Prólogo
They don’t know I’ve waited all my life
Just to find a love that feels this right
Baby, they don’t know about us.” – They Don’t Know About Us - 1D
Londres, Inglaterra. 5 de setembro de 1666.
olhava para os lados enquanto caminhava, procurando ter certeza de que não era visto, mas parecia quase impossível visto que ele usava uma enorme capa preta sobre os ombros, para além do capuz que cobria de forma sombria o seu rosto. Estava escuro e ele estava contente por não ter muitas pessoas circulando pela rua, afinal, uma cidade em chamas não era o lugar mais apropriado para passear à meia-noite.
Ele olhou para cima por um instante, avistando a belíssima catedral de Saint Paul e sentindo como se o seu coração fosse sair pela boca a qualquer instante. Ela estava lá, ele tinha certeza que sim. Sua doce e bela o esperava ali dentro para que finalmente pudessem, juntos, partir. Um navio com destino à França sairia logo pela manhã e eles não viam outra forma que pudessem ficar juntos para além de uma fuga repentina. Felizmente, e teriam ajuda para isso.
deu a volta e procurou pela porta dos fundos. Se tudo corresse como o combinado, Damon Woodbead, seu melhor amigo, estaria do outro lado o esperando para abrir. O rapaz respirou fundo e então bateu três vezes na porta como acertado entre eles antes, então Damon abriu logo em seguida, aliviado por ter se lembrado do código e batido corretamente.
- Suas vestes são realmente divinas, meu caro amigo - riu ao entrar e notar que Damon usava uma bata que provavelmente foi emprestada pelo Padre John.
- O Padre é um homem muito gentil, disse que ninguém desconfiaria de um Cardeal. Talvez ele esteja correto.
- De fato, de fato - ponderou e então retirou o capuz quando se sentiu seguro com a porta trancada. - Ela está?
- Sim, chegou há alguns minutos e está belíssima apenas esperando por você.
- Não posso crer que estou prestes a me casar com a mulher que verdadeiramente amo - ele deu ênfase em verdadeiramente, fazendo Damon soltar um longo suspiro.
- Lucinda é uma boa moça, . - Eu sei, espero que um dia ela possa me perdoar... Mas é a que amo, com quem quero passar o resto de meus dias. Não consigo imaginar uma vida sem ela e devo isso a você.
- Eu não esperava que você se apaixonaria justamente no baile em comemoração ao meu aniversário por Bamborough.
- Eu não só me apaixonei, Damon, eu a salvei. Ela não queria se casar com o Conde de Yorkshire, assim como eu não queria me casar com Lucinda.
- Eu compreendo. Vamos, não podemos tomar todo o tempo que nos resta.
apenas assentiu e seguiu Damon, que segurava a lamparina em sua frente para os guiar por dentre os cômodos até que pudessem chegar no salão principal da igreja, que estava iluminado apenas na frente, onde se encontrava o altar. Ele não pôde conter o sorriso quando viu bem ali ao lado do Padre John, apenas o esperando. Olhou para o primeiro banco e pôde ver as silhuetas de Diana e Thomas no meio da pouca luz sobre eles. estava mais do que agradecido por ter a irmã e o cunhado os apoiando naquele momento que marcaria sua vida para sempre.
Diana Somerhalder e Thomas Bamborough, mesmo sabendo o quanto aquilo era errado, se dispuseram a estar ali e darem toda a cobertura necessária ao jovem casal, embora soubessem que dificilmente voltariam a se encontrar outra vez naquela vida. Diana, a irmã mais nova de , e Thomas, o irmão mais velho de , gostariam de ser as testemunhas daquele amor proibido. Lamentavam por e não terem a mesma sorte que eles tiveram com o casamento arranjado.
- Obrigado por estarem aqui hoje - disse com sinceridade, mas antes que pudessem lhe responder, Damon forçou uma tosse enquanto se colocava ao lado do Padre.
- Sua noiva está bem aqui, , não a faça esperar por mais tempo.
Ele concordou e se aproximou de , que usava um vestido branco simples e surrado e um véu encardido, o que era lamentável para alguém de seu prestígio social, afinal, os Bamborough eram considerados uma das famílias mais ricas da Inglaterra, tal como os Somerhalders. não esperava que ela estivesse em um exuberante vestido de noiva feito especialmente para ela do mais caro tecido, mas ele gostaria de poder dar algo melhor para ela naquele momento tão especial.
sorriu quando segurou suas mãos antes de dizer qualquer coisa. Ela estava ansiosa como nunca, mas de uma forma boa, afinal, estava se casando com o seu grande amor, mesmo que isso lhe custasse o seu status, sua família e tudo o que ela tinha. Nada valeria a pena se não estivesse com . Apesar de ter apenas dezessete anos, sabia muito bem o que queria, ou melhor, quem queria, e este alguém certamente não era o Conde de Yorkshire. Carter Rodwell poderia ser um adorável rapaz do alto escalão, mas ele não era e nunca seria e tinha certeza de que nunca o amaria.
- Estou tão feliz - ela confessou, incapaz de conter o sorriso que fazia o coração de acelerar todas as vezes.
- Eu também. Falta pouco, meu amor - ele se curvou para beijar as mãos dela, então olhou para o Padre. - O senhor já pode começar, estamos prontos.
- Eu vou ser breve - o Padre, que já era um homem de idade, disse bondosamente, sorrindo para o casal. - Espero que saibam o quão arriscado é este matrimônio e as consequências que isto pode trazer para suas vidas.
- Nós sabemos - prontamente disse com convicção. - Nada importa além do nosso amor.
- Gostariam de dizer algo um para o outro?
- Sim - apertou um pouco mais as mãos de , pois ele próprio sentia que estava tremendo. - Bamborough, eu lhe amei desde o instante em que te vi naquele baile, eu jamais poderia imaginar que eu seria capaz de me apaixonar por alguém como estou apaixonado por você. Quando te vi, eu soube que apenas uma vida não seria o suficiente para que eu pudesse te amar, então prometo te amar por toda a eternidade.
As palavras de pegaram de surpresa, pois ela jamais ouviu uma declaração de amor como aquela. Seu coração transbordava de alegria e ela mal podia esperar para o chamar de esposo, como estava esperando por algum tempo.
- - ela disse com a voz embargada o apelido no qual somente ela o chamava. - Somerhalder, eu não tenho palavras para expressar o que estou sentindo agora. Sinto, talvez, uma alegria que transcende a vida, sinto que posso passar toda a eternidade com você se me for permitido. Obrigada, obrigada por me salvar de um casamento arranjado com alguém que não amo, obrigada por mostrar para mim o verdadeiro sentido do amor, por me mostrar a felicidade no meio de todo este caos. A cidade pode estar em chamas lá fora, mas eu não me importo, pois me sinto segura com você. Eu o amo e sempre, sempre amarei.
- Eu te amo - sussurrou em resposta, se contendo para não a beijar antes que o Padre lhe autorizasse.
- Somerhalder, você aceita Bamborough como sua esposa, prometendo amar e respeitar por todos os dias de sua vida até que a morte os separe?
- Sim - ele respondeu prontamente, sem tirar os olhos de .
- Banborough, você aceita Somerhalder como seu...
- Aceito - o interrompeu de tamanha ansiedade, fazendo sorrir.
- Então eu os declaro marido e mulher.
, pode beijar sua noiva.
se curvou para puxar o longo véu de para cima, podendo ter uma melhor visão do rosto de sua amada e ela estava radiante, tão linda como sempre foi. o esperava, embora demonstrasse pressa em ser beijada, então , curvando o pescoço, colocou as mãos no rosto dela e pressionou seus lábios contra os dela, em um beijo suave e respeitoso na frente de seus entes queridos como deveria ser, mas desejava estar a sós com ela mais do que tudo, fingindo que seria a primeira vez, já que agora podia dizer que não estavam mais em pecado.
Sobre os aplausos de Damon, Diana e Thomas, eles se separaram e se encararam, sorrindo e com lágrimas nos olhos por finalmente estarem casados e apenas a algumas horas de estarem longe dali em uma nova casa com uma nova vida.
- Ah, que cerimônia mais adorável! Sinto que meus olhos sangram de alegria!
Por dentre os bancos da igreja escura, Carter Rodwell caminhava em passos largos, aplaudindo ironicamente o matrimônio. sentiu como se fosse desmaiar a qualquer instante porque seu sonho se transformou em pesadelo em um piscar de olhos. Não sabia como Carter poderia estar ali, como havia entrado. Teria Damon esquecido a porta aberta? Ela não sabia, mas tinha quase certeza que, a partir dali, seus dias estavam contados.
- Como você entrou aqui? - perguntou abruptamente, se colocando na frente de e do Padre John.
- O Cardeal esqueceu a porta aberta - ele apontou para Damon que parecia perplexo com sua falha, incapaz de sair do lugar ou abrir a boca para dizer uma palavra que fosse em sua defesa. - Padre, acredito que isto seja um engano, este homem no altar é um impostor e eu sou o verdadeiro noivo desta linda dama. , minha doce , este velho vestido não lhe cai nada bem.
- Eu não posso fazer isso, Carter, não é você que eu amo - disse ao sentir repentina coragem, se colocando ao lado de . - Espero que você me perdoe.
- Perdoar? , você deveria saber o que acontece com as adúlteras, sim? Ande, saia daí e vamos embora, este casamento está anulado.
- O que Deus uniu, homem nenhum pode separar, senhor Rodwell. - Pode, pode sim, é exatamente o que estou prestes a fazer.
- Terá de passar por cima de todos nós, Conde - Thomas se levantou do seu lugar.
- Tom, por favor, venha para cá - pediu, quase implorando, ao irmão.
- Thomas, Thomas... Eu não esperava isso de você, sempre te enxerguei como um amigo. Penso que não será muito difícil passar por cima de você, ou você pretende usar suas plantinhas medicinais para me impedir de tomar o que é meu por direito?
- Você não pode obrigar alguém a se casar com você.
- Diana? Me desculpe, eu não tinha notado que você estava aqui. Contraditório, não é mesmo? Até onde sei, você foi obrigada a se casar com ele, não foi?
- Eu me apaixonei pelo Thomas, mas você não ama a . Está feito, você não pode anular um casamento apenas porque deseja.
- Posso, posso sim - ele sorriu e podia jurar que aquele não era o Conde de Yorkshire que ela conheceu. Ele tinha uma expressão sombria no rosto, algo que a fez sentir um terrível arrepio na espinha. - Digamos que a Inquisição não queimou todas as bruxas, não é mesmo?
- Do que você está falando? - questionou, tentando não demonstrar que estava sim com medo do que poderia acontecer. - Talvez tenham queimado todas as bruxas, mulheres, mas quem desconfiaria de homens, não é mesmo? Mais de um, eu diria. Estou certo, Padre?
- Esta é a casa de Deus, senhor Rodwell.
- Então somos dois hipócritas, falsos católicos. Eu sei quem o senhor é, eu sei que o senhor não é um Padre de verdade.
Sobre um silêncio sombrio, Carter caminhou tranquilamente na direção do altar, passando por Thomas quase fingindo que ele não estava ali, pois o rapaz parecia perplexo demais para fazer alguma coisa. Ele se aproximou do casal, mas puxou para si, deixando em vista o Padre, que parecia calmo demais diante da situação.
- O que está acontecendo aqui, Carter? - perguntou ao ver os dois homens parados, um perante o outro, se encarando abaixo da pouca luz do ambiente.
- Eu não gostaria de mostrar este meu lado, , mas você não me dá outra opção.
- Você é um deles, não é? - o Padre perguntou sombriamente, pálido com o que via na sua frente.
- Sim, assim como o senhor. Bruxos sobreviventes da Inquisição infiltrados na Igreja, de qual deles o senhor é descendente?
- Isso não importa, não sou como outros, eu quero ajudar as pessoas e não destruir os que nos perseguiram.
- Belas palavras, eu também gostaria de ajudar as pessoas, mas não me importo em destruir aqueles que se colocam no meu caminho.
- Você não vai fazer isso aqui neste templo.
- O senhor quer pagar para ver? Posso levar este templo abaixo em um estalar de dedos. Gostaria de ver? Pois bem, vou mostrar.
Carter deu meia volta e se colocou no meio de todos ali, se virando para e , assim como Damon bem atrás deles.
- Amor é uma magia muito antiga, muito além do que posso dominar, mas se eu morrer aqui, minha jornada termina hoje, enquanto a de vocês irá perpetuar. Eu os amaldiçoo hoje e sempre, nunca poderão ficar juntos, mesmo que o destino e todas as forças do universo tratem de os colocar frente a frente por todos as vidas que ainda virão. Não apenas vocês, mas todos presentes aqui e os que ainda virão. Sim, sim, outros virão, outros como vocês, parentes de sangue - ele olhou para Thomas e Diana. - E estes também serão amaldiçoados, pagando pelo pecado destes dois jovens bem ali - ele voltou a atenção novamente para e . - Talvez eu morra, talvez eu volte. Não importa, se você não for minha, , não será de mais ninguém.
Em um estalo de dedos, as chamas se acenderam em labaredas ardentes, primeiramente em um círculo ao redor de todos eles e depois por toda a igreja, os deixando encurralados.
- Te vejo no Inferno, Padre. Você não pode os salvar.
- Nem que seja minha última vida, eu os salvarei.
- Sério? Então sinto muito, mas estarei lá também, eu prometo. Até a próxima vida, até a eternidade.
E então, sem hesitar, o Conde de Yorkshire caminhou, de costas em direção ao fogo, com seu sorriso sombrio enquanto as chamas o abraçavam como um velho amigo, mas ele parecia muito feliz por estar sendo queimado por elas, para a incredulidade de todos ali, era como se ele não sentisse dor alguma até o momento em que caiu de joelhos, morto, tendo seus restos consumidos pela chama que ardia cada vez mais.
- Escutem bem, não temos tempo, venham todos aqui - o Padre os reuniu no centro, se abaixando para ter mais tempo antes que a fumaça os intoxicasse, mas Damon começou a tossir desesperadamente, sendo ajudado por a se abaixar. - Ninguém sairá vivo daqui esta noite.
- Mentiroso! - Diana bradou, pronta para se levantar, mas Thomas a segurou, puxando a esposa para baixo. - Tem que ter uma maneira!
- E tem, mas é arriscado - ele olhou para os recém-casados. - Não posso desfazer a maldição lançada pelo Conde, mas posso lhes dar uma chance de se defender. Vocês terão três chances, não sei quais serão seus nomes ou de onde virão, mas o destino fará com que vocês se encontrem novamente. Não sei o que os espera, mas lhes concedo a proteção necessária pelas próximas três vidas, o máximo que eu consigo avançar, para que essa maldição possa ser desfeita.
- Mas e eles? - perguntou se referindo a Damon, Thomas e Diana. - Eles não podem sofrer por nós!
- Segurem as mãos uns dos outros. Rápido - ele tossiu enquanto juntava suas mãos com Damon e Diana. - O Conde disse que o amor é uma magia muito antiga, e ele tem razão, arrisco dizer que é quase inquebrável. É o amor que salvará vocês, todos vocês. Se caso falhem nas duas primeiras tentativas, terão de resolver na última vida, onde eu acredito que Carter Rodwell voltará, caso contrário será o fim e estarão condenados perpetuamente. Eu lhes protejo com todas as minhas forças, protejo os que ainda virão, esta maldição pode ser quebrada, mas depende apenas de vocês.
Em uma língua muito antiga e desconhecida, o Padre John começou a falar. Seus olhos grandes e verdes estavam arregalados como se algo prendesse sua atenção bem à sua frente. As chamas pareciam lutar entre si para ver qual os queimaria primeiro, mas algo as impediam de queimar. Enquanto todos tossiam e se curvavam cada vez mais na tentativa de se protegerem, ele continuava a falar sem parar, de uma forma muito acelerada, apertando as mãos de Diana e Damon e caiu inconsciente um minuto depois, devido à fumaça inalada.
- Damon!!! - fez menção de soltar a mão de , mas ela não deixou.
- Ele virá conosco, meu amor - ela tentou transparecer a convicção de sempre, mas as lágrimas escorrendo pelo seu rosto demonstravam que estava com medo. - A irmandade de vocês é muito além do que podemos imaginar.
, sem soltar a mão de Damon (provavelmente morto, ele não sabia), continuou concentrado, enquanto o fogo se aproximava. Ele ainda pôde ver Thomas e Diana caindo também, intoxicados pela fumaça e um nó se formou na garganta dele. E se desse errado? E se morressem todos ali? E se a maldição não fosse quebrada? E se ele estivesse condenado para sempre?
- Tem que acreditar, - o Padre disse por dentre as palavras desconhecidas, quase como se pudesse ler a mente do garoto.
- ... - fez menção de continuar, mas tossiu, quase sufocada. - Vamos... Conseguir.
sentiu a mão de afrouxando até que ela cambaleou para o seu lado e caiu, inconsciente, batendo com a testa no chão bem na sua frente.
- ! - ele soltou a mão dela e a de Damon, tomando a amada nos braços. - Fica comigo, por favor, por favor...
- Ela ja está longe, , vá também, filho.
- Mas...
- Vá, .
As palavras soaram como uma ordem ao corpo de que sentiu a visão ficar turva ao mesmo tempo que uma moleza incomum tomou conta de si. Ele queria lutar contra o fogo, sair dali, mas não conseguia levantar do lugar.
- Apenas vá.
Antes que caísse de rosto no chão, ele já estava inconsciente. Nenhum deles sofreu ou sentiu dor, quando o fogo os consumiu, já estavam distantes espiritualmente dali. Padre John foi o único que sentiu o arder, mas ele sabia que era momentâneo, ele precisava continuar para que aqueles jovens encontrassem o caminho que devessem seguir e quebrar a maldição lançada pelo Conde.
E ele estaria lá, pela perpétua memória.
Capítulo 1 - Tempus Utra
I close my eyes, and the flashback starts
I’m standing there.” – Love Story – Taylor Swift
Londres, Inglaterra. Junho de 2019.
- Quem aqui sabe me dizer o dia da queda da Bastilha? - perguntou, se encostando na sua mesa de frente para seus alunos. - Ned?
- Hum... Não sei, professora.
- Qual é, gente! Essa vocês sabem, eu ensinei! - ela riu das carinhas confusas diante dela. - Vou dar uma dica: é durante as férias escolares de vocês... Shawn, você é muito inteligente, diz pra mim.
- 14 de julho de 1789 - uma garota chamada Emma disse no fundo da sala, erguendo a mão para falar.
- Muito bem, Emma! Isso mesmo, a queda da Bastilha ocorreu em 14 de julho de 1789 e este evento é considerado pelos historiadores como o início da Revolução Francesa que durou até 1799.
- Mas senhorita Thompson, por que os franceses se revoltaram ao ponto de fazer uma revolução? - Emma questionou novamente.
- É simples, Emma, imagine que o Ned faz parte do Clero, o mais alto nível hierárquico da época enquanto eu sou uma duquesa, que vem logo abaixo, enquanto você e todos os seus colegas são camponeses que levam uma vida simples. Como você se sentiria ao ver eu e o Ned tendo tudo do bom e do melhor enquanto vocês todos passam fome e necessidades básicas?
- Eu ficaria com muita raiva.
- Você está certa, foi isso o que aconteceu. O povo se revoltou contra a nobreza que vivia de regalias enquanto os mais pobres mal tinham o que comer. Tudo isso aconteceu porque a França possuía um regime baseado no princípio da monarquia absolutista, no qual um rei concentrava todo o poder do Estado. Nesse período, a França era governada pelo rei Luís XVI.
- Professora, então todos na nobreza eram pessoas ruins?
- Não, Ned, é claro que não! Eu me recuso a acreditar que todos eles eram pessoas ruim. Em Marselha... Tinha uma garota... Ela era uma boa pessoa, mas não conhecia o mundo como ele era... Não consigo me lembrar do nome dela, mas já vi isso em algum lugar, eu... - remexia em sua mente, mas simplesmente a fonte da informação era escassa enquanto os alunos olhavam para ela atentos com o que a professora pretendia falar. - Ela lutou, sabe? Lutou pelo direito dos pobres, mas não foi reconhecida por isso. Ela morreu enforcada.
- Não é a Joana D'Arc?
- Não, Emma, eu... Não consigo me lembrar, não li isso em um livro de história, eu só... Bom, deixa pra lá, isso não importa porque não vai cair na prova, vamos continuar a aula e quero que prestem muita atenção porque as provas finais já estão chegando!
voltou do ponto de onde parou, explicando os fatos que levaram ao início da Revolução Francesa. Dar aula para turmas cheias de adolescentes de treze ou quatorze anos poderia ser cansativo e fazer até o professor mais são, pirar, então ela realmente não sabia de onde tinha tirado a tal garota de Marselha.
- Então é isso, e não se esqueçam do dever de casa! Até a próxima aula! - ela disse ao dispensar a turma quando o sinal tocou, anunciando o fim do dia.
- Senhorita Thompson, eu me interessei muito por essa história, sabe onde posso encontrar mais sobre essa garota? - Emma perguntou ao se aproximar da mesa de .
- Sinto muito, Emma, realmente não me lembro aonde li sobre ela, mas pode pesquisar se quiser, vamos poder conversar sobre isso depois - ela sorriu para a garota que concordou e se despediu, deixando a sala por último entre os alunos.
começou a apagar o quadro e logo em seguida juntou seu material. Ela saiu da sala de aula e foi até a sala dos professores afim de deixar parte do material no seu armário. Deixou alguns livros desnecessários por lá e levou apenas seus cadernos de anotações e a pilha de deveres de casa que tinha para corrigir. Ela gostaria de terminar aquilo logo, então não pensou duas vezes antes de pegar sua bolsa e ir em direção ao seu carro para finalmente ir pra casa.
- Will? Cheguei - ela disse ao fechar a porta do apartamento que dividia com o irmão caçula. - William!
Como não obteve resposta, ela colocou a mochila e a pilha de papéis sobre a mesa e foi até a geladeira procurar algo para comer, visto que estava faminta. A pizza da noite anterior parecia bem atrativa de esquentar no micro-ondas e comer, então foi exatamente isso o que ela fez, colocando a pizza no eletrodoméstico enquanto visualizava a mensagem de Katie lhe notificando, pela milésima vez, que sua festa de aniversário seria no próximo sábado e tinha a obrigação de estar lá. Ela com certeza estaria.
- Espero que tenha sobrado pizza pra mim também!
- Você não estava em casa, então achei que poderia comer tudo sozinha - ela riu quando percebeu que o irmão chegou e nem viu. - Estava correndo? - perguntou ao ver que ele estava sem camisa e suado, tirando os fones de ouvido que tocavam uma música alta.
- Manter minha boa forma é o meu lema, maninha, você tem que se cuidar também. É ótimo, sabia?
- Claro que sei, mas dar aula já é um exercício bem cansativo. Espera, está dizendo que estou feia?
- Não, não. Você é a professora de história mais linda do mundo, mas uma preguiçosa quando se trata de ir para a academia.
- Não tenho tempo, Will, é diferente.
- Então arrume - William foi até o micro-ondas e tirou o prato de lá quando o mesmo apitou, devolvendo para enquanto ele se servia de um pedaço de pizza.
- E você diz isso enquanto come pizza requentada?
- É... Mas não se preocupa, eu compenso correndo em dobro amanhã - o mais novo respondeu com bom humor enquanto colocava um minuto no micro-ondas.
Os irmãos comeram juntos enquanto contavam sobre seus dias. adorava morar com William, já que Thomas, o mais velho, estava cursando seus últimos anos de medicina na Universidade de Oxford e raramente via os irmãos. Apesar da diferença de idade - William tinha apenas vinte anos, enquanto tinha vinte e quatro e Thomas vinte e oito -, todos eles se davam muito bem, mas o fato de os pais morarem em Manchester os unia ainda mais. Ou melhor, os pais de e Thomas, já que William vinha de outro pai.
Não que houvesse um caso de traição na família, mas quando Thomas e eram apenas crianças, Lewis e Elizabeth Thompson passaram por um período conturbado no casamento no qual decidiram se separar. Elizabeth, ou simplesmente Liz, se envolveu com outro homem e isto resultou no nascimento de William que levou muitos anos para aceitar o fato de que seus pais nunca foram e jamais seriam um casal, mas ele até que estava bem com isso ultimamente. Costumava dizer que tinha dois pais.
- Você vai no aniversário da Katie? - perguntou após engolir o último pedaço da sua fatia.
- Você não vai acreditar, mas eu conheci uma gata no Tinder, o nome dela é Louise Jones. Conversa vai, conversa vem, descobri que ela é prima da Katie! Dá pra acreditar?
- Nossa, sério? Tenho que admitir que meus anos de amizade com a Katie não foram o suficiente pra eu conhecer os parentes dela além do Jake e dos pais dela. É parente próximo?
- Sim! Quero dizer, eles moraram um tempo na América, talvez por isso a Katie não tenha falado muito sobre eles. Parece que o irmão da Louise é escritor ou algo assim e ela é a empresária dele, são bem ocupados.
- Tá, e o que você fez pra conquistar ela? Exibiu o seu tanquinho malhado? Quantos anos ela tem?
- Vinte e três - William disse naturalmente enquanto bebia seu suco.
- Eu sabia! Você não aprende nunca, ama ficar com mulheres mais velhas.
- Elas me amam, maninha, não posso evitar. A Louise é legal, divertida, inteligente e linda. Sinto que tirei a sorte grande.
- Só até ela descobrir que você é três anos mais novo do que ela.
- Ela já sabe e está bem com isso, eu acho... Não sei, não perguntei. Quando nos vermos, talvez eu pergunte.
- Então vocês não se conhecem pessoalmente?
- Hum... Ainda não, mas... Vamos nos conhecer no aniversário da Katie. Relaxa, , não vou me precipitar.
- Espero. Estou de olho, Will.
- Chata - ele murmurou revirando os olhos enquanto ela ria dele, fazendo uma careta. - Então se responde a sua pergunta: sim, eu vou no aniversário da Katie com você.
- Que bom, eu fico feliz por isso.
- Fogo... Fogo... Vá - murmurava no seu sono repentino enquanto sonhava com labaredas de fogo por toda a parte.
Ele se via perdido no meio das chamas, uma voz longínqua dizia para ele ir, mas ele não sabia pra onde, pois estava cercado pelo fogo e não tinha a mínima ideia de onde estava. Sabendo que não tinha muito o que fazer, ele criou coragem e correu, indo em direção ao fogo, pronto para passar por ele, mas nunca soube como terminaria, pois acordou no mesmo instante devido ao susto e só então percebeu que novamente cochilou enquanto escrevia. O notebook havia descarregado e o relógio na parede marcava meia-noite de sexta-feira. tirou os óculos de grau e esfregou os olhos, se sentindo mais cansado do que nunca, então optou por deixar a escrita um pouco de lado para poder descansar e ter novas ideias para colocar no papel no dia seguinte. Embora soubesse que o prazo para enviar para editora estava quase se esgotando, ele não queria escrever apenas por escrever e achava que estava fazendo um bom trabalho.
se livrou da camisa e calça social, optando por uma calça de moletom confortável para poder se deitar. Escovou os dentes e por fim caiu na cama, se sentindo a pessoa mais cansada do mundo naquele momento, mas agradecido por não ter que pegar um trem lotado para ir ao trabalho no dia seguinte. Felizmente, achava que tinha o melhor emprego de todos.
E não demorou nada para que caísse em um sono pesado, porém sereno. Sua mente cansada não parou de trabalhar e ele novamente se viu em um lindo jardim bem cuidado, com a grama verde recém cortada. Um palácio no fundo que ele tinha certeza que conhecia, mas não lembrava exatamente a localidade, embora tivesse uma vaga lembrança de que estava no Reino Unido. Ele olhou ao redor por um instante e então a viu de costas, a mesma pessoa de todos os seus sonhos, passando correndo com seu longo vestido esvoaçante enquanto os cabelos balançavam com o vento. Sem perder tempo, foi atrás, atraído pela garota que sempre visitava os seus sonhos.
- Ei! Espera, por favor!
Ela parou de correr e se virou para ele, sorrindo curiosa. Era estranho, pois tinha certeza de que a conhecia, embora não soubesse se quer o nome dela.
- Pois não? - a garota respondeu cordialmente, quase se distraindo enquanto arrumava a parte de baixo do vestido que estava amassada. - Eu... Eu... - ele não sabia o que dizer, nunca sabia. - Qual é o seu nome?
Um ruído saiu da boca dela e ele tentou apurar audição para ouvir, mas ela apenas continuava olhando para ele, com o sorriso mais doce que alguma vez viu. Fosse na vida real ou apenas em sonho.
- Me desculpa, eu não entendi.
- Não importa. Você sempre está aqui, mas eu não sei o seu nome.
- Erm... , Jones.
- , meu querido e amado . Vem comigo, está tão perto...
Ela o puxou pelo braço e não era capaz de se manter parado, apenas ser guiado, era como se não tivesse pernas. Estava perplexo, como ela sabia que seu nome era se ele apenas disse seu apelido? Ele se quer conseguia parar de correr para perguntar, quando se deu conta, já estava dentro do Palácio, diante de uma grande lareira antiga. Pelo ambiente, tinha certeza de que estava no século dezenove.
- Por que sempre venho parar aqui? - ele olhou ao redor, se sentindo mais perdido do que nunca. - Que lugar é esse? Eu sei que já estive aqui, mas eu não consigo me lembrar quando ou o motivo...
- Talvez seja em um dos seus livros...
- Não, eu sei que não, eu conheço minhas próprias histórias.
- Não, ... Você vive as suas histórias.
Antes que ele pudesse perguntar do que ela estava falando, a garota já não estava mais ali e tudo foi consumido pelo fogo em um piscar de olhos. tentou impedir, mas era tarde, tudo o que conseguiu foi acordar novamente, sentado na cama, suando frio e com um braço esticado no ar, como se pudesse tocar alguma coisa. Quando se deu conta de que estava sonhando novamente, ele caiu para trás, frustrado, esmurrando o travesseiro molhado.
Não conseguia entender por que aqueles sonhos lhe perturbavam a mente desde garoto, mas que agora pareciam muito mais reais e assustadores. Quando mais novo, lhe servia de inspiração ver todos aqueles castelos, bailes e campos verdejantes, mas ultimamente só via fogo e ouvia palavras sem sentido.
estava verdadeiramente frustrado com tudo aquilo, pois não servia para absolutamente nada, por mais que tentasse ele nunca conseguia passar daquela parte, ela sempre desaparecia e tudo sempre era consumido pelo fogo.
Frustrado, mas não surpreso, ele se virou para o outro lado da cama, tentando cair no sono novamente, embora a sua cabeça não parasse de trabalhar e ele torcia para não cair em mais um dos seus loucos - e as vezes perturbantes - sonhos. Gostaria de, ao menos uma vez, se sentir leve ao adormecer, e foi exatamente isso o que aconteceu quando ele finalmente conseguiu relaxar, fechando os olhos e se desconectando de tudo um pouco. Talvez isso o ajudasse a abrir a mente e criar um novo enredo, ele não tinha certeza, mas estava torcendo para que desse certo.
No dia seguinte, acordou tarde, vendo no relógio da parede que já passava das onze da manhã, mas ele não estava preocupado com isso e até pensou em passar mais tempo deitado, apenas tendo um merecido dia de preguiça, mas as vozes que vinham de fora do quarto eram altas o suficiente para não permitir. Ele riu, pois sabia exatamente do que se tratava, então se levantou e vestiu uma camiseta qualquer. Deixou o seu quarto e caminhou até a sala interligada à cozinha, sorrindo com a cena de seus irmãos preparando o café da manhã. Damon mexia os ovos na frigideira enquanto Diana lia em voz alta a receita para o irmão. Já Louise estava sentada no balcão, mordiscando uma maçã da fruteira, dando ordens aos outros dois de que deveriam limpar toda a bagunça depois.
Eles não moravam todos juntos naquele loft comprado por quando decidiu voltar para a Inglaterra, mas ele não se surpreendia sempre que os encontrava ali logo pela manhã. Parecia até que era um ritual e ele gostava de ter quase a família inteira para o café da manhã.
- Lou, você cozinha muito melhor do que o Dam, deveria assumir o fogão - ele disse ao se aproximar, dando um beijo na bochecha da irmã que sorriu pra ele.
- Bom dia, irmãozinho, o Damon disse que hoje ele iria pilotar o fogão e eu concordei.
- , aqui tem detector de fumaça, não é? Porque tenho certeza de que isso não vai dar certo.
- Sim, Ana, queimados não morreremos - sorriu compreensivo para ela e foi até o irmão gêmeo. - Está com um cheiro bom, acho que já está no ponto. Dessa vez não vou julgar você.
- Obrigada pela compreensão, cara, muito obrigado mesmo. Que bom que pelo menos uma pessoa aqui não está contra mim - Damon se mantida concentrado, mexendo os ovos com a espátula enquanto desligava o fogo pra ele.
Louise desceu do balcão e pegou os pratos para distribuir ao redor da ilha enquanto Diana pegava o suco na geladeira.
colocou os copos e talheres sobre a ilha e Damon foi servindo um prato de cada vez até que todos se sentaram para tomarem o café da manhã juntos.
- Só faltaram os nossos pais, mas aparentemente mamãe está em um processo criativo impossível de ser parado. Entrar no avião e visitar outro país não está nos planos deles atualmente, então somos apenas nós - Diana disse antes de dar uma garfada generosa no seu prato, levando à boca logo em seguida.
- Pra mim está ótimo, até parece que vocês moram aqui - comentou bem-humorado. - Damon poderia usar das habilidades dele de arquiteto e fazer uma casa pra cada um.
- Eu já fiz, mas elas não gostaram - Damon olhou para as garotas que riram entre si.
- Não é que não gostamos, no meu caso não vale a pena porque eu dificilmente fico no mesmo lugar. Para um nômade ter uma casa, é a mesma coisa de estar preso.
- Diana, você não é nômade, só é uma CDF mesmo - Louise pontuou, rebaixando o mestrado da irmã em biomedicina.
- Que engraçado, Louise, depois não vem me perguntar se tenho vacina para curar suas espinhas. O recado está dado.
- Passa a mão aqui, macia como a de um bebê - Louise passou a mão pelo próprio rosto e logo em seguida recebeu um tapinha de Diana. - Ai!
- Meninas, sem brigas - riu, chamando a atenção das irmãs. - Cada um aqui tem suas habilidades extraordinárias. Dam constrói casas, Ana vai encontrar a cura para a rinite, eu escrevo histórias aleatórias e a Lou não deixa que as pessoas descubram que na verdade sou um badboy.
- , você no máximo é aquele aluno distraído que passa perto da briga, mas o diretor pensa que é um dos envolvidos e acaba levando uma suspensão também. De ruim você não tem nada, acredite.
- Eu já sugeri de trocarmos de lugar, mas você não quer - Damon pontuou distraidamente, olhando para a sua refeição. - Ninguém iria notar.
- Isso é verdade - pontuou, sem argumentos para se defender. - Mas acho que descobririam sim, porque você é meio idiota.
Sobre provocações e risadas, o café da manhã dos irmãos era o gás que cada um deles precisava para encarar o último dia da semana. No dia seguinte seria o aniversário de Katie e só então poderiam relaxar, mas enquanto isso tinham mais um longo dia de trabalho pela frente.
- Se me derem licença, preciso ir para o escritório. Vocês sabem, tenho que desenhar casinhas, na visão do . Tchau pra quem fica, amo vocês! - Damon disse à distância, acenando para os irmãos e fechando a porta logo em seguida.
- Espera, Damon, que droga! Tenho que ir também, tenho algumas coisas pra resolver. A gente se vê mais tarde ou amanhã. Beijinhos pra vocês - Louise foi logo atrás, afim de alcançar o irmão.
- Pra mim é desculpa para não lavarem a louça - dizia enquanto juntava os pratos em uma pilha.
- Concordo - Diana pegou os copos e colocou dentro da pia. - Você precisa de uma lavadora de pratos, .
- Eu sei - ele riu concordando. - Pode ir, sei que você deve ter alguma coisa importante pra hoje.
- Na verdade, não. Estou com a agenda livre até semana que vem. Segunda-feira vou para Oxford palestrar, então só preciso revisar o conteúdo, mas já está tudo pronto.
- Tem certeza que você não foi trocada por um robô do governo? - os dois riram e então se posicionou para começar a lavar a louça, mas Diana se colocou na frente. - Não precisa, Ana, deixa que eu lavo.
- Não, não, você precisa escrever, deixa que eu faço isso. Anda, vai lá terminar o seu livro.
- Estou um pouco travado hoje, não vou conseguir escrever nada.
- Seus sonhos não estão sendo o suficiente?
- Não - ele admitiu, soltando um longo suspiro. - Essa noite foi tudo muito bagunçado. Era só um castelo, uma garota e fogo, muito fogo. Não tem muito no que se inspirar.
- Talvez seja a brecha pra você colocar um bombeiro sarado na história que irá salvar a mocinha.
- A escritora deveria ser você - os dois riram juntos, mas aquela conversa estava deixando aborrecido consigo mesmo. - É estranho, não é? Eu sempre sonhar com as mesmas coisas, as mesmas pessoas... Não lembro de ter visto essa garota alguma vez na vida.
- O nosso subconsciente costuma guardar rostos e reproduzir nos sonhos, mesmo que a gente não se lembre. Foi um rosto que marcou, ou simplesmente você está alucinando, .
- Tem razão, acho que preciso de férias.
- Precisa mesmo.
Diana era a única com quem compartilhava os seus sonhos. Sensitiva, ela sempre tirava a melhor parte e o ajudava a criar um bom enredo, embora às vezes pudesse o compreender como se fosse parte da imaginação dele. Ela gostava de ouvir, era como fugir da sua realidade maçante e ser outra pessoa, mesmo que indiretamente. Não sabia dizer se era uma benção ou simplesmente a cabeça de lhe pregando peças, mas ela não podia negar o quanto achava aquilo real porque era como se ela pudesse ver junto com ele na maioria das vezes.
Ou melhor, não era como se ela visse. Ela realmente via, às vezes em sonhos também.
- Sabe, Ana? Às vezes acho que esses sonhos querem me dizer alguma coisa, mas não tenho a mínima ideia do que seja.
- Bom, essa não é a minha área, mas também acho. Vamos descobrir juntos então.
- Claro que sim. Não tem nada que Diana Jones não possa descobrir - ele sorriu e jogou água nela, fazendo Diana saltar para trás, soltando um gritinho agudo em resposta.
- Quer saber? Você vai descobrir sozinho, eu desisto de te ajudar.
- Ei, ! - William adentrou no quarto da irmã, notando que estava escorada na escrivaninha, aparentemente concentrada. - Está ocupada?
- Só estou corrigindo umas tarefas, nada demais -
sorriu gentilmente, dando permissão para que William entrasse no cômodo. - O que foi?
- Carter disse que tentou ligar para você, mas você não atende.
- Meu celular está descarregado. Sabe o que ele quer falar comigo?
- Disse que está vindo para a cidade e gostaria de passar alguns dias aqui ao invés de pagar hotel, perguntou se está tudo bem pra você.
- E ele ainda pergunta? É claro que sim, ele sabe que pode ficar aqui o tempo que quiser. Ou pelo menos deveria saber.
- Valeu, , você é a melhor. Eu vou falar com ele.
William deixou o quarto e voltou sua atenção para o dever de um dos seus alunos, embora fosse difícil manter a concentração, agora que estava ansiosa por receber o amigo em casa. Mais do que isso, Carter era da família, por ser meio irmão de Will, era como se fosse irmão dela e de Tom também. Ela sabia o quanto William era apegado ao pai biológico, Steven, assim como Carter, então ela fazia de tudo para que o caçula se sentisse em uma família completa, já que ele não pensava assim. Embora no passado, alguns anos antes, demonstrasse ter uma quedinha pelo irmão de Will e sendo correspondida, ela sempre estava disposta a ter a melhor relação possível com ele e estava conseguindo.
respirou fundo e tentou voltar a atenção para o trabalho, desejando terminar o mais rápido possível para que pudesse aproveitar o resto da sua sexta-feira antes que Katie lhe enviasse mil e uma mensagens a lembrando, de novo, do seu aniversário no dia seguinte. Não que Katie estivesse planejando uma super festa como nos anos anteriores, muito pelo contrário, ela queria apenas pessoas próximas e por isso fazia tanta questão de que estivesse lá.
Quando finalmente conseguiu corrigir todos os deveres de seus alunos, se levantou e se esticou como se estivesse se espreguiçando, esticando bem a coluna depois de passar horas sentada. Apesar do cansaço, ainda tinha disposição para curtir a sexta-feira à noite e ninguém melhor do que os melhores amigos para se juntarem a ela.
procurou pelo contato de Jake e chamou pelo número do amigo, ele atendeu logo em seguida, com a empolgação de sempre.
- Minha sexta-feira só começa depois da sua ligação, - ele disse com bom-humor do outro lado da linha e riu.
- E então? Qual é a programação de hoje?
- Que tal um pub? Vai ter uma banda cover dos Beatles naquele que a gente sempre vai.
- Está brincando! Claro que sim! Vou torcer para o William estar com a identidade falsa dele em dia porque senão ele vai nos matar por perder música ao vivo.
- É verdade. Se arruma logo porque estou aí em no máximo uma hora e meia. Tchau.
Jake desligou antes que pudesse se despedir também, então ela foi atrás de William, mas não precisou procurar o irmão pelo apartamento, pois ouviu o som de guitarra vindo do quarto dele.
- Jake chamou a gente pra ir ver um cover dos Beatles em um pub. Está com a identidade em dia, não está?
- Claro que sim! - William rebateu como se tivesse acabado de ser ofendido.
- Perfeito, então se arruma logo porque daqui a pouco ele vai passar aqui para nos buscar.
- Posso tomar banho primeiro?
- Nem pensar! Eu vou!
saiu do quarto do irmão e foi direto para o banheiro, tomando um banho rápido para que pudesse escolher uma roupa e se maquiar com tranquilidade depois. Foi exatamente isso o que ela fez, pois enquanto William demorava no banho, ela já estava preparando uma maquiagem para a noite e que combinasse com o momento, tal como a camiseta com as silhuetas de Paul, John, George e Ringo desenhadas na sua camiseta amarela que ela separou para a ocasião. Ao final de uma hora já estava pronta e agora apenas esperava por William que também não demorou muito para aparecer na sala já devidamente vestido, exibindo sua jaqueta de couro predileta.
- Você vai passar calor, isso sim.
- Não se preocupe, vou ficar bem - Will se sentiu na poltrona livre, relaxando. - Assim pareço mais velho e ninguém acreditaria se eu dissesse que tenho vinte anos.
- Você tem cara de bebê, Will, a jaqueta é um detalhe. Sinceramente, não sei como você entra nos pubs com essa identidade claramente falsa.
- O segredo é um sorriso encantador, como esse que eu tenho - ele sorriu galante, fazendo gargalhar.
- Tá bom, William, tá bom, eu já entendi que você é evoluído. Espero que o Jake chegue logo para eu não ter que te aguentar por muito mais tempo.
E não demorou muito para que Jake chegasse para os buscar. Estava tão elegante quando William, mas a diferença é que uma jaqueta de couro o deixava com cara de um membro de uma gangue de motoqueiros. Jake, no auge dos seus vinte e oito anos, gostava de frequentar a academia e manter a boa aparência da barba e talvez por isso aparentasse ser mais velho. Parecia haver um abismo na diferença de idade entre os dois.
- Viu, Will? O Jake fica bonito em uma jaqueta de couro.
- E quem disse que eu não fico? Aposto que eu pego mais meninas do que ele.
- Tenho certeza que sim, Will - Jake riu, reconhecendo que era verdade. - Não tenho mais a mesma disposição que tinha aos vinte anos. Chega uma hora que você só quer um amorzinho para assistir um filme juntos no fim de semana.
- É verdade, sinto que estou chegando nessa idade...
- Tenho medo de ficar careta como vocês algum dia. Eu espero ser poupado disso.
O caminho até o pub foi longo, porém animado, afinal, tinham assunto de sobra e William poderia listar cada menina que já beijou na vida, mesmo que e Jake protestassem contra, alegando que não gostaria de ouvir a lista que duvidassem que fosse tão longa assim.
- Will, no dia em que você conhecer uma pessoa que vai te cativar, você vai se perguntar porque ela não chegou antes das outras e vai perceber que perdeu tempo demais com pessoas erradas. - Que lindo, Jake, me emocionei. Mas é aquela história, eu vivo de momentos, estou satisfeito com o rumo que minha vida está tomando.
- Que rumo, garoto? Você é desempregado e não quer ir pra faculdade.
- Pode rir, , quando eu for um cantor famoso, eu não quero você vivendo nas minhas custas, tá bom?
- Claro, faço questão de me mudar.
Quando chegaram ao pub, tiveram que aguardar um pouco na porta, tempo o suficiente para que começassem a sentir frio, visto que a fila era extensa. Jake se quer precisou apresentar a identidade, tal como , mas William foi parado. Ele apresentou o documento falso ou segurança e olhou para a irmã e o amigo, que prendiam a vontade de rir bem atrás do homem.
- Eu sei que não parece, mas ele tem vinte e um, essa carinha de neném engana muita gente - saiu em defesa do irmão quando percebeu que William poderia se complicar. Sei que não parece, mas somos irmãos, eu posso provar.
- Irmãos? Vocês não são nada parecidos - o segurança disse visivelmente confuso e concordou.
- Pais diferentes, acontece... Mas é sério, ele tem vinte e um mesmo.
- É verdade, conheci esse pivete na barriga da mãe dele, quase vinte e dois anos atrás - Jake também se pronunciou, esperando passar credibilidade.
- Se vocês estão dizendo... - ele liberou o acesso para o William. - Bom show.
- Obrigado - Will pegou a identidade de volta e guardou na carteira enquanto entrava logo atrás de e Jake, que riam dele. - Não tem graça, eu poderia ter me encrencado.
- Na próxima, espera fazer vinte e um pra vir também - disse por fim, parando para ter uma vista do local e procurando uma mesa com vista boa para o palco.
Infelizmente não encontraram nenhuma mesa perto do pequeno palco já equipado para receber a banda, mas uma mais para o meio estava disponível, então foram para lá o mais rápido possível, antes que outras pessoas chegassem primeiro. Ao se sentarem, não demorou muito para que um garçom viesse anotar os pedidos dos jovens que pediram bebidas e porções individuais de batatas fritas que logo foram servidas para eles.
- Por que a Katie não veio? - perguntou enquanto bebericava sua cerveja.
- Está decorando a casa dela para a festa. Eu perguntei se ela queria ajuda, mas ela disse que não e quase me expulsou de lá. Como não me atrevo a desobedecer a uma ordem dela, só acatei e saí.
- E pra que ela vai decorar se não vai ninguém? - indagou William, visivelmente confuso com a decisão de Katie.
- Bom, não sei, mas acho que ela quer causar boa impressão, sabe? Nossa tia Jenna e nossa avó Mary vão vir de longe só para a festa, e uns primos nossos que voltaram pra cidade recentemente também. Acho que a Katie quer causar uma boa impressão, reunir a família depois de muito tempo é importante pra ela. Éramos todos bem próximos quando crianças, mas agora ela quer estreitar os laços de novo, achei bem legal da parte dela.
- Adoro festas cheias de parentes que não conheço dos meus amigos - ironizou, sentindo o estômago revirar só de imaginar estar no meio de várias pessoas desconhecidas.
- Não se preocupa, nossos primos são legais, todos na nossa faixa de idade, acho que vocês vão se dar bem com eles. O Dam é todo engraçadinho, vocês vão rir muito com ele e a Diana é biomédica, muito inteligente. Ela tem vinte e quatro anos e já tem mestrado na área, acredita?
- É sério? - perguntou curiosa, se interessando de repente.
- Sim, ela terminou o colégio aos quinze anos e foi para Harvard e desde então nunca mais parou de estudar. Acho que ela é o Hawkins da nossa geração.
- Nossa, assim eu me sinto até burra.
- Burra? Você? , não é tudo mundo que sabe contar sobre a peste bubônica como se tivesse vivido naquela época.
- Não sei explicar, apenas amo História e amo ensinar, conhecimento é algo que nunca podem tomar de você.
- Você tem razão.
- Que papo mais cabeça, estou entediado! - Will resmungou, fazendo os outros dois rirem. - Tenho uma irmã professora, um irmão médico e um outro irmão que fala francês fluente. Me sinto como se fosse uma das irmãs feias da Cinderela.
- Mas Will, você toca guitarra e canta muito bem, isso não é para qualquer um - tentou animar o irmão que apenas deu de ombros.
- Você também.
- Mas eu não me dedico como você. Somos uma família de pessoas extraordinárias.
- Juro que amo vocês, mas essa conversa é entediante - Jake disse aborrecido, mordiscando uma batatinha. - Só faltou o Tom com os termos médicos dele para tudo ficar dez vezes pior.
- Como você é rabugento, Jake Paige - jogou uma batata no amigo, que pegou em um bom reflexo e comeu.
Apesar das brincadeirinhas entre os três, eles mal se deram conta de que o tempo passou e logo quatro rapazes, fielmente parecidos com os garotos de Liverpool, subiram ao palco e saudaram os presentes ali. A primeira música tocada por eles fora A Hard Day's Night.
- Ah, cara! Essa música é incrível! - William deu um soquinho não mesa, não se contendo de felicidade.
- Só não é melhor do que She Loves You.
- Ou I Want To Hold Your Hand - contrariou Jake, que concordou com um breve aceno de cabeça.
- Podem parar de me contrariar só por três minutos e deixem eu curtir minha música favorita, por favor? Obrigado - William virou a cadeira para poder prestar atenção nos músicos e deixou os outros dois de lado.
A música seguinte foi She Loves You, para a alegria de Jake, e depois I Want To Hold You Hand, para o delírio de . Foi um show repleto de sucessos do quarteto, na maioria das vezes cantados a plenos pulmões pelos fãs, como em Hey Jude quando as pessoas ligaram as lanternas de seus celulares. Já que um concerto dos Beatles em pleno 2019 era impossível de se ver, então todo e qualquer cover era muito mais do que bem-vindo aos carentes fãs da banda, inclusive os mais jovens.
Ao fim da apresentação, os três dividiram a conta e optaram por irem embora, afinal, tinha uma festa no dia seguinte e se quer havia comprado o presente da melhor amiga ainda e não tinha a mínima ideia do que poderia dar, embora Jake tivesse sugerido qualquer coisa que envolvesse estética e cuidados para a pele, algo que ele tinha certeza que a irmã iria adorar. anotou a ideia mentalmente enquanto lutava contra o sono no banco de trás, encostando parte do rosto contra o vidro, quase se rendendo ao cansaço de um dia longo dando aulas.
- Essa catedral é linda, né?
A voz de Jake a fez despertar por um instante e ela olhou pela janela e viu a catedral de Saint Paul rapidamente enquanto William comentava algo sobre a destruição da igreja durante a Segunda Guerra Mundial.
- Foi destruída durante o Grande Incêndio de Londres em 1666 - ela murmurou, sem abrir os olhos. - Dizem os livros que o fogo se espalhou pela cidade até chegar na igreja, mas foi um incêndio criminoso, pessoas morreram lá dentro...
Mas antes que Jake e Will pudessem perguntar sobre o que estava falando, o mais novo se virou e viu que a irmã estava cochilando, então pensou que ela apenas estivesse falando coisas sem sentido, afinal, nunca ouviu nada sobre um incêndio proposital, embora alguns historiadores encontraram registros da época que diziam que seis corpos, unidos pelas mãos, foram encontrados carbonizados perto do altar enquanto um sétimo estava um pouco mais distante deles, mas quem eram aquelas pessoas ou o motivo de estarem ali continuavam um mistério nos dias atuais e iria continuar assim por toda a eternidade, embora, naquele momento, flashes passassem pela mente de .
Fogo, muito fogo por toda a igreja, um calor quase insuportável e fumaça tóxica, sua mão esquerda estava sobre uma outra mão feminina enquanto a direita tinha os dedos entrelaçados com uma mão masculina. Ela tentava olhar para cima e ver quem eram as pessoas, mas algo a impedia e ela só conseguia olhar para o chão na sua frente enquanto as chamas se aproximavam e respirar já era uma dificuldade.
- Vamos... Conseguir - foi tudo o que ela disse antes de sentir que não comandava mais o próprio corpo, caindo no chão.
Mas ela não estava inconsciente, muito pelo contrário. Ela ouvia uma voz a chamando, a mesma voz que disse seu nome tantas outras vezes em sonhos, mas ela nunca soube quem era. Ele estava ali novamente, era aquela mão que estava entrelaçada com a sua. lutava para conseguir levantar dali ou ao menos virar o rosto para vê-lo, mas era como se uma força invisível a prendesse no chão com brutalidade e ela não conseguia sair dali. Desesperada para escapar, ela se debatia e chorava, mas era tudo em vão, o fogo os consumia sem piedade.
- , !
acordou no susto quando sentiu que estava sendo sacudida pelos ombros. Demorou um pouco para que sua visão ficasse clara, então ela viu que era William que a segurava enquanto Jake estava ao lado, olhando preocupado pra ela. Ela precisou de mais alguns segundos para perceber que ainda estava no banco de trás do carro do amigo, agora na frente do seu edifício.
- , o que aconteceu? Você estava gritando, está toda suada - William perguntou preocupado, passando a mão pela testa suada da irmã, afastando os cabelos grudados ali.
- Eu tive um pesadelo - respondeu um pouco atordoada, ainda procurando se situar.
- Calma, já passou. Vem, vamos entrar.
William ajudou a sair do carro enquanto Jake fechava a porta pra ela, então foi logo atrás dos dois.
- Precisam de ajuda?
- Não, obrigada, Jake. Estou bem, foi só um pesadelo, eu acabei cochilando no carro.
- , você começou a se debater e a gritar como se alguém estivesse te fazendo mal. Ficamos preocupados.
- Não se preocupa, estou bem - ela sorriu para o confortar e deu um abraço de despedida no amigo. - Vai pra casa, Jake, nos vemos amanhã.
- Tem certeza?
- Tenho. Qualquer coisa tenho o Will para me ajudar. Obrigada.
Jake, se dando por vencido, se despediu de William também e foi embora enquanto e seu irmão foram em direção as escadas, pois moravam no último andar de um prédio de três andares.
- Vamos nos mudar para um lugar que tenha elevador, se faz o favor - ele disse ofegante ao chegarem no último andar enquanto procurava as chaves no bolso.
- É você que tem o porte de atleta, não é?
- Não tem atleta que aguente subir essa escadaria toda... Mas afinal, , com o que você estava sonhando?
Era comum para esses tipos de sonhos desde que era criança. Embora acordasse no meio da noite gritando pelos seus pais, ela começou a deixar isso de lado conforme foi crescendo para não preocupar ninguém, mas sempre tinha que inventar uma desculpa para justificar as vezes em que acordava no meio da noite berrando e suando frio.
- Você nem vai acreditar dessa vez - ela abriu a porta e deu passagem para o irmão primeiro. - Sonhei que estava naquele filme de terror, Corra. Foi bem desesperador, eu era o Chris.
- e seus sonhos malucos - William riu enquanto tirava a jaqueta, atirando a peça no sofá.
- Nem pensar! Pode levar para o quarto agora!
- Mas...
- Agora, William McQueen!
William resmungou, mas acabou acatando. Pegou a jaqueta e foi para o seu quarto enquanto pegou sua toalha e foi direto para o banheiro tomar um novo banho, afinal, estava suada com os cabelos grudando na nuca e na testa e ela odiava ter que dormir assim. Após o banho, ela ainda leu mais um trecho de Orgulho e Preconceito sob a luz do abajur ao lado da cama antes de finalmente adormecer.
Para a sua felicidade, não estava em um filme de terror e nem em uma igreja em chamas, apenas se permitiu desfrutar de uma boa noite de sono.
*Tempus ultra = latim para “além do tempo”.
Capítulo 2 - Dejavú
Have I known you 20 seconds or 20 years?” – Lover, Taylor Swift.
não se considerava o homem mais fotogênico do mundo, até se sentia um pouco constrangido em frente às câmeras, mas sempre que tinha que estar perante uma, ele se esforçava para não demonstrar. Podia se considerar um cara tímido e pensou que talvez Damon adoraria estar no lugar dele naquela seção de fotos. Sim, com certeza ele adoraria.
Ele colocou as golas da camisa pra cima enquanto olhava para a câmera e esboçou um sorriso de canto como Louise o instruiu pouco antes. Ao lado do fotógrafo, Louise sorriu encantada, fazendo um joinha para o irmão por ele ter feito como ela sugeriu anteriormente. Ela sabia que não gostava de sessões de fotos e aparições em eventos, então ela fazia o possível para que o irmão se sentisse mais à vontade quando tivesse que se deparar com este tipo de situação.
- Você é tão lindo! - ela disse divertida e mandou um beijo no ar pra ele, então ele riu envergonhado, coçando a nuca, fazendo com que o fotógrafo conseguisse outro clique espontâneo dele. - Isso!
- Ei, você me enganou! - protestou, indignado.
- Eu não disse nenhuma mentira, mas eu sabia que ia dar uma boa fotografia. Ânimo, , está quase acabando!
se virou como podia e torceu para que a sessão acabasse o mais rápido possível e, felizmente, isso aconteceu graças a Louise que sabia como o deixar tranquilo sempre. Ele não poderia pedir por uma empresária melhor do que ela, sabia que estava sendo bem cuidada.
Ao fim do ensaio fotográfico, trocou de roupa rapidamente para que pudesse, enfim, ir embora. Viu as horas no seu relógio de pulso e percebeu que tinha pouco tempo para voltar pra casa, escolher uma roupa apresentável e então ir para a casa de Katie. Embora não quisesse realmente ir, ele tinha certeza de que a prima nunca o perdoaria se ele não comparecesse e este não era um peso que ele gostaria de carregar pelo resto da vida, sabia que Katie poderia ser um pouco rancorosa às vezes.
- Vai, Lou, escolhe a minha roupa, eu deixo - ele disse ao pegar a toalha e jogar sobre os ombros antes de ir para o banheiro.
- Estava só esperando o seu aval - Louise saltou da cadeira e foi em direção ao closet do irmão. - Vai lá tomar o seu banho, deixa que sua irmã mais linda cuida disso pra você.
- Não deixe a Ana ouvir isso.
Ele deixou o quarto e foi em direção ao banheiro. Ligou o chuveiro enquanto se livrava das roupas e pensou que talvez a prima não ficasse ofendida se ele apenas chegasse atrasado, afinal, a água estava quente o suficiente para ele se permitir relaxar um pouco após uma tarde trabalhosa em pleno sábado. Eram raros os momentos em que conseguia se desligar do mundo e relaxar, então ele aproveitava sempre que tinha a oportunidade. Bem, isso até Louise esmurrar a porta do banheiro, questionando se ele ainda estava vivo lá dentro, reclamando que iriam se atrasar, mas não teve pressa, afinal, essa era a sua intenção.
Ele desligou o chuveiro e enrolou a toalha ao redor da cintura, então saiu do banheiro e voltou para o seu quarto, vendo que Louise deixou sobre a cama sua camisa social branca predileta, uma calça preta e até os sapatos sociais que ele deveria calçar. não conteve uma risada, pois achava que Louise cuidava dele melhor do que sua própria mãe. Ele se vestiu rapidamente e só saiu do quarto após colocar o relógio no pulso e ter certeza de que estava perfumado o suficiente.
- Até onde eu sei, Katie não chamou amigas - Louise disse ao vê-lo surgindo na sala e percebeu que ela já estava pronta.
- Não estou preocupado com isso.
- Mas deveria, está na hora de virar a página.
- Eu não sinto mais nada pela Luce - disse por fim, tentando encerrar a conversa ali, embora soubesse que Louise não iria desistir tão fácil. - É passado.
- Por isso mesmo acho que você realmente deveria começar a olhar para outras mulheres. , você é jovem, bonito e promissor, o sonho de qualquer garota. E aquela sonsa da Luce perdeu a melhor pessoa que poderia ter.
- Obrigado pelo elogio, mas estou bem assim. Quando tiver que acontecer, estarei pronto, mas por enquanto eu prefiro deixar como está. Passei muitos anos com a Luce, foi a minha primeira e única namorada, eu acho que ainda não é a hora de arrumar outra pessoa.
- Se você está dizendo... Só não quero aquela garota pisando aqui outra vez, nunca fui com a cara dela e não me pergunte o motivo.
- Você é péssima, Lou - ele riu enquanto Louise se levantava e pegava a sacola com o presente de Katie no sofá. - Suponho que esteja na hora de ir.
- Estamos atrasados como sempre! Vamos logo, não quero perder mais um minuto que seja.
concordou e jogou as chaves do carro para a irmã que pegou em um bom reflexo e então os dois saíram. Louise estava com um pouco de pressa e ele notou isso quando ela passou por um sinal vermelho.
- Se eu levar uma multa, a culpa é sua.
- Não se preocupa, eu pago.
- Vai me dar outra habilitação também?
- Para de reclamar, An, se você não levasse horas para se arrumar, teríamos chegado mais cedo.
- Ah, claro. Me desculpe.
Não que ele realmente estivesse arrependido por ter enrolado um pouco, mas também não gostaria de perder a habilitação para dirigir caso Louise passasse dos limites, o que tinha uma alta probabilidade de acontecer. Considerando que Katie morava em outro extremo da cidade, ainda tinham muitos faróis para passar e torcia mentalmente para que Louise fosse um pouco mais prudente nos próximos.
Como sabia que ainda levaria algum tempo para chegar, ele ligou o rádio e procurou por alguma estação que o agradasse. Gostava de vários estilos musicais, mas naquele momento gostaria de ouvir algo mais tranquilo, que combinasse com o seu estado de espírito. Quando I Miss You do Blink 182 ecoou pelos auto falantes do carro, relaxou no banco para poder prestar atenção na letra enquanto não chegava ao seu destino.
(Olá)
The angel from my nightmare
(O anjo do meu pesadelo)
The shadow in the background of the morgue
(A sombra no fundo do necrotério)
The unsuspecting victim of darkness in The Valley
(A vítima insuspeita da escuridão do vale)
We can live like Jack and Sally if we want
(Podemos viver como Jack e Sally se quisermos)
Where you can always find me
(Onde você pode sempre me encontrar)
And we'll have Halloween on Christmas
(E nós teremos um Dia das Bruxas no Natal)
And in the night we'll wish this never ends
(No fim da noite desejaremos que isso nunca acabe)
We'll wish this never ends
- É ou não é uma das melhores músicas que existem? - ele perguntou distraidamente enquanto prestava atenção no refrão de três palavras, fechando os olhos por um momento para apreciar. - , eu realmente não quero te ver tendo um orgasmo bem aqui. Por favor, se controla - Louise diminuiu um pouco o volume enquanto gargalhou, embora estivesse um pouco envergonhado por aquilo. - Eu sei que a música é boa, mas não é uma pessoa. - Que absurdo! Não posso simplesmente apreciar uma música boa. - Claro que pode, mas tudo tem limite, né? Agradeça por ser eu aqui e não o Damon. - Falando nele, sabe se ele já chegou lá? - Não sei, ele disse que iria com a Diana. Acho que vamos nos encontrar lá, mas não pense que não vou contar pra ele. - Contar o que? Estou ouvindo música! - Deixa de ser chato, An, só estou brincando. - Don't waste your time on me, you're already the voice inside my head... - ele cantarolava distraído, feliz por ter encontrado justo aquela canção em uma rádio qualquer.
Era impossível ouvir aquela música e não lembrar dos seus sonhos malucos.
Levou mais vinte minutos para que eles chegassem até a casa de Katie. Olhando de fora, não parecia que do lado de dentro estava acontecendo uma festa de aniversário porque diferente de outros anos, a prima Katie optou por algo simples apenas com pessoas próximas. Convidou os primos para que pudessem tentar se reaproximar depois de tantos anos, o que era ótimo, mas eles não tinham a mínima ideia sobre quem seriam os outros convidados presentes na festa de vinte e quatro anos da garota.
Quando Katie os recebeu na porta, ainda tentou espiar por cima dos ombros dela se tinha mais alguém lá, mas a casa parecia estar bem tranquila perto do que normalmente era.
- Que bom que vocês vieram!!! - Katie disse alegremente, puxando primeiramente Louise para um abraço um tanto exagerado, pegando a garota de surpresa.
- Achou mesmo que não iríamos vir? Não somos tão cruéis assim, Katie, os Jones não gostam de perder nenhuma festa - Louise riu e então entregou o embrulho pra ela.
- Prometo que já vou abrir, mas não sem antes dar um abraço nesse bonitão que de tímido só tem a cara - Katie se virou para e abriu os braços, fazendo com que o primo desse uma risada sem graça, mas foi ele quem abraçou primeiro. - Como você está, ? Escrevendo muitos livros?
- Na medida do possível - disse ao se afastar, não sabendo exatamente o que responder. - Feliz aniversário.
- Obrigada. Entrem logo, a festa hoje é do lado de dentro.
Ela deu espaço para que os irmãos entrassem e depois foi na frente para os levar até a sala, mas aparentemente eles eram os primeiros a chegarem, pois apenas os pais de Katie, Liam e Sarah, além de Jake, seu irmão, estavam presentes. Jake zapeava os canais da TV procurando por algo interessante para assistir enquanto Liam mexia distraidamente no seu celular e Sarah estava na cozinha pegando copos para deixar na mesa de centro junto com as bebidas que iam desde suco a bebidas alcoólicas.
Louise e cumprimentaram os tios primeiro e esperaram Jake encontrar um jogo de futebol para se entreter. Encontrou uma reprise de Liverpool x Manchester City pela Premier League e deixou por ali mesmo, satisfeito com a busca, então foi cumprimentar os primos.
- A casa não é minha, mas fiquem à vontade. Fiquem à vontade em um lugar que não seja na frente da TV - Liam pontuou, divertido, então os três perceberam que estavam literalmente na frente da televisão.
- Desculpa, tio, não vou te atrapalhar de ver vinte e dois caras correndo atrás de uma bola - disse ao se afastar, sendo acompanhado por Louise e Jake, que estava um pouco atordoado com o comentário do primo.
- Como assim vinte e dois caras correndo atrás de uma bola? Não vai me dizer que não gosta de futebol!
- Não gosto - ele respondeu naturalmente, dando de ombros. - Acho que existem esportes mais interessantes.
- Quais, por exemplo?
- Hipismo, natação, ginástica olímpica. Acho que até um campeonato de xadrez é mais interessante do que qualquer esporte que envolva correr atrás de uma bola.
- Não, não estou ouvindo isso. Ouviu, pai? Ele não pertence à nossa família - Jake se afastou, pegou uma garrafa de cerveja e se sentou na poltrona livre.
- Não me surpreende, o Henry também não gosta, é de pai pra filho, mas deixa ele, Jake. Pode mudar de canal se quiser, .
- Não, tio, estou bem. Obrigado.
Louise pegou bebida para os dois e entregou um copo para enquanto murmurava para ele que ele vacilou, mas recebeu apenas um sinto muito em resposta vindo do irmão. Ele e Louise se sentaram juntos no sofá e, a contragosto, tentaram assistir à partida sem demonstrarem o quanto achavam entediante observar vinte e dois homens uniformizados correndo atrás de uma bola enquanto outros dois gritavam na beira do gramado passando instruções confusas como sobe, desce ou recua. não tinha a mínima ideia do que queriam dizer com subir ou descer, mas também não queria perguntar o que era.
- Não acredito que estão todos parados - Katie disse ao voltar da cozinha, colocando as mãos na cintura. - Gente, é uma festa! A minha festa de aniversário, eu quero alegria!
Ela pegou seu celular e conectou na caixinha de som ao lado da TV. Separou uma playlist especial para o momento e deixou tocando, esperando que os presentes ali se animassem ao menos um pouquinho. No mesmo instante a campainha começou a tocar.
- Vou abrir a porta e quando eu voltar, quero ver pessoas felizes, ok?
Katie saiu da sala e seguiu pelo corredor de entrada, mas tinha uma perfeita visão da cena e viu quando ela abriu a porta e se deparou com Damon e Diana. Ele conteve um suspiro aliviado, pois imaginou que Damon saberia como animar as coisas por ali, afinal, ele costumava ser sempre o coração de uma festa, o centro das atenções e adorava isso. Sua alegria durou pouco porque ele quis atacar o irmão quando viu que seu gêmeo estava praticamente vestido igual ele, com camisa social branca e calça preta, embora a calça de Damon fosse um pouco mais justa. se levantou para encarar o irmão, aborrecido com o que estava vendo.
- Por que você sempre faz isso, hein?
- Eu é que te pergunto. Sem drama, , foi a Diana que escolheu a minha roupa - Damon deu de ombros e foi cumprimentar Liam e Jake em seguida.
olhou para Louise e depois para Diana, que apenas riram da desconfiança dele, então ele entendeu tudo.
- Vocês combinaram isso, não é?
- Talvez, achamos que seria divertido ver a cara de vocês dois. Não foi como a gente esperava, mas valeu a pena mesmo assim - Diana deu de ombros e também cumprimentou seu tio e seu primo.
- Eu não me importo, sou muito mais estiloso do que o , todos sabem disso - Damon disse despreocupado. - Cadê a tia Sara?
- Estou aqui, querido - Sarah apareceu na sala e se assustou ao ver que os gêmeos estavam vestidos iguais. - Quem é quem? Por que estão vestidos iguais?
- Louise e Diana como sempre prejudicando a gente - Damon respondeu ao cumprimentar a tia.
- Estão lindos, meninos, até posso lembrar de quando eram pequenos e sua mãe vestia vocês iguais. Parece que nada mudou.
- Obrigado, tia Sarah. Tudo o que eu queria agora era estar em uma festa vestido igual o meu irmão gêmeo - disse aborrecido, fazendo sua tia rir e Damon desdenhar.
- Fazer o que, né? Todos têm um defeito e o meu foi dividir o útero com o , mas acontece, nem vou me preocupar hoje, só vamos curtir. Katie, prometo que este será o seu melhor aniversário.
"CADÊ VOCÊ? Minha família inteira já chegou. VEM LOGO!"
leu a mensagem de Katie rindo, imaginando que a amiga deveria estar furiosa com ela, mas ela respondeu que já estava a caminho e realmente estava, porém quem assumiu o volante foi William e talvez por isso estivessem demorando tanto, afinal, ele era recém-habilitado.
- Anda logo, Will, ou vamos chegar só amanhã.
- Não quero perder minha habilitação no meu primeiro ano, .
- Cristo, eu deveria ter ido dirigindo - se afundou no banco, deprimida. - Eu dirijo na volta.
- Com certeza, não vou estar sóbrio pra isso - ele mordeu os lábios e ela riu, se perguntando como alguém tão novo poderia beber tanto. - Só saio de lá carregado.
- Mas e a tal da Louise? É essa a primeira impressão?
- Ah... É melhor ela conhecer todos os meus lados antes de querer alguma coisa, não é?
Embora não achasse uma boa ideia, acabou concordando para dar a conversa como encerrada por ali. Se limitou a continuar o resto do caminho ouvindo apenas qualquer coisa que Will tivesse para dizer sobre Louise e como estava ansioso para finalmente ver a garota, mesmo que fosse em um aniversário cheio de gente.
- Não tem um monte de pessoas, só a família da Katie.
- De qualquer forma, continua sendo esquisito para um primeiro encontro.
- E por que você não a chama pra sair como um cara normal?
- Eu já chamei, ela disse que não podia porque tinha alguns compromissos de trabalho, mas eu não vou desistir sem lutar.
- Esse é o meu garoto.
Não demorou mais do que dez minutos para que chegassem à casa de Katie, visto que o GPS procurou por rotas alternativas para fugir do trânsito. Katie os recebeu na porta com um abraço, mas depois deu um puxão de orelha em cada um.
- Cadê a pontualidade britânica de vocês, hein? Se eu marquei oito horas, era para estarem aqui oito horas!
- Aí, aí! Desculpa, Katie, a culpa foi minha! Vim dirigindo devagar - William disse esfregando a orelha ardida, com uma careta de dor no rosto.
- Posso saber o porquê? - Ele é recém-habilitado, não quero que ele leve multa dirigindo o meu carro. Perdoa a gente só dessa vez - saiu em defesa do irmão e exibiu o embrulho que segurava nas mãos. - Prometo que você vai gostar.
- Se eu não gostar, vou fazer um escândalo - Katie tomou o embrulho nas mãos e deu passagem pra eles. - Entrem, já estão todos aqui. Meus primos gêmeos estão vestidos iguais, então não estranhem se achar que estão vendo coisas duplicadas por aí.
riu e foi na frente de William, esperando encontrar uma sala pequena para inúmeras pessoas lá presentes, mas tudo o que viu foi a televisão ligada em um jogo de futebol, música alta tocando e pessoas conversando em voz alta. Ela acenou brevemente, cumprimentando Liam, Sarah e Jake. Avistou Louise e Diana, sem as conhecer, e precisou espremer os olhos, jurando já ter visto as garotas em algum lugar, mas não conseguia se lembrar de onde. Já Diana viu e algo diferente despertou dentro dela.
De repente, Diana se viu, rapidamente, em um grande salão decorado como se fosse para um baile luxuoso. Olhou para o lado e viu Damon, ou ao menos achava que fosse, pois ele tinha outra aparência, mas ela tinha certeza de que era ele. Deu alguns passos largos para frente, avançando pelo salão com seu vestido longo e pesado, se sentindo sufocada pelo espartilho que estava usando, mas só perdeu o ar de verdade quando viu , em trajes que ele normalmente não usaria em pleno século 21, beijando a mão daquela garota que havia acabado de entrar na sala de Katie. A garota sorriu para , se curvando discretamente para o cumprimentar, puxando a saia do vestido e então Diana voltou à realidade, percebendo que a encarou por tempo demais. O que havia acabado de acontecer? Ela não entendia porque sempre via essas coisas é porque estava acontecendo novamente.
- Gente, estes e William. , Will, estes são os meus primos Diana, Louise, Damon e .
Damon e se viraram juntos, quase que em um movimento espelhado, mas enquanto Damon franziu o cenho, um pouco surpreso, tinha certeza de que estava delirando naquele exato momento, enquanto se sentiu presa no olhar intenso dele, perdendo o fôlego. Como aquilo era possível?
Enquanto era levado para os campos verdejantes de seu último sonho, ainda incrédulo que a garota que sempre passava correndo por ele estava bem ali na sua frente na vida real, se viu novamente no meio do fogo, em uma roda, com as mãos dadas com outras pessoas. Seu coração bateu acelerado no peito quando viu Diana do seu lado esquerdo, ao seu lado direito e Damon ao lado dele enquanto Thomas, seu irmão, aparecia ao lado de Diana. Tinha mais uma pessoa, mas não era capaz de identificar a pessoa que falava em latim naquele círculo.
Já, Damon, diferente dos outros, apenas viu em um vestido branco feio e surrado, tendo parte do seu rosto coberto por um véu encardido antes de ser puxado de volta para a realidade.
, finalmente conseguindo se desvencilhar do olhar que a prendeu, olhou de relance para Louise e se viu, em uma fração de segundos, deitada numa cama enquanto arfava e suava muito, e a mesma Louise passava um pano molhado sobre o seu rosto, demonstrando um nítido desespero no olhar.
- Que silêncio - Katie disse, ao ver que todos se encaravam, com expressões inexplicáveis no rosto.
Damon parecia confuso, estava pálido, Diana espremia os olhos na direção de e William, tal como Louise que parecia estar curiosa, enquanto se encontrava desnorteada, como se apenas o seu corpo estivesse ali. William, que jurava conhecer todos eles de algum lugar, parecia ser o mais tranquilo ali.
- Gente, vocês estão me assustando, é sério - Katie acenou para que pareceu despertar ao mesmo tempo que se levantou, indo em direção à cozinha e Diana foi atrás, rapidamente. - Está tudo bem, ?
- Sim, eu acho que a minha pressão caiu, mas já normalizou, fica tranquila - passou as mãos pelos cabelos, procurando se recompor e parecer normal. - Não comi nada o dia inteiro, então acho que é normal acontecer isso.
- Senta, , vou pegar alguma coisa pra você comer - Katie ofereceu o lugar que antes era ocupado por Diana, ao lado de Louise e aceitou, se sentando no acento vago.
Louise deu espaço para e se levantou, então finalmente notou que William estava ali. Ele esboçou um sorriso sem jeito, como se dissesse que não entendeu o que havia acabado de acontecer e ela respondeu com um breve aceno de cabeça, embora tivesse sentido a mesma coisa que ele. Era curioso o jeito que Louise se sentiu atraída no instante em que viu William entrando, tal como ele, mas ela não diria aquilo pra ele tão cedo.
- Prazer finalmente te conhecer, Lou - William estendeu a mão para Louise, que a apertou imediatamente.
William se viu diante de três lápides, sendo uma menor que as outras duas, embora ele não conseguisse ler os nomes presentes nelas, tal como Louise, que via a mesma coisa. Do ponto de vista dele, Louise chorava e soluçava enquanto enxugava as lágrimas com um lencinho, totalmente em vão. Já na visão de Louise, William olhava fixamente para as lápides, com uma lágrima solitária escorrendo pelo seu rosto vermelho de quem já havia chorado antes. Quando ela soltou a mão dele, se viu novamente na sala de Katie, tal como William.
Nenhum dos dois sabia se o outro tinha visto a mesma coisa, mas as expressões de surpresa contida em seus rostos podia denunciar que algo tinha acontecido ali no momento em que apertaram as mãos.
- Tudo bem? - William perguntou forçando uma naturalidade diante da situação.
- Claro! Eu só estou surpresa com a coincidência de termos nos encontrado justo aqui - Louise sorriu e William pareceu se dar por vencido, acreditando que só ele viu aquilo, que ele havia delirado por um instante. - Quer beber alguma coisa?
Ele concordou e foi até a mesa de centro pegar dois copos e uma bebida para dividirem, depois cumprimentou Liam, Sarah, Jake e Damon. Um pouco receoso, William apertou a mão de Damon, mas agradeceu imensamente por nada ter acontecido e eles ainda estavam na sala de Katie.
- , quer tomar alguma coisa? Uma água, suco? - Katie perguntou preocupada.
- Tá tudo bem, Katie, já passou, estou ótima - sorriu para a amiga, na tentativa de a acalmar.
- Realmente achei que teria que correr com você para o hospital. Não me dê mais estes sustos.
- Não se preocupa, eu não vou.
A sala foi tomada por conversas aleatórias, mas na cozinha percebeu que tremia quando tentava levar o copo de água à boca para dar um gole, ainda estava incrédulo com o que havia acabado de ver. Não conseguia entender como aquilo era possível, como ele poderia simplesmente esbarrar com alguém que visitava os seus sonhos com frequência? Quem era aquela garota? Ele tinha muitas perguntas, mas não tinha nenhuma resposta.
- Ana, não estou ficando louco, eu juro. Ela é a garota desses meus sonhos malucos, eu juro que é! - ele olhou para Diana, suplicando para que ela não duvidasse dele.
- Eu acredito em você, . Não sei explicar o que aconteceu, mas senti algo diferente quando eles entraram na sala - Diana achou melhor poupar o irmão, não iria dizer que o viu beijando a mão dela.
- Como isso é possível? É idêntica! A cor dos olhos, o comprimento do cabelo, a altura... Diana...
- Calma, . Respira, tá? Eu sei que foi um choque, mas você precisa se acalmar. Talvez seja apenas uma coincidência muito bizarra, vocês podem ter se encontrado por aí, ela pode ter lido um dos seus livros... Não surta agora, a Katie não vai entender nada e nós não queremos estragar o dia dela, certo?
- Certo.
- Então vamos voltar pra lá e fingir que está tudo bem. Ela não tem culpa de eu e você sermos dois pirados.
apenas concordou e bebeu toda a água de uma vez, embora tivesse certeza de que precisaria de algo mais forte do que água para passar o resto da noite ali. Ele respirou fundo e criou coragem para voltar para a sala, indo logo atrás de Diana. Quando chegou, percebeu que tudo parecia perfeitamente normal com as pessoas conversando entre si, mas no instante em que Hips Don't Lie da Shakira começou a tocar, Katie imediatamente saltou do seu lugar ao lado de , indo para o meio da sala.
- , vem dançar comigo!
- Não, não, estou bem aqui mesmo - cruzou as pernas, mas Katie foi até ela, puxando a amiga. - Não, Katie, para!
- Você não vai ficar sentada aí. Pode balançar esse quadril. Anda.
- Mas eu não sei dançar!
- Eu ensino, vai aprender rapidinho.
encostou na soleira da porta, cruzando os braços para observar a cena. Katie tinha gingado e era desinibida, mas estava com vergonha de acompanhar a amiga, mexendo de um lado para o outro um tanto dura e sem jeito, mas Katie parecia disposta a ensinar a garota. simplesmente não conseguia olhar para outra direção, estava enraizado ali, se esqueceu de que tinha outras pessoas e que estava sendo observado por William, que queria saber quem era o cara que estava olhando para sua irmã sem parar, e também por Jake que revezava o olhar entre as meninas dançando e o primo olhando atentamente. Damon também observava, mas apenas para ter o que comentar no dia seguinte para deixar o gêmeo constrangido. estava alheio a tudo aquilo, era como se ninguém estivesse ali, apenas eles dois - e talvez, Katie, que hora ou outra cobria a visão dele - em um mundo que não estava girando. era tão fiel ao que ele sempre via que ele ainda estava desacreditado. Os mesmos olhos, o mesmo corpo, o mesmo sorriso - que ele particularmente achava ainda mais bonito do que nos seus sonhos - e até um jeito parecido de falar, embora a garota dos seus sonhos na maioria das vezes se vestia e falava como na época vitoriana. Não importava, ela estava bem ali.
parecia ter pego o básico daquela coreografia, se arriscando um pouco mais no último refrão, mas então a música acabou e ela caiu na realidade de que tinha pagado um mico. Ela se surpreendeu quando foi aplaudida, inclusive Jake levou dois dedos à boca para assoviar pra ela que não conteve a risada diante dos esforços de todos para que ela se sentisse melhor, então ela fez uma discreta reverência, dando como encerrado por ali o seu show.
- Você arrasou! - Katie ergueu as duas mãos para um high five que correspondeu, sendo puxada de surpresa para um abraço. - Estou orgulhosa.
E então não havia mais ninguém na visão de a não ser . Ninguém passou na frente dela, ninguém disse nada e ela se viu presa naquele olhar intenso por um segundo a mais do que gostaria. Ele não estava aplaudindo, não estava sorrindo e muito menos assoviando, apenas estava parado olhando fixamente na direção dela. Por mais que fosse incômodo, teve que se esforçar muito para desviar o olhar do dele, se afastando de Katie e voltando para o seu lugar enquanto a próxima música começava a tocar.
Era Crazy In Love e Louise saiu de perto de William para acompanhar Katie, assim como Sarah, que também era uma ótima dançarina. Katie certamente tinha a quem puxar nessa parte, era muito parecida com sua mãe. William atravessou a sala e se sentou ao lado de , tendo uma visão ótima de Louise estando ali. As meninas puxaram Damon para dançar que foi mesmo sobre protestos, então William se viu no momento perfeito para puxar assunto com a irmã.
- Meu Deus, ela é tão incrível quanto eu pensei que fosse.
- Louise? - perguntou distraidamente e William concordou, ela sorriu presunçosa pra ele. - Mas já, Will?
- Não, boba... Ainda não. Ao menos não tanto quanto o bonitão encostado na porta - ele apontou discretamente para que agora parecia mais à vontade, rindo do próprio irmão. - Eu juro que já ia lá socar a cara dele.
- Por quê? - ela questionou soando despretensiosa, rindo quando Damon exagerou na sensualidade da dança de propósito.
- Ele não parava de olhar pra você. Eu sou o homem da casa, não é? Tenho que bater nos caras que querem namorar com você.
- Deixa de ser bobo, Will - riu, embora sentisse o rosto arder por ele ter mencionado um namoro. - Ele só deveria estar olhando e sentindo pena de mim pela vergonha que eu passei.
- Não, você estava ótima, ele que parecia uma múmia lá parado olhando pra você. Juro que até o final da noite vou tirar satisfação com esse cara.
- Você não vai fazer nada, vai ficar sentado bem aqui.
- Mas...
- É uma ordem, William. Sou sua irmã mais velha, você é menor de idade e tem que me obedecer.
- Mas eu faço vinte e um em agosto! - William protestou aborrecido, mas continuava usando o mesmo tom de voz que usava quando ele tinha oito anos.
- Não interessa! Vai ficar aí e pronto, se arrumar confusão, juro que te mando de volta pra casa da nossa mãe.
- Deus me livre morar em Manchester, o lugar mais chato e parado do mundo.
- Mas é pra lá que você vai se continuar com gracinha.
William resmungou algo que não entendeu e eles voltaram a prestar atenção na dança das meninas - e Damon - que já estava quase no final. Quando finalmente acabou, Damon afastou as garotas e, da forma mais exibida possível, fez uma reverência exagerada quando foi aplaudido de pé por Jake e Diana. também aplaudiu e assoviou para o irmão que mandou um beijo no ar em sua direção.
se perguntava como os dois poderiam ser tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo. Damon era desinibido, extrovertido e brincalhão enquanto parecia ser mais recatado, tímido e tranquilo. Prova disso era que um estava fazendo twerk na sala para quem quisesse ver enquanto o outro observava tudo de longe, mas mesmo que tivessem a mesma aparência e estivessem com roupas praticamente iguais, pensava que não poderia confundir os dois pois tinha certeza de que mesmo se Damon passasse horas olhando fixamente na direção dela, não seria a mesma coisa daqueles poucos segundos no qual ela espiou por cima dos ombros de Katie. tinha algo estranhamente atrativo e familiar que jurava que iria descobrir algum dia.
Quando a música acabou, Sarah chamou para que as duas fossem até a cozinha para pegar mais aperitivos para deixar na mesa de centro. pontuou que para ir até a cozinha, tinha de passar pelo rapaz escorado na soleira da porta. Pensou em inventar uma desculpa, mas não conseguiu pensar em nada a tempo, então se levantou, pediu licença para Katie e, sem olhar diretamente nos olhos, pediu licença para que, gentilmente, cedeu espaço para ela passar e saiu dali, indo para onde Sarah estava sentada anteriormente entre Liam e Jake.
Elas pegaram alguns docinhos e outros aperitivos e levaram de volta para sala bem em tempo do celular de começar a tocar. Ela se afastou para poder atender, saindo pelo corredor que dava acesso ao ateliê de Katie, cheio de manequins e tecidos espalhados pelo cômodo, além de uma estante de livros que não tinha a mínima ideia de o porquê estar ali. Ela viu o nome de Emma na tela e se xingou mentalmente, jurando nunca mais passar seu telefone para os seus alunos. Considerou seriamente a possibilidade de mudar de número naquele mesmo instante.
- Oi, Emma - atendeu, tentando não parecer impaciente.
- Senhorita Thompson, desculpa ligar esse horário, mas aquela garota que você falou na aula de Revolução Francesa. Eu pesquisei muito e encontrei um artigo na internet sobre ela.
- É sério? - questionou enquanto olhava para a estante de livros, aborrecida por dentro, não queria ter uma aula de história justo agora. - O que você descobriu?
- Descobri que ela lutava secretamente para derrubar a nobreza e o clero de dentro pra fora. Todo mundo pensava que ela era como os outros nobres, mas na verdade ela ajudava muito o povo francês, mesmo que secretamente. Só que infelizmente as pessoas não sabiam disso, ou pelo menos a maioria delas, que pediram a cabeça dela quando houve a queda da Bastilha.
- Que triste - ela se sentia mais entediada do que nunca, mas não queria parecer grossa e indiferente ao esforço de Emma.
- O mais engraçado, professora, a senhorita não vai acreditar. O nome dela era , que nem você. Beaumont-Bressuire e ela tinha só dezoito anos.
não ouviu o restante do que Emma tinha para dizer. Se via presa, amarrada, sendo levada em uma carroça em praça pública e uma guilhotina que ficava cada vez mais próxima. Foi algo muito rápido, mas tudo o que conseguia sentir era medo e raiva. Raiva da França, dos malditos franceses e raiva de si mesma. Morreria em vão por algo que lutou e torcia para ver todas aquelas pessoas que zombavam dela naquele momento queimando no inferno junto com ela, caso ela fosse pra lá.
- Professora?
- Oi, estou aqui... - disse voltando a realidade. - Muito interessante a sua pesquisa, meus parabéns pelo empenho... Hum, estou um pouco ocupada agora, mas conversamos melhor durante a aula, está bem?
Emma concordou e desligou, então soltou um suspiro aliviado, se encostando na prateleira, mas não sem derrubar meia dúzia de livro porque aparentemente o móvel estava balançando mais do que deveria.
- Merda!
Ela guardou o celular no bolso da calça e se curvou para pegar os livros que caiu. Um exemplar de O Senhor dos Anéis, outro de O Hobbit, seguido por livros de engenharia que ela tinha certeza que pertenciam ao Jake, e também um... Romance? Uma garota com um vestido vermelho longo e esvoaçante na capa lhe chamou a atenção, fazendo com que ela colocasse os outros livros de volta no lugar e ficasse apenas com aquele para poder ver melhor. A garota estava de costas e pelo movimento parecia correr sobre rochas em direção ao mar em pôr-do-sol nublado e muito cinzento. Era uma capa de livro, no mínimo, deprimente, mas ao mesmo tempo atraente, assim como o nome.
- Ad Perpetuam Memoriam - tentou ler o que ela tinha certeza que era latim, mas não sabia se tinha dito certo ou não.
- Pela Perpétua Memória.
Ela se assustou com a voz masculina atrás dela, se virando rapidamente para ver quem era, jurando que se fosse William, bateria nele com o livro para que parasse com esse tipo de brincadeira, mas não era William que estava ali, e sim , o que a deixou ainda mais tensa. Ela não sabia se olhava diretamente pra ele ou o que fosse, não sabia como reagir sempre que ele olhava pra ela. Nunca um olhar intimidou tanto quanto aquele que estava bem ali e ela estava começando a se frustrar por isso.
- É um bom livro - comentou, prestes a se arrepender por ter entrado ali.
- Do que se trata? - ela questionou com um tom de curiosidade, virando para ver a contracapa.
- É sobre uma garota que foi amaldiçoada por amar a pessoa errada. Ela estava condenada a viver a eternidade procurando pelo homem que amava, até que o destino os colocou frente a frente e ela começou a ter lembranças de outras vidas com ele. Não posso dizer o final, você terá que ler para descobrir.
- Ok - abriu o livro em uma página qualquer e escolheu a dedo a linha que pretendia ler em voz alta. - Lilly não queria fechar os olhos porque fechar os olhos significava não ver Marcus mais uma vez. Não era como se estivesse caindo no sono, de fato não estava. Eram seus últimos momentos, seus últimos suspiros e ela queria passar ao lado do único homem que verdadeiramente amou. A ferida da faca enfiada no estômago doía, mas não tanto quanto saber que mais uma vez deixaria Marcus sozinho. Marcus, por favor, me perdoe, ela suplicou juntando todas as forças que lhe restavam.
- Apenas vá, meu amor, apenas vá. Não se preocupe, eu irei te encontrar - completou a fala do personagem e olhou pra ele, surpresa. - Continua.
- Então, como se estivesse adormecendo, Lilly fechou os olhos devagar, tendo Marcus como sua última visão antes de tudo escurecer à sua volta. Ela não estava mais ali, ao menos não a sua alma, apenas um corpo atirado no chão, preso nos braços de um homem novamente solitário. Marcus chorou e gemeu, se permitindo sentir a partida de Lilly, mesmo que soubesse que seria momentâneo. Algum dia, em outra vida, a encontraria, mas imaginar o tempo que passaria sem ela era algo cruel e o assustava, afinal...
- Nem mesmo o homem mais forte de todos era imune de medos e inseguranças. Por que ele, um mero cocheiro, seria diferente? Não importava mais. Lilly partiu e Marcus era novamente um homem vazio e seria assim até o dia em que pudesse ver sua amada outra vez.
- Nossa - suspirou admirada pelo que havia acabado de ouvir. - Pelo visto você conhece muito bem a história.
- É verdade, eu conheço - pela primeira vez, ele esboçou um sorriso na presença dela. - Me desculpe chegar assim, intrometido, mas eu tenho certeza que nos conhecemos de algum lugar. Eu só queria perguntar isso.
- Pensei a mesma coisa, mas acho que não... - encolheu os ombros. - Você estudou em Oxford?
- Harvard - ele rebateu prontamente, como se estivesse se desculpando pelo desencontro. - Um pouco distante uma da outra.
- Sim, então tenho certeza de que nunca te vi na faculdade.
- Não tem problema, descobriremos então de onde nos conhecemos - sorriu novamente e não tinha mais nada para dizer.
Estava com os pés enraizados no chão, prendendo o livro em suas mãos como se fosse um troféu. Palavras simplesmente não lhe vinham em mente, parecia muito mais cômodo apenas o encarar e esperar que falasse alguma coisa, mas ele nada disse e também não fez nada além de a encarar de volta e foi assim durante alguns segundos até Louise surgir na porta, esbaforida.
- Achei você! Vem logo, sua vez de dançar com a gente.
- Não vou dançar, Louise - disse ao voltar pra realidade, desviando o olhar de que baixou a cabeça e fitou os próprios pés.
- Você não tem outra escolha. Vem logo - Louise o puxou pelo braço com violência e se viu obrigado a ser arrastado para fora do ateliê, deixando plantada exatamente onde estava, levando mais alguns segundos para processar o que aconteceu.
Ela devolveu o livro pra estante e então saiu do cômodo também, fechando a porta. Voltou para a sala e pegou um doce e bebida na mesa antes de voltar para o sofá a tempo de ver Katie e Louise ensinando e Jake a dançar Despacito. Jake estava se virando bem, sendo guiado por sua irmã, mas parecia resistente e Louise não era a pessoa mais paciente do mundo para ensinar.
- , você é muito duro!
- Estou tentando, Louise.
- Senta lá, cara, deixa eu te mostrar como se faz - William se levantou do seu lugar ao lado de e pediu, com gentileza, para se retirar.
não questionou e nem debateu, apenas se afastou e se sentou ao lado de , o que fez ela prender a respiração quando percebeu que era o mais perto que chegou dele naquela noite.
William colocou uma das mãos na cintura de Louise e com a outra entrelaçou seus dedos com os dela, a guiando no ritmo latino da música, o que deixou Louise surpresa com as habilidades de dançarino dele. Não que William fosse um dançarino extraordinário, mas parecia que já havia dançado com Louise várias vezes antes. Ele sabia como guiar, sabia os movimentos que ela faria com o quadril, só não tinha a mínima ideia de como sabia isso e pensou que talvez fosse previsível pelo ritmo da dança. Eles tinham uma conexão naquele momento e, se não fosse por uma sala cheia de pessoas, Louise pararia tudo para beijar aquele garoto que a atraiu no momento em que passou pela porta.
- Ele dança bem - comentou sobre William, esperando que dissesse algo em resposta.
- É um exibido, isso sim - ela deu de ombros e ele riu, parecia muito mais relaxado agora. - E tem uma quedinha pela sua irmã, é melhor tomar as providências logo.
- Louise não é nenhuma criança, sabe se cuidar. Além disso, não sou o irmão ciumento, é ele - apontou para Damon que estava com cara de poucos amigos observando a química entre Louise e William. - Ele não gosta do que vê.
- Ele que encoste um dedo no meu irmãozinho pra ver o que eu faço. Com todo o respeito.
- Tudo bem, eu deixo, talvez o faça acordar pra vida e perceber que as meninas cresceram. Não me apresentei direito lá no ateliê, mas meu nome é . Jones.
- Thompson - ela respondeu com a mesma cordialidade. - É um prazer te conhecer, .
- O prazer é meu. Estou me apresentando porque tenho certeza que vamos nos ver mais vezes se depender da minha irmã e do seu irmão. Em um almoço de família, talvez.
- Se depender do Will? Com certeza! - conteve uma gargalhada, fazendo rir também.
- Mal posso esperar por isso.
- Eu também...
- Muito obrigada por terem vindo hoje, significou muito pra mim - Katie disse ao acompanhar e Will até a porta ao final da festa.
- Não iríamos perder por nada, Katie, você sabe - respondeu enquanto esfregava os olhos, estava com sono por já ser de madrugada.
- Acho bom. Prometo passar lá qualquer dia para fazermos a noite das meninas. Will está convidado também.
- Lisongeado, Paige - William sorriu com sarcasmo e as garotas riram dele.
Eles se despediram de Katie e foram embora. no volante como prometeu anteriormente, mesmo que estivesse com sono. O teor alcoólico no sangue de William não o tornava o mais apto a voltar dirigindo pra casa e por isso ele não contestou. Quando finalmente chegaram, ele apenas murmurou um boa noite e foi para o quarto enquanto fez o mesmo. Ela trocou de roupa, vestindo algo confortável e então se deitou, mas não iria dormir antes de fazer uma breve pesquisa sobre o livro que lhe chamou a atenção na festa de Katie.
Título: Ad Perpetuam Memoriam.
Data de lançamento: 01 de novembro de 2017.
Autor: Jones
- Não acredito - riu, entendendo o motivo de ter completado diálogos do livro na frente dela. - Faz muito sentido.
Aparentemente era um promissor escritor. Tinha apenas vinte e seis anos e dois livros publicados, sendo Ad Perpetuam Memoriam um best-seller. Como se não bastasse, o dom de escrever era de família, pois ele era filho da também escritora Eloise Jones. Esta conhecia, já havia lido uns dois livros quando era mais nova, mas jamais imaginou que ela tivesse um filho escritor.
Mais do que isso, se perguntava o motivo de não ter dito nada para ela. Ela notou que ele parecia tímido, talvez apenas não quisesse contar para ela de primeira e entendeu isso e achou admirável. Tinha certeza de que se fosse outra pessoa, teria se vangloriado, e por causa disso ela prometeu para si mesma que no dia seguinte iria comprar um exemplar, mesmo que precisasse andar Londres inteira atrás de um.
Ela com certeza iria.
Capítulo 3 - The Biomedical
Eu posso ver isso em seus olhos verdes
Talvez você era uma de minhas esposas
Em uma tribo a muito tempo perdida” – Past Lives – Kesha
Março de 1666
Diana aguardava, pacientemente e com os braços abertos, sua criada terminar de desapertar seu espartilho. Era tão apertado e incômodo que ela apenas passava o dia inteiro desejando o anoitecer para que finalmente pudesse se livrar da peça ao menos por algumas horas. Quando não sentia mais a peça lhe apertando o tronco, ela ainda teve ajuda para trocar o vestido, colocando um apropriado para dormir. Por ser recém-casada, o cuidado era dobrado e o vestido era do melhor tecido, apenas para que Bamborough não pensasse que se casou com qualquer uma. Diana odiava qualquer coisa ligada ao status social que ela era obrigada a ostentar, mas simplesmente não tinha outra escolha que não fosse acatar. Se sentia envolvida como uma moeda de troca. Sim, era isso que um casamento arranjado significava. Uma troca. Terrenos e interesses políticos valiam mais do que a vida e o sentimento de uma pessoa.
Diana dispensou gentilmente a mocinha que não deveria ter mais de quinze anos, apenas dois anos mais nova do que ela. Ela pegou seu livro e se sentou na cama, próximo à lamparina ao lado para poder enxergar melhor. Ela amava ler os ensinamentos de filósofos como Sócrates e Platão. Tinha certeza que conhecimento era algo que ninguém poderia roubar dela, afinal, a liberdade já tinha sido. Não que não achasse seu marido um homem culto e atraente, mas se pudesse escolher, certamente teria esperado mais um pouco.
Um pouco depois, Thomas adentrou no cômodo, já com vestes de dormir também. Ele hesitou, não sabia se deveria se aproximar ou não. Respeitava o espaço de Diana, sabia que não era fácil pra ela estar ali e podia imaginar o que a garota estava sentindo naquele momento. Ele também não queria se casar tão cedo, com apenas dezenove anos, mas assim como Diana, ele não tinha outra opção e simplesmente acatou, se dando por vencido. Thomas criou coragem e se aproximou, indo até a cama e se sentando próximo de Diana, pois esperaria a permissão dela para se aproximar.
- O que você está lendo? - perguntou na tentativa de puxar assunto. Já estava tentando se aproximar há tantos meses que sabia o roteiro de cor.
- A República - Diana respondeu naturalmente, sem tirar os olhos do livro.
- Platão - ele sorriu admirado e Diana olhou pra ele, curiosa. - É um dos meus livros preferidos.
- Mesmo?
- Sim, acredito que a leitura é uma fonte inesgotável de conhecimento.
- Penso da mesma forma - ela sorriu e fechou o livro, deixando-o de lado. - E o que você acha do fato que o livro foi escrito por Platão, mas no ponto de vista de Sócrates?
- Compreensível. Platão era aluno de Sócrates, esteve com ele em seus últimos momentos, compartilhavam de pensamentos em comum. É um livro bem interessante e expressivo.
- Concordo plenamente... É curioso. Somos casados há alguns meses, mas não sei nada sobre a sua pessoa. Seus gostos, seus passatempos, seus interesses...
- Eu posso imaginar o quanto é difícil para você deixar sua família e tudo o que era seu para trás. Acredite em mim quando digo que não era o meu desejo me casar agora, mas não pude impedir, Diana. Não quero que pense que sou uma pessoa ruim, que não me importo com você. Eu me importo com você e respeito o seu espaço, esperarei o tempo que for preciso para que você se sinta parte dessa família.
- Não penso que você é uma pessoa ruim, estou contente que seja você o meu esposo. Eu apenas preciso de tempo para me acostumar com a minha nova vida e meus novos deveres. Quero ser uma boa esposa para você, mas tenho meu próprio tempo.
- Eu entendo e eu respeito, esperarei o tempo que você precisar, Diana, apenas saiba que estou disposto a fazer este casamento dar certo.
- Eu também...
Um silêncio pairou sobre os dois quando o assunto foi encerrado. Diana estava feliz pelo que Thomas disse, sentia como se tivesse tirado um peso das costas ao conversar brevemente sobre o que a incomodava. Achava que ele era inteligente, de companhia agradável, e muito bonito. De todo o plano de ter um casamento arranjado, Thomas era a única parte boa de toda aquela história.
- Posso? - ele fez sinal para se aproximar e Diana concordou.
- É errado um casal que não troca carícias? Que ainda não teve a primeira noite?
- Talvez, mas eu apenas vou te tocar a partir do momento em que você permitir.
- Você tem a minha permissão, Thomas. Eu posso ver o respeito que você tem comigo, espero que o tempo permita que eu me apaixone por você.
- Não é o tempo, Diana, é você quem deve se permitir. Estou aqui apenas esperando até que você esteja pronta.
- Estou pronta - ela respondeu prontamente, se aproximando um pouco dele.
Thomas sorriu, colocando uma das mãos no rosto dela, admirando a beleza da garota que podia chamar de esposa por um instante antes de romper qualquer distância entre eles ao juntar seus lábios nos dela em um beijo suave.
Seria apenas o primeiro beijo de uma longa noite.
2019. The Sheldonian Theatre, Oxford University.
Thomas adentrou pelos portões do teatro despreocupado com o horário. Ainda tinha mais alguns minutos para chegar até a parte de dentro, embora não estivesse realmente preocupado com isso ou muito interessado em assistir uma palestra de biomedicina. Estava apenas indo porque estava em seu dia de folga e um amigo do curso de biomedicina o convidou para o acompanhar na palestra.
- Só você pra me fazer assistir palestra na minha folga, Dean - Thomas balançou a cabeça em negação e Dean riu enquanto entravam no teatro.
- Eu não obriguei você a vir, Tom, não esquece disso.
As primeiras filas estavam ocupadas por alunos uniformizados, tal como os dois estavam. Vendo que os assentos do mezanino estavam vagos, optaram por subir até lá, tendo assim uma ótima vista do palco que já estava preparado para receber a palestrante que Thomas não tinha a mínima ideia de quem fosse, visto que não tinha muitos conhecimentos relacionados à área da biomedicina.
- Ela é incrível, cara, eu fico perplexo de ver uma menina da idade dela palestrando como se estivesse há trinta anos na área.
- Um prodígio, então - Thomas se acomodou em seu lugar, despreocupado.
- Prodígio? Acho que a Diana é um Einstein da nossa geração. Eu não sei explicar, você precisa ver para acreditar.
- Se ela for tão incrível quanto você diz ao ponto de me fazer usar esse uniforme ridículo ao invés do meu jaleco, então no final eu peço um autógrafo para ela por você.
- Você é patético, Thompson - Dean deu um empurrão no amigo, fazendo os dois rirem.
Os dois continuaram conversando até que o teatro ficasse cheio com quase todos os lugares ocupados. Thomas estava quase cochilando devido à luz baixa quando uma movimentação começou no palco. Ele pareceu despertar e se ajeitou em seu lugar, recebendo um olhar torto de Dean que não esperava que o amigo fosse dormir bem ali naquele momento.
E então Diana surgiu no palco, segurando uma folha solta na mão e um microfone de lapela pendurado na sua roupa social. Ela parecia bem tranquila em estar na frente daquele vários alunos mais velhos e provavelmente mais experientes do que ela. Era apenas um simples detalhe.
Thomas não poderia colocar em palavras o que ele sentiu naquele momento, embora tivesse certeza de que seu queixo foi ao chão. Quem era aquela garota que prendeu a atenção como se o próprio Albert Einstein estivesse ali? De repente ele se viu em uma sala de arquitetura clássica, cheia de pessoas que ele não conseguia ver os rostos, apenas o rosto de sua irmã. Estava sentado de frente para ela que parecia muito desconfortável em estar ali, olhava para qualquer direção que não fosse a dele, o que o deixou estranhamente frustrado por isso. A sala cheia de elementos arquitetônicos deu lugar ao teatro novamente e Thomas piscou repetidas vezes, tendo certeza que aquilo foi a coisa mais estranha que já aconteceu com ele. Não sabia nem explicar em palavras o que foi aquilo.
- Boa tarde, pessoal, meu nome é Diana Jones e hoje eu vim aqui para que possamos conversar um pouco sobre a biologia do Câncer, minha especialização, dentro da biomedicina. Prometo que não vou fazer ninguém dormir na minha palestra - ela disse com bom-humor, causando risadas em todo o auditório.
Thomas perdeu o sono instantaneamente, se arrumando no seu lugar para prestar atenção na palestra que ainda tinha slides que acompanhavam. Diana começou com uma introdução à biologia do câncer até poder se aprofundar no assunto. Dean parecia muito entretido, seguindo a linha de raciocínio de Diana, enquanto Thomas, por mais que não conhecesse a área tão bem quanto eles, conseguia compreender ao menos os termos médicos e entendia o que ela explicava, embora tivesse certeza de que não saberia como aplicar caso lhe fosse pedido.
A palestra era interessante, leve e bem explicativa, mas em certo ponto ele já não conseguia mais pensar em termos médicos ou seguir a linha de raciocínio estabelecida. Não conseguia olhar para outra direção que não fosse a de Diana, sem saber explicar o motivo porque era muito mais forte do que ele. Era loucura, mas podia se ver conversando com ela, interagindo para além de palestrante e ouvinte. E ele queria isso, mais do que tudo. Queria sair dali e perguntar se ela pensava da mesma forma, queria perguntar se já a conhecia, queria jogar conversa fora. Thomas tinha certeza de que estava fora de si, mas não podia se controlar. Precisava saber mais sobre quem era aquela palestrante.
- Para finalizar, eu gostaria de reforçar o quanto a biologia do câncer é essencial para nos atualizarmos na busca de curas e tratamentos. Precisamos entender como funcionam as células cancerosas e é uma área que nunca vai parar, ao menos se depender de mim e cada profissional que se comprometer com o seu trabalho. Não sei quantos de vocês aqui pretendem se especializar na área e não estou aqui para influenciar ninguém, mas espero que pensem bem na hora de escolher a especialização, porque não é algo que vocês simplesmente possam voltar atrás depois. Então peço para que escolham muito bem e eu espero muito, daqui alguns anos, atuar ao lado de grandes profissionais que saíram daqui. É isto, muito obrigada pela atenção.
Sobre muito aplausos, Diana deixou o palco e Thomas não pensou duas vezes antes de se levantar imediatamente, deixando Dean para trás e indo o mais rápido possível para encontrá-la na saída. Ele precisava encontrar com ela, mesmo que fosse para pedir um autógrafo para Dean como o prometido. Não importava, queria apenas ter a certeza de que não estava ficando louco.
Para seu azar, precisou esperar um pouco e torcer para a encontrar no meio daquele mar preto e branco de alunos uniformizados, inclusive tendo que se esconder quando Dean passou, olhando para todos os lados procurando Thomas. Ele iria inventar uma desculpa depois para o amigo por ter saído às pressas.
Quando o aglomerado de alunos começou a diminuir gradativamente, Thomas começou a pensar que talvez ela não passaria por ali, que talvez já tivesse ido embora pelos fundos. Claro, deveria ter imaginado que ela não sairia assim pela porta da frente desacompanhada como se fosse uma estudante qualquer, mas foi quase isso o que aconteceu. De fato, Diana saiu pelo portão principal, mas estava acompanhada pelo chanceler da universidade. Thomas estava encostado no número, pensando no que deveria fazer, como deveria chamar por ela, mas nada lhe vinha em mente. Talvez fosse o destino ou a sorte lhe dando uma ajudinha naquele momento, porque eles viraram em sua direção instantes depois. Diana ouvia o que o chanceler tinha para dizer atentamente, assentindo e sorrindo enquanto encarava o chão para andar, mas quando olhou pra frente e seu olhar encontrou com o de Thomas, foi como se ela não sentisse mais os braços e simplesmente deixou seu material cair e se espalhar no chão ao mesmo tempo que via a mesma coisa que Thomas viu antes, porém do ponto de vista dela. Era a oportunidade que ele precisava para se aproximar, indo rapidamente na direção deles e se curvando para ajudar o chanceler, um homem já idoso, a recolher o material de Diana que parecia ter saído da órbita por um instante.
Ele recolheu tudo rapidamente, empilhando os livros e também o caderno, e devolveu para ela logo em seguida.
- Está tudo bem? - perguntou ao se levantar, ajeitando o paletó do uniforme.
- Sim, eu só... Tropecei - Diana mentiu descaradamente sabendo que eles não iriam acreditar.
- Obrigado pela ajuda, senhor Thompson, foi conveniente você estar aqui.
- Na verdade, reitor, eu... - Thomas achava que falar na frente dele não seria a mesma coisa, tinha que improvisar. - Eu só fiquei muito interessado nos pontos levantados pela senhorita Jones e, apesar de achar que seja loucura minha, gostaria muito mesmo de poder tirar minha dúvidas com ela.
- Curioso, Thompson, essa não é a sua área.
- Senhor, tudo o que envolve medicina é a minha área - ele sorriu, achando que estava se saindo bem.
- Ah, bem... Se é assim... - olhou para Diana, percebendo que ela parecia um pouco confusa. - Este é Thomas Thompson, um dos nossos alunos mais promissores do curso de medicina. Está prestes a obter um PhD.
- É um prazer conhecê-lo, Thomas - Diana disse educadamente, feliz por perceber que sua palestra plantou sementes. - Bom, eu não me importo de esclarecer dúvidas. Só acho um pouco incomum responder tudo no meio da rua - ela riu bem-humorada e Thomas concordou.
- Reitor, posso acompanhar ela até uma de nossas bibliotecas ou laboratórios para podermos conversar tranquilamente? - Thomas perguntou em um tom formal até demais porque sabia que não seria tão fácil assim o convencer.
- A Green-Templeton fica a mais de uma hora daqui, a não ser que o senhor tenha trocado novamente de escola - ele se referiu à escola que Thomas estudava atualmente.
- Não, não troquei, senhor, mas estamos em uma cidade universitária e o que não falta aqui são escolas, certo?
- Não se preocupe, eu ficarei bem. Muito obrigada por me permitir ter palestrado aqui - Diana se virou para o chanceler, mostrando o seu melhor sorriso. - Apesar de toda a minha carreira acadêmica ter sido em Harvard, não posso negar que Oxford é a melhor universidade do Reino Unido, talvez da Europa e uma das melhores do mundo e foi uma honra palestrar aqui hoje. Eu não ia contar, mas Cambridge me fez um convite para palestrar lá também, mas não pensei duas vezes ao dar prioridade para Oxford.
Era o que ele precisava ouvir para ceder e deixar com que Diana e Thomas pudessem conversar. Qualquer um que lhe dissesse que sua universidade era melhor do que a rival, subia no seu critério.
- Está bem, se precisar de algo, me ligue. Espero que pense bem na minha proposta, senhorita Jones.
- Com certeza, em alguns dias no máximo já terei um posicionamento. Muito obrigada.
Ele se despediu dos dois e seguiu, sozinho, em direção ao carro que o aguardava bem perto dali. Quando finalmente ficaram sozinhos, Thomas sentiu parte da sua coragem indo por água abaixo, imaginando que talvez tivesse exagerado um pouco na encenação. Tudo apenas para perguntar se já se conheciam. Diana continuou parada no mesmo lugar, esperando que ele dissesse ou fizesse algo, visto que ela não conhecia a região.
- Então você quer conversar aqui mesmo? - perguntou quando percebeu que o silêncio já havia durado tempo demais.
- Não, não... Eu falei pra ele sobre bibliotecas ou laboratórios só para o convencer, imagino que esteja com fome, conheço um bom restaurante bem perto daqui, dá pra ir a pé.
- Tem razão, estou morta de fome - ela admitiu, sentindo o estômago roncar.
- Então vamos. Deixa eu te ajudar com isso - ele apontou para o material dela. - Deve estar pesado.
- Um pouco - Diana cedeu, deixando com que ele pegasse os dois livros grossos, então começaram a caminhar lado a lado na direção que Diana seguia antes. - Obrigada, já estava pensando que teria de comprar um remédio para tendinite quando eu voltasse para Londres.
- Remédio sem receita? Que tipo de médica você é? - ele questionou a fazendo rir.
- Biomédica. Bem, já que não posso me auto receitar por não ser a minha área, talvez eu tenha que recorrer a um médico licenciado.
- E ele está bem aqui. Sou pediatra, na verdade, mas comecei atendendo como clínico - Thomas se explicou e Diana assentiu.
- Um pediatra na minha palestra de biomedicina?
- Fui acompanhar um amigo, não imaginei que acharia tão interessante. Eu disse para ele que pediria um autógrafo se caso fosse tão boa quanto ele disse que era. Se puder assinar a minha camisa, ficarei agradecido.
- É claro - Diana respondeu rindo, o achando divertido.
- Na verdade, não tenho tantas dúvidas assim porque não conheço tão bem a área para formular teorias e criar levantamentos. É que eu tenho certeza de que nos conhecemos de algum lugar e eu tinha que perguntar.
- Hum... Acho que não. Nasci em Londres, mas cresci na América, fui cedo para Harvard, voltei há poucas semanas. Para se ter uma ideia, nem um lugar para morar eu procurei ainda.
- Então você mora debaixo da ponte? Tower Bridge? - ele brincou e ela riu novamente.
- Eu estou morando com o meu irmão temporariamente até encontrar um lugar porque não dá para um arquiteto e uma cientista dividirem o mesmo teto. As profissões não batem.
- Arrisco dizer que seu irmão é um pestinha, porque minha irmã é professora de história e morou comigo no tempo que estudou aqui e nós nos dávamos muito bem. Até hoje sinto falta dela por aqui.
- Sim, meu irmão sempre foi um pestinha. Não que eu achasse que ele era burro, de jeito nenhum, mas não imaginei que ele se dedicaria para entrar em Harvard só pra ficar perto de mim. O problema é que não posso fazer pesquisas enquanto ele desenha casas no mesmo ambiente.
- Entendo, você tem razão... Bom, espero que você encontre um lugar para morar o mais rápido possível.
Eles continuaram conversando até chegarem no restaurante, o que não demorou muito. Fizeram seus pedidos e logo estavam conversando novamente quando Diana perguntou mais sobre a carreira acadêmica de Thomas e ele começou a contar sua trajetória até ali.
- Terminei a escola aos dezessete e já ingressei aqui. Cursei ciências médicas por cinco anos, mais voltado para a área da pesquisa, mas também tive experiência clínica nessa época, eu atendia pacientes sob a supervisão de um professor, era um pouco estranho, mas eu gostava - ele riu nostálgico ao se lembrar daquela época que parecia muito distante agora. - Depois que terminei, comecei minha pós em medicina, que durou quatro anos junto com o mestrado, agora estou fazendo doutorado em pediatria, falta mais um ano para que eu finalmente termine.
- Nossa, é uma trajetória incrível a sua, Thomas - Diana disse admirada. - Suponho que você já seja um residente, estou certa?
- Sim, eu já atuo na minha área há um ano - ele sorriu radiante. - Como falei, comecei como clínico, mas pude mudar para a pediatria quando comecei o doutorado no ano passado. Eu estudava na St John's College, mas mudei para a Green-Templeton porque minha antiga escola não tem cursos de doutorado. Apesar disso eu continuo trabalhando no hospital universitário de St John's, mas hoje estou de folga e por isso eu estou aqui. E acho que é isso.
- Estou impressionada, o que é difícil - ela admitiu rindo. - Deve ser maravilhoso trabalhar com crianças.
- A parte ruim é que eles não dizem o que sentem - ele brincou, descontraindo. - Eu atendo crianças mais velhas, é claro, mas passo a maior parte do tempo com recém-nascidos, acompanhando os primeiros meses, examinando logo após o parto... Não sei explicar, apenas me identifiquei com isso e é o que quero seguir. Talvez no futuro eu faça a especialização para ser obstetra, mas por enquanto ser uma das primeiras pessoas que cuidam de uma criança que acabou de chegar ao mundo é a minha maior paixão. Não tem pesquisa que me faça mudar de ideia.
- Isso é lindo, Thomas - Diana sorriu encantada. - É tão raro um cientista que ainda é movido em partes pela emoção.
- É quem eu sou, Diana. Aprendi a ser frio e técnico em clínica, mas um bebê não entende termos médicos, por que eu deveria ser rigoroso com ele? Acho que isso torna o meu trabalho um pouco mais leve - ele concluiu, dando como encerrado ali o foco na carreira dele. - Agora quero ouvir de você. Quero que me diga tudo, tenho certeza que você não é uma cinquentona com rosto de menina.
- Tem razão, não sou - Diana sorriu. - Terminei a escola aos quinze anos e ingressei na Harvard Medical School. Comecei com ciências biológicas na área da pesquisa como você, só então comecei a cursar biomedicina entre a pós e o mestrado, agora quero o meu PHD em biologia do câncer.
- Não dá pra negar, Harvard tem uma das melhores escolas de medicina do mundo, cogitei ir para lá ao invés de Oxford.
- Acho que Oxford tem mais opções de especializações na área, em algumas coisas é melhor. Por isso estou considerando fazer o meu doutorado aqui.
- É sério? - Thomas perguntou surpreso, até um pouco feliz por ouvir aquilo.
- Sim, fui convidada para palestrar, mas o reitor me propôs de fazer o meu doutorado aqui, uma bolsa integral de estudos. Estou pensando em aceitar, vai ser ótimo para o meu currículo acadêmico, por isso vim aqui para poder conhecer a universidade e a cidade.
- E o que está achando?
- Ótimo, é tudo muito organizado do jeito que eu gosto. Eu amava morar em Boston, mas não é uma cidade universitária como Oxford, talvez isso me cativou mais do que eu gostaria.
- Deixa eu te dar um incentivo a mais para que você venha para Oxford: os filmes de Harry Potter foram gravados aqui.
- Eu sei! - Diana riu da forma que ele disse como se contasse um grande segredo. - Li todos os livros diversas vezes por causa do meu irmão, ele é fã.
- Você não está entendendo, sou praticamente um guia turístico. Na Divinity School é a enfermaria de Hogwarts, a Duke Humfrey's Library é a biblioteca deles. O salão principal fica na Christ Church, já fui em todas elas um milhão de vezes só pra me sentir parte do mundo bruxo! Te garanto que se você estudar aqui, nunca vai ficar enjoada desses lugares. Até a escadaria que as crianças sobem no primeiro filme eu já visitei, na Christ Church também. Sério, é mágico.
- Acho que você me convenceu, Thomas - ela riu quando ele fechou o punho em comemoração. - Brincadeiras à parte, se eu realmente vier estudar aqui, imagino que a gente vá se encontrar várias vezes porque quero me especializar na biologia do câncer em crianças, talvez mais pra frente entrar na área da oncologia.
- Uau, eu não tenho bem o que dizer. É incrível... Seu histórico e sua ambição, não tenho palavras pra me expressar. Dean tinha razão, você é um Einstein.
Antes que Diana pudesse responder, a garçonete voltou com os pedidos deles, milkshake e batata frita. Diana, que estava com mais fome do que o normal, não pensou duas vezes antes de mergulhar uma batata no milkshake, fazendo Thomas olhar para ela com o cenho franzido, incrédulo com o que estava vendo.
- Estou vendo uma PHD em biomedicina mergulhando batata frita no milkshake. Por favor, Diana, não deixe que essa seja a última imagem que tenho de você.
- Doutora ainda não, mestre sim - ela o corrigiu e deu um gole generoso do seu milkshake de morango. - Não vai me dizer que nunca fez isso.
- Que tipo de médico eu seria ao proibir as crianças de comerem doces, mas de repente ser visto comendo uma porcaria dessas?
- Então você é o senhor-saúde-que-não-come-porcarias? Aposto que você bebe cerveja - ela mordiscou a batata lambuzada e ele concordou. - Eu sabia.
- É o mínimo para ter sanidade aqui, não é?
- Concordo. Experimenta, você não vai se arrepender.
- Não sei... Posso imaginar o estrago que isso vai causar no intestino na hora de digerir.
- Não se preocupa, segundo a minha pesquisa, não é como se você fosse desenvolver câncer no estômago antes dos quarenta. Você não vai morrer por causa de uma batatinha.
- Se você está dizendo... - ele pegou uma batata no prato e mergulhou a ponta no seu milkshake de chocolate.
Meio a contragosto ele levou à boca e mastigou. A princípio achou estranho, mas tinha que concordar com Diana. Tinha um gosto muito bom.
- Talvez eu seja uma grande fraude na minha área por achar isso aqui gostoso - ele disse após engolir e Diana bateu palminhas alegres.
- Eu sabia que você ia gostar. Pode se acostumar comigo aqui, vou te apresentar várias outras porcarias.
- Não deve existir tantas assim.
- Ah, existem sim! Tenho dois irmãos mais velhos e uma gêmea, nós sempre inventamos receitas estranhas desde crianças.
- Espera, tem outra de você? É isso mesmo?
- Mais ou menos - Diana riu, as pessoas nunca acreditavam que ela tinha uma irmã gêmea. - Não somos idênticas, ela é mais alta do que eu, mas os meninos são gêmeos idênticos. Sim, em dois anos minha mãe foi para a mesa de parto duas vezes e voltou com quatro crianças. Loucura, eu sei.
- Tenho pena do pediatra de vocês, isso sim - ele comentou rindo, fazendo ela rir também.
- Damon é arquiteto, é escritor e a Louise é assessora de imprensa e empresária do . Nós quatro sempre quisemos estudar na mesma universidade para não ficarmos longe um dos outros, então quando passei em Harvard, eles dobraram a rotina de estudos para conseguirem também. Deu no que deu, os meninos se formaram juntos, a Lou um pouco depois e eu fiquei até hoje.
- Então vocês são bem unidos.
- Com certeza. Família é tudo o que temos, não sou nada sem os meus irmãos.
- E eu também não sou nada sem os meus... - Thomas sentiu uma repentina saudade dos irmãos. - Tenho uma irmã e um irmão, sou o mais velho. Sou três anos mais velho que a minha irmã e seis anos mais velho que o meu irmão, então foi horrível quando tive que vir e deixar eles porque ainda estavam na escola... Quando ela passou em Oxford nem acreditei, veio para a mesma escola que eu só pra poder ficar perto de mim. Ela cursou história por três anos e depois precisou trocar para a minha escola atual para fazer a pós em educação primária, mas mesmo assim foram quatro anos maravilhosos pra mim, somos bem unidos. Meu irmão ainda está decidindo o que quer da vida, mas se ele quiser estudar aqui, vou ficar feliz também. Você tem razão, família é tudo, eu conto os dias para ir para Londres ver os meus irmãos.
- Bem, acho que vamos ter tempo para juntar todo mundo, não é? Mal posso esperar para começar aqui.
- Então você já tomou sua decisão?
- Já - Diana sorriu. - Mas só por curiosidade: vou ter que usar esse uniforme também?
- Com certeza - ele riu, imaginando que ela detestou a roupa. - Mas não se preocupa, o das meninas é mais bonito, é uma capa preta, saia e camisa branca igual essa que estou vestindo, Ainda tem aquele cordão que imita uma gravata borboleta, acho que vai ficar bom em você.
- Posso bordar um brasão da escola na capa para me sentir ainda mais em Hogwarts?
- Talvez o reitor permita já que você é a nova queridinha dele.
- Ei! Não sou a queridinha do reitor.
- É sim, ele quase não deixou você vir comigo, pensei que iria me morder.
- Engraçadinho - ela riu e terminou de beber seu milkshake em um gole. - Estou adorando estar aqui, mas está na hora de voltar. Prometi para os meus irmãos que estaria em Londres antes de anoitecer porque vamos pedir pizzas hoje.
- Bom... Agora é... - Thomas olhou as horas no seu relógio de pulso. - Duas horas da tarde. Graças à nossa conversa eu estou morto de saudades dos meus irmãos e com muita vontade de ir para Londres agora mesmo visitar eles.
- Mas não é cansativo?
- Nem um pouco! Londres fica a uma hora daqui. Estou pensando seriamente em ir e fazer uma surpresa para eles.
- Se você quer tanto assim, deveria ir.
- Quer saber? Eu vou, assim vamos juntos. O que você acha?
- Não vou negar uma carona se não for incômodo pra você - Diana sorriu, a gentileza dele era algo notável.
- Está decidido. Destino: Londres.
- Thomas, eu não sei como agradecer tudo o que você fez por mim hoje. Muito obrigada mesmo - Diana disse após Thomas estacionar na frente da casa de Damon.
- Já pode me chamar de Tom se quiser. Thomas é muito... Formal. Pode ser Tommy também, embora tenho quase certeza que só a minha irmã me chama assim, mas se quiser também, não vou me incomodar.
- Tom está ótimo - ela sorriu e empilhou seu material no colo. - Então até breve, nos vemos em Oxford no próximo ano letivo.
- Muito tempo! Vou ter que te seguir no Instagram.
- Não tenho redes sociais - ela admitiu e ele olhou para ela assustado e curioso. - Não me olhe assim, redes sociais tiram o foco dos estudos.
- Então eu posso pelo menos ter o seu telefone para ter certeza de que você continuará viva até lá? - ele pegou o seu celular no bolso e abriu nos contatos, entregando para Diana digitar o seu número. - E eu juro que não é uma cantada porque não sou assim.
- Eu não costumo passar meu telefone, mas já que você sabe tudo da minha vida mesmo... - ela deu de ombros e digitou seu número, devolvendo o aparelho para ele em seguida. - Tchau, Tom. Até mais.
- A gente se vê, Diana.
- Pode me chamar de Ana se quiser. Diana é muito... formal - disse enquanto saía do carro, o imitando, fazendo Thomas gargalhar.
- Anotado! Até mais.
Diana fechou a porta do carro e Thomas esperou que ela entrasse para ir embora. Diana morava perto do centro da cidade enquanto vivia um pouco mais afastada, então ele ainda levou mais algum tempo para chegar à casa dos irmãos, embora tivesse certeza que pelo horário já estaria em casa após mais um dia de trabalho.
Quando ele chegou, se lembrou do lance de escadas que teria de subir, então tirou o paletó do uniforme e criou coragem, subindo três andares de escada e jurando para si mesmo que daria uma casa térrea para sua irmã quando sua profissão o tornasse um homem rico o suficiente para tal. Precisou respirar fundo algumas vezes e tomar fôlego antes de bater na porta e torcer para que tivesse alguém em casa. Quando ouviu pedindo para esperar, sentiu a ansiedade tomando conta de si.
abriu a porta e não podia acreditar no que estava vendo, ou melhor, em quem. Não via Thomas desde as férias de Páscoa quando ela passou as duas semanas livres em Oxford apenas para poder ver o irmão, William também foi, mas já haviam se passado dois meses e ela não podia mensurar a falta que sentia dele.
- Vai me deixar aqui do lado de fora mesmo?
- Não acredito que você veio aqui do nada e sem motivo.
- Como sem motivos? Sentir saudades de vocês não é motivo o suficiente para vir aqui? Anda logo, me dá um abraço.
Thomas abriu os braços e puxou a irmã para um abraço apertado no qual retribuiu sem hesitar. Já fazia tantos anos que ele morava em Oxford e mesmo assim ela sentia falta dele todos os dias, não podendo imaginar como seria quando William quisesse ir para a faculdade também e como se sentiria só sem os seus irmãos. Apenas por pensar nisso, ela não conteve as lágrimas, sendo consolada por Thomas.
- Não acredito que você está chorando, .
- E você queria o quê? Quase não vejo você, é óbvio que eu iria chorar - ela disse ao se afastar dele e tentou secar as lágrimas passando a manga da sua camisa sobre os olhos. - Entra, acabei de chegar e estou fazendo um sanduíche pra comer.
Ela deu espaço para Thomas entrar e depois trancou a porta. Thomas olhou ao redor procurando por William, mas ele não estava ali.
- Cadê aquele pirralho?
- No quarto, acabou de chegar também, estava correndo.
- Ótimo, vou dar um susto nele.
Thomas foi na frente até o quarto de William e foi logo atrás. Ele abriu a porta e encontrou o caçula trocando a roupa esportiva por roupas casuais. William estava de costas e não vou que Thomas estava ali, apenas quando se virou após vestir a camiseta. Não podia acreditar nos seus próprios olhos.
- Ah não, cara - foi tudo o que conseguiu dizer, não podendo conter um sorriso. - Não acredito...
- Pode dar um abraço no seu irmão ou esse monte de músculos não permite?
- Porra, Tom! Quer matar a gente do coração? - William disse enquanto ia em direção ao mais velho para lhe dar um abraço apertado. - O que você veio fazer aqui?
- Ver vocês, é claro, aproveitei a minha folga no hospital para vir fazer uma visita.
- Ainda não acredito que você está realmente aqui - estava com a voz embargada, quase chorando novamente, então Thomas não se conteve e puxou a irmã para os seus braços, aninhando-a em um abraço.
William não queria chorar descaradamente, mas não negou quando Thomas fez sinal para que se juntasse a eles em um abraço triplo. O mais velho, por sua vez, também estava com os olhos cheios de lágrimas, se lembrando de quando Diana disse que seus irmãos se esforçaram para irem para a mesma faculdade que ela para poderem ficarem juntos e pensando que, apesar de não pode passar tanto tempo assim com seus irmãos, sabia que não tinha nada que fosse mais valioso na sua vida do que eles dois.
- Desculpem, não vou soltar vocês nos próximos cinco minutos - ele disse rindo, repousando o queixo no topo da cabeça de , mais baixa do que ele.
- Não solta - William respondeu naturalmente. - Mas talvez a morra sufocada aí em baixo.
- Estou bem - respondeu após fungar. - Continuem, ainda posso respirar.
Apenas um minuto depois eles se separaram e chamou os dois para se juntarem à refeição. Embora Thomas não estivesse com fome, não iria negar um sanduíche feito pela sua irmã. Sugeriu de comerem enquanto assistiam a um filme que William escolheu, sendo este De Volta Para o Futuro, um dos preferidos de Thomas desde a infância.
- Cara, quer uma roupa emprestada? Estou sufocado de ver você usando esse uniforme - William disse após encontrar o filme na plataforma de streaming.
- Por que está usando uniforme se está de folga, Tommy? - perguntou enquanto entregava o sanduíche dele em um prato e também um copo de suco.
- Obrigado. Eu estava em uma palestra, não posso ter conteúdo acadêmico sem uniforme, mas acho que vou aceitar uma roupa emprestada sim, Will.
Então após William emprestar uma roupa confortável para que o irmão pudesse aproveitar o resto do seu dia de folga, os três se acomodaram no sofá e deu o play para que finalmente pudessem assistir ao filme que sabiam todas as falas de cor e salteado, mas que mesmo assim nunca se cansavam de ver juntos. Com aninhada nele e William do outro lado, atento ao filme, Thomas se sentiu verdadeiramente em casa, cogitando até passar a noite ali, embora soubesse que não seria possível porque estaria em um plantão de vinte e quatro horas no dia seguinte. Lhe custaria para ir embora, mas o que aliviava era saber que as férias de verão estavam chegando e logo ele poderia voltar pra casa. Não que não considerasse Oxford sua casa, pois tinha seu próprio apartamento próximo ao hospital, mas achava que lar era onde o coração estava e o coração dele estava bem ali naquele pequeno apartamento afastado do centro de Londres. Apenas mais um ano e Thomas poderia finalmente retornar, era o que ele mais queria, onze anos fora e ainda não tinha se acostumado cem por cento.
Não, ele tinha certeza de que nunca, jamais se acostumaria. Desejava que seus pais também estivessem ali para a família ficar completa, mas quanto a isso ele aguardava ansiosamente pelas férias de verão.
Capítulo 4 - Everybody got their demons
Amor perdido é mais doce quando ele finalmente é encontrado
Eu tenho a estranha sensação
De que essa não é nossa primeira vez aqui” – Past Lives - Børns
estava na sua última aula naquela terça-feira. Estava com sono, fruto de uma noite mal dormida na qual ela passou horas lendo o livro de , completamente envolvida com o enredo e personagens. Ela podia se considerar uma leitora sagaz desde a infância e um livro tão bem escrito como aquele lhe prendeu a atenção nos últimos dois dias. Mesmo que Thomas tivesse lhe visitado no dia anterior, ela não deixou de ler, o único problema foi ter se empolgado e agora estava pagando por isso, quase cochilando na sua mesa enquanto os alunos copiavam o conteúdo do quadro. Para um sexto ano, a classe estava quieta até demais, mas o fato de ela ter dado ênfase de que era matéria de prova colaborou para que os adolescentes fizessem o dever sem reclamar.
Fingindo estar conferindo a caderneta de chamada, ela acabou cochilando nos últimos minutos do dia e só despertou quando o sinal tocou, indicando o fim da aula. Os alunos começaram a guardar seus materiais rapidamente como sempre, passando por ela e se despedindo brevemente. torcia para que todos fossem embora o mais rápido possível para que finalmente pudesse tirar um merecido cochilo no sofá de sua casa, então quando a sala esvaziou, não se importou em apagar o quadro, apenas juntou seu material e foi embora sem se quer passar na sala dos professores. Queria evitar conversas desnecessárias.
O caminho para sua casa pareceu mais longo do que de costume, embora soubesse que estava dentro do horário usual e não tinha qualquer trânsito que a impedisse de chegar no horário de sempre. Torcia também, mais do que nunca, para que William não estivesse praticando guitarra, pois não gostaria de ter de dormir ao som de John Mayer - embora o gosto musical do irmão fosse indiscutivelmente bom.
Quando finalmente chegou em casa, começou a subir os degraus quase se arrastando, já imaginando o seu confortável sofá a recebendo logo que abrisse a porta da sala. Criando coragem, continuou subindo, se perguntando mentalmente como ainda não tinha coxas torneadas por subir aquele lance de escadas todo santo dia. Não importava, a vontade de dormir era maior do que tudo.
não conteve um sorriso aliviado quando chegou no seu andar, abrindo a porta na mesma velocidade que cairia no sono logo em seguida, mas ela não esperava se deparar com um par de olhos castanhos para além dos de William olhando para ela quando entrou. Olhos aqueles que ela conhecia bem e tinha uma quedinha na adolescência, tinha de admitir. Tinha se esquecido completamente que Carter passaria alguns dias com eles como William disse antes, o que fez pensar se seria grosseiro da sua parte deixar a visita à vontade e ir dormir no quarto. Carter se levantou do sofá ao mesmo tempo que William, mas o mais velho estava na frente, abrindo um largo sorriso ao ver chegar.
- Se tivesse chegado um dia antes, teria encontrado o Tom também - ela disse ao cumprimentar o amigo com um abraço apertado. - Ele veio fazer uma surpresa pra gente ontem.
- Que azar o meu, mas pelo menos tenho meus pequenininhos aqui pra me receber, hum? - Carter bagunçou os cabelos de , a fazendo rir.
- Não somos mais crianças - cruzou os braços, em tom de provocação.
- Ainda são meus irmãozinhos menores sim, aceite ou não - Carter deu uma piscadinha para ela.
Talvez o fato de Carter a enxergar como uma irmã menor foi o que impediu de desenvolver sentimentos na adolescência. Ele tinha a mesma idade de Thomas e talvez isso pesasse um pouco na opinião dela quando tinha dezessete anos e ele vinte.
- Meninos, eu queria muito fazer companhia pra vocês, mas estou morrendo de cansaço e sono e queria muito tirar um cochilo antes do jantar. Se importam? - mostrou as olheiras e seu rosto abatido.
- Vai descansar, . Will e eu cuidaremos do jantar, bons sonhos - Carter deixou um beijo na testa de e ela agradeceu antes de receber um empurrão de William por pura implicância do mais novo, o que a fez proferir xingamentos ao irmão e só então foi em direção ao seu quarto.
Se livrou dos sapatos e da calça jeans, trocando por um short confortável e então caiu na cama, não levando se quer cinco minutos para adormecer, de tão cansada que estava. realmente gostaria de ter passado o tempo com os meninos ou simplesmente continuar lendo o livro de , mas se enrolar no cobertor e repousar a cabeça no travesseiro parecia ser o melhor a se fazer naquele momento enquanto Carter e William conversavam na sala.
William estava mais do que feliz por receber seu irmão mais velho. Não que e Thomas fossem menos importante, mas sempre foi muito próximo do irmão por parte de pai. Desde que William cortara relações com seu pai, Steven, Carter havia se tornado seu melhor amigo, pois o entendia melhor do que qualquer um.
- Nem se acostuma, Will, vou ficar somente durante as minhas férias. Quis vir para ver como você e a estão.
- Estamos ótimos, eu gosto de morar com a , ela me trata como adulto, coisa que não acontecia antes.
- Não fala assim da Liz e do Lewis, eles se importam com você.
- Não estou falando mal deles, jamais, só estou dizendo a verdade. Precisei sair da casa deles para minha mãe perceber que não sou mais uma criança.
- Acho que ela tinha os motivos dela para pensar isso, Will - Carter riu presunçoso e William rolou os olhos, mas acabou rindo também.
- A parte boa de morar com a é que ela me leva para as baladas com ela. Com identidade falsa e tudo. Ela é tipo uma versão feminina de você.
- Mas quem disse que eu não pegaria no seu pé?
- Resolveu virar meu pai? Não, obrigado, não tenho.
- Para, Will... - Carter mudou o tom de voz quando percebeu que a conversa estava ficando séria. - Já faz muito tempo, você deveria conversar com ele.
- Conversar sobre o que? A culpa não é minha se ele não se importa comigo!
- Claro que se importa, do jeito dele, mas se importa. Eu só não quero que você cometa os mesmos erros que eu, Will, colocando o nosso pai como um vilão da história. Ele não é.
- Carter... Não quero discutir sobre isso, você sabe o que eu penso e deveria concordar comigo. Ele sempre foi ausente inclusive com você, por que você ainda defende ele?
- Porque ele e você são a única família que eu tenho - o mais velho desabafou, pegando William de surpresa. - Eu não tenho mãe, não tenho mais ninguém, mal conheço os parentes dele. Acha que eu gosto de não ter uma família normal? É frustrante, mas ele é o que eu tenho e aprendi a valorizar. Você tem a Liz que é incrível, sempre cuidou de mim como se fosse filho dela também, tem o Lewis, a e o Tom... Eu fico feliz que você tem tudo isso, Will, e quero que você dê valor tanto para eles quanto para o nosso pai. Somos todos a sua família.
- Somos sua família também, Carter - William não sabia muito bem o que dizer, seu irmão parecia realmente aborrecido. - O Tom, a ...
- Eu sei, mas não é a mesma coisa. O nosso pai... Ele... Ele me criou sozinho, nunca conheci a minha mãe e você sabe, ele batalhou muito pra me criar. As pessoas endeusam as mães solteiras, mas se esquecem que existem pais solteiros também, como o nosso. Eu sei que conforme a condição de vida dele foi melhorando, ele pareceu estar mais distante de nós, mas foi para poder nos dar do bom e do melhor, eu levei muito tempo pra entender isso. As coisas não eram tão fáceis assim antes de você nascer, eu olhos para trás e vejo que fui um adolescente rebelde sem motivo. Steven é um bom pai, Will, espero que um dia você possa ouvir o lado dele também.
William engoliu a seco as palavras de Carter, sentindo um nó se formando na garganta e um aperto no peito. Seu pai sempre foi seu herói, sua inspiração, seu melhor amigo. Contava os dias para poder passar as férias com ele, mas isso foi mudando conforme se aproximava do fim da adolescência. As visitas começaram a se tornar cada vez mais raras, assim como as viagens e os telefonemas. William não entendia, embora tentasse. Cansado de uma suposta rejeição vinda de seu pai, ele cortou os laços. E embora Steven ainda tentasse reatar o contato com o filho, ele não conseguia porque William tinha a personalidade mais forte do que a de Carter e não iria ceder tão cedo.
- Talvez. Não quero falar sobre isso - William se levantou irritado.
- Onde você vai?
- Correr - o mais novo deu de ombros enquanto colocava os fones no ouvido e plugava no seu celular.
- Vai me deixar aqui sozinho?
- está aí.
- William...
- A casa é sua, fica à vontade.
William saiu batendo a porta com um pouco mais de força do que gostaria, causando um estrondo sem necessidade, mas não se importava, apenas queria ficar sozinho e fugir daquela conversa para poder pensar. Carter não sabia o que fazer ou como reagir, aquela não era a casa dele, não se sentia à vontade e não iria acordar apenas para não ficar sozinho, sabia que ela estava cansada porque viu o rosto abatido dela quando a mesma chegou do trabalho. Sem muito o que fazer, ele optou por esperar ali mesmo, já que não tinha muitas opções.
Enquanto Louise falava sem parar sobre o lançamento do próximo livro, mexia seu cappuccino com uma colherzinha sem dar muita importância, pois sabia que a previsão de lançamento era apenas para o próximo ano. Estava tranquilo quanto a isso, achando que talvez ela estivesse exagerando um pouco em se programar com tanta antecedência. Não queria estar ali naquela cafeteria conversando sobre trabalho. O problema não era a companhia de Louise, ele apenas gostaria de estar sozinho.
- Estou ficando tonto com tanta informação, Louise - ele levou a xícara à boca para dar um gole da bebida. - Relaxa um pouco.
- Eu não relaxo, , essa palavra não existe no meu vocabulário.
- Tudo bem. Então que tal renovar os ares? Sair com outra pessoa além de mim. Talvez aquele garoto com quem você está saindo.
- Will? Não estou saindo com ele, só nos vimos uma vez. Ele é um cara legal, mas...
- Mas...?
- Ele é mais novo, . Sinceramente não sei onde estava com a cabeça ao me envolver com um menino de vinte anos, mas também não consigo voltar atrás.
- Idade é só um número, Lou. Ele parece ser legal, ao menos na festa da Katie ele parecia ser.
- E ele é, mas tenho medo de não dar certo, de não ir pra frente.
- Você está se precipitando de novo. Se permita sentir alguma coisa.
- Você sempre tem um conselho na ponta da língua, não é? - ela riu e ele concordou, rindo também. - Deveria ouvir seus próprios conselhos.
- Não, obrigado, treinador não entra em campo..., Mas insistindo no assunto, posso jurar que conheço ele e a irmã dele de algum lugar. Quando os vi na festa, achei que já tinha visto os dois antes.
- Talvez você já tenha visto em algum evento dos seus livros.
- não sabia quem eu era - ele se distraiu por um momento ao olhar pela janela. - Ela encontrou Ad Perpetuam Memoriam na casa da Katie e eu vi, mas não falei que eu era o autor.
- Seu nome está na capa.
- Ela não sabia o meu nome - ele sorriu com a insistência de Louise e em como ela bufou impaciente. - O que foi?
- Eu vi você olhando pra ela durante a festa, ok? Não tenta fingir que é um santo porque eu sei que você não é.
- Ah... - ele encolheu os ombros e bebericou o cappuccino de novo. - Como eu disse, achei que os conhecia de algum lugar. Era muito familiar...
- Sei... - Louise espremeu os olhos, quase arrancando uma verdade inexistente de . - Talvez ela tenha estudado na mesma faculdade que nós.
- Ela estudou em Oxford - começou a mexer o café novamente para evitar olhar para Louise, pois sabia que ela o encarava desconfiada.
- E como você sabe disso?
- Por que eu perguntei.
- Então vocês tiveram tempo pra conversar?
- Não, você chegou antes disso - a encarou e Louise parecia não ter mais perguntas para fazer. - E agora eu não sei se ela leu o meu livro ou não e não vou saber porque não tenho nenhum contato com ela.
Louise pegou seu celular na bolsa ao seu lado e procurou pelo contato de William. Digitou uma mensagem para o garoto e guardou o celular de volta, tornando sua atenção para que olhava curioso para a irmã.
- Quando o Will responder, então você terá o contato dela.
- Você não fez isso, Louise - sentiu as bochechas arderem e ele começou a ficar nervoso.
- Fiz e não foi nada demais. Você só quer perguntar se ela leu o seu livro, certo? Estou te dando a oportunidade de saber.
- Que droga, Louise. Pode deixar que eu tome minhas decisões só uma vez na vida?
- Ei! Que estresse todo é esse? Não tenho culpa se você não toma uma atitude.
- Atitude de quê? - afastou a cadeira para se levantar, abriu a carteira para tirar sua parte da conta e deixou sobre a mesa.
- , espera... - Louise o chamou, mas ele apenas foi embora sem olhar para trás.
Ela pegou o seu celular de novo torcendo para que William não tivesse visto a mensagem, então a apagou quando percebeu que não tinha nenhuma resposta. No lugar daquela, apenas perguntou se poderiam se ver e a resposta veio alguns minutos depois no qual William dizia que estava fazendo sua corrida que fazia todo fim de tarde, mas que já estava terminando em alguns minutos. Louise insistiu, dando sua localização e Will sugeriu de se encontrarem do lado de fora daquele mesmo café que ela estava, visto que ele estava suado, segundo ele mesmo.
Louise concordou e trocou de lugar, pagando a conta e indo para as mesas do lado de fora para o esperar. Não demorou muito para que ele dobrasse a esquina caminhando distraidamente enquanto mexia no celular. Quando avistou Louise, ele acelerou o passo para chegar mais rápido. Cumprimentou Louise apenas com um breve aceno antes de se sentar. Estava suado e não queria abraçar ela.
- Sorte sua eu estar perto daqui hoje - ele disse divertido e ela sorriu de lado.
- Você mora aqui perto?
- Moro a alguns quarteirões daqui - ele se explicou enquanto tirava os fones de ouvido, embolando para colocar no bolso. - E então? Por que está com essa cara de quem comeu e não gostou?
- Bobo - Louise sorriu novamente de canto, gostava de como ele sempre parecia estar de bom-humor. - Discuti com o meu irmão, acho que cometi um erro.
- Então somos dois - William esboçou um sorriso sem jeito, despertando o interesse de Louise no que ele tinha pra contar. - Mas diz você primeiro, o que aconteceu?
- Eu mandei uma mensagem pra você pedindo o telefone da sua irmã para passar para o . Ele ficou irritado e foi embora, estava aqui comigo.
- Por que você queria passar o número dela para ele?
- Ele disse que encontrou o livro dele na festa da Katie, ele não se apresentou como autor do livro e disse que não sabia se ela tinha lido ou não. Falei que pediria o número dela para que ele pudesse perguntar, era brincadeira, é claro, mas ele levantou e foi embora. não curte esse tipo de brincadeira, não sei nem porque insisto.
- Exagero. A atenderia a ligação numa boa, ela está lendo o livro, a propósito. Inclusive está dormindo nesse momento porque passou a madrugada lendo. Se servir de alguma coisa, pode dizer a ele, mas que seja só isso porque eu não deixo a minha irmã namorar.
- Claro que é só isso. Além disso, acho que ela já deve ser dona do próprio nariz, não é? - ela riu da careta que ele fez quando mencionou o namoro.
- É, mas eu não a deixo namorar com quem eu não conheço. Já que o Tom não faz nada para proteger a nossa irmã, então eu faço.
- Que retrógrado, Will. Você e o Damon dariam uma bela dupla. Ele também é ciumento.
- Somos zelosos com as nossas irmãs, só isso.
- Então você saiu pra correr porque discutiu com a sobre deixar ela namorar ou não?
- Não discuti com a , discuti com o Carter, meu outro irmão. Eu já te falei dele, já? - Louise assentiu e então William continuou. - Ele veio de Paris pra me visitar, mas começou a falar do nosso pai, eu encerrei a conversa e deixei ele lá. Estou com a consciência pesada por ter deixado ele sozinho porque a estava dormindo.
- Isso é ruim, Will. Desculpa perguntar, mas você...
- Eu não falo com o meu pai - William a interrompeu. - Mas eu não quero falar sobre isso, Lou. Prometo que um dia vou te contar tudo, mas hoje não estou com cabeça pra me abrir.
- Então você deveria voltar pra casa para não deixar o seu irmão sozinho.
- E você deveria pedir desculpas ao .
- Eu vou, só deixa ele esfriar a cabeça. Você sabe como essas pessoas calmas demais ficam quando se irritam. Nunca vi o tendo um acesso de raiva e não quero ver hoje.
- Eu entendo... , Tom e Carter são tão calmos que quando se juntam me sinto em um asilo.
- Não sou a nervosinha da família, tem o Damon pra isso, sou o meio termo. É a camomila que bebe chá de Diana e .
- É complicado ser o extrovertido da família, não é? - ele riu da piada dela e Louise concordou. - Se quiser extravasar, eu corro por aqui todo dia nesse horário. Tenho preguiça de acordar cedo, antes que pergunte.
- Bom, se eu não tiver que trabalhar para o meu irmão, eu vou sim, vai ser ótimo. Eu também odeio levantar cedo.
William e Louise continuaram conversando durante mais algum tempo, sem se darem conta de que já tinha anoitecido e estava esfriando. Queriam poder se conhecer bem antes de qualquer coisa, pois conhecer alguém por aplicativo poderia ser um tiro no próprio pé. Eles eram parecidos em muitas coisas, e embora Louise tivesse medo de ser julgada por estar com um rapaz mais novo, ela não poderia negar o quanto se sentia atraída por ele, assim como William se sentia por ela. A achava bonita, inteligente, divertida... Tudo o que ele buscava em uma mulher. Sabia que ainda era cedo demais e muita coisa aconteceria que poderia o fazer mudar de ideia ou não, mas enquanto isso ele não podia negar que ela tinha o sorriso mais bonito que ele já viu.
abriu os olhos e precisou de alguns segundos para se situar. Precisava saber onde estava, qual era o seu nome e em que ano estava. Adorava tirar um cochilo à tarde após o trabalho, mas a sensação de deslocamento depois era facilmente comparada a estar de ressaca.
Ela criou coragem para se levantar e então saiu do quarto, seguindo pelo corredor até a cozinha. Se deparou com Carter cozinhando e a televisão ligada na sala em um programa de auditório. Olhou as horas no relógio da parede e percebeu que já beirava as sete horas da noite.
- Não era o Will que deveria estar cozinhando? - ela perguntou o fazendo se assustar. Carter se virou para ela e riu.
- Que susto, . Bom... Will saiu há horas e ainda não voltou, imaginei que você acordaria com fome e tomei a liberdade de preparar um jantar. Não sou o melhor cozinheiro do mundo, mas sei que você agora macarrão com legumes.
- Acertou em cheio - ela sorriu de canto e se encostou no balcão. - Como assim Will saiu há horas? Ele te deixou aqui sozinho? Por quê?
- Você conhece ele, tentei falar sobre meu pai, mas ele não se abre. Ficou nervoso e saiu, não voltou até agora.
- Vamos ter uma conversinha quando ele chegar.
- Está tudo bem, , eu deveria ter imagino que ele reagiria mal. Conheço o Will, deixa ele esfriar a cabeça.
- Ainda não justifica o fato de ele ter te deixado sozinho. Por que você não me acordou?
- Eu não faria isso, você estava cansada. Fica tranquila, depois a gente resolve, eu não estou chateado com ele por causa disso.
- É só que... - mordeu os lábios, hesitante com o que estava prestes a dizer. - Ele deveria agir com mais maturidade às vezes, pensar um pouco mais com a cabeça de cima. Sei que é cruel da minha parte falar assim dele, mas tenho medo que ele não amadureça nunca.
- , ele tem vinte anos, é um garoto ainda. Não dava para esperar que ele fosse como o Tom ou como você nessa idade, o Will pensa diferente, tem o próprio tempo. Eu não esperava que nessa idade ele já estivesse com a vida encaminhada e recitando Nietzsche para justificar as próprias opiniões.
- Eu sei, eu sei, não é isso que eu esperava também, ele é diferente de nós. Não de um jeito ruim, apenas do jeito dele, mas algumas atitudes me irritam. É como se eu fosse mãe dele ultimamente, agora sei o que nossa mãe passou.
- Bom, se te serve de consolo, ele adora morar aqui com você. Não se preocupa, com o tempo ele vai melhorar. Foi assim comigo, vai ser assim com ele também.
- Vou me iludir com isso enquanto faço um suco pra gente - ela foi até a geladeira para pegar água gelada.
Pouco depois eles estavam jantando juntos na mesa. Carter podia até não ser um grande cozinheiro, mas a comida estava boa mesmo assim. estava com a consciência pesada por ter passado horas dormindo enquanto ele fez tudo sozinho porque William deu um chilique desnecessário e, jurou para si mesma que compensaria nos próximos dias em que ele passaria por lá.
- E então? Como vai a vida de professora de adolescentes? - ele perguntou ao mudar de assunto, dando um gole generoso no seu suco.
- Ótima, por incrível que pareça. A maioria dos adolescentes odeiam história, mas eu tento fazer com que pareça mais legal. Acho que estou conseguindo. Aulas sobre Segunda Guerra Mundial ou Inquisição costumam render muitas perguntas.
- Quais, por exemplo?
- Por que Hitler queria criar uma raça ariana se ele próprio não era um? Tive de usar como exemplo Lord Voldemort pregando a ideologia dos bruxos de puro-sangue sendo que ele era um mestiço. Acho que entenderam.
- É uma ótima explicação, mas eu não imagino adolescentes interessados em saber mais sobre a Inquisição. Talvez eu fosse o único da minha classe que se interessava pelo assunto.
- Eles não ligam pra parte que a Igreja perseguia pessoas, mas é só falar sobre as bruxas que se transformam em caixinhas de perguntas aleatórias. Uma vez me perguntaram quais eram os tipos de bruxos que existiam e eu simplesmente não sabia o que dizer, pois nunca realmente acreditei nessas coisas e tive que desconversar.
- Ah, essa é fácil. Tem os Mutuários que são os que adquirem o poder através de forças demoníacas, os mais comuns. Os Estudantes, que o nome já diz por si só, estes estudam pra adquirir poder e também tem os Naturais, que são raríssimos. Esses nascem com afinidade natural com poderes sobrenaturais e coisas do submundo. É bem simples, na verdade.
- Nossa, como você sabe disso? - perguntou surpresa. Jamais imaginou que ele soubesse do assunto.
- Internet - Carter deu de ombros, mentindo, mas não tinha a mínima ideia de como sabia aquilo. - Como falei, eu era o único interessado nas aulas de história. Se você tivesse sido minha professora, tenho certeza que eu teria sido o melhor aluno da sala.
- Que cantada furada, McQueen. Inventa outra.
- Não é cantada, eu juro! - ele arregalou os olhos, sentindo o rosto arder, tinha certeza de que estava ficando vermelho. - Desculpa, não foi essa a minha intenção. Quis dizer que imagino que você seja uma boa professora.
- Claro, eu finjo que acredito.
- Qual é, ? Vi você crescendo, você é como uma irmã pra mim. Sabe que eu não teria segundas intenções com você.
- Eu sei, bobo, estou tirando sarro da sua cara. Só isso - ela disse rindo e bebericou seu suco logo em seguida. - Não se esqueça de que Will não me deixa namorar. Palavras dele.
- Will não sabe de nada, aquele pirralho. Quero ver a cara dele no dia em que você arrumar um cara foda, quero estar aqui para ver qual vai ser o argumento dele.
- Posso imaginar quais sejam, mas estou bem agora. Quando acontecer, ele que engula o ciúmes dele.
Louise estacionou o carro na frente do prédio em que William morava. Tocava uma música alegre no rádio na qual eles não conheciam e o assunto já tinha morrido, mas se divertiram tanto que ir embora parecia ser cruel e repentino demais. William não queria sair do carro e Louise não queria que ele fosse, mas sabia que não podia o impedir.
- Obrigado pela carona, Lou.
- Obrigada por hoje, acho que eu precisava me distrair e rir um pouco. Você é uma das pessoas mais divertidas que eu conheço.
- Você é a única pessoa que acha isso de mim, juro. Meus irmãos dizem que sou rabugento.
- Estão enganados - ela sorriu, mordendo os lábios de nervosismo por saber que tinha de se despedir. - Quando vamos nos ver de novo?
- O mais rápido possível - William sorriu também, estava confiante que sim. - Quer sair no fim de semana? Podemos ir ao cinema ou algo assim. Acho que Vingadores ainda está em cartaz, caso você não tenha assistido.
- Não assisti. Está marcado... Então... Até sábado?
- Ah, Lou, não posso sair do carro sem fazer o que quero fazer desde o momento em que demos match... - William encarou os próprios dedos brincando uns com os outros nervosamente. Não conseguia mais se conter.
- Sinceramente também quero, Will - Louise disse sem demandas, fazendo com que William olhasse pra ela surpreso. - Não sei como eram as outras garotas com quem você já esteve, mas não sou como elas, não tenho papas na língua. Se quer me beijar, vá em frente, eu também quero beijar você.
William não pensou muito antes de juntar seus lábios nos dela em um beijo que começou lento, mas que a própria Louise intensificou. Sentia que havia tomado a melhor decisão de sua vida. Se viu, de repente, fora daquele carro, fora dali. Estava em um quarto de decoração muito antiga, não tinha certeza, mas achava que era vitoriana. Tinham dois berços de bebês e ele próprio segurava uma linda bebezinha que não deveria ter mais de seis meses. A bebê sorria pra ele e ele não conteve à vontade de sorrir de volta, se encantando com ela.
Louise vinha na sua direção segurando outro bebê, um menino. Ela estava radiante, parecia mais feliz do que nunca, embora seus olhos estivessem marejados e ela usasse um vestido muito mais longo que usaria nos dias atuais.
- Este é o melhor presente que já recebi, William - ela sorriu, balançando o bebê no seu colo. - E também a melhor maneira de homenagear os dois colocando os nomes deles nos nossos filhos. Estariam felizes se estivessem aqui conosco.
William não precisou pensar para entender. Era casado com Louise, aquele casal de gêmeos eram seus filhos e, se estava certo, se chamavam e . Como ele sabia disso? Não tinha a mínima ideia, mas uma tristeza incomum tomou conta do seu peito, sentindo uma vontade imensa de chorar ao imaginar que nunca mais veria a sua irmã. Aquela bebê com o nome dela era tudo o que ele tinha.
- Continuaremos a história de amor deles - as palavras simplesmente saíram da boca dele como se fosse outra pessoa dizendo. - Sim, os Arkleys farão isso por eles, é o que iremos fazer.
William se afastou de Louise, tentando conter a surpresa do que tinha acabado de ver, sem ter a mínima ideia se ela tinha visto a mesma coisa que ele.
Sim, ela viu. Do ponto de vista dela, mas viu. Estava surpresa também, mas não queria demonstrar com medo de que William pensasse que ela reagiu mal ao beijo quando na verdade podia considerar que foi o melhor beijo de sua vida.
- Eu... Eu vou entrar agora, mas... Foi incrível. Obrigado, Lou. Boa noite - ele abriu a porta do carro, mas se virou para ela para se despedir.
- Boa noite, Will - Louise sorriu e recebeu outro sorriso de volta, então William saiu do carro, entrando no prédio logo em seguida e ela foi embora.
William subiu as escadas sem reclamar como sempre fazia, estava entorpecido por ter a beijado e atordoado pelo que viu. Era real? Estava sonhando acordado? Estava tão confuso que não tinha coragem de contar para ninguém, achando que o chamariam de louco por ver aquelas coisas. William não entendia porque sempre que tocava Louise, fosse em um aperto de mão ou beijo, essas coisas aconteciam e porque sempre envolvia mortes e uma tristeza incomum no seu peito. William nunca havia experimentado a dor do luto, mas imaginou que o que sentia era o mais perto disso.
Quando se deu conta, já estava no último andar, pegou as chaves para abrir a porta e entrou ainda pensando no mesmo assunto, voltando apenas para a realidade quando foi chamado por que estava jantando com Carter.
- Lembrou que tem casa? - a mais velha questionou e então ele se lembrou de que havia deixado Carter sozinho. - Não pense que não vamos conversar.
- Agora não, , eu... Eu preciso tomar banho, desculpem - William passou por eles rapidamente e foi em direção ao banheiro, sua cabeça girava e ele não queria levar uma bronca naquele momento.
e Carter se entreolharam confusos, não estavam entendo o que estava acontecendo. William poderia ser ranzinza por natureza às vezes, mas cabisbaixo e avoado era algo novo até mesmo para os dois. Por mais que quisessem perguntar para o mais novo o que estava acontecendo, sabiam que não era o momento apropriado. William certamente não iria dizer nada.
- Tem certeza de que ele foi mesmo correr? - perguntou, mas Carter fez sinal de que estava de mãos atadas.
- Foi o que ele disse. Amanhã conversamos com ele, acho que é o melhor que podemos fazer hoje.
Enquanto os dois conversavam sobre o que talvez pudesse ter acontecido com William, o mesmo já estava debaixo do chuveiro, esfregando os cabelos como se pudesse tirar aqueles pensamentos da cabeça à força. Aquilo era tão real que o assustava, precisava entender o que era antes que enlouquecesse.
Quando saiu do seu longo banho, foi direto para o seu quarto sem chamar a atenção e pegou o celular para pesquisar. Era ridículo, ele pensava, mas tinha que ao menos tentar. Só tinha uma pista e iria se agarrar nela, mesmo que levasse uma eternidade para descobrir.
William Arkley.
Milhares de perfis com esse nome apareceram na tela do Google e ele se frustrou por não ser o que ele procurava exatamente. Queria poder se ver em um daqueles rostos, mas a não ser que jogasse o próprio sobrenome, sabia que não iria encontrar.
Que supérfluo, William. Ele pensou, é óbvio que existiam melhores de famílias com aquele sobrenome ao redor do mundo ao longo dos séculos, mas então ele se lembrou da decoração vitoriana no quarto. A parte boa de morar com uma professora de história, é que mesmo sem querer, ele sabia mais do que realmente queria.
Família Arkley era vitoriana.
Os resultados começaram a ficar mais escassos e sem nexo. Mansões vitorianas tomavam conta da tela do seu celular, tal como pinturas da Rainha Vitória, ou talvez artigos que faziam analogias dela com a Rainha Elizabeth II. Nada do que ele gostaria de ler até ele encontrar algo interessante sobre o castelo escocês que a Rainha residiu. O nome Arkley estava presente.
"O Balmoral Castle, em Aberdeenshire, na Escócia, é aberto para visitação pública durante quase todo o ano, exceto no verão quando costuma receber a Família Real. Comprado em 1848 pela Rainha Vitória, o castelo tem fama na região por um triste fato que supostamente aconteceu ali. Dizem que uma jovem, residente do castelo antes de ser vendido, estava grávida de seu primeiro filho, fruto do casamento com um Duque. Contudo, era uma gravidez de risco e, por isso, mãe e filho morreram no parto. O Duque, desolado, não conseguiu seguir em frente sem sua esposa e seu filho e, tragicamente, tirou sua própria vida neste mesmo castelo. A família Arkley, uma família rica e influente da época, proprietária do castelo, não era capaz de conviver com a dor da perda, e por isso optou por vender a propriedade, coincidentemente comprada pela Rainha Vitória que não tinha a mínima ideia da história que aquelas paredes carregavam."
William prendeu a respiração com o que havia acabado de ler. Pessoas morreram ali, a propriedade era de posse da família Arkley. Ele precisava continuar e se aprofundar naquilo, sentia que finalmente teria respostas.
Bem, isso se o link carregasse a continuação, pois a tela estava travada naquele trecho, não subia, não descia e muito menos voltava, o que fez William proferir alguns palavrões. Ele fechou o navegador e tentou abrir novamente com o mesmo link, mas para a sua surpresa, dizia que aquela página não existia. Ele tentou mais algumas vezes, mas simplesmente não conseguia carregar nem com toda a reza do mundo, o que o fez se sentir muito frustrado.
Ele não iria desistir, tinha todas as informações em mente e continuaria procurando depois que jantasse, visto que o estômago roncou alto enquanto ele tentava carregar a página sem parar, então mesmo contra a sua vontade, saiu do quarto e foi para a cozinha onde e Carter continuavam conversando enquanto terminavam de arrumar a bagunça do jantar.
- Se importam se eu jantar? - perguntou receoso, mas Carter deu de ombros enquanto negou.
- Fique à vontade.
- Carter, me desculpa por ter te deixado sozinho aqui, sei que exagerei, prometo que vamos conversar amanhã como adultos e com maturidade, está bem? - ele começou a preparar um prato pra ele, sem perceber que seus irmãos trocaram olhares confusos entre si.
- Está tudo bem, Will? - questionou, mas William pareceu não ter ouvido.
- Você sabe se na nossa família, por parte de mãe, temos antepassados com o sobrenome Arkley?
- Não sei, acho que já ouvi esse nome antes na família - fez uma cara confusa, embora a pergunta despertasse curiosidade nela também. - Vou perguntar pra nossa mãe ou dar uma pesquisada. Por que a pergunta?
- Nada, só curiosidade mesmo - William deu de ombros, tentando mudar o tom da conversa. - Ouvi dizer que eram muito ricos, escoceses, sei que a mamãe tem descendência escocesa. Só fiquei curioso, nada mais.
- Sobre os Arkleys eu não sei porque não conheço a árvore genealógica da Liz, mas por parte de pai somos descendentes de uma família chamada Rodwell, sabia? Era uma família muito conhecida e influente em Edimburgo. Meu pai sempre me contou essa história e eu sempre achei um máximo, tenho o nome de um dos membros da família - Carter disse na tentativa de animar o irmão que apenas concordou, sem se importar muito com sua descendência por parte de pai, embora o nome Rodwell fosse estranhamente incômodo para ele.
- Bacana, pena que essa fama toda não chegou em mim - William deu de ombros enquanto se assentava na mesa. - E dá pra puxar histórico familiar de tanto tempo assim?
- Claro que dá. Se nossos antepassados tiverem registros, com certeza dá, mas por que o interesse, Will?
- Nada, já disse que é só curiosidade - William deu como encerrada a conversa por ali e achou melhor não insistir mais no assunto.
Ele iria se aprofundar no assunto depois, mesmo que não chegasse em lugar nenhum. Aquelas coisas nunca aconteceram antes e William se considerava cético o suficiente para ter certeza de que estava pirando, afinal, nunca acreditou em nada que fosse fora da realidade. Fosse religião, signos ou poderes, ele não costumava acreditar em algo que fugisse do limite da mente e racionalidade humana, então por que estava tão interessado nos sonhos que tinha sempre que estava com Louise? Optou por chamar de sonhos enquanto não encontrasse uma palavra melhor.
Sim, ele achava que estava sonhando acordado.
- Louise, você não tem casa, não? - Damon perguntou ao abrir a porta para sua irmã, dando passagem para que Louise entrasse.
- Fiz uma besteira, Damon - Louise entrou e atirou a bolsa no sofá, se jogando também logo em seguida.
- Pode sentar, fica à vontade - ele disse sarcasticamente, foi até a sua poltrona favorita e se sentou, voltando sua atenção para ela. - O que você fez?
- está irritado comigo.
- Parabéns, você conseguiu um feito que só eu tinha atingido antes: conseguiu deixar o irritado. Estou impressionado - aplaudiu ironicamente enquanto Louise revirou os olhos em reprovação.
- Não foi de propósito, mas você sabe como ele fica quando se irrita, não quer falar com ninguém. Fomos tomar um café juntos, estávamos falando sobre o Will e ele disse que a irmã do Will encontrou um exemplar do livro dele na casa da Katie. Ele, lerdo como sempre, não disse para a que era o autor e que não tinha o contato dela para perguntar se ela estava lendo o livro ou não.
- Deixa eu adivinhar o resto: você pediu para o William o contato da para passar pra ele, então ele ficou nervosinho e foi embora.
- Até parece que você estava lá - Louise encolheu os ombros, mas Damon apenas deu uma risada nasalada. - Era só uma brincadeira, eu não sabia que ele ia levar a sério.
- Até parece que você não conhece o , Louise, ele não gosta desse tipo de brincadeira. Lembra aquela vez na escola que eu fiz ele falar com a menina que ele estava afim? Ele até falou com ela, mas ficou uma semana sem falar comigo depois. Ele deveria me agradecer, fiz ele beijar pela primeira vez aquele dia e de presente, parou de falar comigo. Não vou ficar surpreso se ele te bloquear nas redes sociais.
- Por que ele é assim, hein? Agora estou tentando falar com ele, mas ele ignora as minhas ligações e finge que eu não existo.
- É o jeito dele, Lou, as pessoas pensam que só porque somos idênticos por fora, temos a mesma personalidade. Você sabe que eu não ligo pra isso, sou descarado e indiscreto mesmo, gosto de ser o centro das atenções, mas o sempre foi assim e sempre vai ser. Ele não vai deixar de ser tímido do dia pra noite, somos nós que devemos nos adaptar ao jeito dele e não ao contrário. Com muito custo, eu me adaptei.
- Então ele que fique semanas sem falar comigo, nunca vai saber que ela está sim lendo o livro dele. Will me contou, eu queria dizer pra ele e me desculpar. Você sabe que vai ter que me ajudar nessa, não sabe?
- Eu sei - Damon disse impaciente enquanto pegava o celular no bolso interno do seu casaco.
Ele discou o número de e colocou no viva-voz para que Louise pudesse ouvir também. Não demorou para que atendesse a ligação.
- Oi, Damon.
- Que ânimo pra me entender. Revirou os olhos também?
- Desculpa, não foi minha intenção parecer grosseiro. Estou irritado.
- O que aconteceu? Quer conversar? - ele olhou para Louise que engoliu a seco, percebendo que o irmão parecia realmente chateado.
- É a Louise com aquelas brincadeiras ridículas. Ela simplesmente pediu para aquele garoto, Will, o número de telefone da irmã dele pra mim. Eu não pedi o telefone de ninguém.
- Ah, era isso... Ela me contou por cima, achei desnecessário também, mas talvez você gostaria de saber que sim, a está lendo o seu livro. William contou para a Louise, ela queria ter te contado isso.
- É sério? - perguntou surpreso e Damon esboçou um sorriso presunçoso.
- É sim. Ei, cara, não vou te sacanear, pode ser sincero comigo. Tem certeza de que não quer mesmo o telefone da menina?
- Damon...
- , relaxa, é só uma conversa entre homens, você sabe que pode conversar comigo. Vi você olhando pra ela na festa, vi vocês conversando enquanto eu dançava com as meninas.
- Só achei que a conhecia de algum lugar, quis perguntar isso pra ela, mas descobri que não. Era apenas paranoia da minha cabeça.
- Passar tanto tempo escrevendo enlouquece qualquer um - Damon pontuou e concordou rindo do outro lado da linha. - Ei, cara, por que você não vem aqui pra gente tomar uma cerveja? Jogar conversa fora, quero te mostrar a planta de uma casa que estou fazendo.
- Hum... Está bem. É pra eu levar meu pijama e maquiagens?
- Claro! Os esmaltes e os filmes já estão esperando por você, lindão. Vem logo.
- Estou a caminho.
desligou e Damon voltou sua atenção para Louise enquanto guardava o celular no bolso de novo.
- Como você fez isso?
- Conviver com alguém desde o útero tem muitas vantagens. Eu sei acalmar a fera, mas você vai ter que ir embora ou ele vai ficar emburrado comigo também.
- Já fui expulsa de muitas maneiras, mas essa é nova - Louise se levantou e pegou sua bolsa.
- Estou te ajudando, Louise, me agradece depois - ele também se levantou para a acompanhar até a porta. - E vê se não apronta mais, não vou ficar limpando sua imagem com o pra sempre.
- Obrigada, você é o melhor gêmeo. Não o deixe ouvir isso, por favor. A propósito, vai ser uma noite dois meninos e da Diana? Cadê ela?
- Foi passear, vou expulsar ela também. Agora vai antes que ele chegue.
Eles se despediram com um abraço e então Louise foi embora enquanto Damon esperava por . Tinha alguns trabalhos pra fazer, mas uma emergência familiar parecia ser mais importante.
Capítulo 5 – O Jogo
Estou tão longe
Visões que vejo são fortes
Eu ouço o que eles dizem” – Red Desert – 5 Seconds Of Summer
- Vocês não têm emprego, não? - perguntou ao abrir a porta e se deparar com Katie e Jake carregados de sacolas de supermercado. - E pra que esse monte de sacolas?
- , é sexta-feira, dia de encher a cara. Você já deveria saber - Jake mostrou as bebidas e riu. - Nós compramos as bebidas e você e o Will pagam as pizzas.
- Vocês são péssimos. - ela abriu passagem para eles e fechou a porta em seguida.
- O que é isso? A casa virou um clube? - William, que jogava um jogo de tabuleiro com os irmãos, perguntou ao ver os amigos.
- Sim, Will, hoje é dia de se divertir... como adulto. - Katie apontou para o tabuleiro em cima da mesa. - Como vai, Carter? Quanto tempo não te vejo.
- Estava bem até falarem mal de banco imobiliário perto de mim - Carter respondeu rindo, mas então começou a guardar o jogo sobre protesto de Will. - Desculpa, irmãozinho, vamos jogar depois. - , pede logo as pizzas, estou morrendo de fome - Katie colocou as bebidas sobre a mesa ao mesmo tempo que Jake.
- Eu quero com muito queijo! - Jake foi até a televisão e a ligou, procurando por algo que o agradasse. Deixou em um canal esportivo e foi até o grupo reunido ao redor da mesa.
- Gente, é sério, estou começando a achar que vocês não têm emprego ou outros amigos além de nós. - procurava pelo telefone da pizzaria no meio dos seus contatos.
- Amamos você também, marrentinha. - Jake mandou um beijo no ar pra ela, que apenas riu e voltou a atenção para o celular na sua mão.
Fizeram o pedido de duas pizzas para que pudesse satisfazer as cinco pessoas ali. O apartamento ficou pequeno para tanta gente empenhada em ouvir Jake contando sobre o seu dia no trabalho; ele era engenheiro civil e fiscalizava obras de um escritório de arquitetura.
- Eu disse para colocarem mais duas vigas, as que tinham não eram suficientes para suportar o peso da estrutura. O telhado poderia cair! Então eu disse: ou coloquem mais vigas nessa porra ou eu não aprovo o projeto e ainda trago aqui um fiscal para parar a obra. Foi só eu mencionar o fiscal que mudaram da água pro vinho, como se o conhecimento de um engenheiro não valesse nada.
- Ah, Jake, não fica assim! Vou te contratar para fazer o projeto da minha casa, está bem?
- Vai ser um prazer, , meu sonho é que vocês vão morar em outro lugar. Esse prédio todo é uma catástrofe, sinto que vou morrer aqui a qualquer momento. - Jake apontou para o teto da cozinha, atraindo os olhares. - Essa rachadura me deixa louco todas as vezes, eu juro.
- Está certo, vamos nos mudar para a sua casa. O que você acha? - William rebateu, enquanto pegava uma bebida para si. - É mais segura, tenho certeza.
- Claro que é. Talvez a Katie te faça de manequim. - Jake olhou para Katie, que concordou. Eles moravam juntos e ela adorava costurar as próprias roupas.
- Vocês não aguentariam morar um dia com o Will. Ele só dorme, toca guitarra e sai para correr. - disse, fazendo todos caírem na gargalhada, exceto William. - Não fica assim, meu amorzinho, a maninha te ama, tá? - Sei, sei...
Quando a pizza chegou, mais ou menos uns quarenta minutos depois, Jake teve a brilhante ideia de fazerem uma vídeo chamada com Thomas, torcendo para que ele não estivesse de plantão. Na verdade, se todos ali eram amigos, era por causa dos dois que se conheceram no começo do ensino médio, se tornando melhores amigos desde o primeiro dia. Quando se formaram, Tom foi aceito em Oxford para o disputado curso de medicina, enquanto Jake optou por estudar engenharia na Universidade de Londres. Embora não se vissem com tanta frequência nos últimos anos, a amizade não tinha mudado e nem esfriado. Jake sempre fazia questão de incluir Thomas na roda de amigos, mesmo estando distante.
colocou o celular em um lugar em que todos pudessem aparecer e se afastou para que os outros pudessem ver. Chamou algumas vezes, mas logo um Thomas um pouco cansado, de uniforme do trabalho e óculos surgiu na sala. Ele esfregou os olhos por debaixo dos óculos de grau, antes de perceber todas as pessoas que apareciam na tela do seu celular.
- Hoje é dia de festa? - ele perguntou contente ao ver todos ali. - Carter?
- Oi, cara - Carter acenou do fundo. - Vim ficar uns dias, é uma pena que você não esteja aqui também.
- Por isso o Jake teve a brilhante ideia de ligar pra você. - completou, vendo que Thomas estava sorrindo. - Estava no hospital?
- Acabei de chegar, nem troquei de roupa ainda - Thomas mostrou o uniforme verde e bocejou. - Eu adoraria poder visitar vocês esse fim de semana, mas vou ficar de plantão. Foi mal, vou ficar devendo, galera.
- Não tem problema, Tom, vamos te visitar assim que possível. Só avisar quando estiver disponível e vamos correndo pra Oxford.
- Acho que essa parte de correr é com o Will, Katie. - ele completou a frase dela, fazendo William concordar.
- E vou mesmo. Valoriza o esforço que eu faço por você, Thomas.
- É claro que valorizo, Will; de todos vocês. Obrigado por terem ligado pra mim, acho que eu precisava ver rostos conhecidos e rir um pouco.
Thomas não podia contar nos dedos todas as vezes que pensou em desistir do curso, especialmente no começo. Com o tempo, foi se acostumando com a rotina corrida, mas às vezes tudo o que queria era estar com as pessoas que amava. Teve um dia longo no hospital, atendendo sem parar e ainda tinha que estudar um pouco antes de dormir. Era maçante de todas as formas e às vezes ele se sentia solitário demais, mas, naquele momento, estava mais do que feliz por seus amigos terem lembrado dele. Tão feliz que nem se quer percebeu que quase uma hora de vídeo chamada já havia passado e eles ainda tinham assunto pra conversar e rir por mais algumas horas.
Ouviam tudo o que Thomas tinha para dizer, ele contando sobre o seu dia e o momento em que acompanhou um parto, por isso estava tão cansado. Todos sabiam a paixão de Thomas pela profissão e o admiravam por isso, imaginando que um profissional da saúde tinha de ser muito forte para aguentar toda a pressão do trabalho e era verdade, pois Thomas também contou que o bebê deste mesmo parto nascera prematuro e nem mesmo ele podia tocar no bebê de qualquer maneira, tendo que se manter inabalável na frente dos pais.
- Você é um guerreiro, cara, merece todas as coisas boas que sua profissão pode oferecer. - Jake disse admirado, fazendo Thomas abrir um largo sorriso.
- Ânimo, Tom, falta só mais um ano. - encorajou o irmão, que concordou, sentindo até um certo alívio por ouvir aquilo.
- Se preparem, quando eu me formar quero todos aqui. Vou voltar pra Londres e perturbar a cabeça de todo mundo. Me aguardem. - Espera aí, você vai voltar? - Katie perguntou surpresa e ele concordou.
- Bem, se tiver um espacinho aí pra mim, com certeza vou voltar e passar um tempo com a minha família, nem que seja para dormir no sofá. - ele brincou, causando risadas em todo mundo.
- É claro que tem espaço pra você, Tom! Meu Deus do céu, eu mal posso esperar por isso! - mal podia se conter de felicidade com o que acabara de ouvir. Queria que Tom voltasse para casa mais que tudo.
- Nem que a gente se mude para um lugar maior. Prioridades... - William pontuou, tão feliz quanto sua irmã.
- Vamos conversar sobre isso no futuro, mas eu preciso ir agora, pessoal. Ainda nem jantei, estou de uniforme e preciso estudar, mas falar com vocês era o gás que eu precisava. Obrigado por terem lembrado de mim.
Com muito custo, eles se despediram de Thomas e então ele encerrou o vídeo. foi até seu quarto para colocar o celular para carregar e quando voltou o assunto já tinha mudado. Estavam fazendo planos para o fim de semana.
- O Leicester vai vir jogar contra o Chelsea amanhã no Stamford Bridge. A gente poderia ir. - Jake comentou animado. - Com certeza ainda tem ingressos, mesmo na torcida visitante.
- Estou dentro. Preciso sair e sentir ar puro. - Carter ergueu a mão, se prontificando. - Mais alguém?
- Sério que vocês vão gastar o fim de semana indo ver um jogo de futebol? - perguntou ao se sentar no seu lugar ao lado de Will, um pouco aborrecida com a ideia. Não era muito fã da ideia.
- Não olha assim, , você costumava assistir jogos comigo quando era mais nova. - Sim, Jake, quando eu só andava com meninos e era praticamente um menino também. Só vou se a Katie for.
- Acho que vai ser legal. Não entendo muito, mas quem sabe eu goste, não é? Podem contar comigo.
- Se é assim, então eu vou. - deu de ombros e olhou para William. - E você?
- Sem chances, podem ir e se divertir. Eu tenho... um compromisso. - William não queria dizer que sairia com Louise, embora todos os olhares na mesa tivessem sido direcionados para. - Marquei com uns amigos da época de escola para nos vermos. Desculpem.
- Will é sempre um estraga prazeres - Jake rolou os olhos. - Vou chamar meus primos então, tudo bem? Sei que eles não curtem, mas não custa perguntar, pelo menos meus pais vão ver que estou tentando me aproximar.
- Bom, o Damon gosta de tudo que envolve aglomerado de pessoas e gritaria - Katie riu e Jake concordou. - Nunca vi ele falando sobre futebol, mas acho que ele pode querer ir. , Diana e Louise eu tenho certeza que não.
- Saberei daqui a pouco. - Jake digitava uma mensagem para o primo o convidando. - Amanhã quero sair para comprar uma camisa de jogo. Vamos, Carter?
- Demorou! - Carter disse, empolgado com a ideia de sair.
Por mais que não fosse fã de esportes, a ideia de saírem em grupo parecia ser animadora. Pensou que talvez depois do jogo pudessem fazer algo que fosse mais interessante para ela e de repente se via empolgada para ir também.
- Maravilha! Damon e vão também. - Jake viu a resposta na tela do seu celular e sorriu satisfeito. - É uma surpresa até pra mim, por essa eu não esperava.
- Eles não curtem futebol? - Carter perguntou, pois não conhecia os rapazes.
- Não. O Damon só gosta da bagunça e eu não tenho a mínima ideia de que caralhos o vai fazer lá, mas que bom que ele vai, acho que quer se aproximar também. Sabe, estamos tentando reaproximar a família, porque eles passaram muito tempo morando fora.
- Isso é bem legal da parte de vocês. Eu também estou morando fora, podem se aproximar de mim, tá bom? - Carter disse de forma divertida, causando risadas em todo mundo.
- Droga, são dois times de azul. - fazia uma breve pesquisa para não ficar alheio à conversa no dia seguinte, mas estava falhando ao tentar decorar conceitos básicos do futebol, além de ser bem frustrante saber que os dois times tinham as mesmas cores. - Como vou diferenciar os jogadores?
- Acho que jogam com uniformes diferentes, não é? - Damon respondeu, enquanto zapeava os canais da televisão de , entediado.
- Isso foi uma péssima ideia.
- Não acho. O Jake está realmente tentando se aproximar da gente, eu acho isso legal da parte dele. Estou fazendo minha parte, você também tem que fazer a sua.
- Eu também estou fazendo a minha parte, ok? Só não estou muito empolgado para ir ver vinte e dois homens correndo atrás de uma bola.
- Se você quiser, podemos convidar todos eles para fazer um clube do livro. Acho que você ficaria mais à vontade. - Damon não viu uma almofada voando na sua direção, o acertando em cheio no rosto. - Ei! - ele jogou de volta, mas se desviou rindo. - Se você não quiser ir, , então não vá, mas eu não vou perguntar para a se ela gostou do seu livro.
- O quê? - franziu o cenho, procurando ter certeza de que ouviu direito.
- Abre aspas: Oi, Damon, tudo bem? Um amigo está na cidade para passar uns dias e nós vamos assistir um jogo de futebol amanhã, a Katie e a vão também. Você, o e as meninas querem ir? Vai ser bem legal. Fecha aspas. - Damon leu a mensagem no seu celular. - Se isso responde a sua dúvida. Vai ou não? Jake já comprou os ingressos.
- Está bem, eu vou.
- Se anima, , o que mais deve ter lá são gatinhas torcedoras.
- Ou caras uniformizados.
- Você é a pessoa mais pessimista que eu conheço, sabia? Relaxa um pouco, é só um jogo de futebol, você não tem que fingir que conhece tudo. Além disso, vou estar lá, você não vai estar sozinho.
- Ah, obrigado, isso me consola.
- Que ironia! Estou falando sério, ok?
- Também estou falando sério. Vamos trocar de lugar e confundir as pessoas.
- Não fazemos isso desde que a vovó deu aquelas camisetas com nossos nomes para nos diferenciar e trocamos para confundir as pessoas. - Damon disse nostálgico, eles passaram a vida trocando de lugar.
- Já faz um tempão, mas acho que ainda tenho essa camiseta. Vai ser divertido.
- Está se empolgando com a ideia de ir, ?
- Talvez um pouco. Não sei, não me decidi ainda. Talvez eu coloque um cachecol azul por cima pra me misturar com a multidão.
Damon sorriu satisfeito e voltou a atenção para a TV, enquanto parecia se interessar com o filme também. Sabia que não fazia nada daquilo de propósito, era apenas o jeito dele, um pouco mais introspectivo com as pessoas que não conhecia, então ver o irmão saindo da zona de conforto era algo que o deixava admirado.
tinha certeza de que já havia limpado toda a casa antes do meio dia, ou ao menos a parte que ela circulava, visto que não se atrevia a limpar o quarto de William por dois motivos: o primeiro, ele tinha mãos para o fazer; o segundo, é que ela tinha medo de perguntar há quanto tempo aquele quarto não via uma faxina. Não, aquilo não era da conta dela.
Como Carter havia saído com Jake e William estava trancado no quarto tocando guitarra, ela optou por corrigir algumas tarefas de seus alunos e também se certificar de que as aulas da próxima semana estavam devidamente planejadas na sua planilha. Deixou o notebook sobre a mesa da cozinha, enquanto corrigia as tarefas, se perguntando como alguém poderia dizer que a Guerra Fria se chamava assim por ter acontecido no inverno. Felizmente boa parte dos seus alunos eram bem esforçados para tirar boa nota na matéria dela, mas respostas como aquela a faziam pensar em desistir e começar a vender sua arte na praia.
- A mesma de sempre. Nunca para de estudar. - se virou para a porta e viu Carter chegando com algumas sacolas. Ela esboçou um sorrisinho de lado pra ele, enquanto fechava a tampa do notebook afim de lhe dar atenção.
- Não estou estudando, estou corrigindo algumas tarefas que não corrigi ontem.
- Quer ajuda?
- Não precisa, já estou terminando. Que horas é o jogo mesmo?
- Apenas mais tarde, vamos sair daqui umas cinco horas... falando em jogo, trouxe uma coisa pra você. - Ele colocou as sacolas sobre a mesa e procurou algo em uma delas, tirando uma camisa rosa e jogando na direção de , que a pegou em um bom reflexo.
- O que é isso? - ela abriu a peça nas mãos e pensou ser uma camisa de futebol.
- Você não pode ir em um estádio de futebol sem uma camisa de time de futebol, . - ele disse como se fosse óbvio. - Já que vamos ficar na torcida do Leicester, temos que estar caracterizados, não é? Essa é a camisa dois, achei que você gostaria por ser rosa e preto; particularmente achei linda. Jake comprou uma igual para a Katie.
- É muito bonita mesmo. - sorriu gentilmente, concordando que era uma camisa muito bonita e em modelo feminino, o que fez ela gostar mais ainda. - Não precisava, é sério.
- Não comprei por necessidade, foi porque eu quis. Vamos todos uniformizados hoje.
- Adorei. Muito obrigada... e a sua?
- A minha é a azul, uniforme principal. - ele tirou de outra sacola uma camisa maior, em um tom de azul royal que encantou . - Tem que ver a do Jake, é preta.
- Nossa, é uma cor muito linda, um modelo lindo de verdade. Estou ansiosa para nos ver vestindo ela o mais rápido possível.
- Tem certeza de que não quer ajuda pra terminar mais rápido?
- Não precisa, não vai demorar nada, daqui a pouco eu termino e experimento a camisa. Obrigada.
Carter se deu por vencido e foi até o quarto de William, enquanto continuou fazendo o seu trabalho até corrigir todas as tarefas. Quando terminou, optou por tomar um banho demorado para que pudesse cuidar do cabelo um pouco. Gostaria de poder sair arrumada uma vez na vida, mesmo que fosse para um jogo de futebol sem importância. Não cuidou apenas do cabelo, mas também da pele ao deixar uma máscara agindo sobre o rosto enquanto pintava as unhas dos pés, mesmo sabendo que poderia borrar quando colocasse o tênis para sair. Eram raros os dias em que tirava para cuidar de si mesma, mas, visto que tinha a tarde livre antes de sair, gostaria mesmo de poder cuidar um pouco de si mesma e se tornar apresentável. Quando tirou a máscara esfoliante do rosto e as unhas já estavam pintadas, tal como o cabelo estava do jeito que ela queria, ela viu que mais um pouco e iria se atrasar, então começou a preparar uma maquiagem leve, começando pela pele e ignorando a sombra nos olhos, pensando que Katie sabia fazer aquela parte muito melhor do que ela. Arriscou um delineador e gostou do resultado, então finalizou com rímel e um batom da cor da boca. Faltava apenas a roupa.
Ela foi até o seu closet minúsculo e procurou algo quente para vestir, visto que estava frio e iria esfriar muito mais durante à noite. Tinha uma segunda pele que era da cor da camisa do time, então a vestiu antes de colocar a camisa por cima. A calça preta pareceu uma boa ideia, assim como a jaqueta jeans clara que por dentro tinha um tecido quentinho para que ela não morresse de frio. Colocou um tênis qualquer e gostou do resultado, achando que estava vestida apropriadamente para a ocasião, estava se sentindo bonita mesmo estando simples. Para garantir que não passaria frio, pegou sua touca preferida na cor branca e que tinha a frase bad hair day estampada na frente em letras pretas, mas optou por colocar apenas na hora de sair, então pegou celular e carteira para sair do quarto, seguindo as recomendações dos meninos para que não levasse mochilas ou bolsas. bateu na porta do quarto de William e recebeu permissão para entrar. O mais novo jogava videogame enquanto Carter terminava de se arrumar. tentou disfarçar, mas achava que aquele tom de azul lhe caía muito bem.
- Só passei pra avisar que estou pronta.
- Eu também, só vou colocar uma blusa e vou avisar o Jake que já estamos a caminho.
Carter vestiu sua jaqueta e então se despediu de William para que finalmente pudessem sair. pegou as chaves do carro e então eles deixaram o prédio.
- Quer ir dirigindo?
- Não estou acostumado a dirigir do lado direito do carro. É melhor você ir dirigindo. - ele riu enquanto ia para o banco do carona ao lado esquerdo.
- Mas eu não sei o endereço.
- Não se preocupa, eu posso ver no GPS.
Carter ligou o GPS do celular enquanto dava partida no carro. Eles foram o caminho inteiro conversando enquanto ele explicava o caminho pra ela e também contava um pouco sobre os times que veriam jogar. até tentou decorar alguma coisa, mas não tinha certeza se tinha ouvido certo. Tinha quase certeza que o Leicester City havia perdido uma final de um campeonato mundial contra o um time da América do Sul.
- Não! Foi o Chelsea, o Chelsea que perdeu o Mundial, eu fiquei arrasado nesse dia! O Leicester é o que subiu para a primeira divisão da Premier League e foi campeão. Um ganhou e o outro perdeu.
- Tá, acho que entendi. - disse sem tirar os olhos da rua. - Mundial, Premier League... acho que decorei... chegamos? - ela apontou para um estádio que começava a surgir na vista deles, mas Carter apenas riu.
- Não, esse é o Craven Cottage, estádio do Fulham, rival do Chelsea, mas quer dizer que estamos bem perto.
E de fato estavam, não demorou muito para que chegassem ao Stamford Bridge. pegou seu celular para ligar para Jake, confirmando se o amigo já estava chegando e ele respondeu que já estava lá, havia acabado de chegar lá também, assim como Damon e , estavam todos na entrada da torcida visitante os aguardando. Então, procuraram pela entrada conforme Jake os orientou, encontrando os quatro por lá apenas os aguardando. Estavam todos cheios de blusas e cachecóis, então não viu a tal camisa preta de Jake que Carter disse ser muito bonita, assim como a camisa de Katie. Também não sabia se Damon e estariam caracterizados como torcedores ou não, mas o cachecol que usava nas cores azul e branco com o brasão da casa da Corvinal fez sorrir. Ela tinha um igual.
Isso, é claro, sem mencionar que ela sentiu o rosto arder quando ele brevemente olhou para ela. De certa forma, ficava frustrada por se sentir assim. Por que ele lhe prendia tanto a atenção? Por mais que tentasse evitar, ela simplesmente não conseguia.
- Pensei que iriam se atrasar - Jake comentou divertido.
- E perder esse jogão? O Leicester vai golear, Vardy está jogando de terno. - Carter pontuou empolgado, fazendo Jake concordar, mas só ele mesmo, visto que os outros não tinham a mínima ideia do que ele estava falando.
- Então podemos entrar? Estou congelando de frio já. - cruzou os braços, se encolhendo, e deixou que Carter a abraçasse de lado para a aquecer. - Valeu, preciso de calor humano.
- Sua mal-educada, você nem cumprimenta os meninos. - Katie apontou com o polegar para os gêmeos.
- Oi, meninos. - ela acenou brevemente para eles que corresponderam com o mesmo aceno discretamente. - Feliz, Katie?
- , você é ridícula. - Eu já entendi que você não gostou da gente. - Damon dramatizou, enquanto caminhavam em direção à entrada, fazendo rir.
- Isso não é verdade, Damon, eu ia cumprimentar vocês, mas a Katie gosta de exagerar. Me desculpem.
- Não sou o Damon, sou o .
- Não, ele é o . - olhou para e ele pareceu congelar por um instante.
- E-eu sou o Damon. - foi tudo o que ele conseguiu dizer, incorporando o personagem, mas apenas riu.
- Eu sei diferenciar vocês. Sei que é você, . Comigo essa brincadeira não tem vez.
- Mas como você sabe? - Damon perguntou curioso, acelerando o passo para alcançar e ficar ao lado dela, fazendo andar mais rápido também para não ficar para trás.
Para era simples, estava no olhar. Tinham os mesmos traços e a mesma cor de olhos, mas Damon não olhava pra ela da mesma forma que . a prendia de uma forma que ela não sabia explicar, não conseguia encarar ele por mais que alguns segundos. Era apenas a segunda vez que se viam, mas ela sabia que nunca iria confundir os dois.
- O jeito de falar é diferente, além disso está sempre com as mãos nos bolsos.
Involuntariamente tirou as mãos dos bolsos, surpreso por ela ter notado algo sobre ele. viu e não conteve um sorrisinho de canto, o achava adorável. Eles entraram no estádio e procuraram pelos lugares numerados nos ingressos e sentando em seguida na ordem: Jake, Carter, , e Katie. Enquanto Jake e Carter imergiram no assunto futebol, Damon e Katie também começaram a conversar entre si, deixando apenas os dois em um silêncio estranho.
- Gostei do seu cachecol. - comentou olhado para o gramado, onde os jogadores aqueciam e encarou o próprio acessório e sorriu. - Corvino?
- Desde criança. Você também?
- Sim, eu sou da Corvinal e o meu irmão mais velho é da Lufa-Lufa, embora eu insista em dizer que ele tem todas a características dos corvinos.
- Você leu os livros de Harry Potter? - sorriu feliz por terem algo em comum.
- Várias vezes. Li seu livro também, a propósito. - ela se virou para ele.
- E o que você achou?
- Maravilhoso, um dos melhores que já li! Você escreve tão bem, é tão detalhista e lírico, me senti dentro da história... eu amei, é sério, tenho tantas perguntas pra fazer! Não é sempre que tenho a chance de perguntar direto para o autor, então vou te bombardear de perguntas.
- Que bom que você gostou, - sorriu timidamente enquanto encolhia os ombros.
- Por que não me disse que era o autor?
- Não sei, eu só... não costumo me apresentar assim.
- Mas deveria, você é um excelente escritor e eu virei sua fã. Espero que saiba.
não era capaz de tirar o sorriso bobo estampado na sua cara. Ficava assim sempre que alguém elogiava o seu trabalho, mas parecia ser ainda mais sincera do que as outras pessoas ao dizer aquelas coisas pra ele.
- Posso tirar suas dúvidas, se você quiser.
- Eu quero muito. - ela olhou para o campo e percebeu que os times já não se aqueciam mais, então imaginou que não teriam muito tempo pra conversar. - Como você se preparou para escrever essa história? Sabe, é muito real, você deve ter pesquisado muito.
- Você não acreditaria se eu te contasse. - ele sorriu de lado, despertando ainda mais a curiosidade de , que se virou totalmente pra ele.
- Acreditaria sim. Me conta.
- Eu sonhei com essa história durante muito tempo. O castelo, os casamentos arranjados, as intrigas, as mortes... só precisei dar nomes aos personagens.
- Isso é sério mesmo? - ela arregalou os olhos e ele apenas assentiu, se sentindo um pouco estupido por dizer aquilo em voz alta.
- Fiz algumas pesquisas, é claro, mas Lilly e Marcus vieram diretamente dos meus sonhos. Você me lembra um pouco a Lilly, o que eu imaginei dela.
desviou o olhar para o gramado quando percebeu o que disse, não tendo tempo de ver que os olhos de brilharam de felicidade pelo que ele disse, afinal, se identificou muito com a personagem, era uma honra ser comparada com Lilly. desejou poder voltar no tempo e ter ficado de boca fechada. Claro que se parecia com Lilly, era ela a garota que sempre visitava os seus sonhos e agora estava bem ali na sua frente e isso o intimidava, ao mesmo tempo que queria poder saber mais sobre ela.
- Contanto que eu não tenha o mesmo final que ela, vou aceitar o elogio. - disse com bom-humor e riu discretamente, olhando para ela novamente.
Ainda estava incrédulo com o que via diante dos seus olhos, mas também não era capaz de olhar para outra direção a não ser que forçasse a si mesmo a fazê-lo. Queria poder convidá-la para conversar fora dali e ele contaria os mínimos detalhes sobre o livro. Ela parecia ser uma pessoa tão descontraída e divertida que fazia com que se sentisse um pouco mais alegre e confiante perto dela.
- Eu também espero que não.
- E por que ela se chama Lilly? Você se inspirou em alguém?
- Pode parecer bobo, mas sim, eu estava assistindo Harry Potter e as Relíquias da Morte, aquela cena em que Harry e Hermione estão no túmulo dos Potters em Godric's Hollow. Vi o nome da mãe dele na lápide e lembrei do sacrifício que ela fez pelo Harry, de como era uma bruxa talentosa e uma pessoa incrível, mas que morreu cedo para que o filho vivesse. Como eu já sabia o final da Lilly, pensei que colocar esse nome nela a tornaria um ícone de coragem e bravura. Acho que caiu bem, ela lutou até o final, assim como a mãe do Harry. Morreram como heroínas.
- Não é bobo, é uma analogia muito boa e complexa. Meu Deus, isso só desperta ainda mais a minha curiosidade. Eu preciso me acalmar! - respirou fundo e soltou um longo suspiro, notando que ele riu.
- Não se preocupa, eu vou responder todas as suas perguntas, eu prometo. - ele abriu um largo sorriso, mas se desmanchou quando Carter se virou para que se ajeitou na cadeira de novo.
foi convidada a se juntar à conversa dos meninos e sentiu seu humor indo por água abaixo. Claro, ela estava acompanhada, ele havia se esquecido desse detalhe. Pela intimidade dos dois, imaginou que não fossem apenas amigos. Uma sensação péssima tomou conta de no momento em que viu Carter ao chegar, antes mesmo de ele abraçar ao entrarem. Ele não sabia explicar, mas foi algo ruim e sufocante que tomou conta dele naquele momento. Sabia que não deveria julgar as pessoas sem ao menos conhecer e odiava a si mesmo quando fazia tal coisa, mas aquilo era agonizante até mesmo pra ele que já estava acostumado com essas sensações estranhas. Não sabia se conseguiria ficar ali por muito tempo.
Instantes depois os jogadores entraram em campo já uniformizados. Conforme informado no telão do estádio, os jogadores do Chelsea estavam de camisa azul e calção branco enquanto os jogadores do Leicester vestiam camisa rosa e calção preto. Damon comentou com que ele poderia ficar aliviado porque seria fácil distinguir as equipes, o que fez concordar. No mais tardar, em cinco minutos a bola já estava rolando para Chelsea x Leicester, e, por mais que todos prestassem atenção na partida, apenas Jake e Carter realmente estavam aproveitando e entendendo algo, pois sempre comentavam as jogadas entre si.
O time da casa abriu o placar aos dez minutos de jogo, com um gol de Mason Mount e ampliou a diferença aos quarenta minutos com o brasileiro Willian, complicando ainda mais a vida dos foxes para o segundo tempo.
- Vai ser difícil virar, mas não acho impossível não. - Jake comentou otimista e Carter concordou.
- Vão voltar com sangue nos olhos. Esse Chelsea está longe daquele do começo da década.
- Eles decoram o time de anos atrás, meu Deus. - murmurou baixinho para si mesmo, mas ao seu lado ouviu.
- Se divertindo? - ela olhou pra ele que riu antes de negar com a cabeça.
- Juro que estou me esforçando, mas não consigo gostar de futebol, e ainda estou torcendo pelo time que está perdendo. Isso é bem frustrante. Falta muito pra acabar?
- Uns quarenta e cinco minutos, talvez. Ânimo, talvez o time vire. - Se virar, eu convido todos para a minha casa e fazemos um pós-jogo. Você está convidada também.
- É um incentivo para eu torcer?
- É um incentivo para eu torcer. Estava fora de mim quando aceitei vir.
- Ah, mas não está tão ruim assim! É uma atmosfera tão legal e contagiosa! - disse empolgada, na tentava de o animar também.
- Os dois aqui esqueceram do mundo real. - apontou discretamente para Damon e Katie conversando distraidamente ao lado dele. - E os outros dois são o padrão estabelecido para o homem hétero. Ainda estou tentando descobrir o que quer dizer jogar de terno. É pra levar ao pé da letra?
- Quer dizer que um jogador está jogando bem. - ela achava adorável o fato de ele não conhecer qualquer termo do esporte e a aversão dele por estar ali era divertida. - Você só falou deles, mas eu estou falando com você. Não está bom?
- Está ótimo, você está salvando o meu sábado à noite, , obrigado.
- Bem, depois de você dizer que eu pareço com a Lilly, é o mínimo que eu posso fazer.
e continuaram conversando entre si até o reinício da partida quando os times trocaram de campo. se perguntou mentalmente qual era a necessidade daquilo, já que não estava entendendo nada. Olhou para pelo canto dos olhos e percebeu que ela parecia estar mais a par da situação do que ele, torcendo pelo time de rosa, aplaudindo jogadas e tentando comentar com os rapazes também. Até queria olhar para o campo, mas a carismática garota ao seu lado lhe prendia a atenção de uma forma que ele queria apenas observar as reações dela com cada jogada, falta ou gol marcados.
E por falar em gols, os visitantes diminuíram a diferença aos cinco minutos com um gol de James Vardy, o artilheiro do time. A torcida comemorou, claro, mas sabiam que seria difícil virar.
Difícil, mas não impossível, pois aos trinta, Vardy marcou novamente e, quando tudo parecia se encaminhar para o fim em um empate, no último lance do jogo, o camisa 10, James Maddison, chutou de fora da área e acertou o ângulo do gol, para o delírio da torcida visitante que levantaram de seus lugares para comemorar. Jake e Carter até pareciam torcedores do Leicester, Damon e Katie se levantaram mais pelo clima contagiante da torcida, aplaudindo. deu um pulo do seu acento, erguendo os braços em comemoração. Para a surpresa de , ele também se levantou comemorando. Não podia negar que os últimos minutos haviam sido emocionantes e ver o time marcando um gol sofrido no último lance era algo a se comemorar.
- Foi legal, eu admito. - disse para , sorrindo e ela arqueou as sobrancelhas, surpresa.
- Sério que você gostou?
- É sério, eles mereciam. Vou cumprir o que falei, a propósito.
Antes de responder, o juiz encerrou a partida e os jogadores do Leicester começaram a comemorar entre si, enquanto a torcida visitante cantava e aplaudia sem parar, fazendo com que o time se aproximasse para agradecer, aplaudindo o gesto dos torcedores presentes. Quando os ânimos de todos foram se acalmando e os times deixaram o gramado juntos, a torcida começou a dispersar também.
- Pessoal, o me disse que o pós-jogo seria na casa dele caso o Leicester virasse. - disse enquanto deixavam o estádio.
- É verdade, eu disse. - deu de ombros, confiante de que ninguém aceitaria a ideia, visto que ele morava em um apartamento.
- Essa eu pago para ver. Estou dentro, quem vai também? - Damon ergueu um braço e foi acompanhado por Katie, depois Jake também imitou o gesto. - e Carter? Vocês não vão ficar de fora, não é?
- Hum... não. - ergueu o braço também e olhou para Carter. - E você?
- Acho que não tenho muitas opções, não é? Se não for incômodo para o , é claro.
- De forma alguma. - rebateu prontamente, mas ninguém percebeu a leve ironia na voz dele.
- Então tudo bem, melhor passarmos no mercado, não é?
- Diana e Louise disseram que têm uma surpresa pra gente. Tenho medo de chegar em casa e encontrar tudo destruído porque elas resolveram adotar um cachorro pra mim. - disse enquanto procurava as chaves no bolso de trás da calça, para abrir a porta do apartamento. - Me sugiram nomes de cachorro, por favor.
- Pode ser Júnior, o que você acha? - Damon caçoou, mas apenas ignorou como sempre fazia, então abriu a porta.
Deixou que os visitantes entrassem primeiro e então trancou a porta, sem imaginar a surpresa que o aguardava bem no sofá da sala. Damon viu primeiro, mas esperou ver também.
- Mãe? Pai? - perguntou completamente chocado, vendo Diana e Louise trocarem risadas e olhares cúmplices.
- Isso é bom demais pra ser verdade - Damon disse ainda desacreditado, mas feliz da vida. - Quando chegaram aqui?
- Há uma hora, mais ou menos. - Louise se levantou do seu lugar. - A gente não sabia também, foi surpresa pra todo mundo, mas achamos que seria legal dar esse sustinho em vocês também.
- Vão ficar parados aí ou vão nos dar um abraço, hein? - Henry, o pai dos gêmeos, também se levantou, abrindo os braços para abraçar os filhos.
Enquanto a família trocava abraços apertados e beijos, incluindo Jake e Katie que cumprimentaram os tios também, e Carter apenas observaram de longe, se sentindo intrusos em um momento tão família, mas não deixou de reparar em como Henry e Eloise Jones pareciam ser as pessoas mais legais e os pais mais descolados do mundo todo. Henry tinha os braços fechados de tatuagens e usava uma boina azul, o que lhe dava um ar cômico. Parecia jovem e alegre demais, lembrando um pouco o jeito extrovertido de Damon. Eloise era sorridente também e tinha lindos olhos verdes nos quais Diana e Louise herdaram. até achava que a escritora lembrava um pouco a sua mãe no jeito de falar e também os olhos grandes e redondos. Não se surpreenderia se fossem parentes distantes.
- E vocês nem apresentam os dois perdidos ali? - Henry foi até e Carter. - Como vão, crianças? Sou o Henry, pai de umas crianças mal-educadas que não nos apresentam.
- A gente ia apresentar, pai. - Damon ser aproximou também. - Estes são e Carter, amigos do Jake e da Katie e agora nossos amigos também. Pessoal, esse é o meu pai exibido e ele tem um estúdio de tatuagem, como vocês podem perceber. E aquela lindona ali é a minha mãe.
- Oi, crianças! - Eloise acenou alegremente.
Parecia um pouco insano que Diana, Louise, e Damon tinham saído daquela mulher jovem demais para alguém de quarenta e poucos anos, no auge da boa forma e bom-humor. Eloise parecia ter saído diretamente de um comercial de absorventes.
- Vamos mostrar as nossas tatuagens pra eles. - Diana saltou do sofá e se infiltrou no meio do aglomerado de gente. - Jake e Katie nunca viram também.
Se colocando um ao lado do outro, todos os Jones procuraram pela tatuagem que pretendiam mostrar para os outros quatro. Diana mostrou a nuca que vivia coberta pelos seus cabelos compridos, Louise puxou a manga curta da blusa para mostrar o braço esquerdo, Damon levantou a barra da calça para mostrar o tornozelo direito, mostrou o pulso direito, enquanto Henry apontou para um desenho no antebraço esquerdo perto de uma bela rosa e Eloise afastou um pouco a sua camisa para mostrar a clavícula. Todos eles tinham um J com a mesma grafia, embora fossem de tamanhos diferentes.
Era uma bela forma de demonstrar que eram uma família unida, mas a única coisa que passava pela cabeça de era que ela jamais imaginaria que Diana e tivessem uma tatuagem. Ela, uma cientista promissora e ele, uma figura pública. Parecia algo que eles não adotariam, mas ali estavam todos eles exibindo com orgulho o registro em família.
- Cara, isso é muito legal, estou com inveja de vocês. Tio, tatua um P aqui na minha cara, por favor. - Jake disse divertido, fazendo todos rirem. - Eu achei incrível, quero aderir.
- Também amei, mas na minha família não rola. Meu irmão mais novo tem um sobrenome diferente, longa história. - se lembrou brevemente de William com o sobrenome McQueen ao invés de Thompson.
- Eu não cobro muito por uma letra a mais, . Vou te chamar assim, tá? .
- Não liga, ele é exibido assim mesmo. - Damon se explicou pelo pai que lhe deu um puxão de orelha. - Ai!
- Não é porque você tem barba na cara que eu não seja mais o seu pai. Exibido é você.
- Tive a quem puxar.
Henry e Eloise Jones pareciam ser as pessoas mais leves e descontraídas do mundo, com os dois ali risadas e brincadeiras não faltaram em momento algum. , que se sentia deslocada no começo, começou a se sentir mais à vontade conforme conversava com Eloise e Louise. Tentou não demonstrar que já havia lido alguns livros dela, mas se intrometeu na conversa e disse isso com todas as letras, mudando completamente o rumo da conversa. Ele se sentou ao lado de e ofereceu para ela uma cerveja, mas recusou educadamente, sem notar o olhar de Eloise pesando sobre os dois. também parecia alheio.
- Então você já leu meus livros, ?
- Já li dois livros, mas agora quero mais do que nunca ler todos os outros. São ótimos, eu devorei em coisa de dias. Como foi na época da faculdade, eu não tinha muito tempo livre pra ler, então aproveitava os fins de semana pra isso, mas quero ler de novo com mais calma.
- Onde você estudou? Qual era o seu curso?
- Oxford, eu cursava história. As pessoas ficam um pouco decepcionadas quando eu digo isso, acham que Oxford só forma físicos e matemáticos. - ela riu, já não se ofendia mais se alguém questionasse.
- Oxford? Nossa, isso é incrível, é muito difícil entrar em Oxford, então posso imaginar o quanto você se dedicou.
- Não tanto quanto os seus filhos para entrarem em Harvard. Deve morrer de orgulho deles.
- Com certeza. - Eloise sorriu orgulhosa, direcionando o olhar para e Louise. - São os meus orgulhos, todos eles.
- Ah, mãe! Não faz a gente passar vergonha agora! - Louise disse rindo, escondendo o rosto na almofada.
- O quê? Eu não disse nada! Eu nem contei da vez que o voltou pra casa chorando, porque não queria mais estudar.
- Mãe, pelo amor de Deus, mãe. - colocou a mão no rosto, envergonhado. - Eu ia contar isso pra ela depois, não era agora.
- Ah, desculpa, filho. Bom, agora ela já sabe.
- Acho que todos nós passamos por isso um dia. - sorriu compreensiva para , que retribuiu com um sorriso tímido no canto dos lábios. - Eu entendo você.
- Acho que a única que não pensou em desistir foi a Diana. Falando nela, cadê a minha família? - Eloise olhou para os lados, procurando a filha mais nova, mas tudo o que viu foi Henry abrindo o zíper da calça, fazendo menção de que iria tirar. - De novo não. Henry, para com isso!
Eloise se levantou e foi em direção ao marido. e Louise pareciam se divertir com a cena, mas estava tentando entender se ele realmente iria fazer aquilo ou estava apenas brincando.
- Ele tem uma tatuagem na coxa que ele gosta de mostrar - explicou, enquanto observava sua mãe dizendo claramente que não era para que seu pai fizesse aquilo.
- Eles são muito legais, muito legais mesmo. Se dariam bem com os meus pais, acho que é o tipo de coisa que o meu pai faria também.
- Que bom saber que não somos os únicos no mundo com pais excêntricos. - Louise riu, imaginando como seria conhecer os pais de William.
- Não, meus pais também não seguem os padrões. Acreditem. - O que eles fazem? - perguntou, demonstrando interesse.
- O meu pai é produtor musical e a minha mãe é jornalista, mas acho que não é o suficiente pra levar eles a sério. Talvez minha mãe seja um pouco mais tranquila, mas o meu pai tem a mentalidade de um garoto de doze anos.
- E você se parece mais com quem?
- Acho que com a minha mãe, tanto na aparência quanto na personalidade, o meu irmão mais velho também. Will não admite, mas ele tem o jeito todo do meu pai. Ele não é filho do meu pai, é do outro relacionamento da minha mãe, mas, por mais que ele negue até o fim, a personalidade dele é muito parecida com a do meu pai.
- Ele parecer ser bem... alegre. - olhou ao redor e percebeu que Louise não estava mais ali e sim conversando com os meninos. - Foi só falar nele que a Louise saiu. Coincidência?
- Não, não é. Conheço o Will, ele está caidinho pela Louise. Estou surpresa, normalmente ele enjoa fácil das meninas com quem ele fica. - percebeu na mesma hora o que falou e tratou de se corrigir. - Quero dizer, não que a Louise seja qualquer garota, ela é ótima, justamente por isso estou surpresa. Não é qualquer pessoa que pode cativar o Will dessa forma, me surpreendi.
- Eu entendi. - ele sorriu, vendo que ela parecia um pouco nervosa. - A Louise disse que eles não são nada, mas acho que está mentindo.
- Também acho, mas deve ser bom. Isso nos torna pseudo-cunhados, então vou poder ler os seus livros antes de serem lançados, com exclusividade.
- Você acha isso mesmo? Acha que eu sou um livro aberto assim? - esboçou um largo sorriso, fazendo rir também.
- Não, você é enigmático, livro aberto é o Damon. - apontou discretamente para o rapaz que estava incentivando o pai a mostrar a tatuagem na coxa. - É só um apontamento, mas entenda como quiser.
- Está bem. - se levantou e ajeitou a camisa amassada. – Vem comigo, vou te mostrar uma coisa.<
Capítulo 6 – Musicians
Talvez seja a música que estou cantando
Talvez tudo esteja acabando como deveria ser.” – Past Life – Maggie Rogers
Julho de 1666
encarava o próprio reflexo no espelho, ajeitando a boina oitavada na cabeça pela quarta vez, achando que não estava curvada o suficiente. Se certificou de que a túnica estava em posição adequada sobre os ombros e só então se deu por satisfeito, achando que estava apropriado para deixar seus aposentos.
Não apenas isso, queria estar apresentável para sua amada. Deixou seus aposentos e passou pelo largo corredor, sendo reverenciado pelo guarda que vigiava o local. Virando por mais alguns corredores, desceu as escadas nas pontas dos pés, mas suas tentativas de sair de fininho falharam quando Lady Lucinda surgiu logo atrás dele, no topo da escada, o chamando pelo seu nome.
- Para onde vai, querido?
- Visitar a minha irmã. - se virou e olhou para o topo da escada, vendo a esposa descendo os degraus devagar sobre o longo vestido.
- Outra vez? Imagino que Diana tenha idade o suficiente para cuidar de si mesma.
- Não é por isso, Luce. Foi doloroso para você deixar sua casa e sua família para se casar comigo, não foi? Conheço a minha irmã, sei que ela precisa ver um rosto conhecido.
- Mas está é a segunda vez que você vai visitá-la essa semana, .
- Não se preocupe, serei breve em minha visita. - sorriu; mentir já não era uma dificuldade pra ele. - Tenho assuntos para tratar com Lorde Woodbead depois, então a visita não tomará muito de meu tempo.
- Por favor, não demore, me sinto só sem você aqui.
- Não se preocupe, voltarei cedo para casa, querida.
- Por favor, tome cuidado. - Lucinda se aproximou, colocando as mãos sombra os ombros dele e deixando um beijo nos lábios do marido, beijo este que não foi correspondido.
- Eu tomarei. Até mais tarde. - a afastou e deu meia-volta, andando rapidamente em direção à saída.
atravessou as grandes portas que protegiam o castelo e desceu o pequeno lance de escadas quase saltando os degraus, para alcançar a carruagem que o esperava. Entrou no veículo e esperou que o cocheiro fechasse a porta e tomasse o seu lugar, para que enfim ele pudesse ir até o castelo da família Bamborough.
Se o trajeto não incluísse as ruas sujas e lamacentas de uma Londres caótica com os eventos que vinham acontecendo, poderia ir mais tranquilo durante o caminho, mas a cidade como um todo lhe causava repulsa. Imaginou que se até mesmo ele, um Lorde de boas condições de vida, se sentia angustiado e deprimido em um ambiente cinza e triste, não podia imaginar o que cidadãos londrinos comuns sentiam ao viver em um monte de madeiras amontoadas. Sabia que era questão de tempo para que pudesse ter um novo destino. Portugal e França eram os seus preferidos.
Ele não soube quanto tempo passou dentro da carruagem, mas uma sensação de alívio invadiu seu corpo quando parou perante o Bamborough Castel, residência da nova família de Diana. Foi reverenciado pelos guardas novamente e adentrou, enquanto aguardava que um dos criados avisasse que ele estava ali. Não demorou muito para que Diana o recebesse, sorrindo de orelha a orelha por avistar seu irmão. Antes mesmo de lhe dar um abraço, o chamou para a sua biblioteca particular para que pudessem conversar tranquilamente.
- Estou tão feliz por te ver aqui. - ela disse após receber com um abraço apertado. - Mas imagino que me ver não seja o único motivo de sua visita.
- Tem razão, mas primeiramente vim ver você, irmã. Parece que está sendo bem tratada por aqui. - olhou ao redor, vendo como aquela pequena biblioteca tinha a personalidade de Diana em cada detalhe e todos aqueles incontáveis livros que ele tinha certeza que ela iria ler.
- Sim, estou. Thomas, quando soube do meu gosto pela leitura e estudos, aceitou da melhor maneira possível. Ordenou que este espaço fosse inteiramente meu, às vezes passamos tempo aqui lendo juntos.
não deixou de notar o sorriso estampado no rosto da irmã quando mencionou o marido, reparando que era algo novo. Um brilho no olhar que Diana não tinha antes. Ele ficou feliz por perceber que ela também estava feliz.
- Estou feliz por você.
- Acho que finalmente estou me apaixonando, . Thomas é gentil, compreensivo, paciente, amoroso... eu nunca imaginei que um casamento arranjado pudesse dar certo, mas eu não poderia ter me entregue para alguém melhor.
- Entregue? - ele arqueou as sobrancelhas, entendendo o duplo sentido da palavra e Diana encolheu os ombros, achando que não deveria falar sobre aquilo tão abertamente, mesmo que fosse para o seu irmão e melhor amigo. - Ah... claro, claro... não posso agir como se eu nunca tivesse compartilhado do mesmo sentimento. - se referiu à , mesmo que sua primeira tivesse sido sua esposa, como deveria ser. - Estou muito feliz por você e eu espero que sejam ainda mais felizes. Quero sobrinhos o mais rápido possível, está bem? Dez, de preferência.
- Não quero passar toda a minha vida estando grávida, . - Diana riu; se considerava uma mulher a frente do seu tempo. - Claro que teremos filhos um dia, mas tudo ainda é recente, precisamos nos adaptar.
- Eu compreendo, estou apenas brincando. Desejo sua felicidade acima de tudo.
- E eu a sua. - Diana se levantou de seu lugar. - Vou chamá-la para vir aqui. Me dê um instante.
Diana se levantou e deixou a biblioteca e para trás. Ele sentiu o coração palpitar, ansioso por vê-la depois de alguns dias ausente. Gostaria, mais do que tudo, de poder ver todos os dias ao acordar e também ao adormecer, ser a primeira e a última pessoa que ela visse. Se lamentava profundamente por tê-la conhecido apenas depois do seu casamento, mas não se importava. O último ano de sua vida foi melhor que os outros dezessete, ele tinha certeza que sim. Apenas queria fugir para um lugar distante e poder ser feliz, se estivesse também.
Perdido nos próprios pensamentos, não se deu conta de que a porta se abriu, revelando , que entrou sem chamar a atenção para si. Ele sorriu ao vê-la, sempre tão elegante e bonita, ele não poderia ter escolhido melhor.
- Levem o tempo que precisar, me chamem quando terminarem. Com licença. - Diana fechou a porta e a trancou para não correrem o risco de serem descobertos.
se levantou de seu lugar e se aproximou, fazendo a mesma reverência que fazia desde a primeira vez que a viu. sorriu, esticando a mão para que ele a beijasse. ainda a admirou mais uma vez, encantado com o vestido rosa que ela usava e os cabelos soltos sem qualquer penteado eminente. Ele preferia assim, achava que não precisava de adereços desnecessários para ficar bonita.
- Está tão linda, como sempre. Senti tanto a sua falta.
- Eu também senti a sua falta. - soltou um longo suspiro cansado e percebeu que ela parecia triste.
- Por que está assim? - ele se aproximou, fazendo um carinho no rosto dela. fechou os olhos para apreciar o toque dele antes que acabasse.
- Tem sido tão difícil e só está piorando. Não suporto mais, ... receberei a visita do Lorde Rodwell no fim de agosto. Ele é um homem adorável, mas não é com ele que quero me casar. Acho tão injusto nossos irmãos terem o privilégio de compartilhar a cama enquanto nós temos de viver às escondidas.
O único motivo pelo qual as coisas eram assim era porque e se conheceram primeiro quase um ano antes no baile de aniversário do Lorde Woodbead, ou simplesmente Damon para eles. Thomas e Diana se conheceriam pouco depois para o casamento planejado pelas duas famílias, o que fez com que e se lamentassem por não terem sido eles os escolhidos, mas nem poderia, afinal, ele já era um homem casado.
- Vamos encontrar uma forma. Vamos fugir, mas precisamos agir com cautela, . É mais fácil para mim me livrar de um escândalo do que para você. Não quero que você corra perigo, meu amor, não quero que as pessoas pensem que você é uma adúltera.
- É isso o que sou, mas não me importo, não me importo com mais nada. Eu só quero ir embora daqui o mais rápido possível. Eu não suporto mais. - Ela tinha lágrimas nos olhos, estava desesperada.
- Vamos encontrar uma solução, eu prometo.
Ele a puxou para os seus braços, envolvendo-a por completo. ergueu o rosto para poder observá-lo; ele era mais alto, e ela gostava desse detalhe. Sorriu quando ele se curvou para que seu nariz tocasse o dela. Estava com os olhos fechados, então apenas sentiu quando os lábios dele se encontraram com os dela em um beijo suave, mas que se intensificou conforme o desejo de ambos aumentava. O maldito espartilho que a apertava não lhe permitia desfrutar das mãos dele tocando o seu corpo e ela desejou tirá-lo, embora soubesse que naquele momento não seria possível.
- Pode ficar até o anoitecer? - ela perguntou após o beijo, não se contendo pela vontade de tê-lo.
- Não posso. Luce está desconfiando de minhas saídas frequentes, preciso ser mais discreto. Disse a ela que visitaria Damon após ver Diana, mas acho que ela não de seu por convencida.
- Me mata saber que outra mulher o espera em casa. - se afastou, encolhendo os ombros. - Me mata saber que é ela que acorda com você todos os dias, que é livre para te acompanhar aonde quer que você vá. Eu não suporto a ideia de que... - ela mordeu os lábios, tentando conter o que estava prestes a dizer, mas precisava desabafar. - De que ela te toca livremente, que ainda compartilham noites juntos... não posso pôr em palavras o quanto isso me frustra.
- Não me deito com Luce há meses, talvez por isso ela esteja tão desconfiada. - se defendeu como pôde. - Eu não consigo desejar ela como desejo a você, , não consigo fingir que tenho uma vida perfeita ao lado dela. Não pense que eu gosto de saber que todos os dias um outro homem vem te visitar. Te corteja, faz elogios a você... ele já...
- Ele nunca me tocou, se é o que iria perguntar. - ela rebateu quase que em um tom de ofensa, nunca havia sido tocada por nenhum homem que não fosse . - Apesar de tudo, reconheço que o Lorde Rodwell é um homem respeitoso.
- Não importa. Ele te corteja, ele te deseja, ele caminha com você pelo jardim e diz coisas belas, diz as coisas que eu queria dizer. Estou planejando tudo, , mas precisamos ter cautela. Aguente só mais um pouco e eu prometo que em breve seremos apenas nós dois em lugar novo, está bem?
- Esperarei mais um pouco. - foi até uma das janelas e puxou as largas cortinas para fechá-las e fez assim com a outra também.
- O que está fazendo?
- Não quero que alguém de fora me veja desamarrando meu espartilho.
entendeu perfeitamente o que ela quis dizer. sabia como ser sútil e direta ao mesmo tempo e isso o cativava. Se aproximou por trás, repousando suas mãos na cintura dela enquanto lhe distribuía beijos no pescoço, causando arrepios nela por debaixo de todo aquele tecido. Por mais que não fosse o lugar mais apropriado, não era desculpa o suficiente para não fazê-lo.
2019
seguiu tentando não ser vista e o acompanhou corredor adentro, sem saber o que ele pretendia lhe mostrar, mas ela estava curiosa para saber. a levou até um cômodo que ela reconheceu como um escritório particular. Tinha uma mesa, prateleiras cheias de livros em um lado e um teclado, um violão e uma guitarra do outro lado, junto com pufes grandes para se sentar. sorriu admirada, tudo o que ela gostava estava ali.
- Nossa, que lindo. - ela olhou ao redor mais uma vez. - Eu não sabia que você tocava instrumentos.
- Ah... eu queria ser músico quando mais novo, aprendi a tocar bem cedo. - Ele coçou a nuca, envergonhado. - Se você perguntou, então acho que toca também. Estou certo?
- Talvez a gente compartilhe o mesmo sonho de criança. - admitiu e não escondeu a sua admiração.
- Toca alguma coisa.
- Não, não... já faz tanto tempo que eu não toco alguma coisa, vou passar vergonha. - ela deu um passo para trás, mas insistiu.
- Se você tocar, eu toco também.
- Vamos fazer um seguinte: eu ensaio, assim não vou ser pega de surpresa. Você pode me cobrar. - Ela tentou negociar e acabou aceitando.
- Está bem, mas vou cobrar mesmo. - ele sorriu e foi até a estante perto deles para procurar alguma coisa. - Bem... é aqui que eu costumo escrever, não sei se você sabe, mas o Damon é arquiteto, ele que montou esse espaço pra mim. Às vezes eu escrevo no meu quarto também, mas aqui é tipo o meu ponto de paz.
- Posso imaginar. - ela olhou para a escrivaninha que estava perfeitamente organizada e tinha um porta-retrato de com uma linda garotinha que tinha muitas semelhanças físicas com ele. - Quem é?
- Clara, o amor da minha vida. - Ele encontrou o livro que queria e foi até a mesa para pegar uma caneta.
- Você é pai? - ela imaginou que se ele dissesse que sim, seria um pouco frustrante.
- Não. - ele riu enquanto escrevia algo na capa do livro. - Ela é minha sobrinha. É filha do Damon.
- O Damon é pai??? - não escondeu o espanto, pegando o retrato nas mãos para poder olhar melhor. - Não acredito. Por que ele não disse nada?
- Não sei, é o jeito dele. - segurou o livro com uma mão e com a outra pegou o celular no bolso da calça, mostrando a tela inicial pra ela.
O papel de parede dele era uma foto com a pequena Clara enquanto tiravam um cochilo juntos. parecia estar em um sono sereno, enquanto Clara também dormia calmamente sobre o peito dele. achou adorável, ele parecia ser um tio coruja pela forma que falava da sobrinha. Devolveu o celular para , mas por ela teria admirado mais um pouco.
- Ainda estou incrédula, mas ela parece ser adorável.
- E é. Damon é um ótimo pai, apesar de ser meio desmiolado às vezes. Ela ainda confunde a gente, mas quando era menor era ainda mais divertido. Ela vinha comigo e parava de chorar.
- Posso imaginar a cena... e cadê ela?
- Mora nos Estados Unidos com a mãe dela. Eles têm uma relação boa, mas ela não deixou a Clara vir. Damon sente falta dela, mas precisava voltar pra cá, acho que vai trazer ela no verão pra passar um tempo com a gente.
- É muita informação pra mim, mas eu posso processar aos poucos.
- Não se preocupa. Você vai compreender melhor com tempo... bom, eu chamei você aqui porque queria te entregar uma coisa. Já que você leu o meu livro e gostou, quero que leia o meu primeiro também e então posso te mostrar o que estou escrevendo agora. Esse é especial, tem até dedicação. - ele entregou o livro pra ela, mas quando ia abrir para ler o que ele escreveu, ele não deixou. - Não, é pra ler em casa.
- Não precisava, , mas obrigada. Com certeza eu vou ler. - ela sorriu, apertando o livro contra seu peito, contendo a felicidade. - E como vou poder te falar se gostei ou não?
- Oportunidades não vão falltar, te garanto. Acho melhor voltarmos, você não vai querer virar o alvo das piadinhas dos meus pais.
- Posso deixar o livro aqui por enquanto? Eu não trouxe bolsa.
- Claro, fique à vontade.
deixou o livro sobre a escrivaninha e então voltaram para a sala que parecia não ter sentido a falta deles. Ela se aproximou de Carter e Jake, que conversavam entre si, mas foi recebida por eles abertamente.
- Ei, onde você estava? - Carter perguntou.
- Eu... fui ao banheiro. - Ela mentiu. Não queria que pensassem o que não deviam. - E então? Qual é o assunto?
foi imergida no assunto dos meninos enquanto conversava com seu pai e Damon. Olhou de canto de olho para onde estava e viu o momento em que ela riu de algo que Carter disse, se apoiando nele enquanto levava a mão livre à barriga, parecia estar se divertindo verdadeiramente com ele. Claro, tinham algo, tinha certeza. Eram discretos, mas não apenas amigos.
- Filho, a conversa é aqui. - Henry olhou na mesma direção, mas já estava de volta à conversa deles. - Não acho que você esteja olhando para o Jake e muito menos para o bonitão ali.
- Ele está olhando para a , pai, ficaram o jogo inteiro de conversinha. - Damon caçoou e rolou os olhos. Sabia que seu pai podia ser tão cruel quanto o seu gêmeo, mas os dois juntos era ainda pior.
- Eu só olhei para os lados, parem de procurar coisa onde não tem. Além disso, não tem graça fazer piada com mulher comprometida, ao menos arrumem uma menina solteira pra implicar comigo.
- namora? - Damon perguntou confuso. - Com quem?
- Ah... - percebeu o que disse, ele apenas tinha as próprias conclusões. - É que... bom... ela e o Carter parecem ser tão próximos... achei que eles eram um casal...
- Realmente, olhando daqui parece mesmo. tem razão. - Henry pontuou e agradeceu mentalmente pelo momento de sanidade dele.
- Vocês já beberam demais, não é? Carter é irmão do Will, ele me disse que veio passar uns dias aqui na cidade, mas ele mora em Paris. Ele e a são só amigos. Que viagem de vocês dois. - Damon deu um gole da sua bebida, achando que aquela conversa não fazia sentido nenhum.
- Ah, então você pode chegar nela, . Parece ser legal, tem a minha total aprovação.
- Pai, por favor, eu não a conheço. - murmurou, torcendo para ninguém ouvir aquela conversa.
- E eu não conhecia a sua mãe, só estou dizendo que já faz um tempo desde a Luce. Ficaríamos felizes de ver você seguindo em frente.
- Mas eu estou seguindo em frente. Sozinho, mas estou. Quando eu encontrar alguém legal, serão os primeiros a saber. Luce foi ótima para mim durante um tempo, mas está no passado.
- Cara, estou falando como seu irmão agora, sem brincadeiras ou provocações. - Damon mudou seu tom de voz, estava mais sério e mais baixo também. - A é uma menina legal, divertida e vocês parecem ter coisas em comum. Não conheço ela tanto assim, mas não sei explicar, desde que a vi na festa da Katie senti afinidade com ela.
- Damon, você sente afinidade com todo mundo.
- Você entendeu o que eu quis dizer... Não sei direito, é como se... sei lá, ela fosse uma amiga de longa data, uma doideira porque conheci ela há uma semana, mas o jeito que você olha pra ela e ela olha pra você... cara, é uma química que até eu fico sem fôlego. Vai fundo, vamos te apoiar.
ia concordar com Damon na parte da afinidade e de como se sentia familiarizado com e sua família também, mas achava impossível ter a tal química com alguém até então desconhecido.
- Concordo em partes com você. Sim, ela é familiar, mas nada mais do que isso. Estou sendo sincero com vocês.
- Sei que você está sendo sincero, . - Henry se deu por vencido para não irritar o filho. - Que tal a gente mudar de assunto e fazer um som, hein? Vai lá, pega o seu violão.
- Tudo bem, mas não vamos incomodar os vizinhos, por favor. Me ajuda a pegar o teclado, pai. Dam, avisa o pessoal.
e Henry saíram da sala enquanto Damon pediu a atenção de todos, dizendo que teriam música ao vivo.
- Bom, eu fiquei com a beleza e o com talento. - Damon brincou, fazendo todos darem risada. - Vamos nos acomodar, pessoal, papai e vão soltar a voz pra gente. Eu me pergunto o motivo de Deus não ter me abençoado com a mesma voz que o meu irmão, mas tudo bem, eu posso conviver com isso. Já sei que não sou um dos preferidos dEle.
Ele continuou distraindo todo mundo até voltar com o violão e Henry com o teclado e o suporte, ligando o instrumento na tomada. pediu para trocar de lugar com o pai, que concordou, assim ele poderia ficar de lado e não teria que encarar as pessoas nos olhos. Henry, por outro lado, gostava de ser o centro das atenções, havia, inclusive, tentado a sorte na música antes de se firmar como tatuador. se sentou de frente para o teclado e a pessoa mais próxima dele era justamente , que se acomodou na poltrona preferida dele, com Jake atrás dela enquanto Katie e Carter dividiam um espaço menor do sofá.
- Juro que se a polícia bater na minha porta, estão todos ferrados juntos comigo. - advertiu em tom de brincadeira. - Faz um tempão que eu não toco em público, mas vou tentar. Pai, tenta me acompanhar, tem uma pegada de baladinha dos anos 50.
(As luzes se apagam, mas você está brilhando) Like you always do
(Como sempre faz)
Every day, I'm reminded
(Todo dia sou lembrado) Of the miracle of you
(Do milagre que é você)
You're too good for coincidence
(Você é boa demais para ser coincidência)
And too perfect for an accident
(É perfeita demais para um acidente)
And I'm not sure where Heaven is
(E eu não tenho certeza de onde é o Paraíso)
But every night, I get a glimpse
(Mas todas as noites, tenho um vislumbre)
Aquela música era uma das suas favoritas, se chamava Blessed e era cantada por um cantor country americano chamado Thomas Rhett. Não tinha um motivo específico para ter escolhido aquela música, queria apenas que todos a conhecessem também. Pela reação da garota próxima a ele, de quem havia gostado da escolha, ele soube que tinha acertado.
(E eu sei que sou abençoado)
Watching you spin in that dress
(Vendo você rodar naquele vestido)
Makin' my heart beat out my chest
(Fazendo meu coração bater fora do meu peito)
I can't count the times I've heard
(Não posso conter as vezes que ouvi)
People say I'm lucky, but lucky ain't the word
(Pessoas dizem que sou sortudo, mas sortudo não é a palavra)
Oh, I'm blessed
(Oh, eu sou abençoado)
Talvez a maior característica dele fosse cantar com o coração e por isso cativou a todos ali, que apreciavam a canção e a voz dele também. Ele não olhava para ninguém, fechava os olhos ou simplesmente olhava para as notas que fazia no instrumento, sem imaginar que a garota próxima dele estava vidrada. Como na música, se sentia abençoada por ter aquele show bem na sua frente. Queria ouvir o resto da canção também.
cantou o restante da música, que nada mais era do que uma declaração de amor. Agradeceu por ter conhecido após o término com Luce, pois tinha certeza que teria dedicado pra ela aquela canção, situação na qual ele não se via fazendo no momento, ao menos não com ela. Ter todos aqueles olhos nele parecia ser mais interessante.
Ao final da música, os aplausos foram baixinho para não incomodar os vizinhos, mas foram longos. tinha um sorriso bobo nos lábios, feliz pelo reconhecimento que recebeu. Agradeceu fazendo uma reverência desajeitada, fazendo todos rirem.
- Sua vez, pai.
- Não, não, estou feliz como músico de apoio. Canta mais uma.
- Hum... não queria cantar sozinho, como descobri recentemente as habilidades de cantora da , quero que ela cante comigo.
Nem e nem ninguém esperava por aquilo. Ela arregalou os olhos, surpresa, não imaginava que contaria o seu segredo abertamente e tão cedo. Ela olhou para ele, mas ele apenas tinha um sorrisinho estampado no canto dos lábios, como se a desafiasse em um tom de brincadeira. Era tentador, ela tinha que admitir, mas ao mesmo tempo assustador.
- Está tudo bem, cantamos juntos se você quiser. - tentou tranquilizá-la, quando viu que ela parecia estática em seu lugar. - Pode escolher a música.
- Vai lá, , mostra pra todo mundo o que a gente já sabe. - Jake a incentivou também, contente.
- Está bem. - se deu por vencida e fez menção de se levantar, mas antes olhou para . - Need You Now do Lady Antebellum.
- Ótimo.
- Posso? - perguntou para Henry ao se levantar, indicando o violão empunhado pelo mais velho.
- Claro, querida, tome. - ele entregou o violão para e ajudou a ajustar o tamanho quando ela passou a alça pelo pescoço.
- Obrigada. Pode começar, .
assentiu e tocou as primeiras notas da música no piano e entrou depois com o violão. Ela estava um pouco nervosa com todos aqueles olhares, mas respirou fundo antes de começar a cantar. Ela cantou o primeiro refrão sozinha como pedia a música, mas na segunda parte, que era cantada por um homem, entrou para ajudá-la.
No segundo refrão eles cantaram juntos, ele fazendo uma segunda voz de fundo para que a voz dela pudesse se sobressair. tinha uma boa voz, tinha um tom suave que lembrava o de Taylor Swift, podendo alcançar algumas notas agudas que para outras pessoas seria mais difícil. Com o decorrer da música, ela já não estava tão nervosa assim, estava mais à vontade enquanto tocava, o violão servia como distração pra ela não precisar olhar necessariamente para as pessoas presentes. Ao final, ela também foi aplaudida, talvez mais do que , mas ele também a aplaudiu, estendendo o punho fechado pra ela cumprimentar com um soquinho, que foi o que ela fez, feliz com a ajuda dele.
- Obrigada pela ajuda.
- Eu que agradeço por esse talento escondido. Quem é o próximo?
Enquanto Louise se oferecia para ser a próxima a apresentar uma música, Diana se levantou de seu lugar e foi até a cozinha pegar um copo de água, visto que aproveitou as duas músicas e agora estava com sede. Ela encheu o copo de vidro até o topo e bebeu tudo em um gole só.
- Com licença, posso pegar um copo também?
Diana se virou para ver quem tinha falado com ela, mas de repente era como se não sentisse mais a sua mão e o copo simplesmente foi ao chão, quando ela se viu transportada dali para uma igreja em chamas. Ela estava ajoelhada no meio daquele fogo, mas o que a atormentava era ver aquele rapaz bonito ardendo em chamas e feliz com isso, rindo maquiavélico. Era o mesmo rapaz que estava ali na sua frente, agora que havia voltado para a realidade. É verdade que tinha sentido o peito apertando quando viu Carter pela primeira vez quando ele chegou acompanhado por , mas agora era pior e ela se sentiu sufocada por um instante quando o copo se espatifou em pedacinhos pelo chão, fazendo barulho. Carter deu um pulo para trás com o susto, queria ir até Diana para que ela se afastasse dos vidros, mas Damon foi o primeiro a chegar na cozinha.
- O que aconteceu aqui? - ele olhou para os dois e viu os vidros espalhadas pelo chão. - Ana, você está bem?
- Sim, eu só... não sei, eu desliguei por um minuto, tive um apagão e o copo caiu da minha mão. Me desculpa, ...
- Diana, eu sou o Damon. - Ele acenou para ela, tendo certeza de que ela parecia um pouco pálida. - Você está bem? Tá pálida.
- Sim, sim, estou bem. Desculpa, Damon, foi o susto.
- Vai lá pra sala, eu limpo essa bagunça.
- Diana, tá tudo bem? Quer que eu vá com você? - Carter perguntou preocupado, mas Diana olhou de uma maneira sombria pra ele, ainda assustada com o que viu.
- Não precisa, estou bem, muito obrigada. Desculpa pelo susto.
Diana saiu da cozinha e voltou para a sala ainda um pouco atordoada, explicando que derrubou um copo, mas estava bem, pedindo desculpas para . Damon começou a recolher os cacos de vidro espelhados pelo chão e Carter se curvou para ajudar também.
- Está tudo bem, cara, pode voltar pra lá. Eu limpo isso.
- Eu sinto muito, eu vim pegar uma água também e acho que ela se assustou, não me viu. Sinto muito mesmo.
- Relaxa, às vezes isso acontece com ela, fica tranquilo. A Ana é um pouco sensível pra essas coisas, se assusta fácil.
Eles recolheram os cacos de vidro e Damon secou o chão, garantindo que não tinha mais nenhum vidro quebrado. Sabia que tinha mania de andar descalço pela casa e não gostaria de ver o irmão com um pedaço de vidro atravessando o pé. Só depois voltaram para a sala onde a cantoria já tinha voltado ao normal, como se nada tivesse acontecido. Damon olhou para Diana e ela parecia estar bem, rindo e cantando, mas ele não fazia ideia do que ela viu em sua mente e tentou disfarçar. Diana tinha certeza que aquela imagem ficaria na sua mente por muito tempo.
- Bem, agora é a minha vez. - Eloise se levantou de seu lugar e convidou o marido para se colocar ao lado dela. - Mas eu não vou cantar, queremos contar uma novidade para vocês.
- Atravessamos um oceano só para dizer pessoalmente. - Henry riu. - Estávamos esperando o almoço de amanhã para contar, mas já que Jake e Katie estão aqui, acho que devem saber também... e Carter, eu sei que podemos não ser tão tradicionais, então não se assustem, todas as nossas reuniões de família são assim mesmo.
- Estou adorando tudo isso. - respondeu sorrindo e foi apoiada por Carter.
- Que bom, querida, também adoramos vocês... então pra quem não sabe, Elo e eu nos casamos apenas no civil em 1994, quando e Damon ainda eram muito pequenos, e até tínhamos planos de fazermos uma festa de casamento, mas, infelizmente, não conseguimos. - Os motivos eram tantos e tão pessoais, que eles acharam melhorar pular essa parte. - Este ano estamos completando vinte e cinco anos de casados, são bodas de prata. - Eloise sorriu, estava muito ansiosa. - E bodas de prata merecem uma comemoração.
- Vão se casar de novo? - Damon perguntou primeiro do que qualquer um, mesmo que já imaginasse que a resposta era sim.
- Em dezembro... aqui, onde tudo começou. - Ela respondeu para o filho. - Vamos renovar os nossos votos com tudo o que temos direito.
- Mas não está um pouco em cima da hora? Só faltam seis meses. - Louise questionou enquanto fazia cálculos mentalmente.
- É aí que você se engana, ruiva. Só queríamos contar depois que tivéssemos certeza, os preparativos já estão em andamento. Queríamos fazer uma surpresa para vocês, então... surpresa, vamos nos casar! - Henry disse contente.
Diana foi a primeira a se levantar de seu lugar e abraçar os pais. Ela, mais do que qualquer um, sabia o motivo de não terem feito a grande festa de casamento que planejavam, e se culpava por isso, mesmo que sempre dissessem o contrário para ela. Agora, ver que finalmente ia acontecer, vinte e cinco anos depois, era emocionante. Ela não queria chorar, odiava que a vissem chorando, mas seus olhos marejados denunciavam que ela não era de ferro.
- Ah, olhe só a nossa ruivinha, nosso orgulho. - Henry a abraçou de lado.
- Eu estou muito feliz por vocês. - Ela sorriu. - Vocês merecem depois de tudo.
- Diana, a nossa prioridade sempre foi e sempre será vocês, não nos arrependemos e nem mudaríamos nada. É por nós, mas também é por vocês. - Eloise disse com a voz embargada, então se levantou para ir abraçar sua mãe.
Depois foram Damon e Louise também, assim como Jake e Katie. Carter e apenas observavam, não tinham qualquer intimidade para saírem de seus lugares e irem até lá, mesmo que Henry e Eloise fossem tão receptivos quanto os filhos.
- É bem fofo. - Foi tudo o que Carter conseguiu concluir.
- E constrangedor. - usou a palavra certa para definir o que os dois sentiam. - Mas eles parecem ser bem legais.
- Podemos fingir um desmaio ou qualquer coisa?
- Carter! - deu um empurrãozinho nele e os dois riram. - Não está tão ruim assim, eles são legais.
- Mas não são a nossa família. Particularmente, gosto mais da nossa. É meio desajustada e doida, mas ainda é a nossa.
- Parece que alguém precisa visitar Manchester, afinal. - ela riu e ele concordou.
- O que posso fazer? Lew e Liz me adotaram.
- Ah, é claro que sim, você é da família. - Ela deu um abraço de lado nele e ficaram assim.
ainda estava abraçado à sua mãe e prestava atenção em todas as conversas e movimentação ao seu redor. Ouvia os detalhes que Henry e Eloise contavam sobre os preparativos, mas também reparou nos dois desajustados bem perto dali, viu eles conversando entre si e se abraçando. Mesmo que Damon já tivesse dito que não, ainda era estranho para ele pensar que e Carter eram apenas amigos. Ele não acreditava cem por cento nisso, justamente pela intimidade entre eles e, de certa forma, se sentia incomodado. Apenas não sabia o motivo para tal.
- Mãe, acho que não estamos totalmente em família. - Ele disse baixo para Eloise ouvir.
- É verdade, eles estão perdidinhos. - Eloise procurou por e Carter, se soltou de e foi até eles. O rapaz foi logo atrás.
- Elo, meus parabéns, que vocês sejam ainda mais felizes. - disse sorrindo. Não sabia exatamente o que falar.
- Obrigada, , e não pense que vocês não estão convidados! Quero os dois lá!
- Vocês não têm outra opção. - disse e Eloise concordou. Ele conhecia muito bem sua mãe.
- Ele está certo. Se eu não ver vocês, vou ficar muito chateada.
- Eu moro em Paris, mas eu vou tentar voltar, muito obrigado pelo convite, Eloise. - Carter agradeceu educadamente. Por mais que Eloise estivesse fantasiando sobre e em sua mente, não podia deixar de achar que o rapaz que acompanhava era alguém notável.
- Me agradeça estando aqui o mais bonito possível.
- Nós com certeza vamos. - disse sorrindo. Olhou para e ele fez um aceno de cabeça, sinalizando que ela disse a coisa certa.
Jake chamou por Carter e ele pediu licença para se afastar da conversa. também voltou quando Eloise pediu para falar com sozinha.
- Não estou convidando vocês apenas por educação, , realmente quero que você vá. - ela se explicou, mas a intuição de dizia que Eloise tinha seus motivos para tal.
- Eu agradeço muito, mas... a propósito... caso esteja pensando se e eu somos...
- Eu sei que não, imagino que sejam só amigos e vão continuar sendo amigos até lá. E quando eu gosto dos amigos dos meus filhos, eu costumo adotar, sinta-se parte da família agora.
- Obrigada. - agradeceu novamente e foi surpreendida quando a mais velha a abraçou. Aparentemente, ela gostava muito de abraçar.
Eles eram legais e fora da curva, ela não tinha dúvidas, e isso a fazia sentir falta dos momentos da sua própria família, que já não se reuniam há algum tempo. Imaginou que seus pais se dariam bem com Henry e Eloise, e esperava um dia poder apresentá-los, mas enquanto isso, tinha que se preparar para o casamento e torcer para que em seis meses ainda tivesse contato com eles.
e Carter chegaram de madrugada no apartamento dela. Entraram em silêncio para não acordar William, caso ele estivesse dormindo. Imaginaram que ele não estivesse lá, então, enquanto Carter foi ao banheiro, abriu a porta do quarto e se deparou com William acordado, jogando no celular.
- Acordado a essa hora? Achei que nem estaria aqui.
- Foi cancelado. - William mentiu, mas na verdade estava aborrecido porque Louise havia desmarcado o encontro com ele.
- Sério? E você ficou aqui?
- Fiquei...
- Por que não me ligou, Will? Estávamos todos na casa do . Carter, Jake, Katie... a Louise estava lá também, iam adorar que você fosse.
- A Louise estava? Que bom... na próxima eu vou - ele voltou a atenção para o jogo pausado na tela, arrasado com o que ele tinha acabado de ouvir.
- Ei, o que você tem? - acendeu a luz do quarto, fazendo com que William escondesse o rosto com as mãos, se virando contra a parede. Ela foi até a cama e se sentou de frente pra ele.
- !
- Will... o que foi? Aconteceu alguma coisa?
- Não aconteceu nada, estou bem.
- Então por que não olha pra mim, pra gente poder conversar, hein? - ela acariciava o braço despido dele como sempre fazia quando ele estava chateado. - Conta pra mim o que está te chateando.
- Desculpa, , eu menti pra você. - William se virou, mas continuou deitado. - Não tinha encontro nenhum de escola, era com a Louise, só menti porque não queria ser zoado por isso, mas ela desmarcou comigo sem motivo. Que bom que ela estava se divertindo na casa do ...
- Ah, Will... sinto muito, eu não sabia. - nem sabia o que dizer, viu que William estava realmente chateado com a situação.
- Acho que ela está brincando comigo. Nos divertimos tanto no outro dia! Acho que me precipitei quando a beijei.
- Você beijou ela???
- Em minha defesa, ela praticamente pediu que eu a beijasse, não forcei nada. Não entendo, em uma hora ela está super interessada e na outra finge que eu não existo...
- Calma, Will, vocês acabaram de se conhecer, ou melhor, de se ver pessoalmente. Talvez ela tenha ficado assustada por vocês ficarem próximos tão rápido, isso assusta qualquer um. Depois vocês podem conversar com calma e resolver isso, tenho certeza que ela vai ouvir o que você tem pra falar.
- Não quero me machucar, . - ele confessou de repente, com os olhos ganhando brilho.
- Não vou deixar que ninguém te machuque. - disse com convicção. Qualquer um que mexesse com seus irmãos, mexia com ela também. - Se ela não quiser nada com você, então pula fora, estou do seu lado para tudo. Você sabe que sim.
- Obrigado, amo você. - William sorriu de canto, sonolento.
- Também amo você. Anda, me dá um abraço, quero ir dormir.
William se sentou na cama e foi abraçado por , que deixou um beijo estalado na bochecha do irmão e bagunçou os cabelos dele.
- Deixa esse celular de lado e vai dormir.
- Mas, ...
- William McQueen, já passou da hora de dormir! Anda logo, não quero ninguém morto amanhã pra limpar o chiqueiro que está esse quarto.
- Mas eu não quero limpar nada! - William se deitou de novo, manhoso, fazendo rir.
- Você não tem que querer. - ela se levantou e foi até o interruptor para desligar a luz. - Boa noite.
- Boa noite, . Obrigado. - Vou fazer de tudo, Will. Prometo.
apagou a luz e fechou a porta, então foi até a sala, onde Carter estava preparando o sofá para dormir. Felizmente era um sofá confortável e ele parecia satisfeito com o seu canto da casa.
- Eu me sinto mal por deixar você dormindo nesse sofá todos os dias.
- Não se sinta, é grande e confortável. Não se preocupa, estou ótimo. - Ele sorriu pra ela enquanto afofava o travesseiro. - Além disso, essa semana vou embora e vocês vão poder se livrar de mim.
- Que é isso, Carter? Você é da família, não tem essa de se livrar. Odeio quando você fala assim.
- Estou brincando, relaxa. A propósito, como vou embora e não sei se vou ver o pessoal de novo, peça desculpas à Diana e ao por mim. Eu não queria causar aquela confusão, sinto muito mesmo.
- Não foi culpa sua, ela se assustou, eu mesma já fiz isso várias vezes, acontece. Já está tudo bem, a Diana disse que está, então você não precisa ficar se lamentando.
- Não sei, ela parecia bem... abatida depois, eu reparei.
- Foi o susto, deixa de paranoia e vai dormir. Vamos curtir o domingo em família. Boa noite.
- Boa noite, , obrigado por me receber aqui.
- Sempre vai ser um prazer.
pegou o livro que ganhou de , que ela havia deixado sobre a mesa da cozinha, se despediu de Carter e foi para o seu quarto. Trocou a roupa pesada por um pijama leve, lavou o rosto para tirar a maquiagem e então caiu na cama. Ia dormir, mas não sem antes olhar um pouco para o seu presente. Achou muito gentil da parte de lhe dar um exemplar do livro por livre e espontânea vontade. Era o primeiro livro dele, pelo que ela percebeu, datado de dois mil e quinze, quando ele tinha apenas vinte e dois anos. Não foi um sucesso de vendas, mas ela estava curiosa mesmo assim para saber do que se tratava. Na primeira página, onde continha o título, a letra de - que mais parecia um garrancho - se destacava de caneta azul.
"Para . Espero que se sinta parte deste aqui também. Com amor, .
P.S.: Caso queira me dizer o que achou, segue o meu número (isto não é uma cantada, eu juro)."
Ela riu quando entendeu o motivo pelo qual ele pediu para que ela lesse apenas em casa. Ele lhe deu seu número de celular e talvez fosse por isso que ele não queria que ela lesse no escritório. não achou que fosse uma cantada, na verdade achou coerente da parte dele, visto que ela iria sim dar um feedback, depois de terminar a leitura que planejava começar no dia seguinte, pois ela estava com muito sono para ler qualquer coisa.
Ela salvou o número de e mandou uma mensagem apenas para que ele tivesse seu número salvo também, então deixou o celular de lado para carregar e se virou para dormir. Estava exausta.
adorava sua família mais do que tudo no mundo, então ter a casa cheia de parentes era ótimo, mas o silêncio e a paz ainda eram seus preferidos. Quando todos foram embora e o apartamento estava vazio, ele finalmente pôde relaxar um pouco, sentindo que teve o dia mais louco e agitado da sua vida calma nos últimos tempos, mas estava feliz com isso. Assistiu a um jogo de futebol com amigos, viu seus pais e cantou suas músicas favoritas. Não poderia estar mais feliz.
Ele recebeu uma mensagem de antes de dormir, informando que ele poderia salvar o número dela também e sorriu, contente por ela ter ao menos aberto o livro para ver a dedicatória dele. Não costumava distribuir livros por aí, mas como demonstrou em interesse em seu trabalho, ele quis retribuir da melhor forma possível. O fato de ela ter gostado o fez pensar que ele tinha tomado a decisão certa.
Mexendo de um lado a outro da cama sem conseguir dormir, se levantou e resolveu fazer o que sempre fazia quando estava com insônia: assaltar a geladeira de madrugada. Sempre tinha algo gostoso pra comer, até mesmo um copo de leite puro era o suficiente para que ele sentisse sono e voltasse para a cama, então foi isso que ele decidiu fazer. Ele se levantou da cama e saiu do quarto, indo em direção à cozinha. Acendeu a luz do cômodo e entrou, indo direto em direção à geladeira, para se certificar de que tinha leite, mas no meio do caminho sentiu algo perfurando a sola do seu pé, o fazendo recuar rapidamente, mas quando viu, um caco de vidro havia entrado um pouco no seu pé direito e só não foi mais fundo porque ele tirou o pé do chão a tempo, mas era um caco grande de vidro quebrado. Viu o sangue escorrer e pingar no chão, o que o deixou apavorado por um instante e, no medo, puxou o caco para fora, mordendo os lábios para que não gritasse quando sentiu uma dor cortante.
O que iria fazer? Para quem iria ligar naquele horário? Estava assustado e não tinha o conhecimento básico de primeiros socorros, além de que ver sangue escorrendo e pingando no chão não o deixava nem um pouco calmo. Damon e Louise moravam perto dali e ele pensou em ligar para qualquer um dos dois, mas o celular estava no quarto e ele não tinha outra opção a não ser ir até lá e buscar. Pulando em um pé só, ele tentou alcançar o quarto, mas tinha certeza de que estava deixando um rastro grande para trás, de gotinhas de sangue que seriam difíceis de limpar depois. Ele alcançou o celular e sentou na cama, vendo que Diana havia sido a última pessoa com quem ele falou recentemente, então foi sua primeira opção para ligar. Felizmente, Diana atendeu rapidamente.
- , isso são horas? - Diana atendeu sonolenta.
- Oi, Ana, me desculpa ligar esse horário, mas estou com um problema sério.
- O que aconteceu?
- Um caco de vidro entrou no meu pé, está sangrando e eu não sei o que fazer. Você consegue me ajudar? Preciso que venha aqui. - Meu Deus, ! Está bem, estou aí em cinco minutos.
Diana desligou e jogou o celular na cama, voltando a atenção para o seu pé sangrando. Ele não tinha muito o que fazer a não ser aguardar que Diana chegasse, mas não suportava ver o sangue escorrendo. Era uma sensação estranha ver sangue jorrando, sentia como se aquilo já tivesse o prejudicado antes e justamente por isso ele tinha um medo irracional e não conseguia raciocinar direito para tomar os devidos cuidados.
Como prometido, Diana chegou em cinco minutos. Como ela tinha a chave, só precisou seguir as gotículas de sangue até o quarto de e encontrar o irmão enrolando a própria camiseta no pé ensanguentado. Era sério, mas ela estava aliviada por não ser algo muito mais grave. Felizmente, ela conhecia um médico. Não que não fosse uma, mas não era exatamente a sua especialidade.
- Ok, vamos resolver isso. - Ela discou o número de Thomas e colocou no viva-voz antes de jogar o celular na cama e torcia para que Thomas atendesse, apesar do horário, e foi isso o que aconteceu.
- Oi, Diana.
- Oi, Tom, me desculpa ligar agora. Você estava dormindo.
- Não, estou em um plantão no hospital. O que foi?
- Preciso da sua ajuda, sei que você não é socorrista, mas é que eu não sei o que fazer. Quero dizer, eu sei um pouco, mas prefiro que você me ajude.
- O que aconteceu?
- Meu irmão cortou o pé em um caco de vidro no chão, parece que afundou um pouco e não parou de sangrar, já tem uns dez minutos mais ou menos.
- Tudo bem, é simples. Você precisa pressionar gaze ou um pano limpo no corte pra estancar o sangramento.
- Já fizemos isso, mas continua sangrando.
- Menos do que antes. - pontuou imediatamente.
- Ótimo, então coloca o pé pra cima um pouco. Isso vai reduzir o fluxo de sangue.
se deitou na cama e esticou a perna para cima para que Diana a segurasse para ele.
- Está melhor? - ela perguntou para , que não sabia responder.
- Acho que tem que esperar um pouco, não é?
- Ele tem razão. Enquanto isso, Diana, pega água e sabão para limpar. Nada de álcool ou qualquer creme. Só água e sabonete.
- Está bem. , aguenta aí.
Diana saiu do quarto e manteve a perna pra cima, tentando se manter concentrado para não se cansar.
- Dia ruim, amigo? - Thomas perguntou do outro lado, preparado para tranquilizar o paciente caso precisasse.
- Não, o dia foi ótimo, mas não sei que diabos esse caco estava fazendo lá. Acho que meu irmão não limpou direito.
- Irmãos... sempre os irmãos. Eu entendo, tenho dois.
- E eu tenho três. Ganhei de você - riu e ouviu a risada do médico do outro lado da linha.
Diana voltou logo depois para o quarto, trazendo consigo um potinho com água, um sabonete e gaze que encontrou no gabinete do banheiro.
- Voltei. O que eu faço agora?
- Pode abaixar o pé, o sangramento vai diminuir mais. Limpa o sangue ao redor e tenha certeza que não tem nenhum cristal no corte.
- E se tiver?
- Vocês vão ter que ir para o hospital. Só estou adiantando um atendimento, mas não posso fazer muita coisa. Limpa o corte e me avisa.
Com cuidado, Diana limpou primeiro ao redor para tirar as manchas de sangue da sola do pé dele e foi se aproximando devagar da região do corte. gemeu de dor quando ela passou a gaze devagar sobre a ferida exposta. Pensou que poderia ser mais sério do que ele imaginava.
- Pronto, Tom. E agora? Não tem nenhum cristal.
- Agora você vai fazer um curativo por cima. É só comprimir a gaze contra o corte e prender com o esparadrapo, nada complexo. Vocês vão ter que ir para o hospital para um médico fazer a sutura.
- E o que isso quer dizer? - perguntou receoso, pois não conhecia termos médicos.
- Você vai ter que levar pontos, amigo. Sinto muito, mas é procedimento, ou isso aí não vai cicatrizar nunca.
- Tudo bem, eu vou levar ele para o hospital... Tom, muito obrigada mesmo, você nos salvou de um perrengue.
- Imagina, Ana, qualquer coisa pode ligar pra mim. Eu saio às sete da manhã e vou pra casa, mas o celular está sempre por perto.
- Obrigada, se eu precisar, retorno o contato. Preciso desligar, vamos correr para o hospital agora. Tchau, Tom, obrigada de novo.
- Tchau, Ana, a gente se vê.
Thomas encerrou a ligação e foi para o seu próximo paciente, enquanto Diana respirou fundo algumas vezes para se acalmar, mas tudo o que viu foi a encarando com o cenho franzido.
- O que foi? - Ana? Sério? Quem te chama assim fora da família? - Você está com o pé cortado e é com isso que está preocupado? Anda logo, veste uma camiseta e vamos para o hospital antes que eu te largue aqui sozinho. - Calma, eu só perguntei. - E eu só respondi. Anda logo.
Capítulo 7 - Dreaming
Talvez eu esteja
Me apaixonando por você
tão rapidamente
Que talvez eu deva
Guardar isso para mim
Esperar até conhecê-lo melhor – Fallin’ For You – Colbie Caillat.”
Aberdeen, Escócia. 1848.
observava o sol se pondo pela varanda de seus aposentos. Ela sempre fazia aquilo, era uma enorme sensação de paz toda vez que via o crepúsculo, pois significava que logo mais um novo dia iria começar, um dia a menos para ela ter nos braços seu tão sonhado filho. Estava ansiosa, já tinha entrado no último mês de gestação, era questão de dias até ver o rostinho e tomá-lo nos braços. Sua intuição dizia que seria um menino, e ela torcia para que se parecesse com o pai, provavelmente estava tão ansioso quanto ela.
E foi só ela pensar nele que entrou no quarto. Ela se virou para vê-lo e ele foi até ela.
- Querida, por que está aqui? Você deve ficar de repouso – disse enquanto colocava as mãos carinhosamente no rosto da esposa.
- Eu queria ver o pôr-do-sol, está tão lindo que tive que levantar e ver – olhou novamente para o céu de tons alaranjados, mas logo voltou sua atenção para ele. – Por que demorou tanto?
- Me desculpe, tive problemas com a carruagem no caminho de volta, mas já está resolvido... como você se sente?
- Muito cansada, admito – ela sorriu e notou as olheiras profundas debaixo dos olhos dela.
- Vá se deitar, meu amor, você precisa descansar.
- Você pode me acompanhar?
- É claro que sim.
acompanhou até a cama e ajudou a mulher a se deitar. Nenhuma posição era confortável para ela naquela altura da gravidez, então ficar sentada parecia ser a maneira menos incômoda de passar a noite.
- Você está ansioso? – perguntou enquanto observava trocando de roupa.
- Imagino que não tanto quanto você – ele sorriu para ela enquanto desabotoava sua camisa.
- Não sei se é exatamente isto, mas... sei que estou correndo um risco muito grande, tenho um pouco de medo também.
- Não pense assim, , nada de ruim vai acontecer com você e o nosso filho. Tudo vai ficar bem e seremos uma família muito, muito feliz; bem, eu já sou feliz com você, então minha felicidade só vai dobrar.
sorriu, ela não poderia ter alguém melhor do que ele. era tão diferente de todos os homens que já a cortejaram que ela mal podia acreditar que ele havia desistido de um noivado anterior para poder ficar com ela, unicamente porque se apaixonaram rápido e intensamente. Mas ele era ainda melhor do que foi no começo, sempre tratando-a com respeito e amor, e não como um objeto de sua posse. Ela era imensamente grata por se sentir em um conto de fadas, e agora estava prestes a colher o fruto daquele amor que já não cabia mais somente nos dois.
- Você pode ficar tranquila, eu não vou deixar que nada aconteça com você e com o nosso filho, – disse após se vestir, e foi até a cama para ficar ao lado dela.
- Eu sei, eu confio em você, .
- É como se eu estivesse sonhando acordado, você entende? Vocês são tudo o que eu sempre quis – ele dizia enquanto deitava a cabeça em seus travesseiros, mas esticou o braço para que sua mão acariciasse a barriga dela. – Eu não seria nada sem vocês... obrigado por este presente maravilhoso, .
Em resposta, sorriu e disse que o amava. se ergueu para beijá-la. Tinha certeza de que se apaixonava mais a cada dia que passava e de que era questão de tempo até que fossem uma família numerosa; tudo o que ele queria, mas que guardava para si devido aos julgamentos que poderia receber por sonhar com isso. Podia contar para , ela não o julgaria, e esse era um dos motivos que o faziam ter certeza de que era ela, e sempre seria.
percorria seus olhos ao redor da classe silenciosa, se certificando de que ninguém estava colando na prova. Era a última prova do ano letivo e aquela turma iria para o Ensino Médio. Era praticamente uma despedida, o que sempre deixava emotiva, visto que aquela era sua melhor turma e também a que ela mais gostava. Ver seus alunos indo para o Ensino Médio era como deixar um filho crescido ir embora de casa, mas não podia negar que o coração se enchia de orgulho.
Ela observou mais ao fundo Ned, um menino tímido e pouco participativo nas aulas. Era nítido a dificuldade que ele tinha na matéria, mas via o esforço dele para melhorar. Ela se aproximou da mesa dele quando percebeu que ele chorava baixinho, encarando a folha em branco a sua frente.
- Ned, o que foi? - se abaixou para ficar na altura dele, quase sussurrando para não despertar a classe.
- Não consigo fazer, senhorita Thompson. Sou burro.
- Você não é burro, Ned, para de falar isso. Lembre-se das anotações do seu caderno, todas as perguntas são baseadas nas anotações.
- Mas eu...
- Você consegue, eu sei que sim. Você é muito inteligente e esforçado, e é por todo o seu esforço que eu tenho certeza que você vai passar de ano. Tenho muito orgulho de você.
As palavras de soaram como o gás que o aluno precisava para secar as lágrimas, respirar fundo e encarar as perguntas que ela preparou. se levantou e voltou para a frente da sala, andando por entre as mesas e se certificando de que tudo estava correndo bem. Ela se sentou novamente em seu lugar até o final da aula, quando os alunos se enfileiraram para entregarem a prova pra ela e saírem. Não era a última aula do dia, então continuou no mesmo lugar apenas esperando a próxima turma entrar, pensando o quanto os dias de provas eram cansativos e longos. Ela apenas queria estar em casa o mais rápido possível.
Apesar de desejar sua cama mais do que tudo, ela adorava a sua profissão. Mesmo sendo um pouco tímida, sempre foi comunicativa e estudiosa e amava passar conhecimento para outras pessoas, especialmente para os mais jovens. Poderia não receber o melhor salário de todos, mas a recompensa vinha cada vez que um aluno lhe dizia o quanto amava suas aulas, ou que passou a gostar de História por causa dela. Para , todo o esforço e dedicação valiam à pena ano após o ano letivo.
William conferia quantos metros já tinha corrido naquele dia e estava satisfeito de ver que já tinha passado dos cinco quilômetros, prova de que sua resistência estava aumentando cada dia mais, além de que se exercitar era uma boa maneira que ele encontrou para se distrair. Correr enquanto ouvia música nos fones de ouvido era o suficiente para que ele não pensasse na bagunça que estava sua vida desde que terminou a escola.
À princípio, William não queria entrar em uma faculdade porque não sabia o que queria cursar, mas três anos depois ele sentia a necessidade de sair da sua zona de conforto. Sabia que nunca seria um astro famoso da música, então tinha que ao menos arrumar um emprego para deixar de viver da mesada que recebia de sua mãe. Pensou nos seus irmãos e como eram independentes e com empregos legais, William pensou que ele também queria aquilo pra ele. Talvez não fosse tão brilhante quanto Thomas para ir para a área da Saúde e se destacar em tudo o que fazia; ou tão estudioso quanto que adorava ler e pesquisar sobre tudo; também não se considerava corajoso como Carter, para simplesmente mudar de país e aprender um idioma novo para respirar novos ares. Embora pensasse isso, também tinha certeza de que nenhum deles já nasceu sabendo de tudo. Não, Thomas não nasceu sabendo tudo sobre o organismo de um bebê, não nasceu sabendo cada detalhe minucioso da Segunda Guerra Mundial e Carter não nasceu falando francês fluente. Se eles aprenderam e desenvolveram habilidades, William achou que ele também seria capaz e imaginou que não deveria ser tão difícil assim ser aprovado para o curso de Educação Física.
William diminuiu o ritmo conforme se aproximava de casa. Faltando apenas duas quadras, passou em frente ao café onde dias antes havia se encontrado com Louise. Lembranças passaram pela sua mente e ele se entristeceu, se lembrando de que ainda não havia falado com ela desde o fim de semana. Ele só não esperava ver ela do outro lado do vidro, bebericando um café e rindo para um homem mais velho e tatuado que a abraçava afetivamente. O queixo de William foi ao chão. Quem era ele?
William não queria saber, já tinha visto o suficiente e entendido tudo, então voltar a correr para chegar em casa; o que parecia ser o melhor que ele poderia fazer e foi exatamente isso o que fez, chegando em casa antes do planejado pelo seu cronômetro. Encontrou , que já havia chego e estava comendo, e Carter que a fazia companhia. Os dois logo notaram a feição enraivecida do irmão mais novo, mas pela primeira vez William realmente queria contar o que estava acontecendo.
- Devemos nos preocupar? - perguntou, convidando-o a se sentar.
- Descobri o motivo de Louise ter cancelado nosso encontro - William pegou um copo de água gelada para beber e então se juntou aos irmãos. - Ela está em outra.
- O quê? - os outros dois perguntaram juntos, incrédulos.
- Eu vi. Estava correndo, passei em frente a um café que fomos juntos e ela estava lá com outro cara. E o pior de tudo: ele era mais velho! Tipo, muito mais velho do que ela. Eu não esperava por isso.
- Louise estava com um cara mais velho? - Carter perguntou e William concordou, mas na hora ele entendeu do que se tratava.
- E ele tinha os braços tatuados? - completou a pergunta, também tinha entendido.
- Tinha; bizarro pra um cara da idade dele, deve estar beirando os cinquenta. Sério, ainda não acredito no que vi. Se ela não queria nada comigo, era só dizer e não... ei, por que vocês estão de risadinhas?
- Will, aquele era o pai da Louise. Conhecemos ele na casa do - riu ainda mais da cara de espanto do irmão. - Não acredito que você pensou isso. Tudo bem, eles não são tão parecidos assim, mas tem os mesmos olhos, eu reparei.
- Mas...
- Não tem mas, cara, é verdade. Eu também vi. Eles moram na América e vieram visitar os filhos. Desculpe se te decepcionamos, mas Louise só estava tomando um café com o pai.
William se sentiu mais estupido do que nunca. Como pôde pensar tão mal de Louise? Deveria ter procurado semelhanças físicas... jamais imaginou que aquele homem fosse o pai dela. Estava se sentindo ridículo.
- Pelo menos não fui lá tirar satisfação - encolheu os ombros envergonhado, pensando que poderia ter sido pior. - De qualquer forma, tenho outra coisa pra dizer também. Talvez vocês riam de mim, mas estive pensando e... bem, acho que quero fazer faculdade.
- Will, isso é ótimo! - sorriu maravilhada. - Por que iríamos rir de você?
- Não sou inteligente como vocês e o Tom. Não sei se sou capaz.
- William, você não é burro. Mal começou e já está andando para trás, para com isso. Sabe que vamos apoiar, acho que é o melhor que você faz - Carter disse otimista. - O que você quer estudar?
- Acho que Educação Física, ainda não tenho certeza.
- Na Oxford Brookes tem Educação Física! - se lembrou de uma das escolas de sua universidade e os olhos brilharam ao pensar na possibilidade de mais um membro da família se formar lá.
- - William sorriu, a inocência da irmã era cômica. - Você acha mesmo que com o meu histórico escolar, poderia entrar em Oxford? Se o Tom, que é o Tom, precisou estudar três anos pra ser aceito, acha que eu tenho alguma chance? Você também não teve vida enquanto estudava pra conseguir entrar. Eu só tirava notas o suficiente para passar, nunca gostei de estudar, vai ser difícil conseguir entrar em alguma faculdade comum, imagina uma universidade conceituada como é Oxford.
- Mas é que...
- Eu sei. Você, o Tom, nossa mãe, nossos avós... todos vocês se formaram lá, é a tradição da nossa família, mas eu não pretendo seguir a tradição a não ser que eles desçam o nível pra me aceitar. Vamos ser realistas, por favor.
- Acho que todo mundo é capaz.
- Sim, eu concordo, mas nem todos vão conseguir. Não se preocupa, as futuras gerações não vão decepcionar, mas eu vou procurar algo por perto, assim você não vai se livrar de mim tão cedo.
- Não importa pra onde você vá, estou mais do que orgulhosa de você.
- Eu também estou orgulhoso. Sei que disse que quer ficar perto, mas se quiser ir pra Paris, acho que se daria bem por lá também.
- Quase não falo inglês, quem dirá francês - William riu, mas pensar em morar o irmão era animador. - Obrigado mesmo assim. Bom, só queria saber se você, , pode me ajudar a montar um cronograma de estudos ou algo assim para eu me preparar. Sei que está em cima da hora, mas eu quero tentar.
- Claro que eu ajudo! Vou preparar algo que eu possa ajudar, vamos usar minhas férias pra isso. Mas, antes de qualquer coisa, vai tomar banho. Está suado.
- Já estou praticando minha futura profissão! - William se levantou e foi aos risos em direção ao banheiro.
e Carter seguiram com o olhar até perderem William de vista no corredor. Estavam impressionados com o que tinham acabado de presenciar.
- Acho que o nosso pequenino cresceu - ela apoiou os cotovelos sobre a mesa, sorrindo de orelha a orelha.
- É... ainda lembro do dia em que eu soube que teria um irmão. Foi o dia mais feliz da minha vida. Nunca imaginei que meu irmão seria meu melhor amigo, mesmo a gente tendo toda essa diferença de idade. Estou orgulhoso dele.
- Eu também... espero que ele não desanime. No que eu puder ajudar, vou fazer de tudo.
- Eu também, mesmo estando longe - Carter olhou as horas no seu relógio de pulso. - E por falar em estar longe, está quase na hora de ir. Vou ver se não esqueci nada.
O caminho de volta pra casa foi silencioso. e William se acostumaram com a presença de Carter na última semana e era estranho não ter mais ele ali, especialmente para William que sempre aproveitava ao máximo as visitas do irmão. Ele estava chateado, não tinha mais uma figura masculina para se espelhar. Thomas também estava longe e Jake não era exatamente como um irmão mais velho pra ele; talvez fosse para . Se lembrou de quando Carter lhe disse que que ele poderia ir para Paris se quisesse e William cogitava seriamente a hipótese, mas, por outro lado, não queria deixar sozinha.
- Posso te perguntar uma coisa? - ele perguntou após muito tempo em silêncio.
- Claro.
- Se... se eu por acaso eu me mudasse, você ficaria bem sozinha?
- Quer ir pra Paris ficar com ele, não é? Eu ficaria bem, Will, já sou grandinha, mas você não tem que pensar em mim, tem que pensar em você. Acho corajoso da sua parte fazer uma grande mudança, mas que você esteja preparado, porque ninguém vai poder te socorrer se precisar de ajuda.
- É só uma coisa que me passou pela cabeça, não quer dizer que eu vou... não sei, estou meio confuso sobre as coisas ultimamente.
- Isso é bom, Will, quer dizer que você está disposto a ser melhor. Se quiser ir, tudo bem, não vou morrer por morar sozinha. Pelo menos o quarto ficará limpo.
- Eu sabia que você ia dizer isso - William riu, o humor de era uma das coisas que o fazia ficar. - Deixa pra lá, foi só um lampejo. Quero mesmo estudar aqui.
- Se você está dizendo... por que você não tira uns dias e vai pra Manchester? Talvez lá você consiga pensar com mais clareza, muitas coisas por aqui te influenciam.
- Detesto Manchester, pior lugar do mundo - William murmurou, não podia pôr em palavras o quanto odiou passar toda a sua adolescência naquela cidade. - Se for, será pra morrer de tédio.
- Foi só uma sugestão. Aqui você tem a mim, seus amigos, o Tom está pertinho também, suas raízes estão aqui agora.
- É... não sei, vou pensar.
e William continuaram conversando o caminho inteiro durante a volta pra casa. Ao chegarem, William foi direto para o vídeo game enquanto finalmente tomou coragem para continuar lendo o livro de . Acabou se entretendo e imergindo na história, a escrita dele era cativante demais para não se sentir atraída pelo enredo e construção dos personagens. Cada cena era tão rica de detalhes que apenas desejava ser parte daquele universo também. Melhor do que isso, ela se sentia parte e o melhor de tudo era que o autor estava nos seus contatos para que ela pudesse dizer isso diretamente para ele.
"Seu primeiro livro é como uma história interativa. Só falta o meu nome aqui 😜"
Ela digitou a mensagem e enviou para ele. Deixou o celular de lado e voltou a atenção para a história. A jovem não tinha a mínima ideia de quantas páginas já havia lido depois, quando o celular começou a tocar de forma escandalosa, a assustando repentinamente. viu o nome de na tela e riu, imaginando que ele provavelmente iria perguntar o que ela quis dizer com aquilo.
- Não acredito que o autor do meu livro do momento está realmente ligando pra mim - ela disse ao atender, tentando soar divertida e ouviu a risada dele do outro lado da linha.
- Oi, ... erm... então você está lendo o meu livro?
- O seu outro livro, você quis dizer... eu... nossa, , tenho que admitir, eu estou totalmente envolvida com a história. Você escreve tão bem que eu não consigo imaginar como vai ser a minha vida quando eu terminar esse livro. Provavelmente vou passar dias me perguntando o que devo fazer ou como vou seguir.
- Bom... se você precisar falar com alguém sobre isso, talvez eu possa ajudar, não sei... posso imaginar como você se sente, me senti assim lendo os livros de Harry Potter.
- Está de brincadeira! - fechou o livro imediatamente, pronta para mudar de assunto, não podia acreditar que ele também era fã. - Eu também! Eu tinha uns treze anos quando li Prisioneiro de Azkaban e passei meses me perguntando como seria o próximo livro, porque levei um tempo pra comprar o próximo! Pra mim, é o melhor livro.
- Não acho... quero dizer, é o segundo melhor livro. Acho que Enigma do Príncipe é o livro mais importante e tem todas as memórias do Tom Riddle e esses detalhes super importantes que ficaram de fora do filme... se não tivesse esse livro, metade da história não teria sentido.
- Pode ser, mas se não fosse por Prisioneiro de Azkaban, jamais saberíamos que Harry ainda tem um restinho de família e não saberíamos quem traiu a família Potter.
- , ... todo mundo sabe que Hagrid era muito mais família para o Harry do que o Sirius. Vamos combinar - riu do comentário dela, percebendo que ela pensava como uma parcela dos fãs e ele como a outra metade.
- Talvez sim, não vou negar, mas com o Sirius era diferente, ele foi escolhido a dedo pelos pais do Harry para ser o padrinho dele. Isso tem um significado, a gente sabe como a amizade do Sirius com o James era ainda mais próxima do que a amizade do Harry com o Ron.
- E por que você acha isso?
- Bem, é nítido pelo que sabemos da história deles. Harry e Ron se metem em encrenca porque sempre são os heróis, James e Sirius faziam por diversão, eles gostavam de semear o caos na escola.
Quando começou a defender seu ponto de vista, a conversa se estendeu muito mais do que estavam planejando. Tinham assuntos em comum e aparentemente poderiam passar horas expondo seus pontos de vista em relação à obra de JK Rowling e debatendo sobre tantos temas relacionados aos livros e filmes.
- Sim! Exatamente! Sempre pensei isso sobre o Draco! - estava encantado por finalmente encontrar alguém que pensava igual ele. - Juro que se eu não estivesse cheio de pontos no pé, iria te visitar agora mesmo para terminar essa conversa pessoalmente.
- Como assim pontos no pé? - perguntou confusa enquanto trocava de posição na cama.
- Ah... eu me machuquei, um caco de vidro entrou na sola do meu pé e eu precisei levar uns pontos, mas estou bem. Foi burrice minha ir descalço para a cozinha logo depois de quebrar um copo.
- Nossa, , sinto muito. Provavelmente se fosse aqui eu saberia o que fazer na hora. Meu irmão é médico e me obrigou a aprender primeiros socorros - ela riu ao se lembrar exatamente de como Thomas soava autoritário quando incorporava a profissão.
- Diana ligou para um amigo dela que também é médico e nos ajudou, mas tive que ir para o hospital. Fora isso, estou ótimo. Damon vai passar a noite aqui para poder me ajudar com algumas coisas, o que eu tenho certeza de que vai ser doloroso.
- Coitado do Damon, ele parece ser um bom irmão.
- E é, mas vai me lembrar disso pelo resto da vida, eu o conheço bem. Sabe como são os irmãos, não é? Mas irmãos gêmeos são piores.
- Deus não me deixou ser gêmea porque sabe que ninguém aguentaria duas de mim.
- Não seja tão dura consigo mesma, tem dois de mim e eu não acho tão ruim assim.
- Não vou dizer para o Damon que você anda dizendo essas coisas sobre ele. Vou guardar segredo.
- Ele já sabe, diz coisa pior sobre mim mesmo eu sendo cinco minutos mais velho do que ele. Mas faz parte... qualquer dia podemos marcar uma noite de pizzas com ele e as minhas irmãs, você provavelmente vai conhecer todos os nossos micos.
Só depois de falar, percebeu o que disse e se xingou mentalmente. Estava se soltando rápido demais e não queria que pensasse que estava a chamando para um encontro ou algo do tipo. Não que não a achasse interessante para tal, pois achava, e queria poder fazer quando fosse o momento, mas também não gostaria de se apressar em relação a isso.
- Só os seus? Quero levar os meus também, você ainda não conheceu o meu outro irmão - respondeu ao entrar na brincadeira, embora tivesse sido pega de surpresa com o convite dele. - É só marcar o dia. Bom, daqui uns dias o Tom volta pra Londres, então podemos marcar se quiser.
- Claro, vai ser ótimo...
Eles continuaram conversando mais um pouco até alegar que precisava desligar porque Damon havia acabado de chegar. concordou e desligou primeiro, se levantando para ir beliscar algo para comer antes de dormir. William também estava na cozinha se servindo de cereal.
- Café da manhã? - ela perguntou com ironia, pois já era tarde da noite.
- Estou com fome e com preguiça para pedir pizza - ele se justificou após colocar leite puro na tigela. - Com quem você estava falando para rir tão alto?
- . Estou lendo o livro dele - abriu a geladeira e não viu o olhar de William na direção dela.
- Vocês são amigos?
- Acho que sim, não sei... Nos demos bem - nada do que tinha ali a agradou, então fechou a porta e resolveu comer cereal também. - Por quê?
- Nada, nada... é que ele parece ser um cara bem... reservado. Se ele começar com gracinhas, é só me falar.
- Que besteira, Will, não é nada disso, apenas conversamos sobre livros e coisas em comum.
- Ele também é um nerd? - o mais novo perguntou em tom de provocação, fazendo ela rir.
- É sim, pra sua informação. Ele é bem legal.
- Vou contar para o Lewis que você está namorando.
- Até parece que você não conhece o meu pai, Will - ela riu outra vez, lembrando que nem sempre o pai foi assim. - E não estou namorando coisa nenhuma. Se você me fizer passar vergonha, farei o mesmo com você em relação à Louise.
- Ah, pode dormir em paz, duvido que eu vá ter alguma coisa com ela. Talvez eu tenha me precipitado, não sei.
- Will, eu falaria com ela se fosse você. Se conhecem há tão pouco tempo e já estão assim por uma besteira.
- Não foi besteira, ela desmarcou comigo e me fez de idiota.
- Ela poderia ter ido para qualquer outro lugar no mundo, mas estava na casa do irmão dela e vendo os pais. Você sabe que a Louise é diferente das outras garotas com quem você já se relacionou.
- Talvez por isso eu não saiba lidar... Vou ver o que eu faço.
Após terminarem de comer e limparam a bagunça que fizeram, William voltou para o quarto. Optou por desligar o vídeo game e ir dormir, estava realmente com sono e cansado pelo tanto que havia corrido naquele dia, e ainda tinha que dedicar uma parte do seu dia a pensar em Louise. Para sua própria felicidade - ou talvez nem tanta - ele praticamente pulou esta última parte, pois foi questão de minutos para adormecer.
E então seu quarto desarrumado virou um lindo e luxuoso quarto vitoriano. Estava de dia e o quarto tinha vista para um belo jardim. William podia até não ser o defensor número um do meio ambiente, mas não poderia negar o quanto estava se sentindo bem e em casa com aquela vista. Sim, ele estava em casa.
- Will, me ajude!
Ele foi puxado do seu devaneio quando ouviu Louise o chamando. Se virou para lhe dar atenção, mas tomou um susto quando viu a cena de um parto bem a sua frente, e mais chocante ainda era ver que era sua irmã quem estava dando à luz e Louise fazendo o parto. Ele simplesmente sabia que ali ela era uma parteira. William se aproximou e conseguiu ver melhor a expressão de sofrimento estampado no rosto de .
- Vamos, querida, você está quase lá. Você vai conseguir, força - Louise dizia otimista e puxava o lençol da cama para fazer força enquanto soltava um grito de cortar a garganta.
- Meu Deus... - William disse em um sussurro, completamente em choque enquanto se colocava ao lado de .
- Deixe eu segurar a sua mão - olhou para ele, aflita, estendendo a mão trêmula e William foi incapaz de dizer não, segurando a mão dela em seguida.
- Continue, . Força.
Para um sonho, parecia muito realista, inclusive a dor que William sentiu quando teve a mão apertada, tendo certeza de que não tinha tanta força assim para fazer tal coisa, mas não poderia julgá-la por isso, ela estava sofrendo muito.
- Onde está ? - as palavras simplesmente saíram da sua boca e ele não tinha a mínima ideia de onde havia tirado aquilo.
Quase que no mesmo segundo, as portas do quarto foram escancaradas e um completamente diferente do que William se lembrava surgiu visivelmente ofegante.
- , eu disse para você não entrar aqui! - Louise esbravejou, mas parecia não ter dado ouvidos, simplesmente foi até , segurando a outra mão dela.
- Eu ouvi os gritos, não poderia deixar ela sozinha - ele passou a mão pela testa de , afastando os cabelos molhados de suor.
fez força novamente, mais força do que antes e William reparou na forma como espremeu os lábios em sinal de aflição, sem tirar os olhos de .
- Você está conseguindo, meu amor, continua - ele disse ao aproximar seu rosto do dela, estava começando a ficar com a voz falha.
- Meu amor? - William torceu o nariz, incomodado, mas aparentemente ninguém tinha prestado atenção no que ele falou.
William não podia contar quantas vezes quase teve a mão espremida e quantos gritos agudos quase lhe tiraram a audição, mas quando Louise surgiu com um bebê nas mãos ensanguentadas, ele instantaneamente sentiu os olhos se encherem de lágrimas e um sentimento de amor cresceu dentro dele; algo lindo que ele havia experimentado poucas vezes na vida, mas agora era diferente.
- Você conseguiu, . Você conseguiu - sorriu maravilhado e deixou um beijo no topo da testa pálida de , ela parecia bem abatida e sem reação, como se estivesse anestesiada. William deixou os dois e se aproximou de Louise, percebendo que ela não parecia tão feliz assim.
- O que foi, Louise?
- Ele não está chorando, não está reagindo - Louise disse com a voz trêmula. - É um menino, mas... eu não sei o que está acontecendo.
- Lou, traga aqui para ela ver - pediu e Louise olhou pra ele, tensa.
Ela se aproximou do casal com o bebê nos braços, mas imaginou o que estava acontecendo. Entregou o bebê para , mas ele se quer notou que o choro dela era de medo.
- É um menino - ele sorriu brevemente, mas seu sorriso se desmanchou quando percebeu que tinha algo errado. - Por que não está chorando?
Louise, diferente do bebê, caiu no choro. William saiu do seu lugar e foi até ela, a abraçando de lado porque ele também tinha entendido o que estava acontecendo. parecia um pouco confuso enquanto , por mais que tentasse prestar atenção, parecia estar longe dali.
- Eu sinto muito...
- Não, me diz isso não é verdade - começou a negar veemente, chacoalhando o bebê nos braços e William tinha certeza de que em circunstâncias normais aquilo teria matado a criança. - Não, não!
William olhou para e ela parecia começar a se situar do que estava acontecendo, mas também viu a possa de sangue que se formava na cama.
- Lou... olhe... - apontou para a cama e Louise imediatamente foi até .
- Não, não... isso não é normal - ela disse aflita enquanto começava a torcer um pano na bacia de água. - , fique conosco, por favor, vamos resolver isso.
não respondeu, estava pálida como um fantasma, lutando para se manter acordada. se levantou e entregou o bebê - morto - para William, quase se atirando em cima de em seguida.
- Por favor, por favor... fique acordada, fique comigo, , por favor - ele suplicava, chorando à essa altura.
William, ainda assimilando que carregava um bebê morto, viu Louise tentando conter o sangramento como podia, mas ela estava cheia de adrenalina e tremia. Pegou outro pano molhado e passou pelo rosto de que arfava e suava, era visível que estava lutando pela vida. William se aproximou, sentindo ainda mais vontade de chorar, querendo tomar a dor pra si e deixar a vida para ela, mas só podia olhar e torcer para ela ficar bem.
- ! - a puxou pelos ombros quando ela fechou os olhos devagar e não reagiu mais. - Não, não, não... por favor, , acorda!
Louise notou que o peito não fazia nenhum movimento e checou o pulso, que já não tinha pulsação. Pesarosa, ela teria que dar a notícia.
- , ela não está mais aqui. - É mentira!!! - ergueu o tom de voz, assustando Louise, então voltou a atenção para . - Reage, , vamos! - Ela não resistiu - Louise insistiu, abaixando a cabeça.
William sentiu um nó terrível na garganta e não sentiu vergonha nenhuma em chorar. Não acreditava que estava vendo aquilo. Sua irmã estava bem ali, morta a sua frente enquanto ele carregava um bebê morto, seu sobrinho. Ele olhou para o bebê que tinha uma aparência horrivelmente mórbida e sentiu ainda mais vontade de chorar. Talvez o único ali que chorava mais do que ele era , que ainda se recusava a acreditar, agora gritando para que voltasse.
- Eles não vão voltar! - William se irritou com aquilo, apertando o bebê contra o colo.
Mas era incapaz de se imaginar em um mundo sem a sua esposa e o seu filho. Largou e deixou o cômodo em uma velocidade surpreendente.
- Will, vai atrás dele, por favor - Louise esticou os braços para pegar o bebê. - Eu vou cuidar deles, eu prometo.
William entregou o bebê para Louise e deixou o quarto também, correndo pelos corredores que pareciam intermináveis, sem saber qual porta deveria abrir. Ao mesmo tempo que estava confuso, sabia que conhecia aquele lugar muito bem e apenas precisava pensar onde iria naquele momento. Uma intuição fortíssima dentro dele lhe dizia para que ele fosse até a torre e William assim fez, confiando na própria intuição pela primeira vez. Correu o mais rápido que pôde, subiu lances e lances de escadas até chegar no último andar do castelo, que era chamado de torre. Não por ser literalmente uma torre - porque não era, mas por ser tão alto que poderia ser uma. E estava lá. William entrou bem no momento em que ele se preparava para subir no parapeito da sacada. Ele congelou por um instante, sabendo que mais alguém iria morrer.
- Não faz isso - ele se aproximou sorrateiramente, mas já estava em pé em cima do parapeito.
- Você não entenderia, William... eu... eu não posso viver sem eles - disse convicto, não estava com um pingo de medo de pular.
- Eu também não, mas nós vamos conseguir. Desça, eu vou ajudar você. Por favor, , pense nas suas irmãs, em toda a sua família...
- Vocês têm outro com a mesma aparência que eu, vocês ficarão bem. Eu preciso ficar com ela, preciso ficar com o nosso filho. Se não posso estar com eles, então minha vida não faz sentido, você não me entenderia - ele abriu os braços e fez menção de se jogar. William se adiantou para impedi-lo.
- , eu não vou deixar você pular.
- Sinto muito, Will, sinto muito. Cuide da Louise por mim, espero que ela possa me perdoar por isso.
Ele fechou os olhos e inclinou o corpo para trás. William tentou puxa-lo, mas não chegou a tempo. O rapaz gritou quando fechou os olhos, não queria ver a queda. Não queria ver mais uma morte.
- Não, não, não, não!!! - ele chutou o parapeito de pedra, estava com tanta raiva que não sentiu dor nenhuma. - É só um sonho, é só um sonho, acorda! - começou a se beliscar, mas não sabia se estava vivendo ou simplesmente sonhando. - Vamos, William, acorde!
Ele não acordava, continuava preso ali. Não era sonho, ele estava vivendo aquela realidade, mas se recusava a acreditar que sua irmã tinha partido. Caiu de joelhos, chorando compulsivamente com as mãos no rosto, querendo escapar daquele terrível pesadelo. Gritava, puxava os cabelos e as roupas, se estapeava ainda esperançoso de que era só um sonho.
- Will, acorda...
William abriu os olhos, mas parecia que tudo estava girando. Precisou de um segundo para conseguir focar e ver que estava no seu quarto, a luz estava acesa e uma muito preocupada estava ao lado dele. Ele estava molhado de suor, tal como o travesseiro, lençol e sua camiseta, e ele também estava chorando e arfando como se tivesse corrido uma maratona, mas o que realmente importava era que estava ali. Tudo estava bem.
- Will, o que aconteceu? Você estava gritando e se debatendo, eu acordei e precisei vir e ver o que aconteceu – disse sonolenta, porém preocupada.
- . Graças a Deus - ele a puxou para os seus braços, espremendo a irmã em um abraço. - Graças a Deus.
- O que foi? Você está me assustando.
- Foi só um sonho - sentiu um alívio inexplicável tomando conta do seu corpo.
Ele soltou e se deitou novamente, se jogando e encarando o teto enquanto ainda tentava recuperar o fôlego. não estava entendo nada e agora resmungava por estar molhada de suor.
- Aí que nojo, McQueen! Que nojo! - ela torceu o nariz, aborrecida. - Dá pra me contar o que aconteceu?
- Foi a coisa mais louca que eu já sonhei, mas foi muito, muito, muito real - ele passou a mão pelo rosto e cabelos.
- Ainda não sou adivinha - se sentou na cama de frente pra ele. - Relaxa, seja lá o que for, foi apenas um pesadelo.
- Era um quarto grande e antigo... eu estava olhando pro jardim e de repente vi você na cama, estava em trabalho de parto... meu Deus, foi muito real, era horrível.
- Tudo bem que não penso em ter filhos agora, mas também não é pra tanto - riu, achando graça daquilo, mas William ainda estava absorto com tudo o que viu.
- Louise estava lá, ela fez o parto, mas você estava sofrendo muito e... eu fiquei do seu lado segurando a sua mão, você estava irreconhecível. De repente o chegou lá e...
- ? – ela franziu o cenho, curiosa.
- É, ele mesmo. Doideira, eu sei. Ele ficou do seu outro lado segurando a sua mão, beijando você... eu fiquei horrorizado, é sério... Então de repente o bebê nasceu e a Louise disse que ele não chorava. Quando ela o entregou para o ele percebeu e perguntou a mesma coisa - um novo nó se formava na garganta dele.
- Calma, Will, respira - estava preocupada, nunca tinha visto ele assim.
- E então a Louise começou a chorar porque sabia que o bebê tinha morrido e eu chorei também, até que vi que você estava sangrando muito. entregou o bebê morto pra mim e foi ficar com você enquanto a Louise te socorria...
Imediatamente se lembrou do dia em que conheceu e Louise e do que tinha visto no momento em que olhou para Louise. Se via em uma cama, arfando e suando frio enquanto tinha breves flashes do rosto preocupado de Louise. Estava chocada com a coincidência.
- Você não resistiu, ! - William caiu no choro novamente, com medo de voltar para aquela cena. - Você tinha morrido! saiu correndo do quarto e a Louise mandou eu entregar o bebê e ir atrás... eu não sei como eu conhecia aquele lugar, só corri também e o estava na torre...
- Torre?
- Não era uma torre de verdade, era o último andar do castelo, a gente chamava assim, mas não era uma torre... - ele não tinha a mínima ideia de como sabia daquilo. - Ele subiu no parapeito, eu juro que tentei impedir, , mas ele... ele...
- Will, calma...
- Ele pulou de lá, ele pulou e eu não pude fazer nada! Ele disse que não queria ficar sem você e sem o bebê, ele se jogou e eu não consegui segurar ele! – William estava agitado e nervoso, não conseguia se acalmar.
Era tanta informação que até perdeu o sono. Como William podia dar detalhes tão precisos? E o mais estranho era que ela podia se ver lá como parte daquilo, como se tivesse entrado no sonho dele. Não sabia se focava no sonho ou no seu irmão que chorava enquanto contava aquilo, muito aflito.
- Me desculpa, , me desculpa, eu juro que tentei, eu juro...
- Will, calma, olha pra mim - ela passou a mão pelo rosto suado dele, afastando os cabelos grudados na testa. - Estou bem aqui e viva, no máximo está com uns pontos no pé, mas também está ótimo e vivo e não tem nenhum bebê. Por favor, se acalma, eu não vou sair daqui. Foi só um pesadelo e já passou. Levanta daí e vai tomar um banho enquanto eu vou trocar esse lençol e fazer um chá pra você voltar a dormir, ok?
William, procurando se acalmar, acabou concordando e se levantou. Pediu para deixar uma troca de roupa separada para ele enquanto ia em direção ao banheiro para tomar um banho rápido. fez o que ele pediu e ainda trocou todo o jogo de cama dele, colocando uma nova fronha no travesseiro e um novo lençol, depois levou tudo para a lavanderia para lavar no dia seguinte. Por fim, foi até a cozinha preparar um chá para ele. Não queria, mas acabou colocando um pouco de calmamente na bebida para que ele voltasse a dormir mais rápido, mas não diria aquilo para ele.
William saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura e foi direto para a cozinha, dando um gole no chá que preparou.
- Obrigado - disse por fim, agora mais calmo. - Foi tão real que ainda estou perplexo.
- Está tudo bem agora, você vai esquecer disso.
- Não sei, , era muito real. A aparência mórbida do bebê, o pânico da Louise, a tristeza no rosto do ... era como se... se aquilo realmente tivesse acontecido. Pode me entender?
- Posso, isso é mais normal do que você pensa que é. Agora toma o seu chá e vai deitar. Eu vou voltar pro meu quarto porque estou morta de sono.
- !!!
- Desculpa - ela percebeu que havia usado a pior das palavras. - Estou cansada o suficiente para dormir de novo e ainda tenho que ir dar aula amanhã. Boa noite.
Ela se despediu do mais novo com um beijo na bochecha e foi para o quarto se deitar. Dez minutos depois William apareceu na porta do quarto perguntando se poderia dormir com ela, alegando que o colchão estava molhado. Incapaz de dizer não, ela permitiu que ele se deitasse ao lado dela. Não precisaram conversar até caírem no sono, pois rapidamente William dormiu, sob efeito do calmante, enquanto demorou um pouco, mas acabou dormindo.
Embora o resto da noite fosse resumido em ela sonhando a mesma coisa, porém do ponto de vista dela.
Naquele mesmo dia, William trocou sua corrida de fim de tarde por uma corrida matinal. Apesar de tudo, acordou disposto e sair para correr parecia ser uma boa ideia para se distrair. Logo após sair para ir ao trabalho, ele saiu para correr. Colocou os fones de ouvido e fez o mesmo caminho que fazia todos os dias, até mesmo olhou para a cafeteria na esperança de que visse Louise por lá.
Sim, o papel de Louise no sonho ainda estava muito marcado em sua mente e ele pensou que seria o mais perto que ele podia chegar dela naquele momento. Queria poder ligar e pedir para conversarem, mas não sabia se seria muito precipitado da sua parte ou não. Talvez soasse insistente demais e não era isso o que ele queria, mas também não queria simplesmente se afastar dela e nunca mais a ver na vida, tinha ao menos que tentar conversar. Então, quando terminou a corrida, uma hora depois, enviou uma mensagem para ela perguntando se ela teria disponibilidade de se encontrar no mesmo café. Louise respondeu dizendo que sim, achando que seria uma boa ideia tomar café da manhã por lá, então depois disso não demorou para que se encontrassem por lá. Enquanto Will pediu apenas um cappuccino, Louise pediu uma refeição completa, visto que estava com fome.
- Desculpa te trazer aqui tão cedo, mas eu acho que precisamos esclarecer algumas coisas, Louise... – ele começou a falar.
- É... também acho.
- Eu sei que você desmarcou comigo porque seus pais estão na cidade. Entendo, sério, mas poderia ter me dito. Fiquei sem entender nada e ainda pensei o que não deveria.
- Me desculpa, Will, agi por impulso... eu... eu não sei explicar, mas às vezes sinto que nos apressamos, e às vezes quero ligar e conversar o dia todo por mensagens. Eu gostei muito de ter te conhecido, apesar de você ser mais novo, eu não consigo me importar tanto com isso quanto normalmente me importaria.
- Idade é só um número, Louise, e eu acho que eu já melhorei muito, você se surpreenderia se me conhecesse um ou dois anos atrás, talvez até não se interessasse por mim.
- Impossível - ela sorriu de canto, e William sorriu mostrando os dentes, envergonhado. - Você fica tão fofo quando está com vergonha.
- Eu vim armado, mas você acabou de me desarmar por completo... Lou, eu só quero saber se vamos continuar com isso, se vamos continuar nos conhecendo, porque eu não vou querer continuar se for para me machucar depois. Não quero me machucar e nem você, suponho.
- Claro que não quero, mas claramente somos duas pessoas de opiniões fortes. Se quisermos fazer dar certo, vamos ter que aprender a lidar um com o outro. Eu, por exemplo, viajo muito com o , estou sempre em reuniões, muito atarefada e não é sempre que vou ter todo o tempo livre do mundo.
- Eu não vejo isso como um empecilho. Você provavelmente deve olhar pra mim e me achar um desocupado, mas eu estou tentando mudar e melhorar, quero entrar em uma faculdade no próximo semestre, fazer algo útil... nós dois temos as nossas coisas, Louise, mas podemos continuar nos conhecendo mesmo assim.
- Você tem razão - ela sorriu de canto. - Que bom que você quer fazer faculdade, já é um grande passo. O que você quer estudar?
- Educação Física. Estou procurando algo por perto, não quero ir pra longe.
- Isso é muito legal, Will, espero que você consiga.
- Lou, não vim aqui pra ficar falando da minha faculdade, vim falar sobre nós - William sorriu, mudando o rumo da conversa. - E não vou embora sem beijar você.
Louise sorriu também e se inclinou sobre a mesa para alcançar os lábios dele em um selinho demorado. Ambos se lembraram das vezes anteriores que haviam se tocado e algo diferente aconteceu, mas felizmente daquela vez não aconteceu absolutamente nada fora do comum.
- Já pode ir se quiser - ela disse ao se afastar, voltando ao seu lugar.
- Ainda não tomei meu café - ele apoiou os cotovelos sobre a mesa e o rosto sobre as mãos. - E não me contento só com isso.
- Como você é exigente, William.
- Então você está me conhecendo melhor agora - ele sorriu e então uma garçonete chegou com os pedidos deles.
Foi uma conversa leve e agradável durante a refeição, diferente do que ambos estavam esperando. Talvez por isso continuaram conversando depois do lado de fora quando já tinham terminado.
- Não acredito que você canta e toca guitarra! O que mais você sabe fazer que eu ainda não sei, hein? - Louise perguntou animada por ouvir que ele tinha habilidades musicais.
- Você vai ter que descobrir sozinha - William riu. - Mas é só por diversão, nada sério.
- Por que você não posta no YouTube pra eu poder ver? Eu quero ouvir você cantando.
- Ah, eu não me sinto confortável em cantar para outras pessoas, é só um passatempo. fazia aulas de canto quando era criança e eu acabei indo junto, mas não foi sério - William coçou a nuca, aquilo nunca havia lhe passado pela cabeça.
- Por favor! Só uma! - Louise juntou as mãos como se suplicasse e William riu.
- Tudo bem, só uma e eu nunca mais vou fazer isso. Pode escolher uma música.
- Hum... She Will Be Loved do Maroon 5, é uma das minhas preferidas.
- Certo. Vou fazer isso por você - ele se deu por vencido e ela bateu palmas, contente.
- Então eu posso ir pra casa contente agora e esperar pela obra de arte que vai vir - ela sorriu.
- Está cedo ainda pra ir.
- Eu sei, mas meus pais estão lá em casa e eu ainda tenho uma reunião com a assessoria do , ele está um pouco sumido da mídia e a gente vai discutir isso. Era pra ele ir também, mas o tapado se machucou e está de cama, bem a cara dele fazer essas coisas, sobrou tudo pra mim.
- Ah, entendo... melhoras para o e boa reunião pra você. Vou gravar esse vídeo enquanto está no trabalho, porque não quero que ela fique me sacaneando por causa disso.
- Ela não é louca de fazer isso. Agora vai, quero ver logo o resultado. Vai, vai - ela fez menção de o enxotar dali, mas ele a puxou pela cintura. - O que é?
- Eu disse que não vou embora sem te beijar.
- Estamos na rua, Will - Louise fez menção de se afastar, mas William não deixou.
- É uma troca de favores. O que você acha? - ele sorriu triunfante e ela concordou, achando justo.
Foi a própria Louise que rompeu qualquer distância entre eles quando o beijou. Sim, estavam na rua, estava de dia, mas quem dos dois se importava?
Após o beijo, William se afastou devagar, com um sorriso bobo e relutante em ir embora, mas estava disposto a cantar quantas músicas ela quisesse.
- Eu vou te chamar pra sair de novo e dessa vez você vai. Estamos combinados?
- Eu prometo que eu vou, Will.
- Sábado à noite. Quero tanto sair com você que não me importo se seus pais forem junto.
- Com certeza eles vão - ela sorriu, podendo imaginar como seria engraçado se seu pai encontrasse William. - Até mais, Will.
- Tchau, Lou, a gente se vê.
William girou nos calcanhares e tomou a direção contrária para voltar pra casa enquanto Louise seguiu seu caminho. Ela não entendia o motivo de estar sorrindo daquela forma apenas por tomarem um café juntos; simplesmente estava feliz. Achava William divertido, talentoso e bonito. Ele gostava de praticar esportes e tocar guitarra, o que o tornava atraente pra ela, além de ter um senso de humor não convencional. Apesar de ser mais novo, William parecia ser diferente dos outros rapazes de vinte anos e Louise gostava disso.
Chegou em casa e já tinha se esquecido completamente de que seus pais estavam lá; eles passariam os próximos dois dias com ela antes de ficarem com mais alguns dias e só então voltarem para Boston. Henry e Eloise tomavam café da manhã juntos e repararam quando a filha entrou em casa com um sorriso bobo estampado no rosto. Se olharam e sorriram cúmplices um para o outro, podiam imaginar o que era.
- Você foi mesmo só comprar um café? - Eloise perguntou para fazer a filha despertar. - Tem certeza?
- Ah, mãe! Ele é incrível, só isso - Louise se aproximou da ilha da cozinha, ficando de frente para os pais. Eles já sabiam sobre William.
- Ele vai ser mais incrível no dia que eu o conhecer e fizer uma tatuagem nele - Henry deu um gole generoso em seu chá enquanto Louise ria do comentário dele. - Ele tem tatuagens?
- Não, pai, Will não tem tatuagens, mas vou perguntar pra ele se ele tem interesse.
- Harry, querido, você precisa parar de perguntar isso sobre as pessoas - Eloise comentou e Louise achava adorável sempre que sua mãe chamava seu pai pelo apelido de Harry.
- Não posso, meu amor, é algo maior do que eu. Se consegui tatuar e Diana, então posso tatuar qualquer pessoa no mundo. Vamos adorar conhecer ele, Lou.
- Vai morrer esperando então, não vou fazer isso agora, ainda estamos nos conhecendo.
- Claro, esse sorriso na sua cara é de quem ainda está conhecendo outra pessoa... sei - Eloise deu um gole do seu café. - Mas tudo bem, eu fico feliz. Me pergunto se seus irmãos também vão aparecer assim algum dia.
- Mamãe, vamos ser coerentes - Louise riu, se lembrou dos históricos amorosos dos irmãos. - Diana não arrumou ninguém depois do Jesse, é focada demais pra isso. Não consigo imaginar o Damon namorando sério com alguém; me surpreendo até hoje por ele e a Charlotte terem ficado juntos por tantos anos, mas a gente sabe que o Damon é carreira solo, enquanto o ... bom, o existe, não é? Já é o suficiente pra ele. Prefiro ele solteiro, ele é muito mais legal estando solteiro e longe da sonsa da Luce.
- Nisso todos nós concordamos - Henry pontuou e recebeu o olhar furtivo de Eloise. - Quê?
- Não falem assim, a gente sabe que foi uma época um pouco conturbada pra ele... ele não estava pensando muito bem.
- Ele pensou tão mal que eu fiquei dois meses sem falar com ele depois do aniversário da Clara, lembram? - Louise rolou os olhos, se lembrando da discussão que teve com o irmão um ano antes. - Mãe, ele fez besteira porque quis, não tenta defender ele, o foco aqui sou eu.
- Não tentem me convencer de que não tem nada com aquela menina que cantou com ele, isso não vai rolar - Henry cruzou os braços, negando com a cabeça.
- Eles não têm nada, o pior é que realmente não tem - Louise murchou, queria que ele seguisse em frente. - Ainda, eu acho. Mas ela parece ser bem legal, e é linda, além de ser irmã do Will, então todos nós ainda vamos nos ver com frequência.
- Ah, que coisa mais linda! Ela parece ser uma graça, super simpática, eu adorei ela! Quer saber? Vou passar os próximos dias comendo o juízo do pra ver o que acontece.
- Mãe, isso é péssimo! - Louise disse rindo. - Mas conte comigo pra tudo.
Leia a discussão de Louise e aqui
Capítulo 8 - Teaching
Oxford
Thomas colocou a última mala no porta-malas do carro e então foi para o banco do motorista assumir o volante. Ligou o rádio e procurou por uma estação que lhe agradasse, optando por uma que tocava apenas músicas antigas, então seguiu viagem. Em apenas uma hora estaria em Londres, onde passaria suas férias. e William não sabiam que ele estava a caminho, então ele faria uma surpresa para os irmãos que o esperavam apenas no fim de semana.
Ele estava ansioso para voltar. Havia passado os feriados de fim de ano e Páscoa de plantão no hospital, então estava ansioso para passar um tempo com os irmãos em Londres e com os pais em Manchester. Amava seu trabalho, mas amava ainda mais passar tempo com a família, visto que eles sempre o apoiaram em seguir seu sonho, mesmo que fosse muito difícil de alcançar. Não por condição financeira, porque sempre teve uma vida muito boa, mas, sim, pelo grau de dificuldade em ser admitido para uma das melhores escolas de medicina do mundo. Cogitou a Imperial College para ficar mais perto da família, mas queria mesmo seguir os passos das gerações anteriores; passos esses que sua irmã seguiria logo depois. Não podia pôr em palavras a sensação de finalmente voltar pra casa, agora sabendo que aquela era a última vez, afinal, iria iniciar seu último ano de doutorado no começo de setembro. Estava realmente ansioso para terminar.
A viagem para Londres foi rápida. Agora era apenas torcer para que os irmãos estivessem em casa, visto que gostavam de sair juntos na sexta-feira à noite. Na pior das hipóteses, iria direto para a casa de Jake e Katie, que com certeza o receberiam por algumas horas. Ele só não esperava que fosse Jake a pessoa a abrir a porta da casa de .
- Estou delirando? - Jake perguntou ao abrir um largo sorriso. - Acho que estou no apartamento errado - Tom disse divertido, olhando ao redor.
Eles se cumprimentaram com um abraço apertado. Eram melhores amigos desde o colégio e mal tinham tempo de se verem ou conversarem, então sempre aproveitavam o tempo que podiam passar juntos. Thomas entrou na sala e viu que Katie também estava lá, assim como William e , aparentemente os quatro estavam assistindo filmes, bebendo e comendo pizzas.
- Meu Deus, Thomas! Você não cansa de fazer isso com a gente? - se levantou do seu lugar, indo abraçar o irmão.
- Gosto de ver a sua cara de surpresa toda vez - ele disse rindo ao se afastarem.
Também cumprimentou William e Katie, e foi convidado a se juntar a eles para assistir ao filme. Estavam vendo o primeiro Velozes e Furiosos e Thomas teve certeza de que era sugestão de Jake, pois era um dos filmes preferidos do amigo. Ele se sentou no lugar livre no sofá ao lado de , passando um abraço ao redor da irmã. deitou a cabeça no ombro do irmão para continuar assistindo o filme, mas hora ou outra voltava a atenção para o celular. Tinha que admitir que nas últimas semanas falava excessivamente com no seu tempo livre, mas não se considerava culpada por terem tantos assuntos em comum, inclusive o de se reunirem com pessoas próxima no fim de semana. enviou para ela uma foto na qual dava pra ver que ele estava deitado no sofá de sua casa enquanto Diana, Louise e Damon estavam sentados em círculo no chão da sala, jogando um jogo de tabuleiro. Diana estava com os braços erguidos como se comemorasse alguma coisa e isso foi o suficiente para chamar a atenção de Thomas.
- Conhece ela? - perguntou em um sussurro para não incomodar os outros.
- Hum... Conheço - ergueu o rosto para olhar pra ele. - Como você conhece ela?
- Ela foi palestrar em Oxford, de vez em quando conversamos sobre qualquer coisa, nada demais, só não sabia que vocês se conheciam.
- Ela é prima deles - apontou discretamente para Jake e Katie, para a surpresa de Thomas. - É, eu sei, mundinho pequeno.
- Calem a boca, vocês dois! - William praticamente rosnou pra eles, queria prestar atenção no filme.
- E ela também é cunhada do Will, a propósito - ergueu o tom de voz. - Will tem namorada.
- Não tenho nada! - o mais novo se defendeu.
- Você namora com a minha prima? - Katie questionou surpresa. - Não! Não estou namorando com a Louise.
- Está sim, eu já a vi toda apaixonadinha falando de você - Jake disse sem tirar os olhos da TV.
- Vocês estão falando de mim porque nunca viram a falando no telefone com o quase todo santo dia. Eu não aguento mais esses dois, é insuportável.
Instantaneamente todos os olhos da sala de voltaram para e ela quis proferir as piores ofensas para William.
- Valeu mesmo, McQueen - ela rolou os olhos, aborrecida. - Nos demos bem. É crime falar com as pessoas no telefone?
- Você não fala todo dia comigo no telefone - Thomas disse em tom de brincadeira.
- Nem comigo - Jake ergueu o dedo indicador no ar, chamando a atenção para si mesmo. - Se eu soubesse, tinha apresentado ele antes.
- Que besteira de vocês, estão caindo no papo do William pra ele desviar o foco da conversa.
- , a gente sabe que o Will não vale nada, e o problema também não é você. Só estamos surpresos, porque o é mais... Reservado do que as irmãs e muito, muito mais quieto do que o Damon - Katie levou uma pipoca à boca, sorrindo presunçosa. - Ele sempre foi o mais quietinho dos quatro. Só isso.
- Ele é legal comigo, mas nada além disto. Estamos nos tornando amigos, porque temos coisas em comum, diferente do outro ali que já chegou dando um beijo de língua na garota - atirou pipoca em William, que desviou e acertou em Jake. - Desculpa, Jakey.
- Vocês adoram me difamar, não é? Mas que inferno - William cruzou os braços e voltou a atenção para a TV. - Vou fingir que vocês não existem.
- Relaxa, Will, já zoamos você e a , agora é a vez do Thomas - Jake olhou para o melhor amigo que rolou os olhos e se encolheu no sofá. - Como você conheceu a Diana?
- Já disse, ela foi palestrar em Oxford. Você como primo deveria saber que ela é biomédica.
- E você é pediatra - disse como se fosse óbvio. - O que tem a ver?
- Fui acompanhar um amigo na palestra dela, ok? Depois nos encontramos por acaso - mentiu, sabia que não tinha sido exatamente assim. - Como eu achei interessante, tirei algumas dúvidas com ela, mantemos contato e é isso. Agora sei que o irmão dela que cortou o pé foi o e estou surpreso em ver como esse mundo é pequeno.
- Vocês três e eles três, que coincidência - Katie riu. - Só faltou o Damon, mas ele nasceu para ser carreira solo, segundo ele.
- Se o Damon se casar um dia, serei a dama de honra do casamento - Jake bebeu um gole da sua cerveja. – Agora, que todo mundo já conhece todo mundo, podemos voltar para o filme?
- Muito obrigado! Também acho! - William, que ainda estava virado, comentou irritado.
Eles voltaram a atenção para o filme, mas viu Thomas pegando o celular no bolso e abriu na câmera frontal, apontando na direção deles dois.
- O que está fazendo? - perguntou curiosa, quase sussurrando.
- Sorria porque seu amigo vai ver essa foto, com certeza - Thomas riu e tirou uma foto dos dois, pegando um pouco de surpresa.
- Isso me fez lembrar que tenho que responder ele - ela riu baixinho e também pegou o próprio celular, tirando outra foto deles e enviando para em resposta a foto que ele mandou antes, dizendo que aquele era seu irmão. - Agora só esperar as carinhas confusas deles.
- É verdade.
Antes que continuassem conversando, os outros três se viraram, atirando pipocas na direção de Thomas e para que parassem de falar, então pouco depois todos estavam assistindo o filme novamente, mesmo que os celulares deles apitassem nervosamente hora ou outra, com as respostas de e Diana.
...
- Para de roubar, Damon! - Louise protestou quando Damon venceu, mais uma vez, a partida de banco imobiliário que jogavam.
- Não estou roubando! É o dinheiro mais honesto que já recebi na vida - Damon se defendeu, começando a guardar as peças porque iriam jogar outro jogo. - Já que você não aguenta perder, vamos jogar outra coisa pra ver se você para de chorar. Sugestões?
- Me dá isso aqui, vou acabar com você - Louise pegou as cartas de UNO e começou a distribuir entre os três. - , vai jogar?
- Se vocês vierem pra mais perto, sim - , deitado no seu sofá com o pé machucado pra cima, respondeu enquanto se distraia com o celular. - Não posso colocar o pé no chão, sinto muito mesmo.
- Você vai ver nossas cartas, não vale - Damon protestou, puxando a poltrona para poder ficar de frente para o gêmeo.
Louise puxou a mesa de centro também, para terem um apoio, e pegou a outra poltrona para se sentar, enquanto Diana se quer saiu do seu lugar; estava entretida no próprio celular assim como .
- Dá pra largar isso aí? - Louise fez menção de tomar o celular da irmã, mas Diana não deixou.
- Acabei de descobrir que a é irmã do meu amigo - Diana disse, virando o celular exclusivamente para .
- Eu também - mostrou o seu celular para ela, percebendo que tinham recebido fotos parecidas.
- Ele é o médico que ajudou a gente aquele dia! O nome dele é Thomas. Jamais imaginei que eles fossem irmãos, que doideira! - Diana riu e foi até a cozinha puxar uma cadeira para ela.
- Acho que sou o único que sobrei nessa família, hum? - Damon disse enquanto analisava suas cartas, chegando à conclusão de que podia ganhar. - Louise com o menino da creche, virou amiguinho da e a última pessoa que a Diana mostrou pra alguém foi o Jesse. Acho que vou ficar para titio.
- Estou com o William mesmo, pode pensar o que quiser - Louise deu de ombros e escondeu as cartas para puxar um pouco sua poltrona e dar espaço para Diana com a cadeira.
- Sinceramente, se vissem o que eu e Thomas conversamos nas raras vezes que trocamos algumas mensagens, ficariam tão entediados que não teriam coragem de continuar com isso. Basicamente, só falamos sobre medicina - Diana se sentou e pegou as cartas direcionadas para ela em cima da mesa. - Ele é como eu, não tem vida social.
- Só de pensar que já fui assim, me arrependo amargamente - Damon torceu o nariz, fazendo careta.
- Você se arrepende do seu diploma de Harvard? - Diana rebateu e Damon rolou os olhos.
- Claro que não, posso me gabar por isso pelo resto da vida, mas vamos combinar que a gente não tinha vida. Quando achei que finalmente ia voltar a ser o velho Damon, surpresa: uma cegonha trouxe a Clara.
- A cegonha não tem culpa se você transa sem camisinha - deixou o celular de lado após responder e se sentou, pegando suas cartas também. - Vamos começar.
- E você é um santo, não é, ? - Damon sorriu sarcasticamente.
- Não, mas também não sou tão estupido quanto você.
- Eu juro que se vocês começarem a discutir, eu vou embora - Louise disse impaciente. - A gente pode simplesmente jogar e ter uma sexta-feira comum? Obrigada.
Concordando com Louise, eles começaram a partida em silêncio; um sinal da concentração de todos. Damon e Louise competiam silenciosamente, Diana hora ou outra dava uma espiada em seu celular e apenas jogava por jogar, estava mais do que acostumado a vencer quando Damon e Louise ultrapassavam os limites estabelecidos da competitividade entre irmãos.
- Perdedores - disse após colocar sua última carta sobre a mesa, vencendo, para a frustração dos irmãos.
- Odeio jogar esse jogo com o , ele sempre ganha! - Damon protestou indignado, atirando suas últimas duas cartas contra a mesa.
- É porque sou mais inteligente que você - o outro zombou propositalmente, deixando Damon ainda mais frustrado.
- , juro que se você não parar, eu vou terminar de te machucar, é sério.
- Acho que pode ser bom, assim a vem cuidar dele - Louise chocou seu ombro contra o de Damon e os dois começaram a dar risadinhas enquanto rolou os olhos, sentindo que iria provar do próprio veneno.
- , eu trouxe um livro pra você se sentir melhor! - Damon afinou a voz, juntando as mãos como se tivesse um livro nelas, fazendo Louise gargalhar.
- Vocês são as piores pessoas do mundo - negou com a cabeça, sabendo que se ficasse nervoso seria pior.
- Se bem que quem conhece um médico é a Ana - Louise olhou para a sua gêmea, que apenas rolou os olhos e riu.
- Conheço vários, se quiser o contato de algum - Diana deu de ombros, ignorando as risadinhas bobas dos irmãos. - Tenho quase certeza de que apenas e eu fomos planejados nessa família, vocês dois são defeituosos demais para terem sido feitos sobre encomenda.
- Como eu nasci primeiro, eu concordo - comentou, mas seu argumento não era totalmente válido.
- Se é assim, então a planejada sou eu. Diana veio de brinde - Louise desdenhou da irmã, fingindo soberba.
- Eu, como irmão mais velho, estou mandando a gente parar com essa idiotice e voltar a jogar.
apenas recebeu cartas atiradas na sua direção pelos outros três. O fato de ser cinco minutos mais velho que Damon não era motivo para ser respeitado pelos irmãos.
Eles ainda jogaram mais algumas partidas e assistiram um programa de auditório antes de Louise ser a primeira a ir embora, quando já era de madrugada. Diana, como era de costume todas as noites desde o incidente de , o ajudava a se preparar para dormir enquanto Damon alegava que precisava atender uma ligação de Charlotte, a mãe de sua filha.
- Já está bem melhor, daqui uns dias vai poder voltar a andar normalmente - Diana disse após conferir a ferida que estava cicatrizando, fazendo com que se sentisse um pouco melhor.
- Espero, já não aguento mais ficar preso dentro de casa - riu e Diana concordou, imaginando como ele se sentia. - Quando vocês não estão aqui é bem... Solitário.
- Mas não é você que gosta de ficar sozinho? - ela brincou e ele concordou rindo, admitindo que ela tinha razão.
- E gosto, mas também gosto de sair e fazer umas coisas normais, tipo ir no mercado ou tomar um café. Não posso sair, não posso fazer nada... É bem chato. Queria poder sair um pouco.
- Não sei quem é você ou o que fez com o , mas é melhor devolver o meu irmão - os dois riram juntos. - Se eu puder ficar aqui o dia todo, eu fico, você sabe que sim, mas acho que ninguém vai dizer não se você pedir um pouquinho de atenção. Provavelmente Katie e Jake viriam, até mesmo a , já que vocês se aproximaram.
- Ana...
- Não estou zombando, . Estou dizendo alguma mentira por acaso? Você sabe que eu não sou tão cruel quanto a Louise e o Damon, acredito que vocês sejam só amigos. É só uma sugestão.
- Você acha que ela viria? - olhou de relance para o celular ao lado do abajur, baixando a guarda ao perceber que Diana estava falando sério.
- Por que não viria? Até onde eu sei, as férias escolares começaram hoje, ela vai ter muito tempo livre nos próximos meses - Diana sorriu e percebeu que o irmão parecia bem hesitante com a ideia dela. - Relaxa, , você não tem que fazer isso.
- Eu vou pensar, prometo - ele sorriu de canto, aliviado por ser apenas uma conversa boba.
- Me desculpa, eu preciso perguntar isso: você...
- Não posso gostar dessa forma de alguém que conheço há menos de um mês, desculpe - interrompeu quando entendeu o que ela queria dizer. - Ela é realmente uma garota muito bonita e muito interessante, mas diria que eu sou louco se eu... Bom, sentisse alguma coisa... Assim.
- Nadinha mesmo? - Diana espremeu os olhos, mas quando olhou para os lados, procurando palavras para se explicar, ela não conteve um sorriso largo que se formou nos seus lábios.
- É alguém em potencial, eu admito. Feliz?
- Muito - ela continuava sorrindo. - Eu gostei muito dela, é sério, foi lindo vocês cantando juntos aquele dia com os nossos pais aqui, todo mundo adorou, isso sem dizer que ela é muito simpática; mamãe e eu ficamos um tempão conversando com ela. Só estou dizendo que você tem o meu total apoio e sigilo também, imagino que você não pretenda contar isso pra outra pessoa.
- Especialmente para você-sabe-quem.
- Lord Voldemort? Ele não se interessa por isso - Diana disse divertida, brincando, e gargalhou.
- Você me entendeu.
- Entendi, fica tranquilo, eu não vou fazer nada que possa prejudicar você.
- Você disse prejudicar o ? Conte comigo - Damon entrou no quarto, os pegando de surpresa. - Tenho uma notícia para dar pra vocês.
- Se for ruim, conte amanhã - Diana ergueu a mão em protesto, afastando as energias negativas.
- Se não envolver a gente, guarde pra você e sofra sozinho. Eu não ligo.
- Vocês são dois esquisitos, sabiam? Não é nada disso... Clara vai passar um tempo aqui.
Damon podia jurar que viu os olhos dos irmãos brilhando de felicidade enquanto os queixos foram ao chão. Por mais que estivesse um pouco tenso, não podia dizer que passaria por aquilo sozinho ao ver as expressões nos rostos de Diana e .
- Pena que não planejei nada para as férias de verão esse ano - se lamentou, sempre tinha uma atividade planejada para fazer com a sobrinha entre julho e setembro, época que ela costumava ficar com Damon.
- Mas quando eu digo um tempo, quero dizer por tempo indeterminado. Clara vai morar comigo a partir de agora.
- Sério? - foi tudo o que Diana conseguiu dizer, surpresa com o que tinha acabado de ouvir.
- Sério... Ainda não pude acertar tudo com a Charlotte, mas ela aceitou uma proposta de trabalho no Japão, e vocês sabem o quanto a Lotte é louca por tudo o que vem de lá, então ela aceitou, mas não acha uma boa ideia levar a Clara. Acha que pode ser mais fácil pra ela se adaptar à Inglaterra do que à cultura japonesa, ela está certa.
- Imaginei que você ficaria mais feliz do que parece - comentou ao perceber que Damon parecia bem tenso, diferente de quando estavam jogando na sala.
- É complicado... - Damon afundou as mãos nos bolsos do moletom, soltando um longo suspiro. - É claro que eu quero a minha filha aqui comigo e vocês sabem o quanto foi difícil vir pra cá e ficar longe dela, já faz quase um ano e meio que estou aqui, mas... Lotte e eu nos separamos quando ela ainda estava grávida, Clara nunca morou comigo realmente, apesar de passar tanto tempo comigo quanto com a mãe dela. É um pouco assustador pensar nisso. Quero dizer, estou realmente preparado pra isso?
- Damon, você é um pai maravilhoso, é claro que está - Diana sorriu gentilmente para o irmão. - É claro que é assustador, mas você não vai fazer isso sozinho.
- Eu sei... Mas é tanta coisa pra planejar! Tenho que preparar um quarto pra ela, matricular na escola, conciliar meu horário de trabalho com os dela...
- Ei, relaxa, somos em quatro, é claro que vamos ajudar com isso - disse com a plena convicção. - Enquanto eu estiver aqui, você não vai fazer isso sozinho.
- Eu vou pra Oxford em setembro, mas faço das palavras do as minhas, vou ajudar enquanto eu estiver aqui também. E não se esqueça da Louise que mentalmente é só um pouquinho mais velha do que a Clara.
- É verdade - Damon riu, imaginando que Louise seria um ótimo entretenimento para Clara. - Ela vem na semana que vem, tenho alguns dias para me preparar. - Fica tranquilo, cara, vai dar tudo certo. Estamos juntos nessa - concluiu, sendo apoiado por Diana.
- Obrigado vocês dois, vamos ver como vai ser daqui pra frente... Acho que está na hora de ir embora. Ana, vai ficar ou vai comigo?
- ? - Diana olhou para o irmão, se certificando que ele estava bem.
- Pode ir, não vou precisar de nada, obrigado por terem vindo. Semana que vem será na casa do Damon.
- Sonhem se estão achando que ainda vou poder participar disso sempre. Desculpem, acabei de ativar o modo papai. Espero que ativem o modo titios.
- Seremos bons exemplos para a Clara. Certo, Ana?
- Certíssimo. Então é melhor irmos, não é? Já está tarde.
Damon e Diana se despediram de e então foram embora. não estava realmente com sono, achava que poderia permanecer acordado por mais algum tempo. As mensagens de que ele ainda não havia respondido pareciam ser uma forma de se entreter até pegar no sono.
"Aposto que seus irmãos não infernizam tanto a sua vida quanto os meus infernizam a minha 😜"
Ele enviou após o assunto virar família. estava no corredor que dava acesso ao quarto dela enquanto lia a mensagem, os meninos estavam na sala junto com Jake e Katie, que ainda estavam lá. Ela gargalhou ao se lembrar de como os irmãos dele pareciam ser bem desinibidos, podia imaginar o que passava com eles, mas ele nem tinha ideia do que passava quando era mais nova, por ser a única menina, sendo protegida excessivamente por Thomas e William, e foi isso que ela respondeu pra ele.
- Achei que você tinha morrido aí - Jake apareceu no corredor, assustando-a.
- Que susto, Jake - ela riu, percebendo que exagerou. - Só estava respondendo uma mensagem, já estou voltando pra sala.
- Do , não é?
- Jake...
- Está tudo bem, , é sério - Jake sorriu para acalma-la. - Você é minha melhor amiga e, apesar de não ter crescido com o , eu sei que ele é um cara bem legal e tranquilo, gosto muito dele. Eu fico feliz que vocês tenham se dado bem.
- Não tem absolutamente nada além de amizade - ela completou e Jake assentiu, cruzando os braços e se escorando na parede.
- Só quero que você seja feliz. Você sabe que na ausência do Tom, eu sou o seu irmão mais velho, né? não é o tipo de cara que eu teria que dar um soco.
- Eu já não sei quantos irmãos mais velhos eu tenho - riu e Jake concordou, achando que gente demais queria protegê-la. - Todo mundo faz piadinhas e até eu acho engraçado, mas eu acho que pra você realmente desenvolver um sentimento por uma pessoa, precisa de um convívio diário além de umas conversas por telefone.
- Eu concordo. Falando em convívio diário, eu realmente estava pensando em convidar eles pra algum programa em família, como diz a minha mãe. Se você quiser ir, acho que vai ser ótimo.
- Eu adoraria, gosto muito de todos eles - ela sorriu de canto e guardou o celular. - Obrigada, Jake. Bem, vou voltar pra sala, você vem?
- Eu ia ao banheiro, já volto.
Jake passou por para ir ao banheiro enquanto ela voltou para sala. Estavam terminando de assistir De Volta Para o Futuro, mas já estavam limpando as pipocas espalhadas pelo chão antes mesmo de terminar o filme.
- Sai da frente, sai da frente - William passou por cheio de latinhas de cerveja e refrigerante para ir jogar no lixo.
- Mal educado - deu de ombros e foi pegar uma vassoura para varrer o chão. - Tenho que dizer que hoje foi bem legal, talvez melhor do que ter saído. Semana que vem vai ser na casa de quem?
- Desculpa, , mas semana que vem eu volto para a programação normal. Está convidada a me acompanhar, se quiser - Katie batia as almofadas uma na outra.
- Semana que vem vamos para Manchester - Thomas pontuou.
- Vocês quem? - franziu o cenho, não estava sabendo de nada.
- Eu, você e William. Eu não vou sozinho pra lá, além disso é bom visitar os pais de vez em quando, sabia?
- Ah, mas eu não quero ir, só tem oito anos que fui embora de lá - fez careta, fazendo Thomas e Katie rirem. - E provavelmente Will prefere a morte do que ir pra lá.
- Está certa - William voltou para a sala. - Eles que venham pra cá.
- Vocês são péssimos filhos. Então eu vou, nem que seja sozinho. Experimentem ficar sem ver a família quase o ano inteiro.
- Tom, como você é dramático, é claro que vou. - riu e olhou para William. - E você?
- Se eu não arrumar nada melhor pra fazer, talvez eu pense em ir. Só talvez.
Jake voltou para a sala logo em seguida e ajudou a terminar de limpar tudo, então ele e Katie foram embora. William se despediu dos irmãos e foi para o seu quarto jogar vídeo game antes de dormir, embora já fosse bem tarde para fazê-lo. ajudou Thomas a preparar o sofá para que ele dormisse.
- Já falei pra você ir dormir no meu quarto.
- É só hoje, maninha, prometo. Não quero entrar no quarto do Will sem saber os tipos de bactérias que moram lá - Thomas disse divertido, fazendo rir. - Além disso, é um sofá bem confortável. Fica tranquila.
- Realmente precisamos nos mudar para um lugar maior, para cada um ter seu espaço.
- Ainda tenho mais um ano em Oxford, , não precisa se preocupar com isso, muita coisa pode acontecer em um ano.
- Eu sei, mas eu queria muito me mudar mesmo assim. Esse lugar é tão feio e com um aluguel tão caro, se for pra pagar caro assim, que seja em um lugar mais bonitinho. Quem sabe se o Will arrumar um emprego, a gente consiga...
- , você sabe que se estiver passando por alguma coisa, pode falar comigo - Thomas disse em tom de preocupação. Ele, como pediatra, recebia quase o triplo do que ela como professora.
- Não, está tudo bem, dá pra viver - sorriu para acalmá-lo, embora tivesse que admitir para si mesma que nos últimos meses não dava pra viver tão bem assim. - Eu sempre pensei que meus pais são bem-sucedidos, não eu, então quis fazer isso por conta própria. Pagaram minha faculdade? Sim, e por isso mesmo eu espero nunca precisar de uma libra que seja deles. Acho que já fizeram demais por mim.
- Mas não estou falando deles, estou falando de mim. Estudei muito para chegar onde cheguei, não quero desfrutar sozinho, eu não viraria as costas para a minha família - Thomas sorriu de canto e acabou por sorrir junto.
- Eu sei, você é incrível. Não se preocupa, eu estou ótima, vai ser melhor quando Will trabalhar, mas enquanto isso eu dou conta do recado. Se eu precisar, eu falo com você.
- Promete mesmo?
- Prometo, Thomas, larga do meu pé! - ela deu um empurrãozinho nele enquanto os dois riram. - A propósito, vê se convence o Will a ir para Manchester com a gente, ele quer entrar para a faculdade, o que é ótimo, eu estou ajudando ele, mas pra isso ele vai precisar ganhar um pouquinho mais de mesada porque eu não posso bancar estudos de ninguém. Se ele for, terá que falar com a nossa mãe sobre isso.
- Vou falar com ele. Que bom que ele quer estudar, estou realmente feliz por isso. Eu nunca disse nada para que ele não se sentisse forçado, mas eu estava começando a me preocupar com isso.
- Will está mudando ultimamente e essa é uma grande mudança na vida dele, a gente tem que apoiar e torcer pra ele não desistir.
- É verdade... Mas vai dar tudo certo, tenho certeza.
- Tomara - bocejou, estava caindo de sono. - Vou dormir, boa noite.
- Boa noite, .
foi para o seu quarto trocar de roupa e, após responder outra mensagem de , que ainda estava acordado, ela se despediu e deixou o celular de lado, adormecendo poucos minutos depois.
E, sem nenhuma surpresa, mais uma vez foi levada para seus sonhos detalhados até demais na opinião dela. Já era tão comum estar naquele palácio e naqueles vestidos que ela já não se surpreendia, apenas vivia o que o sonho tinha para lhe mostrar. Sabia que estava em Marselha, na França, e sabia que a pessoa que sempre aparecia com ela era Katie, sua irmã.
- Será hoje à noite - Katie disse um sussurro, espiando pelas grandes janelas como se alguém pudesse ouvi-las. - Ele estará te esperando para partirem para Paris.
- Vamos derrubar a Bastilha, vamos começar essa mudança de dentro pra fora - disse esperançosa. - E depois que tudo isso acabar, partiremos para a Escócia para podermos ter a vida que merecemos.
- Tenha cuidado, irmã - Katie parecia aflita, e de fato estava. - Entenda que este é o começo de uma Revolução, a gente sabe que muito sangue será derramado.
- Eu sei, mas eu garanto que não será o nosso - sorriu, segurando as mãos da irmã. - Tomaremos cuidado, não se preocupe conosco.
Instantaneamente se viu transportada dali para um lugar que ela claramente reconheceu como uma zona de guerra. Estava vestido como homem, claro, mas lutava bravamente contra um militar armado. Como ela sabia fazer isso? Não tinha a mínima ideia, mas não era nenhuma surpresa. Quando derrubou o homem, recuou alguns passos para trás, encostando suas costas contra as de outra pessoa. No susto, se virou imediatamente, mas quando reconheceu quem estava ali, era como se não tivesse mais guerra nenhuma. Empunhando uma pistola, parecia bem aliviado por ver ali na sua frente.
- Não saia de perto de mim - ele advertiu, não poderiam se perder um do outro.
- Não vou - fez menção de dar um sorriso, mas a empurrou para o lado e atirou quando outro soltado vinha na direção dos dois. - Obrigada.
Lutando lado a lado, presenciaram o que seria um momento histórico: A Bastilha foi tomada. Aquele era apenas o começo, mas sentia que poderia fazer muito mais pelo povo francês.
- Cuidado! - se colocou na frente de e atirou com a sua Charleville, ferindo o soltado com a ponta da lança sobre a arma.
- Obrigado - disse quando se virou para ele novamente, mas de repente sentiu algo perfurando suas costas, fazendo com que ele levasse a mão ao peito, sentindo dor.
Mais outros três tiros foram disparados, todos o pegando em cheio nas costas. gritou, começando a atirar de volta na direção do autor dos disparos, que fugiu. caiu de joelhos no chão, curvando pra frente, até cair pra frente pouco depois. Podia estar de olhos abertos, mas já não tinha nenhuma vida ali. foi até ele, virando-o para que pudesse ver seu rosto, que ainda tinha uma expressão de susto.
- Não! - ela gritou, começando a chorar contra o peito dele. - Não, não, não, não!
Abruptamente ela foi empurrada e presa pelos braços, tendo o seu chapéu tirado, revelando os seus cabelos cumpridos que escorreram pelos ombros dela.
- Olha só o que temos aqui - o homem sorriu vitorioso por reconhece-la. - A princesinha de Marselha. O que faz aqui, querida? Não é um lugar para mulheres indefesas como você.
- Me solte ou eu te mato - se debateu, mas o homem era muito mais forte do que ela.
- Acha mesmo que eu vou deixar alguém da nobreza escapar assim?
- Não é o que você está pensando, não sou como eles! - ela cuspiu as palavras, ainda tentando se soltar. - E ele também não era! - indicou caído no chão.
- Que pena, meu amor, que pena. Não se preocupe, você vai se juntar a ele em pouco tempo.
Ele a arrastou enquanto ainda lutava para se soltar, não querendo deixar seu amado ali sem as honras que merecia. morreu por acreditar que o povo francês merecia mais, e agora seu corpo seria jogado em uma pilha junto com tantos outros. Por mais que tentasse lutar, sabia que não conseguiria escapar e aquele era o seu fim.
É justamente por tanto se debater, ela acordou em um susto. Percebeu que estava deitada e em seu quarto, devidamente salva em seu apartamento em Londres. Estava suando tanto que precisou afastar o cobertor para se refrescar.
respirou fundo algumas vezes enquanto se abanava. Parecia realmente que tinha lutado, parecia mesmo que ela havia gritado até rasgar a garganta e parecia que tinha chorado devida à ardência nos olhos. Não entendia, já havia sonhado tantas vezes com aquele palácio, mas nunca esteve em uma guerra, menos ainda em uma guerra com . Era uma imagem muito forte que ela ainda podia visualizar. Todos aqueles disparos e ele caído no chão morto eram imagens que ainda estavam muito vívidas em sua. se levantou e, sem fazer barulho para não acordar Thomas, foi até a sala pegar um copo de água. Aproveitando que estava ali, tomou do mesmo calmante que dera para William dias antes, voltando para o quarto logo em seguida.
Não queria pensar muito, apenas dormir. Até porque, se pensasse, tinha certeza de que iria enlouquecer.
...
William havia acabado de levantar, estava meio aborrecido por achar que era cedo demais levantar às nove horas da manhã de um sábado, mas mesmo assim se levantou e foi até a cozinha, encontrando Thomas preparando o café da manhã; e ele parecia muito disposto.
- Bom dia! - disse feliz ao ver que William havia acordado.
- Thomas, eu juro que se tiver que acordar todo o dia com o seu bom humor matinal, eu vou pro seu apartamento em Oxford só pra não te ver - ele esfregou os olhos e bocejou enquanto Thomas dava risada.
- Já tinha esquecido de como você é rabugento. Senta aí, estou preparando o café da manhã.
- Cadê a ? - perguntou enquanto se sentava no banco da ilha da cozinha.
- Ainda está dormindo. Ela merece um café da manhã feito por outra pessoa, deixa ela lá.
- Mas eu faço o café da manhã também! - ele se defendeu.
- Estou falando de um café da manhã saudável, feito por mim - Thomas riu quando olhou para William e viu o irmão revirando os olhos. - disse que você está pensando em fazer faculdade.
- Não estou pensando, vou fazer. Já estou providenciando tudo.
- Isso é muito bom, estou feliz por você.
- Valeu.
- Mas você sabe que o custo é muito alto, não é? não pode bancar tudo sozinha.
- Eu sei, também estou procurando um emprego.
- Que bom, Will, mas o custo é realmente muito, muito alto. Eu imagino que você não esteja aplicando para uma bolsa de estudos. O custo que meus pais tiveram comigo em Oxford foi um absurdo até que eu pudesse me manter sozinho.
- Thomas, você recebe o quê? Dez mil libras por mês? Acho que dá pra viver numa boa.
- Claro que dá, estou dizendo que agora eu posso me manter sozinho. Pago minhas contas, pago a universidade, me divirto e ainda consigo guardar dinheiro, mas isso eu já sabia que ia acontecer. A gente sabe que, por mais que o magistério seja a profissão mais nobre que existe, não é a mais bem paga, então mesmo que você trabalhe, ainda assim não é o suficiente. Eu vou ajudar no que for preciso, é claro, mas acho que você deveria aproveitar que vamos para Manchester e falar com a nossa mãe. Ela com certeza vai ajudar.
- Eu imaginei que eu teria que falar com ela - William encolheu os ombros, incomodado com o rumo da conversa. - Eu vou para Manchester com vocês, se for assim.
- Que bom. Acho que você também deveria falar com Steven sobre isso, ele ficaria feliz.
- Já falei que não tenho pai e não tenta me convencer do contrário. Eu não quero o dinheiro dele. Por favor, Tom, não vamos conversar sobre isso, eu não quero ficar nervoso logo cedo.
- Se você prefere assim, tudo bem. Contanto que vá para Manchester comigo, pode fazer o que quiser.
- Não se preocupa, eu vou.
...
- Mas o que você quer fazer com feijão enlatado, ? - perguntou enquanto pegava o enlatado e colocava no carrinho do mercado.
- Hum... Comer? - respondeu do outro lado da linha.
- É horrível. Será possível que eu vou ter que ir aí fazer uma comida descente pra você?
- Eu sei cozinhar, o problema é que não posso por enquanto.
- Sinceramente, uma fatia bem gordurosa de bacon seria menos ruim.
estava fazendo algumas compras para abastecer a dispensa antes de viajar para Manchester no dia seguinte. , que ainda estava sozinho em casa, impossibilitado de ser ajudado pelos irmãos que estavam todos ocupados com seus a fazeres, e não totalmente recuperado, pediu gentilmente a para aproveitar viagem e lhe trazer algumas coisas que precisava. Ela aceitou e passaria na casa dele para deixar tudo antes de ir.
Após pegar tudo o que precisava, se dirigiu ao caixa para pagar e então, com dificuldade, levou tudo para o carro, colocando as compras no banco de trás e indo para o banco do motorista. O caminho até a casa de era um pouco longo, então ela ligou o rádio para se distrair. Pensou também que era incomum para ela ir ao mercado em uma sexta-feira de tarde, quando deveria estar trabalhando, e mais incomum ainda era não estar comprando coisas apenas para si, mas também ajudando outra pessoa. De qualquer forma, achava justo sair e desfrutar das suas férias um pouco.
Quando chegou no apartamento de , ele a recebeu na porta. Estava usando muletas e por isso a sua locomoção era limitada, visto que ele não levava muito jeito para andar com auxílio.
- Pode deixar na cozinha, a Diana vai vir aqui mais tarde me ajudar com a bagunça - ele disse enquanto a acompanhava até a cozinha.
- A não ser que você esteja escondendo armas e drogas nos seus armários, eu não vejo motivos pra deixar a Diana fazer alguma coisa que eu mesma posso fazer - disse divertida, deixando as compras sobre a ilha.
- Tem razão. Fica tudo daquele lado, na parte de baixo - apontou para os armários à sua esquerda e foi até lá para guardar. - Damon foi bem específico quando disse que era pra guardar aí, porque, segundo ele, é esteticamente agradável e ele planejou assim.
- Damon pode ser um pouco pirado, mas tem bom gosto, eu admito.
- Tenho que concordar também. Ele fez um ótimo trabalho aqui, e em tão pouco tempo porque me mudei antes da hora - olhou ao redor, contemplando por um segundo o trabalho do seu irmão. - Com certeza se fosse por mim, teria só um colchão, geladeira e uma TV na sala.
- A vida do jovem adulto moderno - riu, e após terminar de guardar tudo, se virou pra ele. - Jake vive reclamando da rachadura no teto da minha cozinha. Estou vendo o dia em que ele vai denunciar o prédio na prefeitura. Talvez o Damon possa criar um projeto legal pra minha casa.
- Não se iluda, ele é um mercenário, não me deu nenhum desconto pra fazer isso - riu também, se lembrando de quando recebeu o valor do orçamento.
- Mas fez um ótimo trabalho.
- Nisso você tem razão - ele sorriu de canto. - A propósito, já que você está aqui, talvez eu precise me aproveitar de você mais um pouco, se você estiver livre.
- Por enquanto, sim - viu as horas no relógio de pulso e viu que ainda era cedo. - Tenho até as seis horas livre. Por quê?
- Bem, você sabe que estou escrevendo um livro novo, mas é uma temática diferente pra mim, nunca escrevi sobre guerras. Já que você tem a profissão mais incrível de todas e sabe mais de guerras do que qualquer um, pensei se poderia tirar algumas dúvidas sobre Segunda Guerra Mundial com você - ele sorriu timidamente, tendo quase certeza de que ela não aceitaria.
- Claro! Finalmente alguém que quer me ouvir falando durante horas sobre o governo de Hitler em uma Alemanha virada do avesso. O que você quer saber?
- Hum... Vem comigo, vamos conversar no meu escritório.
- Falando assim, até parece um CEO - ela disse enquanto o seguia corredor a dentro até o escritório dele.
- Gosto de falar isso para me sentir importante - abriu a porta e a deixou entrar primeiro. - Senta, fica à vontade.
se sentou no enorme puf ao lado do violão e deixou a poltrona livre pra ele. pegou seu caderno de anotações, óculos de grau e se sentou na poltrona de frente pra ela enquanto empunhava a caneta e colocava os óculos.
- Desculpe, sou cego - ele disse ao perceber que ela parecia surpresa por ele usar óculos de grau. - É o que acontece quando se lê livros durante a noite.
- Entendo perfeitamente, fiz isso por muito tempo - ela riu ao se lembrar que fazia a mesma coisa enquanto se acomodava para ficar mais confortável. - Sobre o que vamos falar?
- Podemos começar com o ataque japonês à base de Pear Harbor? É bem específico, porque a minha personagem principal é uma enfermeira em serviço em Honolulu e o par dela é do exército americano. Estou com um pouco de dificuldades para escrever sobre o ataque e as consequências e, por mais que eu estude sobre o assunto, acho que consigo absorver melhor conversando com alguém que saiba mais do que eu.
- Certo. Se eu soubesse, tinha trazido meu material - ela sorriu de canto. - Então vamos começar, vou dizendo o que é mais importante para anotar, começando agora. Foi em um domingo de manhã, em 7 de dezembro de 1941...
começou a explicar como se estivesse realmente em uma sala de aula. Gostava de gesticular, dar exemplos e usar metodologias de ensino que aprendeu durante sua pós-graduação em ensino. Percebendo que aprendia muito melhor em uma explicação mais auditiva e gesticulada, ela focou nisso e ele procurava fazer o máximo de anotações possíveis, mas sem deixar de reparar que ela realmente sabia do que estava falando, sem contar que podia ver que ela realmente gostava de ensinar. Ele não fez muitas perguntas, achou melhor deixar para o final e anotou o máximo de coisas que podia, tendo certeza de que seria muito útil depois para que ele pudesse prosseguir com a escrita.
- Mais alguma dúvida? - ela questionou após a última dúvida dele.
- Não, nadinha. Foi tudo muito bem explicado, professora, com certeza vou tirar nota máxima na prova... Você explica muito bem, , tenho certeza de que seus alunos não reprovam com você.
- Sempre tem alguns - ela negou com a cabeça, rindo. - Não era o que eu queria ser quando criança, mas amo ser professora e poder passar para outros as coisas que eu sei.
- Posso ficar aqui o dia inteiro ouvindo.
imediatamente se arrependeu do que disse, achando que tinha soado pretensioso até demais, o que não era sua intenção, mas estava tão impressionado que não sabia nem como expressar o que estava sentindo. Se não a conhecesse, jamais imaginaria que ela fosse tão inteligente e falasse tão bem, pois ela parecia ser alguém bem retraída, mas não era bem assim. poderia aparentar ser quieta, mas tinha simpatia, bom-humor, independência e uma capacidade incrível de se comunicar, coisas que prendiam a atenção de . Não podia negar para si mesmo que ela realmente era alguém em potencial.
- Posso falar sobre várias outras guerras também - ela sorriu envergonhada após o elogio, não sabia exatamente como agradecer.
- Não sei nem como retribuir, é sério.
- Não precisa, , só de ver a carinha de quem entendeu tudo, pra mim já é a minha recompensa.
- Entendo, mas eu quero retribuir... Minha mãe está trabalhando na divulgação do novo livro dela, vai visitar alguns países da Europa daqui algumas semanas. Como eu sei que você gosta dos livros dela, talvez nós possamos ir juntos ao evento quando ela passar por aqui. O que você me diz?
- Mas eu nem li o livro. Ai, , não me faça aceitar...
- Não se preocupa, você vai ter tempo de ler... Não vou aceitar um não como resposta - ele se inclinou um pouco na poltrona para poder olhar pra ela. - E nem a minha mãe, ela adorou conhecer você. Vai negar isso pra minha mãe? Ela já é uma senhora. Vai negar isso para a velinha?
- Isso é mentira, ela não tem nem cinquenta anos - cruzou os braços. - Sinceramente, se eu não te conhecesse, daria para a Eloise no máximo uns trinta e cinco.
- Justo. Trinta e cinco anos com dois filhos de vinte e seis, faz todo o sentido do mundo!
- Ela não é uma senhora, mas como você me convenceu, eu não vou dizer não pra ela.
- Está combinado, vou avisar ela - ele sorriu triunfante.
- Então você avisa enquanto eu vou embora. Eu já deveria ter ido, daqui a pouco os meninos vem me buscar no tapa, estamos indo pra Manchester hoje ver os nossos pais.
- É sério? Bom, você conhece os meus pais, nada mais justo do que eu conhecer os seus também.
- , não estou gostando do seu caráter - se levantou dando risada. - Claro que vou apresentar meus pais, mas ultimamente eles decidiram que são caipiras e querem comprar uma fazenda no interior ou algo assim, é difícil convencer eles a virem para Londres. Tudo o que seus pais tem de urbanistas, os meus têm de caipiras, o que é estranho, porque meu pai sempre foi um exibido.
- Exibido nível meu pai? Impossível.
- Totalmente possível, na verdade ele é ainda mais exibido que o seu pai, ou talvez era, não sei. É que meu pai sempre foi bem esquentadinho, minha mãe que acalmou ele - ela riu ao se lembrar deles. - Acho que sinto mais falta deles do que eu lembrava.
- Mas Manchester é tão perto...
- Eu sei, mas a vida é corrida para todos... Eu já vou, não posso me atrasar.
acompanhou até a porta, agradecendo mais uma vez pela ajuda dela, tendo certeza de que foi muito útil. Se despediram com um abraço mais do que desajeitado, então foi embora, sabia que teria de se explicar para os irmãos sobre onde estava e o que estava fazendo, visto que deixou o celular no carro e havia inúmeras mensagens de Thomas e William, as últimas bem preocupadas, inclusive.
- Eu já ia chamar a polícia, ! - Thomas saltou do sofá quando abriu a porta da sala. - Onde você estava?
- Desculpa, esqueci o celular no carro - foi com as compras até a cozinha, deixando sobre a mesa.
- Você ainda não respondeu a minha pergunta - ele a seguiu, estava realmente preocupado.
- Tom, eu já sou adulta, caso não tenha notado - ela se virou pra ele. - Desculpa, tá? Não sou acostumada a dar satisfações pra ninguém. Fui fazer um favor para o , ficamos conversando e eu não vi a hora passando.
- ? - ele franziu o cenho e rolou os olhos.
- É sério que você só prestou atenção nisso de tudo o que eu falei?
- Ei, relaxa, não estou te crucificando por isso, só fiquei surpreso. Não estou tão por dentro da situação quanto os outros estão, mas pela sua cara...
- Tom, por favor...
- Você está feliz, só ia dizer isso.
- Mas é claro que estou feliz! Não é todo dia que alguém realmente se interessa em me ouvir falando durante horas e horas sobre a Segunda Guerra Mundial. Estava ajudando o , é um tema sobre o próximo livro dele - sorriu de canto. - E eu fiquei feliz por ele ter pedido a minha ajuda ao invés de pesquisar em qualquer lugar. Foi legal da parte dele.
- Foi mesmo, tenho que admitir.
Thomas era uma das poucas pessoas que conheciam bem, talvez até melhor do que ela própria. Ele sabia que ela não costumava gastar seu tempo livre com qualquer pessoa simplesmente por diversão, era difícil alguém conseguir cativar ao ponto de ela poder passar horas entretida em uma conversa, mas ali estava ela com os olhos brilhando de felicidade e um sorriso bobo despontando nos lábios. Tinha os seus palpites, mas iria guardar para si mesmo até ter certeza, até porque sabia que ela ficaria uma fera se ele ousasse dizer o que estava pensando.
- Vai chamar o Will, temos que ir logo. Vamos chegar lá beirando a meia-noite se nos atrasarmos.
apenas concordou e foi até seu quarto pegar a mala de mão, que deixou separada no dia anterior para a pequena viagem, então foi até o quarto de William para o chamar.
- Juro que se você disser que ainda vai arrumar a mala, você fica - ela disse séria enquanto ele desligava o vídeo game.
- Não, eu já arrumei - William apontou para a mochila. - Posso levar o violão?
- Você que sabe... Vamos antes que o Tom nos deixe aqui.
- Onde você estava? - ele pegou a mochila, passando uma alça por um braço e a alça do violão pelo outro.
- Com o , e você pode pensar o que quiser, não estou nem aí.
- Ah, que linda. Está toda apaixonadinha por ele - William tinha um sorriso debochado nos lábios, mas apenas rolou os olhos.
- É, isso mesmo, está certo. Anda logo antes que eu deixe você aqui trancado.
- Pode admitir pra mim, irmãzinha, eu sei que você está - ele saiu do quarto e foi na frente em direção à sala.
- Não tanto quanto você está pela Louise.
- Estou mesmo, ela é linda e incrível, tirei a sorte grande. Eu até que gosto do , tem a minha permissão de namorar com ele, se quiser.
- Não sei porque ainda ouço você, Will, juro que não sei. Tudo certo, podemos ir? Quem vai dirigir primeiro? Tom, vamos no seu carro. Não confio no meu pra viagens longas.
- Tudo bem. Eu dirijo na primeira hora, dirige na segunda e talvez eu pense em deixar o Will dirigir na terceira. Só talvez.
- Vou dirigir aquela máquina? Isso! - William ergueu o punho em comemoração, mas Thomas o ignorou.
- Vamos antes que eu mude de ideia, por favor.
Thomas colocou a última mala no porta-malas do carro e então foi para o banco do motorista assumir o volante. Ligou o rádio e procurou por uma estação que lhe agradasse, optando por uma que tocava apenas músicas antigas, então seguiu viagem. Em apenas uma hora estaria em Londres, onde passaria suas férias. e William não sabiam que ele estava a caminho, então ele faria uma surpresa para os irmãos que o esperavam apenas no fim de semana.
Ele estava ansioso para voltar. Havia passado os feriados de fim de ano e Páscoa de plantão no hospital, então estava ansioso para passar um tempo com os irmãos em Londres e com os pais em Manchester. Amava seu trabalho, mas amava ainda mais passar tempo com a família, visto que eles sempre o apoiaram em seguir seu sonho, mesmo que fosse muito difícil de alcançar. Não por condição financeira, porque sempre teve uma vida muito boa, mas, sim, pelo grau de dificuldade em ser admitido para uma das melhores escolas de medicina do mundo. Cogitou a Imperial College para ficar mais perto da família, mas queria mesmo seguir os passos das gerações anteriores; passos esses que sua irmã seguiria logo depois. Não podia pôr em palavras a sensação de finalmente voltar pra casa, agora sabendo que aquela era a última vez, afinal, iria iniciar seu último ano de doutorado no começo de setembro. Estava realmente ansioso para terminar.
A viagem para Londres foi rápida. Agora era apenas torcer para que os irmãos estivessem em casa, visto que gostavam de sair juntos na sexta-feira à noite. Na pior das hipóteses, iria direto para a casa de Jake e Katie, que com certeza o receberiam por algumas horas. Ele só não esperava que fosse Jake a pessoa a abrir a porta da casa de .
- Estou delirando? - Jake perguntou ao abrir um largo sorriso. - Acho que estou no apartamento errado - Tom disse divertido, olhando ao redor.
Eles se cumprimentaram com um abraço apertado. Eram melhores amigos desde o colégio e mal tinham tempo de se verem ou conversarem, então sempre aproveitavam o tempo que podiam passar juntos. Thomas entrou na sala e viu que Katie também estava lá, assim como William e , aparentemente os quatro estavam assistindo filmes, bebendo e comendo pizzas.
- Meu Deus, Thomas! Você não cansa de fazer isso com a gente? - se levantou do seu lugar, indo abraçar o irmão.
- Gosto de ver a sua cara de surpresa toda vez - ele disse rindo ao se afastarem.
Também cumprimentou William e Katie, e foi convidado a se juntar a eles para assistir ao filme. Estavam vendo o primeiro Velozes e Furiosos e Thomas teve certeza de que era sugestão de Jake, pois era um dos filmes preferidos do amigo. Ele se sentou no lugar livre no sofá ao lado de , passando um abraço ao redor da irmã. deitou a cabeça no ombro do irmão para continuar assistindo o filme, mas hora ou outra voltava a atenção para o celular. Tinha que admitir que nas últimas semanas falava excessivamente com no seu tempo livre, mas não se considerava culpada por terem tantos assuntos em comum, inclusive o de se reunirem com pessoas próxima no fim de semana. enviou para ela uma foto na qual dava pra ver que ele estava deitado no sofá de sua casa enquanto Diana, Louise e Damon estavam sentados em círculo no chão da sala, jogando um jogo de tabuleiro. Diana estava com os braços erguidos como se comemorasse alguma coisa e isso foi o suficiente para chamar a atenção de Thomas.
- Conhece ela? - perguntou em um sussurro para não incomodar os outros.
- Hum... Conheço - ergueu o rosto para olhar pra ele. - Como você conhece ela?
- Ela foi palestrar em Oxford, de vez em quando conversamos sobre qualquer coisa, nada demais, só não sabia que vocês se conheciam.
- Ela é prima deles - apontou discretamente para Jake e Katie, para a surpresa de Thomas. - É, eu sei, mundinho pequeno.
- Calem a boca, vocês dois! - William praticamente rosnou pra eles, queria prestar atenção no filme.
- E ela também é cunhada do Will, a propósito - ergueu o tom de voz. - Will tem namorada.
- Não tenho nada! - o mais novo se defendeu.
- Você namora com a minha prima? - Katie questionou surpresa. - Não! Não estou namorando com a Louise.
- Está sim, eu já a vi toda apaixonadinha falando de você - Jake disse sem tirar os olhos da TV.
- Vocês estão falando de mim porque nunca viram a falando no telefone com o quase todo santo dia. Eu não aguento mais esses dois, é insuportável.
Instantaneamente todos os olhos da sala de voltaram para e ela quis proferir as piores ofensas para William.
- Valeu mesmo, McQueen - ela rolou os olhos, aborrecida. - Nos demos bem. É crime falar com as pessoas no telefone?
- Você não fala todo dia comigo no telefone - Thomas disse em tom de brincadeira.
- Nem comigo - Jake ergueu o dedo indicador no ar, chamando a atenção para si mesmo. - Se eu soubesse, tinha apresentado ele antes.
- Que besteira de vocês, estão caindo no papo do William pra ele desviar o foco da conversa.
- , a gente sabe que o Will não vale nada, e o problema também não é você. Só estamos surpresos, porque o é mais... Reservado do que as irmãs e muito, muito mais quieto do que o Damon - Katie levou uma pipoca à boca, sorrindo presunçosa. - Ele sempre foi o mais quietinho dos quatro. Só isso.
- Ele é legal comigo, mas nada além disto. Estamos nos tornando amigos, porque temos coisas em comum, diferente do outro ali que já chegou dando um beijo de língua na garota - atirou pipoca em William, que desviou e acertou em Jake. - Desculpa, Jakey.
- Vocês adoram me difamar, não é? Mas que inferno - William cruzou os braços e voltou a atenção para a TV. - Vou fingir que vocês não existem.
- Relaxa, Will, já zoamos você e a , agora é a vez do Thomas - Jake olhou para o melhor amigo que rolou os olhos e se encolheu no sofá. - Como você conheceu a Diana?
- Já disse, ela foi palestrar em Oxford. Você como primo deveria saber que ela é biomédica.
- E você é pediatra - disse como se fosse óbvio. - O que tem a ver?
- Fui acompanhar um amigo na palestra dela, ok? Depois nos encontramos por acaso - mentiu, sabia que não tinha sido exatamente assim. - Como eu achei interessante, tirei algumas dúvidas com ela, mantemos contato e é isso. Agora sei que o irmão dela que cortou o pé foi o e estou surpreso em ver como esse mundo é pequeno.
- Vocês três e eles três, que coincidência - Katie riu. - Só faltou o Damon, mas ele nasceu para ser carreira solo, segundo ele.
- Se o Damon se casar um dia, serei a dama de honra do casamento - Jake bebeu um gole da sua cerveja. – Agora, que todo mundo já conhece todo mundo, podemos voltar para o filme?
- Muito obrigado! Também acho! - William, que ainda estava virado, comentou irritado.
Eles voltaram a atenção para o filme, mas viu Thomas pegando o celular no bolso e abriu na câmera frontal, apontando na direção deles dois.
- O que está fazendo? - perguntou curiosa, quase sussurrando.
- Sorria porque seu amigo vai ver essa foto, com certeza - Thomas riu e tirou uma foto dos dois, pegando um pouco de surpresa.
- Isso me fez lembrar que tenho que responder ele - ela riu baixinho e também pegou o próprio celular, tirando outra foto deles e enviando para em resposta a foto que ele mandou antes, dizendo que aquele era seu irmão. - Agora só esperar as carinhas confusas deles.
- É verdade.
Antes que continuassem conversando, os outros três se viraram, atirando pipocas na direção de Thomas e para que parassem de falar, então pouco depois todos estavam assistindo o filme novamente, mesmo que os celulares deles apitassem nervosamente hora ou outra, com as respostas de e Diana.
- Para de roubar, Damon! - Louise protestou quando Damon venceu, mais uma vez, a partida de banco imobiliário que jogavam.
- Não estou roubando! É o dinheiro mais honesto que já recebi na vida - Damon se defendeu, começando a guardar as peças porque iriam jogar outro jogo. - Já que você não aguenta perder, vamos jogar outra coisa pra ver se você para de chorar. Sugestões?
- Me dá isso aqui, vou acabar com você - Louise pegou as cartas de UNO e começou a distribuir entre os três. - , vai jogar?
- Se vocês vierem pra mais perto, sim - , deitado no seu sofá com o pé machucado pra cima, respondeu enquanto se distraia com o celular. - Não posso colocar o pé no chão, sinto muito mesmo.
- Você vai ver nossas cartas, não vale - Damon protestou, puxando a poltrona para poder ficar de frente para o gêmeo.
Louise puxou a mesa de centro também, para terem um apoio, e pegou a outra poltrona para se sentar, enquanto Diana se quer saiu do seu lugar; estava entretida no próprio celular assim como .
- Dá pra largar isso aí? - Louise fez menção de tomar o celular da irmã, mas Diana não deixou.
- Acabei de descobrir que a é irmã do meu amigo - Diana disse, virando o celular exclusivamente para .
- Eu também - mostrou o seu celular para ela, percebendo que tinham recebido fotos parecidas.
- Ele é o médico que ajudou a gente aquele dia! O nome dele é Thomas. Jamais imaginei que eles fossem irmãos, que doideira! - Diana riu e foi até a cozinha puxar uma cadeira para ela.
- Acho que sou o único que sobrei nessa família, hum? - Damon disse enquanto analisava suas cartas, chegando à conclusão de que podia ganhar. - Louise com o menino da creche, virou amiguinho da e a última pessoa que a Diana mostrou pra alguém foi o Jesse. Acho que vou ficar para titio.
- Estou com o William mesmo, pode pensar o que quiser - Louise deu de ombros e escondeu as cartas para puxar um pouco sua poltrona e dar espaço para Diana com a cadeira.
- Sinceramente, se vissem o que eu e Thomas conversamos nas raras vezes que trocamos algumas mensagens, ficariam tão entediados que não teriam coragem de continuar com isso. Basicamente, só falamos sobre medicina - Diana se sentou e pegou as cartas direcionadas para ela em cima da mesa. - Ele é como eu, não tem vida social.
- Só de pensar que já fui assim, me arrependo amargamente - Damon torceu o nariz, fazendo careta.
- Você se arrepende do seu diploma de Harvard? - Diana rebateu e Damon rolou os olhos.
- Claro que não, posso me gabar por isso pelo resto da vida, mas vamos combinar que a gente não tinha vida. Quando achei que finalmente ia voltar a ser o velho Damon, surpresa: uma cegonha trouxe a Clara.
- A cegonha não tem culpa se você transa sem camisinha - deixou o celular de lado após responder e se sentou, pegando suas cartas também. - Vamos começar.
- E você é um santo, não é, ? - Damon sorriu sarcasticamente.
- Não, mas também não sou tão estupido quanto você.
- Eu juro que se vocês começarem a discutir, eu vou embora - Louise disse impaciente. - A gente pode simplesmente jogar e ter uma sexta-feira comum? Obrigada.
Concordando com Louise, eles começaram a partida em silêncio; um sinal da concentração de todos. Damon e Louise competiam silenciosamente, Diana hora ou outra dava uma espiada em seu celular e apenas jogava por jogar, estava mais do que acostumado a vencer quando Damon e Louise ultrapassavam os limites estabelecidos da competitividade entre irmãos.
- Perdedores - disse após colocar sua última carta sobre a mesa, vencendo, para a frustração dos irmãos.
- Odeio jogar esse jogo com o , ele sempre ganha! - Damon protestou indignado, atirando suas últimas duas cartas contra a mesa.
- É porque sou mais inteligente que você - o outro zombou propositalmente, deixando Damon ainda mais frustrado.
- , juro que se você não parar, eu vou terminar de te machucar, é sério.
- Acho que pode ser bom, assim a vem cuidar dele - Louise chocou seu ombro contra o de Damon e os dois começaram a dar risadinhas enquanto rolou os olhos, sentindo que iria provar do próprio veneno.
- , eu trouxe um livro pra você se sentir melhor! - Damon afinou a voz, juntando as mãos como se tivesse um livro nelas, fazendo Louise gargalhar.
- Vocês são as piores pessoas do mundo - negou com a cabeça, sabendo que se ficasse nervoso seria pior.
- Se bem que quem conhece um médico é a Ana - Louise olhou para a sua gêmea, que apenas rolou os olhos e riu.
- Conheço vários, se quiser o contato de algum - Diana deu de ombros, ignorando as risadinhas bobas dos irmãos. - Tenho quase certeza de que apenas e eu fomos planejados nessa família, vocês dois são defeituosos demais para terem sido feitos sobre encomenda.
- Como eu nasci primeiro, eu concordo - comentou, mas seu argumento não era totalmente válido.
- Se é assim, então a planejada sou eu. Diana veio de brinde - Louise desdenhou da irmã, fingindo soberba.
- Eu, como irmão mais velho, estou mandando a gente parar com essa idiotice e voltar a jogar.
apenas recebeu cartas atiradas na sua direção pelos outros três. O fato de ser cinco minutos mais velho que Damon não era motivo para ser respeitado pelos irmãos.
Eles ainda jogaram mais algumas partidas e assistiram um programa de auditório antes de Louise ser a primeira a ir embora, quando já era de madrugada. Diana, como era de costume todas as noites desde o incidente de , o ajudava a se preparar para dormir enquanto Damon alegava que precisava atender uma ligação de Charlotte, a mãe de sua filha.
- Já está bem melhor, daqui uns dias vai poder voltar a andar normalmente - Diana disse após conferir a ferida que estava cicatrizando, fazendo com que se sentisse um pouco melhor.
- Espero, já não aguento mais ficar preso dentro de casa - riu e Diana concordou, imaginando como ele se sentia. - Quando vocês não estão aqui é bem... Solitário.
- Mas não é você que gosta de ficar sozinho? - ela brincou e ele concordou rindo, admitindo que ela tinha razão.
- E gosto, mas também gosto de sair e fazer umas coisas normais, tipo ir no mercado ou tomar um café. Não posso sair, não posso fazer nada... É bem chato. Queria poder sair um pouco.
- Não sei quem é você ou o que fez com o , mas é melhor devolver o meu irmão - os dois riram juntos. - Se eu puder ficar aqui o dia todo, eu fico, você sabe que sim, mas acho que ninguém vai dizer não se você pedir um pouquinho de atenção. Provavelmente Katie e Jake viriam, até mesmo a , já que vocês se aproximaram.
- Ana...
- Não estou zombando, . Estou dizendo alguma mentira por acaso? Você sabe que eu não sou tão cruel quanto a Louise e o Damon, acredito que vocês sejam só amigos. É só uma sugestão.
- Você acha que ela viria? - olhou de relance para o celular ao lado do abajur, baixando a guarda ao perceber que Diana estava falando sério.
- Por que não viria? Até onde eu sei, as férias escolares começaram hoje, ela vai ter muito tempo livre nos próximos meses - Diana sorriu e percebeu que o irmão parecia bem hesitante com a ideia dela. - Relaxa, , você não tem que fazer isso.
- Eu vou pensar, prometo - ele sorriu de canto, aliviado por ser apenas uma conversa boba.
- Me desculpa, eu preciso perguntar isso: você...
- Não posso gostar dessa forma de alguém que conheço há menos de um mês, desculpe - interrompeu quando entendeu o que ela queria dizer. - Ela é realmente uma garota muito bonita e muito interessante, mas diria que eu sou louco se eu... Bom, sentisse alguma coisa... Assim.
- Nadinha mesmo? - Diana espremeu os olhos, mas quando olhou para os lados, procurando palavras para se explicar, ela não conteve um sorriso largo que se formou nos seus lábios.
- É alguém em potencial, eu admito. Feliz?
- Muito - ela continuava sorrindo. - Eu gostei muito dela, é sério, foi lindo vocês cantando juntos aquele dia com os nossos pais aqui, todo mundo adorou, isso sem dizer que ela é muito simpática; mamãe e eu ficamos um tempão conversando com ela. Só estou dizendo que você tem o meu total apoio e sigilo também, imagino que você não pretenda contar isso pra outra pessoa.
- Especialmente para você-sabe-quem.
- Lord Voldemort? Ele não se interessa por isso - Diana disse divertida, brincando, e gargalhou.
- Você me entendeu.
- Entendi, fica tranquilo, eu não vou fazer nada que possa prejudicar você.
- Você disse prejudicar o ? Conte comigo - Damon entrou no quarto, os pegando de surpresa. - Tenho uma notícia para dar pra vocês.
- Se for ruim, conte amanhã - Diana ergueu a mão em protesto, afastando as energias negativas.
- Se não envolver a gente, guarde pra você e sofra sozinho. Eu não ligo.
- Vocês são dois esquisitos, sabiam? Não é nada disso... Clara vai passar um tempo aqui.
Damon podia jurar que viu os olhos dos irmãos brilhando de felicidade enquanto os queixos foram ao chão. Por mais que estivesse um pouco tenso, não podia dizer que passaria por aquilo sozinho ao ver as expressões nos rostos de Diana e .
- Pena que não planejei nada para as férias de verão esse ano - se lamentou, sempre tinha uma atividade planejada para fazer com a sobrinha entre julho e setembro, época que ela costumava ficar com Damon.
- Mas quando eu digo um tempo, quero dizer por tempo indeterminado. Clara vai morar comigo a partir de agora.
- Sério? - foi tudo o que Diana conseguiu dizer, surpresa com o que tinha acabado de ouvir.
- Sério... Ainda não pude acertar tudo com a Charlotte, mas ela aceitou uma proposta de trabalho no Japão, e vocês sabem o quanto a Lotte é louca por tudo o que vem de lá, então ela aceitou, mas não acha uma boa ideia levar a Clara. Acha que pode ser mais fácil pra ela se adaptar à Inglaterra do que à cultura japonesa, ela está certa.
- Imaginei que você ficaria mais feliz do que parece - comentou ao perceber que Damon parecia bem tenso, diferente de quando estavam jogando na sala.
- É complicado... - Damon afundou as mãos nos bolsos do moletom, soltando um longo suspiro. - É claro que eu quero a minha filha aqui comigo e vocês sabem o quanto foi difícil vir pra cá e ficar longe dela, já faz quase um ano e meio que estou aqui, mas... Lotte e eu nos separamos quando ela ainda estava grávida, Clara nunca morou comigo realmente, apesar de passar tanto tempo comigo quanto com a mãe dela. É um pouco assustador pensar nisso. Quero dizer, estou realmente preparado pra isso?
- Damon, você é um pai maravilhoso, é claro que está - Diana sorriu gentilmente para o irmão. - É claro que é assustador, mas você não vai fazer isso sozinho.
- Eu sei... Mas é tanta coisa pra planejar! Tenho que preparar um quarto pra ela, matricular na escola, conciliar meu horário de trabalho com os dela...
- Ei, relaxa, somos em quatro, é claro que vamos ajudar com isso - disse com a plena convicção. - Enquanto eu estiver aqui, você não vai fazer isso sozinho.
- Eu vou pra Oxford em setembro, mas faço das palavras do as minhas, vou ajudar enquanto eu estiver aqui também. E não se esqueça da Louise que mentalmente é só um pouquinho mais velha do que a Clara.
- É verdade - Damon riu, imaginando que Louise seria um ótimo entretenimento para Clara. - Ela vem na semana que vem, tenho alguns dias para me preparar. - Fica tranquilo, cara, vai dar tudo certo. Estamos juntos nessa - concluiu, sendo apoiado por Diana.
- Obrigado vocês dois, vamos ver como vai ser daqui pra frente... Acho que está na hora de ir embora. Ana, vai ficar ou vai comigo?
- ? - Diana olhou para o irmão, se certificando que ele estava bem.
- Pode ir, não vou precisar de nada, obrigado por terem vindo. Semana que vem será na casa do Damon.
- Sonhem se estão achando que ainda vou poder participar disso sempre. Desculpem, acabei de ativar o modo papai. Espero que ativem o modo titios.
- Seremos bons exemplos para a Clara. Certo, Ana?
- Certíssimo. Então é melhor irmos, não é? Já está tarde.
Damon e Diana se despediram de e então foram embora. não estava realmente com sono, achava que poderia permanecer acordado por mais algum tempo. As mensagens de que ele ainda não havia respondido pareciam ser uma forma de se entreter até pegar no sono.
"Aposto que seus irmãos não infernizam tanto a sua vida quanto os meus infernizam a minha 😜"
Ele enviou após o assunto virar família. estava no corredor que dava acesso ao quarto dela enquanto lia a mensagem, os meninos estavam na sala junto com Jake e Katie, que ainda estavam lá. Ela gargalhou ao se lembrar de como os irmãos dele pareciam ser bem desinibidos, podia imaginar o que passava com eles, mas ele nem tinha ideia do que passava quando era mais nova, por ser a única menina, sendo protegida excessivamente por Thomas e William, e foi isso que ela respondeu pra ele.
- Achei que você tinha morrido aí - Jake apareceu no corredor, assustando-a.
- Que susto, Jake - ela riu, percebendo que exagerou. - Só estava respondendo uma mensagem, já estou voltando pra sala.
- Do , não é?
- Jake...
- Está tudo bem, , é sério - Jake sorriu para acalma-la. - Você é minha melhor amiga e, apesar de não ter crescido com o , eu sei que ele é um cara bem legal e tranquilo, gosto muito dele. Eu fico feliz que vocês tenham se dado bem.
- Não tem absolutamente nada além de amizade - ela completou e Jake assentiu, cruzando os braços e se escorando na parede.
- Só quero que você seja feliz. Você sabe que na ausência do Tom, eu sou o seu irmão mais velho, né? não é o tipo de cara que eu teria que dar um soco.
- Eu já não sei quantos irmãos mais velhos eu tenho - riu e Jake concordou, achando que gente demais queria protegê-la. - Todo mundo faz piadinhas e até eu acho engraçado, mas eu acho que pra você realmente desenvolver um sentimento por uma pessoa, precisa de um convívio diário além de umas conversas por telefone.
- Eu concordo. Falando em convívio diário, eu realmente estava pensando em convidar eles pra algum programa em família, como diz a minha mãe. Se você quiser ir, acho que vai ser ótimo.
- Eu adoraria, gosto muito de todos eles - ela sorriu de canto e guardou o celular. - Obrigada, Jake. Bem, vou voltar pra sala, você vem?
- Eu ia ao banheiro, já volto.
Jake passou por para ir ao banheiro enquanto ela voltou para sala. Estavam terminando de assistir De Volta Para o Futuro, mas já estavam limpando as pipocas espalhadas pelo chão antes mesmo de terminar o filme.
- Sai da frente, sai da frente - William passou por cheio de latinhas de cerveja e refrigerante para ir jogar no lixo.
- Mal educado - deu de ombros e foi pegar uma vassoura para varrer o chão. - Tenho que dizer que hoje foi bem legal, talvez melhor do que ter saído. Semana que vem vai ser na casa de quem?
- Desculpa, , mas semana que vem eu volto para a programação normal. Está convidada a me acompanhar, se quiser - Katie batia as almofadas uma na outra.
- Semana que vem vamos para Manchester - Thomas pontuou.
- Vocês quem? - franziu o cenho, não estava sabendo de nada.
- Eu, você e William. Eu não vou sozinho pra lá, além disso é bom visitar os pais de vez em quando, sabia?
- Ah, mas eu não quero ir, só tem oito anos que fui embora de lá - fez careta, fazendo Thomas e Katie rirem. - E provavelmente Will prefere a morte do que ir pra lá.
- Está certa - William voltou para a sala. - Eles que venham pra cá.
- Vocês são péssimos filhos. Então eu vou, nem que seja sozinho. Experimentem ficar sem ver a família quase o ano inteiro.
- Tom, como você é dramático, é claro que vou. - riu e olhou para William. - E você?
- Se eu não arrumar nada melhor pra fazer, talvez eu pense em ir. Só talvez.
Jake voltou para a sala logo em seguida e ajudou a terminar de limpar tudo, então ele e Katie foram embora. William se despediu dos irmãos e foi para o seu quarto jogar vídeo game antes de dormir, embora já fosse bem tarde para fazê-lo. ajudou Thomas a preparar o sofá para que ele dormisse.
- Já falei pra você ir dormir no meu quarto.
- É só hoje, maninha, prometo. Não quero entrar no quarto do Will sem saber os tipos de bactérias que moram lá - Thomas disse divertido, fazendo rir. - Além disso, é um sofá bem confortável. Fica tranquila.
- Realmente precisamos nos mudar para um lugar maior, para cada um ter seu espaço.
- Ainda tenho mais um ano em Oxford, , não precisa se preocupar com isso, muita coisa pode acontecer em um ano.
- Eu sei, mas eu queria muito me mudar mesmo assim. Esse lugar é tão feio e com um aluguel tão caro, se for pra pagar caro assim, que seja em um lugar mais bonitinho. Quem sabe se o Will arrumar um emprego, a gente consiga...
- , você sabe que se estiver passando por alguma coisa, pode falar comigo - Thomas disse em tom de preocupação. Ele, como pediatra, recebia quase o triplo do que ela como professora.
- Não, está tudo bem, dá pra viver - sorriu para acalmá-lo, embora tivesse que admitir para si mesma que nos últimos meses não dava pra viver tão bem assim. - Eu sempre pensei que meus pais são bem-sucedidos, não eu, então quis fazer isso por conta própria. Pagaram minha faculdade? Sim, e por isso mesmo eu espero nunca precisar de uma libra que seja deles. Acho que já fizeram demais por mim.
- Mas não estou falando deles, estou falando de mim. Estudei muito para chegar onde cheguei, não quero desfrutar sozinho, eu não viraria as costas para a minha família - Thomas sorriu de canto e acabou por sorrir junto.
- Eu sei, você é incrível. Não se preocupa, eu estou ótima, vai ser melhor quando Will trabalhar, mas enquanto isso eu dou conta do recado. Se eu precisar, eu falo com você.
- Promete mesmo?
- Prometo, Thomas, larga do meu pé! - ela deu um empurrãozinho nele enquanto os dois riram. - A propósito, vê se convence o Will a ir para Manchester com a gente, ele quer entrar para a faculdade, o que é ótimo, eu estou ajudando ele, mas pra isso ele vai precisar ganhar um pouquinho mais de mesada porque eu não posso bancar estudos de ninguém. Se ele for, terá que falar com a nossa mãe sobre isso.
- Vou falar com ele. Que bom que ele quer estudar, estou realmente feliz por isso. Eu nunca disse nada para que ele não se sentisse forçado, mas eu estava começando a me preocupar com isso.
- Will está mudando ultimamente e essa é uma grande mudança na vida dele, a gente tem que apoiar e torcer pra ele não desistir.
- É verdade... Mas vai dar tudo certo, tenho certeza.
- Tomara - bocejou, estava caindo de sono. - Vou dormir, boa noite.
- Boa noite, .
foi para o seu quarto trocar de roupa e, após responder outra mensagem de , que ainda estava acordado, ela se despediu e deixou o celular de lado, adormecendo poucos minutos depois.
E, sem nenhuma surpresa, mais uma vez foi levada para seus sonhos detalhados até demais na opinião dela. Já era tão comum estar naquele palácio e naqueles vestidos que ela já não se surpreendia, apenas vivia o que o sonho tinha para lhe mostrar. Sabia que estava em Marselha, na França, e sabia que a pessoa que sempre aparecia com ela era Katie, sua irmã.
- Será hoje à noite - Katie disse um sussurro, espiando pelas grandes janelas como se alguém pudesse ouvi-las. - Ele estará te esperando para partirem para Paris.
- Vamos derrubar a Bastilha, vamos começar essa mudança de dentro pra fora - disse esperançosa. - E depois que tudo isso acabar, partiremos para a Escócia para podermos ter a vida que merecemos.
- Tenha cuidado, irmã - Katie parecia aflita, e de fato estava. - Entenda que este é o começo de uma Revolução, a gente sabe que muito sangue será derramado.
- Eu sei, mas eu garanto que não será o nosso - sorriu, segurando as mãos da irmã. - Tomaremos cuidado, não se preocupe conosco.
Instantaneamente se viu transportada dali para um lugar que ela claramente reconheceu como uma zona de guerra. Estava vestido como homem, claro, mas lutava bravamente contra um militar armado. Como ela sabia fazer isso? Não tinha a mínima ideia, mas não era nenhuma surpresa. Quando derrubou o homem, recuou alguns passos para trás, encostando suas costas contra as de outra pessoa. No susto, se virou imediatamente, mas quando reconheceu quem estava ali, era como se não tivesse mais guerra nenhuma. Empunhando uma pistola, parecia bem aliviado por ver ali na sua frente.
- Não saia de perto de mim - ele advertiu, não poderiam se perder um do outro.
- Não vou - fez menção de dar um sorriso, mas a empurrou para o lado e atirou quando outro soltado vinha na direção dos dois. - Obrigada.
Lutando lado a lado, presenciaram o que seria um momento histórico: A Bastilha foi tomada. Aquele era apenas o começo, mas sentia que poderia fazer muito mais pelo povo francês.
- Cuidado! - se colocou na frente de e atirou com a sua Charleville, ferindo o soltado com a ponta da lança sobre a arma.
- Obrigado - disse quando se virou para ele novamente, mas de repente sentiu algo perfurando suas costas, fazendo com que ele levasse a mão ao peito, sentindo dor.
Mais outros três tiros foram disparados, todos o pegando em cheio nas costas. gritou, começando a atirar de volta na direção do autor dos disparos, que fugiu. caiu de joelhos no chão, curvando pra frente, até cair pra frente pouco depois. Podia estar de olhos abertos, mas já não tinha nenhuma vida ali. foi até ele, virando-o para que pudesse ver seu rosto, que ainda tinha uma expressão de susto.
- Não! - ela gritou, começando a chorar contra o peito dele. - Não, não, não, não!
Abruptamente ela foi empurrada e presa pelos braços, tendo o seu chapéu tirado, revelando os seus cabelos cumpridos que escorreram pelos ombros dela.
- Olha só o que temos aqui - o homem sorriu vitorioso por reconhece-la. - A princesinha de Marselha. O que faz aqui, querida? Não é um lugar para mulheres indefesas como você.
- Me solte ou eu te mato - se debateu, mas o homem era muito mais forte do que ela.
- Acha mesmo que eu vou deixar alguém da nobreza escapar assim?
- Não é o que você está pensando, não sou como eles! - ela cuspiu as palavras, ainda tentando se soltar. - E ele também não era! - indicou caído no chão.
- Que pena, meu amor, que pena. Não se preocupe, você vai se juntar a ele em pouco tempo.
Ele a arrastou enquanto ainda lutava para se soltar, não querendo deixar seu amado ali sem as honras que merecia. morreu por acreditar que o povo francês merecia mais, e agora seu corpo seria jogado em uma pilha junto com tantos outros. Por mais que tentasse lutar, sabia que não conseguiria escapar e aquele era o seu fim.
É justamente por tanto se debater, ela acordou em um susto. Percebeu que estava deitada e em seu quarto, devidamente salva em seu apartamento em Londres. Estava suando tanto que precisou afastar o cobertor para se refrescar.
respirou fundo algumas vezes enquanto se abanava. Parecia realmente que tinha lutado, parecia mesmo que ela havia gritado até rasgar a garganta e parecia que tinha chorado devida à ardência nos olhos. Não entendia, já havia sonhado tantas vezes com aquele palácio, mas nunca esteve em uma guerra, menos ainda em uma guerra com . Era uma imagem muito forte que ela ainda podia visualizar. Todos aqueles disparos e ele caído no chão morto eram imagens que ainda estavam muito vívidas em sua. se levantou e, sem fazer barulho para não acordar Thomas, foi até a sala pegar um copo de água. Aproveitando que estava ali, tomou do mesmo calmante que dera para William dias antes, voltando para o quarto logo em seguida.
Não queria pensar muito, apenas dormir. Até porque, se pensasse, tinha certeza de que iria enlouquecer.
William havia acabado de levantar, estava meio aborrecido por achar que era cedo demais levantar às nove horas da manhã de um sábado, mas mesmo assim se levantou e foi até a cozinha, encontrando Thomas preparando o café da manhã; e ele parecia muito disposto.
- Bom dia! - disse feliz ao ver que William havia acordado.
- Thomas, eu juro que se tiver que acordar todo o dia com o seu bom humor matinal, eu vou pro seu apartamento em Oxford só pra não te ver - ele esfregou os olhos e bocejou enquanto Thomas dava risada.
- Já tinha esquecido de como você é rabugento. Senta aí, estou preparando o café da manhã.
- Cadê a ? - perguntou enquanto se sentava no banco da ilha da cozinha.
- Ainda está dormindo. Ela merece um café da manhã feito por outra pessoa, deixa ela lá.
- Mas eu faço o café da manhã também! - ele se defendeu.
- Estou falando de um café da manhã saudável, feito por mim - Thomas riu quando olhou para William e viu o irmão revirando os olhos. - disse que você está pensando em fazer faculdade.
- Não estou pensando, vou fazer. Já estou providenciando tudo.
- Isso é muito bom, estou feliz por você.
- Valeu.
- Mas você sabe que o custo é muito alto, não é? não pode bancar tudo sozinha.
- Eu sei, também estou procurando um emprego.
- Que bom, Will, mas o custo é realmente muito, muito alto. Eu imagino que você não esteja aplicando para uma bolsa de estudos. O custo que meus pais tiveram comigo em Oxford foi um absurdo até que eu pudesse me manter sozinho.
- Thomas, você recebe o quê? Dez mil libras por mês? Acho que dá pra viver numa boa.
- Claro que dá, estou dizendo que agora eu posso me manter sozinho. Pago minhas contas, pago a universidade, me divirto e ainda consigo guardar dinheiro, mas isso eu já sabia que ia acontecer. A gente sabe que, por mais que o magistério seja a profissão mais nobre que existe, não é a mais bem paga, então mesmo que você trabalhe, ainda assim não é o suficiente. Eu vou ajudar no que for preciso, é claro, mas acho que você deveria aproveitar que vamos para Manchester e falar com a nossa mãe. Ela com certeza vai ajudar.
- Eu imaginei que eu teria que falar com ela - William encolheu os ombros, incomodado com o rumo da conversa. - Eu vou para Manchester com vocês, se for assim.
- Que bom. Acho que você também deveria falar com Steven sobre isso, ele ficaria feliz.
- Já falei que não tenho pai e não tenta me convencer do contrário. Eu não quero o dinheiro dele. Por favor, Tom, não vamos conversar sobre isso, eu não quero ficar nervoso logo cedo.
- Se você prefere assim, tudo bem. Contanto que vá para Manchester comigo, pode fazer o que quiser.
- Não se preocupa, eu vou.
- Hum... Comer? - respondeu do outro lado da linha.
- É horrível. Será possível que eu vou ter que ir aí fazer uma comida descente pra você?
- Eu sei cozinhar, o problema é que não posso por enquanto.
- Sinceramente, uma fatia bem gordurosa de bacon seria menos ruim.
estava fazendo algumas compras para abastecer a dispensa antes de viajar para Manchester no dia seguinte. , que ainda estava sozinho em casa, impossibilitado de ser ajudado pelos irmãos que estavam todos ocupados com seus a fazeres, e não totalmente recuperado, pediu gentilmente a para aproveitar viagem e lhe trazer algumas coisas que precisava. Ela aceitou e passaria na casa dele para deixar tudo antes de ir.
Após pegar tudo o que precisava, se dirigiu ao caixa para pagar e então, com dificuldade, levou tudo para o carro, colocando as compras no banco de trás e indo para o banco do motorista. O caminho até a casa de era um pouco longo, então ela ligou o rádio para se distrair. Pensou também que era incomum para ela ir ao mercado em uma sexta-feira de tarde, quando deveria estar trabalhando, e mais incomum ainda era não estar comprando coisas apenas para si, mas também ajudando outra pessoa. De qualquer forma, achava justo sair e desfrutar das suas férias um pouco.
Quando chegou no apartamento de , ele a recebeu na porta. Estava usando muletas e por isso a sua locomoção era limitada, visto que ele não levava muito jeito para andar com auxílio.
- Pode deixar na cozinha, a Diana vai vir aqui mais tarde me ajudar com a bagunça - ele disse enquanto a acompanhava até a cozinha.
- A não ser que você esteja escondendo armas e drogas nos seus armários, eu não vejo motivos pra deixar a Diana fazer alguma coisa que eu mesma posso fazer - disse divertida, deixando as compras sobre a ilha.
- Tem razão. Fica tudo daquele lado, na parte de baixo - apontou para os armários à sua esquerda e foi até lá para guardar. - Damon foi bem específico quando disse que era pra guardar aí, porque, segundo ele, é esteticamente agradável e ele planejou assim.
- Damon pode ser um pouco pirado, mas tem bom gosto, eu admito.
- Tenho que concordar também. Ele fez um ótimo trabalho aqui, e em tão pouco tempo porque me mudei antes da hora - olhou ao redor, contemplando por um segundo o trabalho do seu irmão. - Com certeza se fosse por mim, teria só um colchão, geladeira e uma TV na sala.
- A vida do jovem adulto moderno - riu, e após terminar de guardar tudo, se virou pra ele. - Jake vive reclamando da rachadura no teto da minha cozinha. Estou vendo o dia em que ele vai denunciar o prédio na prefeitura. Talvez o Damon possa criar um projeto legal pra minha casa.
- Não se iluda, ele é um mercenário, não me deu nenhum desconto pra fazer isso - riu também, se lembrando de quando recebeu o valor do orçamento.
- Mas fez um ótimo trabalho.
- Nisso você tem razão - ele sorriu de canto. - A propósito, já que você está aqui, talvez eu precise me aproveitar de você mais um pouco, se você estiver livre.
- Por enquanto, sim - viu as horas no relógio de pulso e viu que ainda era cedo. - Tenho até as seis horas livre. Por quê?
- Bem, você sabe que estou escrevendo um livro novo, mas é uma temática diferente pra mim, nunca escrevi sobre guerras. Já que você tem a profissão mais incrível de todas e sabe mais de guerras do que qualquer um, pensei se poderia tirar algumas dúvidas sobre Segunda Guerra Mundial com você - ele sorriu timidamente, tendo quase certeza de que ela não aceitaria.
- Claro! Finalmente alguém que quer me ouvir falando durante horas sobre o governo de Hitler em uma Alemanha virada do avesso. O que você quer saber?
- Hum... Vem comigo, vamos conversar no meu escritório.
- Falando assim, até parece um CEO - ela disse enquanto o seguia corredor a dentro até o escritório dele.
- Gosto de falar isso para me sentir importante - abriu a porta e a deixou entrar primeiro. - Senta, fica à vontade.
se sentou no enorme puf ao lado do violão e deixou a poltrona livre pra ele. pegou seu caderno de anotações, óculos de grau e se sentou na poltrona de frente pra ela enquanto empunhava a caneta e colocava os óculos.
- Desculpe, sou cego - ele disse ao perceber que ela parecia surpresa por ele usar óculos de grau. - É o que acontece quando se lê livros durante a noite.
- Entendo perfeitamente, fiz isso por muito tempo - ela riu ao se lembrar que fazia a mesma coisa enquanto se acomodava para ficar mais confortável. - Sobre o que vamos falar?
- Podemos começar com o ataque japonês à base de Pear Harbor? É bem específico, porque a minha personagem principal é uma enfermeira em serviço em Honolulu e o par dela é do exército americano. Estou com um pouco de dificuldades para escrever sobre o ataque e as consequências e, por mais que eu estude sobre o assunto, acho que consigo absorver melhor conversando com alguém que saiba mais do que eu.
- Certo. Se eu soubesse, tinha trazido meu material - ela sorriu de canto. - Então vamos começar, vou dizendo o que é mais importante para anotar, começando agora. Foi em um domingo de manhã, em 7 de dezembro de 1941...
começou a explicar como se estivesse realmente em uma sala de aula. Gostava de gesticular, dar exemplos e usar metodologias de ensino que aprendeu durante sua pós-graduação em ensino. Percebendo que aprendia muito melhor em uma explicação mais auditiva e gesticulada, ela focou nisso e ele procurava fazer o máximo de anotações possíveis, mas sem deixar de reparar que ela realmente sabia do que estava falando, sem contar que podia ver que ela realmente gostava de ensinar. Ele não fez muitas perguntas, achou melhor deixar para o final e anotou o máximo de coisas que podia, tendo certeza de que seria muito útil depois para que ele pudesse prosseguir com a escrita.
- Mais alguma dúvida? - ela questionou após a última dúvida dele.
- Não, nadinha. Foi tudo muito bem explicado, professora, com certeza vou tirar nota máxima na prova... Você explica muito bem, , tenho certeza de que seus alunos não reprovam com você.
- Sempre tem alguns - ela negou com a cabeça, rindo. - Não era o que eu queria ser quando criança, mas amo ser professora e poder passar para outros as coisas que eu sei.
- Posso ficar aqui o dia inteiro ouvindo.
imediatamente se arrependeu do que disse, achando que tinha soado pretensioso até demais, o que não era sua intenção, mas estava tão impressionado que não sabia nem como expressar o que estava sentindo. Se não a conhecesse, jamais imaginaria que ela fosse tão inteligente e falasse tão bem, pois ela parecia ser alguém bem retraída, mas não era bem assim. poderia aparentar ser quieta, mas tinha simpatia, bom-humor, independência e uma capacidade incrível de se comunicar, coisas que prendiam a atenção de . Não podia negar para si mesmo que ela realmente era alguém em potencial.
- Posso falar sobre várias outras guerras também - ela sorriu envergonhada após o elogio, não sabia exatamente como agradecer.
- Não sei nem como retribuir, é sério.
- Não precisa, , só de ver a carinha de quem entendeu tudo, pra mim já é a minha recompensa.
- Entendo, mas eu quero retribuir... Minha mãe está trabalhando na divulgação do novo livro dela, vai visitar alguns países da Europa daqui algumas semanas. Como eu sei que você gosta dos livros dela, talvez nós possamos ir juntos ao evento quando ela passar por aqui. O que você me diz?
- Mas eu nem li o livro. Ai, , não me faça aceitar...
- Não se preocupa, você vai ter tempo de ler... Não vou aceitar um não como resposta - ele se inclinou um pouco na poltrona para poder olhar pra ela. - E nem a minha mãe, ela adorou conhecer você. Vai negar isso pra minha mãe? Ela já é uma senhora. Vai negar isso para a velinha?
- Isso é mentira, ela não tem nem cinquenta anos - cruzou os braços. - Sinceramente, se eu não te conhecesse, daria para a Eloise no máximo uns trinta e cinco.
- Justo. Trinta e cinco anos com dois filhos de vinte e seis, faz todo o sentido do mundo!
- Ela não é uma senhora, mas como você me convenceu, eu não vou dizer não pra ela.
- Está combinado, vou avisar ela - ele sorriu triunfante.
- Então você avisa enquanto eu vou embora. Eu já deveria ter ido, daqui a pouco os meninos vem me buscar no tapa, estamos indo pra Manchester hoje ver os nossos pais.
- É sério? Bom, você conhece os meus pais, nada mais justo do que eu conhecer os seus também.
- , não estou gostando do seu caráter - se levantou dando risada. - Claro que vou apresentar meus pais, mas ultimamente eles decidiram que são caipiras e querem comprar uma fazenda no interior ou algo assim, é difícil convencer eles a virem para Londres. Tudo o que seus pais tem de urbanistas, os meus têm de caipiras, o que é estranho, porque meu pai sempre foi um exibido.
- Exibido nível meu pai? Impossível.
- Totalmente possível, na verdade ele é ainda mais exibido que o seu pai, ou talvez era, não sei. É que meu pai sempre foi bem esquentadinho, minha mãe que acalmou ele - ela riu ao se lembrar deles. - Acho que sinto mais falta deles do que eu lembrava.
- Mas Manchester é tão perto...
- Eu sei, mas a vida é corrida para todos... Eu já vou, não posso me atrasar.
acompanhou até a porta, agradecendo mais uma vez pela ajuda dela, tendo certeza de que foi muito útil. Se despediram com um abraço mais do que desajeitado, então foi embora, sabia que teria de se explicar para os irmãos sobre onde estava e o que estava fazendo, visto que deixou o celular no carro e havia inúmeras mensagens de Thomas e William, as últimas bem preocupadas, inclusive.
- Eu já ia chamar a polícia, ! - Thomas saltou do sofá quando abriu a porta da sala. - Onde você estava?
- Desculpa, esqueci o celular no carro - foi com as compras até a cozinha, deixando sobre a mesa.
- Você ainda não respondeu a minha pergunta - ele a seguiu, estava realmente preocupado.
- Tom, eu já sou adulta, caso não tenha notado - ela se virou pra ele. - Desculpa, tá? Não sou acostumada a dar satisfações pra ninguém. Fui fazer um favor para o , ficamos conversando e eu não vi a hora passando.
- ? - ele franziu o cenho e rolou os olhos.
- É sério que você só prestou atenção nisso de tudo o que eu falei?
- Ei, relaxa, não estou te crucificando por isso, só fiquei surpreso. Não estou tão por dentro da situação quanto os outros estão, mas pela sua cara...
- Tom, por favor...
- Você está feliz, só ia dizer isso.
- Mas é claro que estou feliz! Não é todo dia que alguém realmente se interessa em me ouvir falando durante horas e horas sobre a Segunda Guerra Mundial. Estava ajudando o , é um tema sobre o próximo livro dele - sorriu de canto. - E eu fiquei feliz por ele ter pedido a minha ajuda ao invés de pesquisar em qualquer lugar. Foi legal da parte dele.
- Foi mesmo, tenho que admitir.
Thomas era uma das poucas pessoas que conheciam bem, talvez até melhor do que ela própria. Ele sabia que ela não costumava gastar seu tempo livre com qualquer pessoa simplesmente por diversão, era difícil alguém conseguir cativar ao ponto de ela poder passar horas entretida em uma conversa, mas ali estava ela com os olhos brilhando de felicidade e um sorriso bobo despontando nos lábios. Tinha os seus palpites, mas iria guardar para si mesmo até ter certeza, até porque sabia que ela ficaria uma fera se ele ousasse dizer o que estava pensando.
- Vai chamar o Will, temos que ir logo. Vamos chegar lá beirando a meia-noite se nos atrasarmos.
apenas concordou e foi até seu quarto pegar a mala de mão, que deixou separada no dia anterior para a pequena viagem, então foi até o quarto de William para o chamar.
- Juro que se você disser que ainda vai arrumar a mala, você fica - ela disse séria enquanto ele desligava o vídeo game.
- Não, eu já arrumei - William apontou para a mochila. - Posso levar o violão?
- Você que sabe... Vamos antes que o Tom nos deixe aqui.
- Onde você estava? - ele pegou a mochila, passando uma alça por um braço e a alça do violão pelo outro.
- Com o , e você pode pensar o que quiser, não estou nem aí.
- Ah, que linda. Está toda apaixonadinha por ele - William tinha um sorriso debochado nos lábios, mas apenas rolou os olhos.
- É, isso mesmo, está certo. Anda logo antes que eu deixe você aqui trancado.
- Pode admitir pra mim, irmãzinha, eu sei que você está - ele saiu do quarto e foi na frente em direção à sala.
- Não tanto quanto você está pela Louise.
- Estou mesmo, ela é linda e incrível, tirei a sorte grande. Eu até que gosto do , tem a minha permissão de namorar com ele, se quiser.
- Não sei porque ainda ouço você, Will, juro que não sei. Tudo certo, podemos ir? Quem vai dirigir primeiro? Tom, vamos no seu carro. Não confio no meu pra viagens longas.
- Tudo bem. Eu dirijo na primeira hora, dirige na segunda e talvez eu pense em deixar o Will dirigir na terceira. Só talvez.
- Vou dirigir aquela máquina? Isso! - William ergueu o punho em comemoração, mas Thomas o ignorou.
- Vamos antes que eu mude de ideia, por favor.
Capítulo 9 - Family
Manchester
- Sinceramente, não sei o que seria dessa família sem mim. Morreriam de intoxicação alimentar, tenho certeza - Thomas disse, sem tirar os olhos da panela onde os legumes cozinhavam.
- Não seja injusto, eu cozinho também! - protestou, esborrifando água das suas mãos molhadas na direção dele. - Já tinha esquecido como é insuportável conviver com você, senhor boa-alimentação-vida-saudável.
- Estou falando em um geral. Papai acha que pizza é saudável porque tem tomates.
- E não é? - Lewis se aproximou para conferir o que o filho estava fazendo, enquanto dava uma mordida na maçã que estava comendo. - Viu só? Estou comendo uma fruta.
- Me dê forças, Einstein - ele riu, tendo certeza de que seu pai era o pior.
Thomas, disposto a melhorar os hábitos alimentares da familia durante o tempo em que estava lá, decidiu preparar o almoço naquele sábado. Estava cozinhando alguns legumes enquanto lavava a louça e seu pai apenas observava, já que William e Lizzy foram ao supermercado comprar alguns ingredientes que faltavam a pedido dele.
- Às vezes eu acho que você não é meu filho. Um cara assim não pode ter o meu DNA, não é possível. Eu vou pedir um teste. Vocês dois, na verdade. Puxaram a Liz em tudo.
- Pai, acho que você precisa do mínimo de inteligência pra sua profissão, ao menos uns dois neurônios funcionam aí dentro - riu, não achava que ele fosse burro. - Além disso, precisou de muito QI pra fazer o Thomas.
- É verdade, foi na semana de provas, eu me lembro.
- Ah... Obrigado por me deixarem saber disso, pessoal - Thomas se virou para eles. - Eu penso que somos uma família de pessoas extraordinárias. E pra entrar nessa família, tem que ser muito bom em alguma coisa.
Eles continuaram conversando enquanto Thomas preparava o almoço, até que Lizzy e William chegaram carregados de sacolas, com o mais novo reclamando de que estava pesado demais.
- Filho, você corre todos os dias pelo que eu sei, se tem alguém que pode reclamar, sou eu - Lizzy disse após colocar as compras na mesa com a ajuda do marido.
- Ele é assim mesmo, mãe, a mão dele vai cair até se ele dobrar as roupas jogadas pelo quarto dele. Deveria ver como é aquele quarto - pontuou, enquanto William parecia muito satisfeito com aquilo.
- Antes de eu chegar, claro, agora está limpo - Thomas concluiu. - Trouxe batata, mãe?
- Tudo aqui. Posso pelo menos te ajudar um pouco?
- Não, senhora, pode sair todo mundo daqui e me deixar cozinhar em paz.
Thomas terminou de preparar o almoço sozinho como ele queria, alegando que encaminharia a família toda para um nutricionista caso não mudassem os hábitos alimentares. Cozinhar sozinho era uma terapia pra ele. O gosto de legumes frescos acompanhados pelo frango assado parecia até uma novidade desde que os três filhos deixaram a casa dos pais. até tentava e às vezes conseguia preparar bons pratos no seu tempo livre, mas não podia negar que Thomas cozinhava melhor do que ela. Certamente ele tinha herdado o talento da avó que sempre foi uma boa cozinheira, talvez até melhor do que Lizzy.
Após o término da refeição, Lizzy se prontificou em lavar a louça, insistindo que Thomas não iria fazer mais nada naquele dia e que ele deveria apenas curtir o passeio, praticamente obrigando os filhos a saírem de casa. Então enquanto Thomas e obedeceram a mãe e decidiram sair com ela, enquanto William optou por ficar, pois queria a ajuda de Lewis e suas habilidades musicais. Queria gravar uma versão em estúdio da música que tocara dias antes para Louise, Sweater Weather, e o padrasto aceitou.
- Certo, Will, vamos ter que partir do zero, vai ser um pouco trabalhoso, mas podemos terminar antes de você ir embora - Lewis se sentou na cadeira do seu estúdio, dando um giro na mesma. - O que você prefere? Gravar primeiro o instrumental e depois colocar a voz por cima ou os dois juntos?
- Separado é melhor - William tirou seu violão do bag.
- Acústico?
- Acho que sim, não sei tocar ela em outro instrumento... Vou tocar, me diz o que acha.
William se sentou no banquinho alto, se ajeitando e empunhando o violão. Começou a tocar a música conforme se lembrava desde a última vez que a tocou. Lewis observou, procurando algo para acrescentar que valorizasse o talento de William.
- Está ótimo assim, vamos começar - ele disse após William finalizar. - Vamos gravar o instrumental hoje e mais tarde cuidamos da voz, vai ficar ótimo.
William concordou e se limitou a seguir as instruções de Lewis, o que era algo relativamente novo pra ele. Na adolescência, não costumava se dar bem com o padrasto, sempre o rebatendo em tudo e deixando muito claro que não tinham qualquer laço de sangue, o que custou alguns fios brancos adiantados para Lizzy, que sempre tentou fazer com que a paz reinasse entre os dois. William, após a discussão que lhe fez cortar relações com seu pai biológico, alguns anos antes, começou a enxergar Lewis de uma forma diferente, achando que era ele quem realmente esteve lá durante todo o tempo.
- Para, para! Presta atenção, William! - Lewis ergueu o tom de voz a fim de chamar a atenção de William que parou de tocar.
- Quê?
- Está fazendo tudo errado, está ficando uma grande merda isso aqui.
- Desculpa, eu me distraí... - William soltou um longo suspiro, estava pensativo. - Lewis, acha que eu deveria voltar a falar com o meu pai?
- Acho que nem deveria ter parado, para início de conversa. Não que Steven seja o meu melhor amigo, quero dizer, o cara dormiu com a minha mulher, não é? Mas não acho que seja ótimo ficar sem ter notícias dos filhos. Não posso imaginar o que seria de mim se ou Thomas parassem de falar comigo.
- Ah, não fala assim dele, vocês estavam separados, nem foi traição - William saiu em defesa do pai, e só então percebeu isso. - Droga, fiz de novo.
- Garoto, você é insuportável que nem o seu pai. Pode dizer o que quiser, que discorda de mim e que eu também não sou um lírio colhido no campo, mas você é uma versão mais nova do Steven, ele era exatamente assim quando tinha a sua idade.
- Passei anos da minha vida ouvindo que me pareço com você - ele murmurou, se sentindo incomodado com a comparação. - Sei lá, talvez eu não ache mais que seja um insulto.
- Não, não, eu sou muito melhor do que aquele tapado do Steven, com todo o respeito. Mas não dá pra negar que ele sempre pareceu ser um bom pai, criou o seu irmão sozinho, não é? É, ele é um bom pai.
- Então por que ele não se importava comigo?
- Will, presta atenção, garoto - Lewis se ajeitou na cadeira, esticando as costas. - Não existe isso, tá? Pai de verdade se preocupa sim, caso contrário é só genitor. Ele ter andado meio ausente, não quer dizer que ele não se importava com você e com seu irmão, ele se importa, sim, e muito, não é atoa que perturba eu e a Liz até hoje pra gente falar com você. Eu não acho que um genitor desnaturado faria isso, ele não pagaria uma boa escola pra você e nem te levaria para viajar durante o verão.
- Tá, você talvez tenha razão. Mas por que quando eu ia atrás de atenção, ele fingia que eu não existo? Sempre tinha uma desculpa.
- Quando Thomas e ainda eram pequenos, eu costumava trabalhar muito mais do que hoje em dia. Eu viajei pra caralho com os artistas que já produzi, e como a Liz também viajava às vezes, é seguro dizer que os dois passaram uma parte da infância com a babá. Não é à toa que trouxemos uma estrangeira para dentro da nossa casa para nos ajudar com os nossos filhos, mas o fato de eu estar sempre viajando não queria dizer que eu não me importava com eles, muito pelo contrário, tudo o que eu fiz foi pelos meus filhos. Foi por causa do meu trabalho que eu pude pagar a faculdade dos dois, e a gente sabe que Oxford não é meia boca... Will, você é a coisa mais importante na vida do Steven, eu tenho certeza disso, ele mataria e morreria por você. Ele parecia distante, eu sei, mas estava correndo atrás do melhor pra você e para o Carter, e ele conseguiu. Me desculpe pelo que vou dizer agora, mas você foi um estupido com ele, dizendo todas aquelas coisas, isso realmente machucou ele. Desculpa, mas acho que você precisa de alguém que te dê um choque de realidade e que bom que essa pessoa sou eu... Você já é adulto, William, está na hora de começar a rever suas atitudes.
- Eu... Vou pensar nisso melhor... Podemos continuar?
...
- Deixa eu ver se eu entendi: então o meu bebezinho está namorando e eu não estava sabendo de nada? E como é essa Louise? - Lizzy perguntou no caminho de volta pra casa, sem tirar a atenção do volante.
- Eu não sei se eles estão namorando, só sei que estão juntos. Não se preocupa, mãe, a Louise é bem legal, acho que Will teve muita sorte - tentou contornar a situação, implorando mentalmente para que Thomas a ajudasse. - Ela é um pouco mais velha, independente, tem uma vida estável. Não que eu ache que mulher tem que dar jeito em um homem, mas quem sabe o Will se inspire nela, não é?
- Se é assim, se você está me garantindo, então eu vou ficar tranquila e torcendo para que ele me apresente ela um dia... Mas e vocês dois? Vão deixar William passar na frente?
- Por mim, ele pode passar numa boa, eu estou ótimo - Thomas riu, tinha que concordar que o irmão menor era mais rápido do que ele.
- Eu também - se encolheu um pouco no banco. Estava ouvindo tantas piadinhas nos últimos dias que já até esperava que Thomas fizesse alguma, mas ele não fez. - Quero dizer, acho que as coisas devem acontecer no tempo certo.
- Eu sei, só estou brincando. É um pouco estranho pra mim, porque quando eu tinha a idade do Tom, eu já era mãe de três, estava separada do Lew, mas era outra época e acho que era o meu desejo, casar e ter filhos cedo. Não posso exigir o mesmo de vocês.
- Olhe pelo lado bom, mãe, Will está seguindo os seus passos - Thomas disse com bom humor, mas reconhecia que estava beirando os trinta e uma hora seria cobrado. - Céus, não acredito que vou fazer trinta anos.
- Para de se envelhecer, garoto, eu venho logo atrás! - se esticou no banco de trás para dar um tapa nele. - Estou ótima com meus vinte e cinco, não me faça ter uma crise de meia idade agora. E você só vai fazer trinta daqui a dois anos, só pra te lembrar.
- , daqui uns anos você vai passar por isso e vai parar de me julgar. Vou rir muito quando acontecer.
- Parece que era ontem que vocês dormiam juntos quando chovia e agora estão aí com esse papo que me assusta. Estou velha, tenho que admitir – Lizzy disse com nostalgia. Para ela, ainda eram crianças.
- Mãe, a senhora é mais jovem do que eu, Tom e Will juntos, acredite em mim, sua coluna é melhor do que a minha, você não tem com o que se preocupar.
Eles continuaram a conversar o caminho todo de volta até a casa de Lizzy e Lewis. Quando voltaram, encontraram apenas uma casa silenciosa, mas tinham quase certeza de que Lewis e William estavam no estúdio gravando, afinal, era o interesse deles em comum.
- Parece que o mundo deu voltas - disse enquanto tirava o casaco, deixando sobre o braço do sofá.
- Nem pensar! Pode levar para o quarto!
- Mas...
- Thompson, agora!
riu quando percebeu que ela era igualzinha a sua mãe de todas as formas, até mesmo no bordão que ela havia usado para repreender William quando ele fazia a mesma coisa. Ela obedeceu e foi deixar o casaco no quarto, mas acabou se distraindo com o celular estando lá. Viu que seu pai havia postado uma foto na qual dava para ver William ao fundo tocando violão, sinal de que estavam mesmo muito ocupados. Também viu uma foto que Louise postou com a sobrinha, que se lembrou imediatamente dela dizendo que estava ansiosa para reencontrar a pequena. Ela não sabia por quanto tempo se distraiu, só percebeu o que tinha acontecido quando se justificou dizendo que acompanharia o irmão até o aeroporto para receber Clara, encerrando a conversa deles por ali. concordou e colocou o celular para carregar, ao mesmo tempo em que Thomas entrou no cômodo, fazendo ela se assustar.
- Só vim deixar minha blusa, relaxa - ele fez um movimento lento ao jogar a jaqueta sobre a cama, fazendo ela rir.
- Desculpa, eu estava distraída.
- Por que será que eu acho que esse sorriso e distração tem nome e sobrenome? - Thomas sorriu presunçoso e revirou os olhos, mas acabou sorrindo também, um sorrisinho discreto no canto dos lábios. - Eu sabia.
- Não é exatamente isso, Tom, é só... Não sei, já faz tanto tempo que eu...
- Que você está sozinha e sem ninguém que te diga todos os dias o quanto você é incrível?
- Mais ou menos isso - cruzou os braços e encolheu os ombros, enquanto desviava o olhar. - Ele...
- Tem tudo a ver com você, gosta das mesmas coisas que você, te admira, te dá atenção...
- Pode parar de me interromper e ler minha mente? - ela riu ao mesmo tempo que Thomas gargalhou, indo se sentar ao lado dela. - Eu não sei explicar o que eu acho sobre isso, Tommy...
- Finge que sou seu aluno, finge que estamos em uma aula de história.
- Não é tão simples assim - ela sorriu, dando um empurrãozinho nele com o ombro. - Eu só... Não achei que... Eu nunca sonhei que... Ah, eu não consigo, sou um desastre para essas coisas.
- Tá bom, vamos devagar. Você está sozinha desde a faculdade, certo? Desde então nunca mais teve algo sério com alguém.
- Isso. Não é nenhum trauma, nem nada disso, eu só foquei em outras coisas, eu acho...
- Ótimo. Você estava tranquila, mas então conheceu uma pessoa que chamou a sua atenção. Me diz o que você acha do como pessoa.
- É, Thomas, é só como pessoa mesmo porque é isso que ele é - disse como se fosse óbvio e Thomas riu, concordando. - É estranho, parece que eu já conhecia ele antes. Me senti extremamente à vontade com ele, nos demos bem de primeira... Li os livros dele e me encantei com a criatividade dele e a forma que ele lida com as palavras...
- Ainda não é a resposta.
- Bem... Ele é legal... Muito inteligente... Divertido também... Ele acha incrível o fato de eu ser professora de história, porque ele também adora história e gosta de me ouvir falando sobre isso. É gentil... - ela fitou os próprios pés antes de continuar. - E talvez seja o cara mais bonito que eu já vi na vida, eu admito.
- Então vamos juntar tudo isso? Presta atenção: suas únicas figuras masculinas eram os homens da família.
- E o Jake. Carter e Steven também.
- Perfeito. Então nós éramos os homens com quem você tinha mais convívio e aí você conheceu outro que tem tudo a ver com você e nenhum laço de sangue e vocês se deram bem e ficaram amigos muito rápido, e agora você está de sorrisinhos para a tela do celular.
- Não é isso... É que eu realmente gosto de conversar com ele, parece que o assunto nunca morre... E também... É estranho porque eu sou incapaz de confundir ele com o irmão gêmeo, e você sabe como sou tapada com essas coisas, não é? Mas eu sei se eles tentarem me enganar. É óbvio que o Damon também é um cara incrível, eu adoro ele, mas o ...
- Vocês têm uma conexão.
- Exatamente.
- , se você gosta dele, está tudo bem, você não é mais adolescente. Você é uma mulher forte, independente e absurdamente linda. Tem diploma, casa, carro, emprego e muito conteúdo pra oferecer. Imagino que tudo isso também chame a atenção dele de alguma forma. Homens, e não garotos, se interessam por isso. Você não tem que se privar de nada, ok?
- Mas a gente se conhece há tão pouco tempo!
- E daí? Não tem ninguém aqui dizendo que amanhã mesmo você deve ir atrás do vestido de noiva. Só estou dizendo que, se talvez você sentir algo diferente dentro de você, então você não tem motivos pra se privar. Você é jovem, só vive a sua vida e deixa toda a parte ruim de ser adulto um pouco de lado. Você merece ser feliz e ter alguém legal com você.
- Mas e se...
- Se for recíproco, você vai saber, ele vai dar sinais - Thomas se levantou e ficou de frente pra ela. - Agora levanta daí e vamos jantar, não quero ninguém vindo se consultar de graça comigo porque ficou doente.
- Odeio seus termos médicos - ela riu e se levantou, acompanhando o irmão para fora do quarto.
O jantar foi bem agradável, com conversas leves e muitas risadas. Lewis e William deixaram o estúdio para se juntar à mesa, alegando que no dia seguinte gravariam voz para que Lewis pudesse terminar de produzir a faixa antes que William fosse embora.
- Agora é minha vez de falar - William chamou a atenção para si na mesa. - Tenho uma coisa para dizer pra vocês, e Thomas já sabem.
- Eu também já sei, estava esperando você finalmente contar - Lizzy disse, deixando o filho menor surpreso.
- Sabe? E o que a senhora acha? Só estou um pouco assustado por ser uma grande mudança na minha vida.
- Will, está tudo bem - ela sorriu compreensiva. - Eu fico feliz de ver que você está crescendo, sabe que eu sempre vou te apoiar quando decidir dar um grande passo.
- Nossa... Foi mais fácil do que eu esperava - William baixou o olhar para o prato e deu uma garfada na comida para levar à boca.
- E então? Quando vou conhecê-la?
William deixou o garfo cair no prato, fazendo barulho. e Thomas explodiram em risadas escandalosas enquanto Lewis percorria o olhar sobre todos ali, não entendendo nada do que estava acontecendo.
- Perdi alguma parte da piada? - perguntou confuso, vendo que os dois filhos se apoiavam um no outro para rirem.
- Mãe, do que a senhora está falando??? Quem te disse isso? - William estava incrédulo, mas pela reação dos irmãos, já podia imaginar. - Vocês são dois fofoqueiros! Sabiam? Não estou namorando coisa nenhuma.
- Não sei, do jeito que disseram, entendi que Louise era sua namorada.
- Meu Deus do céu! - ele bateu com a palma da mão na testa, negando. - Olha, mãe, eu realmente tenho algo com a Lou, tá? Ela é incrível e a maior gata, mas a gente não namora... ainda. Provavelmente eu contaria se isso acontecesse. Você deveria prestar atenção na sua filha, ela sim está mais perto de um namorinho do que eu.
- William, eu sequer saí com ele! - protestou em defesa, mas se arrependeu quando viu os olhos de sua mãe brilhando de felicidade, enquanto seu pai parecia bem surpreso.
- Então tem alguém mesmo? - Lizzy tinha a feição mais radiante que eles já viram.
- Quem é o safado pra eu matar? - Lewis parecia bem sério. Sempre fora rígido com os namorados que a filha já teve.
- Ai, eu não acredito nisso - negou, escondendo o rosto entre as mãos, mas logo olhou para os pais novamente. - É só um amigo, tá? Eu não tenho nada com ele. Mãe, pode parar de sorrir, e pai, pode abaixar a faca. Eu não tenho ninguém.
- É verdade - Thomas, que agora tinha uma visão diferente do assunto, saiu em defesa da irmã. - Eles são só amigos. Não é diferente da amizade com Jake ou Carter, por exemplo.
- É sim, Tom, pode parar com isso, você sabe que está mentindo.
- Não, Will, estou sendo coerente. Eu seria o primeiro a analisar um possível candidato em potencial para a . Estou atestando, eles são só amigos.
- Acho bom mesmo - Lewis fez sinal de que estava de olho, e o sorriso de Lizzy murchou.
- Que pena, mas tudo bem, eu entendo.
- Will só está dizendo isso para desviar o foco da conversa. Pestinha.
- Também te amo, irmãzinha linda - William mandou um beijo no ar, mas fez menção que ia vomitar, colocando o dedo na boca. - Passada a confusão, eu só queria dizer pra vocês que eu decidi que vou fazer faculdade. Quero estudar em Londres, pra não ter que me mudar. está me ajudando com os estudos e eu já escolhi a universidade e o curso. Quero cursar educação física para ser professor também.
- William, essa é a melhor coisa que você poderia dizer pra gente. Eu acho que vou chorar de tanta felicidade - Lizzy realmente estava começando a ficar com os olhos marejados. - Estou muito, muito, orgulhosa.
- Mandou bem, garoto, achei que ia ser um tonto para o resto da vida.
- Lewis, você realmente está decidido a se vingar de mim pelo resto da minha vida, não é? - ele olhou para o padrasto, que assentiu com tranquilidade. - É, eu deixei de ser tonto, como você disse. Felizes?
- Muito, nem sei dizer o quanto.
- Pelo amor de Deus, mãe, para de chorar.
- Desculpa - ela secou as lágrimas que insistiam em escorrer pelo seu rosto.
- Vocês podem me ajudar?
- É claro que sim, filho.
- Mas eu digo... - William parecia bem constrangido por dizer aquilo. - Financeiramente... Claro que vou arrumar um emprego, mas...
- William, que tipo de mãe eu seria se ajudasse meus dois primeiros filhos e deixasse o último por conta própria? Me preparei pra isso desde que soube que estava grávida, é óbvio que eu vou pagar a faculdade. Eu e o seu pai, por mais que você discorde disso. E não estou falando do Lewis.
- Eu prefiro a morte do que ter esse pirralho como filho.
- Lewis! - Lizzy repreendeu o marido, que riu.
- Estou brincando, meu amor, eu não preciso competir com o Steven. Will, fica tranquilo, sabe que vamos ajudar com tudo.
- Eu sei... Obrigado... Se... Se puderem falar com o Ste... Com o meu pai... Vai ser bom - ele fitou o próprio prato, não tendo certeza se estava pronto para aquilo. - Muito obrigado.
- Nossa, ele sabe agradecer.
- Cala a boca, Tom.
...
olhava em direção ao desembarque, tendo certeza de que a qualquer momento, Charlotte e Clara passariam por lá. Ele torcia mentalmente para que Luce não viesse junto, caso contrário ele não saberia como reagir. Apesar disso, Damon parecia estar muito mais ansioso do que ele, vendo o celular e o relógio de pulso a cada minuto, andando em círculos no mesmo lugar. apenas observava, podia imaginar o que seu irmão estava sentindo naquele momento.
- Calma - ele disse sutilmente e Damon olhou aflito pra ele.
- E se aconteceu alguma coisa? E se elas não vierem mais? E se a Clara não quiser ficar?
- Damon, para de sofrer por antecedência. Elas estão chegando, tá? Fica calmo, daqui a pouco elas vão aparecer ali.
- Cara, se quiser uma dica, só tenha filhos depois de casar, tá bom? Se não você vai ficar que nem eu.
- Andando em círculos no meio do aeroporto?
- É, exatamente assim.
- Não se preocupa, eu não quero ser pai nos próximos dez anos ou algo assim, talvez eu nem queira realmente ter um filho.
- Está falando besteira, filhos são uma benção. Eu só fiz uma cedo demais, mas está bom mesmo assim... Meu Deus, elas chegaram.
seguiu o olhar de Damon e viu Clara e Charlotte passando pela porta. Charlotte empurrava o carrinho cheio de malas, que parecia bem pesado, enquanto Clara vinha sentada na mala mais alta, e parecia estar se divertindo com aquilo. Damon se adiantou na direção delas, praticamente correndo. Clara urrou de felicidade ao ver o pai, esticando os braços para que ele a pegasse. Damon tomou a filha nos braços em um abraço apertado, sentindo que finalmente estava completo. Já fazia três meses que não via Clara e estava morto de saudades.
foi logo atrás, cumprimentando Charlotte e se oferecendo para ajudar com as malas, e ela aceitou apenas por serem muitas.
- Como você está, ?
- Ótimo, estou muito bem - sorriu, estava sendo sincero.
- Dá pra perceber. Você parece mais... Não sei, saudável, talvez. Parece feliz.
- Estou os dois, saudável e feliz - os dois riram. Sabiam que na última vez que se viram, estava em situação oposta. - Você também está ótima. Andou malhando, não é? Pode admitir.
- Claro! Levantamento de criança. Ter um filho é como ter uma academia em casa, deveria experimentar.
- Ah... Não, não, obrigado... Me contento em ser tio. Bem, isso se ela estiver respirando ali - apontou para Clara que só então se soltou de Damon e viu .
- Dá um abraço no seu tio, filha - Damon colocou ela no chão.
se ajoelhou e abriu os braços para receber a sobrinha. Não a via desde o Natal, estava cheio de saudades também.
- Tio !
- Oi, meu amor. Senti muito a sua falta - ele deixou um beijo no topo da cabeça dela e a pegou no colo, se levantando.
- Tio, cadê a tia Diana e a tia Louise?
- Esperando por você. Não podemos deixar elas esperando, não é?
Foi Damon que ajudou Charlotte com as malas enquanto foi na frente com Clara. Ela estava falante, havia estendido seu vocabulário durante os meses em que ele não a viu. Contava sobre a antiga escola, ou simplesmente coisas aleatórias que aconteciam ao seu redor. Clara era uma miniatura de Damon, fosse na aparência ou na personalidade, e achava graça nisso. Cinco anos atrás jamais teria imaginado que seu irmão seria pai de uma garotinha tão adorável, mas estava feliz por isso ter acontecido, pois amava a afilhada incondicionalmente, achando que ela foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida.
- Eu vi a tia Luce - Clara comentou, repousando a cabeça sobre o ombro dele, enquanto engoliu a seco. Odiava ter que falar da ex-namorada.
- É mesmo?
- É, eu vi ela chorando, tio. Ela disse que ia vir me ver.
Só de pensar na possibilidade de ver Luce novamente, sentia um frio incomum na barriga. Não que ainda nutrisse sentimentos pela ex, mas porque o último encontro deles, pouco mais de um ano antes, resultou em uma noite de bebedeira e sexo da qual ele se arrependia profundamente. Quando não viu Luce com ele no dia seguinte, soube que havia tomado a decisão errada.
- Que bom, amor - ele sorriu, voltando para a realidade. Felizmente Clara não tinha idade o suficiente para ter noção de que seus padrinhos eram um ex casal de namorados e provavelmente nem se lembrava mais sobre isso. - Mas deixando a tia Luce um pouco de lado, suas tias prepararam uma surpresa pra você, acho que vai gostar muito.
- O que é?
- Não posso contar, você vai ver.
O caminho de volta para a casa de Damon foi resumido em Clara perguntando insistentemente sobre o que era a surpresa enquanto Damon jurou que colaria a boca do irmão com fita adesiva na próxima vez que ele dissesse alguma coisa. Não era nada grandioso, apenas uma recepção que Louise e Diana organizaram para Clara e Charlotte. Quando chegaram na casa de Damon, uma faixa feita à mão pelas meninas, dizendo "bem-vindas Clara e Charlotte" e balões cor de rosa decoravam a sala de estar, além de doces e presentes que elas compraram para a sobrinha que não sabia nem quem deveria abraçar primeiro, então Louise tomou a dianteira e se adiantou para tomar a garotinha nos braços.
- Meninas, isso ficou lindo - Charlotte disse maravilhada, após cumprimentar Diana. - Eu amei!
- Que bom que vocês gostaram, finalmente Louise e eu concordamos em alguma coisa - Diana riu e então se virou para a sobrinha que havia acabado de se soltar de Louise. - Só ela ganha abraço? E eu?
- Tia!
Clara abraçou Diana enquanto Louise foi cumprimentar Charlotte. Ao contrário do que pensava sobre Luce, ela sempre se deu bem com a ex-namorada de Damon, torcendo inclusive para que um dia eles voltassem, embora soubesse que isso era impossível. Ainda considerava Charlotte como uma boa amiga.
- Está linda como sempre, Lotte, espero que fique alguns dias - disse sorrindo após dar um abraço nela.
- Obrigada! Só até segunda-feira, mas prometo visitar sempre que puder - Charlotte forçou um sorriso. O coração apertava ao se lembrar de que Clara não iria com ela.
Damon, que fora apaixonado por ela durante tantos anos e conhecia cada expressão facial que Charlotte fazia, entendeu o contexto e se sentiu mal por ela, sabia exatamente qual era a sensação de saber que não veria mais a filha todos os dias. Ele mesmo estava passando por isso há um ano e meio desde que voltou para a Inglaterra. Não podia fazer muito, mas queria que Charlotte se sentisse melhor.
- Vocês devem estar muito cansadas da viagem - ele baixou o olhar quando Clara abraçou suas pernas e ele sorriu. - Por que não vão tomar um banho enquanto preparamos algo para comer? Provavelmente vão dormir muito rápido.
- Vou aceitar, estou exausta mesmo - Charlotte encolheu os ombros e bocejou. Não conseguiu dormir durante a viagem. - Obrigada, Dam. Vem, filha, vamos tomar banho juntas.
- Vou levar as malas de vocês para o quarto e mostrar onde fica. Venham comigo.
Damon pegou Clara no colo e Charlotte o seguiu para fora do cômodo. , Diana e Louise se entreolharam, percebendo o clima que surgiu, soltou um assovio e riu por perceber que todos ali pensavam a mesma coisa.
- E aí? O que vocês acham? - perguntou ao colocar as mãos na cintura, se certificando de que eles não estavam mais por ali.
- Me recuso a acreditar que não sobrou um pinguinho que seja de sentimento ali - Louise gesticulou com os dedos. - Fala sério, até fiquei sem fôlego aqui.
- Se voltarem algum dia, não vou ficar surpresa - Diana concluiu, sendo apoiada pelos irmãos. - Mas é melhor irmos para a cozinha, não é? Damon não vai ficar feliz em nos ver fofocando sobre ele. Vamos lá adiantar as coisas.
...
"Minha sobrinha acabou de chegar. Me sugeriu essas orelhinhas para combinar com as dela 😝"
abriu um largo sorriso quando viu a foto anexada na mensagem. estava com Clara e ela havia acabado de sair do banho. presumiu isso porque a menina estava enrolada em uma toalha infantil que tinha uma touca com orelhinhas de coelho. Pelo visto, ela tinha outra igual que estava com , o que fez ela rir e ter certeza que foi a mensagem mais fofa que ela já recebeu.
- Olha lá, já está toda caidinha pelo de novo - William passou por ela e se sentou no sofá da sala ao lado da mãe.
- ? - Lizzy e Lewis perguntaram ao mesmo tempo.
, irritada com aquilo, apenas virou as costas e foi em direção às escadas para ir ao quarto, batendo a porta quando entrou. O barulho foi alto o suficiente para que se pudesse ouvir no andar de baixo da casa. Thomas, que estava sentado no braço do sofá ao lado do seu pai, bateu com a palma da mão na própria festa, tendo certeza de que o final de semana terminaria da pior forma possível.
- Foi desnecessário, Will.
- Eu só estava brincando, Tom.
- Mãe e pai, com licença. William, vem comigo, vamos conversar um pouco.
William, sabendo que iria tomar uma bronca exagerada, acompanhou Thomas até o jardim da casa. Ele se sentou na cadeira de balanço enquanto o mais velho ficou parado na frente dele, cruzando os braços e parecendo um pouco aborrecido.
- Pega leve com a , ok?
- Eu não fiz nada!
- Você está implicando muito com ela por causa disso, Will, é sério... Dá um tempo pra ela.
- Tom, que besteira! Vocês tiraram os últimos dias para fazer piadinhas sobre mim com a Louise e nem por causa disso eu fechei a cara. está sensível demais para quem adora brincar com essas coisas - William revirou os olhos e cruzou os braços, impaciente. Não achava justo ouvir aquilo.
- Cara, você está mesmo com a Louise, não é? Acho que pra você é muito mais simples do que pra ela - Thomas se sentou na outra cadeira de balanço.
- Sim, e daí? O que você quer dizer com isso?
- Quero dizer que ela não lida com as coisas do mesmo jeito que você. está confusa, ok? Ela não sabe o que sente, não sabe se eles são só amigos. Você ficar fazendo piadinhas não está colaborando muito para ajudar.
- Ah, cara, que droga! - William se lamentou, dando um soquinho no braço da cadeira. - Ela está mesmo afim do irmão da Louise?
- Não sei, talvez sim... Só estou te aconselhando a pegar leve. A já segura muita coisa sozinha, eu acho que ter alguém pra compartilhar vai ser como tirar um peso dos ombros dela. , pelo que vocês dizem, parece ser um cara legal e que trata ela bem.
- Isso é verdade - William foi obrigado a concordar. Não podia negar que seu possível cunhado sabia como tratar uma garota. - Ok, admito, ele é um bom partido e combina com a .
- Só quero que ela seja feliz, Will. Ela merece muito, por tudo o que ela já fez - Thomas soou emocional demais, fazendo com que William franzisse o cenho.
- Tá tudo bem, Tom? - perguntou confuso. - Eu não te vejo emocional assim desde que você entrou pra faculdade.
- Não se fala sobre a família como se falasse sobre um paciente, Will - ele sorriu de canto. - Obviamente você ainda não era nascido quando meus pais se separaram. Eu aguentei bem, já era um pouquinho mais velho e entendia um pouco o que estava acontecendo, mas a não, ela só tinha três anos. Ela sentiu mais do que eu, sofreu muito mais... Eu acho que isso fez com que a gente se aproximasse. Eu queria proteger ela... Hoje eu vejo ela assim, se sentindo perdida, e lembro daquela garotinha. Talvez por isso eu não consiga mais achar graça. Eu sei que ela é muito mais emocional do que nós dois, embora não demonstre.
- É... - William se sentia profundamente arrependido pelo seu comportamento, estava muito envergonhado. - Vou pedir desculpas pra ela. Acha que é uma boa ideia ir agora?
- Você que sabe, se ela quiser te ouvir...
William se levantou e entrou, sendo seguido por Thomas. Passou pela mãe e pelo padrasto e subiu as escadas para o andar de cima, enquanto Thomas optou por ficar. Ele bateu na porta do quarto e ouviu ralhando, mandando ir embora, mas mesmo assim William abriu a porta e ela revirou os olhos, impaciente.
- O que você quer? - ela se sentou na cama e cruzou os braços.
- Pedir desculpas - William disse com sinceridade, mas continuou com meio corpo para dentro do quarto, incapaz de se aproximar.
- Ah... Claro - deu de ombros, não levando a sério.
- Me desculpa, eu não queria deixar você chateada, não sabia que minha brincadeira estava passando dos limites.
- William, se eu não digo nada para ninguém, provavelmente tenho um bom motivo para fazer isso e o grande motivo é: não tenho nenhuma razão para sair falando para as pessoas sobre um amigo - ela deu ênfase em amigo.
- Eu sei, você está certa. Criei expectativas falsas na nossa mãe, mas vou resolver isso. Me desculpa mesmo, não vou mais fazer esse tipo de brincadeira.
- Deixa pra lá, não faz diferença mesmo... - bufou, impaciente.
Não era apenas pelas brincadeiras, estava disposta a aceitar as desculpas do irmão, mas estava frustrada como um todo por ter reagido mal e não saber exatamente o que estava sentindo, mesmo tendo uma conversa muito transparente com Thomas, que parecia mais um conselheiro amoroso do que um prodígio da medicina.
- Ter interesse em alguém não quer dizer estar apaixonado e está tudo bem - ele disse de repente, fazendo olhar curiosa pra ele.
- O quê?
- Você me entendeu. Para de ficar se segurando, está aí toda caidinha pelo cara. Qual é o problema nisso? Nenhum.
- Will...
- Presta atenção, estou falando sério - William mudou a postura e o tom de voz. - Se você acha que está afim dele, não tem motivo nenhum pra ficar assim, gostar de alguém é bom e eu acabei de descobrir isso. Eu não vou mais fazer piada, mas que no mínimo você faça jus e tome uma atitude, ninguém é frouxo nessa família. Você me entendeu?
- Hum... Sim? - não tinha certeza se havia entendido algo. - Obrigada?
- De nada, agora pode ficar aí conversando com o seu amigo. Eu consigo arrancar uma confissão dele rapidinho, se você quiser e deixar, é claro. Bom, você que sabe. Mais tarde a gente se fala!
William fechou a porta e saiu, deixando uma atordoada para trás. Provavelmente nunca viu William falando tão sério assim. Do jeito dele, mas falou, o que era algo relativamente novo. Já William voltou para a sala, achando que tinha feito a coisa certa.
- Resolvidos. Estão felizes? Sem piadinhas com a a partir de hoje. Estão todos proibidos.
- Nossa, nunca imaginei que algum dia o William seria o filho sensato.
- Ah, Lewis, me erra! Pelo amor de Deus! - William bufou e Lewis riu da indignação do enteado. - Sou muito sensato, para a sua informação, ok?
- Will, você precisa parar de levar as coisas que ele diz a sério. Senta aqui e assiste com a gente, filho, se a quiser pode se juntar com a gente depois.
William concordou e se sentou na poltrona livre para ver o filme, embora não fosse um grande fã de filmes de época. Se distraiu com o celular, conversando com Louise, embora ele nunca ficava satisfeito com simples mensagens de texto. Talvez funcionasse com e , mas ele achava pouco para o que já tinham. Ao menos ouvir a voz dela o fazia se sentir mais perto, então decidiu voltar ao jardim e ligar para Louise, que atendeu no primeiro toque.
- Mensagens de texto não funcionam comigo, você já deveria saber - ele se sentou na mesma cadeira de balanço que antes enquanto ouvia a risada dela do outro lado da linha.
- Eu deveria ter imaginado - Louise se afastou dos irmãos e foi até um dos quartos para poder conversar.
- Estou voltando na segunda-feira, a propósito. Que tal um cinema?
- Segunda-feira? É complicado, Will... Charlotte vai embora nesse mesmo dia, Clara vai precisar de todos nós aqui, o Damon também. Não vai ser fácil. Sinto muito mesmo.
- Entendo, você tem razão - William não queria demonstrar sua frustração. - Me avise quando puder.
- Terça-feira, eu tenho algumas coisas para resolver de tarde, mas estou livre durante a noite. Pode ir lá para a minha casa, se quiser.
- Combinado - ele sorriu satisfeito, relaxando na cadeira. - A propósito, se não for demais, pode pedir, com toda a gentileza do mundo, para que seu irmão convide a minha irmã para sair? É um apelo desesperado.
- Quê?
- Lou, você sabe do que estou falando.
- Eu sei, mas... Assim? Do nada?
- É. Do nada. Quero dizer, mais ou menos... Eu descobri umas coisas, imagino que você saiba o que está acontecendo do seu lado da família.
- Ah... Claro. Ele não larga aquele celular, o que é incomum... Posso tentar, mas acho que e eu não temos uma boa relação quando é esse o assunto, ele não confia tanto assim em mim e nem eu confio nele, então vou pedir para a Diana. Ele é mais próximo dela nessa parte.
- Devo me preocupar com isso?
- Não, são só uns problemas que tivemos antes, acho que depois disso as coisas mudaram um pouco entre a gente, mas não se preocupa. Acho mesmo que o precisa de um empurrãozinho.
- Já estou deixando bem claro que se ele machucar a minha irmã, eu quebro ele em dois. Sem dó e nem piedade.
- Encosta no meu bebê pra você ver - Louise disse divertida e os dois riram. - Então ela... Você sabe... Está...?
- Ah, com certeza, está sim. O que é estranho, porque eu nunca vejo a com ninguém. Por favor, dê uma ajuda para eles.
- Claro, claro... Eu vou tentar ajudar.
- Que engraçado, acho que nossas famílias estão destinadas a ficarem juntas - William riu e Louise concordou, era muita coincidência.
- Temos ligações de vidas passadas. Aposto que eu era alguma princesa e você algum tipo de lorde. Íamos para bailes de máscaras e desfilávamos em carruagens deslumbrantes.
- Conde de Balmoral. Escócia, 1848 - William murmurou, quase inaudível, enquanto flashes excessivos lhe vinham em mente. Aquela maldita torre, aquele maldito castelo em que vira sua irmã morrendo.
- O quê?
- Nada não, eu só... Você acredita mesmo nessas coisas, Louise?
- Não sei... As vezes eu acredito e as vezes não... Só acredito quando vejo algo ou alguém e fico com aquela sensação de déjà-vu. Você acredita?
- Não, não acredito - ele respondeu prontamente. Nunca acreditou, embora ultimamente custasse a mudar de opinião. - É que... Sei lá, quando conheci você e seus irmãos me senti bem familiarizado com vocês, mas acho que é só empatia mesmo. Eu não acredito nessas coisas.
Louise e William continuaram conversando mais um pouco, embora ambos tivessem deslumbres involuntários o tempo todo sobre algo que eles não sabiam o que era. William provavelmente estava mais adiantado, então simplesmente ignorava, mas Louise estava atordoada com sua mente tentando lhe pregar peças. Que castelo era aquele? Quem era aquele bebê que a chamava de mãe? E por que ela sentia uma tristeza tão grande ao se lembrar da sua família? Louise estava ficando tonta com tantas coisas lhe rondando a mente.
Quando encerraram a ligação, Louise voltou para junto dos irmãos. Estava se sentindo um pouco tonta com tanta coisa que absorveu, parecia que as coisas ao redor estavam começando a girar.
- Lou, está tudo bem? - Damon perguntou ao notar que a irmã parecia um pouco pálida.
Louise se apoiou nele quando teve certeza de que ia cair. Damon a segurou antes disso, mas de novo ela teve vislumbres. Estava com Damon, ela estava carregando o mesmo bebê de sempre enquanto ele estava com duas meninas no colo. Uma era Clara, ela tinha certeza disso, era Clara com alguns meses de vida, mas a outra... Ela conhecia a outra criança também, era sua própria filha.
- Você fez bem em homenagear eles, Louise. Sinto falta dele todos os dias - Damon mordeu os lábios, contendo a vontade de chorar enquanto uma lágrima solitária escorreu pela bochecha dele.
Louise voltou para a realidade e percebeu que muitos rostos aflitos olhavam para ela. Damon ainda a segurava, mas estava do outro lado. Ela tinha que pensar rápido.
- Minha pressão caiu - disse procurando se recompor. - Desculpem, estou bem agora. Pode me soltar.
- Tem certeza?
- Tenho, Dam. Foi só uma queda de pressão, nada demais.
Damon a soltou e Louise procurou ter certeza de que podia se manter em pé. Tinha voltado ao normal. Tudo parecia estar no seu devido lugar. Ela ajeitou o cabelo e a postura, não queria que ninguém se preocupasse com ela. Nem ela mesma havia entendido o que aconteceu, mas não queria causar alarde. Certamente ninguém acreditaria se ela dissesse que estava vendo coisas assim.
- Por que estão me olhando assim? Eu disse que já passou, estou ótima agora! Podemos simplesmente seguir com a nossa vida? Obrigada.
- Sinceramente, não sei o que seria dessa família sem mim. Morreriam de intoxicação alimentar, tenho certeza - Thomas disse, sem tirar os olhos da panela onde os legumes cozinhavam.
- Não seja injusto, eu cozinho também! - protestou, esborrifando água das suas mãos molhadas na direção dele. - Já tinha esquecido como é insuportável conviver com você, senhor boa-alimentação-vida-saudável.
- Estou falando em um geral. Papai acha que pizza é saudável porque tem tomates.
- E não é? - Lewis se aproximou para conferir o que o filho estava fazendo, enquanto dava uma mordida na maçã que estava comendo. - Viu só? Estou comendo uma fruta.
- Me dê forças, Einstein - ele riu, tendo certeza de que seu pai era o pior.
Thomas, disposto a melhorar os hábitos alimentares da familia durante o tempo em que estava lá, decidiu preparar o almoço naquele sábado. Estava cozinhando alguns legumes enquanto lavava a louça e seu pai apenas observava, já que William e Lizzy foram ao supermercado comprar alguns ingredientes que faltavam a pedido dele.
- Às vezes eu acho que você não é meu filho. Um cara assim não pode ter o meu DNA, não é possível. Eu vou pedir um teste. Vocês dois, na verdade. Puxaram a Liz em tudo.
- Pai, acho que você precisa do mínimo de inteligência pra sua profissão, ao menos uns dois neurônios funcionam aí dentro - riu, não achava que ele fosse burro. - Além disso, precisou de muito QI pra fazer o Thomas.
- É verdade, foi na semana de provas, eu me lembro.
- Ah... Obrigado por me deixarem saber disso, pessoal - Thomas se virou para eles. - Eu penso que somos uma família de pessoas extraordinárias. E pra entrar nessa família, tem que ser muito bom em alguma coisa.
Eles continuaram conversando enquanto Thomas preparava o almoço, até que Lizzy e William chegaram carregados de sacolas, com o mais novo reclamando de que estava pesado demais.
- Filho, você corre todos os dias pelo que eu sei, se tem alguém que pode reclamar, sou eu - Lizzy disse após colocar as compras na mesa com a ajuda do marido.
- Ele é assim mesmo, mãe, a mão dele vai cair até se ele dobrar as roupas jogadas pelo quarto dele. Deveria ver como é aquele quarto - pontuou, enquanto William parecia muito satisfeito com aquilo.
- Antes de eu chegar, claro, agora está limpo - Thomas concluiu. - Trouxe batata, mãe?
- Tudo aqui. Posso pelo menos te ajudar um pouco?
- Não, senhora, pode sair todo mundo daqui e me deixar cozinhar em paz.
Thomas terminou de preparar o almoço sozinho como ele queria, alegando que encaminharia a família toda para um nutricionista caso não mudassem os hábitos alimentares. Cozinhar sozinho era uma terapia pra ele. O gosto de legumes frescos acompanhados pelo frango assado parecia até uma novidade desde que os três filhos deixaram a casa dos pais. até tentava e às vezes conseguia preparar bons pratos no seu tempo livre, mas não podia negar que Thomas cozinhava melhor do que ela. Certamente ele tinha herdado o talento da avó que sempre foi uma boa cozinheira, talvez até melhor do que Lizzy.
Após o término da refeição, Lizzy se prontificou em lavar a louça, insistindo que Thomas não iria fazer mais nada naquele dia e que ele deveria apenas curtir o passeio, praticamente obrigando os filhos a saírem de casa. Então enquanto Thomas e obedeceram a mãe e decidiram sair com ela, enquanto William optou por ficar, pois queria a ajuda de Lewis e suas habilidades musicais. Queria gravar uma versão em estúdio da música que tocara dias antes para Louise, Sweater Weather, e o padrasto aceitou.
- Certo, Will, vamos ter que partir do zero, vai ser um pouco trabalhoso, mas podemos terminar antes de você ir embora - Lewis se sentou na cadeira do seu estúdio, dando um giro na mesma. - O que você prefere? Gravar primeiro o instrumental e depois colocar a voz por cima ou os dois juntos?
- Separado é melhor - William tirou seu violão do bag.
- Acústico?
- Acho que sim, não sei tocar ela em outro instrumento... Vou tocar, me diz o que acha.
William se sentou no banquinho alto, se ajeitando e empunhando o violão. Começou a tocar a música conforme se lembrava desde a última vez que a tocou. Lewis observou, procurando algo para acrescentar que valorizasse o talento de William.
- Está ótimo assim, vamos começar - ele disse após William finalizar. - Vamos gravar o instrumental hoje e mais tarde cuidamos da voz, vai ficar ótimo.
William concordou e se limitou a seguir as instruções de Lewis, o que era algo relativamente novo pra ele. Na adolescência, não costumava se dar bem com o padrasto, sempre o rebatendo em tudo e deixando muito claro que não tinham qualquer laço de sangue, o que custou alguns fios brancos adiantados para Lizzy, que sempre tentou fazer com que a paz reinasse entre os dois. William, após a discussão que lhe fez cortar relações com seu pai biológico, alguns anos antes, começou a enxergar Lewis de uma forma diferente, achando que era ele quem realmente esteve lá durante todo o tempo.
- Para, para! Presta atenção, William! - Lewis ergueu o tom de voz a fim de chamar a atenção de William que parou de tocar.
- Quê?
- Está fazendo tudo errado, está ficando uma grande merda isso aqui.
- Desculpa, eu me distraí... - William soltou um longo suspiro, estava pensativo. - Lewis, acha que eu deveria voltar a falar com o meu pai?
- Acho que nem deveria ter parado, para início de conversa. Não que Steven seja o meu melhor amigo, quero dizer, o cara dormiu com a minha mulher, não é? Mas não acho que seja ótimo ficar sem ter notícias dos filhos. Não posso imaginar o que seria de mim se ou Thomas parassem de falar comigo.
- Ah, não fala assim dele, vocês estavam separados, nem foi traição - William saiu em defesa do pai, e só então percebeu isso. - Droga, fiz de novo.
- Garoto, você é insuportável que nem o seu pai. Pode dizer o que quiser, que discorda de mim e que eu também não sou um lírio colhido no campo, mas você é uma versão mais nova do Steven, ele era exatamente assim quando tinha a sua idade.
- Passei anos da minha vida ouvindo que me pareço com você - ele murmurou, se sentindo incomodado com a comparação. - Sei lá, talvez eu não ache mais que seja um insulto.
- Não, não, eu sou muito melhor do que aquele tapado do Steven, com todo o respeito. Mas não dá pra negar que ele sempre pareceu ser um bom pai, criou o seu irmão sozinho, não é? É, ele é um bom pai.
- Então por que ele não se importava comigo?
- Will, presta atenção, garoto - Lewis se ajeitou na cadeira, esticando as costas. - Não existe isso, tá? Pai de verdade se preocupa sim, caso contrário é só genitor. Ele ter andado meio ausente, não quer dizer que ele não se importava com você e com seu irmão, ele se importa, sim, e muito, não é atoa que perturba eu e a Liz até hoje pra gente falar com você. Eu não acho que um genitor desnaturado faria isso, ele não pagaria uma boa escola pra você e nem te levaria para viajar durante o verão.
- Tá, você talvez tenha razão. Mas por que quando eu ia atrás de atenção, ele fingia que eu não existo? Sempre tinha uma desculpa.
- Quando Thomas e ainda eram pequenos, eu costumava trabalhar muito mais do que hoje em dia. Eu viajei pra caralho com os artistas que já produzi, e como a Liz também viajava às vezes, é seguro dizer que os dois passaram uma parte da infância com a babá. Não é à toa que trouxemos uma estrangeira para dentro da nossa casa para nos ajudar com os nossos filhos, mas o fato de eu estar sempre viajando não queria dizer que eu não me importava com eles, muito pelo contrário, tudo o que eu fiz foi pelos meus filhos. Foi por causa do meu trabalho que eu pude pagar a faculdade dos dois, e a gente sabe que Oxford não é meia boca... Will, você é a coisa mais importante na vida do Steven, eu tenho certeza disso, ele mataria e morreria por você. Ele parecia distante, eu sei, mas estava correndo atrás do melhor pra você e para o Carter, e ele conseguiu. Me desculpe pelo que vou dizer agora, mas você foi um estupido com ele, dizendo todas aquelas coisas, isso realmente machucou ele. Desculpa, mas acho que você precisa de alguém que te dê um choque de realidade e que bom que essa pessoa sou eu... Você já é adulto, William, está na hora de começar a rever suas atitudes.
- Eu... Vou pensar nisso melhor... Podemos continuar?
- Deixa eu ver se eu entendi: então o meu bebezinho está namorando e eu não estava sabendo de nada? E como é essa Louise? - Lizzy perguntou no caminho de volta pra casa, sem tirar a atenção do volante.
- Eu não sei se eles estão namorando, só sei que estão juntos. Não se preocupa, mãe, a Louise é bem legal, acho que Will teve muita sorte - tentou contornar a situação, implorando mentalmente para que Thomas a ajudasse. - Ela é um pouco mais velha, independente, tem uma vida estável. Não que eu ache que mulher tem que dar jeito em um homem, mas quem sabe o Will se inspire nela, não é?
- Se é assim, se você está me garantindo, então eu vou ficar tranquila e torcendo para que ele me apresente ela um dia... Mas e vocês dois? Vão deixar William passar na frente?
- Por mim, ele pode passar numa boa, eu estou ótimo - Thomas riu, tinha que concordar que o irmão menor era mais rápido do que ele.
- Eu também - se encolheu um pouco no banco. Estava ouvindo tantas piadinhas nos últimos dias que já até esperava que Thomas fizesse alguma, mas ele não fez. - Quero dizer, acho que as coisas devem acontecer no tempo certo.
- Eu sei, só estou brincando. É um pouco estranho pra mim, porque quando eu tinha a idade do Tom, eu já era mãe de três, estava separada do Lew, mas era outra época e acho que era o meu desejo, casar e ter filhos cedo. Não posso exigir o mesmo de vocês.
- Olhe pelo lado bom, mãe, Will está seguindo os seus passos - Thomas disse com bom humor, mas reconhecia que estava beirando os trinta e uma hora seria cobrado. - Céus, não acredito que vou fazer trinta anos.
- Para de se envelhecer, garoto, eu venho logo atrás! - se esticou no banco de trás para dar um tapa nele. - Estou ótima com meus vinte e cinco, não me faça ter uma crise de meia idade agora. E você só vai fazer trinta daqui a dois anos, só pra te lembrar.
- , daqui uns anos você vai passar por isso e vai parar de me julgar. Vou rir muito quando acontecer.
- Parece que era ontem que vocês dormiam juntos quando chovia e agora estão aí com esse papo que me assusta. Estou velha, tenho que admitir – Lizzy disse com nostalgia. Para ela, ainda eram crianças.
- Mãe, a senhora é mais jovem do que eu, Tom e Will juntos, acredite em mim, sua coluna é melhor do que a minha, você não tem com o que se preocupar.
Eles continuaram a conversar o caminho todo de volta até a casa de Lizzy e Lewis. Quando voltaram, encontraram apenas uma casa silenciosa, mas tinham quase certeza de que Lewis e William estavam no estúdio gravando, afinal, era o interesse deles em comum.
- Parece que o mundo deu voltas - disse enquanto tirava o casaco, deixando sobre o braço do sofá.
- Nem pensar! Pode levar para o quarto!
- Mas...
- Thompson, agora!
riu quando percebeu que ela era igualzinha a sua mãe de todas as formas, até mesmo no bordão que ela havia usado para repreender William quando ele fazia a mesma coisa. Ela obedeceu e foi deixar o casaco no quarto, mas acabou se distraindo com o celular estando lá. Viu que seu pai havia postado uma foto na qual dava para ver William ao fundo tocando violão, sinal de que estavam mesmo muito ocupados. Também viu uma foto que Louise postou com a sobrinha, que se lembrou imediatamente dela dizendo que estava ansiosa para reencontrar a pequena. Ela não sabia por quanto tempo se distraiu, só percebeu o que tinha acontecido quando se justificou dizendo que acompanharia o irmão até o aeroporto para receber Clara, encerrando a conversa deles por ali. concordou e colocou o celular para carregar, ao mesmo tempo em que Thomas entrou no cômodo, fazendo ela se assustar.
- Só vim deixar minha blusa, relaxa - ele fez um movimento lento ao jogar a jaqueta sobre a cama, fazendo ela rir.
- Desculpa, eu estava distraída.
- Por que será que eu acho que esse sorriso e distração tem nome e sobrenome? - Thomas sorriu presunçoso e revirou os olhos, mas acabou sorrindo também, um sorrisinho discreto no canto dos lábios. - Eu sabia.
- Não é exatamente isso, Tom, é só... Não sei, já faz tanto tempo que eu...
- Que você está sozinha e sem ninguém que te diga todos os dias o quanto você é incrível?
- Mais ou menos isso - cruzou os braços e encolheu os ombros, enquanto desviava o olhar. - Ele...
- Tem tudo a ver com você, gosta das mesmas coisas que você, te admira, te dá atenção...
- Pode parar de me interromper e ler minha mente? - ela riu ao mesmo tempo que Thomas gargalhou, indo se sentar ao lado dela. - Eu não sei explicar o que eu acho sobre isso, Tommy...
- Finge que sou seu aluno, finge que estamos em uma aula de história.
- Não é tão simples assim - ela sorriu, dando um empurrãozinho nele com o ombro. - Eu só... Não achei que... Eu nunca sonhei que... Ah, eu não consigo, sou um desastre para essas coisas.
- Tá bom, vamos devagar. Você está sozinha desde a faculdade, certo? Desde então nunca mais teve algo sério com alguém.
- Isso. Não é nenhum trauma, nem nada disso, eu só foquei em outras coisas, eu acho...
- Ótimo. Você estava tranquila, mas então conheceu uma pessoa que chamou a sua atenção. Me diz o que você acha do como pessoa.
- É, Thomas, é só como pessoa mesmo porque é isso que ele é - disse como se fosse óbvio e Thomas riu, concordando. - É estranho, parece que eu já conhecia ele antes. Me senti extremamente à vontade com ele, nos demos bem de primeira... Li os livros dele e me encantei com a criatividade dele e a forma que ele lida com as palavras...
- Ainda não é a resposta.
- Bem... Ele é legal... Muito inteligente... Divertido também... Ele acha incrível o fato de eu ser professora de história, porque ele também adora história e gosta de me ouvir falando sobre isso. É gentil... - ela fitou os próprios pés antes de continuar. - E talvez seja o cara mais bonito que eu já vi na vida, eu admito.
- Então vamos juntar tudo isso? Presta atenção: suas únicas figuras masculinas eram os homens da família.
- E o Jake. Carter e Steven também.
- Perfeito. Então nós éramos os homens com quem você tinha mais convívio e aí você conheceu outro que tem tudo a ver com você e nenhum laço de sangue e vocês se deram bem e ficaram amigos muito rápido, e agora você está de sorrisinhos para a tela do celular.
- Não é isso... É que eu realmente gosto de conversar com ele, parece que o assunto nunca morre... E também... É estranho porque eu sou incapaz de confundir ele com o irmão gêmeo, e você sabe como sou tapada com essas coisas, não é? Mas eu sei se eles tentarem me enganar. É óbvio que o Damon também é um cara incrível, eu adoro ele, mas o ...
- Vocês têm uma conexão.
- Exatamente.
- , se você gosta dele, está tudo bem, você não é mais adolescente. Você é uma mulher forte, independente e absurdamente linda. Tem diploma, casa, carro, emprego e muito conteúdo pra oferecer. Imagino que tudo isso também chame a atenção dele de alguma forma. Homens, e não garotos, se interessam por isso. Você não tem que se privar de nada, ok?
- Mas a gente se conhece há tão pouco tempo!
- E daí? Não tem ninguém aqui dizendo que amanhã mesmo você deve ir atrás do vestido de noiva. Só estou dizendo que, se talvez você sentir algo diferente dentro de você, então você não tem motivos pra se privar. Você é jovem, só vive a sua vida e deixa toda a parte ruim de ser adulto um pouco de lado. Você merece ser feliz e ter alguém legal com você.
- Mas e se...
- Se for recíproco, você vai saber, ele vai dar sinais - Thomas se levantou e ficou de frente pra ela. - Agora levanta daí e vamos jantar, não quero ninguém vindo se consultar de graça comigo porque ficou doente.
- Odeio seus termos médicos - ela riu e se levantou, acompanhando o irmão para fora do quarto.
O jantar foi bem agradável, com conversas leves e muitas risadas. Lewis e William deixaram o estúdio para se juntar à mesa, alegando que no dia seguinte gravariam voz para que Lewis pudesse terminar de produzir a faixa antes que William fosse embora.
- Agora é minha vez de falar - William chamou a atenção para si na mesa. - Tenho uma coisa para dizer pra vocês, e Thomas já sabem.
- Eu também já sei, estava esperando você finalmente contar - Lizzy disse, deixando o filho menor surpreso.
- Sabe? E o que a senhora acha? Só estou um pouco assustado por ser uma grande mudança na minha vida.
- Will, está tudo bem - ela sorriu compreensiva. - Eu fico feliz de ver que você está crescendo, sabe que eu sempre vou te apoiar quando decidir dar um grande passo.
- Nossa... Foi mais fácil do que eu esperava - William baixou o olhar para o prato e deu uma garfada na comida para levar à boca.
- E então? Quando vou conhecê-la?
William deixou o garfo cair no prato, fazendo barulho. e Thomas explodiram em risadas escandalosas enquanto Lewis percorria o olhar sobre todos ali, não entendendo nada do que estava acontecendo.
- Perdi alguma parte da piada? - perguntou confuso, vendo que os dois filhos se apoiavam um no outro para rirem.
- Mãe, do que a senhora está falando??? Quem te disse isso? - William estava incrédulo, mas pela reação dos irmãos, já podia imaginar. - Vocês são dois fofoqueiros! Sabiam? Não estou namorando coisa nenhuma.
- Não sei, do jeito que disseram, entendi que Louise era sua namorada.
- Meu Deus do céu! - ele bateu com a palma da mão na testa, negando. - Olha, mãe, eu realmente tenho algo com a Lou, tá? Ela é incrível e a maior gata, mas a gente não namora... ainda. Provavelmente eu contaria se isso acontecesse. Você deveria prestar atenção na sua filha, ela sim está mais perto de um namorinho do que eu.
- William, eu sequer saí com ele! - protestou em defesa, mas se arrependeu quando viu os olhos de sua mãe brilhando de felicidade, enquanto seu pai parecia bem surpreso.
- Então tem alguém mesmo? - Lizzy tinha a feição mais radiante que eles já viram.
- Quem é o safado pra eu matar? - Lewis parecia bem sério. Sempre fora rígido com os namorados que a filha já teve.
- Ai, eu não acredito nisso - negou, escondendo o rosto entre as mãos, mas logo olhou para os pais novamente. - É só um amigo, tá? Eu não tenho nada com ele. Mãe, pode parar de sorrir, e pai, pode abaixar a faca. Eu não tenho ninguém.
- É verdade - Thomas, que agora tinha uma visão diferente do assunto, saiu em defesa da irmã. - Eles são só amigos. Não é diferente da amizade com Jake ou Carter, por exemplo.
- É sim, Tom, pode parar com isso, você sabe que está mentindo.
- Não, Will, estou sendo coerente. Eu seria o primeiro a analisar um possível candidato em potencial para a . Estou atestando, eles são só amigos.
- Acho bom mesmo - Lewis fez sinal de que estava de olho, e o sorriso de Lizzy murchou.
- Que pena, mas tudo bem, eu entendo.
- Will só está dizendo isso para desviar o foco da conversa. Pestinha.
- Também te amo, irmãzinha linda - William mandou um beijo no ar, mas fez menção que ia vomitar, colocando o dedo na boca. - Passada a confusão, eu só queria dizer pra vocês que eu decidi que vou fazer faculdade. Quero estudar em Londres, pra não ter que me mudar. está me ajudando com os estudos e eu já escolhi a universidade e o curso. Quero cursar educação física para ser professor também.
- William, essa é a melhor coisa que você poderia dizer pra gente. Eu acho que vou chorar de tanta felicidade - Lizzy realmente estava começando a ficar com os olhos marejados. - Estou muito, muito, orgulhosa.
- Mandou bem, garoto, achei que ia ser um tonto para o resto da vida.
- Lewis, você realmente está decidido a se vingar de mim pelo resto da minha vida, não é? - ele olhou para o padrasto, que assentiu com tranquilidade. - É, eu deixei de ser tonto, como você disse. Felizes?
- Muito, nem sei dizer o quanto.
- Pelo amor de Deus, mãe, para de chorar.
- Desculpa - ela secou as lágrimas que insistiam em escorrer pelo seu rosto.
- Vocês podem me ajudar?
- É claro que sim, filho.
- Mas eu digo... - William parecia bem constrangido por dizer aquilo. - Financeiramente... Claro que vou arrumar um emprego, mas...
- William, que tipo de mãe eu seria se ajudasse meus dois primeiros filhos e deixasse o último por conta própria? Me preparei pra isso desde que soube que estava grávida, é óbvio que eu vou pagar a faculdade. Eu e o seu pai, por mais que você discorde disso. E não estou falando do Lewis.
- Eu prefiro a morte do que ter esse pirralho como filho.
- Lewis! - Lizzy repreendeu o marido, que riu.
- Estou brincando, meu amor, eu não preciso competir com o Steven. Will, fica tranquilo, sabe que vamos ajudar com tudo.
- Eu sei... Obrigado... Se... Se puderem falar com o Ste... Com o meu pai... Vai ser bom - ele fitou o próprio prato, não tendo certeza se estava pronto para aquilo. - Muito obrigado.
- Nossa, ele sabe agradecer.
- Cala a boca, Tom.
olhava em direção ao desembarque, tendo certeza de que a qualquer momento, Charlotte e Clara passariam por lá. Ele torcia mentalmente para que Luce não viesse junto, caso contrário ele não saberia como reagir. Apesar disso, Damon parecia estar muito mais ansioso do que ele, vendo o celular e o relógio de pulso a cada minuto, andando em círculos no mesmo lugar. apenas observava, podia imaginar o que seu irmão estava sentindo naquele momento.
- Calma - ele disse sutilmente e Damon olhou aflito pra ele.
- E se aconteceu alguma coisa? E se elas não vierem mais? E se a Clara não quiser ficar?
- Damon, para de sofrer por antecedência. Elas estão chegando, tá? Fica calmo, daqui a pouco elas vão aparecer ali.
- Cara, se quiser uma dica, só tenha filhos depois de casar, tá bom? Se não você vai ficar que nem eu.
- Andando em círculos no meio do aeroporto?
- É, exatamente assim.
- Não se preocupa, eu não quero ser pai nos próximos dez anos ou algo assim, talvez eu nem queira realmente ter um filho.
- Está falando besteira, filhos são uma benção. Eu só fiz uma cedo demais, mas está bom mesmo assim... Meu Deus, elas chegaram.
seguiu o olhar de Damon e viu Clara e Charlotte passando pela porta. Charlotte empurrava o carrinho cheio de malas, que parecia bem pesado, enquanto Clara vinha sentada na mala mais alta, e parecia estar se divertindo com aquilo. Damon se adiantou na direção delas, praticamente correndo. Clara urrou de felicidade ao ver o pai, esticando os braços para que ele a pegasse. Damon tomou a filha nos braços em um abraço apertado, sentindo que finalmente estava completo. Já fazia três meses que não via Clara e estava morto de saudades.
foi logo atrás, cumprimentando Charlotte e se oferecendo para ajudar com as malas, e ela aceitou apenas por serem muitas.
- Como você está, ?
- Ótimo, estou muito bem - sorriu, estava sendo sincero.
- Dá pra perceber. Você parece mais... Não sei, saudável, talvez. Parece feliz.
- Estou os dois, saudável e feliz - os dois riram. Sabiam que na última vez que se viram, estava em situação oposta. - Você também está ótima. Andou malhando, não é? Pode admitir.
- Claro! Levantamento de criança. Ter um filho é como ter uma academia em casa, deveria experimentar.
- Ah... Não, não, obrigado... Me contento em ser tio. Bem, isso se ela estiver respirando ali - apontou para Clara que só então se soltou de Damon e viu .
- Dá um abraço no seu tio, filha - Damon colocou ela no chão.
se ajoelhou e abriu os braços para receber a sobrinha. Não a via desde o Natal, estava cheio de saudades também.
- Tio !
- Oi, meu amor. Senti muito a sua falta - ele deixou um beijo no topo da cabeça dela e a pegou no colo, se levantando.
- Tio, cadê a tia Diana e a tia Louise?
- Esperando por você. Não podemos deixar elas esperando, não é?
Foi Damon que ajudou Charlotte com as malas enquanto foi na frente com Clara. Ela estava falante, havia estendido seu vocabulário durante os meses em que ele não a viu. Contava sobre a antiga escola, ou simplesmente coisas aleatórias que aconteciam ao seu redor. Clara era uma miniatura de Damon, fosse na aparência ou na personalidade, e achava graça nisso. Cinco anos atrás jamais teria imaginado que seu irmão seria pai de uma garotinha tão adorável, mas estava feliz por isso ter acontecido, pois amava a afilhada incondicionalmente, achando que ela foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida.
- Eu vi a tia Luce - Clara comentou, repousando a cabeça sobre o ombro dele, enquanto engoliu a seco. Odiava ter que falar da ex-namorada.
- É mesmo?
- É, eu vi ela chorando, tio. Ela disse que ia vir me ver.
Só de pensar na possibilidade de ver Luce novamente, sentia um frio incomum na barriga. Não que ainda nutrisse sentimentos pela ex, mas porque o último encontro deles, pouco mais de um ano antes, resultou em uma noite de bebedeira e sexo da qual ele se arrependia profundamente. Quando não viu Luce com ele no dia seguinte, soube que havia tomado a decisão errada.
- Que bom, amor - ele sorriu, voltando para a realidade. Felizmente Clara não tinha idade o suficiente para ter noção de que seus padrinhos eram um ex casal de namorados e provavelmente nem se lembrava mais sobre isso. - Mas deixando a tia Luce um pouco de lado, suas tias prepararam uma surpresa pra você, acho que vai gostar muito.
- O que é?
- Não posso contar, você vai ver.
O caminho de volta para a casa de Damon foi resumido em Clara perguntando insistentemente sobre o que era a surpresa enquanto Damon jurou que colaria a boca do irmão com fita adesiva na próxima vez que ele dissesse alguma coisa. Não era nada grandioso, apenas uma recepção que Louise e Diana organizaram para Clara e Charlotte. Quando chegaram na casa de Damon, uma faixa feita à mão pelas meninas, dizendo "bem-vindas Clara e Charlotte" e balões cor de rosa decoravam a sala de estar, além de doces e presentes que elas compraram para a sobrinha que não sabia nem quem deveria abraçar primeiro, então Louise tomou a dianteira e se adiantou para tomar a garotinha nos braços.
- Meninas, isso ficou lindo - Charlotte disse maravilhada, após cumprimentar Diana. - Eu amei!
- Que bom que vocês gostaram, finalmente Louise e eu concordamos em alguma coisa - Diana riu e então se virou para a sobrinha que havia acabado de se soltar de Louise. - Só ela ganha abraço? E eu?
- Tia!
Clara abraçou Diana enquanto Louise foi cumprimentar Charlotte. Ao contrário do que pensava sobre Luce, ela sempre se deu bem com a ex-namorada de Damon, torcendo inclusive para que um dia eles voltassem, embora soubesse que isso era impossível. Ainda considerava Charlotte como uma boa amiga.
- Está linda como sempre, Lotte, espero que fique alguns dias - disse sorrindo após dar um abraço nela.
- Obrigada! Só até segunda-feira, mas prometo visitar sempre que puder - Charlotte forçou um sorriso. O coração apertava ao se lembrar de que Clara não iria com ela.
Damon, que fora apaixonado por ela durante tantos anos e conhecia cada expressão facial que Charlotte fazia, entendeu o contexto e se sentiu mal por ela, sabia exatamente qual era a sensação de saber que não veria mais a filha todos os dias. Ele mesmo estava passando por isso há um ano e meio desde que voltou para a Inglaterra. Não podia fazer muito, mas queria que Charlotte se sentisse melhor.
- Vocês devem estar muito cansadas da viagem - ele baixou o olhar quando Clara abraçou suas pernas e ele sorriu. - Por que não vão tomar um banho enquanto preparamos algo para comer? Provavelmente vão dormir muito rápido.
- Vou aceitar, estou exausta mesmo - Charlotte encolheu os ombros e bocejou. Não conseguiu dormir durante a viagem. - Obrigada, Dam. Vem, filha, vamos tomar banho juntas.
- Vou levar as malas de vocês para o quarto e mostrar onde fica. Venham comigo.
Damon pegou Clara no colo e Charlotte o seguiu para fora do cômodo. , Diana e Louise se entreolharam, percebendo o clima que surgiu, soltou um assovio e riu por perceber que todos ali pensavam a mesma coisa.
- E aí? O que vocês acham? - perguntou ao colocar as mãos na cintura, se certificando de que eles não estavam mais por ali.
- Me recuso a acreditar que não sobrou um pinguinho que seja de sentimento ali - Louise gesticulou com os dedos. - Fala sério, até fiquei sem fôlego aqui.
- Se voltarem algum dia, não vou ficar surpresa - Diana concluiu, sendo apoiada pelos irmãos. - Mas é melhor irmos para a cozinha, não é? Damon não vai ficar feliz em nos ver fofocando sobre ele. Vamos lá adiantar as coisas.
"Minha sobrinha acabou de chegar. Me sugeriu essas orelhinhas para combinar com as dela 😝"
abriu um largo sorriso quando viu a foto anexada na mensagem. estava com Clara e ela havia acabado de sair do banho. presumiu isso porque a menina estava enrolada em uma toalha infantil que tinha uma touca com orelhinhas de coelho. Pelo visto, ela tinha outra igual que estava com , o que fez ela rir e ter certeza que foi a mensagem mais fofa que ela já recebeu.
- Olha lá, já está toda caidinha pelo de novo - William passou por ela e se sentou no sofá da sala ao lado da mãe.
- ? - Lizzy e Lewis perguntaram ao mesmo tempo.
, irritada com aquilo, apenas virou as costas e foi em direção às escadas para ir ao quarto, batendo a porta quando entrou. O barulho foi alto o suficiente para que se pudesse ouvir no andar de baixo da casa. Thomas, que estava sentado no braço do sofá ao lado do seu pai, bateu com a palma da mão na própria festa, tendo certeza de que o final de semana terminaria da pior forma possível.
- Foi desnecessário, Will.
- Eu só estava brincando, Tom.
- Mãe e pai, com licença. William, vem comigo, vamos conversar um pouco.
William, sabendo que iria tomar uma bronca exagerada, acompanhou Thomas até o jardim da casa. Ele se sentou na cadeira de balanço enquanto o mais velho ficou parado na frente dele, cruzando os braços e parecendo um pouco aborrecido.
- Pega leve com a , ok?
- Eu não fiz nada!
- Você está implicando muito com ela por causa disso, Will, é sério... Dá um tempo pra ela.
- Tom, que besteira! Vocês tiraram os últimos dias para fazer piadinhas sobre mim com a Louise e nem por causa disso eu fechei a cara. está sensível demais para quem adora brincar com essas coisas - William revirou os olhos e cruzou os braços, impaciente. Não achava justo ouvir aquilo.
- Cara, você está mesmo com a Louise, não é? Acho que pra você é muito mais simples do que pra ela - Thomas se sentou na outra cadeira de balanço.
- Sim, e daí? O que você quer dizer com isso?
- Quero dizer que ela não lida com as coisas do mesmo jeito que você. está confusa, ok? Ela não sabe o que sente, não sabe se eles são só amigos. Você ficar fazendo piadinhas não está colaborando muito para ajudar.
- Ah, cara, que droga! - William se lamentou, dando um soquinho no braço da cadeira. - Ela está mesmo afim do irmão da Louise?
- Não sei, talvez sim... Só estou te aconselhando a pegar leve. A já segura muita coisa sozinha, eu acho que ter alguém pra compartilhar vai ser como tirar um peso dos ombros dela. , pelo que vocês dizem, parece ser um cara legal e que trata ela bem.
- Isso é verdade - William foi obrigado a concordar. Não podia negar que seu possível cunhado sabia como tratar uma garota. - Ok, admito, ele é um bom partido e combina com a .
- Só quero que ela seja feliz, Will. Ela merece muito, por tudo o que ela já fez - Thomas soou emocional demais, fazendo com que William franzisse o cenho.
- Tá tudo bem, Tom? - perguntou confuso. - Eu não te vejo emocional assim desde que você entrou pra faculdade.
- Não se fala sobre a família como se falasse sobre um paciente, Will - ele sorriu de canto. - Obviamente você ainda não era nascido quando meus pais se separaram. Eu aguentei bem, já era um pouquinho mais velho e entendia um pouco o que estava acontecendo, mas a não, ela só tinha três anos. Ela sentiu mais do que eu, sofreu muito mais... Eu acho que isso fez com que a gente se aproximasse. Eu queria proteger ela... Hoje eu vejo ela assim, se sentindo perdida, e lembro daquela garotinha. Talvez por isso eu não consiga mais achar graça. Eu sei que ela é muito mais emocional do que nós dois, embora não demonstre.
- É... - William se sentia profundamente arrependido pelo seu comportamento, estava muito envergonhado. - Vou pedir desculpas pra ela. Acha que é uma boa ideia ir agora?
- Você que sabe, se ela quiser te ouvir...
William se levantou e entrou, sendo seguido por Thomas. Passou pela mãe e pelo padrasto e subiu as escadas para o andar de cima, enquanto Thomas optou por ficar. Ele bateu na porta do quarto e ouviu ralhando, mandando ir embora, mas mesmo assim William abriu a porta e ela revirou os olhos, impaciente.
- O que você quer? - ela se sentou na cama e cruzou os braços.
- Pedir desculpas - William disse com sinceridade, mas continuou com meio corpo para dentro do quarto, incapaz de se aproximar.
- Ah... Claro - deu de ombros, não levando a sério.
- Me desculpa, eu não queria deixar você chateada, não sabia que minha brincadeira estava passando dos limites.
- William, se eu não digo nada para ninguém, provavelmente tenho um bom motivo para fazer isso e o grande motivo é: não tenho nenhuma razão para sair falando para as pessoas sobre um amigo - ela deu ênfase em amigo.
- Eu sei, você está certa. Criei expectativas falsas na nossa mãe, mas vou resolver isso. Me desculpa mesmo, não vou mais fazer esse tipo de brincadeira.
- Deixa pra lá, não faz diferença mesmo... - bufou, impaciente.
Não era apenas pelas brincadeiras, estava disposta a aceitar as desculpas do irmão, mas estava frustrada como um todo por ter reagido mal e não saber exatamente o que estava sentindo, mesmo tendo uma conversa muito transparente com Thomas, que parecia mais um conselheiro amoroso do que um prodígio da medicina.
- Ter interesse em alguém não quer dizer estar apaixonado e está tudo bem - ele disse de repente, fazendo olhar curiosa pra ele.
- O quê?
- Você me entendeu. Para de ficar se segurando, está aí toda caidinha pelo cara. Qual é o problema nisso? Nenhum.
- Will...
- Presta atenção, estou falando sério - William mudou a postura e o tom de voz. - Se você acha que está afim dele, não tem motivo nenhum pra ficar assim, gostar de alguém é bom e eu acabei de descobrir isso. Eu não vou mais fazer piada, mas que no mínimo você faça jus e tome uma atitude, ninguém é frouxo nessa família. Você me entendeu?
- Hum... Sim? - não tinha certeza se havia entendido algo. - Obrigada?
- De nada, agora pode ficar aí conversando com o seu amigo. Eu consigo arrancar uma confissão dele rapidinho, se você quiser e deixar, é claro. Bom, você que sabe. Mais tarde a gente se fala!
William fechou a porta e saiu, deixando uma atordoada para trás. Provavelmente nunca viu William falando tão sério assim. Do jeito dele, mas falou, o que era algo relativamente novo. Já William voltou para a sala, achando que tinha feito a coisa certa.
- Resolvidos. Estão felizes? Sem piadinhas com a a partir de hoje. Estão todos proibidos.
- Nossa, nunca imaginei que algum dia o William seria o filho sensato.
- Ah, Lewis, me erra! Pelo amor de Deus! - William bufou e Lewis riu da indignação do enteado. - Sou muito sensato, para a sua informação, ok?
- Will, você precisa parar de levar as coisas que ele diz a sério. Senta aqui e assiste com a gente, filho, se a quiser pode se juntar com a gente depois.
William concordou e se sentou na poltrona livre para ver o filme, embora não fosse um grande fã de filmes de época. Se distraiu com o celular, conversando com Louise, embora ele nunca ficava satisfeito com simples mensagens de texto. Talvez funcionasse com e , mas ele achava pouco para o que já tinham. Ao menos ouvir a voz dela o fazia se sentir mais perto, então decidiu voltar ao jardim e ligar para Louise, que atendeu no primeiro toque.
- Mensagens de texto não funcionam comigo, você já deveria saber - ele se sentou na mesma cadeira de balanço que antes enquanto ouvia a risada dela do outro lado da linha.
- Eu deveria ter imaginado - Louise se afastou dos irmãos e foi até um dos quartos para poder conversar.
- Estou voltando na segunda-feira, a propósito. Que tal um cinema?
- Segunda-feira? É complicado, Will... Charlotte vai embora nesse mesmo dia, Clara vai precisar de todos nós aqui, o Damon também. Não vai ser fácil. Sinto muito mesmo.
- Entendo, você tem razão - William não queria demonstrar sua frustração. - Me avise quando puder.
- Terça-feira, eu tenho algumas coisas para resolver de tarde, mas estou livre durante a noite. Pode ir lá para a minha casa, se quiser.
- Combinado - ele sorriu satisfeito, relaxando na cadeira. - A propósito, se não for demais, pode pedir, com toda a gentileza do mundo, para que seu irmão convide a minha irmã para sair? É um apelo desesperado.
- Quê?
- Lou, você sabe do que estou falando.
- Eu sei, mas... Assim? Do nada?
- É. Do nada. Quero dizer, mais ou menos... Eu descobri umas coisas, imagino que você saiba o que está acontecendo do seu lado da família.
- Ah... Claro. Ele não larga aquele celular, o que é incomum... Posso tentar, mas acho que e eu não temos uma boa relação quando é esse o assunto, ele não confia tanto assim em mim e nem eu confio nele, então vou pedir para a Diana. Ele é mais próximo dela nessa parte.
- Devo me preocupar com isso?
- Não, são só uns problemas que tivemos antes, acho que depois disso as coisas mudaram um pouco entre a gente, mas não se preocupa. Acho mesmo que o precisa de um empurrãozinho.
- Já estou deixando bem claro que se ele machucar a minha irmã, eu quebro ele em dois. Sem dó e nem piedade.
- Encosta no meu bebê pra você ver - Louise disse divertida e os dois riram. - Então ela... Você sabe... Está...?
- Ah, com certeza, está sim. O que é estranho, porque eu nunca vejo a com ninguém. Por favor, dê uma ajuda para eles.
- Claro, claro... Eu vou tentar ajudar.
- Que engraçado, acho que nossas famílias estão destinadas a ficarem juntas - William riu e Louise concordou, era muita coincidência.
- Temos ligações de vidas passadas. Aposto que eu era alguma princesa e você algum tipo de lorde. Íamos para bailes de máscaras e desfilávamos em carruagens deslumbrantes.
- Conde de Balmoral. Escócia, 1848 - William murmurou, quase inaudível, enquanto flashes excessivos lhe vinham em mente. Aquela maldita torre, aquele maldito castelo em que vira sua irmã morrendo.
- O quê?
- Nada não, eu só... Você acredita mesmo nessas coisas, Louise?
- Não sei... As vezes eu acredito e as vezes não... Só acredito quando vejo algo ou alguém e fico com aquela sensação de déjà-vu. Você acredita?
- Não, não acredito - ele respondeu prontamente. Nunca acreditou, embora ultimamente custasse a mudar de opinião. - É que... Sei lá, quando conheci você e seus irmãos me senti bem familiarizado com vocês, mas acho que é só empatia mesmo. Eu não acredito nessas coisas.
Louise e William continuaram conversando mais um pouco, embora ambos tivessem deslumbres involuntários o tempo todo sobre algo que eles não sabiam o que era. William provavelmente estava mais adiantado, então simplesmente ignorava, mas Louise estava atordoada com sua mente tentando lhe pregar peças. Que castelo era aquele? Quem era aquele bebê que a chamava de mãe? E por que ela sentia uma tristeza tão grande ao se lembrar da sua família? Louise estava ficando tonta com tantas coisas lhe rondando a mente.
Quando encerraram a ligação, Louise voltou para junto dos irmãos. Estava se sentindo um pouco tonta com tanta coisa que absorveu, parecia que as coisas ao redor estavam começando a girar.
- Lou, está tudo bem? - Damon perguntou ao notar que a irmã parecia um pouco pálida.
Louise se apoiou nele quando teve certeza de que ia cair. Damon a segurou antes disso, mas de novo ela teve vislumbres. Estava com Damon, ela estava carregando o mesmo bebê de sempre enquanto ele estava com duas meninas no colo. Uma era Clara, ela tinha certeza disso, era Clara com alguns meses de vida, mas a outra... Ela conhecia a outra criança também, era sua própria filha.
- Você fez bem em homenagear eles, Louise. Sinto falta dele todos os dias - Damon mordeu os lábios, contendo a vontade de chorar enquanto uma lágrima solitária escorreu pela bochecha dele.
Louise voltou para a realidade e percebeu que muitos rostos aflitos olhavam para ela. Damon ainda a segurava, mas estava do outro lado. Ela tinha que pensar rápido.
- Minha pressão caiu - disse procurando se recompor. - Desculpem, estou bem agora. Pode me soltar.
- Tem certeza?
- Tenho, Dam. Foi só uma queda de pressão, nada demais.
Damon a soltou e Louise procurou ter certeza de que podia se manter em pé. Tinha voltado ao normal. Tudo parecia estar no seu devido lugar. Ela ajeitou o cabelo e a postura, não queria que ninguém se preocupasse com ela. Nem ela mesma havia entendido o que aconteceu, mas não queria causar alarde. Certamente ninguém acreditaria se ela dissesse que estava vendo coisas assim.
- Por que estão me olhando assim? Eu disse que já passou, estou ótima agora! Podemos simplesmente seguir com a nossa vida? Obrigada.
Capítulo 10 - Date
estava encostado na soleira da porta, observando Charlotte se despedir de Clara, para que ele a acompanhasse até o aeroporto. Não queria parecer apressado e muito menos insensível, então se limitou a ficar parado esperando o tempo que elas precisassem. Charlotte estava se segurando para não chorar, mas não resistiu quando deu um abraço na filha. Damon, Louise e Diana apenas observavam. Sabiam que seria uma tarefa muito difícil acalmar Clara depois que ela entendesse que sua mãe estava indo embora.
- Eu prometo que sempre vou vir te visitar, tá bom? Obedeça ao seu pai, suas tias e o seu padrinho - ela disse enquanto ajeitava uma mecha rebelde do cabelo da filha.
- Mamãe, não vai - Clara pediu, fazendo menção de ir abraçar Charlotte, mas ela se levantou. - Mamãe.
- Tchau, meu amor. Eu te amo muito, não esquece disso.
Charlotte já tinha se despedido dos outros três, então apenas fez sinal para de que já poderiam ir. Clara, percebendo que a mãe estava indo embora, quis ir atrás, mas Damon a segurou, mesmo estando com o coração apertado por fazer aquilo. Clara começou a chorar e a espernear enquanto fechava a porta. Charlotte colocou as mãos no rosto, abafando o choro, mas sabia que estava deixando um pedaço seu em Londres.
- Quer voltar? - perguntou ao perceber que ela estava hesitante em ir, mas ela negou.
- Não. Vamos, se eu adiar vai ser pior.
apenas concordou e, levando as malas dela, as colocou no porta-malas e então entraram no carro. Ele ligou o rádio, mas deixou em um volume baixo. Charlotte estava se acalmando, embora ainda chorasse por estar partindo.
- Eu queria muito que ela fosse comigo, , queria mesmo, mas ela não ia se adaptar.
- Eu entendo... Mas não se preocupa, nós vamos cuidar bem dela.
- Eu sei, não tenho dúvidas, vocês são incríveis. Eu só... Não me preparei o suficiente.
- Lotte, acho que você nunca ia conseguir se preparar o suficiente - disse compreensivo. - Vai ser doloroso pra você, mas vai fazer muito bem ao Damon... Sabe, ele realmente sente falta da Clara, foi difícil pra ele se mudar.
- Eu sei, acho que também vai ser bom para a Clara. Eu só preciso me acostumar com a ideia... Vai ser bom pra ela ter todos vocês de novo, ela sempre fala muito de você, .
- Senti muito a falta dela - sorriu com o que tinha acabado de ouvir. - Eu amo a Clara como se fosse minha filha.
- Bem, na nossa ausência, os responsáveis por ela são você e a Luce, então... - ela percebeu o que disse. - Desculpa, eu...
- Tudo bem, você não está totalmente errada - ele apertou as mãos contra o volante.
- Me perdoa, , eu esqueci completamente e falei sem pensar, me desculpa mesmo!
- Calma, Lotte - ele sorriu de canto, mesmo incomodado com aquilo. - Eu já virei a página.
- Que bom, eu fico feliz - ela sorriu também. - Mas você diz no sentido de ter superado ou...
- Os dois - a interrompeu involuntariamente, sabia que agora tinha de se explicar. - Conheci uma pessoa. Somos só amigos, mas... Não sei, gosto de estar com ela.
- Ah, , que bom ouvir isso - Charlotte era incapaz de parar de sorrir. - Por favor, não me deixa morrer de curiosidade! Quem é ela? Como se chama?
- O nome dela é ... Eu conheci ela no aniversário da minha prima, são melhores amigas, pelo visto... Ela é professora de história, sabe? É tão inteligente que eu posso passar o dia inteiro tendo aulas, não me importaria... Ela é diferente, tem um sorriso lindo... - ele acabou por sorrir também. - Droga.
- Ah, não, não! Deixa eu ver quem foi que amoleceu esse coraçãozinho! Me mostra, eu quero ver ela.
Quando parou no farol, pegou o celular no bolso da calça e mostrou a conversa entre eles aberta na foto de perfil de . Charlotte se admirou com a foto, entendendo na hora porque tinha um sorrisinho bobo estampado nos lábios. Ficou encantada com a beleza de , concluindo que ele tinha um bom gosto, pois Luce também era muito bonita, mas agora estava focada na garota da fotografia. Não era uma selfie, era um retrato no qual ela estava abraçada com um cachorro da raça Husky. Estava sorrindo radiante, tinha mesmo motivos para gostar do sorriso dela.
- Ela é linda, . Nossa, acho que me apaixonei também - ela bloqueou a tela do celular e riu, um pouco sem graça.
- Não estou apaixonado, eu só... Sei lá, só gosto dela. Eu acho.
- Esse sorrisinho aí não é de dúvida. Eu te conheço, esqueceu? Com tanto que ela trate bem a minha filha, tem toda a minha benção.
- Ela sabe sobre a Clara, pelo visto ela adora crianças.
- Perfeito! Espero que na próxima vez que eu vir aqui, eu possa conhece-la pessoalmente e ver se ela é bonita mesmo ou só fotogênica.
- Ela é linda - praticamente sussurrou, mas Charlotte ouviu. - Por favor, não diz sobre isso pra ninguém, ok? Nem para a Luce.
- Não se preocupa, eu não acho que isso seja da conta da Lucinda. Vocês dois são meus amigos e eu quero que vocês sejam felizes, mas eu não tenho que me intrometer nisso. Estou muito, muito, feliz por você. Há quanto tempo estão saindo?
- Hum... Na verdade não estamos saindo.
- E por que você não a chama pra sair? Não vai me dizer que ficam o dia todo se falando por mensagem - ele não respondeu e Charlotte entendeu como um sim. - !
- Qual é?! Não é tão simples! - se defendeu. Provavelmente, chamar para um encontro ainda não estava nos seus planos. - E se ela disser que não?
- Eu duvido! Vai, , chama ela! Aposto que ela só está esperando você chamar.
- Tá - ele se deu por vencido. - Vou chamar. Feliz?
- Quem tem que ficar feliz é você.
e Charlotte foram conversando durante todo o caminho até o aeroporto. Era bom, pois assim ela poderia se distrair um pouco, ao invés de chorar por ter deixado Clara com o pai. Na volta, ainda refletia sobre o que Charlotte disse. É claro que gostaria de chamar para um encontro, mas a ideia parecia excitante e assustadora ao mesmo tempo. Ele não sabia se o melhor era ser direto ou ir pelo caminho mais longo, não se sentia seguro o suficiente para simplesmente a chamar para sair, deixando claro que era um encontro, contornar a situação parecia ser mais simples.
Mas como faria isso? Para onde iriam? Por mais que gostasse de museus, pensou que poderia ser entediante para ela. Achou também que cinemas fossem óbvios demais; nenhum filme em cartaz lhe chamava a atenção, a não ser o último filme dos Vingadores. não se considerava a pessoa mais criativa para bolar um encontro que não ficasse tão estampado assim que era, de fato, um encontro, mas quando passou pelo letreiro da peça de Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, foi como se uma lâmpada tivesse surgido no topo de sua cabeça.
Tinham tantos interesses em comum, mas provavelmente a saga era o que mais rendia conversa entre os dois. Sim, agora ele tinha um norte para seguir e já começava a planejar tudo mentalmente.
...
estava terminando de desfazer a mala da viagem, guardando as roupas de volta no closet enquanto ouvia a faixa que William gravou com Lewis. O mais novo praticamente a obrigou a ouvir, mas ela estava curtindo. Gostava de The Neighborhood e achava que William tinha muito talento para a música, mesmo que ele fizesse apenas por hobby.
Ela terminou de guardar as roupas, devolveu a mala para o fundo do armário e saiu do quarto. Não viu William, mas Thomas estava começando a preparar algo para que eles começassem. Por mais que insistisse para que ele não fizesse isso, Thomas fazia porque estava acostumado e também gostava de cozinhar, assim como também gostava de bancar o irmão mais velho e cuidar dos mais novos. Pelo visto, realmente tinha aptidão para cuidar das pessoas.
- Larga isso aí, vamos pedir uma pizza - chegou na intenção de assustá-lo, e conseguiu.
- Me parece bom - Thomas admitiu, não queria realmente preparar o jantar. - Você pede?
- Claro. A mesma de sempre, não é?
- Acertou.
- Vou pegar meu celular, já volto.
voltou para o seu quarto para pegar o celular que estava carregando. Tinha uma chamada perdida de de exatamente um minuto atrás. Aparentemente ele ligou no momento em que ela saiu do quarto, então antes de pedir a pizza, ela decidiu retornar e atendeu no primeiro toque.
- Não é comum você não atender. Quase chamei a polícia - ele disse ao atender e ela riu, concordando com cada palavra.
- Deixei carregando, me desculpa. Sem dramas, estou viva.
- Que bom, você vai precisar estar viva para o que vamos fazer.
- Do que você está falando, ?
- Bom... Espero que esteja com a varinha e o uniforme de Hogwarts em dia... Tenho um par de ingressos para a peça e outro para visitar os estúdios. Quero que você vá comigo, não vou aceitar um não como resposta.
- Nossa! É sério? Quando?
- Quinta-feira, e é cedo. Você vai?
- Hum... Tudo bem, eu posso ir, já vi The Cursed Child, mas nunca visitei o estúdio.
- Você mora no berço de Harry Potter a vida inteira e nunca visitou? Estou muito desapontado com você, .
- Ei, eu não tinha vida! - ela se defendeu, rindo e trocando o celular de lado. - Além disso, passei cinco anos em Oxford, visitei todos os cenários de lá várias vezes. É praticamente um estúdio, tá?
- Mas em Oxford não tem um salão comunal da Grifinória onde foram gravados os filmes, certo? Eu tenho razão nisso.
- Eu sei. Eu vou, mas vou deixar bem claro que vou entrar neste salão comunal com o meu cachecol da Corvinal, está bem?
- Não se preocupa, farei o mesmo - eles dois riram juntos e um breve silêncio se instaurou na linha por um instante.
- Obrigada, - disse com sinceridade. - Eu vou gostar muito de ir com você.
- Então nos vemos na quinta?
- Está marcado - ela sorriu, mesmo que ele não a pudesse ver. - Preciso desligar, vim pedir uma pizza e acabei esquecendo.
- Tudo bem, e eu estou dirigindo, não deveria estar falando, mas não aguentei... Até quinta, .
- Até. Tchau.
encerrou a ligação e voltou para a sala com um sorriso despontando de uma ponta à outra do rosto. Já tinha se esquecido da pizza novamente. Thomas, ao perceber, teve certeza que a felicidade dela não era porque falou com o atendente da pizzaria.
- Vai, pode ir contando - ele desligou a televisão e se virou para ela. - Essa felicidade não é porque a pizza veio de graça, não é?
- Ele me convidou para ir aos estúdios de Harry Potter com ele.
- E você ainda tem alguma dúvida? Eu disse que ele ia dar sinais, só não imaginei que seria em um outdoor cheio de luzes chamativas. Por favor, me diz que você vai.
- É claro - deu de ombros. - Por que eu não iria? Não é todo dia que eu tenho essa oportunidade.
- E você está indo só por isso? Não me faça te dar uma bronca, Thompson.
- Não, não estou indo só por isso. Era o que você queria ouvir?
- Era sim. Agora faça a gentileza de ligar para a pizzaria ou eu vou morrer de fome.
fez o pedido e logo os três estavam ao redor da mesa comendo juntos, fazendo inveja em Jake e Katie, através de mensagens, por eles não estarem ali. Deixaram o assunto longe dos ouvidos de William por questões óbvias, embora pretendesse contar depois. Ela se quer estava realmente prestando atenção no que acontecia ao redor, estava avoada, perdida nos próprios pensamentos, mas de uma maneira boa. Por ela, iria naquele mesmo instante separar o cachecol da Corvinal e a roupa que iria vestir. Mal podia esperar para que chegasse quinta-feira!
...
William estacionou o carro na frente do prédio em que Louise morava. Conseguiu convencer a a emprestar o carro para que, ao menos uma vez na vida, ele sentisse que estava impressionando Louise em algo. Mandou uma mensagem para ela e pouco depois Louise surgiu no térreo, elegante como sempre em seu vestido preto básico. Ela entrou no carro, colocou a bolsa no banco de trás e colocou o cinto, só então se virou para ele.
- Você está linda... Como sempre, é claro - William sorriu de canto e se esticou para beijá-la.
Tinha medo de que visse coisas estranhas sempre que a tocava. Era aleatório, não tinha padrão. Às vezes via, às vezes não e ficou agradecido por naquela vez não ter acontecido nada e ele pôde desfrutar do sentimento de êxtase que tomava conta do seu corpo todas as vezes em que seus lábios se encontravam com os dela.
- Obrigada, você também - Louise disse ao se afastar um pouco, sorrindo. - E cheiroso. Meu Deus, Will, que perfume bom.
- Eu sabia que você ia gostar.
- Céus! Como você é convencido. Já tinha me esquecido disso. Mas você está tão cheiroso que eu vou chegar mais perto de novo pra sentir mais uma vez.
William riu e colocou as mãos no rosto dela quando ela o beijou. Ele não achava que Louise era como as outras meninas com quem ele já se envolveu, especialmente porque ela era uma mulher adulta e não somente uma garota. Tinha uma vida independente que William almejava alcançar um dia, além de saber se impor quando precisava e também tinha uma personalidade muito forte, algo que o atraía de uma maneira inexplicável. Ele não sentia a necessidade de sempre tomar a atitude inicial, Louise também fazia isso e ele gostava.
- Por que a gente não pula a parte do cinema? - ela perguntou após o beijo, se afastando milímetros dele. De qualquer forma, o batom já estava borrado.
- Eu ia mesmo sugerir isso - ele sorriu e então desligou o carro.
Eles deixaram o veículo e entraram juntos para pegar o elevador. Louise ajeitou o vestido em frente ao espelho quando William colocou as mãos na cintura dela e, afastando algumas mechas de cabelo dali, beijou o seu pescoço. Ela fechou os olhos quando sentiu os lábios dele em contato com a pele dela, lhe causando arrepios por todo o corpo. Queria desesperadamente que chegassem logo ao andar dela, mas ele parecia bem tranquilo. As mãos dele desceram até a barra do vestido, que subiu um pouco quando ele apertou a sua coxa. Louise mordeu os lábios para conter um gemido e se virou para ele, colocando seus braços ao redor do pescoço de William.
- Eu normalmente não faço isso, sabia? - ela perguntou enquanto desabotoava apenas o primeiro botão da parte de cima da camisa dele.
- É mesmo? - William sorriu, tentando baixar o olhar para ver. - Eu também não, mas... - ela desabotoou o segundo botão. - Calma, calma, já estamos quase chegando.
Segundos depois as portas do elevador se abriram e Louise foi na frente para abrir a porta.
- Me dá só um minuto pra eu tirar essa maquiagem toda, estou parecendo um palhaço - ela, um pouco sem jeito, apontou para o seu batom borrado.
William apenas assentiu enquanto Louise desapareceu no corredor. Ele foi até a sacada para tomar um pouco de ar puro e admirar a beleza de Londres de noite. Conseguia ver a Tower Bridge dali, imaginando que Louise poderia passar horas ali no seu tempo livre. Ele desejava ter uma vista como aquela algum dia, se tivesse oportunidade, já que o apartamento da sua irmã se quer tinha uma sacada. Louise voltou um pouco depois, mas percebeu que William estava distraído, e ela achava que ele ficava lindo assim. Se aproximou devagar e envolveu os braços ao redor dele, o abraçando por trás. William olhou por cima dos ombros e sorriu de canto.
- Aqui é muito bonito, provavelmente a vista mais bonita que eu já vi de uma sacada.
- É bom pra pensar às vezes - Louise concordou, deixando ele ter o próprio momento. - Agora que e eu demos um tempo nessa coisa de viagem, posso passar mais tempo aqui admirando à vista.
- Privilégios da vida de empresária?
- Digamos que sim - os dois riram. - Ele está entretido com o novo livro dele e eu posso descansar um pouco, já que eu tenho vida também.
- Isso é muito legal. Essa coisa de rotina intensa, nunca estar no mesmo lugar por muito tempo, compartilhar do seu trabalho com outras pessoas que te admiram... E ter essa vista como recompensa.
- Tem a sua parte boa, é claro... e Damon que me ajudaram a escolher, eu jamais pensaria em ter uma sacada desse tamanho.
- Acho que é a primeira coisa que eu pensaria - William admitiu, sorrindo de canto. - E a também, ela adora essas coisas. Se eu puder retribuir tudo o que ela já fez por mim, acho que eu a tiraria de lá e colocaria em um lugar assim.
- Vocês são bem apegados, não é? - Louise disse empática e ele concordou. - Eu entendo bem.
- Somos todos muito unidos, mas como eu moro com a há algum tempo, acho que ficamos ainda mais próximos e ela faz muito por mim. Espero poder retribuir com uma coisa grande.
- Will, eu não acho que ela seja do tipo de pessoa que espera por algo assim, inclusive ela parece ser bem pé no chão, talvez por isso o meu irmão goste tanto dela.
- Ele o quê? - William se virou, quebrando totalmente o clima e Louise riu, envolvendo os braços ao redor do pescoço dele enquanto ele a puxava para perto.
- Você me ouviu. não me disse nada, mas está estampado na cara dele. Assim é bom, mil vezes a do que a outra lá. é linda, inteligente, simpática, educada, meiga... Espero muito que eles fiquem juntos. Ela não poderia ter ninguém melhor do que o . Te garanto que ele vai cuidar muito bem dela.
- Hum... Se você está dizendo... Sou um irmão ciumento, sabe? Costumo ameaçar os namorados da minha irmã, mas se ele der uma vista dessa pra ela, então vou ficar feliz. Se bem que... Eu sou mais essa vista aqui.
- Mas você está de costas pra ela.
- Eu sei, estou falando do que vejo na minha frente - William disse por fim, dando início a um beijo.
Louise retribuiu sem hesitar. Era tão familiar e convidativo estar com William que ela simplesmente não conseguia e nem queria resistir. Gostava de ter a situação sempre no controle, mas não se importava se ele assumisse por um momento, ela inclusive queria e desejava isso. Para alguém mais novo, ele tinha muita atitude. Eles entraram na sala e foram para o sofá aos beijos. William se sentou no sofá enquanto Louise se sentou no colo dele, sem nunca interromper o beijo. Ele começou a fazer uma trilha até o pescoço dela onde deixou um chupão de leve ali, mas não se conteve apenas com aquele, deixando outros mais ardidos também. Suas mãos passeavam pelas coxas dela até fazer o vestido subir, mas Louise não se importou, apenas se afastou um pouco para tirar a peça e atirar para longe.
- Nossa - ele admirou por um instante a garota na sua frente, tendo certeza de que era a mais linda que ele já viu.
- Para, Will, você vai ter tempo - Louise tornou a desabotoar os botões da camisa dele um por um. - Assim espero.
- Ah, eu dou um jeito - ele sorriu. - Você é linda, e sem esse papo de linda por dentro, estou falando por fora mesmo. Eu sabia que aquela gata das fotos ia ser minha.
- Você pediu com tanta vontade que se realizou - ela terminou de desabotoar e ele tirou a camisa, jogando no chão. - Isso tudo é só correndo? - as mãos dela repousaram sobre o abdômen dele e William riu.
- Dei um tempo na academia, quero voltar logo.
- Então volte.
Ela se curvou para tornarem a se beijar, agora com mais intensidade do que antes, esquentando - literalmente - o clima entre eles. Louise se afastou e fez um coque no cabelo, mas se levantou logo em seguida, puxando William para se levantar e a seguir.
- Aqui não é lugar pra isso - ela disse quando já estavam no corredor e abriu a porta do seu quarto.
Eles entraram e ela fechou a porta, mas foi surpreendida quando William a prensou contra a mesma, retomando o beijo de onde pararam. Ele a segurou pelas coxas e Louise pegou impulso, indo para o colo dele, entrelaçando suas pernas ao redor da cintura de William. Com cuidado, ele os guiou até a cama, a deitando devagar no chão e se colocando por cima. Estava com o rosto próximo do dela, mas sorriu um por um instante ao se dar conta de como achava os olhos dela lindos e brilhantes.
- O que foi?
- Eu já disse o quanto você é bonita? Eu não saio falando isso pra qualquer pessoa, Louise - ele deixou um beijo na bochecha dela e um selinho quando Louise sorriu. - Eu não sou do tipo que repara em olhos primeiro, mas não posso deixar de reparar nos seus. Tudo em você é lindo.
- Nossa, isso é novo pra mim... me elogiar assim - Louise riu sem jeito, mas olhou para ele. - Se está tentando me conquistar, saiba que já conseguiu no dia em que dançou comigo no aniversário da minha prima. Não senti como se fosse a primeira vez que eu dançava com você.
- Eu também, mas... Não estou dizendo isso pra te conquistar, estou falando o que eu acho. Por favor, só vamos fazer com que essa noite não termine nunca, está bem?
Louise apenas concordou quando retomaram o beijo. De fato, não queria que aquela noite acabasse nunca.
...
Damon tinha certeza de que o tapete da sala estava marcado devido ao tempo em que ele estava andando em círculos ali. Estava ansioso, frustrado e decepcionado. Deveria ter imaginado que não seria fácil para Clara deixar de conviver com Charlotte todos os dias, mas ele não esperava que em apenas dois dias, Clara tivesse parado de comer e desenvolvesse febre, além de passar a maior parte do tempo chorando. Como ele tinha de trabalhar, cabia à Diana e passarem o dia com a sobrinha, mas ambos estavam preocupados porque naquele dia ela não tinha reagido a nada e passou o dia inteiro na cama.
- Eu acho que vou ligar para a Lotte - ele concluiu ao pegar o celular no bolso do paletó.
- Pra que, Damon? Só vai deixá-la ainda mais preocupada - se levantou da poltrona. - Eu acho que ela precisa de um tempo pra se acostumar. Vai ser difícil, mas ela vai conseguir.
- Cara, ela não come e só chora! Ela pode ir parar no hospital, sabia? Vão pensar o quê? Que não estou alimentando a minha filha? Que tipo de pai eu sou? Se ela não melhorar, vou levar ao hospital. Eu não sei o que fazer e a Ana não é médica de primeiros socorros.
Logo em seguida, Diana surgiu na sala. Estava no quarto com Clara tentando acalmá-la, mas voltou para junto dos irmãos com uma expressão cansada no rosto. Estava preocupada também, aquela não era sua especialidade, principalmente algo tão ligado ao emocional de uma criança.
- A febre dela não abaixou - ela passou a mãos pelos cabelos, um pouco nervosa. - Estou realmente preocupada, devíamos procurar um médico, eu não consigo ajudar ela.
No mesmo instante ela se lembrou de que era totalmente possível e achou uma boa ideia. Pegou seu celular que estava na mesa de centro e procurou pelo contato de Thomas, torcendo para que ele tivesse disponibilidade para atendê-la. Damon olhava apreensivo para ela, quase tomando o aparelho de sua mão, mas Diana o afastou quando Thomas atendeu.
- Oi, Ana.
- Oi, Tom, me desculpa te ligar assim, do nada e nesse horário. Você está ocupado?
- Na verdade não, só passei no McDonalds com a minha irmã, mas já estamos voltando pra casa. Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu... É que a minha sobrinha... Ela não está muito bem, sabe? Está com febre e acho que você é melhor nisso do que eu... Será que você poderia me ajudar?
- Claro, claro! Hum... Me passa o endereço, estou indo agora.
- É na minha... Na casa do Damon, a sabe onde fica... Me desculpa, eu não ia ligar se não estivesse preocupada.
- Fica tranquila, vou chegar o mais rápido possível.
- Muito obrigada.
Eles desligaram e enquanto Diana tranquilizava Damon, Thomas e já estavam entrando no carro dele para que pudessem ir.
- , preciso que você vá comigo, não sei o caminho. Vamos precisar passar em casa para eu pegar minhas coisas.
- Tudo bem - deu partida e olhou através do retrovisor para dar ré e deixar o estacionamento. - O que aconteceu exatamente?
- Ainda não sei, Diana disse que a sobrinha dela está com muita febre, pediu para eu ver.
- A Clara? - ela perguntou surpresa, talvez aquilo respondia o fato de mal ter falado com ela durante todo o dia. - Coitada!
- Você a conhece?
- Bem... me mostrou algumas fotos dela, mas nunca a vi, ele já tinha dito que ela veio para cá esses dias, parece que a mãe dela está no Japão ou algo do tipo.
- Ah... Já entendi, acho que é emocional. Vamos ver o que posso fazer para ajudar.
Quando chegaram no apartamento, Thomas pegou rapidamente suas coisas e voltou para o carro, agora seguindo as instruções até a casa de Damon, que aparentemente morava um pouco longe de e pareceu demorar ainda mais por ser uma emergência. Quando chegaram, foi que os recebeu na porta, não esperando encontrar junto com Thomas.
- Você é o Damon? - Thomas perguntou, antes que pudesse abrir a boca para dizer alguma coisa.
- . Damon está lá dentro - , acostumado com a pergunta, nem se importou, apenas fez sinal para que entrassem. - Oi, .
- Oi - sorriu de canto, mas não tinham tempo pra isso, apenas o acompanhou junto com Thomas até a sala.
- Muito obrigada por ter vindo, Tom - Diana se adiantou para cumprimentá-lo e depois o apresentou para Damon. - Dam, esse é o doutor Thompson.
Thomas olhou para Damon e, sem entender o que aconteceu quando apertou a mão dele, se viu, muito rapidamente, ajoelhado no meio do fogo, tendo Diana do seu lado e Damon - com outra aparência, mas que ele sabia quem era mesmo assim - à sua frente, vendo o exato momento em que Damon tossiu e caiu para a frente. e também estavam lá, para sua surpresa. Ele tentou disfarçar, mas não tinha a mínima ideia se que Damon viu exatamente a mesma coisa, porém do próprio ponto de vista.
- Obrigado por ter vindo - Damon afastou a mão, disfarçando também. - Clara está no quarto, vem comigo.
Thomas concordou e seguiu Damon. Os outros três foram atrás, mas pararam na porta do quarto para observar enquanto apenas Thomas e Damon entraram. Damon se aproximou de sua cama enquanto Thomas pegava o estetoscópio e o termômetro na sua bolsa, empunhando o aparelho ao redor do seu pescoço.
- Filha, o papai trouxe um médico para te ver.
- Não quero, papai - Clara disse chorosa, se aninhando ao seu pai.
- Está tudo bem, meu amor - ele sorriu para ela na tentativa de acalmá-la. - Ele só quer conversar com você.
- O seu nome é Clara? - Thomas, assumindo o controle, perguntou e ela concordou, ainda assustada. - É um nome lindo, sabia? O meu nome é Tom. Posso sentar aqui? - apontou para a cama e esperou que Clara concordasse para que ele se aproximasse dela.
Ele fez um sinal discreto para que Damon se afastasse devagar, sabia que crianças ficavam ainda mais manhosas na presença dos pais. Damon entendeu e foi se afastando aos poucos até que já não estivesse na cama.
- Por que você está chorando? Diz pra mim, vamos conversar um pouco.
- Eu quero a minha mãe.
- A sua mãe? Entendi... É, eu também quero a minha mãe. Acho que vou chorar também - ele passou a mão no rosto, fingindo secar uma lágrima e Clara riu, mesmo que timidamente. - Ah, ela sabe sorrir, olha só que sorriso lindo, pessoal!
- O que é isso? - ela apontou para o estetoscópio dele.
- Isso aqui serve pra eu ouvir o seu coração batendo.
- É sério? - os olhos dela se iluminaram por um instante, substituindo a tristeza pela curiosidade.
- Muito sério! Quer ver? Vou te mostrar - ele pegou o aparelho nas mãos e colocou nos ouvidos dela. - Não deixa cair.
- Mas eu não tô ouvindo nada!
- Calma, calma... - ele pegou a parte debaixo e colocou por dentro da própria camiseta, no lugar exato do coração. - Está ouvindo agora?
- Sim! É o coração! - Clara parecia maravilhada com o que estava ouvindo, como se fosse sua música preferida.
- Exatamente! Agora vamos trocar, eu quero ouvir o seu.
Clara concordou e devolveu o estetoscópio. Thomas empunhou o aparelho, posicionando a parte debaixo nas costas de Clara enquanto pedia para ela respirar fundo algumas vezes, mudando o aparelho de lugar quando necessário, mas sempre interagindo com ela.
- Nossa, ele é bom - disse admirado para . - Nem parece que ela estava chorando.
- É o dom dele - sorriu de canto, olhando para . - De cuidar das pessoas.
- Eu percebi.
Diana, de costas para os dois, não queria atrapalhar, então entrou no quarto e foi até o lado de Damon, que revezava o olhar entre a cama e a porta, mas entendeu o motivo de Diana ter saído de lá. e conversavam baixinho, hora ou outra olhando para Thomas e Clara.
- Só não vê quem não quer - Damon disse entre dentes, não contendo um sorrisinho.
- Pois é - Diana concordou e voltou a atenção para a cama.
- Agora sim eu vou ouvir o seu coração, tá? Fica parada.
Clara olhava curiosa enquanto Thomas ouvia atentamente. Sorriu para ela quando percebeu que ela parecia um pouco preocupada pelo tempo que estavam em silêncio.
- Nunca ouvi um coração tão saudável assim - ele disse por fim, enrolando o estetoscópio de volta no pescoço. - Agora eu quero que você abra a boca o máximo que puder, está bem?
Ela assentiu e ele checou a garganta também apenas por precaução, e por fim mediu a temperatura, percebendo que ela ainda estava com febre.
- Muito bem. Vou pedir, por gentileza, que o papai, os tios e essa curiosa aí nos deem licença um minuto, quero conversar com a Clara sozinho - Thomas olhou em direção a porta e riu, entendo que ela era a curiosa.
- Você que me obrigou a vir! - protestou enquanto saía acompanhada por . Damon e Diana vieram logo atrás, fechando a porta.
- Estou impressionado - Damon disse admirado. - , ele é incrível! Vocês viram isso? Ela não é assim com ninguém, odeia médicos!
- Meu irmão não é qualquer médico. Ele é mesmo incrível e sempre foi assim - disse se gabando do irmão. - Sempre cuidou de mim e do Will desse mesmo jeito.
- Como você disse, é um dom - concordou com ela e foi apoiado.
- , foi ele quem nos ajudou quando você se cortou com o caco de vidro. Até parece que fico me aproveitando dele ou algo assim - Diana disse rindo, achava coincidência precisar dele duas vezes no período de pouco mais de um mês.
- Mas você também não é médica? - perguntou confusa, tinha certeza de que Diana também era de biológicas.
- Biomédica - Diana se explicou. - Eu não entendo nada de pediatria como ele, por isso fiquei perdida. Que bom que ele estava aqui perto.
Eles continuaram conversando no corredor por mais algum tempo, pelo menos dez minutos, até que Thomas saísse do quarto na ponta dos pés, fazendo o mínimo de barulho possível.
- Ela dormiu - ele disse baixinho após fechar a porta. - Estava caindo de sono.
- Você também é babá? - Damon perguntou em um sussurro e todos eles riram.
- Não, cara, mas acho que ela só precisava conversar com alguém que não fosse da família. Vou receitar um remédio pra febre e te dar um encaminhamento para um psicólogo. Ela vai precisar, é uma mudança muito grande pra ela.
- Pra todos nós - Damon disse e Thomas concordou. - Muito obrigado, você me salvou.
- É só o meu trabalho, Damon, meio fora de hora e nas minhas férias, mas mesmo assim - ele riu. - Se precisar, eu volto para ver como ela está, mas mudando de assunto. Ou eu sou claustrofóbico, ou este corredor é estreito demais para cinco adultos. Podemos, simplesmente... Sair daqui?
De fato, estavam todos espremidos no corredor que não era tão estreito assim, então Damon foi na frente em direção à sala, acompanhado pelos demais. Agora estava um pouco mais relaxado por saber que Clara iria ficar bem, mesmo que isso custasse libras e idas ao psicólogo durante um tempo. Não importava, apenas queria que sua pequena ficasse bem o mais rápido possível.
- Eu ainda nem sei como agradecer. Fiquem mais um pouco, querem comer alguma coisa? Ainda vamos pedir comida, estamos jantando juntos ultimamente. Vamos fazer inveja na Louise e no irmão de vocês - Damon disse divertido, fazendo e Thomas rirem.
- A gente acabou de comer, Dam, vamos ter que recusar - sorriu educadamente. - Mas eu aceito eu aceito uma água, estou morrendo de sede!
- , acompanha a até a cozinha, por favor - Damon olhou para o irmão que percebeu o tom de ironia por trás. - Eu até iria, mas imagino que o doutor Thompson vai me prescrever uma receita.
- Acertou - Thomas, que estava a par da situação, se sentou na poltrona para abrir a bolsa e pegar o seu receituário. - Não me chama de doutor fora do hospital, é esquisito. Só Tom está ótimo.
- Ok. Só Tom está prescrevendo uma receita pra mim, vão lá. Anda, , ela está com sede.
- Vem, . Não liga, Damon é um péssimo anfitrião - espremeu os olhos na direção de Damon, convidando para acompanhá-lo.
acompanhou até a cozinha enquanto Thomas fingia estar muito ocupado escrevendo, mas então ergueu o olhar para Diana e Damon.
- Você parece uma versão mais velha do William. Isso foi incrível. Sútil, mas direto.
- É que meu irmão precisa de um empurrão, se não a coisa não flui - Damon se explicou e Diana concordou. - Você acha que ela está...?
- Totalmente. Eu sei, ela me disse. Vendo-os agora, está mais do que na cara.
- Viu, Ana? Eu já sabia.
- Todo mundo sabe, Damon - Diana rolou os olhos.
Enquanto conversavam na sala, e estavam na cozinha, ambos tomando um copo d'água. havia acabado de reparar que ele usava uma camisa preta escrito Uncle em letras brancas. Ela riu e achou adorável, imaginando que fosse para que Clara o diferenciasse de Damon.
- É exatamente pra isso - explicava. - Às vezes ela ainda nos confunde. Não sei como, afinal, acho que ultimamente estamos diferentes um do outro.
- Discordo, estão idênticos - deu um gole generoso e voltou a falar depois. - Eu, Thompson, não confundo vocês, mas, sim, vocês são idênticos.
- Ah, é? - arqueou as sobrancelhas, curioso. - Como você me diferencia dele?
- Não sei, desde que vi vocês, soube quem era quem - ela deu de ombros, era mais simples do que explicar que viu uma igreja em chamas.
- Qual é! Tem que ter alguma diferença!
- Tá bom, tá bom. Hum... Damon sorri torto para o lado direito e você não, você sorri colocando a língua entre os dentes, meio tímido. Ele fala muito e fala alto, você fala baixo e pouco.
- Eu não falo pouco!
- Fala sim. - ela riu da indignação dele. - A voz dele é um pouco mais aguda do que a sua, e o seu sotaque é mais forte do que o dele. Ele mistura com o inglês americano, você é totalmente britânico. Por último, você está sempre com as mãos no bolso e encostado em algum lugar, enquanto ele tem mania de andar em círculos.
- Nossa, por essa eu não esperava, achei que você diria que ele tem uma pinta na cara e eu não - disse, fazendo ela rir novamente. - Todo mundo nos confunde sempre, já estou acostumado, nunca deixamos de ser iguais. Diferente das meninas, somos univitelinos. Elas são bivitelinas.
- Isso é óbvio, não tem como confundir. Louise é um pouco mais alta e tem o cabelo escovado em um cumprimento médio, além de praticamente namorar com o meu irmão. Diana é menor, tem o cabelo comprido e natural... E lábios mais grossos que os da Louise, se parece mais com a mãe de vocês, enquanto Louise se parece com o pai.
- Impressionante - ele admitiu, rendido. - Eu nem imaginava que você sabia de tudo isso sobre a gente enquanto eu mal conheço a sua família... Estou até envergonhado, admito...
- Não precisa - ela sorriu. - Eu e meus irmãos somos completamente diferentes, Tom e eu somos misturas dos nossos pais. Olhos de um, cabelos do outro... Já o Will é idêntico ao pai dele, por isso não nos parecemos em nada, mas isso é história pra outro dia. Se quer uma dica, pode mudar o corte de cabelo, sempre funciona.
- Vou aderir - passou a mão involuntariamente pelos cabelos despenteados. - Ansiosa pra amanhã? - ao perceber que mudou de assunto, bebeu toda a água que ainda tinha no copo de uma vez.
- Claro - sorriu enquanto bebeu também. - Muito ansiosa, estou contando os minutos!
- Eu também - ele sorriu, feliz com a reação dela. - Vou passar na sua casa às 8:30. Não esquece de me mandar o seu endereço.
- Estarei acordada às seis então - ela devolveu o copo para a lavadora e fez o mesmo. - Vamos voltar pra sala?
- Tudo bem.
Voltaram para a sala, onde Thomas, Diana e Damon conversavam entre si. Foi Diana que notou o retorno deles, abrindo espaço para que se juntassem à conversa, mas Thomas se levantou ao perceber que já haviam voltado. Agora era hora de ir embora.
- Nós já vamos, mas está tudo aqui. Se precisar de mais uma coisa, meu telefone está junto - Thomas disse ao entregar algumas folhas para Damon que leu por cima rapidamente.
- Está bem. Obrigado, Tom, de verdade... , acompanha eles até a porta.
- Quê? - franziu o cenho. - Damon, a casa é sua.
- Exatamente. A casa é minha e eu estou mandando você os acompanhar até a porta, fazendo o favor. Mal-educado.
- Não fala assim com ele, Damon, ele está certo - disse rindo. - Vou cobrar na próxima vez.
- Você vai me agradecer depois - Damon imediatamente percebeu o que disse e se retratou. - Depois que eu acompanhar você até a porta na próxima vez, claro.
- Se é assim... Então até mais.
se despediu de Damon e Diana, depois foi a vez de Thomas, que primeiro se despediu de Damon com um aperto de mão e depois de Diana.
- Agora sou eu que tenho dúvidas sobre pediatria - ela disse divertida e ele riu.
- Bem... Você respondeu todas as minhas dúvidas, nada mais justo do que eu responder as suas também, vamos nos falando. Até mais, Ana.
- Tchau, Tom, a gente se vê.
acompanhou os dois até a porta enquanto Damon questionava Diana sobre o porquê de Thomas chamá-la assim, se era um apelido apenas entre eles. Enquanto ela se defendia, Thomas se despediu apenas com um aceno rápido e foi para o carro, deixando e a sós.
- Agradeça ao Thomas por mim, ele quase me convenceu a ser médico também - disse, se encostando na soleira da porta enquanto cruzava os braços.
- Eu disse que você se encosta em algum lugar pra conversar - apontou e ele só percebeu depois que fez, rindo de si mesmo.
- Tem razão, estou me sentindo um idiota.
- Não precisa, eu acho que essas coisinhas te tornam único - ela sorriu timidamente, encolhendo os ombros involuntariamente.
- Obrigado, não é todo dia que alguém diz isso pra mim.
- Então estou dizendo agora... Mas preciso ir, sou a carona, sabe? Meu carro está com o Will - ela rolou os olhos e ele concordou. - Garotos, sabe como é.
- Sei, acredite... Então até amanhã, . Bem cedo.
Ele pensou em esticar o braço para se despedir com um aperto de mão bem britânico, mas quando viu ela abrir os braços, não pensou duas vezes ao abrir os seus também e a puxar par um abraço como despedida. Normalmente ficaria nervoso e sem jeito em um momento assim, mas não podia colocar em palavras como se sentiu bem ao fazer aquilo. , por sua vez, pensou o mesmo quando um sentimento bom cresceu dentro dela. Ele tinha um perfume tão bom que ela pensou que poderia passar horas bem ali. Se afastaram um pouco depois, mas deixou um beijo na testa dela, para não fazer o que realmente queria estando ali tão perto.
- Se cuida.
- Até amanhã, - se afastou acenando e ele acenou de volta, então entrou e fechou a porta.
Mordendo os lábios para não rir, pular e gritar ao mesmo tempo, foi em passos rápidos em direção ao carro. Entrou no banco do carona e colocou o sinto, sem notar que Thomas estava olhando pra ela um tanto surpreso e admirado.
- Não te vejo assim há muito tempo - admitiu enquanto girava a chave na engrenagem.
- Tom, ele... Eu juro que mais um segundo e eu ia fazer uma doideira - abriu o vidro da janela, com calor.
- Não seria uma doideira. Pra mim está muito claro. Eu vi como ele olha pra você, está dando todos os sinais possíveis. Acredite, não seria mesmo uma doideira, eu iria até fechar os olhos para não atrapalhar.
- Bobo! - ela riu, negando com a cabeça. - Só vamos embora logo, por favor.
...
"William John McQueen! Cadê você e o meu carro???"
enviou a mensagem enquanto bebericava seu café, beirando às oito e meia da manhã. Viu que apenas Thomas dormia no quarto e podia imaginar onde o irmão estava e porque não tinha voltado pra casa na noite anterior. Estava mais preocupada com seu carro do que com ele de fato, sabia que ele estava muito bem, talvez melhor do que ela, que antes mesmo de bloquear a tela do celular, viu uma mensagem de informando que já havia chegado. Ela deixou a xícara de café sobre a mesa, enrolou o cachecol no pescoço, pegou a jaqueta e saiu praticamente pulando alguns degraus para chegar mais rápido no térreo. Estava mais do que ansiosa, mas pelo visto parecia estar ainda mais, pois ele não só tinha um cachecol, como também um moletom cinza com o brasão de Hogwarts e óculos de grau.
- Eu realmente uso óculos - ele se justificou enquanto dava partida. - De leitura, mas uso.
- Que legal, está como se o Harry fosse da Corvinal.
- Impossível, ele é muito burro. Era só pegar uma carta no chão ao invés de ficar tentando pegar uma no ar! Nunca vou me conformar com isso.
- Eu também não, me irrita profundamente a burrice dele às vezes. Não que a Grifinória seja a casa de pessoas burras, não é isso, mas eu seria ainda mais fã se o nome da saga fosse Hermione Granger.
- E aqui estou eu concordando com você de novo - ele riu, mas sem desviar a atenção do volante. - Pode deixar de ser sensata só um minuto?
- Damon é o melhor gêmeo, sempre achei.
- Sai do meu carro - ele apontou pra fora e os dois riram juntos.
O caminho até os estúdios da Warner foi cheio de conversas descontraídas e risadas. Estavam se divertindo antes mesmo de chegarem, mas quando entraram nos cenários, tudo pareceu ficar ainda melhor. Visitaram lugares como o Salão Principal, salão comunal da Grifinória, a ponte de Hogwarts, o povoado de Hogsmead, Beco Diagonal e também o Expresso de Hogwarts, todos muito fiéis aos filmes que eles cresceram assistindo e amando. Provavelmente a galeria de fotos de ambos os celulares já estavam cheias perto do final da tarde, e eles cheios de memórias para se lembrarem depois, pois realmente passaram o dia inteiro lá admirando cada detalhe dos lugares pelos quais passaram, sabendo que aquele passeio tomaria todo o dia deles. Não que isso fosse um problema, é claro.
Ao final da tarde, estavam famintos. Não comeram nada o dia inteiro, mal sabiam como ainda estavam em pé, então chegaram a um acordo de que seria ótimo ir tomar um milkshake acompanhado por batatas fritas.
- Isso é maravilhoso - disse extasiado após mergulhar uma batata no milkshake e comer.
- Quê??? - fez uma careta, torcendo o nariz para o que tinha acabado de ver.
- Ah, não me olhe assim, não faça eu me sentir estupido.
- Não é isso, é só que... Achei que fosse coisa que só acontece em filmes.
- Eu trouxe algumas coisas da América pra cá - ele riu e deu um gole na bebida logo depois. - Morei quatorze anos nos Estados Unidos, é inevitável não misturar as coisas.
- Não sei, você parece bem britânico pra mim. Que bom que não perdeu o sotaque - ela sorriu e, sentindo curiosidade, pegou uma batata no prato e molhou no milkshake, não parecendo muito empolgada. - Ah... Legal.
- Se for ficar olhando, vai perder toda a graça. Só come, eu vou acompanhar você - também pegou uma batata e mergulhou. - No três. Um, dois...
No três, eles comeram juntos. estava acostumado, então apenas observou a reação de , que ainda estava se decidindo se gostou ou não.
- É ruim, mas é bom... Quero dizer, parece comida de bebê, uma pasta, mas tem um gosto bom - ela dizia pensativa e ele riu, concordando.
- Viva a América.
- Acho que nunca perguntei o motivo de você ter voltado - ela o encarou. - Por que você voltou?
- É complicado... - coçou a nuca, ficando um pouco incomodado. - Em partes porque eu queria, estava planejando voltar no fim do ano passado para investir um pouco mais na minha imagem por aqui. Posso dizer que tenho uma vida normal agora, o que eu adoro.
- Eu estava esperando você ser parado toda hora - admitiu e ele concordou.
- Muito raro isso acontecer aqui, inclusive Louise acha que devemos melhorar isso. Como falei, eu pretendia me mudar apenas no final do ano, mas voltei em junho do ano passado. Passei um tempo morando com o Damon, que já estava aqui havia alguns meses, até que ele terminasse o projeto da minha casa. Nem preciso dizer o quanto ele me xingou por isso.
- Eu posso imaginar - ela riu, imaginando os gêmeos convivendo sobre o mesmo teto. - É indelicadeza da minha parte perguntar o motivo de você ter voltado antes?
- Não, claro que não, somos amigos - ele sorriu e se ajeitou na cadeira para ficar mais confortável. - Eu... Eu tinha uma namorada de muito tempo e tudo e todos lá me lembravam ela, estava me fazendo mal continuar ali. Depois de alguns erros que cometi, percebi que era melhor ir embora de uma vez.
- Entendo - desviou o olhar e deu um gole generoso na bebida. - Sinto muito.
- Tudo bem, eu já segui em frente, foi ótimo eu ter me mudado para cá, me lembrar de quem eu costumava ser... Mas e você? Não quero ficar falando só de mim. Imagino que você tenha nascido aqui, é uma típica londrina.
- É tão óbvio assim? - ela perguntou e ele concordou rindo junto. - Você está certo, nasci e cresci aqui em Londres, mas quando eu tinha dezesseis anos e o meu irmão já estava na faculdade, meus pais se mudaram para Manchester quando minha mãe aceitou uma proposta de trabalho de uma emissora local, ela é repórter. Quando fiz dezoito, fui aceita na universidade e passei alguns anos em Oxford com o meu irmão, só voltei para Londres depois que me formei. Manchester é legal, mas... Só tem estádios de futebol e arenas de show, fica meio enjoativo depois de um tempo. Gosto muito daqui.
- Eu também gosto. Não importa para onde eu vá, nenhum outro lugar faz eu me sentir em casa como aqui - ele olhou as horas no seu relógio de pulso. - Melhor terminarmos logo, está quase na hora.
concordou e então comeram o que restou o mais rápido possível, pois ainda tinham que se dirigir ao teatro. Chegaram em cima da hora, mas não o suficiente para se atrasarem, pois a peça começou no horário pontual e eles haviam chegado havia apenas cinco minutos.
...
- Foi a peça mais linda que já vi! - disse enquanto saíam juntos do teatro, caminhando pela calçada em direção ao carro dele. - Funciona melhor no teatro do que no livro.
- Ah, com toda a certeza! Eu já tinha assistido a peça em Nova Iorque, mas não é a mesma coisa. Acho que a magia está aqui.
- Claro que sim, estamos onde tudo começou! - ela sorriu maravilhada e ele concordou. - Espero poder fazer isso mais vezes.
- Eu também, tenho certeza que vamos - eles pararam de andar quando chegaram no carro e se encostou na porta antes de entrar, cruzando os braços. - Obrigado por ter vindo, .
- Eu que agradeço por ter me convidado, - sorriu, ficando de frente pra ele. - Eu me diverti muito mesmo, virei criança de novo.
- Eu também... Espero que de agora em diante, você não faça mais caretas ao me ver molhando batata frita no milkshake.
- Nunca vou me acostumar com isso, sem chances! - os dois riram. Tinham que concordar que era estranho. - Mas talvez eu faça também... Não conte para ninguém.
- Não vou.
E, pela primeira vez, parecia que o assunto tinha morrido. ainda pensava em como era possível a garota que o visitava nos sonhos estar bem ali na sua frente em carne e osso, como ela era tão fiel fisicamente ao que ele via, mas com uma personalidade muito mais cativante que prendia sua atenção. Esse detalhe já não importava mais, o que importava mesmo era que ele finalmente seguiu em frente. Sem necessidade de fazer comparações, apenas podia afirmar que o passado ficou no passado e ele estava satisfeito com o seu presente.
- Acho que não consigo mais guardar isso pra mim, eu preciso te dizer - criou uma coragem repentina, soltando os braços e ajeitando a postura. - Foi inevitável...
- Eu sei, eu percebi - desviou o olhar, fitando a calçada.
- Como???
- Porque também foi inevitável pra mim, ... Não sei quando ou como, só me dei conta depois. E também, tive quem ficasse o dia inteiro fazendo piadinhas e entrando na minha mente...
- Ah, eu também, acredite, acho que eles perceberam primeiro... Pouco mais de um mês atrás eu não imaginaria que alguém como você pudesse gostar de alguém como eu.
- Como assim alguém como você? - olhou para ele, confusa.
- ... - ele riu, baixando o olhar por um instante. - Passei a vida inteira ouvindo que eu deveria ser um pouco mais como o meu irmão. Mais desinibido, falar mais alto, ter mais atitude... Você nem imagina como é torturante pra mim dizer isso sem sair correndo depois.
- Mas você não deveria absorver isso. Vocês não são uma pessoa só! - respondeu como se estivesse ofendida. - Gosto de você justamente por isso. Se eu quisesse alguém como ele, estaria lendo livros sobre como cuidar de uma criança que não é minha ou algo do gênero - ela gesticulou freneticamente, como se estivesse folheando um livro e ele riu, concordando. - Foi você que me chamou a atenção aquele dia na casa da Katie. Quando me dei conta, estava ansiosa para o dia de hoje.
- Eu não conseguia tirar os olhos de você naquele dia, pode ter parecido estranho pra você, mas eu não conseguia. Pensei que já te conhecia, mas... Não sei, acho que não era só isso. Aceitei ir em uma droga de um jogo de futebol só porque você iria também, sendo que eu detesto futebol.
- Ah é, foi uma porcaria mesmo... Quero dizer, o jogo, só fui para agradar os meninos e fiquei feliz por você ter ido também... E a propósito, não foi estranho, tá? Eu só não olhei muito para adiar... Esse momento.
desencostou da porta e deu um passo para a frente, chegando mais perto dela. Não tinha porque ser tímido e muito menos hesitar, ela já sabia de tudo e ele não se sentia ansioso por causa disso, estava tranquilo. Colocou uma das mãos no rosto dela ao mesmo tempo que se aproximou dele. Ela também queria estar ali. Queria muito romper com aquele pingo de distância entre os dois, mas se adiantou quando juntou seus lábios nos dela, dando início a um beijo calmo e suave.
- Eu prometo que sempre vou vir te visitar, tá bom? Obedeça ao seu pai, suas tias e o seu padrinho - ela disse enquanto ajeitava uma mecha rebelde do cabelo da filha.
- Mamãe, não vai - Clara pediu, fazendo menção de ir abraçar Charlotte, mas ela se levantou. - Mamãe.
- Tchau, meu amor. Eu te amo muito, não esquece disso.
Charlotte já tinha se despedido dos outros três, então apenas fez sinal para de que já poderiam ir. Clara, percebendo que a mãe estava indo embora, quis ir atrás, mas Damon a segurou, mesmo estando com o coração apertado por fazer aquilo. Clara começou a chorar e a espernear enquanto fechava a porta. Charlotte colocou as mãos no rosto, abafando o choro, mas sabia que estava deixando um pedaço seu em Londres.
- Quer voltar? - perguntou ao perceber que ela estava hesitante em ir, mas ela negou.
- Não. Vamos, se eu adiar vai ser pior.
apenas concordou e, levando as malas dela, as colocou no porta-malas e então entraram no carro. Ele ligou o rádio, mas deixou em um volume baixo. Charlotte estava se acalmando, embora ainda chorasse por estar partindo.
- Eu queria muito que ela fosse comigo, , queria mesmo, mas ela não ia se adaptar.
- Eu entendo... Mas não se preocupa, nós vamos cuidar bem dela.
- Eu sei, não tenho dúvidas, vocês são incríveis. Eu só... Não me preparei o suficiente.
- Lotte, acho que você nunca ia conseguir se preparar o suficiente - disse compreensivo. - Vai ser doloroso pra você, mas vai fazer muito bem ao Damon... Sabe, ele realmente sente falta da Clara, foi difícil pra ele se mudar.
- Eu sei, acho que também vai ser bom para a Clara. Eu só preciso me acostumar com a ideia... Vai ser bom pra ela ter todos vocês de novo, ela sempre fala muito de você, .
- Senti muito a falta dela - sorriu com o que tinha acabado de ouvir. - Eu amo a Clara como se fosse minha filha.
- Bem, na nossa ausência, os responsáveis por ela são você e a Luce, então... - ela percebeu o que disse. - Desculpa, eu...
- Tudo bem, você não está totalmente errada - ele apertou as mãos contra o volante.
- Me perdoa, , eu esqueci completamente e falei sem pensar, me desculpa mesmo!
- Calma, Lotte - ele sorriu de canto, mesmo incomodado com aquilo. - Eu já virei a página.
- Que bom, eu fico feliz - ela sorriu também. - Mas você diz no sentido de ter superado ou...
- Os dois - a interrompeu involuntariamente, sabia que agora tinha de se explicar. - Conheci uma pessoa. Somos só amigos, mas... Não sei, gosto de estar com ela.
- Ah, , que bom ouvir isso - Charlotte era incapaz de parar de sorrir. - Por favor, não me deixa morrer de curiosidade! Quem é ela? Como se chama?
- O nome dela é ... Eu conheci ela no aniversário da minha prima, são melhores amigas, pelo visto... Ela é professora de história, sabe? É tão inteligente que eu posso passar o dia inteiro tendo aulas, não me importaria... Ela é diferente, tem um sorriso lindo... - ele acabou por sorrir também. - Droga.
- Ah, não, não! Deixa eu ver quem foi que amoleceu esse coraçãozinho! Me mostra, eu quero ver ela.
Quando parou no farol, pegou o celular no bolso da calça e mostrou a conversa entre eles aberta na foto de perfil de . Charlotte se admirou com a foto, entendendo na hora porque tinha um sorrisinho bobo estampado nos lábios. Ficou encantada com a beleza de , concluindo que ele tinha um bom gosto, pois Luce também era muito bonita, mas agora estava focada na garota da fotografia. Não era uma selfie, era um retrato no qual ela estava abraçada com um cachorro da raça Husky. Estava sorrindo radiante, tinha mesmo motivos para gostar do sorriso dela.
- Ela é linda, . Nossa, acho que me apaixonei também - ela bloqueou a tela do celular e riu, um pouco sem graça.
- Não estou apaixonado, eu só... Sei lá, só gosto dela. Eu acho.
- Esse sorrisinho aí não é de dúvida. Eu te conheço, esqueceu? Com tanto que ela trate bem a minha filha, tem toda a minha benção.
- Ela sabe sobre a Clara, pelo visto ela adora crianças.
- Perfeito! Espero que na próxima vez que eu vir aqui, eu possa conhece-la pessoalmente e ver se ela é bonita mesmo ou só fotogênica.
- Ela é linda - praticamente sussurrou, mas Charlotte ouviu. - Por favor, não diz sobre isso pra ninguém, ok? Nem para a Luce.
- Não se preocupa, eu não acho que isso seja da conta da Lucinda. Vocês dois são meus amigos e eu quero que vocês sejam felizes, mas eu não tenho que me intrometer nisso. Estou muito, muito, feliz por você. Há quanto tempo estão saindo?
- Hum... Na verdade não estamos saindo.
- E por que você não a chama pra sair? Não vai me dizer que ficam o dia todo se falando por mensagem - ele não respondeu e Charlotte entendeu como um sim. - !
- Qual é?! Não é tão simples! - se defendeu. Provavelmente, chamar para um encontro ainda não estava nos seus planos. - E se ela disser que não?
- Eu duvido! Vai, , chama ela! Aposto que ela só está esperando você chamar.
- Tá - ele se deu por vencido. - Vou chamar. Feliz?
- Quem tem que ficar feliz é você.
e Charlotte foram conversando durante todo o caminho até o aeroporto. Era bom, pois assim ela poderia se distrair um pouco, ao invés de chorar por ter deixado Clara com o pai. Na volta, ainda refletia sobre o que Charlotte disse. É claro que gostaria de chamar para um encontro, mas a ideia parecia excitante e assustadora ao mesmo tempo. Ele não sabia se o melhor era ser direto ou ir pelo caminho mais longo, não se sentia seguro o suficiente para simplesmente a chamar para sair, deixando claro que era um encontro, contornar a situação parecia ser mais simples.
Mas como faria isso? Para onde iriam? Por mais que gostasse de museus, pensou que poderia ser entediante para ela. Achou também que cinemas fossem óbvios demais; nenhum filme em cartaz lhe chamava a atenção, a não ser o último filme dos Vingadores. não se considerava a pessoa mais criativa para bolar um encontro que não ficasse tão estampado assim que era, de fato, um encontro, mas quando passou pelo letreiro da peça de Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, foi como se uma lâmpada tivesse surgido no topo de sua cabeça.
Tinham tantos interesses em comum, mas provavelmente a saga era o que mais rendia conversa entre os dois. Sim, agora ele tinha um norte para seguir e já começava a planejar tudo mentalmente.
Ela terminou de guardar as roupas, devolveu a mala para o fundo do armário e saiu do quarto. Não viu William, mas Thomas estava começando a preparar algo para que eles começassem. Por mais que insistisse para que ele não fizesse isso, Thomas fazia porque estava acostumado e também gostava de cozinhar, assim como também gostava de bancar o irmão mais velho e cuidar dos mais novos. Pelo visto, realmente tinha aptidão para cuidar das pessoas.
- Larga isso aí, vamos pedir uma pizza - chegou na intenção de assustá-lo, e conseguiu.
- Me parece bom - Thomas admitiu, não queria realmente preparar o jantar. - Você pede?
- Claro. A mesma de sempre, não é?
- Acertou.
- Vou pegar meu celular, já volto.
voltou para o seu quarto para pegar o celular que estava carregando. Tinha uma chamada perdida de de exatamente um minuto atrás. Aparentemente ele ligou no momento em que ela saiu do quarto, então antes de pedir a pizza, ela decidiu retornar e atendeu no primeiro toque.
- Não é comum você não atender. Quase chamei a polícia - ele disse ao atender e ela riu, concordando com cada palavra.
- Deixei carregando, me desculpa. Sem dramas, estou viva.
- Que bom, você vai precisar estar viva para o que vamos fazer.
- Do que você está falando, ?
- Bom... Espero que esteja com a varinha e o uniforme de Hogwarts em dia... Tenho um par de ingressos para a peça e outro para visitar os estúdios. Quero que você vá comigo, não vou aceitar um não como resposta.
- Nossa! É sério? Quando?
- Quinta-feira, e é cedo. Você vai?
- Hum... Tudo bem, eu posso ir, já vi The Cursed Child, mas nunca visitei o estúdio.
- Você mora no berço de Harry Potter a vida inteira e nunca visitou? Estou muito desapontado com você, .
- Ei, eu não tinha vida! - ela se defendeu, rindo e trocando o celular de lado. - Além disso, passei cinco anos em Oxford, visitei todos os cenários de lá várias vezes. É praticamente um estúdio, tá?
- Mas em Oxford não tem um salão comunal da Grifinória onde foram gravados os filmes, certo? Eu tenho razão nisso.
- Eu sei. Eu vou, mas vou deixar bem claro que vou entrar neste salão comunal com o meu cachecol da Corvinal, está bem?
- Não se preocupa, farei o mesmo - eles dois riram juntos e um breve silêncio se instaurou na linha por um instante.
- Obrigada, - disse com sinceridade. - Eu vou gostar muito de ir com você.
- Então nos vemos na quinta?
- Está marcado - ela sorriu, mesmo que ele não a pudesse ver. - Preciso desligar, vim pedir uma pizza e acabei esquecendo.
- Tudo bem, e eu estou dirigindo, não deveria estar falando, mas não aguentei... Até quinta, .
- Até. Tchau.
encerrou a ligação e voltou para a sala com um sorriso despontando de uma ponta à outra do rosto. Já tinha se esquecido da pizza novamente. Thomas, ao perceber, teve certeza que a felicidade dela não era porque falou com o atendente da pizzaria.
- Vai, pode ir contando - ele desligou a televisão e se virou para ela. - Essa felicidade não é porque a pizza veio de graça, não é?
- Ele me convidou para ir aos estúdios de Harry Potter com ele.
- E você ainda tem alguma dúvida? Eu disse que ele ia dar sinais, só não imaginei que seria em um outdoor cheio de luzes chamativas. Por favor, me diz que você vai.
- É claro - deu de ombros. - Por que eu não iria? Não é todo dia que eu tenho essa oportunidade.
- E você está indo só por isso? Não me faça te dar uma bronca, Thompson.
- Não, não estou indo só por isso. Era o que você queria ouvir?
- Era sim. Agora faça a gentileza de ligar para a pizzaria ou eu vou morrer de fome.
fez o pedido e logo os três estavam ao redor da mesa comendo juntos, fazendo inveja em Jake e Katie, através de mensagens, por eles não estarem ali. Deixaram o assunto longe dos ouvidos de William por questões óbvias, embora pretendesse contar depois. Ela se quer estava realmente prestando atenção no que acontecia ao redor, estava avoada, perdida nos próprios pensamentos, mas de uma maneira boa. Por ela, iria naquele mesmo instante separar o cachecol da Corvinal e a roupa que iria vestir. Mal podia esperar para que chegasse quinta-feira!
- Você está linda... Como sempre, é claro - William sorriu de canto e se esticou para beijá-la.
Tinha medo de que visse coisas estranhas sempre que a tocava. Era aleatório, não tinha padrão. Às vezes via, às vezes não e ficou agradecido por naquela vez não ter acontecido nada e ele pôde desfrutar do sentimento de êxtase que tomava conta do seu corpo todas as vezes em que seus lábios se encontravam com os dela.
- Obrigada, você também - Louise disse ao se afastar um pouco, sorrindo. - E cheiroso. Meu Deus, Will, que perfume bom.
- Eu sabia que você ia gostar.
- Céus! Como você é convencido. Já tinha me esquecido disso. Mas você está tão cheiroso que eu vou chegar mais perto de novo pra sentir mais uma vez.
William riu e colocou as mãos no rosto dela quando ela o beijou. Ele não achava que Louise era como as outras meninas com quem ele já se envolveu, especialmente porque ela era uma mulher adulta e não somente uma garota. Tinha uma vida independente que William almejava alcançar um dia, além de saber se impor quando precisava e também tinha uma personalidade muito forte, algo que o atraía de uma maneira inexplicável. Ele não sentia a necessidade de sempre tomar a atitude inicial, Louise também fazia isso e ele gostava.
- Por que a gente não pula a parte do cinema? - ela perguntou após o beijo, se afastando milímetros dele. De qualquer forma, o batom já estava borrado.
- Eu ia mesmo sugerir isso - ele sorriu e então desligou o carro.
Eles deixaram o veículo e entraram juntos para pegar o elevador. Louise ajeitou o vestido em frente ao espelho quando William colocou as mãos na cintura dela e, afastando algumas mechas de cabelo dali, beijou o seu pescoço. Ela fechou os olhos quando sentiu os lábios dele em contato com a pele dela, lhe causando arrepios por todo o corpo. Queria desesperadamente que chegassem logo ao andar dela, mas ele parecia bem tranquilo. As mãos dele desceram até a barra do vestido, que subiu um pouco quando ele apertou a sua coxa. Louise mordeu os lábios para conter um gemido e se virou para ele, colocando seus braços ao redor do pescoço de William.
- Eu normalmente não faço isso, sabia? - ela perguntou enquanto desabotoava apenas o primeiro botão da parte de cima da camisa dele.
- É mesmo? - William sorriu, tentando baixar o olhar para ver. - Eu também não, mas... - ela desabotoou o segundo botão. - Calma, calma, já estamos quase chegando.
Segundos depois as portas do elevador se abriram e Louise foi na frente para abrir a porta.
- Me dá só um minuto pra eu tirar essa maquiagem toda, estou parecendo um palhaço - ela, um pouco sem jeito, apontou para o seu batom borrado.
William apenas assentiu enquanto Louise desapareceu no corredor. Ele foi até a sacada para tomar um pouco de ar puro e admirar a beleza de Londres de noite. Conseguia ver a Tower Bridge dali, imaginando que Louise poderia passar horas ali no seu tempo livre. Ele desejava ter uma vista como aquela algum dia, se tivesse oportunidade, já que o apartamento da sua irmã se quer tinha uma sacada. Louise voltou um pouco depois, mas percebeu que William estava distraído, e ela achava que ele ficava lindo assim. Se aproximou devagar e envolveu os braços ao redor dele, o abraçando por trás. William olhou por cima dos ombros e sorriu de canto.
- Aqui é muito bonito, provavelmente a vista mais bonita que eu já vi de uma sacada.
- É bom pra pensar às vezes - Louise concordou, deixando ele ter o próprio momento. - Agora que e eu demos um tempo nessa coisa de viagem, posso passar mais tempo aqui admirando à vista.
- Privilégios da vida de empresária?
- Digamos que sim - os dois riram. - Ele está entretido com o novo livro dele e eu posso descansar um pouco, já que eu tenho vida também.
- Isso é muito legal. Essa coisa de rotina intensa, nunca estar no mesmo lugar por muito tempo, compartilhar do seu trabalho com outras pessoas que te admiram... E ter essa vista como recompensa.
- Tem a sua parte boa, é claro... e Damon que me ajudaram a escolher, eu jamais pensaria em ter uma sacada desse tamanho.
- Acho que é a primeira coisa que eu pensaria - William admitiu, sorrindo de canto. - E a também, ela adora essas coisas. Se eu puder retribuir tudo o que ela já fez por mim, acho que eu a tiraria de lá e colocaria em um lugar assim.
- Vocês são bem apegados, não é? - Louise disse empática e ele concordou. - Eu entendo bem.
- Somos todos muito unidos, mas como eu moro com a há algum tempo, acho que ficamos ainda mais próximos e ela faz muito por mim. Espero poder retribuir com uma coisa grande.
- Will, eu não acho que ela seja do tipo de pessoa que espera por algo assim, inclusive ela parece ser bem pé no chão, talvez por isso o meu irmão goste tanto dela.
- Ele o quê? - William se virou, quebrando totalmente o clima e Louise riu, envolvendo os braços ao redor do pescoço dele enquanto ele a puxava para perto.
- Você me ouviu. não me disse nada, mas está estampado na cara dele. Assim é bom, mil vezes a do que a outra lá. é linda, inteligente, simpática, educada, meiga... Espero muito que eles fiquem juntos. Ela não poderia ter ninguém melhor do que o . Te garanto que ele vai cuidar muito bem dela.
- Hum... Se você está dizendo... Sou um irmão ciumento, sabe? Costumo ameaçar os namorados da minha irmã, mas se ele der uma vista dessa pra ela, então vou ficar feliz. Se bem que... Eu sou mais essa vista aqui.
- Mas você está de costas pra ela.
- Eu sei, estou falando do que vejo na minha frente - William disse por fim, dando início a um beijo.
Louise retribuiu sem hesitar. Era tão familiar e convidativo estar com William que ela simplesmente não conseguia e nem queria resistir. Gostava de ter a situação sempre no controle, mas não se importava se ele assumisse por um momento, ela inclusive queria e desejava isso. Para alguém mais novo, ele tinha muita atitude. Eles entraram na sala e foram para o sofá aos beijos. William se sentou no sofá enquanto Louise se sentou no colo dele, sem nunca interromper o beijo. Ele começou a fazer uma trilha até o pescoço dela onde deixou um chupão de leve ali, mas não se conteve apenas com aquele, deixando outros mais ardidos também. Suas mãos passeavam pelas coxas dela até fazer o vestido subir, mas Louise não se importou, apenas se afastou um pouco para tirar a peça e atirar para longe.
- Nossa - ele admirou por um instante a garota na sua frente, tendo certeza de que era a mais linda que ele já viu.
- Para, Will, você vai ter tempo - Louise tornou a desabotoar os botões da camisa dele um por um. - Assim espero.
- Ah, eu dou um jeito - ele sorriu. - Você é linda, e sem esse papo de linda por dentro, estou falando por fora mesmo. Eu sabia que aquela gata das fotos ia ser minha.
- Você pediu com tanta vontade que se realizou - ela terminou de desabotoar e ele tirou a camisa, jogando no chão. - Isso tudo é só correndo? - as mãos dela repousaram sobre o abdômen dele e William riu.
- Dei um tempo na academia, quero voltar logo.
- Então volte.
Ela se curvou para tornarem a se beijar, agora com mais intensidade do que antes, esquentando - literalmente - o clima entre eles. Louise se afastou e fez um coque no cabelo, mas se levantou logo em seguida, puxando William para se levantar e a seguir.
- Aqui não é lugar pra isso - ela disse quando já estavam no corredor e abriu a porta do seu quarto.
Eles entraram e ela fechou a porta, mas foi surpreendida quando William a prensou contra a mesma, retomando o beijo de onde pararam. Ele a segurou pelas coxas e Louise pegou impulso, indo para o colo dele, entrelaçando suas pernas ao redor da cintura de William. Com cuidado, ele os guiou até a cama, a deitando devagar no chão e se colocando por cima. Estava com o rosto próximo do dela, mas sorriu um por um instante ao se dar conta de como achava os olhos dela lindos e brilhantes.
- O que foi?
- Eu já disse o quanto você é bonita? Eu não saio falando isso pra qualquer pessoa, Louise - ele deixou um beijo na bochecha dela e um selinho quando Louise sorriu. - Eu não sou do tipo que repara em olhos primeiro, mas não posso deixar de reparar nos seus. Tudo em você é lindo.
- Nossa, isso é novo pra mim... me elogiar assim - Louise riu sem jeito, mas olhou para ele. - Se está tentando me conquistar, saiba que já conseguiu no dia em que dançou comigo no aniversário da minha prima. Não senti como se fosse a primeira vez que eu dançava com você.
- Eu também, mas... Não estou dizendo isso pra te conquistar, estou falando o que eu acho. Por favor, só vamos fazer com que essa noite não termine nunca, está bem?
Louise apenas concordou quando retomaram o beijo. De fato, não queria que aquela noite acabasse nunca.
- Eu acho que vou ligar para a Lotte - ele concluiu ao pegar o celular no bolso do paletó.
- Pra que, Damon? Só vai deixá-la ainda mais preocupada - se levantou da poltrona. - Eu acho que ela precisa de um tempo pra se acostumar. Vai ser difícil, mas ela vai conseguir.
- Cara, ela não come e só chora! Ela pode ir parar no hospital, sabia? Vão pensar o quê? Que não estou alimentando a minha filha? Que tipo de pai eu sou? Se ela não melhorar, vou levar ao hospital. Eu não sei o que fazer e a Ana não é médica de primeiros socorros.
Logo em seguida, Diana surgiu na sala. Estava no quarto com Clara tentando acalmá-la, mas voltou para junto dos irmãos com uma expressão cansada no rosto. Estava preocupada também, aquela não era sua especialidade, principalmente algo tão ligado ao emocional de uma criança.
- A febre dela não abaixou - ela passou a mãos pelos cabelos, um pouco nervosa. - Estou realmente preocupada, devíamos procurar um médico, eu não consigo ajudar ela.
No mesmo instante ela se lembrou de que era totalmente possível e achou uma boa ideia. Pegou seu celular que estava na mesa de centro e procurou pelo contato de Thomas, torcendo para que ele tivesse disponibilidade para atendê-la. Damon olhava apreensivo para ela, quase tomando o aparelho de sua mão, mas Diana o afastou quando Thomas atendeu.
- Oi, Ana.
- Oi, Tom, me desculpa te ligar assim, do nada e nesse horário. Você está ocupado?
- Na verdade não, só passei no McDonalds com a minha irmã, mas já estamos voltando pra casa. Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu... É que a minha sobrinha... Ela não está muito bem, sabe? Está com febre e acho que você é melhor nisso do que eu... Será que você poderia me ajudar?
- Claro, claro! Hum... Me passa o endereço, estou indo agora.
- É na minha... Na casa do Damon, a sabe onde fica... Me desculpa, eu não ia ligar se não estivesse preocupada.
- Fica tranquila, vou chegar o mais rápido possível.
- Muito obrigada.
Eles desligaram e enquanto Diana tranquilizava Damon, Thomas e já estavam entrando no carro dele para que pudessem ir.
- , preciso que você vá comigo, não sei o caminho. Vamos precisar passar em casa para eu pegar minhas coisas.
- Tudo bem - deu partida e olhou através do retrovisor para dar ré e deixar o estacionamento. - O que aconteceu exatamente?
- Ainda não sei, Diana disse que a sobrinha dela está com muita febre, pediu para eu ver.
- A Clara? - ela perguntou surpresa, talvez aquilo respondia o fato de mal ter falado com ela durante todo o dia. - Coitada!
- Você a conhece?
- Bem... me mostrou algumas fotos dela, mas nunca a vi, ele já tinha dito que ela veio para cá esses dias, parece que a mãe dela está no Japão ou algo do tipo.
- Ah... Já entendi, acho que é emocional. Vamos ver o que posso fazer para ajudar.
Quando chegaram no apartamento, Thomas pegou rapidamente suas coisas e voltou para o carro, agora seguindo as instruções até a casa de Damon, que aparentemente morava um pouco longe de e pareceu demorar ainda mais por ser uma emergência. Quando chegaram, foi que os recebeu na porta, não esperando encontrar junto com Thomas.
- Você é o Damon? - Thomas perguntou, antes que pudesse abrir a boca para dizer alguma coisa.
- . Damon está lá dentro - , acostumado com a pergunta, nem se importou, apenas fez sinal para que entrassem. - Oi, .
- Oi - sorriu de canto, mas não tinham tempo pra isso, apenas o acompanhou junto com Thomas até a sala.
- Muito obrigada por ter vindo, Tom - Diana se adiantou para cumprimentá-lo e depois o apresentou para Damon. - Dam, esse é o doutor Thompson.
Thomas olhou para Damon e, sem entender o que aconteceu quando apertou a mão dele, se viu, muito rapidamente, ajoelhado no meio do fogo, tendo Diana do seu lado e Damon - com outra aparência, mas que ele sabia quem era mesmo assim - à sua frente, vendo o exato momento em que Damon tossiu e caiu para a frente. e também estavam lá, para sua surpresa. Ele tentou disfarçar, mas não tinha a mínima ideia se que Damon viu exatamente a mesma coisa, porém do próprio ponto de vista.
- Obrigado por ter vindo - Damon afastou a mão, disfarçando também. - Clara está no quarto, vem comigo.
Thomas concordou e seguiu Damon. Os outros três foram atrás, mas pararam na porta do quarto para observar enquanto apenas Thomas e Damon entraram. Damon se aproximou de sua cama enquanto Thomas pegava o estetoscópio e o termômetro na sua bolsa, empunhando o aparelho ao redor do seu pescoço.
- Filha, o papai trouxe um médico para te ver.
- Não quero, papai - Clara disse chorosa, se aninhando ao seu pai.
- Está tudo bem, meu amor - ele sorriu para ela na tentativa de acalmá-la. - Ele só quer conversar com você.
- O seu nome é Clara? - Thomas, assumindo o controle, perguntou e ela concordou, ainda assustada. - É um nome lindo, sabia? O meu nome é Tom. Posso sentar aqui? - apontou para a cama e esperou que Clara concordasse para que ele se aproximasse dela.
Ele fez um sinal discreto para que Damon se afastasse devagar, sabia que crianças ficavam ainda mais manhosas na presença dos pais. Damon entendeu e foi se afastando aos poucos até que já não estivesse na cama.
- Por que você está chorando? Diz pra mim, vamos conversar um pouco.
- Eu quero a minha mãe.
- A sua mãe? Entendi... É, eu também quero a minha mãe. Acho que vou chorar também - ele passou a mão no rosto, fingindo secar uma lágrima e Clara riu, mesmo que timidamente. - Ah, ela sabe sorrir, olha só que sorriso lindo, pessoal!
- O que é isso? - ela apontou para o estetoscópio dele.
- Isso aqui serve pra eu ouvir o seu coração batendo.
- É sério? - os olhos dela se iluminaram por um instante, substituindo a tristeza pela curiosidade.
- Muito sério! Quer ver? Vou te mostrar - ele pegou o aparelho nas mãos e colocou nos ouvidos dela. - Não deixa cair.
- Mas eu não tô ouvindo nada!
- Calma, calma... - ele pegou a parte debaixo e colocou por dentro da própria camiseta, no lugar exato do coração. - Está ouvindo agora?
- Sim! É o coração! - Clara parecia maravilhada com o que estava ouvindo, como se fosse sua música preferida.
- Exatamente! Agora vamos trocar, eu quero ouvir o seu.
Clara concordou e devolveu o estetoscópio. Thomas empunhou o aparelho, posicionando a parte debaixo nas costas de Clara enquanto pedia para ela respirar fundo algumas vezes, mudando o aparelho de lugar quando necessário, mas sempre interagindo com ela.
- Nossa, ele é bom - disse admirado para . - Nem parece que ela estava chorando.
- É o dom dele - sorriu de canto, olhando para . - De cuidar das pessoas.
- Eu percebi.
Diana, de costas para os dois, não queria atrapalhar, então entrou no quarto e foi até o lado de Damon, que revezava o olhar entre a cama e a porta, mas entendeu o motivo de Diana ter saído de lá. e conversavam baixinho, hora ou outra olhando para Thomas e Clara.
- Só não vê quem não quer - Damon disse entre dentes, não contendo um sorrisinho.
- Pois é - Diana concordou e voltou a atenção para a cama.
- Agora sim eu vou ouvir o seu coração, tá? Fica parada.
Clara olhava curiosa enquanto Thomas ouvia atentamente. Sorriu para ela quando percebeu que ela parecia um pouco preocupada pelo tempo que estavam em silêncio.
- Nunca ouvi um coração tão saudável assim - ele disse por fim, enrolando o estetoscópio de volta no pescoço. - Agora eu quero que você abra a boca o máximo que puder, está bem?
Ela assentiu e ele checou a garganta também apenas por precaução, e por fim mediu a temperatura, percebendo que ela ainda estava com febre.
- Muito bem. Vou pedir, por gentileza, que o papai, os tios e essa curiosa aí nos deem licença um minuto, quero conversar com a Clara sozinho - Thomas olhou em direção a porta e riu, entendo que ela era a curiosa.
- Você que me obrigou a vir! - protestou enquanto saía acompanhada por . Damon e Diana vieram logo atrás, fechando a porta.
- Estou impressionado - Damon disse admirado. - , ele é incrível! Vocês viram isso? Ela não é assim com ninguém, odeia médicos!
- Meu irmão não é qualquer médico. Ele é mesmo incrível e sempre foi assim - disse se gabando do irmão. - Sempre cuidou de mim e do Will desse mesmo jeito.
- Como você disse, é um dom - concordou com ela e foi apoiado.
- , foi ele quem nos ajudou quando você se cortou com o caco de vidro. Até parece que fico me aproveitando dele ou algo assim - Diana disse rindo, achava coincidência precisar dele duas vezes no período de pouco mais de um mês.
- Mas você também não é médica? - perguntou confusa, tinha certeza de que Diana também era de biológicas.
- Biomédica - Diana se explicou. - Eu não entendo nada de pediatria como ele, por isso fiquei perdida. Que bom que ele estava aqui perto.
Eles continuaram conversando no corredor por mais algum tempo, pelo menos dez minutos, até que Thomas saísse do quarto na ponta dos pés, fazendo o mínimo de barulho possível.
- Ela dormiu - ele disse baixinho após fechar a porta. - Estava caindo de sono.
- Você também é babá? - Damon perguntou em um sussurro e todos eles riram.
- Não, cara, mas acho que ela só precisava conversar com alguém que não fosse da família. Vou receitar um remédio pra febre e te dar um encaminhamento para um psicólogo. Ela vai precisar, é uma mudança muito grande pra ela.
- Pra todos nós - Damon disse e Thomas concordou. - Muito obrigado, você me salvou.
- É só o meu trabalho, Damon, meio fora de hora e nas minhas férias, mas mesmo assim - ele riu. - Se precisar, eu volto para ver como ela está, mas mudando de assunto. Ou eu sou claustrofóbico, ou este corredor é estreito demais para cinco adultos. Podemos, simplesmente... Sair daqui?
De fato, estavam todos espremidos no corredor que não era tão estreito assim, então Damon foi na frente em direção à sala, acompanhado pelos demais. Agora estava um pouco mais relaxado por saber que Clara iria ficar bem, mesmo que isso custasse libras e idas ao psicólogo durante um tempo. Não importava, apenas queria que sua pequena ficasse bem o mais rápido possível.
- Eu ainda nem sei como agradecer. Fiquem mais um pouco, querem comer alguma coisa? Ainda vamos pedir comida, estamos jantando juntos ultimamente. Vamos fazer inveja na Louise e no irmão de vocês - Damon disse divertido, fazendo e Thomas rirem.
- A gente acabou de comer, Dam, vamos ter que recusar - sorriu educadamente. - Mas eu aceito eu aceito uma água, estou morrendo de sede!
- , acompanha a até a cozinha, por favor - Damon olhou para o irmão que percebeu o tom de ironia por trás. - Eu até iria, mas imagino que o doutor Thompson vai me prescrever uma receita.
- Acertou - Thomas, que estava a par da situação, se sentou na poltrona para abrir a bolsa e pegar o seu receituário. - Não me chama de doutor fora do hospital, é esquisito. Só Tom está ótimo.
- Ok. Só Tom está prescrevendo uma receita pra mim, vão lá. Anda, , ela está com sede.
- Vem, . Não liga, Damon é um péssimo anfitrião - espremeu os olhos na direção de Damon, convidando para acompanhá-lo.
acompanhou até a cozinha enquanto Thomas fingia estar muito ocupado escrevendo, mas então ergueu o olhar para Diana e Damon.
- Você parece uma versão mais velha do William. Isso foi incrível. Sútil, mas direto.
- É que meu irmão precisa de um empurrão, se não a coisa não flui - Damon se explicou e Diana concordou. - Você acha que ela está...?
- Totalmente. Eu sei, ela me disse. Vendo-os agora, está mais do que na cara.
- Viu, Ana? Eu já sabia.
- Todo mundo sabe, Damon - Diana rolou os olhos.
Enquanto conversavam na sala, e estavam na cozinha, ambos tomando um copo d'água. havia acabado de reparar que ele usava uma camisa preta escrito Uncle em letras brancas. Ela riu e achou adorável, imaginando que fosse para que Clara o diferenciasse de Damon.
- É exatamente pra isso - explicava. - Às vezes ela ainda nos confunde. Não sei como, afinal, acho que ultimamente estamos diferentes um do outro.
- Discordo, estão idênticos - deu um gole generoso e voltou a falar depois. - Eu, Thompson, não confundo vocês, mas, sim, vocês são idênticos.
- Ah, é? - arqueou as sobrancelhas, curioso. - Como você me diferencia dele?
- Não sei, desde que vi vocês, soube quem era quem - ela deu de ombros, era mais simples do que explicar que viu uma igreja em chamas.
- Qual é! Tem que ter alguma diferença!
- Tá bom, tá bom. Hum... Damon sorri torto para o lado direito e você não, você sorri colocando a língua entre os dentes, meio tímido. Ele fala muito e fala alto, você fala baixo e pouco.
- Eu não falo pouco!
- Fala sim. - ela riu da indignação dele. - A voz dele é um pouco mais aguda do que a sua, e o seu sotaque é mais forte do que o dele. Ele mistura com o inglês americano, você é totalmente britânico. Por último, você está sempre com as mãos no bolso e encostado em algum lugar, enquanto ele tem mania de andar em círculos.
- Nossa, por essa eu não esperava, achei que você diria que ele tem uma pinta na cara e eu não - disse, fazendo ela rir novamente. - Todo mundo nos confunde sempre, já estou acostumado, nunca deixamos de ser iguais. Diferente das meninas, somos univitelinos. Elas são bivitelinas.
- Isso é óbvio, não tem como confundir. Louise é um pouco mais alta e tem o cabelo escovado em um cumprimento médio, além de praticamente namorar com o meu irmão. Diana é menor, tem o cabelo comprido e natural... E lábios mais grossos que os da Louise, se parece mais com a mãe de vocês, enquanto Louise se parece com o pai.
- Impressionante - ele admitiu, rendido. - Eu nem imaginava que você sabia de tudo isso sobre a gente enquanto eu mal conheço a sua família... Estou até envergonhado, admito...
- Não precisa - ela sorriu. - Eu e meus irmãos somos completamente diferentes, Tom e eu somos misturas dos nossos pais. Olhos de um, cabelos do outro... Já o Will é idêntico ao pai dele, por isso não nos parecemos em nada, mas isso é história pra outro dia. Se quer uma dica, pode mudar o corte de cabelo, sempre funciona.
- Vou aderir - passou a mão involuntariamente pelos cabelos despenteados. - Ansiosa pra amanhã? - ao perceber que mudou de assunto, bebeu toda a água que ainda tinha no copo de uma vez.
- Claro - sorriu enquanto bebeu também. - Muito ansiosa, estou contando os minutos!
- Eu também - ele sorriu, feliz com a reação dela. - Vou passar na sua casa às 8:30. Não esquece de me mandar o seu endereço.
- Estarei acordada às seis então - ela devolveu o copo para a lavadora e fez o mesmo. - Vamos voltar pra sala?
- Tudo bem.
Voltaram para a sala, onde Thomas, Diana e Damon conversavam entre si. Foi Diana que notou o retorno deles, abrindo espaço para que se juntassem à conversa, mas Thomas se levantou ao perceber que já haviam voltado. Agora era hora de ir embora.
- Nós já vamos, mas está tudo aqui. Se precisar de mais uma coisa, meu telefone está junto - Thomas disse ao entregar algumas folhas para Damon que leu por cima rapidamente.
- Está bem. Obrigado, Tom, de verdade... , acompanha eles até a porta.
- Quê? - franziu o cenho. - Damon, a casa é sua.
- Exatamente. A casa é minha e eu estou mandando você os acompanhar até a porta, fazendo o favor. Mal-educado.
- Não fala assim com ele, Damon, ele está certo - disse rindo. - Vou cobrar na próxima vez.
- Você vai me agradecer depois - Damon imediatamente percebeu o que disse e se retratou. - Depois que eu acompanhar você até a porta na próxima vez, claro.
- Se é assim... Então até mais.
se despediu de Damon e Diana, depois foi a vez de Thomas, que primeiro se despediu de Damon com um aperto de mão e depois de Diana.
- Agora sou eu que tenho dúvidas sobre pediatria - ela disse divertida e ele riu.
- Bem... Você respondeu todas as minhas dúvidas, nada mais justo do que eu responder as suas também, vamos nos falando. Até mais, Ana.
- Tchau, Tom, a gente se vê.
acompanhou os dois até a porta enquanto Damon questionava Diana sobre o porquê de Thomas chamá-la assim, se era um apelido apenas entre eles. Enquanto ela se defendia, Thomas se despediu apenas com um aceno rápido e foi para o carro, deixando e a sós.
- Agradeça ao Thomas por mim, ele quase me convenceu a ser médico também - disse, se encostando na soleira da porta enquanto cruzava os braços.
- Eu disse que você se encosta em algum lugar pra conversar - apontou e ele só percebeu depois que fez, rindo de si mesmo.
- Tem razão, estou me sentindo um idiota.
- Não precisa, eu acho que essas coisinhas te tornam único - ela sorriu timidamente, encolhendo os ombros involuntariamente.
- Obrigado, não é todo dia que alguém diz isso pra mim.
- Então estou dizendo agora... Mas preciso ir, sou a carona, sabe? Meu carro está com o Will - ela rolou os olhos e ele concordou. - Garotos, sabe como é.
- Sei, acredite... Então até amanhã, . Bem cedo.
Ele pensou em esticar o braço para se despedir com um aperto de mão bem britânico, mas quando viu ela abrir os braços, não pensou duas vezes ao abrir os seus também e a puxar par um abraço como despedida. Normalmente ficaria nervoso e sem jeito em um momento assim, mas não podia colocar em palavras como se sentiu bem ao fazer aquilo. , por sua vez, pensou o mesmo quando um sentimento bom cresceu dentro dela. Ele tinha um perfume tão bom que ela pensou que poderia passar horas bem ali. Se afastaram um pouco depois, mas deixou um beijo na testa dela, para não fazer o que realmente queria estando ali tão perto.
- Se cuida.
- Até amanhã, - se afastou acenando e ele acenou de volta, então entrou e fechou a porta.
Mordendo os lábios para não rir, pular e gritar ao mesmo tempo, foi em passos rápidos em direção ao carro. Entrou no banco do carona e colocou o sinto, sem notar que Thomas estava olhando pra ela um tanto surpreso e admirado.
- Não te vejo assim há muito tempo - admitiu enquanto girava a chave na engrenagem.
- Tom, ele... Eu juro que mais um segundo e eu ia fazer uma doideira - abriu o vidro da janela, com calor.
- Não seria uma doideira. Pra mim está muito claro. Eu vi como ele olha pra você, está dando todos os sinais possíveis. Acredite, não seria mesmo uma doideira, eu iria até fechar os olhos para não atrapalhar.
- Bobo! - ela riu, negando com a cabeça. - Só vamos embora logo, por favor.
enviou a mensagem enquanto bebericava seu café, beirando às oito e meia da manhã. Viu que apenas Thomas dormia no quarto e podia imaginar onde o irmão estava e porque não tinha voltado pra casa na noite anterior. Estava mais preocupada com seu carro do que com ele de fato, sabia que ele estava muito bem, talvez melhor do que ela, que antes mesmo de bloquear a tela do celular, viu uma mensagem de informando que já havia chegado. Ela deixou a xícara de café sobre a mesa, enrolou o cachecol no pescoço, pegou a jaqueta e saiu praticamente pulando alguns degraus para chegar mais rápido no térreo. Estava mais do que ansiosa, mas pelo visto parecia estar ainda mais, pois ele não só tinha um cachecol, como também um moletom cinza com o brasão de Hogwarts e óculos de grau.
- Eu realmente uso óculos - ele se justificou enquanto dava partida. - De leitura, mas uso.
- Que legal, está como se o Harry fosse da Corvinal.
- Impossível, ele é muito burro. Era só pegar uma carta no chão ao invés de ficar tentando pegar uma no ar! Nunca vou me conformar com isso.
- Eu também não, me irrita profundamente a burrice dele às vezes. Não que a Grifinória seja a casa de pessoas burras, não é isso, mas eu seria ainda mais fã se o nome da saga fosse Hermione Granger.
- E aqui estou eu concordando com você de novo - ele riu, mas sem desviar a atenção do volante. - Pode deixar de ser sensata só um minuto?
- Damon é o melhor gêmeo, sempre achei.
- Sai do meu carro - ele apontou pra fora e os dois riram juntos.
O caminho até os estúdios da Warner foi cheio de conversas descontraídas e risadas. Estavam se divertindo antes mesmo de chegarem, mas quando entraram nos cenários, tudo pareceu ficar ainda melhor. Visitaram lugares como o Salão Principal, salão comunal da Grifinória, a ponte de Hogwarts, o povoado de Hogsmead, Beco Diagonal e também o Expresso de Hogwarts, todos muito fiéis aos filmes que eles cresceram assistindo e amando. Provavelmente a galeria de fotos de ambos os celulares já estavam cheias perto do final da tarde, e eles cheios de memórias para se lembrarem depois, pois realmente passaram o dia inteiro lá admirando cada detalhe dos lugares pelos quais passaram, sabendo que aquele passeio tomaria todo o dia deles. Não que isso fosse um problema, é claro.
Ao final da tarde, estavam famintos. Não comeram nada o dia inteiro, mal sabiam como ainda estavam em pé, então chegaram a um acordo de que seria ótimo ir tomar um milkshake acompanhado por batatas fritas.
- Isso é maravilhoso - disse extasiado após mergulhar uma batata no milkshake e comer.
- Quê??? - fez uma careta, torcendo o nariz para o que tinha acabado de ver.
- Ah, não me olhe assim, não faça eu me sentir estupido.
- Não é isso, é só que... Achei que fosse coisa que só acontece em filmes.
- Eu trouxe algumas coisas da América pra cá - ele riu e deu um gole na bebida logo depois. - Morei quatorze anos nos Estados Unidos, é inevitável não misturar as coisas.
- Não sei, você parece bem britânico pra mim. Que bom que não perdeu o sotaque - ela sorriu e, sentindo curiosidade, pegou uma batata no prato e molhou no milkshake, não parecendo muito empolgada. - Ah... Legal.
- Se for ficar olhando, vai perder toda a graça. Só come, eu vou acompanhar você - também pegou uma batata e mergulhou. - No três. Um, dois...
No três, eles comeram juntos. estava acostumado, então apenas observou a reação de , que ainda estava se decidindo se gostou ou não.
- É ruim, mas é bom... Quero dizer, parece comida de bebê, uma pasta, mas tem um gosto bom - ela dizia pensativa e ele riu, concordando.
- Viva a América.
- Acho que nunca perguntei o motivo de você ter voltado - ela o encarou. - Por que você voltou?
- É complicado... - coçou a nuca, ficando um pouco incomodado. - Em partes porque eu queria, estava planejando voltar no fim do ano passado para investir um pouco mais na minha imagem por aqui. Posso dizer que tenho uma vida normal agora, o que eu adoro.
- Eu estava esperando você ser parado toda hora - admitiu e ele concordou.
- Muito raro isso acontecer aqui, inclusive Louise acha que devemos melhorar isso. Como falei, eu pretendia me mudar apenas no final do ano, mas voltei em junho do ano passado. Passei um tempo morando com o Damon, que já estava aqui havia alguns meses, até que ele terminasse o projeto da minha casa. Nem preciso dizer o quanto ele me xingou por isso.
- Eu posso imaginar - ela riu, imaginando os gêmeos convivendo sobre o mesmo teto. - É indelicadeza da minha parte perguntar o motivo de você ter voltado antes?
- Não, claro que não, somos amigos - ele sorriu e se ajeitou na cadeira para ficar mais confortável. - Eu... Eu tinha uma namorada de muito tempo e tudo e todos lá me lembravam ela, estava me fazendo mal continuar ali. Depois de alguns erros que cometi, percebi que era melhor ir embora de uma vez.
- Entendo - desviou o olhar e deu um gole generoso na bebida. - Sinto muito.
- Tudo bem, eu já segui em frente, foi ótimo eu ter me mudado para cá, me lembrar de quem eu costumava ser... Mas e você? Não quero ficar falando só de mim. Imagino que você tenha nascido aqui, é uma típica londrina.
- É tão óbvio assim? - ela perguntou e ele concordou rindo junto. - Você está certo, nasci e cresci aqui em Londres, mas quando eu tinha dezesseis anos e o meu irmão já estava na faculdade, meus pais se mudaram para Manchester quando minha mãe aceitou uma proposta de trabalho de uma emissora local, ela é repórter. Quando fiz dezoito, fui aceita na universidade e passei alguns anos em Oxford com o meu irmão, só voltei para Londres depois que me formei. Manchester é legal, mas... Só tem estádios de futebol e arenas de show, fica meio enjoativo depois de um tempo. Gosto muito daqui.
- Eu também gosto. Não importa para onde eu vá, nenhum outro lugar faz eu me sentir em casa como aqui - ele olhou as horas no seu relógio de pulso. - Melhor terminarmos logo, está quase na hora.
concordou e então comeram o que restou o mais rápido possível, pois ainda tinham que se dirigir ao teatro. Chegaram em cima da hora, mas não o suficiente para se atrasarem, pois a peça começou no horário pontual e eles haviam chegado havia apenas cinco minutos.
- Ah, com toda a certeza! Eu já tinha assistido a peça em Nova Iorque, mas não é a mesma coisa. Acho que a magia está aqui.
- Claro que sim, estamos onde tudo começou! - ela sorriu maravilhada e ele concordou. - Espero poder fazer isso mais vezes.
- Eu também, tenho certeza que vamos - eles pararam de andar quando chegaram no carro e se encostou na porta antes de entrar, cruzando os braços. - Obrigado por ter vindo, .
- Eu que agradeço por ter me convidado, - sorriu, ficando de frente pra ele. - Eu me diverti muito mesmo, virei criança de novo.
- Eu também... Espero que de agora em diante, você não faça mais caretas ao me ver molhando batata frita no milkshake.
- Nunca vou me acostumar com isso, sem chances! - os dois riram. Tinham que concordar que era estranho. - Mas talvez eu faça também... Não conte para ninguém.
- Não vou.
E, pela primeira vez, parecia que o assunto tinha morrido. ainda pensava em como era possível a garota que o visitava nos sonhos estar bem ali na sua frente em carne e osso, como ela era tão fiel fisicamente ao que ele via, mas com uma personalidade muito mais cativante que prendia sua atenção. Esse detalhe já não importava mais, o que importava mesmo era que ele finalmente seguiu em frente. Sem necessidade de fazer comparações, apenas podia afirmar que o passado ficou no passado e ele estava satisfeito com o seu presente.
- Acho que não consigo mais guardar isso pra mim, eu preciso te dizer - criou uma coragem repentina, soltando os braços e ajeitando a postura. - Foi inevitável...
- Eu sei, eu percebi - desviou o olhar, fitando a calçada.
- Como???
- Porque também foi inevitável pra mim, ... Não sei quando ou como, só me dei conta depois. E também, tive quem ficasse o dia inteiro fazendo piadinhas e entrando na minha mente...
- Ah, eu também, acredite, acho que eles perceberam primeiro... Pouco mais de um mês atrás eu não imaginaria que alguém como você pudesse gostar de alguém como eu.
- Como assim alguém como você? - olhou para ele, confusa.
- ... - ele riu, baixando o olhar por um instante. - Passei a vida inteira ouvindo que eu deveria ser um pouco mais como o meu irmão. Mais desinibido, falar mais alto, ter mais atitude... Você nem imagina como é torturante pra mim dizer isso sem sair correndo depois.
- Mas você não deveria absorver isso. Vocês não são uma pessoa só! - respondeu como se estivesse ofendida. - Gosto de você justamente por isso. Se eu quisesse alguém como ele, estaria lendo livros sobre como cuidar de uma criança que não é minha ou algo do gênero - ela gesticulou freneticamente, como se estivesse folheando um livro e ele riu, concordando. - Foi você que me chamou a atenção aquele dia na casa da Katie. Quando me dei conta, estava ansiosa para o dia de hoje.
- Eu não conseguia tirar os olhos de você naquele dia, pode ter parecido estranho pra você, mas eu não conseguia. Pensei que já te conhecia, mas... Não sei, acho que não era só isso. Aceitei ir em uma droga de um jogo de futebol só porque você iria também, sendo que eu detesto futebol.
- Ah é, foi uma porcaria mesmo... Quero dizer, o jogo, só fui para agradar os meninos e fiquei feliz por você ter ido também... E a propósito, não foi estranho, tá? Eu só não olhei muito para adiar... Esse momento.
desencostou da porta e deu um passo para a frente, chegando mais perto dela. Não tinha porque ser tímido e muito menos hesitar, ela já sabia de tudo e ele não se sentia ansioso por causa disso, estava tranquilo. Colocou uma das mãos no rosto dela ao mesmo tempo que se aproximou dele. Ela também queria estar ali. Queria muito romper com aquele pingo de distância entre os dois, mas se adiantou quando juntou seus lábios nos dela, dando início a um beijo calmo e suave.
Continua...
Nota da autora: AAAAAAAAAAAAAA demorou, mas saiu. JÁ PODE CHAMAR DE MEU CASAL?
Primeiramente mil perdões pela demora, sei que estou um pouco ausente, mas os últimos dois meses foram meio barra pra mim. De qualquer jeito, esse ano vou tentar estar presente sempre, prometo ahahah
Me digam nos comentários o que estão achando até aqui, o que acharam do date? O PP fofo como sempre <3
Bjs e até a próxima
Outras Fanfics:
>> 06. Moving Along
>> Ad Perpetuam Memoriam – They Don’t Know About Us
>> Fico Com Você
>> Love and Blood
>> Onde nascem os grandes
Nota da beta: O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber se a história tem atualização pendente, clique aqui
Primeiramente mil perdões pela demora, sei que estou um pouco ausente, mas os últimos dois meses foram meio barra pra mim. De qualquer jeito, esse ano vou tentar estar presente sempre, prometo ahahah
Me digam nos comentários o que estão achando até aqui, o que acharam do date? O PP fofo como sempre <3
Bjs e até a próxima
Outras Fanfics:
>> 06. Moving Along
>> Ad Perpetuam Memoriam – They Don’t Know About Us
>> Fico Com Você
>> Love and Blood
>> Onde nascem os grandes
Nota da beta: O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Para saber se a história tem atualização pendente, clique aqui