Prólogo
Chicago, 1918
Acordei com um pressentimento ruim. O dia estava chuvoso, as folhas se debatiam com a ventania e, olhar pela janela parecia infinitamente mais convidativo do que o vestido milimetricamente dobrado na cadeira de minha penteadeira. Tudo parecia conspirar para que fosse um dia ruim. Talvez realmente fosse. Mas, eu deveria estar feliz, apesar de tudo: era meu aniversário, no fim das contas. Na verdade, meu e de Edward. De acordo com nossos pais, a comemoração seria incrível ou, como dizia minha mãe, de "fazer inveja na vizinhança".
Mas a situação não estava tão propícia para uma festa. Estávamos em guerra, milhares de garotos foram mandados para os campos de batalha sem a menor perspectiva de retorno. Eu não achava que deveria comemorar. Três de meus melhores amigos tinham se alistado contra suas vontades e as cartas trocadas se tornavam cada vez mais escassas. Das duas uma: ou a guerra estava acabando ou eles estavam mortos. Eu preferia pensar na primeira opção.
Para Elizabeth Masen, por outro lado, nada disso deveria ser levado em consideração. Pelo contrário, minha mãe acreditava que deveríamos celebrar que estávamos vivos e juntos. 17 anos era uma idade importante, ela dizia sempre que eu questionava sobre quaisquer comemorações. De fato, era. Eu já deveria estar contraindo matrimônio com algum cavalheiro que meus pais aprovassem. Meu irmão deveria estar se preparando para seguir os passos de papai no banco, estudando finanças e leis. Mas, nada disso nos importava. Eu não queria perder meus dias cuidando de um marido que, certamente não amaria. Edward não tinha pretensões de seguir a carreira de Edward Masen Senior, um militar reformado e contador do Banco Central de Chicago. Queríamos viver de acordo com nossos termos, mas em 1918 isso não era possível. "Ou nos adequávamos ou nos adequávamos", dizia Carole, uma amiga de minha mãe.
A porta do meu quarto se abriu em um rompante, fazendo um pequeno estrondo que tirou minha atenção das gotas que chicoteavam a janela.
- Evolet Masen, por que ainda não está pronta? – minha mãe, com as mãos na cintura me olhava com a expressão fechada e acusadora. Eu ainda estava em roupas de dormir e o relógio ao lado de minha cama estava apontando meio dia – Precisa me ajudar, querida! Tenho que arrumar o resto da casa e depois te arrumar. Já escolheu seu penteado? Precisa estar perfeita para conseguir um marido, !
O discurso era o mesmo de ontem e dos dias anteriores. "Conseguir um marido, conseguir um marido". Era quase um mantra que me enlouquecia, porque eu já estava cansada de tentar argumentar com meus pais contra isso. Eu queria conhecer o mundo, estudar, não ficar presa em uma casa servindo um homem que teria o título de meu marido. Às vezes, invejava e muito meu irmão, ele poderia fazer o que eu tanto gostaria. Mesmo que ainda tivesse que se reportar às regras de nosso pai.
- Mamãe, sabe que eu não quero me casar. – um suspiro saiu de meus lábios e senti os ombros ainda mais pesados – Estou fazendo isso por você e papai. Sabe disso.
Ela tinha se sentado na cama e dado algumas batidinhas leves no colchão, me convidando para sentar ao seu lado, o que fiz resignada. Ela passou as mãos por meus cabelos, num carinho gostoso e, eu sabia, um pedido de desculpas silencioso.
- Minha , eu sei de tudo isso, mas não posso ir contra seu pai. – ela disse mais baixo - Então, por favor, faça o possível para aceitar essa situação. É complicado no começo, mas você pode se apaixonar pelo seu esposo, assim como amo seu pai agora. – sua voz estava mais animada - Tudo vai dar certo, meu amor.
Elizabeth Masen deu um beijo em minha testa e se levantou. Foi até a porta e olhou uma última vez em minha direção antes de sair do quarto. Eu sabia que deveria me preparar para o momento da comemoração. O vestido dobrado na cadeira parecia brilhar como mil pedras de diamantes. Meu olhar se encontrou com meu reflexo no espelho e eu sabia que não tinha mais nada a ser feito. Hoje, eu era Evolet Masen. Em alguns meses, eu seria apenas a mulher de alguém.
Acordei com um pressentimento ruim. O dia estava chuvoso, as folhas se debatiam com a ventania e, olhar pela janela parecia infinitamente mais convidativo do que o vestido milimetricamente dobrado na cadeira de minha penteadeira. Tudo parecia conspirar para que fosse um dia ruim. Talvez realmente fosse. Mas, eu deveria estar feliz, apesar de tudo: era meu aniversário, no fim das contas. Na verdade, meu e de Edward. De acordo com nossos pais, a comemoração seria incrível ou, como dizia minha mãe, de "fazer inveja na vizinhança".
Mas a situação não estava tão propícia para uma festa. Estávamos em guerra, milhares de garotos foram mandados para os campos de batalha sem a menor perspectiva de retorno. Eu não achava que deveria comemorar. Três de meus melhores amigos tinham se alistado contra suas vontades e as cartas trocadas se tornavam cada vez mais escassas. Das duas uma: ou a guerra estava acabando ou eles estavam mortos. Eu preferia pensar na primeira opção.
Para Elizabeth Masen, por outro lado, nada disso deveria ser levado em consideração. Pelo contrário, minha mãe acreditava que deveríamos celebrar que estávamos vivos e juntos. 17 anos era uma idade importante, ela dizia sempre que eu questionava sobre quaisquer comemorações. De fato, era. Eu já deveria estar contraindo matrimônio com algum cavalheiro que meus pais aprovassem. Meu irmão deveria estar se preparando para seguir os passos de papai no banco, estudando finanças e leis. Mas, nada disso nos importava. Eu não queria perder meus dias cuidando de um marido que, certamente não amaria. Edward não tinha pretensões de seguir a carreira de Edward Masen Senior, um militar reformado e contador do Banco Central de Chicago. Queríamos viver de acordo com nossos termos, mas em 1918 isso não era possível. "Ou nos adequávamos ou nos adequávamos", dizia Carole, uma amiga de minha mãe.
A porta do meu quarto se abriu em um rompante, fazendo um pequeno estrondo que tirou minha atenção das gotas que chicoteavam a janela.
- Evolet Masen, por que ainda não está pronta? – minha mãe, com as mãos na cintura me olhava com a expressão fechada e acusadora. Eu ainda estava em roupas de dormir e o relógio ao lado de minha cama estava apontando meio dia – Precisa me ajudar, querida! Tenho que arrumar o resto da casa e depois te arrumar. Já escolheu seu penteado? Precisa estar perfeita para conseguir um marido, !
O discurso era o mesmo de ontem e dos dias anteriores. "Conseguir um marido, conseguir um marido". Era quase um mantra que me enlouquecia, porque eu já estava cansada de tentar argumentar com meus pais contra isso. Eu queria conhecer o mundo, estudar, não ficar presa em uma casa servindo um homem que teria o título de meu marido. Às vezes, invejava e muito meu irmão, ele poderia fazer o que eu tanto gostaria. Mesmo que ainda tivesse que se reportar às regras de nosso pai.
- Mamãe, sabe que eu não quero me casar. – um suspiro saiu de meus lábios e senti os ombros ainda mais pesados – Estou fazendo isso por você e papai. Sabe disso.
Ela tinha se sentado na cama e dado algumas batidinhas leves no colchão, me convidando para sentar ao seu lado, o que fiz resignada. Ela passou as mãos por meus cabelos, num carinho gostoso e, eu sabia, um pedido de desculpas silencioso.
- Minha , eu sei de tudo isso, mas não posso ir contra seu pai. – ela disse mais baixo - Então, por favor, faça o possível para aceitar essa situação. É complicado no começo, mas você pode se apaixonar pelo seu esposo, assim como amo seu pai agora. – sua voz estava mais animada - Tudo vai dar certo, meu amor.
Elizabeth Masen deu um beijo em minha testa e se levantou. Foi até a porta e olhou uma última vez em minha direção antes de sair do quarto. Eu sabia que deveria me preparar para o momento da comemoração. O vestido dobrado na cadeira parecia brilhar como mil pedras de diamantes. Meu olhar se encontrou com meu reflexo no espelho e eu sabia que não tinha mais nada a ser feito. Hoje, eu era Evolet Masen. Em alguns meses, eu seria apenas a mulher de alguém.
Capítulo 01
Levantei da cama o mais lentamente possível, pretendia alongar ainda mais o que normalmente faria em pouco tempo. Peguei o vestido e fui ao banheiro, começando a encher a banheira, ouvindo ao longe meu irmão tocando piano. Edward tocava alguma melodia que eu desconhecia a autoria, mas me lembrava de já ter dançado com papai enquanto meu irmão nos encantava. Como das outras vezes, me sentia mais calma. Talvez, se eu pudesse ficar ali para toda a eternidade.
Um suspiro resignado escapou por entre meus lábios e quando a banheira estava devidamente cheia, tirei minhas roupas, prendi o cabelo em um coque e adentrei no banho, esperando ter uns bons vinte minutos de descanso. Comecei a lavar meus braços, torcendo para que assim lavasse minha alma e todos aqueles pensamentos ruins sobre as próximas horas.
Terminei o banho, peguei a toalha, me secando e colocando o vestido com todo o cuidado do mundo. Ele era bonito, no final das contas. Rosa com detalhes em dourado. Minha mãe diria que meus olhos ficariam ressaltados, como eu via me encarando no grande espelho do banheiro.
Ao sair do aposento, fui direto para o quarto, me sentando na penteadeira para arrumar o cabelo. Edward ainda tocava piano, me fazendo lembrar que eu deveria descer o mais rápido possível, antes que minha mãe viesse novamente me chamar. Prendi os cabelos em um alto rabo de cavalo e passei um pouco de pó em minhas bochechas, não tinha ânimo para algo mais elaborado.
Desamassei o vestido com as mãos e sai do quarto, descendo as escadas rapidamente, indo de encontro à música. Quando adentrei na sala, com o som dos meus passos me denunciando, meu irmão parou de tocar, se virou e abriu o sorriso mais lindo do mundo para mim.
– Feliz aniversário, Evie! – disse estendendo a mão para que eu me sentasse ao seu lado, usando o apelido que eu mais odiava, com um sorrisinho de escárnio no canto dos lábios. Já não bastava me chamar de Evolet, ele tinha que diminuir ainda mais o nome? Só ele insistia em me chamar assim. Eu preferia e ele sabia, mas fazia isso para me aborrecer.
– Feliz aniversário para você também, Ed! – lhe mostrei a língua como uma criança pequena e ele revirou os olhos enquanto sorria para mim. Nos sentamos juntos no banco do piano e o abracei de lado, deitando minha cabeça em seu ombro. Meu coração estava apertado e eu sabia que podia desabafar – Maninho, eu não sei o que fazer. Papai continua com a ideia de me oferecer em matrimônio para alguém que eu não conheço. Preciso que me ajude a fazê-lo parar de pensar nisso. – Olhei suplicante para ele, Edward Senior sempre o escutava e torcia para que continuasse assim.
– Evie, sabe que não posso fazer nada. Ele também espera que eu encontre a esposa ideal hoje à noite, mas você sabe que eu preferia ter ido à guerra. Teria feito muito mais por meu país. – meu coração sempre ficava pequenininho quando ele começava com esse assunto. Não queria imaginar o meu irmãozinho, ele era dez minutos mais novo e eu o lembrava sempre que podia desse detalhe, no meio de uma batalha, por isso evitava pensar no assunto.
Lhe abracei e era o máximo que poderia fazer. Ele deixou um beijo em minha testa como um pedido mudo de desculpas. Eu sabia que ele já tinha feito todo o possível por mim. Disse que estava indo para a biblioteca, mas acabei me encaminhando para o jardim. A chuva tinha dado uma trégua e nosso balanço coberto pelo telhado da casa parecia bem convidativo.
Minha mente viajou no tempo enquanto eu me balançava. Edward e eu costumávamos brincar e brigar pelo jardim, com mamãe falando irritada conosco. "Se sujar não é algo que damas e cavalheiros fazem, meninos", ela dizia. Ela não gostava de levantar a voz, apenas colocava as mãos na cintura e batia o sapato devidamente engraxado em nossa varanda, fazendo o barulho ecoar graças ao contato com a madeira.
Ficar ali sempre deixava tudo melhor, fazia com que eu esquecesse o mundo a minha volta. O silêncio me acolhia e eu podia deixar minha mente viajar, já que o corpo não tinha condições.
Eu não sabia quanto tempo tinha passado, não sabia se já era a hora da tal festa, mas meu estômago já começava a dar sinais de vida. Chame de destino ou coincidência, mas foi neste exato momento em que ouvi a voz de minha mãe me chamando dentro de casa. Era chegada a hora, era hoje que começava o fim de minha vida.
Levantei-me conformada tomando o caminho de casa, com os ombros pesando tanto quanto mil cavalos. Assim que apareci na sala, vi meu pai sentado em sua poltrona preferida, lendo o jornal enquanto tomava um pouco de chá. Sorri com a cena. Mesmo detestando a opinião de papai, Edward Senior ainda era a melhor pessoa que conhecia. Generoso, bondoso, um coração enorme. Meu irmão se parecia muito com ele, os cabelos cor de bronze, o sorriso torto, mas tinha os olhos de minha mãe, verdes, assim como os meus.
Quando notou minha presença, ele abriu os braços como fazia antigamente para me receber. Sentei-me em seu colo enquanto me sentia acolhida por seus braços. Estava segura ali e não tinha a menor vontade de sair daquele casulo.
– Minha princesa, sei que não está satisfeita com o que decidimos para o seu futuro, mas lembre-se que eu e sua mãe só estamos buscando o que acreditamos ser o melhor. – Ele me disse olhando no fundo de meus olhos.
Eu não conseguia ficar chateada com ele, então só o abracei forte e levantei de seu colo sem falar nada, indo em direção a cozinha onde sabia que encontraria a senhora Masen. Mamãe tinha a mania de deixar tudo impecável, mesmo sem ajuda.
Me sentei a mesa e tomei a sopa que me esperava ali. Na primeira colherada o quente líquido aqueceu tudo o que tinha dentro de mim e ela me olhava com um sorriso contido no rosto. Ao terminar, subimos juntas para meu quarto para que ela pudesse me aprontar para a tal festa. A delicadeza era tanta que eu me sentia uma boneca.
Quando ela terminou, eu estava linda com um vestido azul de mangas, que ia dois dedos abaixo dos joelhos, um sapato com salto médio e uma linda trança completa com uma maquiagem impecável. Eu teria adorado se não fossem as circunstâncias atuais. Não queria ser a esposa de alguém.
– , querida, seu pai encontrou o marido perfeito para você. Vamos descer que ele já está esperando. – falava enquanto me conduzia para baixo.
Na sala, meu pai e meu irmão já nos esperavam, conversando com o que me parecia ser uma família: dois homens e uma mulher. Não seria uma festa, como tinha sido prometido. Eu já deveria esperar, pensei enquanto dava de ombros.
Eu conhecia os mais velhos. Papai tinha uma fotografia com aquele senhor e a senhora vinha tomar chá com mamãe algumas vezes.
– Querida, fico feliz que tenha se juntado a nós. – papai parou a conversa e veio caminhando para a escada, onde estendeu o braço para minha mãe e para mim. – Estes são George e Joanne Stan e seu filho, Arthur. – cumprimentei o Sr. e a Sra. Stan gentilmente, enquanto sentia o olhar de seu filho sobre mim, podendo ver também meu irmão encarar Arthur com uma fúria contida. Ele era muito protetor.
Estendi minha mão para Arthur que deixou um beijo casto em minha mão, enquanto sorria em minha direção.
– É um prazer conhecê-los. Papai fala muito dos senhores – Completei sorrindo e me colocando de frente para o que parecia ser meu futuro marido.
– O jantar está pronto, queridos. – minha mãe voltava da cozinha, com um belo sorriso no rosto. Dirigimo-nos a mesa e, obviamente, Arthur tinha se oferecido para me acompanhar, sentando-se ao meu lado, com Edward a sua frente, sempre lhe encarando. Os mais velhos conversavam sobre vários tópicos, mas sempre desviando o assunto para nós. Mandando indiretas que me faziam corar e abaixar os olhos envergonhada.
A refeição em si não foi a pior parte, o que mais me preocupou foi a conversa que escutei minutos depois do jantar entre meu pai e George Stan, sobre o que parecia ser a negociata do meu casamento. "Três meses", eles diziam. Mamãe e a senhora Stan seriam responsáveis por preparar tudo, inclusive minha noite de núpcias. Deveras constrangedor.
– Edward, eu não posso me casar com Arthur. – confidenciei horas depois em meu quarto – Nem o conheço e, por mais bonito que ele seja, eu não sinto nada por ele. – falava andando de um lado para o outro, enquanto ele me olhava sentado na cama – Preciso que me ajude, eu não posso deixar que isso aconteça.
– Evie, fique calma. – ele me segurou pelos ombros, impedindo que eu desse outro passo – Vamos dar um jeito nisso, não vou te deixar casar com aquele homem. Vou falar com papai, com o senhor Stan, com o padre, com o presidente, se for necessário. Mas, iremos resolver! – disse me dando um beijo na testa e saindo do quarto.
Sentei na cama desolada, sabia que não teria jeito. Edward não conseguiria convencer papai a cancelar o casamento, por isso eu precisava fugir. Tinha que ir embora. No entanto, sabia que se falasse algo ao meu irmão, ele diria que eu tinha enlouquecido. Talvez eu realmente estivesse louca, mas precisava tentar.
Mamãe nunca me ajudaria, ela contaria ao papai que me prenderia em casa na primeira oportunidade. Por isso, era perigoso envolver mais alguém. Estava decidido. Eu iria embora.
Um suspiro resignado escapou por entre meus lábios e quando a banheira estava devidamente cheia, tirei minhas roupas, prendi o cabelo em um coque e adentrei no banho, esperando ter uns bons vinte minutos de descanso. Comecei a lavar meus braços, torcendo para que assim lavasse minha alma e todos aqueles pensamentos ruins sobre as próximas horas.
Terminei o banho, peguei a toalha, me secando e colocando o vestido com todo o cuidado do mundo. Ele era bonito, no final das contas. Rosa com detalhes em dourado. Minha mãe diria que meus olhos ficariam ressaltados, como eu via me encarando no grande espelho do banheiro.
Ao sair do aposento, fui direto para o quarto, me sentando na penteadeira para arrumar o cabelo. Edward ainda tocava piano, me fazendo lembrar que eu deveria descer o mais rápido possível, antes que minha mãe viesse novamente me chamar. Prendi os cabelos em um alto rabo de cavalo e passei um pouco de pó em minhas bochechas, não tinha ânimo para algo mais elaborado.
Desamassei o vestido com as mãos e sai do quarto, descendo as escadas rapidamente, indo de encontro à música. Quando adentrei na sala, com o som dos meus passos me denunciando, meu irmão parou de tocar, se virou e abriu o sorriso mais lindo do mundo para mim.
– Feliz aniversário, Evie! – disse estendendo a mão para que eu me sentasse ao seu lado, usando o apelido que eu mais odiava, com um sorrisinho de escárnio no canto dos lábios. Já não bastava me chamar de Evolet, ele tinha que diminuir ainda mais o nome? Só ele insistia em me chamar assim. Eu preferia e ele sabia, mas fazia isso para me aborrecer.
– Feliz aniversário para você também, Ed! – lhe mostrei a língua como uma criança pequena e ele revirou os olhos enquanto sorria para mim. Nos sentamos juntos no banco do piano e o abracei de lado, deitando minha cabeça em seu ombro. Meu coração estava apertado e eu sabia que podia desabafar – Maninho, eu não sei o que fazer. Papai continua com a ideia de me oferecer em matrimônio para alguém que eu não conheço. Preciso que me ajude a fazê-lo parar de pensar nisso. – Olhei suplicante para ele, Edward Senior sempre o escutava e torcia para que continuasse assim.
– Evie, sabe que não posso fazer nada. Ele também espera que eu encontre a esposa ideal hoje à noite, mas você sabe que eu preferia ter ido à guerra. Teria feito muito mais por meu país. – meu coração sempre ficava pequenininho quando ele começava com esse assunto. Não queria imaginar o meu irmãozinho, ele era dez minutos mais novo e eu o lembrava sempre que podia desse detalhe, no meio de uma batalha, por isso evitava pensar no assunto.
Lhe abracei e era o máximo que poderia fazer. Ele deixou um beijo em minha testa como um pedido mudo de desculpas. Eu sabia que ele já tinha feito todo o possível por mim. Disse que estava indo para a biblioteca, mas acabei me encaminhando para o jardim. A chuva tinha dado uma trégua e nosso balanço coberto pelo telhado da casa parecia bem convidativo.
Minha mente viajou no tempo enquanto eu me balançava. Edward e eu costumávamos brincar e brigar pelo jardim, com mamãe falando irritada conosco. "Se sujar não é algo que damas e cavalheiros fazem, meninos", ela dizia. Ela não gostava de levantar a voz, apenas colocava as mãos na cintura e batia o sapato devidamente engraxado em nossa varanda, fazendo o barulho ecoar graças ao contato com a madeira.
Ficar ali sempre deixava tudo melhor, fazia com que eu esquecesse o mundo a minha volta. O silêncio me acolhia e eu podia deixar minha mente viajar, já que o corpo não tinha condições.
Eu não sabia quanto tempo tinha passado, não sabia se já era a hora da tal festa, mas meu estômago já começava a dar sinais de vida. Chame de destino ou coincidência, mas foi neste exato momento em que ouvi a voz de minha mãe me chamando dentro de casa. Era chegada a hora, era hoje que começava o fim de minha vida.
Levantei-me conformada tomando o caminho de casa, com os ombros pesando tanto quanto mil cavalos. Assim que apareci na sala, vi meu pai sentado em sua poltrona preferida, lendo o jornal enquanto tomava um pouco de chá. Sorri com a cena. Mesmo detestando a opinião de papai, Edward Senior ainda era a melhor pessoa que conhecia. Generoso, bondoso, um coração enorme. Meu irmão se parecia muito com ele, os cabelos cor de bronze, o sorriso torto, mas tinha os olhos de minha mãe, verdes, assim como os meus.
Quando notou minha presença, ele abriu os braços como fazia antigamente para me receber. Sentei-me em seu colo enquanto me sentia acolhida por seus braços. Estava segura ali e não tinha a menor vontade de sair daquele casulo.
– Minha princesa, sei que não está satisfeita com o que decidimos para o seu futuro, mas lembre-se que eu e sua mãe só estamos buscando o que acreditamos ser o melhor. – Ele me disse olhando no fundo de meus olhos.
Eu não conseguia ficar chateada com ele, então só o abracei forte e levantei de seu colo sem falar nada, indo em direção a cozinha onde sabia que encontraria a senhora Masen. Mamãe tinha a mania de deixar tudo impecável, mesmo sem ajuda.
Me sentei a mesa e tomei a sopa que me esperava ali. Na primeira colherada o quente líquido aqueceu tudo o que tinha dentro de mim e ela me olhava com um sorriso contido no rosto. Ao terminar, subimos juntas para meu quarto para que ela pudesse me aprontar para a tal festa. A delicadeza era tanta que eu me sentia uma boneca.
Quando ela terminou, eu estava linda com um vestido azul de mangas, que ia dois dedos abaixo dos joelhos, um sapato com salto médio e uma linda trança completa com uma maquiagem impecável. Eu teria adorado se não fossem as circunstâncias atuais. Não queria ser a esposa de alguém.
– , querida, seu pai encontrou o marido perfeito para você. Vamos descer que ele já está esperando. – falava enquanto me conduzia para baixo.
Na sala, meu pai e meu irmão já nos esperavam, conversando com o que me parecia ser uma família: dois homens e uma mulher. Não seria uma festa, como tinha sido prometido. Eu já deveria esperar, pensei enquanto dava de ombros.
Eu conhecia os mais velhos. Papai tinha uma fotografia com aquele senhor e a senhora vinha tomar chá com mamãe algumas vezes.
– Querida, fico feliz que tenha se juntado a nós. – papai parou a conversa e veio caminhando para a escada, onde estendeu o braço para minha mãe e para mim. – Estes são George e Joanne Stan e seu filho, Arthur. – cumprimentei o Sr. e a Sra. Stan gentilmente, enquanto sentia o olhar de seu filho sobre mim, podendo ver também meu irmão encarar Arthur com uma fúria contida. Ele era muito protetor.
Estendi minha mão para Arthur que deixou um beijo casto em minha mão, enquanto sorria em minha direção.
– É um prazer conhecê-los. Papai fala muito dos senhores – Completei sorrindo e me colocando de frente para o que parecia ser meu futuro marido.
– O jantar está pronto, queridos. – minha mãe voltava da cozinha, com um belo sorriso no rosto. Dirigimo-nos a mesa e, obviamente, Arthur tinha se oferecido para me acompanhar, sentando-se ao meu lado, com Edward a sua frente, sempre lhe encarando. Os mais velhos conversavam sobre vários tópicos, mas sempre desviando o assunto para nós. Mandando indiretas que me faziam corar e abaixar os olhos envergonhada.
A refeição em si não foi a pior parte, o que mais me preocupou foi a conversa que escutei minutos depois do jantar entre meu pai e George Stan, sobre o que parecia ser a negociata do meu casamento. "Três meses", eles diziam. Mamãe e a senhora Stan seriam responsáveis por preparar tudo, inclusive minha noite de núpcias. Deveras constrangedor.
– Edward, eu não posso me casar com Arthur. – confidenciei horas depois em meu quarto – Nem o conheço e, por mais bonito que ele seja, eu não sinto nada por ele. – falava andando de um lado para o outro, enquanto ele me olhava sentado na cama – Preciso que me ajude, eu não posso deixar que isso aconteça.
– Evie, fique calma. – ele me segurou pelos ombros, impedindo que eu desse outro passo – Vamos dar um jeito nisso, não vou te deixar casar com aquele homem. Vou falar com papai, com o senhor Stan, com o padre, com o presidente, se for necessário. Mas, iremos resolver! – disse me dando um beijo na testa e saindo do quarto.
Sentei na cama desolada, sabia que não teria jeito. Edward não conseguiria convencer papai a cancelar o casamento, por isso eu precisava fugir. Tinha que ir embora. No entanto, sabia que se falasse algo ao meu irmão, ele diria que eu tinha enlouquecido. Talvez eu realmente estivesse louca, mas precisava tentar.
Mamãe nunca me ajudaria, ela contaria ao papai que me prenderia em casa na primeira oportunidade. Por isso, era perigoso envolver mais alguém. Estava decidido. Eu iria embora.
Capítulo 02
Esperei que todos tivessem estivessem completamente abraçados por Morfeu para arrumar uma pequena mala. Sabia que se ficasse com as minhas roupas não conseguiria ir muito longe, então a única solução seria pegar as de meu irmão.
Fui pé ante pé até seu quarto, agradecendo por ele ter o sono tão pesado. Abri o guarda-roupa e peguei algumas calças e blusas, voltando rapidamente para o meu quarto. Vesti as roupas dele e coloquei minhas botas de equitação, elas seriam muito úteis se precisasse caminhar por muito tempo.
Dobrei tudo e arrumei a mala de mão com as poucas coisas que poderia levar. Juntei todas as joias que podia em uma pequena caixinha e coloquei junto. Sentei-me na penteadeira com um lápis pronta para escrever um pequeno bilhete de despedida ao meu irmão.
Querido Edward,
Quando acordar pela manhã já terei ido embora e, provavelmente não nos veremos por um bom tempo. Sei que deveria ter fé em você, mas sabemos que eu seria obrigada a casar no momento em que o sol raiasse. Espero que entenda meus motivos e que não julgue a minha covardia ou tente me procurar.
Cuide de nossos pais e tente explicar o porquê de eu ter ido, aguardo desde já pelo dia em que todos vocês me perdoarão pela fuga. Diga que os amo e que me parte o coração não ser a filha ou a irmã que vocês tanto merecem. Amo você, Ed.
Com todo amor, sua Evie.
Segurei as lágrimas ao terminar de escrever e juntei as pontas do papel delicadamente, selando ali o que viria adiante. Desci as escadas com a mala, tentando não fazer barulhos com as botas no chão de madeira e deixei a carta presa ao piano. Sabia que Edward encontraria pela manhã, só esperava que me perdoasse. A casa estava mergulhada em um silêncio que me faria falta. Passei rapidamente pelo escritório de papai, pegando a chave no que ele pensava ser um esconderijo. O espaço entre o quinto e o sexto livro de sua estante não era exatamente o lugar mais escondido depois de ter visto ele pegar dinheiro anos atrás. Peguei uma quantia suficiente de dólares e fechei tudo, deixando do jeito que estava.
Saí para a rua, somente iluminada pelo lampião. Eu não tinha rumo, não sabia por onde andar, para onde ir, o que fazer. O relógio tirado do bolso da calça marcava três e quinze da madrugada. Então, resolvi apenas caminhar em direção a estrada. Talvez ela me levasse a Cicero se eu fosse lenta demais, talvez chegasse a River Forest se andasse um pouco mais.
Quando me dei conta, já estava em uma estrada escura. Olhava para os lados e não conseguia enxergar nada, evitava olhar para trás para que o medo não me impedisse de continuar. O som da minha respiração era o que eu escutava, alternando com alguns piados de coruja.
As árvores ao redor pareciam bem altas, tornando a caminhada ainda mais escura e sombria. Eu caminhava apressadamente, mas sem correr. Minhas mãos já um pouco doloridas pelo peso da mala. Até que ouvi um galho se partindo, fazendo meu coração acelerar com o susto. Deveria ser só algum animal na floresta ao redor, pensei e controlei a curiosidade de ver o que tinha acontecido.
Respirei fundo e continuei caminhando com mais pressa agora, mas continuava ouvindo galhos sendo quebrados a medida que minha respiração ficava ainda mais agitada. Minha cabeça girava para todas as direções possíveis, mesmo que eu não conseguisse ver nada pela escuridão. Apavorada. Eu apertava os dedos com tanta força na alça da mala que chegava a doer.
Passos. Alguém estava me seguindo e eu só consegui correr, vendo uma pequena luz em um ponto mais à frente na estrada. Eu poderia pedir ajuda se chegasse ali, se me apressasse mais. Eu não tinha mais pulmões e meu coração já batia descontrolado em meu peito. O perseguidor se aproximava, eu podia sentir pelos passos mais audíveis. Ele queria que eu o escutasse, que eu soubesse que me pegaria.
Virei na direção do barulho por meio segundo e fui arremessada alguns metros para trás no segundo seguinte, com uma dor lancinante em todo o meu corpo, como se tivesse batido em uma parede. A mala escapou das minhas mãos e eu vi uma figura humana na minha frente. Ele carregava um pequeno lampião e eu consegui enxergar com mais facilidade, mesmo que meu coração parecesse um tambor em meus ouvidos.
Cabelos pretos, pele pálida como o mármore e incrivelmente lindo. Parecia um deus grego, mesmo com os olhos vermelhos. Sim, vermelhos como o sangue e extremamente quentes, pelo fogo tão perto. Ele caminhava lentamente em minha direção e eu me arrastava pra trás na mesma velocidade. Hipnotizada, eu estava.
Quando ele chegou perto o suficiente, segurou meu tornozelo, impedindo que eu me movesse mais para longe. Seus dedos foram subindo, segurando com força minha perna e me fazendo sentir a frieza através do tecido fino da calça. Ele me puxou para perto, ficando literalmente em cima do meu corpo. Seu peito grudado ao meu, sua respiração se misturando a minha e seus olhos estudando meu rosto. Eu não conseguia parar de olhar ou emitir qualquer som. O grito estava preso na minha garganta.
Ele passou a mão gelada em meu rosto em uma carícia leve, me fazendo estremecer. Pegou uma mecha do meu cabelo e a cheirou, com uma expressão de prazer que me deixou ainda mais apavorada com o que poderia acontecer. Depois, colocou com suavidade a mecha no lugar e eu senti seus dedos em meu pescoço, seguidos por seu nariz. Senti seu sorriso se abrir e eu só consegui fechar os olhos e pedir a Deus que mandasse alguém para me ajudar naquele momento.
– Deve estar se perguntando quem sou eu, certo? – ele disse baixo em meu ouvido, deixando um beijo casto em meu pescoço. Eu estava presa ao seu corpo e a sua voz, sem conseguir dizer nada – Não vai responder? Tudo bem, tudo bem! Meu nome é Allan. Acredito que não vá querer saber meu sobrenome, estou certo novamente, senhorita? – e, novamente eu não conseguia formular uma frase, mas ele não parecia irritado. Agora olhava em meus olhos e estava com um ar de diversão, como se estivesse contendo uma risada. Quem sabe estivesse achando engraçado – Como se chama senhorita?
– . – finalmente consegui falar algo, mas saiu como um sussurro. Eu estava completamente atenta ao meu redor, nossas respirações continuavam misturadas.
– Achou que poderia fugir de mim, senhorita ? – sua mão tinha voltado ao meu pescoço, agora não mais como uma carícia, mas como uma forte pressão. Eu sabia que não teria muito mais tempo de ar, minha cabeça pendia pra trás e meu corpo se arqueava em direção ao dele. Minha vida passava pelos meus olhos. Sentia arrependimento. Eu deveria estar em casa, me preparando para o casamento. Aceitaria essa vida novamente de bom grado se conseguisse sair do aperto em que me encontrava – Sinceramente você é muito bonita. E, para sua sorte, não estou com tanta sede. – ele disse baixo e claro, chegando perto dos meus lábios – Mas seu cheiro é divino, então vou ter que provar. – deixou um leve beijo ali e eu só consegui fechar os olhos e esperar pela morte – Fique tranquila, será só um pouquinho. – sua risada fez com que meu corpo se arrepiasse. – Só que antes que eu faça qualquer coisa, vou te dizer o que você vai se tornar. Guarde bem essa palavra, senhorita . – ele roçou os lábios em meu pescoço outra vez e disse em meu ouvido – Vampiro.
Senti seus dentes cravando em meu pescoço e o cheiro de sangue logo se tornou presente. A pressão veio e se foi. Mas alívio era algo que tinha me abandonado. Senti que a pressão em cima de mim tinha sumido para dar lugar a uma dor atordoante dentro do meu corpo. Eu me senti sendo levantada e o vento que batia em meu rosto agora era cortante. Não conseguia entender o que estava acontecendo.
Fui deixada no chão, mas meu corpo queimava como se estivesse sendo incendiado. Quente demais. Eu tinha sido posta no sol, não era possível. Os gritos que antes estavam presos, saíam com muitíssima facilidade. Minha garganta deveria estar doendo, mas parecia redundante. Meu corpo inteiro doía.
Eu queria morrer. Minha vida não valia a pena, só queria me ver livre daquela tortura. E implorava por isso, mesmo sem saber se alguém me ouvia. Mas deveria ouvir, eu precisava morrer. O tal Allan tinha me deixado ali para agonizar até falecer. Seria pedir muito ter acabado com a minha vida de uma vez só?
Não sei quanto tempo passei com aquele fogo dentro de mim. Meses, semanas, dias, horas, minutos ou segundos. Tinha perdido completamente a noção do tempo. Tudo o que eu queria era o fim daquele martírio e foi o que, depois de um tempo enorme, aconteceu. Eu sentia novamente o controle sobre meu corpo, as convulsões tinham parado, eu já conseguia me manter em silêncio e, então, permaneci imóvel. O meu corpo parecia mais forte também e, mesmo que o queimar ainda não tivesse diminuído, só poderia estar significando uma coisa. Estava acabando, não estava? Tinha que estar. Eu não aguentaria muito mais tempo, mesmo não sabendo quanto tinha passado.
Minha audição estava cada vez mais clara, podia ouvir o riacho perto dali, os homens cortejando as moças, como se tudo estivesse acontecendo ao meu lado. Os cavalos trotando, carroças, qualquer coisa. Na verdade, tudo. E foi então que meu coração deu um salto, como se correndo em uma maratona, sendo perseguido pelo fogo lutando pelo primeiro lugar. As chamas que me incendiavam iam sendo varridas do restante do corpo. Eu estava sendo queimada viva, agora a certeza não me abandonava. Só não entendia porque a morte demorava tanto. Será que eu já estava morta e não tinha me dado conta? Será que tudo isso fazia parte do inferno? Por que eu tinha sido jogada ali sem nem um julgamento perante Deus?
Até que meu coração começou a bombear mais forte. Mais forte. Mais forte. Como o bater das patas de um cavalo no chão. E foi acelerando, acelerando, até que pareceu chegar ao ápice e foi decaindo, desacelerando, até quase parar. E bateu uma última vez, até que eu não sentia nada mais.
Naquele momento, não sentir dor era o que eu podia compreender. Até que abri os olhos. Eu estava numa espécie de cabana, completamente escura, mesmo que visse tudo com imensa clareza. Via a madeira do teto com facilidade, mesmo suas irregularidades. Levantei o tronco e observei melhor ao redor. Realmente estava sozinha no aposento, assim como na tal cabana que não parecia ser muito maior do que aquele quarto. Minhas coisas pareciam estar jogadas em algum lugar perto de mim.
Nenhum pensamento atravessou a minha cabeça vendo aquele cenário. Eu não sabia exatamente onde estava ou o que acontecia, mas uma pontada extremamente forte em minha garganta me fez perceber que eu não poderia ficar parada ali. Coloquei instintivamente as mãos no pescoço, sem saber como diminuir o incômodo crescente. Então, decidi fechar os olhos e me concentrar em outras coisas. As lembranças de minha família voltavam a minha mente. Minha mãe, meu pai, meu irmão. Amigos. Até que ouvi como um sussurro distante. Vampiro.
Era a voz de Allan, sabia disso. Ele me falava exatamente no que tinha me transformado. Vampira. Eu podia ser considerada cética, criaturas míticas, sobrenaturais não existiam em minha humilde opinião. Até hoje.
Quando cogitei a ideia de ficar de pé, já estava. Quando me movi na direção da mala jogada, não demorei nem uma piscada. Me movi para abrir meus pertences e rompi o fecho, como se não fosse de metal. Arfei, compreendendo: eu estava forte demais, pelo visto.
Procurei, com cuidado, agora que ele realmente era necessário, um espelho por entre as roupas que tinha. Assim que olhei, senti um imenso prazer. A figura refletida era bonita, muito bonita. O rosto imaculado como o de um anjo, pálido como a lua, contrastando com o cabelo escuro e ligeiramente ondulado. O prazer foi substituído pelo medo quando meus olhos se encontraram com os do reflexo.
Vermelhos, brilhantes e assustados. Carmim como o sangue. Sangue. Era disso que eu precisava para viver. Ou seria, morrer? Os livros que já tinha lido não passavam de literatura fantástica, então eu não tinha muito material sobre. Até que eu ouvi um barulho de passos não muito distantes e aspirei com cuidado o ar. Minhas mãos se fecharam em punho e o ardor na minha garganta aumentou. Saí em disparada da casa. Aquela foi a primeira vez que matei um ser humano.
Fui pé ante pé até seu quarto, agradecendo por ele ter o sono tão pesado. Abri o guarda-roupa e peguei algumas calças e blusas, voltando rapidamente para o meu quarto. Vesti as roupas dele e coloquei minhas botas de equitação, elas seriam muito úteis se precisasse caminhar por muito tempo.
Dobrei tudo e arrumei a mala de mão com as poucas coisas que poderia levar. Juntei todas as joias que podia em uma pequena caixinha e coloquei junto. Sentei-me na penteadeira com um lápis pronta para escrever um pequeno bilhete de despedida ao meu irmão.
Querido Edward,
Quando acordar pela manhã já terei ido embora e, provavelmente não nos veremos por um bom tempo. Sei que deveria ter fé em você, mas sabemos que eu seria obrigada a casar no momento em que o sol raiasse. Espero que entenda meus motivos e que não julgue a minha covardia ou tente me procurar.
Cuide de nossos pais e tente explicar o porquê de eu ter ido, aguardo desde já pelo dia em que todos vocês me perdoarão pela fuga. Diga que os amo e que me parte o coração não ser a filha ou a irmã que vocês tanto merecem. Amo você, Ed.
Com todo amor, sua Evie.
Segurei as lágrimas ao terminar de escrever e juntei as pontas do papel delicadamente, selando ali o que viria adiante. Desci as escadas com a mala, tentando não fazer barulhos com as botas no chão de madeira e deixei a carta presa ao piano. Sabia que Edward encontraria pela manhã, só esperava que me perdoasse. A casa estava mergulhada em um silêncio que me faria falta. Passei rapidamente pelo escritório de papai, pegando a chave no que ele pensava ser um esconderijo. O espaço entre o quinto e o sexto livro de sua estante não era exatamente o lugar mais escondido depois de ter visto ele pegar dinheiro anos atrás. Peguei uma quantia suficiente de dólares e fechei tudo, deixando do jeito que estava.
Saí para a rua, somente iluminada pelo lampião. Eu não tinha rumo, não sabia por onde andar, para onde ir, o que fazer. O relógio tirado do bolso da calça marcava três e quinze da madrugada. Então, resolvi apenas caminhar em direção a estrada. Talvez ela me levasse a Cicero se eu fosse lenta demais, talvez chegasse a River Forest se andasse um pouco mais.
Quando me dei conta, já estava em uma estrada escura. Olhava para os lados e não conseguia enxergar nada, evitava olhar para trás para que o medo não me impedisse de continuar. O som da minha respiração era o que eu escutava, alternando com alguns piados de coruja.
As árvores ao redor pareciam bem altas, tornando a caminhada ainda mais escura e sombria. Eu caminhava apressadamente, mas sem correr. Minhas mãos já um pouco doloridas pelo peso da mala. Até que ouvi um galho se partindo, fazendo meu coração acelerar com o susto. Deveria ser só algum animal na floresta ao redor, pensei e controlei a curiosidade de ver o que tinha acontecido.
Respirei fundo e continuei caminhando com mais pressa agora, mas continuava ouvindo galhos sendo quebrados a medida que minha respiração ficava ainda mais agitada. Minha cabeça girava para todas as direções possíveis, mesmo que eu não conseguisse ver nada pela escuridão. Apavorada. Eu apertava os dedos com tanta força na alça da mala que chegava a doer.
Passos. Alguém estava me seguindo e eu só consegui correr, vendo uma pequena luz em um ponto mais à frente na estrada. Eu poderia pedir ajuda se chegasse ali, se me apressasse mais. Eu não tinha mais pulmões e meu coração já batia descontrolado em meu peito. O perseguidor se aproximava, eu podia sentir pelos passos mais audíveis. Ele queria que eu o escutasse, que eu soubesse que me pegaria.
Virei na direção do barulho por meio segundo e fui arremessada alguns metros para trás no segundo seguinte, com uma dor lancinante em todo o meu corpo, como se tivesse batido em uma parede. A mala escapou das minhas mãos e eu vi uma figura humana na minha frente. Ele carregava um pequeno lampião e eu consegui enxergar com mais facilidade, mesmo que meu coração parecesse um tambor em meus ouvidos.
Cabelos pretos, pele pálida como o mármore e incrivelmente lindo. Parecia um deus grego, mesmo com os olhos vermelhos. Sim, vermelhos como o sangue e extremamente quentes, pelo fogo tão perto. Ele caminhava lentamente em minha direção e eu me arrastava pra trás na mesma velocidade. Hipnotizada, eu estava.
Quando ele chegou perto o suficiente, segurou meu tornozelo, impedindo que eu me movesse mais para longe. Seus dedos foram subindo, segurando com força minha perna e me fazendo sentir a frieza através do tecido fino da calça. Ele me puxou para perto, ficando literalmente em cima do meu corpo. Seu peito grudado ao meu, sua respiração se misturando a minha e seus olhos estudando meu rosto. Eu não conseguia parar de olhar ou emitir qualquer som. O grito estava preso na minha garganta.
Ele passou a mão gelada em meu rosto em uma carícia leve, me fazendo estremecer. Pegou uma mecha do meu cabelo e a cheirou, com uma expressão de prazer que me deixou ainda mais apavorada com o que poderia acontecer. Depois, colocou com suavidade a mecha no lugar e eu senti seus dedos em meu pescoço, seguidos por seu nariz. Senti seu sorriso se abrir e eu só consegui fechar os olhos e pedir a Deus que mandasse alguém para me ajudar naquele momento.
– Deve estar se perguntando quem sou eu, certo? – ele disse baixo em meu ouvido, deixando um beijo casto em meu pescoço. Eu estava presa ao seu corpo e a sua voz, sem conseguir dizer nada – Não vai responder? Tudo bem, tudo bem! Meu nome é Allan. Acredito que não vá querer saber meu sobrenome, estou certo novamente, senhorita? – e, novamente eu não conseguia formular uma frase, mas ele não parecia irritado. Agora olhava em meus olhos e estava com um ar de diversão, como se estivesse contendo uma risada. Quem sabe estivesse achando engraçado – Como se chama senhorita?
– . – finalmente consegui falar algo, mas saiu como um sussurro. Eu estava completamente atenta ao meu redor, nossas respirações continuavam misturadas.
– Achou que poderia fugir de mim, senhorita ? – sua mão tinha voltado ao meu pescoço, agora não mais como uma carícia, mas como uma forte pressão. Eu sabia que não teria muito mais tempo de ar, minha cabeça pendia pra trás e meu corpo se arqueava em direção ao dele. Minha vida passava pelos meus olhos. Sentia arrependimento. Eu deveria estar em casa, me preparando para o casamento. Aceitaria essa vida novamente de bom grado se conseguisse sair do aperto em que me encontrava – Sinceramente você é muito bonita. E, para sua sorte, não estou com tanta sede. – ele disse baixo e claro, chegando perto dos meus lábios – Mas seu cheiro é divino, então vou ter que provar. – deixou um leve beijo ali e eu só consegui fechar os olhos e esperar pela morte – Fique tranquila, será só um pouquinho. – sua risada fez com que meu corpo se arrepiasse. – Só que antes que eu faça qualquer coisa, vou te dizer o que você vai se tornar. Guarde bem essa palavra, senhorita . – ele roçou os lábios em meu pescoço outra vez e disse em meu ouvido – Vampiro.
Senti seus dentes cravando em meu pescoço e o cheiro de sangue logo se tornou presente. A pressão veio e se foi. Mas alívio era algo que tinha me abandonado. Senti que a pressão em cima de mim tinha sumido para dar lugar a uma dor atordoante dentro do meu corpo. Eu me senti sendo levantada e o vento que batia em meu rosto agora era cortante. Não conseguia entender o que estava acontecendo.
Fui deixada no chão, mas meu corpo queimava como se estivesse sendo incendiado. Quente demais. Eu tinha sido posta no sol, não era possível. Os gritos que antes estavam presos, saíam com muitíssima facilidade. Minha garganta deveria estar doendo, mas parecia redundante. Meu corpo inteiro doía.
Eu queria morrer. Minha vida não valia a pena, só queria me ver livre daquela tortura. E implorava por isso, mesmo sem saber se alguém me ouvia. Mas deveria ouvir, eu precisava morrer. O tal Allan tinha me deixado ali para agonizar até falecer. Seria pedir muito ter acabado com a minha vida de uma vez só?
Não sei quanto tempo passei com aquele fogo dentro de mim. Meses, semanas, dias, horas, minutos ou segundos. Tinha perdido completamente a noção do tempo. Tudo o que eu queria era o fim daquele martírio e foi o que, depois de um tempo enorme, aconteceu. Eu sentia novamente o controle sobre meu corpo, as convulsões tinham parado, eu já conseguia me manter em silêncio e, então, permaneci imóvel. O meu corpo parecia mais forte também e, mesmo que o queimar ainda não tivesse diminuído, só poderia estar significando uma coisa. Estava acabando, não estava? Tinha que estar. Eu não aguentaria muito mais tempo, mesmo não sabendo quanto tinha passado.
Minha audição estava cada vez mais clara, podia ouvir o riacho perto dali, os homens cortejando as moças, como se tudo estivesse acontecendo ao meu lado. Os cavalos trotando, carroças, qualquer coisa. Na verdade, tudo. E foi então que meu coração deu um salto, como se correndo em uma maratona, sendo perseguido pelo fogo lutando pelo primeiro lugar. As chamas que me incendiavam iam sendo varridas do restante do corpo. Eu estava sendo queimada viva, agora a certeza não me abandonava. Só não entendia porque a morte demorava tanto. Será que eu já estava morta e não tinha me dado conta? Será que tudo isso fazia parte do inferno? Por que eu tinha sido jogada ali sem nem um julgamento perante Deus?
Até que meu coração começou a bombear mais forte. Mais forte. Mais forte. Como o bater das patas de um cavalo no chão. E foi acelerando, acelerando, até que pareceu chegar ao ápice e foi decaindo, desacelerando, até quase parar. E bateu uma última vez, até que eu não sentia nada mais.
Naquele momento, não sentir dor era o que eu podia compreender. Até que abri os olhos. Eu estava numa espécie de cabana, completamente escura, mesmo que visse tudo com imensa clareza. Via a madeira do teto com facilidade, mesmo suas irregularidades. Levantei o tronco e observei melhor ao redor. Realmente estava sozinha no aposento, assim como na tal cabana que não parecia ser muito maior do que aquele quarto. Minhas coisas pareciam estar jogadas em algum lugar perto de mim.
Nenhum pensamento atravessou a minha cabeça vendo aquele cenário. Eu não sabia exatamente onde estava ou o que acontecia, mas uma pontada extremamente forte em minha garganta me fez perceber que eu não poderia ficar parada ali. Coloquei instintivamente as mãos no pescoço, sem saber como diminuir o incômodo crescente. Então, decidi fechar os olhos e me concentrar em outras coisas. As lembranças de minha família voltavam a minha mente. Minha mãe, meu pai, meu irmão. Amigos. Até que ouvi como um sussurro distante. Vampiro.
Era a voz de Allan, sabia disso. Ele me falava exatamente no que tinha me transformado. Vampira. Eu podia ser considerada cética, criaturas míticas, sobrenaturais não existiam em minha humilde opinião. Até hoje.
Quando cogitei a ideia de ficar de pé, já estava. Quando me movi na direção da mala jogada, não demorei nem uma piscada. Me movi para abrir meus pertences e rompi o fecho, como se não fosse de metal. Arfei, compreendendo: eu estava forte demais, pelo visto.
Procurei, com cuidado, agora que ele realmente era necessário, um espelho por entre as roupas que tinha. Assim que olhei, senti um imenso prazer. A figura refletida era bonita, muito bonita. O rosto imaculado como o de um anjo, pálido como a lua, contrastando com o cabelo escuro e ligeiramente ondulado. O prazer foi substituído pelo medo quando meus olhos se encontraram com os do reflexo.
Vermelhos, brilhantes e assustados. Carmim como o sangue. Sangue. Era disso que eu precisava para viver. Ou seria, morrer? Os livros que já tinha lido não passavam de literatura fantástica, então eu não tinha muito material sobre. Até que eu ouvi um barulho de passos não muito distantes e aspirei com cuidado o ar. Minhas mãos se fecharam em punho e o ardor na minha garganta aumentou. Saí em disparada da casa. Aquela foi a primeira vez que matei um ser humano.
Capítulo 03
Eu já era vampira há pelo menos três meses, já estávamos chegando quase no final de agosto de 1918. Me guiava pelos jornais que lia em alguns vilarejos pelos quais passava. A grande guerra tinha chegado ao fim, eu já tinha visto os nomes de meus amigos nos obituários publicados, junto com agradecimentos pelo seu trabalho de defesa da pátria. Parecia que a vida nas sombras tinha consequências pro universo. Talvez se eu não tivesse sido transformada, eles tivessem voltado para casa. Talvez eu só estivesse criando teorias para passar o tempo e não enlouquecer.
Nos primeiros dias, a culpa me corroía. Eu corria para o mais longe de Chicago quanto podia e, com isso, dizimava vilas inteiras, tomando sempre o cuidado de não deixar ninguém vivo. Minha sede parecia não ter fim, eu vivia por instinto e, tudo o que eu menos queria era condenar alguém a vida que Allan tinha me dado. Allan. Eu nunca mais ouvira falar sobre ele. Não tinha deixado um bilhete entre as minhas coisas, um sobrenome. Nada.
Foram muitas as vezes que tentei me matar, fiquei dias sem beber uma gota de sangue, mas a morte não tinha me alcançado. Eu já estava morta, tinha que entender isso. Desisti, me deixando levar pela lei da sobrevivência. A sede vinha muito mais implacável quando eu tentava me punir, o que fazia com que o estrago fosse ainda maior. Então, em algum momento, abracei a minha imortalidade e as mortes nas costas não eram tão chocantes assim.
As placas me diziam que eu estava em Ottawa, ainda em Illinois, aproximadamente a uns 113km de Chicago e, parei para pensar que talvez eu não quisesse me afastar tanto. Ainda estava bem perto de casa, poderia correr rapidamente de volta a Chicago em algumas horas, mas não pensava em olhar pra trás agora.
Eu já tinha me alimentado o suficiente naquele dia para que minha sede estivesse abrandada. O dia chuvoso fazia com que eu pudesse me misturar com as outras pessoas. Então, tomei o cuidado de pegar um vestido que peguei de uma das vilas pelas quais passei e troquei de roupa em meio às árvores da cidade, tentando não me sujar muito com a terra. Peguei uma sombrinha e juntei alguns dólares na bolsa, escondendo a mala em uma árvore oca.
Prendi a respiração, abrindo o guarda-chuva e me direcionando ao centro da cidade a procura de algum jornal para me manter atenta aos acontecimentos do mundo. E, quando me aproximei do jornaleiro, um senhorzinho de não mais do que 60 anos, o vi arregalar os olhos e me entregar o periódico de forma trêmula e assustada, segurando-se para não sair correndo depois de me olhar nos olhos.
Dobrei o papel e achei melhor me manter afastada, caso ele pensasse em alertar alguém. Me encaminhei para o que parecia ser um parque no centro da cidade, que estava vazio graças ao mau tempo. Fui para a parte mais afastada e me sentei em um balanço coberto por uma espécie de marquise. Desdobrei o jornal e me pus a ler as notícias de capa, que certamente me fariam desmaiar se ainda pudesse.
"Gripe espanhola mata mais pessoas em Chicago".
Eu nem sabia que poderia ficar estarrecida, mas não conseguia me mover. Se meu coração batesse, agora estaria acelerado e eu não conseguiria respirar. Minha família estava em Chicago. Eles poderiam estar mortos e eu precisava ajudá-los.
Corri o mais depressa que consegui sem levantar suspeitas, voltando para onde eu tinha deixado minha mala. Chicago estava distante, mas não tanto e eu precisava ser discreta. Árvores, arbustos, estradas. Tudo passava como um borrão pelos meus olhos e eu só conseguia ter em mente as três figuras mais importantes de minha existência. Temia encontrá-los mortos, mas eu precisava saber o que tinha acontecido.
Não sei quanto tempo demorei, mas eu estava em frente ao General Hospital Howard Stanford, o principal de Chicago. O céu permanecia escuro, talvez estivesse no meio da madrugada. Eu poderia andar novamente sem que ninguém me visse, então deixei novamente minhas coisas escondidas.
Prendi a respiração e escalei as paredes do hospital, entrando na primeira janela aberta e escura que consegui encontrar. Revirei todos os quartos dos quatro andares e não os encontrei. Eu teria suspirado em felicidade, se isso não me fizesse acabar atacando alguém.
Infelizmente, ainda tinha um lugar para olhar: o necrotério. Corri até lá e hesitei no momento de abrir a porta. Quando o fiz, o ambiente me fez estancar em choque. Eu sei que parece ironia, já que tinha matado diversas pessoas, mas aquelas pessoas eram conhecidas. Minha antiga professora de matemática, senhora Lancaster. Jimmy, o carteiro. As gêmeas Brittany e Santana James, que brincavam comigo no parque do bairro. Até que os vi. Edward Senior e Elizabeth. Meus pais. Sem vida, deitados lado a lado, com as mãos próximas como se tivessem ficado unidas até o momento final.
Eu me aproximei de seus corpos e os toquei delicadamente, chorando um choro sem lágrimas, pensando em como as coisas poderiam ter sido diferentes. Tantos planos jogados no lixo por uma maldita gripe. Toquei as mãos de minha mãe e senti que havia uma espécie de papel ali, que consegui tirar sem dificuldade.
Se antes eu já estava sem condições de me manter inteira, aquelas duas frases destruíram o resto de autocontrole que meu coração morto parecia ter. Escritas na caligrafia impecável e inconfundível de minha mãe, aquelas frases estariam sempre em minha mente: "Te perdoamos, minha . Sempre te amaremos".
---
Não sei quanto tempo tinha ficado ali encarando meus pais, mas eu precisava me mexer. O relógio em meu pulso já indicada dez para as cinco da madrugada e eu tinha pouco tempo até o amanhecer. Meu irmão, como não estava ali, talvez tivesse ido para outro lugar se salvando da gripe ou, na pior das hipóteses, já estava morto há mais tempo. Eu ainda torcia pela primeira opção.
Peguei os corpos de meus pais no colo com delicadeza e saltei pela janela, esperando que ninguém desse falta, mas não me importando se isso acontecesse. Eles mereciam um enterro digno, no final das contas. Corri até a nossa antiga casa, parando rapidamente para pegar minha maleta escondida. Limpei seus corpos e vesti os dois com roupas mais apresentáveis. Penteei seus cabelos e fiz questão de colocar as melhores joias em minha mãe. Ela ficaria orgulhosa pela escolha de adornos, sorri tristemente.
Tomei o cuidado de procurar o lugar mais bonito do jardim, junto às rosas que minha mãe cultivava com tanto esmero, para cavar a cova. Uma bem grande, assim os dois poderiam ficar juntos no além vida como realmente gostariam.
Coloquei-os ali e eles pareciam adormecidos, de forma serena, o que me fez suspirar mais tranquilamente. Eles estavam em casa. Enquanto os olhava, escrevi com os dedos em uma pedra seus nomes, colocando embaixo alguns dizeres. Fechei a cova e me encaminhei para dentro de casa, me lavando rapidamente e fazendo uma mala maior do que a que eu levava. Juntei todas as minhas roupas, junto com algumas de meu irmão, coloquei as joias de minha mãe em uma bolsa e peguei todos os dólares que encontrei pela casa, já que papai não costumava confiar em bancos. O caminho agora seria longo e, infelizmente, eu ainda precisaria do mundo dos humanos.
Dei uma última olhada e apertei os anéis que agora estavam pendurados em um colar em meu pescoço. Os anéis de noivado de meus pais, já que os de casamento ainda se mantinham em seus dedos terra abaixo. Suspirando, saí em direção a estação de trem. Eu não tinha mais um rumo agora, apenas uma existência para levar adiante.
Nos primeiros dias, a culpa me corroía. Eu corria para o mais longe de Chicago quanto podia e, com isso, dizimava vilas inteiras, tomando sempre o cuidado de não deixar ninguém vivo. Minha sede parecia não ter fim, eu vivia por instinto e, tudo o que eu menos queria era condenar alguém a vida que Allan tinha me dado. Allan. Eu nunca mais ouvira falar sobre ele. Não tinha deixado um bilhete entre as minhas coisas, um sobrenome. Nada.
Foram muitas as vezes que tentei me matar, fiquei dias sem beber uma gota de sangue, mas a morte não tinha me alcançado. Eu já estava morta, tinha que entender isso. Desisti, me deixando levar pela lei da sobrevivência. A sede vinha muito mais implacável quando eu tentava me punir, o que fazia com que o estrago fosse ainda maior. Então, em algum momento, abracei a minha imortalidade e as mortes nas costas não eram tão chocantes assim.
As placas me diziam que eu estava em Ottawa, ainda em Illinois, aproximadamente a uns 113km de Chicago e, parei para pensar que talvez eu não quisesse me afastar tanto. Ainda estava bem perto de casa, poderia correr rapidamente de volta a Chicago em algumas horas, mas não pensava em olhar pra trás agora.
Eu já tinha me alimentado o suficiente naquele dia para que minha sede estivesse abrandada. O dia chuvoso fazia com que eu pudesse me misturar com as outras pessoas. Então, tomei o cuidado de pegar um vestido que peguei de uma das vilas pelas quais passei e troquei de roupa em meio às árvores da cidade, tentando não me sujar muito com a terra. Peguei uma sombrinha e juntei alguns dólares na bolsa, escondendo a mala em uma árvore oca.
Prendi a respiração, abrindo o guarda-chuva e me direcionando ao centro da cidade a procura de algum jornal para me manter atenta aos acontecimentos do mundo. E, quando me aproximei do jornaleiro, um senhorzinho de não mais do que 60 anos, o vi arregalar os olhos e me entregar o periódico de forma trêmula e assustada, segurando-se para não sair correndo depois de me olhar nos olhos.
Dobrei o papel e achei melhor me manter afastada, caso ele pensasse em alertar alguém. Me encaminhei para o que parecia ser um parque no centro da cidade, que estava vazio graças ao mau tempo. Fui para a parte mais afastada e me sentei em um balanço coberto por uma espécie de marquise. Desdobrei o jornal e me pus a ler as notícias de capa, que certamente me fariam desmaiar se ainda pudesse.
"Gripe espanhola mata mais pessoas em Chicago".
Eu nem sabia que poderia ficar estarrecida, mas não conseguia me mover. Se meu coração batesse, agora estaria acelerado e eu não conseguiria respirar. Minha família estava em Chicago. Eles poderiam estar mortos e eu precisava ajudá-los.
Corri o mais depressa que consegui sem levantar suspeitas, voltando para onde eu tinha deixado minha mala. Chicago estava distante, mas não tanto e eu precisava ser discreta. Árvores, arbustos, estradas. Tudo passava como um borrão pelos meus olhos e eu só conseguia ter em mente as três figuras mais importantes de minha existência. Temia encontrá-los mortos, mas eu precisava saber o que tinha acontecido.
Não sei quanto tempo demorei, mas eu estava em frente ao General Hospital Howard Stanford, o principal de Chicago. O céu permanecia escuro, talvez estivesse no meio da madrugada. Eu poderia andar novamente sem que ninguém me visse, então deixei novamente minhas coisas escondidas.
Prendi a respiração e escalei as paredes do hospital, entrando na primeira janela aberta e escura que consegui encontrar. Revirei todos os quartos dos quatro andares e não os encontrei. Eu teria suspirado em felicidade, se isso não me fizesse acabar atacando alguém.
Infelizmente, ainda tinha um lugar para olhar: o necrotério. Corri até lá e hesitei no momento de abrir a porta. Quando o fiz, o ambiente me fez estancar em choque. Eu sei que parece ironia, já que tinha matado diversas pessoas, mas aquelas pessoas eram conhecidas. Minha antiga professora de matemática, senhora Lancaster. Jimmy, o carteiro. As gêmeas Brittany e Santana James, que brincavam comigo no parque do bairro. Até que os vi. Edward Senior e Elizabeth. Meus pais. Sem vida, deitados lado a lado, com as mãos próximas como se tivessem ficado unidas até o momento final.
Eu me aproximei de seus corpos e os toquei delicadamente, chorando um choro sem lágrimas, pensando em como as coisas poderiam ter sido diferentes. Tantos planos jogados no lixo por uma maldita gripe. Toquei as mãos de minha mãe e senti que havia uma espécie de papel ali, que consegui tirar sem dificuldade.
Se antes eu já estava sem condições de me manter inteira, aquelas duas frases destruíram o resto de autocontrole que meu coração morto parecia ter. Escritas na caligrafia impecável e inconfundível de minha mãe, aquelas frases estariam sempre em minha mente: "Te perdoamos, minha . Sempre te amaremos".
Não sei quanto tempo tinha ficado ali encarando meus pais, mas eu precisava me mexer. O relógio em meu pulso já indicada dez para as cinco da madrugada e eu tinha pouco tempo até o amanhecer. Meu irmão, como não estava ali, talvez tivesse ido para outro lugar se salvando da gripe ou, na pior das hipóteses, já estava morto há mais tempo. Eu ainda torcia pela primeira opção.
Peguei os corpos de meus pais no colo com delicadeza e saltei pela janela, esperando que ninguém desse falta, mas não me importando se isso acontecesse. Eles mereciam um enterro digno, no final das contas. Corri até a nossa antiga casa, parando rapidamente para pegar minha maleta escondida. Limpei seus corpos e vesti os dois com roupas mais apresentáveis. Penteei seus cabelos e fiz questão de colocar as melhores joias em minha mãe. Ela ficaria orgulhosa pela escolha de adornos, sorri tristemente.
Tomei o cuidado de procurar o lugar mais bonito do jardim, junto às rosas que minha mãe cultivava com tanto esmero, para cavar a cova. Uma bem grande, assim os dois poderiam ficar juntos no além vida como realmente gostariam.
Coloquei-os ali e eles pareciam adormecidos, de forma serena, o que me fez suspirar mais tranquilamente. Eles estavam em casa. Enquanto os olhava, escrevi com os dedos em uma pedra seus nomes, colocando embaixo alguns dizeres. Fechei a cova e me encaminhei para dentro de casa, me lavando rapidamente e fazendo uma mala maior do que a que eu levava. Juntei todas as minhas roupas, junto com algumas de meu irmão, coloquei as joias de minha mãe em uma bolsa e peguei todos os dólares que encontrei pela casa, já que papai não costumava confiar em bancos. O caminho agora seria longo e, infelizmente, eu ainda precisaria do mundo dos humanos.
Dei uma última olhada e apertei os anéis que agora estavam pendurados em um colar em meu pescoço. Os anéis de noivado de meus pais, já que os de casamento ainda se mantinham em seus dedos terra abaixo. Suspirando, saí em direção a estação de trem. Eu não tinha mais um rumo agora, apenas uma existência para levar adiante.
Capítulo 04
Quando cheguei na estação de trem, não tinha um destino certo para onde ir, só sabia que precisava sair dos Estados Unidos para ficar o mais distante das memórias que cismavam em dançar em meus pensamentos. Tinha parado para me alimentar antes de chegar até ali, o que provavelmente garantiria minha viagem até Nova Iorque, antes que eu pegasse um navio para a Europa. Sempre quis conhecer a Itália, então seria uma boa desculpa.
Foram necessários pelo menos dois dias de viagem até a cidade dos sonhos e, mais quinze dias de navio até chegar ao porto de Gênova, na Itália. Como prendi a respiração por tanto tempo, estava louca para me alimentar novamente e, finalmente sentir o ar puro em contato com as minhas narinas.
O tempo dentro da cabine tinha sido suficiente para ler sobre o lugar e alguns de seus pontos turísticos e, uma cidade me chamou atenção por seu nome peculiar e desconhecido. Volterra. Localizada na região da Toscana, em Pisa. Eu não sabia se ainda podia confiar em minhas intuições, mas sabia que deveria estar naquela cidade.
Quando o navio atracou no porto, por sorte estava de noite e eu pude me misturar entre as pessoas que saiam da embarcação. Sendo ajudada por homens que não eram necessários e que me enviavam olhares sugestivos, eu segui meu caminho com as bagagens nas mãos, parando em uma espécie de aluguel de carros. Eu não sabia como conduzir, então achei melhor pedir que algum dos cavalheiros disponíveis ali me levassem à Volterra. Escolhi justamente o que eu já tinha visto desrespeitar uma senhorita segundos antes. Se ele era tão seguro de si para tratar as mulheres como objeto, eu não me importaria de usá-lo como refeição depois de conseguir chegar ao meu destino.
Ele se apresentou, se chamava George Conell. Foi o caminho inteiro, as próximas quatro horas de viagem soltando piadinhas e indiretas, perguntando se eu era casada e ignorando quaisquer intimidações que a minha postura emanava.
Não demorei muito com seu sangue depois que chegamos e o deixei enterrado alguns quilômetros antes da entrada da cidade, o carro empurrei para o caminho contrário. Corri até a entrada da cidade e a visão de um castelo majestoso preencheu os meus olhos, certamente me faria perder o fôlego se ainda o tivesse.
Já estava começando a amanhecer e, mesmo não havendo muitas pessoas nas ruas, eu não queria me expor. Essa era a regra básica para a vida vampiresca. Não deixar os humanos descobrirem sua realidade. Eu andava nas sombras, ainda admirada com o ar medieval daquela cidade. Parecia muito com os desenhos que Elizabeth Masen fazia. Mamãe. Lembrar dela me fez sentir um aperto no peito e eu automaticamente levei a mão até o colar em meu pescoço. Meu coração inativo sangrava com a perda de meus pais e com o desaparecimento de meu irmão.
No centro da cidade havia o que parecia uma torre com um relógio. Eu estava distraída com o ponteiro mudando as horas, os minutos e os segundos, estava fascinada com a calmaria que parecia transparecer. Até que senti uma presença as minhas costas e fiquei imóvel no mesmo instante, atenta se precisasse atacar. No entanto, uma mão de temperatura agradável pousou em meu ombro e eu ouvi pela primeira vez.
– Buongiorno, signorina. – o tal homem começou em italiano e eu me senti estranhamente confortável – Poderia me acompanhar, por favor? – e eu me virei para encontrar o dono daquela voz. Orbes tão vermelhas quanto as minhas, o cabelo negro caindo graciosamente em sua testa e a mão que antes estava em meu ombro, agora estava estendida em minha direção de forma convidativa.
– Para onde exatamente gostaria que eu o acompanhasse, senhor? – e meu tom era claramente uma pergunta por seu nome.
– Alec Volturi, senhorita. – ele segurou minha mão que eu ainda não lhe havia dado e depositou um beijo cortês ali, me fazendo estremecer involuntariamente – E a sua graça, qual seria?
– Masen, senhor Volturi. – lhe dediquei um sorriso que foi correspondido – Mas ainda não me disse para onde gostaria que eu lhe acompanhasse.
– Meu mestre, Aro, solicita sua presença, senhoria Masen. – ele disse me estudando com os olhos e pegando minha bagagem sem nenhuma dificuldade em uma mão, enquanto me oferecia o braço, que aceitei prontamente – Temos um protocolo a ser cumprido. – concluiu e eu só pude assentir, segurando seu braço e seguindo seu caminho.
Eu estava nervosa, mas deveria imaginar que estava entrando em terras que já possuíam dono. Seria o mais educada que conseguisse e torcia para que saísse dali com todos os membros ainda intactos. Quando chegamos à frente de grandes portas de madeira, perfeitamente ornadas que iam até o teto, paramos. Ele ia abrir a porta, mas eu segurei suas mãos impedindo o ato e proferi em seu ouvido com toda a coragem que eu nem sabia existir em meu corpo
– Se eu sair daqui inteira, senhor Volturi, vou adorar conhecê-lo melhor. – e, sem mais o deixei abrir as portas, encontrando uma pequena comitiva nos esperando. Eu só esperava que fosse realmente para dar boas-vindas.
---
As figuras paradas pareciam ter saído de um livro sobre a Idade Média. As peles extremamente pálidas, os trajes pareciam limitados a grandes capas vermelhas com capuz, como se fossem todos participantes da mesma religião. Eu teria dado meia volta se não fosse a mão de Alec nas minhas costas, me empurrando delicadamente para frente. Ele disse um "me siga" sussurrado, mas eu sabia que todas as pessoas do recinto tinham escutado. Vampiros como nós, claro.
Contei seis pessoas ali esperando por nós. Uma mulher loira, que mais parecia uma adolescente. Três homens sentados em tronos perfeitamente dispostos no final do salão. Dois homens prostrados um de cada lado dos tronos, como seguranças. Engoli em seco e fui seguindo o mesmo caminho de Alec, parando alguns metros antes quando o vi se aproximar do trono do meio e entregar sua mão ao homem de longos cabelos negros.
O homem depois deste contato, mudou sua face e simplesmente sorriu infantilmente, dispensando Alec com um aceno de mão, se levantando de seu trono. Veio andando graciosamente até parar a alguns centímetros a minha frente, oferecendo uma mão em cumprimento.
– Senhorita Masen, seja muito bem-vinda aos nossos domínios! – começou enquanto segurava minha mão como se estivesse manuseando um cristal delicado. Por um segundo a confusão passou por seus olhos e suas sobrancelhas se encresparam, mas logo refez a expressão convidativa – Meu nome é Aro Volturi, mas acredito que tenha sido informada deste detalhe.
– Sim, senhor. Me desculpe por invadir seu castelo a esta hora da manhã. – disse com o melhor sorriso falso que consegui moldar. Não sabia o motivo, mas sentia que deveria ser completamente formal com aquele homem. Como se fosse um rei.
– Não se preocupe, criança. Está em casa agora. – se eu ainda pudesse vomitar, certamente teria feito – Acredito que saiba quem somos e exatamente aonde está, certo? – ele soltou minha mão, mas se manteve próximo. Todos os olhos estavam em cima de mim.
– Infelizmente não, senhor Volturi. Perdoe-me a ignorância. – respondi em um tom mais contido e ouvi sua gargalhada melodiosa preencher o lugar, me rendendo um arrepio na espinha e um péssimo pressentimento.
– Tudo bem, minha querida. Haverá tempo para apresentações mais formais. – Aro afirmou com o que me pareceu docilidade – No momento, você deve conhecer as pessoas que estão aqui conosco. Sentado a minha direita está Caius, a minha esquerda, Marcus. Alec eu presumo que já conheça e, esta jovem ao seu lado é Jane. – meu olhar recaiu na dupla que se encontrava de mãos dadas e eu vi o olhar esperançoso de Alec pairar em cima de mim, mas Aro chamou minha atenção novamente – Estes são Demetri e Felix. – completou sem muita importância.
Eu assentia a todos os nomes que me eram ditos e vi quando Aro virou-se na direção de Jane e sussurrou, mesmo que não fosse necessário um "Chame Eleazar", me fazendo ficar ainda mais ansiosa do que quando tinha entrado.
– Então, minha querida. – ele continuou – Nós vampiros, mesmo que sejamos infinitamente superiores aos humanos, temos muito em comum com eles, principalmente nosso sistema hierárquico. Nós somos os Volturi – ele disse com ar de imponência – pode nos considerar uma espécie de realeza se quiser, porque é justamente o que somos. – Aro começou a circular despreocupadamente pelo espaço – Os outros se curvam a nós, mas não é preciso temer, minha doce senhorita Masen. Representamos riscos apenas aos que quebram nossas regras. – ele completou me olhando nos olhos, me fazendo sustentar aquele olhar, quando tudo o que eu queria era fugir.
– Sim, senhor. – foi tudo o que eu consegui dizer claramente, antes que as portas se abrissem de novo, revelando um homem moreno, extremamente bonito como eram todos ali, mas com uma aura tranquila e aconchegante. Ele estava acompanhado por Jane, que logo voltou ao seu lugar que, pelo que parecia, era ao lado de Alec.
– Mandou me chamar, senhor? – o novo ocupante do salão perguntou, um sotaque latino aparente em sua fala.
– Meu grande amigo, Eleazar. Que gosto em vê-lo novamente. – Aro disse com uma falsa alegria – Acredito que saiba o motivo pelo qual foi chamado, mas deixe-me apresentá-los. Senhorita Masen, este é Eleazar. – nos apresentou com uma grande curiosidade e eu só pude observar o tal homem me estudar de cima a baixo. – Já sabe o que ela é, meu amigo?
A pergunta me pareceu completamente fora de lugar. Como o que eu era? Uma vampira, obviamente! Do que estes homens estavam falando? Eleazar me analisou por mais meio segundo e olhou diretamente para Aro ao responder.
– Estou sendo bloqueado neste exato momento, senhor. – ele disse tranquilamente – Acredito que ela possa ser um escudo mental, já que não consigo sentir sua presença. – completou ao que Aro assentiu, como se absorvendo as palavras que lhe foram ditas.
– Entendo! Obrigado, velho amigo. – e, dito isso, o dispensou com aceno de mão, voltando a me encarar, com os olhos desejosos agora. Como um comerciante olha para o dinheiro. Um garimpeiro para o ouro. Eu era um objeto ali – Minha querida senhorita Masen, acredito que saiba que alguns vampiros possuem certos dons. E, minha criança, acredito que você possua algo extremamente útil.
E, um sino tocou em minha cabeça compreendendo o que ele queria. Ele me queria, mesmo que aquela história de dons fosse completamente nova para mim.
– Gostaria de lhe oferecer um lugar em nossa guarda, senhorita. – ele continuou – Seria um imenso prazer tê-la como parte de nossa grande família. – completou cheio de expectativas.
A palavra família me soava tão estranha quando dita por aquele homem, como se ele representasse todo o contrário do que eu entendia e teria por familiar. No entanto, eu não tinha exatamente para onde ir. A família que eu tanto amava estava morta e, literalmente enterrada. Meu olhar desviou da figura de Aro e caiu em Alec por um breve segundo. Eu lhe tinha feito uma promessa e, pelos seus olhos, parecia que ele queria que eu cumprisse. Suspirei por outro segundo antes de fixar meus olhos no homem parado em minha frente.
– Eu aceito, senhor Volturi. – afirmei com uma segurança que nem sabia ter – Seria uma honra servir e fazer parte de sua família. – disse selando o que parecia ser o começo da minha eternidade.
Até aqui scriptada por: Carolina Mioto.
Foram necessários pelo menos dois dias de viagem até a cidade dos sonhos e, mais quinze dias de navio até chegar ao porto de Gênova, na Itália. Como prendi a respiração por tanto tempo, estava louca para me alimentar novamente e, finalmente sentir o ar puro em contato com as minhas narinas.
O tempo dentro da cabine tinha sido suficiente para ler sobre o lugar e alguns de seus pontos turísticos e, uma cidade me chamou atenção por seu nome peculiar e desconhecido. Volterra. Localizada na região da Toscana, em Pisa. Eu não sabia se ainda podia confiar em minhas intuições, mas sabia que deveria estar naquela cidade.
Quando o navio atracou no porto, por sorte estava de noite e eu pude me misturar entre as pessoas que saiam da embarcação. Sendo ajudada por homens que não eram necessários e que me enviavam olhares sugestivos, eu segui meu caminho com as bagagens nas mãos, parando em uma espécie de aluguel de carros. Eu não sabia como conduzir, então achei melhor pedir que algum dos cavalheiros disponíveis ali me levassem à Volterra. Escolhi justamente o que eu já tinha visto desrespeitar uma senhorita segundos antes. Se ele era tão seguro de si para tratar as mulheres como objeto, eu não me importaria de usá-lo como refeição depois de conseguir chegar ao meu destino.
Ele se apresentou, se chamava George Conell. Foi o caminho inteiro, as próximas quatro horas de viagem soltando piadinhas e indiretas, perguntando se eu era casada e ignorando quaisquer intimidações que a minha postura emanava.
Não demorei muito com seu sangue depois que chegamos e o deixei enterrado alguns quilômetros antes da entrada da cidade, o carro empurrei para o caminho contrário. Corri até a entrada da cidade e a visão de um castelo majestoso preencheu os meus olhos, certamente me faria perder o fôlego se ainda o tivesse.
Já estava começando a amanhecer e, mesmo não havendo muitas pessoas nas ruas, eu não queria me expor. Essa era a regra básica para a vida vampiresca. Não deixar os humanos descobrirem sua realidade. Eu andava nas sombras, ainda admirada com o ar medieval daquela cidade. Parecia muito com os desenhos que Elizabeth Masen fazia. Mamãe. Lembrar dela me fez sentir um aperto no peito e eu automaticamente levei a mão até o colar em meu pescoço. Meu coração inativo sangrava com a perda de meus pais e com o desaparecimento de meu irmão.
No centro da cidade havia o que parecia uma torre com um relógio. Eu estava distraída com o ponteiro mudando as horas, os minutos e os segundos, estava fascinada com a calmaria que parecia transparecer. Até que senti uma presença as minhas costas e fiquei imóvel no mesmo instante, atenta se precisasse atacar. No entanto, uma mão de temperatura agradável pousou em meu ombro e eu ouvi pela primeira vez.
– Buongiorno, signorina. – o tal homem começou em italiano e eu me senti estranhamente confortável – Poderia me acompanhar, por favor? – e eu me virei para encontrar o dono daquela voz. Orbes tão vermelhas quanto as minhas, o cabelo negro caindo graciosamente em sua testa e a mão que antes estava em meu ombro, agora estava estendida em minha direção de forma convidativa.
– Para onde exatamente gostaria que eu o acompanhasse, senhor? – e meu tom era claramente uma pergunta por seu nome.
– Alec Volturi, senhorita. – ele segurou minha mão que eu ainda não lhe havia dado e depositou um beijo cortês ali, me fazendo estremecer involuntariamente – E a sua graça, qual seria?
– Masen, senhor Volturi. – lhe dediquei um sorriso que foi correspondido – Mas ainda não me disse para onde gostaria que eu lhe acompanhasse.
– Meu mestre, Aro, solicita sua presença, senhoria Masen. – ele disse me estudando com os olhos e pegando minha bagagem sem nenhuma dificuldade em uma mão, enquanto me oferecia o braço, que aceitei prontamente – Temos um protocolo a ser cumprido. – concluiu e eu só pude assentir, segurando seu braço e seguindo seu caminho.
Eu estava nervosa, mas deveria imaginar que estava entrando em terras que já possuíam dono. Seria o mais educada que conseguisse e torcia para que saísse dali com todos os membros ainda intactos. Quando chegamos à frente de grandes portas de madeira, perfeitamente ornadas que iam até o teto, paramos. Ele ia abrir a porta, mas eu segurei suas mãos impedindo o ato e proferi em seu ouvido com toda a coragem que eu nem sabia existir em meu corpo
– Se eu sair daqui inteira, senhor Volturi, vou adorar conhecê-lo melhor. – e, sem mais o deixei abrir as portas, encontrando uma pequena comitiva nos esperando. Eu só esperava que fosse realmente para dar boas-vindas.
As figuras paradas pareciam ter saído de um livro sobre a Idade Média. As peles extremamente pálidas, os trajes pareciam limitados a grandes capas vermelhas com capuz, como se fossem todos participantes da mesma religião. Eu teria dado meia volta se não fosse a mão de Alec nas minhas costas, me empurrando delicadamente para frente. Ele disse um "me siga" sussurrado, mas eu sabia que todas as pessoas do recinto tinham escutado. Vampiros como nós, claro.
Contei seis pessoas ali esperando por nós. Uma mulher loira, que mais parecia uma adolescente. Três homens sentados em tronos perfeitamente dispostos no final do salão. Dois homens prostrados um de cada lado dos tronos, como seguranças. Engoli em seco e fui seguindo o mesmo caminho de Alec, parando alguns metros antes quando o vi se aproximar do trono do meio e entregar sua mão ao homem de longos cabelos negros.
O homem depois deste contato, mudou sua face e simplesmente sorriu infantilmente, dispensando Alec com um aceno de mão, se levantando de seu trono. Veio andando graciosamente até parar a alguns centímetros a minha frente, oferecendo uma mão em cumprimento.
– Senhorita Masen, seja muito bem-vinda aos nossos domínios! – começou enquanto segurava minha mão como se estivesse manuseando um cristal delicado. Por um segundo a confusão passou por seus olhos e suas sobrancelhas se encresparam, mas logo refez a expressão convidativa – Meu nome é Aro Volturi, mas acredito que tenha sido informada deste detalhe.
– Sim, senhor. Me desculpe por invadir seu castelo a esta hora da manhã. – disse com o melhor sorriso falso que consegui moldar. Não sabia o motivo, mas sentia que deveria ser completamente formal com aquele homem. Como se fosse um rei.
– Não se preocupe, criança. Está em casa agora. – se eu ainda pudesse vomitar, certamente teria feito – Acredito que saiba quem somos e exatamente aonde está, certo? – ele soltou minha mão, mas se manteve próximo. Todos os olhos estavam em cima de mim.
– Infelizmente não, senhor Volturi. Perdoe-me a ignorância. – respondi em um tom mais contido e ouvi sua gargalhada melodiosa preencher o lugar, me rendendo um arrepio na espinha e um péssimo pressentimento.
– Tudo bem, minha querida. Haverá tempo para apresentações mais formais. – Aro afirmou com o que me pareceu docilidade – No momento, você deve conhecer as pessoas que estão aqui conosco. Sentado a minha direita está Caius, a minha esquerda, Marcus. Alec eu presumo que já conheça e, esta jovem ao seu lado é Jane. – meu olhar recaiu na dupla que se encontrava de mãos dadas e eu vi o olhar esperançoso de Alec pairar em cima de mim, mas Aro chamou minha atenção novamente – Estes são Demetri e Felix. – completou sem muita importância.
Eu assentia a todos os nomes que me eram ditos e vi quando Aro virou-se na direção de Jane e sussurrou, mesmo que não fosse necessário um "Chame Eleazar", me fazendo ficar ainda mais ansiosa do que quando tinha entrado.
– Então, minha querida. – ele continuou – Nós vampiros, mesmo que sejamos infinitamente superiores aos humanos, temos muito em comum com eles, principalmente nosso sistema hierárquico. Nós somos os Volturi – ele disse com ar de imponência – pode nos considerar uma espécie de realeza se quiser, porque é justamente o que somos. – Aro começou a circular despreocupadamente pelo espaço – Os outros se curvam a nós, mas não é preciso temer, minha doce senhorita Masen. Representamos riscos apenas aos que quebram nossas regras. – ele completou me olhando nos olhos, me fazendo sustentar aquele olhar, quando tudo o que eu queria era fugir.
– Sim, senhor. – foi tudo o que eu consegui dizer claramente, antes que as portas se abrissem de novo, revelando um homem moreno, extremamente bonito como eram todos ali, mas com uma aura tranquila e aconchegante. Ele estava acompanhado por Jane, que logo voltou ao seu lugar que, pelo que parecia, era ao lado de Alec.
– Mandou me chamar, senhor? – o novo ocupante do salão perguntou, um sotaque latino aparente em sua fala.
– Meu grande amigo, Eleazar. Que gosto em vê-lo novamente. – Aro disse com uma falsa alegria – Acredito que saiba o motivo pelo qual foi chamado, mas deixe-me apresentá-los. Senhorita Masen, este é Eleazar. – nos apresentou com uma grande curiosidade e eu só pude observar o tal homem me estudar de cima a baixo. – Já sabe o que ela é, meu amigo?
A pergunta me pareceu completamente fora de lugar. Como o que eu era? Uma vampira, obviamente! Do que estes homens estavam falando? Eleazar me analisou por mais meio segundo e olhou diretamente para Aro ao responder.
– Estou sendo bloqueado neste exato momento, senhor. – ele disse tranquilamente – Acredito que ela possa ser um escudo mental, já que não consigo sentir sua presença. – completou ao que Aro assentiu, como se absorvendo as palavras que lhe foram ditas.
– Entendo! Obrigado, velho amigo. – e, dito isso, o dispensou com aceno de mão, voltando a me encarar, com os olhos desejosos agora. Como um comerciante olha para o dinheiro. Um garimpeiro para o ouro. Eu era um objeto ali – Minha querida senhorita Masen, acredito que saiba que alguns vampiros possuem certos dons. E, minha criança, acredito que você possua algo extremamente útil.
E, um sino tocou em minha cabeça compreendendo o que ele queria. Ele me queria, mesmo que aquela história de dons fosse completamente nova para mim.
– Gostaria de lhe oferecer um lugar em nossa guarda, senhorita. – ele continuou – Seria um imenso prazer tê-la como parte de nossa grande família. – completou cheio de expectativas.
A palavra família me soava tão estranha quando dita por aquele homem, como se ele representasse todo o contrário do que eu entendia e teria por familiar. No entanto, eu não tinha exatamente para onde ir. A família que eu tanto amava estava morta e, literalmente enterrada. Meu olhar desviou da figura de Aro e caiu em Alec por um breve segundo. Eu lhe tinha feito uma promessa e, pelos seus olhos, parecia que ele queria que eu cumprisse. Suspirei por outro segundo antes de fixar meus olhos no homem parado em minha frente.
– Eu aceito, senhor Volturi. – afirmei com uma segurança que nem sabia ter – Seria uma honra servir e fazer parte de sua família. – disse selando o que parecia ser o começo da minha eternidade.
Até aqui scriptada por: Carolina Mioto.
Capítulo 05
Volterra, 1957
Muitos anos já haviam se passado desde que eu me juntara a guarda Volturi e muitas coisas haviam mudado, já que a Evie de 1918 tinha morrido quando encontrara Allan naquela noite. No entanto, as memórias seguiam vivas em minha mente, já que a presente de todos os dias não dormia.
Eu nunca mais tinha posto os pés em Chicago novamente. Não sabia exatamente o que tinha sido feito com a casa de meus pais, mas imaginava que alguma outra boa família tinha criado boas lembranças ali. Eu torcia para isso, mas também era provável que a casa tivesse sido comprada para algum avanço do capitalismo. Humanos eram estranhos. Quanto mais poder tinham, mais queriam.
Eu estava deitada em meu quarto, encarando o teto, esperando pelo momento em que Alec viria me buscar para o que ele dizia ser um encontro de verdade. Costumávamos fazer isso de tempos em tempos para não ficar monótono. Criávamos histórias, inventávamos personagens e nos conhecíamos novamente, tentando fazer da eternidade mais divertida e, do peso de sermos pertencentes a Aro, menos dolorido.
As poeiras em meu teto me mantiveram tão entretida que não notei uma batida leve na porta, indicando que Alec já deveria estar pronto. Caminhei na velocidade humana e, ao abrir, me deparei com a figura de Eleazar me aguardando. Eu deveria ter percebido, mas andava um pouco aérea nos últimos dias, principalmente depois de termos ido cobrar favores para Aro de um clã na Romênia.
– Eleazar, meu querido, achei que não tivesse retornado ainda da viagem ao Kansas. – lhe abracei, realmente feliz em vê-lo e o senti retribuir, depositando um beijo em minha testa – Como foi tudo por lá?
– Foi tudo maravilhoso, cariño. – sorri ao ouvir o apelido carinhoso que tinha virado costume. Eleazar era como um pai para mim, me lembrava muito o zelo de Edward Senior – Mas precisamos conversar!
– O que aconteceu? Gostaria de entrar? – disse já oferecendo passagem para o meu quarto, mas ele recusou e me segurou pela mão.
– Vou precisar que confie em mim, certo? – assenti – Finja que está se divertindo. – ele disse mais baixo, antes de me pegar desprevenida, me colocando em suas costas e começando a correr para longe dos corredores do castelo dos Volturi. Tudo o que pude fazer foi me recuperar do choque inicial e ensaiar algumas risadas fáceis. Esperava realmente que Alec me perdoasse pela demora.
Nós nos distanciamos não mais do que 100 km do castelo, ainda podia enxergar a Torre do Relógio ao longe. Estávamos em uma espécie de floresta, no topo de uma árvore, como se estivéssemos nos escondendo de alguma coisa e, eu imaginava ser das mãos leitoras de mente de Aro.
– Eleazar, o que exatamente estamos fazendo aqui? – perguntei, me firmando em um galho mais grosso.
– Eu não poderia deixar que Aro ouvisse essa conversa, querida. Não hoje, nem nunca. – ele começou olhando para mãos e, em seguida seus olhos encontraram os meus – Eu estou deixando a guarda dos Volturi hoje, cariño. Chegou minha hora de partir.
– Como? Por que? Eu não entendo! – minha mente estava um turbilhão de perguntas – Para onde você iria? – começava a me sentir angustiada.
– Eu a encontrei, . – disse simplesmente – No Kansas, quando estava buscando novos "diamantes" para a guarda de Aro, eu a vi. Carmen. – ele suspirou apaixonado – Ela tinha sido transformada há poucos meses, mas não parecia querer machucar os humanos. A vampira que a mordeu não fora cuidadosa com ela e a deixou escapar, mas antes tinha drenado sua mãe e irmão. – completou com pesar – Eles estavam de férias visitando uma tia, pelo amor de Deus! – disse indignado – Eu lhe disse que poderia confiar em mim, que não a machucaria e, devo cumprir minha promessa. Devo protege-la com a minha existência, se for necessário.
Dito isso, eu só conseguia segurar em sua mão e apertá-la fracamente, demonstrando apoio e compreensão. Eleazar estava apaixonado e eu estava feliz por ele, nada melhor que o amor para curar antigas feridas. Nós sorrimos um para o outro e, ele soube que eu estaria ao seu lado nesta decisão.
– Espero que um dia eu possa conhecer essa mulher de sorte!
– Você irá, eu só preciso de tempo para nos estabelecermos em algum lugar e para que possamos, na verdade, para que eu possa começar uma nova dieta. – ele disse firmemente e eu o encarei confusa.
– Nova dieta? Como espera sobreviver sem matar alguém? Roubando dos postos de doação? – perguntei sarcástica.
– Eu lhe disse que Carmen não queria machucar humanos, cariño. Mesmo sendo uma recém-criada. – ele nem se importou com meu tom – Ela me apresentou uma forma mais "vegetariana" de ver a nossa existência. É incrível a força que aquela mulher tem, mesmo em tão pouco tempo de transformada. – e a minha cara de confusão deve ter sido tão grande que ele simplesmente completou – Sangue animal, . – e torci o nariz sem nem pensar duas vezes, imaginando aquele tipo de sangue em contato com a minha garganta.
– Tem certeza? É isso que você quer para sua vida? Sangue animal para o resto de sua eternidade?
– Eu quero Carmen para o resto da minha eternidade, cariño. – ele soltou uma risadinha – E, se sangue animal é o preço que eu preciso pagar para isso, que seja. – ele deu de ombros e eu soube que nada do que lhe dissesse mudaria sua cabeça. Eu nem queria isso.
– Você está encantado, meu amigo.
– Vocês irão se conhecer e, tenho certeza de que irá se encantar por ela da mesma forma que eu. – ele sorriu momentaneamente, mas voltou a ficar sério – No entanto, não foi por isso que lhe trouxe aqui. Precisamos conversar sobre o que anda lhe acontecendo nos últimos tempos, querida.
E, eu senti meu corpo estremecer com a mudança repentina de assunto. Sabia do que ele falava. Eu era um escudo mental, disso todos tínhamos certeza, já que Aro não conseguia ler meus pensamentos, Jane ou Alec me atingir ou Marcus aumentar meus laços com os Volturi. Mas, eu não conseguia expandir para outras pessoas, fazendo com que apenas eu ficasse protegida dentro de minha cabeça. Há alguns meses, entretanto, eu havia comentado com ele sobre alguns descontroles que estava sentindo por parte de minha mente, como se algo estivesse a ponto de sair, de tomar conta de meu corpo por completo. Eu vinha sentindo frequentes dores de cabeça, como se uma pressão enorme estivesse sendo feita em meu crânio, me levando a apagar realmente por algumas horas, como em algum tipo de desmaio impossível para uma vampira.
– Eu procurei por muito tempo nos livros que tinha acesso no castelo, mas nada me pareceu similar a sua situação, . – ele me olhou desanimado – Mas fiz questão de não achar nada até que Aro tivesse lido minha mente pela última vez, minha querida. – e eu prestei ainda mais atenção ao que ele me dizia.
– Então, você achou alguma coisa? – se meu coração pudesse bater, estaria completamente acelerado.
Ele simplesmente tirou um grosso papel do bolso, como se fosse a página de um livro antigo que ele tinha arrancado e que fora devidamente dobrada para parecer menor. Nada mais me disse, deu um beijo em minha testa e sussurrou "você saberá onde me achar quando precisar, cariño" em meu ouvido, antes de descer da árvore e me deixar sozinha.
O medo me impediu de abrir aquele papel quando o tive nas mãos pela primeira vez. Eu apenas o guardei preso ao decote quase imperceptível do vestido que usava naquela noite. Voltei ao castelo e tive um encontro fabuloso com Alec. Nos disfarçamos de humanos e fomos a um bar na cidade vizinha, como se fôssemos viajantes conhecendo o lugar. Não matamos ninguém naquela noite, eu não gostava de manchas de sangue em nossos encontros.
Foi apenas uma semana depois que eu tomei coragem para abrir o papel que fazia questão de carregar comigo para todo lugar que fosse. Eu estava sentada sozinha perto de um lago, um pouco distante do castelo e mais próxima ao povoado, mas nenhuma pessoa costumava passar por aquela área.
A página contava a história das Litúrias, criadas em 1578, a perfeita lenda das sugadoras de sangue com poderes psíquicos. Torturavam suas vítimas e sugavam delas todas as suas forças, absorvendo suas qualidades e, algumas vezes até mesmo, memórias. As Litúrias eram capazes de fazer com que um povoado inteiro fosse dizimado, se tivessem absorvido as capacidades certas.
Se eu era uma descendente de uma Litúria, não fazia ideia. Não achava possível, mas que essa história sobre absorver algumas capacidades de outras pessoas, fazia cada vez mais sentido, era certo. E, foi quando eu vi um homem passar por ali, fugindo com o que pareciam algumas bolsas, olhando para trás a todo momento, que eu decidi pensar olhando diretamente para sua figura, o quanto eu queria que ele sentisse dor. E, qual foi a minha surpresa ao vê-lo cair prostrado em seus joelhos, agonizando como as vítimas de Jane, antes que eu lhe mordesse e drenasse seu sangue.
"É uma teoria que devemos considerar", Eleazar escreveu no final da página e uma luz se acendeu em minha cabeça, como se as peças se encaixassem. Eu agora poderia me deixar ser.
Muitos anos já haviam se passado desde que eu me juntara a guarda Volturi e muitas coisas haviam mudado, já que a Evie de 1918 tinha morrido quando encontrara Allan naquela noite. No entanto, as memórias seguiam vivas em minha mente, já que a presente de todos os dias não dormia.
Eu nunca mais tinha posto os pés em Chicago novamente. Não sabia exatamente o que tinha sido feito com a casa de meus pais, mas imaginava que alguma outra boa família tinha criado boas lembranças ali. Eu torcia para isso, mas também era provável que a casa tivesse sido comprada para algum avanço do capitalismo. Humanos eram estranhos. Quanto mais poder tinham, mais queriam.
Eu estava deitada em meu quarto, encarando o teto, esperando pelo momento em que Alec viria me buscar para o que ele dizia ser um encontro de verdade. Costumávamos fazer isso de tempos em tempos para não ficar monótono. Criávamos histórias, inventávamos personagens e nos conhecíamos novamente, tentando fazer da eternidade mais divertida e, do peso de sermos pertencentes a Aro, menos dolorido.
As poeiras em meu teto me mantiveram tão entretida que não notei uma batida leve na porta, indicando que Alec já deveria estar pronto. Caminhei na velocidade humana e, ao abrir, me deparei com a figura de Eleazar me aguardando. Eu deveria ter percebido, mas andava um pouco aérea nos últimos dias, principalmente depois de termos ido cobrar favores para Aro de um clã na Romênia.
– Eleazar, meu querido, achei que não tivesse retornado ainda da viagem ao Kansas. – lhe abracei, realmente feliz em vê-lo e o senti retribuir, depositando um beijo em minha testa – Como foi tudo por lá?
– Foi tudo maravilhoso, cariño. – sorri ao ouvir o apelido carinhoso que tinha virado costume. Eleazar era como um pai para mim, me lembrava muito o zelo de Edward Senior – Mas precisamos conversar!
– O que aconteceu? Gostaria de entrar? – disse já oferecendo passagem para o meu quarto, mas ele recusou e me segurou pela mão.
– Vou precisar que confie em mim, certo? – assenti – Finja que está se divertindo. – ele disse mais baixo, antes de me pegar desprevenida, me colocando em suas costas e começando a correr para longe dos corredores do castelo dos Volturi. Tudo o que pude fazer foi me recuperar do choque inicial e ensaiar algumas risadas fáceis. Esperava realmente que Alec me perdoasse pela demora.
Nós nos distanciamos não mais do que 100 km do castelo, ainda podia enxergar a Torre do Relógio ao longe. Estávamos em uma espécie de floresta, no topo de uma árvore, como se estivéssemos nos escondendo de alguma coisa e, eu imaginava ser das mãos leitoras de mente de Aro.
– Eleazar, o que exatamente estamos fazendo aqui? – perguntei, me firmando em um galho mais grosso.
– Eu não poderia deixar que Aro ouvisse essa conversa, querida. Não hoje, nem nunca. – ele começou olhando para mãos e, em seguida seus olhos encontraram os meus – Eu estou deixando a guarda dos Volturi hoje, cariño. Chegou minha hora de partir.
– Como? Por que? Eu não entendo! – minha mente estava um turbilhão de perguntas – Para onde você iria? – começava a me sentir angustiada.
– Eu a encontrei, . – disse simplesmente – No Kansas, quando estava buscando novos "diamantes" para a guarda de Aro, eu a vi. Carmen. – ele suspirou apaixonado – Ela tinha sido transformada há poucos meses, mas não parecia querer machucar os humanos. A vampira que a mordeu não fora cuidadosa com ela e a deixou escapar, mas antes tinha drenado sua mãe e irmão. – completou com pesar – Eles estavam de férias visitando uma tia, pelo amor de Deus! – disse indignado – Eu lhe disse que poderia confiar em mim, que não a machucaria e, devo cumprir minha promessa. Devo protege-la com a minha existência, se for necessário.
Dito isso, eu só conseguia segurar em sua mão e apertá-la fracamente, demonstrando apoio e compreensão. Eleazar estava apaixonado e eu estava feliz por ele, nada melhor que o amor para curar antigas feridas. Nós sorrimos um para o outro e, ele soube que eu estaria ao seu lado nesta decisão.
– Espero que um dia eu possa conhecer essa mulher de sorte!
– Você irá, eu só preciso de tempo para nos estabelecermos em algum lugar e para que possamos, na verdade, para que eu possa começar uma nova dieta. – ele disse firmemente e eu o encarei confusa.
– Nova dieta? Como espera sobreviver sem matar alguém? Roubando dos postos de doação? – perguntei sarcástica.
– Eu lhe disse que Carmen não queria machucar humanos, cariño. Mesmo sendo uma recém-criada. – ele nem se importou com meu tom – Ela me apresentou uma forma mais "vegetariana" de ver a nossa existência. É incrível a força que aquela mulher tem, mesmo em tão pouco tempo de transformada. – e a minha cara de confusão deve ter sido tão grande que ele simplesmente completou – Sangue animal, . – e torci o nariz sem nem pensar duas vezes, imaginando aquele tipo de sangue em contato com a minha garganta.
– Tem certeza? É isso que você quer para sua vida? Sangue animal para o resto de sua eternidade?
– Eu quero Carmen para o resto da minha eternidade, cariño. – ele soltou uma risadinha – E, se sangue animal é o preço que eu preciso pagar para isso, que seja. – ele deu de ombros e eu soube que nada do que lhe dissesse mudaria sua cabeça. Eu nem queria isso.
– Você está encantado, meu amigo.
– Vocês irão se conhecer e, tenho certeza de que irá se encantar por ela da mesma forma que eu. – ele sorriu momentaneamente, mas voltou a ficar sério – No entanto, não foi por isso que lhe trouxe aqui. Precisamos conversar sobre o que anda lhe acontecendo nos últimos tempos, querida.
E, eu senti meu corpo estremecer com a mudança repentina de assunto. Sabia do que ele falava. Eu era um escudo mental, disso todos tínhamos certeza, já que Aro não conseguia ler meus pensamentos, Jane ou Alec me atingir ou Marcus aumentar meus laços com os Volturi. Mas, eu não conseguia expandir para outras pessoas, fazendo com que apenas eu ficasse protegida dentro de minha cabeça. Há alguns meses, entretanto, eu havia comentado com ele sobre alguns descontroles que estava sentindo por parte de minha mente, como se algo estivesse a ponto de sair, de tomar conta de meu corpo por completo. Eu vinha sentindo frequentes dores de cabeça, como se uma pressão enorme estivesse sendo feita em meu crânio, me levando a apagar realmente por algumas horas, como em algum tipo de desmaio impossível para uma vampira.
– Eu procurei por muito tempo nos livros que tinha acesso no castelo, mas nada me pareceu similar a sua situação, . – ele me olhou desanimado – Mas fiz questão de não achar nada até que Aro tivesse lido minha mente pela última vez, minha querida. – e eu prestei ainda mais atenção ao que ele me dizia.
– Então, você achou alguma coisa? – se meu coração pudesse bater, estaria completamente acelerado.
Ele simplesmente tirou um grosso papel do bolso, como se fosse a página de um livro antigo que ele tinha arrancado e que fora devidamente dobrada para parecer menor. Nada mais me disse, deu um beijo em minha testa e sussurrou "você saberá onde me achar quando precisar, cariño" em meu ouvido, antes de descer da árvore e me deixar sozinha.
O medo me impediu de abrir aquele papel quando o tive nas mãos pela primeira vez. Eu apenas o guardei preso ao decote quase imperceptível do vestido que usava naquela noite. Voltei ao castelo e tive um encontro fabuloso com Alec. Nos disfarçamos de humanos e fomos a um bar na cidade vizinha, como se fôssemos viajantes conhecendo o lugar. Não matamos ninguém naquela noite, eu não gostava de manchas de sangue em nossos encontros.
Foi apenas uma semana depois que eu tomei coragem para abrir o papel que fazia questão de carregar comigo para todo lugar que fosse. Eu estava sentada sozinha perto de um lago, um pouco distante do castelo e mais próxima ao povoado, mas nenhuma pessoa costumava passar por aquela área.
A página contava a história das Litúrias, criadas em 1578, a perfeita lenda das sugadoras de sangue com poderes psíquicos. Torturavam suas vítimas e sugavam delas todas as suas forças, absorvendo suas qualidades e, algumas vezes até mesmo, memórias. As Litúrias eram capazes de fazer com que um povoado inteiro fosse dizimado, se tivessem absorvido as capacidades certas.
Se eu era uma descendente de uma Litúria, não fazia ideia. Não achava possível, mas que essa história sobre absorver algumas capacidades de outras pessoas, fazia cada vez mais sentido, era certo. E, foi quando eu vi um homem passar por ali, fugindo com o que pareciam algumas bolsas, olhando para trás a todo momento, que eu decidi pensar olhando diretamente para sua figura, o quanto eu queria que ele sentisse dor. E, qual foi a minha surpresa ao vê-lo cair prostrado em seus joelhos, agonizando como as vítimas de Jane, antes que eu lhe mordesse e drenasse seu sangue.
"É uma teoria que devemos considerar", Eleazar escreveu no final da página e uma luz se acendeu em minha cabeça, como se as peças se encaixassem. Eu agora poderia me deixar ser.
Capítulo 06
Volterra, 2009
A virada do milênio já havia acontecido há alguns anos e a vida não poderia estar mais monótona. Eu já havia lido todos os 50 mil livros clássicos da biblioteca de Volterra, mas, graças aos céus, a era da tecnologia chegara e eu poderia passar parte da entediante eternidade frente a um computador, lendo mais alguns. Eu tinha conhecido alguns humanos pela internet, feito algumas amizades e me correspondido por e-mails. Nada muito relevante, mas extremamente cômico e triste ao mesmo tempo, como Jane gostava de ressaltar.
Os encontros com Alec não supriam mais as necessidades de ambos e, sabíamos disso. Apenas o sexo era algo a se considerar, porque era tão importante quanto a quantidade de sangue que deveria ser ingerida diariamente. Era pela sobrevivência, dizíamos sempre antes de nos embolar nos lençóis, tentando ser os mais silenciosos que podíamos, considerando que o castelo contava com mais de 45 vampiros. Ou seja, não dava certo e sempre recebíamos olhares atravessados na manhã seguinte.
Eleazar atualmente se encontrava em algum lugar dos Estados Unidos ou do Canadá, nunca me dando a localização exata nos e-mails que já havíamos trocado, talvez por medo de Aro descobrir sua morada e pedir, ou ordenar, que ele voltasse aos seus serviços como membro da guarda. Mas, enquanto estivesse feliz com Carmen, por mim estava tudo bem.
Diferente do que eu poderia ter imaginado em todos esses anos, as coisas não ficaram exatamente mais fáceis depois que descobri sobre a tal lenda das Litúrias, pelo contrário. Não precisei pesquisar muito mais nos sites para saber o que eu já sabia: eu conseguia absorver os dons de outros vampiros apenas tocando neles e, eles ficavam em alguma parte obscura do meu cérebro, apenas esperando que eu me concentrasse o suficiente para serem postos em prática. Como uma lâmpada que espera que alguém use o interruptor para acendê-la. Muito útil, mas extremamente perigoso. Principalmente se esta lâmpada é cobiçada, mesmo que eles ainda não saibam, pelas piores espécies de vampiros do mundo: os Volturi.
Renata, o escudo físico de Aro, tocou meu braço, me tirando do devaneio que me encontrava, indicando que deveria colocar a poltrona na posição vertical novamente porque pousaríamos em Dallas nos próximos minutos. Um clã estava bagunçando com a ideia de clandestinidade, matando mais pessoas do que deveria, chegando muito perto de nos expor aos humanos. Mandar dois escudos, um mental e um físico, com capacidade para dizimar uma vila inteira pareceu a ideia certa para Aro e Caius. Marcus não tomava partido nestes assuntos, se mantendo com sua cara de tédio costumeira.
Saímos do aeroporto e Renata parecia muito apreensiva, mesmo que não conversássemos normalmente. Sabia que tinha a ver com a distância que estava de seu mestre, preocupando-se com ele e sua proteção. Resolvemos pegar um táxi após sair do aeroporto para não chamarmos muita atenção, o que foi inevitável. Duas mulheres incrivelmente pálidas, vestidas de preto dos pés à cabeça, com aparências até mais do que atrativas desfilando sem malas pelo aeroporto. Se os humanos pudessem girar a cabeça em 180º para nos ver, teriam feito. Até mesmo o taxista que nos levou até Highland Park teria feito isso. Mas fomos educadas e lhe poupamos a vida, lhe entregando uma gorda gorjeta pelo caminho feito sem nenhuma cantada inoportuna.
O clã era composto por duas mulheres e um homem e foi fácil de localizar, para a nossa sorte. O protocolo era sempre nos apresentar, fazer aquele drama básico e exterminar. Repetitivo demais e simples demais. Eu gostava quando havia mais ação durante as lutas, mas eles já estavam rendidos no momento em que pisamos em seus domínios. Sequer tentaram correr, porque tinham muito medo do nome dos Volturi. Era patético até.
Não demoramos mais do que uma hora com essa situação e, eu já estava entediada, tanto quanto Renata parecia estar querendo voltar para o lado de seu mestre. Mas, como ainda teríamos outras doze horas dentro de um avião, resolvemos nos alimentar antes de voltar ao aeroporto, evitando acidentes na viagem.
A chegada à Itália no dia seguinte foi extremamente tranquila, como tudo costumava ser desde que entrara para a guarda. Pegamos o carro que havíamos deixado no estacionamento do aeroporto e seguimos viagem, vendo Volterra nos saudar com sua bela paisagem algumas horas depois. Eu que sentia que nunca me cansaria daquela vista, suspirei enquanto pisava no acelerador, sentindo a expectativa crescente em minha acompanhante.
Nos despedimos quando eu estacionei e vi Renata correr castelo adentro, provavelmente indo contar os pormenores de nossa pequena missão, como costumava fazer. Isso significava que eu não precisava me apresentar aos Volturi agora e, podia me deixar cair na cama, realmente esgotada mentalmente. Mas, antes que conseguisse chegar a abrir minha porta e ver minha cama, ouvi Jane chamando por meu nome de forma urgente.
Quando me virei preocupada, vi que sua expressão não era de muitos amigos, mas ela não recusou o abraço que eu lhe oferecia. O que era bem estranho, Jane não era do tipo que aceitava abraços sem motivo.
– Aconteceu algo, Jane? – questionei enquanto abria a porta do quarto e lhe convidava para entrar.
– Fomos invadidos e Aro enlouqueceu por conta de uma humana insignificante! – ela soltou indignada e me deixou completamente confusa, sem entender o que se passava.
– Seja mais clara, por favor. Do que você está falando?
– Se lembra de Carlisle Cullen? O tal amigo que Eleazar sempre comentava que tinha sido um dos primeiros a deixar a guarda de Aro. – ela começou e eu assenti – O filho dele, ou companheiro de clã, se preferir, se apaixonou por uma humana e não quer transformá-la. – ela completou e eu só consegui começar a rir da pior e mais clichê história de amor de todos os tempos.
– Você só pode estar brincando comigo, Jane. Como um vampiro se apaixonaria por humana e não iria querer transformá-la? Ele quer matá-la? Quer sofrer com o cheiro dela? Masoquismo!
– Realmente, porque o cheiro dela era delicioso. – suspirou lembrando e me fez dar mais uma risada – Mas, eu não sei o motivo dele não transformar a humana e não me interessa. O que importa é que ele quase nos expôs aos humanos, se mostrando a eles no sol.
E ela continuou me contando com detalhes o que havia acontecido com o tal vampiro do clã dos Cullen e como a tal humana parecia ser um escudo mental como eu. O clã era interessante demais para ser esquecido: um leitor de mentes e uma vidente. Aro havia ficado intrigado e com razão tinha nos mandado monitorar a distância. Eu só esperava que o tal vampiro apaixonado a transformasse logo, antes que Aro o fizesse e pelos motivos errados.
A virada do milênio já havia acontecido há alguns anos e a vida não poderia estar mais monótona. Eu já havia lido todos os 50 mil livros clássicos da biblioteca de Volterra, mas, graças aos céus, a era da tecnologia chegara e eu poderia passar parte da entediante eternidade frente a um computador, lendo mais alguns. Eu tinha conhecido alguns humanos pela internet, feito algumas amizades e me correspondido por e-mails. Nada muito relevante, mas extremamente cômico e triste ao mesmo tempo, como Jane gostava de ressaltar.
Os encontros com Alec não supriam mais as necessidades de ambos e, sabíamos disso. Apenas o sexo era algo a se considerar, porque era tão importante quanto a quantidade de sangue que deveria ser ingerida diariamente. Era pela sobrevivência, dizíamos sempre antes de nos embolar nos lençóis, tentando ser os mais silenciosos que podíamos, considerando que o castelo contava com mais de 45 vampiros. Ou seja, não dava certo e sempre recebíamos olhares atravessados na manhã seguinte.
Eleazar atualmente se encontrava em algum lugar dos Estados Unidos ou do Canadá, nunca me dando a localização exata nos e-mails que já havíamos trocado, talvez por medo de Aro descobrir sua morada e pedir, ou ordenar, que ele voltasse aos seus serviços como membro da guarda. Mas, enquanto estivesse feliz com Carmen, por mim estava tudo bem.
Diferente do que eu poderia ter imaginado em todos esses anos, as coisas não ficaram exatamente mais fáceis depois que descobri sobre a tal lenda das Litúrias, pelo contrário. Não precisei pesquisar muito mais nos sites para saber o que eu já sabia: eu conseguia absorver os dons de outros vampiros apenas tocando neles e, eles ficavam em alguma parte obscura do meu cérebro, apenas esperando que eu me concentrasse o suficiente para serem postos em prática. Como uma lâmpada que espera que alguém use o interruptor para acendê-la. Muito útil, mas extremamente perigoso. Principalmente se esta lâmpada é cobiçada, mesmo que eles ainda não saibam, pelas piores espécies de vampiros do mundo: os Volturi.
Renata, o escudo físico de Aro, tocou meu braço, me tirando do devaneio que me encontrava, indicando que deveria colocar a poltrona na posição vertical novamente porque pousaríamos em Dallas nos próximos minutos. Um clã estava bagunçando com a ideia de clandestinidade, matando mais pessoas do que deveria, chegando muito perto de nos expor aos humanos. Mandar dois escudos, um mental e um físico, com capacidade para dizimar uma vila inteira pareceu a ideia certa para Aro e Caius. Marcus não tomava partido nestes assuntos, se mantendo com sua cara de tédio costumeira.
Saímos do aeroporto e Renata parecia muito apreensiva, mesmo que não conversássemos normalmente. Sabia que tinha a ver com a distância que estava de seu mestre, preocupando-se com ele e sua proteção. Resolvemos pegar um táxi após sair do aeroporto para não chamarmos muita atenção, o que foi inevitável. Duas mulheres incrivelmente pálidas, vestidas de preto dos pés à cabeça, com aparências até mais do que atrativas desfilando sem malas pelo aeroporto. Se os humanos pudessem girar a cabeça em 180º para nos ver, teriam feito. Até mesmo o taxista que nos levou até Highland Park teria feito isso. Mas fomos educadas e lhe poupamos a vida, lhe entregando uma gorda gorjeta pelo caminho feito sem nenhuma cantada inoportuna.
O clã era composto por duas mulheres e um homem e foi fácil de localizar, para a nossa sorte. O protocolo era sempre nos apresentar, fazer aquele drama básico e exterminar. Repetitivo demais e simples demais. Eu gostava quando havia mais ação durante as lutas, mas eles já estavam rendidos no momento em que pisamos em seus domínios. Sequer tentaram correr, porque tinham muito medo do nome dos Volturi. Era patético até.
Não demoramos mais do que uma hora com essa situação e, eu já estava entediada, tanto quanto Renata parecia estar querendo voltar para o lado de seu mestre. Mas, como ainda teríamos outras doze horas dentro de um avião, resolvemos nos alimentar antes de voltar ao aeroporto, evitando acidentes na viagem.
A chegada à Itália no dia seguinte foi extremamente tranquila, como tudo costumava ser desde que entrara para a guarda. Pegamos o carro que havíamos deixado no estacionamento do aeroporto e seguimos viagem, vendo Volterra nos saudar com sua bela paisagem algumas horas depois. Eu que sentia que nunca me cansaria daquela vista, suspirei enquanto pisava no acelerador, sentindo a expectativa crescente em minha acompanhante.
Nos despedimos quando eu estacionei e vi Renata correr castelo adentro, provavelmente indo contar os pormenores de nossa pequena missão, como costumava fazer. Isso significava que eu não precisava me apresentar aos Volturi agora e, podia me deixar cair na cama, realmente esgotada mentalmente. Mas, antes que conseguisse chegar a abrir minha porta e ver minha cama, ouvi Jane chamando por meu nome de forma urgente.
Quando me virei preocupada, vi que sua expressão não era de muitos amigos, mas ela não recusou o abraço que eu lhe oferecia. O que era bem estranho, Jane não era do tipo que aceitava abraços sem motivo.
– Aconteceu algo, Jane? – questionei enquanto abria a porta do quarto e lhe convidava para entrar.
– Fomos invadidos e Aro enlouqueceu por conta de uma humana insignificante! – ela soltou indignada e me deixou completamente confusa, sem entender o que se passava.
– Seja mais clara, por favor. Do que você está falando?
– Se lembra de Carlisle Cullen? O tal amigo que Eleazar sempre comentava que tinha sido um dos primeiros a deixar a guarda de Aro. – ela começou e eu assenti – O filho dele, ou companheiro de clã, se preferir, se apaixonou por uma humana e não quer transformá-la. – ela completou e eu só consegui começar a rir da pior e mais clichê história de amor de todos os tempos.
– Você só pode estar brincando comigo, Jane. Como um vampiro se apaixonaria por humana e não iria querer transformá-la? Ele quer matá-la? Quer sofrer com o cheiro dela? Masoquismo!
– Realmente, porque o cheiro dela era delicioso. – suspirou lembrando e me fez dar mais uma risada – Mas, eu não sei o motivo dele não transformar a humana e não me interessa. O que importa é que ele quase nos expôs aos humanos, se mostrando a eles no sol.
E ela continuou me contando com detalhes o que havia acontecido com o tal vampiro do clã dos Cullen e como a tal humana parecia ser um escudo mental como eu. O clã era interessante demais para ser esquecido: um leitor de mentes e uma vidente. Aro havia ficado intrigado e com razão tinha nos mandado monitorar a distância. Eu só esperava que o tal vampiro apaixonado a transformasse logo, antes que Aro o fizesse e pelos motivos errados.
Capítulo 7
Mais ou menos um ano depois da "visita" dos Cullen, Aro voltou a fiscaliza-los. Parecia estar esperando pelo primeiro deslize para conseguir os troféus que tanto queria colecionar. No entanto, precisava de uma desculpa para isso. De acordo com ele, a humana sabia demais. Precisava ser silenciada. Morta ou transformada em vampira, mas eu sinceramente não via muita diferença dentre as opções.
E, parecia que a sorte estava a favor do meu "mestre", já que alguns vampiros recém-criados estavam ameaçando a grande Seattle, perto demais de Forks, o território dos Cullen. Então, Aro nos ordenou que fossemos checar o que acontecia antes que as coisas saíssem de proporção.
O grupo montado não era exatamente para atacar, mas para amedrontar. A briga física ficando para um segundo plano, apenas se fosse necessária. Então, fui junto de Jane, Alec, Demetri e Felix para os Estados Unidos ver com meus olhos o que se desenrolava. A viagem, como sempre, fora longa e após sair do aeroporto, não foi difícil encontrar o rastro deixado pelos recém-criados. Eles eram como crianças pequenas: nenhuma consciência do que faziam, mimados até o último fio de cabelo. Viviam pela sede. Típico.
– Jane, o que faremos afinal? – eu olhava em falsa expectativa para ela, tocando seu ombro e escutando seus pensamentos de deixar que os recém-criados fizessem o que tinham sido colocados para fazer. Mas, eu precisava manter as aparências e lidar como se não soubesse de nada.
– Os exterminamos ou deixamos que cumpram o seu propósito? Decisões, decisões, decisões. – ela tinha o olhar vago, mirando o grupo de vampiros que destruía uma rua pouco movimentada, enquanto olhávamos de cima de um prédio.
– Você quer segui-los de perto, irmã? – Alec perguntou e o silêncio de Jane foi tudo o que precisamos para entender. Recolocamos os capuzes nas cabeças e apenas os observamos, dando-lhes a dianteira.
Eles pareciam estar seguindo um líder, indo na direção de Forks, apenas a pouco mais de três horas dali. Deixamos que fossem e Jane esperava realmente que os Cullen fossem dizimados no processo, nos poupando trabalho e restando apenas acender a fogueira e juntar os pedaços.
Passadas algumas horas, Alec decidiu que já era tempo de partir atrás deles, antes que os vampiros mortos começassem a chamar atenção dos humanos. Demetri e Felix vibravam em excitação, somente pela possibilidade de uma luta ali. Seguimos os rastros dos recém-criados e acabamos chegando em uma clareira, no oeste de Forks.
O cenário que nos foi apresentado era completamente diferente do esperado e, tive que disfarçar minha surpresa enquanto retirava o capuz de minha cabeça, revelando meu rosto. Oito vampiros perfeitamente intactos, mesmo que uma delas estivesse sendo segurada com um pouco mais de força e uma humana. A tal humana de cheiro delicioso. Aqueles, finalmente, eram os Cullen.
– Bem-vinda, Jane. – o tom do vampiro era friamente cortês.
– Edward. – Jane retribuiu o cumprimento e eu me acendi a este nome, não perdendo a divertida cena de Felix piscando para a humana que parecia prestes a vomitar. Eu teria rido se a situação permitisse.
O olhar de Jane passou lentamente pelos presentes e cravou na vampira mais nova, que antes era segurada e que agora estava sentada no chão, com a cabeça entre as mãos.
– Ela se rendeu. – Edward disse, explicando a confusão no rosto de Jane, me fazendo prestar ainda mais atenção em suas feições. Eu sentia o olhar da humana agora cravado em mim, enquanto eu observava o que seria seu parceiro.
– Rendeu-se? – a voz dela subiu algumas oitavas, mas continuava mortal como sempre. Não era exatamente desta forma que trabalhávamos.
– Carlisle lhe deu esta opção. – ele deu de ombros e eu vi pelo rabo de olho Demetri e Felix trocarem um olhar.
– Não há opções para os que quebram as regras. – eu tomei a frente e senti Jane ficar mais tranquila ao meu lado, quando toquei discretamente sua mão, lhe segurando. Ela começava a se irritar.
– Está em nossas mãos. Como a menina se dispôs a parar de nos atacar, não vi necessidade de destruí-la. Ninguém lhe ensinou nada. – o vampiro loiro, que parecia o líder do clã tomou a palavra e eu supus ser Carlisle.
Vi quando Edward fixou seu olhar nos meus e uma onda de confusão passou por seus olhos, fazendo com que ele desse um pequeno passo para frente, sendo segurado por um vampiro musculoso. As lembranças começaram a inundar minha mente, eu não ouvia nada mais ao meu redor e só tinha espaço para ele. Se eu bem sabia, naquele momento uma onda de frustração estava passando por sua cabeça por não conseguir ler a minha mente. Mas não era preciso ler meus pensamentos para saber o quão atordoada eu estava. Alec sentiu. Entrelaçou as mãos nas minhas, como se pudesse ter alguma noção do turbilhão de emoções que se passavam dentro de mim. Minha atenção só se voltou a conversa quando ouvi a voz chocada de Jane perguntar se de fato todos estavam mortos e quem tinha sido o criador.
Eles continuavam falando e agora eu realmente prestava atenção. Dezoito recém-criados mais sua criadora. Realmente chocante. Achei melhor me pronunciar antes que ficasse muito claro o meu estado de plena euforia por ter encontrado meu irmão ou, pelo menos alguém extremamente parecido com ele. Um descendente que não teve uma boa sorte, pelo visto.
– Essa Victoria ... eram ela e mais os dezoito daqui? – perguntei com a voz impassível e Edward novamente cravou os olhos em mim, esperando encontrar algo mais.
– Sim. Tinha um deles com ela. Ele não era tão jovem quanto esta aqui, mas não devia passar de um ano mais velho.
– Vinte – sussurrou Jane e nos olhamos rapidamente – Quem lidou com a criadora?
– Eu – disse-lhe Edward, tomando um passo à frente.
Mas eu sabia que não havia acabado. A vampira recém-criada ainda estava viva perto dos Cullen. Jane não iria embora sem nenhuma diversão. Demetri e Felix muito menos.
– Você aí – ela disse se dirigindo a tal vampira jovem – Seu nome.
A recém-criada lançou um olhar muito malcriado a Jane que, certamente não seria perdoado. Em poucos segundo, a menina já se retorcia de dor e seus gritos poderiam ser ouvidos ao longe. O grito se intensificava e eu vi humana se encolher de medo do que poderia lhe acontecer.
– Seu nome – Jane repetiu entre os dentes, enquanto eu tocava seu ombro, já sabendo o que deveria fazer.
– Bree – a menina disse ofegando.
A menina gritou mais uma vez, ainda em agonia pelo que Jane fazia em sua mente. Edward resolveu tomar a frente e defender a menina, dizendo que ela lhe contaria o que quisesse. Jane, então, olhou para mim e eu assenti, sabendo que todos os olhares estavam em cima de mim agora.
Saí da formação ao lado dos outros e fui andando despreocupadamente para o meio da clareira, vendo os Cullen assumirem posturas defensivas e colocarem a tal humana o mais distante possível. Como se aquilo fosse um mero empecilho, ri internamente. No entanto, meu foco não era a humana, mas a vampira deitada no chão, segurando a cabeça entre as mãos, temendo que eu fosse lhe causar mais dor do que a que acabara de sofrer.
Me abaixei ao seu lado e lhe fiz uma pequena carícia no rosto, arrumando seu cabelo e olhando em seus olhos. Bree estremeceu com meu toque, mas era tudo por Jane. Ela que gostava deste teatrinho antes de matarmos alguém, a loira era puro deleite às minhas costas, eu tinha certeza. Mas, vez ou outra, poupávamos alguém se a pessoa possuísse algo que queríamos, então, ela também estava apreensiva.
– Bree, então, que nome bonito o seu. – disse lhe ajudando a se sentar corretamente – Meu nome é , sinto muito que tenhamos nos conhecido nestas circunstâncias. – completei com pesar e ouvi Edward ofegar baixinho, enquanto todos nos olhavam.
– Por favor, por favor. Não me machuque – ela suplicava, segurando minhas mãos e eu sabia que se pudesse, seu rosto estaria banhado em lágrimas.
– Tudo a seu tempo, querida. – sorri para ela que assentiu – Por que não nos conta mais sobre sua criadora, Bree?
E a menina desandou a falar, gaguejando tudo o que não nos importava saber. Sobre não saber o nome da mulher, sobre não poder saber muito sobre nada do que aconteceria por medo do leitor de mentes e da vidente. Nada realmente interessante, mas Jane precisava de um veredicto.
– Entendo, entendo. – olhei para Jane que entendeu na hora e me levantei – Realmente sinto muito, querida. – fui andando calmamente de volta ao lado de Alec – Felix? – disse com a voz arrastada.
– Espere – interveio Edward e eu estanquei no lugar, ainda de costas para ele – Podemos explicar as regras à Bree. Ela pode aprender, já que não sabe o que está fazendo. – ele disse com a voz urgente, o que me fez virar e encontrar seus olhos cor de âmbar suplicantes.
– É claro. – Carlisle disse – Estamos preparados para assumir a responsabilidade por Bree.
– Por favor, – Edward tentou uma vez mais – !
Ele sabia quem eu era. Claro que todos ali sabiam depois que eu havia me apresentado a recém-criada, mas o olhar que Edward me dirigia era forte demais para que eu não soubesse exatamente o que acontecia. Como era possível que ele houvesse sobrevivido a gripe em 1918, eu não sabia. Talvez tivesse realmente ido embora, talvez tivesse sido transformado antes.
– Não abrimos exceções – disse Jane, provavelmente sentindo minha hesitação – E não damos uma segunda chance. – minhas pernas pareciam ter criado vida própria e decidido ficar presas ao chão. Mas eu precisava me mover, então cortei o olhar com Edward, olhando para baixo e me firmando ao lado de Alec, segurando sua mão com força, como se minha vida dependesse disso. Ele percebeu, mas se manteve em silêncio – É ruim para a nossa reputação. O que me lembra ... – e seus olhos pousaram na humana – Caius ficará tão interessado em saber que ainda é humana, Bella. Talvez ele decida fazer uma visita.
– A data está marcada – disse uma vampira baixinha, que eu supus ser a vidente, falando pela primeira vez, ao que Jane deu de ombros e se dirigiu ao líder do clã.
– Foi um prazer encontrá-lo, Carlisle ... Pensei que Aro estivesse exagerando. Bem, até a próxima vez... – o homem apenas assentiu e Jane completou – Cuide disso, Felix. Queremos ir para casa.
Felix disparou de nosso lado, indo na direção de Bree e despedaçando seu corpo como uma criança pequena faz com um brinquedo novo. Vi Edward dizer algo para a humana, a tal Bella, e depois olhar para mim durante todo o processo de forma decepcionada. Nunca tinha visto aquele olhar durante minha vida humana, não esperava recebe-lo depois de morta.
E, parecia que a sorte estava a favor do meu "mestre", já que alguns vampiros recém-criados estavam ameaçando a grande Seattle, perto demais de Forks, o território dos Cullen. Então, Aro nos ordenou que fossemos checar o que acontecia antes que as coisas saíssem de proporção.
O grupo montado não era exatamente para atacar, mas para amedrontar. A briga física ficando para um segundo plano, apenas se fosse necessária. Então, fui junto de Jane, Alec, Demetri e Felix para os Estados Unidos ver com meus olhos o que se desenrolava. A viagem, como sempre, fora longa e após sair do aeroporto, não foi difícil encontrar o rastro deixado pelos recém-criados. Eles eram como crianças pequenas: nenhuma consciência do que faziam, mimados até o último fio de cabelo. Viviam pela sede. Típico.
– Jane, o que faremos afinal? – eu olhava em falsa expectativa para ela, tocando seu ombro e escutando seus pensamentos de deixar que os recém-criados fizessem o que tinham sido colocados para fazer. Mas, eu precisava manter as aparências e lidar como se não soubesse de nada.
– Os exterminamos ou deixamos que cumpram o seu propósito? Decisões, decisões, decisões. – ela tinha o olhar vago, mirando o grupo de vampiros que destruía uma rua pouco movimentada, enquanto olhávamos de cima de um prédio.
– Você quer segui-los de perto, irmã? – Alec perguntou e o silêncio de Jane foi tudo o que precisamos para entender. Recolocamos os capuzes nas cabeças e apenas os observamos, dando-lhes a dianteira.
Eles pareciam estar seguindo um líder, indo na direção de Forks, apenas a pouco mais de três horas dali. Deixamos que fossem e Jane esperava realmente que os Cullen fossem dizimados no processo, nos poupando trabalho e restando apenas acender a fogueira e juntar os pedaços.
Passadas algumas horas, Alec decidiu que já era tempo de partir atrás deles, antes que os vampiros mortos começassem a chamar atenção dos humanos. Demetri e Felix vibravam em excitação, somente pela possibilidade de uma luta ali. Seguimos os rastros dos recém-criados e acabamos chegando em uma clareira, no oeste de Forks.
O cenário que nos foi apresentado era completamente diferente do esperado e, tive que disfarçar minha surpresa enquanto retirava o capuz de minha cabeça, revelando meu rosto. Oito vampiros perfeitamente intactos, mesmo que uma delas estivesse sendo segurada com um pouco mais de força e uma humana. A tal humana de cheiro delicioso. Aqueles, finalmente, eram os Cullen.
– Bem-vinda, Jane. – o tom do vampiro era friamente cortês.
– Edward. – Jane retribuiu o cumprimento e eu me acendi a este nome, não perdendo a divertida cena de Felix piscando para a humana que parecia prestes a vomitar. Eu teria rido se a situação permitisse.
O olhar de Jane passou lentamente pelos presentes e cravou na vampira mais nova, que antes era segurada e que agora estava sentada no chão, com a cabeça entre as mãos.
– Ela se rendeu. – Edward disse, explicando a confusão no rosto de Jane, me fazendo prestar ainda mais atenção em suas feições. Eu sentia o olhar da humana agora cravado em mim, enquanto eu observava o que seria seu parceiro.
– Rendeu-se? – a voz dela subiu algumas oitavas, mas continuava mortal como sempre. Não era exatamente desta forma que trabalhávamos.
– Carlisle lhe deu esta opção. – ele deu de ombros e eu vi pelo rabo de olho Demetri e Felix trocarem um olhar.
– Não há opções para os que quebram as regras. – eu tomei a frente e senti Jane ficar mais tranquila ao meu lado, quando toquei discretamente sua mão, lhe segurando. Ela começava a se irritar.
– Está em nossas mãos. Como a menina se dispôs a parar de nos atacar, não vi necessidade de destruí-la. Ninguém lhe ensinou nada. – o vampiro loiro, que parecia o líder do clã tomou a palavra e eu supus ser Carlisle.
Vi quando Edward fixou seu olhar nos meus e uma onda de confusão passou por seus olhos, fazendo com que ele desse um pequeno passo para frente, sendo segurado por um vampiro musculoso. As lembranças começaram a inundar minha mente, eu não ouvia nada mais ao meu redor e só tinha espaço para ele. Se eu bem sabia, naquele momento uma onda de frustração estava passando por sua cabeça por não conseguir ler a minha mente. Mas não era preciso ler meus pensamentos para saber o quão atordoada eu estava. Alec sentiu. Entrelaçou as mãos nas minhas, como se pudesse ter alguma noção do turbilhão de emoções que se passavam dentro de mim. Minha atenção só se voltou a conversa quando ouvi a voz chocada de Jane perguntar se de fato todos estavam mortos e quem tinha sido o criador.
Eles continuavam falando e agora eu realmente prestava atenção. Dezoito recém-criados mais sua criadora. Realmente chocante. Achei melhor me pronunciar antes que ficasse muito claro o meu estado de plena euforia por ter encontrado meu irmão ou, pelo menos alguém extremamente parecido com ele. Um descendente que não teve uma boa sorte, pelo visto.
– Essa Victoria ... eram ela e mais os dezoito daqui? – perguntei com a voz impassível e Edward novamente cravou os olhos em mim, esperando encontrar algo mais.
– Sim. Tinha um deles com ela. Ele não era tão jovem quanto esta aqui, mas não devia passar de um ano mais velho.
– Vinte – sussurrou Jane e nos olhamos rapidamente – Quem lidou com a criadora?
– Eu – disse-lhe Edward, tomando um passo à frente.
Mas eu sabia que não havia acabado. A vampira recém-criada ainda estava viva perto dos Cullen. Jane não iria embora sem nenhuma diversão. Demetri e Felix muito menos.
– Você aí – ela disse se dirigindo a tal vampira jovem – Seu nome.
A recém-criada lançou um olhar muito malcriado a Jane que, certamente não seria perdoado. Em poucos segundo, a menina já se retorcia de dor e seus gritos poderiam ser ouvidos ao longe. O grito se intensificava e eu vi humana se encolher de medo do que poderia lhe acontecer.
– Seu nome – Jane repetiu entre os dentes, enquanto eu tocava seu ombro, já sabendo o que deveria fazer.
– Bree – a menina disse ofegando.
A menina gritou mais uma vez, ainda em agonia pelo que Jane fazia em sua mente. Edward resolveu tomar a frente e defender a menina, dizendo que ela lhe contaria o que quisesse. Jane, então, olhou para mim e eu assenti, sabendo que todos os olhares estavam em cima de mim agora.
Saí da formação ao lado dos outros e fui andando despreocupadamente para o meio da clareira, vendo os Cullen assumirem posturas defensivas e colocarem a tal humana o mais distante possível. Como se aquilo fosse um mero empecilho, ri internamente. No entanto, meu foco não era a humana, mas a vampira deitada no chão, segurando a cabeça entre as mãos, temendo que eu fosse lhe causar mais dor do que a que acabara de sofrer.
Me abaixei ao seu lado e lhe fiz uma pequena carícia no rosto, arrumando seu cabelo e olhando em seus olhos. Bree estremeceu com meu toque, mas era tudo por Jane. Ela que gostava deste teatrinho antes de matarmos alguém, a loira era puro deleite às minhas costas, eu tinha certeza. Mas, vez ou outra, poupávamos alguém se a pessoa possuísse algo que queríamos, então, ela também estava apreensiva.
– Bree, então, que nome bonito o seu. – disse lhe ajudando a se sentar corretamente – Meu nome é , sinto muito que tenhamos nos conhecido nestas circunstâncias. – completei com pesar e ouvi Edward ofegar baixinho, enquanto todos nos olhavam.
– Por favor, por favor. Não me machuque – ela suplicava, segurando minhas mãos e eu sabia que se pudesse, seu rosto estaria banhado em lágrimas.
– Tudo a seu tempo, querida. – sorri para ela que assentiu – Por que não nos conta mais sobre sua criadora, Bree?
E a menina desandou a falar, gaguejando tudo o que não nos importava saber. Sobre não saber o nome da mulher, sobre não poder saber muito sobre nada do que aconteceria por medo do leitor de mentes e da vidente. Nada realmente interessante, mas Jane precisava de um veredicto.
– Entendo, entendo. – olhei para Jane que entendeu na hora e me levantei – Realmente sinto muito, querida. – fui andando calmamente de volta ao lado de Alec – Felix? – disse com a voz arrastada.
– Espere – interveio Edward e eu estanquei no lugar, ainda de costas para ele – Podemos explicar as regras à Bree. Ela pode aprender, já que não sabe o que está fazendo. – ele disse com a voz urgente, o que me fez virar e encontrar seus olhos cor de âmbar suplicantes.
– É claro. – Carlisle disse – Estamos preparados para assumir a responsabilidade por Bree.
– Por favor, – Edward tentou uma vez mais – !
Ele sabia quem eu era. Claro que todos ali sabiam depois que eu havia me apresentado a recém-criada, mas o olhar que Edward me dirigia era forte demais para que eu não soubesse exatamente o que acontecia. Como era possível que ele houvesse sobrevivido a gripe em 1918, eu não sabia. Talvez tivesse realmente ido embora, talvez tivesse sido transformado antes.
– Não abrimos exceções – disse Jane, provavelmente sentindo minha hesitação – E não damos uma segunda chance. – minhas pernas pareciam ter criado vida própria e decidido ficar presas ao chão. Mas eu precisava me mover, então cortei o olhar com Edward, olhando para baixo e me firmando ao lado de Alec, segurando sua mão com força, como se minha vida dependesse disso. Ele percebeu, mas se manteve em silêncio – É ruim para a nossa reputação. O que me lembra ... – e seus olhos pousaram na humana – Caius ficará tão interessado em saber que ainda é humana, Bella. Talvez ele decida fazer uma visita.
– A data está marcada – disse uma vampira baixinha, que eu supus ser a vidente, falando pela primeira vez, ao que Jane deu de ombros e se dirigiu ao líder do clã.
– Foi um prazer encontrá-lo, Carlisle ... Pensei que Aro estivesse exagerando. Bem, até a próxima vez... – o homem apenas assentiu e Jane completou – Cuide disso, Felix. Queremos ir para casa.
Felix disparou de nosso lado, indo na direção de Bree e despedaçando seu corpo como uma criança pequena faz com um brinquedo novo. Vi Edward dizer algo para a humana, a tal Bella, e depois olhar para mim durante todo o processo de forma decepcionada. Nunca tinha visto aquele olhar durante minha vida humana, não esperava recebe-lo depois de morta.
Capítulo 8
Saímos dali assim que Felix terminou com Bree. Alec teve que puxar delicadamente minha mão para que eu lhe seguisse, já que demorei alguns segundos para entender que nossa presença ali não era mais necessária.
Nos distanciamos, retornando para a chuvosa Seattle, mesmo com muitas horas ainda para nosso voo de volta à Itália. Demetri e Felix resolveram se alimentar enquanto Alec e Jane preferiram ficar comigo, me olhando inquisidores sobre o que tinha acontecido na clareira.
– Provavelmente foi o nome que me deixou assim – dei de ombros, enquanto nos sentávamos em um café dali para manter as aparências – Eu não ouvia o nome de meu irmão há quase um século, vocês sabem.
– , querida, eu achei que você fosse realmente interceder por aquela menina, de tanto que você hesitou – Alec disse e Jane concordou, ele voltava com três cafés que não seriam tomados – Em todo esse tempo que te conheço, nunca te vi tão paralisada quanto dessa vez. – ele segurou minha mão e me olhou com pesar.
– Eu sei, não foi minha intenção preocupar você, meu bem – acariciei o rosto de Alec e lhe dediquei um sorriso fraco – Só não estava esperando uma enxurrada de lembranças sobre meu irmão – deixei minhas costas descansarem no encosto da cadeira – Eu nunca soube como ele morreu.
– Você sabe que podemos procurar por certidões de óbito, minha amiga. – Jane sugeriu.
– Eu sei, mas eu não sei se posso lidar com isso agora. – comecei me levantando – Preciso realmente ficar sozinha, vocês poderiam me deixar por algumas horas?
– Tem certeza? – a voz de Alec era urgente, seus olhos parecendo querer me seguir para onde eu fosse.
– Por favor! – pedi novamente e os vi assentir.
– Nosso voo irá sair às vinte horas, não se atrase ou iremos atrás de você. – Jane disse sorrindo, mas eu sabia que a ameaça era séria.
Saí do café sentindo os olhares dos dois queimarem em minhas costas, mas não me atrevi a olhar para trás. Continuei caminhando na velocidade humana, tomando o caminho que eu sabia dar em uma estrada, cercada por mato ao seu redor. Só ali me permiti correr com toda a minha força. Não poderia voltar a Forks, ficaria muito nítido o quanto tinha sido afetada pela presença de Edward e bem, lá seria o primeiro lugar onde Jane e Alec me procurariam. Se Aro soubesse, eu poderia ser desmembrada no momento em que pisasse em Volterra.
Decidi, então, me dirigir a Newport. Eu realmente precisava pensar e, mesmo que torcesse para que Edward viesse atrás de mim, não achava ter tanta sorte. Foram apenas doze quilômetros, mas eu sentia o ar mais leve, mesmo que o dia ainda estivesse chuvoso e minha capa estivesse bem estragada pela água. Pelo menos a roupa interna se mantinha intacta, o que era de mais importância.
Eu não sei em que momento cheguei ao centro da cidade, mas resolvi me abrigar da chuva em um restaurante australiano que tinha por ali. Não estava cheio, possuía mesas do lado de fora cobertas por uma marquise, eu achei o lugar mais propício para meditar por algumas horas. Pedi a sorridente garçonete uma caneca de cerveja em um tom baixo e ela nem se importou em pedir minha identidade, como muitos teriam feito. Eu olhava para o cardápio, já que estava sem lentes de contato e não poderia expor meus olhos vermelhos a uma humana, mas o tom deve ter sido o suficiente para amedrontá-la, já que a cerveja estava a minha frente minutos depois.
Fiquei olhando para a caneca, gotículas de água escorriam por ela, demonstrando sua baixa temperatura. Foram alguns minutos assim, e, então, senti seu cheiro e sua aproximação. No entanto, não conseguia olhar para cima e encontrar seus olhos. Senti quando ele se sentou em minha frente e soltou um longo suspiro, como se estivesse tomando coragem para falar.
– – ele começou, mas não parecia certo – Evie – ele tentou novamente e eu finalmente olhei em seus olhos. Emoções demais para aquele momento, eu sentia que estava entrando em um caminho sem volta – Como isso aconteceu? – sua voz parecia engasgada.
– Na noite em que fugi, fui transformada. – não consegui entrar em detalhes – Você?
– Gripe espanhola – ele deu de ombros – Carlisle me encontrou no hospital com mamãe e papai e me salvou. – Edward viu como me mexi desconfortável na cadeira a simples menção dos dois. – Era tarde demais para eles, mas não para mim.
– Eu vi – meu irmão me olhou confuso – Mamãe e papai, quero dizer. Eu os enterrei no quintal de casa. – expliquei.
– Você esteve lá? Quando?
– Eu não sei se foi na mesma noite em que Carlisle lhe mordeu, mas eu estive lá procurando por vocês, – dei de ombros, respirando fundo – mas só achei os dois e os levei para casa, enterrando-os no quintal, com algumas flores – as lembranças daquela lápide inundavam minha mente e eu só desejava poder chorar devidamente pela morte de nossos pais.
– Alguns anos depois eu vi a lápide, – ele assumiu – mas sempre achei que havia sido a tia Carole.
– Ela morreu bem? Você sabe? – perguntei apenas para continuar um assunto.
– Aos 87 anos, dormindo ao lado do marido. Teve uma boa vida pelo que consegui acompanhar de longe. – e eu assenti, me sentindo estranhamente feliz com aquela revelação. Pelo menos alguém em minha vida tinha tido uma longa vida humana e normal.
Edward voltou a se manter calado, apenas olhando para o cardápio que jazia na mesa. Eu sentia que precisava me desculpar, mas não sabia exatamente como começar a série de desculpas. Reunindo uma coragem impensada, toquei sua mão levemente e, neste momento, senti algo arrumando espaço dentro de mim. Leitor de mentes, como poderia esquecer. Eu absorvera seu dom que possuía um alcance maior que o de Aro, já que não precisava do toque para acontecer. Antes que eu pudesse voltar a ter o controle de minha própria mente, eu já estava sendo sugada para os pensamentos dentro de sua cabeça, que se contradiziam sobre perguntar ou não sobre como eu tinha acabado com os Volturi e, por que eu me tornara a pessoa fria que vira na clareira e que revivia em suas memórias.
Apertei fracamente sua mão e seus olhos voltaram a me encarar. Âmbar no vermelho novamente. Tentei ensaiar um sorriso para dar, mas deve ter saído algo como uma careta. Ele não pareceu se importar e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.
– Pergunte – lhe disse simplesmente.
– Por que com os Volturi, Evie? O que aconteceu com você? – ele parecia desapontado, mas não havia soltado minha mão.
– Sinto que não foi bem uma escolha, foi mais o destino. – soltei uma risadinha sem humor – Eu estava sem rumo naquela época, Aro estava satisfeito em ter encontrado um novo diamante bruto para lapidar – dei de ombros.
– Você é um escudo. – ele afirmou – Não consigo ler sua mente agora. – eu assenti e ele olhou inquisidor – Você já sabia que eu poderia ler a sua mente. Por que não parece surpresa?
– Eu já sabia de suas habilidades, mas não sabia que era você exatamente. – disse simplesmente. Seria muito arriscado contar a verdade neste exato momento, enquanto eu ainda tinha muito a trabalhar.
– Existe mais coisa que você pode fazer? – Edward estava curioso e me olhava como se soubesse que eu estava escondendo algo.
– Talvez. – ele olhou questionando – Mas não é algo que eu possa partilhar agora. – disse e ele pareceu entender, porque assentiu e suspirou fechando os olhos por um momento.
– Aro não sabe?
– Não.
– Certo! Não vou perguntar mais sobre. – ele disse resignado – Você vai voltar para eles?
– Preciso e você sabe tão bem disso quanto eu – suspirei – principalmente se quiser manter sua humana a salvo. – completei sem evitar o desprezo e vi seu rosto se contorcer em dor por um segundo antes de se recompor.
– Bella – ele corrigiu.
– Eu sei, só não consigo pensar em um jeito bom de dizer isso. – dei de ombros.
– Talvez eu possa dizer o mesmo sobre suas atitudes – Edward me olhou sarcástico.
– Você não sabe da missa a metade, irmãozinho.
Nós sorrimos um para o outro e eu soube que, de alguma forma, eu estava em casa. Mesmo com todos os julgamentos que pudessem estar passando por sua cabeça, que eu fazia questão de não ouvir.
– Eu preciso voltar para pegar o avião de volta à Itália – liberei nossas mãos e fui me levantando, deixando alguns dólares para pagar a cerveja que seguia intocada na mesa e saindo do bar, com Edward em meu encalço. Ele me acompanhava de perto e em silêncio até chegarmos na estrada que dava para a entrada de uma floresta, onde eu poderia correr tranquilamente até Seattle.
– Você vai voltar algum dia? – ele perguntou segurando meu braço e me olhando com certa urgência.
– Não sei se posso prometer isso, mas vou fazer meu melhor para tentar. – lhe dei um sorriso e ele me pegou desprevenida, me puxando para um abraço.
– Não ouse fugir de mim uma segunda vez, Evie. – ele sussurrou em meu ouvido e logo depois me soltou, saindo em disparada para seguir seu caminho, sem olhar para trás. Eu fiquei desnorteada por um segundo e repassei repetidas vezes a conversa que tivemos enquanto corria de volta a Seattle, encontrando uma Jane com os olhos aflitos me esperando. Disse apenas que estava bem e ela pareceu entender que eu não queria conversar naquele momento. Foram treze horas de voo silenciosas e bem importantes para mim, me levando a duas grandes revelações:
A vida me dera outra oportunidade com meu irmão e o meu tempo com os Volturi tinha finalmente chegado ao fim.
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Um mês tinha se passado desde que a conversa de Newport tinha acontecido e eu não conseguia tirar Edward da cabeça, em como seus olhos pareciam urgentes quando eu mencionei voltar para a Itália e para os Volturi. Eu ainda era membro da guarda, tinha deveres a cumprir. E, um deles era justamente treinar as novas aquisições de Aro e Caius em combate. Eles se preparavam para um ataque que eu não tinha conhecimento e eu apenas seguia ordens. Mais um peão em um jogo de xadrez maior do que minha própria existência.
Jane e Alec desistiram de perguntar o que acontecera naquele dia para que eu voltasse tão silenciosa. Eu apenas tinha lhes dito que pensara seriamente sobre tudo o que tinha acontecido e, parando em um cyber café tinha procurado o nome de meu irmão, mas sem encontrar nada. Disse que talvez Edward tivesse morrido como um indigente e estava apenas de luto por meu irmão. Eles pareceram aceitar esta ideia e me deixaram com meus pensamentos, sofrendo naquele um mês, quase 90 anos de luto.
Aro em um primeiro momento achou a situação curiosa e me chamou para conversar, mas pareceu convencido da mesma forma. Talvez ele soubesse que não conseguiria tirar a verdade de mim, talvez ele me considerasse útil demais para simplesmente acabar comigo. Eu só sabia que tinha sido deixada vivenciar um luto que não existia, com as funções sendo um pouco mais brandas e os treinamentos terminando mais cedo. Não era questão de cansaço, era questão de tédio. Se eu ficasse mais horas desviando de golpes falhos dos recém criados de Caius, terminaria me irritando e arrancando a cabeça de um por um. O que não seria bom para ninguém.
Meus pés, após o treinamento desta tarde, me levaram até o jardim traseiro do castelo e eu apenas apreciei os últimos raios de sol que invadiam Volterra refletindo em meu corpo, me fazendo brilhar como milhares de diamantes. Ninguém costumava estar para aquele lado do castelo, o que me fazia curtir algumas horas de solidão. No entanto, senti uma aproximação às minhas costas e fiquei tensa por um segundo, antes da brisa me trazer o cheiro conhecido de Alec, me fazendo sorrir e relaxar.
– Está tudo bem, senhorita Masen? – perguntou se sentando ao meu lado e eu pude sentir o tom preocupado por trás da pergunta – Ando sentindo a senhorita um pouco distante.
– Até onde eu sei, estou ótima, senhor Volturi. – respondi tentando soar convincente e recostei a cabeça em seu ombro, tentando escapar de seus olhos.
– Prometemos que sempre falaríamos a verdade, – ele simplesmente disse e soltou um suspiro – Achei que estávamos juntos nessa eternidade.
– E estamos, Alec – lhe disse, segurando seus dedos entre os meus e finalmente tomando coragem para olhar seus olhos – Você e eu contra a eternidade, meu bem – sorri enquanto acariciava seu rosto, ao que ele fechou os olhos por um tempo apreciando o carinho.
– Você e eu contra a eternidade. – ele repetiu e me olhou, parecendo ler meus pensamentos como quem lê um livro. Eu me senti exposta enquanto ele me estudava e se aproximava, seus lábios a milímetros de distância do meu, nossas respirações se misturando – Não importa de que parte do mundo – ele sussurrou antes de colar nossas bocas, trazendo de volta uma corrente de tranquilidade que tinha sido esquecida há algum tempo.
O que antes era apenas um toque casto de lábios, se tornou uma luta deliciosa quando ele pediu passagem para aprofundar mais o contato. Nossas línguas se moviam em uma dança excitante, prazerosa. Minhas mãos ganharam vida, indo diretamente para sua nuca, deixando um rastro de leves arranhões, provocando arrepios em seu corpo.
Não precisávamos de ar, mas ele estava tentado a apreciar outras partes minhas. Seus beijos foram descendo para meu pescoço, fazendo com que eu me arrepiasse até com sua respiração que no momento estava tão acelerada como a minha. Minhas roupas foram tiradas vagarosamente e as dele seguiram o mesmo caminho. Transamos como quem não vê o amanhã chegar. Fizemos amor como dois virgens, descobrindo o corpo do parceiro nos pequenos detalhes. Amamos cada pequena marca que pudéssemos encontrar. Ali, com a lua que acabara de chegar como testemunha, nos amamos novamente, como Alec e . Sem Masen, sem Volturi. Mas, com um sabor de despedida. Eu sabia que estava partindo. Ele parecia saber disso também.
Depois de algum tempo estávamos apenas deitados na grama, a capa dele nos cobrindo mais por pudor do que qualquer outra coisa. Minha cabeça estava recostada em seu peito e não tínhamos trocado nenhuma palavra ainda. Olhávamos para o céu e apenas suspirávamos vez ou outra, sem coragem para entrar no assunto.
– Essa foi a última vez. – ele não perguntou, apenas afirmou resignado por algo que me doía considerar.
– Eu não posso afirmar isso com certeza – disse enquanto me erguia e virava para encará-lo – Eu não sei do futuro, Alec – dei de ombros e comecei a vestir minhas roupas que estavam ao nosso redor.
– Para onde você vai? – ele perguntou e eu sabia que não estava falando apenas sobre aquele momento.
– Sinceramente? – olhei para ele que assentiu enquanto me via abotoar o botão do jeans que eu usava antes – Não tenho a menor ideia, talvez eu só vá finalmente encontrar o que buscava em 1918 quando saí de casa – dei de ombros e reparei que ele se mantinha imóvel, como absorvendo minhas palavras.
– Ainda é a mesma de 1918? – ele soltou uma risada sarcástica e me olhou descrente.
– Se eu fosse não teria a menor graça, querido – lhe dediquei um sorriso que foi correspondido e pisquei em sua direção, ganhando uma gargalhada contida em troca. Gestos como este aqueciam meu inativo coração.
Segui andando alguns metros para longe dele e, meio segundo depois ele segurava meu braço, já vestido com as calças, perguntando com os olhos para onde eu iria naquele exato momento.
– Vou falar com Aro, querido. Preciso começar de algum lugar! – disse reunindo toda coragem que tinha em cada parte do meu corpo.
– Se você sair de lá inteira, senhorita Masen, eu vou adorar conhecê-la melhor! – ele disse, lembrando o que eu tinha lhe dito quando nos conhecemos, deixando um breve beijo em meus lábios e saindo de minha vista com o resto de suas roupas nas mãos.
Nos distanciamos, retornando para a chuvosa Seattle, mesmo com muitas horas ainda para nosso voo de volta à Itália. Demetri e Felix resolveram se alimentar enquanto Alec e Jane preferiram ficar comigo, me olhando inquisidores sobre o que tinha acontecido na clareira.
– Provavelmente foi o nome que me deixou assim – dei de ombros, enquanto nos sentávamos em um café dali para manter as aparências – Eu não ouvia o nome de meu irmão há quase um século, vocês sabem.
– , querida, eu achei que você fosse realmente interceder por aquela menina, de tanto que você hesitou – Alec disse e Jane concordou, ele voltava com três cafés que não seriam tomados – Em todo esse tempo que te conheço, nunca te vi tão paralisada quanto dessa vez. – ele segurou minha mão e me olhou com pesar.
– Eu sei, não foi minha intenção preocupar você, meu bem – acariciei o rosto de Alec e lhe dediquei um sorriso fraco – Só não estava esperando uma enxurrada de lembranças sobre meu irmão – deixei minhas costas descansarem no encosto da cadeira – Eu nunca soube como ele morreu.
– Você sabe que podemos procurar por certidões de óbito, minha amiga. – Jane sugeriu.
– Eu sei, mas eu não sei se posso lidar com isso agora. – comecei me levantando – Preciso realmente ficar sozinha, vocês poderiam me deixar por algumas horas?
– Tem certeza? – a voz de Alec era urgente, seus olhos parecendo querer me seguir para onde eu fosse.
– Por favor! – pedi novamente e os vi assentir.
– Nosso voo irá sair às vinte horas, não se atrase ou iremos atrás de você. – Jane disse sorrindo, mas eu sabia que a ameaça era séria.
Saí do café sentindo os olhares dos dois queimarem em minhas costas, mas não me atrevi a olhar para trás. Continuei caminhando na velocidade humana, tomando o caminho que eu sabia dar em uma estrada, cercada por mato ao seu redor. Só ali me permiti correr com toda a minha força. Não poderia voltar a Forks, ficaria muito nítido o quanto tinha sido afetada pela presença de Edward e bem, lá seria o primeiro lugar onde Jane e Alec me procurariam. Se Aro soubesse, eu poderia ser desmembrada no momento em que pisasse em Volterra.
Decidi, então, me dirigir a Newport. Eu realmente precisava pensar e, mesmo que torcesse para que Edward viesse atrás de mim, não achava ter tanta sorte. Foram apenas doze quilômetros, mas eu sentia o ar mais leve, mesmo que o dia ainda estivesse chuvoso e minha capa estivesse bem estragada pela água. Pelo menos a roupa interna se mantinha intacta, o que era de mais importância.
Eu não sei em que momento cheguei ao centro da cidade, mas resolvi me abrigar da chuva em um restaurante australiano que tinha por ali. Não estava cheio, possuía mesas do lado de fora cobertas por uma marquise, eu achei o lugar mais propício para meditar por algumas horas. Pedi a sorridente garçonete uma caneca de cerveja em um tom baixo e ela nem se importou em pedir minha identidade, como muitos teriam feito. Eu olhava para o cardápio, já que estava sem lentes de contato e não poderia expor meus olhos vermelhos a uma humana, mas o tom deve ter sido o suficiente para amedrontá-la, já que a cerveja estava a minha frente minutos depois.
Fiquei olhando para a caneca, gotículas de água escorriam por ela, demonstrando sua baixa temperatura. Foram alguns minutos assim, e, então, senti seu cheiro e sua aproximação. No entanto, não conseguia olhar para cima e encontrar seus olhos. Senti quando ele se sentou em minha frente e soltou um longo suspiro, como se estivesse tomando coragem para falar.
– – ele começou, mas não parecia certo – Evie – ele tentou novamente e eu finalmente olhei em seus olhos. Emoções demais para aquele momento, eu sentia que estava entrando em um caminho sem volta – Como isso aconteceu? – sua voz parecia engasgada.
– Na noite em que fugi, fui transformada. – não consegui entrar em detalhes – Você?
– Gripe espanhola – ele deu de ombros – Carlisle me encontrou no hospital com mamãe e papai e me salvou. – Edward viu como me mexi desconfortável na cadeira a simples menção dos dois. – Era tarde demais para eles, mas não para mim.
– Eu vi – meu irmão me olhou confuso – Mamãe e papai, quero dizer. Eu os enterrei no quintal de casa. – expliquei.
– Você esteve lá? Quando?
– Eu não sei se foi na mesma noite em que Carlisle lhe mordeu, mas eu estive lá procurando por vocês, – dei de ombros, respirando fundo – mas só achei os dois e os levei para casa, enterrando-os no quintal, com algumas flores – as lembranças daquela lápide inundavam minha mente e eu só desejava poder chorar devidamente pela morte de nossos pais.
– Alguns anos depois eu vi a lápide, – ele assumiu – mas sempre achei que havia sido a tia Carole.
– Ela morreu bem? Você sabe? – perguntei apenas para continuar um assunto.
– Aos 87 anos, dormindo ao lado do marido. Teve uma boa vida pelo que consegui acompanhar de longe. – e eu assenti, me sentindo estranhamente feliz com aquela revelação. Pelo menos alguém em minha vida tinha tido uma longa vida humana e normal.
Edward voltou a se manter calado, apenas olhando para o cardápio que jazia na mesa. Eu sentia que precisava me desculpar, mas não sabia exatamente como começar a série de desculpas. Reunindo uma coragem impensada, toquei sua mão levemente e, neste momento, senti algo arrumando espaço dentro de mim. Leitor de mentes, como poderia esquecer. Eu absorvera seu dom que possuía um alcance maior que o de Aro, já que não precisava do toque para acontecer. Antes que eu pudesse voltar a ter o controle de minha própria mente, eu já estava sendo sugada para os pensamentos dentro de sua cabeça, que se contradiziam sobre perguntar ou não sobre como eu tinha acabado com os Volturi e, por que eu me tornara a pessoa fria que vira na clareira e que revivia em suas memórias.
Apertei fracamente sua mão e seus olhos voltaram a me encarar. Âmbar no vermelho novamente. Tentei ensaiar um sorriso para dar, mas deve ter saído algo como uma careta. Ele não pareceu se importar e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos.
– Pergunte – lhe disse simplesmente.
– Por que com os Volturi, Evie? O que aconteceu com você? – ele parecia desapontado, mas não havia soltado minha mão.
– Sinto que não foi bem uma escolha, foi mais o destino. – soltei uma risadinha sem humor – Eu estava sem rumo naquela época, Aro estava satisfeito em ter encontrado um novo diamante bruto para lapidar – dei de ombros.
– Você é um escudo. – ele afirmou – Não consigo ler sua mente agora. – eu assenti e ele olhou inquisidor – Você já sabia que eu poderia ler a sua mente. Por que não parece surpresa?
– Eu já sabia de suas habilidades, mas não sabia que era você exatamente. – disse simplesmente. Seria muito arriscado contar a verdade neste exato momento, enquanto eu ainda tinha muito a trabalhar.
– Existe mais coisa que você pode fazer? – Edward estava curioso e me olhava como se soubesse que eu estava escondendo algo.
– Talvez. – ele olhou questionando – Mas não é algo que eu possa partilhar agora. – disse e ele pareceu entender, porque assentiu e suspirou fechando os olhos por um momento.
– Aro não sabe?
– Não.
– Certo! Não vou perguntar mais sobre. – ele disse resignado – Você vai voltar para eles?
– Preciso e você sabe tão bem disso quanto eu – suspirei – principalmente se quiser manter sua humana a salvo. – completei sem evitar o desprezo e vi seu rosto se contorcer em dor por um segundo antes de se recompor.
– Bella – ele corrigiu.
– Eu sei, só não consigo pensar em um jeito bom de dizer isso. – dei de ombros.
– Talvez eu possa dizer o mesmo sobre suas atitudes – Edward me olhou sarcástico.
– Você não sabe da missa a metade, irmãozinho.
Nós sorrimos um para o outro e eu soube que, de alguma forma, eu estava em casa. Mesmo com todos os julgamentos que pudessem estar passando por sua cabeça, que eu fazia questão de não ouvir.
– Eu preciso voltar para pegar o avião de volta à Itália – liberei nossas mãos e fui me levantando, deixando alguns dólares para pagar a cerveja que seguia intocada na mesa e saindo do bar, com Edward em meu encalço. Ele me acompanhava de perto e em silêncio até chegarmos na estrada que dava para a entrada de uma floresta, onde eu poderia correr tranquilamente até Seattle.
– Você vai voltar algum dia? – ele perguntou segurando meu braço e me olhando com certa urgência.
– Não sei se posso prometer isso, mas vou fazer meu melhor para tentar. – lhe dei um sorriso e ele me pegou desprevenida, me puxando para um abraço.
– Não ouse fugir de mim uma segunda vez, Evie. – ele sussurrou em meu ouvido e logo depois me soltou, saindo em disparada para seguir seu caminho, sem olhar para trás. Eu fiquei desnorteada por um segundo e repassei repetidas vezes a conversa que tivemos enquanto corria de volta a Seattle, encontrando uma Jane com os olhos aflitos me esperando. Disse apenas que estava bem e ela pareceu entender que eu não queria conversar naquele momento. Foram treze horas de voo silenciosas e bem importantes para mim, me levando a duas grandes revelações:
A vida me dera outra oportunidade com meu irmão e o meu tempo com os Volturi tinha finalmente chegado ao fim.
Um mês tinha se passado desde que a conversa de Newport tinha acontecido e eu não conseguia tirar Edward da cabeça, em como seus olhos pareciam urgentes quando eu mencionei voltar para a Itália e para os Volturi. Eu ainda era membro da guarda, tinha deveres a cumprir. E, um deles era justamente treinar as novas aquisições de Aro e Caius em combate. Eles se preparavam para um ataque que eu não tinha conhecimento e eu apenas seguia ordens. Mais um peão em um jogo de xadrez maior do que minha própria existência.
Jane e Alec desistiram de perguntar o que acontecera naquele dia para que eu voltasse tão silenciosa. Eu apenas tinha lhes dito que pensara seriamente sobre tudo o que tinha acontecido e, parando em um cyber café tinha procurado o nome de meu irmão, mas sem encontrar nada. Disse que talvez Edward tivesse morrido como um indigente e estava apenas de luto por meu irmão. Eles pareceram aceitar esta ideia e me deixaram com meus pensamentos, sofrendo naquele um mês, quase 90 anos de luto.
Aro em um primeiro momento achou a situação curiosa e me chamou para conversar, mas pareceu convencido da mesma forma. Talvez ele soubesse que não conseguiria tirar a verdade de mim, talvez ele me considerasse útil demais para simplesmente acabar comigo. Eu só sabia que tinha sido deixada vivenciar um luto que não existia, com as funções sendo um pouco mais brandas e os treinamentos terminando mais cedo. Não era questão de cansaço, era questão de tédio. Se eu ficasse mais horas desviando de golpes falhos dos recém criados de Caius, terminaria me irritando e arrancando a cabeça de um por um. O que não seria bom para ninguém.
Meus pés, após o treinamento desta tarde, me levaram até o jardim traseiro do castelo e eu apenas apreciei os últimos raios de sol que invadiam Volterra refletindo em meu corpo, me fazendo brilhar como milhares de diamantes. Ninguém costumava estar para aquele lado do castelo, o que me fazia curtir algumas horas de solidão. No entanto, senti uma aproximação às minhas costas e fiquei tensa por um segundo, antes da brisa me trazer o cheiro conhecido de Alec, me fazendo sorrir e relaxar.
– Está tudo bem, senhorita Masen? – perguntou se sentando ao meu lado e eu pude sentir o tom preocupado por trás da pergunta – Ando sentindo a senhorita um pouco distante.
– Até onde eu sei, estou ótima, senhor Volturi. – respondi tentando soar convincente e recostei a cabeça em seu ombro, tentando escapar de seus olhos.
– Prometemos que sempre falaríamos a verdade, – ele simplesmente disse e soltou um suspiro – Achei que estávamos juntos nessa eternidade.
– E estamos, Alec – lhe disse, segurando seus dedos entre os meus e finalmente tomando coragem para olhar seus olhos – Você e eu contra a eternidade, meu bem – sorri enquanto acariciava seu rosto, ao que ele fechou os olhos por um tempo apreciando o carinho.
– Você e eu contra a eternidade. – ele repetiu e me olhou, parecendo ler meus pensamentos como quem lê um livro. Eu me senti exposta enquanto ele me estudava e se aproximava, seus lábios a milímetros de distância do meu, nossas respirações se misturando – Não importa de que parte do mundo – ele sussurrou antes de colar nossas bocas, trazendo de volta uma corrente de tranquilidade que tinha sido esquecida há algum tempo.
O que antes era apenas um toque casto de lábios, se tornou uma luta deliciosa quando ele pediu passagem para aprofundar mais o contato. Nossas línguas se moviam em uma dança excitante, prazerosa. Minhas mãos ganharam vida, indo diretamente para sua nuca, deixando um rastro de leves arranhões, provocando arrepios em seu corpo.
Não precisávamos de ar, mas ele estava tentado a apreciar outras partes minhas. Seus beijos foram descendo para meu pescoço, fazendo com que eu me arrepiasse até com sua respiração que no momento estava tão acelerada como a minha. Minhas roupas foram tiradas vagarosamente e as dele seguiram o mesmo caminho. Transamos como quem não vê o amanhã chegar. Fizemos amor como dois virgens, descobrindo o corpo do parceiro nos pequenos detalhes. Amamos cada pequena marca que pudéssemos encontrar. Ali, com a lua que acabara de chegar como testemunha, nos amamos novamente, como Alec e . Sem Masen, sem Volturi. Mas, com um sabor de despedida. Eu sabia que estava partindo. Ele parecia saber disso também.
Depois de algum tempo estávamos apenas deitados na grama, a capa dele nos cobrindo mais por pudor do que qualquer outra coisa. Minha cabeça estava recostada em seu peito e não tínhamos trocado nenhuma palavra ainda. Olhávamos para o céu e apenas suspirávamos vez ou outra, sem coragem para entrar no assunto.
– Essa foi a última vez. – ele não perguntou, apenas afirmou resignado por algo que me doía considerar.
– Eu não posso afirmar isso com certeza – disse enquanto me erguia e virava para encará-lo – Eu não sei do futuro, Alec – dei de ombros e comecei a vestir minhas roupas que estavam ao nosso redor.
– Para onde você vai? – ele perguntou e eu sabia que não estava falando apenas sobre aquele momento.
– Sinceramente? – olhei para ele que assentiu enquanto me via abotoar o botão do jeans que eu usava antes – Não tenho a menor ideia, talvez eu só vá finalmente encontrar o que buscava em 1918 quando saí de casa – dei de ombros e reparei que ele se mantinha imóvel, como absorvendo minhas palavras.
– Ainda é a mesma de 1918? – ele soltou uma risada sarcástica e me olhou descrente.
– Se eu fosse não teria a menor graça, querido – lhe dediquei um sorriso que foi correspondido e pisquei em sua direção, ganhando uma gargalhada contida em troca. Gestos como este aqueciam meu inativo coração.
Segui andando alguns metros para longe dele e, meio segundo depois ele segurava meu braço, já vestido com as calças, perguntando com os olhos para onde eu iria naquele exato momento.
– Vou falar com Aro, querido. Preciso começar de algum lugar! – disse reunindo toda coragem que tinha em cada parte do meu corpo.
– Se você sair de lá inteira, senhorita Masen, eu vou adorar conhecê-la melhor! – ele disse, lembrando o que eu tinha lhe dito quando nos conhecemos, deixando um breve beijo em meus lábios e saindo de minha vista com o resto de suas roupas nas mãos.
Capítulo 9
Esperei pelo menos mais uma semana para reunir todos os meus pertences e para tomar coragem e falar com Aro sobre minha saída. Todas as vezes que Alec ou Jane me olhavam, pareciam estar questionando o que estava acontecendo para tal demora. Mas, deveria fazer as coisas ao meu tempo.
Naquela manhã, peguei minha capa preta e caminhei até o grande salão do castelo. As palavras de Jane ditas no dia anterior, retumbando em minha mente. “Você precisa ser dona do seu destino, ”. Hesitei alguns segundos antes de abrir as portas, mesmo sabendo que sabiam de minha aproximação. Todos estavam à minha espera. Aro, Caius e Marcus se encontravam devidamente sentados em seus tronos. Renata, Felix e Demetri parados em um canto, olhando a tudo sem se pronunciar. Alec e Jane perto dos degraus, me fitando com uma expressão disfarçadamente temerosa.
Tirei o manto de minha cabeça, fazendo uma leve reverência e mirei Aro que me encarava com um olhar curioso. Ele levantou-se e caminhou em minha direção. Começou a circular, estudando-me.
– Soube que gostaria de falar comigo, adorada . – ele disse com uma falsa doçura. Depois de anos passados servindo Aro, sabia exatamente quando ele mentia.
– Sim, meu senhor. Gostaria de lhe fazer um pedido. – afirmei baixando os olhos. Incomodava-me o olhar de cobiça que Aro me mandava desde que entrei para sua guarda, conjuntamente com o de frustração por não conseguir ler meus pensamentos.
– Pois então o faça, minha cara. – ele me encarava curioso.
– Quero sair da guarda Volturi, senhor. – vi que ele, assim com todos naquela sala tinham prendido a respiração, mesmo sem precisar dela. – Sou eternamente grata pelo que fizeram por mim, mas preciso encontrar meu lugar no mundo, senhor Volturi. – novamente baixei a cabeça, odiava me sentir subordinada a alguém, mas precisava sair com todos os membros de meu corpo se ainda quisesse procurar alguma coisa.
– Como assim sair da guarda, ? Depois de tudo o que fizemos por você? É assim que nos retribui? – Caius tinha explodido, Aro não esboçou nenhuma reação e Marcus estava como sempre. Entediado.
– Meu irmão, acalme-se, por favor. – senti a ordem por trás do pedido educado de Aro. Caius também reparou, já que seu rosto se contorceu em uma careta de desgosto. – . Realmente quer ir embora de Volterra? – Ele me analisava, em seus olhos eu podia ver uma sensação de perda. Seu diamante precioso estava indo embora.
– Sim, senhor. Serei grata por toda a minha existência por terem me acolhido quando mais precisava, mas realmente chegou minha hora de partir. Sinto muito. – Não estava mentindo de todo. Realmente sentia. Alec e Jane me fariam falta. Mas tinha chegado o momento de ir.
– Também sinto muito, minha querida . E, não me oporei a sua decisão. Está liberada dos deveres de ser uma Volturi. Não serve mais a mim ou a minha família. – a simples menção da palavra família fez meus pensamentos voarem até Edward. Era por ele que estava fazendo tudo isso, no fim das contas – Mas saiba que se mudar de ideia, sempre teremos um lugar para você em nosso lar. – assenti brevemente e, fazendo uma última curta reverência, deixei o salão.
Sentia que tinha pouco tempo até que Aro reparasse o que tinha feito e mudasse de ideia. Tinha que sair de lá o mais rápido que pudesse. Corri em uma velocidade sobre-humana em direção ao meu quarto. Peguei as duas malas já prontas e rumei para a garagem do castelo. Vi meu carro parado ali. Um C3 preto. Alec estava encostado na porta do motorista.
– Vou sentir sua falta. – ele disse quando me aproximei.
– Também vou sentir a sua. – disse chegando perto o suficiente para passar os braços por sua cintura em um abraço.
Ele hesitou em um primeiro momento, mas correspondeu deixando um beijo em minha testa. Soltou-se de meus braços, sem dizer mais nenhuma palavra, colocou minhas malas no banco traseiro e deixou um pequeno pedaço de papel em minhas mãos. Ele estava pronto para ir embora e me deixar ir.
– Alec – ele parou, mas não se virou. – É como dizem: o primeiro amor a gente nunca esquece. – vi quando seu rosto se curvou um pouco. Sabia que ele estava sorrindo. Entrei no carro, colocando minha bolsa no banco do passageiro e saí da garagem do castelo, rumando para fora dos portões da cidade. Pelo retrovisor, eu via Volterra ficando para trás.
Eu tinha saído dos limites da cidade. O papel ainda estava em minhas mãos sem ser aberto. Parei no acostamento por um momento apenas para poder me acalmar mentalmente e, ao abrir reconheci a letra de Jane. O endereço de Eleazar no Alasca estava ali. Junto com um telefone e uma pequena frase. “Eleazar já te espera”.
Peguei o telefone em minha bolsa e disquei rapidamente o número do papel. No primeiro toque escutei uma voz conhecida, com um leve sotaque latino.
– Alô? – Carmen atendeu. Como eu sentia falta da mulher, mesmo que nunca a tenha visto pessoalmente. Apenas algumas chamadas de vídeo e e-mails trocados.
– Carmen? – ouvi quando ela prendeu a respiração – Sou eu, .
– Mi niña, senti saudades de você. – Eu adorava ser chamada assim, ela era um anjo em minha existência. – Onde você está, ? Jane nos ligou mais cedo dizendo que você chegaria o mais rápido possível.
– Acabei de deixar o castelo. Estou parada no acostamento ligando para você. Queria saber se posso mesmo ficar com vocês, não quero atrapalhar em nada. – eu estava com medo de não poder ficar com eles, mas tentei não mostrar isso em minha voz, não queria forçar a barra.
– Claro que pode vir, querida. Já tem o endereço, certo? – fiz um som de afirmação – Ótimo então, estamos te esperando, . – disse desligando.
Voltei a dirigir, mas o caminho até o Alasca era muito longo para ser feito de carro, então ir até o aeroporto era a melhor solução. Esperei que estivesse escuro o suficiente para poder sair do carro e coloquei uma das lentes de contato verdes que sempre carregava em minha bolsa. Comprei uma passagem, despachei o carro para o Alasca e fiquei esperando o anúncio do voo.
– Senhores passageiros com destino ao Alasca, por favor, dirijam-se ao portão G8. – eu sabia que era o meu voo, mas não me levantei, tinha estancado no lugar – Senhores passageiros, última chamada para o voo com destino ao Alasca, por favor, se dirijam ao portão G8. – suspirei pela última vez e prendi a respiração. Me levantei e fui para o portão de embarque, entreguei minha passagem ao senhor que estava ali e fui adentrando no avião, mas não sem antes olhar para trás. Era o fim de Volturi e o recomeço de Evolet Masen.
Sentei-me na janela, fechando a cortininha e impedindo que os raios de sol que logo chegariam, me tocassem. A viagem até o Alasca era longa, só chegaria lá no próximo dia, mas os grossos casacos que eu trajava deveriam ser suficientes para não levantar suspeitas.
Estava com uma sensação estranha. Seria realmente complicado seguir a dieta de sangue animal, mas eu estava disposta a fazer isso por meu irmão e pela nova vida que tentava vislumbrar. A senhora Masen teria orgulho de mim, se me visse. Pensando no bem da coletividade ao invés da minha sede de sangue, eu chamaria de amadurecimento.
Não vi quanto tempo passou, estava imersa em pensamentos. Foi quando aconteceu e, pela primeira vez em anos, considerei seriamente estar sonhando.
Eu estava em clareira, muito parecida com a que estive no ano anterior. Vi um cachorro. Não. Era um lobo, com pelo castanho-avermelhado. Enorme. Muito maior que um cavalo. Era lindo. Ele caminhava incerto em minha direção, mas seus olhos castanhos me confortaram. Era seguro ali para mim.
E do mesmo jeito que veio, foi embora. Como um flash de memória ou um sonho. O que tinha acontecido comigo?! Vampiros não podiam sonhar ou dormir e eu nunca havia sequer visto um animal como aquele. O que tinha sido aquilo?
As próximas horas foram seguidas por repassar aquelas imagens em minha cabeça, me distraindo a tal ponto que não reparei quando pousamos, já no dia seguinte. Fui apenas seguindo o fluxo, agradecendo pelo tempo chuvoso e escuro da cidade, o que me encobriria por mais tempo. As malas não demoraram a chegar e logo me dirigia ao meu carro, que já estava do lado de fora do aeroporto. Estava atordoada demais para pensar nas ações, então acionei o modo automático.
Coloquei minhas malas sem muita arrumação no carro e fui pedir informação ao segurança que estava ali perto. Notei quando ele ofegou com a minha aparência e me permiti sentir seu cheiro, mesmo que por um breve segundo. O aroma de seu sangue era apelativo, me chamava. Mas sabia que precisava começar a resistir aos meus instintos, por isso, prendi a respiração novamente e continuei ouvindo o caminho que deveria tomar, agradecendo entredentes e poupando sua vida.
Entrei no carro e, quando já estava em um lugar menos movimentado, arranquei, chegando mais rápido. A chuva ficava cada vez mais grossa, mas aquilo não me afetava, era até reconfortante, me sentia chegando em casa. Seguindo o caminho que me fora passado, vi depois de alguns quilômetros, um pouco mais distante das outras, uma construção simples de dois andares, porém de muito bom gosto. Parecia ter o toque de Carmen ali, sorri com o pensamento. Estacionei e antes que pudesse saltar do carro vi Eleazar sorrindo, parado na soleira da porta para me receber.
– Eleazar – saudei, saltando do carro e me aproximando em uma velocidade humana. Antes que pudesse chegar perto, fui abraçada forte e levantada alguns centímetros do chão.
– Cariño, senti tanta saudade de você. – disse me abrindo um sorriso sincero. Como ele fazia falta.
– Eleazar, também senti saudades. – se pudesse, já teria soltado algumas lágrimas com o reencontro.
– Vamos entrar, quero que conheça minha nova família e Carmen está louca de saudades e morrendo de vontade de finalmente te conhecer pessoalmente!
Ele pegou minhas malas como um cavalheiro e entramos na casa. Toda a simplicidade de fora tinha ido embora e por dentro a casa era luxuosa. Uma escada lindamente adornada que deveria dar para os aposentos parecia a chave para aquele espaço. E, na sala quatro mulheres me encaravam.
Carmen veio logo ao meu encontro, me abraçando fortemente sem nada dizer. Eu já sabia. Também estava com saudades do seu abraço, mesmo que nunca o tivesse recebido de verdade. Vi que três loiras me encaravam com um sorriso contido. Sabia quem eram, mas esperei ser apresentada.
– Querida, essas são Tanya, Kate e Irina. Nossas novas filhas – Carmem tinha um sorriso encantador no rosto. Seu sonho era ser mãe e, com aquelas mulheres ela tinha conseguido realizar um pouco do que queria. – Meninas, essa é a . Minha primeira filha. – completou com orgulho e isso aqueceu meu coração morto. Ela realmente era minha mãe de alma.
– Muito prazer, meninas – disse lhes oferecendo um aceno que foi bem recebido pelas mulheres na casa. Aquela seria minha família a partir de agora. E, como dizem, família é para todo o sempre. No nosso caso, até depois do sempre!
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Eu estava com o clã Denali há três meses e, mesmo com dificuldade, conseguira incorporar seu estilo de vida vegetariano. Meus olhos já estavam mais claros, mesmo que ainda bem avermelhados e, logo ficariam da cor dos demais. Âmbar. Não que eu pudesse apagar um século de matanças, mas poderia me acostumar com aquilo.
Nos primeiros dias, conviver apenas com sangue animal fora complicado, eu não tinha prática e preferia me manter sem respirar, evitando ter alguma recaída. Carmen e Eleazar pareciam bem preocupados com isso e passavam horas de seus dias conversando comigo. Tanya, Kate e Irina faziam o mesmo, estimulando minha autoconfiança e fazendo com que eu me soltasse aos poucos.
Eleazar agora já podia conversar comigo sobre os dons que eu trazia, mesmo que nossas conversas fossem mascaradas com a desculpa de “estamos caçando”. Ele sabia que eu tinha absorvido o dom de Kate e, até o seu próprio, mas não parecia tão preocupado. “Longe das mãos de Aro podemos fazer o que for necessário”, ele dizia, mas só a simples menção de meu antigo mestre me trazia um péssimo agouro. Eu sabia que ele tinha sido extremamente bondoso e isso me gerava dúvidas sobre suas reais intenções. Eleazar me dizia para relaxar um pouco mais, mas a angústia parecia tomar conta e, ela só tendia a piorar.
Foi em um dia comum que Tanya apareceu na porta de casa chamando por todos, um tom de voz que passeava da empolgação para a resignação em segundos. Um envelope tinha chegado, um convite. Edward se casaria com a humana, afinal. Não pude deixar de ficar radiante de alegria com a notícia, meu irmão finalmente tinha encontrado uma parceira para si e poderia tentar desfrutar da eternidade ao seu lado.
Irina, por outro lado, não ficou nada contente com a notícia de que todos iriam à cerimônia realizada dali um mês. Ela ainda estava possessa de raiva dos Cullen, já que eles não a tinham deixado vingar seu companheiro, Laurent. Não entendia muito bem o que se passava, mas ela gritava de raiva dos Quileutes e, direcionava todo esse amargor à família que faria de tudo por ela. Foi a primeira discussão que vi acontecer tendo Carmen e Eleazar como participantes, eles eram tão compassivos para dois vampiros que não os imaginava brigando. Era estranho ver todos se desentendendo, mas tentei me manter neutra. Não perguntei a ninguém quem eram, ninguém também me disse do que se tratava. Nenhuma mente lida, assim era melhor.
Irina estava irritada, não iria de jeito nenhum. Eu ficaria com ela, não estava pronta para estar em um local com vários humanos dando sopa por aí. Era melhor que o foco ficasse sobre a noiva, não sobre seus amigos e parentes mortos por minha falta de controle.
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Um mês tinha passado e o casamento de Edward estava acontecendo neste exato momento. Se fechasse os olhos poderia imaginar sua cara de felicidade e nada me faria mais contente do que participar de seu momento, mas eu não me sentia pronta para todo o pacote que viria com essa decisão, por isso pedi a Eleazar que não contasse nada a meu irmão. Não queria que os Cullen soubessem que eu tinha saído da Guarda Volturi. Pelo menos não por enquanto.
Assim, estava sentada no jardim, decidindo se caçaria ou não, quando senti a aproximação de Irina.
– , estou indo embora! – ela declarou sem mais nem menos e pude sentir a decisão em sua voz. Irina não voltaria atrás. Me pus de pé um pouco atordoada e encarei seriamente seus olhos, procurando algum sinal de hesitação. Não achei nenhum.
– Irina, realmente vai fazer isso? Sei que Laurent foi importante, mas abandonar sua família por alguém que já não está mais entre nós não me parece prudente. – não queria que ela fosse embora. Entendia seu ponto de vista, mesmo não concordando muito com suas atitudes.
– Estou certa disso, nada que você falar ou fizer vai me demover desta ideia. Só não queria ir embora sem avisar nada. – a loira deu de ombros e se aproximou, me puxando para um abraço apertado. Era uma despedida. Sentia isso.
– Sentirei sua falta. – disse a ela sorrindo quando nos separamos. Irina deixaria saudades, tinha se tornado uma grande amiga, uma nova irmã em pouco tempo. Lembrava Jane em alguns aspectos. Até mesmo Alec.
– Também sentirei a sua, criança. – dizendo isso, deixou um beijo em minha testa e entrou em seu carro. Não fazia ideia de para onde Irina estava indo, mas não tinha um bom pressentimento sobre a próxima vez que nos veríamos.
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Os meses se passavam, mas volta e meia as visões com aquele tal lobo apareciam. Eu continuava sem entender como elas chegavam, já que a única vidente que tinha passado pelo meu caminho tinha sido a tal Cullen, Alice, e não estivemos tão próximas para que eu pudesse absorver totalmente seus dons.
Eleazar não sabia o que estava acontecendo, pesquisávamos mais sobre as Litúrias, mas nada encontrávamos. Elas pareciam inexistentes, até mesmo para as novas pesquisas historiográficas. Nada de lendas, ditos. Nada. Eu precisava saber mais sobre ou acabaria enlouquecendo.
De acordo com Carmem e suas conversas com Esme, Edward e a humana tinham saído em lua de mel. Eu sabia que eles já tinham voltado, sentia isso. Via isso, na verdade. Via, também, que algo estava acontecendo em Forks, mesmo que tudo estivesse muito embaçado.
Irina também não tinha dado notícias, sabia que Tanya e Kate estavam cada vez mais desesperadas pela irmã. Já tinham procurado em diversos lugares, tentado seguir seu cheiro, mas o rastro desaparecia. Ela não queria ser localizada e, quando um vampiro quer desaparecer, isso simplesmente acontece.
Por mais culpada que eu me sentisse, resolvi arrumar minhas coisas e me encaminhar para Forks. O clã Denali ficou extremamente desapontado, mas não fizeram objeções. Eles sabiam que sempre poderíamos nos encontrar, sabiam para onde eu estava indo. Eu não estava fugindo, estava tentando me achar. Edward parecia estar precisando de ajuda e eu faria o possível para colaborar. E, assim, Eleazar me levou até o aeroporto e eu logo comprei uma passagem para Seattle, de lá correria até Forks.
O voo foi tranquilo, apesar da leve chuva que caia. Não tinha muita claridade, então me misturar com os humanos não era um problema e o fato de ter entrado de cabeça na dieta de sangue animal me deixava de certa forma mais tranquila ao interagir com as pessoas. O vento batendo no meu corpo durante a corrida me deixava mais animada, já que a última viagem a pé que fiz já tinha um século. Minha única mala e bolsa não pesavam nada em minhas mãos, então meu único trabalho era seguir o rastro de vampiro, me direcionando a Forks.
Acabei chegando na cidade quase no amanhecer do dia, mas a chuva resolveu aumentar, me dando mais algumas horas de vantagem. O céu completamente nublado camuflava os raios de sol que poderiam me desmascarar, mesmo correndo pela mata. Eu continuei seguindo o rastro, que estava cada vez mais fraco, já que outros cheiros se sobrepunham e me faziam torcer o nariz. Não era um odor que eu estivesse acostumada e, realmente ficava mais forte a cada segundo.
Foi então que eu o vi. Um lobo enorme, bem maior do que eu em altura. Seu pelo era preto como o carvão e seus dentes estavam expostos, deixando baixos rosnados escaparem. Ele tinha seus olhos grudados em mim e me encarava como se eu fosse sua próxima refeição ou vítima. Se bem que não parecia existir muita diferença naquele momento.
Ele iria me atacar se eu não fizesse alguma coisa e parecia examinando os meus movimentos. Consciente demais para um animal. Por isso me concentrei o máximo que consegui no dom de Edward e me pus a vasculhar a mente do lobo a minha frente. Tudo isso aconteceu em milésimos de segundos. E eu soube que estava me metendo em um lugar com mais seres sobrenaturais do que nós vampiros. Tinha uma pessoa ali na mente do animal e que estava pronta para me estraçalhar se eu não saísse de suas terras. Sam Uley se aproximava lentamente e eu seria abocanhada se não abrisse a boca para tentar me explicar.
Naquela manhã, peguei minha capa preta e caminhei até o grande salão do castelo. As palavras de Jane ditas no dia anterior, retumbando em minha mente. “Você precisa ser dona do seu destino, ”. Hesitei alguns segundos antes de abrir as portas, mesmo sabendo que sabiam de minha aproximação. Todos estavam à minha espera. Aro, Caius e Marcus se encontravam devidamente sentados em seus tronos. Renata, Felix e Demetri parados em um canto, olhando a tudo sem se pronunciar. Alec e Jane perto dos degraus, me fitando com uma expressão disfarçadamente temerosa.
Tirei o manto de minha cabeça, fazendo uma leve reverência e mirei Aro que me encarava com um olhar curioso. Ele levantou-se e caminhou em minha direção. Começou a circular, estudando-me.
– Soube que gostaria de falar comigo, adorada . – ele disse com uma falsa doçura. Depois de anos passados servindo Aro, sabia exatamente quando ele mentia.
– Sim, meu senhor. Gostaria de lhe fazer um pedido. – afirmei baixando os olhos. Incomodava-me o olhar de cobiça que Aro me mandava desde que entrei para sua guarda, conjuntamente com o de frustração por não conseguir ler meus pensamentos.
– Pois então o faça, minha cara. – ele me encarava curioso.
– Quero sair da guarda Volturi, senhor. – vi que ele, assim com todos naquela sala tinham prendido a respiração, mesmo sem precisar dela. – Sou eternamente grata pelo que fizeram por mim, mas preciso encontrar meu lugar no mundo, senhor Volturi. – novamente baixei a cabeça, odiava me sentir subordinada a alguém, mas precisava sair com todos os membros de meu corpo se ainda quisesse procurar alguma coisa.
– Como assim sair da guarda, ? Depois de tudo o que fizemos por você? É assim que nos retribui? – Caius tinha explodido, Aro não esboçou nenhuma reação e Marcus estava como sempre. Entediado.
– Meu irmão, acalme-se, por favor. – senti a ordem por trás do pedido educado de Aro. Caius também reparou, já que seu rosto se contorceu em uma careta de desgosto. – . Realmente quer ir embora de Volterra? – Ele me analisava, em seus olhos eu podia ver uma sensação de perda. Seu diamante precioso estava indo embora.
– Sim, senhor. Serei grata por toda a minha existência por terem me acolhido quando mais precisava, mas realmente chegou minha hora de partir. Sinto muito. – Não estava mentindo de todo. Realmente sentia. Alec e Jane me fariam falta. Mas tinha chegado o momento de ir.
– Também sinto muito, minha querida . E, não me oporei a sua decisão. Está liberada dos deveres de ser uma Volturi. Não serve mais a mim ou a minha família. – a simples menção da palavra família fez meus pensamentos voarem até Edward. Era por ele que estava fazendo tudo isso, no fim das contas – Mas saiba que se mudar de ideia, sempre teremos um lugar para você em nosso lar. – assenti brevemente e, fazendo uma última curta reverência, deixei o salão.
Sentia que tinha pouco tempo até que Aro reparasse o que tinha feito e mudasse de ideia. Tinha que sair de lá o mais rápido que pudesse. Corri em uma velocidade sobre-humana em direção ao meu quarto. Peguei as duas malas já prontas e rumei para a garagem do castelo. Vi meu carro parado ali. Um C3 preto. Alec estava encostado na porta do motorista.
– Vou sentir sua falta. – ele disse quando me aproximei.
– Também vou sentir a sua. – disse chegando perto o suficiente para passar os braços por sua cintura em um abraço.
Ele hesitou em um primeiro momento, mas correspondeu deixando um beijo em minha testa. Soltou-se de meus braços, sem dizer mais nenhuma palavra, colocou minhas malas no banco traseiro e deixou um pequeno pedaço de papel em minhas mãos. Ele estava pronto para ir embora e me deixar ir.
– Alec – ele parou, mas não se virou. – É como dizem: o primeiro amor a gente nunca esquece. – vi quando seu rosto se curvou um pouco. Sabia que ele estava sorrindo. Entrei no carro, colocando minha bolsa no banco do passageiro e saí da garagem do castelo, rumando para fora dos portões da cidade. Pelo retrovisor, eu via Volterra ficando para trás.
Eu tinha saído dos limites da cidade. O papel ainda estava em minhas mãos sem ser aberto. Parei no acostamento por um momento apenas para poder me acalmar mentalmente e, ao abrir reconheci a letra de Jane. O endereço de Eleazar no Alasca estava ali. Junto com um telefone e uma pequena frase. “Eleazar já te espera”.
Peguei o telefone em minha bolsa e disquei rapidamente o número do papel. No primeiro toque escutei uma voz conhecida, com um leve sotaque latino.
– Alô? – Carmen atendeu. Como eu sentia falta da mulher, mesmo que nunca a tenha visto pessoalmente. Apenas algumas chamadas de vídeo e e-mails trocados.
– Carmen? – ouvi quando ela prendeu a respiração – Sou eu, .
– Mi niña, senti saudades de você. – Eu adorava ser chamada assim, ela era um anjo em minha existência. – Onde você está, ? Jane nos ligou mais cedo dizendo que você chegaria o mais rápido possível.
– Acabei de deixar o castelo. Estou parada no acostamento ligando para você. Queria saber se posso mesmo ficar com vocês, não quero atrapalhar em nada. – eu estava com medo de não poder ficar com eles, mas tentei não mostrar isso em minha voz, não queria forçar a barra.
– Claro que pode vir, querida. Já tem o endereço, certo? – fiz um som de afirmação – Ótimo então, estamos te esperando, . – disse desligando.
Voltei a dirigir, mas o caminho até o Alasca era muito longo para ser feito de carro, então ir até o aeroporto era a melhor solução. Esperei que estivesse escuro o suficiente para poder sair do carro e coloquei uma das lentes de contato verdes que sempre carregava em minha bolsa. Comprei uma passagem, despachei o carro para o Alasca e fiquei esperando o anúncio do voo.
– Senhores passageiros com destino ao Alasca, por favor, dirijam-se ao portão G8. – eu sabia que era o meu voo, mas não me levantei, tinha estancado no lugar – Senhores passageiros, última chamada para o voo com destino ao Alasca, por favor, se dirijam ao portão G8. – suspirei pela última vez e prendi a respiração. Me levantei e fui para o portão de embarque, entreguei minha passagem ao senhor que estava ali e fui adentrando no avião, mas não sem antes olhar para trás. Era o fim de Volturi e o recomeço de Evolet Masen.
Sentei-me na janela, fechando a cortininha e impedindo que os raios de sol que logo chegariam, me tocassem. A viagem até o Alasca era longa, só chegaria lá no próximo dia, mas os grossos casacos que eu trajava deveriam ser suficientes para não levantar suspeitas.
Estava com uma sensação estranha. Seria realmente complicado seguir a dieta de sangue animal, mas eu estava disposta a fazer isso por meu irmão e pela nova vida que tentava vislumbrar. A senhora Masen teria orgulho de mim, se me visse. Pensando no bem da coletividade ao invés da minha sede de sangue, eu chamaria de amadurecimento.
Não vi quanto tempo passou, estava imersa em pensamentos. Foi quando aconteceu e, pela primeira vez em anos, considerei seriamente estar sonhando.
Eu estava em clareira, muito parecida com a que estive no ano anterior. Vi um cachorro. Não. Era um lobo, com pelo castanho-avermelhado. Enorme. Muito maior que um cavalo. Era lindo. Ele caminhava incerto em minha direção, mas seus olhos castanhos me confortaram. Era seguro ali para mim.
E do mesmo jeito que veio, foi embora. Como um flash de memória ou um sonho. O que tinha acontecido comigo?! Vampiros não podiam sonhar ou dormir e eu nunca havia sequer visto um animal como aquele. O que tinha sido aquilo?
As próximas horas foram seguidas por repassar aquelas imagens em minha cabeça, me distraindo a tal ponto que não reparei quando pousamos, já no dia seguinte. Fui apenas seguindo o fluxo, agradecendo pelo tempo chuvoso e escuro da cidade, o que me encobriria por mais tempo. As malas não demoraram a chegar e logo me dirigia ao meu carro, que já estava do lado de fora do aeroporto. Estava atordoada demais para pensar nas ações, então acionei o modo automático.
Coloquei minhas malas sem muita arrumação no carro e fui pedir informação ao segurança que estava ali perto. Notei quando ele ofegou com a minha aparência e me permiti sentir seu cheiro, mesmo que por um breve segundo. O aroma de seu sangue era apelativo, me chamava. Mas sabia que precisava começar a resistir aos meus instintos, por isso, prendi a respiração novamente e continuei ouvindo o caminho que deveria tomar, agradecendo entredentes e poupando sua vida.
Entrei no carro e, quando já estava em um lugar menos movimentado, arranquei, chegando mais rápido. A chuva ficava cada vez mais grossa, mas aquilo não me afetava, era até reconfortante, me sentia chegando em casa. Seguindo o caminho que me fora passado, vi depois de alguns quilômetros, um pouco mais distante das outras, uma construção simples de dois andares, porém de muito bom gosto. Parecia ter o toque de Carmen ali, sorri com o pensamento. Estacionei e antes que pudesse saltar do carro vi Eleazar sorrindo, parado na soleira da porta para me receber.
– Eleazar – saudei, saltando do carro e me aproximando em uma velocidade humana. Antes que pudesse chegar perto, fui abraçada forte e levantada alguns centímetros do chão.
– Cariño, senti tanta saudade de você. – disse me abrindo um sorriso sincero. Como ele fazia falta.
– Eleazar, também senti saudades. – se pudesse, já teria soltado algumas lágrimas com o reencontro.
– Vamos entrar, quero que conheça minha nova família e Carmen está louca de saudades e morrendo de vontade de finalmente te conhecer pessoalmente!
Ele pegou minhas malas como um cavalheiro e entramos na casa. Toda a simplicidade de fora tinha ido embora e por dentro a casa era luxuosa. Uma escada lindamente adornada que deveria dar para os aposentos parecia a chave para aquele espaço. E, na sala quatro mulheres me encaravam.
Carmen veio logo ao meu encontro, me abraçando fortemente sem nada dizer. Eu já sabia. Também estava com saudades do seu abraço, mesmo que nunca o tivesse recebido de verdade. Vi que três loiras me encaravam com um sorriso contido. Sabia quem eram, mas esperei ser apresentada.
– Querida, essas são Tanya, Kate e Irina. Nossas novas filhas – Carmem tinha um sorriso encantador no rosto. Seu sonho era ser mãe e, com aquelas mulheres ela tinha conseguido realizar um pouco do que queria. – Meninas, essa é a . Minha primeira filha. – completou com orgulho e isso aqueceu meu coração morto. Ela realmente era minha mãe de alma.
– Muito prazer, meninas – disse lhes oferecendo um aceno que foi bem recebido pelas mulheres na casa. Aquela seria minha família a partir de agora. E, como dizem, família é para todo o sempre. No nosso caso, até depois do sempre!
Eu estava com o clã Denali há três meses e, mesmo com dificuldade, conseguira incorporar seu estilo de vida vegetariano. Meus olhos já estavam mais claros, mesmo que ainda bem avermelhados e, logo ficariam da cor dos demais. Âmbar. Não que eu pudesse apagar um século de matanças, mas poderia me acostumar com aquilo.
Nos primeiros dias, conviver apenas com sangue animal fora complicado, eu não tinha prática e preferia me manter sem respirar, evitando ter alguma recaída. Carmen e Eleazar pareciam bem preocupados com isso e passavam horas de seus dias conversando comigo. Tanya, Kate e Irina faziam o mesmo, estimulando minha autoconfiança e fazendo com que eu me soltasse aos poucos.
Eleazar agora já podia conversar comigo sobre os dons que eu trazia, mesmo que nossas conversas fossem mascaradas com a desculpa de “estamos caçando”. Ele sabia que eu tinha absorvido o dom de Kate e, até o seu próprio, mas não parecia tão preocupado. “Longe das mãos de Aro podemos fazer o que for necessário”, ele dizia, mas só a simples menção de meu antigo mestre me trazia um péssimo agouro. Eu sabia que ele tinha sido extremamente bondoso e isso me gerava dúvidas sobre suas reais intenções. Eleazar me dizia para relaxar um pouco mais, mas a angústia parecia tomar conta e, ela só tendia a piorar.
Foi em um dia comum que Tanya apareceu na porta de casa chamando por todos, um tom de voz que passeava da empolgação para a resignação em segundos. Um envelope tinha chegado, um convite. Edward se casaria com a humana, afinal. Não pude deixar de ficar radiante de alegria com a notícia, meu irmão finalmente tinha encontrado uma parceira para si e poderia tentar desfrutar da eternidade ao seu lado.
Irina, por outro lado, não ficou nada contente com a notícia de que todos iriam à cerimônia realizada dali um mês. Ela ainda estava possessa de raiva dos Cullen, já que eles não a tinham deixado vingar seu companheiro, Laurent. Não entendia muito bem o que se passava, mas ela gritava de raiva dos Quileutes e, direcionava todo esse amargor à família que faria de tudo por ela. Foi a primeira discussão que vi acontecer tendo Carmen e Eleazar como participantes, eles eram tão compassivos para dois vampiros que não os imaginava brigando. Era estranho ver todos se desentendendo, mas tentei me manter neutra. Não perguntei a ninguém quem eram, ninguém também me disse do que se tratava. Nenhuma mente lida, assim era melhor.
Irina estava irritada, não iria de jeito nenhum. Eu ficaria com ela, não estava pronta para estar em um local com vários humanos dando sopa por aí. Era melhor que o foco ficasse sobre a noiva, não sobre seus amigos e parentes mortos por minha falta de controle.
Um mês tinha passado e o casamento de Edward estava acontecendo neste exato momento. Se fechasse os olhos poderia imaginar sua cara de felicidade e nada me faria mais contente do que participar de seu momento, mas eu não me sentia pronta para todo o pacote que viria com essa decisão, por isso pedi a Eleazar que não contasse nada a meu irmão. Não queria que os Cullen soubessem que eu tinha saído da Guarda Volturi. Pelo menos não por enquanto.
Assim, estava sentada no jardim, decidindo se caçaria ou não, quando senti a aproximação de Irina.
– , estou indo embora! – ela declarou sem mais nem menos e pude sentir a decisão em sua voz. Irina não voltaria atrás. Me pus de pé um pouco atordoada e encarei seriamente seus olhos, procurando algum sinal de hesitação. Não achei nenhum.
– Irina, realmente vai fazer isso? Sei que Laurent foi importante, mas abandonar sua família por alguém que já não está mais entre nós não me parece prudente. – não queria que ela fosse embora. Entendia seu ponto de vista, mesmo não concordando muito com suas atitudes.
– Estou certa disso, nada que você falar ou fizer vai me demover desta ideia. Só não queria ir embora sem avisar nada. – a loira deu de ombros e se aproximou, me puxando para um abraço apertado. Era uma despedida. Sentia isso.
– Sentirei sua falta. – disse a ela sorrindo quando nos separamos. Irina deixaria saudades, tinha se tornado uma grande amiga, uma nova irmã em pouco tempo. Lembrava Jane em alguns aspectos. Até mesmo Alec.
– Também sentirei a sua, criança. – dizendo isso, deixou um beijo em minha testa e entrou em seu carro. Não fazia ideia de para onde Irina estava indo, mas não tinha um bom pressentimento sobre a próxima vez que nos veríamos.
Os meses se passavam, mas volta e meia as visões com aquele tal lobo apareciam. Eu continuava sem entender como elas chegavam, já que a única vidente que tinha passado pelo meu caminho tinha sido a tal Cullen, Alice, e não estivemos tão próximas para que eu pudesse absorver totalmente seus dons.
Eleazar não sabia o que estava acontecendo, pesquisávamos mais sobre as Litúrias, mas nada encontrávamos. Elas pareciam inexistentes, até mesmo para as novas pesquisas historiográficas. Nada de lendas, ditos. Nada. Eu precisava saber mais sobre ou acabaria enlouquecendo.
De acordo com Carmem e suas conversas com Esme, Edward e a humana tinham saído em lua de mel. Eu sabia que eles já tinham voltado, sentia isso. Via isso, na verdade. Via, também, que algo estava acontecendo em Forks, mesmo que tudo estivesse muito embaçado.
Irina também não tinha dado notícias, sabia que Tanya e Kate estavam cada vez mais desesperadas pela irmã. Já tinham procurado em diversos lugares, tentado seguir seu cheiro, mas o rastro desaparecia. Ela não queria ser localizada e, quando um vampiro quer desaparecer, isso simplesmente acontece.
Por mais culpada que eu me sentisse, resolvi arrumar minhas coisas e me encaminhar para Forks. O clã Denali ficou extremamente desapontado, mas não fizeram objeções. Eles sabiam que sempre poderíamos nos encontrar, sabiam para onde eu estava indo. Eu não estava fugindo, estava tentando me achar. Edward parecia estar precisando de ajuda e eu faria o possível para colaborar. E, assim, Eleazar me levou até o aeroporto e eu logo comprei uma passagem para Seattle, de lá correria até Forks.
O voo foi tranquilo, apesar da leve chuva que caia. Não tinha muita claridade, então me misturar com os humanos não era um problema e o fato de ter entrado de cabeça na dieta de sangue animal me deixava de certa forma mais tranquila ao interagir com as pessoas. O vento batendo no meu corpo durante a corrida me deixava mais animada, já que a última viagem a pé que fiz já tinha um século. Minha única mala e bolsa não pesavam nada em minhas mãos, então meu único trabalho era seguir o rastro de vampiro, me direcionando a Forks.
Acabei chegando na cidade quase no amanhecer do dia, mas a chuva resolveu aumentar, me dando mais algumas horas de vantagem. O céu completamente nublado camuflava os raios de sol que poderiam me desmascarar, mesmo correndo pela mata. Eu continuei seguindo o rastro, que estava cada vez mais fraco, já que outros cheiros se sobrepunham e me faziam torcer o nariz. Não era um odor que eu estivesse acostumada e, realmente ficava mais forte a cada segundo.
Foi então que eu o vi. Um lobo enorme, bem maior do que eu em altura. Seu pelo era preto como o carvão e seus dentes estavam expostos, deixando baixos rosnados escaparem. Ele tinha seus olhos grudados em mim e me encarava como se eu fosse sua próxima refeição ou vítima. Se bem que não parecia existir muita diferença naquele momento.
Ele iria me atacar se eu não fizesse alguma coisa e parecia examinando os meus movimentos. Consciente demais para um animal. Por isso me concentrei o máximo que consegui no dom de Edward e me pus a vasculhar a mente do lobo a minha frente. Tudo isso aconteceu em milésimos de segundos. E eu soube que estava me metendo em um lugar com mais seres sobrenaturais do que nós vampiros. Tinha uma pessoa ali na mente do animal e que estava pronta para me estraçalhar se eu não saísse de suas terras. Sam Uley se aproximava lentamente e eu seria abocanhada se não abrisse a boca para tentar me explicar.
Capítulo 10
– Não quero atacar, senhor Uley. – tentei falar o mais educadamente possível, ignorando o cheiro que me fazia querer torcer o nariz, e o vi retroceder uns passos. Sua mente agora estava um turbilhão de dúvidas, e eu ouvia outras vozes em sua cabeça, quase como se ele não estivesse sozinho ali. Não poderia deixar o receio ser perceptível em minha voz. – Será que poderia voltar à sua forma humana? Gostaria de travar um diálogo, e não participar de um monólogo. – Falei o mais amigável que consegui e, por sorte, deu certo. O lobo preto se dirigiu para os arbustos e um homem lindo retornou em seu lugar. Moreno, alto, musculoso, perfeito em todos os sentidos humanos, mas nada chamativo para mim. Seu olhar era curioso, cauteloso e raivoso ao mesmo tempo.
– Como sabe meu nome? – ele me analisava, tentando descobrir o que podia. O homem parecia atento a cada micro movimento meu. Qualquer passo em falso seria letal. Se para ele ou para mim, eu não sabia.
– Na verdade, isso não vem muito ao caso, senhor Uley. – disse-lhe, sorrindo verdadeiramente, o que o deixara ainda mais intrigado. Sua mente, agora com uma única voz, parecia gritar em minha cabeça – Apenas quero chegar à casa de meu irmão, será que poderia me ajudar? – esperava que ele me ajudasse. Seria muito mais simples se me apontasse a direção correta a seguir.
– Acho que não sabe onde está… ? – ele me questionava de forma polida, decidido mentalmente a entrar em meu jogo e ver onde isso daria.
– Masen. Masen, prazer. – estendi minha mão em sinal de cumprimento de forma inconsciente, mas logo abaixei quando vi que não seria correspondida. – Está certo, não sei muito bem onde estou, mas procuro pelos Cullen. – um lampejo de compreensão passou pelo seu rosto, antes de fechar a cara novamente e cruzar seus braços em desagrado.
– Está em La Push, e esse é um território Quileute. – Claro! Os Quileutes de quem Irina tinha tanta raiva. – Invadiu nosso lado do tratado, Masen.
– Peço-lhe minhas desculpas, senhor Uley. Não sabia deste detalhe. Poderia me indicar a direção para a casa dos Cullen? – ele apontou para um lugar atrás de mim de má vontade e, antes que eu pudesse ir, ele pigarreou chamando minha atenção.
– Quem me garante que não irá quebrar as regras, vampira?
– Eu não me mostraria aos humanos! Essa é a regra principal, e convivo com ela há mais tempo do que você respira, Uley. – completei, debochando de toda aquela situação. Será que ele não percebia que tudo o que eu queria era encontrar meu irmão?
– Estou falando sobre não os matar, Masen!
– A ideia é a mesma, Uley! – disse, cansada da grosseria – Eu apenas estou indo encontrar os Cullen. Tenha um bom dia! – completei, me virando de costas para a direção que ele apontara, e corri. Não ouvi passos atrás de mim, então eu estava momentaneamente segura.
Forks estava me saindo melhor do que a encomenda. Claro que já sabia da existência dos lobos, mas ver um de perto foi extremamente curioso. Me fez lembrar a tal visão que tive com um deles. Deveríamos ser inimigos naturais, mas o estranho é que eu não me sentia assim. Ele era irritante, fedorento e definitivamente grosseiro, mas estava mais para um igual. Um sobrevivente, como eu.
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Quanto mais me aproximava, melhor conseguia ouvir as mentes dos arredores. Resolvi manter os poderes de meu irmão alertas, já que não podia correr o risco de ser abatida antes de falar com ele. E, pelo visto, fiz bem. Tudo parecia estar uma confusão. Edward estava esgotado. Bella estava... grávida! Mas como isso era possível? Vampiros não podiam engravidar. Ou poderiam?! Tinha que ver isso com meus próprios olhos.
Fui me aproximando mais ainda do jardim dos Cullen, quando vi dois lobos ali que notaram minha presença no momento em que cheguei nas margens do terreno. Pelas mentes, eram Leah e Seth Clearwater, e pareciam estar discutindo sobre quem teria a minha cabeça primeiro à medida que se aproximavam. Os dentes estavam à mostra. Eles rosnavam em minha direção, na mesma postura com que Sam usara momentos atrás. Os dois estavam prontos para me atacar quando eu desse o próximo passo.
Foi nessa hora que o vi saindo da parte de trás da casa. Um lobo castanho avermelhado, que parecia muito com o que eu vira na visão que tive há meses. Ele trotava de forma rápida e vinha em minha direção, pronto para o ataque. E, por mais que eu quisesse, não consegui me mexer. Parecia que estava presa ao chão enquanto ele se movia para mais perto, e os outros dois lobos davam uma distância segura de mim, mas sem tirar os olhos de nós.
Ele rosnou uma vez mais e arrepiou minha espinha. Eu morreria de vez ali pelos dentes daquele animal. Mas, quando eu parei para olhar em seus olhos, um novo tipo de sentimento passou pelo meu corpo. Ele era mais magnético que um ímã, e eu conseguia ouvir em sua mente as vozes de Leah e Seth, que eram severamente ignoradas, enquanto ele me olhava de volta. Eu podia dizer que, mesmo morta, olhando para os olhos daquele lobo, eu me sentia viva. Jacob era seu nome. E eu sentia que as peças estavam finalmente se encaixando.
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– Leah, olhe a cara dela. Parece assustada! – Seth sempre teve apreço por vampiros, nunca entendi esse garoto.
– Fique quieto, moleque. Não vê que ela está prestes a atacar! Precisamos nos aproximar enquanto ainda podemos neutralizá-la. – Leah dizia com uma voz autoritária e analítica. De fato, a posição de beta lhe subiu à cabeça.
– Calem a boca os dois e fiquem parados! A cabeça dessa sanguessuga é minha! – comandei aos dois em meu tom de alfa. Detestava ordenar, mas a vida de Bella era o que mais importava no momento.
Fui chegando devagar, mas ela já sabia de minha existência ali e permanecera imóvel. Se tivesse que ter atacado Seth e Leah, a vampira já teria feito. Mas eu sentia ódio. Ela deveria estar aqui para matar Bella a mando dos vampirões encapuzados, e eu não deixaria que isso acontecesse. Por pior que fosse essa decisão de carregar um monstro, Bella merecia viver.
Meus olhos se encontraram com os da vampira no momento em que pulava para atacar e um baque invisível e forte me deteve. As vozes de Leah e Seth se transformaram em sons abafados, como se a minha cabeça estivesse embaixo d’água. Mas eu não me sentia afogando, nunca tinha respirado tão bem na vida.
O tremor parou subitamente, assim como a raiva, e eu só conseguia focalizar na mulher ridiculamente atraente que estava na minha frente. Minha cabeça estava girando em uma velocidade tão grande que tudo o que consegui fazer foi cair sentado em minhas patas traseiras. Estava como um cão rendido, sem mais.
– Imprinting.
Seth falou ao fundo da minha cabeça, e eu consegui ligar os pontos. Sentia meu coração bater acelerado no peito à medida que ela dava passos lentos em minha direção, sem nunca tirar os olhos dos meus. Se fosse para morrer pelas mãos dela, eu o faria de bom grado. Ainda que vozes irritantes na minha cabeça, incluindo uma parte bem pequena minha, insistissem em me dizer o quão errado era aquilo.
– Rosalie, não! – a voz de Alice quebrou todo o silêncio, e eu consegui sair do transe que me encontrava ao olhar para ela. Mas, antes que eu pudesse me transformar, a vampira saiu em disparada para a casa, e eu não tive alternativas a não ser seguir o que ela estava fazendo. Sabia que algo estava muito errado, e o cheiro de sangue já começava a encher o ambiente.
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Eu sabia que precisava me controlar, mas o cheiro de sangue me chamava como uma sereia encantando os navegantes. E eu apenas fui para a porta, que já estava aberta, vendo uma cena que parecia de terror. A humana estava grávida, magra como se estivesse doente, e sua barriga parecia grande demais para que ela pudesse sustentar.
Uma vampira loira era segurada por outro, que eu reconheci como Carlisle. Ninguém parecia ter notado a minha presença ainda em meio ao caos dos gritos de Isabella e do desespero presente na vampira baixinha, que tentava segurar dois vampiros com a ajuda de uma terceira mulher. Eu ainda não vira Edward, mas todos nós nos viramos para Isabella quando ouvimos um ruído abafado de algo se rasgando no meio de seu corpo.
A vontade de atacar nunca me pareceu tão grande, tanto pela cena, quanto pelo sangue que jazia no chão. Minha boca salivava, e eu sabia que meu coração estaria batendo freneticamente em expectativa pelo sangue humano. Então, ela vomitou um jorro de sangue, e eu me abaixei na posição de ataque, pronta para saltar o mais próximo dela. Todos pareciam ocupados, então eu teria o que tanto me faltava. E fui.
Eu não tirava os olhos dela, quando um corpo se chocou contra o meu na mesma velocidade do meu salto, e as paredes da casa tremeram com o barulho. Eu não conseguia distinguir quem era, então tratei de tentar me soltar, mas o aperto era tanto que senti que me partiria no meio se pudesse. Não adiantava o quanto eu me debatesse, os braços à minha volta não me deixavam sair. E tudo o que eu queria era o sangue que Isabella seguia cuspindo com mais dificuldade.
– Jacob, leve-a daqui! – a voz de quem me prendia disse aos gritos, e eu fui jogada como um brinquedo e apanhada com destreza, enquanto era tirada da casa rapidamente. Eu podia me soltar, mas a parte racional do meu cérebro sabia que tudo pioraria, então apenas me deixei levar e prendi a respiração, torcendo para que não causasse mais estragos.
As árvores ficavam para trás rapidamente à medida que nos distanciávamos, mas a velocidade que estávamos ainda era inferior ao que eu poderia fazer se estivesse sozinha. Mesmo assim, eu estava confortável. Estranhamente confortável. Sabia que era Jacob que me carregava e, mesmo que fôssemos inimigos naturais, desde que o vira, não conseguia sentir repulsa. Ele parecia ser muito mais do que o lobo da visão, e eu não sabia o que acontecia dentro de mim.
Quando estávamos ao que parecia ser uma distância segura da casa dos Cullen, Jacob me colocou de pé e se postou a alguns passos de mim, como se me desse espaço para respirar, e seus olhos percorriam cada detalhe do meu corpo descaradamente. Se eu ainda fosse humana, teria me envergonhado e lhe esbofeteado. Na atual conjuntura, preferi apenas pigarrear, e pareceu ter surtido efeito, quando um leve rubor tomou conta de suas bochechas e o homem cravou seu olhar no chão, ainda que continuasse bem atento aos meus movimentos.
– O que está acontecendo? – questionei baixo, e ele apenas se encostou na árvore mais próxima, parecendo despreocupado enquanto voltava a me encarar.
– Tem muita coisa acontecendo! – ele deu de ombros e parecia irônico, assumindo uma postura diferente do que eu tinha visto até agora – Sobre o que está perguntando exatamente? – devolveu.
– Por que não me atacou até agora? – eu tinha muitas perguntas, mas aquela me intrigava e também me fazia pensar sobre os meus próprios instintos.
– Você também não me atacou! – disse simplesmente.
– Tenho assuntos mais importantes a tratar. – desdenhei – Não é como se matar um lobo e sua alcateia estivesse na minha lista de morte! Então, se me der licença. – comecei a caminhar em uma velocidade humana, mas Jacob logo entrou em minha frente, barrando a passagem com o corpo. Eu podia sentir, com ainda mais clareza, o cheiro de seu sangue e ouvir o coração, que bombeava rapidamente.
– Não vai. – ele disse baixo, olhando diretamente em meus olhos, e eu não consegui recuar. Alguma coisa parecia me puxar para aquelas orbes pretas, mas eu ainda não sabia o que era.
Minha mão parecia ter vida própria, porque, antes que eu pudesse controlar, meus dedos já tinham achado o caminho para o rosto do desconhecido à minha frente e desenhavam seus traços sem qualquer impedimento da parte dele. Jacob manteve os olhos nos meus, quase como se tentasse fazer desse jeito o mesmo que eu fazia com as mãos.
A temperatura de seu corpo era mais alta que a de um humano normal, mas não me queimava a pele. Pelo contrário, era como tomar um banho quente e relaxante. Sua pele parecia seda em meus dedos, capaz de se romper com o mínimo movimento inadequado. Meus dedos formigavam como se eu tivesse acabado de me alimentar. Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos. Por Deus, o que estava acontecendo ali?!
E foi quando outra cena apareceu diante dos meus olhos.
Uma figura encapuzada e toda vestida de vermelho corria rapidamente pela floresta indistinta, quando algo a fez parar e aspirar o ar com cuidado. Sua cabeça se virava para as quatro direções, como se procurasse alguém. A figura se encostou a uma árvore, fazendo com que o capuz caísse e seu rosto se revelasse com um sorriso satisfeito, antes de se encaminhar para a direção oposta do que parecia estar indo antes. Allan estava vindo, e eu sabia.
Mas a imagem tinha se dissipado, e tudo o que eu via era Jacob com o rosto bem próximo ao meu, segurando em minha cintura como se eu tivesse perdido o equilíbrio e me encarando, preocupado. Levei meio segundo para entender que a tal visão provavelmente tinha me desestabilizado e ele me mantinha de pé.
– Você está bem? – Jacob perguntou enquanto eu me desvencilhava dele rapidamente e me recompunha.
– Claro! Eu só preciso ver Edward. – disse e saí em disparada para a casa dos Cullen, sabendo que ganharia a corrida, mas que o lobo estava logo atrás de mim. Suas patas batendo no chão não eram silenciosas, mas não me parariam agora.
Passar pelo jardim foi estranhamente fácil, mas sentia olhos me observando. Provavelmente Seth e Leah estavam de olho para arrancar minha cabeça se eu fosse uma ameaça.
A casa estava estranhamente silenciosa, mas me mantive alerta. O sangue que outrora estava no chão já tinha sido limpado, e, na sala, uma vampira loira brincava com um bebê em seu colo. Ela ficou tensa quando sentiu meu cheiro e deixou a criança em uma espécie de berço, virando-se lentamente para me observar.
– O que quer aqui, Volturi? – a criança pareceu se agitar com a menção do meu nome e tentou se mover no berço – Não ache que não consigo acabar com você sozinha, se for necessário! – ela continuou se aproximando, sem tirar os olhos de mim.
– Eu sei que não pode, loira. – rebati no mesmo tom superior, e a minha vontade era realmente a de estraçalhar aquela vampira que ousava me desafiar, mas eu tinha prioridades em mente – Mas, pra sua sorte, eu preciso resolver outros assuntos primeiro. Preciso falar com Edward!
– Não é um bom momento, Volturi! – o vampiro loiro, que eu reconhecia como Carlisle, disse enquanto descia as escadas com as roupas completamente vermelhas de sangue. Ele não parecia afetado com isso, então prendi a respiração e fingi não reparar.
– Preciso falar com Edward! – repeti, entredentes – Por favor! – supliquei, sem saída, e ele apenas assentiu, enquanto dizia “Rosalie, leve Renesmee” para a loira, que corria com o bebê para fora da casa.
– Me acompanhe. – e eu apenas segui com ele escada acima. Carlisle me guiou até uma porta grande e abriu para que eu pudesse entrar. Não pude deixar de agradecer antes de passar por ele, que apenas assentiu novamente e desceu para o térreo da casa. Eu sabia que qualquer movimento em falso que eu desse seria minha sentença de morte, mas tentei relaxar.
O cômodo mais parecia uma sala de hospital, e a humana estava deitada em uma maca, com Edward velando seu sono. Ou sua morte, porque a mulher estava pálida como um cadáver. Meu irmão sabia de minha presença, mas não se mexeu, nem falou nada. Ele parecia exausto, ainda que isso não fosse possível para nós.
Caminhei lentamente em sua direção e toquei seu ombro, dando um leve aperto, que foi correspondido pela sua mão, que disparou para a minha. Eu ainda não entendia bem o que acontecia naquela casa, mas precisava confortá-lo de alguma forma. Por isso, deixei que seu dom de leitura de mentes fluísse por mim e, por um momento, me arrependi com a enxurrada de pensamentos que surgiram em minha cabeça. Não apenas de Edward, mas de Isabella também.
– E se eu tiver feito algo errado, Evie? – Edward parecia desesperado, apertando meus dedos com mais força. Sabia que, se pudesse, ele estaria chorando.
– Não fez! Está dando certo. – Isabella estava pedindo para ser morta em minha cabeça, ainda que se mantivesse imóvel. Ela era uma mulher forte, afinal. Não queria causar sofrimentos a Edward, por isso fechara-se em sua própria mente – Em um par de dias, ela vai estar bem.
– Como sabe disso, ? – ele estava confuso e, pela primeira vez, me olhou. – Seus olhos?! Não estão mais tão vermelhos. – ele parou por um segundo, e mais questionamentos surgiram em sua cabeça, me lembrando de “desligar” meu dom e parar de escutar o que ele pensava – Mas como você está aqui?! Aro sabe que está aqui?!
– Acalme-se, irmão. Não sou mais uma Volturi, então não precisamos nos preocupar com Aro. – por enquanto, completei em pensamento, e ele pareceu fazer a mesma coisa que eu – Estive com o clã Denali nos últimos meses, por isso meus olhos estão mais claros. – dei de ombros.
– Fico feliz por você e estou orgulhoso. – disse sem mais comentários e soltou um suspiro baixo, mantendo nossas mãos unidas. Eu sabia que ele falava a verdade, mas Edward estava muito preocupado para demonstrar qualquer emoção.
– Preciso que me perdoe. – Senti seu olhar recair em mim e continuei antes que ele falasse algo – Quase perdi totalmente o controle e ataquei sua esposa lá embaixo. Sinto muito, irmão! Vou entender se quiser que eu vá embora. – dei de ombros e ouvi um copo quebrar no andar de baixo. Todos os ouvidos da casa estavam voltados para a nossa conversa, nada surpreendente.
– Não sou maluco para te mandar embora, . Ficamos muito tempo longe e sinto sua falta, maninha. – agora, sim, ele sorria de verdade e me puxou para um abraço – Te amo.
– Também amo você, meu pirralho. – respondi, rindo, mas ele não me acompanhou. Seu rosto se contorceu em uma careta de raiva que eu não entendi, já que me mantinha longe de sua cabeça.
– Alice. – Edward chamou entredentes, e uma figura mais parecida com uma bailarina entrou no quarto rapidamente – Fique com Bella. – dizendo isso, saiu correndo para o andar de baixo como uma flecha.
– O que foi isso? – perguntei a ela.
– Jacob. – nada mais precisou ser dito para que eu saísse em disparada atrás de Edward.
– Como sabe meu nome? – ele me analisava, tentando descobrir o que podia. O homem parecia atento a cada micro movimento meu. Qualquer passo em falso seria letal. Se para ele ou para mim, eu não sabia.
– Na verdade, isso não vem muito ao caso, senhor Uley. – disse-lhe, sorrindo verdadeiramente, o que o deixara ainda mais intrigado. Sua mente, agora com uma única voz, parecia gritar em minha cabeça – Apenas quero chegar à casa de meu irmão, será que poderia me ajudar? – esperava que ele me ajudasse. Seria muito mais simples se me apontasse a direção correta a seguir.
– Acho que não sabe onde está… ? – ele me questionava de forma polida, decidido mentalmente a entrar em meu jogo e ver onde isso daria.
– Masen. Masen, prazer. – estendi minha mão em sinal de cumprimento de forma inconsciente, mas logo abaixei quando vi que não seria correspondida. – Está certo, não sei muito bem onde estou, mas procuro pelos Cullen. – um lampejo de compreensão passou pelo seu rosto, antes de fechar a cara novamente e cruzar seus braços em desagrado.
– Está em La Push, e esse é um território Quileute. – Claro! Os Quileutes de quem Irina tinha tanta raiva. – Invadiu nosso lado do tratado, Masen.
– Peço-lhe minhas desculpas, senhor Uley. Não sabia deste detalhe. Poderia me indicar a direção para a casa dos Cullen? – ele apontou para um lugar atrás de mim de má vontade e, antes que eu pudesse ir, ele pigarreou chamando minha atenção.
– Quem me garante que não irá quebrar as regras, vampira?
– Eu não me mostraria aos humanos! Essa é a regra principal, e convivo com ela há mais tempo do que você respira, Uley. – completei, debochando de toda aquela situação. Será que ele não percebia que tudo o que eu queria era encontrar meu irmão?
– Estou falando sobre não os matar, Masen!
– A ideia é a mesma, Uley! – disse, cansada da grosseria – Eu apenas estou indo encontrar os Cullen. Tenha um bom dia! – completei, me virando de costas para a direção que ele apontara, e corri. Não ouvi passos atrás de mim, então eu estava momentaneamente segura.
Forks estava me saindo melhor do que a encomenda. Claro que já sabia da existência dos lobos, mas ver um de perto foi extremamente curioso. Me fez lembrar a tal visão que tive com um deles. Deveríamos ser inimigos naturais, mas o estranho é que eu não me sentia assim. Ele era irritante, fedorento e definitivamente grosseiro, mas estava mais para um igual. Um sobrevivente, como eu.
Quanto mais me aproximava, melhor conseguia ouvir as mentes dos arredores. Resolvi manter os poderes de meu irmão alertas, já que não podia correr o risco de ser abatida antes de falar com ele. E, pelo visto, fiz bem. Tudo parecia estar uma confusão. Edward estava esgotado. Bella estava... grávida! Mas como isso era possível? Vampiros não podiam engravidar. Ou poderiam?! Tinha que ver isso com meus próprios olhos.
Fui me aproximando mais ainda do jardim dos Cullen, quando vi dois lobos ali que notaram minha presença no momento em que cheguei nas margens do terreno. Pelas mentes, eram Leah e Seth Clearwater, e pareciam estar discutindo sobre quem teria a minha cabeça primeiro à medida que se aproximavam. Os dentes estavam à mostra. Eles rosnavam em minha direção, na mesma postura com que Sam usara momentos atrás. Os dois estavam prontos para me atacar quando eu desse o próximo passo.
Foi nessa hora que o vi saindo da parte de trás da casa. Um lobo castanho avermelhado, que parecia muito com o que eu vira na visão que tive há meses. Ele trotava de forma rápida e vinha em minha direção, pronto para o ataque. E, por mais que eu quisesse, não consegui me mexer. Parecia que estava presa ao chão enquanto ele se movia para mais perto, e os outros dois lobos davam uma distância segura de mim, mas sem tirar os olhos de nós.
Ele rosnou uma vez mais e arrepiou minha espinha. Eu morreria de vez ali pelos dentes daquele animal. Mas, quando eu parei para olhar em seus olhos, um novo tipo de sentimento passou pelo meu corpo. Ele era mais magnético que um ímã, e eu conseguia ouvir em sua mente as vozes de Leah e Seth, que eram severamente ignoradas, enquanto ele me olhava de volta. Eu podia dizer que, mesmo morta, olhando para os olhos daquele lobo, eu me sentia viva. Jacob era seu nome. E eu sentia que as peças estavam finalmente se encaixando.
Jacob
– Volte para casa e fique com Bella. – disse a Edward antes de me transformar, após termos sentido a aproximação de um novo sanguessuga. A explosão em lobo aconteceu naturalmente como todas as outras, e ouvi a voz de Seth brigando com a irmã em minha cabeça.– Leah, olhe a cara dela. Parece assustada! – Seth sempre teve apreço por vampiros, nunca entendi esse garoto.
– Fique quieto, moleque. Não vê que ela está prestes a atacar! Precisamos nos aproximar enquanto ainda podemos neutralizá-la. – Leah dizia com uma voz autoritária e analítica. De fato, a posição de beta lhe subiu à cabeça.
– Calem a boca os dois e fiquem parados! A cabeça dessa sanguessuga é minha! – comandei aos dois em meu tom de alfa. Detestava ordenar, mas a vida de Bella era o que mais importava no momento.
Fui chegando devagar, mas ela já sabia de minha existência ali e permanecera imóvel. Se tivesse que ter atacado Seth e Leah, a vampira já teria feito. Mas eu sentia ódio. Ela deveria estar aqui para matar Bella a mando dos vampirões encapuzados, e eu não deixaria que isso acontecesse. Por pior que fosse essa decisão de carregar um monstro, Bella merecia viver.
Meus olhos se encontraram com os da vampira no momento em que pulava para atacar e um baque invisível e forte me deteve. As vozes de Leah e Seth se transformaram em sons abafados, como se a minha cabeça estivesse embaixo d’água. Mas eu não me sentia afogando, nunca tinha respirado tão bem na vida.
O tremor parou subitamente, assim como a raiva, e eu só conseguia focalizar na mulher ridiculamente atraente que estava na minha frente. Minha cabeça estava girando em uma velocidade tão grande que tudo o que consegui fazer foi cair sentado em minhas patas traseiras. Estava como um cão rendido, sem mais.
– Imprinting.
Seth falou ao fundo da minha cabeça, e eu consegui ligar os pontos. Sentia meu coração bater acelerado no peito à medida que ela dava passos lentos em minha direção, sem nunca tirar os olhos dos meus. Se fosse para morrer pelas mãos dela, eu o faria de bom grado. Ainda que vozes irritantes na minha cabeça, incluindo uma parte bem pequena minha, insistissem em me dizer o quão errado era aquilo.
– Rosalie, não! – a voz de Alice quebrou todo o silêncio, e eu consegui sair do transe que me encontrava ao olhar para ela. Mas, antes que eu pudesse me transformar, a vampira saiu em disparada para a casa, e eu não tive alternativas a não ser seguir o que ela estava fazendo. Sabia que algo estava muito errado, e o cheiro de sangue já começava a encher o ambiente.
Eu sabia que precisava me controlar, mas o cheiro de sangue me chamava como uma sereia encantando os navegantes. E eu apenas fui para a porta, que já estava aberta, vendo uma cena que parecia de terror. A humana estava grávida, magra como se estivesse doente, e sua barriga parecia grande demais para que ela pudesse sustentar.
Uma vampira loira era segurada por outro, que eu reconheci como Carlisle. Ninguém parecia ter notado a minha presença ainda em meio ao caos dos gritos de Isabella e do desespero presente na vampira baixinha, que tentava segurar dois vampiros com a ajuda de uma terceira mulher. Eu ainda não vira Edward, mas todos nós nos viramos para Isabella quando ouvimos um ruído abafado de algo se rasgando no meio de seu corpo.
A vontade de atacar nunca me pareceu tão grande, tanto pela cena, quanto pelo sangue que jazia no chão. Minha boca salivava, e eu sabia que meu coração estaria batendo freneticamente em expectativa pelo sangue humano. Então, ela vomitou um jorro de sangue, e eu me abaixei na posição de ataque, pronta para saltar o mais próximo dela. Todos pareciam ocupados, então eu teria o que tanto me faltava. E fui.
Eu não tirava os olhos dela, quando um corpo se chocou contra o meu na mesma velocidade do meu salto, e as paredes da casa tremeram com o barulho. Eu não conseguia distinguir quem era, então tratei de tentar me soltar, mas o aperto era tanto que senti que me partiria no meio se pudesse. Não adiantava o quanto eu me debatesse, os braços à minha volta não me deixavam sair. E tudo o que eu queria era o sangue que Isabella seguia cuspindo com mais dificuldade.
– Jacob, leve-a daqui! – a voz de quem me prendia disse aos gritos, e eu fui jogada como um brinquedo e apanhada com destreza, enquanto era tirada da casa rapidamente. Eu podia me soltar, mas a parte racional do meu cérebro sabia que tudo pioraria, então apenas me deixei levar e prendi a respiração, torcendo para que não causasse mais estragos.
As árvores ficavam para trás rapidamente à medida que nos distanciávamos, mas a velocidade que estávamos ainda era inferior ao que eu poderia fazer se estivesse sozinha. Mesmo assim, eu estava confortável. Estranhamente confortável. Sabia que era Jacob que me carregava e, mesmo que fôssemos inimigos naturais, desde que o vira, não conseguia sentir repulsa. Ele parecia ser muito mais do que o lobo da visão, e eu não sabia o que acontecia dentro de mim.
Quando estávamos ao que parecia ser uma distância segura da casa dos Cullen, Jacob me colocou de pé e se postou a alguns passos de mim, como se me desse espaço para respirar, e seus olhos percorriam cada detalhe do meu corpo descaradamente. Se eu ainda fosse humana, teria me envergonhado e lhe esbofeteado. Na atual conjuntura, preferi apenas pigarrear, e pareceu ter surtido efeito, quando um leve rubor tomou conta de suas bochechas e o homem cravou seu olhar no chão, ainda que continuasse bem atento aos meus movimentos.
– O que está acontecendo? – questionei baixo, e ele apenas se encostou na árvore mais próxima, parecendo despreocupado enquanto voltava a me encarar.
– Tem muita coisa acontecendo! – ele deu de ombros e parecia irônico, assumindo uma postura diferente do que eu tinha visto até agora – Sobre o que está perguntando exatamente? – devolveu.
– Por que não me atacou até agora? – eu tinha muitas perguntas, mas aquela me intrigava e também me fazia pensar sobre os meus próprios instintos.
– Você também não me atacou! – disse simplesmente.
– Tenho assuntos mais importantes a tratar. – desdenhei – Não é como se matar um lobo e sua alcateia estivesse na minha lista de morte! Então, se me der licença. – comecei a caminhar em uma velocidade humana, mas Jacob logo entrou em minha frente, barrando a passagem com o corpo. Eu podia sentir, com ainda mais clareza, o cheiro de seu sangue e ouvir o coração, que bombeava rapidamente.
– Não vai. – ele disse baixo, olhando diretamente em meus olhos, e eu não consegui recuar. Alguma coisa parecia me puxar para aquelas orbes pretas, mas eu ainda não sabia o que era.
Minha mão parecia ter vida própria, porque, antes que eu pudesse controlar, meus dedos já tinham achado o caminho para o rosto do desconhecido à minha frente e desenhavam seus traços sem qualquer impedimento da parte dele. Jacob manteve os olhos nos meus, quase como se tentasse fazer desse jeito o mesmo que eu fazia com as mãos.
A temperatura de seu corpo era mais alta que a de um humano normal, mas não me queimava a pele. Pelo contrário, era como tomar um banho quente e relaxante. Sua pele parecia seda em meus dedos, capaz de se romper com o mínimo movimento inadequado. Meus dedos formigavam como se eu tivesse acabado de me alimentar. Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos. Por Deus, o que estava acontecendo ali?!
E foi quando outra cena apareceu diante dos meus olhos.
Uma figura encapuzada e toda vestida de vermelho corria rapidamente pela floresta indistinta, quando algo a fez parar e aspirar o ar com cuidado. Sua cabeça se virava para as quatro direções, como se procurasse alguém. A figura se encostou a uma árvore, fazendo com que o capuz caísse e seu rosto se revelasse com um sorriso satisfeito, antes de se encaminhar para a direção oposta do que parecia estar indo antes. Allan estava vindo, e eu sabia.
Mas a imagem tinha se dissipado, e tudo o que eu via era Jacob com o rosto bem próximo ao meu, segurando em minha cintura como se eu tivesse perdido o equilíbrio e me encarando, preocupado. Levei meio segundo para entender que a tal visão provavelmente tinha me desestabilizado e ele me mantinha de pé.
– Você está bem? – Jacob perguntou enquanto eu me desvencilhava dele rapidamente e me recompunha.
– Claro! Eu só preciso ver Edward. – disse e saí em disparada para a casa dos Cullen, sabendo que ganharia a corrida, mas que o lobo estava logo atrás de mim. Suas patas batendo no chão não eram silenciosas, mas não me parariam agora.
Passar pelo jardim foi estranhamente fácil, mas sentia olhos me observando. Provavelmente Seth e Leah estavam de olho para arrancar minha cabeça se eu fosse uma ameaça.
A casa estava estranhamente silenciosa, mas me mantive alerta. O sangue que outrora estava no chão já tinha sido limpado, e, na sala, uma vampira loira brincava com um bebê em seu colo. Ela ficou tensa quando sentiu meu cheiro e deixou a criança em uma espécie de berço, virando-se lentamente para me observar.
– O que quer aqui, Volturi? – a criança pareceu se agitar com a menção do meu nome e tentou se mover no berço – Não ache que não consigo acabar com você sozinha, se for necessário! – ela continuou se aproximando, sem tirar os olhos de mim.
– Eu sei que não pode, loira. – rebati no mesmo tom superior, e a minha vontade era realmente a de estraçalhar aquela vampira que ousava me desafiar, mas eu tinha prioridades em mente – Mas, pra sua sorte, eu preciso resolver outros assuntos primeiro. Preciso falar com Edward!
– Não é um bom momento, Volturi! – o vampiro loiro, que eu reconhecia como Carlisle, disse enquanto descia as escadas com as roupas completamente vermelhas de sangue. Ele não parecia afetado com isso, então prendi a respiração e fingi não reparar.
– Preciso falar com Edward! – repeti, entredentes – Por favor! – supliquei, sem saída, e ele apenas assentiu, enquanto dizia “Rosalie, leve Renesmee” para a loira, que corria com o bebê para fora da casa.
– Me acompanhe. – e eu apenas segui com ele escada acima. Carlisle me guiou até uma porta grande e abriu para que eu pudesse entrar. Não pude deixar de agradecer antes de passar por ele, que apenas assentiu novamente e desceu para o térreo da casa. Eu sabia que qualquer movimento em falso que eu desse seria minha sentença de morte, mas tentei relaxar.
O cômodo mais parecia uma sala de hospital, e a humana estava deitada em uma maca, com Edward velando seu sono. Ou sua morte, porque a mulher estava pálida como um cadáver. Meu irmão sabia de minha presença, mas não se mexeu, nem falou nada. Ele parecia exausto, ainda que isso não fosse possível para nós.
Caminhei lentamente em sua direção e toquei seu ombro, dando um leve aperto, que foi correspondido pela sua mão, que disparou para a minha. Eu ainda não entendia bem o que acontecia naquela casa, mas precisava confortá-lo de alguma forma. Por isso, deixei que seu dom de leitura de mentes fluísse por mim e, por um momento, me arrependi com a enxurrada de pensamentos que surgiram em minha cabeça. Não apenas de Edward, mas de Isabella também.
– E se eu tiver feito algo errado, Evie? – Edward parecia desesperado, apertando meus dedos com mais força. Sabia que, se pudesse, ele estaria chorando.
– Não fez! Está dando certo. – Isabella estava pedindo para ser morta em minha cabeça, ainda que se mantivesse imóvel. Ela era uma mulher forte, afinal. Não queria causar sofrimentos a Edward, por isso fechara-se em sua própria mente – Em um par de dias, ela vai estar bem.
– Como sabe disso, ? – ele estava confuso e, pela primeira vez, me olhou. – Seus olhos?! Não estão mais tão vermelhos. – ele parou por um segundo, e mais questionamentos surgiram em sua cabeça, me lembrando de “desligar” meu dom e parar de escutar o que ele pensava – Mas como você está aqui?! Aro sabe que está aqui?!
– Acalme-se, irmão. Não sou mais uma Volturi, então não precisamos nos preocupar com Aro. – por enquanto, completei em pensamento, e ele pareceu fazer a mesma coisa que eu – Estive com o clã Denali nos últimos meses, por isso meus olhos estão mais claros. – dei de ombros.
– Fico feliz por você e estou orgulhoso. – disse sem mais comentários e soltou um suspiro baixo, mantendo nossas mãos unidas. Eu sabia que ele falava a verdade, mas Edward estava muito preocupado para demonstrar qualquer emoção.
– Preciso que me perdoe. – Senti seu olhar recair em mim e continuei antes que ele falasse algo – Quase perdi totalmente o controle e ataquei sua esposa lá embaixo. Sinto muito, irmão! Vou entender se quiser que eu vá embora. – dei de ombros e ouvi um copo quebrar no andar de baixo. Todos os ouvidos da casa estavam voltados para a nossa conversa, nada surpreendente.
– Não sou maluco para te mandar embora, . Ficamos muito tempo longe e sinto sua falta, maninha. – agora, sim, ele sorria de verdade e me puxou para um abraço – Te amo.
– Também amo você, meu pirralho. – respondi, rindo, mas ele não me acompanhou. Seu rosto se contorceu em uma careta de raiva que eu não entendi, já que me mantinha longe de sua cabeça.
– Alice. – Edward chamou entredentes, e uma figura mais parecida com uma bailarina entrou no quarto rapidamente – Fique com Bella. – dizendo isso, saiu correndo para o andar de baixo como uma flecha.
– O que foi isso? – perguntei a ela.
– Jacob. – nada mais precisou ser dito para que eu saísse em disparada atrás de Edward.
Capítulo 11
Edward tinha ido para baixo como um louco, e eu o seguira sem entender o que acontecia. Meu irmão perguntou por Jacob, e Carlisle lhe disse que ele estava no jardim. Ele saiu correndo e fui atrás, temendo pelo que poderia acontecer. Quando ele cravou os olhos em Jacob, que conversava com um adolescente e uma mulher muito parecidos, um rosnado alto saiu de sua boca, e ele se abaixou, pronto para atacar.
– Você não fez isso. – Edward disse em um tom baixo, e eu vi Jacob engolir em seco.
Jacob recuava à medida que a compreensão passava por seu rosto, por isso eu decidi me movimentar para mais perto de meu irmão, e não era a única. Os dois lobos da alcateia de Jacob já estavam transformados, e Carlisle também se aproximava cuidadosamente de Edward, tendo sinalizado com a mão para o vampiro grandalhão que acabara de chegar. Maldita hora que eu tinha prometido a mim mesma que não leria a mente daquelas pessoas, que respeitaria suas privacidades.
– Você sabe que não posso controlar. Aconteceu. – Jacob tinha as palmas das mãos para cima, como se se eximisse de culpa, e tentava se justificar para meu irmão.
– Seu vira-lata estúpido. Primeiro com Isabella, depois com . – Edward estava descontrolado – Como ousa ter imprinting com a minha irmã? – Imprinting?! O que era isso?! Nunca tinha visto meu irmão tão furioso. Jacob continuava recuando. Leah e Seth começaram a se aproximar mais dos dois.
– Leah, não! – Jacob mandava, e vi o esforço que ela fez quando acatou. – Isso é um assunto meu e dela, Edward.
– Vai ficar longe dela!
– Não é como se eu pudesse dar uma resposta sobre isso.
– Ela detesta ser pressionada. Vai ficar longe dela. – Edward repetiu entredentes.
Eu já estava irritada com a conversa que acontecia como se eu não estivesse ali, já que todos já pareciam ter entendido do que se tratava. Então, saltei para o meio dos dois e alternava olhares entre meu irmão e Jacob.
– Alguém vai me dizer exatamente o que está acontecendo aqui ou vou ter que utilizar outros métodos? – disse entredentes, tentando controlar a raiva. Detestava que falassem de mim como se eu não estivesse presente – O que é um imprinting? – perguntei, olhando diretamente para Jacob, que se encolheu.
– Ande, diga a ela. Diga que vai destiná-la a uma vida sem escolhas. – Edward cuspia as palavras em Jacob – Ela já é uma vampira, e você quer adicionar mais problemas com essa coisa idiota de lobo. – ele estava furioso.
– Como assim? O que significa isso? – ignorei meu irmão e os lobos que estavam ali perto. Olhei diretamente para Jacob, que permanecia calado – Vai falar ou ficar calado? – Perguntei gritando, já me estressando com todo aquele silêncio. Ao meu redor, o vampiro grandalhão soltava uma risada nada discreta.
– Podemos conversar em outro lugar? – ele perguntou, me olhando suplicante. – Por favor.
– Agora! – respondi, disparando para a floresta e sabendo que ele me seguiria. Estava na hora de esclarecer algumas coisas.
Eu estava impaciente. Graças aos meus poderes, curiosidade basicamente não existia no meu vocabulário. Durante a corrida, milhares de cenários tinham aparecido na minha cabeça, e usei toda a força interna que consegui para não ler os pensamentos do lobo que vinha atrás de mim com passos pesados.
Fui adentrando uma campina, chegando perto do riacho que tinha ali. Sentei-me em uma pedra e, olhando para o pôr do sol, esperei que ele me alcançasse e tomasse coragem para se pronunciar.
– . – Jacob respirou fundo depois de voltar à sua forma humana. Parecia nervoso com algo.
– Seja o mais direto e rápido possível! – eu estava ficando sem a menor paciência. As palavras de Edward não deixavam a minha cabeça. “Ande, diga a ela. Diga que vai destiná-la a uma vida sem escolhas.”
– Vou começar pelo começo. – ouvi o homem engolir em seco às minhas costas e se aproximar ligeiramente, mas sem entrar em meu campo de visão – Bom, existem algumas lendas envolvendo o meu povo. Os Quileutes. – ele respirava pesadamente, mas seu batimento cardíaco estava muito acelerado. – Uma dessas lendas é a do imprinting. Ter um imprinting com alguém é como... – ele parecia buscar as palavras certas para continuar. – sentir tudo mudar no momento em que a vê. Suas crenças, visões, desejos… Nada mais te prende ao mundo, apenas ela. A ela. Então, você se torna tudo aquilo que ela precisar. Um irmão, amigo, confidente, amante. – me virei para encará-lo, e ele mantinha a cabeça baixa enquanto falava. O medo que Jacob transmitia era palpável. – Isso é ter um imprinting com alguém. – completou, indo se sentar a alguns metros de distância, talvez me dando um tempo para absorver.
Eu estava em transe, se isso fosse possível. Ele queria dizer que era minha alma gêmea? Mas eu nem tinha mais alma, sequer vida. Ainda estava confusa com tudo o que estava acontecendo. Como isso acontecia com uma vampira?!
– O que Edward quis dizer com "vida sem escolhas’’? – perguntei alto o suficiente para que ele pudesse me ouvir claramente. Eu estava assustada. Tinha ido embora de casa para não ser submetida a uma vida na sombra de um homem e não tinha mudado de ideia.
– Ele está errado. – falou depressa – Você tem todo o direito de escolher ficar comigo ou não. – ele tinha corado com o que disse. Lindo. Sorri internamente com isso e me condenei no mesmo segundo. Não era por aí que eu devia caminhar – Quer dizer, não é que você precise ficar comigo. Na verdade, não é como se houvesse algum sentido nisso tudo. – Jacob se corrigiu logo.
– Como assim?
– Nunca soube de um imprinting com uma vampira. – ele deu de ombros e me olhou – Não é como se fosse algo cotidiano, né? – sorriu de lado, e eu teria corado se fosse humana.
– Já estou acostumada com bizarrices, Jacob. Tive basicamente um século de experiência – ri sem humor – Não existe uma lei do seu povo que nos obrigue a ficar juntos, certo?
– A ideia idiota do imprinting é que eu preciso ser o que você precisa, não o contrário. – ele suspirou – Está livre pra viver a sua vida.
– Não parece satisfeito por ter sofrido isso comigo. – comentei, tentando não parecer ofendida.
– Por um lado, isso fez com que eu saísse de uma relação doentia, mas, pelo visto, entrei em outra.
– Não estou lhe forçando a nada, Jacob! – levantei e olhei diretamente em seus olhos, a raiva crescendo no meu peito – Então, vamos manter essa "relação" como um "não vamos nos matar".
Dei meia volta e me pus a correr para a casa dos Cullen. Não ouvi passos atrás de mim, então possivelmente Jacob estava me dando espaço para pensar no que aconteceria a partir de agora.
O lugar estava bastante silencioso, sequer via os lobos ou sentia seus cheiros nos arredores da propriedade. Eu sabia que, dentro da casa, todos estavam em expectativa. Porém, me esperando à frente da casa, um vampiro loiro, com os braços cheios de cicatrizes, me olhava. Ele gritava perigo por todos os poros, mas me fez sentir estranhamente confortável em sua presença.
– Senhorita Masen! – ele fez uma reverência exagerada e pude ouvir em sua voz um sotaque sulista, ainda que leve – A que devemos sua visita?
– Jasper, verdade? – deixei os poderes de Edward fluírem por mim por alguns segundos, e ele não pareceu surpreso por eu saber seu nome.
– Exatamente, ! – concordou, piscando um olho em minha direção.
– Não estou a mando dos Volturi, se é o que acredita.
– Sei que não, já estaria desmembrada se fosse esse o caso. – disse como quem comenta sobre o tempo, e tudo o que eu pude fazer foi soltar uma risada, que logo foi acompanhada de forma mais contida por ele – Sabe onde está se metendo?
– Não faço a menor ideia! – dei de ombros.
– E quer continuar?
– Adoraria!
Ele apenas assentiu, me oferecendo o braço para que o tomasse, e assim o fiz. Caminhamos em uma velocidade humana para dentro da casa, onde cinco vampiros me esperavam. Jasper, como um cavalheiro, me apresentou a todos, por mera formalidade e, assim que o último nome foi dito, ele me soltou, se encaminhando para perto da vampira mais baixa. Alice.
– Espero que entenda nossa preocupação, ! – se justificou Alice – Eu não consigo ver muito ao seu respeito. Por conta de Jacob.
– Sei os motivos pelos quais isso foi necessário. Eu teria feito o mesmo se ainda estivesse na guarda. Mas o teatrinho teria terminado comigo queimada, se dependesse de Caius. – estremeci, me lembrando dele.
– Acredito que vá ficar por Forks, certo? – Esme questionou, mudando o foco.
– Ainda não sei bem onde ficar, escondi minhas coisas na floresta, mas adoraria permanecer o mais perto possível do meu irmão. – inconscientemente, meus pensamentos vagaram para Jacob. Tinha muito no prato para lidar.
– Adoraríamos ter você conosco, . – Carlisle convidou – Se puder se controlar quanto a Renesmee e aos outros humanos ao nosso redor. – ele sinalizou a criança que dormia nos braços de Rosalie, ainda escondida e protegida pelos vampiros.
– Ela não é mesmo uma criança imortal, né? – suspirei e olhei de relance para ela. Eu podia ouvir o sangue correndo em suas veias e sentir o calor que ela emanava. Essas coisas não eram possíveis de fingir – Não tem com o que se preocupar, Carlisle! Nunca comprometeria a segurança dela ou de outros.
– Então, é mais do que bem-vinda para se manter por perto! – ele disse, e vi Esme sorrindo para mim.
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Os dias tinham passado, e eu estava me adaptando à rotina dos Cullen, mesmo que evitasse permanecer muito tempo na casa. Isabella também tinha acordado e estava se saindo genuinamente bem em sua vida de vampira, ainda que mantivéssemos certa distância entre nós. Eu ainda não contara a ela que conseguira ler a sua mente durante a transformação e achei melhor deixar por isso mesmo.
Renesmee, por outro lado, crescia absurdamente rápido e, por mais que não ficasse sozinha com ela, a garotinha tinha me conquistado com seu sorriso e suas covinhas. Ela me lembrava o Edward mais novo de minhas lembranças vagas, e a criança, assim como meu irmão, me tinha nas mãos.
– Ele não vai se aproximar da casa. – meu irmão disse, se sentando ao meu lado nos degraus da entrada.
– Eu sei que não. – suspirei – Ele está lá desde o amanhecer. – dei de ombros – Mas não é como se eu pudesse fazer alguma coisa. Não tive culpa.
– Não disse que teve culpa, . – Edward entrelaçou os dedos nos meus – Só que talvez eu tenha exagerado, porque é uma escolha sua.
– Nesse negócio de imprinting eu não tive escolhas, irmão. – e, como se ouvisse, Jacob deu as costas para nós e se pôs a correr para longe – Ele precisa lidar com as consequências, e eu também. – disse, me soltando e levantando dali – Você quer caçar?
– Acho que não estou preparado pra te ver caçando e lutando com leões da montanha. – comentou, rindo – Mas sei que Jasper adoraria te acompanhar! – ele sorriu, e Jasper apareceu na soleira da porta, me olhando em expectativa.
– Tente me alcançar, Jasper! – disse, correndo, sabendo que o loiro me seguia de perto.
Fomos o mais distante que conseguimos de Forks para caçar e encontrar os tais leões da montanha que Edward tinha comentado. Jasper estava guiando para que não saíssemos das terras dos Cullen, e foi quando encontramos os animais. Era apenas um casal, mas Jasper inclinou a cabeça na direção do maior deles, como se me oferecesse por cavalheirismo. Eu podia ter recusado, mas, como estava há pouco tempo nessa vida vegetariana, achei melhor drenar o máximo da sede, que ainda me incomodava bastante.
Não me fiz de rogada e me lancei para cima do animal, que, sentindo a minha aproximação, se pôs a correr. Era divertido, eu gostava de brincar com a comida. Nada que vinha fácil demais era tão bom assim.
Mas, para o azar dele, ainda que corresse mais rápido que um maratonista, eu era muito mais veloz. E, mesmo dando algum tempinho de dianteira, não demorou muito para que eu o alcançasse antes que o leão pulasse no riacho e abocanhasse seu pescoço sem dificuldade. Os pêlos ainda me incomodavam bastante, mas carnívoros eram o melhor que eu poderia pedir nas circunstâncias.
Quando entrei em contato com o sangue, foi como se mergulhasse em uma banheira de água morna. Extremamente confortável. Infelizmente, drenei o animal mais rápido do que achei, e a minha sede não tinha terminado, apenas estava mais branda. Por isso, logo corri de volta a Jasper, que me esperava no lugar onde nos separamos. Ele “convencia” suas presas com mais facilidade do que eu e não precisava persegui-las. Uma sorte.
– Ainda com sede? – ele questionou, mesmo que já soubesse da resposta – Podemos caçar alguns cervos se quiser. – disse, ainda que ele mesmo torcesse o nariz para herbívoros.
– Nenhuma possibilidade de assaltarmos o estoque de sangue para Renesmee? – sugeri, rindo, e ele me acompanhou, fazendo uma cara de quem estava considerando a ideia – Somos rápidos, você sabe. – dei de ombros.
– Vamos deixar essa possibilidade para o plano B, ok? – ele riu e se colocou em alerta quando uma brisa trouxe o cheiro de um grupo de cervos ao nordeste – Desta vez, não vou te deixar pegar o maior de todos. – comentou antes de sair em disparada ao encontro dos animais, e eu o segui. Herbívoros eram melhores que nada.
– Como exatamente conseguiu essas cicatrizes, Jasper? – Interrompi o silêncio e perguntei, sem mais segurar a curiosidade. Estávamos sentados nas pedras, sem muita vontade de voltar para casa. Eu podia ler, se quisesse, na mente dele. Mas não queria. Gostava de ouvir histórias.
– Décadas e décadas de exércitos de recém-criados. – ele deu de ombros enquanto jogava uma pedrinha no riacho, displicente.
– Você também os treinava, não é? – ele afirmou – Eu tenho uma dessas na barriga, mas é a única. Jane pode ser bem protetora quando quer, então isso não aconteceu novamente.
– Definitivamente não consigo imaginar isso dela. Não com o que vi naquela clareira.
– Há mais camadas nela e em Alec do que você imagina. Eles me acolheram dentro dessa loucura em que fui jogada.
– Entendo o que quer dizer! Criar raízes é sempre bom, mesmo que sejam eternas. – ele me olhou sugestivo.
– Você diz isso porque escolheu estar com Alice. – revirei os olhos e não consegui impedir que o rosto de Jacob surgisse em minha cabeça – Eu mal sei o que está acontecendo. Chego em um dia, um lobo que só apareceu pra mim em visões assume a forma humana e diz que somos almas gêmeas. – suspirei – Vamos concordar que até mesmo pra uma vampira isso é loucura demais.
– E-espera, você disse visões? – Jasper estava desconfiado, e eu percebi que tinha falado mais do que devia – Que dons você possui, ?
– Quer mesmo saber? Porque, no momento em que eu abrir a boca, você ganha um alvo nas costas.
– Acho que ganhei um assim que fui transformado!
– Talvez você tenha razão. – dei de ombros – Mas sabe que se algo do que eu disser for contado para outras pessoas, até mesmo Edward, eu não vou ter pena de desmembrar você da forma mais dolorosa possível, né?
– Eu não imaginaria que fosse de outra forma, ! – ele me olhou, e eu sabia que podia confiar nele para além de seus poderes. Eu podia sentir que Jasper não estava tentando me deixar mais tranquila ou mexendo em alguma outra emoção.
Isso me fez confiar nele. Contei desde a transformação até o momento em que cheguei aos Volturi. Disse sobre Aro não conseguir ler minha mente e sobre ter absorvido os dons de todos os vampiros que tinham passado pelo meu caminho, até mesmo os dele. Falei sobre como Eleazar tinha descoberto tão pouco sobre as Litúrias, as tais sugadoras de sangue com poderes paranormais, até o momento e que suas pesquisas não avançaram no tempo em que fiquei junto aos Denali.
Comentei sobre as visões que tive com Jacob em sua forma de lobo e sobre a última que eu tivera com Allan. Dividi, como se fôssemos amigos de longa data, o medo que eu tinha de trazer algum problema aos Cullen e, principalmente, a Edward, Renesmee e, por que não, Jacob.
– Acho que você pode começar falando com Jacob. – ele sugeriu – O garoto parece ser a parte menos confusa disso tudo.
– Menos confusa? Você não percebeu a parte que somos inimigos naturais e não faz o menor sentido uma vampira e um lobisomem juntos?
– Você dois não parecem ser comuns a ponto dessas regras valerem. – o homem deu de ombros – Não perde nada por tentar, se quiser a minha opinião.
– E o que acha vai acontecer? Que vamos ficar juntos pro resto da eternidade e que iremos nos apaixonar perdidamente um pelo outro? – ri sem humor, e Jasper apenas sorriu condescendente, o que me irritou.
– Eu não acho nada, . Mas você vai ter que conversar com ele em algum momento. E talvez esse imprinting tenha acontecido por algum motivo, nunca se sabe.
– O futuro nunca é certo e ele depende das decisões externas. Alice me ensinou isso. – corrigi, e ele soltou uma risadinha baixa.
– Tem razão. Mas eu não estava falando sobre o futuro, e sim sobre o passado. Você ser justamente o imprinting de Jacob pode significar muita coisa, não acha? – Jasper olhou demoradamente nos meus olhos, e eu sabia que ele estava procurando por um sinal de hesitação – Não está curiosa pra saber o motivo? – e ele conseguiu encontrar.
– Você não fez isso. – Edward disse em um tom baixo, e eu vi Jacob engolir em seco.
Jacob recuava à medida que a compreensão passava por seu rosto, por isso eu decidi me movimentar para mais perto de meu irmão, e não era a única. Os dois lobos da alcateia de Jacob já estavam transformados, e Carlisle também se aproximava cuidadosamente de Edward, tendo sinalizado com a mão para o vampiro grandalhão que acabara de chegar. Maldita hora que eu tinha prometido a mim mesma que não leria a mente daquelas pessoas, que respeitaria suas privacidades.
– Você sabe que não posso controlar. Aconteceu. – Jacob tinha as palmas das mãos para cima, como se se eximisse de culpa, e tentava se justificar para meu irmão.
– Seu vira-lata estúpido. Primeiro com Isabella, depois com . – Edward estava descontrolado – Como ousa ter imprinting com a minha irmã? – Imprinting?! O que era isso?! Nunca tinha visto meu irmão tão furioso. Jacob continuava recuando. Leah e Seth começaram a se aproximar mais dos dois.
– Leah, não! – Jacob mandava, e vi o esforço que ela fez quando acatou. – Isso é um assunto meu e dela, Edward.
– Vai ficar longe dela!
– Não é como se eu pudesse dar uma resposta sobre isso.
– Ela detesta ser pressionada. Vai ficar longe dela. – Edward repetiu entredentes.
Eu já estava irritada com a conversa que acontecia como se eu não estivesse ali, já que todos já pareciam ter entendido do que se tratava. Então, saltei para o meio dos dois e alternava olhares entre meu irmão e Jacob.
– Alguém vai me dizer exatamente o que está acontecendo aqui ou vou ter que utilizar outros métodos? – disse entredentes, tentando controlar a raiva. Detestava que falassem de mim como se eu não estivesse presente – O que é um imprinting? – perguntei, olhando diretamente para Jacob, que se encolheu.
– Ande, diga a ela. Diga que vai destiná-la a uma vida sem escolhas. – Edward cuspia as palavras em Jacob – Ela já é uma vampira, e você quer adicionar mais problemas com essa coisa idiota de lobo. – ele estava furioso.
– Como assim? O que significa isso? – ignorei meu irmão e os lobos que estavam ali perto. Olhei diretamente para Jacob, que permanecia calado – Vai falar ou ficar calado? – Perguntei gritando, já me estressando com todo aquele silêncio. Ao meu redor, o vampiro grandalhão soltava uma risada nada discreta.
– Podemos conversar em outro lugar? – ele perguntou, me olhando suplicante. – Por favor.
– Agora! – respondi, disparando para a floresta e sabendo que ele me seguiria. Estava na hora de esclarecer algumas coisas.
Eu estava impaciente. Graças aos meus poderes, curiosidade basicamente não existia no meu vocabulário. Durante a corrida, milhares de cenários tinham aparecido na minha cabeça, e usei toda a força interna que consegui para não ler os pensamentos do lobo que vinha atrás de mim com passos pesados.
Fui adentrando uma campina, chegando perto do riacho que tinha ali. Sentei-me em uma pedra e, olhando para o pôr do sol, esperei que ele me alcançasse e tomasse coragem para se pronunciar.
– . – Jacob respirou fundo depois de voltar à sua forma humana. Parecia nervoso com algo.
– Seja o mais direto e rápido possível! – eu estava ficando sem a menor paciência. As palavras de Edward não deixavam a minha cabeça. “Ande, diga a ela. Diga que vai destiná-la a uma vida sem escolhas.”
– Vou começar pelo começo. – ouvi o homem engolir em seco às minhas costas e se aproximar ligeiramente, mas sem entrar em meu campo de visão – Bom, existem algumas lendas envolvendo o meu povo. Os Quileutes. – ele respirava pesadamente, mas seu batimento cardíaco estava muito acelerado. – Uma dessas lendas é a do imprinting. Ter um imprinting com alguém é como... – ele parecia buscar as palavras certas para continuar. – sentir tudo mudar no momento em que a vê. Suas crenças, visões, desejos… Nada mais te prende ao mundo, apenas ela. A ela. Então, você se torna tudo aquilo que ela precisar. Um irmão, amigo, confidente, amante. – me virei para encará-lo, e ele mantinha a cabeça baixa enquanto falava. O medo que Jacob transmitia era palpável. – Isso é ter um imprinting com alguém. – completou, indo se sentar a alguns metros de distância, talvez me dando um tempo para absorver.
Eu estava em transe, se isso fosse possível. Ele queria dizer que era minha alma gêmea? Mas eu nem tinha mais alma, sequer vida. Ainda estava confusa com tudo o que estava acontecendo. Como isso acontecia com uma vampira?!
– O que Edward quis dizer com "vida sem escolhas’’? – perguntei alto o suficiente para que ele pudesse me ouvir claramente. Eu estava assustada. Tinha ido embora de casa para não ser submetida a uma vida na sombra de um homem e não tinha mudado de ideia.
– Ele está errado. – falou depressa – Você tem todo o direito de escolher ficar comigo ou não. – ele tinha corado com o que disse. Lindo. Sorri internamente com isso e me condenei no mesmo segundo. Não era por aí que eu devia caminhar – Quer dizer, não é que você precise ficar comigo. Na verdade, não é como se houvesse algum sentido nisso tudo. – Jacob se corrigiu logo.
– Como assim?
– Nunca soube de um imprinting com uma vampira. – ele deu de ombros e me olhou – Não é como se fosse algo cotidiano, né? – sorriu de lado, e eu teria corado se fosse humana.
– Já estou acostumada com bizarrices, Jacob. Tive basicamente um século de experiência – ri sem humor – Não existe uma lei do seu povo que nos obrigue a ficar juntos, certo?
– A ideia idiota do imprinting é que eu preciso ser o que você precisa, não o contrário. – ele suspirou – Está livre pra viver a sua vida.
– Não parece satisfeito por ter sofrido isso comigo. – comentei, tentando não parecer ofendida.
– Por um lado, isso fez com que eu saísse de uma relação doentia, mas, pelo visto, entrei em outra.
– Não estou lhe forçando a nada, Jacob! – levantei e olhei diretamente em seus olhos, a raiva crescendo no meu peito – Então, vamos manter essa "relação" como um "não vamos nos matar".
Dei meia volta e me pus a correr para a casa dos Cullen. Não ouvi passos atrás de mim, então possivelmente Jacob estava me dando espaço para pensar no que aconteceria a partir de agora.
O lugar estava bastante silencioso, sequer via os lobos ou sentia seus cheiros nos arredores da propriedade. Eu sabia que, dentro da casa, todos estavam em expectativa. Porém, me esperando à frente da casa, um vampiro loiro, com os braços cheios de cicatrizes, me olhava. Ele gritava perigo por todos os poros, mas me fez sentir estranhamente confortável em sua presença.
– Senhorita Masen! – ele fez uma reverência exagerada e pude ouvir em sua voz um sotaque sulista, ainda que leve – A que devemos sua visita?
– Jasper, verdade? – deixei os poderes de Edward fluírem por mim por alguns segundos, e ele não pareceu surpreso por eu saber seu nome.
– Exatamente, ! – concordou, piscando um olho em minha direção.
– Não estou a mando dos Volturi, se é o que acredita.
– Sei que não, já estaria desmembrada se fosse esse o caso. – disse como quem comenta sobre o tempo, e tudo o que eu pude fazer foi soltar uma risada, que logo foi acompanhada de forma mais contida por ele – Sabe onde está se metendo?
– Não faço a menor ideia! – dei de ombros.
– E quer continuar?
– Adoraria!
Ele apenas assentiu, me oferecendo o braço para que o tomasse, e assim o fiz. Caminhamos em uma velocidade humana para dentro da casa, onde cinco vampiros me esperavam. Jasper, como um cavalheiro, me apresentou a todos, por mera formalidade e, assim que o último nome foi dito, ele me soltou, se encaminhando para perto da vampira mais baixa. Alice.
– Espero que entenda nossa preocupação, ! – se justificou Alice – Eu não consigo ver muito ao seu respeito. Por conta de Jacob.
– Sei os motivos pelos quais isso foi necessário. Eu teria feito o mesmo se ainda estivesse na guarda. Mas o teatrinho teria terminado comigo queimada, se dependesse de Caius. – estremeci, me lembrando dele.
– Acredito que vá ficar por Forks, certo? – Esme questionou, mudando o foco.
– Ainda não sei bem onde ficar, escondi minhas coisas na floresta, mas adoraria permanecer o mais perto possível do meu irmão. – inconscientemente, meus pensamentos vagaram para Jacob. Tinha muito no prato para lidar.
– Adoraríamos ter você conosco, . – Carlisle convidou – Se puder se controlar quanto a Renesmee e aos outros humanos ao nosso redor. – ele sinalizou a criança que dormia nos braços de Rosalie, ainda escondida e protegida pelos vampiros.
– Ela não é mesmo uma criança imortal, né? – suspirei e olhei de relance para ela. Eu podia ouvir o sangue correndo em suas veias e sentir o calor que ela emanava. Essas coisas não eram possíveis de fingir – Não tem com o que se preocupar, Carlisle! Nunca comprometeria a segurança dela ou de outros.
– Então, é mais do que bem-vinda para se manter por perto! – ele disse, e vi Esme sorrindo para mim.
Os dias tinham passado, e eu estava me adaptando à rotina dos Cullen, mesmo que evitasse permanecer muito tempo na casa. Isabella também tinha acordado e estava se saindo genuinamente bem em sua vida de vampira, ainda que mantivéssemos certa distância entre nós. Eu ainda não contara a ela que conseguira ler a sua mente durante a transformação e achei melhor deixar por isso mesmo.
Renesmee, por outro lado, crescia absurdamente rápido e, por mais que não ficasse sozinha com ela, a garotinha tinha me conquistado com seu sorriso e suas covinhas. Ela me lembrava o Edward mais novo de minhas lembranças vagas, e a criança, assim como meu irmão, me tinha nas mãos.
– Ele não vai se aproximar da casa. – meu irmão disse, se sentando ao meu lado nos degraus da entrada.
– Eu sei que não. – suspirei – Ele está lá desde o amanhecer. – dei de ombros – Mas não é como se eu pudesse fazer alguma coisa. Não tive culpa.
– Não disse que teve culpa, . – Edward entrelaçou os dedos nos meus – Só que talvez eu tenha exagerado, porque é uma escolha sua.
– Nesse negócio de imprinting eu não tive escolhas, irmão. – e, como se ouvisse, Jacob deu as costas para nós e se pôs a correr para longe – Ele precisa lidar com as consequências, e eu também. – disse, me soltando e levantando dali – Você quer caçar?
– Acho que não estou preparado pra te ver caçando e lutando com leões da montanha. – comentou, rindo – Mas sei que Jasper adoraria te acompanhar! – ele sorriu, e Jasper apareceu na soleira da porta, me olhando em expectativa.
– Tente me alcançar, Jasper! – disse, correndo, sabendo que o loiro me seguia de perto.
Fomos o mais distante que conseguimos de Forks para caçar e encontrar os tais leões da montanha que Edward tinha comentado. Jasper estava guiando para que não saíssemos das terras dos Cullen, e foi quando encontramos os animais. Era apenas um casal, mas Jasper inclinou a cabeça na direção do maior deles, como se me oferecesse por cavalheirismo. Eu podia ter recusado, mas, como estava há pouco tempo nessa vida vegetariana, achei melhor drenar o máximo da sede, que ainda me incomodava bastante.
Não me fiz de rogada e me lancei para cima do animal, que, sentindo a minha aproximação, se pôs a correr. Era divertido, eu gostava de brincar com a comida. Nada que vinha fácil demais era tão bom assim.
Mas, para o azar dele, ainda que corresse mais rápido que um maratonista, eu era muito mais veloz. E, mesmo dando algum tempinho de dianteira, não demorou muito para que eu o alcançasse antes que o leão pulasse no riacho e abocanhasse seu pescoço sem dificuldade. Os pêlos ainda me incomodavam bastante, mas carnívoros eram o melhor que eu poderia pedir nas circunstâncias.
Quando entrei em contato com o sangue, foi como se mergulhasse em uma banheira de água morna. Extremamente confortável. Infelizmente, drenei o animal mais rápido do que achei, e a minha sede não tinha terminado, apenas estava mais branda. Por isso, logo corri de volta a Jasper, que me esperava no lugar onde nos separamos. Ele “convencia” suas presas com mais facilidade do que eu e não precisava persegui-las. Uma sorte.
– Ainda com sede? – ele questionou, mesmo que já soubesse da resposta – Podemos caçar alguns cervos se quiser. – disse, ainda que ele mesmo torcesse o nariz para herbívoros.
– Nenhuma possibilidade de assaltarmos o estoque de sangue para Renesmee? – sugeri, rindo, e ele me acompanhou, fazendo uma cara de quem estava considerando a ideia – Somos rápidos, você sabe. – dei de ombros.
– Vamos deixar essa possibilidade para o plano B, ok? – ele riu e se colocou em alerta quando uma brisa trouxe o cheiro de um grupo de cervos ao nordeste – Desta vez, não vou te deixar pegar o maior de todos. – comentou antes de sair em disparada ao encontro dos animais, e eu o segui. Herbívoros eram melhores que nada.
– Como exatamente conseguiu essas cicatrizes, Jasper? – Interrompi o silêncio e perguntei, sem mais segurar a curiosidade. Estávamos sentados nas pedras, sem muita vontade de voltar para casa. Eu podia ler, se quisesse, na mente dele. Mas não queria. Gostava de ouvir histórias.
– Décadas e décadas de exércitos de recém-criados. – ele deu de ombros enquanto jogava uma pedrinha no riacho, displicente.
– Você também os treinava, não é? – ele afirmou – Eu tenho uma dessas na barriga, mas é a única. Jane pode ser bem protetora quando quer, então isso não aconteceu novamente.
– Definitivamente não consigo imaginar isso dela. Não com o que vi naquela clareira.
– Há mais camadas nela e em Alec do que você imagina. Eles me acolheram dentro dessa loucura em que fui jogada.
– Entendo o que quer dizer! Criar raízes é sempre bom, mesmo que sejam eternas. – ele me olhou sugestivo.
– Você diz isso porque escolheu estar com Alice. – revirei os olhos e não consegui impedir que o rosto de Jacob surgisse em minha cabeça – Eu mal sei o que está acontecendo. Chego em um dia, um lobo que só apareceu pra mim em visões assume a forma humana e diz que somos almas gêmeas. – suspirei – Vamos concordar que até mesmo pra uma vampira isso é loucura demais.
– E-espera, você disse visões? – Jasper estava desconfiado, e eu percebi que tinha falado mais do que devia – Que dons você possui, ?
– Quer mesmo saber? Porque, no momento em que eu abrir a boca, você ganha um alvo nas costas.
– Acho que ganhei um assim que fui transformado!
– Talvez você tenha razão. – dei de ombros – Mas sabe que se algo do que eu disser for contado para outras pessoas, até mesmo Edward, eu não vou ter pena de desmembrar você da forma mais dolorosa possível, né?
– Eu não imaginaria que fosse de outra forma, ! – ele me olhou, e eu sabia que podia confiar nele para além de seus poderes. Eu podia sentir que Jasper não estava tentando me deixar mais tranquila ou mexendo em alguma outra emoção.
Isso me fez confiar nele. Contei desde a transformação até o momento em que cheguei aos Volturi. Disse sobre Aro não conseguir ler minha mente e sobre ter absorvido os dons de todos os vampiros que tinham passado pelo meu caminho, até mesmo os dele. Falei sobre como Eleazar tinha descoberto tão pouco sobre as Litúrias, as tais sugadoras de sangue com poderes paranormais, até o momento e que suas pesquisas não avançaram no tempo em que fiquei junto aos Denali.
Comentei sobre as visões que tive com Jacob em sua forma de lobo e sobre a última que eu tivera com Allan. Dividi, como se fôssemos amigos de longa data, o medo que eu tinha de trazer algum problema aos Cullen e, principalmente, a Edward, Renesmee e, por que não, Jacob.
– Acho que você pode começar falando com Jacob. – ele sugeriu – O garoto parece ser a parte menos confusa disso tudo.
– Menos confusa? Você não percebeu a parte que somos inimigos naturais e não faz o menor sentido uma vampira e um lobisomem juntos?
– Você dois não parecem ser comuns a ponto dessas regras valerem. – o homem deu de ombros – Não perde nada por tentar, se quiser a minha opinião.
– E o que acha vai acontecer? Que vamos ficar juntos pro resto da eternidade e que iremos nos apaixonar perdidamente um pelo outro? – ri sem humor, e Jasper apenas sorriu condescendente, o que me irritou.
– Eu não acho nada, . Mas você vai ter que conversar com ele em algum momento. E talvez esse imprinting tenha acontecido por algum motivo, nunca se sabe.
– O futuro nunca é certo e ele depende das decisões externas. Alice me ensinou isso. – corrigi, e ele soltou uma risadinha baixa.
– Tem razão. Mas eu não estava falando sobre o futuro, e sim sobre o passado. Você ser justamente o imprinting de Jacob pode significar muita coisa, não acha? – Jasper olhou demoradamente nos meus olhos, e eu sabia que ele estava procurando por um sinal de hesitação – Não está curiosa pra saber o motivo? – e ele conseguiu encontrar.
Capítulo 12
– Jacob, se importa se conversarmos? – me aproximei alguns dias depois do lobo, que seguia fazendo a guarda dos Cullen. Pelo que tinha entendido, Sam e sua alcateia ainda tinham receios quanto ao nascimento de Renesmee, e isso causara a ruptura entre os grupos.
Ainda em sua forma animal, Jacob assentiu e esperou que eu falasse mais alguma coisa. Ele não parecia querer voltar à sua forma humana, então comecei a caminhar lentamente, sendo acompanhada por ele.
– Talvez a situação entre nós possa ser resolvida de uma forma satisfatória pros dois. – parei frente ao lobo, que era ainda alguns bons centímetros mais alto que eu – Há alguma forma de cancelar esse imprinting? – questionei e vi quando ele revirou os olhos para mim de forma impaciente – Já vi que não! – suspirei, e ele fez o mesmo, se colocando sentado nas patas traseiras – Eu acho que quero entender mais sobre o que isso significa. – seus olhos se atentaram ainda mais aos meus movimentos – Sobre o imprinting, quero dizer.
Não precisei dizer mais nada, e o animal me deu as costas, indo para trás das árvores. Alguns minutos se passaram, e Jacob retornou em sua forma humana, usando nada além de uma bermuda jeans surrada, que eu já tinha visto diversas vezes.
– Sobre o que quer saber? – ele perguntou calmamente enquanto andava para o mesmo lugar que ocupava antes. Estávamos a bons dois metros de distância, mas mantínhamos o tom baixo.
– Você pareceu meio contrariado por ter sofrido um imprinting com uma vampira. Por quê?
– Uma das ideias do imprinting é que os parceiros ajudam o lobo a ter uma prole saudável de novos lobos. – ele riu sem humor – Entende o impasse?
– Ter um imprinting com uma morta-viva que não é capaz de gerar os seus super bebês é a certeza de que loteria do destino genético riu na sua cara. – não consegui conter uma risada – Parece que você tem bons motivos pra detestar isso também.
– E por qual motivo você detesta isso tudo? – ele estava curioso – Você está aqui há poucas semanas, e essa é apenas a segunda conversa que temos.
– Eu não fugi de casa e fui transformada em vampira pra me tornar apenas o prêmio de alguém, Jacob. – disse, certeira, olhando diretamente para os seus olhos. Por mais que quisesse sentir raiva, não conseguia – Eu gosto de ter opções, sabe. Desde que fui transformada, muitas das decisões que tomei foram por pura sobrevivência, e não por vontade própria.
– Ouvi que você era da guarda dos vampirões encapuzados quando lutamos com aqueles recém-criados há alguns meses.
– Sim, me juntar aos Volturi foi uma das coisas que tive que fazer. Não vou dizer que me arrependo, mas teria procurado outros caminhos. – ponderei, e ele pareceu compreender.
– Nós não fazemos muito isso, mas eu gostaria de lhe fazer um convite. – Jacob disse depois de uns minutos em silêncio. Ele já tinha se sentado no chão e apenas me observava.
– Não está me chamando pra nenhum tipo de encontro, né? – sugeri, tentando deixar o clima mais leve, mas o homem engasgou com a própria saliva e começou a tossir enquanto corava um pouco – Era só uma brincadeira, Jacob. – reforcei quando ele pareceu ter se acalmado, mas não pude deixar de sorrir com isso.
– Não é um encontro, . – ele disse com a voz fraca, evitando olhar diretamente para os meus olhos – Gostaria que me acompanhasse a uma fogueira em La Push, apenas isso.
– Isso me soa como um encontro… – observei, e a pele bronzeada dele ficou ainda mais vermelha. Eu podia ouvir seu coração acelerar e seu sangue correr mais depressa.
– Meu pai e os outros anciãos da tribo apenas gostariam que você ouvisse algumas de nossas histórias. – ele deu de ombros, respirando fundo – Talvez você as ache interessantes. Foi o que me disseram.
– Me parece algo muito sagrado pra vocês. E, considerando toda a tensão entre vampiros e lobos, tem certeza de que eu serei bem recebida por todos?
– Da última vez que chequei, você não era uma vampira normal – ele disse, irônico, e arqueou uma sobrancelha – Pelo menos, não de acordo com os meus genes.
– Claro, claro. Eu sou a sua alma gêmea, né? – disse, fazendo piada, e um sorriso ameaçou nascer em seus lábios.
– Algo parecido a isso. – ele piscou, e eu senti meus dedos formigando como se eu tivesse acabado de me alimentar – Posso dizer que você vai?
– Quando vai ser?
– Hoje ao anoitecer. As cores da fogueira ficam mais bonitas de noite. – Jacob deu de ombros.
– Quantos humanos vão estar presentes? – perguntei, sem conseguir ignorar a pontada de dor em minha garganta. Eu não matava há meses, mas o sangue humano ainda me fazia falta.
– O bastante pra que você cace antes de irmos. – ele assentiu, entendendo onde eu queria chegar, e se levantou, saindo da minha frente – Te encontro às 17h na casa dos Cullen? – só consegui sussurrar um sim antes que ele adentrasse a floresta sem dizer mais nada. Eu, então, fui correndo para o lado oposto, seguindo o cheiro que a brisa me trazia.
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– , por onde você andou? – Alice apareceu na minha frente no momento em que pisei no gramado dos Cullen e começou a me puxar pela mão para dentro da casa – Bem, eu sei que você estava caçando, mas podia ter feito isso mais rápido. – ela resmungou enquanto me levava para seu quarto. Nós passamos por Emmett e Jasper, que apenas riram da situação. Rosalie só revirou os olhos. Não tínhamos a melhor das relações.
– O que você pensa que está fazendo, Alice? – perguntei quando ela finalmente me soltou e entrou em seu closet, que mais parecia um quarto. A vampira jogava algumas peças em minha direção, e eu me movia de um lado para o outro, desviando delas.
– Seth me disse que você aceitou sair com Jacob, então precisa de uma roupa maravilhosa, é claro! – ela comentou, colocando a cabeça pra fora do armário – Não achou que eu fosse deixar você sair com as suas roupas, né? Sei que tem coisas muito bonitas, e ainda bem, mas nada tão especial assim!
– Espera, espera! Eu não aceitei sair com Jacob! – sentei em sua cama e continuei vendo a mulher ir de um lado para outro do quarto – Ele apenas me chamou para uma fogueira em La Push para ouvir umas histórias, não é um encontro.
– , querida. – Alice finalmente parou e veio se sentar ao meu lado – Nós temos um tratado bem rigoroso com os Quileutes no que diz respeito a território. E você é como uma Cullen honorária – ela sorriu para mim -, então o tratado também vale. Bem, eu sei que você é o imprinting de Jacob e que essas coisas acabam por confundir as regras, mas eu nunca soube de um vampiro que fosse convidado para as terras deles dessa forma despreocupada. Muito menos para a fogueira dos lobos – ela me dedicou uma piscadela esperta e foi rapidamente até o cômodo ao lado, trazendo um jeans e um moletom preto, junto a uma bota de cano curto com um salto simples – Sei que Esme não vai se importar se você usar isso para se misturar.
– Você consegue ver o que vai acontecer? – perguntei, temerosa, enquanto segurava as roupas com cuidado e me levantava para tomar um banho. Eu não precisava, mas era bom limpar a terra e o sangue da caçada.
– Por que achou que eu conseguiria? – ela devolveu a pergunta, e eu bufei, derrotada.
Minhas visões não eram exatamente como as de Alice, já que ela podia checar os futuros possíveis quando quisesse – mesmo que eles mudassem de acordo com as decisões das pessoas -, eu não. Elas eram o único dom que eu não conseguia desligar ou controlar. Me encontravam aleatoriamente.
– Sabe que eu não consigo ver nada com relação aos lobos, e você vai pra um antro deles. – Alice riu e me olhou cúmplice – Mas eu posso te dizer apenas para deixar as coisas acontecerem e manter a mente aberta. Você nunca sabe o que pode descobrir.
– Andou conversando com o Jasper sobre isso?
– Não precisamos conversar para concordar com certas coisas, . – ela apertou carinhosa meu ombro e me empurrou delicadamente para fora do quarto – Agora anda, vai se arrumar, que eu ainda quero dar um toque especial no seu cabelo.
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Eu estava devidamente vestida e penteada sentada na escada dos Cullen, esperando por Jacob. Alice tinha me convencido a fazer um rabo de cavalo para completar o look que ela tinha montado, e eu apenas deixei que seguisse seu planejamento. Eu me sentia uma boneca em suas mãos, e isso fazia com que lembrasse de minha mãe. Era um bom sentimento.
Edward e Isabella, que tinha Renesmee nos braços, vinham correndo para a casa como uma família feliz, e isso me tranquilizou por um momento. Gostava de ver meu irmão sem tanta tensão nos ombros. Quando eles me viram, diminuíram o passo e se aproximaram. Renesmee, que agora parecia uma criança de uns três ou quatro anos, estendia a mãozinha para mim, e eu só consegui sorrir, olhando para os dois e pedindo permissão para chegar perto.
Meu irmão logo assentiu para a esposa, e Isabella passou a filha para os meus braços, nos quais a garotinha se aconchegou. Renesmee tocou meu rosto e me perguntou se eu tinha visto Seth durante o dia, mas eu neguei com a cabeça. Sabia que ela e o lobo eram bons amigos, já os tinha visto brincando pelo terreno.
– , eu posso falar com você? – Isabella perguntou, hesitante, e, quando eu assenti, deixando um beijo na testa de Nessie, Edward logo pegou a filha e entrou com ela para a casa. A privacidade era uma mera formalidade, sabíamos disso, mas nos afastamos um pouco da propriedade de qualquer maneira – Eu não sei bem por onde começar.
– Só diga o que quer dizer, Isabella, e estaremos bem.
– Bella – ela corrigiu – Bem, , eu fiquei sabendo que algumas coisas aconteceram enquanto eu estava apagada – ela suspirou e parecia desconfortável.
– E que eu sou o imprinting de Jacob. – completei por ela – É, fiquei sabendo disso. Mas sobre o que quer falar?
– É sobre isso. Olha, eu não quero parecer intrometida, mas Jake sempre foi meu amigo, e eu sinto que tenho que pedir pra que você não o magoe.
– Como é?
– Eu sei que se ele pudesse escolher, Jake não teria tido um imprinting com uma vampira, mas, já que você estará na vida dele, pode ser uma boa amiga ou algo assim e deixar que ele encontre alguém mais parecido a ele pra amar.
– Espera, espera! – interrompi antes que ela continuasse falando – Você está querendo dizer que eu não sirvo pra Jacob e que não devo me meter enquanto ele procura uma felicidade digna com alguém mais vivo? – ri, incrédula, e Bella pareceu ainda mais hesitante.
– Não foi o que eu quis dizer, . Por favor, não me entenda mal. Eu apenas me preocupo com meu amigo, só isso.
– Deveria ter se preocupado com ele quando o mantinha perto mesmo sabendo que amava outro homem. Ou em todas as vezes em que o metia na bagunça que é, ou era, a sua vida amorosa, Isabella.
– Você não sabe do que está falando, ! As pessoas não sabem como tudo aconteceu entre nós, e, de fora, pode realmente parecer que eu sou uma vilã, mas não é bem assim. Não fale de algo que não viveu! – ela estava começando a perder a tranquilidade. Era uma recém-criada, ainda que tivesse um ótimo autocontrole.
“Eu sei bem do que estou falando”, deixei os dons de Edward fluírem por mim e respondi em sua mente.
– C-como você está fazendo isso? – gaguejou e se afastou alguns passos de mim, como se isso fosse adiantar de alguma coisa.
“Você deveria parar de se meter no que diz respeito a outras pessoas e guardar o seu ciuminho ridículo pra si mesma”, comentei em sua cabeça e fui me aproximando. A incredulidade dela era palpável e, devo admitir, hilária. “Meus assuntos com Jacob serão resolvidos com ele, fui clara?”, olhei bem para seus olhos e vi que ela apenas assentiu, ainda assustada.
– Ótimo! Fico feliz que pudemos conversar – coloquei um sorriso no rosto e voltei para perto da casa, deixando Isabella para trás. Não tive que esperar por muito tempo, porque logo Jacob chegava em sua moto e parava perto de mim. Eu teria questionado, já que podíamos correr muito mais sem ela, mas sabia que Isabella nos observava.
Então, só para provocar um pouco mais, subi na garupa e fiz questão de me abraçar ao homem, mesmo sem precisar. Sussurrei um “acelera” para ele, que se arrepiou e atendeu ao meu pedido. Não me controlei e, antes que saíssemos do seu campo de visão, mandei uma piscadela para a mulher, que seguia parada como uma estátua. Jane ficaria extremamente orgulhosa de mim.
Nosso caminho até La Push não foi demorado, mas não trocamos nenhuma palavra sobre o que tinha acontecido. Eu sabia que queria provocar Isabella pela audácia, mas era estranhamente confortável estar ao redor de Jacob.
– O que foi isso? – ele disse, estacionando a moto em uma garagem. Já tínhamos entrado na Reserva Quileute.
– Do que está falando? – me fiz de desentendida e saí da garupa para começar a observar com mais atenção o lugar. Estava uma bagunça, uma picape vermelha ocupava boa parte do espaço – que era quase inexistente -, junto a um VW Rabbit preto e outra motocicleta.
– Do abraço e da cara de Bella quando nos viu.
– Achei que estivesse gostando. – olhei diretamente para os olhos dele e vi que hesitava sobre continuar a falar – Seus batimentos cardíacos acelerados me disseram que você estava aproveitando, assim como a pele arrepiada – me aproximei dele bem rápido, parando a poucos centímetros. Podia sentir o calor emanando de seu corpo e o quanto ele estava nervoso – Ou te interessa mais o que Bella pensa? – ouvi quando Jacob engoliu em seco, mas sem tirar os olhos de mim.
Quando percebi que ele ia se movimentar e diminuir ainda mais a distância entre nós, apenas sorri e me afastei rápido. Em menos de um segundo, já estava na porta da garagem e olhei novamente para ele.
– Você não vem? – questionei, saindo do lugar e começando a caminhar pela reserva numa velocidade humana. Jacob não demorou muito para me alcançar e tocou de leve a base das minhas costas, me direcionando para o lugar certo. Um suspiro saiu pelos meus lábios e um sorriso brincou no canto dos dele.
– Finalmente vocês chegaram! – disse Seth quando nos aproximamos do pequeno círculo improvisado que os Quileutes faziam. Ainda que o grupo não tivesse mais de 15 pessoas, os garotos lobos eram todos tão grandes que o espaço emanava calor, e eu tive que me controlar para não torcer o nariz com todo aquele cheiro. Foi de ótima ajuda que Jacob estivesse por perto para que eu pudesse me concentrar em seus batimentos cardíacos para não surtar.
– Essa é uma situação incomum – um homem, que muito parecia com Jacob, nos disse enquanto se aproximava com sua cadeira de rodas – Eu sei que é muito pra pedir, pra todos nós, mas, de todo modo, fico satisfeito que tenha dito sim ao convite de se juntar à nossa fogueira.
– Na verdade, eu não tenho a menor ideia do motivo de ter vindo ou sido chamada, senhor Black. Poderia me explicar?
– Você pode me chamar de Billy, . – o rosto dele se contorceu numa espécie de sorriso desconfortável, mas eu apreciei o gesto – Acho que agora o destino nos quer unidos, certo?
– Eu comentei que você disse algo sobre ela se interessar por algumas de nossas histórias quileutes, pai. Porque, na verdade, nenhum de nós dois tem uma mínima pista de como ou por que ela é o meu imprinting. – Jacob suspirou e olhou para mim. Ele parecia tão perdido quanto eu. Seus batimentos se aceleraram levemente.
– Entendo! Então, podemos tomar nossos lugares? – Billy nos chamou, encerrando o assunto, e voltou com sua cadeira de rodas para perto de uma mulher mais velha. Como pude perceber, havia três líderes naquele momento. O pai de Jacob, a mulher mais velha e outro homem mais idoso.
Varrendo o lugar com os olhos, encontrei Leah sentada um pouco mais distante, mas ela não era a única garota na fogueira, como eu imaginei. Havia uma outra, que, pelo cheiro, parecia completamente humana, com uma enorme cicatriz cobrindo boa parte da lateral de seu rosto. Ela estava sentada perto de um enorme homem, que se movia protetoramente ao seu redor. Sam. Quando percebeu que eu estava olhando, meneou a cabeça em um cumprimento mudo, e, no mesmo instante, eu senti a mão de Jacob tocando meu braço. Ele me levava para sentar um pouco mais afastada dos outros garotos, já que nenhum deles parecia realmente animado com a minha presença ali. Não era como se eu pudesse culpá-los.
– Sabemos que ter conosco essa noite é algo que jamais foi pensado, considerando que ela é uma vampira e que, agora, temos duas alcateias, mas Sam e Jacob acordaram a paz para que esse encontro acontecesse. – a mulher mais velha falou em uma voz tranquila, mas firme, e Jacob sussurrou o nome dela próximo ao meu ouvido. Sue Clearwater – Além do mais, todos vocês sabem que ela é o imprinting de Jacob, e, em nossas regras, nenhum de vocês pode pensar em matá-la. Isso só causaria dor a um irmão e a toda a nossa comunidade. – reforçou.
– Até mesmo se ela matar um humano ou um dos nossos irmãos? – Leah perguntou entredentes, com raiva, e olhou diretamente para mim, como se pudesse arrancar minha cabeça. Eu não duvidava que ela poderia – Vocês ainda vão defender essa sanguessuga se ela fizer uma dessas coisas? – eu vi que Sue ia responder, mas tomei a dianteira.
– Se algum dia você souber ou me ver fazendo qualquer uma dessas duas coisas, você pode tentar me matar com as suas próprias mãos, Leah. – sustentei seu olhar e ouvi Jacob ofegar ao meu lado, mas não me contive – Você e eu. Sem Jacob. Sem regras. O que me diz?
– Eu nunca gostei tanto de você como agora. – ela concordou, e ouvimos Billy pigarrear, chamando a atenção de volta para ele.
– Agora que vocês já fizeram os seus arranjos ou seja lá o que tenha sido isso, eu gostaria de lhes contar uma história que aconteceu há muitos e muitos anos – as chamas pareciam hipnotizadas pela sua voz solene e crepitavam como se dançassem – Com alguns lobos que vieram antes de nós.
“Como nossos antepassados nos contaram, alguns de nós viveram na maior floresta do mundo: a floresta amazônica. E eu sei que agora estamos bem longe do Brasil, mas eles vieram para cá depois de uma disputa que dizimou grande parte da nossa tribo e sua história. Nossos antepassados estavam buscando por um lugar para crescer e multiplicar. Os Litúrias estavam procurando por almas para consumir.”
Ainda em sua forma animal, Jacob assentiu e esperou que eu falasse mais alguma coisa. Ele não parecia querer voltar à sua forma humana, então comecei a caminhar lentamente, sendo acompanhada por ele.
– Talvez a situação entre nós possa ser resolvida de uma forma satisfatória pros dois. – parei frente ao lobo, que era ainda alguns bons centímetros mais alto que eu – Há alguma forma de cancelar esse imprinting? – questionei e vi quando ele revirou os olhos para mim de forma impaciente – Já vi que não! – suspirei, e ele fez o mesmo, se colocando sentado nas patas traseiras – Eu acho que quero entender mais sobre o que isso significa. – seus olhos se atentaram ainda mais aos meus movimentos – Sobre o imprinting, quero dizer.
Não precisei dizer mais nada, e o animal me deu as costas, indo para trás das árvores. Alguns minutos se passaram, e Jacob retornou em sua forma humana, usando nada além de uma bermuda jeans surrada, que eu já tinha visto diversas vezes.
– Sobre o que quer saber? – ele perguntou calmamente enquanto andava para o mesmo lugar que ocupava antes. Estávamos a bons dois metros de distância, mas mantínhamos o tom baixo.
– Você pareceu meio contrariado por ter sofrido um imprinting com uma vampira. Por quê?
– Uma das ideias do imprinting é que os parceiros ajudam o lobo a ter uma prole saudável de novos lobos. – ele riu sem humor – Entende o impasse?
– Ter um imprinting com uma morta-viva que não é capaz de gerar os seus super bebês é a certeza de que loteria do destino genético riu na sua cara. – não consegui conter uma risada – Parece que você tem bons motivos pra detestar isso também.
– E por qual motivo você detesta isso tudo? – ele estava curioso – Você está aqui há poucas semanas, e essa é apenas a segunda conversa que temos.
– Eu não fugi de casa e fui transformada em vampira pra me tornar apenas o prêmio de alguém, Jacob. – disse, certeira, olhando diretamente para os seus olhos. Por mais que quisesse sentir raiva, não conseguia – Eu gosto de ter opções, sabe. Desde que fui transformada, muitas das decisões que tomei foram por pura sobrevivência, e não por vontade própria.
– Ouvi que você era da guarda dos vampirões encapuzados quando lutamos com aqueles recém-criados há alguns meses.
– Sim, me juntar aos Volturi foi uma das coisas que tive que fazer. Não vou dizer que me arrependo, mas teria procurado outros caminhos. – ponderei, e ele pareceu compreender.
– Nós não fazemos muito isso, mas eu gostaria de lhe fazer um convite. – Jacob disse depois de uns minutos em silêncio. Ele já tinha se sentado no chão e apenas me observava.
– Não está me chamando pra nenhum tipo de encontro, né? – sugeri, tentando deixar o clima mais leve, mas o homem engasgou com a própria saliva e começou a tossir enquanto corava um pouco – Era só uma brincadeira, Jacob. – reforcei quando ele pareceu ter se acalmado, mas não pude deixar de sorrir com isso.
– Não é um encontro, . – ele disse com a voz fraca, evitando olhar diretamente para os meus olhos – Gostaria que me acompanhasse a uma fogueira em La Push, apenas isso.
– Isso me soa como um encontro… – observei, e a pele bronzeada dele ficou ainda mais vermelha. Eu podia ouvir seu coração acelerar e seu sangue correr mais depressa.
– Meu pai e os outros anciãos da tribo apenas gostariam que você ouvisse algumas de nossas histórias. – ele deu de ombros, respirando fundo – Talvez você as ache interessantes. Foi o que me disseram.
– Me parece algo muito sagrado pra vocês. E, considerando toda a tensão entre vampiros e lobos, tem certeza de que eu serei bem recebida por todos?
– Da última vez que chequei, você não era uma vampira normal – ele disse, irônico, e arqueou uma sobrancelha – Pelo menos, não de acordo com os meus genes.
– Claro, claro. Eu sou a sua alma gêmea, né? – disse, fazendo piada, e um sorriso ameaçou nascer em seus lábios.
– Algo parecido a isso. – ele piscou, e eu senti meus dedos formigando como se eu tivesse acabado de me alimentar – Posso dizer que você vai?
– Quando vai ser?
– Hoje ao anoitecer. As cores da fogueira ficam mais bonitas de noite. – Jacob deu de ombros.
– Quantos humanos vão estar presentes? – perguntei, sem conseguir ignorar a pontada de dor em minha garganta. Eu não matava há meses, mas o sangue humano ainda me fazia falta.
– O bastante pra que você cace antes de irmos. – ele assentiu, entendendo onde eu queria chegar, e se levantou, saindo da minha frente – Te encontro às 17h na casa dos Cullen? – só consegui sussurrar um sim antes que ele adentrasse a floresta sem dizer mais nada. Eu, então, fui correndo para o lado oposto, seguindo o cheiro que a brisa me trazia.
– , por onde você andou? – Alice apareceu na minha frente no momento em que pisei no gramado dos Cullen e começou a me puxar pela mão para dentro da casa – Bem, eu sei que você estava caçando, mas podia ter feito isso mais rápido. – ela resmungou enquanto me levava para seu quarto. Nós passamos por Emmett e Jasper, que apenas riram da situação. Rosalie só revirou os olhos. Não tínhamos a melhor das relações.
– O que você pensa que está fazendo, Alice? – perguntei quando ela finalmente me soltou e entrou em seu closet, que mais parecia um quarto. A vampira jogava algumas peças em minha direção, e eu me movia de um lado para o outro, desviando delas.
– Seth me disse que você aceitou sair com Jacob, então precisa de uma roupa maravilhosa, é claro! – ela comentou, colocando a cabeça pra fora do armário – Não achou que eu fosse deixar você sair com as suas roupas, né? Sei que tem coisas muito bonitas, e ainda bem, mas nada tão especial assim!
– Espera, espera! Eu não aceitei sair com Jacob! – sentei em sua cama e continuei vendo a mulher ir de um lado para outro do quarto – Ele apenas me chamou para uma fogueira em La Push para ouvir umas histórias, não é um encontro.
– , querida. – Alice finalmente parou e veio se sentar ao meu lado – Nós temos um tratado bem rigoroso com os Quileutes no que diz respeito a território. E você é como uma Cullen honorária – ela sorriu para mim -, então o tratado também vale. Bem, eu sei que você é o imprinting de Jacob e que essas coisas acabam por confundir as regras, mas eu nunca soube de um vampiro que fosse convidado para as terras deles dessa forma despreocupada. Muito menos para a fogueira dos lobos – ela me dedicou uma piscadela esperta e foi rapidamente até o cômodo ao lado, trazendo um jeans e um moletom preto, junto a uma bota de cano curto com um salto simples – Sei que Esme não vai se importar se você usar isso para se misturar.
– Você consegue ver o que vai acontecer? – perguntei, temerosa, enquanto segurava as roupas com cuidado e me levantava para tomar um banho. Eu não precisava, mas era bom limpar a terra e o sangue da caçada.
– Por que achou que eu conseguiria? – ela devolveu a pergunta, e eu bufei, derrotada.
Minhas visões não eram exatamente como as de Alice, já que ela podia checar os futuros possíveis quando quisesse – mesmo que eles mudassem de acordo com as decisões das pessoas -, eu não. Elas eram o único dom que eu não conseguia desligar ou controlar. Me encontravam aleatoriamente.
– Sabe que eu não consigo ver nada com relação aos lobos, e você vai pra um antro deles. – Alice riu e me olhou cúmplice – Mas eu posso te dizer apenas para deixar as coisas acontecerem e manter a mente aberta. Você nunca sabe o que pode descobrir.
– Andou conversando com o Jasper sobre isso?
– Não precisamos conversar para concordar com certas coisas, . – ela apertou carinhosa meu ombro e me empurrou delicadamente para fora do quarto – Agora anda, vai se arrumar, que eu ainda quero dar um toque especial no seu cabelo.
Eu estava devidamente vestida e penteada sentada na escada dos Cullen, esperando por Jacob. Alice tinha me convencido a fazer um rabo de cavalo para completar o look que ela tinha montado, e eu apenas deixei que seguisse seu planejamento. Eu me sentia uma boneca em suas mãos, e isso fazia com que lembrasse de minha mãe. Era um bom sentimento.
Edward e Isabella, que tinha Renesmee nos braços, vinham correndo para a casa como uma família feliz, e isso me tranquilizou por um momento. Gostava de ver meu irmão sem tanta tensão nos ombros. Quando eles me viram, diminuíram o passo e se aproximaram. Renesmee, que agora parecia uma criança de uns três ou quatro anos, estendia a mãozinha para mim, e eu só consegui sorrir, olhando para os dois e pedindo permissão para chegar perto.
Meu irmão logo assentiu para a esposa, e Isabella passou a filha para os meus braços, nos quais a garotinha se aconchegou. Renesmee tocou meu rosto e me perguntou se eu tinha visto Seth durante o dia, mas eu neguei com a cabeça. Sabia que ela e o lobo eram bons amigos, já os tinha visto brincando pelo terreno.
– , eu posso falar com você? – Isabella perguntou, hesitante, e, quando eu assenti, deixando um beijo na testa de Nessie, Edward logo pegou a filha e entrou com ela para a casa. A privacidade era uma mera formalidade, sabíamos disso, mas nos afastamos um pouco da propriedade de qualquer maneira – Eu não sei bem por onde começar.
– Só diga o que quer dizer, Isabella, e estaremos bem.
– Bella – ela corrigiu – Bem, , eu fiquei sabendo que algumas coisas aconteceram enquanto eu estava apagada – ela suspirou e parecia desconfortável.
– E que eu sou o imprinting de Jacob. – completei por ela – É, fiquei sabendo disso. Mas sobre o que quer falar?
– É sobre isso. Olha, eu não quero parecer intrometida, mas Jake sempre foi meu amigo, e eu sinto que tenho que pedir pra que você não o magoe.
– Como é?
– Eu sei que se ele pudesse escolher, Jake não teria tido um imprinting com uma vampira, mas, já que você estará na vida dele, pode ser uma boa amiga ou algo assim e deixar que ele encontre alguém mais parecido a ele pra amar.
– Espera, espera! – interrompi antes que ela continuasse falando – Você está querendo dizer que eu não sirvo pra Jacob e que não devo me meter enquanto ele procura uma felicidade digna com alguém mais vivo? – ri, incrédula, e Bella pareceu ainda mais hesitante.
– Não foi o que eu quis dizer, . Por favor, não me entenda mal. Eu apenas me preocupo com meu amigo, só isso.
– Deveria ter se preocupado com ele quando o mantinha perto mesmo sabendo que amava outro homem. Ou em todas as vezes em que o metia na bagunça que é, ou era, a sua vida amorosa, Isabella.
– Você não sabe do que está falando, ! As pessoas não sabem como tudo aconteceu entre nós, e, de fora, pode realmente parecer que eu sou uma vilã, mas não é bem assim. Não fale de algo que não viveu! – ela estava começando a perder a tranquilidade. Era uma recém-criada, ainda que tivesse um ótimo autocontrole.
“Eu sei bem do que estou falando”, deixei os dons de Edward fluírem por mim e respondi em sua mente.
– C-como você está fazendo isso? – gaguejou e se afastou alguns passos de mim, como se isso fosse adiantar de alguma coisa.
“Você deveria parar de se meter no que diz respeito a outras pessoas e guardar o seu ciuminho ridículo pra si mesma”, comentei em sua cabeça e fui me aproximando. A incredulidade dela era palpável e, devo admitir, hilária. “Meus assuntos com Jacob serão resolvidos com ele, fui clara?”, olhei bem para seus olhos e vi que ela apenas assentiu, ainda assustada.
– Ótimo! Fico feliz que pudemos conversar – coloquei um sorriso no rosto e voltei para perto da casa, deixando Isabella para trás. Não tive que esperar por muito tempo, porque logo Jacob chegava em sua moto e parava perto de mim. Eu teria questionado, já que podíamos correr muito mais sem ela, mas sabia que Isabella nos observava.
Então, só para provocar um pouco mais, subi na garupa e fiz questão de me abraçar ao homem, mesmo sem precisar. Sussurrei um “acelera” para ele, que se arrepiou e atendeu ao meu pedido. Não me controlei e, antes que saíssemos do seu campo de visão, mandei uma piscadela para a mulher, que seguia parada como uma estátua. Jane ficaria extremamente orgulhosa de mim.
Nosso caminho até La Push não foi demorado, mas não trocamos nenhuma palavra sobre o que tinha acontecido. Eu sabia que queria provocar Isabella pela audácia, mas era estranhamente confortável estar ao redor de Jacob.
– O que foi isso? – ele disse, estacionando a moto em uma garagem. Já tínhamos entrado na Reserva Quileute.
– Do que está falando? – me fiz de desentendida e saí da garupa para começar a observar com mais atenção o lugar. Estava uma bagunça, uma picape vermelha ocupava boa parte do espaço – que era quase inexistente -, junto a um VW Rabbit preto e outra motocicleta.
– Do abraço e da cara de Bella quando nos viu.
– Achei que estivesse gostando. – olhei diretamente para os olhos dele e vi que hesitava sobre continuar a falar – Seus batimentos cardíacos acelerados me disseram que você estava aproveitando, assim como a pele arrepiada – me aproximei dele bem rápido, parando a poucos centímetros. Podia sentir o calor emanando de seu corpo e o quanto ele estava nervoso – Ou te interessa mais o que Bella pensa? – ouvi quando Jacob engoliu em seco, mas sem tirar os olhos de mim.
Quando percebi que ele ia se movimentar e diminuir ainda mais a distância entre nós, apenas sorri e me afastei rápido. Em menos de um segundo, já estava na porta da garagem e olhei novamente para ele.
– Você não vem? – questionei, saindo do lugar e começando a caminhar pela reserva numa velocidade humana. Jacob não demorou muito para me alcançar e tocou de leve a base das minhas costas, me direcionando para o lugar certo. Um suspiro saiu pelos meus lábios e um sorriso brincou no canto dos dele.
– Finalmente vocês chegaram! – disse Seth quando nos aproximamos do pequeno círculo improvisado que os Quileutes faziam. Ainda que o grupo não tivesse mais de 15 pessoas, os garotos lobos eram todos tão grandes que o espaço emanava calor, e eu tive que me controlar para não torcer o nariz com todo aquele cheiro. Foi de ótima ajuda que Jacob estivesse por perto para que eu pudesse me concentrar em seus batimentos cardíacos para não surtar.
– Essa é uma situação incomum – um homem, que muito parecia com Jacob, nos disse enquanto se aproximava com sua cadeira de rodas – Eu sei que é muito pra pedir, pra todos nós, mas, de todo modo, fico satisfeito que tenha dito sim ao convite de se juntar à nossa fogueira.
– Na verdade, eu não tenho a menor ideia do motivo de ter vindo ou sido chamada, senhor Black. Poderia me explicar?
– Você pode me chamar de Billy, . – o rosto dele se contorceu numa espécie de sorriso desconfortável, mas eu apreciei o gesto – Acho que agora o destino nos quer unidos, certo?
– Eu comentei que você disse algo sobre ela se interessar por algumas de nossas histórias quileutes, pai. Porque, na verdade, nenhum de nós dois tem uma mínima pista de como ou por que ela é o meu imprinting. – Jacob suspirou e olhou para mim. Ele parecia tão perdido quanto eu. Seus batimentos se aceleraram levemente.
– Entendo! Então, podemos tomar nossos lugares? – Billy nos chamou, encerrando o assunto, e voltou com sua cadeira de rodas para perto de uma mulher mais velha. Como pude perceber, havia três líderes naquele momento. O pai de Jacob, a mulher mais velha e outro homem mais idoso.
Varrendo o lugar com os olhos, encontrei Leah sentada um pouco mais distante, mas ela não era a única garota na fogueira, como eu imaginei. Havia uma outra, que, pelo cheiro, parecia completamente humana, com uma enorme cicatriz cobrindo boa parte da lateral de seu rosto. Ela estava sentada perto de um enorme homem, que se movia protetoramente ao seu redor. Sam. Quando percebeu que eu estava olhando, meneou a cabeça em um cumprimento mudo, e, no mesmo instante, eu senti a mão de Jacob tocando meu braço. Ele me levava para sentar um pouco mais afastada dos outros garotos, já que nenhum deles parecia realmente animado com a minha presença ali. Não era como se eu pudesse culpá-los.
– Sabemos que ter conosco essa noite é algo que jamais foi pensado, considerando que ela é uma vampira e que, agora, temos duas alcateias, mas Sam e Jacob acordaram a paz para que esse encontro acontecesse. – a mulher mais velha falou em uma voz tranquila, mas firme, e Jacob sussurrou o nome dela próximo ao meu ouvido. Sue Clearwater – Além do mais, todos vocês sabem que ela é o imprinting de Jacob, e, em nossas regras, nenhum de vocês pode pensar em matá-la. Isso só causaria dor a um irmão e a toda a nossa comunidade. – reforçou.
– Até mesmo se ela matar um humano ou um dos nossos irmãos? – Leah perguntou entredentes, com raiva, e olhou diretamente para mim, como se pudesse arrancar minha cabeça. Eu não duvidava que ela poderia – Vocês ainda vão defender essa sanguessuga se ela fizer uma dessas coisas? – eu vi que Sue ia responder, mas tomei a dianteira.
– Se algum dia você souber ou me ver fazendo qualquer uma dessas duas coisas, você pode tentar me matar com as suas próprias mãos, Leah. – sustentei seu olhar e ouvi Jacob ofegar ao meu lado, mas não me contive – Você e eu. Sem Jacob. Sem regras. O que me diz?
– Eu nunca gostei tanto de você como agora. – ela concordou, e ouvimos Billy pigarrear, chamando a atenção de volta para ele.
– Agora que vocês já fizeram os seus arranjos ou seja lá o que tenha sido isso, eu gostaria de lhes contar uma história que aconteceu há muitos e muitos anos – as chamas pareciam hipnotizadas pela sua voz solene e crepitavam como se dançassem – Com alguns lobos que vieram antes de nós.
“Como nossos antepassados nos contaram, alguns de nós viveram na maior floresta do mundo: a floresta amazônica. E eu sei que agora estamos bem longe do Brasil, mas eles vieram para cá depois de uma disputa que dizimou grande parte da nossa tribo e sua história. Nossos antepassados estavam buscando por um lugar para crescer e multiplicar. Os Litúrias estavam procurando por almas para consumir.”
Capítulo 13
“Acredito que muitos de vocês não estão familiarizados com essa história em particular, já que há tempos não a contamos. As gerações mais novas costumam ter conhecimento de como nos fixamos neste porto e como conquistamos as terras que hoje são nossas. De fato, Kaheleha foi o primeiro grande Chefe Espírito de que temos conhecimento, mas não foi o único a descobrir esse poder. Os outros apenas ainda não se denominavam Quileutes.
Naquele tempo, nossos antepassados já viviam nas matas, mas a civilidade ainda não era tão conhecida por todos eles. Existiam, claro, regras severas, que garantiam a sobrevivência e segurança, mas não eram tão abertos ao diálogo e à compreensão. Naut-Lau foi, assim como Kaheleha, agraciado com o espírito dos lobos e o usava para defender sua tribo, junto à sua pequena, porém forte, gama de guerreiros. Quatro bravos homens lutando para garantir a vida de toda uma população.
O foco da defesa de Naut-Lau era o território que vivia sob constante ameaça dos Litúrias, ainda que os enfrentamentos diretos entre os dois povos não fossem constantes. O chefe era um homem que prezava os seus instintos quando se tratava de um inimigo e raramente se equivocava, então ele temia o avanço dos Litúrias, que chegavam cada vez mais perto da divisa que demarcava nossas terras.
No entanto, esse temor de Naut-Lau ficou bastante estremecido quando, em uma de suas rondas, ele se pôs a observar os Litúrias e conseguiu contabilizar apenas sete indivíduos, divididos quase igualmente entre mulheres e homens. Neste momento, a certeza de que deveria respeitar o outro povo enfraqueceu. Considerando a si mesmo e seus guerreiros espíritos mais fortes, Naut-Lau se envaideceu e passou a menosprezar a possível força de seus inimigos. Não, talvez inimigos seja muito. Naut-Lau, agora, os considerava simples desafetos.
Mas os Litúrias não eram um povo que deveria ser subestimado. Eles, assim como nossos antepassados, também tiravam sua força de algum lugar e não tinham garantido um vasto território sem motivo. Se Naut-Lau e seus guerreiros, assim como muitos de nós hoje em dia, se vangloriavam pela força física de sua transformação, os Litúrias eram conhecidos por sua capacidade de absorção, que lhes conferia sua forma de proteção. O sangue de suas presas, consumido em suas cerimônias mais privadas, era o principal combustível para que eles se defendessem e atacassem, quando necessário.
Eu imagino o que deva estar parecendo para vocês, já que temos os frios como nossos maiores inimigos agora. Porém, a ameaça que provinha dos Litúrias condizia mais com as situações da época. Eles não eram como os vampiros que conhecemos hoje. O sangue que bebiam das carnes comidas não tinha a função de alimentar apenas seus corpos. Ele enchia suas almas e provocava suas habilidades.
Como forma de proteção da tribo, Naut-Lau possuía um acordo não-dito com os Litúrias. Os caminhos entre os dois povos simplesmente não deveriam se cruzar. Não havia paz. Não havia guerra. Se um precisasse do outro, não haveria ajuda, já que não se importavam o suficiente para colaborar. E, bem, na maioria das vezes, isso é o bastante para uma convivência na mesma mata.
Entretanto, em uma noite, Naut-Lau, assim como seus outros guerreiros, sentiram a proximidade de um inimigo diferente e logo se puseram a postos para defender a tribo do que fosse. Seus instintos lhes diziam para correr e matar o desconhecido, mas a frieza com a qual Naut-Lau tentava comandar suas vontades era impressionante. Ele atacaria diante de uma clara ameaça ao seu povo e a ele somente.
Naquela noite, não houve um habitante da tribo, agraciado de magia ou não, que conseguisse dormir. Os gritos vindos da direção do território dos Litúrias eram agonizantes, e o barulho, ensurdecedor. O que quer que fosse que estivesse causando o ataque parecia querer avisar que estava se aproximando do nosso povo. Quando uma fumaça preta invadiu o céu ainda escuro, nossos antepassados souberam que os Litúrias estavam liquidados.
Pelo menos, foi essa a sensação geral por alguns meses, ainda que uma sensação ruim não abandonasse os lobos daquela tribo. Por isso, eles não se atreviam a ultrapassar as fronteiras inexistentes ou ir atrás de investigar o que, de fato, tinha acontecido. Naut-Lau queria preservar seus guerreiros ao máximo.
E ele soube que fizera o certo. Pelo menos parcialmente.
Muitos já dormiam quando o casal de frios começou o ataque ao nosso povo. Diversas vidas foram levadas por aqueles dois vampiros, que sugavam o sangue de mulheres, homens e crianças. Não houve misericórdia ou redenção. Poucos foram os que escaparam pelo rio em canoas. Os quatro guerreiros não conseguiram se salvar, mas lutaram bravamente para conseguir mais tempo ao restante da tribo.
Os que sobreviveram à fúria do mar durante dias atracaram em nosso porto e aqui ficaram. Uma dessas foi Amana, irmã mais nova de Naut-Lau, que carregava em seu sangue uma nova geração de guerreiros-espíritos. Amana foi a esposa de Kaheleha, e a mistura dos seus genes é uma das responsáveis pela nossa existência atualmente.
Eu sei que buscamos sempre nos ater aos detalhes que nos fazem bons guardiões da humanidade, mas é imprescindível que saibam que, assim como aqueles que não possuem algum dom, nós lobos também somos, e muito, passíveis de erros e falhas de julgamentos. Aquelas falhas de Naut-Lau custaram a vida de uma população inteira, mas também colaboraram para a geração dos lobos que temos hoje.”
Billy concluiu, e eu me preparei para respirar fundo, notando apenas naquele momento que tinha prendido a respiração durante toda a história. Claro que o foco da história seriam os lobos, mas a citação dos Litúrias me dava certa esperança de que eu estava cada vez mais próxima de descobrir a fonte dos meus dons. Agora, já sabia a origem.
Jacob me olhava de rabo de olho, mas eu me mantive impassível. Seu pai já iniciava uma nova história sobre os Quileutes, mas não consegui prestar total atenção. Seria Allan, meu criador, descendente dos Litúrias ou um dos originais? Por que eu, sendo tão semelhante a esse povo, tivera meu caminho cruzado justamente com um Quileute? Não era como se apenas nos conhecêssemos. Se eu tinha entendido bem a lógica de um imprinting, seus genes me escolheram, assim como seu espírito guerreiro. Mas por que uma vampira?
Os anciãos contaram mais algumas lendas, e logo a noite tinha acabado, ainda que eu sentisse que tudo só tinha começado. Minha cabeça fervilhava com tantas perguntas sem resposta que eu sentia uma leve pontada em minha têmpora, como se o esgotamento mental fosse demais para meu corpo lidar. Jacob e eu nos mantivemos em silêncio enquanto as outras pessoas da fogueira se despediam para ir embora. Ao olhar para seu pai, notei o motivo da espera: Billy dirigia sua cadeira para se aproximar de nós, olhando apenas em minha direção. Ele me estudava com os olhos negros, e eu imaginei se ele poderia ler a minha mente. Se pudesse, eu não duvidaria.
— O que achou de nossas histórias, ? — o senhor me perguntou com a voz forte, completamente diferente da suavidade que eu ouvira pela última hora.
— O senhor já sabia? — resolvi arriscar, e Billy deu de ombros, mas assentiu. Jacob olhava para nós dois sem entender muito bem o que acontecia. Para ele, aquela história também era novidade.
— Quando meu filho me disse ter sofrido imprinting com uma vampira, eu imaginei o que pudesse ter acontecido.
— Alguém pode me dizer sobre o que estão falando? — Jacob questionou, aborrecido.
— Seu pai não contou essa história à toa, Jacob. — suspirei e encarei o Black mais novo profundamente — Eu sou uma descendente dos Litúrias.
— O quê? Mas como? Quer dizer que você esteve na destruição de nossa tribo? Que Edward também está envolvido nisso?
— Eu quero dizer que sou descendente, que o sangue dos Litúrias – ou veneno, se preferir – corre nas minhas veias, e isso tem a ver com quem me transformou, não com meu nascimento. Edward não tem nada a ver com isso, Jacob. — revirei os olhou e resolvi focar em Billy, que acompanhava a conversa sem nada dizer — O senhor disse ter uma ideia do que aconteceu. — instiguei.
— Bem, nossos caminhos cruzaram com os Litúrias uma vez, mas nada me surpreende que tenham se entrelaçado novamente e através de vocês. Sendo neto de um alfa que lidou com os frios de forma tão estratégica, soa até compreensível que seus genes solicitem a permanência de sua liderança em nossa tribo, meu filho.
— Você ‘tá dizendo que eu tive um imprinting com uma vampira para me manter como alfa da tribo por toda a eternidade? — Jacob elaborou rápido e parecia descrente. Olhava para o pai como se nunca o tivesse visto. Eu não o culpava. Era muito para digerir.
— Faz bastante sentido, não? — Billy permaneceu calmo e nos encarou juntos — Se a ideia de um imprinting é encontrar o parceiro ideal para as nossas necessidades humanas e lupinas, é perfeita para que continue se transformando e comandando nosso povo.
— Ninguém pensa em considerar que eu posso ter escolhas nisso? Que posso querer parar de me transformar em algum momento e só ser um maldito cara normal? — ele se descontrolou e levantou tempestivamente, saindo de perto de onde estávamos e ignorando os gritos de Seth para que voltasse. Billy apenas suspirou e me olhou quando eu fiz menção de me levantar.
— , eu sei que ainda existem muitos questionamentos sem resposta, mas temo não ser capaz de lhe ajudar. — ele se desculpou, e eu assenti, seguindo o caminho que Jacob tinha tomado momentos antes. Billy me chamou uma vez mais — Cuide dele. — o homem disse sem som, movendo apenas os lábios, e eu entendi que, seja lá o que fosse acontecer, Jacob e eu estávamos juntos a partir de agora.
Momentos depois, quando encontrei Jacob, ele já me esperava em sua moto em silêncio. O caminho até a residência dos Cullen foi quieto. Eu ouvia seu coração bater ritmado, e isso acalmava o ardor em minha garganta, que tinha sido ignorado durante toda a noite.
— Eu não espero que você se mantenha como lobo por toda a eternidade, Jacob. — achei que seria bom esclarecer quando ele estacionou na entrada do terreno — Você sempre terá escolhas no que depender de mim.
— Quisera eu que meus malditos genes pensassem como você. — ele riu sem humor e deixou os ombros caírem. Parecia ligeiramente mais velho naquele momento.
— Essa situação não é ideal para nenhum dos dois, mas podemos tentar ser amigos, não? — sugeri, e ele me encarou — Sei que parece piada vindo de mim, mas me compadeci de tudo isso.
— Não preciso da sua pena. — ele retrucou, irritado, e eu sorri. Lobo arredio.
— E nem vai ter. Eu apenas entendo o que é sentir que seu destino é algo muito além das suas vontades. — dei de ombros, e Jacob assentiu, ligando a moto novamente.
— Espero que não se arrependa de me oferecer sua amizade, . — disse antes de arrancar e não me deixou responder. Ser o imprinting de alguém é aceitar que não terá para onde fugir, mas eu estava começando a achar interessante ter Jacob por perto. Ele era uma incógnita divertida em todos os meus anos de vampira.
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— Você pode sempre morder Seth, Ness. — respondi à pergunta da criança, que estava em meu colo e sorria para o garoto que lhe fazia caretas. Renesmee tinha crescido anormalmente durante o tempo em que estava com os Cullen e preocupava a todos.
— Sua influência na garota é terrível, . — Edward se aproximou de nós, e Renesmee se agitou em meus braços, quase pulando para o pai, que lhe deu um abraço profundo antes de entregá-la a Seth para que continuasse se divertindo — Como estão as coisas?
— Você nunca foi muito de papo furado, Ed. Pergunte o que quer saber. — ele suspirou e segurou minha mão.
— Eles não irão atacá-la, certo? — ele olhava apreensivo para a filha, que estava nas costas do lobo transformado.
— Os lobos sabem que se ousarem tocar em um fio de cabelo dela, eu vou estar no meio da história, Edward, e sou meio intocada pelas regras deles. Além disso, Jacob não deixaria isso acontecer. — apertei a mão dele e o vi assentir — Por um momento, achei que Seth tinha tido um imprinting com ela.
— Eu também. Por um momento, até desejei que ele tivesse, sabe. Seria algo a menos para nos preocupar, mas eles só têm uma excelente conexão.
— Provavelmente é melhor assim. Ela já terá muitas coisas com as quais lidar. Um imprinting não seria bom, de toda forma.
— Experiência própria? — Edward segurava o riso, e eu lhe empurrei com o ombro — É só que nunca imaginei que teria que aguentar Jacob como cunhado.
— Nunca disse que ele seria seu cunhado, Edward. Você está entendendo a nossa relação de um modo completamente diferente do que ela realmente é.
— Relação, uh? Já estão nesse nível? — ele brincou, e eu revirei os olhos, me levantando para me afastar. Edward agora gargalhava às minhas custas, e, antes que eu estrangulasse meu irmão, achei melhor dar um tempo da sua cara.
Inalei o ar com cuidado à medida que me distanciava da propriedade, e o vento do nordeste me trouxe o cheiro de Jacob. Não pensei duas vezes antes de seguir em sua direção, seu aroma me chamando mais do que qualquer outro.
Ele estava transformado e já tinha notado a minha presença quando me aproximei. Seus grandes olhos estudavam os meus movimentos, e ele caminhava em minha direção. Quando estávamos perto o bastante, ele se deitou em suas patas, fechando os olhos quando meus dedos se embrenharam em seus pelos. Eu não estava pensando, apenas agindo. Seu cheiro amadeirado e seu coração batendo acelerados me faziam mais viva.
— Eu ainda não consigo entender bem essa história de imprinting, Jacob. Mas fico aliviada por estarmos na mesma página quanto a ele. — lhe dediquei um sorriso, e o lobo assentiu com sua grande cabeça.
Um quarto de segundo depois, sem avisar, eu pulei em suas costas, me firmando em seus ombros, e, imediatamente, ele se levantou, olhando em volta.
— O que acha de me levar para um passeio, cavalinho? — perguntei, rindo. A resposta foi um latido, que mais pareceu uma risada, e, em poucos segundos, já corríamos pelo meio da mata. Se seríamos amigos, tínhamos que começar de algum lugar.
Naquele tempo, nossos antepassados já viviam nas matas, mas a civilidade ainda não era tão conhecida por todos eles. Existiam, claro, regras severas, que garantiam a sobrevivência e segurança, mas não eram tão abertos ao diálogo e à compreensão. Naut-Lau foi, assim como Kaheleha, agraciado com o espírito dos lobos e o usava para defender sua tribo, junto à sua pequena, porém forte, gama de guerreiros. Quatro bravos homens lutando para garantir a vida de toda uma população.
O foco da defesa de Naut-Lau era o território que vivia sob constante ameaça dos Litúrias, ainda que os enfrentamentos diretos entre os dois povos não fossem constantes. O chefe era um homem que prezava os seus instintos quando se tratava de um inimigo e raramente se equivocava, então ele temia o avanço dos Litúrias, que chegavam cada vez mais perto da divisa que demarcava nossas terras.
No entanto, esse temor de Naut-Lau ficou bastante estremecido quando, em uma de suas rondas, ele se pôs a observar os Litúrias e conseguiu contabilizar apenas sete indivíduos, divididos quase igualmente entre mulheres e homens. Neste momento, a certeza de que deveria respeitar o outro povo enfraqueceu. Considerando a si mesmo e seus guerreiros espíritos mais fortes, Naut-Lau se envaideceu e passou a menosprezar a possível força de seus inimigos. Não, talvez inimigos seja muito. Naut-Lau, agora, os considerava simples desafetos.
Mas os Litúrias não eram um povo que deveria ser subestimado. Eles, assim como nossos antepassados, também tiravam sua força de algum lugar e não tinham garantido um vasto território sem motivo. Se Naut-Lau e seus guerreiros, assim como muitos de nós hoje em dia, se vangloriavam pela força física de sua transformação, os Litúrias eram conhecidos por sua capacidade de absorção, que lhes conferia sua forma de proteção. O sangue de suas presas, consumido em suas cerimônias mais privadas, era o principal combustível para que eles se defendessem e atacassem, quando necessário.
Eu imagino o que deva estar parecendo para vocês, já que temos os frios como nossos maiores inimigos agora. Porém, a ameaça que provinha dos Litúrias condizia mais com as situações da época. Eles não eram como os vampiros que conhecemos hoje. O sangue que bebiam das carnes comidas não tinha a função de alimentar apenas seus corpos. Ele enchia suas almas e provocava suas habilidades.
Como forma de proteção da tribo, Naut-Lau possuía um acordo não-dito com os Litúrias. Os caminhos entre os dois povos simplesmente não deveriam se cruzar. Não havia paz. Não havia guerra. Se um precisasse do outro, não haveria ajuda, já que não se importavam o suficiente para colaborar. E, bem, na maioria das vezes, isso é o bastante para uma convivência na mesma mata.
Entretanto, em uma noite, Naut-Lau, assim como seus outros guerreiros, sentiram a proximidade de um inimigo diferente e logo se puseram a postos para defender a tribo do que fosse. Seus instintos lhes diziam para correr e matar o desconhecido, mas a frieza com a qual Naut-Lau tentava comandar suas vontades era impressionante. Ele atacaria diante de uma clara ameaça ao seu povo e a ele somente.
Naquela noite, não houve um habitante da tribo, agraciado de magia ou não, que conseguisse dormir. Os gritos vindos da direção do território dos Litúrias eram agonizantes, e o barulho, ensurdecedor. O que quer que fosse que estivesse causando o ataque parecia querer avisar que estava se aproximando do nosso povo. Quando uma fumaça preta invadiu o céu ainda escuro, nossos antepassados souberam que os Litúrias estavam liquidados.
Pelo menos, foi essa a sensação geral por alguns meses, ainda que uma sensação ruim não abandonasse os lobos daquela tribo. Por isso, eles não se atreviam a ultrapassar as fronteiras inexistentes ou ir atrás de investigar o que, de fato, tinha acontecido. Naut-Lau queria preservar seus guerreiros ao máximo.
E ele soube que fizera o certo. Pelo menos parcialmente.
Muitos já dormiam quando o casal de frios começou o ataque ao nosso povo. Diversas vidas foram levadas por aqueles dois vampiros, que sugavam o sangue de mulheres, homens e crianças. Não houve misericórdia ou redenção. Poucos foram os que escaparam pelo rio em canoas. Os quatro guerreiros não conseguiram se salvar, mas lutaram bravamente para conseguir mais tempo ao restante da tribo.
Os que sobreviveram à fúria do mar durante dias atracaram em nosso porto e aqui ficaram. Uma dessas foi Amana, irmã mais nova de Naut-Lau, que carregava em seu sangue uma nova geração de guerreiros-espíritos. Amana foi a esposa de Kaheleha, e a mistura dos seus genes é uma das responsáveis pela nossa existência atualmente.
Eu sei que buscamos sempre nos ater aos detalhes que nos fazem bons guardiões da humanidade, mas é imprescindível que saibam que, assim como aqueles que não possuem algum dom, nós lobos também somos, e muito, passíveis de erros e falhas de julgamentos. Aquelas falhas de Naut-Lau custaram a vida de uma população inteira, mas também colaboraram para a geração dos lobos que temos hoje.”
Billy concluiu, e eu me preparei para respirar fundo, notando apenas naquele momento que tinha prendido a respiração durante toda a história. Claro que o foco da história seriam os lobos, mas a citação dos Litúrias me dava certa esperança de que eu estava cada vez mais próxima de descobrir a fonte dos meus dons. Agora, já sabia a origem.
Jacob me olhava de rabo de olho, mas eu me mantive impassível. Seu pai já iniciava uma nova história sobre os Quileutes, mas não consegui prestar total atenção. Seria Allan, meu criador, descendente dos Litúrias ou um dos originais? Por que eu, sendo tão semelhante a esse povo, tivera meu caminho cruzado justamente com um Quileute? Não era como se apenas nos conhecêssemos. Se eu tinha entendido bem a lógica de um imprinting, seus genes me escolheram, assim como seu espírito guerreiro. Mas por que uma vampira?
Os anciãos contaram mais algumas lendas, e logo a noite tinha acabado, ainda que eu sentisse que tudo só tinha começado. Minha cabeça fervilhava com tantas perguntas sem resposta que eu sentia uma leve pontada em minha têmpora, como se o esgotamento mental fosse demais para meu corpo lidar. Jacob e eu nos mantivemos em silêncio enquanto as outras pessoas da fogueira se despediam para ir embora. Ao olhar para seu pai, notei o motivo da espera: Billy dirigia sua cadeira para se aproximar de nós, olhando apenas em minha direção. Ele me estudava com os olhos negros, e eu imaginei se ele poderia ler a minha mente. Se pudesse, eu não duvidaria.
— O que achou de nossas histórias, ? — o senhor me perguntou com a voz forte, completamente diferente da suavidade que eu ouvira pela última hora.
— O senhor já sabia? — resolvi arriscar, e Billy deu de ombros, mas assentiu. Jacob olhava para nós dois sem entender muito bem o que acontecia. Para ele, aquela história também era novidade.
— Quando meu filho me disse ter sofrido imprinting com uma vampira, eu imaginei o que pudesse ter acontecido.
— Alguém pode me dizer sobre o que estão falando? — Jacob questionou, aborrecido.
— Seu pai não contou essa história à toa, Jacob. — suspirei e encarei o Black mais novo profundamente — Eu sou uma descendente dos Litúrias.
— O quê? Mas como? Quer dizer que você esteve na destruição de nossa tribo? Que Edward também está envolvido nisso?
— Eu quero dizer que sou descendente, que o sangue dos Litúrias – ou veneno, se preferir – corre nas minhas veias, e isso tem a ver com quem me transformou, não com meu nascimento. Edward não tem nada a ver com isso, Jacob. — revirei os olhou e resolvi focar em Billy, que acompanhava a conversa sem nada dizer — O senhor disse ter uma ideia do que aconteceu. — instiguei.
— Bem, nossos caminhos cruzaram com os Litúrias uma vez, mas nada me surpreende que tenham se entrelaçado novamente e através de vocês. Sendo neto de um alfa que lidou com os frios de forma tão estratégica, soa até compreensível que seus genes solicitem a permanência de sua liderança em nossa tribo, meu filho.
— Você ‘tá dizendo que eu tive um imprinting com uma vampira para me manter como alfa da tribo por toda a eternidade? — Jacob elaborou rápido e parecia descrente. Olhava para o pai como se nunca o tivesse visto. Eu não o culpava. Era muito para digerir.
— Faz bastante sentido, não? — Billy permaneceu calmo e nos encarou juntos — Se a ideia de um imprinting é encontrar o parceiro ideal para as nossas necessidades humanas e lupinas, é perfeita para que continue se transformando e comandando nosso povo.
— Ninguém pensa em considerar que eu posso ter escolhas nisso? Que posso querer parar de me transformar em algum momento e só ser um maldito cara normal? — ele se descontrolou e levantou tempestivamente, saindo de perto de onde estávamos e ignorando os gritos de Seth para que voltasse. Billy apenas suspirou e me olhou quando eu fiz menção de me levantar.
— , eu sei que ainda existem muitos questionamentos sem resposta, mas temo não ser capaz de lhe ajudar. — ele se desculpou, e eu assenti, seguindo o caminho que Jacob tinha tomado momentos antes. Billy me chamou uma vez mais — Cuide dele. — o homem disse sem som, movendo apenas os lábios, e eu entendi que, seja lá o que fosse acontecer, Jacob e eu estávamos juntos a partir de agora.
Momentos depois, quando encontrei Jacob, ele já me esperava em sua moto em silêncio. O caminho até a residência dos Cullen foi quieto. Eu ouvia seu coração bater ritmado, e isso acalmava o ardor em minha garganta, que tinha sido ignorado durante toda a noite.
— Eu não espero que você se mantenha como lobo por toda a eternidade, Jacob. — achei que seria bom esclarecer quando ele estacionou na entrada do terreno — Você sempre terá escolhas no que depender de mim.
— Quisera eu que meus malditos genes pensassem como você. — ele riu sem humor e deixou os ombros caírem. Parecia ligeiramente mais velho naquele momento.
— Essa situação não é ideal para nenhum dos dois, mas podemos tentar ser amigos, não? — sugeri, e ele me encarou — Sei que parece piada vindo de mim, mas me compadeci de tudo isso.
— Não preciso da sua pena. — ele retrucou, irritado, e eu sorri. Lobo arredio.
— E nem vai ter. Eu apenas entendo o que é sentir que seu destino é algo muito além das suas vontades. — dei de ombros, e Jacob assentiu, ligando a moto novamente.
— Espero que não se arrependa de me oferecer sua amizade, . — disse antes de arrancar e não me deixou responder. Ser o imprinting de alguém é aceitar que não terá para onde fugir, mas eu estava começando a achar interessante ter Jacob por perto. Ele era uma incógnita divertida em todos os meus anos de vampira.
— Você pode sempre morder Seth, Ness. — respondi à pergunta da criança, que estava em meu colo e sorria para o garoto que lhe fazia caretas. Renesmee tinha crescido anormalmente durante o tempo em que estava com os Cullen e preocupava a todos.
— Sua influência na garota é terrível, . — Edward se aproximou de nós, e Renesmee se agitou em meus braços, quase pulando para o pai, que lhe deu um abraço profundo antes de entregá-la a Seth para que continuasse se divertindo — Como estão as coisas?
— Você nunca foi muito de papo furado, Ed. Pergunte o que quer saber. — ele suspirou e segurou minha mão.
— Eles não irão atacá-la, certo? — ele olhava apreensivo para a filha, que estava nas costas do lobo transformado.
— Os lobos sabem que se ousarem tocar em um fio de cabelo dela, eu vou estar no meio da história, Edward, e sou meio intocada pelas regras deles. Além disso, Jacob não deixaria isso acontecer. — apertei a mão dele e o vi assentir — Por um momento, achei que Seth tinha tido um imprinting com ela.
— Eu também. Por um momento, até desejei que ele tivesse, sabe. Seria algo a menos para nos preocupar, mas eles só têm uma excelente conexão.
— Provavelmente é melhor assim. Ela já terá muitas coisas com as quais lidar. Um imprinting não seria bom, de toda forma.
— Experiência própria? — Edward segurava o riso, e eu lhe empurrei com o ombro — É só que nunca imaginei que teria que aguentar Jacob como cunhado.
— Nunca disse que ele seria seu cunhado, Edward. Você está entendendo a nossa relação de um modo completamente diferente do que ela realmente é.
— Relação, uh? Já estão nesse nível? — ele brincou, e eu revirei os olhos, me levantando para me afastar. Edward agora gargalhava às minhas custas, e, antes que eu estrangulasse meu irmão, achei melhor dar um tempo da sua cara.
Inalei o ar com cuidado à medida que me distanciava da propriedade, e o vento do nordeste me trouxe o cheiro de Jacob. Não pensei duas vezes antes de seguir em sua direção, seu aroma me chamando mais do que qualquer outro.
Ele estava transformado e já tinha notado a minha presença quando me aproximei. Seus grandes olhos estudavam os meus movimentos, e ele caminhava em minha direção. Quando estávamos perto o bastante, ele se deitou em suas patas, fechando os olhos quando meus dedos se embrenharam em seus pelos. Eu não estava pensando, apenas agindo. Seu cheiro amadeirado e seu coração batendo acelerados me faziam mais viva.
— Eu ainda não consigo entender bem essa história de imprinting, Jacob. Mas fico aliviada por estarmos na mesma página quanto a ele. — lhe dediquei um sorriso, e o lobo assentiu com sua grande cabeça.
Um quarto de segundo depois, sem avisar, eu pulei em suas costas, me firmando em seus ombros, e, imediatamente, ele se levantou, olhando em volta.
— O que acha de me levar para um passeio, cavalinho? — perguntei, rindo. A resposta foi um latido, que mais pareceu uma risada, e, em poucos segundos, já corríamos pelo meio da mata. Se seríamos amigos, tínhamos que começar de algum lugar.
Capítulo 14
– Sempre me perguntei onde foram parar as joias da coroa quando João da Inglaterra as penhorou no século XVIII – disse Carlisle. – Acho que não me surpreende que os Volturi tenham algumas delas. – ele comentou quando Edward e Isabella desembalaram o presente de casamento de Aro.
– As riquezas na posse dos Volturi são incontáveis, Carlisle – comentei, chegando mais perto para analisar tanto a caixa quanto o colar, que eram lindíssimos. – Já fizemos alguns inventários ao longo dos anos, mas Jane não deve estar muito contente com esse presente. A caixa de madrepérola é uma das favoritas dela, e tenho certeza de que esperava ser presenteada por Aro.
– Ótimo, mais um motivo para que Jane nos odeie. – Isabella revirou os olhos e se afastou um pouco de mim. – Acho que devo ir a Volterra o mais rápido possível.
– Iremos assim que possível. – Edward concordou, mas a esposa parecia ter uma ideia diferente. Pela careta dela, ele também percebeu. – Você não vai sozinha até eles!
– Não podemos arriscar a visita deles aqui. – ela disse, sofrida, e olhou discretamente para Seth, que tinha Renesmee no colo. Jacob estava junto aos dois e dividia sua atenção entre a garotinha e a conversa.
– Eu não me importo em acompanhar Isabella, Edward. – dei de ombros e ouvi o coração de Jacob acelerar levemente. Todos tinham escutado. – Não é como se eu não precisasse voltar alguma hora para visitar Jane ou Alec.
– Não acho que vai ser muito seguro pra nenhuma das duas se os Volturi souberem que está conosco, – Jasper comentou sereno, mas eu vi a urgência em seus olhos.
– Alice? – questionei, e a vampira começou a procurar futuros possíveis. Quando ela retomou o foco de seus pensamentos, me olhou com um meio sorriso.
– Pode ser uma vantagem a sua amizade com Jane e sua antiga relação com Alec. – ela comentou, constrangida, evitando o olhar de Edward ou Jacob. – Talvez seja a ponte mais fácil até os Volturi, Edward.
– Eu não vou arriscar minha esposa e minha irmã nessa missão suicida. Vocês podem pensar em outra coisa.
– Edward, Renesmee é prioridade, e eu sei que você sabe disso também. – comecei e ele bufou, irritado. – Você sabe como Aro é obcecado com ter você ou Alice na guarda dele. Eu estar presente pode ajudar no caso dela precisar fugir.
– Mas você também era uma peça importante da guarda dele, – Esme disse, preocupada. – Quais são as chances dele te deixar ir embora novamente?
– É, e quem garante que os seus amiguinhos iriam contra o chefão pra te defender? – Emmett instigou, e Edward pareceu satisfeito por ter mais pessoas ao seu lado. Eu via Jacob se movendo desconfortável, querendo tomar a palavra, mas ele parecia em um debate interno.
– Eu conheço a lealdade de Jane e Alec, Emmett. Não me preocupo com isso. – defendi.
– O fato de você ter namorado o garoto não significa que ele vá largar tudo pra te seguir – Rosalie alfinetou e Esme lhe censurou com o olhar. Emmett segurava a risada e Seth achou que era o momento de sair de fininho com Renesmee da sala. Jacob tinha permanecido.
– Meu relacionamento com Alec não lhe diz respeito, Rosalie. – tentei me manter o mais tranquila possível. Jasper com certeza modificava as emoções da sala. – O que você prefere, Edward? – me virei para o meu irmão, ignorando as outras pessoas. – Sua esposa indo sozinha sem saber se defender direito ou acompanhada por alguém que tem contatos dentro de Volterra? – arqueei uma sobrancelha e vi quando ele bufou, irritado. – Compre as passagens, por favor, Alice. – comentei para a vampira, que assentiu e logo saiu da sala antes que alguém mudasse de ideia.
Edward e Isabella saíram em seguida, e todos os demais dispersaram com a desculpa de que precisavam caçar, mas eu imaginava que estivessem apenas dando um espaço.
– Você pode dizer o que quer, Jacob. – caminhei até que estivesse sentada no sofá, e o homem foi até a cadeira mais próxima, me observando por alguns minutos em silêncio. Deixei que organizasse seus pensamentos.
– Eu nunca soube muito da sua história com os encapuzados. – ele comentou. – Por que não me conta?
– É sobre isso que quer falar?
– Você deveria estar mais preocupada com um novo encontro com eles, mas parece tranquila. Por quê?
– Talvez eu tenha passado tempo demais com os Volturi pra saber lidar com eles. – dei de ombros. – Mas acho que podemos testar uma coisa. Se transforme e siga meu rastro. – disse antes de sair em disparada da casa, tomando o cuidado de não cruzar o caminho com os Cullen, e me postei mais próxima do território Quileute.
Jacob não demorou muito para me alcançar e logo estava voltando à forma humana. Ele me observava com cuidado, mas não se afastou quando eu me coloquei perto.
– Está se aproveitando de ser um imprinting de um alfa pra andar livremente pelo território Quileute? – ele brincou, mas eu sabia que falava sério. Ele tinha comentado algo sobre a nossa presença ser a responsável por transformar os garotos da tribo. Quanto mais longe eu estivesse deles, melhor seria.
– Você sabe que vampiros possuem dons, não é? – questionei, ignorando a piada, e o vi assentir levemente, um pouco surpreso com a rápida mudança de assunto. – Bom, muitos acreditam que esses dons já existiam na vida humana. Por exemplo, Edward, quando humano, tinha muita facilidade em ‘’ler’’ as pessoas, por assim dizer. E, como a maioria de nossas características se mantêm nessa nova existência, ele agora é capaz de escutar os pensamentos ao seu redor. Está me acompanhando?
– Sim – concordou baixo, e eu sabia que não teria mais volta a partir do momento em que resolvesse falar a verdade.
– Podemos dizer que eu sou um escudo.
– Como?!
– Eu estou segura dentro da minha mente, mas não posso expandir essa proteção a outras pessoas – dei de ombros e o vi prender a respiração. – Mas também tenho outro dom. Seu pai me ajudou a entender um pouco mais sobre ele.
– Fala sobre os Litúrias?
– Sim, há alguns anos descobri sobre eles com a ajuda de um velho amigo, mas não havia muito sobre. Eles eram vistos apenas como sugadores de sangue com poderes psíquicos. Mas quando seu pai comentou sobre quando eles apareceram e da ligação entre eles e os Quileutes, eu soube que estava no caminho certo. A absorção para além do sangue realmente acontece.
– Você pode absorver as habilidades das pessoas?! – ele deu um passo para trás, e eu teria ficado mais magoada se não entendesse o choque. Talvez tenha doído mais do que eu gostaria de admitir.
– Por aí. – suspirei e me sentei no chão, esperando que ele se recompusesse. Jacob andava de um lado para o outro, com as mãos na cabeça, e parecia a ponto de um ataque de nervos.
– Você consegue ler mentes, não é?! – questionou, meio engasgado, e ficou pior quando eu assenti.
– Acalme-se, Jacob! Se me deixar explicar, vai conseguir respirar direito. – falei tranquilamente, e ele estancou, mas não me olhou nos olhos. Na verdade, agia como se não me visse. – Podemos dizer que eu consigo “desligar” dons que não são naturalmente meus, entende? E eu me propus a lhes dar privacidade. Já basta ter que conviver com Edward, não precisam de dois bisbilhoteiros. – tentei fazer pouco caso, e ele apenas assentiu, o rosto ainda um pouco sério e os braços seguiam cruzados firmemente frente ao corpo.
– Bem – ele pigarreou e me encarou –, o que queria testar? – quis saber.
– Eu absorvi um dom muito peculiar e que não tinha encontrado em minha existência. E eu não conseguiria contar a você boa parte do que vivi. Então, acho que o melhor é te mostrar. Se importa de se aproximar? – pedi com cuidado, e Jacob se sentou ao meu lado. Seu joelho febril estava tão próximo do meu corpo que o calor me atingia em onda. Seu coração batia acelerado e o sangue corria rápido por suas veias, fazendo minha garganta arder um pouco, ainda que fosse ignorável.
Toquei sua mão e o ouvi ofegar pelo contato. Frio no quente. Em uma mistura morna, fechei meus olhos e busquei toda a minha concentração para afastar o escudo de minha mente e poder compartilhar com ele meus pensamentos através do dom de Renesmee.
Os olhos eram de um carmim vivo, o cabelo estava preso de forma antiquada e as vestes pareciam masculinas e grandes demais. Ainda assim, senti meu coração disparar com a visão.
Percebi quando ela estancou e levou as mãos à garganta. Deveria estar com sede. Farejou o ar com calma e ouvimos um barulho de galho sendo quebrado. Com certeza algum animal descuidado. Continuei prestando atenção nela e a vi se postando em uma postura de ataque logo depois de ter saído em disparada da casa. Seus olhos cravados em algo através de mim.
Parecia ter uns 20 anos no máximo. Um garoto ainda, que, pelo olhar que lançava, não teria escapatória. Ela disparou como uma bala através de mim, chegando ao homem mais rápido que um piscar de olhos. Por mais que eu tivesse vontade de virar o rosto pra deixar de ver o que aconteceria, algo me impedia. queria me mostrar tudo.
Ela cravou os dentes no pescoço daquele menino, que não teve nem a chance de se defender, drenando seu sangue em poucos segundos. Deixou o corpo cair aos seus pés e se pôs a correr. Eu estava pronto para segui-la, mas a floresta foi morrendo e a cena mudando. Agora tudo o que tinha à minha frente era um hospital. Ela o encarava com tanto interesse que me confundia. tomou impulso e escalou a parede até chegar a uma janela. Em menos de um segundo, eu já estava dentro do local. Ela revirava o lugar, que mais parecia um necrotério.
Vi quando se aproximou de dois corpos e chorou um choro sem lágrimas, abraçada a uma mulher que se assemelhava demais a ela para que eu não adivinhasse: era sua mãe. Meu peito se apertou vendo a cena e lembrei de minha própria mãe. Ela tinha morrido há tanto tempo que eu mal me lembrava.
Depois de se recompor, deu mais uma olhada rápida nos dois corpos e saiu em disparada pelo hospital. Ela parecia urgente, olhando por todos os cômodos e mantendo a respiração presa. Por mais que ela parecesse um borrão, eu lhe acompanhava como se uma corrente me puxasse de um lado ao outro. No entanto, em algum momento, a mulher desistiu e voltou ao necrotério. Pegou os corpos dos pais e saiu na noite, sem ao menos olhar pra trás. Uma espécie de enterro improvisado passou como um flash por meus pensamentos. Imaginei que fosse uma memória dolorida. Achei que ela ia parar de me mostrar o que tinha vivido, mas me enganei. O cenário agora era outro, muito bem iluminado, e vestia roupas mais femininas. Ela passaria por uma viajante qualquer, se não fosse a beleza estonteante e o perigo que exalava juntamente aos olhos vermelhos.
A mulher estava parada encarando um grande relógio com um interesse genuíno quando sentiu uma aproximação. Um homem coberto por um manto negro vinha tranquilamente e lhe tocava o ombro com certa intimidade, fazendo com que algo estranho se remexesse dentro de mim. Ele era um vampiro também, mas eu não conseguia escutar o que diziam, ainda que tenha tentado apurar a audição. Ela não queria me deixar ouvir.
Os dois se encaminharam para dentro do que parecia um castelo de contos de terror, mas ela o parou antes que ele abrisse as grandes portas e se inclinou para dizer algo. Mais uma vez, apenas vi os lábios se movendo, mas não entendia o que acontecia. Quando os dois entraram, um frio com a pele mais branca que a dos Cullen, e até mesmo , se aproximou, cumprimentando-a com um sorriso extremamente falso e lhe oferecendo a mão. – Senhorita Masen, seja muito bem-vinda aos nossos domínios! – agora, eu ouvia tudo com clareza, ainda que preferisse não o fazer. Ele parecia cuidadoso, mas ainda cheio de cobiça. – Meu nome é Aro Volturi, mas acredito que tenha sido informada deste detalhe. Novamente, ela apressava os pensamentos e tudo passava em marcha rápida pelos meus olhos, mas eu conseguia sentir o teor do que era falado.
– Gostaria de lhe oferecer um lugar em nossa guarda, senhorita. – o tal Aro ofereceu, e senti a angústia de como se fosse minha. – Seria um imenso prazer tê-la como parte de nossa grande família. – completou, cheio de expectativas.
– Eu aceito, senhor Volturi. – ela suspirou antes de dizer, e eu senti o peso daquela decisão junto com ela.
As imagens agora apareciam como borrões, já que ela não estava exatamente concentrada em nenhuma delas. Eu podia vê-la matando pessoas. Dizimando vilas inteiras e participando de missões como membro da tal guarda. Pelas lembranças, também ficou clara a sua proximidade com a vampira loira, que eu presumi ser Jane. Com aquele Alec.
O tempo corria mais rápido que mar agitado, e ela me mostrou quando saiu do castelo e foi para um lugar com muita neve. Reparei que tinha encontrado os vampiros que eu vira no casamento de Bella. Estes deveriam ser os tais Denali. Também ficou evidente o esforço necessário para se alimentar apenas de animais, deixando o sangue humano de lado. tinha me oferecido, em alguns minutos, um resumo de sua vida e me deixado conhecer mais sobre seu passado. Foi do nada, como antes, que eu fui jogado para fora de suas lembranças.
No entanto, mesmo que eu permanecesse imóvel, sabia que ele estava acelerado. Sua respiração tinha se tornado ligeiramente mais descontrolada, assim como as batidas do seu coração. Ele, provavelmente, estava digerindo tudo o que mostrei pelos últimos minutos, e eu lhe devia essa espera. Joguei em suas mãos quase um século de lembranças sem pedir permissão, nada mais justo do que dar a ele um momento de reflexão.
E, em meio segundo, tudo mudou. Ele colou nossos corpos em um abraço firme. Meu corpo tombou para trás pelo susto, e, ao deitar no chão, Jacob acariciou meu rosto delicadamente enquanto se aconchegava ao meu lado, me mantendo junto em seu peito. Seus dedos percorreram meus braços e chegaram à minha cintura, me causando um arrepio quando deixou sua mão descansar ali. Eu não me atrevi a abrir os olhos.
Ainda que eu estivesse em choque pela reação inesperada, meus instintos responderam antes que eu me desse conta e meus dedos dedilharam os braços de Jacob até encontrar seu rosto, fazendo um carinho meio incerto. O ardor em minha garganta em nada se comparava com a forma como seu corpo esquentava mesmo em contato com o meu. Com o quanto eu mesma estava me sentindo mais quente.
Ouvi Jacob suspirar, e isso mexeu com os meus sentidos. O cheiro amadeirado dele se destacando de todos os aromas que existiam naquela mata, seu coração batendo tão alto em meus ouvidos que eu não distinguia quase nenhum som ao meu redor. Minhas mãos se uniram às dele em um momento e o abraço dele em minha cintura se tornou mais próximo. Ali, deitada em seu peito, eu tinha mergulhado em um aconchego que não experimentara antes.
Em algum momento, os batimentos dele se tornaram mais acelerados, acredito que pela proximidade, e eu fiz questão de levantar um pouco a cabeça, encontrando seus olhos me encarando em expectativa. Meus dedos não se controlaram e seguiram delicadamente o caminho de suas veias pulsantes. Com seu sangue a poucas camadas de pele de distância, não consegui controlar uma pontada de prazer, e o veneno encheu a minha boca, fazendo o monstro dentro de mim despertar. Como se uma corda me puxasse para longe dele, me lancei uns três metros para trás, prendendo a respiração para me controlar.
– ? – ele perguntou, atordoado e ainda meio deitado no chão. – Fiz algo errado?
– Não, Jacob. – neguei rapidamente e me aproximei devagar. – Eu acho que não estava esperando por isso. Demonstrações de carinho não são comuns entre nós – dei de ombros e me sentei perto dele, mas ainda mantendo uma certa distância. Ele se arrumou e sentou de forma mais ereta, sem deixar de me estudar com o olhar.
– Acho que não estava pensando muito quando te abracei, só achei que era o certo.
– Foi ruim?
– Não, não. Claro que não. – se apressou em dizer e logo estava com as mãos na minha coxa. Eu seguia sem respirar. – Foi muito melhor do que eu imaginei – ele sorriu de lado, e eu sabia que se fosse humana, teria corado. – Mas você parece atordoada. Sei que dissemos que seríamos amigos, mas eu forcei a barra?
– Talvez eu só precise me acostumar com a nossa proximidade, Jacob. – disse entredentes, e o rosto dele se iluminou em compreensão.
– Você precisa caçar. – ele disse e eu assenti. – Quer companhia?
– Definitivamente não. Você pode se machucar se estiver presente. – rejeitei, me afastando rapidamente, e ele soltou uma risada irônica.
– Acha que eu não sei me defender de uma vampira?
– Claro que sabe, mas se eu pedir, é capaz de você me dar seu sangue de canudinho, meu bem. – pisquei para ele e disparei correndo na direção contrária, torcendo para encontrar algum animal grande o bastante para aplacar a vontade de me alimentar.
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Alguns dias tinham se passado, e as passagens de avião para a Itália já estavam compradas. Renesmee estava pronta para fazer três meses de idade e já se assemelhava a uma criança de seis anos, então nossa viagem ao Brasil também se fazia necessária. De acordo com as visões de Alice e com as pesquisas que eu fazia junto a Carlisle, talvez a tribo Ticuna tivesse respostas que não encontrávamos em livros.
Isabella, Renesmee e Seth estavam fora de casa caçando enquanto eu conversava com Jasper e Alice. Os dois, além de meu irmão, eram os únicos que sabiam sobre o que acontecera com Jacob e estavam adorando o fato de que eu estava me deixando levar pelo imprinting, de acordo com suas palavras.
– Nunca disse que estava me deixando levar por nada. Eu ainda não gosto dessa história toda. – retruquei, irritada, e os dois riram.
– , pelo que eu entendi, o sentimento de um imprinting é tão forte que você não consegue agir de outra forma. – Jasper ponderou e me olhou sugestivo, já que ele sabia que eu podia sentir também as coisas através dos dons duplicados dele.
– Eu não consigo ver o que vai acontecer entre vocês, mas não te vejo abandonando o nosso meio e, bem, temos uma história com os lobos. – Alice checou. – Ainda acho que você vai acabar aceitando tudo isso.
– Mas eu quero ter escolhas, Alice. – suspirei. – E quero que ele tenha escolhas também, não que seja algo determinado geneticamente.
– Você realmente acha que ele não te escolheu, ? – Jasper riu contido. – Jacob tem sérias aversões aos vampiros por tudo o que já passou e, mesmo assim, ele não parece estar lutando contra o imprinting ou você.
– Será?
– Tenho certeza de que ele poderia muito bem – Alice se interrompeu e seus olhos saíram de foco. Jasper logo passou seus braços ao redor dela e olhou para todos os lados enquanto eu aspirava o ar com cuidado, também procurando qualquer sinal de perigo. – Irina! – ela ofegou e voltou a nos olhar enquanto o meu telefone tocava irritantemente no bolso.
– Venha para a campina. – Edward disse, rápido, e eu disparei para fora da casa, seguindo facilmente o rastro do meu irmão e de Carlisle.
Cheguei quase ao mesmo tempo que Jacob e não estranhei que Seth tivesse pedido ajuda por seus pensamentos de lobo. Nos olhamos rapidamente, e logo ouvi a voz de Isabella.
– Ela estava naquela beirada – ela disse, apontando para um lugar mais adiante. – Talvez vocês devessem ligar para Emmett e Jasper e pedir para irem com vocês. Ela parecia… muito perturbada. Ela grunhiu para mim.
– Como é? – perguntou Edward com raiva.
– Ela estava atordoada quando a vi há alguns meses, Edward – eu lhe disse, segurando seu braço. – Talvez possamos nos dividir para procurar por ela.
– Carlisle e eu vamos procurar por ela. – meu irmão disse e olhou para os lobos. – Jacob e Seth, se puderem vir conosco, vai ser de grande ajuda. – ele pediu, e os dois assentiram, me fazendo rodar os olhos. – , você pode acompanhar Bella e Renesmee e depois se juntar a nós? – perguntou, vendo que eu estava insatisfeita por ter sido tirada de campo.
– Vou chegar lá antes que qualquer um de vocês. – estreitei meus olhos e me voltei para Isabella, que carregava minha sobrinha no colo. – Vamos? – a mulher assentiu, e logo disparamos para a casa dos Cullen.
O caminho até o terreno dos Cullen não era muito longo, mas nós duas paramos quando um homem desconhecido surgiu por entre as árvores. Os cabelos pretos eram mais brilhantes do que eu lembrava, e, agora, eu podia ver com clareza os detalhes do seu rosto e de sua pele pálida. Os olhos tão vermelhos quanto rubis.
– Ora, ora. Se não é a criatura mais maravilhosa da terra. – Allan disse, com uma voz adoravelmente doce, e cravou seu olhar em mim enquanto se aproximava de nós com uma velocidade humana.
– As riquezas na posse dos Volturi são incontáveis, Carlisle – comentei, chegando mais perto para analisar tanto a caixa quanto o colar, que eram lindíssimos. – Já fizemos alguns inventários ao longo dos anos, mas Jane não deve estar muito contente com esse presente. A caixa de madrepérola é uma das favoritas dela, e tenho certeza de que esperava ser presenteada por Aro.
– Ótimo, mais um motivo para que Jane nos odeie. – Isabella revirou os olhos e se afastou um pouco de mim. – Acho que devo ir a Volterra o mais rápido possível.
– Iremos assim que possível. – Edward concordou, mas a esposa parecia ter uma ideia diferente. Pela careta dela, ele também percebeu. – Você não vai sozinha até eles!
– Não podemos arriscar a visita deles aqui. – ela disse, sofrida, e olhou discretamente para Seth, que tinha Renesmee no colo. Jacob estava junto aos dois e dividia sua atenção entre a garotinha e a conversa.
– Eu não me importo em acompanhar Isabella, Edward. – dei de ombros e ouvi o coração de Jacob acelerar levemente. Todos tinham escutado. – Não é como se eu não precisasse voltar alguma hora para visitar Jane ou Alec.
– Não acho que vai ser muito seguro pra nenhuma das duas se os Volturi souberem que está conosco, – Jasper comentou sereno, mas eu vi a urgência em seus olhos.
– Alice? – questionei, e a vampira começou a procurar futuros possíveis. Quando ela retomou o foco de seus pensamentos, me olhou com um meio sorriso.
– Pode ser uma vantagem a sua amizade com Jane e sua antiga relação com Alec. – ela comentou, constrangida, evitando o olhar de Edward ou Jacob. – Talvez seja a ponte mais fácil até os Volturi, Edward.
– Eu não vou arriscar minha esposa e minha irmã nessa missão suicida. Vocês podem pensar em outra coisa.
– Edward, Renesmee é prioridade, e eu sei que você sabe disso também. – comecei e ele bufou, irritado. – Você sabe como Aro é obcecado com ter você ou Alice na guarda dele. Eu estar presente pode ajudar no caso dela precisar fugir.
– Mas você também era uma peça importante da guarda dele, – Esme disse, preocupada. – Quais são as chances dele te deixar ir embora novamente?
– É, e quem garante que os seus amiguinhos iriam contra o chefão pra te defender? – Emmett instigou, e Edward pareceu satisfeito por ter mais pessoas ao seu lado. Eu via Jacob se movendo desconfortável, querendo tomar a palavra, mas ele parecia em um debate interno.
– Eu conheço a lealdade de Jane e Alec, Emmett. Não me preocupo com isso. – defendi.
– O fato de você ter namorado o garoto não significa que ele vá largar tudo pra te seguir – Rosalie alfinetou e Esme lhe censurou com o olhar. Emmett segurava a risada e Seth achou que era o momento de sair de fininho com Renesmee da sala. Jacob tinha permanecido.
– Meu relacionamento com Alec não lhe diz respeito, Rosalie. – tentei me manter o mais tranquila possível. Jasper com certeza modificava as emoções da sala. – O que você prefere, Edward? – me virei para o meu irmão, ignorando as outras pessoas. – Sua esposa indo sozinha sem saber se defender direito ou acompanhada por alguém que tem contatos dentro de Volterra? – arqueei uma sobrancelha e vi quando ele bufou, irritado. – Compre as passagens, por favor, Alice. – comentei para a vampira, que assentiu e logo saiu da sala antes que alguém mudasse de ideia.
Edward e Isabella saíram em seguida, e todos os demais dispersaram com a desculpa de que precisavam caçar, mas eu imaginava que estivessem apenas dando um espaço.
– Você pode dizer o que quer, Jacob. – caminhei até que estivesse sentada no sofá, e o homem foi até a cadeira mais próxima, me observando por alguns minutos em silêncio. Deixei que organizasse seus pensamentos.
– Eu nunca soube muito da sua história com os encapuzados. – ele comentou. – Por que não me conta?
– É sobre isso que quer falar?
– Você deveria estar mais preocupada com um novo encontro com eles, mas parece tranquila. Por quê?
– Talvez eu tenha passado tempo demais com os Volturi pra saber lidar com eles. – dei de ombros. – Mas acho que podemos testar uma coisa. Se transforme e siga meu rastro. – disse antes de sair em disparada da casa, tomando o cuidado de não cruzar o caminho com os Cullen, e me postei mais próxima do território Quileute.
Jacob não demorou muito para me alcançar e logo estava voltando à forma humana. Ele me observava com cuidado, mas não se afastou quando eu me coloquei perto.
– Está se aproveitando de ser um imprinting de um alfa pra andar livremente pelo território Quileute? – ele brincou, mas eu sabia que falava sério. Ele tinha comentado algo sobre a nossa presença ser a responsável por transformar os garotos da tribo. Quanto mais longe eu estivesse deles, melhor seria.
– Você sabe que vampiros possuem dons, não é? – questionei, ignorando a piada, e o vi assentir levemente, um pouco surpreso com a rápida mudança de assunto. – Bom, muitos acreditam que esses dons já existiam na vida humana. Por exemplo, Edward, quando humano, tinha muita facilidade em ‘’ler’’ as pessoas, por assim dizer. E, como a maioria de nossas características se mantêm nessa nova existência, ele agora é capaz de escutar os pensamentos ao seu redor. Está me acompanhando?
– Sim – concordou baixo, e eu sabia que não teria mais volta a partir do momento em que resolvesse falar a verdade.
– Podemos dizer que eu sou um escudo.
– Como?!
– Eu estou segura dentro da minha mente, mas não posso expandir essa proteção a outras pessoas – dei de ombros e o vi prender a respiração. – Mas também tenho outro dom. Seu pai me ajudou a entender um pouco mais sobre ele.
– Fala sobre os Litúrias?
– Sim, há alguns anos descobri sobre eles com a ajuda de um velho amigo, mas não havia muito sobre. Eles eram vistos apenas como sugadores de sangue com poderes psíquicos. Mas quando seu pai comentou sobre quando eles apareceram e da ligação entre eles e os Quileutes, eu soube que estava no caminho certo. A absorção para além do sangue realmente acontece.
– Você pode absorver as habilidades das pessoas?! – ele deu um passo para trás, e eu teria ficado mais magoada se não entendesse o choque. Talvez tenha doído mais do que eu gostaria de admitir.
– Por aí. – suspirei e me sentei no chão, esperando que ele se recompusesse. Jacob andava de um lado para o outro, com as mãos na cabeça, e parecia a ponto de um ataque de nervos.
– Você consegue ler mentes, não é?! – questionou, meio engasgado, e ficou pior quando eu assenti.
– Acalme-se, Jacob! Se me deixar explicar, vai conseguir respirar direito. – falei tranquilamente, e ele estancou, mas não me olhou nos olhos. Na verdade, agia como se não me visse. – Podemos dizer que eu consigo “desligar” dons que não são naturalmente meus, entende? E eu me propus a lhes dar privacidade. Já basta ter que conviver com Edward, não precisam de dois bisbilhoteiros. – tentei fazer pouco caso, e ele apenas assentiu, o rosto ainda um pouco sério e os braços seguiam cruzados firmemente frente ao corpo.
– Bem – ele pigarreou e me encarou –, o que queria testar? – quis saber.
– Eu absorvi um dom muito peculiar e que não tinha encontrado em minha existência. E eu não conseguiria contar a você boa parte do que vivi. Então, acho que o melhor é te mostrar. Se importa de se aproximar? – pedi com cuidado, e Jacob se sentou ao meu lado. Seu joelho febril estava tão próximo do meu corpo que o calor me atingia em onda. Seu coração batia acelerado e o sangue corria rápido por suas veias, fazendo minha garganta arder um pouco, ainda que fosse ignorável.
Toquei sua mão e o ouvi ofegar pelo contato. Frio no quente. Em uma mistura morna, fechei meus olhos e busquei toda a minha concentração para afastar o escudo de minha mente e poder compartilhar com ele meus pensamentos através do dom de Renesmee.
Jacob
No começo, meus pensamentos se encheram de cores. Era estranho. As cores foram tomando formas, e eu vi uma floresta. Era densa e escura. Eu via tudo ao meu redor. Mas era como se eu fosse apenas um espectro, sem uma forma definida. Um espectador vendo um programa qualquer na televisão. Então, eu a vi.Os olhos eram de um carmim vivo, o cabelo estava preso de forma antiquada e as vestes pareciam masculinas e grandes demais. Ainda assim, senti meu coração disparar com a visão.
Percebi quando ela estancou e levou as mãos à garganta. Deveria estar com sede. Farejou o ar com calma e ouvimos um barulho de galho sendo quebrado. Com certeza algum animal descuidado. Continuei prestando atenção nela e a vi se postando em uma postura de ataque logo depois de ter saído em disparada da casa. Seus olhos cravados em algo através de mim.
Parecia ter uns 20 anos no máximo. Um garoto ainda, que, pelo olhar que lançava, não teria escapatória. Ela disparou como uma bala através de mim, chegando ao homem mais rápido que um piscar de olhos. Por mais que eu tivesse vontade de virar o rosto pra deixar de ver o que aconteceria, algo me impedia. queria me mostrar tudo.
Ela cravou os dentes no pescoço daquele menino, que não teve nem a chance de se defender, drenando seu sangue em poucos segundos. Deixou o corpo cair aos seus pés e se pôs a correr. Eu estava pronto para segui-la, mas a floresta foi morrendo e a cena mudando. Agora tudo o que tinha à minha frente era um hospital. Ela o encarava com tanto interesse que me confundia. tomou impulso e escalou a parede até chegar a uma janela. Em menos de um segundo, eu já estava dentro do local. Ela revirava o lugar, que mais parecia um necrotério.
Vi quando se aproximou de dois corpos e chorou um choro sem lágrimas, abraçada a uma mulher que se assemelhava demais a ela para que eu não adivinhasse: era sua mãe. Meu peito se apertou vendo a cena e lembrei de minha própria mãe. Ela tinha morrido há tanto tempo que eu mal me lembrava.
Depois de se recompor, deu mais uma olhada rápida nos dois corpos e saiu em disparada pelo hospital. Ela parecia urgente, olhando por todos os cômodos e mantendo a respiração presa. Por mais que ela parecesse um borrão, eu lhe acompanhava como se uma corrente me puxasse de um lado ao outro. No entanto, em algum momento, a mulher desistiu e voltou ao necrotério. Pegou os corpos dos pais e saiu na noite, sem ao menos olhar pra trás. Uma espécie de enterro improvisado passou como um flash por meus pensamentos. Imaginei que fosse uma memória dolorida. Achei que ela ia parar de me mostrar o que tinha vivido, mas me enganei. O cenário agora era outro, muito bem iluminado, e vestia roupas mais femininas. Ela passaria por uma viajante qualquer, se não fosse a beleza estonteante e o perigo que exalava juntamente aos olhos vermelhos.
A mulher estava parada encarando um grande relógio com um interesse genuíno quando sentiu uma aproximação. Um homem coberto por um manto negro vinha tranquilamente e lhe tocava o ombro com certa intimidade, fazendo com que algo estranho se remexesse dentro de mim. Ele era um vampiro também, mas eu não conseguia escutar o que diziam, ainda que tenha tentado apurar a audição. Ela não queria me deixar ouvir.
Os dois se encaminharam para dentro do que parecia um castelo de contos de terror, mas ela o parou antes que ele abrisse as grandes portas e se inclinou para dizer algo. Mais uma vez, apenas vi os lábios se movendo, mas não entendia o que acontecia. Quando os dois entraram, um frio com a pele mais branca que a dos Cullen, e até mesmo , se aproximou, cumprimentando-a com um sorriso extremamente falso e lhe oferecendo a mão. – Senhorita Masen, seja muito bem-vinda aos nossos domínios! – agora, eu ouvia tudo com clareza, ainda que preferisse não o fazer. Ele parecia cuidadoso, mas ainda cheio de cobiça. – Meu nome é Aro Volturi, mas acredito que tenha sido informada deste detalhe. Novamente, ela apressava os pensamentos e tudo passava em marcha rápida pelos meus olhos, mas eu conseguia sentir o teor do que era falado.
– Gostaria de lhe oferecer um lugar em nossa guarda, senhorita. – o tal Aro ofereceu, e senti a angústia de como se fosse minha. – Seria um imenso prazer tê-la como parte de nossa grande família. – completou, cheio de expectativas.
– Eu aceito, senhor Volturi. – ela suspirou antes de dizer, e eu senti o peso daquela decisão junto com ela.
As imagens agora apareciam como borrões, já que ela não estava exatamente concentrada em nenhuma delas. Eu podia vê-la matando pessoas. Dizimando vilas inteiras e participando de missões como membro da tal guarda. Pelas lembranças, também ficou clara a sua proximidade com a vampira loira, que eu presumi ser Jane. Com aquele Alec.
O tempo corria mais rápido que mar agitado, e ela me mostrou quando saiu do castelo e foi para um lugar com muita neve. Reparei que tinha encontrado os vampiros que eu vira no casamento de Bella. Estes deveriam ser os tais Denali. Também ficou evidente o esforço necessário para se alimentar apenas de animais, deixando o sangue humano de lado. tinha me oferecido, em alguns minutos, um resumo de sua vida e me deixado conhecer mais sobre seu passado. Foi do nada, como antes, que eu fui jogado para fora de suas lembranças.
Com um solavanco, deixei que meu escudo retornasse ao lugar de sempre e parei de mostrar minhas lembranças a ele, mas não soltei sua mão ou abri meus olhos. Por mais curiosa que eu estivesse, a reação de Jacob me preocupava. Não sei se pela recente declaração de amizade ou pelo imprinting que existia entre nós. Até que ponto minhas emoções eram, de fato, minhas?
No entanto, mesmo que eu permanecesse imóvel, sabia que ele estava acelerado. Sua respiração tinha se tornado ligeiramente mais descontrolada, assim como as batidas do seu coração. Ele, provavelmente, estava digerindo tudo o que mostrei pelos últimos minutos, e eu lhe devia essa espera. Joguei em suas mãos quase um século de lembranças sem pedir permissão, nada mais justo do que dar a ele um momento de reflexão.
E, em meio segundo, tudo mudou. Ele colou nossos corpos em um abraço firme. Meu corpo tombou para trás pelo susto, e, ao deitar no chão, Jacob acariciou meu rosto delicadamente enquanto se aconchegava ao meu lado, me mantendo junto em seu peito. Seus dedos percorreram meus braços e chegaram à minha cintura, me causando um arrepio quando deixou sua mão descansar ali. Eu não me atrevi a abrir os olhos.
Ainda que eu estivesse em choque pela reação inesperada, meus instintos responderam antes que eu me desse conta e meus dedos dedilharam os braços de Jacob até encontrar seu rosto, fazendo um carinho meio incerto. O ardor em minha garganta em nada se comparava com a forma como seu corpo esquentava mesmo em contato com o meu. Com o quanto eu mesma estava me sentindo mais quente.
Ouvi Jacob suspirar, e isso mexeu com os meus sentidos. O cheiro amadeirado dele se destacando de todos os aromas que existiam naquela mata, seu coração batendo tão alto em meus ouvidos que eu não distinguia quase nenhum som ao meu redor. Minhas mãos se uniram às dele em um momento e o abraço dele em minha cintura se tornou mais próximo. Ali, deitada em seu peito, eu tinha mergulhado em um aconchego que não experimentara antes.
Em algum momento, os batimentos dele se tornaram mais acelerados, acredito que pela proximidade, e eu fiz questão de levantar um pouco a cabeça, encontrando seus olhos me encarando em expectativa. Meus dedos não se controlaram e seguiram delicadamente o caminho de suas veias pulsantes. Com seu sangue a poucas camadas de pele de distância, não consegui controlar uma pontada de prazer, e o veneno encheu a minha boca, fazendo o monstro dentro de mim despertar. Como se uma corda me puxasse para longe dele, me lancei uns três metros para trás, prendendo a respiração para me controlar.
– ? – ele perguntou, atordoado e ainda meio deitado no chão. – Fiz algo errado?
– Não, Jacob. – neguei rapidamente e me aproximei devagar. – Eu acho que não estava esperando por isso. Demonstrações de carinho não são comuns entre nós – dei de ombros e me sentei perto dele, mas ainda mantendo uma certa distância. Ele se arrumou e sentou de forma mais ereta, sem deixar de me estudar com o olhar.
– Acho que não estava pensando muito quando te abracei, só achei que era o certo.
– Foi ruim?
– Não, não. Claro que não. – se apressou em dizer e logo estava com as mãos na minha coxa. Eu seguia sem respirar. – Foi muito melhor do que eu imaginei – ele sorriu de lado, e eu sabia que se fosse humana, teria corado. – Mas você parece atordoada. Sei que dissemos que seríamos amigos, mas eu forcei a barra?
– Talvez eu só precise me acostumar com a nossa proximidade, Jacob. – disse entredentes, e o rosto dele se iluminou em compreensão.
– Você precisa caçar. – ele disse e eu assenti. – Quer companhia?
– Definitivamente não. Você pode se machucar se estiver presente. – rejeitei, me afastando rapidamente, e ele soltou uma risada irônica.
– Acha que eu não sei me defender de uma vampira?
– Claro que sabe, mas se eu pedir, é capaz de você me dar seu sangue de canudinho, meu bem. – pisquei para ele e disparei correndo na direção contrária, torcendo para encontrar algum animal grande o bastante para aplacar a vontade de me alimentar.
Alguns dias tinham se passado, e as passagens de avião para a Itália já estavam compradas. Renesmee estava pronta para fazer três meses de idade e já se assemelhava a uma criança de seis anos, então nossa viagem ao Brasil também se fazia necessária. De acordo com as visões de Alice e com as pesquisas que eu fazia junto a Carlisle, talvez a tribo Ticuna tivesse respostas que não encontrávamos em livros.
Isabella, Renesmee e Seth estavam fora de casa caçando enquanto eu conversava com Jasper e Alice. Os dois, além de meu irmão, eram os únicos que sabiam sobre o que acontecera com Jacob e estavam adorando o fato de que eu estava me deixando levar pelo imprinting, de acordo com suas palavras.
– Nunca disse que estava me deixando levar por nada. Eu ainda não gosto dessa história toda. – retruquei, irritada, e os dois riram.
– , pelo que eu entendi, o sentimento de um imprinting é tão forte que você não consegue agir de outra forma. – Jasper ponderou e me olhou sugestivo, já que ele sabia que eu podia sentir também as coisas através dos dons duplicados dele.
– Eu não consigo ver o que vai acontecer entre vocês, mas não te vejo abandonando o nosso meio e, bem, temos uma história com os lobos. – Alice checou. – Ainda acho que você vai acabar aceitando tudo isso.
– Mas eu quero ter escolhas, Alice. – suspirei. – E quero que ele tenha escolhas também, não que seja algo determinado geneticamente.
– Você realmente acha que ele não te escolheu, ? – Jasper riu contido. – Jacob tem sérias aversões aos vampiros por tudo o que já passou e, mesmo assim, ele não parece estar lutando contra o imprinting ou você.
– Será?
– Tenho certeza de que ele poderia muito bem – Alice se interrompeu e seus olhos saíram de foco. Jasper logo passou seus braços ao redor dela e olhou para todos os lados enquanto eu aspirava o ar com cuidado, também procurando qualquer sinal de perigo. – Irina! – ela ofegou e voltou a nos olhar enquanto o meu telefone tocava irritantemente no bolso.
– Venha para a campina. – Edward disse, rápido, e eu disparei para fora da casa, seguindo facilmente o rastro do meu irmão e de Carlisle.
Cheguei quase ao mesmo tempo que Jacob e não estranhei que Seth tivesse pedido ajuda por seus pensamentos de lobo. Nos olhamos rapidamente, e logo ouvi a voz de Isabella.
– Ela estava naquela beirada – ela disse, apontando para um lugar mais adiante. – Talvez vocês devessem ligar para Emmett e Jasper e pedir para irem com vocês. Ela parecia… muito perturbada. Ela grunhiu para mim.
– Como é? – perguntou Edward com raiva.
– Ela estava atordoada quando a vi há alguns meses, Edward – eu lhe disse, segurando seu braço. – Talvez possamos nos dividir para procurar por ela.
– Carlisle e eu vamos procurar por ela. – meu irmão disse e olhou para os lobos. – Jacob e Seth, se puderem vir conosco, vai ser de grande ajuda. – ele pediu, e os dois assentiram, me fazendo rodar os olhos. – , você pode acompanhar Bella e Renesmee e depois se juntar a nós? – perguntou, vendo que eu estava insatisfeita por ter sido tirada de campo.
– Vou chegar lá antes que qualquer um de vocês. – estreitei meus olhos e me voltei para Isabella, que carregava minha sobrinha no colo. – Vamos? – a mulher assentiu, e logo disparamos para a casa dos Cullen.
O caminho até o terreno dos Cullen não era muito longo, mas nós duas paramos quando um homem desconhecido surgiu por entre as árvores. Os cabelos pretos eram mais brilhantes do que eu lembrava, e, agora, eu podia ver com clareza os detalhes do seu rosto e de sua pele pálida. Os olhos tão vermelhos quanto rubis.
– Ora, ora. Se não é a criatura mais maravilhosa da terra. – Allan disse, com uma voz adoravelmente doce, e cravou seu olhar em mim enquanto se aproximava de nós com uma velocidade humana.
Capítulo 15
– Achei que já estivesse morto, Allan.
– E não estamos todos? – ele riu para nós como se achasse tudo extremamente adorável. – Mas eu achei que demoraríamos mais a nos encontrar, querida. Talvez mais uns 200 ou 300 anos.
– Se você for embora, podemos nos desencontrar novamente.
– Ah, meu bem. Agora que eu cheguei no meio da diversão? – ele cravou seu olhar em Renesmee, que estava agarrada às costas de Isabella, talvez em uma falha tentativa de não chamar atenção. – Vocês têm uma criança imortal por aqui? Sabe que os Volturi não costumam ser misericordiosos.
– Não quebramos nenhuma regra, Allan. Mas não é da sua conta. – Isabella permanecia em silêncio, estudando tudo o que acontecia, provavelmente pensando na melhor maneira de fugir com a filha. Eu também estava. Então, deixei que os dons de Edward me invadissem e procurei sua mente. Sem demora, falei em seus pensamentos.
“Assim que eu conseguir a atenção total dele, corra na direção contrária da casa e ligue para o meu irmão”, pedi, apressada, mas ela manteve o rosto impassível.
– É muito curioso que seus truques tenham evoluído o bastante para que eu esteja ouvindo um coração bater nessa menina.
– Ela não é uma recém-criada, Allan. – dei de ombros enquanto me aproximava do homem. Isabella parecia ansiosa às minhas costas. – Nasceu de uma humana com um vampiro.
– Claro, eu posso fingir acreditar em você, querida. – ele aspirou o ar com cuidado e se aproveitou do vento que passava através de nós. Captei o exato momento em que suas pupilas dilataram. Ele tinha sentido o cheiro do sangue de Renesmee. E gostado. – É verdade, então?
Allan estava mais interessado agora, e isso era perigoso em todos os sentidos. Ele deu alguns passos para frente, e eu refleti isso. Eu não conseguia saber o que ele pensava, mas ele trocava de foco muito rápido. Isabella. Renesmee. Eu. Renesmee novamente. Ele se movimentou mais alguns passos, não parecia se intimidar.
– É uma doce surpresa essa que vocês têm aqui. – ele molhou os lábios. Não precisava estar próxima para sentir o cheiro do veneno exalando por sua boca. – Não deveria guardar tudo pra você, .
– Não vai chegar perto dela. – me controlei e disse o mais calma que consegui. Ele me olhou com um sorriso de lado e me dedicou uma piscadela. Antes que eu pudesse entender, Allan se lançou como uma flecha na direção das duas. Com um segundo de atraso, me lancei na direção dele.
Bum!
Nós caímos rolando no chão, seus movimentos eram rápidos, mas eu conseguia antecipar boa parte deles. Ele tentava me bloquear com as pernas, com as mãos, mas eu era menor. Minhas pernas circularam o pescoço dele, eu o apertava entre as minhas coxas para levá-lo ao chão. Allan conseguiu se soltar. Isabella e Renesmee já tinham saído do nosso campo de visão, mas eu continuava sentindo seus cheiros. Se eu conseguia, ele também. Com um risinho, ele seguiu o mesmo caminho delas.
Eu só consegui correr atrás dele. Esperava que Isabella tivesse feito o que eu tinha pedido e ligado para Edward. Allan estava a uns bons 300 metros a frente, mas resolvi segui-lo de cima. Escalei a primeira árvore que encontrei e fui pulando entre os galhos o mais rápido que pude. De cima, dava para distinguir a figura de Allan, mas não via mais Isabella ou Renesmee. Pelo menos isso.
O homem correu por mais alguns metros e estancou, farejando o ar com cuidado para decidir para onde ir. Eu saltei de cima da árvore em sua direção, mas ele se movimentou no último minuto.
– Risível como você parece uma adolescente rebelde ou uma irmã que não quer compartilhar o brinquedo, . – Allan comentou, sorrindo docemente. – Deveria ser mais grata, querida.
– Por me deixar sozinha depois de me transformar em um monstro?
– Por ter te dado uma oportunidade de futuro. Eu poderia ter te matado naquele dia, mas fui bondoso o suficiente para não fazer isso.
– E não estamos todos mortos? – repeti sua consideração, e seu sorriso aumentou. Ele se aproximou de mim. – O que você quer aqui?
– Meus instintos me disseram para vir para esses lados. – ele deu de ombros. Agora me rodeava, suas mãos tocavam meus braços de forma displicente. – Eles nunca falham.
– O que você quer aqui, Allan? – repeti e me movi rápido, encurralando-o em uma árvore. Minhas mãos espalmadas na madeira, cada uma de um lado do seu corpo. Ele sorriu sugestivo e me olhou profundamente nos olhos.
– Você está deixando as coisas ainda mais interessantes pra mim, doce . – nossa diferença de altura era bem considerável. Ele se abaixou alguns centímetros, nossos narizes se roçavam. – Eu não sou de interferir na vida das minhas criações, mas quero saber mais de você antes que eu faça uma visitinha à Itália.
– Querido. – dedilhei seu rosto com a ponta dos dedos, descobrindo seu maxilar. – Não acho que precise falar com meus antigos amigos sobre mim, não aprendeu em todos esses anos que fofoca é muito feio? – minha mão escorregou por seu pescoço.
– Quer dizer que esteve com os Volturi esses anos todos? – ele soprou baixinho no pouco espaço que tínhamos. – Foi lá que aprendeu a não tomar sangue humano ou foi com essa vampirinha estranha que encontrou? Seus olhinhos não enganam ninguém, meu bem.
– Ah, Allan. Se você soubesse que é o último a quem eu pretendo enganar. – lhe apertei o pescoço, cravando minhas unhas em sua pele, sentindo os rasgos abrirem embaixo dos meus dedos. – Eu sei que, se te mordo aqui, também não saio viva.
– O quanto está disposta a arriscar, ?
– Tudo.
Eu avancei para o seu pescoço, meus dentes à mostra. Lhe arranquei um pedaço, e o grito de Allan ecoou por toda a floresta. Me afastei antes que ele conseguisse fechar seus braços em mim. Seus olhos vermelhos estavam em fúria, e ele se agachou pronto para me atacar.
Allan veio para cima de mim, mas não conseguiu me pegar. Virei as costas e corri para a campina onde eles tinham visto Irina pela última vez. Por sorte, não havia mais ninguém ali.
– Não te criei para ser uma fujona, . – Allan disse em reprimenda, como quem fala com uma criança, e eu parei, me virando para ele e vendo que agora andava calmamente até mim. – Não deveria estar me atacando, e sim esperando que eu te contasse toda a nossa história.
– E qual o seu preço para isso?
– Ela.
– Você não toca na criança!
– É uma pena que você se venda por tão pouco. – ele deu de ombros. – Essa é a sua última palavra?
– Eu disse que não era da sua conta, Allan. – e avancei novamente para ele, que, dessa vez, me pegou no ar e me jogou para longe, vindo até mim e pressionando minha cabeça contra o chão. Ele me afundava na terra, minhas mãos se agarravam ao que eu conseguia dele. Sua força era tanta que eu só ia afundando. Cada vez mais.
Até que firmei minhas unhas em seu ombro, destronquei o braço com força, e ele urrou de dor pelo segundo necessário para que eu pudesse subir e cuspir toda a terra que estava em mim. Mas não deixei que ele recolocasse o braço no lugar, puxei uma vez mais. Com força. Meu pé foi para seu estômago, e eu estava quase arrancando seu braço.
Um barulho de patas próximas me fez perder o foco por meio segundo. Ele também perdeu. Mas não foi o bastante para que a minha força parasse. Com um guincho, seu braço voou longe, e vi Allan fraquejar.
Lhe dei um murro no rosto. Ele pendeu para trás pela falta de equilíbrio. Me postei agachada em seus ombros. Minhas mãos foram para seu pescoço, ele tentava me deter com o braço restante, mas os passos do lobo já estavam próximos o bastante para me fazer parar agora. Um lobo acinzentado surgiu das matas, e eu notei que era Leah. Não precisamos de mais de um olhar para que ela viesse correndo em minha direção e começasse a puxar a outra extremidade de Allan.
– Eu posso te contar tudo o que precisa saber, . Eu posso te ajudar a saber sobre o que nós somos. – ele suplicou enquanto gritava. Leah tinha lhe arrancado uma das pernas com a boca.
– Eu esperei por tanto tempo, Allan. Não me importo de ficar a eternidade sem saber. – eu torci o seu pescoço, ele estava quase descolando de seus ombros enquanto se contorcia. Allan gemia, berrava, tentava agarrar Leah com a mão restante e afastá-la. – Não deveria ter mexido com a minha sobrinha. – finalmente consegui torcer o suficiente para que sua cabeça saísse em minhas mãos e seu corpo caísse no espaço entre Leah e mim. O lobo terminou de desmembrar Allan e começamos a fazer uma pilha com seus restos. – Precisamos de fogo.
O lobo saiu correndo para trás de uma árvore e, em alguns poucos minutos, Leah voltou já vestida e em sua forma humana carregando uma caixa de fósforo. Sem falar nada, demos mais uma volta nos arredores para nos certificar de que não faltara nenhum pedaço de Allan. Ela riscou o fósforo e o jogou na pilha junto com a caixinha. O corpo do meu criador lambeu em chamas.
– O que aconteceu aqui? – Edward chegou apressado com Jacob ao seu lado, ainda em forma de lobo, e os dois ficaram olhando de mim para Leah e para a fogueira às nossas costas.
– Estávamos nos divertindo. – Leah disse com um sorriso largo e piscou para mim. Jacob cravou seu olhar em mim, e eu apenas dei de ombros.
– Foi uma diversão e tanto. – concordei, chacoalhando os cabelos para tentar me livrar de um pouco da terra. – Marcamos uma próxima?
– Sempre que quiser, sanguessuga. – Leah sorriu de lado e nos deu as costas, indo para o lado contrário de onde estávamos e da fogueira. Os dois seguiram esperando que eu falasse mais alguma coisa.
– Não sei vocês, mas eu preciso de um banho. – saí em disparada na direção da casa dos Cullen antes que um deles resolvesse falar alguma coisa. Eu conseguia ouvir seus passos atrás de mim, mesmo estando bons metros a frente. Eles me deram uma boa dianteira para que eu pudesse tomar banho e me trocar antes de conversarmos.
Quando terminei de me aprontar, Jacob me esperava na sala e, sem dizer nada, fomos andando para longe dos limites dos Cullen. Não estávamos exatamente entusiasmados com muita plateia.
– O que aconteceu mais cedo? – ele perguntou assim que paramos. Estávamos próximos ao chalé de Edward e Isabella, mas eles não estavam em casa. – Quem era aquele vampiro?
– Leah não se transformou ainda, né? – sugeri, e ele assentiu. Pelo menos, ela estava me deixando lidar com ele primeiro antes que Jacob visse algo em sua mente. – Era o meu criador. – dei de ombros.
– Ele te atacou? – Jacob parecia urgente, seus olhos percorrendo sem cerimônia cada parte visível do meu corpo. – Te machucou de alguma forma?
– Allan teve o que merecia por pensar em mexer com a minha sobrinha. – desconversei e me sentei em uma pedra grande qualquer no chão.
– Fiquei bem surpreso por te encontrar com a Leah. – ele comentou ao se sentar perto de mim. Ele estava um pouco mais baixo do que eu assim.
– Acho que, por mais ódio que ela tenha de mim, nada se compara a matar um vampiro com os próprios dentes. – sorri, e ele concordou. – E, nesse caso, não tinha lobo melhor pra me ajudar do que ela.
– Nenhum outro? – ele pareceu meio ofendido, e eu baguncei seus cabelos com a mão.
– Você não teria me deixado lutar com ele, teria me tratado como uma donzela em perigo ao invés de uma parceira de batalha.
– Quem te garante?
– No momento em que você visse Allan com as mãos no meu pescoço, afundando meu rosto na terra enquanto tentava tirar minha cabeça, você ia surtar. – vi quando ele contorceu o rosto e fechou as mãos com força. – Viu? Você pode culpar o imprinting se quiser.
– É que ainda é estranho pra mim. – ele suspirou – Ao mesmo tempo que eu sei que você é uma vampira, com décadas de treinamento, eu ainda quero te proteger de qualquer coisa.
Jacob estava sendo tão sincero que me desconcertava. Eu conseguia ouvir a voz de Jasper soprando em meus ouvidos enquanto dizia “Jacob tem sérias aversões aos vampiros por tudo o que já passou e, mesmo assim, ele não parece estar lutando contra o imprinting ou você”. Será que ele se preocupava comigo sem que estivesse sendo obrigado a isso?
– Eu posso prometer pedir ajuda quando achar necessário. Isso acalma seus instintos? – sugeri, e ele segurou minha mão entre as dele. Engoli em seco. Era tão quente.
– Eu sei o que você está achando.
– O que seria?
– Que toda a minha preocupação se limita ao imprinting. – ele deu de ombros enquanto desenhava padrões aleatórios na minha mão. Me mantive em silêncio. – Eu também pensava isso.
– O que mudou?
– Você. – ele disse simplesmente, mas quando viu minha expressão de confusão, resolveu se explicar melhor. – Eu não esperava me relacionar com uma vampira, passei um bom tempo só odiando. Mas eu percebi que não existe alguém mais perfeita para mim do que você. Não é apenas o imprinting falando. – ele se aprumou para estar sentado de frente para mim, seus olhos não deixaram os meus em momento algum. – Você me deixa entrar, . No seu passado, na sua vida.
– Você quer ir com a gente até o Brasil? – convidei depois de uns minutos em silêncio apenas olhando para ele. – Vamos procurar mais sobre crianças como Renesmee.
– Isso vai te fazer mudar de ideia sobre acompanhar a Bella até a Itália?
– Definitivamente não. – eu sorri, e ele bufou a contragosto. – Mas vou gostar de saber que você está me esperando no aeroporto quando eu pousar.
– Posso trabalhar com isso. – Jacob suspirou e tocou meu rosto com cuidado. – Iremos juntos ao Brasil, então?
– Acho que pode ser divertido, no fim das contas. Já saiu do país? – ele negou com a cabeça. – Então, serei uma ótima guia noturna. Você pode aproveitar as praias durante o dia, se conseguirmos uma folga.
– Posso aproveitá-las durante a noite com você? – ele sugeriu e se aproximou ligeiramente. Eu podia ouvir seu coração batendo mais rápido, e, de uma forma aconchegante, isso me acalmou.
– Você pode, eu não te deixaria sozinho. Espero ser uma boa companhia e eu... – antes que pudesse concluir, o rosto de Jacob saiu da minha frente e outra cena se desenhou.
Uma fila de vampiros se movia em rápida sincronia enquanto o vento bagunçava seus cabelos. Aro, Caius, Marcus vinham na frente, seguidos por Jane e Alec. Renata, Demetri e Félix estavam nas pontas, formando o desenho de proteção dos Volturi, guardando as esposas, que os seguiam à pouca distância. Para além de outros membros da guarda, dezenas de outros vampiros os seguiam de perto. Eles estavam vindo.
– ? – ouvi a voz de Jacob me chamar ao longe e repetidas vezes. Demorei um pouco mais de um minuto para lhe atender.
– Um pouco mais de um mês. – sussurrei com a voz estrangulada e senti Jacob apertar com força uma de minhas mãos enquanto passava o braço por minha cintura e me sentava em seu colo.
– , o que está acontecendo? – ele perguntou em um misto de desespero e curiosidade. Seus olhos estavam cravados em mim, e, por um momento, eu me deixei acolher em seus braços.
– Os Volturi estão vindo, Jacob. – confidenciei depois de um tempo.
– Por quê? O que eles podem querer aqui conosco? Vocês não vão até a Itália para impedir isso?
– Eu não sei, mas precisamos descobrir. Logo. – olhei para ele, que assentiu, e me pus de pé. – Eu posso esperar você se transformar, mas podemos fazer de outro modo. – sugeri, lhe oferecendo a mão, e Jacob me encarou desacreditado. Um sorriso de lado foi a minha resposta. – Precisa se acostumar com o fato de que sou mais rápida que você.
– Só dessa vez. – ele semicerrou os olhos e aceitou minha mão. Me postei de costas para ele, e, assim, Jacob subiu em minhas costas. Isso teria dado muito errado se eu fosse humana, mas passei minhas mãos por trás de seus joelhos e ele se segurou em mim para que eu pudesse correr. Ele não era mais pesado que uma mochila.
Por mais preocupada que estivesse, não consegui não me divertir com as risadas e avisos de Jacob em minha orelha. “Vamos acabar batendo se você se desconcentrar”, ele dizia em meu ouvido, e eu sempre desviava no último segundo. Sua respiração tão perto de mim me fazia cócegas na garganta e eu sentia arrepios. Aos poucos, nossa intimidade ia mudando.
– Chegamos, cavalinho. – parei na entrada dos Cullen, e ele saiu das minhas costas sorrindo. Jacob entrelaçou nossos dedos antes que entrássemos na casa. Ouvimos a voz de Emmett alta e clara quando passamos da porta.
– Bom, não podemos fugir. Não com Demetri por perto. – ele grunhiu. – E não sei se não podemos vencer. Há algumas opções a considerar. Não temos que lutar sozinhos.
– Estaremos com vocês. – Jacob disse antes que eu pudesse me pronunciar e vi Isabella bufar enquanto se abraçava à filha.
– Vocês não precisam ser sentenciados à morte, Jake. – Isabella disse. – E você sequer sabe do que estamos falando. – ela comentou, e eu apertei levemente a mão do homem, antes que ele acabasse falando algo.
– Estamos prontos para qualquer luta, Bells. Não temos medo de um par de vampiros. – ele disse, bem humorado, e me abraçou de lado, deixando um beijo em minha testa antes de me soltar e ir para o lado de Seth, que estava quieto em um canto.
– O que aconteceu? – perguntei, mesmo já sabendo, e meus olhos se encontraram com os de Jasper. Ele sabia e sentia que eu mentia, mas nada disse.
– Os Volturi estão vindo, . – Edward explicou. – Todos eles, até as esposas. Irina foi até Volterra por Renesmee.
– Uma criança imortal, não é? – eu sugeri, e ele assentiu.
– Você não conseguiria falar com os seus amigos da guarda, ? – Rosalie falou, meio afastada. – Explicar para eles que Renesmee não é uma criança imortal, mas que cresce e tem sangue nas veias.
– Aro nunca pararia por minha causa. – neguei com a cabeça. – Ele não vem apenas por ela, mas por cada dom que há nessa sala. Alice, Edward, Jasper, Isabella.
– Você. – meu irmão completou, e eu sorri enquanto assentia.
– Aro vai adorar ter a possibilidade de me ter ao seu lado novamente. – revirei os olhos. – Mas, realmente, Emmett está certo. Com Demetri vindo, não teríamos chance de fugir.
– Podemos tentar encontrar outros amigos que possam nos ajudar. – Emmett sugeriu. – Talvez, se tivermos um número considerável ao nosso lado, os Volturi hesitem por um momento para ouvir o que temos a dizer.
– Podemos perguntar isso a eles, Emm. – Alice disse enquanto seus olhos saíam de foco vez ou outra. – Temos de ter cuidado ao apresentá-los, não queremos que eles se virem contra nós.
– Apresentar? – Jasper questionou, e Alice olhou para Renesmee antes que seus olhos ficassem vidrados uma vez mais.
– A família de Tanya. O clã de Siobhan, os Amun, alguns dos nômades... Garrett e Mary, certamente. Talvez Alistair.
– Peter e Charlotte? – Jasper perguntou, incerto, e viu Alice assentir.
– Talvez. – disse ela.
– As Amazonas? – questionou Carlisle. – Kachiri, Zafrina e Senna?
Alice, no entanto, estava concentrada demais. Um lampejo de uma floresta passou por meus olhos, e, por um momento, ela me encarou como se soubesse o que acontecia.
– O que foi isso? – Edward quis saber e olhou dela para mim. – Não consegui ver o que viu. Que selva é essa?
– Eu não sei. – ela gemeu inquieta e levou as mãos às têmporas. – Teremos que nos dividir e correr. Antes que a neve se prenda ao chão. Temos que procurar a todos e trazê-los para cá. Mostrar a eles.
– É importante que perguntemos a Eleazar. – disse, sem que pudesse me controlar. Alice me encarou novamente. – Talvez haja mais que uma simples criança imortal nisso tudo.
– Não consigo ver, . – ela disse baixo e meio desesperada. Jasper já tinha dado um passo em sua direção. Eu fiz o mesmo. – Não com os lobos aqui. Eu preciso sair para me concentrar, talvez caçar. Podemos fazer isso, ? Sei que está há algum tempo sem se alimentar.
Alice segurou a mão de Jasper e assentiu em minha direção. Não levei mais de meio segundo para me postar ao seu lado.
– Não há tempo a perder, vocês precisam encontrar a todos e trazê-los aqui. – ela puxou Jasper para a porta traseira da casa e tocou levemente minha mão. Fui atrás deles. Jacob me encarava confuso do outro lado da sala. Só consegui lhe dedicar uma piscadela antes de sair porta afora, seguindo Alice e Jasper na direção da noite.
– E não estamos todos? – ele riu para nós como se achasse tudo extremamente adorável. – Mas eu achei que demoraríamos mais a nos encontrar, querida. Talvez mais uns 200 ou 300 anos.
– Se você for embora, podemos nos desencontrar novamente.
– Ah, meu bem. Agora que eu cheguei no meio da diversão? – ele cravou seu olhar em Renesmee, que estava agarrada às costas de Isabella, talvez em uma falha tentativa de não chamar atenção. – Vocês têm uma criança imortal por aqui? Sabe que os Volturi não costumam ser misericordiosos.
– Não quebramos nenhuma regra, Allan. Mas não é da sua conta. – Isabella permanecia em silêncio, estudando tudo o que acontecia, provavelmente pensando na melhor maneira de fugir com a filha. Eu também estava. Então, deixei que os dons de Edward me invadissem e procurei sua mente. Sem demora, falei em seus pensamentos.
“Assim que eu conseguir a atenção total dele, corra na direção contrária da casa e ligue para o meu irmão”, pedi, apressada, mas ela manteve o rosto impassível.
– É muito curioso que seus truques tenham evoluído o bastante para que eu esteja ouvindo um coração bater nessa menina.
– Ela não é uma recém-criada, Allan. – dei de ombros enquanto me aproximava do homem. Isabella parecia ansiosa às minhas costas. – Nasceu de uma humana com um vampiro.
– Claro, eu posso fingir acreditar em você, querida. – ele aspirou o ar com cuidado e se aproveitou do vento que passava através de nós. Captei o exato momento em que suas pupilas dilataram. Ele tinha sentido o cheiro do sangue de Renesmee. E gostado. – É verdade, então?
Allan estava mais interessado agora, e isso era perigoso em todos os sentidos. Ele deu alguns passos para frente, e eu refleti isso. Eu não conseguia saber o que ele pensava, mas ele trocava de foco muito rápido. Isabella. Renesmee. Eu. Renesmee novamente. Ele se movimentou mais alguns passos, não parecia se intimidar.
– É uma doce surpresa essa que vocês têm aqui. – ele molhou os lábios. Não precisava estar próxima para sentir o cheiro do veneno exalando por sua boca. – Não deveria guardar tudo pra você, .
– Não vai chegar perto dela. – me controlei e disse o mais calma que consegui. Ele me olhou com um sorriso de lado e me dedicou uma piscadela. Antes que eu pudesse entender, Allan se lançou como uma flecha na direção das duas. Com um segundo de atraso, me lancei na direção dele.
Bum!
Nós caímos rolando no chão, seus movimentos eram rápidos, mas eu conseguia antecipar boa parte deles. Ele tentava me bloquear com as pernas, com as mãos, mas eu era menor. Minhas pernas circularam o pescoço dele, eu o apertava entre as minhas coxas para levá-lo ao chão. Allan conseguiu se soltar. Isabella e Renesmee já tinham saído do nosso campo de visão, mas eu continuava sentindo seus cheiros. Se eu conseguia, ele também. Com um risinho, ele seguiu o mesmo caminho delas.
Eu só consegui correr atrás dele. Esperava que Isabella tivesse feito o que eu tinha pedido e ligado para Edward. Allan estava a uns bons 300 metros a frente, mas resolvi segui-lo de cima. Escalei a primeira árvore que encontrei e fui pulando entre os galhos o mais rápido que pude. De cima, dava para distinguir a figura de Allan, mas não via mais Isabella ou Renesmee. Pelo menos isso.
O homem correu por mais alguns metros e estancou, farejando o ar com cuidado para decidir para onde ir. Eu saltei de cima da árvore em sua direção, mas ele se movimentou no último minuto.
– Risível como você parece uma adolescente rebelde ou uma irmã que não quer compartilhar o brinquedo, . – Allan comentou, sorrindo docemente. – Deveria ser mais grata, querida.
– Por me deixar sozinha depois de me transformar em um monstro?
– Por ter te dado uma oportunidade de futuro. Eu poderia ter te matado naquele dia, mas fui bondoso o suficiente para não fazer isso.
– E não estamos todos mortos? – repeti sua consideração, e seu sorriso aumentou. Ele se aproximou de mim. – O que você quer aqui?
– Meus instintos me disseram para vir para esses lados. – ele deu de ombros. Agora me rodeava, suas mãos tocavam meus braços de forma displicente. – Eles nunca falham.
– O que você quer aqui, Allan? – repeti e me movi rápido, encurralando-o em uma árvore. Minhas mãos espalmadas na madeira, cada uma de um lado do seu corpo. Ele sorriu sugestivo e me olhou profundamente nos olhos.
– Você está deixando as coisas ainda mais interessantes pra mim, doce . – nossa diferença de altura era bem considerável. Ele se abaixou alguns centímetros, nossos narizes se roçavam. – Eu não sou de interferir na vida das minhas criações, mas quero saber mais de você antes que eu faça uma visitinha à Itália.
– Querido. – dedilhei seu rosto com a ponta dos dedos, descobrindo seu maxilar. – Não acho que precise falar com meus antigos amigos sobre mim, não aprendeu em todos esses anos que fofoca é muito feio? – minha mão escorregou por seu pescoço.
– Quer dizer que esteve com os Volturi esses anos todos? – ele soprou baixinho no pouco espaço que tínhamos. – Foi lá que aprendeu a não tomar sangue humano ou foi com essa vampirinha estranha que encontrou? Seus olhinhos não enganam ninguém, meu bem.
– Ah, Allan. Se você soubesse que é o último a quem eu pretendo enganar. – lhe apertei o pescoço, cravando minhas unhas em sua pele, sentindo os rasgos abrirem embaixo dos meus dedos. – Eu sei que, se te mordo aqui, também não saio viva.
– O quanto está disposta a arriscar, ?
– Tudo.
Eu avancei para o seu pescoço, meus dentes à mostra. Lhe arranquei um pedaço, e o grito de Allan ecoou por toda a floresta. Me afastei antes que ele conseguisse fechar seus braços em mim. Seus olhos vermelhos estavam em fúria, e ele se agachou pronto para me atacar.
Allan veio para cima de mim, mas não conseguiu me pegar. Virei as costas e corri para a campina onde eles tinham visto Irina pela última vez. Por sorte, não havia mais ninguém ali.
– Não te criei para ser uma fujona, . – Allan disse em reprimenda, como quem fala com uma criança, e eu parei, me virando para ele e vendo que agora andava calmamente até mim. – Não deveria estar me atacando, e sim esperando que eu te contasse toda a nossa história.
– E qual o seu preço para isso?
– Ela.
– Você não toca na criança!
– É uma pena que você se venda por tão pouco. – ele deu de ombros. – Essa é a sua última palavra?
– Eu disse que não era da sua conta, Allan. – e avancei novamente para ele, que, dessa vez, me pegou no ar e me jogou para longe, vindo até mim e pressionando minha cabeça contra o chão. Ele me afundava na terra, minhas mãos se agarravam ao que eu conseguia dele. Sua força era tanta que eu só ia afundando. Cada vez mais.
Até que firmei minhas unhas em seu ombro, destronquei o braço com força, e ele urrou de dor pelo segundo necessário para que eu pudesse subir e cuspir toda a terra que estava em mim. Mas não deixei que ele recolocasse o braço no lugar, puxei uma vez mais. Com força. Meu pé foi para seu estômago, e eu estava quase arrancando seu braço.
Um barulho de patas próximas me fez perder o foco por meio segundo. Ele também perdeu. Mas não foi o bastante para que a minha força parasse. Com um guincho, seu braço voou longe, e vi Allan fraquejar.
Lhe dei um murro no rosto. Ele pendeu para trás pela falta de equilíbrio. Me postei agachada em seus ombros. Minhas mãos foram para seu pescoço, ele tentava me deter com o braço restante, mas os passos do lobo já estavam próximos o bastante para me fazer parar agora. Um lobo acinzentado surgiu das matas, e eu notei que era Leah. Não precisamos de mais de um olhar para que ela viesse correndo em minha direção e começasse a puxar a outra extremidade de Allan.
– Eu posso te contar tudo o que precisa saber, . Eu posso te ajudar a saber sobre o que nós somos. – ele suplicou enquanto gritava. Leah tinha lhe arrancado uma das pernas com a boca.
– Eu esperei por tanto tempo, Allan. Não me importo de ficar a eternidade sem saber. – eu torci o seu pescoço, ele estava quase descolando de seus ombros enquanto se contorcia. Allan gemia, berrava, tentava agarrar Leah com a mão restante e afastá-la. – Não deveria ter mexido com a minha sobrinha. – finalmente consegui torcer o suficiente para que sua cabeça saísse em minhas mãos e seu corpo caísse no espaço entre Leah e mim. O lobo terminou de desmembrar Allan e começamos a fazer uma pilha com seus restos. – Precisamos de fogo.
O lobo saiu correndo para trás de uma árvore e, em alguns poucos minutos, Leah voltou já vestida e em sua forma humana carregando uma caixa de fósforo. Sem falar nada, demos mais uma volta nos arredores para nos certificar de que não faltara nenhum pedaço de Allan. Ela riscou o fósforo e o jogou na pilha junto com a caixinha. O corpo do meu criador lambeu em chamas.
– O que aconteceu aqui? – Edward chegou apressado com Jacob ao seu lado, ainda em forma de lobo, e os dois ficaram olhando de mim para Leah e para a fogueira às nossas costas.
– Estávamos nos divertindo. – Leah disse com um sorriso largo e piscou para mim. Jacob cravou seu olhar em mim, e eu apenas dei de ombros.
– Foi uma diversão e tanto. – concordei, chacoalhando os cabelos para tentar me livrar de um pouco da terra. – Marcamos uma próxima?
– Sempre que quiser, sanguessuga. – Leah sorriu de lado e nos deu as costas, indo para o lado contrário de onde estávamos e da fogueira. Os dois seguiram esperando que eu falasse mais alguma coisa.
– Não sei vocês, mas eu preciso de um banho. – saí em disparada na direção da casa dos Cullen antes que um deles resolvesse falar alguma coisa. Eu conseguia ouvir seus passos atrás de mim, mesmo estando bons metros a frente. Eles me deram uma boa dianteira para que eu pudesse tomar banho e me trocar antes de conversarmos.
Quando terminei de me aprontar, Jacob me esperava na sala e, sem dizer nada, fomos andando para longe dos limites dos Cullen. Não estávamos exatamente entusiasmados com muita plateia.
– O que aconteceu mais cedo? – ele perguntou assim que paramos. Estávamos próximos ao chalé de Edward e Isabella, mas eles não estavam em casa. – Quem era aquele vampiro?
– Leah não se transformou ainda, né? – sugeri, e ele assentiu. Pelo menos, ela estava me deixando lidar com ele primeiro antes que Jacob visse algo em sua mente. – Era o meu criador. – dei de ombros.
– Ele te atacou? – Jacob parecia urgente, seus olhos percorrendo sem cerimônia cada parte visível do meu corpo. – Te machucou de alguma forma?
– Allan teve o que merecia por pensar em mexer com a minha sobrinha. – desconversei e me sentei em uma pedra grande qualquer no chão.
– Fiquei bem surpreso por te encontrar com a Leah. – ele comentou ao se sentar perto de mim. Ele estava um pouco mais baixo do que eu assim.
– Acho que, por mais ódio que ela tenha de mim, nada se compara a matar um vampiro com os próprios dentes. – sorri, e ele concordou. – E, nesse caso, não tinha lobo melhor pra me ajudar do que ela.
– Nenhum outro? – ele pareceu meio ofendido, e eu baguncei seus cabelos com a mão.
– Você não teria me deixado lutar com ele, teria me tratado como uma donzela em perigo ao invés de uma parceira de batalha.
– Quem te garante?
– No momento em que você visse Allan com as mãos no meu pescoço, afundando meu rosto na terra enquanto tentava tirar minha cabeça, você ia surtar. – vi quando ele contorceu o rosto e fechou as mãos com força. – Viu? Você pode culpar o imprinting se quiser.
– É que ainda é estranho pra mim. – ele suspirou – Ao mesmo tempo que eu sei que você é uma vampira, com décadas de treinamento, eu ainda quero te proteger de qualquer coisa.
Jacob estava sendo tão sincero que me desconcertava. Eu conseguia ouvir a voz de Jasper soprando em meus ouvidos enquanto dizia “Jacob tem sérias aversões aos vampiros por tudo o que já passou e, mesmo assim, ele não parece estar lutando contra o imprinting ou você”. Será que ele se preocupava comigo sem que estivesse sendo obrigado a isso?
– Eu posso prometer pedir ajuda quando achar necessário. Isso acalma seus instintos? – sugeri, e ele segurou minha mão entre as dele. Engoli em seco. Era tão quente.
– Eu sei o que você está achando.
– O que seria?
– Que toda a minha preocupação se limita ao imprinting. – ele deu de ombros enquanto desenhava padrões aleatórios na minha mão. Me mantive em silêncio. – Eu também pensava isso.
– O que mudou?
– Você. – ele disse simplesmente, mas quando viu minha expressão de confusão, resolveu se explicar melhor. – Eu não esperava me relacionar com uma vampira, passei um bom tempo só odiando. Mas eu percebi que não existe alguém mais perfeita para mim do que você. Não é apenas o imprinting falando. – ele se aprumou para estar sentado de frente para mim, seus olhos não deixaram os meus em momento algum. – Você me deixa entrar, . No seu passado, na sua vida.
– Você quer ir com a gente até o Brasil? – convidei depois de uns minutos em silêncio apenas olhando para ele. – Vamos procurar mais sobre crianças como Renesmee.
– Isso vai te fazer mudar de ideia sobre acompanhar a Bella até a Itália?
– Definitivamente não. – eu sorri, e ele bufou a contragosto. – Mas vou gostar de saber que você está me esperando no aeroporto quando eu pousar.
– Posso trabalhar com isso. – Jacob suspirou e tocou meu rosto com cuidado. – Iremos juntos ao Brasil, então?
– Acho que pode ser divertido, no fim das contas. Já saiu do país? – ele negou com a cabeça. – Então, serei uma ótima guia noturna. Você pode aproveitar as praias durante o dia, se conseguirmos uma folga.
– Posso aproveitá-las durante a noite com você? – ele sugeriu e se aproximou ligeiramente. Eu podia ouvir seu coração batendo mais rápido, e, de uma forma aconchegante, isso me acalmou.
– Você pode, eu não te deixaria sozinho. Espero ser uma boa companhia e eu... – antes que pudesse concluir, o rosto de Jacob saiu da minha frente e outra cena se desenhou.
Uma fila de vampiros se movia em rápida sincronia enquanto o vento bagunçava seus cabelos. Aro, Caius, Marcus vinham na frente, seguidos por Jane e Alec. Renata, Demetri e Félix estavam nas pontas, formando o desenho de proteção dos Volturi, guardando as esposas, que os seguiam à pouca distância. Para além de outros membros da guarda, dezenas de outros vampiros os seguiam de perto. Eles estavam vindo.
– ? – ouvi a voz de Jacob me chamar ao longe e repetidas vezes. Demorei um pouco mais de um minuto para lhe atender.
– Um pouco mais de um mês. – sussurrei com a voz estrangulada e senti Jacob apertar com força uma de minhas mãos enquanto passava o braço por minha cintura e me sentava em seu colo.
– , o que está acontecendo? – ele perguntou em um misto de desespero e curiosidade. Seus olhos estavam cravados em mim, e, por um momento, eu me deixei acolher em seus braços.
– Os Volturi estão vindo, Jacob. – confidenciei depois de um tempo.
– Por quê? O que eles podem querer aqui conosco? Vocês não vão até a Itália para impedir isso?
– Eu não sei, mas precisamos descobrir. Logo. – olhei para ele, que assentiu, e me pus de pé. – Eu posso esperar você se transformar, mas podemos fazer de outro modo. – sugeri, lhe oferecendo a mão, e Jacob me encarou desacreditado. Um sorriso de lado foi a minha resposta. – Precisa se acostumar com o fato de que sou mais rápida que você.
– Só dessa vez. – ele semicerrou os olhos e aceitou minha mão. Me postei de costas para ele, e, assim, Jacob subiu em minhas costas. Isso teria dado muito errado se eu fosse humana, mas passei minhas mãos por trás de seus joelhos e ele se segurou em mim para que eu pudesse correr. Ele não era mais pesado que uma mochila.
Por mais preocupada que estivesse, não consegui não me divertir com as risadas e avisos de Jacob em minha orelha. “Vamos acabar batendo se você se desconcentrar”, ele dizia em meu ouvido, e eu sempre desviava no último segundo. Sua respiração tão perto de mim me fazia cócegas na garganta e eu sentia arrepios. Aos poucos, nossa intimidade ia mudando.
– Chegamos, cavalinho. – parei na entrada dos Cullen, e ele saiu das minhas costas sorrindo. Jacob entrelaçou nossos dedos antes que entrássemos na casa. Ouvimos a voz de Emmett alta e clara quando passamos da porta.
– Bom, não podemos fugir. Não com Demetri por perto. – ele grunhiu. – E não sei se não podemos vencer. Há algumas opções a considerar. Não temos que lutar sozinhos.
– Estaremos com vocês. – Jacob disse antes que eu pudesse me pronunciar e vi Isabella bufar enquanto se abraçava à filha.
– Vocês não precisam ser sentenciados à morte, Jake. – Isabella disse. – E você sequer sabe do que estamos falando. – ela comentou, e eu apertei levemente a mão do homem, antes que ele acabasse falando algo.
– Estamos prontos para qualquer luta, Bells. Não temos medo de um par de vampiros. – ele disse, bem humorado, e me abraçou de lado, deixando um beijo em minha testa antes de me soltar e ir para o lado de Seth, que estava quieto em um canto.
– O que aconteceu? – perguntei, mesmo já sabendo, e meus olhos se encontraram com os de Jasper. Ele sabia e sentia que eu mentia, mas nada disse.
– Os Volturi estão vindo, . – Edward explicou. – Todos eles, até as esposas. Irina foi até Volterra por Renesmee.
– Uma criança imortal, não é? – eu sugeri, e ele assentiu.
– Você não conseguiria falar com os seus amigos da guarda, ? – Rosalie falou, meio afastada. – Explicar para eles que Renesmee não é uma criança imortal, mas que cresce e tem sangue nas veias.
– Aro nunca pararia por minha causa. – neguei com a cabeça. – Ele não vem apenas por ela, mas por cada dom que há nessa sala. Alice, Edward, Jasper, Isabella.
– Você. – meu irmão completou, e eu sorri enquanto assentia.
– Aro vai adorar ter a possibilidade de me ter ao seu lado novamente. – revirei os olhos. – Mas, realmente, Emmett está certo. Com Demetri vindo, não teríamos chance de fugir.
– Podemos tentar encontrar outros amigos que possam nos ajudar. – Emmett sugeriu. – Talvez, se tivermos um número considerável ao nosso lado, os Volturi hesitem por um momento para ouvir o que temos a dizer.
– Podemos perguntar isso a eles, Emm. – Alice disse enquanto seus olhos saíam de foco vez ou outra. – Temos de ter cuidado ao apresentá-los, não queremos que eles se virem contra nós.
– Apresentar? – Jasper questionou, e Alice olhou para Renesmee antes que seus olhos ficassem vidrados uma vez mais.
– A família de Tanya. O clã de Siobhan, os Amun, alguns dos nômades... Garrett e Mary, certamente. Talvez Alistair.
– Peter e Charlotte? – Jasper perguntou, incerto, e viu Alice assentir.
– Talvez. – disse ela.
– As Amazonas? – questionou Carlisle. – Kachiri, Zafrina e Senna?
Alice, no entanto, estava concentrada demais. Um lampejo de uma floresta passou por meus olhos, e, por um momento, ela me encarou como se soubesse o que acontecia.
– O que foi isso? – Edward quis saber e olhou dela para mim. – Não consegui ver o que viu. Que selva é essa?
– Eu não sei. – ela gemeu inquieta e levou as mãos às têmporas. – Teremos que nos dividir e correr. Antes que a neve se prenda ao chão. Temos que procurar a todos e trazê-los para cá. Mostrar a eles.
– É importante que perguntemos a Eleazar. – disse, sem que pudesse me controlar. Alice me encarou novamente. – Talvez haja mais que uma simples criança imortal nisso tudo.
– Não consigo ver, . – ela disse baixo e meio desesperada. Jasper já tinha dado um passo em sua direção. Eu fiz o mesmo. – Não com os lobos aqui. Eu preciso sair para me concentrar, talvez caçar. Podemos fazer isso, ? Sei que está há algum tempo sem se alimentar.
Alice segurou a mão de Jasper e assentiu em minha direção. Não levei mais de meio segundo para me postar ao seu lado.
– Não há tempo a perder, vocês precisam encontrar a todos e trazê-los aqui. – ela puxou Jasper para a porta traseira da casa e tocou levemente minha mão. Fui atrás deles. Jacob me encarava confuso do outro lado da sala. Só consegui lhe dedicar uma piscadela antes de sair porta afora, seguindo Alice e Jasper na direção da noite.
Capítulo 16
– Tem certeza de que virá conosco, ? – Alice perguntou enquanto corríamos. Caçamos por algumas horas há alguns metros de distância da casa, e, depois de bem alimentados, Alice tinha decidido que deveríamos nos distanciar ainda mais. Fizemos alguns arcos e ela tinha nos deixado por poucos minutos antes de nos encontrar novamente e se resolver pelo caminho até o rio. – O futuro pode sempre mudar.
– É a minha forma de tentar me redimir, Alice. – lhe disse quando saltamos o rio. – Eu não conseguiria ficar em paz só ajudando por lá, sinto que os Volturi não estão vindo apenas por Irina.
– Você acha que Aro viria para acertar as contas contigo? – Jasper quis saber, e eu dei de ombros. Não tinha a menor ideia, talvez fosse isso.
– Quem sabe. O fato de Aro ter ficado tranquilo com a minha saída não quer dizer que não queira vingança ou me colocar a seu lado de novo na primeira oportunidade.
Os dois assentiram, e, quando chegamos perto da fronteira Quileute, um lobo enorme e preto apareceu por entre as árvores. Sam nos encarou e voltou para as sombras por alguns instantes antes de retornar em sua forma humana.
– Sei que estamos quase passando a fronteira, mas precisamos da sua permissão para atravessar o território Quileute até o oceano, Sam. – Alice tomou a frente, e o homem lhe encarou, curioso. – É extremamente importante a nossa partida, não estaríamos pedindo se não fosse assim.
– Por que não pediram a Jacob pela permissão? – Sam perguntou, olhando diretamente pra mim. Sua voz era calma, mas dava para notar o julgamento por trás.
– Os planos foram traçados muito depressa. – respondi simplesmente, e Sam pareceu confuso. – De todo modo, temos a sua permissão? Podemos atravessar?
Ele não disse mais nada, apenas indicou com a cabeça que deveríamos segui-lo. Demos a ele uns segundos de dianteira, e logo o lobo conhecido apareceu para que começássemos a correr.
– Sam, pode parecer um pedido muito estranho, mas é importante que você não diga a Jacob que nos viu antes de falar com Carlisle. – Alice explicou, e, vez ou outra, eu via o lobo virar para ela, ainda mais contrariado. – Eu preciso que, depois de nos acompanhar, você volte para o ponto em que nos encontramos e espere por Carlisle ali. Ele virá até você, mas preciso muito que confie em mim. Eu não tenho como ver o seu futuro, então preciso saber que posso ter a sua palavra de que irá fazer isso por mim e por todos nós.
Durante o caminho, Alice foi explicando a Sam o que deveria fazer e falar quando se encontrasse com Carlisle algum tempo depois. Quando chegamos ao penhasco, Alice, sem dizer nada, me estendeu um pedaço pequeno de papel e uma caneta. Rabisquei algumas palavras antes de devolver a ela, que, depois de Sam voltar a forma humana, entregou a ele junto com mais um bilhete.
– Sam? – chamei depois que Alice e Jasper tinham pulado na água. – Cuide dele por mim, sim?
– Você pretende voltar?
– Não posso te dar certezas que nem eu tenho. – disse, mas não esperei por uma resposta. Mergulhei no oceano e, assim que entrei na água, encontrei Jasper e Alice me esperando. Começamos a nadar para o noroeste.
– O que aconteceu? – perguntei assim que me aproximei deles, mas Sam se recusou a me olhar. Ele entregou um pedaço de papel a Carlisle.
– Há algumas horas, Alice, e Jasper chegaram até a fronteira e pediram permissão para atravessar nossas terras até o oceano. Eu os levei até lá e Alice ficou o tempo inteiro falando sobre como era importante que eu voltasse aqui onde nos encontramos e lhe entregasse isso. Ela estava mais elétrica que o normal e soava bem preocupada.
– E ? – não controlei a língua e vi Sam suspirar enquanto negava com a cabeça.
– Os três pularam na água no momento em que chegamos à costa, mas ela lhe deixou isso, Jake. – ele me entregou outro pedaço de papel, que parecia menor do que o que Carlisle recebera, e eu encontrei uma caligrafia muito bonita com o meu nome no topo.
– O que ela diz aí? – Carlisle quis saber enquanto lia e relia o bilhete de Alice. Tive que engolir em seco antes de lhe responder. Meus olhos tinham ficado um pouco embaçados, e meu coração batia tão alto que, com certeza, todos ouviriam mesmo a quilômetros de distância. Por sorte, Jared viera para o meu lado e eu consegui me apoiar no grande lobo. Em algum momento, eu sentia que podia cair.
– Jake? – Bella se aproximou cuidadosamente e leu o bilhete de , que eu segurava com força, em voz alta. – “Era o único jeito, mas espero que não seja o fim. Não me procure. Ajude-os.” – ela ofegou e foi correndo para o lado de Edward. Ele tinha lido em minha mente antes e estava bastante calado.
– Eles nos deixaram, então? – Esme falou, mas sua voz estava muito distante. – Será que Alice viu alguma coisa? Aro mandaria alguém atrás das duas?
– Eu não sei, mas precisamos fazer o que elas nos pediram. Precisamos reunir o máximo de testemunhas que conseguirmos. – Carlisle ponderou e se virou para Sam. – Elas não disseram mais nada antes de partir?
– Não me explicaram o que estava acontecendo, mas me pediu para cuidar de Jacob. Disse que não sabia se voltaria. – ele pareceu desconfortável, mas aquela informação foi o suficiente para que minha respiração se desregulasse e eu sentisse o ardor crescendo por dentro.
– E eu que estava começando a aturar a sanguessuga? Nunca achei que ela fosse uma covarde. – Leah soltou uma risada amarga, e, sem ver mais nada, eu pulei em sua direção, me transformando no ar. Ouvi o rosnado de Edward ao longe enquanto Paul tentava me parar. Leah tinha dado alguns passos para trás, mas não se transformara. Ela me olhava em puro desafio. – Vai descontar sua raiva em mim, alfa? Sua vampirinha te abandona e é o meu pescoço que você arranca?
– Leah, dá um tempo, sim? – Sam falou firme, mas sua voz de comando não surtia mais efeito nela. A minha sim. Quando ela me encarou nos olhos, não conseguiu conter os próprios joelhos e foi caindo no chão. Quem ela pensava que era para falar assim sobre ?
– O que está acontecendo? – ouvi Esme perguntar a Edward, que parecia mais calmo, mas que, pela minha visão periférica, ainda era contido por Emmett e não tirava os olhos de Leah.
– Jacob está usando sua voz de alfa em Leah. Mesmo sem falar, o poder é grande o suficiente para que ela ceda. – ele explicou, mas não tirei os olhos de Leah, que parecia tentar a todo custo desviar o olhar do meu. Chamei Edward em pensamento. Queria saber se voltaria, afinal, ele a conhecia melhor do que qualquer um ali. – Eu conheço a minha Evie de um século atrás, Jacob. Essa de hoje em dia, eu ainda estou tentando decifrar. Assim como você. – ele suspirou. – Mas eu espero realmente que ela volte. Todos eles.
– Alguém vai nos explicar com clareza o que está acontecendo? – Sam pediu, impaciente, e logo Carlisle começou a relatar o que sabíamos. Tirei minha atenção de Leah enquanto absorvia de novo toda a história e foi o segundo preciso que ela usou para entrar na floresta e se dispersar. Eu podia me preocupar com ela mais tarde. Sam ouviu o discurso de Carlisle e suspirou. – Eu não deveria tê-los deixado passar.
– Você fez o certo, Sam. – Edward disse. – Eles tinham mais informações que nós, então não podíamos impedi-los de partir, se a necessidade era essa.
– Estaremos com vocês. – Sam disse, e Carlisle assentiu. Ele sabia que não faria diferença discutir, eu nunca daria para trás. era importante demais e, se ela tinha me pedido para ajudá-los, eu o faria sem pestanejar.
– Também acho que consigo encontrar alguns nômades pelo caminho. Da última vez que soube sobre Garrett, ele estava na Turquia também.
– Eu consigo ver o seu encontro com os três. Acho que se você for direto para Istambul, tem mais chances de não perder tempo. – Alice aconselhou enquanto checava o futuro. Estávamos sentadas bem afastadas dos humanos, e eu conseguia ver seus olhos saindo de foco por trás dos óculos escuros. – Não sei se vai ser exatamente fácil seu encontro com Vladimir. Ele parece bem ressentido nas minhas visões.
– Talvez porque eu não tenha aceitado seu pedido para me juntar à sua guarda. – eu dei de ombros. – Há uns 50 anos, eles estavam tentando reunir um número de vampiros grande o suficiente para que pudessem disputar com os Volturi, e nos encontramos por acaso durante uma das minhas missões com Alec. Eles ainda estavam na Romênia. Na época, eles chegaram a sugerir que deixássemos os Volturi para segui-los, mas não tínhamos a menor intenção.
– E você acha que eles vão acreditar no que tem a dizer? – Alice suspirou. – Existem muitos fios e possibilidades no futuro, não sei dizer qual acontecerá.
– Vladimir pode ser difícil, mas Stefan é o estrategista dali. Se eu lhes der uma possibilidade, ainda que pequena, de uma luta com os Volturi, os dois sairão correndo pra testemunhar. Não por Renesmee ou pelos Cullen, mas pela chance de acabar com Aro e Caius. Marcus nunca foi uma ameaça.
Não demorou mais de uma hora até que Jasper retornasse e nos encontrasse no aeroporto. Ele veio carregado de três mochilas grandes e me entregou uma delas.
– Sei que tem recursos próprios, mas você é uma Cullen agora. – Jasper disse e me entregou uma pasta, que abri em seguida. Um passaporte, junto com toda uma nova documentação me esperava. Evolet Cullen Black.
– Não sei como vocês ainda conseguem me surpreender. – não controlei o sorriso, e os dois me abraçaram. – Obrigada por isso.
– Não vai reclamar pelo “Black”? – Jasper riu.
– Me faz sentir próxima ao Jacob. Não imaginava que seria ruim assim, é tão estranho estar longe dele depois de tudo o que aconteceu. Espero que ele esteja melhor do que eu.
– Queria poder ver isso pra te tranquilizar, . – Alice suspirou e apertou a minha mão. – Mas, se formos pelo caminho certo, logo vocês estarão reunidos novamente.
– Nos vemos em uma semana, então? – perguntei, e Alice levou dois segundos para se concentrar e assentir para mim. – Então, Istambul, aqui vou eu novamente!
– Lembre-se de não respirar no avião. Sua viagem será mais tranquila assim. Coloque o casaco mais grosso, você vai chegar lá no fim do dia, mas se distraia no aeroporto por algumas horas antes de partir. – Alice instruiu enquanto me abraçava forte. Jasper veio logo em seguida e sussurrou no meu ouvido “Faça o que eu faria”. Entendi que ele estava falando sobre seus dons. Usá-los realmente seria uma ótima forma de deixar o ambiente ao meu redor mais favorável a uma viagem de mais de 20 horas.
Me despedi dos dois e fui na direção do embarque. Meu voo não demorou para sair, e logo eu estava a caminho da Turquia. Deixei que o dom de Jasper me invadisse e, então, eu controlava a atmosfera ao meu redor, ao mesmo tempo que deixava de respirar. Eram muitos humanos juntos em um lugar fechado, eu não podia me arriscar.
Fingi que dormia na maior parte do tempo, mas me certifiquei de ir até ao banheiro para trocar as lentes de contato, que já tinham se dissolvido graças ao veneno em meus olhos. O voo não teve muitas emoções, apenas uma turbulência enquanto atravessávamos a França.
Assim que desembarquei e passei pela imigração, segui o conselho de Alice e me distraí por algumas horas nas lojas. Estava apenas passando por uma joalheria e dei de cara com alguns pingentes. Um lobo prateado me chamou a atenção e, antes que eu pudesse me controlar, comprei e o prendi no colar que eu ainda usava com as alianças dos meus pais. Era uma forma de me sentir mais próxima de Jacob. Talvez um sentimento bobo de pertencimento.
Resolvi esperar até estar bem tarde para sair do aeroporto. Eu só carregava a minha mochila de viagem, então foi fácil alugar um carro e me dirigir ao hotel mais próximo. Achei melhor esperar duas noites para procurar Vladimir e Stefan na fortaleza de Rumelihisarı. Algo me dizia que seria uma melhor aproximação se eu estivesse completamente alimentada e mais forte. Eu conseguia controlar melhor os dons que absorvia quando estava satisfeita.
Estava bem escuro quando saí, apenas algumas pessoas aproveitando o tempo ameno da cidade. No entanto, para que nenhum acidente acontecesse, me mantive prendendo a respiração. Nunca se sabe quando La tua cantante pode aparecer, e eu não tinha interesse em descobrir por ali.
Resolvi manter o ritmo humano de caminhada até que eu chegasse em uma das áreas mais afastadas e mais arborizadas. Ali sim foi possível aumentar o ritmo e correr até a entrada da fortaleza. O lugar estava muito mais moderno do que eu me lembrava. Placas assinalavam a existência de museus e peças teatrais, o que eu sabia ser uma armadilha para capturar humanos indefesos. Nada muito diferente do que acontecia em Volterra.
Apenas um vampiro estava de guarda na entrada do lugar e, quando me viu, se postou tenso. Pela forma como seus olhos se moveram para todos os lados, ele não deveria ter mais de cinco anos de criação. Ainda era inseguro e não devia ter tido contato com muitos outros da nossa espécie.
– Quero ver Stefan e Vladimir, então, se puder me dar licença, tenho certeza de que os dois já sabem da minha presença. – falei, calma, enquanto me aproximava devagar do homem, que era bem mais alto que eu. Ele não disse nada ou se moveu antes que uma batida vinda do salão acontecesse. O vampiro deu um passo para o lado, e eu abri as portas, encontrando Vladimir e Stefan sentados em lindos tronos de madeira. Não levou mais que um quarto de segundo até que Vladimir tivesse me agarrado pelo pescoço e me imprensado na parede. Nada diferente do que eu imaginava. Não me contive em passar os olhos pelo lugar. As paredes estavam bastante empoeiradas, com teias de aranha, e eu tentava não reagir ao aperto, que ficava ainda mais forte.
– O que quer aqui, Volturi? – Stefan foi o primeiro a se pronunciar enquanto me observava com cuidado. Ele seguia sentado e nos olhava como se estivesse entediado. Achei melhor deixar os dons de Edward fluírem através de mim para que pudesse me manter alerta. Eu estava em menor número e, por mais que tivesse absorvido o dom de Jane e Kate e pudesse paralisá-los, não sabia se seria o suficiente.
– Não sou uma Volturi há tempos, meus caros. – falei com dificuldade, e Vladimir me soltou com força. Fiz uma leve reverência enquanto arrumava minhas roupas amassadas, mas eles mantinham as mentes em branco. Como se seus pensamentos só se fizessem claros no momento em que abriam a boca. – Mas é curioso que estejam tão longe da Romênia. Achei que sua permanência lá seria eterna.
– Sinto que não lhe devemos a cortesia de uma explicação, . – Vladimir disse, ressentido. – Afinal, há anos você recusou nosso convite. Por que falaríamos algo? Por que veio até aqui?
– De fato, não me faz diferença saber seus motivos para terem saído da Romênia. – dei de ombros e me aproximei alguns passos dos dois. – No entanto, achei que gostariam de saber sobre os boatos que andam rondando os Volturi.
– E o que você ganharia com isso? – Stefan quis saber. Eu não precisava dos dons de Edward para perceber seu tom curioso e interessado. Vladimir sabia disfarçar isso melhor.
– Apenas quero ajudar bons amigos. – dei de ombros. Eles se entreolharam, mas suas mentes permaneceram em branco. Eles eram escudos? Nunca saberia.
– Ajudar bons amigos, você diz. É assim que nos considera, criança? – Vladimir quis saber, desacreditado, enquanto voltava a se sentar no trono.
– Não, mas sei que não perderiam a chance, por menor que seja, de ajudar a destronar os Volturi ou, quem sabe, arrancar uma perna de Aro. – soei desinteressada. Talvez assim eles ficassem mais curiosos – Ou de Caius.
– Conte mais. – Stefan pediu.
– Acho que melhor do que contar é ver por si mesmo. Venham até Forks, nos Estados Unidos. Vai lhes interessar descobrir o que os Cullen estão fazendo.
– Eles estão indo contra os Volturi? Carlisle está colocando um único clã contra toda uma guarda? É insanidade. – Vladimir riu, animado. Eu deveria estar surpresa por eles conhecerem Carlisle, mas, considerando o tempo que ele passou com os Volturi, não era de se estranhar.
– Os Cullen não estão sozinhos, mas nada do que eu disser aqui vai lhes convencer melhor do que pagar para ver e ir até lá. – deixei no ar e percebi quando eles se olharam novamente, quase como se estivessem conectados. Eu não era mais necessária ali, vi que era meu momento de me retirar. Fiz outra breve reverência e fui caminhando para a porta em uma velocidade humana.
Antes de ir embora, passei pelo vampiro que estava de guarda e lhe dediquei um breve aceno. Ele ainda não sabia muito o que fazer, se deveria me impedir de sair ou se ia até seus senhores. Eu não lhe dei uma opção de escolha. Com o dom de Jasper, o deixei tranquilo, quase letárgico, para que eu pudesse deixar a fortaleza sem irritações.
Quando não senti nenhum cheiro vindo atrás de mim, me concentrei em chegar novamente ao hotel antes que o dia amanhecesse.
– É a minha forma de tentar me redimir, Alice. – lhe disse quando saltamos o rio. – Eu não conseguiria ficar em paz só ajudando por lá, sinto que os Volturi não estão vindo apenas por Irina.
– Você acha que Aro viria para acertar as contas contigo? – Jasper quis saber, e eu dei de ombros. Não tinha a menor ideia, talvez fosse isso.
– Quem sabe. O fato de Aro ter ficado tranquilo com a minha saída não quer dizer que não queira vingança ou me colocar a seu lado de novo na primeira oportunidade.
Os dois assentiram, e, quando chegamos perto da fronteira Quileute, um lobo enorme e preto apareceu por entre as árvores. Sam nos encarou e voltou para as sombras por alguns instantes antes de retornar em sua forma humana.
– Sei que estamos quase passando a fronteira, mas precisamos da sua permissão para atravessar o território Quileute até o oceano, Sam. – Alice tomou a frente, e o homem lhe encarou, curioso. – É extremamente importante a nossa partida, não estaríamos pedindo se não fosse assim.
– Por que não pediram a Jacob pela permissão? – Sam perguntou, olhando diretamente pra mim. Sua voz era calma, mas dava para notar o julgamento por trás.
– Os planos foram traçados muito depressa. – respondi simplesmente, e Sam pareceu confuso. – De todo modo, temos a sua permissão? Podemos atravessar?
Ele não disse mais nada, apenas indicou com a cabeça que deveríamos segui-lo. Demos a ele uns segundos de dianteira, e logo o lobo conhecido apareceu para que começássemos a correr.
– Sam, pode parecer um pedido muito estranho, mas é importante que você não diga a Jacob que nos viu antes de falar com Carlisle. – Alice explicou, e, vez ou outra, eu via o lobo virar para ela, ainda mais contrariado. – Eu preciso que, depois de nos acompanhar, você volte para o ponto em que nos encontramos e espere por Carlisle ali. Ele virá até você, mas preciso muito que confie em mim. Eu não tenho como ver o seu futuro, então preciso saber que posso ter a sua palavra de que irá fazer isso por mim e por todos nós.
Durante o caminho, Alice foi explicando a Sam o que deveria fazer e falar quando se encontrasse com Carlisle algum tempo depois. Quando chegamos ao penhasco, Alice, sem dizer nada, me estendeu um pedaço pequeno de papel e uma caneta. Rabisquei algumas palavras antes de devolver a ela, que, depois de Sam voltar a forma humana, entregou a ele junto com mais um bilhete.
– Sam? – chamei depois que Alice e Jasper tinham pulado na água. – Cuide dele por mim, sim?
– Você pretende voltar?
– Não posso te dar certezas que nem eu tenho. – disse, mas não esperei por uma resposta. Mergulhei no oceano e, assim que entrei na água, encontrei Jasper e Alice me esperando. Começamos a nadar para o noroeste.
Jacob
Estávamos correndo e seguindo o rastro que os cheiros de , Alice e Jasper tinham deixado para trás. Edward gritara para Seth ficar com Renesmee antes de sairmos da casa, e eu estava a poucos metros dele quando chegamos na fronteira Quileute e encontramos Sam em forma humana e com o rosto bastante apreensivo, flanqueado por Paul e Jared como lobos. Não levei mais que cinco segundos para me transformar de volta em humano no meio das árvores. Leah tinha se transformado também e observava tudo com altivez.– O que aconteceu? – perguntei assim que me aproximei deles, mas Sam se recusou a me olhar. Ele entregou um pedaço de papel a Carlisle.
– Há algumas horas, Alice, e Jasper chegaram até a fronteira e pediram permissão para atravessar nossas terras até o oceano. Eu os levei até lá e Alice ficou o tempo inteiro falando sobre como era importante que eu voltasse aqui onde nos encontramos e lhe entregasse isso. Ela estava mais elétrica que o normal e soava bem preocupada.
– E ? – não controlei a língua e vi Sam suspirar enquanto negava com a cabeça.
– Os três pularam na água no momento em que chegamos à costa, mas ela lhe deixou isso, Jake. – ele me entregou outro pedaço de papel, que parecia menor do que o que Carlisle recebera, e eu encontrei uma caligrafia muito bonita com o meu nome no topo.
– O que ela diz aí? – Carlisle quis saber enquanto lia e relia o bilhete de Alice. Tive que engolir em seco antes de lhe responder. Meus olhos tinham ficado um pouco embaçados, e meu coração batia tão alto que, com certeza, todos ouviriam mesmo a quilômetros de distância. Por sorte, Jared viera para o meu lado e eu consegui me apoiar no grande lobo. Em algum momento, eu sentia que podia cair.
– Jake? – Bella se aproximou cuidadosamente e leu o bilhete de , que eu segurava com força, em voz alta. – “Era o único jeito, mas espero que não seja o fim. Não me procure. Ajude-os.” – ela ofegou e foi correndo para o lado de Edward. Ele tinha lido em minha mente antes e estava bastante calado.
– Eles nos deixaram, então? – Esme falou, mas sua voz estava muito distante. – Será que Alice viu alguma coisa? Aro mandaria alguém atrás das duas?
– Eu não sei, mas precisamos fazer o que elas nos pediram. Precisamos reunir o máximo de testemunhas que conseguirmos. – Carlisle ponderou e se virou para Sam. – Elas não disseram mais nada antes de partir?
– Não me explicaram o que estava acontecendo, mas me pediu para cuidar de Jacob. Disse que não sabia se voltaria. – ele pareceu desconfortável, mas aquela informação foi o suficiente para que minha respiração se desregulasse e eu sentisse o ardor crescendo por dentro.
– E eu que estava começando a aturar a sanguessuga? Nunca achei que ela fosse uma covarde. – Leah soltou uma risada amarga, e, sem ver mais nada, eu pulei em sua direção, me transformando no ar. Ouvi o rosnado de Edward ao longe enquanto Paul tentava me parar. Leah tinha dado alguns passos para trás, mas não se transformara. Ela me olhava em puro desafio. – Vai descontar sua raiva em mim, alfa? Sua vampirinha te abandona e é o meu pescoço que você arranca?
– Leah, dá um tempo, sim? – Sam falou firme, mas sua voz de comando não surtia mais efeito nela. A minha sim. Quando ela me encarou nos olhos, não conseguiu conter os próprios joelhos e foi caindo no chão. Quem ela pensava que era para falar assim sobre ?
– O que está acontecendo? – ouvi Esme perguntar a Edward, que parecia mais calmo, mas que, pela minha visão periférica, ainda era contido por Emmett e não tirava os olhos de Leah.
– Jacob está usando sua voz de alfa em Leah. Mesmo sem falar, o poder é grande o suficiente para que ela ceda. – ele explicou, mas não tirei os olhos de Leah, que parecia tentar a todo custo desviar o olhar do meu. Chamei Edward em pensamento. Queria saber se voltaria, afinal, ele a conhecia melhor do que qualquer um ali. – Eu conheço a minha Evie de um século atrás, Jacob. Essa de hoje em dia, eu ainda estou tentando decifrar. Assim como você. – ele suspirou. – Mas eu espero realmente que ela volte. Todos eles.
– Alguém vai nos explicar com clareza o que está acontecendo? – Sam pediu, impaciente, e logo Carlisle começou a relatar o que sabíamos. Tirei minha atenção de Leah enquanto absorvia de novo toda a história e foi o segundo preciso que ela usou para entrar na floresta e se dispersar. Eu podia me preocupar com ela mais tarde. Sam ouviu o discurso de Carlisle e suspirou. – Eu não deveria tê-los deixado passar.
– Você fez o certo, Sam. – Edward disse. – Eles tinham mais informações que nós, então não podíamos impedi-los de partir, se a necessidade era essa.
– Estaremos com vocês. – Sam disse, e Carlisle assentiu. Ele sabia que não faria diferença discutir, eu nunca daria para trás. era importante demais e, se ela tinha me pedido para ajudá-los, eu o faria sem pestanejar.
– Iremos até o Brasil, . Você pode ir conosco agora ou nos encontrar lá em uma semana. Sei que pretende procurar por Vladimir e Stefan. – Alice disse enquanto esperávamos no aeroporto. Jasper tinha nos deixado por algumas horas, mas já tinha avisado que estava chegando.
– Também acho que consigo encontrar alguns nômades pelo caminho. Da última vez que soube sobre Garrett, ele estava na Turquia também.
– Eu consigo ver o seu encontro com os três. Acho que se você for direto para Istambul, tem mais chances de não perder tempo. – Alice aconselhou enquanto checava o futuro. Estávamos sentadas bem afastadas dos humanos, e eu conseguia ver seus olhos saindo de foco por trás dos óculos escuros. – Não sei se vai ser exatamente fácil seu encontro com Vladimir. Ele parece bem ressentido nas minhas visões.
– Talvez porque eu não tenha aceitado seu pedido para me juntar à sua guarda. – eu dei de ombros. – Há uns 50 anos, eles estavam tentando reunir um número de vampiros grande o suficiente para que pudessem disputar com os Volturi, e nos encontramos por acaso durante uma das minhas missões com Alec. Eles ainda estavam na Romênia. Na época, eles chegaram a sugerir que deixássemos os Volturi para segui-los, mas não tínhamos a menor intenção.
– E você acha que eles vão acreditar no que tem a dizer? – Alice suspirou. – Existem muitos fios e possibilidades no futuro, não sei dizer qual acontecerá.
– Vladimir pode ser difícil, mas Stefan é o estrategista dali. Se eu lhes der uma possibilidade, ainda que pequena, de uma luta com os Volturi, os dois sairão correndo pra testemunhar. Não por Renesmee ou pelos Cullen, mas pela chance de acabar com Aro e Caius. Marcus nunca foi uma ameaça.
Não demorou mais de uma hora até que Jasper retornasse e nos encontrasse no aeroporto. Ele veio carregado de três mochilas grandes e me entregou uma delas.
– Sei que tem recursos próprios, mas você é uma Cullen agora. – Jasper disse e me entregou uma pasta, que abri em seguida. Um passaporte, junto com toda uma nova documentação me esperava. Evolet Cullen Black.
– Não sei como vocês ainda conseguem me surpreender. – não controlei o sorriso, e os dois me abraçaram. – Obrigada por isso.
– Não vai reclamar pelo “Black”? – Jasper riu.
– Me faz sentir próxima ao Jacob. Não imaginava que seria ruim assim, é tão estranho estar longe dele depois de tudo o que aconteceu. Espero que ele esteja melhor do que eu.
– Queria poder ver isso pra te tranquilizar, . – Alice suspirou e apertou a minha mão. – Mas, se formos pelo caminho certo, logo vocês estarão reunidos novamente.
– Nos vemos em uma semana, então? – perguntei, e Alice levou dois segundos para se concentrar e assentir para mim. – Então, Istambul, aqui vou eu novamente!
– Lembre-se de não respirar no avião. Sua viagem será mais tranquila assim. Coloque o casaco mais grosso, você vai chegar lá no fim do dia, mas se distraia no aeroporto por algumas horas antes de partir. – Alice instruiu enquanto me abraçava forte. Jasper veio logo em seguida e sussurrou no meu ouvido “Faça o que eu faria”. Entendi que ele estava falando sobre seus dons. Usá-los realmente seria uma ótima forma de deixar o ambiente ao meu redor mais favorável a uma viagem de mais de 20 horas.
Me despedi dos dois e fui na direção do embarque. Meu voo não demorou para sair, e logo eu estava a caminho da Turquia. Deixei que o dom de Jasper me invadisse e, então, eu controlava a atmosfera ao meu redor, ao mesmo tempo que deixava de respirar. Eram muitos humanos juntos em um lugar fechado, eu não podia me arriscar.
Fingi que dormia na maior parte do tempo, mas me certifiquei de ir até ao banheiro para trocar as lentes de contato, que já tinham se dissolvido graças ao veneno em meus olhos. O voo não teve muitas emoções, apenas uma turbulência enquanto atravessávamos a França.
Assim que desembarquei e passei pela imigração, segui o conselho de Alice e me distraí por algumas horas nas lojas. Estava apenas passando por uma joalheria e dei de cara com alguns pingentes. Um lobo prateado me chamou a atenção e, antes que eu pudesse me controlar, comprei e o prendi no colar que eu ainda usava com as alianças dos meus pais. Era uma forma de me sentir mais próxima de Jacob. Talvez um sentimento bobo de pertencimento.
Resolvi esperar até estar bem tarde para sair do aeroporto. Eu só carregava a minha mochila de viagem, então foi fácil alugar um carro e me dirigir ao hotel mais próximo. Achei melhor esperar duas noites para procurar Vladimir e Stefan na fortaleza de Rumelihisarı. Algo me dizia que seria uma melhor aproximação se eu estivesse completamente alimentada e mais forte. Eu conseguia controlar melhor os dons que absorvia quando estava satisfeita.
Estava bem escuro quando saí, apenas algumas pessoas aproveitando o tempo ameno da cidade. No entanto, para que nenhum acidente acontecesse, me mantive prendendo a respiração. Nunca se sabe quando La tua cantante pode aparecer, e eu não tinha interesse em descobrir por ali.
Resolvi manter o ritmo humano de caminhada até que eu chegasse em uma das áreas mais afastadas e mais arborizadas. Ali sim foi possível aumentar o ritmo e correr até a entrada da fortaleza. O lugar estava muito mais moderno do que eu me lembrava. Placas assinalavam a existência de museus e peças teatrais, o que eu sabia ser uma armadilha para capturar humanos indefesos. Nada muito diferente do que acontecia em Volterra.
Apenas um vampiro estava de guarda na entrada do lugar e, quando me viu, se postou tenso. Pela forma como seus olhos se moveram para todos os lados, ele não deveria ter mais de cinco anos de criação. Ainda era inseguro e não devia ter tido contato com muitos outros da nossa espécie.
– Quero ver Stefan e Vladimir, então, se puder me dar licença, tenho certeza de que os dois já sabem da minha presença. – falei, calma, enquanto me aproximava devagar do homem, que era bem mais alto que eu. Ele não disse nada ou se moveu antes que uma batida vinda do salão acontecesse. O vampiro deu um passo para o lado, e eu abri as portas, encontrando Vladimir e Stefan sentados em lindos tronos de madeira. Não levou mais que um quarto de segundo até que Vladimir tivesse me agarrado pelo pescoço e me imprensado na parede. Nada diferente do que eu imaginava. Não me contive em passar os olhos pelo lugar. As paredes estavam bastante empoeiradas, com teias de aranha, e eu tentava não reagir ao aperto, que ficava ainda mais forte.
– O que quer aqui, Volturi? – Stefan foi o primeiro a se pronunciar enquanto me observava com cuidado. Ele seguia sentado e nos olhava como se estivesse entediado. Achei melhor deixar os dons de Edward fluírem através de mim para que pudesse me manter alerta. Eu estava em menor número e, por mais que tivesse absorvido o dom de Jane e Kate e pudesse paralisá-los, não sabia se seria o suficiente.
– Não sou uma Volturi há tempos, meus caros. – falei com dificuldade, e Vladimir me soltou com força. Fiz uma leve reverência enquanto arrumava minhas roupas amassadas, mas eles mantinham as mentes em branco. Como se seus pensamentos só se fizessem claros no momento em que abriam a boca. – Mas é curioso que estejam tão longe da Romênia. Achei que sua permanência lá seria eterna.
– Sinto que não lhe devemos a cortesia de uma explicação, . – Vladimir disse, ressentido. – Afinal, há anos você recusou nosso convite. Por que falaríamos algo? Por que veio até aqui?
– De fato, não me faz diferença saber seus motivos para terem saído da Romênia. – dei de ombros e me aproximei alguns passos dos dois. – No entanto, achei que gostariam de saber sobre os boatos que andam rondando os Volturi.
– E o que você ganharia com isso? – Stefan quis saber. Eu não precisava dos dons de Edward para perceber seu tom curioso e interessado. Vladimir sabia disfarçar isso melhor.
– Apenas quero ajudar bons amigos. – dei de ombros. Eles se entreolharam, mas suas mentes permaneceram em branco. Eles eram escudos? Nunca saberia.
– Ajudar bons amigos, você diz. É assim que nos considera, criança? – Vladimir quis saber, desacreditado, enquanto voltava a se sentar no trono.
– Não, mas sei que não perderiam a chance, por menor que seja, de ajudar a destronar os Volturi ou, quem sabe, arrancar uma perna de Aro. – soei desinteressada. Talvez assim eles ficassem mais curiosos – Ou de Caius.
– Conte mais. – Stefan pediu.
– Acho que melhor do que contar é ver por si mesmo. Venham até Forks, nos Estados Unidos. Vai lhes interessar descobrir o que os Cullen estão fazendo.
– Eles estão indo contra os Volturi? Carlisle está colocando um único clã contra toda uma guarda? É insanidade. – Vladimir riu, animado. Eu deveria estar surpresa por eles conhecerem Carlisle, mas, considerando o tempo que ele passou com os Volturi, não era de se estranhar.
– Os Cullen não estão sozinhos, mas nada do que eu disser aqui vai lhes convencer melhor do que pagar para ver e ir até lá. – deixei no ar e percebi quando eles se olharam novamente, quase como se estivessem conectados. Eu não era mais necessária ali, vi que era meu momento de me retirar. Fiz outra breve reverência e fui caminhando para a porta em uma velocidade humana.
Antes de ir embora, passei pelo vampiro que estava de guarda e lhe dediquei um breve aceno. Ele ainda não sabia muito o que fazer, se deveria me impedir de sair ou se ia até seus senhores. Eu não lhe dei uma opção de escolha. Com o dom de Jasper, o deixei tranquilo, quase letárgico, para que eu pudesse deixar a fortaleza sem irritações.
Quando não senti nenhum cheiro vindo atrás de mim, me concentrei em chegar novamente ao hotel antes que o dia amanhecesse.
Capítulo 17
Jacob
– Você está bem, filho? – eu tinha vindo dormir em casa para tentar me distrair um pouco da preocupação com e os Volturi, mas nada tinha adiantado. Não tinha pregado o olho a noite toda, e meu pai podia perceber a cara de zumbi. – Seth me explicou com o que estão lidando e o que aconteceu com .– Eu fico feliz que ela tenha saído do caminho. É melhor do que ficar e ter a possibilidade de ser morta. – disse o que sempre repetia quando falavam sobre ela. Billy apenas assentiu e não falou mais, apenas deu a volta com a cadeira de rodas e foi para a cozinha. Aproveitei para fechar um pouco os olhos.
Claro que eu compreendia os motivos de , pelo menos achava que sim. De acordo com Edward, os vampirões também viriam atrás dela agora que sabiam exatamente onde encontrá-la. também era poderosa, mesmo que o Cullen não soubesse quais eram seus dons e eu também não contaria. Evitava pensar sobre isso perto dele.
Eu a queria segura. Cada parte do meu corpo rezava para que os espíritos guerreiros lhe mantivessem a salvo. No entanto, eu não conseguia não me sentir abandonado. Meu coração pesava porque ela não estava ao meu alcance. Quando dormia, só conseguia pensar em seus olhos, que ficavam mais claros todos os dias graças à dieta de sangue animal. Minhas mãos ainda se lembravam do toque em sua pele fria e formigavam pela saudade.
Os últimos dias, com a chegada das testemunhas dos Cullen e com a transformação precoce de vários jovens da tribo, passaram arrastados. Quanto mais eu treinava os lobos junto a Sam, mais havia para fazer e o tempo não passava. não voltava para o meu lado.
Quem diria que Jacob Black estaria de quatro por uma vampira? Risível, no mínimo. Mas eu faria de tudo para que aquela mulher pudesse voltar para os meus braços. Talvez eu devesse ter dito mais do que disse. Talvez pudesse tê-la beijado.
Eu sabia ser impulsivo. Tinha sido assim com Bella em tantos momentos, mas, por algum motivo, com eu tinha medo. Bella não me amava de volta, não da maneira como eu quisera por tanto tempo. , por outro lado, parecia corresponder aos meus sentimentos. Talvez na mesma intensidade. Argh. Minha vontade era correr por todos os lados até encontrá-la. O que essa mulher tinha feito comigo?
– Jake? – despertei do meu devaneio com a voz de Seth. O garoto estava escorado na porta e me olhava preocupado. Me levantei na mesma hora. – Mais cinco garotos se transformaram e um deles quase machucou a mãe com isso.
– Vamos ver o que podemos fazer. – gritei um “até logo” para o meu pai e saímos de casa. Tínhamos trabalho duro pela frente.
Deixei que os dons de Edward fluíssem através de mim para que eu pudesse procurar Garrett nas mentes das pessoas. O dia estava chuvoso e nublado, então era mais fácil sair pelas ruas, mas não queria perder tempo.
Depois de me alimentar com o sangue animal que trazia na mochila, resolvi dar uma volta para que pudesse ter acesso a mais mentes do que as que estavam no hotel. O centro de Istambul estava lotado e, mesmo sem muita experiência de controle, eu pulava de uma mente para outra enquanto caminhava entre as pessoas. Meu grosso casaco estava devidamente posto e impedia, junto ao guarda-chuva, qualquer olhar mais curioso.
Eu estava seguindo a mente de uma senhorinha quando o vislumbre de uma criança passou pelos meus olhos e vi a barba por fazer que tão bem conhecia. Resolvi continuar com a menina por mais algum tempo, talvez ela se lembrasse mais do tal homem que tinha acabado de ver e achara muito parecido às estátuas do museu.
Foi depois de uns quinze minutos que ela se lembrou dele e eu consegui visualizar um pouco do ambiente em que ele estava. Um beco pouco iluminado, mas ainda sim com música. Andei o mais rápido que a velocidade humana me permitia e segui seu rastro. Seu cheiro era menos adocicado que o dos humanos, e foi necessária toda a minha concentração para que eu não me deixasse levar pelo veneno que enchia a minha boca cada vez que o vento trazia um cheiro novo pra mim.
– Procurando por mim, querida? – ouvi atrás de mim e revirei os olhos. Claro que ele saberia sobre mim bem antes da minha chegada. Garrett tinha desenvolvido um excelente senso de autopreservação nos últimos séculos.
– Fico surpresa de não ter ido me interceptar no hotel quando cheguei. – me virei pra ele e pude ver o sorrisinho cafajeste que eu já conhecia de cor. – Tem informantes na guarda dos romenos agora?
– Tenho olhos e ouvidos em todos os lugares, linda. – ele deu de ombros. – Não vai me dar um abraço? Não nos vemos há uns 40 anos. – Garrett abriu os braços, e eu neguei com a cabeça antes de me lançar em seu colo. – Assim é melhor. – ele comentou, me apertando com carinho. – O que está acontecendo, ?
– Eu preciso da sua ajuda, Garrett. – falei depois que nos afastamos um pouco, e ele riu desacreditado.
– Achei que uma Volturi não precisasse de ajuda. – o homem desdenhou falsamente magoado. – Se eu bem me lembro, quando te convidei para vir comigo, você preferiu ficar na asa daqueles ditadores.
– Ainda ressentido porque te troquei por outro, vovô?
– Não lembro de ser chamado de vovô no nosso último encontro, querida. – ele arqueou uma sobrancelha, e eu não consegui segurar o riso. – O que precisa?
– Eu não sou mais uma Volturi, então preciso que você me ajude a testemunhar para eles.
– Ficou maluca, ?
– Sei que você conhece Carlisle, Garrett. – suspirei. – Não colocaria a sua liberdade em jogo se não fosse realmente importante.
– O que o Cullen tem a ver com isso? Por que ele precisaria de testemunhas?
– Tem tempo? Porque a conversa é mais longa do que parece.
– Vamos caçar? – ele riu. – Gosto de ouvir histórias de barriga cheia.
– Acho melhor não ir caçar com você. – me esquivei um pouco. – Minha dieta mudou nos últimos meses e não sei se conseguiria me controlar.
– Garota, eu espero que tenha um excelente motivo pra isso. – ele negou com a cabeça enquanto me olhava diretamente nos olhos. Passou alguns segundos em silêncio. – Te encontro no seu hotel às 22h, tudo bem?
– Preciso perguntar como sabe onde me achar?
– Te conheço tão bem que seu cheiro destoa de toda a cidade, meu bem. – ele sorriu.
– Tinha esquecido sobre as suas cantadas baratas e esse charminho irritante. – reclamei, e Garrett riu, levantando as mãos em rendição. – Quarto 1023.
– Gosto que continue escolhendo boas e altas vistas, . Como nos velhos tempos. – ele piscou antes de me deixar para trás e se infiltrar na multidão em busca de sua próxima vítima.
– Bem alimentado? – deixei os cumprimentos de lado quando abri a porta do quarto e Garrett me esperava com uma rosa vermelha na mão. – Romantismo agora?
– Eu sou da velha guarda. Você sabe. – disse, entrando depois de me entregar a flor, e logo ele estava deitado relaxado na cama. – Qual a situação?
– Vamos lá. – fechei a porta do quarto e me sentei em uma poltrona próxima à janela.
Pelos próximos minutos, contei em uma voz extremamente baixa sobre a história de Edward e Isabella, deixando os detalhes sobre Renesmee para o final. Garrett abandonou a pose relaxada e não tirava os olhos de mim, assentindo vez ou outra – talvez mais por costume do que por outra coisa.
– E vocês realmente acham que os Volturi vão parar para ouvir? – ele quis saber depois que eu parei de falar.
– Precisamos tentar. – dei de ombros. – Aro está levando toda a guarda e mais tantos outros com ele.
– Os Cullen são realmente importantes pra você?
– Eles são a minha família, Garrett. – suspirei. – Literalmente, por Edward e Renesmee, mas também sentimentalmente.
– Garota, você só me mete em problemas. – ele negou com a cabeça. – Minha passagem é por sua conta. – ele soltou, e eu ri, assentindo enquanto abria o notebook comprado para a minha estadia e entrava no site da companhia aérea. – Primeira classe, por favor.
– Você é um vampiro, pra que precisa do conforto?
– Se você não quer que eu mate todo o avião durante o voo, vai me querer em um espaço mais privativo. – ele deu de ombros. – Sem contar que eu já estou velho, preciso de agrados comprados, já que não vou conseguir nenhum de graça com você.
– Pelo que me lembro, você era menos descarado, Garrett.
– Sua memória anda péssima, . – o homem riu, e eu acompanhei. – Sem contar que se esse lobo no seu pescoço for algum indicativo, deveria esconder melhor. Sua mão voa até ele repetidas vezes e você não parece nem notar.
– Seu voo é amanhã às 19h, Garrett. – ignorei a advertência, mas comecei a me policiar. – Vai precisar de ajuda para chegar até Carlisle?
– Eu consigo me virar, querida. – ele se levantou e veio até mim, deixando um beijo em minha testa – Se cuide.
– Nos vemos em breve. – ele acenou enquanto saía do quarto pela porta e me deixava sozinha novamente.
Meia hora tinha se passado e meu telefone tocava. Alice não me esperou dizer alô e já foi falando.
– Os planos mudaram, . – ela disse apressada. – Você precisa ir até a Inglaterra.
– O que tem lá? Mais alguém que podemos chamar? Garrett saiu há pouco daqui e parece disposto a colaborar. Não sei com certeza sobre Vladimir e Stefan, mas acredito que eles possam ser úteis.
– Os Volturi estão procurando suas próprias testemunhas e acho que talvez nos seja útil você estar por perto.
– Quem está por lá? Não sei se é uma boa encontrar Félix agora.
– Vi Alec sendo delegado para lá. Aro o mandou para Manchester querendo encontrar os clãs dali.
– E você acha uma boa ideia que eu encontre com Alec?
– Você pode descobrir mais sobre os planos dos Volturi. – Alice suspirou. – Não sei bem se Aro pretende parar.
– Alec não trairia a confiança de Aro, Alice. Mas eu vou para onde você achar melhor. Quando ele chega lá?
– Em três dias. – ela disse depois de ficar alguns minutos em silêncio. – Você tem tempo para pensar na melhor estratégia de aproximação até lá.
– Consegue ver onde eu vou encontrá-lo?
– Argh. – ela resmungou. – Muito nublado, você vai precisar se resolver primeiro pra que eu possa ver.
– Te mantenho informada.
Nos despedimos, e logo eu estava voltando ao site da companhia aérea para desmarcar minha passagem anterior e agendar um voo para a Inglaterra nas próximas horas.
Jacob
– Tem certeza de que podemos ficar por aqui essa noite, Jake? – Seth perguntou enquanto me ajudava na cozinha. Eu estava terminando de fazer uma pipoca e alguns sanduíches para que pudéssemos alimentar Renesmee. Edward tinha pedido a Seth que ficasse com a garota por aquela noite enquanto eles faziam uma viagem de um dia pelas redondezas em busca de mais testemunhas.– Não se preocupa, Billy está na casa dos Ateara e vai passar a noite por lá. Acho que é mais seguro vocês ficarem por aqui do que Renesmee ficar perto de Leah o tempo inteiro.
– Minha irmã fala muita besteira. – ele suspirou. – Ness é só uma criança, não tem culpa do que está acontecendo.
– Eu sei, garoto. Eu sei. – assenti, e equilibramos os comes e bebes enquanto voltávamos para a sala. – O que estamos vendo, Ness? – perguntei para a garotinha, que tinha os olhos vidrados na televisão, mas que não parecia prestar muita atenção.
– Jake, nós vamos morrer? – Renesmee perguntou de supetão, e Seth engasgou com a pergunta, ainda que não fosse direcionada a ele.
– Por que pergunta isso, tampinha? – devolvi meio sem saber o que falar e me aproximei da pequena, pegando em suas mãozinhas. Ela tremia levemente e senti o coração apertar. Não era pra uma criança passar por isso.
– Tia , tia Alice e tio Jasper foram embora por minha causa. – ela suspirou. – Mamãe e papai estão sempre preocupados e falando que me amam. Eu quase não consigo ficar com vocês porque precisam ficar com os outros lobos. Eu sou criança, mas não sou cega, Jake. Sei que tem coisa errada acontecendo.
– Querida, eles não foram embora por sua causa. – tentei começar, mas Renesmee me encarou descrente e resolvi mudar de abordagem. – Não foi somente por sua causa. Eles foram para proteger a todos nós, só isso.
– Mas por que a tia não levou você junto? Vocês não são como a mamãe e o papai? – ela perguntou, inocente, e senti a respiração falhar um pouco. Eu também queria saber por que não tinha sido levado, por que não tive despedidas.
– quis me proteger também, Ness. – tentei argumentar. – Algumas pessoas não entendem o quanto você é especial e, pra que a gente possa viver bem, precisamos lidar com elas primeiro. Por isso todas aquelas pessoas estão chegando.
– Vovó Esme disse que elas são testemunhas, né? – perguntou, e eu confirmei. – Eu só queria que essas coisas passassem e que todo mundo ficasse junto. Não queria que eles tivessem sumido por culpa minha.
– Ninguém te culpa, querida. – Seth interveio e abraçou a garota de lado. – Nós estamos fazendo tudo isso porque te amamos.
– Me desculpa, Jake. – ela apertou minha mão com força. – Não queria te fazer sofrer.
E ela começou a passar em minha mente uma série de imagens minhas dos últimos dias. Nelas, eu estava abatido, não sorria e só respondia quando falavam comigo. Os únicos com quem eu realmente conversava eram Seth e Edward, mas o clima era sempre muito pesado e preocupante. Renesmee conseguiu passar com alguns flashes, o que eu não tinha percebido ainda: estava lidando com a partida de de uma forma pior do que achei.
Enquanto ela me mostrava, o telefone começou a tocar na cozinha, e eu vi naquela interrupção a oportunidade de sair um pouco da sala. Eu não precisei falar nada, mas Seth entendeu e começou a conversar com Renesmee para tentar distrair a criança.
Quando cheguei na cozinha, o telefone ainda tocava, mas, quando atendi, o outro lado estava mudo. Eu dizia “alô”, “alô”, mas nada adiantava. Será que era algum trote?
– Alô? Se você não for falar nada, eu vou desligar. Não estou com tempo pra brincadeiras. – bufei, mas ninguém se manifestou do outro lado, e eu tirei o fone da orelha pra colocar no gancho de novo. Um arrepio percorreu a minha espinha antes que eu desligasse o telefone e pus na orelha de novo. – ? – perguntei, meio incerto e num tom ainda mais baixo, só que continuei ouvindo apenas o silêncio de volta. – , se for você, eu espero que essa ligação signifique que logo vai voltar pra mim, porque eu não aceito um futuro diferente desse. – sussurrei e não esperei uma resposta. Coloquei o fone no gancho e vi que as minhas mãos tremiam um pouco.
– Quem era? – Seth perguntou assim que voltei para a sala. Renesmee finalmente estava distraída com a animação na televisão.
– Só engano. – dei de ombros enquanto me largava na poltrona. Podia sentir o olhar do garoto me estudando, mas resolvi não dar atenção. Eu ainda estava nervoso com a possibilidade de ter sido ela. Tinha sido ela. estava bem. Ela não ligaria se não fosse assim. – Ness, quem é esse peixe mesmo? – perguntei, mesmo já sabendo. Ela tinha nos obrigado a assistir aquela animação pelo menos umas três vezes.
– É a Dory, Jake. – ela revirou os olhos, e eu ri com sua carinha de irritada. – Você já foi menos esquecido. – Renesmee riu e negou com a cabeça, logo voltando sua atenção à história. Seth não perguntou nada, mas eu podia senti-lo me encarando de tempos em tempos.
Capítulo 18
Alguns dias depois, a minha chegada a Inglaterra foi tranquila, mas sei que, se fosse humana, meu coração estaria batendo acelerado com a perspectiva de encontrar Alec. Eu não o via há meses e, após décadas, era o maior tempo que tínhamos ficado separados. Claro que quando saí da guarda sabia que não nos veríamos com frequência, mas saber que o encontraria nessas circunstâncias era ruim.
Eu já estava hospedada num hotel no centro de Manchester e checava o celular a cada dois segundos. Claro que Alec podia sentir o meu cheiro se se aproximasse perto o bastante, porém não sabia se ele ia querer fazer isso. Não com os Volturi sendo desafiados. A essa altura, Alice já tinha me mandado uma mensagem avisando que Alec tinha desembarcado.
“Fique onde está”, foi a segunda mensagem que Alice me enviou e eu estanquei no meio do quarto. O dia não estava claro, então corri até a janela e olhei para a rua tentando encontrar Alec no meio da multidão que se deslocava, mas eu não via nada. Eu tentava respirar o mínimo possível quando estava perto de muitos humanos, mas aspirei uma boa lufada de ar e, estranhamente, o cheiro dele vinha do lado contrário ao que eu estava. Corri para abrir a porta e encontrei Alec com um sorrisinho de lado me esperando.
– Demorou para começar a respirar, . – ele riu e me puxou pela cintura como costumava fazer. – Você não sabe a encrenca em que está metida, querida. – ele soltou baixo e bem próximo da minha boca. Não consegui controlar meu olhar para outro lugar que não fosse seus lábios. – Senti sua falta.
– Eu também senti a sua. – assenti, e Alec tomou aquilo como um aval para colar os lábios aos meus e iniciar um beijo cheio de saudade enquanto me direcionava para dentro do quarto e fechava a porta. Pelos primeiros segundos, eu retribuí, afinal, seu toque ainda me confundia. Mas tão logo consegui me concentrar, o rosto de Jacob apareceu em minha cabeça, e eu empurrei Alec apenas o suficiente para quebrar o beijo. Seus olhos vermelhos me olhavam curiosos.
– Está mudada. – ele observou, soltando a minha cintura e começando a caminhar distraidamente pelo quarto. – Seus olhos estão mais claros, o período com os Cullen te transformou mesmo.
– Como está Irina? – perguntei de uma vez, antes que ele falasse mais alguma coisa.
– Está sendo muito bem tratada, como uma princesa. – ele disse com uma alegria forçada. – Sabe como Aro gosta de tratar bem seus informantes.
– Ele não vai parar, vai?
– , você, mais do que ninguém, conhece a minha lealdade, sabe que poderia me queimar agora antes que eu dissesse algo sobre os planos dos Volturi. – ele se sentou na cama, e eu assenti. Sabia que não conseguiria muito de Alec.
Não queria, mas Renesmee estava em jogo ali. Deixei que o dom de Edward fluísse por mim, e a mente de Alec se tornou acessível para mim. Ele pensava muito rápido e em italiano, mas eu conseguia acompanhar tranquilamente. Eu não era uma simples visita, mas uma parada premeditada. Um tiro de misericórdia vindo dos Volturi para o caso de eu querer me reunir com eles.
– Estamos em lados opostos dessa briga, Alec. – comentei calmamente enquanto me sentava ao seu lado. – Sei que você pode me paralisar no momento em que quiser pra me matar.
– Independente da minha lealdade, eu não te mataria, . – ele entrelaçou nossos dedos. – Aro sabe que eu sou covarde demais para acabar contigo. Se fosse o caso, ele teria mandado Félix, não eu. – Alec observou e ele estava certo. Todos os Volturi sabiam sobre a nossa ligação, que era grande, na mesma proporção da minha relação com Jane. Se eu fosse executável, nenhum dos dois seria enviado. A ideia dele parecia sondar.
– Sabe que eu não vou te dar nenhuma informação que Aro possa distorcer a seu favor, né? – perguntei, e ele riu, levando minha mão até seus lábios e deixando um beijo ali.
– Minha vinda até aqui tem mais a ver com o nosso caminho. Você foi vista em Istambul, então Aro achou que você estivesse tentando recrutar vampiros ao nosso redor. Eu vim para cá e Jane foi para a Espanha. Quem me achou foi você, não o contrário.
– É curioso que eu seja tão importante, mas não tenha sido contactada de forma mais direta. Aro preferiu nos dar um encontro “ao acaso”.
– Irina mostrou a Aro o suficiente para que ele soubesse a quem você responde agora, . – ele deu de ombros. – Sem contar que você não viria se te chamássemos.
– Não mesmo.
– Pois bem. – ele suspirou. – Se não vou conseguir arrancar nada de você, por que não aproveitamos um pouco, como nos velhos tempos? – Alec me encarou com um brilho diferente nos olhos, e diversas imagens nossas passavam por sua cabeça. Eu não precisava dos dons de Jasper para saber que a atmosfera tinha mudado. Me levantei da cama, tomando um pouco de distância.
– Imagino o tipo de diversão que está passando na sua cabeça, mas não acho que seja prudente. – me esquivei mais, e ele sorriu divertido.
– Já encontrou outro para me substituir, ? – Alec comentou, mantendo a pose, mas sua mente me mostrava o quão ferido ele estava. Achei melhor parar de ler seus pensamentos.
– O primeiro amor a gente nunca esquece, Alec. – repeti o que disse a ele na última vez em que nos vimos, e o homem assentiu com um sorriso mais leve.
– Mas, em algum momento, ele se transforma em uma vaga lembrança. – ele suspirou e se pôs de pé para caminhar até a porta. – Tome cuidado, . – Alec me olhou uma última vez antes de sair do quarto, sem a intenção de voltar. Eu sabia que a próxima vez que nos veríamos não seria tão simples.
Antes que eu pudesse raciocinar, meu telefone vibrou no bolso, e eu nem precisei olhar o visor para saber que era Alice. Aspirei o ar com cuidado para ter a certeza de que Alec já tinha saído do prédio para só então atender a ligação.
– Nada? – ela perguntou com uma voz desanimada, e eu só fiz um barulho de confirmação.
– Eu te disse que Alec não trairia a confiança de Aro, mas, ao que parece, ele está mesmo indo até lá para destruir e conquistar. Os Volturi me queriam de volta.
– Já sabia sobre isso. – ela soltou, displicente, e eu fiquei cabreira.
– Se sabia, por que não me disse? Eu podia ter me infiltrado melhor, pensado num plano que realmente fizesse alguma diferença. Não só ter conversado com Alec.
– Queria te dar uma saída, . – Alice suspirou. – Se você quisesse voltar para os Volturi, para Alec, ninguém poderia te impedir e nenhum de nós o faria. Então, deixei que você lidasse com ele da sua maneira.
– Você realmente achou que eu fosse dar às costas a vocês? – perguntei, ofendida. Os Cullen eram a minha família agora, nunca faria algo assim.
– Eu soube que você não faria isso no momento em que te vi no mesmo espaço que Alec. – ela soltou uma risadinha. – Me desculpe.
– Onde nos encontramos agora?
– Sua passagem para o Brasil está no seu e-mail, nos encontramos em quatro dias, tudo bem? Você vem direto para Manaus, já estamos por aqui. Alugue um carro e nos encontre para chegar até o clã das Amazonas.
– Como vai estar o tempo?
– Nublado, mas por aqui é quente, então coloque roupas longas, um boné e compre mais lentes de contato. – ela disse depois de alguns minutos em silêncio. – Ah, você lembrou de arrumar mais sangue animal?
– Fui até o fornecedor que me indicou antes de vir para o hotel.
– Quando for para o aeroporto, evite a parte central de Manchester. Rosalie e Emmett estão por aí e vocês podem se esbarrar se for por lá. – ela instruiu antes de se despedir e desligar. Eu tinha algum tempo para o próximo avião, então resolvi sair às compras para melhorar o guarda-roupa para Manaus.
Jacob
– Eu imagino o que você está sentindo, Jake. Mas não acho que tenha fugido de você. – Seth chegou perto, mas eu estava desanimado. A maioria dos vampiros tinha ido caçar nos arredores, ainda que distante de Forks e La Push. Os lobos tinham ficado para guardar o forte. Cães de casa, como Leah tinha resmungado meia hora atrás.– Ela me deixou duas frases e foi embora na primeira oportunidade, garoto. – suspirei, mas estava inquieto. Aquilo ainda martelava na minha cabeça.
– Ela queria mais do que tudo ajudar. Você viu o que ela fez com o vampiro que ousou colocar os olhos em Nessie. Bella contou como ela foi calculista e preparada, depois viu na mente de Leah como ela acabou com ele. não estava te deixando, Jake. Ela só quer ajudar a nos salvar.
– Mas eu poderia ter ido junto. Se bem que ela me disse um pouco antes de ir que eu não a trataria como igual, ia tentar protegê-la o tempo inteiro. Acho que ela tem razão.
– Quem diria, com saudades de uma vampirinha, alfa? – Leah apareceu em sua forma humana e debochava de mim. Um riso de escárnio pendia em seus lábios.
– Cala a boca, Leah. – Seth ralhou com a irmã, mas levantei a mão como se dissesse “deixa pra lá”.
– Não precisa, Seth. Ela tem razão, estou com saudades dela sim. E farei o possível para ajudar por aqui. Assim como vocês. Quero que treinem os novos lobos da matilha junto com Sam. Com esse bando de vampiros chegando, mais garotos vão se transformar. – disse em voz de comando, sentindo uma alegria especial quando vi os ombros de Leah penderem para baixo. Curiosamente, uma parte minha se sentia feliz com essa submissão. Talvez assim eu não precisasse ouvir as implicâncias da mulher.
O dia estava chuvoso, e eu já estava a poucos quilômetros do aeroporto quando senti um cheiro diferente dos humanos que ainda me faziam aguar. Era mais adocicado e bastante conhecido. Alec ia me pagar!
Resolvi despistar um pouco, mas sempre evitando os caminhos que poderiam me levar ao centro da cidade. Dobrei à direita e me meti no meio de alguns humanos, esbarrando neles com delicadeza, mas tendo a certeza de que seus cheiros ficariam em mim. Era um plano idiota e eu teria que lidar com a ardência em minha garganta depois, mas era uma tentativa.
Dei uma segunda fungada no ar, mas o cheiro permanecia nos arredores. Eu sabia que não teria como fazer o que Alice me pedia, não com Demetri me seguindo de perto. Ele era um dos melhores rastreadores que eu tinha conhecido e, por mais que eu tivesse clonado seu dom, não conseguia ser tão boa quanto ele.
Mandei uma mensagem para Alice rapidamente para dizer o que acontecia, e sua resposta não deveria ter me surpreendido, mas não consegui evitar a risada de escárnio. “Nade até o Canadá”, ela disse simplesmente, e eu podia visualizar Jasper lhe encarando em descrença. Alguns segundos depois, ela mandou um número de telefone, seguido por “destrua esse aparelho”, e eu segui o que me pedia ao mesmo tempo que seguia caminhando.
Continuei andando em direção ao norte com Demetri em meu encalço. Eu não sabia se ele se aproximaria, mas resolvi ir me desfazendo dos pertences aos poucos, já que teria que nadar de um continente ao outro. Peguei as garrafas de sangue e fui me alimentando o máximo que conseguia, já que elas seriam abandonadas. Me vesti com dois casacos para garantir que não seria reconhecida quando chegasse ao Canadá. Comecei a acelerar o passo apenas quando me afastei das pessoas e encontrei um espaço mais arborizado. Os dons de Edward já estavam fluindo por mim, e eu procurava a mente do vampiro entre tantas outras.
Demorou mais uns 30 minutos de corrida até que eu finalmente encontrasse os pensamentos de Demetri. Eu não tinha a expertise do meu irmão para encontrar mentes, mas agora me focava no que ele pensava. Demetri repassava as coordenadas do local e ponderava sobre chamar ou não Félix para lhe ajudar. Ele sabia o quanto eu podia ser arisca e, considerando a forma como eu me movia, tinha noção de para onde eu estava indo.
Ele resolveu correr mais rápido para tentar me alcançar quando fiquei mais próxima da costa. Demetri sabia que seria mais difícil me rastrear no momento em que eu entrasse no mar, então ele só tentava me deter, mas eu não daria essa vantagem a ele. Deixei que os dons de Jane se apossassem do meu corpo ao mesmo tempo que me mantinha conectada aos seus pensamentos. Era difícil, mas não impossível controlar os dois juntos.
Procurei a praia mais deserta que consegui. O tempo chuvoso não tinha sido o suficiente para alguns surfistas, e eu tinha que ser discreta. Esperei que Demetri me alcançasse, mas eu já estava próxima ao mar. Ele olhou em meus olhos e, mesmo à distância, sorriu. Ele não estava feliz com a minha presença, mas animado por conseguir arrancar o meu pescoço.
Ele veio andando em uma velocidade humana. Demorou pouco mais de cinco minutos para estar a 100 metros de mim, e eu sabia que precisava ser rápida. Antes mesmo que ele desse mais um passo, lancei em sua mente uma onda de dor, que o fez pender para frente, apertando as têmporas em desespero.
Demetri se contorcia no chão, mas eu não estava próxima de parar. Eu entrava no mar, mesmo que ainda com os olhos no vampiro agonizando, e tudo o que eu podia pensar era em como eu perderia a diversão no momento em que ele saísse das minhas vistas. Agora eu entendia o prazer que via nos olhos de Jane quando ela torturava alguém. A sensação que me atingia era viciante. Eu queria mais dela. Por isso, intensifiquei a dor do homem.
Só parei quando já estava quase que completamente submersa no mar e Demetri ofegava na areia, tentando se arrastar até mim. Afundei e comecei a nadar.
Capítulo 19
Os dois casacos que eu vestia atrapalhavam um pouco a minha movimentação na água, então precisei me desfazer de um deles para conseguir cruzar os mais de 5000 km até chegar em Ontário. Eu imaginava que Alice veria minha rota louca para despistar qualquer um, então só me concentrei em nadar o mais rápido possível.
Levei pouco mais de três dias para cruzar o oceano e chegar à costa do Canadá e deixei que a viagem correndo me ajudasse a secar as roupas. Apenas quando estava apresentável me aproximei de uma delegacia, alegando estar perdida de meus amigos. Tentei não olhar nos olhos de ninguém e agradeci mentalmente por ter guardado alguns pares de lentes de contato nos bolsos.
Não demorou mais do que alguns minutos para que eu ouvisse a voz de Jasper do outro lado da linha.
– Alice quase largou tudo para ir atrás de você, sua louca. Ela não sabia para onde estava nadando. – ele ralhou, destemperado, e eu me controlei para não rir.
– Não podia nadar em linha reta. Sabe bem disso. – expliquei baixo. – Para onde eu devo ir?
– Temos uma pista em Alberta. Acha que consegue seguir?
– O que estarei procurando?
– Um vampiro metido a cientista, pelo que conseguimos identificar. Joham.
– O que quer dizer?
– Ele engravida humanas para criar híbridos como a Renesmee, . – Jasper suspirou, irritado. – Encontramos um dos filhos dele por aqui, estamos tentando convencê-lo a ir testemunhar para os Volturi.
– E você acha mesmo que esse cara viria de bom grado pagar pelos próprios crimes? Ele espera o quê? Criar um exército de híbridos?
– Acho que você consegue ser persuasiva o bastante para lidar com ele. – Jasper disse, e eu sabia que ele sorria. – Assim que tiver colocado as mãos nele, vá para Forks. Estaremos voltando também e nos veremos em pouco tempo. Você já sabe como se locomover.
– Norte ou sul?
– Sul. Alice está pedindo para você se alimentar assim que sair daí ou as coisas podem ficar complicadas.
– Nos vemos em alguns dias, não se preocupe.
Assim que convenci os humanos de que já sabia para onde ir, me embrenhei na floresta para encontrar algum animal e conseguir me alimentar. Não foi difícil encontrar um urso que pudesse me satisfazer. Essa era a beleza do Canadá: animais de grande porte.
O caminho até Alberta foi tranquilo, mas a cidade estava mais quieta do que eu costumava conhecer. Bastou uma respiração mais longa pra que eu sentisse o aroma característico da minha espécie, ainda que misturado a um outro nada familiar. Jasper não tinha sido claro sobre a aparência do vampiro, mas coincidências nunca fizeram o meu estilo.
Resolvi seguir o rastro que ficava mais fresco à medida que eu me aproximava. Ele parecia estar se movimentando constantemente, como se também estivesse procurando um lugar para se estabelecer. Se a minha intuição fosse certeira, eu diria que por pouco tempo ele precisaria se esconder.
A uma distância segura de 30 quilômetros, eu parei para observar mais atentamente o lugar. Ainda estávamos no meio da mata, nenhum humano no raio de 5 metros, e isso era bom demais para um vampiro. Antes mesmo que eu pudesse chegar mais perto, ouvi uma voz curiosa, ainda que distante.
– Perdida por aqui? – o homem falava grosso, e eu não pude conter um sorriso. Tinha um fraco por vozes fortes. – Ou veio por minha causa?
– O cientista, estou certa? – dei alguns passos em sua direção e ouvi um pequeno riso vindo dele. Deixei que o dom de Jasper me inundasse. – Ouvi falar sobre suas experiências e fiquei curiosa para saber mais sobre o assunto. Sabe como é, a vida após a morte costuma ser tediosa.
Lisonjeado.
– Está aqui para colaborar, então? – ele pareceu animado e completou a distância até mim em alguns poucos segundos. – Eu estaria muito bem acompanhado com uma parceira dessas. – ele me olhou de cima a baixo e ladeou um sorriso.
– Pode me chamar de Evolet, Evie se ficar mais fácil.
– Joham, querida. – ele chegou perto e tomou uma das minhas mãos, levando aos lábios. – Como ficou sabendo sobre mim?
– Estive na América do Sul há alguns meses e fiquei sabendo de algumas lendas. – dei de ombros. – Conversa vai, conversa vem. Aqui estou.
– Demônio bebedor de sangue ou devorador de mulheres?
– Certamente devorador de mulheres. – comentei, sugestiva, e ele baixou os olhos tímido. – Mas essa parte não parece ser referente a uma lenda. – me aproximei e toquei um de seus ombros. – Estava mais curiosa com o que faz depois que as devora.
– Por que eu contaria, se posso mostrar a você? – Joham me encarou, e eu resolvi manipular suas emoções, olhando diretamente em seus olhos antes que ele me atacasse os lábios.
Joham me segurou forte pelo pescoço enquanto me beijava. Suas unhas feriam a minha pele, mas contive o desejo de gritar de dor. Eu sabia que ele estava me testando.
Retribuí o beijo ao mesmo tempo que me concentrava para trazer o dom de Chelsea à superfície. Era muito mais difícil usar mais de um por vez, então deixei as emoções de lado para me focar em seus laços sentimentais, como tantas vezes a tinha visto fazer.
Seus beijos desceram pelo meu pescoço, e eu joguei a cabeça para trás, lhe dando mais acesso enquanto embrenhava meus dedos em seus cabelos. Seu laço mais forte era consigo mesmo, com sua própria sobrevivência. Nada que eu não conseguisse manipular.
Quando ele me imprensou na árvore mais próxima, seu foco estava comprometido, e bastaram alguns gemidos meus para que seus dedos esmagassem a minha cintura possessivamente. Seus sentidos estavam loucos, e apertar nossos laços foi quase tão fácil como fingir que eu correspondia ao desejo dele. Tão latente e vívido que não contive um suspiro de satisfação.
– Você está aqui pra ser a minha perdição? – ele perguntou com a voz baixa, e eu ri.
– Não nos conhecemos direito, Joham. – lembrei a ele. – Eu apenas vim saber mais sobre suas experiências.
– Então, por que eu sinto que te pertenço por toda a eternidade?
– Talvez tenha estado muito tempo sozinho, até mesmo vampiros precisam de companhia.
– O que quer saber?
– Por que não me conta desde o começo? Temos, literalmente, todo o tempo do mundo. – deixei um delicado beijo em seus lábios, e seus olhos vermelhos me esquadrinharam.
– Todo o tempo do mundo. – ele reforçou e me beijou novamente. Talvez a confissão demorasse um pouco mais do que o planejado.
– Eu sei disso, mas vocês estão em um bom número agora. Podemos causar um impacto – ele repetiu o que vinha dizendo nos últimos dias. Claro que estávamos em maior número. Com tantos vampiros no nosso perímetro, mais crianças acabaram se transformando. Edward se contorceu com meus pensamentos, mas não largou a ideia. – Caius morre de medo de lobisomens. Mesmo que vocês não sejam descendentes do mesmo gene, grandes lobos ao nosso lado podem reavivar algum tipo de memória.
– Se eles não estão vindo para bater papo, por que nós deveríamos? – um tal de Garrett chamou a atenção para si, e eu concordei internamente com ele. – Vamos ter todos ali, ao nosso alcance. Quando teremos uma chance dessas novamente?
– Eu não sei o que disse a você, Garrett, mas não temos a intenção de lutar. – Carlisle rebateu cuidadosamente, e eu não consegui evitar o aperto no peito com a menção a ela.
– Ela só me disse sobre a parte chata de testemunhar. – ele revirou os olhos. – Admito que quando a conheci, gostava mais do seu lado agressivo. Os anos a deixaram mole.
– Temos muito a perder, Garrett, você sabe. – Edward disse, apontando discretamente para Kate, que conversava baixo com sua irmã. Isso pareceu o suficiente para que o vampiro recuasse. – Vamos seguir com o plano, sim?
– E se eles não pararem para nos ouvir? – Sam colocou em palavras a pergunta que pairava em toda a sala.
– Estaremos prontos pra acabar com eles no mesmo segundo. – Emmett disse, animado, e ouvimos diversos silvos de concordância. Nesse momento, eu agradecia por estar distante. Seria menos uma pessoa para me preocupar.
Levei pouco mais de três dias para cruzar o oceano e chegar à costa do Canadá e deixei que a viagem correndo me ajudasse a secar as roupas. Apenas quando estava apresentável me aproximei de uma delegacia, alegando estar perdida de meus amigos. Tentei não olhar nos olhos de ninguém e agradeci mentalmente por ter guardado alguns pares de lentes de contato nos bolsos.
Não demorou mais do que alguns minutos para que eu ouvisse a voz de Jasper do outro lado da linha.
– Alice quase largou tudo para ir atrás de você, sua louca. Ela não sabia para onde estava nadando. – ele ralhou, destemperado, e eu me controlei para não rir.
– Não podia nadar em linha reta. Sabe bem disso. – expliquei baixo. – Para onde eu devo ir?
– Temos uma pista em Alberta. Acha que consegue seguir?
– O que estarei procurando?
– Um vampiro metido a cientista, pelo que conseguimos identificar. Joham.
– O que quer dizer?
– Ele engravida humanas para criar híbridos como a Renesmee, . – Jasper suspirou, irritado. – Encontramos um dos filhos dele por aqui, estamos tentando convencê-lo a ir testemunhar para os Volturi.
– E você acha mesmo que esse cara viria de bom grado pagar pelos próprios crimes? Ele espera o quê? Criar um exército de híbridos?
– Acho que você consegue ser persuasiva o bastante para lidar com ele. – Jasper disse, e eu sabia que ele sorria. – Assim que tiver colocado as mãos nele, vá para Forks. Estaremos voltando também e nos veremos em pouco tempo. Você já sabe como se locomover.
– Norte ou sul?
– Sul. Alice está pedindo para você se alimentar assim que sair daí ou as coisas podem ficar complicadas.
– Nos vemos em alguns dias, não se preocupe.
Assim que convenci os humanos de que já sabia para onde ir, me embrenhei na floresta para encontrar algum animal e conseguir me alimentar. Não foi difícil encontrar um urso que pudesse me satisfazer. Essa era a beleza do Canadá: animais de grande porte.
O caminho até Alberta foi tranquilo, mas a cidade estava mais quieta do que eu costumava conhecer. Bastou uma respiração mais longa pra que eu sentisse o aroma característico da minha espécie, ainda que misturado a um outro nada familiar. Jasper não tinha sido claro sobre a aparência do vampiro, mas coincidências nunca fizeram o meu estilo.
Resolvi seguir o rastro que ficava mais fresco à medida que eu me aproximava. Ele parecia estar se movimentando constantemente, como se também estivesse procurando um lugar para se estabelecer. Se a minha intuição fosse certeira, eu diria que por pouco tempo ele precisaria se esconder.
A uma distância segura de 30 quilômetros, eu parei para observar mais atentamente o lugar. Ainda estávamos no meio da mata, nenhum humano no raio de 5 metros, e isso era bom demais para um vampiro. Antes mesmo que eu pudesse chegar mais perto, ouvi uma voz curiosa, ainda que distante.
– Perdida por aqui? – o homem falava grosso, e eu não pude conter um sorriso. Tinha um fraco por vozes fortes. – Ou veio por minha causa?
– O cientista, estou certa? – dei alguns passos em sua direção e ouvi um pequeno riso vindo dele. Deixei que o dom de Jasper me inundasse. – Ouvi falar sobre suas experiências e fiquei curiosa para saber mais sobre o assunto. Sabe como é, a vida após a morte costuma ser tediosa.
Lisonjeado.
– Está aqui para colaborar, então? – ele pareceu animado e completou a distância até mim em alguns poucos segundos. – Eu estaria muito bem acompanhado com uma parceira dessas. – ele me olhou de cima a baixo e ladeou um sorriso.
– Pode me chamar de Evolet, Evie se ficar mais fácil.
– Joham, querida. – ele chegou perto e tomou uma das minhas mãos, levando aos lábios. – Como ficou sabendo sobre mim?
– Estive na América do Sul há alguns meses e fiquei sabendo de algumas lendas. – dei de ombros. – Conversa vai, conversa vem. Aqui estou.
– Demônio bebedor de sangue ou devorador de mulheres?
– Certamente devorador de mulheres. – comentei, sugestiva, e ele baixou os olhos tímido. – Mas essa parte não parece ser referente a uma lenda. – me aproximei e toquei um de seus ombros. – Estava mais curiosa com o que faz depois que as devora.
– Por que eu contaria, se posso mostrar a você? – Joham me encarou, e eu resolvi manipular suas emoções, olhando diretamente em seus olhos antes que ele me atacasse os lábios.
Joham me segurou forte pelo pescoço enquanto me beijava. Suas unhas feriam a minha pele, mas contive o desejo de gritar de dor. Eu sabia que ele estava me testando.
Retribuí o beijo ao mesmo tempo que me concentrava para trazer o dom de Chelsea à superfície. Era muito mais difícil usar mais de um por vez, então deixei as emoções de lado para me focar em seus laços sentimentais, como tantas vezes a tinha visto fazer.
Seus beijos desceram pelo meu pescoço, e eu joguei a cabeça para trás, lhe dando mais acesso enquanto embrenhava meus dedos em seus cabelos. Seu laço mais forte era consigo mesmo, com sua própria sobrevivência. Nada que eu não conseguisse manipular.
Quando ele me imprensou na árvore mais próxima, seu foco estava comprometido, e bastaram alguns gemidos meus para que seus dedos esmagassem a minha cintura possessivamente. Seus sentidos estavam loucos, e apertar nossos laços foi quase tão fácil como fingir que eu correspondia ao desejo dele. Tão latente e vívido que não contive um suspiro de satisfação.
– Você está aqui pra ser a minha perdição? – ele perguntou com a voz baixa, e eu ri.
– Não nos conhecemos direito, Joham. – lembrei a ele. – Eu apenas vim saber mais sobre suas experiências.
– Então, por que eu sinto que te pertenço por toda a eternidade?
– Talvez tenha estado muito tempo sozinho, até mesmo vampiros precisam de companhia.
– O que quer saber?
– Por que não me conta desde o começo? Temos, literalmente, todo o tempo do mundo. – deixei um delicado beijo em seus lábios, e seus olhos vermelhos me esquadrinharam.
– Todo o tempo do mundo. – ele reforçou e me beijou novamente. Talvez a confissão demorasse um pouco mais do que o planejado.
Jacob
– Tem certeza de que isso vai dar certo, Edward? Eles vão sentir nosso cheiro no momento em que pisarem na campina. – tentei argumentar com o plano dramático do Cullen enquanto estávamos discutindo estratégias. Os Cullen estavam sentados mais próximos de nós e os outros tantos vampiros estavam espalhados pela sala. Sam também estava ali e, pelo olhar torto em seu rosto, estava tão desconfortável quanto eu.– Eu sei disso, mas vocês estão em um bom número agora. Podemos causar um impacto – ele repetiu o que vinha dizendo nos últimos dias. Claro que estávamos em maior número. Com tantos vampiros no nosso perímetro, mais crianças acabaram se transformando. Edward se contorceu com meus pensamentos, mas não largou a ideia. – Caius morre de medo de lobisomens. Mesmo que vocês não sejam descendentes do mesmo gene, grandes lobos ao nosso lado podem reavivar algum tipo de memória.
– Se eles não estão vindo para bater papo, por que nós deveríamos? – um tal de Garrett chamou a atenção para si, e eu concordei internamente com ele. – Vamos ter todos ali, ao nosso alcance. Quando teremos uma chance dessas novamente?
– Eu não sei o que disse a você, Garrett, mas não temos a intenção de lutar. – Carlisle rebateu cuidadosamente, e eu não consegui evitar o aperto no peito com a menção a ela.
– Ela só me disse sobre a parte chata de testemunhar. – ele revirou os olhos. – Admito que quando a conheci, gostava mais do seu lado agressivo. Os anos a deixaram mole.
– Temos muito a perder, Garrett, você sabe. – Edward disse, apontando discretamente para Kate, que conversava baixo com sua irmã. Isso pareceu o suficiente para que o vampiro recuasse. – Vamos seguir com o plano, sim?
– E se eles não pararem para nos ouvir? – Sam colocou em palavras a pergunta que pairava em toda a sala.
– Estaremos prontos pra acabar com eles no mesmo segundo. – Emmett disse, animado, e ouvimos diversos silvos de concordância. Nesse momento, eu agradecia por estar distante. Seria menos uma pessoa para me preocupar.
Capítulo 20
Joham me seguia ainda anestesiado, como se não não tivesse total controle de suas vontades. Ele não tinha, mas era curioso ver aquilo dar certo. O caminho tinha sido preenchido por suas histórias de conquistas, me fazendo ver que a quantidade de humanas mortas superava, e muito, a quantidade de híbridos que ele tinha conseguido fazer. Em suas contas, mais de 100 mulheres tinham sido testadas, mas nenhuma, além das quatro mães de seus filhos, sobreviveram para levar a gestação até o fim. Um baque para suas experiências.
O tempo até Forks foi relativamente curto, e cruzamos o caminho de mais de mil quilômetros em pouco mais de 5 horas. Tardamos tempo suficiente para que eu conseguisse me alimentar mais algumas vezes, mesmo sob o olhar crítico do vampiro, que me seguia cegamente.
Eu já conseguia sentir o cheiro dos Volturi, assim como sentia claramente o aroma de Jacob. Por sorte, meu coração não batia e não havia necessidade de me esconder. Talvez sentisse mais saudades dele do que tinha notado, e o pingente de lobo em meu bolso dianteiro pesava.
Assim que chegamos mais próximos da clareia, pude reconhecer a voz irritante de Aro e segurei Joham pelo pulso. Ele, entendendo tudo de forma errada, entrelaçou nossos dedos como em uma carícia.
– Nahuel, você tem um século e meio de idade? – ele quis saber e parecia curioso. Por enquanto, manter Joham ao meu lado era mais importante do que ler os pensamentos dos Volturi. Mesmo estando anestesiado, Joham se sobressaltou à menção do nome do filho e me encarou. Mantive o aperto em sua mão.
– Dê ou tire uma década. – uma voz diferente respondeu, e eu comecei a carregar Joham comigo, quase arrastando o homem que pendia ligeiramente para trás. – Nós não ficamos contando.
– E você atingiu a maturidade com que idade? – Aro seguia intrigado, e eu segurava a vontade de rir. Tudo pelo drama, vamos lá, .
– Cerca de sete anos depois do meu nascimento, mais ou menos, meu crescimento estava completo.
– Você não mudou desde então?
– Não que eu tenha reparado.
– E sua dieta? – Aro pressionou, parecendo interessado a despeito de si mesmo.
– Em maioria sangue, mas um pouco de comida humana também. Eu posso sobreviver de ambos.
– Você foi capaz de criar um imortal? – Aro aumentou o tom de voz, e eu entendi que era meu momento de aparecer. Acelerei o passo para dentro da clareira, ainda que Joham estivesse nos retardando e parecendo repentinamente mais alerta.
– Sim, mas nenhum dos outros pode.
– Outros? – a voz de Caius se fez presente, e eu engoli em seco antes de sair de trás das matas.
– Ah, Caius, você ficaria surpreso. – falei, segurando um riso ao mesmo tempo que me direcionava aos Volturi. Eu podia ouvir as conversas vindas dos Cullen e dos outros vampiros que os ladeavam, mas mantive nosso caminho até os Volturi. Ouvi quando Jacob deu um passo em minha direção, mas foi apenas isso. Alguém deve tê-lo contido.
Demetri tinha Jasper segurado pelo pescoço enquanto Félix fazia o mesmo com Alice. Os dois vampiros da guarda semicerraram os olhos ao me ver, e eu aumentei o sorriso. Aro me encarava curioso.
– Minha bela, . Senti saudades de sua companhia. – ele disse de forma falsamente doce, e eu me peguei fazendo uma pequena reverência. Seus olhos se iluminaram pelo gesto. – Mas, nos conte, do que falava?
– Nesse meio tempo, fui em busca de uma testemunha importante, senhores. – falei, me direcionando à plateia de testemunhas como Aro costumava fazer. Marcus, pela primeira vez em muito tempo, cravou os olhos em mim como se esperasse pelo show que sabia que viria. Soltei a mão do homem ao meu lado. – Este que estão vendo é Joham. Acredito que possa confirmar pela mente de Nahuel.
– Não há necessidade, querida. Por que não nos conta o que descobriu? O vampiro parece bem aéreo para isso.
– Talvez seja melhor que ele mesmo lhes conte. – afrouxei nossos laços, e menos de um segundo foi o tempo que Joham levou para se dar conta do lugar em que estava. Com quem estava. Antes que qualquer um de nós pudesse dizer algo, ele disparou a correr para o lado contrário. Uma olhada para Jane e uma revirada de olhos dela foram o suficiente para que ele caísse gritando no chão, com as mãos nas têmporas. – Eles nunca aprendem. – não contive o resmungo enquanto ia na direção do vampiro, que agonizava.
Seus gritos eram tão altos que vi pela minha visão periférica alguns lobos menores se encolherem. Peguei Joham pela perna e, mesmo que ele tentasse se soltar, consegui arrastá-lo de volta, deixando um rastro pela neve.
– Aro, senhor, ele é todo seu. – joguei o corpo dele aos pés dos Volturi, e Aro abaixou o corpo para tocar o de Joham. Jane deu uma pausa na dor para que o mestre pudesse ter acesso tranquilo aos pensamentos do outro. Alguns segundos foram suficientes para que ele fixasse os olhos em mim em compreensão.
– Uma nova raça, então? – ele comentou, e eu assenti. – Mas é curioso que esse homem não tenha vindo até aqui por livre e espontânea vontade. Não acha?
– Tenho meus métodos. – dei de ombros, e Aro me olhava ainda mais interessado e desejoso. Ele me queria ao seu lado. – De todo modo, as outras híbridas que ele criou não são venenosas, assim como Renesmee não é.
– E como resolvemos essa situação? – Caius se impôs, irritado. Obviamente ele queria que algo justificasse sua vinda até ali. – Acontecerá o mesmo que com a informante? – ele soltou enquanto olhava discretamente para a fogueira que queimava perto de suas testemunhas. Irina, não!
– Seja qual for a decisão, eu estarei pronta para cumprir suas ordens. – rebati, fechando as mãos em punho para me controlar de não pular no pescoço de Caius. Sabia que aquilo, de alguma forma, era culpa dele. Ouvi um rosnado perigoso vindo dos lobos. Jacob.
– Achei que tinha saído da guarda, . – o vampiro retrucou, irônico. – Se nossa decisão for matar algum desses dois, você seguirá? – Caius apontou para Alice e Jasper. Enquanto ela parecia tranquila, Jazz se debatia.
– Suas ordens serão cumpridas desde que estejam de acordo com as minhas vontades.
– Devemos perguntar como convenceu esse homem a vir até aqui?
– Não se quiser manter a unidade de seu clã.
– O que está querendo dizer, pirralha? – Caius deu alguns passos à frente, mas Aro ergueu uma das mãos, parando o irmão.
– Basta! Nosso foco aqui são as experiências que esse incompetente está fazendo. Ele corre mais risco de nos expor do que os Cullen. – Aro disse, categórico, e Caius revirou os olhos em desprezo. Joham agora era segurado por Renata e Alec. – Precisamos deliberar, irmãos? – ele se voltou para Caius e Marcus, este bastante interessado no decorrer da história.
– Este pseudocientista merece o extermínio para que não siga fazendo experiências que não pode dar conta. – Marcus se pronunciou, e eu vi um brilho diferente passar por seus olhos. Não era apenas o tédio de sempre, ele queria algum tipo de diversão ali.
– Não poderia ter dito diferente. – Caius endossou o irmão, e Aro me encarou.
– Quando estiver pronta, querida. – ele apontou para Joham, que se debatia e me olhava suplicante. Olhei para Nahuel, que tinha se afastado um pouco, e, com os olhos, pedi sua permissão para o que eu faria. O vi segurar a mão de uma mulher com força antes de assentir pra mim.
A alguns metros de distância, vi que Isabella tinha Renesmee virada para si enquanto Edward se postava na frente das duas como proteção. Nossos olhares se encontraram e, mesmo que eu tenha desviado, ele ainda me olhava. Não tive coragem de procurar Jacob. Não agora.
– Está ficando mole, ? – Caius soltou, e foi a fagulha que eu precisava para imaginá-lo na posição de Joham e me lançar em sua direção para morder seu pescoço.
Resolvi fazer isso de modo rápido, já que tinha uma plateia e Joham berrava a cada membro que eu tirava de seu corpo. Chelsea acendeu uma fogueira, e os pedaços do homem foram sendo atirados um por um nas chamas. Renata voltou rapidamente para perto de Aro enquanto Alec se manteve perto de mim depois do serviço completo.
– Uma vez Volturi … – Aro comentou, animado, e me dedicou um sorriso antes de se virar para a guarda em um tom solene. – Não lutaremos hoje, meus queridos. – Vi quando os rostos assentiram e pude perceber a decepção mascarada de resignação. A formação da guarda se desfez, e muitas testemunhas começaram a debandar. – Fico feliz que tenhamos lidado sem violência com toda essa situação. – ele disse docemente. – E me deixa contente saber que encontrou sua família, . Edward fez a cortesia de me mostrar.
– A eternidade é cheia de surpresas, certo? – retruquei e o vi assentir. Ele queria me dizer mais alguma coisa. Ele me queria de volta ao seu lado, agora que tinha uma pequena ideia do que eu podia fazer pelos pensamentos de Demetri e Joham.
– Tenho certeza de que nos despedimos hoje como amigos e que nos encontraremos em melhores condições no futuro. – ele sugeriu, esperançoso. Apenas Renata, Alec e Jane tinham ficado para trás esperando. Todos os outros já tinham seguido o mesmo caminho. – Carlisle, querido amigo, espero que um dia possa me desculpar por todo esse infortúnio.
– Vá em paz, Aro! – Carlisle disse simplesmente, e o Volturi esboçou uma feição triste. Seus olhos percorreram Alice e Jasper, que agora estavam próximos a Nahuel e a tal mulher. Depois, ele ficou um tempo olhando para trás, certamente analisando quantos diamantes poderia ter em sua guarda.
– Que desperdício. – ele soltou antes de negar com a cabeça e virar as costas para seguir os passos dos outros. Renata nem pensou duas vezes para seguir o mestre, mas Jane e Alec estancaram. Eu me aproximei dos dois com cuidado e os envolvi em um abraço conjunto.
– Eu amo vocês por toda a eternidade. – sussurrei, ainda que soubesse que todos ali me ouviam com clareza. – Agora, vão. – mandei, sem deixar que eles falassem qualquer coisa. Os irmãos deram as mãos e, sem olhar para trás, partiram. Às minhas costas, ouvi silvos de comemoração e gargalhadas.
O que eu vi quando me virei não me surpreendeu. Os casais aos beijos, os lobos brincando entre si e Stefan e Vladimir indo floresta adentro completamente irritados. Me aproximei da comemoração familiar, e os braços de Carmen foram os primeiros que me acolheram, juntos dos de Eleazar.
Tanya, Kate, Garrett. Passei por tantos até chegar a Edward, que me agarrou pela cintura ao mesmo tempo que me tirava do chão. Me aconcheguei em seus braços e, pela primeira vez em muito tempo, quis poder chorar. Minha cabeça estava um turbilhão.
Quando ele me deixou ir, Isabella me ofereceu a mão em cumprimento, e eu aceitei. Conviveríamos juntas pela eternidade, então por que não começar de novo? Antes mesmo que pudéssemos falar algo, Renesmee saltou de seu colo para o meu, e eu só consegui encher aquela criança de beijos. Ela estava bem maior do que eu tinha visto, parecia ser uma criança de seis ou sete anos, não de meses.
– Nunca mais vá embora, tia. – ela sussurrou para mim, e eu só consegui estreitar nosso abraço. Eu amava tanto aquela menina. E, como se soubesse que eu precisava, senti um empurrãozinho em meu ombro. O grande lobo me encarava com seus olhos castanhos. Foi inevitável não sorrir.
– Talvez eu tenha sentido sua falta mais do que gostaria de admitir. – disse baixo, mas sabia que ninguém estava realmente interessado em nós. Sustentei Renesmee com um dos braços enquanto, com a mão livre, tirava o pequeno pingente de lobo do meu bolso. O coração de Jacob disparou e agora batia tão alto que eu tinha certeza de que estava no lugar certo. Finalmente.
Algumas horas depois, os vampiros já tinham se dispersado de volta para a casa dos Cullen, mas eu observava tudo de longe. Os Denali foram os primeiros a partir, seguidos por Garrett, que agora me olhava com um sorrisinho de canto. Ele tinha entendido sobre o lobo, mas teve a cortesia de se manter em silêncio.
Jacob apareceu em meu campo de visão, já em sua forma humana, com roupas mais apropriadas para o vento que fazia. Ele nada disse, só me estendeu uma mão e entrelaçou nossos dedos, começando a andar para longe da propriedade dos Cullen. Só paramos de caminhar quando estávamos a uma boa distância.
– Não tive como te responder mais cedo, mas eu também senti a sua falta. – ele quebrou o silêncio sem soltar nossas mãos. Jacob parecia nervoso.
– Seu coração acelerando foi resposta suficiente, Jacob. – sorri e apertei de leve sua mão quando vi seu constrangimento.
– Não vai mais embora, né? – ele me puxou para mais perto e enlaçou minha cintura. Tínhamos uma boa diferença de altura, mas isso não parecia importar agora. Não com o seu corpo quente me lançando lufadas de calor. Não com nossas peles se tocando assim.
– Vou ficar enquanto me quiser por perto. – consegui dizer, mesmo um pouco aérea. Sua proximidade remexia meus sentidos. Ele sorriu, provavelmente percebendo minha confusão.
– Por toda a eternidade é bom pra você? – ele quis saber, e eu levei uma das mãos ao seu peito, bem em cima do seu coração, que batia calmo sob minha palma.
– Enquanto quiser manter suas transformações, estarei ao seu lado. Sem mais. – me coloquei nas pontas dos pés, e ele, vendo o esforço, me ergueu pela cintura, fazendo com que nossos narizes se tocassem.
– E se algum dia eu resolver parar de me transformar e quiser envelhecer? – ele brincou, e eu sorri ladina.
– Pego o primeiro avião pra Volterra, sei que eles estarão loucos pelo meu pescoço por lá. – ri, mas ele negou com a cabeça, acabando com a distância entre nós e selando meus lábios pela primeira vez.
Alguma parte do meu cérebro tentava me lembrar de ser gentil e delicada, mas as mãos de Jacob em minha cintura não pareciam colaborar. O encaixe que tivemos foi tão diferente do que eu já tinha experimentado, sua boca me beijando me acertava com ondas de desejo por todo o corpo. Mas ele precisava respirar.
– Acho que a amizade acabou, não é? – perguntei enquanto via Jacob recuperar o fôlego.
– Só estamos começando, . – ele respondeu com um sorriso sacana no rosto antes de me beijar pela segunda vez. Ah, como seria doce a nossa eternidade.
Fim
Nota da autora: Chegamos ao final da história e eu só consigo agradecer a todos que me acompanharam até aqui, aos comentários feitos, aos leitores fantasmas, obrigada a todo mundo. Blood, love and death é uma ideia que surgiu pra mim em 2012, mas que demorou bastante tempo pra ser concluída. Vocês conhecem a versão de 2018 e ela sofreu várias alterações até chegarmos aqui. Estou com o coração em paz por ter finalizado a história.
Agradeço a todas as scripters e betas que tive, principalmente a Carol que está comigo hoje e que me ajudou a entregar essa história pra vocês! Um obrigada especial pra Lola! Se não fosse o seu incentivo, essa fic não teria sido finalizada ♥️
Ainda tenho várias outras fanfics para terminar, então, vocês podem conhecer um pouco mais da minha escrita nos links aqui embaixo. Não esqueçam de me falar nos comentários o que vocês acharam do final e outras considerações. Nos vemos em outros universos ♥
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◦ Make 'Em Laugh
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◦ Pura Magia
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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Agradeço a todas as scripters e betas que tive, principalmente a Carol que está comigo hoje e que me ajudou a entregar essa história pra vocês! Um obrigada especial pra Lola! Se não fosse o seu incentivo, essa fic não teria sido finalizada ♥️
Ainda tenho várias outras fanfics para terminar, então, vocês podem conhecer um pouco mais da minha escrita nos links aqui embaixo. Não esqueçam de me falar nos comentários o que vocês acharam do final e outras considerações. Nos vemos em outros universos ♥
Outras fanfics:
◦ Amor em Dobro
◦ Entre sonhos
◦ (In)desejada
◦ I'm not your fan
◦ Like a Virgin
◦ Make 'Em Laugh
◦ Nas garras do lobo
◦ Pura Magia
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