Última atualização: 25/07/2018

Capítulo Único

Universidade de Glasgow - Escócia.

poderia se considerar uma garota privilegiada, afinal, não era todo dia que se conseguia morar há poucos minutos da faculdade; muitos ali eram de cidades do interior onde alugavam apartamentos ou quando tinham condições, pagavam a fortuna que era um alojamento estudantil. Sua vida sempre foi em Glasgow, apenas ia a Paisley, uma pequena cidade, para visitar seus avós e, no máximo, passar as férias ou finais de semana.
A condição financeira de seus pais era normal; sua mãe era contadora em uma empresa local, enquanto seu pai atuava no consultório odontológico; devido a isso e também as oportunidades que a cidade lhe proporcionava, a garota, desde os cinco, praticava balé, fez algumas aulas de karatê, natação… Mas foi aos sete que descobriu sua eterna paixão pelos palcos, principalmente pelos microfones e as melodias das músicas, seguindo os passos de seu avô, que até então, atuou no ramo musical. Começou a fazer aulas de canto em uma igreja próxima a sua casa quando tinha oito. Aos dez, seu avô pagava aulas particulares de guitarra e canto para a garota, mas foi aos quinze que sua carreira musical teve seu fim após o falecimento de seu avô. Seus pais, que eram contra a ideia de ter a vida artística em primeiro plano de vida, trocaram sua voz e guitarra pela preparação para a universidade. A adolescência havia chegado e sua dedicação se voltou aos livros, mas em seu pouco tempo livre, nada a impedia de dar um show de voz no banheiro ou até mesmo para seus poucos ursinhos de pelúcia que haviam sobrevivido às doações de sua mãe. Ela entendia o ponto de vista dos pais, até porque, eles sempre deixaram claro o quanto não queriam que a mesma passasse pela situação que seu avô havia passado.
Aos poucos foi desenvolvendo uma timidez e sua voz era somente ouvida por si mesma.
Quando completou 18, conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade de Glasglow onde até então, cursava publicidade.
A aula da senhora Mitzel era realmente entediante, porém era perfeitamente para ter reflexões da vida ou uma batalha acirrada com o sono. Não sabia o porquê que aquela mulher havia iniciado um papo sobre as fases da vida, sua atenção vagava em sua lista mental de atividades que precisava realizar naquele dia, enquanto seu olhar observava o ponteiro do relógio de parede, lentamente, se arrastar até os números.
— Para a próxima aula, leiam o texto que está no e-mail de vocês. Será importante para a atividade avaliativa. Estão liberados. — aquela última sentença era a melhor frase que ela podia ouvir logo naquela manhã. Não importava se era a primeira aula do dia, apenas queria tomar um ar fresco e respirar sem os falatórios incessantes de Mitzel.
— Não sei por que peguei essa matéria por agora, a aula dela é mais um consultório psicológico do que teorias do empreendedorismo. É coisa de louco! — comentou , sua amiga, já retirando sua garrafa d'água para encher no bebedouro local. — Não deveria ter te ouvido, sério! Nunca mais peça para eu pegar uma matéria que não pertence ao meu semestre. — a cada palavra dita, os olhos de se reviravam de forma praticamente automática. Se havia uma pessoa pior do que sua mãe em quesito de reclamação, com certeza era . Não se lembrava exatamente de como começou a andar com a garota dos cabelos tingidos de preto, havia sido no primeiro semestre, com certeza, mas como, não sabia.
— Você mais reclama do que estuda. Mitzel não é tão ruim, só acho que ela é frustrada da vida por não ter conseguido entrar no ramo da psicologia.
— Eu que não gostaria de ser paciente dela. — disse por fim, tampando a garrafinha e dando continuidade ao seu caminho até a próxima sala de aula.
— Acho que ela que não te suportaria. Ouch! — exclamou após sentir o cotovelo de sua amiga ir de encontro a seu braço.
Ainda faltavam alguns minutos para a próxima aula que pegariam novamente juntas, mas a vontade de entrar e esperar na sala o professor era inexistente. Resolveram então ficar ali mesmo no corredor, encostadas na parede. O ambiente era mais movimentado, ajudava na dispersão do sono. Embalando em uma conversa sobre House, série na qual ambas assistiam, enquanto ouvia a amiga contar sobre o último episódio assistido, os olhos de percorriam automaticamente pelo local e parvam em sua amiga. Alguns alunos já se dirigiam até suas respectivas salas e devido a diminuição de pessoas, foi quase impossível não notar certo alguém ali. Cabelos negros, o mesmo estilo jeitoso de sempre e o sorriso encantador que sempre possuía no rosto quando conversava com os amigos. Se afirmasse que todo aquele conjunto não causava uma estranha sensação em si, estaria mentindo. Ainda não sabia o porquê e nem o quê sentia, mas algo ocorria dentro si.
Mediante a um breve suspiro, voltou à atenção na amiga que ainda tagarelava animadamente, nem sabia em que parte da conversa estava, mas sua feição ainda demonstrava que estava entendendo tudo. Porém, seus olhos eram como um ímã, era difícil não o encarar para observá-lo de longe, principalmente depois dos ocorridos dos dias anteriores. Quando virou novamente a cabeça em sua direção, seu olhar se pousou nos olhos dele, que agora, encarava-a do mesmo jeito inexpressivo.
Não era a primeira vez, muito menos a segunda que aquilo ocorria, as trocas de olhares haviam se tornado constantes, porém, o diálogo entre eles era quase nulo. Por mais que a insegurança falasse mais alto, já havia tentado puxar papo com algumas vezes, e até que tiveram uma boa conversa, mas da parte dele, aquilo só havia ocorrido uma vez. Em certos momentos, ela teve raiva, ódio de tentar uma amizade e não ver uma atitude da parte dele, ódio de ter um sentimento por alguém que na qual, em sua visão, não estava nem aí para ela. Então por que, diante de toda aquela situação, ele sempre a encarava quando estavam em um mesmo local? E até era engraçado, porque eles tinham muitos amigos em comum, porém ele era o único que a mesma não tinha certa proximidade.
Carregaram a troca de olhares por alguns segundos, gostava de intimidar, pensava assim para que, quem sabe, ele não percebesse que a mesma sentia seus olhares e partisse para uma atitude. então deixou um sorriso lateral escapar, enquanto retornava sua atenção para seus amigos, enquanto , fazia o mesmo em relação a .
Porém, na terceira vez em que, automaticamente, olhou para o mesmo local, ele não estava mais lá.
Nossa, que rapidez”, pensou em seguida. Mas no caminho do olhar para , ela pôde perceber o garoto andando em direção aonde estavam.
Não, não, não” seus pensamentos estavam em um turbilhão de questionamento do que fazer e do que falar caso ele as abordasse.
— Puta merda, ele está vindo. — falou um pouco mais alto do que pretendia, chamando a atenção da menina a sua frente.
— Ele quem? — quando fez menção de olhar, a puxou rapidamente.
— Tá maluca?! Olha para mim e continua seu papo.
— O quê…?
— Só continua, !
— Ok, mas… — o tom de voz de foi diminuindo aos poucos em que ele passava ao seu lado, tocando gentilmente o ombro de , esbanjando aquele belo sorriso.
— Bom dia, meninas. — disse gentilmente, seguindo em direção a sua sala.
Um “bom dia” uníssono foi dado por elas, e quando a presença dele não era mais presente, os lábios de se abriram em um sorriso explicitamente malicioso, enquanto , apenas tentava conter a risada devido a feição da amiga.
— Com direito a um toque… — cantarolou , vendo revirar os olhos, rindo.
— Você é extremamente ridícula.
— Ah, qual é, ele gosta de você.
— Não gosta, não!
— Deixa de ser ingênua, . O garoto vive te encarando, e não é aquela olhada do tipo “estou só observando o local” e sim “estou só observando você”! E não foram poucas vezes que ele fez isso.
— Então, por que ele não vem falar comigo direito?
— E eu sei lá? Essa parte já não é comigo. — disse erguendo os braços em forma de rendição.
— Os garotos que já tiveram interesse em mim sempre conversavam comigo, mas nem olhar na minha cara direito ele olha. Você mesmo viu no dia em que fomos falar com o pessoal, ele estava conversando tranquilamente com os outros, mas comigo, nem dirigiu uma palavra sequer e quando eu falava, ele nem prestava atenção. Ele é estranho, e lerdo, isso sim.
— Um estranho que mexe com seu coração… — lançou um olhar mortífero a amiga que logo se encolheu. — Ok, talvez ele seja tímido em sua presença, mas acho que você deve falar para ele o que sente.
— Que tipo de bebida você tomou hoje? — disse com os olhos arregalados. Claro que ela não iria fazer aquilo, nem em mil anos! Sua insegurança era demais e caso ocorresse, não teria mais coragem de olhar para ele.
— Café descafeinado, e você sabe que estou certa! , já tem séculos vocês dois nisso, ambos são lerdos, porque se gostam, mas não tomam a porra da atitude. Isso irrita demais! E principalmente a você que é uma pessoa que odeia enrolações.
Por que ela sempre tinha que estar certa? Seria muito mais fácil sim ir até ele e falar logo a porcaria da verdade. Um “não” ela já teria, o problema seria mesmo em enfrentar toda a situação depois da confissão, sem falar que outro medo dela era em relação a se apegar; não queria ter ninguém em sua cola, muito menos entrar em um compromisso onde exigiria muita atenção.
Ela não estava pronta, e aquele era seu maior desafio.
— Ok… — disse derrotada. — Vou pensar nisso.
Diante de tantos sentimentos, ali mesmo acabou fazendo uma promessa a si: caso passasse na tão sonhada seleção, contaria a ele. Caso contrário, guardaria todos seus pensamentos e sentimentos em um baú do esquecimento.

{...}

Já era noite quando chegou em casa após cumprir seu meio turno de trabalho na pequena cafeteria no centro da cidade. Após o banho, sentou em frente ao computador para checar suas redes sociais, como de costume. Já tinha alguns dias que a mesma estava evitando olhar seu e-mail, o nervosismo para saber da aprovação estava a consumindo e por mais ansiosa que estivesse para saber do resultado, parte dela tinha receio também da sua não aprovação.
Ok, , você tem que olhar. Como irá saber se passou ou não?” pensou, respirando fundo enquanto esperava aba carregar. Quando a página se abriu, deu logo de cara com o tão sonhado e-mail. Suas mãos começavam a suar e sua respiração ficar um pouco falha. Aqueles poucos segundos do e-mail abrindo pareciam eternidade, mas toda aquela angústia se dispersou ao ver a palavra “aprovada” logo na primeira linha do corpo do e-mail. Um mix de felicidade e exaltação tomou conta dela, finalmente seu sonho estava se tornando realidade, mas com ele, logo aquele pensamento repentino surgiu: ela teria que conversar com .

5 ANOS DEPOIS…
Gasglow – Escócia.

— Cinco, seis, sete e oito. — quando a melodia da música começou a tocar, as mãos de foram diretamente ao microfone, enquanto sua cabeça era erguida de uma forma dramática, seguindo a linha do estilo da canção.
Quando o ritmo começou a acelerar, retirou o microfone do suporte, caminhando em seguida por toda extensão do palco improvisado no salão de ensaio. Andava, rebolava, parava, jogava o cabelo, abaixava e levantava de uma forma demonstrando toda sensualidade possível. Através do extenso espelho, podia observar cada movimento que fazia tanto com o corpo quanto com suas feições, conseguia ver a mulher segura e confiante que esbanjava. Quando a música chegou em sua metade, uma forte luz foi de encontro a sua face a cegando por completa. Sua parada foi de imediata e quase se desequilibrou no salto que usava.
— PARA! — ouviu a voz estridente de sua empresária, Loren, soar, e logo em seguida a música parando. — , você não pode parar desse jeito! — ah, mas ela podia sim! Desde quando cegar as pessoas estava no roteiro da apresentação? Como que Loren queria que ela continuasse se não estava enxergando nada? As possibilidades de torcer o pé eram inúmeras e aí sim que ela teria motivos para cancelar aquela apresentação.
— Se vocês forem me dar uma nova visão, eu continuo, porque eu prezo pelos meus olhos!
— Então, você vai fazer isso no meio da sua apresentação? No meio de milhões de pessoas naquele estádio?! — Loren tinha um pequeno problema em sua voz, ao invés de falar, ela gritava, e aquilo irritava .
Por que não podia falar como uma pessoa civilizada? Por que não podia entender que luz era algo que cegava dependendo da intensidade? Por que não podia tratar a de um jeito mais sutil?
— Se for preciso, vou sim! — ainda continuava com os olhos fechados, e seu braço os tampando. Sabia que se abrisse ali, sentiria uma tontura terrível.
Ouviu os saltos finos de Loren contra o chão e em segundos, uma mão puxar bruscamente seu braço para baixo, forçando-a abrir os olhos.
— Tá maluca? — continuou.
— Você tenha modos comigo, porque estou tentando salvar sua carreira e é assim que você me trata?
Com um pouco de dificuldade, tentava focar seu olhar em Loren, mas os pontos de luz em sua visão estavam intensos e dolorosos. Foi preciso alguns segundos para que tudo voltasse ao normal.
— Loren, eu estou há quase cinco horas ensaiando para essa apresentação. Estou com fome, sede, cansada, e do nada, vem essa luz do quinto dos infernos para me cegar!
— Você vai estar em um estádio, cheio delas! Tem que se acostumar.
— Me acostumar a ficar cega? Tudo bem, é bom que já cancelo essa merda de show e tiro um dia inteirinho para repor meu sono.
— Ótimo, e quando acordar, sua carreira, assim como você, estará no fundo do poço como estava há meses atrás. — debochou a morena, com sua postura ereta e dominante. — Não quero que estrague minha reputação assim como você fez com a sua. Vamos voltar ao ensaio, e dessa vez, nada de interrupções.
Se tivesse a proeza de se transformar, com a raiva que estava sentindo, em alguém tipo o Hulk, com certeza acabaria com aquela mulher. Era incrível como as pessoas se transformavam para conseguir o que queriam, se soubesse que Loren era daquele tipo de pessoa, teria negado sua proposta para agenciá-la. Seu peitoral subia e descia a cada instante em que tentava controlar o ódio que estava sentindo; sua respiração saía forte pelas suas narinas como um touro enraivado.
Quando finalmente o ensaio acabou, recolheu suas coisas rapidamente, saindo do local sem ao menos falar com ninguém. Só queria ir para casa dos seus pais, tomar um bom banho e descansar. Pensou até em dar um passeio pela cidade, pois fazia um bom tempo que não ia ali, já que agora estava morando em Londres, mas o cansaço estava falando muito mais alto.
Olhou no relógio que já marcava onze e meia da noite, sendo que no dia seguinte teria que acordar às sete para estar no estádio às oito e meia e realizar a passagem de som para a imprensa.
Jornalistas, paparazzi… Tudo o que ela mais odiava.
Foi graças a um deles que sua carreira tinha começado a decair, quase chegando ao fundo do poço.
Chegou meia noite em casa, e ainda encontrou seus pais acordados, assistindo um filme. Tomou um rápido banho, encontrando já sua janta pronta em cima da mesa. Ao finalizar, respondeu rapidamente com um “foi tudo ótimo, mal posso esperar para o grande dia”, a sua mãe quando a mesma questionou sobre seu dia. A verdade era que jamais contou da situação caótica que estava enfrentando depois da sua volta aos palcos, seus pais sabiam da situação que a mesma havia passado e tentaram fazer com que ela desistisse, mas seu amor pelo canto falava muito mais alto, e Loren havia dado mil esperanças a ela, só que jamais pensou que para tantas conquistas, precisaria enfrentar, antes, o inferno.
O dia seguinte ainda foi mais cheio do que imaginava. Chegou ao estádio Hampden Park às oito e meia, como previsto, seguindo logo para a preparação de voz e às nove conseguiu fazer a passagem de som das duas músicas que apresentaria na abertura do maior campeonato de futebol local. Às dez e meia entrou na sala de conferências onde pôde falar um pouco com os jornalistas até às onze e meia, onde de lá, seguiu para uma pequena sala na qual daria apenas uma entrevista para encerrar sua manhã.
— Ei, Jeff, sabe me dizer para quem é essa entrevista? — questionou ao seu fotógrafo particular. Dentre as pessoas que havia conhecido ali, Jeff era um dos seus favoritos, quase um confidente para ela.
— Para a GM, pensei que Loren tivesse te contado. — a boca de se abriu por completa, não crendo no que estava para acontecer.
Daria entrevista para a revista que manchou seu nome? Justo aquela maldita revista?
— Ah, mas isso não vai ficar assim. — rosnou baixo, porém foi audível para Jeff que já estava em alerta da situação.
— O que você vai… — nem deu chances de ouvi-lo.
Saiu, sem permissão, pelo corredor afora a procura de Loren, sabia que ela estava por perto, mas não lembrava onde. Foi dando uma olhada pelas portas abertas do local, e por sorte, a encontrou não muito longe dali.
— Quando você ia me contar que essa entrevista exclusiva era para a GM? Se tivesse o costume de me avisar sobre meus afazeres, teria dito um belo não a essa proposta! O que você tem em mente? Entrevista exclusiva para a empresa que quase destruiu minha carreira? Eu tenho 26 anos, Loren! Eu que tenho que cuidar da minha vida!
— Ainda me pergunto o que você estudou no seu cursinho de publicidade. Já ouviu falar que é bom manter os amigos por perto, e os inimigos mais perto ainda? Aprenda a fazer um bom marketing. — sem dar chances de uma resposta, Loren saiu em direção ao corredor, enquanto seguia em seu encalço. Iria fazer do possível e impossível para que a mulher a escutasse.
— E o seu marketing é o que? Fazer com que novamente eles inventem algo sobre mim e exponham para a mídia? Grande ideia a sua, estou em ótimas mãos! — enunciou com sarcasmo, enquanto Loren respirava fundo para não perder a cabeça, porém, estava impossível.
Antes de entrar na sala da entrevista, a mulher parou bruscamente, voltando-se a , que ainda mantinha o escárnio em sua feição.
— Eu nem deveria estar te dando satisfações, mas aqui eu preciso de você, então é o seguinte: eu convidei eles para mostrarem o quão diferente você é da imagem que eles passaram. Iremos tratá-los super bem para mostrar que não guardamos mágoas da situação passada. Então, se quer que as coisas melhorem ainda mais e seu sucesso seja mais pleno e cresça assim — a moça estalou os dedos. — seja educada, carismática e gentil.
— Mas eu não esqueci e muito menos… — a interrupção veio da atitude de Loren ao ignorar a garota e entrar na sala, tendo a garota novamente em seu encalço, porém, suas falas mal saíram quando avistou há poucos metros a pessoa que estava sentada, esperando tranquilamente enquanto mexia em seu tablet.
Poderia ter passado anos, a fisionomia poderia ter mudado, a voz, o jeito, tudo... Mas era impossível de não reconhecê-lo. O corpo de havia ficado estático, e sua garganta logo deu um jeito de secar exigindo com que ela engolisse seco e respirasse fundo. Toda aquela raiva que estava sentindo devido a Loren se evaporou dando lugar a um misto de pensamentos.
Será que ele lembrava ainda dela? Será que ele conhecia sua carreira? Ou pior, será que ele sabia dos escândalos? Ele poderia ser desatento àquele tipo de informação. Toda situação piorou quando o mesmo voltou seu olhar para ela, e esbanjou um sorriso formidável.
Ela não deveria estar sentindo tudo aquilo, a época da faculdade havia se passado anos! Cinco anos, provavelmente.
Será que realmente ele sabia quem era ela?
E outra, ele trabalhava para a GM?
— Querida, vamos começar logo a entrevista, temos pouco tempo. — Loren fingiu uma pequena simpatia, mas nem aquilo foi páreo para chamar sua atenção. Tudo focava em uma pessoa: .

A entrevista seguiu como nos conformes. usou toda sua habilidade de atuação que havia desenvolvido durante os anos para acalmar seu estado emocional e se manter profissional. Ficou impressionada também com tal profissionalidade vinda dele, o carisma e o modo em como ele interligava as perguntas não havia soado rude, principalmente quando o assunto foi em relação ao escândalo que a envolvia. Claro que teria aquela pergunta, todos queriam saber sobre o alvoroço envolvendo a suposta agressão que teria causado em uma pessoa de sua equipe.
A garota, seguindo a instrução de Loren, preferiu não comentar. Alegou que o assunto era algo do passado e que mesmo sendo um rumor falso, não guardava mágoas. anotava tudo detalhadamente em seu computador, porém não ter aquela informação lhe levantou uma enorme curiosidade. Preferiu não insistir, até porque tinha pouco tempo e quanto mais informações possuísse, melhor. Foram conversando sobre a nova proposta da carreira da mulher e as expectativas para o grande show. Ao final, como de costume, se aproximou para tirar uma selfie e postar nas redes sociais sobre a futura entrevista que os leitores teriam.
Ambos não precisaram levantar, como estavam próximos, apenas se inclinou um pouco pro lado da garota, controlando todo nervosismo que estava sentido. Ali, em anos, foi a primeira vez em que tiveram um contato tão próximo. A foto foi tirada, e quando o mesmo foi agradecer pela oportunidade e quem sabe, puxar um papo, viu Loren se aproximar rapidamente puxando a garota pelos braços, dizendo que estava atrasada para o próximo compromisso. estava desnorteada com tudo aquilo, enquanto caminhava com as mãos da empresária em seu braço, apenas olhou para trás vendo um totalmente confuso, porém no último momento, um pequeno sorriso brotou nos lábios do rapaz, que a fez retribuir do mesmo jeito.
Aquele poderia ser a última vez em que ambos novamente se encontraram.

{...}

Existiam muitas coisas na qual era rata na vida, porém uma delas se resumia em sua cama. Já havia ficado nos melhores hotéis em que pudesse imaginar, mas nada lhe dava tamanho conforto quanto sua preciosa cama. A pizza de pepperoni exalava o cheiro pelo ambiente chamando a atenção de Thor, o gato preto de estimação de seus pais, a pequena mesinha de cama estava ao seu lado com o copo de limonada, enquanto assistia Friends na TV.
Costumava fazer aquilo sempre nos hotéis, já que a sua anti sociabilidade a havia pegado em cheio. Não tinha mais ânimo para sair, muito menos frequentar festas que suas amigas ainda insistiam em chamar. Pensou em convidar para aproveitar a noite e colocar os papos em dia, conversas por Skype não matava a saudade e seria muito mais fácil de explicar do ocorrido mais cedo, porém a menina teria que acordar cedo no dia seguinte devido ao seu trabalho.
Sua atenção que estava na TV logo foi direcionava a um barulho conhecido, o piso amadeirado das escadas da casa de seus pais amplificavam o som emitido pelo salto fino. Segundo depois a porta foi aberta brutalmente, exibindo uma Loren extremamente arrumada em seu vestido bege colante abaixo do joelho, com uma feição extremamente incrédula.
— Eu não acredito! — bradou a mulher, pegando o controle na cama e desligando a TV.
— Ei! Quem te deu permissão invadir meu quarto e desligar logo na minha parte favorita?! — protestou no mesmo tom da mulher.
— Eu que pergunto quem te deu permissão de ainda estar assim em plena nove da noite! Quer nos atrasar? — não se poupou de revirar os olhos e continuar na cama, em sua mesma posição, com um pedaço de pizza em mãos. Sabia do que Loren estava falando e seu ânimo para sair se encontrava abaixo de zero.
, levanta a bunda dessa cama e vai se arrumar! Não acredito que se esqueceu da festa na Mansão dos Hawards!
— Eu não me esqueci, Loren, apenas estou trajada para ficar em casa, porque não sei se você entendeu, mas eu não quero ir! — Loren esbravejou, jogando a bolsa na cama e indo em direção a garota.
— O que você quer da sua vida, ? Me diz! Você sabe que festas são importantes para nos socializarmos e conhecermos produtores. Isso ajudará na sua carreira, no seu futuro! — pela primeira vez, em muito tempo, tinha que concordar com sua empresária.
Eram em festas daquele tipo onde as pessoas se conheciam e muitas vezes recebiam convites para trabalhos, mas o fato não se resumia em apenas ir e sim, na verdade em que não tinha mais ânimo para nada, seus dias estavam sendo corridos, nada daquilo que imaginou estava ocorrendo, seu trabalho havia se tornado mais obrigação do que prazer, estava se tornando um fardo viver naquele mundo de artistas. A cada apresentação que fazia, desejava que fosse a última de sua carreira, mas parte de si ainda insistia em continuar, não queria se deixar levar pelas palavras que seus pais haviam dito sobre a dificuldade que era tudo aquilo.
Em alguns minutos já se encontrava pronta a caminho da festa. Optou apenas por uma calça pantacourt preta, uma blusa de manga longa social bege, e um salto não tão alto, deixando seus cabelos soltos e uma maquiagem onde o destaque estava em seus lábios vermelhos.
Sentada em sua velha roda de amigas no salão principal da mansão, onde ao fundo tocava uma música agitada, se permitiu conversar e ouvir as diversas citações de como ela estava sumida vinda de suas amigas. Apenas respondeu dizendo do quanto a vida estava corrida e mudou de assunto.
Ela tinha amigos, em toda festa que ia, sempre tinha alguém para conversar, porém mesmo com tantas pessoas ao seu redor, se sentia vazia. Era estranho, não sentiu aquela sensação logo nos primeiros anos da carreira. Tudo para ela havia se tornado um fardo nos últimos tempos.
Com um copo de bebidas em mãos, enquanto vagava em seus pensamentos, seu olhar logo se cruzou com um par de olhos totalmente especial para ela que a fez voltar cinco anos no tempo.
estava com um grupo de pessoas, em pé a poucos metros dali. Mantiveram seus olhares sustentados, voltando no tempo da universidade. O garoto esbanjou um pequeno sorriso antes de voltar sua atenção para o pessoal, assim como fez, quando sentiu seu celular vibrar com uma mensagem de falando do inferno que estava sendo na nova empresa de comunicação. Respondeu rapidamente a amiga e logo voltou seu olhar para onde lhe interessava, porém não o encontrando mais ali.
Talvez tivesse sido uma miragem… Talvez. Pediu licença as amigas, avisando que iria pegar mais uma bebida. Sentada na mesa do bar, girando a taça do Martini, sentiu uma mão pousar em seu ombro, causando-lhe um pequeno susto.
— A azeitona está mais interessante do que a festa? — disse em um tom brincalhão, um pouco alto devido a música, mas que foi totalmente audível para , que riu.
— É a vida. — respondeu.
— Se não se importa, será que poderíamos ir a um lugar menos barulhento? — ela assentiu, seguindo o rapaz até um canto de outra sala com pouca gente.
Ficaram de frente um para o outro, tendo a vista do vasto jardim ao seu lado, mas não falaram nada. Pronto, teria que enfrentar agora o terrível momento “sem assunto”, junto com o silêncio constrangedor.
— Quanto tempo! — surpreendeu-se quando ele falou.
— Pois é, cinco anos!
— Cinco anos e dez dias, mas quem está contando, não é mesmo? — a feição surpresa de o fez rir.
Ele deveria estar brincando, só pode”, pensou.
— Né, quem está contando? — disse rindo baixo, um pouco sem jeito.
— Agora podemos conversar sem ter alguém lhe puxando a força. — demorou um pouco para entender, estava perdida no que estava ocorrendo naquele momento, porém, quando percebeu que falava de Loren, não prendeu a risada.
— Ah, sim. Bem, infelizmente ela está aqui, porque senão fosse por ela e sua mania de me puxar de locais, eu não estaria aqui.
— Você não iria vir? — a mulher negou com a cabeça. — Não curte festa?
— Digamos que sou velha demais para isso. — mentiu.
— Mas você nem chegou aos trinta!
— Meu corpo é muito avançado para minha idade, ele já está na fase dos quarenta. — seu comentário o fez rir, e logo seguida o mesmo tomou um gole da bebida que carregava em mãos. — Mas então, fiquei surpresa em te rever.
— Também não nego a surpresa que tive ao saber que iria entrevistar a grande . Mundo pequeno, não é mesmo? — ela assentiu, achando graça da ênfase que deu a seu nome.
— Seguiu mesmo o rumo da publicidade, hein?
— Digamos que o jornalismo me conquistou, tive que largar publicidade no meio do caminho, assim como você fez.
— Pois é, acho que, no final, publicidade não era nossa praia. Mas você ainda manteve contato com o pessoal… Digo, seu pessoal?
— Sim, continuamos fazendo as mesmas coisas de sempre. E você, ainda mantém contato com a ?
— Acho que é difícil de me separar daquela garota. Ela precisa de alguém para ajudar com aquele parafuso a menos. — ambos riram novamente, e já pressentindo a falta de assunto chegar, tomaram um longo gole da bebida, imaginando no que fazer para aquele momento “constrangedor” fosse embora.
realmente não sabia o que falar, muito menos ele, se os dois já não tinham tanto papo na época da universidade, imaginavam ali, após tantos anos, entretanto, ela não perderia a chance de se aproximar dele, saber mais sobre sua vida e principalmente sobre o “novo” .
Se após todo aquele tempo haviam se encontrado duas vezes, algo significava.
— Parabéns pelo cargo na GM. Imagino o quanto deve ter batalhado para conseguir, soube que somente os melhores entram lá. — disse com sinceridade, porém, só esperava que ele não se tornasse mais um destruidor de carreiras.
— Obrigado, foi por acaso que acabei conhecendo a revista, consegui um estágio e lá mesmo fiquei.
— Está gostando?
— Eles já me proporcionaram muita coisa, é uma empresa que cuida da carreira dos funcionários. — “e destrói as dos artistas”, pensou.
O sorriso forçado foi algo na qual ela não conseguiu controlar. Glasgow Magazine realmente era uma empresa na qual jamais desceria por sua garganta.
A conversa foi fluindo agradavelmente. foi perguntando um pouco mais sobre a vida de em Londres, de como tudo ocorreu e de suas aventuras como cantora, assim como ela que ouviu dele suas histórias de sua vida simples, universitária. Só pararam de conversar porque já eram quase três da manhã e precisava acordar cedo no outro dia para terminar um trabalho. Com a intimidade que pegaram ali mesmo, se despediram com um abraço e antes de partir, apenas ouviu falar:
— Espero te encontrar mais vezes.

{...}

No dia seguinte o ensaio ocorreu pela tarde.
Mas só pela dificuldade de se chegar ao local devido aos inúmeros paparazzi que ali estavam, a vontade de de voltar para casa e apenas se enfiar dentro do cobertor e ali mesmo ficar acompanhada de um pote de pipoca falava mais alto. Novamente, seu espírito artístico estava decaindo, os tantos de flashes que antes levantavam seu ego, agora a irritava, assim como as demais perguntas, que mesmo após dois anos, se resumiam no suposto escândalo.
Estava se sentindo exausta, ou simplesmente doente daquele mundo.
— Que inferno! — exclamou para Jeff, enquanto o mesmo ajeitava sua câmera para fotografar os ensaios rotineiros, já dentro do local de ensaio.
Faltavam poucos dias para o “grande dia”, aquelas fotos precisavam ficar perfeitas para serem expostas nas redes sociais.
— Como eles me descobriram aqui? — continuou.
— Todos querem seguir a futura Agnetha Fältskog, ou devo dizer Anni-Frid? — a garota revirou os olhos, rindo da imaginação fértil do amigo.
Adorava Jeff também pelos simples fato de suas brincadeiras nas quais a distraia um pouco.
— ABBA é um clássico, Jeff, ninguém chegará aos pés deles. A não ser que você decida se juntar a mim, poderia chamar sua namorada, e só faltaria mais uma pessoa para fechar um quarteto. Depois disso, é só se preparar para o sucesso do mico.
— Pelo menos faríamos as pessoas rirem. — engataram uma risada na qual só foi cessada quando Loren se aproximou, exigindo que a mesma se dirigisse ao palco para começar os ensaios.
Não havia nada diferente; os mesmos passos, as mesmas duas músicas que apresentaria, a mesma entrada, a mesma saída, os mesmos movimentos. Quando finalmente tudo acabou, já se passava das sete. O pessoal da equipe já começava a ajeitar as coisas, caminhou até sua garrafa d’água, tomando um gole. Sorte a dela que foi pouca água, pois devido as palmas repentinas que ouviu atrás de si, teve um pequeno ataque de susto no que quase causou um engasgamento. Sentiu a garganta fechar mais ainda quando viu o responsável.
— Seu amigo tem razão, todos querem seguir esse talento. — disse, aproximando-se. — Te assustei?
Não, imagina, apenas quase morri engasgada por minha culpa mesmo”, pensou, mas logo negou com a cabeça.
— Não, só estou novamente surpresa por te ver aqui.
— E isso é algo ruim?
— Talvez sim, talvez não… — fez um suspense, fazendo-o arquear a sobrancelha de forma curiosa. — Estou brincando… Mas o que faz aqui?
— Trabalho. — mostrou o crachá na qual continha uma foto 3x4, assim como seu nome completo e seu cargo. — Parece que o destino está nos dando um tempo junto. — abriu um pouco a boca, sem saber o que falar devido a última frase do rapaz.
O que ele queria dizer com aquilo?
Sua mente tentava decifrar, mas se aquilo fosse uma brincadeira, entraria nela. Cruzou os braços demonstrando uma superioridade enquanto encarava , que possuía um sorriso torto nos lábios.
— E o que pretende fazer com essa dádiva que o destino nos deu?
— Não sei… Talvez convidar certa cantora para jantar. — respondeu no mesmo tom, com um charme a mais.
Viu fazer uma cara pensativa, como se analisasse tal situação, e realmente estava. Por um lado, seria interessante se aproximar mais dele, sem falar que seria bom para esfriar a cabeça, por outro, seu ânimo para sair ainda continuava abaixo de zero e sua vontade de apenas se isolar ainda maior.
Já ele, sabia que a mesma poderia estar cansada ou apenas não estivesse a fim de ir, mas ele tinha que se aproximar dela, assim como queria.
— Eu sei que sua vida deve estar uma correria, mas, por favor, apenas um jantar.
— Tudo bem. — respondeu por fim, causando um alívio instantâneo no rapaz. — Cantora gostaria de ir a um restaurante que sirva o velho Haggis, ela está com saudades da culinária local.
— O pedido dela é uma ordem. — sorriu. — Te mando mensagem com a localização. Daqui há uma hora?
— Fechado!

{...}

Além de saírem em carros separados, tentaram achar um local não tão conhecido, tinha receio do que aquela situação poderia causar a sua imagem e principalmente a de .
O pedido não demorou muito e em poucos minutos já estava matando a saudade da culinária local, porém algo começara a lhe incomodar. Discretamente, começou a perceber alguns olhares de sobre si, olhar na qual ela sentia que havia algo de errado ali. Preferiu não questionar, seguiram o jantar tranquilamente, engatando, por sorte, uma conversa agradável na qual permitiu ambos se divertirem como se fossem velhos amigos.
Após o jantar, foram caminhando devagar até o estacionamento que era atrás do estabelecimento. A rua estava tranquila, tirando o fato do terrível frio que fazia naquela noite. Enquanto andavam em silêncio, com suas mãos nos bolsos, sentiu novamente aquele olhar curioso nela.
— Algum problema, ? — perguntou quando conseguiu o pegar a encarando. O homem, sem jeito, apenas negou com a cabeça, voltando sua atenção para o prato.
— Não… Só estava pensando.
— Em…? — o viu respirar fundo, como se estivesse se preparando para falar, mas logo em seguida o mesmo soltou o ar lentamente.
— Deixa para lá.
… Não tenha medo de falar, é algo que você queira desabafar ou… — o segurou pelo braço, parando em seguida.
— É verdade que você gostava de mim? — falou tudo de vez, interrompendo-a, porém, assim como antes, lhe causando um pequeno engasgo, mas não tão perceptível.
Ficou estática por alguns segundos, digerindo aquelas palavras.
Como ele sabia daquilo?
Como ela iria responder aquilo?
Por que ele estava perguntando aquilo?
O coração de começou a palpitar rapidamente, era como se tivesse voltado no tempo e aquela pergunta tivesse sido dita bem naquele ano. Era um nervosismo estranho, algo na qual desejava controlar, mas estava sendo impossível, assim como , que tentava manter a respiração calma e uma postura séria.
— Eu… Quê? — estava perplexa, nem ao menos sabia o que falar.
— Desculpa jogar tudo vez assim, mas isso é algo que tenho em mente há muito tempo. Depois que você foi embora, a foi avisando ao pessoal da sua partida e enfim, ela disse que você gostava de mim, e disse da sua promessa. — ela mataria , mataria de um modo na qual nem mesmo o pior serial killer fez.
Como ela pôde ter feito aquilo com ela? E pior, sem ter dito nada a ela? Se a mesma não tinha contado, era porque não era para contar! tinha se tornado algo do passado, fez o que prometeu, guardou tudo em um baú em si mesma, e agora, diante das circunstâncias, tudo estava voltando à tona, e da pior maneira possível.
— Eu não entendi muito bem de início, e nem entendi sua promessa... — continuou, dando uma risada nervosa. — Mas…
… — o interrompeu. — Eu queria ter cumprido essa promessa, mas não consegui porque não sabia se estaria fazendo papel de idiota ou não.
— Por que estaria fazendo papel de idiota?
— Porque eu não sabia o que sentia por mim? — respondeu em um tom óbvio. — Digo… Eu sempre o via me encarando, mas nunca entendia o motivo daquilo. Nunca fomos de nos falar, foram poucas às vezes, e cheguei até pensar que tudo aquilo era coisa da minha mente, então decidi manter para mim porque tudo era muito incerto.
— Eu deveria ter demonstrado mais… — ela assentiu.
— Assim como eu, só que… — respirou fundo, mal acreditando no que iria falar. — Eu gostava de você, e muito, e…
— E eu ainda gosto de você… E muito. — a boca de se abriu com a tamanha incredulidade que estava sentindo.
Se antes não estava sabendo como agir, naquele momento estava sendo muito pior. Não sabia o que falar, muito menos o que pensar.
Ele tinha dito que ainda gostava dela? Mas… Como?
Tudo aquilo estava confuso, mas também, estava criando algo nela na qual não sentia há muito tempo. Nervosismo, palpitação, mãos suadas… Não, ela não tinha mais sentimentos por ele… Ou ainda tinha?
— Desculpa falar isso tão diretamente, mas é que eu fui idiota por não ter tomado uma atitude antes e preferido apenas observando a garota que tanto mexia comigo de longe. Eu não falava com você porque eu ficava sem jeito, tímido, imaginando que talvez tudo aquilo fosse coisa da minha cabeça. — aos poucos, foi se aproximando da garota, depositando calmamente sua mão direita no rosto dela, enquanto com o polegar, acaricia sua pele. — Minha demora resultou em cinco anos de arrependimento em minha vida, eu tentei seguir em frente, mas no fundo, ainda tinha sentimentos por você. Eu demorei muito para tomar uma atitude, e não quero ter que esperar mais cinco anos para, quem sabe, ter uma nova chance, mas claro se… — suas palavras foram interrompidas pelos lábios macios da garota.
O puxando pela gola, deixou os sentimentos tomarem conta de si. Em segundos, as mãos de encaixaram-se na cintura da garota, a puxando mais para si, enquanto as delas fazia caminhos pela sua nuca.
O desejo era explícito, assim como a vontade de recuperar o tempo perdido. Uma sensação gostosa, enquanto suas línguas se encontravam sem pudor. O calor do momento foi amenizando o frio, e só pararam quando a falta de ar foi sentida com ambas respirações ofegantes.
— Sua casa? — ela perguntou, com dificuldade.
— Minha casa.

{...}

Na manhã seguinte, o primeiro pensamento de se remetia à noite anterior, a presença do homem era presente na cama tendo seu braço sendo feito de travesseiro para a mulher, mas logo em seguida lembrou-se de Loren, do ensaio e do quanto a morena era o cão chupando manga quando ficava puta da vida.
— Puta merda. — exclamou, dando um pulo da cama, despertando .
— O que foi? — ele perguntou ainda sonolento, vendo a garota sentar na cama.
— Não quero que a fera estrague meu humor hoje, com certeza ela deve estar enlouquecendo o pessoal da equipe!
— Não acha que leva muito a sério essa questão da… — a todo custo ele tentava lembrar o nome da mulher, mas a palavra certa não vinha em sua mente, o que acabou sendo uma cena engraçada para .
— Loren?
— Isso, ela mesma. Você dá o máximo de si, sempre cumpre horário…
— Eu sei, mas ela tem mais poder do que eu.
— Já pensou em mudar de empresária?
— Já, a cada mísero segundo penso nisso, mas é complicado. Não são todos que cumprem o que prometem.
— E ela cumpre? — se calou por um tempo. Cumprir ela cumpria, o problema era como ela cumpria. O rapaz logo sentou-se ao lado dela, tocando delicadamente em suas mãos. — A vida não é só feita de trabalhar e dormir, você tem que ter lazer e essa mulher suga isso de você.
— Eu sei, mas não posso fazer nada. Ela tem ajudado na minha carreira depois do… — deixou a frase morrer, questionando se era realmente tocar naquele assunto com , já que o mesmo trabalhava na empresa.
— Escândalo?
— I-isso… — respondeu com dificuldade. — Você sabe, não é? — o viu assentir, sentindo um desgosto em si mesma. — Céus, você deve ter lido tanta baboseira, principalmente que trabalha na fonte de todo rumor.
— Soube de algumas coisas, mas cabe ao leitor interpretar, não é mesmo? Mas tudo aquilo foi verdade?
— Não! — exaltou-se, assustando-o um pouco devido a sua atitude repentina, mas logo a mesma se acalmou. — É uma história longa, mas para você não me achar a pior pessoa do mundo: eu estava no auge da minha carreira após dois anos. A GM estava começando seus trabalhos e entraram em contato com minha empresária. Ela agendou uma entrevista, mas não me disse absolutamente nada. Na mesma época, algumas pessoas da minha equipe estavam exigindo um aumento de salário, mas ela sempre negava, até que teve um rapaz que veio exigir que eu falasse com ela, porém eu não tinha tanta voz lá. Eu tentei e recebi um não. Ele se estressou, ficou com ódio e saiu da equipe. Meses depois só vejo um bando de jornalistas e pessoas me atacando na internet, a GM criou um rumor dizendo que eu e toda minha equipe não demos nenhuma assistência ao rapaz que sofria de uma doença na qual não me lembro e ainda o agredimos. Tentamos rebater, mas a GM foi ganhando forças, e tudo isso porque eu não apareci na entrevista que mal sabia que teria.
— E tudo isso ocorreu com…
— Marco na gerência da revista? Sim. Minha antiga empresária dizia que ele fez tudo isso porque minha entrevista seria algo grandioso para ele, já que eu estava no auge, e não ter tido isso, só lhe causou frustração e raiva. Mas não deixe com que minha história interfira no seu trabalho, por favor. Te contei isso porque confio em você. Seu cargo é importante lá, não devemos misturar nossas vidas, ok? — com um sorriso no rosto, a puxou para si, abraçando-a e logo em seguida, depositando um suave beijo em sua testa.
— Pode deixar, não irei me interferir nisso. Prometo.

{...}

A cada dia que se passava, e foram se aproximando mais do que esperavam. Era possível dizer que engataram em um relacionamento casual. Não ficou difícil se encontrarem, pelo contrário, devido ao trabalho jornalístico de , o rapaz conseguiu ser o responsável por cobrir e fazer uma matéria para a revista sobre o show e o processo preparatório; difícil foi esconder o suposto relacionamento e a vontade de se pegarem. Quando dava - o que era raro - conseguiam achar um local mais reservado para se curtirem um pouco e até mesmo rolar umas “rapidinhas”. tinha conseguido se distrair um pouco, mas ainda sentia o cansaço, desânimo e as incertezas em sua vida.
Quando finalmente o grande dia chegou, seu coração estava a mil. Parecia que nunca tivera uma apresentação para um público tão grande, era como se fosse uma novata naquele mundo. Enquanto preparava suas cordas vocais para fazer a entrada até o centro do campo onde aconteceria o show, viu Loren e Jeff se aproximarem com feições extremamente felizes e confiantes.
Por que ela não estava daquele jeito?
— Cinco minutos. Lembre-se que você depende disso para ter seu auge de volta, esse é apenas o início de uma nova jornada, então, faça as coisas certas! Quero você brilhando lá! — exclamou Loren, saindo em seguida com sua postura egocêntrica e nariz empinado.
O revirar de olhos de fez Jeff soltar uma risada, lhe chamando atenção.
— Não sei como vocês ainda não se mataram.
— Autocontrole, meu querido, autocontrole… — através da feição de angústia da garota, Jeff percebeu que algo estava errado com ela. jamais ficava em prantos antes de um show, pelo contrário, sempre adorou estar em um palco.
— É bom eu ligar para ambulância? — questionou Jeff, despertando a mulher de seus devaneios.
— O quê?
— Do jeito que você está, daqui a pouco cai dura nesse chão. — suspirou pesado.
— Estou nervosa, Jeff. E se…
— E se nada! Lembre-se que isso é o que você ama, o que você batalhou, o que você sempre sonhou, estar em um palco, com seus fãs, plateia… Não deixe que um momento baixo da sua vida lhe tire o que você conquistou com tanto suor. As coisas vão ser resolvidas em breve, você vai reconquistar seu lugar. Tire toda essa tensão que Loren colocou em você, faça por diversão que é o mais importante. Se divirta lá! Arrase porque quero ter vários cliques incríveis de você! E ah, certo alguém vai amar, assistir ao vivo a … — com seu tom carregado de malícia, saiu sem antes dar chance da garota, que agora se encontrava boquiaberta, se explicar.
Como ele sabia?
Seus pensamentos foram interrompidos pelo alarme principal tocar e logo em seguida, um grupo de dançarinos se posicionarem perto dela.
Aquela era a hora, não poderia voltar atrás. Jeff estava certo, ela tinha que se divertir, tinha que voltar a ser a antiga . Tudo estava seguindo completamente bem, a casa estava cheia, os figurinos impecáveis, as letras e danças na ponta da língua, e o melhor, teria ele, pela primeira vez, assistindo a um de seus shows. Aquilo a confortava de certo modo, tê-lo ali presente, sempre quis cantar para ele.
Em passos firmes e de cabeça baixa, seguiu no meio do bolo dos dançarinos até o microfone, recebendo os aplausos do público.
[Aconselho a ouvirem a música Super Trouper para imaginarem a melodia]
Super Trouper beams are gonna blind me
(As luzes do Super Trouper irão me cegar)
But I won't feel blue
(Mas não ficarei triste)

Em primeiro momento, sua voz fora o único som presente no vasto silêncio da multidão.

Like I always do
(Como sempre fico)
'Cause somewhere in the crowd there's you
(Porque em algum lugar da multidão está você)

A serena melodia começou a tocar, e em seu ritmo calmo, a garota cantou aquela música que tanto se encaixava em sua vida. Amava o ABBA, era uma banda na qual lembrava muito de seu avô. A canção seguia, até certo momento onde a melodia modificou-se para uma mais animada, a música de sua autoria começara a tocar, levando o público ao delírio. Assim como nos ensaios, mostrou que havia voltado para ficar. Seus passos firmes pela passarela do palco mostravam seu rebolado, e os dançarinos davam uma sincronia aos seus movimentos coreografados.
Como a parte da empresa era bem perto ao palco, conseguiu trocar alguns olhares com em certos momentos, vendo o rapaz estampar aquele maravilhoso sorriso que sempre mexeu com a mesma.
Tudo havia sido um sucesso, o público se animou, o jogo havia sido animado e o que mais se falavam nos jornais era sobre a volta de .
A saída do estádio estava lotada de paparazzi e jornalistas, os flashes a cegavam completamente, e foi preciso ter alguns seguranças para protegê-la. Passou com dificuldade pela multidão, sentindo o alívio, assim que chegou ao carro de missão cumprida. Sabia que o final seria complicado e corrido, acabou marcando então o encontro com na casa do rapaz.
— Gostou? — questionou, sentindo a aproximação lenta do rapaz.
— Gostar é uma palavra de pouca intensidade, posso dizer que eu amei, mas ainda sim possuiria pouca intensidade para o que eu achei, então fico sem palavras para sua apresentação. — ela riu, passando seus braços pelo pescoço do rapaz, depositando um leve beijo em seus lábios.
— Não exagera! Já escreveu a matéria? Quero ler!
— Ainda tenho que mostrar para meu chefe antes de publicar, então, a senhorita terá que aguardar um pouco…
— Sacanagem, eu estou curiosa!
— Sacanagem é o que eu quero muito fazer com você agora… — sussurrou no ouvido da garota, causando-lhe arrepios.
Seus lábios foram rapidamente de encontro com os dela, na urgência de sentir seu contato. As línguas trabalhavam intensamente, o desejo já havia subido de patamar. O rapaz descia suas mãos até a bunda da garota, apertando-os com prazer, causando uma série de excitação em , que arranhava sem pudor sua nuca. Em um rápido movimento, encostou a garota na parede, quebrando o beijo e tendo um passe livre pelo pescoço da mesma. A trilha de beijos foi preenchendo todo o espaço responsável pelos arrepios constantes, e sua mão já descia para a parte íntima da mesma, sendo o culpado pela sua elevação de excitação.
Foi descendo delicadamente a alça fina que a mulher usava, a despindo-a ali mesmo, sentindo melhor o contato corporal após retirar ferozmente sua camisa. Se o quarto foi a primeira opção de ambos, o plano havia ido por água baixo, ali mesmo, na sala aquecida pela lareira, no tapete de veludo, se permitiram criar e saciar suas íntimas loucuras.

{...}

Na segunda-feira, dois dias após o show, teve finalmente seu dia de descanso. A agenda havia lotado mais do que o normal após a apresentação, apresentadores estavam sedentos pela presença da mulher e até mesmo jornais locais já entravam em contato para possíveis entrevistas. Tudo havia dado certo de acordo com o plano de Loren, pelo que ela imaginava, porém, exigiu que pelo menos pudesse ter um dia na qual fosse somente para si.
Aproveitou para fazer coisas básicas como ler, assistir séries e dar um passeio na vizinhança, porém, não tirava os olhos do celular, principalmente do site da GM. Jamais pensou que um dia estivesse vidrada na revista que lhe causou sérios danos, mas sua curiosidade estava alta quando o assunto era a matéria de . Queria saber a todo custo o que o garoto tinha escrito sobre ela, a experiência do show e como aquilo cairia sobre os internautas. Não havia conversado muito com ele depois daquela noite, tinha ciência de que provavelmente ele estaria ocupado demais trabalhando.
Enquanto aproveitava um dos poucos dias de sol na cidade, sentiu seu celular vibrar mostrando o nome do rapaz nele.
— Quem é vivo sempre aparece. — brincou ela, ouvindo a risada do rapaz do outro lado.
Se eu tivesse morto também daria um jeito de aparecer. Você está ocupada?
— Não, tirei o dia de folga. Por quê?
Tem como me encontrar na frente de sua casa em alguns minutos? — diante da voz do rapaz, sentiu que algo não estava bem.
Resolveu não perguntar muito, em poucos minutos já estava de volta a sua casa, esperando ansiosamente. Não conseguia ficar parada, andava de um lado para o outro, e só conseguiu sossegar quando viu o carro dele estacionar perto de si. O rapaz desceu do veículo com uma feição nada agradável, estava tenso, com o nervosismo a flor da pele.
— Algum problema? — questionou, aproximando-se dele.
Viu colocar as mãos nos bolsos do casaco, enquanto suspirava pesadamente, encontrando um modo certo de falar o que acabara de ocorrer.
— Me demiti. — com a face boquiaberta, não estava acreditando no que acabara de ouvir.
Ele havia a prometido que não iria se envolver em sua rixa com a revista, tinha dito com todas as palavras que ficaria de fora e agora, havia se demitido? Ele tinha a noção do quanto aquele cargo era importante?
! — o repreendeu. — Eu... Como assim? Você tinha me prometido que não iria se meter!
— E não me meti! — se defendeu. — Só que não iria continuar em uma empresa que me obrigasse a criar uma matéria totalmente falsa detonando a carreira de uma pessoa.
— Mas isso foi há anos atrás!
— Não, , isso foi hoje. — a garota fez uma cara de desentendida.
Do que ele estava falando? se ajeitou um pouco, tentando ver um modo de explicar toda a situação. — Marco tinha me dado a chance de te entrevistar, pois disse que tinha algo grandioso para mim. Quando eu vi que era você, pedi pessoalmente a ele que me deixasse cobrir seu show e fazer uma matéria sobre você, do show… Porém, quando cheguei hoje com o material, ele disse que faria algumas mudanças, e enquanto ele ia dizendo, fui percebendo que ele estava mudando todas as minhas palavras, tudo o que eu havia escrito com toda dedicação e sinceridade sobre você. Ele estava te detonando, da cabeça aos pés, criando situações que nem existiram. — aquilo era demais para a garota.
Por que ele insistia em detoná-la? Será que nunca a deixaria em paz? Estava farta, com ódio e raiva de Marco. Estava dando todas suas energias para recuperar sua carreira. Realmente, o mundo da fama não era seu lugar, não aguentava mais a hierarquia e o poder de certas empresas. Foi sentando-se devagar na calçada, sendo acompanhada por , que sentou-se ao seu lado.
— E Loren ainda acreditando que sendo boazinha com ele conseguiríamos paz. Preciso falar com ela. — disse, retirando seu celular do bolso. — E você, — apontou para . — mesmo com tudo isso, não precisava se demitir, não quero causar prejuízo a você.
— Prejuízo? — permitiu-se a rir, achou engraçado do que a garota estava falando. — , eu fiz o que tive que fazer, não somente por envolver você, mas também porque ele iria usar meu nome, meu trabalho, e na minha profissão eu sou sincero. Não quero trabalhar em uma empresa que me force a mentir para destruir a vida das pessoas, principalmente daquelas que amo. — aquela última palavra criou um conforto no coração dela, mas ainda estava sentida e sem jeito com o emprego dele.
— E o que você vai fazer agora? — questionou, encarando o rapaz.
Delicadamente, segurou o queixo de , aproximando-se mais dela. Encarava com delicadeza seus belos olhos expressivos de preocupação. Com um sorriso no rosto, juntou seus lábios em um rápido e delicado beijo.
— O que vamos fazer é nos resolver com Marco, porque ele me envolveu agora e impedir que isso ocorra com mais pessoas, e seguir nossas vidas. Somos jovens, temos muito tempo pela frente e muitos momentos para viver juntos.


Fim



Nota da autora: Depois de muito – MUITO – tempo, retornei com as ficstapes e fico extremamente feliz por ter voltado a escrever logo em um álbum do ABBA! Sério, eu amo de paixão o ABBA, e surtei real quando soube do ficstape, e principalmente quando consegui pegar essa música.
Espero que tenham gostado, eu adorei escrever essa história, e se puderem, por favoooor, deixem aquele comentário para saber o que acharam – minha curiosidade é muitaaa!
Um beijo e um queijo, e até a próxima!.





Outras Fanfics:
American Boy (Outros/Em Andamento)
Game Of Fame (Outros/Finalizada)
Rota 66 (Outros – Shortfic /Finalizada)
01. Heart Attack {Ficstape DEMI, Demi Lovato}
03. All Over Again {Ficstape Elevate, Big Time Rush}
05. Two Pieces {Ficstape DEMI, Demi Lovato}
05. Love Bug - continuação de 05. Two Pieces {Ficstape A Little Bit Longer, Jonas Brothers}
05. Run Wild {Ficstape 24/Seven, Big Time Rush}
06. My Dilemma {Ficstape For You, Selena Gomez}
08. Happily {Ficstape Midnight Memories, One Direction}
08. Fifteen {Ficstape Fearless, Taylor Swift}
10. Give Your Heart A Break {Ficstape Unbroken, Demi Lovato}
14. Lost In Love {Ficstape 24/Seven, Big Time Rush}
15. Ours {Ficstape Speak Now, Taylor Swift}
15. Young God (Spinoff de American Boy com Best Nanny Ever) {Ficstape Badlands, Halsey}


Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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