãos dadas e de frente um para o outro, absorvendo tudo o que estava acontecendo. Dylan fez menção para começar a falar, mas colocou o dedo sobre seus lábios. Não precisavam de palavras, ela sabia disso. Ele compreendeu o que a escritora quis dizer com o gesto e entrelaçou uma das mãos em sua nuca, a trazendo para mais próximo do corpo dele. As respirações quentes dos dois se misturavam junto com seus perfumes e, sem mais esperar, com a mão livre, Dylan a segurou firme pela cintura e a beijou. O beijo era saudoso, profundo e um tanto urgente, como se gritasse a falta que ele sentia dela, daquilo. Sentia falta do seu cheiro, do toque, da sensação de beijá-la, do sorriso que abria quando Tony a estava lambendo o rosto e, principalmente, sentia falta de tê-la em seus braços.
Chateada ao perceber que Sebastian já não estava mais há algum tempo considerável na festa e que sequer tinha se despedido das pessoas, procurou por Justin para irem embora, mas logo foi informada que ele já havia saído com Noah. Revirando os olhos e se sentindo levemente abandonada, ela decidiu ir buscar sua bolsa, na pequena sala que ocupou assim que chegou ao estúdio onde saiu quando seu nome foi chamado na gravação. Estava realmente triste por ter notado a postura do seu ex-namorado. Tinha mexido tanto assim com ele, o incomodado tanto, a ponto de simplesmente querer fugir dali o mais rápido possível? suspirou. Tinha que pensar em alguma forma de passar aquelas semanas do jeito mais agradável possível, senão, ao final, sairiam mais magoados do reality do que estavam entrando nele.
Presa em seus pensamentos, a modelo sequer percebeu quando entrou sem cerimônia alguma dentro da sala, se deparando com e Dylan não apenas se beijando, mas praticamente começando a dar o próximo passo. Praticamente. Não fosse ela ter entrado bem no exato segundo em que as mãos do homem entraram dentro da blusa de , enquanto seus lábios desciam para o pescoço dela, os fazendo se afastar rapidamente no susto. olhou de um até outro, seus olhos arregalados pela surpresa e pela vergonha de ter interrompido o casal que ela não tinha ideia que existia. Sorrindo sem graça, ela apontou para sua bolsa no sofá, atrás deles.
— Ai, me desculpem — ela gesticulou envergonhada — Eu não queria… eu não…
— Está tudo bem — tentando passar segurança e controle da situação, a escritora sorriu abertamente, arrumando sua blusa de volta no lugar.
— É, — Dylan completou, puxando uma das almofadas do sofá até seu colo, disfarçadamente — não estava acontecendo nada.
Acontecendo nada. Nada? engoliu em seco ao ouvir aquilo, sem saber se era o álcool inflando as coisas ou se ele realmente disse aquilo porque não significava nada. Dylan sequer pareceu ter percebido o que tinha dito. Estava tão absorto no caos de emoções que estava sentindo naquele momento que não percebeu a escolha ruim, e um tanto inocente, de palavras. não teve coragem de responder nada, apenas seguiu sorrindo alguns passos a frente, pegou sua bolsa, mandou dois beijos no ar e correu dali o mais rápido que pode.
Assim que ficaram novamente a sós, e Dylan se encararam por um momento. Na cabeça dela, mais do que o constrangimento de terem sido interrompidos e a sensação de ter plena consciência do que estava acontecendo, martelava a frustração por tê-lo ouvido dizer que não estava acontecendo nada. Talvez, para ele, fosse realmente aquilo. Talvez fossem só amigos que, eventualmente e por nada, se pagavam quando sentiam vontade.
Dylan, por sua vez, sentia-se frustrado por ter sido interrompido justamente naquele momento. Tinha uma certa necessidade de sentir outra vez e, na primeira vez em que pareciam jogar aquele jogo com honestidade, no clima que conseguiram criar de seriedade para, talvez, finalmente, abrir seus sentimentos por ela, sequer conseguiu beijá-la pelo tempo suficiente. Se nem o que já tinham feito antes conseguiram naquela noite, quem dirá falar abertamente dos seus sentimentos. Respirando fundo, Dylan assistiu a mulher sorrir de lado para ele.
— Eu… acho melhor… — ela gaguejou, engolindo o constrangimento — Acho melhor já ir. Está tarde e amanhã tenho alguns compromissos. É, boa noite.
— , eu... — o ator tentou dizer, mas ela sequer deu tempo de ele terminar. Saiu tão apressada da sala como entrou, praticamente correndo para longe dali.
Sentada no braço da poltrona onde Ben estava, despedindo-se de , viu sair correndo da sala onde estava com Dylan e, passando por eles, feito um raio, murmurou alto que estava indo embora e foi. e Ben se entreolharam preocupados e confusos, sem entender direito o comportamento atípico da amiga. já estava prestes a sair, já tinha se despedido deles, mas comentou baixo ao ver a saída da escritora e a reação dos amigos:
— Ah, eles estavam se beijando, bom, acho que um pouco mais do que isso e eu meio que atrapalhei tudo — culpada, fez um biquinho — Dylan disse que não era nada, mas eu percebi que interrompi.
— Ele disse que não era nada? — encostando-se na poltrona exausto, Ben perguntou, observando dizer um simples “aham”, antes de insistir:
— Desse jeito? Nesse momento? — ela bateu uma mão na própria testa.
— Foi — a modelo tinha uma expressão meio “foi feio assim” e, sem dizer mais nada, acenando para eles e saiu.
— Ok, eu vou com ela e você fica com ele, pode ser? Acho que ele precisa de uns conselhos de alguém mais… experiente — virou-se para Ben, que concordou com a cabeça.
— Você ia dizer velho — Ben brincou, a encarando rir com ternura.
— Talvez — a atriz encolheu os olhos e se levantou de onde estava sentada — Bom, nos falamos depois.
— Você promete mesmo que nos falamos depois? — ele perguntou segurando ligeiramente a mão dela, antes de deixá-la ir. assentiu com um sorriso leve nos lábios, saindo apressada atrás de . Claramente se falariam depois. Tinham algumas semanas pela frente, sendo a inevitável dupla um do outro.
Dylan passou aqueles três longos dias incerto. Martelando cada palavra que Ben havia dito à ele depois do ocorrido, em um looping tão frenético que, na manhã daquele dia, do terceiro, já estava ficando exausto de tanto pensar. sentia algo a mais por ele? Podia mesmo ser racional pensar aquilo? Era sua amiga. E amigos não nutriam esse tipo de sentimento, nutriam? E se fossem mesmo só amigos, por que infernos ela havia corrido, literalmente, para longe dele na festa? Tudo fazia um sentido absurdo, mas Dylan, ainda assim, não parecia conseguir enxergar com clareza. Ele precisava dar o próximo passo? Mas que passo era esse? E será que realmente ela queria que isso acontecesse?
A escritora, por sua vez, debandou da festa como um furacão. Correu direto para o estacionamento do prédio e, sem nem pensar duas vezes, entrou no carro e pediu que seu motorista a levasse de volta ao hotel. Com um pote de sorvete no meio das pernas e os olhos querendo encher-se de lágrimas, de constrangimento e de angústia, por mais uma vez não conseguir colocar em palavras tudo o que sentia por Dylan, viu alguém bater em sua porta. passou aquela noite com ela.
Sebastian e Ben chegaram juntos ao estúdio do programa. Tinham se encontrado eventualmente em um café próximo, no meio do caminho, e decidiram tomá-lo juntos, enquanto conversavam sobre os futuros projetos dos dois. Ben não pode se conter e perguntou ao outro ator o que havia acontecido para que ele tivesse ido embora do nada na festa e de aquilo tinha mesmo relação com , já que tinha escutado algo na festa, mas por conta do álcool pensou que era apenas um delírio. Sebastian não conseguiu negar a relação que teve com a modelo, mas evitou estender demais o assunto.
— E falando em ressaca moral, o rei dela apareceu — cutucando Sebastian, brincou, o vendo entrar na sala em que estavam.
— , são 9h da manhã, ainda é muito cedo para você jogar as coisas na minha cara — o ator disse e fez com os demais rirem.
— Quem está jogando o que na cara de quem? — animada, chegou na sala em seguida, recebendo cumprimentos felizes dos demais. Ela e Seb tinham se encontrado na sala de teste de Covid, que faziam todos os dias antes do programa começar, por segurança, no estúdio mesmo — Não, espera, já sei — ela apontou para o amigo — Dylan, né? Já podemos fazer abaixo-assinado para tirar ele do programa? — indo na direção dele, ela o abraçou pelos ombros.
— , são 9h da manhã, ainda é muito cedo para você jogar as coisas na minha cara — Dylan respondeu a exata mesma coisa que Sebastian, tirando novas risadas do grupo.
— Não é não — ela deu-lhe um beijo fofo no rosto, o vendo sorrir falsamente envergonhado para ela.
— Gente, que fofo — de repente falou alto, percebendo algo — Agora que me toquei que estamos combinando — ela apontou para as duplas respectivamente.
— Ai meu Deus — fez um gesto como se estivesse morrendo de fofura — e Lewis de vermelho, e Ben de verde e eu e Tom de amarelo.
Todos os oito participantes pararam um instante para se encarar, até rirem. Aquilo era cafona e muito engraçado, mas era delicado e empolgante, como o natal. Conforme cada um deles foi chegando ao estúdio e fazendo os testes de Covid, foram direto para seus respectivos camarins para se trocar, fazer maquiagem e cabelo. Tinham escolhido as roupas que queriam usar na gravação, mas a ordem que as usaria ficou a cargo da produção do reality que, propositalmente, combinou as duplas. A cada rodada, cada dupla vestiria uma cor diferente e natalina: vermelho, verde, amarelo, branco e marrom.
Como se tivessem combinado, e Ben viraram-se um para o outro ao mesmo tempo e encararam a roupa um do outro, risonhos. A atriz vestia uma salopete xadrez verde escura e preta, curta, uma blusa preta de mangas compridas em baixo e uma bota Chelsea igualmente preta. Combinando com ela, a camisa que Ben vestia era no exato mesmo xadrez do vestido, com uma calça em sarja preta e, igualmente, botas Chelsea pretas, masculinas. Pareciam duas árvores, estavam fofos.
Igualmente, reparou no terno vermelho que Lewis vestia, liso e tão bem cortado quanto o look em duas peças dela. No mesmo tom, ela usava uma calça de alfaiataria com bocas mais largas, de cós alto, que foi combinada com um top cropped de mangas curtas, soltinho. Ambos vestiam tênis brancos da Nike no pé, exatamente iguais, mesma marca e modelo. Estavam elegantes e monocromáticos, um pouco excêntricos, exatamente como gostavam. Rindo ao reparar um no outro, o casal então virou-se para e Tom.
Parecendo um lindo par de vasos de girassóis, usava um vestido curto amarelo que combinava com a camisa que Tom vestia. Com as mangas dobradas para cima, no meio dos braços, o ator desceu seu olhar propositalmente pelo corpo da namorada, reparando pela primeira vez em como aquele vestido tinha caído bem nela, como parecia desenhar certinho cada curva que tinha. Assim como os demais, eles também tinham sapatos na mesma cor, tênis pretos para ele e coturnos para ela.
— Isso é tão brega — continuou falando, olhando de Tom para os demais — Eu amei.
— Acho que mais natal do que isso, impossível — Ben comentou, suas mãos indo para dentro de seus bolsos da calça.
— Pelo menos não estamos com aqueles suéteres temáticos — Hamilton comentou gesticulando. Estava se sentindo um verdadeiro gostoso naquele terno vermelho, não podia negar.
— Ainda — Dylan arregalou os olhos. Por um momento se perguntou se também estaria combinando com ele.
— Eu gosto deles — Sebastian comentou afetado, fazendo os demais rir.
O barulho das botas de salto baixo de podiam ser ouvidos desde o início no corredor do estúdio. Tentando controlar a respiração ansiosa, ela caminhava calmamente sentido às risadas altas que conseguia ouvir saindo do cômodo da outra ponta do corredor. Justin não a acompanhou naquele dia, estava sozinha. Os agentes e assessores de todos os dez participantes não poderiam cobrir todas as gravações, pois tinham outros compromissos a seguir na rotina deles em Londres e, por confidencialidade do reality, mal tinham sido convidados a assistir ao vivo. estava tranquila por fora, cumprimentou alguns dos funcionários do programa, parou para tirar algumas fotos com fãs na entrada do estúdio, mas, por dentro, sentia seu coração querer sair pela boca.
Quando finalmente chegou à sala onde quase todos os participantes se reuniam, foi recebida com alguns sorrisos e acenos simpáticos deles. Sebastian, por sua vez, pensativo, não conseguia nem olhar direito para a modelo, apesar de tê-la cumprimentado com um sorriso breve. Os dois estavam vestindo branco. tinha um conjunto de saia em pregas, com cós alto, e um top cropped soltinho de mangas de frio, com as botas de couro e cano até o joelho, enquanto Sebastian usava um suéter de tricô branco e uma calça de alfaiataria bege clara, com um tênis da Adidas branco. Se aquilo quisesse dizer algo, ao menos, que significasse momentos de paz.
O clima não conseguiu ficar pesado de jeito algum, pois os comentários engraçados e a conversa alta estavam preenchendo o ambiente, até que rapidamente um dos assistentes do programa solicitou que todos eles se dirigissem ao estúdio onde as gravações seriam feitas. A caminho com os demais, empolgados, Ben notou que ainda não havia chegado, o que era estranho porque a amiga amava ser pontual, e brincava que podia ser considerada quase uma britânica por sempre chegar adiantada. A constatação, contudo, não durou mais do que alguns passos à frente, pois assim que adentrou a parte central do estúdio, o exato mesmo lugar onde gravaram a vinheta de apresentação do programa e onde a festa aconteceu, Ben a viu esperando por eles.
Vestindo um macacão no mesmo tom de marrom que Dylan usava um suéter, estava em seu espaço antes mesmo dos outros, pois a escritora chegou mais tarde do que os demais e foi direcionada diretamente para o estúdio de gravação. Sorridente e simpática, respondendo aos cumprimentos dos demais, ela os observou chegarem no estúdio e se acomodarem em suas posições, cada dupla na sua respectiva cozinha. Absolutamente feliz em vê-la ali, tão linda como sempre, Dylan a abraçou, sendo retribuído da mesma forma. Como o abraço que tinham trocado no primeiro episódio da competição, aquele também não tinha durado mais do que alguns poucos segundos.
Sem que pudessem dizer nada um ao outro, Hunter adentrou o estúdio com um grande sorriso no rosto, em seu tradicional terno azul marinho e gravata borboleta, falando animado com eles e dando algumas instruções práticas: para vestirem os aventais que estavam sobre as bancadas de suas respectivas cozinhas, checar se as receitas estavam coladas no lugar onde deveriam, para qual câmera deveriam olhar ou o que fazer caso se machucassem com algum utensílio. Os dez participantes prestavam atenção animados, se ajudando a vestir e fechar os aventais do programa, enquanto a equipe colocou, rapidamente, os microfones no apresentador e neles.
Menos de dez minutos depois, por trás das câmeras, o produtor fez um sinal positivo. O momento de começar oficialmente o primeiro episódio do programa de Natal mais doce do mundo era agora.
— Estão prontas, crianças? — o apresentador se virou para os participantes, assim que a câmera ligou.
A vinheta do programa seria o anúncio dos participantes e das duplas, gravada alguns dias antes, que seria editada e colocada antes de cada um dos episódios. Por isso, Hunter podia passar direto para o desafio do dia, sem ter que explicar mais nada além daquilo.
— Estamos, capitão — Dylan cantarolou, o que fez que os participantes riem.
— Será que alguém avisa para o Dylan que isso aqui não é um show de humor? — Adriano, o jurado, respondeu ao ator, brincando.
— Dylan já perdeu uns pontos, pelo visto — Sebastian apontou para ele, satisfeito.
— E pode perder mais se não se controlar — Adriano provocou.
— Se controle — se virou para sua dupla e arregalou os olhos. Conhecendo Dylan, sabia que ele não tinha muitos limites nas brincadeiras.
— Sim, chefe — ele fez um sinal de zíper na boca.
— Bom, para que vocês consigam relembrar como funciona o nosso jogo: temos cinco equipes de confeiteiros famosos - talvez mais famosos do que confeiteiros dessa vez - que irão disputar entre si e ir contra o relógio em uma competição de quatro etapas. Em cada uma delas, vocês precisarão preparar doces típicos do Natal, seguindo algumas regras. Vence a dupla que, na somatória de pontos, se sair melhor e aquela que ficar por último... bom, esses detalhes vocês saberão mais para frente — fez uma pausa dramática.
— Já estou com medo — comentou tímida.
— Eu também — da cozinha ao lado, Tom concordou com ela.
— Mas calma, porque ainda tem mais! — Hunter riu maldosamente, enquanto os participantes soltaram reações surpresas.
— Para deixar as coisas ainda mais interessantes, nós teremos alguns ingredientes surpresa em cada desafio, que necessariamente devem ser colocados nas receitas — Candace comentou animada, de seu lugar na mesa de jurados.
— Se bem com os ingredientes que eu escolho eu consigo cozinhar direito, imagina com os que eu serei obrigada a usar — comentou, tirando risadas baixas dos demais.
— Se ferrou, Tom — Ben o cutucou.
— Isso é uma falsa reclamação, vocês vão ver — ele encarou os amigos, recebendo uma vaia coletiva em resposta.
— Vamos ter algum tempo para provar isso — Adriano completou — e não queremos ser tão malvados assim. Por isso, para facilitar um pouco a vida de vocês, diferente das edições anteriores em que os participantes tinham que ir buscar os ingredientes na nossa dispensa, dessa vez eles já estarão separados para vocês, em cada cozinha.
— Arrasaram! — celebrou, aplaudindo junto com os demais.
— Vamos, finalmente, entender qual é o desafio do dia? — Hunter perguntou animado. Os gritos altos dos participantes confirmavam que podiam seguir — Muito bom. Mas quem nos conta mais sobre o desafio de hoje é a nossa convidada especial. Para completar o time mais doce desse reality, a cantora, compositora e multi-instrumentista britânica: Adele.
Todos os participantes ficaram atônitos e eufóricos com a presença de Adele no reality. A cantora vinha de uma grande pausa em sua carreira, mas havia lançado, há pouco, seu novo projeto, intitulado “30”. Apesar de lançado recentemente, o álbum já dominava o topo dos rankings de sucesso da Inglaterra e do mundo. Feliz, mexendo com os participantes, Adele posicionou-se próxima a bancada dos jurados onde Candace e Adriano já estavam sentados, sorridentes.
— Bem-vinda ao nosso Sugar Rush de Natal, Adele — Hunter saudou a cantora — Ansiosa para experimentar os deliciosos doces que nossos confeiteiros irão fazer?
— Confesso que estou com um pouco de medo, — a cantora disse olhando para os participantes — porque atrás dessas bancadas não tem nenhum confeiteiro de verdade — disse se mexendo na cadeira e os participantes riram — Eles podem ser ótimos cantando, atuando, dirigindo, pilotando e tudo mais, mas aqui vão ter que me conquistar pelo estômago.
— Também não estou muito certa disso — Candace comentou, rindo para Adele a seu lado.
— Vocês não vão se decepcionar — Lewis estufou o peito — Ao menos, não comigo e .
— Estão avisados — apontou para as demais duplas, que riram.
— Adele trouxe não só a presença ilustre mas também a definição de nosso desafio de hoje. Vamos trazer o toque doce do amor e mostrar um pouco de seu lado mais amargo, um pouco do lado que ouvimos nas músicas de Adele — Hunter olhava fixo para câmera, explicando — Falando em conquistar e estar apaixonado, sofrer por amor… Quem nunca escutou Adele enquanto bebia algo alcoólico, que atire a primeira pedra — fez uma pausa dramática, vendo os participantes concordarem com a cabeça, rindo, enquanto Adele gesticulava, se defendendo — Então, para este desafio, nossos queridos confeiteiros terão que unir a doçura do sabor de um cupcake, um dos doces mais vendidos no Natal, com o toque de amor e sofrimento do álcool.
— A bebida fica à escolha de vocês — Adele completou, olhando para os participantes — Pode ser a favorita de um membro da dupla ou algo que vocês gostem de apreciar o sabor, um aperitivo.
— Todos de acordo? — Adriano perguntou, confirmando com cada dupla que acenava ou consentia com a cabeça — Legal, porque o desafio começa agora — olhou para o relógio colocado no centro do estúdio, até Hunter completar:
— A partir de agora vocês têm exatos 50 minutos para preparar algo para os nossos jurados, nem um minuto a mais.
— E que a sorte esteja a favor de vocês — Adele apontou para o relógio e sorriu, assim que o apresentar acrescentou:
— Começa, agora, o primeiro desafio do Sugar Rush de Natal.
Apressados, tentando focar a atenção no meio da bagunça que faziam no estúdio, os participantes discutiam dentro de suas duplas, decidindo qual bebida usariam para colocar em seus cupcakes ou por onde deveriam começar. Além de utilizar o álcool, tinham que preparar uma receita comestível, rápida, criativa e se preocupar com a apresentação final do prato. Todos os fatores contavam pontos na hora da avaliação dos doces. O barulho do grande relógio digital no teto do estúdio, redondo, de frente para eles, era, com certeza, o principal inimigo dos participantes e seus olhos iam a toda hora checar quanto tempo já tinham perdido.
O tempo já estava passando. E graças a ele as coisas entre as duplas não estavam tão constrangedoras. Na primeira cozinha, a mais próxima da mesa dos jurados, e Dylan pareciam meio perdidos nos primeiros minutos, sem saber o que exatamente deveriam fazer ou por onde começar. Eles debateram algumas ideias mais tranquilos do que deveriam estar, rindo e perto um do outro como se pudessem se encostar a qualquer momento - queriam, mas não sabiam se deviam, não depois de tudo o que rolou na festa. estava engolindo a frustração dos últimos acontecimentos, tentando parecer normal e fingir que mal se lembrava que tinham se beijado da última vez que se viram. Contudo, ter Adele ali e lembrar de suas músicas que pareciam descrever tão bem o que acontecia entre ela e Dylan não estava ajudando. Na frente das câmeras, durante o desafio, eram uma dupla e assim teriam que ser. Fim. Dylan, apesar de um tanto ansioso por notar que aquele comportamento de não era exatamente um comportamento dela, seguiu a dança. Não havia muito mais o que fazer senão fingir que estava tudo bem e que não tinha um amor irracional por ela martelando em sua mente a todo segundo.
Da cozinha ao lado, Sebastian e tinham trocado algumas palavras rápidas, um tanto secas, para tentar decidir qual bebida usariam e não mais do que aquilo. Apesar de estarem se esforçando em parecer simpáticos e amigáveis um com o outro diante das câmeras, sabendo que estavam sendo filmados a todo tempo, eles simplesmente não conseguiam forçar a naturalidade que costumavam ter. não conseguia nem olhar para ele direito e Sebastian estava engasgando nas palavras, se desconcentrando o tempo todo, querendo acabar com aquilo o mais rápido possível, enquanto fingia estar se divertindo para caramba. Era estranho estar ali, estranho serem uma dupla, estranho tentar levar o convívio como se tivesse tudo bem entre eles e mais estranho ainda depender um do outro para algo dar certo. Se bem se lembravam, nada entre eles, com eles dois juntos, dava certo. Por que ali seria diferente?
Seguindo pela ordem de cozinhas, mais ao centro do meio círculo que formavam no estúdio, e Lewis estavam em um clima tão gostoso, que transparecia harmonia e felicidade para quem os observava de longe. Ela recolhia alguns ingredientes pela cozinha enquanto ele juntava os utensílios que pretendiam usar para fazer a receita que Lewis havia sugerido. sabia que ele vivia sozinho há bastante tempo e sabia que ele arriscava algumas coisas na cozinha. Mas que tinha uma receita de cupcakes em mente era novidade. O assunto não morria entre eles e muito menos os sorrisos em seus rostos. Apesar de não saber exatamente o que iriam entregar, se daria mesmo certo, só de estarem ali, compartilhando mais aquele momento, relembrando o passado que passava em seus olhares amorosos e discretos, já estava valendo a pena para eles dois - exatamente o oposto do que, na cozinha ao lado da deles e de frente para a de e Sebastian, sentia.
Ben era fofo, muito educado e muito respeitoso, ela não podia negar. Silenciosamente, estava dando o espaço que ela estava impondo entre eles, mas estava meio confusa com o que sentia e com parecer o mais casual possível diante das câmeras, como se nunca tivesse visto aquele homem nu na vida, como se nunca tivesse sequer conhecido ele. Prestava mais atenção do que era necessário no bloco de anotações que escrevia as ideias que discutiam para a receita, tentando não se apegar ao fato de amar a voz daquele homem e de sentir suas pernas fracas só de ouvi-la. Ben, por sua vez, lançava olhares mais demorados do que deveria nela, tentando disfarçar os sentimentos que se tumultuavam dentro dele pelas lembranças que tinha com ela, com o perfume dela que a proximidade o fazia sentir. Estavam tentando se focar no que tinham que fazer para o desafio e tentando ignorar o que sentiam um pelo outro, mas era difícil. Muito difícil.
Na quinta e última cozinha, ao lado de onde e Ben conversavam baixo e anotavam algumas coisas, e Tom pareciam dois furacões - em pressa, em animação e em competitividade. Conversavam alto, tentando entrar em um consenso lógico de como organizar todas as etapas da receita que tinham acabado de pensar em fazer e o que precisariam para cada um delas. Tom queria começar pelo recheio e pela massa e aquilo estava gerando um pouco de gargalhadas e um pouco de estresse entre eles. Entre palavras de carinho que haviam acostumado a dizer um para o outro, naquele tempo de convívio e de contrato, e palavras que certamente seriam censuradas na edição do programa, a conversa cedeu lugar a uma ligeira discussão, que terminou com Tom a abraçando com força e a tirando do chão por um momento, falando com um vozinha alterada que odiava mas que não segurou o seu sorriso. Amava ser a dupla de Tom em absolutamente tudo. E Tom amava ela em absolutamente tudo. Só não havia dito ainda. Não de verdade.
Cerca de vinte minutos depois, quando as duplas já tinham debatido as ideias, separados ingredientes e utensílios e já começavam a colocar, literalmente, a mão na massa, Hunter decidiu caminhar pelas cozinhas, para movimentar o reality e fazer tomadas individuais com cada dupla, enquanto cozinhavam.
— E aí, Hamilton? — Hunter questionou passando pela bancada da dupla e Lewis — Isso aqui é mais fácil do que pilotar um carro em alta velocidade?
— Você só pode estar brincando com a minha cara, Hunter — Hamilton segurava uma colher suja com a cobertura do cupcake enquanto ria batendo alguns ingredientes da massa dos cupcakes na batedeira — Dirijo cem dias sem parar antes disso aqui virar fácil.
— , conta para gente o que vocês vão fazer hoje — Hunter pediu, passeando pela bancada da dupla.
— Para este primeiro desafio, escolhemos fazer um Cupcake de Pinã Colada — olhou para a massa — ou pelo tentar fazer.
— Conseguir é uma palavra muito forte — com a atenção de volta à cobertura que mexia no fogão, o piloto riu. Estava levando leite de amêndoas, óleo de coco, água, chocolate em pó e açúcar mascavo. O cheiro estava bom, mas a mistura estava estranhamente demorando a reduzir. Hamilton seguia mexendo tudo no fogo, apressado.
— A ideia é termos uma massa branca vegana, com recheio de abacaxi caramelado e cobertura de Piña Colada — terminou de explicar.
Como Hamilton era vegano e defendia muito a causa pela qual escolheu seguir sua alimentação, a receita ainda precisava seguir aquela regrinha. Sem nada de origem animal, os ingredientes que haviam sido sugeridos e deixados na cozinha deles pela produção já consideravam aquele fato e, por isso, não foi tão complicado de lidar com a adaptação. A receita tinha sido sugerida por Lewis, o que facilitava ainda mais o processo, e para não estava sendo difícil encontrar substitutos aos clássicos não-veganos das receitas - como ovos, leite e seus derivados. Estavam confiantes que fariam algo bom, saudável e muito consciente com o mundo.
— Parece ótimo, muito criativo — o apresentador juntou as mãos — E por que escolheram esse drink?
e Lewis pararam o que estavam fazendo quase ao mesmo tempo e se entreolharam por um segundo, rindo em seguida. Tinham escolhido a Piña Colada justamente por ser um drink caribenho, em homenagem à quando se encontraram pela primeira vez, no México. Sempre que se encontravam, desde então, a bebida estava no top 3 drinks que mais bebiam juntos e acharam legal poder usar ele ali também. Sem querer dizer exatamente o motivo, toda sensualidade e o calor que aquele drink os lembrava, Lewis encarou o apresentador de volta.
— Nós nos conhecemos no México, na verdade, pouco mais de dois anos atrás — Lewis contou alegre, mas logo se afastou para pegar mais óleo de coco na bancada mais ao fundo, ouvindo completar, dividindo sua atenção entre a batedeira e Hunter:
— E, justamente, em uma festa regada a Piña Colada.
— AH, isso é demais — ele pareceu feliz e se virou para os jurados, que prestavam atenção, animados, nos participantes — Vamos ter cupcakes regados a memórias por aqui.
— Tão calientes quanto as lembranças, eu garanto — Lewis sugeriu rindo tímido, tirando uma gargalhada de .
— MINHA NOSSA — Hunter gritou, mas logo se aproximou da câmera e sussurrou — Cortem essa parte — vendo a dupla rir, ele logo se despediu — Boa sorte, e Lewis, com os bolinhos de Piña Colada calientes.
— Obrigado, Hunter — eles agradeceram ao mesmo tempo, voltando a prestar atenção na receita e no que faziam.
O apresentador seguiu caminhando pelo estúdio, indo em direção à cozinha seguinte. parecia um delicado e refinado furacão, correndo de um lado a outro da cozinha, tentando segurar quantos ingredientes ela conseguia em seus braços. Na bancada, Sebastian virava a folha com a descrição da receita que ele e haviam escrito por alto, de um lado a outro, perdido, sem realmente saber por onde começar. Com a folha de ponta cabeça, ele tinha a cabeça tombada para o lado e os olhos semicerrados. Hunter se aproximou rindo da situação.
— Vocês precisam de ajuda aqui? Acho que está de ponta-cabeça, Seb.
— Estou vendo se entendo alguma coisa por outro ângulo — o ator brincou, rindo junto com Hunter.
— Tudo sob controle — respondeu alto, vendo Sebastian notar que ela estava cheia de coisas nas mãos. O homem se aproximou dela e pegou das coisas que ela carregava, as deixando em cima da bancada principal. Dois ovos, contudo, rolaram sob a bancada e caíram no chão, sem que desse tempo de ele segurá-los.
— Estamos ótimos — Sebastian murmurou, olhando os ovos.
— Parecem ótimos mesmo — Hunter riu, os observando olhar os ingredientes que tinham separado e, rapidamente, se dividirem para pegar a batedeira e os utensílios — Já decidiram a bebida?
— Humm… — olhou para Sebastian pela primeira vez naquele dia, pensativa. Não tinham conseguido decidir aquilo, porque mal conseguiam se falar. Era ridículo. Sebastian fez um bico, igualmente pensativo, mas a modelo foi mais rápida em sugerir: — Vodca?
— Acho que não, vai ficar aquoso demais, sem consistência — ele pensou rápido, recusando. quis revirar os olhos, mas segurou-se — Uísque?
— A não ser que você queira flambar o cupcake, acho melhor sugerir outra — ela rebateu. Foi a vez dele suspirar discretamente exausto.
— Cerveja? — o ator apontou para ela.
— Meu Deus do céu — ela praticamente gritou, vendo Hunter rir e Sebastian cortar o contato visual, juntando os utensílios que pegava — A gente precisa decidir rápido — ela tentou mudar o tom de voz, descontrair — Hunter está aqui, o que ele vai pensar?
— Que vocês estão mandando muito bem — o apresentador mentiu — Só talvez meio fora do tempo.
— NÃO, JÁ SEI — como um estalo em sua mente, a modelo gritou.
— está me desconcentrando — do outro lado do estúdio, gritou de volta.
— Já pode tirar um ponto deles — Dylan concordou, mais perdido do que qualquer outro participante ali.
— Seu também, por ser muito engraçadinho — brincando, a modelo fez uma careta para o outro ator, mas logo recompôs-se — Nossos cupcakes serão de frutas vermelhas.
— Isso, frutas vermelhas — sem saber direito qual era o plano, Sebastian só concordou, puxando novamente a folha com a receita.
— Exatamente isso que a gente pensou. Um recheio feito à base de licor de frutas vermelhas — explicou sorridente.
— Ok, temos uma bebida para e Sebastian — Hunter parecia se divertir com a situação, não muito confiante que daria certo — Vou deixar vocês prestarem atenção na receita, então. Boa sorte, dupla.
— Obrigado, Hunter, vamos vencer — o ator estufou o peito mas, assim que viu o apresentador dar dois passos para longe deles, perguntou, enquanto virava a folha em mãos: — A gente bate o ovo com a farinha ou a farinha com a manteiga primeiro?
— Que tal os três ao mesmo tempo? — a modelo sugeriu incerta. Não tinha a menor ideia do que deveriam fazer.
Fazia tempo que não falavam um com o outro daquele jeito, um bom tempo que não tinham tido sequer a chance de se ver. Não se falavam mais, nunca tinham se visto. Faziam questão de certificar-se que o outro não estaria nos eventos e desfiles que um ou outro estava, não queriam fazer as coisas piorarem e nem causar constrangimentos. Sugar Rush tinha sido uma exceção à regra. Tanto quanto Sebastian não tiveram a oportunidade de saber com antecedência quem seriam os participantes porque fazia parte da política e do contrato do reality. E não imaginavam que, justamente, ambos estariam ali. Foi um baque enorme no primeiro dia, um estranhamento confuso na festa, mas tiveram três longos dias para pensar.
E pensaram. Muito. Foram três longos dias em que seus pensamentos mais pareceram como montanhas-russas, muitos fatores a serem processados ao mesmo tempo. Mas sem que soubessem daquilo, ambos chegaram à mesma conclusão: já estavam lá e não havia volta. Por que não seguir e ver no que dava? Não queriam levar dali nada mais senão a leveza e o espírito natalino. Não queriam brigar, se magoar ainda mais ou piorar a situação. Eram adultos, bem resolvidos e tinham que agir daquela forma. Eles só queriam, e deveriam, aproveitar a oportunidade de participar de algo como aquilo pela primeira vez em suas vidas, fazer novos amigos e se divertir como podiam. Mais do que divulgar seus trabalhos individuais, o segundo motivo principal para que não apenas eles, mas todos os demais participantes estivessem ali era, justamente, se divertir.
Se estavam na chuva, era mesmo a hora de começar a se molhar. Tentando não se deixar contaminar pelo passado, Sebastian e seguiram a gravação do programa com naturalidade, acompanhando a receita e fazendo seus cupcakes, se deixando ser levados pelas risadas, pelas piadas, pela música natalina que tocava ao fundo, pela alegria daquele momento que, nos últimos tempos, tinha sido tão raro entre eles dois.
Hunter seguiu sua caminhada até a próxima dupla, mudando de lado no estúdio para diversificar a ordem, parando apoiado na bancada à frente da cozinha onde ria alto da cara que Ben fazia provando a massa que, naquela altura, já estava pronta para ser assada. Ela segurava uma colher de madeira, um passo de distância à frente dele, que olhava dela para a massa. Pelas caretas do ator e às risadas altas da atriz, parecia ótima. Uma delícia como nenhuma outra.
— E ai, Ben, aprovado? — o apresentador perguntou, negando com a cabeça assim que estendeu-lhe a colher, oferecendo para que ele provasse também.
— Está terrível… — Ben engoliu a massa crua, sem conseguir segurar a risada, vendo chorar de rir da situação. Há quanto tempo ela não ria daquela forma com ele? — terrivelmente maravilhoso.
— Coloca mais açúcar nisso, não tem como dar errado — ela sugeriu, procurando o açúcar ao redor, sem sucesso.
— O quanto de açúcar vocês já usaram? — Hunter observou Ben também procurar por mais açúcar, abrindo e fechando os armários da cozinha.
— Pelo jeito, tudo — vestindo seu avental, Ben respondeu risonho.
— Ok, ok, deixa eu pensar — olhou ao redor, as mãos na cintura, até seus olhos caírem sobre um pote de açúcar alguns passos dali.
— Enquanto você pensa, conta para a gente: do que é o terrivelmente maravilhoso cupcake de vocês?
— A massa é de baunilha com Martini — Ben explicou, tentando se manter sério e profissional — Vamos colocar gotas de chocolate branco e uma cobertura de chantilly com amêndoas.
— Martini? — o apresentador pareceu curioso.
— Inusitado — Candace, a conhecida rainha do cupcake e uma das juradas, falou alto de seu lugar.
— É a bebida favorita dela — de braços cruzados, Ben sorriu e apontou com o queixo para que, naquela altura, roubava o pote de açúcar da dupla ao lado. Sem passar despercebida, Tom gritou, apontando para ela:
— está roubando nosso açúcar.
— Tem que emprestar açúcar pros vizinhos, nunca viu nos filmes? — a atriz gritou de volta, rindo junto com os demais participantes.
— Já, quando alguém tem interesses no vizinho — Tom respondeu risonho, vendo a pensar um instante e responder naturalmente:
— Eu tenho interesses no vizinho — sem perceber o teor do que tinha falado, ela ouviu os participantes gritarem eufóricos, tirando onda com ela. Ligeiramente vermelha pela vergonha que sentiu ao entender o que tinha dito, ela riu, vendo Tom fazer o mesmo.
— O QUE ISSO, HEIN? — apontou um fuê de bolo para , fazendo uma pose combativa.
— Essa conversa está estranha, não sei se gostei — da outra cozinha, Ben apontou para o outro ator, tirando novos gritos dos demais participantes, que seguiam cozinhando, rindo e mexendo com eles.
— Eu tenho interesses no açúcar do vizinho — tentou explicar, mas logo explodiu em risadas.
— Está ficando pior — gargalhou e apontou para o pote de açúcar nas mãos da atriz — Ela realmente roubou a gente?
— Pode isso, produção? — Tom tentou se manter sério, olhando para as pessoas atrás das câmeras que, naquela altura, não negariam nada e só confirmaram com joias.
voltou sua atenção total ao que fazia, focada em polvilhar chocolate na massa já pronta e dividida em formas de seus cupcakes, enquanto Tom tentava negociar o açúcar roubado. Ben aproveitou o “empréstimo” e colocou novas colheradas de açúcar na massa, enquanto segurava o pote. Apressados, eles fecharam novamente o recipiente e, em um pulo, a atriz o devolveu na cozinha vizinha e voltou ao seu lugar, olhando um Tom risonho negar com a cabeça, enquanto ela dizia:
— Obrigada pelo empréstimo, Tom.
— Vou me lembrar disso quando for conveniente — ele apontou para ela.
— Vou deixar vocês com o doce mais doce da história desse programa — Hunter ria se afastando deles — Vão com calma por aí e boa sorte na combinação exótica, e Ben.
— Sorte é o que a precisa — Ben provocou alto o suficiente para que a amiga pudesse ouvir — A gente já ganhou.
ameaçou jogar o rolo de papel toalha nele, mas se segurou. Hunter apenas seguiu caminhando, contente com a diversão toda, até chegar finalmente na próxima cozinha. Diferente da que estavam Ben e , que parecia organizada até demais para quem estava, em tese, cozinhando, Hunter observou que a cozinha de e Tom estava como uma zona de guerra. Com farinha, casca de ovo e chocolate em pó espalhados por todo o lado, inclusive nas roupas deles, a sensação era que tinham usado todos os ingredientes e utensílios possíveis, aproveitando o que podiam aproveitar. Ainda assim, apesar da bagunça, os seus cupcakes pareciam mais apetitosos e bonitos do que os das duplas anteriores.
— Olha, a coisa aqui está boa e bem bonita — o apresentador comentou brincando, vendo a mulher levantar seu olhar até ele e sorrir.
— Hunter tem os seus favoritos — falou do outro lado, vendo Sebastian no fogão mexer sem cuidado algum o recheio de frutas vermelhas, enquanto Hamilton bebia uma parte da Piña Colada que deveria ir para o recheio do bolinho deles e oferecia para Dylan – que aceitou.
— Pode isso, produção? — do exato mesmo modo que Tom, parou por um segundo e perguntou, rindo em seguida do pano de prato que Tom lançou nela.
— Não é favoritismo, é realidade, olhem isso — Hunter apontou para a forma com oito lugares, onde a massa dos cupcakes de e Tom estavam perfeitamente acomodadas. A câmera deu um zoom, chamando atenção dos participantes para o telão próximo, tirando deles gritos e palmas.
— Meu Deus, alguém esconde o nosso, que vergonha — brincou, vendo Sebastian tapar a forma deles com um pano.
— Parece que temos uma dupla aqui que entende de cupcakes — Candace celebrou animada, contando os minutos para poder provar as delícias.
— Vou poder provar esses sem medo — Adele brincou — Ainda bem.
— Conta mais sobre o que estão fazendo — Hunter pediu para o casal.
— Escolhemos fazer um cupcake simples de champagne, — explicou, raspando o fundo do liquidificador com parte da massa — polvilhado com chocolate meio amargo e coberto por um chantilly poroso, para dar a sensação das bolhas do espumante.
— U-A-L. Não tenho nem o que falar depois disso — o apresentador estava impressionado.
— Expectativas altas — Adriano comentou com Candace e Adele, que concordaram.
— Eu disse que viemos para ganhar — Tom respondeu vitorioso, terminando de colocar o chantilly líquido na batedeira, para começar a bater.
— Mas, vem cá, Tom, só vi a dando a ideia, o que você fez? — Hunter perguntou já andando sentido a próxima, e última, dupla — Qual foi sua participação nesse sucesso todo?
— Quebrei os ovos, dei apoio moral, provei, dei um beijinho — ele listou com os dedos.
— Ele vai fazer a cobertura agora — falou alto, colocando a forma com a massa no forno — Anda, homem.
— Bom, melhor deixar vocês dois se resolverem por enquanto. Boa sorte, time.
— Obrigada, Hunter — soprou um beijo no ar para ele, já se virando para procurar o bico que usariam para confeitar os bolinhos.
Mas ela parou por um segundo. observou Tom procurar uma tomada próxima para ligar a batedeira e, em seguida, começar a bater o chantilly. Concentrado, ele não conseguia deixar de sorrir a ponto de seus olhos estarem ligeiramente cerrados. Uma felicidade verdadeira, real, que ela amava ver ele. Tinham costume de cozinhar juntos, sempre faziam isso quando estavam na casa de um ou de outro, era uma chance gostosa de passar um tempo a mais juntos, conversando, rindo, contando coisas do dia a dia e se conhecendo, se reconhecendo, um pouquinho mais. Por um momento que o assistiu ali e que se lembrou rapidamente do quanto estava acostumada com aquele Tom, o do sorriso aberto e da leveza charmosa, se pegou sentindo certa saudade. Do que ainda não tinha acabado, mas do que estava prestes acabar. Aquele era o primeiro desafio. Faltavam apenas mais três, faltavam apenas mais quatro semanas, um mês ou trinta dias para o fim do contrato. E ela já estava sentindo saudades daquilo. Dele.
Afastando os pensamentos rapidamente, assim que ouviu um barulho alto de algo cair no chão e a risada de e Hamilton ao fundo, ela decidiu que não era tempo de pensar naquilo. Ainda tinham um mês, ainda tinham três novos desafios. Daria um jeito de organizar dentro de si mesma tudo o que sentia por ele e daria um jeito de, enfim, assumir aquilo. Precisavam conversar. Mas não era dia nem hora para aquilo ainda.
Dançando ao som da nova música natalina que começava a tocar ao fundo, Hunter se aproximou da cozinha onde Dylan mexia vinho em uma panela, no fogão, no ritmo da música que tocava no ambiente. O ator tinha um pano de prato pendurado em seu ombro e o avental amarrado ao contrário. Enquanto isso, dava um jeito de organizar minimamente a cozinha. Com a massa já assando no forno, de todas as duplas, eles pareciam a mais segura e adiantada.
— O clima está ótimo por aqui — batendo uma palma, Hunter os cumprimentou. Aquele foi um comentário curioso. Apesar de ainda carregarem certo constrangimento pelo o que, quase, aconteceu na festa dias antes, e Dylan pareciam ignorar aquele fato muito bem e seguiam se divertindo e fazendo o que estavam sendo pagos para fazer.
— Essa calda também, te garanto — Dylan provava um pouco da calda, que ele mesmo cozinhava, na palma de sua mão.
— E posso saber do que é feita?
— Da bebida que a mais vira no sofá ou na bolsa — o ator respondeu casualmente, enquanto continuava mexendo o conteúdo na panela.
— Nisso vou ter que concordar com o Dylan. Ela não sabe tomar uma taça de vinho direito, sem fazer o caos acontecer — Ben se meteu, gritando de sua cozinha e tirando uma risada leve de . Ela tinha presenciado a cena em que a escritora derramou a bebida em sua bolsa nova no final da gravação de NNL.
— Vinho? — Hunter arqueou as sobrancelhas.
— Exatamente, mon cherry — A escritora fez uma pose, segurando a garrafa em mãos — É um cupcake de massa de chocolate com — olhou para Dylan — ganache de vinho — ela deu de ombros — Tenho que carregar essa dupla nas costas, porque se dependesse do Dylan — com o dedão, ela fez o gesto como se passasse uma faca pelo pescoço. — Nós estaríamos sempre em último lugar. Não sabe nem apresentar nossa ideia direito.
— Obrigada por valorizar meu trabalho, dupla — Dylan apoiou umas das mãos no braço de — Vemos que você trabalha bem em equipe — ela olhou para ele convencida e sacudiu os ombros — Você esqueceu de falar que vai cereja no topo.
— Uau, grande detalhe — A escritora revirou os olhos, tirando a mão de Dylan de seu ombro.
— Ânimos aflorados por aqui — Hunter riu meio sem graça pela pequena e aleatória discussão dos dois e virou-se para a câmera mais próxima, antes de voltar a se sentar perto dos jurados — Faltam vinte minutos para o fim do desafio. É melhor correr.
Com trinta e cinco minutos cravados no relógio, e Dylan apertaram o botão no centro da bancada de sua cozinha, indicando que já tinham terminado a prova. Batendo as duas mãos um no outro e, em seguida, se dando um abraço rápido em comemoração, o casal celebrou terem sido os primeiros a terminar - o que certamente os daria alguns pontos extras. Os cupcakes estavam bonitos, dourados, a calda de vinho escorrendo por cima, inundando a cozinha deles com um cheiro maravilhoso. Estavam confiantes de que seriam os primeiros naquele desafio.
Dez minutos depois da primeira dupla ter anunciado o término da prova, o barulho que tomou o estúdio não foi de um novo botão anunciando que mais uma dupla finalizara. Pelo contrário, foi o de uma assadeira caindo com força no chão e um breve silêncio repentino, que foi interrompido com uma risada tão alta que fez os demais rirem alto junto. Da cozinha do outro lado de e Dylan, sentou no chão enquanto ria, sem forças para ficar em pé. Incrédulo, Ben apoiou-se com os cotovelos na bancada, negando com a cabeça, olhando os outros participantes. Tirando a massa do forno e com a cobertura pronta, apenas esperando para que montassem os cupcakes, Ben deixou a forma cair no chão, com a parte de cima virada para baixo. A massa, que não assou bem no fundo por conta da quantidade de Martini ficou mole e, com a queda, escorreu para fora da assadeira, no chão.
— AH, NÃO — Hunter gritou, aproximando-se dele em um pulo. Surpresos, os outros jurados se levantaram de seus lugares e os demais participantes olhavam curiosos, rindo junto com , que não parava de rir, incrédula, sentada no chão ao lado da forma virada.
— AH, SIM — Dylan comemorou com , que gritou para o amigo:
— E era eu quem precisava de sorte, né, Ben?
— Meu Deus, eu amo esse programa — Seb batia palmas.
— Obrigado, Barnes — Lewis riu alto, apertando o botão para anunciar que ele e haviam terminado o desafio.
— Arrasou — aplaudia de seu lugar.
— Isso que dá roubar o açúcar dos outros — comentou risonha, dando um soquinho leve no botão em sua bancada. Tom arrumava os pratos com os bolinhos sob a bancada, prontos, lindos e absolutamente apetitosos.
— Eu não acredito nisso — Ben negava com a cabeça, mas já tinha cedido às risadas. Assim como , ele não era muito competitivo e lidava bem com o fato de nem sempre poder vencer. Estava tudo bem por ele, estava tudo bem por .
— Eu estava ansioso para provar o cupcake de vocês — Hunter reclamou sentido.
— Acredite, você não estava — contido, Ben negou.
— Esse foi o melhor que podia ter acontecido, para o bem de todos — se levantando, rindo mais leve, comentou.
— Já era? Não dá para salvar nada? — de seu lugar, com certa dó deles, Adele perguntou, mas logo viu negar com a cabeça:
— A não ser que queiram provar um Martini de cupcake, — observando o líquido da massa no chão, a atriz olhou para a cantora — porque não rolou o cupcake de Martini.
— E não temos mais tempo — o apresentador fez uma cara de tristeza, vendo que faltavam menos de dez minutos para o fim do desafio, mas os demais participantes celebraram — , Ben, eu sinto muito, venham cá — abrindo os braços para eles, Hunter abraçou o casal ao mesmo tempo, que fazia biquinhos — Temos oficialmente a dupla perdedora do desafio.
Levando tudo na brincadeira, eles se afastaram de Hunter fingindo tristeza e voltaram à posição inicial, em sua cozinha. Apoiados lado a lado na bancada, Ben e dividiam a travessa com o chantilly de amêndoas, a única coisa que havia dado certo e ficado boa, enquanto assistiam a prova terminar, com e Sebastian apertando juntos o botão e sinalizando que seus cupcakes estavam prontos. Não tão bonitos quanto os de e Tom, e Dylan e e Lewis, os bolinhos pareciam tortos, mas ainda assim comestíveis. As quatro duplas que tinham cupcakes prontos os colocaram em cima de suas respectivas bancadas e esperaram, de trás delas, animados e entre conversas baixas e paralelas, o apresentador e os jurados se colocarem em pé.
— Muito bem, pessoal, acho que todas as duplas já estão prontas para o grande momento — Hunter começou dizendo para uma das câmeras, mas logo virou-se para Ben e — ou quase todas elas.
— Não faz essa desfeita, Hunter, prova nosso chantilly, vai — pediu rindo, enquanto Ben, ao lado, estendia a travessa com a cobertura. Hunter negou com a cabeça, com um falso medo, mas Adele foi até eles e passou o dedo no chantilly, o comendo em seguida. Ela esperou alguns segundos, como se estivesse avaliando e, enfim, deu seu parecer.
— Nota dez — ela aplaudiu, sendo seguida pelos demais participantes.
— Duvido que vai ter cobertura melhor — orgulhoso, Ben brincou, sendo vaiado pelos demais.
— Alguma coisa tinha que dar certo, né? — completou.
— Se serve de consolação, aceitamos dar o título de melhor chantilly para vocês — brincou.
— Está certo, o prêmio de consolação à dupla perdedora está dado — Hunter voltou a atrair a atenção para ele — Mas, agora, é hora de provar os cupcakes e saber quem são os grandes vencedores do primeiro desafio. Vamos pegar um de cada, provar e fazer nossas avaliações individuais.
Seguindo as instruções de Hunter, os três jurados pegaram um cupcake de cada dupla e os colocaram em pratos, indo de volta a seus lugares na mesa. A ordem para experimentarem era e Lewis, e Sebastian, e Tom e, por último, Dylan e . Cada jurado devia, ao final da degustação, colocar em um envelope qual teria sido o ranking de pior a melhor cupcake, considerando: sabor, consistência, aparência e apresentação. Enquanto os jurados provavam os doces feitos pelas duplas, o estúdio ficou silencioso e cheio de expectativa, até mesmo Dylan, que nunca calava a boca, estava atento às reações dos avaliadores que, no intuito de fazer ainda mais mistério, tentavam se manter sérios, sem esboçar grandes reações.
Candace foi a primeira jurada a escrever no cartão que iria para o envelope, sem muitas cerimônias, sendo seguida por Adele e, por fim, Adriano Zumbo. Levou cerca de dez minutos entre a degustação e a avaliação de cada um dos cupcakes, até o silêncio do estúdio ser cortado outra vez.
— A decisão foi difícil? — Hunter pegava os envelopes de cada jurado.
— Nem tanto — Candace afirmou — Já que algumas coisas desandaram pelo caminho. — olhou para e Ben na bancada — Tirando as brincadeiras, os quatro cupcakes estavam gostosos, mas nem todos ficaram fofinhos e com a massa leve. O cupcake não pode ter massa pesada, muito concentrada e também precisa de precisão no tempo de assar. Alguns deram uma pegadinha em baixo ou fizeram cascas mais secas, apesar dos miolos estarem macios. — ele explicou — Tenho o meu preferido e ele é o mais próximo do que eu considero um cupcake nota dez.
— Por mais que eles não tenham experiência nenhuma na cozinha, profissionalmente, provei doces maravilhosos aqui hoje — Adele parabenizou, sincera — Mas concordo que alguns deixaram a massa a desejar e um em especial está com gosto de álcool um pouco forte demais — ela olhou para e Lewis, que se entreolharam risonhos — Mesmo assim estão merecendo um mimo pós-programa.
— E para você, Adriano? Depois de ser jurado de tantos programas de confeitaria, com profissionais excelentes, como é vir experimentar doces natalinos de qualidade duvidosa? — o apresentador perguntou ao jurado, tirando risadas cheias de expectativa dos participantes.
— Como já experimentei o melhor, agora é fácil identificar o que é ruim — Adriano deu de ombros, mais sério — Mas tenho que elogiá-los hoje, porque já provei doces bem piores em outros programas. Como Candy disse, o cupcake tem algumas especificidades de ponto de massa que são complicadas para qualquer amador da cozinha, mas vocês mandaram bem. Em geral, estão saborosos. — ele foi explicando conforme ia mexendo nos cupcakes que provou. Adriano tinha um olhar mais técnico na cozinha, o que agregou muito valor nas avaliações — e Hamilton pecaram mesmo na quantidade da bebida alcoólica escolhida. Como drink, Piña Colada já tem um sabor forte e marcante, bastante ácido, precisava ter sido dosado um pouco melhor. e Sebastian não acertaram tanto na massa quanto acertaram no recheio. Está seca, esfarelando no miolo, mas o licor de frutas vermelhas foi uma ótima escolha, clássica e saborosa — os participantes estavam em silêncio profundo, com expressões tensas, atentas, concordando com às avaliações e ansiosos em saber se conseguiriam vencer a prova do dia.
— Deu umidade para a massa, mas não o suficiente e o esperado — Candace completou, vendo Adriano concordar.
— Já e Tom, na minha opinião, fizeram a melhor escolha de bebida. Além de ser um ícone das festas de Natal, o sabor casou muito bem com o doce e o creme do recheio está impecável, — a dupla sorriu orgulhosa — mas o chantilly poroso que se propuseram a fazer não ficou com a consistência desejada.
— Não lembrou as bolhas, a efervescência do champanhe — Candace concordou com Adriano. Eram um dupla e tanto de jurados. e Tom assentiram com a cabeça, com caretas meio tristes.
— E, enfim, e Dylan, — Adriano se virou para eles — em geral, o vinho mais usado para receitas é o branco e vocês ousaram, muito, trazendo o vinho tinto.
— Demais! — Candace emendou. A dupla achou, por um momento, que aquilo tinha sido um comentário ruim, mas aliviaram-se assim que a ouviram completar — Mas, o creme feito com amora deu não só uma cor muito bonita para a massa como um sabor maravilhoso.
— Está macio, saboroso e viciante — Adriano mexeu no cupcake.
— Se tiver mais um aí para viagem, eu aceito — Adele brincou, vendo oferecer a bandeja com mais alguns cupcakes que haviam sobrado.
— e Ben, — Adriano, enfim, apontou para eles com as duas mãos, gesticulando um tanto triste — uma pena não termos nem conseguido provar a ideia de vocês. Mas se serve de aprendizado para os próximos, tomem cuidado com a escolha do ingrediente principal. Martini não daria a consistência esperada na massa, talvez funcionaria melhor em um creme para o recheio ou mesmo no chantilly.
— E tomem mais cuidado na hora de manusear os utensílios — Candace brincou, olhando Ben, que concordou com um bico fofo.
— Enfim, parabéns a todos! Foi uma jornada legal — Adriano puxou os aplausos que tomaram conta do ambiente, com gritos leves que celebravam o momento.
Hunter esperou o pequeno e discreto sinal do diretor para que pudesse seguir com o combinado e, finalmente, revelar os vencedores da rodada. Todos os participantes estavam dispostos em suas cozinhas atentos e ansiosos para saber o resultado, com exceção de e Ben que, por já estarem de fora daquela competição, se encontravam mais focados nas reações dos outros, ora comentando algo, ora provocando ainda mais os colegas.
— Sem mais delongas, vamos aos resultados — Hunter esfregou as mãos, animado.
— Estou ansiosa, meu Deus — Adele comentou, olhando os participantes — Imagino se estivesse no lugar de vocês.
— Anda logo, Hunter — pediu ao tempo que gesticulou para ele ir logo.
— Vou abrir os envelopes em ordem alfabética, porque é a melhor forma de me organizar, sem me perder — o apresentador pegou um dos envelopes, deixando os outros dois em cima da bancada dos jurados.
— Do jeito que você fala, Hunter, parece que temos trinta jurados aqui — Adele respondeu, tirando uma risada Candace e Adriano. O apresentador, contudo, fingiu uma tosse dramática para fazer o anúncio.
— Pela ordem, o voto de Adele será o primeiro a ser revelado — ele sorriu para a cantora, que olhou os participantes cheia de expectativa, como se não soubesse em qual dupla ela mesma havia votado — Quem será a dupla sortuda que conquistou o coração e o estômago da cantora? — Hunter tirou, enfim, o cartão de dentro do envelope e, dando uma lida rápida nele, revelou: — Olha só, essa é surpresa! — Arqueou as sobrancelhas — A dupla que leva o primeiro voto é… Dylan e .
Tão surpresos quanto os demais, que celebraram animados entre gritos e palmas fervorosas, e Dylan se entreolharam boquiabertos por um instante, antes de se abraçando rapidamente, comemorando, e acenarem para a cantora - que, em resposta, mandou-lhe beijos no ar. Nem eles pareciam acreditar naquilo, seus olhos estavam um tanto arregalados e os sorrisos orgulhosos de si mesmos em seus rostos, não economizando a alegria e surpresa de terem tido um voto, logo o primeiro deles. ainda conseguia se virar razoavelmente bem na cozinha, mas Dylan era uma catástrofe total. Aquilo era, definitivamente, uma surpresa. Lembraria de contar aquilo para sua irmã e para sua mãe mais tarde.
— Não cantem vitória antes da hora, porque é só o primeiro voto — apontou para eles, recomeçando o clima de competição no estúdio.
— Começou o papo dos perdedores — Dylan deu de ombros para a modelo, mas ela não teve tempo de responder, porque Hunter logo os cortou:
— Silêncio, crianças! — ele, então, pegou o segundo envelope — Agora é a hora de saber qual foi o cupcake favorito de Adriano Zumbo. Hunter fez um breve suspense, até, enfim, dizer: — E o segundo voto vai para… e Tom.
— Não pode ser, veja isso direito, Hunter — Dylan protestou, tumultuando a comemoração do outro casal que, feliz, fez uma pose vencedora para Dylan e , como se os encarasse de frente, enquanto os demais aplaudiam o voto na outra dupla.
— Temos um empate, as coisas começaram a ficar interessantes — o apresentador riu.
— Foi comprado, com certeza — Lewis acusou brincando, vendo o olhar incrédula.
— Só conseguiram o voto porque o Tom é bonito — Sebastian emendou, tirando uma risada do outro ator.
— Se beleza fosse critério aqui, Ben venceria — Dylan falou alto, fazendo os amigos gargalharem. Um tanto vermelho pela timidez, Ben encarou o amigo, rindo — Só estou dizendo verdades.
— Aceite que temos um voto também, Dylan — gritou para ele, que negou com a cabeça;
— isso deve estar errado — entrou na discussão, mas Hunter logo levou o envelope com o nome de e Tom até a cozinha deles, provando ser o voto de Adriano que, naquela altura, só ria, sem dizer nada.
Deixando o segundo envelope na bancada da cozinha de e Dylan, Hunter logo voltou para, finalmente, pegar o terceiro.
— Aceitem, pessoal, é isso mesmo! E para fechar o voto do nosso trio de jurados, vamos ao de Candace, nossa especialista em doces — Hunter abriu o terceiro envelope e deu uma rápida lida nele, enquanto o silêncio cheio de expectativas carregava o ambiente novamente — Pelo visto, hoje uma dupla em especial está com sorte! — ele comentou dando pistas, os olhos dos participantes caindo entre , Dylan, e Tom — Talvez as piadas e o vinho tenham sido os principais ingredientes da vitória de hoje. Parabéns Dylan e , o terceiro voto é para vocês também.
— EU SABIA! — gritou a escritora abraçando Dylan, enquanto os demais aplaudiam e gritavam coisas sem sentido.
— Nós somos os melhores, isso não deveria ser surpresa — Dylan encheu o peito assim que soltou , encarando e Tom.
— Vocês deixaram os mais convencidos ganhar, estão felizes? — Ben olhou para os jurados, que se desculparam no meio do tumulto que se formava no estúdio.
— Se liga, Ben, já estou um desafio à sua frente — A escritora apontou para Ben sua cozinha, com um sorriso no rosto pela vitória.
— Mas não se esqueçam, crianças, esse é ainda o primeiro desafio do nosso Sugar Rush de Natal — Hunter os alertou, ouvindo comentar “é isso aí”, ao lado de um Lewis que comemorava ainda ter outras chances de vencer — Muitas reviravoltas ainda podem acontecer, algumas mais doces e outras nem tanto. E você aí de casa, está pronto para o que vem por aí?
Hunter parou por um minuto, sorrindo para a câmera mais próxima, que focava nele. Enquanto isso, uma outra câmera passava rapidamente frente a frente a cada dupla, pegando takes final deles, fazendo graça, até que foram desligadas, ao tempo que o alto e bom som da voz do diretor gritou "corta". Os participantes foram, então, até a cozinha de Dylan e para parabenizá-los pela vitória no primeiro desafio do reality, felizes, rindo alto e fazendo piada uns com os outros pelo o que tinha acontecido. Apesar de aquele formato de programa não ser exatamente a área de nenhum dos dez, tinham julgado o primeiro episódio um sucesso - e tanto. Foi leve, divertido, gostoso de gravar e nenhum pouco penoso, talvez só ligeiramente forçado para alguns deles, mas nada que não desse para levar. A produção pareceu bastante satisfeita e já discutiam alguns cortes para edição final, enquanto fotógrafos registravam o momento em que todos os participantes se juntaram espontaneamente para tirar sarro e falar com os vitoriosos.
Animado, Ben enrolou seus braços no pescoço de , como se fosse a imobilizar, observando e zoar Dylan, trocando provocações, absurdamente competitivas. Enquanto isso, Lewis e Sebastian comentavam risonhos sobre o momento culinário que tiveram com e, ao lado deles, e Tom riam e conversavam sobre o momento do açúcar.
— Foi fácil ganhar de você, Ben, você tem a como dupla — Dylan apontou para a atriz, que desviou sua atenção que algo que Tom falava para fazer-lhe uma careta — Por acaso já comeu algo que essa mulher cozinhou? — questionou retoricamente, já sabendo a resposta, colocando as mãos na cintura. Ben apenas riu, sem realmente responder aquilo. Tirando Dylan e , ninguém mais sabia que ele e tinham um caso, ou tiveram. Era melhor manter assim. — Aposto que até um pão na chapa ela queima — o ator recebeu como resposta dois tapas na cabeça, um vindo de e outro de que estava ao seu lado.
— Se toca, garoto — disse rindo para Dylan — Como você sai falando dos outros assim?
— Olha, eu não vou estragar a imagem da de início com vocês, mas saibam que dela o máximo que vai sair é um pão com geleia — todos riram, vendo a atriz, infelizmente, concordar. Não podia negar, sempre foi péssima na cozinha. Não fosse por Noah, seu agente, achar que ela deveria se expor mais e pela visibilidade positiva que aquele programa traria para si mesma, jamais teria topado participar de algo como aquele.
De longe, Hunter, Candace, Adriano e Adele conversavam sobre o episódio do programa, entendendo que seria uma ótima oportunidade para a cantora ser comentada e ter seu novo disco divulgado, sobretudo com a sua volta para o mundo musical depois de um tempo considerável de pausa. Para celebrar seu novo projeto, ela começaria a sair em turnê pela Inglaterra nos próximos dias, por isso, sua aparição no reality também ajudaria na divulgação dos shows. Adele estava em casa, feliz em poder participar e, ao menos, tinha rido mais naquele dia do que se lembrava nos últimos tempos. Estava entre personalidades tão famosas que, por um momento, os vendo ali cozinhar feito pessoas normais, não pareceu real.
— Pessoal? — Adele se posicionou ao centro do estúdio, acenando aos participantes, no local onde Hunter começava cada episódio — Queria agradecer vocês pelo convite e pela oportunidade de participar de tudo aqui hoje, foi incrível — com envelopes na mão a cantora aproximou-se dos dez — E para isso, tenho um convite muito especial para vocês, modéstia parte.
— Se for para participar de outro reality, vou ter que recusar — disse, Sebastian deu um sorriso de canto para a piada que sua dupla fez.
— Se ela disse que é muito especial, provavelmente o Dylan, Hamilton e Sebastian não estão convidados — Ben falou apontando para os três homens — Tom, não se preocupe, de nós, você deve ser o único, então eu já topo ir.
— Dá para vocês deixarem a maravilhosa falar — os fuzilou com os olhos — Homens, você sabe como são — deu de ombros.
— Não se preocupem, todos vão ser convidados — a cantora riu — Minha turnê pela Inglaterra começa neste sábado e como será o show de abertura, e vocês estão por aqui, queria que vocês fossem me ver.
— Esse momento é todinho meu — colocou a mão no peito, ouvindo os demais gritarem eufóricos e aplaudir o presente que ganhavam.
— É todinho nosso, você quis dizer — falou animada — Vamos sofrer com suas músicas ao vivo — se dirigiu a Adele — Isso é definitivamente um sonho — emocionada, abraçou a cantora.
— Vejo vocês lá, então? — Adele retribuiu o abraço na outra cantora.
— Com certeza sim — abraçando Adele do outro lado onde a abraçava, Dylan respondeu em nome de todos.
Continua...
Nota de autora Ju: Demorou, mas começou. Animadíssima de ver toda essa galera participando da competição mais inusitada possível. Preciso confessar que amo as interações deles, os momentos juntos, mas os dramas são absolutamente tudo para mim. Fico muito empolgada pensando no que vai acontecer com cada casalzinho.
Espero que gostem desse capítulo tanto quanto a gente amou escrever ele! E, claro, vem contar para gente o que achou, aqui pelo comentários ou pelo novo grupo no zapzap. Vamos amar!
Mil beijos e mil cheiros para Mi e para Tha, a super equipe de TTF, que faz o Sugar Rush acontecer! Vocês são dois torrões de açúcar, amo vocês! Obrigada pela parceria e amizade.
Super beijos e até a próxima att 😊 x
Nota de autora Mi: A competição mais doce e fofoqueira da Netflix começou! Com muito drama, assuntos mal resolvidos, mas também, muitas piadas e açúcar. Nesse capítulo, particularmente, fui de ódio a amor ao Dylan. Custava dizer o que ele sente para coitada da Milene? E as roupinhas combinando de todo mundo? Boiola demais!
Quero agradecer a minha parceira Juju por me dar oportunidade de escrever essa história que tem todo meu coraçãozinho! E por estar na minha vida como amiga, conselheira e namorada (essa última é segredo).
Deixo meu obrigada também para nossa maravilhosa scripter Tha, por todo trabalho dedicado a nossa história e a nós!
E, por fim, venham fofocar com a gente sobre TTF no nosso grupo do wpp. Quem sabe sai até alguns spoilers?
Ju S.: Universo Marvel
➺ Care Bears
➺ Project Neriine
➺ Vingt-Cinq
Ju S. & Milene L.: Universo Taste The Feeling
➺ 11:11 (Ben Barnes)
Milene L.: Universo Marvel The Amazing Spider-Man
➺ Flashes
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que gostem desse capítulo tanto quanto a gente amou escrever ele! E, claro, vem contar para gente o que achou, aqui pelo comentários ou pelo novo grupo no zapzap. Vamos amar!
Mil beijos e mil cheiros para Mi e para Tha, a super equipe de TTF, que faz o Sugar Rush acontecer! Vocês são dois torrões de açúcar, amo vocês! Obrigada pela parceria e amizade.
Super beijos e até a próxima att 😊 x
Nota de autora Mi: A competição mais doce e fofoqueira da Netflix começou! Com muito drama, assuntos mal resolvidos, mas também, muitas piadas e açúcar. Nesse capítulo, particularmente, fui de ódio a amor ao Dylan. Custava dizer o que ele sente para coitada da Milene? E as roupinhas combinando de todo mundo? Boiola demais!
Quero agradecer a minha parceira Juju por me dar oportunidade de escrever essa história que tem todo meu coraçãozinho! E por estar na minha vida como amiga, conselheira e namorada (essa última é segredo).
Deixo meu obrigada também para nossa maravilhosa scripter Tha, por todo trabalho dedicado a nossa história e a nós!
E, por fim, venham fofocar com a gente sobre TTF no nosso grupo do wpp. Quem sabe sai até alguns spoilers?
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