Capítulo Único
Alyssa já estava quase caindo quando me entregou uma nova garrafa de champanhe, me puxando para a área da piscina onde a festa estava fervendo. Quase esbarrei em Harry no caminho, mas me desviei tão bem quanto aquela cena clássica de Matrix.
— Opa. — Ele riu, impressionado. — Ei, essa garrafa é para quando der meia-noite!
— Já é meia-noite em algum lugar. — Pisquei para ele, soprando um beijo por cima do ombro.
A casa que alugamos para passar a última noite de ano novo no México estava fervilhando. Embora só oito pessoas tivessem vindo para as férias de cinco dias em Cancun, hoje os convidados para a festa de ano novo chegaram e tinha tanta gente que a casa estava abarrotada, exatamente como eu gostava.
— A música vai acabar antes de chegarmos lá em cima! — Aly reclamou, empurrando alguém para nos deixar passar.
Um palco de karaokê havia sido montado para a festa, mas por enquanto a música continuava por conta do DJ. Minha amiga muito bêbada queria chegar até o palco, mas uma multidão nos separava do nosso destino.
— Vamos improvisar. — Sugeri, apertando a mão dela para parar.
Convenientemente, o balcão do bar coberto de luz neon branca estava bem do nosso lado e só bastou um olhar para Alyssa entender o que eu estava pensando. Seus olhos escuros brilharam tanto quanto o neon quando eu a puxei comigo até lá.
— Abram espaços, cavalheiros — pedi, apoiando as mãos no balcão para tomar impulso e subir.
— O que vocês estão fazendo? — Pierre perguntou, por pouco não tendo sua mão pisoteada pelo meu salto. — Ei!
— Desculpa. — Ri, dando um pulinho para o lado para me afastar dele. — Vem, Aly!
— Estamos dançando! — Alyssa respondeu, estalando um beijo na bochecha de Pierre. — É a nossa música.
Alyssa também trabalhava na Ferrari, mas cuidava da parte burocrática que eu nem sequer tentava entender. Entramos na mesma época e nos tornamos amigas imediatamente quando, na primeira sexta-feira do trabalho, acabamos dividindo um Uber depois de uma reunião que foi até mais tarde. Paramos em um bar, bebemos mais do que devíamos e a intimidade veio junto com várias tequilas. Então, quando meus amigos de Monte Carlo sugeriram a viagem de férias para relembrar os velhos tempos, Alyssa foi obrigada a vir junto.
— Strip da hoje? — Xander abriu um sorriso malicioso, parando do outro lado do balcão. — Faz muito tempo desde o último.
— Você bem que queria. — Gargalhei, mostrando o dedo do meio para ele. — Eu parei de fazer essas coisas, Xand. Agora eu sou uma adulta respeitável.
— Mas depois de três strips épicos, fica difícil se livrar da reputação. — Ele fez graça. — Estamos entre velhos amigos, , tá tudo bem se você quiser relembrar o passado.
Gargalhei, ignorando-o. Minha versão do colégio era muito mais selvagem, rebelde e inconsequente do que a de hoje — o que diz muita coisa, já que eu ainda sou tudo isso. Eu tinha uma fama terrível que me seguia até hoje, mas eu estava tranquila quanto a isso porque era divertido. Estendi as mãos para ajudar Alyssa a subir no balcão e com uma flexibilidade impressionante, ela colocou um pé no banco e tomou impulso, conseguindo subir no balcão comigo.
Levitating da Taylor Swift era nossa música e eu não lembrava exatamente como tinha se tornado, mas tinha certeza que envolvia o vídeo borrado de duas bêbadas que foi gravado no banco de trás do Uber enquanto íamos para meu apartamento naquela primeira noite.
— You’re my starlight, I need you all night, come and dance with me, I’m levitating — cantei, ficando de frente para ela.
Alyssa jogou os cachos para trás e girou na minha direção, começando a dançar comigo em uma dança completamente descoordenada com muitos braços levantando, quadris balançando e risos altos. Meus amigos se aproximaram para acompanhar o show e logo estávamos sendo incentivadas por gritos encorajadores.
— Me segurem! — Alyssa gritou, virando de costas para o pequeno grupo na nossa frente. — Vou pular.
Ela não esperou alguém dizer que iria pegá-la, mas se jogou. Eu gritei e tentei segurá-la na mesma hora, mas ela já havia se atirado alegremente nos braços de quem estivesse mais perto. Felizmente Xander e Pierre foram rápidos e Alyssa urrou muito feliz por ter conseguido o que queria. Eu joguei a cabeça para trás de tanto rir, muito aliviada que isso não tivesse acabado em um traumatismo craniano.
— Ah, isso foi incrível! Agora me carreguem nos ombros, escravos. — Ela pediu, colocando um braço ao redor do pescoço de cada um. — Anda!
— Sua amiga é autoritária, . — Pierre me olhou muito sério. — Eu gostei.
O rosto dele abriu em um sorriso enorme no mesmo segundo. Pierre, com sua personalidade de Golden retriever, amava alguém que pudesse render uma boa implicância, o que eu tinha certeza que seria o caso com Aly.
— Alguém, por favor, pode arranjar uma água para minha amiga? — Pedi, olhando para o barman que tinha ido para o canto apreciar o nosso show também.
— Tá na mão! — Ele foi rápido e tirou uma garrafa do freezer para me entregar.
— Obrigada, lindo — sorri para ele, depois voltei a minha atenção para o trio formado por Xander, Alyssa e Pierre. — Façam ela beber tudo!
— Se for vodca, eu quero. — Alyssa piscou, olhando com interesse para a água.
— É muito melhor. — Xander prometeu, fazendo o ar de suspense que já tinha funcionado comigo antes. — Prova, você vai gostar.
Alyssa agarrou a garrafa e os três entraram em uma conversa sobre como a água parecia água e não vodca, mas eu perdi totalmente o foco da conversa quando outra pessoa se aproximou.
Eu tinha tentado por muito tempo, mas era completamente incapaz de ignorar a beleza de e a reação que seu olhar provocava em mim quando ele parecia me encarar como se eu fosse a única pessoa do lugar, exatamente como estava fazendo agora. Seu cabelo estava despenteado pelo vento e sua camisa social branca estava com dois botões abertos, mostrando um pouco da pele bronzeada do seu peito pelos últimos dias de sol.
— Você em cima de um balcão me traz lembranças demais. — sorriu, precisando erguer o rosto para me encarar melhor.
— Tenho certeza que sim. — Mordisquei o lábio, segurando meu sorriso. — Porque, que eu me lembre, você já esteve em cima de um comigo.
Conhecer alguém há tanto tempo significava conhecer todas as suas fases também. E apesar de agora ser alguém totalmente diferente, e eu já fomos exatamente iguais quando mais novos. Foi isso que nos atraiu um para o outro no passado, mas também foi o que nos fez acabar mais de uma vez. Opostos se atraem, mas às vezes semelhantes se repelem. Não tinha a ver com física, mas com coisas que não conseguimos encarar na época. Nós éramos jovens demais para saber lidar com o que estávamos sentindo.
Até hoje eu não sabia se tinha aprendido a lidar com o que eu sentia por ele, para ser sincera.
— Isso é um convite? — Seu sorriso se tornou desafiador.
— Você vai aceitar? — Rebati.
soltou um riso baixo, balançando a cabeça e desviando o olhar para o lado.
— Hoje não, Encrenca. — Ele umedeceu os lábios.
O apelido era velho, mas ainda tinha o mesmo efeito em mim. A primeira vez que me chamou assim foi em uma noite parecida, quando eu estava em cima de uma mesa, mas ele estava comigo. Eu gostei de como soou e ele gostou de me chamar assim. O apelido parou de ser usado quando terminamos, mas ainda soava igualmente bem.
— Estamos tirando coisas do fundo do baú hoje? — Tombei a cabeça para o lado, o avaliando.
— Estamos. — Assentiu, com aquele meio sorriso irritante nos lábios. — Quer ajuda para descer?
Eu conseguiria descer facilmente do mesmo jeito que subi, mas aceitei a ajuda com um aceno de cabeça. se aproximou mais e colocou as mãos nos meus quadris, me segurando com firmeza. Ele me desceu lentamente e meus pés encostaram no chão com suavidade, mas ele não me soltou e eu não recuei. Estávamos próximos demais e sempre que isso acontecia algum de nós imediatamente tomava a iniciativa de afastar, mas isso não aconteceu hoje.
— Obrigada — murmurei.
— Não está querendo correr de mim hoje? — Ele questionou, provavelmente notando o mesmo que eu sobre não termos nos afastado.
Não era sobre querer ou não correr dele, era sobre ir pelo caminho mais seguro, como eu tinha aprendido a fazer nos últimos tempos. Nós tínhamos um passado que eu pensei ter deixado para trás há muito tempo, mas que bastou pouco tempo perto dele novamente para voltar à tona. Eu estava trabalhando como engenheira mecânica na Ferrari há quase um ano e havia sido indicada por ele mesmo. O trabalho nos aproximou novamente e eu descobri rápido demais que não é tão simples esquecer .
— Aí é que está, . — Minha atenção se voltou para seus olhos escuros. — Eu nunca quero correr de você.
Os dedos dele apertaram minha cintura, talvez até de forma inconsciente. Tomei uma respiração mais profunda, me impedindo de dar um passo mais para frente até meu corpo estar colado ao dele.
— E o que você quer, ? — Sua voz saiu rouca com a pergunta.
Era uma boa pergunta, mas uma que eu não podia responder, especialmente com ele tão próximo. Meu julgamento ficava nublado quando se tratava do que eu sentia por ele e os últimos dias dormindo no quarto ao lado do dele tinham sido uma tortura. Felizmente não precisei responder. Alyssa havia se libertado de Xander e Pierre, e me puxou para dançar de novo. Me deixei ser levada porque a distração era necessária, mas a pergunta ficou na minha cabeça mesmo enquanto eu dançava com Alyssa.
Mas as horas foram passando e a bebida me deixou quente, com o corpo pinicando de calor e sedenta por ar fresco e um espaço sem tanta gente envolta. Portanto, peguei a nova garrafa de champanhe que Alyssa tinha roubado e me esgueirei entre os convidados até o caminho cercado de palmeiras que levava à praia.
Ergui a garrafa de champanhe acima da cabeça, tomando cuidado ao descer os degraus de pedra que levavam ao ancoradouro da casa à beira-mar que ficava em uma encosta rochosa. Ri ao quase derrapar em um degrau coberto de areia e decidi que seria mais inteligente abandonar os saltos. Me livrei de um em um degrau, desci para o próximo e consegui tirar o outro sapato ao balançar o pé até sair. O caminho estava iluminado apenas com as luzes noturnas que cercavam a escada e as da ponte que levavam até o iate, mas os holofotes que geralmente ficavam ligados durante a noite estavam desligados.
A noite estava fresca aqui embaixo e uma brisa gostosa com cheiro de mar me recebeu quando meus pés pousaram na areia fofa e quente da praia. Era menos sufocante aqui embaixo e, mesmo que eu amasse estar no coração da festa, eu precisava de alguns minutos antes de voltar para lá.
— Para onde você está indo?
Meu coração deu um salto com o susto e me virei imediatamente, mesmo que tivesse reconhecido a voz. estava no meio da escada me encarando com interesse e diversão. Ele arqueou as sobrancelhas, erguendo os saltos que eu tinha abandonado segundos antes.
— Dando uma de Cinderela? — Ele sorriu.
— Isso faria de você o príncipe? — Questionei, levando o gargalo da garrafa até os lábios para esconder meu sorriso. — Não acho que combina com a gente.
— E o que combina? — voltou a descer a escada para chegar até a praia.
Retorci os lábios, parando para pensar. Com certeza nada fofo tipo a Disney, mesmo que às vezes ele tivesse atitudes dignas de um príncipe. Talvez estivéssemos mais para um livro de new adult muito explícito e com uma história nada original. Afinal, 90% dos livros desse gênero envolviam romance entre colegas de trabalho que começavam com uma amizade cheia de flertes que evoluía para sexo sem compromisso e resultava em ambas as partes se apaixonando. Ou envolvia amigos de infância que em algum momento se apaixonaram quando mais jovens, mas não deu certo e terminaram. Só que se encontraram anos depois e os sentimentos passados voltaram a mexer com eles.
— Não sei — respondi, fingindo não ter pensado imediatamente em algo. — Mas nada da Disney.
— Será que a gente se encaixa em algum dos livros extremamente indecentes que você gosta de ler no trabalho quando devia estar trabalhando? — Com um sorriso arteiro, deixou meus saltos arrumados no fim da escada.
Eu não consegui conter o riso dessa vez e balancei a cabeça, me negando a acreditar que ele tinha lido minha mente. Era bizarro o quanto ele ainda me conhecia, mesmo que eu fosse uma pessoa totalmente diferente agora. Ele aprendeu rápido demais sobre a minha nova versão.
— Em minha defesa, eu só leio no trabalho quando tenho 5 minutos livres! — Afastei uma mecha de cabelo que o vento soprou para frente do meu rosto. — E não, não acho que encaixamos nesses livros também.
— É clichê demais para você? — parou na minha frente, não muito longe.
— Eu adoro um clichê, . — Balancei a garrafa de champanhe, encostando o gargalo no peito dele. — Se nós somos algo, com certeza somos um clichê.
— Somos. — Concordou. — Mas um péssimo clichê, se formos ser sinceros.
— Isso eu discordo! — Retruquei, virando de costas para ele, indo em direção ao ancoradouro. — Somos o melhor tipo.
— Somos?! — Ele ficou interessado.
— Sim. Porque eu tenho uma péssima reputação que não faço mais jus e todo mundo ainda acha que eu vou partir seu coração se a gente ficar de novo.
— E vai?
Parei no meio do caminho e olhei para ele por cima do ombro, precisando encará-lo quando ele me desse a resposta do que eu iria perguntar.
— Eu ainda tenho esse poder? — A pergunta soou divertida, mas meu coração apertou com medo da resposta.
Fosse sim ou não, eu não saberia o que fazer com ela. Por alguns segundos o som das ondas quebrando na encosta e o barulho abafado da festa foi tudo que ouvimos enquanto o silêncio pairou entre nós até que se aproximou de mim de novo. Ele parou na minha frente, dessa vez muito mais perto do que deveria e tirou a garrafa da minha mão, colocando no chão perto de nós. Ergui o queixo para olhar melhor para ele e seu olhar prendeu o meu no mesmo instante. Havia algo despontando daqueles olhos, uma faísca que poderia recomeçar um incêndio em mim que eu tinha tentado evitar a todo custo.
— Isso que nós temos é complicado, . Eu fiz algumas escolhas de merda no passado, não dá pra negar. E nós dois tentamos esquecer o que tivemos, mas ficou claro que não tem como. — Havia uma insinuação de sorriso nos lábios dele quando segurou meu rosto entre as mãos. — Então sim, você ainda tem esse poder. Você sempre foi a única que teve.
Palavras eram inocentes quando isoladas, mas colocadas em uma sentença, por mais curta que fosse, podiam gerar o caos com os sentimentos de alguém. E foi exatamente o que aconteceu quando “você sempre foi a única que teve” saiu da boca dele.
— Você está marcada na minha alma, Encrenca. — Ele acrescentou. Seu polegar deslizou por minha bochecha, roçando na minha boca só o suficiente para me fazer entreabrir os lábios, desejando que fosse a boca dele na minha. — Nós somos o tipo de clichê que não dá pra esquecer. Nós somos o tipo que fica e eu acho que você devia ficar comigo. Somos muito melhor juntos, não só como casal, mas como parceiros de trabalho e amigos. Acho que estamos prontos para o que não estávamos quando a gente era mais jovem.
Eu estava pronta para isso há tanto tempo que parecia surreal que estivesse realmente acontecendo agora. Esse último ano foi uma montanha-russa de emoções e boa parte delas envolviam e nosso relacionamento estranho que era mais que amizade, mas menos que um romance. Os meses trabalhando perto dele foram incríveis, mas igualmente torturantes por estar tão perto, mas nem de longe perto como eu queria.
Uma onda de felicidade e incerteza fervilhou dentro de mim, me enchendo com o tipo de excitação que acelera o coração e faz a respiração ficar mais rápida. Era exatamente o que eu estava sentindo.
— Eu não quero ser mais uma na sua lista de ex-namoradas, . A lista é bem longa e eu não quero ser mais um nome, então se formos fazer isso, eu quero tudo. — Avisei. Alertas soaram por todo meu cérebro me avisando o quão perigoso ainda era tudo que eu sentia por ele. — Corpo e alma, fim de jogo. É tudo ou nada comigo.
— Nós somos fim de jogo, . — Havia tanta convicção em sua voz que não havia espaço para dúvidas. — É tudo. Eu estou cansado de fingir que não te quero. Não estou nem aí para os boatos e toda a conversa que vamos gerar no trabalho. Eu só quero isso. Você. Nós.
Nossos olhares mantiveram contato por apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para tudo desabar. Eu o beijei como se ele fosse ar e eu estivesse me afogando, algo que é mais que necessidade, mais do que só querer. Seus braços envolveram minha cintura, me puxando para mais perto e meus dedos se embrenharam nas mechas do seu cabelo escuro, bagunçando o que já estava bagunçado. Era o tipo de beijo que roubava o fôlego, mas que era impossível parar. Cada célula do meu corpo parecia estar em chamas, me queimando de dentro para fora.
Nós éramos intensidade pura, tudo ou nada. E finalmente, depois de tanto tempo, fim de jogo.
— Opa. — Ele riu, impressionado. — Ei, essa garrafa é para quando der meia-noite!
— Já é meia-noite em algum lugar. — Pisquei para ele, soprando um beijo por cima do ombro.
A casa que alugamos para passar a última noite de ano novo no México estava fervilhando. Embora só oito pessoas tivessem vindo para as férias de cinco dias em Cancun, hoje os convidados para a festa de ano novo chegaram e tinha tanta gente que a casa estava abarrotada, exatamente como eu gostava.
— A música vai acabar antes de chegarmos lá em cima! — Aly reclamou, empurrando alguém para nos deixar passar.
Um palco de karaokê havia sido montado para a festa, mas por enquanto a música continuava por conta do DJ. Minha amiga muito bêbada queria chegar até o palco, mas uma multidão nos separava do nosso destino.
— Vamos improvisar. — Sugeri, apertando a mão dela para parar.
Convenientemente, o balcão do bar coberto de luz neon branca estava bem do nosso lado e só bastou um olhar para Alyssa entender o que eu estava pensando. Seus olhos escuros brilharam tanto quanto o neon quando eu a puxei comigo até lá.
— Abram espaços, cavalheiros — pedi, apoiando as mãos no balcão para tomar impulso e subir.
— O que vocês estão fazendo? — Pierre perguntou, por pouco não tendo sua mão pisoteada pelo meu salto. — Ei!
— Desculpa. — Ri, dando um pulinho para o lado para me afastar dele. — Vem, Aly!
— Estamos dançando! — Alyssa respondeu, estalando um beijo na bochecha de Pierre. — É a nossa música.
Alyssa também trabalhava na Ferrari, mas cuidava da parte burocrática que eu nem sequer tentava entender. Entramos na mesma época e nos tornamos amigas imediatamente quando, na primeira sexta-feira do trabalho, acabamos dividindo um Uber depois de uma reunião que foi até mais tarde. Paramos em um bar, bebemos mais do que devíamos e a intimidade veio junto com várias tequilas. Então, quando meus amigos de Monte Carlo sugeriram a viagem de férias para relembrar os velhos tempos, Alyssa foi obrigada a vir junto.
— Strip da hoje? — Xander abriu um sorriso malicioso, parando do outro lado do balcão. — Faz muito tempo desde o último.
— Você bem que queria. — Gargalhei, mostrando o dedo do meio para ele. — Eu parei de fazer essas coisas, Xand. Agora eu sou uma adulta respeitável.
— Mas depois de três strips épicos, fica difícil se livrar da reputação. — Ele fez graça. — Estamos entre velhos amigos, , tá tudo bem se você quiser relembrar o passado.
Gargalhei, ignorando-o. Minha versão do colégio era muito mais selvagem, rebelde e inconsequente do que a de hoje — o que diz muita coisa, já que eu ainda sou tudo isso. Eu tinha uma fama terrível que me seguia até hoje, mas eu estava tranquila quanto a isso porque era divertido. Estendi as mãos para ajudar Alyssa a subir no balcão e com uma flexibilidade impressionante, ela colocou um pé no banco e tomou impulso, conseguindo subir no balcão comigo.
Levitating da Taylor Swift era nossa música e eu não lembrava exatamente como tinha se tornado, mas tinha certeza que envolvia o vídeo borrado de duas bêbadas que foi gravado no banco de trás do Uber enquanto íamos para meu apartamento naquela primeira noite.
— You’re my starlight, I need you all night, come and dance with me, I’m levitating — cantei, ficando de frente para ela.
Alyssa jogou os cachos para trás e girou na minha direção, começando a dançar comigo em uma dança completamente descoordenada com muitos braços levantando, quadris balançando e risos altos. Meus amigos se aproximaram para acompanhar o show e logo estávamos sendo incentivadas por gritos encorajadores.
— Me segurem! — Alyssa gritou, virando de costas para o pequeno grupo na nossa frente. — Vou pular.
Ela não esperou alguém dizer que iria pegá-la, mas se jogou. Eu gritei e tentei segurá-la na mesma hora, mas ela já havia se atirado alegremente nos braços de quem estivesse mais perto. Felizmente Xander e Pierre foram rápidos e Alyssa urrou muito feliz por ter conseguido o que queria. Eu joguei a cabeça para trás de tanto rir, muito aliviada que isso não tivesse acabado em um traumatismo craniano.
— Ah, isso foi incrível! Agora me carreguem nos ombros, escravos. — Ela pediu, colocando um braço ao redor do pescoço de cada um. — Anda!
— Sua amiga é autoritária, . — Pierre me olhou muito sério. — Eu gostei.
O rosto dele abriu em um sorriso enorme no mesmo segundo. Pierre, com sua personalidade de Golden retriever, amava alguém que pudesse render uma boa implicância, o que eu tinha certeza que seria o caso com Aly.
— Alguém, por favor, pode arranjar uma água para minha amiga? — Pedi, olhando para o barman que tinha ido para o canto apreciar o nosso show também.
— Tá na mão! — Ele foi rápido e tirou uma garrafa do freezer para me entregar.
— Obrigada, lindo — sorri para ele, depois voltei a minha atenção para o trio formado por Xander, Alyssa e Pierre. — Façam ela beber tudo!
— Se for vodca, eu quero. — Alyssa piscou, olhando com interesse para a água.
— É muito melhor. — Xander prometeu, fazendo o ar de suspense que já tinha funcionado comigo antes. — Prova, você vai gostar.
Alyssa agarrou a garrafa e os três entraram em uma conversa sobre como a água parecia água e não vodca, mas eu perdi totalmente o foco da conversa quando outra pessoa se aproximou.
Eu tinha tentado por muito tempo, mas era completamente incapaz de ignorar a beleza de e a reação que seu olhar provocava em mim quando ele parecia me encarar como se eu fosse a única pessoa do lugar, exatamente como estava fazendo agora. Seu cabelo estava despenteado pelo vento e sua camisa social branca estava com dois botões abertos, mostrando um pouco da pele bronzeada do seu peito pelos últimos dias de sol.
— Você em cima de um balcão me traz lembranças demais. — sorriu, precisando erguer o rosto para me encarar melhor.
— Tenho certeza que sim. — Mordisquei o lábio, segurando meu sorriso. — Porque, que eu me lembre, você já esteve em cima de um comigo.
Conhecer alguém há tanto tempo significava conhecer todas as suas fases também. E apesar de agora ser alguém totalmente diferente, e eu já fomos exatamente iguais quando mais novos. Foi isso que nos atraiu um para o outro no passado, mas também foi o que nos fez acabar mais de uma vez. Opostos se atraem, mas às vezes semelhantes se repelem. Não tinha a ver com física, mas com coisas que não conseguimos encarar na época. Nós éramos jovens demais para saber lidar com o que estávamos sentindo.
Até hoje eu não sabia se tinha aprendido a lidar com o que eu sentia por ele, para ser sincera.
— Isso é um convite? — Seu sorriso se tornou desafiador.
— Você vai aceitar? — Rebati.
soltou um riso baixo, balançando a cabeça e desviando o olhar para o lado.
— Hoje não, Encrenca. — Ele umedeceu os lábios.
O apelido era velho, mas ainda tinha o mesmo efeito em mim. A primeira vez que me chamou assim foi em uma noite parecida, quando eu estava em cima de uma mesa, mas ele estava comigo. Eu gostei de como soou e ele gostou de me chamar assim. O apelido parou de ser usado quando terminamos, mas ainda soava igualmente bem.
— Estamos tirando coisas do fundo do baú hoje? — Tombei a cabeça para o lado, o avaliando.
— Estamos. — Assentiu, com aquele meio sorriso irritante nos lábios. — Quer ajuda para descer?
Eu conseguiria descer facilmente do mesmo jeito que subi, mas aceitei a ajuda com um aceno de cabeça. se aproximou mais e colocou as mãos nos meus quadris, me segurando com firmeza. Ele me desceu lentamente e meus pés encostaram no chão com suavidade, mas ele não me soltou e eu não recuei. Estávamos próximos demais e sempre que isso acontecia algum de nós imediatamente tomava a iniciativa de afastar, mas isso não aconteceu hoje.
— Obrigada — murmurei.
— Não está querendo correr de mim hoje? — Ele questionou, provavelmente notando o mesmo que eu sobre não termos nos afastado.
Não era sobre querer ou não correr dele, era sobre ir pelo caminho mais seguro, como eu tinha aprendido a fazer nos últimos tempos. Nós tínhamos um passado que eu pensei ter deixado para trás há muito tempo, mas que bastou pouco tempo perto dele novamente para voltar à tona. Eu estava trabalhando como engenheira mecânica na Ferrari há quase um ano e havia sido indicada por ele mesmo. O trabalho nos aproximou novamente e eu descobri rápido demais que não é tão simples esquecer .
— Aí é que está, . — Minha atenção se voltou para seus olhos escuros. — Eu nunca quero correr de você.
Os dedos dele apertaram minha cintura, talvez até de forma inconsciente. Tomei uma respiração mais profunda, me impedindo de dar um passo mais para frente até meu corpo estar colado ao dele.
— E o que você quer, ? — Sua voz saiu rouca com a pergunta.
Era uma boa pergunta, mas uma que eu não podia responder, especialmente com ele tão próximo. Meu julgamento ficava nublado quando se tratava do que eu sentia por ele e os últimos dias dormindo no quarto ao lado do dele tinham sido uma tortura. Felizmente não precisei responder. Alyssa havia se libertado de Xander e Pierre, e me puxou para dançar de novo. Me deixei ser levada porque a distração era necessária, mas a pergunta ficou na minha cabeça mesmo enquanto eu dançava com Alyssa.
Mas as horas foram passando e a bebida me deixou quente, com o corpo pinicando de calor e sedenta por ar fresco e um espaço sem tanta gente envolta. Portanto, peguei a nova garrafa de champanhe que Alyssa tinha roubado e me esgueirei entre os convidados até o caminho cercado de palmeiras que levava à praia.
Ergui a garrafa de champanhe acima da cabeça, tomando cuidado ao descer os degraus de pedra que levavam ao ancoradouro da casa à beira-mar que ficava em uma encosta rochosa. Ri ao quase derrapar em um degrau coberto de areia e decidi que seria mais inteligente abandonar os saltos. Me livrei de um em um degrau, desci para o próximo e consegui tirar o outro sapato ao balançar o pé até sair. O caminho estava iluminado apenas com as luzes noturnas que cercavam a escada e as da ponte que levavam até o iate, mas os holofotes que geralmente ficavam ligados durante a noite estavam desligados.
A noite estava fresca aqui embaixo e uma brisa gostosa com cheiro de mar me recebeu quando meus pés pousaram na areia fofa e quente da praia. Era menos sufocante aqui embaixo e, mesmo que eu amasse estar no coração da festa, eu precisava de alguns minutos antes de voltar para lá.
— Para onde você está indo?
Meu coração deu um salto com o susto e me virei imediatamente, mesmo que tivesse reconhecido a voz. estava no meio da escada me encarando com interesse e diversão. Ele arqueou as sobrancelhas, erguendo os saltos que eu tinha abandonado segundos antes.
— Dando uma de Cinderela? — Ele sorriu.
— Isso faria de você o príncipe? — Questionei, levando o gargalo da garrafa até os lábios para esconder meu sorriso. — Não acho que combina com a gente.
— E o que combina? — voltou a descer a escada para chegar até a praia.
Retorci os lábios, parando para pensar. Com certeza nada fofo tipo a Disney, mesmo que às vezes ele tivesse atitudes dignas de um príncipe. Talvez estivéssemos mais para um livro de new adult muito explícito e com uma história nada original. Afinal, 90% dos livros desse gênero envolviam romance entre colegas de trabalho que começavam com uma amizade cheia de flertes que evoluía para sexo sem compromisso e resultava em ambas as partes se apaixonando. Ou envolvia amigos de infância que em algum momento se apaixonaram quando mais jovens, mas não deu certo e terminaram. Só que se encontraram anos depois e os sentimentos passados voltaram a mexer com eles.
— Não sei — respondi, fingindo não ter pensado imediatamente em algo. — Mas nada da Disney.
— Será que a gente se encaixa em algum dos livros extremamente indecentes que você gosta de ler no trabalho quando devia estar trabalhando? — Com um sorriso arteiro, deixou meus saltos arrumados no fim da escada.
Eu não consegui conter o riso dessa vez e balancei a cabeça, me negando a acreditar que ele tinha lido minha mente. Era bizarro o quanto ele ainda me conhecia, mesmo que eu fosse uma pessoa totalmente diferente agora. Ele aprendeu rápido demais sobre a minha nova versão.
— Em minha defesa, eu só leio no trabalho quando tenho 5 minutos livres! — Afastei uma mecha de cabelo que o vento soprou para frente do meu rosto. — E não, não acho que encaixamos nesses livros também.
— É clichê demais para você? — parou na minha frente, não muito longe.
— Eu adoro um clichê, . — Balancei a garrafa de champanhe, encostando o gargalo no peito dele. — Se nós somos algo, com certeza somos um clichê.
— Somos. — Concordou. — Mas um péssimo clichê, se formos ser sinceros.
— Isso eu discordo! — Retruquei, virando de costas para ele, indo em direção ao ancoradouro. — Somos o melhor tipo.
— Somos?! — Ele ficou interessado.
— Sim. Porque eu tenho uma péssima reputação que não faço mais jus e todo mundo ainda acha que eu vou partir seu coração se a gente ficar de novo.
— E vai?
Parei no meio do caminho e olhei para ele por cima do ombro, precisando encará-lo quando ele me desse a resposta do que eu iria perguntar.
— Eu ainda tenho esse poder? — A pergunta soou divertida, mas meu coração apertou com medo da resposta.
Fosse sim ou não, eu não saberia o que fazer com ela. Por alguns segundos o som das ondas quebrando na encosta e o barulho abafado da festa foi tudo que ouvimos enquanto o silêncio pairou entre nós até que se aproximou de mim de novo. Ele parou na minha frente, dessa vez muito mais perto do que deveria e tirou a garrafa da minha mão, colocando no chão perto de nós. Ergui o queixo para olhar melhor para ele e seu olhar prendeu o meu no mesmo instante. Havia algo despontando daqueles olhos, uma faísca que poderia recomeçar um incêndio em mim que eu tinha tentado evitar a todo custo.
— Isso que nós temos é complicado, . Eu fiz algumas escolhas de merda no passado, não dá pra negar. E nós dois tentamos esquecer o que tivemos, mas ficou claro que não tem como. — Havia uma insinuação de sorriso nos lábios dele quando segurou meu rosto entre as mãos. — Então sim, você ainda tem esse poder. Você sempre foi a única que teve.
Palavras eram inocentes quando isoladas, mas colocadas em uma sentença, por mais curta que fosse, podiam gerar o caos com os sentimentos de alguém. E foi exatamente o que aconteceu quando “você sempre foi a única que teve” saiu da boca dele.
— Você está marcada na minha alma, Encrenca. — Ele acrescentou. Seu polegar deslizou por minha bochecha, roçando na minha boca só o suficiente para me fazer entreabrir os lábios, desejando que fosse a boca dele na minha. — Nós somos o tipo de clichê que não dá pra esquecer. Nós somos o tipo que fica e eu acho que você devia ficar comigo. Somos muito melhor juntos, não só como casal, mas como parceiros de trabalho e amigos. Acho que estamos prontos para o que não estávamos quando a gente era mais jovem.
Eu estava pronta para isso há tanto tempo que parecia surreal que estivesse realmente acontecendo agora. Esse último ano foi uma montanha-russa de emoções e boa parte delas envolviam e nosso relacionamento estranho que era mais que amizade, mas menos que um romance. Os meses trabalhando perto dele foram incríveis, mas igualmente torturantes por estar tão perto, mas nem de longe perto como eu queria.
Uma onda de felicidade e incerteza fervilhou dentro de mim, me enchendo com o tipo de excitação que acelera o coração e faz a respiração ficar mais rápida. Era exatamente o que eu estava sentindo.
— Eu não quero ser mais uma na sua lista de ex-namoradas, . A lista é bem longa e eu não quero ser mais um nome, então se formos fazer isso, eu quero tudo. — Avisei. Alertas soaram por todo meu cérebro me avisando o quão perigoso ainda era tudo que eu sentia por ele. — Corpo e alma, fim de jogo. É tudo ou nada comigo.
— Nós somos fim de jogo, . — Havia tanta convicção em sua voz que não havia espaço para dúvidas. — É tudo. Eu estou cansado de fingir que não te quero. Não estou nem aí para os boatos e toda a conversa que vamos gerar no trabalho. Eu só quero isso. Você. Nós.
Nossos olhares mantiveram contato por apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para tudo desabar. Eu o beijei como se ele fosse ar e eu estivesse me afogando, algo que é mais que necessidade, mais do que só querer. Seus braços envolveram minha cintura, me puxando para mais perto e meus dedos se embrenharam nas mechas do seu cabelo escuro, bagunçando o que já estava bagunçado. Era o tipo de beijo que roubava o fôlego, mas que era impossível parar. Cada célula do meu corpo parecia estar em chamas, me queimando de dentro para fora.
Nós éramos intensidade pura, tudo ou nada. E finalmente, depois de tanto tempo, fim de jogo.
FIM
Nota da autora: Oi, pessoal!
Espero muito que tenham gostado! Essa é uma das minhas músicas favoritas do Reputation e eu amei ter conseguido resgatar ela. Beijos!
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Outras Fanfics:
Craving For You (Restritas – atores – em andamento)
13. Familiar (Ficstape Liam Payne – restritas – finalizada)
Sweet Trouble (Restritas – originais – em andamento)
Lover of Mine (Restritas – originais – em andamento) – parceria com Ste Pacheco
The German Mistake (Restritas – futebolistas – finalizada)
03. Shades of Cool (Ficstape Lana Del Rey – finalizada)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber se a história tem atualização pendente, clique aqui
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The German Mistake (Restritas – futebolistas – finalizada)
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