Capítulo 1
A fama é algo que eu definiria como uma benção e uma maldição, pode te ajudar em mil aspectos, mas também te atrapalhar pelos mesmos motivos.
Existem coisas que eu gostaria que continuassem simples na minha vida, como poder ir a qualquer mercado, loja, posto de gasolina sem causar uma grande comoção, mas em alguns lugares isso era meio impossível. Estava aproveitando meu último dia de folga quando meu empresário avisou sobre a visita de alguns amigos da Itália que estavam de passagem por São Paulo, e agora minha última noite de folga seria junto desses amigos, bem distante da festa que estava planejando ir.
– Alex, eu já chego aí, só preciso comprar mais algumas coisas…
Mandei o áudio para o meu empresário, entrei no Armazém Ventucci apenas pra comprar o vinho que havia prometido a uma amiga, peguei mais alguns snacks tentando ser o mais rápido possível. Já estava indo em direção ao caixa quando quase tropecei em uma garota agachada perto da prateleira de vinhos, por muito pouco não cai em cima dela e de toda aquela prateleira, causando o maior estrago.
– Ei!!! Olha por onde anda! – A garota se levantou muito brava, com seu vestido vermelho de gala, a maquiagem borrada e uma cara de poucos amigos, que me fez questionar seriamente se ela jogaria em mim a garrafa de vodca que estava em sua mão.
– Perdão, eu estava distraído, não tinha te visto. – Tentei ser o mais simpático possível e ela apenas deu de ombros. Mesmo brava não pude deixar de reparar na beleza dela, os olhos castanhos, a pele negra, a bochecha rosada e a boca levemente vermelha, como nunca tinha visto igual.
– Que seja…. Mais cuidad…. – A frase morreu no meio quando ela viu duas garotas entrarem no armazém, elas estavam vestidas como a garota da vodca, acenaram e começaram a se aproximar de onde estávamos – Maravilha! Não acredito….
A garota se virou de frente para a prateleira dos vinhos e fingiu que não era com ela.
Eu apenas observava a cena, dei um passo pra trás, peguei um vinho qualquer da prateleira e já estava prestes a sair daquele corredor, antes que aquilo virasse uma confusão, mas as duas garotas recém-chegadas se aproximaram rápido demais. A moça do vestido vermelho se desequilibrou quando veio para trás e caiu em cima de mim.
A única coisa que consegui fazer foi nos proteger para que não voasse nenhum estilhaço de vidro em nossos rostos, enquanto o chão se tornava uma poça de vinho tinto.
– Eu não acredito, vou matar vocês! – Ela brigou com as duas, saiu de cima de mim aparentando estar ainda mais brava e estendeu a mão para me ajudar a levantar.
– Machucou? – Ela perguntou me olhando realmente nos olhos pela primeira vez naquela noite, pela maneira como me olhou pensei que ela realmente tivesse me reconhecido ou algo assim, mas ela logo desviou o olhar para sua mão que continuava estendida, aceitei a ajuda e levantei sentindo minhas costas ensopadas pelo vinho.
– Obrigado! – Agradeci verificando se havia algum corte ou ferimento e senti seu olhar acompanhando meus movimentos – Tá tudo certo, não precisa se preocupar! – Você se machucou? – Devolvi a pergunta, ela apenas balançou a cabeça negando
– Perdão por essa bagunça! Não acredito que isso aconteceu, se quiser te pago uma camisa nova. – Vi que as duas garotas logo atrás dela seguraram o riso e tive certeza que elas sabiam quem eu era.
– Não precisa, já fico feliz que não nos machucamos, preciso ir…– Olhei pra garota que tinha caído em cima de mim e esperei que ela falasse seu nome.
– Ah, meu nome é , prazer! – Ela disse sem graça me estendendo a mão, apertei sua mão e também me apresentei.
– Prazer, ! Me chamo …– Preferi não dizer meu sobrenome, afinal, ela não esboçou reação nenhuma ao ouvir meu nome, me sentia idiota por pensar que ela precisava saber quem eu era.
– Mais uma vez, desculpe ! – Ela sorriu e pude ver uma covinha na sua bochecha que a deixava ainda mais bonita.
– Sem problemas, foi um “prazer”. – Sorri meio irônico e cumprimentei com um aceno de cabeça as duas garotas que nos assistiam concentradíssimas – Até mais!
Deixei as garotas para trás e comecei a ir em direção ao balcão da loja, mesmo afastado pude ouvir brigando com as meninas.
“Lóri, porque vocês estão aqui? Eu não pedi pra ficar sozinha?”
Sabia que aquilo poderia virar uma confusão e não queria me envolver, peguei tudo mais que eu precisava e já sentia o olhar do dono da loja sobre mim.
– Quanto vai dar tudo? – A cara fechada do dono da loja já me dizia que ele estava uma fera, olhei pra trás e vi a poça do vinho quebrado no meio do corredor – Inclusive aquilo ali…
Enquanto o homem calculava, senti uma pessoa se aproximar, olhei para trás e estava vindo com pressa na minha direção.
– Faço questão de pagar pelo vinho quebrado! – Ela disse convicta chegando mais perto de mim.
– Não precisa, eu pago, sem problemas! – Sorri tentando ser o mais simpático possível, mas ela me olhou com mais intensidade.
– A culpa foi minha! – Ela disse com mais firmeza ainda.
– Mas…– Tentei argumentar olhando da mesma maneira.
– Por favor, já estou me sentindo péssima, não faça eu me sentir pior! – colocou sua mão sobre a minha para me impedir de continuar mexendo na carteira.
– Ok! Só vou levar esses aqui então. – Cedi vendo ela sorrir para mim mais uma vez, paguei somente pelos meus itens e a olhei.
– Obrigado! – Assenti pegando minhas coisas e antes de sair cumprimentei as garotas que a estavam esperando, as duas riram e eu tive certeza que elas sabiam exatamente quem eu era.
A noite na casa dos meus amigos foi, no mínimo, interessante, todos me encheram de perguntas sobre a camisa ensopada de vinho, mas eu simplesmente nem ligava para isso. O que realmente me intrigou foi o fato daquela linda mulher não me olhar como se fosse um bichinho de zoológico, era tão raro não ser reconhecido, principalmente em São Paulo, que isso transformou aquela noite. Sempre ficava a postos para ser o mais receptivo possível para atender a todos, com um sorriso quase colado no rosto e ver as coisas seguirem um rumo diferente me deixou de muito bom humor.
Minha carreira como cantor começou meio cedo, quando fiz dezoito anos gravei a primeira música que viralizou, aos dezenove já tinha me mudado pra uma cobertura em São Paulo e agora aos 22, já era considerado um cantor consolidado e isso fez com que essa área da minha vida determinasse todo o resto.
Seria errado dizer que minha vida não era maravilhosa, ela era, só não gostava da exposição em excesso, não poder ir e vir como eu bem entendesse me irritava em alguns dias, me enfurecia quando não tinha espaço nem mesmo pra sofrer sem plateia e já estava me habituando a pagar para ter “paz”. Por isso eu amava ir ao meu refúgio particular sempre que dava.
– Mas ora, ora, olha quem resolveu aparecer! – Will, meu melhor amigo desde a época da escola, abriu um sorriso e largou o cardápio do seu restaurante para me abraçar.
– Desta vez nem faz tanto tempo assim – Beijei seu rosto o vendo rolar os olhos, sempre fazia isso só para provocá-lo.
– Acho que uns bons três meses, hein. – Ouvi a voz doce de Sarah atrás de mim e me virei rápido para ela, a ergui do chão e a gargalhada mais divertida de todas se fez ouvir.
– Fiquei com saudade de vocês e resolvi aparecer antes que a saudade me deixasse doente, aproveitei que o restaurante ainda não abriu, que é melhor! – Sentei em uma das cadeiras vazias e observei o lugar.
A melhor hamburgueria que eu conheço pertencia aos meus melhores amigos, há um ano quando Will resolveu apostar no seu sonho de abrir um restaurante eu já sabia que daria certo, ele já era bom na cozinha e sempre trabalhou em restaurantes dos mais variados tipos, mas quando ele conheceu Sarah, ainda na periferia de Curitiba, parece que ele simplesmente decolou.
Ela melhorava as ideias dele, os cardápios, os ingredientes, o jeito de fazer e quando ele investiu tudo que tinha em uma pequena barraquinha de lanches, os dois passavam as noites trabalhando nela e quando já estava mais do que dando lucro eu me ofereci pra ser sócio da minha dupla preferida, e eles se mudaram para São Paulo, tornando a Will Burguer a minha segunda casa, meu lugar de refúgio onde eu nunca precisava me esconder.
Will sempre foi quieto, na dele, o cara alto e branco, cheio de tatuagens pelo corpo e a feição de poucos amigos que não assustava ninguém, esse era seu charme, quase nunca tirava seu boné preto da cabeça, assim como suas infinitas camisetas pretas e sempre abria o maior sorriso quando Sarah chegava no ambiente.
Já ela era a luz que sempre iluminava qualquer lugar, sua pele negra e os cachos longos e definidos eram um espetáculo à parte, Sarah era tão alta quanto Will e cheia de curvas, vestida sempre com roupas coloridas e lindas, ela nunca estava básica como seu marido, sempre linda e pronta pra qualquer evento.
– Não mente, ! Afinal, o que o senhor veio fazer aqui? – Will sentou junto a mim e eu ri.
– Eu precisava passar em uma lavanderia e ela fica aqui do lado, então porque não unir o útil ao agradável?! – Respondi apontando para a sacola em que estava minha camisa toda suja de vinho.
– Nossa! Pra você se abalar e levar pessoalmente para lavar, a camisa deveria ser muito especial…– Sarah que ouvia nossa conversa chegou mais perto e sentou no colo de Will.
– Pior que nem é. – Ri e dei de ombros vendo que os dois me olharam desconfiados. – Sei lá, deu vontade de testar a sorte um pouquinho.
– Como assim? – Sarah toda curiosa pegou a sacola e tirou minha camisa de dentro, a cara que ela fez ao ver o estrago do vinho no tecido era impagável, Will gargalhou e me encarou.
– Explica aí, gênio! O que aconteceu? – Dei uma risadinha antes de me endireitar na cadeira.
– Ontem eu simplesmente trombei com uma mulher linda, ela estava furiosa, mas deu pra ver a beleza dela e pá…– Bati uma mão contra a outra fazendo um barulho ridículo como se nós estivéssemos nos chocando e Sarah riu.
– Para de ser idiota! O que aconteceu quando ela te reconheceu? Ela se jogou nos braços do grande astro como todas as outras…– Ela ainda estava no colo do meu amigo, o abraçou pelo pescoço e rolou os olhos pra mim, eles amavam me zoar dizendo que não fazia muito sentido eu ser famoso.
– Aí está a melhor parte! Nós nos trombamos feio, ela caiu por cima de mim e foi vinho pra todo lado, quando levantamos eu a ajudei e me apresentei e nada…
– Nada? – Sarah perguntou incrédula e eu ri concordando com a cabeça.
– Umas amigas dela que apareceram tenho quase certeza que sabiam quem eu era, mas ela não! Por isso que disse que queria testar a sorte mais um pouquinho.
– Vai devagar, ! – Will apontou o dedo pra mim e eu apenas acenei com a cabeça.
– Sei que é besteira, mas isso me deixou super bem ontem à noite, ser só um cara qualquer por um momento era tudo que eu queria.
– E agora? Tem alguma coisa dela?
– Só o nome, !
– Agora ficou fácil. – Will resmungou e eu mandei o dedo do meio pra ele.
– Cala boca, coisa chata! Talvez eu nunca mais a veja e tudo bem, foi só um encontro desastroso legal.
– Cada dia você fica mais esquisito, isso sim! – Will beijou o ombro de Sarah e eu me levantei.
– Eu vou na lavanderia e depois vou passar no Blanks, nosso café favorito! Querem algo de lá?
– Quero a torta de amendoim, se tiver. – Sarah pediu se levantando também e puxando Will pra fazer o mesmo.
– Eu quero um pedaço de bolo de banana, não banoffee, por favor!
– Tá bom, Sr. cheio de exigências!
Peguei minha sacola, coloquei uma touca na cabeça e sai do restaurante, mesmo acostumado a ser reconhecido, eu sempre recorria a alguns acessórios para dificultar que as pessoas me parassem toda hora na rua.
Deixei a camisa na lavanderia e fui direto pra cafeteria, já eram umas 11 h da manhã e eu apenas esperava não causar nenhuma confusão.
O The Blanks era um café desses tradicionais, com várias mesas, alguns cantos mais discretos – eram a minha parte favorita – e as melhores tortas da cidade. A cada semana eu mudava de torta favorita e meus amigos também, o que nos fazia sempre estar por lá, mesmo assim quase nunca usava meu nome de verdade nos pedidos.
– Bom dia, qual seu pedido? – A garçonete perguntou olhando para a tela do computador a sua frente.
– Bom dia! Quero um pedaço de torta de amendoim, um de bolo de banana e um de cheesecake pra levar e mais um café preto, sem açúcar, por favor!
– Ok, qual o nome para chamar?
– Yago! – Disse estendendo o cartão para ela e sorrindo, eu adorava essas piadinhas internas e ninguém podia me julgar. – No débito, por favor!
Paguei e fui para o canto do balcão esperar o pedido.
Olhei ao redor e mal pude acreditar quando vi aquela mulher mais uma vez. Sentada na mesa dos fundos de olhos fechados, com um pedaço de cheesecake de frutas vermelhas a sua frente, quando cheguei mais perto ela ergueu sua cabeça e abriu os olhos, pude ter certeza de que não estava enganado.
– Oi, como vai? – Ela olhou confusa e eu me lembrei que estava bem diferente da noite anterior. Tirei a touca da cabeça e ela sorriu sem graça
– Ah, oi! Desculpa, não te reconheci… – Sorri pra ela e coloquei novamente meu acessório na cabeça
– Tudo bem? – Perguntei curioso a vendo suspirar antes de me responder.
– Fora a pior dor de cabeça da história e a vergonha colossal, tá tudo ótimo – Ela riu irônica e fiquei com vontade de rir de verdade.
– Posso? – Apontei para a cadeira vazia à frente dela e recebi um aceno de cabeça em resposta. – , não é?!
– Isso. , né?! – Ela suspirou antes de continuar a falar. – Preciso me desculpar mais uma vez! Fiquei péssima com a confusão de ontem, sua blusa deve ter ficado inutilizável, fora o quanto deve ter estragado sua noite.
– Ah, não! Relaxa. – Num ato involuntário coloquei minha mão sobre a sua, senti o olhar dela acompanhar aquele movimento. – Meus amigos até se divertiram tentando adivinhar o que houve, não esquenta.
Ela sorriu e delicadamente tirou sua mão da minha e olhou pro balcão do café.
– Yago!! – Ouvi a garçonete falar mais alto que o normal e também prestava atenção naquilo.
– A coitada da garçonete está se esgoelando e o cara idiota já deve ter ido embora, mas ela tá olhando pra cá. – Ela apontou pra trás de mim e só então lembrei que esse foi o nome que dei no meu pedido.
– Putz! Esqueci uma coisa, já volto! – Fui até o balcão e a garçonete me olhava brava.
– Yago? – A sobrancelha dela estava arqueada de uma maneira que era quase impossível, sorri sem graça e peguei as sacolas que ela deixou separadas no balcão.
– Perdão pela demora! – Ela apenas assentiu e foi para a outra ponta do balcão, já estava pronto para voltar à mesa de quando duas garotas que eu nem tinha visto me pararam.
– ? – As duas sorriam empolgadas e dei uma espiada pra ver se estava nos observando, por sorte ela estava mexendo no celular.
– Oi, tudo bem? – Sorri para as meninas e elas mostraram o celular, assenti e posei pra selfie.
– Obrigada, eu amo tanto suas músicas! – Uma delas disse me abraçando, a outra admirava a foto no celular.
– Nossa foto ficou perfeita, obrigada! – Ganhei mais um abraço e me afastei, precisava ser rápido antes que a notícia de que eu estava ali se espalhasse. Voltei para a mesa de .
– Preciso ir, sei que pode parecer estranho, mas posso deixar meu telefone com você?! Podemos marcar alguma coisa…
Deixei meu telefone na mesa e ela olhou o papel desconfiada.
– Não quero seu telefone. – Ela o deixou ali na mesa e me encarou desafiadora.
– Poxa, você podia se desculpar pela minha camisa, era de estimação, sabia? – me olhou boquiaberta e eu segurei a risada.
– Você é um mentiroso, não é mesmo, Yago? – Ela cruzou os braços e olhou para as minhas sacolas da cafeteria.
– Foi só um engano, mas ainda gostaria que a gente pudesse marcar algo!
– É muita audácia sua achar que eu vou querer, você nem me conhece.
– Tá aí, quer melhor oportunidade do que essa? – Pisquei pra ela que soltou um riso irônico. – Espero notícias suas!
– Espere sentado, Yago!
Com a sobrancelha arqueada, ela continuou a me olhar séria, joguei um beijinho e virei para ir até a porta.
As duas garotas ainda estavam por ali, sorri pra elas e sai do Café Blanks torcendo pra que guardasse meu telefone.
– Nossa! Demorou, hein! – Foi a primeira coisa que Sarah disse assim que me viu entrando pelos fundos do restaurante.
– Não disse que seria bom testar um pouco a sorte? – Sorri colocando as tortas no balcão.
– Como assim? – Will chegou procurando por seu bolo e eu me sentei com eles.
– Encontrei com a garota de ontem a noite de novo, ela estava no Blanks! – Peguei um garfo, vi Sarah fazer o mesmo e sentar na minha frente.
– E aí? Dessa vez ela te reconheceu, né? – Will disse em um tom óbvio e eu neguei com a cabeça.
– Não!! – Dei uma garfada na minha torta e Sarah me encarou incrédula. – Pior que não tô mentindo, ela não me conhece, dei meu telefone pra ela, mas não faço ideia se ela vai ligar. – Dei de ombros e Will fingiu uma risada.
– É quase impossível que ela não te conheça, ela vai dar uma pesquisada, se já não deu. – Continuou ele mais irônico ainda.
– Queria ter conversado mais com ela, mas me reconheceram e antes que virasse confusão eu saí de lá, mas ela acabou até me pegando naquela mentirinha de mudar o nome pra fazer pedido…
– Você sempre esquece seu nome improvisado. – Sarah riu e eu apenas assenti.
– Foi isso mesmo que aconteceu, esqueci que o nome que a moça estava chamando era “meu”, e minha cartada final foi deixar meu telefone com ela. – Dei uma piscadinha para Sarah que veio fazer um high-five comigo.
– Cuidado, ! Você está empolgado demais e ela pode ser como as outras – Will disse sério me observando por baixo da aba do seu boné, suspirei e dei um tapinha em seu ombro.
– Eu tomei cuidado, mas precisava arriscar! Não é nada demais. – Joguei um beijinho pra ele que me respondeu mostrando o dedo do meio.
– Só vai com calma então. – Sarah disse sorrindo do seu jeito sempre doce, assenti e terminei de comer minha torta junto deles.
Logo meu celular começou a encher das mensagens de Alex, meu empresário, me lembrando dos compromissos e da viagem que precisava fazer em dois dias.
– Preciso arrumar as malas, nos falamos tá? – Levantei, peguei minhas coisas e quando cheguei na porta do restaurante recebi mais uma notificação de mensagem, revirei os olhos só de imaginar mais uma cobrança de Alex chegando.
Deixei para verificar quando chegasse em casa, passei no mercado comprar algumas coisas que faltavam lá pra casa e parti pra minha missão inevitável e odiosa: fazer a mala.
Coloquei um álbum do The Killers pra tocar enquanto começava a separar algumas roupas, seriam poucos dias, mas com vários compromissos em todos eles, não gostava da ideia de levar muita coisa, então tentei ser o mais prático possível. Quando estava prestes a acabar, recebi uma ligação no meu apartamento e aquilo sim era surpreendente, afinal, quem liga na casa de alguém nos dias de hoje?
– Alô?
– Finalmente! Tô te enchendo de mensagens e já liguei umas quatro vezes e você nem viu!
– Que susto, Alex! Que foi?
– Preciso saber se vai precisar de mais convites para o lançamento de hoje à noite, o pessoal do evento tá me enchendo por causa disso.
– Quer me infartar, caramba! Acho que…
Peguei meu celular que estava perdido no meio da montanha de roupas que minha cama virou e mal pude acreditar quando li pela barra de notificação:
“Oi, aqui é a ”
– Vou precisar de dois convites! Preciso ir…
Sem nenhuma delicadeza, desliguei o telefone e abri a mensagem que mais me interessava.
“Oi, aqui é a ”
“Desculpa a maneira que te tratei ontem e hoje.”
“Espero que não seja tarde pra desfazer esse mal entendido.”
Adorei aquela mensagem, mas não se parecia em nada com a garota que conheci, talvez Will tivesse razão e agora ela já soubesse quem eu realmente sou.
“Imagina, estou feliz que você guardou meu telefone.”
“As vezes sou meio maluquinha, mas não faria isso, jamais! Ainda mais com você”
Definitivamente ela já sabia que eu sou famoso e agora ela pode aproveitar, como todas as outras.
“Que bom, sei que tá em cima da hora, mas hoje terá um coquetel no Barden Hotel, você gostaria de me acompanhar?”
Não sei se estava feliz ou triste que ela agora sabia quem eu era e que claramente o tratamento em relação a mim mudaria, mas podia tirar proveito também, nada me impedia.
“Claro que sim, me manda os detalhes por aqui que prometo que estarei lá.”
“Ok, vou te esperar então! Beijos”
Era a motivação que faltava pra eu terminar a mala, mandei as informações e pedi o nome completo dela para colocá-la na lista dos.
Comecei a me arrumar para o coquetel de lançamento do perfume da minha linha junto a um dos meus patrocinadores, até achei graça do quanto eu já tinha trocado de roupa, era a terceira troca e nada parecia bom o suficiente, antes que ficasse mais nervoso que o normal decidi vestir uma camisa social preta com as mangas dobradas até os cotovelos, um jeans azul bem escuro e um sapato preto qualquer, antes que me atrasasse como de costume, sai do meu loft e fui em direção ao hotel.
Esses eventos de lançamento de produto eram bem tranquilos, muita foto e sorrisos e em pouco tempo geralmente já estava liberado para aproveitar a noite.
Depois de posar para várias fotos com famosos e não famosos, e inúmeras fotos com o produto que me patrocinava, finalmente vi quem realmente me interessava chegar ao hotel e o olhar dela ao me reconhecer era de confusão e um pouco de raiva e eu não entendi mais nada.
Capítulo 2
A noite no hotel estava linda e movimentada, a cada momento parecia que precisavam ser registrados e lá ia eu posar mais uma vez. Tentei acompanhar com o olhar, mas falhei em poucos segundos, logo me chamaram para posar com a modelo do comercial.
Depois de meia hora fui liberado, finalmente poderia curtir o coquetel e eu só tinha uma missão: Encontrar .
Procurei em algumas rodinhas de conversa, no bar, na mesa do buffet e quando já estava prestes a ligar para ela, eu a vi. Quando seu olhar encontrou o meu lá estava a irritação, eu podia senti-la de longe.
– Que bom que te encontrei! Pensei que tivesse ido embora. – Cheguei sorrindo e fui cumprimentá-la com um beijo no rosto, mas ela desviou, ajeitando seu cabelo.
– Eu não te conheço, na verdade, acho que tenho mesmo que ir embora. – Ela disse séria olhando ao redor, parecia procurar alguém e eu não entendi mais nada.
– , nós marcamos de nos encontrar aqui hoje, não lembra? – A expressão de incredulidade dela me fez rir, não era possível que a mesma pessoa que estava toda derretida para nosso encontro fosse a mesma pessoa na minha frente.
– Você só pode estar louco, eu vim encontrar minha chefe ou uma cliente importante, não sei direito. – Ela soltou um riso falso e continuou a olhar por cima do meu ombro e para os lados a procura de algo.
– Você até me pediu desculpas pelos nossos encontros desastrosos, deve ter se esquecido… – Dei de ombros e usei o mesmo tom de voz casual que ela.
– Não acredito em você, Yago! – se virou de frente para mim, cruzando os braços, desafiadora.
– Pois bem…– Por mais estranho que fosse eu estava me divertindo horrores com aquela situação – Maluquinha…
– Como é? – Antes de olhar a tela do meu celular, me lançou um olhar quase mortal e eu queria muito rir, mas esperei que ela lesse as mensagens para ver sua reação.
– Isso… Isso.. – Ela correu o olhar pela tela umas cinco vezes antes de me entregar o celular. – Eu vou matar a Lóri! E a Ceci! – disse mordendo de leve o lábio, claramente tentando conter sua raiva e não pude deixar de notar o quão sexy ela ficava daquela maneira.
– Viu?! Não estava louco! – Sorri tentando me conter, mas ela percebeu e me olhou furiosa.
– Por isso você veio cheio de intimidade… Olha, eu não sou como essa galera aqui – Ela mostrou ao redor e depois me encarou – Tô nem aí se você canta, dança, pula corda, não vim para ficar com você! Quem falou contigo foram as minhas amigas, então se quiser, vá atrás delas!
estava a cada segundo mais bravinha e eu precisava confessar, ela ficava mais linda ainda daquele jeito. Não negaria que o fato de não ter sido ela quem mandou as mensagens me deixou aliviado e encrencado ao mesmo tempo. Agora eu precisava correr para não a deixar escapar, pelo menos, por essa noite.
– Preciso ir embora! – pegou seu celular da bolsa e em um segundo de coragem a segurei pela outra mão.
– Ei, sei que esse encontro não está sendo como o esperado, mas acredito que podemos tirar algum proveito dele – Sorri pra ela que olhou para nossas mãos unidas, a soltei e ela me olhou com a sobrancelha arqueada.
– Não vou ficar com você! – Ela repetiu com um sorrisinho no canto da boca que me dizia o contrário, mas eu ainda tinha a noite toda pra isso.
– Temos uma festa com bebida à vontade, sem risco de prejuízos para nenhum dos dois. – Dei uma piscada pra ela que riu jogando a cabeça para trás. – Comida e música, suas amigas não sabem, mas te deram o passe livre pra noite perfeita!
– Quem disse que…– começou a retrucar, mas peguei novamente em sua mão, a interrompendo.
– Aproveita! Essa pode ser uma noite única, relaxa!!! – Sorri pra ela da maneira mais simpática que consegui, suspirou e assentiu.
– Por onde começamos?! – Vi os ombros dela relaxarem e ela jogar os cabelos para o lado, sorrindo pra mim.
Mal pude acreditar que realmente aceitou meu convite, apontei para um garçom atrás dela, que vinha com uma bandeja cheia de canapés e cumbucas com escondidinho de carne. Nem pensei duas vezes e peguei um escondidinho, olhou em dúvida, e depois pegou o mesmo que eu.
Brindamos e devoramos aquela maravilha em poucos minutos.
– Isso aqui é bom demais! – riu e eu assenti.
– Poderia comer uns 10 desse, tranquilamente. – Disse pegando outro de outra bandeira e a vi fazer o mesmo.
Depois que comemos quase tudo que passava por ali, partimos para a champagne.
– Um brinde a essa noite única! – riu e deu uma piscada antes de brindar comigo.
– Eu avisei. – Ri mais ainda e ela apenas virou os olhos em resposta.
– Você é sempre tão metido assim. – A olhei pronto para fingir estar ofendido, mas vi uma das organizadoras do evento me chamando.
– Preciso fazer uma coisa, mas nossa conversa não acabou, hein! – Indiquei com a cabeça o palco próximo a nós e fui até lá, sabendo que me seguia com seu olhar de águia.
A organizadora me disse que já poderia encerrar minha participação no evento e dei graças a Deus por isso, agora teria todo o tempo para aproveitar a noite ao lado de quem eu realmente queria.
Subi ao palco junto do patrocinador do evento e da modelo que fez meu par romântico.
– Gostaríamos de agradecer a presença de todos vocês! – A organizadora começou os agradecimentos junto do patrocinador.
– Estamos felizes demais com mais esse lançamento, nossa parceria que já vem dando certo há alguns anos só vai se fortalecer! Obrigada pela confiança. – Agradeci sorrindo e recebendo alguns aplausos em resposta.
Posamos pra várias fotos e depois de alguns abraços e apertos de mãos fui liberado daquela obrigação e por sorte eu achei sentada no bar conversando com uma das garçonetes.
– Agora tô livre! – Cheguei ao lado dela e me sentei, senti o olhar da moça que estava do outro lado do balcão sobre nós.
– Oi, tudo bem? – Sorri pra ela que arregalou os olhos como resposta, olhei em seu uniforme em busca do nome dela. – Bianca, né?! – Ela assentiu e eu sorri de novo. – Pode me ajudar?! Você me daria uma garrafa de champanhe, por favor?!
Senti ao meu lado arregalar os olhos e segurei a vontade de rir, Bianca meio trêmula me deu a garrafa fechada.
– Muito obrigada, linda! – Beijei as costas da mão dela em agradecimento, ela riu nervosa e olhou para os lados verificando o movimento.
– Eu sei que não pode, mas por favor, tira uma foto comigo? – Ela pediu nervosa e eu acenei com a cabeça.
– Mas é claro! É pra já! – Ela me passou seu celular discretamente com a câmera aberta, tirei algumas fotos de nós dois e devolvi a ela.
– Muito obrigado!! Eu amo as suas músicas! Tenham uma ótima noite. – Ela voltou a guardar o celular e me deu duas taças.
Peguei na mão de e olhei ao redor, não tinha ninguém nos observando, então o caminho estava livre até as escadas de incêndio. Sabia de um lugar incrível ali naquele hotel, um terraço com a vista mais incrível da cidade, privativo e totalmente seguro, eu a levei comigo até lá.
– Uauuu! Que lugar é esse? – Estava ao lado dela, dava para ver o quanto ela ficou impressionada com a vista. A visão daquele pedaço da cidade era realmente muito linda, as luzes impressionam pela beleza que distribuem, tudo parecia calmo e brilhante dali.
– Nem parece a mesma cidade! Como isso pode ser real? – sorriu e se aproximou do parapeito do prédio, tudo dava a impressão de ser menor e nós éramos gigantes.
– Um dia estava fugindo de uma galera meio pirada, subi como louco as escadas e parei aqui, uma das funcionárias do hotel disse que quase ninguém vem aqui por medo de altura ou porque acha que é sempre trancado.
– E você, claro, nunca contou a ninguém sobre isso, certo?! – me olhou de canto de olho e eu ri dando de ombros.
– Não vou estragar o melhor lugar de todos, né?! – A puxei para sentar comigo no chão, estourei a champanhe e ri junto dela.
– Você não conta do seu esconderijo, mas faz um barulhão nele! Quer ser descoberto, ? – Parei por um segundo e me dei conta que era a primeira vez na noite que ela me chamava pelo nome. E adorei a sensação.
– Claro que não, foi apenas empolgação! – Pisquei para ela, servi a champanhe e ergui a minha taça. – A nossa noite!
– A nossa noite. – Ela sorriu largo e brindou comigo.
– Posso te confessar uma coisa? – Disse me lembrando das mensagens que recebi mais cedo, me olhou desconfiada. – Fiquei feliz que não foi você quem me mandou as mensagens, pensei que teria uma completamente diferente aqui, mas assim é bem melhor.
– Diferente como? – Ela arqueou uma das sobrancelhas e eu ri.
– Não parecia em nada com a garota que eu conheci, cheia de marra e atitude, parecia mais uma coisinha fofa,…– Olhei de canto pra ela que semicerrou os olhos ao me encarar.
– Fácil, não é? Isso que você queria dizer! – Ela rolou os olhos e se virou pra mim. – Você não fica nem vermelho de pensar algo assim de alguém que você nem conhece?! Que lindo! – O tom irônico dela era forte e palpável, ela deu mais um gole no champanhe e balançou a cabeça me reprovando.
– A mensagem me surpreendeu, você parecia saber quem eu era e queria algo mais, se é que você me entende…
– Posso ler de novo essa pérola? – Estendeu a mão me pedindo o celular, abri a conversa e entreguei a ela, que leu “nossa” conversa.
– Filhas da mãe…“Ainda mais com você” – Resmungou aquela frase de forma tão brava que não consegui segurar o riso, ela ficou ainda mais linda daquele jeito.
– Não diria que isso é engraçado. – jogou os cabelos para o lado e me encarou.
– É porque você não vê o que eu vejo. – Pisquei pra ela que desviou seu olhar do meu, consegui vê-la corar e tomar mais um gole do seu champanhe para disfarçar.
– Posso confessar algo agora?! – disse baixo assim que tomou sua bebida, aproveitei a deixa e me aproximei dela para ouvir sua confissão.
– Fico feliz que você não seja o mentiroso que eu pensei que fosse! – Fiz a minha melhor cara de indignação e me virei para ela, seu rosto estava tão perto do meu, que podia sentir sua respiração, seu perfume e admirar cada cantinho do rosto dela.
– Eu nunca menti pra você, poxa! – Sorri dando de ombros, riu com força e me deu um soquinho no braço.
– Ah, não né, “Yago” – Ela fez aspas com a mão e me encarou desafiadora, ergui uma mão e abaixei a cabeça.
– Culpado! Eu sei… Mas acho que agora você consegue entender o motivo, né?! – Voltei a encará-la e o seu olhar desconfiado continuava ali, sempre à espreita tentando me pegar em algum deslize.
– Não sei não, parecia que você estava se divertindo com a cara da garçonete, fiquei meio puta da cara com você por causa disso, inclusive uma das razões do seu telefone ter ido parar na mão das minhas amigas. – disse em tom de brincadeira, mas eu conseguia perceber que ela não brincou quando disse que ficou brava com a minha atitude.
– Não foi por maldade, eu juro! – Dei meu melhor sorriso inocente e cheguei um pouco mais perto – Eu te vi e esqueci completamente do nome que tinha dito no meu pedido, geralmente eu só fico quieto num canto e pego meu pedido sem chamar a atenção. – Peguei a mão dela que estava livre e num gesto quase involuntário a beijei, estreitou os olhos e deu um sorriso de lado.
– Você é malandro, Sr. . – Ela disse baixo e puxou delicadamente sua mão da minha, não contive a risada e devolvi o olhar dela, que apenas virou todo seu champanhe de uma vez, secando sua taça em instantes.
– Posso saber o porquê, Srta. ? – Disse baixo ainda tão perto que podia vê-la se arrepiando de leve, ela jogou o cabelo pro lado e sorriu tímida antes de responder.
– Você gosta de falar coisas bonitas pra me distrair, sua sorte foi as minhas amigas terem resgatado seu telefone do lixo, senão eu seria uma forte candidata a ser sua hater por aí. – Ela deu de ombros e eu não consegui evitar a cara de surpresa.
– , você jogou meu telefone fora? – Coloquei a mão no peito na melhor pose de ofendido que pude pensar, ela apenas deu de ombros e riu assentindo com a cabeça.
– Claro que sim, eu achei que você era um mentiroso metido a besta, e que ainda atrapalhava o trabalho alheio… Foi mal! – No melhor tom de obviedade se justificou e eu comecei a rir, jogando a cabeça pra trás e tudo.
– Caraca! Você ia fazer minha caveira por aí, tenho certeza! – Pensei alto e a vi concordando com veemência.
– Não há dúvidas! Quando minhas amigas me explicaram que você era “famoso” eu achei que era quase uma obrigação minha contar ao mundo que você era bem doido das ideias. – Ela se serviu de mais champanhe enquanto contava displicentemente tudo aquilo, eu poderia me ofender, não querer mais nada com ela ou até mesmo levantar e ir embora, mas tudo ali me deixava ainda mais fascinado e não fazia nem ideia.
– Você não me conhecia mesmo? – Perguntei sem conseguir esconder minha curiosidade, ela me olhou desconfiada e suspirou antes de responder.
– Não vai se ofender se eu disser que nunca nem vi ou ouvi nada seu? – Apenas neguei com a cabeça e ela sorriu culpada.
– Elas tentaram me mostrar alguma coisa, mas eu não vi, sempre fiquei muito alheia às coisas que estão tocando por aí, mal renovo minhas playlists.
– Então, prazer: , ou ao seu dispor. – Fiz um floreio com as mãos, quase como uma reverência e ela sorriu ainda mais.
– Prazer, ! – Ela deu uma piscadinha e não resisti, dei um beijo em seu rosto a pegando de surpresa. revirou os olhos e fez uma careta em resposta, se afastando alguns centímetros me dando vontade de puxá-la de volta pra mais perto.
– ? – me olhou com curiosidade e eu dei de ombros, afirmando.
– não é muito comercial, não combina com a carreira, então pegamos só metade do meu nome e criamos o !
– Hmm, interessante! Não sabia dessa sua dupla identidade, fiquei quase chocada.
– Porque quase?
– Sei que algumas pessoas no passado mudaram o nome e tal, pensei que a nova geração não fazia mais isso, só a Anitta!
Cai na gargalhada e a olhei mais uma vez.
– A minha mudança nem é grande coisa, mas é bom pra poder separar a “pessoa física” do cantor da mídia e tudo mais.
– Sabemos que você adora esse lado … – A maneira como me olhava, desafiando e sorrindo como se conhecesse tudo sobre mim.
– Ei, tô sendo julgado aqui! Cadê o benefício da dúvida? – Voltei a ficar de frente pra ela, a olhando da mesma maneira desafiadora, vendo-a esconder um sorriso.
– Olha, posso até tentar te dar esse benefício, mas foi você quem achou que tudo era fácil só por você ser famoso, não foi legal da sua parte. – Ela também estava de frente pra mim, nossos olhares tão conectados que chegava a ser estranho estar tão confortável ali.
– Acho que você nunca vai me deixar esquecer disso….
– Provavelmente não. – Ela riu e bateu de leve no meu braço – Nem você, nem minhas péssimas amigas, elas vão ouvir também…
– Hmm… E se…– Pensei alto e vi que ela ficou interessada.
– O que? – me olhou desconfiada e eu cheguei ainda mais perto, sentindo a respiração dela tocando meu rosto.
– A gente enviasse uma foto pra brincar com elas, devem estar curiosas pra caramba…
– Gostei! – sorriu e deu uma piscadinha, se empolgando com a ideia.
Nos olhamos e acho que tivemos a mesma ideia, peguei meu celular e abri na conversa que supostamente era a “nossa”, cheguei mais perto, as mãos dela foram para o meu rosto, como se fosse fazer um carinho ali e assim que nossos olhares se cruzaram eu registrei o momento.
Abaixei o celular e continuei a olhá-la, especificamente para a boca, e fez o mesmo, tão perto, tão linda, as mãos dela se moveram para o meu pescoço e eu já estava pronto pra acabar com qualquer distância entre nós quando meu celular começou a tocar histericamente, eu ia apenas ignorar, mas foi mais rápida do que eu e olhou pro display.
“Aninha <3”
As mãos dela automaticamente me soltaram e em poucos segundos ela já estava de pé.
– Preciso ir, tchau!
E como o furacão que eu conheci naquele primeiro dia, sumiu, sem me dar a chance de explicar nada, sem ao menos pegar seu telefone ou qualquer coisa assim.
Capítulo 3
O "quase" de todas as coisas era o que mais me irritava. Quase chegamos em algum lugar, quase a beijei, quase deu certo, quase tive uma noite excelente... mas não.
Os dias já haviam passado, mas eu ainda fazia a mesma cara de desgosto ao lembrar como minha noite com terminou.
– , vamos? – Alex deu um tapinha no meu ombro. – Já podemos embarcar.
Balancei a cabeça pra espantar meus pensamentos e segui meu empresário rumo a mais uma viagem de divulgação, desta vez no Rio Grande do Sul.
Geralmente essas viagens são supercansativas, poucos dias, shows bem curtinhos, mas vários lugares a visitar e muitas, muitas entrevistas, devo dizer que essa é a parte que menos gosto do meu trabalho.
Na saída do aeroporto, já era possível ouvir os gritos de alguns fãs que esperavam por mim. Com a ajuda do meu segurança, fui até eles, tirei fotos, recebi abraços e beijos. Tentei atender a todos antes de ser retirado para não causar tumultos.
Mal entrei no meu quarto do hotel, Alex já apareceu atrás de mim.
– Vamos repassar a agenda de agora, ok?! Daqui a uma hora vamos pro pocket show na rádio e, à tarde tem sessão de fotos e autógrafos.
– Beleza! – confirmei abrindo minha mala e pegando algumas coisas de lá.
– Amanhã à noite, um dos empresários da região quer oferecer um jantar. Posso confirmar? – A vontade era de negar, mas sabia que também fazia parte do trabalho sair com os figurões das cidades.
– Claro que pode – forcei um sorriso e Alex apenas deu de ombros, pensei que fosse ficar sozinho, mas pela animação repentina dele eu estava errado.
– Vem cá, olha essa modelo… – Meu empresário estava todo sorridente para a tela do celular, na rede social de uma loira de cabelos longos, olhos claros, corpo exuberante, de biquíni à beira da piscina, sorrindo com um drink na mão, não me lembrava de já tê-la visto mas não me esforcei pra lembrar de fato.
– Bonita. Vai sair com ela? – perguntei, voltando a tirar algumas roupas da mala e Alex suspirou.
– Quem dera – Ouvi ele dizer bem baixinho, em seguida pigarreou e me olhou. – Estou pensando em chamá-la para agência, será minha mais nova pupila, se ela aceitar é claro.
– Legal, mas pensei que seu negócio fosse música e tal.
– O principal é! Mas não custa nada diversificar e aproveitar os contatos que eu tenho nesse meio artístico.
– Vai fundo então, cara! Acho que você vai se dar bem!
– Ela respondeu minha mensagem. Já volto! – Alex saiu do meu quarto todo empolgado, e fiquei com uma pontinha de inveja, Tudo o que eu queria era uma mensagem, um número de telefone... Mas, segundo as amigas de , elas estavam proibidas de me passar qualquer contato dela ou sequer falar comigo.
Por isso quando meu celular vibrou, eu sabia que só podia ser eles:
Sarah, Will, Você
Sarah
Bom dia, coisas lindas! Chegou bem, ?
Cheguei, mas já queria estar aí
Sarah
Ih, que foi?
Pedi de novo o telefone da pras amigas dela e fui ignorado.
Will
Cara, deixa quieto se ela não quer, fazer o quê?!
Sarah
O Will tem razão, você vai ter que deixar isso de lado, pro seu próprio bem
Tô tentando, meus caros! Mas vocês sabem como sou teimoso
Sarah
Se concentra no trabalho, nisso sua teimosia sempre funcionou ;)
Boa ideia, Dona Sarah! Falando nisso, preciso me arrumar pra começar a trabalhar.
Sarah
Hahaha quando você fala assim te imagino de uniforme e tudo mais!
Will
Batendo o ponto como um bom CLT!! Quem vê pensa HAHAHAHA
EI… Eu trabalho viu, de forma diferente mas trabalho, seus idiotas
Will
Te amamos, !
Vai se ferrar, Will
Sarah
Bom trabalho!!
Deixei meu celular de lado e comecei a rir, os dois amavam me zoar, mas sabiam o quanto às vezes era cansativo levar a vida que eu levava.
A maratona de compromissos começou e, enquanto respondia perguntas sobre o novo projeto, cantava nos pockets shows e recebia alguns fãs, via Alex focado em conquistar a tal modelo para ser sua nova agenciada.
– Obrigada pelo carinho, galera! – agradeci o público da sessão de autógrafos e fui em direção ao camarim. Alex já estava lá me esperando com um entusiasmo fora do normal.
– Cara!! Parabéns, o público tá engajando horrores, quase em tempo real, e a resposta está sendo excelente!
– Obrigada! – sorri e fui comer, já estava faminto e precisava comer antes que meu mau humor ficasse insuportável. – Qual nosso próximo compromisso?
– Para hoje, mais nada. Amanhã finalizamos esta parte da turnê e, à noite, teremos o jantar com os empresários.
– Ok! Então estou liberado? – me animei com aquela notícia e logo recebi um olhar mais sério do meu empresário.
– Está, mas cuidado por onde anda e com quem, hein! – Alex me repreendeu, e eu apenas dei de ombros, ele adorava me manter sob controle, mesmo que nada demais estivesse acontecendo.
– Pode deixar, eu sei me cuidar. – Dei um soquinho no ombro dele, que riu.
– Agora, olha isso… – Ele sentou ao meu lado e abriu novamente a rede social no perfil da tal modelo. – Te apresento sua nova parceira de agência, Nicole Duarte! Segue ela aí no seu perfil, que assim que voltarmos para São Paulo vamos começar a unir alguns trabalhos.
– Eu tô incluso nisso? – perguntei, desconfiado.
– Sim, senhor! Vai ser ótimo se vocês trabalharem juntos, vai dar uma força para os dois. – Ele parecia muito empolgado, só me lembrava dele assim tão empolgado quando começamos a fechar alguns grandes contratos ou shows grandes e ver o sonho acontecer. Então, se para ele aquilo era sério, eu o ajudaria no que fosse possível.
– Ok! Vamos ver no que isso vai dar! Agora eu vou sair, dar uma volta por aí.
Peguei meu celular e a jaqueta preta que sempre usava quase como uma camuflagem e saí daquele evento.
Já era tarde, encontrei um amigo que há muito não via. Ele me chamou pra uma festa numa boate local. Não estava tão a fim de festa, mas qualquer coisa era melhor que ficar preso num quarto de hotel.
– , o melhor do Brasil, finalmente chegou – Rick, meu amigo de alguns anos, me recepcionou no seu camarote com seu jeito espalhafatoso e nenhum pouco discreto.
– Fala, Rick! Consegui te encontrar, seu filho da mãe – cumprimentei-o e senti a atmosfera daquela festa começar a me esquentar. As luzes, a música, a bebida e as belas pessoas ali eram o melhor atrativo.
– Vê se aproveita! Sei que isso é raro pra você. – Ele riu e chamou umas duas garotas para perto de nós. – Meninas, ajudem meu amigo aqui a relaxar e se divertir. – Ele se afastou, e as duas garotas sorriram pra mim, pegaram suas bebidas e brindaram comigo.
Uma era loira e linda, tão modelo quanto a que Alex me mostrou mais cedo. A outra era uma negra de cabelo liso e olhos muito negros. Algo nela me lembrava — talvez a bochecha rosada ou o olhar, mas ela chamou muito minha atenção.
– Qual seu nome? – perguntei, e a vi sorrir abertamente para a loira, como se fosse uma competição silenciosa que ela estava vencendo.
– Sou a Karina! Fiquei tão feliz quando Rick nos contou que você viria hoje. – Ela disse toda manhosa, passando suas mãos pelo meu pescoço e sorrindo o mais convidativa possível.
– Que bom, linda! – Dei um gole na minha bebida e sorri, vendo-a se aproximar ainda mais.
– Não é todo dia que temos por aqui. Você é muito foda, gato! – Ela me beijou no canto da boca, suas mãos foram na direção do meu cabelo e estava pronto para ficar com ela – Pode ter tudo que quiser comigo…
Ela sussurrou no meu ouvido e como se um vidro se quebrasse, eu vi que estava tentando me enganar.
Karina podia ter o mesmo tom de pele ou até ter os olhos parecidos de , mas o que mais me deixava intrigado naquela garota elas nunca teriam.
Podia ter tudo ali, mas nada daquilo era o que eu queria.
– Eu já volto, linda! – Dei um beijo no rosto de Karina e sai em direção ao banheiro.
A festa estava superagitada, tudo muito alto e eu não entendia porque eu não conseguia entrar na vibe. Sempre frequentei aquele ambiente, com aquelas pessoas e algo estava errado.
Saí de fininho daquela boate, peguei o carro e voltei para o hotel, antes de subir para o quarto, parei no bar e pedi um whisky.
Aquele copo foi uma boa decisão, amargo e ideal para o que eu estava sentindo naquela noite, pedi uma caneta para o barman e quando vi estava escrevendo várias coisas que faziam muito sentido para o meu coração.
O quase mais irritante e decepcionante da minha vida viraria música e quem sabe assim eu conseguiria seguir em frente.
Tomei mais uma dose e agora só faltava deixar aquilo ser o que era, morrer de qualquer jeito, virar música e lembrança, voltar a ser o bom e velho , sem compromisso, sem vergonha e um tanto quanto descontrolado. Que o mundo me esperasse, eu logo voltaria à ativa.
Na manhã seguinte já acordei com a cabeça explodindo de dor, mas, mesmo assim, estava feliz de ter tirado um pouco daquele sentimento do meu sistema, uma música que saiu praticamente sozinha e só faltava a parte da melodia para ficar completa.
Alex me acompanhou no café da manhã e durante o resto do dia. À noite, ele estava mais do que empolgado para o jantar que nos ofereceram. Para mim, era só mais uma parte do trabalho, só mais um lugar de sorrir e acenar.
– , meu querido! – Fui recebido pelo dono da casa imponente. – Ficamos muito felizes que você aceitou nosso convite!
– Eu que agradeço, fiquei lisonjeado. – Sorri para ele e todos os outros convidados que estavam ali na sala.
Algumas esposas e filhas desses empresários pediram fotos e vídeos, distribuí alguns autógrafos antes do jantar e, mais uma vez estava imerso na situação de modelo, mostrando minha imagem e colhendo os frutos disso.
– Ei, se quiser sair mais tarde, me liga – murmurou uma das esposas daqueles empresários, ao passar por mim e colocou um cartão no meu bolso. Ela sorriu e mordeu o lábio inferior e eu apenas devolvi o sorriso.
– Estava falando com Alex, queremos alguns shows aqui na região! Vai atrair bastante público, estava pensando até em uma festa bem grande pra movimentar bem a economia – comentou o dono da festa durante o jantar. Achei aquela ideia ótima. Alex, então, já estava com os olhos brilhando só de pensar na possibilidade.
– Podemos ver para o ser a atração principal do último dia, acho que seria o ideal – disse Alex, cheio de empolgação. A mulher do empresário sorriu e passou a mão no meu braço de uma maneira sutil.
– Nós vamos adorar ter esse artista incrível na nossa festa, concordo com seu empresário – afirmou ela, sorrindo. Discretamente enquanto eles continuavam a conversa sobre shows e tudo mais, ela passou a mão na minha perna, tentando me provocar.
– Seu jogo é perigoso, minha linda – sussurrei, segurando sua mão e a vi rir como se nada estivesse acontecendo.
– Eu gosto assim – respondeu, tentando fazer com que minha mão fosse até sua perna, aquilo já era perigoso demais, não valia a pena estragar os contatos que tinha ali por uma noite de sexo sem compromisso.
Sorri para ela e tirei minha mão dali, ela odiou aquilo mas era necessário, nem tudo podia ser brincadeira.
– Vamos brindar às novas parcerias – anunciou o empresário erguendo sua taça e todos nós o seguimos
– Que seja só o começo – disse Alex, sorrindo e me olhou esperando que eu dissesse algo.
– E que traga muito sucesso a todos nós – completei, vendo todos concordarem, brindamos e a mesa toda era só sorrisos.
Levantei para ir ao banheiro e fui abordado por uma das empregadas da casa que me chamou num canto, falando bem baixinho.
– Desculpe, seu , você pode mandar um beijinho pra minha menina?! Ela ama tanto o senhor – disse, nervosa, com as mãos trêmulas.
– Oh, meu amor, é claro! – Peguei o celular da mão dela e abri a câmera. – Qual o nome da sua filha?
– É Camila – respondeu, emocionada, com os olhos brilhando.
“Oi, Camilinha! Tô aqui com a sua mãe e queria te mandar um beijão e agradecer por todo carinho! Te amo, viu!”
Fiz o vídeo e puxei aquela senhora para uma foto, ela sorriu e secou uma lágrima fujona.
– Muito obrigada! Ela nem vai acreditar, Deus te abençoe viu – disse, me abraçando. Foi o único momento daquele dia em que senti o carinho genuíno de alguém por mim.
– Amém, meu amor! – sorri pra ela e segui rumo ao banheiro.
Quando voltei, a mesma mulher que estava cheia de vontades ao meu lado durante o jantar agora já estava de mãos dadas com seu marido.
Sorri, sabendo que esse era o fim ideal para aquela noite. Sabia que tudo que ela queria era apenas o gostinho de ficar com um famoso e não queria me aproveitar disso, não hoje pelo menos.
Encerramos a noite com Alex pegando ainda mais contatos para sua agenda e várias fotos do jantar postadas em todas as redes sociais possíveis.
Voltamos para São Paulo otimistas e felizes por tudo que conseguimos na viagem, mas quando pensei que teria algum tipo de folga Alex começou a trabalhar em seu novo projeto e sobrou pra mim, é claro.
Fui convocado pra um almoço, meu empresário passou no apartamento e sem me deixar muita alternativa aqui estava eu às 10 da manhã, de óculos escuros pra esconder as olheiras gigantes e jaqueta de couro, indo pra algum lugar que não fazia ideia.
– Não íamos almoçar? – perguntei, olhando ao redor. Estávamos diante de um grande prédio no centro da cidade, supermovimentado e sem nenhum restaurante importante de que me lembrasse.
– Vamos! Claro! Mas preciso assinar alguns papéis que esqueci, nosso advogado tá me enchendo por isso. Vai ficar? – perguntou Alex, me olhando e eu achei melhor ir junto dele, afinal, se ficasse ali corria o risco de ser reconhecido e causar algum tipo de tumulto desnecessário.
– Não, vou com você – respondi, seguindo-o prédio adentro, sempre sentindo os olhares curiosos e espantados sobre mim.
Subimos muitos andares e nesse meio tempo fui reconhecido, tirei fotos e sorri para desconhecidos como de praxe. No 13° andar chegamos ao escritório ATW Advogados, todo aquele andar era deles e pelo visto não éramos os únicos grandes clientes por ali.
– Não sei quanto tempo vou demorar…– Alex disse em voz baixa, ainda ao meu lado, foi em direção ao balcão do escritório enquanto eu olhava ao redor, pensando qual seria o melhor lugar pra passar o mais despercebido possível até que eu ouvi uma voz e por um segundo pensei que meus ouvidos estivessem me enganando.
– Ju, pode anexar esses papéis na pasta vermelha? A Dra. Luciana estava revisando…
Lá estava ela, com saia social escura, camisa rosa-clara e os lindos cabelos cor de chocolate soltos, olhando para a secretária que olhava na minha direção. Pelo pouco que a conhecia é claro que nem olhou ao seu redor e não entendeu porque a secretária estava petrificada olhando para alguém perto da porta.
– Ju?! Juliana? – estalou os dedos na frente da garota, que parecia mais nova, recebendo um olhar meio bravo em resposta.
– Pelo amor de Deus, ! Depois eu vejo isso – respondeu a garota, em tom baixo, mas eu consegui ouvir, vi bufar e só então desviar seu olhar para a porta do escritório.
Fiz questão de sorrir ao ver o seu olhar de surpresa, ela deu um passo para trás e já estava pronta para sair dali quando me aproximei rápido, não podia deixar aquela chance escapar.
– Pode me mostrar onde fica o banheiro? – perguntei, direcionando a pergunta à secretária, que ficou em pé em segundos, sorri pra ela e virei meu corpo para . – Por favor?
Ela suspirou e começou a caminhar, a acompanhei deixando a secretária reclamando para trás.
– Tentei te achar, mas você não deixa…– comecei a falar baixo e ela me olhou de lado.
– Eu tô trabalhando, ! – ralhou assim que viramos em um corredor, olhei ao nosso redor e percebi que não tinha ninguém por perto.
– Eu sei, mas… – Segurei sua mão quase que instintivamente e capturei sua atenção. – Podemos nos ver mais tarde? – pedi olhando em seus olhos.
– Não acho uma boa ideia – mordiscou o lábio inferior e desviou o olhar.
– Prometo que será tranquilo e que vou me comportar – sussurrei, dando um passo pra frente e ela me olhou desconfiada.
– Aí, meu Deus! – exclamou, olhando para nossas mãos unidas e sorriu torto me deixando ansioso por sua resposta.
– ? Pode vir na minha sala, por favor? – ouvimos uma voz que vinha da sala ao lado, soltou rápido minha mão. Antes que ela saísse, a segurei novamente pela mão e ela suspirou nervosa.
– Ok! Seja o que Deus quiser – aceitou falando rápido e saiu do meu campo de visão em segundos.
Capítulo 4
Não sei se foram 20 ou 40 minutos ali naquela sala de espera. Não vi mais , mas não podia negar que já valeu a pena o simples fato de agora ter um encontro marcado para noite. E não qualquer encontro, com ela.
Nem vi quando Alex apareceu de novo.
– Vamos! – Ele voltou à sala de espera com uma cara nada boa.
– Tudo bem? – Perguntei em um tom um pouco baixo já que a secretária ainda me olhava cheia de curiosidade.
– Tá, só me irritei com essas burocracias. – Ele bufou e já foi saindo dali, dei um tchauzinho pra secretária que sorriu em resposta e o segui.
Estava ansioso para a noite que teria, mas pelo visto não conseguiria escapar do almoço que Alex programou para mim.
– Por pouco não nos atrasamos, Nicole não merece uma recepção dessas – disse ele assim que entramos no restaurante.
Olhei ao redor e tentei me lembrar de alguma Nicole, mas não reconheci ninguém.
– Quem é Nicole, Alex? – Perguntei logo que o garçom nos deixou e meu empresário sorriu abertamente, como se eu tivesse acabado de falar as novas palavras mágicas do mundo.
– É meu novo talento, vai trabalhar com a gente a partir de agora!
– Ah, lembrei! Você falou sobre ela, mas porque mesmo eu preciso estar aqui? – Perguntei sem deixar minha impaciência transparecer, queria muito me livrar daquele compromisso e ir pra casa pensar sobre meu encontro mais tarde, aquilo sim me interessava e animava mais do que o normal.
– Preciso do seu apoio pra esse começo de projeto…– Disse ele desviando o olhar do meu, como se estivesse vendo a própria Vênus na sua frente, Alex levantou rapidamente e me deu um cutucão para fazer o mesmo. – Anda logo, ela chegou!
Olhei para a porta e me lembrei das fotos daquela loira que vinha em nossa direção. Ela era linda, não tinha como negar. Cabelos compridos e um vestido verde-claro colado ao corpo destacavam suas curvas. Pelos olhares masculinos ao redor, dava para perceber o sucesso que ela fazia. Quando se aproximou, sorridente, notei seus olhos verdes e o jeito confiante com que andava, hipnotizando todos ao redor. Era óbvio que ela sabia o efeito que causava.
Ao meu lado, Alex estava quase babando ao observá-la e tive de me segurar pra não rir da cena.
– Bom dia! Seja bem-vinda! – Sorri para ela e pisei discretamente no pé do meu empresário para trazê-lo de volta à realidade.
– Nicole, minha querida! Fico feliz que aceitou nosso convite. – Alex lhe deu um beijo no rosto, e ela sorriu para mim.
– Eu que agradeço o convite, estava nervosa, queria tanto esse encontro – disse Nicole, empolgada, olhando para ele, que puxou a cadeira para ela, assim que voltou ao seu lugar, Alex voltou a ser o cara dos negócios de sempre.
– Nos reuni aqui hoje, primeiro para nos conhecermos e depois alinhar algumas ideias que tive para essa parceria ser o mais bem-sucedida possível! Acredito que você, Nicole, já tenha ouvido falar do ?! – Alex abriu aquele sorriso meio metido e apontou para mim, não consegui evitar e rolei os olhos, odiava quando ele fazia aquele tipo de coisa.
Nicole abriu um sorriso largo e colocou sua mão sobre a minha, acariciando ali e me deixando desconfortável.
– Claro que conheço, imagina quem não conhece nosso querido ? Você é um fenômeno! – Ela continuou a mexer seus dedos sobre minha pele e não aguentei, tirei discretamente a mão debaixo da dela.
– Obrigado, não é pra tanto – respondi sorrindo amarelo, aquilo era algo que já não surtia um bom efeito sobre mim.
Há alguns anos, algumas mulheres já me fizeram esse tipo de elogio e bem, a última delas me fez sofrer como um cão sarnento exatamente por ser “famoso”.
– Ótimo, essa é a Nicole Duarte! Modelo e atriz, sua parceira de agência e agora vamos a minha ideia… – Alex sorriu empolgado e olhou para nós dois. – Como Nicole ainda não tem trabalhos relevantes na mídia, pensei em ela ser a protagonista do seu novo clipe, ! O que acham? – Nicole sorriu largo, assim como meu empresário, já eu não consegui disfarçar o desconforto que aquela ideia trazia.
– Cara, tem certeza que isso é uma boa ideia? Esse trabalho ainda não tem muita coisa – tentei argumentar, senti a mão de Nicole se aproximando da minha novamente e tirei a mão de cima da mesa.
– Eu sei, mas exatamente por isso seria legal já inserir a Nicole, pensar no clipe com ela, com cenas que a valorizem e tudo mais, entende? – Alex me deu um tapinha no ombro e eu odiei ainda mais aquela ideia, a música em questão era especial para mim e não queria que ela se tornasse apenas uma vitrine.
– Adorei isso! Acho que vamos fazer uma bela dupla, gatinho! – Nicole se empolgou e aproximou seu rosto do meu, antes que ela quase me beijasse na boca virei o rosto e recebi um beijo molhado na bochecha.
– Pense sobre o assunto, meu querido! – Alex adorou aquela cena, me deu mais um tapinha no ombro e ergueu a mão para chamar o garçom. – Vamos pedir? Estou faminto.
Algo me dizia que, naquela parceria, quem sairia ferrado seria eu. Alex e Nicole estavam em plena sintonia durante todo o almoço, os vários testes que ele já tinha planejado para ela, os novos materiais de divulgação, as participações em programas de TV ao meu lado e tudo mais, era admirável de ver o empenho, mas eu não me sentia bem no meio daquilo.
Atrelar minha imagem profissional a alguém em tantos trabalhos como era o desejo do meu empresário, me deixava desconfiado porque eu sabia a ideia que isso passaria para o público. Todos podem amar ou odiar, mas a ideia de casal apenas se reforça e era exatamente o que eu não queria para mim.
– Vocês serão vistos em vários eventos juntos, principalmente por causa da agência. E, se tudo der certo, vou tentar te colocar em uma série nova que estão produzindo, te coloco como atriz e na trilha sonora, será perfeito! – Alex sorriu para Nicole que se empolgou e veio abraçá-lo, o encheu de beijos no rosto e deixou meu empresário ainda mais hipnotizado do que já estava, a loira o tinha na mão, e era quase cômico o quanto aquilo era muito evidente.
Fingi uma tosse para trazer Alex de volta à terra. E ele ergueu seu copo para um brinde, ficando levemente vermelho pela piscadela que Nicole lhe deu.
– Ao nosso sucesso, queridos! – Ele abriu um sorriso largo e cheio de empolgação, brindamos como se fosse Ano Novo, e Nicole me deu uma piscadinha antes de tomar a sua bebida. Fingi que não vi, esse é um problema que eu não quero mesmo ter.
Já tínhamos pedido a conta, e finalmente aquele almoço chato já estava perto do fim, quando Alex saiu para atender uma ligação importante.
– Sabe, sempre quis trabalhar com alguém famoso, mas nem nos meus maiores sonhos pensei que seria sua parceira! – Nicole se aproximou demais, um de seus braços passeava pelo meu, tentando fazer um carinho ali, mas aquilo me incomodou. Sorri sem graça e tirei meu braço de cima da mesa.
– Desculpe, mas você não vai ser minha “parceira”. No máximo, trabalharemos algumas vezes juntos – disse, encarando-a com seriedade. O sorriso diabólico que surgiu no rosto dela era, no mínimo, preocupante.
– Calma, gatinho. Sei disso, só queria te dizer que vamos ser uma dupla e tanto, Alex parece gostar dessa receita de sucesso. – Ela apontou para mim e depois pra ela. Infelizmente nisso não podia discordar, já neguei duas vezes a ideia de forjar um namoro, mas, aparentemente, Alex nunca desistiria dessa merda de ideia.
Embora não falasse isso às claras, essa era a ideia que Nicole também cultivava. Em um relacionamento comigo ela teria muito, muito, muito a ganhar.
– A minha ideia de sucesso é totalmente diferente da de vocês e bem, não estou disposto a me envolver em nada que me prejudique – fui direto, cruzando os braços, sem sorrisos ou qualquer coisa que pudesse deixar dúvidas.
– Jamais desejaria isso pra alguém, ainda mais você. Só gostei demais de saber que vamos passar um tempo juntos, só isso – respondeu ela, suspirando de forma quase teatral e colocando a mão no peito. – Gatinho, não me leve a mal!
Tive de conter minha vontade de revirar os olhos e dei graças a Deus quando Alex voltou à mesa.
– Vamos?! – chamou ele. Apressei-me em levantar. Nicole fez uma careta discreta antes de se colocar de pé.
– Vocês me dão uma carona? Vou ficar no shopping do centro.
– Claro, minha querida! – Alex lhe ofereceu o braço, ela se enganchou nele saindo toda sorridente do restaurante.
Não sei se foi proposital ou uma porcaria de coincidência mas quando saímos do restaurante tinha alguns paparazzis do outro lado da rua.
– Mas que merda! – reclamei, colocando meu óculos escuros. Nicole agia como se tivesse acabado de ganhar na Mega-Sena.
– Sorria, meninos! – disse ela, tentando se enganchou em mim. Dei um passo para trás.
– Vão na frente, preciso fazer uma ligação – usei a desculpa clássica, deixando que os dois se exibissem à vontade, enquanto eu pudesse fugir daqueles dois assim eu faria.
Depois de um tempinho, voltei para perto dos dois, acenando para os fotógrafos, entrando no carro sem falar nada.
– Adorei esses fotógrafos, nem parecem aqueles que ficam nas festas quase pulando na gente – comentou Nicole ao entrar no carro.
Fingi um sorriso e olhei para fora, aqueles caras não estavam ali à toa. Eu podia jurar que foram avisados de que estaríamos naquele restaurante.
Quando finalmente Alex deu partida, o papo furado dentro do carro era sobre as poses e ensaios fotográficos que nosso empresário já tinha planejado para Nicole.
Ela ficou no shopping, e, no trajeto até minha casa, Alex resolveu pegar no meu pé.
– Porque não está sendo simpático com a Nicole? Esperava mais de você, ! – repreendeu ele, como se eu fosse uma criança no jardim de infância.
– Não quero perder o controle da minha imagem, não vou ficar de sorrisinhos e abracinho com ela só porque vocês acham que isso pode ser bom – disse de uma vez vendo a expressão dele mudar e ele ficar sem graça.
– Não é pra tanto né, ! Somos uma equipe agora, só quero o melhor para os dois.
– Eu espero mesmo que isso não passe do ponto, você sabe que para mim existem limites que não passo por nada nesse mundo, não sabe?! – O encarei com seriedade e ele sorriu debochado. – Ah para, ! Tá tudo bem! Ninguém vai ser forçado a nada. – deu-me um tapinha no braço e voltou toda sua atenção para o trânsito. Em menos de 10 minutos, ele me deixou em casa, onde finalmente consegui relaxar.
Aquele foi um dia meio estressante, meio porque eu estava mais feliz pela noite que teria do que por toda a baboseira do almoço que tive. Mal cheguei em casa e lembrei que a minha dupla favorita podia ajudar com a ideia que tive.
Sarah, Will, Você
Fala, meus lindos! Estão aí?
Sarah
Já voltou, ?
Não só voltei, como tenho uma notícia muito da boa
Will
Lá vem ele! Fala,
Calma, meu querido. Adivinha quem eu encontrei hoje?
Will
Uma modelo?
Sarah
Uma atriz?
Will
Roberto Carlos?
Sarah
Luan Santana?
I D I O T A S. Só não xingo vocês até amanhã porque preciso dos bonitos essa noite
Will
Ah tá explicado, ele tá com interesse pro nosso lado amor! Não tem vergonha, não?
Eu achei ela!!!
Will
Ela quem, doido?
Sarah
A ?
É por isso que eu te amo Sarah, você me entende!
Sarah
Não acredito, !!! Onde você achou ela? Como ela tá?
Will
Explica isso aí…
Agora não vai dar tempo de explicar tudo, mas preciso da ajuda de vocês! Pensei em levar ela aí no Will. Posso usar a área de cima?
Sarah
Meu Deus!! Você conseguiu um encontro???
Will
Caralho! Foi de 0 a 10 em um piscar de olhos
Will, eu não sei se cheguei nem no 2 ainda, mas eu vou tentar cara!
Sarah
Tá mais do que liberado aqui, podem vir
Will
Pode chegar! Nós vamos dar nosso melhor
Sabia que podia contar com vocês, meus amores!
Sarah
Mas tudo tem um preço…
Não acredito que vo-cê, Sarah, vai fazer chantagem!
Sarah
Sabe o que dizem, a convivência muda as pessoas HAHAHAHAHA
Will, o que você fez com a minha amiga?! Ela era melhor do que isso
Will
Ei, ela só tá pegando o jeito das coisas, é assim mesmo, amor. Nada vem de graça Hahahaha
Vocês estão se olhando e tirando uma com a minha cara?
Sarah
Pior que não! Hahahaha O Will saiu pras compras do restaurante e eu tava cuidando de tudo, isso é sintonia meu bem
Vocês me adoecem com tanto mel! Deus me livre
Will
Para de ser mentiroso, ! Você tá com inveja, né, meu filho?
Sarah
Tá sim! Nós sabemos disso, meu querido! Mas vamos ao que me interessa
Lá vem a bomba! Manda, dona Sarah
Sarah
Quero em no máximo uma semana o Dr. aqui me contando todos os detalhes desse reencontro e tudo mais, combinado?
Will
Boa, amor! Também quero saber como você consegue essas proezas
Vocês são fofoqueiros, né?! Nunca vi igual
Sarah
Fofoca é essencial no nosso relacionamento
Will
Principalmente se você é o assunto
Obrigada pela parte que me toca, fico até sem palavras
Sarah
Para de ser besta, preciso saber só uma coisa antes do jantar, você quer que a gente finja que nem te conhece? Como daquela vez com a modelo de nariz empinado?
Não sei, nem pensei sobre isso…
Will
Estaremos aqui pra qualquer coisa de toda forma
Vocês são foda! Obrigado e pode deixar viu suas fifi, que vou fazer a hora do chá pra contar tudo pra vocês!
Sarah
Perfeito! Te esperamos aqui mais tarde então
Will
Até mais, meu cantor
🙄
Eu já tinha o lugar perfeito, só faltava todo o resto.
Fui tomar meu banho, e mais uma vez eu parecia aquele grande idiota que não sabe nem o que vestir direito, que mal via a hora de sair de casa, cheio de ansiedade e vontade.
Estava de calça jeans escura, camiseta preta, minha jaqueta jeans clara e meu boné preto e fé que, desta vez, ninguém me reconheceria em um momento inapropriado.
Saí de casa um pouco antes da hora da saída do trabalho de , talvez ela nem se lembre do que me prometeu, mas eu não estava disposto a esquecer disso tão fácil.
Não sei se foi sorte ou destino, mas eu estava há uns 10 minutos observando o movimento naquele prédio, vi muitas pessoas saindo dali ao mesmo tempo. E então, quando ela apareceu, foi como se o resto estivesse borrado. Não sei se era a minha vontade ou a realidade, mas por alguns momentos parecia que estava procurando algo, e eu queria profundamente que fosse por mim.
Continua...
Desculpem a demora, o próximo capítulo promete hein… Mal posso esperar para vocês lerem! Por favor, não deixem de comentar, me digam o que estão achando, o.k.?!
Amo vocês!!
Até a próxima.
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