Contador:
Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

- Vamos lá, , você já está atrasada o suficiente. - Eu disse pra mim mesma quando tentei calçar um pé da sapatilha, enrolar o cachecol no meu pescoço e pegar minha bolsa pendurada na cadeira do quarto; tudo ao mesmo tempo. Eu deveria escutar os conselhos da Tiffy quando ela me falava que eu deveria respirar fundo e fazer as coisas com calma. Mas, na pressa, eu realmente não conseguia pensar, quem dirá parar e fazer qualquer coisa com calma.
Eu estava atrasada, muito atrasada. E o mais estranho, eu nunca me atrasava.
Literalmente pulei da cama quando eu vi que o relógio marcava a hora que eu deveria estar na biblioteca, sendo que eu estava acordando, ainda. Tomei o banho mais rápido da minha vida, o que me fez esquecer de tirar as meias e a máscara de dormir que estava pendurada na minha cabeça. É, eu acabei entrando embaixo do chuveiro desse jeito e quase esqueci de escovar os dentes quando sai do box. A chuva que começou a cair quando eu estava a uma quadra da biblioteca central só poderia ser algum tipo de brincadeira, com certeza, daquelas de muito mal gosto. Mas isso não era o bastante, não quando um carro estava quase me atropelando. Não estava sendo um bom começo de semana.
O baque que eu senti quando meu corpo tombou com o chão, só não foi maior do susto que eu levei quando o carro preto não fez menção de parar em nenhum momento.
- Ei! Você é cego por acaso? - Gritei, mesmo sem saber se a pessoa por trás daquele volante poderia me ouvir. Levantei do chão úmido e me limpei o mais rápido que pude, pronta para soltar mais uns palavrões e com a maior vontade de meter a mão na cara de quem quer que fosse. Mas meus pensamentos e ações foram interrompidos quando a figura se materializou na minha frente. Não. a-cre-di-to.
- Você está bem?
- O que você acha? Diga ao seu motorista para ele olhar por onde dirige.
- Você tem que prestar mais atenção no sinal, estava vermelho para o pedestre. Preste mais atenção.
- Ele, você, sei lá quem, quase passou por cima de mim. - Disse exasperada, eu odiava aquele tom de ordem pra cima de mim.
- Vou perguntar de novo: Você está bem? - Revirei meus olhos, irritada. Porém, estava surpresa por enxergar um olhar... preocupado? Não, não podia ser. Não nele.
- Sim. Agora estou atrasada, eu preciso ir. - Coloquei minha bolsa de novo no ombro e virei-me já a passos largos pronta para sair dali.
- ?
- O que é?
- Sua blusa está virada. - Grunhi baixo. Um misto de vergonha e irritação começou a se apossar do meu corpo ainda mais. Droga, que péssimo dia.
Com sorte, consegui chegar na biblioteca sem ocorrer mais nenhum acidente. Assim que Tiffy me encarou, recebi mais um olhar de ódio em minha direção. Sinto muito Tiffy, já recebi um desses hoje pela manhã. O pior de tudo, e só agora me dei conta, é que não era de manhã. Já era muito bem o início da tarde e eu tenho uma explicação plausível para o meu atrasado.
Me chamo , tenho vinte anos e estou no último ano do curso de psicologia. Mas, você deve estar se perguntando o que raios eu estou fazendo numa biblioteca ao invés de estar estagiando dentro de um consultório médico, não é mesmo? A resposta é simples: grana, ou a falta dela no meu caso. Eu tinha um estágio na minha área, sim, pela manhã; mas não todas as manhãs e isso fazia com que meu auxílio fosse ainda menor. O problema é que ele não era o suficiente para conseguir manter todos os meus gastos. Então, graças a Tiffy, consegui um emprego de meio turno na biblioteca e a noite eu ia para a faculdade.
Agora, a pergunta que não quer calar e que você deve estar se fazendo é: mas quem diabos era aquele que quase me atropelou? .
- Você está bem? - A voz de Tiffy soou em meus ouvidos, me fazendo prestar atenção no que eu estava fazendo.
- Não, estou nervosa. Estudei feito uma condenada pra prova de hoje, acordei atrasada e quase fui atropelada.
- Toma, para melhorar um pouco o seu dia. - Ela tirou um pacote de Skittles de dentro da bolsa e me entregou. - Ah, sua blusa está virada.
Tiffy já estava na porta da biblioteca quando pensei em respondê-la, tanto pelo chocolate quanto pelo aviso da blusa. Eu não podia reclamar da amiga maluca que eu tinha.
Abri a embalagem vermelha e coloquei um punhado na minha boca, logo sentindo a mistura do doce com o azedinho da acidez fazer seu efeito; e posso dizer que aquilo melhorou meu dia em uns noventa por cento facilmente. Pela primeira vez naquela tarde, olhei ao redor e percebi como a biblioteca se encontrava vazia. Respirei aliviada e peguei meu livro de dentro da bolsa. Eu tinha mais algumas horas até a hora da minha morte, mais conhecida também como a hora de encarar a minha prova. Revisar o conteúdo poderia me distrair um pouco, por mais que não fosse o indicado a se fazer, mas eu precisava muito ir bem nessa matéria maldita. Último dia de aula com uma prova do senhor Clifford, não havia maneira melhor de encerrar o semestre.

***

Depois do pequeno incidente do início da tarde, o resto do meu dia tinha corrido tudo bem. Com isso, eu pude fechar a biblioteca às seis da tarde e ficar com meia hora para a faculdade; com sorte eu chegaria no horário. Exatamente às seis e trinta, eu pisei dentro da sala de aula, e infelizmente com o senhor Clifford logo atrás de mim. Eu podia sentir que ele chutaria o meu traseiro se eu não saísse da sua frente. Me acomodei na primeira fileira, pronta para fazer aquilo e me livrar de uma vez por todas. Com toda a sorte do mundo, eu consegui resolver todas as questões da prova. Se tinha ido bem? Não sei, o senhor Clifford era imprevisível, qualquer mísero erro ele fazia questão de descontar ponto e esfregar na sua cara que fomos burros o suficiente para cometê-lo. É, eu odiava aquele homem.
O campus da faculdade estava escuro, quase ninguém estava ali e os poucos que restavam já se direcionavam para os seus maravilhosos carros que ganharam no último aniversário - como uma futura psicóloga, às vezes eu não conseguia controlar o veneno da minha língua afiada e me sentia mal por isso, mas juro que estou tentando mudar isso. É só que é exaustivo ver o quanto as coisas são injustas e ficar de braços cruzados. Contudo, não havia nada que eu pudesse fazer no momento senão continuar estudando e me formar o quanto antes.
Caminhei até o ponto de ônibus, pronta para esperá-lo por, no mínimo, uns vinte minutos. Mas o destino não estava cooperando para eu terminar a minha noite um pouquinho alegre. O mesmo carro de mais cedo parou em frente à parada, quase me fazendo ter um ataque do coração de tanto susto que eu levei.
- , quer uma carona?
- Não, obrigada. Meu ônibus já deve estar vindo. - Eu sabia que não estava.
- Ele ainda vai demorar no mínimo uns vinte minutos. - disse o que eu havia constatado segundos atrás.
- Não tem problema, eu espero.
- Olha, já está tarde. Aceita essa carona como um pedido de desculpa. - Respirei fundo, relutante. Não entre nesse carro, , não entre nesse carro. - Eu tenho algo que acho que é seu.
balançou a corrente de ouro branco, com um pingente de estrela, entre os dedos. O colar que eu havia ganhado da minha mãe desde que eu tinha sete anos. Era a única lembrança dela que eu carregava comigo desde que havia saído de Chicago.
- Me devolve esse colar, .
- Só se entrar no carro.
- Não vou entrar no carro com você. Me devolve, agora. - Eu praticamente rosnei, mas não me importava se ia parecer rude.
- Só se entrar, já disse. - Ele guardou o pingente dentro do bolso interno de seu blazer.
Mas que inferno!
Entrei no carro, praguejando tudo e mais um pouco.
- Pronto, agora me devolve o colar.
- Não. Só quando eu te deixar em casa.
- Você sabe o caminho. - Sim, infelizmente ele sabia. Minha melhor amiga, com a qual eu dividia o apartamento, não poderia ter escolhido um amigo de infância melhor, se não o próprio capeta. , o próprio.
Permaneci em silêncio durante todo o trajeto. Por mais insistente que estava sendo em puxar assunto, apenas o respondia com monossílaba; às vezes arriscava algumas dissílabas, apenas para irritá-lo. Pude ver o prédio laranja, nada chamativo, em que eu morava e uma sensação de alívio dominou o meu corpo. Mas eu precisava do colar.
- Está entregue.
- O colar, estou esperando.
- Que ranzinza. – “Foda-se o que você acha de mim, apenas me devolva o meu colar” apenas pensei, pois tenho certeza que ele ficaria com o meu colar se eu falasse em voz alta. E não era o que eu queria.
Com a maior calma, retirou o colar do bolso novamente.
- Antes, eu quero um beijo. - Eu ri. Não, eu gargalhei bem na cara dele. Mas ele permaneceu sério. Ah, não.
- Você não pode estar falando sério.
- Nunca falei tão sério.
- Onde você quer?
- Onde você quiser dar.
- Eu não quero, não sei qual a parte você não entendeu.
- Tenho a noite toda livre. - As portas do carro permaneceram travadas e ele não parecia disposto a acabar com aquela palhaçada tão cedo. Ok, eu preciso acabar com esse joguinho. Aproximei meu rosto do seu, não sem antes provocá-lo enquanto deslizava meu nariz próximo do seu e, consequentemente, roçando nossos lábios. O leve roçar o fez soltar um suspiro quase inaudível, mas eu estava perto demais para ele conseguir disfarçar.
- Eu quero que você vá para o inferno, . - Disse próximo da sua orelha, mas a risada baixa que ele soltou próximo da minha, fez o meu corpo inteiro arrepiar de uma forma que eu nunca imaginei.
- Só se você for junto, .
A mão de me prendia pela nuca e rapidamente nossos lábios estavam colados. Envolvidos num beijo quente, urgente e intenso. Não o impedi, e nem eu sabia o porquê disso. Naquela hora eu não conseguia pensar em mais nada que não fosse aquela boca colada na minha.
Eu poderia facilmente devorar aqueles lábios macios e gostosos. Deus, aquilo estava muito bom! Tão bom que eu não queria parar, mas a falta de fôlego e a realidade me atingiram como um banho de água fria. O sorriso ladino em seu rosto foi o suficiente para eu perceber que havia caído em seu joguinho.
- Pra quem não queria, você até que beija bem.
- Quero meu colar, agora.
- Ops, acho que temos um problema.
- O que foi agora? Não me diga que perdeu.
- Na verdade, sim.
- Não, não, não. Por acaso eu tenho cara de palhaça? Caralho, eu só quero a porcaria do meu colar, .
- Eu posso comprar um igual pra você.
- Você não entende, não é? É muito fácil pra você comprar qualquer coisa, como se tudo fosse substituível. Não sei em que mundo você vive e, sinceramente, não quero saber. Quero que você exploda!
‘Não chore agora, não chore agora, não chore agora’ eu repetia para mim mesma, enquanto sentia meu lábio tremer, a respiração falhar e meus olhos arderem. Droga, por que raios eu saí de casa hoje?
- , desculpa.
- Some da minha vida, . É o melhor que pode fazer a si mesmo.
Praticamente pulei pra fora do carro deixando algumas lágrimas escaparem, me amaldiçoando até o último por deixar algo assim acontecer. Finalmente pude deitar na minha cama e relaxar, deixando todas as lágrimas escorrerem junto. Eu tinha acabado de perder o único presente que ganhei da minha mãe e o único que tinha um valor sentimental real.
Parabéns, , você é uma ótima filha.

***

A campainha do pequeno apartamento que eu dividia com Tiffy não parava de tocar, alguém deveria ter esquecido o dedo ali e eu estava dispostas a chutar o traseiro de quem quer que fosse pra fora, antes mesmo da pessoa sequer pensar em pisar ali dentro.
- Caralho, Tiffany. - Abri a porta sem ver se realmente era a minha amiga. E o meu engano da noite foi esse. Com certeza minha amiga não tem quase um metro e noventa de altura, ombros largos, um sorriso ladino no rosto e ela não vestiria um terno cinza grafite, que ficava extremamente sexy em seu corpo. O que você está pensando, ?
- Tão delicada quanto um rinoceronte, não é, ? - Ignorei seu comentário.
- A Tiffy não está. - Estava pronta para fechar a porta e voltar ao meu sono profundo, mas as coisas não eram tão simples quando a persona em minha frente é .
- Não vim falar com a Tiffy, vim falar com você.
- O que você quer?
- Te devolver isso. - Eu podia jurar que meus olhos brilharam ao ver a minha corrente na minha frente. - Eu achei no meu carro. Não comprei uma nova, como você deve estar pensando.
- Eu sei que não. - A coloquei no pescoço de volta, de onde nunca deveria ter saído. - Obrigada.
Não sei como, mas minha voz saiu baixa e calma dessa vez, como se uma onda de calmaria tivesse dominado o meu corpo no momento em que coloquei o colar de volta.
- Posso entrar?
- Pra quê? - Alerta vermelho. Alerta vermelho.
- Eu trouxe pizza. – ‘Como eu não havia visto a caixa em suas mãos?’. Pensei por alguns instantes se deveria ou não deixá-lo entrar. Olhei no relógio da cozinha e só faltavam dez minutos para Tiffy chegar. Ok, eu poderia aguentar esse tempo.
- Ok. - Abri a porta e dei espaço para entrar. Ele já conhecia muito bem o local, então não foi nenhuma surpresa quando ele colocou a caixa de pizza na mesa de centro da sala e se esparramou no sofá. Folgado.
- Você não vai comer? - ele apontou para a caixa ainda.
- Vou esperar a Tiffy.
- Ela não vem.
- O que? Como assim ela não vem? Ela vem sim, é sexta-feira e ela sempre vem. - O nervosismo começou a me dominar de novo. Mas por que raios eu ficava assim? O que esse homem tinha que me deixava tão fora dos eixos?
- Eu falei com ela mais cedo, disse que ia sair com um cara. - Deu de ombros enquanto enfiava um pedaço de pizza na boca. O que me restou foi levantar e pegar duas latas de coca na geladeira. Eu estava faminta, confesso.
Liguei a televisão e vi que estava passando Harry Potter e a Pedra Filosofal, meu filme favorito da saga toda. Perfeito. Eu tinha pizza e o meu filme favorito... a presença de eu poderia ignorar.
- Se você pudesse conjurar um feitiço agora, qual você escolheria? - Por mais que eu não quisesse, encarei os olhos de . Ainda sem acreditar que ele estava mesmo disposto a entrar nessa discussão comigo. - Só não diga Avada Kedavra, vou me sentir ofendido.
Ok, eu tinha mesmo pensado naquele, não posso negar.
- Nesse caso, escolheria Cave Inimicum. Sabe, eu poderia estar assistindo o filme em silêncio agora, por exemplo. Mas e você?
- Accio.
- O que você quer atrair? - Deixei minha curiosidade falar mais alto, me arrependendo logo em seguida, como sempre.
- A sua boca pra perto da minha.
Não, ele só podia estar zuando.
- Isso nunca mais vai acontecer. - A risada rouca que soltou foi a prova de que eu estava enganada. Sim, a boca dele era atrativa, macia e gostosa - muito gostosa, mas tratei de me recompor. - E esse feitiço não funciona com pessoas, só objetos.
Peguei a caixa de pizza e as duas latas de coca vazias e levei para a cozinha, claro que com os passos de me seguindo. Parei próximo da pia, mas ele estava próximo demais de mim quando eu virei.
- Tentar não custa nada. - Ele deu de ombros e roçou o nariz no meu.
- Custa um tapa na sua cara, . - Eu disse, sem ter como me afastar, encurralada entre o seu corpo e o mármore da pia. No fundo, talvez eu quisesse aquilo.
- Veremos. - Antes que eu pudesse pensar em alguma resposta, entrelaçou uma de suas mãos em meus cabelos e me deu um beijo intenso.
A sensação de ter seus lábios nos meus era boa demais para ser negada. Ao invés disso, entrelacei minha mão em seus cabelos, puxando-o para mais perto. O beijo foi ficando cada vez mais intenso, nossas línguas se misturavam provando que ambos estavam sedentos por mais. Em um movimento extremamente rápido e preciso, me puxou para cima, me deixando sentada no balcão, o suficiente para eu entrelaçar minhas pernas em seu quadril e envolver os braços em seu pescoço. Eu não devia seguir com aquilo, com certeza não devia, mas eu queria; meu corpo todo pedia por aquilo.

- QUE PORRA É ESSA AQUI?!
O grito de Tiffy quase me fez cair da cama, e tenho certeza que foi o suficiente para acordar o prédio inteiro. Olhei ao redor do quarto, ainda sem entender por que ela estava gritando e o porquê do tom de vermelho em seu rosto que, com certeza, não era porque havia pego sol demais. A figura ao meu lado foi o que me fez entender o motivo daquele surto todo. Eu estava ferrada, muito ferrada.
Quando fiz menção em levantar da cama, me dei conta que não estava vestindo nada então voltei a sentar. As imagens da noite passada voltaram em flashes e pioravam conforme elas iam aparecendo cada vez mais.
Pizza; cozinha; quarto; beijos; muitos beijos; roupas sendo arremessadas; gemidos; prazer.
- Quero vocês dois na sala. Vestidos. - A minha cara deveria estar péssima, mas Tiffany não se importou com isso ao sair do quarto e bater a porta. Catei minhas roupas o mais rápido que consegui, sob o olhar de .
- Não vai se vestir? - Sentei na ponta da cama, ainda sem coragem de sair porta a fora.
- Eu não posso agora.
- Você é nojento.
- Seu corpo me disse outra coisa ontem.
E eu já estava arrependida de ter deixado os hormônios falarem mais alto. Meu corpo todo era um delator e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Então, nesse caso, eu me odiava por ter deixado justo descobrir isso.
Aos poucos começava a recolher suas roupas pelo chão do quarto, sem nenhuma vergonha em exibir seu corpo nu mais uma vez. Eu não podia negar que adorei tirar suas roupas noite passada, mas uma onda de vergonha começou a passar pelo meu corpo. Eu sabia que era errado, havia um alerta com letras garrafais e em cor neon piscando bem na minha cara e, mesmo assim, eu continuei. Contudo, foi o melhor erro que eu já cometi na minha vida. Porém, não, nunca vai saber disso; eu não preciso inflar ainda mais o seu ego.
Pela primeira vez, segui o conselho de Tiffy e respirei fundo. Pensando seriamente na possibilidade de ter que voltar para Chicago mais cedo, caso minha amiga me colocasse pra fora de casa.
- Eu disse que não custava nada tentar. - A voz rouca de no meu ouvido me tirou dos meus pensamentos e ainda fez meu corpo inteiro se arrepiar. Inferno.
Antes que eu pudesse dar uma resposta malcriada, ele saiu em direção à sala e logo eu fiz o mesmo - a passos lentos, tentando adiar o sermão que receberia da minha amiga. Me acomodei no sofá ao lado de , enquanto Tiffy estava sentada na mesa de centro com as mãos cruzadas em frente ao rosto. Ela estava brava, muito brava.
- O que aconteceu ontem aqui? - Sua voz estava calma pelo menos.
- Jura que você não sabe, Tiffy?
- , eu tô falando sério. Você disse que ia só devolver uma coisa pra e não que ia tirar a roupa dela.
- Ah, por favor, Tiffany. Não é como se eu tivesse feito isso contra a vontade dela, sua amiga não é tão inocente assim.
- Eu vou deixar uma coisa bem clara pra vocês: não quero saber quem tirou a roupa de quem, só não quero mais essa palhaçada de briguinha e ofensas o tempo todo dentro desse apartamento. Pelo visto todo o ódio que estavam nutrindo um pelo outro se transformou em tensão sexual e vejo que já resolveram isso.
- Você quer saber o que aconteceu, então senta porque eu vou falar. Nós transamos. Isso mesmo que você ouviu. Transamos, fizemos sexo. Você deve ter feito isso ontem também. Então, assim, se eu tiver que gritar ou socar a cara do seu amigo aqui, eu vou fazer. Só porque dividimos a porcaria de uma cama ontem e ele transa, maravilhosamente, bem, não quer dizer que eu deixei de odiá-lo.
Eu surtei, simplesmente surtei, mas me senti extremamente aliviada após fazer isso. Joguei meu corpo de volta no sofá, cansada.
- O quê? - Os dois falaram ao mesmo tempo.
- Não façam eu repetir tudo de novo, eu só preciso dormir mais um pouco. - Voltei para o meu quarto, me atirando na cama em seguida, sem me preocupar se Tiffy ou queriam continuar naquela discussão que não levaria a lugar algum.

Não sei por quanto tempo mais eu dormi, mas quando acordei pude sentir o cheiro de pizza exalar por todo o apartamento. Eu já agradeci hoje pela melhor amiga louca que eu tenho? Se ainda não, estou agradecendo agora. Meu deus, eu amo essa mulher.
Tomei um banho quente e saí do quarto logo após me vestir. O relógio já marcava quase duas horas da tarde. Agradeci por ser sábado e não precisar sair correndo para o trabalho. Tiffy, ao menos, já estava mais calma; eu podia jurar que vi até um sorriso em seu rosto e detalhe: ela estava sozinha na cozinha, sorrindo.
- Hum, alguém está feliz, é? - Sentei no banco alto da cozinha. Tiffy tirou a pizza maravilhosa do forno e, automaticamente, um ronco enorme da minha barriga soou no pequeno cômodo.
- E alguém tem uma história pra me contar. Não consegui tirar nada do .
- Que surpresa.
- Mas não me enrola. O que aconteceu ontem? - Ela cortou dois pedaços de pizzas, colocando cada um em um prato e pegou duas cocas pra nós duas. Quando Tiffy estava em casa, ela gostava de passar a maior parte de seu tempo na cozinha e a pizza de calabresa com muito queijo era sua especialidade.
- Sinceramente, eu não sei. Uma hora a gente tava assistindo Harry Potter e na outra a gente tava se agarrando. Por mais que eu odeie o seu amigo, não sou hipócrita em dizer que não acho ele um grande gostoso.
- é um filho da mãe gostoso pra caralho, até eu sei disso. - Ela riu e se sentou na minha frente.
- Mas o que vocês vão fazer agora?
- Nada, ué, cada um segue com a sua vida.
- Se eu fosse você, não teria tanta certeza assim.
Não entendi o que Tiffy queria dizer com aquilo, mas não me importava também. Não era como se eu fosse morrer de amores por , só porque trocamos saliva por tempo demais durante uma noite.

***

Eu tentava equilibrar a sacola de papel marrom com um braço, enquanto com o outro procurava as chaves na minha bolsa; não era uma tarefa tão simples como aparenta ser, quando quem estava desenvolvendo isso era a pessoa mais atrapalhada do universo, vulgo eu mesma. Boston estava incrivelmente quente e, apesar de estar de férias, eu resolvi ficar na cidade como forma de economizar; diferentemente de Tiffy, que resolveu aceitar o convite de sua família e aproveitar tudo que o Havaí tinha para oferecer. Mais alguns meses e eu estaria de volta a Chicago.
Abri a porta do apartamento, com muita dificuldade, e respirei aliviada por não ter derrubado metade da sacola de compras no chão. Corri para o banheiro; eu estava nojenta de tão suada. Como era possível fazer tanto calor se não era nem dez horas da manhã?
Assim que desliguei o chuveiro, foi possível ouvir alguns barulhos vindo da cozinha, mas não havia mais ninguém naquele apartamento além de mim. Me enrolei na toalha, peguei uma vassoura no corredor, que provavelmente eu havia deixado ali mais cedo, e estava pronta para bater em quem quer que fosse. O medo realmente começava a dominar meu corpo. Eu me lembrava de ter trancado a porta. Quem mais poderia entrar ali? Caminhei, o mais silenciosamente possível, em passos lentos até a cozinha e pude sentir o cheiro de café que exalava pelo cômodo. Por que raios um estranho estava passando café na minha cozinha? Finalmente, juntei toda coragem restante e coloquei a cabeça para dentro da cozinha.
- Puta que pariu, ! - Eu gritei assim que vi sua silhueta de costas pra mim. Infelizmente eu reconheceria aquele corpo em qualquer lugar.
- Caralho, ! - Ele virou tão assustado quanto eu me encontrava. - Hum, isso é um convite é? - Logo aquele sorriso, irresistível, de canalha surgiu em seu rosto.
- Vai pro inferno. - Fui para o meu quarto me vestir.
- Eu ainda lembro muito bem das suas palavras, . - Escutei sua risada ecoar pelo apartamento quando bati a porta do quarto com força. Maldita boca grande que você tem .
Alguns minutos depois, eu saí do cômodo devidamente vestida do quarto; sem dar mais o prazer de me ver de toalha. Não que ele já não tivesse visto tudo que estava embaixo dela.
- O que está fazendo aqui?
- Eu estou bem, obrigado por perguntar.
- Se não estivesse bem, não estaria aqui. - Revirei os olhos impaciente. - O que tá fazendo aqui? A Tiffy tá viajando.
- Eu sei, ela pediu pra eu ver se você está viva. Vou dizer que está viva e malcriada.
- Ótimo, pode ir embora agora.
- Não posso. Jake está com visita no nosso apartamento. - Ele balançou a sobrancelha pra cima e pra baixo rapidamente e abriu um meio sorriso. Desgraçado, até assim ficava bonito.
Me servi de um pouco de café e fiz um sanduíche. Fui ao mercado mais cedo sem comer nada e agora eu sentia que tinha um monstro dentro de mim, tamanha era a fome que eu estava sentindo.
- Deixa eu te fazer uma perguntinha, . - Parei o que estava fazendo e me encostei na mesa, ficando de frente para ele. se afastou um pouco, colocando as mãos no bolso da calça e me encarando em seguida. - Por que você me odeia tanto?
Ri com escárnio tamanho era a sua cara de pau.
- Até onde eu lembre, você só aparecia aqui no apartamento para falar o quão ruim eu era como parceira de apartamento da Tiffy.
- A última pessoa que a Tiffy dividiu o apartamento tinha sido péssima com ela. Ela estava machucada.
- Eu também estava, mas mesmo assim Tiffy foi a única pessoa que estendeu a mão pra me ajudar. A última coisa que eu precisava era do seu melhor me atirando todas as pedras que achou pelo caminho.
- Eu não sabia, .
- Isso diz muito sobre você, . Age primeiro, pergunta depois. - Dei de ombros tomando um gole do café. Minha fome falava mais alto naquele momento.
- Podemos mudar isso.
- Tanto faz. - Dei de ombros, sem realmente me importar.
- Vamos fazer um jogo de perguntas e respostas, então.
- E quem disse que eu quero saber algo sobre você. - Eu sabia ser irritante quando eu queria, eu sei.
- Você é sempre tão irritante?
- Só quando é com você.
- Por que decidiu morar logo em Boston?
- Porque foi onde eu consegui a bolsa. Minha vez, você tem irmãos?
- Não. E você?
- Também não.
- O que mais te irrita?
- Era minha vez. Mas respondendo à pergunta, você, ultimamente.
- Por quê?
- Você está roubando. Não vou responder.
- Por quê?
- Caralho, . Qual sua banda ou cantor favorito?
- The Who, mas Tiffy tem me obrigado a escutar um tal de Harry Styles e até que não é ruim.
- Que safada, ela tem feito a mesma coisa comigo. Eu juro que não aguento mais escutar Watermelon Sugar.
- High. - cantarolou a música e eu não contive uma gargalhada, o que o fez rir também. - Acho que é a primeira vez que te vejo rir, de verdade.
- Às vezes eu sei fazer isso. - Dei de ombros, mas senti meu rosto esquentar. Droga. - Estou ficando com fome. Quer almoçar?
- Espera! Eu ouvi bem, ou estou alucinando? me convidando para almoçar? Se eu estiver sonhando, por favor, não me acorde.
- Eu só estou tentando fazer a minha parte. Não seja estraga prazeres, antes que eu mude de ideia e chute seu traseiro para fora.
A risada de era uma das coisas gostosas que fazia parte dele e eu só havia descoberto agora.
- Já que estou sendo convidado para almoçar com a sua ilustre presença, senta aí que eu faço o nosso almoço.
- Hum, mais uma coisa que eu não sabia sobre você.
- Uma das coisas que você não sabia sobre mim. Ainda tem bastante coisa que você não sabe.
- Então me conta. - Ok, agora eu estava realmente curiosa.
- Se eu te contar tudo agora, o seu ódio por mim vai se transformar em amor. - Ele piscou pra mim e voltou sua atenção para as panelas, o cheiro estava ótimo. - Gosta de strogonoff?
- Claro. Quem não gosta?
- Tiffy! - Respondemos juntos, quase de forma automática.

Eu podia estar ficando maluca, o que seria bem irônico para uma futura psicóloga, mas até que a convivência com não estava sendo tão ruim assim. E ele tinha razão, eu odiava ficar sozinha.
- Posso te fazer uma pergunta? - O seu tom de voz era mais cauteloso do que ele normalmente usava e isso me deixou alarmada.
- Pode.
- Qual a história desse colar aí? - Ele apontou para a corrente em meu pescoço. E pensar que foi por ela que tudo isso havia começado.
- Eu ganhei da minha mãe antes de sair de Chicago.
- Não pode ser só isso.
- É só isso que você precisa saber, . - Encarar os olhos verdes de foi o meu maior erro, porque senti que podia contar mais. - Minha mãe está doente. O colar é uma forma de estarmos sempre ligadas de alguma forma, por isso fiquei brava quando você disse que havia perdido; e com raiva de mim mesma por ter deixado aquilo acontecer.
-
- Se for me julgar, eu prefiro que fique em silêncio. Já tem gente demais fazendo isso.
- Não vou.
- Não sei porquê está sendo legal comigo. Temos algo inédito acontecendo aqui hoje.
Ele riu, se aproximando de mim, trazendo de volta todas aquelas sensações que meu corpo só sentia quando estava perto. Se existisse um ranking de qual corpo era o mais traíra próximo do inimigo, o meu estaria em primeiro lugar sem sombra de dúvidas.
- Porque eu não consigo tirar você da minha cabeça, . Nem o seu cheiro, o seu gosto ou seus gemidos. Tudo em você me deixa louco.
Ele roçava a ponta do nariz no meu rosto, enquanto falava cada palavra bem próxima do meu ouvido. Eu podia sentir minhas pernas bambas, mesmo estando sentada. Eu já havia mandado para o espaço todo o meu autocontrole e naquele momento eu só queria que colasse a sua boca na minha. E foi exatamente o que eu fiz.
Me deixei levar pelo turbilhão de sentimentos em que estava envolvida, principalmente pelo calor que começou a dominar meu corpo e pelo formigamento que surgiu clamando pelo toque, mais uma vez, de . Deixei o pudor de lado e gemi, várias e várias vezes naquele dia, seu nome. O que também resultava em um muito mais fora do sério do que eu estava acostumada a ver. Dominados totalmente pela luxúria, nos deixamos levar e aproveitamos aquele momento como se nossos atos não fossem gerar consequências sérias no futuro.

***

- Vocês querem enganar quem? - Tiffy estava sentada ao meu lado, enquanto eu terminava o meu turno na biblioteca. Não, não era para ela estar ali.
- Vocês, quem?
- Vocês dois. Você e o .
- A gente não quer enganar ninguém, eu nem sei do que você está falando. - É claro que eu sabia, Tiffany não me deixou esquecer a semana toda.
- Eu juro que vou te bater, , não se faça de doida. Até ontem vocês se odiavam e agora ficam de risinhos e beijinhos pra todos os lados.
- Nós estendemos uma bandeira branca, só isso. Não é como se a gente fosse casar, ter dois filhos e um cachorro. Você é tão exagerada às vezes. - Ela suspirou, cansada. Se eu estivesse falando comigo, também estaria assim.
- Vocês nunca ficaram assim por ninguém e agora querem esconder o que sentem. Você vai embora daqui um mês. Se não querem assumir nada, então aproveita tudo de uma vez por todas. No final das contas, vocês dois vão sair machucados de qualquer forma.
- Por que está me mandando aproveitar, se vou sair machucada?
- Não interessa o que você faça ou deixe de fazer agora, quando for embora vai perceber que foi burra por esconder seus sentimentos. - Tiffy, tão delicada quanto um coice de cavalo.
Finalmente acabou meu horário e nós pudemos sair da biblioteca. Ir para casa e ter o meu descanso mais que merecido, era isso que eu precisava. Não sem antes passar no mercado; os armários só faltavam gritar por comida de tão vazios que estavam. Eu queria esquecer o que Tiffy havia me falado, mas a verdade era que eu não conseguia e nem queria. Ela estava certa. Ela sempre estava certa.
Eu não podia reclamar de , porque ele havia mudado completamente e estava sendo incrível. Desde os “incidentes” no apartamento, onde nós dois acabávamos na minha cama, os nossos encontros, por acaso, acabaram se tornando muito mais frequentes. Óbvio, que a nossa troca de farpas sempre estava presente, e eu adorava isso; deixava tudo ainda excitante. É, com certeza, Tiffy estava certa. Nós iriamos sair machucados no fim das contas.
Minha amiga tinha me trocado naquela noite por um de seus casos, sobre os quais ela nunca fazia questão de falar. Era apenas uma noite, como ela costumava falar. Então, mais uma vez eu estava sozinha.
Está em casa?
Era o que a mensagem dizia, eu queria dizer que não e mandá-lo embora, mas meu corpo, praticamente, suplicava pelo dele novamente.
Sim. Algo em mente?
Você é tão estúpida, .
Abre a porta.
estava parado no batente da porta, uma caixa de pizza na mão e uma sacola com dvds na outra. Espera aí, eu conhecia aqueles dvds.
- É isso mesmo que eu estou pensando?
- Sim, eu estou cansado de assistir Harry Potter. E você jurou assistir comigo antes de ir embora. - Eu tinha feito isso mesmo, tinha dito que iria maratonar O Senhor dos Anéis com , mesmo sabendo que não aguentaria meia hora de filme.
- Precioso. - Tentei imitar a voz do Sméagol, mas apenas saiu um pouco esganiçada e nos fez rir.


Eu sabia que estava prestes a ir embora de Boston e sem data de volta, mas eu ainda queria correr esse risco e aproveitar cada segundo ao lado dela. Tiffy já havia me alertado que era errado eu fazer isso comigo mesmo, mas quanto mais eu tentava ficar longe de , mais meu corpo implorava pelo dela. Caso fosse da vontade de ficar longe de mim, então eu me manteria afastado. Mas enquanto ela não quisesse, eu apenas ignoraria todos os alertas brilhando na minha cara para saciar minha vontade.
Por este motivo, eu apareci mais uma vez em seu apartamento, com a desculpa de que ela teria que maratonar O Senhor dos Anéis antes de ir embora. Ela havia jurado fazer isso, mas eu não me importava muito se ia cumprir ou não. Nós dois sabíamos que era apenas uma desculpa.
Como o previsto, não aguentou meia hora de filme e começou a reclamar. É óbvio que eu já tinha desistido de assistir, mas deixei o filme rodando por mais alguns minutos apenas para provocá-la.
- To com vontade de tomar sorvete.
- Vamos então.
- Onde?
- Tomar sorvete.
- Não precisa, eu acho que tem no congelador.
- Vamos logo, . - Os olhos de brilhavam, mesmo ela querendo negar a todo custo que não precisávamos sair. Eu estava completamente rendido por aquela garota.
Entramos na Amorino Boston, fugindo o mais rápido do frio e da neve. Sim, estávamos no inverno e estávamos indo tomar sorvete. O lugar estava quase na hora de fechar, então nada melhor que receber um olhar de raiva vindo do atendente.
- Que sabor você quer?
- Morango e pistache.
- Eu vou querer uma casquinha de chocolate meio amargo e outra de morango com pistache. - Falei pro rapaz do outro lado do balcão, enquanto ao meu lado batia o queixo de tanto frio. - Eu disse pra colocar um casaco antes de sair. - A abracei, tentando aquecer seu corpo com o meu.
- Já vamos voltar, eu não vou ficar doente. - Peguei nossos sorvetes, entreguei o dela e caminhamos de volta para o carro. Eu não tinha tanta certeza se ela não ficaria doente desse jeito.
- O que vai fazer em Chicago, agora que acabou a faculdade?
- Cuidar da minha mãe, arrumar um emprego, ter uma vida normal? Eu acho. - Ela deu de ombros com a atenção no sorvete.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, perdidos demais em nossos pensamentos enquanto aproveitamos o sabor do doce gelado.
- Por que você sempre aparece, mesmo sabendo que eu vou embora, ?
- Por que me deixa ficar, mesmo sabendo que vai embora, ? - Respondi com outra pergunta, o que a pegou de surpresa.
- Eu não sei. Talvez exista uma pontinha de masoquismo em mim e, digamos, que ela faz eu querer passar o tempo com você.
- Que bom, porque eu também quero passar o tempo com você.
Os lábios de brilhavam com o doce do sorvete, deixando-os ainda mais convidativos. Não demorei para tê-los junto aos meus; o gosto que eu já sabia de cor e, ainda assim, conseguia ficar cada vez mais viciado toda vez que provava. Dessa vez, beijei-a devagar, aproveitando cada segundo e sensação que ela pudesse me proporcionar. Não importava se seu beijo tinha gosto de sorvete de morango com pistache, ou de vinho, ou de bala Skittles. Eu amava cada gosto de .

Cinco anos depois

- Senhor, , deseja mais alguma coisa? - Emily, minha secretária, perguntou antes de juntar suas coisas e poder ir embora.
- Não, obrigada. Bom fim de semana.
- Igualmente. - Ela saiu da minha sala e eu joguei meu corpo na cadeira estofada, na qual estava sentado. A verdade, é que eu estava exausto, tão exausto que nem conseguia mais pensar.
Os processos empilhados na minha mesa só me lembravam o quanto eu havia sido inútil no dia de hoje. Mas finalmente ele havia chegado ao fim e eu poderia resolver todas as pendências no final de semana. É, eu faria isso mesmo.
Saí do escritório e fui direto para a minha casa; agora no centro da cidade e não mais no pequeno apartamento que, antes, eu dividia com Jake, meu melhor amigo. O lugar estava silencioso, como de costume. Larguei minha pasta e os documentos que carregava comigo em cima da mesa da sala de jantar. Eu só precisava de um banho e uma roupa confortável. Me alimentar antes de começar a trabalhar, de novo.
As lembranças daquele verão e da despedida no início do inverno ainda rondavam minha mente, até quando eu queria esquecer. Mas ficava cada vez mais difícil, principalmente, quando eu sabia que havia uma carta escrita por junto de uma foto nossa guardada na mesa de cabeceira ao lado da minha cama. Contudo, eu sabia do risco que estava correndo quando resolvi me envolver com ela. Ela tinha um combinado e ela fez exatamente aquilo que tinha de ser feito: se formar em Boston e voltar para Chicago logo após. Eu aceitei esse risco e agora tentava a todo custo seguir a minha vida sem ela. Só não sabia que ia ser tão difícil.
Eu não sei em que momento me vi perdidamente apaixonado por , mas quando comecei tudo aquilo, eu tinha certeza que seria passageiro e que, do mesmo jeito que ela chegou, ela iria embora. Bom, essa última parte é verdade, mas eu não estava preparado para a sua partida, porque tudo que vivemos não foi passageiro, tampouco fácil de esquecer. havia destruído todas as barreiras existentes entre nós tão rápido quanto um furacão. E eu, definitivamente, não estava pronto para aquilo.
Entrei em meu quarto pronto para ir direto para o banho e relaxar por alguns minutos, quando meu celular tocou e o nome de Tiffy brilhou na tela. Eu não tinha como esquecer , quando a minha melhor amiga também era a melhor amiga dela. Não mesmo.
- Por favor, não me diga que vai trabalhar esse final de semana. Eu preciso de você, estou com saudades. - Tiffy parecia ter algum tipo de sensor ou a bola de cristal dela estava funcionando, porque ela sempre sabia quando usava o trabalho para ocupar a mente.
- Eu preciso trabalhar. - Disse cansado. Porém, talvez eu pudesse tirar algumas horinhas de folga e encontrar minha amiga.
- Você só tem feito isso, . Levante essa bunda gorda da cadeira e venha visitar sua amiga. - Tiffany era bem mandona quando queria e eu sabia que ela não ia encerrar aquela ligação enquanto eu não desse a resposta que ela queria ouvir.
- Eu só consigo fazer isso.
- Já faz cinco anos, sabe. É difícil te ver assim, porque eu realmente não sei se ela vai voltar.
- Eu também não sei. - Suspirei cansado, cansado de tudo e de sempre voltarmos para aquele assunto. ainda não era um assunto enterrado e a saudade apertava cada vez mais, sempre que ela voltava a ser pauta. - Eu preciso de um banho antes. Chego aí em meia hora.
- Eu te amo, você é o melhor amigo do mundo. Tenho pizza e vinho, vem logo. - E assim ela desligou, na minha cara mesmo. Essa é a Tiffy.
Olhei meu celular mais uma vez. Nenhum sinal dela. Depois que voltou para Chicago, ainda mantivemos contato por alguns meses, mas, conforme o tempo ia passando, a troca de mensagens ia ficando cada vez mais escassa, quase como se não nos conhecêssemos mais. Até que, por fim, paramos de nos falar. Eu torcia para que ela estivesse bem, mas torcia ainda mais para um dia ela voltasse para Boston e ficasse de vez. Era estranho pensar no tempo que perdi quando podia estar ao seu lado, mas agora era tarde para pensar nisso. era passado, um passado que não era possível mudar.
Tomei um banho rápido e coloquei uma roupa confortável, pronto para passar algumas horas ao lado de Tiffy, já sabendo que ela pediria para que eu dormisse em seu apartamento. O mesmo, ainda. Céus, as vezes eu parecia um masoquista, sempre voltando para tudo que me lembrava dela e de nós. E pensar que foi bem ali que tudo começou... era ironia eu voltar pra lá e não querer lembrar dela.
Quando a noite cai e eu deito minha cabeça no travesseiro, tudo que eu peço é que eu pudesse ter de volta.
Sai do elevador do prédio de Tiffy, já me preparando para a enxurrada de lembranças que dominavam meu corpo toda vez que eu pisava ali. Mas a pior lembrança que eu poderia ter estava ali, parada em frente ao apartamento tão conhecido por nós.
- .


Fim



Nota da autora: Fim? Eu juro que pensei várias vezes neste final, mas desde que eu comecei a escrever essa fic não consegui enxergar um final diferente, então é isso. Na música ele fala que não conseguiu superar, então deixei aí pra vocês todos os motivos, sem me alongar muito, que fez ele não superar a pp. Espero que tenham gostado e vocês podem demonstrar isso em forma de comentários. Beijos!

P.s: Continuação em 06. pov e 12. nothing else matters



Outras Fanfics:
Em Andamento:
» Girl Next Door [Bandas - McFLY]
» Last Mistake [Restritas - Originais]
» Threat Of Joy [Originais]
» Um novo começo [Originais]

Ficstapes:
» 06. POV [Ficstape McFly: Radio:Active]
» 12. Nothing Else Matters [Ficstape Little Mix: Glory Days]
» 16. Hoax [Ficstape Taylor Swift: Folklore]

Finalizadas:
» Close [Esportes - Fórmula 1 - Shortfic]
» I’m still In Love With You [Restritas - Originais - Shortfic]
» My Best Shot [Originais - Shortfic]
» We’ll All Be [Bandas - McFFLY - Shortfic]


Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus