Capítulo Único
Dois mil e três
Condado de Los Angeles, Califórnia.
coçou a cabeça mais uma vez, respirou fundo e levantou da cama que ocupava no quarto de hóspedes na casa do irmão mais velho. Estava na Califórnia há um ano pra estudar música na UCLA, tinha sido a maior alegria para seus pais, seus irmãos mais velhos e até o vô Pedro tinha entrado em euforia por saber da carta de aceite do neto. O rapaz deu uns pulinhos desesperados tentando reter toda a coragem necessária para conversar com Perseu, mas só sentia a vontade de fugir, crescer.
-Seja homem! - ele xingou a própria postura e enfiou as duas mãos entre os cabelos, sacudiu a cabeça. - Merda, o Percy vai me matar quando eu falar. - engoliu o choro e decidiu que faria aquilo como quem se arranca um curativo.
Ele saiu do quarto pequeno no apartamento e ouvindo as risadinhas incessantes de Pennelope, sua sobrinha, não pode deixar de rir junto. Ela só podia estar vendo aqueles desenhos infantis na TV, enquanto Percy fazia o almoço ou o que quer que fosse dentro daquela casa. Tinha sido uma barra imensa receber Penny no colo quando ela tinha apenas dias de vida, mas o mais novo ficava bem mais aliviado em saber que o irmão mais velho não estava sozinho naquela, principalmente quando tinha ajuda de Atena pra criar a pequena Pennelope.
-TITIO! - a garotinha gritou ao ver saindo do corredor e o garoto soltou um grito animado, assim como ela, abraçando a criança com força como se fosse um bicho de pelúcia gigante.
-Bom dia, moleque! - Percy sorriu atrás do balcão. - Você pode me ajudar aqui? Fui dar o lanche dessa pestinha e ela sujou tudo.
-Claro… - o rapaz beijou a cabeça da sobrinha e respirou fundo. Era agora! - Cadê a Atena? - ele fugiu dos próprios pensamentos, indo na direção da cozinha pequena no apartamento. Estava ansioso pra que Percy fechasse logo o negócio na casa em Malibu, já que a produtora estava mais foda do que nunca e o irmão não tinha um minuto de sossego na caixa de e-mail. Como sua mãe sempre dizia: “Seria um ótimo lugar pra criar a Pennelope”.
-Ela tem casa, . - o outro soltou uma risada. - Mas acho que vem ver a Penny mais tarde e falar como foi a apresentação do livro pra editora. - Percy disse enquanto equilibrava duas panelas fumegantes e segurava a boca pra não soltar qualquer palavrão até que o mais novo o ajudou.
-Aposto que eles vão gostar pra caramba do livro dela. - soltou um suspiro pesado e ganhou uma careta do irmão.
-Desembucha!
-Queria te contar uma coisa também. E… na verdade, eu já decidi, mas sei que a mãe e o pai vão me matar quando eu contar, então eu preciso de proteção. - a frase saiu extremamente atropelada pela rapidez, sendo finalizada com um sorriso trincado. Perseu se limitou a suspirar e desligar o fogo do fogão. O que merda tinha feito?
-Vai, . Desembucha!
-Eu vou largar a faculdade! - o curativo tinha sido arrancado de vez e trouxe alívio para os dois homens na cozinha pequena. por ter colocado tudo pra fora e Percy por escutar algo que já esperava. Já sabia que seria puxado pro mundo comercial da música assim como Charles foi. - Pra me dedicar ao Just Kids, você sabe… Eu, a Franccie, o Seb e o Jean estamos tendo um bom avanço e temos contrato pra tocar naquele bar aos fins de semana. Eu consigo me manter, eu juro!
Um suspiro audível foi dado pelo mais velho assim que ele se escorou na bancada.
-Quer merda, garoto. Eu achei que você tinha engravidado alguém. - o mais velho passou a mão pelos cabelos escuros e ouviu a risada estridente e nervosa do irmão caçula. - Idiota! - ele se deixou levar pela risada.
-Nem f… - ele cortou o palavrão no meio ao ver os olhos arregalados na sua direção. Penny estava em casa, nada de palavrões pesados. - Nem a pau! - os dois respiraram aliviados. - Você não vai brigar?
-Eu já esperava, . - Percy bagunçou o cabelo do irmão. - Já esperava que você fosse ser puxado pro mundo comercial da música como o Charlie e eu prometo que a gente vai conversar com a mãe e o pai, além de lançar o Just Kids direito no mercado.
-MEU DEUS! VOCÊ É FODA, PERCY! O IRMÃO MAIS FODA DO MUNDO!
Em algum lugar perto de Pomona. Califórnia.
Aquela seria a última vez. A última vez que ela provavelmente veria a família reunida, que estaria em meio a uma festa genuinamente animada, incrível, cultural e familiar como aquela e embora fugir no meio do casamento de sua prima não fosse a mais inteligente das escolhas, era o conselho que sua avó havia lhe dado. Seria o adeus a tudo que tinha vivido desde que nascera, mas no momento era tão necessário como respirar.
A garota pegou a bolsinha pequena com alguns dólares americanos que a sua avó tinha lhe dado, junto a um feitiço de proteção, e enfiou-a no cós da calça jeans, colocou um medalhão com uma pedra esmeralda bem lapidada que pertencia a família, em volta do pescoço e a mochila com algumas peças de roupas nas costas, mas nada que denunciasse sua cultura ou de onde ela vinha. Eles ainda eram tão hostilizados pela sociedade moderna.
-Ok, . Esse é o seu novo nome e essa é a sua nova língua! - ela disse em um inglês cheio de sotaque, enquanto declarava aquilo para o vento e para a lua cheia tão grande que lhe iluminava. - Me ajude, mãe Lua, eu preciso de sua ajuda! Eu sei que você vai me guiar de volta um dia, se eu precisar. - a garota sentiu as lágrimas nos olhos e enxugou-as com as costas da mão. Levantou o capuz do moletom e deixou o acampamento tomado pela festa animada e barulhenta.
Os passos rápidos a ajudariam a estar o mais longe possível daquele bosque antes que dessem na sua falta. Quem em sã consciência ficaria presa em um acampamento e a uma vida nômade quando tinha sonhos e metas a serem alcançadas. A música era sua grande paixão, trabalhar com instrumentos, tocar pra pessoas, entender como todas aquelas canções que passavam no rádio de pilha eram produzidas e lançadas. E seria impossível realizar tudo isso se ficasse presa àquela realidade com um casamento praticamente arranjado para quando completasse 18 anos e um destino completamente diferente traçado em sua mão. Vovó aurora era a maior bruxa do acampamento e tinha lhe dito com todas as letras que ela não tinha nascido pra se casar dali três anos.
era muito maior do que tudo aquilo e iria seguir o seu destino a risca, nem que fosse necessário fugir das suas origens.
Dois mil e quatro.
Warped Tour
O estacionamento do parque do festival era imenso e dividido por lotes, aos poucos os ônibus iam chegando por lá e as equipes do crew principal ia organizando e cadastrando as bandas pra que eles pudessem estacionar e montar suas tendas. Kevin Lyman era bem conhecido por sua organização e planejamento impecável, algo que estava passando para suas duas filhas, Savannah, a biológica e , a garota que ele e a esposa tinham “adotado” depois de ela ter aparecido perdida na Warped do ano anterior e mostrado que queria mesmo um futuro na música. Ela tinha trabalhado durante todo o verão com o crew estagiário e se esforçado bastante pra mostrar o quanto ela merecia mais uma chance, conseguindo gloriosamente.
Naquele ano, o festival ia ser um dos mais insanos, pois a proposta era apresentar bandas novas e pouco conhecidas ao maravilhoso mundo do pop punk. e Save estavam animadas pra conhecer todo o pessoal, trabalhar junto com os pais e vivenciar o melhor verão de todos, antes de voltar para o último ano de colegial. Kevin tinha dado as duas, a responsabilidade de organizar, treinar e coordenar a equipe que cadastraria os ônibus das bandas no estacionamento de apoio e apesar de ser algo grande, o homem sabia que a dupla faria da melhor maneira possível.
e Save dividiram o estacionamento em dois lotes e cada uma delas com sua equipe de estagiários, seguiram para a maratona de registrar os ônibus. Savannah já conhecia a maioria das bandas ali e tinha até amizade com algumas delas, já estava encantada com a quantidade de gente que ela tinha visto nos canais de clipe, junto com a melhor amiga. Só em um espaço de trinta minutos tinha conhecido Good Charlotte, Simple Plan e estava surtando pela simpatia das pessoas.
Olhou na lista quem seriam os próximos e seguiu pra vaga onde o ônibus do Addicted To You estava. Pelo que ela tinha visto, a banda era a aposta das gravadoras para a nova era do pop punk, junto com mais uma porrada de outras que estavam ali e ela não duvidava nada, nunca superaria as letras profundas e o som tocante.
Passou pela vaga cadastrando a banda em sua prancheta e ficou feliz em ter sido bem recebida por eles, que já tiravam o material do container, provavelmente pra montar as tendas, cadeiras e afins pra se instalar ali. decidiu ser rápida com o cadastro, mesmo que a banda fosse uma das suas preferidas. Charles lhe ajudou com a papelada, conferiu as informações e logo após ver que estavam todas certas, assinou o registro de muito bom grado, agradecendo a moça em um ato de educação.
Alex era o integrante preferido de e ela ainda conseguiu trocar uma palavrinha animada com ele, antes de se despedir e seguir a outra fila de ônibus no estacionamento.
Alguns ônibus passados e sua lista de bandas quase completa, a moça passou para o último ônibus da última fileira. Deu check no nome do Just Kids e foi na direção da porta do veículo
-Oi, eu sou a . Sou do Crew de organização e vim cadastrar o ônibus de vocês. - a garota falou animadamente e levantou a cabeça, dando de cara com o cara que tinha cadastrado há pouco. Ela fez uma careta confusa e olhou pra ele com a maior interrogação na testa.
-Ah, oi! O que a gente precisa pra cadastrar? - o rapaz parecia mais eufórico do que antes ao perguntar e inquieto também. Aquilo era muito comum em quem estava mentindo. Inquietação. - Precisa de algum documento nosso ou da banda?
olhou para a lista na prancheta e fez uma careta. Ela estava mesmo no lugar certo ou tinham lhe pregado uma peça? Não, não, ela estava fazendo tudo certinho, por certo era o rapazinho do ônibus anterior querendo lhe pregar uma peça.
Como era mesmo o nome dele?
-? - ele chamou meio confuso e recebeu a atenção da garota de pele cor de oliva. Aquela era uma denominação certa? Bom, ele não sabia, mas a garota tinha uma cor bronzeada de quem tinha ficado umas boas horas no sol. - Esse é o seu nome, não é?
-Sim, moço. Mas já passei pelo seu ônibus ali atrás. - a garota virou o corpo apontando na direção contrária.
-Não passou, não. - começou se apavorar com a aquela história, não podia perder a chance da sua vida musical e se perdesse, teria uma fila imensa de gente querendo lhe matar.
-Claro que passei, foi você que falou comigo… - suspirou exausta e procurou mais uma vez o nome dele na prancheta, não tava com muito tempo pra ficar de brincadeira com vocalista de banda.
-Não foi não, moça. Pelo amor de Buda, me ajuda. É minha primeira Warped com o Just Kids e eu não posso perder, ou vão me matar na base do tapa! - o rapaz de cabelo preto falou em completo desespero, sentindo as pernas começarem a formigar e cogitando a ideia de chamar alguém da banda pra lhe ajudar com aquilo antes que tudo estivesse perdido.
coçou a cabeça e se deu por aliviada ao encontrar o nome na sua lista.
-Eu não tenho muito tempo, Charles, por favor. Tá uma confusão com vários ônibus chegando ao mesmo tempo e precisamos cadastrar todos. Você pode chamar alguém do Just Kids? - ela tentou ser a mais simpática possível.
-Puta merda! - ele enfiou as mãos entre os cabelos e suspirou aliviado. - Charles é meu irmão, eu sou o , moça. !
-E aí, ? Já resolveu o cadastro? - outro rapaz do cabelo claro saiu pela porta do ônibus, cumprimentando com um sorriso animado. - Oi! Eu sou o Seb, é nossa primeira Warped Tour!
O rapaz loiro, que agora tinha nome, mostrou o companheiro de banda com a mesma animação que havia cumprimentado a garota e incitou no amigo a expressão de obviedade sobre o ser o e não o Charles.
-Vocês são irmãos? - a incredulidade da moça era fora do normal.
Porque primeiro: eles eram gêmeos?
Segundo: como eles eram irmãos e não estavam na mesma banda? Nunca tinham ouvido falar dos gêmeos Maden?
-Sim, eles são! - Sebastien soltou sem entender bem a problemática ali e deu um tapinha no ombro do melhor amigo e companheiro de banda.
-Ah, ok… - sentiu o rosto empalidecer. Será possível que era uma bagunça até naquilo? - Desculpa o mal entendido. É que vocês são muito parecidos, iguaizinhos. - ela coçou a cabeça, impaciente com a situação. - Desculpa mesmo!
-Tá tudo bem, ! - respondeu aliviado em ter tudo se esclarecido e escorou na lataria do ônibus esperando que ela começasse sua ficha de cadastro. Logo ela havia terminado de preencher os campos e assim que o rapaz assinou, a moça deu um sorriso fechado e sem graça, fugindo dali o mais rápido possível.
Ela tinha passado a vergonha do século, mas dava graças a Santa Sarah Kali em saber que não o veria mais com tanta frequência.
-x-x-x-
-E aí, vamos dar um perdido no pai hoje? - Save empurrou a melhor amiga de lado e ouviu a gargalhada da garota. - Qual é ? - a moça usou de manha pra tentar convencer a melhor amiga. - Olha o tanto de show bom que a gente pode ver do palco só por causa dessa belezinha! - a moça balançou o crachá de crew da organização, despertando gritinhos animados da outra.
-PELA LUA! Eu só estava esperando você falar isso. - Ramanush fez um toque de mão com a outra. - Cadastrei umas três bandas novas no estacionamento e caramba, a gente tem que ver se eles são bons mesmo.
-Eu sei! - Savannah soltou um gritinho. - Acho que a gente pode ir pro Teal Stage pra ver o Simple Plan e o New Found Glory.
-FECHADO! - as duas bateram o quadril de lado enquanto atravessavam o parque pela primeira vez naquele dia.
As duas já tinham checado os dois estacionamentos, cadastrado as bandas novas, dado baixa nas que já haviam feito sua participação e se o Lyman pai não precisasse de mais nada, elas estavam livres pra aproveitar o dia, fazer novas amizades e encontrar amigos antigos, mas sem esquecer das regras básicas:
1- não sair do parque com ninguém;
2- sempre atender ao telefone e aos pontos;
3- nada de bebidas alcoólicas ou vindas de estranhos;
4- não viajar no ônibus de banda nenhuma.
O verão estava de matar e não era recomendado sair de dentro dos ônibus sem ao menos um boné ou chapéu de proteção, além do protetor solar, as roupas leves e um tênis confortável. Esse era, definitivamente, o melhor look pra aguentar o sol queimando no topo da cabeça.
As duas continuaram a caminhada na direção de onde estavam as tendas das bandas maiores e puderam ver uma grande movimentação de fãs tentando falar com seus ídolos, além de algumas pessoas tentando fazer o próprio marketing com CDs nas mãos e cartazes imensos colados ao peito.
-Sabe o que eu acho legal? - falou pra amiga e acenou para algumas pessoas que as duas já conheciam. Save soltou um resmungo de afirmação. - As bandas começam vendendo CD assim no meio do povo e acabam nas tendas que nem a Good Charlotte, Addicted To You, Simple Plan…
-SIM! - Savannah soltou um gritinho encantado. - Eu vi a maioria desse povo vendendo CD aqui, amiga. Te juro, e fico toda orgulhosa vendo o quanto eles cresceram. - a moça apertou o braço da amiga de leve e ouviu um gritinho empolgado.
-É massa né? - a garota suspirou, sendo surpreendida com uma mão na sua frente segurando um CD com um encarte de papel preto, um quadro branco fino e a silhueta de um skatista também em branco, mas não conseguiu ler o nome da banda pela rapidez que a mão sacudiu o papel. Identificou apenas o nome do álbum: "HOMECOMING".
-Oi, moças bonitas! - a voz do rapaz chamou sua atenção, fazendo-a olhá-lo de uma vez. Era o ! O moço que ela tinha confundido mais cedo. Os dois riram com o reencontro no meio do parque e pelo sorriso esperto nos lábios de , percebeu que ele tinha parado as duas de propósito. - Já conhecem o Just kids?
-Charles! – ela decidiu brincar com o nome trocado e viu o rapaz bochechudo fazer uma cara de nada.
-É ! – ele corrigiu, fazendo o amigo que estava do lado, rir.
Só aí percebeu que o garoto que desceu animado do ônibus (era Seb, não era?), estava junto com vendendo os CD’s a cinco dólares. Ele acenou sorridente pras duas e se apresentou a Savannah como “Oi, eu sou o Seb”. Ok, tinha rolado um encanto ali, principalmente quando Save ajeitou o cabelo atrás da orelha.
sorriu satisfeita e meteu a mão no bolso procurando uma nota pra pagar a pelo CD. Tinha gostado da capa e de todo o designe, então a banda deveria ser tão boa como o Addicted To You, Simple Plan e outras inúmeras outras que tocaria naquelas semanas.
-É um presente! – disse quando viu a garota procurar por algo nos bolsos e ela sorriu grata. Um sorriso largo e bonito. – Nosso show é hoje as 2pm, vai que você gosta da música e lembra meu nome de vez. – o rapaz piscou, arrancando uma risada dela que começava a sentir as bochechas esquentarem.
-Vemos vocês lá? – Sébastien se meteu na conversa, embora olhasse diretamente pra garota ruiva e com o cabelo chamativo ao lado da mais nova amiga de . Savannah tinha nascido loira, mas nunca se conformara com a cor sem graça, na opinião dela, do seu cabelo, então já o deixava ruivo desde que tinha completado idade pra pintar com outras cores.
-Com certeza! – Save respondeu animada, mas já puxava na direção dos palcos onde encontrariam Kevin. Acenaram mais uma vez para os rapazes e saíram aos pulinhos com a promessa de que aprenderiam as músicas pra cantar nos próximos shows.
-Olha, o Seb ficou interessadíssimo em você. – cutucou a melhor amiga, vendo-a negar com um aceno de cabeça, mas mesmo assim prender um sorriso. Save também tinha gostado dele, AHÁ!
-Pelo visto não só eu né, senhorita “vai que dessa vez você lembra meu nome”? – a ruiva debochou e a outra riu, empurrando ela de leve.
-Eu fiz aquilo de propósito. Confundi ele com o irmão na hora de cadastrar os ônibus. – a moça fez uma careta desgostosa, mas acabou rindo junto com Savannah. – Foi um desespero! Mas acho que... – ela deu de ombros. – Consegui mais alguns amigos?
-Isso é maravilhoso, ! – Save apertou-a em um abraço orgulhoso. – Antes da gente correr pro palco: o amigo do seu namoradinho é o maior gatinho!
- não é meu namoradinho. Que coisa! – ela esbravejou indignada. O garoto era bonito? Claro! Mas não tinha nada de namoradinho. – Por que você não gasta sua boca dando uns beijinhos no Seb? – a garota fez um barulho de beijo exagerado e foi empurrada pela melhor amiga, antes que Save saísse correndo com logo atrás mandando-a esperar.
-x-x-x-
Já havia passado um mês desde o início da Warped Tour e duas semanas que tinha conhecido e toda a trupe do Just Kids. Ela e Save nao faziam mais outra coisa que não fosse terminar o trabalho o mais rápido possível e ir curtir com os novos amigos. Pra Ramanush, o garoto mais novo do trio de irmãos , tinha se tornado um dos seus melhores amigos e ela nunca iria entender como tinham uma ligação tão forte com ele que não fosse movida por sentimentos românticos.
Era tudo platônico e era realmente incrível!
Já Save e Seb, não pareciam nada platônicos e pelo quanto andavam juntos, poderia jurar que já tinham até dado alguns beijinhos, embora Savannah negasse de pés juntos que havia chegado perto da boca de Sébastien.
A garota riu sozinha só em saber que a melhor amiga estava mentindo e apressou um pouco mais o passo dentro do parque. Eles estavam na fronteira com Toronto e o dia tinha sido insano, felizmente o próximo seria day off pra que todo mundo pudesse descansar daquela rotina louca. O sol queimava as últimas horinhas de dias claros e escurecia o céu que ganhava um tom roxo após o alaranjado.
tentou, mais uma vez, contato com o pai adotivo pelo walkie talkie e bufou ao não conseguir um sinalzinho sequer.
-RAMANUSH! - gritou, fazendo-a virar de uma vez pra vê-lo encostar ao lado dela com uma moto. O modelo parecia ser uma daquelas de motocross, mas adaptada para o asfalto. Desde quando ele tinha uma moto?
-Desde quando você tem moto? - ela soltou uma risada e continuou andando enquanto o rapaz acompanhava sua velocidade.
-Não tenho, é do Charles. - o filho mais novo dos levantou o capacete, deixando a proteção do queixo na testa e riu. - Ele meio que me emprestou. Quer uma carona, gatinha? - o rapaz piscou em flerte, fazendo-a soltar uma risada estrondosa.
-Pra onde você vai, gatinho? - ela zoou o apelido e rolou os olhos, parecia meio impaciente.
-Até onde você precisa ir? - ele mordeu a parte interna da boca. - Ou até a cidade vizinha! - o garoto deu de ombros. - São só três horas de viagem, não é como se fossem surtar dando na falta da senhorita! - o caçula dos estendeu o capacete pra ela.
-Eu estou indo procurar o Kevin, . E não posso sair do parque sem a au… - interrompeu a frase no meio ao dar na presença de uma figura mais ao longe.
O homem era alto, de pele escura como a dela, cabelos arrumados em um topete baixo e barba cheia, pelo que ela conseguia ver há 10 metros de distância, mas não havia mudado nada desde a última vez que ela o vira no começo do verão passado. De repente o estômago começava a revirar, o medo tomar suas entranhas e o desespero pegar seus pulmões com força. Por que ele tinha voltado para procurá-la? Sua avó não disse que o seu destino era bem longe de lá? Ele não podia aceitar que ela estava tentando viver uma vida diferente?
-… - sacudia a mão em frente aos olhos da moça, como se tentasse acorda-la do transe e de repente, Ramanush tomou um susto e no mesmo pique, o capacete da mão dele. Enfiou o equipamento de proteção na cabeça sem pensar duas vezes, embora tenha deixado confuso.
Ela procurou a frequência de Savannah no aparelho de comunicação e tão rápido quanto respirava, falava uma história estranha e em francês, envolvendo as expressões "meu pai", "ele não pode me ver" e "preciso sair daqui".
-Me tira do parque agora! - a moça ordenou diante de tanto desespero e ouviu a risada baixa do amigo.
-Você não precisa da autorização do Lyman? - ele perguntou enquanto já baixava o capacete na cabeça e embora soubesse que era errado, por ser menor de idade, adorava o espírito aventureiro dela.
-, não pergunta! Só me tira daqui, por favor. - ela pediu enquanto mirava o homem adulto mais a frente, que parecia desesperado com um pedaço de papel na mão e interrogava as pessoas.
-Sobe aí! - ele puxou o acelerador na intenção de fazer apenas barulho, enquanto subia na garupa.
A garota respirou fundo, segurou no tronco dele com os dois braços e rapidamente, saiu com a moto o mais rápido que pôde, fazendo passar por Ramon como uma flecha que rasgava paralela ao alvo e não o atingia. Aquele foi o momento em que a moça sentiu tudo ficar em câmera lenta à medida que via de relance, o rosto do seu pai biológico se perder pela multidão. Não muito tempo depois os dois tinham pego a rodovia para a próxima cidade e agora, devagar, estava cheio de curiosidade sobre a conversa que tinha tido, em francês, com Savannah pelo walkie talkie.
-Eu sou canadense, sabe? - o garoto soltou em francês como se não quisesse fazer pressão. - Então eu meio que entendo de francês.
Naquele momento, sentiu ficar rígida as suas costas, provavelmente nervosa ou com medo.
-Não quero falar sobre isso. - ela respondeu também em francês.
-Tudo bem, mas eu estarei aqui pra quando você quiser e precisar. - a mansidão na voz dele era um agrado ao coração apertado dela e a moça aproveitou para o abraçar em agradecimento. Um gesto silencioso, mas que exalava gratidão e amizade.
-x-x-x-
Os dois tinham chegado na próxima cidade em menos de 3 horas, agradeceu a carona e disse que iria ligar pro pai, Lyman, avisando o que tinha acontecido. Não demorou muito pra que a organização, ou uma parte dela chegasse ao parque, autorizando a entrada dos dois jovens que se despediram brevemente, enquanto sentia seu coração bater forte no peito depois da fuga. O rapaz respirou fundo, sacudiu o cabelo e escorou na moto, esperando que o resto dos ônibus chegasse e junto deles, seu irmão do meio que era um porre de chato quando bem entendia.
-QUAL A PORRA DO SEU PROBLEMA? - Charles esbravejou indignado com a cara de paisagem do irmão ao esperar escorado a moto.
-Charlie, eu... - começou a falar pra tentar se explicar, mas foi interrompido pela voz embravecida do irmão.
-Você nada, moleque irresponsável! Sabe a porra da preocupação que a gente estava? - o outro enfiou as mãos nos cabelos e reprimiu um grito irado. – Eu liguei desesperado pro Percy, por que você simplesmente tinha sumido, ! Nós não estamos no estado da Califórina, garoto, você não está em casa! – Charles coçou a cabeça meio apavorado e recebeu um afago da esposa, no ombro. Theresa sabia que brigar e brigar não ia resolver muita coisa, mas admitia que tinha ficado tão apavorada quanto ele.
-EU NÃO SOU CRIANÇA, NÃO ME CHAMA DE MOLEQUE! – se irritou de vez com toda aquela briga sem sentido.
Por que todo mundo lhe tratava como se ele fosse um bebê chorão? Ele já era um homem feito, custava lhe respeitarem daquela forma? As vezes era um belo saco ter dois irmãos mais velhos extremamente conhecidos e que pegavam no seu pé mais do que seus próprios pais.
-Aqui você é, inferno! – Charles estava tão bravo quanto ele, mas achou melhor não gritar, ou pareceria que os dois estavam trocando juízo no meio do estacionamento. – Aqui você tá sob minha responsabilidade. NÓS NÃO ESTAMOS NO CANADÁ, PORRA! – ele não tinha aguentado reprimir e talvez lhe escutasse.
-Ok, ok, garotos. – Theresa se meteu na discussão. – Sem gritos! Nós estamos no meio de um estacionamento e tem várias bandas olhando pra vocês dois aos berros. Vamos nos acalmar e conversar, pode ser?
-NÃO SE... – começara a gritar com ela também, mas interrompeu a frase no meio por perceber que se tratava de Terry, uma das pessoas que intercedia por ele e ainda ajudava quando precisava. E outra, Charles parecia prestes a voar na garganta do irmão mais novo se ele continuasse com aquela gritaria de ataque pro lado da moça que tentava ajudar os dois. – Desculpa, Terry, eu não quero e não vou gritar com você. – o vocalista do Just Kids coçou a cabeça por baixo da touca, se sentindo extremamente envergonhado por ter alteado a voz pra ela.
-Tudo bem, . Só conta por que inferno você saiu sem avisar a ninguém e pegando a moto escondido. – ela suspirou. Nem queria imaginar quando seu bebê de 4 aninhos tivesse a idade do cunhado mais novo.
coçou a nuca mais uma vez e trocou o peso do corpo de uma perna pra outra. Precisava confessar que tinha sido uma ideia fodida pegar a moto escondido e viajar de uma cidade pra outra sem avisar a ninguém, além de que ainda estava com a na garupa. Merda! Que diabo de desculpas ele daria? O rapaz abriu a boca uma vez, duas, três e não conseguiu falar qualquer mentira pra matar sua culpa. Ok, era melhor contar a verdade. A verdade que envolvia o “roubo” da moto, na verdade, não a que envolvia o fato de ele estar imensamente encantado por uma garota de 16 anos, tão esquisita quanto ele e que, aparentemente, fugia do próprio pai.
-Tá, então... – o mais novo mordeu a boca, recebendo olhares curiosos.
-Desembucha, porra! – Charles já se mostrava sem paciência para aqueles joguinhos.
-Eu só achei que... sei lá, Charles. Eu quis fazer uma loucura de juventude, é proibido agora?
-Sim quando você tá com a filha do Lyman na garupa! – o outro grunhiu indignado com a cara de pau do irmão em esconder aquilo. – A garota tem dezesseis anos! DEZESSEIS!
-Eu sei a idade da , ok? Ela é minha amiga! – fez um imenso bico indignado, enquanto o irmão arqueava a sobrancelha quase pro meio da testa.
Amiga? Ele tinha feito aquele escarcéu todo escondido porque considerava a garota uma amiga? tinha quantos anos pra ter amiguinhas? Sete??
-Estamos todos bem, Charles. Não precisa surtar, você não é meu pai! – ele rolou os olhos possesso em ter se entregado daquele jeito.
-Hey! – Theresa repreendeu. – ? – ela olhou pra ele como se o rapaz fosse um dos seus dois filhos, o Eliot, de 4 anos. Exigia desculpas mutuas nem que fosse preciso dar umas palmadas nos dois irmãos.
-Eu não sou a Leonor, Theresa! - bufou como se fosse a garotinha geniosa, mas só conseguiu um olhar incisivo da cunhada, além da risada superior do irmão do meio. - Seu marido é um belo cuzão.
-! - ela o repreendeu novamente, ouvindo o rapaz bufar indignado.
-Desculpa, Charles. Eu não deveria ter pego a moto escondido e nem viajado de uma cidade pra outra sem avisar a ninguém. - ele disse ainda indignado com a cena do irmão achando que se livraria daquela. – E nem levado a na garupa.
-Obrigada, ! - Terry sorriu pro caçulinha dos , mas aí virou pro marido e com certeza iria fazer o mesmo com ele. - Amor? - foi a vez de cruzar os braços e abrir um sorriso debochado. Ele definitivamente amava sua cunhada.
-Anjo! - o vocalista do Addicted To You suplicou como se estivesse sendo cobrado na frente dos filhos. - Você é um bebê chorão.
-Charles. - ela estava sendo tão dura quanto antes.
O homem puxou fôlego e com seu ego de pai ferido, pediu desculpas ao irmão mais novo de forma bem sincera.
-Desculpa, . Eu sei que você não é criança, muito menos um moleque irresponsável. - ele coçou a cabeça. - Mas fiquei preocupado sim, porque aqui nos Estados Unidos você ainda é menor de idade para algumas coisas e está sob... – ele parou por um tempo, alegar responsabilidade sobre um marmanjo de 20 anos, era, no mínimo, uma falta de respeito. O outro já era adulto e sabia muito bem o que fazia, embora Charles tentasse cuidar ao máximo da imagem do caçulinha, afinal sabia como o mundo da música era difícil. – Eu só não quero que você se ferre aqui dentro da Warped. É seu primeiro festival grande, moleque, quero que você brilhe! Arrase com tudo e vá longe! Desculpe ter tratado você como se fosse o Eliot, mas é porque me sinto responsável por e te amo.
Por aquela, o rapaz não esperava. Sempre tinha tido a sensação que Charles só sabia implicar com tudo que ele fazia e o Percy que era mais maleável com tudo, mas aparentemente era o instinto paterno do irmão do meio que sempre se exaltava em todas as discussões entre os três. Os dois respiraram fundo e finalmente se abraçaram amorosamente depois do pedido de desculpas, deixando Theresa orgulhosa da cena que estava vendo.
-Tenho muito orgulho de você, moleque. - Charles completou. - Mas sempre vou pegar no seu pé pra te manter na linha.
-Também te amo, Charlie! - o mais novo apertou o irmão no abraço.
Dois mil e onze
Warped Tour
Mais um ano se iniciava com a tão esperada warped e o line up daquele dia estava um dos mais insanos. Os ônibus chegavam aos montes no estacionamento em San Diego e os fãs também. O sol da california nao perdoava e nem mesmo assim, o público era menos fiel.
soltou uma risadinha esganiçada ao ver o pessoal trabalhando como havia sido treinado, orgulhosa em ver o crew estagiário tão bem comandado por uma das garotas que ela tinha treinado naqueles anos acompanhando o pai pelas estradas. O verão realmente prometia ser o melhor de todos! Ela cumprimentou algumas pessoas que já eram figurinhas carimbadas no festival, ganhou abraços calorosos de outras e fingiu estar fiscalizando o trabalho do pessoal, quando na verdade, ela esperava seu melhor amigo chegar naquele estacionamento e tornar tudo mais animado. Estava realmente louca e ansiosa pra ver , poder abraça-lo, gritarem feito loucos e se zoarem como sempre.
De acordo com os lotes divididos, ela estava no lugar certo e nao demoraria muito pra que o ônibus encostasse por ali em poucos minutos. Dito e feito, o gigante já atravessava o lote e se posicionava pra entrar na vaga. Ela deu um pulinho animado e assustou o rapaz que estava com a prancheta, os dois riram da cena.
-Me empresta sua prancheta? Quero cadastrar esse idiota. - esticou a mão e conseguiu os papeis de bom grado, deu uma lida rápida pelo formulário e percebeu que nada estava diferente. Mais à frente, já aparecia pelo para-brisa escuro do ônibus com uma bela cara de poucos amigos, mas abriu um sorriso imenso ao vê-la com a maior cara de deboche.
A porta automática abriu e o rapaz deu um pulo no chão, não contendo o sorriso largo ao finalmente vê-la depois de uns bons meses.
-Hey, freak! - ele cumprimentou com o apelido de costume.
-Hey, loser! - ela fez o mesmo e não contou conversa pra dar um abraço caloroso no amigo. O rapaz envolveu os braços pela cintura dela e tirou-a do chão, enquanto sentia os braços de lhe apertar os ombros pela força com que ela lhe abraçava. - Que saudade!
-Eu sei, porra! Você sumiu. - o vocalista do Just Kids colocou a garota no chão e ainda fez um biquinho inconformado.
-Sumi porra nenhuma, estava em Minessotta com o pai desde o começo do verão. Você sabe, organizando os rolês da Warped! - empurrou a prancheta pra ele, ainda mantendo um sorriso imenso no rosto. - Assina aí logo!
-Apressada! - pegou os papeis, deu uma lida rápida como de costume, só pra checar se as informações estavam corretas enquanto ia cumprimento o restante da banda que saía apressada do ônibus. - Aqui, Ramanush! - ele entregou.
devolveu a prancheta ao rapaz e agradeceu com um sorriso, voltando a conversa que estava tendo com o melhor amigo.
-Não sei se você sabe... - ele abriu um sorriso presunçoso, mas que era até engraçado. - Vamos tocar durante TODO o festival! - o gritinho histérico deixou tão animada quanto.
-EU SEI! Vai ser insano, incrível! Eu estou muito orgulhosa de você, idiota! – ela abriu um sorriso imensamente orgulhoso. – Você viu que o Simple Plan vai gravar o video de The Rest Of Us aqui na warped? É nossa música, ! - a garota sacudiu o braço dele com força, ouvindo uma gargalhada extremamente satisfeita.
-Advinha quem vai fazer uma participação no vídeo? – o vocalista do Just Kids empinou o nariz e ouviu mais gritos ensurdecedores da garota. – Ai, porra! Meu ouv
ido!
-VOCÊ SÓ PODE TÁ ME ZOANDO! VOCÊS E O SIMPLE PLAN? -SIM, RAMANUSH! – abraçou a moça, tirando-a do chão em um impulso. – Você acredita no tanto que o Just Kids cresceu? Porra, a gente vai tá no clipe do Simple Plan.
-Eles são insanos demais! – a garota estava boquiaberta com a novidade.
-O Charles também ia, mas...
-É... ficamos sabendo do acidente da irmã da Terry. – ela deu um suspiro triste. – Abalou bastante a família né? – a pergunta retórica se fez presente e o rapaz coçou a cabeça, afirmando com um aceno. – Achei que vocês nem vinham esse ano, pra falar a verdade.
-Foi bem de última hora, a decisão de vir, sabe? Charlie não queria que a gente perdesse a chance de tocar durante TODO o festival, então nos convenceu a vir. – ele deu de ombros. – Porque a gente tá crescendo ainda.
-Fico feliz que vocês tenham vindo! – ela sorriu sincera e em um afago, tentou passar segurança ao amigo. Ele sorriu e abraçou-a mais uma vez pela cintura. – Pronto pra viver a Warped mais porra louca da sua vida? – estendeu a mão em um convite silencioso ao que os dois tinham prometido há uns meses. Eles passariam o rodo geral no festival, enquanto se divertiam quando não houvesse amanhã.
O homem fez uma careta desgostosa e coçou a cabeça.
-VOCÊ TÁ NAMORANDO, TRAIDOR?
-QUAL É? – sacudiu pelos ombros. – Eu me apaixonei, isso não é crime! – o rapaz fez um bico fingido, mas foi empurrado de lado pela amiga. Bom, ao menos era uma boa notícia boa, o caçula tinha tomado jeito na vida.
-Eu larguei um namoro e você se apaixona? Valeu aí, universo! – a garota debochou e os dois riram antes de sair se empurrando pra área dos palcos.
-x-
A banda canadense, Simple Plan, tinha decidido gravar o videoclipe de The Rest Of Us em vários shows da warped, contato com os fãs e junto com vários outros artistas do mesmo gênero em um conceito muito legal de que eles eram: esquisitos, fracassados, perdedores e tudo aquilo que o mundo atual selava como padrão pra que alguém fosse legal. A canção era uma forma de quebrar todos os paradigmas, mostrando que os antigos perdedores, eram agora, as mais incríveis e insanas pessoas que o mundo já poderia ter visto.
e , xará do Bouvier, estavam na lateral do palco, tinham conseguido o lugar mais do que especial por causa das preciosas credenciais recebidas por serem da organização, ou atração do maior festival do pop punk que o mundo já tinha visto. A ansiedade que inundava os corações apressados era uma das coisas mais gostosas de sentir, principalmente depois que a banda passou por eles, cumprimentando os dois que já eram conhecidos há um bom tempo.
O show seguiu emocionante como sempre e logo , o Bouvier, parou pra anunciar qual seria a última música do show e que seria gravado o videoclipe ali no meio do festival, com os fãs e artistas de outras bandas. Seria um grande videoclipe!
Os primeiros acordes da música foram tocados e a dupla de amigos se animou ao saber de co, a letra que estava prestes a começar.
-I'm okay, I'm okay. Kinda being awkward socially. – começou apontando pro peito, sabia que esperava a deixa dele.
-With the fact, with that girls. Don't lose their shit when they look at me. – ele fez a maior cara de derrotado com algo, que nem de longe, era verdade.
O cara que já batia perto dos 30 anos, tinha se tornado a sensação de todas as garotas que curtiram o pop punk. Ele e o irmão, na verdade, mas Charles já estava casado há tantos anos que era quase carta fora do baralho. era, definitivamente, o garotão cobiçado pela porrada de garotas daquela era.
-It's okay, it's okay. – os dois gritaram juntos a o começo da parte que os definia bem demais. – That I'm not that good at anything. And I don't hit the notes perfectly when I try to sing. – os dois arregalaram os olhos e sentiram o revirar do estomago quando a música começava a chegar no clímax.
Aquela era a melhor coisa entre os dois, a sintonia e ligação absurda com a música e todos os sentimentos que aquele mundo musical trazia pra todo mundo. Era delicioso compartilhar com alguém que sentia exatamente o mesmo.
- OOOOOH! I know why I'm not alone So turn the music up and let go. – os dois sacudiram as cabeças no ritmo da bateria do Chuck, soltando risadas espontâneas em seguida. – Here's to the rest of us. To all the ones that never felt they were good enough! – e cantaram a plenos pulmões, como se a vida dos dois dependesse daquilo e podiam finalmente sentir o sangue do festival correndo nas veias. Aquela adrenalina surreal tomando cada celulazinha do corpo e fazendo tudo ficar terrivelmente arrepiado. – I wanna hear it for the chased and confused, The freaks. – a garota levantou os dois braços com o apelido idiota. – And the losers! – o rapaz tomou seu posto, enquanto a música tocava ao fundo.
-I'm okay, I'm okay. I don't need to be a billionaire so freaking bad! And my trust fund hopes are looking sad.
Aquela era a parte de e ele sempre fazia a Ramanush gargalhar com sua cara de derrota ao encenar.
-I confess, I'm a mess. I'm perfectly disfunctional, but I don't give a damn If you feel the same let me hear you sing.
sacudiu as mãos como se nao fizesse a mínima ideia do que estava fazendo ali e ganhou um beijo na bochecha, dado bem de surpresa.
-Ohh I know why I'm not alone So turn the music up and let goooo... – os dois se abraçaram de lado ao fim da frase compartilhada.
Aquele foi, definitivamente, o melhor início de festival que os dois poderiam imaginar. A amizade estava mais forte do que nunca, o amor pela música também e a certeza de que eles eram freak e loser, mais do que nunca, deixava tudo ainda mais emocionante. Se algumas músicas poderiam representar sentimentos, The Rest Of Us representava o melhor de e .
We don't need to apologize for anything
We're who we are
I just wanna hear you sing
Ohh, I know why I'm not alone
Dois mil e vinte
Warped Tour
O ônibus de turnê entrava mais uma vez pelo estacionamento do parque em Pomona, CA. A última vez que estaria ali pelos shows da warped tour, a última warped que seria realizada por quase todos os estados dos Estados Unidos da América. A última Warped que estaria a frente da banda como gerente de turnê e ela nao estava preparada pra dizer adeus ao festival que mudara completamente a sua vida, muito menos para a banda que tinha lhe posto no mercado como uma das gerentes de turnê mais cobiçadas, mas o contrato já estava no fim.
Era maravilhoso ter trabalhado tantos anos naquele mundo incrível com a família adotiva, mas estava orgulhosa de ver o quão longe Kevin Lyman tinha chegado, revelando novas bandas e consagrando as mais conhecidas. Qualquer pessoa envolvida com o rock, pop punk e punk, sabia o quão importante aquele festival era e principalmente a banda espalhada pelo ônibus, mexendo em seus celulares ou fazendo qualquer coisa que passasse o tempo mais rápido. O Just Kids tinha se lançado em uma Warped Tour, na mesma em que ela tinha conhecido e começado uma amizade linda que já durava bons 15 anos.
-Estamos entrando no estacionamento. - Jean, o guitarrista da banda esticou o pescoço pela janelinha do ônibus e se acomodou um pouco mais no sofá, mostrando que não ia nem a pau, descer naquele calor sem fim. - Quem vai confirmar a vaga dessa vez? - ele passou a mão pela cabeça careca e automaticamente os olhos de , Franccie e Seb, se voltaram pra .
-Nem a pau! Tenho uma porrada de coisa pra resolver, isso é com vocês. - a mulher disse ajustando o ponto na alça do tope que usava.
-Nem olhem pra mim! Já fiz isso na cidade passada, vocês que se resolvam. - Franccesca ajustou os fones no ouvido e aumentou o volume do celular, restando apenas e Sébastien na decisão.
Os dois homens adultos, na faixa dos trinta e poucos anos, decidiram quem iria confirmar a vaga do ônibus na base do par ou ímpar, sabendo que tinha ganhado a chance de ir, quando o vocalista e baixista do Just Kids, soltou um palavrão indignado. Ele sempre dizia que não tinha sorte pra cadastrar o ônibus e acontecia algo de errado.
-Boa sorte, cara! - o deboche escapou da boca de um dos integrantes e o mostrou o dedo médio. Levantou do banco e ajeitou a camiseta no corpo, segurando na bancada pelo sacolejado que o ônibus deu ao estacionar.
-Estou indo, mas qualquer coisa eu chamo você, freak! - o homem apontou pra gerente de turnê e ganhou um beijinho alado cheio de deboche, acompanhado da risada estrondosa da melhor amiga.
-Não vai fingir que é o Charles, loser! - soltou um gritinho pela piada interna que acompanhava os dois há tanto tempo e também ganhou o dedo médio dele em riste, mas os dois acabaram rindo igual duas crianças, enquanto descia pela porta do ônibus pra ir reservar mais um dia de vaga na última tour.
A Tour que mudaria a vida dos dois pra sempre.
The lost, the geeks, the rejects, the losers
The wrong, the freaks, the hopeless, the future
The lost, the geeks, the rejects, the losers
The wrong, the freaks, the hopeless, the future
The rest of us
To all the ones that never felt they were good enough
coçou a cabeça mais uma vez, respirou fundo e levantou da cama que ocupava no quarto de hóspedes na casa do irmão mais velho. Estava na Califórnia há um ano pra estudar música na UCLA, tinha sido a maior alegria para seus pais, seus irmãos mais velhos e até o vô Pedro tinha entrado em euforia por saber da carta de aceite do neto. O rapaz deu uns pulinhos desesperados tentando reter toda a coragem necessária para conversar com Perseu, mas só sentia a vontade de fugir, crescer.
-Seja homem! - ele xingou a própria postura e enfiou as duas mãos entre os cabelos, sacudiu a cabeça. - Merda, o Percy vai me matar quando eu falar. - engoliu o choro e decidiu que faria aquilo como quem se arranca um curativo.
Ele saiu do quarto pequeno no apartamento e ouvindo as risadinhas incessantes de Pennelope, sua sobrinha, não pode deixar de rir junto. Ela só podia estar vendo aqueles desenhos infantis na TV, enquanto Percy fazia o almoço ou o que quer que fosse dentro daquela casa. Tinha sido uma barra imensa receber Penny no colo quando ela tinha apenas dias de vida, mas o mais novo ficava bem mais aliviado em saber que o irmão mais velho não estava sozinho naquela, principalmente quando tinha ajuda de Atena pra criar a pequena Pennelope.
-TITIO! - a garotinha gritou ao ver saindo do corredor e o garoto soltou um grito animado, assim como ela, abraçando a criança com força como se fosse um bicho de pelúcia gigante.
-Bom dia, moleque! - Percy sorriu atrás do balcão. - Você pode me ajudar aqui? Fui dar o lanche dessa pestinha e ela sujou tudo.
-Claro… - o rapaz beijou a cabeça da sobrinha e respirou fundo. Era agora! - Cadê a Atena? - ele fugiu dos próprios pensamentos, indo na direção da cozinha pequena no apartamento. Estava ansioso pra que Percy fechasse logo o negócio na casa em Malibu, já que a produtora estava mais foda do que nunca e o irmão não tinha um minuto de sossego na caixa de e-mail. Como sua mãe sempre dizia: “Seria um ótimo lugar pra criar a Pennelope”.
-Ela tem casa, . - o outro soltou uma risada. - Mas acho que vem ver a Penny mais tarde e falar como foi a apresentação do livro pra editora. - Percy disse enquanto equilibrava duas panelas fumegantes e segurava a boca pra não soltar qualquer palavrão até que o mais novo o ajudou.
-Aposto que eles vão gostar pra caramba do livro dela. - soltou um suspiro pesado e ganhou uma careta do irmão.
-Desembucha!
-Queria te contar uma coisa também. E… na verdade, eu já decidi, mas sei que a mãe e o pai vão me matar quando eu contar, então eu preciso de proteção. - a frase saiu extremamente atropelada pela rapidez, sendo finalizada com um sorriso trincado. Perseu se limitou a suspirar e desligar o fogo do fogão. O que merda tinha feito?
-Vai, . Desembucha!
-Eu vou largar a faculdade! - o curativo tinha sido arrancado de vez e trouxe alívio para os dois homens na cozinha pequena. por ter colocado tudo pra fora e Percy por escutar algo que já esperava. Já sabia que seria puxado pro mundo comercial da música assim como Charles foi. - Pra me dedicar ao Just Kids, você sabe… Eu, a Franccie, o Seb e o Jean estamos tendo um bom avanço e temos contrato pra tocar naquele bar aos fins de semana. Eu consigo me manter, eu juro!
Um suspiro audível foi dado pelo mais velho assim que ele se escorou na bancada.
-Quer merda, garoto. Eu achei que você tinha engravidado alguém. - o mais velho passou a mão pelos cabelos escuros e ouviu a risada estridente e nervosa do irmão caçula. - Idiota! - ele se deixou levar pela risada.
-Nem f… - ele cortou o palavrão no meio ao ver os olhos arregalados na sua direção. Penny estava em casa, nada de palavrões pesados. - Nem a pau! - os dois respiraram aliviados. - Você não vai brigar?
-Eu já esperava, . - Percy bagunçou o cabelo do irmão. - Já esperava que você fosse ser puxado pro mundo comercial da música como o Charlie e eu prometo que a gente vai conversar com a mãe e o pai, além de lançar o Just Kids direito no mercado.
-MEU DEUS! VOCÊ É FODA, PERCY! O IRMÃO MAIS FODA DO MUNDO!
I wanna hear it for the chased and confused
Aquela seria a última vez. A última vez que ela provavelmente veria a família reunida, que estaria em meio a uma festa genuinamente animada, incrível, cultural e familiar como aquela e embora fugir no meio do casamento de sua prima não fosse a mais inteligente das escolhas, era o conselho que sua avó havia lhe dado. Seria o adeus a tudo que tinha vivido desde que nascera, mas no momento era tão necessário como respirar.
A garota pegou a bolsinha pequena com alguns dólares americanos que a sua avó tinha lhe dado, junto a um feitiço de proteção, e enfiou-a no cós da calça jeans, colocou um medalhão com uma pedra esmeralda bem lapidada que pertencia a família, em volta do pescoço e a mochila com algumas peças de roupas nas costas, mas nada que denunciasse sua cultura ou de onde ela vinha. Eles ainda eram tão hostilizados pela sociedade moderna.
-Ok, . Esse é o seu novo nome e essa é a sua nova língua! - ela disse em um inglês cheio de sotaque, enquanto declarava aquilo para o vento e para a lua cheia tão grande que lhe iluminava. - Me ajude, mãe Lua, eu preciso de sua ajuda! Eu sei que você vai me guiar de volta um dia, se eu precisar. - a garota sentiu as lágrimas nos olhos e enxugou-as com as costas da mão. Levantou o capuz do moletom e deixou o acampamento tomado pela festa animada e barulhenta.
Os passos rápidos a ajudariam a estar o mais longe possível daquele bosque antes que dessem na sua falta. Quem em sã consciência ficaria presa em um acampamento e a uma vida nômade quando tinha sonhos e metas a serem alcançadas. A música era sua grande paixão, trabalhar com instrumentos, tocar pra pessoas, entender como todas aquelas canções que passavam no rádio de pilha eram produzidas e lançadas. E seria impossível realizar tudo isso se ficasse presa àquela realidade com um casamento praticamente arranjado para quando completasse 18 anos e um destino completamente diferente traçado em sua mão. Vovó aurora era a maior bruxa do acampamento e tinha lhe dito com todas as letras que ela não tinha nascido pra se casar dali três anos.
era muito maior do que tudo aquilo e iria seguir o seu destino a risca, nem que fosse necessário fugir das suas origens.
Dois mil e quatro.
O estacionamento do parque do festival era imenso e dividido por lotes, aos poucos os ônibus iam chegando por lá e as equipes do crew principal ia organizando e cadastrando as bandas pra que eles pudessem estacionar e montar suas tendas. Kevin Lyman era bem conhecido por sua organização e planejamento impecável, algo que estava passando para suas duas filhas, Savannah, a biológica e , a garota que ele e a esposa tinham “adotado” depois de ela ter aparecido perdida na Warped do ano anterior e mostrado que queria mesmo um futuro na música. Ela tinha trabalhado durante todo o verão com o crew estagiário e se esforçado bastante pra mostrar o quanto ela merecia mais uma chance, conseguindo gloriosamente.
Naquele ano, o festival ia ser um dos mais insanos, pois a proposta era apresentar bandas novas e pouco conhecidas ao maravilhoso mundo do pop punk. e Save estavam animadas pra conhecer todo o pessoal, trabalhar junto com os pais e vivenciar o melhor verão de todos, antes de voltar para o último ano de colegial. Kevin tinha dado as duas, a responsabilidade de organizar, treinar e coordenar a equipe que cadastraria os ônibus das bandas no estacionamento de apoio e apesar de ser algo grande, o homem sabia que a dupla faria da melhor maneira possível.
e Save dividiram o estacionamento em dois lotes e cada uma delas com sua equipe de estagiários, seguiram para a maratona de registrar os ônibus. Savannah já conhecia a maioria das bandas ali e tinha até amizade com algumas delas, já estava encantada com a quantidade de gente que ela tinha visto nos canais de clipe, junto com a melhor amiga. Só em um espaço de trinta minutos tinha conhecido Good Charlotte, Simple Plan e estava surtando pela simpatia das pessoas.
Olhou na lista quem seriam os próximos e seguiu pra vaga onde o ônibus do Addicted To You estava. Pelo que ela tinha visto, a banda era a aposta das gravadoras para a nova era do pop punk, junto com mais uma porrada de outras que estavam ali e ela não duvidava nada, nunca superaria as letras profundas e o som tocante.
Passou pela vaga cadastrando a banda em sua prancheta e ficou feliz em ter sido bem recebida por eles, que já tiravam o material do container, provavelmente pra montar as tendas, cadeiras e afins pra se instalar ali. decidiu ser rápida com o cadastro, mesmo que a banda fosse uma das suas preferidas. Charles lhe ajudou com a papelada, conferiu as informações e logo após ver que estavam todas certas, assinou o registro de muito bom grado, agradecendo a moça em um ato de educação.
Alex era o integrante preferido de e ela ainda conseguiu trocar uma palavrinha animada com ele, antes de se despedir e seguir a outra fila de ônibus no estacionamento.
Alguns ônibus passados e sua lista de bandas quase completa, a moça passou para o último ônibus da última fileira. Deu check no nome do Just Kids e foi na direção da porta do veículo
-Oi, eu sou a . Sou do Crew de organização e vim cadastrar o ônibus de vocês. - a garota falou animadamente e levantou a cabeça, dando de cara com o cara que tinha cadastrado há pouco. Ela fez uma careta confusa e olhou pra ele com a maior interrogação na testa.
-Ah, oi! O que a gente precisa pra cadastrar? - o rapaz parecia mais eufórico do que antes ao perguntar e inquieto também. Aquilo era muito comum em quem estava mentindo. Inquietação. - Precisa de algum documento nosso ou da banda?
olhou para a lista na prancheta e fez uma careta. Ela estava mesmo no lugar certo ou tinham lhe pregado uma peça? Não, não, ela estava fazendo tudo certinho, por certo era o rapazinho do ônibus anterior querendo lhe pregar uma peça.
Como era mesmo o nome dele?
-? - ele chamou meio confuso e recebeu a atenção da garota de pele cor de oliva. Aquela era uma denominação certa? Bom, ele não sabia, mas a garota tinha uma cor bronzeada de quem tinha ficado umas boas horas no sol. - Esse é o seu nome, não é?
-Sim, moço. Mas já passei pelo seu ônibus ali atrás. - a garota virou o corpo apontando na direção contrária.
-Não passou, não. - começou se apavorar com a aquela história, não podia perder a chance da sua vida musical e se perdesse, teria uma fila imensa de gente querendo lhe matar.
-Claro que passei, foi você que falou comigo… - suspirou exausta e procurou mais uma vez o nome dele na prancheta, não tava com muito tempo pra ficar de brincadeira com vocalista de banda.
-Não foi não, moça. Pelo amor de Buda, me ajuda. É minha primeira Warped com o Just Kids e eu não posso perder, ou vão me matar na base do tapa! - o rapaz de cabelo preto falou em completo desespero, sentindo as pernas começarem a formigar e cogitando a ideia de chamar alguém da banda pra lhe ajudar com aquilo antes que tudo estivesse perdido.
coçou a cabeça e se deu por aliviada ao encontrar o nome na sua lista.
-Eu não tenho muito tempo, Charles, por favor. Tá uma confusão com vários ônibus chegando ao mesmo tempo e precisamos cadastrar todos. Você pode chamar alguém do Just Kids? - ela tentou ser a mais simpática possível.
-Puta merda! - ele enfiou as mãos entre os cabelos e suspirou aliviado. - Charles é meu irmão, eu sou o , moça. !
-E aí, ? Já resolveu o cadastro? - outro rapaz do cabelo claro saiu pela porta do ônibus, cumprimentando com um sorriso animado. - Oi! Eu sou o Seb, é nossa primeira Warped Tour!
O rapaz loiro, que agora tinha nome, mostrou o companheiro de banda com a mesma animação que havia cumprimentado a garota e incitou no amigo a expressão de obviedade sobre o ser o e não o Charles.
-Vocês são irmãos? - a incredulidade da moça era fora do normal.
Porque primeiro: eles eram gêmeos?
Segundo: como eles eram irmãos e não estavam na mesma banda? Nunca tinham ouvido falar dos gêmeos Maden?
-Sim, eles são! - Sebastien soltou sem entender bem a problemática ali e deu um tapinha no ombro do melhor amigo e companheiro de banda.
-Ah, ok… - sentiu o rosto empalidecer. Será possível que era uma bagunça até naquilo? - Desculpa o mal entendido. É que vocês são muito parecidos, iguaizinhos. - ela coçou a cabeça, impaciente com a situação. - Desculpa mesmo!
-Tá tudo bem, ! - respondeu aliviado em ter tudo se esclarecido e escorou na lataria do ônibus esperando que ela começasse sua ficha de cadastro. Logo ela havia terminado de preencher os campos e assim que o rapaz assinou, a moça deu um sorriso fechado e sem graça, fugindo dali o mais rápido possível.
Ela tinha passado a vergonha do século, mas dava graças a Santa Sarah Kali em saber que não o veria mais com tanta frequência.
I'm okay, I'm okay
Kinda being awkward socially
With the fact, with that girls
Don't lose their shit when they look at me
-E aí, vamos dar um perdido no pai hoje? - Save empurrou a melhor amiga de lado e ouviu a gargalhada da garota. - Qual é ? - a moça usou de manha pra tentar convencer a melhor amiga. - Olha o tanto de show bom que a gente pode ver do palco só por causa dessa belezinha! - a moça balançou o crachá de crew da organização, despertando gritinhos animados da outra.
-PELA LUA! Eu só estava esperando você falar isso. - Ramanush fez um toque de mão com a outra. - Cadastrei umas três bandas novas no estacionamento e caramba, a gente tem que ver se eles são bons mesmo.
-Eu sei! - Savannah soltou um gritinho. - Acho que a gente pode ir pro Teal Stage pra ver o Simple Plan e o New Found Glory.
-FECHADO! - as duas bateram o quadril de lado enquanto atravessavam o parque pela primeira vez naquele dia.
As duas já tinham checado os dois estacionamentos, cadastrado as bandas novas, dado baixa nas que já haviam feito sua participação e se o Lyman pai não precisasse de mais nada, elas estavam livres pra aproveitar o dia, fazer novas amizades e encontrar amigos antigos, mas sem esquecer das regras básicas:
1- não sair do parque com ninguém;
2- sempre atender ao telefone e aos pontos;
3- nada de bebidas alcoólicas ou vindas de estranhos;
4- não viajar no ônibus de banda nenhuma.
O verão estava de matar e não era recomendado sair de dentro dos ônibus sem ao menos um boné ou chapéu de proteção, além do protetor solar, as roupas leves e um tênis confortável. Esse era, definitivamente, o melhor look pra aguentar o sol queimando no topo da cabeça.
As duas continuaram a caminhada na direção de onde estavam as tendas das bandas maiores e puderam ver uma grande movimentação de fãs tentando falar com seus ídolos, além de algumas pessoas tentando fazer o próprio marketing com CDs nas mãos e cartazes imensos colados ao peito.
-Sabe o que eu acho legal? - falou pra amiga e acenou para algumas pessoas que as duas já conheciam. Save soltou um resmungo de afirmação. - As bandas começam vendendo CD assim no meio do povo e acabam nas tendas que nem a Good Charlotte, Addicted To You, Simple Plan…
-SIM! - Savannah soltou um gritinho encantado. - Eu vi a maioria desse povo vendendo CD aqui, amiga. Te juro, e fico toda orgulhosa vendo o quanto eles cresceram. - a moça apertou o braço da amiga de leve e ouviu um gritinho empolgado.
-É massa né? - a garota suspirou, sendo surpreendida com uma mão na sua frente segurando um CD com um encarte de papel preto, um quadro branco fino e a silhueta de um skatista também em branco, mas não conseguiu ler o nome da banda pela rapidez que a mão sacudiu o papel. Identificou apenas o nome do álbum: "HOMECOMING".
-Oi, moças bonitas! - a voz do rapaz chamou sua atenção, fazendo-a olhá-lo de uma vez. Era o ! O moço que ela tinha confundido mais cedo. Os dois riram com o reencontro no meio do parque e pelo sorriso esperto nos lábios de , percebeu que ele tinha parado as duas de propósito. - Já conhecem o Just kids?
-Charles! – ela decidiu brincar com o nome trocado e viu o rapaz bochechudo fazer uma cara de nada.
-É ! – ele corrigiu, fazendo o amigo que estava do lado, rir.
Só aí percebeu que o garoto que desceu animado do ônibus (era Seb, não era?), estava junto com vendendo os CD’s a cinco dólares. Ele acenou sorridente pras duas e se apresentou a Savannah como “Oi, eu sou o Seb”. Ok, tinha rolado um encanto ali, principalmente quando Save ajeitou o cabelo atrás da orelha.
sorriu satisfeita e meteu a mão no bolso procurando uma nota pra pagar a pelo CD. Tinha gostado da capa e de todo o designe, então a banda deveria ser tão boa como o Addicted To You, Simple Plan e outras inúmeras outras que tocaria naquelas semanas.
-É um presente! – disse quando viu a garota procurar por algo nos bolsos e ela sorriu grata. Um sorriso largo e bonito. – Nosso show é hoje as 2pm, vai que você gosta da música e lembra meu nome de vez. – o rapaz piscou, arrancando uma risada dela que começava a sentir as bochechas esquentarem.
-Vemos vocês lá? – Sébastien se meteu na conversa, embora olhasse diretamente pra garota ruiva e com o cabelo chamativo ao lado da mais nova amiga de . Savannah tinha nascido loira, mas nunca se conformara com a cor sem graça, na opinião dela, do seu cabelo, então já o deixava ruivo desde que tinha completado idade pra pintar com outras cores.
-Com certeza! – Save respondeu animada, mas já puxava na direção dos palcos onde encontrariam Kevin. Acenaram mais uma vez para os rapazes e saíram aos pulinhos com a promessa de que aprenderiam as músicas pra cantar nos próximos shows.
-Olha, o Seb ficou interessadíssimo em você. – cutucou a melhor amiga, vendo-a negar com um aceno de cabeça, mas mesmo assim prender um sorriso. Save também tinha gostado dele, AHÁ!
-Pelo visto não só eu né, senhorita “vai que dessa vez você lembra meu nome”? – a ruiva debochou e a outra riu, empurrando ela de leve.
-Eu fiz aquilo de propósito. Confundi ele com o irmão na hora de cadastrar os ônibus. – a moça fez uma careta desgostosa, mas acabou rindo junto com Savannah. – Foi um desespero! Mas acho que... – ela deu de ombros. – Consegui mais alguns amigos?
-Isso é maravilhoso, ! – Save apertou-a em um abraço orgulhoso. – Antes da gente correr pro palco: o amigo do seu namoradinho é o maior gatinho!
- não é meu namoradinho. Que coisa! – ela esbravejou indignada. O garoto era bonito? Claro! Mas não tinha nada de namoradinho. – Por que você não gasta sua boca dando uns beijinhos no Seb? – a garota fez um barulho de beijo exagerado e foi empurrada pela melhor amiga, antes que Save saísse correndo com logo atrás mandando-a esperar.
Ohh, I know why I'm not alone
So turn the music up and let go
Já havia passado um mês desde o início da Warped Tour e duas semanas que tinha conhecido e toda a trupe do Just Kids. Ela e Save nao faziam mais outra coisa que não fosse terminar o trabalho o mais rápido possível e ir curtir com os novos amigos. Pra Ramanush, o garoto mais novo do trio de irmãos , tinha se tornado um dos seus melhores amigos e ela nunca iria entender como tinham uma ligação tão forte com ele que não fosse movida por sentimentos românticos.
Era tudo platônico e era realmente incrível!
Já Save e Seb, não pareciam nada platônicos e pelo quanto andavam juntos, poderia jurar que já tinham até dado alguns beijinhos, embora Savannah negasse de pés juntos que havia chegado perto da boca de Sébastien.
A garota riu sozinha só em saber que a melhor amiga estava mentindo e apressou um pouco mais o passo dentro do parque. Eles estavam na fronteira com Toronto e o dia tinha sido insano, felizmente o próximo seria day off pra que todo mundo pudesse descansar daquela rotina louca. O sol queimava as últimas horinhas de dias claros e escurecia o céu que ganhava um tom roxo após o alaranjado.
tentou, mais uma vez, contato com o pai adotivo pelo walkie talkie e bufou ao não conseguir um sinalzinho sequer.
-RAMANUSH! - gritou, fazendo-a virar de uma vez pra vê-lo encostar ao lado dela com uma moto. O modelo parecia ser uma daquelas de motocross, mas adaptada para o asfalto. Desde quando ele tinha uma moto?
-Desde quando você tem moto? - ela soltou uma risada e continuou andando enquanto o rapaz acompanhava sua velocidade.
-Não tenho, é do Charles. - o filho mais novo dos levantou o capacete, deixando a proteção do queixo na testa e riu. - Ele meio que me emprestou. Quer uma carona, gatinha? - o rapaz piscou em flerte, fazendo-a soltar uma risada estrondosa.
-Pra onde você vai, gatinho? - ela zoou o apelido e rolou os olhos, parecia meio impaciente.
-Até onde você precisa ir? - ele mordeu a parte interna da boca. - Ou até a cidade vizinha! - o garoto deu de ombros. - São só três horas de viagem, não é como se fossem surtar dando na falta da senhorita! - o caçula dos estendeu o capacete pra ela.
-Eu estou indo procurar o Kevin, . E não posso sair do parque sem a au… - interrompeu a frase no meio ao dar na presença de uma figura mais ao longe.
O homem era alto, de pele escura como a dela, cabelos arrumados em um topete baixo e barba cheia, pelo que ela conseguia ver há 10 metros de distância, mas não havia mudado nada desde a última vez que ela o vira no começo do verão passado. De repente o estômago começava a revirar, o medo tomar suas entranhas e o desespero pegar seus pulmões com força. Por que ele tinha voltado para procurá-la? Sua avó não disse que o seu destino era bem longe de lá? Ele não podia aceitar que ela estava tentando viver uma vida diferente?
-… - sacudia a mão em frente aos olhos da moça, como se tentasse acorda-la do transe e de repente, Ramanush tomou um susto e no mesmo pique, o capacete da mão dele. Enfiou o equipamento de proteção na cabeça sem pensar duas vezes, embora tenha deixado confuso.
Ela procurou a frequência de Savannah no aparelho de comunicação e tão rápido quanto respirava, falava uma história estranha e em francês, envolvendo as expressões "meu pai", "ele não pode me ver" e "preciso sair daqui".
-Me tira do parque agora! - a moça ordenou diante de tanto desespero e ouviu a risada baixa do amigo.
-Você não precisa da autorização do Lyman? - ele perguntou enquanto já baixava o capacete na cabeça e embora soubesse que era errado, por ser menor de idade, adorava o espírito aventureiro dela.
-, não pergunta! Só me tira daqui, por favor. - ela pediu enquanto mirava o homem adulto mais a frente, que parecia desesperado com um pedaço de papel na mão e interrogava as pessoas.
-Sobe aí! - ele puxou o acelerador na intenção de fazer apenas barulho, enquanto subia na garupa.
A garota respirou fundo, segurou no tronco dele com os dois braços e rapidamente, saiu com a moto o mais rápido que pôde, fazendo passar por Ramon como uma flecha que rasgava paralela ao alvo e não o atingia. Aquele foi o momento em que a moça sentiu tudo ficar em câmera lenta à medida que via de relance, o rosto do seu pai biológico se perder pela multidão. Não muito tempo depois os dois tinham pego a rodovia para a próxima cidade e agora, devagar, estava cheio de curiosidade sobre a conversa que tinha tido, em francês, com Savannah pelo walkie talkie.
-Eu sou canadense, sabe? - o garoto soltou em francês como se não quisesse fazer pressão. - Então eu meio que entendo de francês.
Naquele momento, sentiu ficar rígida as suas costas, provavelmente nervosa ou com medo.
-Não quero falar sobre isso. - ela respondeu também em francês.
-Tudo bem, mas eu estarei aqui pra quando você quiser e precisar. - a mansidão na voz dele era um agrado ao coração apertado dela e a moça aproveitou para o abraçar em agradecimento. Um gesto silencioso, mas que exalava gratidão e amizade.
I confess, I'm a mess
I'm perfectly disfunctional
But I don't give a damn
Os dois tinham chegado na próxima cidade em menos de 3 horas, agradeceu a carona e disse que iria ligar pro pai, Lyman, avisando o que tinha acontecido. Não demorou muito pra que a organização, ou uma parte dela chegasse ao parque, autorizando a entrada dos dois jovens que se despediram brevemente, enquanto sentia seu coração bater forte no peito depois da fuga. O rapaz respirou fundo, sacudiu o cabelo e escorou na moto, esperando que o resto dos ônibus chegasse e junto deles, seu irmão do meio que era um porre de chato quando bem entendia.
-QUAL A PORRA DO SEU PROBLEMA? - Charles esbravejou indignado com a cara de paisagem do irmão ao esperar escorado a moto.
-Charlie, eu... - começou a falar pra tentar se explicar, mas foi interrompido pela voz embravecida do irmão.
-Você nada, moleque irresponsável! Sabe a porra da preocupação que a gente estava? - o outro enfiou as mãos nos cabelos e reprimiu um grito irado. – Eu liguei desesperado pro Percy, por que você simplesmente tinha sumido, ! Nós não estamos no estado da Califórina, garoto, você não está em casa! – Charles coçou a cabeça meio apavorado e recebeu um afago da esposa, no ombro. Theresa sabia que brigar e brigar não ia resolver muita coisa, mas admitia que tinha ficado tão apavorada quanto ele.
-EU NÃO SOU CRIANÇA, NÃO ME CHAMA DE MOLEQUE! – se irritou de vez com toda aquela briga sem sentido.
Por que todo mundo lhe tratava como se ele fosse um bebê chorão? Ele já era um homem feito, custava lhe respeitarem daquela forma? As vezes era um belo saco ter dois irmãos mais velhos extremamente conhecidos e que pegavam no seu pé mais do que seus próprios pais.
-Aqui você é, inferno! – Charles estava tão bravo quanto ele, mas achou melhor não gritar, ou pareceria que os dois estavam trocando juízo no meio do estacionamento. – Aqui você tá sob minha responsabilidade. NÓS NÃO ESTAMOS NO CANADÁ, PORRA! – ele não tinha aguentado reprimir e talvez lhe escutasse.
-Ok, ok, garotos. – Theresa se meteu na discussão. – Sem gritos! Nós estamos no meio de um estacionamento e tem várias bandas olhando pra vocês dois aos berros. Vamos nos acalmar e conversar, pode ser?
-NÃO SE... – começara a gritar com ela também, mas interrompeu a frase no meio por perceber que se tratava de Terry, uma das pessoas que intercedia por ele e ainda ajudava quando precisava. E outra, Charles parecia prestes a voar na garganta do irmão mais novo se ele continuasse com aquela gritaria de ataque pro lado da moça que tentava ajudar os dois. – Desculpa, Terry, eu não quero e não vou gritar com você. – o vocalista do Just Kids coçou a cabeça por baixo da touca, se sentindo extremamente envergonhado por ter alteado a voz pra ela.
-Tudo bem, . Só conta por que inferno você saiu sem avisar a ninguém e pegando a moto escondido. – ela suspirou. Nem queria imaginar quando seu bebê de 4 aninhos tivesse a idade do cunhado mais novo.
coçou a nuca mais uma vez e trocou o peso do corpo de uma perna pra outra. Precisava confessar que tinha sido uma ideia fodida pegar a moto escondido e viajar de uma cidade pra outra sem avisar a ninguém, além de que ainda estava com a na garupa. Merda! Que diabo de desculpas ele daria? O rapaz abriu a boca uma vez, duas, três e não conseguiu falar qualquer mentira pra matar sua culpa. Ok, era melhor contar a verdade. A verdade que envolvia o “roubo” da moto, na verdade, não a que envolvia o fato de ele estar imensamente encantado por uma garota de 16 anos, tão esquisita quanto ele e que, aparentemente, fugia do próprio pai.
-Tá, então... – o mais novo mordeu a boca, recebendo olhares curiosos.
-Desembucha, porra! – Charles já se mostrava sem paciência para aqueles joguinhos.
-Eu só achei que... sei lá, Charles. Eu quis fazer uma loucura de juventude, é proibido agora?
-Sim quando você tá com a filha do Lyman na garupa! – o outro grunhiu indignado com a cara de pau do irmão em esconder aquilo. – A garota tem dezesseis anos! DEZESSEIS!
-Eu sei a idade da , ok? Ela é minha amiga! – fez um imenso bico indignado, enquanto o irmão arqueava a sobrancelha quase pro meio da testa.
Amiga? Ele tinha feito aquele escarcéu todo escondido porque considerava a garota uma amiga? tinha quantos anos pra ter amiguinhas? Sete??
-Estamos todos bem, Charles. Não precisa surtar, você não é meu pai! – ele rolou os olhos possesso em ter se entregado daquele jeito.
-Hey! – Theresa repreendeu. – ? – ela olhou pra ele como se o rapaz fosse um dos seus dois filhos, o Eliot, de 4 anos. Exigia desculpas mutuas nem que fosse preciso dar umas palmadas nos dois irmãos.
-Eu não sou a Leonor, Theresa! - bufou como se fosse a garotinha geniosa, mas só conseguiu um olhar incisivo da cunhada, além da risada superior do irmão do meio. - Seu marido é um belo cuzão.
-! - ela o repreendeu novamente, ouvindo o rapaz bufar indignado.
-Desculpa, Charles. Eu não deveria ter pego a moto escondido e nem viajado de uma cidade pra outra sem avisar a ninguém. - ele disse ainda indignado com a cena do irmão achando que se livraria daquela. – E nem levado a na garupa.
-Obrigada, ! - Terry sorriu pro caçulinha dos , mas aí virou pro marido e com certeza iria fazer o mesmo com ele. - Amor? - foi a vez de cruzar os braços e abrir um sorriso debochado. Ele definitivamente amava sua cunhada.
-Anjo! - o vocalista do Addicted To You suplicou como se estivesse sendo cobrado na frente dos filhos. - Você é um bebê chorão.
-Charles. - ela estava sendo tão dura quanto antes.
O homem puxou fôlego e com seu ego de pai ferido, pediu desculpas ao irmão mais novo de forma bem sincera.
-Desculpa, . Eu sei que você não é criança, muito menos um moleque irresponsável. - ele coçou a cabeça. - Mas fiquei preocupado sim, porque aqui nos Estados Unidos você ainda é menor de idade para algumas coisas e está sob... – ele parou por um tempo, alegar responsabilidade sobre um marmanjo de 20 anos, era, no mínimo, uma falta de respeito. O outro já era adulto e sabia muito bem o que fazia, embora Charles tentasse cuidar ao máximo da imagem do caçulinha, afinal sabia como o mundo da música era difícil. – Eu só não quero que você se ferre aqui dentro da Warped. É seu primeiro festival grande, moleque, quero que você brilhe! Arrase com tudo e vá longe! Desculpe ter tratado você como se fosse o Eliot, mas é porque me sinto responsável por e te amo.
Por aquela, o rapaz não esperava. Sempre tinha tido a sensação que Charles só sabia implicar com tudo que ele fazia e o Percy que era mais maleável com tudo, mas aparentemente era o instinto paterno do irmão do meio que sempre se exaltava em todas as discussões entre os três. Os dois respiraram fundo e finalmente se abraçaram amorosamente depois do pedido de desculpas, deixando Theresa orgulhosa da cena que estava vendo.
-Tenho muito orgulho de você, moleque. - Charles completou. - Mas sempre vou pegar no seu pé pra te manter na linha.
-Também te amo, Charlie! - o mais novo apertou o irmão no abraço.
Dois mil e onze
Mais um ano se iniciava com a tão esperada warped e o line up daquele dia estava um dos mais insanos. Os ônibus chegavam aos montes no estacionamento em San Diego e os fãs também. O sol da california nao perdoava e nem mesmo assim, o público era menos fiel.
soltou uma risadinha esganiçada ao ver o pessoal trabalhando como havia sido treinado, orgulhosa em ver o crew estagiário tão bem comandado por uma das garotas que ela tinha treinado naqueles anos acompanhando o pai pelas estradas. O verão realmente prometia ser o melhor de todos! Ela cumprimentou algumas pessoas que já eram figurinhas carimbadas no festival, ganhou abraços calorosos de outras e fingiu estar fiscalizando o trabalho do pessoal, quando na verdade, ela esperava seu melhor amigo chegar naquele estacionamento e tornar tudo mais animado. Estava realmente louca e ansiosa pra ver , poder abraça-lo, gritarem feito loucos e se zoarem como sempre.
De acordo com os lotes divididos, ela estava no lugar certo e nao demoraria muito pra que o ônibus encostasse por ali em poucos minutos. Dito e feito, o gigante já atravessava o lote e se posicionava pra entrar na vaga. Ela deu um pulinho animado e assustou o rapaz que estava com a prancheta, os dois riram da cena.
-Me empresta sua prancheta? Quero cadastrar esse idiota. - esticou a mão e conseguiu os papeis de bom grado, deu uma lida rápida pelo formulário e percebeu que nada estava diferente. Mais à frente, já aparecia pelo para-brisa escuro do ônibus com uma bela cara de poucos amigos, mas abriu um sorriso imenso ao vê-la com a maior cara de deboche.
A porta automática abriu e o rapaz deu um pulo no chão, não contendo o sorriso largo ao finalmente vê-la depois de uns bons meses.
-Hey, freak! - ele cumprimentou com o apelido de costume.
-Hey, loser! - ela fez o mesmo e não contou conversa pra dar um abraço caloroso no amigo. O rapaz envolveu os braços pela cintura dela e tirou-a do chão, enquanto sentia os braços de lhe apertar os ombros pela força com que ela lhe abraçava. - Que saudade!
-Eu sei, porra! Você sumiu. - o vocalista do Just Kids colocou a garota no chão e ainda fez um biquinho inconformado.
-Sumi porra nenhuma, estava em Minessotta com o pai desde o começo do verão. Você sabe, organizando os rolês da Warped! - empurrou a prancheta pra ele, ainda mantendo um sorriso imenso no rosto. - Assina aí logo!
-Apressada! - pegou os papeis, deu uma lida rápida como de costume, só pra checar se as informações estavam corretas enquanto ia cumprimento o restante da banda que saía apressada do ônibus. - Aqui, Ramanush! - ele entregou.
devolveu a prancheta ao rapaz e agradeceu com um sorriso, voltando a conversa que estava tendo com o melhor amigo.
-Não sei se você sabe... - ele abriu um sorriso presunçoso, mas que era até engraçado. - Vamos tocar durante TODO o festival! - o gritinho histérico deixou tão animada quanto.
-EU SEI! Vai ser insano, incrível! Eu estou muito orgulhosa de você, idiota! – ela abriu um sorriso imensamente orgulhoso. – Você viu que o Simple Plan vai gravar o video de The Rest Of Us aqui na warped? É nossa música, ! - a garota sacudiu o braço dele com força, ouvindo uma gargalhada extremamente satisfeita.
-Advinha quem vai fazer uma participação no vídeo? – o vocalista do Just Kids empinou o nariz e ouviu mais gritos ensurdecedores da garota. – Ai, porra! Meu ouv
ido!
-VOCÊ SÓ PODE TÁ ME ZOANDO! VOCÊS E O SIMPLE PLAN? -SIM, RAMANUSH! – abraçou a moça, tirando-a do chão em um impulso. – Você acredita no tanto que o Just Kids cresceu? Porra, a gente vai tá no clipe do Simple Plan.
-Eles são insanos demais! – a garota estava boquiaberta com a novidade.
-O Charles também ia, mas...
-É... ficamos sabendo do acidente da irmã da Terry. – ela deu um suspiro triste. – Abalou bastante a família né? – a pergunta retórica se fez presente e o rapaz coçou a cabeça, afirmando com um aceno. – Achei que vocês nem vinham esse ano, pra falar a verdade.
-Foi bem de última hora, a decisão de vir, sabe? Charlie não queria que a gente perdesse a chance de tocar durante TODO o festival, então nos convenceu a vir. – ele deu de ombros. – Porque a gente tá crescendo ainda.
-Fico feliz que vocês tenham vindo! – ela sorriu sincera e em um afago, tentou passar segurança ao amigo. Ele sorriu e abraçou-a mais uma vez pela cintura. – Pronto pra viver a Warped mais porra louca da sua vida? – estendeu a mão em um convite silencioso ao que os dois tinham prometido há uns meses. Eles passariam o rodo geral no festival, enquanto se divertiam quando não houvesse amanhã.
O homem fez uma careta desgostosa e coçou a cabeça.
-VOCÊ TÁ NAMORANDO, TRAIDOR?
-QUAL É? – sacudiu pelos ombros. – Eu me apaixonei, isso não é crime! – o rapaz fez um bico fingido, mas foi empurrado de lado pela amiga. Bom, ao menos era uma boa notícia boa, o caçula tinha tomado jeito na vida.
-Eu larguei um namoro e você se apaixona? Valeu aí, universo! – a garota debochou e os dois riram antes de sair se empurrando pra área dos palcos.
A banda canadense, Simple Plan, tinha decidido gravar o videoclipe de The Rest Of Us em vários shows da warped, contato com os fãs e junto com vários outros artistas do mesmo gênero em um conceito muito legal de que eles eram: esquisitos, fracassados, perdedores e tudo aquilo que o mundo atual selava como padrão pra que alguém fosse legal. A canção era uma forma de quebrar todos os paradigmas, mostrando que os antigos perdedores, eram agora, as mais incríveis e insanas pessoas que o mundo já poderia ter visto.
e , xará do Bouvier, estavam na lateral do palco, tinham conseguido o lugar mais do que especial por causa das preciosas credenciais recebidas por serem da organização, ou atração do maior festival do pop punk que o mundo já tinha visto. A ansiedade que inundava os corações apressados era uma das coisas mais gostosas de sentir, principalmente depois que a banda passou por eles, cumprimentando os dois que já eram conhecidos há um bom tempo.
O show seguiu emocionante como sempre e logo , o Bouvier, parou pra anunciar qual seria a última música do show e que seria gravado o videoclipe ali no meio do festival, com os fãs e artistas de outras bandas. Seria um grande videoclipe!
Os primeiros acordes da música foram tocados e a dupla de amigos se animou ao saber de co, a letra que estava prestes a começar.
-I'm okay, I'm okay. Kinda being awkward socially. – começou apontando pro peito, sabia que esperava a deixa dele.
-With the fact, with that girls. Don't lose their shit when they look at me. – ele fez a maior cara de derrotado com algo, que nem de longe, era verdade.
O cara que já batia perto dos 30 anos, tinha se tornado a sensação de todas as garotas que curtiram o pop punk. Ele e o irmão, na verdade, mas Charles já estava casado há tantos anos que era quase carta fora do baralho. era, definitivamente, o garotão cobiçado pela porrada de garotas daquela era.
-It's okay, it's okay. – os dois gritaram juntos a o começo da parte que os definia bem demais. – That I'm not that good at anything. And I don't hit the notes perfectly when I try to sing. – os dois arregalaram os olhos e sentiram o revirar do estomago quando a música começava a chegar no clímax.
Aquela era a melhor coisa entre os dois, a sintonia e ligação absurda com a música e todos os sentimentos que aquele mundo musical trazia pra todo mundo. Era delicioso compartilhar com alguém que sentia exatamente o mesmo.
- OOOOOH! I know why I'm not alone So turn the music up and let go. – os dois sacudiram as cabeças no ritmo da bateria do Chuck, soltando risadas espontâneas em seguida. – Here's to the rest of us. To all the ones that never felt they were good enough! – e cantaram a plenos pulmões, como se a vida dos dois dependesse daquilo e podiam finalmente sentir o sangue do festival correndo nas veias. Aquela adrenalina surreal tomando cada celulazinha do corpo e fazendo tudo ficar terrivelmente arrepiado. – I wanna hear it for the chased and confused, The freaks. – a garota levantou os dois braços com o apelido idiota. – And the losers! – o rapaz tomou seu posto, enquanto a música tocava ao fundo.
-I'm okay, I'm okay. I don't need to be a billionaire so freaking bad! And my trust fund hopes are looking sad.
Aquela era a parte de e ele sempre fazia a Ramanush gargalhar com sua cara de derrota ao encenar.
-I confess, I'm a mess. I'm perfectly disfunctional, but I don't give a damn If you feel the same let me hear you sing.
sacudiu as mãos como se nao fizesse a mínima ideia do que estava fazendo ali e ganhou um beijo na bochecha, dado bem de surpresa.
-Ohh I know why I'm not alone So turn the music up and let goooo... – os dois se abraçaram de lado ao fim da frase compartilhada.
Aquele foi, definitivamente, o melhor início de festival que os dois poderiam imaginar. A amizade estava mais forte do que nunca, o amor pela música também e a certeza de que eles eram freak e loser, mais do que nunca, deixava tudo ainda mais emocionante. Se algumas músicas poderiam representar sentimentos, The Rest Of Us representava o melhor de e .
We're who we are
I just wanna hear you sing
Ohh, I know why I'm not alone
Dois mil e vinte
O ônibus de turnê entrava mais uma vez pelo estacionamento do parque em Pomona, CA. A última vez que estaria ali pelos shows da warped tour, a última warped que seria realizada por quase todos os estados dos Estados Unidos da América. A última Warped que estaria a frente da banda como gerente de turnê e ela nao estava preparada pra dizer adeus ao festival que mudara completamente a sua vida, muito menos para a banda que tinha lhe posto no mercado como uma das gerentes de turnê mais cobiçadas, mas o contrato já estava no fim.
Era maravilhoso ter trabalhado tantos anos naquele mundo incrível com a família adotiva, mas estava orgulhosa de ver o quão longe Kevin Lyman tinha chegado, revelando novas bandas e consagrando as mais conhecidas. Qualquer pessoa envolvida com o rock, pop punk e punk, sabia o quão importante aquele festival era e principalmente a banda espalhada pelo ônibus, mexendo em seus celulares ou fazendo qualquer coisa que passasse o tempo mais rápido. O Just Kids tinha se lançado em uma Warped Tour, na mesma em que ela tinha conhecido e começado uma amizade linda que já durava bons 15 anos.
-Estamos entrando no estacionamento. - Jean, o guitarrista da banda esticou o pescoço pela janelinha do ônibus e se acomodou um pouco mais no sofá, mostrando que não ia nem a pau, descer naquele calor sem fim. - Quem vai confirmar a vaga dessa vez? - ele passou a mão pela cabeça careca e automaticamente os olhos de , Franccie e Seb, se voltaram pra .
-Nem a pau! Tenho uma porrada de coisa pra resolver, isso é com vocês. - a mulher disse ajustando o ponto na alça do tope que usava.
-Nem olhem pra mim! Já fiz isso na cidade passada, vocês que se resolvam. - Franccesca ajustou os fones no ouvido e aumentou o volume do celular, restando apenas e Sébastien na decisão.
Os dois homens adultos, na faixa dos trinta e poucos anos, decidiram quem iria confirmar a vaga do ônibus na base do par ou ímpar, sabendo que tinha ganhado a chance de ir, quando o vocalista e baixista do Just Kids, soltou um palavrão indignado. Ele sempre dizia que não tinha sorte pra cadastrar o ônibus e acontecia algo de errado.
-Boa sorte, cara! - o deboche escapou da boca de um dos integrantes e o mostrou o dedo médio. Levantou do banco e ajeitou a camiseta no corpo, segurando na bancada pelo sacolejado que o ônibus deu ao estacionar.
-Estou indo, mas qualquer coisa eu chamo você, freak! - o homem apontou pra gerente de turnê e ganhou um beijinho alado cheio de deboche, acompanhado da risada estrondosa da melhor amiga.
-Não vai fingir que é o Charles, loser! - soltou um gritinho pela piada interna que acompanhava os dois há tanto tempo e também ganhou o dedo médio dele em riste, mas os dois acabaram rindo igual duas crianças, enquanto descia pela porta do ônibus pra ir reservar mais um dia de vaga na última tour.
A Tour que mudaria a vida dos dois pra sempre.
The wrong, the freaks, the hopeless, the future
The lost, the geeks, the rejects, the losers
The wrong, the freaks, the hopeless, the future
The rest of us
Fim.
Nota da autora:OI! Eu estava tão ansiosa pra mostrar essa belezura a vocês 💕
Acontece que esses dois amores vão ser nossos próximos pps e eu já estou em polvorosa pra começar contar como os dois se envolveram (no futuro).
Uma nova era, um novo casal e uma nova história pra encantar nossos coraçãozinhos! 😍😍😍😍😍
A Esme e o Pierre, são sem dúvidas, um dos casais que eu mais sou apaixonada!
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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