Finalizada em: 30/12/2020

Capítulo Único

afrouxou a gravata apertada em torno do pescoço assim que pisou dentro de seu apartamento. Apesar de ser uma sexta-feira à noite, ele não estava contente, pois ainda precisava tomar um banho e se arrumar para a festa de final de ano da empresa. Ele odiava seu trabalho, odiava aquelas festas e toda aquela falsa felicidade que seus colegas transpareciam. Porém, ele era o principal advogado da Advocacy Gallingher — maldito dia que ele resolveu seguir a carreira da família e ainda trabalhar no escriório com seu pai — ,infelizmente não existia a possibilidade de inventar uma desculpa e faltar aquela celebração. Ele precisava estar lá.
O botão vermelho piscava no telefone da sala e isso indicava apenas uma coisa: mensagem de voz de sua mãe. Ela era a única pessoa que ainda deixava mensagem de voz, e apenas por esse motivo mantinha o telefone residencial ativo, caso contrário já teria jogado o aparelho no lixo. Apertou o botão e começou a ouvir as mensagens. A primeira falava sobre o casamento de seu irmão, Brian, que estava próximo e ele ainda não tinha confirmado presença — e nem iria, pra ser sincero —; a segunda era sobre as festas de final de ano, apenas mais uma que não iriam comparecer; a terceira e última era para ele não esquecer de cortar o cabelo e a barba, segundo sua mãe, isso o deixava ainda mais velho e com a aparência desleixada. discordava.
Assim que o bip informando o fim das mensagens, seguiu para o seu quarto. O terno preto bem alinhado e sem nenhum resquício de amassado, estava pendurado em frente ao seu guarda-roupa. Ele tinha pedido para sua secretária buscar mais cedo, por mais que não fosse função dela esse tipo de serviço, mas caso contrário não daria tempo de buscá-lo. Pegou uma das dezenas de camisas brancas e uma gravata dentro da gaveta, deixou as duas peças em cima da cama e partiu para o banheiro. Resolveu optar pelo conselho de sua mãe e fazer a barba, o cabelo não estava comprido, ele havia cortado há uma semana.
O relógio marcou oito horas em ponto, e como um bom inglês, estava pronto. Quanto mais cedo ele chegasse, mais cedo ele poderia ir embora, era o que ele sempre pensava. As pessoas não entendiam o porquê dele sempre ser o primeiro a ir embora, com a desculpa de que sempre havia trabalho para ser feito, era assim que conseguia sair daquela multidão. Assim que estacionou o carro em frente ao prédio, ele sabia que uma multidão de fotógrafos estavam o esperando, era assim todo ano e não teria porque esse ser diferente. Repassou mentalmente o seu discurso mais uma vez, apenas uma cópia com pequenas alterações dos últimos discursos que vinha fazendo.
A porta do enorme salão foi aberta, e no mesmo instante uma avalanche de vozes misturadas o atingiu em cheio. A maioria dos advogados estavam acompanhados de suas esposas, outros optaram por levar mulheres totalmente desconhecidas e tirar a aliança do dedo. sabia de tudo aquilo, não importava a mentira que cada um resolvesse contar para alimentar o próprio ego. Avistou seu pai, Richard, no outro lado do salão e pensou em adiar o encontro com o mais velho, mas assim que os burburinhos aumentaram seus olhares se encontraram. terminou de beber seu whisky, servindo-se novamente até que teve que encarar o patriarca da família .
— Você está atrasado. — Foi a primeira coisa que ouviu quando chegou perto de seu pai, receptivo como sempre.
— Não estou não, você que faz questão de chegar cedo demais. Aliás, comece a fazer seu discurso ou vai ficar sem o seu herdeiro para exibir para aos fotógrafos. — olhou no relógio em seu pulso, contando os minutos para ir embora. A palavra herdeiro lhe dava um gosto amargo na garganta, pois era assim que todos o viam ali dentro. Ele não era um advogado como todos os outros, era o herdeiro da Advocacy Gallingher e odiava esse título.
— As pessoas já perceberam que você sempre vai embora cedo, vai ter que aguentar mais que uma hora hoje. — Richard disse firme, virando de uma vez só o líquido que restava em seu copo. — Ah, responda a porcaria das mensagens da sua mãe, daqui a pouco ela se materializa nesse salão.
— Nem pensar. — também disse firme, encarando seu pai. Um hora era o seu prazo, nem um minuto a mais nem um minuto a menos. — Seu tempo está se esgotando. Tic toc, tic toc.
deu o seu melhor sorriso de escárnio ao seu pai, sem se importar se alguém estava prestando atenção nos dois. Caminhou em direção ao outro lado do salão, afinal ele teria que socializar pelo tempo que estava ali. O salão começava a ficar cada vez mais cheios, as enormes mesas redondas já estavam quase completas com os seus convidados em seus devidos lugares. O cintilar da taça de cristal sendo tocada pôde ser ouvida por todos ali presentes, abriu um sorriso discreto sabendo que Richard estava o testando. Uma pena, já que o mais novo não estava para brincadeira.
— Senhoras e Senhores, em primeiro lugar, quero agradecer, em meu nome e no do meu filho e futuro herdeiro da Advocacy Gallingher… — Richard foi interrompido logo no início de seus discurso. estava em pé e com uma taça em mãos, chamou a atenção da mesma forma que o pai fez.
— Um brinde à Advocacy Gallingher. — Ele disse em alto e bom tom, e bebeu o resto de champagne da taça. Antes de virar as costas para todos presentes, os deixando sem entender o que estava acontecendo, murmurou em direção ao seu pai “seu tempo acabou”. Já dentro do elevador, ele afrouxou a gravata e abriu os primeiros três botões da camisa social, aliviado por ter saído do meio daquele bando de urubus.
Seu carro já estava pronto e estacionado em frente ao prédio, como o esperado, naquela noite ele não se importou se sairia alguma foto e uma suposta fofoca ao seu respeito, apenas arrancou com o veículo o mais rápido que pôde. Só teria um lugar para ele ir aquela noite e ele sabia onde ficava.

🥂


— Quer saber? Eu cansei, acabou! — gritou, batendo a porta em seguida.
não aguentava mais ouvir as mesmas desculpas do, agora, ex-namorado. A gota d'água foi ele esconder sobre a proposta de trabalho e ainda fazê-la escolher entre a sua vida em Londres ou ir embora para Los Angeles com ele. A escolha? A sua vida em Londres, sempre. A não ser que fosse para viver uma aventura ao lado de alguém que valesse a pena, John não valia a pena e ela sabia disso. As atitudes mesquinhas do homem já estavam tirando a paciência que lhe restava, então explodiu. Saiu da casa apenas com a roupa do corpo e a bolsa em mãos, não se importava se ficariam alguns pertences na casa do homem, ela só não queria ficar lá naquele momento.
A noite de sexta-feira pedia apenas uma coisa e ela sabia onde encontrar, fez sinal para o primeiro táxi que passou e disse o endereço do destino ao motorista. Encontrou o batom vermelho dentro da bola e retocou o mesmo, ajeitou o vestido no corpo e agora ela estava pronta para aproveitar a noite como merecia. Antes de chegar no local seu celular começou a tocar, o nome de John aparecia na tela, desligou o aparelho.
— Vá para o inferno. — Disse para o aparelho, o taxista olhou-a pelo retrovisor, mas não se importou. Quando o carro parou em frente ao bar, tão conhecido por ela, apenas entregou algumas notas e agradeceu pela corrida.
— Ei, Max, o mesmo de sempre. — A morena disse assim que se apoiou no balcão.
— Noite difícil? — Ele perguntou servindo uma dose de shot para a mulher.
— Talvez, a noite só está começando. — Ela deu uma piscada e virou o líquido amargo.
— Vá com calma então, a noite é longa, . — Max terminou de preparar a bebida. Quando a mulher estava lá ele era praticamente obrigado a dividir a atenção entre e o restante dos clientes que apareciam ali para pedir suas bebidas, mas ele não se importava.
— Tenho todo o tempo do mundo. — Ela respondeu, entregou o copo em sua direção pedindo por mais uma dose.
— Até o seu namorado aparecer. Não, como é mesmo que ele gosta de falar? Companheiro. —Os dois reviraram os olhos, John era insuportável, ela sabia. Odiava qualquer rótulo, mas agia como qualquer outro homem padrão, muitas vezes nem tentava esconder. Hipócrita.
— Terminamos, mas vamos falar de coisa boa. — Os olhos da mulher brilharam quando ele serviu a taça com piña colada. — Que horas acaba seu expediente?
— Não, sem chance de ir de novo para qualquer festa com você. Por mais que seja divertido.
— Ah, vai, Max. Não custa nada e você ainda se divertiu horrores comigo, eu conheço lugares bons.
— Não, por hoje eu vou ser apenas o seu empregado e servir quantas bebidas você quiser, nada de festa.
bufou, irritada, mas era aquilo ou nada. Obviamente ela preferia encher a cara ao ter que voltar para a casa cedo e chorar as pitangas pela briga de mais cedo. Afinal, ela sabia que uma hora ou outra o sentimento de mágoa e tristeza pelo término chegaria.
— Mais uma, por favor. — pediu novamente, já fazia algumas horas que ela estava sentada ali, intercalando entre um copo de piña colada e um shot. Ela sabia muito bem que a mistura era uma péssima ideia, mas pensaria nisso somente no dia seguinte, quando estivesse com ressacada e arrependida o suficiente para pensar nas péssimas escolhas do seu eu do passado.
— Você tem certeza? — Max perguntou. Já havia perdido as contas de quantas vezes tinha pedido aquelas duas bebidas, mas era forte para bebida e ainda ia precisar de muito álcool para derrubá-la.
— Absoluta. — Ela respondeu. Olhou em volta do bar, mas nada lhe chamava a atenção.
— Parece que um conhecido seu acabou de chegar, tenho certeza que você vai se divertir hoje.

🥂


entrou no local se sentindo extremamente aliviado, era naquele lugar que ele gostaria de ter começado a sua noite de sexta-feira e não numa celebração fajuta, a qual ele era obrigado a ir. Enquanto ele caminhava até o bar, pronto para pedir uma cerveja, os olhos de águia de não desgrudaram do homem. Ela o conhecia, ele a conhecia.
— Uma cerveja, por favor.
— Boa noite, Gallingher, herdeiro da Advocacy Gallingher. —Um arrepio passou pelo corpo de ao reconhecer aquela vez, mas também por está próxima demais e a frase ter soado como um sussurro ao pé do ouvido.
O homem virou-se lentamente até encarar os olhos amendoados da mulher e um sorriso em seus lábios. Ele a reconheceria independente das circunstâncias.
— Boa noite, , ou devo dizer herdeira da Publishing ? Criatividade nossas famílias têm de sobra. — Ela revirou os olhos e ele sorriu, sabia como irritá-la.
— O que está fazendo aqui? Hoje não é a festa do seu escritório?
— Sim, acabei de sair de lá, na metade do discurso do meu pai.
— Não acredito! — Ela soltou uma gargalhada e riu junto ao lembrar da cara de desgosto de seu pai.
e eram velhos conhecidos, após a mulher terminar o namoro com o irmão dele — o mesmo que estava prestes a se casar —, eles perderam contato. Entretanto, o destino estava os juntando novamente. Poderia ser apenas uma mera coincidência, mas torcia que não.
— Mas, e você, o que está fazendo aqui? — perguntou bebendo a sua cerveja. deu de ombros, mas ela conhecia muito bem aquele e ele não ia sossegar enquanto ela não contasse.
— Terminei meu namoro de quatro anos, porque o cretino escondeu de mim que aceitou uma proposta de trabalho em Los Angeles e queria que eu fosse junto. — Seria melhor contar tudo de uma vez só.
— Quatro anos namorando e ele queria que você fosse para Los Angeles com ele? Ele não te conhecia mesmo.
— Foi o que pensei quando dei um fim naquilo tudo. — pediu uma cerveja para acompanhar . Max não contestou a escolha da mulher, não ia adiantar.
e decidiram se sentar em outra mesa do bar para ficarem mais à vontade, ele já havia percebido os olhares de Max em cima da mulher, ela também para falar a verdade. Mas não se importava, porque era assim, quem decidia era ela e se Max tivesse que se aproximar então foi porque ela deixou, mais ninguém. De todos esses anos que conheceu a mulher, devido ao namoro que manteve com o seu irmão, percebeu que ela não havia mudado em nada. Talvez ela tivesse mudado o corte de cabelo, mas sua personalidade continuava tão firme e decidida que ele entendia porque e Brian não tinham ficado juntos.
— Você lembra daquele passeio da escola que nós fomos jogar paintball? — não conseguia parar de rir, podia ser o efeito da lembrança ou do álcool. — Eu atirei naquela loira aguada da Tiffany. Chata pra caramba. — Ela riu ainda mais, sendo acompanhado por .
— Eu quis atirar no Brian, mas ele se escondeu atrás do professor de matemática. O velho ficou puto comigo e aquilo me custou uma semana de detenção.
— Ainda não sei como aquele passeio aconteceu, quem deixa uma turma de jovens cheios de hormônios e rebeldes com a vida ir jogar paintball? Isso é implorar pela própria morte. — se encostou na cadeira, após a crise de riso com a lembrança passar.
— Brian e Tiffany vão se casar. — Foi a única coisa que falou, encarou , mas ela parecia tão surpresa que não conseguiu formular uma frase.
— Eles combinam, os dois são chatos e cheios de frescuras. — soltou uma gargalhada alta. tinha razão, esse era um dos motivos por não falar com seu irmão. Depois da faculdade ele fez questão de se mudar para a capital inglesa, enquanto Brian continuou morando em Birmingham. Mesmo sabendo que eram apenas duas horas de distância de uma cidade da outra, gostava de ficar longe da família. Era um ambiente onde ele não pertencia, costumes e tradições que ele não fazia questão de seguir, o escritório de advocacia da família era uma das coisas que ele mais odiava e não via a hora de ficar longe de tudo aquilo.
— Vamos ao casamento. — falou.
— Não.
— Por que? — Ela perguntou, terminando com a cerveja,
— Porque eu não vou.
— Vai sim, e eu vou com você. — Ela disse, firme. — Vai ser divertido, ele é meu ex, ela é sua ex. Eles não vão gostar de nos ver juntos e isso me deixa feliz. — Ela sorriu, satisfeita com a ideia.
— Eu não preciso de um diabinho no meu ombro quando eu tenho você, .
levantou da mesa e estendeu a mão para a mulher, esperando que ela o acompanhasse. Deixou algumas notas em cima da mesa — mais que o suficiente para pagar pelo consumo dos dois naquela noite —, e saiu do bar.
— Onde nós vamos? — Ela perguntou quando entrou no carro junto com .
— Ao casamento.



Fim!



Nota da autora: Olá, eu espero que tenham gostado, eu amei escrever essa oneshot. Se quiser conhecer mais das minhas histórias, vou deixar aqui meu grupo no fb.
É isso, até a próxima <3





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